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Sociedades Comerciais

 Dicotomia do vocábulo – uso da expressão em dois


sentidos distintos

1. Sociedade – negócio jurídico/contrato – Código Civil


(CC)

2. Sociedade – sujeito/empresário comercial – Código das


Sociedades Comerciais (CSC)
Sociedades Comerciais

Art. 977º do CC

“Contrato de sociedade é aquele em que duas ou


mais pessoas se obrigam a contribuir com bens ou
serviços para o exercício em comum de certa
actividade económica, que não seja de mera fruição,
a fim de repartirem os lucros resultantes dessa
actividade.”
Sociedades Comerciais

Art. 1º, n.º 2, do CSC


“São sociedades comerciais aquelas que exerçam a sua
atividade através de uma empresa comercial.”

Art. 36º do Código Comercial (CCom)


“A firma dos empresários comerciais pessoas colectivas
que não sejam sociedades…”
Sociedades Comerciais

❖ Noção legal

Da conjugação do art. 977º do CC (noção de sociedades) e


do art. 1º, n.º 2, do CSC (que determina quando é que uma
sociedade é considerada comercial) resulta a seguinte
definição legal de sociedade comercial

“Agregação de duas ou mais pessoas que se obrigam a


contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum
de certa actividade económica, que não seja de mera
fruição, através de uma empresa comercial, a fim de
repartirem os lucros resultantes dessa actividade.”
Sociedades Comerciais
Elementos do conceito:
 Pessoal – duas ou mais pessoas;

 Patrimonial – contribuem com bens ou serviços;

 Finalístico
– exercício de uma actividade económica
que não seja de mera fruição, no âmbito de uma
empresa comercial;

 Teleológico – lucro;
ELEMENTO PESSOAL

Pluralidade de sócios – mínimo 2


Excepções:
➢ Sociedades Unipessoais (SQ e SA)
Art. 228º, n.º 1, do CSC – “A sociedade unipessoal por quotas é
constituída por um sócio único, pessoa singular ou coletiva,
que é o titular da totalidade do capital social.”

Art. 352º, n.º 1, do CSC - “Uma sociedade pode constituir uma


sociedade anónima de cujas ações ela seja inicialmente a
única titular.”

Estado pode criar, através de uma lei, uma sociedade


unipessoal de capital público.
ELEMENTO PESSOAL

 Sociedades Cooperativas

Sociedades Cooperativas de primeiro grau – mínimo 6 sócios


Art. 359º, n.º 1, do CSC – “As cooperativas de primeiro grau
só podem constituir-se com um número mínimo de seis
fundadores.”

Sociedades Cooperativas de Consumo – mínimo 20 sócios


Art. 359º, n.º 2, do CSC - “As cooperativas de consumo só
podem constituir-se com um número mínimo de vinte
fundadores.”
ELEMENTO PATRIMONIAL
 Património próprio e autónomo (distinto do património
pessoal dos sócios)

✓ Património social inicial = somatório das entradas dos


sócios

 Entradas
✓ Serviços (ao abrigo do CSC deixou de ser possível as
entradas em serviços com a eliminação dos tipos sociais
onde tais entradas eram legalmente admissíveis –
sociedades em nome colectivo e sociedades em
comandita)
✓ Espécies – bens penhoráveis [art. 21º, al a), do CSC]
✓ Dinheiro
ELEMENTO PATRIMONIAL

 Funções das entradas:

 Formação do património inicial da sociedade;

 Definição da proporção da participação social de


cada sócio;

 Fixaçãodo capital social (cifra correspondente à


soma das entradas em dinheiro e em espécie);
ELEMENTO FINALÍSTICO
Objecto da Sociedade

 Actividade económica que não seja de mera fruição


no âmbito de uma empresa comercial
 Actividade comercial – série de actos de comércio. A
sociedade não pode ser constituída para a prática de
um acto único, isolado ou esporádico.
 Art. 9º do C. Com – são comerciais os actos resultantes
de uma actividade para o mercado através de uma
empresa comercial
ELEMENTO FINALÍSTICO
 Empresa Comercial

Art. 2º do CCom.

