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Cassiano Ricardo, Nº 601, Salas 161 e 163 – Residencial Aquarius, São José
dos Campos – SP – CEP: 12.246-870
ISBN: 978-65-88212-05-9
CDU: 658.5:37
2
Diretoria da ABEPRO
3
Sumário
Prefácio ..................................................................................................................................................10
Apresentação .......................................................................................................................................12
CAPÍTULO I............................................................................................................................................13
USO DA GAMIFICAÇÃO NO ENSINO DA ENGENHARIA DE PRODUÇÃO: JOGO DE
TABULEIRO BASEADO NOS DESPERDÍCIOS LEAN ...................................................................13
Tema: Aplicação de metodologias ativas e práticas inovadoras ..................................................... 13
Resumo ........................................................................................................................................................................ 13
1. Introdução ...................................................................................................................................................... 14
2. Descrição do problema ............................................................................................................................. 17
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ........................................................................... 19
4. Resultados obtidos ...................................................................................................................................... 21
5. Lições aprendidas e conclusão .............................................................................................................. 26
Agradecimentos ...................................................................................................................................................... 27
Referências ................................................................................................................................................................ 27
CAPÍTULO II ..........................................................................................................................................30
DISCIPLINA DE INTRODUÇÃO À ENGENHARIA DE PRODUÇÃO NA FURG: UMA
EXPERIÊNCIA QUE UNE DIGITAL E FÍSICO .................................................................................30
Tema: Aplicação de metodologias ativas e práticas inovadoras ..................................................... 30
Resumo ........................................................................................................................................................................ 30
1. Introdução ...................................................................................................................................................... 31
2. Descrição do problema ............................................................................................................................. 32
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ........................................................................... 33
4. Resultados obtidos ...................................................................................................................................... 37
5. Lições aprendidas e conclusão .............................................................................................................. 40
Agradecimentos ...................................................................................................................................................... 41
Referências ................................................................................................................................................................ 41
ANEXO ......................................................................................................................................................................... 42
CAPÍTULO III ........................................................................................................................................43
DESENVOLVIMENTO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO-
APRENDIZAGEM-AVALIAÇÃO EM ENGENHARIA ECONÔMICA ............................................43
Tema: Aplicação de metodologias ativas e práticas inovadoras ..................................................... 43
Resumo ........................................................................................................................................................................ 43
1. Introdução ...................................................................................................................................................... 44
2. Descrição do problema ............................................................................................................................. 45
3. Solução desenvolvida ................................................................................................................................ 49
4. Resultados obtidos ...................................................................................................................................... 52
5. Lições aprendidas e conclusão .............................................................................................................. 54
Referências ................................................................................................................................................................ 55
CAPÍTULO IV .........................................................................................................................................59
APLICAÇÃO DO DESIGN SCIENCE RESEARCH E DESIGN THINKING NA DISCIPLINA
PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO ...............................................................59
Tema: Aplicação de metodologias ativas e práticas inovadoras ..................................................... 59
Resumo ........................................................................................................................................................................ 59
1. Introdução ...................................................................................................................................................... 60
2. Descrição do problema ............................................................................................................................. 60
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ........................................................................... 61
4
4. Resultados obtidos ...................................................................................................................................... 66
5. Lições aprendidas e conclusão .............................................................................................................. 74
Referências ................................................................................................................................................................ 75
CAPÍTULO V ..........................................................................................................................................76
GRAFISMO: UMA ESTRATÉGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM ...........................................76
Tema: Aplicação de metodologias ativas e práticas inovadoras ..................................................... 76
Resumo ...................................................................................................................................................................... 76
1. Introdução .................................................................................................................................................... 77
2. Descrição do problema ......................................................................................................................... 79
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ................................................................... 80
4. Resultados obtidos .................................................................................................................................. 82
5. Lições aprendidas e conclusão......................................................................................................... 89
Agradecimentos ................................................................................................................................................... 90
Referências .............................................................................................................................................................. 91
CAPÍTULO VI .........................................................................................................................................92
APRENDIZAGEM BASEADA EM PROBLEMAS NO ENSINO DE UMA DISCIPLINA DO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO ..................................................92
Tema: Aplicação de metodologias ativas e práticas inovadoras ..................................................... 92
Resumo ...................................................................................................................................................................... 92
1. Introdução .................................................................................................................................................... 93
2. Descrição do problema ......................................................................................................................... 95
3. Solução desenvolvida............................................................................................................................. 95
4. Resultados obtidos ............................................................................................................................... 104
5. Lições aprendidas e conclusão...................................................................................................... 106
Agradecimentos ................................................................................................................................................ 107
Referências ........................................................................................................................................................... 107
CAPÍTULO VII .................................................................................................................................... 109
DESENVOLVIMENTO, APLICAÇÃO E VALIDAÇÃO DO JOGO LEAN CARDS PARA ALUNOS
DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO................................................................................................ 109
Tema: Aplicação de metodologias ativas e práticas inovadoras .................................................. 109
Resumo ..................................................................................................................................................................... 109
1. Introdução ....................................................................................................................................................... 110
2. Descrição do problema ........................................................................................................................... 111
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ..................................................................... 114
4. Resultados obtidos ..................................................................................................................................... 116
5. Lições aprendidas e conclusão .......................................................................................................... 121
Referências ........................................................................................................................................................... 122
CAPÍTULO VIII ................................................................................................................................... 124
A LOGÍSTICA PARA O INCENTIVO A LEITURA POR MEIO DA DOAÇÃO ......................... 124
Tema: Aplicação de metodologias ativas e práticas inovadoras .................................................. 124
Resumo................................................................................................................................................ 124
1. Introdução ................................................................................................................................ 124
2. Descrição do problema ........................................................................................................ 125
3. Solução desenvolvida ........................................................................................................... 126
4. Resultados obtidos ................................................................................................................ 131
5
5. Lições aprendidas e conclusão.......................................................................................... 131
Agradecimentos ............................................................................................................................... 132
Referências ........................................................................................................................................ 132
CAPÍTULO IX ...................................................................................................................................... 133
ESTRATÉGIA DE CURRICULARIZAÇÃO DA EXTENSÃO: EXPERIÊNCIAS NAS
DISCIPLINAS DE ENGENHARIA ECONÔMICA E PESQUISA OPERACIONAL NA UFABC
................................................................................................................................................................ 133
Tema: Implementação e avaliação de práticas de curricularização da extensão ............... 133
Resumo ................................................................................................................................................................... 133
1. Introdução ................................................................................................................................................... 134
1. Descrição do problema ...................................................................................................................... 134
2. Solução desenvolvida.......................................................................................................................... 135
3. Resultados obtidos ............................................................................................................................... 137
5. Lições aprendidas e conclusão...................................................................................................... 140
Referências ........................................................................................................................................................... 141
CAPÍTULO X ....................................................................................................................................... 142
IMPLEMENTAÇÃO DE MELHORIAS NOS RELATÓRIOS DAS ATIVIDADES
EXTENSIONISTAS DO CURSO DE ENGENHARIA DE PROUÇÃO DA UNINTER ............... 142
Tema: Implementação e avaliação de práticas de curricularização da extensão ............... 142
Resumo ..................................................................................................................................................................... 142
1. Introdução ................................................................................................................................................... 143
2. Descrição do problema .......................................................................................................................... 143
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ........................................................................ 146
4. Resultados obtidos ................................................................................................................................... 150
5. Lições aprendidas e conclusão ........................................................................................................... 155
Agradecimentos ................................................................................................................................................... 156
Referências ............................................................................................................................................................. 156
CAPÍTULO XI ...................................................................................................................................... 157
Práticas em engenharia de produção como formação extensionista a partir da
interação entre setor produtivo e universidade.................................................................. 157
Tema: Implementação e avaliação de práticas de curricularização da extensão ............... 157
Resumo ..................................................................................................................................................................... 157
1. Contexto da Formação dos Engenheiros no Brasil ......................................................................... 158
1.1 Introdução ...................................................................................................................................................... 158
1.2. Educação em Engenharia no Brasil ................................................................................................... 158
2. Descrição do problema ................................................................................................................................ 165
3. Solução desenvolvida.................................................................................................................................... 165
4. Resultados obtidos ......................................................................................................................................... 172
3. Lições aprendidas e conclusão ................................................................................................................. 178
Referências ............................................................................................................................................................. 180
CAPÍTULO XII .................................................................................................................................... 182
CO-CRIANDO A REFORMA CURRICULAR: RELATO DA EXPERIÊNCIA DOS DOCENTES
DO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE
JANEIRO - MACAÉ............................................................................................................................. 182
Tema: Implementação e avaliação de práticas de curricularização da extensão ............... 182
Resumo ..................................................................................................................................................................... 182
1. Introdução ................................................................................................................................................... 183
6
2. Descrição do problema .......................................................................................................................... 185
3. Percurso metodológico .......................................................................................................................... 189
4. Resultados obtidos ................................................................................................................................... 194
5. Lições aprendidas e conclusão ........................................................................................................... 196
Agradecimentos ................................................................................................................................................... 197
Referências ............................................................................................................................................................. 197
CAPÍTULO XIII ................................................................................................................................... 199
OS EVENTOS COMO MECANISMO DE AMPLIAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS DE ALUNOS DE
ENGENHARIA EAD ........................................................................................................................... 199
Tema: Implementação das Novas Diretrizes Curriculares .............................................................. 199
Resumo ..................................................................................................................................................................... 199
1. Introdução ................................................................................................................................................... 200
2. Descrição do problema .......................................................................................................................... 202
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ........................................................................ 203
4. Resultados obtidos ................................................................................................................................... 206
5. Lições aprendidas e conclusão ........................................................................................................... 207
Agradecimentos ................................................................................................................................................... 208
Referências ............................................................................................................................................................. 209
CAPÍTULO XIV ................................................................................................................................... 210
EDUCAÇÃO BASEADA EM COMPETÊNCIA: Desenvolvimento de atividade
experimental de ensino para o curso de Engenharia de Produção............................... 210
Tema: Implementação das Novas Diretrizes Curriculares .............................................................. 210
Resumo ..................................................................................................................................................................... 210
1. Introdução ......................................................................................................................................................... 211
2. Descrição do problema ................................................................................................................................ 212
3. Procedimentos metodológicos ................................................................................................................. 214
4. Atividade de ensino experimental proposta ...................................................................................... 216
5. Resultados da avaliação da atividade de ensino proposta ......................................................... 219
6. Lições aprendidas e conclusão ................................................................................................................. 224
Agradecimentos ................................................................................................................................................... 225
Referências ............................................................................................................................................................. 225
CAPÍTULO XV..................................................................................................................................... 227
AVALIAÇÃO DAS PERCEPÇÕES DOS ALUNOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE
COMPETÊNCIAS: PROPOSTA DE FERRAMENTA PARA O CURSO DE ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO DA UFRGS.................................................................................................................... 227
Tema: Implementação das Novas Diretrizes Curriculares .............................................................. 227
Resumo ..................................................................................................................................................................... 227
1. Introdução ................................................................................................................................................... 228
2. Descrição do problema .......................................................................................................................... 229
3. Percurso metodológico .......................................................................................................................... 230
4. Resultados ................................................................................................................................................... 234
4.2. Proposição de ferramenta para avaliação da percepção dos alunos sobre o
desenvolvimento de competências .............................................................................................................. 234
4.3. Análise do nível de desenvolvimento de competência percebido para cada
competência avaliada ....................................................................................................................................... 235
4.4. Proposição de uma nova versão da ferramenta de autoavaliação de percepção de
competências......................................................................................................................................................... 238
5. Lições aprendidas e conclusão ........................................................................................................... 239
Agradecimentos ................................................................................................................................................... 240
7
Referências ............................................................................................................................................................. 240
CAPÍTULO XVI ................................................................................................................................... 243
PROCESSO ON-LINE DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE UM PROJETO FINAL
DE CURSO DE GRADUAÇÃO COM PARTICIPAÇÃO DE ALUNOS DA PÓS-GRADUAÇÃO
................................................................................................................................................................ 243
Tema: Integração graduação e pós-graduação ................................................................................... 243
Resumo ..................................................................................................................................................................... 243
1. Introdução ................................................................................................................................................... 244
2. Descrição do problema .......................................................................................................................... 246
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ........................................................................ 247
4. Resultados obtidos ................................................................................................................................... 255
5. Lições aprendidas e conclusão ........................................................................................................... 257
Agradecimentos ................................................................................................................................................... 258
Referências ............................................................................................................................................................. 259
CAPÍTULO XVII.................................................................................................................................. 260
SISTEMÁTICA PARA ELABORAÇÃO DO PLANO ESTRATÉGICO DO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UNIFEI CAMPUS ITAJUBÁ .......... 260
Tema: Integração graduação e pós-graduação ................................................................................... 260
Resumo ..................................................................................................................................................................... 260
1. Introdução ................................................................................................................................................... 261
2. Descrição do problema .......................................................................................................................... 262
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ........................................................................ 263
4. Resultados obtidos ................................................................................................................................... 273
5. Lições aprendidas e conclusão ........................................................................................................... 275
Agradecimentos ................................................................................................................................................... 276
Referências ............................................................................................................................................................. 276
CAPÍTULO XVIII ................................................................................................................................ 277
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO: COMO RECUPERAR O SIGNIFICADO DE UM
DOS MAIS IMPORTANTES TRABALHOS DE UM ACADÊMICO............................................ 277
Resumo ..................................................................................................................................................................... 277
6. Introdução ................................................................................................................................................... 278
7. Descrição do problema .......................................................................................................................... 278
8. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ........................................................................ 279
9. Resultados obtidos ................................................................................................................................... 282
10. Lições aprendidas e conclusão ..................................................................................................... 288
Referências Bibliográficas .............................................................................................................................. 289
CAPÍTULO XIX ................................................................................................................................... 290
A TRAJETÓRIA DO PPGEP-UFPE EM 25 ANOS........................................................................ 290
Tema: Formação continuada e acompanhamento dos egressos .................................................. 290
Resumo ..................................................................................................................................................................... 290
1. Introdução ................................................................................................................................................... 291
2. Descrição do problema .......................................................................................................................... 292
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico) ........................................................................ 293
4. Resultados obtidos ................................................................................................................................... 294
5. Lições aprendidas e conclusão ........................................................................................................... 297
Agradecimentos ................................................................................................................................................... 297
Referências ............................................................................................................................................................. 297
ANEXO I – Marcos de Internacionalização ............................................................................................. 298
8
ANEXO II – Lista de Premiações ................................................................................................................... 302
9
Prefácio
É com grande satisfação que apresento este e-book, que reúne relatos
de experiências valiosas no ensino de Engenharia de Produção. Este livro foi
organizado com o objetivo de compartilhar as experiências e os desafios
enfrentados por professores e alunos que se envolveram na Curricularização
da Extensão e na implementação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais.
A Engenharia de Produção é uma área que tem ganhado cada vez mais
importância na sociedade atual, especialmente diante das demandas por uma
produção mais eficiente, sustentável e responsável socialmente. Diante desse
contexto, os professores de Engenharia de Produção têm um papel
fundamental na formação de profissionais capazes de enfrentar os desafios da
área e ter acesso a suas experiências de ensino/aprendizagem é de extrema
relevância e importância.
A Curricularização da Extensão é uma proposta pedagógica que visa
integrar a extensão universitária ao currículo dos cursos de graduação. Essa
iniciativa tem o objetivo de aproximar a academia da sociedade, promovendo a
troca de conhecimentos entre as duas esferas e contribuindo para a formação
de profissionais mais conscientes e engajados socialmente.
As novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de
Engenharia de Produção, por sua vez, buscam atualizar e adequar as
competências necessárias para a formação dos futuros engenheiros de
produção. Essas diretrizes buscam formar profissionais capazes de lidar com
os desafios contemporâneos e as demandas do mercado de trabalho, como a
sustentabilidade, a inovação e a internacionalização.
Neste ebook, os leitores encontrarão relatos de experiências de
docentes e discentes que se engajaram na implementação dessas iniciativas
em seus cursos de Engenharia de Produção. Os autores compartilham suas
vivências, suas reflexões e seus resultados, oferecendo uma visão ampla e rica
do impacto dessas mudanças na formação dos futuros profissionais.
Encontrarão, casos de professores de diferentes instituições de ensino,
que compartilham suas práticas pedagógicas, desafios enfrentados e lições
aprendidas ao longo de suas trajetórias. São relatos inspiradores que
10
certamente contribuirão para o aprimoramento do ensino de Engenharia de
Produção.
Espero que este ebook seja uma fonte de inspiração e aprendizado para todos
os envolvidos na formação de engenheiros de produção e que contribua para a
melhoria contínua dos cursos e da formação de nossos futuros profissionais.
Boa leitura!
11
Apresentação
Nesta quinta edição do relato de experiência a Comissão Avaliadora foi a
responsável por avaliar, organizar e operacionalizar a confecção deste com o
apoio da Diretoria da ABEPRO.
Os objetivos são:
12
CAPÍTULO I
Resumo
13
1. Introdução
Segundo Taiichi Ohno (2004), um dos criadores do Sistema Toyota de
Produção, as organizações precisam “começar pela necessidade”. Dentre os
inúmeros impactos desencadeados pelo processo de globalização e expansão
dos mercados, o aumento da competitividade no mercado tem se destacado
como um grande desafio para as empresas, seja pela necessidade de melhor
posicionamento, ou até mesmo, pela necessidade de manter-se sustentável em
sua produção (RODRIGUES; GONÇALVES, 2022). O Lean é uma metodologia
com um conjunto de ferramentas, as quais podem mudar a forma pela qual as
organizações são gerenciadas e administradas. Sua aplicação, direciona-se à
melhoria contínua através da otimização processos e proporciona às
empresas, condições para melhorar a qualidade de seus serviços, processos
de produção e eliminar obstáculos e empecilhos (GRABAN, 2013; SILVA,
2022).
14
desnecessário de peças e materiais,
ocorrendo geralmente em ambientes com
layouts mal planejados.
Fonte: Adaptado de Ohno (2004) apud Santos, Ferraz e Castro Silva (2019)
15
interagir com o conteúdo que lhes é ensinado, de modo que as metodologias
ativas permitem que eles vivenciem situações mais profundas de aprendizado
(MARQUES et al, 2021).
16
conhecimento transmitido e qualifica profissionais. Além disso, os métodos
“gamificados” propõem tomadas de decisões mais assertivas e influenciam em
melhores planos de ações, permitindo assim a correção de falhas no processo
e a implantação de técnicas que estejam em conformidade com a perspectiva
dos clientes (MOTTA et al., 2019). O emprego desse tipo de metodologia ativa
é uma prática que agrega no treinamento de equipes, sobretudo na aplicação
da filosofia Lean em diversas áreas (SILVA; PIMENTEL, 2022).
2. Descrição do problema
O papel do Engenheiro de Produção na sociedade é marcado pela criação de
soluções eficazes para os problemas relacionados a sistemas produtivos
gerados pela expansão capitalista no mundo. A globalização, a concorrência
entre as organizações e as exigências de mercado trazem como consequência
a demanda por engenheiros cada vez mais qualificados e em constante
17
processo de formação, a qual se inicia em sala de aula, com a formação
acadêmica, e complementa-se com a atuação do acadêmico no mercado de
trabalho. No entanto, a chegada no mercado de trabalho, geralmente ainda
durante sua formação, tende a ser marcada por uma lacuna entre o que é
aprendido na instituição de ensino e o que de fato é aplicado na empresa
(PONTES et al., 2021).
18
lacunas e desajustes que promovam o desenvolvimento de habilidades
fundamentais para a implementação real do Lean conforme a área de
aplicação (TORTORELLA; MIORANDO; FETTERMANN, 2018).
19
Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e
Inovação (PIBITI) do grupo de pesquisa em Lean Healthcare da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia. O fluxograma da figura 1 ilustra as etapas do
percurso metodológico.
20
com mesas, um espaço para distribuição da refeição por um funcionário
e, separada por uma parede, uma cozinha para o alimento ser
produzido. A escolha do cenário, sustenta-se na hipótese de que tanto
os alunos do ensino médio quanto superior, já tiveram acesso a cenários
semelhantes no interior dos ambientes educacionais. Toda a aparência
visual foi elaborada utilizando a versão education (gratuito para
estudantes) da plataforma de design gráfico Canva.
4. Resultados obtidos
Tendo em vista os avanços dos métodos de educação com o passar da
história, Paulo Freire (1996), em seu livro “Pedagogia do Oprimido”, afirma que,
para que haja educação de adultos, a superação de desafios, a resolução de
21
problemas e a construção de novos conhecimentos a partir de experiências
prévias, são necessárias para impulsionar as aprendizagens, por isso a
metodologia ativa é tão importante, seja a nível fundamental ou superior.
Em virtude do perfil mais jovem dos alunos que estão ingressando nas
universidades, surge a necessidade de uma alternativa diferenciada de ensino,
pois o método tradicional não retém a atenção dos alunos por completo. Além
disso, existe a dificuldade de ensinar apenas por teoria, visto a complexidade
de explanar alguns temas sem apresentar exemplos ou dinâmicas.
Percebendo-se a lacuna entre as diferenças de absorção de conhecimento
entre os alunos quando não há a existência de parte prática, a alternativa do
uso das metodologias ativas através da gamificação do ensino, foi a solução
para o problema apresentado.
22
Fonte: Os autores (2023)
23
A dinâmica escolhida para o jogo propõe que seja aplicado a grupos de até três
alunos, sejam eles de graduação ou ensino médio, de modo que todos
descubram ao menos um tipo de desperdício já que as etapas do jogo estão
divididas em rodadas. Deste modo, todo jogador deverá expor seu raciocínio
para a turma, podendo inclusive debatê-las com seus oponentes, mas sem o
direito da mudança de resposta. As regras do jogo estão dispostas na figura
04, elaborada pelos autores.
24
os métodos de aplicação do jogo, bem como sua identidade visual, quando não
registrado, podem ser copiados ou reproduzidos sem autorização.
Para que o jogo seja considerado eficaz e eficiente para aprendizado e fixação
do conhecimento, é necessário validá-lo através da aplicação com o público-
alvo. Além disso, também é preciso um indicador quantitativo para
monitoramento e análise (TORTORELLA; MIORANDO; FETTERMANN, 2018).
Por isso, uma das dificuldades a serem enfrentadas, e próximos passos das
etapas de desenvolvimento do jogo, é a sua aplicação dentro de salas de aula
para alunos de graduação de Engenharia de Produção e para alunos do
terceiro ano do ensino médio, fomentando o interesse destes para optarem
pelo curso de Engenharia de Produção. A referida etapa ainda não foi possível,
pois é necessária a submissão de documentações específicas junto a carta de
anuência do local em que o jogo será aplicado ao Comitê de Ética (CEP) da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, apenas após a autorização o
processo de validação e aplicação do jogo será iniciado.
25
estudado em algo mais prazeroso de se aprender, sendo o aluno protagonista
na construção do seu conhecimento.
A literatura reforça o uso de jogos para o ensino nos níveis superior e médio,
Rangel (2022) analisa onde a maioria dos estudos estão concentrados no
ensino médio e superior, e apresentam resultados exitosos, entre os benefícios
citados pelos autores estão: melhor aprendizado, autonomia, engajamento,
motivação, curiosidade, interesse, cooperação, participação, reduziu a
ansiedade, o estresse e a evasão. As principais ferramentas identificadas para
“gamificar” as aulas foram: google formulário, google planilha, google
classroom, quizizz, kahoot, wordwall, padlet, mentimenter, nearpod, socrative,
canva e o mendmeister e todas apresentam versões gratuitas.
26
graduação como feira de conhecimento, amostras, palestras, recepção de
calouros e outros exemplos.
Agradecimentos
Agradecimentos a Coordenação de Criação e Inovação (CINOVA) da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), ao órgão de fomento
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e ao
projeto de pesquisa em Lean Healthcare também da UFRB.
Referências
27
OHNO, T. O sistema Toyota de produção: além da produção em larga escala. Porto
Alegre: BOOKMAN, 2004.
SANTOS, M.S. et al. CONQUER THE ARTWORK: A BOARD GAME FOR TEACHING
HISTORY OF ART. Educação em Revista [online]. 2020, v. 36 Disponível em:
https://doi.org/10.1590/0102-4698219027
28
v. 18, n. 1, p. 93–117, 2018. DOI: 10.14488/1676-1901.v18i1.2682. Disponível em:
https://www.producaoonline.org.br/rpo/article/view/2682. Acesso em: 2 abr. 2023.
29
CAPÍTULO II
Resumo
A disciplina de Introdução à Engenharia de Produção é o primeiro contato
do aluno com uma disciplina específica do curso que escolheu. Associado a
esse fato, os alunos da Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
usualmente possuem pouca ou nenhuma experiência prática e conhecimento
das áreas do curso de Engenharia de Produção (EP). A fim de melhor acolher
o aluno recém ingressante e preencher suas lacunas, foi proposta uma
experiência que combinou entrevistas com especialistas nas 10 áreas do curso
de EP e a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP). Essa combinação é
resultado da evolução da disciplina desde 2019, que resultou em vídeos que
registraram as entrevistas sobre as 10 áreas e na construção de 13 catapultas
através da ABP. Os vídeos já tiveram mais de 10 mil visualizações e a
30
disciplina contribuiu para motivar e aumentar o cabedal de conhecimento dos
alunos quanto ao curso que escolheram.
1. Introdução
31
baixa demanda, principalmente no período pós-pandemia. Outro fator externo é
a cidade pequena, e mesmo contando com um campus universitário a oferta de
moradia para estudantes é limitada e com custos que não suportados por
alunos, que acabam evadindo para instituições.
Também por razões externas, no período pós-pandemia houve uma
redução sistemática do número de inscrições no ENEM (DA ROCHA, DE
OLIVEIRA e TORRES, 2023), chegando a um percentual de 40% de redução
das inscrições, o que causou impacto no número de ingressantes, fazendo com
que o combate à evasão de alunos ganhasse ainda mais relevância.
Dessa forma, os projetos e atividades propostos e desenvolvidos na
disciplina de Introdução à Engenharia de Produção buscam minimizar os
impactos internos, através de novas formas de ensino, na qual os alunos se
integram a projetos desde o primeiro dia de aula, tornando a disciplina atrativa
e ao mesmo tempo mostrando ao aluno um pouco de tudo que ele irá
desenvolver ao longo do curso de Engenharia de Produção.
2. Descrição do problema
32
impactou no engajamento dos estudantes com o curso. Foi necessário, assim,
a reformulação da forma de apresentar o curso, suas áreas e oportunidades
para os alunos. A aula remota deveria apresentar o conteúdo e atrair a atenção
dos alunos para todas as possibilidades de carreira que o curso oferecia.
Nesse cenário em transição, dois problemas deveriam ser superados: o
baixo conhecimento das áreas do curso e a baixa motivação do aluno jovem e
recém ingressante em seguir a trajetória acadêmica. Dessa forma, duas
abordagens para engajamento e disseminação de conhecimentos foram
propostas, e recentemente integradas, na disciplina de “Introdução à
Engenharia de Produção”: (i) a elaboração, por parte dos alunos, do projeto de
uma catapulta e (ii) a comunicação das áreas do curso de Engenharia de
Produção por meio de entrevistas com profissionais do mercado de trabalho
divulgadas em canal do Youtube. Essa última abordagem contribuiu também
para divulgar o curso.
33
De posse dos vídeos criou-se um cronograma de apresentação das áreas.
A cada semana os alunos teriam que assistir uma das entrevistas, procurar
materiais complementares àquela área e trazê-los para discussão em sala de
aula. Ao final de 11 semanas, as 10 áreas foram apresentadas e discutidas,
sendo que na primeira semana apresentou-se o vídeo síntese das entrevistas
como um mecanismo de engajamento para os alunos assistiram as entrevistas
na íntegra e se aprofundarem em cada área. Para que os alunos pudessem
consolidar o conhecimento das áreas da EP, solicitou-se que cada um
realizasse um mapa mental.
O vídeo proporcionou aos alunos acesso a profissionais de diferentes áreas
e diferentes localidades do País e do mundo. Esse contato com a realidade do
mercado profissional para engenheiros de produção proporcionou uma maior
compreensão dos alunos ingressantes sobre as diferentes possibilidades de
atuação, estimulando a continuidade no curso.
Como essa experiência, embora rica em informações, ainda permitia que o
aluno tivesse uma postura passiva, entrou em cena o segundo objetivo que
despertou a motivação dos alunos através da Aprendizagem Baseada em
Projetos (PBL – Project Based Learning) que exigiu uma postura ativa dos
alunos. A PBL foi realizada através do desenvolvimento e execução do projeto
de uma lançadeira de objetos.
As denominadas “metodologias ativas de ensino” se caracterizam pela
maior participação e envolvimento dos alunos no processo de ensino-
aprendizagem. Na abordagem da Aprendizagem Baseada em Projetos nas
engenharias, Project Based Learning (PBL), em vez de meros espectadores
numa sala de aula tradicional, os alunos são desafiados a se envolverem em
tarefas vinculadas a projetos que visam trazer soluções para problemas
específicos (MASSON, 2012). Nesse modelo de ensino, o professor “sai do
pedestal” de detentor do conhecimento e atua como facilitador do processo
orientando os alunos no desenvolvimento das soluções.
Os alunos recém-chegados à Instituição de Ensino Superior, no primeiro
período de Engenharia de Produção cursando a disciplina Introdução à
Engenharia de Produção, ainda não detém o domínio de conteúdos da
34
engenharia, mas são desafiados a trabalharem de forma colaborativa no
projeto da catapulta usando conhecimentos de física obtidos no ensino médio
ao mesmo tempo que buscam identificar aspectos relevantes no projeto
associados às 10 áreas da engenharia de produção apresentadas nas aulas.
Usualmente, quando observamos um objetivo principal em um projeto, ele
está vinculado à obtenção de um determinado produto, ou seja, a solução
necessária do problema que motivou o projeto. Em um projeto de
aprendizagem que utiliza a metodologia PBL a solução do problema acaba
sendo colocada como objetivo secundário (BARRETO, 2017). O objetivo
principal da experiência na aprendizagem é mostrar para o aluno a importância
de se obter conhecimentos nas diversas áreas (motivando a aprendizagem de
diversas disciplinas no curso que está se iniciando) e a importância de se
trabalhar em equipe. A obtenção do produto, para a disciplina, é um objetivo
secundário.
Uma vez apresentado o problema, o desafio de construir uma catapulta que
seja capaz de deslocar projetis (bola de tênis ou similar) até alvos específicos
dispostos a distâncias conhecidas, os vários grupos passam a desenvolver
seus protótipos orientados pelo professor da disciplina. À medida que as áreas
da Engenharia de Produção são apresentadas segundo o cronograma da
disciplina, os grupos são motivados à análise dos respectivos projetos em
desenvolvimento com base no entendimento obtido sobre essas áreas. Por
exemplo, uma vez que a área “Engenharia da Sustentabilidade” tiver sido
apresentada, os grupos têm melhores condições de avaliar as decisões
tomadas sobre os materiais utilizados na catapulta e o respectivo impacto
ambiental deles.
Desta forma, o cronograma do projeto e das entrevistas se sobrepuseram,
revelando a integração dos vídeos e das etapas do projeto da catapulta. Os
vídeos abordam as 10 áreas da EP e cada área é estudada em uma aula. Já o
projeto da catapulta é inspirado nas etapas de projeto proposta por Dym et al.
(2009) e por Bazzo e Pereira (2000) e totalizam 6 etapas distribuídas em 14
dias. A Tabela 1 apresenta o cronograma que integra vídeos e projeto da
catapulta.
35
Sem Conteúdo - Área da EP Etapa do Projeto
ana
1 Acolhida
Introdução a EP e Histórico da
2
Engenharia
3 Palestra: "Como estudar?"
4 Área 5: Engenharia do Produto Declaração do problema do cliente
5 Área 6: Engenharia Organizacional Definição do problema
Área 4: Engenharia da Qualidade Projeto Conceitual - Proposição e Seleção de
6
alternativas
Área 4: Engenharia da Qualidade Projeto Conceitual - Proposição e Seleção de
7
alternativas
8 Área 2: Logística Projeto Preliminar - Planejamento
9 Área 7: Engenharia Econômica Projeto Preliminar - Planejamento
Área 1: Engenharia de Operações e Projeto Detalhado - Construção da solução
10
Processos da Produção
Materiais Mecânicos e Processos Projeto Detalhado - Construção da solução
11
de Fabricação
Área 8: Engenharia do Trabalho Projeto Detalhado - Conclusão da construção da
12
solução
Área 9: Engenharia da Projeto Detalhado - Ajustes e conclusão dos
13
Sustentabilidade projetos
Área 3: Pesquisa Operacional Projeto Detalhado - Cálculo da Equação da Reta
14
para estimar a distância percorrida
Área 3: Pesquisa Operacional Projeto Detalhado - Cálculo da Equação da Reta
15
para estimar a distância percorrida
Área 10: Educação em Engenharia Comunicação do Projeto – Conclusão do relatório
16
de Produção
Apresentação de Trabalhos Comunicação do Projeto - Competição dos
17
projetos
Apresentação e competição Comunicação do Projeto - Proposição de
18
melhorias
36
solução, definição de dimensões, método de propulsão e custos do projeto.
Para tanto apoia-se nos conceitos das áreas 1 e 7 da EP.
No Projeto detalhado é onde define-se como será a construção da
catapulta, assim apoia-se nas áreas 1 e 8 da EP. A área 8 entra no intuito de
chamar a atenção para questões ergonômicas e de segurança do trabalho. Um
tanto deslocada, a área de sustentabilidade resgata as definições de utilização
de materiais recicláveis e expande a reflexão para possíveis usos sociais para
a catapulta após a conclusão da disciplina.
A área de Pesquisa Operacional é utilizada de forma bastante prática
através da definição de equações da reta para cada catapulta. Para tanto, os
alunos precisam testar a catapulta, fazer lançamentos e registros de distância
percorrida e parâmetro de propulsão definido. Após definirem a equação da
reta para suas catapultas, eles conseguem prever o local de aterrisagem do
projétil. Como essa etapa não é a final, ainda há tempo para melhorias no
projeto, que são muito comuns de emergirem nessa etapa do projeto.
A apresentação das áreas da EP termina com a área de educação em EP,
onde inicia a etapa de comunicação do projeto. No dia da apresentação da 10ª
área, os alunos devem concluir a redação do relatório da catapulta, que
compila a realização de todas as etapas do projeto. Ainda nessa etapa final, os
alunos são convidados a fazer uma competição entre as catapultas e no dia
final proporem melhorias para a catapulta.
