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AS SOCIEDADES COMERCIAIS

Bibliografia:

ANTÓNIO PEREIRA DE ALMEIDA, Sociedades Comerciais e Valores Mobiliários, Coimbra


Editora; PAULO OLAVO CUNHA, Direito das Sociedades Comerciais, Almedina; MIGUEL PUPO
CORREIA, Direito Comercial - Direito da Empresa, Ediforum, Lisboa; JORGE MANUEL
COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial, II, Almedina, Coimbra; ANTÓNIO MENEZES
CORDEIRO, Manual de Direito das Sociedades, I e II, Almedina, Coimbra.

Capítulo 14

Conceito e processo de constituição da sociedade comercial

A noção de sociedade comercial obtém-se reunindo aos elementos do conceito de

sociedade do artigo 980.º do Código civil as notas características da sociedade

comercial exigidas pelo n.º2 do art. 1.º do Código das sociedades comerciais.

14.1. O conceito de sociedade

I. No direito português o conceito de sociedade é estabelecido no art. 980.º do Código

civil. A sociedade é definida como o contrato em que duas ou mais pessoas se obrigam

a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa actividade

económica que não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes

dessa actividade.

Nestes termos, para que haja uma sociedade é necessário, em primeiro lugar, que

ocorra um contrato, isto é um acordo entre duas ou mais pessoas.

Em segundo lugar, o contrato tem de reunir os seguintes elementos essenciais:

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-Obrigação de contribuir com bens ou serviços (obrigação
de entrada);

-Exercício em comum de uma actividade económica (actividade económica);

-Repartição entre os sócios dos lucros (fim lucrativo).

Há uma sequência lógica entre os três elementos do contrato: a realização das

entradas, obrigação individual dos sócios, torna possível o exercício da actividade

económica e esta, por sua vez, dada a sua natureza, deve permitir o apuramento de

um lucro a repartir entre os sócios.

II. A obrigação de entrada em bens ou serviços vai permitir formar a base material em que
assenta a organização.

Alguns sócios contribuem com bens — são os sócios de capital; outros contribuem com

serviços — são os sócios de indústria (v. C. civil, art. 992.º/2).

A contribuição para o capital pode ser feita com quaisquer bens susceptíveis de

penhora (art. 984.º do C. Civil e 20.º/a do CSC).

Os serviços, que noutras disposições legais são designados por indústria, formam uma

categoria económica residual: é serviço toda a prestação apta a satisfazer uma


necessidade humana que não seja um bem susceptível de penhora.

III. Os sócios obrigam-se a realizar em comum uma actividade económica: criam uma
organização que os vai substituir no exercício dessa atividade e, consequentemente,

deixam de poder exercer individualmente atividade igual à da sociedade (art. 990.º

C.Civil).

Esta actividade consistirá na oferta de bens ou serviços para o mercado,em

contrapartida de um preço, modo necessário para a obtenção de lucros.

IV. Esta característica lucrativa liga-se ao terceiro elemento da sociedade. Só é


sociedade a organização que procure realizar lucros com o fim de os repartir entre os
sócios. A realização de lucros é a função económico-social da sociedade. Mas o lucro

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em sentido objectivo (actividade lucrativa) é acompanhado pelo lucro em sentido
subjectivo (o fim lucrativo dos sócios). Uma organização que realize um actividade
económica com o fim de distribuir todos os dias uma refeição aos sem abrigo não é
uma sociedade no sentido do Código civil, mas antes uma associação sem fins
lucrativos.

14.2. O conceito de sociedade comercial

Uma sociedade será comercial quando, sendo um contrato no sentido do art. 980.º do
Código civil, tenha por objecto a prática de actos de comércio e adopte o tipo de
sociedade em nome colectivo, de sociedade por quotas, de sociedade anónima, de
sociedade em comandita simples ou de sociedade em comandita por acções.Estas
duas condições específicas são exigidas pelo art. 1.º do CSC. A sociedade comercial é,
assim, uma sociedade que tem objecto e forma comercial.

14.2.1. Objecto comercial

O objecto da sociedade é a actividade económica que os sócios propõem que a


sociedade venha a exercer (v.CSC, art. 11.º, n.º2). Para estarmos perante uma
sociedade comercial, essa actividade deve consistir na prática de actos de comércio. É
nisto que se traduz a exigência de ter um objecto comercial.

O Código das sociedades comerciais não define o acto de comércio, conceito que tem
de ser procurado no art.2.º do Código comercial. Ora, nesta norma prevêem-se duas
categorias de atos de comércio: aqueles que se encontram regulados no Código
Comercial, classificados de objetivos, e certos contratos contratos e obrigações dos
comerciantes, classificados de subjetivos. Como os atos de comércio subjetivos
pressupõem a existência de um comerciante, qualidade que a sociedade comercial
terá depois de regularmente constituída, para determinar a comercialidade da
sociedade interessam apenas os atos de comércio objetivos.

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Para esclarecer o objeto da sociedade comercial, o conceito de acto de comércio
objetivo deve ser construído por referência a actividades económicas; nesta
perspetiva, precisamos de combinar a matéria económica regulado pelos diversos atos
de comércio isolados e as empresas comerciais do artigo 230.º; por esta via,
constatamos que o Código comercial exclui do seu âmbito apenas a agricultura,a
pecuária, o artesanato e as profissões liberais. Por isso, a sociedade comercial pode ter
por objeto o comércio, a indústria e os serviços.

A conceção subjacente é, pois, a de que existem actividades económicas que se


desenvolvem pela prática de actos comerciais e outras pela prática de atos civis: a
primeira é objecto da sociedade comercial, a segunda é objecto da sociedade civil.
Assim, são sociedades civis aquelas que se dediquem à agricultura, à pecuária e ao
exercício de profissões liberais ou as utilizadas por artesãos; as restantes são
sociedades comerciais.

14.2.2. Forma comercial

Ter forma comercial significa, neste contexto, a necessidade de adoptar um dos tipos
de organização admitidos no Código, enunciados no n.º2 do art. 1.º. Esta necessidade
de adoptar um dos modelos legais de sociedade permite dizer que vigora no direito
português o chamado princípio da tipicidade ou do numerus clausus: está afastada a
existência de sociedades comerciais atípicas1.Não existem sociedades comerciais em
geral, mas apenas sociedades comerciais em nome colectivo, por quotas, anónimas,
em comandita simples ou por acções.

1
Por consequência, à luz do direito português, ao contrário do que acontece noutros direitos como o suíço
ou italiano, não é possível criar uma simples sociedade comercial, que funcione como uma espécie de
residual deixada à disposição de quem pretende exercer uma actividade comercial mas não quer escolher
um dos tipos legais.
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14.3. O processo de constituição [contrato, formalidades prévias, registo
comercial e publicação]

I. O objetivo dos fundadores é a criação de uma organização jurídica distinta dos sócios

e que os vai substituir no exercício da atividade económica. A existência de um

contrato válido é condição essencial para atingir aquele fim. O contrato de sociedade

deve ser celebrado por escrito e as assinaturas dos seus subscritores reconhecidas

presencialmente ou assumir outra forma mais solene, sob pena de invalidade

(CSC,art.41.º, n.º1).

Além disso, depois de obtida a forma legal, o contrato deverá ser registado na

conservatória do registo comercial, momento em que o contrato torna-se eficaz para

todas as pessoas e a sociedade se institucionaliza: nas palavras da lei, passará a gozar

de personalidade jurídica (CSC, art.5.º). No quadro do registo comercial, tem lugar a

publicação do contrato.

II.Mas no processo de constituição da sociedade, os fundadores têm de praticar outros

actos, a que se chama formalidades para separar do contrato.

Destas formalidades, algumas acontecem antes da assinatura do contrato, designando-

se por formalidades prévias: é o que sucede com o pedido de admissibilidade da firma


apresentado ao Registo Nacional das Pessoas Coletivas; com a avaliação das entradas

em espécie pelo revisor oficial de contas e o depósito numa instituição bancária das
entradas em dinheiro que sejam de realização imediata.

Outras formalidades acontecem depois da assinatura do contrato, chamadas por isso


de formalidades posteriores: é o caso do registo comercial e das publicações.

III. Estas formalidades têm importância diversa. A lei atribui valor essencial ao registo
comercial; é ele que confere personalidade jurídica à sociedade: antes do registo, a

sociedade não é uma pessoa coletiva, mas apenas um contrato que produz efeitos nas
relações entre os sócios(v. CSC, art.37.º)2. Porque antes dele não há pessoa coletiva,

2
E, depois do registo, são reduzidas as causas de nulidade do contrato (v. artigos 42.º ss.).
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diz-se que o registo comercial do contrato de sociedade é constitutivo, não se

limitando a declarar um efeito já produzido anteriormente, como sucede nos outros

casos de atos da sociedade sujeitos a registo, registo que então se diz declarativo.

IV.É certo que no mundo dos negócios encontramos sociedades com objecto comercial

mas a que falta a forma legal do contrato ou o registo comercial. São as chamadas

sociedades irregulares com um regime especial estabelecido nos artigos 36.º a 40.º do

CSC. Elas existem porque são reconhecidas como parceiros comerciais no mercado (

representam cerca de 20% da economia portuguesa), e são admitidas pela

administração fiscal: é aceite a sua declaração de início de actividade, têm um número

de identificação fiscal, subsistem enquanto tiverem a sua situação fiscal em dia e

cumprirem as suas obrigações perante clientes e fornecedores.

Mas também é certo que, nos termos deste regime especial, estas sociedades

irregulares, que ainda não concluíram o processo de constituição, não constituem uma

individualidade jurídica diferente dos sócios que, por isso, respondem sempre

individualmente pelas dívidas contraídas em nome da sociedade (v. especialmente art.

40.º, n.º1).

Capítulo15

O contrato de sociedade comercial [A formação do acordo entre os sócios


fundadores]

A sociedade comercial é criada através de um contrato com as características que

acabámos de ver. Para compreendermos o regime legal de constituição da sociedade

comercial precisamos de combinar as regras do Título I-Parte Geral com regras dos

Títulos especiais relativos a cada sociedade em particular. O contrato deve reunir os

elementos indicados no artigo 9.º do Código das Sociedades Comerciais para todos os

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tipos de sociedades, além daqueles que sejam especialmente exigidos para a

constituição do tipo em causa (v. art. 199.º e 272.º).


15. 1. Os sócios fundadores
A criação de uma sociedade comercial é o efeito de um acordo de vontades entre os sócios
fundadores. Começaremos por verificar as condições impostas por lei em relação ao número
de pessoas e à sua capacidade.

15. 1.1. Número de sócios: da pluralidade à sociedade unipessoal

I. O número mínimo de sócios de uma sociedade é de dois, excepto quando a lei exija
um número superior ou permita que a sociedade seja constituída por uma só pessoa
(art. 7.º, n.º2).

Vejamos o âmbito das excepções.

Um número de sócios superior a dois é imposto para a sociedade anónima que não
pode ser constituída por um número de sócios inferior a cinco (art. 273.º).

A outra excepção abre o campo às sociedades unipessoais, mais precisamente à


unipessoalidade inicial ou originária.

II. As sociedades unipessoais expressamente designadas como tal são uma subespécie
de sociedade por quotas dotada de um conjunto de normas especiais que constam dos
artigos 270.º-A a 270.º-G.

Esta sociedade unipessoal por quotas é constituída por um sócio único, pessoa singular
ou colectiva, que é titular da totalidade do capital social (n.º do art. 270.º-A).

III. Mas o CSC admite também a sociedade anónima unipessoal, embora em condições
mais restritivas estabelecidas no art. 488.º.

Em primeiro lugar, o sócio único terá de ser uma sociedade por quotas, anónima ou
em comandita por acções. Esta restrição decorre do facto de se estar no quadro das

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sociedades coligadas, definidas no n.º1 do art. 481.º, como aquelas que se
estabeleçam entre sociedades destes três tipos.

Em segundo lugar, a sociedade mãe e a sociedade filha formam um grupo constituído por
domínio total inicial submetido a um regime especial (v. em particular os artigos 501.º a 504.º
aplicáveis por remissão do art. 491.º).

15.1. 2. Capacidade para ser sócio

A-Pessoas singulares

I. Quem pode ser parte num contrato de constituição de uma sociedade? A resposta
terá de ser procurada à luz do que dissemos sobre a capacidade jurídica, quer das
pessoas singulares quer das pessoas colectivas.

II. Pode dizer-se que nenhuma dúvida se levanta acerca da capacidade das pessoas
singulares. A participação dos incapazes segue as regras gerais de suprimento da
incapacidade.

Antes do actual Código das Sociedades Comerciais, era controversa a participação de


ambos os cônjuges na constituição de sociedades. A base das dúvidas residia no
chamado princípio da imutabilidade das convenções antenupciais com o conteúdo que
lhe deu o art. 1714.º do Código civil. Porém, a controvérsia foi dirimida pelo CSC
através do art. 8.º segundo o qual é permitida a constituição de sociedades entre
cônjuges, bem como a participação destes em sociedades, desde que só um deles
assuma responsabilidade ilimitada.

