Você está na página 1de 1289

ANAIS DO SALÃO DE

INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA
UERN
http: // propeg.uern.br/sic/anais
ANAIS DO SALÃO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA
UERN
http: // propeg.uern.br/sic/anais
Catalogação da Publicação na Fonte.
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

Salão de Iniciação Científica (11.: 2020: Mossoró, RN).

Anais [recurso eletrônico] / VIII Semana de ciência, tecnologia e inovação da UERN,


16 a 20 de novembro de 2020 / Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Organizador) – Mossoró, RN:
PROPEG, 2020.
1289p.; PDF

Acesso: http://propeg.uern.br/sic/anais
ISSN: 2526-7841

1. Iniciação científica. 2. Tecnologia. 3. Inovação. 4. Divulgação científica. I.


PROPEG. II. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. III. Título.

UERN/BC CDD 001.42

Bibliotecário: Petronio Pereira Diniz Junior CRB 15 / 782


REITOR
Prof. Dr. Pedro Fernandes Ribeiro Neto

VICE-REITORA
Prof.ª Dr.ª Fátima Raquel Rosado Morais

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PRÓ-REITOR
Prof. Dr. José Rodolfo Lopes de Paiva Cavalcanti

PRÓ-REITOR ADJUNTO
Prof. Dr. Cláudio Lopes de Vasconcelos
EXPEDIENTE
Anais do Salão de Iniciação Científica da UERN (SIC UERN)

Corpo editorial dos Anais

Organização
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

Docentes
Prof. Dr. José Rodolfo Lopes de Paiva Cavalcanti
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação

Prof. Dr. Cláudio Lopes de Vasconcelos


Pró-Reitor Adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação

Prof. Dr. Álvaro Marcos Pereira Lima


Assessor para Questões de Pesquisa

Técnicos Administrativos
Carla Luciana de Oliveira Marques
Hebert Torquato Silva
Ismael Nobre Rabelo
Lauro Augusto Ribeiro Júnior

Estagiários
Igor Bezerra Calado
Sarah Eugênia Viana de Araújo

Sobre os Anais
Edição: 1ª (resumos referentes aos projetos de iniciação científica da edição 2019/2020)
Ano: 2020
Periodicidade: anual
Conteúdo: resumos expandidos
Tipo de Publicação: publicação eletrônica on-line
ISSN: 2526-7841 / ISSN Portal: https://portal.issn.org/resource/ISSN/2526-7841
Idioma: somente em português
Textos: retirados dos resumos expandidos dos projetos de pesquisa dos programas PIBIC, PIBITI e PIBIC-
EM da UERN edição 2019/2020.
Imagens: acervo da PROPEG
Data da Publicação: 25 de junho de 2020
Páginas: 1289
Palavras-chave: iniciação científica, pesquisa, tecnologia, inovação, divulgação científica

Endereço e contato
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPEG
Departamento de Pesquisa – DP
Campus Universitário Central, rua Professor Antônio Campos, s/n, BR 110, km 48
Bairro Presidente Costa e Silva, Mossoró/RN, CEP 59.600-000
Telefones: (84) 3315 2176, 3315 2180, 3312 4839, 3314 9856 - Fax: (84) 3315 2177
e-mails: propeg@uern.br, dp@uern.br, pibic@uern.br
UERN: http://portal.uern.br/
Página dos Anais: https://propeg.uern.br/sic/anais/default.asp?item=sicanais-apresentacao
Página do PIBIC UERN: https://propeg.uern.br//default.asp?item=propeg-iniciacao-cientifica-pibic
APRESENTAÇÃO
A VIII Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte1 (VIII SCTI UERN), com tema geral “Inteligência artificial: a nova fronteira da
ciência brasileira” ocorreu no seu Campus central e seus 05 campi avançados, distribuídos em
06 municípios do Rio Grande do Norte, de modo que as cidades que sediaram o evento foram
Mossoró, Natal, Caicó, Pau dos Ferros, Patú e Assu, no período de 16 a 20 de novembro de
2020. Teve como objetivo geral divulgar, socializar e integrar conhecimentos científicos e
tecnológicos à sociedade não especializada, de modo a contribuir com o desenvolvimento
científico, social e humano do país, em particular do estado do Rio Grande do Norte.
A VIII SCTI UERN agregou simultâneos os seguintes eventos, a saber: XVI Salão de
Iniciação Científica; IX Salão de Iniciação Científica do Ensino Médio; IX Encontro de Pós-
Graduação e Pesquisa da UERN, VII Encontro de Gestão, Empreendedorismo e Inovação, além
do espaço de lançamentos de divulgação científica e cultural.
Nessa oitava edição, articularam-se eventos consolidados e em expansão, onde foram
realizadas conferências, palestras, mesas redondas e apresentações de trabalhos de docentes,
discentes e técnicos administrativos, possibilitando que a comunidade acadêmica e a sociedade
em geral pudessem conhecer e discutir os resultados, a relevância e o impacto das pesquisas
científicas e tecnológicas desenvolvidas pela UERN.
Constituindo-se parte da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o VIII SCTI
UERN contribuiu para expandir e difundir a discussão sobre “Inteligência artificial: a nova
fronteira da ciência brasileira” em direção ao desenvolvimento tecnológico, social e ambiental,
para produzir novos meios e instrumentos visando aumentar o potencial científico e inovador da
nossa região e para definir os horizontes e/ou caminhos a serem trilhados pela UERN na
perspectiva de fortalecer e ampliar sua capacidade produtiva e intelectual em nível nacional.
Os Anais do Salão de Iniciação Científica da UERN2, disponível em
http://propeg.uern.br/sic/anais, resumem esse momento ímpar da pesquisa científica em nossa
Instituição. Compostos por um total de 304 resumos expandidos, distribuídos nas áreas de
Ciências Exatas e Tecnológicas (37), Ciências Humanas (84), Ciências Sociais Aplicadas (49),
Ciências da Vida (80) e Linguística Letras e Artes (54), frutos dos Programas PIBIC, PIBITI e PIBIC-
EM, desenvolvidos no processo de formação de nossos estudantes.

1
Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação da UERN, disponível em: <http://uern.br/eventos/sctiuern/>.
2
ISSN Portal. Publicação eletrônica online, ISSN nº 2526-7841, confirmação disponível em:
<https://portal.issn.org/resource/ISSN/2526-7841>.
Com agradecimentos ao CNPq, pelo importantíssimo e considerável fomento das bolsas
PIBIC, PIBITI e PIBIC-EM, aos alunos, professores, pesquisadores, avaliadores e à comunidade
acadêmica em geral, apresentamos os Anais do Salão de Iniciação Científica da UERN da edição
2019/2020 e convidamos todos e todas a transformá-los em instrumento de consulta e de
estímulo a novas pesquisas, produções e publicações.

Mossoró, 25 de junho de 2021.

Ismael Nobre Rabelo


Chefe do Setor de Institucionalização de Pesquisa da
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Portaria nº 0509/2017 – GR/UERN
Matrícula n° 08160-4

Prof. Dr. Álvaro Marcos Pereira Lima


Assessor da Pró-Reitora de Pesquisa e
Pós-Graduação da UERN - Questões de Pesquisa
Portaria nº 0168/2019-GR/UERN
Matrícula n° 80152-2

Prof. Dr. Cláudio Lopes de Vasconcelos


Pró-Reitor Adjunto de Pesquisa e
Pós-Graduação da UERN
Portaria nº 0428/2017–GR/UERN
Matrícula n° 05333-3

Prof. Dr. José Rodolfo Lopes de Paiva Cavalcanti


Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Portaria n° 0427/2017–GR/UERN
Matrícula nº 04905-0
SUMÁRIO
Grandes áreas: ciências da vida, ciências exatas e da terra, ciências humanas, ciências
sociais aplicadas e linguística, letras e artes.

CIÊNCIAS DA VIDA

A EPIDEMIA DE HIV/AIDS NO BRASIL E SUAS DIFERENÇAS REGIONAIS - José Anderson


Dutra, Raquel Mirtes Pereira da Silva .............................................................................33
A QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE HEMOFÍLICO NO INTERIOR DO RIO GRANDE DO
NORTE: IMPACTO MULTIFATORIAL - Gabriela Zanotto Della Giustina, Isabella Bueno dos
Santos, Junia Camile Pinheiro, Allyssandra Maria Lima Rodrigues Maia .........................37
A RELAÇÃO ENTRE A SOBREVIDA E APOIO FAMILIAR EM MULHERES SUBMETIDAS AO
TRATAMENTO DE CÂNCER DO COLO DO ÚTERO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO
NORTE - Natália da Silva Morais, Linda Kátia Oliveira Sales ............................................42
A SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E SUA APLICABILIDADE NO
CURSO DE GRADUAÇÃO - Fernando Jeferson Queiroz dos Santos, Luiz Paulo Nunes
Neto, Johny Carlos de Queiroz ........................................................................................46
ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: FATORES MOLECULARES, EPIDEMIOLÓGICOS,
CLÍNICOS E ODONTOLÓGICOS - César Antonio Araújo Melo, Jullierme de Oliveira
Morais, Eduardo José Guerra Seabra, Pablo de Castro Santos ........................................50
ANÁLISE BIOMECANICA DE NADADORES: USO DE APLICATIVO MÓVEL PARA
ACIONAMENTO E ESPECIFICAÇÕES DE TREINO DA PLATAFORMA ROBOTICA PABCar -
Amanda Dylana Dantas Cavalcante, Herlan Assis Pereira da Silva, Olympio Cipriano da
Silva Filho, Adalberto Veronese da Costa .......................................................................54
ANÁLISE DA FREQUÊNCIA DE PARTOS RECORRENTES EM ADOLESCENTES NA REGIÃO
OESTE POTIGUAR ENTRE 2006 - 2018 - Hávila Dominique do Nascimento Silva, Ellany
Gurgel Cosme do Nascimento ........................................................................................58
ANÁLISE DAS INFRAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS DE COMPORTAMENTO PROFISSIONAL E
TRATAMENTOS ODONTOLÓGICOS NA REDE SOCIAL INSTAGRAM® - Camila Cristine
Araújo de Oliveira, Gustavo Barbalho Guedes Emiliano .................................................62
ANÁLISE DOS INDICADORES DE SÁUDE BUCAL DOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE - Pedro Allex Queiroz Brito, Samara Carollyne Mafra Soares .........65
ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS NOS SERVIÇOS PÚBLICOS
REALIZADOS NAS REGIÕES DO BRASIL ENTRE 2008 E 2018 - Sandro Alves Mourão,
Georgia Costa de Araújo Souza .......................................................................................69
ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS RELACIONADOS AO CÂNCER NA REGIÃO DE CABEÇA E
PESCOÇO NO RIO GRANDE DO NORTE - Anna Flávia Silveira Batista, Gilmara Celli Maia
de Almeida .....................................................................................................................73
ANÁLISE QUALITATIVA DA PERCEPÇÃO DO PACIENTE HEMOFÍLICO FRENTE AOS
ASPECTOS PSICOSSOCIAIS E CLÍNICOS ATRELADOS À PATOLOGIA - Isabella Bueno dos
Santos, Gabriela Zanotto Della Giustina, Allyssandra Maria Lima Rodrigues Maia .........77
APLICAÇÃO DA TEORIA DE ENFERMAGEM PARA ADESÃO DE PESSOAS AO
TRATAMENTO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL E DIABETES MELLITUS: UM ESTUDO PILOTO
- Géssica Valeska Barbalho Borges, Gilmara Valesca Rocha Batista, Laíse Lizandra Bezerra
de Oliveira Souza, Maria Bianca Brasil Freire, Palloma Rayane Alves de Oliveira Sinézio,
Kalidia Felipe de Lima Costa ............................................................................................82
AS EXPERIÊNCIAS DO ENSINO SOBRE À SAÚDE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NOS
CURSOS DE MEDICINA - Heitor Lenin Lisboa dos Santos, Suzana Carneiro de Azevedo
Fernandes ......................................................................................................................87
ASSISTÊNCIA À SAÚDE AOS ADOLESCENTES COM IDEAÇÕES SUICIDAS NA ATENÇÃO
PRIMÁRIA - Denise Mayara de Souza Pessoa, Elisama Ferreira Paiva, Sâmara Fontes
Fernandes, Rodrigo Jácob Moreira de Freitas .................................................................91
ASSOCIAÇÃO ENTRE ESTILO DE VIDA SEDENTÁRIA E OBESIDADE E AS
CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS E CLÍNICAS EM PACIENTES COM AFECÇÕES
CARDIOVASCULARES - Rayonara Medeiros de Azevedo, Maria Luiza de Araújo Guedes,
Nívia Samara Dantas de Medeiros, Maria Isabel da Conceição Dias Fernandes ..............96
ASSOCIAÇÃO ENTRE OS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM ESTILO DE VIDA
SEDENTÁRIO E OBESIDADE E SEUS COMPONENTES EM PACIENTES COM AFECÇÕES
CARDIOVASCULARES - Nívia Samara Dantas de Medeiros, Maria Luiza de Araújo Guedes,
Rayonara Medeiros de Azevedo, Maria Isabel da Conceição Dias Fernandes ...............100
ASSOCIAÇÃO ENTRE OS FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR E O PERFIL
SOCIOECONÔMICO DOS TRABALHADORES DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO
SUPERIOR (IES) - Izael Gomes da Silva, Maria Dianna Sousa, Laise Lara Firmo Bandeira,
Sara Taciana Firmino Bezerra .......................................................................................104
ATENÇÃO ODONTOLÓGICA ÀS GESTANTES NA REDE DE ATENÇÃO BÁSICA NO BRASIL:
UMA REVISÃO INTEGRATIVA - Raphael Christian Fernandes Medeiros, Georgia Costa de
Araújo Souza ................................................................................................................108
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DE EXTRATOS HIDROALCOÓLICOS DE CHENOPODIUM
AMBROSIOIDES (MASTRUZ) E CRESCENTIA CUJETE (COITÉ) EM STREPTOCOCCUS
MUTANS E STAPHYLOCOCCUS AUREUS - Erik Vinícius Martins Jácome, Mariana Silva de
Bessa, Gilmara Celli Maia de Almeida ...........................................................................112
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DO DIGLUCONATO DE CLOREXIDINA 0,12% E 2% EM
CEPAS DE STREPTOCOCCUS MUTANS E STAPHYLOCOCCUS AUREUS - Mariana Silva de
Bessa, Erik Vinícius Martins Jácome, Gilmara Celli Maia de Almeida ............................116
ATIVIDADE FISICA/PRÁTICAS CORPORAIS NO TERRITÓRIO: PERCEPÇÕES E REALIDADES
DA POLITICA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE - Maria Edna S. Bezerra1, Elison Jefferson S.
Crispim, Themis C. M. Soares .......................................................................................120
AVALIAÇÃO CLÍNICA DE FALHAS EM RESTAURAÇÕES DIRETAS DE RESINA COMPOSTA
EM DENTES ANTERIORES E POSTERIORES - Joice Daiane de Oliveira, Maria Eduarda
Ferreira de Souza, Ana Clara Soares Paiva Torres .........................................................124
AVALIAÇÃO DAS SALAS DE VACINAS NA REDE DE ATENÇÃO PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO
DE CAICÓ/RN - Alexsandro Souza Fernandes, Renata Janice Morais Lima Ferreira Barros
......................................................................................................................................128
AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS ANATÔMICOS E FISIOLPATOLÓGICOS DA INFECÇÃO
PELO HIV/AIDS E DE AUTOCUIDADO POR ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO - Natanias
Macson da Silva, Thiago Luis de Holanda Rego, Letícia de Lima Mendonça, Allyssandra
Maria Lima Rodrigues Maia ..........................................................................................131
AVALIAÇÃO DE USO DO SULFATO DE ALUMÍNIO NO TRATAMENTO DE EFLUENTE
GERADO EM INDÚSTRIA BENEFICIADORA DE VIDRO - Leticia Lamonyely Pereira da
Costa, Yáskara Fabíola de Monteiro Marques Leite ......................................................136
AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS CENTROS DE ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS
(CEO) NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN) - Rayane Emanuelle Nascimento
Silva, Daniela Mendes da Veiga Pessoa ........................................................................140
AVALIAÇÃO DO FLUXO SALIVAR DE USUÁRIOS ADULTOS DO CAPS III: ARTE DE VIVER,
NO MUNICÍPIO DE CAICÓ-RN - Talita da Silva Pinto, Isabela Pinheiro Cavalcanti Lima ....
AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS OROFACIAIS ASSOCIADOS À UTILIZAÇÃO DE
INSTRUMENTOS MUSICAIS DE SOPRO NA REGIÃO DO SERIDÓ POTIGUAR - Adson
Gomes dos Santos, Samara Carollyne Mafra Soares .....................................................144
CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DE DOIS TRECHOS DA REGIÃO ESTUARINA DO RIO
APODI-MOSSORÓ/RN - Raimundo Audei Henrique Junior, Cláudio Diego Gomes de
Paiva, Mariana Almeida de Oliveira, Lucas Vinícius Faustino, Luzia Geize Fernandes
Rebouças, Danielle Peretti ...........................................................................................152
CARACTERIZAÇÃO CITOARQUITETÔNICA DOS NÚCLEOS HABENULARES MEDIANTE
IMUNOHISTOQUÍMICA PARA PROTEÍNA S100B - Alcivan Batista de Morais Filho,
Augusto Ítalo Matos Carvalho, José Rodolfo Lopes de Paiva Cavalcanti .......................157
CARACTERIZAÇÃO DE ESPECIALISTAS PARA APRECIAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE
ENFERMAGEM CONHECIMENTO DEFICIENTE EM PACIENTES SUBMETIDOS À
HEMODIALISE - Bárbara Verônica Damascena de Sousa Medeiros, Maria Gabriela
Dantas de Azevedo Silva, Tayná Martins de Medeiros, Jéssica Dantas de Sá Tinôco .....163
CARACTERIZAÇÃO DOS UNIVERSITÁRIOS COM ÊNFASE PARA A ANÁLISE DE NÍVEIS
PRESSÓRICOS, GLICÊMICOS E CONDICIONANTES - Joyce Oliveira de Sousa, Layane da
Silva Lima, Samara Wiliane dos Santos Silva, José Giovani Nobre Gomes .....................167
CLASSIFICAÇÃO DE MICROORGANISMOS EM AMOSTRAS DE SECREÇÃO TRAQUEAL EM
PACIENTES SUBMETIDOS A VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA - Deyziane Avelino da
Silva, Larissa Rifane Costa, Carmem Josaura Lima de Oliveira, Luzia Cibele de Souza
Maximiniano, Alcivan Nunes Vieira ..............................................................................171
CLASSIFICAÇÃO DE PACIENTES POR CONDIÇÃO OCLUSAL - Mikaele Garcia de Medeiros,
Alison Alexandre Santos Silva, Eduardo José Guerra Seabra .........................................174
COMPOSIÇÃO CORPORAL DE PACIENTES PÓS-CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO
CARDÍACA SUBMETIDOS AO TREINAMENTO INTERVALADO E CONTÍNUO - Alice Kelly
de Souza Oliveira, Jorge Luis Torres Júnior, Ivana Alice Teixeira Fonseca ......................178
COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE ÁRVORES DO CAMPUS CENTRAL DA UNIVERSIDADE
ESTADUAL DO RIO GRANDE DO NORTE, MOSSORÓ – RN - Carlos Walber Batista
Henrique, Diego Nathan do Nascimento Souza ............................................................182
CONHECIMENTO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM SOBRE O BRINQUEDO TERAPÊUTICO -
Jacimara Maria de Medeiros Souza, Marcelly Santos Cossi ..........................................186
CONHECIMENTO DEFICIENTE EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIALISE:
PROPOSIÇÃO DIAGNÓSTICA - Maria Gabriela Dantas de Azevedo Silva, Bárbara Verônica
Damascena de Sousa Medeiros, Tayná Martins de Medeiros, Jéssica Dantas de Sá Tinôco
......................................................................................................................................190
CONHECIMENTO E PRÁTICAS DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E DAS GESTANTES NO USO
DE PLANTAS MEDICINAIS: UMA PESQUISA-AÇÃO - Maria Valéria Chaves de Lima,
Thaina Jacome Andrade de Lima, Kalyane Kelly Duarte de Oliveira ..............................193
DEPRESSÃO, UMA DOENÇA NEUROINFLAMATÓRIA: REVISÃO SISTEMÁTICA - Maria
Alicia Borges Morais, Dayane Pessoa de Araújo ...........................................................197
DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA AMPLIAÇÃO DO USO DO DISPOSITIVO INTRAUTERINO
(DIU) - Antônio de Medeiros Pereira Filho, Isabelle Cantídio Fernandes Diógenes, Patricia
Estela Giovannini ..........................................................................................................201
DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM CONHECIMENTO DEFICIENTE EM PACIENTES
SUBMETIDOS À HEMODIALISE: BUSCA NA LITERATURA - Tayná Martins de Medeiros,
Bárbara Verônica Damascena de Sousa Medeiros, Maria Gabriela Dantas de Azevedo
Silva, Jéssica Dantas de Sá Tinôco .................................................................................206
EFEITOS DO TREINAMENTO CONCORRENTE EM PARÂMETROS NEUROMUSCULARES E
DE COMPOSIÇÃO CORPORAL EM MULHERES - Lucas Nogueira da Silva, Ivana Alice
Teixeira Fonseca ...........................................................................................................211
EQUIPAMENTOS PARA AVALIAÇÃO DA APTIDÃO CARDIORRESPIRATÓRIA DE IDOSOS:
UMA REVISÃO SISTEMÁTICA - Nyáskara Jasminne Santos Soares, Liebson Henrique
Bezerra Lopes, Ezequiel Soares da Silva, Thiago Alefy Almeida e Sousa, Ivana Alice
Teixeira Fonseca, Maria Irany Knackfuss, Glebia Alexa Cardoso, Manoel da Cunha Costa,
Adalberto Veronese da Costa .......................................................................................215
ESTIMULAÇÃO PRECOCE EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA: USO DE APLICATIVO
MÓVEL PARA A PRÁTICA NO LAR - Giovanna Sabrina da Silva Nunes, Fátima Raquel
Rosado Morais .............................................................................................................220
EVOLUÇÃO CLÍNICA DOS PACIENTES COM DOENÇA DE CHAGAS POR TRANSMISSÃO
ORAL - Bruna Souza Ferreira, Eliane de Freitas Oliveira, Wogelsanger de Oliveira Pereira
......................................................................................................................................224
FATORES DE RISCO CARDIOVASCULARES EM TRABALHADORES DO CAMPUS
AVANÇADO DE PAU DOS FERROS (CAPF/UERN) - Laise Lara Firmo Bandeira, Izael Gomes
da Silva, Maria Dianna Sousa, Sara Taciana Firmino Bezerra ........................................228
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA E DIABETES: UMA ANÁLISE SOBRE
ANATOMOFISIOPATOLOGIA BÁSICA E FATORES DE RISCO - Letícia de Lima Mendonça,
Thiago Luís de Holanda Rego, Natanias Macson da Silva, Allyssandra Maria Lima
Rodrigues Maia ............................................................................................................232
INDICADORES BIOLÓGICOS, FUNCIONAIS E DE TREINAMENTO EM FUTEBOLISTAS DE
DIFERENTES CATEGORIAS DE FORMAÇÃO - Arthur Ayron Leonardo da Silva, Paulo Vitor
Pereira da Silva, Marcelo Henrique Alves Ferreira Silva ................................................236
INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: UMA ANÁLISE
SOBRE ANATOMOFISIOPATOLOGIA BÁSICA E FATORES DE RISCO - Thiago Luis de
Holanda Rego, Natanias Macson da Silva, Letícia de Lima Mendonça, Allyssandra Maria
Lima Rodrigues Maia ....................................................................................................240
INFLUÊNCIA DA MÍDIA DIGITAL COMO MÉTODO COMPLEMENTAR DE ORIENTAÇÃO DE
HIGIENE ORAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS - Layanny Silva Soares, Patrícia Bittencourt
Dutra dos Santos ..........................................................................................................245
LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DE ARBUSTOS DO CAMPUS CENTRAL DA UERN,
MOSSORÓ-RN - Maria Izabel Mendonça Pessoa, Diego Nathan do Nascimento Souza
......................................................................................................................................250
LEVANTAMENTO PRELIMINAR E DIVERSIDADE DE FORMIGAS (HYMENOPTERA:
FORMICIDAE) EM MOSSORÓ, RN - Damiana Rodrigues Agostino, Eduarda Silva de
Oliveira, Maisa Clari Farias Barbalho de Mendonça ......................................................254
LISTA DE ESPÉCIES HERBÁCEAS E SUBARBUSTIVAS PRESENTES NO CAMPUS CENTRAL
DA UERN, MOSSORÓ-RN - Deyse Karoline Alves Costa, Diego Nathan do Nascimento
Souza ............................................................................................................................259
MATERIAIS E DADOS ENVIADOS POR CIRURGIÕES-DENTISTAS AOS LABORATÓRIOS DE
PRÓTESE DENTÁRIA PARA CONFECÇÃO DE PRÓTESES TOTAIS E PARCIAIS REMOVÍVEIS
- Matheus Lopes da Silva, Francisca Janiele Pinheiro Pereira, Ana Clara Soares Paiva
Torres ...........................................................................................................................262
MONITORAMENTO POPULACIONAL DE AEDES SPP NO CAMPUS CENTRAL DA UERN
UTILIZANDO ARMADILHAS DE OVIPOSIÇÃO (OVITRAMPAS) - Fabricia Diana Vieira, Ana
Soares de Oliveira, Iron Macêdo Dantas .......................................................................266
NÍVEIS PRESSÓRICOS ASSOCIADOS A ESTRESSE E GÊNEROS EM UNIVERSITÁRIOS -
Samara Wiliane dos Santos Silva, Joyce Oliveira de Sousa, Layane da Silva Lima, José
Giovani Nobre Gomes ..................................................................................................272
NÍVEIS PRESSÓRICOS EM UNIVERSITÁRIOS: DADOS CLÍNICOS, ANTROPOMÉTRICOS,
HÁBITOS ALIMENTARES E SEDENTARISMO - Layane da Silva Lima, Joyce Oliveira de
Sousa, Samara Wiliane dos Santos Silva, José Giovani Nobre Gomes ..........................276
O SUPORTE BÁSICO E AVANÇADO DE VIDA FRENTE AOS RISCOS E ACIDENTES
OCUPACIONAIS NO SAMU - Larysy Raquelly Vidal de Souza, Natanias Macson da Silva,
Izete Soares da Silva Dantas Pereira, Ellany Gurgel Cosme do Nascimento .................280
PAINEL MULTIFACETADO DO PACIENTE COM HANSENÍASE E DO SEU NÚCLEO
FAMILIAR - Tassio Danilo Rego de Queiroz, Ellany Gurgel Cosme do Nascimento ........285
PERCEPÇÃO DE MULHERES SOBRE O RETORNO DA ATIVIDADE SEXUAL NO PUERPÉRIO
- Maria de Fátima Santos de Medeiros, Roberta Kaliny de Souza Costa .......................289
PERFIL BIOLÓGICO E DE DESEMPENHO DE JOVENS FUTEBOLISTAS EM FASE DE
ESPECIALIZAÇÃO - Paulo Vitor Pereira da Silva, Arthur Ayron Leonardo da Silva, Marcelo
Henrique Alves Ferreira Silva ........................................................................................293
PERFIL CLÍNICO DE PACIENTES QUE DEMANDAM TRS DURANTE A INTERNAÇÃO EM UTI
- Sarah Glícia de Medeiros Dantas, Carmem Josaura Lima de Oliveira, Evilamilton Gomes
de Paula, Luana Adrielle Leal Dantas, Alcivan Nunes Vieira ..........................................297
PERFIL DOS TRABALHADORES DO CAMPUS AVANÇADO DE PAU DOS FERROS
(CAPF/UERN) - Maria Dianna Sousa, Laise Lara Firmo Bandeira, Izael Gomes da Silva,
Sara Taciana Firmino Bezerra .......................................................................................300
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA QUEILITE ACTÍNICA EM TRABALHADORES RURAIS
SINDICALIZADOS DE CAICÓ-RN - Luanna Mayrany Alves Costa Silva, Jamile Marinho
Bezerra de Oliveira Moura ............................................................................................304
PERFIL LEUCOCITÁRIO DE ESCOLARES DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE
MOSSORÓ/RN - Thalita Fernanda de Jesus Pires, Gilka Torres Barisic, Dayseanne Araújo
Falcão ...........................................................................................................................308
PREVALÊNCIA DA DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR ASSOCIADA AOS FATORES
PSICOLÓGICOS NOS DISCENTES DOS CURSOS DE ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM DA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE –CAICÓ/RN - Caio Rodrigues
Maia, Daniela Mendes da Veiga Pessoa ........................................................................313
PREVALÊNCIA DAS LESÕES DE MUCOSA BUCAL E SEU IMPACTO NA QUALIDADE DE
VIDA DE ESCOLARES - Marília Marlene Nóbrega, Patrícia Bittencourt Dutra dos Santos
......................................................................................................................................317
PREVALÊNCIA DE ANEMIA NA POPULAÇÃO IDOSA ENTRE OS GÊNEROS NO MUNÍCIPIO
DE MOSSORÓ-RN - Lara Candice Costa de Morais Leonez, Micheline Morgane Figueiredo
Costa Souza, Samillys Valeska Bezerra de França Silva, José Rodolfo Lopes de Paiva
Cavalcanti, José Edvan de Souza Júnior ........................................................................322
PREVALÊNCIA DOS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM ESTILO DE VIDA SEDENTÁRIO E
OBESIDADE EM PACIENTES ADULTOS COM AFECÇÕES CARDIOVASCULARES
HOSPITALIZADOS - Maria Luiza de Araújo Guedes, Rayonara Medeiros de Azevedo, Nívia
Samara Dantas de Medeiros, Maria Isabel da Conceição Dias Fernandes ....................327
PROTOCOLO DE DESENVOLVIMENTO DO BIOBANCO DE DENTES HUMANOS - Lucas
Dantas Pereira, Gustavo Barbalho Guedes Emiliano ....................................................331
QUEILITE ACTÍNICA E SUA ASSOCIAÇÃO COM FATORES OCUPACIONAIS, HÁBITOS DE
VIDA E SAÚDE DE TRABALHADORES RURAIS DE CAICÓ-RN - Maria Helaynne Diniz Faria,
Jamile Marinho Bezerra de Oliveira Moura ..................................................................333
RELAÇÃO ENTRE TRANSTORNOS MENTAIS, CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA E PERFIL DE
SAÚDE BUCAL DE ADULTOS E IDOSOS DO CAPS III - Matheus da Silva Regis, Isabela
Pinheiro Cavalcanti Lima ..............................................................................................337
REUSO DO EFLUENTE DE PISCICULTURA NO CULTIVO DE Vigna unguiculata
(FABACEAE): ASPECTOS FISIOLÓGICOS E BIOQUÍMICOS - Rayonasna Lo-Ruama Filgueira
da Silva, Leandro de Paula Bezerra, Tawanny Kayonara Borges de Aguiar, Letícia Lima de
Macedo, José Hélio de Araújo Filho ..............................................................................341
SABERES E PRÁTICAS DOS CUIDADORES DE CRIANÇAS COM MICROCEFALIA ACERCA
DA ESTIMULAÇÃO PRECOCE - Gabriel Victor Teodoro de Medeiros Marcos, Cintia
Mikaelle Cunha de Santiago Nogueira ..........................................................................345
SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA DA PESCA ARTESANAL NO BRASIL -
Adalcina Fernandes Ferreira, Andrezza Graziella Veríssimo Pontes ............................349
SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM X PROJETO PEDAGÓGICO DE
CURSO - Luiz Paulo Nunes Neto, Fernando Jeferson Queiroz dos Santos, Johny Carlos de
Queiroz .........................................................................................................................353
TEATRO COMO DISPOSITIVO TERAPÊUTICO EM SAÚDE MENTAL - Lídia Stéfanie Dantas
Silva, Dulcian Medeiros de Azevedo .............................................................................357
USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E INCLUSÃO SOCIAL: UM ESTUDO NO CENTRO DE
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS - Patrícia da Silva Moura, Paula
Renata da Cunha, Dulcian Medeiros de Azevedo .........................................................361
CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

ACELERAÇÃO DO UNIVERSO E MODELOS DE QUINTESSÊNCIA - Mateus Felipe Araújo


Medeiros, Fábio Cabral Carvalho, Maria Aldinez Dantas ..............................................366
AME+: UMA APLICAÇÃO WEB COMO MEIO DE PROMOÇÃO AO ALEITAMENTO
MATERNO E PREVENÇÃO AO DESMAME PRECOCE - Lucas Gabriel Figueiredo Duarte,
Thalia Katiane Sampaio Gurge, Cicília Raquel Maia Leite ..............................................370
ANÁLISE DA VULNERABILIDADE NATURAL À PERDA DO SOLO DO MÉDIO CURSO DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO APODI MOSSORÓ-RN - Victor Elias Leite, Franklin
Roberto da Costa ..........................................................................................................374
ANÁLISE DE DESEMPENHO DE UM MIDDLEWARE ADAPTATIVO ATRAVÉS DA
MINERAÇÃO DE PROCESSOS - Bruno Paulino Marinho, André Gustavo Pereira da Silva
......................................................................................................................................378
ANÁLISE PERTURBATIVA DE MODELOS DE ENERGIA ESCURA - Lucas Leopoldo
Rodrigues Dantas, Fábio Cabral Carvalho .....................................................................381
APLICAÇÃO DE COAGULANTE DE ORIGEM VEGETAL NO TRATAMENTO DE EFLUENTE
DE UMA UNIDADE INDUSTRIAL DE PRODUÇÃO DE MOLHOS E CONDIMENTOS - Rossine
Ferreira da Silva Junior, Janete Jane Fernandes Alves ..................................................385
APLICAÇÃO DO MÉTODO JUST IN TIME PARA ELABORAÇÃO DO CALENDÁRIO
ACADÊMICO - Adriel Carneiro Leão do Nascimento, Carlos Heitor Pereira Liberalino .389
APLICAÇÃO MÓVEL PARA AUXILIAR NA REABILITAÇÃO DE PACIENTES COM DISFAGIA
OROFARÍNGEA - Allan Kardec Cunha, Exlley Clemente dos Santos, Cicília Raquel Maia
Leite .............................................................................................................................394
BIOTRACKER: FERRAMENTA PARA RASTREAR LARVAS DE POLVOS - Paulo H. Lopes,
João P. Trindade, Mateus de Carvalho Costa, Anderson Abner de S. Souza, Wilfredo
Blanco ..........................................................................................................................398
CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A FLORA DA SERRA DO JATOBÁ, NO MUNICIPIO DE
SÃO RAFAEL/ RN - Jefferson Santos Ferreira, Aldemberg Araújo, Valdir Fernandes
Gadelha Júnior, Manoel Cirício Pereira Neto ...............................................................402
DESENVOLVENDO UM SISTEMA DE LOCALIZAÇÃO POR SMARTPHONE BASEADO EM
SENSORES INERCIAIS - Christian Lima Freitag, Anderson Abner de Santana Souza .....406
DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA RASTREAMENTO DE CARDUMES DE PEIXE
ZEBRAFISH - Daniel Teodolino Barbosa Torres, Bruno Cruz de Oliveira .......................410
DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA WEB COLABORATIVO PARA OBJETOS DE
ROBÓTICA EDUCACIONAL - Kefton David Nunes de Melo, Sebastião Emidio Alves Filho
......................................................................................................................................414
DESENVOLVIMENTO DE UMA FERRAMENTA BASEADA EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
PARA DIAGNÓSTICO DE SEGURANÇA EM REDES DE COMPUTADORES - Davi Oliveira
Rebouças, João Roberto, Emídio Lopes, Isaac de Lima Oliveira Filho ..........................418
DESENVOLVIMENTO DE UMA FERRAMENTA PARA RECONHECIMENTO E CONTAGEM
DE LARVAS DE CAMARÃO - William Arcanjo Mendes de Morais, Adriana Takahashi ..422
DETERMINAÇÃO DE TRÂNSITO PLANETÁRIO POR MEIO DE TRANSFORMADA DE
FOURIER - Bruna Karla de Sousa, Bráulio Batista Soares ..............................................426
EFEITOS DA INTERAÇÃO DIPOLAR NA NUCLEAÇÃO DE VÓRTICES EM NANO-CILINDROS
FM1/NM/FM2 - Ellen Mileide Amorim Costa, Maria das Graças Dias da Silva ............430
ESTUDO, ANÁLISE E IMPLEMENTAÇÃO DE UM NETWORK OPERATION CENTER EM UM
LABORATÓRIO DE ENSINO E PESQUISA DE REDES DE COMPUTADORES - Francisco M.
da C. Monteiro, Rommel W. Lima .................................................................................434
EXCITAÇÕES DE VÓRTICES POR CORRENTE POLARIZADA DE SPIN - Severino Diogo
Rodrigues Dantas, Ana Lúcia Dantas .............................................................................438
INVESTIGAÇÃO DAS FASES MAGNÉTICAS DE BICAMADAS DE TERRAS-RARAS ATRAVÉS
DE MEDIDAS DE HISTERESE TÉRMICA - Anderson Alves Gurgel, Francisco Queiroz,
Vamberto Dias de Mello ...............................................................................................442
MÉTODOS DE PURIFICAÇÃO DE SEBO BOVINO PARA OBTENÇÃO DE BIODIESEL - Maria
Eduarda de Oliveira Cruz, Lilia Basílio de Caland ...........................................................448
MINING_RNA: SISTEMA WEB PARA MINERAÇÃO DE DADOS EM ESTUDOS
TRANSCRIPTÔMICOS A PARTIR DE MICROARRANJOS - Marcos Vinícius Pereira
Diógenes, Carlos Renan Moreira, Pedro Victor Morais Batista, Christina Pacheco Santos
Martin, Cicília Raquel Maia Leite ..................................................................................452
OS EFEITOS DO ACONSELHAMENTO ERRADO DE UM AGENTE VIRTUAL: ESTUDO
PILOTO - Daniel Teodolino B. Torres, Althierfson Lima, Maria José Ferreira, Alberto
Signoretti, Raul Benites Paradeda ................................................................................456
OTIMIZAÇÃO DE ROTEAMENTO DE VEÍCULOS APLICADO À LOGÍSTICA DE
DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR NO RN - Carolayne Barreto
da Silva, Roberval Gonçalves Moreira Filho, Francisco Chagas de Lima Júnior ............461
PREDIÇÃO DE SÉRIES TEMPORAIS UTILIZANDO REDES NEURAIS - Marcos Fonseca,
Sandino Jardim, Harold Ângulo ....................................................................................465
PREPARAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL E MAGNÉTICA DE MNFE2O4
OBTIDO A PARTIR DE MINERAIS - Antonio Aldivan Dantas Melo, Fernanda Costa de
Medeiros, João Maria Soares .......................................................................................470
PRODUÇÃO, CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL E MAGNÉTICA DE HEXAFERRITA DE
BÁRIO USANDO MINERAIS - Sandro Elierton de Oliveira Duarte, Carlos Henrique
Nascimento Cordeiro, João Maria Soares .....................................................................474
PRODUTO ENERGÉTICO EM NANOPARTÍCULAS BI-MAGNÉTICAS DO TIPO
NÚCLEO/CASCA COM GEOMETRIA CILÍNDRICA - Samuel Pedro Gomes, Leonardo
Linhares Oliveira ...........................................................................................................478
PROPOSTA DE META-HEURÍSTICAS EVOLUTIVAS HÍBRIDAS PARA O PROBLEMA DO
CORTE BIDIMENSIONAL GUILHOTINADO - Anderson Coelho Goulart, Alan Douglas
Carvalho Rebouças, Dario José Aloise ...........................................................................483
PURIFICAÇÃO DOS MINERAIS PRECURSORES USADOS NA PREPARAÇÃO DA FERRITA
DE MANGANÊS - Antonio Aldivan Dantas Melo, Fernanda Costa de Medeiros, João Maria
Soares ..........................................................................................................................487
REDUÇÃO DE DIMENSIONALIDADE APLICADA A BIG DATA: UM ESTUDO DE CASO COM
CIDADES INTELIGENTES - Hélio Victor Apolinário Soares, Pamela Jéssica da Silva,
Maximiliano Araújo da Silva Lopes ..............................................................................491
REPOSITORE: CRIAÇÃO DO PROGRESSIVE WEB APP USANDO O FRAMEWORK
ANGULAR E GOOGLE FIREBASE COMO BAAS - Cleyton Carlos Santos Costa, Sebastião
Emidio Alves Filho ........................................................................................................495
SISTEMA PARA RASTREAMENTO, TRATAMENTO E MONITORAMENTO DO DIABETES
GESTACIONAL INTEGRADO AO PRENEONATAL+ - Jorge Luiz Silva Braz, Rodrigo Costa
Brito, Cicília Raquel Maia Leite .....................................................................................499
TRATAMENTO DE EFLUENTES DA INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO DA CASTANHA DE
CAJU USANDO CACTÁCEAS COMO COAGULANTES/FLOCULANTES NATURAIS - Antônia
Laísa Oliveira da Silva, Keurison Figueiredo Magalhães2, Danyelle Medeiros de Araújo,
Suely Sousa Leal de Castro ............................................................................................503
UM ESTUDO DE TÉCNICAS DE AGRUPAMENTO PARA DADOS NÃO CONVENCIONAIS -
Iago Henrique de Oliveira, Rosiery da Silva Maia, Adriana Takahashi ..........................507
USO, CAPTAÇÃO E QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA ÁREA URBANA DO
MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN - Isabel Cristina Silva Ferreira, Lucas Matheus Garcia
Tôrres, Filipe da Silva Peixoto .......................................................................................510
VÍNCULOS OBSERVACIONAIS SOBRE MODELOS DE QUINTA-ESSÊNCIA - Gabriel da Silva
Rodrigues, Edesio Miguel Barboza Junior .....................................................................514

