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Resumo do livro DCII - J. M.

Coutinho de Abreu, Curso de Direito Comercial, volume II - Das Sociedades,


6ª edição, Almedina, Coimbra, 2019.
CAP. I – NOÇÃO DE SOCIEDADE E FIGURAS AFINS
1. Sociedades enquanto ato jurídico e enquanto entidade
O vocábulo ‘’sociedade’’, em linguagem jurídica, é utilizado para designar atos jurídicos e entidades. No CSC
aparece a sociedade primária e dominantemente como entidade (ente, sujeito, realidade subjetiva).
Preferimos falar de sociedade-ato jurídico, porquanto existem atos constitutivos de sociedades sem natureza
contratual, e sem natureza negocial. E preferimos dizer sociedade entidade, dado que existem sociedades
unipessoais e sociedades sem personalidade jurídica (temas a desenvolver mais tarde). É, pois, legítimo falar
de sociedade-ato jurídico e de sociedade-entidade.
Impõem-se algumas precisões. Entre ato jurídico constituinte e entidade societária há uma íntima ligação: o
ato é o que faz nascer a entidade, e é disciplinada por ele. Mas, por outro lado, há um despreendimento da
sociedade-entidade relativamente ao ato constitutivo: a organização e o funcionamento internos da sociedade
são independentes desse ato de constituição (pois são diretamente regidos pela legislação societária); para
além disso, a sociedade-entidade é novo sujeito, que por si atua e se relaciona com outros sujeitos – e essa
atuação e relação não são, portanto, disciplinados pelo ato criador. De todo o modo, estudaremos as
sociedades comerciais principalmente na perspetiva da sociedade-entidade (que é a do CSC).
O CSC, no seu art. 1º/2, «são sociedades comerciais…». Diz-nos, portanto, o Código quando é que uma
sociedade é comercial, mas não nos diz o que é uma sociedade. Onde encontrar? 1. art. 980º CC (dto privado
comum e subsidiário) – não é suficiente, pq hoje admitem-se sociedade que não assentam em contratos ou
negócios jurídicos pluripessoais.

2. Os elementos ou notas essenciais da noção genérica de sociedade

O art. 980º do CC define o contrato de sociedade como «aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a
contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que não seja de
mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade». Retiram-se desta definição os
seguintes elementos da noção (civilista) de sociedade enquanto entidade:

a) associação ou agrupamento de pessoas;


b) o fundo patrimonial;
c) o objeto (exercício comum de certa atividade económica que não seja de mera fruição);
d) o fim (obtenção de lucros para serem repartidos pelos associados).

2.1. Sujeito ou agrupamento de sujeitos (sócios)

A sociedade começa por ser uma entidade composta, em regra, por dois ou mais sujeitos, como dita a regra
do art. 980º CC, mas também no art. 7º CSC. Há, todavia, exceções: as sociedades supervenientemente
unipessoais (sociedades reduzidas a um sócio, embora hajam sido constituídas por dois ou mais) e ainda as
sociedades originariamente unipessoais (sociedades constituídas por um só sujeito). As sociedades
supervenientemente unipessoais são admitidas pelos art. 1007º/d) do CC e pelos art. 142º/1/a), art. 270º-A/2 e
464º/3 do CSC; as sociedades originariamente unipessoais não estão previstas no CC, mas sim no CSC, para
as sociedades por quotas e anónimas – no art. 270º-A/1, que permite que uma pessoa singular ou coletiva
constitua uma ‘’SU ou SQ’’; o art. 488º/1 permite uma SQ, SA ou SC por ações (crf. 481º/1) constitua ‘’uma
SA de cujas ações ela seja inicialmente única titular’’.

2.2. Substrato patrimonial

Qualquer sociedade exige um património próprio. Esse património é inicialmente constituído, pelo menos,
pelos direitos correspondentes às obrigações de entrada – todo o sócio é obrigado a entrar com bens para
a sociedade (980º, 983º/1 CC; 20º/a) CSC), sendo que as entradas em sociedade comercial (entradas em
dinheiro, em outros bens suscetíveis de penhora, em indústria ou em serviços) não têm de ser realizadas no
momento inicial da sociedade. Porquê? Porque, ainda quando as obrigações de entrada não sejam realizadas
ou cumpridas nesse momento, já existe património social, pois já existem direitos correspondentes a essas
obrigações. Depois, à medida que vai correndo a vida da sociedade, o património social vai-se alterando com
a entrada e saída de outros direitos ou bens e de obrigações que sejam avaliáveis pecuniariamente.

2.3. Objeto da sociedade

O objeto da sociedade é a atividade económica que o sócio ou os sócios se propõem a exercer mediante a
sociedade (ou propõem que a sociedade exerça). É nessa atividade económica que o substrato patrimonial é
utilizado.

Mas o que são? Diremos que o campo da economia é preenchido pela produção de bens e materiais e
imateriais ou serviços, que exige ou implica o ? e a troca de bens.

Ora, é recorrente na doutrina a ideia de que as atividades culturais, desportivas, recreativas, políticas,
religiosas, etc., não podem ser objeto das sociedades por não pertencerem ao círculo das atividades
económicas, mas sim das associações. Porém, no círculo do não-económico podem-se verificar aspetos
económicos. Consequentemente, estas dimensões económicas de atividades não económicas podem ser
exploradas mediante sociedades (ex.: as atividades teatrais ou musicais podem ser objeto de sociedades).

Diz-se também que a atividade económica societária ‘’significa que dela deve resultar um lucro
patrimonial’’. Discordamos. É verdade que a atividade-objeto das sociedades possibilita a obtenção de lucro,
mas isto não significa que toda a atividade não lucrativa tenha de ser, do ponto de vista jurídico, não
económica.

Segundo o art. 980º do CC, a atividade económica objeto das sociedades não pode ser de mera fruição.
Significa isto que as sociedades não podem ter por objeto atividades de simples desfrute.

a) A morre e B e C, seus filhos, herdam uma quinta e uma padaria, em compropriedade.


a. B e C acordam em arrendar a quinta, e locar a padaria. Portanto, B e C propõem-se a exercer
atividades de mera fruição, de aproveitamento dos frutos civis das empresas comuns; não
constituem, portanto, qualquer sociedade.
b. B e C acordam em explorar eles próprios cada uma das empresas. Significa isto que
constituem duas sociedades, uma civil (agrícola), outra comercial – cada um deles se obriga a
contribuir com as respetivas quotas nas comunhões para o exercício em comum de
determinadas atividades económicas que não são de mera fruição, a fim de repartirem os
lucros resultantes dessas atividades. Estando reunidas todas as notas caracterizadoras da (do
contrato de sociedade) sociedade, sociedade temos – mesmo que eles não tenham formalizado
ou mesmo não tenham consciência de tal. – 981º e 1408º/3 CC e 7º/1 do CSC;
b) E e F compraram um restaurante a G.
a. E e F compraram o restaurante para, logo que possível, o venderem. Decorreram dois meses
entre o momento da CeV, e durante esse tempo exploraram o restaurante (contratando um
‘’gerente de comércio’’ para o efeito). Nesse tempo, a empresa pertenceu a E e F em
compropriedade ou em sociedade? Simples compropriedade. A exploração (apesar de não ser
uma atividade de mera fruição) foi apenas para manter o seu valor, pq a intenção foi sempre a
de comprar para vender. Não arriscaram bens para o exercício em comum de uma atividade
económico-lucrativa.
b. E e F decidiram comprar a G o restaurante, a fim de o explorarem, e para isso cada um entrou
com determinada importância em dinheiro. Feita a compra, começaram logo a explorá-lo.
Pesar de não ter havido qualquer contrato explícito de sociedade, existe sociedade (tal como
em ab)).
A distinção entre compropriedade e sociedade importa consideráveis diferenças de regime. Ex.: todo o
comproprietário tem direito a exigir a divisão da coisa comum (art. 1412º CC), mas os sócios não têm esse
direito; qql comproprietário tem o direito de se servir da coisa comum (art. 1406º CC), já o mesmo não se
verifica nas sociedades; a coisa em compropriedade não é um património autónomo, separado do património
de compropriedade, ao contrário do que se verifica nas sociedades, inclusive nas simples ( arts. 997º, 999º e
1000º do CC) e nas sociedades comerciais antes de cumprida a forma legal (art. 36º/2 do CSC).

c) H pretende comprar um prédio para arrendar. P/ tal, propõe-se constituir uma sociedade unipessoal
por quotas (art. 270º-A do CSC). Poderá fazê-lo? Não, pois a atividade projetada é de mera fruição.

Se ficássemos por aqui, diríamos que não pode haver sociedade para o exercício de atividade
(exclusivamente) de mera fruição. Porém, temos a figura da sociedade de simples administração de bens –
art. 6º/4 do CIRC.

Algumas destas sociedades podem ter como objeto exclusivo as atividades de mera fruição, como por
exemplo sociedades constituídas por familiares, que entram com 4 prédios urbanos a fim de ela os
administrar-conservar e arrendar; sociedade constituída para comprar prédios destinados à habitação dos seus
sócios. Estas não são sociedades civis (a isto se opõe o art. 980º do CC), mas também não são qualificáveis
como comerciais (não têm por objeto a prática de comércio). Note-se que as sociedades de simples
administração de bens que não tenham por objeto a prática de atos de comércio podem adotar tipos comerciais
(art. 1º/4 CSC).

 A atividade económica (objeto social) deve ser ‘’certa’’ ou determinada (art. 980º CC + 11º/2 CSC).
Contudo, esta nota não é essencial para o conceito de sociedade. A falta de especificação do objeto social
no ato constituinte ou no estatuto tem consequências, MAS NÃO passam pela não qualificação como
sociedade da entidade.

 Diz tbm o art. 980º CC que a atividade económica do sociedade tem de ser exercida ‘’em comum’’ pelos
sócios. Claro que não é assim nas sociedades unipessoais. Mesmo para as pluripessoais, a expressão não é
a mais adequada. É mais correto dizer que a é a própria sociedade que exerce a atividade, enquanto
entidade ou sujeito distinto dos sócios. É de acrescentar ainda que ««exercício comum’’ não significa que os
sócios (excetuando os da indústria) hão de intervir diretamente na atividade social. Significa que eles
poderão participar na condução, ou pelo menos, no controlo, dessa atividade.

2.4. Fim da sociedade

De ac. com o art. 980º CC, o fim é a obtenção de lucros E a sua repartição pelos sócios.

 Mas o que é lucro? É um ganho que se traduz num incremento do património da sociedade. Este fim
lucrativo vale também para as sociedades comerciais. As sociedades comerciais (e civis do tipo comercial)
propõem-se a obter lucros, que são ‘’das sociedades’’, formando-se nelas, destinando-se depois a ser
‘’divididos’’ pelos sócios.

O escopo lucrativo, entre nós, é um elemento indeferível do conceito de sociedade? Ora, a falta de escopo
lucrativo não consta do elenco taxativo de causas de nulidade presente no art. 42º/1 CSC, pelo que dir-se-ia
que um contrato de constituição de sociedade (por quotas, pex) é válido, e que estamos perante uma SQ sem
fim lucrativo. Contudo, é mais apropriado situar hipóteses destas no campo da qualificação dos contratos,
e não no campo das invalidade negociais. Faltando um elemento essencial do contrato de sociedade regulado
no SCS, não deve falar-se desse contrato; em vez de sociedade, temos um contrato de associação.

2.5. Sujeição a perdas

Em vez de lucrarem, o sócio ou os sócios podem perder. Podem não recuperar, quando saiam das sociedades
ou esta se extinga, o valor das entradas e de prestações feitas à mesma ou o valor das participações sociais
adquiridas posteriormente. A sujeição a perdas não consta do art. 980º CC, mas a noção genérica de sociedade
deve integrar este elemento, que se extrai do art. 984º CC, como do art. 22º/3 CSC.

2.6. Síntese: sociedade é a entidade que, composta por um ou mais sujeitos (sócios), tem um património
autónomo para o exercício de atividade económica, a fim de (em regra) obter lucros e atribuí-los ao(s)
sócio(s) – ficando este(s), todavia, sujeito(s) a perdas.

3. Sociedade e empresa

A sociedade é uma empresa; empresa e sociedade relacionam-se como matéria e forma. Com efeito, uma
sociedade é, em regra, constituída para a exploração de uma empresa. Porém:

1. Há sociedades a que não correspondem empresas. Ex.: sociedades de profissionais liberais e de


artesãos.
2. As empresas têm conteúdos e formas próprios, diferentes dos conteúdos e formas das sociedades.
3. A sociedade, embora signifique também ordenação da empresa, além de ordenação patrimonial, é
primariamente organização de sujeitos. Logo, a sociedade é, em boa medida, organização da empresa
(quando exista), mas não só; é organização que transcende a empresa. Por seu lado, a empresa é
primordialmente organização objetivo-instrumental da sociedade-sujeito, organização normalmente
não composta ou integrada pelo sujeito-sócio.
4. A empresa pode preceder a sociedade;
5. O património da sociedade não é idêntico ao património empresarial (o da sociedade compreende
bens e valores não afetados à empresa, ie, não são elementos desta);
6. A sociedade pode efetuar negócios tendo por objeto a respetiva empresa (vendendo-a, locando-a, etc.)
7. A sociedade pode sobreviver à sua empresa (ou empresas) – em caso de dissolução, a sociedade
mantém-se até ao final da liquidação, mas antes desse termo a empresa pode extinguir-se. Tal como
pode extinguir-se antes dele (num processo de liquidação da sociedade é a empresa alienada,
continuando na titularidade do adquirente).

4. Sociedade e figuras (mais ou menos) afins

4.1. Cooperativas

Nos termos do art. 2º/1 do CCoop., as cooperativas são …. Os ‘’princípios cooperativos’’ estão formulados no
art. 3º. Além dos cooperadores, a cooperativa pode ter ‘’membros investidores’’ que também têm direito de
voto e possibilidade de serem titulares dos órgãos da cooperativa (arts. 20º, 29º/8, 41º/6/7). A assembleia
geral, composta pelos cooperadores, é o órgão supremo da cooperativa, sendo que as suas deliberações são
vinculativas para os demais órgãos e para todos os membros. Relativamente aos órgãos da

4.2. ACE e AEIE (agrupamentos complementares de empresas; agrupamentos europeus de interesse


económico)

ACE – Lei 4/73, de 4 de junho e DL 430/73, de 25 de agosto. Nos termos da lei, os membros do ACE devem
ser empresas em sentido subjetivo a que correspondam empresas em sentido objetivo; os agrupados devem ser
sujeitos que explorem empresas. É o que resulta da designação «agrupamentos complementares de empresas»,
n.º 2 e 3 da base II da lei e do art. 11º/2 do DL 430/73. A atividade-objeto do ACE tem de ser diferente e
auxiliar ou complementar das atividades exercidas pelos agrupados (base I, 1, da L 4/73, arts. 9º e 13º/a) do
DL 430/73). Ora, tal atividade tem como finalidade melhorar as condições de exercícios ou de resultado das
atividades dos membros, sendo que o ACE não pode ter por fim principal a realização e partilha de lucros
(base II, 1 da L, arts. 15º, 16º/1/b) do DL) (apenas é autorizado quando expressamente no contrato constitutivo
do agrupamento). O dto subsidiariamente aplicável é o das sociedades em nome coletivo (20º do DL).
Deve entender-se que os ACE não são sociedades. São entidades sem fins lucrativos (ao contrário destas).
A própria lei supõe essa natureza não societária, no art. 4º do DL 430/73. São (tal como as cooperativas)
entidades do tipo associativo que se situam entre as associações de regime geral e as sociedades.

Os traços caracterizadores há pouco apontados são semelhantes nos AEIE. R (CEE) 2137/85 do Conselho, de
25 de julho.

4.3. Consórcios

O consórcio é definível de acordo com os arts. 1º e 2º do DL 321/81, de 28 de julho, como o contrato pelo
qual duas ou mais entidades que exerçam atividades económicas se obrigam a, de forma concertada, realizar
certas atividades ou efetuar determinadas contribuições a fim de possibilitar a realização de atos materiais ou
jurídicos preparatórios de uma atividade, a execução de certo empreendimento, o fornecimento a terceiros de
bens iguais ou complementares produzidos por c/ um dos consorciados, a pesquisa ou exploração de recursos
naturais ou a produção de bens que possam ser repartidos em espécie entre os consorciados. Assim, pex., é de
consórcio o contrato pelo qual duas sociedades de construção civil se obrigam, para a abertura de uma estrada,
a realizar, de forma concertada, trabalhos de terraplanagem (uma) e trabalhos de alcatroamento (outra). O
consórcio pode ser interno (art. 5º/1) e externo (5º/2).