O enunciado da lançadeira encontra-se no Anexo. Embora o termo
catapulta seja mais frequente e mais comum entre alunos e professores, o
correto seria lançadeira, pois é mais genérico e não conduz a solução para um
tipo de lançamento que seria a catapulta.
4. Resultados obtidos
37
O primeiro foi a experiência de adotar algum objeto de estudo para que os
alunos desenvolvessem melhor o aprendizado sobre o curso de Engenharia de
Produção. A partir dos conhecimentos introdutórios adquiridos ao longo da
disciplina, os alunos puderam refletir sobre todas as dez áreas da Engenharia
de Produção (apresentadas no item anterior) no projeto da Lançadeira. Desde
a estratégia de concepção de um produto até a sua validação prática, os
alunos puderam experimentar os conceitos básicos da Engenharia de
Produção norteados pelas dez áreas da Engenharia de Produção. Os autores
coletaram relatos com três possíveis formandos da turma de 2022-2 e foram o
seguinte:
1- “A experiência prática na disciplina de Introdução à Engenharia de
Produção me permitiu entender de forma interligada todas as ferramentas
que aprendi ao longo do curso”;
2- “Atividades práticas mesmo numa disciplina introdutória de
primeiro semestre faz toda a diferença lá na frente”;
3- “A experiência prática da Lançadeira já me mostrou qual área da
Engenharia de Produção eu queria seguir, no meu caso a área de
Planejamento”;
De forma qualitativa percebe-se, pelo relato dos alunos, que a experiência
prática, mesmo nas disciplinas mais iniciais do curso, contribuíram para um
melhor entendimento sistêmico dos conceitos, práticas e ferramentas
aprendidos ao longo do curso e auxiliaram na identificação de cada aluno com
a área que mais tem afinidade.
O segundo momento foi a criação de vídeos de cada área das 10
formadoras da Engenharia de Produção. Neste caso foram escolhidos
engenheiros(as) para que explicassem uma das 10 áreas da EP que
possuíssem experiência prática. Ao todo, foram mais de dez mil visualizações
nos vídeos com comentários positivos. Os vídeos podem ser acessados
através de canal específico na plataforma Youtube:
https://www.youtube.com/@ProfRicardoFariaCorrea. A Figura 1 apresenta uma
captura de tela do vídeo síntese das 10 áreas.
38
Figura 1: captura de tela do vídeo síntese das 10 áreas da EP.
Perguntando a um aluno, que cursou a disciplina no período da pandemia,
sobre o quanto os vídeos contribuíram para seus aprendizados:
1- “Achei os vídeos muito bem-criados e explicativos. Contribuiu
muito para meu aprendizado pq eu podia acessá-los na hora que eu
quisesse!”;
O terceiro momento foi já, passada a pandemia, uma integração da parte
presencial com a virtual, ou seja, voltou-se à metodologia do desenvolvimento
de um projeto de um produto juntamente com o complemento dos vídeos das
dez áreas da Engenharia de Produção. Abordado um aluno que cursou a
disciplina recentemente sobre os métodos didáticos a resposta foi: “Não tenho
nenhuma vírgula para falar da disciplina, pois reune a prática e teoria de uma
forma atualizada (virtual)!”.
Desde 2019, foram construídas 13 lançadeiras pelos alunos. Nenhuma foi
igual a outra. Cada uma teve seu sistema de propulsão e de ajuste de
distância. Sendo que nos anos de 2020 e 2021 esse projeto teve que ser
substituído por outro devido ao ensino remoto. A Figura 1 apresenta as
catapultas construídas em 2022-1. Os hexágonos são os alvos e ao fundo,
estão os registros da competição.
39
Figura 2: catapultas construídas em 2022-1.
Foi evidente que após a competição das lançadeiras os alunos estavam
mais motivados e confiantes. Além disso, verificou-se que a taxa de evasão do
curso reduziu desde 2019. Esse fenômeno não é mérito exclusivo da disciplina
de IEP, mas é uma realidade do curso.
40
É necessário reservar tempo para ajustes no projeto da lançadeira.
Não é raro as catapultas falharem na competição. Ter tempo de teste
e para ajustes evita essa frustração no último dia de aula;
Priorizar a segurança física dos alunos;
Orientações individualizadas para cada grupo aumentam o
engajamento;
Em casos de falta de engajamento, partir para demonstrações e
realização de testes da catapulta dos alunos ou de semestres
anteriores.
A combinação de vídeos para apresentar as áreas da EP com projeto para
os alunos aplicarem alguns aspectos dessas áreas é um exemplo de atividade
que combina ações digitais e presenciais e induz os alunos a terem uma
postura mais ativa para obtenção de conhecimento e para a sua formação
profissional. Além disso, como resulta em catapultas únicas, demonstra que é
possível ter diversidade de soluções para um mesmo problema.
Agradecimentos
Referências
BARRETO, Maria Auxiliadora Motta et al. Liderança: percepção de alunos ingressantes de um
curso de Engenharia de Produção em um ambiente de aprendizagem baseada em projetos.
Revista Principia-Divulgação Científica e Tecnológica do IFPB, v. 34, p. 77-83, 2017.
BAZZO, Walter Antônio; PEREIRA, Luiz Teixeira do Vale. Introdução à engenharia. Editora
da Universidade Federal de Santa Catarina, 2000.
BIAZUS, Cleber Augusto et al. Sistema de fatores que influenciam o aluno a evadir-se dos
cursos de graduação na UFSM e na UFSC: um estudo nos cursos de Ciências Contábeis.
2004.
DA ROCHA, Luiz Renato Martins; DE OLIVEIRA, Jáima Pinheiro; TORRES, Josiane Pereira.
Análise dos recursos solicitados para atendimento especializado e/ou específico no exame
nacional do ensino médio: série histórica (2016-2020). Sisyphus - Journal of Education, v.
10, n. 3, p. 86-101, 2023.
41
DYM, Clive et al. Introdução à Engenharia: Uma Abordagem Baseada Em Projeto.
Bookman editora, 2009.
ANEXO
Enunciado simplificado da catapulta:
Desenvolver uma catapulta ou lançadeira de objetos que permita lançar
uma bola de tênis com a finalidade de atingir objetos em diferentes distâncias
horizontais retilíneas. Para tanto, a lançadeira deve ter uma regulagem que
permita que o lançamento alcance diferentes distâncias. Assim trata-se de uma
lançadeira com objetivo de precisão e flexibilidade. Precisamente, a catapulta
deve ser capaz de alcançar no mínimo 2 metros de distância a partir da sua
base e no máximo 4 metros, sendo que ela deva atingir objetos que fiquem no
intervalo desses dois extremos, variando 0,5 metro a posição de alvo. Na
Figura 3, esses alvos são detonados pelas letras A, B, C e D.
42
CAPÍTULO III
Resumo
43
Nota: Uma versão preliminar deste texto, na forma de um artigo científico
completo, foi apresentada e publicada nos anais do SIMPEP 2021 (XXVIII
SIMPEP – Simpósio de Engenharia de Produção). Esse evento teve como
tema “Práticas Pedagógicas e Avaliação Processo Ensino-Aprendizagem
Engenharia de Produção. O artigo foi aceito na área Educação em Engenharia
de Produção. Referência: LIMA, J. D. de; COLOMBO, J. A. A.; PETRI, J. M.;
OLIVEIRA, G. A. Desenvolvimento de artigos científicos como estratégia
de ensino-aprendizagem-avaliação de Engenharia Econômica. In: XXVIII
Simpósio de Engenharia de Produção (SIMPEP), 2021, Virtual. Ensino em
Engenharia de Produção: como preparar as novas gerações para o desafio do
século XXI. Bauru/SP: UNEPS, 2021. v. 1. p. 1-14. Disponível em:
<https://www.simpep.feb.unesp.br/abrir_arquivo_pdf.php?tipo=artigo&evento=1
6&art=543&cad=23159&opcao=com_id>. Acesso em: 08/04/2023.
1. Introdução
44
engenharia, o egresso de engenharia deve “estar apto a pesquisar,
desenvolver, adaptar”, ser proativo, crítico e estar “sempre atualizado em
termos de métodos e tecnologias disponíveis”.
Diante disso, muitas pesquisas têm direcionado atenção à novas
metodologias de ensino-aprendizagem-avaliação, as quais podem auxiliar na
formação profissional de engenheiros (PESSOA et al., 2019; CORREIA;
OLIVEIRA, 2020; RAMIRES; SANTI; SANTI, 2020). Neste contexto, o objetivo
deste relato é apresentar e analisar uma proposta de ensino-aprendizagem-
avaliação para a disciplina de Engenharia Econômica pautada na elaboração
de artigos científicos. Esta estratégia metodológica foi desenvolvida e utilizada
na disciplina de Engenharia Econômica (EE) em um curso de graduação na
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
2. Descrição do problema
45
As macro etapas de um estudo de viabilidade econômica podem ser
resumidas em: (i) projetar o investimento inicial, os custos e as receitas
decorrentes da implantação do projeto; (ii) gerar ou projetar o fluxo de caixa do
projeto; (iii) gerar os indicadores da metodologia escolhida como a mais
adequada para avaliar o retorno esperado e os riscos associados à decisão de
investimento; (iv) analisar os resultados; e (v) tomar a decisão (LIMA et al.,
2015; LIMA et al., 2017a; DRANKA et al., 2020; GUARES et al., 2021).
Em relação a metodologia, a escolha pode ser entre: (i) metodologia multi-
índice ampliada (MMIA) de Lima et al. (2015), a qual já incorpora os
indicadores da metodologia clássica (MC) e da metodologia multi-índice (MMI)
de Souza e Clemente (2008), adequada para avaliar projetos que não
apresentam incertezas e flexibilidades gerenciais expressivas; (ii) simulação de
Monte Carlo (SMC), a qual é recomendada para projetos dotados de
incertezas, mas sem flexibilidades expressivas (GULARTE et al., 2017;
CARICIMI e LIMA, 2018; DRANKA et al., 2018; GOFFI et al, 2019; SILVA et al.,
2019; TONIAL et al., 2020; PIOVESAN et al., 2021; GUARES et al, 2021); e (iii)
teoria das opções reais (TOR) indicada para a avaliação de projetos que
sinalizam a presença de flexibilidades expressivas (COPELAND e
ANTIKAROV, 2001; DRANKA et al., 2020).
Todas essas metodologias podem ser aplicadas com o apoio do sistema de
análise de viabilidade de projetos de investimento ($AVEPI®), o qual é um
aplicativo web de livre acesso desenvolvido por Lima et al. (2017b), com apoio
do CNPq, Fundação Araucária e UTFPR. O $AVEPI foi concebido para ser
uma ferramenta tecnológica de suporte ao processo de ensino e aprendizagem
de diversos conteúdos de Engenharia Econômica e está registrado junto ao
Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI (LIMA et al., 2021).
O aplicativo web $AVEPI compreende conteúdos de Matemática Financeira,
Análise de Investimentos e Engenharia Econômica, podendo ser utilizado por
acadêmicos e professores em diversas disciplinas de cursos de graduação e
pós-graduação (LIMA et al., 2021). A Figura 1 apresenta a tela principal desta
ferramenta pedagógica.
46
Figura 1 – Tela principal da ferramenta computacional $AVEPI
47
habilidades de diagnóstico e decisão a partir do estudo aprofundado de casos
jurídicos reais (YADAV; SHAVER; PETERMECKL, 2010).
No ensino de engenharia, a utilização do estudo de caso iniciou no fim da
década de 1960 e início da década de 1970, nesta mesma direção,
apresentando aos estudantes situações reais da área em sala de aula. O
estudo de caso segue algumas etapas básicas: identificar a área do problema e
os casos que serão estudados, coletar as informações necessárias, analisar os
dados e organizar os conhecimentos aprendidos nesse processo, ou seja,
apresentar o estudo do caso em relatório científico (POLIT; HUNGLER, 1987;
CAUCHICK MIGUEL et al., 2018; YIN, 2018).
Em síntese, a estratégia de ensino “estudo de caso” é muito similar ao
método científico utilizado nas pesquisas. Por esta razão, o desenvolvimento
de artigos científicos a partir dos estudos de casos, pode apresentar-se como
uma potencial proposta para o ensino-aprendizagem-avaliação de EE, dentro
de uma perspectiva de inovação pedagógica.
Os estudos de caso possibilitam aos estudantes um aprendizado ativo, pois
aplicam seus conhecimentos teóricos em situações práticas de forma
colaborativa. De um modo geral, o ensino baseado em estudo de caso facilita a
lembrança do conteúdo, torna a aula mais agradável e motivadora, potencializa
a habilidade de resolver problemas e desenvolve o pensamento de ordem
superior, ou seja, habilidade de analisar, criticar e argumentar (YADAV;
SHAVER; PETERMECKL, 2010). Além disso, o estudo de casos reais
aproxima efetivamente o ensino, tanto da extensão quanto da pesquisa.
Destaca-se a necessidade da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão nas universidades, a qual possibilita a construção de conhecimento a
partir da cooperação entre agentes distintos (SOUZA; CAMPOS, 2019;
SANTOS; SANTOS, 2019). Por meio da inserção da pesquisa e da extensão
nos cursos de graduação, as universidades podem viabilizar o atendimento das
novas demandas, difundir o conhecimento na sociedade e servir como agente
de transformações sociais e ambientais (BONASSINA; KUROSHIMA, 2021).
Ainda, a Resolução CNE/CES 7/2018 (BRASIL, 2018) regulamenta que “as
atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% (dez por cento) do
48
total da carga horária estudantil” prevista na matriz curricular dos cursos de
graduação. Além disso, na busca por atender as métricas do Plano Nacional de
Educação – PNE 2014-2024 (BRASIL, 2014), esta resolução orienta o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, a
considerar, para fins de autorização e reconhecimento de cursos, o
cumprimento da curricularização da extensão, a articulação entre as atividades
de ensino, pesquisa e extensão e o engajamento dos docentes na orientação
destas práticas.
Por fim, contextualizar as disciplinas às demandas reais, quais sejam
econômicas, sociais ou ambientais, da forma como é realizada em estudos de
caso, pode facilitar o processo de aprendizado, incentivar a pesquisa e
impulsionar a extensão nos cursos de graduação (ECKHARDT; HANSEN;
LEHN, 2021). Além disso, os estudantes envolvidos em práticas desta
natureza, além do aprendizado dos conteúdos da disciplina, podem
desenvolver o senso crítico, a capacidade de iniciativa e proatividade na
tomada de decisões e melhorar a relação interpessoal, a qual é viabilizada pelo
contato com ambientes, situações e agentes externos à sala de aula
(BONASSINA; KUROSHIMA, 2021).
3. Solução desenvolvida
49
Fonte: Elaborada pelos autores.
50
WORD® detalhando todos os pré-requisitos exigidos na elaboração de cada
seção do artigo. A Figura 4 apresenta uma síntese dessas recomendações. No
fim deste template, há um checklist para ser utilizando como instrumento de
acompanhamento de desenvolvimento do artigo. O checklist auxilia no controle
da qualidade do artigo, reduzindo a subjetividade no desenvolvimento do texto.
Além disso, o professor pode utilizar este checklist para auxiliar na avaliação do
artigo, por meio do confronto entre as opções sinalizadas pelos acadêmicos
neste instrumento e as que efetivamente foram realizadas. Por fim, também foi
desenvolvido uma barema de avaliação para auxiliar o professor, indicando os
itens a serem considerados e os respectivos pesos. Todos esses materiais
estão disponíveis para download no website do projeto:
http://pb.utfpr.edu.br/savepi/recursosDidaticos.php.
51
técnica(s) utilizado(s), os principais achados da(s) pesquisa(s) e indicativo(s)
para pesquisa(s) futuras (geralmente estão no final da conclusão dos artigos).
Dica: O referencial teórico deve apresentar a base conceitual que ampara a
proposição metodológica. Fazer uma revisão sistemática da literatura utilizando
o Pro-Know-C ou Methodi Ordinatio.
Apresentar o procedimento metodológico e o tipo de pesquisa (qualitativa,
quantitativa ou quali-quanti), sempre amparado pela literatura pertinente e
recente.
Descrever os materiais e métodos e qual a abordagem adotada na pesquisa.
Metodologia
Deixar claro no texto: (1) Como os dados e informações serão obtidos? (2)
Que abordagem será utilizada para a análise de viabilidade econômica? (3)
Como os cálculos serão realizados/computados? (4) Qual a forma de análise
dos resultados encontrados?
Apresentar os resultados encontrados com a aplicação da metodologia
Resultados e
proposta e analisá-los de forma crítica, confrontando-os com a literatura
discussão
pertinente.
Resgatar o contexto e o objetivo do artigo, apresentar as principais conclusões
Considerações e apontar possíveis estudos futuros.
finais Deixar claro no texto: Qual a contribuição científica e/ou implicações práticas
da pesquisa?
Apresentar todas e somente as referências que foram citadas no corpo do
artigo.
Referências
As referências deverão ser baseadas na norma NBR 6023.
Dica: Utilizem o software bibliográfico Mendeley.
Agradecer as organizações (entidades, instituições, empresas...) e as
Agradecimentos
pessoas que contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa.
Apêndices são de autoria própria. Exemplos: planilhas, questionários e
Apêndices e
formulários. Por outro lado, anexos são de autoria de terceiros. Exemplos:
anexos
orçamentos.
4. Resultados obtidos
52
seguiu as fases e etapas expostas nas Figuras 1 e 2. Todos os artigos
desenvolvidos foram submetidos ao crivo de plágio, sendo aprovados para
avaliação.
Todos os grupos conseguiram finalizar o estudo e entregaram o artigo de
forma completa, ou seja, contendo todas as seções solicitadas. Além disso,
todos os acadêmicos que terminaram a disciplina foram aprovados (90% dos
acadêmicos). Entre os aprovados, foram observadas as seguintes estatísticas:
média igual a 8,4, desvio-padrão de 0,9 e coeficiente de variação de 11%.
Após finalizada a disciplina, ou seja, após a publicação dos resultados finais
no sistema acadêmico da UTFPR, duas equipes decidiram revisar o artigo,
utilizando os apontamentos feitos pelo professor e submeter o artigo para
periódicos qualificados, ou seja, indexados nas bases Scopus e Web of
Science.
Os 2 artigos foram submetidos em outubro de 2020 e aceitos para
publicação em junho de 2021. Um artigo que versa sobre a viabilidade
econômica do uso de sistema fotovoltaico na bovinocultura leiteira foi publicado
na Revista em Agronegócio e Meio Ambiente – RAMA (NESPOLO et al., 2022).
Outrossim, o artigo que fez uma pesquisa sobre a viabilidade econômica da
produção de Physalis na agricultura familiar foi publicado no periódico Custos e
@gronegócio on line em 2021 (TOMAZINI et al., 2022).
Além disso, o professor e os 2 grupos foram convidados para participar da
live Conexão UTFPR, um canal da universidade no YouTube® e Facebook®. O
objetivo da live foi compartilhar a experiência vivida no ensino remoto pelo
professor e pelos acadêmicos. A apresentação ficou disponível no canal e já
consta com quase 800 visualizações no Youtube®
(https://www.youtube.com/watch?v=IS74LzKYUqA).
A maioria dos acadêmicos afirmou que o desenvolvimento de artigos
científicos aumentou o tempo de dedicação à disciplina. Contudo, o resultado
final do estudo de caso e as lições aprendidas justificam essa dedicação extra.
Segundo relato dos acadêmicos, essa prática contribui para a aquisição de
conhecimentos, inclusive fora do escopo da disciplina, e auxilia no
desenvolvimento de competências (conhecimentos, habilidades e atitudes)
53
exigidas pelo mercado na futura atuação profissional. Além disso, houve
redução na taxa de evasão e aumento da taxa de aprovação na disciplina de
EE.
Essa abordagem educacional de condução da disciplina de EE apresentou-
se como uma alternativa eficiente para auxiliar na inovação da prática docente,
contribuindo para: (i) conectar teoria e prática, com a resolução de problemas
reais na área de conhecimento do acadêmico; (ii) integrar ensino-pesquisa-
extensão: os acadêmicos identificaram um problema real de um produtor e
realizaram uma análise de viabilidade econômica de uma proposta de solução;
(iii) facilitar a pesquisa interdisciplinar: o grupo do sistema fotovoltaico recorreu
ao auxílio de um professor e pesquisador da área de Engenharia Elétrica. Já o
grupo da Physalis teve auxílio de professores e pesquisadores do seu curso de
graduação para entender os aspectos técnica da produção da cultura de
interesse da pesquisa; (iv) melhorar a autonomia do discente: os acadêmicos
aprenderam a fazer orçamentos, análise de viabilidade econômica e identificar
pesquisadores que pudessem contribuir com o desenvolvimento da pesquisa; e
(v) desenvolver as competências exigidas pelo mercado.
54
Portanto, conclui-se que a abordagem utilizada pode ser considerada válida
e recomendada para a disciplina de EE e com algumas adaptações, para
outras disciplinas afins. Contudo, necessita ser aprimorada, por exemplo,
desenvolvendo os estudos de caso em diversas disciplinas do mesmo curso de
forma concomitante ou continuada, promovendo a interdisciplinaridade.
Referências
ASSUMPÇÃO, G. S.; SANTOS, C. M.; CASTRO, A. C., HENRIQUES, M. V.; SANTOS, I. C.
Current trends in production engineering education: active learning strategies. In.
International Joint Conference on Industrial Engineering and Operations Management-
ABEPRO-ADINGOR-IISE-AIMASEM (IJCIEOM 2020). 2020. Disponível em:
http://www.ijcieom.org/ijcieom/restrito/arquivos/icieom2020/FULL_0011_37364.pdf. Acesso em:
15 jul. 2021.
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58
CAPÍTULO IV
Resumo
59
Palavras-chave: Ciclo de Aprendizagem Vivencial; Design Science Research;
Design Thinking, Metodologias Ativas; Desenvolvimento de Produto
1. Introdução
2. Descrição do problema
O problema da pesquisa é habilitar as competências necessárias para que o
aluno consiga desenvolver um produto e realizar a gestão do projeto, pois são
muitos conceitos e habilidades a serem passadas em poucas aulas, e que no
método tradicional de aulas expositivas, apresentavam baixa absorção do
conteúdo e pouco envolvimento de participação causando baixa motivação
para o aprendizado.
60
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico)
Este relato de experiência trata do desafio de se construir uma Impressora 3D
de baixo custo e de fácil utilização para Escolas Públicas a fim de compor os
equipamentos de laboratório maker em uma disciplina de Desenvolvimento de
Produto de Programa de Pós-graduação.
Para tanto foi escolhido o método andragógico conhecido como Ciclo de
Aprendizagem Vivencial elaborado por David Kolb em 2014, este método
representa uma estrutura teórica que visa explicar como os indivíduos
aprendem por meio de experiências. Este ciclo é composto por quatro estágios
que se iniciam com a Experiência Concreta, em que o aprendiz é submetido a
uma atividade ou evento específico que propicia um contato inicial com a
situação a ser aprendida. Em seguida, tem-se a Observação Reflexiva, na qual
o aprendiz reflete sobre a experiência vivida e compreende os elementos que a
constituíram, bem como suas percepções e emoções associadas.
A fase subsequente, denominada Conceitualização Abstrata, implica na criação
de generalizações e conceitos abstratos a partir da experiência vivida,
permitindo a construção de um arcabouço teórico que contextualiza o
aprendizado em um cenário mais amplo. Por fim, na Experimentação Ativa, o
aprendiz aplica o conhecimento adquirido em diferentes situações, testando
novas ideias e comportamentos e aprimorando sua compreensão sobre a
temática em questão.
Nessa perspectiva, o Ciclo de Aprendizagem Experiencial se apresenta como
um processo contínuo e cíclico, em que cada estágio conduz ao próximo e a
aprendizagem é entendida como um processo perpétuo de desenvolvimento
pessoal e profissional. Kolb defende que uma aprendizagem efetiva exige o
engajamento em todos os estágios do ciclo, evitando a mera ênfase em um ou
dois deles.
Quanto aos métodos de desenvolvimento de novos produtos, foram escolhidas
a Metodologia de Design Science Research (VENABLE, 2010) e Design
Thinking (BROWN; KATZ, 2011) para que de maneira conjunta comporem os
meios dos discentes desenvolver de forma prática o desenvolvimento do
artefato Impressora 3D.
61
A metodologia do DSR é um processo complexo e profundo de pesquisa em
Ciência da Computação que visa criar soluções inovadoras e eficazes para
problemas práticos que podem variar em complexidade e escopo. A DSR é
composta por seis fases distintas e interconectadas, cada uma com suas
próprias etapas e desafios a serem enfrentados.
62
Por fim, a sexta e última fase, "Aprendizagem", é uma etapa fundamental para
garantir a melhoria contínua da solução e do processo de pesquisa em DSR.
Nessa etapa, são analisados os resultados da pesquisa, identificados os
pontos fortes e fracos da solução e geradas lições aprendidas para futuros
projetos. A aprendizagem é essencial para garantir a continuidade do processo
de pesquisa e para que novas soluções sejam criadas e aprimoradas
continuamente.
63
maquetes ou modelos físicos que permitem que a equipe teste e refine as
soluções até encontrar a ideal.
64
tecnicamente implementáveis. O DT, por sua vez, pode fornecer insights sobre
as necessidades dos usuários e ajudar a gerar ideias criativas e inovadoras
para soluções práticas. Em conjunto, essas metodologias podem ajudar a criar
produtos que atendam às necessidades dos usuários e que também sejam
eficazes em resolver os problemas específicos identificados.
65
resultados dos testes e refinamento do modelo de acordo com o feedback
recebido.
4. Resultados obtidos
66
Fonte: Autores
67
e o conjunto de termos é repartido de acordo com a frequência das raízes das
palavras. Dessa forma, o uso deste recurso possibilita uma visualização dos
segmentos de texto associados a cada classe e o contexto das palavras
estatisticamente significativas, proporcionando uma análise mais qualitativa dos
dados (CAMARGO; JUSTO, 2013).
68
relacionados à percepção dos mestrandos acerca do projeto conforme
destacado nas falas dos participantes.
69
Figura 2- Análise da classificação hierárquica descendente (CHD)
70
Fonte: elaborado pelos autores (2023)
“A gente aprendeu um software novo, um aplicativo novo, que foi o trello para a
gestão do projeto e foi bem interessante” (Participante 3)
71
“A gente teve dificuldade aqui para registrar e para montar o equipamento
porque aqui é uma sala de aula com cadeiras e mesa e não tem chave de
fenda. Mas a gente teve como fazer algumas coisas na oficina. Então para
futuras turmas, eu não sei como será as competências deles em relação à
instrução do projeto, teria que verificar o perfil de cada um dos participantes”
(participante 4).
“Só ver slides a gente não tem, talvez, um resultado de aprendizado como a
gente teve nesse projeto e a gente tem oportunidade de desenvolver também a
competência de gestão de pessoas, porque nós trabalhamos em equipe, cada
uma dentro das suas competências, contribuindo com o que tinha, com que
sabia, as suas capacidades e juntos nós desenvolvemos competências que
nós não tínhamos” (participante 1).
“Acho que eu lembro bem que eu comentei com o professor que eu estava
meio assustado pela proposta, pelo desafio, mas no final é gratificante você vê
o resultado. Eu acho que a maneira que a gente foi estimulado a aprender com
alguns conceitos e indo atrás dos demais conceitos e desenvolvendo o produto
na prática foi bem interessante. Então, aquele susto inicial se transformou em
satisfação no final”. (participante 3)
“Além do que os colegas já disseram, para não ser muito repetitivo, eu queria
só ressaltar que foi muito interessante, assim, a gente sair da nossa zona de
conforto. E não digo só dos alunos, mas também do próprio professor de
72
colocar um desafio é todos nós aqui corremos riscos, em assumir esse
compromisso, e, mas é assim, quem não arrisca não petisca e no final o sabor
é delicioso” (participante 2).
Posto isto, destaca-se que devido a Classe 3 está relacionada diretamente com
a classe 5, e por esse motivo, a classe 4 será a última classe a ser descrita
neste estudo. Sendo assim, a classe 5 foi nomeada como “métodos”,
apresentando os aspectos relacionados às metodologias que nortearam a
confecção do produto. Essa classe consolidou as seguintes palavras: “Design
Science, desenvolvimento, Design thinking, prático e teoria”. Esses termos
podem ser visualizados nos seguintes trechos.
“Eu acho que, por ter lido o livro da Aline Dresch sobre Design Science, não é
uma novidade para mim. Foi um primeiro contato para eu colocar isso em
prática. E assim, uso prático é isso, são tijolinhos, e foi mais tijolinhos que a
gente colocou nesse conhecimento e minha intenção é de usar isso o quanto
antes”. (Participante2)
“O Design Science, a gente pode ter deixado um pouco a desejar, mas a gente
aprendeu a utilizar e até para os projetos e a nossa dissertação, nosso trabalho
de pesquisa da pós-graduação, pelo menos da minha linha de pesquisa, eu
quero utilizar o Design Science Research. Porque eu tenho foco no produto,
por isso, agregou bastante o desenvolvimento do Design Science”.
(Participante 4)
“Eu acho que é possível levar isso, justamente, para o ambiente de trabalho,
passar a utilizar essa metodologia e ser um amplificador da metodologia, de
como se utilizar o design thinking em “N” oportunidades”. (participante 5)
73
Esses depoimentos demonstraram que as metodologias adotadas contribuíram
para o desenvolvimento do produto e para capacitação dos alunos,
possibilitando a reaplicação desses métodos em outros contextos.
“Eu acho que continuar nessa cronologia. Então, você desafiar os alunos a
buscar a informação e construir o seu próprio conhecimento. Então, você dá
uma base do que foi feito e continuar a incentivar o aluno a buscar o seu
próprio conhecimento”. (Participante 3)
“Eu acho que como contribuição ou como melhoria, talvez ter acesso a mais
informação, o próprio Paula Souza contribuir com o nosso aprendizado, com
outras ferramentas”. (Participante 5)
“Eu acho que essa expressão forma de aprender learning by doing de fato é a
melhor forma, mas não é fácil. Não é fácil porque é difícil estabelecer um
ambiente controlado onde a gente fala, faz assim que dá aquilo, faz assado
que dá aquilo”. (Participante 2)
Por meio dos relatos é possível afirmar que a proposta de ensino trouxe
resultados satisfatórios. Entretanto, os discentes destacam que a instituição
poderia oferecer mais recursos para a realização de outros projetos.
74
discentes ao projeto foi percebido por todos os membros da equipe bem como
a avaliação sobre a atividade de ensino e aprendizagem bastante profícua.
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qualitativos na Enfermagem: um ensaio reflexivo. Revista mineira de enfermagem, v. 24, p. 1-
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CAMARGO, Brigido Vizeu; JUSTO, Ana Maria. IRAMUTEQ: um software gratuito para
análise de dados textuais. Temas em psicologia, v. 21, n. 2, p. 513-518, 2013
75
CAPÍTULO V
Resumo
O processo de aquisição do conhecimento pelo homem é uma atividade
complexa do pensamento a qual envolve faculdades mentais tais como a
imaginação, o raciocínio e a memória. Por tamanha complexidade, é comum
que surjam obstáculos difíceis de vencer impedindo o sujeito a conhecer. Um
das primeiras dificuldades é a não visualização dos novos conteúdos pela
imaginação - pois ocorre uma escuridão cognitiva. O grafismo é uma técnica de
estudos que foi sistematizada e teorizada para auxiliar os estudantes das
engenharias a enfrentar este obstáculo e assim chegar de fato ao
conhecimento. Como produto pedagógico da Tese Imaginação e Grafismo uma
estratégia aplicada aos discentes de Ciências Exatas e Tecnológicas da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, esta técnica de estudos foi
aplicada como uma estratégia de ensino e aprendizagem e verificada através
de uma pesquisa-ação de abordagem qualitativa. Após a verificação e análise
dos dados coletados através de dois ciclos de ação da pesquisa, constatou-se
que a execução do grafismo pelos estudantes durante o processo de aquisição
do conhecimento e resolução de problemas de engenharia: auxilia e promove
a superação da escuridão cognitiva através da ilustração, visualização e
organização gráfica dos elementos do objeto do conhecimento; direciona o
movimento do pensamento; auxilia na ascensão do conhecimento e estimula o
exercício da imaginação. Extrapolando os aspectos empíricos, a estratégia de
ensino e aprendizagem grafismo apresentou e validou entendimentos tais
como: levar o estudante à percepção do saber é uma forma de estímulo a
76
busca por saber mais e, desta maneira, uma forma de estimular o
desenvolvimento de sua autonomia intelectual.
1. Introdução
O que é grafismo? Para aqueles que ainda não conhecem, esta é a primeira
pergunta que surge ao ler o título deste trabalho.
Grafismo foi a denominação criada para uma técnica de estudos
desenvolvida à luz da teoria e metodologia dialética do conhecimento, que
consiste em o aprendente escrever ou desenhar enquanto estuda. Fazer um
grafismo é realizar o ato de grafar, de registrar no papel os elementos dos
conteúdos estudados – como, por exemplo, tópicos, excertos de textos ou
especificidades de maior importância – da forma que for mais confortável ao
estudante.
Quando nos referimos a forma mais confortável, o objetivo é deixar claro
que, para realizar um grafismo, não é necessário lançar mão de habilidades na
técnica do desenho figurativo, tão pouco respeitar um método específico para a
sua execução. Um grafismo pode ser feito através de representação de
palavras, textos, desenhos livres e abstratos, desenhos geométricos, gráficos,
diagramas, indicações de grau de importância do conteúdo por cores, relações
de causa e efeito feitas através de conexões por linhas e setas, mapas mentais
ou conceituais, desenhos em quadrinhos etc. Consideramos que a forma de
execução de um grafismo depende exclusivamente da escolha ou habilidade
de quem o faz.
O ato de grafar, de registrar as expressões e representações do
pensamento em superfícies, através de sinais ou símbolos gráficos, é tão
longínquo quanto o desenvolvimento cognitivo ou as habilidades humanas. Já
a formulação do grafismo, enquanto uma técnica de estudos utilizada como
ferramenta para auxiliar o estudante a organizar as suas ideias, o seu
pensamento, partiu de dois princípios elementares: o primeiro é a forma da sua
77
execução - levar do pensamento para o papel - os elementos que compõem
um dado objeto (novo conteúdo) enquanto o aprendente constrói o próprio
conhecimento sobre este objeto; o segundo é que a sua sistematização
ocorreu com base na teoria e metodologia dialética do conhecimento.
