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Constituição da Sociedade

 A constituição de uma sociedade comercial pressupõe um processo, uma


série de actos e de formalidades.

 O processo normal de constituição(regime regra) desdobra-se em 3 actos:


✓ Contrato de sociedade (acto constitutivo)
✓ Registo do contrato na Conservatória do Registo Comercial
✓ Publicação do contrato no BO

 A Sociedade nasce com o contrato social e aperfeiçoa-se enquanto pessoa


jurídica/colectiva com o registo definitivo, na medida em que é neste
momento que adquire a personalidade jurídica, nos termos do art. 6º do CSC.
Constituição da Sociedade

Artigo 6.º
Personalidade
As sociedades comerciais gozam de personalidade jurídica e existem
como tais a partir da data do registo definitivo do contrato pelo qual se
constituem, sem prejuízo do disposto quanto à constituição de
sociedades por fusão, cisão ou transformação de outras.
Constituição da Sociedade
Outras formas de constituição de uma sociedade comercial:
 Sociedades unipessoais
✓ Negócio jurídico unilateral (acto constitutivo)
✓ Registo do contrato na Conservatória do Registo Comercial
✓ Publicação do contrato no BO
 SA com subscrição pública – arts. 240º e 242º do CSC
✓ Elaboração do projecto do contrato social
✓ Registo provisório do projecto do contrato social
✓ Elaboração do programa de oferta de acções à subscrição pública
✓ Lançamento da oferta pública de subscrição (anúncio público)
✓ Assembleia constitutiva (promotores e subscritores)
✓ Aprovação do contrato social
✓ Registo definitivo do contrato social
✓ Publicação do contrato social no BO
Constituição da Sociedade
 Constituição por lei de SA unipessoais em que o Estado é accionista único
✓ Projecto ou proposta de lei
✓ Discussão e aprovação
✓ Promulgação pelo PR
✓ Publicação no BO

 O Estado não pode criar uma SA unipessoal, porque o sócio primitivo de uma SA
unipessoal só pode ser uma outra sociedade comercial – art. 352º, n.º 1, do CSC
 Só através de lei (Lei, Decreto-lei ou Decreto-legislativo) pode o Estado constituir uma
SA unipessoal, porquanto só um acto legislativo com idêntica força pode derrogar as
disposições do CSC.
Constituição da Sociedade
Acto Constituinte – Contrato Social
 O CSC acolhe a tese de natureza contratual – arts. 6 e 9º do CSC

 Contrato social Acto constitutivo + Estatutos (Regulamentação da sociedade)

Dupla natureza jurídica - acordo de vontade das partes para criação de uma nova
entidade, um centro autónomo de imputação de interesses + acto de regulação das
relações societárias, que contém normas de funcionamento da sociedade

Contrato social = Estatutos = Pacto social


Constituição da Sociedade
Acto Constituinte – Contrato Social
 Contrato plurilateral – pressupõe a participação de várias partes
(pelo menos duas pessoas);
 Contrato não comutativo e não sinalagmático– a prestação de um
sócio não representa a contrapartida da prestação de um outro
sócio. As obrigações dos sócios não estão acasaladas;
 Contrato não aleatório – existe um risco, a possibilidade de ganho ou
de perda, mas ou todos perdem ou todos ganham, a perda de uma
parte não significa o ganho de outra;
 Contrato associativo – de colaboração ou cooperação;
Constituição da Sociedade
Acto Constituinte – Contrato Social
 Contrato de organização – cria uma organização e estabelece uma
relação orgânica entre cada um dos sócios e a sociedade. A força
vinculativa do contrato para a organização mantém-se ao longo da
vida e do funcionamento da sociedade;
 Contrato consensual – aperfeiçoa-se e constitui-se com o consenso,
com as declarações negociais. A formação não requer a tradição
de coisas. As entradas dos sócios afiguram-se obrigações, fazem
parte da execução do contrato e não da sua formação;
 Contrato com eficácia real – há transmissão de direitos reais,
nomeadamente a transmissão para a sociedadeda propriedade dos
bens que constituem as entradas dos sócios.
Constituição da Sociedade
Acto Constituinte – Contrato Social
 Contrato Formal – a lei exige uma forma especial (art. 9º, n.º 1, do
CSC)

✓ Documento escrito, salvo se as entradas dos sócios consistirem em bens cuja


transmissão a lei exija forma mais solene, devendo, neste caso, o contrato
revestir essa forma solene.