O consórcio não é espécie de contrato de sociedade. De um contrato de consórcio não nasce uma entidade
(societária ou de outro tipo). Na verdade, nem sequer há o consórcio um fundo patrimonial comum que
suporte a atividade comum; não há exercício comum de uma atividade económica, havendo sim atividades ou
contribuições individuais (de c/ um dos consorciados), embora realizadas de forma concertada. Logo, tbm não
há um lucro comum – podem é os consorciados, individualmente, obter lucros das respetivas atividades
individualmente exercidas no quadro do consórcio.

4.4. Associação em participação

Cap. II do DL 231/81, de 28 de julho (arts. 21º-31º). Não têm caráter societário, pois são contratos que não
originam novas entidades. A atividade económica a que os sujeitos se ‘’associam’’, não é exercida em
comum; é exercida essencialmente pelos ‘’associantes’’; as contribuições dos ‘’associados’’ integram-se no
património dos ‘’associantes’’, não havendo património comum nem autónomo.

5. Notas da comercialidade das sociedades (notas específicas da noção de sociedade comercial)

O género sociedade desdobra-se, fundamentalmente, em duas espécies: sociedade civil e sociedade


comercial. Segundo o art.1º/2 do CSC, é comercial a sociedade que respeite 2 requisitos:

1. tenha por objeto a prática de atos de comércio (objeto comercial)


2. adote um dos tipos aí previstos - em nome coletivo, por quotas, anónima, em comandita simples, em
comandita por ações (tipo ou forma comercial)

Porém, deve entender-se que só o primeiro requisito (o do objeto) é essencial para qualificar uma sociedade
como comercial. Uma sociedade que tem por objeto a prática de atos de comércio, mesmo quando não adote
um dos referidos tipos, é sociedade comercial – apesar de irregularmente constituída, quando falte essa
adoção.

Note-se ainda que as sociedades com objeto mercantil não têm nem podem ter forma civil.

6. Sociedades civis simples e sociedades civis de tipo comercial

São civis as sociedades com objeto civil ou não comercial. Isto é, as sociedades que não tenham por objeto a
prática de atos de comércio, o exercício de uma atividade mercantil. Pex., são sociedades civis as sociedades
agrícolas, as sociedades de artesãos, de profissionais liberais, etc.
Para que sejam civis, têm de ter por objeto exclusivamente uma atividade não comercial – é o que resulta do
art. 1º/3/4 do CSC. Pex., uma sociedade que explora uma empresa agrícola (objeto civil) e, além disso, se
dedica à comercialização de sementes adquiridas a terceiros é sociedade comercial, porque o seu objeto
desdobra-se em atividades não comerciais e comerciais.

As sociedades civis podem ser de duas espécies: sociedades civis simples e sociedades civis de tipo ou
forma comercial.

 Sociedades civis simples: são disciplinadas, essencialmente, pelo CC (980º, ss.).


 Sociedades civis de tipo ou forma comercial: são sociedades que, embora sejam civis, adotam um dos
tipos de sociedades comerciais – e por essa razão é-lhes aplicável o CSC (art.4º/1).

Em regra, as sociedades civis podem adotar (ou não) qualquer tipo societário mercantil ( art. 1º/4 CSC).
Porém, há exceções. Por um lado, algumas sociedades não podem adotar nenhum dos tipos de sociedades
comerciais – é o caso das sociedades de advogados. Por outro lado, outras sociedades civis apenas podem
adotar certo ou certos tipos de sociedades comerciais. Ora, por outro lado ainda, determinadas sociedades
civis, podendo embora perfilhar qualquer tipo comercial, não podem deixar de adotar um desses tipos.
(FALTA-ME A PÁGINA 60)

Cap. II -- TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAIS

1. Tipicidade societária/Tipos de sociedades comerciais

Logo no art. 14º fala o CSC de ‘’tipos’’ societários (n.ºs 2, 3 e 4). A doutrina fala ainda de outros tipos de
sociedade; aos tipos legais, juntam-se os tipos doutrinais.

Os tipos societários são modelos de regulação de relações (entre sócios, entre sócio(s) e sociedade, entre uns
e outra com terceiros) determinados por conjuntos abertos de notas características (essenciais ou
prescindíveis).

2. Caracterização geral dos tipos legais societários

Nos arts. 175º, 197º, 271º e 465º CSC pretende-se, aparentemente, caraterizar os diversos tipos societários. De
acordo com tais preceitos, a caracterização dos tipos faz-se, em primeiro lugar, através da delimitação da
responsabilidade dos sócios, aparecendo depois a referências às espécies de participações sociais. (como é a
responsabilidade dos sócios? Como funcionam as participações deles?)

Porém, estas notas não são suficientes para caracterizar ou descrever os tipos societários. Recorremos,
portanto, a essas e outras notas caracterizadoras. Principais:

1. Número mínimo de sócios;


2. Capital social mínimo;
3. Responsabilidade dos sócios perante os credores sociais;
4. Transmissão de participações sociais inter vivos e mortis causa;
5. Estrutura organizatória.

2.1. Responsabilidade dos sócios perante a sociedade e perante os credores sociais

a) SNC

 Cada sócio responde pela sua entrada, responsabilizando-se pelo cumprimento ou realização da
entrada a que se obrigue (em €, espécie ou indústria) – art. 175º/1
 Eventualmente, quando algum sócio entre com bens em espécie e os mesmos não sejam verificados e
avaliados nos termos do art. 28º, têm os sócios de assumir expressamente no contrato social
responsabilidade solidária pelo valor que atribuam aos mesmos bens – art. 179º

b) SQ

 Pela realização da sua entrada (em € ou em espécie) e também solidariamente com os outros sócios
pela realização de todas as entradas convencionadas no contrato social – art. 197º/1
 Eventualmente, um ou mais sócios podem ainda ficar obrigados perante a sociedade a prestações
acessórias e suplementares – arts. 197º/2, 209º, 210º

c) SA

 apenas pela sua própria entrada (em € ou em espécie) - art. 271º


 quanto ao valor das ações, este é o valor por que foram postas à subscrição, que não pode ser
inferior, mas pode ser superior ao valor nominal das mesmas ou, no caso de ações s/ valor nominal,
ao ‘’valor de emissão’’ – arts. 25º/1/2/3; 295º/2/a), 3/a), 298º
 eventualmente: prestações acessórias - art. 287º

d) SCD Simples e Por ações: todos os sócios (os comanditários e os comanditados): pelas respetivas
entradas. - arts. 465º1, 474º / 478º

Em qualquer tipo societário: responsabilidade solidária do sócio com membros do órgão de administração
ou fiscalização - art. 83º

Nas relações de grupo (domínio total ou subordinação): sócio responde por perdas da sociedade - arts.
491º, 502º

Responsabilidade dos sócios perante os credores sociais (por dívidas da sociedade)

a) SNC

 respondem pelas obrigações sociais (pecuniárias) subsidiária e solidariamente entre si- art. 175º1,3.
Note-se que pelo facto de a responsabilidade ser subsidiária, os credores da sociedade só podem exigir
o pagamento aos sócios depois de executado o património social. Por ser solidária, os credores têm o
direito de exigir de qualquer sócio o pagamento das dívidas por inteiro.
 (eventualmente: não-sócio que inclua nome ou firma na firma social - art. 177º2)

b) SQ

 Regra: não respondem pelas obrigações sociais - art. 197º/3. Pelas dívidas da sociedade só ela, com o
seu património, responde.
 Exceção: eventualmente: art. 198º/1 (mas sempre com limite «até determinado limite»)

c) SA

 não respondem - art. 271º. Pelas obrigações da sociedade, só ela se responsabiliza.

d) SCD Simples e por ações

 sócios comanditados: regime SNC ex vi art. 465º1. Respondem pelas dívidas sociais nos mesmos
termos que os sócios das SNC, ou seja, respondem subsidiariamente em relação à sociedade, e
solidariamente entre si.
 sócios comanditários: não respondem - art. 465º/1
e) Em qualquer tipo societário

 responsabilidade do sócio único a que ficou reduzida sociedade declarada insolvente: art. 84º

d) Nas relações de grupo (domínio total ou subordinação)

 sociedade totalmente dominante ou diretora responde perante credores da sociedade dominada ou


subordinada: arts. 491º, 501º

2.2. Estrutura organizatória

As sociedades atuam através de órgãos, isto é, através de centros institucionalizados de poderes funcionais a
exercer por pessoa ou pessoas com o objetivo de formar e/ou exprimir vontade juridicamente imputável às
sociedades.

Interessa-nos distinguir órgãos sociais segundo a competência: órgãos de formação de vontade ou


deliberativos-internos (tomam decisões que expressam a vontade social, mas quase nunca a manifestam para
o exterior – não tratam com terceiros); órgãos de administração e representação (gerem as atividades
sociais e representam as sociedades perante 3os, a quem fazem e de quem recebem declarações de vontade) e
órgãos de fiscalização ou de controlo (fiscalizam, sobretudo, o modo como os membros do órgãos de
administração atuam).

a) As sociedades de qualquer tipo têm um órgão deliberativo-interno. = Este órgão é, habitualmente,


designado de ‘’Assembleia geral’’.

Nas sociedades unipessoais - composto pelo sócio único; composto pelos sócios em conjunto, nas restantes
sociedades.

 SNC: sócios - art. 189º


 SQ: sócio(s) - arts. 246ºss, 270ºE
 SA: sócio(s) - art. 373º, ss
 SCD: sócios - art. 472º

b) Órgão de administração e representação.

 SNC: designado por gerência - art. 191º


 SQ: gerência - art. 252º/1
 SA tradicional
 conselho de administração - art. 278º/1
 eventualmente: um só administrador - art. 278º/2, 390º/2
 SA tipo germânico
 conselho de administração executivo - art. 278º/1
 eventualmente: um só administrador - art. 278º/2, 424º/2
 SA monística
 conselho de administração [integra comissão de auditoria]
 nunca um só administrador art. 278º/5
 SCD: gerência - art. 470º. Exceto quando o contrato social permita atribuir a gerência (também) a
sócios comanditários (pessoas singulares), só os sócios comanditados (pessoas singulares) podem ser
gerentes – art. 470º/1, 474º, 478º

c) Órgão de fiscalização: não existe como órgão típico nalgumas sociedades, pode existir noutras, e tem
de existir em outras.
 SNC: não existe
 SQ
 facultativo: podem ter conselho fiscal ou fiscal único - arts. 262º/1, 413º/1/a)
 a partir de certa dimensão obrigatório ter ou conselho fiscal/fiscal único (integrando ROC
não sócio), a menos que designem ROC - art. 262º/2, 3 [ROC= revisor oficial de contas]
 SA tradicional
 ou conselho fiscal / fiscal único (integrando ROC não sócio), - arts. 278º/1/a),2, 413º/1/a),4,
414º/1,2
 ou conselho fiscal e ROC - arts. 413º1/b),4, 414º/2
 SA tipo germânico
 conselho geral e de supervisão e ROC (não sócio) - arts. 278º/1/c), 434º, 446º
 SA monística
 comissão de auditoria (integrada no CA e composta por 3 administradores), e ROC - arts.
278º/1/b), 423º-B, 446º
 SCD
 simples: não existe
 por ações: conselho fiscal ou fiscal único (regime SA’s) - arts. 478º, 413º e ss

2.3. Transmissão de participações sociais

Participação social («parte», «quota», «ação») define-se como um conjunto unitário de direitos e de
obrigações atuais e potenciais do sócio

- transmissão por morte = mortis causa

 SNC: ocorrendo o falecimento de um sócio, se o contrato não afastar a opção, os sócios podem optar
- art. 184º/1,2. Este regime acautela, em primeira linha, os interesses dos sócios supérstites, pois não
se lhes impõe a entrada de estranhos na sociedade:
 Continuação da sociedade com sucessor (es) (se este consentir)
 Liquidação parte do sócio falecido (com pagamento do valor aos sucessores)
 Dissolução da sociedade
 SQ: regra é transmissão da quota a sucessores; pode haver derrogações estatutárias:
 Pode o contrato estabelecer a não transmissão (a título definitivo) - art. 225º/1 (sociedade
amortiza, adquire ou faz adquirir quota)
 transmissão condicionada a requisitos (se não for transmitida, idem) - art. 225º1
 transmissão dependente vontade sucessores - art. 226º
 SA: regime geral
 transmissão a sucessores - art. 2024º, ss. CCiv
 SCD
 simples: sócios comanditados: regime SNC - art. 469º/2; sócios comanditários: regime SQ -
art. 475º
 por ações: sócios comanditados: regime SNC - art. 469º/2; sócios comanditários: transmissão
a sucessores como em SA - art. 2024º, ss. CCiv

- transmissão entre vivos

 SNC: um sócio de SNC só pode transmitir a sua parte social (a título oneroso ou gratuito, para sócios
ou não-sócios) com o consentimento expresso dos restantes sócios - art. 182º/1. Em caso de recusa,
resta ao sócio exoneração: art. 185º/1, a)
 SQ: a regra é a de que a transmissão voluntária é livre, se feita a determinadas categorias de pessoas:
entre cônjuges, entre ascendentes e descendentes ou entre sócios; para as outras, necessidade de
consentimento da sociedade - art. 228º/2, 230º, 2
 Contudo, estas regras podem ser derrogadas pelo estatuto social, que pode levar:
 proibição total da cessão de quotas - art. 229º/1
 restrições - art. 229º/3,5
 ampliação - art. 229º/2
 [consequências da recusa de consentimento- art. 231º]
 SA: regra: livre transmissão de ações - art. 328º/1
 Contudo, estas regras podem ser derrogadas pelo estatuto social, que pode levar a:
 restrições para ações nominativas - art. 328º-2
 [consequências da recusa de consentimento- art. 329º
 SCD
 simples: sócios comanditados: necessidade de deliberação autorizante (salvo derrogação
contrato) - art. 469º/1; sócios comanditários: regime SQ - art. 475º
 por ações: sócios comanditados: necessidade de deliberação autorizante (salvo derrogação
contrato) - art. 469º/1; sócios comanditários regime SA - art. 478º

2.4. Número mínimo de sócios

 SNC
 dois - art. 7º/2
 SQ
 dois - art. 7º/2
 um - art. 270º-A
 SA
 cinco - art. 273º/1
 dois - art. 273º/2
 um - art. 488º (mas 481º/1)
 SCD
 simples: dois - art. 7º/2
 por ações: seis - art. 479º (art. 465º/1 e 466º/1)

2.5. Capital social

O capital social é, em regra, representativo da soma dos valores nominais das participações sociais
fundadas em entradas em dinheiro e/ou em espécie. Estas entradas devem ter um valor idêntico ou
superior ao valor atribuído àquelas participações (partes, quotas ou ações) – art. 25º/1/2.

 SNC: as SNC constituídas por sócios que entrem somente com a sua indústria ou trabalho não têm
capital social (9º/1/f), 178º/1).
 não há valor mínimo (não está especificado para elas) e pode não haver capital social - arts.
9º/1/f), 178º1
 SQ
 não há valor mínimo – art. 201º
 Porém, é “calculável” em função do número de sócios - art. 219º/3 - dita este artigo que é ‘’a
partir de 1€’’ para as sociedades unipessoais, 2€ para as sociedades com dois sócios, etc.
 SA
 € 50 000 - art. 276º5
 SCD
 simples: não há valor mínimo
 por ações: € 50 000 - art. 478º

3. Tipos doutrinais societários

Além dos tipos legais de sociedades, devemos referir ainda os tipos doutrinais. É tradicional, entre nós, a
distinção entre ‘’sociedades de pessoas’’ e ‘’sociedades de capitais’’.

As sociedades de pessoas são dependentes da individualidade dos sócios. Assim, as suas principais
características são:
1. responsabilidade dos sócios pelas dívidas sociais;
2. a impossibilidade ou dificuldade de os sócios mudarem (pois a transmissão das participações existe o
consentimento dos sócios);
3. o grande peso dos sócios nas deliberações sociais e na gestão das sociedades;
4. a necessidade de a firma social conter o nome ou firma de sócio(s);
5. o dever de os sócios não concorrerem com as respetivas sociedades, salvo consentimento de todos os
outros sócios;
6. o direito alargado de cada sócio á informação sobre a vida da sociedade.
7. A sociedade em nome coletivo é o protótipo das sociedades de pessoas.

As sociedades de capitais assentam, principalmente, nas contribuições patrimoniais dos sócios.


