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Contratos Comerciais

1º ano – Negócios Internacionais


2ºTeste

Artigo 980º C.C. - Contrato de sociedade → aquele em que duas ou mais pessoas se obrigam a
contribuir com bens e serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que
não seja de mera fruição, a fim de repartirem os lucros resultantes dessa atividade.
Elementos da noção de sociedade:
 Associação ou agrupamento de pessoas
 Fundo patrimonial
 Objeto (exercício em comum de certa atividade económica que não seja de mera
fruição)
 Fim: obtenção de lucros para serem repartidos pelos sócios.

Agrupamento de sujeitos ou sócios → a sociedade é composta, em regra, por 2 ou mais


sujeitos (pessoas singulares ou coletivas) – Artigo 980º C.C e Artigo nº7 CSC.
Mas há exceções:
 Sociedades supervenientemente unipessoais: sociedades que tenso sido constituídas
por dois ou mais sócios acabam por ficar reduzidas a um único sócio.
 Sociedades originariamente unipessoais: sociedades constituídas por uma só pessoa
desde o início.
A unipessoalidade superveniente (em regra transitória) é admitida pelo:

 Código Civil → Artigo 1007º d)


 Código das Sociedades Comerciais → Artigo 142 nº1 a), Artigo 270 A nº2 e 460º

A unipessoalidade originária está prevista no CSC → O Artigo 270º A nº1 permite que uma
pessoa singular ou coletiva constitua uma sociedade unipessoal por quotas. O Artigo 488º nº1
permite que uma sociedade por quotas, anónima ou comandita por ações constitua uma
sociedade anónima de cujas ações ela seja inicialmente a única titular.
Substrato patrimonial → qualquer sociedade necessita de um património próprio. Esse
património é inicialmente constituído, pelo menos, pelos direitos correspondentes às obrigações
de entrada. Todo o sócio é obrigado a entrar com algo para a sociedade (Arts. 980º e 983º nº1
CC e Art. 20º a) CSC).
Atenção: as entradas para a sociedade comercial (em dinheiro, em outros bens suscetíveis de
penhora, em indústria ou serviços) não têm de ser (integralmente) realizadas no momento inicial
da sociedade.
Mas ainda que as obrigações de entrada não sejam realizadas ou cumpridas nesse momento, já
existirá património social, já existindo os direitos correspondentes a essas obrigações. Quando a
sociedade nasça com as entradas realizadas, o património social é composto (exclusiva ou

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parcialmente) por esses bens ou pelos direitos relativos a esses bens. À medida que vai correndo
a vida da sociedade o património social vai-se alterando, com a entrada e saída de outros
direitos ou bens e de obrigações pecuniariamente avaliáveis.

Objeto da sociedade: é a atividade económica que os sócios se propõem exercer através da


sociedade (ou propõem que a sociedade exerça).
 Os sócios utilizam a base ou substrato patrimonial da sociedade para o exercício de
certa atividade económica, que não seja de mera fruição.
Atividade económica: produção de bens materiais, imateriais ou serviços ou exige ou implica
troca de bens. Pressupõe a ideia de obtenção de lucros.
 A ideia é de que as atividades culturais, recreativas, políticas, religiosas não podem ser
objeto das sociedades, mas podem-se verificar aspetos económicos de atividades não
económicas. Estas dimensões económicas podem ser exploradas mediante sociedades
(atividades musicais ou teatrais, mais recentemente as sociedades anónimas
desportivas).
 A atividade económica supõe uma série ou sucessão de atos. As sociedades comerciais
(Art. 1º nº2 e 3 e 11º nº2, 3 e 6 CSC) exercem ou propõem-se a exercer atividades.
Não são sociedades as chamadas sociedades ocasionais constituídas para a realização de um
único ato simples (para a compra de um bilhete de lotaria). Também não é de sociedade o
contrato pelo qual várias pessoas se comprometem a jogar todas as semanas no Euromilhões,
este é um contrato de associação atípico.

As sociedades ocasionais não colocam as questões que o direito das sociedades considera e
regula:
 Criação e administração de um fundo comum.
 Organização jurídica do ente societário.
Tem de haver uma atividade económica que não pode ser de mera fruição. As sociedades não
podem ter por objeto atividades de simples desfrute.

Distinção entre compropriedade e sociedade: o comproprietário tem o direito de exigir a


divisão da coisa comum, o sócio não. Qualquer comproprietário tem o direito de servir-se da
coisa comum, o que não se verifica nas sociedades.
A coisa em compropriedade não é um património autónomo, separado do património dos
comproprietários.
Diz o Art. 980º CC que a atividade económica há de ser exercida em comum pelos sócios.
Claro que não será assim nas sociedades unipessoais (só um sócio), mas mesmo para as
sociedades pluripessoais a expressão não é a mais adequada. Pode-se dizer que os sócios –
através da sociedade – exercem em comum uma certa atividade. No entanto, em rigor, é a
própria sociedade que exerce a atividade, normalmente a sociedade terá personalidade jurídica,
seja como for, a sociedade é entidade ou sujeito distinto dos sócios.
Por outro lado, o exercício em comum não significa que os sócios hão de intervir diretamente na
atividade social. O exercício em comum significa apenas que os sócios poderão participar na

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condução direta ou indireta da sociedade (nomeadamente através da designação dos titulares do
órgão de administração) ou no controlo dessa atividade.

Fim da sociedade: obtenção, através do exercício da atividade económica, de lucros (lucros que
se deseja obter e repartir pelos sócios). O fim social não se basta com o intento de obtenção de
lucros, este exige-se ainda a intenção de os dividir pelos sócios.
 Para este efeito:
Lucro: é um ganho traduzível num incremento do património da sociedade. Valor
patrimonial distribuível que se há de formar no património da sociedade, podendo depois de aí
ser transferido para o património dos sócios.
Os lucros são da sociedade, formam-se nela, são incremento do seu património (separado e
distinto do património dos sócios), destinando-se depois a ser divididos, distribuídos pelos
sócios (passando depois a integrar o património dos sócios).
O Intuito lucrativo distingue a sociedade tanto das associações como das fundações. As
associações ou fundações podem exercer ou não atividades económicas. Dessas atividades
podem resultar lucros objetivos, mas esses lucros não podem ser distribuídos pelos associados.
Sujeição a perdas: claro que em vez de lucrarem, os sócios podem perder, podem recuperar
total ou parcialmente (quando saiam da sociedade ou esta se extinga), o valor das entradas e de
outras prestações feitas à sociedade. Nenhum sócio pode ser isento deste risco (Art. 994º CC e
Art. 22º nº3 CSC).

Noção genérica de sociedade: entidade que, composta por um ou mais sujeitos (sócios) tem um
património autónomo para o exercício de atividade económica que não é de mera fruição a fim
de obter lucros e atribuí-los aos sócios estando, todavia, sujeitos a perdas.
Tipos de sociedades comerciais:
As sociedades com objeto comercial constituídas nos termos do CSC têm de adotar
necessariamente um dos tipos de sociedade comercial enumerados no Art. 1º nº2 CSC. Vigora
aqui o Princípio da Tipicidade ou do numerus clausus dos tipos legais de sociedades
comerciais, mas o Código apenas permite sociedades destes tipos.
A taxatividade dos tipos legais impõe uma limitação à liberdade contratual: os sujeitos que
queiram constituir uma sociedade comercial têm de optar por um dos tipos previstos na lei:
o Sociedade em nome coletivo;
o Sociedade por quotas;
o Sociedade anónima;
o Sociedade em comandita (simples ou por ações).

E nalguns casos é mesmo imposto um certo tipo de sociedade: as sociedades unipessoais têm de
ser por quotas ou anónimas (Arts. 270º A e 488º CSC).
As sociedades com certo objeto só podem ser por quotas ou anónimas:
o Sociedades gestoras de participações sociais;
o Agências de câmbios;
o Sociedades mediadoras do mercado monetário e do mercado de câmbios;

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o Sociedades desportivas.

Outras sociedades com determinado objeto só podem ser sociedades anónimas:


o Sociedades de gestão e investimento imobiliário;
o Sociedades administradoras de compras em grupo;
o Sociedades de capital de risco;
o Sociedades gestoras de patrimónios;
o Sociedades de investimento, de locação financeira, de factoring, e sociedades
financeiras para aquisições a crédito;
o Sociedades gestoras de fundos de investimento imobiliário;
o Sociedades seguradoras.

