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Volume 3 - Número 1 - 2019

Tendências e incertezas
Volume 3 - Número 1 - 2019

EXPEDIENTE
Editores Gerentes
Marcela Andrade de Carvalho (Unidade de Ensino Superior Dom Bosco - UNDB)
Pedro Vitor de Oliveira Souza (Universidade Estadual de Goiás - UEG)
Mirelle Ribeiro Palmeira (Universidade Federal do Tocantins - UFT)
Ana Isabella Souza Costa (Universidade Federal do Sul e do Sudeste do Pará - UNIFESSPPA)
Allan Nunes Ferreira (Instituto Federal de Goiás - Campus Goiânia)
Ester Beltrão de Moraes (Instituto Federal de Goiás - IFG)
João Rafael Martins Taumaturgo Lemos (Universidade Estadual Vale do Acaraú - UEVA)

Editores de Seção
Marcela Andrade de Carvalho (Unidade de Ensino Superior Dom Bosco - UNDB)
Murilo Marques de Souza (Faculdade Panamericana de Ji-Paraná)

Avaliadores
Maria Tereza Fernandes Pouey
Matheus Henrique Nunes Maia
Maurício Mancio
Robert Christ

Editores de Layout
Murilo Marques de Souza (Faculdade Panamericana de Ji-Paraná)
Camilla Isabel Lino Dantas (Universidade Federal de Campina Grande - UFCG)
Dorival Ladislau dos Santos Junior (Faculdade Panamericana de Ji-Paraná)

Editores de Texto
Beatriz Diane de Oliveira Souza (Universidade Federal de Pelotas - (UFPel)
Matheus Henrique Nunes Maia (Universidade Federal do Rio Grande - FURG)

Financiamento
Federação Nacional dos Estudantes de Engenharia Civil (FENEC)
VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

Revista FENEC

Capa
Dorival Ladislau dos Santos Junior (Faculdade Panamericana de Ji-Paraná - UNIJIPA)

Diagramação e arte final


Franco Jr.

Bibliotecário
Parte do Franco

Ficha Catalográfica

Revista FENEC / Federação Nacional dos Estudantes de Engenharia Civil (FENEC) [recurso ele-
trônico]. – Vol. 3, n. 1(2019). – Porto Alegre - RS: FENEC, 2019.

Semestral
http://www.fenec.com.br/
ISSN: xxxx-xxxx

1. Engenharia Civil. I. Federação Nacional dos Estudantes de Engenharia Civil.

CDD 624(05)

Citação:
Revista FENEC. Cidade, v. 3, n. 1, 2019. xxxp

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

As opiniões emitidas nos trabalhos aqui publicados, bem como a exatidão e adequação das referências
bibliográficas são de exclusiva responsabilidade dos autores, portanto podem não expressar o pensamento
dos editores.A reprodução do conteúdo desta publicação poderá ocorrer desde que citada a fonte.
VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

EDITORIAL

A revista FENEC é um periódico de acesso aberto idealizado pela gestão 2017-2018 e mate-
rializado pela gestão 2018-2019, sendo gerenciado pela própria Federação Nacional dos Estudantes
de Engenharia Civil em colaboração com os organizadores dos eventos nacionais e regionais de es-
tudantes de engenharia civil por todo o país. Tem como principal objetivo estabelecer um canal dire-
to de comunicação com a comunidade cientifica através dos trabalhos realizados pelos estudantes e
pela classe acadêmica das instituições de ensino superior, centros acadêmicos e grupos de pesquisas.
A revista publica artigos submetidos aos eventos, sendo geridos pela Federação, com suas principais
áreas de abrangência a Engenharia Civil e suas derivações.
O Encontro Nacional dos Estudantes de Engenharia Civil (ENEC) é um evento anual de cará-
ter cultural e científico, sem fins lucrativos, que integra alunos, professores, profissionais e empre-
sas de todo país, tendo como intuito principal a troca de experiências, conhecimentos, tendências e
tecnologias na área da Engenharia Civil. O evento é itinerante e já passou por oito cidades, onde a
última edição ocorreu em Porto Alegre/RS.
De 23 a 26 de abril de 2018, aconteceu a 8ª Edição do ENEC, em Porto Alegre (ENEC POA).
O tema central do evento foi “Tendências e Incertezas” e reuniu um público de aproximadamente
1.200 congressistas. O encontro contou com palestras, minicursos, visitas técnicas e diversos desa-
fios e dinâmicas. O ENEC POA atingiu os objetivos da FENEC e encantou os congressistas por sua
programação educacional e científica, além de suas diversas festas temáticas.
A obra publicada é de inteira responsabilidade do(s) autor(es), cabendo à revista apenas a ava-
liação da obra, na qualidade de veículo de publicação científica. A Revista Produção Online não se
responsabiliza por eventuais violações à Lei nº 9.610/1998, Lei de Direito Autoral.

A equipe editorial

Revista FENEC - 3(1): 4, abril, 2019 4


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Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

SUMÁRIO

• EDITORIAL...............................................................................................................................................................4

• ADIÇÃO DE BORRACHA ORIUNDAS DE PNEUS INSERVÍVEIS NA PRODUÇÃO DE CONCRETO............8


Dorival Ladislau dos Santos Junior
Juyllian Carolaine Correia Silvestre
André Henrique Louback Cunha
Diego Rodrigues Bonifácio

• ANÁLISE COMPARATIVA DA GERÊNCIA DE PAVIMENTOS NO MUNICÍPIO DE TUCURUÍ - PA............14


Stefany Rocha de Souza
Mayara Caroline Lima Pimentel
Camila Moraes Vaz

• ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DOS RSCC NA CIDADE DO RECIFE....................................................24


Maria Eduarda Santos Ribeiro
Wedna Isabel Silva de Oliveira

• BACILLUS SUBTILIS UMA ADIÇÃO INCOMUM COM BENEFÍCIOS INESPERADOS AO


CONCRETO............................................................................................................................................................32
Dorival Ladislau dos Santos Junior
Talita Carvalho de Souza

• BLOCOS DE CONCRETO PERMEÁVEL COM SEMENTES DE AÇAÍ: CAPTANDO RECURSOS


PLUVIAIS E REDUZINDO A POLUIÇÃO............................................................................................................40
Rodrigo Silva Ferreira
Monique Estefany da Silva Freitas
Joelma Alves Dias Nunes

• CARACTERIZAÇÃO DAS TELHAS DE CONCRETO DE UMA FÁBRICA DO MUNICÍPIO DE BREU


BRANCO - PARÁ...................................................................................................................................................46
Debora de Souza Torquato
Eduarda Souza Fernandes
Rondinelio Barbosa Rosa

• CASAS PRÉ-FABRICADAS EM MADEIRA: UMA ALTERNATIVA FRENTE À CONSTRUÇÃO EM


ALVENARIA...........................................................................................................................................................54
Larissa Costa Vichinsky
Matheus Rodrigues de Almeida

• CINZA DE CASCA DE ARROZ: DE RESÍDUO AGORINDUSTRIAL À RECURSO ALTERNATIVO DA


CONSTRUÇÃO CIVIL............................................................................................................................................62
Saymon Porto Servi
Victor Ferreira Nunez

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• DESGASTE À ABRASÃO DE CONCRETO DRENANTE INCORPORADO COM AGREGADO
RECICLADO...........................................................................................................................................................75
Juliemilly Tatiane Alves Vieira
Bruna Oliveira Campos
Weliton de Paula Silva

• ESTUDO DA VIABILIDADE DE UM SOLO PARA FABRICAÇÃO DE TIJOLOS DE SOLO-CIMENTO.........82


Leonária Araújo Silva
Fabrício de Souza Silva

• INOVAÇÕES NO TRATAMENTO DE ESGOTO EM GRAVATÁ - PE: POSSIBILIDADES PARA


UMA NOVA GESTÃO HÍDRICA...........................................................................................................................90
Felipe Mateus Maciel da Silva
Débora Patrícia da Silva
Laryssa Medeiros Santos
Beatriz Fernandes Barbosa Lima

• PLANEJAMENTO, NORMAS, DESAFIOS E SOLUÇÕES NO MAPEAMENTO DE FAVELAS


COM VANTS...........................................................................................................................................................97
Ivan Langone Francioni Coelho
Breno Malheiros de Melo

• PROPAGAÇÃO DE PRÁTICAS DA LEAN CONSTRUCTION NO VALE DO SÃO FRANCISCO


- VI PRÊMIO ENEC............................................................................................................................................. 112
Palloma Luana de Andrade Santos

• PROPOSTAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA EM RESIDÊNCIAS DO RECIFE - PE....................... 128


Andresa de Freitas Silva
Rafaela Oliveira Holanda da Silva

• PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DOS RESÍDUOS DA PRODUÇÃO DO GESSO


ACARTONADO................................................................................................................................................... 135
Leonária Araújo Silva
Fabrício de Souza Silva
Igor Gabriel Gomes Carvalho

• REDE DE DRENAGEM COM MALHA DE ÁGUAS PLUVIAIS NO BRASIL – CARUARU - PE................... 150
Eduarda Luciana Larissa de Lima

• SIMULAÇÃO DA CAPTAÇÃO E APROVEITAMENTO DE ÁGUA PLUVIAL EM EDIFÍCIO


PÚBLICO – O DER/SE COMO ESTUDO DE CASO........................................................................................ 155
Isabella Santos Nascimento

• SOLO-PNEU COMO METODOLOGIA DE ENSINO SUSTENTÁVEL NA UNIVERSIDADE....................... 165


Isadora da Silva Bandeira Lima
Luan Hernandez Bork
Lucas Gonçalves de Freitas
Victor Ferreira Núñezz

• VERIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DA CAMADA POROSA DE ATRITO.................... 176


Pedro Schmidt Ilha
Alessandro Alves
Pedro Orlando Borges de Almeida Júnior
Pablo Menezes Vestena

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Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

ADIÇÃO DE BORRACHA ORIUNDAS DE PNEUS


INSERVÍVEIS NA PRODUÇÃO DE CONCRETO

Dorival Ladislau dos Santos Junior (dorivaljuniorr@gmail.com)


Juyllian Carolaine Correia Silvestre (juyllianc@gmail.com)
André Henrique Louback Cunha (andre_henrique_97@hotmail.com)
Diego Rodrigues Bonifácio (diego.bonifacio.unijipa@hotmail.com)

Resumo: Esse artigo visa trazer informações sobre a utilização de resíduos de borracha oriundas de pneus inservíveis como
agregado no processo de fabricação e utilização do concreto em construções. Nos últimos anos a tecnologia cresce em uma escala
gigantesca com isso novas tecnologias vem sendo desenvolvidas para a utilização e ampliação de materiais alternativos no processo
de fabricação do concreto, devido a um fator econômico e sustentável a utilização da borracha apresenta uma propriedade técnica
que pode ser interessante nesse processo construtivo. Toda via, as pesquisas visam analisar se essa utilização de fibras de borracha
não compromete as propriedades de resistência à compressão e tração do concreto. Visando que essa utilização seja viável para
construções onde os esforços solicitados as peças de concreto sejam menores.
Palavras-chave: Resíduos de borracha de pneu. Concreto. Sustentável. Pneus inservíveis.

INTRODUÇÃO

Desde o início do século XXI se enfrenta uma dificuldade pela humanidade na destinação correta de
resíduos, seja ele domiciliar, industrial, construção civil, serviços de saúde entre outros. Devido a isso uma
grande quantidade de pneus são descartados como inservíveis, ou seja, quando não possuem mais nenhuma
condição de reformar ou utilização por aviões, caminhões e de carros. (ADHIKARI et al. Apud KAMIHURA,
2002).
Esse aumento em descarte indevido de materiais principalmente da borracha está relacionado com a fra-
gilidade da legislação e consequentemente pela falta de incentivo à reciclagem. Lembrando que o descarte in-
devido ocasiona um problema ambiental por muitos anos, visto que o tempo de degradação da borracha é de
aproximadamente 600 anos. O Brasil tem um índice de produção de 400 milhões de unidades por ano, já os
descartes indevidos chegam na casa dos 160 milhões de unidades pelo mesmo período, vale lembrar que gran-
de parte dos novos produtos são importados de outros países. Não bastando apenas os efeitos ao meio ambien-
te ocasionados por esse descarte inadequado, essa fabricação demanda uma quantidade expressiva de outros
materiais como o aço e o petróleo (Dinâmica Ambiental 2017).
No processo de construção em um canteiro de obra, é comum, elevar-se o fator de água para dar melhor
trabalhabilidade no concreto, aumento que em alguns casos são maiores do que o necessário para o processo
de hidratação do concreto, o que ocasionara uma diminuição em suas propriedades mecânicas, visto que essa
adição quando superior a necessária irá reportar uma porosidade maior quando o concreto estiver em seu esta-
do endurecido. Podemos visualizar o fator de água cimento em relação a resistência na Figura 1.
Sendo assim, os estudos para incorporação desse material na construção civil vem surgindo como uma
possibilidade de diminuir os impacto ambientais. Essas pesquisas vem crescendo cada vez mais, entretanto
grande parte é destinada em aplicação sem função estrutural onde de certa forma é inviável esses dados para
elementos de construção, sendo que as mesma precisam suportar esforços que são solicitados a todo momen-
to pela interação das peças de uma obra (HOMES, DUNNE E O’DONNELL, 2014). Pelo fato do concreto ser

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Dorival L. dos S. J.; Juyllian C. C. S.; André H. L. C.; Diego R. B. Adição de borracha oriundas de pneus inservíveis na produção de concreto

um elemento frágil a tração, porém com alta rigidez e por sua vez o resíduo do pneu se tratando de um mate-
rial elástico, é compreensivo o estudo aprimorado desse comportamento entre os dois matérias quando estive-
rem trabalhando juntos.

Figura 1.
Relação de água cimento
no traço de concreto
na resitencia final dos
elementos produzidos

Fonte: Clube do Concreto,


2013.

De acordo com a ABNT NBR-10004 (2004), a deposição de materiais quando inservíveis seguem uma
classificação apresentada em normas, diferenciando-se por material. Os pneus são classificados como resíduo
de classe II B, inertes. A Resolução nº 258/99 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) determi-
na que as empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos fiquem obrigadas a coletar e dar destinação
final ambientalmente adequada aos pneus inservíveis. A construção civil é responsável por 20 a 50% do con-
sumo dos recursos naturais extraídos do planeta (SJOSTROM apud JOHN, 2000).
De acordo com ROMUALDO et al. (2001), essa junção do resíduo da borracha como um agregado ao
concreto pode assumir um grande papel na preservação ambiental, pois, com essa adição extra de um novo
agregado a extração de recursos naturais, como a brita e areia tende a diminuir, sem contar na diminuição ex-
ponencial desses resíduos em áreas urbanas ou no meio ambiente (apud FAZZAN, J. V. et al., 2016). Segun-
do Albuquerque et al. (2006) o concreto com adição de borracha de pneu pode ser um material ideal quando
submetido a efeitos de impacto e, que não necessita de alta resistência mecânica (apud FAZZAN, J. V. et al.,
2016).

1. METODOLOGIA

Para a realização do presente artigo, foi realizado um estudo e pesquisa de dados já existentes e publica-
dos. Com o objetivo de embasar o tema sobre a utilização de resíduos de borracha no traço de concreto.
O trabalho constou ainda de coleta de dados baseada na documentação indireta, que consiste na leitura e
análise de materiais produzidos por terceiros, que podem apresentar-se na forma de textos, jornais, fotografias,
filmes, documentos de arquivos públicos, contratos, revistas, dissertações, entre outros.
Através dos dados coletados na pesquisa, foi possível debater sobre a importância da adição de borracha
com a utilização de resíduos de pneus inservíveis no processo construtivo do concreto estrutural para utiliza-
ção de construções onde os esforços solicitados são menores.

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2. DESENVOLVIMENTO

Segundo ECHEGARAY et al. (2015) “apesar do concreto ser um dos materiais de uso mais consoli-
dado no mundo, pode possuir problemas em sua produção. Visando reduzir situações como estas, cientistas e
pesquisadores tentam desenvolver materiais e métodos que melhorem sua durabilidade e resistência. Mesmo a
adição de outros compostos para o reforço na mistura inicial no concreto (como aditivos) não impede deste ser
danificado, com fissuras que podem fazer com que toda a estrutura entre em colapso, por exemplo quando a
partir delas há o contato de oxigênio com as armaduras, causando assim a oxidação, popularmente chamada de
ferrugem” (apud SANTOS JUNIOR, D. L., et al. 2018). Tendo isso em mente a utilização de borracha prova
entre os agregados uma maior união devido sua característica física e elástica assim evitando a fissuração que
é provocada pela contração do concreto durante seu processo de pega, como se trata de um material maleável
sua resistência a tração quando comparada a fissuração no estádio II do concreto tende a ser elevada, além de
melhorar o isolamento acústico e térmico da estrutura (SEBRAE, 2014). Na Figura 2, podemos acompanhar
alguns materiais recicláveis utilizáveis como alternativa para agregados.

Figura 2. Tipos de elementos utilizados como agregados/aditivos no processo de fabricação de concreto, no


quesito de sustenbalidade, economia e/ou ganho de resistencia

Fonte: Sebrae, 2014.

Para ser inserido ao concreto, um pneu passa por trituração, seleção criteriosa do resíduo da borracha atra-
vés do peneiramento e por processo de cura, semelhante aos blocos de concreto convencional. O material
pode ser utilizado como enchimento leve, aterro de estradas, suporte de bases, estabilizadores de encos-
tas, diques, barragens, sistemas de drenagens de gases em aterros sanitários, isolante térmico e acústico,
aditivos para pavimentos asfálticos e pistas esportivas, concretos leves e blocos pré-moldados de concre-
tos, porque possui densidade reduzida, melhor propriedades de drenagem, isolamento térmico e acústico
(SEBRAE, 2014, p. 3).

Para Peres e Freire (2004) o ensaio de abrasão em argamassa com serragem de couro utilizando a meto-
dologia imposta pela NBR 13.818 (ABNT, 1997) – Anexo E, apresentou resultados favoráveis, onde obtiveram
como valor máximo escavado um volume de 2/3 abaixo do valor máximo permitido pela norma, que é ≤ 2.365
mm3. Conforme os resultados apresentados, com os percentuais de desgaste final obtido de 0,21% para o con-
creto de controle e média geral aproximada de 0,16% para os corpos de prova com resíduos de pneus, pode-se
dizer que os concretos com resíduos de pneus demonstram bom potencial de durabilidade quando submetidos
à abrasão (apud FIOROT et al., 2010). A resistência à abrasão apresenta valor de desgaste menor para o con-
creto com as fibras, comparado com o concreto controle, a granulometria das fibras influência no resultado do
desgaste por abrasão (AKASAKI et al., 2003).
A metodologia utilizada para tração de concreto, mencionado na Figura 3, por FAZZAN, J. V, et al.
(2016) para os corpos-de-prova sem a adição de resíduos (Mistura Controle) foi o método proposto por Hele-
ne e Terzian (1993), onde são necessários três pontos para se montar o diagrama para dosagem. Esquema que
correlaciona a resistência à compressão (fcj), relação água/cimento (a/c), traço (m) e consumo de cimento Por-
tland (C).

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Figura 3.
Diagrama com método proposto por
Helene e Terzian

Fonte: Helene e Terzian, 1993.

Após o calculo e estudo sobre o método e a realização de alguns ajustes para o traço com a adição de re-
siduo se chegou a um comparativo, onde:
y TC: Traço de concreto sem resíduo de borracha de pneu (Controle).
y TR: Traço de concreto com resíduo de borracha de pneu.

As composições dos concretos sem e coma adição de resíduos estão definidas na Figura 4.

Figura 4. Foto removida do artigo de FAZZAN, J. V et al., onde a mesma são dados elaborados pelos autores
da publicação

Tabela 1. Composição final dos traços com adição de Resíduos de Borracha de Pneu
Traço TC TR
Materiais Consumo (Kg/m ) 3

Água 192,0 140,0


Cimento 342,0 360,0
Areia 884,0 772,6
Brita 1003,0 1197,1
Resíduo de Borracha – 36,0
Relações Índices
Relação (1:m) 6,19 6,36
Teor de Argamassa (%) 56,8 52,2
Volume de Argamassa (%) 65,7 59,1
Superplasticante (% preso cimento) – 0,810
Água/Cimento (A/C) 0,561 0,390
Fonte: FAZZAN, J. V et al., 2016.

Em relação a resistência, sabe-se que “considerando a redução nas resistências à compressão em função
do incremento da borracha, decidiu-se por aumentar o consumo de cimento para 360 kg/m3 [...]”, (FAZZAN,
J. V et al., 2016).
Segundo FAZZAN, J. V et al. (2016) os dados obtidos nos corpos-de-prova para rompimentos de 7 e 28
dias com adição de resíduos de borracha foram significativos, ficando evidente que o aumento de aproxima-

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damente 5% no consumo de cimento e superplastificantes influenciou diretamente o ganho final de resistência


do concreto. Também notou-se um ganho ligeiramente maior no módulo de elasticidade, lembrando que com
a utilização de superplastificantes requereu uma relação de a/c mais baixa, o que consequentemente aumentou
o módulo de elasticidade e a resistência informada anteriormente. Pode-se notar os dados obtidas na Figura 5.

Figura 5. Resultados de resistência à compressão axial e modelo de eslasticidade respectivamente, dos corpos
de prova com e sem resíduo de borracha de pneu aos 7 e 28 dias de cura

Fonte: FAZZAN, J. V et al., 2016.

Ainda seguindo os dados obtidos por FAZZAN, J. V et al. (2016), houve uma redução final na massa
especifica dos corpos-de-prova, dado que era esperado, visto que a massa específica da borracha em relação
aos outros materiais utilizados na mistura do concreto convencional (cimento, areia e brita) é menor, redução
que chegou a 10,4%. Reduções que comprovam que a adição da borracha pode reduzir o peso próprio das es-
truturas que consequentemente vira a reduzir os custos com as fundações. Pode-se notar os dados obtidas na
Figura 6.

Figura 6.
Resultados de Massa
Específica dos corpos de
prova com e sem resíduo
de borracha de pneu

Fonte: FAZZAN, J. V et al.,


2016.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho teve como objetivo estudar a possibilidade da adição de resíduos de borracha de pneu na pro-
dução de concreto, tendo como principal objetivo a sustentabilidade, porém, além deste benefício, através das
pesquisas pode-se observar outras vantagens consideráveis, tais como: a redução do peso próprio, que auxilia

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Dorival L. dos S. J.; Juyllian C. C. S.; André H. L. C.; Diego R. B. Adição de borracha oriundas de pneus inservíveis na produção de concreto

na economia, proporcionando a redução de seções transversais e dimensões das fundações. Alcançou-se tam-
bém uma boa resistência à abrasão, pois notou-se no ensaio que o concreto com adição do resíduo apresentou
menores perdas de massa comparado ao concreto sem o resíduo, indicando assim essa melhoria.
A implementação de resíduos de borracha de pneu resulta na diminuição da resistência à compressão, no
entanto com a adição de 5% de cimento a mais e aditivo, pode-se melhorar essa resistência, e por ser um ma-
terial maleável isso proporciona um pequeno ganho de resistência a tração.
Ao se tratar da durabilidade do concreto, houve uma melhora com a adição de resíduo, pois o mesmo
junto ao cimento resulta em um aumento de resistência a micro fissuração, aumentando assim a durabilidade.
Com isso se pode observar que o resíduo da borracha de pneus, deixará de ser um problema ambiental,
que se encontra atualmente na natureza causando problemas de saúde e degradação ambiental, e passará a ser
fonte de um material alternativo que está sendo empregado com sucesso na construção civil, pois além de oti-
mizar a vida útil dos aterros e o consumo de fontes naturais de agregados, irá reduzir a sobrecarga nas edifica-
ções, já que a borracha possuiu uma densidade baixa.

REFERÊNCIAS

AKASAKI et al. Avaliação da resistência à abrasão do concreto com borracha de pneu. 2003. Disponível
em: <http://www.engipapers.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=608:00487adfi2003
&catid=86&Itemid=499>. Acesso em: 16 de dezembro de 2018.

Clube do Concreto. Adição da água no local da obra. 2013. Disponível em: <http://www.clubedoconcreto.
com.br/2013/10/adicao-de-agua-no-local-da-obra.html>. Acesso em: 13 de dezembro de 2018.

Dinâmica Ambiental. Você sabe o tempo de decomposição de pneus? Entenda a importância de sua reci-
clagem. 2017. Disponível em: <https://www.dinamicambiental.com.br/blog/reciclagem/voce-decomposicao-
-pneus- entenda-importancia-reciclagem/>. Acesso em: 11 de novembro de 2018.

FAZZAN, J. V. PEREIRA, A. M. AKASAKI, J. L. Estudo da viabilidade de utilização do Resíduo de Borra-


cha de Pneu em Concretos Estruturais. Disponível em: <https://www.amigosdanatureza.org.br/publicacoes/
index.php/forum_ambiental/article/viewFile/1484/1506>. Acesso em: 12 de novembro de 2018.

FIOROTI et al. Resistência à abrasão e expansão por umidade de concretos compósitos com borracha de
pneus triturados. 2010. Disponível em: <http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/160/artigo285811-2.as-
px>. Acesso em: 16 de dezembro de 2018.

JOHN, V. M. Reciclagem de resíduos na construção civil: Contribuição para metodologia de pesquisa e de-
senvolvimento. São Paulo, 2000. 113p. Tese (Livre Docência) – Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. Departamento de Engenharia de Construção Civil.

HOLMES, N. Longitudinal shear resistance of composite slabs containing crumb rubber in concrete toppings.
Construction and Building Materials, vol. 55, p. 365-378, 2014.

KAMIMURA, E. Potencial de utilização dos resíduos de borracha de pneus pela indústria da construção ci-
vil. 2002. 127 f. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Gradu-
ação em Engenharia Civil, Florianópolis, 2002.

SANTOS JUNIOR, D. L.; SOUZA, T. C.; MACHADO, L. F. M. Bioconcreto, método inovador para solução
de patologias na construção civil. 2018. Disponível em: <http://abre.ai/nlouwyq0ietwf89rw>. Acesso em: 19
de janeiro de 2019.

Revista FENEC - 3(1): 8-13, abril, 2019 13


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

ANÁLISE COMPARATIVA DA GERÊNCIA DE


PAVIMENTOS NO MUNICÍPIO DE TUCURUÍ - PA

Stefany Rocha de Souza (stefanysouzaa1@gmail.com)


Mayara Caroline Lima Pimentel (karoline.pimentel14@gmail.com)
Camila Moraes Vaz (camila.opcomputador@gmail.com)

Resumo: A pavimentação é de suma relevância para a maioria das regiões do Brasil. Contudo, para manter um pavimento
em bom estado de uso, e suas posteriores manutenções, necessita-se de um Sistema de Gerência de Pavimentos Urbanos -
SGPU, já que é criado para oferecer às cidades pavimentos com melhor qualidade e menor custo, auxiliando em tomadas de
decisões eficientes e, nas atividades de prevenção, as quais são importantes para evitar grandes problemas no futuro. Diante
do exposto, verificou-se a necessidade de uma análise na região de Tucuruí e Vila Permanente, junto ao interesse de analisar
as condições desses pavimentos e compará-los, um estudo fez-se necessário, visando incentivar a criação de um SGPU que,
consequentemente trará grandes inovações nos métodos com que a pavimentação virá a ser aplicada. Logo, o objetivo deste
artigo é apresentar os resultados da análise realizada, por meio de questionário e avaliação visual, entre a cidade de Tucuruí e
Vila Permanente, acerca da funcionalidade atual dos pavimentos e os métodos de gerência empregados. Com os resultados
da comparação feita entre os pavimentos das duas localidades, observou-se que os pavimentos asfálticos da Vila Permanente
possuem desempenho superior aos da cidade de Tucuruí, mesmo utilizando um sistema de gerência informal. Por isso, percebe-
se então a importância desse trabalho para mostrar as condições precárias que se encontram as vias da cidade de Tucuruí
devido à falta de uma gestão eficiente, enfatizando, dessa forma, a necessidade de se implementar um Sistema de Gerência de
Pavimentos Urbanos.
Palavras-chave: SGPU. Análise Comparativa. Pavimentos.

INTRODUÇÃO

Segundo Bernucci et al. (2006, apud Oliveira, 2013), pavimento asfáltico é uma estrutura construída sob
a terraplenagem, com camadas diversas e espessuras delimitadas, destinada para resistir aos esforços verticais
e horizontais, cometidos pelo tráfego de veículos e pelo clima, além de garantir aos usuários conforto, econo-
mia e segurança perante condições de rolamento satisfatórias.
Alguns defeitos frequentemente encontrados nos pavimentos são buracos, fissuras, trincas, afundamen-
tos, desgastes e remendos, podem ser classificados em funcionais ou estruturais. No entanto, do ponto de vista
dos usuários os defeitos mais importantes são os de funcionalidade, encontrados na superfície do pavimento,
pois são facilmente visíveis e influenciam diretamente no conforto e custo de operação dos veículos (CNT,
2017; BERNUCCI et al, 2006).
As causas para o surgimento desses defeitos são diversas, podendo ser erros na concepção do projeto, na
dosagem, na execução ou falta de manutenção adequada. Essa última relaciona-se com o fato de que os servi-
ços de conservação comumente oferecidos pelas prefeituras são apenas de tapa-buracos e recapeamento, resul-
tando em pavimentos caros e com defeitos excessivos na superfície (ZANCHETTA, 2017).
Na busca de diminuir esses defeitos e fazer melhor aplicação dos recursos públicos disponíveis, foi cria-
do o conceito de Sistema de Gerência de Pavimentos Urbanos - SGPU, um conjunto de etapas que devem au-
xiliar nas tomadas de decisões e nos planejamentos das intervenções para alcançar um transporte rodoviário
seguro, compatível e econômico (DNIT, 2011).

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Stefany R. de S.; Mayara C. L. P.; Camila M. V. Análise comparativa da gerência de pavimentos no município de Tucuruí - PA

O objetivo deste artigo é apresentar os resultados da análise realizada, por meio de questionário e ava-
liação visual, entre cidade de Tucuruí e Vila Permanente, acerca da funcionalidade atual dos pavimentos e os
métodos de gerência empregados respectivamente. Através dos resultados da pesquisa, demonstrar os motivos
do município de Tucuruí necessitar de um SGPU e também propor um método de como iniciá-lo adaptado à
realidade de Tucuruí.

1. SISTEMA DE GERÊNCIA DE PAVIMENTOS URBANOS - SGPU

O propósito geral de um SGPU é oferecer às cidades pavimentos com melhor qualidade e menor custo,
auxiliando em tomadas de decisões eficientes. Um exemplo disso são as atividades de prevenção, as quais são
importantes para evitar grandes problema no futuro, promovendo economia.
Esse sistema é composto por várias etapas que devem ser conduzidas por profissionais capacitados na
área. Dentre elas Lima et al. (2006) destaca as principais:
y Inventário: banco de dados coletados sobre as vias, volume de tráfego, método de construção e di-
mensões;
y Análise da condição do pavimento: deve ser feita através de avaliação de campo para conhecer as
condições da malha rodoviária urbana;
y Priorização: esta etapa corresponde à melhor alocação dos recursos disponíveis tomando como refe-
rência a avaliação da condição do pavimento;
y Planejamento das atividades de manutenção e reabilitação de pavimentos: relaciona-se com quais ti-
pos de intervenções deverão ser feitas de acordo com os recursos e as necessidades como por exemplo, ativi-
dades de prevenção, reabilitação, construção e recapeamento;
y Implementação: onde serão colocadas em prática as etapas precedentes.

Para dar início à essas etapas, antes de tudo, é necessário recursos financeiros para compor uma equipe
técnica especializada e motivada para então iniciar as avaliações em campo e efetuar a coleta de dados (ZAN-
CHETTA, 2017).

2. METODOLOGIA DA PESQUISA

Área de estudo:
A cidade de Tucuruí fica localizada na mesorregião do sudeste do estado do Pará. Possui a maior hidre-
létrica totalmente brasileira, a Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Junto a construção da Hidrelétrica foi construída
uma vila para que os funcionários da Eletronorte pudessem morar, a Vila Permanente que fica a seis quilôme-
tros da cidade de Tucuruí como observado na Figura 1. Apesar de ter sido construída para os funcionários da
Usina, ela foi projetada para ser permanente, daí o nome Vila Permanente.
Como o processo de construção dos pavimentos de Tucuruí e da Vila Permanente foram feitos de for-
mas diferentes, com materiais diferentes, surgiu o interesse de analisar as condições desses pavimentos e
compará-los.
Para isso, foram selecionadas três ruas da cidade e da vila, consideradas umas das mais movimentadas e
passagens das principais frotas de ônibus e veículos de carga. As ruas escolhidas foram a Rua Lauro Sodré, a
Avenida Sete de Setembro e a Rua Trinta e Um de Março, localizadas na cidade, e a Avenida Dos Amazônidas,
a Rua Salto Santiago, e Avenida Raul Garcia Llano, situadas na vila.

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Stefany R. de S.; Mayara C. L. P.; Camila M. V. Análise comparativa da gerência de pavimentos no município de Tucuruí - PA

Figura 1. Mapa do município de Tucuruí

Fonte: Adaptado de Google Maps, 2019.

Caracterização da pesquisa:
Foi elaborado um questionário com perguntas destinadas às entrevistas com os órgãos responsáveis pela
pavimentação na cidade de Tucuruí e Vila Permanente. Foi dividido em três tópicos:
y Construção de Pavimentos: destinado a identificação dos métodos utilizados e a existência de banco
de dados das construções das vias.
y Manutenção e Gestão de Pavimentos: atribuído à verificação dos procedimentos utilizados para pla-
nejar as intervenções, quais executadas frequentemente, quais defeitos recorrentes, alocação de recursos e
composição da equipe técnica para que assim possa conhecer o modelo de gerenciamento utilizado.
y Implementação do SGPU: este tópico foi destinado para conhecer as opiniões dos profissionais en-
trevistados sobre o SGPU e, se necessário, quais ações fariam com que a implementação, em seus respectivos
órgãos, pudesse ser viável.

Na etapa de verificação das condições dos trechos escolhidos, realizou-se análise visual em campo e
através de fotos, visando obter dados, que corroborassem com a identificação dos defeitos recorrentes. Os tre-
chos analisados de Tucuruí e da Vila Permanente estão representados nas Figuras 1 e 2, respectivamente.

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Stefany R. de S.; Mayara C. L. P.; Camila M. V. Análise comparativa da gerência de pavimentos no município de Tucuruí - PA

Figura 2.
Áreas analisadas na
cidade de Tucuruí

Fonte: Adaptado de Google


Maps, 2019.

Figura 3.
Áreas analisadas na
Vila Permanente

Fonte: Adaptado de Google


Maps, 2019

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Stefany R. de S.; Mayara C. L. P.; Camila M. V. Análise comparativa da gerência de pavimentos no município de Tucuruí - PA

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Comparação dos métodos de construção dos pavimentos:


Através da análise do questionário foi verificado que o asfalto da Vila Permanente teve melhor planeja-
mento que o da cidade de Tucuruí, pois foi feita pelo corpo técnico especializado na construção da Usina Hi-
drelétrica e as condições atuais dessas vias são melhores. Apesar de haver um banco de dados da construção
dos pavimentos de ambas, essas informações não foram obtidas por serem consideradas como arquivo morto e
de difícil acesso, além de ocorrer perdas de dados no final de cada gestão na prefeitura de Tucuruí.

Comparação da análise visual dos pavimentos:


Observou-se que os defeitos asfálticos de Tucuruí são mais expressivos, tanto em dimensão quanto em
quantidade, principalmente, devido à má compactação do asfalto, a infiltração das camadas por conta da chuva
e da inexistência de um sistema de drenagem, por problemas relacionados com a composição do asfalto, falta
de mão-de-obra especializada no setor e também por conta de variações constantes de temperatura da região.
Resultando em trincas, fissuras, desgastes, buracos e afundamentos, exemplificados nas Figuras 4, 5, 6, 7 e 8.

Figura 4.
Trincas na Av. Sete de Setembro

Fonte: Própria, 2019.

Figura 5.
Desgaste na R. Lauro
Sodré

Fonte: Própria, 2019.

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Stefany R. de S.; Mayara C. L. P.; Camila M. V. Análise comparativa da gerência de pavimentos no município de Tucuruí - PA

Figura 6.
Buraco na R. Lauro
Sodré

Fonte: Própria, 2019.

Figura 7.
Afundamento na Av.
Sete de Setembro

Fonte: Própria, 2019.

Figura 8.
Diversos defeitos na
R. Lauro Sodré

Fonte: Própria, 2019.

Enquanto que na Vila as irregularidades recorrentes são devido à manutenção das tubulações de esgoto
e água, e pelo volume de carga que o asfalto sofre. Nesse sentido os defeitos como trincas, escorregamentos e
fissuras são menos significativos, como representados nas Figuras 9, 10 e 11, respectivamente.

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Stefany R. de S.; Mayara C. L. P.; Camila M. V. Análise comparativa da gerência de pavimentos no município de Tucuruí - PA

Figura 9.
Escorregamento e remendo na Av. dos Amazônidas

Fonte: Própria, 2019.

Figura 10.
Trincas na Av. dos
Amazônidas

Fonte: Própria, 2019.

Figura 11.
Fissuras na Av. Raul
Garcia Llano

Fonte: Própria, 2019.

Devido à necessidade de manutenções dos defeitos apresentados acima, são executadas obras de reparos
como por exemplo, os remendos, que de acordo com a CNT - Confederação Nacional do Transporte (2018),
apesar de ser uma atividade de manutenção, é considerado um defeito por indicar um ponto de fragilidade e
por impactar no conforto de rolamento, mesmo sendo bem executados como na Vila Permanente, indicado na
Figura 12. Além de diminuir a qualidade do asfalto quando o remendo não é feito de maneira adequada agrava
a situação do defeito, conforme observado nas vias da cidade de Tucuruí e exposto na Figura 13.

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Stefany R. de S.; Mayara C. L. P.; Camila M. V. Análise comparativa da gerência de pavimentos no município de Tucuruí - PA

Figura 12.
Remendo na Av. dos
Amazônidas

Fonte: Própria, 2019.

Figura 13.
Remendo e sua
espessura irregular na
Av. Sete de Setembro

Fonte: Própria, 2019.

Caracterização da gerência de pavimentos:


Em Tucuruí, o sistema utilizado para planejar as intervenções nos pavimentos, é elaborado segundo o
projeto da via com relatório de fotos e, especifica-se o trecho que precisa de manutenção, utilizando o Google
Maps, com a coordenada geográfica e distância até a usina de asfalto. Após isso, o projeto é entregue a uma
empresa privada para execução da obra. No entanto, não há uma equipe especializada no sistema de gerência
de pavimentos, sendo assim, o próprio corpo técnico da secretaria de obras do município faz o planejamento
para as manutenções.
Já na Vila Permanente, há um procedimento simples para planejar as intervenções nos pavimentos, feita
pelos funcionários responsáveis pela manutenção, que diariamente atuam em campo. Também é feita por meio
da interação com os moradores, que frequentemente informam quando há necessidade de manutenção em al-
guma via. Essa interação é feita por meio de aplicativos de mensagens ou diretamente no Centro Administra-
tivo, que tem acesso facilitado por estar localizado no centro da vila. Este sistema de gerência de pavimentos
em funcionamento caracteriza-se como informal, segundo os funcionários responsáveis, sem profissionais es-
pecializados em gestão. Mas, por se tratar de uma vila pequena e com comunicação direta com a população,
funciona de forma eficaz.

Atividades de manutenção executadas:


Os serviços de manutenção realizados na Vila e em Tucuruí são apenas os de tapa- buracos e recapea-
mento onde existem quantidades significativas de defeitos. Contudo a forma de gerir tais reparos é distinta. En-
quanto que na cidade a secretaria de obras faz apenas o planejamento e supervisão e, as manutenções são feitas
por empresas privadas; na Vila as correções menos significativas são feitas pela equipe técnica de manutenção

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Stefany R. de S.; Mayara C. L. P.; Camila M. V. Análise comparativa da gerência de pavimentos no município de Tucuruí - PA

da Eletronorte, no entanto, ao surgir a necessidade de fazer o recapeamento de uma via inteira, por exemplo, é
contratada uma empresa especializada.

Critérios de priorização das manutenções:


O critério de priorização utilizado em Tucuruí, é a construção de novos pavimentos em bairros que ain-
da não possuem esse serviço, sendo as manutenções executadas apenas em caráter de urgência. No entanto es-
sa prioridade varia de acordo com cada gestão. Porém, na Vila, esses critérios utilizados para priorizar o tipo
de manutenção são o volume de tráfego, ruas perto de hospitais, escolas e também, as situações consideradas
mais urgentes, como vias de acesso para pedestres.

Investimentos aplicados para manutenção dos pavimentos asfálticos:


Na Vila, a alocação dos recursos disponíveis são previstos para manutenção de toda a Vila Permanente.
Não há um valor ou porcentagem definidos, já que os reparos, normalmente são em pequena escala. No entan-
to, quando a manutenção requer investimentos maiores é feito um mapeamento dos defeitos pela Eletronorte,
que são fornecidos para uma empresa contratada pelo serviço, e essa emite um orçamento do custo da obra.
Contudo, na cidade, não existem procedimentos para a alocação desses recursos. O que existe é a previ-
são de gastos para cada serviço que devem ser incluídos nas requisições de licitação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os resultados da comparação feita entre os pavimentos das duas localidades, observou-se que os
pavimentos asfálticos da Vila Permanente possuem desempenho superior aos da cidade, mesmo utilizando um
sistema de gerência informal. Através disso, pode-se concluir que a ineficiência da rede viária de Tucuruí, é es-
sencialmente, dado a falta de um Sistema de Gerência de Pavimentos Urbanos.
A primeira medida a ser pensada para implementar um SGPU na cidade de Tucuruí, trata-se da estrutura-
ção de uma equipe especializada e motivada pois, observou-se a carência de profissionais capacitados na área.
Em seguida, realizar coleta de dados sobre as vias e avaliações em campo para identificar as condições dos pa-
vimentos. Além disso, a criação de uma política pública de gerência das vias urbanas é necessária para sanar
os dificuldades causadas pela rotatividade das gestões municipais, uma vez que esse sistema deve permanecer
contínuo independentemente de quaisquer administração.
O primeiro passo para gerar inovação é conhecer sobre as necessidades da área escolhida e posterior-
mente buscar soluções. Por isso, percebe-se então a importância desse trabalho para mostrar as condições pre-
cárias que se encontram as vias da cidade de Tucuruí devido à falta de uma gestão eficiente, enfatizando, dessa
forma, a necessidade de se implementar um Sistema de Gerência de Pavimentos Urbanos, um assunto intro-
duzido pelo artigo, porém, ainda faz-se necessário mais estudos aprofundados para auxiliar à concretização da
implantação desse sistema.

REFERÊNCIAS

BERNUCCI, L. B.; MOTTA, L. M.; CERATTI, J. A. P.; SOARES, J. B. Pavimentação Asfáltica: Formação
Básica para Engenheiros. PETROBRAS: ABEDA. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ. 2006.

CIDADE DE TUCURUÍ. Informações Gerais da Cidade de Tucuruí (Julho de 2017). Disponível em: <http://
cidadedetucurui.com/INICIO/A_CIDADE/A_CIDADE.htm>. Acesso em: 08 de Março de 2019.

CNT - Confederação Nacional do Transporte. Conheça os 13 principais defeitos do pavimento das rodovias
(Fevereiro de 2018). Disponível em: <http://www.cnt.org.br/imprensa/noticia/conheca-principais-defeitos-pa-
vimento>. Acesso em 07 de Março de 2019.

CNT - Confederação Nacional do Transporte. Transporte rodoviário: por que os pavimentos das rodovias do
Brasil não duram?. Estudo. Brasília, DF. 2017.

Revista FENEC - 3(1): 14-23, abril, 2019 22


Stefany R. de S.; Mayara C. L. P.; Camila M. V. Análise comparativa da gerência de pavimentos no município de Tucuruí - PA

DE OLIVEIRA J. J. Experiência de implantação de sistema de gerência de pavimentos em cidade de mé-


dio porte Estudo de caso: Anápoles-GO. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo (2013). Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18143/tde-
03092013-155923/publico/Jemysson_Jean_de_Oliveira.pdf>. Acesso em: 08 de Março de 2019.

DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Manual de gerência de pavimentos. Manu-


ais. Rio de Janeiro, RJ. 2011.

J. P. LIMA, R. A. R. RAMOS E J. L. FERNANDES JR. A Prática de Gestão de Pavimentos em Cidades Mé-


dias Brasileiras. Universidade do Minho, Anais do 2º Congresso Luso Brasileiro Para o Planeamento Urbano
Regional Integrado e Sustentável. Braga, Portugal. 2006.

ZANCHETTA F.. Sistema de gerência de pavimentos urbanos: avaliação de campo, modelo de desempenho
e análise econômica. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo.
São Paulo, SP. 2017.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CAVALCANTE D. G. ET AL. Levantamento visual das patologias na cidade de Manaus-AM. Revista Teoria
e Prática na Engenharia Civil, n. 19, p. 77-87, Maio.

Revista FENEC - 3(1): 14-23, abril, 2019 23


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA


DOS RSCC NA CIDADE DO RECIFE

Maria Eduarda Santos Ribeiro (mariaeduardasantosribeiro99@gmail.com)


Wedna Isabel Silva de Oliveira (wednaisabel@gmail.com)

Resumo: A cadeia produtiva dos Resíduos Sólidos da Construção Civil (RSCC) tem uma importância para a natureza, por conta de
seu descarte de forma ilegal, consequentemente a degradação em um local impróprio por determinado período de tempo. Pode-
se notar também, que com o incentivo de alguns órgãos privados, com o intuito do lucro, por conta da fonte de renda e geração
de emprego, parte desses entulhos é reciclável. Através disso foi estudada essa cadeia na cidade do Recife, que provavelmente
é uma das cidades mais geradoras de resíduos do país, atual capital do Estado de Pernambuco, através do método referencial
teórico. Sendo assim, houve embasamento por meio eletrônico, observações em campo, artigos já publicados e entrevistas
com algumas empresas aqui citadas, dessa forma foi possível analisar todo o trajeto dos dejetos provenientes das construções,
desde sua fabricação até sua destinação apropriada, o que dificilmente ocorre. Em virtude dos inúmeros problemas ambientais
vivenciados no Brasil, sobretudo na Cidade do Recife, há uma necessidade tanto do poder púbico quanto das pessoas físicas e
jurídicas colocarem em prática ações que minimizem impactos gerados pelo descarte dos RSCC, e que a longo prazo isso não
seja visto apenas como forma de cumprimento de leis, mas como prática consciente dos cidadãos. Recife, além de ser populosa,
também é uma cidade carente de educação ambiental, saneamento e fiscalização, o que facilita o descumprimento do Plano de
Gerenciamento Integrado de Resíduos de Construção Civil - PGRCC.
Palavras-chave: Resíduos. RSCC - Resíduos Sólidos da Construção Civil. Construção Civil. Recife.

INTRODUÇÃO

A construção civil é um importante segmento da indústria brasileira, tida com um indicativo de cres-
cimento econômico e social. Contudo, esta também se constitui em uma atividade geradora de impactos am-
bientais (Pinto, 2005 apud Karpinsk et al, 2009). Além disso, tem um intenso consumo de recursos naturais,
modificação da paisagem, entre outras atividades, o que acarretará um acúmulo de resíduos. O Brasil é o maior
produtor de resíduos sólidos da América Latina, e quase 70% dos municípios do Estado de Pernambuco ainda
depositam resíduos sólidos em lixões, segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE). Baseado nesses fatos,
estudaremos os Resíduos Sólidos da Construção Civil (RSCC) da Cidade do Recife para melhor compreender
como se dá sua cadeia produtiva, e até mesmo como uma forma de denúncia para as autoridades de o Estado
passar a fiscalizar e penalizar os produtores inadimplentes desses rejeitos, tendo em vista que a destinação dos
RSCC é uma questão de saúde pública, portanto, uma busca de melhor qualidade de vida para os cidadãos.
É natural que o homem ao utilizar as coisas as descartem, isso ocorre muitas vezes de forma inapropriada, pois
desde épocas remotas, a relação que homem tinha com a natureza era de subordinação, tendo em vista que sua
capacidade de transformá-la era limitada. A nível nacional, a construção civil é responsável por gerar cerca de
50% de resíduos sólidos do país, e ainda assim, muitas pessoas físicas/jurídicas ainda são inconsequentes com
a destinação dos mesmos. O cidadão deve estar ciente que é o responsável legal pelos resíduos sólidos gerados
em sua obra, desde a produção até a finalização. Este processo abrange funções socioeducativas e econômicas,
além do ponto de vista ecossistêmico.

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Maria E. S. R.; Wedna I. S. de O. Análise da cadeia produtiva dos RSCC na cidade do Recife

1. RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL

1.1 Conceito

Segundo o Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, resíduos da construção civil conhecido
popularmente como entulho de obra, caliça ou metralha, é o material que corresponde ao resíduo gerado no
processo de construção, de reforma, escavação ou demolição de obra civil. Tendo como exemplo blocos cerâ-
micos, concretos, metais, entre outros.

1.2 Classificação dos resíduos sólidos

A Classificação dos Resíduos da Construção Civil no Brasil se dá através da Resolução de número 307.
A Resolução de número 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA
estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, disciplinando
as ações necessárias de forma a minimizar os impactos ambientais. O Conselho Nacional do Meio Ambien-
te - CONAMA é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA e foi
instituído pela Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo
Decreto nº 99.274/90.
A classificação é realizada pela seguinte forma:
1.2.1 - Classe A: São os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:
1.2.1.1) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestru-
tura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
1.2.1.2) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos,
blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;
1.2.1.3) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos,
meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;
1.2.2 - Classe B: São os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel, pape-
lão, metais, vidros, madeiras e gesso;
1.2.3 - Classe C: São os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações eco-
nomicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação;
1.2.4 - Classe D: São resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solven-
tes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e repa-
ros de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros bem como telhas e demais objetos, materiais que
contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.

O Quadro 1 abaixo mostra algumas alternativas para destinação de alguns tipos de resíduos.

Quadro 1. Principais RSCC, seus cuidados e principais locais para sua destinação
Típos de Resíduo Cuidados Requeridos Destinação
Blocos de concreto, blo- Privilegiar soluções de destina- Áreas de Transbordo e Triagem, Áreas para Reciclagem
cos cerâmicos, argamas- ção que envolva a reciclagem dos ou Aterros de resíduos da construção civil; os resíduos
sas, concreto, tijolos e resíduos, de modo a permitir seu classificados como classe A podem ser reciclados para
assemelhados. aproveitamento como agregado. uso em pavimentos e concretos sem função estrutural.
Madeira Para uso em caldeira, garantir se- Atividades econômicas que possibilitem a reciclagem
paração da serragem dos demais destes resíduos, a reutilização de peças ou o uso como
resíduos de madeira combustível em fornos ou caldeiras.
Plásticos Máximo aproveitamento dos ma- Empresas, cooperativas ou associações de coleta sele-
teriais contidos e a limpeza da tiva que comercializam ou reciclam estes resíduos.
embalagem.
Papelão e papéis Proteger de intempéries. Empresas, cooperativas ou associações de coleta sele-
tiva que comercializam ou reciclam estes resíduos.

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Maria E. S. R.; Wedna I. S. de O. Análise da cadeia produtiva dos RSCC na cidade do Recife

Típos de Resíduo Cuidados Requeridos Destinação


Metal Não há Empresas, cooperativas ou associações de coleta sele-
tiva que comercializam ou reciclam estes resíduos.
Serragem Ensacar e proteger de intempé- Reutilização dos resíduos em superfícies impregnadas
ries. com óleo para absorção e secagem, geração de energia.
Gesso em placas cartona- Proteger de intempéries. É possível a reciclagem pelo fabricante ou empresas
das de reciclagem.
Gesso de revestimento e Prpteger de intempéries. Aproveitamento pela indústria gesseira e empresas de
artefatos reciclagem.
Solo Examinar a caracterização prévia Desde que não estejam contaminados, destinar a pe-
dos solos para definir destinação. quenas áreas de aterramento ou em aterros de resíduos
da construção civil.
Telas de fachada e de pro- Não há. Possível reaproveitamento para a confecção de bags e
teção sacos ou por recicladores de plásticos.
EPS (poliestireno expan- Confinar, evitando, dispersão. Possível destinação para empresas, cooperativas ou as-
dido – exemplo: isopor) sociações de coleta seletiva que comercializam, recli-
cam ou aproveitam para enchimentos.
Materiais, instrumentos e Maximizar a utilização dos mate- Encaminhar para aterros licenciados para recepção de
embalagens contaminados riais para a redução dos resíduos resíduos perigosos.
por resíduos perigosos. a descartar.
Fonte: Geise Alves (2017).

2. ANÁLISE DOS PRODUTORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA CIDADE DO RECIFE

A área da construção civil é bastante oscilante no mercado, devido a isso empresas inovam regularmente
para que se mantenham ativas no mercado. Os entulhos são resíduos provenientes de construção, reforma ou
demolição de uma edificação. Ele tem quatro classificações, como já foram citadas acima. A metralha tem suas
etapas, que tem início com os geradores, que são pessoas físicas/jurídicas que produz os resíduos. Os transpor-
tadores que também são pessoas físicas ou jurídicas que cuidam da coleta e do transporte do material a ser reci-
clado. O próximo é o gerenciamento de resíduos onde é recebido o entulho no qual é direcionado ser tratado e
para minimizar os impactos ambientais em que seria reduzido, reutilizado e reciclado tendo assim seu término.
Algumas empresas que trabalham com a coleta têm também um lugar determinado para seu descarte, ou
seja, desde a etapa do transporte até sua finalização. Uma parte muito importante na construção civil é o Plano
de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), que mostra a capacidade que determinada empresa tem em
gerenciar o resíduo que possa gerar. Sua função em suma é para que seja dada uma destinação final adequada
ao resíduo de forma sustentável.

3. PGRCC

Na cidade do Recife, as leis municipais estabelecem que se o cidadão gera mais de 1m3/dia, ele é con-
siderado um grande gerador de metralha, em virtude disso, na construção civil, deve apresentar um Plano de
Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil (PGRCC). Esse plano é um documento técnico que detalha a
quantidade gerada de cada tipo de resíduo oriundo das construções, reformas, ampliação, reparo, de obras ci-
vis, preparação e escavação de terrenos. O PGRCC tem como finalidade a indicação de destinação apropriada
destes materiais, tais como: blocos cerâmicos, concreto, resinas, tintas, madeira, gesso, entre outros. A separa-
ção dos RSCC deve ser feita ainda na obra, sob responsabilidade do gerador, onde o mesmo deverá garantir o
manejo adequado em cada ciclo que irá gerar resíduos, no transporte, tratamento, reciclagem (quando possí-
vel), destinação e disposição final. É importante ressaltar que, o PGRCC deve ser apresentado anexado com o
projeto do empreendimento para análise do poder público municipal, prefeitura do Recife, como condição para
aprovação dos projetos, para só então receber o alvará de construção.