Características mais marcantes:

1. a não responsabilidade dos sócios pelas dívidas sociais;


2. a fácil mudança ou substituição dos sócios;
3. o peso dos sócios nas deliberações sociais e na gestão das sociedades é determinado pela importância
das respetivas participações de capital;
4. a firma social não tem de ter qualquer nome ou firma de sócio(s);
5. os sócios-não administradores podem concorrer com as respetivas sociedades;
6. o direito à informação, nalgumas das suas modalidades, não é atribuído a todos os sócios.
7. A sociedade anónima é o protótipo das sociedades de capitais.

Parâmetros de diferenciação

a. responsabilidade por dívidas sociais (sim ou não)


b. transmissão participações sociais (difícil vs. fácil)
c. deliberações (atribuição de votos, quóruns deliberativos alargados)
d. gestão da sociedade (quem, sócios ou não sócios, relação com órgão deliberativo)
e. dever de não concorrência (sim ou não)
f. direito à informação (amplitude)
g. composição da firma (obrigatoriedade identificação de sócios)

- SQ, SC - não é fácil integrar nesta tipologia os tipos legais ditos ‘’normais’’ das SQ, SC simples e por
ações. Contudo, em rigor, estes tipos (legais) não correspondem nem às sociedades de pessoas, nem às
sociedades de capitais, pois combinam importantes notas características tanto de umas como de outras. [Mas
as notas personalísticas prevalecem nas SC simples, e as capitalísticas nas SC por ações. Por sua vez, as SQ
têm características personalísticas. Todavia, são igualmente visíveis características capitalísticas]

- SNC, SA – paradigmas.

As normas dispositivas permitem redesenhar sociedade concreta face ao tipo pessoas/capitais.

‘’Sociedades abertas’’ – (principalmente) SA e SCd Ações

São especialmente abertas aos mercados de capitais, designadamente, aos mercados de bolsa, onde colocam
ações e onde os investidores e os sócios adquirem e alienam ações. São sociedades de substrato pessoal muito
amplo, com muitas e muito disseminadas ações.

‘’Sociedades fechadas’’ – (todas) SNC, SQ, SCd Simples

Nas sociedades fechadas, as respetivas participações sociais não são negociáveis em mercados públicos, sendo
natural que os sócios sejam em número reduzido, e se envolvam na vida da sociedade. [Note-se que há
sociedades por ações que, sendo embora típico-legalmente abertas, são especialmente fechadas: sociedades
unipessoais e sociedades com número reduzido de sócios unidos por laços vários, incluindo os familiares].
Parâmetros de diferenciação

1. Disseminação participações sociais / amplitude substrato pessoal


2. Facilidade ou dificuldade de transmissão participações sociais
3. Existência de sócios controladores e sócios “de investimento”, empenho dos sócios na vida da
sociedade

Possibilidade de modelação concreta também esbate fronteiras.

4. Taxatividade (ou numerus clausus) dos tipos legais de sociedades

 Obrigatoriedade de adotar tipo legal art. 1º, 3 CSC: as sociedades com objeto comercial criadas ao
abrigo do CSC não podem ser atípicas, têm de adotar. Vigora neste domínio o princípio da
taxatividade ou do numerus clausus dos tipos legais de sociedades comerciais.
 Não podem ser atípicas, ie, adotar regulamentação estatutária incompatível com qualquer
tipo legal ou com notas essenciais do tipo legal escolhido no estatuto
 ex: cláusulas estatutárias que contrariam características imprescindíveis do tipo escolhido
 ex: cláusulas estatutárias que conjuguem notas distintivas de dois tipos
 Sanção: nulidade das cláusulas (ou problema de qualificação)
 A taxatividade dos tipos legais societários impõe uma limitação à liberdade negocial: o sujeito ou os
sujeitos que queiram constituir uma sociedade comercial (ou civil com forma comercial) têm de optar
por um dos tipos previstos na lei. Há mesmo regimes especiais a impor certos tipos a certas
sociedades (v.g., em função do objeto).
 Mas há alguma liberdade para cláusulas atípicas que respeitem núcleo essencial do tipo (exs.) Isto é,
os sujeitos têm liberdade para conformarem o regime das sociedades de cada um dos tipos: nos
espaços não ocupados por lei dispositiva há lugar para clausulas atípicas (são clausulas que respeitam
o núcleo essencial do tipo, mas se desviam num ou noutro aspeto das típicas características do tipo).
Porém, as atípicas que contrariem as notas essenciais do tipo escolhido são nulas, a menos que se
conclua que essas e outras clausulas configuram uma sociedade de tipo diferente daquele que foi
nomeado pelos sócios.
 Justificação do princípio da tipicidade/taxatividade: segurança jurídica. No interesse de quem? *
Credores * público em geral * próprios sócios: mesmo desconhecendo os estatutos sociais, podem
confiar que as sociedades de certo tipo não podem deixar de obedecer a determinado quadro
regulativo; nas suas relações com as sociedades, tais sujeitos sabem com o que podem contar.

5. Apontamento histórico

 Evolução da sociedade em comandita, da sociedade em nome coletivo e da sociedade por quotas


 Evolução da sociedade anónima: mais complexa
• Ligação às companhias coloniais seiscentistas e setecentistas: limitação de responsabilidade e
divisão do capital social em ações.
• Modelo democrático? Crítica: é instituição plutocrático-oligárquica: poder está sobretudo no
órgão de administração e na mão dos acionistas maioritários/de controlo (um voto por ação)

Cap. III -- Constituição das sociedades comerciais

1. A constituição como processo

A constituição ou formação das sociedades comerciais (e das sociedades civis de tipo comercial) analisa-se
num processo, numa série de atos e formalidades.

Modos de constituição regulados no CSC:


 O processo normal de constituição de sociedades aí previsto desdobra-se em 3 atos principais: 1.
Contrato de sociedade; 2. Registo do contrato; 3. Publicação do contrato.

 Note-se, porém, que o art. 18º CSC permite que se faça um registo prévio do contrato de sociedade, sendo
que passarão a ser os momentos principais o 1. Contrato de sociedade; 2. Registo prévio do contrato; 3.
Formalização do contrato; 4. Registo definitivo (converte-se o registo prévio em definitivo); 5.
Publicação.

 A constituição de (pluripessoais) sociedades anónimas e de sociedades em comandita simples pode também


efetuar-se «com apelo a subscrição pública» - art. 279º ss e 478º

 O CSC permite a constituição de sociedades por quotas e anónimas unipessoais – art. 270º-A, 488º. É de
realçar o seguinte nos processos de formação: ato constituinte tem a natureza de negócio jurídico unilateral,
que deve revestir a forma exigida no art. 7º/1 (270º-G e 488º/2); registo definitivo do ato constituinte;
publicação do ato constituinte.

Outros modos:

• lei ou decreto-lei (processo “previsto” na CRP – promulgação PR, publicação DR – CRP, arts. 116º,
167º, 168º, 200º; 134º/b), 136º, 137º; 140º; 119º/1/c), 2)
• saneamento por transmissão (art. 199º CIRE) – visa a constituição de uma ou mais sociedades para estas
explorarem um ou mais estabelecimentos que adquiram à massa insolvente. Faz-se uma apresentação da
proposta de plano de insolvência, contendo em anexo os estatutos da sociedade; a assembleia dos
credores delibera, e aprova a proposta; há a homologação judicial do plano e, por fim, o registo da
constituição da sociedade e a sua publicação.
• empresas societárias municipais, intermunicipais e metropolitanas (art. 22º/1 RAEL, L 50/2012)
• “empresa na hora” [regime especial de constituição imediata de sociedades] (DL 111/2005)
• “empresa online” [regime especial de constituição online de sociedades] (DL 125/2006)

2. Ato constituinte

Na generalidade dos casos, a sociedade é constituída através de um único ato: o ato constituinte. P. ex.:
celebrando-se um contrato de sociedade, pode logo dizer-se que existe (ou está ‘’constituída’’) a sociedade-
entidade. Estando reunidas todas as notas caracterizadoras de uma (de um contrato de) sociedade, a
sociedade nasce.

Por outro lado, há defensores que de a sociedade comercial só existe a partir do registo definitivo – só então
adquire personalidade jurídica. E antes disso? Teremos uma ‘’pré-sociedade’’, ou ‘’sociedade em formação’’,
e não uma efetiva sociedade comercial. Porém, COUTINHO DE ABREU defende que a sociedade existe
antes do registo. Inclusiva, tem subjetividade e pode atuar antes do registo. A partir da data do registo
definitivo, as sociedades passam a gozar de personalidade jurídica, e existem como pessoas jurídicas ou
coletivas – art. 5º CSC.

É certo que, segundo a lei, as sociedades comerciais devem possuir PJ, e a sua existência e caracterização
devem ser plenamente eficazes. Ora, para que se verifica esta perfeita constituição NÃO BASTA um ato 
são necessários mais: é legítimo falar de processo de constituição.

2.1. Espécies

 contrato: é o ato constituinte «normal». Trata-se de um contrato de fim comum – obter lucros que se
irão distribuir pelos sócios – e de organização – o negócio faz nascer uma entidade estruturada
orgânico-funcionalmente.
 negócio jurídico unilateral: nas sociedades unipessoais.
 contrato + deliberação da assembleia constitutiva (na subscrição pública): na formação de sociedades
com apelo a subscrição pública, não há propriamente um ato constituinte; há estes dois, embora
interdependentes e complementares.
 contrato de fusão * ato de cisão (contrato ou negócio jurídico unilateral) * negócio jurídico unilateral
de transformação
 lei ou decreto-lei: o ato constituinte é o respetivo ato legislativo.
 decisão judicial homologatória do plano de insolvência (sociedades resultantes de saneamento por
transmissão) – arts. 199º, 217º/3/a) do CIRE.

Sujeitos

 pessoas singulares: pessoas humanas com capacidade de exercício. Mas…


• também menores, interditos e inabilitados com incapacidade suprida – art. 124º
• cônjuges: podem os cônjuges (só eles, como únicas partes) constituir sociedades por quotas ou
em comandita simples ou por ações – desde que sejam ambos comanditários ou só um deles seja
comanditado. Não podem, pois, ambos os cônjuges ser sócios de uma mesma sociedade em nome
coletivo. Art. 1714º/3 CCiv. 8º/1 CSC.
 pessoas coletivas privadas
• sociedades comerciais e civis sob forma comercial – 6º/1, 11º/4/5/6, 270º-A/1, 481º e ss do CSC
(entre outros)
• cooperativas – art. 8º/1, 9º
• AEIEs (não ACEs) – Reg. 2137/85, art. 3º/2/b), 2ª parte.
• associações e fundações – A regra geral do 160º/1 CC dita que «a capacidade das PC abrange
todos os dtos e obg necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins»;
consequentemente, quando não haja uma específica lei a proibi-lo, as associações e fundações
podem participar na constituição, ou mesmo constituir, sociedades – sempre que tal se mostre
necessário ou conveniente à prossecução dos seus fins.

 pessoas coletivas públicas


• Estado
• entidades públicas estaduais = PCP de tipo institucional (serviços personalizados, fundações
públicas, EPEs, etc.)
• Regiões Autónomas, Municípios e associações de municípios – art. 227º/1/h) CRP, arts. 273º/2,
545º CSC, arts. 4º, 5º e 8º RSPE
• entidades coletivas sem personalidade jurídica – designadamente sociedades civis e sociedades
comerciais sem registo definitivo.
- Podem constituir ou participar na constituição de sociedades comerciais? COUTINHO DE
ABREU defende que sim. E stas entidades têm capacidade suficiente de gozo e de
exercício de direitos para o efeito. Arts. 996º ss CC; arts. 36º/2 e 38º ss do CSC.

2.2. Conteúdo dos estatutos

Os atos constituintes regidos pelo CSC têm de conter certas menções, e podem conter outras não obrigatórias /
facultativas. O art. 9º fixa a lista de menções obrigatórias gerais (para a generalidade das sociedades, seja
qual for o tipo). 1

a) Os nomes ou firmas de todos os sócios fundadores e os outros dados de identificação destes;


b) O tipo de sociedade;
c) A firma da sociedade;

1
O artigo fala de ‘’elementos do contrato’’, porém, note-se que as sociedades não são constituídas somente por
contrato, pelo que é mais correto falar de ato constituinte.
d) O objeto da sociedade: ele deve ser especificado, sendo que não são lícitas as indicações genéricas
das atividades que a sociedade prossegue. Tal deduz-se da letra da lei de índole geral – art. 11º/2). E
porque é assim? Interesses vários: dos sócios, administradores e terceiros.
* Na verdade, os sócios devem conhecer a atividade em que arriscam os seus capitais ou trabalho.
*Por outro lado, certas obrigações de não concorrência de sócios e administradores são delimitadas pelo
objeto – art. 180º, 254º, 398º/3/4. Os administradores e órgãos de representação têm o dever de nada fazer fora
do círculo delimitado pelo objeto social – art. 6º/4)
* Várias causas de dissolução das sociedades têm a ver com o objeto – 141º/1/c)/d); 142º/1/b)/c)/d).
* Além disso, é sabido que a natureza comercial ou civil das sociedades é determinada pelo objeto
(art.1º). A falta de estipulação do objeto leva á nulidade do ato constituinte ainda não registado. – art.
41º CSC e 280º CSC

e) A sede da sociedade: o local tem de ser ‘’concretamente definido’’. Portanto, tem de ser mencionado,
consoante os casos, o nome do lugar r/ou freguesia e o concelho, ou o nome da localidade, rua, n.º de polícia e
do andar ou equivalente, freguesia e/ou concelho.
* Porquê? Porque os sócios têm direito à informação, e nesse seguimento, podem consultar documentos da
sociedade na sede social – art. 181º/1, 214º/1, 236º/1, 288º/1, 289º/1/2. Por outro lado, as assembleias gerais
efetuam-se na sede social (art. 377º/6/a)). Por fim, a competência internacional dos tribunais é determinada, às
vezes, pela sede estatuária (63º/b),e) CPC).
≠ sede principal e efetiva da administração – art. 3º/1 CSC
- nacionalidade da sociedade: entre nós, o critério para aferir a nacionalidade é o da sede real ou efetiva (da
Adm.); é estrangeira a sociedade que não tem em PT sede efetiva.

j) O capital social, salvo nas sociedades em nome coletivo em que todos os sócios contribuam apenas com a
sua indústria; (VER CAPÍTULO 6)

g) A quota de capital e a natureza da entrada de cada sócio, bem como os pagamentos efetuados por conta
de cada quota: a ‘’quota de capital’’ é a participação social que corresponde à entrada em dinheiro e/ou em
espécie, e cujo valor nominal consta do estatuto. A ‘’natureza’’ das entradas está relacionada com todas as
espécies admitidas (em €, espécie e indústria).
Os ‘’pagamentos efetuados por conta de cada quota’’ têm de ver somente com a realização das entradas (e não
propriamente das ‘’quotas’’) em dinheiro.

h) Consistindo a entrada em bens diferentes de dinheiro, a descrição destes e a especificação dos respetivos
valores: Respeita às entradas e espécie e em indústria.
i) Quando o exercício anual for diferente do ano civil, a data do respetivo encerramento, a qual deve
coincidir com o último dia de um mês de calendário.

O art. 16º estipula ainda que as vantagens especiais e despesas de constituição têm de ser mencionadas nos
estatutos, sob pena de ineficácia perante a sociedade.

Por sua vez, direitos especiais dos sócios só existem quando previstos no contrato social - art. 24º

Às menções obrigatórias gerais temos de acrescentar as menções obrigatórias específicas, isto é, que valem
para cada tipo de sociedade.

a) SNS – art. 176º/1


b) SNQ – art. 199º
c) SA – art. 272º
d) SCTdta – arts. 466º, 472º/2 e 272º (remissão para o art. 478º)

Menções facultativas - exemplos:


1. Normas legais habilitantes não dispositivas (ou supletivas): são como que um ‘’poder de regulação’’ que
é conferido aos estatutos. Ex.: nas sociedades em geral – arts. 27º/3, 146º/5, 148º, 185º, 186º/1; para as SQ –
art. 198º, 209º/1, 210º, 225º/1, 226º/1, 232º/1, 240º/1, 241º/1, 246º/1; par as SA – art. 287º/1, 382º/2, 391º/2,
392º/1/6/10, 456º/1/2.

2. Normas legais habilitantes dispositivas: tipicamente fórmula ‘’salvo quando os estatutos’’

Diz o art. 9º/3 «os preceitos dispositivos desta lei só podem ser derrogados pelo contrato de sociedade, a não
ser que este expressamente admita a derrogação por deliberação dos sócios.» Quer isto dizer que as normas
que não são imperativas do CSC (normas dispositivas ou supletivas) se aplicam às sociedades exceto quando
os atos constituintes (os estatutos) derroguem, desapliquem tais normas estabelecendo um regime
diferente, ou quando deliberações dos sócios procedam a tal derrogação.