Ex.: Se a entrada de um sócio consistir num imóvel, então o contrato social tem de
ser celebrado por escritura pública, na medida em que à alienação de um imóvel
a lei exija escritura pública.
Constituição da Sociedade
Sujeitos
 Pessoas singulares com capacidade de exercício
✓ Incapaz, desde que representado pelo representante legal e obtida a
devida autorização judicial [art. 1885º, n.º 1, b) e c), do CC];
✓ Cônjuges – é permitida a participação de cônjuges em sociedades,
desde que só um deles assuma responsabilidade pelas dívidas sociais
(art. 10º, n.º 1, do CSC)
 Pessoas colectivas privadas
✓ Sociedades comerciais, sociedade civis do tipo comercial
✓ Associações
✓ Fundações
Constituição da Sociedade
Sujeitos
 Pessoas colectivas públicas
✓ Estado (juntamente com outra pessoas);
✓ Outras entidades públicas (Municípios, Fundações Públicas,
Serviços personalizados, desde que as competências/atribuições
legais permitam).

Conteúdo
 Menções obrigatórias gerais (comuns à generalidade dos tipos
sociais) e específicas (relativas a determinado tipo social);
 Menções facultativas (dependente da vontade dos sócios).
Constituição da Sociedade
Menções obrigatórias gerais – art. 11º do CSC
 Os nomes ou firmas de todos os sócios fundadores e os outros dados
de identificação destes (estado civil, naturalidade, residência, NIF
ou sede, capital social, matrícula, etc.);
 O tipo social;
 A firma da sociedade;
 O objecto social (actividades que a sociedade se propõe exercer –
art. 14º do CSC);
 A sede social ou estatutária (domicílio da sociedade, lugar onde a
sociedade se considera localizada para a generalidade de efeitos
jurídicos – art. 15º do CSC);
 O capital social, necessariamente expresso em escudos de Cabo
Verde (cifra correspondente ao somatório das entradas);
Constituição da Sociedade
Menções obrigatórias gerais – art. 11º do CSC
 A quota de capital e a natureza da entrada de cada sócio, bem como
os pagamentos efectuados por conta de cada quota (participação
social correspondente à entrada em dinheiro ou em espécie com
indicação do valor nominal);
 A descrição de bens e a especificação dos respectivos valores, quando a
entrada se consiste em bens diferentes de dinheiro (art. 29º do CSC);
 A data do encerramento do exercício anual, se este não for coincidente
com o ano civil, devendo tal data corresponder ao último dia de um mês
do calendário (ex. actividades sazonais).
Constituição da Sociedade
Menções obrigatórias específicas
SA
 Números de Administradores – art. 314º, n.º 1, do CSC
“O conselho de administração é composto pelo número ímpar de membros fixado no contrato de
sociedade.”

Coop.
Art. 362º do CSC
 a) A firma e a localização da sede, dos estabelecimentos e das delegações ou outras formas de
representação, se os houver;
 b) O objeto e os fins;
 c) A duração;
 d) A identificação dos cooperadores;
 e) O montante do capital social inicial, a forma de sua realização e aumento e o das entradas
mínimas subscritas por cada um dos sócios;
 f) A constituição, competência e funcionamento dos seus órgãos; e
 g) As normas de gestão económico-financeira.
Constituição da Sociedade
Menções facultativas
 Questões não reguladas por lei;
 Matérias que a própria lei permite às partes regular ou até desviar-se do
regime previsto (regras supletivas).
Art. 12º, n.º 1, do CSC: “Podem as partes, com respeito pelas normas imperativas deste
código, estabelecer no contrato o regime contratual que mais lhes convier.”
Exs.:
Art. 17º, n.º 1, do CSC: “A sociedade dura por tempo indeterminado se a sua
duração não for estabelecida no contrato.”;
Art. 23º, n.º 1, do CSC: “Na falta de preceito especial ou convenção em contrário, os
sócios participam nos lucros e nas perdas da sociedade segundo a proporção dos
valores nominais das respetivas participações no capital.”
Constituição da Sociedade
Sociedades Irregulares (ou de Facto) – art. 45º, n.º 2, do CSC
Sociedades que já existem na prática, funcionam enquanto tais, já
iniciaram a respectiva actividade, mas o processo constitutivo ainda
não está concluído: ou o contrato social ainda não está formalizado ou
ainda não foi registado.