B- Pessoas colectivas

I. A participação de pessoas colectivas na criação de sociedades comerciais


coloca problemas de natureza particular, tendo em conta o princípio da especialidade
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por força do qual a capacidade das pessoas
colectivas abrange apenas os direitos e obrigações necessários ou convenientes à
prossecução dos seus fins (art. 160.º/1 C. Civil e art. 6.º/1 CSC).

A pergunta que deve guiar a solução do problema é esta: incluir-se-á no fim da pessoa
colectiva a participação numa sociedade comercial?

A resposta não pode ser a mesma para todas as espécies de pessoas colectivas e em muitos
casos dependerá das circunstâncias que envolvam a participação.

II. A lei resolveu directamente algumas hipóteses.

Nenhuma dúvida de princípio se levanta nos nossos dias quanto à capacidade das
sociedades comerciais para serem sócias de outras sociedades comerciais. No entanto,
a questão poderá colocar-se num caso concreto. Por isso, o legislador entendeu
regular essa matéria no quadro do objecto social, nos números 4 a 6 do art. 11.º.

Em síntese é este o regime.

É permitida a participação em sociedades de responsabilidade limitada que tenham o


mesmo objecto, embora se admita disposição diversa do contrato (n.º4 do art. cit.). Ao
contrário, a participação em sociedades de responsabilidade ilimitada ou com objecto
diferente depende de autorização do contrato (n.º5)3.

Um outro caso resolvido por lei foi o das cooperativas. Deve considerar-se vedado às
cooperativas a participação na criação de sociedades comerciais, embora possam

3
Algumas sociedades estão especialmente vocacionadas para a participação noutras
sociedades.É o caso daquelas cujo único objecto é a gestão de participações sociais noutras
sociedades, as por essa razão denominadas Sociedades Gestoras de Participações Sociais (
Reguladas pelo Decreto-Lei n.º 495/88, de 30 de Dezembro, com as alterações introduzidas
pelo Decreto-Lei n.º 378/98, de 30 de Dezembro, mas desde logo previstas no n.6 do art. 11.º
do CSC), mas é também o caso das chamadas sociedades de capital de risco (Reguladas pelo
Decreto-lei n.º 433/91, de 7 de Novembro), bem como das as sociedades de desenvolvimento
regional (Reguladas pelo Decreto-Lei n.º 25/91 de 11 de Janeiro).

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associar-se com elas, desde que daí não resulte perda da
sua autonomia (C. Cooperativo, art. 8.º/1).

III. A lei é omissa em relação às pessoas colectivas do Código civil, as


associações e fundações. Nestes casos é o critério do fim como medida da capacidade
que prevalece.

À luz deste critério, a participação das fundações em sociedade comerciais aparece


como um acto natural para rentabilizar o património e obter receitas necessárias à
realização do fim. Reconheça-se que o próprio património destacado para constituir a
fundação poderá conter participações noutras sociedades (caso da Gulbenkian, por
exemplo).

Mas O mesmo raciocínio não pode ser feito relativamente às associações: prosseguem
fins não lucrativos que na maioria das vezes afastarão a capacidade em causa.

15.2. O acordo entre os sócios


15.2.1.Cláusulas obrigatórias e cláusulas facultativas

I.O contrato é um acordo entre duas ou mais pessoas. Os elementos do contrato são as
cláusulas que o integram4.
De entre essas cláusulas, umas são obrigatórias, outras são facultativas.

As cláusulas obrigatórias têm de integrar o contrato, sob pena de este ser nulo.
Podem ainda dividir-se em gerais ou especiais. As primeiras devem constar de
qualquer tipo de sociedade e são indicadas no art. 9.º n.º 1; as segundas, são exigidas
para cada espécie de sociedade (v. SQ, art. 199.º e SA, art. 272.º).

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Pode-se, num esforço de análise, distinguir dos elementos os pressupostos. Os pressupostos do contrato
são, neste sentido, aquelas realidades prévias ao próprio negócio e sem as quais este não poderia existir.
Assumem esta natureza, as partes contratantes: sem duas ou mais pessoas não há possibilidade de existir
um contrato de sociedade (salvo, naturalmente, os casos em que a lei admita a criação de sociedades
unipessoais).
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As cláusulas facultativas são aquelas que os sócios podem introduzir no contrato ao
abrigo da liberdade contratual: não são essenciais nem ao nascimento da pessoa
colectiva nem ao seu funcionamento, mas são úteis à realização dos interesses dos
sócios no caso concreto.
Podem ter duas funções.
A finalidade mais habitual é a de afastar o regime legal supletivo estabelecido
pela lei para certos aspetos da vida da sociedade. A inclusão de tais cláusulas está
prevista no n.º3 do art. 9.º. Se, ao analisar a lei, os fundadores chegaram à conclusão
que o regime legal supletivo não era conveniente para a realização dos seus interesses,
podem substituir ou afastar esse regime legal supletivo, estipulando outro que lhes
pareça mais adequado. Estas regras dizem respeito a aspectos que fazem parte da
natureza da sociedade; por isso, no silêncio do contrato, vigora o regime legal
supletivo.
A segunda finalidade das cláusulas facultativas é a de regular facetas da
sociedade que o legislador não julgou necessário incluir no contrato, mas que permitiu
aos sócios que o fizessem. Esta faculdade é reconhecida em normas permissivas. É o
que sucede, nomeadamente, na área das obrigações dos sócios. A lei considerou que
seria suficiente a obrigação de entrada, mas permitiu que os fundadores da sociedade
criassem outras obrigações, nomeadamente a obrigação de prestações acessórias,
declarando, nos artigos 209.º e 287.º, que o contrato de sociedade pode impor a todos
ou a alguns sócios esta modalidade de obrigação. Se os sócios não utilizarem a
permissão legal, a sociedade funciona sem esse elemento. Por exemplo, se não existir
a cláusula contratual que permita à sociedade exigir prestações acessórias, não será
legítimo exigir aos sócios estas prestações.
II.Na continuação analisaremos as cláusulas obrigatórias.

15. 2.2 Cláusulas obrigatórias gerais

A – O tipo de sociedade
I. O tipo e o objeto são elementos que na preparação da sociedade caminham lado a lado.
Comecemos pela tipo de sociedade.
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Em regra, esta escolha apenas está limitada pelo numerus
clausus imposto pela tipicidade legal: os fundadores escolhem livremente um dos tipos de
sociedade comercial admitidos por lei; podem escolher criar uma sociedade em nome
colectivo, por quotas, anónima ou em comandita, simples ou por acções.

Actividades existem, no entanto, para cujo exercício a lei impõe um determinado tipo legal. É o
que sucede por exemplo com o exercício da actividade bancária, só admissível a sociedades
anónimas.

II.A escolha do tipo poderá também ser condicionada por dois outros factores: pelo

número de sócios que pretendem reunir e pelo capital que os sócios podem dispor.
Como vimos, em regra, a criação da sociedade exige apenas dois sócios, porém, a

constituição de uma sociedade anónima pressupõe a participação de pelo menos cinco

sócios5. E, para constituir uma sociedade anónima, é preciso um capital mínimo de

50000€, enquanto, para uma sociedade por quotas o capital social é livre com o limite

de 1€por cada quota.

III. O critério principal para caracterizar os tipos de sociedades é o da responsabilidade

dos sócios, quer internamente, face à sociedade, pela realização das entradas, quer

externamente, face aos credores da sociedade, pelo pagamento das dívidas da

sociedade. Como critério subsidiário, a lei utilizou também a forma de divisão do

capital.

III Assim, na sociedade em nome colectivo, perante a sociedade, o sócio responde


individualmente pela sua entrada.

Mas também responde face a terceiros pelas dívidas da sociedade, subsidiariamente


em relação a esta e solidariamente com os restantes sócios (art. 175.º/1).

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O número de sócios necessário para constituir uma comandita por acções será no mínimo de seis,
porque têm de existir cinco comanditários (v. art. 480.º).
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As participações dos sócios não recebeu qualquer
designação especial: são simplesmente partes sociais. A sua transmissão só pode ter
lugar, por negócio entre vivos, com o consentimento expresso dos restantes sócios(v.
art. 182.º/1).

III. Nas sociedades por quotas, os sócios respondem perante a sociedade por todas as
entradas convencionadas no contrato: são solidariamente responsáveis pela
integração do capital social (art.197.º, n.º1).

Ao contrário, no plano externo face aos credores da sociedade, os sócios não assumem

qualquer obrigação: como se estabelece no n.º3 do art. 197.º, só o património social

responde para com os credores pelas dívidas da sociedade.

O capital está dividido em quotas, de que não podem ser emitidos títulos

representativos (art. 219.º/7). A sua transmissão por negócios entre vivos faz-se por

documento escrito e depende do consentimento da sociedade (art. 228.º).

V. A responsabilidade dos sócios das sociedades anónimas está definida no art. 271.º:
cada sócio limita a sua responsabilidade ao valor das acções que subscreveu. Assim, o
sócio da sociedade anónima não responde pela realização do capital subscrito pelos
outros sócios — ao contrário do sócio da sociedade por quotas — nem responde pelas
dívidas da sociedade face a terceiros.

O capital social é dividido em acções, de que podem ser emitidos títulos


representativos (v. art. 271.º e 304.º). As acções são transmissíveis segundo o regime
de transmissão dos títulos em que se incorporem, em regra livremente transmissíveis,
sem necessidade do consentimento da sociedade ou dos sócios (art. 328.º).

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VI. A sociedade em comandita, cuja noção consta do art.
465.º, é uma espécie híbrida que mistura características da sociedade anónima com
características da sociedade em nome colectivo.

Tem duas espécies de sócios: os comanditados e os comanditários.

Os sócios comanditários respondem apenas pela sua entrada; a sua responsabilidade é


semelhante ao sócio da sociedade anónima.

Os sócios comanditados, ao contrário, respondem pelas dívidas da sociedade nos


mesmos termos que os sócios da sociedade em nome colectivo.

VII. A sociedade em comandita pode assumir a modalidade de comandita simples ou


comandita por acções. O critério separador é a forma de representação do capital: na
comandita simples não há representação do capital por acções; ao contrário do que
sucede na comandita por acções em que as participações dos sócios comanditários são
representadas por acções (n.º3 do art. 465.º).

A comandita simples está muito próxima da sociedade em nome colectivo, cujo regime
se lhe aplica subsidiariamente (art. 474.º); ao contrário, a comandita por acções está
próxima da sociedade anónima cujo regime se lhe aplica subsidiariamente (art. 478.º).

B - Objecto social

I.O objecto da sociedade é a actividade ou actividades que os sócios se


propõem que a sociedade venha a exercer (art. 11.º/2). A sua indicação no contrato
tem diversas finalidades.

II. Uma delas é, sem dúvida, a de delimitar as actividades que a sociedade pode
exercer. Para que a rigidez do objecto contratual não comprometa o desenvolvimento
futuro da sociedade, usam-se fórmulas abertas que permitam a adaptação da
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sociedade a novas circunstâncias, competindo então aos
sócios deliberar sobre as actividades compreendidas no objecto contratual que a
sociedade efectivamente exercerá, como se estabelece no art. 11.º, n.º3.

III.O objecto contratual desempenha também um papel importante na


determinação da capacidade jurídica da sociedade. A regra geral aplicável é o n.º4 do
art. 6.º. Por via dela a cláusula do contrato que fixa o objecto não limita a capacidade
da sociedade.

C- Montante, divisão e realização do capital social

A escolha do tipo é sempre acompanhada da escolha do montante do capital social,


bem como da forma da sua divisão e realização6.
Se pretenderem constituir uma sociedade anónima os fundadores precisam de dispor
de, pelo menos, um capital mínimo de 50 000 euros. Mas o montante de capital
disponível pode ser menor se o tipo escolhido for a sociedade por quotas: o capital
social é livremente determinado pelos sócios (art.201.º), desde que cada sócio
subscreva e realize uma quota de 1 € (art.199.º/b).

D – Firma da sociedade

I. A firma da sociedade tem por fim dar um nome à pessoa colectiva pelo qual
será identificada nos documentos que lhe digam respeito. A falta de menção da firma
é causa de nulidade do contrato de sociedade, mesmo após o registo (v. art. 42.ª/1/b
e. 43.º), falta que pode, no entanto, ser suprida (n.º2 do art. 42.º e n.º 3 do art. 43.º).

II. A aplicação dos princípios e regras a que obedece a composição das firmas
das sociedades comercias é fiscalizada pela administração pública. Quem pretender
constituir uma sociedade comercial terá de requerer um certificado de admissibilidade
da firma ao Registo Nacional de Pessoas Colectivas (RNPC, art. 46.º). Esse certificado
será emitido após a análise da conformidade da pretensão formulada (art. 51.º) e

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É, no entanto, permitida a sociedade em nome coetivo sem capital (art.9.º, n.º1,al.f)).
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deverá ser exibido no momento da assinatura do acto de
constituição da sociedade (art. 54.º).

Mas este certificado de admissibilidade deverá ser exibido também posteriormente no


acto do registo comercial pelo qual a sociedade se constitui definitivamente (art. 56.º),
registo este que deverá ter lugar dentro do prazo de validade do certificado (v. RNPC,
art. 56.º/3).