A teoria dialética, nas linhas de Kosik (1969), explica que durante o
processo de aquisição do conhecimento, o que ocorre inicialmente é um caos
no pensamento. Normalmente, isso acontece com os aprendentes quando são
apresentados a novos conteúdos (ou objetos), algo que eles ainda não
conhecem. O objeto e seus elementos, na sua manifestação imediata, por
ainda não se relacionarem com as memórias e não estarem articuladas em
suas causas e efeitos, são representadas de forma caótica, desorganizados no
pensamento. Kosik (1969) denomina este fenômeno por “abstratividade”,
Saviani (1999) por “síncrese”, e nós, por escuridão cognitiva, pois, no caso do
caos no pensamento, o sujeito não consegue visualizar o objeto (e os
elementos que o compõem) com clareza em no pensamento, na nossa
imaginação.
A atividade realizada pelo pensamento para sair do caos à clareza de
visualização mental de um objeto, pode ser também definida como “movimento
de ascensão entre dois graus de conhecimento” (Boeira, 2021). Para tal, à luz
da teoria dialética, o aprendente dispõe da mediação da análise do objeto pelo
pensamento, uma atividade a qual ele utiliza: a sua abstração, para organizar
os elementos que constituem o objeto; a sua memória, para fazer associações
com os seus conhecimentos já adquiridos; e o seu raciocínio, para articular as
causas e efeitos relacionadas ao objeto e com o contexto que o circunda, bem
como elaborar, definir ou conceituar o objeto anteriormente dado. Desta
maneira, o sujeito sai da “síncrese para a síntese pela mediação da análise”,
como explica Saviani (1999), ou do “abstrato ao conceito”, chegando “as
elaborações finais do movimento do pensamento”, como diz Kosik (1969).
É durante este movimento de ascensão do grau de conhecimento que o uso
do grafismo é proposto como ferramenta de visualização e organização dos
elementos dos novos conteúdos, servindo consequentemente para auxiliar na
construção do conhecimento pelos estudantes.
78
Ora, se ao serem apresentados aos novos conteúdos, boa parte dos
aprendentes são inicialmente tomados por uma escuridão cognitiva,
entendemos que é necessário utilizar uma forma de visualização das partes do
objeto para permitir a análise pelo pensamento! Então, o ato de grafar, de levar
aquilo que está no pensamento para o papel, vai lhes permitir enxergar aquilo
que os olhos da mente, as suas imaginações, não conseguem ver naquele
momento.
Nos seus primeiros traços, o grafismo também se apresenta de forma
desorganizada. Mas ao dispor os elementos que constituem o novo conteúdo
no papel, o primeiro benefício da sua execução é que o aprendente passa a
enxergar de forma mais clara. Logo na sequência e como num jogo de
associações, as partes do objeto do conhecimento são aos poucos
organizadas e articuladas entre si, bem como com as memórias do aprendente
– através do uso de conexões por linhas e setas, cores e formas. Assim,
progressivamente, o aprendente naturalmente organiza as ideias (ou partes do
objeto), associa, articula, constrói e formula “o objeto, de forma própria e
apropriada” (Galeffi e Macêdo, 2014).
Por ter esta característica, do seu uso servir como ferramenta de
visualização e organização de ideias, do pensamento do aprendente, e
consequentemente, por auxiliar na construção e ascensão do conhecimento, o
grafismo pode ser ensinado em sala de aula e aplicado em qualquer Área do
Conhecimento. Além disto, sendo a sua forma de execução livre de regras ou
métodos, traz na sua essência a inter, multi e transdisciplinalidade – não há
limites para a sua execução.
2. Descrição do problema
A elaboração, sistematização e teorização do grafismo como técnica de
estudos nasceu da observação da dificuldade de visualização, de imaginação,
dos novos conteúdos pelos estudantes das Ciências Exatas e Tecnológicas.
Melhor descrevendo, dificuldade de visualização mental, mais
especificadamente, durante a aplicação de conceitos físicos para a resolução
de problemas com o uso de modelos de engenharia em três dimensões.
79
A sua aplicação como uma estratégia de ensino e aprendizagem, teve a
semente cultivada na influência e fundamentação no pensamento didático
ensinagem elaborado por Anastasiou (2009) – “ensinagem: uma situação de
ensino da qual necessariamente decorra em aprendizagem”. Segundo esta
autora, os professores devem buscar meios e ferramentas que auxiliem os
alunos no desafio do conhecimento, uma estratégia que busque “mobilizar e
auxiliar o pensamento do estudante durante a apreensão do conhecimento” –
fenômeno que ocorre com a utilização do grafismo.
O amplo estudo e aplicação do grafismo enquanto uma estratégia de ensino
e aprendizagem resultou na Tese Imaginação e Grafismo: uma estratégia de
ensinagem aplicada aos discentes das Ciências Exatas e Tecnológicas da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), defendida e publicada
pelo Programa de Pós-Graduação em Difusão do Conhecimento da
Universidade Federal da Bahia (Boeira, 2021).
80
é imaginar o objeto do conhecimento; apreender é imaginar o próprio objeto do
conhecimento.
Estabelecidas suas concepções sobre a faculdade imaginação, o objetivo
do trabalho da pesquisa de doutoramento avançou para a elaboração,
teorização e aplicação de uma estratégia de ensino e aprendizagem, de
ensinagem (ANASTASIOU, 2009). Esta estratégia deveria promover o
exercício da imaginação dos estudantes para lhes auxiliar no processo de
construção do conhecimento. Assim nasceu o grafismo.
Com o objetivo de avaliar a eficácia desta técnica de estudos quando
implementada como uma estratégia de ensino e aprendizagem para auxiliar os
estudantes na visualização e organização de seus pensamentos, a pesquisa
ocorreu durante o semestre letivo 2019.2 com a participação e colaboração do
docente titular e os discentes da componente curricular Mecânica dos Sólidos II
(conhecida também por Resistência dos Materiais) dos estudantes do BCET da
UFRB.
O desenho metodológico da base empírica deste trabalho teve a sua
abordagem na forma qualitativa. Os procedimentos foram sistematizados a
partir das técnicas da “pesquisa-ação” e os instrumentos de coleta de dados
foram as entrevistas semiestruturadas, bem como questionários. Vale destacar
que seguimos todos os trâmites regulados pelo Comitê de Ética e Pesquisa
(CEP). O número de registro neste órgão, o CAAE, foi 19573119.3.0000.5531,
sendo autorizado através do parecer consubstanciado do CEP da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, nº 3.591.791, em 23 de
setembro de 2019.
No que se refere ao método de aplicação para a verificação, o grafismo foi
inserido como estratégia de ensino e aprendizagem no planejamento
acadêmico do semestre letivo 2019.2 da componente. Para isto, o docente
participante adaptou a técnica de estudos aos conteúdos de Mecânica dos
Sólidos (MEC), elaborou modelos, nominou-os como modelo descritivo para
resolução de problemas ou passo-a-passo lógico, apresentou em sala de aula,
bem como habilitou os discentes a sua prática durante os estudos e realização
dos exercícios.
81
A coleta de dados da pesquisa-ação ocorreu em dois ciclos e sua
amostragem contou com a participação do docente titular da componente e 17
discentes voluntários: o 1º ciclo foi realizado após a segunda avaliação; e o 2º
ciclo no final do semestre.
A análise dos dados foi do tipo descritiva e transcorreu através da
triangulação entre as narrativas das percepções sobre a aplicação do grafismo
do docente, dos discentes e do levantamento teórico antes feito.
4. Resultados obtidos
Bem sabem os professores, quando apresentam algum novo conteúdo,
sobre aquela reação de não entendimento expressa na face dos seus
estudantes! Este é um fato comum no processo de ensino e aprendizagem o
qual ocorre em todas as salas de aula de todas as áreas do conhecimento.
Mas aqui, tratando especificamente das Ciências Exatas e Tecnológicas,
além das associações de contextualizações e conexões entre causas e efeitos,
o pensamento dos discentes é convocado a imaginar objetos em 3D, para
neles aplicar fenômenos físicos e solucionar problemas através de cálculos.
Não são apenas os conhecimentos sobre cálculos matemáticos, mas o porquê
de aplicá-los num dado fenômeno físico, este, um outro conhecimento também
requisitado para a resolução de problemas de engenharia. Ou seja, o aluno
precisa de fato entender, conhecer, tanto da Física e seus fenômenos, quanto
da Matemática e suas aplicações.
À luz destes conteúdos, combinados com tantos outros e simulados a partir
fatos da prática profissional, são elaborados os problemas aplicados em MEC.
Daí as dificuldades históricas relatadas pelos estudantes desta componente.
Bem sabem os alunos das engenharias o que é uma escuridão cognitiva na
imaginação durante as aulas de Mecânica dos Sólidos ou Resistência dos
Materiais!
Disse o estudante: “Eu pegava uma questão e não sabia por onde começar,
ficava meio atrapalhado. Estava fazendo uma coisa, depois falava: para onde
eu vou agora!?” (DIS16). E o docente ratificou, “os alunos estavam totalmente
perdidos, não sabiam por onde começar” (DOC) – em atendimento a
82
Resolução CEP/CONEP nº 510/2016, devemos manter o anonimato dos
participantes nas apresentações dos seus relatos das entrevistas. Os discentes
do grupo de amostragem são nomeados por “DIS” seguido de um número
aleatório e a sinalização da fala do docente participante, será “DOC”. Todas as
entrevistas ocorreram entre outubro e dezembro de 2019.
Ao iniciar as atividades em sala com o uso do grafismo como estratégia
de ensino e aprendizagem, o docente comentou sobre algumas dificuldades
que os discentes comumente enfrentam:
“Eu dei um procedimento para eles explicarem, em palavras, textos, por que
algo estava acontecendo. Aí eles pediram as equações e eu as coloquei no
quadro, mas disse: “eu não quero desenvolvimento de cálculo”. Mesmo assim,
eles fizeram uma demonstração matemática, que eu já tinha feito na sala de
aula e já tinha na apostila. [...] Alguns fizeram: aqueles estão praticando o
grafismo, por exemplo [...]. Mas a grande maioria foi lá e simplesmente quis
provar que a equação dava aquele “x” resultado. Foi aí que eu chamei a
atenção deles, pois expliquei que eles estão “aplicadores de fórmulas”! Vocês
querem fórmulas, mas não sabem analisar” (DOC).
Com base nestas palavras, fazemos uma relação direta com o que a
teoria dialética aponta: para chegar ao conhecimento de um dado objeto, o
aprendente precisa lançar mão da análise deste objeto pelo pensamento. Isto
é, compreender cada parte, o resultado das conexões entre as partes, bem
como da relação de causa e efeito do fenômeno do objeto sobre o contexto que
se insere.
Para resolver um problema de engenharia, o estudante inicialmente
precisa imaginar, interpretar e analisar o problema físico ali disposto, para só
depois, lançar mão de procedimentos de cálculos. A grande dificuldade em
MEC II ocorre porque, em muitos casos, os discentes chegam na componente
sem ter de fato os requisitos necessários para avançar nas resoluções de
problemas com a complexidade de conhecimentos que esta disciplina exige.
Daí o comentário do docente quando diz que os alunos estão “aplicadores de
fórmulas”, fato reafirmado pelo discente no relato abaixo:
83
“Antes eu tinha um “x” e aí ficava pensando, qual a fórmula que tem um “x”
para eu encaixar. Eu não sabia o que fazer, tipo analisar, só queria colocar
uma coisa ali” (DIS03).
Somada a estas dificuldades, logo no início dos trabalhos com o uso do
grafismo, os alunos ainda não tinham o hábito de executar a técnica de
estudos. Isto ocorreu porque em MEC II, a sua forma de execução elaborada
pelo professor lançou mão não só de gráficos, desenhos dos objetos com
representação das forças e expressões de equações matemáticas, mas
também de descrições, na forma de textos, sobre os fenômenos físicos postos
nos problemas. Por isto o nome dado pelo docente ao modelo: modelo
descritivo ou passo-a-passo.
Esta forma de grafismo adaptada pelo professor foi um dos modelos
apresentados às turmas do semestre 2019.2. Mas desde o início da
implementação desta estratégia de ensino e aprendizagem, por ser a livre a
forma de execução, o docente estimulou os seus alunos a criarem os seus
próprios grafismos, assim como no exemplo da Figura 1 abaixo:
Figura 1 – Exemplo de grafismo “estudando tensões”
Fonte: DIS03
84
É importante destacar que o grafismo não se apresenta como uma
novidade. Sabemos que escrever e desenhar enquanto se estuda é um hábito
antigo e repetido por várias pessoas. O inédito está em sistematizar e
implementar esta técnica como uma estratégia de ensino e aprendizado, pois
as representações gráficas dos objetos auxiliam os aprendentes a visualizar
aquilo que os olhos da mente não conseguem ver:
“Eu acho que comecei a visualizar os passos da questão. Que antigamente
eu não conseguia por onde começar” (DIS14).
“Muda, porque antes ficava tudo embaralhado. Aquela coisa da gente
registrar, quando está lá desenhando, facilita, facilita o entendimento. Tipo: se
eu for montar uma treliça, enquanto estou montando, eu já estou imaginando
outra coisa, eu já sei o ponto onde é mais frágil. Se eu for descrever alguma
coisa, assim, fica mais fácil” (DIS09).
Descrever, rascunhar ou desenhar os “elementos que estão embaralhados
no pensamento é como retirar uma porção de objetos de dentro de uma caixa
de vidro embaçada” (Boeira, 2021). Desta forma, adaptado e sistematizado
para o tipo e objetivo de ensino de cada conteúdo, o grafismo se torna uma
ferramenta para a construção do conhecimento de qualquer área.
Medeiros (2004) denomina ferramentas tais como o grafismo por recurso
cognitivo ou instrumento intelectual. Esta autora explica que durante a
aquisição do conhecimento, os raciocínios “delegam uma parte de suas
funções à tinta, ao desenho, ao texto e à codificação”, pois estes são utilizados
para auxiliar nas memórias e desenvolver objetos abstratos, como os cálculos
por exemplo:
“Melhorou muito, tanto na visualização de estudo quanto na visualização de
problemas em MEC II. Melhorou demais” (DIS08).
Os elementos do objeto do conhecimento, fora da “caixa de vidro
embaçada” do pensamento, isto é expostos e “desembaralhados” no papel,
poderão ser submetidos a uma organização e sistematização para a análise.
Na figura abaixo, a qual demonstra a funcionalidade do grafismo, é possível
compreender – através de um grafismo – o percurso percorrido pelo
aprendente para elaboração do próprio objeto do conhecimento.
85
Quando nos referimos a “organização do pensamento, das ideias do
estudante”, tratamos de ordenamento e composição lógica dos elementos
constituintes do conteúdo ou objeto do conhecimento.
A adaptação do grafismo a MEC II foi elaborada à luz desta concepção, por
isto a nomeação “passo-a-passo” ou “modelo descritivo para resolução de
problemas”. O professor ensinou a forma de execução da técnica, onde a
chave para a resolução dos problemas é a descrição do processo de análise
até os cálculos matemáticos.
“Porque criei um roteiro na minha cabeça e a gente foi desenvolvendo.
Aquele passo-a-passo que o professor passou com a proposta na sala ajudou
bastante” (DIS01).
“Agora com o grafismo, eu consigo ter uma linha de raciocínio, porque eu
vou explicando o passo-a-passo do que estou fazendo. Aí está me ajudando
muito também em outras disciplinas” (DIS02).
Para além, a própria forma do grafismo, com suas linhas, setas, formas e
cores oportuniza os aprendentes a organização visual dos elementos
constituintes dos problemas:
“Eu comecei até a comprar canetas de cores diferentes para assimilar
melhor o conteúdo” (DIS08).
Em resumo, a execução do grafismo para a resolução de problemas em
engenharia auxilia o aluno a pensar para resolver. Ou seja, o grafismo serve
como uma ferramenta para a execução do método do pensamento (Kosik,
1969) para o conhecimento.
“Os que estão levando a sério esse tipo de grafismo: estes chegam aqui
com exercícios que fazem em casa, todo descritivo, passaram a descrever todo
o processo de qualquer resolução de exercício, e a resposta disso é de como
ajudou, porque quando eles vão fazer o próximo, já sabem o roteiro, como
analisar, como e o que fazer. [...] Eu estou muito entusiasmado com a
estratégia!” (DOC).
“E foi como eu falei, eu não conseguia visualizar nada, no semestre
passado eu perdi porque eu não consegui assimilar o assunto, eu não sabia.
Agora eu entendo até onde eu fiz. Eu consigo explicar o assunto. Realmente eu
86
entendi, por meio do grafismo. Eu consegui organizar as ideias. Pois existe um
passo a passo lógico. E me ajudou bastante [...] Vou continuar praticando, e
continuar passando adiante também” (DIS15).
De um ponto de vista didático, dizemos que o processo de elaboração de
uma estratégia de ensino e aprendizagem transcorre no sentido de responder
três fundamentais questões: (1) o que ensinar?; (2) para que ensinar? (3) para
quem ensinar? A primeira questão se refere ao conteúdo; a segunda, ao
objetivo de ensino deste conteúdo; e a última questão busca entender quem é
aluno – do individual ao coletivo – seja em relação ao perfil sociocultural, seja
em relação ao psicoemocional (Boeira, 2021).
No caso da sistematização, teorização e aplicação do grafismo aos
discentes de Mecânica dos Sólidos II do BCET/ UFRB, as respostas a estas
questões são as seguintes: (1) uma técnica de estudos; (2) para o estudante
aprender a pensar para apreender, para resolver problemas em engenharia; (3)
os estudantes que sentem dificuldades de visualizar os objetos em 3D para
aplicar fenômenos físicos durante a resolução de problemas de engenharia;
bem como aqueles alunos que se sentem inseguros e ansiosos por causa do
histórico de seguidas reprovações, conforme explicam os discentes nos relatos
abaixo:
“O fato é que a ansiedade está me prejudicando bastante pró! Para você ter
uma noção, eu escrevi lá certinho, o momento, a força, que é perpendicular a
uma distância ali na peça, aí eu fui lá e coloquei a distância paralela. Então as
vezes não é nem o que eu não sei [...] mas na hora do nervosismo eu acabo
trocando as coisas. Eu bato um número diferente na calculadora, muito pela
ansiedade mesmo. Não porque eu não sei o assunto, entendeu? Então isso
acontece muito comigo” (DIS07).
“Na verdade, eu sei o assunto, mas, por exemplo, na hora de responder a
prova me dá um branco, eu tenho este problema. Às vezes eu erro. Nesse
quesito, o grafismo tem me ajudado” (DIS04).
Do ponto de vista qualitativo, o resultado da aplicação de uma ferramenta
que auxilia o estudante na visualização e organização dos elementos de um
dado problema de engenharia, não foi apenas promover a análise e solução
87
das questões postas. A apresentação do grafismo aos discentes os motivou a
aprender a pensar para apreender. A consciência do aprendizado, isto é, a
percepção de que é possível aprender um conteúdo e resolver os exercícios de
MEC lhes levou ao sabor pelo saber. E para além, gerou um estímulo ao
protagonismo na construção do próprio conhecimento. Vejamos o que disse o
aluno:
“Eu me senti mais seguro, achava que nunca iria aprender e consegui. É
possível criar uma estratégia e ver que é possível aprender de uma maneira
bem fácil e prática. Me desenvolvi muito ao estudar sozinho” (DIS16).
Uma percepção reafirmada pelo professor:
“Eu acho que o aproveitamento dos conteúdos pelos alunos está muito
bom. Tem uma estudante que está fazendo o grafismo, não sei se está inscrita
como participante, ela está crescendo muito. E outra que me chamou atenção:
ela está crescendo no processo também. Antes, ela apresentava uma certa
dificuldade, não entendia bem os ângulos, dizia ficar “perdida”. Hoje, eu vejo
que ela já está sendo mais autônoma para resolver” (DOC).
E mais:
“Houve evolução de conhecimento sim. Antes, eu passava o conteúdo e
perguntava: “alguma dúvida?” O silêncio era total, “nem grilo tinha na sala!”
(risos). Pois bem, se estava tudo bem, eu seguia adiante nos conteúdos.
Quando veio esta metodologia, eles começaram a raciocinar e questionar, “e
se eu fizesse aqui...”, então foi criando na cabeça deles assim, “ah, eu posso
fazer isso?!”, “o que vai acontecer se eu mudar assim?!”, “ah, o sistema fica
fora de equilíbrio”. Eles começaram a perceber que é preciso analisar o que
está acontecendo e não simplesmente aplicar fórmulas. Esta foi a grande
diferença” (DOC).
Sob a perspectiva quantitativa, a efetividade da aplicação do grafismo em
duas turmas de MEC II no semestre letivo 2019.2, foi verificada através dos
índices de sucesso dos alunos ao final do curso.
Do grupo universo, duas turmas de 44 alunos, 29,5% dos estudantes foram
aprovados. Em contrapartida, o grupo de amostragem, os 15 alunos
voluntários, aqueles que participaram de todas as atividades da componente,
88
como também praticaram o grafismo durante os estudos em casa, obtiveram
53% de aprovação no final do semestre.
Fonte: autor
Em acordo com a Figura 2 acima, observa-se que entre a 1ª e a 3ª
avaliação (Av), 66% dos discentes evoluíram os seus índices em notas. Por
exemplo, o DIS02 obteve na 1ª avaliação 5,0 pontos, e na última, 10,0 pontos.
Embora a estratégia de ensino e aprendizagem grafismo não tenha superado a
expectativa de 70% de aprovação no grupo de amostragem, os 53% de
aprovados avançaram em muito a média de 30% de aprovação nos semestres
anteriores com o mesmo professor.
89
o requisito básico das boas práticas didáticas, não fazendo parte de uma lista
de estratégias que deveriam ter sido planejadas em conjunto com outros
professores, em consonância com o projeto pedagógico do curso. Caso
pudesse ter atendido a orientação pedagógica, os resultados certamente
seriam muito melhores.
Esta reflexão ficou como primeira lição para todos os envolvidos neste
trabalho. No sentido de chegar a resultados mais robustos, como um produto
doravante a Tese que esta pesquisa-ação gerou, elaboramos o que
inicialmente nominamos por “projeto de futuro” para implementar na UFRB.
A segunda lição que ficou gravada em nossas experiências pessoais,
acadêmicas e, enquanto professores que somos, foi o resultado qualitativo da
implementação e aplicação do grafismo em MEC II.
Durante a realização da pesquisa, os estudantes participantes: encontraram
um caminho (de fácil acesso) para sair da escuridão cognitiva: perceberam a
importância da prática da técnica para a resolução dos problemas em
engenharia: tomaram sabor pelo saber, pelo apreender; levaram o grafismo
para outras componentes: e tornaram-se protagonistas da construção do
próprio conhecimento.
Para o docente titular participante da pesquisa, aquele que inicialmente era
apenas um estudo de uma técnica didática através de uma pesquisa-ação,
tornou-se uma estratégia regular na metodologia de ensino da componente.
Isto ocorreu porque ele pode perceber os resultados das práticas da técnica de
estudos refletidos positivamente em sala de aula, nas expressões nas faces
dos seus discentes.
Para além, a pesquisa-ação sobre o grafismo tornou-se uma experiência de
referência sobre o ensinar e o aprender, sobretudo da importância de se
ensinar a pensar para resolver problemas em engenharia, para apreender, para
conhecer.
Agradecimentos
Agradeço imensamente a professora Cristiane Agra Pimentel pelo convite
para compartilhar aqui esta experiência. Quero também agradecer ao meu
90
orientador de doutoramento, o professor Roberto Leon Ponczek e ao meu
coorientador, Anderson Luis da Paixão Café. E claro, aos professores Denis
Rinaldi Petrucci e Carlos Frederico Macêdo Cortês pela grande contribuição na
pesquisa e análise dos dados para a realização da minha Tese.
Referências
GALEFFI, Dante; MACEDO, Roberto Sidnei; BARBOSA, Joaquim Gonçalves. Criação e devir
em formação: Mais-vida na educação. Salvador: EDUFBA, 2014.
KOSIK, Karel. Dialética do concreto. Tradução Célia Neves e Aldérico Toríbio. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1969.
MEDEIROS, Ligia Maria Sampaio de. Desenhística: a ciência da arte de projetar desenhando.
Santa Maria: sCHDs Editora, 2004.
91
CAPÍTULO VI
Resumo
As dificuldades encontradas no processo de ensino-aprendizagem de
disciplinas ligadas aos cursos de graduação em Engenharia de Produção
sugerem a busca por iniciativas capazes de proporcionar um ambiente de
aprendizagem que integre teoria e prática. Este relato tem por objetivo
descrever a aplicação dos princípios e procedimentos da aprendizagem
baseada em problemas (PBL – Problem-Based Learning) no processo de
ensino-aprendizagem da disciplina de Fundamentos dos Materiais de
Construção no curso de graduação em Engenharia de Produção de uma
Universidade Federal. O método de pesquisa classificado em estudo de caso
com abordagem qualitativa envolveu a análise descritiva da aplicação do PBL
por um docente em 3 turmas, abrangendo o total de 102 estudantes.
Considerando a estruturação do PBL em uma descrição das etapas de
implementação do mesmo em sala de aula, foi vislumbrada uma possibilidade
de adoção do PBL em disciplinas ligadas aos cursos de graduação em
Engenharia de Produção, de modo a privilegiar a construção da autonomia do
estudante. O principal resultado alcançado foi a redução do índice de
reprovações e desistências da disciplina de Fundamentos dos Materiais de
Construção de 19% nas aulas expositivas tradicionais para aproximadamente
8% no PBL. Este relato reforça o entendimento de que o PBL pode ser aplicado
em uma disciplina do curso de Engenharia de Produção, contribuindo para
92
enfatizar a necessidade de mudança na educação, vislumbrando a
oportunidade de ampliação da utilização do PBL na área de Engenharia de
Produção e o desafio de desenvolver uma cultura em relação à aprendizagem.
1. Introdução
O contexto de ensino-aprendizagem em Engenharia de Produção revela-se
preocupante, pois aponta tendências de favorecimento do ensino calcado na
exposição do professor em detrimento da aprendizagem dos estudantes,
gerando dificuldades de formação profissional em Engenharia de Produção
com escassez de prática e excesso de teoria. Reflexões acerca da qualidade
de ensino no Brasil apontam no sentido de fortalecimento dos processos de
ensino e aprendizagem que viabilizem uma educação mais crítica e com uma
perspectiva emancipatória. Lima e Silva (2013) reforçaram a necessidade de
discutir as perspectivas teóricas que subsidiam o planejamento das ações dos
cursos de graduação, bem como, conduzir o processo de ensino-aprendizagem
no sentido de propiciar o desenvolvimento de um pensamento crítico,
sistêmico, significativo, reflexivo e criativo dos estudantes, o qual mostra-se
fundamental para a formação profissional.
Dada a necessidade de incorporar novos conhecimentos, habilidades e
atitudes aos profissionais que atualmente são demandados pelo mercado,
novos métodos de ensino-aprendizagem como, por exemplo, o PBL (Problem-
Based Learning) poderiam ser utilizados para contribuir na formação
profissional. A iniciativa de Ribeiro (2008), ao aplicar o PBL em uma disciplina
da área da Administração no curso de Engenharia de Produção, serve de
inspiração para utilização deste método em cursos de Engenharia, mais
especificamente no curso de Engenharia de Produção.
Strobel e Barneveld (2009) realizaram uma comparação do PBL com as
aulas ministradas no método de ensino convencional, o PBL tem sido utilizado
por mais de 40 anos, embora extensamente pesquisado principalmente na
93
Medicina, há um debate sobre a eficácia do método. Várias análises foram
conduzidas para fornecer uma síntese dos efeitos do PBL em comparação com
as formas tradicionais de ensino. Os autores indicaram que o PBL foi superior
quando se tratava de retenção de conhecimentos a longo prazo,
desenvolvimento de habilidades e satisfação de estudantes e professores,
enquanto o método de ensino tradicional foi mais eficiente para retenção de
conhecimentos de curto prazo.
Pádua Júnior et al. (2014) avaliaram os aspectos positivos e negativos de
uma possível adoção do PBL em cursos de graduação e indicaram que o uso
do PBL é percebido com desconfiança por parte dos estudantes, ao passo que
os professores acreditam que este método seja um instrumento que auxilia na
transformação do estudante, mas não se mobilizam em torno de ações que
viabilizem a implementação do PBL. As inovações no ensino passam pela
maior autonomia do estudante e por projetos multidisciplinares, os quais
possibilitam uma visão mais geral, não se restringindo à uma disciplina.
As dificuldades encontradas no processo de ensino-aprendizagem de
disciplinas ligadas aos cursos de graduação em Engenharia de Produção
sugerem a busca por iniciativas capazes de proporcionar um ambiente de
aprendizagem que integre teoria e prática. Este relato tem por objetivo
descrever a aplicação dos princípios e procedimentos do PBL no processo de
ensino-aprendizagem da disciplina de Fundamentos dos Materiais de
Construção no curso de graduação em Engenharia de Produção de uma
Universidade Federal, analisando as habilidades necessárias aos estudantes e
professores para funcionamento do processo; o uso de problemas para
contribuição à aprendizagem; os procedimentos relativos ao trabalho em grupo;
e, o processo de avaliação.
Este item apresentou os aspectos introdutórios ao desenvolvimento deste
relato, o item 2 contém a descrição do problema enfrentado, no item 3 é
apresentado o detalhamento da solução desenvolvida. O item 4 apresenta os
principais resultados obtidos, por fim, o item 5 apresenta as principais lições
encontradas e considerações finais sobre a experiência vivenciada em sala de
aula.
94
2. Descrição do problema
O problema envolve dificuldades encontradas no processo de ensino-
aprendizagem da disciplina de Fundamentos dos Materiais de Construção do
curso de graduação em Engenharia de Produção de uma Universidade
Federal. A disciplina era ministrada de modo tradicional, por meio de aulas
expositivas com resolução de exercícios, em que os estudantes apresentavam
dificuldades motivacionais e de aprendizagem, evidenciadas nos resultados
das avaliações, o que culminava em um índice de reprovações e desistências
que alcançava aproximadamente 19%.
A referida disciplina foi ministrada por um docente pertencente ao
departamento de Engenharia de Produção de uma instituição pública brasileira
de ensino superior em 3 turmas do 2º semestre do curso, no período diurno. A
carga horária da disciplina correspondia a 60 horas/aula, sendo assim,
ocorriam 30 aulas com duração de 2 horas/aula cada. O número de estudantes
matriculados na turma 1 correspondia a 38, na turma 2 eram 24 estudantes
matriculados e na turma 3 o número de estudantes matriculados correspondia
a 100% das vagas, ou seja, eram 40 estudantes. O número total de estudantes
matriculados nas 3 turmas perfaz um total de 102.
3. Solução desenvolvida
A solução desenvolvida na tentativa de tratar o problema foi a aplicação do
PBL no processo de ensino-aprendizagem da disciplina de Fundamentos dos
Materiais de Construção. A estruturação do processo de utilização do PBL foi
elaborada a partir da sistematização dos conceitos e procedimentos
pesquisados por Ribeiro e Viana (2018), onde foram desenvolvidas etapas
sucessivas e interdependentes de reflexões acerca dos elementos básicos
norteadores do método.
O Quadro 1 apresenta a estruturação de 30 aulas em 9 partes, sendo a
primeira aula de apresentação do plano de ensino da disciplina por meio de
exposição, os 7 módulos referentes às 7 unidades do conteúdo programático
95
da disciplina correspondendo aos 7 ciclos de aplicação do PBL, e a última aula
que representou o encerramento da disciplina com uma avaliação final.
96
trabalho em grupo, seu próprio desempenho e dos demais integrantes do
grupo.
O Quadro 2 apresenta a estruturação dos procedimentos de aplicação dos
ciclos do PBL dimensionados para cada um dos 7 módulos compostos por 4
aulas.
97
- Redator: toma nota dos tópicos discutidos em grupo, das estratégias,
questões de aprendizagem e outros dados; redige os relatórios parcial e final.
- Porta-voz: faz colocações durante os momentos de discussão em sala de
aula e apresenta os resultados do trabalho do grupo.
- Demais participantes: contribuem para os processos anteriores.
Os grupos deveriam entregar um relatório parcial sobre o andamento das
discussões ao final da primeira aula em que o problema é proposto e um
relatório final no início da aula de apresentação e discussão das soluções
encontradas para o problema. O relatório parcial contém causas, fatos,
problemas, questões de pesquisa e cronograma. O relatório final contém
problema formulado, síntese dos conceitos pesquisados, possíveis soluções e
referências bibliográficas.
A apresentação era realizada pelos porta-vozes dos grupos com duração
prevista de 15 minutos. A apresentação era avaliada pelos grupos. A banca de
avaliação era constituída pelos porta-vozes dos grupos após as apresentações
com a finalidade de debater os diagnósticos, as formulações do problema e as
soluções. O debate foi avaliado pelos grupos. A avaliação de desempenho foi
realizada por todos os membros do grupo após a realização das bancas e
fechamento do tema pelo professor.
O processo de avaliação foi realizado de forma contínua e diversificada, de
responsabilidade do professor e dos estudantes, de caráter individual e
coletivo. O professor avaliou uma prova final, 7 testes de conhecimentos, 7
relatórios parciais e 7 relatórios finais, com peso total de 70%, o que permitiu
ao professor compartilhar 30% da avaliação com os estudantes nas
apresentações e debates de caráter coletivo e avaliações de desempenho
individual.
A bibliografia da disciplina de Fundamentos dos Materiais de Construção foi
reformulada e ampliada de modo a facilitar a implementação do PBL e
possibilitar que os estudantes obtivessem fontes variadas que atendessem aos
conteúdos a serem desenvolvidos nos 7 módulos. No entanto, os estudantes
não receberam a informação que relacionava o conteúdo do módulo do PBL
com os livros.
98
A aplicação do PBL na disciplina de Fundamentos dos Materiais de
Construção apoiou-se no uso da ferramenta Moodle. As atividades foram
organizadas por aulas, permitindo aos estudantes interagir de modo organizado
no ambiente da disciplina que envolveu diversos itens e atividades: fórum de
notícias; controle de presenças; canal de contato direto com o professor para
sanar eventuais dúvidas; programa da disciplina; apresentações; vídeos;
artigos; questionários; avaliações; material de aula; roteiros de relatórios;
postagem de relatórios; postagem de planilhas etc.