CIÊNCIAS HUMANAS

“GUARDIÃO DA CULTURA MOSSOROENSE”: VINGT-UN E A DIFUSÃO DA CULTURA


CIENTÍFICA - Lílian Marineth Almeida Bezerra, Francisco Fabiano de Freitas Mendes .520
A EDUCAÇÃO E O PROCESSSO DE COMUNICAÇÃO PELO AFETAMENTO - Vinícius
Campelo Pontes Grangeiro Urbano, Jucieude de Lucena Evangelista ..........................523
A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO PME: INDÍCIOS POLÍTICOS E OS DESAFIOS PRÁTICOS NA
ESCOLA PÚBLICA - Alicy Daliane de Melo, Aldeci Fernandes da Cunha .......................528
A ÉTICA NA VOZ DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO - Ravana Ayra Ramos de
Carvalho, Giovana Carla Cardoso Amorim ...................................................................532
A EXPERIÊNCIA SOCIAL DOS ESTUDANTES DA EJA: COMO É QUE ISSO VIRA CURRÍCULO
PRATICADO NA ESCOLA? - Maria Eliza de Araújo Berto, Francisco Canindé da Silva ....536
A FORMAÇÃO EMANCIPATÓRIA - Débora Laiza Souza Maia, João Marcos Ribeiro dos
Anjos, Maria Mikaelly Fonseca Nogueira, Vivian Liégia de Araújo Santos, José Teixeira
Neto .............................................................................................................................539
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO EDUCADOR INFANTIL: QUAIS OS SABERES QUE
ALICERÇAM A PRÁTICA NO COTIDIANO DA SALA DE AULA? - Adeilza Pereira Wanderley,
Juliana Raquel Miranda Dantas, Giovana Carla Cardoso Amorim ................................542
A GUARDA NACIONAL NA PROVÍNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE: ESTADO, PODER E
SOCIEDADE (PRIMEIRA FASE: 1831-1850) - Sávyo Gustavo Fernandes Pereira, Fábio
André da Silva Morais ...................................................................................................546
A LINGUAGEM INFANTIL: O LEITOR CAMPESINO NO CENTRO DO PROCESSO - Jesany
Sahara de Sousa Oliveira, Halina Márcia da Silva, Giovana Carla Cardoso Amorim .......550
A PRÁTICA CIENTÍFICA EM FEIRA DE CIÊNCIAS NA ESCOLA - Índara Liliane da Silva Souza,
Simone Cabral Marinho dos Santos .............................................................................554
A RELAÇÃO ENTRE LAICIDADE E O ENSINO RELIGIOSO NO SISTEMA PÚBLICO DE
ENSINO BRASILEIRO - Jane Cleide Soares Belo, Valdicley Euflausino da Silva ...............559
ALGUMAS CONTRADIÇÕES DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA MUNICIPAL EM
MOSSORÓ NA CONSIDERAÇÃO DO PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL - Carlos Daniel Silva e Souza, Jionaldo Pereira de Oliveira ...............................562
ANTROPOLOGIA NA ESCOLA: RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E RELIGIOSIDADE AFRO-
BRASILEIRA NO ENSINO MÉDIO - Camilly Emanuele Fernandes Gomes, Felipe Marinho
Santiago, Lucas Lima Bezerra, Rita de Cássia Nóbrega Clementino, Pedro Vitor Gomes de
Araújo, Vitorio Honorato de Freitas Pereira, Eliane Anselmo da Silva .........................566
APROXIMAÇÕES À DISCUSSÃO DA DESIGUALDADE EDUCACIONAL - Cássia Gercina de
Sousa Jácome, Maria Eduarda de Oliveira Bezerra Medeiros, Iasmin da Costa Marinho
......................................................................................................................................570
ARQUIVOS ESCOLARES, PRÁTICAS EDUCACIONAIS E RELIGIOSIDADE: UM ESTUDO
DOCUMENTAL DO EDUCANDÁRIO NOSSA SENHORA DAS VITÓRIAS - Kivia Dulce
Fonseca, Sara Raphaela Machado de Amorim .............................................................574
AS REDES SOCIAIS COMO FORMA DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA - Josefa Agleuda Campos
Ferreira, Telmir de Souza Soares ..................................................................................579
AS RELAÇÕES COLABORATIVAS ENTRE MUNICÍPIO E UNIÃO NA IMPLEMENTAÇÃO DE
POLÍTICAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES VINCULADAS AO PLANO DE
AÇÕES ARTICULADAS (PAR) - Antonio Gilson Fernandes de Oliveira, Francisca Edilma
Braga Soares Aureliano ................................................................................................583
AS SIGNIFICAÇÕES DE UMA PROFESSORA PRECEPTORA SOBRE O RESIDÊNCIA
PEDAGÓGICA /UERN - Larissa Júlia Souza Santos, Maria Leidiane A. Marinho Honorato,
Clea Fiama de Andrade Freire, Antônia Batista Marques ............................................587
ASPECTOS SOBRE FORMAÇÃO DOCENTE EM ENSINO RELIGIOSO E CATIMBÓ-JUREMA
- Carlos Alexandre Medeiros, Valdicley Euflausino da Silva .........................................591
AUTONOMIA E LIBERDADE: POR UMA PROPOSTA EDUCACIONAL EMANCIPATÓRIA A
PARTIR DE O MESTRE IGNORANTE DE JACQUES RANCIÈRE - José Marcus Guedes de
Araújo, José Teixeira Neto ............................................................................................594
CAMINHOS DA DOCÊNCIA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: O DESVELAR DO SUJEITO EM
FORMAÇÃO - Maria do Desterro Ciriaco de Souza, Leilia Roseane da Costa Silva, Ricardo
dos Santos Pereira, Suênia de Lima Duarte ..................................................................598
CAMINHOS PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NA ESCOLA -
Josélia Carvalho de Araújo, José Elias de Oliveira Silva ................................................602
COMISSÃO NACIONAL DE FISCALIZAÇÃO DE ENTORPECENTES E O COMBATE À “ERVA-
MALDITA” NO NORDESTE (1936-1964) - Carlos Eduardo Martins Torcato, Eric Sousa .606
COMO LIDAR COM A VIOLÊNCIA NA ESCOLA? - Ellen Yasmim da Silva Lira, Larine Sofia
da Silva Lima, Paula Vitória Leandro Bezerra Rocha, Wendel Kawann da Silva Simões,
Jean Mac Cole Tavares Santos ......................................................................................610
CURRÍCULO E EMANCIPAÇÃO SOCIAL NA EJA: UMA ABORDAGEM PLURAL - Rayda
Cristina Lopes, Francisco Canindé da Silva ...................................................................613
CURRÍCULO POR ITINERÂNCIA: O CINEATRO COMO ENTRE-LUGAR DE FORMAÇÃO DE
PROFESSOR - Antonio Alves de Oliveira Neto, Cláudia Maria Felício Ferreira Tomé ...617
DA DESORBITAÇÃO À ESPERANÇA EM GABRIEL MARCEL - Karla Janayna Mendes Cruz,
Marcos Érico de Araújo Silva ........................................................................................621
DEMOCRACIA EM REDE: DA MODULAÇÃO DE COMPORTAMENTO À POLARIZAÇÃO
POLÍTICA NA WEB - Gleicy Kelly de Morais Lopes, Telmir de Souza Soares .................625
ECONOMIA POLÍTICA DA CIDADE: OS IMPACTOS DA INDÚSTRIA CIMENTEIRA NOS
MUNICÍPIOS DE BARAÚNA (RN) E RUSSAS (CE) - Fábio Ricardo Silva Beserra, Ana Beatriz
Barros de Araújo ...........................................................................................................629
ECONOMIA POLITICA DA URBANIZAÇÃO EM ZONA FRONTEIRA: O ALTO OESTE
POTIGUAR NO CONTEXTO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - Antonia Mirele
Lopes da Silva, Larissa da Silva Ferreira Alves ...............................................................633
EDUCAÇÃO RURAL E SALA MULTISSERIADA: DESAFIOS PARA PRÁXIS DOCENTE - Mércia
Daniely da Silva, Kamila Costa de Sousa .......................................................................637
ENSINO RELIGIOSO: CAMINHOS E POSSIBILIDADES ÉTICAS PARA A SUPERAÇÃO DAS
PRÁTICAS CONFESSIONAIS - Paulo Cavalcante de Albuquerque Melo, Valdicley
Euflausino da Silva ........................................................................................................641
ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UERN NA FORMAÇÃO
INICIAL DAS (OS) ESTUDANTES - Lívia Maria Lins de Queiroz Xavier, Maria Cleonice
Soares ..........................................................................................................................644
ESTUDO DA PRODUÇÃO DE SABERES SOBRE AS SECAS POR MEIO DA COLETÂNEA
“LIVROS DAS SECAS” (1980-1991) – SÉRIE C, COLEÇÃO MOSSOROENSE - Carlos
Henrique Gomes Silveira, Lindercy Francisco Tomé de Souza Lins .............................648
ESTUDOS ICONOGRÁFICOS: REPRESENTAÇÕES DE CULTURAS ESCOLARES E PRÁTICAS
EDUCATIVAS - Wigna Maria Macêdo Oliveira Nascimento, Sara Raphaela Machado de
Amorim ........................................................................................................................652
EXPANSÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSO EM EDUCAÇÃO NA REGIÃO
NORDESTE (1998–2017): AVANÇOS E DESAFIOS - Talita da Silva, Allan Solano Souza .656
FONTES PARA A HISTÓRIA POTIGUAR: a transição do Regime Militar no jornal Gazeta
do Oeste (1977-1978) - Liliane Sonara Sousa Gomes, Marcílio Lima Falcão ...............660
FORMAS DE COMÉRCIO E NOVOS ESPAÇOS DE CONSUMO SOB A URBANIZAÇÃO DA
CIDADE DE PAU DOS FERROS (RN) - Vinícius Freitas Barros, Josué Alencar Bezerra .....664
GEO-GRAFIAS E DINÂMICAS TERRITORIAIS DOS SUJEITOS ATINGIDOS POR BARRAGEM
DO RIO GRANDE DO NORTE: UM ESTUDO SOBRE SÃO RAFAEL - Reginaldo Leonardo
Júnior, Débora Bento Tavares, Zenis Bezerra Freire .....................................................668
GEOGRAFIA ESCOLAR NO CONTEXTO DO SEMIÁRIDO: ESTUDO DE CASO NA ESCOLA DE
ENSINO FUNDAMENTAL TARCÍSIO MAIA, PAU DOS FERROS (RN) - Maria Elvira Lopes
de Oliveira, Cícero Nilton Moreira da Silva ...................................................................673
GRUPO ESCOLAR ALMINO AFONSO: UM IMPONENTE MONUMENTO ESCOLAR NA
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE MARTINS/RN - Thaís da Salete Gomes da Silva, Joseane
Abílio de Sousa Ferreira ................................................................................................677
GRUPO REFLEXIVO DE MEDIAÇÃO BIOGRÁFICA: EXPERIÊNCIAS DOCENTES PARA
FORMAÇÃO INICIAL EM PEDAGOGIA - Amanda Cibelly Costa dos Santos, Ana Karoliny
de Souza Silveira, Roberta Ceres Antunes Medeiros de Oliveira ..................................681
IMAGEM COMO METODOLOGIA DE PESQUISA: A REPRESENTAÇÃO E O REAL NO
TEATRO IMAGEM - Adriele Erika da Silva, Ysmilla Katalana de Oliveira Figueredo, Hélio
Junior Rocha de Lima ....................................................................................................685
INCLUSÃO DE ALUNOS COM AUTISMO NA ESCOLA PÚBLICA: A EXPERIÊNCIA DE
PRÁTICAS INCLUSIVAS DE UMA PROFESSORA - Cynthia da Silva Pereira, Maria Luiza da
Silva Leite, Normândia de Farias Mesquita Medeiros ...................................................689
INCLUSÃO DE DISCENTES COM DEFICIÊNCIA: O QUE PROPÕE O ESTATUTO DA PESSOA
COM DEFICIÊNCIA – A EFETIVAÇÃO DE DIREITOS NA UERN - José Bezerra Neto, Ana
Lúcia Oliveira Aguiar .....................................................................................................693
JESUÍNO BRILHANTE: O BANDOLEIRO DOS SERTÕES DO NORTE DO BRASIL NO SÉCULO
XIX - Maíra Oliveira de Sousa, Francisco Linhares Fonteles Neto .................................697
MAPEAMENTO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS DE TERREIROS EM MOSSORÓ
(PRIMEIRA ETAPA) - Israela Míriam de Melo, Eliane Anselmo da Silva ........................701
MAPEAMENTO DE EGRESSOS DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO (FE/UERN): identificar
percursos formativos, (re) avaliar ações institucionais - Poliana Raquel Morais Pereira,
Marcia Betania de Oliveira ...........................................................................................706
MÍSTICA DO DESPRENDIMENTO EM MESTRE ECKHART - Járison Vicente Tintim, José
Teixeira Neto ................................................................................................................710
MODULAÇÃO DELEUZIANA, MODULAÇÃO ALGORÍTMICA E MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA
NA SOCIEDADE DE CONTROLE - Nicolas Samuel Gomes Leitão, Telmir de Souza Soares
......................................................................................................................................714
NARRATIVAS DA ERVA MALDITA (1932-1964) - Carlos Eduardo Martins Torcato, Renê
Alves Vidal ....................................................................................................................718
NARRATIVAS DO PRESENTE: COSMOVISÃO E COTIDIANO DO POETA E CORDELISTA
ANTÔNIO FRANCISCO - José Alberto da Silva, Vinícius Campelo Pontes Grangeiro
Urbano, Ailton Siqueira de Sousa Fonseca ...................................................................722
NOVAS DATAÇÕES DIRETAS DE GRAVURAS RUPESTRES NO NORDESTE DO BRASIL -
Gabriel Lima do Vale, Valdeci dos Santos Júnior ..........................................................726
O CURSO DE HISTÓRIA DA URRN (1967-1978): CRIAÇÃO E PRIMEIROS CURRÍCULOS -
Alana Fabrícia Pereira Bezerra, Aryana Lima Costa .......................................................731
O CURSO DE HISTÓRIA DA URRN (1989-1998): REFORMAS EDUCACIONAIS NO
PERÍODO DA REDEMOCRATIZAÇÃO - Dário Alessandro de Souza Filho, Aryana Lima
Costa ............................................................................................................................735
O CURSO DE PEDAGOGIA DA FE/UERN: ELABORANDO COMPREENSÕES HISTÓRICAS -
Alane Danielly Bezerra da Silva, Amanda Fernandes de Lima Andrade, Antonia Roberta
Targino da Costa, Debora Dantas Silva, Jéssica Élen Saldanha de Amorim, Yasmin Stefany
Soares de Oliveira, Marcelo Bezerra de Morais ...........................................................740
O ESTUDO DA OBRA OS LUSÍADAS, DE LUÍS DE CAMÕES E O MUSEU ESCOLAR NO
ANTIGO GRUPO ESCOLAR DE MARTINS - Natália Thalita Vieira Maia, Joseane Abílio de
Sousa Ferreira ..............................................................................................................744
O FUNDAMENTO DO JUSTO EM EPICURO: UMA CHAVE DE LEITURA DOS CONFLITOS
CIVIS DA ANTIGUIDADE DE LUCRÉCIO - Cintia Raquel Pereira Alves, Antonio Júlio Garcia
Freire ............................................................................................................................748
O GRUPO ESCOLAR TENENTE CORONEL JOSÉ CORREIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A
EDUCAÇÃO ASSUENSE (1911-1927) - Micaele Cavalcante de Barros, Sara Raphaela
Machado de Amorim ....................................................................................................752
O IDEB NA REGIÃO DO ALTO OESTE POTIGUAR E O CONCEITO DE QUALIDADE:
PERSPECITVAS DOS GESTORES MUNICIPAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA - Marcos Barbosa
de Aquino, Ciclene Alves da Silva ..................................................................................756
O LUGAR DA LITERATURA DE CORDEL NA CULTURA POPULAR - Naiara Sandi da Silva
Gomes Saraiva ..............................................................................................................760
O MONITORAMENTO DA AGENDA GLOBAL DE EDUCAÇÃO 2015-2030: AÇÕES
DESEMPENHADAS PELA CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO AO PNE -
Jociene Araújo Lima, Emanuela Rútila Monteiro Chaves .............................................763
O MUNDO DA VIDA ESTÁ EM TODO ESPAÇO: DANÇA DE CABOCLOS E SUA
REPRESENTAÇÃO EM TODA REGIÃO - Maria do Carmo da Silva Vieira Neta, Rosalvo
Nobre Carneiro .............................................................................................................767
O OUTRO COMO CRITÉRIO PARA O EXERCÍCIO DE UMA FENOMENOLOGIA DA
LINGUAGEM EM MERLEAU-PONTY - Joébesson Bonyelle Lima, José Francisco das
Chagas Souza ................................................................................................................770
O PLANO LOCAL DE HABITAÇÂO DE INTERESSE SOCIAL DE MOSSORÓ E SUA
VINCULAÇÂO COM O ESPAÇO POLITICO NACIONAL - Paulo da Silva Santos, Jionaldo
Pereira de Oliveira ........................................................................................................773
O REGIME DE COLABORAÇÃO ENTRE MUNICÍPIO E UNIÃO NA IMPLEMENTAÇÃO DE
POLÍTICAS DE FORMAÇAÕ INICIAL DE PROFESSORES VINCULADO AO PLANO DE AÇÕES
ARTICULADAS (PAR) - Gabriela de Oliveira Araújo, Francisca Edilma Braga Soares
Aureliano ......................................................................................................................777
OS USOS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A EDUCAÇÃO: PESQUISA DE INICIAÇÃO
CIENTÍFICA COM PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO - Ana Clara Dantas de Souza, Ana
Beatriz de Oliveira, Izabel cristina Batista Alves, Maria Eduarda da Costa Lopes, Nívea
Lara Martins de Moura, Layza Thalya da Silva Rosa, Jucieude de Lucena Evangelista .781
PARTICIPAÇÃO E DELIBERAÇÃO: UMA ANÁLISE DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE
DE MOSSORÓ-RN - Nathália Caroliny da Cunha, Terezinha Cabral de Albuquerque Neta
Barros ...........................................................................................................................785
PENSANDO A TECNOLOGIA NA COMUNIDADE QUILOMBOLA JATOBÁ - PATU/RN -
Ângela Maria Solano de Moura, Larissa Hellen Morais de Queiróz, Samuel Penteado
Urban ...........................................................................................................................790
PERCURSO HISTÓRICO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL NO BRASIL
- Rodrigo Rodrigues Araújo, Antônia Maiza Jacinto de Oliveira, Maria Euzimar Berenice
Rego Silva .....................................................................................................................794
POLÍTICAS CURRICULARES E DE GESTÃO EM ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL
(RUSSAS/CE) E SUAS POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES NAS DINÂMICAS ESCOLARES - Vitória
Letícia Duarte da Silva, Marcia Betânia de Oliveira .......................................................798
PRÁTICAS EDUCATIVAS DESCRITAS NOS PROJETOS PEDAGÓGICOS E NOS PROJETOS
DIDÁTICOS DAS INSTITUIÇÕES/ASSOCIAÇÕES DE EDUCAÇÃO NÃO ESCOLAR NA
CIDADE DE ASSÚ/RN - Mylena Karla da Fonseca Silva, Alcides Leão Santos Júnior .......802
PROFESSOR POR ENUNCIAÇÃO DA CULTURA: A QUARTA CULT COMO ESPAÇO DE
FORMAÇÃO - Luciana Carla da Silva, Cláudia Maria Felício Ferreira Tomé .................807
PROJETOS EDUCACIONAIS COMO MEIO DE EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS NA ESCOLA -
Kênia Bruna da Silva, Jean Mac Cole Tavares Santos .....................................................811
REFLEXÕES AUTORAIS DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA - Monalu Albuquerque Dias,
Alessandro Teixeira Nóbrega, Ludenilson Marconey da Silva Lopes, João Raulino de
Oliveira Neto ................................................................................................................815
RELAÇÕES ENTRE AFETIVIDADE, VIOLÊNCIA, ESPIRITUALIDADE E FORMAÇÃO - Vinicius
Batista Vieira, Ana Júlia Dantas Cardoso, Ana Paula Fagundes de Freitas, Matheus Giliard
Silva Sousa, Maria Euzimar Berenice Rego Silva ...........................................................820
SABERES DO FEMININO E PERFORMANCES DE CURA: TRANSMISSÃO DE PRÁTICAS
ANCESTRAIS - Lidiane Alves da Cunha, Crislaine Cristina Gadelha, Gilmara Soares de
Oliveira .........................................................................................................................824
SATISFAÇÃO COM A VIDA: UM ESTUDO COM CUIDADORES DE PACIENTES DO CENTRO
ESPECIALIZADO EM REABILITAÇÃO II - Flávia Batista de Sousa, Maria Taiza Galdino
Vieira, Soraya Nunes dos Santos Pereira ......................................................................838
TEATRO IMAGEM E A IMAGEM NA EDUCAÇÃO - Ysmilla Katalana Oliveira Figueiredo,
Adriele Erika da Silva, Hélio Junior Rocha de Lima ........................................................843
TRÁFICO DE DROGAS E ENCARCERAMENTO - Lúcio Romero Marinho Pereira, Manoel
Matias de Carvalho Neto, Millena Fernandes das Chagas, Ricélio Fontes da Silva ........848
TRAJETÓRIAS JUVENIS E ESPAÇOS PÚBLICOS EM MOSSORÓ/RN - Juliana Kallyne Torres
Marinho, Pedro Antônio Marques Firmino, Jamilson Azevedo Soares ........................852
UM ESTUDO SOBRE O SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE
MOSSORÓ/RN E IMPLICAÇÕES PARA A GESTÃO LOCAL - ANÁBIA MIRELLY FERREIRA DE
OLIVEIRA, EUGÊNIA MORAIS DE ALBUQUERQUE .........................................................857
USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E SUA RELAÇÃO COM A VULNERABILIDADE AMBIENTAL
EM UMA ÁREA NAS PROXIMIDADES DO RIO APODI-MOSSORÓ, MOSSORÓ-RN - Raquel
Cunha Paiva, Carlos Daniel Silva e Souza, Gutemberg Henrique Dias ...........................862
VÍNCULOS AFETIVOS NA FASE PRÉ-NATAL E A FORMAÇÃO INFANTIL - Leandro Gomes
Silva, Ana Beatriz de Souza Lima, Francisco Jeferson Marcelino Pinto, Maria Euzimar
Berenice Rego Silva ......................................................................................................866

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

A ADOÇÃO DE METODOLOGIAS ATIVAS NA EDUCAÇÃO JURÍDICA: A EXPERIÊNCIA DO


PROJETO LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO JURÍDICA DA FAD/UERN - Inessa da Mota
Linhares Vasconcelos, Fernanda Abreu de Oliveira ......................................................869
A EFETIVIADE NORMATIVA DAS AÇÕES AFIMARTIVAS NA FACULDADE DE DIREITO DA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - Francisco Cavalcante de
Sousa, Tharleton Luis de Castro Santos, Lauro Gurgel de Brito ....................................874
A FENOMENOLOGIA ABRINDO HORIZONTES NO DIREITO - Yasmin Cristina Dias da Silva,
Maria Audenora das Neves Silva Martins .....................................................................877
A IMPORTÂNCIA DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DA PANDEMIA NO
BRASIL - Anália Gomes de Oliveira Melo1, Sulliany da Silva Brito, Maria Audenora das
Neves Silva Martins ......................................................................................................881
A PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO - Núncia Kaiary Teixeira Bezerra, Maria
Audenora das Neves Silva Martins ...............................................................................884
A SITUAÇÃO DO TRANSPORTE INTERMUNICIPAL DE PASSAGEIROS NO RIO GRANDE DO
NORTE - Emykson Suevy Ribeiro Silva, João Rodrigues Freire .......................................888
A TRAJETÓRIA DA DÍVIDA PÚBLICA MUNICIPAL NO BRASIL - Francilene Lopes de
Oliveira, Rodolfo Ferreira Ribeiro da Costa ...................................................................893
ANÁLISE DAS AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES E OS EFEITOS DO PROGRAMA GARANTIA
SAFRA NOS TERRITÓRIOS RURAIS DO RIO GRANDE DO NORTE - Ellen Sarah da Silva
Azevedo, Joana D’arc Rebouças Mendonça, Emanoel Márcio Nunes ..........................897
ANÁLISE DAS AGROINDÚSTRIAS FAMILIARES E OS EFEITOS DO PROGRAMA NACIONAL
DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF) NOS TERRITÓRIOS
RURAIS DO RIO GRANDE DO NORTE - Joana D’arc Rebouças Mendonça, Ellen Sarah da
Silva Azevedo, Emanoel Márcio Nunes .........................................................................901
ANÁLISE MULTITEMPORAL DA REGIÃO COSTEIRA DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO TUBARÃO – RDSEPT A PARTIR DE IMAGENS
LANDSAT - Francisco Leonardo Rodrigues da Silva, Karinny Alves da Silva, Rodrigo
Guimarães de Carvalho ................................................................................................905
APLICAÇÃO DO MODELO VETORIAL DE CORREÇÃO DE ERRO (VECM) PARA OFERTA DE
EXPORTAÇÃO DO MELÃO FRESCO DO RIO GRANDE DO NORTE NO PERÍODO DE 2000 A
2018 - Herica Gabriela Rodrigues de Araújo Ribeiro ....................................................909
APOSENTADORIA PARA OS PROFESSORES E PROFESSORAS DA UERN: CAMINHOS E
DESAFIOS PARA ACESSO AO DIREITO - Paula Isadora Almeida, Rivânia Lúcia Moura de
Assis .............................................................................................................................913
AS NOVAS FORMA DE ASSISTIR TELEVISÃO ONLINE: ESTUDO DE CASO PRODUÇÃO DE
AUDIOVISUAL NO ÂMBITO DA TV COM - Rafaela Lucio da Silva, Marco Lunardi Escobar
......................................................................................................................................917
ASSISTENTES SOCIAIS NAS LUTAS EM DEFESA DA SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL (1986-
2002) - Hanany Brandão Pereira, Mirley Jordana Fernandes da Silva, Iana Vasconcelos
Moreira Rosado, Sâmya Rodrigues Ramos, Aione Maria da Costa Souza ......................921
BRASIL EM TEMPOS DE PANDEMIA - Luiz Rodrigo Pires Pereira, Gustavo dos Santos
Pereira, Maria Audenora das Neves Silva Martins ........................................................925
CANDIDATURAS FEMININAS: MULHERES IMPRESSAS NA LEI OU EXPRESSIVAS NO
CAMPO? - Vanderlânia Crislany da Silva Ferreira, Cyntia Carolina Beserra Brasileiro ...928
CARTOGRAFIA SOCIAL DA POPULAÇÃO COM DEFICIÊNCIA IDOSA DE MOSSORÓ/RN -
Nelissimara Santos Soares, Maria do Perpétuo Socorro Rocha Sousa Severino ............932
CENA MUSICAIS DECOLONIAIS EM MOSSORÓ/RN - Yuri Rodrigues de Lira, Mikaelly Itala
da Silva Gonçalves, Tobias Arruda Queiroz ...................................................................936
CONVERGÊNCIA CULTURAL NAS REDES SOCIAIS: ESTUDO DO USO DAS REDES SOCIAIS
EM EVENTOS CULTURAIS DA CIDADE DE MOSSORÓ/RN - Gledston Barbosa Bravo Neto,
Fernanda Bôto Paz Aragão ...........................................................................................939
DELIMITAÇÃO LEGAL DA FAIXA DE PRAIA E MONITORAMENTO MORFODINÂMICO:
UM ESTUDO DE CASO NA PRAIA DE SÃO CRISTÓVÃO – AREIA BRANCA - Karinny Alves
da Silva, Francisco Leonardo Rodrigues da Silva, Rodrigo Guimarães de Carvalho .......943
EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA UERN -
Thaysa Lobo Pegado, Paula Apolinário Zagui, Jéssica de Oliveira Fernandes ................947
FRUTAS E HORTALIÇAS MINIMAMENTE PROCESSADAS: PERCEPÇÃO DA VIABILIDADE
ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL EM MOSSORÓ-RN - Katianny Kelly Medeiros Costa,
Roseano Medeiros da Silva ...........................................................................................951
GEOTURISMO E PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO NA REGIÃO CENTRAL POTIGUAR:
INSTAGRAM GEOROTEIROS, FACEBOOK GEOROTEIROS - Alice Carvalho de Castro,
Maria Anthonya Flores Silva, Rudson Gomes dos Santos, Silvana Praxedes de Paiva
Gurgel ..........................................................................................................................955
IMPACTOS AMBIENTAIS DAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS NA BACIA DO RIO APODI-
MOSSORÓ - Enaira Liany Bezerra dos Santos, Roseano Medeiros da Silva ...................959
IMPACTOS AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE GROSSOS/RN: PROPOSTA DE
BACKGROUND PARA ATIVIDADE TURÍSTICA - Claudemir Lopes da Costa, Wendson
Dantas de Araújo Medeiros ..........................................................................................963
IMPACTOS DA EXPANSÃO DA ENERGIA EÓLICA NO LITORAL NORTE-RIO-GRANDENSE -
Ronaria Nayane Santos da Silva, José Elesbão de Almeida ............................................968
INFRAESTRUTURA DOS MUNICIPIOS DO SEMIARIDO: UMA APLICAÇÃO DA TECNICA DE
ANALISE MULTIVARIADA - Alriane Silvestre da Silva, Ionara Jane de Araújo ................972
MACONHA E LIVRE DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE: UMA ABORDAGEM
CONFORME O TRANSCONSTITUCIONALISMO - Olavo Hamilton Ayres Freire de Andrade,
Francisca Amanda Lima Pires .......................................................................................977
MENSURAÇÃO DO ENDIVIDAMENTO E PREJUÍZOS FINANCEIROS DOS SERVIDORES
PÚBLICOS ESTADUAIS PROVOCADOS PELOS SUCESSIVOS ATRASOS SALARIAIS
PROMOVIDOS PELO GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE NOS ANOS
2016, 2017 e 2018 - Brena Samara de Paula, Pablo Marlon Medeiros da Silva, Alan
Martins de Oliveira, Rosângela Queiroz Souza Valdevino, Auris Martins de Oliveira
......................................................................................................................................982
MODELOS MENTAIS NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO DE EMPREENDEDORES
NA CIDADE DE LIMOEIRO DO NORTE - CEARÁ - Edigleuson da Costa Ribeiro, Ana
Augusta da Silva Campos ..............................................................................................986
MULHERES INDÍGENAS NO BRASIL COLÔNIA: DESVELANDO AS RAÍZES DO
IMBRICAMENTO ENTRE RACISMO E PATRIARCADO NA FORMAÇÃO BRASILEIRA -
Camilla Viegas Costa Laranjeira Borges, Mirla Cisne Álvaro ..........................................990
MULHERES NEGRAS E INDÍGENAS NO BRASIL COLÔNIA: DESVELANDO AS RAÍZES DO
IMBRICAMENTO ENTRE RACISMO E PATRIARCADO NA FORMAÇÃO BRASILEIRA -
Fernanda Ianael Evangelista de Oliveira, Mirla Cisne Álvaro ........................................994
MUROS QUE FALAM EM CONTEXTOS DE RUPTURAS DEMOCRÁTICAS - Júnia Mara Dias
Martins, Marilya Cavalcante Alves, Thaísa Bastos Lopes Mascarenhas Pinto ...............998
O ACESSO AS TIC´S DURANTE O ISOLAMENTO SOCIAL POR DISCENTES DO ENSINO
MÉDIO DE MOSSORÓ - Caio Ivirson Oliveira Teixeira, Raelysson Silas Melo de Lira,
Mateus Barbosa Nascimento, Vinícius Claudino de Sá ...............................................1001
O PAPEL DAS AGROINDÚSTRIAS DE PEQUENO PORTE PARA A DINAMIZAÇÃO
ECONÔMICA DOS TERRITÓRIOS AÇU/MOSSORÓ, SERTÃO DO APODI, ALTO OESTE
POTIGUAR E SERTÃO CENTRAL CABUGI E LITORAL NORTE (RN) - Ananda Fernandes da
Costa, Emanoel Márcio Nunes ....................................................................................1005
O PERFIL DO APENADO DO COMPLEXO PENAL JOÃO CHAVES MASCULINO DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO NORTE - Ana Lídia Rodrigues da Fonseca, Luiz Ricardo Ramalho de
Almeida ......................................................................................................................1009
O PROGRAMA CRIANÇA FELIZ: APROXIMAÇÕES TEÓRICAS PARA UMA ANÁLISE NO
MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN - Adjair de Oliveira e Silva Júnior, Márcia da Silva Pereira
Castro .........................................................................................................................1013
O SISTEMA PRISONAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN): UMA ANÁLISE
DOS PROGRAMAS E PROJETO DE REINSERÇÃO SOCIAL NO COMPLEXO PENITNEICA
JOÃO CHAVE – MASCULINO - Bruno Felipe Gonçalves, Luiz Ricardo Ramalho de Almeida
....................................................................................................................................1017
O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA JURÍDICA DA FAD/UERN - Antônio
Lauriano de Souza Monte, Cicília Raquel Maia Leite, Ana Mônica Medeiros Ferreira,
Inessa da Mota Linhares Vasconcelos, Denise dos Santos Vasconcelos Silva, Pedro
Fernandes Ribeiro Filho ..............................................................................................1021
OBSERVATÓRIO DE TURISMO DO RN: PESQUISAS E CENÁRIOS (PARTE 2) - Samuel
Jordan de Souza França, Sidcley D'Sordi Alves Alegrini da Silva .................................1025
PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE CEARÁ-MIRIM/RN: UMA DESCRIÇÃO - Thales Caetano
Ribeiro, Maria Antônia das Flores Silva, Eduardo Elias de Souza, Marília Medeiros Soares
....................................................................................................................................1029
RELAÇÃO DA CRIMINALIDADE COM A RECONSTRUÇÃO DO SABER JURÍDICO ATRAVÉS
DA FENOMENOLOGIA - Alexsandra de Freitas Nobre, Maria Audenora das Neves Silva
Martins .......................................................................................................................1033
RISCOS AMBIENTAIS NO LITORAL DE GROSSOS/RN: UMA BREVE ANÁLISE - Yasnara
Thayane Silva de Andrade, Wendson Dantas de Araújo Medeiros .............................1038
TECNOLOGIAS SOCIAIS SUSTENTÁVEIS E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL NO
SEMIÁRIDO POTIGUAR: PERSPECTIVA DE ALINHAMENTO COM A AGENDA 2030 -
Eduardo José Ferreira da Silva, Janine Beatriz Torres, Márcia Regina Farias da Silva
....................................................................................................................................1042
TEMAS E PESQUISAS QUE SÃO DESENVOLVIDOS E TRABALHADOS NO ENSINO MÉDIO
PÚBLICO EM MOSSORÓ - Emilly Joyce Alves Tertulino, Hanna Lyvia Maia Freire, Jaciara
Santos Leite, João Victor Aquino Bezerra, Julia Ester da Silva Lustosa, Kelly Ruama
Cazuza, Kelvin Gabriel da Silva Chachá, Khyara Luanny de Lima Fernandes, Loíse dos
Santos, Marcondes Alves de Morais Filho, Letícia Rayane Melo da Silva, Maria Alice de
Sousa Paiva, Marcos Paulo Alves Câmara, Maria Glenda da Costa Alencar, Sabrina Vitória
Oliveira de Medeiros, Thayssa Karla da Silva Lima, Tiago Barreto de Almeida Barros,
Wanessa Helena Duarte Favacho, Wellyka Wênia da Fonseca, Willian Nathã da Silva
Medeiros, Jefferson Garrido de Araújo Neto ..............................................................1047
TURISTIFICAÇÃO DE NATAL/RN ATRAVÉS DA ROTEIRIZAÇÃO - Fernanda Gomes de
Freitas, Francielen Letice de Souza Silva, Michele Galdino Câmara Signoretti ............1051
UM OLHAR JURIS EDUCACIONAL DOS ATOS INFRACIONAIS COMETIDOS POR JOVENS
NO MUNICÍPIO DE NATAL-RN - Margaret Darling Bezerra, Maria Audenora das Neves
Silva Martins ...............................................................................................................1056
UMA ANALISE DOS PROGRAMAS E PROJETOS DE RESSOCIALIZAÇÃO E REINSERÇÃO
SOCIAL NO ESPAÇO PRISIONAL – COMPLEXO PENAL JOÃO CHAVES FEMINIMO (CPJC) -
Maria Alice de Melo, Luiz Ricardo Ramalho de Almeida .............................................1060
VIOLAÇÃO DE DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM MOSSORÓ-RN: A
REALIDADE DO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
(CREAS) - Jemima Dantas da Cunha Miranda, Mariana Dantas Soares, Millena Soares
Barbalho, Rebeca Brito de Freitas, Gláucia Helena Araújo Russo ...............................1063

LINGUÍSTICA, LETRAS E ARTES

A CONFIGURAÇÃO DO MEDO E DO FANTÁSTICO NO CONTO “GRAVATA”, DE CAIO


FERNANDO ABREU - Nadson Diógenes de Sousa, Antonia Marly Moura da Silva .......1068
A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO TRANSEXUAL EM DISCURSOS MIDIÁTICOS - José Eduardo
Pinto Duarte, Letícia Hellen de Souza Silva, Nayara Nicoly Braga, Marcos Paulo de
Azevedo .....................................................................................................................1072
A NARRATIVA LITERÁRIO-MEMORIALÍSTICA DE ONDJAKI - Clécia Viviane Elias da Silva,
Geovani José da Silva, Concísia Lopes dos Santos .......................................................1076
A STREETCAR NAMED DESIRE: UM OLHAR SEMIÓTICO - Francisca Juliana Bezerra
Nunes, Michel de Lucena Costa ..................................................................................1080
A TRADIÇÃO DO REGIONALISMO LITERÁRIO BRASILEIRO - Maria Adriana Nogueira,
Roniê Rodrigues da Silva .............................................................................................1086
A VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES EM TESTEMUNHOS DA COMISSÃO NACIONAL DA
VERDADE: MEMÓRIA, PODER E RESISTÊNCIA EM PERÍODO DE DITADURA MILITAR
BRASILEIRA - Andrea Mikaelly Rebouças de Azevedo, Camila Steffany Freitas Costa,
Lúcia Helena Medeiros da Cunha Tavares ..................................................................1090
ANÁLISE DO DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA - Priscilla Cibele Bessa
Freitas Fernandes, Secleide Alves da Silva ..................................................................1094
ANÁLISE DO ROMANCE A NOITE DAS MULHERES CANTORAS, DE LÍDIA JORGE - Ananias
Marcos de Souza Castro, Maria Aparecida da Costa ...................................................1098
ANÁLISE LONGITUDINAL DA DURAÇÃO DAS VOGAIS ANTERIORES ALTAS DE
APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS LÍNGUA ADICIONAL - Antônia Rayane Felix Barra,
Clerton Luiz Felix Barboza ...........................................................................................1102
ANÁLISE MULTIMODAL DO DISCURSO DO TEXTO JORNALÍSTICO - Raíssa de Souza
Santos, Ivandilson Costa .............................................................................................1106
ARTICULAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DA ARGUMENTAÇÃO E AS CIÊNCIAS DO LÉXICO
ESPECIALIZADO - Tafnes Lais da Silva Gomes, Edmar Peixoto de Lima ......................1110
AS ANÁFORAS NA TESSITURA DE SENTIDOS DO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO - Paula Heloisa
Soares Peregrino, Jammara Oliveira Vasconcelos de Sá .............................................1114
ATO DE FALA E GVD: UMA ANÁLISE EM TEXTOS PUBLICITÁRIOS - Rafaela Dalila da Costa
Pinto, Pedro Adrião da Silva Júnior .............................................................................1118
CRENÇAS DO LIVRO DIDÁTICO AMERICAN HEADWAY (SECOND EDITION) SOBRE AS
ATIVIDADES DE ESCRITA - Cibele Negreiros Maia, Júlia Ferreira Lima, Marcos Nonato de
Oliveira .......................................................................................................................1122
DE CRIMINOSA À REJEITADA PELO POVO: AS Rds DO TEMA DILMA ROUSSEFF NA
DENÚNCIA DE IMPEACHMENT - José Rubens Pereira, Maria Eliete de Queiroz .........1126
DESCRIÇÃO DO FONEMA /S/ EM POSIÇÃO DE CODA NO FALAR MOSSOROENSE – II
ETAPA - Carlos Eduardo de Oliveira Pinheiro, Gilson Chicon Alves .............................1130
DICAS E CONSELHOS SOBRE MATERNIDADE: ESTUDO DO ETHOS DE UMA
INFLUENCIADORA DIGITAL EM PERFIS PÚBLICOS NO FACEBOOK E NO INSTAGRAM -
Lareska Luanna Rocha de Freitas, Rosângela Alves dos Santos Bernardino ................1134
DISCURSOS SOBRE A DITADURA MILITAR BRASILEIRA: RETORNO E RECONFIGURAÇÕES
DA MEMÓRIA - Allan Ravel da Silva Pereira, Andrea MiKaelly Rebouças de Azevedo,
Camila Praxedes de Brito, Clístenes Oliveira da Silva, Sandson de Souza Costa, Francisca
Vilani de Souza, Lúcia Helena Medeiros da Cunha Tavares, Francisco Paulo da Silva
....................................................................................................................................1138
DISCURSOS SOBRE AS RELAÇÕES AFETIVAS INTER-RACIAIS - Pedro Lucas Pereira da
Silva, Francisca Maria de Souza Ramos Lopes .............................................................1143
EDGAR ALLAN POE NO BRASIL: O GATO PRETO E O BARRIL DE AMONTILLADO
TRADUZIDOS PARA A TV - Ana Beatriz Tavernard Fernandes, Emílio Soares Ribeiro .1147
EDUCAÇÃO MUSICAL A DISTÂNCIA NO BRASIL: O ESTADO DA ARTE - Cleyton Oliveira
Tibúrcio, Giann Mendes Ribeiro .................................................................................1151
ENSINO DE LITERATURA NA FORMAÇÃO INICIAL DOS PEDAGOGOS: ALGUNS
APONTAMENTOS - Beatriz Andrade dos Santos, Aparecida Suiane Batista Estevam,
Diana Maria Leite Lopes Saldanha ..............................................................................1162
EXPERIÊNCIAS DA MATERNIDADE: UMA ANÁLISE DO ETHOS DE UMA
INFLUENCIADORA DIGITAL NO BLOG PESSOAL “DE MÃE PARA MAMÃE” - Monaliza
Correia Bento, Rosângela Alves dos Santos Bernardino .............................................1166
FACES DO MEDO NO CONTO “DROENHA” DE JOÃO GUIMARÃES ROSA - Sávio de Souza
Carlos, Antonia Marly Moura da Silva .........................................................................1170
FRAGMENTAÇÃO COMPOSICIONAL E AUTORITARISMO EM APRENDER A REZAR NA
ERA DA TÉCNICA, DE GONÇALO M. TAVARES - Jonnas Azevedo da Silva, Annie Tarsis
Morais Figueiredo ......................................................................................................1174
INFLUÊNCIA DA TRADUÇÃO FEMINISTA CANADENSE NAS TRADUÇÕES BRASILEIRAS:
REALIDADE OU ISULÃO? - Lucas Heitor Ananias Oliveira, Nilson Roberto de Barros da
Silva ............................................................................................................................1178
INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO FEMINISTA CANADENSE NA TRADUÇÃO BRASILEIRA:
UMA ANÁLISE DE MARCAS DE GÊNERO - Samira Sabrina da Costa Rodrigues, Nilson
Roberto Barros da Silva ..............................................................................................1182
JOGADOR Nº 1: NOSTALGIA E VIOLÊNCIA - Hanna Hélida de Oliveira Silva, Charles
Albuquerque Ponte ....................................................................................................1186
JOGADOR Nº1: PÓS-MODERNIDADE E NOSTALGIA - Wigna Edibegna Raposo da Silva,
Charles Albuquerque Ponte .......................................................................................1190
LEITURA E O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA: UMA ANÁLISE DE LIVROS DIDÁTICOS E
PROVAS DO ENEM - Camila Bezerra Freire, Adriana Morais Jales ..............................1194
LETRAMENTO ACADÊMICO E FORMAÇÃO DOCENTE NO CURSO DE LETRAS - Thauan de
Paiva Costa, Antônia Sueli da Silva Gomes Temóteo ..................................................1198
LETRAMENTO MULTIMODAL DIGITAL NAS ATIVIDADES DO LIVRO DIDÁTICO LEARN
AND SHARE ENGLISH - Júlia Ferreira Lima, Maria Zenaide Valdivino da Silva .............1201
LETRAMENTO MULTIMODAL DIGITAL NO ENSINO DE INGLÊS: VISUALIZANDO O LIVRO
DIDÁTICO DO ENSINO MÉDIO E O MANUAL DO PROFESSOR - Cibele Negreiros Maia,
Maria Zenaide Valdivino Silva .....................................................................................1205
MOVIMENTO FEMINISTA E TRADUÇÃO: INFLUÊNCIAS E CONTRIBUIÇÕES - Letícia Ellen
Costa Lima, Nilson Roberto Barros da Silva ................................................................1209
O AMOR BIOPOTENTE EM O APOCALIPSE DOS TRABALHADORES, DE VALTER HUGO
MÃE - Sabrina de Paiva Bento, Annie Tarsis Morais Figueiredo .................................1213
O ESPAÇO E A MEMÓRIA AFETIVA DA PERSONAGEM CELINA EM RAKUSHISHA DE
ADRIANA LISBOA - José Nilton Pereira de Moura Júnior, Francisca Lailsa Ribeiro Pinto
....................................................................................................................................1216
O FANTÁSTICO E O MEDO NO CONTO “UM ESQUELETO” DE MACHADO DE ASSIS -
Christian Lucas Siqueira Brasil, Antonia Marly Moura da Silva ...................................1220
O FENÔMENO DA REFERENCIAÇÃO: OS PROCESSOS DE RECATEGORIZAÇÃO
REFERENCIAL EM NOTÍCIAS DE PORTAIS ONLINE - Leandro Vinícius Morais Silva, Lidiane
de Morais Diógenes Bezerra .......................................................................................1224
O LUGAR DO TEATRO POPULAR NA LITERATURA POPULAR - Antonio Welden da Silva
Vieira ..........................................................................................................................1228
O MODO DE ORGANIZAÇÃO DESCRITIVO NA CONSTITUIÇÃO DO ANÚNCIO
PUBLICITÁRIO - Lídia Ruama de Araújo Souza, Jammara Oliveira Vasconcelos de Sá .1232
O NÃO PERTENCIMENTO AO ESPAÇO PATERNO EM HIBISCO ROXO, DE CHIMAMANDA
NGOZI ADICHIE - Eliane Maria da Silva, Francisca Lailsa Ribeiro Pinto .......................1236
O PROCESSO DE FORMAÇÃO DOCENTE: AS DIFICULDADES DE LEITURA E ESCRITA NO
ÂMBITO ACADÊMICO - Roberta Bezerra Marinho .....................................................1239
O TOM DA MODERNIDADE NAS CRÔNICAS DE PERY LAMARTINE: A Natal de ontem -
Izabel Cristina da Costa Bezerra Oliveira, Haddamis Hyago de Lima Barreto .............1242
PARA ALÉM DO QUINTAL: OS ESPAÇOS DE INTER-RELAÇÕES NA ALDEIA COSMOPOLITA
EM DIÁRIO DE BITITA DE CAROLINA MARIA DE JESUS - Sebastiana Braga Ferreira,
Francisca Lailsa Ribeiro Pinto .....................................................................................1247
PRISCILA ENQUANTO TRADUÇÃO DO CONTO METZENGERSTEIN, DE EDGAR ALLAN
POE - Marina Mirelhe Gomes, Emílio Soares Ribeiro ..................................................1251
REFERENCIAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO: UMA ANÁLISE DA ORIENTAÇÃO
ARGUMENTATIVA EM NOTÍCIAS DE PORTAIS ONLINE - Francisco Felipe de Oliveira
Rocha, Lidiane de Morais Diógenes Bezerra ...............................................................1254
SENTIDOS DA PAIXÃO: UMA ANÁLISE DA VIOLÊNCIA EM CONTOS DE CLARICE
LISPECTOR - SILVA, Ranyele da, PEREIRA, Francisco Afrânio Câmara .........................1258
TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E EDUCAÇÃO - Antônia Maíra Emelly Cabral da
Silva Vieira, Ana Karina da Silva Xavier Bezerra, Atawanny Glaicy da Silva, Elda Silva do
Nascimento Melo, Hemylia Johelen Souza Medeiros, Monique Wanderley de Macêdo,
Nalígia Maria Bezerra Lopes .......................................................................................1262
TEXTOS MULTIMODAIS DIGITAIS: UMA ANÁLISE SOBRE SUAS ABORDAGENS NO LIVRO
DIDÁTICO ALIVE HIGH - Lucas Eduardo Fernandes Bezerra, Maria Zenaide Valdivino da
Silva ............................................................................................................................1267
TRILHAS DA CIDADE: APONTAMENTOS SOBRE A POESIA URBANA EM CARLOS
DRUMMOND DE ANDRADE - Mateus Bezerra Fernandes, Alexandre Bezerra Alves .1271
UMA ANÁLISE DO ETHOS DE UMA INFLUENCIADORA DIGITAL EM CONSELHOS E DICAS
DE BELEZA PARA MÃES EM VÍDEOS NO YOUTUBE - Ozeias Henrique Ventura de Oliveira,
Rosângela Alves dos Santos Bernardino .....................................................................1275
USO DE FONTES DE PESQUISA NA ESCRITA DE ARTIGOS CIENTÍFICOS DE
PESQUISADORES EXPERIENTES - Danielyson Yure de Queiroz Valentim, José Cezinaldo
Rocha Bessa ...............................................................................................................1279
USO DE FONTES DE PESQUISA NA ESCRITA DE TEXTOS CIENTÍFICOS DE
PESQUISADORES INICIANTES - José Evaristo de Paiva Neto, José Cezinaldo Rocha Bessa
....................................................................................................................................1283
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resumos expandidos de
CIÊNCIAS DA VIDA

http: // propeg.uern.br/sic/anais
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 32
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A EPIDEMIA DE HIV/AIDS NO BRASIL E SUAS DIFERENÇAS


REGIONAIS

José Anderson Dutra¹; Raquel Mirtes Pereira da Silva²


Palavras-chave: Enfermagem; Epidemiologia; Perfil de Saúde; Gestão em Saúde.

Introdução: A Aids é uma doença de contornos biológicos já bastante bem definidos, mas, ela
é também, como qualquer outro agravo de saúde, uma questão altamente complexa de ordem
social, política, cultural e econômica (SEFFNER, PARKER; 2016). No decorrer dos últimos
30 anos a epidemia trouxe consequências para famílias, sendo um dos maiores desafios para a
saúde pública. O Brasil apresentou políticas de enfrentamento à Aids, onde destacou-se a forte
organização social para sua formulação Na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
que é uma instituição que disponibiliza ao curso de enfermagem não só a modalidade de
bacharelado mais também licenciatura, oferece para seus alunos diversificadas opções no
campo profissional. Como enfermeiro diplomado desta academia os horizontes para docência
constantemente estiveram presentes, viabilizando com o Programa Institucional de Monitoria -
PIM um desenvolvimento dos discentes que desejam seguir este caminho. O programa tem
como objetivos melhorar os indicadores de ensino-aprendizagem no âmbito acadêmico,
facilitando o crescimento nas atividades de docência, de pesquisa e de extensão universitária.
Desta forma, propõe-se a realização desse estudo a fim de responder a seguinte questão de
pesquisa: Como se dá a caracterização da epidemia de HIV/Aids no Brasil? O interesse pelo
tema da caracterização e do perfil epidemiológico das pessoas que vivem com HIV/AIDS se
deve ao fato da literatura desejar mostrar a mudança que vem ocorrendo. Este estudo justifica-
se pela necessidade de conhecer a caracterização e o perfil epidemiológico dos casos de
HIV/Aids, bem como a realidade desta condição nas cinco regiões do Brasil, além de permitir
uma compreensão mais profunda da situação loco-regional, para que se possam formular
estratégias e implementar programas de prevenção, promoção e controle do HIV/Aids mais
direcionados aos públicos de maiores taxas. Neste sentido, o estudo tem como objetivo geral
descrever a caracterização e o perfil epidemiológico Regional dos casos HIV/Aids, e como
objetivos específicos: analisar as características da epidemia de HIV/Aids nas cinco
macrorregiões do Brasil, identificar as tendências de incidência de Aids, estratificadas por
fatores sociodemográficos, por regiões do Brasil no período de 2007 a 2017, e compreender as
diferenças regionais quanto ao perfil epidemiológico da epidemia de HIV/Aids. Metodologia:
Esta pesquisa é caracterizada como um estudo epidemiológico, agregado, observacional,
transversal, ecológico e de abordagem quantitativa. Todos os dados são do tipo agregado,
obtidos na base de dados do Ministério da Saúde, mais especificamente do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (SINAN), disponível no DATASUS. Os dados
referentes a epidemia de HIV/Aids no Brasil foram coletados no período de 2007 até 2017, ano
mais recente que contêm dados atualizados sobre a epidemia. A taxa de incidência de Aids nas
regiões foi calculada pelo número de casos novos em residentes, dividido pela população total
residente no período determinado, onde o valor final foi multiplicado por cem mil. Após a
coleta, todos os dados foram digitados em um banco do Software Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS) e no Microsoft Office Excel. Inicialmente, foi construída uma análise
descritiva das características da epidemia nas regiões, e foram construídos gráficos que
permitiram diferenciar o comportamento da epidemia nas regiões. Após a construção desse
perfil foi feita uma análise estatística, identificando quais variáveis estão comportando-se de
maneira distinta nas diferentes áreas do território, buscando a associação com as condições
sociodemográficas. A análise descritiva serve para a discussão sobre o comportamento da
epidemia de HIV/Aids nas diferentes regiões do Brasil e as proposições necessárias ao seu
¹Estudante do curso de licenciatura e bacharelado em enfermagem do departamento de enfermagem da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: andinho.dutra.92@hotmail.com
²Professores do Departamento de enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
Raquel.mirtes@yahoo.com.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 33
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

enfretamento. Os dados foram analisados através da Análise de séries temporais (análise de


tendência), através do modelo de regressão polinomial. No modelo de regressão polinomial, os
valores da série são considerados como variável dependente (Y) e os períodos do estudo como
variável independente (X). O presente estudo não necessitou ser enviado para aprovação do
Comitê de Ética e Pesquisa (CEPE) da Universidade do Estado do Rio grande do Norte
(UERN), tendo em vista que não houve contato direto (entrevista) ou indireto (uso de
informações em prontuários, por exemplo) com dados pessoais de terceiros, pois, estes dados
foram obtidos em base de dados secundários, no DATASUS. RESULTADOS E
DISCUSSÕES: Os resultados analisados e discutidos encontram-se divididos em cinco
tópicos: Distribuição da taxa de Aids geral por região do país, e Distribuição da taxa de Aids
de acordo com as quatro variáveis estudadas (sexo, faixa etária, raça/cor, escolaridade). Na
primeira etapa foi possível perceber que a região com a maior taxa de Aids no Brasil é a Região
Sul, seguida da Sudeste, e com menores taxas as regiões Centro-Oeste e Nordeste. Há uma
queda na taxa na região Sul a partir de 2008, mantendo-se constante até 2013. Segundo o
Boletim Epidemiológico de HIV/Aids (2019), o país tem registrado, anualmente, uma média
de 39 mil novos casos de Aids nos últimos cinco anos e sua distribuição proporcional desses
casos, identificados de 1980 até junho de 2019, mostra uma concentração nas regiões Sudeste
e Sul.

Gráfico 1: Taxa de detecção de aids (por 100.000 hab.) segundo região, por ano de diagnóstico. Brasil, 2007 a
2017
DISTRIBUIÇÃO DA TAXA DE AIDS POR REGIÃO
40,00
Taxa de detecção de aids (por 100.000

35,00

30,00

25,00 Norte
Nordeste
20,00
hab.)

Sudeste
15,00 Sul
Centro-oeste
10,00

5,00

0,00
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: dados da pesquisa.
A etapa seguinte, foi realizada a estratificação da taxa de Aids segundo as variáveis supra
citadas. Com relação a faixa etária Na Região Nordeste epidemia se comporta semelhante a
Região Norte. Há um aumento significativo em pessoas com idade entre 15 e 29 anos de idade
até 2012, tendo uma queda na taxa a partir daí até o ano de 2017. Em pessoas com idade entre
30 e 59 anos também é alta, chegando em 2017 com taxa de 17,59 casos por 100.000 mil
habitantes. Em pessoas acima de 60 anos houve aumento durante o período. As pessoas de 0 a
14 anos tiveram uma baixa na sua taxa, em 2007 era de 1,54 e em 2017 de 0,84 casos por
100.000 mil habitantes. Nas demais regiões o comportamento é semelhante. Ambas apresentam
a maior taxa entre 15 e 29 anos, porém, com uma perspectiva de diminuição de casos a partir
de 2009. Entre 30 e 59 anos, a Região Sul e Sudeste mantiveram-se constantes, mas, na Região

¹Estudante do curso de licenciatura e bacharelado em enfermagem do departamento de enfermagem da


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: andinho.dutra.92@hotmail.com
²Professores do Departamento de enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
Raquel.mirtes@yahoo.com.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 34
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Centro-Oeste é possível perceber o aumento do número de casos a partir de 2011. Em pessoas


com 60 anos ou mais, o Centro-Oeste apresenta taxas semelhantes as outras duas regiões,
porém, possui crescimento de casos a partir de 2016. As três regiões não tiveram aumento
significativo na faixa etária de 0 a 14. Segundo Maia e Colaboradores (2018), o HIV/Aids atinge
diversos grupos, independente do sexo, gênero ou orientação sexual, e, nos últimos anos, tem
ampliando o número em adolescentes e adultos jovens, devido vulnerabilidades da própria
idade. Essas características biopsicosociais podem contribuir para a vulnerabilidade da
população jovem a determinadas doenças, especialmente àquelas que decorrem do
comportamento sexual de risco, que se encontra em franca expansão nessa camada da
população, estabelecendo a tendência de juvenização da epidemia (AMARAL, et al; 2017).
Com relação ao sexo masculino e feminino, em todas as cinco regiões prevaleceram um número
maior de casos em homens. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste há um aumento
significativo em pessoas do sexo masculino em relação ao sexo feminino, visível
principalmente pela razão do sexo. As regiões Sul e Sudeste apresentam altas taxas de Aids em
homens, porém, foi possível perceber que entre 2010 e 2011 começa a diminuir em ambos os
sexos, diferentemente das outras regiões que apresentaram aumento d suas taxas. Desde o
início, a Aids se concentrou no sexo masculino, devido à doença ser mais frequente em homens
homossexuais, e já se passaram mais de 30 anos e mesmo assim continua a se concentrar
predominante nesta população segundo dados epidemiológicos do Brasil e do mundo
(PEREIRA et al., 2017). Dados do Ministério da Saúde (2019), descreveram que 73% dos casos
de HIV ocorrem no sexo masculino, um a cada cinco casos estão entre homens de 15 a 24 anos.
O debate acerca da relação homem e saúde está em evidência nos últimos anos, devido à baixa
na procura destes por assistência médica, além de comportamento de risco (uso de drogas,
relação sexual desprotegida, entre outros). Então, é muito importante investir em ações que
possam atrair o homem aos serviços de saúde, com práticas de cunho preventivo, para incentivá-
los no próprio cuidado e passem a ter comportamentos saudáveis. Com relação a variável
raça/cor, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentam números semelhantes. A
Região Centro-Oeste apresenta taxas semelhantes a Região Norte e Nordeste, com elevados
números de casos nas raças amarela e indígena principalmente a partir de 2008 com seu máximo
em 2012, e, mesmo apresentando uma tendência de queda, ainda são as duas raças com maiores
números de casos até 2017. As demais raças apresentam uma variação pequena, mas, ambas
apresentam diminuição a partir do ano de 2013. Nas Regiões Sudeste e Sul, as maiores taxas
são da raça preta, porém, as duas apresentam queda a partir de 2008 com taxas de 26,27 e 57,95
casos por cem mil habitantes para 12,54 e 42,45 casos por cem mil habitantes respectivamente.
As demais raças nessas duas regiões oscilam pouco, mantendo-se constante ao longo dos anos.
As desigualdades sociais em saúde relacionadas às condições sociais, econômicas e políticas
de um grupo populacional/social e perfil de saúde evidenciam que a qualidade de vida dos
cidadãos determina a forma de adoecer e morrer, e mostram desigualdades no perfil de saúde
entre as Regiões do País, entre sexos, idade e entre diferentes segmentos de classe social,
todavia poucos associam a inserção social desqualificada/desvalorizada dos negros em nossa
sociedade aos indicadores de saúde (BATISTA, 2005). Com relação a escolaridade, todas as
regiões apresentaram taxas elevadas na população do ensino médio e superior, seguida de
analfabetos e ensino fundamental. De acordo com o boletim epidemiológico do Ministério da
¹Estudante do curso de licenciatura e bacharelado em enfermagem do departamento de enfermagem da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: andinho.dutra.92@hotmail.com
²Professores do Departamento de enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
Raquel.mirtes@yahoo.com.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 35
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Saúde de 2018, houve um aumento na detecção de novos casos de Aids no público de 15 a 29


anos, faixa etária na qual encontram-se muitos jovens em ensino médio e na universidade
(RIBEIRO, 2017; BRASIL, 2019). Amaral et al. (2017) em seu estudo destacou que há maior
prevalência de soropositivos entre àqueles com mais anos de 8 anos estudo, sugerindo
existência de possíveis falhas na disseminação de informações sobre HIV/AIDS, seja no
ambiente escolar ou nas campanhas publicitárias governamentais, evidenciandongrandes
lacunas nos processos educativos na prevenção ao HIV/Aids às camadas mais jovens.
CONCLUSÃO: De acordo com os resultados encontrados é perceptível a relevância deste
estudo, pois a identificação deste perfil servirá para o planejamento de ações de saúde
relacionadas a epidemia, com ênfase à valorização de estratégias preventivas para essas
populações, sendo necessário esforço multisetorial que favoreça a redução do estigma que
envolve a epidemia.

Referências:
AMARAL, R. S.; CARVALHO, S. T. R. F.; SILVA, F. M. A. M.; DIAS, R. S.
Soropositividade para HIV/Aids e características sociocomportamentais em adolescentes e
adultos jovens. Revista de Pesquisa em Saúde, v. 18, n. 2, p. 108-113, maio/ ago. 2017.
Disponível em:
http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/revistahuufma/article/view/8384. Acesso
em: 28 fev. 2020
BATISTA, L. E. Masculinidade, raça/cor e saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 10, n. 1, p.
71-80, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v10n1/a07v10n1.pdf. Acesso em: 28
fev. 2020.
BRASIL, Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico HIV/ Aids Especial. Secretaria de
Vigilância em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Número Especial, dez. 2019. Disponível
em: http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2019/boletim-epidemiologico-de-hivaids-2019. Acesso
em: 28 fev. 2020
PEREIRA, M. G. et al. Perfil sociodemográfico e clínico de pacientes adultos HIV (+),
atendidos na Policlínica Municipal De Gurupi-TO. Revista CEREUS, v. 9, n. 1, p.178-192,
jan./ abr. 2017. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/322505599_PERFIL_SOCIODEMOGRAFICO_E_
CLINICO_DE_PACIENTES_ADULTOS_HIV_ATENDIDOS_NA_POLICLINICA_MUNI
CIPAL_DE_GURUPI-TO. Acesso em: 29 fev. 2020
RIBEIRO, M. R. C. Práticas de educação em saúde das DST/aids na atenção básica. 2017.
Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão das Políticas de DST/Aids,
Hepatites Virais e Tuberculose) - Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Natal, 2017. Disponível em:
https://monografias.ufrn.br/jspui/handle/123456789/6564. Acesso em: 29 fev. 2020.
SEFFNER, F.; PARKER, R. A Neoliberalização da prevenção do HIV e a resposta
brasileira à AIDS. In: BASTHI, A.; PARKER, R.; TERTO JR., V. Mito vs Realidade: sobre
a resposta brasileira à epidemia de HIV e AIDS em 2016. Rio de janeiro, RJ: ABIA, jul. 2016.
p. 22-30. Disponível em: http://abiaids.org.br/wp-content/uploads/2016/07/Mito-vs-
Realidade_HIV-e-AIDS_BRASIL2016.pdf. Acesso em: 29 fev. 2020.