III. A firma pode constituída sob diversas modalidades, a saber:

Firma nome: quando for constituída exclusivamente por nomes ou firmas de todos,
algum ou alguns sócios ( ex : José da Silva).

Denominação particular: quando for constituída exclusivamente pela indicação da


actividade económica exercida ( ex: Sociedade de Construções).

Firma mista: quando reúne o nome dos sócios e a actividade exercida (ex: José da
Silva, Sociedade de Construções)

III. A opção por uma destas três modalidades pode ser excluída por lei.

É o que acontece com a sociedade em nome colectivo cuja firma só pode assumir a
modalidade de firma nome, pois , segundo o n.º 1 do art. 177.º, quando não
individualizar todos os sócios deve conter, pelo menos, o nome ou a firma de um
deles.Princípio similar orienta a composição da firma da sociedade em comandita que
é formada pelo nome ou firma de um, pelo menos, dos sócios comanditados (art.
467.º/1).

IV. A identificação do tipo social faz-se por intermédio de uma expressão ou


abreviatura característica colocada normalmente no fim da firma.

A palavra «Limitada» ou a abreviatura «L.da » nas sociedades por quotas ( art. 200.º/1).

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parcialmente a terceiros sem o prévio consentimento do INDEG-ISCTE
A expressão «sociedade anónima» ou a abreviatura «S.A.»
nas sociedades anónimas (275.º).

A expressão «e Companhia» ou qualquer outra que indique a existência de outros


sócios, nas sociedades em nome colectivo (art. 177.º/1).

Nas sociedades em comandita, o aditamento « em Comandita» ou « & Comandita»,


«em Comandita por Acções» ou «& Comandita por Acções» (art. 467.º/1).

V. A composição da firma não é arbitrária. Esta ideia está concretizada nas


regras enunciadas no art. 10.º do CSC, os chamados requisitos da firma. Declara que a
composição da firma obedece a dois princípios: o da verdade e o da novidade.
Segundo o princípio da verdade, os elementos característicos das firmas não
podem sugerir actividade diferente da que constitui o objecto social e quando tenham
referências à actividade devem dar a conhecer quanto possível aquele objecto (v. art.
10.º/1).
O princípio da novidade reclama que as firmas novas sejam diferentes das firmas já
existentes. Esta orientação foi aplicada pelo art. 10.º do CSC do seguinte modo.
Tratando-se de firma-nome, a lei exige que seja completamente distinta das que já se
acharem registadas (art. 10.º/2); na hipótese de firma-denominação ou firma mista
prescreve-se que não pode ser idêntica à firma já registada de outra sociedade, ou por
tal forma semelhante que possa induzir em erro (art. 10.º/3).

VI. A aplicação dos princípios e regras a que obedece a composição das firmas das
sociedades comercias é fiscalizada pelo Registo Nacional das Pessoas Colectivas.

Quem pretender constituir uma sociedade comercial terá de requerer um certificado


de admissibilidade da firma ao Registo Nacional de Pessoas Colectivas (RNPC, art.
46.º). Esse certificado será emitido após a análise da conformidade da pretensão
formulada (art. 51.º) e deverá ser exibido no momento da assinatura do acto de
constituição da sociedade (art. 54.º).

Esta informação é restrita ou confidencial, não podendo ser duplicada, publicada ou fornecida total ou Página 17 de 59
parcialmente a terceiros sem o prévio consentimento do INDEG-ISCTE
Mas este certificado de admissibilidade deverá ser exibido
também posteriormente no acto do registo comercial pelo qual a sociedade se
constitui definitivamente (art. 56.º), registo este que deverá ter lugar dentro do prazo
de validade do certificado (v. RNPC, art. 56.º/3).

VII. Após o registo definitivo, a sociedade comercial adquire o direito ao uso exclusivo
da firma em todo o território nacional (RNPC, art. 35.º/1 e 37.º/2).

E – Sede da sociedade

Outra cláusula obrigatória geral é a sede da sociedade: trata-se do local


concretamente definido que é tido pelo direito como o centro geográfico da sua vida.

I. A sede da sociedade constitui o seu domicílio (art. 12.º/3; v. tb C. Civil, art. 33.º, 82.º
e 88.º). Deve ser estabelecida em local concretamente definido ( por exemplo, não
pode dizer-se que a sociedade tem a sua sede em Lisboa).

II. A sua importância para a vida da sociedade é intuitiva; compreende-se que a sua
falta acarrete a nulidade do contrato, mesmo após o registo, embora se trate de um
vício sanável no quadro do n.º2 do art. 42.º .

15.2.3. Cláusulas obrigatórias específicas da sociedade por quotas

I. Por força do art.199.º, o contrato da sociedade por quotas deve especialmente


mencionar:

a)O montante de cada quota de capital e a identificação do respectivo titular;

Esta informação é restrita ou confidencial, não podendo ser duplicada, publicada ou fornecida total ou Página 18 de 59
parcialmente a terceiros sem o prévio consentimento do INDEG-ISCTE
b)O montante das entradas efectuadas por cada sócio no
momento do acto constitutivo ou a realizar até ao termo do primeiro exercício
económico bem como o montante das entradas diferidas.

A - Valor da quota e identificação do titular

I. Em primeiro lugar, é obrigatório indicar o montante de cada quota e a identificação


do respectivo titular.

A elaboração desta cláusula deverá ter em conta o disposto no art. 219.º.

Por força do n.º1, na constituição da sociedade a cada sócio apenas fica pertencendo
uma quota, que corresponde à sua entrada. É a aplicação do princípio da quota inicial
única.

O n.º3 regula os valores das quotas: permite que os valores nominais das quotas sejam
diversos, contanto que nenhum seja inferior a 1€.

É assim possível a divisão do capital em quotas iguais: por exemplo, uma sociedade
com 50 000 € de capital, com cinco sócios e quotas iguais de 10 000 €; mas também se
admitem quotas com valores nominais diversos: no mesmo exemplo, uma quota de 10
000, outra de 30 000, outra de 6 000, outra de 3 000 e outra de 1 000.

B - Realização das entradas

I.O artigo 199.º exige que se indique o montante das entradas efectuadas por cada
sócio no momento do ato constitutivo ou a realizar até ao termo do primeiro exercício
económico, que não pode ser inferior ao valor nominal mínimo da quota fixado por lei,
bem como o montante das entradas diferidas. Está em causa a realização do capital
social. Esta exigência deve ser analisada em conjunto com o disposto nas alíneas f), g)
e h) do n.º1 do art. 9.º.

A liberdade dos sócios nesta área está limitada pelo disposto nos artigos 202.º e 203.º.

Em primeiro lugar, nas sociedades por quotas não são admitidas entradas com
serviços: é o sentido que se retira do n.º1 do artigo 202º. Por essa razão, os sócios
serão todos sócios de capital e terão de realizar as suas quotas em dinheiro ou com
outros bens susceptíveis de penhora.
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parcialmente a terceiros sem o prévio consentimento do INDEG-ISCTE
Em segundo lugar, a liberdade dos sócios está limitada
pelo princípio da realização imediata do capital mínimo fixado por lei na al.b) do art.
199: cada sócio deverá realizar até ao termo do primeiro exercício económico pelo
menos 1€. Em terceiro lugar, as entradas em espécie não podem ser diferidas: os bens
em causa deverão estar à disposição jurídica da sociedade no momento da assinatura
do contrato (v. art.26.º,n.º3).

II. Quanto ao tempo da sua realização, as entradas em dinheiro podem ser de


realização imediata ou de realização diferida. A opção deve ser feita no contrato.

III.As entradas em dinheiro diferidas regem-se pelo que estiver estabelecido no


contrato, com os limites impostos pelo art. 203.º.

IV.Não havendo diferimento, todas as entradas são de realização imediata. Mas em


2011 o legislador atenuou o rigor do conceito de realização imediata; materialmente
passou a existir duas modalidades de realização imediata: realização até à assinatura
do contrato ou até ao final do primeiro exercício económico. Desde então, é
obrigatória apenas uma declaração dos sócios no contrato de que já procederam à
entrega do valor das suas entradas ou que se comprometem a entregar, até ao final do
primeiro exercício económico, as respetivas entradas nos cofres da sociedade7.

V. As entradas em espécie são sempre de realização imediata. A cláusula obrigatória


relativa deve descrever os bens e especificar os respetivos valores, texto que assenta
no relatório de verificação das entradas a cargo do revisor oficial de contas (v. art.
28.º)8.

15.2.4. Cláusulas obrigatórias especiais da sociedade anónima

7
As normas aplicáveis no Regime Especial de Constituição Imediata de Sociedades (DL n.º 111/2005, de
8 de julho, art.7.º, n.º2) e no Regime Especial de Constituição ON Line de Sociedades (DL n.º 125/2006,
de 29 de junho, art.6.º, n.º1-e)) admitem a declaração de entrega nos cofres da sociedade até ao final do
primeiro exercício económico ou a declaração de que o depósito será realizado no prazo de cinco dias
úteis ou a declaração de que já foi efectuado.
8
V. no Regime Especial de Constituição Imedita de Sociedades, art. 7.º, n.º3 e 4; na constituição on line,
art. 6.º, n.º4 al. c).
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A - Capital social e acções

O contrato da sociedade anónima deve incluir certas cláusulas relativas ao capital


social indicadas em diversas alíneas do art.272.º.

Artigo 272.º
Conteúdo obrigatório do contrato

Do contrato de sociedade devem especialmente constar:

a) O número de acções e, se existir, o respectivo valor nominal;

b) As condições particulares, se as houver, a que fica sujeita a transmissão de acções;

c) As categorias de acções que porventura sejam criadas, com indicação expressa do


número de acções e dos direitos atribuídos a cada categoria;

d) A natureza nominativa das ações;

e) O montante do capital realizado e os prazos de realização do capital apenas


subscrito;

f) A autorização, se for dada, para a emissão de obrigações;

1)Valor nominal e número de acções

Esta cláusula deverá ser redigida em conformidade com o art. 276.º.

A primeira exigência é relativa ao número de acções e ao respectivo valor nominal, se


existir. Com o Decreto-lei n.º 49/2010 foram introduzidas em Portugal as chamadas
acções sem valor nominal. Por isso, o n.º1 do art. 276.º declara agora que as acções
das sociedades anónimas podem ser acções com valor nominal ou acções sem valor
nominal, esclarecendo, no n.º2, que na mesma sociedade não podem coexistir acções
com valor nominal e acções sem valor nominal.

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O capital mínimo é de € 50 000. Todas as acções devem
representar a mesma fracção no capital social e, no caso de terem valor nominal,
devem ter o mesmo valor nominal.

O valor mínimo das acções ou, na sua falta, o valor de emissão não pode ser inferior a
1 cêntimo.

2)Transmissão das acções

A cláusula da alínea b)do art. 272 deverá ser incluída no contrato, se forem acordadas
condições particulares para a transmissão das acções (v. art. 328.º).

3) Categoria de acções

A alínea c) do art.272 exige a indicação das categorias de acções que porventura sejam
criadas, com indicação expressa do número de acções e dos direitos atribuídos a cada
categoria.

O conceito de categorias de acções é estabelecido no artigo 302.º. É um conceito


formado a partir dos direitos inerentes às acções: as acções que compreendem direitos
iguais formam uma categoria.

Esta cláusula só é obrigatória naturalmente para as sociedades que tenham diversas


categorias de acções. O CSC prevê as seguintes categorias de ações:

1-Ações preferenciais sem voto (arts. 341-344)

2-Ações preferenciais remíveis (art. 345)

4) Espécies de acções

Atualmente apenas são permitidas ações nominativas (art.272/d e 299).

São nominativas as acções que contêm o nome do respectivo titular, estando-lhe


associado um determinado regime de transmissão que obriga à identificação do
adquirente.

5) Realização imediata ou deferida do capital social

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A indicação do montante do capital é sempre
acompanhada da indicação do montante já realizado, da forma de realização, bem
como dos prazos de realização do capital apenas subscrito. O regime aplicável consta
do art. 277.º. Note-se que não podem existir entradas em indústria, que a soma das
entradas em dinheiro já realizadas deve ser depositada em instituição de crédito,
numa conta aberta em nome da futura sociedade, até ao momento da celebração do
contrato e que nas entradas em dinheiro pode ser diferida a realização de 70% do
valor nominal ou do valor de emissão das acções (uma SA com capital mínimo de € 50
000 poderá constituir-se com apenas 15 000€ realizado)9. As entradas em espécie são
de realização imediata e sujeitas à avaliação do revisor oficial de contas (art. 28.º.

B- Emissão de obrigações

Os fundadores da sociedade anónima devem introduzir no contrato uma cláusula


autorizando a emissão de obrigações, se admitirem a possibilidade de recorrer no
futuro a este meio de financiamento. Este recurso é aberto pela alínea f) do art. 272.º.
O regime aplicável às obrigações está fixado nos artigos 348.º a 372.º-B.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-------------------------------------------------------------------------------

15.2.5. O contrato(cont.): as cláusulas facultativas

15.2.5.1.Aspetos gerais

I. A sociedade comercial por quotas ou anónima está em condições de nascer com um


contrato que apenas tenha as cláusulas obrigatórias. O número de artigos do contrato
será bastante reduzido; a vida dessa sociedade irá decorrer sob o regime estabelecido
pelo contrato, pelas normas imperativas do Código, mas também pelo regime fixado
em normas supletivas, que o n.º3 do art. 9.º chama preceitos dispositivos.