Note-se, porém, que não é certo que ‘’só’’ através do ato constituinte ou de deliberações por ele autorizadas
possam ser derrogados os preceitos do CSC. A derrogação pode efetivar-se através de deliberações quando a
lei o admite V., v.g., os arts. 115º/1, 191º/2, 271/1, 294º/1.

Exemplos de normas habilitantes dispositivas:

 Nas sociedades em geral: arts. 15º, 22º/1, 26º/3, 151º/1.


 SNC: 178º/32, 190º/1, 194º/1
 SQ: 217º/1, 229º/2, 235º/1/2
 SA: arts. 294º/1, 395º/1/2.

2.3. Regime das relações societárias ANTERIORES à celebração do contrato de sociedade

Concluído um contrato de sociedade comercial – e antes mesmo de lhe ser dada forma legal -, pode acontecer
que os sócios realizem logo negócios em nome dela (ex.: arrendar um imóvel, contratar trabalhadores,
comprar máquinas, etc.), E tal é possível porquê? Porque os sócios ignoram a exigência da forma legal,
porque entendem que a urgência dos negócios não pode esperar, etc. A lei simplesmente não proíbe tal
prática – permite! Na verdade, nem o facto de o contrato social sem forma legal ser considerado nulo
inviabiliza tal atuação, ou seja, é possível realizar negócios sem a celebração do contrato social, e mesmo com
o contrato social sem forma legal ser considerado nulo – art. 220º CC, art. 42º/1/e) CSC. Art. 7º/1

Contudo, sem a forma exigida, a sociedade não está perfeitamente constituída; está em situação irregular.
O que significa isto? Significa que é preciso disciplinar a vida societária nessa situação. A isso dá resposta o
art. 36º/2: «se for acordada a constituição de uma sociedade comercial, mas, antes da celebração do contrato
de sociedade, os sócios iniciarem a sua atividade. São aplicáveis às relações estabelecidas entre eles e com
terceiros as disposições sobre sociedades civis»

Assim, nas relações internas (relações entre sócios, entre sócios e sociedade) aplicam-se, sobretudo, os arts.
983º, ss. CCiv. e os arts. 1001º do mesmo diploma. Nas relações externas: arts. 996º, ss. CCiv.

NOTA: Dizer que a x se aplica o regime de y não faz de x…y.

- Referência ao art. 36º, 1, relativo à criação de uma ‘’falsa aparência de que existe contrato de sociedade’’:
nos casos aqui previstos, não existindo contrato de sociedade, não existe sequer sociedade (não há atividade,
nem património comuns, etc.). A norma foi mal colocada nesta secção de ‘’regime da sociedade antes do
registo’’, bem como neste artigo.

2.4. Regime das relações internas DEPOIS da celebração do ato constituinte2 e ANTES do registo

2
não apenas contrato social, ao invés do dito no art. 37º.
Neste domínio, rege o art. 37º/1. São aplicáveis às relações internas, com as necessárias adaptações (que são
muito poucas) as regras do estatuto e regime CSC. Apesar da falta de registo, o regime das RI nesta fase é
em princípio, portanto, o que se aplica depois de registo o ato constituinte; é praticamente o mesmo que
vigora quando a sociedade está perfeitamente constituída.

 Duas exceções: 37º/2 – requerem sempre o consentimento unânime dos sócios


 Transmissão inter vivos de participações sociais: é necessário o consentimento de todos os
sócios pois a unanimidade protege os interesses dos ‘’sócios atuais’’. A generalidade dos
sócios pode ter de responder ilimitada e solidariamente por obrigações sociais antes do registo
(v. o nº seguinte); não é indiferente para os sócios a substituição de um ou alguns deles, pela
via da transmissão das participações, por outros.
 Modificações do contrato: o DR. COUTINHO não concorda com esta exceção.

2.5. Regime das relações das sociedades com terceiros DEPOIS da celebração do ato constituinte e
ANTES do registo

 Art. 38º - sociedades em nome coletivo


 Art. 39º - sociedades em comandita simples
 Art. 40º: regime e interrogações que levanta

Q.: Além dos sócios e pessoas indiciados nos arts. 38º-40º, a sociedade também responde com o
respetivo património pelos negócios realizados em seu nome? Argumentos e contra-argumentos:

NÃO RESPONDE RESPONDE


a) Antes do registo, a sociedade ainda não Ainda que sem PJ, a sociedade-ente já existe. Tem uma
existe; ainda não existe como pessoa património próprio, constituído, pelo menos, pelos créditos
jurídica, não havendo ainda, correspetivos das obrigações de entrada e/ou pelos bens
consequentemente, um património social resultantes das obrigações de entrada já realizadas.
propriamente dito. Logo, a sociedade (a
‘’pré-sociedade’’) não tem de responder. Pode, portanto, participar no tráfico jurídico – aí estão os
arts. 38º-40º a comprová-lo. E tem, pois, subjetividade-
capacidade suficiente para ser sujeito de direitos e
obrigações.
b) Nos arts. 38º-40º nada se diz sobre a O silêncio da lei não significa exclusão de responsabilidade
responsabilidade das sociedades – silêncio social. Se a sociedade já responde antes da celebração do
da lei -, logo, deve entender-se que contrato social (e do registo) – art. 36º/2, então, a lógica é que
respondem exclusivamente os sujeitos aí ela responderá depois dessa celebração.
mencionados.
c) O fundo patrimonial constituído antes Obviamente, a lei preocupa-se com as entradas dos sócios (a
do registo não pode ser onerado com as sua existência, valor, realização), e com a correspondência
obrigações que decorram dos negócios entre património e capitais sociais (sabemos que o
realizados em nome da sociedade, pois só património inicial, constituído pelas entradas, há-de ter valor
assim é que se garante que a sociedade idêntico – ou superior – ao valor do capital). O valor das
nasça (no registo, lol) com um património participações sociais não pode exceder o valor das entradas
correspondente ao capital nominal; o correspondentes (art. 25º); as entradas devem ser feitas ‘’até
património não deve ser diminuído antes ao momento da celebração’’ do ato constituinte (art. 26º); os
do registo. sócios devem declara no ato constituinte algo sobre a
realização das respetivas entradas em dinheiro (202º/4, 277º/4).

O cumprimento de tudo isto deve ser controlado pelo


conservador de registo comercial. Ora, o controlo não se
estende às posteriores variações do património social (em
confronto com o capital nominal). Assim, ser uma sociedade
intervém no mercando antes do registo – no exercício de uma
faculdade que a lei lhe permite – e se responsabiliza por esta
intervenção, pode à data do registo o PS valer tanto, mais ou
menos, que o capital. Nada disto, porém, põe em causa as
regras da efetiva formação do capital, nem compete ao
conservador verificar se na data do registo o património vale +
ou – que o capital. Além disso, sabemos os 3os que a atividade
social anterior ao registo pode ocasionar diminuições (como
tbm acréscimos) patrimoniais, e sabem que outras regras
tuteladoras dos seus interesses já nessa fase vigorar.

O nosso atual direito não consagra, portanto, a proibição


de pré-endividamento ou oneração do património social.
d) O art. 19º do CSC prescreve que a A ‘’assunção’’ prevista no art. 19º não significa a transmissão
sociedade ‘’assume’’ com o registo de direitos e obrigações para a sociedade. A verdade é que os
diversos direitos e obrigações, e que pode direitos e obrigações assumidos com ou depois do registo
‘’assumir’’ outros posteriormente ao continuam, e consolidam-se na sociedade; ela é agora a
registo. Ora, a ‘’assunção’’, o ‘’assumir’’ única responsável pelas obrigações consolidadas antes do
significa aqui que a sociedade não era registo. Há identidade da sociedade antes e depois do registo.
antes do registo sujeito destas obrigações
– 595º do CC e, portanto, não podia
responder por elas.

Mais argumentos em defesa da tese da responsabilidade das sociedades pelos negócios:

e) Seria contraditório poderem as sociedades ter lucros próprios – arts. 40º/1/in fine e 37º/1 – sem,
correspondentemente, se responsabilizarem pelos custos ou passivo que é preciso tomar conta para se avaliar
da consecução e montante dos lucros.

f) A responsabilidade dos sócios indicados no art. 40º/1/in fine - «até às importâncias das entradas a que se
obrigaram» - vai também no sentido da responsabilidade do património social. Se tal for exigido pelos
credores, os sócios que ainda não realizaram as suas entradas, devem realizá-las. Fica assim a sociedade-
responsável com (+) meios para cumprir as obrigações.

g) os negócios são realizados ‘’em nome’’ da sociedade. Logo, é natural que os terceiros participantes nesses
negócios acreditem que é o património da sociedade a garantir os seus créditos, e não é sequer aconselhável
que se defraude essa confiança. Ora, mas por não haver ainda registo, é normal que a lei imponha a
responsabilidade também aos sócios e (ou de quem atua em nome da sociedade). Mas, lá está, é uma
responsabilidade que deve acrescer à da sociedade – não vem substituir! A tutela dos credores (terceiros
com quem se negociou) exige o reforço da responsabilidade, não a sua diminuição.

Concluindo, também as sociedades respondem pelos atos que sejam realizados em seu nome no período
compreendido entre a celebração do ato constituinte e o seu registo definitivo.

Com dois limites:

 As sociedades não respondem por obrigações que não podem assumir depois do registo – se não podem
ser responsabilizadas por certas obrigações depois do registo, devemos entender que também antes dele é
impossível serem. Ver o art. 19º/4.
 Nas SA sem autorização dos sócios o dinheiro depositado só pode ser mobilizado por via judicial arts.
277º, 5 b) 3 478º
Q: Outro problema é este: os sócios e os que atuam em nome da sociedade, solidariamente responsáveis
(entre si) nos termos dos arts. 38º/1/2; 39º/1/2/3 e 40º/1/1ª parte, respondem solidariamente também com
as respetivas sociedades?

R.: SIM. Devemos fazer uma analogia com o disposto no art. 36º/2, remetendo para o art. 997º/1/2 do CC.

Q: Os sócios que não agiram nem autorizaram respondem solidariamente com os outros?

R.: Não - existência de limite e proximidade com art. 30º/1 CSC: sub-rogação dos credores à sociedade.
Compreende-se que o art. 40º/1/2ª parte não preveja a solidariedade (ao contrário do que faz a 1ª parte).

3. Registo do ato constituinte

- Generalidades

 Necessidade de inscrição no registo – arts. 18º, 5 CSC, art. 3º, 1, a) CRCom


 Vale mesmo para as sociedades formadas através de processos não regulados pelo CSC
 Obrigatoriedade: art. 15º, 1 CRCom sob pena de sanção art. 17º CRCom
 Prazo 15º, 2 CRCom
 Legitimidade – art. 29º/1 CRCom + art. 30º
 Em qualquer conservatória (art. 25º CRCom revogado) ou por via electrónica art. 45º, 1 CRCom
 Registo por transcrição: art. 53ºA CRCom
 Pedido de registo deve ser acompanhado por
 Documento comprovativo constituição sociedade + certificado admissibilidade firma
 Viabilidade deve ser apreciada nos termos do art. 47º CRCom (mas recusa só se falha for manifesta
art. 48º CRCom)

- Efeitos

1. Aquisição de personalidade jurídica - art. 5º CSC. As sociedades adquirem PJ com o registo definitivo do
ato constituinte (contrato ou NJ unilateral constituinte de sociedade unipessoal, nomeadamente) – é o que
resulta do art. 5º CSC. Podemos falar em registo constitutivo: a sociedade só adquire PJ com o registo. O
que não significa que sem ele o ato constituinte não produza efeitos!

2. Assunção, pela sociedade, de atos anteriores ao registo. Com o registo definitivo do ato constituinte, a
sociedade, nos termos do art. 19º CSC:

 Assunção automática n.º 1 = ‘’assume de pleno direito’’


 Assunção mediante decisão da administração n.º 2 (cuidado com conflito de interesses – art. 410º, 6)

Efeitos da assunção n.º 3: a assunção pela sociedade dos atos realizados antes do registo (assunção automática
ou por decisão da administração) «retrotrai os seus efeitos à data da respetiva celebração e libera as pessoas
indicadas no art. 40º da responsabilidade aí prevista, a não ser que por lei estas continuem responsáveis».
Consequentemente, se algum dos sujeitos liberados da referida responsabilidade tiver cumprido alguma
obrigação social contraída antes do registo terá o direito de exigir da sociedade o equivalente daquilo que
prestou.

* O sentido da parte final do n.º 3 do art. 19º: para SQ, SA e SCtda por ações (art. 40º), ela é aplicável,
nomeadamente, a sócios de sociedades por quotas que, nos termos estatuários permitidos por ‘’lei’’ (art. 198º),
respondam diretamente para com os credores sociais; a sócios comanditados das SCdta por ações – por ‘’lei’’
(art. 465º/1), eles respondem subsidiariamente em relação às sociedades e solidariamente entre si; a sócios-
sociedades totalmente dominantes ou diretoras – arts. 488º-491º, 493º e ss, 501º.

3. Regime das invalidades relativas ao ato constituinte – trataremos no n.º 6


4. Publicação do ato constituinte

Para potenciar a publicidade dos atos constituintes das sociedades, facilitando o acesso dos interessados
(principalmente terceiros que queiram com elas estabelecer RJ’s) ao conhecimento do que se contém nesses
atos, a lei manda que os mesmos, quando respeitem a SQ, SA ou SCTda por ações, sejam publicados – arts.
166º CSC e 70º/1 a CRCom.

 Onde: em sítio da internet arts. 167º 1 CSC e 70º/2 CRCom


 Por quem: oficiosamente pela conservatória art. 71º CRCom

Qual a importância? É condição de eficácia ou oponibilidade do ato constituinte a terceiros arts. 168º/2
CSC (salvo se sociedade provar registo e conhecimento). Ver caso da aula prática

5. Interpretação e integração dos estatutos

Os estatutos (ou atos constituintes) das sociedades são negócios jurídicos de organização (exceto se atos
legislativos ou judiciais), baseados na vontade dos sócios fundadores. Ora, sendo de organização, também
relevam para futuros sócios e terceiros. Também contêm cláusulas de natureza “normativa” (gerais e
abstratas).

Ora, há uma aplicação diferenciada dos princípios interpretativos dos NJ ou dos p. de interpretação da lei ou
ato equiparado, consoante o carácter mais negocial ou mais normativo da cláusula/ sociedade de pessoas ou de
capitais.

Porque são NJ’s, conformados pela vontade autónoma dos sócios, os estatutos devem, em gera, ser
interpretados recorrendo a regras de interpretação do negócio jurídico arts. 236º e 238º CCiv. Por outro
lado, temos de ter em conta que as clausulas podem ser muito variadas, logo, na interpretação das clausulas de
organização e funcionamento social que sejam relevantes para futuros sócios e terceiros – as clausulas ou
disposições ‘’normativas’’ – esfumam-se os elementos de interpretação de índole subjetiva. Aqui, o que
se aplica é um método mais objetivo, de forma a percebermos qual a vontade dos sócios tal como se revela
nessas clausulas = objetivada no ato constituinte, no texto das clausulas em causa – arts. 238º/1 + 9º/2 CC
(regras de interpretação da lei). Esta interpretação objetiva justifica-se pelo facto de as mesmas deverem
constar de escrito e/ou do registo.

Na interpretação das clausulas estatuárias que regulam as relações de um ou mais sócios entre si ou com a
sociedade, devem ser observadas as regras que se aplicam à interpretação dos NJ em geral – 236º-238º. De
acordo com o art. 239º, as lacunas dos estatutos devem ser preenchidas (1º) através dos preceitos dispositivos
do CSC (+9º/3 CSC); se não existirem, ou sendo eles insuficientes, devemos recorrer à vontade hipotética ou
conjetural dos sócios, ou aos p. da boa fé quando estes imponham uma solução contrária à que decorre
daquela vontade.

6. Acordos parassociais

- Noção (sujeitos e objeto) e exemplos: acordos parassociais são contratos celebrados entre todos ou alguns
sócios (ou entre sócios e terceiros), produtores de efeitos atinentes à posição jurídica dos pactuantes sócios
(enquanto tais) e, eventualmente, atinentes também a outros pactuantes (terceiros) e à vida societária, mas
que não vinculem a própria sociedade.