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Maria E. S. R.; Wedna I. S. de O. Análise da cadeia produtiva dos RSCC na cidade do Recife

4. POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PNRS)

Lei nº 12.305/2010 - A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é
bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamen-
to dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resídu-
os sólidos. Prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de
consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização
dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação
ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Institui a responsa-
bilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes,
o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos resíduos e
embalagens pós- consumo. Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui
instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, intermunicipal e metropolitano e
municipal; além de impor que as empresas particulares elaborem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos.

5. COMO SE DÁ A CADEIA PRODUTIVA DOS RSCC NO RECIFE

É dever do responsável pela obra dar ao entulho a destinação correta. Com isso ele deve contratar a
transportadora para que leve sua metralha até o destino final. Então a separação do entulho tem início em seus
Geradores, que podem ser empresas de instituições privadas ou públicas, sendo uma grande lista de organiza-
ções, que tem seus materiais divididos em três grupos, que seriam os da classe A, B e C. Há no mercado mui-
tas empresas que trabalham com a coleta desses entulhos, como a Papa Metralha e a RBM Resíduos, ambas
da cidade do Recife, então após a reserva dos materiais já coletados em obra, entra em ação a transportadora
que conduz as cargas à empresa de gerenciamento, também conhecida como usina de reciclagem. Na Região
Metropolitana do Recife (RMR), uma empresa muito conhecida é a CTL Candeias, localizada no município
de Jaboatão dos Guararapes outra dessas empresas é a Ciclo Ambiental, localizada na cidade de Camaragibe lá
eles tratam a metralha, retiram o material estranho manualmente, em seguida realiza o processo de britagem,
que serve pra reduzir o cascalho para tamanho de brita.
Além de pensar na reciclagem dos materiais colhidos na construção, deve ser pensado também se o cus-
to-benefício será satisfatório. Suponhamos que um quilo de um determinado material custe R$10,00 e o mes-
mo material, porém reciclado seja de R$15,00. Vê-se que dessa forma não há vantagens em utilizar materiais
reciclados. Por isso é importante tornar a reciclagem econômica e viável. Diante disto há alguns fatores que
podem tornar isso possível, dentre eles existe a demanda em potencial para os produtos reciclados, ou seja,
quanto mais procura da mercadoria, maior poderá ser sua produção e menor seu preço.
Em Pernambuco o órgão responsável pela fiscalização dos entulhos é a Companhia Pernambucana de
Recursos Hídricos (CPRH), que hoje é denominada Agência Estadual de Meio Ambiente, que tem como prin-
cipais funções a proteção e conservação dos recursos naturais assim como trabalhar no controle de fontes po-
luidoras.

Figura 1. Representação da cadeia produtiva do RCC

Fonte: Prefeitura do Recife, 2019.

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Maria E. S. R.; Wedna I. S. de O. Análise da cadeia produtiva dos RSCC na cidade do Recife

6. PRINCIPAIS EMPRESAS QUE TRABALHAM COM DESTINAÇÃO DE RSCC NO RECIFE

6.1 RBM Resíduos

A RBM atende às grandes demandas de recolhimento e destinação de resíduos em geral da região lito-
ral do Estado de Pernambuco, que vai desde Ipojuca (abrangendo Suape, Recife e região metropolitana), até
Goiana e zona da mata. Podemos afirmar que esta, sem dúvidas, é uma empresa muito competente no que faz
e ela realmente atende às exigências das normas ambientais. Os serviços delas são bem amplos como limpeza
de áreas vastas, remoção e destinação de resíduos para aterros cadastrados; dispõe de conhecimento do proces-
so e orienta o cliente para maior produtividade e menor custo nas remoções; realiza a elaboração do plano de
gestão dos RSCC e de projetos de reutilização de materiais. Além disso, vale ressaltar que a empresa é licen-
ciada pelos órgãos relacionados ao meio ambiente e construção sustentável.

Figura 2.
Caçambas para recolhimento
de resíduos

Fonte: RBM Resíduos, 2019.

6.2 Ecoestações

São pontos de recebimento de resíduos, sem custo, cujo objetivo é oferecer uma alternativa à popula-
ção para o descarte de móveis velhos, resíduos de pequenas obras residenciais e outros materiais, com volume
de até 1m3/dia. Resíduos hospitalares, lixo industrial e equipamentos eletroeletrônicos não são recebidos nas
Ecoestações. O horário de funcionamento é das 8:00h as 16:00h, de segunda a sábado, exceto feriados. Mes-
mo com essa opção, a população ainda insiste em descartar os resíduos em lugares inapropriados, praticando
crimes ambientais, e acarretando em um dos principais agentes responsáveis pelas cheias da cidade. É mui-
to comum de se encontrar no Recife, móveis jogados às margens dos rios, por exemplo. Pode-se afirmar que
além da falha das fiscalizações, um fator gritante em questão da destinação dos RSCC na cidade é a educação
da população, que descartam de forma ilegal, como já mencionado acima.

Figura 3.
Ecoestação do Cohab

Fonte: Prefeitura do Recife, 2019.

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6.3 Ciclo ambiental

A Ciclo Ambiental é uma usina de reciclagem de resíduos de construção civil, ou seja, trata estes resí-
duos e os levam de volta ao mercado. Uma solução ambientalmente limpa, economicamente viável e social-
mente justa, uma vez que esse resíduo pode ser reciclado infinitas vezes. Por ser uma empresa Pernambucana e
pioneira, ela atende não somente a cidade do Recife, mas também as de sua redondeza, além disso, conta com
a parceria de grandes construtoras como Moura Dubeux, Gabriel Barcelar, Quiroz Galvão, Pernambuco Cons-
trutora, Rio Ave, Vale do Ave, Concrepoxi, Melo Rodrigues, Renel, Dallas e Duarte Construtora. Lá, o resíduo
é pesado; depois as caçambas são esvaziadas na área de transbordo e triagem, onde possíveis contaminantes
são retirados; então, o resíduo passa pelo processo de britagem – sua dimensão é reduzida pela britadora e um
sistema de peneiras mecânicas separa os agregados pelo seu tamanho comercial. Hoje, a Ciclo Ambiental pro-
duz areia grossa, expurgo para aterro, brita cascalhinho, brita 19 e brita 25 – agregados reciclados que são utili-
zados de acordo com as normas ABNT NBR 15115 e NBR 15116. A empresa também recebe resíduos de gesso
que estão sendo estocados para a futura unidade de processamento que vai transformá-lo em novas placas ou
em gesso para correção do solo. Cada tonelada de gesso é recebido por cerca de R$ 35. A Ciclo Ambiental é a
primeira unidade de um projeto do grupo para a construção de diversas recicladoras de resíduos da construção
civil espalhadas pelo Brasil e que projeta outras duas unidades na cidade do Recife.

Figura 4. Esquematização do tratamento de RSCC desta empresa

Fonte: Ciclo Ambiental, 2019.

7. REFERÊNCIASNORMATIVAS

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou no ano de 2004 algumas normas refe-
rentes aos resíduos sólidos e aos procedimentos para o gerenciamento dos RSCC, de acordo com a Resolução
Conama número 307 (Brasil, 2002). No entanto, as fundamentais para elaboração deste artigo estão listadas a
seguir:
7.1) ABNT NBR 15112:2004 - Resíduos da construção civil e resíduos volumosos – Áreas de trans-
bordo e triagem – Diretrizes para projeto, implantação e operação.
7.2) ABNT NBR 15113:2004 - Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes – Aterros – Di-
retrizes para projeto, implantação e operação.
7.3) ABNT NBR 15114:2004 - Resíduos sólidos da construção civil – Áreas de reciclagem – Diretri-
zes para projeto, implantação e operação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cadeia produtiva da engenharia civil está diretamente relacionada com a melhoria de vida, tanto dos
trabalhadores, quanto dos consumidores desse mercado. Contudo, ao longo dos anos vem trazendo seus efeitos
adversos, entrando em divergência com o desenvolvimento desse ramo. Neste sentido Freitas (apud FLIEG-
NER, 2015) ressalta que “O desperdício de materiais, principal aspecto para a geração de entulho, abarca des-
de as etapas de construção até os momentos de manutenção, reforma, ampliação, desocupação e demolição, e
ocorre desde a seleção de fornecedores.”.

Torna-se necessário que haja um modelo de gerenciamento sustentável para estes resíduos. Em vista do des-
gaste ambiental, é necessário que se trabalhe um projeto global, mesmo que regional, mas que contemple a
dimensão ambiental no sentido de obter um novo e mais eficaz método de administrar os recursos do am-
biente para aquela região. (RAMPAZZO, 2002)

Em virtude disto, que se deve a resolução de número 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional
do Meio Ambiente - CONAMA, na qual estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos re-
síduos da construção civil. Se não houvesse meios de controle e fiscalização das obras, iríamos ter um grande
choque socioeconômico, além do aumento de trabalhos informais e das conhecidas autoconstruções – termo
designado para construção civil de unidades habitacionais de baixo custo por seus próprios usuários, frequente
nas zonas periféricas dos maiores centros habitacionais. O crescimento e a longevidade da população aliados
à intensa urbanização e à expansão do consumo de novas tecnologias acarretam a produção de imensas quan-
tidades de resíduos.
Juntamente com os danos ambientais, sabemos que há problemas relacionados com a saúde pública.
Quando o descarte desse lixo é realizado em terrenos abandonados, por exemplo, pode acarretar em convite
para animais como ratos e escorpião que proliferam danos à saúde ou até mesmo o acúmulo de água que serve
como abrigo para mosquitos transmissores de doenças como a dengue. Fica cada vez mais evidente que a ado-
ção de padrões de produção e consumo sustentáveis e o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos podem
reduzir significativamente os impactos ao ambiente e à saúde.
É importante salientar o fluxo do RSCC, que é de caráter nacional, mas que cada cidade tem sua pecu-
liaridade. Vale lembrar ainda, que o alvará de construção das obras, só será possível mediante o cumprimento
dessas exigências. Primeiramente temos o Plano de gerenciamento de resíduo da construção civil (PGRCC)
onde se enquadram os resíduos sólidos, logo em seguida, com o início da obra e a geração de resíduos, que ain-
da in loco devem ser segregados para facilidade de coleta e transporte. A partir daí, a destinação fica sob total
responsabilidade do incumbido da obra. Só então, teremos o relatório final da obra.

REFERÊNCIAS

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09/19/hello-world/>. Acesso em: 22 fev. 2019.

BRASÍLIA. Luiz Inácio Lula da Silva. Presidência da República (Ed.). LEI Nº 12.305. 2010. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 04 fev. 2019.

CICLO AMBIENTAL (Pernambuco). Serviços Prestados. 2019. Disponível em: <http://cicloambientalrcc.


com.br/site/home/>. Acesso em: 05 fev. 2019.

CICLO Ambiental. Disponível em: <http://cicloambientalrcc.com.br/site/home/>. Acesso em: 22 fev. 2019.

PORTAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS (PRS) (Brasil) (Org.). Classificação dos Resíduos da Construção Civil
no Brasil. 2015. Disponível em: <https://portalresiduossolidos.com/classificacao-dos-residuos-da-construcao-
civil-no-brasil/>. Acesso em: 15 fev. 2019.

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Maria E. S. R.; Wedna I. S. de O. Análise da cadeia produtiva dos RSCC na cidade do Recife

PREFEITURA DO RECIFE (Recife). ECOESTAÇÕES. 2019. Disponível em: <http://ecorecife.recife.pe.gov.


br/ecoestacoes-1>. Acesso em: 22 fev. 2019.

RBM RESÍDUOS (Pernambuco) (Org.). Soluções. 2019. Disponível em: <https://rbmresiduos.com.br/>.


Acesso em: 05 fev. 2019.

ROCHA, Viviane Gomes; D’ÁVILA, João Sampaio; SOUZA, Roberto Rodrigues de. A importância da gestão
dos resíduos sólidos na relação homem – natureza. 2004. Disponível em: <http://www.rbgdr.net/revista/index.
php/rbgdr/article/view/63>. Acesso em: 05 fev. 2019.

SIENGE (Santa Catarina). Tudo sobre resíduos sólidos da construção civil. 2017. Disponível em: <https://
www.sienge.com.br/blog/residuos-solidos-da-construcao-civil/>. Acesso em: 05 fev. 2019.

THAYS ESTARQUE (Pernambuco). Quase 70% dos municípios de PE ainda depositam resíduos sólidos em
lixões. 2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/pernambuco/noticia/quase-70-dos-municipios-ainda-de-
positam-residuos-solidos-em-lixoes-aponta-tce-pe.ghtml>. Acesso em: 21 fev. 2019.

Conselho Nacional do Meio Ambiente. RESOLUÇÃO Nº 307, DE 5 DE JULHO DE 2002. 2002. Disponível
em: <http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307>. Acesso em: 10 mar. 2019.

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VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

BACILLUS SUBTILIS UMA ADIÇÃO INCOMUM


COM BENEFÍCIOS INESPERADOS AO CONCRETO

Dorival Ladislau dos Santos Junior (dorivaljuniorr@gmail.com)


Talita Carvalho de Souza (talitacarvalho0489@gmail.com)

Resumo: A bactéria Bacillus subtilis pode ser utilizada como um meio alternativo para a confecção de bioconcreto, pois tem
características semelhantes à Bacillus pseudofirmus estudada por outros pesquisadores. Vale destacar que a bactéria Bacillus
subtilis pode ser encontrada em território nacional brasileiro e que a mesma tem a capacidade de precipitação de cristais de
carbonato de cálcio (CaCO3), os quais por biodeposição fecham poros e fissuras nos materiais cimentícios. Desta forma, a adição
de bactérias ao concreto apresenta grandes benefícios para engenharia, uma vez que pode dispensar reparos de fissuras devido
ao processo de precipitação de calcita (forma cristalina de CaCO3), o que também diminuirá a infiltração e perda de capacidade de
carga, aumentando a vida útil das edificações.
Palavras-chave: Bioconcreto. Bacillus subtilis. Vida útil. Resistência.

INTRODUÇÃO

O processo de remediação de fissuras no concreto, seja ocasionada por retração térmica, modificações
internas, constituição do material, flexão, punção, cisalhamento e entre outros, é um campo de pesquisa que
nos últimos anos vêm crescendo. Pode parecer risório, mas uma pequena fissura ocasiona um aumento na im-
permeabilidade da estrutura de concreto, podendo reduzir sua durabilidade. É importante destacar que uma es-
trutura fissurada está passiva a penetração de substâncias agressivas, acarretando diversos problemas, como
por exemplo a corrosão da armadura (PAZZINI, 2018).
De acordo com Henk Jonkers (2010), o concreto é relativamente barato e possui uma predisposição ao
surgimento de fissuras, fenômeno que prejudica a integridade estrutural do material e sua durabilidade. Apesar
do concreto ser extremamente resistente a compressão, quando submetido à esforços de tração o desempenho
deste é bem inferior. Como o concreto necessita da aplicação conjunta com o aço para resistir aos esforços de
tração, fica evidente o grau de importância de uma fissura, pois o aço em contato com a água através de fissu-
ras ou outro tipo de patologia pode resultar na corrosão da armadura, comprometendo a integridade e resistên-
cia da estrutura.
As fissuras passivas, ou seja, fissuras que não variam de espessura ao longo do tempo, são facilmente re-
cuperadas através de resinas sintéticas epóxi, acrílica ou e poliéster. Já as fissuras ativas, ou seja, fissuras onde
existe progressão do seu estado, podem colocar a estrutura em colapso. Estas fissuras podem ser recuperadas
com pinturas flexíveis com uso de tela de nylon, ou podendo abrir a parte fissurada e faze o preenchimento da
área danificada com selante (DAL MOLIN, 1988 apud SCHWANTES, 2014). No entanto, essas manutenções
e recuperações possuem um custo adicional, as vezem implicando em um custo maior para o consumidor fi-
nal, ficando até inviável.
Segundo Henk Jonkers (2011), as bactérias do gênero Bacillus são capazes de precipitar carbonato de
cálcio (CaCO3), o qual por biodeposição tem a capacidade de fechamento de fissuras. O processo pelo qual os
organismos vivos sintetizam minerais inorgânicos é 2 denominado de biomineralização. A precipitação de Ca-
CO3 é um exemplo desse processo, que pode ocorrer por células bacterianas e suas respectivas atividades me-
tabológicas, entre outros fatores. Na bioprecipitação de carbonato de cálcio os microrganismos são capazes de

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Dorival L. dos S. J.; Talita C. de S. Bacillus Subtilis uma adição incomum com benefícios inesperados ao concreto

secretar um ou mais produtos metabólicos que reagem com íons cálcio no ambiente resultando na precipitação
de minerais (DHAMI et al., 2013). Ainda de acordo com Jonkers (2011) esse processo de biomineralização
ocorre naturalmente no concreto, mas a uma taxa bem lenta ao longo de tempos geológicos, como aqueles que
levam à formação de calcário e arenito.
O bioconcreto surge então com o objetivo de minimizar os problemas de fissuração em um tempo bem
inferior, através da adição de bactérias do gênero Bacillus. Essas bactérias, em contato com a umidade que po-
de adentrar em uma fissura, se multiplicam e durante o seu processo metabólico produzem calcita, a qual fun-
ciona como um preenchimento e autocicatriza as fissuras do concreto. Vale lembrar que a calcita também serve
para o fechamento dos poros do concreto evitando não só os desgastas provenientes da água, mas também de
outras substâncias prejudiciais, prolongando seu tempo de via útil (JONKERS, 2011). O processo de fecha-
mento das fissuras pode ser observado na Figura 1.

Figura 1. Comportamento da bactéria desde a fissura do concreto, passando por sua “ativação” em contato com
a água até o início do fechamento da trinca

Fonte: Vieira (2015).

1. METODOLOGIA

Para a realização desta pesquisa, efetuou-se um estudo em artigos nacionais e internacionais, com o ob-
jetivo de embasar sobre o tema de bioconcreto, porém com a utilização da bactéria Bacillus subtilis.
O trabalho constou, ainda, de coleta de dados baseada na documentação indireta, que consiste na leitura
e análise de materiais produzidos por terceiros, que podem apresentar-se na forma de textos, jornais, fotogra-
fias, filmes, documentos de arquivos públicos, contratos, revistas, dissertações, entre outros.
Através dos dados coletados na pesquisa, foi possível debater sobre a importância do bioconcreto com a
utilização da Bacillus subtilis, devido a esta bactéria ser proveniente do campo de pesquisa brasileiro.

2. DESENVOLVIMENTO

A proteção contra fissuras é fundamental em diversos elementos estruturais, especialmente aqueles que
armazenam produtos químicos nocivos, onde essas aberturas podem ocasionar problemas maiores com o pas-
sar do tempo. Nesse tipo de situação, a utilização de bactérias seria de grande vantagem para o processo de fe-
chamento dessas pequenas passagens. Este processo que pode ser desencadeado por microrganismos que no
contato com a umidade, 3 iniciam o processo de autocicatrização (MUYNCK et al., 2010). Apesar das fissuras
em muitas de suas vezes não comprometerem a resistência das estruturas, elas contribuem significativamente
com a porosidade e permeabilidade do material, fazendo com que a penetração de agentes agressivos, tais co-

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Dorival L. dos S. J.; Talita C. de S. Bacillus Subtilis uma adição incomum com benefícios inesperados ao concreto

mo cloretos, sulfatos e ácidos possam ocasionar a degradação da matriz do concreto e na corrosão prematura
da armadura utilizada em elementos de concreto armado, o que prejudica a durabilidade da estrutura a longo
prazo (JONKERS, 2011).
É importante destacar que as bactérias são organismo vivos, assim, quando são adicionadas ao concre-
to proporcionam uma nova característica, essa nova matriz foi denominada de bioconcreto (JONKERS et al.,
2010). O prefixo bio significa vida, então ao adicionar a bactéria ao concreto ocorre a precipitação de cristais
de carbonato de cálcio, isso se dá devido a umidade que infiltra pelas fissuras, por consequência proporciona a
autocicatrização dos elementos cimentícios (SCHWANTES, 2014).
Além da autocicatrização o bioconcreto gera outros benefícios em suas propriedades, tais como: maior
resistência à compressão e tração, em comparação com o concreto convencional, também reduz a permeabili-
dade melhorando a propriedades de estado endurecido do concreto (SANTOS JUNIOR; SOUZA; MACHA-
DO, 2018).

Figura 2.
Dr Henk Jonkers em experimento
de abertura de fissura de uma
amostra de bioconcreto

Fonte: Jonkers (2011).

Segundo Gomes (2013, apud SCHWANTES, 2014) a bactéria Bacillus subtillis, vem do gênero Bacillus
que por sua vez é classificado em três grupos, sendo ela do grupo I-b, constituído de bacilos com diâmetro in-
ferior a 1 μm, nesse grupo também estão contidos os B. coagulans, B. firmus, B. licheniformis, B. subtilis e B.
pumilus. Elas são composta de microrganismos ambientais, produzindo colônias irregulares, com contornos fi-
lamentosos ou ondulados, podendo elaborar uma capsula protetora contra a fagocitose. Na Figura 3 pode-se vi-
sualizar as bactérias gram-positivas que possui uma membrana e gram-negativas que possuem duas membranas,
uma interna e outra externa, sendo as gram-positivas utilizadas para a moldagem dos corpo-de-prova (2014).

Figura 3.
Paredes celulares das
bactérias, removido
TCC Schwantes, 2014

Fonte: MADIGAN,
MARTINKO & PARKER
(2004).

Revista FENEC - 3(1): 32-39, abril, 2019 34


Dorival L. dos S. J.; Talita C. de S. Bacillus Subtilis uma adição incomum com benefícios inesperados ao concreto

A bactéria do gênero Bacillus são altamente resistentes ao calor, as agentes químicos e a radiação (MA-
DIGAN, MARTINKO & PARKER, 2004 apud SCHWANTES, 2014). Além disso, são capazes de sobrevi-
ver com exaustão de nutrientes e presença de substâncias tóxicas (CASTRO & WEINGARTNER, 2008 apud
SCHWANTES, 2014). Sendo assim ideal para a mistura ao concreto, pois durante o processo de hidratação
do cimento são liberados altos índices de calor por reação química exotérmica, podendo-se chegar até 85ºC,
sendo que parte deste calor liberado é absorvido pelo próprio concreto, elevando a temperatura do concreto
(CARNEIRO et al., 2011).
Schwantes (2014) realizou dois traços de concreto para análise da autocicatrização por precipitação de
CaCO3 promovida pela bactéria B. subtilis AP91. Os traços adotados pela pesquisadora foram de 1:1:2 (traço1)
com fator água/cimento de 0,33, considerado rico, e 1:2:3 (traço 2) com fator água/cimento de 0,45, considera-
do pobre. A bactéria foi adicionada na água de amassamento do traço, em três concentrações diferentes, sendo
estas de 0,3x108, 0,6x108 e 1,2x108 esporos/ml.
A pesquisadora realizou os ensaios de abatimento de tronco de cone de acordo com a norma NBR NM
67 – Concreto – Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone (ABNT, 1998), obtendo va-
lores de 85 mm para o traço 1 e 90 mm para o traço 2 (SCHWANTES, 2014).
Para a análise de fechamento das fissuras através da bioprecipitação de calcita, foram feitas fatias dos
corpos de prova de aproximadamente 2,0 centímetros, passados oito dias do processo de cura as fatias so-
freram um processo de aplicação de carga em prensa hidráulica, fazendo com que as amostras fissurassem
(SCHWANTES, 2014).
Pode-se observar que na Figura 4, houve precipitação de carbonato de cálcio pela bactéria que por ventura
ocasionou o fechamento das fissuras, notou-se ainda que amostra onde não havia a adição da bactéria (Figura 5)
não ocorreu nenhuma alteração representativa, provando assim que o processo de autocicatrização do concreto
foi devido a ação da bactéria Bacillus subtilis (SCHWANTES, 2014). 5 Figura 4: Processo de fechamento das
fissuras com a adição da bacteria Bacillus, traço 1 com adição de 1,2x108 esporos/ml. Fonte: SCHWANTES
(2014). Figura 5: Amostra sem a adição da bacteria Bacillus subitilis, confirmando que foi a ação das bactérias
que proporcionaram o fechamento das fissuras na imagem anterior Fonte: SCHWANTES (2014).

Figura 4.
Processo de fechamento das fissuras com
a adição da bacteria Bacillus, traço 1 com
adição de 1,2x108 esporos/ml

Fonte: SCHWANTES (2014).

Figura 5.
Amostra sem a adição da bacteria
Bacillus subitilis, confirmando que foi a
ação das bactérias que proporcionaram
o fechamento das fissuras na imagem
anterior

Fonte: SCHWANTES (2014).

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Dorival L. dos S. J.; Talita C. de S. Bacillus Subtilis uma adição incomum com benefícios inesperados ao concreto

A Figura 6 exerce o comparativo de uma bactéria similar a Bacillus subtilis, a Bacillus alkalinitrili-
cus estudada por Wiktor & Jonkers (2011). Os experimentos realizados por estes pesquisadores foi diferen-
te do anterior, pois a bactéria não foi adicionada ao traço de concreto, mas sim a um tanque de água utilizado
para depositar as amostras em cura submersa. Pode-se notar que os resultados obtidos através da precipita-
ção de carbonato de cálcio foram semelhantes, quanto ao fechamento da fissura com a utilização da Bacillus
subtilis foi visivelmente maior, visto que em apenas 43 dias os resultados foram superiores em alguns casos
(SCHWANTES, 2014).

Figura 6. Imagem comparativa do fechamento de fissuras com a Bacillus alkalinitrilicus

Fonte: Wiktor & Jonkers, 2011 apud SCHWANTES 2014.

O concreto ganha resistência com o tempo após o seu processo de pega, de acordo com Schwantes
(2014), o ensaio de resistência à compressão foi realizado no vigésimo oitavo dia de cura. Leva-se muito tem-
po para o concreto ganhar 100% de força e o tempo para o mesmo ainda é desconhecido. A taxa de ganho de
resistência à compressão do concreto chega ao seu ápice elevado durante os primeiros 28 dias, em seguida esse
aumento de sua resistência diminui a velocidade ficando praticamente linear quando comparado a um gráfico,
o concreto ainda continua ganhando força após esse período, mas essa taxa de ganho na resistência à compres-
são é muito menor em comparação aos 28 dias iniciais (CONSTRUCTOR, 2013).
Os dados obtidos entre os 2 traços tiveram uma diferença significativa no valor final da resistência, ao
qual se justifica pelos componentes de cada traço. Após realizado o cálculo de porcentagem de variação de
resistência, considerando os traços com a referência das taxas de bactéria por molde de corpo-de-prova, on-
de os valores positivos representam um aumento na resistência em relação ao traço de referência, nesse ca-

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Dorival L. dos S. J.; Talita C. de S. Bacillus Subtilis uma adição incomum com benefícios inesperados ao concreto

so sem a adição da bactéria e o valor negativo uma diminuição da resistência em relação a mesma referência
(SCHWANTES, 2014). Esses resultados são representados nas Figuras 7 e 8.

Figura 7.
Comparativo da
resistência do Traço 1
(1:1:2)

Fonte: SCHWANTES,
2014.

Figura 8.
Comparativo da
resistência do Traço 2
(1:2:3)

Fonte: SCHWANTES,
2014.

Nos resultados obtidos no traço 2 houve uma queda no ganho de resistência, de acordo com Schwantes
(2014) a “diminuição da resistência, a qual pode ter sido ocasionada por erro de concretagem, já que nenhuma
das outras amostras apresentou um resultado negativo”.
Nota-se que através da utilização da bactéria Bacillus subtilis além do processo de autocicatrização de-
corrente da precipitação de CaCO3, há um acréscimo no ganho de resistência à compressão, fazendo com que
os benefícios sejam além do esperado com a utilização dessa adição não convencional (SANTOS JUNIOR, et
al., 2018). Comprovando assim que essa prática benéfica não somente o fechamento das fissuras e sim outros
meios, isso devido a geração de carbonato de cálcio nos elementos cimentícios (SCHWANTES, 2014).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da pesquisa observou-se que os valores de compressão do concreto massa teve um aumento sig-
nificativo com a adição da bactéria, vale ressaltar que o concreto não resiste a esforços solicitantes de tração
sem o auxílio de um reforço, nesse caso o aço estrutural. Além disso o desenvolvimento aprimorado do biocon-
creto com a utilização da B. subtilis ou de outra bactéria do gênero Bacillus que tenha o mesmo comportamen-
to pode trazer consigo uma grande revolução na construção civil, trazendo maior vida útil para os elementos

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Dorival L. dos S. J.; Talita C. de S. Bacillus Subtilis uma adição incomum com benefícios inesperados ao concreto

de concreto, gerando 8 uma diminuição de reformas e manutenções em edificações, resultando em um maior


conforto e tranquilidade para seus proprietários, além de diminuir muito o valor gasto com esses reparos com
o processo de autocicatrização das fissuras por precipitação de cristais de CaCO3, que além de ocasionar o fe-
chamento das fissuras faz com que o concreto ganhe resistência a compressão, essa resistência extra não espe-
rada em um concreto convencional, pode resultar em elementos mais esbeltos também.
Os dados até então utilizados não apresentam resultados da aplicação das bactérias no âmbito do concre-
to armado, apesar da precipitação de CaCO3 ocasionar o fechamento das fissuras e até melhorias nas proprieda-
des mecânicas no concreto, pode apresentar efeito contraio e promover patologias graves. Pois a precipitação
de CaCO3 por vias metabólicas bacterianas não deixa de ser um processo de carbonatação, que pode despas-
sivar a armadura e acarretar na sua corrosão. Por esse motivo, estudos ainda precisam ser conduzidos para
avaliar a aplicabilidade das bactérias em estruturas de concreto armado, porque ainda não se sabe quanto a pre-
cipitação de CaCO3 bacteriana influenciará no pH do concreto.
Desta forma, a adição de B. subtilis em concreto não armado (concreto massa) é uma prática extrema-
mente benéfica, pois além de proporcionar elevação da resistência do concreto, também atua no fechamento de
fissuras e diminui sua porosidade, sendo extremamente vantajoso em casos de reparos estéticos e influencian-
do positivamente nas propriedades mecânicas do concreto.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM67: Concreto – Determinação da con-


sistência pelo abatimento do tronco de cone. São Paulo: ABNT, 1998.

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ponível em: <https://theconstructor.org/concrete/why-we-test-concrete- strength-after-28-days/6060/>. Aces-
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VIEIRA, G. Profesor holandés crea un ‘concreto vivo’ que se repara a sí mismo. 2015. Disponível em: <ht-
tps://www.youtube.com/watch?v=8Lw_qFDSHgg>. Acesso em: 11 de novembro de 2018.

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VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

BLOCOS DE CONCRETO PERMEÁVEL COM SEMENTES DE AÇAÍ:


CAPTANDO RECURSOS PLUVIAIS E REDUZINDO A POLUIÇÃO

Rodrigo Silva Ferreira (rodrigoferreiranavy@gmail.com)


Monique Estefany da Silva Freitas (freittasmonique@gmail.com)
Joelma Alves Dias Nunes (janengcivil@gmail.com)

Resumo: Buscando apresentar opções para uma melhora no sistema de drenagem, captação de água pluviais e, simultaneamente,
diminuir o nível de poluição causado pela negligência da população e governo paraense na gestão dos resíduos gerados a partir
da produção do açaí. Foram realizados dois ensaios, um para medir a permeabilidade do elemento com açaí e outro para testar a
resistência à compressão axial desse material aos quatorze dias de idade. Os resultados foram considerados positivos, ampliando o
interesse em aprofundar a pesquisa para outros fatores importantes na caracterização de materiais para a construção civil.
Palavras-chave: Concreto. Permeável. Açaí.

INTRODUÇÃO

O Brasil sofre com problemas de infraestrutura básica, como é o caso dos sistemas de microdrenagem
e macrodrenagem das principais cidades. Esse fato chama a atenção dos envolvidos com a engenharia no pa-
ís, buscando alternativas para contribuir na melhora da efetividade da captação e escoagem das águas pluviais.
Somado ao problema de drenagem, temos uma questão mais voltada para a região norte do país, que é
a má gestão dos resíduos gerados no consumo do açaí, fruta que tem ganhado popularidade nos últimos anos,
que acabam sendo despejados – muitas das vezes – nos sistemas de drenagem da capital e cidades paraenses.
(CARLOS COSTA, 2016)
Inspirado numa pesquisa realizada em 2018 por alunos da Universidade da Amazônia que incorporaram
sementes de açaí a um concreto permeável, decidiu-se recriar os ensaios, porém com maior fidelidade às con-
dições encontradas nas construções convencionais brasileiras, onde não há o peneiramento de agregados graú-
dos, a fim de aproximar a acadêmia da realidade da engenharia convencional.

1. PROBLEMAS COM O SISTEMA DE DRENAGEM ATUAL

A função base de qualquer sistema drenante é evitar danos causados pelo acúmulo de água no meio ur-
bano, como alagamentos e empoçamentos. Esses eventos podem denigrir o patrimônio público e privado, além
de se tornarem agentes proliferadores de doenças.
No Brasil o sistema drenante mais usual conta com sarjetas, galerias, tubulações e outros elementos que,
juntos, realizam o processo de escoamento das água pluviais.
Contudo, há de se concordar que muitos desses elementos drenantes foram projetados e executados há
muitos anos, pensados para a realidade das cidades daquela época. Entretanto, devido ao crescimento vertica-
lizado dos centros urbanos, a demanda por sistemas drenantes mais robustos e elaborados tornou-se emergente.
Além desse fator de complicação, a falta de zelo dos usuários também agrava a situação de nossas re-
des, já que os sistemas de macro e microdrenagem são alvos constantes de despejo inapropriado de resíduos
dos mais diversos.

Revista FENEC - 3(1): 40-45, abril, 2019 40


Rodrigo S. F.; Monique E. da S. F.; Joelma A. D. N. Blocos de concreto permeável com sementes de açaí: captando recursos pluviais e
reduzindo a poluição

Como resultado, é cada vez mais frequênte em meios midiáticos notícias sobre alagamentos que tornam
ruas e bairros inteiros inacessíveis devida a falha da drenagem em escoar toda a água demandada.

2. O CONCRETO PERMEÁVEL

Esse material, também conhecido como “concreto poroso”, é caracterizado pela grande quantidade de
vazios intencionais incorporados à sua estrutura.
Muito utilizado como parte de sistemas drenantes não convencionais, o concreto permeável possibilita
que o escoamento da água aconteça através de sua estrutura, evitando ou, até mesmo, anulando qualquer for-
mação de poças sobre a superfície deste material.
Para garantir a sua permeabilidade, a produção deste tipo de concreto não pode conter agregados mi-
údos, uma vez que esses elementos preenchem os menores espaços, retirando a característica primária do
concreto poroso. Além disso, o ideal é que os agregados graúdos tenham granulometrias das mais similares
possíveis e, de preferência, com boa esfericidade para que seja diminuída a possibilidade de encaixes entres os
elementos, deixando espaços para a passagem da água.
A porosidade e a taxa de escoamento variam concomitantemente, podendo chegar a valores de 30% de
porosidade e taxas de até 1 cm/s de escoamento (CIMENTO ITAMBÉ, 2011).

3. AÇAÍ E SEU POTÊNCIAL

O açaí é uma espécie frutífera de destaque para a região Amazônica do Brasil, sendo consumido em lar-
ga no estado do Pará e servindo de material de exportação para vários pontos no mundo. Além disso, a fruta
tem formato esférico que é preenchido, basicamente, pela polpa da fruta e uma, relativamente, grande semente
que não pode ser consumida.
Por conta da grande demanda da população por esta fruta, existem diversos pontos de extração, pre-
paro e comercialização do açaí. Tal fator ocasiona na elevada quantidade de sementes que se tornam re-
síduos indesejáveis do processo comercial e que são descartadas de inúmeras maneiras irregulares, sendo
inclusive despejadas nos macrocanais de drenagem da capital paraense, Belém (FERREIRA, PEREIRA,
et al., 2018).
Tem-se, assim, um material orgânico de esfericidade quase perfeita, sem nenhum valor de mercado agre-
gado, com elevado estoque mal descartado e com constante acréscimo devido ao consumo initerrupto da po-
pulação, tornando-se um rica fonte de pesquisa para futuras aplicação dentro e fora dos âmbitos da construção
civil.

4. DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES DE PESQUISA

O objetivo da pesquisa é verificar a permeabilidade e a resistência à compressão de concretos permeá-


veis com sementes de açaí. Para isso, foram reunidos materiais e ferramentas básicas para a mistura, concre-
tagem, moldagem, cura e testes propóstos para o concreto. A fim de garantir a qualidade e similaridade com o
executado nos canteiros de obras convencionais no Brasil.

4.1 Materiais e equipamentos utilizados

Para o bom desenvolvimento deste projeto foram utilizados os equipamentos disponibilizados pela Uni-
versidade da Amazônia.
A seguir o Quadro 1 que reune os equipamentos utilizados para a concretagem e os testes realizados no
escopo deste artigo.

Revista FENEC - 3(1): 40-45, abril, 2019 41


Rodrigo S. F.; Monique E. da S. F.; Joelma A. D. N. Blocos de concreto permeável com sementes de açaí: captando recursos pluviais e
reduzindo a poluição

Quadro 1. Equipamentos empregados no desenvolvimento da pesquisa


Equipamento Função
Betoneira Mistura e homogeneização do concreto
Permeametro Empregado no teste de permeabilidade
Prensa Hidráulica Usado para ensaiar os corpos de prova quanto a resistência axial à compressão
Os moldes foram utilizados com o objetivo de confeccionar os corpos de prova
Moldes Metálicos Cilíndricos
rompidos no processo
Utilizada com objetivo de aproximar ao máximo os quantitativos de material
Balança de precisão 0,01 g
empregados para o traço adotado
Fonte: O Autor.

Já com relação aos materiais consumíveis empregados, temos:


a) Seixo Rolado de diversas granulometrias;
b) Cimento Portland CP II;
c) Sementes de açaí com pouca homogeneidade;
d) Água potável;
e) Desmoldante para concreto.

4.2 Traço adotado

Para efeito comparativo, buscou-se utilizar o mesmo traço de 1(cimento); 4(agregado graúdo); 0,6(água)
utilizado em (FERREIRA, PEREIRA, et al., 2018), contudo a fim de tornar o experimento mais arrojado à re-
alidade das construções de padrão convencional no Brasil, utilizou-se uma taxa de 25% de sementes de açaí
para os restantes 75% de seixo rolado, superando numericamente o experimento inicial que utilizou apenas 4%
do açaí em seu traço padrão.

4.3 Ensaio de permeabilidade

Determinar a taxa de permeabilidade de um material é o primeiro passo para que seja possível cogitar a
utilização deste elemento em um sistema drenante de forma satisfatória.
Por conta disso, foi confeccionado um permeâmetro de carga variável para a realização da definição
da taxa de permeabilidade a partir do teste de mesmo nome proposto pelo American Concrete Institute - ACI.

Figura 1.
Permeâmetro de Carga Variável

Fonte: American Concrete Institute.

Revista FENEC - 3(1): 40-45, abril, 2019 42


Rodrigo S. F.; Monique E. da S. F.; Joelma A. D. N. Blocos de concreto permeável com sementes de açaí: captando recursos pluviais e
reduzindo a poluição

O ACI estabelece, em sua norma específica, que elementos de concreto permeável devem atingir um
coeficiênte de permeabilidade (k) mínimo de 1,40 x 10-3 m/s, de forma que qualquer valor menor que esta re-
ferência deve ser desconsiderado para utilização, pois apresentam uma permeabilidade muito baixa, fato que
dificulta a infiltração de água no solo. (FERREIRA, PEREIRA, et al., 2018)
De posse do permeâmetro e dos corpos de prova confeccionados, foi possível executar o ensaio de per-
meabilidade. O procedimento se inicia colocando-se a amostra de concreto poroso no equipamento, vedando o
sistema e saturando a amostra de forma que a lâmina de água coincida com a face superior do cilindro de con-
creto. Após essa etapa, completa-se o tubo com uma coluna d’água de 290 mm (h1) que é escoada com a aber-
tura da válvula até atingir a autura de 70 mm (h2).
Todo esse ensaio é repetido por três vezes em cada corpo de prova e, então, considerase o tempo médio
do ensaio para definirmos o coeficiente de permeabilidade médio do elemento a partir da Equação 1.

Equação 1

Em que k é o coeficiente de permeabilidade (m/s), A1 área da sessão da amostra (m2), A2 a área do tubo
do dreno (m2), L é o comprimento da amostra (m), t é o tempo médio (s), h1 altura inicial (0,29 m) e h2 é a al-
tura final (0,07 m).
Como resultado dos testes nas amostras “prova” e “contraprova”, seguem expostos no Quadro 2 abaixo:

Quadro 2. Resultados decorrentes do ensaio de permeabilidade executado


Coeficiente de Coeficiente de Grau de Permeabilidade
Intervalo de
Corpo-de-Prova Permeabilidade Permeabilidade Médio Segundo a ABNT
Tempo – t (s)
– k (m/s) – km (m/s) NBR 16.416/2015
21,17 9,46.10-3
Prova 21,92 9,14.10-3 9,05.10-3 ALTO
23,43 8,55.10 -3

19,54 10,25.10-3
Contraprova 21,03 9,52.10-3 9,60.10-3 ALTO
22,17 9,03.10 -3

Fonte: O Autor.

A partir dos resultados apresentados, é possível afirmar que há a possibilidade de o açaí ser um bom
componente de incorporação para esse tipo de material poroso, visto que, aparentemente, nada dificultou a pas-
sagem da água pelos vazios do concreto.

4.4 Ensaio de resistência a compressão axial

Este ensaio foi realizado segundo o que é preconizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas,
em especial a ABNT NBR 5.739/1994 – Concreto – Ensaio de compressão em corpos-de-prova cilíndricos.
Para a alcançar bons resultados no rompimento dos corpos-de-prova, foi realizado um capeamento com
uma argamassa de traço 1:3, a fim de planificar a área que receberia os esforços de compressão impostos pelo
maquinário.
Assim, com os elementos de concreto devidamente capeados, foi realizada a medição das suas alturas,
diâmetros em duas direções e, então, passou-se para o processo de compressão. Com todas essas informações
reunidas, foi confeccionada o Quadro 3, com o afã de sintetizar e ilustrar melhor os resultados obtidos.

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Rodrigo S. F.; Monique E. da S. F.; Joelma A. D. N. Blocos de concreto permeável com sementes de açaí: captando recursos pluviais e
reduzindo a poluição

Quadro 3. Resultados decorrentes do ensaio de compressão axial em corpos de prova de concreto


Diâmetro Carga de Tensão de
Altura Diâmetro Diâmetro Área
Corpo-de-Prova Médio Ruptura Ruptura
(mm) 01 (mm) 02 (mm) (mm2)
(mm) (Kgf) (MPa)
Prova 200,5 94,00 94,50 94,25 6.976,74 1165 1,67
Contraprova 199,5 94,30 97,60 95,95 7.230,69 1356 1,88
Fonte: O Autor.

Com base nesses resultados, em um primeiro momento, os autores classificam este tipo de concreto co-
mo ineficiênte a esforços de compressão. Uma vez que, segundo a ABNT NBR 16.416/2015 – Pavimentos
permeáveis de concreto, o menor valor aceitável para esse tipo de resistência característica para que concretos
porosos atuem com certa qualidade e cofiabilidade é de 2,5 Mpa. Desta forma, apesar da boa permeabilidade
atingida, a resistência axial desta amostra em questão não seria aceitável.

4.5 Modelo desenvolvido

Mais do que apenas testar e expor os resultados obtidos com a incorporação de um resíduo da produção
do açaí, os autores deste artigo buscam expor um modelo de bloco prémoldado de concreto permeável com
incorporação de açaí – concreto permeável amazônico, se for do agrado da maioria – que possa, sem muita
complexidade, fornecer uma redução da pegada ambiental causada pelo consumo do açaí no Brasil e, ainda,
proporcionar mais uma medida de captação de recursos pluviais.
O modelo criado para este artigo consiste em bloco em formato “U”, que deverá funcionar em um siste-
ma de encaixe e que servirá de base para receber vegetação, ampliando a possibilidade arquitetônica no quesi-
to de aproveitamento de recursos naturais e, também, paisagismo.
Para tal sistema ser tanto funcional quanto esteticamente viável, sugere-se que o bloco de concreto per-
meável seja locado sobre uma unidade drenante ligada a uma canalização de captação de recursos pluviais.
Desta forma, a vegetação servirá como mais uma camada filtrante, impedindo a passagem de folhas e outros
materiais de maior porte e contribuindo, assim, para uma água de reutilização mais apropriada.
A fim de ilustrar a idealização do modelo, segue abaixo uma figura com um crocri criado pelos autores.

Figura 2.
Modelo de Bloco
Pré-Moldado com
Sementes de Açaí
para Captação de
Águas Pluviais

Fonte: O Autor.

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Rodrigo S. F.; Monique E. da S. F.; Joelma A. D. N. Blocos de concreto permeável com sementes de açaí: captando recursos pluviais e
reduzindo a poluição

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos nos testes desenvolvidos neste trabalho, acredita-se que o concreto per-
meável com incorporação de sementes de açaí tem pontêncial para atuar como material drenante com positiva
redução da pegada ambiental, uma vez que o rejeito do açaí ganharia valor como matéria-prima dentro do se-
tor da construção civil.
Além disso, a introdução do concreto permeável em um sistema de coleta de águas pluviais vem como
uma alternativa arquitetônica e de engenharia, agregando valor ao sistema junto aos principais selos de quali-
dade.
Por fim, uma questão futura que a equipe busca sanar é saber o comportamento deste elemento orgâni-
co – a semente de açaí – com o passar dos anos. Contudo, esse ponto fugiu do escopo proposto nesta pesquisa.

REFERÊNCIAS

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nagem Urbana de Belém/PA. Revista Gestão E Sustentabilidade Ambiental, Março 2016. 329-344.

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cimentoitambe.com.br/pavimento-permeavel-contra-enchentes/>. Acesso em: 02 Novembro 2017.
FERREIRA, R. S. et al. Análise das propriedades mecânicas do concreto premeável com incorporação de se-
mentes de açaí. 3º Congresso Luso-Brasileiro Materiais de Construção Sustentáveis. Coimbra, Portugal: [s.n.].
2018.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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to – Requisitos e Procedimentos. Rio de Janeiro, 2015.

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va Cilíndricos ou Prismáticos de Concreto. Rio de Janeiro, 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7211: Agregados para Concreto - Especifi-
cação. Rio de Janeiro, 2009.

Revista FENEC - 3(1): 40-45, abril, 2019 45


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

CARACTERIZAÇÃO DAS TELHAS DE CONCRETO DE UMA


FÁBRICA DO MUNICÍPIO DE BREU BRANCO - PARÁ

Debora de Souza Torquato (deboratorquatoo@hotmail.com)


Eduarda Souza Fernandes (eduardavargens41@gmail.com)
Rondinelio Barbosa Rosa (rondi-breu@hotmail.com)

Resumo: A necessidade de inovação quanto ao mercado da construção civil e sua qualidade de vida em conjunto com a
sustentabilidade foram cruciais para o aumento da produtividade de telhas de concreto. Tais materiais têm como benefício o
conforto térmico e visual, maior resistência à intempérie e, por sua vez, valorização do imóvel. Nesse contexto, o objetivo do
presente trabalho é analisar a qualidade das telhas de concreto produzidas pela empresa Parátelha no município de Breu
Branco, localizado no estado do Pará, que tem como diferencial na sua produção a utilização da sílica ativa como componente
do traço. Para o desenvolvimento da pesquisa foram realizadas consultas bibliográficas, visitas in loco para verificação do
processo de produção e posteriormente foram realizados os ensaios em laboratório para caracterização das telhas, sendo estes:
absorção, empenamento, esquadro, análise dimensional, determinação do “GAP”, da carga de ruptura à flexão e verificação de
impermeabilidade e estanqueidade, todos de acordo com a ABNT NBR 13858-2/2009: “Telhas de Concreto. Parte 2: Requisitos e
métodos de ensaio”. Dessa forma, quanto aos resultados obtidos pode-se constatar que as telhas se apresentam em conformidade
com as recomendações da norma. Portanto, as telhas analisadas apresentaram boa qualidade e compatibilidade com as telhas
da classe B, visto que atenderam aos requisitos mínimos de profundidade do perfil e consequentemente a tolerância da carga
de ruptura à flexão, fornecendo assim para seus clientes confiança e satisfação. É importante fomentar a pesquisa nessa área, em
busca de novos materiais que sejam sustentáveis e tenham um bom custo-benefício.
Palavras-chave: Telhas de concreto. Sílica ativa. Caracterização.

INTRODUÇÃO

De acordo com a ABNT NBR 13858-2/2009 tem-se a definição das telhas de concreto como componen-
tes para cobertura com forma retangular e perfil geralmente ondulado, composto de cimento, agregados, água,
aditivos ou adições e fornecido na cor natural ou colorido pela adição de pigmento à massa ou pela aplicação
de uma camada superficial.
Apesar de uma resistência inicial por parte dos usuários quanto às telhas de concreto, nos últimos anos
sua fabricação tem aumentado consideravelmente e estão ganhando espaço na construção civil, pois como seu
rendimento por m2 é maior que o das telhas tradicionais – de argila, o custo final acaba tendo uma diferença
pequena, enquanto a qualidade é maior (NETO; NASCIMENTO, 2012).
De acordo com Valcarenghie Piovesan (2011) e observado ainda no catálogo técnico da empresa Tégula
(2018) as telhas de concreto apresentam um diferencial: além da valorização do imóvel, elas são mais duráveis,
têm maior resistência mecânica, fácil manuseio, conforto térmico e visual – pela disponibilidade de opções de
cores, são mais resistentes à ação intempérica, têm baixo índice de absorção de água e apresentam um conjunto
de peças complementares para acabamento nas diversas partes do telhado com encaixes perfeitos.
Tão importante foi o crescimento do mercado das telhas de concreto que a ABNT - Associação Brasilei-
ra de Normas Técnicas designou normas que regulamentam o padrão de qualidade da fabricação de telhas de
concreto (VALCARENGHI; PIOVESAN, 2011).
Para realização da presente pesquisa utilizou-se como referência uma empresa de telhas de concreto lo-
calizada na cidade de Breu Branco, município brasileiro pertencente à mesorregião do Sudeste Paraense com

Revista FENEC - 3(1): 46-53, abril, 2019 46


Debora de S. T.; Eduarda S. F.; Rondinelio B. R. Caracterização das telhas de concreto de uma fábrica do município de Breu Branco - Pará

pouco mais de 64 mil habitantes. Na economia, além da diversidade do comércio local, destacam-se os setores
da agropecuária, do extrativismo mineral e a grande reserva de areia e seixo que abastece também os muni-
cípios vizinhos (IBGE, 2017). E são estes, agregados em abundância, utilizados na composição das telhas de
concreto fabricadas no município pela empresa Parátelha.
A utilização da sílica ativa na produção da telha de concreto é uma tentativa inovadora da empresa,
pensada e implantada pelo seu proprietário, fazendo os ajustes necessários no traço para que ocorra a corres-
pondência desejada no produto final. O produto é fornecido pela DOW, empresa multinacional produtora de
silicone, que consta com uma matriz no município. Segundo Santana et al. (2018), a reutilização da sílica traz
diversos benefícios, principalmente para o meio ambiente, já que ela é um resíduo gerado de empresas meta-
lúrgicas. Além de evitar que seja despejada em locais não adequados, também colabora para a redução de CO2
na atmosfera, diminuindo a utilização do cimento e consequentemente da extração do clínquer.
De acordo com Mailvaganam e Deans (1992, apud VASKE et al., 2008) a adição de sílica ativa na com-
posição do traço é de extrema importância quando se procura, especialmente, alta resistência e baixa porosi-
dade e permeabilidade.
Portanto, o objetivo principal deste trabalho é determinar e analisar as características físicas e mecânicas
das telhas de concreto com a utilização de sílica ativa fabricadas na empresa Parátelha, em Breu Branco - PA,
verificando se estão de acordo com as exigências da norma ABNT NBR 13858-2/2009.

1. MATERIAIS E MÉTODOS

Para o conhecimento do material estudado na presente pesquisa, foi realizada uma visita in loco, onde
o proprietário apresentou a fábrica, seus dados e processos de produção. Foram fornecidas, ao todo, 40 telhas
de concreto de um mesmo lote com idade de 30 dias para realização dos ensaios propostos. Os mesmos foram
realizados no Laboratório de Engenharia Civil (LEC) da Universidade Federal do Pará – Campus Tucuruí e na
própria empresa, que consta com as estruturas exigidas pela norma para realização dos ensaios de estanquei-
dade e impermeabilidade.
As 40 telhas coletadas foram distribuídas para sete ensaios realizados de acordo com as orientações da
norma: 6 telhas para os ensaios de absorção, empenamento, determinação do “GAP”, esquadro e análise di-
mensional; 12 telhas para os ensaios de determinação da carga de ruptura à flexão; 6 telhas para os ensaios de
verificação de impermeabilidade; e 16 telhas para os ensaios de estanqueidade.

1.1 Processo de produção das telhas de concreto

Durante a visita realizada in loco, que foi acompanhada pelo dono da empresa, foi possível observar o
processo de produção das telhas de concreto, e saber mais detalhes sobre as características da mesma. A pro-
dução da fábrica atinge cerca de 4.000 telhas/dia, com uma rotina de meio período de trabalho, apresentando
uma perda diária de apenas 0,25% (de 5 a 15 telhas).
Da composição do traço, a areia, como já citada, é proveniente de jazidas do próprio município, o ci-
mento é comprado diretamente da fábrica no município de Xambioá, no Tocantins e, a sílica é fornecida pe-
la Empresa Multinacional DOW, que conta com uma matriz em Breu Branco. Além das telhas de concreto, a
empresa Parátelha produz churrasqueiras, fornos, manilhas, lajes e pisos táteis, e utiliza sua perda diária, após
triturá-la, como agregado no traço desses produtos.
Durante a visita realizada, o proprietário da empresa, Sr. Rondinelio Barbosa Rosa, relatou que no início
foi difícil a aceitação de um novo produto, até então desconhecido, no mercado. Não tendo fábricas próximas
para referências e sem muita credibilidade no comércio local, acreditou em um novo negócio e há sete anos
vem conquistando o município e as regiões vizinhas, como Tucuruí, Marabá e mais seis municípios.
A fábrica consta com um maquinário específico para a fabricação de telhas de concreto com algumas
adaptações feitas pelo proprietário, para atender o seu espaço e sua demanda de forma produtiva. As telhas são
fabricadas à base de Cimento Portland do tipo CP I-40, areia, água, sílica ativa, aditivo plastificante e óxido de
ferro, quando solicitada a coloração.

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Debora de S. T.; Eduarda S. F.; Rondinelio B. R. Caracterização das telhas de concreto de uma fábrica do município de Breu Branco - Pará

O processo de fabricação se inicia quando a areia armazenada em um silo, já peneirada (Figura 1) sai
para a esteira, sendo adicionada a sílica (Figura 2) e levando-as até o misturador (Figura 3).

Figura 1. Areia sendo peneirada e Figura 2. Areia caindo na esteira Figura 3. Esteira levando a areia e
levada ao silo junto com a sílica a sílica ao misturador

Fonte: Autores (2018). Fonte: Autores (2018). Fonte: Autores (2018).

No misturador, é adicionado o cimento, a água e o aditivo plastificante (Figura 4). O traço é misturado
e, novamente, levado por uma esteira até a máquina de extrusão (Figura 5), onde se encontra a forma já untada
e pronta para recebê-lo (Figura 6).