Justifica-se a taxatividade dos tipos legais de sociedades por razões de segurança jurídica. Os
credores sociais, o público em geral e até os sócios podem confiar que as sociedades de certo
tipo não podem deixar de obedecer a determinado quadro regulativo. Nas suas relações (atuais
ou potenciais) com a sociedade, as pessoas sabem com o que podem contar.
A caracterização dos tipos de sociedade faz-se através da delimitação da responsabilidade dos
sócios e é uma espécie de participação social.
Responsabilidade dos sócios perante a sociedade e perante os credores sociais
 Responsabilidade dos sócios perante a sociedade: na sociedade em nome coletivo, o
sócio, além de responder individualmente pela sua entrada, responsabiliza-se pelo
cumprimento ou realização da entrada a que se obrigue entrada em dinheiro, em espécie
e/ou em indústria – Art. 175º CSC.
Art. 179.º CSC – A responsabilidade pelo valor das entradas : a entrada de bens em espécie,
determinada no Art. 28.º, pode ser substituída por expressa assunção pelos sócios, no contrato
de sociedade, de responsabilidade solidária, mas não subsidiária, pelo valor atribuído aos bens.
 Responsabilidade dos sócios perante os credores sociais: na sociedade em nome
coletivo, o sócio, além de responder individualmente pela sua entrada, responde pelas
obrigações sociais subsidiariamente em relação à sociedade e solidariamente com os
outros sócios. – Art. 175º nº1 CSC

o Responsabilidade subsidiária: os credores da sociedade só podem exigir o


pagamento aos sócios depois de excutido o património social. Mas se algum sócio
cumprir obrigações da sociedade, para evitar que seja intentada uma execução
contra a sociedade, então terá direito de regresso contra os outros sócios – Art.
175º nº4 CSC.
o Responsabilidade solidária: os credores sociais têm o direito de exigir de
qualquer sócio o pagamento das dívidas por inteiro.

Depois de excutido o património social em processo de execução movido apenas contra a


sociedade, pode o credor insatisfeito requerer, no mesmo processo, execução contra
qualquer sócio - Art. 828º CPC.

Sociedades anónimas: cada sócio responde pela sua entrada (em dinheiro ou em espécie). Cada
sócio limita a sua responsabilidade ao valor das ações que subscreveu e não perante os credores

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sociais – Art. 271º CSC. O valor das ações é o valor de emissão (não pode ser inferior, mas
pode ser superior ao valor nominal). Pode o pacto social impor que um ou mais sócios fiquem
obrigados a prestações acessórias - Art. 287º CSC.
Sociedades por quotas: os sócios respondem para com a sociedade pela realização da sua
quota e ainda, solidariamente com os demais, pelas prestações devidas à sociedade por algum
ou alguns dos outros associados por força da não realização integral das suas quotas
(responsabilidade pela integração do capital social) → capital social divido em quotas (Art.
197º CSC).
 A regra é a de os sócios não responderem pelas obrigações sociais.
 Pelas dívidas da sociedade responde apenas a própria sociedade, com o seu património -
Art. 197º nº3 CSC. Mas no Art. 198º CSC pode ficar estabelecido no pacto social que
um ou mais sócios respondam, limitadamente – até determinado montante – perante os
credores sociais. O estatuto estabelecerá ainda se esta responsabilidade é solidária com a
da sociedade ou subsidiária relativamente à responsabilidade da sociedade e a efetivar
apenas na fase de liquidação da sociedade. Se a responsabilidade for solidária, o sócio que
pagar dívidas sociais tem (salvo estipulação em contrário no pacto social) direito de
regresso contra a sociedade pela totalidade do que houver pagado.

Sociedades em comandita simples e sociedades em comandita por ações


Nas sociedades em comandita (simples e por ações) os sócios respondem pelas respetivas
entradas. Há que distinguir entre duas categorias de sócios:
 Sócios comanditados: responsabilidade ilimitada, respondem pelas dívidas sociais nos
mesmos termos que os sócios das sociedades em nome coletivo (subsidiariamente em
relação à sociedade e solidariamente entre si) e podem entrar com dinheiro, espécie ou
indústria.
 Sócios comanditários: entram com dinheiro ou espécie e não se responsabilizam para
com os credores sociais - Art. 465º nº1, 474º e 478º CSC.
Situação excecional: para todos os tipos de sociedade quando seja declarada em situação de
insolvência uma sociedade reduzida a um único sócio, este responde ilimitadamente e a título
principal (não subsidiariamente, mas solidariamente com a sociedade) pelas obrigações sociais
contraídas no período posterior à concentração das participações sociais. Contanto que se prove
que não foram observados os preceitos da lei que estabelecem a afetação do património da
sociedade ao cumprimento das respetivas obrigações – Art. 84º nº1 e 2 CSC.

Número mínimo de sócios:


 Para a constituição de sociedades comerciais, o Art. 7º nº2 CSC apresenta uma regra e
respetivas exceções quanto ao número mínimo de sócios que têm de integrar a
sociedade – Formas e partes do contrato “2. O número mínimo de partes de um
contrato de sociedade é de dois, exceto quando a lei exija número superior ou permita
que a sociedade seja constituída por uma só pessoa.”
 Na constituição de sociedade em nome coletivo ou em comandita simples exige-se a
participação de, pelo menos, duas pessoas.
 A sociedade por quotas pode ser constituída por uma só pessoa, no caso da sociedade
unipessoal por quotas – Art. 270º A nº 1 CSC.

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 As sociedades anónimas têm, em regra, de ser constituídas pelo menos por 5 sócios -
Art. 273º nº1 CSC.
Exceções:
 Sociedades anónimas constituídas apenas por uma outra sociedade (por quotas, anónima
ou comandita por ações) – Arts. 481º nº1 e 488º nº1 CSC.
 Sociedades anónimas constituídas por apenas 2 sócios, devendo um deles ser o Estado,
entidade pública empresarial ou equiparada, que fique a deter a maioria das ações – Art.
273º nº2 CSC.
 Sociedades em comandita por ações não podem constituir-se com menos de 6 sócios
(pelo menos 1 comanditado e 5 comanditários) – Arts. 465º nº1 e 479º CSC.
Durante a vida das sociedades comerciais devem os referidos números mínimos de sócios ser
respeitados sob pena de possível dissolução – Art. 142º nº1 a) e nº3 CSC. O CSC não
estabelece número máximo de sócios para qualquer tipo de sociedade.

Capital Social: cifra representativa da soma dos valores nominais das participações sociais
fundadas em entradas em dinheiro ou em espécie.
As entradas em dinheiro e/ou em espécie devem ter valor idêntico ou superior ao valor atribuído
àquelas participações (partes, quotas, ações – Art. 25º nº1 CSC).
As sociedades em nome coletivo constituídas por sócios que entrem apenas com indústria ou
trabalho não têm capital social – Arts. 9º nº1 f) e 178º nº1 CSC. Todas as outras sociedades
têm capital social (nominal).
O CSC fixa os valores mínimos de capital com que certos tipos de sociedade terão de se
constituir:
 Sociedades por quotas – 1 euro (Art. 201º CSC)
 Sociedades anónimas e em comandita por ações – 50.000 euros (Arts. 276º nº3 e 478º
CSC)
Para as sociedades em nome coletivo e em comandita simples não está fixado qualquer valor
mínimo de capital social.

 Distribuição comercial
Contratos de distribuição: contratos que disciplinam as relações entre o produtor (ou o
importador) e o distribuidor.
Não se consideram os contratos com os consumidores. No entanto, até se poderia dizer (num
sentido muito amplo) que os contratos com os consumidores também são contratos de
distribuição. É através dos contratos com os consumidores (sobretudo através da compra e
venda) que os bens na realidade se transmitem ou distribuem.
Quando falamos de contratos de distribuição não nos interessa o ato final da transmissão do bem
ao consumidor, mas sim a atividade desenvolvida a montante, a atividade de intermediação
(instrumental e preparatória daquela transmissão).