 Regime
 Interface com os estatutos: podem influenciar a vida societária, mas são coisas diferentes: o
‘’parassocial’’ não é ‘’social’’. Certa regulamentação deve constar dos estatutos, mas aí não há lugar
para acordos destes.
 Liberdade de forma (p. da liberdade de forma, art. 219º CC) e sujeição ao regime geral do contratos
(civil).
 Eficácia: apenas interpartes – consequências art. 17º/1/in fine (enquanto que o estatuto social vincula
a sociedade – os seus órgãos – e os sócios, bem como 3os.
 Admissibilidade e limites art. 17º: é admitido pelo nosso CSC, mas com limites.
 nulos os acordos parassociais que violem ou defraudem a lei (v.g. violem a proibição do pacto
leonino art. 22º/3; obriguem alguns sócios a votar… arts.251º, 384º/6) ou então que conduzam á
tomada de deliberações nulas ou anuláveis, bem como os que visem permitir dar instruções ao
membros dos órgãos de adm. e de fiscalização – 17º/2 (Princípio da separação de
poderes/competências n.º 2 e 3º a) e b))
 “Compra” de votos n.º 3 c)

Cap. IV — DA PERSONALIDADE JURÍDICA E CAPACIDADE DAS SOCIEDADES COMERCIAIS

1. Aquisição da personalidade jurídica e não absolutização

Vimos nos capítulos anteriores que, formado o substrato societário, composto pelos elementos pessoal – um
ou mais sujeitos -, patrimonial – resultante da obrigação ou obrigações de entrada – e teleológico –
desenvolver uma atividade económica para atingir um determinado fim, que é, em regra, obter lucros -, e
cumpridos os requisitos da forma especial e do registo definitivo do ato constituinte, a lei atribuiu PJ à
sociedade comercial (e civil de tipo comercial).

O preceito do art. 5º é determinante: adquire-se PJ a partir da data do registo do ato constituinte. Assim,
todas as sociedades comerciais (e civis de tipo comercial) têm PJ ou coletiva, e todas a têm a partir do
registo definitivo do ato constituinte.

Porém, não deve ser absolutizada: e uma criação do direito (não uma ficção, mas uma realidade jurídica),
um expediente técnico para atribuir a qualidade de sujeito de direitos (autónomo centro de imputação de
efeitos jurídicos) mas não é o único; há sujeitos de direito sem PJ. Por exemplo: as sociedades comerciais
antes do registo já possuem subjetividade jurídica - têm: firma; sede; órgãos; autonomia patrimonial
imperfeita; alguma capacidade de gozo e de exercício; personalidade e capacidade judiciárias e tributárias;
podem incorrer em responsabilidade contraordenacional e criminal e podem ser declaradas insolventes. Ou
seja, afirma-se que as PC têm certos ‘’atributos’’ ou importam determinadas ‘’consequências’’

2. Sentido, função e limites da PJ

2.1. Questionamentos (da importância da PJ)

Então, para que serve?

Domina hoje, na doutrina, a compreensão ‘’técnica-jurídica’’ da PC. A personalidade coletiva aparece como
sendo um expediente (=diligente) utilizável por várias organizações, através do qual a OJ atribui à mesma
qualidade de sujeitos de direito, de autónomos centros de imputação de efeitos jurícos. Mas mais importante
é perguntar qual é o seu sentido e função, o porquê e para quê da personalidade coletiva.

a) Para prosseguir interesses comuns ou coletivos?

Regra geral, dizemos que tal personalidade pressupõe que existam interesses comuns ou coletivos: esses
interesses são uma condição necessária para a personalização (a PC é um meio simples e eficaz para
prosseguir os interesses coletivos). Contudo, será que é mesmo para prosseguir interesses comuns ou
coletivos? Não. A existência de interesses comuns ou coletivos não é condição suficiente da pessoa
coletiva, nem é condição necessária para personalização: as Sunipessoais (SQ ou SA) são PC que visam
prover a interesses individuais, provativos dos sócios-únicos.

Ora, mas aquela relativização do conceito de PC não redundará numa prática inutil do mesmo? Nem tanto.
Tal conceito não deixa de desempenhar um papel normativo: auxilia em tarefas de interpretação, integração e
aplicação do direito.

 Facilita interpretação e aplicação do direito; útil “instrumento semântico” nos enunciados legislativos /
jurisprudenciais / doutrinais (em lugar da enumeração)
 Consolida ou torna mais perfeita a subjetividade e autonomia patrimonial das entidades coletivas (cfr.
regime responsabilidade sócios SQ e SA antes do registo)
 Mas é fraca esta função normativa: disciplina não se deduz do conceito de PC, antes se retira da lei.

Tem ainda uma função ideológica: Persuasiva e ocultadora: justificação a posteriori da responsabilidade
limitada para eliminar a ideia de privilégio.

Consequentemente, é muitas vezes pouco nítida a fronteira que separa as PC de certas não pessoas coletivas. É
de afirmar, então, a subjetividade jurídica de grupos sociais e de outros entes organizados mas desprovidos de
personalidade coletiva. Em suma, a personalidade coletiva, enquanto conceito que expressa a
subjetividade, não deve ser absolutizada.

2.2. Desconsideração da personalidade coletiva (e da subjetividade jurídica)

2.2.1. Quadro geral: a figura da desconsideração da personalidade coletiva revela uma perspetivação não
absolutizadora da PJ.

Reconhecimento: a sociedade está “separada” dos sócios, são sujeitos autónomos de direito. Todavia, ela
existe por e para os sócios, não para ela mesma: é instrumento deles.

Por outro lado, o património da sociedade não está ao serviços de interesses da pessoa jurídica ‘’em si’’, mas
sim do(s) sócio(s). Ora, é esta substancialista consideração da PC que abre portas para a ‘’desconsideração’’
da personalidade coletiva das sociedades: derrogação da autonomia jurídico-subjetiva e/ou jurídico-
patrimonial da sociedade em face dos sócios: derrogar o “princípio da separação”. Porque é possível?
Como é legitimidade?

 Através de operadores jurídicos como:


 Interpretação teleológica das disposições legais / contratuais
 Abuso de direito

[pilares desta construção metódica: interpretação teleológica e abuso do direito; base que os apoia: a conceção
substancialista, não formalista nem absolutizadora da personalidade coletiva – não há fronteira intransponível
entre sócios e sociedade].

Para concretizar o método da desconsideração da PJ, convém distinguir dois grupos: a) o grupo dos casos
de imputação (determinados conhecimentos, qualidades ou comportamentos de sócios são referidos ou
imputados à sociedade e vice-versa; e o grupo dos casos de responsabilidade (a regra da responsabilidade
limitada – ou da não responsabilidade por dívidas sociais – que beneficia certos sócios – de SQ e SA – é
quebrada)

1. Derrogação da autonomia jurídica-subjetiva (2.2.2. Casos de imputação)

 Imputação de conhecimentos, qualidades, comportamentos dos sócios à sociedade ou vice-versa.


 O operador interpretação teleológica domina no grupo de casos de imputação.
 Grupos de casos:
 Obrigação de não concorrência (por exemplo, com o trespassário);
 Venda da totalidade ou maioria das participações sociais para efeitos de aplicação de certos regimes
aplicáveis à venda da empresa social (bens onerados, coisas defeituosas, obrigação de não
concorrência) [a venda da maioria das participações sociais feita por um sócio ou grupo de sócios a
um ou mais sujeitos, não é a mesma coisa que a venda da empresa social. Todavia, para certos efeitos,
aquela venda é equiparável a esta, devendo por isso aplicar-se o regime de venda das empresas em
sentido objetivo, à venda da totalidade ou maioria das participações sociais. É assim, designadamente,
para efeitos de aplicação da disciplina da venda de bens onerados e de coisas defeituosas (art. 905º ss,
913º, ss CC) e ainda para efeitos da aplicação do regime da obg. implícita de não concorrência.
 Venda a filhos e netos (que constituam sociedade), art. 877º CC. É anulável a venda de um
estabelecimento feita pelos pais a uma sociedade que seja constituída por um ou mais filhos, s/ que os
outros filhos consintam (levantando o véu da personalidade societária, vemos que são filhos a
adquirir, indiretamente, dos pais!)
 A nulidade ou anulação de certos NJ são inoponíveis a terceiros de boa fé (art. 291º CC); as exceções
extracartulares também (art. 17º LULL). Ora, dada a ligação íntima entre a sociedade e sócio-único,
não pode o sócio, quando adquira dela, invocar legitimamente as referidas inoponibilidades com base
na boa fé.
 Impedimento de voto (quer se verifique na esfera do sócio, quer da sociedade por ele dominada).

2. Derrogação da autonomia patrimonial (2.2.3. Casos de responsabilidade)

 Quebra da regra da responsabilidade limitada: sócios respondem por dívidas sociais. Os sócios perdem
o benefício da responsabilidade limitada, passando os sócios a responder perante os credores sociais,
quando utilizem o instituto sociedade-pessoa coletiva, quando excedam os limites impostos pelo fim
social ou económico do direito de constituir e fazer funcionar (ou não) a sociedade (art. 334º CC)
 É dominante o abuso do direito (334º CC).
 Grupos de casos:
 Descapitalização provocada (por sócios): deve neste caso ser afirmada a desconsideração da PJ da
sociedade que foi descapitalizada; não pode valer a regra da autonomia do património social (único a
responder perante credores da PC) relativamente ao património dos sócios – devem ser estes a
responder, subsidiariamente, perante os credores sociais. Em caso de crise (atual ou eminente) da
sociedade, não é permitido aos sócios agravar ou espoletar a crise descapitalizando a sociedade.
Podem sim requerer declaração de insolvência ou dissolvê-la. Havendo abuso do direito, há ilícito.
Podem ser responsabilizados para com os credores sociais, apesar de ser a sociedade a devedora e
pese embora o ‘’princípio da separação’’, sendo que este é derrogado.
 Mistura de patrimónios: A e B casados, únicos sócios de uma SQ, circulam bens do património social
para o património comum do casal, sem registos contabilísticos ou insuficientes, não se conseguindo
distinguir um do outro. Se a sociedade cair em situação de insolvência, por terem desrespeitado o p.
da separação, os sócios A e B não podem opor a responsabilidade limitada aos credores; este
desrespeito leva a que não se possa observar a autonomia patrimonial da sociedade, e o seu próprio
património comum é que vai responder pelas dívidas.
 Subcapitalização material manifesta, tanto originária como superveniente (que sócios respondem;
perante que credores) – ver exemplo das aulas práticas.

3. Capacidade jurídica das sociedades – art. 6º CSC

3.1. Delimitação da capacidade pelo fim social

Delimitar a capacidade jurídica (ou de gozo de direitos) das sociedades é saber a medida dos direitos e
deveres/obrigações de que as sociedades podem ser titulares.

 Três hipóteses e interesses protegidos:


 Capacidade jurídica geral?
 Limitada ao objeto?
 Escopo lucrativo?

A solução do CSC: art. 6º, 1: «A capacidade da sociedade compreende os direitos e as obrigações


necessários ou convenientes à prossecução do seu fim, excetuados aqueles que lhe sejam vedados por lei ou
sejam inseparáveis da personalidade singular».
O fim social é o escopo lucrativo, como já vimos: o intuito de obter lucros para distribuí-los pelos sócios. É
também confirmado pelos n. os 2, 3 e 4 do art. 6º, isto é, a concessão de liberalidades e de garantias reais ou
pessoais (gratuitas) a dívidas de outras entidades contraria o fim social (2 e 3); o objeto social não limita a
capacidade. Consequentemente, os atos gratuitos, os atos pelos quais uma sociedade dá a outrem uma
prestação ou vantagem em contrapartida estão, em regra, fora da capacidade societária, porque não são
nem necessários, nem convenientes à prossecução do fim social. Ex.: doações, comodatos, mútuos
gratuitos, prestação gratuita de garantias

 Regime dos atos praticados fora da capacidade: nulidade. Os atos estranhos à capacidade da sociedade,
contrários ao fim lucrativo, são nulos.
 Art. 6º é norma imperativa, sendo que não pode ser derrogada por vontade dos sócios (mesmo que
unânime), quer nos estatutos, quer em deliberações (art. 9º/3).
 Art. 294º CCiv. para os negócios da sociedade – se a sociedade pratica um desses atos, pode a
respetiva nulidade ser invocada a todo o tempo por qql interessado.
 Art. 56º1 d) CSC para deliberações sociais – se uma deliberação dos sócios ou do órgão de adm.
autoriza a prática de algum destes atos, ela é nula também.

Porém, temos de acrescentar que não basta o ato ser gratuito para estar fora da capacidade, e dentro da
nulidade. Atos gratuitos podem entrar na capacidade societária, quando se revelem necessários ou, pelo
menos, convenientes à consecução do lucro. Ex.: Doar dinheiro para uma causa social, a fim de melhor a
reputação perante a comunidade, bem como obter publicidade.

3.2. O objeto social não limita a capacidade (art. 6º/4)

 Objeto social e vinculação

 O objeto não limita a capacidade – art. 6º, 4


 Quando se pode dizer que ato está fora do objeto? Que excede esse objeto? Um ato social excede o objeto
da respetiva sociedade quando, atendendo ao momento da sua prática, se revela inútil para a realização
da(s) atividade(s) que a sociedade pode exercer; quando entre o 1º e o 2º não exista uma relação de
potencial instrumentalidade (de meio fim). Logo, da parte final do n.º 4º do art. 6º resulta o dever de
os órgãos sociais não excederem o objeto. A violação deste dever acarreta (ou pode acarretar) sanções
(diferentes da nulidade). Temos de distinguir entre SNC e SCtda simples, por um lado, e SQ, SA e SCtda
por ações, por outro. Vejamos:
 Consequências no plano externo: respeitam à eficácia/vinculação e variam com o tipo societário
 SNC e SCD simples: 192 º regra: sociedade não fica vinculada, negócio é ineficaz (pq os gerentes
têm ‘’falta de poderes’’ de representação para a prática de atos fora dos limites do objeto social) .
Exceção: salvo ratificação por deliberação unânime (192º/3);
 SQ 260º / SA 409º regra: sociedade fica vinculada, negócio é eficaz (ou ineficácia é inoponível).
Exceção: sociedade não fica vinculada (pode opor ineficácia/limitações objeto) se verificadas duas
condições: uma positiva (3º conhecia ou devia conhecer que ato excedia objeto); outra negativa (não
assunção posterior através de deliberação – questão valor da deliberação)
 Consequências no plano interno: sobre os membros do órgão de administração
 Responsabilidade civil para com a sociedade 6º, 4 - 64º - 72º
 Destituição com justa causa de membros da Adm. 191º, 4-7, 257º, 403º, 430º

 Objeto social e aquisição das participações sociais

Ainda a propósito do objeto, importa ter também em conta o art. 11º/4/5 (‘’objeto’’) do CSC.

a) Segundo o n.º 4, A aquisição pela sociedade de participações em sociedades de responsabilidade


limitada abrangidas por esta lei cujo objeto seja igual àquele que a sociedade está exercendo, nos termos do
número anterior, não depende de autorização no contrato de sociedade nem de deliberação dos sócios, salvo
disposição diversa do contrato. (Mas nas SQ: 246.º, 2 d) é competência dos sócios
b) Por sua vez, segundo o n.º 5, somente quando o estatuto/contrato o autorize, livre ou condicionalmente,
pode uma sociedade adquirir participações como sócio de responsabilidade ilimitada (sócia de SNC ou S.
Comanditada) ou participações em sociedades com objeto diferente do acima referido, em sociedades
reguladas por leis especiais e em agrupamentos complementares de empresas. Estas aquisições não são
nulas: as aquisições são ineficazes se a sociedades adquirente for em NC ou em Cdta Simples (art. 192º), são
em regra eficazes se a sociedade adquirente for por quotas, anónima ou em Ctda por ações ( arts. 260º/1/2/3,
409º/1/2/3).

3.3. Liberalidades e garantias concedidas por sociedades a terceiros - o princípio da incapacidade e as


exceções

Ora, vimos que os atos gratuitos, em regra, estão fora da capacidade jurídica das sociedades. Mas há
exceções. Ora, se é verdade que os negócios gratuitos supõem o espírito de liberalidade, também é verdade
que esse espírito não se confunde com o ânimo ou escopo altruísta, desinteressado; existem liberalidades
com fim interessado ou interesseiro – e estas são, e, geral, compatíveis com o fim lucrativo das
sociedades, entram na capacidade delas. (ver ex. anterior).