Figura 4. Água e aditivo sendo Figura 5. Traço pronto na esteira Figura 6. Traço sendo jogado na
adicionado ao misturador forma de extrusão

Fonte: Autores (2018).


Fonte: Autores (2018). Fonte: Autores (2018).

Uma vez extrudado na forma, o traço, já com a aparência de telha, é marcado com sua data de fabrica-
ção (Figura 7). A telha é colocada nas esteiras de transportes e levadas para a estufa. A fábrica contém um sis-
tema onde o próprio calor de hidratação da telha a cura, sem necessidade de equipamentos elétricos (Figura 8).
Após 24h na estufa, a telha é desenformada e embalada com seu devido lote (Figura 9). A forma volta para a
esteira de extrusão, sendo pulverizada com óleo vegetal e recebendo novamente um novo traço que dará ori-
gem a uma nova telha.

Revista FENEC - 3(1): 46-53, abril, 2019 48


Debora de S. T.; Eduarda S. F.; Rondinelio B. R. Caracterização das telhas de concreto de uma fábrica do município de Breu Branco - Pará

Figura 7. Telha sendo marcada Figura 8. Telhas em estufa para Figura 9. Telhas curadas sendo
com data de fabricação cura desenformadas

Fonte: Autores (2018). Fonte: Autores (2018). Fonte: Autores (2018).

1.2 Caracterização das telhas

Os ensaios de caracterização foram realizados no Laboratório de Engenharia Civil (LEC) da UFPA -


Campus Tucuruí e na própria fábrica, que conta com os aparatos necessários para os ensaios de impermeabili-
dade e estanqueidade de acordo com o que a norma exige.
Para determinação da absorção de água e do peso seco da telha fez-se necessário um processo de sub-
mersão em um tanque por 24h, onde retiradas as telhas, foram levemente enxugadas e pesadas. Logo depois,
foram levadas para secagem em estufa até que a diferença entre duas pesagens seguidas fosse menor que
0,25%. Como recomenda a norma, para conversão em dN (decanewton) foi adotada a aceleração da gravida-
de sendo 10 m/s2.
Para a verificação do empenamento nas telhas de concreto utilizou-se um pente de folga. Colocando as
amostras em uma superfície horizontal e apoiando-as em três pontos, com a face inferior voltada para baixo,
o pente de folga foi inserido no ponto mais afastado com relação ao plano. O ensaio do “GAP” permite deter-
minar a folga ou espaçamento entre uma telha sobreposta à outra, onde as telhas são dispostas sobre uma mesa
perfeitamente plana e lisa. Desta maneira, as telhas foram empilhadas, duas a duas, e medidas as folgas exis-
tentes entre as faces inferiores e superiores das maiores cristas.
Em relação à análise do esquadro foi utilizada uma estrutura de apoio feita com duas peças de madeira
perfeitamente alinhadas. Posteriormente mediram-se os comprimentos (C2 e C3) de cada corpo de prova. No
que diz respeito à análise dimensional, utilizou-se um paquímetro eletrônico como auxílio para as medidas de
cada dimensão, sendo estas de acordo com a Tabela 1 da NBR 13858-2/2009.
Para o ensaio de ruptura à flexão foi analisada a Tabela 2 da NBR 13858-2/2009, a qual determina uma
mínima carga (2400 N) de acordo com a altura do perfil (40 ≤ d < 50) da telha. Para a execução deste ensaio
utilizou-se a Máquina Universal de Ensaios, da marca Walpert, com capacidade de 300 T e velocidade de car-
regamento de 100 (±10) N/s, sendo aplicada progressivamente e sem golpes. O ensaio foi executado com 12
telhas do mesmo lote. Após 24h submergidas, elas foram levemente secas e levadas para a máquina de ensaio.
A primeira amostragem de 6 telhas não atendeu aos requisitos da Tabela 3 da norma, obtendo uma rejeição en-
tre as amostras, quando não poderia ter nenhuma para ser aceita. Com isso, foi necessário fazer ensaios com
uma segunda amostragem, também de 6 telhas e do mesmo lote, agora atendendo aos requisitos de segunda
amostragem da Tabela 3 da NBR.
Por fim, para o ensaio de impermeabilidade e estanqueidade, foram utilizadas estruturas descritas, res-
pectivamente, nos anexos C e G da norma, construídos de forma a atender as necessidades da mesma.
Todos os ensaios e verificações foram realizados de acordo com os anexos da NBR 13858-2/2009 e su-
pervisionados pela técnica de laboratório e professora orientadora. Após a realização dos ensaios os dados fo-
ram tratados e comparados com requisitos mínimos exigidos pela norma.

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2. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os ensaios realizados, foram obtidos os seguintes resultados. A Tabela 1 apresenta a
massa úmida e seca, a porcentagem de absorção de água e o peso seco de cada uma das seis telhas da amostra.

Tabela 1. Valores de absorção e peso seco


Amostragem Massa úmida (g) Massa Seca (g) Absorção de Água (%) Peso Seco (dN)
I 4.642,0 4.384,0 5,89 43,84
II 4.675,0 4.417,5 5,83 44,17
III 4.693,0 4.430,6 5,92 44,30
IV 4.693,8 4.442,1 5,67 44,42
V 4.767,0 4.511,0 5,68 45,11
VI 4.676,5 4.406,2 6,13 44,06
Fonte: Autores (2018).

Segundo a norma, a porcentagem de água absorvida pelas telhas não pode ser superior a 10%. As-
sim, pode-se constar que todas as telhas da amostra atendem esta exigência, tendo uma variação entre elas de
0,46%. Quando comparado com as telhas convencionais, as telhas de concreto mostram melhor desempenho
quanto a durabilidade, uma vez que apresentam alto grau de impermeabilidade o que contribui para a sua du-
rabilidade e resistência (LIMA et al., 2018).
Na Tabela 2 encontram-se as medidas de empenamento e GAP (verificação da folga entre as faces).

Tabela 2. Medidas de empeno e GAP


Amostragem Empeno (mm) GAP (mm)
I 0,15 1,80
II 0,55 2,60
III 0,45 2,45
IV 0,15 2,25
V 0,50 2,85
VI 0,55 2,75
Fonte: Autores (2018).

De acordo com a NBR, as telhas não devem apresentar empeno e afastamento entre as faces maiores
que 1,5 mm e 6 mm, respectivamente. Todas as amostras tiveram resultados condizentes com o esperado. Per-
cebeu-se que os resultados variam de 0,15 mm a 0,55 mm para o ensaio de empeno e de 1,80 mm a 2,85 mm
para o ensaio de GAP, uma pequena dispersão, o que contribui para que as telhas de concreto tenham um bom
desempenho na parte de execução do telhado, visto que vão se encaixar melhor.

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Nas Tabelas 3 e 4 constam a verificação do esquadro e as dimensões das amostras.

Tabela 3. Medidas de esquadro


Amostragem Medida de C2 (mm) Medida de C3 (mm) C2-C3 (mm)
I 399,96 401,60 1,64
II 400,42 402,64 2,22
III 401,14 402,94 1,80
IV 401,73 402,20 0,47
V 400,52 402,62 2,10
VI 400,70 402,32 1,62
Fonte: Autores (2018).

Tabela 4. Medidas de análise dimensional


Comprimento Comprimento Largura Nomi- Largura Útil Profundidade do
Amostragem
Nominal (mm) Útil (mm) nal (mm) (mm) Perfil (mm)
I 419,96 350,15 330,48 297,92 42,53
II 420,14 353,11 330,67 298,65 42,85
III 419,75 353,46 330,34 298,70 42,57
IV 420,31 353,75 330,57 297,53 42,88
V 420,28 353,13 330,71 298,77 42,90
VI 420,85 352,92 330,50 297,52 42,90
Fonte: Autores (2018).

Segundo a NBR, a diferença entre as medidas de esquadro C2 e C3 não pode ser superior a 3 mm. A
norma não oferece dimensões específicas para a fabricação das telhas de concreto, mas estabelece uma tolerân-
cia de ±2 mm a partir da informação fornecida pelo fabricante. Assim, analisando os resultados de esquadro e
análise dimensional, concluiu-se que todas as amostras atendem as exigências dispostas. As Tabelas 3 e 4 mos-
tram que as telhas têm um padrão de fabricação e que não há grandes variações, o que contribui para obter um
telhado de qualidade, não havendo perdas de telhas e tendo um melhor encaixe.
Na Tabela 5 observam-se os resultados da segunda amostragem do ensaio de flexão, dados agora aptos
às exigências da norma.

Tabela 5. Cargas de ruptura à Flexão


Amostragem Carga de Ruptura a flexão da amostra (N)
I 1952,4
II 2603,3
II 2928,7
IV 3416,8
V 2928,7
VI 2766,0
Fonte: Autores (2018).

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De acordo com a Tabela 2 da NBR 13858-2/2009 a carga mínima de ruptura à flexão, nesse caso, é de
2400 N, pois a profundidade do perfil se encaixa na classe B indicada na norma. Levando em consideração os
critérios de aceitação e rejeição da norma para que o lote fosse aceito foi necessário fazer o ensaio com uma
segunda amostragem do mesmo lote, já que a primeira não correspondeu aos critérios exigidos. Conforme Ta-
bela 5, pode-se concluir que a segunda amostragem alcançou os requisitos de aceitação da norma, o que mos-
tra a grande resistência que as telhas de concreto apresentam.
Para os ensaios de impermeabilidade e estanqueidade observaram-se as telhas em suportes determina-
dos pela norma (Figuras 10 e 11):

Figura 10.
Verificação superior e
inferior do ensaio de
impermeabilidade

Fonte: Autores (2018).

Figura 11.
Verificação superior e
inferior do ensaio de
estanqueidade

Fonte: Autores (2018).

Ambos os ensaios necessitaram de avaliações visuais e táteis, realizadas na própria empresa. Portanto,
após 24 horas de ensaio realizou-se a observação da face inferior da telha, averiguando se houve vazamento
ou formação de gotas, sendo tolerado o aparecimento de manchas de umidade. Conforme as Figuras 10 e 11,
verificou-se que as telhas atenderam as especificações da norma NBR 13858-2/2009.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos ensaios realizados foi possível notar as características que tornam a telha de concreto uma
escolha mais duradoura do que as telhas convencionais, uma vez que as mesmas apresentam um índice baixo
de absorção de água, o que influência na sua durabilidade e resistência, esses resultados mostram também que
as telhas com essas características têm um ótimo custo benéfico, uma vez que haverá uma perda menor no seu
transporte por conta da sua resistência. Além destas características, o que chama a atenção é a baixa variação
de dimensões entre elas, o que proporciona um bom alinhamento para o telhado.

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Debora de S. T.; Eduarda S. F.; Rondinelio B. R. Caracterização das telhas de concreto de uma fábrica do município de Breu Branco - Pará

As telhas de concreto fornecidas pela empresa Parátelha apresentaram, além de uma inovação, com o
uso da sílica ativa em sua produção, uma boa qualidade, com grande resistência e baixa permeabilidade, aten-
dendo a todos os requisitos previstos na ABNT NBR 13858-2/2009, o que gera grande confiança aos clientes
na hora de escolher qual tipo de telha comprar e, principalmente, onde comprar. Por isso, é muito importante
tanto a realização de ensaios periódicos, para acompanhar e regular a linha de fabricação, quanto o incentivo
para estudos na área, que visem a busca por novos materiais com melhores custo-benefício e mais sustentáveis.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Empresa Parátelha por permitir a realização do estudo e disponibilização do material, a


Técnica do Laboratório de Engenharia Civil, Francirene, pelo auxílio na execução dos ensaios e a Professora,
Grazielle Tigre, pela orientação na elaboração deste artigo.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Telhas de Concreto. Parte 2: Requisitos e méto-


dos de ensaio. NBR 13858-2. Rio de Janeiro, 2009.

IBGE. Brasil em síntese. Breu Branco - Pará. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/breu-bran-


co/panorama>. Acesso em: 20 dez. 2018.

LIMA, F. J. N; PEREIRA, D. D; FREIRE, E. C. L; BARROS, S. V. A; OLIVEIRA, M. P. de. Análise da qua-


lidade das telhas produzidas na cidade de Limoeiro do Norte - CE. 2018. Disponível em: <www.confea.org.
br/media/contecc2018/civil/20_adqdtp.pdf>. Acesso em: 06 mar. 2019.

NETO, G. B. S; NASCIMENTO, L. S. Análise das Características da Telha de Concreto e sua participação


no mercado da Construção Civil. TCC - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás. 2012.

SANTANA, A. C; LIMA, H. F; FILHO, N. O. N; MENDES, S. Estudo Comparativo de Concreto com Sílica


de Cinza da Casca de Arroz e Sílica Ativa. IBRACON. 2018. Disponível em: <https://www.unifacear.edu.br/
wp-content/uploads/artigo-1.pdf>. Acesso em: 3 fev. 2019.

TÉGULA. Telhas de Concreto. Catálogo de Produtos. 2018. Disponível em: <http://www.tegula.com.br/site/


wp-content/uploads/2018/06/Catalogo-de-Produtos.pdf>.
Acesso em: 3 fev. 2019.

VALCARENGHI, C.; PIOVESAN, A. Z. Análise das propriedades físicas e mecânicas nas telhas de concreto
fabricadas na cidade de Herval d´Oeste. Unoesc & Ciência - ACET, v. 2, n. 1, p. 19-30. 2011. Disponível em:
<https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/index.php/acet/article/view/670>. Acesso em: 3 fev. 2019.

VASKE, N. R; CAMPAGNOLO, J. L; MOLIN, D. C. C. D. Aplicação da argamassa com adição de sílica


ativa como material de reforço em elementos comprimidos de concreto. Associação Nacional de Tecnolo-
gia do Ambiente Construído. 2008. Disponível em: <https://seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/viewFi-
le/5366/4347>. Acesso em: 10 fev. 2019.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BORGES, M. J. S; VALLE, F. A. F. do; REIS, C. A. S. dos; SALVADOR, M; BARRETO, A. S. de M. Análise


das características físicas das telhas de concreto produzidas em Santarém - PA. 2017. Disponível em: <http://
www.confea.org.br/media/contecc2017/civil/23_adcfdtdcpes%E2%80%93p.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2018.

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VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

CASAS PRÉ-FABRICADAS EM MADEIRA:


UMA ALTERNATIVA FRENTE À CONSTRUÇÃO EM ALVENARIA

Larissa Costa Vichinsky (vichinskylarissa@gmail.com)


Matheus Rodrigues de Almeida (rodriguesmatheusmra@gmail.com)

Resumo: A sustentabilidade é um tema cada vez mais recorrente nos meios técnicos e acadêmicos. A construção civil é um dos
ramos que possui influência direta na geração de resíduos e consumo de insumos, de modo que o debate sobre construções
ecológicas se tonou inevitável no que tange o crescimento de uma cidade, buscando sempre novos meios de expandir mitigando
os impactos ambientais. Um dos métodos construtivos que se mostra ecologicamente viável é o de casas pré-moldadas em madeira
(wood frame), que tem se popularizado no Brasil. No entanto, o preconceito cultural em relação à utilização da madeira como
matéria prima principal de uma edificação torna o processo mais demorado. O objetivo desse trabalho é caracterizar e comparar
o método construtivo de wood frame e, também o método construtivo de casas em alvenaria. A metodologia utilizada consiste na
revisão da bibliográfica existente, de tal modo que seja possível uma comparação entre as duas técnicas construtivas que mostre
as vantagens e desvantagens da utilização do wood frame. O sistema construtivo de casas pré-fabricadas em madeira é vantajoso
não só para o meio ambiente, como também para o consumidor final que vai ser beneficiado com uma obra relativamente mais
rápida e barata.
Palavras-chave: Método Construtivo. Wood Frame. Alvenaria Convencional.

INTRODUÇÃO

Os materiais empregados na construção civil obrigatoriamente causam impactos ao meio ambiente, seja
na etapa de produção, de utilização ou do descarte. Segundo a Comissão Brasileira de Construção Sustentável
(CBSC) (2009) o ramo da construção civil é responsável por cerca de 40% a 75% do consumo de insumos na-
turais, desconsiderando a utilização de água e energia.
Tendo em vista a diminuição dos impactos gerados pela construção civil, sem que o desenvolvimen-
to seja afetado, buscam-se sempre meios de recriar o que já está consolidado, seja com novos materiais ou
novos métodos construtivos. Todavia, o principal problema enfrentado pela necessidade de mudança é a re-
jeição por grande parte da população que, por falta de conhecimento e falta de profissionais qualificados,
não veem vantagens em mudar de algo já consolidado e aceito, como as casas em alvenaria, para algo com-
plete novo.
Segundo SANTIAGO (2008) o mercado da construção civil no Brasil apresentou poucos avanços
no que tange as tecnologias dos processos construtivos. A construção possui processos predominantemen-
te artesanais, o que torna a produtividade lenta e, ainda, o desperdício de insumos são consideráveis. Es-
ses fatores passam a falsa impressão de que essas são características próprias da construção civil: lentidão
e desperdícios.
A industrialização das técnicas construtivas, ou de pelo menos parte delas, é a principal responsável
pela diminuição do tempo de obra e do desperdício de matéria prima. O sistema construtivo de casa pré-fa-
bricadas em madeira (wood frame) é um dos métodos que tem ganhado espaço no mercado brasileiro devi-
do a suas vantagens em relação as casas em alvenaria. As casas construídas em wood frame possuem perfis
de madeira que são fabricados sob medida e durante o ato da obra devem apenas ser “encaixados”, vulgar-
mente falando.

Revista FENEC - 3(1): 54-61, abril, 2019 54


Larissa C. V.; Matheus R. de A. Casas pré-fabricadas em madeira: uma alternativa frente à construção em alvenaria

A pesquisa acadêmica se dará através de revisão bibliográfica, buscando o que de mais relevante já foi
publicado acerca do tema. Além disso, a pesquisa terá enfoque apenas em apresentar a técnica construtiva de
pré-fabricação de casas em madeira e verificar que proveitos e desvantagens apresenta em relação as constru-
ções de alvenaria.

1. DESENVOLVIMENTO

1.1 Breve contextualização histórica dos sistemas construtivos

Desde os primórdios da humanidade, o ser humano foi capaz de modificar o espaço a sua volta cons-
truindo edificações para seu abrigo e proteção. Na medida em que se erguia construções cada vez maiores e
mais robustas, diversas técnicas construtivas foram criadas e utilizadas ao longo do tempo. Como principal
exemplo, temos o uso da madeira e da alvenaria.
O emprego da madeira na construção remonta ao período pré-histórico, sendo utilizada em conjunto
com barro, palha, pedra, ferro e outros materiais (SOUZA, 2012). No Brasil, a madeira foi utilizada combinan-
do técnicas indígenas com os estilos europeus no período colonial. Entretanto, em 1680, leis foram instituídas
engessando a extração de determinadas espécies de madeira.
Com o passar do tempo, observou-se uma desvalorização e preconceito quanto ao uso da madeira. No
fim da década de 1920, por exemplo, na cidade de Curitiba houve a proibição da construção de casas de ma-
deira, determinando que só poderiam ser construídas nas zonas periféricas da cidade. (PHIPLIPPI, 2014).
A desvalorização da madeira pelo poder público também foi acompanhada pela população no geral. Além
disso, a falta de profissionais qualificados também contribuiu para o descrédito deste sistema (SOUZA,
2012.).
Já a alvenaria remonta as primeiras civilizações (cerca de 900 a 7000 a.C). Inicialmente eram empre-
gados pedras naturais e tijolos reforçados com areia ou palha (SOUZA H., 2002). Segundo GOUVEIA et al.
(2007), entre 1700 e 1900 foram desenvolvidos os conceitos de alvenaria armada e de edifícios altos em alve-
naria resistente. E no período das seis décadas seguintes, houve uma estagnação no desenvolvimento de novas
metodologias construtivas em alvenaria. Atualmente, é a técnica mais utilizada no Brasil. De maneira geral, a
edificação é formada por pilares, vigas e lajes de concreto, no qual os vãos são preenchidos com tijolos cerâ-
micos para vedação (SOUZA, 2012).

1.2 Sustentabilidade e construção civil

Nos últimos anos, o crescimento de cidades e empreendimentos tem desenvolvido a indústria da cons-
trução civil, a qual é responsável por 40% do consumo anual de energia, por até 30% do consumo de energia
relacionado à emissão de gases do efeito estufa, por 12% no consumo de água e 40% da geração de resíduos
(CBCS, 2011 apud LACERDA, 2014). Fica evidente a dimensão dos impactos ambientais gerados pela in-
dústria da construção civil. Neste contexto, surge o conceito de construção sustentável de modo a minimizar a
degradação ambiental, utilizando recursos renováveis, o emprego de novas técnicas construtivas, a otimização
do processo de produção e a redução do desperdício.
Em 1990, é lançado o primeiro sistema de avaliação ambiental de construções do mundo, o BREEAM.
Já em 1999, o CIB (International Council for Research and Innovation Building and Construction) finaliza a
Agenda 21 para construção sustentável. Em 2006, o arquiteto Norman Foster projeta a Cidade Carbono Zero
(a primeira cidade sustentável do mundo). Em 2007 é criado o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável
(CBCS), com o objetivo de implementar conceitos e práticas sustentáveis na construção civil. A construção
sustentável deve estar comprometida com o desenvolvimento sustentável de modo a atender e integrar as di-
mensões econômicas, sociais ambientais (MOTTA e AGUILAR, 2009).

1.3 Casas pré-fabricadas em madeira (Wood Frame)

O Wood Frame (WF) é um sistema leve de construção composto por estrutura de perfis leves de madei-
ra maciça que são contraventados com chapas estruturais de madeira transformada tipo OSB (Oriented Strand

Revista FENEC - 3(1): 54-61, abril, 2019 55


Larissa C. V.; Matheus R. de A. Casas pré-fabricadas em madeira: uma alternativa frente à construção em alvenaria

Board). Nos Estados Unidos essa técnica é utilizada empregada em 95% das casas construídas. Ela também
é empregada em outros países como Canadá, Japão, Alemanha e no norte da Europa (MOLINA e JUNIOR,
2010; SILVA, 2010).
Com a introdução de novas técnicas industrializadas, foi possível obter seções de madeira muito finas e
com maior rapidez. E dessa maneira permitiu uma construção mais barata, capaz de ser facilmente montada e
desmontada, substituindo o emprego dos carpinteiros por mão de obra não especializada. Esse sistema era bas-
tante utilizado para a construção de obras públicas, como igrejas. Realizada coletivamente, de modo que em
poucas horas já estava concluída a obra (GARCIA et al, 2014; SOUZA, 2012).
A industrialização no ramo da construção civil, a redução de prazos e consequente redução de custos
explicam o avanço no crescimento do uso desse sistema. O ganho de produtividade relaciona-se à dinâmica
da obra limpa e seca e a facilidade de manuseio dos elementos estruturais que demandam menos esforços dos
operários. Entretanto, a ideia de sistema industrializado não está associada com construção padronizada. Neste
sistema há possibilidade de execução de projeto de casas populares até construções com alto padrão de acaba-
mento. (GARCIA et al, 2014; MOLINA e JUNIOR, 2010).
No wood frame os perfis de madeira (geralmente de reflorestamento como o pinus) compõe a estrutura
que em combinação com as placas de OSB formam painéis estruturais capazes de suportar às cargas verticais
(telhados e pavimentos), perpendiculares (ventos) e de corte transmitindo as cargas até a fundação. É permiti-
do o uso de qualquer tipo de fundação, porém os dois tipos mais utilizados são radier e sapata corrida devido
sua estrutura leve com distribuição uniforme de cargas. A espessura da placa LP OSB é determinada conforme
espaçamento entre montantes e tipo de revestimento. O mais comum é a utilização de painéis de 11,1 mm nas
paredes e telhados e painéis de 18,3 mm para pisos e lajes. As chapas de OSB tem por função contraventar es-
truturas de paredes, de construções de até dois pavimentos, e auxiliar na rigidez da estrutura, de modo a com-
por diafragmas horizontais na laje de piso (GARCIA et al, 2014; SILVA, 2010).
MOLINA e JUNIOR (2010) destacam as principais etapas construtivas do Wood Frame:

I. Fundação:
A escolha da fundação varia de acordo com o tipo de solo e das cargas do projeto. Como a estrutura so-
bre a fundação é leve e com cargas distribuídas ao longo das paredes, geralmente utiliza-se a fundação do tipo
radier ou a sapata corrida. Em países de inverno rigoroso, a fundação é composta por estruturas subterrâneas,
o basement wall, para aumentar a temperatura da casa. Ele sustenta cargas de piso, paredes, telhados e outras
cargas da construção.

Figura 1.
Detalhe da fundação
tipo Radier

Fonte: Teamcyklo.

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Larissa C. V.; Matheus R. de A. Casas pré-fabricadas em madeira: uma alternativa frente à construção em alvenaria

Figura 2. Fundação: (a) Basement wall e arranque de barra de aço para fixação dos painéis; (b) Vigas I sobre
basement wall

Fonte: MOLINA e CALIL (2010).

II. Piso:
No piso do primeiro pavimento aplicam-se as técnicas tradicionais de alvenaria. Já nos pavimentos su-
periores, utiliza-se decks constituídos por chapas de OSB apoiadas sobre vigas de madeira (geralmente de
seção retangular). A chapa funciona como contra piso. Coloca-se o piso frio com argamassa colante, sobre a
impermeabilização.

III. Paredes:
As paredes são formadas por montantes verticais de madeira, dispostos em consonância com painéis de
OSB. Emprega-se pregos galvanizados na ligação entre os elementos estruturais no painel utiliza-se pregos
galvanizados. O esquema das paredes está representado na Figura 3. Na abertura das esquadrias os montantes
que se encontram nestas regiões devem ser deslocados lateralmente, mas nunca eliminados. Devido à rigidez
das paredes e pisos nos seus planos o wood frame tem grande capacidade de resistir aos esforços de vento.

Figura 3. Esquema
interno das paredes do
sistema Wood Frame

Fonte: Diretrizes para


projetar em Wood Frame
- Tecverd apud SANTOS
(2010).

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Larissa C. V.; Matheus R. de A. Casas pré-fabricadas em madeira: uma alternativa frente à construção em alvenaria

IV. Instalações elétricas e hidráulicas:


São as mesmas empregadas nas construções convencionais.

V. Revestimentos:
Podem ser empregadas sidings (placas) de aço, madeira e PVC, desenvolvidos especificamente para este
sistema. Bem como, materiais como tijolos aparentes e argamassa armada. Para melhor desempenho térmico
e acústico são utilizadas mantas de lã de vidro no interior dos painéis wood frame.
No sistema de wood frame, a madeira utilizada no processo construtivo é de reflorestamento e certifica-
da, geralmente são utilizadas as espécies Pinnus e Eucalyptus.

1.4 A construção de casas em alvenaria

A alvenaria consiste em um sistema de construção de muros e paredes, ou obras semelhantes, executadas


com pedras naturais, tijolos ou blocos unidos entre si com ou sem argamassa de ligação, em fiadas horizontais
que se repetem sobrepondo-se sobre as outras, formando um conjunto rígido e coeso. Tem como função re-
sistir a cargas gravitacionais e impactos, fornecer proteção acústica e térmica aos ambientes e vedar espaços.
A construção em concreto armado moldado feito no local combinado com fechamento de alvenaria não estru-
tural de tijolo cerâmico e rejunte de argamassa é o sistema construtivo predominante e dito convencional no
Brasil, especialmente no setor habitacional (CONDEIXA, 2013; MARTINS, 2009; PEREIRA, 2018).
O tijolo cerâmico, areia, cimento e cal constituem os insumos para a alvenaria. Esta técnica é bem acei-
ta culturalmente e a intimidade com o sistema dá mais liberdade ao usuário de realizar modificações. Técnica
considerada como artesanal, pois é construído no canteiro, sem normas obrigatórias a serem seguidas. De mo-
do a dar margem a erros (por exemplo, quanto aos traços – proporções nas misturas dos materiais – ou como
uma parede fora do prumo, nível, esquadro) que podem gerar patologias e gerar desperdícios. Semelhantemen-
te há desperdício nos rasgos nos tijolos feitos para alocar as instalações elétricas e hidráulicas (CONDEIXA,
2013).
Segundo LARCERDA (2014) na construção convencional inicialmente realiza-se a base de concreto ou
radier, (mais econômico, com função dupla de base e contra piso). Em seguida, se inicia a execução da alvena-
ria, feita com blocos cerâmicos autoportantes. Usualmente barras de aço passam por dentro dos blocos, que em
seguida são concretadas utilizando pedrisco como agregado. As vigas são executadas com o uso de canaletas,
e as lajes são pré-moldadas apoiando-se sobre as paredes. Em seguida, as paredes são chapiscadas, emboçadas
com argamassa de cimento, cal e areia. Esta etapa é essencialmente artesanal, pois o prumo da parede depende
da habilidade do operário. As instalações são embutidas na parede, com rasgos para a passagem da tubulação.
Além disso, são utilizadas de madeira ou em aço na execução do telhado.

1.5 Geração de resíduos e desperdício

Segundo o Conselho Canadense da Madeira - (Canadian Wood Council), apud SANTOS (2010) ao se
comparar a construção em madeira com a construção em alvenaria, notase que a construção em madeira pro-
duz menos 47% de poluição do ar; gera 23% a menos de resíduos sólidos; demanda 57% a menos de energia
de produção, emite 81% a menos de gases do efeito estufa e descarta 3,5 vezes menos dejetos nas águas.
Nos estudos compilados de PINTO (1999) apud SANTOS (2010) elencados na Tabela 1 a seguir, ob-
serva-se que substituindo os materiais convencionais pelo uso wood frame haverá uma redução média de 80%
dos desperdícios de obra.

Revista FENEC - 3(1): 54-61, abril, 2019 58


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Tabela 1. Perda de materiais em processos construtivos convencionais, conforme pesquisa nacional em 12 es-
tados brasileiros e pesquisas anteriores
Materiais Pinto (1) Soibelman (2) FINEP/ITQC (3)
Concreto usinado 1,5% 13% 9%
Aço 26% 19% 11%
Blocos e tijolos 13% 52% 13%
Cimento 33% 83% 56%
Cal 102% – 36%
Areia 39% 44% 44%
(1) Valores de uma obra (PINTO, 1989)
(2) Média de 5 obras (SOIBELMAN, 1993)
(3) Mediana de diversos canteiros (SOUZA et al., 1998)
Fonte: PINTO (1999) apud SANTOS (2010).

1.6 Custos da obra

Os estudos realizados por CAMPOS e DIAS (2016) na análise comparativa dos custos de construção
de uma residência popular permitem observar qual sistema é mais economicamente viável. Com bases nos de-
senhos técnicos da edificação foi possível realizar o levantamento do quantitativo de materiais e serviços ne-
cessários para a construção da casa, orçadas com estrutura em wood frame e em alvenaria. As Figuras 4 e 5
elencam os custos por etapa de construção para casa em wood frame e em alvenaria.

Figura 4.
Gráfico
comparativo
de custos com
materiais

Fonte: CAMPOS e
DIAS (2016).

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Larissa C. V.; Matheus R. de A. Casas pré-fabricadas em madeira: uma alternativa frente à construção em alvenaria

Figura 5.
Gráfico
comparativo
de custos com
serviços

Fonte: CAMPOS e
DIAS (2016).

Nesta análise, o wood frame em relação à alvenaria apresentou uma redução de 5,6% nos custos totais
da edificação e com as despesas com materiais houve um aumento de 9,9%. Entretanto, os custos com a mão
de obra foram reduzidos em 35,7%. SANTOS (2010) também corrobora ao realizar uma análise comparativa
semelhante. O custo da mão de obra é menor, apesar do wood frame exigir uma mão de obra especializada, o
custo decai devido a menor quantidade de horas necessárias à execução dos serviços. O que torna essa técnica
construtiva economicamente viável e competitivo com a alvenaria comum.

1.7 Tempo de execução

VASQUES e PIZZO (2014) também realizaram estudos comparativos quanto aos custo-benefício dos dois
modelos construtivos. Com o sistema wood frame houve uma redução no tempo de execução das obras. Para uma
residência popular de 74m2, no sistema convencional o prazo de execução das obras foi de 8 meses já para o sis-
tema wood frame foi de apenas 2 meses. Isto ocorre em decorrência da pré-construção em um ambiente indus-
trializado. Ela reduz o tempo necessário para instalação e manipulação das estruturas, diminuindo assim o tempo
de execução da obra. Além disso, há mais agilidade no tempo necessário para a limpeza do canteiro de obras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil há o predomínio da construção em alvenaria, que por sua vez, produz inúmeros resíduos com
desperdício de insumos. Dentro desta problemática ambiental, o uso de métodos construtivos alternativos vi-
sa contribuir para a uma mudança no atual cenário da construção civil. Uma alternativa viável é a pré-fabrica-
ção de casas de madeira (wood frame). O processo construtivo em wood frame apresenta etapas mais simples
quando comparado à alvenaria convencional. A substituição dos insumos tradicionais (tijolos, areia, cimento)
por peças pré-fabricadas leves de madeira maciça reflete num procedimento mais rápido e prático de constru-
ção do que as fases das tradicionais construções em alvenaria.
Este sistema construtivo quando comparado ao sistema de construção em alvenaria se apresenta econo-
micamente viável e competitivo. Mesmo exigindo uma mão de obra especializada, devido à redução signifi-
cativa do tempo de obra, o wood frame reduz o custo total da obra. Além disso, produz menos resíduos e gera
menos desperdício de recursos. Desta maneira, além da vantagem econômica também é um sistema mais van-
tajoso do ponto de vista ambiental.

Revista FENEC - 3(1): 54-61, abril, 2019 60


Larissa C. V.; Matheus R. de A. Casas pré-fabricadas em madeira: uma alternativa frente à construção em alvenaria

REFERÊNCIAS

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de custos com a alvenaria. [S.l.]: [s.n.], 2016.

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org.br/website/posicionamentos/show.asp?ppsCode=73BB1FC6-8469-4254-93E6-0C92A3F970B8.>. Aces-
so em: 15 Agosto 2018.

CONDEIXA, K. D. M. S. P. Comparação entre materiais da construção civil através da avaliação do ciclo de


vida: sistema Drywall e alvenaria de vedação. Niterói: [s.n.], 2013.

GARCIA, S. et al. Sistema Construtivo Wood Frame. VIII Mostra de Iniciação Científica IMED. [S.l.]: [s.n.].
2014.

GOUVEIA, J. P.; LOURENÇO, P. B.; VASCONCELOS, G. Soluções construtivas em alvenaria. Congresso


Construção 2007 - 3º Congresso Nacional. Coimbra: [s.n.]. 2007.

LACERDA, J. F. S. B. D. Avaliação da sustentabilidade na construção civil dos sistemas construtivos conven-


cional e industrializado no Brasil. São José dos Campos: [s.n.], 2014.

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Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 31, n. 2, p. 143-156, julho/dezembro 2010.

MOTTA, S. F. R.; AGUILAR, M. T. P. Sustentabilidade e processos de projetos de edificações. Gestão & Tec-
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PEREIRA, C. O que é Alvenaria? Escola da Engenharia, 2018. Disponivel em: <https://www.escolaengenha-


ria.com.br/alvenaria/>. Acesso em: 15 Agosto 2018.

PHILIPPI, R. V. Caracterização do mercado de casas pré-fabricadas de madeira em curitiba e região metro-


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Frame em residências unifamiliares. Unilins: [s.n.], 2014.

Revista FENEC - 3(1): 54-61, abril, 2019 61


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

CINZA DE CASCA DE ARROZ: DE RESÍDUO AGORINDUSTRIAL À


RECURSO ALTERNATIVO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Saymon Porto Servi (saymon_servi@hotmail.com)


Victor Ferreira Nunez (vferreiranunez@gmail.com)

Resumo: O arroz é um dos cereais de maior importância na nutrição humana, sendo altamente cultivado em todo mundo. No
Brasil, o estado do Rio Grande do Sul ocupa a liderança na produção do arroz, sendo responsável por 70% da produção nacional.
Dentre os resíduos gerados no processo de beneficiamento do grão, destaca-se a casca do arroz. A casca de arroz apresenta-
se como um material de lenta biodegradação e sem valor comercial, porém com alto poder calorífico. Em função disso, grande
parte do material é utilizada como biocombustível para a geração de energia em fornos e caldeiras industriais. Como resultado da
queima é gerado um novo resíduo, a cinza da casca do arroz que contém uma alta presença de sílica na composição. Entretanto,
a cinza mostra-se como um material heterogêneo, com presença de casca de arroz não queimada e pouco reativo. Isso se deve a
queima do material não ter um padrão de temperatura e nem um controle de duração. Esse trabalho tem por objetivo estudar o
emprego da cinza de casca de arroz como material pozolânico e, por sua vez, como um recurso alternativo na Engenharia Civil. Foi
estudada a cinza de três formas distintas: cinza in natura, cinza com tratamento térmico (através de nova queima com temperatura
e tempo controlados) e cinza com tratamento térmico e moagem. As cinzas foram aplicadas em misturas com areia e cal, em busca
de um solo estabilizado. Foram realizados ensaios de caracterização geotécnica, de compactação e de resistência à compressão
simples nas idades 7, 14, 28 e 90 dias de cura. O solo estabilizado com cinza tratada termicamente e fisicamente apresentou grande
ganho de resistência, em relação a cinza in natura e a cinza tratada termicamente, atingindo 3,31 MPa aos 28 dias e 5,05 MPa aos
90 dias de cura.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Cinza de Casca de Arroz. Materiais Pozolânicos. Estabilização de Solos.

INTRODUÇÃO

Ao longo da história o homem se pôs no lugar de dominador da natureza criando a ideia de que todos
os recursos oferecidos pelo planeta são ilimitados. A partir dessa visão, criou-se a chamada sociedade de con-
sumo, onde as empresas e indústrias visam a extração de recursos naturais para sustentar o desejo compulsivo
de consumo da população, sem a preocupação com os impactos gerados no processo. De acordo com Retondar
(2008) a sociedade de consumo caracteriza-se pelo desejo socialmente expandido de aquisição do supérfluo e
se estrutura numa condição de insaciabilidade, de constante insatisfação, onde forma-se um ciclo de consumo
que não se esgota. Dentro dessa realidade o homem evoluiu consumindo aquilo que o seu meio de habitação
oferecia, de modo que o consumo dos recursos naturais crescia junto com o aumento populacional. Com isso,
têm-se cada vez mais consumidores e cada vez menos materiais de consumo. Torna-se, então, necessária uma
mudança de hábitos, com um estudo mais aprofundado de métodos alternativos que foquem na redução da ex-
ploração de recursos naturais, uma busca por tecnologias renováveis e sustentáveis, de modo a atender as ne-
cessidades do indivíduo.
Nos dias atuais, a sustentabilidade tem sido tema principal de diversas discussões, não sendo mais exclu-
sivamente pauta de assuntos relacionados ao meio ambiente, mas também a outros diversos campos de atua-
ção. O conceito de sustentabilidade, de acordo com Torreci (2010) é definido como sendo “o desenvolvimento
que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem
suas próprias necessidades”. O desenvolvimento sustentável tem como fundamento três pilares (BARBOSA,
2007), sendo eles (Figura 1): o ambiental através da proteção ao meio ambiente, o social através da valorização

Revista FENEC - 3(1): 62-74, abril, 2019 62


Saymon P. S.; Victor F. N. Cinza de casca de arroz: de resíduo agorindustrial à recurso alternativo da construção civil

do indivíduo, ofertando-o condições justas e dignas de desenvolvimento, e o econômico através de um cresci-


mento econômico consciente, sem devastar o meio a qual está inserido.

Figura 1.
Três pilares do desenvolvimento sustentável

Fonte: BIOSETA, 2014.

Com base nisso, é necessário aplicar a ideia de sustentabilidade através de caminhos práticos. Segundo
Silva e Komatsu (2014) é possível aplicar o conceito de reduzir, reutilizar e reciclar, sendo esse também co-
nhecido como o conceito dos 3R (Figura 2).

Figura 2.
Conceito dos 3R

Fonte: SILVA e KOMATSU, 2014.

De acordo com os autores, a aplicação desse conceito se mostra muito eficaz e ágil, de modo que se apli-
ca o primeiro, se não for possível aplica-se o segundo e se ainda não for possível aplica-se o terceiro. Sabe-se
que, tanto o conceito de reduzir quanto o de reciclar, não são tão simples na prática, pois é necessário que haja
consciência ambiental dos indivíduos envolvidos. No entanto, é possível analisar a condição de poluição in-
dustrial, responsável por grande parte da poluição mundial, a aplicação do conceito de reutilizar torna-se pos-
sível. A partir disso é necessário entender o meio a qual o indivíduo está inserido e quais são as oportunidades
de aplicação desse conceito.
O arroz se destaca como 29% do total de grãos usados na alimentação humana, tomando o segundo lu-
gar de cereal mais consumido, ficando somente atrás do milho (SOSBAI, 2016). No Brasil, a produção tem
se mantido em torno de 12 milhões de toneladas nas últimas safras. Em território brasileiro o estado do Rio
Grande do Sul destaca-se como o maior produtor de arroz, ficando responsável por aproximadamente 70% da
produção orizícola nacional. Durante a etapa de beneficiamento do grão são gerados diversos resíduos onde se
destaca a casca do arroz que pode vir a se tornar um problema ambiental devido ao grande volume gerado, cer-
ca de 25% do peso do grão, pela lenta biodegradação e por não ter valor comercial. A casca de arroz, em grande

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Saymon P. S.; Victor F. N. Cinza de casca de arroz: de resíduo agorindustrial à recurso alternativo da construção civil

parte, é voltada ao setor industrial como biocombustível para geração de energia em caldeira e fornos, devido
ao seu alto poder calorífico. Em alguns casos esse material acaba por ser queimado em céu aberto a fim de di-
minuir seu volume. O processo de queima da casca de arroz gera um novo resíduo a cinza da casca de arroz
– CCA – (Figura 3) onde a disposição desse material torna-se um problema ambiental. Na maioria dos casos,
esse novo resíduo é descartado em aterros específicos, porém esse processo acaba por não ser economicamente
viável, o que faz com que empresas, muitas vezes, descartem indevidamente esse material no meio ambiente a
fim de diminuir gastos. Com isso, é necessário buscar formas de transformar esse resíduo em um subproduto.

Figura 3.
Cinza de casca de arroz

Fonte: Autores.

Segundo a ABNT NBR 12653/2015 a definição de materiais pozolânicos, ou pozolanas como também
são chamadas, se dá por “materiais silicosos ou silicoaluminosos que, sozinhos, possuem pouca ou nenhuma
propriedade ligante, apresentando propriedades ligantes na presença de água a partir da reação com o hidróxi-
do de cálcio”. A capacidade do material pozolânico de reagir com hidróxio de cálcio na presença de água é uma
propriedade chamada atividade pozolânica. De acordo com a mesma norma os materiais pozolânicos podem
ser dividos em pozolanas naturais e pozolanas artificiais, sendo as pozolanas naturais “materiais de origem vul-
cânica com atividade pozolânica” e as pozolanas artificiais “materiais provênientes de tratamentos térmicos ou
subprodutos industriais, com atividade pozolânica”. As pozolanas são materiais de grande utilização e estudo
dentro da Engenharia Civil, sendo um assunto relatado por diversos pesquisadores ao longo dos anos e tendo,
por exemplo, sua aplicação em argamassas e concretos (Pereira, 2008; Collatto et al., 2011; Ludwig, 2014) e
em estabilização de solos (Pinto, 1971; Mallmann, 1996; Dias, 2004; Ruver et al., 2013).
Pouey (2006) constata que a CCA é um material que apresenta alto teor de sílica, estando na faixa de
90-95%. Logo, a CCA passa a se tornar uma alternativa em potencial como pozolana artificial, entretanto an-
tes de se ter uma resposta definitiva à utilização desse resíduo agroindustrial, é necessário submeter o material
a ensaios normatizados que garantam a sua funcionalidade e a aplicação prática.
A pesquisa busca estudar o potencial da CCA in natura e beneficiada como material pozolânico, a par-
tir de normas elaboradas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas. O trabalho tem como foco analisar
a atividade pozolânica das cinzas com e sem beneficiamento através de uma técnica de estabilização de solos,
aplicando os materiais em uma mistura com areia e cal, a fim de avaliar o ganho de resistência à compressão
simples após cura do solo estabilizado.

1. MATERIAIS

Como a pesquisa foi realizada no Laboratório de Geotecnia e Concreto Prof. Claudio Renato Rodrigues
Dias da Universidade Federal do Rio Grande - FURG, adotou-se o município de Rio Grande/RS como referên-
cia. Logo, optou-se pela coleta do solo e da CCA proveniente da região.

Revista FENEC - 3(1): 62-74, abril, 2019 64


Saymon P. S.; Victor F. N. Cinza de casca de arroz: de resíduo agorindustrial à recurso alternativo da construção civil

1.1 Cinza de Casca de Arroz (CCA)

A cinza de casca de arroz residual – CCA in natura – é originária de uma empresa do distrito industrial
do município de Rio Grande, sendo utilizada como biocombustível para geração de energia através de uma
caldeira a vapor. A caldeira utilizada no processo realiza a queima do material à uma temperatura na faixa de
200-300ºC e se caracteriza por não ter um tempo de queima controlado, resultando assim em uma queima in-
completa e não uniforme do material. Em razão disso, tem-se a geração de uma CCA mais escura, que indica
presença elevada de carbono em sua composição, com uma parcela visualmente perceptível de casca não quei-
mada. A CCA gerada é mantida em silos, de modo a não contaminar o solo e o ar. Posteriormente, a CCA é re-
tirada da empresa onde são dados dois destinos ao material: uma parte voltada ao meio agrícola, para correção
de pH de solos, e outra parte é levada para aterros sanitários próprios para o material.

1.2 Cinza de Casca de Arroz Tratada Termicamente (CCAT)

Após a coleta constatou-se a presença de algumas impurezas no material, principalmente a presença de


casca de arroz não queimada. Essas impurezas, por sua vez, tendem a dimunuir a atividade pozolânica do ma-
terial, logo é necessário um estudo de forma a buscar meios de obter um material mais puro e, com isso, mais
reativo.
De acordo com Behak (2007) é possível diminuir a matéria orgânica remanescente na CCA in natura, a
partir do tratamento térmico do material. Segundo o autor, o processo de tratamento térmico sobre o material,
a temperaturas mais elevadas e tempo controlado, gera uma CCA menos escura, mais uniforme e com maior
atividade pozolânica. Pouey (2006) relata que tratamentos térmicos com temperaturas inferiores a 600ºC se
mostram indicados para o clareamento da CCA, sem cristalizar partículas amorfas. Com base nisso, optou-se
pela aplicação do tratamento térmico na CCA in natura, sendo definida uma temperatura controlada de 600ºC
por um período de 3 horas, sendo esse processo realizado em um forno elétrico tipo mufla (Figura 4). Ao fim
do processo, obteve-se como resultado uma cinza de casca de arroz tratada termicamente – CCAT que apre-
sentou uma coloração mais clara e sem a presença de casca de arroz não queimada.

Figura 4.
Forno elétrico tipo
mufla empregado na
pesquisa

Fonte: Autores.

Revista FENEC - 3(1): 62-74, abril, 2019 65


Saymon P. S.; Victor F. N. Cinza de casca de arroz: de resíduo agorindustrial à recurso alternativo da construção civil

1.3 Cinza de Casca de Arroz Tratada Termicamente e Fisicamente (CCATF)

Outro fator que influencia a atividade pozolânica da CCA é a granulometria do material e, consequen-
temente, a sua superfície específica, logo é possível obter uma maior reatividade do material a partir de um
tratamento físico. Poeuy (2006) constata a possibilidade de se obter melhores resultados a partir do tratamen-
to térmico e, posteriormente, o tratamento físico do material. Com base nisso, optou-se pela aplicação de um
tratamento físico na CCAT em um moinho de bolas (Figura 5). Realizou-se um processo de moagem na CCAT
com tempo constante de 2 horas, mantendo uma relação de 1:5 entre o material moído e os corpos moedores.
Por fim, obteve-se uma cinza de casca de arroz tratada termicamente e fisicamente – CCATF – que, visualmen-
te, se apresentou com um material de granulometria muito mais fina em relação à CCA in natura e a CCAT.

Figura 5.
Moinho de bolas
(esquerda) e corpos
moedores (direita)

Fonte: Autores.

1.4 Areia

A areia utilizada no estudo foi coleta na localidade do Povo Novo, de uma jazida, no interior da cidade
do Rio Grande/RS. A jazida é explorada por uma empresa da região, que trabalha com serviços de terraplana-
gem e venda de solo para aterros.

1.5 Cal

Quando à cal, foi empregada a cal hidratada da empresa DB (Dagoberto Barcelos), produto comum co-
mércio de materiais de construção na cidade.

1.6 Mistura areia-cinza-cal

A dosagem da mistura areia-cinza-cal adotada na pesquisa foi a proposta por Dias (1997), no trato com
cinza volante de carvão, sendo 72% de areia, 21% de cinza e 7% de cal em proporções de peso.

2. METODOLOGIA

A fim de se determinar a viabilidade da CCA como recurso alternativo na Engenharia Civil, optou-se
pelo estudo de caracterização da CCA in natura, da CCAT e da CCATF, como material pozolânico, analisando

Revista FENEC - 3(1): 62-74, abril, 2019 66


Saymon P. S.; Victor F. N. Cinza de casca de arroz: de resíduo agorindustrial à recurso alternativo da construção civil

o estado do material sem tratamento e a influência dos tratamentos térmico e físico sobre o material original.
A Figura 6 apresenta os três materiais a serem analisados.

Figura 6.
CCA in natura
(esquerda), CCAT
(centro) e CCATF
(direita)

Fonte: Autores.

Os dados para análise e comparação entre as CCA foram obtidos através de ensaios normatizados pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas, em alguns casos adaptando os procedimentos conforme necessário.

2.1 Determinação do teor de umidade

O ensaio de determinação do teor de umidade foi realizado com base na ABNT NBR 13956-2/2012 e
tem como objetivo determinar a quantidade de umidade presente nas amostras analisadas.

2.2 Determinação do peso específico real dos grãos (γs)

A determinação do peso específico real dos grãos (γs) foi realizado com base na ABNT NBR 6508/1984
e tem como objetivo a determinar a densidade dos grãos dos materias analisados, a partir do ensaio de picnô-
metro.

2.3 Análise granulométrica

Para a análise granulométrica utilizou-se os processos de peneiramento e sedimentação definido pela


ABNT NBR 7181/2016, utilizando a escala granulométrica estipulada pela ABNT NBR 6502/95. As duas nor-
mas citadas são utilizadas para o estudo de solos, porém admitiu-se a possibilidade de aplicação do método pa-
ra CCA sem alterações nos resultados obtidos.
O objetivo do ensaio é a obtenção de uma curva granulométrica que indique a porcentagem passante de
material nas peneiras em função do diâmetro do grão, a partir do peneiramento grosso, peneiramento fino e
ensaio de sedimentação.

2.4 Determinação da finura

O ensaio foi realizado com base na ABNT NBR 13956-4/2012 e tem como objetivo a determinação da
finura do material pozolânico. A norma define a finura de um material como sendo a sua parcela retida na pe-
neira 45μm. Entretando, como não havia peneira de abertura 45μm para realização do ensaio foi utilizada uma
peneira de abertura 60μm, sendo a peneira mais próxima do solicitado. Embora tenha sido necessária uma
adaptação do procedimento realizado sobre o procedimento descrito pela ABNT NBR 13956-4/2014, optou-se
pela execução do ensaio a fim de analisar a influência dos tratamentos, em especial o tratamento físico, sobre
a parcela de material mais fino da CCAT e da CCATF em relação à CCA in natura.

Revista FENEC - 3(1): 62-74, abril, 2019 67


Saymon P. S.; Victor F. N. Cinza de casca de arroz: de resíduo agorindustrial à recurso alternativo da construção civil

2.5 Parâmetro de análise de atividade pozolânica

A Associação Brasileira de Normas Técnicas não tem nenhuma normatização relacionada à estabiliza-
ção de solos a partir da adição de materiais pozolânicos e cal, porém há normatização voltada à estabilização
de solos com cimento. De acordo com a ABNT NBR 12253/2012, o solo-cimento deve atingir uma resistência
à compressão simples – RCS – de 2,1 MPa aos 7 dias de idade para atender ao emprego de camadas de base
para pavimentação. A partir disso, adotou-se essa normatização como referência para a mistura areia-cinza-cal.
Tendo em vista que as reações pozolânicas da cal são mais lentas mediante as reações do cimento, propôs-se
um tempo de cura de 28 dias para atingir a RCS mínima desejada de 2,1 MPa. Com base nos tipos de cinzas
estudados, foram definidas três misturas. Sendo:
y Mistura 1 (M1): Areia – CCA in natura – Cal
y Mistura 2 (M2): Areia – CCAT – Cal
y Mistura 3 (M3): Areia – CCATF – Cal

Foi definido um parâmetro de atividade pozolânica de cada uma das cinzas a partir de razão entre a RCS
com cinza e a RCS mínima desejada. Será admitido como material pozolânico as CCA, dentro da dosagem ad-
mitida, cujas misturas atingirem um valor maior ou igual à 100% para um tempo de cura de 28 dias.

2.5.1 Ensaio Proctor de compactação

Definidas as dosagens utilizadas no estudo, deu-se início ao ensaio Proctor de compactação que tem co-
mo objetivo de determinar o peso específico aparente seco máximo de cada uma das misturas, bem como suas
umidades ótimas de compactação. Tais parâmetros foram utilizados, posteriormente, na moldagem dos corpos
de prova que foram submetidos ao ensaio de resistência à compressão simples.
Para o ensaio optou-se pelo uso da energia normal de compactação, sendo assim, baseado na ABNT
NBR 12023/2012, realizado utilizando o cilindro de compactação pequeno (diâmetro 10 cm e altura de 12,71
cm), com o soquete pequeno (massa 2,5 kg e altura de queda 30,5 cm).

2.5.2 Moldagem dos corpos de prova

A partir dos parâmetros definidos no ensaio Proctor de compactação, iniciou-se a moldagem dos corpos
de prova, sendo moldados em um molde de aço tripartido (diâmetro 5 cm e altura 10 cm) utilizando um soque-
te pequeno para a compactação dinâmica. O material foi compactado em três camadas, sendo aplicados cinco
golpes por camada. O corpo de prova moldado é apresentado na Figura 7.

Figura 7.
Corpo de prova de areia – cinza – cal moldado

Fonte: Autores.

Revista FENEC - 3(1): 62-74, abril, 2019 68


Saymon P. S.; Victor F. N. Cinza de casca de arroz: de resíduo agorindustrial à recurso alternativo da construção civil

Moldados os corpos de prova, todos foram colocados em sacos plásticos, de forma a evitar a perda de
água por evaporação e a carbonatação da mistura. Os corpos de prova foram mantidos em câmara úmida, a fim
de manter uma temperatura de 20ºC. Ao todo, foram moldados 3 corpos de prova para cada idade de cura (7,
14, 28 e 90 dias), logo, foram moldados 12 corpos de prova para cada uma das misturas. Optou-se pela análise
dos resultados ao longo dessas diferentes idades a fim de acompanhar o crescimento de RCS no tempo, bem
como avaliar a idade a qual os corpos de prova cessariam as reações pozolânicas.