“A Empresa é toda a organização de fatores produtivos


para o exercício de uma atividade económica destinada
ao mercado, nomeadamente para produção, a
circulação, a oferta e a troca sistemática e vantajosa de
bens ou serviços no mercado.”
ELEMENTO TELEOLÓGICO
 Escopo lucrativo
✓ Fim mediato – intuito de obtenção do lucro

✓ Lucro Objectivo + Lucro Subjectivo – obtenção e


distribuição do lucro pelos sócios

❖ LucroObjectivo em sentido amplo – qualquer


vantagem económica

❖ Lucro Subjectivo – distribuição de dividendos


proporcional às participações sociais[arts. 22º, al. a), e
23º do CSC]
TIPICIDADE E TIPOS SOCIAIS

 Princípio da Tipicidade – art. 1º, n.º 3, do CSC

“As sociedades comerciais devem adotar um dos


seguintes tipos:
a) Sociedade por quotas;
b) Sociedade anónima;
c) Sociedade cooperativa.”
TIPICIDADE E TIPOS SOCIAIS
 Tipos Sociais

✓ Modelos ou formas distintas de regulação das


relações entre os sócios, entre estes e a sociedade,
entre esta e terceiros, bem como entre os sócios e
terceiros.

✓ Cada tipo – conjunto de características gerais,


imprescindíveis e não imprescindíveis
TIPICIDADE E TIPOS SOCIAIS
 Tipos Legais

i) Sociedade por quotas (SQ)– arts. 172º a 233º do CSC;


ii) Sociedade anónima (SA)– arts. 234º a 353º do CSC;
iii) Sociedade cooperativa (Coop) – arts. 354º a 391º
do CSC;
iv) Sociedade em nome colectivo (SNC);
v) Sociedade em comandita (SCom) – simples ou por
acções.
TIPICIDADE E TIPOS SOCIAIS
Sociedades em nome colectivo e Sociedades em
comandita

As sociedades em nome colectivo e as sociedades em comandita


são tipos sociais regulados no já revogado Código das Empresa
Comerciais (CEC), respectivamente nos Títulos II e V do Livro II, não
acolhidos pelo CSC. Consequentemente, já não é possível constituir
um destes tipos sociais.

As sociedades em nome colectivo ou em comandita constituídas


antes do CSC e que eventualmente continuam a existir regem-se pela
parte geral do CSC e pelas regras específicas do Títulos II e V do Livro II
do CEC – art. 2º, n.º 1, do Decreto-legislativo n.º 2/2019, de 23 de
Julho.
TIPOS LEGAIS
I – Responsabilidade Interna dos Sócios (perante a sociedade)

SQ – sócios respondem pelas respectivas entradas e pelas


entradas dos demais (responsabilidade solidária) - art. 172º,
n.º 3, do CSC

SA – cada sócio responde apenas pelo cumprimento


da sua entrada - art. 234ºdo CSC

Coop.– cada sócio responde apenas pelo cumprimento


da sua entrada - art. 369ºdo CSC
TIPOS LEGAIS
I – Responsabilidade Interna dos Sócios

Ao abrigo do CEC

SNC – cada sócio responde apenas pelo cumprimento


da sua entrada – art. 259º, n.º 1, do CEC

SCom – cada sócio responde apenas pelo


cumprimento da sua entrada – art. 459º do CEC
TIPOS LEGAIS
II – Responsabilidade Externa dos Sócios (perante os
credores sociais)
 Regra geral actual: Os sócios não respondem pelas
dívidas sociais (perante os credores da sociedade)

Excepcões:
✓ SQ – o contrato social pode estipular responsabilidade
de algum ou alguns sócios até a um certo limite – art.
173º do CSC;
✓ Coop. - o contrato social pode estipular
responsabilidade de algum ou alguns sócios até
cinco vezes o valor da entrada – art. 369º do CSC.
TIPOS LEGAIS
II – Responsabilidade Externa dos Sócios

Ao abrigo do CEC

SNC – os sócios respondem pelas dívidas sociais


ilimitadamente, subsidiariamente à sociedade e
solidariamente entre si – art. 259º, n.º 1 (2ª parte), do CEC

SCom – os sócios comanditados respondem pelas dívidas


sociais nos mesmos termos que os sócios das SNC e os
sócios comanditários não respondem pelas dívidas sociais -
art. 459º, n.º 1, do CEC
TIPOS LEGAIS
III – Estrutura Organizatória

As sociedades actuam através dos seus órgãos.