LIBERALIDADES  O art.6º tem um n.º específico para as liberalidades (n.º 2): «as liberalidades que
possam ser consideradas usuais, segundo as circunstâncias da época e as condições da própria sociedade,
não são havidas como contrárias ao fim desta»

 O que inclui:
 Doações (940º/1 CC), assunção ou remissão de dívidas, contratos gratuitos
 Liberalidades de fim interessado ou interesseiro
 Exemplos: doações para promover a venda dos seus produtos, melhorar a produtividade, acreditar o
nome e imagem, brindes a clientes, gratificações a trabalhadores
 Estão dentro da capacidade: art. 6º, 1 – ou seja, todas estas doações, tendo em vista os tempos que
correm (circunstâncias da época) e quando a situação patrimonial da sociedade as permita, hão-de ser
consideradas ‘’usuais’’, entrando no campo de aplicação do art. 6º/2. 3
 Liberalidades feitas com (puro) espírito altruísta
 Exemplos
 Terão de passar pelo crivo do art. 6º, 2: dois requisitos * justificação da norma

 PRESTAÇÃO DE GARANTIAS

 Art. 6º, 3: Considera-se contrária ao fim da sociedade a prestação de garantias reais ou pessoais a
dívidas de outras entidades, salvo se existir justificado interesse próprio da sociedade garante ou se se
tratar de sociedade em relação de domínio ou de grupo
 Prestação de garantias a dívidas de terceiros: é o contrariado o fim social (lucrativo)
 São gratuitas
 Reais ou pessoais (penhor, hipoteca, consignação de rendimentos, certas espécies de caução; fiança,
aval)
 Exceções art. 6º, 3 “Justificado interesse próprio da sociedade garante”: nestes caos, a prestação gratuita
mostra-se conveniente ou necessária à prossecução do fim (rem. 6º/1), sendo que é justificada a prestação
de dívidas quando ela se mostre apta a satisfazer o desejo de obter lucros.
 Não inclui interesses extrassociais dos sócios/ ou destes enquanto não-sócios
 Se a sociedade garante invocar a nulidade da garantia, não é a ela (sociedade) que cabe o ónus de
alegar e provar a inexistência de justificado interesse próprio, mas sim ao credor. O credor da
entidade cuja dívida foi garantida, logo, interessado na validade, é que tem de provar existência desse
interesse. Por outro lado, não basta declaração formal da sociedade que expressamente dite ter
interesse em garantir a dívida (embora possa gerar culpa in contraendo).

3
de qualquer das formas, tbm a partir do 6º/1 elas incluíam-se na capacidade societária pq se mostram ‘’convenientes’’
à prossecução do fim social.
 Exceções art. 6º, 3 “se se tratar de uma sociedade em relação de domínio ou de grupo”
 Grupo de facto – quando as sociedades estejam em “relação de domínio”.
 Grupo de direito – quando as sociedades estejam em “relação de grupo”.
 Duas interpretações:
 Independentemente de se tratar de grupo de facto ou de direito, seja qual for a posição recíproca das
sociedades (garante e a garantida) pode prestar garantias de dívidas porque há sempre
solidariedade de interesses Ex.: a sociedade H tem sempre capacidade para prestar garantia a dívidas
da sociedade I quando ambas se encontrem em relação de domínio ou de grupo, independentemente
de se saber se H é dominante ou a dependente (art. 486º).  Não aceitamos:
 A lei (art. 6º/3) não distingue, nem há razões para o intérprete distinguir. Há que fazer interpretação
restritivo-teleológica: não existe um (alegado) interesse de grupo comum a todas, que legitime essa
indiferenciação.

Efetivamente, há diferenças notáveis entre as sociedades em relação de grupo e em relação de domínio.

Porque não há interesse de grupo

a) Nas relações de grupo (grupo de direito: domínio total e subordinação), as sociedades dominantes têm o
‘’direito de dar instruções vinculantes’’ à administração das sociedades independentes e dominadas. Ora,
essas instruções podem (é possível!) até serem desvantajosas para as dependentes e subordinadas  desde que
sirvam os interesses das dominantes ou diretoras (491º e 503º). Assim sendo, há um sacrifício dos interesses
da sociedade totalmente dominada ou subordinada. Para minorar ou evitar prejuízos impostos às sociedades
dependentes, o CSC estatui contrapartidas, das quais cumpre destacar a responsabilidade por dívidas arts.
491º, 501º e 502º e garantia de lucros para os sócios minoritários das subordinadas art. 501º. Note-se, todavia,
que os órgãos da sociedade totalmente dominada ou subordinada não têm o direito ou dever de se guiar por
interesse comum ao grupo ou interesse da sociedade diretora; pelo contrário, têm dever de não atuar em
desconformidade com o interesse próprio.

b) No que toca ao regime excecional previsto para as relações de domínio (grupo de facto):

 nem sequer há disciplina especial


 nem sequer há direito de sacrificar interesses das dependentes
 nem estas têm direito/dever de se guiar por outro interesse

EM SUMA: Então a ressalva art. 6º, 3 vale:

 Nas relações de grupo, só para as sociedades totalmente dominantes ou diretoras  se dirigem as outras
no seu próprio interesse, podem prestar-lhes garantias
 Nas relações de domínio, só para a sociedade dominante  enquanto sócia da dependente tem sempre
interesse no seu bom andamento
 Só nas sociedades em relação de grupo paritário do art. 492º dada a “direção unitária e comum” qualquer
das sociedades pode garantir dívidas das outras  aí sim, há interesse de grupo)

Atenção: pontualmente pode haver prestação de garantias pelas sociedades dependentes às dominantes se
“existir justificado interesse próprio da sociedade garante”

Capacidade: liberalidades, garantias e objeto social

 Mesmo permitidas pelo art. 6º, 1 a 3, liberalidades e garantias serão estranhas ao objeto social.
 Aplica-se o regime da (eventual) ineficácia dos atos fora do objeto? (6º74, 192º/2-4; 260º/2/3 e 409º/2/3)
Não: a aplicação das normas sobre capacidade prejudica a aplicação das normas sobre o objeto.
4. Capacidade de exercício ou de agir das sociedades

 Noção de capacidade de exercício: as sociedades têm capacidade de agir ou de exercício de direitos,


isto é, têm aptidão para atuar juridicamente, exercendo direitos e cumprindo obrigações direta e
permanentemente (através de órgãos) ou indireta e pontualmente (através de representantes
voluntários).

Através de órgãos, elas são capazes de querer e de atuar, de formar vontade e de manifestá-la. – órgãos de
administração e representação. Porém, estes órgãos não são propriamente representantes (legais ou
voluntários) das sociedades. O que os liga a estas não é um nexo de representação, mas sim um nexo de
organicidade; os órgãos são parte componente das sociedades, sendo que a vontade e os atos daqueles são a
vontade e os atos da sociedade.

Todavia, podem também atuar através de representantes voluntários, conforme ditam os arts. 252º, 6 (SQ) e
391º, 7 (SA) – aplicável às Sctd por ações por força do 478º.

CAPÍTULO V. DAS PARTICIPAÇÕES SOCIAIS

Noção de participação social: conjunto unitário de direitos e obrigações atuais e potenciais do sócio. O titular
de uma participação social de determinada sociedade é sócio dessa e nessa sociedade. Ora, a aquisição da
participação social (e, consequentemente, da qualidade de sócio) pode ser originária (efetividade na
constituição da sociedade ou em aumento de capital) ou derivada (inter vivos ou mortis causa).

1.1. Classificação dos direitos.

Os direitos estão no art. 21º («direitos dos sócios» e não só (arts. 59º, 67º, 77º, 156º, etc.). Podem ser
classificados de acordo com:

 critério da função
 Dtos Patrimoniais (quinhoar nos lucros, quota de liquidação, direito de preferência)
 Dtos de participação (nas deliberações sociais e nos órgãos de administração e fiscalização)
 Dtos de controlo (de informação, de ação judicial)
 critério da titularidade
 Dtos gerais: são os que pertencem, em regra, a todos os sócios da mesma sociedade, ainda que de
medida diferente Ex.: todos os sócios de uma SA têm os mencionados no art. 21º, mas quinhoam
lucros de ac. com o art. 22º/1.
 Dtos especiais: são os dtos que são atribuídos no contrato social a certo(s) sócio(s) ou a sócios
titulares de ações de certa categoria, conferindo-lhe uma posição privilegiada que não pode, em
princípio, ser suprimida ou limitada sem o consentimento dos respetivos titulares.

Direitos especiais

 Regime art. 24º


 Criação (no contrato): originária ou superveniente (princípio da igualdade de tratamento e regime
alteração contrato). isto é, a ideia é a de que os sócios em circunstâncias idênticas devem ser tratados
de forma idêntica, não devendo haver discriminação. Ora, pergunta-se: é possível criar dtos especiais
para um ou alguns sócios, alterando o contrato social, e introduzindo uma nova cláusula? É, se for
votada por unanimidade, como exige este p. da igualdade. A deliberação dos sócios viola o p. da
igualdade de tratamento quando dela resulte um tratamento desigual p/ um ou mais sócios
relativamente a outros, sem que para isso exista um justificação objetiva – a diferença criada, a
discriminação, seria arbitrária, e não fundada no interesse social. No caso acima referido, a
justificação está no facto de haver interesse social. [tratamento desigual justificado pelo interesse
social]
 Podem ser atribuídos a todos os sócios da mesma sociedade? Não, em princípio. Porém, o caso do
direito especial á gerência é possível de ser atribuído a todos. O facto de todos os sócios serem
gerentes c/ dto especial garante a cada um deles que a respetiva clausula contratual não pode ser
eliminada ou modificada sem o seu consentimento ou que a destituição sem ou contra a sua vontade
só se pode efetivar judicialmente e c/ base em justa causa. (art. 24º/5  art.257º/3; 531º/2; 345º)
 Atenção SA: a categorias (art. 25º/6)
 Necessidade de consentimento para serem suprimidos ou coartados (senão art. 55º)
 Transmissibilidade: vari. SNC – 24º/2; SQ – 24º/3; SA – 24º/4.
 Destaque: direito especial à gerência em SQ

Existe um tal direito quando, p.ex., uma cláusula do estatuto social estabelece que um sócio tem o dto de ser
gerente por toda a sua vida, ou enquanto for sócio, ou enquanto durar a sociedade. A cláusula que consagra
um dto especial à gerência não pode ser suprimida nem alterada por deliberação sem o consentimento do
sócio-gerente (ver 24º/5, 257º/3 e 55º). Vs. regime da destituição dos gerentes s/ dto especial: a todo o tempo,
haja ou não justa causa, por deliberação dos sócios (257º/1).

A simples designação de gerente no contrato social significa que se atribuiu um dto especial à gerência? Não.
Designar gerente no contrato é um modo alternativo a eleger, posteriormente, por deliberação dos sócios –
252º/2. Os sócios podem optar por uma ou outra via.

Q.: Uma cláusula do contrato de SQ segundo a qual esta ficará obrigada, pela assinatura de 2 dos 3 sócios-
gerentes, uma das quais terá sempre de ser a do gerente A, significa que se está a atribuir um dto especial à
gerência ao sócio A? Não necessariamente. A clausula pode querer dizer que é atribuído um direito especial
ao sócio-gerente A, mas não um direito especial à gerência que o proteja da possibilidade de ser destituído,
com ou sem justa causa, por deliberação dos sócios.

Os dtos especiais têm de ser consagrados no contrato de sociedade (art. 24º), sob pena de não serem
eficazes em relação à sociedade (mesmo que todos os sócios tenham acordado nela).

 Distinção das vantagens especiais art. 16º: Dtos especiais são diferentes de vantagens, no sentido em que
a) as vantagens são concedidas no contrato social inicial para premiar atividade; b) as V. são sempre
atribuídas a sujeitos individualizados (determinados e nomeados) | Os dtos especiais, nas SA, são
atribuídos a categorias de ações; c) são dissociáveis de estatuto de sócio, ou seja, mesmo que saiam da
sociedade, as vantagens pertencem-lhes | dtos especiais pertencem sempre a só a sócios; d) deliberação
que viole essas vantagens (direitos de crédito) é nula (art. 56º/1) | as que violam DE são ineficazes (55º)

Direitos fora da participação social

 São direitos que os sócios têm perante a sociedade, mas que não se consideram integrados nas
participações sociais, pq estão fora do raio de influência jurídica da sociedade, porque o poder da
sociedade não pode privar os sócios deles. Então, estes são submetidos ao regime do direito civil (v.g.,
livre disponibilidade)
 Exemplos
 Direitos de crédito que radicam na socialidade, mas depois se autonomizam (ex.: direito a lucros de
exercício cuja distribuição foi já validamente deliberada).
 Direitos de crédito ou reais decorrentes de negócios celebrados entre a sociedade e o sócio (ex.:
CeV, comodato, prestação de serviços, etc.).

1.2. Obrigações (que integram a participação social)

 Exemplos art. 20º (remissão) + obrigação de atuar de maneira compatível com o interesse social e o dever
de respeitar o estatuto e a lei societários.
1.3. Unidade da participação social; modalidades

Dissemos que participação social era um conjunto unitário de direitos e obrigações atuais e potenciais do
sócio. Ora, o que queremos dizer com unidade? A participação social é, ela própria, um BJ autónomo, com
uma disciplina específica; na verdade, é um objeto unitário de direitos reais (art. 23º usufruto e penhor). É
objeto unitário de negócios de translação (transmissão participações sociais) – arts .182º, 228º, 328º, 469º/1,
475º. É ainda objeto unitário de execução, ver art. 239º CSC e 735º/1, 774º, 780º/14, 781º CPC.

 Natureza jurídica: várias teses (feixe de créditos, posição contratual, bem imaterial). Temos de a ver
como uma posição jurídica unitária (feita de direitos e obrigações) do sócio (enquanto tal). Sujeito esse
que está ligado à sociedade pelo contrato (exceto o caso das sociedades unipessoais).
 Designações específicas (mas que significam participação social…!)
 Parte, quota, ação
 Parte: designação usada para as SNC e SCTda simples
 Quota: SQ
 Ação: SA e SCTda por ações
 Três aceções de “ação” (fração do capital, participação social, documento)
 fração do capital – 271º ‘’capital é dividido em ações’’ – não é rigoroso dizer que o capital
está divido em ações ou que a ação é fração do capital.
 participação social – 272º/c), 276º/1, 303º - a ação é a participação social cujo valor é fração
do capital social, e que normalmente será representada por título ou escrituralmente.
 documento/título – art. 274º e 304º
 Modalidades de ações
 Tituladas vs. escriturais art. 46º, 1 CVM

Tituladas: documentos em papel que representam ações tituladas, art. 97º/1/c). A emissão destas está sujeito a
registo (art. 43º/1 + 44º/1/f)). No caso de serem transmitidas, a transmissão é registada (102º/1 ou 105º + 80º/1
e 85º/1/c)).

 Nominativas vs. ao portador art. 52º, 1 CVM

A L 15/2017, de 3/05, proibiu a emissão de ações ao portador, e impôs a conversão das ações ao portados em
nominativas. O processo de conversão foi regulado pelo DL 123/2017, de 25/09.

As nominativas continuam a caracterizar-se pela possibilidade de a sociedade que as emite poder conhecer, a
todo o tempo, a identidade dos titulares (formais).

 Ordinárias vs. especiais art. 302º CSC (privilegiadas 391º2 ou diminuídas 346º4-5 ou “mistas” 341º, ss)

Os direitos inerentes às ações emitidas pela mesma sociedade pode ser diferentes – art. 302º/1. Assim, quando
se verifique esta diversidade, haverá duas ou mais categorias de ações – integrando-se na mesma categoria as
ações que compreendem direitos iguais (302º/2 CSC). Teremos então ações ordinárias e ações especiais.

 ordinárias são as que compreendem direitos previstos na lei para as ações em geral;
 especiais são as ações que compreendem mais, ou menos, ou mais e menos direitos do que os que se
estabelecem na lei para as ações em geral.
o privilegiadas – (ou ‘’preferenciais’’ como lhes chama o art. 344º CC) conferem dtos em
sentido próprio, p.ex.: dto a quinhoar nos lucros de exercício e/ou no saldo de liquidação mais
do que proporcionalmente ao seu valor. (ou seja, +)
o diminuídas – atribuem menos direitos. São as ações de fruição, pq atribuem um direito que é
‘’diferido’’, é passado para «depois» como se dita no art. 346º/4, al. b), a participar nos lucros
de exercício e no saldo de liquidação.
o preferenciais sem dto de voto : não se confundem com as privilegiadas. Estas compreendem,
simultaneamente, mais e menos direitos do que os conferidos pelas ações ordinárias.
Estas ações, reguladas pelos arts. 341º-344º CSC, são instrumentos para a sociedade aumentar os capitais
próprios, para alguns sócios investirem poupanças (os desinteressados ou que não podem participar
ativamente na vida da sociedade) e para outros sócios manterem no essencial o poder societários (os que têm
dto de voto). Quando se faz a distribuição dos lucros, podem suceder-se duas etapas: primeiro atribuem-se os
dividendos prioritários (341º/2); depois, se restarem mais lucros distribuíveis que se delibere distribuir,
atribuem-se os dividendos às ações ordinárias de montante igual ao que coube às ações preferenciais sem
direito de voto; e, se houver lucros remanescentes, vão-se distribuir por todos os acionistas nos termos gerias
(art. 22º/1). Ou seja, são preferenciais pq conferem o direito a um dividendo prioritário. Por outro lado, o
caráter diminuído destas ações está no facto de privarem o voto. Contudo, verificando o previsto no art. 342º/3
(ou nas al. c) e d) do n.º 4), elas já passam a conferir dto de voto nos mesmos termos que as ordinárias.