2.5.3 Ensaio de resistência à compressão simples

Para o ensaio de resistência à compressão simples foi utilizado uma prensa eletro- hidráulica com ve-
locidade constante de 1,00 mm/min, utilizando célula de carga de 50 kN para a avaliação de força média apli-
cada e um transdutor de deslocamento tipo LVDT para avaliação da deformação vertical. Os resultados foram
obtidos através de um sistema de aquisição de dados Spider@ da HBM. Em 24 horas antes da realização de ca-
da um dos ensaios de RCS, os corpos de prova foram retirados dos sacos plásticos e imersos na água a fim de
saturar o material. A Figura 8 apresenta a execução do ensaio de RCS.

Figura 8.
Corpo de prova (rompido) sobre ensaio de resistência à compressão
simples

Fonte: Autores.

Os ensaios foram feitos em triplicata, logo, a média dos três resultados obtidos representam a RCS de
uma dada mistura em cada idade analisada.

3. RESULTADOS

Com base nos ensaios de determinação do teor de umidade e densidade específica dos grãos CCA in na-
tura, CCAT e CCATF, a Tabela 3 apresenta os resultados obtidos.

Tabela 1. Análise do teor de umidade e da peso específico dos grãos


Material ω (%) γs (gf/cm3)
Areia 0,20 2,64
CCA in natura 4,00 2,23
CCAT 0,29 2,11
CCATF 0,48 2,18
Fonte: Autores.

Revista FENEC - 3(1): 62-74, abril, 2019 69


Saymon P. S.; Victor F. N. Cinza de casca de arroz: de resíduo agorindustrial à recurso alternativo da construção civil

As etapas de peneiramento grosso e peneiramento fino das cinzas apresentaram dados satisfatórios so-
bre os materiais analisados. Entretanto o ensaio de sedimentação se mostrou inadequado devido aos resultados
incompativeis com os dados obtidos nas etapas de peneiramento. Pode-se considerar que o ensaio de sedimen-
tação não é aplicável as CCA por não se adequar a hipótese da lei de Stokes, que admite o grão como uma es-
fera perfeita.
A CCA in natura e CCAT apresentaram, tanto no peneiramento grosso quanto no peneiramento fino,
resultados muito próximos, com isso pode-se admitir que o tratamento térmico não altera a granulometria da
CCA. O Gráfico 1 apresenta a curva granulométrica da CCA in natura e da CCAT.

Gráfico 1.
Curva granulométrica da CCA in
natura e da CCAT

Fonte: Autores.

A CCATF, por sua vez, teve todo o material passante na peneira #200. A partir da não aplicabilidade do
ensaio de sedimentação, não foi possível fazer uma análise granulométrica sobre a CCATF.
O gráfico 2 apresenta a curva granulométrica da areia. De acordo com a ABNT NBR 6502/1995 o ma-
terial analisado se caracteriza como uma areia, uniforme e mal graduada.

Gráfico 2.
Curva granulométrica da areia

Fonte: Autores.

Do ensaio de determinação de finura foi possível estabelecer a parcela de material retido na peneira
60μm para cada uma das cinzas analisadas. Os dados são apresentados na Tabela 2.

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Tabela 2. Finura das CCA


Material Peneira (μm) Finura (%)
CCA in natura 60 66,00
CCAT 60 54,40
CCATF 60 1,80
Fonte: Autores.

O ensaio de finura revelou que o tratamento térmico gerou uma pequena alteração na parcela mais fi-
na da granulometria da CCA, enquanto que o tratamento térmico junto ao tratamento físico resultou em uma
grande alteração no material, tendo uma alteração na parcela de material retido na peneira 60μm de cerca de
52,60% da CCATF em relação à CCAT. Logo, a CCATF, possivelmente, apresentará maior reação com a cal
do que a CCA in natura e a CCAT em função do aumento da superfície específica, ocasionado pela dimuição
da granulometria do material.
Dos ensaios Proctor de compactação na energia normal das misturas M1, M2 e M3, bem como, para a
areia foi possível obter os parâmetros de teor de umidade ótima (ωótima) e peso específico aparente seco má-
ximo (γdmáx), sendo estes apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Parâmetros de compactação da areia e das misturas


Mistura ωótima (%) γdmáx (kN/m3)
Areia 11,00 17,40
M1 26,50 13,30
M2 23,40 13,90
M3 15,00 16,70
Fonte: Autores.

A partir dos dados da tabela 3, foi possível analisar que a alteração na granulometria da CCA influenciou
a compactação das misturas M1, M2 e M3. Quanto mais fino o material empregado na mistura, menor índice
de vazios e, em função disso, o resultado é uma menor umidade ótima da mistura, devido ao menor espaço dis-
ponível para a água, e um maior peso específico aparente seco máximo. A M3 destacou-se como a mistura em
que os parâmetros mais se aproximaram da areia sem aditivos.
Com os dados obtidos no ensaio Proctor de compactação, os corpos de prova para os ensaios de com-
pressão simples foram moldados nos seus respectivos teores de umidade ótima.
Os ensaios de RCS foram realizados nos tempos de cura de 7, 14, 28 e 90 dias. A Tabela 4 apresenta os
resultados obtidos nos ensaios de compressão simples.

Tabela 4. Resultados de RCS


RCS (MPa)
Idade (dias)
M1 M2 M3
7 0,054 0,064 0,382
14 0,076 0,181 1,298
28 0,101 0,437 3,311
90 0,111 0,510 5,050
Fonte: Autores.

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A mistura M3 destaca-se como sendo a única que atingiu a RCS desejada, enquanto que as misturas M1
e M2 ficaram muito abaixo.
Com base nos dados obtidos na tabela 4 e na RCS mínima desejada, foi possível determinar os parâme-
tros de atividade pozolânica das CCA in natura, CCAT e CCATF através das misturas M1, M2 e M3, respec-
tivamente. Embora o parâmetro de atividade pozolânica seja definido o tempo de cura de 28 dias, a Tabela 5
apresenta a relação entre a RCS das misturas analisadas para os tempos de cura de 7, 14, 28 e 90 dias e a RCS
mínima desejada de 2,1 MPa.

Tabela 5. Parâmetros de atividade pozolânica


Parâmetro de atividade pozolânica (%)
Idade (dias)
M1 M2 M3
7 2,58 3,03 18,17
14 3,61 8,62 61,82
28 4,83 20,79 157,67
90 5,26 24,30 240,45
Fonte: Autores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do estudo realizado, a mistura M1 e a mistura M2 apresentaram pequenos ganhos de resistência


à compressão ao longo do tempo, seus parâmetros de atividades pozolânica foram 4,83% e 20,79%, respec-
tivamente, ficando muito inferior ao estipulado. Logo, a CCA in natura e a CCAT não se caracterizam como
materiais pozolânicos.
A mistura M3, por sua vez, apresentou um parâmetro de atividade pozolânica de 157,67%, caracteri-
zando a CCATF como uma pozolana artificial. Ainda é possível destacar, que a CCATF apresentou ganhos de
resistência consideravelmente elevados a um tempo de cura de 90 dias, chegando a um ganho de 240,45% da
RCS mínima desejada.
Pode-se concluir que o tratamento térmico somado ao tratamento físico da CCA in natura resultou em
um novo material com alto potencial de reação, tornando-o assim um recurso alternativo na construção civil.
A pesquisa continua com a avaliação de uma CCA beneficiada somente através de tratamento físico –
CCAF, buscando analisar os efeitos de uma CCAF sem tratamento térmico.

REFERÊNCIAS

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Revista FENEC - 3(1): 62-74, abril, 2019 74


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

DESGASTE À ABRASÃO DE CONCRETO


DRENANTE INCORPORADO COM AGREGADO RECICLADO

Juliemilly Tatiane Alves Vieira (juliemilly.engcivil@gmail.com)


Bruna Oliveira Campos (bruna.campos@ifgoiano.edu.br)
Weliton de Paula Silva (welitondepaulasilva@gmail.com)

Resumo: Concreto é um material bastante consumido, sendo responsável pela impermeabilização do solo, o que aumenta a
ocorrência de inundações. Para solucionar problemas do tipo, o concreto drenante é apresentado como uma alternativa, capaz
de permitir a infiltração da água por meio da sua estrutura porosa, contribuindo também para o abastecimento do lençol freático.
Visto que os materiais que o constitui, cimento, agregados graúdo e miúdo e água, são provenientes de fontes finitas, considerou-
se nesse trabalho a incorporação do agregado reciclado de concreto (ARC) como alternativa na produção de concreto drenante.
Esse trabalho visa analisar o desgaste à abrasão do concreto drenante preparado com diferentes porcentagens de substituição do
agregado natural pelo ARC (10, 20 e 30%). Através desse estudo é possível verificar se o ARC pode constituir uma nova fonte de
matéria-prima com potencial para contribuir na amenização de impactos negativos gerados pela extração de agregados naturais
em jazidas e no descarte inapropriado de resíduos de construção e demolição (RCD). Os resultados obtidos expressam que a
substituição que satisfaz o critério de abrasão é a de 30%.
Palavras-chave: Durabilidade. Drenagem. Reciclagem.

INTRODUÇÃO

O concreto é um material construtivo, encontrado nas mais variadas obras de engenharia, de casas de
alvenaria à plataformas de extração petrolíferas. Segundo Pedroso (2009) são consumidos mundialmente em
média 11 bilhões de toneladas de concreto por ano, sendo o Brasil responsável por 30 milhões de metros cúbi-
cos que saem das centrais dosadoras.
O concreto é capaz de ter a resistência de uma rocha e ainda apresentar trabalhabilidade. Entre as carac-
terísticas que o destaca entre os materiais construtivos, está a resistência a água. A deterioração do concreto
quando exposto a água é inferior à do aço e da madeira. A sua plasticidade também se destaca, sendo possível
obter as mais variadas formas construtivas (PEDROSO, 2009).
Concreto convencional é aquele constituído por cimento, agregado graúdo e miúdo e água, podendo ha-
ver também a adição de aditivos. Diante da evolução nas obras de engenharia, para se adaptar aos novos e de-
safiadores usos foi necessário gerar uma infinidade de tipos de concretos a citar, de alto desempenho, drenante,
protendido, auto-adensável, projetado, celular, dentre outros (AMBROZEWICZ, 2012).
O concreto drenante, denominado também como concreto permeável ou poroso, é aquele composto por
material britado de graduação uniforme, ligante hidráulico, água, podendo ter a presença de pequenas quan-
tidades de agregado miúdo, pode-se também empregar aditivos para que melhore algumas características do
mesmo, como desempenho, durabilidade, resistência e trabalhabilidade (BATEZINI, 2013). O concreto dre-
nante é caracterizado pela ausência de finos, possuindo como principais propriedades alta porosidade e baixa
densidade o que o permite ser aplicado em drenagens e enchimentos (AMBROZEWICZ, 2012).
O Aci Committee 522 (2010) afirma que o concreto drenante é considerado um material de construção
sustentável, devido a sua contribuição na recarga do lençol freático e redução do impacto da urbanização.

Revista FENEC - 3(1): 75-81, abril, 2019 75


Juliemilly T. A. V.; Bruna O. C.; Weliton de P. S. Desgaste à abrasão de concreto drenante incorporado com agregado reciclado

Diferente do concreto drenante, o concreto convencional foi feito para ser estanque, sendo um dos prin-
cipais impactos gerados pelo desenvolvimento acelerado o aumento de áreas com superfícies impermeáveis,
que consequentemente aumenta a probabilidade de cheias (BATEZINI, 2013).
Pavimento é considerado qualquer cobertura que tem a capacidade de suportar tráfego, sendo o pavi-
mento permeável aquele que tem porosidade suficiente para permitir a percolação, infiltração e armazenamen-
to da água. É composto por camadas de material granular seguido de uma camada de revestimento poroso,
podendo ser na forma de blocos de concreto vazado ou concreto poroso (COSTA; SIQUEIRA; MARTINS,
2007).
Os pavimentos drenantes estão sendo empregados para substituir os sistemas tradicionais, tais como ca-
nalizações utilizados atualmente para função de drenagem urbana, com o objetivo de diminuir áreas de super-
fícies impermeáveis (MONTEIRO, 2010).
Dentre os pontos positivos, pode-se destacar o fator econômico, já que o mesmo tem baixo custo quan-
do comparado com bacias de retenção e valas, que são medidas utilizadas para o controle de águas pluviais.
Tratando de benefícios ambientais o concreto drenante além de contribuir no abastecimento do lençol freático,
é capaz de influenciar na amenização do calor urbano e também no aprisionamento de óleo proveniente de ve-
ículos, quando utilizado em estacionamentos (MEHTA; MONTEIRO, 2012).
Os primeiros relatos de concretos drenantes datam da década de 40, foi a França que começou o desen-
volvimento não obtendo êxito de imediato, posteriormente Estados Unidos, Japão e Suécia começaram os es-
tudos acerca do material. Não é exagero afirmar que o Brasil em relação aos outros países, retardou seu uso.
Neste contexto, fica claro que os países viram a necessidade de se aplicar o material. Em todo esse processo
de aceitação ocorreu estudos acerca de técnicas e vantagens que contribuíram para a difusão do seu uso (FI-
NOCCHIARO; GIRARDI, 2017).
A aplicabilidade do concreto drenante é ampla, o mesmo pode ser empregado em calçadas, áreas exter-
nas, estacionamentos, dentre outros (FERGUSON, 2005).
Considerando-se a extração de matérias-primas para a produção de materiais para a construção civil é
pertinente os impactos negativos gerados ao ambiente, principalmente quando se trata de recursos naturais fi-
nitos. Segundo o Sindicato Nacional da Industria do Cimento (2010 apud ÂNGULO E FIGUEIREDO, 2011)
60 milhões de toneladas de cimento foram utilizados no Brasil em 2010, sendo 70% para a produção de con-
creto enquanto que os agregados naturais foram 210 toneladas extraídas. Diante disso, tem-se a necessidade de
optar por materiais alternativos para a fabricação do concreto, sendo o agregado reciclado de concreto (ARC)
uma possibilidade.
O reaproveitamento dos resíduos da construção e demolição (RCD) contribui com a preservação do
meio ambiente, pois diminui o acúmulo em aterros, Angulo e Figueiredo (2011, p. 2) citam que “[...] Ao subs-
tituir agregado de rochas britadas por agregado reciclado pode-se evitar que 95 milhões de toneladas de RCD
sejam dispostas em aterros e evita-se o consumo de recursos naturais não renováveis [...]”. De acordo com a
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, Abrelpe (2017) os municípios
brasileiros coletaram cerca de 45 milhões de toneladas de RCD em 2017, havendo uma diminuição de 0,1%
se comparado ao ano de 2016.
Entende-se por concreto produzido com agregado reciclado de concreto (ARC) aquele que tem a incor-
poração parcial ou total de resíduos britados, substituindo os agregados convencionais (ÂNGULO; FIGUEI-
REDO, 2011).
A resistência do concreto convencional é determinada pela porosidade da pasta de cimento, enquanto a
resistência de concretos que utilizam o ARC é controlada pela porosidade do agregado e da pasta de cimento.
Sendo assim a principal diferença entre o concreto com ARC e o concreto convencional é a porosidade (AN-
GULO; FIGUEIREDO, 2011).
A respeito da utilização do ARC, é uma alternativa benéfica desde que seja utilizado em proporções ade-
quadas, sendo necessário padronizá-lo, através da determinação dos seus índices de granulometria, massa es-
pecífica, taxa de absorção e resistência à abrasão. Também é importante eliminar outros materiais incorporados
nos resíduos de concreto tais como madeira, cerâmica, ferro entre outros (TOPÇU; SENGEL, 2004).
Levando em consideração a resistência à abrasão Topçu e Sengel (2004) afirmam que o concreto feito
com agregado natural apresenta valores de perda menores que o concreto incorporado com ARC. Afirmando o
conceito exposto, Mehta e Monteiro (2012) citam que ARC possui uma capacidade de perda por abrasão maior
que o agregado natural, sendo a perda máxima admitida de 25%.

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O ensaio Cantabro é o mais utilizado quando se trata de misturas drenantes, ele permite verificar a de-
terioração do concreto, enquanto os ensaios usuais levam em consideração a estabilidade das misturas, resis-
tência à tração ou compressão. Os resultados do ensaio podem ser afetados devido ao tamanho máximo do
agregado, quanto maior o diâmetro do mesmo, maior será sua influência na perca do número de partículas
(MEURER FILHO, 2011).
A proposta dessa pesquisa visa analisar a aplicação do ARC no concreto drenante, avaliando o quesito de
desgaste à abrasão pelo método Cantabro. Parte do agregado natural será substituído pelo ARC, em proporções
de 10, 20 e 30%, a fim de verificar se o ARC pode constituir uma nova fonte de matéria prima.
Os itens a seguir, apresentam a metodologia adotada para o desenvolvimento da pesquisa, abordando
a dosagem do concreto e execução do ensaio de desgaste à abrasão pelo método de Cantabro. Em sequência,
tem-se os resultados obtidos, e pôr fim a conclusão do estudo.

1. DESENVOLVIMENTO

As atividades a serem descritas foram realizadas no Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde, es-
pecificamente nos laboratórios de Materiais de Construção Civil e Estruturas, e teve a colaboração do Labora-
tório de Materiais de Construção Civil da Universidade de Rio Verde.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O agregado reciclado de concreto, ARC, foi obtido através do beneficiamento de resíduos de corpos de
prova de concreto com resistência de 20 a 30 MPa, fornecidos por uma construtora localizada na cidade de
Rio Verde - GO. O material foi submetido ao britador de mandíbula (Figura 1) e peneirado. Foi selecionado o
material passante na peneira com malha de 12,5 mm e retido na peneira com malha 2,36 mm. Adotou-se essa
faixa granulométrica pela proximidade da brita comercial número 0.

Figura 1.
Britador de mandíbula
fazendo o beneficiamento
dos corpos de prova

Fonte: Autoria própria

Utilizou se cimento CPV-ARI (alta resistência inicial) adequado para a produção de pré-moldados pois
permite uma reutilização rápida das formas já que caracteriza-se pela aceleração do tempo de pega e melhor re-
sistência mecânica. O agregado miúdo foi eliminado do concreto drenante a fim de otimizar o volume dos po-

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ros garantindo melhor permeabilidade. O aditivo superplastificante conhecido também como redutor de água
de alta eficiência foi utilizado a fim de reduzir a água de amassamento da mistura. Os corpos de prova cilíndri-
cos de dimensões: 10cm de diâmetro e 20cm de altura, foram confeccionados em 3 diferentes porcentagens de
substituição do agregado natural pelo ARC (10, 20 e 30%). A quantidade de materiais utilizados para a confec-
ção dos corpos de prova estão expostos na Tabela 1.

Tabela 1. Quantidade de materiais utilizados em cada traço do concreto drenante


Traço Cimento (Kg) Agregado (Kg) ARC (Kg) Aditivo (Kg) Água (Kg)
AR0 1,70 6,823 0 0,00682 0,511
AR10 1,70 6,141 0,682 0,00682 0,511
AR20 1,70 5,458 1,364 0,00682 0,511
AR30 1,70 4,776 2,047 0,00682 0,511
Fonte: Autoria própria.

A metodologia adotada para a confecção dos corpos de provas seguiu os conceitos expostos por Schae-
fer (2006), sendo realizada da seguinte forma: adicionou todo o agregado na betoneira juntamente com 5% do
peso total do cimento, misturou-se por 1 minuto, em seguida adicionou metade da água e misturou por mais 1
minuto, posteriormente adicionou-se o restante dos materiais e misturou-se por 3 minutos, em seguida a mistu-
ra ficou em repouso dentro da betoneira por 3 minutos, e depois misturou-se novamente por 2 minutos.
O processo de compactação foi dado da seguinte forma: 30 golpes por amostra, divididos em 3 camadas
de mesmo tamanho, por fim foi feito o arrasamento do corpo de prova.
Em seguida os corpos de provas foram transferidos para a câmera úmida, onde permaneceram por 24h,
depois foram desmoldados e curados ao ar sob uma lona até os 28 dias quando o ensaio de desgaste à abrasão
pelo método de Cantabro foi realizado.
O ensaio regido pela ABNT (2001) e DNER (1999) foi executado como segue: cada corpo de prova foi
pesado antes de ser submetido ao tambor de desgaste à abrasão Los Angeles. O ensaio foi executado sem as
esferas de aço. Individualmente cada corpo de prova esteve dentro do aparelho por 10min, efetuando 300 re-
voluções a uma velocidade angular de 30rpm. Ao final do ensaio, os corpos de prova que não se fragmentaram
por completo como o da Figura 2 foram limpos com um pincel e pesados, os valores obtidos no decorrer da
prática podem ser observados na Tabela 2.

Figura 2.
Corpo de prova
antes e após ensaio
de abrasão

Fonte: Autoria própria.

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O desgaste do concreto por abrasão, em porcentagem e com aproximação de 1% é dado pela Equação 1:

Equação 1

Onde:
A = porcentagem referente à perda de massa por abrasão Cantabro, com precisão de ±1 %, de corpo de
prova sem condicionamento;
M1 = massa do corpo de prova antes do ensaio, expressa em gramas;
M2 = massa do corpo de prova após o ensaio, expressa em gramas;

Dispondo de todos os dados necessários para determinar o desgaste por abrasão, os valores obtidos no
início e termino do ensaio podem ser observados na Tabela 2. Para uma melhor assimilação dos resultados,
os ensaios foram realizados em duplicata, sendo o resultado final a média aritmética dos valores encontrados.

Tabela 2. Massa inicial e final dos corpos de prova obtidos no ensaio de abrasão 6
Massa Inicial (g) Massa Final (g) Desgaste (%)
Traço
Amostra 1 Amostra 2 Amostra 1 Amostra 2 Amostra 1 Amostra 2 Média (%)
AR0 1493,78 - 011 - 100 - 100
AR10 1376,40 1642,35 895,06 831,74 34,9 49,3 42,1
AR20 1494,33 1592,62 011 1350,19 100 15,2 57,6
AR30 1435,12 1496,84 1177,22 1030,41 17,9 31,2 24,5
Fonte: Autoria própria.

Foi possível observar o comportamento do concreto drenante incorporado com ARC, quando avaliado a
resistência à abrasão pelo método de Cantabro. Percebe se que quando feito a substituição do agregado natural
pelo ARC, as amostras apresentaram um comportamento linear em relação ao desgaste.
Apenas a porcentagem de substituição de 30% referente ao traço AR30 satisfez o critério imposto por
Mehta e Monteiro (2012) de perda máxima admitida de até 25%. As demais substituições apresentaram des-
gaste que ultrapassam o valor de referência.
Os agregados reciclados de concreto possuem uma textura rugosa e maior angulosidade, fazendo com
que a aderência entre a pasta e o agregado seja melhor (Trindade, (2017). A zona mais fraca do concreto é a
zona de transição, onde acontece as rupturas. Sendo assim com a porcentagem superior de agregado reciclado
incorporado é possível que a aderência dos materias na zona de transição seja melhorada, fazendo com que o
desgaste apresente valores inferiores.
Em contra partida Mehta e Monteiro (2014) afirmam que o ARC apresenta valores de perda superior ao
agregado natural e para o teor de substituição de 20% ou menos o concreto vai apresentar as mesma proprie-
dades que o concreto com agregado convencional.
Fica evidente a necessidade de submeter os corpos de provas sem nenhuma adição de ARC a novos en-
saios, para que seus resultados sejam expressos pela média aritmética dos resultados individuais, assim como
os demais.

Desagregação total da amostra.


1

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que na fabricação do concreto drenante pode haver a substituição do agregado na-
tural pelo ARC. Quando incorporado no concreto o ARC interfere positivamente na resistência ao desgaste.
O maior valor de substituição (30%) gerou menor desgaste, estando de acordo com os valores de referência.
O uso de ARC na fabricação de concreto drenante tem potencial como alternativa sustentável de matéria-
prima.

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Revista FENEC - 3(1): 75-81, abril, 2019 80


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Revista FENEC - 3(1): 75-81, abril, 2019 81


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

ESTUDO DA VIABILIDADE DE UM SOLO PARA


FABRICAÇÃO DE TIJOLOS DE SOLO-CIMENTO

Leonária Araújo Silva (leonaria100@gmail.com)


Fabrício de Souza Silva (fabriciosilva102009@hotmail.com)

Resumo: A preocupação com o fim dos recursos naturais fez surgir à procura por novas técnicas de construção que reduzissem
os impactos ambientais. Uma dessas técnicas é a construção com o tijolo de solo-cimento que apresenta diversas vantagens.
A utilização desse tijolo necessita da avaliação das características dos seus materiais constituintes. O solo, sendo o que está
presente em maior quantidade, deve apresentar algumas propriedades específicas. Dessa forma, este trabalho busca analisar um
solo do município de Barbalha - CE, através de alguns ensaios para verificar a viabilidade do uso desse solo para a fabricação de
tijolos de solocimento. A partir dos resultados obtidos, verificou-se que o solo apresenta características favoráveis e que por isso
pode ser utilizado na fabricação desses tijolos.
Palavras-chave: Solo-cimento. Tijolo. Solo.

INTRODUÇÃO

A preocupação com o fim dos recursos naturais fez surgir à procura por novas técnicas de construção
que reduzissem os impactos ambientais. Uma dessas técnicas é a construção com o tijolo de solo-cimento que
apresenta diversas vantagens.
Métodos construtivos de solo-cimento podem minimizar danos ambientais, baratear a fabricação e dar
mais agilidade às obras. O tijolo é gerado a partir de uma mistura homogênea de solo, cimento e água em pro-
porções já estabelecidas. Com uma boa execução, o material apresenta boa durabilidade e resistência à com-
pressão (FIQUEROLA, 2004).
Para a fabricação desses tijolos faz-se necessário um estudo sobre os seus componentes para avaliar se
suas características os tornam viáveis. Como o maior constituinte é o solo, o seu estudo é imprescindível para
atender os requisitos mínimos aceitáveis. O nordeste brasileiro contém uma grande variedade de solos devido
à diversidade de climas, às formações vegetais, aos tipos de rochas e às conformações do relevo. As feições
morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas desses solos são relevantes e como os ambientes no Nordeste,
particularmente na região semiárida, possuem solos arenosos e profundos a pouca distância de solos argilosos
e rasos, verifica-se a importância de se conhecer melhor as características gerais do solo em termos de área de
ocorrência (EMBRAPA, 2014).
Para Souza et al. (2015), o solo se torna um componente indispensável para obras de engenharia civil e
é necessário que se conheça seu comportamento nas mais diversas situações. Assim, a análise dos solos é im-
portante a curto e longo prazo para a construção civil, pois a partir dos dados desses estudos os projetos são
elaborados com maior precisão, reduzindo custos desnecessários e evitando futuros danos estruturais (SAN-
TOS, 2015).
Este trabalho tem como objetivo analisar um solo do município de Barbalha - CE, através dos seguintes
ensaios: análise granulométrica, limite de liquidez e limite de 2 plasticidade. Com isso, visa verificar a viabili-
dade do uso desse solo para a fabricação de tijolos de solo-cimento, seguindo a NBR 10833: 2013.

Revista FENEC - 3(1): 82-89, abril, 2019 82


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1. DESENVOLVIMENTO

A amostra analisada foi coletada no Município de Barbalha - CE, localizada a 505 km da capital - For-
taleza. Com base na análise tátil-visual, verificou-se formação de torrões e predominância de grãos finos. O
preparo das amostras para os ensaios de análise granulométrica, de limites de liquidez e de plasticidade, deu-se
seguindo a NBR 6457:2016. Para a realização dos ensaios, inicialmente, a amostra foi colocada em uma ban-
deja e seca ao ar (Figura 1), destorroada no almofariz com auxílio de mão de gral e transferida para o reparti-
dor, obtendo-se uma amostra representativa e suficiente.

Figura 1. Secagem da amostra

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

1.1 Análise granulométrica

Depois de preparado, o material foi passado na peneira de 76mm, sendo separado 1kg para o ensaio.
Seguindo as orientações da NBR 7181:2016, foram realizadas as análises granulométricas por peneiramento
e por sedimentação. Nesses casos, foi utilizado o agitador elétrico de peneiras para obter as porcentagens pas-
santes e retidas de material (Figura 2). Para a confecção dos tijolos basta avaliar as proporções de grãos finos e
grossos, porém, neste trabalho, elaborou-se a curva granulométrica para melhor avaliação dessas proporções.

Figura 2. Agitador elétrico de peneiras

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

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1.1.1 Análise granulométrica por peneiramento

Para peneiramento grosso, passou-se na peneira de 2 mm, aproximadamente, 1,5 kg de solo, sendo lava-
da a parte retida a fim de eliminar o material fino aderente. Em seguida, o material foi colocado em estufa, até
constância de massa. Com o agitador mecânico peneirouse esse material nas peneiras 50 mm; 38 mm; 25 mm;
19 mm; 9,5 mm; 4,8 mm e 2 mm, sendo anotada a massa retida em cada peneira. Depois disso, foi possível
calcular a porcentagem de material passado em cada peneira, sendo uma relação entre massa total da amostra
seca (Equação 1) e a massa do material retido acumulado em cada peneira.

Equação 1

Em que Ms é a massa total da amostra seca; Mt é a massa da amostra seca ao ar; Mg é a massa do mate-
rial seco retido na peneira de 2,0 mm e h é a umidade higroscópica do material passado na peneira de 2,0 mm.
Para o material passante na peneira de 2,0 mm, tomaram-se 70 g de solo (Mh) e cerca de 100 g para
determinação da umidade higroscópica (h), sendo os 70g, posteriormente, lavados na peneira de 0,075 mm
vertendo-se água a baixa pressão. Com auxílio de uma pisseta o material retido foi transferido para uma
cápsula. Em seguida, secou-se em estufa, até constância de massa. Com auxílio do agitador mecânico, pe-
neirou-se a fração fina nas peneiras de 1,2; 0,6; 0,42; 0,25; 0,15 e 0,075 mm e foi anotada a massa retida em
cada peneira.
A porcentagem do material (Qf) que passa nas peneiras de 1,2; 0,6; 0,42; 0,25; 0,15 e 0,075 mm foi cal-
culada através da equação 2.

Equação 2

Em que Mw é a massa do material úmido; Mr é a massa do material retido acumulado em cada peneira;
W é a umidade higroscópica do material passado na peneira de 2,0 mm e N é a porcentagem de material que
passa na peneira de 2,0 mm.

1.1.2 Análise granulométrica por sedimentação

Foram transferidos 70 g do material passado na peneira de 2,0 mm para um béquer com 125 cm3 de
solução de hexametafosfato de sódio. Agitou-se a mistura até o solo ficar imerso, sendo deixada em repouso
mais de 12 h. Em seguida, essa mistura foi submetida à dispersão por 15 min em copo dispersor, removen-
do-se o material aderido ao béquer. No passo seguinte, o material foi transferido para a proveta de 1000cm3
e acrescido de água destilada até a marca de referência e agitado com movimentos de rotação durante 1min.
Imediatamente após agitação, foi posicionada a proveta na bancada e acionado o cronômetro. Mergulhando-
-se cuidadosamente o densímetro na dispersão, foram efetuadas as leituras referentes aos tempos de 30 s, 1
min, 2 min, 4 min, 8 min, 15 min, 30 min, 1 h, 2 h, 4 h, 8 h e 24 h, verificando-se sempre a temperatura até
a última leitura.
A porcentagem de material em suspensão (Qs) foi calculada através da equação 3.

Equação 2

Em que ρs é a massa específica dos grãos (g/cm3); ρmd é a massa específica do meio dispersor (1 g/cm3);
ρwc é a massa específica da água (1 g/cm3); V é o volume da suspensão (1000cm3); L é a leitura do densíme-
tro na suspensão; Ld é a leitura do densímetro no meio dispersor; N é a porcentagem de material que passa na
peneira de 2,0 mm; Mw é a massa do material úmido e W é a umidade higroscópica do material passado na
peneira de 2,0 mm.

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1.2 Limite de liquidez

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o limite de liquidez corresponde


ao teor de umidade que marca a transição entre seu estado líquido e seu estado plástico. A determinação desse
teor deu-se com o auxílio de um aparelho normatizado (concha de Casagrande), conforme Figura 3.

Figura 3. Aparelho de Casagrande

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

À luz da NBR 6459:2016, tomaram-se 70 g para amostra e realização deste ensaio. A amostra foi colo-
cada em uma cápsula metálica e umedecida com, aproximadamente, 15 ml de água destilada, homogeneizan-
do-se a mistura com auxílio de uma espátula. Em seguida, parte da amostra foi transferida para a concha do
aparelho Casagrande, sendo moldada com o auxílio da espátula de tal forma que na parte central a espessura
fosse da ordem de 1 cm. Retornou-se o excesso de solo para a cápsula de porcelana. Utilizando o cinzel, abriu-
-se uma ranhura no centro da amostra moldada na concha. Em seguida, iniciou-se a sucessão de golpes da con-
cha contra o aparelho. Anotou-se o número de golpes necessários para que as bordas inferiores da ranhura se
unissem ao longo de 13 mm, sendo, imediatamente, uma quantidade do material junto às bordas que se uniram
transferida para uma cápsula a fim de se verificar a umidade. O restante do material foi transferido para a cáp-
sula de porcelana novamente, e foram limpos a concha e o cinzel. Adicionou-se mais água destilada à amostra
que foi homogeneizada novamente. O procedimento foi repetido mais quatro vezes.
Os resultados obtidos foram representados graficamente na curva de fluidez e uma reta foi ajustada atra-
vés dos pontos obtidos, identificando a umidade (LL) referente a 25 golpes.

1.3 Limite de plasticidade

O Limite de Plasticidade é o teor de umidade em que o solo, estando no estado plástico, se perder umida-
de, passa para o estado semissólido (EMBRAPA, 1997). Convencionou-se que a condição para que uma amos-
tra de solo esteja no estado plástico é a possibilidade de com ela ser possível moldar um cilindro de 10 cm de
comprimento por 3 mm de diâmetro, por rolagem sobre uma placa de vidro. A diferença entre os limites de li-
quidez e de plasticidade é O Índice de Plasticidade (IP), e quanto maior for este índice mais plástico será o solo.
De acordo com a norma NBR-7180: 2016, a amostra foi colocada na cápsula de porcelana e acrescen-
tados, aproximadamente, 15 ml de água destilada, homogeneizando-se a mistura com auxílio da espátula. To-
maram-se 10g da mistura e formou-se uma bola. Em seguida, esse material foi rolado sobre a placa de vidro
(Figura 4). Quando o diâmetro atingiu 3 mm, parte do material foi transferido, imediatamente, para uma cáp-
sula de alumínio para verificação da umidade. Repetiu-se o procedimento até obter cinco valores de umidade.
O limite de plasticidade deu-se a partir da média dos valores que não diferiram de mais de 5% dessa média.

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Leonária A. S.; Fabrício de S. S. Estudo da viabilidade de um solo para fabricação de tijolos de solo-cimento

Figura 4. Placa de vidro.

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

2. RESULTADOS

2.1 Curva granulométrica

A partir dos dados dos ensaios de peneiramento e sedimentação com defloculante, elaborou-se a curva
granulométrica do solo (Figura 5).

Figura 5.
Curva
Granulométrica

Fonte: Os autores -
Foto de 2018.

Seguindo a classificação imposta pela ABNT 6502: 1995 e a partir da Figura 5 foi definida a porcenta-
gem de cada material presente no solo (Tabela 1).

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Leonária A. S.; Fabrício de S. S. Estudo da viabilidade de um solo para fabricação de tijolos de solo-cimento

Tabela 1. Classificação do solo


Tipo % do solo
Pedregulho 0
Areia grossa 0
Areia média 2
Areia fina 51
Silte 19
Argila 28
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

2.2 Limite de liquidez

Os dados resultantes do ensaio estão apresentados na Tabela 2. Foi formada uma regressão linear a par-
tir dos pontos obtidos e tomado como limite de liquidez (LL) o valor de umidade 36%, que é o correspondente
ao número de 25 golpes (Figura 6).

Tabela 2. Umidade das amostras para LL


Nº de golpes Cápsula W (%)
31 1 32.90
26 2 36.01
22 3 39.25
14 4 40.68
12 5 41.45
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

Figura 6.
Gráfico do Limite de
Liquidez

Fonte: Os autores - Foto


de 2018.

2.3 Limite de Plasticidade

O limite de plasticidade (LP) foi obtido a partir da média das umidades apresentadas na Tabela 3, en-
contrando-se um valor igual a 21%.

Revista FENEC - 3(1): 82-89, abril, 2019 87


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Tabela 3. Umidade das amostras para LP


Nº da Cápsula W( %)
1 20.10
2 19.98
3 21.40
4 21.31
5 22.01
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

O índice de plasticidade obtido é igual a 15%.

2.4 Comparação das propriedades obtidas com os requisitos normativos

A Tabela 4 mostra um comparativo entre as propriedades obtidas ao longo do trabalho e os requisitos da


ABNT NBR 10833:1989.

Tabela 4. Exigências Normativas - comparação


Propriedade NBR 10833:1989 Solo Estudado
% passando na peneira de 4,8 mm 100% 100%
% passando na peneira de 0,075 mm 10% a 50% 47%
Limite de liquidez ≤ 45% 36%
Índice de plasticidade ≤ 18% 15%
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fazer uma análise dos resultados, pôde-se verificar que todos os valores foram satisfatórios. Dessa
forma, o solo em questão apresenta características favoráveis e pode ser utilizado para a fabricação de tijolos
de solo-cimento.

REFERÊNCIAS

ABNT NBR 6457:2016 Amostras de solo - Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracteriza-
ção.

______. NBR 7181:2016 Solo - Análise granulométrica.

______. NBR 6459: 2016 Limite de Liquidez.

______. NBR-7180: 2016 Limite de plasticidade.

______. NBR 6502: 1995 Rochas e solos

______. NBR 10833: 2013 Fabricação de tijolo maciço e bloco vazado de solo-cimento com utilização de
prensa hidráulica.

Revista FENEC - 3(1): 82-89, abril, 2019 88


Leonária A. S.; Fabrício de S. S. Estudo da viabilidade de um solo para fabricação de tijolos de solo-cimento

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Recife. Solos do Nordeste, 2014.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Rio de Janeiro. Manual de métodos de análise de
solos, 1997.

FIQUEROLA, V. Alvenaria solo-cimento, Revista Téchne, número 85, 2004.

SANTOS, J. N.; GURGEL, M. T.; SOARES, S. R. F.; COSTA, I. R.; BESSA, C. V. D. Análise do teor de umi-
dade dos solos para construção civil na cidade de Mossoró-RN, 2015.

SANTOS, J. A. Compactação elementos teóricos, 2008.

SOUZA, J. S. Mecânica dos solos. 2015. 9 f.

Revista FENEC - 3(1): 82-89, abril, 2019 89


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

INOVAÇÕES NO TRATAMENTO DE ESGOTO EM GRAVATÁ - PE:


POSSIBILIDADES PARA UMA NOVA GESTÃO HÍDRICA

Felipe Mateus Maciel da Silva (felipe10_mateus@hotmail.com)


Débora Patrícia da Silva (debora_patriciadias@hotmail.com)
Laryssa Medeiros Santos (laryssameeiros25@hotmail.com)
Beatriz Fernandes Barbosa Lima (bia_lima_10@hotmail.com)

Resumo: As atividades humanas demandam, em sua totalidade, uma quantidade considerável de recursos hídricos. Um grande
paradigma atual é o crescimento da demanda e a baixa oferta, principalmente pela deterioração dos recursos hídricos mediante
aos impactos antrópicos. O saneamento básico apresenta grandes potencialidades na gestão dos recursos, visto que além de
acelerar o processo de recuperação das condicionantes ambientais do corpo hídrico por meio do tratamento, seu reuso possibilita
um impacto cada vez menor. O município de Gravatá lida com problemáticas em seu abastecimento, em decorrência do baixo
aporte hídrico pela precipitação e os danos aos mananciais pelas atividades desenvolvidas. De modo a assegurar a qualidade
ambiental a Compesa instalou no município uma estação de tratamento de esgoto, fazendo parte do projeto de saneamento
da bacia do Rio Ipojuca. O sistema trata o esgoto com uso de novas tecnologias, assegurando que o material exportado esteja
de acordo com a resolução do CONAMA. Atualmente o corpo hídrico é classificado como 2, mas de acordo com seu ultimo
monitoramento valores como OD, DBO, fósforo, coliformes termotolerantes e sólidos totais dissolvidos ultrapassaram os valores
estabelecidos para a classe, mas ao longo do curso do rio há a presença de reservatórios para captação de água para tratamento.
O rejeito após o tratamento encontra-se com qualidade superior ao corpo hídrico receptor, e há uma baixa oferta hídrica, em
decorrência do clima árido da região, deste modo inserir o que sai da ETE e direcioná-lo para da ETA, torna-se um ciclo viável para
auxiliar a suprir as demandas da população por água tratada. Tal medida, já adotada em outras regiões do Brasil, permitiria uma
maior disponibilidade e com um material com qualidade assegurada.
Palavras-chave: Saneamento básico. Tratamento de efluentes. Inovações. Gestão hídrica.

INTRODUÇÃO

Diversas atividades cotidianas essenciais à manutenção do ser humano – dessedentação, preparo de ali-
mentos e higienização –, apresentam uma demanda considerável de água potável. Associada a tais atividades
há os sistemas de produção de bens e serviços, que também possuem uma necessidade vultosa de recursos hí-
dricos, para que possam suprir as necessidades da sociedade. De acordo com Leoneti et al. (2009) o grande
dilema que encontramos é que enquanto a população aumenta, e consequentemente a demanda de recursos hí-
dricos em todas as instâncias, a oferta de água está cada vez menor em decorrência do mal gerenciamento des-
te recurso – poluição, deterioração de cursos hidricos, etc.
Uma das principais possibilidades para o gerenciamento dos recursos hídricos é o saneamento básico.
Mencionando em dois artigos da constituição de 1988, no artigo 21 sobre as diretrizes urbanas e no artigo 200
sobre as atribuições do Sistema Único de Saúde - SUS. Em ambos os artigos está evidente a sumária impor-
tância do saneamento, tanto para manutenção e preservação das condicionantes ambientais assim como uma
ferramenta preventiva para garantir a qualidade e melhoria da saúde pública (NERY, 2004).
O tratamento adequado do esgoto permite que a capacidade de autodepuração dos corpos hídricos possa
ocorrer de forma mais rápida, em decorrência das etapas empregadas no processo de tratamento (LEONETI et
al., 2009). De acordo com Plano de Saneamento Básico (PROSAB, 2006), o reuso do esgoto tratado pode ser
de diversas formas como: a irrigação em campos, praças, parques e afins; usos paisagísticos; descarga dos to-

Revista FENEC - 3(1): 90-96, abril, 2019 90


Felipe M. M. da S.; Débora P. da S.; Laryssa M. S.; Beatriz F. B. L. Inovações no tratamento de esgoto em Gravatá - PE: possibilidades para uma
nova gestão hídrica

aletes; combate a incêndios; lavagem de veículos automotivos; manutenção e limpeza das vias públicas; e uso
na construção civil. Os usos citados anteriormente além de diminuir a demanda de água tratada, para umas sé-
ries de atividades, permite com que os corpos hídricos, que venham a receber esse material após o tratamento,
mantenham suas condições ambientais preservadas, já que todo tratamento obedece a uma série de padrões es-
tabelecidos (TONETO JUNIOR, 2004).

1. PANORAMA GERAL SOBRE O SANEAMENTO EM GRAVATÁ - PE

O município de Gravatá está localizado no agreste do estado de Pernambuco (Figura 1) a 84km da ca-
pital. Possui uma população maior que 83 mil habitantes, de acordo com a estimativa do IBGE1 com base no
senso realizado em 2010. De acordo com o senso de 2010, a cidade apresenta 65% dos domicílios com esgo-
tamento sanitário adequado.

Figura 1. Localização do município de Gravatá

Em 2016 a Companhia Pernambucana de Saneamento - Compesa, iniciou o Sistema de Esgotamento


Sanitário (SES) por meio do Programa de Saneamento Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Ipojuca (PSA
Ipojuca)2. A obra visou ativar os 36 km de redes coletoras existentes desde os anos 2000, mas que estavam em
desuso, além de implantar mais 80 km de redes coletoras e condominiais para atender a demanda da popula-
ção. Atualmente o sistema de tratamento encontra-se na fase de testes.

Fonte: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pe/gravata/panorama
1

https://servicos.compesa.com.br/gravata-recebera-obras-de-esgotamento-sanitario/
2

Revista FENEC - 3(1): 90-96, abril, 2019 91


Felipe M. M. da S.; Débora P. da S.; Laryssa M. S.; Beatriz F. B. L. Inovações no tratamento de esgoto em Gravatá - PE: possibilidades para uma
nova gestão hídrica

A rede coletora conta com uma série de sistemas convencionais como reator UASB3, todo ativado e lei-
to de secagem, acrescida com a inovação da radiação ultravioleta para desinfecção final do material que passa
pelo processo de tratamento.
Uma inovação está na montagem do sistema, que visando ter uma demanda de espaço menor e uma efi-
ciência melhor, estabeleceu o esquema do reator UASB no lugar do processo de decantação primária, asse-
gurando uma menor produção de lodo e a remoção de 70% do material orgânico existente, o restante sendo
removido nas etapas sequenciais (FLAMAC, 2017). O esquema está ilustrado abaixo, na Figura 2.

Figura 2.
Esquema de
funcionamento de
reator UASB como
decantador primário

Fonte: Von Sperling


(2002).

Uma exigência é de que ao ser lançado no corpo hídrico, o material possua qualidade igual ou superior,
de acordo com o artigo 34 da Resolução do CONAMA Nº 357/05. O monitoramento do rio Ipojuca é realizado
pela Agência Estadual de Meio Ambiente, a CPRH, desde 1986, atualmente consta com 14 estações no curso
d’água e com 5 em reservatórios. De acordo com tal resolução, o rio está classificado como classe 2, que de
acordo com a Tabela 1 de atributos disponibilizadas pela CPRH os parâmetros a serem supridos são:

Tabela 1. Descrição dos parâmetros de um rio classe 2 de acordo com a CPRH com base na Resolução do CO-
NAMA Nº 357/05
Parâmetros Classe 2
Salinidade ≤0,50 0/00
Efeito tóxico Não verificado efeito crônico
Clorofila a (μg/L) ≤30
Densidade de Cianobactérias (cel/mL) ≤50.000
pH 6a9
OD (mg O2/L) ≥5
DBO (mg O2/L) ≤5
Nitrogênio amoniacal total (mgNH3/L) 4,5(pH≤7,5) 2,4(7,5<pH≥8,0) 1,2(8,0<pH≥8,5) 0,6(pH>8,5)
lêntico≤0,03 intermediário e tributário de lêntico≤0,05 lótico e
Fósforo total (mg P/L)
tributário de intermediário≤0,1
Coliformes Termotolerantes (NMP/100mL) ≤1000 em 80% de 6 amostra/ano
Cor ≤75

O Reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) consiste numa tecnologia para fins de tratamento biológico de efluente que
3

tem como base a decomposição anaeróbia do material orgânico presente. Formado por uma coluna com escoamento ascendente, que
possui uma zona para digestão e outra para sedimentação, em conjunto com o dispositivo separador das fases gás-sólido-líquido.
Fonte: http://www.saneamento.poli.ufrj.br/index.php/br/infraestrutura/reator-usab.

Revista FENEC - 3(1): 90-96, abril, 2019 92


Felipe M. M. da S.; Débora P. da S.; Laryssa M. S.; Beatriz F. B. L. Inovações no tratamento de esgoto em Gravatá - PE: possibilidades para uma
nova gestão hídrica

Parâmetros Classe 2
Turbidez (UNT) ≤100
Nitrato (mg N/L) ≤10
Nitrito (mg N/L) ≤1,0
Cádmio total (mg/L) ≤0,001
Chumbo total (mg/L) ≤0,01
Cromo total (mg/L) ≤0,05
Manganês total (mg/L) ≤0,1
Zinco total (mg/L) ≤0,18
Níquel total ≤0,025 mg/L
Mercúrio total ≤0,0002 mg/L
Fonte: Adaptado CPRH. 4

Com base no relatório da CPRH (2017) durante o período seco – coletas em fevereiro e novembro do
mesmo ano – os parâmetros de oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de oxigênio (DBO), fosforo
total e sólidos totais, extrapolaram os valores estabelecidos para a classe. Enquanto a amostra coletada no pe-
ríodo chuvoso – em agosto – apresentou os valores de amônia e coliformes termotolerantes acima do padrão
estabelecido.
Ao cumprir os requisitos da tabela acima o material tratado está classificado como corpo hídrico doce de
classe 2. Na Figura 3 vemos a diferença visual do material antes e após o tratamento realizado na ETE.

Figura 3.
Diferença entre o
material de entrada e o
a saída após tratamento

2. PROPOSTA DE GERENCIAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS EM GRAVATÁ

De acordo com Tucci et al. (2001) a região nordeste é classificada com uma região com altas taxas de
evaporação durante todo o ano e com pouco limitado de precipitação, o que tende a ser mais intenso a medida
que se direciona as regiões mais interiores. Esse baixo aporte se contrapõe a crescente demanda já mencionada
no início do presente trabalho, o que acarreta problemas para abastecimento da população.

http://www.cprh.pe.gov.br/Controle_Ambiental/monitoramento/qualidade_da_agua/bacias_hidrograficas/41786%3B62365%3B48
4

030102%3B0%3B0.asp

Revista FENEC - 3(1): 90-96, abril, 2019 93


Felipe M. M. da S.; Débora P. da S.; Laryssa M. S.; Beatriz F. B. L. Inovações no tratamento de esgoto em Gravatá - PE: possibilidades para uma
nova gestão hídrica

Diversas pesquisas já evidenciaram o uso do esgoto tratado para diversos fins, principalmente para a
produção de alimentos, tanto na agricultura, quanto na piscicultura (SANTOS et al., 2006; SANTOS et al.,
2011; FERREIRA et al., 2018; FREITAS et al., 2018). No mundo o uso da água de reuso ocorre desde o sécu-
lo XIX, saindo do reuso de águas agrícolas e passando para outros setores em países do Oriente, Ásia e Amé-
rica Central (CUNHA, 2008). De acordo com o que levantamento realizado por Rezende et al. (2018) vários
países já possuem diversas diretrizes que abordam o uso da água oriunda do tratamento de esgotos para fins
não potáveis, de modo a mitigar o impacto das demandas de diversas atividades, dentre elas podemos citar:
limpezas de carros, limpeza de vias públicas, uso em chafarizes, limpeza e descargas, manutenção de lagos,
irrigação com ou sem finalidade de consumo, dentre outros. A finalidade varia de acordo com a classe da água
de reuso em questão.
A proposta que o presente trabalho visa é utilizar a água de reuso que sai da ETE para servir de corpo hí-
drico para a unidade de tratamento de água - ETA. Essa ação disponibilizaria um aporte de aproximadamente
540m3/h para ser tratado como água e ser disponibilizado a população como água potável.
Tal proposta decorre por dois vieses: o primeiro pela atual ausência de infraestrutura por parte da cidade
para reuso dessa água para finalidades não potáveis, já que não há nenhum sistema para destinar a água após a
saída; e o segundo é pelo fato da mesma empresa ser responsável por ambos sistemas – tratamento de água e
esgoto –, realizado pela COMPESA.
Em locais com escassez hídrica abaixo a do nordeste do Brasil5, tal sistema é realizado há décadas, já
que ao tratar os efluentes o material que sai possui um controle maior que muitos mananciais utilizados para
captação (HESPANHOL, 2015).
De acordo com Hespanhol (2015), tal sistema proposto consiste no Reúso potável direto - RPD. De
acordo com o autor citado, esse sistema consiste justamente interligar a o sistema de tratamento a uma fonte de
recarga para misturar aos afluentes de uma estação de tratamento. O esquema encontra-se na Figura 4.

Figura 4. Reuso potável direto

Fonte: adaptado de Tchobanoglous et al. (2011) apud Hespanhol (2015).

http://www.luizprado.com.br/2017/05/31/associacao-internacional-da-agua-webinar-sobre-reuso-potavel- direto-e-dessalinizacao/
5

Revista FENEC - 3(1): 90-96, abril, 2019 94


Felipe M. M. da S.; Débora P. da S.; Laryssa M. S.; Beatriz F. B. L. Inovações no tratamento de esgoto em Gravatá - PE: possibilidades para uma
nova gestão hídrica

As estruturas que seriam necessárias seria um reservatório para armazenamento e avaliação da qualida-
de da água. Hespanhol (2008) menciona que caso seja assegurado o controle do sistema de tratamento, as me-
didas do reservatório podem ser reduzidas, de modo a demandar menos recursos estruturais, ou simplesmente
podem ser conectadas ao sistema de tratamento de água diretamente, mediante ao avanço tecnológico do tra-
tamento de esgoto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta apresentou embasamento para uma nova gestão dos recursos hídricos do município de Gra-
vatá, visando suprir as demandas da população tendo como base o atual modelo de tratamento de esgoto.
A presente proposta possui viabilidade em decorrência do sistema aplicado, que atualmente apresenta
como um dos mais promissores do Brasil em relação a sistemática desenvolvida. A outra ressalva dá-se na de-
manda, já que a cidade apresenta um crescimento populacional por sua infraestrutura, mas localiza-se numa
bacia com baixo aporte hídrico e demanda populacional significativa.

REFERÊNCIAS

CPRH - Agência Estadual de Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.cprh.pe.gov.br/ARQUIVOS_


ANEXO/bacias2017/N_Relat17-IP.pdf>. Acessado em: 09/03/2019.

CUNHA, V. D. Estudo para proposta de critérios de qualidade da água para reúso urbano. 2008. 106 f.

Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo. HESPANHOL, I. Reu-
so potável direto e o desafio dos poluentes emergentes. Revista USP, n. 106, p. 79-94, 2015.

FERREIRA, A. H. C., LOPES, J. B., ARARIPE, M. D. N. B. A., MONTEIRO, C. A. B., & ANDRADE, F. T.
Probiotic addition effect assessment in the diet of fingerling and juvenile Nile tilapia (Oreochromis niloticus)
created in treated sewage. Engenharia Sanitaria e Ambiental, v. 23, n. 4, p. 665-674, 2018.

FLAMAC. Manual Estação de Tratamento de Esgoto - Gravatá. (2017).

FREITAS, C. A. S., DO NASCIMENTO, J. A. M., BEZERRA, F. M. L., & DE LIMA, R. M. M. Uso do es-
goto doméstico tratado como fonte hídrica e nutricional para a cultura do feijoeiro. Revista Caatinga, v. 31, n.
2, p. 487-494, 2018.

LEONETI, A. B.; DO PRADO, E. L.; DE OLIVEIRA, S. V. W. B. Saneamento básico no Brasil: considera-


ções sobre investimentos e sustentabilidade para o século XXI. Revista de Administração Pública, v. 45, n. 2,
p. 331-348, 2011.

NERY, T. C. dos S. Saneamento: ação de inclusão social. Estudos avançados, v. 18, n. 50, p. 313-321, 2004.

PROSAB (PROGRAMA DE PESQUISAS EM SANEAMENTO BÁSICO). Reuso das águas de esgoto sani-
tário, inclusive desenvolvimento de tecnologia de tratamento para esse fim. Rio de Janeiro: Abes, 2006.