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O que está aqui em questão não são as relações com o consumidor, mas as relações com o
produtor. Contratos que têm como sujeitos o produtor, de um lado, e o distribuidor de outro
lado, mas a contraparte do distribuidor tanto pode ser o produtor como o importador ou
grossista. No entanto, a lei, para efeitos de simplificação (já que corresponde ao caso típico),
limita-se a disciplinar as relações entre o distribuidor e o produtor e não as relações com os
consumidores (o que não quer dizer que não possam aparecer, pontualmente, nos respetivos
regimes jurídicos, disposições legais destinadas à proteção de terceiros, ou seja dos clientes
consumidores, como sucede em Portugal com o regime jurídico do contrato de agência). Estes
contratos visam escoar produtos, conquistar mercado, angariar clientela, pois não basta
produzir, é necessário vender.
Hoje quando falamos em distribuição temos sobretudo em mente uma atividade desempenhada
por sujeitos que se especializaram em distribuir os bens e em fazer chegar os bens ao
consumidor. A produção na época pré-industrial era orientada para o autoconsumo, canalizada
através de um comércio incipiente exercido via de regra pelo próprio fabricante. Mas a partir da
revolução industrial este quadro transformou-se devido ao aparecimento de novos métodos de
produção, dando lugar a uma produção em série ou em massa, excedentária, o que tornou
premente a necessidade de escoamento dos bens.
O aparecimento de especialistas em distribuição desenvolveu e aperfeiçoou a distribuição e
ainda libertou o produtor dessa preocupação.
A atividade de distribuição autonomizou-se
 O distribuidor interpôs-se entre o fabricante e o consumidor
 Adquiriu visibilidade, importância, um estatuto próprio
 O distribuidor tornou-se fundamental

Na própria atividade de distribuição foram-se operando mudanças, aperfeiçoamentos, evolução:


 Necessidades práticas e engenho foram modelando diferentes esquemas negociais;
 Do antigo contrato de comissão às formas modernas de agência, concessão, franquia;
 Acordos de venda exclusiva, de distribuição seletiva e de distribuição autorizada;
 A necessidade de uma eficaz distribuição dos produtos é fruto do desenvolvimento
económico. Acentuou-se particularmente com a revolução industrial e a expansão do
comércio.
Procura de novos mercados, distantes dos centros de produção tornava-se incomportável (em
custos e riscos) se apenas se fizesse através dos recursos da empresa. Por isso, em vez de fazer
deslocar os trabalhadores para locais distantes da sede ou de aí manter filiais e sucursais (com as
inerentes despesas de organização), a empresa optou por servir-se de pessoas estabelecidas
nessas zonas, aproveitando a sua organização, capacidade e credibilidade junto do público local.

Vantagens para a empresa:


 Evita despesas fixas: organização, salários, etc.;
 Consegue penetração nos mercados, utilizando intermediários já instalados e
conhecedores do mercado (e do público a que se dirigem);
 Busca de colaboradores da empresa (seus representantes no plano económico, mas
autónomos no plano jurídico, empenhados em prosseguir os interesses da empresa que
acabarão por ser também os seus - a sua retribuição dependerá, em boa medida, senão
exclusivamente) do volume de negócios que vier a ser alcançado).

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Uma primeira concretização desta colaboração foi o contrato de comissão, este permitia à
empresa que outrem (o comissário), atuando com independência e contratando em nome
próprio, mas por conta do comitente, fosse vendendo os bens a terceiros. Tornando-se, garante
da satisfação das obrigações assumidas pelos adquirentes (que o comitente não conhecia) a
troco de comissões sobre os contratos realizados.
Mas depressa se avançou para o contrato de agência, pois é a forma de colaboração mais
ajustada aos interesses da empresa, contando com os desenvolvimentos dos meios de
comunicação e com a facilidade de obter informações sobre os clientes e de os aproximar à
empresa. E também a produção em série, possibilidade de negociação com base em simples
amostras e a progressiva diminuição da importância histórica da comissão e crescente afirmação
do agente.
O agente também é independente e atua com autonomia, poupa à empresa custos de
organização e é remunerado em função dos resultados obtidos.
A empresa continua a beneficiar da confiança que o público local deposita no agente, mas agora
é a empresa que celebra os contratos com o cliente, limitando-se o agente a promover a sua
celebração e a angariar clientela.
No entanto, face ao desenvolvimento económico, outras formas de colaboração foram
aparecendo, tendo sempre em vista o mesmo objetivo último - a distribuição dos bens: a
concessão e a franquia. Esta evolução acentua uma crescente separação entre a fase da produção
e a fase da distribuição.
A tarefa do agente consiste em promover os negócios da empresa, mas cabe a esta a decisão
final de contratar com os clientes que o agente angaria e de concluir os contratos que o agente
promove e negoceia.
Na concessão comercial, o concessionário também é colaborador do concedente, mas é um
comerciante independente que compra para revenda que negoceia em seu nome e por conta
própria. No entanto, o concessionário assume perante o concedente uma série de obrigações
contratuais que permitem ao fabricante um relativo controlo da atividade distribuidora e que lhe
asseguram a venda de uma certa quota de bens. Este controlo está ausente do tradicional
contrato de fornecimento.

 Franquia ou franchising
A agência, a concessão e a franquia constituem hoje as principais modalidades dos contratos de
distribuição. Com uma ingerência mais acentuada do fabricante na fase da distribuição, chega a
dar a impressão ao cliente de que está a adquirir os bens diretamente ao fabricante (ou a uma
sua filial). Mas o franquiado é um distribuidor, independente do franquiador que no exercício da
sua atividade de distribuição atua com a imagem empresarial do franquiador, beneficia do
know-how que este lhe fornece e, por isso, tem de se sujeitar a um apertado controlo por parte
do franquiador.
 Embora se possa dizer que estas formas de colaboração podem assumir formas muito diversas,
coexistindo o pequeno comerciante ao lado das grandes superfícies e do comércio integrado, na
verdade a tendência é hoje para a organização (cada vez mais complexa) e para a concentração,
que assume cada mais importância a integração em redes de distribuição. Mas claro que nada
impede a distribuição direta em que os bens se transmitem diretamente do produtor para o
consumidor final seja na própria sede da empresa, seja através de pessoal dependente ou através

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de sucursais ou filiais. Mas atualmente assume particular importância a distribuição indireta
aproveitando as vantagens da divisão do trabalho e da especialização.
O produtor concentra-se na produção e no aparelho produtivo eenunciando ao controlo da
comercialização. A comercialização passa a ser feita por pessoas ou empresas especializadas
que se encarregam dessa tarefa (grossistas e retalhistas). Mas é possível encontrar formas
intermédias de coordenar a produção com a distribuição permitindo assim ao produtor intervir
na distribuição sem anular a autonomia das partes e possibilitando uma integração vertical
convencionada, através dos contratos de distribuição.
A distribuição indireta pode ser integrada ou não integrada, consoante exista ou não uma
coordenação entre a produção e a comercialização. Na distribuição integrada, o distribuidor
mantém a sua independência e autonomia jurídica suportando os custos da organização e, em
regra, como qualquer comerciante, suportando também os riscos da comercialização (embora no
caso do agente isso possa não ser tão nítido), mas é integrado na empresa ou no grupo do
produtor com o qual coordena e articula a sua atividade, o que implica ter que seguir as
diretrizes do produtor e sujeitar-se a uma certa orientação, controlo e fiscalização.
 Em contrapartida, o distribuidor vai usufruir de vários benefícios, provenientes de uma situação
de “privilégio” que lhe advém da sua integração naquela rede de distribuição.
 
Vantagens em termos de :

 Oganização
 Consistência
 Dinâmica
 Imagem
 Política de marketing
 Utilização do know how do produtor
Em resumo, a empresa pode distribuir os seus produtos e serviços através dos seus próprios
empregados e filiais ou recorrendo a terceiros (sem qualquer ligação a si) que atuarão por conta
e em nome próprio (como acontece com grossistas e retalhistas). Mas a empresa pode também
recorrer a esquemas intermédios utilizando pessoas independentes que colaborarão consigo, de
modo estável, na distribuição dos bens (agente, concessionário e franquiado). Assim, por via
contratual, o produtor acaba por intervir e controlar a fase da distribuição com custos e riscos
reduzidos ou de todo afastados graças a colaboradores independentes, mas que aceitam a
orientação e diretrizes do produtor em contrapartida das condições de comercialização
privilegiada de que passam a beneficiar seja em função da marca dos bens ou em função da
integração numa rede de distribuição.

