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DIREITO EMPRESARIAL
Prof. Luciana Aranalde
SUMÁRIO
01. PARTE GERAL.................................................................................................................................. 2
02. CONTRATOS EMPRESARIAIS .................................................................................................. 19
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O contrato social conterá:
• o nome empresarial (poderá ser razão social ou denominação social - a razão
social deve ser composta com sobrenome ou nome civil completo ou
abreviada de, pelo menos, um dos sócios);
• capital da sociedade;
• a participação de cada sócio;
• a forma e o prazo de sua integralização;
• município da sede, com endereço completo, bem como o endereço das filiais
– se houver;
• declaração precisa e minuciosa do objeto social;
• prazo de duração da sociedade;
• data de encerramento do exercício social, quando não coincidente com o ano
civil;
• nomeação do administrador, devidamente qualificado.
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CAPITAL SOCIAL: as quotas serão correspondentes ao montante da
contribuição de cada sócio. Poderão ser utilizados para integralização de capital
quaisquer bens, desde que suscetíveis de avaliação em dinheiro.
FILIAIS: é necessário que o instrumento de constituição para cada uma
delas indique o respectivo município e endereço completo.
2. DA ALTERAÇÃO CONTRATUAL
São os mesmos requisitos exigidos para o registro de instrumento de
alteração contratual e para o instrumento de constituição social, principalmente,
no que se refere ao preâmbulo e quanto ao seu corpo.
Deve mencionar as alterações pretendidas e no caso de consolidação e
inserir uma nova redação, conforme a alteração efetuada.
REDUÇÃO DE CAPITAL:
• devido a perdas irreparáveis, o instrumento de alteração contratual deverá
ser firmado pelos sócios, onde se formalizará a redução, com a diminuição
proporcional do valor nominal das quotas (artigos 1.082 e 1.083, CC/2002).
• por ser considerado demasiado em relação ao objeto da sociedade, o
instrumento de alteração contratual deverá ser formalizado com a
indicação da redução com a devolução de parte do valor das quotas aos
sócios, ou dispensando-os de prestações ainda devidas, com a redução
proporcional também neste caso, do valor nominal das quotas.
INSTRUMENTO DE ALTERAÇÃO:
Em uma via original, podendo ser realizado por escritura pública ou
particular, independentemente da forma de que se houver revestido o respectivo
ato de constituição. Devem conter os seguintes elementos: título, preâmbulo e
corpo da alteração (nova redação das cláusulas alteradas, expressando as
modificações introduzidas, redação das cláusulas incluídas, indicação das
cláusulas suprimidas; fecho.
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• Quando o instrumento de alteração for requerido por deliberação
majoritária, deverá constar do preâmbulo apenas o nome dos sócios que
dela fazem parte e que a deliberação se faz por maioria do capital,
• O instrumento de alteração pode conter a hipótese da sociedade adquirir
quotas de sócio quando houver quotas liberadas, ou seja, integralizadas,
desde que o faça com fundos disponíveis e sem ofensa ao capital, por
acordo dos sócios; e quotas não liberadas de sócio remisso excluído, desde
que o faça com fundos disponíveis e sem ofensa ao capital.
• As alterações contratuais, quando registradas por instrumento particular,
serão assinadas por todos os sócios e por duas testemunhas, salvo na
hipótese de determinação majoritária.
• Em hipótese alguma os registros de instrumentos de alterações sociais
representam a constituição de nova sociedade.
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assenta-se na ideia da limitação da responsabilidade dos sócios. Tem a ver com
a constituição de um patrimônio separado ou autônomo, que passará a suportar,
com exclusividade, a eventual ação dos credores, nos limites de sua constituição,
para preservar sua integridade.
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Entre as orientações das Juntas Comercial, insertas nas Instruções
Normativas do DREI, constam a necessidade de indicação numérica e por
extenso do total do capital social; bem como a necessidade de mencionar o valor
nominal de cada quota, que pode ter valor desigual.
Há de se mencionar o total de quota(s) de cada sócio e declarar a forma e
o prazo de integralização do capital – se houver sócio menor, o capital deverá
estar totalmente integralizado.
No caso de se tratar de integralização com bem imóvel, obrigatoriamente,
haverá a descrição e identificação do imóvel, sua área, dados relativos a sua
titulação, número de matrícula no Registro de Imóveis e autorização do cônjuge
no instrumento contratual com a referência pertinente, salvo se o regime de
bens for o de separação absoluta.
O legislador concedeu liberdade os sócios de escolherem a maneira de
integralizar o capital social, tornou, porém, obrigatória cláusula contratual
dispondo sobre o prazo e a forma de sua integralização (dinheiro ou bens
suscetíveis de avaliação em dinheiro).
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* Para todos verem: esquema sobre registro e elementos do contrato social.
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também são sujeitos de direitos capazes de praticar atos jurídicos, ainda que de
forma limitada, como é o caso da Massa Falida e do Espólio.
1.2. PESSOAS JURÍDICAS
As pessoas jurídicas se dividem em dois grupos, de direito público (interno
ou externo) e de direito privado (estatais ou particulares), que possuem
regulamentação nos art. 40, art. 41, art. 42 e art. 43, todos do Código Civil:
* Para todos verem: tabela abaixo.
União; Associações;
Estados, DF e Territórios; Sociedades;
Estados estrangeiros;
Municípios; Fundações;
Todas as pessoas
Autarquias, inclusive as Organizações
regidas pelo Dir. Int.
associações públicas; Religiosas;
Público.
Demais entidades de Partidos Públicos
caráter público criadas EIRELI
por lei.
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Isso se dá em virtude da autonomia patrimonial das sociedades, a qual
determina que a responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais será
subsidiária, podendo também ser limitada a depender do tipo societário.
Essa concepção tornou-se ainda mais forte a partir da edição da Lei da
Liberdade Econômica (Lei 13.874/2019) a partir da inclusão do art. 49-A ao
Código Civil. O referido artigo em seu caput não deixa qualquer margem de
dúvidas:
A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados,
instituidores ou administradores”.
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é
um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos,
estabelecido pela lei com a finalidade de estimular
empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e
inovação em benefício de todos”.
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sócios e administradores atuem visando ao bem comum da sociedade
empresária, preservando-a e mantendo a sua função social, coibindo
manipulação da pessoa jurídica com o fim de fraudar credores.
Assim, se utilizada para fazer valer fraude em detrimento de terceiros,
considerar-se-á ineficaz a personificação com relação aos atos praticados de
forma abusiva ou fraudulenta, podendo atingir os bens particulares dos sócios
envolvidos na administração da sociedade.
O Código de Defesa do Consumidor foi a primeira norma a prever a
possibilidade de desconsiderar a personalidade jurídica; neste caso a aplicação
se dá quando há abuso em detrimento do consumidor, excesso de poder,
infração da lei, fato ou ato ilícito, violação dos estatutos ou do contrato social, ou
ainda, quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou
inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração (art. 28). A teoria
presente no CDC é chamada de “teoria menor”, sendo a “teoria maior” aquela
presente no Código Civil (art. 50).
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado
pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz,
a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe
couber intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de
certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos
bens particulares de administradores ou de sócios da pessoa
jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação
dada pela Lei nº 13.874, de 2019)
3.1. TEORIA MAIOR VERSUS TEORIA MENOR
A desconsideração da autonomia patrimonial da pessoa jurídica,
conforme já vimos, é medida extrema, coibindo a fraude ou o abuso de direito de
uma forma mais simples e objetiva, pois incluídos nos dois institutos citados, a
confusão patrimonial, permitindo que no caso em concreto, respeitado o devido
processo legal, o credor alcance os bens particulares dos sócios e
administradores. O referido instituto reforça a autonomia patrimonial da pessoa
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jurídica e a preservação da empresa, não devendo ser utilizada tão somente
porque a pessoa jurídica não tem mais bens para satisfazer aos seus credores.
Existem duas teorias aplicadas quando da desconsideração da
personalidade jurídica: a “teoria menor” e a “teoria maior”.
A teoria menor é aplicada quando nos casos que envolvam relação de
consumo (art. 28, do CDC), condutas lesivas ao meio ambiente (art. 4º da Lei
9.605/98) ou ainda, quando se tratar de infração da ordem econômica (art. 34 da
Lei 12.529/11). Já a teoria maior é considerada aquela prevista no art. 50, do CC.
Para o STF “a teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso
ordenamento jurídico excepcionalmente no Direito do Consumidor e no Direito
Ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o
pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de
finalidade ou de confusão patrimonial” STJ – 3a Turma – REsp 279273/SP, Rel.
Ministro Ari Pargendler, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi, 3a T., julgado
em 4‐12‐2003, DJ 29‐3‐2004, p. 230. No mesmo sentido: STJ – REsp 1735004/SP,
Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 26‐06‐2018, DJe 29‐06‐
2018.
Sobre a distinção entre o art. 50 do Código Civil e as demais regras legais
que tratam da desconsideração da personalidade jurídica, o enunciado 9 das
Jornadas de Direito Comercial do CJF diz o seguinte: “quando aplicado às
relações jurídicas empresariais, o art. 50 do Código Civil não pode ser interpretado
analogamente ao art. 28, § 5º, do CDC ou ao art. 2º, § 2º, da CLT”.
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seria ilícita se exercida pelo sócio, ou seja, a pessoa jurídica é usada para encobrir
a ilicitude da ação dos sócios.
Art. 50, § 5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou
a alteração da finalidade original da atividade econômica específica
da pessoa jurídica.
CONFUSÃO PATRIMONIAL:
Art. 50, § 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de
separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio
ou do administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas
contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente
insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
O pagamento de obrigações do sócio pela pessoa jurídica ou vice-versa é
um exemplo clássico caracterizado como hipótese de confusão patrimonial,
contudo, verifica-se que o dispositivo exige expressamente que se trate de um
cumprimento repetitivo, ou seja se trata de uma obrigação isolada.
A transferência de ativos ou passivos realizada sem a devida justificativa
econômica pode ser caracterizada quando os sócios ou administradores utilizam
o patrimônio da pessoa jurídica e vice-versa. Empréstimos entre a pessoa jurídica
e o sócio, por exemplo, embora comuns, precisam obedecer às condições
normais de mercado, sob pena de representarem um mecanismo de mistura dos
patrimônios.
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Nesse sentido, inclusive, já decidiu o STJ que “a desconsideração não
importa em dissolução da pessoa jurídica, mas se constitui apenas em um ato de
efeito provisório, decretado para determinado caso concreto e objetivo,
dispondo, ainda, os sócios incluídos no polo passivo da demanda, de meios
processuais para impugná-la” (REsp 1.169.175).
A aplicação da teoria da desconsideração atinge, tão somente, aqueles
sócios que se beneficiaram do uso abusivo da pessoa jurídica, logo, não significa
que atingirá todos os sócios e/ou administradores da sociedade, indistintamente.
Essa interpretação ganhou reforço após a edição da Lei 13.874/2019 (Lei da
Liberdade Econômica), que alterou a redação do caput do art. 50 do Código Civil
para deixar claro que a desconsideração da personalidade jurídica só pode atingir
os administradores ou sócios “beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”.
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A aplicação da desconsideração inversa é bem comum em questões que
envolvam direito de família, quando se constata, por exemplo, que um dos
cônjuges, cria uma pessoa jurídica com o objetivo de ocular se patrimônio, os
afastando da partilha ou frustrando a cobrança de pensão alimentícia.
Ainda sobre o assunto, confira-se o enunciado 283 das Jornadas de Direito
Civil do CJF: “é cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada
‘inversa’ para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar
ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros”.
Neste aspecto, vale destacar que desde a edição da Lei 13.874/2019 (Lei da
Liberdade Econômica), a desconsideração inversa está expressamente
autorizada pelo Código Civil no §3º do art. 50.