REZENDE, A. T.; PEREIRA, R. O.; SANTOS, A. S. P.; SILVA, J. B. G. Reuso de água para fins urbanos não
potáveis: regulação nacional e internacional, e critérios de qualidade da água. ABES - Associação Brasileira de
Engenharia Sanitária e Ambiental AESABESP - Associação dos Engenheiros da Sabesp. 2018.

SANTOS, K. D., HENRIQUE, I. N., SOUSA, J. D., & LEITE, V. D. Utilização de esgoto tratado na fertirriga-
ção agrícola. Revista de biologia e ciências da terra, v. 1, n. 1, 2006.

Revista FENEC - 3(1): 90-96, abril, 2019 95


Felipe M. M. da S.; Débora P. da S.; Laryssa M. S.; Beatriz F. B. L. Inovações no tratamento de esgoto em Gravatá - PE: possibilidades para uma
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SANTOS, E. S. DOS, MOTA, S., SANTOS, A. B. DOS, MONTEIRO, C. A. B., & FONTENELE, R. M. M.
Avaliação da sustentabilidade ambiental do uso de esgoto doméstico tratado na piscicultura. Eng Sanit Am-
bient, v. 16, n. 1, p. 45-54, 2011.

TONETO JUNIOR, R. A situação atual do saneamento básico no Brasil: problemas e perspectivas. 2004. 324
f. Tese (livre-docência em economia) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universida-
de de São Paulo, São Paulo, 2004.

Revista FENEC - 3(1): 90-96, abril, 2019 96


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

PLANEJAMENTO, NORMAS, DESAFIOS E SOLUÇÕES NO


MAPEAMENTO DE FAVELAS COM VANTS

Ivan Langone Francioni Coelho (ivan.coelho@usp.br)


Breno Malheiros de Melo (breno_malheiros@usp.br)

Resumo: Este artigo apresenta algumas das dificuldades e soluções encontradas ao operar um VANT (Veículo Aéreo Não Tripulado)
bem como aspectos relacionados a segurança de voo. O presente tema foi escolhido devido a relação direta que existe entre uma
má preparação, planejamento da equipe em escritório e a influência disto na qualidade das fotografias aéreas e na ocorrência de
acidentes. O fato de existirem, na Academia, inúmeras publicações sobre as potencialidades de uso desta ferramenta e poucos
trabalhos relacionados às dificuldades e soluções de problemas para uma operação inspirou os autores a elaborarem este trabalho.
Por conta disso, este artigo tem por objetivo ressaltar e orientar sobre cuidados com questões relativas, por exemplo, a condições
meteorológicas e ao espaço aéreo brasileiro durante um aerolevantamento para que sejam minimizados os riscos de acidentes
em campo e com outras aeronaves. Também se incluem a estes objetivos os aspectos associados à qualidade do produto final
obtido como, por exemplo, o cálculo envolvido para a determinação dos horários com menor taxa de sombras. Desse modo, a fim
de atender os critérios de segurança e qualidade, faz-se necessário consultar os dados referentes às cartas sinóticas da Marinha do
Brasil além de meteogramas e imagens de satélite do CPTEC/INPE bem como capacitar os membros da equipe para que dominem
todas as fases do aerolevantamento com VANT e saibam como agir em situações imprevistas, além do cumprimento do que rege
a norma, em especial a obrigatoriedade do seguro de responsabilidade civil, e da observância das particularidades geográficas
locais que influenciam no clima e insolação.
Palavras-chave: Aerolevantamento com VANT em favelas. Sombras em Imagens. Condições Meteorológicas. Segurança do Voo.
Normatizações.

INTRODUÇÃO

O processo de urbanização no Brasil ocorreu de forma excludente e originou cidades com problemas de
acesso a serviços considerados básicos e essenciais à população. A especulação imobiliária e a situação econô-
mica do país são fatores que obrigam as pessoas a se mudarem para locais com restrições à ocupação e onde
predomina a autoconstrução.
Assim sendo, por suas próprias características, esses novos locais de moradia são classificados como
aglomerados subnormais. Este termo foi criado ao final da década de 80 com o intuito de abranger as áreas de
assentamentos precários altamente adensadas e com carência de serviços públicos como favelas ou outras re-
giões informais. Cerca de 11.4 milhões de pessoas residiam nessa modalidade de assentamento no ano de 2010
(IBGE, 2010).
Além da carência de serviços básicos, historicamente os moradores destas regiões sofrem, também,
um processo de invisibilização social pelo poder público. Eles são quase sempre excluídos da cartografia sis-
temática, dos planos diretores e das leis de zoneamento. Em alguns casos, são ocultados fisicamente a partir
da construção de barreiras como ocorreu por exemplo na Favela da Maré, no Rio de Janeiro, antes dos jogos
olímpicos de 2016.
Partindo dos estudos de John Brian Harley, sabe-se que um mapa não constitui uma representação apá-
tica a interesses, podendo ser infiel à realidade. Mapas carregam consigo valores condizentes com a opinião de
indivíduos, empresas ou dos governos que os elaboram (HARLEY, 2001). Quando a abordagem do tema trata
de favelas, percebemos que raramente estas foram mapeadas e inseridas na cartografia oficial. Na melhor das

Revista FENEC - 3(1): 97-111, abril, 2019 97


Ivan L. F. C.; Breno M. de M. Planejamento, normas, desafios e soluções no mapeamento de favelas com Vants

hipóteses, quando existe uma cartografia, estas encontram-se imprecisas e/ou com pouco rigor técnico, deno-
tando o desinteresse para/com estas regiões.
Em que pese serem regiões desvalorizadas e, em geral, informais, onde os moradores não detêm a posse
da terra, estas áreas podem ganhar visibilidade em face da união de interesses estatais e privados visando in-
vestimentos em um determinado setor da cidade. Por isso, não são raros os casos de remoções forçadas com o
intuito de atender os anseios associados à especulação imobiliária.
Diante destes fatores, torna-se necessário auxiliar comunidades ameaçadas de remoção de modo a ga-
rantir a efetivação de direitos de posse e permanência na terra a partir da proposta de um plano popular como
suporte para regularização fundiária. À luz dessa narrativa, os discentes do curso de Engenharia Civil do grupo
Práticas de Ensino, Pesquisa e Extensão em Urbanismo (PExURB), do Instituto de Arquitetura e Urbanis-
mo da USP São Carlos (IAU-USP), tem desenvolvido técnicas de produção cartográfica a partir de imagens
aéreas suborbitais capturadas em aerolevantamentos com VANT que auxiliem na elaboração desse plano.
O VANT tem a capacidade de atuar como uma ferramenta de alta qualidade, baixo custo e extrema ra-
pidez para o desenvolvimento dos mais diversos tipos de materiais cartográficos quando comparado aos méto-
dos tradicionais. A partir deles é possível obter produtos com GSD de 3 cm/pixel, sendo bem superior às das
imagens de satélite disponíveis pela plataforma Google Earth.
Por ser uma tecnologia recente, em uma breve pesquisa pelas plataformas de revistas indexadas, pode-
mos encontrar uma variada gama de trabalhos sobre as potencialidades de uso dos VANTs e de suas aplicações
na engenharia civil, agricultura, mineração, etc. Apesar da grande quantidade de trabalhos publicados, existe
uma carência muito elevada de aspectos técnicos sobre uma metodologia e um planejamento a serem seguidos
para que um aerolevantamento com o VANT não coloque em risco a vida das pessoas.
Esse artigo objetiva explorar os aspectos que devem ser observados durante o planejamento do voo a
fim de evitar a ocorrência de acidentes em campo e dentro do espaço aéreo. Desse modo, serão apresentadas
soluções para algumas das dificuldades encontradas em campo, condições meteorológicas desfavoráveis, uso
do espaço aéreo brasileiro bem como suas restrições normativas impostas pelos órgãos competentes. Além dis-
so, também serão apresentadas outras questões técnicas que influenciam não só na qualidade do produto final
obtido, mas também na dinâmica de trabalho local da equipe. Dentre estes citamos aspectos relevantes que de-
vem ser considerados no planejamento do voo pela equipe em escritório, o horário adequado para a captura de
imagens, condições meteorológicas e também os aspectos normativos.
Não coincidentemente alguns dos itens acima aparecem repetidos. Tomamos como exemplo que, em al-
guns momentos, uma altura de voo previamente calculada em escritório para a obtenção de um mapa com um
determinado GSD acaba por conflitar com a altura máxima de voo permitida pelo SARPAS para operação na-
quela porção do espaço aéreo. Por fim, ressalta-se que os aspectos a serem elencados neste trabalho são apenas
uma pequena parte de toda a pesquisa realizada até o presente momento pelo PExURB dentro das instalações
da Universidade de São Paulo no Campus de São Carlos.

1. MATERIAIS

Para a realização do levantamento fotogramétrico e do processamento de dados foram utilizados os ma-


teriais listados abaixo:
y Drone DJI Phantom 4 Pro: utilizado para obtenção das imagens da área;
y Computador de alto desempenho;
y Smartphone para integração com o controle do VANT;
y Aplicativo PIX4D Capture, para delimitação do plano de voo automático através do smartphone;
y Aplicativo UAV Forecast para verificação das condições de voo em campo;
y Aplicativo Flightradar24 para localização de aeronaves e outras rotas no espaço aéreo próximas ao
local de voo;
y Software PIX4D Discovery para processamento de dados e posterior comparação com o resultado
fornecido pelo software Agisoft PhotoScan;
y Software Agisoft PhotoScan 1.2.4 para processamento de imagens provenientes do VANT para ge-
rar o modelo tridimensional (3D) e ortorretificação do conjunto de imagens;
y Software QGIS 2.18, para restituição de feições vetoriais a partir do ortomosaico;

Revista FENEC - 3(1): 97-111, abril, 2019 98


Ivan L. F. C.; Breno M. de M. Planejamento, normas, desafios e soluções no mapeamento de favelas com Vants

y Software Google Earth Pro, para comparação e validação de dados oriundos das ortofotos geradas;
y Informações gráficas do meteograma como pressão atmosférica, temperatura, umidade relativa, ve-
locidade do vento e porcentagem de cobertura de nuvens disponibilizadas no site do CPTEC/INPE;
y Informações de probabilidade de vento disponíveis no site www.windy.com;
y Imagens do satélite GOES 16 - Canal 13 e Canal 16 para monitoramento da movimentação das nu-
vens e análise da possibilidade de chuva, também disponibilizadas no site do CPTEC/INPE;
y Horários de nascer e pôr do sol disponibilizados no site do CPTEC/INPE;
y Cartas sinóticas disponibilizadas na internet pela Marinha do Brasil para acompanhamento das varia-
ções de pressão atmosférica ao longo dos dias;
y Imagens de radar e boletim do tempo disponibilizados pelo IPMet - UNESP.

2. METODOLOGIA

Para realizar as pesquisas relacionadas à segurança de voo e aquelas relacionadas com a influência da
hora do dia na qualidade do produto final a ser obtido foram realizados diversos voos para teste e para os pró-
prios projetos que atualmente encontram-se em andamento pelo PExURB.
Todos os trabalhos foram realizados com o drone DJI Phantom 4 Pro em diversos horários ao longo
do dia que incluíam tanto o início da manhã quanto o fim de tarde/anoitecer. Os respectivos planos de voo do
Phantom 4 Pro foram sempre programados através do aplicativo PIX4D Capture disponível para smartphone
(Figura 1a). Todas as operações aéreas foram realizadas sempre com o mesmo piloto e com os mesmos obser-
vadores devido a familiaridade e domínio destes com a tecnologia. Seguindo esta linha, o mesmo smartphone
foi utilizado para comunicação entre o piloto e o VANT e também para a elaboração de todos os planos de voo.
Os voos ocorreram nas modalidades Grid Mission e Double Grid Mission (Figura 1b) dentro dos campi
da USP de São Carlos e em outras regiões do município de São Carlos - SP.

Figura 1. a) Aplicativo PIX4D Capture sendo utilizado para delimitação dos dois planos de voo automático na
modalidade Grid Mission sobre a Comunidade Jardim Nova Esperança - Banhado localizada no município de
São José dos Campos - SP. b) Representação do plano de voo em Double Grid Mission sobre o IAU-USP através
do software PIX4D Discovery durante o início do processamento de dados em computador de alto desempenho

Fonte: PExURB, 2018.

Para as regiões externas à USP foram consideradas apenas aquelas de menor fluxo de pessoas ou que
fossem mais afastadas dentro do próprio município com o intuito de evitar possíveis aglomerados de curiosos
em torno da equipe. Cabe ressaltar que as ações realizadas durante os aerolevantamentos necessitaram de ex-
trema cautela frente aos problemas apresentados pelo aparelho celular como o rápido superaquecimento, tra-
vamento do sistema operacional e demora para voltar à normalidade. Estes acabavam acarretando a perda de
conexão e controle do piloto com o VANT além da diminuição da autonomia da bateria.

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Por conta destes problemas passou-se a executar uma análise criteriosa das condições meteorológicas
e de logística da equipe a fim de evitar acidentes. Informações como imagens de satélites, velocidade do ven-
to, probabilidade de chuva etc. passaram a ser consultadas em sites como CPTEC/INPE, IPMet e Marinha do
Brasil para prévia análise da equipe. Para a equipe principal do VANT (piloto e observadores) foi colocada
ao redor uma equipe secundária a fim de evitar que populares, crianças e/ou animais se aproximassem e, por
curiosidade, tentassem conversar com a equipe principal, retirando assim, a atenção tanto do piloto quanto dos
observadores.
Para o processamento de dados foram utilizados os softwares Agisoft PhotoScan e PIX4D Discovery
para obter um modelo tridimensional das áreas sobrevoadas que permitissem a extração do modelo digital de
elevação delas e, em seguida, gerar seus ortomosaicos com as devidas distorções de medida corrigidas (Figura
2a). Em seguida, o ortomosaico foi importado para o software QGIS 2.18 para vetorização de dados de inte-
resse (por exemplo sistema viário, produção agropecuária etc.) que permitissem ser quantificados, georreferen-
ciados e representados em uma nova cartografia (Figura 2b).

Figura 2.
a) Modelo
tridimensional do
IAU-USP após o
processamento no
Software PIX4D
Discovery realizado
com voo em Double
Grid Mission.
b) Mapa temático
com as informações
de campo coletadas na
Comunidade Jardim
Nova Esperança -
Banhado

Fonte: PExURB, 2019.

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3. RESULTADOS

Para a realização de trabalhos utilizando VANTs, fatores importantes relacionados ao planejamento


das atividades de campo e a segurança de transeuntes não devem ser ignorados. Por conta disso, os aspectos
normativos de agências reguladoras envolvidas com a atividade devem ser observados, assim como questões
técnicas visando a qualidade do produto final, evitando por exemplo, acidentes (aéreos ou terrestres) ou retra-
balho.
Assim sendo, com base na literatura especializada existente e na experiência dos autores e orientadores
com a utilização do equipamento, o presente artigo se divide em três frentes de desenvolvimento: normatiza-
ção, qualidade técnicas e segurança.

3.1 Normatização

Segundo a Lei nº 9.472, todos equipamentos eletrônicos emissores de radiofrequência devem ser homo-
logados pela Anatel (Agência nacional de telecomunicações) buscando garantir qualidade e segurança dos sis-
temas de telecomunicações do país evitando interferências entre dispositivos. Assim, uma vez que o VANT se
utiliza desse tipo de método para garantir o controle da aeronave em operação, é necessária a homologação do
equipamento junto a agência podendo ser requisitado tanto por pessoa física quanto jurídica, onde após apre-
sentação de documentos e pagamento de taxa o processo será analisado por um especialista do órgão.
Em virtude do exposto acima, é necessário realizar o cadastro de drones com massa superior a 250 g
através do Sistema de Aeronaves não Tripuladas (SISANT) da ANAC, devendo o número de identificação ge-
rado ser colado na aeronave em região acessível e produzido em material que não seja facilmente degradado.
Inclui-se também a obrigatoriedade do registro do piloto da aeronave, necessitando do mesmo possuí-la duran-
te a operação no caso de abordagem em eventuais fiscalizações.
Além disso, o RBAC-E nº 94 da ANAC informa que devem ser realizadas operações do tipo VLOS (Vi-
sual Line of Sight) ou Operação em Linha de Visada Visual onde o operador necessita de observadores para
manter o contato visual direto com a aeronave sem o auxílio de lentes.
O DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) é o responsável pelo cadastramento dos pilotos
e autorização dos planos de voo. A grande maioria das operações de requisição de autorização podem ser rea-
lizadas pela internet, com aprovação ágil em regiões que não englobam troncos de restrição do espaço aéreo.
Além disso o órgão orienta quanto ao mantimento de uma distância mínima de segurança de 30m de edifica-
ções. 3.2 Qualidade técnica: sombras e condições meteorológicas Dentre os principais aspectos, a presença (ou
a quase ausência) de sombras em imagens aéreas bem e a boa nitidez implicam no resultado final obtido após o
processamento. As sombras ocorrem devido a variação da altura do sol que é o ângulo formado entre o raio de
luz incidente e a superfície horizontal local sendo que esta última, por sua vez, varia de acordo com a latitude,
período do ano e a hora do dia. Para obter o valor angular da altura do sol utiliza-se um gnômon, instrumento
formado por uma haste metálica cuja finalidade é medir o comprimento de sua sombra conforme ocorre o mo-
vimento aparente do Sol ao longo do dia. Assim sendo, partindo de valores conhecidos como o comprimento
da sombra e da haste, obtém-se o valor da altura do sol (θ) através da Equação 1 exibida abaixo.

Equação 1

Conforme citado anteriormente, o valor da altura do Sol varia no decorrer do ano e, portanto, se forem
realizadas medições diárias no mesmo horário ao longo de um ano, o valor do comprimento da sombra varia-
rá conforme exibido na Figura 3. Dela conclui-se que a sombra será máxima no solstício de inverno e mínima
no solstício de verão.
Apesar de existirem, em macro escala, questões mais abrangentes sobre os fatores que influenciam o
valor da altura do sol, estes não têm importância significativa para os trabalhos desenvolvidos com VANTs
fugindo, portanto, do escopo deste artigo. Neste trabalho, a abordagem da influência da altura do Sol na pre-
sença de sombras será realizada considerandose a região de estudo como sendo de microescala e, então, serão
calculados os horários ideais para realizar os aerolevantamentos de modo que os efeitos de sombras fiquem
minimizados.

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Figura 3.
Altura do Sol em Porto Alegre - RS

Fonte: Roberto Ortiz (EACH-USP) e Roberto Bockzo


(IAG-USP).

Em uma análise de trabalho realizada em microescala, por exemplo um aerolevantamento de uma re-
gião pontual, a altura do Sol varia de acordo com o movimento aparente do Sol ao longo do dia. Dependendo
do horário escolhido e das condições climatológicas para o aerolevantamento, nas horas iniciais e finais do dia,
respectivamente durante o nascer e o pôr do sol, podem ocorrer a presença de grandes faixas de sombra ou de
baixa incidência de luz solar de modo que os detalhes importantes fiquem ocultos ou sejam difíceis de serem
enxergados. Isso ocorre porque nesses horários o ângulo de incidência formado pelos raios de luz com a su-
perfície topográfica local é pequeno. Por conta disso, os melhores horários para realizar este tipo de trabalho
encontram-se próximos do meio-dia ou do horário de sol a pino.
Na Figura 4 é possível notar os fatores elencados como o angulo de incidência da luz solar durante o
movimento aparente do Sol e na Figura 5 a presença de sombras ao entardecer.

Figura 4.
Ângulo de incidência da radiação solar obtido
durante o movimento aparente do sol ao longo
de um dia no município de Uruguaiana-RS

Fonte: Andressa Rossini Goulart (UNIPAMPA) e Carlos


Maximiliano Dutra (UNIPAMPA), 2015.

Figura 5.
Foto tomada ao entardecer do dia
13/01/2019 às 18:47 h de parte das
ruas que se encontram ao redor do
Campus da USP São Carlos e do
campo de futebol do mesmo campus

Fonte: PExURB, 2019.

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Com relação a nitidez, o baixo fluxo de radiação incidente pode ocorrer devido o horário escolhido (de-
vido à proximidade com nascer e pôr do sol) ou porque, como ilustra a Figura 6 com a predominância da gran-
de quantidade de nuvens, de altura baixa ou média, estando elas muito próximas umas das outras, funciona
como uma barreira que diminui a quantidade de radiação solar que chega a superfície terrestre distribuindo ine-
ficientemente a luz pelo ambiente de modo que a fotografia torne-se mais escurecida. Assim sendo, a nitidez de
uma fotografia que seja realizada nessas condições meteorológicas é influenciada negativamente e resulta em
um produto final próximo daquele demonstrado na Figura 7a.
Ressalta-se que a altura das nuvens varia de acordo com a latitude por causa das diferenças de tempe-
ratura e da quantidade de vapor d’água presente. Por causa disso, devido ao fato do Brasil estar localizado na
faixa tropical, as nuvens baixas (cúmulos, estratos e estratoscúmulos) encontram-se na faixa de até 2km acima
da superfície, as nuvens médias (aquelas formadas predominantemente por água e associadas a mau tempo co-
mo as alto-cúmulo e altoestrato) encontram-se na faixa de 2 a 8 km e por fim as nuvens altas que se encontram
na faixa de 6 a 18 km. Mesmo que as fotos tomadas em baixa luminosidade estejam livres de sombreamentos,
a nitidez continuará comprometida para realização do processamento e da visualização de detalhes. A aplica-
ção do zoom sobre elas nos permite perceber a deficiência em iluminação e a ineficiência para a visualização
de detalhes conforme mostra a Figura 7.

Figura 6.
Céu encoberto por nuvens baixas e
médias com impacto direto sobre
a insolação da região e radiação
captada pelo sensor da câmera
influenciando na nitidez da imagem
e suas tonalidades

Fonte: PExURB, 2019.

Figura 7. a) A ampliação da foto tomada às 19:14h, anoitecer do dia 17/01/2019, exibe tons de cor mais es-
curecidos e baixa nitidez que não permite identificar com precisão os contornos/limites do muro, dos objetos
no solo do terreno e das partes traseira e dianteira do carro enquanto que, na ampliação da foto b) percebe-se
que a foto possui cores mais vivas sendo possível enxergar os objetos com uma melhor definição de contorno

Fonte: PExURB, 2019.

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A fim de obter fotografias com menor interferência de sombras e maior nitidez para o estudo de caso so-
bre a região da Comunidade Jardim Nova Esperança, chegou-se à conclusão, a partir de pesquisas e voos-teste
realizados previamente, que o horário ideal para este tipo de trabalho encontra-se em uma janela de voo com-
preendida entre 3 horas antes e 3 horas depois do horário de pico do sol no dia.
Entende-se por janela de voo como sendo o intervalo de tempo ideal do dia para a realização de traba-
lhos de aerolevantamento pois os efeitos de sombra são minimizados e o fluxo de radiação solar é o ideal para
a boa nitidez da foto. O cálculo desta janela envolve determinar a que horas o Sol estará sobre a sua altura má-
xima e para isso foi o desenvolvido o seguinte método:
1) Consulta dos horários de nascer e pôr do Sol através da “Previsão Completa” disponível no site do
CPTEC/INPE para a região de interesse;
2) Calcular o horário do meio-dia solar local (horário de pico) que é a hora em que o Sol estará em sua
máxima altura sobre o meridiano local. Ele é obtido através da média aritmética dos horários de nas-
cer e pôr do Sol;
3) A partir do horário de pico calcula-se a janela de voo. O intervalo da janela fica compreendido entre
3h antes do horário de pico e 3h depois desse horário.

Para efeito de comparação, no dia 18/01/2019 em São José dos Campos - SP, o Sol nasceu às 06:34 h e
se pôs às 19:53h. O horário calculado para a máxima altura do Sol foi às 13:13h sendo a janela de voo obtida o
intervalo entre as 10:13 h e 16:13 h. Conforme mostra a Figura 8, um voo executado fora desse intervalo cal-
culado apresenta um comprimento de sombra maior do que dentro do horário da janela de voo.

Figura 8.
a) fotografia tomada às 09:36h do
dia 18/01/2019 exibe uma região
com presença de muitas árvores
e, por ter sido capturada fora do
horário estipulado para a janela
de voo, possui sombras com
comprimento muito maior do que
a fotografia b) que foi tomada no
mesmo dia às 12:32h, portanto
dentro do horário ideal calculado

Fonte: PExURB, 2019.

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Desse modo, a realização de voos fora do horário estipulado causa dificuldades no processamento das
imagens em relação à aquisição de dados altimétricos pelo fato de estarem encobertos por sombras. Além dis-
so, a invisibilização dos próprios alvos de interesse dificulta e torna trabalhosa a sua vetorização ou, até mes-
mo, essa nem chega a ser realizada por não ter sido identificada.

3.2 Segurança do voo

Durante a realização de atividades de campo com VANTs, diversos aspectos devem ser observados vi-
sando segurança da equipe envolvida, de terceiros, respeito a direitos adquiridos, e também as legislações em
vigor. Assim sendo, no tocante à privacidade, são válidos para VANTs as mesmas imposições ditadas por qual-
quer órgão governamental que implique em responsabilidade nas esferas administrativa, civil e penal visando
garantir direitos relacionados à inviolabilidade da vida privada bem como a segurança de utilização de vias
marítimas fluviais ou aéreas para os demais veículos (BRASIL, 2017).
Nesse ponto, a normatização vigente no país indica de maneira superficial os riscos envolvidos no ma-
nuseio e operação destes tipos de equipamento, não expondo as demais dificuldades que podem ser encontra-
das em atividades de campo. Assim, a seguir serão elencados alguns dos problemas observados em trabalhos
realizados pelo grupo PExURB em diversos ambientes, em especial os aglomerados subnormais, e os cuidados
a serem tomados com base nessas experiências.
Um dos primeiros passos ao se propor uma atividade com VANT é ter conhecimento sobre a região de
voo, para isso vale uma visita ao local ou mesmo a observação de mapas e foto com o intuito de possibilitar a
organização de estratégias de trabalho.
A realização de uma reunião estratégica tem como objetivo definir os papéis de cada participante, desen-
volver o plano de voo, discutir condições meteorológicas previstas, orientar sobre cuidados a serem tomados
no local e o contexto da atividade.
O posicionamento de observadores em pontos distintos tem o intuito de proporcionar o contato visual
constante com a aeronave, a qual pode sair da linha de visão do piloto devido a obstáculos como árvores, edi-
ficações ou nuvens impossibilitando a possível detecção de travamentos da aeronave ou a sua aproximação
com elementos de risco (aves, pipas, aviões, etc.). Outra questão é lidar com curiosos que tendem a se aproxi-
mar da área de pouso e decolagem. Desse modo, são necessários auxiliares que ajudem a manter o cordão de
isolamento desse ponto e orientem as pessoas para sua maior segurança, uma vez que o piloto deve manter sua
atenção sobre os equipamentos de telemetria e VANT.
Todos os membros da equipe que atuarão diretamente com o equipamento devem receber treinamen-
to para saber lidar com a aeronave, sendo instruído sobre fatores de risco a sua segurança e de terceiros, nor-
matizações vigentes e como proceder em caso de queda ou pane além das formas de se relacionar com os
transeuntes e curiosos. Estas orientações servirão para tornar o trabalho mais ágil, eficiente, mitigar riscos e
danos.
No desenvolvimento do plano de voo, se deve atentar a duração de cada missão pois elas estão direta-
mente relacionadas ao consumo de bateria. Além disso, a altura definida é inversamente proporcional ao ní-
vel de detalhamento das imagens obtidas; nessa questão o respeito à privacidade deve ser atendido e para tal é
necessária a ampla divulgação da atividade para a comunidade local, em conjunto com adoção de uma altura
de voo que provenha um GSD que reconheça apenas os elementos necessários, com o mínimo de invasão de
privacidade.
A observação das condições meteorológicas e do espaço aéreo é fundamental para o uso do VANT. Para
tanto, é necessário, dias antes de se realizar um aerolevantamento, acompanhar o meteograma disponibiliza-
do pelo CPTEC/INPE e as cartas sinóticas da Marinha do Brasil pois a combinação de chuva, tempo nublado
e ventos superiores a 10 m/s (36 km/h) são fatores de risco que impossibilitam a operação de forma segura.
A Figura 9 na página seguinte ilustra o modo de se utilizar um meteograma e uma carta sinótica.

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Figura 9. A figura (a) representa o meteograma disponibilizado pelo CPTEC/INPE para a cidade de São Carlos
no dia 09/03/2019. Nele podem ser observados, ao longo dos dias, índices referentes a precipitação, velocidade
com a respectiva direção do vento e a presença de nuvens bem como a sua altura. A figura (b) nos mostra a car-
ta sinótica da superfície do dia 09/03/2019, 00:00 UTC - Horário Universal - (21 horas no Brasil). Dela podem
ser extraídas análises referentes a pressão atmosférica, zonas de alta e baixa pressão e de velocidade do ven-
to. Pode ser realizada uma analogia dessa carta com a representação das curvas de nível pois as linhas repre-
sentam regiões de mesma pressão (linhas isobáricas) e, quanto mais próximas elas estiverem umas das outras,
maior será a velocidade do vento enquanto que se estiverem mais afastadas, menor será a velocidade do vento

Fonte: (a) CPTEC/INPE e Marinha do Brasil, 2019.

Em campo recomenda-se a utilização do aplicativo UAV Forecast para uma última checagem das con-
dições de voo já que este aplicativo informará se a realização do voo é recomendada ou não para o momento
(Figura 10). Ressalta-se que esta última verificação em campo não deve substituir o processo descrito no pa-
rágrafo anterior.

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Figura 10.
Interface do aplicativo
UAV Forecast

Fonte: Captura de tela do


smartphone dos autores,
2019.

Em adição aos fatores de risco citados anteriormente, temos a existência de grande circulação de ae-
ronaves sobre o local além da existência de aves de grande porte, pipas e outros elementos que estejam fora
do controle da equipe. A exemplo de imprevisto da situação abordada, em um dos voos realizados pelo grupo
PExURB na Comunidade do banhado, o abate de um cavalo no dia anterior a atividade gerou problemas com
urubus durante os três dias de atividade (Figura 11), enquanto que os problemas relacionados a presença de
pipas (acentuado pelo período de férias escolares), foi resolvido por meio de diálogo direto com as crianças.

Figura 11. Aves sobrevoando a Comunidade do Banhado devido ao abate de um cavalo em 17/01/2019

Fonte: Augusto Cesar Oyama, 2019.

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Com relação ao fluxo local de aeronaves existem sites especializados e aplicativos que informam sobre
existência de aeronaves e suas rotas em um mapa da plataforma Google. A exemplo disso, temos o aplicativo
Flightradar24 (Figura 12).

Figura 12. Interface do aplicativo Flightradar24

Fonte: Captura de tela do smartphone dos autores, 2019.

Localizar uma área sem obstáculos verticais (árvore, rede elétrica entre outros) e que possibilite a cria-
ção de um cordão de isolamento visando manter curiosos a uma distância segura do ponto de decolagem é es-
sencial. Esse local tem como objetivo, além do início da operação, servir como ponto de retorno emergencial
ou de conclusão das atividades. A existência de uma área ampla garante segurança em casos de queda durante
o processo de decolagem ou desprendimento de alguma peça do VANT, situação para a qual a equipe de apoio
deve ser instruída a agir visando reduzir possíveis danos.
Em alguns casos, principalmente em favelas e comunidades com alto grau de adensamento, os poucos
pontos existentes e que possuem potencial para decolagem encontramse em locais de difícil acesso ou de risco,
como lajes de moradias, vias (de pedestres ou veículos), encostas entre outros. Desta forma torna-se impres-
cindível a utilização de itens básicos de segurança como coletes de sinalização, óculos de sol, protetor solar e
repelentes de insetos, vacinas no caso de atuação em áreas com doenças endêmicas, alimentos leves e água po-
tável. Todo o aparato citado visa proteger a equipe dos principais riscos associados à atividade como atropela-
mento, insolação, contração de doenças por insetos ou consumo de água contaminada.
Além disso ao se atuar sobre lajes é imprescindível a atenção quanto a superfície da mesma em busca de
fissuras ou rachaduras que representem risco a permanência no local e cuidado ao transitar sobre as mesmas a
fim de evitar quedas. Alguns exemplos de locais e dificuldades podem ser observados na Figura 13.

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Figura 13. a) Decolagem sobre laje com área limitada. b) Decolagem em meio a declive acentuado

Fonte: Augusto Cesar Oyama, 2019.

Uma vez definido o ponto de decolagem, uma mesa pode ser de grande auxílio na montagem do drone,
organização da equipe e, se necessário, reestruturação do plano de voo. A montagem do equipamento deve ser
realizada preferencialmente por uma única pessoa capacitada, com atenção especial a fixação das hélices as
quais têm risco de se desprenderem do VANT no caso do encaixe não ser realizado de maneira correta, ocasio-
nando a queda do mesmo. Além disso, é de grande importância garantir que o VANT esteja em perfeitas condi-
ções de voo verificando se os instrumentos embarcados estão calibrados e realizando manutenções periódicas
a fim de causar imprevistos.
A caminho da atividade, deve-se atentar a regularização da aeronave observando o respeito a todos os
critérios da norma, validade das documentações do piloto e aeronave, e em especial a vigência do seguro obri-
gatório. Mediante cumprimento desses requisitos é garantida a segurança jurídica ao piloto em casos de aci-
dentes que não venham a ser decorrentes de negligência do operador. Após a montagem do equipamento deve
ser realizado um check list visando verificar as seguintes condições:
y Se os emissores de microondas que possam gerar interferência eletromagnética na comunicação com
o drone encontram-se desligados ou fora das proximidades, do controle e do VANT;
y Se há como entrar em contato com o DECEA (caso seja necessário);
y Se a proteção do gimbal foi removida;
y Se há 100% de carga nas baterias do drone, smartphone/tablet e controle;
y Se o smartphone/tablet de controle do VANT foram colocados em modo avião, a fim de evitar rece-
ber ligações e/ou notificações de outros aplicativos;
y Se há conexão entre o Smartphone/Tablet com o controle, e conexão com o VANT;
y Se os sensores de visão estão habilitados (estabilização e anti-impacto);
y Se o VANT está conectado com uma quantidade mínima de satélites (GPS Lock). Esta quantidade
varia conforme o modelo;
y Configurações do Return to Home para utilizar a função de retorno de emergência e pouso automático;
y Temperatura do drone e smartphone, o excesso pode ocasionar travamentos.

Atividades em campo, especialmente em núcleos urbanos, assim como qualquer outro tipo de atividade
estão submetidas a ocorrência de imprevistos. Espera-se que uma vez seguidas todas as orientações acima as
atividades de aerofotogrametria possam ser desenvolvidas de forma segura e eficiente, tendo em mente o con-
trole de riscos e levando a obtenção de resultados de qualidade.

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4. DISCUSSÃO

A atuação em favelas se caracteriza por uma atividade que foge ao escopo padrão da aplicação dos
VANTs, o qual é amplamente utilizado na agropecuária e pela mídia para produção de fotos e filmagens de
eventos realizados por celebridades do meio artístico.
Por meio do método tradicional, que utiliza equipamentos topográficos e depende de uma equipe que
saiba manuseá-los, o ambiente altamente adensado e com ausência parcial de padronização de lotes e orga-
nização viária – característica desses locais – dificulta os trabalhos de mapeamento além de encarece-los. O
VANT nesse contexto surge como alternativa economicamente viável no desenvolvimento de trabalhos de ae-
rolevantamento.
Preparação e qualidade são duas faces indissociáveis que definem não só o tempo necessário para a ati-
vidade de campo, mas também para processamento dos dados. Em primeira instância, a cautela com as nor-
matizações vigentes e respeitos a obrigações de responsabilidade do operador, visam garantir a execução sem
danos da atividade por meio da segurança do espaço aéreo local e das demais vias presentes, trazendo em sua
composição diretrizes básicas para o resguardo da integridade física e privacidade de terceiros. Aspectos que
aliados a realização dos procedimentos de planejamento e execução indicados no presente artigo auxiliam não
só nesse quesito como também na fase de tratamento dos dados.
Operações realizadas em ambientes com existência de grandes barreiras físicas, sejam grandes edifícios,
abrigos artificiais ou obstruções naturais, como árvores grande porte, necessitam de atenção especial ao fluxo
de ventos. Obstáculos em solo afetam a circulação local gerando risco de instabilidade no voo e como conse-
quência, possível choque com edificações, árvores e outros elementos. Por esse motivo se recomenda conhecer
previamente os diferentes padrões de vento no local.
Além disso, sombra e características climatológicas locais são de grande impacto no desenvolvimento e
obtenção do produto final. Desse modo, o cuidado com horário da realização das atividade e condições mete-
orológicas asseguram conjuntos de imagens nítidas e com poucas sombras levando a eficiência da atividade e
reduzindo os vazios existentes no pósprocessamento de dados, além da agilidade e precisão da técnica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dada a atuação do grupo PExURB no Estado de São Paulo, todas as análises feitas têm como base as
características geográficas locais. Características de imagens relacionadas à incidência luminosa em períodos
podem sofrer variações além do esperado principalmente próxima a faixa equatorial, assim podendo haver va-
riação da qualidade esperada principalmente às margens da janela de segurança. Neste ponto, cabe ao operador
realizar testes em pequenas áreas em diferentes momentos do dia para averiguar a conformidade entre região
sombreada e horário do dia.
Ressalta-se também que o seguro obrigatório se trata de um seguro de responsabilidade civil, não tendo
a finalidade de cobrir possíveis danos da aeronave, mas sim de pessoas que venham a ser vítimas de acidentes
oriundos de operações com VANT. Indica-se aos operadores a realização de um seguro para danos à aeronave,
esse conhecido como “seguro de casco”, o qual pode ser acionado no caso de colisões acidentais ou mesmo
panes causadas pelos mais diversos fatores.

REFERÊNCIAS

ARIAS, Anderson. Janela de voo: o que é e como calcular?. Disponível em: <http://blog.droneng.com.br/o-
-que-e-janela-de-voo/>. Acesso em: 28 jan. 2019.

BRASIL (2017).ANAC. Regras da ANAC para uso de drones entram em vigor. 2017. Disponível em: <http://www.
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VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

PROPAGAÇÃO DE PRÁTICAS DA LEAN CONSTRUCTION


NO VALE DO SÃO FRANCISCO - VI PRÊMIO ENEC

Palloma Luana de Andrade Santos (pallomaluanaandrade@gmail.com)

Resumo: Este trabalho busca avaliar o emprego dos princípios da Lean Construction na indústria da construção civil, sendo,
o subsetor de edificações o objeto de estudo, nas cidades de PetrolinaPE e Juazeiro-BA. O modo com que uma construtora
define o gerenciamento de uma obra influencia diretamente na função produção. Isso implica na maneira com que uma empresa
se firma diante de seus concorrentes, fornecedores e clientes, como também, na sua posição perante os desperdícios e como
consequência, seus lucros. Com o acirramento da concorrência e consumidores mais exigentes, o aumento do valor agregado aos
produtos e a redução dos custos, por meio de um sistema de produção e de gerenciamento mais eficazes, tornam-se condições
necessárias para garantir respostas satisfatórias à empresa. A indústria da construção civil, tem adaptado técnicas gerenciais
de setores industriais para sua realidade, com o intuito de eliminar desperdícios e aumentar a eficiência dos processos. É nesse
cenário que surge a Lean Construction, filosofia que visa melhorar o gerenciamento de informações, materiais e pessoas na
construção civil. Desenvolvida por Koskela (1992), é uma adaptação do Sistema Toyota de Produção, que tem o objetivo de
eliminar os desperdícios e agregar valor através da aplicação de onze princípios. É admitindo a importância econômica e social
desse setor, que essa pesquisa foi desenvolvida, com o objetivo de avaliar o grau de aplicação dos princípios da construção
enxuta nas empresas que funcionam nessas cidades. Assim, utilizando um questionário como ferramenta de coleta de dados,
foi possível identificar, em termos percentuais, o desempenho atual de cada empresa estudada em relação ao emprego dos
princípios da Lean Construction.
Palavras-chave: Lean Construction. Desperdício. Questionário. Disseminação.

INTRODUÇÃO

Os processos na indústria da construção foram, por muito tempo, reconhecidos pelas limitações na sua or-
ganização. O atraso nos procedimentos gerenciais e técnicas construtivas, atrasos nos prazos de entrega,
mão de obra desqualificada e baixos índices de produtividade, não conformidade e baixa qualidade do pro-
duto final, entre outras limitações, foram, por muito tempo, características do setor (BERNARDES, 2003).

Nos últimos anos, percebe-se que a indústria da construção civil tem evoluído em suas técnicas de
gestão, substituindo procedimentos usuais, por técnicas mais eficientes. É sabido que as potencialidades de
desempenho de empresas de construção devem ser exploradas e o processo de planejamento e controle da pro-
dução contribui fortemente para isto.
Como os consumidores são cada vez mais exigentes e os recursos financeiros cada vez mais reduzidos,
a evolução tecnológica e o aumento da concorrência têm levado as empresas a procurar o aumento da produti-
vidade e competitividade. Para isso, é necessário que avaliem os seus métodos e sistemas de produção. Esses,
dentre outros fatores, têm estimulado as empresas a acompanharem essa evolução e buscarem melhores níveis
de desempenho por meio de investimentos em gestão e tecnologia de produção.
Na tentativa de acompanharem essa evolução, alguns princípios dos ambientes produtivos industriais
têm sido adaptados para o setor da construção, com o objetivo de adequar o setor às novas tendências e exi-
gências do mercado. Um desses princípios é a Lean Construction, ou construção enxuta. A Lean Construction
surgiu com o objetivo de aplicar o conceito lean da produção industrial na construção civil. O conceito lean
(enxuto) baseia-se no Sistema Toyota de Produção, desenvolvido no Japão pós-guerra em um ambiente de ma-

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Palloma L. de A. S. Propagação de práticas da Lean Construction no vale do São Francisco - VI Prêmio ENEC

nufatura, especificamente no setor automobilístico. O novo paradigma adotado no Japão visava a eliminação
de qualquer esforço que absorvesse recurso, mas não criasse valor.
No Brasil a Lean Construction chegou em 1996, trazida por diversos pesquisadores e consultores da área
de planejamento e gestão da produção. Desde então a temática tem sido explorada de forma crescente. A quanti-
dade de livros ainda é pouca, mas as pesquisas têm crescido anualmente. Os anais do Encontro Nacional de En-
genharia de Produção e Proceedings of the International Conference on Industrial Engeneering and Operations
Management registram que a partir de 1998 trabalhos sobre a Lean Construction foram utilizados como fonte
de pesquisa. Em 2002, o primeiro artigo aborda benefícios da adoção de conceitos da Lean Construction. A par-
tir daí, o termo Lean Construction deixa de ser utilizado apenas nas referências e passa a ser parte do estudo.
Com base nessas informações, tendo em vista contribuir com o aumento de pesquisas nessa área, pro-
põe-se uma investigação exploratória no Vale do São Francisco, principalmente nas cidades de Juazeiro - BA
e Petrolina - PE, para que se possa dispor de conhecimentos científicos sobre o nível de conhecimento e apli-
cação dos princípios da construção enxuta nessa região. A abordagem será iniciada pela base teórica utilizada,
posteriormente serão explicitados os metodos e os resultados gerais.

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 O setor da construção civil

O setor da construção civil em sua essência produz usufrutos para sociedade, prezando por qualidade e
contribuindo com o progresso. A produção de um empreendimento gera uma movimentação econômica que
altera fatores como taxa de emprego e demandas de mercado, no local ou proximidades.

1.1.1 Natureza cingular da construção

A Indústria da Construção Civil apresenta algumas particularidades em relação a outras indústrias. Se-
gundo Dacol (1996 apud HONDA, 2011, p. 17), essas singularidades são:
y Caráter não homogêneo e diferenciado pelo produto;
y Natureza da produção dada por projetos;
y Forte dependência de fatores climáticos;
y Processo produtivo relativamente longo (meses, anos) que acarreta um alto volume de capital circulante;
y Processo de produção complexo que envolve interferência de diversos agentes (usuários, clientes,
projetistas, financiadores, construtores), com objetivos conflitantes;
y Localização da obra é determinada pelas condições de demanda;
y Dependência em relação às habilidades do trabalhador.

Algumas dessas particularidades podem ser encontradas em outras indústrias, mas, é a construção que
consegue a singular união de todas elas. Ademais, é uma atividade em que a relação com o cliente é diferen-
ciada, pois, este pode ter contato com o produto durante seu processo de produção e interferir, fazendo modi-
ficações se assim desejar.

1.1.2 Desperdício na construção

A Construção Civil é caracterizada por ser um setor que possui um alto índice de desperdício. Formoso
et al. (1996), define perda como sendo algo muito além do que o desperdício de materiais, e sim qualquer ine-
ficiência que ocorre no uso de equipamentos, materiais, mão de obra e capital, que acarrete maiores quantida-
des àquelas necessárias para construção da edificação.
No modelo “Lean Construction”, o desperdício está intimamente ligado à ideia de agregar valor, ou se-
ja, perda é uma resposta quanto à execução de atividades desnecessárias que geram custos adicionais que não
agregam valor. Assim, é importante apontar as atividades que contribuem para as perdas e eliminar aquelas que
absorvem recursos, que não criam valor. Formoso (1996), adaptou o conceito das sete perdas de Shingo, em
nove categorias para a construção civil, que são:

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y Perdas por superprodução: são aquelas que ocorrem por produção de um produto em quantidades
superiores às necessárias, como, por exemplo: produção de argamassa para reboco em quantidade superior ao
necessário para um dia de trabalho.
y Perdas por substituição: são aquelas que ocorrem pela utilização de um material de valor ou desem-
penho superior àquele especificado, como, por exemplo: utilização de bloco de concreto no lugar de blocos
cerâmicos.
y Perdas por espera: está relacionada com as atividades de fluxo de materiais e trabalhadores, como,
por exemplo, parada no serviço por conta de falta de equipamentos.
y Perdas por transporte: está associada ao manuseio excessivo ou inadequado de materiais e compo-
nentes devido a uma má programação de atividades ou de um layout de canteiro ineficiente, como, por exem-
plo, estoque de material distante do ponto de utilização.
y Perdas no processamento em si: está associada a falta de padronização nas atividades, ineficiência no
método de trabalho e mão de obra desqualificada. São exemplos: quebra manual de blocos por de meios-blo-
cos, rasgos na alvenaria para instalações elétricas e hidráulicas.
y Perdas nos estoques: são aquelas que decorrem de estoques excessivos, devido a programação ina-
dequada de compra, entrega do material ou erro na orçamentação, e que podem resultar em falta de local ade-
quado para a disposição dos mesmos. São exemplos: deterioração do cimento por armazenamento em contato
com o solo e pilhas muito altas.
y Perdas no movimento: são aquelas que decorrem da execução de movimentações desnecessárias
por parte dos trabalhadores, durante a realização de suas atividades, por conta de frentes de trabalho distantes,
layout inadequado do canteiro, programação de uma sequência inadequada da atividade.
y Perdas pela elaboração de produtos defeituosos: são aquelas que resultam em retrabalho ou redução
no desempenho do produto final. Surgem da falta de integração entre o projeto e a execução, das deficiências
do controle do processo produtivo ou da falta de treinamento dos funcionários. São exemplos: paredes fora de
esquadro, descolamento de azulejos, falha na impermeabilização.
y Outras: existem as perdas de natureza diferente das anteriores, que decorrem de roubos, vandalis-
mos, acidentes, etc.

Os tipos de perdas expostos até aqui, geralmente são percebidas na fase de produção de uma obra, po-
rém, eles podem derivar do processo de produção, da fabricação dos materiais, ou ainda do projeto e planeja-
mento.

1.2 Sistema Toyota de Produção

A Toyota iniciou sua produção na indústria automobilística, mas seu interesse estava em aderir à técnica
de produção em larga escala de carros de passeios. Porém, a participação do Japão na II Guerra Mundial adiou
seus anseios. No findar da Guerra em 1945, conseguiu resgatar seus planos de tornar-se uma grande montado-
ra de veículos. Mas, os americanos estavam muito à frente na sua produção. Essa desvantagem serviu para es-
timular os japoneses a se equiparar à indústria americana, o que veio a acontecer anos à frente.
Segundo Almeida e Souza (2000 p. 2), “a diferença de produtividade só poderia ser explicada pela
existência de perdas no sistema de produção japonês”. A partir daí, começou a estruturação de um processo
para identificar e eliminar perdas. Com o passar do tempo a Toyota ficou conhecida mundialmente, princi-
palmente na Crise do Petróleo em 1973, pois, foi uma das poucas empresas que conseguiu escapar dos efei-
tos da crise.

1.2.1 Algumas definições da Lean Production

Qualquer atividade que consuma recursos e não agregue valor é desperdício. Para Womack (2004, apud
CUNHA, 2009, p. 48), o pensamento enxuto é uma maneira de produzir mais com menos recursos, mas pro-
curando atender aos desejos dos clientes.
De acordo com Jacobs (2009, p. 236), a definição de valor é o primeiro desafio no pensamento enxu-
to. Para o autor, “valor é conhecer o valor do trabalho executado, definindo-o como algo pelo qual os clientes
querem pagar”.

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Identificar o fluxo de valor inteiro é a próxima etapa no pensamento enxuto. Para Rother e Shook (2003,
apud RAGADALLI, 2010, p. 21), “o fluxo de valor é toda ação necessária para levar um produto por todos os
fluxos essenciais de cada produto: do projeto até o lançamento e da matéria- prima até o consumidor”.
Já para Womack (2004, apud CUNHA, 2009, p. 49), é “o conjunto de ações específicas necessárias para se
levar um produto específico a passar pelas três tarefas gerenciais críticas de qualquer negócio”. Essas tarefas são:
y Solução de problema: tem início na concepção do produto e vai até seu lançamento;
y Gerenciamento de informações: tem início no recebimento do pedido até sua entrega;
y Transformação física: vai da matéria-prima até o produto acabado nas mãos do cliente.

A análise de fluxo permite uma redução no tempo de espera de projetos e processos sem a necessidade
de altos investimentos com tecnologias complexas. As melhorias podem surgir com a melhor organização da
mão de obra, melhor aproveitamento de insumos, incentivo a uma cultura enxuta dentro da empresa e busca
pela melhoria contínua.
As atividades que não podem ser medidas não podem ser adequadamente gerenciadas. Atividades não
precisamente identificadas não podem ser questionadas, melhoradas ou até eliminadas (RAGADALLI, 2010).

1.2.2 Princípio do não-custo

Segundo Reis et al. (2005), o princípio do não-custo tem como objetivo reduzir os custos do sistema de
produção. As perdas são atividades que não agregam valor e geram custos, como exemplo dessas atividades,
são os refugos, retrabalhos e esperas.
Para Almeida e Souza (2000), o Sistema Toyota de Produção reconhece o princípio do não-custo como sen-
do a crença que a equação tradicional “Custo + Lucro = Preço” deva ser substituída pela “Preço - Custo = Lucro”.
Costumeiramente, o preço de um produto passado ao consumidor era resultado do custo de fabricação
acrescido de uma margem de lucro pretendida. Trabalhando desta maneira, o fornecedor poderia transferir ao
cliente custos extras causados pelo seu ineficiente processo de produção. Com o aumento da concorrência e o
consumidor mais exigente às suas necessidades, o preço de um produto passou a ser estipulado pelo mercado.
Dessa maneira, aumentar ou manter o lucro de um produto só é atingido através da redução de custos.

No Sistema Toyota de Produção, eliminar custos de um produto através da redução de perdas depende da
sequência dos processos pelos quais ele passa, desde a matériaprima, até o produto acabado. Para atingir
esse objetivo, a empresa precisa ter conhecimento do seu processo produtivo, apontar a fonte de desperdí-
cio e buscar maneiras de evitar qualquer atividade que comprometa a lucratividade. (CUNHA 2009, p. 54)

1.2.3 Perdas

Para Formoso (1996), as perdas devem “ser entendidas como qualquer ineficiência que se reflita no uso
de equipamentos, materiais, mão de obra e capital em quantidades superiores àquelas necessárias à produção
da edificação.”

As perdas podem ter origem no processo produtivo de um objeto, este processo é composto por ativida-
des, que podem ser classificadas em duas categorias: atividades de conversão e atividades de fluxo. As ati-
vidades de conversão são aquelas que envolvem o processamento de materiais em produtos acabados. As
atividades de fluxo englobam atividades de inspeção, movimento e espera dos materiais. (BERNARDES
2003, p. 8)

Koskela (1992), acredita que, as mais recentes filosofias de produção, creem que os processos podem ser
melhorados e terem suas perdas reduzidas não somente através da melhoria na eficiência de suas atividades,
mas também pela eliminação de algumas atividades de fluxo.
Na construção civil, as atividades de fluxo não recebem a atenção merecida. Em geral, a única análise de
fluxo feita em uma construção é em relação à disposição de centrais e materiais em um canteiro de obra. For-
moso (1996) ainda afirma que o esforço para melhoria do desempenho na construção civil deve considerar o
conceito mais amplo de perdas, isto é, visar à minimização do dispêndio de quaisquer recursos que não agre-
gam valor ao produto, sejam eles vinculados às atividades de conversão ou fluxo.

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Na eliminação das perdas é necessário conhecer suas principais causas. Com essa intenção, as perdas
podem ser classificadas quanto a possibilidade de serem controladas.

Segundo seu controle, as perdas podem ser classificadas como inevitáveis ou evitáveis. As inevitáveis são
aquelas que não podem ser controladas pelo responsável da atividade, são perdas que “o custo para sua re-
dução é maior do que o de permitir sua ocorrência”. As evitáveis são aquelas que os custos de sua ocorrên-
cia são superiores aos de sua prevenção. (BRAGA 1999, p. 3)

Shingo (1996 apud CUNHA 2009, p. 57), afirma que “não podemos encontrar e eliminar o desperdício
se não estivemos procurando por ele.” Para o Sistema Toyota de Produção, qualquer fonte de desperdício é
passível de mudança, e uma perda só é inevitável até o instante que se descobre uma maneira de evitá-la com-
pletamente.

1.3 Lean Construction

Consideráveis esforços por parte das empresas de construção civil têm sido direcionados no sentido de
introduzir no setor modernas filosofias gerenciais, algumas das quais desenvolvidas inicialmente em outras in-
dústrias, como é o caso do “Lean Construction” derivado do conceito de “Lean Production” (BARROS, 2005
apud CUNHA, 2009, p. 64).
Muitas dessas filosofias sugiram, inicialmente, no setor automobilístico japonês, sendo o Sistema Toyo-
ta de Produção, a sua mais importante aplicação (BERNARDES, 2003, p. 4).