¹Estudante do curso de licenciatura e bacharelado em enfermagem do departamento de enfermagem da


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: andinho.dutra.92@hotmail.com
²Professores do Departamento de enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
Raquel.mirtes@yahoo.com.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 36
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A QUALIDADE DE VIDA DO PACIENTE HEMOFÍLICO NO


INTERIOR DO RIO GRANDE DO NORTE: IMPACTO
MULTIFATORIAL
Gabriela Zanotto Della Giustina¹; Isabella Bueno dos Santos¹; Junia Camile Pinheiro¹;
Profª. Drª. Allyssandra Maria Lima Rodrigues Maia²;

¹ Estudantes do curso de Medicina do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade


do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-mails: gabrielagiustina@alu.uern.br;
isabellasantos@alu.uern.br; juniacamile@gmail.com.
² Professora do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade do Rio Grande do
Norte, Mossoró/RN ; E-mail: allyssandrarodrigues@uern.br.

Palavras-chave: Hemofilia. Impacto psicossocial. Saúde Pública.

Introdução
A Hemofilia é uma coagulopatia hereditária recessiva ligada ao sexo, ocorrendo
devido a falta ou produção defeituosa dos fatores VIII (hemofilia A) ou IX (hemofilia B) da
coagulação. Em 2016 eram 184.726 pessoas com hemofilia em todo o mundo, sendo 149.764
pessoas com Hemofilia A, representando 81% dos casos e 29.712 pessoas com Hemofilia B.
O Brasil, por sua vez, apresentava 12.119 hemofílicos (BRASIL, 2015); (WFW, 2017).
Caracterizada clinicamente por sangramentos em diversos graus de extensão, os quais
englobam hemartroses, hematomas, epistaxe e hematúria. A frequência e a gravidade do
quadro hemorrágico estão geralmente relacionadas com as concentrações plasmáticas do fator
de coagulação deficiente, de modo que a gravidade da doença é diretamente proporcional ao
grau de deficiência do fator, que podem ser leves, moderadas ou graves. Dentre as
manifestações, o envolvimento osteoarticular representado pelas hemartroses é um dos mais
impactantes pois, se não tratados, podem gerar danos permanentes e incapacitantes.
(SANTOS, 2017); (NUNES et al. 2009).
O tratamento da hemofilia geralmente é realizado nos centros especializados
(hemocentros) que fornecem a reposição dos fatores de coagulação e o serviço ambulatorial
de acompanhamento em Hematologia. Além disso, o hemofílico vive em constante
necessidade de cuidados multiprofissionais, haja vista o comprometimento biopsicossocial da
doença. (SHIKASHO et al., 2008).
Três componentes principais podem afetar os hemofílicos: o primeiro corresponde à
atitude do indivíduo frente a sua enfermidade e seu e receio frente aos sangramentos. O
segundo refere-se ao contexto familiar e, por último, encontra-se a sociedade que, por falta de
orientação, pode interferir de forma negativa na adaptação do paciente hemofílico em
ambientes como escola, trabalho e lazer. (NUNES et al. 2009) Devido aos pressupostos
citados, não é difícil compreender que a hemofilia envolve aspectos complexos e conflitantes.
Nesse sentido, avaliar a qualidade de vida de pessoas com hemofilia é extremamente
relevante para a tomada de decisões relacionadas ao aprimoramento do planejamento da
assistência e, consequentemente, melhora na qualidade do cuidado. (VILELLA, 2019).
Logo, o estudo busca avaliar a qualidade de vida de hemofílicos acompanhados nos
serviços de saúde de Mossoró-RN, tendo em vista os aspectos físicos, os psicológicos, as
relações sociais e meio ambiente em que eles estão inseridos. Bem como analisar os impactos
psicossociais da doença, incluindo a notícia do diagnóstico, o manejo de emergências clínicas
frente à rotina de estudos e/ou trabalho e o impacto que os desafios enfrentados exercem
sobre o autocuidado e a adesão ao tratamento.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 37
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia
Tratou-se de um estudo epidemiológico de corte transversal realizado durante o ano de
2019. Utilizou-se de metodologia quantitativa, mediante um questionário padronizado
WHOQOL-bref abreviado e auto aplicado, além de um questionário com variáveis sócio
demográficas. A população é constituída por 45 pacientes hemofílicos, do sexo masculino,
em acompanhamento nos serviços de saúde e no Hemocentro de Mossoró-RN. Fizeram parte
da pesquisa 11 pacientes que atenderam os critérios de inclusão. Foram incluídos indivíduos
portadores de Hemofilia atendidos no Hemocentro de Mossoró/RN, que frequentaram o
Grupo de Apoio aos Portadores de Hemofilia (GAPH). Foram excluídos do projeto os
indivíduos que não concordaram com os termos da pesquisa propostos no TCLE ou TALE.
A pesquisa foi apresentada e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte sob número do parecer 3.101.687. Os dados coletados após a
aprovação foram organizados em tabelas e submetidos à análise estatística descritiva. No
presente estudo, o índice de confiança foi de 5% (p=0,05) e margem de erro de 5%.
O módulo WHOQOL bref é constituído de 26 perguntas (sendo a pergunta número 1 e
2 sobre a qualidade de vida geral), as respostas seguem uma escala de Likert (de 1 a 5),
quanto maior a pontuação melhor a qualidade de vida. Retirando-se as duas primeiras
questões, o instrumento tem 24 questões, as quais, compõem 4 domínios que são: físico,
psicológico, relações sociais e meio ambiente. Todos os resultados são as médias tanto das
questões, como dos domínios e enquadradas na classificação: necessita melhorar (quando for
de 1 até 2,9); regular (3 até 3,9); boa (4 até 4,9) e muito boa (5).
O módulo sócio demográfico contou com perguntas referentes a idade, ao estado civil,
a escolaridade e a ocupação dos pacientes. Por fim, houve o tratamento final e o cruzamento
dos dados com fontes teóricas.

Resultados e Discussão.
Dos indivíduos que compuseram esta pesquisa 45% estudavam, sendo que o nível
educacional predominante foi o fundamental incompleto com 36%. Analisando aqueles que já
concluíram o ensino fundamental, obtém-se 63% dos entrevistados, sendo que somente um
possui nível superior completo, refletindo uma população que pouco frequentou as
instituições de ensino e comprova a dificuldade que o portador de Hemofilia tem para
concluir seus estudos. Estudos demostraram que características psicossociais dos hemofílicos
incluem principalmente, o absenteísmo escolar, sendo observado que 50% dos pacientes
relataram interferência da doença na vida escolar (CAIO et al. 2001). Em Pereira (2010) dos
16 entrevistados apenas dois possuíam ensino superior. A falta de escolaridade favorece as
desigualdades sociais e, por conseguinte, o baixo nível de qualidade de vida.
Ainda se observou que somente 36% trabalham. Pode se supor que os dados estão
correlacionados a baixa escolaridade e dificuldades físicas enfrentadas. Leva-se em
consideração que, 35% dos entrevistados estão em idade escolar normal, ou seja, na faixa de 6
a 18 anos, justificando o fato de não trabalharem. Porém, 27% não trabalha e não estuda,
sendo que a média de idade é 34 anos, uma população ativa. Refletindo uma dificuldade real
dessa população em se estabelecer no ambiente de trabalho. O hemofílico como qualquer
outra pessoa deve viver integrado na sociedade, exercendo uma profissão que lhe permita sua
realização profissional, sua independência econômica e que também esteja compatível com
suas limitações físicas (PEREIRA 2010).
Quanto a qualidade de vida geral dos pacientes 63% julgaram como “boa” e sobre a
satisfação com a própria saúde, 63% dos hemofílicos demonstraram-se satisfeitos. Deixando a
média em 4,18, o que vem de encontro com outros estudos que afirmam que portador de
hemofilia se considera um indivíduo normal, no entanto ele é sabedor que existem algumas

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 38
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

restrições que precisa seguir, sem se sentir diminuído ou impotente mediante ao seu grupo
social (VIZCAINO et al. 2004).
Nos quatro domínios que compõem o questionário, notou-se que o domínio de
relações sociais foi o de maior pontuação, já o domínio físico ficou por último, demonstrando
que portadores de hemofilia devem ser corretamente tratados, usufruindo dos métodos de
prevenção e acompanhados com uma equipe multidisciplinar, para que assim possa-se
alcançar maior sucesso terapêutico e redução de incapacidade física (VRABIC et al. 2012).
Dentro do domínio físico, que obteve escore médio (70,9 pontos), à “dependência de
tratamento ou de medicação" foi que mais influenciou na queda da qualidade de vida, e
respostas variando de “extremamente dependentes” até “muito pouco dependentes”,
refletindo, assim, a real conexão desses pacientes aos serviços de saúde. Como foi observado
em pesquisas realizadas por Caio (2001), onde 65% dos sujeitos consideraram um problema
importante a dependência de um centro de tratamento.
Sobre a dor que os pacientes sentem, cerca de 36% disseram que a dor interfere “mais
ou menos” na sua vida diária e 27 % que dificultava bastante a realização de suas tarefas, os
outros 27% que interferia “muito pouco”. Nota-se que, com a introdução do fator liofilizado
para tratamento profilático, tornou-se possível uma vida com participação ativa em casa,
escola, trabalho, esporte e lazer (RITERNOUR, 2004). Mas, ainda há a necessidade de um
atendimento multidisciplinar que ofereça um tratamento centrado nas dificuldades e
incapacidades mediante seu desempenho e modo de vida diário, restabelecendo suas
capacidades e potencialidades para terem melhor qualidade de vida (SHIKASHO et al. 2009).
Na avaliação da sua capacidade de trabalho 45% disseram ser intermediário ou ruim.
A capacidade de trabalho recebe influências de diversos fatores tais como aspectos sócio
demográficos, estilo de vida, processo de envelhecimento exigências do trabalho, sendo a
saúde considerada como um dos principais fatores (PANZINI et al. 2007).
Já ao domínio psicológico, apresentou o segundo maior escore médio (79,7). Quanto a
espiritualidade, religião e crenças pessoais, 90% referiram fazer sentido de forma extrema,
Alguns estudos apontam para associação benéfica entre religiosidade e saúde mental, atuando
de maneira positiva na qualidade de vida. No que diz respeito à “concentração” 63%
referiram se concentrar bastante, entretanto é a questão com menor escore médio neste
domínio.
Sobre o domínio relações sociais que apresentou o maior escore médio (87,3) e a
maioria dos pacientes considerou o apoio que recebem como o mais alto padrão possível, ou
seja 95% dos participantes demostraram estar satisfeitos ou muito satisfeito com o apoio que
recebem dos amigos. Dado importante, pois, há um consenso que pessoas que tem apoio de
familiares e amigos enfrentam de forma melhor seus problemas (NUNES et al. 2009).
No domínio meio ambiente, com escore médio (75 pontos) teve como questão
abordada a segurança física, que foi considerada bastante segura para 45% dos sujeitos e
intermediaria para 36%. É relevante observar que a segurança física relatada como
intermediária pode ser decorrente da violência e da criminalidade presentes na cidade de
Mossoró e região. Quanto aos “recursos financeiros” 72% referiram de média à muito pouca
quantidade e só 27% estão muito satisfeitos o que revela também os fatores sociais que esses
pacientes estão inseridos e a consequente interferência na qualidade de vida. Por fim, a
relação “ambiente no lar”, é a questão que mais interfere positivamente no domínio (87,3%),
assim como “cuidados de saúde e sociais”, já que a média do domínio obteve 83,6%. Isso é
ideal no contexto da hemofilia, tendo em vista, as particularidades da doença, que muitas
vezes requer assistência imediata.

Conclusão

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 39
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

De modo geral, os hemofílicos apresentam boa qualidade de vida, sendo prejudicada


por baixa renda, dor, oportunidades de trabalho, dependência do serviço de saúde e segurança
física. A pesquisa evidenciou a importância do tema, pois a hemofilia traz consequências
biopsicossociais ao indivíduo, o que remete à necessidade de incorporá-lo no ambiente social,
proporcionando incentivo ao estudo, acesso aos serviços de saúde de qualidade, assim como a
inserção dos mesmos no mercado de trabalho.
Além disso, a mudança de uma perspectiva centrada exclusivamente na doença, para
uma que incorpore, por parte dos profissionais de saúde, a atenção aos aspectos psicológicos
relacionados à qualidade de vida dos hemofílicos, é de extrema importância para o processo
de aceitação e autocuidado desses pacientes.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Especializada e Temática. Manual


de hemofilia / Ministério da Saúde , Departamento de Atenção Especializada e Temática. –
2. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015.

CAIO V. M., SILVA R. B. P., MAGNA L. A.; RAMALHO A. S. - Genética comunitária e


hemofilia em uma população brasileira. Cad Saúde Pública 2001;17:535-605. 2001.

FIALA K.A.; RITERNOUR D. M.; Medial care for athletes with haemophilia. Athl Ther
Today 2004.

NUNES A. A.; RODRIGUES B. S. C.; SOARES E. M.; SOARES S.; MIRANZI S. S. C. -


Qualidade de vida de pacientes hemofílicos acompanhados em ambulatório de hematologia.
Rev. Bras. Hematol. Hemoter. 2009.

PANZINI R. G.; ROCHA N. S.; BANDEIRA D.R.; FLECK M. P. A. Qualidade de vida e


espiritualidade. Rev Psiq Clín 2007.

PEREIRA, A. Aspectos sociais da vivência com a hemofilia. 2010. 83 f. Trabalho de


Conclusão de Curso. Departamento de Serviço Social - Centro Sócio Econômico da
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.

SANTOS, Cristiane Flores; LOPES, Fernando José. Bullyng in school in children with
Hemophilia RPGM - Revista Acadêmica, SP, p. 3, 2017

SHIKASHO L.; BARROS N. D. V. M. B.; RIBEIRO V. C. P. R.;Hemofilia: o difícil


processo de aceitação e auto-cuidado na adolescência. CES Revista 2009; 23: 187-193. 2009

VILLELA, Ariane Lanzini. Revisão Integrativa sobre Hemofilia: Desafio para a assistência
em Enfermagem. Rep. Institucional Faculdade Guairaca, PR, p. 29, 2019.

VIZCAÍNO C. C.; VIZCAÍNO G.; CARRIZO E.; VIZCAÍNO M. A.; SARMIENTO S.;
CARRUYO J. V. Actitud de los indivíduos adultos com hemofilia hacia su enfermedad.
Invest Clin 2004.

VRABIC, Ana Claudia Acerbi et al. Dificuldades para enfrentar sozinho as demandas do
tratamento: vivências do adolescente hemofílico. Acta paul. enferm., São Paulo , v. 25, n.
2, p. 204-210, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 40
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

WFW, World Federation of Hemophilia. Report on the Annual Global Survey 2016. World
Federation of Hemophilia, Montreal, Canadá, v. 1, p. 8, 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 41
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A RELAÇÃO ENTRE A SOBREVIDA E APOIO FAMILIAR EM


MULHERES SUBMETIDAS AO TRATAMENTO DE CÂNCER DO
COLO DO ÚTERO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Natália da Silva Morais¹; Linda Kátia Oliveira Sales²


1
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte. Bolsista PIBIC voluntária; e-mail:
nataliamorais@alu.uern.br
2
Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; Membro do Grupo de Pesquisa em Enfermagem Campus Caicó
(GRUPECC); e-mail: katiaoliveira@uern.br
Palavras-chave: Sobrevida. Câncer do colo do útero. Família.

Introdução
A incidência do Câncer do colo do útero (CCU) no mundo aproxima-se de 530
mil novos casos por ano, sendo este a causa de 265 mil mortes no mesmo período.
Nessa perspectiva considerado um grave problema de saúde pública principalmente nos
países em desenvolvimento, devido a sua maior incidência ocorrer em classes
economicamente desfavorecidas (ROCHA CBA, 2019; SILVA; ALMEIDA; SÁ;
MOURA; ARAÚJO, 2017).
De acordo com Silva et al. (2017) a sobrevida do câncer, esta relacionado na
maioria das vezes com consequências negativas, sequelas relevantes, relacionadas a
vivência da doença, diagnostico e tratamentos vivenciados. O CCU revela dimensões
variadas de sentimentos, desde a descoberta da doença, até o retorno as atividades de
vida diárias. O estudo mostra sentimentos como medo, ansiedade e angústia.
Corroborando como o estudo Castaneda et al.(2019) traz que o apoio familiar, de
amigos, de profissionais da saúde, e da religião, as mulheres conseguem enfrentar esses
sentimentos negativos, de forma menos drástica e dolorosa.
No seu estudo Silva et al. (2017) mostra que o tratamento afeta diretamente as
dimensões psicossociais do indivíduo submetido a tal procedimento. E que o apoio
familiar apresenta-se importante nesse momento.
Tendo em vista este cenário, o objetivo do estudo é analisar a relação entre a
sobrevida e apoio familiar em mulheres submetidas ao tratamento de câncer do colo do
útero no Estado do Rio Grande do Norte, Brasil, no período de 2003 a 2008.

Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo e transversal de abordagem quantitativa,
realizado com prontuários clínicos das mulheres com diagnóstico confirmado de câncer
do colo do útero e que estavam em tratamento em duas instituições de referência no
estado: Liga Norte-Rio-Grandense contra o câncer – LNRCC na cidade de Caicó e
Natal e Centro de Oncologia e Hematologia de Mossoró – COHM entre os anos de 2003
a 2008.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 42
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Foram incluídos todos os prontuários de mulheres com diagnóstico de câncer do


colo uterino no período correspondente a 01 de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de
2008, excluindo-se prontuários ilegíveis, prontuários de mulheres que mudaram para
outro estado e prontuários de mulheres que abandonaram o tratamento clínico.
Um instrumento composto por dados sociodemográficos e sinais e sintomas das
mulheres com diagnóstico de câncer do colo do útero foi utilizado para a coleta.
Os dados foram organizados em planilhas do Microsoft Excel, posteriormente,
avaliados com o auxílio do IBM SPSS Statistic versão 19.0 for Windows. Para avaliação
dos fatores prognósticos associados ao desfecho, foram calculadas as hazard ratios
(HR) e intervalos com 95% de confiança, seguindo-se o modelo de riscos proporcionais
de Cox. Apenas as variáveis que apresentaram HR brutas estatisticamente significativas
(p < 0,05) foram incluídas. Todos os testes o nível de significância correspondeu a 5%.
Pesquisa aprovada pelo CEP da Liga Norte RioGrandense Contra o câncer e
obteve parecer sob o número637.849 e CAAE: 25412913.70000.5293.

Resultados
De acordo com Análise bivariada entre risco de óbito e fatores prognósticos das
mulheres com câncer do colo do útero, Hazard ratio (HR) entre as categorias e seus
respectivos níveis de significância estatística (valor de p). Rio Grande do Norte, 2003-
2008, identificou-se HR: 1 (apoio no tratamentro não familiar e 1,29 para familiar), IC
menor: 1,01 para apoio familiar, IC maior:1,66 para apoio familiar e p: 0,041 apoio
familiar.

Discussão

O câncer do colo do útero, não diferente dos demais canceres é uma doença que
compromete as esferas física, psicológica e social do paciente acometido por essa
afecção. O aparecimento de um tumor maligno nos órgãos sexuais constitui um impacto
psicológico capaz de perturbar o equilíbrio emocional e afetivo da mulher; Também
acaba passando por um estresse significativo como resultado da incerteza envolvida no
diagnóstico e tratamento da doença neoplásica (BEJARANO, M. et al.,2009;
RAMÍREZ-PERDOMO; RODRÍGUEZ-VELEZ; PERDOMO-ROMERO, 2018).
O diagnóstico do câncer é uma experiência extremamente estressante, fadada de
uma carga gigantesca, cercada de sentimentos como angústia, sofrimento e incertezas. A
palavra câncer por muitos, costuma ser associada à morte, sua mera menção
desencadeia situações de ansiedade nas pessoas, dada a iminência de tratamentos
agressivos que trazem dor intensa e incapacidades dolorosas, além de uma série de
distúrbios físicos e emocionais e mudanças drásticas de estilo de vida, costumes,
trabalho e vida familiar. A isto tudo, acrescenta-se o fator econômico preocupante, uma
vez que, nesse ambiente, os custos da doença ultrapassam a capacidade dos pacientes e
de seus familiares na maioria das vezes. (BARROS; LOPES, 2007).
É sabido que o apoio social é um elemento indispensável para a saúde das
pessoas. A pobreza por sua vez, acarretam limites não apenas econômicos, mas também

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 43
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

na estrutura das redes sociais e nos suportes obtidos, cujos efeitos se expressam nas
subjetividades das pessoas e, principalmente, na vivência de algumas enfermidades
(VÁSQUEZ; GÁLVEZ, 2014).
Uma mostra de Pesquisa traz que no decorrer do processo de diagnostico
mulheres conseguem tratar o câncer cervical, com ajuda do suporte social, as relações
que constituem e que conseguiram estabelecer durante o tratamento levaram-nas ao
êxito, com o suporte da família, de vizinhos, dos amigos e dos profissionais da saúde.
Decisões como ir ao médico, em busca do diagnostico, resultados e tratamentos, frente
ao adoecimento não foram apenas de vontade própria, mas por incentivo de familiares e
amigos (GÓMEZ; GÓMEZ, 2012).
Corroborando com o estudo Ramírez-Perdomo, Rodríguez-Velez e Perdomo-
Romero (2018), traz que o suporte dado ajuda na restauração da saúde e promove a
reconstrução da vida, diminui a dureza da situação e torna o processo mais suportável
(RAMÍREZ-PERDOMO; RODRÍGUEZ-VELEZ; PERDOMO-ROMERO, 2018).
Os cuidados ofertados pela família, com amor e solicitude durante o
enfrentamento da doença pode fazer com que este período seja cercado de momentos de
reconhecimento e aflorar vários sentimentos bons, de resignação ao outro, assim sendo
possível compartilhar os encargos da doença e possibilitando alegria (WAKIUCHI;
SALIMENA; SALES, 2015).

Conclusão

Dado o exposto, conclui-se que o apoio familiar no câncer é importante para


tomar decisões e não desistir da vida. Ao lutar contra o câncer, as mulheres sentem-se
muitas vezes abandonadas por suas crenças, por tratar-se de um caminho árduo, onde
não existe certeza de cura. Sente-se amparada e amada, ao vivenciar todas as etapas da
doença, torna o tão almejado diagnostico de cura, mas imaginável e concreto.
E importante frisar, que para alcançar mudanças no comportamento da mulher
com câncer e desmistificar o estigma da enfermidade, é preciso um diagnóstico rápido e
uma assistência integral a paciente, viabilizando profissionais capacitados, com uma
assistência humanizada. É imprescindível que a família seja o alicerce dessa mulher e
que possa coletivamente com a equipe construir um caminho menos espinhoso e menos
sofrido. O estudo pode elucidar que com o apoio da família os problemas relacionados a
um diagnóstico tão temido, seja menos sofrido e a esperança mais perceptível e
evidente.
Agradecimentos
À PROPEG UERN pela oportunidade de ser bolsista voluntária de iniciação científica;
a Liga Norte Riograndense Contra o Câncer, pela oportunidade de realização da
pesquisa.

Referências

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 44
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BARROS, Dejeane de Oliveira; LOPES, Regina Lúcia Mendonça. Mulheres com


câncer invasivo do colo uterino: suporte familiar como auxílio. Revista Brasileira de
Enfermagem, [S.L.], v. 60, n. 3, p. 295-298, jun. 2007.

GÓMEZ, Margarita María Gómez; GÓMEZ, María Isabel Lagoueyte. O apoio social:
estratégia para afrontar o câncer de colo uterino. Avances En Enfermería, Vale de
Aburrá, v 15, n. 1, p. 32-41, abr. 2012.

LOPES, Viviane Aparecida Siqueira; RIBEIRO, José Mendes. Fatores limitadores e


facilitadores para o controle do câncer de colo de útero: uma revisão de
literatura. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 24, n. 9, p.3431-3442, set. 2019.

RAMIREZ-PERDOMO, Claudia Andrea; RODRIGUEZ-VELEZ, María Elena;


PERDOMO-ROMERO, Alix Yaneth. INCERTEZA QUANTO AO DIAGNÓSTICO
DE CÂNCER. Texto e contexto - enferm. , Florianópolis, v. 27, n. 4, e5040017, 2018.

ROCHA CBA, Cruz JW, Oliveira JCS. Insegurança nas ações de controle do câncer de
colo uterino: atuação do enfermeiro na estratégia de saúde da família. Rev Fun Care
Online. 11(4):1072-1080, jul/set; 2019.

SILVA, Julia Ruth Toledo da et al. vivência das mulheres diagnosticadas com câncer de
colo de útero submetidas a tratamento cirúrgico. Rev Enferm Ufpe On Line., Recife,
p.3258-3268, 15 set. 2017.

VÁSQUEZ, María del Carmen Castro; GÁLVEZ, María del Carmen Arellano. Redes
de apoio social e gênero: experiência de mulheres com HPV, displasias e câncer de colo
uterino. A Janela [Online], Guadalajara, v. 5, n. 39, p. 208-240, jun. 2014.

AKIUCHI, Julia; SALIMENA, Anna Maria de Oliveira; SALES, Catarina Aparecida.


Being cared by a family member: the existential feelings of cancer patients. Texto &
Contexto - Enfermagem, [S.L.], v. 24, n. 2, p. 381-389, jun. 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 45
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E SUA


APLICABILIDADE NO CURSO DE GRADUAÇÃO

Fernando Jeferson Queiroz dos Santos1; Luiz Paulo Nunes Neto2; Johny Carlos de
Queiroz3

Palavras-chave: Enfermagem. Sistematização da Assistência. Curso de graduação.


Introdução
Segundo Tannure e Pinheiro (2010, p. 9) a Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) é uma metodologia científica que vem sendo cada vez mais
implantada na prática assistencial, conferindo maior segurança aos pacientes, melhora da
qualidade da assistência e maior autonomia aos profissionais de enfermagem. Consonante
Adamy, Zocche e Almeida (2019) Florense Nightingale identificou a sistematização do
cuidado, desde 1854, quando a Enfermagem iniciou seu percurso para adoção de uma
prática baseada em conhecimentos científicos.
Essa metodologia surge no Brasil na década de 1970, como Processo de
Enfermagem (PE) proposto por Wanda de Aguiar Horta, que enfatizou o planejamento
da assistência, na tentativa de tornar a enfermagem uma profissão autônoma e caracterizá-
la como ciência (ADAMY; ZOCCHE; ALMEIDA, 2019).
O COFEN através da resolução 358/2009 definiu a SAE como “[...] a organização
do trabalho profissional quanto ao método, pessoal e instrumentos, tornando possível a
operacionalização do Processo de Enfermagem [...]”, o qual deve ser implantado em
ambientes públicos ou privados em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem
(ADAMY; ZOCCHE; ALMEIDA, 2019).
A execução deste método está diretamente relacionada com o Processo de
Enfermagem, que se baseia na investigação e tratamento das necessidades do indivíduo,
a partir de atividades crítico-reflexivas ligadas à prática, no qual o enfermeiro irá
observar, planejar, executar e avaliar suas ações, levando à uma maior segurança do
paciente e uma maior independência do profissional, devido o embasamento teórico que
torna mais fidedignas às ações tomadas pelos enfermeiros (MEDEIROS, 2011).
Sendo assim, se faz necessário que os enfermeiros adquiram conhecimentos a
cerca das teorias de enfermagem, do Processo de Enfermagem (PE), de semiologia, de
fisiologia, de patologia, além das habilidades necessárias para gerenciarem as unidades,
para que possam assistir diretamente o paciente, a família e a comunidade para desta
forma, obter indicadores de saúde a partir dos registros realizados no prontuário pela
equipe de enfermagem, subsidiando a avaliação da qualidade da assistência prestada,
assim como, mensurar o quanto esses profissionais contribuíram para a melhora do
quadro clínico dos pacientes sob seus cuidados (TANNURE;PINHEIRO, 2010).

1
Discente do curso de graduação em enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: fernandojeferson@alu.uern.br
2
Discente do curso de graduação em enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail
3
Docente do curso de graduação em enfermagem do Departamento de enfermagem da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: johnycarlos@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 46
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para que a SAE seja incorporada a prática dos enfermeiros e demais profissionais
envolvidos, se faz necessário uma educação permanente, capacitando-os para a execução
desse método em todos os serviços de saúde.
Neste sentido foram levantados os seguintes questionamentos: Como tem se
organizado as matrizes curriculares de modo a trabalhar a SAE/PE em acordo com o que
está prevista no PPC do curso de Enfermagem da UERN? Existe alguma tentativa de
implantação da SAE/PE no ensino além do que está previsto no PPC?
A abordagem dessa questão torna-se necessária, tendo em vista que a análise dos
documentos permitirá um olhar mais crítico em relação ao que se faz necessário ser
abordado no ensino de Enfermagem, compreendendo de que forma a SAE/PE contribui
no processo formativo dos discentes e sua posterior atuação nos serviços de saúde.
Além disso, essa problematização se faz necessária vista a realidade das
dificuldades enfrentadas no serviço de saúde e um aprofundamento neste assunto poderá
despertar o interesse dos futuros profissionais para a utilização deste método, resultando
na possibilidade da melhora da assistência, uma maior autonomia ao profissional de
enfermagem e aumento da dinâmica de trabalho da equipe, sobrepondo a atual realidade
de submissão às solicitações da classe médica (TANNURE; PINHEIRO, 2010).
Este estudo objetiva descrever como a Sistematização da Assistência de Enfermagem
contribui para a formação dos discentes

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa documental que realizada no Projeto de Curso (PPC) e
nos Programais Gerais dos Componentes Curriculares (PGCCs) do curso de graduação
da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do norte
(FAEN/UERN), do Campus Central, no período de agosto de 2019 a julho de 2020.
Durante o período de coleta os conteúdos referentes à licenciatura contidos no
PPC não serão avaliados tendo em vista não se adequar aos objetivos da temática em
estudo. A análise será fundamentada na Análise de Conteúdo com elaboração de
categorias proposto por Bardin (2009).

Resultados e discursão
Embora e SAE e o PE sejam percebidos como elementos importantes pela maioria
dos profissionais de enfermagem no Brasil, suas efetivas aplicações na prática do cuidado
clínico de enfermagem ainda são lacunas a serem superadas. Além disso, pouco tem sido
discutido para que se possa promover a construção do conhecimento genuíno de
enfermagem e, consequentemente, a emancipação da identidade profissional, e a
construção de referencias teóricos de enfermagem demonstrem a utilização da SAE e do
PE na prestação de cuidados (OLIVEIRA, 2019; GUTIERREZ, 2017).
Salvador (2019) destaca-se a necessidade de pensar em métodos de ensino que
contribuam para a efetivação de um ensino ativo e efetivo da SAE nos diferentes
processos formativos da enfermagem.
O Curso de Graduação em Enfermagem, no qual foi realizada a pesquisa, está
organizado em 9 semestres e foi a partir da analise dos PGCCs do curso de enfermagem
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte que tornou-se possível perceber que
a SAE se encontra pouco presente no planejamento disciplinar do curso. A presença da
SAE de forma clara no ensino de graduação se faz visível no plano da disciplina de
“Semiologia e Semiotécnica” do 4ª período do curso, estando descrita como conteúdo no

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 47
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PGCC da seguinte forma “Processo de Enfermagem; Sistematização da Assistência de


Enfermagem”.
No entanto, vale ressaltar que o PGCC da disciplina torna duvidosa a possibilidade
de se trabalhar a SAE de forma completa atendo-se a todas as especificidades da
sistematização, pois a quantidade de conteúdos a serem trabalhados e as atividades
práticas a serem integralizadas parecem tornar insuficiente o tempo de aulas destinadas
ao ensino da sistematização. Os conteúdos trabalhados
A disciplina “Semiologia e Semiotécnica de Enfermagem no Processo
Saúde/Doença da Criança”, também traz uma abordagem do SAE na qual a disciplina
apresenta como objetivo o qual está descrito da seguinte forma “sistematizar os métodos,
as técnicas e os instrumentos de trabalho para a assistência de enfermagem à criança”.
Porém o texto do PGCC não deixa claro como o objetivo será alcançado, pois os
conteúdos a serem trabalhados não trazem uma abordagem clara de como será trabalhado
tal objetivo.
Assim, fica subentendido que a disciplina parece trabalhar a SAE de forma
“diluída” ao longo dos conteúdos trabalhados que estão discriminados da seguinte forma
“relacionamento e comunicação com a criança, anamnese pediátrica, exame físico da
criança, administração de medicamentos, manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico,
manutenção da função cardiorrespiratória, necessidades de eliminação, alimentação e
nutrição”.
As demais disciplinas do curso de enfermagem em seus respectivos PGCCs não
trazem descrita uma abordagem da SAE em seus textos, isso leva ao entendimento de que
a sistematização parece não ser abordada nas demais disciplinas do curso. Além disso, as
disciplinas que abordam a sistematização da assistência contam com inúmeros conteúdos,
além da SAE, o que deixa claro a insuficiência de carga horária para uma abordagem
ampliada da temática. Dessa forma faz-se notória que a abordagem da SAE no ensino de
graduação está pouco presente nos PGCCs do curso de Enfermagem.
Essa realidade torna preocupante, pois segundo Oliveira (2019) é urgente que os
responsáveis pelas instituições compreendam e criem um ambiente favorável para a
implementação da SAE, pois um estudo que objetivou analisar a contribuição da SAE
para a auditoria hospitalar identificou que quando ela é realizada de forma eficaz, esta por
si está inteiramente associada com qualidade da assistência prestada ao cliente,
colaborando ainda na redução do tempo de internação e em menos perdas financeiras para
as instituições de saúde.
Tendo em vista a importância da sistematização da assistência, para a efetivação
de um serviço de qualidade baseado em uma atuação pensada e organizada da atuação do
profissional de enfermagem nos serviços de saúde, aponta-se para necessidade de uma
ampliação do ensino da SAE.
Além disso, tornou-se perceptível que o pouco aparecimento da SAE nos PGCCs
pode tornar-se motivo para que a sistematização torne-se uma temática pouco trabalhada
no ensino de graduação. Isso pode tornar-se uma problemática que refletirá no
desempenho profissional e na autonomia do egresso do curso, tendo em vista que a
aplicação da Sistematização da Assistência de Enfermagem, segundo Oliveira (2019)
pode propiciar o pensamento e atuação crítica do enfermeiro a qual amplia a visão atuação
e as possibilidades do cuidado.
Considerações finais
O estudo tornou possível perceber a necessidade de uma ampliação do ensino da
SAE no curso de enfermagem da UERN, visto que a partir das analises pode-se notar que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 48
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

os PGCCs pouco abordam a temática. Além disso, foi possível perceber que o tempo
destinado à abordagem disciplinar da SAE no curso é insuficiente para trabalhar a
amplitude de conteúdos a serem ministrados em relação à temática.
Vale ressaltar que se tem como uma forte problemática o déficit do ensino da SAE,
pois é sabido que a mesma é de extrema importância para uma formação pautada na
capacitação de profissionais que sabem exercer sua autonomia e que estarão preparados
para trabalhar de forma eficiente e resolutiva. Além disso, a SAE se faz de extrema
importância para a construção do conhecimento genuíno de enfermagem e,
consequentemente, a emancipação da identidade profissional.
No mais, a pesquisa abre margem para a realização de um novo estudo que se
direcione aos professores do curso para captar a realidade do ensino da SAE na prática
do docente. Dessa forma, poderá ser esclarecido se a problemática do ensino da SAE é
algo meramente documental ou também está presente na prática, bem como na forma de
se trabalhar os conteúdos que se remetem a Sistematização da assistência de enfermagem.

Referências
ADAMY, EK, ZOCCHE, DAA, ALMEIDA, MA. PROCESSO DE
ENFERMAGEM: a arte de integrar o ensino e o serviço na formação. Porto Alegre:
Moriá, 2019.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009.

GUTIERREZ, M. G. R. de; MORAIS, S. C. R. V. Systematization of nursing care and


the formation of professional identity. Rev. Bras. Enferm., Brasília , v. 70, n. 2, p.
436-441, Apr. 2017 .

MEDEIROS, Ana Lucia de. Superando os fatores que dificultam a operacionalização da


sistematização da assistência de enfermagem: experiência de enfermeiros em um serviço
de obstetrícia. 2011. 152 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011.

OLIVEIRA, M. R. de et al . Nursing care systematization: perceptions and knowledge


of the Brazilian nursing. Rev. Bras. Enferm: Brasília , v. 72, n. 6, p. 1547-
1553, 2019.

SALVADOR, P. T. C. de O. et al . Construção de hipermídia para apoio ao ensino da


sistematização da assistência de enfermagem. Rev. Gaúcha Enferm., Porto Alegre , v.
40, e20180035, 2019 .

TANNURE, M. C; PINHEIRO, A. M. SAE: Sistematização da Assistência de


Enfermagem: Guia prático. Rio De Janeiro, Guanabara Koogan, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 49
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: FATORES


MOLECULARES, EPIDEMIOLÓGICOS, CLÍNICOS E
ODONTOLÓGICOS

César Antonio Araújo Melo¹; Jullierme de Oliveira Morais¹; Eduardo José Guerra Seabra2;
Pablo de Castro Santos².
Palavras-chave: doença cerebrovascular; isquemia; hemorragia; mortalidade.
Introdução
As doenças cerebrovasculares (DCbV) são caracterizadas por um desenvolvimento
rápido do quadro clínico e sintomático causados por um distúrbio local do cérebro ou sistêmico
que pode resultar em morte. Dentre essas DCbVs o acidente vascular cerebral (AVC) se encontra
com o maior destaque, dentre outros motivos, pela sua elevada incidência, com 17 milhões de
indivíduos acometidos anualmente, dentre os quais, 6 milhões evoluem para óbito (BENJAMIN
et al., 2017; PANNAIN et al., 2019).
O acidente vascular encefálico (AVE), comumente é denominado de acidente vascular
cerebral (AVC), pode abranger além do cérebro, o encéfalo e ambos são precedidos de desordens
ocorridas em qualquer parte ao longo do sistema cardiovascular. Anomalias que afetem vasos
como: placas de ateroma, aumento de calibre, perda de elasticidade e o próprio sangue, por meio
de proteínas e substâncias tóxicas para as células do tecido, implicam indiretamente em distúrbios
cerebrais pois comprometem regiões do encéfalo. Nesse sentido, pesquisas como as de HAY et
al., 2017, GAKIDOU et al., 2017, BENJAMIN et al., 2017 e VOS et al., 2017 mostram que
mundialmente, as doenças cardiovasculares continuam sendo a principal causa da morte.
O acometimento por AVE isquêmico ocorre devido a obstrução das principais artérias
que levam sangue ao encéfalo, isto leva a uma hipóxia com a redução no suprimento rico em
oxigênio (O2) e aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2). Já o hemorrágico ocorre
pelo rompimento de uma artéria do encéfalo, seguido de extravasamento sanguíneo para além da
barreira hematoencefálica acompanhado de aumento da pressão intracraniana. É possível observar
na literatura que o AVE isquêmico é o mais prevalente, com aproximadamente 88% dos casos, no
entanto, sua mortalidade é em torno de 15 a 20% menor quando comparado ao hemorrágico
(THOM et al., 2006).
Assim, o presente trabalho teve como objetivo revisar e discutir a literatura acerca dos
fatores moleculares epidemiológicos, clínicos e odontológicos associados ao Acidente Vascular
Encefálico, contribuindo assim na busca esforços para a qualidade da assistência em saúde em
práticas baseada em evidências. A presente investigação científica tem como pergunta norteadora:
quais os fatores moleculares, epidemiológicos, clínicos e odontológicos associados ao acidente
vascular encefálico?

Metodologia
O presente artigo foi construído a partir de uma revisão integrativa, cuja finalidade é
sistematizar os resultados de pesquisas sobre um determinado tema ou área de conhecimento de
forma ordenada para facilitar a compreensão e permitir uma melhor associação entre seus
conteúdos.
1
Estudantes do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mails: cesar.a.a.melo@gmail.com ; julliermeoliveira@hotmail.com.
² Docente do curso de Odontologia da UERN; e-mails: pablocastro@uern.br ; eduardoseabra@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 50
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A busca para obtenção dos estudos foi realizada no período de março a junho de 2020. As
bases de dados escolhidas para a pesquisa foram: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scientific
Eletronic Library Online (SciELO), PubMed, ScienceDirect, SpringerLink. Todas as buscas foram
feitas com os descritores em português e inglês respectivamente, determinados pelo DeCS
(Descritores em Ciências de Saúde) e MeSH (Medical Subject Headings): Acidente vascular
cerebral, Stroke, Molecular, Molecular, Odontologia, Dentistry, Epidemiologia, Epidemiology. Os
termos foram combinados por meio do operador booleano lógico “AND”.
Após a coleta de dados os artigos foram analisados e separados de acordo com a
relevância para o tema, em seguida formou-se o contexto para discussão do presente trabalho e foi
apresentado os dados por meio de texto narrativo. Foram inicialmente identificados um total de
achados antes e depois do critério de inclusão, sendo eles: artigos em português, inglês e espanhol,
publicados nos últimos dez anos, completos.
Resultados e Discussão
Doenças do sistema coronário estão, muitas vezes, relacionadas diretamente com DCbVs
causadoras de AVEs (EHRET et al., 2011; OGORODNIKOVA et al., 2010). Dessa forma, a
ausência de elementos dentários foi um fator observado por BOKHARI et al., 2012 e GHIZONI
et al., 2012, por essa carência ser altamente relacionada a doenças gengivais estarem muito
relacionada a DCVs, e AVE diretamente, foi visto uma significatividade nesses indivíduos
acometidos. No estudo de LEAO et al., 2020, a perda dentária não tem mostrado associação com
quadros de AVE isquêmico e isquêmico transitórios, evidenciando resultados negativos nesses
pacientes, mas que levam a resultados de pior funcionalidade após o acidente.
Referente a questão de idade, relacionado com qualquer que seja o tipo do acidente, foi
observado por MAAIJWEE et al., 2014 uma crescente de AVCs primários e recorrentes em jovens
abaixo da idade de 50 anos e entre 18 à 34. Corroborando ao proposto, GHIZONI et al., 2012
aponta que 32% de 141 pacientes de outro estudo se encontravam dentro da categoria de jovens,
o que é um número alto. Entretanto a média de idade em seu próprio trabalho somente 2 pessoas
eram abaixo de 40 anos.
Alguns dados indicam que o uso de contraceptivos hormonais femininos combinados
pode aumentar o risco de acidente vascular cerebral isquêmico em indivíduos que têm enxaqueca,
principalmente as com aura (SACCO et al., 2017). Nesse sentido, de acordo com
ANDROULAKIS et al., 2016, há grandes evidências que sugerem um risco aumentado de acidente
vascular cerebral isquêmico associado à enxaqueca com aura, assim como mostrado por GHIZONI
et al., 2012. Contudo, mais estudos são necessários para ter um desfecho plausível diante dessa
associação.
Pesquisas moleculares indicam que ácidos graxos como ômega-3 estão associados a
prevenção primária e secundária da doença cardiovascular. Foi observado que, pacientes que
tomaram o suplemento de óleo de peixe tiveram uma redução de 15% morbilidade primária,
incluindo 21 e 30% de reduções na mortalidade total cérebro vascular (CAO et al., 2015).
Enquanto outro estudo, feito de forma sistemática (ABDELHAMID et al., 2018), aponta que a
ingestão de AGPIs pode diminuir levemente o risco de AVEs e tem efeitos ínfimos na questão de
mortalidade de DCbVs.
A presença de alguns microrganismos na corrente sanguínea como alguns grupos de
bactérias tem mostrado nos artigos selecionados que a presença dos mesmos tem trazido muitos
prejuízos e danos ao sistema cardiovascular, podendo consequentemente ocorrer episódios de
AVE. Tal mecanismo é mostrado em estudos de KEBSCHULL; DEMMER; PAPAPANOU, 2010
muitas dessas bactérias disseminam-se para corrente sanguínea através do rompimento de vasos
1
Estudantes do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mails: cesar.a.a.melo@gmail.com ; julliermeoliveira@hotmail.com.
² Docente do curso de Odontologia da UERN; e-mails: pablocastro@uern.br ; eduardoseabra@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 51
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

do periodonto, por ser um tecido em sua maioria conjuntivo, como é caso das bactérias
Actinomycetemcomitans, Staphylococci e Porphyromonas gingivalis presentes nas bolsas
periodontais (CECON et al., 2010; LEAO et al., 2020; MURAKAMI et al., 2013). Outro
microrganismo importante é o Streptococcus mutans, muito presente na superfície dos dentes, tem
sua penetração no sangue pelo tecido pulpar, através da cárie levando a vários problemas
vasculares e causando hemorragias e micro hemorragias cerebrais (TONOMURA et al., 2016).

Conclusão

Com isso, foi identificado e evidenciado nos artigos selecionados, que existem fatores
epidemiológicos, moleculares e odontológicos relacionados com o acidente vascular cerebral.
Assim, perante a escassez de estudos sobre esta temática, surge a necessidade do desenvolvimento
de pesquisas tanto biológicas quantos odontológicas, bem como de toda área da saúde, na busca
de entender e buscar mecanismos de tratamento aos pacientes com acidente vascular encefálico,
dando ênfase a uma prática baseada em evidências.

Agradecimentos
Agradecemos imensamente ao Governo do Estado do Rio Grande do Norte, a Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) pela bolsa de estudos e oportunidade de participarmos
do PIBIC, ao Coordenador deste projeto por nos confiar esta tarefa tão importante para o nosso
desenvolvimento pessoal e profissional.

Referências:
ABDELHAMID, A. et al. Polyunsaturated fatty acids for the primary and secondary prevention
of cardiovascular disease (Review). Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 11, 2018.
ANDROULAKIS, X. M. et al. Ischemic stroke subtypes and migraine with visual aura in the ARIC
study. Neurology, v. 87, n. 24, p. 2527–2532, 2016.
BENJAMIN, E. J. et al. Heart Disease and Stroke Statistics—2017 Update. Circulation, v. 135.
BOKHARI, S. A. H. et al. Tooth loss in institutionalized coronary heart disease patients of Punjab
Institute of Cardiology, Lahore, Pakistan. Journal of Epidemiology and Global Health, v. 2, n.
1, p. 51–56, 2012.
CAO, Y. et al. Omega-3 Fatty Acids and Primary and Secondary Prevention of Cardiovascular
Disease. Cell Biochemistry and Biophysics, v. 72, n. 1, p. 77–81, 2015.
CECON, F. et al. Time-related Increase of Staphylococci, Enterobacteriaceae and Yeasts in the
Oral Cavities of Comatose Patients. Journal of Microbiology, Immunology and Infection, v.
43, n. 6, p. 457–463, 2010.
EHRET, G. B. et al. Genetic variants in novel pathways influence blood pressure and
cardiovascular disease risk. Nature, v. 478, n. 7367, p. 103–109, 2011.
GAKIDOU, E. et al. Global, regional, and national comparative risk assessment of 84 behavioural,
environmental and occupational, and metabolic risks or clusters of risks, 1990-2016: A systematic
analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. The Lancet, v. 390, n. 10100, p. 1345–
1
Estudantes do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mails: cesar.a.a.melo@gmail.com ; julliermeoliveira@hotmail.com.
² Docente do curso de Odontologia da UERN; e-mails: pablocastro@uern.br ; eduardoseabra@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 52
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

1422, 2017.
GHIZONI, J. S. ; et al. Increased levels of Porphyromonas gingivalis are associated with ischemic
and hemorrhagic cerebrovascular disease in humans: an in vivo study. Journal of applied oral
science, p. 104–112, 2012.
HAY, S. I. et al. Global, regional, and national disability-adjusted life-years (DALYs) for 333
diseases and injuries and healthy life expectancy (HALE) for 195 countries and territories, 1990-
2016: A systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2016. The Lancet, v. 390, n.
10100, p. 1260–1344, 2017.
KEBSCHULL, M.; DEMMER, R. T.; PAPAPANOU, P. N. “Gum bug, leave my heart alone!”-
epidemiologic and mechanistic evidence linking periodontal infections and atherosclerosis.
Journal of Dental Research, v. 89, n. 9, p. 879–902, 2010.
LEAO, T. S. et al. Tooth loss is associated with atherosclerosis and a poorer functional outcome
among stroke patients. Clinical Oral Investigations, 2020.
MAAIJWEE, N. A. M. M. et al. Ischaemic stroke in young adults: Risk factors and long-term
consequences. Nature Reviews Neurology, v. 10, n. 6, p. 315–325, 2014.
MURAKAMI, M. et al. High incidence of Aggregatibacter actinomycetemcomitans infection in
patients with cerebral infarction and diabetic renal failure: A cross-sectional study. BMC
Infectious Diseases, v. 13, n. 1, 2013.
OGORODNIKOVA, A. D. et al. High-molecular-weight adiponectin and incident ischemic stroke
in postmenopausal women: A women’s health initiative study. Stroke, v. 41, n. 7, p. 1376–1381,
2010.
PANNAIN, G. D. et al. Relato de experiência: Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral. HU
Revista, v. 45, n. 1, p. 104–108, 2019.
SACCO, S. et al. Hormonal contraceptives and risk of ischemic stroke in women with migraine: a
consensus statement from the European Headache Federation (EHF) and the European Society of
Contraception and Reproductive Health (ESC). Journal of Headache and Pain, v. 18, n. 1, p. 1–
20, 2017.
THOM, T. et al. Heart disease and stroke statistics - 2006 Update: A report from the American
Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics Subcommittee. Circulation, v. 113.
TONOMURA, S. et al. Intracerebral hemorrhage and deep microbleeds associated with cnm-
positive Streptococcus mutans; A hospital cohort study. Scientific Reports, v. 6, n. December
2015, p. 1–8, 2016.
VOS, T. et al. Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability
for 328 diseases and injuries for 195 countries, 1990-2016: A systematic analysis for the Global
Burden of Disease Study 2016. The Lancet, v. 390, n. 10100, p. 1211–1259, 2017.

1
Estudantes do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mails: cesar.a.a.melo@gmail.com ; julliermeoliveira@hotmail.com.
² Docente do curso de Odontologia da UERN; e-mails: pablocastro@uern.br ; eduardoseabra@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 53
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE BIOMECANICA DE NADADORES: USO DE APLICATIVO MÓVEL PARA


ACIONAMENTO E ESPECIFICAÇÕES DE TREINO DA PLATAFORMA ROBOTICA
PABCar

Amanda Dylana Dantas Cavalcante¹; Herlan Assis Pereira da Silva¹,², Olympio Cipriano da
Silva Filho¹; Adalberto Veronese da Costa²
Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA¹
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte – UERN²

Palavras-chave: Comunicação sem fio. Aplicação Android. Controle de velocidade com


PWM. Arduino. Tecnologia aplicada a Educação Física.