9
As sociedades anónimas também se podem criar através do Regime Especial de Constituição Imediata
de Sociedades (art. 1.º) e do Regime Especial de Constituição On line de Sociedades (art. 1.º), regimes
que ressalvam as regras gerais de realização do capital em dinheiro (v. art. 7.º, n.º2 e art. 6.º, n.º1-e)) .
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II. Os fundadores da sociedade devem estar informados
sobre as regras legais que podem ser por eles afastadas no contrato. São regras que
definem um regime que o legislador considera o mais justo, mas que não impõe
absolutamente: admite, ao invés, que os sócios pretendam sujeitar esse aspecto da
vida da sociedade a um regime diferente. Por exemplo, na perspectiva do legislador a
transmissão de quotas por negócio entre vivos deverá estar dependente do
consentimento da sociedade (art. 228.º/2); porém, admite-se que o contrato de
sociedade dispense o consentimento desta (art. 229.º/2): assim, reconhece-se aos
sócios a faculdade de afastar o regime legal; contudo, se não o fizerem através de
cláusula do contrato, sujeitar-se-ão ao que está disposto por lei, restando a
possibilidade de alterar o contrato se a experiência a tanto conduzir.

II. A liberdade concedida aos fundadores de uma sociedade comercial para modelar o
seu regime assenta, noutros casos, numa norma permissiva que dá o poder não já
afastar um regime legal supletivo mas antes de acrescentar um elemento ao modelo
legal, adaptando-o ao interesse concreto dos sócios. O legislador utiliza para este
efeito, entre outras, esta fórmula: «é lícito estipular no contrato que...».

15.2.5.2. Cláusulas facultativas: em especial as obrigações dos sócios

A- Obrigação de prestações suplementares (arts. 210.º a 213.º)

Se no momento da celebração do contrato os sócios admitirem que o capital social se


pode revelar insuficiente para o desenvolvimento da atividade, podem introduzir no
contrato uma cláusula a permitir que lhes sejam exigidas prestações suplementares
(art. 210.º, n.º1)10.

10
Sobre as prestações suplementares, v. SOFIA GOUVEIA PEREIRA, As Prestações Suplementares no
Direito Societário Português, Principia, Lisboa,2004

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As prestações suplementares têm sempre dinheiro por
objeto (art. 210.º, n.º2), não vencem juros (art.210.º, n.º5) e a sua restituição aos
sócios só pode ter lugar quando a diminuição do ativo que implica não fizer o capital
próprio descer para um valor inferior à soma do capital e da reserva legal (art. 213.º,
n.º1).

A cláusula contratual deve fixar o montante global das prestações exigíveis aos sócios,
sob pena de inavalidade. Pode também indicar os sócios a elas obrigados e o critério
de repartição, aspetos para os quais o CSC estabeleceu critérios supletivos: na ausência
de indicação em contrário, todos os sócios estão obrigados e a obrigação de cada sócio
é proporcional à sua quota de capital (n.º4 do art.210.º).

O CSC prevê prestações suplementares apenas nas sociedades por quotas, não
havendo unanimidade na doutrina sobre a sua aplicação também às sociedades
anónimas.

B-Contrato e obrigação de suprimentos (arts 243.º a 245.º)

Os empréstimos de dinheiro dos sócios à sociedade são uma das principais fontes de
financiamento das pequenas e médias empresas. Consciente desta realidade, o
legislador regulou o contrato de suprimento no título relativo às sociedades por quotas
através dos artigos 243.º a 245.º11.

O sócio pode estar obrigado a celebrar o contrato de suprimento se for introduzida no


contrato de sociedade uma cláusula para o efeito( n.º1 do art. 244.º).

Reconheça-se, no entanto, que a maioria das cláusulas contratuais apenas permitem a


realização de contratos de suprimento, hipótese em que a celebração dos contratos

11
Sobre os suprimentos, v. JOÃO AVEIRO PEREIRA, O Contrato de Suprimento, Coimbra Editora,
Coimbra, 1997;ALEXANDRE MOTA PINTO, Do Contrato de Suprimento, Almedina, Coimbra, 2002; JOÃO
PEDRO VARGAS CARINHAS DE OLIVEIRA MARTINS, Os Suprimentos no Financiamento Societário Uma
abordagem Funcionalista, ISCTE-IUl, 2010 (dissertação apresentada no mestrado em direito das
empresas do ISCTE-IUL).
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não depende de deliberação dos sócios, salvo disposição
contratual em contrário( art. 244.º, n.º3).

A principal modalidade de contrato de suprimento é aquela pela qual o sócio empresta


à sociedade dinheiro, ficando a sociedade obrigada a restituir outro tanto. Este
empréstimo converte-se em suprimento se o crédito tiver caráter de permanência, ou
seja, se for estipulado um prazo de reembolso superior a um ano(art.243.º, n.º1-2). O
suprimento pode vencer juros, se tiverem sido acordados.

Uma nota final para dizer que antes de redigir a cláusula sobre suprimentos se deve
estudar o regime a que ficam sujeitos depois de realizados, que consta do art. 245.º, e
que degrada o crédito de suprimento para uma posição inferior aos credores comuns,
ao ponto de, em caso de insolvência, ser o último crédito subordinado a ser satisfeito
(CIRE; art.48.º, al.g)).

Por fim, uma nota sobre a utilização do contrato de suprimento: porque está previsto
apenas no regime da sociedade por quotas, é controvertida a sua extensão a outras
sociedades, em especial às anónimas.

C-Obrigação de prestações acessórias (209.º e 287.º)

O CSC regulou uma terceira modalidade de obrigação que pode ser imposta através de
cláusula facultativa, a obrigação de prestações acessórias, prevista para as sociedades
por quotas e anónimas (arts. 209.º e 287.º).

A cláusula contratual deve impor a todos ou a alguns sócios a obrigação de efetuarem


prestações além das entradas, fixar os elementos essenciais da obrigação e especificar
se são onerosas ou gratuitas.

Na sua origem, a obrigação de prestações acessórias existia para permitir á sociedade


obter bens que não podiam servir para realizar capital social,nomeadamente
prestações de trabalho e serviços. Mas o CSC adotou uma orientação diferente:em
Portugal, as prestações acessórias podem ter por objeto qualquer bem útil à

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sociedade. O sócio pode obrigar-se a prestação de serviços
à sociedade, a exercer funções de gerente, a afiançar dívidas da sociedade, a adquirir
bens a produzir pela sociedade ou a vender-lhe bens que ela necessita, etc.

Alguns ordenamentos jurídicos proíbem que estas obrigações tenham dinheiro por
objeto; o CSC adotou uma posição diferente, permitindo as prestações acessórias em
dinheiro(n.º2 dos arts. cit.)12.

Note-se que, segundo a lei, o não cumprimento desta obrigação não é causa de
exclusão do sócio ou de qualquer diminuição de direitos; mas este regime é supletivo
(n.º4 do art.209.º).

15.3. A forma legal do contrato

I.O contrato de sociedade deve ser reduzido a escrito e as assinaturas dos seus
subscritores devem ser reconhecidas presencialmente. Esta é a forma legal mínima
prescrita no n.º1 do art. 7.º;poderá, no entanto, ser exigida uma forma mais solene,
nomeadamente escritura pública, se houver entradas em espécie cuja transmissão
esteja sujeita a uma forma mais solene do que o documento escrito.
II. A escritura pública é uma forma legal só acessível por via da intervenção do notário.
Nos locais onde funcionem Centros de Formalidades Empresariais, a sua marcação
poderá ser realizada no próprio CFE.

III. A falta de forma legal impede a realização do registo comercial da sociedade e, por
consequência, a sua constituição definitiva. Mas além disso, a falta de forma legal

12
As prestações acessórias apareceram na indústria açucareira alemã do século XIX: os accionistas
obrigavam-se a cultivar beterraba e a entregá-la à sociedade que a pagava a preço de mercado.
Vicissitudes várias afastaram-nas das prestações pecuniárias, expressamente excluídas no regime das
sociedades por acções italianas no art. 2345.º. Nos países que mais tardiamente receberam a figura
nota-se a tendência para não restringir o objecto, nomeadamente não determinando a exclusão das
prestações pecuniárias. Foi esta a posição do direito espanhol que hoje regula a figura na Ley das SA e
na Ley das SRL, entretanto fundidas na Ley de Sociedades de Capital pelo Real Decreto Legislativo
1/2010, de 2 de Julho.

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torna o contrato nulo, nulidade que pode ser invocada
mesmo depois realizado o registo comercial13.

15.4. O registo comercial e a aquisição da personalidade jurídica

I. Desde o momento em que o contrato tenha sido celebrado na forma legal existe
entre os sócios um contrato válido que a todos obriga. Mas ainda não existe uma nova
pessoa jurídica distinta dos sócios; esta pessoa jurídica nasce apenas no momento em
que é efetuado o registo definitivo do contrato. Este registo, último ato do processo de
constituição poderá ser levada a cabo por quem tiver legitimidade para efectuar o
registo comercial: é, nomeadamente, o caso de qualquer sócio (Código do Registo
Comercial, art. 29.º/1).

II. O registo comercial do contrato atribui personalidade jurídica à sociedade, como se


determina no art. 5.º do CSC. Deverá ser requerido no prazo de dois meses a contar da
data da assinatura do contrato (CRCom., art. 15.º/2) e está sujeito a publicação
(CRCom. art. 70.º/1/a).

III. Associado ao efeito criador da personalidade colectiva, o registo comercial poderá


ter outras consequências. É o caso, nomeadamente, da assunção pela sociedade dos
negócios anteriores ao registo, nos termos estabelecidos no art. 19.º.
Mas é também o caso da redução do número de causas de nulidade do contrato de
sociedade, nas sociedades de capitais (art. 42.º).

13
V. CSC, art. 41.º, 42.º/1/e e 43.º .Nos termos do art. 32.º do Código de registo comercial só podem ser
registados os factos constantes de documentos que legalmente os comprovem. Por consequência, sem um
documento escrito não é possível o registo.
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Património próprio e responsabilidade patrimonial

I.A sociedade adquire a titularidade dos bens que lhe foram transmitidos pelos sócios a
título de realização do capital social. Esses bens formarão o património inicial, que irá
aumentando ou diminuindo por efeito dos negócios que entretanto realizar.

II. A partir do registo há uma separação entre o património da pessoa colectiva e o


património de cada um dos seus sócios. Esta separação manifesta-se em duas
direções,perante os sócios e perante os credores individuais dos sócios: o património
da sociedade não é parte do património individual dos sócios; os credores particulares
dos sócios não podem atacar o património da sociedade.

Esta separação existe em todos os tipos de sociedade; mesmo nas sociedades em


nome colectivo e em comandita, a responsabilidade individual dos sócios por dívidas
da sociedade respeita esta separação: por dívidas da sociedade, os sócios respondem
subsidiariamente, isto é, respondem individualmente depois de esgotado o património
social. Por outro lado, também nestas sociedades os credores pessoais dos sócios não
têm qualquer acção sobre os bens que integram o património da sociedade. Nestas
sociedades, chamadas de responsabilidade ilimitada por causa da responsabilidade
individual dos sócios por dívidas da sociedade, a autonomia patrimonial diz-se
imperfeita: se o património da sociedade for insuficiente, os credores da sociedade
têm o poder de atingir o património individual do sócio.

III. Onde a regra da separação de patrimónios não sofre limites é nas chamadas
sociedades de responsabilidade limitada, as sociedades por quotas e anónimas. A
separação de patrimónios está claramente explicitada no texto do art. 197.º, n.º3, por
força do qual só o património social responde pelas dívidas da sociedade, princípio
que vigora também nas sociedades anónimas, como decorre do n.º1 do art.271.º.

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Nestas sociedades, devido à ausência de responsabilidade
dos sócios pelas dívidas da sociedade, a autonomia patrimonial diz-se perfeita: pelas
dívidas da sociedade só responde o património da sociedade.

IV. O outro lado da autonomia patrimonial é a insensibilidade do património da


sociedade às dívidas dos sócios : o património social não responde por dívidas pessoais
dos sócios. Ao constituírem a sociedade, como contrapartida das suas entradas, os
sócios receberam participações no capital social. Mas esta participação social não
atribui ao sócio qualquer direito sobre os bens que integram o património da
sociedade. Estas participações são bens que integram o património individual dos
sócios; como tal, bens susceptíveis de penhora pelos credores do seu titular; todavia,
essa penhora e a subsequente execução não têm efeitos directos sobre o património
da sociedade14.