A Lean Construction é a aplicação dos conceitos e princípios da Lean Production na construção civil. Esses
conceitos foram inicialmente apresentados por Koskela em 1992, ao publicar o Relatório Técnico nº 72 -
Application of the New Production Philosophy to Construction, pelo Center for Integrated Facility Engine-
ering (CIFE), associado à Universidade de Stanford, Estados Unidos da América (EUA), onde ele explica
sua visão sobre o processo produtivo na indústria da construção civil. Após essa publicação muitas pesqui-
sas e trabalhos foram feitos, buscando aplicar o novo modelo de gestão de produção. (CUNHA, 2009, p. 64)

Por conta da concorrência acirrada e da evolução tecnológica, muitas empresas perceberam a necessi-
dade de rever seu processo produtivo, objetivando uma melhor produtividade e competitividade. No entanto,
junto ao processo produtivo, encontra-se uma gama de profissionais que possuem maior conhecimento técnico
do que gerencial, causando uma falha na capacidade de coordenar projetos. Utilizar ferramentas de gestão de
obras auxiliará as empresas de construção a chegarem a melhores índices de eficiência.
Assim, concordando com Bernardes (2003, p. 5), o desenvolvimento de um trabalho que contemple a
maneira pela qual se possa desenvolver e implementar sistemas de planejamento e controle da produção em
microempresas e em empresas de construção, utilizando conceitos e princípios da lean construction, é essen-
cial para redução do desperdício existente na indústria da construção.

1.3.1 Os Princípios da Lean Construction

De acordo com Koskela (1992), podem ser estabelecidos onze princípios para a melhoria do fluxo, usa-
dos na aplicação da Lean Construction:
I) Redução da parcela de atividades que não agregam valor
II) Aumento do valor do produto através de uma consideração sistemática dos requisitos do cliente
III) Redução da Variabilidade
IV) Redução do Tempo de Ciclo
V) Simplificação pela minimização do número de passos e partes
VI) Aumento da Flexibilidade na Execução do Produto
VII) Aumento da transparência
VIII) Foco no controle de todo processo
IX) Estabelecimento de Melhoria Contínua ao Processo
X) Balanceamento da Melhoria dos fluxos com a melhoria das conversões
XI) Benchmarking

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2. METODOLOGIA ADOTADA E DELINEAMENTO DA PESQUISA

Gil (2002) define o delineamento como o planejamento da pesquisa, considerando o ambiente em que
são coletados os dados e as formas de controle das variáveis envolvidas. A Figura 1 representa o esquema uti-
lizado nessa pesquisa.

Figura 1. Roteiro de pesquisa

Fonte: Elaborada pelo autor.

A seguir, são apresentadas as partes desse roteiro de pesquisa.

2.1 Pesquisa bibliográfica

Foram utilizados, como marcos iniciais para a pesquisa bibliográfica, o trabalho de Barros (2005), que
analisava a aplicação da filosofia enxuta nas empresas de construção na região metropolitana da cidade do Re-
cife - PE, e o trabalho de Carvalho (2009), que apresentava um modelo de análise e avaliação das construtoras
em relação ao uso da construção enxuta. A partir desses trabalhos foram então coletados artigos, teses e mono-
grafias que permitiram o conhecimento e aprofundamento das informações acerca das áreas ligadas à organi-
zação e planejamento da produção.

2.2 Elaboração do questionário e aplicação de questionário piloto

A elaboração de uma ferramenta para coleta de dados, só pode ser realizada baseandose nos marcos teó-
ricos que contornaram a pesquisa. Dessa forma, o questionário utilizado nesse trabalho foi elaborado tomando
como referência os trabalhos já citados, porém adequando-os à natureza e aos objetivos da pesquisa. Definidas
as perguntas relevantes e formulado o questionário, foi realizada uma entrevista piloto com o objetivo de veri-
ficar a aplicabilidade do questionário.
O questionário foi aplicado em uma entrevista com um especialista na área de construção que atua a um
tempo significativo na região e conhece a dinâmica e o porte das empresas locais. Assim, o questionário foi di-
vidido em três grupos de perguntas:
y A Respeito da Empresa: as perguntas dessa parte do questionário contemplam as características da
empresa. São feitas três perguntas que investigam o porte por receita bruta, quantidade de obras em que está
atuando e a quantidade de obras em que as respostas expressas nas questões anteriores se aplicam.
y Conhecimento a Respeito da Lean Construction: essa parte contém sete perguntas que visam
identificar como os entrevistados avaliam seu conhecimento a respeito da Lean Construction e a aplicação
consciente de suas ferramentas.
y Os Onze Princípios de Koskela: nessa seção do questionário foram realizadas algumas perguntas
referentes a cada um dos onze princípios da Lean Construction sugeridos por Koskela. Essas perguntas con-
templavam procedimentos referentes a cada princípio e foram adaptadas do questionário proposto por Carva-
lho (2009) para análise da aplicação da construção enxuta. A quantidade de perguntas por princípio pode ser
vista na Tabela 1:

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Tabela 1. Quadro Resumo da Quantidade de Perguntas por Princípio


Número de
Princípio
perguntas
1 Redução de atividades que não agregam valor 5
2 Melhorar o valor do produto através das considerações sistemática requeridas pelos clients 2
3 Reduzir variabilidades 6
4 Reduzir o tempo de ciclo 9
5 Simplificar e minimizar o número de passos e partes 7
6 Melhorar a flexibilidade dos produtos 7
7 Melhorar a transparência do processo 8
8 Focar o controle do processo global 6
9 Introduzir a melhoria contínua no processo 7
10 Balancear as melhorias de fluxo com as melhorias de conversão 4
11 Referência de ponta 2
Total 71
Fonte: Dados produzidos pelo autor (2018).

Cada pergunta possui quatro possibilidades de resposta, distribuídas entre zero e três, onde zero indica
que o princípio não está presente e três indica que o princípio está efetivamente implantado a mais de doze me-
ses e apresenta melhoria na execução.

2.3 Pesquisa preliminar

Concomitantemente à elaboração do questionário, foi realizada uma pesquisa preliminar nos Conselhos
Regionais de Engenharia e Arquitetura (CREA), das cidades de Petrolina - PE e Juazeiro - BA. A informação
recebida foi a de que esses órgãos, na região, são apenas de fiscalização e, portanto, não poderiam fornecer os
dados solicitados. No entanto, foi informado que os dados requeridos poderiam ser conseguidos nas sedes dos
Conselhos, nas capitais. Foram sugeridos nomes de pessoas que poderiam ser procuradas, caso optasse por um
contato direto com a sede e também se puseram a disposição para intermediar o contato com a sede na capital,
caso fosse preferido.
Pensou-se, inicialmente, em aplicar o questionário nas empresas de construção nas cidades de Petrolina
- PE e Juazeiro - BA. Foi estabelecido contato com o CREA nos dois estados e solicitadas informações refe-
rentes às empresas registras na região. Porém, apenas o CREA - PE forneceu as informações solicitadas. Des-
sa forma, o campo de atuação da pesquisa foi restringido a apenas a cidade de Petrolina - PE. As informações
passadas pelo CREA - PE continham: Número de Registro no CREA, Nome da Empresa, Endereço, Telefone
e Data de Fundação.
A relação obtida continha cento e vinte empresas com registro no CREA - PE. Dentre estas existiam em-
presas de produção agrícola, distribuição, serviços elétricos, de manutenção, comércio, dentre outros. Desta
relação, empresas construtoras seriam apenas cinquenta e seis.

2.4 Seleção das empresas

A escolha das empresas para a aplicação do questionário se deu através de dois critérios básicos: indica-
ção do especialista e empresas presentes na lista do CREA - PE com maior tempo de fundação.
O especialista indicou as empresas no setor de edificações mais atuantes segundo seu porte. Essas infor-
mações foram cruzadas com as obtidas na pesquisa preliminar, considerando as empresas com mais tempo de
atuação no mercado. Essa decisão justifica-se pela ideia de que empresas que tiveram tempo de se consolidar
possuem maior nível de organização.

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Só foi possível estabelecer contato com nove, algumas por não haver informações corretas para o con-
tato, outras por não haver alguém disponível para atender. Das nove empresas esse trabalho se concentrou nas
respostas de quatro empresas, pois nas demais por diversos motivos não se pôde realizar as coletas.

2.5 Aplicação do questionário

O questionário foi entregue ao responsável pelo gerenciamento das obras, que pode ser um engenheiro,
um técnico com experiência ou o próprio proprietário da empresa. Duas entrevistas foram realizadas pessoal-
mente e as outras foram respondidas e as respostas foram enviadas por e-mail.

2.6 Tratamento e análise dos dados

Considerando a natureza deste trabalho, os dados receberam um tratamento qualitativo, ressaltando que
para as questões referentes aos onze princípios propostos por Koskela (1992), foram atribuídos pesos iguais
de forma a estabelecer que todos os princípios tenham o mesmo grau de importância na construção enxuta.
Cada pergunta tem como valor mínimo de resposta zero e valor máximo três. Para cada questionário
respondido foi realizado o somatório das respostas por princípio e calculado o desempenho da empresa para
aquele princípio, dividindo o somatório das respostas dadas pelo entrevistado pelo somatório de pontos máxi-
mo possível para aquele princípio. O resultado é expresso em percentual de desempenho. Esse percentual de
desempenho pode ser visualizado, por princípio através de um gráfico radar, dividido em quatro classes que
variam de zero a vinte e cinco por cento; de vinte e cinco a cinquenta por cento; de cinquenta a setenta e cinco
por cento e de setenta e cinco a cem por cento.
Com a finalidade de tornar melhor a visualização das características da empresa com relação aos princí-
pios, a Tabela 2 apresenta os intervalos de resposta para o percentual de desempenho e o que traduz cada um
deles.

Tabela 2. Níveis de classificação por percentual de desempenho para aplicação dos princípios
Intervalo de percentual
Característica
de desempenho
0% a 25% O princípio não está presente
25% a 50% Há incidência de aplicação do princípio, porém de maneira inconsistente
50% a 75% O princípio está aplicado, porém evidencia oportunidades de desenvolvimento
O princípio está totalmente presente, aplicado a mais de doze meses e resulta em melho-
75% a 100%
rias para a empresa
Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018).

O percentual de desempenho global da empresa, quanto à aplicação dos princípios da construção enxuta,
é calculado através do somatório das respostas de todos os princípios, dividindo o valor obtido pelo somatório
do valor máximo de todas as perguntas. Hafacker (2008) apud Carvalho (2009) sugere a seguinte Tabela 3 co-
mo referência para classificação da empresa de acordo com o nível de construção enxuta:

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Tabela 3. Níveis para a Classificação da Empresa por Percentual de Desempenho Global


Nível Subnível Percentual Característica
AAA 95% a 100%
A AA 90% a 94% Busca pela perfeição na construção enxuta
A 85% a 89%
BBB 80% a 84%
B BB 75% a 79% Consciência e aprendizado enxuto
B 70% a 74%
CCC 65% a 69%
Foco em qualidade, mas baixo eu nenhum
C CC 60% a 64%
conhecimento em construção enxuta
C 55% a 59%
DDD 50% a 54%
Baixo foco em melhorias. Conhecimento nulo
D DD 45% a 49%
sobre construção enxuta
D 0% a 44%
Fonte: Hafacker (2008) apud Carvalho (2009).

Depois de tabular esses dados, o resultado para cada empresa foi analisado incluindo a quantidade de
obras em que a empresa está atuando, classe de percentual de obras em execução em que as respostas expressas
se aplicam e o desempenho da empresa com relação à aplicação dos princípios da Lean Construction.

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Depois de tratar os dados coletados, pudemos conhecer o desempenho atual da empresa para cada um
dos princípios da construção enxuta. Essas informações podem servir de base para a elaboração de futuros pla-
nos de melhoria nessas empresas.

3.1 Empresa 01

A Empresa 01 é uma empresa de pequeno porte, que não utiliza nenhuma ferramenta da Lean Construc-
tion, é responsável atualmente por até 2 obras e considera que as respostas dadas no questionário se aplicam entre
51% a 75% das obras em execução. A Tabela 4 apresenta os resultados obtidos para a Empresa 01, por princípio
e o percentual de desempenho global para a empresa, obtido através do somatório de todos os princípios.

Tabela 4. Resultados por Princípio para a Empresa 01


Somatório Somatório Percentual de
Princípio
das respostas máximo possível desempenho
1) Redução de atividade que não agregam valor 8 15 53%
2) Melhorar o valor do produto através das considerações
5 6 83%
sistemáticas requeridas pelo cliente
3) Reduzir variabilidades 5 18 28%
4) Reduzir o tempo de ciclo 6 27 22%
5) Simplificar e minimizar o número de passos e partes 10 21 48%
6) Melhorar a flexibilidade do produto 8 21 38%
7) Melhorar a transparência do processo 14 24 58%
8) Focar o controle do processo global 7 18 39%

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Somatório Somatório Percentual de


Princípio
das respostas máximo possível desempenho
9) Introduzir a melhoria contínua do processo 5 21 24%
10) Balancear as melhorias no fluxo com as melhorias das
6 12 50%
Conversões
11) Referências de ponta (Benchmarking) 1 6 17%
Total 75 189 40%
Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018).

As informações da Tabela 4 podem ser visualizadas através do Gráfico Radar, exposto na Figura 2, que
expressa a posição da empresa através dos percentuais de desempenho.

Figura 2.
Gráfico Radar de Desempenho por
Princípio na Empresa 01

Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018).

3.2 Empresa 02

A empresa 02 é uma empresa de médio porte, que afirma aplicar a ferramenta da Lean Construction To-
tal Quality Control. Atualmente é responsável por entre 5 e 10 obras, e afirma que as respostas se aplicam à
faixa entre 51% a 75% das obras em execução.
A Tabela 5 apresenta o somatório das respostas dados no questionário e o percentual de desempenho, por
princípio, como também o desempenho geral da empresa, pelo somatório dos resultados de todos os princípios.

Tabela 5. Resultados por Princípio para a Empresa 02


Somatório Somatório Percentual de
Princípio
das respostas máximo possível desempenho
1) Redução de atividades que não agregam valor 13 15 87%
2) Melhorar o valor do produto através das considerações
6 6 100%
sistemáticas requeridas pelo cliente

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Somatório Somatório Percentual de


Princípio
das respostas máximo possível desempenho
3) Reduzir variabilidades 13 18 72%
4) Reduzir o tempo de ciclo 11 27 41%
5) Simplificar e minimizar o número de passos e partes 14 21 67%
6) Melhorar a flexibilidade do produto 13 21 62%
7) Melhorar a transparência do processo 16 24 67%
8) Focar o controle do processo global 17 18 94%
9) Introduzir a melhoria contínua do processo 18 21 86%
10) Balancear as melhorias no fluxo com as melhorias das
5 12 42%
Conversões
11) Referências de ponta (Benchmarking) 4 6 67%
Total 130 189 69%
Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018)

A posição da empresa, através dos níveis de percentual de desempenho, pode ser vista no gráfico radar
na Figura 3:

Figura 3.
Gráfico Radar de Desempenho por
Princípio na Empresa 02

Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018)

3.3 Empresa 03

A Empresa 03 é uma empresa de médio porte, que é responsável entre 2 a 5 obras atualmente. Como
a Empresa 01, essa também não utiliza nenhuma ferramenta da Lean Construction e também considera que
as respostas dadas se aplicam entre 51% a 75% das obras em execução. O somatório das respostas dados no
questionário e o percentual de desempenho, por princípio, como também o desempenho geral da empresa, pe-
lo somatório dos resultados de todos os princípios são expressos na Tabela 6.

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Tabela 6. Resultados por Princípio para a Empresa 03


Somatório Somatório Percentual de
Princípio
das respostas máximo possível desempenho
1) Redução de atividades que não agregam valor 15 15 100%
2) Melhorar o valor do produto através das considerações
6 6 100%
sistemáticas requeridas pelo cliente
3) Reduzir variabilidades 12 18 67%
4) Reduzir o tempo de ciclo 18 27 67%
5) Simplificar e minimizar o número de passos e partes 20 21 95%
6) Melhorar a flexibilidade do produto 17 21 81%
7) Melhorar a transparência do processo 22 24 92%
8) Focar o controle do processo global 14 18 78%
9) Introduzir a melhoria contínua do processo 18 21 86%
10) Balancear as melhorias no fluxo com as melhorias das
12 12 100%
Conversões
11) Referências de ponta (Benchmarking) 3 6 50%
Total 157 189 83%
Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018).

Utilizando o Gráfico Radar, é possível visualização do nível de desempenho da Empresa 03, com rela-
ção a cada um dos princípios da Lean Construction.

Figura 4.
Gráfico Radar de Desempenho por
Princípio na Empresa 03

Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018).

3.4 Empresa 04

A empresa 04 é uma empresa de grande porte, que afirma utilizar uma das ferramentas da construção
enxuta, Total Quality Control. É responsável atualmente pela faixa de 10 a 20 obras e afirma que as respostas
expressas no questionário, se aplicam a menos da metade das obras em execução, entre 26% a 50%. A Tabela

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7, apresenta os resultados do desempenho dessa empresa, para cada um dos princípios, bem como o desempe-
nho global da empresa com relação a da Lean Construction.

Tabela 7. Resultados por Princípio para a Empresa 04


Somatório Somatório Percentual de
Princípio
das respostas máximo possível desempenho
1) Redução de atividades que não agregam valor 14 15 93%
2) Melhorar o valor do produto através das considerações
6 6 100%
sistemáticas requeridas pelo cliente
3) Reduzir variabilidades 15 18 83%
4) Reduzir o tempo de ciclo 13 27 48%
5) Simplificar e minimizar o número de passos e partes 15 21 71%
6) Melhorar a flexibilidade do produto 7 21 33%
7) Melhorar a transparência do processo 19 24 79%
8) Focar o controle do processo global 12 18 67%
9) Introduzir a melhoria contínua do processo 19 21 90%
10) Balancear as melhorias no fluxo com as melhorias das
10 12 83%
Conversões
11) Referências de ponta (Benchmarking) 5 6 83%
Total 135 189 71%
Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018).

De forma a tornar a visualização dos resultados da Empresa 04 mais clara, a Figura 5. Gráfico Radar de
Desempenho por Princípio na Empresa 04, apresenta o Gráfico Radar, que expõe a porcentagem de desempe-
nho de cada princípio, dentro das faixas percentuais que variam por quartil.

Figura 5.
Gráfico Radar de Desempenho por
Princípio na Empresa 04

Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018).

Revista FENEC - 3(1): 112-127, abril, 2019 124


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3.5 Desempenho global das empresas

Calculando o percentual global de aplicação dos princípios da construção enxuta entre as empresas pes-
quisadas e utilizando a Tabela 3. Níveis para a Classificação da Empresa por Percentual de Desempenho Glo-
bal como referência para a caracterização, obtemos os resultados expostos na Tabela 8:

Tabela 8. Desempenho Global da Aplicação do sistema Lean Construction


Empresa Percentual Subnível
Empresa 01 40% D
Empresa 02 69% CCC
Empresa 03 83% BBB
Empresa 04 71% B
Fonte: Dados produzidos pelo o autor (2018).

Com isso, percebemos que, a Empresa 1 possui um baixo foco na qualidade e possui um conhecimento
nulo sobre construção enxuta. A Empresa 2 possui foco na qualidade, porém possui baixo ou nenhum conhe-
cimento em construção enxuta. Já a Empresa 3 e a Empresa 4, possuem a consciência e aplicam o aprendizado
enxuto em sua maneira de gerir as obras.

CONCLUSÃO

O primeiro objetivo desse trabalho foi identificar entre as pessoas ligadas ao gerenciamento de obras,
como auto-avaliavam seu conhecimento a respeito da Lean Construction. As respostas dadas indicam que es-
sa filosofia não foi difundida na região. Nenhum representante das empresas informou possuir muito conheci-
mento a respeito do tema. Os que afirmam possuir pouco ou um bom conhecimento a respeito da construção
enxuta, não evidenciaram a origem de seus conhecimentos. Isso sugere que, na prática, o que pode ser consi-
derado como um conhecimento razoável para um, pode ser considerado como muito para outro.
Dessa forma, fazem-se necessários questionamentos mais profundos a respeito desse conhecimento pa-
ra garantir que a resposta, de fato, corresponda à realidade. Não seria coerente classificar da mesma forma o
conhecimento de alguém que trabalhou com a filosofia e o conhecimento de alguém que apenas leu algo a res-
peito, embora ambos afirmem que possuem relativo conhecimento sobre o tema.
O segundo objetivo desse trabalho buscou identificar o interesse dos entrevistados em aplicar os princí-
pios da construção enxuta e os entraves para a sua aplicação e o terceiro objetivo específico visou identificar a
percepção a respeito dos benefícios da adoção do pensamento enxuto.
De uma forma geral, pode-se concluir que todos os entrevistados têm interesse em trabalhar com o siste-
ma Lean Construction, bem como acreditam que ele possa melhorar o desempenho de suas empresas. Assim,
percebe-se a existência de campo para a aplicação do pensamento enxuto na região.
Quando questionados a respeito dos entraves para essa aplicação, as empresas apontam para o alto cus-
to. Porém, ao verificar que a empresa de grande porte é a única que destoa nessa justificativa, concluímos que a
incerteza de que haverá retorno do investimento realizado, pode ser a maior barreira para a adoção do sistema
Lean Construction pelas empresas.
Assim, tornar conhecidos os benefícios da adoção do pensamento enxuto, tanta para as empresas, quanto
para funcionários, clientes e fornecedores, pode eliminar a principal barreira para a aplicação da Lean Cons-
truction e proporcionar a cooperação entre todos os agentes, de forma que, os investimentos realizados não
sejam perdidos.
A realização dessa pesquisa permitiu perceber que existem empresas na região com características e pro-
cedimentos comuns ao sistema Lean Construction, apesar de não ser identificada a consciência disso. Há varia-
ção na aplicação dos princípios, mas é comum a todas as empresas a preocupação em atender as considerações

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dos clientes. Com isso percebe-se a relevância desse princípio no cotidiano das empresas, pois a satisfação dos
anseios dos clientes é fator decisivo para a sobrevivência das empresas no mercado.
Assim, podemos afirmar que o objetivo principal desse trabalho foi atingido ao verificarmos o nível de
aplicação de cada princípio por empresa e o desempenho global da empresa na adoção do sistema Lean Cons-
truction e finalmente concluir, considerando a autoavaliação dos respondentes quando o conhecimento a res-
peito da filosofia, que há a preocupação das empresas em melhorar seus processos produtivos.

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VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

PROPOSTAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA


EM RESIDÊNCIAS DO RECIFE - PE

Andresa de Freitas Silva (afs_eng@hotmail.com)


Rafaela Oliveira Holanda da Silva (rafaela.holanda.eng@gmail.com)

Resumo: Atualmente, as questões relacionadas ao uso consciente da água passaram a ser uma preocupação mundial, ainda mais
se tratando de locais onde o acesso à água não é diário. Em meio a isso, tem-se promovido o aumento crescente de políticas
públicas voltadas às práticas sustentáveis. Esse estudo tem como objetivo procurar mostrar as vantagens do aproveitamento
imediato da captação de águas pluviais para diversos usos nas residências das comunidades do Recife - PE, em virtude da escassez
de água, bem como medir e apresentar essas melhorias para a população. A pesquisa é de caráter exploratório, de abordagem
quantitativa, realizada através dos dimensionamentos de instalações em duas residências, obtidos a partir da área de telhado.
A localidade foi escolhida com base nos dados pluviométricos e a relação entre o consumo de água mensal. Logo, com os dados
coletados foi possível realizar os cálculos para determinar as medidas e materiais necessários para esse dispositivo tecnológico
adotado nas residências. Dessa forma, essa técnica atinge sua eficiência, disponibilizando o acesso a água não potável para a
população, onde os moradores podem utilizar em descargas sanitárias ou na jardinagem, tornando-se ainda uma alternativa capaz
de minimizar o problema de escassez, e estimulando uma consciência voltada à sustentabilidade.
Palavras-chave: Aproveitamento da Água Pluvial. Reaproveitamento de água. Captação.

INTRODUÇÃO

O crescimento sucessivo na busca de água para consumo humano e a contínua poluição dos fluxos de
água fazem com que esse recurso natural se torne cada vez mais escasso e, como consequência, afetam o de-
senvolvimento econômico e a qualidade de vida. Técnicas de captação para aproveitamento da água da chuva
estão progressivamente se tornando algo de grande importância para a humanidade.
Atualmente debates com esta temática são cada vez mais frequentes, além de assuntos voltados a dis-
ponibilidade hídrica existente, ao qual expõem a atual situação em que vivemos, como casos de escassez,
desperdício e poluição. Inúmeros fatores contribuem para que o fornecimento de água potável não chegue às
residências, dentre essas causas destacam-se ligações clandestinas, desigualdade na distribuição e vazamentos
durante o percurso. E quanto maior o crescimento populacional mais elevado fica a demanda de água, gerando
assim crises hídricas, um fator prejudicial a todos.
Em meio a esse cenário, diversos bairros do Recife enfrentam longos dias sem acesso a água, o que pre-
judica diretamente a qualidade de vida da população. Posto isso, implantar alternativas simples de captação de
água de chuva são bem eficazes, pois esses armazenamentos que são feitos em cisternas irão suprir parte do
déficit nas casas. Além disso, se trata de uma tecnologia simples de baixo custo, com rápida instalação, ao qual
atua diretamente na diminuição do consumo da água tratada, bem como no remanejamento do escoamento su-
perficial da água da chuva.

1. ISTEMA DE CAPTAÇÃO DAS CHUVAS

Por apresentar inúmeros benéficos ao ser humano e ao meio ambiente, a técnica de captação das águas
pluviais tornou-se alvo de seriedade por todo o mundo. Propostas de armazenamento em cisternas como diz

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Andresa de F. S.; Rafaela O. H. da S. Propostas de captação de água de chuva em residências do Recife - PE

Silva (2013), é vista como uma tecnologia simples que pode proporcionar várias benfeitorias aos possuintes,
sendo considerada de baixo custo e que ainda acaba reduzindo as perdas e até mesmo a contaminação da água
com o transporte e manejo inadequado, podendo dessa forma refletir na qualidade de vida para melhoria das
condições de convivência da região.
No âmbito internacional, é perceptível o interesse pelo aproveitamento de água pluvial. Ward, Memon
e Butler (2012) analisaram o comportamento de um reservatório de acumulação e o retorno de capital de um
sistema de captação em edificações de grande porte no Reino Unido. Youn et al. (2012) desenvolveram um
método em que pudessem encontrar semelhanças probabilísticas entre a capacidade do reservatório de arma-
zenamento e o déficit que acontece no rendimento do sistema quando se consideram as mudanças climáticas
na cidade de Seul, na Coreia do Sul.
Em meio a isso, diversos pesquisadores na Austrália também estão bastantes envolvidos com essa ino-
vação. Khastagir e Jayasuriya (2010) apresentaram uma metodologia de cálculo capaz de encontrar as melho-
res dimensões de reservatório na cidade de Melbourne, na Austrália, acreditando que existe elevada variação
de intensidade pluviométrica anual média na área urbana.
Vale destacar que, a coleta da água da chuva é uma técnica de fácil manuseio, dependendo da tecnolo-
gia, ela possui um custo de implantação baixo, e que garante uma fonte de utilização da água para diversos fins.
Posto isso, percebe-se a importância que se tem a captação de água pluvial por todo o mundo, gerando assim
uma questão ampla voltada a interesses sociais e políticos, capaz de melhorar gradativamente o meio ambiente
de modo geral. Assim, esses sistemas de aproveitamento de água pluvial representam ações que possuem gran-
de impacto na redução da demanda de água potável fornecida pelo saneamento básico, isso tudo para diminuir
os problemas relacionados a esse cenário crítico de indisponibilidade hídrica. Tais alternativas possibilitam os
usuários utilizarem essas águas para realizar suas atividades diárias como, lavar roupas, lavar banheiros, lavar
a casa entre outros, além de minimizar enchentes e alagamentos na localidade. Logo, percebe-se a importância
da execução dessa estratégia, sendo então uma inovação capaz de gerar economia na água tratada, resultando
em práticas sustentáveis e uma nova consciência social.

2. QUALIDADE DA ÁGUA DA CHUVA

A água da chuva é um recurso abundante que pode solucionar problemas relacionados ao abastecimento
da população, devido a isso diversas técnicas são estudadas e aplicadas. Mas, é importante destacar a qualidade
dessas águas, pois elas podem ser armazenadas sob várias condições e com diversas impurezas.
As técnicas mais utilizadas para captar a água da chuva são pelas calhas do telhado, porém podem ser
encontradas diversas impurezas e sujeiras, como as folhas. Logo, para impedir que esses resíduos passam para
a cisterna é importante destacar um passo utilizado nesse método, que são a dispensa dos primeiros milímetros
de cada chuva, assim se esta água for descartada, o restante da água da chuva tem boa qualidade para diversos
usos, na utilização desses dispositivos simples.
Além disso, realizar a manutenção e a limpeza das coberturas e calhas são essenciais para manter essa
qualidade da água. O período desse reparo é variável, porém em certos casos como estiagens, queimadas entre
outros, é indispensável fazer. Seguindo todos os cuidados a qualidade da água se manterá.
A condição da água pluvial em ambientes urbanos tende a diminuir devido aos agentes poluentes que va-
riam de cidade, sendo os polos industriais onde concentram os piores níveis de potabilidade. No entanto, água
da chuva quando captada pode ser utilizada para uso doméstico como: lavar chão, carro, regar plantas e após
tratada para beber, entre outros (MENEZES et al., 2013).
Para o aproveitamento de água da chuva é indispensável definir antes qual sua finalidade, e assim poder
usar o melhor procedimento na hora de sua captação. Alguns cuidados básicos devem ser tomados para a me-
lhoria da qualidade da água armazenada como: limpeza do telhado, limpezas dos dutos, proteção na entrada e
na saída da cisterna, além do desvio da água captada no início da precipitação (ARAÚJO, 2017).
É importante realizar ações de manutenção, pois em dias de precipitações a água ao passar pela área de
captação (telhados e calhas), leva consigo diversas impurezas, como folhas, galhos, fezes de animais, entre ou-
tros, e executando essas medidas além de garantir uma melhor qualidade, evita que as águas possam depreciar
o restante do volume, e consequentemente aumenta o tempo de manutenção nos reservatórios.

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Um estudo recente realizado por Silva et al. (2017), analisou a qualidade da água desviada do sistema
de armazenamento, com o emprego de três tipos de dispositivos de descarte automático: um baseado no prin-
cípio de fecho hídrico (ANDRADE NETO, 2004), um baseado no princípio dos vasos comunicantes (CEPFS,
2017) e o terceiro baseado em ambos os princípios físicos, o DesviUFPE. Diante disso, fica clara a relevância
que o desvio de água tem, pois é através desse cuidado que a água obtida através da técnica de captação ofere-
ce a qualidade necessária para ser utilizado nos serviços diários da população.

3. ATERIAIS E MÉTODOS

O percurso metodológico utilizado para esse estudo foi através da pesquisa exploratória, de abordagem
quantitativa, realizada em campo para efetuar os dimensionamentos. Mediante os estudos, foi feito a identifi-
cação da localidade com potencial para a captação de água da chuva atrelado à escassez de água potável.
Em seguida foram selecionadas duas residências de pequeno porte em uma comunidade no bairro do
Recife que possuíam critérios que validassem a aplicação da instalação da captação de água da chuva, como:
deficiência na distribuição de água da companhia de abastecimento e condições de precipitação suficientes pa-
ra a instalação.
A instalação foi dimensionada para cada casa, onde foi caracterizada a área de contribuição da cober-
ta, assim definindo a melhor maneira para o reaproveitamento dessas águas pluviais. Os sistemas de calha,
tubulações de coleta e o reservatório inferior (Cisterna), também foram dimensionados seguindo o método
estabelecido por Araújo (2017). Vale salientar que o método parte da relação em que a cada m2 de área de
captação é preciso desviar um litro de água da chuva, dessa maneira os primeiros litros de água com resíduos
ficam nas tubulações, para serem descartada posteriormente, assim apenas a água limpa passa para o reser-
vatório. Diante disso iniciou a etapa dos cálculos, para assim obter a quantidade de tubos necessários para a
residência, onde o volume de acumulação em 1 m de tubulação, com diâmetro de 100mm foi obtido através
da Equação 1.

Volumetubo = Áreatubo ⁎ Ltubo Equação 1

Sendo:

Equação 2

O volume de descarte depende da zona de captação, e a área do telhado em cada caso é na unidade de
(x) m , assim utilizou-se a Equação 3.
2

Equação 3

Em seguida, conforme apresentado na Equação 4, foi dimensionado a quantidade necessária de tubos


PVC, fazendo-se preciso ter a variável principal que é a área do telhado.

Equação 4

Assim, pode-se definir o dimensionamento mais adequado, onde logo após foram elaboradas planilhas
orçamentárias contemplando os materiais necessários e apresentando viabilidade econômica na utilização des-
se tipo de sistema.

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Andresa de F. S.; Rafaela O. H. da S. Propostas de captação de água de chuva em residências do Recife - PE

4. RESULTADOS

A pesquisa foi direcionada para a comunidade Nova Descoberta- Recife, tendo em vista a carência no
abastecimento de água na região bem como uma precipitação média anual, considerando uma série histórica
de 10 anos, de 1743 mm/ano, apresentado na Figura 1.

Figura 1.
Série histórica de
chuvas da região

Fonte: Os Autores
(2019).

Foram identificadas duas residências que apresentavam as ótimas condições para implantação da capta-
ção. As Figuras 2A e 2B apresentam as duas residências escolhidas.

Figuras 2A e 2B. Residências selecionadas para o estudo

Fonte: Os Autores (2019).

O estudo para a realização dos cálculos foram baseados no grupo de pesquisadores DesviUFPE (2017)
da cidade de Caruaru - PE, onde fez-se necessário como peça principal para fabricação do dispositivo, mate-
riais como tubos de PVC de 100mm, no qual ligados a uma cisterna, atuará como um equipamento de armaze-
namento, e que assim são desviados automaticamente os primeiros milímetros de água de chuva.

Revista FENEC - 3(1): 128-134, abril, 2019 131


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Em meio a isso, obtendo-se a área do telhado, o volume de descarte e a quantidade de tubos de PVC pre-
cisos, é possível realizar de forma eficiente a aplicação da técnica de captação, sendo possível ainda executar
os desvios dos primeiros milímetros de água de chuva, melhorando a qualidade da água que será fornecida ao
consumidor, como mostra uma ilustração na Figura 3.

Figura 3.
Pontos de coletas

Fonte: Araújo (2017).

Com base na pesquisa desenvolvida para elaboração deste trabalho, verificou-se o quanto é simples a
aplicação desta técnica para à população, podendo ainda garantir economia da água potável, custos, e solução
para a escassez da mesma.
Assim, por meio das Equações 1, 2 e 3 encontrou-se um Volumetubo de 7,854 litros, com isso foi determi-
nado que a cada metro de tubo com diâmetro de 100 mm serão acumulados 7,854 litros de água. Logo, dando
continuidade nos cálculos foi possível obter as informações através dessa técnica, onde os resultados encontra-
-se na Tabela 1, ao qual são dados representativos pois o mesmo foi comparado com os valores encontrado pe-
los pesquisadores da DesviUFPE (2017).

Tabela 1. Comparação de resultados


Área do telhado utilizada (m2) Volume de descartes (litros) Quantidade de tubos (m)
Os Autores (2019) 37,5 37,5 4,77
DesviUFPE 25 25 3,18
Fonte: Os autores (2019).

Dessa maneira, com as informações dos cálculos pôde-se dá início a tabela de custos onde foram levan-
tados os materiais e quantidades necessárias para a instalação dessa tecnologia, baseado na residência de 75 m2
ao todo, conforme apresentado na Tabela 2.

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Andresa de F. S.; Rafaela O. H. da S. Propostas de captação de água de chuva em residências do Recife - PE

Tabela 2. Classificação de materiais utilizados e a quantidade


Casa de até 75 m2 de área do telhado
Código Materiais Un. Quantidade
15152.8.22.4 Tubo PBV de PVC branco para esgoto série normal (diâmetro de seção 100 mm) m 3
15410.3.31.1 Torneira de pressão para uso geral da parede un. 1
Joelho 90º PBV de PVC branco para esgoto série normal (diâmetro da seção: 150
15152.1.13.4 un. 6
mm)
Braçadeira para fixação de aparelho sinalizador fixação em tubos de diâmetro ½”
13105.3.3.1 un. 8
ou 2”
TÊ 90° de redução de PVC branco ponta, bolsa e virola, para esgoto série normal
15152.3.24.4 un. 6
(de diâmetro de entrada: 150 mm / diâmetro de saída 100 mm)
Reservatório d’água de fibrocimento com tampa (capacidade: 500 l / Forma: CI-
15450.3.2.4 un. 1
LÍNDRICA)
Calha de chapa galvanizada (Chapa: 24 / desenvolvimento: 330,00 mm
07712.3.2.3 m 3
/ espessura: 0,65 mm)
Fonte: Os autores (2019).

Já para aqueles moradores que possuir algum tipo de caixa d’água, tonel ou algo que funcione como uma
cisterna o investimento será ainda menor como mostra a Tabela 3.

Tabela 3. Classificação de materiais utilizados, quantidade e preços


Casa de até 75 m2 de área do telhado
Código Materiais Un. Quantidade
Tubo PBV de PVC branco para esgoto série normal (diâmetro de seção
15152.8.22.4 m 3
100 mm)
15410.3.31.1 Torneira de pressão para uso geral da parede un. 1
Joelho 90º PBV de PVC branco para esgoto série normal (diâmetro da
15152.1.13.4 un. 6
seção: 150 mm)
Braçadeira para fixação de aparelho sinalizador fixação em tubos de diâmetro ½”
13105.3.3.1 un. 8
ou 2”
TÊ 90° de redução de PVC branco ponta, bolsa e virola, para esgoto
un. 6
15152.3.24.4 série normal (de diâmetro de entrada: 150 mm / diâmetro de saída 100 mm)
Reservatório d’água de fibrocimento com tampa (capacidade: 500 l / Forma: CI-
15450.3.2.4 un. 1
LÍNDRICA)
Calha de chapa galvanizada (Chapa: 24 / desenvolvimento: 330,00 mm
07712.3.2.3 m 1
/ espessura: 0,65 mm)
Fonte: Os autores (2019).

Portanto, com os resultados obtidos através de cada etapa, foi possível verificar a viabilidade no uso das
águas pluviais para a área urbana, podendo notar que independente da localidade da casa o dispositivo é insta-
lado sem nenhuma interferência e atingirá a mesma funcionalidade da instalação realizada em área rural como
foi no caso do estudo do grupo DesviUFPE (2017).

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CONCLUSÃO

É possível perceber as vantagens e benefícios que a captação de águas pluviais pode trazer em popula-
ções que sofrem frequentemente com a escassez de água, por longos períodos. E principalmente em áreas ur-
banas, onde o saneamento básico é algo ainda raro e mal distribuído entre a população.
Dessa forma, percebeu-se que água da chuva armazenada nas residências, pode ser utilizada em ativi-
dades simples e indispensáveis do cotidiano como lavar a casa, garagens, calçadas, carros e nas descargas de
dejetos nos banheiros, reduzindo os custos e o desperdício da água potável.
Portanto mesmo com esse um investimento financeiro necessário de início para a instalação do méto-
do, as vantagens dessa alternativa sustentável pode ser considerada uma solução que de certa forma ameniza
o problema da falta de água gerando mais conforto e comodidade em residências localizadas em comunidades
da cidade do Recife, especificamente a de Nova Descoberta.

REFERÊNCIAS

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chuva em zona rural: determinação de deposição seca e melhoria de desempenho. 2017. Disponível em: <ht-
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Revista FENEC - 3(1): 128-134, abril, 2019 134


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS DOS RESÍDUOS


DA PRODUÇÃO DO GESSO ACARTONADO

Leonária Araújo Silva (leonaria100@gmail.com)


Fabrício de Souza Silva (fabriciosilva102009@hotmail.com)
Igor Gabriel Gomes Carvalho (carvalhoigg@gmail.com)

Resumo: O sistema Drywall em vedações e forros se difundiu rapidamente no setor da construção civil nos últimos anos. As
vantagens advindas da velocidade de execução, peso próprio e versatilidade têm aumentado o consumo e a produção de chapas
de gesso acartonado no país. Tal crescimento, contudo, carrega consigo a problemática de geração de resíduos do sistema
produtivo e consequente destinação, preocupação agravada pelo fato de o gesso ser um composto de sulfato de cálcio que,
cuja deposição irregular na natureza, pode contaminar solos e águas. Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo
determinar as propriedades físicas e mecânicas dos resíduos da linha de produção de uma indústria de gesso acartonado
localizada no município de Juazeiro do Norte, abrindo espaço para o estabelecimento de processos de reinserção dos resíduos
em cadeias produtivas. Baseando-se na pesquisa bibliográfica realizada, a metodologia consistiu inicialmente na realização de
procedimentos de beneficiamento e reciclagem dos resíduos, sendo posteriormente realizados os ensaios de laboratório, a fim de
quantificar os parâmetros estabelecidos nas normativas que atestam a aceitação e definem a classificação do gesso. Os resultados
obtidos apresentam características com potencial de reaproveitamento, abrindo espaço para a definição de mecanismos viáveis
de reinserção dos resíduos em processos produtivos.
Palavras-chave: Drywall. Resíduos. Reaproveitamento.

INTRODUÇÃO

A conduta das indústrias em relação à geração de resíduos e rejeitos de produção, bem como a sua desti-
nação, tem sido alterada devido à crescente preocupação com as questões ambientais. Segundo Degani (2003),
o consumo indiscriminado de recursos naturais para a produção de bens que geram resíduos posteriormente
depositados de forma incontrolada no meio ambiente, não é durável, tendo em vista a limitação dos recursos
presentes na natureza e a crescente degradação provocada ao meio ambiente. Com isso, surge a necessidade de
adequação dos segmentos da indústria da construção ao novo modelo de desenvolvimento econômico mundial,
caracterizado por Pinheiro (2011), pela inquestionável busca pela sustentabilidade.
A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - CMMAD (1988) define o desenvol-
vimento sustentável como aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de satisfazer as próprias necessidades. O desenvolvimento sustentável de uma cadeia produ-
tiva só pode ser alcançado por meio do esforço integrado de seus diversos agentes, com o objetivo maior de
perpetuar as condições de existência humana atual (MARCONDES, 2007).
A utilização de placas de gesso acartonado como vedação interna e forro em edificações tem se propa-
gado pelo Brasil desde a década de 90; as vantagens de utilização do sistema drywall associadas à rapidez dos
serviços, facilidade de execução de instalações, otimização de espaços, dentre outras, têm sido responsáveis
pelo crescimento médio anual de 15%, de acordo com a Associação Brasileira de Drywall - ABD (2017).
Paralelo ao crescimento da produção ocorre o aumento da quantidade de resíduos gerados pelo processo
que, de acordo com: Savi (2012), Marcondes (2007), Bauer (2012), John e Cincotto (2003), se destinados in-
corretamente, acarretam na alteração da alcalinidade do solo e na contaminação dos lençóis freáticos, além de

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 135


Leonária A. S.; Fabrício de S. S.; Igor G. G. C. Propriedades físicas e mecânicas dos resíduos da produção do gesso acartonado

gerar gás sulfídrico (H2S) quando decomposto em aterros sem controle. Os impactos ambientais decorrentes
da deposição de resíduos sólidos na natureza configuram um grave problema de gestão pública, visto a limita-
ção de aterros adequados.
A continuidade e o crescimento da geração de resíduos fazem com que tecnologias para reciclagem de
resíduos com potencial de reutilização sejam imprescindíveis. Diante do exposto, este trabalho busca determi-
nar as propriedades físicas e mecânicas dos resíduos tratados e beneficiados, oriundos do processo produtivo
de placas de gesso acartonado, de uma unidade fabril localizada no município de Juazeiro do Norte, através
dos processos de moagem e calcinação e posterior realização de ensaios; avaliando posteriormente se os resul-
tados obtidos caracterizam o material de estudo como passível de reaproveitamento.
O estudo das propriedades dos resíduos gerados continuamente na produção do gesso acartonado se faz
necessária para a definição de mecanismos de reinserção do material em seu próprio processo produtivo ou em
processos distintos.

1. DESENVOLVIMENTO

A metodologia de análise das propriedades físicas e mecânicas do gesso reciclado proveniente do resí-
duo da produção de gesso acartonado está baseada nos trabalhos de Ribeiro (2006), Nascimento e Pimentel
(2010), Bardella (2011) e Erbs et al. (2015); constando de quatro principais etapas, descritas abaixo e detalha-
das mais adiante:
1. Obtenção e beneficiamento: Coleta de resíduos de gesso acartonado nos pontos de origem, separação
entre gesso e papel cartão, trituração dos resíduos e calcinação do pó de gesso;
2. Caracterização física do pó: Determinação da granulometria, do Módulo de finura e da massa unitá-
ria do pó;
3. Caracterização física da pasta: Determinação do tempo de pega;
4. Caracterização mecânica: Determinação da resistência à compressão e da dureza superficial.

A partir dos dados coletados nos ensaios realizados, foi estabelecida uma relação dos resultados obtidos
com os parâmetros estabelecidos pela ABNT NBR 13207 – Gesso para construção civil, que fixa as condições
exigíveis para o recebimento do gesso a ser utilizado em fundição e revestimento. No texto da norma constam
os padrões de aceitabilidade do gesso de acordo com as seguintes exigências Físicas e Mecânicas: dureza, gra-
nulometria, massa unitária, aderência e tempo de pega.
No trabalho em questão, dentro das limitações de disponibilidade de instrumentação, foram realizados
os seguintes ensaios: dureza, granulometria, massa unitária e tempo de pega; Além dos requisitos da ABNT
NBR 13207, foram também determinados os valores de: módulo de finura e resistência à compressão simples.
Os subitens a seguir detalham as etapas metodológicas de trabalho.

2. OBTENÇÃO E BENEFICIAMENTO

2.1 Coleta do material

O material de estudo foi coletado através de visitas a campo, realizadas na área de descarte dos resídu-
os da Unidade Geradora (Figura 1); posteriormente, o material foi levado 3 às instalações da Universidade Fe-
deral do Cariri para realização do processo de beneficiamento e caracterização do material reciclado. Todas as
análises foram baseadas nas normativas pertinentes aos processos.

2.2 Separação dos componentes

A separação inicial entre gesso e papel cartão deu-se através da aplicação de golpes sucessivos na super-
fície da placa com um compactador manual (Figura 2).

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 136


Leonária A. S.; Fabrício de S. S.; Igor G. G. C. Propriedades físicas e mecânicas dos resíduos da produção do gesso acartonado

Figura 1. Coleta do material na unidade geradora Figura 2. Separação entre gesso e papel cartão

Fonte: Os autores - Foto de 2017. Fonte: Os autores - Foto de 2018.

2.3 Trituração do gesso

Após a separação do papel cartão, o gesso resultante passou pelo processo de trituração. Para isso, foi
utilizado o Moinho de Rotor a Martelo. O equipamento consiste em um conjunto de moagem, constituído de
câmara e rotor em aço inox e peneiras intercambiáveis com possibilidade de reduzir partículas de 32 mm pa-
ra 0,35 mm. O material, ainda agregado em pequenos pedaços de placas (Figura 3) foi inserido em porções no
moinho, adquirindo, no final do procedimento, a forma pulverizada (Figura 4). O pó resultante da trituração foi
separado em sacos com 6 kg para realização dos ensaios.

Figura 3. Material antes da trituração Figura 4. Material após a trituração

Fonte: Os autores - Foto de 2018. Fonte: Os autores - Foto de 2018.

1.4 Calcinação

Cada fração do gesso separada foi submetida ao procedimento de calcinação, onde, dispostas em formas
de alumínio, as parcelas de 6 kg do gesso foram inseridas na Estufa Microprocessada de Secagem.
As amostras foram calcinadas nas temperaturas de 160ºC e 200ºC, durante os tempos de 1, 8, 16 e 24
horas, o que culminou na separação de amostras para a realização dos ensaios de caracterização física e mecâ-
nica. A Tabela 1 mostra a definição das amostras.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 137


Leonária A. S.; Fabrício de S. S.; Igor G. G. C. Propriedades físicas e mecânicas dos resíduos da produção do gesso acartonado

Após a finalização do processo de calcinação, as amostras ficaram em repouso para consequente esta-
bilização térmica (Figura 5), sendo posteriormente guardadas em sacos para realização dos procedimentos se-
guintes.

Tabela 1. Definição das amostras


Amostras de Resíduo de Drywall Temperatura de calcinação (ºC) Tempo de calcinação (h)
RD-160-1 160 1
RD-160-8 160 8
RD-160-16 160 16
RD-160-24 160 24
RD-200-1 200 1
RD-200-8 200 8
RD-200-16 200 16
RD-200-24 200 24
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

Figura 5.
Material após calcinação

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

2. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DO PÓ

2.1 Granulometria

O ensaio de determinação da granulometria do material calcinado foi realizado conforme os procedi-


mentos estabelecidos pela ABNT NBR 12127 – Gesso para construção civil – Determinação das propriedades
físicas do pó. No ensaio, utilizou-se 100 g de cada amostra para inserção no conjunto de peneiras normatizadas
com as seguintes aberturas de malha: 1,18 mm; 0,60 mm; 0,42 mm; 0,30 mm; 0,15 mm e 0,75 mm.
Para cada amostra, foram realizados dois processos de peneiramento. No agitador, as peneiras foram
agitadas durante 10 minutos na vibração máxima do agitador. Após o peneiramento, as frações de gesso reti-
das em cada peneira foram devidamente pesadas na Balança Analítica de precisão 0,0001g e Capacidade 220g.
O percentual retido em cada peneira foi calculado através da relação entre o resíduo retido na peneira
em gramas e a massa inicial em gramas.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 138


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Figura 6.
Agitador elétrico de peneiras

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

2.2 Módulo de Finura

O módulo de finura foi determinado, para cada amostra, conforme indica a ABNT NBR 12127 – Gesso
para construção civil – Determinação das propriedades físicas do pó, através da divisão do somatório do per-
centual retido acumulado em cada peneira da série padrão por cem.

2.3 Massa Unitária

A massa unitária foi determinada, dentro das limitações de aparelhagem, procurando seguir o estabe-
lecido pela ABNT NBR 12127 - Gesso para construção civil – Determinação das propriedades físicas do pó.
Na determinação do módulo de finura, utilizou-se de: um recipiente de peso e volume conhecidos, um
funil e uma peneira de abertura 2,0 mm – conforme Figura 7, localizados em alturas definidas pela ABNT NBR
12127. Na determinação da massa unitária, foi inserida uma quantidade de 100 g de gesso sobre a peneira; com
ajuda de uma espátula, o material atravessou a peneira; o recipiente, então transbordado teve sua superfície ra-
sada. Para cada amostra foram realizadas duas determinações.
O valor da Massa Unitária foi determinado através da relação entre a massa do gesso em gramas e o vo-
lume do recipiente, em centímetro cúbico.

Figura 7.
Instrumentos utilizados na determinação do Módulo de Finura

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 139


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3. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DA PASTA

3.1 Tempo de pega

O procedimento de determinação do tempo de pega da pasta de gesso reciclado foi baseado na ABNT
NBR 12128 – Gesso para construção: determinação das propriedades físicas da pasta. Devido a limitações ins-
trumentais, não foi possível realizar o ensaio de consistência da pasta segundo a referida norma, sendo a rela-
ção água/gesso determinada a partir de resultados obtidos em experimentações anteriores por Petrucci (1998) e
Savi (2012), sendo a relação água/gesso no valor de 0,7. Esse valor também foi utilizado por Erbs et al. (2015).
A partir da relação estabelecida, a pasta foi preparada como indicado pela ABNT NBR 12128: polvi-
lhando-se inicialmente o pó sobre a água destilada durante 1 minuto, deixando a mistura em descanso durante
2 minutos e realizando o amassamento por 1 minuto.
Para determinação dos tempos de início e fim de pega foi utilizado o Aparelho de Vicat (Figura 8), onde
o tempo de início de pega foi estabelecido como o intervalo de tempo entre o instante inicial de contato entre o
pó e a água até o tempo em que a agulha estaciona a 1 mm da base do Aparelho; o fim de pega foi determinado
pelo instante em que a agulha não penetrou mais a pasta; para cada amostra de gesso calcinado foram realiza-
das duas determinações de tempo de pega.

Figura 8.
Aparelho de Vicat

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

4. CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA

4.1 Preparo dos corpos de prova

Para realização dos ensaios de compressão e dureza superficial, foram moldados corpos de prova para
todas as amostras que apresentaram tempos de início e fim de pega em menos de 4 horas.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 140


Leonária A. S.; Fabrício de S. S.; Igor G. G. C. Propriedades físicas e mecânicas dos resíduos da produção do gesso acartonado

Os corpos-de-prova foram moldados de acordo com os procedimentos estabelecidos pela ABNT NBR
12129 – Gesso para construção: determinação das propriedades mecânicas; para isso, utilizou-se de moldes
para corpos-de-prova cúbicos com arestas de 50 mm, tendo a superfície lubrificada com óleo desmoldante
(Figura 9).
A massa de gesso a ser utilizada para moldagem dos corpos-de-prova foi calculada através da relação,
apresentada pela Equação 1, em que Mg é a Massa de gesso e C é a Relação água/gesso. A massa de água des-
tilada foi determinada pela relação da Equação 2, em que Ma é a Massa de água, Mg é a Massa de gesso e C
é a Relação água/gesso.

Equação 1

Ma = MgxC Equação 2

O preparo da mistura ocorreu conforme estabelecido pela ABNT NBR 12129, polvilhando-se o pó sobre
a água destilada durante 1 minuto, deixando a mistura em descanso durante 2 minutos e realizando o amassa-
mento por 1 minuto; após o amassamento, a mistura foi transferida para o molde em duas camadas devidamen-
te adensadas, rasando no final a superfície do molde. Foram moldados 3 corpos-de-prova para cada amostra
que apresentou tempos de início e fim de pega em menos de 4 horas.

Figura 9.
Moldagem dos corpos-de-prova

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

4.2 Resistência à compressão simples

A resistência à compressão foi determinada utilizando-se da Máquina Eletrônica Universal de Ensaios


(Time GroupInc/WDW-300E).
Os corpos de prova foram inseridos no equipamento, onde foram submetidos à aplicação de carga con-
tínua em velocidades de aplicação dentro do intervalo de 250 N/s a 750 N/s – como determina a ABNT NBR
12129, até obtenção da tensão de ruptura (Figura 10). A resistência à compressão foi obtida a partir da relação
entre a carga que produziu a ruptura do corpo-de-prova (N) e a Área da seção de aplicação de carga (mm2). Pa-
ra cada amostra foram determinados 3 valores de resistência à compressão, sendo posteriormente calculada a
média aritmética entre os valores obtidos.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 141


Leonária A. S.; Fabrício de S. S.; Igor G. G. C. Propriedades físicas e mecânicas dos resíduos da produção do gesso acartonado

Figura 10.
Aplicação de cargas de compressão simples

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

4.3 Dureza superficial

O ensaio de dureza superficial, devido às limitações de aparelhagem, teve de ser realizado no laborató-
rio de qualidade da Unidade Fabril geradora dos resíduos em estudo, seguindo então o procedimento de ensaio
da ABNT NBR 14715-2, comparando os resultados obtidos com os requisitos estabelecidos pela ABNT NBR
14715-1. No procedimento de dureza por impacto, uma esfera de aço de peso e diâmetro conhecidos, locali-
zada em um suporte metálico foi liberada de uma altura de 47 cm, caindo livremente sobre o corpo de prova,
imprimindo ao mesmo uma força de penetração, uma 9 profundidade de penetração e um raio de impressão
no corpo de prova de gesso. A ABNT NBR 14715-1 estabelece um raio de impressão máximo de 20 mm para
aceitação. A Figura 11 mostra os instrumentos utilizados na determinação da dureza superficial.