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“A mera circunstância de a empresa devedora ter encerrado suas
atividades sem baixa na Junta Comercial, se não evidenciado dano decorrente
de violação ao contrato social da empresa, fraude, ilegalidade, confusão
patrimonial ou desvio de finalidade da sociedade empresarial, não autoriza a
desconsideração de sua personalidade para atingir bens pessoais de herdeiro de
sócio falecido. Inaplicabilidade da Súmula 435/STJ, que trata de
redirecionamento de execução fiscal ao sócio-gerente de empresa
irregularmente dissolvida, à luz de preceitos do Código Tributário Nacional”
(AgRg no AREsp 251.800).
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assim que aplicada a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, razão
por que o referido dispositivo não tem incidência” (REsp 1.269.897).
LEMBRE-SE!
A desconsideração da personalidade jurídica NÃO SE CONFUNDE com a
despersonalização da pessoa jurídica, esta atinge a validade do ato constitutivo,
ao passo que a desconsideração objetiva atingir o patrimônio dos sócios,
tratando-se de um ato momentâneo.
* Para todos verem: esquema sobre teoria menor, teoria maior e desconsideração da personalidade jurídica.
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02. DIREITO SOCIETÁRIO
1. SOCIEDADE SIMPLES
As sociedades simples além de se constituírem no tipo pertinente a
atividades societária intelectual, também têm suas normas consideradas uma
espécie de parte geral do direito societário, pois suas regras têm aplicação
subsidiária à maioria das sociedades empresárias contratuais. As sociedades
cooperativas são consideradas sociedades simples, conforme dispõe o parágrafo
único do art. 982, do CC: “Salvo as exceções expressas, considera-se empresária
a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário
sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Parágrafo único.
Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por
ações; e, simples, a cooperativa.”
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As sociedades simples estão reguladas nos artigos 997 a 1038, do Código
Civil e conforme artigo 997 são constituídas por meio de contrato.
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Sócios pessoas naturais: Sócios pessoas jurídicas:
- Incapazes
- Impedidos - Holding
- Pessoas casadas
- Firma
Profissão intelectual /
(enunciado 213 das Jornadas de Direito Civil)
atividade rural
- Denominação
IMPORTANTE!
- Capital social = patrimônio inicial.
- Patrimônio líquido » capital social » distribuir/reservar lucros.
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contrato, quando tais lucros ou quantia se distribuírem com
prejuízo do capital.
O capital funciona como uma garantia dos credores, bem como é o que
viabiliza a realização do objeto social e define as relações de poder dos sócios no
controle da sociedade, da mesma forma que define a responsabilidade de cada
sócio.
Quanto ao valor do capital social o debate sobre a necessidade ou não de
haver um capital social mínimo para constituição de uma determinada
sociedade é antigo, havendo ordenamentos jurídicos que fazem essa exigência.
Existem diversos fundamentos acerca da exigência de um capital mínimo, como
por exemplo: cumprimento das funções de garantia e produtividade. No Brasil,
com exceção da EIRELI, não se exige capital social mínimo para a constituição de
sociedades.
A exigência de adequação do capital social ao objeto social pode ser
extraída de uma interpretação dos arts. 173 da Lei 6.404/1976 (“a assembleia geral
poderá deliberar a redução do capital social se houver perda, até o montante dos
prejuízos acumulados, ou se julgá-lo excessivo”) e 1.082, II, do CC (“pode a
sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modificação do contrato:
(...) II – se excessivo em relação ao objeto da sociedade” (princípio da
congruência).
• Subcapitalização formal: a sociedade possui um capital próprio ínfimo em
relação à atividade que desenvolve, porque obtém recursos de terceiros
(financiamentos, por exemplo).
• Subcapitalização substancial: há uma clara desproporção entre o volume de
negócios de uma empresa e o seu capital social, sem que existam outras fontes
de recursos para compensar.
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1.3.1. SUBSCRIÇÃO DO CAPITAL
No direito brasileiro, exige-se a subscrição total do capital social no
momento da constituição da sociedade, contudo, a integralização pode ser
futura.
O ato de subscrição representa o comprometimento dos sócios a
contribuir para a formação do capital social, e é com base nele, em tese, que se
estabelecem as respectivas participações societárias.
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito,
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas
partes, mencionará:
(...) IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-
la; V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição
consista em serviços;
A integralização consiste na efetiva contribuição dos sócios para a
formação do capital social, podendo ser feita de diversas formas: com bens –
móveis ou imóveis, materiais ou imateriais –, dinheiro ou créditos. Na sociedade
simples, admite-se até a contribuição em serviços (enunciado 206 das Jornadas
de Direito Civil: “a contribuição do sócio exclusivamente em prestação de serviços
é permitida nas sociedades cooperativas – art. 1.094, I – e nas sociedades simples
propriamente ditas – art. 983, 2.ª parte”).
Se o sócio integralizar sua quota com transferência de bens, estes devem
ser suscetíveis de avaliação pecuniária, além de o sócio responder pela evicção,
isto é, caso a sociedade perca esse bem posteriormente em razão de ele ser de
outrem (art. 1005, CC), o sócio que o havia transferido terá que pagar a ela o seu
valor. Já se integralizar sua quota com a transferência de créditos de sua
titularidade, responderá pela solvência do devedor, ou seja, caso os créditos
cedidos não sejam pagos pelos seus devedores, o sócio que os cedeu terá que
pagá-los (art. 1006, CC).
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1.4. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE SIMPLES
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito,
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas
partes, mencionará:
(...)
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade,
e seus poderes e atribuições;
Verifica-se que as sociedade simples (e isso vale também para as demais
sociedades contratuais), não podem ser administradas por pessoa jurídica, já que
o dispositivo usa a expressão pessoas naturais para se referir aos administradores.
Também não podem administrar a sociedade as pessoas mencionadas no
art. 1.011, § 1º do Código Civil: “não podem ser administradores, além das pessoas
impedidas por lei especial, os condenados a pena que vede, ainda que
temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de
prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia
popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da
concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade,
enquanto perdurarem os efeitos da condenação”.
Caso o contrato social não designe expressamente seus administradores,
aplica-se o art. 1.013 do Código Civil: “a administração da sociedade, nada
dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios”.
Dispõem seus parágrafos: §1º: “se a administração competir separadamente a
vários administradores, cada um pode impugnar operação pretendida por
outro, cabendo a decisão aos sócios, por maioria de votos”; §2º. “responde por
perdas e danos perante a sociedade o administrador que realizar operações,
sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria”. E,
ainda, o art. 1.014 do Código Civil que prevê que “nos atos de competência
conjunta de vários administradores, torna-se necessário o concurso de todos,
salvo nos casos urgentes, em que a omissão ou retardo das providências possa
ocasionar dano irreparável ou grave”.
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Nada impede que os sócios, embora não tenham designado o
administrador no próprio contrato social, façam-no em ato separado
posteriormente. Nesse caso, deve-se atentar apenas para a imprescindibilidade
de averbação do ato no órgão de registro da sociedade, em obediência ao art.
1.012 do Código Civil: “o administrador, nomeado por instrumento em separado,
deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar,
antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a
sociedade”.
A diferença entre o administrador nomeado no contrato social e o
administrador nomeado em ato separado está no fato de que os poderes
daquele, caso seja sócio, são, em tese, irrevogáveis, salvo por decisão judicial que
reconheça a ocorrência de justa causa para a revogação. Já os poderes de
administrador, não sócio ou de administrador designado em ato separado, ainda
que sócio, são revogáveis a qualquer tempo pela vontade dos demais, conforme
prevê o art. 1.019 do Código Civil: “são irrevogáveis os poderes do sócio investido
na administração por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa,
reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios. Parágrafo único.
São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio por ato
separado, ou a quem não seja sócio”.
Nota-se que sócio administrador contratualmente nomeado, possui uma
espécie de estabilidade, podendo representar aos demais sócios um grave
comprometimento de seus interesses. Para afastar essa estabilidade, a
nomeação dos administradores pode ser processada por ato separado. Esse
termo, para efeito de eficácia externa, deverá ser averbado à margem da
inscrição da sociedade. Importa mencionar que, ainda que nomeado
administrador no próprio contrato, o não sócio não está protegido contra a
destituição
A atividade do administrador é personalíssima, não podendo outrem
exercer suas funções; o máximo permitido é a delegação de certas atividades a
mandatários, nos termos do art. 1.018 do Código Civil: “ao administrador é vedado
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fazer-se substituir no exercício de suas funções, sendo-lhe facultado, nos limites
de seus poderes, constituir mandatários da sociedade, especificados no
instrumento os atos e operações que poderão praticar”.
TEORIA ORGÂNICA
Prevê o art. 1.022, do CC que “a sociedade adquire direitos, assume obrigações e
procede judicialmente por meio de administradores com poderes especiais, ou, não os
havendo, por intermédio de qualquer administrador.”
Os administradores são os representantes legais da sociedade. De acordo com a
teoria orgânica, o administrador não é tecnicamente representante, mas presentante
(órgão integrante da própria sociedade, que externa a sua vontade, ou seja, torna-a
presente). Não obstante, o art. 1.011, § 2º, do Código Civil dispõe que “aplicam-se à
atividade dos administradores, no que couber, as disposições concernentes ao
mandato”.
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É o que dispõe o art. 1.015 do Código Civil:
“no silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos
os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto
social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a
maioria dos sócios decidir”.
Caso o contrato social estabeleça expressamente os poderes e atribuições
dos administradores, é preciso analisar que efeitos para a sociedade produzirão
os atos de gestão que extrapolarem os limites estabelecidos.
O art. 1.015, parágrafo único do Código Civil, porém, afirma o seguinte:
“o excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto
a terceiro se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses: I – se
a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro
próprio da sociedade; II – provando-se que era conhecida do
terceiro; III – tratando-se de operação evidentemente estranha aos
negócios da sociedade”.
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quando o ato ultra vires do administrador acarretou proveito aos demais sócios (REsp
704.546/DF).
Nos casos em que o administrador agir com culpa no desempenho de suas
atribuições, seja praticando ato regular de gestão ou ato com excesso de poderes, ele
responderá tanto perante terceiros quanto perante a sociedade, nos termos do art. 1.016
do Código Civil: “os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e
os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções”.
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Outrossim, a distribuição de lucros ilícitos ou fictícios acarreta
responsabilidade solidária dos administradores que a realizarem e dos sócios que
os receberem, conhecendo ou devendo conhecer-lhes a ilegitimidade (Art. 1.009,
CC).
1.6. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS
Conforme já vimos, a pessoa jurídica não se confunde com seus sócios,
administradores, associados, instituidores (art. 49-A, do CC).
Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios,
associados, instituidores ou administradores.
Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é
um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos,
estabelecido pela lei com a finalidade de estimular
empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e
inovação em benefício de todos.
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Em se tratando de sociedade simples “pura”, a responsabilidade, em
princípio, é ilimitada, mas não solidária, conforme previsão do art. 1.023 do Código
Civil: “se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios
pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de
responsabilidade solidária”.
Destaque-se, porém, que a parte final do dispositivo legal em questão
ressalva a possibilidade de pactuação de cláusula de responsabilidade solidária,
tornando a responsabilidade dos sócios da sociedade simples “pura”, nesse caso,
igual a dos sócios de uma sociedade em nome coletivo.
Essa cláusula de responsabilidade solidária é a prevista no art. 997, inciso
VIII do Código Civil, que estabelece a possibilidade de o contrato social prever “se
os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais”.
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após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas
posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação.
Em um processo no qual se discutia a extensão da responsabilidade de ex-
sócio com base nas regras dos arts. 1.003, parágrafo único, e 1.032 do Código Civil,
a 3ª Turma do STJ decidiu que, “na hipótese de cessão de quotas sociais, a
responsabilidade do cedente pelo prazo de até 2 (dois) anos após a averbação da
respectiva modificação contratual restringe-se às obrigações sociais contraídas
no período em que ele ainda ostentava a qualidade de sócio, ou seja, antes da
sua retirada da sociedade. Inteligência dos arts. 1.003, parágrafo único, 1.032 e
1.057, parágrafo único, do Código Civil de 2002” (REsp 1.537.521/RJ).