Contrato de agência (Art. 1º DL 178/86) : agência é o contrato pelo qual uma das partes se
obriga a promover por conta da outra a celebração de contratos, de modo autónomo e estável e
mediante retribuição, podendo ser-lhe atribuída certa zona ou determinado círculo de clientes.
Complexa atividade material – prospeção de mercado, angariação de clientes, difusão dos
produtos e serviços, negociação.
A obrigação fundamental do agente é a de promover a celebração de contratos. A atividade do
agente antecede e prepara a conclusão dos contratos, mas aí já o agente não tem de intervir. Na
atividade do agente não estamos perante mera atividade publicitária. A obrigação de promover a

9 CONTRATOS COMERCIAIS
celebração de contratos compreende um vasto e diversificado conjunto de atos. Objetivo último
é o de conquista ou desenvolvimento do mercado. Claro que a atividade de publicitação dos
bens e serviços do principal também integra a atividade do agente, mas o agente deve ainda
visitar clientes, fornecer-lhe catálogos, amostras e listas de preços, iniciar e prosseguir
negociações e dirigir ao principal as encomendas e propostas negociais.
O agente tem de atuar nos dois sentidos – do principal para o cliente e do cliente para o
principal. A obrigação do agente é também a de prestar informações ao principal sobre a
situação do mercado, reações e gostos da clientela, estado da concorrência.
• Importância das funções que caberá ao agente desempenhar intermediário privilegiado
para o conhecimento e conquista do mercado.
• Importância do know-how do agente, da confiança que inspira no mercado, o seu
relacionamento pessoal com os clientes, a sua reputação, laços de fidelidade, gratidão, o
espírito de colaboração do agente com a empresa do principal, mas também o dever do
agente de zelar pelos interesses do principal.
O que torna o contrato de agência um contrato de gestão de interesses alheios em ordem à
realização plena das finalidades do contrato (Art. 6º DL 178/86).
Mas o contrato de agência, por si só, não confere ao agente poderes para celebrar contratos com
terceiros (com os clientes). O agente limita-se a fomentar a sua conclusão, a preparar a
celebração do contrato, mas não lhe cabe a celebração dos contratos que promove, exceto se lhe
tiverem sido conferidos poderes para tal.

- Distinção entre agência e mandato


Mandato (Art. 1157º CC) : é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou
mais atos jurídicos por conta da outra.
No contrato de agência, mesmo que o agente esteja autorizado a celebrar contratos, tratar-se-á
de simples atividade acessória, complementar da obrigação fundamental de promover a
celebração de contratos.
O agente só pode celebrar contratos em nome da outra parte se esta lhe tiver conferido, por
escrito, os necessários poderes (Art. 2º DL 178/86).
Se o principal tiver conferido ao agente poderes para celebrar contratos, o agente atuará em
nome do principal. Questão que se pode colocar é a de saber se o agente a quem tenham sido
conferidos poderes para celebrar contratos gozará, ou não, do poder de decidir por si se o
contrato é ou não de concluir e em que termos ou se tal poder de decisão compete ao principal.
Há que ter em conta o alcance (sentido e amplitude) dos poderes que o principal atribuiu ao
agente.
Mas parece que temos de considerar que nos termos do Art. 2º nº1 DL 178/86, em princípio, a
atribuição de poderes para celebrar contratos não integrará o poder de decisão. Temos aqui um
poder de representação do agente nas relações com terceiros (que a lei limita à celebração de
contratos) ao qual não corresponde um poder de gestão nas relações internas (relações principais
– agente) o poder de decisão continua a pertencer ao principal, pelo que o agente de facto
não goza de verdadeiros poderes de representação.

10 CONTRATOS COMERCIAIS
Mas isto não obsta a que não possam ser apresentadas ao agente reclamações ou outras
declarações respeitantes aos negócios concluídos por seu intermédio (Art. 2º nº 2 DL 178/86).
(ex: denúncia de vícios ou defeitos da coisa adquirida)
Tal como não obsta a que lhe seja legalmente atribuída uma legitimidade processual (e extra-
processual) ativa (ainda que restrita), no sentido de poder requerer as providências urgentes que
se mostrem indispensáveis em ordem a acautelar os direitos do principal (Art. 2º nº3 DL
178/86).

 Intervenção do agente na cobrança de créditos


Também o poder para cobrar créditos depende de autorização do principal (Art. 3º nº1 DL
178/86). Mas se o agente tiver poderes de representação, conferidos pelo principal, a lei
presume essa autorização para cobrança de créditos (Art. 3º nº2 DL 178/86), sendo encarregado
da cobrança de créditos, o agente terá direito a uma comissão especial (Art. 13º f) DL 178/86).
Art. 770º CC - Prestação feita a terceiro (A prestação feita a terceiro não extingue a obrigação,
excepto: a) Se assim foi estipulado ou consentido pelo credor; b) Se o credor a ratificar; c) Se
quem a recebeu houver adquirido posteriormente o crédito; d) Se o credor vier a aproveitar-se
do cumprimento e não tiver interesse fundado em não a considerar como feita a si próprio; e) Se
o credor for herdeiro de quem a recebeu e responder pelas obrigações do autor da sucessão; f)
Nos demais casos em que a lei o determinar.)
Se o agente cobrar créditos sem a necessária autorização, a prestação feita ao agente não
extingue a obrigação, exceto nas situações previstas no Art. 770º CC e exceto se o principal a
ratificar (Art. 268º nº1 CC - Representação sem poderes (O negócio que uma pessoa, sem
poderes de representação, celebre em nome de outrem é ineficaz em relação a este, se não for
por ele ratificado.))
No entanto, o regime jurídico da agência contém um regime especial no Art. 22º nº 2 DL
178/86 (Representação sem poderes - 2. Considera-se o negócio ratificado se a outra parte, logo
que tenha conhecimento da sua celebração e do conteúdo essencial do mesmo, não manifestar
ao terceiro de boa fé, no prazo de cinco dias a contar daquele conhecimento, a sua oposição ao
negócio.) Então a lei considera o negócio ratificado pelo principal. Este é um dos poucos casos
em que a lei, expressamente, atribui ao silêncio valor declarativo (Art. 218º CC - O silêncio
como meio declarativo (O silêncio vale como declaração negocial, quando esse valor lhe seja
atribuído por lei, uso ou convenção.)).
Outra exceção poderá verificar-se se o agente (que celebrou o negócio sem poderes de
representação, vier a adquirir posteriormente o crédito (Art. 770º CC).
Atenção: Art. 23º nº1 DL 178/86 - Representação aparente (1. O negócio celebrado por um
agente sem poderes de representação é eficaz perante o principal se tiverem existido razões
ponderosas, objetivamente apreciadas, tendo em conta as circunstâncias do caso que justifiquem
a confiança do terceiro de boa fé na legitimidade do agente, desde que o principal tenha
igualmente contribuído para fundar a confiança do terceiro.)
Ou seja, se o principal, com o seu comportamento, contribuir para criar no terceiro uma situação
de aparência de legitimidade do agente, então a lei protege o terceiro de boa fé e o negócio
torna-se eficaz perante o principal. Estamos aqui no âmbito da chamada representação aparente
que abrange quer os negócios celebrados por agente sem poderes de representação, quer a
cobrança de créditos por agente não autorizado. Esta proteção depende, no entanto, da
ocorrência cumulativa de requisitos objetivos e de requisitos subjetivos.

11 CONTRATOS COMERCIAIS
A questão da Aparência não é específica do contrato de agência, mas é um problema geral de
direito motivado pela necessidade de proteger e assegurar a confiança dos terceiros de boa fé. O
DL 178/86 estabelece, a este propósito, um dever de informação a cargo do agente (Art. 21º
DL 178/86) - “O agente deve informar os interessados sobre os poderes que possui” destinado a
assegurar a transparência, perante terceiros, acerca do conteúdo da relação interna que o liga ao
principal.
Nota: O Código do Registo Comercial veio considerar sujeito a registo o contrato de agência
“quando celebrado por escrito” (Art. 10º d) CRC), o que, dando publicidade aos factos
constantes do registo, contribui certamente para assegurar essa transparência.