Figura 11.
Instrumentos auxiliares da determinação da
dureza superficial

Fonte: Os autores - Foto de 2018.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram realizados ensaios de caracterização física do pó (granulometria, módulo de finura e massa uni-
tária) e da pasta (tempo de pega) para todas as amostras de Resíduo de Drywall. As propriedades mecânicas
(resistência à compressão e dureza superficial) foram determinadas apenas para as amostras que apresentaram
tempos de início e fim de pega no intervalo observado de 24 horas.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 142


Leonária A. S.; Fabrício de S. S.; Igor G. G. C. Propriedades físicas e mecânicas dos resíduos da produção do gesso acartonado

5.1 Granulometria

A partir dos ensaios realizados para todas as amostras, foram obtidas as curvas granulométricas expres-
sas nos Gráficos 1 e 2. A partir desses gráficos verificou-se que as curvas granulométricas apresentam simi-
laridade; a variação de tempo e temperatura de calcinação não influenciou significativamente a composição
granulométrica do resíduo reciclado. A comparação com os requisitos da ABNT NBR 13207 foi realizada com
os percentuais retidos nas peneiras de abertura 0,30 e 0,15 mm, conforme Tabela 2.

Gráfico 1.
Curva Granulométrica
para a temperatura de
160ºC nos tempos de:
24, 16, 8 e 1 horas

Fonte: Os autores - Foto


de 2018.

Gráfico 2.
Curva Granulométrica
para a temperatura de
200ºC nos tempos de:
24, 16, 8 e 1 horas

Fonte: Os autores - Foto


de 2018.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 143


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Tabela 2. Percentual passante nas peneiras de abertura 0,30mm e 0.15mm


Percentual passante (%)
AMOSTRA 0,30mm 0,150mm
RD-160-24 84,62 35,94
RD-160-16 82,65 35,20
RD-160-8 83,01 35,48
RD-160-1 81,39 37,47
RD-200-24 84,58 34,15
RD-200-16 80,43 32,09
RD-200-8 79,86 34,71
RD-200-1 81,09 36,35
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

Como verificado pela Tabela 2, nenhuma das amostras atingiu percentual passante superior a 90% nas
aberturas verificadas, contudo, convém-se observar que os percentuais passantes na peneira de 0,30 mm são
muito próximos ao parâmetro mínimo estabelecido pela ABNT NBR 13207, o que pode significar que cuida-
dos adicionais na retirada de fibras presentes no resíduo triturado são necessários para que o material se ade-
que na classificação de gesso para fundição; tal suposição baseia-se nas conclusões de Savi (2012) que, a partir
da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), verificou que o gesso reciclado apresenta em sua composição
uma grande quantidade de fibrilas remanescentes do processo de trituração, que contribuem para a formação
de aglomerados de partículas, o que culmina, segundo o mesmo, no aumento do volume de vazios.

5.2 Módulo de finura

A determinação do módulo de finura ocorreu paralela à determinação da composição granulométrica


das amostras. Foram obtidos os valores dispostos na Tabela 3. Como verificado nesta Tabela, para uma mesma
temperatura de calcinação, as amostras com maior tempo de permanência na estufa apresentaram valores me-
nores para o módulo de finura, como constatado por Bardella (2011), que chegou à conclusão que a redução
dos teores de água culmina na redução das propriedades físicas de módulo de finura e massa unitária.

Tabela 3. Módulo de finura das amostras


Amostra de Resíduo de Drywall Módulo de Finura
RD-160-1 0,87
RD-160-8 0,87
RD-160-16 0,87
RD-160-24 0,84
RD-200-1 0,88
RD-200-8 0,92
RD-200-16 0,93
RD-200-24 0,85
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 144


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5.4 Massa unitária

No processo de determinação da massa unitária foi necessária a utilização de recipientes com volumes
diferentes: 251,33 cm3 e 110,27 cm3. Os dados referentes aos volumes utilizados e os valores de massa unitária
obtidos estão dispostos na Tabela 4.

Tabela 4. Massa unitária das amostras


Amostra Massa da amostra (g) Volume do recipiente (cm³) Massa unitária (kg/m³)
RD-160-24 99,1 251,33 394,30
RD-160-16 101,29 251,33 403,02
RD-160-8 107,57 251,33 428,00
RD-160-1 113,86 251,33 453,03
RD-200-24 43,07 110,27 390,59
RD-200-16 43,29 110,27 392,58
RD-200-8 43,59 110,27 395,26
RD-200-1 47,74 110,27 432,94
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

Através dos resultados obtidos, verificou-se que nenhuma das amostras teve valor superior a 600 kg/m3,
como estabelecido pela ABNT NBR 13207, o que determina que o gesso reciclado a partir do resíduo das pla-
cas de gesso acartonado não se adequa à utilização como gesso para construção civil.
Pelos resultados obtidos, verificou-se que temperaturas e tempos maiores de permanência do resíduo
de gesso na estufa levaram a menores valores de massa unitária, comportamento também obtido por Bardella
(2011). O mesmo afirma que quanto maior a temperatura de calcinação, menor será a quantidade de água de
cristalização contida no gesso.
Para Savi et al. (2013), os baixos valores de massa unitária do gesso reciclado advêm da grande propen-
são à formação de grumos de grandes dimensões, além da forma de organização dos cristais. Os grãos do gesso
reciclado apresentam-se espaçados com um grande volume de vazios. Ainda de acordo com Savi et al. (2013),
fibras presentes nos resíduos facilitam a formação dos aglomerados de partículas.
Erbs et al. (2015) sugerem a utilização de moinho de cilindros industrial como mecanismo para redução
do tamanho das partículas, visto que os baixos valores da massa unitária do gesso não comprometem outras
características físicas e mecânicas (SAVI et al., 2013).

5.4 Tempo de pega

Foi utilizada a relação água/gesso de 0,7 para confecção das pastas a serem submetidas ao ensaio de
tempo de pega. As pastas confeccionadas com as amostras: RD-160-1, RD-160-8, RD-200-1 e RD-200-1 apre-
sentaram aspecto líquido, sem início de pega no intervalo observado de 24 horas.
As pastas confeccionadas com as amostras de RD-160-16 apresentaram caráter muito seco ao serem pol-
vilhados sobre a água destilada para a relação água/gesso de 0,7, não sendo possível, portanto, a realização do
ensaio de determinação e tempo de pega.
As pastas confeccionadas com as amostras de RD-160-24. RD-200-16 e RD-200-24 foram devidamente
moldadas, apresentando tempos de início e fim de pega como mostra a Tabela 5.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 145


Leonária A. S.; Fabrício de S. S.; Igor G. G. C. Propriedades físicas e mecânicas dos resíduos da produção do gesso acartonado

Tabela 5. Tempo de pega das amostras


Amostra Início de pega (min) Fim de pega (min) Tempo médio (min)
RD-160-24a 00:18:00 00:23:00
6:22
RD-160-24b 00:19:00 00:26:43
RD-200-16a 00:07:30 00:20:00
12:34
RD-200-16b 00:07:10 00:19:45
RD-200-24a 00:25:00 00:40:00
14:00
RD-200-24b 00:27:00 00:40:00
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

Pelos resultados obtidos, foi possível verificar que as amostras de RD-200-16 apresentaram tempo de
início de pega mais rápido que as demais pastas; o tempo decorrido entre o início e fim de pega foi maior para
as amostras calcinadas em temperaturas maiores.
Comparando os resultados obtidos com os requisitos estabelecidos pela ABNT NBR 13207, é possível
verificar que as amostras de RD-200-16 podem ser classificadas como gesso para fundição, enquanto as amos-
tras de RD-200-24 podem ser classificadas como gesso para revestimento com aditivos.

5. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO

Os resultados obtidos no ensaio de resistência à compressão dos corpos de prova produzidos com as
amostras que apresentaram tempos de início e fim de pega estão expostos na Tabela 6 e no Gráfico 3. Ao final
do 3º dia, as três amostras apresentaram valores similares de resistência, mas a partir do 7º dia os valores indi-
caram maior divergência entre si. Aos 28 dias, a resistência da amostra RD-200-16 era menos que a metade do
valor da amostra RD160-24. Ensaios realizados com gesso reciclado na mesma relação água/gesso obtiveram
resistências à compressão médias máximas aos 28 dias nos seguintes valores: Savi (2012) - 10,9 MPa e Erbs
et al. (2015) - 6,05 MPa.

Tabela 6. Resistência à compressão (MPa)


Amostra
Tempo (Dias) RD-200-16 RD-200-24 RD-160-24
Média Desvio padrão Média Desvio padrão Média Desvio padrão
3 3,437 0,381 3,388 0,896 3,358 0,947
7 7,086 1,211 6,276 0,366 5,098 3,735
28 5,257 2,245 8,841 0,924 10,706 0,907
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 146


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Gráfico 3.
Gráfico de resistência
a compressão

Fonte: Os autores - Foto


de 2018.

6. DUREZA SUPERFICIAL

A partir dos procedimentos realizados, foram obtidos os resultados expressos na Tabela 7 para a dureza
superficial. Como observado pelos resultados do ensaio, todas as amostras atingiram valores de dureza super-
ficial inferiores ao limite máximo estabelecido pela ANBT NBR 14715-1 que é de 20 mm.

Tabela 7. Dureza superficial


Diâmetro de impressão (mm)
Amostra
Tempo (Dias) RD-200-16 RD-200-24 RD-160-24
Média Desvio padrão Média Desvio padrão Média Desvio padrão
3 19 1 18 2 18 1
7 15 1 16 3 14 2
28 14 1 16 1 15 3
Fonte: Os autores - Foto de 2018.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos resultados obtidos, verificou-se que as amostras estudadas não obtiveram diferenças signi-
ficativas entre si na composição granulométrica, comportamento esse refletido nos valores do módulo de finu-
ra que não foram muito dispersos. Nenhuma das amostras atingiu o valor mínimo de massa unitária estipulada
pela ABNT NBR 13207, que estabelece requisitos mínimos de utilização do gesso para a construção civil,
contudo, a bibliografia sugere o estudo e aplicação de meios mecânicos para adequação dos valores de massa
unitária do gesso reciclado à normativa em questão, visto que essa propriedade não possui influência direta na
resistência do material.
Os valores de granulometria encontrados para todas as amostras foram pouco inferiores ao estabelecido
pela ABNT NBR 13207 para utilização como gesso para fundição, o que abre espaço para o estabelecimento
de procedimentos de correção. A granulometria das amostras define o material como não utilizável como ges-
so para revestimento, de acordo com a ABNT NBR 13207.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 147


Leonária A. S.; Fabrício de S. S.; Igor G. G. C. Propriedades físicas e mecânicas dos resíduos da produção do gesso acartonado

Com relação às características da pega, a amostra RD-160-16 apresentou pega instantânea para a relação
água/gesso utilizada; já as amostras: RD-160-8, RD-160-1, RD- 14 200-8 e RD-200-1 não apresentaram início
de pega. As análises de propriedades mecânicas foram realizadas apenas com as amostras que apresentaram
tempo de início e fim de pega, sendo elas: RD-200-24, RD-200-16 e RD-160-24.
As amostras RD-200-24, RD-200-16 e RD160-24 apresentaram valores satisfatórios de dureza super-
ficial quando comparadas com os requisitos da ABNT NBR 14715-1. As amostras RD-200-24 e RD-160-24
apresentaram valores satisfatórios de resistência à compressão, sendo tal comportamento apresentado um fator
potencial para exploração de alternativas para o reaproveitamento do resíduo.
A partir dos estudos realizados pode-se concluir que a reciclagem dos resíduos de gesso acartonado é tão
possível quanto necessária. A priori, pode-se concluir que a utilização do material sem aditivos na confecção
de elementos de fundição depende da correção da propriedade de massa unitária, de acordo com a ABNT NBR
13207, contudo, as propriedades mecânicas obtidas abrem espaço para definição de processos de reciclagem
que aproveitem tais propriedades, a fim de reinserir os resíduos em processos produtivos e evitando o descarte
inadequado e prejudicial ao meio ambiente.

REFERÊNCIAS

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segmento. Disponível em: <http://www.drywall.org.br/index.php/6/numeros-do- segmento> Acesso em 11 abr
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Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 148


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Minas Gerais. Belo Horizonte 2013.

Revista FENEC - 3(1): 135-149, abril, 2019 149


VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

REDE DE DRENAGEM COM MALHA DE ÁGUAS PLUVIAIS


NO BRASIL – CARUARU - PE

Eduarda Luciana Larissa de Lima (Eduarda_larissa_9@hotmail.com)

Resumo: A poluição de resíduos dos corpos hídricos tem chegado com maior intensidade e rapidez nos oceanos preocupando
a sociedade mundial - ONU. Provocado pelo aumento descontrolado da população e consequentemente aumento de resíduos
sólidos. Principalmente quando levados pelas águas pluviais sem drenagem. Apresenta-se uma ideia inovadora no Brasil,
inspiradas em notícias do exterior (Kwinana, Austrália) e entrevistas com especialistas e fabricante da “rede de malhas”, apontando
o devido planejamento e aplicação concluída com êxito em 2018. Podendo ser adaptada e aplicada no nordeste Brasileiro, mais
precisamente em Caruaru - PE.
Palavras-chave: Resíduos sólidos. Drenagem. Corpos hídricos. Rede de malha. População do Nordeste.

INTRODUÇÃO

Há muito tempo o conceito higienista era aplicado na área de drenagem urbana, contudo, devido ao cres-
cimento das áreas adjacentes ao núcleo urbano, a metodologia atual foi abandonada pelo conceito de geren-
ciamento das águas pluviais urbanas (SILVA et al., 2018). O presente conceito, aborda diferentes técnicas, tais
como, a compensatória e o reuso de águas pluviais.
O Brasil é um pais que, em sua totalidade, apresente crescimento urbano desordenado e sistemas de
drenagem ineficientes. O resultado dessa combinação são os alagamentos constantes e grandes prejuízos so-
cioeconômicos. O saneamento básico no país ainda é muito carente e muitas pessoas ainda não têm acesso ao
serviço. O Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS) aponta que grande parte da popula-
ção ainda lida com os dejetos em fossas e/ou descarta diretamente nos rios.
A cidade de Caruaru possui um sistema de saneamento básico extremamente deficitário, no qual as
águas pluviais são conduzidas pela mesma rede de esgoto. Conjuntamente, a cidade não apresenta nenhuma
Estação de Tratamento de Esgoto - ETE, ou seja, toda as águas escoadas são desaguadas diretamente nos cor-
pos hídricos.
O presente trabalho tem como objetivo de apresentar um novo sistema de coleta de resíduos sólidos, tais
como, garrafas PET, latas variadas, bolsas plásticas, etc. O sistema intitulado “sistema de coleta com malha”
apresenta um projeto de mitigação de descargas de lixo (resíduos sólidos e plásticos) nos riachos urbanos da
cidade de Caruaru.
Segundo a SOLAM, esse sistema de drenagem encontra-se em fase expansão na Austrália, uma vez que
já passou pela fase de teste em 2018 com êxito, implantado na Reserva Henley na cidade de Kwinana para a
redução de resíduos no parque, e em 3 vezes que foram recolhidos os resíduos eles obtiveram 370 kg resumi-
dos em embalagens, garrafas e até folhas secas e areia.

1. CAOS MUNDIAL

Devido ao crescimento urbano e globalização de forma desordenada, acarretou no aumento despropor-


cional da geração de resíduos. Uma vez que o recolhimento dos resíduos sólidos não é eficaz e acabam sendo

Revista FENEC - 3(1): 150-154, abril, 2019 150


Eduarda L. L. de L. Rede de drenagem com malha de águas pluviais no Brasil - Caruaru - PE

levados pelas águas pluviais, ou o simples ato de jogar aquela embalagem de bala no chão, acabasse encontran-
do nos canais, rios, mares e oceanos e prejudicando a saúde populacional e ambiental.
Segundo o Wikidot, existem basicamente duas maneiras de proporcionar problemas de saúde, a primeira
é a proliferação de agentes indesejados(aves, baratas, mosquitos, ratos, pulgas e moscas) proporcionado pelo
acumulo de lixo em locais indevidos e a outra forma é pelas contaminações de solos, ar e água. A forma mais
grave para propiciar uma contaminação é pelo chorume (lixo resultante da lavagem dos lixões, pela agua das
chuvas que acabam de certa forma sendo levadas e provocando algumas doenças) doenças mais comuns: cóle-
ra; disenteria; febre tifoide; peste bubônica; leptospirose; mais outras dezessete a mais antiga é a peste negra.
E mundialmente falando, além de prejudicar a saúde humana, a poluição sólida e poluentes química aca-
bam também atingindo a saúde dos animais levando espécies inteiras a extinção, principalmente se forem do
ambiente marinho, onde tem ganhado proporções catastróficas.
Sabe-se que milhares de aves e animais marinhos como as tartarugas, baleias e vários tipos de peixes
morrem em bandos/cardumes todos os anos, devido a poluição extrema dos mananciais, rios, mares e oceanos.
Estima-se de 0,6 bilhoes de toneladas de lixos são descartados todos os anos, assolando os ambientes oceâni-
cos e que acabam sendo o principal destino dos resíduos e poluentes (SOUZA, Joice). O excesso de lixo, con-
fundem esses animais, causando a ilusão de que resíduos sólidos e plásticos (bolsas plásticas; tampas; garrafas;
redes de pescas e tantos outros fins) são alimentos e acabam ficando engasgados; ou o intestino não digere; ou
simplesmente por taparem a visão; ou ficarem presos, todos esses motivos com 100% de certeza levam os ani-
mais a morte.

Figura 1.
Situação de ave que engoliu resíduos sólidos

Figura 2.
Exemplo
de lixo nos
oceanos

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2. CAOS SANITÁRIO NO BRASIL

Então, no Brasil o crescimento de resíduos sólidos e plásticos não é diferente. Eles não são devidamen-
te recolhidos tanto pela população, quanto pelos órgãos públicos e acabam sendo arrastados para lugares in-
devidos, principalmente conduzidas pelas águas pluviais, passando pelos bueiros e sucessivamente os corpos
hídricos.
Mais de 95% do lixo brasileiro pode ser encontrados no litoral, por Evanildo de Silveira.
Em algumas regiões do Brasil, principalmente nas áreas mais pobres (norte e nordeste) não há uma ade-
quada condução sanitária. Basicamente, quando há um sistema de saneamento do tipo unitário (o esgoto sa-
nitário e as aguas de precipitações são conduzidas em conjunto pelas mesmas tubulações e acabam nos rios e
mares, não existindo uma forma de filtragem ou tratamento) ou não há se quer saneamento básico em áreas re-
sidências, agravam ainda mais a saúde dos habitantes e o meio ambiental.
Quando o esgotamento sanitário tem seu destino correto é chamado de um sistema saneamento que seja
absoluto, onde o esgoto sanitário e as aguas pluviais são conduzidas em canalizações separadas aos seus desti-
nos finais (o esgoto para tratamento adequado - ETE e as aguas de origem pluviais aos rios e mares). Esses os
três são os modelos “grosseiros” de condução que o Brasil possui para destinar as suas águas. Sem contar do
esgotamento industrial, que muitas vezes são compae vão para as ETEs (estação de tratamento de esgotos), as
águas que chegam por lá levam fraudas sanitárias, absorvente, escovas de dente, enormes quantidades de ca-
belos, e outros objetos inimagináveis.
Chama atenção a quantidade de lixo e esgoto sanitário encontrado nas margens de alguns rios brasilei-
ros, que acabem causando poluição ambiental, doenças na população e até futuras enchentes na região.
No inverno, o nordeste brasileiro em períodos de chuvas, os rios abrangem várias cidades e acabam sen-
do atingindo por enchentes e alagamentos. Pelo G1, o rio Ipojuca (320km de extensão) com nascentes em Ar-
coverde no agreste pernambucano e foz no oceano atlântico na cidade de Ipojuca, com bacia compreendida em
25 municípios e atravessando 12 delas, tendo como característica principal o baixo IDH (índice de desenvol-
vimento humano), considerada o 3º rio mais poluído do Brasil.

“Estudos do Governo de Pernambuco indicam que 80% da poluição do rio Ipojuca é gerada em apenas cin-
co municípios: Belo Jardim, Caruaru, Gravatá, Bezerros e Escada. A cidade de Caruaru, que apresenta um
dos trechos mais poluídos do rio Ipojuca, responde sozinha por 40% de toda a poluição do rio na região do
Agreste – 67% desta poluição tem origem nos esgotos domésticos lançados in natura no rio.” (Ferdinando
de Souza, 2017. Post no site https://ferdinandodesouza.com/)

Figura 3. Destaque de lixos nas ruas, provocando Figura 4. Situação provocada pelo excesso de resídu-
alagamentos os nas tubulações

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3. METODOLOGIA

Para a implantação adequada desse sistema aqui no Brasil, foram feitas entrevistas com o técnico de in-
fraestrutura e operações da cidade de Kwinana, Austrália, o sr. Arun Mahendranathan. Que apontou que deve-
se fazer um planejamento de volume e vazão, para saber a espessura das redes de malha se utilizar 20mm;
25mm; 50mm; 100mm, adaptando na boca dos tubos para o recebendo de todo o lixo que corre nas tubulações
da cidade, sendo instaladas em áreas abertas para melhor manutenção.
O ideal para a utilização desta ferramenta, de antemão devesse fazer o saneamento básico (sendo abso-
luto) nas áreas urbanas, pois apenas 36,22% do Nordeste tem esgoto tratado (dezembro, 2018) e depois vem a
implantação da ferramenta para as águas pluviais e o devido tratamento para as águas de esgotamento sanitá-
rio. Mas se nas áreas urbanas que já tiver um saneamento básico, deve-se adapta-los para receber essas redes de
malhas, instalados nas saídas das tubulações impedindo a passagem do lixo, ideais para receber lixo de portes
pequenos e médios oriundos de zonas residenciais e resíduos transportados pelas águas das chuvas. Evitando
assim toda a situação da cidade de Solto/SP.
Obviamente essas malhas periodicamente devem ser trocadas para o recolhimento dos resíduos recolhi-
dos, por caminhos, e transportados para uma central/cooperativa de reciclagem, onde serão separados e os re-
síduos biodegradáveis serão encaminhados para adubo.
Acredita-se que as redes de malhas não terão altos custos aqui no Brasil nem suas manutenções, visto
que podem ser parecidos com redes de pesca, especificamente do tipo arrastão. O que elevaria os valores se-
riam justamente a implantação do saneamento básicos nas áreas residenciais ou adaptação das tubulações para
o recebimento delas, o que não chega perto dos prejuízos que são proporcionados sem a utilização dessas re-
des, e das interdições nas cidades para as “limpezas” irregulares que fazem e poucos meses ou semanas estão
todos poluídos novamente.

Figura 5. Rede de malha Figura 6. Exemplo de parede com 4 malhas instaladas

Figura 7. Foto de manutenção e troca das redes de Figura 8. Exemplo da adaptação da rede de acordo
trenagem com a área/tubulação

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4. EVOLUÇÃO BRASILEIRA EM LIMPEZA URBANA

No Brasil, esse sistema seria viável principalmente nas áreas mais pobres, já que no dia a dia acabem
sendo os menos atingidos pelo uso de saneamento básico e se tornando os lugares, norte e nordeste, por exem-
plo, com maiores problemas de saúde (TELLES, André 2018).
Em Caruaru, no agreste pernambucano, esse sistema seria eficiente no rio, nas tubulações e canais da
cidade, já que no dia a dia acabam sendo os mais atingidos pelo resíduos sólidos e o uso de sistema do sanea-
mento “básico” utilizado e se tornando as vias com maiores problemas de saúde.
A real proposta deste trabalho é trazer o sistema de drenagem com malha inspirado de Kwinana, Aus-
trália para o Brasil especificamente para a cidade de Caruaru, para o mesmo fim, mas de forma diferenciada.
Sendo implantada para o recolhimento de poluição plástica das águas oriundas das precipitações, mas também
em canais de esgotos principalmente em zonas residenciais já que o país goza do sistema unitário, impedin-
do a passagem desse lixo. Pois basicamente todo o sistema de condução de esgoto de saneamento sanitário no
País não passa por filtragens ou tratamentos antes de serem designados as ETE’s ou diretamente aos corpos
hídricos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se essa simples ideia da drenagem com malhas para as águas pluviais fosse levada para frente, iriam
deter quantidades absurdas de resíduos/lixo chegassem aos corpos hídricos e oceanos, impedindo milhares de
problemas populacionais, ambientais e marinhos.
Mas de fato, que a população deve tomar consciência e cuidar mais do ambiente onde vivem e respei-
tando o meio ambiente. Separando os resíduos, reaproveitando os objetos recicláveis, não jogando o lixo em
lugares inapropriados.
Pois através deste trabalho, sabe-se o quão importante é uma pequena ação e como pode ter grande im-
pacto no futuro, e é por motivo que deve-se agarrar com força e não soltar.
É num simples ato de ter respeito pelo ambiente e colocar o lixo no lixo, que a sociedade consegue sal-
var o mundo.

REFERÊNCIAS

Ecosol-NetTech-Maintenance-Guide-1509: file:///F:/artigos/drenagem%20com%20malha/Ecosol-NetTech-
Maintenance-Guide-1509.pdf.

Ecosol-NetTech-Technical-Specification v1_16: file:///F:/artigos/drenagem%20com%20malha/Ecosol-NetTe-


ch-TechnicalSpecification%20v1_16.pdf.

Questions about drainage nets system in Henley Reserve: file:///F:/artigos/drenagem%20com%20malha/Ques-


tions%20about%20drainage%20nets%20system%20in%20Henley%20Reserve.pdf.

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VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

SIMULAÇÃO DA CAPTAÇÃO E APROVEITAMENTO


DE ÁGUA PLUVIAL EM EDIFÍCIO PÚBLICO – O DER/SE
COMO ESTUDO DE CASO

Isabella Santos Nascimento (isanasto@gmail.com)

Resumo: Edificações onde funcionam órgãos públicos tendem a apresentar um elevado consumo não potável que poderia ser
atendido com água de chuva. A captação e utilização de água de chuva são consideradas no mundo como uma forma do uso
correto da água levando em conta a viabilidade economica e o respeito ao meio ambiente, apresentando vantagens, como por
exemplo, redução do consumo e do custo de fornecimento de água da rede, entre outras. Diante do exposto este artigo tem
como objetivo realizar uma simulação da captação e aproveitamento de água pluvial no Departamento Estadual de Infraestrutura
Rodoviária de Sergipe. Inicialmente estimou-se uma demanda não potável, e com base nos dados de precipitação e área de
cobertura, foi verificado o potencial de captação e atendimento do uso não potável. Em seguida utilizaram-se as metodologias
constantes na NBR 15.527 e realizaram-se simulações dos volumes calculados. Finalmente calculou-se a economia gerada pelo uso
de água de chuva. Os volumes calculados, mesmo bastante diferentes, apresentaram comportamento semelhante, com eficiências
e volumes de overflow bastante próximos, garantindo o atendimento total da demanda estimada.A economia variou de R$ 320,70
(janeiro) até 4.902,10 (junho) resultando em uma economia total de R$ 23.072,90 para o ano de 2018. Com base nos resultados
obtidos podemos concluir que a implantação de um sistema de captação apresentou um grande potencial de economia de água
potável, gerando ganhos financeiros pela redução da conta de água, e ganhos ambientais pela diminuição do consumo de água
do manancial abastecedor da cidade.
Palavras-chave: Edificações. Economia. Água.

INTRODUÇÃO

Conforme relatam Silva e Lucena (2015) o crescente desenvolvimento das sociedades e o respectivo au-
mento populacional têm levado a diversas situações, em várias partes do planeta, de escassez dos recursos hí-
dricos em termos quantitativos e qualitativos, gerando conflitos entre os usuários desses recursos,ampliando,
desse modo, a complexidade da gestão dos recursos hídricos.
Esse quadro tem levado a busca por fontes alternativas para atendimento das demandas, dentre as quais
tem ganhado grande destaque a captação e aproveitamento de água pluvial para usos não potáveis. A utilização
de água de chuva para atendimento desses usos não potáveis em diferentes tipologias de edificações mostra-se
como uma alternativa altamente viável, a qual segundo Vasconcelos e Ferreira (2007) certamente resultará na
diminuição do uso de água fornecida pelas companhias de saneamento, na demanda dos custos com o uso de
água potável e na redução dos riscos de enchentes em caso de chuvas intensas.
Os sistemas de captação e aproveitamentos de águas da chuva são basicamente formados pelas seguintes
partes: área de captação (geralmente a cobertura das edificações) que podem ser de telha cerâmica, telha me-
tálica, etc; calhas e condutores; grades e filtros, sistema de descarte ou autolimpeza (VIEIRA; FERNANDES,
2015). Da área de captação as águas são encaminhadas até as calhas e condutores verticais que são responsá-
veis por levar a água até o dispositivo de descarte da primeira chuva, quando este existir, ou direto ao reser-
vatório de armazenamento, sendo os materiais mais utilizados, policloreto de vinila (PVC), plástico ou outro
material que seja inerte (ANNECCHINI, 2005). Para Vieira e Fernandes (2015) as grades e os filtros têm co-
mo função evitar que materiais grosseiros, tais como folhas, galhos e pequenos animais que ficam nos telha-

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Isabella S. N. Simulação da captação e aproveitamento de água pluvial em edifício público – o der/se como estudo de caso

dos cheguem ao sistema de captação; o dispositivo de descarte tem por função reter temporariamente e depois
descartar os primeiros milímetros de chuva por tem qualidade inferior; e finalmente as cisternas ou reservató-
rios de acumulação que guardam a água que será utilizada na edificação, podendo esta ser de vários materiais
(concreto, alvenaria, PVC, fibra de vidro, etc), instaladas de várias formas (enterrados, semi enterrados, apoia-
dos sobre o solo ou elevados), construídas (reservatórios moldados in loco) ou compradas prontos (reservató-
rios industrializados).
O reservatório é uma das partes mais importantes de um sistema de aproveitamento da água pluvial de-
vendo o mesmo ser dimensionado considerando os custos totais de implantação, demanda de água, área de
captação, regime pluviométrico e confiabilidade requerida para o sistema (MARINOSKI, 2007). Finalmente,
segundo Giacchini(2010) um dos aspectos fundamentais relacionados ao armazenamento das águas pluviais
envolve o dimensionamento dos reservatórios, de modo a considerar não somente o atendimento ao consumo
como também fatores climáticos, hidrológicos e ambientais; e a interferência de tais sistemas no processo na-
tural do ciclo hidrológico na bacia hidrográfica.
Diante do exposto este artigo tem como objetivos, realizar a simulação da captação e aproveitamento de
água pluvial no Departamento Estadual de Infraestrutura Rodoviária de Sergipe, através da estimativa de uma
demanda não potável, estimativa do volume captável, verificação do atendimento do uso não potável estima-
do, dimensionamento do reservatório por diversas metodologias, bem como determinação da eficiência dos
volumes calculados.

1. DESENVOLVIMENTO

1.1 Área de Estudo

Para realização desse trabalho foi escolhido o Departamento Estadual de Infraestrutura Rodoviária de
Sergipe - DER-SE, localizado na Avenida São Paulo, 3005, bairro José Conrado de Araújo na cidade de Ara-
caju - SE. O DER-SE atua nas rodovias estaduais e no apoio aos municípios em suas malhas viárias desempe-
nhando funções como planejar o atendimento das necessidades de transporte rodoviário no Estado de Sergipe;
construir e manter, rodovias e pontes que compõem o Sistema Rodoviário Estadual;operar o Sistema Rodovi-
ário Estadual; entres outras. Atualmente trabalham no DER/SE 215 funcionários e 37 estagiários.

1.2 Estimativa de demanda de uso não potável

Para a estimativa da demanda de água não potável considerou-se a indicação de Kammers (2004) que
realizou um estudo em 10 edifícios públicos de Florianópolis-SC, chegando à conclusão de que em média 77%
da água potável utilizada nesses edifícios poderiam ser substituídas por água pluvial ou de reuso. Foram utili-
zados os consumos mensais registrados pelo hidrômetro,do período de janeiro de 2005 até dezembro de 2018,
disponibilizados pelo DER/SE, e adotado que os consumos não potáveis correspondem a 77% do consumo to-
tal registrado no aparelho medidor.

1.3 Área de cobertura (área de captação da chuva)

Para uma estimativa das áreas de captação dos telhados foram utilizadas as ferramentas Google Earth
Pro e AutoCAD. Obtivemos uma área de cobertura total de aproximadamente 1650 m2. Vale salientar que es-
se valor se refere à projeção horizontal da cobertura, conforme apresentado na Figura 1, resultando em valores
aproximados.

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Isabella S. N. Simulação da captação e aproveitamento de água pluvial em edifício público – o der/se como estudo de caso

Figura 1.
Cobertura dos prédios que
compõem o DER/SE

Fonte: Os autores.

1.4 Dados pluviométricos

A partir dos dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET, 2019), verificou-se que a temperatu-
ra média anual em Aracaju é de 26 ºC, sendo os meses mais quentes – janeiro, fevereiro e março com máximas
de 29 ºC. Foram utilizadas na pesquisa as séries históricas de precipitação do período de janeiro de 2005 até
dezembro de 2018, na estação pluviométrica de código 83096, monitorada pelo INMET, Latitude de -10.95,
Longitude -37.04 e Altitude de 4.72m, com situação operante. Na Tabela 1, são apresentados, os dados pluvio-
métricos deste posto pluviométrico localizado na cidade de Aracaju no período supracitado.

Tabela 1. Dados pluviométricos da cidade de Aracaju - SE nos anos de 2005 a 2018


Ano
Mês
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Jan 52,6 26,2 21,53 27,9 18,9 26,9 100,5 35,9 6,0 15,8 25,5 83,1 8,6 14,9
Fev 51,8 29 142,5 133,2 44,2 76,7 89,9 85,2 7,8 59,6 38,4 50,7 12,8 78,6
Mar 57,6 28,9 126,1 272,5 41,3 31,9 52,3 17,8 10,8 78,4 44,4 28,7 41,3 186,2
Abr 172,1 174 149,5 131,5 156,1 359,0 210,6 24,5 195,8 153 91,6 39,2 121,0 150,5
Mai 182,3 345,3 191 366 515,8 125,8 333,3 144,6 115,4 127 282,1 148,3 350,8 124,6
Jun 101,3 218,6 156,3 113,4 103,4 265,1 97,3 118 146,9 89,7 149,4 203,2 171,6 209,4
Jul 210,0 194,3 184 144,1 121,8 135,5 130,4 100,6 120,3 156,3 171,1 41,8 174,1 104,8
Ago 143,8 60 79,8 83,8 169,4 92,5 82,7 77,1 117,6 62,9 74,4 47,8 87,2 33,4
Set 27,5 111,8 63,3 39,4 78,8 76,6 55,4 60,8 24,8 38,2 10,8 37,4 191,7 18,4
Out 22,1 214,7 31,6 32,7 28,8 20,7 104,8 69,5 45,9 35,7 31,8 13,0 74,9 30,3
Nov 3,8 34,4 13,2 4,0 13,8 14,0 43,1 5,6 24,2 44,3 6,8 8,6 28,2 20,8
Dez 56,0 6,3 18,6 15,6 17,2 8,7 4,4 2,0 9,0 9,0 26,0 33,2 21,1 13,7
Fonte: Instituto Nacional de Metereologia (2019).

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Para determinar o volume de chuva captado pela cobertura, utilizou-se a equação constante em Tomaz
(2003):

Q = A ⁎ C ⁎ (P – I) Equação 1

Em que C e o coeficiente de escoamento superficial, geralmente 0,80; P e a precipitação mensal, em


milímetros do período de 2005 a 2018 (ver Tabela 1); I e a interceptação da água que molha as superfícies e
perdas por evaporação,geralmente 2 mm; A e a área de coleta, em metros quadrados; Q e o volume mensal
produzindo pela chuva, em litros.

1.5 Métodos de Dimensionamento da NBR 15.527

Para determinação do volume do reservatório de água pluvial a NBR 15.527 indica métodos de dimen-
sionamento. Os métodos utilizados nesse trabalho são descritos a seguir:

Método de Rippl - Nesse método o volume de água que escoa pela superfície de captação é subtraído da
demanda de água pluvial em um mesmo intervalo de tempo. A máxima diferença acumulada positiva é o vo-
lume do reservatório para 100% de confiança (SCHILLER; LATHAN, 1982). Esse método pode ser utilizado
para precipitações diárias e mensais. A seguir será apresentado um roteiro simplificado do método:
a) Inicialmente calculamos o volume de água captada pela cobertura, com base na área de captação, na
precipitação local no intervalo temporal considerado (diário ou mensal);
b) Estima-se a demanda de água não potável no mesmo intervalo de tempo considerado (dia ou mês);
c) Calcula-se a diferença entre a demanda de água não potável e o volume de água pluvial captado pela
cobertura;
d) A maior diferença positiva acumulada será o volume do reservatório.

Método de Azevedo Neto - Trata-se de um método prático que visa obter o volume do reservatório atra-
vés da equação abaixo, onde são necessários apenas três parâmetros:

S = 0,042 ⁎ P ⁎ A ⁎ T Equação 2

Em que S é volume do reservatório (litros); P é precipitação média anual (mm); A é área de captação
(m2); T é o número de meses com pouca chuva ou seco (adimensional).
A NBR 15527(ABNT, 2007) não especifica como determinar o número de meses de pouca chuva, fican-
do ao critério do projetista especificar essa incógnita.

Método Prático Alemão - Este é um método empírico, que adota como volume do reservatório de água
pluvial o menor valor entre 6% do volume de demanda anual ou 6% do volume anual de água chuva captada.

S = mínimo entre (V e D) ⁎ 0,06 Equação 3

Em que V é o volume anual de água captada (litros); D é o volume anual de demanda (litros) e S = vo-
lume do reservatório (litros).

Método Prático Inglês - Neste método, o volume do reservatório é obtido pela equação empírica apre-
sentada a seguir, que adota diretamente 5% do volume anual de água pluvial captado.

V = 0,05 ⁎ P ⁎ A Equação 4

Em que P é a precipitação média anual (mm); A é a área de captação em projeção (m2); V é o volume do
reservatório (litros).
Método Prático Australiano - O volume de chuva é obtido pela Equação 5. O cálculo do volume do
reservatório é realizado por tentativas, para atender à demanda com confiança do sistema entre 90% e 99%,
conforme recomendação da NBR 15527 (ABNT, 2007).

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Qt = A ⁎ C ⁎ (P – I) Equação 5

Vt = Vt-1 + Qt – Dt Equação 6

Em que Qt é o volume mensal produzido pela chuva no mês t em metros cúbicos; A é a área de coleta em
metros quadrados, C é o coeficiente de escoamento superficial (adotado 0,8); P é a precipitação média mensal
em mm; I é a interceptação da água que molha as superfícies e perdas por evaporação, geralmente 2 mm; Vt é
o volume de água que está no tanque no fim do mês t, em metros cúbicos; Vt-1 é o volume de água que está no
tanque no início do mês t, em metros cúbicos; Dt é a demanda mensal, em metros cúbicos. Adotou-se o reser-
vatório vazio no primeiro mês. Quando (Vt-1 + Qt – D) <0, então o Vt = 0. O volume do tanque escolhido será
em m3. As equações 7 e 8, indicam como calcular a confiança do sistema.

Confiança do sistema = (1 – Pr) Equação 7

Em que Pr é a falha do sistema.

Pr = Nr/N Equação 8

Em que Nr é o número de meses em que o reservatório não atendeu a demanda, ou seja, quando o reser-
vatório está vazio no fim do mês, e N é o número de meses considerados no cálculo, sendo indicado pela NBR
15527 (ABNT, 2007) geralmente 12 meses.

Método da Simulação - Conforme relatam Rupp, Munarim e Ghisi (2011)esse método baseia-se na de-
terminação do percentual de consumo que será atendido em função de um tamanho de reservatório previamen-
te definido, sendo também chamado de Método de Análise de Simulação de um Reservatório com Capacidade
Suposta. Segundo Tomaz (2003), esse método possibilita determinar a eficiência do sistema, pois os períodos
em que o reservatório está suficientemente abastecido com água pluvial são relacionados com todo o perío-
do simulado. Os seguintes passos resumem a aplicação do método: a) adotar os volumes do reservatório a se-
rem analisados; b) para cada mês, adicionar ao valor inicial do volume do reservatório a quantidade de água;
c) para cada mês, subtrair o volume consumido; e d) calcular a eficiência (confiabilidade volumétrica) de ca-
da reservatório (AMORIM e PEREIRA, 2008). Neste trabalho, seguindo a indicação de Carvalho, Oliveira e
Moruzzi (2007), o Método da Simulação será utilizado para investigar, quanto ao comportamento, os volumes
calculados pelos outros métodos.
McMahon (1978) define a confiabilidade volumétrica em certo período pelo quociente do volume total
de água fornecido pela demanda total, ou seja, determinado volume de água de chuva captada pela cobertura
quanto foi utilizado para atendimento da demanda considerada, conforme indica Equação 9.

Equação 9

Economia mensal gerada com uso de água pluvial - Para estimativa da economia mensal E, em reais,
obtida pelo uso de água pluvial, foi utilizada a Equação 10.

E=V⁎T Equação 10

Em que V = volume de água de pluvial utilizada (m3); T = valor, em reais, da tarifa (que varia de acordo
com a categoria e com o consumo de água mensal). A simulação indicou atendimento total do consumo não
potável com uso de água pluvial.

1.6 Resultados

Comparação entre consumo não potável e água pluvial captável pela cobertura - Comparando mês
a mês, o volume captado pelo telhado e o consumo de água para usos não potáveis (adotou-se 77% do consu-
mo indicado na conta de água do órgão) chegou-se ao resultado apresentado na Figura 2.

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Isabella S. N. Simulação da captação e aproveitamento de água pluvial em edifício público – o der/se como estudo de caso

Figura 2. Comparação mensal entre volume captado pelo telhado e consumo não potável no período de janei-
ro de 2005 a dezembro de 2018

Fonte: Os autores.

O consumo mensal não potável variou de 6,16 m3 em janeiro de 2016 (mínimo) até 2019,45 m3 em no-
vembro de 2006 (máximo), tendo apresentado um valor médio de 37,91 m3. No tocante ao volume de água
coletado pelo telhado este valor variou de 0,0 m3 em dezembro de 2012 até 678,22 m3 no mês de maio, e apre-
sentou uma média mensal de 116,92 m3. Dos 168 meses simulados o consumo foi maior do que o volume cap-
tado em apenas 46 meses, ou seja, 27,38% do tempo, enquanto que nos demais 122 meses, o que corresponde
a 72,62%, o volume de chuva captada pelo telhado foi maior do que a demanda estimada. Como na maior par-
te do tempo o volume coletado pelo telhado é maior do que o consumo não potável, a solução para os poucos
meses que o inverso ocorre, é utilizar um reservatório para guardar água para os momentos de pouca chuva ou
alto consumo.

Volumes calculados para o reservatório - A aplicação das metodologias de dimensionamento do reser-


vatório de água pluvial resultou nos resultados apresentados a seguir.

Método de Rippl - Para aplicação do método de Rippl adotou-se a média de precipitação em cada mês,
bem como o consumo médio mensal no período analisado. O resultado é apresentado na Tabela 2.

Tabela 2. Aplicação do Método de Rippl para dimensionameto do reservatório de água pluvial


Dimensionamento de Reservatório - Método de Rippl
Áreade Volume de Diferença
Chuva Média Consumo Diferença
Meses Captação Coeficiente Chuva Mensal Acumulada
Mensal (mm) Mensal (m³) (D-Ch)
(m²) (m³) (Positiva)
Janeiro 33,17 37,91 1650 0,8 43,8 -5,9
Fevereiro 64,31 37,91 1650 0,8 84,9 -47,0
Março 72,73 37,91 1650 0,8 96,0 -58,1
Abril 152,03 37,91 1650 0,8 200,7 -162,8
Maio 239,45 37,91 1650 0,8 316,1 -278,2
Junho 153,11 37,91 1650 0,8 202,1 -164,2
Julho 142,08 37,91 1650 0,8 187,5 -149,6
Agosto 86,60 37,91 1650 0,8 114,3 -76,4
Setembro 59,64 37,91 1650 0,8 78,7 -40,8

Revista FENEC - 3(1): 155-164, abril, 2019 160


Isabella S. N. Simulação da captação e aproveitamento de água pluvial em edifício público – o der/se como estudo de caso

Dimensionamento de Reservatório - Método de Rippl


Áreade Volume de Diferença
Chuva Média Consumo Diferença
Meses Captação Coeficiente Chuva Mensal Acumulada
Mensal (mm) Mensal (m³) (D-Ch)
(m²) (m³) (Positiva)
Outubro 54,04 37,91 1650 0,8 71,3 -33,4
Novembro 18,91 37,91 1650 0,8 25,0 12,9 13
Dezembro 17,20 37,91 1650 0,8 22,7 15,2 28
Fonte: Os autores.

Método de Azevedo Neto - Neste trabalho foram adotados como meses de poucas chuvas os meses cuja
média de precipitação foi inferior a 50 mm. Observa-se que três meses (janeiro, novembro e dezembro) apre-
sentaram tal valor, ou seja, T = 3 meses. A precipitação média anual foi determinada somando-se a precipitação
média dos meses, resultando em 1093,27 mm.

S = 0,042 ⁎ P ⁎ A ⁎ T
S = 0,042 ⁎ 1093, 27 ⁎ 1650 ⁎ 3
S = 227290 litros (227, 29 m3)

Método Prático Alemão - Calculou-se a demanda anual ou consumo anual não potável D, somando-se
o consumo médio de cada, o que resultou em D = 382,92 m3. O volume anual de chuva captada pela cobertura
foi calculado somando o volume médio captado em cada mês, resultando em V = 1443,1 m3.

S = mínimo entre (V e D) ⁎ 0,06


S = 382,93 x 0,06
S = 22,97 m3

Método Prático Inglês - De posse da precipitação média anual (P) e da área de captação (A) indicados
anteriormente, aplica-se essa metodologia de dimensionamento.

V = 0,05 ⁎ P ⁎ A
V = 0,05 ⁎ 1093,27 ⁎ 1650
V = 90195 litros (90,19 m3)

Método Prático Australiano - Nesta metodologia foram testados vários volumes entre 15 e 35 m3. Os
principais resultados são apresentados na Tabela 3. Os volumes iguais ou inferiores a 15 m3 apresentaram dois
meses de falha, resultando em uma confiança de 83%. Nos valores entre 16 e 33 m3, o sistema apresentou um
mês de falha, resultando em uma confiança de 92%. 7 Os volumes superiores a 34 m3 não apresentaram falhas,
logo uma confiança de 100%. Adotou-se neste caso, 16 m3.

Tabela 3. Principais resultados dos volumes testados no Método Prático Australiano


Volumedo Reservatório (m³) Confiança do Sistema (%)
15 83%
16 92%
33 92%
34 100%
35 100%
Fonte: Os autores.

Revista FENEC - 3(1): 155-164, abril, 2019 161


Isabella S. N. Simulação da captação e aproveitamento de água pluvial em edifício público – o der/se como estudo de caso

Determinação da eficiência dos volumes calculados. Nesta etapa do trabalho foi utilizado Método da
Simulação, conforme trecho inicial da Tabela 4, para avaliar através desta simulação, os volumes calculados
pelas outras metodologias, determinando para os mesmos, sua eficiência ou confiabilidade volumétrica.

Tabela 4. Trecho da planilha de aplicação do Método da Simulação para volume calculado de 28 m


PlanilhadeAplicaçãoMétododaSimulação
Consumo Área de Volume
P VR VR VR
Meses Mensal Captação de Chuva Overflow Suprimento
(mm) (calculado) (t-1) (t)
(m³) (m²) Captável (m³)
jan/05 52,6 40,502 1650 66,79 28,00 0,0 26 0 0
fev/05 51,8 39,886 1650 65,74 28,00 26 28 24 0
mar/05 57,6 44,352 1650 73,39 28,00 28 28 29 0
: : : : : : : : : :
: : : : : : : : : :

Foram utilizados os dados de consumo predial fornecidos pelo órgão, adotando um percentual de 77%
como de uso não potável, bem como as precipitações registradas no período analisado, ou seja, de janeiro de
2005 a dezembro de 2018. Neste período o volume total de água captável pelo telhado foi de 19760,04 m3 e a
análise do volume de água que vai sobrar (overflow) e da água que vai faltar (suprimento do serviço público,
caminhão tanque ou água de poço) foi realizada para cada volume calculado. Os resultados obtidos são apre-
sentados na Tabela 5.

Tabela 5. Eficiência dos volumes calculados por diversas metodologias


Volume Eficiênciado Overflow Suprimento
Metodologia
Calculado (m³) Sistema (%) (m³) (m³)
Rippl 28 59,93% 7919,0 0
Azevedo Neto 227 61,94% 7520,6 0
Prático Alemão 23 59,88% 7928,6 0
Prático Inglês 90 60,55% 7794,6 0
Prático Australiano 16 59,80% 7942,6 0

Os resultados mostram que os volumes calculados, mesmo bastante diferentes, apresentaram compor-
tamento semelhante, com eficiências e volumes de overflow bastante próximos. Todos os valores resultaram,
para o período simulado, no atendimento total da demanda estimada, visto que não houve necessidade de com-
plementar o abastecimento com outra fonte, como por exemplo, água da concessionária ou de poço.

Economia na conta de água - Utilizando a tarifa de água cobrada pela Companhia de Saneamento de
Sergipe - DESO no ano de 2018,para edificações públicas, com consumo acima de 10m3/mês, que foi de R$
23,97 (vinte três reais e noventa sete centavos) por m3 de água, e o volume de chuva no ano de 2018 obteve-se
o resultado apresentado na Figura 3.

Revista FENEC - 3(1): 155-164, abril, 2019 162


Isabella S. N. Simulação da captação e aproveitamento de água pluvial em edifício público – o der/se como estudo de caso

Figura 3. Simulação da economia gerada pelo uso de água pluvial no ano de 2018 no DER/SE

Fonte: Os autores.

Os resultados mostram que a economia variou de R$ 320,70 (janeiro) até 4.902,10 (junho) resultando
em uma economia total de R$ 23.072,90 para o ano de 2018.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos resultados obtidos podemos concluir que:


a) Na simulação realizada, a água pluvial foi capaz de atender totalmente a demanda estimada, ou seja,
sem utilização de outra fonte, sendo tal fato justificado pelo alto índice pluviométrico de Aracaju – SE e gran-
de área de cobertura do edifício público utilizado neste trabalho;
b) Tendo em vista que para todos os volumes calculados, a simulação indicou atendimento total da de-
manda no período analisado, o melhor volume neste caso será aquele de menor custo de construção, ou seja,
16 m3, resultando num menor período de retorno do investimento;
c) A implantação de um sistema de captação nos prédios do DER/SE apresentou um grande potencial
de economia de água potável, gerando ganhos financeiros pela redução da conta de água, e ganhos ambientais
pela diminuição do consumo de água do manancial abastecedor da cidade.

REFERÊNCIAS

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Centro Tecnológico, Universidade Federal do Espirito Santo, Vitória - ES, 2005.

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coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis: requisitos. Rio de Janeiro, 2007.

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VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

SOLO-PNEU COMO METODOLOGIA DE


ENSINO SUSTENTÁVEL NA UNIVERSIDADE

Isadora da Silva Bandeira Lima (isadorabandeiralima@gmail.com)


Luan Hernandez Bork (borkluan@gmail.com)
Lucas Gonçalves de Freitas (gfrlucas22@gmail.com)
Victor Ferreira Núñezz (vferreiranunez@gmail.com)

Resumo: A construção civil é o maior consumidor de matéria prima do mundo, isso indica que é um setor que merece atenção
especial no sentido sustentável. Aliado a isso, a importância da educação na transformação do futuro engenheiro abre oportunidade
para o uso de uma metodologia sustentável de ensino, para que em suas vidas profissionais sejam mais conscientes com o meio
ambiente e utilizem métodos menos poluentes. O solo-pneu se caracteriza por ser esse método que utiliza pneus inservíveis
para uso de estabilização de solos em engenharia, sendo, portanto, um sistema eficiente e sustentável, que não estão presentes
na ementa das disciplinas da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Logo, os estudantes do grupo PET - Engenharia Civil
da FURG uniram essas premissas a fim de formar profissionais capacitados e conscientes, através de ferramentas como aulas e
workshop, obtendo resultados satisfatórios que provam que todos estudantes participantes consideram utilizar o solo-pneu como
uma opção de solução em engenharia, na sua futura vida de engenheiro.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Solo-Pneu. Ensino.

INTRODUÇÃO

A atual situação em que o meio ambiente se encontra é preocupante, porém o que é ainda mais alarmante
é o descaso com que a população e autoridades tratam o caso. Disso, conclui-se que depender da consciência
humana para tal solução é uma utopia. Surge nesse caso a importância da educação na formação profissional
de um engenheiro, cabendo lembrar a importante frase citada por (Freire, 1979) “Educação não transforma o
mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Com base nisso, surge a possibilidade de
utilizar a educação como agente transformador de pessoas, neste caso futuro engenheiros, para posterior mo-
dificação do universo.
Essa mudança é necessária, pois dados assustadores sobre o meio ambiente são expostos a cada instan-
te por estudos científicos. Segundo (Agopyan, 2012), a construção civil é responsável por metade do consumo
de matérias primas no mundo, podendo chegar a até 75% em países desenvolvidos. Além disso, sabe-se que a
construção civil é uma grande poluídora pelos elevados números de rejeitos produzidos e altos níveis de emis-
são de CO2 na atmosfera. Segundo o site do SEST SENAT (Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional
de Aprendizagem do Transporte) são descartados no Brasil cerca de 450 mil toneladas de pneus por ano, que
equivalem a 90 milhões de unidades utilizadas em carros de passeio. Zilda Maria Faria Veloso, gerente de re-
síduos perigosos do Ministério do Meio Ambiente afirmou que os pneus possuem tempo de decomposição
indeterminado, os quais são proibidos pelo CONAMA de serem descartados em aterros desde 2006. Em Rio
Grande, por ser uma cidade com intenso tráfego rodoviário, a rotação de pneus no mercado e, por isso com alta
geração de resíduos, é um caminho fácil para a má destinação dos mesmos, muitas vezes sendo as ruas, terre-
nos baldios ou borracharias e depósitos clandestinos, além de ser um dos maiores responsáveis por prolifera-
ções de doenças como a dengue.
Esses fatores citados acima, associados a falta de métodos sustentáveis na ementa de Geotecnia III e
Sustentabilidade na Engenharia Civil da Escola de Engenharia da FURG, abre a possibilidade da inserção do

Revista FENEC - 3(1): 165-175, abril, 2019 165


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ensino como fator transformador de futuros engenheiros civis, utilizando uma nova metodologia sustentável:
o Solo-Pneu como estrutura de estabilização e contenção de solos.
Nesse artigo serão explanados o grupo que atuou na execução do trabalho, com uma explicação breve
do que consiste a metodologia de contenção em solo-pneu. Após, uma apresentação de como foi a metodolo-
gia de aplicação proposta, bem como seus resultados e considerações finais.