Introdução
Biomecânica é a ciência que estuda o movimento humano e suas características
estruturais e funcionais, a analise biomecânica é uma ferramenta que estuda o comportamento
motor humano usada em estudos aplicados a saúde ou aperfeiçoamento de performance em
práticas de exercício ou esportivas. A partir das variáveis biomecânicas é possível determinar
padrões de movimento, identificar características técnicas de modalidades esportivas e
identificar limitações em movimentos necessários para vida diária. O conhecimento obtido
através dessa ferramenta orienta o ensino pela educação física escolar, com otimização de
movimentos, na saúde, na prevenção e reabilitação de atividade de trabalho e do cotidiano das
pessoas [1].
A tecnologia associada a prática regular de atividades físicas vem se destacando neste
século como alternativa determinante para a saúde e qualidade de vida da população. Observa-
se um aumento no mercado móvel relacionando aplicativos de smartphones aos mais diversos
tipos de hardwares para o monitoramento da saúde estimulando as pessoas para um estilo de
vida saudável. Através da robótica são desenvolvidos dispositivos que impulsionam as
pesquisas nesta área. Esses dispositivos robóticos permitem que a prática de tarefas específicas
seja reproduzida diversas vezes, de forma controlada e confiável, proporcionando
consequentemente o aumento da capacidade motora e melhora do desempenho das atividades
funcionais [2].
Dessa maneira, foi idealizada a Plataforma de Análise Biomecânica – PAB que
realizará captura de imagens e vídeos ao lado de uma piscina semiolímpica através de um robô
microcontrolado que se movimentará sob trilhos, como suporte para câmeras que realizaram a
captura em diferentes ângulos para análises posteriores da mídia armazenada. Para o presente
estudo, ainda em fase inicial que tem como objetivo central desenvolver o controle em malha
aberta de uma plataforma robótica que atenda as especificações de um treino de natação
configuradas via aplicação móvel para sistema operacional Android transmitidas via
comunicação bluetooth.
Metodologia
Inicialmente foi realizado um levantamento bibliográfico afim de se obter o
conhecimento base para realização dos objetivos presentes no plano de trabalho. Em seguida
foi idealizado o projeto da plataforma robótica para análise biomecânica. Em resumo a

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 54
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Plataforma de Análise Biomecânica Carro - PABCar é um equipamento microcontrolado que


serve como suporte para câmeras com o proposito de realizar capturas de mídia para análise
biomecânica em ângulos previamente determinados.
Para utilizar a PABCar é necessário instalar a aplicação móvel desenvolvida para
sistemas Android no smartphone e parear o dispositivo com o módulo bluetooth da plataforma.
Feito isso, o usuário pode configurar o treino de natação e enviar as especificações para
plataforma via comunicação bluetooth. A plataforma funcionará com total autonomia com
alimentação por bateria recarregável e comunicação sem fio por bluetooth com o smartphone e
comunicação Wi-Fi com as câmeras através de um sistema de transmissão, que permite o acesso
as mídias capturadas em tempo real pelo smartphone, tornando opcional o armazenamento.
É comum o desenvolvimento de protótipos em fase iniciais do projeto, do qual pode-
se explorar melhor todas as ideias envolvidas no processo e obter experiência antes da execução
real do projeto estudado. O protótipo da PABCar é representado por um carrinho construído a
partir de componentes utilizados em robótica: Motor de engrenagem, driver ponte H L298,
Arduíno Uno, Sensor de Velocidade Encoder, Módulo Bluetooth.
Controle
O controle consiste basicamente em três etapas: acionamento, calibragem e controle
de velocidade.
Acionamento: O acionamento dos motores é realizado através da alimentação
fornecida pelo driver ponte H que recebe 5V da placa Arduino. A ponte H possui 4 saídas
destinadas a alimentação de cargas, duas para cada tração, 4 entradas para configuração dos
sentidos da corrente fornecida, duas para cada tração, ligadas ao microcontrolador por onde é
realizado o controle das cargas.
Calibragem de velocidade: O sistema de calibragem de velocidade máxima do
protótipo tem como objetivo obter uma média de velocidades medidas a cada n segundos de
funcionamento, intervalo no qual são obtidas 1 medida por segundo de velocidade em metros
por segundo. A mensuração da velocidade é realizada através de um sensor de velocidade
encoder que contabiliza pulsos a partir de um disco encoder conectado ao eixo do motor de
engrenagem.
Controle de velocidade: A variação da velocidade dos motores é realizada a partir da
variação da tensão aplicada ao driver ponte H que alimenta os motores. A velocidade do eixo
do motor é proporcional a tensão aplicada, dessa forma é possível variar a velocidade aplicando
o percentual de tensão equivalente a velocidade pedida. Através do uso de portas de saída PWM
no Arduino, com a função razão cíclica obtém-se a variação de tensão aplicada ao driver em
uma faixa de 0 a 255, onde 255 é equivalente a 100% da tensão, por onde obtém-se a velocidade
máxima no eixo dos motores ligados ao driver ponte H para o maior nível de tensão fornecida.
Aplicação móvel: Plataforma de Análise Biomecânica Aplicativo – PABApp
A interface do PABCar (Figura 1) é uma aplicação móvel desenvolvida externamente
para o sistema operacional Android. A ideia é transmitir através desta, uma string com as
variáveis do treino programado para a PABCar via conexão bluetooth, uma vez que o usuário
estiver com o smartphone conectado com a plataforma. Quando iniciado é mostrada a tela de
apresentação do PABApp, em seguida é aberta uma tela que verifica se o bluetooth do
dispositivo está habilitado e apresenta as especificações de bluetooth do PABCar. Após
conectar corretamente os dispositivos, a tela com o formulário de treino de natação é liberada.
As especificações de treino são:
• Tamanho da piscina [m]: parâmetro que define se a piscina de treino é semiolímpica
(25 metros) ou olímpica (50 metros);
• Distância a ser nadada [m]: distância em metros que o nadador fará sem interrupções,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 55
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

equivalente a uma série;


• Quantidade de séries: Quantidade de vezes que o nadador executará o exercício;
• Tempo de volta [s]: tempo em segundos no qual o nadador realizará uma série;
• Intervalo [s]: intervalo definido em segundos entre cada série.

Figura 1. Aplicativo PABApp. (Autoria Própria)


Resultados
Afim de verificar os resultados obtidos foram geradas tabelas para análise. O Quadro
1 apresenta as médias de velocidade obtidas pelo sistema de calibragem para as variações de
tensão de alimentação das cargas.
Quadro 1. Velocidades alcançadas para as razões cíclicas. (Autoria Própria)
Razão Cíclica Velocidade média [m/s]
100% 0,3202
75% 0,2423
50% 0,1705
25% 0,0834
Nota: Valores obtidos no sistema de calibragem.

Para verificar a coerência nos dados coletados pelo sistema de calibragem foram
realizados alguns testes de bancada, manualmente, para comparar com os dados obtidos na
calibragem. Os resultados obtidos são mostrados na Quadro 2.

Quadro 2. Velocidade obtida no teste de bancada x velocidade medida no sistema de


calibragem. (Autoria Própria)
Teste de Bancada Sistema de Calibragem
Mensurações
[m/s] [m/s]
1 0,3397 0,3895
2 0,3382 0,3579
3 0,3275 0,4134
Nota: Valores obtidos para a plataforma com atrito em um espaço de 3 metros.

Embora perceba-se diferença entre os valores coletados e os valores calculados pelo


teste de bancada, é vista que essa diferença pode ocorrer devido a erros relacionados com a
paralaxe, e devido a possíveis erros no sistema de calibragem.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 56
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No Quadro 3 foram obtidos os valores de tempo em segundos que o protótipo leva


para percorrer 25 metros, em chão cerâmico sem trilhos. Há uma variação considerável de
segundos entre as mensurações, o PABCar deve realizar o trabalho no tempo exato que for
enviado pelo PABApp no treino programado.
Quadro 3. Tempo que o protótipo leva para fazer 25 metros para as velocidades medidas.
(Autoria Própria)
Mensurações Velocidades [m/s] Distância [m] Tempo [s]
1 0,3895 25 64,1848
2 0,3579 25 69,8519
3 0,4134 25 60,4741

Conclusões
A aplicação de tecnologias na área da saúde possibilitam à ferramentas como a análise
biomecânica, avanço em pesquisas relacionadas ao movimento humano, como também torna
possível o aprimoramento de atividades motoras, a captura de imagens, vídeos de qualidade
possibilitam futuramente o emprego de softwares de análise ou ao olho humano, percepção
sobre determinadas situações não observadas pelo treinador.
O trabalho mostrado representa o início da construção de um projeto e o mesmo consta
de muitas etapas a serem realizadas. No que diz respeito ao que foi trabalhado, é no mínimo
interessante realizar futuramente para a plataforma um sistema de controle de malha fechada,
que possa corrigir as variações de velocidade constantemente, de maneira tal, que possa
proporcionar maior precisão para a plataforma. No que diz respeito a outras etapas, pode-se
citar as seguintes:
• Implementar um hardware robusto que atenda aos tempos reais em treinos de natação;
• Implementar um sistema de transmissão que possibilite a comunicação Wi-Fi das
câmeras ao dispositivo receptor;

Agradecimentos
Gratidão ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ
que possibilitou o desenvolvimento desse projeto, a Universidade Estadual do Rio Grande do
Norte - UERN, ao Laboratório de Análise de Desempenho Aquático – LADA.
Referências
BERNARDINA, Gustavo Ramos Dalla. UTILIZAÇÃO DE CÂMERAS DE AÇÃO PARA
ANÁLISE CINEMÁTICA TRIDIMENSIONAL DO MOVIMENTO HUMANO. 2016.
129 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação Física, Universidade Federal de Viçosa,
Viçosa Mg, 2016. Cap. 1.
ARAÚJO, R. C. Desenvolvimento e avaliação de um sistema de auxílio à reabilitação
motora do membro superior após acidente vascular encefálico. 117 f. Tese de Doutorado
em Bioengenharia. Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2011.
SEIXAS, Falcondes J. M. et al. PROTÓTIPO DE UM VEÍCULO COM ESTEIRAS A PARTIR
DE MATERIAIS RECICLADOS. In: XIV SAFETY, HEALTH AND ENVIRONMENT
WORLD CONGRESS, 14., 2014, Cubatão. DOI 10.14684. Cubatão: Copec, 2014. v. 1, p. 20
- 23.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 57
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE DA FREQUÊNCIA DE PARTOS RECORRENTES EM


ADOLESCENTES NA REGIÃO OESTE POTIGUAR ENTRE 2006 - 2018

Hávila Dominique do Nascimento Silva 1; Ellany Gurgel Cosme do Nascimento 2


1
Acadêmica de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde – UERN, Mossoró/RN; haviladominiq@gmail.com
2
Enfermeira, Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte; ellanygurgel@gmail.com

Palavras-chave: Reincidência da Gravidez na Adolescência. Recorrência da Gravidez na


Adolescência. Gravidez na Adolescência. Recidiva.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Mann, Bateson e Black (2020), para algumas mulheres jovens, uma
gravidez na adolescência pode ter um impacto transformador na mudança de comportamentos
e relacionamentos. Além de ser acompanhada por resultados perinatais adversos e
consequências sociais e educacionais a longo prazo. Os efeitos adversos de uma gravidez na
adolescência são amplamente reconhecidos. No entanto, os prejuízos com a recorrência da
gestação neste grupo apenas recentemente vêm recebendo atenção. (VIELLAS ET AL, 2012).
De acordo com Pesquisa Nacional em Demografia e Saúde, em 2006, no Brasil, dentre
as mães adolescentes entre 15 e 19 anos, cerca de 13,5% já tinham dois filhos ou mais.
Maravilla et al (2017) destaca a necessidade de estudos epidemiológicos em países de baixa e
média renda para entendermos e as características da gravidez adolescente repetida nas mais
variadas configurações. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar a
frequência de partos recorrentes em adolescentes residentes da II Região de Saúde do RN
entre os anos de 2006 e 2018.

2 METODOLOGIA

Estudo transversal, utilizando informações das Declarações de Nascidos Vivos de


adolescentes gestantes na faixa etária de 10 a 19 anos cujos partos ocorreram nos municípios
que compõem a 2ª Região de Saúde do Rio Grande do Norte no período 2006 a 2018.
Considerou-se gravidez recorrente quando a soma número de filhos tidos, vivos ou
mortos, era maior que um. Foram analisados a quantidade de partos, o local de ocorrência do
parto, a faixa etária e o número de gestações anteriores. Realizou-se análise descritiva dos
dados com o auxílio do software SPSS. Os quais foram representados graficamente por meio
dos softwares Quantum Gis e Excel. Além disso, foram discutidos a luz da literatura obtida
por meio das bases de dados Scielo, Pubmed, Scopus e LILACS.

3 RESULTADOS

Nos municípios da 2ª Região de Saúde do RN ocorreram 84.430 partos. Dentre eles,


20,632% (17.420) foram realizados em adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos. Em
relação à quantidade de partos que ocorreram em adolescentes com histórico de outras
gestações foram registrados 22.01% (3.835) partos em relação ao total em adolescentes e
4,325% (3.835) em relação ao total de partos gerais. (DATASUS, 2020)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 58
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Gráfico 1: Distribuição do número de partos de 2006 a 2018 na Região Oeste Potiguar.


Mossoró/RN, 2020.
8.000 7.026
6.744 6.787
7.000 6.510 6.441 6.438 6.316 6.442 6.493 6.653
6.044 6.253 6.283
6.000
Número de partos

5.000
4.000
3.000
1.532 1.572 1.461 1.337 1.267 1737
2.000 1.251 1265 1293 1.268 1.236 1.101 1.099
1.000 382 340 332 290 270 265 272 281 252 297 256 250 347

0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ano

Partos gerais Partos em adolescentes Partos recorrentes em adolescentes

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em relação ao perfil sociocultural das adolescentes, observou-se que 98,93% (3794)


está dentro da faixa etária de 15 a 19 anos. Quanto às variáveis obstétricas, mais de 99%
(3799) das adolescentes apresentaram histórico de 1 a 3 partos anteriores. Dentre eles,
observa-se que a 81,23% (3086) apresentam 1 gestação anterior a atual, seguido de 15,37%
(584) com histórico de 2 partos anteriores.
Dentre os municípios analisados, os que apresentam maiores prevalência de
reincidência de gravidez na adolescência foram Messias Targino (28,05%), Grossos (26,83%)
e Areia Branca (26,09%). As cidades com menores prevalências correspondem a Apodi
(16,99%), Caraúbas (17,63%) e Felipe Guerra (15,53%), essas apresentam uma menor
prevalência em relação à média da região

Figura 1: Distribuição geográfica das frequências de gravidezes repetidas nos municípios da


Região Oeste Potiguar entre 2006 e 2018.

Fonte: Elaborado pelo autor.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 59
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

4 DISCUSSÕES

A frequência de gestações recorrentes na adolescência foi 22,13%. Resultados


semelhantes (25,9%) foram relatados por Nery et al (2015) em Teresina. Entretanto, a
prevalência é superior à média nacional de 13,5% e a frequências de 19,17% a 20%
encontradas em países como Filipinas(MARAVILLA et al, 2019), Rio de Janeiro 29,2% e
31,4% (VIELAS et al, 2012), 53,6% no Rio Grande do Sul ( ZANCHI et al, 2017)
evidenciaram prevalências que ultrapassam a média encontrada no presente estudo.
Ao observar a idade das adolescentes com histórico de partos recorrentes, evidenciou-
se que a maioria estava dentro da faixa etária de 15 a 19 anos. Um estudo realizado por
Viellas et al (2012) corroborou com esse achado. Entretanto, Sousa e Gomes (2009) não
encontrou na amostra adolescentes abaixo de 14 anos, tal como Silva et al (2013).
Diferentemente do presente estudo em que se constatou que cerca de 1% das adolescentes tem
entre 10 e 14 anos, sendo esse um valor inferior ao encontrado por Viellas et al (2012) 3,2%,
o que se constitui um grave achado, tendo em vista que para que esse evento ocorresse a
primeira gravidez ocorreu ainda mais precocemente.
As cidades que apresentaram maiores prevalências foram Messias Targino, Augusto
Severo, Grossos e Areia Branca, essas estão entre os municípios com menores notas no IDEB
em todas as categorias. As cidades com menor prevalência (Apodi, Caraúbas e Felipe Guerra)
de gravidez em jovens com histórico de partos anteriores apresentaram as maiores notas do
IDEB, tendo destaque para a Apodi o qual apresentou a nota referente ao ensino médio igual a
média nacional em 2017. (INEP,2020; IBGE,2020)

5 AGRADECIMENTOS

Ao programa CNPq/PIBIC pelo financiamento do projeto de pesquisa, à UERN pela


concessão da bolsa de Iniciação Científica, à II Unidade Regional de Saúde Pública na pessoa
de Lucilene Adelino de Almeida e à Secretaria de Saúde Pública do Rio Grande do Norte na
pessoa de Denise Guerra Wingerter pela disponibilização dos dados do SINASC.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Evidenciou-se que a frequência de reincidência da gravidez na adolescência nos


municípios que compõem a 2ª Região de Saúde do RN é alta. Tal evento se deve a múltiplos
fatores sociais e individuais das adolescentes, os quais devem ser considerados no
planejamento de medidas preventivas voltadas para adolescentes com histórico de gravidez
anterior em situação de vulnerabilidade. Sendo assim, os profissionais de saúde devem
reforçar as ações educativas voltadas para as primíparas de modo a evitar a reincidência.
Além de mapear as adolescentes com gravidezes recorrentes, implementem atividades
destinadas a esse público.

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da


Mulher – PNDS 2006 : dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança/ Ministério
da Saúde, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. – Brasília : Ministério da Saúde,
2009. 300 p. : il. – (Série G. Estatística e Informação em Saúde)

DATASUS - Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos. Mossoró, 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 60
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. @cidades.


Mossoró, 2020.

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Índice de


Desenvolvimento da Educação Básica. Mossoró, 2020.

MANN, Linda; BATESON, Deborah; BLACK, Kirsten I. Teenage pregnancy. Australian


Journal Of General Practice, [s.l.], v. 49, n. 6, p. 310-316, 1 jun. 2020. The Royal
Australian College of General Practitioners. http://dx.doi.org/10.31128/ajgp-02-20-5224.

MARAVILLA, Joemer C.; BETTS, Kim S.; ALATI, Rosa. Exploring the Risks of Repeated
Pregnancy Among Adolescents and Young Women in the Philippines. Maternal And Child
Health Journal, [s.l.], v. 23, n. 7, p. 934-942, 5 jan. 2019. Springer Science and Business
Media LLC. http://dx.doi.org/10.1007/s10995-018-02721-0.

MARAVILLA, Joemer C.; BETTS, Kim S.; CRUZ, Camila Couto e; ALATI, Rosa. Factors
influencing repeated teenage pregnancy: a review and meta-analysis. American Journal Of
Obstetrics And Gynecology, [s.l.], v. 217, n. 5, p. 527-545, nov. 2017. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.ajog.2017.04.021.

NERY, Inez Sampaio; GOMES, Keila Rejane Oliveira; BARROS, Idna de Carvalho;
GOMES, Ivanilda Sepúlveda; FERNANDES, Ana Catharina Nunes; VIANA, Lívia Maria
Mello. Fatores associados à reincidência de gravidez após gestação na adolescência no Piauí,
Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, [s.l.], v. 24, n. 4, p. 671-680, out. 2015. Instituto
Evandro Chagas. http://dx.doi.org/10.5123/s1679-49742015000400009.

SILVA, Andréa de Albuquerque Arruda; COUTINHO, Isabela C.; KATZ, Leila; SOUZA,
Alex Sandro Rolland. Fatores associados à recorrência da gravidez na adolescência em uma
maternidade escola: estudo caso-controle. : estudo caso-controle. Cadernos de Saúde
Pública, [s.l.], v. 29, n. 3, p. 496-506, mar. 2013. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/s0102-311x2013000300008

SOUSA, Michelle Chintia Rodrigues de; GOMES, Keila Rejane Oliveira. Conhecimento
objetivo e percebido sobre contraceptivos hormonais orais entre adolescentes com
antecedentes gestacionais. Cadernos de Saúde Pública, [s.l.], v. 25, n. 3, p. 645-654, mar.
2009. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0102-311x2009000300019.

VIELLAS, Elaine Fernandes; GAMA, Silvana Granado Nogueira da; FILHA, Mariza
Miranda Theme; LEAL, Maria do Carmo. Gravidez recorrente na adolescência e os desfechos
negativos no recém-nascido: um estudo no município do rio de janeiro. Revista Brasileira de
Epidemiologia, [s.l.], v. 15, n. 3, p. 443-454, set. 2012. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/s1415-790x2012000300001.

ZANCHI, Mariza; MENDOZA-SASSI, Raúl Andrés; SILVA, Marilyn Rita da; ALMEIDA,
Sheylla Gorges de; TEIXEIRA, Lisiane Ortiz; GONÇALVES, Carla Vitola. Pregnancy
recurrence in adolescents in Southern Brazil. Revista da Associação Médica Brasileira,
[s.l.], v. 63, n. 7, p. 628-635, jul. 2017. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.63.07.628.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 61
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE DAS INFRAÇÕES ÉTICAS E LEGAIS DE


COMPORTAMENTO PROFISSIONAL E TRATAMENTOS
ODONTOLÓGICOS NA REDE SOCIAL INSTAGRAM®

Camila Cristine Araújo de Oliveira1; Gustavo Barbalho Guedes Emiliano2


Palavras-chave: Bioética; Legislação; Odontologia; Redes Sociais

Introdução
O mundo atual é cercado e bombardeado por um universo de propagandas em
todos os lugares, principalmente no meio mais utilizado: a internet. No âmbito
odontológico não é diferente, pois acompanhar o desenvolvimento das tecnologias se
tornou algo bastante “aceitável”. Porém, sabe-se que, assim como em qualquer serviço de
saúde, existe algo que informa o dever dos profissionais e dos locais que oferecem esses
serviços. Na odontologia, o exercício lícito e ético é fundamentado através da lei federal
nº 5.081 de 24 de agosto de 1966 e da resolução do Conselho Federal de Odontologia
(CFO) nº 118 de 11 de maio de 2012, que constitui o Código de Ética Odontológica
(CEO), que especifica em seu Art. 44: constitui infração ética: “divulgar resultados
clínicos por meio de qualquer veículo de comunicação de massa”, As redes sociais
transformaram e continuam transformando o mundo de uma maneira ousada,
principalmente no sentido da redução da privacidade. Nesse aspecto, assim como as
demais profissões que existem, a odontologia também está seguindo por esse caminho,
principalmente quando a ideia principal é a publicidade e a propaganda em mídias sociais.
As mídias sociais abrem portas para a “superexploração” de imagens, impedindo assim
que as pessoas, inclusive os profissionais, pareçam antiquados (EMILIANO et al., 2018).
A publicidade e propagando ou Marketing Digital é, atualmente, o sistema que mais
chama a atenção dos profissionais e dos pacientes e o que mais infringe leis de
privacidade, confidencialidade e sigilo. Os profissionais de saúde acabam se inserindo
nesse meio quando se expõem de maneiras inadequadas nas mídias digitais, por isso
muitos entram numa batalha constante de “flexibilização” do código de ética que, nada
mais é do que abdicar ou remover de contexto certos princípios que norteiam a conduta
do cirurgião-dentista, simplesmente para que as imagens de cunho comercial e que não
demonstram informações educativas ou que sejam “meramente ilustrativas” possam ser
publicadas sem que estejam descumprindo o Código de Ética Odontológica (EMILIANO
et al., 2018)¹. Assim como outros grandes assuntos são importantes na odontologia, tratar
de questões éticas é tão atual quanto, pois expõe fatos relevantes e propõem resoluções
que geram mudanças no comportamento dos profissionais da odontologia, assim como
dos estudantes de graduação, e promovem também uma harmonia entre as partes
(AZEVEDO, 2017). EMILIANO et al. (2018) confirma essa posição de atualidade
quando ressalta que falar sobre ética está na moda e “conta pontos positivos aos olhos da
comunidade”, pois hoje em dia percebe-se a grande quantidade de cursos e publicações

1
Estudante do Curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail
lucascaico22@gmail.com
2
Professor do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
participante do Grupo de Estudos Interdisciplinares em Ciências Odontológicas; e-mail:
legclinica@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 62
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

de conduta. O mesmo ainda aponta que não é demais lembrar que a ética quando
interiorizada na formação e experienciada na profissão faz o diferencial na vida e
promove resultados diretos na qualidade do atendimento que o profissional propicia ao
paciente, gerando assim satisfação deste, pois o profissional deve isso à comunidade.
Diante disso, a presente pesquisa tem por objetivo pesquisar perfis profissionais abertos
ao público de Cirurgiões-Dentistas que apresentem publicações de imagens de “antes e
depois” no Instagram, bem como outras infrações relacionadas ao anúncio, propaganda e
publicidade segundo o Código de Ética Odontológica e Lei Federal 5.081/66, que regula
o exercício da Odontologia no Brasil.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa observacional, exploratória e transversal. A amostra
será composta por perfis profissionais de Cirurgiões-Dentistas, abertos ao público na rede
social instagram® e com inscrição ativa no CRO/RN consultado nos respectivos sites
crorn.org.br e cfo.org.br que possuam imagens (fotos e vídeos) na timeline que infringiam
o código de ética odontológica. Foram excluídos perfis fechados, de CDs de outros
Estados, pessoas sem CRO, auxiliares e técnicos de prótese dentária, laboratório de
prótese dentária e todos os perfis de clínicas odontológicas. Foram realizados acessos
semanais ao instagram® durante o período de realização da pesquisa e farão parte apenas
perfis que apresentem publicações de imagens de “antes e depois” de tratamentos
odontológicos como condição mínima para ser avaliado e também foram incluídas
secundariamente outras formas de infração ética previstas no Código de Ética. A busca
utilizou a hashtag (#) antes de algumas das palavras mais atuais ou citadas nas redes
sociais. Também serão associadas às palavras nomes das cidades mais populosas do
Estado do Rio Grande do Norte, bairros da capital e nomes de procedimentos clínicos:
#dentistas natal, #bichectomia natal, #aparelho dentario natal, #gengivectomia natal,
#estética dental natal, #estetica dentaria natal, #clareamento natal, #sorriso natal,
#clareamento Mossoro, #clareamento Parnamirim, #clareamento Caico, #clareamento
Assu, #clareamento Currais Novos e #clareamento apodi, #dentista alecrim, #dentista
ponta negra, #clareamento alecrim. A partir dessas hashtags também foi possível
encontrar mais perfis a partir de “curtidas” ou “comentários”, levando sempre a outro e a
outro perfil e assim por diante em um efeito “cascata” ou “fio de novelo” que permite
ampliar a amostra.

Resultados e Discussão
Os principais achados para propagandas irregulares foram: anuncio de
especialidade sem registo; oferta de facilidade de pagamento; oferta de gratuidade;
enquetes: gostaram? Sim ou não?; pacote promocional; modalidade de pagamento;
exposição de imagem dentro consultório com paciente famoso; seleção de “modelos”
para curso; oferta de sorteio de brinde entre os pacientes; publicação sua, em repostagem
de outro CD, de fato proibido pelo código de ética da Odontologia, em Rede Social, com
pleno conhecimento da contrariedade legal; sensacionalismo: botox day, dia da
bichectomia, dia do clareamento; oferta casada de serviços; exposição e identificação de
paciente; ausência de identificação do número do CRO nas publicações; “esta foto
apresenta conteúdo delicado que algumas pessoas podem considerar ofensivo ou
perturbador”, nota do instagram;; publicação de imagem com marca d´água com nome
de terceiro; Descontos para advogados.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 63
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A prática da publicização se tornou parte da conduta do CD, levando o mesmo a


crer que não publicar é não acompanhar a modernidade, então postar tudo o que se faz ou
até mesmo o que não se faz, uma vez que é quase impossível controlar o que é real e o
que não é, é sinônimo de profissional atualizado. Para Emiliano³, o problema não é a rede
social em si, mas o uso que fazemos dela, ou seja, definimos seus limites, mesmo que isso
se sobreponha às normas.

Conclusões
Diante das publicações realizadas, as mais encontradas são as imagens de “antes
e depois” e tantos outros tipos considerados irregulares, por isso o Cirurgião-Dentista
precisa compreender a necessidade de saber divulgar. É importante ressaltar que as
publicações são permitidas sim, desde que respeite condutas como: não divulgar
especialidade que não possui; falar sobre procedimentos odontológicos e até mesmo
técnicas, desde que não faça uso de imagens antes e depois ou mesmo imagens de
pacientes; não divulgar procedimentos utilizando o paciente como modelo; não fotografar
selfie com pacientes e publicá-las em sua página para fins autopromocionais; não
diagnosticar, prescrever e/ou tratar pacientes à distância/online; dentre tantos outros
elementos que precisam ser analisados para realizar uma publicação em uma rede social.

Referências
Brasil. Conselho Federal de Odontologia. Resolução CFO 118/2012. Revoga o Código
de Ética Odontológica aprovado pela Resolução CFO-42/2003 e aprova outro em
substituição. Brasília. 2012. Disponível em:
http://cfo.org.br/website/wpcontent/uploads/2018/03/codigo_etica.pdf. Acesso em: 04 de
abril de 2020.
Emiliano GBG, Fernandes MM, Beaini TL. Ética odontológica: para onde devemos olhar
em busca de soluções? Rev Bras Odontol Leg RBOL. 2018; 5(2):94-102; 3.
Azevedo AC. Nas lentes teóricas da bioética: estratégias de marketing digital utilizadas
pelo cirurgião-dentista. Monografia – Departamento de Odontologia, Faculdade Maria
Milza, Bahia, 2017; 4.
Brasil. Lei n. 5.081, de 24 de agosto de 1966. Regula o exercício da Odontologia.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5 081.htm. Acesso em: 20 de
agosto de 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 64
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE DOS INDICADORES DE SÁUDE BUCAL DOS MUNICÍPIOS


DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Orientadora:
Pedro Allex Queiroz Brito¹; Samara Carollyne Mafra Soares²1
Palavras-chave: Indicadores de saúde, Planejamento, Saúde Bucal, Sistemas de informações
em saúde.

INTRODUÇÃO
A inserção da saúde bucal na Estratégia Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 2000) criou
a possibilidade de se instituir um novo paradigma, que expande e reorganiza as atividades de
saúde bucal de acordo com os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS)
(ZANETTI, 2000). Dessa forma, a ESF aparece como uma tentativa de colocar em prática um
novo modelo de atenção em saúde bucal, o qual pretende ultrapassar os cuidados
exclusivamente curativos, fortemente baseados em extrações dentárias, e pouco resolutivo do
ponto de vista da prevenção das principais doenças odontológicas (PIMENTEL et al., 2014).
O uso de indicadores permite uma avaliação da evolução da situação da saúde bucal
como um todo (PADILHA et al., 2005), e isso é fundamental para a identificação de aspectos
relevantes na organização dos serviços de saúde, e para auxiliar a tomada de decisão por parte
dos gestores e profissionais de saúde (PIMENTEL et al., 2014).
Este estudo objetiva analisar os indicadores de saúde bucal do Estado do Rio Grande do
Norte segundo as variáveis de porte populacional, proporção da população cadastrada no
Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) e relação entre ESF e ESB, para os anos de
2016 e 2017.

METODOLOGIA
A pesquisa consistiu em um estudo ecológico, que foi baseada na utilização de dados
secundários registrados no Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA) e no Sistema de
Informação da Atenção Básica (SIAB) do Departamento de Informática do Sistema Único de
Saúde brasileiro (SUS) (BRASIL, 2020), para os 167 municípios do RN, no ano de 2016 e
2017.
Os dados foram capturados no SIA/SUS e SIAB, no site do DATASUS, e no site do
IBGE. Os dados transformados nos seguintes indicadores de saúde bucal, os quais
correspondem às variáveis dependentes (quantitativa contínua): a) Cobertura de primeira
consulta odontológica programática; b) Cobertura da ação coletiva Escovação Dental; c)
Proporção de exodontias em relação às ações odontológicas básicas individuais; d) Média
de procedimentos odontológicos básicos individuais; Índice de Desenvolvimento
Humano(município) (IDH-M).
As variáveis independentes (qualitativas ordinais) do estudo, foram: porte populacional
e cobertura populacional pelas Equipes de Saúde Bucal (ESB), proporção da população
cadastrada no SIAB e relação entre ESF e ESB.
A análise estatística utilizou o software SPSS, para tabulação e levou em consideração
os respectivos Intervalos de Confiança de 95% (IC 95%) e valores de p≤0,05. Usou-se os testes
estatísticos Correlação de Spearman's para verificar a magnitude da correlação dos indicadores
com as variáveis quantitativas, Mann-Whitney Test e Kruskall-Walis, para verificar diferenças
entre as medianas dos indicadores e as variáveis citadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

¹ Estudante de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: pedrobrito@alu.uern..br


² Professora de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail:samaramafra@uernbr

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 65
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Foram analisados os 167 municípios do Estado do Rio Grande do Norte, porém


houveram municípios que zeraram (numerador) os indicadores de saúde bucal e removidos da
2
análise estatísticas, restando uma amostra com 152 municípios. Após teste de normalidade para
as variáveis quantitativas, constatou-se que todas as variáveis do estudo apresentavam a
distribuição não-normal.
A tabela 1 mostra a análise descritiva dos indicadores estudados. Houveram munícipios
que zeraram os indicadores A e B para os 2 anos analisados (valor mínimo de zero), e,
municípios que excederam em 100% a média de Primeira Consulta Odontológica, nos 2 anos,
e também para o indicador Escovação Supervisionada no ano de 2017.
Tabela 1. Descrição dos indicadores de Saúde Bucal no Estado do Rio Grande do Norte – 2016
e 2017.
Primeira consulta Escovação Proporção de M.de procedimentos
(Média para 100 Supervisionada Exodontia Básicos
Habitantes) (Média para 100 (Média para 100 (Média por
Habitantes) Habitantes) Habitante)

2016 2017 2016 2017 2016 2017 2016 2017


N 152 152 152 152 152 152 152 152
Mínimo 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,5 0,01 0,0
25% 3,9 2,3 0,0 0,0 10,6 8,1 0,2 0,1
Mediana 8,7 5,5 0,1 0,0 16,4 12,3 0,3 0,3
75% 15,5 11,8 0,5 1,2 22,2 19,2 0,6 0,5
Máximo 156,4 123,2 41,1 282,7 74,3 97,6 7,4 7,3

Foi observado para o indicador A, que 50% dos municípios do Estado realizaram a
primeira consulta odontológica programática em aproximadamente 9 em cada 100 habitantes
no ano de 2016, e 6 em cada 100 habitantes para o ano 2017 (medianas 8,7 e 5,5,
respectivamente) (Tabela 1). O indicador B mostrou que ao menos 75% dos municípios tem a
média mensal de participantes na ação de escovação dental supervisionada bem abaixo do
parâmetro estabelecido pelo IDSUS (BRASIL, 2015) (8 em cada 100 habitantes), porém
melhorou de um ano para o outro percentil 75% = 0,5; 1,2, para os anos 2016 e 2017.
Ao observar o indicador C pode-se deduzir que quanto menor o percentual deste
indicador, maior a qualidade do tratamento ofertado pela odontologia do município,
demonstrando que o leque de ações abrange um maior número de procedimentos preventivos e
curativos, em detrimento da extração dentaria sendo assim, as melhores notas para os
municípios são para aqueles que tem o indicador igual ou abaixo do parâmetro que é de 8%.
Observou-se que aproximadamente menos de 25% dos municípios apresentam esse indicador
abaixo do parâmetro de 8% proposto e que melhorou de um ano para o ano seguinte (Tabela 1).
O indicador de proporção de exodontias possibilita identificar a persistência das práticas
mutiladoras nos serviços de Odontologia público no Estado do RN.
A análise da capacidade resolutiva dos municípios em relação aos procedimentos
odontológicos individuais pode ser visualizada através do indicador D, onde pode verificar que
em até 75% dos municípios do RN foi realizado menos 1 procedimento odontológico básico
por habitante (percentil 75% 0,6 e 0,5, para os anos 2016 e 2017, respectivamente) (Tabela 1).
Percebe-se inicialmente, baixos valores dos indicadores de primeira consulta, escovação
supervisionada e média de procedimentos básicos individuais, já em relação ao indicador
proporção de exodontias em relação às ações odontológicas básicas individuais nota-se valores
mais elevados.
Ao analisar, através do teste de Kruskal-Wallis, a relação dos indicadores de saúde bucal
com o porte populacional dos municípios não ocorreu diferença estatisticamente significativa
em nenhum deles e para os 2 anos (p>0,05).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 66
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Ao analisar os indicadores de saúde bucal pela proporção da população cadastrada no


SIAB (correlação de Spearman), pode-se constatar diferenças entre os indicadores. No entanto
essas correlações não obtiveram relevância estatisticamente significativa (p>0,05)
A relação entre os indicadores e a Proporção de exodontias em relação às ações
odontológicas básicas individuais apontou que os municípios com 100% de cobertura
apresentam os melhores indicadores de saúde bucal, porém teste de Mann-Whitney verificou
que o valor de p não foi estatisticamente significativo para nenhum indicador e essa relação.
Já a análise dos indicadores segundo relação das ESF e ESB mostrou que o indicador
primeira consulta correlacionou-se negativamente com essa relação ESF/ESB (coeficiente de
Spearman: -0,21; p=0,01), no ano de 2016.
No acesso da população à primeira consulta odontológica programática, pode-se
verificar que os municípios que possuem 100% de cobertura, apresentam melhores resultados
estatísticos para esse indicador. A oferta desse serviço próximo a residência da população,
estabelecida pela ESF, é uma forma de tentar facilitar e melhorar esse primeiro contato. Alguns
fatores podem interferir no resultado fidedigno desse índice, seja por superdimensionamento
desses procedimentos ou sub-registro no sistema.
Patriota (2006) observou, no seu estudo sobre a saúde bucal realizado na cidade do
Recife, que muitos profissionais não realizam o procedimento de primeira consulta
odontológica programática, mas apenas procedimentos específicos, os quais solucionam a
comunidade de abrangência, o que significa que, mesmo com a introdução de uma relação
equipe de saúde bucal/ equipe de saúde da família de 1:1 a partir de junho de 2003, as
dificuldades continuaram a ocorrer.
A análise estatística dos indicadores de saúde bucal, com o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) identificou que, no ano de 2016, houve significância estatística com os
indicadores C e D. Quanto maior o IDH-M menor a proporção de exodontias realizadas (Coef
Spearman: -0.23; p=0,002), e maior a média de procedimento básicos individuais (Coef
Spearman: 0.15; p=0,05). Semelhante ocorreu para o ano de 2017, correlação negativa entre
IDH-m e indicador C (Coef Spearman: -0,24; p=0,01), correlação positiva com indicador D
(Coef Spearman: 0.26; p=0,01), e ainda correlação positiva entre IDH-m e indicador A
(primeira consulta) (Coef Spearman: 0.18; p=0,02). Fernandes e Peres (2005) afirmam que,
embora muitos municípios estejam oferecendo algum acesso aos serviços de saúde bucal,
aqueles com piores condições socioeconômicas ainda oferecem serviços com características
mutiladoras.
O IDH-M mostra que o desenvolvimento do município está diretamente relacionado aos
fatores socioeconômico, que são determinantes para a saúde e a forma de organização dos
serviços de saúde. A correlação mostra que quanto melhor o IDH dos municípios do Estado do
RN, menores foram as proporções de exodontia e mais resolutivo foi o serviço de saúde bucal.
Fischer et al., (2008) corroboram que municípios com maior IDH apresentam maiores
proporções de primeira consulta odontológica, o que pode ser explicado pelo fato de os mesmos
terem melhor provisão de serviços. Apesar dessa relação com os determinantes sociais e o
acesso ao serviço, outro componente deve ser lembrado que é o modelo de atenção que pauta a
prática em saúde bucal. Araújo e Dimenstein (2006) afirmam que a dificuldade de trabalhar na
Estratégia Saúde da Família é reflexo do modelo de saúde ainda vigente, o cirúrgico-mutilador,
predominante na mentalidade dos cirurgiões dentistas, dos gestores e dos usuários.

CONCLUSÃO
O Estado do RN mostra uma heterogeneidade em relação aos indicadores de saúde bucal
quando analisados seus municípios, no entanto, em sua maioria, o desempenho está aquém do
ideal.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 67
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O IDH-M aponta correlação com o desempenho dos indicadores, podendo-se notar que,
quanto melhor o IDH dos municípios do Estado do RN, mais resolutivo são os serviços
odontológicos realizados.
Quanto melhor a relação ESF/ESB maior a realização da primeira consulta programática
A proporção da população coberta pelo SIAB aponta que os municípios com 100% de
cobertura, têm indicadores mais favoráveis.
Dessa forma, a avaliação e monitoramento desses indicadores em saúde bucal
representam uma importante ferramenta para a orientação e readequação das práticas em saúde
bucal vigente no Estado, contribuindo diretamente para o funcionamento de qualidade do
sistema Único de Saúde na Estratégia Saúde da Família.

REFERÊNCIAS
ARAUJO, Y.; DIMENSTEIN, M. Estrutura e organização do trabalho do cirurgião-
dentista no PSF de municípios do Rio Grande do Norte. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
Janeiro, v. 11, n. 1, p. 219-227, mar. 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232006000100031&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 8 Set.2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Estabelece incentivo financeiro para a reorganização da
atenção à saúde bucal prestada nos municípios por meio do Programa de Saúde da
Família. Portaria N.º 1444/ GM em 28 de dezembro de 2000.
BRASIL. Ministério da Saúde. IDSUS-Índice de desempeno do Sistema Único de Saúde.
2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB).
Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/SIAB/index.php. Acesso em: 12 Set.2020.
FERNANDES,; PERES, M. Associação entre atenção básica em saúde bucal e indicadores
socioeconômicos municipais. Revista Saúde Pública. 2005. Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102005000600010. Acesso
em: 16 Set.2020.
FISCHER, T.K. et al. Indicadores de atenção básica em saúde bucal: associação com as
condições socioeconômicas, fluoretação de águas e a estratégia de saúde da família no sul
do brasil. Florianópolis.2008.Disponívelem:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2010000100012.
Acesso em: 15 Set.2020.
PADILHA, W.W.N. et al. Planejamento e Programação Odontológicos no Programa Saúde
da Família do estado da Paraíba: estudo qualitativo. Pesqui Bras Odontopediatria Clín Integr.
2005;5(1):65-74.
PATRIOTA, C.M.M. Cobertura das ações de saúde bucal no Recife no período de 2000 a
2005 [monografia de residência]. Recife (PE): Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães.
Fundação Oswaldo Cruz; 2006.
PIMENTEL,;CASTIM,F.; et al. Analysis of oral health indicators of Pernambuco:
performance of cities according to size population, population enrolled in the Information
System for Primary Care and proportion in the Family Health Strategy. Cad. Saúde
Colet., Rio de Janeiro , v. 22, n. 1, p. 54-61, Mar. 2014. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
462X2014000100054&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 03 ago.2020.
ZANETTI, C.H.G. Por um caminho sustentável para universalização da atenção básica:
saúde bucal da família com equidade e integralidade. Brasília: Pólo UnB / Planaltina SUS-DF
de Ensino e Pesquisa em Saúde Bucal - Departamento de Odontologia da Universidade de
Brasília; 2000 [online]. Disponível em: http://www.saudebucalcoletiva.unb.br/oficina/
estado/coletivo_amplo/psf_caminho.htm. Acesso em: 15 ago.2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 68
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS ODONTOLÓGICOS NOS


SERVIÇOS PÚBLICOS REALIZADOS NAS REGIÕES DO BRASIL
ENTRE 2008 E 2018

Sandro Alves Mourão1; Georgia Costa de Araújo Souza2.

Palavras-chave: Saúde bucal. Vigilância da saúde. Acesso aos serviços de saúde. Sistemas de
informação.
Introdução:
A análise dos procedimentos de saúde bucal pode indicar as características da
assistência em saúde bucal de uma localidade. De modo geral, pode-se identificar uma
assistência mais preventiva, mais mutiladora ou mais reabilitadora, e com base nesses dados e
no perfil epidemiológico, é preciso refletir qual é o modelo mais adequado à determinada
população. Ainda, a análise temporal possibilita acompanhar a produção dos procedimentos ao
longo dos anos e identificar as mudanças que ocorreram na assistência, as quais representam
consequentemente mudanças nas necessidades de saúde bucal de uma população.
Apesar da importância destes indicadores de procedimentos, poucos são os estudos que
apresentam informações epidemiológicas sobre a prevalência e distribuição dos tratamentos
endodônticos (BOYKIN ET AL., 2003; SCAVO ET AL., 2011), cirúrgicos, restauradores,
entre outros.
Dessa forma, para além de se estudar as necessidades de saúde bucal de uma população,
é imprescindível estudar que tipo de assistência está sendo ofertado e identificar se esta oferta
de serviços odontológicos atende aos anseios e necessidades de cuidados da população. O
estudo dos procedimentos odontológicos ao longo de um período representa o monitoramento
e avaliação até mesmo da qualidade do tipo de atenção prestada e sua evolução com o passar
do tempo.
Os sistemas de informação em saúde (SIS) são importantes fontes de informações para
analisar a situação de saúde no território em questão, e seus dados e informações podem ser
usados para: subsidiar melhores decisões para políticas, planejamento, administração,
monitoramento e avaliação de programas de saúde; quantificar/determinar o volume de recursos
financeiros a ser transferido a cada serviço; bem como servir para análise e avaliação
epidemiológicas (MEDEIROS ET AL., 2005; BRASIL, 2007; JORGE ET AL., 2010). Os SIS
que disponibilizam dados de atenção em saúde bucal no Brasil são o Sistema de Informação
Ambulatorial (SIA) e o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) junto ao e-SUS.
Neste sentido, este estudo tem o intuito de analisar os procedimentos odontológicos
realizados no serviço público nas regiões brasileiras entre os anos de 2008 e 2018, visando a

1
Estudante do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: sandroalves995@gmail.com.
2
Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Líder do Grupo de Pesquisa Grupo de Estudos Interdisciplinares em Ciências
Odontológicas (GEICO); e-mail: georgiacosta@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 69
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

apresentação de respostas úteis a gestores e pesquisadores no que diz respeito ao uso dos
serviços odontológicos públicos no Brasil.
Metodologia:
Trata-se de um estudo ecológico, envolvendo as cinco regiões brasileiras (Norte,
Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul). Foram utilizados dados secundários obtidos pelo
Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA) do Ministério da Saúde no período de
2008 a 2018. Também foram extraídos dados sobre o tamanho populacional (censo 2010) e
estimativas intercensitárias disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Os dados das projeções foram recuperados pela “Tabela 6579" do SIDRA (Sistema
IBGE de Recuperação Automática) que se refere a "População Residente Estimada" e utiliza o
dia 1º de julho como referência anual (IBGE, 2020).

Os dados do SIA estão disponíveis pelo Departamento de Informática do SUS


(DATASUS) que dispõe de todos os procedimentos de saúde realizados nas Unidades de Saúde
do Brasil, sejam estas ou não da Estratégia Saúde da Família. A produção é feita mensalmente,
incluindo atividades de saúde bucal no âmbito da atenção básica (CAMPOS et al., 2012).
Foram analisadas as médias das taxas anuais para cada uma das categorias de
procedimentos odontológicos (Ações coletivas preventivas, Ações preventivas individuais,
Procedimentos restauradores, Procedimentos endodônticos, Procedimentos exodônticos,
Procedimentos periodontais, Procedimentos protéticos) e seus respectivos intervalos de
confiança (IC) de 95%, e estimando-se a razão de prevalência (RP).
Resultados e Discussão:
Na análise dos procedimentos realizados ao ano por categoria, nota-se redução gradual
e evidente das taxas médias por 100 mil/habitantes/ano para todas as macrorregiões, com
exceção das endodontias e próteses (Figura 1). Os procedimentos protéticos apresentaram
crescimento regular durante todo o período analisado. A implementação dos LRPD em 2005 e
o crescimento da oferta ao longo dos anos em diferentes localidades podem justificar essa alta
(PUCCA et al., 2015). Procedimentos endodônticos apresentaram muitas variações, porém
revelando crescimento, principalmente nos anos finais do estudo. As políticas públicas mais
voltadas ao cuidado e à preservação das estruturas dentárias, além da mudança da sociedade
para a valorização do sorriso podem justificar a procura por procedimentos mais conservadores
como as endodontias. Todavia, baixas taxas médias para os demais grupos chamam atenção
pois apresentam uma inconsistência entre o número crescente de equipes de saúde bucal na
estratégia saúde da família, a implementação da política de saúde bucal com seu financiamento
estável no período e tais resultados (CHAVES et al., 2018).
Os procedimentos preventivos coletivos, apesar do declínio preocupante, apresentaram-
se em prevalência quando comparados a todos os procedimentos nas respectivas macrorregiões,
o que reafirma as mudanças no modelo de atenção para uma odontologia mais preventiva. Os
maiores números registrados para essa categoria estiveram no início da série, com destaque
para o ano de 2010 (maior taxa média por 100 mil/habitantes/ano). Corroborando com estes
achados, Chaves et al. (2018) revelaram em seu estudo, que ao avaliar a evolução da escovação
dental supervisionada (procedimento preventivo coletivo), 2010 foi o ano com o maior número
dessas ações no Brasil (na série de 2008 a 2017). As restaurações e exodontias também
apresentaram redução nas suas taxas médias por 100 mil/habitantes/ano ao longo do período.
Essa mesma tendência é relatada no estudo de Celeste et al. (2009) que conspirava o período
de 1994-2007. O declínio da cárie dental e consequentemente restaurações e exodontias pode

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 70
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

justificar, em parte, ao menor número desses procedimentos ao longo dos anos (Brasil, 2004a;
Brasil, 2012).
Os resultados do presente estudo compreendem o período de 11 anos, assim oscilações
ocorreram de acordo com variações no tempo e espaço. As diferenças regionais na oferta de
procedimentos, podem estar associadas a necessidade, ao modelo de atenção dispensado, mas
também a fatores socioeconômicos. Por depender de dados secundários a subnotificação é uma
limitação desse tipo de estudo. No entanto, por se tratar de uma série longa é possível assumir
que vieses não comprometem a qualidade geral dos resultados.
Figura 1. Taxas de procedimentos odontológicos por 100 mil/habitantes/ano no Brasil e suas
respectivas macrorregiões, entre janeiro de 2008 e dezembro de 2018. Brasil, 2008-2018.

Fonte: Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS (SIA-SUS).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 71
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusões:
Na série histórica de 11 anos a saúde bucal dentro do Sistema Único de Saúde
apresentou preocupante decréscimo dos procedimentos preventivos coletivos, preventivos
individuais, restauradores, exodonticos e periodontais. Procedimentos protéticos e
endodonticos são os únicos que demonstraram crescimento nas taxas médias, principalmente
nos anos finais do estudo. Procedimentos preventivos coletivos foram os mais prevalentes em
todas as macrorregiões nos anos analisados.
Agradecimentos:
Os autores agradecem à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, instituição
formadora de recursos humanos, pelo suporte financeiro ao bolsista da pesquisa.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica. Secretaria de Atenção Básica.
Projeto SBBrasil: condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003: resultados
principais. Brasília: Ministério da saúde; 2004a.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em
Saúde. SB Brasil 2010: Pesquisa Nacional de Saúde Bucal: resultados principais / Ministério
da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília:
Ministério da Saúde; 2012. 116 p.
BOYKIN, M.J.; GILBERT, G.H.; TILASHALSKI, K.R.; SHELTON, B.J. Incidence of
Endodontic Treatment: a 48-Month Prospective Study. J Endod. v.29, n.12, p.806-809, 2003.
CAMPOS, A.C.V.; BORGES, C.M.; LUCAS, S.D.; VARGAS, A.M.; FERREIRA, E.F. Public
service dental actions in a small town. Rev Gaucha Odontol., Porto Alegre, v.60, n.1, p.27-
32, 2012.
CELESTE, R.K.; VITAL, J.F.; JUNGER, W.L.; REICHENHEIM, M.E. Séries de
procedimentos odontológicos realizadas nos serviços públicos brasileiros, 1994-2007. Ciênc.
saúde coletiva. v.16, n.11, p.4523-4531, 2011.
CHAVES, S.C.L; ALMEIDA, A.M.L.F; REIS, C.S; ROSSI, T.R.A; BARROS, S.G. Política
de Saúde Bucal no Brasil: as transformações no período 2015-2017. Saúde em Debate. v. 42,
p. 76-91, 2018.
SCAVO, R.; MARTINEZ LALIS, R.; ZMENER, O.; DIPIETRO, S.; GRANA, D.;
PAMEIJER, C.H. Frequency and distribution of teeth requiring endodontic therapy in an
Argentine population attending a specialty clinic in endodontics. Int Dent J. v.61, p.257–260,
2011.
PUCCA, G.A; GABRIEL, M; ARAUJO, M.A.F.C. Ten years of a National Oral Health Policy
in Brazil: innovation, boldness, and numerous challenges. J Dent Res. v.94, n.10, p.1333-7,
2015. http://dx.doi.org/10.1177/0022034515599979. PMid:26316461.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 72
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS RELACIONADOS AO CÂNCER NA


REGIÃO DE CABEÇA E PESCOÇO NO RIO GRANDE DO NORTE

Anna Flávia Silveira Batista1; Gilmara Celli Maia de Almeida2

Palavras-Chave: Neoplasias Bucais. Epidemiologia. Avaliação de serviços de saúde

Introdução
A região anatômica de cabeça e pescoço compreende a cavidade oral, faringe, laringe,
pele e linfonodos da região do pescoço e face, ossos do complexo crânio-facial, seios paranasais
e cérebro (MADEIRA, 2012). Na região de cabeça e pescoço, o carcinoma mais comum é o de
células escamosas (em torno de 90% dos casos), também conhecido como carcinoma
espinocelular ou epidermóide, com alta incidência, prevalência e mortalidade (PORCHERI et
al., 2019).
Apesar dos avanços na saúde e da cavidade oral ser uma área de fácil acesso, o câncer
de boca ainda é um problema de saúde pública, principalmente no que concerne ao diagnóstico
precoce, sendo este um problema atrelado a vários fatores. Dentre eles, destaca-se a baixa
capacidade dos profissionais de saúde em identificá-los em fases pré-malignas, a procura tardia
do paciente, dificuldade ao acesso dos serviços de saúde e condições socioeconômicas
(DINGUELESKI et al., 2016). Em virtude disso, há comumente, uma mortalidade significativa
associada (PARAKH et al., 2019).
A prevenção ao câncer de cabeça e pescoço ocorre principalmente por meios de
propostas intervencionistas e medidas de promoção à saúde, por isso, as condições de detecção,
prevenção e tratamento do câncer de cabeça e pescoço em especial ao câncer oral, estão ligadas
inteiramente aos níveis de saúde primários e secundários. Por essa razão, percebe-se a
necessidade de estudos que priorizem o diagnóstico situacional e entenda a realidade local dos
municípios no que se refere à atenção em saúde, para que sejam proporcionados subsídios para
atuação prática em ações de planejamento, prevenção e promoção em saúde que fortaleçam
diagnóstico precoce do câncer.
Com base no que foi exposto, este estudo tem por objetivo analisar os procedimentos
de diagnóstico (PD) e cirúrgico (PC) que são voltados para a detecção e tratamento do câncer
na região de cabeça e pescoço nos municípios do Rio Grande do Norte.