Os Ministros reconheceram que o sócio que sai da sociedade responde por
dívidas sociais até dois anos após sua saída, mas destacaram que essa
responsabilidade se refere a dívidas anteriores à sua saída, e não a dívidas
posteriores.
Art. 1.026. O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros bens
do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da
sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação.
Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor
requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma do art.
1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após
aquela liquidação. Esse dispositivo admite a penhora de quotas para execução
de dívida particular de sócio, nesses casos, aplica-se a regra do art. 861 do CPC.
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As matérias que dependem da deliberação dos sócios poderão ser
expressas no contrato social. Em alguns casos, porém, é a própria lei que o faz,
como nas hipóteses de dissolução da sociedade (art. 1.033, III do Código Civil) ou
de exclusão do sócio remisso (art. 1.004, parágrafo único do Código Civil).
Quanto ao quorum de deliberação dispõe o art. 1.010: “quando, por lei ou
pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade,
as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor
das quotas de cada um.”
A regra é que as deliberações sejam tomadas por maioria, mas a própria lei
ou o contrato social pode estabelecer quórum qualificado para certas matérias,
como 2/3 (dois terços), 3/4 (três quartos) ou até mesmo unanimidade (o art. 999
do Código Civil, por exemplo, exige unanimidade para mudanças nas cláusulas
obrigatórias do contrato social, descritas no art. 997).
Enunciado 385 das Jornadas de Direito Civil: “a unanimidade exigida para
a modificação do contrato social somente alcança as matérias referidas no art.
997, prevalecendo, nos demais casos de deliberação dos sócios, a maioria
absoluta, se outra mais qualificada não for prevista no contrato”. Art. 1.010, § 2º.
Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de empate,
e, se este persistir, decidirá o juiz.
A maioria absoluta não diz respeito ao número de sócios votantes, mas ao
valor de suas quotas. A aferição do número de sócios votantes será importante,
entretanto, quando pelo valor das quotas houver empate na votação. Nesse caso,
prevalecerá a decisão que teve o apoio da maior quantidade de sócios. No caso
de empate também no número de sócios, a matéria deverá ser levada ao Poder
Judiciário.
IMPORTANTE!
Art. 1.010, § 3º. Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma
operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a
aprove graças a seu voto.
32
1.8. DA MORTE, RETIRADA OU EXCLUSÃO DO SÓCIO
Conforme Art. 1.028:
No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:
I - se o contrato dispuser diferentemente;
II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da
sociedade;
III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do
sócio falecido; e
Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer
sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado,
mediante notificação aos demais sócios, com antecedência
mínima de sessenta dias; se de prazo determinado, provando
judicialmente justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação,
podem os demais sócios optar pela dissolução da sociedade.
34
CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA. SÓCIO MAJORITÁRIO. PRÁTICA DE
FALTA GRAVE. EXCLUSÃO. ART. 1.030 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. SÓCIOS
MINORITÁRIOS. INICIATIVA. POSSIBILIDADE.
1. Controvérsia limitada a definir se é possível a exclusão judicial de sócio
majoritário de sociedade limitada por falta grave no cumprimento de suas
obrigações, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios.
2. Nos termos do Enunciado nº 216/CJF, aprovado na III Jornada de Direito Civil, o
quórum de deliberação previsto no art. 1.030 do Código Civil de 2002 é de maioria
absoluta do capital representado pelas quotas dos demais sócios.
3. Na apuração da maioria absoluta do capital social para fins de exclusão judicial
de sócio de sociedade limitada, consideram-se apenas as quotas dos demais
sócios, excluídas aquelas pertencentes ao sócio que se pretende excluir, não
incidindo a condicionante prevista no art. 1.085 do Código Civil de 2002, somente
aplicável na hipótese de exclusão extrajudicial de sócio por deliberação da
maioria representativa de mais da metade do capital social, mediante alteração
do contrato social. 4. Recurso especial não provido. (REsp 1653421/MG, Rel.
Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em
10/10/2017, DJe 13/11/2017)
36
c) Os direitos do sócio durante a apuração dos haveres.
Art. 608, parágrafo único, do CPC. Após a data da resolução, o ex-sócio, o espólio
ou os sucessores terão direito apenas à correção monetária dos valores apurados
e aos juros contratuais ou legais.
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema abaixo.
37
2. SOCIEDADE LIMITADA
2.1. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio
é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem
solidariamente pela integralização do capital social.
- Responsabilidade subsidiária:
Se a sociedade tiver bens, é a própria sociedade quem responde pelas
dívidas sociais (autonomia patrimonial da sociedade: art. 49-A e 1.024 do CC).
- Responsabilidade limitada:
Se a sociedade não tiver mais bens, e o capital social estiver totalmente
integralizado, os sócios não respondem com seus bens pessoais pelas dívidas
sociais.
- Responsabilidade solidária:
Se a sociedade não tiver mais bens, e o capital social não estiver totalmente
integralizado, os sócios respondem com seus bens pessoais pelas dívidas sociais,
solidariamente, pelo que faltar para a integralização.
- Responsabilidade direta:
Se houver abuso de personalidade jurídica, o(s) sócio(s) que se beneficiou
(aram) direta ou indiretamente do abuso responde(m) com seus bens pessoais
pelas dívidas sociais, independentemente de a sociedade ainda ter bens
(desconsideração da personalidade jurídica: art. 50 do CC).
40
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais.
Cláusulas obrigatórias:
1. Qualificação dos sócios:
Sócio incapaz, sócio impedido e sócios casados.
2. Qualificação da sociedade:
Nome empresarial, objeto, sede e prazo.
3. Capital social:
Funções, diferença para o patrimônio e ‘subcapitalização’.
4. Subscrição e integralização das quotas:
Impossibilidade de contribuições em serviços.
5. Administração da sociedade:
Administrador não sócio e conselho de administração.
6. Participação nos lucros e nas perdas:
Quotas preferenciais.
41
alguns doutrinadores, deveria o CC ter previsto também a responsabilidade do
sócio por eventuais vícios redibitórios da coisa).
b) Se o sócio integralizar sua quota com a transferência de créditos de sua
titularidade, responderá pela solvência do devedor, isto é, caso os créditos
cedidos não sejam pagos pelos seus devedores, o sócio que os cedeu terá que
pagá-los.
c) Nas sociedades limitadas não é necessário laudo de avaliação dos bens
usados para integralização do capital social, e isso vale tanto para a constituição
da sociedade quanto para os casos de aumento do capital social.
d) A doutrina costuma destacar que os bens cedidos à sociedade a título
de integralização do capital social (i) devem estar relacionados ao objeto social,
tendo utilidade direta ou indireta para a atividade exercida pela sociedade, e (ii)
devem ser aptos à execução por eventuais credores sociais, de modo que não
seria permitido integralizar quotas com bens impenhoráveis.
42
2.5.2. CONTRIBUIÇÃO EM SERVIÇOS:
Art. 1.006. O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode, salvo
convenção em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob
pena de ser privado de seus lucros e dela excluído.
Nas sociedades limitadas, não se admite a contribuição em serviços (art.
1.055, § 2º do Código Civil).
43
Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente
modificação do contrato social com o consentimento dos demais
sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade.
Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota,
total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de
audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de
titulares de mais de um quarto do capital social.
Parágrafo único. A cessão terá eficácia quanto à sociedade e
terceiros, inclusive para os fins do parágrafo único do art. 1.003, a
partir da averbação do respectivo instrumento, subscrito pelos
sócios anuentes.
Contrato social:
• Quotas transferíveis/intransferíveis
• Transferência condicionada/incondicionada
• Direito de preferência aos sócios
• Silêncio:
a) Livre transferência entre sócios
b) Transferência condicionada para estranhos
IN 81 do DREI.
Item 4.4.2 do Manual de Registro da Sociedade Limitada:
“Na omissão do contrato social, a cessão de quotas de uma sociedade limitada
pode ser feita por instrumento de cessão de quotas, total ou parcialmente,
averbado junto ao registro da sociedade, com a devida repercussão no cadastro
e independentemente de alteração contratual (Enunciado 225 das Jornadas de
Direito Civil”.
Notas:
I. A reunião ou assembleia de sócios pode ser suprida, se substituída pela expressa
anuência escrita, no instrumento de cessão ou em outro, de detentores de mais de
setenta e cinco por cento do capital social da limitada em questão.
II. Será obrigatória na primeira alteração contratual que sobrevier após a averbação da
cessão, a consolidação do Contrato Social, com o novo quadro societário.
44
2.6.2. RESPONSABILIDADE DO CEDENTE E DO CESSIONÁRIO DE QUOTAS
O sócio que cedeu suas quotas a outrem não fica automaticamente
exonerado de eventuais obrigações perante terceiros e perante a própria
sociedade.
Art. 1.003, parágrafo único. “Até dois anos depois de averbada a modificação
do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a
sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio”.
O sócio que ingressou na sociedade, por sua vez, não ficará responsável
apenas pelas obrigações sociais posteriores, mas também pelas anteriores à sua
entrada.
Art. 1.025. “O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das
dívidas sociais anteriores à admissão”.
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema abaixo.
46
3. SOCIEDADES ANÔNIMAS
3.1. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
No Brasil, as sociedades anônimas são regidas pela Lei 6.404/1976 (LSA).
Desde 1976, ano de sua edição, a LSA sofreu apenas algumas alterações em
sua redação, provocadas pela Lei 9.457/1997, que a preparou para o processo de
privatizações; pela Lei 10.303/2001, que procurou proteger os interesses dos
acionistas minoritários e tornar o mercado de capitais mais seguro e atrativo para
os investidores; pelas Leis 11.638/2007 e 11.941/2009, que trouxeram novas regras
acerca da elaboração e da divulgação das demonstrações financeiras desse tipo
societário; e pelas Leis 12.431/2011 e 13.129/2015, que lhe trouxeram modificações e
acréscimos pontuais.
Mais recentemente, a LSA recebeu novas alterações das Leis 13.818
(publicações), 13.874/2019 (Lei da Liberdade Econômica) e 14.030/2020
(assembleias digitais).
47
§2º Nenhuma distribuição pública de valores mobiliários será
efetivada no mercado sem prévio registro na Comissão de Valores
Mobiliários.”
48
3.6. MERCADO BANCÁRIO X MERCADO DE CAPITAIS
• Mercado bancário: operações de crédito, em que a empresa assume a
posição de devedora e se compromete, não raro, a devolver os valores
captados em curto espaço de tempo e a taxas de juros altas.
• Mercado de capitais: operações de investimento, em que o investidores
não se tornam credores da companhia, mas sócios e partes interessadas
no sucesso da empresa, pois é dele que advirá o retorno do investimento
feito por eles.
50
3.7. CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA
Sendo a sociedade anônima uma sociedade institucional, e não contratual,
ela se constitui não por meio de um contrato social, mas de um ato institucional
ou estatutário (estatuto social).
Ausente a contratualidade, a constituição da sociedade anônima deve
seguir uma série de requisitos formais previstos na legislação acionária, que
variam conforme ela seja aberta ou fechada.
51
Caberá a essa empresa colocar as ações junto aos investidores – etapa
seguinte – e também cuidar de uma série de documentos a serem apresentados
à CVM, assinando-os.
Contratada a empresa, será apresentado o pedido de registro à CVM,
instruído com estudo de viabilidade econômica e financeira do
empreendimento, projeto de estatuto social e prospecto, organizado e assinado
pelos fundadores e pela instituição financeira intermediária (art. 82, § 1º da LSA).
A CVM também exige outros documentos.