Os contratos que o agente promove são normalmente contratos através dos quais o agente irá
vender os seus bens ou prestar os serviços que fornece razão pela qual o contrato de agência é
inequivocamente um contrato de distribuição. Mas o âmbito da agência pode ser mais alargado,
nada impedindo que a promoção dos contratos, a cargo do agente possa ser dirigida à aquisição
de bens e serviços para o principal.
O agente atua por conta do principal: a lei disciplina a relação interna entre o agente e o
principal.
Distintas serão as relações com terceiros, a culminar o processo de negociações conduzido pelo
agente (durante o qual o agente contacta os terceiros) o principal estabelece relações com os
clientes angariados pelo agente. Mas no exercício da sua atividade o agente atua sempre por
conta do principal, os efeitos dos atos que pratica destinam-se ao principal, repercutem-se o
projetam-se na esfera jurídica do principal.
Esta atuação por conta do principal é uma das notas características do contrato de agência e que
distingue este contrato da concessão ou da franquia: o concessionário e o franquiado atuam por
conta própria.
Atuar por conta de outrem será atuar no interessa dessa pessoa, o agente prossegue os interesses
do principal e deve zelar pela defesa dos interesses do principal “competindo-lhe zelar pelos
interesses da outra parte” – Art. 6º DL 178/86. - Há aqui uma relação de confiança entre as
partes.

 Autonomia do agente
O agente é independente e atua com autonomia, ao contrário do trabalhador (trabalhador por
conta de outrem, juridicamente subordinado à entidade patronal, o trabalhador trabalha sob a
autoridade e direção da entidade patronal) não está sujeito ao poder disciplinar da contraparte.
No entanto a autonomia do agente não é absoluta: ele deve conformar-se com as orientações
recebidas, adequar-se à política económica da empresa e prestar regularmente contas da sua
atividade. (Art. 7º DL 178/86). Mas isto sem prescindir da sua autonomia, o agente deve:
 “Respeitar as instruções da outra parte que não ponham em causa a sua autonomia” –
Artigo 7º a).
 Fornecer as informações que lhe forem pedidas ou que se mostrem necessárias a uma
boa gestão
 Esclarecer o principal sobre a situação de mercado e perspetivas dos clientes

12 CONTRATOS COMERCIAIS
A autonomia do agente permite-lhe considerar a necessidade de recurso a subagentes – Artigo
5º DL 178/86. E salvo convenção em contrário, o agente não tem direito de reembolso das
despesas incorridas no exercício normal da sua atividade – Artigo 20º DL 178/86.
Estabilidade: o agente exerce a sua atividade de modo estável, não tem em vista um ato
esporádico, uma operação isolada, mas tem um número indefinido de operações ou atuações.
Esta estabilidade é compatível com a fixação de prazos curtos (ex: é possível limitar-se a
eficácia do contrato a certos períodos ou épocas do ano).
No entanto, a atividade do agente não deve limitar-se à prática de um ato isolado, deve haver
uma atividade com continuidade dentro do período de tempo por que o contrato foi celebrado e
tem que existir uma relação contratual duradoura que não se extinga com um único ato de
cumprimento.
Art. 27º DL 178/86 - Duração do contrato (1. Se as partes não tiverem convencionado prazo,
o contrato presume-se celebrado por tempo indeterminado. 2. Considera-se transformado em
contrato de agência por tempo indeterminado o contrato por prazo determinado cujo conteúdo
continue a ser executado pelas partes, não obstante o decurso do respetivo prazo.) – É esta a
característica que distingue a agência do contrato de mediação.
O facto de o contrato se considerar celebrado por tempo determinado ou por tempo
indeterminado tem importância relativamente às formas de cessação do contrato (Arts. 26º e 28º
DL 178/86). No caso de contrato celebrado por tempo determinado, “o contrato de agência
caduca, especialmente, findo o prazo estipulado” (Art. 26º a) DL 178/86).
No caso de contrato celebrado por tempo indeterminado, a cessação do contrato ocorrerá por
denúncia do contrato.
Art. 28º DL 178/86 - Denúncia (1. A denúncia só é permitida nos contratos celebrados por
tempo indeterminado e desde que comunicada ao outro contraente, por escrito, com a
antecedência mínima seguinte: a) Um mês, se o contrato durar há menos de um ano; b) Dois
meses, se o contrato já tiver iniciado o 2.º ano de vigência; c) Três meses, nos restantes casos. 2.
Salvo convenção em contrário, o termo do prazo a que se refere o número anterior deve
coincidir com o último dia do mês. 3. Se as partes estipularem prazos mais longos do que os
consagrados no nº 1, o prazo a observar pelo principal não pode ser inferior ao do agente. 4. No
caso previsto no nº 2 do artigo 27.º, ter-se-á igualmente em conta, para determinar a
antecedência com que a denúncia deve ser comunicada, o tempo anterior ao decurso do prazo.)
No entanto, o disposto no Art. 27º nº2 DL 178/86 pode deixar algumas situações de dúvida,
parece que este artigo não se aplicará (ou seja, a consequência aí prevista de transformação do
contrato por tempo determinado em contrato por tempo indeterminado não se verificará) nos
casos em que as partes, tendo celebrado o contrato por determinado período de tempo
estipularem, elas próprias, de comum acordo, que o contrato se prorrogará por um outro período
de igual ou diferente duração.
Essa estipulação das partes poderá fixar o número máximo de prorrogações possíveis ou, pelo
contrário, não estabelecer qualquer limite. Se não for estabelecido número máximo de
prorrogações, o contrato prorrogar-se-á por períodos sucessivos se nenhuma das partes se
opuser (e se nenhuma das partes denunciar o contrato, nos termos do Art. 28º DL 178/86).
Neste caso, a declaração pela qual se faz cessar o contrato está sujeita à mesma antecedência
mínima estabelecida no Art. 28º DL 178/86.

13 CONTRATOS COMERCIAIS
Garantias dos contraentes : cada contraente tem a garantia de que o outro só poderá fazer
cessar o contrato (impedir a sua prorrogação) após ter decorrido o período de tempo
inicialmente previsto (período mínimo de vigência do contrato). A cessação só poderá ocorrer
no termo do período inicial ou no termo de qualquer dos períodos sucessivos. A declaração de
cessação tem de respeitar os prazos previstos no Art. 28º DL 178/86.
Atenção: Art. 27º nº2 DL 178/86 - Duração do contrato (2. Considera-se transformado em
contrato de agência por tempo indeterminado o contrato por prazo determinado cujo conteúdo
continue a ser executado pelas partes, não obstante o decurso do respetivo prazo.)
Para a transformação do contrato em contrato por tempo indeterminado exige-se que continue a
ser executado pelas partes (por ambas). Não haverá transformação do contrato se:
 apenas uma das partes estiver a forçar uma situação de aparência de continuação de
execução, mas sem a anuência (com a oposição) da outra parte;
 os atos praticados pelas partes após o decurso do prazo forem atos que devam ser
interpretados apenas como atos de liquidação do contrato anterior, cuja renovação as
partes claramente não desejam.

Retribuição do agente: a agência é um contrato oneroso e pressupõe, portanto, uma obrigação


de retribuição, a cargo do principal. A retribuição determina-se com base, fundamentalmente,
no volume de negócios conseguido pelo agente. O agente é remunerado em função dos
resultados obtidos pelo que a retribuição assume um carácter variável sob a forma de comissão
ou de percentagem calculada sobre o valor dos negócios alcançados. Mas nada obsta a que a
comissão possa cumular-se com qualquer importância fixa acordada entre as partes.
Art. 16º DL 178/86 - Direito à comissão (1. O agente tem direito a uma comissão pelos
contratos que promoveu e, bem assim, pelos contratos concluídos com clientes por si
angariados, desde que concluídos antes do termo da relação de agência. 2. O agente tem
igualmente direito à comissão por atos concluídos durante a vigência do contrato se gozar de um
direito de exclusivo para uma zona geográfica ou um círculo de clientes e os mesmos tenham
sido concluídos com um cliente pertencente a essa zona ou círculo de clientes. 3. O agente só
tem direito à comissão pelos contratos celebrados após o termo da relação de agência provando
ter sido ele a negociá-los ou, tendo-os preparado, ficar a sua conclusão a dever-se,
principalmente, à atividade por si desenvolvida, contanto que em ambos os casos sejam
celebrados num prazo razoável subsequente ao termo da agência.)
Art. 18º nº1 DL 178/86 - Aquisição do direito à comissão (1. O agente adquire o direito à
comissão logo e na medida em que se verifique uma das seguintes circunstâncias : a) O
principal haja cumprido o contrato ou devesse tê-lo cumprido por força do acordo concluído
com o terceiro ; b) O terceiro haja cumprido o contrato.
Convenção del credere (Art. 10º DL 178/86): O agente pode garantir, através de convenção
reduzida a escrito, o cumprimento das obrigações de terceiro, desde que respeitantes a contrato
por si negociado ou concluído.
Art. 18º nº 4 DL 178/86 – Aquisição do direito à comissão (4. Existindo convenção del
credere, pode, porém, o agente exigir as comissões devidas uma vez celebrado o contrato.)
Na questão da sucessão de agentes no tempo, o agente não tem direito à comissão por contrato
celebrado na vigência do seu contrato de agência nos casos em que o anterior agente comprovar
que a conclusão do contrato ficou a dever-se principalmente à atividade por ele desenvolvida,