Metodologia
Foi desenvolvida uma pesquisa ecológica a partir de dados disponíveis em sistemas de
informação de livre acesso digital. Para tanto, este estudo utilizou dados secundários
provenientes do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), Sistema de Informação Hospitalar
(SIH) e Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, optando-se
pelo TABNET/DATASUS. Além destes, foram utilizados o Atlas do Desenvolvimento
Humano no Brasil e o banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

1
Estudante do curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail:
afsb_@hotmail.com

2
Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Participante
do Grupo de Estudos Interdisciplinares em Ciências Odontológicas (GEICO). E-mail: gilmaracelli@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 73
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As unidades de observação foram todos os municípios do Rio Grande do Norte


(n=167), sendo estes agregados por quatro mesorregiões: Oeste Potiguar, Central Potiguar,
Agreste Potiguar e Leste Potiguar, de acordo com a subdivisão do IBGE. Foram selecionados
os anos de 2010 a 2019, para que fosse possível uma maior amplitude longitudinal do estudo.
As variáveis dependentes foram os seguintes registros relativos a região de cabeça e
pescoço: procedimentos com finalidade diagnóstica (PD); procedimentos com finalidade
cirúrgica (PC) e mortalidade pela neoplasia. A fonte para esses dados foram SIA-SUS, SIH-
SUS, SIM-SUS, respectivamente. Os procedimentos com finalidade diagnóstica foram biópsia
de: tecido mole da boca (PD1); faringe/laringe (PD2); tireoide/paratireoide (PD3); glândula
salivar (PD4) e ossos/crânio/face (PD5). Já os procedimentos cirúrgicos foram: ressecção de
lesão de boca (PC1) e crânio (PC2); excisão de glândula salivar (PC3); ressecção/cunha de
lábio (PC4) e tireoidectomia total (PC5).
Para compor as variáveis independentes, foram coletados dados sobre características
econômicas e sociodemográficas. Com base nos dados censitários de 2010, oriundos do IBGE,
como também do Atlas de desenvolvimento humano, foram obtidos: Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), Gini, Porte populacional, Taxa de Desemprego, Renda
Média, Produto Interno Bruto (PIB), PIB per capita, Taxas de Analfabetismo e Escolaridade,
Índice de Mortalidade Infantil e acesso a saneamento básico (abastecimento de água,
instalações sanitárias e coleta de lixo).
A análise dos dados foi descritiva e inferencial. Foi realizada correlação de Pearson
entre as variáveis independentes e as médias de cada variável dependente. Para tabulação e
análise dos dados foi utilizado o programa estatístico SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences) versão 20.0, sendo considerado nível de significância de 5%.

Resultados e Discussão
A mesorregião Leste Potiguar apresentou os maiores números em relação a quantidade
de procedimentos de diagnóstico (PD), totalizando 68,8% (n=3.182) e cirúrgico (PC) 48,3%
(n=1007) com destaque para capital Natal na qual manteve as maiores taxas. Em contrapartida
a mesorregião com menor registro de PD foi a Agreste Potiguar com 5,2% (n=235). Em relação
aos procedimentos cirúrgicos (PC), a Central Potiguar apresentou os menores registros 11,7%
(n=245). A distribuição dos registros de PD e PC no decorrer dos anos se encontra disponível
na figura 1 e os registros de Mortalidade na figura 2. Quanto a análise de correlação, os maiores
registros de PD (PD1, PD2, PD3 e PD4) e PC (PC3, PC4 e PC5), foram significativamente
correlacionados (p<0,001; r²>0,8) a melhores condições socioeconômicas (instalações
sanitárias, coleta de lixo, renda média, GINI, IDH e escolaridade). Para PD5, PC1, PC2 e PC3
não foi possível fazer correlação pois os valores foram, em sua maioria, iguais a zero.
A má distribuição de profissionais de saúde entre interior e capital é um fator a ser
considerado e que pode explicar em parte os resultados encontrados. A interiorização
geográfica tende a limitar o acesso aos serviços de saúde, principalmente os de maior
complexidade. Um estudo que analisou a distribuição geográfica odontológica no Brasil
observou que, quando se compara capital e interior, a relação de dentistas por habitantes é bem
mais alta nas capitais e bem abaixo nos interiores e pode ser explicada pelo nível de
desenvolvimento econômico da região, falta de políticas de fixação, condições de trabalho,
além de fatores políticos e pessoais (GABRIEL M., 2016). Isso se configura como um cenário
preocupante quanto ao direito à saúde, assegurado pela Constituição, sob os princípios da
equidade e universalidade de acesso.
Os maiores registros na capital e em municípios mais desenvolvidos, decorrem,
possivelmente, de uma maior cobertura populacional e melhor assistência em saúde, haja vista
a presença de 11 Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) na mesorregião Leste
potiguar, sendo 3 destes presentes na capital. Por outro lado, a mesorregião com menor registro

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 74
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

de PD conta apenas com 3 CEO. Silva (2015) ao analisar a cobertura da assistência secundária
em saúde bucal no RN, observou uma desigualdade na distribuição dos CEO entre as regiões
de saúde, onde, uma região de saúde apresentou cobertura municipal de apenas 5,5%, já na
região metropolitana, a cobertura chegou a 80%.

200
900

Número de PC registrados
Número de PD registrados

800
700 150
600
500 100
400
300
200 50
100
0 0
Ano Ano
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019

2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
Total PD_MESORREGIÃO OESTE Total PC_MESORREGIÃO OESTE
Total PD_MESORREGIÃO CENTRAL Total PC_MESORREGIÃO CENTRAL
Total PD_MESORREGIÃO AGRESTE Total PC_MESORREGIÃO AGRESTE
Total PD_MESORREGIÃO LESTE Total PC_MESORREGIÃO LESTE

Figura 1. Número de Procedimentos de Diagnóstico (PD) e Cirúrgicos (PC) registrados no Rio


Grande do Norte de acordo com Ano e Mesorregião. DATASUS, 2020.

70
Neopl.lábio/cav.oral/faringe

60
50
Mortalidade

40 OESTE POTIGUAR

30 CENTRAL POTIGUAR
20 AGRESTE POTIGUAR
10 LESTE POTIGUAR
0
2017
2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2018

Ano

Figura 2. Número de registros de mortalidade por Neoplasias na região de cabeça e pescoço,


de acordo com ano e mesorregião. DATASUS, 2020.

No que concerne às biópsias de tecido moles da boca a mesorregião Leste Potiguar,


novamente apresentou as maiores proporções (n=586; 56,6%), seguida da Agreste Potiguar
(n=186; 17,9%) com destaque para cidade de Nova Cruz, com crescentes números ao longo dos
anos. Por outro lado, a Oeste Potiguar apresentou as menores taxas 10,5% (n=109). Dentre as
biópsias analisadas, as regiões anatômicas de tireóide e paratireóide são as mais representativas
75,9%(n=3467), seguida da região de tecidos moles da boca 20,1% (n=919). Quanto aos
procedimentos cirúrgicos, os mais registrados foram tireoidectomia total 1329(63,8%),
ressecção de lesão de boca 919(20,8%) e ressecção benigna e maligna do crânio 124 (2,7%).
Ressalta-se a alta frequência na quantidade de zeros nos procedimentos registrados,
principalmente em PD. Dentre todas as mesorregiões observou-se ‘’biópsia do crânio e da
face’’, o PD com maior frequência de zeros registrados em todos anos, diferente do PC
realizado na mesma região anatômica, porém na atenção terciária. Mediante às mesorregiões,
destaca-se a Oeste Potiguar com a maior frequência de zeros (31,1%) nos registos PD. Silva
(2015) ao analisar procedimentos cirúrgicos realizados na atenção secundária, a biópsia de osso

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 75
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

do crânio e da face não tinha sido realizado em nenhum dos CEO, mesmo constando na portaria.
Uma questão complexa, uma vez que a execução deste procedimento na atenção secundária
evitaria sobrecarregar a atenção terciária.
Uma amostra atípica está no ano de 2010, onde não houve valor registrado em nenhum
dos procedimentos de diagnóstico, isto é, o único ano que não apresentou variações,
demonstrando uma alta frequência de zeros. Contudo, por se tratar de um estudo com dados
secundários, é necessário considerar algumas limitações, uma vez que os sistemas de
informações de saúde ainda perpassa por situações de má alimentação dos dados, causando os
subregistros, estes por sua vez podem ser explicados pela maneira como são tratados os dados,
dificuldade de manuseio, a adesão dos gestores à tecnologia e dificuldade no acesso à internet
(MACHADO, C.S.; CATTAFESTA, M., 2019).

Conclusão
Há uma discrepância entre os registros com finalidade diagnóstica e a remoção cirúrgica
da lesão. Na comparação entre os registros da remoção cirúrgica da lesão com os de finalidade
diagnóstica, é possível observar que as biópsias são mais frequentes nas regiões de tireóide e
tecidos moles da boca, enquanto a região de glândulas salivares maiores é menos prevalente.
Agradecimentos
A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pelo fomento da bolsa e, em especial, a
PROPEG pelo incentivo a iniciação científica.
Referências
DIGUELSKI, Amanda Helena et al. A Importância do diagnóstico precoce e das campanhas
de prevenção no combate ao câncer bucal. Curitiba: Revista gestão e saúde. 2016. 37-43p.
GABRIEL, Mariana. Distribuição geográfica dos cirurgião-dentista: percepção e
motivação para migração. 2016. 155p. Tese (Doutorado em ciência) - Curso de pós-graduação
em Ciências odontológicas, Faculdade de odontologia Universidade de São Paulo, 2016.
MADEIRA, MC. Anatomia da face: bases anatomofuncionais para a prática odontológica.
8. ed. São Paulo: Sarvier, 2012.
MACHADO, Claudinei de Souza; CATTAFESTA, Monica. Beneficios, dificuldade e
desafios dos sistemas de informações para a gestão no Sistema Único de Saúde. Revista
brasileira de pesquisa em saúde. Vitória, 21(1): 124-134, jan-mar, 2019.
PARAKH M, SHRIRAAM U, ASHIFA N, PREMKUMAR R, Jain A. Oral potentially
malignant disorders: clinical diagnosis and current screening aids a narrative review.
European Journal of Cancer Prevention, 2019.
PORCHERI C, Meisel CT, MITSIADIS T. Multifactorial Contribution of Notch Signaling
in Head and Neck Squamous Cell Carcinoma. Int. J. Mol. Sci. 2019.
SILVA, Alexandre Policarpo. Perfil da cobertura de procedimentos cirúrgicos
odontológicos na atenção secundária do Estado do Rio Grande do Norte. 2015. 46p.
Dissertação (Mestrado em saúde e sociedade) – Programa de pós-graduação em saúde e
sociedade, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
SILVA, Alexandre Policarpo et al. Cobertura da atenção secundária em saúde bucal no Rio
Grande do Norte (RN) a perspectiva do decreto 7.508/2011 e do GraduaCEO. Revista da
Abeno. 65-73, 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 76
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE QUALITATIVA DA PERCEPÇÃO DO PACIENTE


HEMOFÍLICO FRENTE AOS ASPECTOS PSICOSSOCIAIS E
CLÍNICOS ATRELADOS À PATOLOGIA
Isabella Bueno dos Santos¹; Gabriela Zanotto Della Giustina¹; Profª. Drª. Allyssandra Maria
Lima Rodrigues Maia²;

¹ Estudantes do curso de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde do Departamento de


Ciências Biomédicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-
mails: isabellasantos@alu.uern.br; gabrielagiustina@alu.uern.br.

² Professora da Faculdade de Ciências da Saúde do Departamento de Ciências Biomédicas da


Universidade do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN ; E-mail: allyssandrarodrigues@uern.br.

Palavras-chave: Hemofilia. Auto percepção. Grupo de apoio. Aspectos psicossociais.

Introdução

A Hemofilia é uma coagulopatia hereditária recessiva ligada ao sexo que ocorre


devido à ausência ou à produção defeituosa de moléculas dos fatores VIII ou IX da
coagulação. A deficiência de fator VIII configura a Hemofilia do tipo A, a qual é mais
frequente, contemplando cerca de 85% da totalidade dos casos de Hemofilia. Enquanto a
deficiência do fator IX configura a Hemofilia do tipo B correspondendo aos outros 15% dos
casos. Destaca-se ainda que a incidência na população mundial é de 1/10.000 para Hemofilia
A e de 1/30.000 para hemofilia B, dentre os nascimentos do sexo masculino (NUNES et al.
2009).
A deficiência dos fatores de coagulação do sangue causa modificação nesse sistema
levando a um quadro hemorrágico, consequentemente há maior prevalência de sangramentos
no sistema osteoarticular. Nesse caso, a hemofilia se manifesta principalmente através das
hemartroses (sangramentos intra-articulares), configurando a manifestação mais comum e
debilitante da hemofilia, que no passado levava um grande número de pacientes à invalidez
permanente, por causa das lesões osteoarticulares irreversíveis (SANTOS et al. 2007).
O tratamento da hemofilia, geralmente, é realizado nos centros especializados que
possuem um atendimento terapêutico de reposição dos fatores de coagulação, atendendo as
intercorrências diárias e oferecendo serviço ambulatorial de acompanhamento das
manifestações clínicas da doença. Entretanto, o portador de hemofilia vive em constante
necessidade de cuidados específicos e certa dependência quanto à reposição de fatores de
coagulação, e isso causa uma situação psicossocial peculiar para esse paciente que interfere
no ambiente familiar e social (SHIKASHO et al. 2008).
Inicialmente, apenas a taxa de mortalidade era suficiente como indicador de uma boa
gestão em saúde. No entanto, com o acesso a terapias mais eficazes, a mortalidade relacionada
à doença tornou-se um evento relativamente raro e, portanto, um marcador pouco útil,
fazendo-se necessário o uso de indicadores mais sensíveis (SILVA, 2015). Avaliar aspectos
psicossociais e clínicos é extremamente relevante para a tomada de decisões relacionadas ao
tratamento desses pacientes, e tem por objetivo desenvolver novas terapias, aprimorar o
planejamento da assistência e, consequentemente, melhorar a qualidade do cuidado. Sendo
assim, o presente trabalho busca analisar os impactos psicossociais que a doença implica na
vida de pacientes portadores de Hemofilia, incluindo a notícia do diagnóstico e o manejo dos
episódios de hemorragia e emergências clínicas frente à rotina de estudos e/ou trabalho. Além
de ressaltar as principais dificuldades e desafios enfrentados por quem convive com a referida

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 77
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

patologia e o impacto que elas exercem sobre à auto percepção do indivíduo, sobre seu
contexto familiar e social, bem como a influência no autocuidado e na adesão ao tratamento.

Metodologia

Trata-se de um estudo qualitativo de natureza observacional, realizado durante os


anos de 2019 e 2020. Utilizou-se como instrumento de pesquisa a entrevista semiestruturada,
guiada por um roteiro norteador composto por uma seção inicial de caráter sociodemográfico
contendo perguntas objetivas referentes à idade, ao estado civil, a escolaridade, a ocupação
dos pacientes e a composição familiar da residência, seguida pela seção principal contendo
treze perguntas subjetivas, sendo as quatro primeiras relativas ao histórico, cinco sobre a
rotina e a saúde e as últimas quatro abordando especificamente aspecto psicossociais.
A população é constituída por 45 pacientes hemofílicos, do sexo masculino, em
acompanhamento nos serviços de saúde e no Hemocentro de Mossoró-RN. Fizeram parte da
pesquisa 10 pacientes que atenderam os critérios de inclusão. Foram incluídos indivíduos
portadores de Hemofilia A ou B, atendidos no Hemocentro de Mossoró/RN, que participavam
do Grupo de Apoio aos Portadores de Hemofilia (GAPH). Foram excluídos do projeto os
indivíduos que não concordaram com os termos da pesquisa propostos no Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou Termo de Assentimento Livre e Esclarecido
(TALE), bem como do Termo de Autorização para Uso de Áudio.
O projeto de pesquisa foi apresentado ao Comitê de Ética da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte sob número do parecer 3.101.687. Após a aprovação, as entrevistas
foram realizadas por meio de ligações telefônicas com áudios gravados, mediante autorização
dos participantes da pesquisa, e foram armazenados na nuvem sob responsabilidade das
pesquisadoras. Posteriormente houve a transcrição digitada dos áudios na íntegra, o
cruzamento dos dados com referenciais teóricos e a análise de caráter qualitativo.

Resultados e Discussão

Foram entrevistados dez hemofílicos, todos do sexo masculino, com faixa etária entre
13 e 53 anos. Dentro dos dados objetivos constatou-se que 60% dos entrevistados eram
solteiros e 40% eram casados. Com relação à escolaridade, a maior porcentagem foi daqueles
com Ensino Médio incompleto (30%), seguidos por Ensino Fundamental incompleto (20%),
sendo um dos dois entrevistados nessa categoria um adolescente em idade escolar adequada, e
por fim, 1 entrevistado para cada uma das formações à seguir: Ensino Fundamental completo,
Ensino Médio completo, Ensino Superior completo, pós-graduado e Ensino Superior
incompleto (sendo este último um acadêmico em curso vigente).
Constatou-se que a adesão ao tratamento foi imediata praticamente na totalidade dos
casos, independente do tipo de medicamento oferecido na época do diagnóstico
(crioprecipitado ou fator de coagulação), contudo existem queixas quanto ao tratamento no
passado e relatos de significa melhora pelos avanços tecnológicos do tratamento, com foco
nos benefícios da terapia profilática. Segundo Fromme et al. (2007) os esquemas terapêuticos
usados atualmente, aumentaram a probabilidade dos hemofílicos participarem de atividades
físicas diárias, esportes em geral, na escola e no lazer, ressaltando o grau de motivação nessas
práticas e os benefícios para saúde e mental, fato que se evidencia no relato de um hemofílico
e ciclista: - “eu pedalo, ando de bicicleta, viajo para outras cidad es fora andando de
bicicleta, nunca me atrapalhou não. Eu já fiz já 400 km andando de bicicleta. Eu não andava
direito sabe? Eu tinha um problema no joelho, aí, através do ciclismo eu descobri que eu
voltei a andar normal [...] Hoje eu consigo, hoje eu viajo, eu já fui de Mossoró à Fortaleza,
já fui de Mossoró à Canindé, de Mossoró à Juazeiro do Norte que é 400 km, tem um grupo de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 78
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

amigos que vai, e tens amigos que já sabe fazer o meu remédio, que eu ensinei a eles para
caso aconteça alguma coisa, eles saibam fazem em mim”.
Ressalta-se que dois pacientes afirmaram categoricamente que a Hemofilia não afeta
suas tarefas diárias, atribuindo o fato à eficácia e a praticidade do tratamento profilático, em
comparação com a antiga terapêutica baseada no uso de crioprecipitado. Por outro lado,
majoritariamente os pacientes relataram que acreditam, sim, que a hemofilia afeta sua tarefas
diárias, em diferentes níveis e impactos, mesmo frente aos avanços na medicina, por vezes
apresentando-se não como fator puramente impeditivo, mas limitador à realização de
atividades como práticas desportivas, viagens e atividades laborais que exijam esforço físico,
restrições de participação em brincadeiras na infância impostas pelas mães receosas das
consequências. Esses fatos embasam-se em três pontos destacados por Ritterman (1982), em
que a atitude do indivíduo frente a sua enfermidade, seu sentimento de impotência frente aos
sangramentos e a visão de não ser uma pessoa normal podem afetar o hemofílico, assim como
o contexto familiar em que o indivíduo está inserido, considerando interferência na relação
entre os pais e irmãos, além do complexo de culpa que emerge das mães com superproteção
do filho afetado.
A sociedade, possivelmente por sua falta de orientação sobre a doença, pode interferir
de forma negativa na adaptação do paciente hemofílico em ambientes como escola, trabalho e
lazer (Ritterman, 1982). Tal fato se comprova nos repetidos relatos dos hemofílicos sobre a
prática de bullying com enfoque na idade escolar, contudo observa que a cooperação de
diferentes agentes sociais no objetivo de divulgar informações sobre a hemofilia é efetivo para
minimizar o preconceito e os impactos negativos que ele pode ter no psicológico da criança
hemofílica, bem como nos reflexos da sua vida adulta. Fato exemplificado na atitude de um
profissional de saúde em parceria com a entidade estudantil relatada no seguinte trecho de fala
de um portador de hemofilia: “Teve um tempo da minha vida, quando eu era mais jovem,
quando eu era adolescente, vou dizer um exemplo, que a meninada começava a “tirar onda”,
“Ah, aleijado, aquilo”, aí eu deixei de estudar, entendeu?. Ai, só que minha mãe f oi lá, pra
você ver, por isso que eu admiro doutor Cury, quando vê eu falo dele ali na entrevista. Ai, Dr.
cury foi lá no colégio, dá uma palestra, conversou com os professores, com o diretor, f alou
com professora e conscientizaram os outros alunos à não ficar fazendo onda comigo,
entendeu? Que precisava que eu estudasse”.
A participação ativa e cooperativa dos profissionais da saúde se estende à diversas
áreas da vida do portador de hemofilia, para tal o preparo acadêmico-profissional é
imprescindível na real capacitação destes para que possam proporcionem uma assistência
integral e desmistificada, visando evitar circunstâncias como a do seguinte relato: -“ Ah, não
vou atender ele, com medo”. Tem gente que já vem atender a gente, que vê o hemofílico como
uma bomba. “Não vou mecher ai não, que aí não vai parar de sair sangue nunca”. Aí, eu
acho que a maior dificuldade da gente, dos hemofílicos é isso, a gente quebrar essa barreira
da assistência à saúde e tornar conhecida a hemofilia, para ficar ciente e quando chegar
algum paciente em alguma UPA, em alguma Unidade de Saúde, saber o que fazer. Tipo
assim, eu sofri um acidente quando era mais jovem, de moto, aí fui para o hospital lá, e:“Não
ninguém vai atender, que não sabe o que fazer quando a gente diz que é hemofílico ”. Aos
profissionais da área da saúde cabe não pensar somente em termos da doença, mas sim, acima
de tudo, em termos de um ser humano que necessita de cuidados e atenção (SANTOS E
SEBASTINI, 1996). A escuta deve ser estendida também à família, podendo ela ter
implicações tanto positivas quanto negativas em relação aos cuidados necessários ao
hemofílico. A mudança de uma perspectiva centrada exclusivamente na doença para uma que
incorpore, por parte dos profissionais de saúde, a atenção aos aspectos psicológicos
relacionados à qualidade de vida dos hemofílicos, é de extrema importância para o processo
de aceitação e autocuidado desses pacientes (SHIKASHO, 2008).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 79
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Por fim, em conformidade com Santos (2007), a maioria dos pacientes hemofílicos
atendidos possui incapacidades, algumas já irreversíveis, que alteram seu estilo de vida e sua
inserção na vida social. E há a necessidade de um atendimento multidisciplinar que ofereça
um tratamento específico centrado nas dificuldades e incapacidades mediante seu
desempenho e modo de vida diário, restabelecendo suas capacidades e potencialidades para
terem melhor qualidade de vida.

Conclusão

Em geral, o portador de hemofilia possui clareza sobre os aspectos psicossociais e


clínicos atrelados à sua patologia, bem como quanto aos impactos desta nas diferentes esferas
de sua vida, tais como: seu contexto familiar e social, a influência do autocuidado e a adesão
ao tratamento profilático. Este último notoriamente viabiliza qualidade de vida ao paciente e
lhe permite maior autonomia, além de possibilitar a prática de exercícios físicos e esportes.
Ressalta-se o papel fundamental da equipe de saúde em cooperação com outros agentes
sociais na busca pela disseminação de conhecimento para sociedade, visando minimizar
impactos negativos no psicológico e na auto-estima dos portadores dessa coagulopatia.

Agradecimentos

Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq) pelo incentivo à realização desta pesquisa. Bem como ao Grupo de Apoio ao Portador
de Hemofilia (GAPH) e ao Hemocentro de Mossoró-RN por constituir e viabilizar,
respectivamente, o contato com o público-alvo deste projeto.

Referências

CREPEAU, E.B.; NEISTALT, M. E. Terapia ocupacional. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2002.

FROMME, A. et al. Participations in sports and physical activity of haemophilia patients.


Haemophilia, Muenster. v. 13, n. 3, p. 323-327, 2007.

RITTERMAN M. K. - Hemophilia in context: adjunctive hypnosis for families with a


hemophiliac member. Fam Process. 1982;21(4):469-76. 1982.

SANTOS, C.T.; SEBASTIANI, R.W. Acompanhamento psicológico à pessoa portadora de


doença crônica. In: CAMON, V.A.A. (Org.). E a psicologia entrou no hospital. 3. ed. São
Paulo: Pioneira, 1996.

SANTOS, E. G. et al. Deformidades e incapacidades dos hemofílicos. Rev. Ter. Ocup. Univ.
São Paulo, v. 18, n. 2, p. 86-94, maio/ago., 2007.

SHIKASHO L.; BARROS N. D. V. M. B.; RIBEIRO V. C. P. R.; Hemofilia: o difícil


processo de aceitação e auto-cuidado na adolescência. CES Revista 2009; 23: 187-193. 2009.

SILVA, T. P. S. Avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde em pacientes com


hemofilias A e B atendidos na Fundação Hemominas - DISSERTAÇÃO MSC - CPqRR -
Belo Horizonte, 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 80
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 81
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

APLICAÇÃO DA TEORIA DE ENFERMAGEM PARA ADESÃO DE


PESSOAS AO TRATAMENTO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL E
DIABETES MELLITUS: UM ESTUDO PILOTO

Géssica Valeska Barbalho Borges 1; Gilmara Valesca Rocha Batista 1; Laíse Lizandra Bezerra
de Oliveira Souza 1; Maria Bianca Brasil Freire 1; Palloma Rayane Alves de Oliveira Sinézio2;
Kalidia Felipe de Lima Costa 3

Palavras-chave: Teoria de Enfermagem. Hipertensão. Diabetes Mellitus. Adesão do paciente.


Terapêutica.

INTRODUÇÃO
A baixa adesão ao tratamento é uma problemática que envolve o controle de doenças
crônicas. Esta por sua vez, diz respeito à concordância entre o comportamento admitido por
uma pessoa a partir das orientações fornecidas por profissionais de saúde. Diversos fatores
podem se constituir como barreiras para a adesão ao tratamento, no caso da HA, pode haver
dificuldades no uso regular dos medicamentos pelo fato da doença ser assintomática ou
mesmo por falta de compreensão sobre a doença. Já as dificuldades relacionadas ao DM
percebe-se que o próprio uso dos medicamentos constitui barreira importante para a adesão ao
tratamento. Quando elas ocorrem concomitante, outros fatores podem ser destacados como o
número de doenças crônicas e o uso de cinco medicamentos ou mais por dia. (TAVARES et
al., 2016).
Esse contexto reforça a necessidade de cuidados que os pacientes hipertensos e
diabéticos possuem. Pois, o controle da HA e DM são importantes tanto para prevenir a
doença cardiovascular, quanto para minimizar a progressão da doença renal e da retinopatia
diabética. Diante disso, o cuidado clínico de enfermagem deve contribuir com a efetividade
no manejo da HA e DM e possibilitar maior adesão ao tratamento. Além disso, esse cuidado é
uma forma de respeitar e de atentar para a individualidade dessas pessoas, suas necessidades e
valores e, a partir desta concepção, assegurar que esses valores orientem as decisões clínicas
desses profissionais (BERGHOUT et al., 2015), proporcionando maior participação do
paciente a partir da terapêutica implementada.
Para o fundamento teórico desse cuidado destaca-se a teoria de enfermagem de médio
alcance para adesão de pessoas ao tratamento de HA e DM. A teoria possui conceitos que
buscam descrever, explicar e predizer a adesão de pessoas ao tratamento de HA e DM. A
identificação destes conceitos ocorreu a partir da leitura de estudos sobre a temática e do
entendimento sobre a adesão de pessoas ao tratamento dessas doenças.
Para tanto, questiona-se: intervenções de enfermagem fundamentadas na teoria de
enfermagem de médio alcance para adesão de pessoas ao tratamento de HA e DM contribuem
para o controle dessas doenças? Para tanto, a pesquisa teve como objetivo aplicar a teoria de
enfermagem de médio alcance para adesão de pessoas ao tratamento de hipertensão arterial e
diabetes mellitus no contexto da Atenção Primária à Saúde.

METODOLOGIA

1
Enfermeiras, alunas da Residência Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade da
UERN.
2 Acadêmica do 8º período do curso de Enfermagem do DEN da UERN. E-mail:

palloma_rayaneaos@hotmail.com
3 Orientadora, coordenadora do projeto e professora do DEN da UERN. E-mail: kalidiafelipe@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 82
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Trata-se de um estudo piloto que aplicou a teoria de enfermagem de médio alcance


para adesão de pessoas ao tratamento de HA e DM. A pesquisa ocorreu em Unidades Básicas
de Saúde (UBSs) localizadas no município de Mossoró-RN. A amostra foi composta por
pacientes hipertensos e diabéticos residentes na área de abrangência das UBSs selecionados.
O instrumento de coleta de dados foi um formulário contendo as informações
sociodemográficas, clínicas, controle metabólico e do tratamento. Os resultados desse estudo
foram discutidos com base na literatura nacional e internacional sobre o assunto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa foi realizada em três UBS do município de Mossoró, a saber: UBS
Sinharinha Borges, UBS Vereador Durval Costa e UBS Cid Salem Duarte, localizadas nos
bairros Barrocas, Walfredo Gurgel e Abolição IV, respectivamente. As consultas foram
realizadas pelas Enfermeiras alunas da Residência Multiprofissional em Atenção
Básica/Saúde da Família e Comunidade, coordenadas pela professora coordenadora do
estudo.
As consultas foram feitas mediante agendamento pelos Agentes Comunitários de
Saúde através do convite das próprias enfermeiras envolvidas no estudo. O período de coleta
de dados compreendeu os meses de Outubro a Dezembro de 2019. Participou do estudo um
total de 50 pacientes distribuídos nas três unidades de saúde. Alguns pacientes participaram
de até três consultas, totalizando 79 consultas, conforme a Tabela 1.

Tabela 1. Número de pacientes hipertensos e diabéticos e consultas de


enfermagem realizadas em Unidades Básicas de Saúde do estudo.
Unidades de Saúde Nº de pacientes Nº de consultas
UBS Sinharinha Borges 18 20
UBS Vereador Durval
Costa 12 17
UBS Cid Salem Duarte 20 42
TOTAL 50 79

De acordo com o instrumento de coleta de dados aplicado na primeira consulta, foi


possível obter alguns dados referentes ao sexo, média de idade, escolaridade, estado civil, uso
de medicamentos e prática de atividade física, conforme Tabela 2.

Tabela 2. Dados sociodemográficos dos


pacientes hipertensos e diabéticos
participantes do estudo.
Sexo
Feminino 41
Masculino 9
Idade
30 a 49 anos 14
50 a 59 anos 14
≥ 60 anos 22
Escolaridade
Fundamental 13
Médio 12
Superior 3
Semianalfabeto 13

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 83
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Analfabeto 2
Uso de medicamentos
Sim 49
Não 1
Prática de atividade física
Sim 23
Não 27

Sabe-se que as pessoas acometidas pela HA e pelo DM possui um perfil


sociodemográfico muito peculiar. Como mostram os dados da pesquisa, a maioria dos
pacientes é idoso, 22 pacientes com idade ≥60 anos de idade. De acordo com a literatura sobre
o assunto, esta é a população mais acometida por estes problemas de saúde que, por sua vez,
constituem os principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares e causas de óbito.
No Brasil, dentre a população adulta com HA mais de 60% são idosos, nesta mesma
perspectiva, o DM apresenta prevalência progressiva nessa faixa etária da população
(MALACHIAS et al, 2017; FRANCISCO et al., 2018).
A relação da idade com a prevalência da HA é direta e linear e ocorre devido ao
aumento da expectativa de vida com consequente envelhecimento e aumento da população
idosa. Já em relação ao sexo, percebeu-se maior prevalência entre as mulheres, conforme é
evidenciada na literatura. Quanto ao grau de escolaridade é possível encontrar resultados
distintos, pois em alguns a baixa escolaridade (analfabetos e fundamental incompleto) essas
pessoas apresentam maior prevalência, enquanto que é possível encontrar estudos que
mostram o aumento do número dessas doenças em populações com maior formação
(MALACHIAS et al, 2017).
Todos os pacientes afirmaram fazer o tratamento para essas doenças, porém apenas um
não faz uso de medicamentos, adotando uma terapêutica não farmacológica. Quanto ao
tratamento, sabe-se que de acordo com as condições do paciente e o grau da doença é possível
implementar ou não o uso de medicamentos. Devido a doença estar evoluída, muitas vezes
com complicações e diante do não comprometimento do paciente com a terapêutica não
medicamentosa, muitos pacientes já iniciam o tratamento com a prescrição de fármacos, a
maioria em associação. Neste estudo, por exemplo, menos da metade dos pacientes praticam
atividades física (Tabela 3). Por sua vez, é recomendado que todos os pacientes também
adotem a terapia não farmacológica a partir de mudanças de estilo de vida com prática de
atividades físicas, alimentação equilibrada, cessação do tabagismo, redução do estresse, entre
outras (COSTA, 2018).

Tabela 3. Dados clínicos dos pacientes


hipertensos e diabéticos participantes do
estudo.
Uso de medicamentos
Sim 49
Não 1
Prática de atividade física
Sim 23
Não 27
Alimentação adequada
Sim 23
Não 27

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 84
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Etilista
Sim 4
Não 46
Fumante
Sim 1
Não 49
Internações
Sim 19
Não 31

Já em relação ao hábito de fumar e de beber foi possível perceber um maior empenho


dos pacientes na não adoção destes que, por sua vez, são fatores que comprometem o controle
das doenças. Por outro lado, pode-se considerar que o controle ainda não foi alcançado pelos
participantes do estudo, fato evidenciado pela quantidade de internações e reiternações por
condições relacionadas diretamente com as doenças estudadas. Dos 19 pacientes que sofreram
internações, 14 foram internados duas ou três vezes. Os motivos das internações evidenciam a
não adesão ao tratamento destas doenças, bem como ao grau elevado de comprometimento e
complicações destas, a saber: hiperglicemia, picos hipertensivos, procedimentos de
cateterismo e angioplastia e até mesmo Parada Cardiorrespiratória.
Ao termo da fase de campo da pesquisa e do desenvolvimento de consultas de
enfermagem para adesão de pacientes hipertensos e diabéticos ao tratamento se faz necessário
relatar algumas considerações sobre a testagem da teoria em questão. De todo o processo de
aplicação é importante relatar uma resistência por parte dos usuários em aceitar e acreditar em
uma consulta de hiperdia com a enfermagem. Os usuários entendem, muitas vezes, que ser
avaliado por outro profissional é uma barreira para chegar até a consulta médica, pois a
maioria dos usuários acreditam que o seu problema apenas o médico resolve, e muitos devido
a isso não aceitam participar da consulta de enfermagem de hiperdia.
Os usuários que aceitaram e ainda aceitam participar das consultas geralmente se
sentem angustiados com a “demora” da consulta de enfermagem, pois a maioria das vezes
querem apenas verificar a pressão e renovar a receita do medicamento para controle de sua
doença. Assim, apesar das consultas terem ocorrido de forma diferenciada, buscando a
participação do paciente, fortalecendo a comunicação, a interação e buscando uma relação
terapêutica enfermeiro-paciente, com avaliações e orientações mensais, percebe-se que o
modelo predominante ainda é o biomédico, onde a figura do médico ganha destaque nas
rápidas e práticas renovações de receita, em detrimento de consultas e acompanhamento mais
holístico.
Deste modo, antes que este estudo pudesse obter alguma forma de adesão dos
pacientes ao tratamento da HA e do DM foi possível vivenciar pouca adesão às consultas de
enfermagem, fato que causou angústia e descontentamento por parte das enfermeiras da
equipe da pesquisa. Até mesmo as tentativas de retomar consultas que outrora eram realizadas
foram dificultosas, muitas não chegaram a ser realizadas devido à falta de interesse dos
usuários. Destaca-se ainda o pouco interesse por parte de alguns Agentes Comunitários de
Saúde na busca ativa desses pacientes e marcação das consultas para as consultas
consecutivas.
Quanto à adesão ao tratamento propriamente dito houve muita dificuldade de observar
mudanças significativas uma vez que os pacientes não compareceram as consultas marcadas
para os meses seguintes. Apenas 18 das 50 pessoas retornaram à UBS na data acordada para
consultas posteriores. E, mesmo sendo estabelecido um diálogo e comprometimento das

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 85
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

metas a serem conquistadas para o processo de adesão com propostas de mudanças na


alimentação e prática de atividades físicas, por exemplo, não houve adesão. Porém, em
relação às orientações fornecidas desde a primeira consulta, foi possível perceber que as
pessoas apresentaram saber mais a respeito das coisas que poderiam fazer mal a sua saúde,
quanto também dos hábitos que ela tem noção que faz bem. Sendo de grande valia as trocas
de informações e compartilhamento de experiências entre enfermeira e paciente

CONCLUSÕES
A pesquisa foi exitosa por ter possibilitado maior envolvimento com as pessoas
hipertensas e diabéticas do território, especialmente por reativar as consultas de enfermagem
que não estavam mais sendo realizadas. Para os usuários foi possível perceber durante as
consultas certo entusiasmo e também certa confusão por não entender o que significa a
consulta de enfermagem voltada para eles e mudar a concepção de que só existe a consulta
médica.
Mesmo após a finalização do estudo, estratégias continuam sendo pensadas para maior
captação dessas pessoas tanto as que já iniciaram as consultas quanto as que ainda não
tiveram o primeiro contato estão sendo visitadas e convidadas para esses momentos. As
consultas prosseguem com usuários novos que não foram tabulados nos dados deste estudo
porque extrapolou o período previsto para fase de campo. Tal fato constitui uma contribuição
do estudo, visto que iniciativas foram despertadas a partir da pesquisa.

REFERÊNCIAS

BERGHOUT, M. et al. Healthcare professionals’ views on patient centered care in hospitals.


BMC Health Services Research, v.15, n.385, 2015. Disponível em: <
http://www.biomedcentral.com/1472-6963/15/385 >. acessos em 24 set. 2015.

COSTA, K. F. L. Teoria de enfermagem de médio alcance para adesão de pessoas ao


tratamento de hiperte nsão arterial e diabetes mellitus . Tese (Doutorado acadêmico em
Cuidados Clínicos em Enfermagem e Saúde) – Centro de Ciências da Saúde, Universidade
Estadual do Ceará. Fortaleza, p. 234. 2018.

FRANCISCO, Priscila Maria Stolses Bergamo et al . Prevalência simultânea de hipertensão e


diabetes em idosos brasileiros: desigualdades individuais e contextuais. Ciênc. saúde
coletiva, Rio de Janeiro , v. 23, n. 11, p. 3829-3840, nov. 2018 . Disponível em <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232018001103829&lng=pt&nrm=iso >. Acessos em: 13 fev. 2020.

MALACHIAS, M.V.B. et al. 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq. Bras.


Cardiol., v.107, n.3, Supl.3, p.30-34, 2016. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-
782X2016004800030&lng=pt . Acessos em 20 Jan. 2020.

TAVARES, N.U.L. et al . Fatores associados à baixa adesão ao tratamento farmacológico de


doenças crônicas no Brasil. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 50, supl. 2, 10s, 2016 .
Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
89102016000300307&lng=en&nrm=iso >. Acessos em 02 Fev. 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 86
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AS EXPERIÊNCIAS DO ENSINO SOBRE À SAÚDE DAS PESSOAS


COM DEFICIÊNCIA NOS CURSOS DE MEDICINA.

Heitor Lenin Lisboa dos Santos1; Drª. Suzana Carneiro de Azevedo Fernandes2

Palavras-chave: Ensino. Pessoas com Deficiências. Estudantes de Medicina. Medicina.

INTRODUÇÃO
As Pessoas com Deficiência são pessoas como quaisquer outras, com protagonismos,
peculiaridades, contradições e singularidades. São definidos ainda, como pessoas que lutam por
seus direitos, que valorizam o respeito pela dignidade, pela autonomia individual, pela plena e
efetiva participação e inclusão na sociedade, além da equidade de oportunidades. A pessoa com
deficiência é apenas mais uma característica da condição humana (BRASIL, 2010, p.13).
A Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência (PCD) tem por objetivo
desenvolver ações conjuntas com o Ministério da Educação e com as Instituições de Ensino
Superior, considerou a necessidade de incorporar disciplinas e conteúdos de reabilitação e
atenção à saúde das pessoas com deficiência (PCD) nos currículos de graduação na área da
saúde (BRASIL, 2001).
Os autores Costa e Koifman (2016, p.54) nos seus estudos sobre o ensino sobre
deficiência a estudantes de medicina afirmam que as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino de Graduação em Medicina, instituídas pela Câmara de Educação Superior do Conselho
Nacional de Educação, não especificam atenção às pessoas com deficiência, embora as
competências e habilidades que se esperam que os estudantes adquiram ao longo do curso
devam ser estendidas a este grupo. “Basta focar a atenção nos itens do Artigo 5º para perceber
a enorme lacuna da formação médica no Brasil para atender às competências e habilidades
específicas voltadas à atenção à saúde das PCD”.
Assim, esse estudo objetiva: realizar uma revisão integrativa da literatura sobre as
experiências do ensino sobre à saúde das pessoas com deficiência nos cursos de medicina.
Destaca-se como objetivos específicos: discutir sobre o ensino dos cursos de medicina na

1
Graduando do curso de Medicina, da Faculdade de Ciências da Saúde – FACS/DCB da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte - UERN. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC. E-
mail: heitorsantos@alu.uern.br
2
Enfermeira. Doutora em Ciências Sociais. Professora Adjunto IV do Departamento de Enfermagem –
FAEN/UERN. Tutora do Programa de Educação Tutorial em Enfermagem – Sesu/MEC. E-mail:
suzanaazevedo@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 87
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

promoção do cuidado em saúde das pessoas com deficiência, bem como, contribuir com novas
discussões e olhares a respeito do ensino médico e o cuidado prestado às pessoas com
deficiência.

MÉTODO
Para o alcance dos objetivos do estudo, optou-se em realizar uma revisão integrativa,
exploratória, com delineamento não experimental, baseada em documentação secundária, do
tipo levantamento bibliográfico, que ocorrerá entre 1º de agosto de 2019 até 31 de julho de
2020. Foram considerados os seguintes descritores para a localização dos artigos e suas
combinações: “ensino”, “pessoas com deficiências”, “estudantes de medicina” e “medicina”.
Com o intuito de ampliar as buscar e alcançar com maior fidelidade o número real de artigos,
incluiu-se os seguintes descritores traduzidos nas bases internacionais: “medical education,
“teaching”, “disability”, e “medical students” .Os descritores foram selecionados a partir da
terminologia em saúde consultada nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Executou-se
busca, nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Cochrane Library
(COCHRANE), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Medical Literature Analysis
and Retrieval System Online (MEDLINE).
Os critérios de inclusão pré-estabelecidos: data de publicação no período de 2011 a
2020, idioma de publicação em Português, Espanhol e Inglês; artigo original e/ou revisão
bibliográfica que abordem sobre a questão de pesquisa. Foram considerados como critérios de
exclusão: publicações classificadas como editorial, cartas, dissertações, teses, manuais e
protocolos, artigos duplicados ou os que não estiverem de acordo com o tema proposto e os que
não se apresentarem na íntegra nos sites da pesquisa.
Na última etapa, os dados foram aglutinados e selecionados os de maior relevância para
o levantamento. Durante a amostra final desta revisão os artigos foram ainda catalogados e
identificados por autor, título do artigo, periódico, ano de publicação, objetivos da pesquisa,
resultados e conclusão. Após a obtenção dos artigos selecionados conforme os critérios de
inclusão, procedeu-se a análise e síntese descritiva dos dados extraídos dos estudos o que
possibilitou observar, descrever e classificar os dados, com o objetivo de reunir o conhecimento
produzido sobre o tema pesquisado.

RESULTADOS
Foram identificados 737 artigos nas bases de dados com todos os descritores agrupados,
destes, apenas 170 estavam disponíveis na íntegra; 45 não atendiam ao recorte temporal; dos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 88
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

125 artigos restantes, 117 não abordaram a temática e questões norteadoras do estudo. Deste
modo, com o emprego de todos os filtros de exclusão e inclusão, selecionou-se 8 artigos,
encontrou-se apenas um artigo duplicado nas bases de dados. Não foram encontrados estudos
por meio da busca manual nas referências dos artigos encontrados.
Dos 8 estudos analisados, quanto às características gerais, a publicação mais antiga era
de 2011 (12,5%); 6 artigos eram internacionais (75%) e dois (25%) com abrangência nacional.
Quanto ao idioma das publicações, obteve-se acesso a 6 (75%) em inglês e dois (25%) em
português. Estes dados revelam um caráter preocupante para o Brasil, visto que o expressivo
número de publicações é desenvolvido no exterior. Os artigos pesquisados revelam ainda, uma
preocupação dos pesquisadores em relação à inserção da pessoa com deficiência no currículo
médico, o tipo do tratamento e condutas oferecidas a estas pessoas, o conhecimento prévio e
pós capacitação do corpo discente, além da visão da pessoa com deficiência.

DISCUSSÃO
Nos últimos anos tem se destacado nas instituições que promovem o ensino médico,
uma vertente de supervalorização da aquisição dos conhecimentos específicos da profissão. Por
outro lado, as atitudes, tomada de decisões, habilidades, anamnese e humanização do
atendimento são igualmente importantes em face ao conhecimento específico. O contato direto
destes estudantes com as pessoas com deficiência contribui significativamente na promoção da
saúde desta população.
Neste sentido, em 2006 institui-se no Brasil a Política Nacional de Promoção da Saúde
– PNPS que define a promoção da saúde como uma estratégia de “produção de saúde”, ou seja,
como um conjunto de ações articuladas desenvolvidas no sistema público de saúde do Brasil
que possa contribuir para suprir as necessidades da sociedade no que se refere à saúde
(BRASIL, 2006). Um grande avanço nos cursos superiores, por exemplo, foi a inclusão do
ensino de Libras no ano de 2005, de forma obrigatória para os cursos de licenciaturas e alguns
cursos da área da saúde. Esta conquista é um passo importante para a garantia de um
atendimento universal e equânime, devendo ainda, este conhecimento ser sempre resgatado e
colocado em prática nas disciplinas formativas como Semiologia Médica e Obstetrícia. Os
estudantes devem aprender como se comunicar e cuidar destes pacientes, atendendo
integralmente as necessidades e especificidades que cada deficiente possui (COSTA;
KOIFMAN, 2016).
As necessidades de saúde das pessoas com deficiência devem ser planejadas atendendo
a um sentido lógico que garanta o processo de inclusão, para tanto, tornando-se imprescindível

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 89
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

que estes profissionais tenham sua prática pautada pelo modelo biopsicossocial de perceber a
deficiência e estimular sua compreensão com os estudantes. Garantindo que as pessoas com
deficiência tenham voz ativa e atendimento integral de suas necessidades em saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É notório o crescimento do número de pessoas com deficiência no Brasil e no mundo,


muito embora, este aumento esteja atrelado ao avanço das tecnologias médicas e da expectativa
de vida humana. Destaca-se ainda, a elevação do número de sobreviventes a traumas e outras
comorbidades, transformando este público especifico com necessidades especiais ou deficiente.
Desta maneira, o estudante de medicina deverá estar apto diante das especificidades que são
exigidas no atendimento e tratamento destas pessoas.
A comunicação é um princípio considerado essencial em qualquer relacionamento
médico-paciente. Para fornecer cuidados “centrados no relacionamento”, é importante que o
médico e o usuário se sintam à vontade em suas interações. Nesta perspectiva, os estudos
analisados demonstram que o contato com a pessoa com deficiência desde cedo no ensino
médico auxilia no desenvolvimento desse relacionamento, associado a isto, as disciplinas que
versam sobre esta temática na graduação médica, contribuem significativamente na qualidade
do atendimento prestado ao usuário e na promoção de saúde da pessoa com deficiência.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Protocolo Facultativo
à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 4ª Ed. Brasília, Secretaria de
Direitos Humanos, 2010. 100p.

BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CES nº 4, de 7 de novembro de 2001.


Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Diário
Oficial da União, Brasília, 9 de novembro de 2001. Seção 1, p. 38

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de


Promoção da Saúde. Brasília, DF, 2006.

COSTA, L. S. M. da; KOIFMAN, L. O Ensino sobre Deficiência a Estudantes de Medicina: o


que Existe no Mundo?. Revista brasileira educação médica. Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, p.
53-58, Mar. 2016. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010055022016000100053&lng=en
&nrm=iso>. Data do acesso: 06/01/2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 90
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ASSISTÊNCIA À SAÚDE AOS ADOLESCENTES COM IDEAÇÕES


SUICIDAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

Denise Mayara de Souza Pessoa 1; Elisama Ferreira Paiva 1; Sâmara Fontes Fernandes22;
Rodrigo Jácob Moreira de Freitas2

Palavras-chave: Cuidados de Enfermagem. Atenção Primária à Saúde. Saúde do


Adolescente. Ideação Suicida.

Introdução
O suicídio é avaliado como um grande problema de saúde pública, visto que os dados
mostram que, no mundo, a cada ano, mais de 800 mil pessoas colocam um fim na própria vida,
totalizando uma morte a cada 40 segundos, o que representa uma porcentagem global anual
uniformizada por idade de 11,4 por 100 mil habitantes (15 para os homens e oito para as
mulheres). Assim, institui-se o suicídio uma das 10 maiores razões de morte em todos os países
e uma das três na faixa etária de 15 a 35 anos (WHO, 2014).
Dessa forma, a Atenção Primária à Saúde (APS) como integrante da rede de atenção
psicossocial (RAPS) também deve desempenhar papel fundamental na prevenção do
comportamento suicida. Sua finalidade é expandir e ampliar os locais de atenção à saúde para
sujeitos com algum sofrimento ou transtorno mental, bem como os problemas relacionados ao
uso de crack, álcool e outras drogas, na esfera do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL,
2011)
Entendendo que a APS e o enfermeiro devem exercer papel fundamental na assistência à
saúde mental dos adolescentes e jovens, principalmente no que diz respeito à diminuição das
estatísticas de suicídio, bem como à necessidade de estudos na região Nordeste, visto que vem
apresentando expressiva tendência ao acréscimo na taxa de suicídio nas últimas décadas
(BRASIL, 2018), questiona-se: como se dá a assistência à saúde de adolescentes com ideações
suicidas pelos enfermeiros na atenção primária? Assim, objetivou-se, para este estudo,
compreender como acontece a assistência à saúde dos adolescentes com ideações suicidas pelos
enfermeiros na atenção primária.