A participação de 8 grupos em cada módulo gerou a necessidade de
formulação de 4 problemas para cada módulo. Os 4 problemas apresentaram
situações parecidas em contextos diferentes e cada um dos problemas
enfatizou um tipo específico de material de construção. Na primeira aula do
módulo, correspondente a etapa de planejamento, estes problemas foram
atribuídos pelo professor aleatoriamente aos grupos.
A partir da proposição dos problemas, os estudantes iniciaram o
levantamento de hipóteses, as tentativas iniciais de solução dos problemas, o
levantamento dos pontos de aprendizagem, o planejamento dos trabalhos dos
grupos e a elaboração dos relatórios parciais, a partir de um roteiro de
elaboração para o relatório parcial adaptado de Escrivão Filho (2014), que
englobava 4 tópicos a serem relatados: a formulação do problema, os
conceitos a pesquisar, o cronograma e a definição dos papéis no grupo.
Os estudantes buscaram conceitos além do que era esperado para a
disciplina, pois os problemas estavam relacionados com outros temas do curso
de Engenharia de Produção e os estudantes perceberam esta relação e foram
pesquisar conceitos relacionados aos processos de fabricação, gestão da
produção, qualidade, confiabilidade, custos, gestão de estoques etc.
Aproximadamente um terço dos estudantes apresentaram dificuldades em
encontrar os dados relevantes do problema e em como estruturar a busca de
uma solução razoável. Estes grupos se sentiram desconfortáveis com o
método PBL. Por outro lado, cerca de um terço dos estudantes
instantaneamente montaram uma estratégia e partiram para a tentativa de
solucionar o problema, percebeu-se que estes estudantes estavam ativamente
99
envolvidos, discutindo o que deveria ser executado nos grupos. O terço
restante dos estudantes estava pensando em várias hipóteses de forma
comprometida discutindo nos grupos.
De modo geral, o novo método gerou várias dúvidas na maioria dos
estudantes, o professor também estava se ambientando com o PBL e
respondeu várias destas dúvidas com novas perguntas no sentido de estimular
o raciocínio dos estudantes. Observou-se que o professor estava motivado
para trabalhar com o novo método, apesar de perceber uma sobrecarga de
trabalho fora da sala de aula.
No final da primeira aula do módulo, os redatores de cada grupo postaram
os respectivos relatórios parciais no ambiente virtual da disciplina.
Na segunda aula do módulo, correspondente a etapa de produção, ocorreu
o compartilhamento de informações no grupo, a aplicação dos conhecimentos
no problema e a elaboração do relatório final e da apresentação referentes ao
problema do módulo.
Durante a segunda aula, muitos estudantes dirimiram suas dúvidas
principalmente em relação à elaboração do relatório final e da apresentação, e
quanto à data de postagem das tarefas que deveriam ser postados até o início
da próxima aula. O motivo da postagem do relatório final e da apresentação no
início da aula de apresentação e debate foi permitir maior tempo para os
estudantes discutirem as soluções propostas e elaborarem os referidos
materiais fora do ambiente de sala de aula.
A elaboração do relatório final se deu a partir de um roteiro de elaboração
para o relatório final adaptado de Escrivão Filho (2014), que englobava 5
tópicos a serem relatados: as alterações em relação ao relatório parcial, o
problema formulado, os conceitos teóricos pesquisados, a solução proposta e
as referências bibliográficas.
A elaboração da apresentação oral deveria seguir um roteiro de elaboração
para apresentação oral adaptado de Escrivão Filho (2014), que envolvia 6
tópicos a serem apresentados: os dados de identificação, a situação problema,
o problema, os conceitos pesquisados, a solução proposta e as referências
bibliográficas.
100
Durante a aula da etapa de produção, a maioria dos estudantes se
mostraram comprometidos, sendo que vários levaram para a sala de aula livros
indicados na bibliografia, outros relataram que foram buscar conhecimentos
individualmente durante a semana. Alguns estudantes relataram que passaram
muito tempo pensando em como resolver o problema e estavam motivados
com o novo método, justamente porque deveriam pensar em como se resolve
um problema na prática e ainda não conheciam o método de resolução. A
maioria dos estudantes estavam discutindo nos grupos, compenetrados
tentando resolver os problemas do módulo.
Por outro lado, cerca de 20% dos estudantes não sabiam por onde começar
a resolver o problema, alegando que não tiveram tempo para realizar
pesquisas sobre o assunto durante a semana. Aproximadamente 10% dos
estudantes demonstraram insatisfação por não ter uma explicação prévia do
professor sobre o assunto tratado no problema. Outros 10% dos estudantes
demonstravam insegurança em não saber a resposta certa do problema e em
ter que ir buscar conhecimento de forma autônoma.
Na aula de produção, observou-se que o professor não estava ambientado
com o novo método, respondendo algumas questões de maneira direta, como
se ainda fosse uma aula expositiva. Também se percebeu que a explicação
personalizada em cada grupo se tornou mais cansativa do que a explicação
geral para toda a turma.
A terceira aula do módulo, correspondente a etapa de apresentação, iniciou
com o sorteio da ordem de apresentação dos grupos. Foram sorteados 4
grupos para realizar a apresentação oral referente aos 4 problemas do módulo.
Cada apresentação deveria ser realizada em 15 minutos. Alguns grupos
colocaram muitos dados na apresentação e extrapolaram o tempo de
apresentação, outros grupos realizaram uma apresentação mais enxuta,
levando menos tempo. Alguns estudantes realizaram a apresentação
assumindo com fidedignidade o papel de consultor que o problema propunha,
outros estudantes não apresentaram tanto comprometimento, produzindo
apresentações abaixo do esperado. De modo geral, as apresentações foram
realizadas de acordo com o roteiro e os porta vozes dos grupos apresentaram
101
o conteúdo através de uma sequência coerente, demostrando razoável
conhecimento sobre o tópico, explicando e elaborando as informações dadas,
utilizando recursos que reforçaram o entendimento da apresentação,
geralmente com poucos erros de linguagem.
Depois das apresentações, iniciaram-se os 4 debates entre os grupos que
apresentaram e os grupos que não apresentaram cada problema
respectivamente. Sendo assim, 2 grupos debateram o problema 1, outros 2
grupos debateram o problema 2, mais 2 grupos debateram o problema 3 e por
fim, outros 2 grupos debateram o problema 4. Cada debate deveria ser
realizado em torno de 10 minutos. A maior parte dos grupos foram prolixos no
debate, outros foram mais sintéticos, alguns concordavam com as soluções
encontradas, outros discordavam, outros grupos se complementavam,
possibilidades de soluções diferentes foram levantadas e discutidas para
resolução dos problemas. De modo geral, os porta vozes dos grupos
debateram usando uma sequência coerente de argumentos, demonstrando
razoável conhecimento nas respostas às perguntas, com capacidade para
inserir um argumento de forma fundamentada, com poucos erros de linguagem.
No entanto, percebeu-se a falta de acompanhamento do raciocínio dos
debatedores pelos demais estudantes.
No final da terceira aula do módulo, o professor realizou o fechamento do
módulo, apresentado a resolução oficial de um dos problemas, explicando as
semelhanças e diferenças em relação aos outros 3 problemas e contrapondo
com as resoluções encontradas pelos grupos. Depois do término da aula,
foram postados no Moodle a resolução oficial dos 4 problemas do módulo e os
capítulos da apostila de Fundamentos dos Materiais de Construção preparados
para abranger os conteúdos do módulo.
Na quarta aula do módulo, correspondente a etapa de avaliação, os 8
grupos avaliaram as 4 apresentações orais seguindo o questionário de
avaliação da apresentação oral adaptado de Escrivão Filho (2014), que
apresentava uma escala de avaliação de excelente, bom, regular, fraco e muito
fraco para cada um dos 4 aspectos a serem avaliados: apresentação do tópico
e organização da informação, conhecimento e familiaridade com o tópico
102
apresentado, uso de recursos gráficos e/ou midiáticos, e vocabulário utilizado
em relação ao tópico.
Após a avaliação das apresentações, os 8 grupos avaliaram os 4 debates
seguindo o questionário de avaliação da participação em debate adaptado de
Escrivão Filho (2014), que apresentava uma escala de avaliação de excelente,
bom, regular, fraco e muito fraco para cada um dos 4 aspectos a serem
avaliados: respostas às perguntas e organização dos argumentos,
conhecimento e familiaridade com o tópico e confiança nas respostas,
posicionamento crítico e vocabulário apropriado das respostas.
A última avaliação realizada na quarta aula refere-se à avaliação de
desempenho dos integrantes do grupo, ou seja, cada integrante se autoavalia e
avalia os demais integrantes do grupo conforme o questionário de avaliação de
desempenho, que apresentava a escala de avaliação: 1 - Excelente (100%); 2 -
Muito bom (85%); 3 - Bom (70%); 4 - Razoável (50%); 5 - Ruim (30%); 6 -
Muito ruim (15%); 7 - Péssimo (0%). Assim, cada um dos componentes do
grupo era avaliado, levando em consideração se a pessoa esteve presente em
todos os encontros na sala de aula, veio preparado(a) para a discussão e
contribuiu para a discussão em grupo? A pessoa fez perguntas relevantes e
respondeu aos questionamentos dos outros? A pessoa dispôs-se a realizar
tarefas fora da sala de aula e a trazer material relevante para a discussão em
grupo? A pessoa foi um(a) bom(a) ouvinte e respeitou as opiniões dos outros?
A pessoa contribuiu para a organização geral da equipe e para a construção de
consenso?
Por fim, foi realizada a avaliação do PBL no módulo, onde os estudantes
responderam 15 perguntas, sendo 12 afirmações objetivas tendo apenas duas
opções de resposta: sim ou não; e as outras 3 perguntas eram discursivas. O
objetivo deste questionário era avaliar em que medida as atividades do módulo
favoreceram o processo de aprendizagem dos estudantes.
O encerramento do módulo ocorria na quarta aula, onde era realizado o
teste de conhecimentos, referente ao conteúdo trabalhado no módulo.
Este ciclo de aplicação do PBL ocorreu 7 vezes na disciplina de
Fundamentos dos Materiais de Construção, totalizando 28 aulas.
103
A aula 30 encerrou a disciplina de Fundamentos dos Materiais de
Construção com a avaliação final no formato de prova que se refere a todo o
conteúdo da disciplina trabalhado nos 7 módulos. Ao final da aula, foi realizada
a avaliação final do PBL por parte dos estudantes.
4. Resultados obtidos
Ao final da aplicação do PBL no processo de ensino-aprendizagem da
disciplina de Fundamentos dos Materiais de Construção, o professor percebeu
que a maior parte dos estudantes realmente obteve ganhos de aprendizagem,
apesar de alguns estudantes terem abdicado de estudar nos módulos iniciais,
outros terem se sentido desorientados, outros terem reclamado da formação
dos grupos, a percepção do professor foi de que os aspectos positivos
superaram os aspectos negativos do PBL, pois vários estudantes
demonstraram interesse, motivação e sentiram-se desafiados em resolver os
problemas e realizar um trabalho de equipe.
O conhecimento da relação do professor com a academia revelou que o
docente possui características que favorecem a implementação do PBL como o
perfil de desafio e a capacidade de se relacionar com os estudantes de forma a
incentivá-los à aprendizagem conforme preveem os princípios do PBL (Savery,
2006).
A percepção do professor, quanto à estrutura de PBL utilizada nesta
aplicação com sugestões de melhoria apresenta-se de modo semelhante ao
estudo de Martins e Espejo (2015) que também propuseram melhorias à
implementação do PBL em Contabilidade.
A percepção em relação ao trabalho do professor revelou similaridades com
o trabalho docente de orientação acadêmica e aumento da dedicação, assim
como o estudo de Ribeiro (2010), no entanto, não inseriu a experiência docente
como um requisito fundamental para o funcionamento do PBL.
A análise por parte do professor do processo avaliativo demonstrou que
este quesito requer melhorias, bem como propõem Martins e Espejo (2015).
De modo geral, a avaliação dos recursos utilizados nesta aplicação do PBL
mostrou que os recursos foram suficientes para a implementação do PBL em
104
uma disciplina, principalmente no que tange ao uso do software Moodle, mas
requer aprimoramentos quanto à implementação do PBL no curso de
Engenharia de Produção, revelando a mesma dificuldade apontada por Martins
e Espejo (2015) no que tange aos cursos de Contabilidade.
A percepção do professor quanto ao ambiente de aprendizagem revelou
que este ambiente necessita de ajustes e melhorias, dependendo da motivação
dos estudantes conforme apontaram os princípios de Savery (2006).
A maior parte das dificuldades e vantagens encontradas pelo professor na
aplicação do PBL estão em consonância com o estudo de Escrivão Filho e
Ribeiro (2009), destacando-se a autonomia dos estudantes para aprender a
aprender, pontuada como uma das principais vantagens do método.
Por fim, o professor apontou a continuidade do PBL como uma
oportunidade de fortalecer a aprendizagem dos estudantes, superando
desafios e resistências culturais e avaliou positivamente esta implementação
do PBL.
Ao analisar a percepção dos estudantes quanto às vantagens e
desvantagens do PBL, percebe-se uma certa ambiguidade na percepção dos
estudantes, pois ao mesmo tempo que os estudantes destacaram a autonomia
em relação aos estudos como uma das principais vantagens, destacaram a
falta de explicação por parte do professor, gerando um sentimento de
desorientação, como uma das principais desvantagens. A autonomia nos
estudos pressupõe que o estudante necessite menos do professor e seja mais
independente. Sendo assim, o que é visto como vantagem por alguns
estudantes pode ser percebido como desvantagem por outros que se sentiram
desamparados com a autonomia proporcionada pelo PBL.
Do mesmo modo, alguns estudantes perceberam um maior aprendizado
proporcionado pelo PBL como uma das principais vantagens, e ao mesmo
tempo destacaram a insuficiência de conhecimentos proporcionados pelo PBL
como uma das principais desvantagens, o que revela que alguns estudantes
perceberam a ampliação de possibilidades de conhecimentos no PBL e outros
perceberam justamente o contrário, ou seja, a falta de conhecimentos quando
se adota este método de ensino-aprendizagem.
105
O principal resultado alcançado foi a redução do índice de reprovações e
desistências da disciplina de Fundamentos dos Materiais de Construção de
19% nas aulas expositivas tradicionais para aproximadamente 8% no PBL.
106
Engenharia de Produção, pois pode ser um método que tende a funcionar para
estudantes com perfil de desafio e tornar-se frustrante para estudantes que
mantiverem a postura passiva adotada normalmente em aulas expositivas ou
que apresentem dificuldades de desenvolver tentativas de resolução de
problemas, mas contribui como proposta que pode orientar professores que
com ela se identifiquem, apresentando uma dinâmica de funcionamento que
pode melhorar o nível de aprendizagem dos estudantes no longo prazo.
Agradecimentos
Aos 102 estudantes de graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Maria pela participação nas aulas ministradas
sob uma nova perspectiva fundamentada no PBL, o que colaborou para a
realização deste relato.
Referências
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aprendizagem baseada em problemas: relato de uma experiência em cursos de Engenharia da
EESC-USP. Minerva, v. 6, n. 1, p. 23-30, 2009.
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aprendizagem na formação de administradores. Revista Iberoamericana sobre Calidad,
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da nova geração. São Paulo: Atlas, 2015.
PÁDUA JÚNIOR, Fábio Pimenta; CASTILHO FILHO, João Pereira; STEINER NETO, Pedro
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tecnologias de ensino em cursos de graduação em Administração. Administração: Ensino e
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107
RIBEIRO, Roberto Portes; VIANA, Adriana Backx Noronha. Estruturação do PBL para
aplicação em disciplinas do curso de graduação em Administração. Revista de Graduação
USP, v.3, n. 1, p. 39-47, 2018.
STROBEL, Johannes; BARNEVELD, Angela Van. When is PBL more effective? A meta-
synthesis of meta-analyses comparing PBL to conventional classrooms. Interdisciplinary
Journal of Problem-Based Learning, v. 3, n. 1, p. 44-58, 2009.
108
CAPÍTULO VII
Resumo
109
1. Introdução
Com o advento do computador e, principalmente, da internet, o perfil dos
alunos tem mudado (GALHARDI; AZEVEDO, 2013). Hoje em dia, dados e
informações podem ser facilmente obtidos através de buscas rápidas pela internet
(BARRETO, 2010). Como reflexo, os alunos estão mais impacientes e não se
contentam em ficar sentados por horas acompanhando aulas longas e teóricas
(SCHMITZ, 2016).
Há alguns anos, estão surgindo diversas metodologias de ensino com viés de
tornarem os alunos os principais responsáveis por sua formação (BERBEL, 2011).
Tais metodologias são conhecidas como metodologias ativas (MAs).
As MAs se baseiam na ideia de que a participação e o envolvimento do aluno
é de extrema importância para uma melhora em seu aprendizado, pois, entre outras
razões, a interação verbal e a "mão na massa" colaboram com a lembrança do
assunto estudado e levam a uma reflexão sobre o tema, podendo trazer novos
sentidos ao aprendizado (DALLIMORE et al., 2016).
Rice et al. (2018) afirmam, a partir de um estudo preliminar, que o ideal é a
combinação entre aulas tradicionais e metodologias ativas, o que é corroborado por
Krajčovič et al (2021), segundo o qual, mais de 50% dos alunos que participaram de
um experimento prático sobre 5S alegam ter necessidade de complementar o
aprendizado com aulas tradicionais.
Outra dificuldade atual está na avaliação do aprendizado, uma vez que teorias
pedagógicas incentivam o uso da avaliação formativa, como forma de diagnosticar
possíveis falhas no processo ensino-aprendizado e retomar assuntos, para que se
possa prosseguir com o desenvolvimento da disciplina (GONÇALVES et al., 2021).
De certa forma, isto é reforçado pela Taxonomia de Bloom, uma vez que
Bloom (1956) defende que uma pessoa só estará apta a elevar seu nível de
aprendizado a partir do momento em que o degrau anterior esteja bem concretizado.
Assim, dois pontos devem ser analisados: a motivação dos alunos e o seu
aprendizado. Isto pois, segundo Buzady e Almeida (2019), quando as pessoas
entram em estado de flow, ou seja, estão imersas em suas atividades, tendem a
absorver melhor o que lhe é transmitido.
Acredita-se, portanto, que oferecer cursos e disciplinas em que haja um
equilíbrio entre teoria e prática pode ser uma estratégia fundamental para motivar os
alunos e promover o aprendizado.
110
A fim de verificar essa estratégia, esse trabalho apresenta o desenvolvimento
e os resultados de uma atividade prática em que houve a elaboração de um jogo
focado em Manufatura Enxuta (ME), o Lean Cards, sua aplicação e validação,
através da avaliação dos alunos que participaram do experimento.
A atividade foi realizada junto a uma das disciplinas de Administração da
Produção, do curso de Engenharia de Produção da Unesp de Bauru no ano de
2021.
2. Descrição do problema
Como apresentado, o perfil dos alunos está mudando, o que faz com que os
métodos tradicionais de ensino sejam pouco atraentes. Assim, temas relevantes
para os cursos de Engenharia de Produção, como a manufatura enxuta, enfrentam
dificuldades de serem compreendidos.
Apresenta-se então, o seguinte problema: Como estimular e avaliar o
aprendizado dos novos alunos?
Uma das opções defendidas é a introdução de elementos e metodologias
inovadoras que fomentem o maior engajamento dos alunos e intensifiquem seu
aprendizado.
Assim, esse trabalho apresenta o desenvolvimento, a aplicação e a avaliação
do jogo Lean Cards, cujo objetivo é tornar as aulas mais interessantes para os
alunos e permitir que o professor avalie o aprendizado de forma lúdica.
A fim de prover embasamento teórico, justifica-se a explanação sobre alguns
itens centrais a essa pesquisa, os quais: o uso de jogos para ensino da ME, a
taxonomia de Bloom e avaliação formativa.
111
Focada na eliminação dos desperdícios, a ME sugere, dentre outras coisas, a
formação de células de produção (eliminando o transporte) e o nivelamento
produtivo (GADELHA et al., 2015).
Com um extenso ferramental, a ME necessita de uma forte apresentação
teórica, sendo ainda desenvolvidos e aplicados diversos jogos para que seus
conceitos sejam fixados. No Brasil, um já conhecido jogo voltado ao ensino da ME é
o Lean Board Game, um jogo de tabuleiro complexo e extenso, considerado
atualmente como um laboratório portátil de ME. Trata-se de um jogo comercial com
fins acadêmicos e de treinamento empresarial (ENGENHO, 2021). Através do Lean
Board Game diferentes competências são trabalhadas, dentre elas: trabalho em
equipe, resolução de problemas, aprimoramento do pensamento crítico, além de
desenvolver as habilidades sociais e comportamentais dos alunos (RUIZ,
GIACAGLIA, 2017).
Aqlan e Walters (2017) listam alguns jogos e simulações relacionados
à ME e apresentam algumas atividades desenvolvidas anualmente junto a alunos de
colégio e graduação. Dentre as atividades estão dois jogos de simulação: o primeiro
com foco no arranjo físico, a fim de reduzir as distâncias, o transporte e a
movimentação (Lean/Car Factory Simulation) e o segundo é focado na aplicação do
5S (5S Simulation). O trabalho indica ainda a realização de projetos com empresas
parceiras.
Gomes, Lopes e De Carvalho (2013) focam na apresentação do
desenvolvimento e validação de um jogo de simulação virtual (The 5S Game), o qual
visa aumentar o desempenho dos funcionários no método do 5S, permitindo que
aplique os conceitos de forma simulada.
Com um maior foco em treinamento e educação, como também na
validação do uso de meios digitais para acompanhar processos produtivos baseados
na ME, Yesilyurt et al. (2019) desenvolveram um jogo de simulação realizado como
um workshop de 4 horas, com a apresentação e discussão de um cenário que deve
ser simulado, primeiramente, com o apoio de materiais impressos e, na sequência,
com o uso de tecnologia digital. Como resultados, os autores afirmam a
possibilidade de se oferecer treinamentos rápidos e efetivos em que os participantes
compreendem a definição e os princípios da produção digitalizada e como ela pode
tornar o processo mais transparente.
112
Blöchl, Michalicki e Schneider (2017), por sua vez, desenvolveram o
Lean Leadership, um jogo de simulação em que os jogadores compreender as
vantagens da ME no processo produtivo e como a contabilidade tradicional pode
distorcer essa percepção, sendo que em uma segunda rodada do jogo, tem-se a
compreensão da necessidade de elaboração de indicadores de desempenho
adequados e uma mudança no estilo de liderança que reconheça as vantagens da
ME.
As aplicações apresentadas sugerem o desenvolvimento de
habilidades das mais diversas, sendo possível, através de um estudo mais
aprofundado, classificá-las conforme a taxonomia de Bloom.
Absorção/Imersão:
1. A atividade não me permitiu pensar em nada além dela e dos conceitos nela
envolvidos
2. A atividade fez com que eu me esquecesse do mundo exterior a ela
3. A atividade fez com que eu me empolgasse e me sentisse autoconfiante
Prazer:
4. A atividade me trouxe alegria
5. A atividade foi prazerosa
115
Motivação:
6. Esse tipo de atividade deveria ser realizado com maior frequência
7. Essa é uma atividade da qual eu participaria mesmo se não fosse vinculada à
presença
8. Essa é uma atividade da qual que participaria mesmo que não fosse vinculada à
nota
9. Essa é uma atividade que eu realizei de boa vontade
10. Essa é uma atividade que eu realizaria mesmo não recebendo nada em troca
4. Resultados obtidos
Durante o primeiro bimestre da disciplina estudada, foram elaborados e
aplicados formulários de percepção, avaliação de aprendizagem e autoavaliação, os
quais são sugeridos para a validação de diferentes experimentos cujo objetivo do
jogo é a introdução de novos conceitos (MACHADO et al, 2021).
Tais instrumentos foram desenvolvidos, baseados na literatura encontrada,
reconhecendo-se que:
● a avaliação de percepção auxilia, principalmente, na validação dos
jogos quanto aos seus atrativos (usabilidade e entretenimento) e
atributos (potencial de aprendizagem), sendo comumente baseada na
Teoria Flow para validar a imersão e o engajamento proporcionados
(KHAN; PEARCE, 2015),
● a avaliação de aprendizagem analisa a efetividade do que foi
aprendido, podendo ocorrer em diferentes momentos, antes (pré) e/ou
após (pós) o experimento (ALLl et al., 2017),
● a autoavaliação busca identificar alterações de conhecimento e
comportamento com base no ponto de vista do próprio participante,
principalmente quando há um fator de conscientização como motor
dessa mudança (BASCOUL et al., 2013).
Como resultados desse primeiro experimento observou-se maior aprovação
dos alunos que participaram do experimento com relação à sua motivação e
interesse na aula, mas um menor resultado no aprendizado, o que corrobora com os
resultados apresentados por Rice et al. (2018) e Krajčovič et al (2021), os quais
demonstram que a aula tradicional não deve ser eliminada, mas sim,
complementada.
Em um segundo momento, desenvolveu-se um jogo que recebeu o nome de
Lean Cards, inspirado em um jogo comercial e de grande conhecimento no mercado
116
de jogos, o Perfil®. Tal jogo possui diversas edições, sendo que os autores se
Rbasearam no Perfil 6, uma das edições atualizada em 2018. Perfil 6 é um jogo
físico, de dicas, formado por: 1 tabuleiro, 390 cartas, 6 peões, 20 fichas vermelhas, 5
fichas azuis, 1 ficha amarela e 1 manual de instruções (LUDOPEDIA, 2021).
Aconselhado para jogadores a partir de 12 anos, pode ser jogado por até seis
pessoas, individualmente, ou em até seis equipes. No jogo base, a cada rodada uma
pessoa fica responsável pela leitura das dicas, enquanto as demais devem escolher
o número de uma dica e adivinhar o termo ao qual ela se refere. Cada carta possui
20 dicas e a pontuação é dada da seguinte forma: o número de dicas utilizados até
que alguém acerte o termo da carta é dado ao leitor da vez, o qual deve caminhar
com seu peão sobre o tabuleiro, a quantia restante de dicas não utilizadas é
pontuada ao jogador que acertou o termo da carta. Nas dicas do jogo existem
opções de passar a vez, voltar ou avançar casas, dentre outros. O objetivo do jogo é
ser o primeiro a concluir todo o trajeto do tabuleiro, composto por mais de 120
casas. Em Perfil 6, as categorias das cartas são: lugar, ano, coisa e pessoa.
Com base nesse jogo, foi desenvolvido o Lean Cards, um jogo mais enxuto
(assim como o tema trabalhado) e em formato digital (em decorrência da pandemia
que exigia que as aulas fossem realizadas de forma virtual).
O Lean Cards é composto por um arquivo em slide animado que simula o
tabuleiro (Figura 2) e a movimentação das peças e um segundo arquivo também
com slides animados, composto por 24 cartas (cada uma em um slide), com 10 dicas
cada. A Figura 3 exemplifica uma carta da categoria “Termo”.
Como uma adaptação, o Lean Cards só pode ser jogado por duas pessoas ou
duas equipes, sendo que uma deverá competir diretamente com a outra e o leitor da
rodada deverá ser o professor/mediador. Assim, nos testes realizados, cada carta
pertencia apenas a uma pessoa/equipe, a qual solicitava uma dica até que fosse
capaz de acertar o termo da carta, ficando o adversário com a pontuação referente à
quantidade de dicas utilizadas e o jogador da vez com a quantidade restante de
dicas.
No caso do jogo desenvolvido, todas as cartas se referem a elementos da ME
e são divididas nas seguintes categorias: pessoa, termo, ano e ferramenta.
Com relação à contribuição do jogo para o aprendizado, este funciona como
uma avaliação formativa que atua sobre o primeiro degrau da taxonomia de Bloom
117
(lembrar/conhecimento). Com o jogo, o professor é capaz de avaliar a agilidade, a
segurança e a compreensão dos alunos quanto aos termos discutidos.
Como citado na metodologia, antes da aplicação junto aos alunos do curso foi
realizado um teste com dois membros do grupo PET da unidade de ensino. Neste
teste, aplicado pela autora principal desta pesquisa e acompanhado pelo docente da
disciplina e demais autores, o jogo ainda não possuía todas as animações e foi
testada uma aplicação diferente da opção final.
No teste, os alunos jogavam entre si, sem a interferência dos pesquisadores,
apenas recebendo as cartas por aplicativo de celular. Assim, um aluno recebia a
carta e fazia a leitura da dica solicitada pelo adversário e quando este acertava, a
pontuação era dada como no jogo original (adversário caminhava a quantidade de
dicas lidas e, o jogador da vez, a quantia de dicas não lidas). Enquanto os jogadores
faziam a leitura, os pesquisadores apresentavam a carta e movimentavam os peões,
compartilhando suas telas na sala de aula virtual.
Esse primeiro teste durou cerca de uma hora e os principais feedbacks dessa
experiência foram:
118
● necessidade de inserir o assunto da carta de forma clara;
● demora no processo de envio da carta para o aplicativo do celular;
● dificuldade em desvendar os termos para pessoas que nunca tiveram
contato com o assunto.
A partir dessas informações, optou-se por:
● utilizar cores diferentes para cada assunto;
● eliminar o envio das cartas e definir o mediador/professor como único leitor;
● manter o nível de dificuldade, uma vez que a ideia da aplicação do jogo é
identificar o nível do aprendizado obtido a partir das aulas.
Após os ajustes, o jogo foi aplicado com os alunos da disciplina. Eles foram
convidados a participar da atividade sem que tivessem nota ou qualquer outra
premiação atrelada a sua participação. Dos 24 alunos presentes, 8 aceitaram
participar.
Na experiência com os alunos, o jogo fluiu de forma muito leve e rápida. A
rodada durou cerca de 40 minutos, sendo 15 minutos de preparação, a qual
aconteceu com o apoio do manual do jogo (Figura 4) e os minutos restantes foram
utilizados com o jogo em si.
119
A agilidade apresentada pelos alunos demonstrou um ótimo
entendimento sobre os conteúdos abordados, havendo facilidade por parte dos
alunos em identificar os termos e relacioná-los aos seus conceitos.
Após a realização da rodada, os alunos foram convidados a sugerir
melhorias e a responder um questionário sobre a atividade. Os alunos também
foram questionados quanto ao melhor nome a ser dado ao jogo, sendo escolhido o
termo "Lean Cards".
Foram feitas as seguintes sugestões de melhorias:
● estabelecimento de diferentes valores para as cartas;
● possibilidade de redução do valor de cada carta com a utilização das dicas;
● possibilidade de intercalar os jogadores dentro de uma mesma carta;
● possibilidade de o adversário responder no lugar do jogador da vez e assim
obter os pontos da carta.
Com relação ao questionário de avaliação de percepção, apenas 5, dos
8 participantes, o responderam. Usando uma escala de 1 a 5, em que a nota 5 indica
a melhor possibilidade para a afirmativa, os resultados de todas as questões ficaram
acima da média (3). Pode-se destacar, no Gráfico 1, que as questões voltadas à
motivação foram as que obtiveram maior pontuação (4,8) demonstrando que tais
alunos não necessitam de nenhuma premiação ou bonificação para participar de
atividades similares a esta, ainda que tenham colocado a alegria, a autoconfiança e
a diversão como os critérios de menor valor, 3,8, 4,0 e 4,2, respectivamente.
120
Fonte: Autoria própria (2021)
Referências
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a fire safety game. Computers & Education, v. 114, p. 24-37, 2017.
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ASEE Annual Conference & Exposition. Anais… 2017.
BARREIRA, C., BOAVIDA, J., ARAÚJO, N. Avaliação formativa: novas formas de ensinar e aprender.
Revista portuguesa de pedagogia, 95-133. 2006.
BLOOM, B. S. et al. Taxonomy of educational objectives. New York: David Mckay, 1956. 262 p. (v. 1).
BUZADY, Z., ALMEIDA, F. FLIGBY - A serious game tool to enhance motivation and competencies in
entrepreneurship. Informatics (Vol. 6, No. 3, p. 27). Multidisciplinary Digital Publishing Institute. 2019.
DALLIMORE, Elise J.; HERTENSTEIN, Julie H.; PLATT, Marjorie B. Creating a Community of
Learning through Classroom Discussion: Student Perceptions of the Relationships among
Participation, Learning, Comfort, and Preparation. Journal on Excellence in College Teaching, v. 27, n.
3, p. 137-171, 2016.
122
ENGENHO. Lean Board Game. http://leanboardgame.com/. Acesso em: 14 abr. 2021.
GADELHA, F. C., BESSA, J. A., MOURA, L. B., BARROSO, D. A., MENEZES, J. W. M.,
ALEXANDRIA, A. R. Alteração de um layout funcional para layout celular motivado pelos
fundamentos da Manufatura enxuta: Estudo de caso em indústria de transformadores. HOLOS, 6,
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KHAN, A., PEARCE, G. A study into the effects of a board game on flow in undergraduate business
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KRAJCOVIC, M., GABAJOVÁ, G., FURMANNOVÁ, B., VAVRIK, V., GASO, M., MATYS, M. A Case
Study of Educational Games in Virtual Reality as a Teaching Method of Lean Management.
Electronics, 10 (7), 838. 2021.
RICE, N. C., GURU, A., KEELER, C. N., KESHWANI, D. R., KESHWANI, J. Comparison of game-
based learning and traditional lecture approaches to improve student engagement and knowledge
transfer in STEM education. In: 2018 ASEE Annual Conference & Exposition. Anais… 2018.
RUIZ, M. A. L., GIACAGLIA, G. E. O. Uma análise dos jogos de tabuleiro no ensino da Engenharia de
Produção. CICTED. 2017.
SCHMITZ, E. X. D. S. Sala de aula invertida: uma abordagem para combinar metodologias ativas e
engajar alunos no processo de ensino-aprendizagem. 2016.
123
CAPÍTULO VIII
Resumo
1. Introdução
124
Entre as grandes áreas do conhecimento como: Ciências Exatas e da Terra,
Ciências Biológicas, Engenharias, Ciências da Saúde, Ciências Agrárias,
Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas, Linguísticas, Arte e Letras,
todas essas tem o propósito de gerar algum benefício para a sociedade, onde
entre as Engenharias, a Engenharia de Produção têm desenvolvido iniciativas
que afetam diretamente a sociedade seja no empreendedorismo de novas
atividades econômicas, soluções tecnológicas para as cidades inteligentes,
logística humanitária, entre outros projetos.