O CSC adopta um

 Modelo Clássico – tripartido (composto, em regra, por três órgãos)


- Órgão deliberativo - Assembleia Geral
- Órgão de Administração (e de representação)
- Órgão de Fiscalização

 Nas SA de Grande Dimensão existe um quarto órgão – o Auditor


Certificado (externo ao Conselho Fiscal)
TIPOS LEGAIS
III – Estrutura Organizatória
➢ Assembleia Geral é composta pela colectividade dos sócios; é o
órgão deliberativo, o centro ou sede de decisões, da formação da
vontade da sociedade. Existe em todos os tipos sociais, inclusive
nas sociedades unipessoais.
➢ O órgão de administração é o responsável pela gestão das
actividades da sociedade, execução das deliberações da AG e a
representação ou vinculação da sociedade perante terceiros.
Assume designação variável, em função do tipo social.
➢ Ao órgão de fiscalização compete a fiscalização ou o controlo do
órgão de administração, o cumprimento da lei e dos estatutos.
Pode se um órgão singular ou plural e não existe em todos os tipos
sociais.
TIPOS LEGAIS
 Órgão de Administração/Representação – designação
varia em função do tipo social

❖ SPQ: Gerência - Gerentes (art. 214º do CSC)

❖ SA: Conselho de Administração ou Administrador


Único - Administradores (art. 311º do CSC)

❖ Coop: Conselho de Direcção – Directores (art. 377º


do CSC)
TIPOS LEGAIS
 Órgão de Administração/Representação

Ao abrigo do CEC

❖ SNC: Gerência - Gerentes (art. 268º do CEC)

❖ SCom: Gerência - Gerentes (art. 464º, n.ºs 1 e 2, do


CEC)
TIPOS LEGAIS
Órgão de Administração/Representação

SPQ - A Gerência pode ser um órgão singular ou plural e os gerentes são


pessoas singulares com capacidade jurídica plena, sócios ou não sócios –
art. 214º, n.ºs 1 e 2 do CSC;

SA – Em regra o órgão é plural – o Conselho de Administração – composto


por um número impar de membros (mínimo de três), sócios ou não sócios.
Se for designada uma pessoa colectiva, esta deve nomear uma pessoa
singular, que exercerá o cargo em nome próprio, não obstante a
responsabilidade solidária da pessoa colectiva que a nomeou.
A lei admite a possibilidade de a administração ser atribuída a uma única
pessoa – o Administrador Único -, quando o capital social for inferior a
10.000.000$00 – art. 314º do CSC
TIPOS LEGAIS
Órgão de Administração/Representação

Coop – O Conselho de Direcção é um órgão plural, composto por um


número ímpar de membros, sendo um mínimo de três, sócios ou não
sócios – art. 377º, n.º 1, do CSC.
Nas sociedades com menos de 15 sócios é possível a gestão directa
pela colectividade dos sócios – art. 381º do CSC.

Ao abrigo do CEC

SNC – todos os sócios são gerentes, salvo convenção em contrário.


Sócio pessoa colectiva não pode ser gerente. Deve nomear uma
pessoa singular para, em nome próprio, exercer o cargo – art. 268º do
CEC.

SCom – só podem ser gerentes os sócios comanditados, pessoas


singulares. Sócios comanditários ou não sócios só podem ser gerentes
se os estatutos permitirem – art. 464º, n.ºs 1 e 2, do CEC.
TIPOS LEGAIS
 Órgão de Fiscalização
✓ Conselho Fiscal (3 membros efectivos e 2 suplentes) ou Fiscal
Único (1 membro e 1 suplente), sendo um dos membros ou o
fiscal único auditor certificado;

✓ Órgão obrigatório nas SA e nas Coop. (arts. 332º e 336º do CSC)

✓ Órgão facultativo nas SQ (art. 222º do CSC)

✓ Não existe nas SNC e nas SCom (ao abrigo do CEC)

✓ Auditor Certificado (a par do Conselho Fiscal) nas SA de grande


dimensão [art. 342º, n.º 1, al. a) do CSC]
TIPOS LEGAIS

IV – Transmissão de participações sociais


➢ Participação social – conjunto unitário de direitos e
obrigações, actuais e potenciais, do sócio.