1
Estudantes do Curso de Enfermagem, do Departamento de Enfermagem da Universidade do estado do Rio
Grande do Norte (UERN). Email: denisetpm@gmail.com; elisamafp@hotmail.com.
2
Docentes do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Coordenadores do projeto de pesquisa. Email: rojmflegal@hotmail.com; saminhafontes@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 91
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia
Para esta pesquisa, realizou-se estudo do tipo descritivo e exploratório, com abordagem
qualitativa (FLICK, 2009), em um município de médio porte do interior do Nordeste brasileiro.
O cenário constitui-se de oito unidades básicas de saúde (UBS) da referida região.
Os participantes do estudo foram os enfermeiros que atuavam na Estratégia Saúde da
Família (ESF) de oito UBS. Foram adotados alguns critérios: os enfermeiros com um ano de
experiência na ESF, como critério de inclusão, e os enfermeiros que estavam de férias durante
o período de coleta, como critério de exclusão. Um dos enfermeiros foi retirado pelo critério de
exclusão e a amostra final conta com o número de oito enfermeiros.
A coleta de dados ocorreu por meio de entrevistas guiadas por um roteiro semiestruturado
construído previamente. A entrevista é um método de coleta de dados bem apropriado para a
aquisição de informações acerca de questões subjetivas, tais como questões cognitivas e
afetivas do participante (FLICK, 2009).
A entrevista foi realizada em uma sala fechada, com a presença única do pesquisador e
do pesquisado, sendo o último contatado anteriormente e convidado a participar da entrevista
previamente agendada e a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Logo
após, o consentimento da entrevista foi gravada com minigravador.
As perguntas versaram acerca da compreensão das ações destinadas aos adolescentes na
APS, dos desafios da assistência de Enfermagem aos adolescentes com ideações suicidas na
atenção primária, dos métodos de identificação dos fatores de risco ao suicídio de forma precoce
no público adolescente, da forma de intervenção do profissional de Enfermagem na atenção
primária na prevenção do suicídio e do conhecimento dos encaminhamentos que a atenção
primária dispõe para uma assistência integral à saúde do adolescente com ideações suicidas.
O material obtido nas entrevistas foi transcrito na íntegra e submetido à análise de
conteúdo temático, conforme orientações de Bardin (2011). O exame de conteúdo é uma técnica
de análise das comunicações, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição
do conteúdo das mensagens.
Consiste em três fases: a) pré-análise; b) exploração do material; c) tratamento dos
resultados, inferência e interpretação. A primeira fase, a pré-análise, é subdividida em quatro
etapas: i) leitura flutuante, que é o contato inicial com as informações da coleta de dados,
ocasião em que se inicia o conhecimento dos textos, entrevistas e demais materiais a serem
analisados; ii) escolha das informações, fase da delimitação do que será analisado; iii)
formulação das hipóteses e objetivos, que se dará a partir da aproximação inicial dos elementos;

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 92
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

iv) elaboração de indicadores, com a finalidade de interpretar o material coletado (BARDIN,


2011).
Concluída a primeira fase, avançou-se para a exploração do material, que constitui a
segunda fase. A exploração do material incide na elaboração das operações de codificação,
analisando-se os cortes de textos em unidades de registros, a demarcação de regras de contagem
e a classificação e associação das informações em categorias simbólicas ou temáticas. Por fim,
a terceira fase restringiu-se à interpretação e inferência dos resultados que visavam extrair os
conteúdos manifestos e latentes contidos em todo o material coletado (BARDIN, 2011).
Foi designada a letra A, seguida da numeração de um a oito, para preservar o anonimato
dos participantes. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), aprovada com o Parecer 3.181.302
e CAAE: 05136918.7.0000.5294 atestando sua conformidade com a Resolução do Conselho
Nacional de Saúde nº466/12, assegurando os direitos e deveres dos participantes.

Resultados e Discussão
Perfil dos enfermeiros das Unidades Básicas da Zona Urbana de Pau dos Ferros/RN:
No que tange o perfil social foram entrevistados oito profissionais enfermeiros (100%), sendo
seis do sexo feminino (75%) e dois do sexo masculino. Referente à idade (25%) possui idade
entre (30-39) anos; (50%) entre (40-50) anos e (25%) entre (50-60) anos. Com relação ao tempo
de exercício da profissão na determinada Unidade Básica de Saúde: 2 a 5 anos: (25%) e de 6 a
7 anos: (75%).
Os enfermeiros apresentaram a assistência para os adolescentes, sem ser incluído em
sua prática a prevenção ao suicídio. No tocante à assistência aos adolescentes, alguns autores
afirmam que ainda existem práticas vagas, sem que haja um cuidado direcionado para esses
indivíduos, de maneira que não é possível abranger determinadas especificidades próprias dessa
fase. Existe a carência de um planejamento mais definido, pois a demanda livre/espontânea, por
si só, não abrange particularidades de determinado público, o que justifica os motivos pelos
quais as assistências à saúde na atenção primária com os adolescentes deixam tanto a desejar
(SOARES, 2017).
Com isso, algumas estratégias negligenciam as necessidades específicas dos
adolescentes, pois não criam espaços para escutá-los, seja na preparação ou implementação,
seja nos processos de ponderação das ações. Negligenciar a adolescência em suas múltiplas
extensões gerou tanto uma não efetivação de políticas públicas como também certa dificuldade
na identificação das demandas reais dos adolescentes brasileiros (SOUZA, 2018).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 93
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O ato de [... ] O jovem quando está em depressão pensar em suicídio, no caso desfazer
daquela dor que ele está sentindo através da morte, né? [... ] (A7).
eu procurava mostrar o lado bom da vida, mandando procurar mais Deus, uma religião
[... ] Quando fala em suicídio eu penso assim: eu ter Deus. Certo? (A2).

Sobre a compreensão do suicídio, destaca-se que é complexa, por vezes contraditória e


cercada de tabus, ainda nos dias de hoje. Com isso, essa compreensão acerca do suicídio e a
doença mental como falta de Deus aparecem na fala de alguns enfermeiros. Dessa maneira, na
formação acadêmica dos profissionais de Enfermagem, somos incitados a estimular a vida,
curar, reabilitar e proporcionar a evolução do paciente sob os nossos cuidados. Entretanto,
muitas vezes a formação não viabiliza suporte teórico, técnico e humano para lidar com casos
de morte opcional dos pacientes (OLIVEIRA, 2017).

A gente tinha que ter um diagnóstico real da área, porque é uma coisa tão assim, você
não tem uma ideia quantitativa de adolescente que já tem esse pensamento suicida
(A2).

Com isso, a capacitação escassa por parte dos profissionais da saúde pode interferir na
conduta do profissional, que pode adotar uma postura impessoal e apresentar dificuldades para
atuar de forma humanizada (BRASIL, 2017). Estratégias de educação permanente devem ser
estimuladas para que o enfermeiro preste assistência integral.
Isso posto, entende-se que o serviço de saúde precisa ser devidamente preparado para
receber esses adolescentes psicológica ou psiquicamente acometidos, seja por ideações ou
comportamentos que supostamente ocasionem tentativas de suicídio. Isso porque uma tentativa
ocasiona expressivo desequilíbrio emocional, e o profissional da Enfermagem necessita de
preparo para proporcionar ao paciente o atendimento adequado, oferecendo-lhe mais amparo e
segurança possível (REISDORFER, 2015).

Considerações Finais
Percebe-se, pois, que as ações em saúde para o adolescente na atenção primária não
possuem um planejamento bem definido no que diz respeito ao cuidado de adolescentes com
ideações suicidas, resumindo suas ações ao que está posto nos programas de saúde ministeriais.
A abordagem acerca deste tema ainda é um tabu e os enfermeiros têm dificuldades em trabalhar,
limitando-se a um enfoque biologicista e não abrangendo a prevenção do sofrimento mental.
Essas fragilidades são uma lacuna para o trabalho do enfermeiro na atenção primária,
evidenciando-se a necessidade de conhecer o território de atuação e identificar o perfil dos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 94
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

jovens com fatores de riscos associados ao suicídio. Somado a isso, sugere-se a estratégia de
educação permanente, para que esta possa permitir a construção de novos saberes necessários
para abordar o tema na prática do enfermeiro e dos demais profissionais que atuam na atenção
primária.

Agradecimentos
Agradecemos a UERN e Prefeitura Municipal de Pau dos Ferros pela possibilidade de
realização da pesquisa.

Referências
BARDIN L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Portaria n° 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 30 dez. 2011[citado em 2019 jan. 25]. Disponível
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011_rep.htm
BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Saúde Brasil 2017: uma análise da situação de 14. saúde
e os desafios para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Brasília:
Ministério da Saúde; 2018[citado em 2019 jan. 25].Disponível
em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_brasil_2017.pdf
BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Política Nacional de Humanização da Atenção e
Gestão do SUS. A experiência da diretriz de Ambiência da Política Nacional de
Humanização. Brasília: MS; 2017.17p.
FLICK U. Qualidade na pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman Artmed; 2009.
OLIVEIRA GC, SCHNEIDER JF, SANTOS VBD, PINHO LB, PILOTI DFW, LAVALL E.
Nursing care for patients at risk of suicide. Ciênc Cuid Saúde. 2017[citado em 2018 dez.
23];16(2):1-7. Disponível
em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/37182/19951
REISDORFER N, ARAÚJO GM, HILDEBRANDT LM, GEWEHR TR, NARDINO J,
LEITE MT. Suicídio na voz de profissionais de Enfermagem e estratégias de intervenção
diante do comportamento suicida. Rev Enferm UFSM. 2015[citado em 2019 jan.
15];5(2):295-304. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reufsm/article/view/16790/pdf
SOARES RJO, NASCIMENTO FPB. Suicídio e tentativa de suicídio: contribuições da
Enfermagem brasileira. J Health Sci. 2017[citado em 2019 fev. 20]:19(1)19-24. Disponível
em: http://revista.pgsskroton.com.br/index.php/JHealthSci/ article/view/4030/351018.
SOUZA ACG, BARBOSA GC, MORENO V. Suicídio na adolescência: revisão de 19.
literatura. Rev Uningá. 2018[citado em 2019 fev. 20];43(1):95-8. Disponível
em: http://revista.uninga.br/index.php/uninga/article/view/1202
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Preventing suicide: a global imperative.
Geneva; 2014[citado em 2019 abr. 15]. Disponível
em: https://www.who.int/mental_health/suicide-prevention/world_report_2014/en/

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 95
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ASSOCIAÇÃO ENTRE ESTILO DE VIDA SEDENTÁRIA E


OBESIDADE E AS CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS E
CLÍNICAS EM PACIENTES COM AFECÇÕES CARDIOVASCULARES

Rayonara Medeiros de Azevedo¹; Maria Luiza de Araújo Guedes2; Nívia Samara Dantas de
Medeiros3; Maria Isabel da Conceição Dias Fernandes4
1
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Bolsista PIBIC voluntária; e-mail:
rayonaramedeiros@alu.uern.br
2
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Bolsista PIBIC-CNPQ; e-mail: malu.luizaag@gmail.com
3
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; Bolsista PIBIC voluntária; e-mail: niviadantasm@gmail.com
4
Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; Vice-líder do Grupo de Pesquisa em Enfermagem Campus Caicó (GRUPECC); e-mail:
isabelfernandes@uern.br
Palavras-chave: Diagnóstico de enfermagem. Comportamento sedentário. Doenças
cardiovasculares.

Introdução
Obesidade é um problema de caráter pandêmico, multiétnico, decorrente da ingestão de
dietas ricas em carboidratos, gorduras e aumento do sedentarismo que ocorre em países de alta,
média e baixa renda, em homens e mulheres de todas as faixas etárias (WANNMACHER,
2016). Nessa perspectiva, os diagnósticos de enfermagem obesidade e estilo de vida sedentário
são considerados os principais fatores de risco para o desenvolvimento de afecções
cardiovasculares (CARLUCCI et al., 2013).
Destarte, as doenças cardiovasculares constituem-se como problema de saúde pública
em todo o mundo, destacando-se pelas principais causas de morbimortalidade, gerando um
elevado ônus econômico e social aos países. Consequentemente, mostra-se a relevância de se
investigar o perfil sociodemográfico e clínico dos pacientes acometidos por essas afecções, na
busca de possíveis tendências temporais em decorrência das transições demográficas e
epidemiológicas dessa clientela (CRISTO NETO, 2019).
Assim, o objetivo desta pesquisa foi verificar a associação entre as características
sociodemográficas e clínicas dos pacientes adultos com afecções cardiovasculares
hospitalizados e os diagnósticos de enfermagem estilo de vida sedentário e obesidade.

Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa, realizado com 36
pacientes acometidos por afecções cardiovasculares hospitalizados no Hospital Regional
Telecila Freitas Fontes.
Foram incluídos pacientes com diagnóstico de doença cardiovascular confirmado e idade
superior a 18 anos, excluindo-se os que não apresentaram condições físicas e/ou psíquicas para
realização da coleta. Inicialmente, os pacientes internados nas clinicas médicas e cirúrgicas
eram convidados a participar da pesquisa, sendo-lhes fornecidas as informações necessárias. O
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi cedido a cada participante para leitura integral.
Posteriormente, realizava-se a coleta dos dados.
Um instrumento composto por dados sociodemográficos e sinais e sintomas dos
diagnósticos de enfermagem obesidade e estilo de vida sedentário foi aplicado para a coleta.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 96
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os dados foram organizados em planilhas do Microsoft Excel, posteriormente,


avaliados com o auxílio do IBM SPSS Statistic versão 19.0 for Windows. As variáveis
numéricas foram analisadas por medidas de tendência central e dispersão, com a normalidade
testada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov, adotando-se como valor p < 0,05, e realizada a
estatística inferencial dos dados por meio dos testes de Qui-quadrado e U de Mann-Whitney.
Assim, para a significância estatística dos testes específicos, adotou-se o nível de 5% (p < 0,05).
Obteve-se parecer para realização pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte, sob o número 3.234.418 e CAAE: 09005819.9.0000.5294.

Resultados
Na Tabela 1 será exposta a caracterização sociodemográfica e clínica dos pacientes
com afecções cardiovasculares.

Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica e clínica dos pacientes com doenças cardiovasculares. 2020.
Variáveis nominais N %
Sexo
Feminino 19 52,8
Masculino 17 47,2
Estado civil
Com companheiro 24 66,7
Sem companheiro 12 33,3
Religião
Praticante 32 88,9
Não praticante 04 11,1
Fumante 06 16,7
Alcoolista 05 13,9
Variáveis numéricas Média Desvio padrão Mediana Valor p*
Idade 64,4167 13,59070 63,0000 0,848
Anos de estudo 6,1389 5,22167 5,0000 0,005
Renda familiar** 2,2500 2,07880 2,0000 0,000
Nº de pessoas em casa 2,5556 1,71455 2,0000 0,002
Tempo de internação 6,4167 5,46352 4,0000 0,000
Peso 76,7528 17,41545 73,0000 0,350
Altura 1,6167 ,09583 1,5850 0,013
Índice de massa corporal 29,0706 4,78611 29,4700 0,364
Circunferência abdominal 106,8889 19,06347 108,5000 0,081
Legenda: * Teste de Shapiro-Wilk; ** Renda em salários mínimos.

Conforme a Tabela 1, a maioria dos pacientes era do sexo feminino, tinham


companheiro e praticavam algum tipo de religião. A média de idade foi de 64 anos (±13,5),
com mediana de cinco anos de estudo, renda familiar de dois salários mínimos e duas pessoas
morando na mesma casa.
Em relação às variáveis clínicas, a maioria não consumia álcool ou cigarros,
apresentaram uma mediana de internação de quatro dias no hospital, com média de peso de 76
Kg (±17,4), altura de 1,58, Índice de Massa Corporal (IMC) de 29 (±4,7) e Circunferência
Abdominal (CA) de 106 cm (±19,0).
Na Tabela 2 será apresentada a associação entre os diagnósticos de enfermagem
obesidade, estilo de vida sedentário e as características sociodemográficas e clínicas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 97
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Tabela 2 – Distribuição da associação entre o diagnóstico obesidade/estilo de vida sedentário e variáveis


sociodemográficas/clínicas em pacientes com doenças cardiovasculares. 2020.
Variáveis Obesidade Estilo de vida
sedentário
Valor p Valor p
Sexo 0,3321 0,4082
Estado civil 0,3431 0,0292
Religião 0,6132 0,5662
Fumante 1,0002 0,3172
Alcoolista 0,1492 1,0002
Idade 0,1893 0,5573
Anos de estudo 0,4403 0,7843
Renda familiar 0,3523 0,5573
Tempo de internação 0,6943 0,6963
Peso 0,0003 0,9203
Altura 0,0263 0,3063
Índice de massa corporal 0,0003 0,6113
Circunferência abdominal 0,0003 0,6673
Legenda: 1Qui-quadrado de Pearson; 2Teste Exato de Fisher; 3U de Mann-Whitney.

Conforme o evidenciado na Tabela 2, a obesidade associou-se ao peso, altura, IMC e


tamanho da CA. O diagnóstico estilo de vida sedentário associou-se com o estado civil.

Discussão
Os resultados desta pesquisa mostraram que o IMC foi de 29, evidenciando o sobrepeso,
e a CA foi 106 cm, evidenciando o aumento dessa medida nos pesquisados. Esses resultados
são mais comuns em mulheres na idade não reprodutiva, devido à diminuição do estrogênio,
que contribui para o acúmulo do tecido adiposo no abdômen, e consequentemente, com as
complicações cardiovasculares. Além disso, mulheres tendem a ganhar mais gordura
subcutânea na região abdominal do que visceral (OLIVEIRA et al., 2019; BARROSO et al.,
2017).
Nesse aspecto, o diagnóstico de enfermagem obesidade associou-se ao peso, altura, e
aos elevados resultados de IMC e tamanho da CA, fatores de risco responsáveis pelas afecções
cardiovasculares e outras morbidades. Neste caso, esta ligação apresenta-se como relevante
indicador para diagnóstico de sobrepeso, obesidade e avaliação do risco de doenças
cardiovasculares (BARROSO, et al., 2017).
O diagnóstico estilo de vida sedentário associou-se com o estado civil, assim como em
Silva et al. (2019), Costa et al. (2019) e Zanchetta et al. (2010), em que os níveis de
comportamentos sedentários foram relativamente mais altos e prevalentes entre adultos e idosos
que tinha companheiros.
Este estudo apresenta como limitações o número reduzido de participantes da amostra,
devido ao contexto da pandemia do Covid-19, impossibilitando a coleta com o total de
pacientes.

Conclusão
Verificou-se associação entre o diagnóstico de enfermagem a obesidade e as
características clínicas peso, altura, IMC e tamanho da CA. O diagnóstico de enfermagem estilo
de vida sedentário associou-se com o estado civil.

Agradecimentos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 98
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

À PROPEG UERN pela oportunidade de ser bolsista voluntária de iniciação científica; ao


Hospital Regional Telecila Freitas Fontes, pela disponibilidade para realização da pesquisa; a
cada paciente pelas contribuições.

Referências

BARROSO, T. A. et al. Associação Entre a Obesidade Central e a Incidência de Doenças e


Fatores de Risco Cardiovascular. Int J Cardiovasc Sci, Niterói, v.30, n.5, p.416-24, maio.
2017.

CARLUCCI, E. M. S. et al. Obesidade e sedentarismo: fatores de risco para doença


cardiovascular. Com Ciências Saúde, v. 24, n. 4, p. 375-384, 2013.

COSTA, M. V. G. et al. Fatores associados aos hábitos alimentares e ao sedentarismo em idosos


com obesidade. Estud. Interdiscipl. Envelhec. Porto Alegre, v. 24, n. 3, p. 81-100. 2019.

CRISTO NETO, D. V. Características sociodemográficas e clínicas dos pacientes


submetidos ao implante de dispositivos cardíacos eletrônicos em um Hospital
Universitário. 2019. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Departamento de
Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2019.

OLIVEIRA, B. R. et al. Evidências dos fatores de risco associados às cardiopatias no climatério.


Braz. J. Surg. Clin. Res. Teresina, v.28, n.1, p.49-55, set./nov. 2019.

SILVA, R. R. V. et al. Fatores associados à prática de atividade física entre professores do nível
básico de ensino. J. Phys. Educ, Maringá, v.30, jul. 2019.

WANNMACHER, L. Obesidade como fator de risco para morbidade e mortalidade: evidências


sobre o manejo com medidas não medicamentosas. OPAS/OMS. Brasília, v.1, n.7, p.1-10,
maio. 2016.

ZANCHETTA, L. M. et al. Inatividade física e fatores associados em adultos, São Paulo, Brasil.
Rev Bras Epidemiol, São Paulo, v.13, n.3, p. 387-99. 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 99
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ASSOCIAÇÃO ENTRE OS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM ESTILO DE VIDA


SEDENTÁRIO E OBESIDADE E SEUS COMPONENTES EM PACIENTES COM
AFECÇÕES CARDIOVASCULARES

Nívia Samara Dantas de Medeiros1; Maria Luiza de Araújo Guedes2; Rayonara Medeiros de
Azevedo3; Maria Isabel da Conceição Dias Fernandes4
1
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; Bolsista PIBIC voluntária; e-mail: niviadantasm@gmail.com
2
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Bolsista PIBIC-CNPQ; e-mail: malu.luizaag@gmail.com
3
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Bolsista PIBIC voluntária; e-mail:
rayonaramedeiros@alu.uern.br
4
Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; Vice-líder do Grupo de Pesquisa em Enfermagem Campus Caicó (GRUPECC); e-mail:
isabelfernandes@uern.br
Palavras-chave: Diagnóstico de enfermagem. Comportamento sedentário. Obesidade.
Doenças cardiovasculares.

Introdução

Afecções cardiovasculares são doenças que interferem no funcionamento adequado do


coração e vasos sanguíneos. Esse grupo é composto por doenças coronarianas,
cerebrovasculares, cardíacas reumáticas e arteriais periféricas, além de cardiopatias congênitas,
trombose venosa profunda e embolia pulmonar. Essas afecções integram a lista de doenças
crônicas não transmissíveis que, no Brasil, representam mais de 62% do total de óbitos.
Também existem os eventos agudos, como Infarto Agudo do Miocárdio e Acidentes Vasculares
Encefálicos (OPAS/OMS, 2017).
É importante compreender as respostas de saúde que o indivíduo produz na presença
de afecções cardiovasculares, com vistas a garantir que o cuidado de enfermagem seja baseado
em evidências, associando sinais e sintomas comumente conhecidos na prática clínica
cardiológica (PEREIRA et al., 2011). Essas respostas abrangem os diagnósticos de
enfermagem. Neste caso, obesidade e estilo de vida sedentário são diagnósticos comumente
associados às afecções cardiovasculares.
Estilo de vida sedentário e obesidade são definidos, respectivamente, por um hábito de
vida caracterizado por baixo nível de atividade física e condição em que o indivíduo acumula
gordura excessiva para a idade e o sexo, excedendo o sobrepeso (NANDA, 2018).
Assim, o objetivo da pesquisa foi examinar a associação entre os diagnósticos de
enfermagem estilo de vida sedentária e obesidade e seus indicadores clínicos/fatores
relacionados em pacientes adultos com afecções cardiovasculares hospitalizados.

Metodologia
Estudo transversal, com abordagem quantitativa, desenvolvido entre 2019 e 2020, com
36 pacientes internados na clínica médica e cirúrgica do Hospital Regional Telecila Freitas
Fontes, localizado no município de Caicó-RN. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética em
pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - RN sob o parecer 3.234.418.
Para a realização da coleta de dados utilizou-se um questionário elaborado a partir dos
indicadores clínicos e os fatores relacionados dos diagnósticos de enfermagem obesidade e
estilo de vida sedentário. Os critérios de inclusão para os pacientes participantes do estudo

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 100
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

foram: apresentar diagnóstico de doença cardiovascular confirmado e ter idade superior a 18


anos. Sendo excluídos aqueles pacientes sem condições físicas e psíquicas para participar da
coleta de dados. A amostragem dos pacientes foi por conveniência do tipo consecutiva.
Os dados foram organizados em planilhas do Microsoft Excel e, posteriormente,
analisados pelos testes de Qui-quadrado e U de Mann-Whitney, com um nível de 5% (p < 0,05).

Resultados

Esta pesquisa demonstrará a associação entre os diagnósticos de enfermagem obesidade,


estilo de vida sedentário e seus componentes. Na Tabela 1 é exposto a associação do diagnóstico
de obesidade e seus componentes.

Tabela 1 – Distribuição da associação entre o diagnóstico obesidade e seus componentes em


pacientes com doenças cardiovasculares.
Obesidade Valor p
Característica definidora
Índice de massa corporal 0,0001
Fatores relacionados
Alimentos sólidos como principal fonte alimentar antes dos 5 meses de 0,1492
idade
Comportamento sedentário que ocorre por ≥ 2 horas/dia 0,7182
Comportamento alimentar desorganizado 0,2361
Consumo de bebidas açucaradas 1,0002
Consumo excessivo de álcool 0,1492
Distúrbio do sono 1,0002
Frequência alta a restaurantes e de consumo de frituras 0,5492
Hábito de beliscar alimentos com frequência 0,0021
Média de atividade física diária inferior à recomendada para idade e sexo 0,0971
Medo relativo à falta de suprimento de alimentos 0,3641
Percepções alimentares desorganizadas 0,0701
Tempo de sono reduzido 0,4562
Legenda: 1Qui-quadrado de Pearson; 2Teste Exato de Fisher.
Conforme o evidenciado na Tabela 1 a obesidade associou-se ao índice de massa
corporal acima de 30 Kg>m2 e ao fator relacionado hábito de beliscar alimentos com frequência.
Na Tabela 2 será apresentada a associação do estilo de vida sedentário e seus
componentes.

Tabela 2 – Distribuição da associação entre o diagnóstico estilo de vida sedentário e seus


componentes em pacientes com doenças cardiovasculares.
Estilo de vida sedentário Valor p
Características definidoras
Falta de condicionamento físico 0,0311
Média de atividade física diária inferior à recomendada para 0,0002
idade e sexo
Preferência por atividade com pouca atividade física 0,4022
Fatores relacionados
Conhecimento insuficiente sobre os benefícios à saúde 0,3092
associados ao exercício físico
Interesse insuficiente em atividades físicas 0,0342
Motivação insuficiente para a atividade física 0,6452

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 101
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Recursos insuficientes para a atividade física 0,4002


Treinamento insuficiente para fazer exercício físico 0,6812
Legenda: 1Qui-quadrado de Pearson; 2Teste Exato de Fisher.

Conforme resultados foi identificado que o estilo de vida sedentário apresentou


associação com a falta de condicionamento físico, média de atividade física diária inferior à
recomendada para idade e sexo e o interesse insuficiente em atividades físicas.

Discussão
De acordo com os resultados deste estudo, a obesidade associou-se ao índice de massa
corporal acima de 30 Kg/m2 e ao fator relacionado hábito de beliscar alimentos com frequência.
Esses dados corroboram com outro estudo que mostra que grande parte dos pacientes com
doença cardiovascular avaliados apresentavam IMC maior que o desejado (COLOMBO, 2003).
Em um estudo realizado com mulheres acometidas de síndrome de ovários policísticos
(SOP), doença que apresenta diversos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças
cardiovasculares, em que 96,3% da população apresentava IMC acima de 30kg/m2, o hábito de
beliscar alimentos com frequência, foi referido por 70% dos participantes, corroborando assim
com os achados desta pesquisa (CALIXTO, 2012).
Em contraponto, em pesquisa realizada com o objetivo de identificar o perfil dos
diagnósticos de enfermagem em pessoas hipertensas e diabéticas, apesar da associação entre
obesidade e IMC acima de 30kg/m2, não foi encontrada associação com o hábito de beliscar
alimentos com frequência (SAMPAIO et al., 2017).
O hábito de beliscar alimentos com frequência refere-se a ingestão repetida de porções
de alimentos em diferentes momentos do dia, entre as refeições. Contribui para o aumento de
peso e, consequentemente, para o agravamento da obesidade e/ou sobrepeso do indivíduo, pois
contribui para o aumento de calorias.
Sobre o estilo de vida sedentário, os achados deste estudo corroboram com o de outros
estudos, evidenciando que grande parte dos entrevistados possui um baixo nível de atividade
física, contribuindo para uma pior qualidade de vida (MARTINS et al., 2015; SAMPAIO et al.,
2017).

Conclusão
Ratificou-se a relação entre a característica índice de massa corporal alterada e o fator
desencadeador principal da obesidade nos investigados, beliscar alimentos com frequência.
Com relação ao diagnóstico estilo de vida sedentário a associação encontrada foi com a falta de
condicionamento físico, média de atividade física diária inferior à recomendada para idade e
sexo e o interesse insuficiente em atividades físicas.
Assim, infere-se que este estudo fornece dados relevantes para a prática profissional
do enfermeiro, permitindo o reconhecimento dos fatores relacionados aos diagnósticos
obesidade e estilo de vida sedentário, permitindo um embasamento para a realização do
intervenções de enfermagem voltadas para a melhora da qualidade de vida dos pacientes com
afecções cardiovasculares.

Agradecimentos
Ao CNPQ, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e Hospital Regional Telecila
Freitas Fontes por oportunizarem o desenvolvimento da iniciação científica.

Referências

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 102
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CALIXTO, C.F.S. et al. Estado nutricional e consumo alimentar de pacientes portadoras de


síndrome de ovários policísticos. Revista Mineira de enfermagem. v. 16, n. 2, p. 159-165,
2012. Disponível em: <https://cdn.publisher.gn1.link/reme.org.br/pdf/v16n2a02.pdf> Acesso
em: 30 ago 2020;

COLOMBO, R.C.C. et al. Caracterização da obesidade em pacientes com infarto do miocárdio.


Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 11, n. 4, p. 461-467, 2003. Disponível em: <
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692003000400008>
Acesso em: 30 ago 2020;

MARTINS, L.C.G. et al. Estilo de vida sedentário em indivíduos com hipertensão arterial. Rev.
Bras. Enferm., Brasília, v. 68, n. 6, p. 1005-1012, dez 2015. Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-
71672015000601005&script=sci_abstract&tlng=pt> Acesso em: 30 ago 2020;

NANDA INTERNATIONAL. Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I: definições e


classificação 2018-2020. 11. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018;

ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SAÚDE/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE


SAÚDE. Doenças cardiovasculares. Brasília, 2017;

PEREIRA, J.M.V. et al. Diagnósticos de enfermagem de pacientes hospitalizados com doenças


cardiovasculares. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, p. 737-745, 2011. Disponível
em: <https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-81452011000400012&script=sci_arttext>
Acesso em: 30 ago 2020;

SAMPAIO, F.C. et al. Profile of nursing diagnoses in people with hypertension and diabetes.
Invest. Educ. Enferm. v. 35, n. 2, p. 139-153. Disponível em:
<https://revistas.udea.edu.co/index.php/iee/article/view/328029/20784999> Acesso em: 30
ago 2020;

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 103
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ASSOCIAÇÃO ENTRE OS FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR


E O PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS TRABALHADORES DE UMA
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR (IES)

Izael Gomes da Silva1, Maria Dianna Sousa1; Laise Lara Firmo Bandeira1, Sara Taciana
Firmino Bezerra2

Palavras-chave: Enfermagem. Saúde do Trabalhador. Doenças cardiovasculares

INTRODUÇÃO

O conjunto de patologias denominado Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT),


representam, em contexto global, uma grave problemática sanitária. No brasil, há que se
dispensar especial atenção ao adoecimento cardiovascular, fomentado ao longo dos anos pelos
modos de consumir e produzir, figurando hoje entre as principais causas de morbidade e
mortalidade da população.
Os fatores de risco que levam à doença cardiovascular (DCV) são diversos e guardam
forte relação com os estilos de vida da população. Podem ser elencados desde os condicionantes
modificáveis como sedentarismo, tabagismo, etilismo, obesidade, hábitos alimentares até
aqueles não modificáveis, histórico familiar positivo para DCV, idade e sexo, por exemplo.
Consoante a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) as políticas de prevenção pautadas
na abordagem de fatores de risco, especialmente comportamentais, têm a capacidade de atenuar
a ocorrência de grande maioria dos agravos cardiovasculares (OPAS, 2017).
Importantes medidas de controle das DCV pautadas na premissa supracitada foram
empreendidas no território brasileiro entre 2014 e 2019, não obstante segundo a Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC) foi desvelada notáveis variações regionais no que se relaciona
ao êxito das atividades de prevenção. Produto dessa reflexão originou-se a necessidade de
revisão das estratégias adotadas, documentada na forma de atualizações na Diretrizes
Brasileiras de Prevenção Cardiovascular (DBPC) de 2019, que além da abordagem aos riscos
clássicos, propõe um olhar sobre os fatores socioeconômicas e ambientais (PRECOMA, 2019).
Logo, dado o caráter multifatorial das DCV é preciso ampliar o foco, inclusive nos
estudos científicos, trazendo à discussão os determinantes sociais em saúde (DSS), ainda pouco
considerados na maioria dos estudos que tratam da temática. À luz dos DSS compreende-se que
o adoecimento e morte dos indivíduos possuem íntima e indissociável relação com renda,
habitação, educação e o trabalho (MESQUITA, 2018).
A ocupação laboral constitui importante influenciador no processo saúde-doença, desde
o ambiente até as atividades realizadas podem desencadear quadros de adoecimento ou
provocar aumento da susceptibilidade ao desenvolvimento de agravos. O espaço das
Instituições de Ensino Superior (IES), por sua vez, congrega uma grande variedade de
indivíduos oriundos de diversas realidades sociais com similitudes e especificidades,
aproximados fisicamente e distanciados pelos modos de andar a vida. Em razão disso, a
pesquisa pela ocorrência de riscos cardiovasculares em uma população de trabalhadores de uma
IES, recobre-se de importância.

1 GraduandoS do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado
de Pau dos Ferros -CAPF/UERN; emails: izaelsilva@alu.uern.br; diannasouza97@gmail.com;
lairabandeira@alu.uern.br
2 Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,

Campus Avançado de Pau dos Ferros -CAPF/UERN. Membro do Grupo de Pesquisa Conhecimento, Enfermagem
e Saúde das Populações - GRUPESCES; email: laisebandeira@alu.uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 104
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Nessa perspectiva objetiva com esse escrito analisar a associação entre os fatores de
risco cardiovascular e o perfil social e econômico dos trabalhadores do Campus Pau dos Ferros
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – CAPF/UERN.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de natureza básica, com abordagem descritiva


predominantemente quantitativa junto aos trabalhadores do Campus Avançado de Pau dos
Ferros da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética, sob número: 3.244.100,
conforme exigências estabelecidas pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde,
que trata da pesquisa envolvendo seres humanos. Todos os participantes assinaram e receberam
uma cópia do Termo de Consentimento livre e esclarecido.
A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de formulário contendo dados de
identificação, psicossociais, demográficos, e de fatores de risco para o adoecimento
cardiovascular, tendo sido paralisada em 13/03/2020 em razão da pandemia causada pelo vírus
SARS-CoV-2. Foi incluído no formulário exame físico composto por aferição das medidas
antropométricas, pressão arterial e glicemia. Todos seguindo os parâmetros da VII Diretriz
Brasileira de Hipertensão Arterial.
Participaram da pesquisa 33 trabalhadores, sendo 27 docentes e 6 técnicos
administrativos. Os mesmos atenderam aos critérios de inclusão, vínculo empregatício com a
UERN e exercício de suas funções trabalhistas no Campus Avançado de Pau dos Ferros. Foram
excluídos os trabalhadores que estavam sob: licença maternidade, férias e atestado médico
durante o período de coleta de dados.
Uma vez realizada a coleta dos dados, os resultados obtidos foram organizados em
banco de dados informatizado com o auxílio do programa Excel e submetidos a análise. Após
a estruturação final os resultados foram descritos conforme o perfil da mostra.

RESULTADOS

As tabelas 1 e 2 apresentam o perfil socioeconômico e os fatores de risco cardiovascular,


respectivamente.

Tabela 1 Perfil socioeconômico dos trabalhadores do CAPF. Pau dos Ferros, 2020.
Variáveis n %
Sexo
Masculino 19 57,6
Feminino 14 42,4
Idade
25 a 40 anos 17 51,5
41 a 50 anos 12 36,4
51 a 60 anos 4 12,1
Escolaridade
Ensino superior Completo 6 18,2
Mestrado 9 27,3
Doutorado 18 54,5
Ocupação
Docente 27 81,8
Técnico administrativo 6 18,2
Raça
Branca 21 63,7

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 105
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Parda 9 27,3
Negra 1 3,0
Amarela 1 3,0
Renda
Até R$ 5.999,00 4 12,1
R$ 6.000,00 a 10.000,00 21 63,7
Acima de 10.000,00 4 12,1
Não informaram 4 12,1

Fonte: Dados próprios dos autores, 2020.

Tabela 2: Fatores de risco para o Adoecimento Cardiovascular dos trabalhadores do


CAPF. Pau dos Ferros, 2020.

Variáveis n %
Sedentarismo 10 30,3
Etilismo 0 0
Tabagismo 1 3
IMC
Baixo peso (<18,5Kg/m²) 0 0
Normal (≥18,5kg/m² e ≤ 24,9kg/m²) 12 36,3
Sobrepeso (≥25Kg/m² e ≤ 29,9kg/m²) 14 42,4
Obesidade classe I (≥30Kg/m² e ≤ 34,9kg/m²) 6 18,2
Obesidade classe II (≥35Kg/m² e ≤ 39,9kg/m²) 1 3
Obesidade classe III (> 40 Kg/m²) 0 0
Circunferência abdominal
Normal (<80 para mulheres) 5 15,1
Normal (< 94para homens) 9 27,2
Elevado (>80 para mulheres) 9 27,2
Elevado (>94 para homens) 10 30,3
Pressão arterial sistêmica (mmHg)
Normal ≤ 120 mmHg 24 72,7
Pré-hipertensão 120-139 mmHg 7 21,2
Hipertensão estágio I 140-159 mmHg 2 6
Hipertensão estágio II 160- 179 mmHg 0 0
Hipertensão estágio III ≥ 180 mmHg 0 0

Fonte: Dados próprios dos autores, 2020.

DISCUSSÃO

Os resultados logrados no estudo desvelam entre os participantes da pesquisa uma


prevalência maior do sexo masculino, com idade entre 25 e 40 anos, doutores, exercendo a
função docente, com renda média entre 6 e 10 mil reais.
No que se refere ao sedentarismo, aproximadamente 1/3 dos participantes não possui o
hábito de realizar atividades física, uma das mais importantes medidas relacionadas à
prevenção. É provável que este achado se relacione à rotina dos entrevistados. Vale ressaltar,
contudo, que mesmo compartilhando similitudes nas atividades diárias, a maior parte é adepta
do comportamento saudável da prática de exercícios.
Importante notar no que se refere ao índice de massa corporal 42,4%, 18,2% e 3% dos
entrevistados apresentam sobrepeso, obesidade classe I e obesidade classe II que consoante
Lunkes et al. (2018) é prevalente na parcela populacional com maior poder aquisitivo, que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 106
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

corrobora com o perfil econômico dos participantes. Outro fator estritamente relacionado ao
peso corporal é a circunferência abdominal, que também apresentou medidas elevadas tanto
para homens quanto para mulheres.
Etilismo e tabagismo não registraram percentuais significativos, o que configura um
bom resultado, ambos se associam aos registros nos valores de pressão arterial com 72,7% dos
resultados no parâmetro de normalidade, como preconizado pela VII Diretriz Brasileira de
Hipertensão Arterial.
Por fim, vale ressaltar que a prevalência de alguns fatores de risco cardiovasculares pode
sofrer um efeito protetor do nível de escolaridade. Conforme aponta Martin et al (2014) a
escolaridade como sendo determinante com relação à frequência e intensidade de fatores de
risco cardiovascular.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se a ocorrência de riscos cardiovasculares, especialmente no que se relaciona


ao índice de massa corporal e circunferência abdominal. Outros riscos, no entanto,
apresentaram-se de forma mais tímida, achados atribuídos especialmente ao poder econômico
e escolaridade da população estudada. O estudo apresentou como limitação a paralisação da
coleta de dados em função da pandemia por Sars-CoV-2, não possibilitando a real análise de
todo o universo de trabalhadores.

AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Iniciação Científica da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, todos que compuseram essa equipe de pesquisa e aos participantes do estudo.

REFERÊNCIAS
LUNKES, L. C. et al. Fatores socioeconômicos relacionados às doenças cardiovasculares:
uma revisão. Hygeia - Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde, v. 14, n. 28, p.
50 - 61, 5 jul. 2018. Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/hygeia/article/view/40663. Acesso em: 10 set. 2020.
MARTIN, R. S. S. et al. Influência do nível socioeconômico sobre os fatores de risco
cardiovascular. J Bras Med, v. 102, n. 2, p. 34-7, 2014. Disponível em:
http://files.bvs.br/upload/S/0047-2077/2014/v102n2/a4193.pdf. Acesso em: 10 set. 2020

MESQUITA, C. T. Relationship Between Social Factors and Cardiovascular


Diseases. International Journal Of Cardiovascular Sciences, Rio de Janeiro, v. 2, n. 31, p.
87-88, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ijcs/v31n2/pt_2359-4802-ijcs-31-02-
0087.pdf. Acesso em: 10 set. 2020.
OPAS. Organização Pan Americana de Saúde. Doenças Transmissíveis e não
Transmissíveis. 2017. Disponível em: <
https://www.paho.org/bra/index.php?optionemid=463. Acesso em: 09/09/2019

PRECOMA, D. B. et al . Atualização da Diretriz de Prevenção Cardiovascular da Sociedade


Brasileira de Cardiologia - 2019. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo , v. 113, n. 4, p. 787-
891, Oct. 2019 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-
782X2019001000787&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 17 Sept. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 107
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ATENÇÃO ODONTOLÓGICA ÀS GESTANTES NA REDE DE


ATENÇÃO BÁSICA NO BRASIL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

Raphael Christian Fernandes Medeiros1; Georgia Costa de Araújo Souza2.

Palavras-chave: Gestantes. Assistência Odontológica. Saúde Bucal. Saúde Materno-Infantil.


Atenção à Saúde.
Introdução
A gravidez é um momento ímpar, de mudanças biológicas, psicológicas e sociais que
podem predispor as mulheres a situações de risco à saúde bucal (SANTOS NETO, 2012). No
período gestacional ocorrem as maiores transformações fisiológicas e hormonais no corpo da
mulher, as quais podem provocar alterações sistêmicas e também localizadas, como na cavidade
oral (GUPTA E ACHARYA, 2016).
Dentro dessa perspectiva se insere o pré-natal odontológico, importante
acompanhamento das gestantes pelo cirurgião-dentista, no qual as gestantes recebem
informações sobre a importância da saúde bucal, as manifestações orais mais comuns do
período gestacional, orientações sobre correta higienização bucal e alimentação, por meio da
educação em saúde, e também sobre a necessidade do acompanhamento profissional durante
toda a gestação, uma vez que é mais prejudicial ao bebê a permanência de infecções na cavidade
bucal da mãe do que o tratamento que será realizado (SOARES et al., 2009).
Contudo, a resistência em ser submetida a qualquer tipo de tratamento odontológico
ainda atinge as gestantes, e, com isso, o cuidado com a saúde bucal destas mulheres pode ser
diminuído durante os nove meses de gravidez (MOIMAZ et al., 2007). O pré-natal odontológico
ainda não é rotina para muitas gestantes e pode estar relacionado às gestantes não perceberem
necessidade de tratamento, à influência dos mitos, crendices e tabus, à falta de informação sobre
a possibilidade de realizar tratamento odontológico durante a gestação, medo, entre outras
(MOIMAZ et al., 2007; BOTELHO et al., 2019).
Tendo em vista a relevância do acompanhamento odontológico durante o período
gestacional, os benefícios que uma boa condição de saúde bucal pode propiciar para a mãe e o
bebê, e ainda os malefícios que as patologias orais podem vir a causar na gestação, no parto, e
na condição de nascimento do bebê, o presente estudo objetiva identificar os cuidados à saúde
bucal das gestantes no Brasil realizados por meio da Atenção Básica, identificar os principais
problemas de saúde bucal que as atingem e as percepções sobre o atendimento odontológico
disponíveis nos artigos científicos.

Metodologia
Trata-se de um estudo de revisão integrativa da literatura sobre saúde bucal das
gestantes assistidas pela Atenção Básica no Brasil. As etapas da revisão foram realizadas de
forma independente por dois pesquisadores seguindo as recomendações do Preferred Reporting

1
Estudante do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: raphael_cfm13@hotmail.com.
2
Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Líder do Grupo de Pesquisa Grupo de Estudos Interdisciplinares em Ciências
Odontológicas (GEICO); e-mail: georgiacosta@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 108
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) para o relato das etapas da revisão
realizada.
Os critérios de inclusão foram: artigos originais, estudos realizados com gestantes
brasileiras, período escolhido baseado nas últimas publicações: entre de 2010 a 2020, sem
restrição quanto ao idioma.
Os critérios de exclusão foram: estudos realizados em gestantes que apresentassem
alguma condição específica de saúde (p. ex. HIV, diabetes, câncer, infecção urinária etc),
estudos sobre atenção hospitalar à gestante, coleta de dados realizada em hospital, estudos que
abordassem apenas condições específicas do neonato ou bebê, estudos que considerassem
apenas o conhecimento dos profissionais, estudos realizados em outros países que não o Brasil,
artigos de revisão da literatura, meta-análises, estudos de casos e trabalhos monográficos.
A pesquisa dos artigos foi realizada nas bases de dados Medline, Lilacs, BBO e
SciELO. Foram usadas combinações variáveis dos descritores e palavras nos idiomas português
e inglês sobre os seguintes aspectos: gravidez, grávida, saúde bucal, saúde oral, higiene bucal,
dental care, odontologia, considerando o intervalo de ano de publicação entre 2010 e 2020.
Após a exclusão manual das duplicatas, foram excluídos todos aqueles não
relacionados à atenção em saúde bucal à gestante no Brasil. Feita a leitura dos resumos, os
artigos que não atenderam aos critérios de elegibilidade foram excluídos. Outros artigos foram
excluídos após serem lidos na íntegra.

Resultados e Discussão
O processo de triagem e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão levaram à
seleção de 17 artigos científicos para compor esta revisão. Os artigos foram categorizados
segundo seu conteúdo em três conjuntos, compreendendo os seguintes aspectos abordados em
seus estudos: Condição de saúde bucal das gestantes, Conhecimento sobre saúde bucal pelas
gestantes e Atenção em saúde bucal às gestantes.
Verificou-se que oito dos artigos selecionados apresentavam a quais serviços
odontológicos as gestantes foram submetidas, sendo o mais comum as gestantes estarem
inseridas em ações de educação em saúde.
Um dos principais motivos que levavam as gestantes a procurar o atendimento
odontológico foi a dor de dente, e ainda assim algumas delas afirmaram não buscar o
atendimento odontológico, mesmo na presença da dor, por acreditarem que era normal durante
a gestação (MOIMAZ et al., 2016; MOIMAZ et al., 2011; SANTOS NETO et al. 2012;
BASTIANI et al. 2010; e TRINDADE et al. 2018).
Barreiras para o atendimento odontológicos foram encontradas em 13 artigos, sendo a
maioria delas o receio e a não adesão ao tratamento por parte das gestantes, causadas por
desinformação, medo do profissional e/ou dos procedimentos, mito, crenças e tabus em relação
à ida ao dentista durante a gestação (BARBIERI et al., 2018; BASTIANI et al., 2010;
BRESSANE et al., 2011; CARVALHO et al., 2014; CATÃO et al., 2015; CODATO et al.,
2011; COSTA E SILVA, 2020; LOPES et al., 2016; LOPES, PESSOA E MACÊDO, 2018;
MOIMAZ et al., 2010; SANTOS NETO et al. 2012; SILVEIRA, ABRAHAM E
FERNANDES, 2016; SOUSA et al., 2016).
Alguns autores apontam que é possível que o próprio profissional de saúde bucal
contribua na reprodução de pensamentos incertos sobre o atendimento odontológico durante a
gravidez, reproduzindo os mitos do senso comum diante de um conhecimento limitado ou
insegurança no tratamento das gestantes (SANTOS NETO et al., 2012; SILVEIRA,
ABRAHAM E FERNANDES, 2016). Por outro lado, Codato et al. (2011) mostram que
atendimentos odontológicos realizados com materiais, técnicas ou equipamentos antigos e
irregulares colaboram para a ocorrência de vivências traumáticas e desagradáveis.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 109
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Dentre os problemas orais das gestantes, a cárie dentária e a doença periodontal foram
encontradas com maior facilidade, principalmente nas gestantes que possuem uma menor renda
(BRESSANE et al., 2011; LOPES et al., 2016; MARINHO et al., 2016 LOPES, PESSOA E
MACÊDO, 2018; MOIMAZ et al., 2016), e também um nível de escolaridade mais baixo
(CATÃO et al., 2015; COSTA E SILVA, 2020; MOIMAZ et al., 2011; SOUSA et al., 2016),
o que leva a falta de informação sobre a importância do pré-natal odontológico durante a
gravidez. Como aponta Barbieri et al. (2018), famílias com maior nível de educação
provavelmente apresentam atitudes mais positivas e maior nível de conhecimento sobre cuidados
preventivos em saúde bucal. O nível de escolaridade é um importante determinante
socioeconômico, visto que quanto maior esse nível, melhores serão as condições financeiras e de
moradia dos indivíduos.
Em relação à autopercepção da saúde bucal, mesmo sendo verificada uma alta
prevalência de cárie, grande necessidade protética e alta incidência de cálculos, as pacientes
perceberam sua saúde bucal como satisfatória (BRESSANE et al., 2011). Este resultado vai de
encontro com o estudo de Sousa et al. (2016), pois quando questionadas sobre a necessidade de
atendimento odontológico, a maioria das gestantes afirmou que precisava de algum tipo de
tratamento.
Durante todo o período gestacional, as gestantes, principalmente as que estão na sua
primeira gestação, apresentam maiores chances de adquirirem novos hábitos relacionados à
saúde, pois estão mais abertas e interessadas a novos conhecimentos que dizem respeito a sua
saúde bucal e a do bebê (BARBIERI et al., 2018; MOIMAZ et al., 2011; SILVEIRA,
ABRAHAM E FERNANDES, 2016; e SANTOS NETO et al. 2012).

Conclusão
Conclui-se que de modo geral, o período gestacional ainda é cerceado por mitos e
medos que inibem as gestantes de realizar consultas odontológicas ou de manter a adesão pelo
tratamento odontológico. Contudo, as barreiras de acesso são as principais limitantes da atenção
em saúde bucal no período gestacional. Na Atenção Básica as gestantes estão mais inseridas
em ações de educação em saúde bucal. Constatou-se desinformação das gestantes sobre a saúde
bucal e sua manutenção, uma vez que em geral a consideraram boa, resultado diferente dos
exames clínicos.
A gravidez é um momento que requer o acompanhamento à saúde bucal. Ainda que o
período gestacional por si só não seja responsável pelo aparecimento de problemas orais, como
a cárie e a doença periodontal, faz-se necessário o acompanhamento odontológico durante toda
a gestação, visando identificar riscos, necessidade de tratamento e a promoção da saúde bucal.

Agradecimentos
Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela
concessão da bolsa, e à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

Referências
BARBIERI, W. et al. Sociodemographic factors associated with pregnant women’s level of
knowledge about oral health. Einstein (São Paulo, Brazil), v. 16, n. 1, p. 1–8, 2018.
BASTIANI, C. et al. Conhecimento das gestantes sobre alterações bucais e tratamento
odontológico durante a gravidez. Odontol. Clín.-Cient, v. 9, n. 2, p. 155–160, 2010.
BOTELHO, D. L. L. et al. Odontologia e gestação: a importância do pré-natal odontológico.
SANARE - Revista de Políticas Públicas, v. 18, n. 2, p. 69–77, 2019.
BRESSANE, L. B. et al. Oral health conditions among pregnant women attended to at a health
care center in Manaus, Amazonas, Brazil. Revista Odonto Ciência, v. 26, n. 4, p. 291–296,
2011.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 110
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CARVALHO, J. A. M. DE. et al. Avaliação do acesso de gestantes à atenção odontológica


realizada pelo grupo PET-Saúde da Universidade Estadual De Londrina-PR. Revista da
ABENO, v. 14, n. 1, p. 81–86, 2014.
CATÃO, C. D. DE S. et al. Avaliação do conhecimento das gestantes quanto à relação entre
alterações bucais e intercorrências gestacionais. Revista de Odontologia da UNESP, v. 44, n.
1, p. 59–65, 2015.
CODATO, L. A. B. et al. Atenção odontológica à gestante: papel dos profissionais de saúde.
Ciência e Saúde Coletiva, v. 16, n. 4, p. 2297–2301, 2011.
COSTA, N. B. DA; SILVA, E. M. DA. Prevalência da doença periodontal em gestantes de uma
unidade básica de saúde em Natal/RN. Revista Ciência Plural, v. 6, n. 1, p. 71–86, 2020.
GUPTA, R.; ACHARYA, A. K. Oral health status and treatment needs among pregnant women
of Raichur District. Hindawi Publishing Corporation Scientific, v. 2016, n. 9860387, p. 1–9,
2016.
LOPES, F. F. et al. Conhecimentos e práticas de saúde bucal de gestantes usuárias dos serviços
de saúde em São Luís, Maranhão, 2007-2008. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 25, n. 4,
p. 819–826, 2016.
LOPES, I. K. R.; PESSOA, D. M. DA V.; MACÊDO, G. L. DE. Autopercepção do pré-natal
odontológico pelas gestantes de uma unidade básica de saúde. Revista Ciência Plural, v. 4, n.
2, p. 60–72, 2018.
MARINHO, A. M. C. L. et al. Conditions and perceptions of oral health in Brazilian pregnant
women. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clinica Integrada, v. 16, n. 1, p. 257–
268, 2016.
MOIMAZ, S. A. et al. Influence of oral health on quality of life in pregnant women. Acta
Odontológica Latinoamericana : AOL, v. 29, n. 2, p. 186–193, 2016.
MOIMAZ, S. A. S. et al. O acesso de gestantes ao tratamento odontológico. Revista de
Odontologia da Universidade de São Paulo, v. 19, n. 1, p. 39–45, 2007.
MOIMAZ, S. A. S. et al. Associação entre condição periodontal de gestantes e variáveis
maternas e de assistência à saúde. Pesquisa Brasileira em Odontopediatria e Clinica
Integrada, v. 10, n. 2, p. 271–278, 2010.
MOIMAZ, S. A. S. et al. Prevalência de cárie dentária em gestantes atendidas no sistema único
de saúde em município paulista. Revista Odontológica de Araçatuba, v. 32, n. 1, p. 44–48,
2011.
SANTOS NETO, E. T. DOS. et al. Acesso à assistência odontológica no acompanhamento pré-
natal. Ciência e Saúde Coletiva, v. 17, n. 11, p. 3057–3068, 2012.
SILVEIRA, J. L. G. C. DA; ABRAHAM, M. W.; FERNANDES, C. H. Gestação e saúde bucal:
significado do cuidado em saúde bucal por gestantes não aderentes ao tratamento. Revista
PanAmazônica de Saúde, v. 19, n. 4, p. 568–574, 2016.
SOARES, M. R. P. S. et al. Pré-natal odontológico: a inclusão do cirurgião dentista nas equipes
de pré-natal. Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 1, n. 2, p. 53–57, 2009.
SOUSA, L. L. A. DE. et al. Pregnant women’s oral health: knowledge, practices and their
relationship with periodontal disease. RGO - Revista Gaúcha de Odontologia, v. 64, n. 2, p.
154–163, 2016.
TRINDADE, S. C. et al. Condição bucal de gestantes e puérperas no município de Feira de
Santana, em três diferentes períodos entre os anos de 2005 e 2015. Epidemiologia e Serviços
de Saúde, v. 27, n. 3, p. 1–12, 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 111
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DE EXTRATOS


HIDROALCOÓLICOS DE CHENOPODIUM AMBROSIOIDES
(MASTRUZ) E CRESCENTIA CUJETE (COITÉ) EM STREPTOCOCCUS
MUTANS E STAPHYLOCOCCUS AUREUS

Erik Vinícius Martins Jácome1; Mariana Silva de Bessa1; Gilmara Celli Maia de Almeida2.