A transferência do conhecimento e a compreensão desta, faz parte do ciclo de
vida da espécie humana, onde esse precisou assimilar fatos e transformar em
conhecimento útil para sua sobrevivência. A leitura faz parte desse processo de
assimilar conteúdo e é uma prática que traz inúmeros benefícios desde a
infância até o fim da vida, ampliando as possibilidades de conhecimento,
estimulando o raciocínio, a capacidade interpretativa, criativa,a escrita e a
formação do indivíduo.
Apesar do crescente público de leitores, nos últimos anos os brasileiros têm
enfrentado dificuldades para acessibilidade à leitura, seja pela escassez de
bibliotecas ou espaços públicos de leitura, altos impostos sobre os preços dos
livros e de certa forma falta de incentivo ao consumo do livro.
O Projeto de Extensão, desenvolvido junto aos discentes do Curso de
Engenharia de Produção da Universidade Federal de Sergipe (UFS), teve
como objetivo incentivar e promover a leitura, utilizando os conceitos de
logística para promover desde a coleta de livros, classificação e distribuição
em pontos estratégicos da capital de Sergipe.
2. Descrição do problema
125
O livro, seja ele autoajuda, mistério, ação e aventura, suspense e ficção
científica, tem um papel importante no processo formativo do cidadão, onde
cada leitor estabelece suas preferências, assiduidade e frequência de compra.
Muitas vezes estabelecendo uma relação sentimental com o livro, relendo,
guardando por longo tempo ou repassando para que outras pessoas também
tenham acesso ao conhecimento, resgatando o hábito da leitura.
O Projeto de Extensão desenvolvido com os discentes do Curso de graduação
em Engenharia de Produção, teve como objetivo junto com a comunidade
acadêmica da Universidade Federal de Sergipe, estimular a doação de livros
em bom estado de conservação, fazendo com que outras pessoas da
comunidade tivessem acesso à leitura.
A ideia central a partir da doação de livros, foi estabelecer o planejamento
desde estratégicas de divulgação no Campus para a coleta, classificação dos
títulos coletados, distribuição e sua posterior leitura através da disponibilização
em praças públicas da capital sergipana, escolhida pelos discentes a partir da
estrutura oferecida e circulação de pessoas.
3. Solução desenvolvida
126
Fonte: dados do projeto
b) Identificação de doadores: os potenciais doadores entraram em contato
pelo WhatsApp ou de forma direta no local destinado ao recebimento das
doações;
c) Recebimento dos livros: era verificado o estado dos livros recebidos e se
era necessário algum reparo no livro para seguir para a doação;
d) Registro de entrada: A identificação e recebimento foram realizadas pela
bolsista que analisava o estado do livro (Figura 02).
127
Figura 02 - Análise, identificação e registro dos livros recebidos
129
Figura 04 - Pontos de exposição dos livros para doação aos interessados
130
4. Resultados obtidos
131
Agradecimentos
Referências
Projeto PJ324 - 2018 - Logística de ajuda como ferramenta de incentivo à leitura. EDITAL
PROEX–PIAEX nº09/2018. Universidade Federal de Sergipe.
132
CAPÍTULO IX
ESTRATÉGIA DE CURRICULARIZAÇÃO DA
EXTENSÃO: EXPERIÊNCIAS NAS DISCIPLINAS DE
ENGENHARIA ECONÔMICA E
PESQUISA OPERACIONAL NA UFABC
Eder Oliveira Abensur, UFABC, eder.abensur@ufabc.edu.br
Resumo
Este trabalho apresenta uma estratégia para discussão da curricularização da
extensão baseada nas experiências das disciplinas de Engenharia Econômica
e de Pesquisa Operacional ministradas na Universidade Federal do ABC
(UFABC) que combinou o conteúdo didático destas matérias com ações
orientadas à solução de problemas práticos de comunidades externas à
universidade com uso coordenado e equilibrado dos recursos acadêmicos
disponíveis. Os resultados obtidos traduziram-se em relevantes aplicações
para as comunidades intermediadas pelos alunos.
133
1. Introdução
A lei nº 13.005 de 25/06/2014 definiu um mínimo de 10% do total de créditos
curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão
universitária (BRASIL, 2014). Na UFABC, a resolução CEC nº 007 de
18/04/2017 tipificou as atividades de extensão em duas categorias: (i)
programas (projetos integrados ao ensino e pesquisa em caráter institucional) e
(ii) projetos de origem mais individualizada elaborados pelos membros da
universidade como cursos, oficinas e eventos (UFABC, 2017). Atualmente as
instituições de ensino brasileiras vêm discutindo formas de curricularizar a
extensão em seus projetos pedagógicos de graduação visando um equilíbrio
que atenda as exigências legais, mas sem aumento da carga horária ou de
orçamento.
1. Descrição do problema
134
curricularização da extensão para disciplinas de cursos de engenharias. Elas
tiveram início com as restrições determinadas pela pandemia de Covid-19 que
obrigaram a alternativas remotas de ensino, mas que devido ao sucesso,
continuaram no retorno do ensino presencial.
Neste contexto, um desafio imposto aos educadores foi propor atividades que
pudessem, simultaneamente, atender as exigências de aprendizagem
profissional previstas nas DCNs, mas que também fossem atraentes e
motivadoras num cenário de indefinição de retorno do modelo presencial.
2. Solução desenvolvida
135
(2020-2021) e presencial (a partir de 2022) nas dependências físicas do
campus de São Bernardo do Campo-SP sob a responsabilidade do programa
de Engenharia de Gestão da UFABC. Ao todo houve mais de 300 participantes
em ambas as disciplinas.
136
caixa 5 seria um desdobramento para publicação e acesso ao público de
projetos selecionados com respectivo feedback.
3. Resultados obtidos
137
O projeto analisado envolvia a iniciativa de uma empresária para abertura de
uma sala de cursos de design de sobrancelhas na periferia da cidade de São
Paulo. Esse curso possuía mulheres de baixa renda como público-alvo. A
remuneração do projeto para este público seria proveniente da cobrança de um
valor social além dos serviços estéticos oferecidos à comunidade.
138
4.2. Teoria das filas em posto de vacinação e programação linear
para alocação de vacinas
município)
𝑥 ≤𝐷 (disponibilidade da vacina do tipo i)
𝑥 ≥ 76.662 (vacinação da população idosa)
𝑥 ≥0 (quantidades positivas)
Onde:
xi = quantidade da vacina do tipo i (Pfizer, Coronavac, Jansen,
Astrazeneca)
ci = custo da vacina do tipo i
139
Di = disponibilidade da vacina do tipo i
140
a cargo das coordenações de curso junto com membros institucionais
responsáveis pelas ações extensionistas (ex: pró-reitorias de extensão). Neste
reconhecimento haveria a descrição do tipo de ação extensionista relacionada
à disciplina e sua respectiva carga horária ampliando a sigla para T-P-I-E. A
execução e a validação das ações ficariam a cargo do docente da disciplina.
Referências
ABENSUR, E.O. Pesquisa Operacional para Cursos de Engenharia de Produção. São Paulo:
Blucher, 2018.
BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE
e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jun. 2014. Disponível em:
< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm>
BRASIL. Conselho Nacional de Educação - Câmara de Educação Superior. Resolução nº2, de
2019. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia, Brasília, DF,
Diário Oficial da União, 26 abr. 2019.
COMITÊ DE EXTENSÃO E CULTURA DA FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
(UFABC). Resolução CEC nº 007, de 18 de abril de 2017. Define as atividades de Extensão
Universitária da UFABC. Boletim de serviço nº 644, Santo André, p. 27-28, 18 abr. 2017
HIRSCHFELD, H. Engenharia Econômica e Análise de Custos. Atlas, São Paulo, 2009.
TAHA, H.A. Pesquisa Operacional. São Paulo: Prentice Hall, 2008
141
CAPÍTULO X
Resumo
As diretrizes estabelecidas pela resolução 07/2018 do Ministério da Educação,
trouxe à tona as atividades extensionistas na organização curricular dos cursos
de graduação, que as Instituições de Ensino Superior deviam se adequar. Isto
foi um grande desafio, onde 10% da carga horária total deve ser destinada as
atividades extensionistas, para inserir os alunos nos problemas sociais na
comunidade onde estão inseridos, ajudando a resolvê-los. No curso de
Engenharia de Produção da Uninter, as atividades extensionistas foram
desenvolvidas no contexto da logística reversa, que é uma atividade presente
na realidade de todos no mundo. Com isso, surgiram desafios para elaboração
das atividades que foram transformadas em disciplinas, com o
desenvolvimento das atividades as entregas dos trabalhos eram realizadas, foi
percebido que duas das quatro disciplinas estavam com entrega dos trabalhos
abaixo do esperado e alguma ação deveria ser tomada. O objetivo deste relato
de experiência é mostrar como o curso de Bacharelado em Engenharia de
Produção da Uninter, na modalidade a distância, implementou melhorias para
aumentar o percentual de entregas nos relatórios das atividades extensionistas
2 e 3. Como solução proposta foram realizadas simplificações nos relatórios
das atividades visando a utilização de alguns elementos da ferramenta plano
de ação (5W2H), após a implementação das melhorias foi possível perceber o
aumento no percentual de entregas das atividades.
142
Palavras-chave: Atividades Extensionistas; Engenharia de Produção;
Melhorias; Logística Reversa; EAD.
1. Introdução
A Resolução 07 de 2018 do Ministério da Educação, estabelece as diretrizes
para a extensão na educação superior brasileira, na forma de componentes
curriculares para os cursos. As atividades extensionistas devem compor, no
mínimo 10% do total da carga horária curricular dos estudantes de cursos de
graduação, devendo fazer parte da matriz curricular (BRASIL, 2018). No curso
de bacharelado em Engenharia de Produção da Uninter, optou-se em trabalhar
as atividades Extensionistas no contexto da Logística Reversa, onde os alunos
realizam pesquisas em empresas ou cooperativas de reciclagem, para
entender como ocorre o processo de destinação e aproveitamento dos
resíduos (VIEIRA et al., 2022).
Esta atividade teve início no ano de 2021, dividida em quatro disciplinas que
contemplam a entrega de relatório e vídeo sobre o trabalho realizado. No
decorrer do tempo, foi percebido em duas disciplinas das atividades
extensionistas a taxa de entrega estava baixa, o que acabou gerando
preocupação por parte dos docentes e professores. Para isso, a pergunta de
pesquisa deste relato será “Como aumentar o percentual de entregas das
atividades extensionistas 2 e 3 do curso de bacharel em Engenharia de
Produção?”.
2. Descrição do problema
No curso de Bacharelado em Engenharia de Produção EAD do Centro
Universitário Internacional Uninter, a carga horária total é de 4.720 horas, onde
10% que totalizam 472 horas são destinadas exclusivamente às atividades
extensionistas. As atividades extensionistas do curso são compostas por 04
disciplinas, conforme Tabela 1.
143
Tabela 1 – Organização das Atividades Extensionistas
Item Disciplina
Atividade Extensionista I – Logística reversa -
AE 1
Pesquisa
144
- Realizar observações e conversar com os envolvidos no processo;
- Realizar o mapeamento do processo interno, utilizando a ferramenta do
fluxograma para identificar os pontos críticos que merecem atenção;
- Fazer lista de pontos críticos justificando porque são problemas, e porquê
que devem ser resolvidos.
A terceira atividade extensionista foi denominada projeto de melhorias,
nessa fase os alunos deverão fazer um projeto de melhorias nos pontos críticos
identificados na atividade 2. Os projetos deverão ser detalhados com a solução
proposta para tentar resolver as não conformidades vistas na empresa
pesquisada. Alguns exemplos de melhorias são: ajustes no layout, treinamento
de colaboradores, implementação de gestão visual, orientações e indicação
sobre usos de EPIs, etc.
A última atividade foi denominada implementação de melhorias, é o
momento em que os alunos vão propor a implementação dos projetos
realizados na atividade 3. Este é um ponto crítico, pois dependendo da
complexidade do projeto proposto, algumas empresas não terão recursos para
implementação, para tentar minimizar este tipo de situação foi proposto para os
alunos que elaborassem mais do que um projeto, do nível simples até
complexo, para poder apresentar para as empresas e tentar implementação.
Cada atividade contemplava a elaboração de um relatório com: capa,
resumo, introdução, metodologia, desenvolvimento, resultados, conclusões,
referências bibliográficas, além de um vídeo de no máximo 1 minuto falando
sobre a atividade realizada. Notou-se que nas atividades 2 e 3 havia uma taxa
de entrega baixa, o que motivou a realização de indicadores do percentual de
entregas.
Na atividade extensionista 2 havia uma taxa de entrega variável, onde o
máximo de trabalhos recebidos foi de 72% e o mínimo 45%. Este número
gerou preocupação por parte da coordenação e docentes do curso. O gráfico
com os percentuais de entrega pode ser observado na Figura 1.
Figura 1 – Percentual de trabalhos entregues na atividade extensionista 2
145
Fonte: Dados da pesquisa (2023)
O percentual de entregas da atividade extensionista 3 também foi
analisado, foi encontrado o máximo de 67% e o mínimo de 20% de trabalhos
entregues nas fases. Na Figura 2, é possível observar o percentual de
entregas.
146
Peinado e Graeml (2007), para facilitar o desenvolvimento e preenchimento por
parte dos alunos.
Na atividade extensionista 2 é o momento da identificação das não
conformidades encontradas na empresa ou cooperativa. A estrutura adotada foi
estruturada do seguinte modo:
- Elaboração de fluxograma apontando os pontos críticos do processo;
- Descrição do que foi encontrado de não conformidades;
- Imagens do problema;
- Justificar por que são não conformidades;
- Enquadrar as não conformidades nas áreas de conhecimento da
Engenharia de Produção, conforme (ABEPRO, 2021);
- Elaboração das conclusões.
Na Figura 3 é possível observar o modelo de relatório proposto na atividade
extensionista 2.
147
Fonte: Dados da pesquisa (2023)
Neste formulário foram utilizados alguns elementos do 5W2H, conforme
Tabela 2.
Tabela 2 – Itens do 5W2H e perguntas do formulário da atividade extensionistas 3
Pergunta 5W2H Pergunta do formulário
What – O que? O que foi encontrado de não
conformidade?
Why – Por quê? Por que são não conformidades?
Fonte: Dados da pesquisa (2023)
Na atividade extensionista 3 é o momento de desenvolver melhorias para
resolver as não conformidades identificadas na atividade 2. A estrutura adotada
foi estruturada do seguinte modo:
- Especificar como a não conformidade será resolvida;
- Especificar quem será o responsável pelas ações;
- Especificar quando as ações serão executadas;
- Elaboração das conclusões.
148
Na Figura 4 é possível observar o modelo de relatório proposto na atividade
extensionista 3.
Figura 4 – Modelo de formulário utilizado na atividade extensionista 3
149
encontrar soluções para as atividades extensionistas, nos locais onde foram
desenvolvidas.
4. Resultados obtidos
Após a implementação das melhorias nos relatórios, foi possível identificar
que os alunos compreenderam com maior facilidade como desenvolver a
atividade extensionista 2 e 3. Na Figura 5, é possível observar um exemplo de
atividade desenvolvida por um aluno sobre a identificação de não
conformidades, que compreende a atividade extensionista 2.
Figura 5 – Exemplo de Fluxograma com identificação de pontos críticos no processo
150
Fonte: Dados da pesquisa (2023)
Também foram registradas imagens das não conformidades identificadas,
para mostrar como o processo ocorre na prática, conforme Figura 7.
Figura 7 – Exemplo de Fluxograma imagens das não conformidades identificadas
151
Fonte: Dados da pesquisa (2023)
Também durante a elaboração do relatório, o aluno realiza o
enquadramento das situações identificadas nas áreas de conhecimento da
Engenharia de Produção, conforme Figura 9.
Figura 9 – Exemplo de enquadramento das não conformidades nas áreas da Engenharia de Produção
152
Fonte: Dados da pesquisa (2023)
Será apresentado um exemplo do relatório preenchido da atividade
extensionista 3, para que seja possível obter o entendimento sobre o projeto de
melhorias. Na Figura 11, é possível observar um relatório preenchido.
Figura 11 – Exemplo de plano de ação da atividade extensionista 3
153
Neste exemplo da Figura 11, os alunos identificam como vão resolver as
não conformidades identificadas na atividade extensionista 2, neste caso, os
alunos trabalharam no contexto da segurança do trabalho para auxiliar os
colaboradores da cooperativa a se protegerem, quando realizam o manuseio
de vidros. Foi trabalhado como resolver, quem vai executar a ação e quando
será realizada.
Na última parte do relatório da atividade extensionista 3 os alunos realizam
a conclusão do que foi realizado, conforme Figura 12.
Figura 12 – Exemplo de conclusões da atividade extensionista 3
154
Fonte: Dados da pesquisa (2023)
Nota-se na atividade 2 a partir da fase B2-22, que foi o momento da
implementação da melhoria, houve aumento do percentual de entregas para
85% e 82%, respectivamente. Na atividade 3 o percentual de entregas a partir
da fase B2-22 foi de 88%, número este que se repetiu na fase C1-22.
Observando os resultados, foi possível identificar que da maneira que a
melhoria foi proposta e implementada, contribuiu para o crescimento do
número de entregas por parte dos alunos.
155
clara com a nova proposta. O objetivo desta pesquisa foi atingido, pois houve
aumento no percentual e entregas dos relatórios das atividades extensionistas
2 e 3 do curso de Engenharia de Produção.
Sob o ponto de vista docente, é muito importante para os professores
observar a evolução dos seus alunos, principalmente quando estão envolvidos
em questões sociais e ambientais, colocando em prática os conhecimentos
adquiridos na academia para transformar a sociedade.
Agradecimentos
Agradecemos a Escola Superior Politécnica da Uninter, especialmente ao
curso de Engenharia de Produção por contribuir com este trabalho.
Referências
As referências são alinhadas somente à margem esquerda do texto e de forma a identificar o
documento, separadas por espaços simples.
VIEIRA, E. L et al. Relatos de Experiências em Engenharia de Produção 2022 (Volume I). In:
PIMENTEL, C. A.; DA SILVA, C. E.; PINHEIRO, F. A.; GUIMARÃES, G. E.; SEVERINO, M. R.;
BARBASTEFANO, R. G. (Org.). São José dos Campos: ABEPRO, 2022. 109p.
156
CAPÍTULO XI
Resumo
Este relato tem por objetivo descrever a busca de possibilidades para a
implementação das horas de extensão, conforme preconiza as Novas Diretrizes
Curriculares para as Engenharias (DCN, 2019), no curso noturno de Engenharia
de Produção, vinculado ao Centro Tecnológico da Universidade Federal do
Espírito Santo (CT/UFES/ES). Em vigor desde 2017, o seu Projeto Político
Pedagógico de Curso passou por significativas reformulações a fim de atender
às novas exigências para a formação de engenheiros brasileiros, em especial,
para incorporar e sistematizar o emprego de metodologias ativas, formação com
base em competências, processos avaliativos mais significativos e atividades
extensionistas. Este breve relato busca apresentar as experiências e
aprendizados obtidos em uma disciplina totalmente dedicada a atividades de
extensão que, em parceria firmada com empresas da região, trata de problemas
reais que estão em busca de soluções. Este processo de migração de uma
visão conteudista para uma que centralize o discente como protagonista de sua
trilha de aprendizagem, para o nosso caso, está em contínuo desenvolvimento,
aprimoramento e busca de possibilidades.
Palavras-chave
NCN, Ensino por competências, Extensão, Trilha de Aprendizagem.
157
1. Contexto da Formação dos Engenheiros no Brasil
1.1 Introdução
O Brasil tem enfrentado problemas que dificultam o seu desenvolvimento
econômico e social. Dentre estes inúmeros problemas existentes podemos
destacar o ensino de engenharia. Uma vez que no ano de 2010 a
Confederação Nacional da Indústria (CNI) preocupada com a crescente
complexidade dos sistemas produtivos vislumbrava a necessidade de
adequação do Ensino de Engenharia aos novos padrões. Apontando a
necessidade de mudanças no perfil dos cursos e dos engenheiros por nós
formados (FORMIGA, 2010).
Diante desse novo contexto, em que os sistemas de produção estão cada vez
mais complexos e exigem constantes avanços tecnológicos, o Brasil precisa
aumentar os investimentos em atividades inovadoras. Uma das ações
indispensáveis para o País seguir a trilha da inovação é a adequação da
educação em Engenharia aos novos padrões. A mudança no perfil dos cursos e
dos engenheiros requer o reforço das disciplinas técnicas e científicas e a
inclusão de conteúdos voltados à conservação do meio ambiente, à gestão e à
responsabilidade social, componentes imprescindíveis nos novos processos
econômicos e produtivos. A convicção de que a educação de qualidade e a
inovação são requisitos para o Brasil construir uma economia competitiva e
sustentável norteia as ações da indústria brasileira (FORMIGA, 2010;
CAVALVANTE & EMBIRUÇU, 2013).
158
atualização dos currículos que devem ser relevantes e estar em constante
contato com os desafios reais da sociedade; por ter que repensar os seus
processos de ensino-aprendizagem que tanto devem continuar respondendo ao
desenvolvimento das competências técnicas mas, também, que permitam
expandir as suas fronteiras para incluir cada vez mais as competências
socioemocionais.
Assim como, também faz coro o setor produtivo que, de forma geral e em uma
observação ampla, uma vez que há o reconhecimento do esforço para uma
formação de qualidade, destacam algumas importantes observações quanto à
atual formação dos engenheiros das universidades do Brasil, podendo variar de
acordo com o setor industrial e as especificidades de cada empresa. No
entanto, algumas críticas são recorrentes:
Por outro lado, os dados do Censo da Educação Superior de 2019 relativos aos
discentes, quanto à permanência, retenção, abandono e concluintes,
divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), nos últimos anos permitem ampliar o panorama do problema
159
em questão:
160
Engenharia, desde que sejam cumpridos alguns requisitos mínimos. Isso
possibilita a criação de currículos mais adaptados às demandas do
mercado e às especificidades de cada região ou setor.
161
seus conhecimentos técnicos em prol do bem comum e de contribuir
para a construção de um mundo mais justo e sustentável.
162
serem enfrentados, como a falta de recursos para implementação das
mudanças curriculares e a necessidade de capacitação dos docentes.
163
uma pesquisa com alunos e professores de um curso de Engenharia de uma
universidade pública no Brasil, com o objetivo de analisar a percepção desses
atores sobre a contribuição das atividades de extensão para a formação dos
estudantes. Os resultados mostram que as atividades de extensão são
percebidas como importantes para o desenvolvimento de habilidades técnicas,
sociais e éticas, além de possibilitar o contato dos estudantes com a
comunidade e com demandas reais.
164
Esse pequeno recorte bibliográfico, longe de querer esgotar a riqueza de
inúmeras outras contribuições de pesquisa, demonstra o esforço da
comunidade acadêmica em implantar as novas diretrizes e mostra a forte
tendência da utilização de metodologias ativas - essas que colocam o discente
como protagonista de seu processo de aprendizagem - bem como da busca de
interação entre universidade e empresa.
2. Descrição do problema
Diante dos desafios endereçados pelas DCNs (DCN, 2019) e pelo Plano
Nacional de Educação (PNE 2014-2024), longamente analisados e dialogados
dentro do processo de redesenho do Projeto Político Pedagógico do curso
noturno da Engenharia de Produção do CT/UFES, ficou urgente buscar meios
tanto para implementar as horas de extensão obrigatórias quanto para
incentivar a integração entre a teoria e a prática no âmbito de um curso noturno
de engenharia. Porém esta implementação não poderia acarretar o aumento da
carga horária do curso nem priorizar a dedicação dos discentes em projetos de
extensão no contraturno. Essas restrições são intrínsecas ao público atendido
pelo nosso curso, ou seja, em grande maioria nossos discentes possuem
atividades profissionais em período integral, ou de estágio, ou estão em busca
de colocação no mercado de trabalho. Assim, o que foi facilmente resolvido
pelos cursos integrais e diurnos através da criação de projetos de extensão em
contraturno, criação de disciplinas e projetos integradores. Torna-se um
problema devido às particularidades de um curso de engenharia noturno, nos
mostrando a importância de buscar alternativas factíveis para a execução das
horas de extensão no período de ocorrência do curso, não sobrecarregando
nossos discentes.
3. Solução desenvolvida
165
Assim, de forma a cumprir a legislação e não causar um problema para os
discentes do curso noturno de engenharia de produção, que como supracitado
em sua maioria, não possuem contraturno livre para atividades extensionistas.
Foi criado um projeto de extensão devidamente registrado na Pró-reitoria de
Extensão da Universidade Federal do Espírito Santo, intitulado: Conexão DTI
Setor Produtivo, o qual pretende propiciar aos discentes uma formação sólida
baseada em competências e habilidades (PERRENOUD; PHILIPPE, 2000),
focada nas necessidades do mercado de trabalho, em aderência às novas
DCNs, ao PNE e ao Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) em vigor.
Essa formação será desenvolvida através da interação academia/setor
produtivo, na qual as empresas/indústrias trarão para o projeto os seus
desafios/problemas e as disciplinas do Departamento de Tecnologia Industrial
(DTI) que possuem carga horária extensionista irão receber esses desafios. No
início do semestre letivo os docentes responsáveis pelas disciplinas aptas a
desenvolverem os desafios, farão a apresentação dos mesmos, em conjunto
com um profissional da empresa proponente. Após a apresentação do desafio
para os alunos, se define conjuntamente a metodologia que será trabalhada no
desenvolvimento do desafio, podendo ser aprendizagem baseada em projetos,
Estudo de caso, Design Think dentre outras.
166
Novas Diretrizes Curriculares com o objetivo, em princípio, de sensibilizá-los
para a questão/oportunidade das horas de extensão. Reuniões subsequentes
permitiram construir o correto entendimento daquilo que estávamos procurando,
uma parceria que endereçasse problemas reais em fase de busca de soluções
que pudessem ser vivenciados por discentes no âmbito de uma sala de aula
(mas não restrito aos seus limites físicos), apoiados por engenheiros da
empresa em sintonia com os professores/as da disciplina, deixando claro que
não se tratava de uma consultoria.
Para esse formato, existe a figura do docente líder responsável pela disciplina
apoiado, neste caso, por mais dois docentes do mesmo departamento e
engenheiros responsáveis pelos desafios, a fim de dar suporte técnico-
pedagógico às demandas em forma de desafios/problemas reais (que são
aqueles que estão em processos de desenvolvimento e busca de soluções
pelas empresas parceiras). Importante destacar a necessidade de estabelecer
os marcos próprios dos desafios (entregas de resultados, datas, escopo de
investigação etc) e um vínculo profissional entre toda a equipe (docentes,
engenheiros e discentes).
167
b. dar suporte técnico para o desenvolvimento do projeto e busca de
soluções; c. acompanhar as visitas técnicas;
d. avaliar o desenvolvimento dos projetos e dar feedbacks aos discentes.
iii. no semestre que ocorre a disciplina, a equipe de docentes se reúne com os
discentes matriculados na disciplina para:
Outro ponto que acreditamos ser importante é que o discente escolhe o desafio
mas não escolhe com qual equipe irá desenvolvê-lo. A escolha de integrantes
por desafios é feita de forma aleatória (utilizamos um app para essa finalidade)
e admitimos um mínimo de três e máximo de quatro integrantes por equipe.
Podem ocorrer duplas, mas procuramos evitar. Também pode ocorrer de não
ser necessário a divisão em equipes, dependendo do número de interessados
em um dado desafio. As reclamações desse procedimento por parte dos
discentes são inevitáveis, uma vez que, não rara vezes, eles têm preferências
por certos integrantes em suas equipes - devido a amizade, por exemplo.
Entretanto, adotamos essa prática com base na premissa de que podemos
aumentar as possibilidades de desenvolvimento de competências
socioemocionais quando estes são expostos a interação com pessoas que lhes
são pouco familiares ou que não lhes caem bem (situações que acabam
ocorrendo em ambientes profissionais)
168
esperadas, as equipes precisam melhor estruturar o cronograma integrando a
este as etapas intermediárias necessárias para concretização do projeto no
prazo de ocorrência da disciplina.
169
Figura 1.b - Cálculos preliminares
É interessante ressaltar que esses slides, indicados nessas figuras, fazem parte
de apresentações iniciais com o objetivo de garantir de que o contexto do
desafio foi bem compreendido pelos discentes; nesta etapa é próprio as
correções de conceitos, identificação de bibliografia adequadas, definição dos
papéis para os integrantes das
equipes, delimitações dos escopos etc. Outra equipe com outro tipo de desafio-
projeto discutiu, nessa mesma etapa da disciplina, como indicado nas Figura
2.a e 2.b.
170
Autoria: equipe de discentes da disciplina
171
Autoria: equipe de discentes da disciplina
172
Relativo à pergunta: “Por favor, indique características importantes da disciplina
e/ou do professor que foram relevantes para o seu aprendizado?” As respostas
dos alunos demonstram o aumento do interesse nas atividades propostas e
intensifica a interação entre eles (membros da equipe); outra percepção que
podemos destacar é a efetiva necessidade dos próprios alunos em organizar
melhor os conteúdos já apreendidos para que possam ser utilizados no
enfrentamento dos desafios. A nossa premissa de que a autonomia e interesse
engajamento dos alunos/as podem ser modulados permitindo-os escolher
livremente um desafio dentre um conjunto possível se mostrou, pelo menos à
princípio, verdadeira.
173
As respostas referentes a pergunta - “Por favor, indique aspectos da disciplina
que você considera que poderiam ser melhorados?” - nos mostraram que os
alunos ainda possuem certa dificuldade em se desligar do ensino tradicional de
engenharia em que o professor se coloca como ator principal nas iniciativas e
decisões a serem tomadas; também podemos destacar a necessidade de
intensificar atividades pedagógicas que os levem a exercitar o aprender-a-
aprender, gestão do tempo e tomada de decisões com base na busca de
informações necessárias para ampliar a contextualização do desafio.
174
familiarizados, gerirem desafios-projetos que lhes cobram resultados
factíveis e críveis a execução real etc. Mas estas dificuldades geralmente se
dão no início da disciplina, com o desenvolver da mesma eles vão se
familiarizando, ou ganhando confiança e no fim a maioria dos alunos
conseguem atingir os objetivos esperados ou até mesmo superam as
nossas expectativas.
175
Ao analisarmos as respostas objetivas podemos observar que a maioria dos
estudantes concordam ter aprendido algo que consideram importante,
corroborando com as suas respostas das questões discursivas e declaram
que neste formato da disciplina foram estimulados intelectualmente e
desafiados. No acompanhamento dos grupos podemos notar que isso
realmente acontecia, porque ao receberem desafios verdadeiros de uma
indústria, eles tiveram que mesmos se desafiaram a buscar melhorias e até
mesmo respostas para os problemas que estavam enfrentando. Na
apresentação final ouvimos dos responsáveis pelos desafios por parte da
indústria que os nossos alunos tinham superado as expectativas do início
do projeto, mostrando um crescimento dos nossos alunos no
desenvolvimento do projeto.
176
O andamento dessa disciplina também impõe ao discente um
comprometimento de maior intensidade porque os encontros em sala de aula
passam a ser agendados por demanda de entregas e existe naturalmente uma
expansão extra-muros do ambiente de aprendizagem que, inclusive, admite e
apoia-se em ambientes virtuais. Visitas técnicas, reuniões virtuais e presenciais
de equipes, investigações realizadas de forma individual e em grupos (inclusive
com a participação, em algumas situações, dos engenheiros e/ou professores),
entre outras possibilidades, formam os ambientes de aprendizagens e trocas de
experiências.
177
Figura 9: O professor/engenheiro da empresa apresentava o contexto ou a
origem das ideias/conceitos desenvolvidos nas aulas/encontros.
O que fica evidente pelas respostas anônimas dos discentes é que: (i) existe
um forte apelo de superação para o enfrentamento e busca de resultados
factíveis aos desafios propostos; (ii) o quão estimulante foi trabalhar numa
disciplina (de oitavo período, logo já constituída uma gama de conhecimentos
da engenharia de produção) com desafios reais e apoiados por engenheiros
responsáveis pelas áreas ofertantes desses desafios; (iii) a disciplina
possibilitou integrar conhecimentos prévios à investigação e trabalho em equipe
(relembramos que os integrantes foram escolhidos aleatoriamente); (iv) ampliou
o espaço para a troca de experiências significativas sejam da perspectiva de
competências técnicas (hard skills) quanto comportamentais (soft skills).
178
passam a vivenciar em equipes a resolução de problemas reais. É um grande
desafio aos docentes da disciplina que passam a trabalhar em equipe - além de
contar com mais de um docente para desenvolver a disciplina, faz-se
necessário trabalhar com uma demanda real que possui prazos, resultados
esperados e engenheiros responsáveis pelas entregas - e a participar da
orientação da busca de solução a problemas complexos no âmbito de um
semestre letivo.
179
concebida e aplicada no país.
Referências
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Grupo A, 2000. E-book. ISBN
9788582711934.
180
SANTOS, R. S. dos; DIAS, F. R.; PEREIRA, M. C. S. Implementação das novas diretrizes
curriculares nacionais para os cursos de engenharia: um estudo de caso na Universidade
Federal de Lavras. Revista Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia, v. 11, n. 1, p. 21-31,
2018.
181
CAPÍTULO XII
182
curso e vinculadas com projetos de extensão. Esse novo currículo tem a
pretensão de permitir que o aluno se torne protagonista de um processo de
transformação, em que é desafiado por problemas reais a construir de forma
coletiva e humana soluções para os desafios contemporâneos.
1. Introdução
Os Cursos de Bacharelado em Engenharia do Centro Multidisciplinar da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Macaé foram criados no ano
de 2010. Em 2011, por meio da primeira turma de ingressantes foram
efetivamente implantados os cursos de Engenharia de Produção, Engenharia
Mecânica e Engenharia Civil. Para nortear a estruturação e funcionamento de
cada um dos cursos, um Projeto de Implantação dos Cursos foi elaborado
contemplando grades segmentadas em ciclo básico e ciclo profissional.
Em 2017, uma nova versão do PPC foi elaborada pelos próprios professores
das Engenharias da UFRJ-Macaé. No caso da Engenharia de Produção, entre
outras melhorias implementadas e pensando no mercado profissional local,
disciplinas ligadas ao setor de óleo e gás, gestão da manutenção,
empreendedorismo, gestão ambiental foram incorporadas ao currículo.
183
Engenharia, a aspiração de abordar uma concepção inovadora mais adequada
ao ensino/aprendizagem de Engenharia e a busca de maior integração entre os
cursos de Graduação em Engenharia ofertados na UFRJ-Macaé (UFRJ, 2023).