52
3.9. ASSEMBLEIA DE FUNDAÇÃO
Dispõe o art. 86 da LSA que “encerrada a subscrição e havendo sido
subscrito todo o capital social, os fundadores convocarão a assembleia geral que
deverá: I – promover a avaliação dos bens, se for o caso (artigo 8º); II – deliberar
sobre a constituição da companhia”.
O quorum de instalação dessa assembleia inicial de fundação está previsto
no art. 87 da LSA: “a assembleia de constituição instalar-se-á, em primeira
convocação, com a presença de subscritores que representem, no mínimo,
metade do capital social, e, em segunda convocação, com qualquer número”.
Para que se aprove a constituição da companhia aberta, basta que não haja
oposição de mais da metade do capital social, nos termos do § 3º do art. 87 da
LSA, que assim dispõe: “verificando-se que foram observadas as formalidades
legais e não havendo oposição de subscritores que representem mais da metade
do capital social, o presidente declarará constituída a companhia, procedendo-
se, a seguir, à eleição dos administradores e fiscais”.
* Todos votam, inclusive titulares de ações preferenciais.
** Alterações no estatuto dependem de deliberação unânime.
53
3.9.2 CONSTITUIÇÃO POR ASSEMBLÉIA DE FUNDAÇÃO
Caso a opção adotada seja a realização de assembleia de fundação, ela
deverá submeter-se ao mesmo procedimento da assembleia de fundação da
companhia aberta, analisado no tópico antecedente. É o que determina o § 1º do
art. 88 da LSA: “se a forma escolhida for a de assembleia geral, observar-se-á o
disposto nos artigos 86 e 87, devendo ser entregues à assembleia o projeto do
estatuto, assinado em duplicata por todos os subscritores do capital, e as listas
ou boletins de subscrição de todas as ações”.
54
capital social da companhia seja formado por bens (sejam eles móveis ou
imóveis), e a lei deixou claro que, mesmo tratando-se de bens imóveis, é
dispensável que a sua incorporação ao capital da sociedade seja feita por meio
de escritura pública.
O art. 91 da LSA determina que “nos atos e publicações referentes a
companhia em constituição, sua denominação deverá ser aditada da cláusula
‘em organização’”. Somente após a sua efetiva constituição, com o posterior
registro dos atos constitutivos na Junta Comercial, poderá ser retirada a
expressão “em organização” de sua denominação
O art. 92 da LSA, por outro lado, regula as responsabilidades dos fundadores
da companhia e da instituição financeira prestadora dos serviços de
underwriting, dispondo que “os fundadores e as instituições financeiras que
participarem da constituição por subscrição pública responderão, no âmbito das
respectivas atribuições, pelos prejuízos resultantes da inobservância de preceitos
legais”.
Complementando essa regra do caput, estabelece o seu parágrafo único
que “os fundadores responderão, solidariamente, pelo prejuízo decorrente de
culpa ou dolo em atos ou operações anteriores à constituição”.
Isso mostra que a exigência de contratação de instituição financeira
underwriter é importante para dar mais segurança aos investidores.
55
Afinal, conforme já estudamos, no Brasil a personalidade jurídica só se
inicia com o respectivo registro no órgão competente (art. 985 do Código Civil), e
esse registro deve ser prévio ao início do exercício da atividade empresarial (art.
967 do Código Civil).
Tratando-se de sociedade empresária, como é o caso da sociedade
anônima, o órgão registral competente é justamente a Junta Comercial do
Estado em que se localizar a sede da companhia.
Caso a constituição da companhia tenha ocorrido por meio da realização
de assembleia de fundação, a LSA determina o arquivamento de uma série de
documentos, nos termos do seu art. 95 (“um exemplar do estatuto social,
assinado por todos os subscritores”, por exemplo).
Caso, entretanto, a companhia tenha sido constituída por meio da lavratura
de escritura pública em cartório, o que só pode ocorrer, frise-se, com as
companhias fechadas, a LSA determina que basta o arquivamento da certidão
expedida pelo cartório no qual foi lavrada a escritura. É que dispõe o seu art. 96:
“se a companhia tiver sido constituída por escritura pública, bastará o
arquivamento de certidão do instrumento”.
Na análise dos atos levados a registro, caberá à Junta Comercial, conforme
determinação do art. 97 da LSA, “examinar se as prescrições legais foram
observadas na constituição da companhia, bem como se no estatuto existem
cláusulas contrárias à lei, à ordem pública e aos bons costumes”.
Sendo negado o registro pela Junta, aplica-se a regra constante do
parágrafo único do dispositivo em questão: “se o arquivamento for negado, por
inobservância de prescrição ou exigência legal ou por irregularidade verificada
na constituição da companhia, os primeiros administradores deverão convocar
imediatamente a assembleia geral para sanar a falta ou irregularidade, ou
autorizar as providências que se fizerem necessárias (...)”.
Deferido o arquivamento dos atos constitutivos da companhia pela Junta
Comercial, devem os administradores providenciar a publicação de tais atos na
imprensa oficial de sua localidade, nos termos do art. 98 da LSA: “arquivados os
56
documentos relativos à constituição da companhia, os seus administradores
providenciarão, nos 30 (trinta) dias subsequentes, a publicação deles, bem como
a de certidão do arquivamento, em órgão oficial do local de sua sede”.
Cumpridas todas as formalidades acima detalhadas, a sociedade anônima
poderá, enfim, entrar em funcionamento. Assim, se a companhia começar a
exercer suas atividades antes de cumpridas as formalidades complementares
ora em análise, será considerada irregular, determinando, inclusive, o art. 99,
parágrafo único da LSA que “a companhia não responde pelos atos ou operações
praticados pelos primeiros administradores antes de cumpridas as formalidades
de constituição, mas a assembleia geral poderá deliberar em contrário”. Isso
significa que os atos e operações praticados pelos primeiros administradores
antes de cumpridas as formalidades de constituição são de responsabilidade
deles, e não da companhia, salvo se a assembleia geral, por exemplo, ratificar tais
atos.
Finalmente, caso sobrevenha algum prejuízo para a companhia em razão
de atraso na satisfação de todas essas exigências formais da lei, prevê o art. 99 da
LSA que os primeiros administradores devem responder perante a sociedade,
podendo esta ingressar com ação de reparação civil contra eles: “os primeiros
administradores são solidariamente responsáveis perante a companhia pelos
prejuízos causados pela demora no cumprimento das formalidades
complementares à sua constituição”.
57
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema abaixo.
58
* Para todos verem: esquema abaixo.
59
4. TIPOS MENORES E OPERAÇÕES
4.1. SOCIEDADE EM NOME COLETIVO
4.1.1. Características essenciais
Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em
nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas
obrigações sociais.
- Impossibilidade de sócio pessoa jurídica (sócio incapaz/impedido?);
- Responsabilidade ilimitada dos sócios;
- Uso de firma social (art. 1.156 do Código Civil).
A solidariedade se dá entre os sócios. Entre eles e a própria sociedade,
porém, a relação é de subsidiariedade.
60
Contrato social: Artigo 997 do CC.
Administração da sociedade:
Art. 1.042. A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios,
sendo o uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os
necessários poderes.
Penhora de cotas:
Art. 1.043. O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-
se a sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor.
Parágrafo único. Poderá fazê-lo quando:
I - a sociedade houver sido prorrogada tacitamente;
II - tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida
judicialmente oposição do credor, levantada no prazo de noventa
dias, contado da publicação do ato dilatório.
Nesse caso, aplica-se subsidiariamente o caput do art. 1.026 (penhora de
lucros).
Dissolução:
Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas
enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência.
61
4.2.1. Legislação aplicável
Art. 1.046. Aplicam-se à sociedade em comandita simples as
normas da sociedade em nome coletivo, no que forem compatíveis
com as deste Capítulo.
Parágrafo único. Aos comanditados cabem os mesmos direitos e
obrigações dos sócios da sociedade em nome coletivo.
62
4.2.3. Dissolução
Art. 1.051. Dissolve-se de pleno direito a sociedade:
I - por qualquer das causas previstas no art. 1.044;
II - quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma
das categorias de sócio.
Parágrafo único. Na falta de sócio comanditado, os comanditários
nomearão administrador provisório para praticar, durante o
período referido no inciso II e sem assumir a condição de sócio, os
atos de administração.
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Parágrafo único. A denominação ou a firma deve ser seguida das
palavras "Comandita por Ações", por extenso ou abreviadamente.
64
deliberação de acionistas que representem no mínimo dois terços
do capital social.
§ 3º O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos,
responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua
administração.
4.3.3. Poderes da assembleia geral
Lei das S/A - Art. 283. A assembleia-geral não pode, sem o
consentimento dos diretores ou gerentes, mudar o objeto essencial
da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou
diminuir o capital social, emitir debêntures ou criar partes
beneficiárias nem aprovar a participação em grupo de sociedade.
Art. 1.092. A assembleia geral não pode, sem o consentimento dos
diretores, mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o
prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital social, criar
debêntures, ou partes beneficiárias.
65
modo, as ações da comandita podem ser ordinárias ou preferenciais; os
titulares destas últimas devem ter vantagens estatutárias na distribuição do
resultado, e podem sofrer restrições ou supressão do direito de voto; a sociedade
pode ser aberta, para fins de captação de recursos junto ao mercado de
capitais, ou fechada; os sócios têm direito ao dividendo mínimo definido nos
estatutos etc.” (COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2004. p. 478. v. 2).
4.4. COOPERATIVAS
4.4.1. Tratamento constitucional: criação livre
Art. 5º, XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas
independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu
funcionamento;
Os arts. 17 a 20 da Lei 5.764/1971, que tratam da “autorização para
funcionamento” das cooperativas, não foram recepcionados pela CF/88, que
assegura a livre criação de sociedades cooperativas.
66
Apesar de a cooperativa ter a natureza de sociedade simples, ela não se
registra no Cartório (art. 1.150 do Código Civil), mas nas Junta Comercial (art. 32,
inciso II, alínea ‘a’ da Lei 8.934/1994).
4.5.2. Transformação:
A transformação é operação pela qual a sociedade altera o seu tipo
societário (por exemplo: uma sociedade limitada que passa a ser uma sociedade
anônima). Não há mudança no quadro societário, no patrimônio e nas
obrigações. Não há que se falar em sucessão, e os bens continuam sob mesma
titularidade, sendo preciso apenas averbar no órgão de registro novo nome da
sociedade.
Art. 1.113. O ato de transformação independe de dissolução ou
liquidação da sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da
constituição e inscrição próprios do tipo em que vai converter-se.
Art. 220. A transformação é a operação pela qual a sociedade passa,
independentemente de dissolução e liquidação, de um tipo para
outro. Parágrafo único. A transformação obedecerá aos preceitos
que regulam a constituição e o registro do tipo a ser adotado pela
sociedade.
69
cooperativa em decorrência da transformação do tipo de sociedade. O art. 1.113
do Código Civil de 2002 autoriza o ato de transformação societária
independentemente ‘de dissolução ou liquidação da sociedade’, resguardando,
apenas, a observância dos ‘preceitos reguladores da constituição e inscrição do
tipo em que vai converter-se’, de modo que a transformação do tipo societário
simples (classificação das cooperativas) não impõe a necessidade de liquidá-la,
porque a pessoa jurídica é uma só, tanto antes como depois da operação,
mudando apenas o tipo (de cooperativa para limitada, na hipótese)” (REsp
1.528.304 – RS).
4.5.4. Incorporação
Art. 1.116. Na incorporação, uma ou várias sociedades são absorvidas
por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações,
devendo todas aprová-la, na forma estabelecida para os respectivos
tipos.
70
Art. 227. A incorporação é a operação pela qual uma ou mais
sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os
direitos e obrigações.
71
nomeados pela assembleia geral da sociedade incorporadora (nesta, portanto,
haverá duas assembleias).
4.5.5. Fusão
Art. 1.119. A fusão determina a extinção das sociedades que se
unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos
e obrigações.