Capítulo 17

A vida da sociedade comercial

17.1. As regras de vida da sociedade comercial


I. A sociedade comercial é um património afecto pelos sócios à realização de lucros.
Este património deve ser gerido pela administração desenvolvendo a actividade
económica que constitui o objecto social. A vida da sociedade é assim uma sucessão de
actos de compra e venda de bens e serviços no mercado. De tais actos resultará um
aumento ou diminuição do património inicial.
II. Os actos necessários à realização do objecto social têm uma vertente virada para o
interior da sociedade, enquanto actos de gestão, e uma vertente virada para o
exterior, enquanto actos de representação.
III. Mas a vida da sociedade é constituída também por deliberações dos sócios com

14
V. as regras especiais estabelecidas para execução da quota no art. 239.º.
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outra natureza e finalidade.
É o que acontece com as deliberações que designam ou destituem os titulares de
outros órgãos sociais, mas é também o que acontece quando os sócios deliberam
alterar o contrato de sociedade, por exemplo aumentando o capital social, ou realizar
outras modificações ainda mais profundas na estrutura empresarial, como a fusão,
cisão ou transformação.
IV. Esta actuação, virada para o interior ou para o exterior da sociedade, por um só
órgão social ou através da cooperação de diversos órgãos, é realizada num quadro
jurídico que vincula sócios, órgãos de administração e de fiscalização, e a que podemos
chamar o regime de vida da sociedade. A percepção deste sistema de regras, ainda
que nos seus traços gerais, é necessária para compreender a dinâmica social.
Esse regime é formado por diversos elementos, a saber:
1- Regras legais imperativas
2- Regras contratuais
3- Regras legais supletivas
4- Deliberações dos órgãos sociais
5- Acordos parassociais
V. As regras imperativas não podem ser afastadas pelos sócios, nem mesmo quando
haja uma vontade unânime nesse sentido. Constituem um núcleo duro que por vezes
se designa por normas inderrogáveis. Os actos dos órgãos sociais que as contrariem
são, em princípio, feridos de nulidade( v. art. 56.º, n.º1/d).
VI. Num segundo patamar, estão as regras estabelecidas no contrato que têm força de
lei entre os sócios. O acto de um órgão social que as contrarie estará, no entanto,
ferido de simples anulabilidade e não de nulidade (cfr. art. 58.º, n.º1/a), excepto se a
cláusula contratual for ela própria aplicação de uma regra legal imperativa.

Em rigor, o contrato deveria ser autónomo dos estatutos ou pacto social.

Os estatutos (ou pacto social) deveriam conter as regras de funcionamento da


sociedade, reservando-se para o contrato apenas os elementos necessários à criação e
identificação da nova pessoa jurídica: a sociedade seria criada pelo contrato e regular-
se-ia pelo regime constante dos estatutos. As regras contratuais seriam, nesta

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perspectiva, dotadas de uma eficácia reforçada.
Mas não é essa a tradição do Código das Sociedades Comercias e em geral do direito
privado português que reúne, sob a designação de elementos do contrato, tudo o que
é necessário quer à criação e identificação quer ao funcionamento da sociedade.

VII. Na hierarquia das fontes do regime de vida da sociedade, as regras legais


supletivas devem colocar-se num terceiro patamar. A razão é dupla: por um lado, estas
regras poderão ser afastadas no contrato; por outro lado, essas normas podem
também ser afastadas por deliberação dos sócios, se o contrato o permitir, como a lei
declara no n.º3 do art. 9.º.
VIII. Finalmente, na parte inferior do sistema, devemos situar as deliberações dos
órgãos sociais, porque estão sempre subordinadas quer às normas imperativas, quer
às regras contratuais, quer às normas supletivas (cfr. arts.56.º, 58.º, 411.º e 433.º).

IX. Algumas vezes a vida da sociedade é comandada por regras de comportamento


com uma origem exterior à estrutura da sociedade, os chamados acordos parassociais,
hoje objecto do artigo 17.º do CSC.

Trata-se, como a própria lei diz, de acordos celebrados entre todos ou entre alguns
sócios pelos quais estes, nessa qualidade, se obrigam a uma conduta não proibida por
lei. Prevê-se que, quando constituem a sociedade ou em qualquer fase da sua vida, os
sócios regulem aspectos da conduta que virão a ter no exercício dos seus direitos, mas
as convenções respectivas não passam para o conteúdo do contrato que rege a
sociedade. Por exemplo, uma sociedade portuguesa e uma sociedade estrangeira,
sócias fundadoras de uma terceira sociedade com sede em Portugal, podem
convencionar, em acordo parassocial, a forma de distribuir entre si os lugares no
conselho de administração. Este acordo produz efeitos entre os intervenientes, mas a
sua violação por uma das partes não pode ser causa de invalidade de um acto da
própria sociedade: por exemplo, uma deliberação social em que um dos sócios
signatários do acordo parassocial votasse a constituição de um conselho de
administração com uma distribuição de lugares diferente da acordada não poderia ser
posta em causa com fundamento na violação do acordo parassocial (v. art. 17.º, n.º1).
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Uma das modalidades de acordo parassocial mais
frequente tem por objecto o exercício dos direitos de voto nas assembleias gerais. Por
causa do seu objecto designam-se tradicionalmente sindicatos de voto (v. art. 17.º,
n.º2).

17.2. A aprovação das contas

Neste quadro de vida, os órgãos sociais vão praticar os actos necessários e


convenientes à realização do objeto social. Actos diários de gestão e de representação
pela administração, mais espaçados no tempo atos de fiscalização pelo órgão respetivo
e deliberações dos sócios. Porém, o momento chave é o de aprovação de contas e
aplicação de resultados.Nesse momento, a sociedade prova ou reprova no seu exame
de aptidão para realizar a sua função económica e social de obter lucros para distribuir
pelos sócios.

A sucessão de atos de gestão e de representação praticados pela administração para


realizar o objeto social foram registados diariamente pela contabilidade, segundo a
técnica da partida dobrada, e depois sintetizados na demonstração de resultados, no
balanço e nas demais demonstrações financeiras, elaboradas em conformidade com o
Sistema de Nornnalização Contabilística, e que, na assembleia geral anual, vão ser
apresentados aos sócios, os verdadeiros proprietários da empresa.

I. Nos três primeiros meses de cada ano civil, a administração deve elaborar e
submeter à apreciação dos órgãos competentes da sociedade o relatório de gestão, as
contas do exercício e os demais documentos de prestação de contas (Parte geral, arts.
65.º a 70.º; arts. 263.º e 264.º para as SQ; arts. 451.º a 455.º para as S.A.).
A falta de apresentação dos documentos de prestação de contas dá a qualquer sócio o
direito de requerer o inquérito judicial nos termos e com as consequências previstas
no art. 67.º, n.º1 a 3.
Porém, se os documentos forem apresentados atempadamente faltando apenas a
deliberação do órgão competente para aprová-los, a assembleia geral poderá ser

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judicialmente convocada a requerimento de qualquer
sócio ou administrador (n.º4 do art. 67.º), cabendo em última instância ao tribunal a
tarefa de aprovar as contas (67.º/5).

II. Antes de serem apresentados para aprovação final, os documentos de prestação de


contas são objecto de um processo interno de verificação que é mais ou menos
complexo consoante o tipo de sociedade.

17.2.1. Sociedades Anónimas de modelo latino ou anglo-saxónico

Assim, nas sociedades anónimas que adoptem o modelo latino ou o modelo anglo-
saxónico, é ao conselho de administração que compete elaborar e deliberar sobre os
relatórios e contas anuais (art. 406/d); depois, o documento da administração é
examinado pelo revisor oficial de contas que integra o conselho fiscal ou pelo revisor
oficial de contas independente para fins de certificação legal nos termo do art.
451.ºn.º3; após isso, segue-se a apreciação pelo conselho fiscal ou pela comissão de
auditoria, conforme o caso, dos documentos da administração e do parecer do revisor
oficial de contas (art. 452.º); finalmente, os documentos são objecto de deliberação da
assembleia geral anual (art. 376.º/1/a). Se merecerem a aprovação da assembleia,
seguir-se-á a deliberação sobre a proposta de aplicação de resultados (art. 376.º/1/b e
66.º/5/f).
Os documentos assim aprovados serão depois objecto de registo na conservatória do
registo comercial (CSC,art. 70.º; CRCom., art. 3.º/n e art. 42.º), a que se seguirão as
publicações (CRCom., art. 70.º/1/a, art. 71.º e art. 72.º/3-4).

17.2.2. Sociedades Anónimas de modelo germânico

Nas sociedades anónimas que adoptem o modelo germânico, o processo inicial de


elaboração das contas é o mesmo, correndo sob a orientação do conselho de
administração executivo que aprova os documentos e os submete ao revisor oficial de
contas e ao conselho geral e de supervisão (art. 453.º).

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O revisor oficial de contas deve apreciar o relatório de
gestão e completar o exame das contas com vista à certificação legal (art. 453.º, n.º2 e
3).

O conselho geral e de supervisão dará o seu parecer sobre o relatório de gestão e as


contas de exercício (art. 441.º/h) que será elaborado tendo em conta o estabelecido
nos números 2 a 4 do art. 452.º, aplicáveis por remissão do n.º3 do art. 453.º.

Os documentos de prestação de contas serão aprovados ou recusados pela assembleia


geral anual prevista no art. 376.º. Durante os 15 dias anteriores à data da assembleia
geral devem ser facultados à consulta dos acionistas, na sede da sociedade todos os
documentos entretanto produzidos (art.289.º, n.º1, al. e).

Uma vez aprovados, os documentos de prestação de contas deverão ser registados e


publicados nas condições indicadas para os outros dois modelos de administração e
fiscalização.

17.2.3. Sociedades por quotas

Os procedimentos anteriores aplicam-se à sociedade por quotas, com as devidas


adaptações. No entanto, nas sociedades sem conselho fiscal ou que não estejam
submetidas a revisão legal de contas, quando todos os sócios sejam gerentes e todos
eles assinem, sem reservas, o relatório de gestão, as contas e a proposta sobre a
aplicação de lucros e tratamento de perdas, o processo fica concluído com a aprovação
pela gerência, não sendo necessário reunir a assembleia geral dos sócios para deliberar
(art. 263.º/2). Este é o regime simplificado de aprovação de contas nas sociedades por
quotas.

Nos outros casos, os documentos de prestação de contas são aprovados pela


gerência15 que, depois, deve convocar a assembleia geral, informando os sócios de que
os documentos podem ser consultados na sede da sociedade e durante as horas de

15
Em Itália, a aprovação dos documentos de prestação de contas nas sociedades de responsabilidade
limitada é o um acto sujeito sempre a apreciação em reunião de gerência, mesmo quando tenha sido
adoptado o método de exercício conjunto dos poderes de administração (v. 2745,III).
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expediente (263.º,n.º1).A ordem de trabalhos desta
assembleia geral é a indicada no art. 376.º para a chamada assembleia ordinária; para
aprovar ou recusar os documentos, a deliberação será tomada pela maioria simples
dos votos emitidos, estabelecida no artigo 250.º, n.º3. Os documentos aprovados
estão sujeito a registo comercial, como se estabelece no art.70.º,n.º1 e devem ser
disponibilizados no site da internet, quando exista, com a extensão fixada no n.º2 do
mesmo artigo.Note-se que o registo da prestação de contas está sujeito ao
procedimento criado pela Informação Empresarial Simplificada (art. 2.º, n.º, al.c) do DL
n.º 8/2007, de 17-1).

17.2.4. Recusa da aprovação das contas da administração

Pode acontecer que a assembleia geral dos sócios não aprove os documentos
apresentados pela administração. Para esta hipótese dispõe o art. 68.º que a
assembleia deve deliberar motivadamente que se proceda à elaboração total de novas
contas ou à reforma, em pontos concretos, das apresentadas(n.º1).

Porém, se a divergência entre a administração e a assembleia incide sobre aspectos


para os quais a lei impunha critérios, a administração pode requerer ao tribunal
inquérito judicial (art. 68.º/2).

17.2.5. Invalidade da deliberação de aprovação de contas

Resta acrescentar que a deliberação de aprovação das contas está sujeita a um regime
especial de invalidade estabelecido no art. 69.º .

17.3. Aplicação dos resultados

17.3.1. Aspetos gerais

I. É a assembleia geral dos sócios o órgão competente para deliberar sobre aplicação
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dos resultados (v. SQ, art. 246.º/1/e; S.A., art. 376.º/1/b).

II.A execução desta deliberação incumbe à administração. Porém, se se verificarem as


condições indicadas no n.º2 do art. 31.º, aquela deliberação não deve ser cumprida
pelos membros da administração. Neste caso, a administração deverá promover
inquérito judicial para verificação dos factos em que a recusa se basear (n.º3 do art.
31.º).

III.O Código das sociedades comerciais não contém regras próprias sobre a elaboração
das contas, remetendo no n.º2 do art. 65.º para as regras do Sistema de Normalização
Contabilística (SNC). Também nós remetemos os nossos leitores para outras
disciplinas, nomeadamente para os manuais de contabilidade geral ou financeira, onde
estas matérias são estudadas.

IV. Mas uma atitude diferente foi adoptada para o regime da aplicação dos resultados.
O legislador cuidou especialmente de dois grupos de interesses. Primeiro, os interesses
protegidos pelo capital social, que justificam as regras relativas à conservação do
capital social(arts 31.º a 34.º), à reserva legal (arts 295.º, 296.º e 218.º) e aos
adiantamentos sobre lucros no decurso do exercício (art. 297.º).Em segundo lugar, o
legislador preocupou-se com o interesse dos sócios, particularmente o interesse dos
sócios minoritários, interesse protegido pelo regime do direito aos lucros (arts 217.º
nas SQ e 294.º nas SA).