Além das estatísticas, existem diretivas que devem ser seguidas para a
elaboração de um PPC, a saber: Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para
os cursos de Engenharia instituídas em 2019. Trata-se da Resolução CNE/CES
nº 02 de 2019 que traz em seu cerne as DCNs de Engenharia1 (BRASIL, 2019).
Por DCNs entende-se um conjunto de “(...) princípios, fundamentos, condições
e finalidades (...)” que devem reger e nortear a construção, arranjo,
desenvolvimento e avaliação de um curso de Engenharia nas Instituições de
Ensino Superior (BRASIL, 2021). Percebe-se, assim, que o curso de
Engenharia de Produção da UFRJ-Macaé tem sido revigorado ao longo do
tempo por mudanças em seu currículo. Este relato de experiência apresenta a
trajetória percorrida pelo Curso de Engenharia de Produção da UFRJ-Macaé
com vistas a modernizar o seu PPC ante a necessidades e oportunidades
1 Cabe ressaltar que, em 2021, esta resolução foi atualizada tendo parte de sua redação alterada com base na
Resolução CNE/CES nº 1 de 26 de março de 2021.
184
geradas por mudanças no ensino e no mercado e expansão/atualização do
corpo docente e com vistas a adequá-lo às diretivas vigentes para os Cursos
de Engenharia no território nacional bem como inseri-lo em pautas como
economia digital, verde e circular, data science e transição sustentável.
2. Descrição do problema
Macaé é um município do estado do Rio de Janeiro, situado a 190 quilômetros
a nordeste da capital do Estado. A chegada da Petrobrás, na década de 1970,
possibilitou o desenvolvimento econômico do município e a atração de grandes
empresas prestadoras de serviço no setor de óleo e gás com atuação global.
Atualmente, Macaé é o centro de prestação de serviços para exploração e
produção de petróleo no Brasil e na América Latina, e tem desenvolvido
iniciativas para fazer parte do seletíssimo grupo de principais cidades
energéticas mundiais, conforme a Prefeitura Municipal de Macaé (PMM).
185
Miguel Ângelo da Silva Santos (FeMASS), a Secretária da Educação do
Município e o Colégio de Aplicação.
Figura 2 - Taxa de concluintes por ano de entrada nos cursos de Engenharia do IPoli
186
Fonte: Elaboração própria com dados do SIGA (2022)
Outro ponto negativo da ABI, é a dificuldade de gestão dos três cursos, pois o
sistema de informação da Universidade não é adaptado para esse tipo de
entrada conjunta. Assim, em 2022, o IPoli iniciou um processo para separação
das entradas, com a previsão de operacionalização em 2024.
187
As DCNs de 2019 têm, como principal inovação em comparação a anterior de
2002, o foco no desenvolvimento de competências, em vez de um currículo
conteudista e distante dos problemas reais. No seu artigo 8º, as Diretrizes
explicitam que “as atividades do curso podem ser organizadas por disciplinas,
blocos, temas ou eixos de conteúdos; atividades práticas laboratoriais e reais,
projetos, atividades de extensão e pesquisa, entre outras”. Isso quer dizer que
a Resolução sugere outras maneiras de formação dos estudantes para além
das tradicionais disciplinas.
2 Segundo Bacich e Moran (2018), metodologias ativas são “estratégias de ensino centradas
na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma
flexível, interligada e híbrida”.
3 Projeto integrador é um modelo de trabalho interdisciplinar que aproxima a teoria da prática
ao resolver problemas reais usando o conteúdo de várias áreas de conhecimento.
188
Na realidade da Engenharia de Produção da UFRJ-Macaé, como na grande
maioria dos cursos de Engenharia do país, as disciplinas do chamado “ciclo
básico” estão bem distantes das disciplinas do “ciclo profissional”. Transformar
esse currículo em um integrado, sobretudo com os problemas da sociedade,
exige uma mudança de paradigma dos docentes.
3. Percurso metodológico
Nesta sessão, abordaremos o percurso metodológico para a construção da
reforma curricular no curso de Engenharia de Produção da UFRJ-Macaé
motivada pela mudança nas DCNs das Engenharias. Para isso, foi utilizada a
metodologia de co-criação. As abordagens colaborativas têm sido adotadas por
diferentes setores da sociedade para se projetar futuros desejados, inclusive na
educação (BOVILL, 2020; LUBICZ-NAWROCKA, 2018; GALPIN, 2022; TSUI;
DRAGICEVIC, 2018).
189
Fonte: Holmlid et al. (2015)
190
Fonte: Elaboração própria.
O benchmarking foi iniciado com um workshop para todos os docentes dos três
cursos de Engenharia da UFRJ-Macaé sobre "Novas DCNs de Engenharia e
Curricularização da Extensão" com a professora convidada, Sandra Rufino, do
curso de Engenharia de Produção Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN). Foram apresentados os elementos centrais das DCNs de
Engenharia, da resolução do MEC sobre a curricularização da extensão
universitária (BRASIL, 2018) e um panorama da pesquisa realizada pela
palestrante convidada, a nível nacional, com os cursos de Engenharia sobre a
situação de reforma curricular4. Em seguida, houve um debate em grupos
sobre as possibilidades e estratégias pedagógicas para construção de PPCs
nos cursos de Engenharia de Macaé. Esse workshop foi relevante,
principalmente, porque a partir da experiência da professora Sandra Rufino
houve um aprofundamento no entendimento dos docentes participantes sobre
a importância da extensão e dos projetos integradores nos currículos das
Engenharias.
191
Universidade de São Paulo (USP), UFRN, Universidade Federal do ABC
(UFABC), Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), PUC-
RJ, PUC-SP, UFF, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Unicamp, Universidade de
Brasília (UNB), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). Além disso, também foram estudados modelos de
currículos internacionais de universidades como: Minerva School (EUA),
Université de Lorraine (França) e Universidade Técnica da Dinamarca
(Dinamarca).
192
para que eventuais ajustes fossem identificados e realizados. Os eixos de
conteúdo foram os seguintes: disciplinas relacionadas a processos; disciplinas
voltadas para gestão e administração como Estratégia da Produção, Gestão
Estratégica e Teoria das Organizações; e disciplinas que usavam métodos
quantitativos e estatísticos.
Para ter uma visão dos discentes e egressos sobre o curso, foi feita uma
pesquisa por meio de um formulário do GoogleForms. O formulário foi enviado
por e-mail e respondido por 6 egressos e 14 discentes. As respostas coletadas
tiveram os seguintes temas: a ocupação atual dos egressos; a experiência do
discente no curso de graduação da Engenharia de Produção; as matérias
imprescindíveis no curso de Engenharia de Produção (ciclo básico e ciclo
profissional da grade atual); as matérias que não acharam interessante para o
curso de Engenharia de Produção (ciclo básico e ciclo profissional da grade
atual); e críticas e sugestões.
A partir das respostas, pôde-se perceber que os egressos estão atuando como
empresários, analistas de software, logística e fazendo mestrado. As principais
sugestões para o novo currículo são adicionar os conteúdos de análise de
dados e Power BI. Além disso, as respostas ao formulário mostram
desconexão entre algumas disciplinas do ciclo básico com o ciclo profissional.
193
Essa jornada de construção permitiu, ao final, que a nova grade curricular do
PEP pudesse ser desenvolvida, tentando contemplar as DCNs 2019, as
experiências de outras IES, dos docentes do programa, dos discentes e dos
egressos.
4. Resultados obtidos
A partir das reuniões foram realizadas uma série de modificações com o
objetivo de deixar a grade curricular mais enxuta, eliminar redundâncias e se
adequar às habilidades e conhecimentos que são demandados para um
engenheiro segundo as DCNs de 2019. Entre elas, podemos citar: conversão
de disciplinas obrigatórias em eletivas; criação de novas disciplinas eletivas;
eliminação de projetos finais e criação de projetos integradores; distribuição
das disciplinas do profissional ao longo de todo o curso; e alterações em
disciplinas em relação a seu nome, carga horária, pré requisitos e ementa.
Por último, devido aos altos índices de evasão de alunos, é muito interessante
a distribuição de disciplinas do profissional ao longo de todo o curso. Antes, o
aluno somente teria acesso a essas disciplinas a partir do quinto período.
Agora, desde o primeiro período os alunos irão tendo contato gradual com
194
disciplinas da Engenharia de Produção, o que contribui para aumentar a
motivação dos alunos.
195
5. Lições aprendidas e conclusão
A experiência nos trouxe lições importantes que valem ser consideradas no
processo de concepção. Um dos desafios observados pelo grupo de trabalho
foi o de visualizar a Engenharia de Produção do Futuro. No Brasil,
identificamos cursos com diferentes ênfases curriculares e que os egressos de
Engenharia de Produção estão atuando nos mais variados setores econômicos
e em diferentes atividades nas organizações públicas e privadas. Observamos,
ainda, que as características regionais também impulsionam a rota de
empregabilidade dos egressos. Neste sentido, um questionamento necessário
foi: “C abe dar ênfase no setor energético, de óleo e gás, ou na transição
sustentável, uma agenda forte globalmente?”. Inicialmente, parece-nos que a
formação generalista continua sendo um caminho estratégico, entretanto, sem
renunciar às tendências contemporâneas.
196
Agradecimentos
Como se trata de um trabalho colaborativo, gostaríamos de agradecer a todas
as pessoas que participaram desse processo de construção conjunta: os
docentes de outras IES, os docentes, os discentes e os egressos do PEP da
UFRJ-Macaé. Este trabalho representa um ponto de partida para o estímulo ao
desenvolvimento de pesquisas conjuntas e trocas de experiências
pedagógicas.
Referências
ANE (2021). ENSINO DE ENGENHARIA: Avaliação e perspectivas da ANE. Disponível em
<http://anebrasil.org.br/wp-content/uploads/2022/04/ENSINO-DE-ENGENHARIA.pdf>. Acesso
em 04 de abril de 2023.
BACICH, Lilian.; MORAN. José. (Org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora:
uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.
FRIQUES, Manoel Silvestre; NEPOMUCENO, Vicente. O que pode ser a engenharia no Brasil?
Uma bricolagem teórica. In: Dossiê Engenharia no Entretenimento: perspectivas
interdisciplinares, p. 305-334, 2023
GALPIN, Adam et al. Cocriação curricular guiada por valores: um estudo de caso de reinovação
curricular. A Revista Curricular, v. 33, n. 4, p. 553-569, 2022.
197
PREFEITURA MUNICIPAL DE MACAÉ. Disponível em <https://macae.rj.gov.br/>. Acesso em
25/03/2023.
198
CAPÍTULO XIII
Resumo
Para desenvolver as atividades referentes à sua profissão, o Engenheiro de
Produção, como qualquer outro profissional, precisa apresentar uma série de
competências, em conformidade com a Resolução CNE/CES nº 2 de 24 de
abril de 2019, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos
Cursos de Graduação em Engenharia. Dentre as possibilidades de aquisição e
ampliação das competências, a Resolução trata das atividades
complementares. E dentre as atividades complementares encontram-se os
eventos que promovem conhecimentos técnicos, científicos e gerais. Mas, para
que os eventos possam auxiliar na ampliação das competências de alunos e
egressos é necessário que sejam gerenciados. Para implementar ações em
direção a essa ampliação foi criada uma área específica para desenvolver
eventos, inicialmente para o curso de Engenharia de Produção e,
posteriormente, para toda a Escola Superior Politécnica da UNINTER. A área
se expandiu, em especial durante a pandemia do COVID-19, e hoje busca
contribuir cada vez mais para a melhoria das competências de alunos e
egressos desta Escola. Os resultados se refletem na expansão dos indicadores
quantitativos como, por exemplo, a quantidade de inscritos no canal do
Youtube da Escola Politécnica, que hoje conta com 14.400 inscritos. E também
em indicadores qualitativos como, por exemplo, os elogios aos eventos em chat
e comentários. Este relato descreve como a área surgiu e se estruturou,
proporcionando eventos distintos com um bom alcance e uma boa aceitação
entre os alunos da modalidade EaD.
199
Palavras-chave: DCNs; Engenharia de Produção; Atividades
Complementares.
1. Introdução
O aluno da Educação à Distância (EaD), ao ser o protagonista de suas
escolhas e o responsável por seu processo de aprendizagem, pode ter
dificuldade na ampliação do seu conhecimento, detendo-se somente nas
disciplinas que são apresentadas a ele em seu ambiente virtual de
aprendizagem. Por outro lado, sabe-se que cursar matérias de um curso de
nível superior não é o suficiente para se preparar para uma carreira, para entrar
no mercado de trabalho ou ser um melhor cidadão para a sociedade.
200
esse profissional pode atuar não somente em indústrias,
mas também em organizações prestadoras de serviços e,
até mesmo, como empreendedor, consultor ou auditor.
Assim, espera-se encontrar o Engenheiro de Produção
nas fábricas, mas também em organizações que prestam
os mais diferentes serviços à sociedade, como as
organizações do mercado financeiro, organizações de
saúde, empresas voltadas à inovação, assim como em
empresas do tradicional comércio varejista ou atacadista.
201
universo delimitado pelo seu ambiente virtual de aprendizagem e as disciplinas
nele contidas.
2. Descrição do problema
A busca por ampliar as competências do aluno de Engenharia de Produção em
EaD, para agir em conformidade com as DCNs, trouxe o planejamento de
algumas ações que possibilitassem que esse aluno não se ativesse somente a
grade curricular básica, mas que aproveitasse das oportunidades oferecidas
pelas UNINTER para complementação das suas competências. Dentre essas
oportunidades surge a ideia de estruturar uma área na Escola Politécnica que
fomentasse as atividades complementares, e mais especificamente por meio
de eventos técnicos, científicos e de conhecimentos gerais oferecidos pela
própria Escola Politécnica.
Assim, o problema consistiu em: como adequar os eventos para que todos os
alunos e egressos do curso, em especial os da modalidade EaD, tivessem
acesso a essa oportunidade de ampliação de suas competências?
202
3. Solução desenvolvida (percurso metodológico)
Foi criada em 2017, por meio da iniciativa da Coordenação do curso de
Engenharia de Produção, uma área específica para eventos na Escola Superior
Politécnica da UNINTER, Anteriormente existia uma pessoa que atuava no
planejamento dos eventos, dentre outras atividades, e executou os primeiros
Simpósios Científicos e os primeiros eventos de boas-vindas a calouros. Ao
formalizar-se a área, designou-se uma professora tutora do curso de
Engenharia de Produção para assumir as responsabilidades de conduzi-la.
203
necessário, inicialmente, pensar nos objetivos que a área pretende atingir. Hoje
se entende que os objetivos maiores da área de eventos são:
204
duração de trinta a sessenta minutos. Dentre eles destacam-se o F5! um
programa de conhecimentos gerais, cujas temáticas vão de mobilidade urbana
à discussão sobre os aspectos culturais de histórias em quadrinhos. O
programa Gerir, por sua vez, tem como objetivo tratar de questões de gestão e
comportamento para engenheiros. O Gerir nasceu como um programa
exclusivo para os cursos de Engenharia de Produção e Curso Superior
Tecnológico (CST) em Gestão da Produção Industrial (GPI), mas começou a
ser assistido por alunos de vários outros cursos da Escola. Seu melhor
desempenho foi com uma palestra sobre o uso do Linkedin e hoje ele é
entregue para todos os 26 cursos da Escola Politécnica.
205
possíveis. Divulgação via eflyer, POP UP no ambiente virtual de aprendizagem,
inserção de posts e stories em mídias sociais criadas com o objetivo de
fortalecer os laços com os discentes; premiações; avisos feitos pelos
professores. Nada parecia fazer efeito.
4. Resultados obtidos
As ações implementadas, em especial a certificação e a solicitação de
inscrição, foram prosperando e mais e mais alunos e egressos começaram a
acompanhar programas, participar das Semanas Acadêmicas, e assistir as
lives. Atualmente programas como o F5!, por exemplo, tem participação
síncrona de centenas de alunos. Outro indicador importante é o número de
inscritos.
206
Fonte: https://www.youtube.com/@ESPUninter/featured, 2023
O retorno dos alunos quantos aos eventos tem sido positivo não só em
indicadores quantitativos, mas também em termos qualitativos. Os comentários
tanto no chat ao vivo quanto nas visualizações posteriores aos eventos sempre
vem com muitos elogios, com a impressão de que o evento poderia ter durado
mais tempo, de que o convidado deveria retornar mais vezes, de que o tema
contribuiu para o incremento do conhecimento e das competências de quem
assistiu ao evento, entre outros comentários positivos.
207
que a área se ocupa de todos os 26 cursos da Escola Superior Politécnica,
com todos os alunos (em especial os da modalidade EaD) assim como seus
egressos. Se compreendeu ao longo do tempo a importância da área na busca
de cumprir com o artigo 10º da Resolução CNE/CES nº 2 de 24 de abril de
2019 que diz que as “atividades complementares, sejam elas realizadas dentro
ou fora do ambiente escolar, devem contribuir efetivamente para o
desenvolvimento das competências previstas para o egresso”.
Agradecimentos
Agradecemos ao Centro Universitário Internacional Uninter, a Escola Superior
Politécnica e ao seu Diretor, Prof. Me. Antônio Lázaro Conte, que estimula e
apoia a área de eventos. Agradecemos também a todas as áreas e
departamentos da UNINTER, da Politécnica e do curso de Engenharia de
Produção, que participam dos processos relativos aos eventos organizados
pela Escola.
208
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 2, de 24 de
abril de 2019. Relator: Antônio de Araújo Freitas Júnior. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23
abr. 2019a. Disponível em https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolu%C3%87%C3%83o-
n%C2%BA-2-de-24-de-abril-de-2019-85344528 Acesso em 08 abr. 2023
FIGUEIREDO, Jucelir de Lima; AQUINO, Antonio Fernando da Conceição de; ANDRADE,
Elisandra Neres de; ROSAS, Luzilene Souza. A importância da participação dos estudantes do
ensino superior em eventos científicos para a sua formação acadêmica. Anais do III CONEDU
– Congresso Nacional de Educação, 2016. Disponível em
https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2016/TRABALHO_EV056_MD4_SA4_I
D2844_15082016151347.pdf Acesso em 17 abr. 2023
MENDES, Dayse; AGOSTINHO, Douglas Soares; GAYER, Jéssika Alvares Coppi Arruda;
SANTOS, Kellen Coelho dos. O EaD e a formação de Engenheiros de Produção. In: JORGE,
Welington Junior. Educação à distância: fundamentos, práticas e metodologias. Maringá:
Uniedusul, 2021. Disponível em https://www.uniedusul.com.br/wp-content/uploads/2021/12/E-
BOOK-EDUCACAO-A-DISTANCIA-FUNDAMENTOS-PRATICAS-E-METODOLOGIAS.pdf
Acesso em 08 abr. 2023
UNINTER. Código de conduta Uninter. 2021.
209
CAPÍTULO XIV
Resumo
O ensino e aprendizagem da engenharia no Brasil passaram por
transformações nos últimos anos em função da aceleração tecnológica. O
mercado de trabalho de engenharia passou a exigir um profissional mais crítico
e capaz de resolver problemas. Neste novo contexto, a metodologia de ensino
baseado em competências (CBE) surge como alternativa dos métodos
tradicionais de aprendizagem. O presente trabalho visa apresentar uma
proposta de atividade de ensino experimental que utiliza a aprendizagem ativa
na disciplina de Engenharia de Qualidade do curso de Engenharia de Produção
na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O Laboratório de
Inovação e Fabricação Digital (LIFEELAB) foi escolhido como cenário da
atividade de ensino. Alunos realizam um projeto experimento utilizando a
tecnologia de corte a laser para avaliar a influência de parâmetros de corte
como a potência de corte e a velocidade de deslocamento. São avaliadas
quatro competências nesta atividade. É realizada a avaliação da percepção dos
alunos utilizando a escala Likert. De modo geral, os alunos concordam que as
competências são desenvolvidas através da prática, apresentado pontuação de
4,53, indicando um resultado satisfatório. As competências melhor avaliadas
são as competências técnicas, pois os alunos experimentam gerir um processo
e realizar cálculos que visam a otimização. Por outro lado, as competências
transversais são avaliadas com notas mais baixas, indicando possíveis
melhorias.
1. Introdução
As recentes mudanças tecnológicas foram responsáveis por diversas
mudanças de comportamento humano nos ambientes de trabalho. A
digitalização e a globalização foram peças chave nesse processo (GARAY-
RONDERO; CALVO; SALINAS-NAVARRO, 2019). O mercado de trabalho de
engenharia passou a exigir um profissional mais crítico e capaz de resolver
problemas (EPURE, 2017). Os processos de aprendizagem tradicionais,
baseados em conhecimentos específicos, tem se mostrado pouco eficientes na
formação de profissionais que atendam às necessidades exigidas pelo
mercado (MUSEKAMP; PEARCE, 2015).
211
metodologia notável no processo de ensino da engenharia, o presente trabalho
tem por objetivo desenvolver uma atividade de ensino experimental para o
desenvolvimento de competências nos alunos do curso de Engenharia de
Produção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A próxima
subseção descreverá a situação problemática.
2. Descrição do problema
O curso de Engenharia de Produção está em processo de
reestruturação do currículo para atender as novas diretrizes curriculares da
CNE. Para esse processo está tendo o auxílio de Programa de Modernização
da Graduação (PMG). O PMG é promovido pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior (CAPES) e Comissão Fulbright
no Brasil e tem como objetivo fomentar mudanças nos cursos de engenharia do
país auxiliando no redesenho do currículo baseado em competências, na
inclusão de práticas pedagógicas inovadoras e no desenvolvimento de novos
métodos de avaliação dos discentes (TINOCO et al., 2021). O desafio do
programa é gerar estruturas curriculares inovadoras que permitam equilibrar a
formação técnica e social, estimular o protagonismo, criatividade e a
capacidade de resolver problemas (LEIVA; SEABRA; OLIVEIRA, 2021).
212
5 Integrar novos conceitos, métodos e tecnologias
6 Ofertar valor integrando produtos e serviços
7 Atuar com responsabilidade social
8 Atuar com responsabilidade ambiental
9 Atuar com orientação econômica e financeira
10 Atuar com orientação ao mercado
11 Atuar eticamente, respeitando todos os envolvidos
12 Liderar, trabalhar em equipe e gerir conflitos
13 Comunicar-se de forma oral, escrita e gráfica
14 Aprender continuamente
15 Identificar e resolver problemas da sociedade
Fonte: (LEIVA; SEABRA; OLIVEIRA, 2021)
213
Comparação
Formulação Caracterização
Otimização
3. Procedimentos metodológicos
Os procedimentos metodológicos deste trabalho seguem o mapa
conceitual proposto por Garay-Rondero et al. (2019) para desenvolver e avaliar
competências em alunos de engenharia em espaços de aprendizagem
experimental, conforme apresentado na Figura 2.
214
1. Definir
objetivos
2. Definir
6. Avaliar competências e
resultados e dar características
feedback a serem
Desenvolvendo e trabalhadas
avaliando competências
de alunos de engenharia
em espaços de
aprendizagem
5. Realizar experimental
experimento ou 3. Desenvolver
prática as ferramentas
pedagógica que para as
trabalha as competências
competências
4. Preparar o
espaço
experimental
215
a realização da atividade pedagógica houve supervisão dos técnicos de
laboratório para conduzir os experimentos de acordo com os objetivos. A
apresentação da atividade de ensino é apresentada em mais detalhes na
próxima subseção.
216
analisar os dados coletados e realizar a tomada de decisão para otimizar o
processo.
217
Design de Análise de
• Identificar experimento resultados
característica de
• Coletar dados
qualidade
• Observar
• Identificar variáveis
comportamento
do processo • Empregar
• Definir tipo de do experimento
• Identificar variável experimento ferramenta
de resposta escolhida
• Definir variáveis de
controle e níveis • Apontar
• Definir ferramenta conclusões
de análise Realização de
Problema • Definir instrumento teste
de medição
218
repetições) e definir a ferramenta de análise que melhor se enquadra com o
experimento empregado. Nesta etapa algumas restrições devem ser impostas
por questões de tempo e quantidade de custo envolvida experimentalmente. As
restrições no design experimental são uma realidade e devem fazer parte na
aprendizagem. Nesta etapa instiga-se nos alunos a necessidade da utilização
de uma nomenclatura de amostras para identificação das mesmas.
219
processos, produtos e sistemas
Utilizar matemática e estatística
4,60 0,74 3 5
para aprimorar operações
Liderar, trabalhar em equipe e
4,20 1,26 1 5
gerir conflitos
Comunicar-se de forma oral,
4,33 0,62 3 5
escrita e gráfica
Percepção geral 4,53 0,64 3 5
A primeira competência avaliada foi “Projetar, implementar e otimizar
processos, produtos e sistemas”. O histograma das respostas coletadas é
apresentado na Figura 5. Não houve respostas para as escalas 1 e 2, de modo
a indicar que nenhum aluno discordou que a competência foi desenvolvida na
atividade. A maior parte dos resultados estiveram nas escalas 4 (6 respostas) e
5 (8 respostas), indicando que os alunos concordaram que a competência foi
trabalhada na atividade. Apenas um aluno se manteve neutro em relação
(votou 3) a competência. Segundo a Tabela 1, a média das respostas
atribuídas é de 4,47, indicando um resultado entre “concordo” e “concordo
plenamente”. A atividade proposta exigiu dos alunos a modelagem do projeto
de experimentos e a implementação da sistemática de execução. Independente
dos desafios e dos resultados obtidos pelos grupos, é possível afirmar que a
atividade proposta exercitou a competência de “Projetar, implementar e
otimizar processos, produtos e sistemas”.
220
respostas), indicando que os alunos concordaram que a competência foi
trabalhada na atividade. Dois alunos apresentaram-se neutros em relação
(votou 3) à competência. Este número é maior em relação ao anterior para o
aspecto de neutralidade, porém a mesma competência foi melhor avaliada para
a nota 5. Segundo a Tabela 1, a média das respostas atribuídas é de 4,60,
indicando um resultado entre “concordo” e “concordo plenamente”. Esta foi a
maior média observada na coleta de dados. A atividade proposta exigiu dos
alunos a decisão da distribuição da quantidade de repetições nos
experimentos. A matemática e a estatística foram empregadas para definir
critérios do experimento, como por exemplo a repetitividade dos testes. A
metodologia ANOVA foi empregada para avaliar os resultados e definir quais
variáveis de controle tinham efeito significativo no processo. Deste modo, é
possível afirmar que a atividade proposta exercitou a competência de “Utilizar
matemática e estatística para aprimorar operações”.
221
indicando um resultado entre “concordo” e “concordo plenamente”. Esta foi a
menor média observada na coleta de dados. Além disso, esta mesma pergunta
apresentou maior variabilidade de acordo com o desvio padrão. A atividade
proposta exigiu dos alunos a capacidade de argumentação entre colegas para
solucionar o problema proposto. As notas baixas atribuídas por alguns alunos
podem ter ocorrido pela baixa complexidade atribuída, não exigindo o
desenvolvimento da presente competência. Deste modo, é possível afirmar
que a atividade proposta exercitou em parte a competência de “Liderar,
trabalhar em equipe e gerir conflitos” e sugere-se em próximos trabalhos
aumentar a dificuldade da prática para instigar a comunicação e liderança dos
alunos para solucionar o problema.
222
proposto. Além disso, foi necessário o desenvolvimento de esboços e tomada
de dados. Deste modo, é possível afirmar que a atividade proposta exercitou a
competência de “Comunicar-se de forma oral, escrita e gráfica’”.
223
a instigar o raciocínio dos alunos e consequentemente aumentar o nível de
dificuldade. Além disso, pode-se propor sorteio de grupos. Deste modo a
chance de relações pessoais interferir no processo de desenvolvimento de
competências como “Liderar, trabalhar em equipe e gerir conflitos”, e
“Comunicar-se de forma oral, escrita e gráfica”, pode diminuir.
224
apresentando pontuação acima de 4. As competências melhor avaliadas foram
as competências técnicas, pois os alunos experimentaram gerir um processo e
realizar cálculos que visam a otimização de um processo. Por outro lado, as
competências transversais receberam notas de percepção inferiores e inclusive
com maior amplitude. Acreditou-se que este resultado surgiu pelo baixo grau
de dificuldade proposto e porque houve interferências de relações pessoais.
Para próximos os próximos semestres, sugere-se aumentar a dificuldade dos
experimentos. De modo geral, a prática ficou avaliada em 4,53, indicando um
resultado satisfatório.
Agradecimentos
Os autores agradecem à CAPES, Comissão Fulbright e Embaixada
Americana pelo apoio no âmbito do PMG e ao Conselho Gestor do LIFEELAB
por disponibilizar o espaço para realização da atividade de prática.
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https://portal.abepro.org.br/>. Acesso em: 15/12/2022.
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Plano de ensino de Engenharia da Qualidade A. Departamento de Engenharia de Produção e
Transportes. Escola de Engenharia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Março de
2023.
226
CAPÍTULO XV
Resumo
O presente relato tem como objetivo a proposição e teste de uma
ferramenta que sirva para mensuração da percepção do desenvolvimento de
competências por alunos do curso de Engenharia de Produção da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no contexto do Projeto
de Modernização da Graduação promovido pela Escola de Engenharia da
UFRGS. A ferramenta proposta foi fundamentada nas rubricas desenvolvidas
pelos docentes para a avaliação das competências do perfil do egresso ao
longo do curso e no levantamento da revisão bibliográfica sobre ferramentas de
avaliação de percepções dos alunos sobre o desenvolvimento de
competências. A ferramenta proposta foi validada junto à coordenação do
Projeto e da Comissão de Graduação, tendo o teste de funcionalidade aplicado
com alunos do curso. Os resultados demonstram que a ferramenta proposta
traz insights sobre a percepção do desenvolvimento de competências pelos
respondentes, bem como responde integralmente a questões chave para
validação da sua funcionalidade. A partir do teste da ferramenta, foi proposta
uma segunda versão, a fim de se refinar o que foi proposto inicialmente. Como
resultado, espera-se que o trabalho contribua para a avaliação das percepções
sobre o desenvolvimento de competências pelos alunos do curso de
Engenharia de Produção Engenharia da UFRGS e que sirva de base para
227
estudos futuros sobre avaliação e acompanhamento do desenvolvimento de
competências em cursos de engenharia.
1. Introdução
228
aluno, indicando que um determinado nível do resultado de aprendizagem foi
alcançado (POP-ILIEV e PLATANITIS, 2008).
A partir desta nova realidade, o curso de Engenharia de Produção da
UFRGS redesenhou o seu currículo. Para esse processo, conta com auxílio e
capacitação fomentados pelo Programa de Modernização da Graduação
(PMG). O PMG é promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal em Nível Superior (CAPES) e Comissão Fulbright no Brasil e tem
como objetivo fomentar mudanças nos cursos de engenharia do país auxiliando
no redesenho do currículo baseado em competências, na inclusão de práticas
pedagógicas inovadoras e no desenvolvimento de novos métodos de avaliação
dos discentes. A reformulação do currículo do curso de Engenharia de
Produção da UFRGS está baseada no desenvolvimento de quinze
competências do futuro egresso (TINOCO et al., 2021).
2. Descrição do problema
O projeto de modernização do curso de Engenharia de Produção da
UFRGS prevê a avaliação do desenvolvimento das competências base para o
curso. Para avaliar as quinze competências foram desenvolvidas rubricas, que
é um formato indicado para avaliação de percepção dos alunos sobre o seu
desenvolvimento de competências em processos educacionais (CRUZ, 2019).
A utilização de rubricas é a base para a formação por competências no âmbito
desse projeto (DEMORE et. al, 2021).
Um dos principais stakeholders de uma mudança curricular é o seu aluno
(MAINARDES et. al, 2010). Desta forma, é necessário entender as percepções
dos stakeholders do projeto sobre esse desenvolvimento, a fim de promover a
melhoria contínua da nova estrutura de curso implementada (TINOCO et al.,
2021; TINOCO et. al, 2019). A avaliação das percepções dos alunos em
relação aos serviços de educação fornecidos e, em especial, em relação ao
currículo, é vital para garantir o alinhamento do curso com as demandas de um
dos stakeholders relevantes da instituição de ensino superior (ABBAS, 2020).
Para tanto, é importante que se determine a ferramenta correta de avaliação
das percepções dos alunos, dando enfoque nas questões curriculares e
específicas do ensino superior.
229
O presente trabalho tem como objetivo propor e testar uma ferramenta para
avaliar as percepções dos alunos em relação ao desenvolvimento das quinze
competências do perfil do egresso no novo currículo de Engenharia de
Produção da UFRGS, após o primeiro semestre de implementação do novo
currículo. Para tanto, tem-se como objetivo específico a criação e aplicação de
um questionário para a avaliação do desenvolvimento percebido de
competências.
3. Percurso metodológico
A fim de propor e validar uma ferramenta de análise da percepção dos
stakeholders sobre o desenvolvimento das competências propostas pelo novo
currículo do curso, o processo de investigação se dará a partir de uma
pesquisa quantitativa e exploratória com alunos que tenham passado pelas
disciplinas que são definidas como marcos de avaliação de cada competência
implementada no currículo. Inicialmente, foi realizado um levantamento
bibliográfico não extensivo, em inglês e português, com data a partir de 2000 e
a partir de bases de dados científicas como Scopus, Elsevier, Scielo e
Periódicos Capes, para entendimento sobre como a formação baseada em
competências é inserida no contexto do ensino de engenharia, em que foram
buscados termos como competencies-based education e competencies
development in engineer education. Após, o levantamento bibliográfico se
estendeu para o entendimento sobre métodos empregados para a
autoavaliação e avaliação de percepção sobre o desenvolvimento de
competências por parte de alunos de engenharia. Para isso, foram utilizados na
busca termos como competencies assessment methods, competencies
evaluation methods, competencies evaluation in engineer education e
competencies evaluation in higher education.
A fim de compreender como o processo de aplicação de rubricas foi
estabelecido no âmbito do curso de Engenharia de Produção da UFRGS
(PMG-UFRGS) foi realizada uma entrevista semiestruturadas com duração de
cerca de uma hora com a coordenadora do PMG-UFRGS. Também foi feito o
levantamento de dados secundários disponibilizados pela coordenação do
PMG-UFRGS sobre a alocação de disciplinas escolhidas para avaliar cada
230
uma das competências em três estágios ao longo do curso, e sobre as rubricas
desenvolvidas para cada competência.