Art. 228. A fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais
sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em
todos os direitos e obrigações.
Na fusão, ao contrário do que se dá na incorporação, ocorre a
extinção de todas as sociedades envolvidas, com o surgimento de
uma nova sociedade.
Art. 1.120. A fusão será decidida, na forma estabelecida para os
respectivos tipos, pelas sociedades que pretendam unir-se.
§ 1º Em reunião ou assembleia dos sócios de cada sociedade,
deliberada a fusão e aprovado o projeto do ato constitutivo da nova
72
sociedade, bem como o plano de distribuição do capital social,
serão nomeados os peritos para a avaliação do patrimônio da
sociedade.
§ 2º Apresentados os laudos, os administradores convocarão
reunião ou assembleia dos sócios para tomar conhecimento deles,
decidindo sobre a constituição definitiva da nova sociedade.
§ 3º É vedado aos sócios votar o laudo de avaliação do patrimônio
da sociedade de que façam parte.
Art. 228.
§ 1º A assembleia geral de cada companhia, se aprovar o protocolo
de fusão, deverá nomear os peritos que avaliarão os patrimônios
líquidos das demais sociedades.
§ 2º Apresentados os laudos, os administradores convocarão os
sócios ou acionistas das sociedades para uma assembleia geral, que
deles tomará conhecimento e resolverá sobre a constituição
definitiva da nova sociedade, vedado aos sócios ou acionistas votar
o laudo de avaliação do patrimônio líquido da sociedade de que
fazem parte.
Na primeira etapa do procedimento, cada sociedade envolvida na
operação realizará uma assembleia geral, a qual deverá aprovar a fusão e nomear
os peritos que avaliarão os patrimônios das outras sociedades
Na segunda etapa do procedimento, haverá uma assembleia conjunta, na
qual deverão ser aprovados os respectivos laudos (obviamente, os sócios só
votarão os laudos das outras sociedades, e não o da sociedade da qual fazem
parte) e a constituição definitiva da nova sociedade.
73
Art. 228, § 3º Constituída a nova companhia, incumbirá aos
primeiros administradores promover o arquivamento e a
publicação dos atos da fusão.
Como na fusão há a constituição de uma nova sociedade, ela deverá ser
registrada na Junta Comercial competente.
4.5.6. Cisão
Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere
parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades,
constituídas para esse fim ou já existentes, extinguindo-se a
companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou
dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que
absorver parcela do patrimônio da companhia cindida sucede a
esta nos direitos e obrigações relacionados no ato da cisão; no caso
de cisão com extinção, as sociedades que absorverem parcelas do
patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na proporção
dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não
relacionados.
A cisão pode ser definida, sucintamente, como transferência de patrimônio
de uma sociedade para outra. Se se transferem apenas alguns bens da sociedade
cindida, há uma cisão parcial. Por outro lado, havendo a transferência de todos
os bens da sociedade cindida, há uma cisão total, e nesse caso a sociedade
cindida se extingue.
Art. 229.
§ 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em sociedade
nova, a operação será deliberada pela assembleia geral da
companhia à vista de justificação que incluirá as informações de
que tratam os números do artigo 224; a assembleia, se a aprovar,
nomeará os peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser
transferida, e funcionará como assembleia de constituição da nova
companhia.
§ 3º A cisão com versão de parcela de patrimônio em sociedade já
existente obedecerá às disposições sobre incorporação (artigo 227).
74
§ 4º Efetivada a cisão com extinção da companhia cindida, caberá
aos administradores das sociedades que tiverem absorvido
parcelas do seu patrimônio promover o arquivamento e publicação
dos atos da operação; na cisão com versão parcial do patrimônio,
esse dever caberá aos administradores da companhia cindida e da
que absorver parcela do seu patrimônio.
§ 5º As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da
companhia cindida serão atribuídas a seus titulares, em
substituição às extintas, na proporção das que possuíam; a
atribuição em proporção diferente requer aprovação de todos os
titulares, inclusive das ações sem direito a voto.
75
EM RESUMO
* Para todos verem: esquema abaixo.
76
o contrato é uma avença entre duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas para,
entre si, regularem e solucionarem uma relação que os envolva, tornando-se uma
das fontes mais comuns, senão a mais comum, de obrigações.
O Código Civil Brasileiro disciplina a matéria de contratos na sua Parte
Especial, Livro I, sendo que no Título V trata “Dos Contratos em Geral” e Título VI
disciplina “Das Várias Espécies de Contratos”.
Sendo um negócio jurídico, o contrato deve preencher todos os requisitos
estabelecidos no art. 104 do Código Civil: agente capaz, objeto lícito, possível,
determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei.
A vontade da parte é essencial para a configuração de um contrato, e será
mitigada em maior ou menor grau a depender do momento histórico das
sociedades, bem como da espécie contratual que se analisa. A massificação
própria de determinados negócios modificou o papel do elemento volitivo na
formação do contrato. Na visão de Fabio Ulhoa Coelho (in Curso de direito civil:
Contratos), na atualidade vigora a distinção entre o contrato firmado pelos
“iguais” e o contrato firmado entre “desiguais”, prestigiando-se a vontade das
partes naquele e protegendo-se o economicamente mais fraco neste, mediante
normas de aplicação cogente e regras de interpretação dos pactos que buscam
o equilíbrio entre os envolvidos.
Os princípios tradicionais que orientaram a formação da teoria clássica dos
contratos (autonomia privada, força obrigatória e relatividade) foram, ao longo
dos anos, flexibilizados em decorrência do crescimento da importância de novos
princípios tais como a boa-fé objetiva; função social do contrato; reequilíbrio
econômico-financeiro do contrato e identificação da função econômica do
contrato.
O Código Civil de 2002 nos apresenta as normas básicas que regem os
contratos, sejam eles civis ou empresariais. Os vetores fundamentais a serem
observados estão ali: liberdade negocial, função social do contrato, boa-fé
objetiva, probidade, lealdade, eticidade e assim por diante. O estatuto material
revogou grande parte do Código Comercial de 1850, circunstância que deixou
77
as relações empresariais sem um conjunto normativo próprio. Todavia, não foi
apresentada uma seção específica para tratar dessas relevantes relações, mesmo
que nem todas as regras obrigacionais civis sejam monoliticamente aplicadas ao
Direito Empresarial e exista autonomia entre ambas.
Importante sinalar que o Código Civil foi parcialmente alterado pela Lei nº
13.874/2019, chamada de “Lei da Liberdade Econômica”, a qual promoveu
importantes mudanças, em boa parte aplicáveis aos contratos empresariais1.
Ao fim, há que se destacar a existência de diversos diplomas legais na
legislação extravagante tratando de forma mais detalhada várias espécies de
contratos estritamente empresariais, como, por exemplo, contrato de franquia e
contrato de leasing.
1
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção
mínima e a excepcionalidade da revisão contratual.
Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença
de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos
previstos em leis especiais, garantido também que:
I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das
cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução;
II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e
III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada.
78
➢ os contratos onerosos podem ser subdivididos em [a] comutativos, quando
todas as partes envolvidas auferem vantagem econômica e [b] aleatórios,
quando apenas um dos contratantes terá vantagem econômica, não podendo
saber antecipadamente, qual deles será, em face do risco de sorte ou de azar;
➢ constituição: são divididos em [a] consensuais, para cuja constituição é
suficiente o encontro de vontades, [b] formais (ou solenes), em que o
aperfeiçoamento do negócio depende de num instrumento escrito, e os [c]
reais, que se constituem apenas com a tradição da coisa;
➢ forma de execução: [a] instantâneos, quando a obrigação da parte
corresponde a um só ato e [b] contínuos, quando pelo menos um dos
contratantes cumpre a obrigação com uma sucessão de atos;
➢ tipicidade: os contratos podem ser [a] típicos, que possuem formalidades,
direitos e obrigações disciplinados na lei, por normas cogentes ou supletivas,
não se esgotando nas previsões contratuais definidas pelas partes, os [b]
atípicos, que são regidos exclusivamente pelo convencionado no contrato,
dentro dos limites legais e os [c] mistos, que se situam na transição entre os
típicos e atípicos, ou seja, as partes criam um negócio contratual não tipificado
em lei com o aproveitamento de normas de um ou mais contratos típicos;
➢ liberdade de contratação: [a] voluntários, nos quais as partes têm alternativa
de não contratar e [b] necessários, nos quais não existe a opção de não
contratar, pelo menos para uma das partes, como o contrato de seguro DPVAT;
➢ ramo jurídico: [a] administrativo, no qual uma das partes será a pessoa jurídica
de direito público, com a primazia, portanto, do interesse público, [b] de
trabalho, caracterizado quando houver entre duas pessoas privadas a relação
de prestação de serviços pessoais, subordinados, não eventuais e mediante
remuneração, [c] de relação de consumo, formalizados entre consumidor e
fornecedor, nos moldes definidos pelos arts. 3º e 5º do Código de Defesa do
Consumidor, [d] comercial ou empresarial, quando as duas partes são
empresários, e [e] civil, pacto em que nenhum dos contratantes é pessoa
jurídica de direito público, empregado, consumidor ou empresário.
79
1.2. EMPRESÁRIO
Para bem identificarmos o contrato empresarial, tema da nossa aula,
mostra-se fundamental saber quem é o empresário.
O Código Civil define quem pode ser considerado empresário no caput
do seu art. 966: considera-se empresário quem exerce profissionalmente
atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e
serviços. Adiante, no parágrafo único, indica quem não será considerado
empresário: não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, ainda como o concurso de auxiliares ou
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
No âmbito do Direito Empresarial, nosso foco incide sobre as avenças
celebradas entre empresas, ou seja, apenas estas farão parte da relação jurídica
em estudo, de imediato sendo importante ficar claro que não encontraremos
em nenhum dos polos do contrato empresarial uma pessoa física ou outra
figura que não detenha características de empresário. O contrato celebrado
entre empresas é chamado de contrato empresarial justamente por estar
inserido num contexto diverso do contrato celebrado entre particulares.
Todavia, alarga-se o conceito apenas para alcançar, de um lado, as
obrigações decorrentes de certos contratos específicos do direito comercial,
mas cujas partes não são necessariamente empresários, como o acordo de
acionistas ou o contrato de administração de empresas, e, de outro, as
obrigações cambiárias. Estes vínculos obrigacionais devem se submeter ao
mesmo tratamento jurídico liberado aos que aproximam exclusivamente
empresários. (COELHO, Fábio Ulhoa. As obrigações empresariais. In: Tratado de
Direito Comercial. Vol. 5. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 13).
80
que se reconhecer, dessarte, a essencialidade da relação contratual para a
própria prática mercantil.
Assim, a atividade econômica desempenhada pela empresa resulta na
celebração de diversos contratos com variados regimes jurídicos – poderão ser
trabalhistas, administrativos, comerciais e até mesmo, excepcionalmente, de
consumo. São inúmeros contratos bancários; de aquisição de insumos para sua
atividade de produção, comércio ou prestação de serviços; de contratação de
empregados, prestadores autônomos ou empresas terceirizadas; participação
em licitações, e assim por diante. Em suma, as atividades econômicas de uma
empresa irão demandar algum tipo de avença.
Havendo necessidade de interpretação ou intervenção externa para a
readequação (judicial ou privada mediante arbitragem ou negociação direta),
será preciso considerar as especificidades desta relação, o contexto de sua
formação e execução, observando a necessidade de assegurar aos agentes
econômicos segurança e previsibilidade nas contratações e o respeito ao direito
concorrencial para evitar indesejável intervenção na liberdade própria da
competitividade inerente ao capitalismo. São todos indicativos fundamentais
para o bom desempenho das atividades econômicas. Do contrário, existe a
possibilidade de efetivo prejuízo para a economia de mercado, pois o risco da
atividade e a busca do lucro são partes integrantes da relação comercial.