➢ Designação em função do tipo social


✓ SQ – quota
✓ SA– acção
✓ Coop.- parte
✓ SNC – parte
✓ SCom - parte
TIPOS LEGAIS
 Transmissão de quotas (SQ)

❖ Por morte – regras sucessórias, mas o contrato social


pode estipular a faculdade de os sócios deliberarem a
amortização da quota do sócio falecido (art. 191º do
CSC)

❖ Entre vivos – livre entre sócios, ascendentes e


descendentes; para as demais pessoas depende do
consentimento da sociedade (art. 192º do CSC).
TIPOS SOCIAIS
 Transmissão de acções (SA)

❖ Por morte – regras sucessórias

❖ Entre vivos – livre, embora o contrato social possa


subordinar a transmissão ao consentimento da
sociedade ou a determinados limites objectivos ou
subjectivos, bem como atribuir direitos de preferência
aos accionistas (art. 269º do CSC)
TIPOS LEGAIS
 Transmissão de partes (Coop.)

❖ Por morte – amortização da parte social do sócio


falecido a favor dos herdeiros, salvo estipulação diversa
[art. 386º, n.º 1, al. a) do CSC]

❖ Entre vivos – livre entre sócios; a terceiros depende do


consentimento expresso da sociedade (art. 385º do
CSC)
TIPOS LEGAIS
Ao abrigo do CEC
 Transmissão de partes nas SNC e dos sócios comanditados – aplica-
se o regime das SPQ
❖ Por morte – regras sucessórias, mas o contrato social pode estipular
a faculdade de os sócios deliberarem a amortização da quota do
sócio falecido (arts. 271º e 297º, n.º 1, do CEC)

❖ Entre vivos – livre entre sócios, ascendentes e descendentes; para


as demais pessoas depende do consentimento da sociedade (arts.
468º e 297º, n.º 1, do CEC).

 Transmissão de partes dos sócios comanditários – livre.


TIPOS DOUTRINÁRIOS

Tipos criados pela doutrina

➢ Sociedades de Pessoas – as regras assentam na


individualidade e na pessoa dos sócios,
independentemente da sua participação social.

➢ Sociedades de Capitais – as regras são definidas em


função das contribuições patrimoniais dos sócios.
TIPOS DOUTRINÁRIOS
Sociedades de Pessoas
 Responsabilidade dos sócios pelas dívidas sociais
 Transmissão condicionada de participações sociais
 Grande peso dos sócios nas deliberações sociais (número
de votos igualitário/voto por cabeça) – e na gestão da
sociedade (todos os sócios fazem parte do órgão de
administração)
 Firma tem de conter os nomes dos sócios (firma nome ou
firma mista)
 Direito alargado de todos os sócios à informação plena
sobre a vida da sociedade
 Dever de não concorrência dos sócios com a sociedade
TIPOS DOUTRINÁRIOS
Sociedades de Capitais
 Não há responsabilidade dos sócios pelas dívidas sociais
 Transmissão livre de participações sociais
 O peso dos sócios nas deliberações sociais e na gestão da
sociedade é proporcional à participação social (´número
de votos é proporcional à participação social)
 Firma não tem de conter os nomes dos sócios (firma
nome, firma denominação ou firma mista)
 Direito dos sócios à informação plena depende da
participação social – não é garantido a todos os sócios
 Dever de não concorrência impende apenas sobre os
sócios-administradores
TIPOS DOUTRINÁRIOS
 Sociedade de pessoa – protótipo é a SNC (ao abrigo do CEC)

 Sociedade de capital – protótipo é a SA

 SQ – tipo misto ou intermédio (características de ambos os tipos),


embora não haja consenso na doutrina. António Caeiro, Lobo
Xavier e Raúl Ventura entendem que a SQ é uma sociedade de
pessoas. Brito Correia defende que é uma sociedade de capital.
José Tavares, Pupo Correia e Coutinho de Abreu são do
entendimento que a SQ é do tipo misto.

 Outra classificação doutrinária – tipo aberto e tipo fechado,


consoante a sociedade seja aberta ou não ao
público/investidores, ao mercado de capitais /bolsa de valores.
Facilidade na aquisição e alienação de participações sociais.
BIBLIOGRAFIA
 Furtado, Jorge Henrique Pinto, Curso de Direito das Sociedades
Comerciais, Almedina;
 Abreu, Jorge Manuel Coutinho de, Curso de Direito Comercial,
Volume II – Das Sociedades, Almedina;
 Cunha, Paulo Olavo, Direito das Sociedades Comerciais, Almedina;
 Correia, Miguel J. A. Pupo, Direito Comercial – Direito da Empresa,
Ediforum;
 Vasconcelos, Pedro Pais de, A Participação Social nas Sociedades
Comerciais; Almedina.

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