Palavras-chave: Plantas Medicinais. Chenopodium ambrosioides. Streptococcus mutans.


Staphylococcus aureus. Antibacterianos.

Introdução
A utilização de plantas medicinais para fins terapêuticos é conhecida há muito tempo
e aplicada nas diferentes culturas de todo o mundo. Em 22 de junho de 2006, foi aprovada a
Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos com o objetivo de permitir o acesso e
uso racional das plantas e dos fitoterápicos, com eficácia, segurança e qualidade
proporcionando o desenvolvimento desse setor (BRASIL, 2006).
A partir disso, foram estudados os efeitos fitoterápicos da Chenopodium ambrosioides,
originária do México, pertencente à família Chenopodiaceae e também conhecida como
mastruz ou Erva-de-Santa-Maria (BLANCKAERT et al., 2012). Além dela, estudos com a
espécie Crescentia cujete, pertencente à família Bignoniaceae, também vem sendo
desenvolvidos. Conhecida popularmente pelo nome de coité ou cabaceira é uma planta nativa
da América tropical, sendo amplamente distribuída em várias regiões tropicais de todos os
continentes (ARANGO-ULLOA et al., 2009).
Com a ampliação da fitoterapia, muitos estudos vêm sendo realizados a fim de
conseguir alguma ação antibacteriana através de extratos de plantas em bactérias, como o
Staphylococcus aureus, responsável por causar infecções altamente diversas (HOERR et al.,
2018). Já na microbiota oral destaca-se o Streptococcus mutans, bactéria bastante associada ao
desenvolvimento de lesões de cárie que é uma doença biofilme-dependente relacionada ao
consumo de carboidratos refinados na dieta (MARSH; ZAURA, 2017).
Diante disso, este estudo tem por objetivo analisar a atividade antibacteriana de
extratos hidroalcoólicos de folhas de C. ambrosioides (mastruz), C. cujete (coité) e de ambos
associados, em cepas de S. mutans e S. aureus resistente e sensível à meticilina (MRSA e
MSSA).

Metodologia
Os extratos das folhas frescas de C. ambrosioides (extrato 1) e C. cujete (extrato 2)
foram obtidos utilizando-se como agente extrator o álcool etílico absoluto PA, conforme técnica
descrita por Cáceres et al. (1995) com adaptações referentes ao tipo de solvente utilizado e
temperatura do banho de aquecimento do evaporador.
Foram acondicionadas 400 g de folhas de cada planta em recipientes contendo 1600
mL de álcool etílico absoluto PA. Cada mistura foi macerada com macerador côncavo, tendo
1
Estudantes do curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte/UERN; e-mail: dentistajacome@gmail.com ; e-mail: melrybessa@hotmail.com
2
Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte/UERN; Participante do Grupo de Estudos Interdisciplinares em Ciências Odontológicas
(GEICO); e-mail: gilmaracelli@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 112
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

seus recipientes fechados com tampa e armazenados à temperatura ambiente por 15 dias,
protegidos da luz com revestimento de papel de alumínio e com leves agitações realizadas
periodicamente. Após esse período, os extratos foram filtrados e mantidos sob refrigeração a
4°C. Posteriormente, eles foram concentrados em evaporador rotatório (Fisatom® / Mod. 803,
São Paulo - Brasil) a 85ºC com bomba de vácuo para a evaporação do solvente. Ao final dessa
etapa, dois tipos de extratos foram produzidos. Em seguida, um terço dos extratos 1 e 2 foram
separados e misturados em um frasco âmbar de 300 mL esterilizado gerando um terceiro extrato
combinado (extrato 3).
As bactérias utilizadas no estudo são cepas padrões, sendo estas o Streptococcus
mutans (ATCC 55676), Staphylococcus aureus resistente à meticilina – MRSA (ATCC BMB
9393) e sensível à meticilina – MSSA (ATCC 25923). Para a avaliação da atividade
antibacteriana as linhagens foram cultivadas em caldo nutritivo (Caldo Nutriente) e incubadas
a 37º C por 18 horas em aerobiose. Em seguida, foram preparadas suspensões de cultura diluídas
em solução salina 0,85%, sendo que as suspensões obtidas tiveram a turvação ajustadas por
comparação visual à suspensão padrão 0,5 da escala de McFarland, conforme recomendações
do CLSI (2013).
A determinação da atividade antibacteriana foi realizada pela técnica de difusão em
poços ou “template” conforme atualizações e recomendações da CLSI (2018). Todos os testes
foram realizados em triplicata.
Um total de 9 placas de Petri com ágar Mueller-Hinton foram preparadas, nas quais,
após solidificação dos meios, foram realizadas três perfurações (poços) de 6mm de diâmetro
por placa com auxílio de cilindros de vidro estéreis (CLSI, 2018). Em seguida foram inoculadas
sobre a superfície dos meios, com swabs estéreis, as três cepas bacterianas, sendo cada uma das
cepas semeadas em 3 placas distintas. Nos poços foram distribuídos 100 µL dos extratos
hidroalcoólicos (Coité, Mastruz e Mastruz + Coité), sendo que cada poço foi preenchido com
um extrato diferente por placa. Posteriormente, as placas foram mantidas em estufa
bacteriológica à 37ºC e os halos de inibição foram medidos em milímetros, com auxílio de uma
régua milimetrada após 24 horas de incubação.
Para análise dos dados, realizou-se a estatística descritiva com apresentação das
medidas de tendência central (média e mediana) e variabilidade (desvio padrão e quartis 25 e
75) dos halos de inibição produzidos pelos extratos em cada tipo de bactéria testada. Foi
utilizado o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 20.0®, considerando nível de
significância de 5%.

Resultados e Discussão
As três linhagens bacterianas testadas neste estudo (S. mutans, MRSA e MSSA),
apresentaram sensibilidade aos extratos hidroalcoólicos do coité isoladamente e do coité
associado ao mastruz, conforme tabela 1.
O mastruz isoladamente não apresentou efeito sobre nenhuma das bactérias testadas,
sem formação de halos de inibição. Diante disso, a ação antimicrobiana quando utilizado o
extrato 3 (Coité e Mastruz associados) é decorrente apenas das propriedades do Coité, sendo
este resultado evidenciado pela ausência de diferença significativa entre os halos do Coité
isoladamente e associado ao mastruz, com valores de p entre 0,346 e 1,000, considerando cada
uma das bactérias.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 113
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Tabela 1 - Estatística descritiva da ação antimicrobiana dos extratos para cada tipo de
bactéria.

HALO DE INIBIÇÃO (EM MILÍMETROS)


TIPO DE COITÉ MASTRUZ + COITÉ
BACTÉRIA MÉDIA IC-95% MEDIANA MÉDIA IC-95% MEDIANA
(DP) (Q25-Q75) (DP) (Q25-Q75)
Streptococcus 25,3 25,0 25,0 25,0
19,1-31,6 22,5-27,5
mutans (2,5) (24,0-26,5) (1,0) (24,5-25,5)
21,3 21,0 23,3 25,0
MRSA 19,9-22,8 16,2-30,5
(0,6) (21,0-21,5) (2,9) (22,5-25,0)
31,3 31,00 29,7 30,0
MSSA 29,9-32,8 28,2 -31,1
(0,6) (31,0-31,5) (0,6) (29,5-31,1)
IC= Intervalo de Confiança

O Coité apresentou halos de inibição com maiores médias para o S. mutans e MSSA
quando comparado ao extrato do mastruz + coité. Assim, sugere-se que o C. cujete pode vir a
ser uma alternativa de antimicrobiano intra e extra-oral. Essa questão pode ser vislumbrada por
ser um extrato relativamente não-tóxico, como demonstrado no estudo de Anwuchaepe et al.
(2017) que avaliou a toxicidade aguda do coité por via oral em camundongos, e não foram
reveladas reações tóxicas ou letalidade em nenhuma das doses selecionadas.
As ações benéficas apresentadas pelas folhas do coité podem estar associadas a
compostos fito-químicos como flavonóides, saponinas e taninos, sendo estes influenciados por
diferenças na origem da planta, localização geográfica, idade da planta e processo de extração
(HASANAH; ROSDIANA; SYAEFUDIN, 2017).
O extrato de coité associado a nanopartículas de prata foi testado no estudo de
Prabukumar et al. (2018), inibindo progressivamente o crescimento de bactérias Gram-positivas
(R. rhodochrous, B. subtilis, S. epidermidis e M. smegmatis) e Gram-negativas (S. typhi, S.
flexneri e V. cholerae) nas concentrações de 25–100µg. Esses achados sugerem o amplo
espectro do coité, inclusive sobre algumas cepas de Gram-negativas, as quais predominam no
biofilme periodontopatogênico.
Hasanah, Rosdiana e Syaefudin (2017) verificaram que o extrato etanólico das folhas
do coité pode inibir o crescimento de Staphylococcus aureus e Escherichia coli. Assim como
foi observado por Hartati et al. (2011) que o extrato etanólico inibiu o crescimento de S. aureus,
E.coli e o fungo Candida albicans em uma concentração de 10%. Tais estudos corroboram os
achados desta pesquisa, na qual o extrato hidroalcoólico da planta inibiu o crescimento das duas
cepas testadas de S. aureus, destacando-se o MRSA.

Conclusão
O extrato hidroalcoólico de folhas frescas da espécie Crescentia cujete apresenta
atividade antibacteriana sobre as bactérias Staphylococcus aureus (MRSA e MSSA) e
Streptococcus mutans. É importante destacar que há escassez de dados sobre o efeito desse
extrato sobre o S. mutans, bactéria de importância odontológica devido sua associação aos
biofilmes cariogênicos. Sugere-se o desenvolvimento de mais estudos visando iniciar e/ou
ampliar os testes in vitro, in situ, em animais e ensaios clínicos em seres humanos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 114
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos
Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (PIBIC-UERN), órgão de fomento desta pesquisa.

Referências
ANWUCHAEPE, Amarachukwu Ukamaka et al. Evaluation of the in vivo antioxidant,
toxicological and chromatographical profiling of leaf extract and fractions of Crescentia cujete
Linn. (Bignoniaceae). Asian Pacific Journal of Health Sciences, v. 4, p. 43-54, 2017.
ARANGO-ULLOA, Johanna et al. Diversity of the calabash tree (Crescentia cujete L.) in
Colombia. Agroforestry Systems, v. 76, p. 543-553, 2009.
BLANCKAERT, Isabelle et al. Ethnobotanical, morphological, phytochemical and molecular
evidence for the incipient domestication of Epazote (Chenopodium ambrosioides L.:
Chenopodiaceae) in a semi-arid region of Mexico. Genetic Resources and Crop Evolution,
v. 59, p. 557-573, 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. A fitoterapia no SUS e o programa de pesquisas de plantas
medicinais da central de medicamentos. Brasília, 2006. 148p.
CÁCERES, Armando et al. Antigonorrhoeal activity of plants used in Guatemala for the
treatment of sexually transmitted diseases. Journal of Ethnopharmacology, v. 48, p.85-88,
1995.
CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE (CLSI). Performance
standards for antimicrobial susceptibility testing; twenty-third informational supplement
(CLSI Document M100-S23). 2013. 206p.
CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE (CLSI). Performance
standards for antimicrobial disk susceptibility tests. 13th ed. CLSI standard M02. Wayne,
PA: Clinical and Laboratory Standards Institute. 2018. 71p.
HARTATI, Hartati et al. Uji aktivitas antimikroba ekstrak daun Crescentia cujete L terhadap
Staphylococcus aureus, Escherichia coli dan Candida albicans. Research and Community
Service Institute Universitas Negeri Makassar, p. 425-427, 2011.
HASANAH, Uswatun; ROSDIANA, Desi; SYAEFUDIN, Syaefudin. Antibacterial activity of
ethanol extract from stem bark and leaves of berenuk (Crescentia cujete L.). Current
Biochemistry, v. 4, p. 1-14, 2017.
HOERR, Verena et al. S. aureus endocarditis: clinical aspects and experimental approaches.
International Journal of Medical Microbiology, v. 308, p. 640-652, 2018.
MARSH, Philip D; ZAURA, Egija. Dental biofilm: ecological interactions in health and
disease. Journal of Clinical Periodontology, v. 44, p. 12-22, 2017.
PRABUKUMAR, Seetharaman et al. One pot green fabrication of metallic silver nanoscale
materials using Crescentia cujete L. and assessment of their bactericidal activity. IET
Nanobiotechnology, v. 12, p. 505-508, 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 115
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DO DIGLUCONATO DE


CLOREXIDINA 0,12% E 2% EM CEPAS DE STREPTOCOCCUS
MUTANS E STAPHYLOCOCCUS AUREUS

Mariana Silva de Bessa1; Erik Vinícius Martins Jácome1; Gilmara Celli Maia de Almeida2
Palavras-chave: Microbiologia. Bactérias. Antissépticos bucais.

Introdução
A clorexidina é um antisséptico que, dependendo de sua concentração, possui efeitos
diferentes sobre as bactérias. O estudo de Srinivas et al. (2015) relata que em baixas
concentrações ela possui efeito bacteriostático, causando alteração no equilíbrio osmótico da
célula bacteriana e em altas concentrações é bactericida, causando a fragmentação de seus
conteúdos citoplasmáticos. A clorexidina 2% é comumente utilizada para degermação em
procedimentos cirúrgicos e para controle de contaminação cruzada (CUNHA et al., 2011),
enquanto a 0,12% para diminuir carga microbiana oral antes e após cirurgias orais (MOREIRA
et al., 2009). Contudo, a clorexidina apresenta efeitos adversos locais, tem-se apresentado como
agente alergênico e emergem relatos de desenvolvimento crescente de resistência bacteriana,
com destaque a Staphylococcus aureus (PEGORARO et al., 2014; BARBOSA et al., 2019).
Dentre os efeitos adversos da clorexidina a 0,12% na cavidade oral, destacam-se
alteração na coloração dos elementos dentários, alteração do paladar, queimaduras no tecido
mole, xerostomia, lesões descamativas, ulcerações na mucosa e gosto residual desagradável na
boca (PEGORARO et al., 2014). Já o alerta sobre reações alérgicas raras, porém graves, com a
clorexidina utilizada como antisséptico na pele, foi dado por meio de um Comunicado de
Segurança de Medicamentos (“FDA Drug Safety Communication”) (U.S. FOOD AND DRUG
ADMINISTRATION, 2017). Os relatos de reações alérgicas graves a produtos que contém a
substância em sua composição aumentaram consideravelmente nos últimos anos, sendo que os
sintomas relatados como o chiado ou dificuldade para respirar, inchaço do rosto e urticária,
podem progredir rapidamente para sintomas mais graves, como a erupção grave ou choque, que
é uma condição com risco à vida que ocorre quando o corpo não está recebendo fluxo sanguíneo
suficiente.
Streptococcus mutans é uma bactéria presente na microbiota bucal, bastante associada
ao desenvolvimento de lesões de cárie que é uma doença biofilme-dependente relacionada ao
consumo de carboidratos refinados na dieta da população, principalmente a sacarose. Este
processo inicia-se com a produção de ácidos pelo metabolismo bacteriano, levando a
desmineralização da superfície dentária e podendo ocasionar a perda do dente quando não
tratada. (MARSH; ZAURA, 2017). Já S. aureus é uma bactéria responsável por causar
infecções altamente diversas, variando de doenças agudas, como bacteremia e abscessos
cutâneos, a infecções crônicas graves, frequentemente associadas a biofilmes, como a
endocardite e osteomielite (LISTER; HORSWILL, 2014; HOERR et al., 2018). Diante disso,
este estudo teve como objetivo analisar a atividade antibacteriana do Digluconato de

1
Estudantes do curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: melrybessa@hotmail.com ; e-mail:
dentistajacome@gmail.com
2
Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; Participante do Grupo de Estudos Interdisciplinares em Ciências Odontológicas
(GEICO); e-mail: gilmaracelli@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 116
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Clorexidina 0,12% e 2% em cepas de S. mutans e S. aureus resistente e sensível à meticilina


(MRSA e MSSA).

Metodologia
Amostras Bacterianas
As bactérias utilizadas no estudo são cepas padrões, sendo estas o Streptococcus
mutans (ATCC 55676), Staphylococcus aureus resistente à meticilina (ATCC BMB 9393) e
sensível à meticilina (ATCC 25923). Elas foram cedidas em eppendorf contendo TSB
adicionado de 20,0% de glicerol pelo Laboratório de Bacteriologia Médica da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O cultivo, confirmação de crescimento e
identificação das bactérias supracitadas, foram realizados por meio de técnicas padrões
descritas pela ANVISA (2004) e CLSI (2013). Para a avaliação da atividade antibacteriana as
linhagens foram cultivadas em caldo nutritivo (Caldo Nutriente) e incubadas a 37º C por 18
horas em aerobiose. Em seguida, foram preparadas suspensões de cultura diluídas em solução
salina 0,85%, sendo que as suspensões obtidas tiveram a turvação ajustadas por comparação
visual à suspensão padrão 0,5 da escala de McFarland.

Determinação da Atividade Antimicrobiana – Técnica de Difusão em Poços ou “Template”


A determinação da atividade antibacteriana foi realizada pela técnica de difusão em
poços ou “template” conforme atualizações da CLSI (2018) e recomendações de Brasil (2010).
Todos os testes foram realizados em triplicata. Um total de 9 placas de Petri com ágar Mueller-
Hinton foram preparadas, nas quais, após solidificação dos meios, foram realizadas 2
perfurações (poços) de 6 mm de diâmetro por placa com auxílio de cilindros de vidro estéreis.
Em seguida foram inoculadas sobre a superfície dos meios, com swabs estéreis, as três cepas
bacterianas, sendo cada uma das cepas semeadas em 3 placas distintas. Nos poços foram
distribuídos 100 µL de digluconato de clorexidina 0,12% e 2%. Posteriormente, as placas foram
mantidas em estufa bacteriológica à 37ºC e os halos de inibição foram medidos em milímetros,
com auxílio de uma régua milimetrada após 24 horas de incubação.

Análise dos Dados


Para análise dos dados, realizou-se a estatística descritiva com apresentação das
medidas de tendência central (média e mediana) e variabilidade (desvio padrão e quartis 25 e
75) dos halos de inibição produzidos pelas concentrações de clorexidinas utilizadas em cada
tipo de bactéria testada. O teste de Mann Whitney foi utilizado para verificar se havia diferença
significativa entre clorexidina 0,12% e clorexidina 2% para cada tipo bacteriano. Em todas as
análises, foi utilizado o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 20.0®, considerando
nível de significância de 5%.

Resultados e Discussão
A atividade antimicrobiana é caracterizada pela formação de zonas claras ao redor dos
poços (com as diferentes substâncias testadas) nos meios que foram cultivados por bactérias. A
zona clara formada mostra a atividade inibitória do crescimento bacteriano por compostos
antimicrobianos presentes nas substâncias.
Na análise comparativa entre as médias dos halos de inibição dos digluconatos de
clorexidina 0,12% e 2%, observou-se que a segunda se sobressaiu a primeira em relação ao
maior efeito antimicrobiano sobre as três bactérias estudadas, como mostra a Tabela 1. Além
disso, foi analisada se havia diferença significativa entre os halos de inibição das clorexidinas
testadas, medidos em milímetros. A clorexidina 2% apresentou halos significativamente

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 117
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

maiores para o S. mutans (p=0,046) e o MRSA (p=0,043), enquanto para o MSSA não houve
diferença significativa entre as clorexidinas 0,12% e 2% (p=0,513).

Tabela 1- Estatística descritiva da ação antimicrobiana do digluconato de clorexidina 0,12% e


2%. Caicó/RN, 2019.

HALO DE INIBIÇÃO (EM MILÍMETROS)


TIPO DE CLOREXIDINA 0,12% CLOREXIDINA 2%
BACTÉRIA MÉDIA IC-95% MEDIANA MÉDIA IC-95% MEDIANA
(DP) (Q25-Q75) (DP) (Q25-Q75)
Streptococcus 20,7 19,0 28 28,0
13,5- 27,8 25,5-30,5
mutans (2,9) (19,0-21,5) (1,0) (27,5-28,5)
20,7 21,0 27,3 27,0
MRSA 19,2-22,1 25,9-28,8
(0,6) (20,5-21,0) (0,6) (27,0-27,5)
25,7 25,0 26,7 28,0
MSSA 22,8- 28,5 4,1-49,2
(1,1) (25,0-26,0) (9,1) (22,5-31,5)
IC= Intervalo de Confiança

No estudo de Moreira et al. (2009) os autores demonstraram a eficácia da clorexidina


0,12% e 0,2% (usadas para bochechos intraoral como coadjuvante a higienização mecânica),
em que as duas concentrações inibiram o crescimento de bactérias como o S. aureus,
Enterococcus faecalis, Pseudomonas aeruginosa e S. mutans, resultando em uma melhor
redução dos microrganismos na saliva. Este resultado se mostra semelhante ao teste “in vitro”
realizado no presente estudo, no qual a clorexidina a 0,12% também inibiu o crescimento de S.
mutans e S. aureus.
No trabalho de Festuccia et al. (2013), todas as cepas de S. aureus foram sensíveis a
clorexidina 2%. Já no trabalho desenvolvido por Simeão (2008), a clorexidina 2% inibiu o
crescimento de S. mutans, como também na pesquisa feita por Cardoso et al. (2017), na qual a
clorexidina 2% se mostrou eficaz contra S. mutans na desinfecção para incorporação do gesso
tipo IV. Sendo assim, os estudos aqui mencionados demonstraram resultados positivos e
concordantes com esta pesquisa, em que ambas clorexidinas foram eficientes contra as bactérias
testadas.
No entanto, para Moreira et al. (2009), a clorexidina 0,12% é a mais recomendada, em
razão da associação da eficácia contra micro-organismos e a redução de efeitos danosos, quando
comparadas com soluções mais concentradas.

Conclusão
Ambas clorexidinas apresentam efeito antimicrobiano nas cepas estudadas, porém a 2%
se mostra superior a 0,12%. Assim, há eficácia deste antisséptico contra S. mutans e S. aureus,
que são bactérias associadas à problemas odontológicos relevantes. Contudo, para escolher um
produto antimicrobiano ideal, deve-se levar em consideração seu espectro de ação, micro-
organismos envolvidos, fatores que possam interferir em sua atividade germicida e em qual
situação será utilizado.

Agradecimentos
Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte pelo apoio científico e financeiro.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 118
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências
ANVISA. Detecção e identificação de bactérias de importância médica - Módulo 5.
Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 95p
BARBOSA, Aldermara et al. Diminuição da susceptibilidade à clorexidina: revisão sistemática.
Journal of Infection Control, Natal, v.8, n.1, p.24-30, jan-abr. 2019.
BRASIL. Farmacopeia brasileira. 5 ed. Brasília: ANVISA/Fundação Oswaldo Cruz, 2010. 2:
904p.
CARDOSO, Clarissiane Serafim; BONAN, Paulo Rogério Ferreti; ALBUQUERQUE, Allan
Reis. Avaliação da eficácia antimicrobiana da própolis e clorexidina para Streptococcus mutans
na incorporação de modelos de gesso tipo IV. Revista Odontológica do Brasil Central, v. 26,
n.76, p. 26-31, 2017.
CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE (CLSI). Performance
standards for antimicrobial disk susceptibility tests. 13th ed. CLSI standard M02. Wayne,
PA: Clinical and Laboratory Standards Institute, 2018. 71p.
CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE (CLSI). Performance
standards for antimicrobial susceptibility testing; twenty-third informational supplement
(CLSI Document M100-S23), 2013. 206p.
CUNHA, Érika et al. Eficácia de três métodos de degermação das mãos utilizando gluconato
de clorexidina degermante (GCH 2%). Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo,
v. 45, n.6, p. 1440–5, dec. 2011.
FESTUCCIA, Joice et al. Staphylococcus aureus e a atividade in vitro da clorexidina. Revista
de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, São Paulo, v. 34, n. 3, p. 411-415. 2013.
HOERR, V et al. S. aureus endocarditis: clinical aspects and experimental approaches.
International Journal of Medical Microbiology, v. 308, n. 6, p. 640–52, ago. 2018.
LISTER, Jessica; HORSWILL, Alexander. Staphylococcus aureus biofilms: recent
developments in biofilm dispersal. Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, v.4,
p.1-9, dec. 2014.
MARSH, Pd; ZAURA, Egija. Dental biofilm: ecological interactions in health and disease.
Journal of Clinical Periodontology, v. 44 Suppl 18, p. S12–S22, mar. 2017.
MOREIRA, Ana Cristina et al. Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana de antissépticos
bucais. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, Salvador, v. 8, n. 2, p.153-61, mai-ago.
2009.
PEGORARO, Jéssica et al. Efeitos adversos do gluconato de clorexidina à 0,12%. Journal of
Oral Investigations, Rio Grande do Sul, v.3, n. 1, p. 33-37. 2014.
SIMEÃO, Melissa Cabral de Queiroz. Ação antimicrobiana do Xilitol, Clorexidina e Xilitol-
Clorexidina sobre Streptococcus mutans. 2008. 67p. Dissertação (Mestrado em
Odontologia)- Curso de Mestrado em Odontologia, Universidade Potiguar, Natal, 2008.
SRINIVAS, Anirudh et al. Comparison of the efficacy of chlorhexidine gluconate versus
povidone iodine as preoperative skin preparation for the prevention of surgical site infections
in clean-contaminated upper abdominal surgeries. Surgery Today, v.45, n. 11, p.1378–84, nov.
2015.
U.S. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION. Drug Safety Communication: FDA warns
about rare but serious allergic reactions with the skin antiseptic chlorhexidine gluconate.
2017. Disponível em: https://www.fda.gov/Drugs/DrugSafety/ucm530975.htm. Data de
Acesso em: 20 set. 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 119
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ATIVIDADE FISICA/PRÁTICAS CORPORAIS NO TERRITÓRIO:


PERCEPÇÕES E REALIDADES DA POLITICA DE PROMOÇÃO DA
SAÚDE

Maria Edna S. Bezerra1,2; Elison Jefferson S. Crispim2; Themis C. M. Soares2,3


Palavras-Chave: Promoção a Saúde. Saúde. Politicas

INTRODUÇÃO:
Considera-se que a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) foi reformulada
em 2014 e tem como objetivo proporcionar a equidade e melhorias nos modos de viver levando
em consideração a saúde individual e coletiva decorrentes de determinantes sociais. Assim, a
promoção da saúde são estratégias, formas de produzir saúde e reconhece as demais políticas
para à equidade e qualidade de vida. A PNPS apresentou 8 temas prioritários para alcançar seus
objetivos, e entre estes destacamos as práticas corporais e atividades físicas (BRASIL, 2014a).
Nos territórios, justifica-se pela demanda das políticas públicas de saúde, em função das
mudanças de comportamento da sociedade que tem culminado no aumento das doenças
crônicas e em contrapartida as respostas positivas das experiências exitosas provenientes de
diferentes programas. Ela vem sendo entendida como uma estratégia promissora para enfrentar
os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações.

A PNPS considera a autonomia, singularidade dos sujeitos, das coletividades, dos


territórios e os contextos, social, econômico, político, cultural e tem como temas prioritários:
Formação e Educação Permanente; Alimentação Saudável e Adequada; Práticas Corporais e
Atividade Física; Enfrentamento do uso do Tabaco e seus Derivados; Enfrentamento do uso
Abusivo do Álcool; Promoção da Mobilidade Segura e Sustentável; Promoção da Cultura da
Paz e de Direitos Humanos e Promoção do Desenvolvimento Sustentável (BRASIL, 2014a).
Entre essas áreas chamamos a atenção para as Práticas Corporais e Atividade Física que são
ferramentas institucionalizadas para a promoção da saúde. O documento “Planos de Ações
Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) no Brasil
2011 – 2022” dá ênfase para o eixo Atividade Física e coloca o mesmo como uma das principais
ações de enfrentamento (BRASIL, 2011).

Em uma perspectiva moderna e crítica, reconhecemos essas práticas como fator


benéfico a aspectos de aptidão física a saúde individual e coletiva, mas que também são capazes
de auxiliar na busca de autonomia, no empoderamento e protagonismo do indivíduo, equidade
e cuidado do sistema de saúde.

1
Aluna do Curso de Educação Física / Campus Pau dos Ferros; email: mariaedna@alu.uern.br,
edinha0714@gmail.com
2
Membro do Grupo de Pesquisa Educação Física, Sociedade e Saúde / Curso de Educação Física, email:
elison.j_12@hotmail.com
3
Docente do Curso de Educação Física / Campus Pau dos Ferros, Lider do Grupo de Pesquisa Educação Física,
Sociedade e Saúde, email: themissoares@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 120
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O modo de trabalho articulado entre os profissionais, instituições públicas, privadas e


principalmente os sujeitos do território é hoje requerido e considerado essencial pelos melhores
resultados das políticas e programas de saúde. Ainda baseado em considerações anteriores
foram encontradas dificuldades relacionadas a baixa participação de sujeitos do gênero
masculino, crianças e grupos de vulnerabilidade social. Ainda faltam oferta de ações práticas
no turno da noite, insuficiência de recursos financeiros e direcionamento de atividades
específicas permanentemente (BRASIL, 2018a). Nesse contexto, um programa que surge de
experiências consideradas significativas no Brasil, no enfrentamento as doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT), pautado pela (PNPS) e Atenção Básica (AB) precisa rever o seu cenário
e buscar melhorar seu potencial de ação para alcance de seus objetivos.
Apesar das considerações supracitadas, na VI região de saúde do semiárido potiguar
observa-se carência na formulação de recomendações e ações na política de promoção a saúde,
percepções da comunidade sobre suas necessidades e expectativas, fatores ainda insipientes
principalmente no contexto das atividades físicas/práticas corporais. Diante desse
posicionamento, a presente pesquisa tem como objeto de estudo Políticas de Promoção da
Atividade Física/Práticas corporais. Assim, a efetivação de programas com atividade física e
práticas corporais é de grande valia quando proporcionado a esses indivíduos uma intervenção
de qualidade, orientada e responsável, que contribua para a saúde dos mesmos. Para tanto, teve
como objetivo investigar como se configuram os locais de práticas de atividade física/práticas
corporais e a utilização destes espaços pelos indivíduos.
METODOLOGIA:
A investigação realizada é caracterizada como descritiva-exploratória e de abordagem
quantitativa e qualitativa. É uma investigação que é determinada por proporção numérica, logo,
se refere à quantificação de informações e também a um levantamento bibliográfico que se
propôs a uma discussão teórica da temática (FACHIN, 2006). O cenário da pesquisa foi a VI
região de saúde do estado do Rio Grande do Norte (semiárido potiguar). Esta região é composta
por 37 municípios, 253 192 habitantes equivalente a 7,4% da população do estado. Para
delineamento da amostra representativa, considera-se que foi composta por 271 usuários
participantes dos programas de promoção de atividade física/práticas corporais definida pelo
processo de seleção probabilística aleatória por conglomerado e intervalo de confiança de 95%.
Foi considerado como definição do cálculo amostral 25% do número de municípios da VI
Região de Saúde do semiárido potiguar, incluindo possibilidades de recusa e critérios de
inclusão. O instrumento utilizado foi um questionário adaptado de Amorim (AMORIM, 2013).
RESULTADO E DISCUSSÃO:
Como discutido, é cada vez mais comum a existência de programas federais e
municipais que trabalham ou buscam trabalhar orientados pela PNPS, mas é preciso ouvir os
atores nesse processo para avaliar se as metas e objetivos estão sendo atingidos. As políticas
públicas tratam-se de diretrizes elaboradas para enfrentar um problema público que atinge uma
coletividade, logo, existe a intenção de tratar de um fenômeno compreendido como relevante e
essa intencionalidade materializada nas políticas devem ser monitoradas e avaliadas (SECCHI,
2013). Foi possível observar que os programas de promoção da saúde pesquisados apresentam
um perfil em comum que é referente aos sujeitos e profissionais assim como um modo de
organização. Esse perfil apresenta fatos positivos que devem serem mantidos e reforçados para
que continuem por longos períodos e fatos negativos que devem serem revistos e corrigidos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 121
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O público participante em suma maioria são mulheres, logo, são elas que se identificam
com as práticas que estão sendo ofertadas. Todavia, é necessário pensar em estratégias na
inclusão dos homens, assim considerando a subjetividade presente no território para planejar a
inclusão dos mesmos. Os programas atendem os grupos de riscos ou doentes como orientado
nos documentos e políticas que norteiam os programas. Isso acontece pelo fato de ser
recomendação nacional intervir no quadro referente às DCNT, tanto no que se referi ao seu
surgimento ou complicações. Todavia, esses programas chegam muito pouco a zona rural, logo
é a população urbana que está sendo beneficiada com as ações e isso deve ser revisto já que a
população da zona rural também tem direito aos serviços de saúde.
Portanto, os programas de promoção da saúde que ofertam atividade física e práticas
corporais na VI região de Saúde do Rio grande do Norte vem apresentando resultados
extremamente positivos em relação a subjetividade dos sujeitos com a percepção de saúde.
Resultados semelhantes também foram apresentados em outras cidades pesquisadas e isso
mostra a relevância desses programas para os sujeitos participantes. É importante a inclusão de
mais pessoas nessas políticas para que essas possam melhorar sua percepção de saúde e que
assim possa também refletir em comportamentos mais saudáveis. A Academia da Saúde ou
projetos similares se apresentou como os locais mais utilizados, já que é um lugar com máquinas
e espaço para realizar atividade física e práticas corporais. Esse equipamento é da Atenção
Básica, logo, não só os profissionais da Academia da Saúde podem utilizar como outros
profissionais da saúde podem fazer uso, como os profissionais do NASF (BRASIL, 2017a).
Nas cidades pertencentes a VI Região de Saúde é comum encontramos além da
Academia da Saúde, programa e equipamento de âmbito federal, projetos similares que também
possuem maquinas e espaço para a prática de atividade física. Outros dois lugares mais bem
lembrados foram as UBS e praças. As Unidades Básicas de Saúde são estabelecimentos da
Atenção Básica que são lembradas muitas vezes somente pelo espaço aonde acontece o
atendimento gratuito por parte dos médicos. Entretanto, salas (espaços) para atividades
coletivas devem existir para os profissionais da atenção básica (BRASIL, 2012). Assim, com a
inserção do profissional de Educação Física em equipes de atenção básica como no NASF, é
possível e importante que eles usem esses espaços para desenvolver ações como atividade física
e práticas corporais.
As praças são espaços públicos de convivência e lazer que são bastante encontradas nas
cidades da VI Região de Saúde. Esses espaços estão se tornando locais aonde os sujeitos vão
se exercitar. Sabendo disso, os municípios já começaram a ofertar as ações dos programas
nesses espaços. Se os municípios tem a intenção de aumentar a participação das pessoas em
atividade física, seja fazendo parte do programa ou se exercitando por conta própria em espaços
públicos, é necessário uma reestruturação urbana, como na revitalização de parques e praças
(MALTA, 2013). É importante dizer que a região pesquisada se encontra no semiárido e essa
região apresenta altas temperaturas e um sol forte o que impossibilita usar alguns espaços
públicos como as praças a depender dos horários, logo os ginásios por serem cobertos, podem
se apresentar como alternativas para desenvolver as ações nos horários que não é possível
realizar atividade física e práticas corporais em espaços abertos. Usufruir desses espaços para
a realização de atividade física, sejam atraves de programas ou não, faz como que se eleve a
qualidade de vida da população, prevenindo doenças e aumentando a socialização (PIERONE,
et al, 2016). Desta forma, as gestões municipais devem buscar revitalizar os espaços que são

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 122
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

considerados não adequados, e além de qualidade nas estruturas físicas, os programas se


organizem para facilitar o acesso da população.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A VI Região de Saúde do Rio Grande do Norte se constitui como território das políticas
de promoção da saúde que ofertam atividade física e práticas corporais apresentando suas
características especificas, com potencialidades e fragilidades. Quanto as fragilidades destaca-
se a dificuldade na inclusão de sujeitos do sexo masculino, ações acontecendo quase que
somente na área urbana, oferta de ações prioritariamente nos turnos da manhã e tarde, e
barreiras como estruturas físicas e materiais inadequadas. Esse território, pode se organizar
como rede, estreitando os laços dos municípios e estabelecendo parcerias com as instituições
para melhorar as políticas de promoção da saúde e aumentar os impactos no que se refere a
saúde e qualidade de vida.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, T, E, C. Programas de promoção de atividade física no Brasil. Tese. Doutorado em
Epidemiologia. Universidade Federal de Pelotas. Pelotas/RS, 2013.
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação
de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das Doenças Crônicas não
transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Ministério da Saúde: Brasília. 2012.
________.Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde: revisão da Portaria MS/GM nº 687, de 30 de
março de 2006. Brasília: Ministério da Saúde, 2014a.
_______. Ministério da Saúde. Curso de aperfeiçoamento em implementação da Política
Nacional de Promoção da Saúde: programa academia da saúde. Ministério da Saúde;
Universidade Federal de Santa Catarina. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2017a.
_________. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância de Doenças e Agravos não transmissíveis e Promoção da Saúde. Panorama nacional
de implementação do programa academia da saúde: monitoramento nacional da gestão do
programa academia da saúde: ciclo 2017. Brasília: Ministério da Saúde, 2018a.
FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 5ª Ed. [rev.] São Paulo: Saraiva, 2006.
MALTA, D, C, et al. A política nacional de promoção da saúde e a agenda da atividade física
no contexto do sus. In: Brasil. Ministério da Saúde . Secretária de vigilância Sanitária em Saúde.
Departamento de Situações em Saúde. Avaliação de efetividade de programas de atividade
física no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
PIERONE, J, M. et al. Qualidade de vida de usuários de parques públicos. Bol. Psicol.São
Paulo. 66(144), p. 99-112. 2016.
SECCHI, L. Políticas públicas: Conceitos, esquemas de análise, casos práticos. 2ª ed. São
Paulo: Cengage. 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 123
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AVALIAÇÃO CLÍNICA DE FALHAS EM RESTAURAÇÕES DIRETAS


DE RESINA COMPOSTA EM DENTES ANTERIORES E
POSTERIORES

Joice Daiane de Oliveira 1; Maria Eduarda Ferreira de Souza 1; Ana Clara Soares Paiva
Torres2
PALAVRAS-CHAVE: Restauração dentária permanente. Cárie dentária. Retratamento.

INTRODUÇÃO
As restaurações dentárias são artifícios usados para prolongar a vida de elementos
dentários que sofreram perda em sua composição estrutural ou para modificar forma e estética
dos mesmos. Contudo, tais procedimentos não mantêm os dentes totalmente isentos da
possibilidade de recidiva da causa que levou a perda de estrutura dentária inicial ou da
necessidade de retratamento. Esse tipo de procedimento é comum na rotina clínica do cirurgião-
dentista e o seu sucesso depende de fatores como material e técnica utilizados,
comprometimento do paciente com a higiene oral e a suscetibilidade para desenvolver novas
lesões de cárie (PAZINATTO et al., 2012).
Hoje, é possível optar por diferentes técnicas de restauração dentária, dentre as quais
está a técnica direta, que apresenta menor custo e permite realizar, dentro das condições clínicas
do paciente, preparos cavitários dentários mais conservadores (CONCEIÇÃO, CONCEIÇÃO
e PACHECO, 2007). A seleção do material dentro dessa técnica constitui uma importante etapa
para que seja realizada uma restauração que exerça adequada substantividade. Atualmente um
dos materiais mais utilizados para restaurações diretas são as Resinas Compostas (VAN
DIJKEN e PALLESEN, 2016). A aplicação desse material em larga escala se deve ao fato de
que o mesmo permite uma abordagem baseada na mínima intervenção, que hoje é um dos pré-
requisitos da Odontologia restauradora moderna (HEINTZE, ROUSSON e HICKEL, 2015).
Melhorias tecnológicas ocorreram em resposta à crescente demanda de pacientes por
estética e à consequente demanda de cirurgiões-dentistas por materiais com características
ópticas semelhantes às dos dentes naturais. As resinas compostas recentes exibem uma ampla
variedade de cores e efeitos, são mais fáceis de manusear e inserir, além de facilitar a escultura
da anatomia dental. Diante dessas melhorias, intervenções com as resinas compostas
possibilitam o restabelecimento de detalhes específicos e individuais existentes na dentição
natural, de maneira satisfatória estética e praticamente imperceptível à visão
humana (ARAÚJO et al., 2003; DIETSCHI, 2008; DIETSCHI, ARDU E KREJCI, 2006; OZEL
et al., 2008).
Embora as restaurações com este material adesivo possam ser consideradas confiáveis
do ponto de vista clínico (DEMARCO et al., 2017; KUPIETZKY et al., 2019) mesmo com o
desenvolvimento de tecnologias e com o constante aprimoramento, têm-se que a sensibilidade
técnica, a ocorrência de falhas e complicações associadas podem comprometer a longevidade
dessa modalidade terapêutica. Diante disso, esse trabalho tem como objetivo, identificar as
principais falhas em restaurações de resina composta em dentes anteriores e posteriores de
pacientes atendidos na Clínica de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, no município de Caicó-RN.
1
Estudante do curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: joiceoliveirad@hotmail.com
eduarda02ferreira1999@gmail.com
2
Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: clarasoares@uern.br; x_ana_clara_x@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 124
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

METODOLOGIA
A pesquisa consiste em um estudo de cunho descritivo, do tipo transversal,
exploratório e de natureza quantitativa sobre as principais falhas em restaurações de resina
composta envolvendo dentes anteriores e posteriores de pacientes atendidos na Clínica de
Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, no município de Caicó-RN.
Este estudo, previamente a realização de qualquer etapa, foi submetido e aprovado no Comitê
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da UERN, com o parecer de aprovação n.
3.234.416.
A população do presente estudo foi composta por pacientes que apresentavam
restaurações em resina composta, dentição completa ou com até duas perdas dentárias por
sextante (podendo ter até doze perdas totais), com estabilidade e contenção dentária e de idade
entre 15 e 59 anos. Foram excluídos da pesquisa os pacientes que apresentavam apenas
restaurações em amálgama ou restaurações fixas indiretas; pacientes desdentados totais
usuários ou não de prótese dentária; pacientes que apresentavam apenas dentes anteriores ou
apenas dentes na região posterior e pacientes com limitação de abertura bucal. Como num
estudo piloto, a amostra foi composta por conveniência.
Os pacientes inicialmente responderam a perguntas contidas em uma ficha clínica,
desenvolvida especificamente para este fim, a qual, também continha como anexo o Termo de
Consentimento Livre Esclarecido. Os pacientes forneceram dados sobre sua identificação geral,
histórico médico e odontológico, hábitos alimentares, de higienização e parafuncionais.
Posteriormente, os mesmos pacientes foram submetidos a uma avaliação clínica intraoral
inicial, na mesma ficha, havia uma sessão de preenchimento que permitia identificar o dente
que apresentava restaurações de resina composta, a face do dente, o tempo decorrido desde a
confecção da restauração e demais considerações acerca das restaurações.
Subsequentemente a uma avaliação clínica geral e inicial, foram aplicados aos
participantes três questionários, o primeiro questionário abordava perguntas sobre a percepção
estética dessas pessoas com relação aos seus dentes tratados com resina composta. Para essa
avaliação foi utilizada uma escala visual analógica (VAS), que trazia questionamentos
subjetivos relacionados a forma, tamanho, cor e naturalidade do (s) dente (s) tratado (s),
quantificando em graus de satisfação com variação: 0 (muito insatisfeito) a 10 (muito satisfeito).
O outro questionário aplicado aos pacientes foi OHIP-14 (Oral Health Impact Profile), que
trazia questionamentos que permitiam quantificar o impacto do tratamento restaurador dentário
na qualidade de vida dessas pessoas, bem como, possíveis limitações físicas e/ou psicológicas
desencadeadas após esse tratamento.
Em seguida, os pacientes tiveram suas restaurações avaliadas clinicamente, em
ambiente iluminado, com materiais estéreis e com utilização de EPI pelos pesquisadores e pelos
participantes. Cada restauração foi avaliada e classificada segundo os critérios de VD (Van
DiJken) 1986 para as características: forma anatômica, adaptação marginal, correspondência de
cores, descoloração, rugosidade superficial, e cáries, classificando esses critérios como
“aceitável” ou “não aceitável”. As restaurações também foram classificadas de acordo com os
critérios modificados do USPHS (Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos) para as
seguintes características: Adaptação, cor da restauração, descoloração marginal, rugosidade
superficial, fratura da restauração, fratura do dente, desgaste do antagonista, cárie, sensibilidade
pós-operatória, optando por classificar esses critérios como “com alteração” ou “sem alteração”
em detrimento do estabelecimento de um score, para a otimização da avaliação. Nos casos de
suspeita de recidiva de cárie foram realizadas radiografias periapicais e interproximais.
O estudo contou com duas avaliadoras previamente treinadas. Para que as restaurações
fossem analisadas clinicamente, cada paciente passou pela avaliação uma única vez e por um
único examinador. Nos casos em que haviam dúvidas relacionadas as falhas das restaurações,
a pesquisadora que se encontrava em posição de avaliadora, consultava sua dupla de pesquisa,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 125
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

para assim, encerrar a avaliação do paciente com base no consenso entre as duas, para a
resolução do ponto conflitante.
Os dados obtidos foram armazenados e analisados através do software IBM SPSS
Statitics 20. Inicialmente, realizou-se uma análise descritiva da população estudada. A
normalidade foi verificada por meio do teste Kolmogorov-Smirnov com indicação de uso de
testes não paramétricos. O teste Qui-quadrado de Pearson ou o teste Exato de Fisher foram
empregados para verificar se a pontuação total do OHIP esteve associada com a classificação
VD da restauração quanto à forma, dor e descoloração marginal. Por meio desses testes a
associação entre a cor e a ingestão de bebidas também foi verificada. A correlação de Spearman
foi utilizada para verificar a correlação entre tempo, OHIP, satisfação com o sorriso e a
classificação VD de cor. O nível de significância adotado nos testes foi de 5% (p≤0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No total, 30 pacientes foram selecionados segundo os critérios de inclusão. Destes, 14
pacientes possuíam pelo menos uma restauração anterior. A média de idade destes foi de 28,5
anos (± 6,63). Um total de 27 restaurações anteriores foi avaliado. O tempo médio decorrido
desde a confecção da restauração até o momento da avaliação foi de 42,85 meses. A maior
parte das restaurações avaliadas estava satisfatória. As principias falhas estavam relacionadas
a descoloração marginal e cor. Nenhuma restauração falhou por recidiva de cárie, fratura da
restauração ou do dente. Quanto ao impacto da saúde oral na qualidade de vida a pontuação
média do OHIP foi 3,70 pontos. A pontuação do OHIP não esteve associada de forma
estatisticamente significante a forma, cor ou descoloração marginal. Contudo, houve correlação
negativa do OHIP com o tempo (p=0,011) e dele com a satisfação com o sorriso (p=0,039)
(Tabela 1).
Tabela 1 – Correlação entre tempo decorrido desde a confecção da restauração, OHIP total,
satisfação com o sorriso e Classificação VD.

Satisfação com o Classificação VD


OHIP total
sorriso (cor)
N rho p N rho p n rho P

-
Tempo 27 -0,483 0,011 27 0,089 0,660 27 0,479
0,142
OHIP
27 1,000 27 -0,400 0,039 27 0,154 0,444
Total
Satisfação com o
27 1,000 27 0,015 0,941
Sorriso
Classificação VD
27 1,000
(cor)
Nota: Teste de correlação de Spearman.
A insuficiência das restaurações dentárias anteriores está relacionada principalmente
a alterações de cor, mesmo quando são relativamente recentes. Neste sentido, torna-se essencial
o estabelecimento de condutas para realização do reparo ou substituição das restaurações de
forma adequada, a fim de que o tratamento tenha maior sobrevida e sucesso.
Quanto as restaurações posteriores um total de 26 pacientes foi analisado e a média de
idade destes foi de 26,38 anos (± 6,68). Um total de 91 restaurações posteriores foi avaliado. O
tempo médio decorrido desde a confecção da restauração até o momento da avaliação foi de
60,38 meses. Nas restaurações que tiveram falhas, estas aconteceram principalmente quanto a
cor, descoloração marginal e rugosidade superficial. Quanto a qualidade de vida relacionada a
saúde oral (QVSB), pacientes com restaurações aceitáveis estiveram associados a menores

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 126
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pontuações no OHIP (p<0,05). Além disso, à medida que o tempo decorrido desde a confecção
da restauração aumenta, o impacto negativo da saúde bucal sobre a qualidade de vida diminui
(p<0,001). A satisfação com a estética do dente teve correlação positiva com a satisfação com
a naturalidade do tratamento (p<0,001) e com a satisfação comparativa em relação aos demais
dentes (p<0,001).
O número de falhas encontradas em restaurações posteriores foi relativamente baixo e
esteve relacionado principalmente a alterações de cor e rugosidade. A QVSB dos pacientes
sofreu menos interferências negativas quando as restaurações estavam aceitáveis, mas a medida
em que o tempo passa o impacto gerado por restaurações deficientes diminui.

CONCLUSÃO
Com base nos resultados do presente estudo é possível constatar que a maior parte das
restaurações avaliadas com falhas, não são aceitáveis quanto a descoloração marginal e cor da
restauração. Nenhuma restauração apresenta falha por recidiva de cárie, fratura da restauração
ou do dente. Os resultados indicam que o paciente pode se adaptar com a condição bucal com
o passar do tempo após o tratamento, mas ainda sim se incomodar com aspectos específicos
assim como com o sorriso. Neste sentido, é preciso considerar que é provável que os fatores
subjetivos relacionados ao paciente sejam os principais determinantes de alguns resultados do
tratamento relacionados a satisfação. Contudo, um acompanhamento regular e rigoroso pode
ser uma importante ferramenta para aumentar o índice de satisfação dos pacientes com o
tratamento, uma vez que a manutenção das condições de saúde é facilitada.