81
contratos empresariais com aqueles em que ambos (ou todos) os polos da
relação têm a sua atividade movida pela busca do lucro. É preciso reconhecer:
esse fato imprime viés totalmente peculiar aos negócios jurídicos entre
empresários. Entretanto, adotar esse método de análise da realidade do
mercado descortina visão jurídica pouco usual entre nós, porquanto: (i)
Considera como objeto do direito comercial apenas os contratos celebrados
entre empresas (contratos interempresariais, i.e., aqueles em que os partícipes
têm sua atuação plasmada pela procura do lucro); e (ii) Coloca em relevo a
necessidade do esboço da teoria geral que leve em consideração as
peculiaridades dos contratos interempresariais no contexto do mercado (i.e.,
que considere a empresa na teia contratual em que se insere e que ajuda a
construir).
Nos contratos empresariais existe, como pressuposto, a ideia de
equiparação entre os empresários-partes, os quais estarão, em tese, em
condições semelhantes de conhecimento técnico e profissionalismo para
definirem seus interesses, resultando em maior autonomia da vontade, ainda
que não se despreze a potencial assimetria de informações ou de poder
econômico entre os envolvidos.
Na eventualidade de ser necessária uma readequação da avença, algo
possível e eventualmente recomendável, a linha interpretativa não pode ser a
mesma adotada nas legislações trabalhista, consumerista e mesmo a
puramente civilista – afinal, como já afirmado, apesar da revogação parcial do
Código Comercial, o Direito Empresarial manteve sua autonomia.
Oportuno, nesse momento, definir o exato alcance da legislação
consumerista na relação contratual da qual participem empresas. Como ensina
a reiterada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (aqui representada
pelo REsp 1599042 / SP), consumidor é toda pessoa física ou jurídica que
adquire ou utiliza, como destinatário final, produto ou serviço oriundo de um
fornecedor. Por sua vez, destinatário final, segundo a teoria subjetiva ou
finalista, adotada pela Segunda Seção desta Corte Superior, é aquele que
82
última a atividade econômica, ou seja, que retira de circulação do mercado o
bem ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação
própria, não havendo, portanto, a reutilização ou o reingresso dele no processo
produtivo. Logo, a relação de consumo (consumidor final) não pode ser
confundida com relação de insumo (consumidor intermediário). A partir
dessa lição, percebemos que eventualmente o empresário será tratado como
consumidor, titular das garantias e normas protetivas do Código de Defesa do
Consumidor. Normalmente atuará como “insumidor”, e assim as regras
aplicáveis serão as do próprio pacto, sob o pálio das regras gerais do Código Civil
e da Constituição Federal.
Postas tais premissas, percebe-se que o dirigismo contratual praticado
pelo atual ordenamento jurídico (capitaneado pelos princípios da função social
do contrato – artigo 421 – e da probidade e boa-fé – artigo 422 – ambos do CC),
atua de forma singular nas relações empresariais pelo potencial efeito em toda a
cadeia produtiva e econômica e o risco de irradiação dos efeitos interventivos
para o mercado, tão sensível a quaisquer alterações não previstas ou precificadas.
Justamente para definir melhor essa questão foi publicada a Lei nº 13.874/2019,
com as mudanças já destacadas.
Se existe a importante função social do contrato, não se pode olvidar
também a função social da empresa como um dos pilares do Direito
Empresarial.
De um lado, a necessidade de um sistema contratual socialmente justo, no
qual os economicamente mais frágeis ficam protegidos contra obrigações
excessivamente onerosas; de outro, um importante princípio e vetor para o
exercício da atividade econômica, tendo em vista que o seu sentido advém da
articulação entre os diversos princípios da ordem econômica constitucional. Mais
do que mera regra interpretativa e integrativa, a função social da empresa
apresenta abstenções e deveres positivos que orientam a atividade
empresarial, de maneira a contemplar, além dos interesses dos sócios, os
interesses dos diversos sujeitos envolvidos, como é o caso dos trabalhadores,
83
dos consumidores, dos concorrentes, do poder público e da própria sociedade,
compatibilizando os diversos interesses envolvidos na atividade econômica ao
mesmo tempo em que se busca a preservação da empresa e da atividade
lucrativa.
No mesmo passo, percebe-se que as teorias da imprevisão e da
onerosidade excessiva (artigo 478 do CC) não podem ser aplicadas
indistintamente aos contratos empresariais, pois, como acima afirmado, uma
certa dose de risco é seu elemento essencial.
O tratamento especial a incidir sobre os contratos empresariais também se
justifica em virtude do ambiente dinâmico e específico no qual estão inseridos.
As regras comerciais miram a rapidez de transações, e a otimização das ações e
do ambiente econômico requerem uma ampla margem de negociação dos
contratos legalmente previstos bem como demandam a atipicidade
contratual, possibilidade conferida às partes para criação de contratos não
previstos na legislação, amparados na expertise dos envolvidos e que visam
atender necessidades de seus empreendimentos.
Os contratos atípicos não dispõem de regramentos próprios e estão
expressamente consagrados pelo art. 425 do CC2
Nesse tocante, leciona Paula Forgioni (Teoria Geral dos Contratos
Empresariais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 65): As partes,
quando negociam e contratam, não tomam confortavelmente assento diante
de um código e escolhem, entre fórmulas pré-existentes [i.e., tipificadas], aquela
que mais lhes apraz. Os contratos empresariais nascem da prática dos
comerciantes e raramente de tipos normativos preconcebidos por autoridades
exógenas ao mercado.
Tratando-se de contrato atípico, a criação e interpretação devem ser
fundadas nas regras ordinárias aplicáveis aos contratos em geral e nos demais
preceitos legais criados para situações semelhantes. Haverá maior prevalência,
claro, do princípio da força obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda),
2 Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
84
notadamente por se tratar de relação empresarial, admitindo-se a ingerência
externa nas obrigações livremente pactuadas entre as partes somente em
situações excepcionais.
A esse respeito, oportuno ressaltar as considerações lançadas pelo Ministro
Paulo de Tarso Sanseverino quando do julgamento do REsp nº 1.158.815/RJ:
"(...) Neste contexto, visando à promoção destes fins, admite o
Direito brasileiro, expressamente, a revisão contratual, diante da
alteração superveniente das circunstâncias que deram origem ao
negócio jurídico (teoria da imprevisão, teoria da base objetiva etc.).
Nada obstante, a par de não se ter reconhecido, no caso dos autos,
qualquer destas alterações, não previstas, aliás, no Código de 1916,
a intervenção do Estado no campo do Direito Privado, mais
precisamente no plano do Direito Empresarial – em que se situa a
relação jurídica estabelecida entre a recorrente e as recorridas –,
deve ser mínima, em respeito à vontade manifestada de forma
efetivamente livre pelas partes. Neste sentido, Fábio Ulhoa Coelho
(O futuro do direito comercial. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 166)
chega a reconhecer a vigência, neste campo do direito, do
princípio da 'plena vinculação dos contratantes ao contrato', ou
seja uma força obrigatória dos efeitos do contrato (pacta sunt
servanda) em grau superior ao do Direito Civil, cujo afastamento
somente poderia ocorrer em hipóteses excepcionais.
Efetivamente, no Direito Empresarial, regido por princípios
peculiares, como a liberdade de iniciativa, a liberdade de
concorrência e a função social da empresa, a presença do
princípio da autonomia privada é mais saliente do que em outros
setores do Direito Privado. Naturalmente, mesmo no Direito
Empresarial, pode haver a necessidade de mitigação do princípio
da autonomia privada, especialmente quando houver
desigualdade material entre as empresas contratantes".
85
AO INTERPRETAR A RELAÇÃO CONTRATUAL EMPRESARIAL, NÃO PODEMOS
ESQUECER:
✓ presumível equiparação das partes;
✓ maior autonomia da vontade. Pacta sunt servanda;
✓ risco da atividade e busca do lucro integram a relação;
✓ função social do contrato X função social da empresa;
✓ possibilidade da formação de contratos atípicos.
86
27. Não se presume violação à boa-fé objetiva se o empresário, durante as
negociações do contrato empresarial, preservar segredo de empresa ou
administrar a prestação de informações reservadas, confidenciais ou
estratégicas, com o objetivo de não colocar em risco a competitividade de sua
atividade.
28. Em razão do profissionalismo com que os empresários devem exercer
sua atividade, os contratos empresariais não podem ser anulados pelo vício da
lesão fundada na inexperiência.
29. Aplicam-se aos negócios jurídicos entre empresários a função social do
contrato e a boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do Código Civil), em conformidade
com as especificidades dos contratos empresariais.
87
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos
contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa,
e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.
Em havendo a utilização do objeto como destinatário final, retirando-o do
circuito econômico, poderemos ter uma relação de consumo, regulada pelo
Código de Defesa do Consumidor, como já esclarecido em aula anterior (REsp nº
1.599.042/SP).
Existe grande liberdade para sua perfectibilização, que se dá quando as
partes chegam ao consenso sobre três elementos: preço, forma de pagamento e
objeto do contrato (artigo 482 do CC). Este pode se constituir em grande
quantidade de mercadorias, e então o contrato será compra e venda em atacado,
ou poucas unidades de uma mesma mercadoria, quando então teremos uma
avença varejista.
88
Podemos encontrar contratos de compra e venda submetidos às
condições suspensivas de [1] degustação; [2] peso, medida e contagem; [3]
experimentação; [4] exame.
Já a compra e venda sob amostra (CC, art. 484) caracteriza-se pela
manifestação de vontade positiva do comprador a partir do exame de uma
amostra do produto. Houve prévia avaliação favorável, mas o contrato somente
se aperfeiçoa com a constatação de que o produto entregue possui as mesmas
características da amostra previamente apresentada pelo vendedor,
configurando também uma condição suspensiva para o aperfeiçoamento do
contrato.
C) Preempção ou Preferência.
→ Prevista nos artigos 513 a 520 do CC.
Assegura ao vendedor o chamado direito de prelação. Caso o comprador
queira vender um bem que adquiriu a terceiros, estará obrigado pela cláusula
contratual a oferecer o bem ao primitivo vendedor, que se pagar o mesmo valor
oferecido pelo terceiro (e demais termos e condições), terá preferência para a
aquisição.
O prazo para exercer o direito é de no máximo 180 dias se a coisa for móvel
e de dois anos se imóvel. Na ausência de estipulação contratual, presumir-se-á
como sendo três dias para bem móvel e 60 dias para bem imóvel.
D) Compra e Venda com Reserva de Domínio.
Contratos nos quais a forma de pagamento for parcelada podem
apresentar cláusula de reserva de domínio, pela qual a posse direta do bem
alienado e os riscos da conservação são transferidos para o comprador desde o
início da vigência do contrato, mas o domínio (portanto, a propriedade) somente
será transferida após o pagamento da última parcela, conforme os artigos 521 a
528 do CC 3.
3
Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o
preço esteja integralmente pago. (...)
Art. 522. A cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e depende de registro no
domicílio do comprador para valer contra terceiros.
89
A venda com reserva de domínio restringe-se aos bens móveis e exige
forma escrita, pois se não houver previsão expressa da reserva de domínio,
aplicar-se-á a regra geral de que a propriedade do bem móvel transfere-se com
a tradição.
EM RESUMO...
✓ requisito único para a compra e venda mercantil - a condição de empresário
para ambos os contratantes;
✓ possibilidade de relação de consumo regida pelo CDC – (REsp nº 1.599.042/SP);
✓ cláusulas especiais de compra e venda – pacto de retrovenda; venda a
contendo e sujeita à prova; preempção ou preferência; compra e venda com
reserva de domínio; venda sobre documentos;
✓ INCOTERMS – termos de regulação para comércio internacional.
92
Dessa feita, percebemos que, ao final do contrato, caberá ao arrendatário
solicitar a renovação da locação, encerrá-la ou adquirir o bem arrendado,
mediante pagamento do valor residual, menor do que o da sua aquisição inicial,
se previamente fixado.