[fazer rem. do art. 342º/5 para 156º/4, exclui-se dto de participar no lucro final; 458º e 92º].

1.5. Valores das participações; divisibilidade, unidade e pluralidade

 Valor
 Nominal: as partes sociais e as quotas têm um valor nominal, que é o valor atribuído nos estatutos. O
valor nominal mínimo das quotas é de 1€ (art. 219º/3).
 De emissão: as ações (s/ valor nominal) têm valor de emissão (art. 25º/2/3), que é calculado dividindo o
capital social pelo número total de ações. Todas as ações de uma mesma sociedade, representam a mesma
fração do capital, sendo que o valor nominal ou o de emissão ser inferior a 1 cêntimo. (276º/3/4)
 De subscrição: valor das entradas correspondentes às participações sociais. – 25º/1, 298º/1; 25º/2 p/ ações.
 Contabilístico: histórico. Tem em conta o valor do património social líquido (ou capital próprio).
 Comercial ou de mercado (ou de transação): 222º CVM – é o preço por que se transmitem ou podem
transmitir as participações socias.
 Divisibilidade
 Sim as quotas (e as partes sociais) art. 221º
 Não as ações art. 276º, 6
 Unidade ou pluralidade da participação social: um sócio que tenha várias quotas ou ações tem
várias participações sociais?
 Há situações concretas em que releva pluralidade (v.g., podem compreender direitos e obrigações
diversos, podem ser transmitidas ou oneradas autonomamente)
 Mas a tendência é para a unidade (v.g., para efeitos de participação nos lucros, votos [aliás regra unidade],
exercício direito à informação, etc.)

2. Principais direitos e obrigações em que se desdobram participações sociais


2.1. Direitos
2.1.1. Direito a quinhoar nos lucros (remissão para o cap. VI, matéria do lucros) – art. 21º
2.1.2. Direito de participar nas deliberações dos sócios – art. 21º/1/b)

 Noção de deliberação social: decisão tomada pelo órgão deliberativo e juridicamente imputável à
sociedade. [mas terá mais rigor que o sócio único decide, não delibera…]
 Natureza jurídica: em regra, negócios jurídicos (votos são declarações de vontade, com vista à
prossecução de certos efeitos) mas há exceções (aqueles que não constituam, modificam ou
extinguem RJ ou posições jurídicas, como p.ex., votos de confiança, de protesto, de pesar, etc.
 Há taxatividade das formas de deliberação - art. 53º/1 (numerus clausus das formas de deliberação)
 Deliberações em assembleia convocada (SQ 248º, SA 377º): há o prévio chamamento dos
sócios (através da convocatória) para a reunião (real ou virtual)
 Deliberações em assembleia universal art. 54º: Também é possível haver deliberações em
assembleias não convocadas (s/ o chamamento de todos ou algum sócio), ou convocadas
irregularmente (não cumprindo o prazo mínimo que deve mediar entre a convocação e a
reunião, p.ex.), e serem válidas na mesma. Assim será quando estas assembleias ‘’sem
observância de formalidades prévias’’ sejam universais. Nestas, estão presenes (ou
representados) todos os sócios (c/ dto a participar nas assembleias…) e todos manifestam a
vontade de que aquele ajuntamento se torne numa assembleia «que a assembleia se constitua»
(já que estamos aqui reunidos…), e de deliberar sobre det. assunto.
 Deliberações unânimes por escrito art. 54º (documento em papel ou eletrónico art. 4ºA):
naqueles casos em que é urgente tomar uma decisão, e não seja possível convocar a
assembleia, ou não seja conveniente, se todos os sócios estiverem de acordo com det.
proposta, basta que a deliberação seja registada num doc. escrito e assinado por todos (ou
representantes, obviamente, art. 54º/3).
 Deliberações tomadas por voto escrito art. 247º/2-7 (não confundir com voto por correspnd.ª
384º/9, que são formas de votação em deliberação tomadas em assembleia geral (‘’real’’ e
não virtual) convocada, estando algum dos sócios ausente): SQ, SNC.

Nas SNC e SQ, todas são possíveis: 54º/1, 189º/1, 247º/1 (exceto: 247º/2/8, 100çº/2/6;120º); nas SA e
SCDTA excluídas as tomadas por voto escrito (54º/1, 373º/1, 472º-I)

Participação plena nas deliberações

A participação nas deliberações pode ser plena ou limitada - art. 21º/1/b. A participação plena do sócio nas
deliberações compreende o estipulado no art. 21º.

Relativamente ao direito de voto, cumpre-nos referir que este é o poder que o sócio tem de participar na
tomada de deliberações através da emissão de votos. Assim, a influência de cada sócio na formação das
deliberações é determinada pelo seu ‘’poder de voto’’ – e este ‘’poder de voto’’ está dependente no número de
votos que lhe caiba e do peso relativo dos mesmos na totalidade dos votos (dele e dos consócios). Então,
quais são os critérios de atribuição dos votos? Varia conforme o tipo de sociedade: nas SNC, rege o
princípio personalístico ou democrático - 190º; nas restantes, impõe-se o princípio capitalístico ou
proporcional. 250º * 384º * 472/2º.

Porém, há circunstâncias em que os sócios, embora tenham direito de voto, estão impedidos de o exercer
(não podendo, então, participar de forma plena nas deliberações). Quando? Nas situações de conflito de
interesses entre sócios e sociedade (art. 251º, 384º/6); quando um acionista esteja em mora na realização de
entrada em dinheiro (art. 384º/4); nas situações previstas nos arts. 485º/3, 487º/2 CSC e 192º CVM.

Relativamente ao caso de conflitos de interesses, o código tem dois impts. artigos; 251º aplicado diretamente
às SQ, e por remissão dos arts. 189º/1 e 474º, às SNC e SCtda simples, e 384º/6/7 aplicável diretamente às SA
e, por remissão do art. 478º, às SCtda por ações.

Regra: art. 251º - «o sócio não pode votar nem por si, nem por representante, nem em representação de
outrem, quando, relativamente à matéria da deliberação, se encontre em situação de conflito com a
sociedade». Afirmada a regra geral, continua com a enumeração exemplificativa (‘’designadamente’’) nas
alíneas [clausula geral e enumeração de hipóteses].

Por sua vez, temos o art. 384º/ que estipula que «um acionista não pode votar (…) quando a lei expressamente
o proíba» (casos do 28º/1, 74º/2, 75º/3 e 367º/2). Note-se que as hipóteses das alíneas deste artigo configuram
casos em que efetivamente há divergência entre o interesse do sócio e o interesse da sociedade – ou seja, à
sociedade interessa-lhe uma deliberação num sentido, e ao sócio o sentido contrário.

- Ambos os artigos visam neutralizar o perigo de tomar deliberações contrárias ao interesse social, por
influência do voto de sócio portador de interesse divergente.

Mas pode o próprio estatuto social prever mais situações de conflito de interesses impedindo o voto?

R.: Sim. A enumeração do 251º/1 é exemplificativa. Consequentemente, outros casos conflito de interesses
podem ser acrescentados no contrato social.
 E é livremente? Sem restrições? Não. A regra é os sócios poderem exercer o direito de voto, sendo que as
restrições são excecionais e têm de estar prevista na lei (21º/1/b)) Por outro lado, não podemos esquecer que é
possível a anulabilidade ferir deliberações que sejam aptas a favorecer especialmente algum sócio (em
detrimento de outros), apesar de esse sócio ter votado (art. 58º/1/b)). Assim, é de defender que, em princípio,
não se verificam situações de conflito de interesses que sejam relevantes para impedir o voto quanto às
deliberações cujo objeto se encontra previsto no Código (designadamente no art. 246º) mas não no art. 251º (o
silêncio da lei, neste preceito, deve relevar, na dúvida, a favor do voto). Ex.: o sócio pode votar em
deliberação sobre a consentimento para a cessão de quota sua (arts 228º/2, 246º/1/b)).

Note-se, ainda, que podemos aplicar analogicamente alguns preceitos legais diretamente aplicáveis à SQ do
art. 384º/6 (e que podem constar nos estatutos das sociedades por ações).

O regime dos impedimentos de voto por conflito de interesses é aplicável às SUnipessoais? Não.

 algumas situações de conflito não importam nestas sociedades; (perda da sua quota, exclusão…)
 a aplicação daquele regime tornava inviável que o sócio tomasse decisões sobre det. matérias
 o regime visa prevenir o risco de se tomar deliberações contrárias ao interesse social (e não visa
primariamente impedir eventuais prejuízos para terceiros). Ora, quer nas SPluripessoais, quer nas
Unipessoais, é possível atacar deliberações cujo conteúdo se revele contrário ao interesse social. Por
sua vez, se é verdade que as decisões do sócio único que favorecem os seus interesses extrassociais
podem causar prejuízos a terceiros (indiretamente, credores, sobretudo), é tbm um dado que estes
dispõem de meios de defesa – a impugnação pauliana (art. 610º ss CC), a responsabilização de
administrador e do sócio único.

NOTA IMPT: no conflito de interesses sócio vs. sociedade, o interesse tem de ser um interesse direto ou
imediato do sócio (e não dos ascendentes, descendentes, etc).

E quando um sócio se encontrar numa situação de conflito de interesses com a sociedade, que lhe impeça
de exercer o seu direito de voto, deve votar? Não. As normas do art. 251º e 384º são imperativas.

Participação limitada nas deliberações

Os sócios sem direito de voto ou impedidos de votar, não tendo direito de participar plenamente, têm
direito de participação limitada nas deliberações que sejam tomadas em assembleia geral – ou seja, há
uma situação limitada para as sócios sem direito de voto ou impedidos de votar.

 SNC *SQ * SCdtaSp

Todos os sócios têm direito de estar presentes nas assembleias gerais e de participação na discussão dos
assuntos indicados na ordem do dia - 248º, 5 (189º/1 * 474º)

 SA * SCdtaAções

Os sócios com direito de voto, mas impedidos de votar: participam = podem assistir às assembleias gerais e
participar nos debates (c/ restrição do 21º/1/b))

Os sócios sem direito de voto, em regra, têm as mesmas possibilidades, exceto se o contrato social determinar
o contrário (art. 379º/2). Contudo, o estatuto não pode impedir que os titulares de ações preferenciais sem voto
sejam representados por um deles, tendo o representante direito de estar presente para discutir – 343º, 379º/3.
Por outro lado, o ES também não pode impedir que sócios sem ações suficientes se possam agrupar, ou seja,
quando o ES exige que é preciso ter um certo número de ações para se ter um voto ( 384º/2), não pode impedir
que os acionistas que possuem um menor numero de ações se juntem para completar o n.º exigido ou superior,
e se façam representar por um dos agrupados (379º/5).
Representação voluntária de sócios

O dto de participação nas deliberações não tem de ser exercido pelos próprios sócios. Eles podem exercê-lo
através de representantes voluntários.

 Admissibilidade: que se trate de deliberações tomadas em assembleia geral, quer se trate de


deliberações unânimes por escrito (249º1).
 Quem pode representar: SNC e SCDSim. 189º/4; SQ (igual, a não ser que) 249º5; SA e SCAções
380º/1
 Instrumento de representação: é, geralmente, a procuração dirigida à sociedade ou ao presidente da
(mesa) da assembleia (art. 249º/3/4); pode ser em papel ou suporte eletrónico (189º/4) e pode valer
para várias deliberações.
 O absentismo nas S.A. e o fenómeno das procurações: isto permite que acionistas singulares ou
grupos de acionistas ‘’ocasionais’’ e não empresários influenciem ou controlem a vida societária, sem
necessidade de possuírem a maioria das ações. Vem o artigo 381º ditar algumas medidas para evitar
isso.

2.2. Obrigações

2.2.1. Obrigação de entrada - Art. 20º1, a); 2.2.1.1. Entradas possíveis

 Art. 20º1, a): contribuir com bens para o exercício de determinada atividade económica
 A entrada pode ser tanta a prestação (de dare ou de facere), como o objeto da prestação.
 Modalidades (quanto ao objeto da prestação)
 Dinheiro = moeda (metálica, papel-moeda, cheque, transferência bancária; cumprimento
efetuado quando estover na disponibilidade da sociedade)
 Espécie – bens diferentes de dinheiro (e de indústria) – exemplos: imóveis, empresas (em sentido
objetivo), móveis corpóreos, patentes, marcas, créditos.
Muitas vezes, os sócio entram mesmo com a propriedade desses bens. Outras vezes, transmitem ou
constituem a favor da sociedade outros direitos reais sobre esses bens. Ora, podem os sócios entrar para a
sociedade atribuindo-lhe o gozo desses bens a título obrigacional? (ex.: o gozo durante 20 anos do cit.
imóvel, tendo como única contrapartida a aquisição de quota pelo sócio) Sim. Porquê?
 art. 25º/4 – porquê? Porque a hipótese de a sociedade ser ‘’privada, por ato legítimo de terceiro, do bem
prestado pelo sócio’’ é uma coisa que só pode acontecer quando é transmitido o simples gozo do bem, e não a
propriedade. Por exemplo, o prédio cujo gozo tenha entrado o sócio pode ser retirado à sociedade por 3º-proprietári que,
entretanto, comprou ao sócio ou p adquiriu em processo executivo movido contra ele.
infirmável.
 Contra: dificuldades de avaliação: o valor das entradas em espécie de mero gozo é o valor atual de um
rendimento que é apenas futuro; momento de realização: «devem ser realizadas até ao momento da celebração
do CS»; impenhorabilidade – a sociedade não pode dispor do prédio com cujo gozo entrou o sócio, então esse
bem não é penhorável.

 Indústria (obrigam-se a prestar det. atividade ou trabalho à sociedade). Note-se que só sócios de
responsabilidade ilimitada podem entrar c/ indústria [todos os sócios nas SNC, os sócios
comanditados nas SCTda] - arts. 176º1, a), b), 468º.

NOTA: Nas SQ, SA, SCTda há proibição legal arts. 202º1, 277º1 e 468º) de entradas em indústria [razões: a
responsabilidade é limitada, há frágil consistência das entradas em indústria e a garantia geral das obg. sociais
é constituída pelos respetivos patrimónios].

2.2.1.2. Avaliação de entradas. Aquisição de bens a acionistas

 Avaliação de entradas em espécie art. 28º


 nº 1 objetivo: verificar se há uma correta correspondência entre duas coisas:
 entradas em espécie e as relativas participações sociais;
 as participações sociais e o capital social;
 nº 3 conteúdo do relatório
 art. 25º/3 erro na avaliação (sobrevalorizou as entradas em espécie)

Ora, as entradas têm de ser avaliadas pq? P/ além da referida correspondência, pensemos numa situação em
que, pouco depois da constituição, a sociedade pudesse adquirir onerosa e livremente bens aos sócios. Ex.:
Um sócio entrou com 10mil€ em dinheiro. Logo depois, a sociedade comprou-lhe por 10mil€ uma automóvel
que valia 8mil€. O que foi a sua entrada? Uma entrada em espécie dissimulada, coberta por uma entrada
formalmente em dinheiro, que logo o recuperou. Ou seja, para evitar fraudes temos o art. 29º (que também
devia valer para SQ), estipulando o regime da aquisição de bens a acionistas. (ver regras sublinhadas).

 Avaliação de entradas em indústria


 menor exigência, pois valor não se reflete no capital (tendo em conta que o capital se funda
nas entradas em espécie e em €, apenas), nem no capital social (9º/1/f) e 178º/1) e há
responsabilidade ilimitada art. 178º/1. Logo, apenas serve para calcular a participação nos
lucros e perdas art. 176º/1/b)

2.2.1.3. valor das entradas e valor das participações

P/ uma correta formação do capital social, o valor das entradas (em € ou em espécie) nunca pode ser inferior
ao valor nominal ou de emissão das correspondentes participações sociais (partes do capital, quotas ou ações)
- art. 25º/1/2 (apenas = ou >). Porquê? Para que se consiga que o património social seja pelo menos idêntico
ao capital social inicial.