Considerando as recomendações da literatura (e. g., CRUZ, 2021; CRUZ,
2019; CHAN, 2020; VERALDO JR., 2017), foi desenvolvida uma ferramenta
constituída por um questionário de perguntas fechadas a ser aplicado com a
amostra (alunos de todos os semestres do curso). Na primeira seção do
questionário foram levantados dados do perfil dos respondentes. A partir
desses dados, é possível analisar a sua influência nas respostas e dar apoio à
tomada de decisão da governança do curso na implementação de melhorias
para o desenvolvimento de competências dos alunos. Os dados do perfil dos
respondentes levantados são: idade, identidade de gênero ao qual se
identificam, etapa em que estão no curso, semestre e ano de ingresso e
atividades extracurriculares que participam ou já participaram na sua vida
acadêmica.
Na segunda seção do questionário, os alunos foram questionados sobre a
sua percepção em relação à sua capacidade para realizar cada um dos
resultados de aprendizagem esperados dentro de cada competência avaliada.
Esse formato se justifica pois em processos de avaliação de competências por
rubricas é necessário que os alunos tenham clareza sobre quais as ações que
são esperadas que eles sejam capazes de realizar para cada nível de
desenvolvimento (VELASCO-MARTÍNEZ e TÓJAR-HURTADO, 2018). Para o
desenvolvimento desta segunda parte do questionário, foi realizada uma
entrevista não-estruturada com a coordenação do PMG - UFRGS para o
entendimento sobre como cada competência pode ser avaliada no decorrer das
disciplinas concluídas pelos alunos. Para cada competência são definidos três
resultados de aprendizagem que estão associados com os saberes (conhecer,
fazer e ser). Para que cada resultado de aprendizagem pudesse ser
mensurado, portanto, foi necessário o levantamento das rubricas que foram
desenvolvidas para cada competência pelo PMG junto com a coordenação da
comissão de graduação e docentes, para serem aplicadas em três estágios ao
longo do curso (básico, intermediário e avançado), a partir de três disciplinas
selecionadas pela sua contribuição ao desenvolvimento de competências,
231
baseado em Demore et al. (2021). A Figura 1 abaixo exemplifica para a
“Integrar novos conceitos, métodos e tecnologias” quais são os resultados de
aprendizagem para cada um dos saberes de uma competência e quais são as
suas rubricas para cada nível de desempenho esperado.
Assume postura Não identifica postura Identifica postura Adota postura Assume postura
proativa/colaborativa na proativa/colaborativa na proativa/colaborativa na proativa/colaborativa na proativa/colaborativa na
Se r busca de soluções com foco busca de soluções com foco busca de soluções com foco busca de soluções com foco busca de soluções com foco
em inovação incrementais em inovação incrementais em inovação incrementais em inovação incrementais em inovação incrementais
ou desruptivas ou desruptivas ou desruptivas ou desruptivas ou desruptivas
232
Fonte: Adaptado de Demore et al. (2021)
A partir do momento em que a ferramenta para avaliação de competências
por parte dos alunos foi elaborada, ocorreu um processo de avaliação com a
Coordenação do PMG-UFRGS através de uma entrevista semiestruturada.
Nesta entrevista, foi levantada a meta de 50% de alunos que devem se
encontrar no nível em desenvolvimento após a conclusão das disciplinas para
cada competência. Tal meta é relevante para que se observe na análise de
resultados se a ferramenta proposta auxilia no levantamento da frequência
desejada de respondentes que deveriam se enquadrar em cada meta de
desenvolvimento de competência.
A divulgação da pesquisa foi feita por e-mail para todos os alunos
matriculados no curso de Engenharia de Produção da UFRGS. Para a análise
descritiva dos dados coletados, foram calculadas estatísticas descritivas para
as seguintes questões: i) Qual é o nível médio de desenvolvimento de
competência percebido pelos alunos para cada competência avaliada?; e ii)
Quais as competências apresentam os maiores desvios de respostas?. Para
que as questões fossem respondidas, foi necessário a conversão dos
resultados obtidos em variáveis quantitativas. As variáveis que dizem respeito
ao nível de desenvolvimento de cada resultado de aprendizagem para cada
competência recebem notas de 1 a 4, sendo 1 o nível iniciante e 4 o nível
avançado. Com isso, foi possível calcular a média referente a cada resultado
233
de aprendizagem e a média referente ao desenvolvimento da competência e o
desvio padrão para os resultados de aprendizagem e para cada competência.
4. Resultados
4.2. Proposição de ferramenta para avaliação da percepção dos alunos
sobre o desenvolvimento de competências
A construção da ferramenta para a avaliação da percepção do
desenvolvimento de competências foi em formato de um questionário on-line. A
ferramenta inicialmente foi composta por sete seções, em que a primeira seção
caracterizou a amostra de respondentes. As seções seguintes tiveram o
objetivo de avaliar as percepções dos alunos sobre o seu desenvolvimento de
competências no nível de desempenho “em desenvolvimento” ao longo das
disciplinas das três primeiras etapas do curso, descritas na Figura 2. A seção 2
do questionário avaliou a percepção dos alunos quanto ao desenvolvimento
das competências de código C5, C7, C8 e C13 que estão mencionadas na
Figura 2. A seção 3 do questionário serviu como um validador para que o
respondente pudesse continuar a pesquisa ao informar se já havia concluído as
disciplinas referentes à coleta de percepção de desenvolvimento das
competências de código C2 e C3, que encontram-se no segundo semestre do
curso. Após essa validação, os respondentes foram direcionados para a seção
4 do questionário que avaliou as percepções das competências mencionadas.
A seção 5 também serviu como validador para que os respondentes pudessem
ser redirecionados para a coleta de percepção do desenvolvimento das
competências de código C6, C12 e C15, que por sua vez foram avaliadas na
seção 6 do questionário. Por fim, a seção 7 do questionário continha um
espaço aberto para feedback e sugestões sobre a ferramenta aplicada.
Para que se pudesse avaliar a percepção dos respondentes sobre o seu
desenvolvimento de competências, foram apresentados os resultados de
aprendizagem de cada uma dessas competências. Desta forma, cada
competência foi avaliada a partir da percepção de três afirmações
correspondentes às dimensões “conhecer”, “fazer” e “ser” apresentadas em
formato de afirmações, totalizando 30 afirmações para todas as seções. Dado
que a quantidade de afirmações foi considerada extensa pelos autores, optou-
234
se por questionar ao respondente qual o nível de desempenho percebido para
cada uma dessas com as opções “iniciante”, “em desenvolvimento”,
“satisfatório” ou “avançado”, que são os níveis de desempenho propostos pelo
PMG-UFRGS. Além de avaliar a média de percepção do desenvolvimento de
cada competência, a ferramenta proposta deve facilitar a visualização da
frequência de respondentes que se identificam com cada um dos quatro níveis
de desempenho esperados para cada resultado de aprendizagem em cada
competência. Essa análise é necessária para que haja o entendimento sobre
quais saberes de uma competência possuem maior percepção de
desenvolvimento na visão dos alunos do curso.
Uma vez que a ferramenta foi disponibilizada para resposta de todos os
alunos do curso, a amostra de resposta se compôs de forma muito
heterogênea. Ao todo, o questionário teve 56 respostas de representantes de
todas as etapas do curso, com ingresso entre o primeiro semestre de 2015 e o
primeiro semestre de 2021 e com idade entre 20 e 30 anos. Além dos aspectos
referentes ao curso, a amostra se caracteriza por ter 60,7% de respondentes
que se identificam com o gênero masculino-cis-gênero e 39,3% se identificam
com o gênero feminino-cis-gênero.
4.3. Análise do nível de desenvolvimento de competência percebido para
cada competência avaliada
Para testar a ferramenta proposta em relação a sua adequação para avaliar
o nível médio de desenvolvimento de competência percebido pelos alunos,
cada competência foi dividida nos seus três resultados de aprendizagem
esperados e que estão alinhados com o conceito da formação de uma
competência, conforme citado na revisão bibliográfica deste trabalho. Ao todo,
foram avaliadas as percepções dos respondentes em 10 das 15 competências
descritas no Quadro 1 (C2, C3, C5, C6, C7, C8, C9, C12, C13, C15). Para que
a percepção média fosse mensurada, cada nível de desenvolvimento de
competência (Iniciante, Em Desenvolvimento, Satisfatório e Avançado) foi
transformado em um valor quantitativo entre 1 e 4. Com os valores definidos
para cada nível de desenvolvimento, foi possível definir qual é o valor médio
que representa a percepção geral da amostra sobre o desenvolvimento de
235
cada competência. Para tanto, calculou-se a média dos valores convertidos
para cada objetivo de aprendizagem e o desvio padrão (Tabela 1).
Tabela 1 - Médias e Desvios Padrão da percepção do desenvolvimento de competências
Média de percepção
quantitativa do Desvio
Competência
desenvolvimento da padrão
competência
2. Gerir sistemas produtivos complexos com visão
2,83 0,81
sistêmica
3. Utilizar matemática e estatística para aprimorar
2,48 0,84
operações
5. Integrar novos conceitos, métodos e tecnologias 2,73 0,84
6. Ofertar valor integrando produtos e serviços 2,56 0,87
7. Atuar com responsabilidade social 2,77 0,86
8. Atuar com responsabilidade ambiental 2,07 0,82
9. Atuar com orientação econômica e financeira 2,79 0,89
12. Atuar eticamente, respeitando todos os envolvidos 2,93 0,87
13. Liderar, trabalhar em equipe e gerir conflitos 2,96 0,86
15. Aprender continuamente 3,26 0,79
Fonte: Autores (2022)
Quando analisados os valores médios para a percepção do
desenvolvimento de competências pelos respondentes, nota-se que as
competências consideradas transversais (C12, C13 e C15) são as
competências mais percebidas como melhor desenvolvidas pelos alunos. Na
sequência, a única competência que apresenta uma média de percepção
superior a 2,8 é a Competência 2, que está relacionada com a capacidade de
gerenciamento de sistemas produtivos complexos com visão sistêmica. Além
disso, há um destaque para a competência 8, que versa sobre a atuação do
estudante com responsabilidade ambiental, que apresenta o menor nível de
desenvolvimento na percepção dos respondentes. Um baixo nível de
percepção também é encontrado na competência que trata da habilidade de
utilizar matemática e estatística para aprimorar operações - Competência 3 -
que tem média de percepção de 2,48, e na Competência 6, que tem uma
média de percepção de 2,56. Tal visualização dos resultados por média de
percepção ajudam a responder à primeira pergunta norteadora de análise
mencionada na seção de Metodologia deste trabalho.
236
Uma vez que a amostra de respondentes é muito heterogênea dentro da
população do curso de Engenharia de Produção, também foi analisada a média
de percepção de desenvolvimento de competências para alunos que estão
cursando até a quinta etapa da graduação, o que representa aproximadamente
metade do curso concluído, e, também, para alunos que já passaram da
primeira metade do curso, sendo representados pelas etapas 6 em diante. Com
isso, foi possível observar que a competência 15 continuou sendo a com maior
percepção de um alto nível de desenvolvimento, porém as demais
competências transversais analisadas apresentaram médias de percepção
inferiores frente às competências 9 e 7. Tais diferenças podem ser percebidas
na Tabela 2, que apresenta as médias e desvios calculados para os dois
grupos analisados (Etapa >= 6 e Etapa < 6).
Tabela 2 - Médias e Desvios Padrão da percepção do desenvolvimento de competências considerando os
dois grupos propostos para comparação
Competência Média Média Média Desvio Desvio Desvio
Geral Grupo - Grupo - Padrão Padrão Padrão
Etapa < 6 Etapa >= 6 Geral Grupo - Grupo -
Etapa < 6 Etapa >= 6
C2 2,83 2,50 2,57 0,81 0,84 0,59
C3 2,48 2,58 2,22 0,84 0,87 0,63
C5 2,73 2,46 2,37 0,84 0,82 0,70
C6 2,56 2,60 2,58 0,87 0,87 0,64
C7 2,77 2,85 3,03 0,86 0,79 0,86
C8 2,07 2,08 1,88 0,82 0,85 0,62
C9 2,79 3,00 2,63 0,89 0,78 1,00
C12 2,93 2,80 2,97 0,87 0,90 0,74
C13 2,96 2,54 2,85 0,86 0,81 0,86
C15 3,26 3,10 3,23 0,79 0,75 0,85
Fonte: Autores (2022)
Outro aspecto que foi avaliado, para analisar se o formato do instrumento
proposto é viável, foi o cálculo do desvio padrão para os dois diferentes grupos
do curso. Como percebido no Quadro 4, há um desvio padrão alto para a
competência 9 no grupo de respondentes que estão na segunda metade do
curso. Tendo esse dado, foi possível investigar se havia algum fator que estava
influenciando essa diferença de percepção a partir da análise da frequência
dos diferentes níveis de desenvolvimento que cada objetivo de aprendizagem
teve. Entretanto, quando analisadas as dimensões “fazer” e “ser”, percebe-se
que os alunos tendem a se identificar mais com o nível satisfatório de
237
desenvolvimento. Essa diferença de percepção faz com que o desvio padrão
para a competência 9 seja maior que os demais.
Dado que a ferramenta proposta para avaliação das competências traz
questões de percepção para cada resultado de aprendizagem, também foi
possível analisar se existe diferença entre os saberes (conhecer, fazer e ser)
para cada uma destas, apoiando a resposta à terceira pergunta norteadora de
análise. Nesse sentido, as competências 2, 6, 7 e 9 são as que apresentam
maior homogeneidade de percepção para os três saberes no nível de
desenvolvimento satisfatório, pois nos quatro casos os respondentes percebem
majoritariamente esse nível de desenvolvimento. Também é possível perceber
que somente a competência 8 tem a maioria dos respondentes percebendo
que está no nível “em desenvolvimento” para os três saberes da competência.
Da mesma forma, apenas a competência 15 possui maioria dos respondentes
com a percepção de estarem no nível avançado de desenvolvimento.
Por fim, a seção 7 da ferramenta proposta levantou comentários qualitativos
sobre a ferramenta aplicada. Nesta seção, apenas 23,3% dos respondentes
trouxeram alguma sugestão ou percepção sobre a ferramenta aplicada.
Destaca-se, entretanto, que cinco respondentes trouxeram comentários sobre
as afirmações sobre o nível de desenvolvimento questionadas ou sobre os
níveis de desempenho que foram apresentados como opções de respostas
para as perguntas.
4.4. Proposição de uma nova versão da ferramenta de autoavaliação de
percepção de competências
A partir dos resultados, foi possível delimitar novos fatores para a
proposição de uma ferramenta que pode ser testada futuramente com uma
amostra mais refinada de respondentes. A primeira seção do questionário
proposto foi validada na sua integralidade, dado que esta alcançou o objetivo
de se caracterizar a amostra de forma que fosse possível uma separação entre
os respondentes e não há necessidade de alteração. No entanto, o formato de
questionamento da percepção do desenvolvimento de competências pelos
alunos, que foi evidenciado como um ponto de melhoria nas respostas
qualitativas à primeira ferramenta, é uma das seções que deve ser alterada.
238
Entende-se que os respondentes podem não ter clareza sobre o que cada nível
de desempenho de uma competência quer dizer, abrindo espaço para
percepções enviesadas sobre o que realmente significa cada um desses níveis.
Sendo assim, a nova ferramenta proposta considera a sugestão de melhoria de
se aplicar o questionário ao final de cada disciplina que é considerada como
um marco de avaliação de competências pelo PMG-UFRGS.
Assim, sugeriu-se que ao invés de existir a possibilidade de o respondente
tirar as suas próprias conclusões sobre o que cada nível de desempenho quer
dizer, que se exponha diretamente as frases que representam cada nível de
desempenho. Por fim, tendo em vista que as metas estipuladas pelo PMG-
UFRGS para o percentual de alunos concluintes das disciplinas que verificam o
desenvolvimento das competências em cada etapa do curso, sugere-se que a
nova ferramenta proposta seja aplicada individualmente para cada
competência ao final de cada disciplina cursada nos períodos letivos. No
Tabela 3 é exposto um resumo das diferenças entre a primeira e a segunda
ferramenta propostas.
Tabela 3 - Diferenças entre as duas ferramentas propostas para avaliação do desenvolvimento de
competências
Aspectos do Questionário Primeira ferramenta Segunda ferramenta
proposta proposta
Número de competências 10 Apenas a competência
analisadas adaptada ao questionário
Número de 40 Entre 10 e 16
perguntas/afirmações
Formato das afirmações para Contém apenas o resultado Contém os descritores que
coleta de percepção do de aprendizagem final com qualificam cada nível de
desenvolvimento de opções de resposta para desempenho
competências cada nível de desempenho
Momento de aplicação Aplicada durante o semestre Aplicada ao final de cada
letivo disciplina correspondente a
cada competência
analisada
Fonte: Autores (2022)
5. Lições aprendidas e conclusão
O presente relato foi desenvolvido a partir da motivação de apoiar no
processo de modernização do curso de Engenharia de Produção da UFRGS, a
partir do seu objetivo central de construir e testar uma ferramenta para
avaliação das percepções do desenvolvimento de competências pelos alunos
do curso. A proposição de uma ferramenta que fosse capaz de mensurar o
239
desenvolvimento de competências trouxe a visibilidade de que o processo de
iteração entre testes e melhorias seja feito continuamente. Além disso, foi
possível perceber que existem aspectos da ferramenta proposta que estão
consolidados, como o formato de mensuração das competências a partir dos
seus saberes e resultados de aprendizagem, mas que precisam de um maior
entendimento por parte dos respondentes que compõem a amostra alvo da
aplicação do questionário. Nesse sentido, sugere-se que os docentes das
disciplinas relacionadas às rubricas de avaliação de competências apresentem
aos alunos essas rubricas no início de cada semestre, deixando claro aos
alunos o que se espera deles no final da disciplina e como serão avaliados.
Assim, com maior diálogo e informação mitiga-se a ideia de que a resposta a
quaisquer coletas de percepções do desenvolvimento de competências
possam ser apenas por motivo de avaliação de performance.
A partir da nova ferramenta proposta e dos aspectos sugeridos para que
o processo de aplicação seja mais coeso e que, também, possa alcançar os
resultados esperados, tem-se a expectativa que o PMG-UFRGS possa avançar
na construção de um modelo que, com o tempo, passe a ser essencial na
melhoria do curso. Com o presente trabalho, ficou evidente a necessidade de
se explorar mais o tema do desenvolvimento de competências dentro do curso,
de modo que somente a repetição de aplicações do instrumento e a
conscientização recorrente dos alunos alcançarão tal objetivo. É possível
salientar, por fim, que a relevância do tema para a melhoria contínua da
graduação em Engenharia de Produção da UFRGS exige que mais trabalhos
explorem os desafios apresentados neste trabalho.
Agradecimentos
Os autores agradecem à CAPES, Comissão Fulbright e Embaixada
Americana pelo apoio no âmbito do PMG para a realização da pesquisa.
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241
TINOCO, M. A. C. et. al. MODERNIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR EM ENGENHARIA:UMA
PROPOSTA PARA O CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA UFRGS In: Congresso
Brasileiro de Educação em Engenharia, XLVII, 2019, Fortaleza. Anais.
TINOCO, M. A. T., DA SILVA FILHO, L. C. P., TEN CATEN, C. S., DE SOUZA, J. S.,
DANILEVICZ, A. M. F., NODARI, C., LIMA, D. R., DUTRA, C. C., DE PAULA, I. C. e RIBEIRO,
J. L. D. Redesenho do Currículo a partir da análise de Stakeholders no curso de
graduação em Engenharia de Produção da UFRGS. Planejamento e Primeiros Resultados
dos Projetos Institucionais de Modernização da Graduação em Engenharia (2019/20).
Programa Brasil-Estados Unidos de Modernização da Graduação em Engenharia (PMG –
Capes / Fulbright) ABENGE, 2021.
242
CAPÍTULO XVI
Resumo
Este relato de experiência apresenta um modelo de processo on-line de
acompanhamento e avaliação para um Projeto Final de Curso de graduação,
aplicado dentro do curso de graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), campus Itajubá, Minas Gerais. Além
da descrição textual deste processo, ele também será apresentado por meio da
notação BPMN (Business Process Model and Notation). Este relato apresenta
ainda as melhorias implementadas neste modelo ao longo dos últimos anos e
as que estão planejadas. Destacam-se neste modelo o uso de planilha on-line
para gerenciamento do fluxo de informações e gestão do fluxo de arquivos
digitais entre alunos e avaliadores, os diversos pontos de avaliação ao longo do
projeto e a participação de alunos da pós-graduação em diferentes etapas,
gerando não somente uma integração com a pós-graduação, mas também com
o Núcleo Docente Estruturante do curso. Este relato finaliza com a descrição
de resultados obtidos com este modelo, tanto do ponto de vista do aluno
avaliado quanto da coordenação. As lições aprendidas são descritas ao final,
destacando a ação necessária do coordenador, uma recomendação de
configuração de compartilhamento da planilha on-line para evitar perdas de
informação e os cuidados necessários na integração com a pós-graduação.
243
1. Introdução
Esta experiência ocorreu dentro do curso de graduação em Engenharia de
Produção da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), campus Itajubá, Minas
Gerais. Neste relato, o Projeto Final de Curso será chamado de Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC), que é a forma utilizada no curso de graduação
citado.
O TCC deste curso de graduação será chamado aqui de TCC EPR. O TCC
EPR deve ser finalizado com a construção de uma monografia e uma
apresentação oral do trabalho desenvolvido, devendo ser considerado um
trabalho individual. Este componente curricular deve demonstrar a capacidade
do aluno de graduação em articular as competências inerentes à formação do
engenheiro, em especial a do engenheiro de produção (PPC EPR, 2021). No
TCC EPR espera-se que o aluno seja capaz de planejar e executar projetos, o
que segundo Oliveira (2019) caracteriza uma atividade fundamental do
profissional em engenharia.
Além destes dois itens, o TCC EPR busca avaliar e fornecer um feedback ao
aluno quanto à sua capacidade de escrita. Escrever bem é uma competência
destacada em Cardoso e Grimoni (2021), reconhecida no mercado como sendo
uma das soft skills.
244
realizada pelo coordenador de TCC. É um processo que apresenta diversos
riscos à sua gestão, sobretudo devido ao grande número de pessoas
envolvidas.
245
2. Descrição do problema
Este modelo começou a ser desenvolvido em 2017, buscando solucionar 4
problemas:
246
Desta forma, a descrição deste modelo implementado dentro do curso de
graduação em Engenharia de Produção da UNIFEI pretende contribuir com a
Educação em Engenharia de Produção no Brasil no âmbito da graduação e da
pós-graduação, por meio desta proposta de integração onde graduação e pós-
graduação são beneficiadas. Na seção a seguir este modelo será detalhado.
247
semestre de 2018 até segundo semestre de 2022) apontaram uma média de
reprovação na defesa parcial de 19,7%.
A função do aluno da pós-graduação, nesta etapa, não será avaliar, mas sim
orientar o aluno de graduação na correção dos erros de formatação, na
organização lógica e na concatenação das ideias no texto, na correção
ortográfica e gramatical. Esta orientação deverá ocorrer 2 semanas antes do
248
“Dia D”, para que 1 semana antes do “Dia D” ocorra a orientação final do
professor orientador.
249
A participação de alunos da pós-graduação na avaliação final do TCC EPR tem
sido bastante significativa. No ciclo mais recente de avaliações (final de 2022),
o percentual de avaliadores que eram alunos da pós-graduação foi de
aproximadamente 42%. As avaliações feitas por estes alunos da pós são
monitoradas pelo coordenador de TCC, que também é um professor da pós-
graduação. Este monitoramento visa passar confiança ao aluno da pós para
emitir seu parecer, orientar em caso de dúvidas e intervir em casos de
equívocos.
250
forma remota tem sido escolhida por orientadores e alunos. A nota final do TCC
EPR é calculada por meio da média ponderada da Nota 1, Nota 2 e Nota 3,
com os respectivos pesos: 5, 3 e 2.
251
NDE a atuar junto aos professores orientadores, de tal forma a definir nos
futuros planos de trabalho de TCC ações que possam ampliar o
desenvolvimento de competências, conforme defendem autores como Oliveira
(2019).
Todo este processo descrito foi modelado por meio da notação BPMN
(Business Process Model and Notation) e representado na Figura 1, Figura 2 e
Figura 3. De acordo com Sordi (2014), o objetivo da notação BPMN é ser um
padrão que permita a comunicação entre os diversos envolvidos nos processos
de forma intuitiva, porém capaz de representar toda a complexidade dos
processos. Corradini et al. (2018) afirmaram que por meio desta notação é
possível descrever, por exemplo, eventos, processos, subprocessos, atividade,
fluxos de execução, associações, entidades participantes e conectores de
fluxos.
252
Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 2 – Segunda parte do modelo do processo de acompanhamento e avaliação do TCC EPR
253
Fonte: Elaborado pelo autor
254
sequencial deve ser conectado. Esta forma foi utilizada para facilitar a
visualização do modelo, que foi dividido em 3 partes. Cada figura possui raias
horizontais (chamadas de lanes) que representam os participantes do
processo. Os pontos onde o fluxo sequencial (linha contínua com conector)
atravessa de uma raia a outra são chamados de handoffs.
4. Resultados obtidos
Este modelo de processo de acompanhamento e avaliação de TCC tem sido
aprovado pelos participantes, incluindo avaliadores convidados de outros
cursos dentro da universidade ou mesmo externos à universidade. Estes
aspectos foram decisivos não somente para a eliminação do uso do papel, mas
também para minimizar os impactos da interrupção das aulas presenciais
durante 2020 e 2021 (pandemia de COVID-19).
Durante a interrupção das aulas presenciais este modelo foi alterado para que
as defesas parcial e final fossem remotas, o que tem se mantido até então,
facilitando não somente a participação de alunos em estágio fora da cidade,
mas também a atuação de avaliadores externos à universidade. O uso da
planilha on-line de acompanhamento durante todo o processo trouxe muita
transparência, facilitando o acesso às informações referentes a todas as etapas
do processo.
A aprovação deste modelo, por parte dos alunos de graduação, pode ser
constatada na Tabela 1. Ela apresenta os resultados de um questionário de 4
perguntas enviado aos alunos avaliados no TCC EPR, ao longo de 6 ciclos de
avaliação (6 semestres).
255
Tabela 1 – Resultados do questionário enviado aos alunos ao longo de 6 ciclos de avaliação
(Nível D: Muito Ruim ou Muito Baixo; Nível C: Ruim ou Baixo; Nível B: Boa, Bom ou Alto; Nível
A: Muito Boa, Muito Bom ou Muito Alto)
Pergunta do questionário Nível D Nível C Nível B Nível A
256
participação em bancas de TCC, o que contribui em provas de título em
concursos. Este resultado referente ao desenvolvimento de competências em
alunos da pós-graduação deverá ser incrementado com a implementação da
etapa de orientação antes do “Dia D”, conforme relatado na seção 3.
257
solução adotada para este problema foi o uso de uma planilha espelho. O
coordenador de TCC mantém duas planilhas iguais, mas com diferenças nas
opções de permissão de edição. Uma planilha é enviada para orientadores e
estes podem inserir nesta planilha os resultados das avaliações na defesa
parcial e no “Dia D”, os nomes dos avaliadores escolhidos, as datas e horários
das defesas. Já a planilha enviada a alunos e avaliadores não permite
nenhuma edição. Neste caso, cabe ao coordenador de TCC espelhar as
informações entre as planilhas, para que visualmente elas sejam iguais. Esta
ação traz também como vantagem a manutenção de um backup atualizado.
Por fim, pode-se concluir que este modelo propicia não somente uma interação
da coordenação de TCC com a coordenação de pós-graduação, mas também
com o NDE do curso de graduação. Esta interação deverá se intensificar com a
implantação do questionário de autoavaliação de competências, que permitirá
alinhar ainda mais o curso às competências definidas no PPC.
Agradecimentos
Para que este modelo pudesse funcionar na prática e trazer os resultados
positivos ao longo dos últimos anos, foi fundamental a participação de várias
pessoas. Desta forma, ficam aqui registrados os agradecimentos à direção do
Instituto de Engenharia de Produção e Gestão da UNIFEI (campus Itajubá); aos
professores deste instituto que atuaram como orientadores; aos professores,
alunos de pós-graduação e convidados externos que atuaram como
avaliadores; à coordenação do curso de graduação em Engenharia de
258
Produção da UNIFEI (campus Itajubá) e aos alunos de graduação que se
empenharam na geração de trabalhos de alto nível.
Referências
CORRADINI, F.; FERRARI, A.; FORNARI, F.; GNESI, S.; POLINI, A.; RE, B.; SPAGNOLO, G.
O. A Guidelines framework for understandable BPMN models. Data and Knowledge
Engineering, v. 113, p. 129–154, jan. 2018.
DUMAS, M.; LA ROSA, M.; MENDLING, J.; REIJERS, H. A. Fundamentals of Business Process
Management. 1. ed. Berlim: Springer, Berlin, Heidelberg, 2013.
ILARI, E.; PEREIRA JUNIOR, A.; BRESCIANI FILHO, E. Modelo diagramático psicológico para
compreensão das relações entre indivíduo, sociedade, natureza e cultura. Acta Scientiarum.
Human and Social Sciences, v. 42, n. 3, 2020.
SORDI, J. O. de. Gestão por processos: uma abordagem da moderna administração. 4. ed.
São Paulo: Saraiva, 2014.
259
CAPÍTULO XVII
Resumo
O Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção (PPGEP) da
UNIFEI, campus Itajubá/MG, visa, sobretudo, formar pesquisadores que atuem
nas organizações como agentes responsáveis por mudanças tecnológicas nas
áreas de gestão de sistemas produtivos. Tendo como demanda a ficha de
avaliação da CAPES estabelecida pela Engenharia III, que avalia o Plano
Estratégico, foi elaborada uma sistemática fundamentada na abordagem
clássica e na gestão por competências. O Plano Estratégico (PE) encontra-se
alinhado ao Plano de desenvolvimento Institucional (PDI) da UNIFEI, sendo o
mesmo o resultado do planejamento estratégico. A responsabilidade da
elaboração do PE foi de uma comissão de quatro docentes do PPGEP, que
coletaram dados secundários (relatório Sucupira, currículo Lattes e base
Scopus), organizaram estes dados para posterior análise por meio de
entrevistas semiestruturadas com os docentes do Programa. Foram revistas a
missão e a visão do PPGEP. Os dados coletados foram agrupados por meio da
matriz SWOT. As principais metas foram: (1) Elevar a nota do PPGEP ao final
do quadriênio (2017 – 2020) de 4 para 5; (2) Elevar a porcentagem de
discentes ingressantes no programa com formação em IES de demais regiões
do país; (3) Manter a quantidade de bolsas de mestrado e doutorado ofertadas
no programa; e (4) Manter o foco na inserção local e regional do PPGEP. Com
o objetivo de atingir as metas propostas, as competências dos docentes e das
260
linhas de pesquisa do PPGEP foram definidas juntamente com as estratégias a
serem seguidas. Como resultados, têm-se: a elevação da nota do Programa de
4 para 5; o aumento na quantidade de bolsas de mestrado e doutorado; grande
parte das teses e dissertações estão sendo direcionadas para que seus
produtos tenham impactos locais e regionais. Com o reajuste do valor das
bolsas espera-se elevar o ingresso de discentes oriundos de demais regiões do
país.
1. Introdução
A Ficha de Avalição dos Programas de Pós-graduação (PPG) stricto sensu
é realizada pela CAPES por meio das 49 áreas de avaliação, sendo uma delas
a Engenharia III responsável pela análise dos PPG, dentre outros, os de
Engenharia de Produção. Os dados dos PPG são coletados anualmente pela
Plataforma Sucupira, por meio do relato dos coordenadores dos PPG, sendo
estes dados homologados pelo Pró-reitor de Pós-graduação.
Os ciclos de avaliação dos PPG são quadrienais, sendo orientados pelos
Documentos de Área que são referência para os processos avaliativos dos
PPG e estão publicados por área de avaliação. Nesses documentos estão
descritos o estado atual da área de avaliação, as suas características e
perspectivas, assim como os quesitos considerados prioritários na avaliação
dos PPG pertencentes a cada uma das 49 áreas (CAPES, 2020a).
A nova Ficha de Avaliação busca valorizar a missão da pós-graduação, que
é formar recursos humanos, e permitirá avaliar o conhecimento que é
produzido nesse processo de formação de mestres e doutores, e o seu
resultado final. O aprimoramento na Ficha de Avaliação resultou em uma
estrutura focada em três quesitos: Programa, Formação e Impacto na
Sociedade. Em cada item destes três quesitos, as áreas de avaliação propõem
as definições e indicadores que sejam adequados às especificidades da área
em cada modalidade, acadêmica ou profissional (CAPES, 2020a).
261
A avaliação quadrienal resulta em notas 3 (regular), 4 (bom) e 5 (muito
bom), e destes últimos se destacam programas excelentes, com notas 6 e 7,
que constituem referências para as Áreas.
O PPGEP teve seu início em 1994 com o programa de mestrado e em 2011
iniciou seu doutorado. Foram titulados mais de 400 mestres e 60 doutores.
Atualmente o PPGEP possui: 16 docentes sendo destes 3 colaboradores; 42
mestrandos e 55 doutorandos.
2. Descrição do problema
262
O programa deve demonstrar que seu planejamento está formalmente
articulado e consistente com o planejamento diretor da instituição que o abriga.
263
Figura 1 – Sistemática para elaboração do Plano Estratégico do PPGEP.
264
3.1 – Etapa 1: Resultados
Para Goleman (2014, p. 30), é preciso elevar a motivação e entusiasmo dos
empregados “evocando um senso de propósito e acrescentando uma dose de
pressão”. Neste sentido, o grande desafio da liderança reside em manter sua
equipe em um alto nível de fidelidade, compromisso e inspiração, mantendo
todos focados no propósito maior. Assim a primeira parte consiste no
estabelecimento dos “resultados”, que são:
Propósito: consiste na descrição da missão que para Drucker (1975)
trata da finalidade da missão institucional como resposta à pergunta
“Qual é o meu negócio e qual deverá ser? Acrescenta-se a visão é o
que a instituição busca no futuro, seus anseios, aspirações, metas e
objetivos (LARUCCIA, 2000, p. 6);
Caminho: são as ações estratégicas e metas estabelecidas pelo
PPGEP (item 2.3 – Plano Estratégico);
Impacto: é a efetividade dos resultados do PPGEP.
265
várias etapas dos processos são realizadas por meio do Sistema Integrado de
Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA) que também limita customizações.