1. DESENVOLVIMENTO

1.1 O grupo PET - Engenharia Civil

O Programa Educação Tutorial (PET), instituido em 2005 pela lei 11.180 do Ministério da Educação,
destina-se ao apoio de grupos de alunos das universidades brasileiras e determinar diretrizes para que seja fo-
mentada a indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensão dentro do ambiente universitário. Para tal, o
grupo é orientado por um professor tutor, que possibilita condições para que o grupo realize atividades extra-
curriculares que complementem sua formação.
As atividades realizadas pelos grupos, por sua vez, tem viés inclusivo com os demais estudantes da ins-
tituição de ensino na qual o Grupo PET está inserido, por isso, muitas das atividades desenvolvidas pelos inte-
grantes do grupo tem carater de ensino, e, por consequencia, de pesquisa.
As atuações supracitadas são motivadas pela própria Portaria regulamentadora do programa, especifi-
camente a Portaria Nº 976 de 27 de Julho de 2010, na qual consta que o Programa Educação Tutorial tem co-
mo um dos objetivos contribuir para a elevação da qualidade da formação acadêmica dos alunos da graduação
bem como introduzir novas práticas pedagógicas na graduação, e uma vez ciente da responsábilidade para com
a comunidade acadêmica, o grupo PET - Engenharia Civil da Faculdade de Rio Grande (FURG), busca trazer
novas modalidades de repasse de conhecimento, como ao método de WorkShop apresentado no presente traba-
lho, no qual busca instigar o aluno com uma situação problema, juntamente com uma carga teórica de conhe-
cimento, para que o mesmo desenvolva uma solução apropriada para a problemática apresentada.
Aliado a isso, o PET - Engenharia Civil da FURG acredita que fomentar a sustentabilidade no ambiente
acadêmico é uma das suas maiores responsabilidades, e concomitante a isso a necessidade do Brasil por mais
engenheiros civis dos dias que zelem pelo meio ambiente e busquem por novos métodos que proporcionem a
reutilização consciente de materiais para resolver situações cotidianas é urgente uma vez que o país passa por
uma grande crise no setor. E, motivados por esse proposito, em resultado de uma das ações integradoras do
grupo PET - Engenharia Civil da Universidade Federal de Rio Grande com a comunidade acadêmica que sur-
giu o projeto entitulado “WorkShop Contenção Em Solo-Pneu” que preenche a demanda por projetos de ensi-
no que aliassem sustentabilidade com a área de mecânica dos solos.

Figura 1.
Grupo PET - Engenharia
Civil da FURG - Evento em
Curitiba - PR

Fonte: Autores, 2018.

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1.2 Sistema de contenção e estabilização de solos em Solo-Pneu

A contenção em solo-pneu é uma medida sustentável alternativa que consiste na utilização de ambos os
materiais referentes com a finalidade de estabilizar encostas e taludes. Conforme Sieira (2001), a utilização de
estruturas com pneus para reforçar aterros – os quais possuem certa inclinação – ou reduzir impactos e ruídos
têm sido relatadas na literatura. Os primeiros estudos relacionados à técnica que utiliza pneus aliados ao solo
(denominada “pneusol” ou “solo-pneus”) provêm da França, onde foi construído um muro experimental com
5 metros de altura e 10 metros de extensão (Long, 1984).
Após anos de estudos, pode se dizer que a técnica já foi bem aprimorada, apresentando bons resultados
inclusive em situações problema analisadas no Brasil. Ensaios apontados por Baroni, Specht e Pinheiro (2012)
mostram a possibilidade de utilização de pneus descartados em estruturas de arrimo com diferentes propostas
de modelos de pneus e preenchimento para os mesmos. Estes ensaios, com caráter científico, conseguem au-
xiliar a apontar, inclusive, quais poderiam ser os melhores resultados estruturais e econômicos para cada caso.
Vale ressaltar que a importância ambiental deste tipo de contenção, principalmente frente ao setor da
construção civil, é inegável. Para a atual conjuntura global, a utilização de métodos convencionais para resol-
ver situações corriqueiras da engenharia civil não contempla todas as necessidades do setor. A readequação do
uso de pneus ou ainda de resíduos de construção e demolição (RCD) despertam como meios sustentáveis que
solucionam adversidades na engenharia.
A seguir serão melhor explicados como funciona tal método construtivo, o seu dimensionamento e uma
breve comparação do mesmo com os métodos convencionais.

1.2.1 Método construtivo: solo-pneu

O método consiste, basicamente, no empilhamento de pneus preenchidos com solo compactado (ou ain-
da outros materiais, como visto mais à frente) e amarrados entre si. Para melhorar sua estabilidade, sua dispo-
sição é feita alternada, com centros desalinhados; isto se dá de maneira similar à alvenaria convencional, em
que os tijolos são empilhados intercalando seus centros e bordas a cada fiada. Para a estrutura em solo-pneu,
apenas, haverá certa inclinação em cada camada, além de diferentes larguras de base e topo.
A metodologia de construção desse tipo de estrutura passa pelas seguintes etapas: primeiramente, pre-
para-se a base do muro, executando-se a limpeza do terreno, a abertura da vala e seu respectivo nivelamento.
A seguir, já pode ser colocada a primeira camada de pneus, de maneira que os mesmos cubram a largura
e o comprimento previstos em projeto. Antes dos mesmos serem colocados, porém, pode ser previsto o corte
dos mesmos para remoção de uma de suas bandas. Esta ação pode facilitar a futura compactação de material
dentro do pneu, de maneira a aumentar seu peso específico.
Para que não haja deslocamentos relativos entre os pneus, os mesmos devem ser devidamente amarrados
uns aos outros, constituindo um elemento rígido. Esta amarração deve ser realizada em 3 pontos em cada pneu,
melhorando o entrosamento dos elementos. Os materiais mais recomendados para amarração são o arame com
revestimento e a corda de polipropileno. Enquanto que o primeiro caracteriza mais rigidez à estrutura, o mes-
mo pode sofrer danos devido a intempéries; já para o segundo faz-se necessária mão-de-obra que consiga ser
ágil utilizando nós de marinheiro.
Em sequência, a camada de pneus disposta deve ser preenchida. Os materiais de preenchimento mais
comuns são o próprio solo local onde o talude está sendo realizado – sendo após compactado – pedras de mão
provindas de alguma jazida ou ainda resíduos como o RCD; sua utilização depende da disponibilidade dos
mesmos na localidade.

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Figura 2.
Sistema Solo-
Pneu com
preenchimento em
pedra de mão

Fonte: Baroni, 2012.

Os processos de empilhamento de uma nova camada de pneus, sua amarração e preenchimento dos mes-
mos devem ser repetidas até que seja alcançada a altura pojetada. Para finalização da estrutura, costuma-se re-
alizar um retroaterro com solo e vegetação local, evitando futuros problemas com erosão local.

Figura 3.
Sistema Solo-
Pneu após
preenchimento
com retroaterro

Fonte: Baroni, 2012.

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1.2.2 Dimensionamento de estruturas em solo-pneu

Bem como é realizado para outras estruturas de contenção, o dimensionamento de estruturas em solo-
pneu prevê empuxos de terra, esforços de pressões hidrostáticas ou percolações e sobrecargas externas. Isso
configura a conferência dos seguintes tipos possíveis de desestabilização da estrutura: deslizamento, tomba-
mento, capacidade de carga e ruptura generalizada.
Para este trabalho, no cálculo de empuxos de terra foram adotadas as teorias clássicas que se fundamen-
tam no equilíbrio-limite, fazendo uso da teoria de Rankine. De maneira a ser uma introdução ao dimensiona-
mento desse tipo de estrutura, buscou-se não abordar esforços de água sequer sobrecargas.
Logo, para estruturas com formato convencional, puderam ser levantadas as conferências – em formato
de fatores de seguraça mínimos – a seguir para a estabilidade da estrutura.
Em função do deslizamento, o fator de segurança resultante da divisão das forças horizontais exercidas
pelo muro pela resultante das forças horizontais exercidas pelo solo deve ser maior que o valor de 1,5.

Equação 1

Em que RH resist é a força de atrito do muro com o solo, e RH é a força devido ao empuxo de solo con-
tido sobre o muro.
Para o tombamento, deve ser verificada sua resistência conforme a seguinte equação, a qual contabiliza
momentos atuantes e resistentes da estrutura.

Equação 2

Em que RV é a resultante do peso do muro em seu centroide, d é a distância horizontal do ponto de apli-
cação da força ao ponto extremo da base da estrutura de arrimo, RH é a força de empuxo no local da resultante
e x seu braço de alavanca.

Figura 4. Segurança do muro de arrimo quanto ao tombamento e deslizamento

Fonte: Fagundes, 2017.

Para a capacidade de carga, deve-se conferir o que segue.

Equação 3

Onde σadm é a tensão admissível da fundação e q a tensão que a estrutura de arrimo transmite para a
mesma.

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Para a estabilidade geral do talude, o mesmo deve admitir um fator de segurança de 1,5.

Figura 5. Segurança do muro de arrimo quanto à capacidade de carga do terreno e ruptura geral

Fonte: Fagundes, 2017.

Além disso, como passos iniciais propostos por Sieira (2009), é possível dizer que a base para qualquer
estrutura em solo-pneu deve respeitar uma largura mínima de 1,5 metros. A partir deste dado, é possível arbi-
trar uma largura de base e uma inclinação de talude, para os quais a estrutura final, que atinge a altura neces-
sária em campo sem ter sua largura de topo muito reduzida, resiste conforme todos estes fatores de segurança
apresentados anteriormente. Esse valor de 1,5m foi definido a partir de células de deslocamento em um muro
experimental, onde esse foi o valor limite para se demonstrar como uma estrutura estável.

1.2.3 Vantagens e desvantagens

Os muros de contenção em solo-pneu apresentam, em comparação a muros convencionais, uma constru-


ção limpa e fácil de ser realizada. Dada sua maneira de aplicação, é possível perceber que o mesmo demanda
uma mão de obra não especializada, facilitando sua construção e tornando-se vantajoso frente à utilização de
materiais como concreto.
Além disso, devido à flexibilidade da estrutura em solo-pneu, o mesmo tem a capacidade de acomodar
pequenos recalques. Não bastante, a questão de drenagem desta estrutura é mais fácil realizada. Conforme a
utilização do preenchimento dos pneus, seja com solo compactado ou ainda com outros materiais, o conjunto
de solo-pneu já é considerado permeável.
Outra vantagem do uso desse tipo de método é seu custo reduzido. Uma vez que os pneus utilizados são
gralmente inservíveis ao seu real propósito e o material de preenchimento dos mesmos geralmente é o pró-
prio solo local onde a estrutura será assentada ou ainda com a possibilidade de utilização do RCD, o valor da
construção de um talude em solo-pneu reduz muito quando comparado ao conjunto de concreto. Conforme de-
monstrado por Baroni (2012), pode haver redução de até seis vezes no custo de implantação deste tipo de obra
quando utilizado o método de solo-pneu.
Ainda é possível ressaltar a sustentabilidade desse tipo de estrutura. Além de retirar pneus mal desti-
nados na natureza, utilizar preenchimento com RCD ajuda neste outro material com descarte por vezes im-
próprio. Comparado ao concreto, o mesmo não demanda utilização de água, ainda mais em grande volume,
reafirmando sua maior sustentabilidade.
Por outro lado, o método de solo-pneu não comporta grandes níveis de água adjacentes ao talude. Caso
a altura de água seja próxima à altura do próprio muro de contenção, este deverá ter um volume muito maior
para poder comportar seus esforços, inviabilizando-o por vezes, porém é possível sua construção com água
presente até certa altura da estrutura, como em alguns arroios e córregos (Baroni, 2012).
Outrossim, a relação direta existente entre a base da estrutura e sua altura pode ser um empecilho em sua
construção. Se a altura do muro de contenção for muito alta, logo sua largura aumentaria proporcionalmente,
tornando a estrutura muito volumosa, também inviabilizando sua construção.

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Isadora da S. B. L.; Luan H. B.; Lucas G. de F.; Victor F. N. Solo-pneu como metodologia de ensino sustentável na universidade

2. METODOLOGIA

2.1 Material didático

Para atingir o objetivo desejado na proposta do projeto, uma parcela do grupo PET - EC da FURG reu-
niu-se ao longo de cerca de 4 meses, e assim foram estudados diversos artigos, teses e pesquisas a respeito da
metodologia do solo-pneu, para que fosse definido como seria aplicado o projeto. Cabe ressaltar que tal tema
foi escolhido baseado na análise da ementa do curso de Engenharia Civil da FURG, que não apresentava ne-
nhuma metodologia sustentável em Geotecnia nas disciplinas de Geotecnia III e Sustentabilidade na Engenha-
ria Civil.
Após um período de estudos e pesquisas bibliográficas ficaram definidos os principais tópicos que resul-
tariam em uma apostila aos estudantes. Então, surgiu o denominado “Manual de Contenção em Solo-Pneu”,
apresentado na Figura 6, que seria utilizado nas posteriores fases do projeto.

Figura 6.
Capa da apostila elaborada pelos
membros do grupo

Fonte: Autores, 2018.

Além disso, uma maquete do método de solo-pneu foi desenvolvida como ilustração para as atividades.
A maqeuete representa uma das possíveis aplicações do Solo-Pneu, nesse caso em estabilização de taludes de
pontilhões rurais, conforme Figura 7.

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Figura 7.
Maquete de uso de Solo-Pneu em taludes de pontilhões rurais

Fonte: Autores, 2018.

2.2 Workshop Contenção em Solo-Pneu

Para que a ideia da educação como agente transformador de pessoas, e assim da mudança do mundo fos-
se aplicada, seria necessária a aplicação do material elaborado em 2.1. Assim, ao longo de 2 meses ocorreu o
planejamento de como a teoria se transformaria na prática desse projeto. Foi analisado que a aplicação nas dis-
ciplinas citadas acima ficaria inviável para o ano de 2018, mesmo que já acertado com os professores da dis-
ciplina, já que são disciplinas ofertadas apenas no 1º semestre. Então, para que o material e projeto elaborado
fossem aplicados ainda no ano de 2018, o grupo optou pela realização de um Workshop aberto aos estudantes
dos Cursos de Engenharia Civis da FURG, sendo eles Engenharia Civil, Engenharia Civil Costeira e Portuária
e Engenharia Civil Empresarial.
O modelo de ensino em workshop foi escolhido exatamente por ter a característica peculiar de ser um
encontro de pessoas com troca de conhecimento teórico e prático, sob orientação de um palestrante. Assim,
após a capacitação do grupo, elaboração da apresentação em slides e da apostila, foram abertas as inscrições
para o Workshop de Contenção em Solo- Pneu. Ao total foram cerca de 15 participantes, além de uma dupla
de ministrantes do grupo, sob orientação do Prof. Dr. Diego Fagundes.
Primeiramente foi realizada uma apresentação teórica que contava com os conceitos de geotecnia – em-
puxo e esforços de terra baseado na Teoria de Rankine – e também todos detalhes da metodologia sustentável
apresentada, o Solo-Pneu. Ao longo da apresentação foram tiradas dúvidas dos ouvintes, bem como expla-
nado a respeito do dimensionamento de uma estrutura. Ao fim da apresentação, para atender ao conceito de
workshop, os estudantes foram divididos em 3 grupos, os quais receberam problemas hipotéticos de engenha-
ria que teriam que dimensionar um muro de arrimo em solo-pneu. Foram fornecidos dados e parâmetros do
problema como peso específico do solo e altura a ser contida, e apartir disso os estudantes optariam pelo tipo
de pneu e preenchimento a ser utilizado, resultando em diferentes pesos específicos do conjunto solo+pneu, e
portanto em diferentes estruturas.
Ao fim do dimensionamento e então do Workshop, todos estudantes receberam formulário para avalia-
ção da atividade.

Figura 8.
Apresentação do Workshop

Fonte: Autores, 2018.

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2.3 Aulas

Além do workshop ministrado de forma independente, para que atingisse um maior alcance de estudan-
tes, serão ministradas aulas em disciplinas do curso de Engenharia Civil no primeiro semestre de 2019.
A disciplina de Geotecnia III tem duração de um semestre, abordando diversos assuntos sobre obras de
terra, como muros de arrimo, taludes e contenção de solos. Um importante viés a ser abordado nessa discipli-
na é o fato citado anteriormente de não possuir um método sustentável de contenção de solos na sua ementa,
então o projeto teve aprovação do professor responsável para que o grupo apresentasse em um encontro o mé-
todo aos estudantes.
Já a disciplina de Sustentabilidade na Engenharia Civil tem característica principal de ser ministrada por
um coletivo de professores que abordam, em suas especialidades, conteúdos e métodos sustentáveis em suas
respectivas áreas. No entanto, a área de Geotecnia não é inserida na disciplina por não possuir um método sus-
tentável para estudo, logo também foi aprovado pelo professor responsável da disciplina para que ocorresse
uma aula sobre a metodologia aos estudantes.

3. RESULTADOS

Como citado no item 3.2, ao fim do workshop foi fornecido uma ficha para avaliação do evento, para
que fossem obtidos parâmetros de qualidade e saber se a metodologia implantada obteve êxito. Ao todo foram
avaliados alguns tópicos, além de espaço dissertativo para sugestões e comentários.
A atribuição de notas da pesquisa foi qualitativa, ocorrendo de duas formas: primeiramente pela escala
péssimo, ruim, regular, bom e ótimo; e por fim pelo sim ou não.
Dentre todos, foram avaliados três grandes tópicos: a organizaçao do evento, que recrutava a opinião
dos participantes sobre a divulgação, carga horária e organização geral; conteúdo da atividade na qual avalia-
va o objetivo do evento, relevância do assunto, qualidade do material e domínio da equip organizadra; por fim
houve a avaliação geral da atividade conferindo o grau de satisfação o workshop.
O resultado a avaliação citada, segue abaixo:

Gráfico 1. Avaliação conforme Organização Gráfico 2.Conteúdo da atividade

Fonte: Autores, 2019. Fonte: Autores, 2019.

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Gráfico 3.
Avaliação Geral da atividade

Fonte: Autores, 2019.

De maneira mais objetiva os partipantes foram interrogados sobre o conhecimento do método apresen-
tado, onde 50% já conhecia o assunto e outra metade ainda não. Além disso 75% dos alunos afirmaram sentir
intresse em saber mais sobre o assunto. Já na principal avaliação, todos os participantes questionados consi-
deram a aplicação do método como solução de engenharia em sua vida profissional, indicando que o objetivo
proposto foi concluído.
Por fim, espera-se que o projeto chegue ao alcance de cerca de 100 estudantes após a aplicação nas dis-
ciplinas citadas acima, disseminando a consciência sustentável instrumentada pela inserção de uma nova me-
todologia ensinada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da proposta inicial do trabalho, a qual tinha como principal objetivo utilizar uma metodologia
sustentável, o Solo-Pneu, como forma de modificar o mundo por meio de profissionais mais conscientes e que
utilizem recursos renováveis, ou de reutilização, percebe-se a importância da proposta, já que obras de enge-
nharia são comumente poluentes. Então, através das técnicas de ensino utilizadas no trabalho e explanadas aci-
ma, percebe-se que os estudantes que participaram da atividade tiveram um grau de satisfação elevado, como
por exemplo da avaliação em que 50% dos participantes avaliaram o workshop como ótimo e a outra metade
como bom. Além disso, o resultado que demonstra ainda maior sucesso do trabalho proposto foi a avaliação em
que todos os participantes consideram utilizar o método como solução de engenharia em sua futura carreira de
engenheiro civil, demonstrando a consciência ambiental adquirida ao longo do evento e confiança e satisfação
com os dados técnicos apresentados na ferramenta.
Dentro da graduação, o estudante sairá da universidade com uma formação mais completa, de forma a
complementar a ementa dos cursos de engenharia civil da FURG. Já na continuidade das atividades, as aulas
ministradas devem alcançar ainda mais graduandos, disseminando os objetivos do trabalho.

REFERÊNCIAS

AGOPYAN, V. Construção civil é o ramo que mais consome materiais do mundo: 2012. Disponível em: <ht-
tp://www.usp.br/aun/antigo/exibir?id=4848&ed=853&f=2>. Acesso em: 22 fev. 2019.

BARONI, M.; SPECHT, L. P.; PINHEIRO, R. J. B. Construção de estruturas de contenção utilizando pneus
inservíveis: análise numérica e caso de obra. Revista Esc. Minas; pgs. 449-457. Ouro Preto, MG: 2012.

BRASIL. Lei nº 11.180, de 23 de Setembro de 2005. Institui o Programa Educação tutorial - PET.

Revista FENEC - 3(1): 165-175, abril, 2019 174


Isadora da S. B. L.; Luan H. B.; Lucas G. de F.; Victor F. N. Solo-pneu como metodologia de ensino sustentável na universidade

BRASIL. Portaria nº 343, de 27 de Julho de 2010. Dispoe sobre o Programa Educação Tutorial - PET.

FAGUNDES, D. F. Notas de aula: Muros de Arrimo. 2017.

FREIRE, P. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

LONG, N. T. Pneusol, Tyresoil, Tiresoil. Colloque Routes et Development, École National des Ponts et Chaus-
sées. 17p. França: 1984.

SEST SENAT. Cerca de 450 mil toneladas de pneus são descartados por ano no Brasil: 2017. Disponível em:
<http://www.sestsenat.org.br/imprensa/noticia/cerca-de-450-mil-toneladas-de-pneus-sao-descartados-por-
-ano-no-brasil>. Acesso em: 25 fev. 2019.

SIEIRA, A. C. C. F.; GERSCOVICH, D. M. S.; MEDEIROS, L. V.; SAYÃO, A. S. F. J. Simulação Numérica


de um Muro Experimental Solo-Pneus. Instituto Politécnico do Rio de Janeiro; Universidade do Estado do Rio
de Janeiro - IPRJ-UERJ. Friburgo, RJ: 2011.

SIEIRA, A. C. C. F. Geossintéticos e Pneus: Alternativas de estabilização de taludes. Engevista. v. 11, n. 1. p.


50-59, Rio de Janeiro: julho/2009.

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VIII ENEC
Porto Alegre - RS
23 a 26 de abril de 2019

VERIFICAÇÃO DO COMPORTAMENTO MECÂNICO


DA CAMADA POROSA DE ATRITO

Pedro Schmidt Ilha (ped.ha@hotmail.com)


Alessandro Alves (alessandro.alves@eac.ufsm.br)
Pedro Orlando Borges de Almeida Júnior (engcivilpedro@hotmail.com)
Pablo Menezes Vestena (pablovestena@gmail.com)

Resumo: O transporte rodoviário é o principal meio de locomoção brasileiro e sabe-se ainda que 95% das vias pavimentadas
possuem concreto asfáltico como camada de revestimento. Quando se trata de misturas a quente tipo CPA, entende-se que estas
são projetadas com porcentagens de vazios de 18% a 25% e utilizadas como camada de rolamento sobre revestimentos asfálticos.
Destaca-se também que a degraduação sobre os pavimentos cresceram consideravelmente em virtude, entre outros fatores, do
aumento do volume de tráfego, das cargas transportadas, da pressão de inflação dos pneus, que, somados a falta de fiscalização
sobre o transporte de cargas, ocasionam nos revestimentos asfálticos o surgimento precoce defeitos. Este trabalho tem como
objetivo comparar o comportamento mecânico de misturas asfálticas tradicionais em CA com revestimentos em CPA. Foram
comparadas misturas com o mesmo teor de ligante, moldados através do método Superpave e que utilizaram ligantes asfálticos
CAP 60-85, totalizando cinco misturas. As misturas foram avaliadas na resistência à tração indireta, na rigidez pelo ensaio de
módulo de resiliência e módulo complexo, que utilizou a modelagem 2S2P1D para a composição das curvas mestras. Os resultados
obtidos demonstraram que duas misturas em CA com ligante 60-85 apresentaram maior rigidez em relação às três misturas em
CPA com o mesmo tipo de ligante.
Palavras-chave: Camada Porosa de Atrito. Módulo Complexo. Rigidez.

INTRODUÇÃO

O modal rodoviário desempenha papel importante no Brasil, movimenta economia, integra as cadeias
produtivas e une pessoas e destinos. Mais de 60% do transporte de carga e mais de 90% dos deslocamentos de
passageiros do Brasil são feitos por rodovias.(CNT, 2018) Segundo pesquisas do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transporte (DNIT), ainda que apenas 12,3% da malha rodoviária brasileira seja pavimentada,
95% dessas vias pavimentadas são revestidas por Concreto Asfáltico (CA).
Sabendo que a qualidade do pavimento tem efeito direto no desempenho do transporte rodoviário, no
desenvolvimento econômico, logo, realizar fortes investimentos em infraestrutura de transporte é fundamental
para oferecer segurança e conforto a motoristas, passageiros e pedestres e também para favorecer o desenvol-
vimento do setor e o crescimento econômico.
A busca por novas técnicas trouxe, na normativa brasileira 386/99 do Departamento Nacional de Estra-
das de Rodagem (DNER), a Camada Porosa de Atrito (CPA) como alternativa para melhorar as condições de
trafegabilidade na via. Atualmente, estudos buscam obter maiores informações cerca do comportamento acús-
tico desse pavimento. Segundo Bernucci et al. (2010), as propriedades desse desse tipo de pavimento melho-
ram as condições de visualização da sinalização horizontal da via à noite, redução do spray oriundo do borrifo
de água pelos pneus dos veículos, redução da espessura da lâmina d’agua na superfície de rolamento e tambem
redução de ruído rolamento, amenizando o desconforto sonoro e ambiental.
Após analisar o desempenho acústico, buscou-se neste trabalho verificar o comportamento mecânico
desta camada e comparar com uma mistura de CA, realizada por Almeida Junior (2016), diante dos ensaios la-
boratoriais de módulo complexo (E*) e módulo dinânico (|E*|).

Revista FENEC - 3(1): 176-190, abril, 2019 176


Pedro S. I.; Alessandro A.; Pedro O. B. de A. J.; Pablo M. V. Verificação do comportamento mecânico da camada porosa de atrito

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 Camada porosa de atrito

Utilizada como camada de rolamento, a Camada Porosa de Atrito (CPA) é uma mistura asfáltica a quen-
te aberta cuja principal característica é a grande quantidade de vazios, geralmente entre 18 e 25%, essa pro-
priedade é conferida devido às pequenas quantidades de fíler, agregado miúdo e ligante asfaltico presente na
mistura (BERNUCCI et al., 2010)
Esse elevado índice de vazios é justamente o que possibilta aos asfaltos porosos apresentarem suas ca-
racteristiccas drenantes. Com isso, reduz-se a possibilidade de ocorência do fenomeno de hidroplanagem, es-
pelho noturno e formação de spray. (DRESCH, 2016)
Segundo a especificação brasileira do DNER-ES 386/99, expostas em Tabela 1, que define críterios em-
pregados na execução e dosagem. Recomenda-se para a CPA, cinco faixas granulométricas e teor de ligante
asfáltico entre 4,0 e 6,0%.
Bernucci et al. (2010) afirma que o ligante necessita ter baixa suscetibilidade térmica e alta resistência
ao envelhecimento, sendo sua quantidade geralmente reduzida devido à particularidade granulométrica, de-
pendendo do tipo de agregado, forma, natureza, viscosidade e tipo de ligante. Em geral, recomenda-se o em-
prego de asfalto modificado por polímero para aumetnar a durabilidade e reduzir a degradação.

Tabela 1. Faixas granulométricas e requisitos de dosagem da CPA - DNER-ES-386/99


Peneira da malha quadrada Faixas
Percentagem em massa passando
ABNT Abertura (mm)
I II III IV V Tolerância
¾” 19,0 - - - - 100 -
½” 12,5 100 100 100 100 70-100 ±7
⅜” 9,5 80-100 70-100 80-90 70-90 50-80 ±7
N°4 4,8 20-40 20-40 40-50 15-30 18-30 ±5
N°10 2,0 12-20 5-20 10-18 10-22 10-22 ±5
N°40 0,42 8-14 6-12 6-13 6-13 6-13 ±5
N°80 0,18 - 2-8 - - - ±3
N°200 0,075 3-5 0-4 3-6 3-6 3-6 ±2
Ligante modificado por polímero, % 4,0-6,0 ±0,3
Espessura da Camada Acabada, em 3,0 ≤4,0
Volume de Vazios, % 18-25
Ensaio Cântabro, % máx. 25
Resistências à tração por Compressão
0,55
Diametral, a 25°C, MPa, mín.
Fonte: (Adaptado de DNER 386, 1999).

Bernucci et al. (2010) afirma que a CPA é empregada com a finalidade funcional de aumento de ade-
rência pneu-pavimento em dias de chuva. Esse revestimento é responsável pela coleta da água de chuva para
o seu interior e é capaz de promover uma rápida percolação da mesma devido à sua elevada permeabilidade,
até a agua alcançar as sarjetas. A camada inferior 3 à CPA deve ser necessariamente impermeável para evitar a
entrada de água no interior da estrutura do pavimento. A Figura 1, de forma ilustrativa, representa o funciona-
mento dos revestimentos porosos quanto a ação da chuva.

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Pedro S. I.; Alessandro A.; Pedro O. B. de A. J.; Pablo M. V. Verificação do comportamento mecânico da camada porosa de atrito

Figura 1.
Funcionalidade dos pavimentos drenantes sob
ação da chuva

Fonte: (ROSENO, 2005).

Em vias urbanas é essencial que os dispositivos de drenagem funcionem corretamente para que o con-
creto asfáltico drenante cumpra o seu papel de impedir a formação da lâmina d’água sobre a faixa de rolamen-
to com eficiência. Em rodovias com esse tipo de revestimento, a água percolada através da camada drenante
normalmente escoa pelo acostamento (ROSENO, 2005).
Além de melhorar as condições de segurança para os usuários das vias, a CPA favorece a redução dos
níveis de ruído resultante da interação pneu/pavimento. O ruído é um forte tipo de poluição ambiental que tem
atingido cada vez mais as pessoas em todo o mundo, causando problemas de saúde e impacta economicamen-
te e financeiramente suas vidas. Sendo o tráfego considerado o seu maior contribuinte, torna-se imprescindível
investigar os níveis de ruído em comunidades e regiões próximas às rodovias, uma vez que o ruído do tráfego
interfere na vida dessas pessoas. (DRESCH, 2016)
Conforme Alves et al. (2018), o estudo acústico comparativo, entre o CA e a CPA no em um trecho ex-
perimental na BR-158/RS, as diferenças de valores entre revestimento chegam a 6,0 dB, o que representa per-
da na energia acústica acima de 50%.
Ainda cabe-se ressaltar que, conforme relatório da FEHRL (2006), a proporção de caminhões para veí-
culos leves no fluxo de tráfego pode desempenhar um papel importante na determinação do tipo de superfície
da estrada a ser usada para um melhor desempenho acústico. Por exemplo, uma superfície de estrada otimiza-
da para produzir baixos níveis de ruído de caminhões será diferente de um pavimento selecionado para produ-
zir baixo ruído de carros de passeio. Mesmo dentro de uma estrada é possível conceber diferentes superfícies
para diferentes faixas de tráfego.

1.2 Comportamento viscoelástico das misturas asfálticas

As misturas asfálticas adquirem algumas características em função da temperatura. De modo que com o
aumento da temperatura, há a diminuição da viscosidade do ligantes asfáltico, acarretando a mistura uma me-
nor rigidez. O contrário acontece com o decréscimo de temperatura, de forma que a mistura se torna mais rígi-
da, em função do ligante asfáltico.
A Figura 2 é possível observar que a deformação permanente (Rutting) acontece, tipicamente, a altas
temperaturas e baixas rigidezes. A fadiga (Fatigue) ocorre em baixas e a médias temperaturas, com alta rigi-
dez. A ilustração demonstra também ocorrência de fraturas térmicas (Thermal Cracking), acontece na varia-
ção de temperatura próximo ao ponto de transição vítrea do ligante, apresentando comportamento próximo ao
elástico linear.

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Pedro S. I.; Alessandro A.; Pedro O. B. de A. J.; Pablo M. V. Verificação do comportamento mecânico da camada porosa de atrito

Figura 2.
Domínios típicos do
comportamento mecânico
das misturas asfálticas em
função das deformações e da
temperatura

Fonte: (MANGIAFICO, 2014).

1.2.1 Modelo 2S2P1D

Buscando caracterizar o comportamento viscoelástico linear observado em pequenas deformações, Di


Benedetto et al. (2004), fazendo uso dos dados obtidos através do ensaio de módulo complexo para diferentes
temperaturas e frequências, desenvolvem um modelo reológico único, utilizado para a modelação das proprie-
dades viscoelásticas lineares das misturas asfálticas.
O modelo, conhecido por 2S2P1D, consiste basicamente em uma simples combinação de elementos físi-
cos e uma generalização do modelo analógico HuetSayegh, o qual é válido para qualquer material betuminoso.
Nesse modelo, temos a adição de um amortecedor linear em série com dois elementos parabólicos e a mola de
rigidez, de acordo com a Figura 3 abaixo.

Figura 3.
Modelo 2S2P1D

Fonte: (MANGIAFICO, 2014).

Através da modelagem, o valor do módulo complexo é calculado pela Equação 1 representada abaixo.

Equação 1

Onde β é relacionada a viscosidade do amortecedor linear, e é definido pela Equação 2 abaixo:

η = (E0 – E∞) βτ (2) Equação 2

A resolução da Equação 1 passa também pela determinação de mais seis diferentes parâmetros, sendo
eles: δ, K, h, E0, E∞, τ.
Conforme Di Benedetto et al. (2004), as sete constantes presentes na Equação 1 definem completamente
o comportamento viscoelástico linear das misturas betuminosas. Na Figura 4 abaixo podemos ver a influência
destes parâmetros no modelo 2S2P1D através da representação do plano Cole-Cole.

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Figura 4.
Influência dos parâmetros associados
aos elementos físicos do modelo
2S2P1D

Fonte: (MANGIAFICO, 2014).

2. METODOLOGIA

2.1 Módulo Complexo

Para materiais viscoelásticos lineares como as misturas asfálticas, a relação tensão/deformação sobre
aplicação de um carregamento senoidal contínuo pode ser definida como módulo complexo (E*).
A importância de se considerar a viscoelasticidade das misturas, bem como a possibilidade de contabili-
zar os efeitos de diferentes temperaturas e frequências de carregamento, faz com que o módulo complexo ve-
nha sendo usado preferencialmente no exterior. (BERNUCCI et al., 2010)
A importância de se considerar a influência da temperatura e de diferentes frequências de carregamento
faz com que o módulo complexo venha a ser o principal ensaio para a melhor compreensão acerca da rigidez
das misturas asfálticas. Costuma-se entender o módulo complexo como um ensaio que apresenta resultados
mais próximos das reais propriedades do material.
No que diz respeito ao ensaio, ao aplicarmos um carregamento contínuo senoidal com função de onda ha-
versine de maneira a causar compressão axial ao corpo de prova, desenvolvemos um plano no qual temos as va-
riações de tensão e de deformação sofridas pela amostra. Matematicamente o valor de (E*) pode ser encontrado
através da relação entre o valor do pico de amplitude de tensão e o valor do pico de amplitude da deformação.
O ensaio é realizado em diferentes condições de frequência e de temperatura, buscando compreender
o comportamento viscoelástico do material. Pode ser realizado seguindo as diretrizes de duas normas, sendo
elas: AASHTO TP 62 (2003).
Além do módulo complexo, podemos inferir também sobre outro valor, conhecido por ângulo de fase
(ϕ), conforme Figura 5. Este parâmetro está diretamente ligado as parcelas viscoelásticas solicitadas, e pode
ser verificado através da defasagem entre o pico de tensão e o pico de deformação.

Figura 5.
Defasagem entre as ondas de tensão e
de deformação durante aplicação do
pulso de carregamento no ensaio de
módulo complexo

Fonte: NCHRP.

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Como E* é um número complexo, sua parte real e sua parte imaginária podem ser isoladas, respectiva-
mente como E1 e E2, como segue abaixo na Equação 3:

E* = E1 + E2 = |E*|cosφ + i|E*|senφ Equação 3

Os dados obtidos através do ensaio de módulo complexo podem ser apresentados em diferentes tipos de
gráficos, sendo os principais deles: o plano Cole-Cole, o diagrama de Black, e as curvas mestras.
O plano Cole-Cole, é alcançado através da plotagem das variáveis E1 e E2 e seu uso é indicado para ana-
lisar o comportamento do material asfáltico para baixas temperaturas e/ou altas frequências.
No diagrama de Black temos a plotagem da relação do valor absoluto do módulo complexo |E* | plotado
em escala logarítmica pelo ângulo de fase (ϕ) plotado em escala aritmética. O diagrama de Black é indicado
para o estudo do comportamento do material para altas temperaturas e/ou baixas frequências.
As curvas mestras permitem que comparações sejam feitas para uma mesma faixa de frequências ou
temperaturas, facilitando a leitura dos dados devido seu formato contínuo e suave. Para cada temperatura de
ensaio obtemos uma isoterma no qual estão associadas todas as frequências ensaiadas nesta temperatura. De
maneira análoga, para uma frequência obtemos uma isócrona, na qual associamos todas as temperaturas en-
saiadas para esta dada frequência. As curvas mestras então podem ser construídas através do princípio de su-
perposição tempo- temperatura, partindo da constatação da unicidade das curvas do plano Cole-Cole e do
diagrama de Black.
O ensaio de módulo complexo, é de acordo com Di Benedetto (2004), um ensaio homogêneo, que não
requer nenhuma solução estrutural, não demandando assim nenhuma hipótese complementar, de modo que
apresenta resultados mais similares a real propriedade dos materiais testados.
Nesse estudo, os resultados de módulo complexo serão analisados através do modelo reológico 2S2P1D,
tanto para CA quanto CPA para obtermos essa comparação mecânica.

2.2 Módulo dinâmico

O módulo dinâmico, valor absoluto do módulo complexo, pode ser obtido através de ensaios ou de mo-
delos de previsão. Os modelos de previsão se aplicam a todos os tipos de misturas, bem como a ligantes con-
vencionais e modificados, os quais são adotados pelo método de dimensionamento da AASHTO (Design guide
for a new and rehabilitated pavements, 2002).
Os resultados experimentais serão expressos através de curvas isotermas, curvas isócronas, curvas no
plano Cole-Cole e espaço de Black. As curvas isotermas serão obtidas com traçados do módulo complexo em
função da frequência, para cada uma das temperaturas em que o ensaio é submetido. Com as curvas isotérmi-
cas, é possível estimar a susceptibilidade à temperatura do asfalto, através da variação do módulo em função
da variação da temperatura. Conforme Medina e Motta (2015) o Módulo Complexo (E*), definido como um
número complexo, relaciona deformações e tensões para materiais viscoelásticos sujeitos a um carregamento
senoidal, onde a parte real representa a componente elástica e a imaginária representa a componente viscosa.
Por isso, o valor absoluto de Módulo Complexo |E*| é referido como Módulo Dinâmico.
Dessa maneira, quando uma tensão axial de compressão é aplicada a uma amostra de material betu-
minoso, numa dada temperatura e frequência de carregamento, onde as frequências de teste podem variar de
0,001Hz a 25Hz, esta defasagem entre a tensão aplicada e a recuperação resultante da resposta de tensão da
amostra pode ser medida e usada para calcular o módulo dinâmico e seu ângulo de fase, conforme consta na
norma AASHTO T 342-11.
Ainda, a norma afirma que os valores de módulo dinâmico medidos ao longo das temperaturas (-20ºC,
-10ºC, 4ºC, 21ºC, 37ºC e 54ºC) e frequências de carregamento, podem ser deslocados para uma curva principal
de caracterização do concreto asfáltico, o qual poderia funcionar como uma análise de seu desempenho, onde
os valores de módulo e ângulo são usados como critérios de desempenho.
Os cinco diferentes tipos de amostras, três de CPA e duas de CA, foram submetidos as frequências de
carregamento 0,01Hz 0,1Hz, 0,2Hz, 0,5Hz, 1Hz, 2Hz, 5Hz, 10Hz, 20Hz e 25Hz nas temperaturas de -10ºC,
4ºC, 21ºC, 37ºC e 54ºC.

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2.3 Amostras de CA

O concreto asfáltico o qual será comparado as amostra de CPA, foi caracterizado por Almeida Junior
(2016). Em seu estudo, propôs dezesseis misturas asfálticas diferentes, a fim de analisar a influência do esque-
leto pétreo, do tipo e do teor de ligante asfáltico e do método de dosagem no comportamento mecânico das
misturas asfálticas.
A pesquisa utilizou quatro granulometrias diferentes, duas Faixas B e duas Faixas C da especificação
DNIT 031/2006-ES, sendo que para cada faixa granulometrica uma foi selecionada pelo método convencio-
nal de tentativa e erro e outro pelo método de Bailey. Ainda também, dois tipos de ligantes, um CAP 50-70 e
COMPAFLEX AMP CAP 60-85E e dois métodos de dosagem, Superpave e Marshall. A Tabela 2 abaixo, ilus-
tra a nomenclatura para as dezesseis misturas asfálticas estudadas.

Tabela 2. Nomenclatura das dezesseis misturas asfálticas


Método de Seleção Faixa DNIT Tipo de
Nomenclatura
dosagem Granulométrica 031/2006-ES Ligante
Superpave Convencional B 50-70 S CON FXB 50-70
Superpave Bailey B 50-70 S BAI FXB 50-70
Superpave Convencional C 50-70 S CON FXC 50-70
Superpave Bailey C 50-70 S BAI FXC 50-70
Superpave Convencional B 60-85 S CON FXB 60-85
Superpave Bailey B 60-85 S BAI FXB 60-85
Superpave Convencional C 60-85 S CON FXC 60-85
Superpave Bailey C 60-85 S BAI FXC 60-85
Marshall Convencional B 50-70 M CON FXB 50-70
Marshall Bailey B 50-70 M BAI FXB 50-70
Marshall Convencional C 50-70 M CON FXC 50-70
Marshall Bailey C 50-70 M BAI FXC 50-70
Marshall Convencional B 60-85 M CON FXB 60-85
Marshall Bailey B 60-85 M BAI FXB 60-85
Marshall Convencional C 60-85 M CON FXC 60-85
Marshall Bailey C 60-85 M BAI FXC 60-85
Fonte: (ALMEIDA JUNIOR, 2016).

A granulometria das misturas asfálticas é um fator importante que determina o comportamento do reves-
timento asfáltico, em especial a deformação permanente. Almeida Junior (2016) buscou atender as especifica-
ções DNIT 031/2006-ES, sobre as Faixas B e Faixas C, e as peneiras de controle propostas pela AASHTO M
323-2013. A Figura 6 e a Figura 7 mostram, de forma gráfica, as curvas granulométricas das misturas em cada
faixa, o gráfico também mostra o limite para cada especificação e as peneiras de controle para Tamanho Máxi-
mo Nominal (TMN) 19mm da especificação Superpave.
Almeida Junior (2016), após realizar os ensaios e contemplar os requisitos minimos voluméricos das
metodologias Superpave e Marshall, juntamente com os ensaios de determinação da densidade específica má-
xima pelo método Rice, plotagem dos gráficos de volume de vazios/ vazios no agregado mineral/ relação be-
tume-vazio/ massa específica aparente versus teor de ligante, definiu os teores de ligante de projeto para cada
uma das dezesseis misturas asfálticas, dados expostos na Tabela 3, e para um volume de vazios de 4%.
Destaca-se a diferença no número de golpes pelo compactador Marshall, enquanto uma mistura asfáltica
sofre 75 golpes por face, a CPA sofre 50 golpes por face.

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Figura 6. Composição granulométrica das misturas Faixas B DNIT 031/2006-ES

Fonte: (ALMEIDA JUNIOR, 2016).

Figura 7. Composição granulométrica das misturas Faixas C DNIT 031/2006-ES

Fonte: (ALMEIDA JUNIOR, 2016).

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Tabela 3. Teor de ligante de projeto encontrado para cada mistura asfáltica


Mistura Teor de Ligante de Projeto (%)
S CON FXB 50-70 3,70
S BAI FXB 50-70 3,65
S CON FXC 50-70 4,00
S BAI FXC 50-70 4,00
S CON FXB 60-85 3,90
S BAI FXB 60-85 3,75
S CON FXC 60-85 4,12
S BAI FXC 60-85 3,92
M CON FXB 50-70 4,25
M BAI FXB 50-70 4,25
M CON FXC 50-70 4,50
M BAI FXC 50-70 4,40
M CON FXB 60-85 4,60
M BAI FXB 60-85 4,50
M CON FXC 60-85 4,70
M BAI FXC 60-85 4,50
Fonte: (ALMEIDA JUNIOR, 2016).

Encontrado esses valores juntamente com o volume de vazios 4,0%, Almeida Junior (2016) ensaiou os
corpos de prova referente as dezesseis misturas asfálticas.
Neste estudo, vamos utilizar os dados coletados refente ao módulo dinâmico e módulo complexo de ape-
nas duas das misturas, S CON FXB 60-85 e S CON FXC 60-85. Justifica-se a comparação para aproximarmos
as caracteristicas de ligante (60-85), dosagem (Superpave) e teor de ligante de projeto (aproximadamente) as
misturas de CPA.
Mais detalhes do desenvolvimento da pesquisa, das amostras e diferenças no método de dosagem podem
ser eontrados em Almeida Junior (2016).

2.4 Amostras de CPA

Com base em estudos desenvolvidos nos Estados Unidos por Lu, Fu e Harvey (2009) e ensaios em la-
boratório feitos por Kolodziej (2016), modificando-se a quantidade de material passante na peneira de 4,75mm
aumenta-se a permeabilidade, e ainda, foi verificado que em misturas porosas com tamanhos de agregados me-
nores e revestimentos de maior espessura tendem a proporcionar uma redução de ruído mais significativa. Com
base nessa referência, iremos propor uma amostra, nomeada de CPA FX AM 60-85.
Em concordância com estas pesquisas investigou-se esta CPA, igualmente em laboratório, e ainda, as
faixas que se enquadram nas faixas de designação IV e V do DNER. A granulometria de todas as faixas a se-
rem verificadas neste estudo são apresentadas na Tabela 4. Para as amostras referente a normativa brasileira,
foi-se nomeadas de CPA FX IV 60-85 e CPA FX V 60-85.

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Tabela 4. Granulometria das misturas em CPA a serem avaliadas


Abertura (mm) Faixa IV (DNER) Faixa V (DNER) (% Passante) Lu et al. (2009)
19,0 - 100 -
12,5 100 70-100 -
9,5 70-90 50-80 100
4,8 15-30 18-30 55
2,0 10-22 10-22 14
0,42 6-13 6-13 7
0,18 - - 6
0,075 3-6 3-6 5
Fonte: Adaptado pelo autor de DNER (1999) e Lu et al. (2009).

Neste sentido, é importante compreender a influência da estrutura do esqueleto pétreo no que diz respei-
to às propriedades volumétricas, de construção, bem como o desempenho da mistura.
O projeto de mistura desta pesquisa foi executado, por inteiro, de acordo com os procedimentos determi-
nados para dosagem Superpave, seguindo os preceitos da norma da AASHTO M 323-13, utilizando os critérios
de projeto nível 1 (critério volumétrico), o qual depende do tráfego, com valores limite de tráfego (número N),
e da importância da rodovia, conforme Bernucci et al. (2010).
Na Figura 8 apresenta-se a Faixa IV e V do DNER e a dosagem proposta por Lu et al. (2009), com seus
centros de faixas.

Figura 8. Composição granulométrica das amostras de CPA

Fonte: Adaptado de DNER ES 386 (1999) e Lu et al. (2009).

Inicialmente, fez-se a separação dos agregados utilizados nas misturas. Após a devida separação, os
agregados passarão por processo de lavagem e peneiramento. Posterior ao processo de separação, lavagem e
peneiramento dos materiais, através da aplicação do método Marshall, realizou-se o processo de formação das
misturas. Com as misturas devidamente separadas, se deu início ao processo de dosagem através da metodo-
logia Superpave.

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O processo de dosagem será realizado utilizando o misturador da marca infraTest testing systems, modelo
Bituminous Laboratory Mixer 30 Liter Special Version 380V 60 Hz 3Ph with neutral wire/conductor (Figura 9).
Nesta fase, às proporções dos agregados forão adicionados aos teores escolhidos para cada uma das misturas.

Figura 9.
Misturador infra Test da Universidade
Federal de Santa Maria.

Fonte: Autor.

Conforme Bernucci et al. (2010), o tamanho do molde utilizado em dosagens que utilizam o método
Superpave é um aspecto importante e, por mais que o Compactador Giratório requeira o molde de 150 mm, o
método também admite a moldagem de corpos de prova com 100 mm. Por isso, para execução deste trabalho,
utilizou-se moldes com 100 mm de diâmetro. Todo o procedimento de dosagem e, também, de moldagem das
amostras ensaiadas, foi executado utilizando o CGS (Figura 10).
Através do procedimento Superpave, a compactação das amostras é realizada no CGS, para a dosagem,
e durante todo o processo de moldagem das amostras, foi executada com pressão aplicada de 600 kPa e ângulo
de rotação de 1,25º com velocidade constante de giro de 30 rpm.
Além disso, destaca-se o fato da mistura não-compactada permanecer em estufa, à temperatura de com-
pactação, obtida através do ensaio de viscosidade do ligante, por um período de 2 horas antes da compactação,
de modo a simular o envelhecimento de curto prazo durante a usinagem, e também que na dosagem usar-se-á
50 giros (ASTM D7064/D7064M-08) e não os 100 giros tradicional para misturas densas (NBR 15897, 2010),
considerando-se tráfego pesado, da metodologia Superpave (Superior Performing Asphalt Pavements).

Figura 10.
Compactador Giratório Superpave (IPC Servopac) da UFSM

Fonte: Autor.

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Após todo o processo de produção das amostras de CPA, tambem realizou-se alguns ensaios para melhor
caracterização desse material. Ensaios os quais são exigidos segundo DNER-ES 386/99. A Tabela 5 ilustra al-
guns dados obtidos cerca dos ensaios.

Tabela 5. Dados e ensaios realizados para caracterização do material


CPA FX IV 60-85 CPA FX V 60-85 CPA FX AM 60-85
Teor de ligante (%) 4,0 4,0 4,0
Densidade (ABNT - 15573) 2,150 2,216 2,105
Densidade (DNIT ME-117/94) 2,153 2,168 2,109
Rice 2,679 2,698 2,679
Vazios (ABNT) 19,8 17,9 21,4
Vazios (DNIT) 19,7 19,7 21,3
Perda de massa cantabro (%) 14,68 10,65 18,3
Modulo de resiliência (MPA) 7294,5 6302,8 6319,5
Resistencia à tração (MPA) 1,09 0,98 0,89
Condutividade constante (cm/s) 0,159 0,160 0,093
Condutividade variável (cm/s) 0,199 0,213 0,203
Vazios comunicantes (%) 16,5 14,2 14,0
Fonte: Autor.

3. RESULTADOS

3.1 Espaço Cole Cole

O espaço cole cole apresenta a parte real E1, no eixo das abscissas, e a parte imaginária E2, no eixo das
ordenadas, e é semelhante a 1 círculo, independendo da frequência e a temperatura. Com o E1 pode-se avaliar
a parte recuperável da energia armazenada e o E2 ao comportamento viscoso irreversível do material devido a
uma dissipação de energia.
A Figura 11 apresenta de forma gráfica os resultados no espaço Cole Cole das misturas em CA e CPA
obtidos pela modelagem 2S2P1D.

Figura 11.
Plano Cole-Cole para as misturas
de CPA e CA

Fonte: Autor.

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3.2 Diagrama de Black

O Diagrama Black é a representação da norma do módulo complexo em função do ângulo de fase. O


diagrama permite analisar a relação entre o módulo dinâmico e o ângulo de fase em diferentes temperaturas.
Analisando os resultados das misturas em CA e CPA deste trabalho (Superpave), Figura 12, observa-se
que o aumento da temperatura até aproximadamente 37ºC tem efeito no aumento do ângulo de fase e, para tem-
peraturas superiores, o valor diminui. Já o módulo dinâmico diminui com o aumento da temperatura.

Figura 12.
Diagrama de Black para as
misturas de CPA e CA

Fonte: Autor.

3.3 Curvas mestras de Módulo Dinâmico

Fundamentado nos resultados dos ensaios de módulo complexo (módulo dinâmico e ângulo de fase), fo-
ram construídas curvas mestras utilizando-se princípio da superposição tempo temperatura (TTSP - Time-Tem-
perature Superposition Principle), sendo as curvas ajustadas pelo modelo reológico 2S2P1D.
Deste modo, verifica-se que o módulo dinâmico cresce com o aumento da frequência, independente-
mente do tipo de mistura asfáltica. Nas maiores frequências ocorre um menor tempo de carga o que limita a
manifestação de deformações viscoelásticas, ou seja, praticamente só existem deformações elásticas no mate-
rial. Nas baixas frequências, o tempo de carregamento é maior, o que faz manifestar as deformações viscoe-
lásticas do material.
Os estudos nas altas frequências correspondem às baixas temperaturas e nas baixas frequências às altas
temperaturas. Como a temperatura de ensaio variou de -10ºC a 54ºC, o comportamento viscoelástico é válido
para essa faixa de temperatura.
As altas frequências estão relacionadas de forma específica a uma avaliação ao dano por trincamento
térmico no revestimento asfáltico, incomum no Brasil devido ao clima tropical. As temperaturas muito baixas
podem levar o revestimento asfáltico a trincamento por retração e levam ainda a um enrijecimento de tal forma
que se possui pouca espessura e construído sobre materiais muito deformáveis, acelera o processo de fadiga.
As baixas frequências estão relacionadas a ocorrência de deformação permanente na mistura asfáltica,
enquanto nas temperaturas intermediárias ao dano por fadiga.
A Figura 13 mostra as curvas mestras de módulo dinâmico obtidos na modelagem 2S2P1D para as mis-
turas Superpave em CA e CPA, tendo como temperatura de referência 20ºC.

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Figura 13.
Curva mestra de módulo dinâmico
para as misturas de CPA e CA

Fonte: Autor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir deste estudo, foi possível obter dados das características viscoelásticas de misturas asfálticas ti-
po CPA, o que possibilitará uma avaliação de tensões e deformações em estruturas de pavimentos sob quais-
quer condições de temperatura e velocidade de tráfego.
Notou-se que as misturas com CA apresentam valores muito maiores de E* Imaginário em relação as
misturas com CPA. Misturas com CPA apresentam um menor comportamento viscoso irreversível que mis-
turas com ligante convencional, ou seja, ao se deformar apresentam um maior retorno as condições iniciais.
As misturas em CA também fornece uma maior capacidade de atenuação dos esforços, não ocorrendo
assim um acionamento elevado do esqueleto mineral para suportar o carregamento, como ocorre nas misturas
em CPA.
As misturas em CPA apresentaram os maiores valores de ângulo de fase em relação às misturas com
CA, indicando que no comportamento dessas misturas a parcela viscosa é mais atuante que a parcela elástica.
As duas misturas em CA com ligante 60-85 apresentaram maior rigidez em relação às três misturas em
CPA com o mesmo tipo de ligante.

AGRADECIMENTOS

A Rede Temática do Asfalto ANP/PETROBRAS e ao Laboratório de Materiais e Construção Civil


(LMCC/UFSM) pelo apoio nas pesquisas do Grupo de Estudos em Pavimentação e Segurança Viária (GE-
PPASV - UFSM).

REFERÊNCIAS

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