2.2.1.4. Tempo das entradas pág. 268º

 Regra: “até ao momento da celebração do contrato” art. 26º/1


 MAS: Entradas em espécie
 Podem ser realizadas antes (ou no momento da celebração
 Não admitem diferimento (mesmo quando consistam na atribuição direito pessoal de gozo:
momento da constituição do direito é o que releva)
 Entradas em dinheiro: há possibilidade de diferimento, pois podem ser depois da celebração.
 Permitido por lei: até ao termo do primeiro exercício económico art. 26º/2: SQ constituição
regular arts. 199º/b), 202º/4
 5 dias úteis: SQ e SA na hora e on-line arts. 7º2, 6º1, e) DLs 2005 e 2006 mas também regime
geral
 Diferimento clássico – cláusula estatutária: SQ todas as entradas na quase totalidade (salvo
€1) art. 203º1 e prazo * SA apenas 70% art. 277º2 (questão: 70% de cada ou de todas? de
cada: argumentos) e prazo 285º1
 Entradas em indústria: de execução continuada

CAPÍTULO VI: CAPITAL E PATRIMÓNIO

1. Capital social (noções)

Do estatuto de cada sociedade deve constar o respetivo capital social (o capital estatutário) – 9º/1/f).

Q.: O capital social é a cifra que representa a soma dos valores das entradas dos sócios? NÃO. Porquê?

1. o VE em indústria não é computado no CS – 9º/1/f) + 178º/1;


2. o VE em € ou em espécie pode ser superior ao valor das participações sociais correspondentes
– 295º/2/a/ e /3/a) (ex.: prémios de emissão) e pode mesmo ser inferior – ex.: 298º/2  sendo
que o valor maior ou menor das entradas se repercute no património social e não no capital
nominal.

Noção correta: é a cifra representativa da soma dos valores nominais das participações sociais, fundadas
em entradas em € e/ou em espécie. 4 (ou seja, quanto vale cada participação social, seja parte, quota ou ação!)

 Capital social
 Real: 35º/1/2/1ª menção CSC – montante de bens da sociedade que se destinam a cobrir o
valor do capital social estatutário. Este integra-se no património líquido da sociedade.
 ≠: mas não se confunde com este! PQ? Pq o PS pode ser > ao CS real;
 = CS real coincide com o PS Líquido equivalente ao CS Nominal.
 Próprio: 349º/1 CSC – equivale ao património (ou ativo) líquido da sociedade.
 Alheio: corresponde às dívidas da sociedade

2. Património social (em confronto com o capital social)

Qualquer sociedade tem património: conjunto de relações jurídicas com valor económico, ie, que se pode
avaliar em €. Este pode ser perspetivado como:
 Global: conj. de todos os dtos e obrigações suscetíveis de avaliação pecuniária de que a sociedade é
titular bem certo momento.
 Bruto ou ilíquido: é a soma dos direitos das sociedades, computáveis em €, abstraindo-se das
dívidas;
 Líquido: conj. dos dtos das sociedades, mas reduzindo-se a um valor pecuniário depois de se
descontar o montante das dívidas.

Diferença face ao capital social


1. Nem todas as sociedades têm capital social, mas todas têm património. Logo, no início, o PS é no mínimo
constituído pelas obrigações de entrada dos sócios. Podem ainda não ter capital, mas já têm património.
Depois, à medida que decorre a vida societária, o PS vai-se alterando c/ a entrada e saída de outros direitos ou
bens ou obrigações.
2. O CS, enquanto uma simples cifra ou n.º, é uma pura realidade aritmética. Já o PS, embora às vezes possa
tbm ser uma cifra, é uma realidade concreta ou complexa de RJ’s que existem.
3. Por último, o CS tende a ficar constante, enquanto que o PS varia continuadamente.

3. Funções do capital social (sendo ele cifra representativa de VN + VN das participações sociais em
€/espécie)

1. Financiamento da sociedade: o valor das entradas dos sócios podem ser superiores ou iguais aos valores
nominais das participações sociais, mas nunca poderão ser inferiores (SQ: porque o sócio pode realizar
uma entrada em € ou espécie que seja > que o valor da sua quota, mas nunca pode entrar com menos € do
que a quota que lhe é atribuída no contrato) – art. 25º/1. No caso de ações sem valor nominal, o valor das
entradas pode ser igual ou superior, mas nunca inferior, ao capital social correspondentemente emitido –
art. 25º/2. Assim se consegue que o PS inicial seja pelo menos idêntico ao CS. E os bens deste
património, referido ao CS, são obviamente um meio de financiamento próprio da sociedade.

2. Ordenação: o CS aparece na lei como critério de determinação:


a. Da medida dos direitos e obrigações dos sócios;
b. Da existência de certos direitos dos sócios;
c. De quóruns deliberativos qualificados.

4
Não vale para as SA c/ ações sem VN. P/ estas, o CS é definido como cifra livremente fixada nos estatutos (dentro dos
limites da lei do capital social mínimo), que determina o valor mínimo das entradas a realizar – 25º/2; 298º/1
Com efeito, o art.22º/1 estipula que «…». Porém: a posição relativa de c/ sócio pode calcular-se relacionando
o VN das suas quotas com o VN de outra ou de todas elas, ou o n.º de ações respetivas c/ o n.º de todas as
ações emitidas  sem ser preciso fazer referência ao capital social.

Por outro lado, a existência de certos direitos é determinada por ref.ª ao CS: ex. têm dto de ação social de
responsabilidade os sócios «que possuam, pelo menos, 5% do capital…», art. 77º/1, bem como art. 288º/1,
291º/1, 375º/2. Todavia, há dois pontos a discordar:

 é incorreto dizer que os sócios possuem CS, pq é a sociedade que detém, e sendo uma cifra,
nem sequer é possível possuir;
 depois, chegávamos aos mesmos resultados se calculássemos o valor percentual de cada
participação relativamente ao n.º total de ações ou à soma dos VN’s de todas as quotas.
 art. 265º/1+270º e 383º/2 – o CS tem de se substituir por «3/4 dos votos emissíveis» e «1/3
das ações (com voto)»

3. Avaliação económico-financeira da sociedade: pq? Pq o CS é utilizado no balanço. (Reservas+CS)


 Se, em determinado momento, o balanço regista um património líquido superior ao CS, conclui-
se que a sociedade obteve lucros.
 Se PS (líquido) < CS  perdas

Mas: chegávamos à mesma conclusão fazendo o confronto ativo-passivo.

4. Garantia para os credores sociais

Esta função está ligada ao princípio da intangibilidade do capital social (e das reservas indisponíveis) - arts.
32º1 e 31º2 [e princípio da exata formação do capital art. 25º]: ou seja, a sociedade não pode atribuir aos
sócios, enquanto tais, bens da sociedades que sejam necessárias à cobertura do valor da CS e reservas
indisponíveis. Os credores da sociedade acabam por ser protegidos porque se proíbe que o PS líquido se torne
inferior ao valor do CS e das RL e RE, em virtude de distribuições de bens aos sócios. Só os lucros é que se
podem distribuir.
Porém:
 Fraca garantia, se o CS for mto baixo. Note-se até que o capital mínimo fixo para a generalidade das
SA é de 50mil€ e o capital mínimo livre para as SQ é 1€.
 Este princípio não impede que o PS Líquido desça abaixo da cifra do CS por outras causas que não
esta distribuição (má organização, gestão ou conjuntura económica).

Regime do art. 35º - quando se verifiquem as situações do n.º1, compete aos sócios adotar as medidas que
julguem convenientes (alguma das previstas no n.º3 ou outras). Mas podem até nem sequer tomar medida
nenhuma, não aprovando propostas dessa índole ou aprovando uma proposta de nada fazer. Daqui resulta que
o art. 35º não garante aos credores sociais que as sociedades com perdas graves efetivamente vão fazer algo
para melhorar a situação. Contudo, se a situação não for resolvida, diz o 172º/2 que … Esta é uma norma de
proteção de 3ºs, sendo que se for violado – 79º + responsabilização civil dos administradores.

Relativamente à reintegração do capital social, uma das medidas, é importante referir que pode acontecer se
todos os sócios deliberarem por unanimidade realizarem entradas em espécie e/ou €, a fundo perdido. Mas a
verdade é que também não se podem impor aos sócios outras prestações que não as previstas na lei ou nos
estatutos (seria inválida a deliberação que obrigasse a ‘’novas entradas’’). Por outro lado, já será válida uma
deliberação por maioria que obrigue todos os sócios que a aprovem à reintegração do CS, sendo que quem o
fizer poderá ser recompensado através da atribuição de direitos especiais.

Não obstante, os sócios podem deliberar constituir prestações suplementares – SQ, 210º ss. – ou acessórias
pecuniárias – SA, 287º -, que são integradas no capital próprio.

4. Lucros
 Noção genérica: ganho que se traduz num incremento do património da sociedade.
 Lucro de balanço = Ps – (Cs+Ri) [acréscimo patrimonial, pq há um aumento do património].
 Limite máximo dos bens que podem ser distribuídos aos sócios, enquanto tais art. 32º
 Lucro de exercício = PsF – PsI [excedente de PsF, ou seja, no final do exercício ou período.
 Importante para constituição de reservas: legais arts. 218º e 295º; estatutárias art. 33º1
 Ponto de partida para determinação do lucro de exercício distribuível
 Tbm chamado de Resultado líquido do período do capital próprio.
 Lucro final ou de liquidação = Cs – PsL [no livro: Lf= Ps-Cs].

4.4. Direito dos sócios a quinhoar nos lucros - 4.4.1. Quadro geral  art. 21º71/a)

 É poder de exigir a sua parte dos lucros, que tenham de ser distribuídos: art. 21º1 a) …
 Proibição do pacto leonino: art. 22º3 …consequentemente, todo o sócio tem o poder jurídico de
exigir permanentemente da sociedade que não seja excluído da comunhão nos lucros. Por essa razão,
é nula a deliberação que exclui um sócio dos lucros, bem como a clausula estatutária – 56º/1/e)
+411º/1/c)
E porquê que é assim? Bom funcionamento da sociedade – um sócio que sócio que apenas pudesse
lucrar  políticas arriscadas, permanente conflito de interesses c/ os que tanto podiam ganhar como
perder; um sócio que só quinhoasse nas perdas  políticas demasiado prudentes.

 Regra da proporção e exceções à regra: 22º/3 é nula «a clausula»  não a participação, não o
contrato social. Esta norma é dispositiva pq admite «convenção em contrário» - o que significa isto?
O estatuto social pode derrogá-la, ou os sócios deliberando (‘’um ou mais sócios quinhoam nos
lucros + do que a proporção dos valores das suas participações sociais = há um direito especial
aos lucros)

É possível não-sócios quinhoarem nos lucros? Atribuir lucros, a título de liberdade, a não-sócios? Sim,
em geral.

 Ex.: 255º/3; 399º/2/3


 189º/3, 246º/1/e), 376º/1/b) – sócios podem deliberar sobre a aplicação dos resultados, sendo que não
se restringe à distribuição entre os sócios e afetação a reservas livres. Podem, por maioria simples,
deliberar atribuir parte a trabalhadores, instituições de solidariedade social, ecológicas, etc.
 Limite da liberdade de deliberar: 6º/1/2 – nulidade se deliberarem atribuir lucros a não-sócios
quando tais liberalidades caiam fora da capacidade jurídica da sociedade, bem como a deliberação que
atribua todos os lucros distribuíveis a não-sócios o art. 21º diz que todos tem o dto de quinhoar nos
lucros; o 56º diz que é nula a deliberação contra ‘’preceitos legais (…) derrogados’’  logo, têm
obrigatoriamente os sócios o dto de quinhoar  Então não é possível atribuir todos os LD a não-
sócios.

4.4.2. Distribuição de lucros de balanço - balizado no art.32º

 65º/1/5: têm o dto de exigir que anualmente a adm. lhes apresente o relatório anual da
administração de gestão, com uma proposta de aplicação de resultados (art.66º/5/f)) e de deliberar
sobre tal aplicação (189º/3, 246º/1/e), 376º/1/b)
 Exceções:
 341º/1/2
 217º/1, 2984º/1 – LE tem de estar compreendido no LB

 Após deliberação válida de distribuição de lucro, nasce direito de crédito, mas
 Vencimento: SQ e SA, o crédito não se vence imediatamente – 217º/2+294º/2
 Execução: vencido o crédito ao lucro, deve a sociedade, pelos adm., satisfazê-lo. Contudo,
31º/2/a), 381º/3 CPC, 31º/4 CSC.
E se os sócios receberem a título de lucros bens cuja distribuição não era permitida por lei,
designadamente por violarem o p. da intangibilidade do CS e RI? Art. 34º/1 (sócios de boa-fé não estão
obrigados).
4.4.3. Distribuição de lucros de exercício: art. 217º sócios,294º acionistas.
 Regra dos três “se’s”:
 se se verificar, pelo balanço (que foi aprovado) que existe LED
 se o estatuto não dispuser diferente (cláusula contratual), tanto quando à medida de
distribuição, como quanto à maioria dos votos exigida para deliberar distribuição inferior à
prevista na lei;
 se os sócios não deliberarem com maioria qualificada (3/4 dos votos do CS em AG)
* Então a sociedade fica obrigada a distribuir aos sócios ‘’metade do LED’’. Se não o fizer, os sócios
têm dto a exigir judicialmente o cumprimento da obg. art. 817º CC.

 Caminho até ao LeD:


 Cobertura prejuízos transitados
 Formar ou reconstituir reserva legal ou estatutária
 Só o daquele exercício
 Se não houver deliberação?
 Se houver sem quórum?

4.4.4. Distribuição do lucro final


 Operações de liquidação
 Ativo remanescente art. 156º4

5. Reservas
 Noção
 Função
Reserva legal (e equiparadas)
 Obrigatória (salvo SNC) - arts. 218º, 295º, 478º
 Constituição ou reintegração – art. 295º1
 Aplicações taxativas – art. 296º
 Equiparadas – art. 295º/2
 Deliberações que violem o regime: nulas arts. 56º/1/d) e 69º/3
Reservas estatutárias
 Fonte, constituição e utilizações
 Deliberações que violem regime são
 anuláveis – art. 58º/1/a)
 Ou nulas se for distribuição de bens sociais que desrespeite intangibilidade – art.
56º/1/d)
Reservas livres
 Fonte, constituição e utilizações
 atenção limites legais - arts. 217º/1, 294º/1
 possibilidade de distribuição em períodos subsequentes (enquanto parte do LdB)
Reservas ocultas
 Origem
 omissão ou subvalorização ativo
 sobrevalorização ou inclusão fictícia passivo
 São ilícitas e deliberações nulas
 salvo reservas tácitas: subvalorização devida a utilização critérios legais de mensuração
ou amortização

6. Perdas e «obrigação» de quinhoar nas perdas

 Noção genérica
 Perda de balanço = PsL – (Cs+Ri)
 Perda de exercício = PsLF – PsLI
 Perda final ou de liquidação = Cs – PsL
 “Obrigação” de quinhoar nas perdas: risco de perder investimento que foi contrapartida da
aquisição da participação social

Cap. VII -- DOS ÓRGÃOS SOCIAIS


Secção I -- Deliberações dos sócios
1. Preliminares
2. Deliberações ineficazes
2.1. Em geral
2.2. Ata, condição de eficácia das deliberações?
3. Deliberações nulas
3.1. Por vícios de procedimento
3.2. Por vícios de conteúdo
3.2.1. Deliberações contrárias a preceitos legais imperativos
3.2.2. Deliberações ofensivas dos bons costumes
3.3. Ação de declaração de nulidade
4. Deliberações anuláveis
4.1. Ilegais
4.2. Anti-estatutárias
4.3. Abusivas
Secção II - ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃO E REPRESENTAÇÃO
1.Modos de designação dos administradores
1. Vinculação das sociedades
1.1. Como atuam vinculativamente as sociedades (generalidades)
1.2. Requisitos subjetivos
1.2.1. Indicação da qualidade de administrador 1.2.2. Órgãos de representação plurais
1.2.2.1. Regras legais e derrogações
1.2.2.2. Vigorando a conjunção, basta um administrador para a sociedade ficar vinculada?
1.3. Extensão dos poderes de vinculação
1.3.1. Limites legais
1.3.2. Limitações estatutárias
1.3.3. Limitações resultantes de deliberações dos sócios e de outros órgãos
1.3.4. Abusos do poder de vinculação

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