Sociedade irregular não se confunde com sociedade aparente (em


que há a falsa aparência de uma sociedade, uma ilusão ou farsa). Na
sociedade aparente, os indivíduos que criaram a aparência respondem
pelas obrigações contraídas pela sociedade aparente – art. 44º, n.º 1,
do CSC.
Constituição da Sociedade
Regime das relações societárias anteriores à celebração do contrato
 Relações internas (entre os sócios, entre estes e a sociedade) e externas (entre os
sócios, sociedade e terceiros) – aplicação, com as necessárias adaptações, das
regras das sociedades civis, previstas nos arts. 980º e ss do CC – art. 44º, n.º 2, do
CSC
Regime das relações societárias após a celebração do contrato mas antes do registo
 Relações internas (entre os sócios, entre estes e a sociedade) – aplicam-se regras
do próprio contrato social e do CSC que não pressupõem registo – art. 45º, n.º 1,
do CSC
 Relações externas (entre os sócios, sociedade e terceiros) – responsabilidade
pessoal, ilimitada e solidária dos sócios pelas dívidas sociais decorrentes de
negócios em nome da sociedade em que participaram ou autorizaram. Os
demais sócios respondem até ao limite das suas entradas e dos dividendos que
hajam recebidos. A responsabilidade dos sócios fica afastada caso os negócios
tenham sido celebrados sob condição do contrato ser registado e da assunção
dos seus efeitos pela sociedade – art. 46º do CSC
Constituição da Sociedade
Registo do Acto Constituinte
 A constituição da sociedade comercial é um facto que está sujeito a registo
obrigatório – art. 164º, n.º 1, do CSC e art. 2º, n.º 1, al. a), e n.º 2, al. a), e art. 3º, n.º
1, al. a), do CRC (Código do Registo Comercial, aprovado pelo DL n.º 20/2020, de
6 de Março);
 Competência territorial – qualquer Conservatória de Registo Comercial (art. 10º do
CRC);
 Prazo de 2 meses a contar da celebração do contrato, sob pena de pagamento
acrescido da quantia igual a do emolumento – arts. 3º, n.º 3, al. e), e 4º, n.º 1, do
CRC;
 O dever de promoção do registo impende sobre os membros do órgão de
administração – art. 165º, n.º 1, do CSC;
 Caso os membros do órgão de administração não o façam, qualquer sócio ou
outra pessoa interessada poderá, às expensas da sociedade, promover o registo –
art. 165º, n.º 3, do CSC.
Constituição da Sociedade
Efeitos do Registo
 Personalidade Jurídica – a sociedade adquire a personalidade jurídica com o registo
definitivo do acto constitutivo (art. 6º do CSC). O registo tem efeito constitutivo.
 Assunção pela Sociedade de negócios anteriores ao registo – art. 20º do CSC
Com o registo, a sociedade assume plenamente os direitos e obrigações decorrentes
de negócios anteriores ao registo celebrados pelos sócios ou representantes da
sociedade:
✓ Automaticamente – os indicados no n.º 1 do art. 20º do CSC (despesas com a constituição
da sociedade, como honorários de advogado, emolumentos, as obrigações decorrentes
da exploração normal da empresa, etc.)
✓ Mediante decisão do órgão de administração
A assunção dos negócios pela sociedade tem efeitos retroactivos – retoage à data da
celebração do negócio e libera os sócios de qualquer responsabilidade, salvo se por
contrato responderem por dívidas sociais (art. 20º, n.º 3, do CSC)
Constituição da Sociedade
Publicação do Contrato Social
 O contrato social está sujeito a registo e a publicação - art. 164º, n.º1,
do CSC
 Publicação no BO – art. 164º, n.º 2, do CSC;
 Dever de promoção impende sobre os membros do órgão de
administração ou de qualquer sócio, caso aqueles não a promovam
– art. 165º, n.º 1 e 3 do CSC;
 Falta de publicação - inoponibilidade do acto a terceiro, salvo se se
demonstrar que este tinha conhecimento do mesmo (se o contrato
prever a amortização da quota de um sócio falecido, a cláusula
estatutária, caso o contrato não tenha sido publicado, é inoponível a
herdeiros de um sócio que venha a falecer) – art. 166º, n.º 2, do CSC.
BIBLIOGRAFIA
 Furtado, Jorge Henrique Pinto, Curso de Direito das Sociedades
Comerciais, Almedina;
 Abreu, Jorge Manuel Coutinho de, Curso de Direito Comercial,
Volume II – Das Sociedades, Almedina;
 Cunha, Paulo Olavo, Direito das Sociedades Comerciais, Almedina;
 Correia, Miguel J. A. Pupo, Direito Comercial – Direito da Empresa,
Ediforum;
 Vasconcelos, Pedro Pais de, A Participação Social nas Sociedades
Comerciais; Almedina.

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