14 CONTRATOS COMERCIAIS
nos termos do Art. 16º nº3 DL 178/86. Neste caso, a comissão é devida ao agente anterior (Art.
17º DL 178/86).
Esta questão pode também colocar-se (em termos análogos) em situações que não são
propriamente de sucessão de agentes.
Exemplo: Um cliente, angariado pelo agente A, mudou-se para outra zona, onde o agente B tem
contrato de exclusividade. Celebrado o contrato, quem tem direito à comissão?
 O agente. A que efetivamente foi quem angariou o cliente?
 O agente B que tem o exclusivo da zona onde reside o cliente?
R: Parece que deverá ser o agente A (que efetivamente angariou o cliente) que deverá receber a
comissão. No entanto, a questão terá de ser analisada caso a caso.

Na questão do agente exclusivo, a lei assegura o seu direito à retribuição mesmo que o cliente
não tenha sido por si angariado nem o contrato tenha sido por si promovido. Desde que o
contrato tenha sido concluído com alguém pertencente à zona ou círculo de clientes que lhe foi
reservado (Art. 16º nº 2 DL 178/86).
Mas a qualidade de agente exclusivo “depende de acordo escrito das partes a concessão do
direito de exclusivo a favor do agente, nos termos do qual a outra parte fique impedida de
utilizar, dentro da mesma zona ou do mesmo círculo de clientes, outros agentes para o exercício
de atividades que estejam em concorrência com as do agente exclusivo” (Art. 4º DL 178/86).
Ou seja, o direito de exclusivo a favor do agente passou a depender do consentimento do
principal. Se o contrato nada disser, o principal não está impedido de utilizar outros agentes,
ainda que dentro da mesma zona ou círculo de clientes para o exercício de atividades
concorrentes com as do agente.
Porém, o agente está impedido de exercer, por conta própria ou por conta de outrem, atividades
concorrentes com a do principal.
Art. 6º DL 178/86 - Princípio geral (No cumprimento da obrigação de promover a celebração
de contratos, e em todas as demais, o agente deve proceder de boa fé, competindo-lhe zelar
pelos interesses da outra parte e desenvolver as atividades adequadas à realização plena do fim
contratual.) O que dificilmente se coadunaria com o exercício, pelo agente, de atividades
concorrentes com a do principal, sem o prévio consentimento deste.
Mas a obrigação de não concorrência do agente com o principal pode ter ainda uma outra
consequência, relativamente ao regime da cessação do contrato - Art. 9º DL 178/86 -
Obrigação de não concorrência - Por acordo escrito das partes no contrato de agência, pode
ser estabelecida a obrigação de o agente não exercer, após a cessação do contrato, as atividades
que estejam em concorrência com as da outra parte:
 Por um período máximo de dois anos;
 E circunscrito à zona ou círculo de clientes confiado ao agente;

O agente tem ainda, naturalmente, perante o principal, uma obrigação de segredo


(confidencialidade, sigilo) - Art. 8º DL 178/86 - Obrigação de segredo (O agente não pode,
mesmo após a cessação do contrato, utilizar ou revelar a terceiros segredos da outra parte que
lhe sejam sido confiados ou de que ele tenha tomado conhecimento no exercício da sua
atividade, salvo na medida em que as regras da deontologia profissional o permitam).

15 CONTRATOS COMERCIAIS
Partes do contrato de concessão comercial: concedente e concessionário.
 Contrato legalmente atípico: não está diretamente regulado por lei.
No entanto, a jurisprudência tem-se debruçado bastante sobre este contrato, que assume um
grande relevo no âmbito da distribuição comercial. Antecedente do contrato de concessão
comercial era o contrato de venda “exclusiva”. O desenvolvimento económico, a evolução do
comércio e da indústria, o aperfeiçoamento das técnicas de marketing e de distribuição vieram
alterar a relação entre o distribuidor e o produtor passando-se da mera exclusividade para a
imposição de certas cláusulas ao distribuidor.
O distribuidor passou não só a ter a obrigação de adquirir bens do produtor para revenda, mas
também de promover a sua comercialização em conformidade com as indicações do produtor.
Em contrapartida desta obrigação a cargo do distribuidor e das limitações a que possa a estar
submetida a sua atividade, é-lhe concedida uma posição de privilégio na comercialização de
determinados bens.

Benefícios para o concessionário:


Pelo contrato de concessão concede-se a outrem o privilégio de comercializar determinados
bens (pré-vendidos):
 Que gozam de uma notoriedade de marca;
 Que beneficiam da publicidade/visibilidade;
 Que são integrados numa rede de distribuição;
 Que garantem vantagem concorrencial e oportunidades de ganho em face dos demais
comerciantes.
Benefícios para o concedente:
 Afasta de si o risco da comercialização (risco transferido para o concessionário);
 Assegura o escoamento dos bens sem perder o controlo da distribuição e sem ter de
suportar os custos de organização e outros custos que teria de suportar se fosse ele a
encarregar-se da distribuição.
Setores de atividade em que mais se recorre à atividade de concessionários:
 Veículos automóveis;
 Produtos de marca e produtos de alta qualidade;
 Bebidas, vestuário, perfumes, eletrodomésticos, maquinaria, material informático.
O contrato de concessão faz surgir entre as partes uma relação obrigacional complexa. Uma
parte (o concedente) obriga-se a vender à outra (o concessionário). O concessionário obriga-se a
comprar ao concedente determinada quota de bens para revenda aceitando certas obrigações (no
que respeita à sua organização, política comercial e assistência a prestar aos clientes) e
sujeitando-se a um certo controlo e fiscalização do concedente.
O contrato de concessão supõe uma relação de colaboração estável, duradoura, de conteúdo
múltiplo cuja execução implica a celebração de futuros contratos entre as partes pelos quais o
concedente vende ao concessionário, para revenda, nos termos previamente estabelecidos, os
bens que este se obrigou a distribuir.

16 CONTRATOS COMERCIAIS
Ao contrário do agente, o concessionário atua em seu nome e por conta própria, adquire a
propriedade da mercadoria (em princípio), compra para revenda e assume os riscos da
comercialização.

Podemos chamar ao contrato de concessão um contrato-quadro.


Contrato de concessão: estabelece os termos da colaboração entre as partes, articula e
coordena a atividade das partes no seio da rede de distribuição (com regras que implicam
obrigações para as partes, sobretudo a obrigação de compra para revenda). Posição de
dependência do distribuidor, constrangido a acatar obrigações várias tendo de harmonizar a sua
atuação com a da rede em que se integra.
No entanto, o distribuidor também retira benefícios pelo facto de passar a estar integrado numa
rede organizada:
 Dever de promoção pelo concessionário dos bens distribuídos;
 Conjunto de características que justificam a aplicação a este contrato, em princípio, do
regime da agência ou melhor, que justifica que o regime da agência possa ser visto
como o regime-modelo dos contratos de distribuição.