V. Os lucros do exercício, apurados em conformidade com as regras da contabilidade,


têm, de acordo com o n.º1 do art. 33.º, três destinos possíveis:

-Cobrir prejuízos transitados,

-Formar ou reconstituir reservas obrigatórias;

-Dividendos e reservas livres.


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Em primeiro lugar, deverá cobrir-se o prejuízo que transita de exercícios anteriores.
Trata-se de uma conclusão que decorre do n.º1 do art. 33.º e do art. 296.º.

Em segundo lugar, deverão formar-se ou reconstituir-se as reservas obrigatórias:


primeiro, as reservas impostas por lei, nomeadamente a chamada reserva legal;
depois, as reservas impostas pelo contrato (v. n.º 1,2ª parte do art. 33.º).

Em terceiro lugar, impõem-se dividir o restante entre dividendo (para os sócios) e


reservas livres (para autofinanciamento da sociedade). É esta a realidade regulada nos
artigos 217.º, para as sociedades por quotas, e 294.º, para as sociedades anónimas.

17.3.2. Reserva legal

Vejamos as regras aplicáveis à reserva legal. A norma aplicável é o artigo 295.º, parte
do regime das sociedades anónimas, cujo número 1 determina que

«Uma percentagem não inferior à vigésima parte dos lucros da sociedade é


destinada à constituição da reserva legal e, sendo caso disso, à sua
reintegração, até que aquela represente a quinta parte do capital social. (...).»

Nas sociedades por quotas vigora regime semelhante, excepto quanto ao limite a
atingir que, como se estabelece no n.º2 do art. 218.º, nunca será inferior a 2 500
euros.
Assim, todos os anos retira-se do lucro de exercício uma percentagem de 5% para a
conta da reserva legal até que esta atinja 20% do valor do capital social, momento em
que a reserva está formada.
As regras aplicáveis à sociedade por quotas são as mesmas quanto à percentagem
anual; porém, quanto ao montante necessário para que a reserva legal se considere
formada, a regra das sociedadesa anónimas não se aplica se 20% do capital social for
inferior a 2 500 euros, caso em que a reserva só está formada quando a conta
respetiva atingir os 2 500 euros.

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17.3.3.Direito ao lucro

I.Atentemos no sistema instituído para o chamado direito ao lucro de exercício.

O Código das sociedades comerciais formulou uma regra supletiva, que pode ser
afastada por outra no contrato de sociedade, e segundo a qual metade do lucro de
exercício distribuível deverá ser distribuído aos associados; a outra metade poderá ser
aplicada, por deliberação da maioria, em reservas livres.

Mas esta divisão entre dividendos e reservas livres, 50%-50%, poderá ser afastada em
assembleia geral, para o efeito especialmente convocada, mediante deliberação que
reuna o apoio de três quartos dos votos correspondentes ao capital social16.

Deliberada a distribuição de dividendos, o sócio torna-se credor da sociedade,


vencendo-se o crédito decorridos que sejam 30 dias sobre a deliberação, salvo
diferimento consentido pelo sócio; em caso de situação excepcional da sociedade, os
sócios podem deliberar a extensão daquele prazo até mais 60 dias, excepto se se tratar
de acções cotadas em bolsa.

II. Os sócios participam nos lucros segundo a proporção dos valores das respetivas
participações no capital (art. 22.º, n.º1). Mas esta regra é supletiva, podendo ser
afastada por convenção estabelecendo regra diferente .

Convém ter em conta a possível existência de direitos especiais de determinados


sócios a uma determinada percentagem dos lucros ( por exemplo, acções preferenciais
sem voto, arts 341.º e 342.º).

16
Não nos parecem conformes com o espírito da lei, as cláusulas de certos contratos que afastam a
exigência de uma deliberação tomada por uma maioria de votos representativa de três quartos do capital
social. Neste aspecto, a norma dos artigos 217.º e 294.º é imperativa e tem por finalidade proteger os
sócios minoritários. Sobre esta matéria pode ver-se MANUEL ANTÓNIO PITA, O direito aos lucros,
Almedina Coimbra, 1989, p. 133.
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III. Se tiverem sido distribuídos lucros ou reservas que não
podiam ser distribuídos, os sócios devem restitui-los à sociedade, excepto quando
desconheciam a irregularidade da situação ou, tendo em conta as circunstâncias, não
tinham o dever de a conhecer ( art. 34.º/1).

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Capítulo 18.

O capital social

Bibliografia

PAULO DE TARSO DOMINGUES, Variações sobre o Capital Social, Almedina,


Coimbra,2009; PAULO DE TARSO DOMINGUES, Do Capital Social, Coimbra
Editora,2004; DEOLINDA APARÍCIO MEIRA, O Regime Económico das Cooperativas
no Direito Português O Capital Social, Vida Económica, Porto,2009; ANA PINTO DA
ROCHA, Da Perda Grave do Capital Social nas Sociedades Comerciais, Livraria
Petrony, Lisboa, 2009; ALEXANDRE MOTA PINTO, Do Contrato de Suprimento O
Financiamento da Sociedade entre Capital Próprio e Capital Alheio, Almedina,
Coimbra, 2002;JOÃO PEDRO VARGAS CARINHAS DE OLIVEIRA MARTINS, Os Suprimentos
no Financiamento Societário, ISCTE-IUL, Lisboa,2010

18.1. Montante, subscrição e realização do capital social. Noção e funções

I.Ao estudar os elementos obrigatórios do contrato, vimos que nas sociedades de


capital - por quotas, anónimas e comandita por ações – uma das cláusulas indica o
montante do capital nominal. Este capital nominal foi obrigatoriamente subscrito pelos
sócios e realizado, imediatamente ou da forma diferida acordada pelos sócios nos
limites da lei.

II.Do regime legal aplicável à subscrição e realização do capital social, podemos


concluir que o capital social é o valor correspondente à soma do valor nominal das
participações dos sócios nas sociedades de capital. Estas participações sociais
incorporam uma relação jurídica entre os sócios e a sociedade que tem por conteúdo
os direitos e obrigações dos sócios.

III.O capital social é um instituto nuclear na vida da sociedade; desempenha diversas


funções, sendo as principais a de organização,a de financiamento e a de garantia.
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Em primeiro lugar, o capital social é o elemento
organizador da sociedade: atribui a qualidade de sócio, define a medida dos seus
direitos e obrigações e por essa via organiza e distribui o poder dentro da sociedade.
Nas sociedades de capital, por quotas e anónimas, o poder de cada sócio é medido
pelo voto e este é atribuído em função da participação no capital social.

Em segundo lugar, o capital social é a fonte de financiamento inicial da sociedade.


Através da realização das entradas por parte dos sócios, a sociedade adquire os bens
que formam o ativo do seu património inicial e que se destinam a financiar o
desenvolvimento da atividade correspondente ao seu objeto.

É no quadro desta função de financiamento que o capital social permite avaliar a


situação económica da sociedade. Todos os anos, no momento de dar balanço e
prestar contas, a sociedade é avaliada na sua capacidade de gerar riqueza: se o
património líquido é superior ao capital social, há riqueza produzida; mas se o
património líquido é igual ao capital social,a sociedade não acrescentou valor ao
património que lhe foi inicialmente entregue pelos sócios; e se o património líquido é
inferior ao capital social isto significa que a sociedade já está em perda, tocando o sinal
de alarme se essa perda é igual a metade do capital social(art. 35.º).

Em terceiro lugar, reconhece-se ao capital social uma função de garantia dos credores.
A sua existência nas sociedades por quotas e anónimas aparece como a contrapartida
da limitação da responsabilidade dos sócios; de certo modo, realizando o capital, os
sócios constituiam uma garantia para os credores que substituía a anterior
responsabilidade ilimitada do empresário individual. Mas esta garantia tem de ser
entendida nos seus devidos termos. Em primeiro lugar, não é uma garantia no sentido
do art. 601.º do Código civil, porque o capital social não é um conjunto de bens que os
credores possam penhorar no caso da sociedade não pagar as suas dívidas; em
segundo lugar, a existência de capital social na sociedade não garante que a sociedade
tenha sempre um ativo no montante do capital social em que os fornecedores possam
confiar para conceder crédito à sociedade: se a sociedade tiver perdas que atinjam o
capital social, os sócios não são legalmente obrigados a reconstituir o capital social,
como fica claro no regime do art. 35.º.

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Não sendo um conjunto de bens penhoráveis, nem
garantindo a existência de um conjunto de bens no ativo da sociedade, o que é que o
capital social garante? A resposta é dada pelas regras relativas à conservação do
capital social que analisaremos no número seguinte.

18.2. Conservação do capital social

18.2.1. Princípio da intangibilidade do capital social

I. Por força do n.º1 do art.33.º não podem ser distribuídos aos sócios lucros de
exercício que sejam necessários para cobrir prejuízos transitados; no mesmo artigo, no
n.º2, proíbe-se a distribuição de lucros de exercício enquanto as despesas de
constituição não estiverem completamente amortizadas.
Por sua vez, o artigo 32.º prescreve que não podem ser distribuídos aos sócios bens da
sociedade quando o capital próprio desta for inferior à soma do capital e das reservas
que a lei ou o contrato não permitem distribuir aos sócios ou se tornasse inferior a
esta soma em consequência da distribuição.

Esta probição de ser restituído aos sócios o capital social está presente em diversos
lugares. A remição de acções preferenciais não pode ter lugar se os fundos necessários
puserem em causa o disposto nos artigos 32.º e 33.º (art. 345.º,n.º5); a mesma
restrição é imposta em caso de amortização de acções ou de quotas (art. 346.º/1 e
236.º/1), bem como em caso de restituição de prestações suplementares (art.
213.º/1).

Estas normas consagram o princípio segundo a qual os sócios não podem retirar da
sociedade bens necessários para cobrir o capital social. É o chamado princípio da
intangibilidade do capital social.
A violação deste princípio pelos sócios é sancionada especialmente no artigo 34.º, que
impõe a restituição dos bens indevidamente recebidos; e medidas de natureza penal
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poderão ser aplicadas aos gerentes ou administradores se
estiverem preenchidas as condições definidas no Título VII, em particular no artigo
514.º que sanciona a distribuição ilícita de bens da sociedade.

II. As regras que informam o princípio garantem que, enquanto a sociedade existir, os
sócios estão proibidos de retirar do activo da sociedade bens, se essa retirada implicar
a descida do capital próprio a um montante inferior ao capital social ( esta cifra de
retenção formada pelo capital nominal é acrescida, no art. 32.º , com as reservas que a
lei ou o contrato não permitem distribuir aos sócios; é o caso, nomeadamente, das
reservas legais por força do regime estabelecido no art. 296.º). O capital social é,
assim, uma espécie de recipiente deixado pelos sócios na sociedade no momento em
que a constituíram e que todos os anos serve para medir a saúde financeira da
sociedade. Retiradas as quantias necessárias para pagar aos credores da sociedade, o
activo remanescente, o activo líquido, agora chamado capital prórpio, deve cobrir o
valor do capital social, deve encher aquele recipiente( acrescido das reservas não
distribuíveis); apenas o excedente, que é o fruto do capital, constitui o lucro que os
sócios podem deliberar distribuir como dividendos ou afectar a reservas livres. Se,
depois de retiradas as quantias para os credores o recipiente não ficar cheio, a
sociedade já consumiu uma parte do capital próprio inicial, está a ter perdas.
Constata-se assim que o princípio da intangibilidade impede a saída, para o
património dos sócios, de bens necessários à cobertura do capital, mas não assegura a
manutenção, dentro da sociedade, de bens de valor suficiente para cobrir o capital
social. O capital social garante uma espécie de direito de preferência dos credores, em
face dos sócios, sociais sobre os bens da sociedade.

18.2.2. Perda de metade do capital social17

I. No momento em que a sociedade se constitui o capital social e o património devem

17
Sobre esta matéria, v. ANA PINTO DA ROCHA, Da Perda Grave do Capital social nas Sociedades
Comerciais, Livraria Petrony,Lisboa,2009
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ter o mesmo valor: se houver entradas diferidas, elas são
créditos da sociedade sobre os sócios; e, se porventura o valor dos bens entregues
exceder o valor nominal da quota de capital, a diferença deverá ser levada a uma
reserva (art. 295.º/2/a), o chamado prémio de emissão.
Mas uma vez iniciada a actividade social, o capital próprio (a diferença entre o activo e
o passivo externo) tenderá a ultrapassar o capital social, se, como esperam os sócios,
os exercícios lucrativos se sucederem; poderá, no entanto, o activo líquido/capital
próprio descer a valores inferiores ao capital social, na hipótese contrária de, em vez
de se sucederem exercícios lucrativos, a sociedade acumular exercícios negativos.
O património das sociedades comerciais (neste sentido entendido como património
bruto, englobando o activo e o passivo externo) está dependente dos bons ou maus
resultados da sociedade: é, pela natureza das coisas, variável; pelo contrário, o capital
social é uma grandeza fixa, só mutável por alteração do contrato de sociedade. E, por
essa razão, não é possível garantir que o património seja sempre suficiente para cobrir
o capital social.