Acrescenta-se aos processos as regulamentações e legislações, bem como
os recursos financeiros e de servidores (docentes e técnico-administrativos)
que delimitam e restringem potenciais ações do PPGEP da UNIFEI Campus
Itajubá.
266
2016), enquanto que as ameaças levam em consideração todos os fatores
externos e não controláveis (OLIVEIRA, 2007) que podem impactar
diretamente na competitividade da organização, devendo identificá-los em
tempo hábil (KUAZAQUI, 2016) e as oportunidades podem levar em
consideração a análise da sua atratividade potencial (em relação a receita ou
resultados da organização) e a probabilidade de sucesso ao desenvolver essa
oportunidade (KOTLER, 1981).
Desse modo, devido a elevada quantidade de dados coletados e
considerando seu caráter sigiloso inerente a qualquer planejamento
estratégico, abaixo são descritos parcialmente estes resultados.
OPORTUNIDADES DO PPGEP
267
2) Ampliação da inserção do PPGPEP na INOVAI (Associação Itajubense de
Inovação e Empreendedorismo) de criação de spin-offs: ambiente de
inovação em decorrência das incubadoras de empresas e do parque
tecnológico;
3) ...
AMEAÇAS DO PPGEP
268
Os valores foram tabulados para cada docente, considerando quando ele
iniciou suas atividades de pesquisa, além de identificar nesta listagem sua
idade, seu tempo de UNIFEI e seu tempo no PPGEP. Uma breve análise
permite identificar a distribuição dos docentes por faixa etária, se existe
heterogeneidade que pode beneficiar o programa à medida que possibilita o
intercâmbio de experiências entre os docentes e suas redes de
relacionamentos, equilibrando a quantidade das produções e, possivelmente,
elevando sua qualidade. Assim como identificar docentes com idades próximas
à aposentadoria, o que pode comprometer significativamente a continuidade do
programa.
Além da análise individual dos 14 docentes do PPGEP, também os mesmos
foram agrupados nas linhas de pesquisa. As linhas de pesquisa foram
consideradas como as competências organizacionais do programa, ou seja,
“Modelagem, Otimização e Controle”, “Qualidade e Produtos” e “Sistemas de
Produção e Logística”.
Como existem docentes que atuam em mais de uma linha de pesquisa
foram elaborados, cinco tabelas e seus respectivos gráficos, a saber:
a autodeclaração de cada docente de sua atuação relativa (%) em cada
linha de pesquisa (atuação declarada);
suas publicações na base Scopus, alocadas relativamente a cada linha
de pesquisa considerando apenas suas publicações
sua participação por linha de pesquisa no total de publicações do
PPGEP ao longo dos anos;
seu número de defesas de mestrado e doutorado, por linha de pesquisa,
alocadas relativamente
sua participação nas defesas de mestrado e doutorado, por linha de
pesquisa no total de defesas do PPGEP ao longo dos anos.
A análise destas tabelas e gráficos permite identificar os docentes que
atuam em apenas uma linha de pesquisa, as linhas de pesquisa com maior
volume de publicações e de defesa de mestrado e doutorado.
Considerando que existem publicações conjuntas entre os docentes foi
elaborada uma matriz que considera as publicações de artigos na base Scopus
269
em conjunto, considerando-se as linhas de pesquisa. A análise desta matriz
permite identificar o grau de colaboração entre os docentes do PPGEP. A
análise desta matriz permite identificar os graus de colaboração entre os
docentes e as linhas de pesquisa do PPGEP.
Utilizando-se como parâmetro às publicações em periódicos indexados
(Scopus e WoS) foi tabulada a categoria da publicação (área da base de
dados) e sua subcategoria (conhecimentos relevantes utilizados na
publicação), esta listagem de categorias e subcategorias foi validada com cada
docente do PPGEP.
O resultado foi uma tabela para cada linha de pesquisa, que ao longo dos
anos 7 últimos anos, tabulou nas linhas as categorias e subcategorias e com as
colunas: total de artigos indexados nas bases Scopus e WoS publicados com
FWCI > 1; número de projetos com financiamento; número de defesas de
mestrado e doutorado; e número de disciplinas ministradas.
Foram consideradas competências PPGEP as categorias e subcategorias
que possuem resultados em todas as colunas (artigo publicado com FWCI > 1;
projetos de pesquisa com financiamento; defesas de mestrado e/ou doutorado;
número de disciplinas ministradas.
Assim pode-se afirmar que as competências estabelecidas no PPGEP são:
simulação; otimização multiobjetivo; DOE; redes neurais; metodologia de
superfície de resposta; previsão; gerenciamento de projetos; desenvolvimento
de novos produtos; e sustentabilidade.
Esta análise identifica as competências atuais do PPGEP que na análise
SWOT contemplou junto aos docentes necessidades de competências a serem
desenvolvidas, bem como tendências futuras.
270
aquisição de material de consumo e diversos serviços, conforme
regras específicas.
O Programa de Demanda Social (DS) e PROEX concedem bolsas de
estudo, nos níveis de mestrado e doutorado.
Dimensões da ficha de avaliação vigente: programa; formação;
impacto na sociedade.
...
No PDI da UNIFEI:
Contratar professores visitantes do Brasil ou do exterior, dobrando o
número de docentes estrangeiros de curta ou longa estadia;
Realizar estágios de pós-doutorado em universidades de prestígio no
exterior;
Estimular a aproximação com grupos internacionais por meio de
editais de financiamento de projetos para vinda de pesquisadores
estrangeiros;
...
271
Os pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades, foram apresentados e
analisados, tendo como resultado sua priorização considerando a ordenação
pelas médias e a opinião dos participantes.
Para a construção da matriz de relacionamentos foram considerados como
prioritários:
5 pontos fortes
7 pontos fracos
4 oportunidades
6 ameaças
A matriz de relacionamento considerou a análise externa e a análise
interna, foram identificadas as relações para cada ponto forte com as
oportunidades e ameaças, bem como os pontos fracos. O valor da célula que
possuía relação foi registrado a multiplicação da média ponto forte com a
média da oportunidade/ameaça. A Figura 3 apresenta parcialmente estes
resultados.
272
Fonte: Autores (2020)
4. Resultados obtidos
Inicialmente, foi constituído um grupo composto por quatro docentes do
PPGEP, que foi responsável pela condução do Planejamento Estratégico e
estabeleceu a sistemática descrita. A primeira fase foi a levantamento de
informações contando com a sensibilização da equipe dos docentes
participantes do Programa; sendo assim, sete docentes foram entrevistados. A
escolha destes docentes foi em virtude da experiência na Pós-graduação e,
bem como, pela composição (equilíbrio) de diferentes linhas de atuação dentro
do Programa.
As informações obtidas pelos docentes entrevistados foram colhidas por
meio de entrevistas semiestruturadas e estas informações auxiliaram, à
princípio, a definir a missão e visão para o Programa de Pós-graduação em
Engenharia de Produção.
A descrição do objetivo geral do PPGEP permite identificar elementos da
missão do programa que são: “Desenvolver, estimular, divulgar e compartilhar
pesquisas aplicadas nas áreas de Engenharia de Produção, com ênfase nas
linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção (PPGEP): Sistemas de Produção e Logística; Modelagem,
Otimização e Controle; Qualidade e Produtos” e “Formar pesquisadores que
273
atuem nas organizações como agentes responsáveis por mudanças
tecnológicas nas áreas de gestão de sistemas produtivos”.
Já os objetivos específicos podem ser contextualizados como objetivos
estratégicos, os quais fornecem elementos para definir a visão do PPGEP. Os
objetivos específicos explicitados são:
“Estimular o ingresso de Pesquisadores ao Corpo Docente do
PPGEP, buscando aumentar a abrangência dos temas de
pesquisa, bem como viabilizar a sustentabilidade do programa
no médio/longo prazos;
274
5. Lições aprendidas e conclusão
Sabe-se a importância da elaboração de um Planejamento Estratégico em
qualquer organização ao auxiliar na tomada de decisões quanto a métodos
capazes de atingir metas e objetivos e, no caso de um plano voltado para a
manutenção do PPGEP. Entende-se o PE como um processo, devendo ser
continuamente analisado e aperfeiçoado, orientado por suas metas e
indicadores de desempenho.
O Planejamento Estratégico foi elaborado por docentes internos e externos
à UNIFEI, sendo eles: Profa. Juliana Helena Daroz Gaudencio, Prof. Carlos
Eduardo Sanches da Silva, Prof. Carlos Henrique Pereira Mello e o Prof. João
Batista Turrioni. Os principais critérios de seleção destes docentes foi sua
experiência na condução de PE e sua experiência na coordenação do PPGEP.
Sabe-se que o planejamento estratégico deverá ser continuamente melhorado
e adaptado para a nova realidade do PPGEP dos próximos quadriênios por
meio do acompanhamento da efetividade das estratégias no cumprimento das
metas propostas, o qual será realizado ao término de cada semestre letivo
pelos indicadores do Programa (ficha de Autoavaliação), e a revisão do foco
das ações estratégicas a cada 2 anos.
Cabe ressaltar a importância em divulgar o Planejamento Estratégico
exposto no Plano Estratégico. Desde sua elaboração faz-se importante a
participação de todos os docentes, discentes, servidores e comunidade, a fim
de promover o crescimento do Programa. Esta primeira versão teve a
participação mais ativa dos docentes, principalmente devido ao prazo solicitado
e indiretamente dos discentes, pois a Profa. Juliana Helena Daroz Gaudencio é
egressa neófita, além do forte convívio existente entre os docentes e os
discentes. Deve-se destacar que a participação da secretária do PPGEP, que é
egressa e teve como tema de dissertação a gestão por competências no
PPGEP. Vários docentes ocupam cargos em órgãos governamentais (SESU,
CAPES e FAPEMIG), em pró-reitorias da UNIFEI, além de participarem
ativamente de grupos de trabalho focados em pesquisa e inovação.
Por fim, o principal resultado obtido com a proposição de metas do
planejamento foi a elevação da nota do Programa de 4 para 5; de modo que as
275
estratégias definidas foram atingidas como, por exemplo, a elaboração do
Relatório de Autoavaliação do PPGEP em consonância com os critérios de
avaliação da CAPES – Engenharia III. Entretanto, a equipe também tem ciência
dos desafios estratégicos que existem para a manutenção das metas e
estratégias propostas.
Agradecimentos
Os autores agradecem a todos os docentes do Programa de Pós-graduação
em Engenharia de Produção da UNIFEI, campus Itajubá/MG, pela participação
na coleta de dados e cumprimento das estratégicas que foram essenciais para
que o Programa cumprisse as metas estabelecidas. Em especial, a comissão
do Planejamento Estratégico.
Referências
CAPES. Orientações sobre o processo avaliativo CAPES Ciclo 2017-2020, 2020a. Disponível
em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-
conteudo/documentos/avaliacao/copy_of_ORIENTAES_PROCESSO_AVALIATIVO_INFORMA
TIVO_1.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2023.
LARUCCIA, Mauro Maia. A missão empresarial. São Paulo: Revista Acadêmica, 2010. 16 p.
Disponível <http://www.fics.edu.br/index.php/augusto_guzzo/article/view/63/0>em: Acesso em
15 fev. 2023.
276
CAPÍTULO XVIII
Resumo
Como trazer um objetivo de superação ao discente de engenharia de
produção, durante a execução do trabalho de conclusão de curso? Em um
cenário com situações intoleráveis (como o serviço de venda de trabalhos
prontos) e desafiadoras (como a disponibilidade de ferramentas como Chat
GPT), uma proposta de potencialização da qualidade dos trabalhos finais dos
discentes trouxeram otimizações de escrita e resultados. Tal metodologia
resultou em 48 publicações (nacionais e internacionais) de mais de 79 alunos
do curso de engenharia de produção (e outros cursos) além de uma
mentalidade diferenciada sobre a produção de uma pesquisa acadêmica no
Brasil e mais 5 países.
277
6. Introdução
É uma das diretrizes de um curso de graduação regular de Engenharia de Produção a
apresentação de um trabalho de conclusão de curso. Por vezes já tido como
monografia, trabalho de conclusão de curso (TCC), trabalho final de graduação (TFG)
ou outras denominações, ele representa uma descrição de uma solução de um
desafio/problema, com a utilização das ferramentas e ensinamentos que o discente
obteve ao longo de sua trajetória acadêmica, com sua apresentação em um formato
padronizado, com a descrição da metodologia (cientificamente comprovada) para a
obtenção dos resultados (CNE, 2002).
Porém, ao longo dos anos, este trabalho acadêmico tem se tornado um tema não
somente repudiado pelos discentes, mas também um elemento muitas vezes explorado
de forma errônea e sua condução tornado um grande desafio para as instituições de
ensino (MEDEIROS et al., 2015, NÓBREGA, 2018, PINTO et al., 2019, THIAGO et al.,
2020, MATSUBARA et al., 2021).
Tal perspectiva motivou uma abordagem diferenciada para tal tema, com
questionamentos e ações, que alinhadas ao cronograma e metodologia pedagógica,
conseguiu trazer uma mudança de paradigma, com resultados que trouxeram
reconhecimento tanto para os alunos, quanto orientadores, bancas e a própria
instituição.
7. Descrição do problema
O grande desafio que foi trabalhado neste caso (que ainda perdura), é o
conceito intrínseco que um TCC traz ao discente, onde não somente situações
de repúdio ou execução forçada de uma pesquisa estão presentes, mas
também o resultado de trabalhos, mal formatados, escritas em desacordo,
resultados irrelevantes e momentos de puro descontentamento durante uma
banca de avaliação (GOMES et al., 2015, PINTO et al., 2019, MATSUBARA et
al., 2021).
Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar um caso de modesto sucesso,
onde alunos de uma universidade particular foram condicionados, desde antes
de entrarem em um TCC, a uma metodologia simples, porém efetiva, de
remodelagem do pensamento sobre os tópicos que compõem a execução,
278
condução, direitos e deveres de tal pesquisa (mesmo que muitas vezes
estejam descritos em edital).
279
avaliação considerada ostensiva, muitas das vezes ofensivas. Além disso,
constata-se que nem sempre o professor da banca tem uma extensa bagagem
de produções científicas (apesar de muita experiencia de mercado), ou o
contrário (um amplo currículo de publicações, mas pouca vivência efetiva de
mercado). Então começou-se a ser ponderado o balanceamento destas
questões: vivência de mercado, publicações e capacidade de avaliação focada
na construção do aluno (mesmo que para penalizá-lo).
Como é (ou deveria ser) processo pós TCC? Depois de defendido o TCC
e registrado na universidade, notou-se que a maioria dos trabalhos com
capacidade de publicação não eram publicados, nem muito menos levados a
diante pelos alunos. Assim, um pensamento foi alinhado: a aluno, não sabe o
que fazer depois de defender seu TCC. Com isso, um questionamento a mais
era realizado: por mais que ainda exigisse um esforço, o orientador não deveria
conduzir a orientação desse aluno para uma publicação? O compromisso do
orientador, mesmo que finalizado com o semestre letivo, não seria o diferencial
para terminar a jornada do TCC em uma revista ou congresso? Então esta
reflexão conduziu ações em que os orientadores teriam este pensamento.
Estes questionamentos, com as respectivas análises motivaram uma
reestruturação da condução dos trabalhos de TCC, buscando um real proposito
de potencialização dos mesmos, com algumas medidas, que não ferem à
estrutura acadêmica proposta pela instituição, mas que tratam algumas
premissas:
Recondicionamento de pensamentos pré-TCC: professores que
desempenhavam o papel de orientadores e bancas começaram, em suas aulas
específicas e em palestras, conversar abertamente com os alunos sobre o
trabalho final do curso. Várias abordagens são realizadas neste momento,
como: possibilidades de mestrado e doutorado, publicações, networking em
eventos, reconhecimentos profissionais, conversa com alunos que publicaram
seus TCCs, uma conversa sobre plágio (não só a penalização e a figuração
dele como possível plagiador, mas também a importância de saber o que é
plágio, pois ele poderia ser plagiado) além de demonstrações de softwares de
reconhecimento de plágio, análise sobre as trapaças de compras de TCCs,
280
tecnologias que podem auxiliar na produção dos textos e resultados, análise
sobre ferramentas como Chat GPT.
Metodologias de condução do TCC considerando a real condição dos
discentes: Nem todos os discentes terão um tempo adequado para realizar um
trabalho de alto impacto, contudo há sim a possibilidade de aumentar de 0% de
publicações de uma turma para 50%, caso seja realizada uma metodologia de
orientação para potencialização da pesquisa. Dentre as metodologias
adotadas: apesar de se ter um semestre letivo para, deve haver uma estratégia
considerando o desempenho e esforço do estudante para o TCC, uma vez que
no semestre ainda haverá provas e trabalhos das demais disciplinas. Por mais
óbvia que seja esta análise, um trabalho realmente efetivo da produção de
capítulos como Introdução, Referencial Teórico e Metodologia antes do período
das primeiras provas aumenta consideravelmente a possibilidade de condução
de um trabalho com resultados mais acurados.
Trabalho de aculturamento sobre um trabalho científico: A grande
maioria dos discentes envolvidos no TCC desconhecem questões como:
currículo Lattes, congressos científicos da área, revistas com a temática do
trabalho, a possibilidade de publicação da pesquisa. O orientador deve assumir
este papel, não somente a orientação técnica. Tal reflexão aqui vai mais do que
simplesmente dizer que estes elementos existem, mas contemplam momentos
de: pesquisar e mostrar congressos relevantes da área, mostrar como é o
processo de submissão de um artigo, apresentar e demonstrar a plataforma
lattes (sugerindo inclusive a análise com outras plataformas, como o
Linkedin®). Além disso neste momento deve ser realizada uma análise prática
da metodologia científica: como um texto organizado por ser melhor
compreendido, como a padronização traz a possibilidade de replicação dos
experimentos e como que trabalhos futuros podem ser realizados por que o
trabalho foi devidamente apresentado e compreendido por leitores, além da
importância de uma citação (e que eles podem ser citados um dia).
Demonstração de trabalhos passados e suas qualidades: Apesar de
haverem plataformas com trabalhos já defendidos na instituição, mostrar como
um trabalho de impacto foi realizado, com análise dos bons costumes aumenta
281
a capacidade do aluno responder questões sérias sobre o trabalho, sem receio
de ter que corrigir sua rota como: meu trabalho é realmente relevante? É
preciso melhorar? Como melhorar? O que há de novo? Como apresentar ele
de uma forma tão impactante, que a banca de avaliação seja uma experiência
de sucesso no meu curso de graduação? Com trabalhos efetivamente prontos,
defendidos, e demonstrados, é possível aumentar o engajamento dos alunos.
Apresentação de possibilidades que se abrem com bons trabalhos: Ao
longo da aplicação da metodologia proposta, bons resultados profissionais
ocorreram com os estudantes que cumpriram a proposta. Assim, uma fala de
tais sucessos aos alunos traz uma motivação muito específica ao estudante.
Contudo isto pode ser muito potencializado quando há o encurtamento da
distância entre a turma que vai escutar o sucesso e a turma que teve o
sucesso. Em uma explicação mais prática: quanto uma turma de 2019.2 fala
para uma turma de 1 ou 2 semestres após (2020.1 ou 2020.2), com o real risco
do apresentador do caso de sucesso ter estudado com o estudante ouvinte, a
possibilidade de engajamento é multiplicada pelo fator “estudei com esse cara”,
o que gera uma potencialização considerável do esforço do aluno em TCC.
Neste momento valem: publicações, promoções, vagas de empregos, sucessos
pessoais entre outros.
A condução de tal metodologia está sendo aplicada desde de 2017 nos
cursos de engenharia de produção.
9. Resultados obtidos
Com a metodologia proposta, foi realizada sua aplicação em orientandos de
TCC de 2017/1 até 2022/1das turmas de Engenharia de Produção de uma
universidade privada de Minas Gerais. Tais resultados serão aqui descritos
sobre 3 vertentes:
Campanhas de preparação do aluno: ações e medidas para
potencialização do engajamento do aluno para o TCC;
Processo de Condução de alunos durante o processo de TCC: Como
foi a condução dos alunos durante o processo de escrita do TCC;
282
Condução do processo de submissão dos trabalhos para congressos
científicos: Desde a análise do potencial do trabalho para publicação até a
apresentação em congresso ou entrega para Revista Científica.
Com relação à primeira vertente, tomando por referência o 2017/1 até o
período de 2019/1, onde o padrão da universidade protocolava que o aluno
deveria selecionar o orientador disponível, a abordagem de palestras e aulas
direcionadas ao assunto de TCC ocorriam durante aulas de disciplinas
estratégicas para o curso, como Pesquisa Operacional, Gestão de Sistemas da
Informação, Tópicos Especiais I e II, Modelagem e Simulação. Durante as
aulas das referidas disciplinas, o professor responsável (que também estava
disponível para orientar trabalhos de TCC) tomava uma aula do semestre, com
motivação de pontuação pela presença e participação, tinha uma palestra
exclusiva que abordava os seguintes pontos:
1 – TCC;
2 – Metodologia Científica;
3 – Como Escrever um artigo;
4 – Possibilidades de Publicação;
5 – Casos de Sucesso.
Por serem matérias de extrema importância, o quórum em tais palestras
sempre esteve em uma média de 80% a 95% aproximadamente. Apesar da
motivação dos pontos, em todas as aulas ministradas haviam feedbacks como:
“Nunca vi um TCC dessa forma”; “há um motivo para isso” ou “não é do jeito
que eu achava”.
O motivo de tal feedback estaria na forma com a palestra é ministrada. A
saber: durante a explicação do item 1 – TCC, é descrito o verdadeiro motivo de
se fazê-lo e das capacidades que um engenheiro deve ter comunicar a
utilização de uma ferramenta para solução de um desafio; porém em uma
linguagem mais coloquial, reconhecendo que o TCC não tem uma divulgação
amistosa no meio acadêmico, figurando mais como uma penalização do que
uma oportunidade. Este “papo aberto” entra inclusive nas práticas de vendas
de trabalhos.
283
Já no item 2 – Metodologia Científica, uma forma simples objetiva é descrita
o que é um artigo científico. Mas como o foco é não repetir o que já é descrito
em templates e editais (padrões de qualquer instituição de ensino), uma
metodologia menos rigorosa foi abordada, apelidado de “uma conversa em um
bar”. Neste momento é contada uma análise de como é “puxa uma conversa
em um bar: você COMEÇA a falar sobre um assunto, pra puxar assunto com
uma pessoa... depois conta o PROBLEMA de fato. Depois você fala seus
argumentos ou técnicas que conhece bem e que te ajudaram a resolver o
problema. Por fim, você fala COMO resolveu o problema e o RESULTADO da
sua solução, e do que você CONCLUIU”. A forma de abordagem deste assunto
(associando a namoros, conversas descontraídas e etc) além de resultar em
atenção do aluno, conseguiu conectar seu raciocínio com seu dia a dia e
associar ao “contar um caso” em um TCC.
No Item – 3 é mostrada uma forma de escrita de um artigo científico, com
uma linguagem mais simples, porém objetiva, descrevendo: o que é uma
introdução, referencial teórico, metodologia, resultados, conclusão, resumo e
referências. Cada um desses temas deforma simples, porém respondendo
dúvidas, por mais simples que sejam (onde notou-se que a abertura para
perguntas, por mais simples que sejam, sanam questionamentos que geravam
erros consideráveis nos trabalhos). Neste momento também é explicado com
maior detalhe o que é um plágio, não somente as penalidades ao aluno adote
esse meio, mas também os direitos que ele tem, além de uma reflexão onde
ele pode ser vítima de um plágio, além da demonstração prática de uma
ferramenta de detecção do problema em questão.
O item - 4 é um dos que figuram entre as maiores novidades para o
discente neste momento. Uma grande maioria (mais de 95%) realizavam
pesquisas para trabalhos acadêmicos, mas nunca tiveram a curiosidade
pesquisar sobre o congresso ou revista que publicou o artigo que leu. Essa
mesma maioria nem cogitava que era possível que pudessem ser um dos
autores deste tipo de artigo.
Por fim, o item - 5 é o mais desafiador dentre eles: demonstrar casos de
sucesso. Em 2017/1 ainda não se tinha um caso específico para demonstrar, o
284
que dificultou (e muito) a assimilação e adoção da metodologia proposta por
parte dos alunos. Porém este item 5 deve ser atualizado a cada semestre.
Como será demonstrado mais a frente, este processo de atualização se
mostrou o grande diferencial desta ação, pois os números e impactos obtidos
em termos de publicação científica mostram a evolução e mudança de
comportamento dos discentes.
Ainda sobre a primeira vertente, deve ser analisada a seguinte questão: a
partir de 2019/2, a instituição de ensino gerou uma matéria específica para
TCC, onde o professor seria o orientador da sala em questão. Assim, até o
semestre de 2022/1 a apresentação da campanha proposta incluía os alunos
regularmente matriculados na matéria de TCC.
Avaliando a segunda vertente, foi feito um processo diferenciado de
condução dos TCCs por parte do orientador sob 3 táticas:
1 – Análise de conteúdos e resultados: Apesar de terem cursado entre 80 a
90% do curso, a escrita científica ainda figura como um desafio para mais de
50% de uma turma de engenharia. Assim, uma proposta desta metodologia é
que o orientador já monte, no primeiro dia de orientação o esqueleto total do
trabalho: Introdução (quantos e quais parágrafos?); Referencial Teórico (quais
temas? Quantas referencias? Que tipo de referências? Quantos parágrafos?
Como descrever o capítulo de Trabalhos Relacionados?); Metodologia (O que
descrever?); Resultado (Quais resultados? Quantos subtópicos? Representar
por figuras ou tabelas?); Conclusão (O que falar? O que dar enforque? Como
Valorizar e demonstrar que houve uma contribuição do trabalho?); Referências
(como montar? Ferramentais que podem auxiliar no processo); Resumo e título
(como e quando construir). Apesar serem devidamente explicados em editais e
aulas do curso, o orientando geralmente carece deste tipo de norteamento
resumido e objetivo. Em discussões polêmicas, foram levantadas questões
como: isso não diminui a capacidade do crescimento do aluno para condução
do trabalho? O que trouxe contra pontos como: ele poderia ter maior
independência, porém o prazo e o peso do trabalho demandam uma maior
participação do orientador.
285
2 – Prazo e monitoramento das entregas por equipe: os prazos estipulados
pela instituição de ensino para entregas e defesas são as referências para os
projetos. Contudo, em uma análise mais minuciosa, durante a orientação
destes trabalhos também considera o período de provas e trabalhos de alta
demanda de esforço do semestre. Assim algumas práticas, um pouco
acentuadas em esforço para o discente foram propostas como: entrega da
melhor versão dos Capítulos de Introdução, Referencial Teórico e Metodologia
com prazo máximo de 45 dias depois da primeira aula do semestre; encontros
(com entregas e evoluções) semanais com 20 minutos para cada equipe;
entrega da primeira versão completa do trabalho com 30 dias antes da semana
da defesa; os 3 últimos encontros são para treinamento da apresentação do
trabalho.
3 – Treinamentos para apresentação: nos treinamentos, além de uma
conversa para preparação dos candidatos, algumas questões devem ser
orientadas aos alunos: qualidade dos slides (a estética e organização das
informações foram organizados na minucia, propondo a utilização de
diagramas, mosaicos e figuras ilustrativas para trazer o máximo de imersão da
banca ao assunto, tornando a apresentação atrativa), oratória (um dos maiores
desafios: o respeito à norma culta da linguagem e postura profissional para
apresentação), comportamento adequado à questionamentos da banca
(principalmente aos que não se sabe a resposta). Neste momento foi verificado
um resultado com um padrão de 80% dos trabalhos: a primeira apresentação
tem um nível de qualidade muito baixo, a segunda já demonstra uma destreza
da equipe de apresentação e a terceira já apresenta capacidade de arguição.
Por fim a Terceira vertente demonstra os resultados em termos de
publicações científicas, como demonstra a Tabela 1.
Pode ser visualizado que houve uma potencialização da qualidade dos
trabalhos acadêmicos, que foram avaliados externamente, por congressos e
revistas, dos mais variados modos. Foram aprovados trabalhos em variados
critérios como:
Revista ou Congresso;
Artigo Completo ou Resumo;
286
Regional, Nacional ou Internacional;
Específico (Engenharia de Produção) ou interdisciplinar (com cursos
como Medicina em parceria).
287
International Conference on Advanced Research in Applied
RASECONF
Science and Engineering
International Conference on Research in Engineering,
REST CONF
Science and Technology
CONBREPRO Congresso Brasileiro de Engenharia de Produção
Evento: IDWEEK / / Revista: Open Forum Infectious
IDWEEK / OFID
Diseases
EMEPRO Encontro Mineiro de Engenharia de Produção
Fonte: Autores (2023)
Os trabalhos desenvolvidos contaram com um suporte dos professores
orientadores e avaliadores, no grande ponto de gargalo: depois da defesa da
banca.
Uma das grandes lacunas que figurou como um grande desafio é manter o
engajamento do discente depois que ele cumpriu suas obrigações com a
Universidade. Assim, o papel dos professores neste momento de manter
contato e orientar o processo de submissão, explicação do aceite,
apresentação e conclusão de todo o processo.
288
Apesar da grande influência do meio acadêmico (e até externo) com
uma predominância negativa sobre o TCC, há a possibilidade de
retomar o engajamento do aluno com um trabalho baseado em
propósitos.
Este trabalho continua em desenvolvimento, em outros cursos, como
Medicina, Engenharia Elétrica, Engenharia Química, Ciência da Computação e
outros.
Referências Bibliográficas
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução nº 11, de 11 de março de 2002. Institui
as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Engenharia. Brasília, DF,
2002.
GOMES, L. M. Q. D., DE CAMPOS FILHO, C. P., MARIOSA, D. F., DEGASPERI, G. R., & DE
OLIVEIRA, R. A. R. A. Trabalho de Conclusão de Curso: uma análise a partir das Diretrizes
Curriculares Nacionais e da legislação sobre o plágio. Série Acadêmica, v. 31, n. jan./jun.,
2015.
289
CAPÍTULO XIX
Resumo
O relato da experiência relacionada à trajetória do PPGEP-UFPE narra os
caminhos percorridos pelo PPGEP-UFPE desde o início de Engenharia de
Produção na UFPE, sendo feito em dois momentos claramente distintos:
expondo a criação do Programa de Pós-Graduação e, em seguida, de tudo que
foi criado a partir dele. São evidenciados ao longo do texto a qualidade na
formação de recursos humanos e o impacto das pesquisas desenvolvidas, que
conduziram ao reconhecimento internacional. Mais que descrever os
acontecimentos importantes que marcaram a trajetória do PPGEP-UFPE como
conquistas e legados, é apresentado a importância do trabalho em equipe e de
uma liderança efetiva em prol de um objetivo maior. Em todo esse caminho foi
fundamental, como fica evidente no texto, a figura de um líder, com visão
inovadora e uma equipe dedicada e motivada por diferentes razões. Equipe
que desenvolveu sua capacidade de liderar e segue em frente com liderança
própria. O relato não apresenta uma receita de sucesso, mas demonstrações
de como o planejamento e a perseverança podem ser recompensadores. Que
o êxito alcançado pelo PPGEP-UFPE seja principalmente inspirador.
Ano Marcos
1996 Plano Diretor com Planejamento Estratégico para Engenharia de Produção da UFPE
2000 O PPGEP-UFPE cria três cursos de especialização (Pós-Graduação lato sensu): Gestão da
Produção, Gestão da Informação e Gestão da Manutenção.
2016 Início de funcionamento do laboratório do NeuroScience for Information and Decision (NSID);
Laboratório de Neurociência e Decisão, no quinto andar do prédio administrativo do CTG;
projeto de infraestrutura Finep
2017 Qualificação de Espaço Físico (quinto andar do prédio administrativo do CTG) do laboratório
do NSID pelo Reitor e Diretor do CTG
2018 Primeira defesa de doutorado com dupla titulação (Toulouse Polytechnique Institute - IRIT)
Agradecimentos
A todos os envolvidos na elaboração do livro sobre a trajetória do PPGEP-
UFPE ao longo dos 25 anos, aos que ajudaram a contar a história e aos que
participaram da história.
Referências
OLIVEIRA, Lucas Antunes; ALENCAR, Luciana Hazin.. A Engenharia de Produção na UFPE:
25 anos do PPGEP-UFPE. Recife: editora UFPE – Vozes da UFPE, 2023.
MAMIYA, Edgar Nobuo. Edgar Nobuo Mamiya: depoimento [jul. 2018]. Entrevistador: Lucas
Antunes Oliveira. Recife, 2018. 1 arquivo .mp3 (14 min.). A entrevista na íntegra encontra-se
transcrita no apêndice do livro Oliveira e Alencar (2023).
MORAIS, D. C.; COSTA, A.P.C.S; De ALMEIDA, A.T. A Estratégia da Engenharia de Produção
da UFPE para o desenvolvimento de cooperação com reconhecimento internacional e seus
impactos. Revista Inovação & Desenvolvimento. v. 3 n. 1 (2023)
PRATA, Alvaro Toubes. Alvaro Toubes Prata: depoimento. [jul. 2018]. Entrevistador: Lucas
Antunes Oliveira. Recife, 2018. 1 arquivo .mp3 (18 min.). A entrevista na íntegra encontra-se
transcrita no Apêndice K deste livro.
Marco Período
Professores do PPGEP como lecturer da MCDM Summer School 2016, 2018, 2022
GDN 2018 Young Researcher Award (Prêmio Jovem Pesquisador GDN) 2018
Membro de corpo editorial do Journal of Risk and Reliability (JRR) 2022 – atual
Visiting lecture for class on preferences elicitation and the meaning of 2021, 2022
weights in additive models and FITradeoff Method for the PhD Course
Strategic Decision Making, Politecnico di Milano
ANO
2020
Prêmio Anpepro/ Danielle À prof.ª Danielle Costa Morais pela liderança http://www.anpe
Prêmio Anpepro/ Ana Paula À professora Ana Paula Cabral Seixas Costa, http://www.anpe
ANO
The Georg Adiel This is the highest form of recognition that the http://www.
Cantor Award Teixeira International Society on Multiple Criteria mcdmsociet
de Decision Making bestows upon a researcher y.org/conten
/
Almeida who has personified the spirit of independent t/
International
inquiry in developing innovative ideas in the
awards
society on
theory and methodology of MCDM,
MCDM -
significantly expanding the tools available to
Multiple MCDM practice.
criteria
decision
making
2022