A partir dessas definições, podemos resumir as obrigações contratuais da
seguinte forma:
[1] arrendador: adquirir o bem para ser dado em arrendamento; conceder a
posse direta do bem ao arrendatário; permitir seu pleno uso, embora mantenha
a propriedade; vender o bem ao final (caso haja interesse do arrendatário).
[2] arrendatário: pagar, na forma estabelecida, as prestações; conservar o bem
arrendado, respondendo pelos prejuízos que causar; encerrado o contrato,
devolver o bem ao arrendador-proprietário, caso não opte pela compra ou
renovação do arrendamento.
93
arrendamento, enquanto no leasing operacional o contrato pode ser rescindido
a qualquer momento pelo arrendatário desde que mediante aviso prévio.
EM RESUMO...
✓ no leasing, o bem é adquirido pelo arrendador, que se torna seu proprietário.
Este concede o direito de uso do bem, mediante o pagamento de
contraprestações, por um prazo determinado;
94
✓ ao final do contrato, caberá ao arrendatário solicitar a renovação da locação,
encerrá-la ou adquirir o bem;
✓ modalidades – financeiro, lease-back e operacional;
✓ valor residual garantido – VRG – Súmula 293 do STJ.
EM RESUMO...
✓ negócio jurídico onde o devedor negocia a transferência da propriedade junto
ao credor como forma de garantir uma dívida;
✓ realização de contratos simultâneos: [1] compra e venda e [2] a alienação
fiduciária do bem adquirido;
✓ Código Civil terá aplicação supletiva para casos não alcançados por legislação
específica;
✓ Traz segurança jurídica, menor burocracia e redução do risco de inadimplência
para o mercado de crédito.
2.4. LOCAÇÃO
A locação de prédio urbano com finalidade comercial está submetida à lei
especial, Lei nº 8.245/1991, e assim seguiu mesmo com a edição do Código Civil
de 2002, segundo define seu:
Art. 2.036. A locação de prédio urbano, que esteja sujeita à lei
especial, por esta continua a ser regida.
No tocante, vale destacar a lição de Arnaldo Rizzardo: Atualmente, vige a
Lei nº 8.245, de 18.10.1991, que substituiu a Lei nº 6.649, de 16.05.1979, regulando
todos os contratos de locação de prédios urbanos, sejam residenciais ou não
residenciais, tanto no pertinente ao campo de sua aplicação, como no que se
refere aos deveres e direitos dos locadores e locatários, às garantias locatícias,
à prorrogação dos contratos, ao reajuste de aluguéis, à rescisão ou resolução
97
contratual, à retomada do prédio ou despejo do locatário, às penalidades a que
se sujeitam as partes (Contratos. 2ª Ed, Rio de Janeiro: Forense, 2001).
Todavia, algumas exceções são trazidas pela legislação especial, definindo
a regulação pelo Código Civil (art. 1º, parágrafo único).
Enfim, a seção III da Lei nº 8.245/91 está dedicada para a locação não
residencial.
O ponto mais sensível da locação empresarial reside no direito de
renovação do contrato, porquanto é natural da atividade mercantil a realização
de elevados investimentos na estrutura física do espaço locado, bem como na
construção de uma relação imaterial com a clientela.
Começou com a Lei de luvas (Decreto 24.150 de 20 de abril de 1934), cuja
sistemática era a de proteção ao local onde o empresário estabelecia seu
comercio. Assim a lei de locações manteve o instituto prevendo a possibilidade
da ação renovatória, submetida a uma série de requisitos:
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário
terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que,
cumulativamente:
I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo
determinado;
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos
ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos;
III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo,
pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
§ 1º O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido pelos
cessionários ou sucessores da locação; no caso de sublocação total
do imóvel, o direito a renovação somente poderá ser exercido pelo
sublocatário.
§ 2º Quando o contrato autorizar que o locatário utilize o imóvel para
as atividades de sociedade de que faça parte e que a esta passe a
pertencer o fundo de comércio, o direito a renovação poderá ser
exercido pelo locatário ou pela sociedade.
98
§ 3º Dissolvida a sociedade comercial por morte de um dos sócios,
o sócio sobrevivente fica sub-rogado no direito a renovação, desde
que continue no mesmo ramo.
§ 4º O direito a renovação do contrato estende-se às locações
celebradas por indústrias e sociedades civis com fim lucrativo,
regularmente constituídas, desde que ocorrentes os pressupostos
previstos neste artigo.
§ 5º Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação
no interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo,
anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor.
99
§ 2º Nas locações de espaço em shopping centers , o locador não
poderá recusar a renovação do contrato com fundamento no inciso
II deste artigo.
§ 3º O locatário terá direito a indenização para ressarcimento dos
prejuízos e dos lucros cessantes que tiver que arcar com mudança,
perda do lugar e desvalorização do fundo de comércio, se a
renovação não ocorrer em razão de proposta de terceiro, em
melhores condições, ou se o locador, no prazo de três meses da
entrega do imóvel, não der o destino alegado ou não iniciar as obras
determinadas pelo Poder Público ou que declarou pretender
realizar.
O direito ao recebimento de indenização pelo locatário, em virtude da
perda ou desvalorização do fundo de comércio, estará vinculado ao direito à
renovação compulsória, bem como forma de penalizar o locador pela retomada
insincera do imóvel. Ou seja, o não preenchimento de um dos requisitos legais
para a renovação obrigatória afasta a possibilidade deste direito.
100
equivalente à totalidade dos alugueres a vencer, sem prejuízo da
aplicação do art. 416, parágrafo único, do Código Civil.
Em suma, o valor da cláusula penal está limitado pelo art. 54-A, § 2º, da Lei
8.245/91, mas tal regra não é incompatível com o art. 416, parágrafo único, do
Código Civil.
EM RESUMO...
✓ Locação comercial está submetida à Lei nº 8.245/91. Exceções estão previstas
na própria Lei;
✓ Ação renovatória de locação comercial depende do implemento de requisitos
objetivos;
✓ Locação “built to suit” - o locador constrói ou promove substancial reforma em
seu imóvel com finalidade de atender exigências específicas da empresa
locatária;
✓ Locação em “shopping center” - o art. 54 da Lei nº 8.245/91estipula liberdade
para a pactuação das cláusulas no contrato de locação firmado entre lojistas e
empreendedores.
2.4. FACTORING
No factoring, ou fomento mercantil, o empresário transfere a uma
instituição financeira (parabancária) a administração de determinado crédito. A
operação caracteriza-se pela aquisição de direitos creditórios de contas a receber
a prazo por um valor à vista, mediante a incidência de taxas de juros e de serviços.
102
Possibilita liquidez financeira imediata para empresas e não deve ser confundida
com a operação de crédito praticada por bancos.
Fran Martins assim o define: O Contrato de Faturização ou Factoring é
aquele em que um comerciante cede a outro os créditos, na totalidade ou em
parte, de suas vendas a terceiros, recebendo o primeiro do segundo o montante
desses créditos, mediante o pagamento de uma remuneração (Contratos e
Obrigações Comerciais. Rio de Janeiro: Forense, 2002, 15ª Edição. Pág. 469).
Ainda que o contrato de fomento mercantil se forme entre faturizador e
faturizado (o vendedor do título), é de suma importância também a figura do
comprador originário, uma vez que são os créditos que o vendedor tem contra
esse que são cedidos. Dessarte, temos como pressupostos sempre uma inicial
venda à prazo e, havendo a cessão de crédito, o comprador deve ser notificado
da transação, para que efetue o pagamento do título ao faturizador.
Podemos então definir a operação em quatro etapas sucessivas: [1] empresa
vende seu bem ou serviço à prazo, gerando um crédito no valor correspondente;
[2] a empresa (faturizada) negocia este crédito com a faturizadora; [3] de posse
desse crédito, a factoring informa o comprador daquele bem ou serviço sobre o
fato e a forma de cobrança; [4] findo o prazo do negócio de origem, a empresa
compradora pagará o valor deste crédito à faturizadora, encerrando o processo.
Modalidades – [1] faturização interna: operações realizadas dentro do mesmo país
ou região; [2] faturização externa: operações realizadas no exterior, como nos
casos de importação e exportação; [3] faturização no vencimento (maturity
factoring): as faturas são remetidas ao faturizador que as liquida somente na data
de seu vencimento. [4] faturização tradicional (old line factoring): as faturas
remetidas ao faturizador são liquidadas antes da data de vencimento. Em todos
os casos há a assunção dos riscos pelo faturizador do inadimplemento por parte
do comprador/cliente. Se o risco faz parte do negócio, caso a dívida não seja paga,
não tem o faturizador direito de cobrança em face do faturizado (Resp
1.289.995/PE).
103
EM RESUMO
104
§ 2º A franquia pode ser adotada por empresa privada, empresa
estatal ou entidade sem fins lucrativos, independentemente do
segmento em que desenvolva as atividades.
105
encontram-se já suficientemente equacionados pelo titular de uma marca de
comércio, produto ou serviço.
Circular de Oferta de Franquia – COF (art. 2º): franqueador deve fornecer
ao potencial franqueado um documento escrita em língua portuguesa, de forma
objetiva e acessível, contendo os dados fundamentais do negócio (requisitos
obrigatórios) para que ele tome ciência dos riscos e custos inerentes ao negócio.
O artigo 2º indica 23 (vinte e três) incisos que apresentam um mapeamento geral
do negócio a ser entabulado pelas partes. Deve ser disponibilizada ao candidato
a franqueado no mínimo 10 (dez) dias antes da assinatura do contrato ou pré-
contrato, ressalvada a possibilidade de licitação promovida por órgão ou
entidade pública, caso em que a COF será divulgada no início do processo de
seleção. Ao contrário, as relações entre franqueador e franquiado continuam
regendo-se exclusivamente pelas cláusulas contratualmente pactuadas. Tal
legislação visa a assegurar transparência nas negociações que antecedem a
adesão do franquiado à franquia.
O contrato dever ser registrado no INPI para valer contra terceiros, como
previsto na Lei de Propriedade Industrial (Lei nº 9.279/96):
Art. 211. O INPI fará o registro dos contratos que impliquem
transferência de tecnologia, contratos de franquia e similares
para produzirem efeitos em relação a terceiros.
EM RESUMO...
✓ contrato atípico;
✓ franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente,
associado ao direito de distribuição exclusiva ou não de produtos ou serviços;
✓ não há vínculo empregatício entre as partes;
✓ a taxa de franquia é paga uma única vez, logo após a assinatura do pacto; os
royalties são pagos regularmente em razão da contínua exploração da marca;
✓ franqueador deve fornecer ao potencial franqueado um documento escrita
em língua portuguesa – circular de oferta de franquia.
106
3.2. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL
A Lei nº 4.886/1965, com as alterações introduzidas pelas Leis nº 8.420/1992
e nº 12.246/2010, é a legislação aplicável ao contrato de representação comercial,
sendo que deve ser celebrado por escrito e observar os diversos requisitos do
artigo 27.
A representação comercial é um contrato de colaboração (ao lado da
concessão mercantil, a franquia e a distribuição). Esses têm como característica
atribuir obrigação a um dos contratantes (o colaborador) a responsabilidade de
criar ou ampliar mercado de bens e/ou serviços da outra parte. Em razão da
obrigação essencial que os caracteriza, possuem como marca comum uma
subordinação empresarial entre as partes. No que toca à representação em si, é
o instrumento pelo qual um representante comercial autônomo se obriga, em
delimitada região geográfica, a buscar pedidos de compra e venda das
mercadorias fabricadas ou comercializadas pelo representado.
107
sobre o andamento dos negócios, nas oportunidades definidas em contrato ou
quando solicitado e prestar-lhe contas; [4] Observar as obrigações profissionais.