II.O sistema do Código conformou-se com esta lei da vida das empresas. Porém, partiu
do princípio de que a acumulação de prejuízos deveria ter um limite além do qual a
continuidade da sociedade começaria a ser posta em causa. Este limite foi fixado, no
art. 35.º, em metade do capital social.

Artigo 35.º
(Perda de metade do capital)

1— Resultando das contas de exercício ou de contas intercalares, tal


como elaboradas pelo órgão de administração, que metade do capital
social se encontra perdido, ou havendo em qualquer momento fundadas
razões para admitir que essa perda se verifica, devem os gerentes
convocar de imediato a assembleia geral ou os administradores
requerer prontamente a convocação da mesma, a fim de nela se
informar os sócios da situação e de estes tomarem as medidas julgadas
convenientes.
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2 - Considera-se estar perdida metade do capital
social quando o capital próprio da sociedade for igual ou inferior a
metade do capital social.

3 - Do aviso convocatório da assembleia geral constarão, pelo menos, os


seguintes assuntos para deliberação pelos sócios:

a) A dissolução da sociedade;

b) A redução do capital social para montante não inferior ao capital


próprio da sociedade, com respeito, se for o caso, do disposto no n.º 1 do
artigo 96.º;

c) A realização pelos sócios de entradas para reforço da cobertura do


capital.]

Há pois um limiar de cobertura do capital, atingido o qual se considera que a sociedade


constitui um factor de perturbação do mercado, pondo em risco quer o interesse dos
sócios quer o interesse dos credores. Esse limiar é a perda de metade do capital social.

Nessas circunstâncias, manda a lei que seja convocada de imediato uma assembleia
geral para que os sócios analisem a situação e adoptem as medidas que acharem
adequadas. Acontece porém que, na última redacção do artigo 35.º, deixou de ser
obrigatório adoptar uma das medidas de saneamento previstas. Nestas circunstâncias,
os sócios podem considerar adequado que a sociedade se mantenha tal como está: a
actual lei permite que a sociedade continue a existir, apesar da perda de metade do
capital social. A lei não decreta a dissolução da sociedade nem de imediato, nem
decorridos dois exercícios como sucedia na versão anterior, agora apenas impõe um
dever especial de informação: segundo o n.º2 do art. 171.º, a sociedade por quotas,
anónima e em comandita por acções cujo capital próprio seja igual ou inferior a
metade do capital social deverá indicar o montante do capital próprio segundo o
último balanço aprovado, em todos os contratos, correspondência, publicações,
anúncios, sítios na Internet e de um modo geral em toda a actividade externa. O
legislador confiou da eficácia do princípio da transparência.
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18.2.3. Capital social, responsabilidade limitada dos sócios e garantia dos credores

A garantia dos credores da sociedade é o seu património, mais correctamente, os bens


penhoráveis que integram o ativo, como aliás sucede em relação a qualquer credor de
qualquer devedor, pessoa singular ou pessoa colectiva, por força da regra da
responsabilidade patrimonial ilimitada estabelecida no art. 601.º do Código civil (e
expressamente afirmada, para as sociedades por quotas, no n.º3 do artigo 197.º).

Neste sentido, todas as sociedades comerciais são de responsabilidade ilimitada,


porque respondem com todo o seu património por todas as suas dívidas. Limitada
(quantitativamente) é a responsabilidade dos sócios das sociedades por quotas e
anónimas. É por esta qualidade que, em caso de dissolução da sociedade, se o ativo for
insuficiente para pagar o passivo, os credores não podem exigir aos sócios as quantias
relativas ao capital social já realizado, porque a responsabilidade dos sócios extingue-
se no momento em que realizam o capital social. A partir desse momento, os sócios
não têm uma obrigação positiva de manter intacto o capital social, mas apenas a
obrigação negativa de não retirar, a título de lucros ou outras formas de restituição das
suas entradas, bens necessários para permitir que o valor do capital próprio seja igual
ao capital social.

18.3.Capital social e capital próprio18

18.3.1.O capital social como uma conta do capital próprio

I. O capital próprio é um conceito que mede o valor da empresa; é um valor residual


que se obtém retirando ao ativo o passivo. Do ponto de vista da contabilidade, é um
valor que se obtem somando os valores registado em diversas contas.

18
Sobre o capital próprio, v. ALEXANDRE MOTA PINTO, Do Contrato de Suprimento, Almedina,
Coimbra,2002, p.27 ss.
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No quadro de contas do SNC, o capital social é uma
daquelas que integram o capital próprio. Figura no balanço no primeiro lugar da lista
das contas do capital próprio. Mas, mesmo no momento da constituição, o montante
do capital próprio poderá não ser igual ao valor da soma das entradas dos sócios, se
houver prémio de emissão. Neste caso, o valor do ativo inicial será superior ao capital
social nominal; para equilibrar o balanço, o prémio será registado numa outra conta do
capital próprio, designada justamente Prémios de emissão de acções ou quotas19.

Ao longo da vida da sociedade, serão registados no capital próprio os resultados do


exercício, antes da sua repartição por reservas, dividendos,etc, o que faz o seu
montante variar todos os anos: aumenta se o exercício económico for lucrativo,
diminui se for negativo.

Do ponto de vista da contabilidade, a conta capital próprio é uma conta sintética que
integra outras contas para além do capital social e dos prémios de emissão,
nomeadamente as reservas, os resultados transitados e as prestações suplementares.
O seu valor é a soma de todos estes valores: em regra é um valor positivo, mas poderá
ser negativo se a empresa acumular prejuízos. Nos números seguintes, passamos em
revista as outras principais rubricas do capital próprio.

18.3.2 Prémios de emissão

No momento da constituição da sociedade, o capital próprio é, em princípio, igual ao


capital social. Na verdade, nesse momento, não existem reservas nem resultados de
exercícios anteriores — só não haverá esta igualdade se houver prémios de emissão,
hipótese rara no momento da constituição da sociedade.

19
Antes do actual SNC, o valor inscrito no balanço como capital social correspondia sempre ao total do
capital subscrito, mesmo na hipótese em que tivesse havido diferimento de entradas: nesse caso o valor
das entradas em dívida seria inscrito no activo como crédito da sociedade a que correspondia uma
dívida de sócios. Actualmente, se houver diferimento de entradas, o balanço apenas revelará o capital
efectivamente realizado e no activo da sociedade não será divulgado o montante das entradas por
realizar.

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18.3.3. Reserva Legal

Vimos que , por força do art. 33.º, n.º1, uma parte do lucro de exercício deverá ser
aplicada na constituição da reserva legal. A norma aplicável à constituição da reserva é
o artigo 295.º, aplicável à sociedade por quotas por força do art. 218.º. Contudo, o que
faz da reserva legal assim constituída um elemento estável do capital próprio é o
regime da sua utilização estabelecido no art. 296.º por força do qual os sócios não têm
qualquer direito à sua restituição.

18.3.4. Reservas estatutárias

Por via da aplicação de resultados, logo no primeiro exercício pode ser necessário
constituir reservas estatutárias, aquelas que o contrato de sociedade mandar
constituir.

18.3.5. Reservas livres

Além disso, os sócios podem deliberar constituir outras reservas, chamadas livres por
não se encontrarem vinculadas a uma utilização específica.

18.3.6.Resultados transitados

Outra alternativa que está aberta aos sócios é a de manter na sociedade os resultados
do exercício a que não for dado um destino especial, formando então a rubrica do
capital próprio chamada resultados transitados.

18.3.7. Outras reservas

Outras reservas poderão ser criadas ao longo da vida da sociedade.


São disso exemplo as tradicionalmente chamadas reservas de reavaliação, que
têm normalmente a designação do diploma legal que as admitiu.
Seria também o caso da reserva para quotas ou acções próprias, se fossem
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contabilizadas no activo da sociedade, como se previa na
alínea b) do n.º1 do art. 324.º.O SNC optou por considerar os valores correspondentes
elementos negativos do capital próprio evidenciados em rubrica autónoma.

18.3.8. Prestações suplementares

Os sócios podem estar sujeitos à obrigação de prestações suplementares. Estas


prestações têm sempre dinheiro por objecto e não vencem juros (v. art. 210.º/1/2/5).
A sua localização nas grandes rubricas do balanço é determinada pelo regime de
restituição. Ora bem, as prestações suplementares só podem ser restituídas aos sócios
desde que a situação líquida/capital próprio não fique inferior à soma do capital e da
reserva legal (art. 213.º/1)20. Pela natureza do risco que implicam para os sócios, estão
próximas do capital social. Uma vez realizadas, aparecerão no balanço como uma
rubrica do capital próprio, integram os outros instrumentos de capital próprio (conta
53). É frequente dizer-se que são quase-capital21 .

18.3.9. Suprimentos e capital próprio

I. Vejamos , na continuação, como se colocam as outras obrigações dos sócios perante


o capital próprio. São elas a obrigação de prestações acessórias, admitida nas
sociedades por quotas e anónimas (art. 209.º e 287.º) e a obrigação de suprimentos,
prevista apenas para as sociedades por quotas ( art. 244.º, n.º1).

II. Os supriementos são empréstimos dos sócios à sociedade que, simultaneamente,


aumentam o ativo e o passivo em valores iguais.Por esta natureza, na contabilidade
são registados numa conta do passivo e não de capital próprio.

20
Por outro lado, se não forem realizadas, o sócio torna-se remisso, podendo ser excluído da sociedade e
perdendo a quota (art. 212.º).
21
As prestações suplementares estão apenas previstas nas sociedades por quotas, sendo duvidosa a sua
adaptação às sociedades anónimas. Com efeito, o contrato de sociedade que permita prestações
suplementares fixará os sócios que ficam obrigados a efectuar tais prestações, exigência que dificilmente
poderá ser satisfeita nas sociedades anónimas, a não ser que só existam acções nominativas — ou que só
estas acções fiquem vinculadas a estas prestações (cfr. art. 299.º/2/c).
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Porém, os suprimentos ganharam uma dimensão especial
por força do regime do art. 245.º . Este regime atribui ao crédito de suprimento uma
posição inferior a um crédito comum, relegando-os para a categoria dos créditos
subordinados na terminologia do Código de Insolvência e da Recuperação de Empresas
[art. 48.º/g)].
Por força desta degradação, o credor de suprimentos não pode requerer a
falência/insolvência da sociedade (n.º2 do art. 245.º). Mas, se a insolvência vier a ser
declarada, de novo se manifesta a deterioração do crédito de suprimento: a sociedade
só pode reembolsar os suprimentos depois de inteiramente satisfeitas as dívidas para
com terceiros22.
Este regime aproxima a posição jurídica do credor de suprimentos da posição jurídica
do sócio, especialmente quanto à restituição eventual do capital no momento da
liquidação. Consequentemente, aproxima o suprimento de uma rubrica do capital
próprio: é certo que não se trata de um valor que não possa ser restituído aos sócios
ainda que essa restituição ponha em causa a integridade do capital social, mas a
verdade é que assume a condição de um valor que não pode ser restituído aos sócios
com prejuízo dos restantes credores23.

18.3.10. Prestações acessórias e capital próprio

I. Por força do contrato os sócios podem se ter obrigado prestações acessórias como
previsto nos artigos 209.º e 287.º 24. Utilizando as palavras da lei, poderíamos defini-las
como as prestações a que os sócios se encontrem obrigados por cláusula contratual e
que não sejam entradas.São, nas palavras do Código, prestações além das entradas
(n.º1 dos arts. cit.); esta característica exclui a sua sujeição ao regime das entradas,

22
Além disso, não é admissível a compensação de créditos da sociedade com créditos de suprimentos
(art. 245.º/3/b). Por outro lado, o reembolso dos suprimentos no ano anterior à data do início do processo
de insolvência determina a sua resolução incondicional (v. CSC, art. 245.º75 e C. Insolvência, art.
121.º/1/i).
23
De resto, a degradação do suprimento poderá ser imposta por contrato celebrado entre a sociedade e
um terceiro credor, nomeadamente um banco financiador, perante o qual os sócios se obrigam a não
exigir a restituição dos suprimentos efectuados enquanto o empréstimo concedido pelo banco não estiver
reembolsado. Sobre a blocagem das contas entre os sócios e a sociedade, v. M. COZIAN – A. VIANDIER –
FL. DEBOISSY, Droit des sociétés, 19.ed, Litec, Paris, 2006, p. 112.
24
Estamos perante uma importação. V. Código civil italiano, art. 2345.º, Ley de S.A., art. 36.º,II ; Ley de
Sociedade de Responsabilidad Limitada, art. 22.º a 25.º
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mas não permite clarificar o lugar que ocupam no
confronto com as prestações suplementares e os suprimentos. Serão passivo ou capital
próprio?