Traços de distinção entre agência e concessão:


 A obrigação de compra para revenda;
 O modo de atuação do concessionário - atuação do concessionário por sua conta e em
seu próprio nome.
Mas a integração do concessionário na rede de distribuição do concedente, a colaboração entre
as partes e a promoção dos bens distribuídos aproximam o contrato de concessão e o contrato de
agência e justificam o recurso à disciplina da agência.
A integração na rede de distribuição torna mais fácil ao concedente impor a sua política
comercial e controlar a fase da distribuição. Mas o concessionário também retira daí benefícios:
posição de privilégio e vantagem concorrencial.
No entanto, a equiparação do concessionário ao agente para o efeito de beneficiar do regime
jurídico previsto para a agência dependerá do grau de intensidade com que se apresentam os
pontos comuns aos dois contratos e da imagem global que daí resulte não sendo indispensável a
presença simultânea de todas as características que definem o agente.

Retoma dos bens em stock


Questão importante é a de saber se o concedente nos casos em que o concessionário adquiriu a
propriedade dos bens, no termo do contrato, estará ou não obrigado à retoma dos bens em stock.
Via de regra, o concessionário adquire a propriedade dos bens ao concedente, mas, extinto o
contrato, o concessionário ficará impedido de revender esses bens apesar de os bens lhe
pertencerem porque se trata de bens de marca e ele deixou de ser o representante dessa marca,
cessou a autorização para revender bens daquela marca que lhe era conferida pelo contrato.
Esta situação pode acarretar avultados prejuízos ao concessionário. Deve haver um especial
cuidado das partes num contrato de concessão comercial em regularem previamente esta

17 CONTRATOS COMERCIAIS
questão através de cláusula inserida no contrato de concessão (no momento da cessação pode
não ser fácil as partes entenderem-se sobre isto).

Na falta de cláusula expressa:


Em princípio não será possível impor ao concedente a obrigação de retoma dos bens por falta de
base legal e de base contratual. Mas este princípio pode resultar particularmente severo para o
concessionário, sobretudo nos casos em que a cessação do contrato é devida a culpa do
concedente. Nestes casos, a reparação do concessionário poderá compreender a obrigação de
retoma ou tais prejuízos serem imputados na indemnização a que ele terá direito.
Mas em alguns casos, à luz do princípio da boa fé, poderá ter de se concluir que tais compras
teriam sido feitas sob condição resolutiva. O distribuidor teria comprado os bens para revenda.
Mas a cessação do contrato de distribuição antes de o distribuidor ter procedido à revenda dos
bens seria o acontecimento – condição que determinaria a resolução dessa compra com a
consequência de cada parte ter de restituir o que recebeu:
 O concessionário restituiria os bens;
 O concedente restituiria o dinheiro recebido.

Artigo. 239º CC - Integração (Na falta de disposição especial, a declaração negocial deve ser
integrada de harmonia com a vontade que as partes teriam tido se houvessem previsto o ponto
omisso, ou de acordo com os ditames da boa fé, quando outra seja a solução por eles imposta.)
Concessão e distribuição seletiva
O distribuidor seletivo também é um comerciante independente que compra para revenda
atuando em seu nome e por conta própria. O distribuidor seletivo não beneficia do privilégio de
um direito de exclusividade. O concessionário pode beneficiar ou não de um direito de
exclusividade.
A distribuição seletiva responde às preocupações das titulares marcas importantes:
 Sistema de comercialização de produtos de marca sobretudo produtos de luxo e de alta
tecnicidade;
 Interesse em controlarem a distribuição, mantendo e assegurando o prestígio da marca e
a qualidade dos serviços através de apurada seleção de revendedores e de instalações
comerciais adequadas.

Produtos de luxo: o produtor/fabricante não quererá que sejam vendidos em qualquer sítio ou
por qualquer comerciante.
Produtos de alta tecnicidade: o produtor/fabricante pretenderá dispor de revendedores
competentes e capazes de assegurar serviços pós-venda eficazes.
O produtor/fabricante seleciona os seus revendedores em função de requisitos rigorosos e
apertados, normalmente de ordem qualitativa, só fornecendo os seus bens a esses revendedores.
Nada impede que o revendedor comercialize outros bens concorrentes, mas só pode adquirir os
produtos junto do fabricante ou de revendedor selecionado.

18 CONTRATOS COMERCIAIS
O distribuidor seletivo não beneficia de qualquer direito de exclusivo podendo ter de se
confrontar com outro revendedor seletivo da mesma marca a atuar perto de si.
Também aqui se torna necessária a colaboração entre as partes com um contrato-quadro, através
do qual se define e executa a política comercial do fabricante e se procede à integração do
revendedor na rede de distribuição seletiva. No entanto, estas características também se
encontram no contrato de concessão, mas com menor intensidade no contrato de distribuição
seletiva e, neste caso, há uma espécie de especialização do distribuidor seletivo em função das
razões específicas que determinaram o produtor/fabricante a procurar um distribuidor seletivo.
Podem colocar-se aqui questões de direito de concorrência, mas estes contratos tendem a
assegurar um melhor serviço aos consumidores.

Contrato de distribuição autorizada


Existe aqui uma menor integração do distribuidor na rede do fabricante. Os critérios de seleção
dos revendedores autorizados são muito menos rigorosos:
 controlo pelo fabricante é muito inferior;
 distribuidor autorizado não é o único a poder revender os produtos;
 o fabricante/produtor/fornecedor não está impedido de vender também a revendedores
não autorizados.
Aula 9 – 10/05/2021
Contrato de Franquia : contrato celebrado entre franquiador e franquiado.
 Resultado de uma evolução em que se vai acentuando a crescente ingerência do
produtor/fabricante na atividade de distribuição.
 Mais um desenvolvimento (mais um passo dado) para lá do contrato de concessão
comercial.
 Uma forma mais estreita de cooperação entre empresas independentes.
 Um grau mais elevado de integração do distribuidor na rede do produtor/fabricante.
 Capaz até de gerar no público alguma confusão quanto à pessoa (singular ou coletiva)
que realmente se encarrega da distribuição.
Franquia: ideia de que a comercialização dos bens é direito ou « prerrogativa soberana » do
produtor mas o produtor pode conceder a outrem o privilégio de vender esses bens.
Franquiado: atua por si e em seu nome, mas sob a imagem e controlo do produtor e é
autorizado a utilizar a marca, o nome, as insígnias e demais sinais distintivos do comércio do
franquiador.
Franquiador: fornece ao franquiado assistência, conhecimentos (know-how), regras de
organização, planos de comercialização, planos de marketing e apresenta uma série detalhada e
minuciosa de prescrições que o franquiado deve observar estritamente.
Essas prescrições são dispostas em condições de uniformidade para todos os franquiados, de
modo a que o franquiador possa controlar a atividade daqueles e zelar pela qualidade dos
produtos e serviços fornecidos sob a sua marca para preservação da imagem e reputação do
produtor e para preservação da imagem e reputação dos bens que comercializa. Há um rigoroso
controlo por parte do franquiador, no entanto os franquiados conservam a sua independência.
A vinculação (do franquiado) ao franquiador decorre do contrato. O contrato de franquia como
contrato de distribuição. Contrato pelo qual o produtor concede a outrem, mediante

19 CONTRATOS COMERCIAIS
contrapartidas, a comercialização dos seus bens, através da utilização da marca e dos demais
sinais distintivos do produtor, em conformidade com o plano, método e diretrizes estabelecidas
pelo produtor, fornecendo o produtor ao franquiado conhecimentos (know-how) e assistência
regular.
Vantagens para o franquiador:
 Passa a controlar e a dirigir a distribuição dos seus bens através de empresas
independentes como se fosse uma filial sua a atuar, mas sem os pesados custos e os
riscos inerentes à manutenção de uma filial;
 O franquiar continua a poder zelar por (e a garantir) uma elevada qualidade dos serviços
prestados uniformizando as condições de venda dos seus produtos e difundido o seu
nome e as insígnias e marcas dos seus produtos;
 Recebe ainda contrapartidas financeiras pela fórmula que criou e que assim vai
explorando.
Vantagens para o franquiado:
 Beneficia da possibilidade de comercializar bens já conhecidos do público (bens pré-
vendidos), utilizando a marca e demais sinais distintivos de uma grande empresa (com
uma projeção muito mais visível, muitas vezes até com grande projeção internacional) –
benefício da utilização da imagem e reputação de outrem;
 Poupa investimentos que de outro modo teria de suportar;
 Não tem de se sujeitar aos riscos sempre inerentes ao lançamento de produtos e/ou
serviços;
 Poupa investimentos publicitários;
 Passa a fazer parte de um sistema de integração vertical, que lhe permite beneficiar
comercialmente do poderio e renome de uma grande empresa.
Cada vez mais se nota na área comercial que não basta ter um produto (ainda que seja um bom
produto) para aceder a um mercado, pois é cada vez mais necessário ter algo mais:
 Uma qualificação, uma marca, uma aparência
 Uma imagem, uma roupagem personalizada
 Um emblema, uma ideia ou um formato inovador e atrativo

Franquia ou franchising: contrato pelo qual alguém (franquiador) autoriza e possibilita que
outrem (franquiado), mediante contrapartidas, atue comercialmente, produzindo e/ou vendendo
produtos e/ou serviços do franquiador, de modo estável usando para isso a fórmula de sucesso
do franquiador (sinais distintivos, conhecimentos – know-how -, assistência) e surja aos olhos
do público com a imagem empresarial do franquiador, obrigando-se o franquiado a atuar nos
termos definidos pelo franquiador, a respeitar as indicações que lhe forem sendo dadas e a
aceitar (e ficando sujeito ao) controlo e fiscalização do franquiador.