As obrigações mais comuns do representado: [1] o principal dever do
representado é pagar a retribuição devida ao representante, assim que o
comprador efetuar o seu pagamento ou, antes, se não manifestar recusa por
escrito no prazo de 15, 30, 60 ou 120 dias, conforme a localização do domicílio
desse (mesma praça, mesmo Estado, Estado diverso ou exterior,
respectivamente — arts. 32 e 33); [2] respeitar a cláusula de exclusividade de zona,
não podendo vender os seus produtos na área determinada em contrato, senão
através do representante contratado para atuar naquela área. Caso concretize
negócios sem a observância dessa condição, o representante terá direito à
comissão correspondente (art. 31).
A resolução do contrato pode ser de forma motivada ou imotivada. Na
hipótese de encerramento imotivado do contrato que haja vigorado por mais de
seis meses, obriga-se o denunciante à concessão de pré-aviso, com antecedência
mínima de 30 dias ou ao pagamento de 1/3 das comissões auferidas pelo
representante nos três meses anteriores, além da indenização.
Se a rescisão ocorrer por justo motivo, ou seja, motivada, não cabe
nenhuma indenização.
São razões de rescisão do contrato por parte do representado (artigo 35 da
Lei nº 4.886/65 (na grafia original da lei):
Art. 35. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de
representação comercial, pelo representado:
a) a desídia do representante no cumprimento das obrigações
decorrentes do contrato;
b) a prática de atos que importem em descrédito comercial do
representado;
c) a falta de cumprimento de quaisquer obrigações inerentes ao
contrato de representação comercial;
d) a condenação definitiva por crime considerado infamante;
e) força maior.
108
De outro lado, o artigo 36 do mesmo diploma aponta os motivos de
rescisão pelo representante (grafia original da lei):
Art. 36. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de
representação comercial, pelo representante:
a) redução de esfera de atividade do representante em desacôrdo
com as cláusulas do contrato;
b) a quebra, direta ou indireta, da exclusividade, se prevista no
contrato;
c) a fixação abusiva de preços em relação à zona do representante,
com o exclusivo escopo de impossibilitar-lhe ação regular;
d) o não-pagamento de sua retribuição na época devida;
e) força maior.
O contrato pode ser firmado por prazo determinado ou indeterminado.
Uma vez prorrogado, torna-se a prazo indeterminado.
A Lei nº 8.420/92 inseriu na legislação original a vedação da cláusula del
credere (art. 43). Esta cláusula corresponde à previsão contratual expressa que
permita à parte representada deduzir de comissões e vendas do representante
comercial valores na hipótese de o negócio ser cancelado ou desfeito. Há que se
ter presente que a responsabilidade do representante comercial deve ser
limitada apenas à transação e a intermediação do negócio e nada mais,
lembrando que a representação comercial é atividade de meio na relação de
venda. A responsabilidade de aceitação da venda é do representado.
Havendo rescisão contratual imotivada, discute-se a pertinência de
indenização, que dependerá se o prazo do contrato é determinado ou se o
contrato é por prazo indeterminado.
Sendo determinado, a indenização corresponderá à média mensal
multiplicada pela metade dos meses que faltam para o fim do contrato. Se for
prazo indeterminado, será 1/12 sobre o valor total do contrato (Lei nº 4.886/65,
artigo 27, inciso ‘j’ e § 1º) .
Ainda quanto à indenização, cumpre sinalar a conclusão da III Jornada de
Direito Comercial do CJF:
109
ENUNCIADO 82 – A indenização devida ao Representante, prevista
no art. 27, alínea j, da Lei nº 4.886/1965, deve ser apurada com base
nas comissões recebidas durante todo o período em que exerceu a
representação, afastando-se os efeitos de eventual pagamento a
menor, decorrente de prática ilegal ou irregular da Representada
reconhecida por decisão judicial ou arbitral transitada em julgado.
EM RESUMO...
✓ modalidade de contrato de colaboração;
✓ não há vínculo societário ou empregatício entre o representado e o
representante comercial. Trata-se de atividade autônoma;
✓ o representante comercial não tem poderes para concluir a negociação em
nome do representado;
✓ vedada a inserção de cláusula del credere.
3.3. DISTRIBUIÇÃO
A criação, consolidação ou ampliação de mercados, através da colaboração
empresarial, pode resultar de aproximação ou de intermediação. O contrato de
distribuição é modalidade de colaboração empresarial que pode ser enquadrada
em qualquer uma dessas espécies:
[a] aproximação - o colaborador identifica pessoas interessadas em
adquirir produtos do outro empresário contratante. Na distribuição-
aproximação, o distribuidor é remunerado por um percentual (comissão) dos
negócios que ajuda a realizar.
[b] Intermediação - o colaborador adquire os produtos do outro
contratante e os oferece de novo ao mercado. É o clássico contrato celebrado
entre distribuidores de combustível e os postos de abastecimento; fábricas de
produtos alimentícios e depósitos / atacadistas em geral.
Consoante Arnaldo Rizzardo, o contrato de distribuição tem como objeto a
comercialização dos bens produzidos e fornecidos pelo fabricante, e a
110
prestação de serviços de assistência técnica e mecânica aos bens (in Contratos,
Ed. Forense).
O Código Civil assim tipifica o contrato de distribuição:
Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter
não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de
promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de
certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a
distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser
negociada.
Parágrafo único. O proponente pode conferir poderes ao agente
para que este o represente na conclusão dos contratos
Como se vê, o Código Civil regula em conjunto com o contrato de agência,
o que resulta em certa celeuma. O contrato de distribuição típico (distribuição-
aproximação) está associado ao contrato de agência. Nesta modalidade há maior
ingerência do fornecedor sobre as atividades do distribuidor.
Tem como cláusulas (implícitas ou explícitas) a de exclusividade de
distribuição (pela qual o distribuidor não pode trabalhar para outros proponentes
na zona de atuação) e de exclusividade de zona (pela qual o proponente deve
abster-se de realizar negócios na zona de atuação, a não ser com os aproximados
pelo distribuidor ou agente).
Para garantir o cumprimento dessas obrigações, a lei assegura ao
distribuidor o direito à remuneração pelos negócios realizados pelo proponente
em desrespeito à cláusula de territorialidade, conforme dispõe o art. 714 do
Código Civil4
Entretanto, o contrato de distribuição mais utilizado (distribuição-
intermediação) é aquele que não é previsto em lei, ou seja, é um contrato atípico.
A ele se aplicam as normas contratuais gerais, mas é regulado pelas cláusulas
negociadas entre as partes, sendo muito importante que sejam estipuladas de
maneira equilibrada e adequada para ambos. Nesta distribuição atípica aplicam-
4
Art. 714. Salvo ajuste, o agente ou distribuidor terá direito à remuneração correspondente aos
negócios concluídos dentro de sua zona, ainda que sem a sua interferência.
111
se os direitos e obrigações ajustadas. Age o distribuidor em seu próprio nome
adquirindo o bem para posterior revenda a terceiros, tendo como proveito
econômico a diferença entre o preço de venda e aquele pago ao fornecedor
(margem de comercialização).
Fazendo a distinção entre as duas modalidades, o CJF editou o enunciado
31 na I Jornada de Direito Comercial:
ENUNCIADO 31. O contrato de distribuição previsto no art. 710 do
Código Civil é uma modalidade de agência em que o agente atua
como mediador ou mandatário do proponente e faz jus à
remuneração devida por este, correspondente aos negócios
concluídos em sua zona. No contrato de distribuição autêntico, o
distribuidor comercializa diretamente o produto recebido do
fabricante ou fornecedor, e seu lucro resulta das vendas que faz por
sua conta e risco.
EM RESUMO...
✓ modalidade de contrato de colaboração;
✓ pode ser típico (distribuição-aproximação) ou atípico (distribuição-
intermediação);
✓ contrato típico : regras legais;
✓ contrato atípico: regras contratuais.
113
[e] prazo de vigência do contrato de concessão comercial por prazo
indeterminado, ou pelo prazo mínimo e inicial de 5 (cinco) anos.
Nos termos da iterativa jurisprudência desta Corte, a Lei
6.729/79 (Lei Ferrari) não se aplica a hipóteses diversas da
distribuição de veículos automotores. (STJ, REsp 680329/RS).
EM RESUMO...
✓ concessão genérica: contrato atípico. Direitos e deveres previstos
contratualmente;
✓ concessão envolvendo veículos automotores: contrato típico – Lei Ferrari;
✓ as regras da Lei nº 6.729/79 não se aplicam aos demais contratos de concessão
comercial.
3.5. COMISSÃO
→ Delineado pelos artigos 693 a 709 do Código Civil.
Trata-se de vínculo contratual em que um empresário (comissário) se
obriga a realizar negócios mercantis por conta de outro (comitente), mas em
nome próprio, assumindo, portanto, responsabilidade pessoal pelos atos
praticados. Apesar de agir em nome próprio, não tem plena liberdade e deve agir
sempre considerando os limites estabelecidos pelo comitente.
Nesta forma de contratação, o comissário concretiza operações comerciais
do interesse do comitente, mediante um percentual (comissão). O comitente
não participa dos negócios, podendo até permanecer incógnito.
A comissão assemelha-se ao mandato. Em ambos, uma pessoa (comissário
ou mandatário) se obriga a praticar atos em nome de outra pessoa (comitente
ou mandante). A diferença fundamental da comissão em relação ao mandato
consiste na imputação da responsabilidade perante terceiros. O comissário fica
diretamente obrigado para com as pessoas com quem contratar, sem que estas
tenham ação contra o comitente, nem este contra elas, salvo se o comissário
ceder seus direitos a qualquer das partes (art. 694, CC).
114
Por expressa previsão do Código Civil, admite o contrato de comissão a
inserção da cláusula del credere. Esta representa a obrigação do comissário de
responder solidariamente com o terceiro perante o comitente (ex: o comissário
vende café do comitente e dá prazo ao terceiro para pagar, porém o terceiro não
paga, devendo então o comissário pagar ao comitente). Inserindo-se esta
cláusula del credere, fará o comissário jus a uma remuneração maior face o risco
assumido (art. 698, do CC).
EM RESUMO...
✓ empresário se obriga a realizar negócios em favor de outro mas em nome
próprio;
✓ o comissário atua nos limites definidos pelo comitente;
✓ remunerado via comissão;
✓ possível a inserção da cláusula del credere.
3.6. MANDATO
→ Extensamente regulamentado no Código Civil, nos artigos 653 a 691.
O mandato mercantil é contrato no qual mandatário se obriga a praticar
atos negociais em nome e por conta do empresário mandante, que confia a
outrem a gestão de um ou mais negócios mercantis.
É materializado, concretizado, pela procuração outorgada ao mandatário.
Trata-se de contrato bilateral, pois gera deveres tanto para o mandante
quanto para o mandatário.
A principal obrigação do mandatário é praticar atos negociais, em nome e
por conta do mandante, observando, para tanto, as instruções e poderes dele
recebidos. Também é obrigado a prestar contas dos atos por ele praticados em
nome do mandante, informando-lhe sobre tudo o que se passa com os negócios.
Já o mandante é obrigado a cumprir as obrigações contraídas pelo
mandatário (dentro dos limites do mandato), bem como pagar o valor ajustado
como remuneração. É igualmente obrigado a ressarcir ao mandatário as perdas
115
que este sofrer com a execução do mandato, sempre que não resultem de culpa
sua ou de excesso de poderes.
A extinção do mandato ocorre, segundo o artigo 682, nas seguintes
situações:
I - pela revogação ou pela renúncia;
II - pela morte ou interdição de uma das partes;
III - pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os
poderes, ou o mandatário para os exercer;
IV - pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio.
Importante!
Conferido o mandato com a cláusula "em causa própria", a sua revogação não
terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes (art. 685).
EM RESUMO...
✓ mandatário atua em nome do mandante, dentro das instruções recebidas;
✓ procuração é o instrumento do mandato;
✓ o mandato em causa própria não é extinto pelo falecimento do mandante.
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