III. O estatuto contabilístico das prestações acessórias era uma questão omissa no
Plano Oficial de Contas e na minuciosa lista de notas explicativas que o acompanhava e
continua a ser uma questão omissa no Sistema de Normalização Contabilística.
De que forma a prestação acessória deve ser registada pela contabilidade da sociedade
que a recebe? O sócio ficará com um direito à restituição da prestação realizada, em
termos que a coloquem como um elemento do passivo, por analogia com os
suprimentos?
Os elementos essenciais da obrigação, exigidos por lei, poderão levar à criação de uma
rubrica no capital próprio, por analogia com as reservas especiais?
Ou, o seu estatuto depende do respectivo objecto, à semelhança do que, para o
conteúdo da obrigação, dispõe o CSC na parte final do n.º1 dos artigos 209.º e 287.º?
Embora admitindo que a questão ainda não está suficientemente debatida para uma
conclusão segura, inclinamo-nos para esta terceira via: o cumprimento da obrigação
realizar-se-á por via de uma prestação do sócio à sociedade; o estatuto contabilístico
será o que for determinado pelo objecto da prestação, isto é, pela natureza do bem
entregue à sociedade, bem como pelo dever ou deveres a que, em consequência, a
sociedade fique adstrita25.

18.3.11.O artigo 35.º: aumento do capital próprio com manutenção da capital social

Do que até agora escrevemos podem estabelecer-se as seguintes relações entre o


capital social e o capital próprio.
Em primeiro lugar, o capital social é apenas um dos elementos do capital próprio que
inclui outros, nomeadamente, prestações suplementares, prémios de emissão,
reservas e resultados transitados.

25
A questão é debatida em Espanha: v. Luís López-Oliver Ruiz, Contabilidad de Sociedades y Derecho
Mercantil Contable, Colex, Madrid, 2006, p.72
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Em segundo lugar, enquanto o capital próprio é variável, o
capital social é fixo: este não sofre alterações por causa dos bons ou maus resultados
da sociedade, só pode ser alterado por deliberação dos sócios tomada segundo
determinado procedimento legal; ao contrário, o capital próprio reflectirá os lucros ou
as perdas do negócio, aumentando ou diminuindo26.
Como corolário, o capital social poderá ser igual, menor ou maior que o capital
próprio. No primeiro caso, a sociedade não estará a ganhar nem a perder; no segundo
caso, a sociedade estará a ter ganhos; mas no terceiro caso, quando o capital social for
maior do que o capital próprio a sociedade encontrar-se-á em situação de perda.
Ora bem, quando o capital próprio for inferior a metade do capital social, entra em
acção o art. 35.º. Uma das medidas previstas para ultrapassar a crise é a realização de
entradas para reforço da cobertura do capital social. Estas entradas não vão alterar o
capital social, mas aumentarão o capital próprio; formarão reservas especiais afectas à
cobertura do capital social27.

19.3. Obrigações dos sócios


A lei é parcimoniosa na delimitação das obrigações dos sócios. O artigo 20.º apenas
indica duas obrigações: a obrigação de entrada ( al. a) e a obrigação de participar nas
perdas (al. b). Mas a lei admite que, mediante cláusula contratual, os sócios possam
ficar vinculados a outras obrigações. Chamaremos às primeiras, obrigações legais,
porque estabelecidas na lei; designaremos as segundas por obrigações contratuais,
porque apenas existem se estiverem estabelecidas no contrato social.

19.3.1. Obrigações legais

26
Como escrevem, M. COZIAN - A.VIANDER – FL. DEBOISSY, Droit des sociétés, cit., p.116, n.º 320:
“Enquanto o capital social é uma entidade abstracta caracterizada pela sua intangibilidade, os capitais
próprios representam uma realidade concreta, sujeita a variações. Eles dão a medida da fortuna da
sociedade...”
27
Sobre esta alínea c) do n.º3 do art. 35.º, que dá lugar à habitualmente chamada reintegração do capital
social, v. PAULO DE TARSO DOMINGUES, Variações sobre o Capital Social, bib. cit.,pág. 367 ss.
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19.3.1.1. Obrigação de entrada

O regime da obrigação de entrada vem desenvolvido em dois lugares: na Parte geral


nos artigos 25.º a 30.º; nas parte especiais , nos artigos 202.º a 208.º, para as
sociedades por quotas, e nos artigos 277.º, 285.º e 286.º, para as sociedades
anónimas. Em ambas as sociedades, o sócio que não cumprir a obrigação de entrada
deverá ser colocado em mora, chamando-se então sócio remisso, e pode vir a ser
excluído com perda da participação (art. 204.º e 285.º/4).

19.3.1.2. Obrigação de participar nas perdas

I. A obrigação de participação na perdas não mereceu do legislador um regime


alargado. O artigo 22.º esclarece a sua medida, determinado que na falta de preceito
especial ou convenção em contrário, os sócios participam nos lucros e nas perdas da
sociedade segundo a proporção dos valores nominais das respectivas participações no
capital. Mais tarde, no regime da liquidação, no n.º 4 do art. 156.º, ao regular a
partilha do activo que restar depois de pagos os credores, determina-se que se não
puder ser feito o reembolso integral [do montante das entradas efectivamente
realizadas], o activo restante é distribuído pelos sócios, por forma que a diferença para
menos recaia em cada um deles na proporção da parte que lhe competir nas perdas da
sociedade.

II. Participar nas perdas é, assim, correr o risco de receber menos do que o montante
da entrada efectivamente realizada.
Esta obrigação não tem por conteúdo uma prestação positiva: por via dela, o sócio não
é obrigado a fazer à sociedade qualquer nova prestação, nem está obrigado a pagar as
dívidas da sociedade se, no momento da liquidação, o activo se revelar insuficiente
para pagar aos credores2829.

28
Esta é uma obrigação que se impõe, nomeadamente aos sócios da sociedade em nome colectivo, com
fundamento na responsabilidade dos sócios por dívidas da sociedade, no quadro de uma relação social
externa, — e não com fundamento na obrigação de participar nas perdas, que é parte da relação social
interna entre o sócio e a sociedade. A sociedade deveria restituir ao sócio o montante das entradas
efectivamente realizadas; mas não tem meios para o fazer e o sócio sofre na sua esfera jurídica as
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Em linguagem técnica, podemos dizer que esta obrigação
não tem por conteúdo um dever mas antes uma sujeição: o sócio sujeita-se a receber
menos do que entregou à sociedade para realizar capital, no limite a nada receber se
no momento da liquidação o capital próprio for igual ou inferior a zero. Trata-se de
uma posição passiva cujos efeitos se produzirão no património do sócio desde que os
pressupostos legais se encontrem preenchidos.

19.3.2. Obrigações contratuais

19.3.2.1.Prestações suplementares, suprimentos e prestações acessórias

Os fundadores da sociedade dispõem de alguma autonomia - maior nas sociedades por


quotas, menor nas anónimas - para configurarem as relações entre o sócio e a
sociedade, sendo-lhes permitido criar outras obrigações para além das entradas, desde
que respeitem a legalidade e o espírito do sistema, como vimos ao estudar as cláusulas
facultativas do contrato de sociedade no capítulo 15.

O regime das sociedades por quotas prevê e regula três espécies de figuras
contratuais, a obrigação de prestações acessórias(art.209.º), a obrigação de prestações
suplementares(arts. 210.º a 213.º) e o contrato de suprimento (art.240.º).

Ao invés, o regime da sociedade anónima apenas contempla a figura das


prestações acessórias (art. 287.º).

19.3.2.2. Sociedade anónima, suprimentos e prestações suplementares

I.O Código não prevê, para as sociedades anónimas, nem a obrigação de suprimentos

consequências desta incapacidade da sociedade, perdendo parte ou a totalidade do seu direito à


restituição.
29
A sujeição às perdas pode acontecer noutros momentos da vida da sociedade. Será o caso da redução do
capital destinado a cobrir prejuízos; será também o caso de amortização da quota quando o valor de
liquidação da quota for inferior ao valor das entradas efectivamente realizadas (v. art. 235.º). A obrigação
de reintegrar o capital social no quadro do art. 35.º não decorre directamente da obrigação de participar
nas perdas.
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nem a obrigação de prestações suplementares, regulando
apenas a obrigação de prestações acessórias (art.287.º). Por causa desta omissão tem
sido levantada, quer pelos tribunais quer pela doutrina, a questão de saber se estas
duas figuras se podem aplicar também nas sociedades anónimas.
O primeiro ponto a esclarecer é o alcance desta aplicação. A aplicação teria o alcance
de submeter um suprimento feito por sócios da sociedade ao regime dos suprimentos,
com as consequências de degradação do crédito que vimos antes; um efeito de
alcance idêntico teria lugar caso se utilizassem as prestações suplementares.
O segundo ponto a esclarecer é o de saber se estas consequências são
compatíveis com os princípios informadores da sociedade anónima.
A nossa resposta é positiva se olharmos ao interesse da sociedade e ao
interesse dos credores da sociedade. Não podem restar dúvidas de que quer os
suprimentos quer as prestações suplementares são meios úteis para a sociedade
prosseguir o seu objecto e representam também um reforço da garantia dos
credores30.
É , no entanto, necessário analisar as coisas tendo em conta também o
interesse dos sócios. Precisamos de responder à seguinte pergunta: é legalmente
compatível com o estatuto de sócio de uma sociedade anónima uma obrigação
permanente de realizar novas prestações em dinheiro?

II. Para respondermos à pergunta, temos um ponto de apoio na lei: a obrigação


de prestações acessórias é compatível com o estatuto de accionista titular de acções
nominativas: as acções terão de permanecer nominativas, diz o n.º2 do art. 299.º,
quando se tratar de acções cujo titular esteja obrigado, segundo o contrato de
sociedade, a efectuar prestações acessórias à sociedade.
Ora bem, se as acções obrigadas à prestação suplementar forem nominativas, e
o pacto social definir-lhe um regime idêntico ao aplicável por lei às prestações
suplementares, quer directamente quer por remissão para os artigos do regime das
sociedades por quotas, estão em nosso entender preenchidas as condições de

30
Um argumento contra a permissão das prestações suplementares nas SA pode ser retirado do n.º2 do
art. 123.º (requisitos da cisão simples).
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compatibilidade com o estatuto de sócio de sociedade
anónima. A unidade do sistema jurídico está perfeita: as prestações suplementares
são, conceitualmente, prestações além das entradas, tal como definido no artigo
287.º, n.º1 e têm os seus elementos essenciais fixados por lei.
III.Será esta solução aplicável à obrigação de suprimentos? Não encontro na lei
nada que diga o contrário: por isso, para acções nominativas será possível estabelecer
no contrato de sociedade a obrigação de suprimentos, que uma vez cumprida fará
nascer um crédito com as características de um crédito gerado por um contrato de
suprimento.

IV. Questão de contornos diversos é a de saber se os accionistas e as


sociedades anónimas quando celebrarem contratos com as características do contrato
de suprimento estabelecidas no art. 243.º ficam sujeitos ao regime imperativo do
contrato de suprimento imposto pelo artigo 245.º. Não encontramos qualquer
fundamento para responder que não: resta aos accionistas que se encontrem na
situação prevista na lei a faculdade de ilidir a presunção de permanência,
demonstrando que o diferimento do crédito corresponde a circunstâncias relativas a
negócios celebrados com a sociedade, independentemente da qualidade de sócio (n.º4
do art. 243.º).

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Título II........................................................................... Erro! Marcador não definido.
AS SOCIEDADES COMERCIAIS.................................................................................... 1
Capítulo 14 ................................................................................................................ 1

Conceito e processo de constituição da sociedade comercial ................................. 1

Capítulo15..................................................................................................................... 6

O contrato de sociedade comercial [A formação do acordo entre os sócios


fundadores] .................................................................................................................. 6

15. 1. Os sócios fundadores ...................................................................................... 7

15.2. O acordo entre os sócios ............................................................................... 10

15.2.1.Cláusulas obrigatórias e cláusulas facultativas ......................................... 10

15. 2.2 Cláusulas obrigatórias gerais ...................................................................... 11

B - Objecto social ........................................................................................................ 14

15.2.3. Cláusulas obrigatórias específicas da sociedade por quotas ..................... 18

15.2.4. Cláusulas obrigatórias especiais da sociedade anónima............................ 20

15.2.5.1.Aspetos gerais .......................................................................................... 23

A- Obrigação de prestações suplementares (arts. 210.º a 213.º) .......................... 24

B-Contrato e obrigação de suprimentos (arts 243.º a 245.º) ................................ 25

C-Obrigação de prestações acessórias (209.º e 287.º) .......................................... 26

15.3. A forma legal do contrato.............................................................................. 27

15.4. O registo comercial e a aquisição da personalidade jurídica ........................ 28

Capítulo 17 .................................................................................................................. 30

A vida da sociedade comercial ................................................................................... 30

17.1. As regras de vida da sociedade comercial..................................................... 30

17.2. A aprovação das contas ................................................................................. 33

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17.3. Aplicação dos resultados ...........................................................................

17.3.1. Aspetos gerais............................................................................................. 36

17.3.2. Reserva legal ............................................................................................... 38

17.3.3.Direito ao lucro ............................................................................................ 39

Capítulo 18.................................................................................................................. 41

O capital social ............................................................................................................ 41

18.1. Montante, subscrição e realização do capital social. Noção e funções ........ 41

18.2. Conservação do capital social........................................................................ 43

18.3.Capital social e capital próprio ....................................................................... 47

19.3. Obrigações dos sócios ................................................................................... 53

19.3.2.1.Prestações suplementares, suprimentos e prestações acessórias .......... 55

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