Traços de comparação e de distinção entre contrato de concessão e contrato de franquia:


 Tanto o concessionário como o franquiado compram para revenda, atuando em seu
nome e por conta própria e assumindo os riscos da comercialização;

20 CONTRATOS COMERCIAIS
 Habitualmente, tanto o concessionário como o franquiado beneficiarão de um direito de
exclusivo;
 Em ambos os casos, se poderá verificar uma obrigação de assistência aos clientes;
 Bem como uma interferência e um controlo da contraparte (concedente/franquiador) na
organização do concessionário/franquiado.

No entanto, os dois contratos são bem distintos e as diferenças claras:


 A ingerência do franquiador na atividade do franquiado, na sua organização, nos planos
de fabrico, produção, métodos de venda, política e planos de marketing é muito mais
acentuada e extensa na franquia do que na concessão.
 Na concessão, o concessionário atua sob nome e insígnia próprios e utiliza métodos de
comercialização seus embora tenha de adequar-se à política comercial do concedente.
 Na franquia, o franquiado atua com os sinais do franquiador e utiliza o know-how que o
utilizador lhe fornece.
 Do contrato de franquia decorre, para o exterior, uma identificação (querida pelas
partes) entre os contraentes, o que leva o franquiado a atuar com a imagem empresarial
do franquiador.
 O franquiado comercializa os bens mediante a utilização obrigatória da marca e demais
sinais distintivos de comércio pertencentes ao franquiador.
 No contrato de franquia, a autorização, pelo franquiador, para a utilização destes sinais
pelo franquiado é necessariamente acompanhada pelo fornecimento de know-how pelo
franquiador, bem como de assistência, fornecimento de métodos de comercialização e
planos de mercado, conhecimentos tecnológicos, diretrizes sobre a política de
marketing e meios publicitários a utilizar.

Elementos fundamentais do contrato de franquia


Modalidades do contrato de franquia
1) Franquia de serviços: o franquiado oferece serviços sob a insígnia, o nome comercial ou a
marca do franquiador, conformando-se às diretrizes deste (serviços de Rent a Car – ex: Avis,
Hertz);
2) Franquia industrial ou de produção: é o próprio franquiado que fabrica, segundo as
indicações do franquiador, produtos que o franquiado vende sob a marca do franquiador
(bebidas – ex: Coca-Cola, Pepsi Cola);
3) Franquia de distribuição: limita-se o franquiado a vender certos produtos num local que
usa a insígnia do franquiador (Roupas - ex: Benetton, Zara, Cenoura).
Na verdade, quando na Europa falamos de franchising ou franquia, estamos normalmente a falar
do chamado package franchising, onde o franquiador autoriza o franquiado a atuar de acordo
com a sua imagem empresarial. Diferente será o caso do chamado product franchise.
Product franchise: simples licença para vender produtos de marca em exclusividade ou
conjuntamente com outros produtos, que corresponde a um franchising de primeira geração
(com menor integração do franquiado na rede do franquiador) e que suscita dificuldades de
delimitação relativamente a outros contratos (por exemplo, de distribuição seletiva e de
distribuição autorizada).

21 CONTRATOS COMERCIAIS
Master franchise: (importante a nível internacional) o franquiador acorda com alguém
(franquiado) situado na zona ou mercado onde ele pretende entrar e que o franquiado celebre
contratos de franquia com terceiros sub-franquiados. No Master Franchise temos a coexistência
de um contrato de franquia principal e depois de vários subcontratos de franquia.

Aqui a questão é saber se o contrato principal se deverá ou não qualificar como autêntico
contrato de franquia ou apenas como mero contrato de utilização de marca para futuros
contratos de franquia. A questão deverá ser considerada caso a caso e dependerá da concreta
configuração do contrato principal:
 dos detalhes do mesmo;
 das obrigações que impendam sobre o franquiado;
 do modo como se processa o controlo pelo franquiador;
 das obrigações de assistência assumidas pelo franquiador.
Também o franchising é um contrato legalmente atípico :
 É um contrato misto com componentes de um contrato de gestão de interesses alheios e
de licença de exploração de direitos de propriedade industrial.
 É um contrato-quadro que faz surgir entre as partes uma relação duradoura pautada por
estreita colaboração e apertados laços de confiança entre as partes. Esta questão da
confiança pode tornar-se particularmente relevante para efeitos da resolução do
contrato.
O contrato de franquia tem um outro traço fundamental em comum com os restantes contratos
de distribuição: a obrigação para o franquiado de promover os interesses da outra parte (o que
constitui um ponto importante para o recurso, também aqui, às regras do contrato de agência),
mas o regime das cláusulas contratuais gerais também terá que ser considerado – muitos
contratos de franquia são, na verdade, complexos contratos de adesão, assim como as questões
relativas à responsabilidade do produtor.
No entanto, poderá dizer-se que a aplicabilidade das normas do contrato de agência ao contrato
de franquia (dentro dos mesmos parâmetros do contrato de concessão comercial), encontra
apoio em decisões jurisprudenciais, que consideram o contrato de agência como paradigmático
dos contratos de distribuição e na doutrina (Menezes Cordeiro) também se vem considerando a
agência como a figura-matriz dos contratos de distribuição.
Mas a aplicação do regime jurídico da agência aos restantes contratos de distribuição não
poderá ser automática, antes deverá fazer-se através do recurso à analogia.
Mas o regime jurídico do contrato de agência é importante a este respeito, especialmente no que
se refere ao capítulo sempre delicado da cessação do contrato (ex: a chamada indemnização de
clientela). Indemnização de clientela: destinada a indemnizar alguém pelos benefícios de que
outrem (o principal, o concedente, o franquiador) continue a usufruir após o termo do contrato e
que devam creditar-se ainda, no essencial, à atividade do primeiro (agente, concessionário,
franquiado) antes de o contrato cessar.
Questão de saber se o agente, o concessionário ou o franquiado, no caso concreto, pelos
serviços que prestaram, tarefas que cumpriram, funções que exerceram, poderão ou não ser
considerados como relevante fator de atração de clientela. Mas questão é saber também se, tal
como acontece no contrato de agência, se também nos casos da concessão e franquia, o
concedente ou franquiador virão (ou não) a beneficiar dessa clientela. Em muitos casos, eles não

22 CONTRATOS COMERCIAIS
teriam possibilidade de se aproveitarem da clientela após a cessação do contrato, ou seja, os
clientes do distribuidor (não do concedente, nem do franquiador).
No entanto, há casos em que o próprio contrato (de concessão ou de franquia) pode vincular o
concessionário (ou franquiado) a transferir a clientela no momento da cessação do contrato. Mas
também se tende a considerar hoje em dia que o benefício de clientela existe
(independentemente da existência ou não dessa vinculação no contrato) se no decurso do
contrato, por força das obrigações contratuais impostas ao concessionário ou franquiado o
concedente ou franquiador tiver acesso aos dados de clientela em poder da outra parte, através
do cumprimento por este de deveres contratuais com esse alcance. Em termos tais que, ao findar
a relação contratual entre as partes o concedente ou franquiador fique de facto com a clientela
acessível beneficiando ou podendo beneficiar do trabalho desenvolvido pela outra parte durante
o período de duração do contrato.

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