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, E.M. JR.; BARATIERI, L.N.; MONTEIRO, S. JR.; VIEIRA, L.C.; ANDRADA,
M.A. Direct adhesive restoration of anterior teeth: part 2. Clinical protocol. Practical
procedures & aesthetic dentistry. v. 15, n.5, p. 351-7. 2003.
CONCEIÇÃO, E.M.; CONCEIÇÃO, A.A.B.; PACHECO, J.F.M. Saúde e Estética, Atuação
em Dentística. Artmed. 2007.
DEMARCO, F.F.; COLLARES, K.; CORREA, M.B., CENCI, M.S.; MORAES, R.R.;
OPDAM, N.J. Should my composite restorations last forever? Why are they failing? Brazilian
Oral Research. v.28, 31 Suppl 1:e56. 2017.
DIETSCHI, D. Otimizando a estética e facilitando a aplicação clínica da colagem à mão livre
usando o "conceito de estratificação natural". Brazilian Dental Journal. v. 204, n. 4, p. 181-5.
2008.
DIETSCHI, D.; ARDU, S.; KREJCI, I. Um novo conceito de sombreamento baseado na cor
natural do dente aplicado a restaurações diretas de compósitos. Quintessence International. v.
37, n. 2, p. 91-102. 2006.
HEINTZE, S.D.; ROUSSON, V.; HICKEL, R. Eficácia clínica de restaurações anteriores
diretas - uma metanálise. Dental Materials. v. 31, n. 5, p. 481-95. 2015
KUPIETZKY, A.; ATIA JOACHIM, D.; TAL, E.; MOSKOVITZ, M. Long-term clinical
performance of heat-cured high-viscosity glass ionomer class II restorations versus resin-based
composites in primary molars: a randomized comparison trial. European Archives of Paediatric
Dentistry. European Archives of Paediatric Dentistry. v. 20, n. 5 p.451-456. 2019.
OZEL, E.; KAZANDAG, M.K.; SOYMAN, M.; BAYIRLI, G. Seguimento de dois anos de
dentes anteriores fraturados restaurados com resina composta direta: relato de três
casos. Dental Traumatology. v. 24; n.5, p. 589-92. 2008.
PAZINATTO, F.B. et al. 56-month clinical performance of class I and ll resin composite
retorations. Journal of Applied Oral Science. v. 20, n. 3, p. 323-328. 2012.
VAN DIJKEN, J.; PALLESEN, U. Posterior bulk-filled resin composite restorations: A 5-year
randomized controlled clinical study. Journal of Dentistry. v. 51, p.29-35. 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 127
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AVALIAÇÃO DAS SALAS DE VACINAS NA REDE DE ATENÇÃO


PRIMÁRIA DO MUNICÍPIO DE CAICÓ/RN.

Alexsandro Souza Fernandes¹; Renata Janice Morais Lima Ferreira Barros².

Palavras-chave: Atenção primária à saúde. Vacinas. Enfermagem.

INTRODUÇÃO:
A imunização consiste na execução de ações contínuas ofertadas nos serviços de
saúde da Atenção Primária à Saúde. No Brasil, desde o século XIX, vem se integrando e
fortalecendo essa prática através da Política Nacional de Imunização (PNI), que define e
coordena os papéis de normatizações técnicas (BRASIL, 2014).
Assim, o Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação (BRASIL, 2014)
reforça que nos espaços de vacinação é fundamental que todas as técnicas desenvolvidas
proporcionem a máxima segurança, minimizando o risco de contaminação para a população
vacinada, do mesmo modo para a equipe de vacinação.
O ambiente de vacinação é um espaço que se configura como semicrítico. Em
virtude disso, a sala deve ser reservada prioritariamente aos serviços de administração dos
imunobiológicos, respeitando os diferentes cronogramas de vacinação existentes. É
importante enfatizar a segurança quanto aos métodos e processos manuseados em sala,
contribuindo para que os riscos de contaminação dos usuários vacinados e profissionais sejam
atenuados (BRASIL, 2014).
Dessa forma, para assegurar a eficácia dos imunobiológicos e minimizar os riscos,
deve-se atentar as especificidades preconizadas pelo Ministério da Saúde quanto ao ambiente
e instalações das atividades de vacinação. O ambiente de proteção imunológica ou sala de
imunização (SI) simboliza a localização final da Rede de Frio, onde ocorre especialmente as
atividades de vacinação de rotina, campanhas, bloqueios e intensificações (BRASIL, 2017).
Assim este estudo teve por objetivo identificar como ocorre o funcionamento das
salas de vacinas na Rede de Atenção Básica da zona urbana do município de Caicó/RN.

METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo descritivo e exploratório com abordagem quantitativo.
Realizado no município de Caicó, exclusivamente na Rede de Atenção Básica de Saúde da
zona urbana deste município. A cidade é composta por 17 Unidades Básicas de Saúde da
Família - UBS, na qual uma delas se encontra desativada devido problemas estruturais e de
espaço. Os participantes da pesquisa foram os profissionais técnicos/auxiliares de
enfermagem atuantes nas salas de vacinas e/ou enfermeiros responsáveis das respectivas
UBS’s.
A pesquisa implicou conhecer o funcionamento das salas de vacinas do município de
Caicó/RN, conforme critérios adotados pelo PNI. Para o alcance dos resultados, foi elaborado
um instrumento com questões fechadas. Este foi aplicado individualmente em cada UBS
pesquisada, combinado data e horário previamente, com coleta realizada na sala do
enfermeiro e/ou de vacinas.

¹Discente do Curso de Graduação em Enfermagem no Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado


do Rio Grande do Norte (UERN), Campus Caicó; e-mail: alexsandrosouza65@hotmail.com.
²Docente no Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN),
Campus Caicó; Participante do Grupo de Pesquisa em Enfermagem Campus Caicó – GRUPECC/UERN; e-mail:
renatamorais@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 128
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O tratamento e análise dos dados foram organizados através do programa Microsoft


Office Excel®, por meio de estatística descritiva na qual o pesquisador digitou as informações
levantadas em tabelas e após, discutidas junto ao referencial teórico. A pesquisa foi aprovada
através do parecer ético n° 3.181.284, em 01 de março de 2019, emitido pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - CEP/UERN.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Participaram da pesquisa, dois técnicos de enfermagem (12,50%) e quatorze
enfermeiros (87,50%), sendo predominante o sexo feminino, com (81,25%). A tabela 1
apresenta os valores absolutos e percentuais relativos à estrutura física das salas de vacina do
município de Caicó/RN.

Tabela 1: Caracterização do espaço físico das salas de vacinas na rede de atenção básica do município de
Caicó/RN, 2020.
SIM NÃO
VARIÁVEIS
(N) % (N) %

Sala com área mínima de 6m² 7 43,75% 9 56,25%

Bancada de material não poroso p/ o preparo dos insumos


5 31,25% 11 68,75%
durante os procedimentos

O serviço dispõe do número suficiente de termômetros de


15 93,75% 1 6,25%
máxima e mínima e de cabo extensor

A capacidade do refrigerador é igual/superior a 280 litros 9 56,25% 7 43,75%

Na organização da caixa térmica, é feita a ambientação das bobinas


16 100,00% 0 0,00%
de gelo reciclável

Substituição da caixa térmica de poliestireno pela a de


12 75,00% 4 25,00%
poliuretano.

Fonte: Dados da pesquisa.

Nas 16 UBS’s pesquisadas; 9 (56,25%) salas de vacinas não contemplam ao tamanho


ideal preconizado pela Política Nacional de Imunizações (PNI). Para garantir que os riscos de
contaminação e segurança dos profissionais de vacinação e usuários não sejam
comprometidos, é importante obedecer às indicações do manual do Ministério da Saúde
relacionadas ao ambiente e as instalações em salas de vacina (BRASIL, 2014; 2017).
Acerca da existência de bancada feita de material não poroso para o preparo dos
insumos durante os procedimentos, 11 UBS’s, (68,75%) não cumprem esse quesito, e 5
(31,25%) atendem. O estudo de (GALVÃO et al., 2019), evidencia alguns erros que implicam
na estrutura e organização das salas, sendo um deles a ausência de bancada para suporte na
preparação das vacinas, mesmo nas salas que passaram por reforma recente.
Em 15 (93,75%) das salas de imunização há termômetro de máxima e mínima com
cabo extensor. Estudo realizado por Santana (2015) destacou que 92,9% das salas de
imunização apresentavam termômetro nas caixas térmicas e nos refrigeradores.
No que se refere à capacidade do refrigerador, observou-se que 7 (43,75%) das salas
de vacina não estão de acordo com o preconizado no manual do ministério da saúde. Isso
implica alta representatividade que influenciará na arrumação dos imunobiológicos no espaço
interno da geladeira. Estudo realizado por Elisiário et al. (2017) apontou 2 (13,3%) salas de
imunização atingiam a capacidade de 280 litros, conforme determinado pelo PNI, enquanto os
outros refrigeradores possuíam capacidade de 240 litros.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 129
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As 16 (100%) salas de vacina em estudo realizam a ambientação das bobinas,


quando utilizadas em caixas térmicas. Em estudo realizado por Deus et al. (2016) mostra que
todas as 51 salas pesquisadas, é feita a ambientação das bobinas.
Em 16 salas pesquisadas, em 12 (75,00%) destas, as caixas térmicas foram
substituídas conforme preconiza o manual. A troca das caixas térmicas de material
poliestireno (isopor) por poliuretano está entre as indicações do Programa Nacional de
Imunizações (PNI), tendo em vista a duração e agilidade na limpeza (BRASIL, 2014).

CONCLUSÃO:
Os resultados deste estudo apontaram deficiências relacionadas à necessidade de
estruturação das salas de vacina para o uso adequado, uma vez que para assegurar qualidade e
segurança na rotina dos serviços de imunização é necessário manter a provisão de insumos
básicos, condições sanitárias adequadas, estrutura física, mobiliários e profissionais
capacitados.
Portanto, as atividades em sala de vacina requerem a compreensão e o pensamento
crítico reflexivo dos gestores acerca da avaliação dos serviços com segurança e qualidade à
população, uma vez que o PNI é uma política pública de saúde que visa à erradicação de
doenças imunopreveníveis.

AGRADECIMENTOS:
A todos os profissionais enfermeiros e técnicos de enfermagem das unidades básicas
de saúde de Caicó/RN que foram gentis e aceitaram responder ao questionário, contribuindo
assim para o êxito desta pesquisa. A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN), Campus Caicó pela competência, incentivo, dinamismo do ensino.

REFERÊNCIAS:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de Rede de Frio do Programa Nacional de
Imunizações. 5. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de Normas e Procedimentos para
Vacinação. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

DEUS. Samira Rêgo Martins de et al. Estudo dos procedimentos quanto à conservação das
vacinas do programa nacional de imunização. Revista de Enfermagem UFPE On-line, v.
10, n. 3, p. 1038-1046, 2016.

ELISIÁRIO, Rosângela Nascimento et al. Avaliação das salas de vacinas nas unidades de
estratégia de saúde da família. Enfermagem Revista, Minas Gerais, v. 20, n. 3, p. 1-17, 2017.

GALVÃO, Maria de Fátima Pereira de Sousa et al. Avaliação das salas de vacinação de
unidades de Atenção Primária à Saúde. Revista Rene, Fortaleza, v. 20, p. 1-8, 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 130
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS ANATÔMICOS E


FISIOLPATOLÓGICOS DA INFECÇÃO PELO HIV/AIDS E DE
AUTOCUIDADO POR ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO

Natanias Macson da Silva1; Thiago Luis de Holanda Rego2; Letícia de Lima Mendonça2
Allyssandra Maria Lima Rodrigues Maia3
1
Estudante do Curso de Medicina do Departamento de Ciências Biomédicas, da Faculdade de
Ciências da Saúde, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-
mails: nataniasmacson95@gmail.com.
2
Outros estudantes. (seguir a nota 1.)
3
Professora Doutora do Departamento de Ciências Biomédicas, da Faculdade de Ciências da
Saúde, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-mail:
allyssandramr@hotmail.com.
Palavras-chave: Saúde Pública. Adolescência. Autocuidado. HIV. Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida.

1. Introdução
Durante a adolescência, paralelamente às mudanças sociais, psicológicas, físicas e
comportamentais, crescem a autonomia em relação à família e a experimentação de novas
vivências que podem representar importantes fatores de risco para a saúde, como
sedentarismo, sexo desprotegido, alimentação inadequada e uso de drogas lícitas e/ou ilícitas,
entre elas o álcool e o tabaco. Ainda, vários hábitos e comportamentos são estabelecidos na
adolescência, os quais serão transferidos à idade adulta, tornando-se mais difíceis de serem
alterados (VIERO et al., 2015).
Percebe-se, assim, a relevância de incentivar o adolescente a se tornar sujeito ativo
do seu cuidado, utilizando para isso estratégias de educação em saúde que busquem a
prevenção de agravos, a promoção da saúde e o autocuidado. Dessa forma, a construção de
práticas pedagógicas relacionadas à saúde e à educação pode ser uma estratégia para evitar
que as demandas em saúde sejam “medicalizadas”, isto é, dependentes da oferta de bens e
serviços de ordem médico-assistencial ou, até mesmo, vistas de uma perspectiva normativa e
higienista (CARVALHO, 2015).
Partindo desse pressuposto, o presente estudo investigou o atual cenário do ensino
básico da biologia humana na Mesorregião Oeste Potiguar, de modo a verificar como
metodologias ativas (MAs) podem contribuir significativamente para o ensino de
conhecimentos básicos sobre a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e
estabelecimento da AIDS, averiguando o senso comum versus o conhecimento científico
sobre conceitos de anatomia, fisiopatologia, fatores de riscos referentes à infecção pelo HIV e
a evolução natural da AIDS (sinais e sintomas). Além disso, esse estudo avaliou as práticas de
autocuidado do público alvo, correlacionando-as com o risco de infecção pelo HIV.

2. Metodologia
Trata-se de um estudo de corte transversal e de natureza quantitativa, realizado com
alunos regularmente matriculados no segundo ano do ensino médio de escolas públicas
estaduais da 12a Diretoria Regional de Educação, na Mesorregião do Oeste Potiguar (MOP).
O levantamento de dados ocorreu com a aplicação de um questionário estruturado
com quatro questões objetivas antes e após a ação educativa com o uso das MAs, de acordo
com o Figura 01 (estudo publicado pelos autores do presente trabalho), avaliando 273 alunos
nos seguintes eixos, por meio do uso das MAs: anatomia, fisiopatologia e fatores de risco na

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 131
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

infecção pelo HIV/AIDS. Além disso, 256 participantes responderam um formulário com
questões relacionadas ao autocuidado.
Figura 01: O passo a passo, 2020. Mossoró/RN.

Fonte: MACSON et al, 2020. (Adaptado).

Os sujeitos desta pesquisa foram alocados e estratificados de maneira proporcional,


garantindo uma amostra representativa de cada escola selecionada da MOP. Adotamos a
variância máxima de Bernoulli (p = 50%), com o nível do erro menor que 5% (e = 0,05) e
nível de confiança do teste maior que 95% (α = 0,95), com base em dados populacionais
fornecidos pela Secretaria da Educação do Estado. Os dados coletados foram armazenados no
programa Excel (versão 2013) e, após isso, submetidos à análise estatística descritiva, com
base em frequências absolutas e relativas. Foram incluídos nesta pesquisa os estudantes
regularmente matriculados no segundo ano de ensino médio, em escola pública e estadual,
que aceitaram participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) ou Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). Este estudo foi
aprovado pelo comitê de Ética e Pesquisa (CEP-UERN), sob o número 3.145.023.

3. Resultados e Discussão
A avaliação do autocuidado deu-se por meio de questões referente à atividade sexual
desprotegida (sem o uso de camisinha), fator relacionado com o risco de infecção pelo HIV.
Nesse constructo, observou-se que 37,5% dos alunos de diferentes municípios (Figura 02) têm
vida sexual ativa. Desses, a idade média do início da atividade sexual foi de 14,8 anos.

Figura 2: Número de estudantes por município e por início da atividade sexual.

A B 35
24 - 9,4% 34%
V V 30
MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE

Upanema
INÍCIO DA ATIVIDADE

25 27%
SEXUAL (IDADE)

Serra do Mel 18 - 7% 17,9%


20 18 19
Ponta do mel 2 - 0,8% 15 16 17
DO NORTE

169 - 66% 15 13 14
Mossoró 11 12
22 - 8,6% 10 8
Gov. Dix Sept Rosado 5,6%
5 6%
Areia Branca 21 - 8,2% 1,2% 2% 2%
2,3% 2%
0
0 50 100 150 200 1 2 5 5 16 30 24 5 1 1

NÚMERO DE ADOLESCENTES NÚMERO DE ADOLESCENTES

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 132
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Fonte: Próprio Autor, 2020. Mossoró/RN.

Entre os estudantes sexualmente ativos, apenas 46,88% utiliza exclusivamente a


camisinha; 18,75% não veem esse método como obrigatório, preferindo o uso de outros
métodos (pílula anticoncepcional, injeção hormonal, tabelinha e coito interrompido); 10,4%
nunca utilizam a camisinha; e, por fim, 8,4% não utilizam método contraceptivo algum.
A avaliação do conhecimento sobre os aspectos anatômicos, fisiopatológicos, mitos
versus verdades e fatores de riscos relacionados à infecção pelo HIV permitiu evidenciar que
a média geral (de 0-10) dos alunos da 12ª DIRED foi de 6,80 e 8,25, antes e após uso MAs na
ação, respectivamente. Portanto, o uso destas metodologias tornou-se eficaz, aumentando a
média geral dos alunos da Mesorregião Oeste Potiguar em cerca de 22%.
Diferentemente das outras questões (Figura 03), o quesito 4 (sobre os fatores de risco)
foi o que menos mostrou evolução com o uso das MAs (83% e 84% de acertos, antes e após).
Isso se justifica mediante avanços no meio escolar relacionados às ações educativas voltadas
para a exposição desses fatores. Porém, os resultados mostram que o processo ensino-
aprendizagem sobre anatomia, fisiopatologia e conhecimentos gerais ainda é deficiente.

Figura 03: Relação entre os percentuais de acertos das questões de 1 a 3, antes e após a
ação educativa com uso das Metodologias Ativas.

Fonte: Próprio Autor, 2020. Mossoró/RN. Em verde encontra-se o percentual de acertos na alternativa correta.
As demais cores representam as alternativas (falsas) de cada questão. Os percentuais mostram a evolução dos
alunos previa e posteriormente ao uso das MAs.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 133
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, é de extrema importância


detectar e analisar vulnerabilidades relacionadas aos desafios contemporâneos que os
adolescentes estão expostos, com o intuito de desenvolver ações de prevenção e promoção da
saúde e do bem-estar (SAVIANI, 2016). Intrinsecamente atrelada à promoção da saúde está a
prevenção de agravos, em patamares individuais e coletivos. Para tanto, as MAs são
instrumentos substanciais na concretização da integralidade proposta pelos princípios éticos
do Sistema Único de Saúde, no que se refere à importância de se compreender a relação do
autocuidado desses estudantes e a diminuição do risco de aquisição de doenças infecciosas,
como a infecção pelo HIV e estabelecimento da AIDS, mediante Educação em Saúde.
Saúde e educação são constantemente evocadas quando se busca a melhoria das
condições de vida de uma população. A interação entre elas contribui para que as pessoas
adquiram autonomia em identificar e utilizar as formas e os meios para preservar e melhorar a
sua vida (CARVALHO, 2017). Tal interação se torna possível a partir da Educação em
Saúde, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma combinação de
experiências de aprendizado planejadas para aumentar o conhecimento ou influenciar as
atitudes de indivíduos e comunidades, ajudando-os a melhorar sua saúde (WHO, 2018).
Assim, a educação interativa em saúde, por meio das MAs, surge como uma ferramenta de
construção da participação de estudantes do ensino médio para com o seu autocuidado,
beneficiando também todo o meio comunitário no qual esses indivíduos estão inseridos, pois
serão capazes de propagar os conhecimentos adquiridos.

4. Conclusões
As Metodologias Ativas têm um importante potencial transformador do processo
ensino-aprendizagem da infecção pelo HIV e estabelecimento da AIDS, bem como podem
capacitar uma nova geração a utilizar os conhecimentos adquiridos, a partir delas, para
modular os seus comportamentos, hábitos de vida e autocuidado, sendo estes fatores
impactantes na vida adulta e no meio comunitário onde estão inseridos.

5. Agradecimentos
Agradeço ao CNPq pela concessão da bolsa, bem como à UERN e a 12ª DIRED pela
parceria no presente estudo. Agradeço também aos estudantes do segundo ano do ensino
médio, incluídos no presente estudo, bem aos professores, equipe pedagógica e todos
funcionários das escolas públicas estaduais participantes desta pesquisa.

Referências

CARVALHO, Cesar Alexandre Fabrega. Utilização de Metodologia Ativa de Ensino nas


Aulas Práticas de Anatomia. Revista de Graduação USP, v. 2, n. 3, p. 117-121, 2017.

CARVALHO, Fabio Fortunato Brasil de. A saúde vai à escola: a promoção da saúde em
práticas pedagógicas. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 25, p. 1207-1227, 2015.

SAVIANI, Dermeval. Educação escolar, currículo e sociedade: o problema da Base Nacional


Comum Curricular. Movimento-revista de educação, n. 4, 2016.

VIERO, Vanise dos Santos Ferreira et al. Educação em saúde com adolescentes: análise da
aquisição de conhecimentos sobre temas de saúde. Escola Anna Nery, v. 19, n. 3, p. 484-490,
2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 134
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Health education. Disponível em:


<http://www.who.int/topics/health_education/en/>. Acesso em: 31 jun. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 135
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AVALIAÇÃO DE USO DO SULFATO DE ALUMÍNIO NO


TRATAMENTO DE EFLUENTE GERADO EM INDÚSTRIA
BENEFICIADORA DE VIDRO.

Leticia Lamonyely Pereira da Costa1; Yáskara Fabíola de Monteiro Marques Leite2

Palavras-Chave: Empresa de vidro. Coagulante químico. Tratamento e reutilização da água.

Introdução

A ciência orienta cotidianamente a importância da existência da água para o planeta terra, de


modo que a torna um recurso essencial para a sobrevivência de todos os seres vivos, além de
fazer parte de inúmeras atividades humanas. Nas indústrias a água é utilizada na fabricação de
equipamentos e elementos fundamentais para a economia como, por exemplo, a produção de
energia elétrica pelas usinas hidrelétricas (BRUNI,1994). Dessa maneira, com o intuito de
minimizar futuros impactos ambientais e a promover a reutilização do efluente, alguns métodos
de desinfecção deveram ser executados pelas empresas (SOUZA et al.,2012). Com base nesse
cenário, o processo de coagulação e floculação tem se mostrado, a partir de diversas pesquisas,
ser rápido, acessível e eficiente na remoção de impurezas da água. (FRANCO et al., 2017).

Sendo assim, de acordo com DOMÍNGUEZ et al.,(2005).

“(...) a eficiência do processo de coagulação depende do coagulante utilizado,


da dosagem deste coagulante, do pH de coagulação e da concentração e
natureza das impurezas presentes na água bruta. Entre estes, o fator mais
determinante no processo de coagulação é o pH, uma vez que afeta todo o
equilíbrio da hidrólise resultante da adição do coagulante”. (MENDES, Yuri
Cardoso (2017)).

Com base em tais conceitos, o objetivo deste trabalho foi de avaliar e definir técnicas de
purificação por meio do processo de floculação, coagulação e sedimentação, mediante a
utilização do coagulante químico, Sulfato de Alumínio e o Hidróxido de Sódio (como regulador
de pH) no tratamento do efluente gerado na empresa de beneficiamento de vidro localizada no
município de Mossoró – RN.

1
Estudante do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Departamento de Ciências Biológica da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN; e-mail: LeticiaLamonyely30@gmail.com
2
Professora do Departamento de Química da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN; e-mail:
ya.marques2@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 136
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

O trabalho foi executado no Laboratório de Efluentes e Resíduos – LER da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte /UERN, em Mossoró-RN. Na empresa o processo de tratamento
é realizado em tanque de 20 m3 onde é coletado o efluente obtido no processo industrial em
seguida o efluente liquido, que tem origem no corte e lapidação dos vidros é submetido a
decantação do pó de vidro na estação de tratamento de efluente industrial (ETEI) da empresa
que ocorre em 5 tanques de 15 m3/cada, onde se é tratado. Com base na amostra do efluente
líquido retirado do primeiro tangue da indústria foi possível realizar a analise da turbidez para
soluções preparadas com o coagulante sulfato de alumínio nas concentrações (0,5; 1,00; 1,5;
2,0; 2,5 e 3,0%) e com os seguintes pHs (5,0; 6,0; 7,0; 8,0), para cada concentração,
respectivamente, totalizando seis amostras com 3 repetições. Antes de submeter o efluente ao
tratamento, seu pH inicial era de 9,18; a turbidez inicial era de 55.30 UTN e sua temperatura
era de 28oC. No teste de coagulação, foi utilizado o jar test (Alfakit) como principal
equipamento, pois o mesmo simula o tratamento de água em uma ETE, no qual a solução de
sulfato de alumínio na concentração preparada é misturada em rotação lenta a 30 rpm, e em
rotação rápida a 160 rpm, com tempo de sedimentação de 15 minutos, com temperatura
variando entre 28 ± 2oC. Os experimentos foram realizados em bancada no laboratório, com as
repetições das três fases por serem consideradas essenciais na obtenção da coagulação nas
estações de tratamento de água.

Resultados e Discussão

As características do efluente líquido usado nos ensaios antes da aplicação da solução


coagulante de sulfato de alumínio, estão representadas na tabela 1.

TABELA 1: Características do efluente utilizado nos ensaios antes da coagulação.

Parâmetro Unidade Valores


Turbidez NTU 55.30
Cor Mg/L 213.4
pH - 9,18

Foram utilizados 300 mL de amostra do efluente líquido disponibilizado pela empresa de


têmpera de vidros e distribuídos em 3 jarros. Observando a tabela 2, temos na 1ª linha o número
de amostras analisadas. Na 2ª linha, para cada amostra, temos um valor de pH pré-fixado para

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 137
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

cada concentração da solução coagulante de sulfato de alumínio (listadas na 3ª linha). Após a


sedimentação as amostras ficaram 15 minutos em repouso e em seguida foi realizada a leitura
da turbidez de cada amostra como consta na 4ª linha.

TABELA 2: Determinação da turbidez em relação às concentrações da solução coagulante.

Amostra 1 2 3 4 5 6
pH 8,1 7,16 7,23 5,3 4,8 3,9
S.C (%) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
Turbidez 35,7 7,66 29,6 45,7 48,9 54,3

A amostra escolhida foi a 2, pois além de apresentar um melhor resultado, o seu pH favorece a
preservação da integralidade dos equipamentos da empresa, pois todos são metálicos, e um pH
ácido ou alcalino provocaria o desgaste dos mesmos. Usando essa dosagem, o pH do efluente
no processo industrial foi ajustado usando uma solução de NaOH – 50% e desta forma foi obtida
uma turbidez no valor de 7,66 NTU e a cor no valor de 1,78 mg/L.

Gráfico 1: Turbidez média x Concentração das Gráfico 2: Cor média x Concentração das soluções
soluções coagulantes de sulfato de alumínio coagulantes de sulfato de alumínio
Turbidez média

60 40
Cor média

40 30
20
20 10
0 0
0 1 2 3 4 0 2 4 6 8
Concentração S.C. (%) Concentração S.C. (%)

Fonte: Autores, 2020

A variação de pH nas amostras mostra que o sulfato de alumínio permite a coagulação do


efluente na faixa de pH entre 3,0 e 8,0; fato esse comprovado pela medição da turbidez quando
comparadas com a turbidez da água bruta (efluente sem tratamento) que foi 55.30 NTU. A
tabela 3 mostra a média e o desvio padrão da turbidez, a partir dos resultados obtidos com a
amostra escolhida, a amostra 2, durante o tratamento em escala laboratorial.

TABELA 3: Média e desvio padrão da turbidez da amostra 2.

Parâmetro Média Desvio Padrão


Turbidez 7,66 0,17

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 138
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Após o tratamento em escala industrial, com 15 minutos de agitação e 15 minutos de repouso,


após a decantação, foram obtidos os seguintes resultados expostos na tabela 4.

TABELA 4: Análise do efluente após tratamento na empresa

Ph 7,16
Turbidez 7,66 NTU
Cor 113.2 mg/L

Este trabalho confirma a eficiência do sulfato de alumínio como coagulante em efluentes


líquidos, gerados na indústria de beneficiamento de vidros, bem como a viabilidade econômica
e de processo do tratamento do efluente e seu reuso em escala industrial.

Conclusões

O coagulante testado demostrou-se eficaz principalmente na redução da turbidez da água


residuária derivada do beneficiamento de vidro. O sulfato de alumínio e o hidróxido de sódio
conseguiram reduzir todos os padrões analisados desta água residuária, o que evidencia a
possibilidade do uso, além do reuso no processo industrial, deste efluente tratado em várias
atividades, a ser confirmada através de outros trabalhos.

Agradecimento

Agradeço ao programa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNpq) pela oportunidade e a instituição UERN pelo incentivo e orientação.

Referências

BRUNI, José Carlos. Água é a vida.

SOUZA, Ana Cláudia Medeiros et al. Gestão de recursos hídricos: o caso da bacia
hidrográfica Apodi/Mossoró (rn). 2012.

MENDES, Yuri Cardoso. Evolução da distribuição do tamanho de partículas na


floculação de água de baixa turbidez. 2017.

FRANCO, Camila Silva et al. Coagulação com semente de moringa oleifera preparada por
diferentes métodos em águas com turbidez de 20 a 100 UNT. 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 139
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS CENTROS DE


ESPECIALIDADES ODONTOLÓGICAS (CEO) NO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE (RN)

Rayane Emanuelle Nascimento Silva1; Daniela Mendes da Veiga Pessoa2


Palavras-chave: Atenção Secundária. Assistência Odontológica. Saúde Bucal. SUS.

Introdução
Para fazer frente ao desafio de ampliar e qualificar a oferta de serviços odontológicos
especializados na Política Nacional de Saúde Bucal-Brasil Sorridente, foi criado o Centro de
Especialidades Odontológicas – CEO, cujo tratamento oferecido é uma continuidade do
trabalho realizado pela rede de atenção básica.1 Mesmo com a implementação da política
Brasil Sorridente, a assistência odontológica pública no Brasil tem se restringido aos serviços
básicos. Alguns indicadores mostram que, no âmbito do SUS, os serviços odontológicos
especializados correspondem a não mais do que 3,5% do total de procedimentos clínicos
odontológicos, sendo evidente a baixa capacidade de oferta dos serviços de atenção
secundária e terciária comprometendo, em consequência, o estabelecimento de adequados
sistemas de referência e contrarreferência em saúde bucal.2
Dessa forma, diante dos indicadores e dados de saúde, faz-se necessário realizar um
maior e mais abrangente monitoramento dos serviços de saúde, numa movimentação que
transcenda a dimensão técnica da Odontologia, para ampliar racionalmente o acesso a uma
assistência em saúde bucal integral à população. Portanto, o presente estudo tem como
objetivo realizar uma avaliação e monitoramento do desempenho dos Centros de
Especialidades Odontológicas (CEO) instalados no estado do Rio Grande do Norte (RN), a
partir do cumprimento das metas de procedimentos ambulatoriais propostas pela Portaria GM
Nº 1.464/2011.3
Metodologia
Foi realizado um estudo exploratório, do tipo ecológico nos 30 CEO do Rio Grande do Norte.
Os CEO foram selecionados a partir do Cadastro Nacional de Estabelecimentos em Saúde –
CNES.4 Os procedimentos especializados em saúde bucal, foram provenientes do banco de
dados do Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SIA-SUS), sendo
eles a produção realizada por cada CEO dentro das especialidades de Periodontia, Endodontia
e Cirurgia oral menor no ano de 2018.5 Além disso foram coletados dados referentes à
cobertura das Equipes de Saúde Bucal (ESB) de cada município, disponíveis no
Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS); dados referentes à
caracterização de cada CEO (tipo, categoria que foi habilitado, data de habilitação), extraídos
do CNES e os dados sócio demográficos (população, população estimada, Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), Produto Interno Bruto (PIB) per capita e taxa de
analfabetismo na população acima de 15 anos), extraídos do IBGE.6 Para a análise do
desempenho da atenção de média complexidade, foi calculada a média aritmética simples de
procedimentos realizados por ano em cada especialidade odontológica de cada município para
estimar a média da produção mensal e, a partir desse resultado, foi calculado o índice
1
Estudante do curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: rayanemanuelle@hotmail.com.
2
Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: danielapessoa@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 140
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Cumprimento Global de Metas (CGM) baseado nas metas pré-estabelecidas pela Portaria GM
Nº 1.464/2011.3 A meta é considerada atingida quando o valor do CGM for igual ou maior
que 100%. Foram estabelecidas três metas a serem cumpridas para os procedimentos em
periodontia, endodontia e cirurgia oral menor: os serviços tiveram seus desempenhos
classificados como ruim (quando não cumpriram nenhuma meta), regular (quando cumpriram
apenas uma meta), bom (quando cumpriram duas metas) e ótimo (quando cumpriram as três
metas).7 Após a descrição dos dados, foi realizado o teste de Mann-whitney, que verificou se
houve diferenças de medianas dos dados provenientes das variáveis independentes entre os
grupos relacionados ao desempenho de cada CEO, expressos pela classificação do CGM. Para
todas as análises, foi considerado um nível de significância de 5%.
Resultados e Discussão
Foram pesquisados trinta Centros de Especialidades Odontológicas (CEO), e destes,
apenas vinte e três apresentaram informações suficientes para compor a amostra do estudo. A
maioria dos municípios pesquisados (39,1%) fica na região do Oeste Potiguar, seguido da
região Leste Potiguar (30,4%) e Central Potiguar (21,7%) e 47,8% apresentaram porte
populacional médio. No tocante ao tipo de CEO, 30,4% classificaram-se como CEO tipo I e
69,6% tipo II. O maior alcance das metas por especialidade, foi relacionado à periodontia
(30,4%). Ao realizar-se a análise do CGM, a maior parte da amostra não atingiu nenhuma
meta por subgrupo de especialidades, classificando-se como ruim (65,2%) e a minoria
apresentou CGM bom (13%).
Entre as variáveis quantitativas obtivemos o índice de procedimentos de cirurgia,
endodontia e periodontia com a mediana de 41,9 (16,2-86,8), 42,1 (21,61-42,1) e 65 (13,9-
144,1) respectivamente. Observou-se que os procedimentos em endodontia apresentaram
mediana de 280 (124-551), sendo a menor do subgrupo, enquanto que os procedimentos de
periodontia foram os mais realizados, com mediana 822 (100-1575). A escolarização foi alta,
apresentando mediana de 97,6 (97,2-98,1). O IDH municipal apresentou mediana 0,638
(0,620-0,661) que é equivalente a um IDH classificado como médio.
Tabela 1: Distribuição das variáveis independentes segundo classificação do CGM, 2020.

Variáveis CGM n M p
Independentes (Q25-Q75)
Cirurgia_Índice Ruim/Regular 20 42,0 (13,3-75,6) 0,05
Bom 3 97,5(41,9-125,3)
Endodontia _Índice Ruim/Regular 20 36,2(19,4-76,3) 0,03
Bom 3 89,0(86-1.611,10)
Periodontia_Índice Ruim/Regular 20 57,5(10,5-84,2) 0,02
Bom 3 159,3(139,3-317,8)
Nº proced Cirurgia Ruim/Regular 20 353,0 (147,0-767,5) 0,05
Bom 3 1.234( 843,5-1503,5)
Nº proced Endodontia Ruim/Regular 20 235,5(122,0-359-5) 0,18
Bom 3 641,0(625,0-11.650,5)
Nº proced Periodontia Ruim/Regular 20 675,5(75,5-1.238,5) 0,28
Bom 3 1.721(1.505-3.432,5)
Tempo_CEO_anos Ruim/Regular 20 6,5(1,2-12,0) 0,30
Bom 3 12,0(9,0-12,0)
IDH Ruim/Regular 20 0,64(0,62-0,66) 0,34
Bom 3 0,64(0,63-0,70)
IDEB Ruim/Regular 20 4,4(4,1-5,0) 0,58

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 141
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Bom 3 4,7(4,3-4,8)
Escolarização Ruim/Regular 20 97,6(97,0-98,0) 0,58
Bom 3 97,9(97,5-98,0)
População Ruim/Regular 20 25.144(11.007-44.611) 0,10
Bom 3 37.695(37.009-146.202)
Cobertura_ESF Ruim/Regular 20 100(100-100) 0,27
Bom 3 100(81,8-100)
NºCD/Hab Ruim/Regular 20 1.207(809-1.694)
0,12
Bom 3 1.651(1.644-1.923)
PIB Ruim/Regular 20 13.952,4(9.459,3-
16.762,1) 0,85
Bom 3 12.973(12.614,5-16.346,6)

Tabela 2: Relação entre o número de procedimentos odontológicos especializados,


população, relação dentista-habitante, PIB e os tipos de CEO, 2020.

Variável Nº População Nº CD/HAB PIB


Depende Procediment
nte os Cirúrgicos
Tipo n M(Q25 p M(Q25- p M(Q25- p M(Q25-Q75) p
de -Q75) Q75) Q75)
CEO
I 7 119(44- 0,0 7.190(4.180 0,0 1.133(694 0,0 9.8643(7.489,3- 0,
346) 3 -26.68) 2 -1.281) 5 13.764,4) 00
5
II 1 558(300 35.295(22.9 1.615(1.11 15.416,4(13.071
6 -951) 44-51.705) 5-1.832) -18.584,8)

Este estudo revelou que, apesar da alta cobertura pela ESF na quase totalidade dos
municípios, dos CEO do RN apenas três apresentam CGM bom. Resultado semelhante
encontrou-se no estudo de Figueiredo (2009), que ao analisar 22 CEO de Pernambuco
constatou-se que a cobertura de equipes de saúde bucal na ESF, parece não influenciar os
resultados. Houve baixas e diferenciadas taxas de utilização das especialidades de endodontia
e cirurgia quando comparada a periodontia, que representou a maior parte dos serviços
realizados, estando a raspagem e alisamento corono radicular (RACR) a frente dos
procedimentos realizado nessa especialidade. No estudo de Santana et al (2015), a taxa de
periodontia também se mostrou mais alta em ambos. Entretanto, sabe-se que o procedimento
de RACR é comum com a atenção básica, todavia, esse fato pode sugerir uma deficiência na
operacionalização do sistema de referência e contrarreferência entre os níveis de atenção à
saúde bucal. Os dados referentes aos municípios indicam um elevado nível de escolarização.
Apesar disso, para Medeiros (2006), o nível de escolaridade dos pacientes não representa o
nível de conhecimento sobre saúde bucal e tampouco sua conscientização e motivação para a
promoção da saúde bucal.
Conclusão
Conforme os resultados obtidos, existe uma importante deficiência no desempenho
da maioria dos CEO do RN, visto que, os resultados denotam que a maior parte dos serviços
que são prestados em cada subgrupo de especialidade não atendem às metas estabelecidas,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 142
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

apresentando resultados insatisfatórios. No entanto, provavelmente isso pode ser observado


pela lacuna no funcionamento do sistema de referência e contrarreferência, subnotificação de
procedimentos realizados, diferenças socioeconômicas dos municípios ou falta de
conhecimento sobre a saúde, que poderiam influenciar diretamente nas condições de saúde
bucal da população, na percepção das necessidades em saúde, e, consequentemente, na busca
pelo serviço que é prestado.
Agradecimentos
Expresso agradecimento ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico pela bolsa de iniciação científica, à Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, pela oportunidade de estar inserida neste campo de estudo e a todos que colaboraram
com o desenvolvimento desta pesquisa.
Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Atenção Básica [Internet]. Brasília.
Disponível em:http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_brasil_sorridente.php?conteudo=ceo
Acesso em: 09 de março de 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1464, de 24 de junho de 2011. Altera o Anexo
da Portaria nº 600/GM/MS, de 23 de março de 2006, que institui o financiamento dos
centros de especialidades odontológicas (CEO). Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, 2011.
Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Ficha de Estabelecimento.
Brasil, 2018. Disponível
em:http://cnes.datasus.gov.br/pages/estabelecimentos/consulta.jsp>. Acesso: 30 de maio
de 2019.
CORREIA, T.R.G.S; Pessoa, D.M.V. Avaliação do desempenho dos centros de
especialidades odontológicas do Seridó Potiguar no período de 2012 a 2017. Revista
Ciência Plural. 2019; 5(3):54-71.
FIGUEIREDO, N; GOES, P.S.A. Construção da atenção secundária em saúde bucal: um
estudo sobre os Centros de Especialidades Odontológicas em Pernambuco, Brasil. Cad.
Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(2):259-267, fev, 2009.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estatísticas Sociais. Brasil, 2018.
Disponível em: Acesso em: 09 de março de 2019.
Portal da Saúde (DATASUS). Informações de Saúde (TABNET): Assistência à Saúde.
Ministério da Saúde, Brasil, 2008. Disponível em:<
http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0202&id=19122>. Acesso em;
08 março de 2019.
SANTANA, D.A; SANTOS, L.P.S; CARVALHO, F.S; CARVALHO, C.A.P.
Desempenho dos Centros de Especialidades Odontológicas de uma Região de Saúde da
Bahia. Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 2015.
MEDEIROS, U.V; ROCHA, D.S. Estudo epidemiológico da doença periodontal em
pacientes adolescentes e adultos. UFES Rev. Odontol., Vitória, v.8, n.2, p.19-28,
maio/ago. 2006.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 143
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AVALIAÇÃO DO FLUXO SALIVAR DE USUÁRIOS ADULTOS DO


CAPS III: ARTE DE VIVER, NO MUNICÍPIO DE CAICÓ-RN

Talita da Silva Pinto¹, Isabela Pinheiro Cavalcanti Lima²

¹Estudante do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: t_alitapinto@outlook.com
²Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: belapcl@yahoo.com.br

Palavras-chave: “Transtornos mentais”. “Saliva”. “Saúde bucal”.


Introdução
Os Transtornos Mentais (TM) são um grupo de patologias psicossociais que
interferem diretamente na qualidade de vida do indivíduo. Tais condições patológicas afetam
tanto a saúde física quanto as relações sociais, nos mais diferentes aspectos (AMARAL,
2011). Diferentes fatores podem causar tais transtornos, como o ambiente, sexo, idade, estado
de saúde geral e condições socioeconômicas (HAAS et al, 2009).
No Brasil, de acordo com IBGE (2010), 2,6 milhões de brasileiros de diferentes faixas
etárias e diferentes classes sociais apresentam deficiências mentais. Dessa forma, um
atendimento público e de qualidade para esses indivíduos é imprescindível. Os Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS) são estabelecimentos em saúde responsáveis pelo atendimento
de saúde mental, através de um cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica
interdisciplinar (TELES, 2010).
A saúde bucal é, frequentemente, insatisfatória em pacientes com alterações
psiquiátricas, pois em muitos casos há limitações para a higienização da cavidade oral e para
o atendimento profissional. Além disso, muitos indivíduos fazem uso de medicamentos como
antidepressivos e ansiolíticos, que são capazes de diminuir o fluxo da saliva e afetar a mucosa
oral. (MORALES, et al., 2014).
A diminuição no fluxo salivar ou hipossalivação pode comprometer todas as funções
da saliva, como a limpeza e lubrificação da cavidade oral, auxílio na mastigação, digestão,
fala, e entre outros (NIEUW, 2002) (CATE, 1998). Segundo a Associação Brasileira de
Halitose, o valor considerado ideal para o fluxo salivar em repouso é de 0,3 a 0,4ml por
minuto e de 1,2 a 2,5ml por minuto durante estimulação. Valores inferiores a estes
caracterizam o quadro de hipossalivação (CATE, 1998).
Além da hipossalivação, outra condição está relacionada com pacientes psiquiátricos,
a xerostomia. Esta consiste na sensação subjetiva de boca seca, consequente ou não à
interrupção ou hipofunção das glândulas salivares. (ANTILLA, 1998). Além dos efeitos
colaterais medicamentosos, as próprias condições psiquiátricas são relacionadas com a
diminuição do fluxo salivar, principalmente, depressão, segundo Field (1997).
Sendo assim, o indivíduo com alterações psiquiátricas apresenta mais fatores de risco
para a alteração de fluxo salivar, e este por sua vez é um importante pilar para uma boa
condição de saúde bucal. Portanto, a avaliação e controle dos níveis de fluxo salivar de
pessoas com transtornos mentais é importante para a manutenção de sua saúde bucal e
qualidade de vida.
De tal maneira, este estudo objetiva avaliar o fluxo salivar de usuários adultos do
CAPS III: Arte de viver, no município de Caicó-RN.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 144
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia
Este estudo foi APROVADO pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UERN, com
Número do Parecer: 3.239.083. E trata-se de um trabalho de campo, exploratório, explicativo
e transversal. A aplicação do questionário e o teste sialométrico seriam realizados no Centro
de Atenção Psicossocial III (CAPS III): Arte de Viver, Caicó – RN. A amostra corresponderia
a 130 usuários, condizendo com 10% da população total de 1300 usuários adultos do CAPS
em questão.
Seriam incluídos usuários com faixa etária de 35 a 44; de ambos os sexos, em
condições mentais e físicas para participar da pesquisa, e, que aceitassem assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Seriam excluídos da pesquisa: usuários do CAPS com um
período menor que 01 ano de registro, e, indivíduos que não tenham obedecido às instruções
prévias ao teste (evitar comer, beber, fumar ou mascar goma 2 horas antes do teste).
A coleta de dados seria realizada por acadêmico do curso de Odontologia da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Seria aplicado um questionário que
visasse colher informações pessoais do indivíduo (sexo, idade, nacionalidade), informações
sobre sua saúde geral, condição socioeconômica, uso de medicamentos, sua saúde bucal e, por
fim, uso e frequência de serviço odontológico.
O teste para aferição do fluxo salivar é embasado na Pesquisa de professores, doutores
e mestres da FCM Santa Casa de São Paulo, sendo uma adaptação da técnica descrita por
Bolwig e Rafaelsen (1972). A partir dessa metodologia, a saliva do usuário seria coletada para
verificação do fluxo salivar. Os materiais utilizados seriam algodão, balança de precisão e
coletor universal. Os materiais seriam esterilizados e/ou desinfetados previamente e os
pesquisadores estariam usando EPI (gorro, máscara, luva e jaleco). Todo o aparato que srria
utilizado na pesquisa (folha dos questionários, algodão, coletor universal, balança de precisão,
estimulante salivar químico e EPI) foi auto-financiado.
O paciente submetido à técnica de sialometria supracitada deveria evitar comer, beber,
fumar ou mascar goma 2 horas antes do teste, e este estaria em um ambiente tranquilo, para a
realização do teste com a maior precisão. Para a realização da técnica primeiramente, seriam
selecionados 4 (quatro) chumaços de algodão para cada paciente. Cada dupla de chumaços
seria depositada em um coletor universal de 70 ml e o conjunto seria pesado em uma balança
de precisão modelo Sf-400, cada coletor contendo algodão seria registrado com um número e
peso. A técnica de Bolwig e Rafaelsen é dividida em 3 etapas de sialometria, todavia para
uma melhor dinamização e aproveitamento do tempo apenas 2 etapas serão realizadas. Além
disso, essas duas etapas são suficientes para registrar o fluxo salivar não estimulado e
estimulado.
Na primeira etapa ocorre a aferição do fluxo não estimulado, é solicitado para o
participante da pesquisa que este engula a saliva em sua boca, em seguida, 2 chumaços de
algodão serão depositados no assoalho da boca do participante, em contato com a parede
interna da gengiva. O algodão deve ficar nessa posição por um período de 2 minutos sem que
o participante da pesquisa engula a saliva produzida. Após o tempo determinado o algodão é
retirado e pesado novamente.
Na segunda etapa ocorre a aferição do fluxo estimulado, é aplicado no dorso da língua
do paciente um estimulante químico para produção de saliva, em seguida, é solicitado que o
paciente engula imediatamente a saliva. Posteriormente, a sialometria ocorre de maneira igual
a primeira etapa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 145
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A diferença do peso em gramas do conjunto (chumaços de algodão + coletor


universal)
corresponde à quantidade de saliva produzida. A densidade da saliva é aproximadamente 1,00
Kg/m³, portanto 1 g de saliva corresponde à 1 ml de saliva. Sendo assim, o cálculo do fluxo
pode ser representado pela divisão da diferença do peso do conjunto (chumaços de algodão +
coletor universal) dividido pelo tempo em minutos, no caso 2 minutos.
O diagnóstico do transtorno mental apresentado pelo paciente seria determinado pela
análise de seus documentos armazenados no CAPS. A ausência de documento com
diagnóstico não excluiria o indivíduo do estudo.
Todavia, a realização da pesquisa foi inviabilizada durante um longo tempo (este
prévio à pandemia) devido às deficiências graves no setor de esterilização das Clínicas
Odontológicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, impossibilitando o uso
dos instrumentais para avaliação da saúde bucal dos usuários. Associado a este fato soma-se a
posteriori a pandemia pelo COVID-19 que exigiu distanciamento social entre todos os
participantes desta pesquisa.
Resultados e Discussão
O estudo realizado por Carvalhes (2014) em usuários do CAPS/Butantã destacou que
34% dos indivíduos participantes da pesquisa declararam que possuíam a sensação de boca
seca, todavia após a realização do teste de fluxo salivar nenhum indivíduo apresentou um
quadro de hipossalivação, segundo os autores. De tal maneira percebe-se que a sensação de
boca seca é uma queixa presente até mesmo quando o indivíduo não apresenta hipossalivação.
Em contrapartida, um estudo realizado por Bertaud-Gonout et. al (2013) em Sevilla-
Espanha com pacientes psiquiátricos, utilizando uma metodologia semelhante a este trabalho
constatou baixo fluxo salivar em 80,3% dos indivíduos. Ademais, os mesmos autores
destacaram que além do fluxo extremamente baixo os indivíduos apresentaram ampla
quantidade de placa, necessidade de tratamento odontológico e reabilitação oral, constatando
a relação do fluxo salivar insatisfatório com esses quadros, principalmente acúmulo de placa
bacteriana.
A conduta do indivíduo diante o quadro de sensação de boca seca, seja ela relacionada
com baixo fluxo salivar ou não, é crucial para a saúde bucal. Visto que Gilbert et.al (1993)
constatou que alguns indivíduos fazem uso de doces ou de outros alimentos açucarados com o
objetivo de aumentar a produção salivar, este carboidrato proveniente do doce em conjunto
com o baixo fluxo salivar implicam ao paciente um estágio de alto risco de cárie dentária.
Outro fator que contribui para uma condição de saúde bucal insatisfatória desses
indivíduos é incapacidade motora dos mesmos de realizarem sua escovação ou a falta de
colaboração destes com os cuidadores, segundo Yaltirik (2004).
Conclusão
Portanto, conclui-se que os indivíduos com transtornos mentais estão submetidos a
vários fatores que podem acarretar em diminuição do fluxo salivar. Além disso, esses
pacientes e seus responsáveis merecem uma assistência odontológica em especial para
garantir uma saúde bucal satisfatória.
Agradecimentos
Agradecer a professora orientadora maravilhosa que acreditou na nossa ideia do projeto e teve
paciência. Agradeço a dupla de pesquisa, minha instituição de ensino UERN e a bolsa de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 146
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

iniciação científica concedida a este projeto, e a todos que deram sua contribuição a este
estudo.
Referências:
 AMARAL, Osvaldo; Transtornos mentais. Intuito de estudos e orientação da
família. Água Branca- SP, 2011.
 ANNTILA, S. et al; Depressive symptoms as an underlying factor of the sensation of
dry mouth. Psychosom Med, v.60, n.2, p.215.1998.
 BERTAUD-GOUNOT, Valerie, et al. Oral health status and treatment need among
psychiatric in patients in Rennes, France: a cross-sectional study. BMC Psychiatry,
v.13, n.227. 2013.
 BOLWING, T. G, et al. Salivation in affective disorders. Pyysiol. Med, v.2, n.3,
p.232, ago.1972.
 BRASIL, IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:
http://censo2010 Acesso em 10 agos. 2020.
 CARVALHES Cristina Lima Leite. Avaliação de Saúde Bucal e impacto na
qualidade de vida em pacientes com transtornos mentais atendidos no
CAPS/Butantã. 2014. Dissertação (Mestrado em Odontologia) – Programa de Pós
Graduação em Odontologia, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014.
 CATE, Ten. Oral histology: Development, structure, and function. 5. ed. St. Louis:
Mosby-year book, 1998.
 FIELD, Elizabeth, et al. The estabeleshment of a xerostomia clinic: a prospective
study. British Journal Oral Maxillofac Surg, v.35, n.2, p.96-103, abr. 1997.
 GILBERT Gregg, et al. Mouth dryness as reported by older Floridians. Community
Dent Oral Epidemiol, v.21, n.6, p.390-397, dez. 1993.
 HAAS, Natasha Alves, et al. O desafio do diagnóstico oral em pacientes especiais.
RFO, São Paulo, v. 14, n.13, p. 211-215, set/dez. 2009.
 MORALES, Mariana, et al. Prevalence of bucco dental pathologies in patients with
psychiatric disorders. J Clin Exp Dent, v.6, n.1, p.7-11, dez. 2014.
 NIEUW, A. Salivary glands and saliva - The defender of oral cavity. Oral
Diseases. v.8, n.2, p.12-22, jan. 2002.
 TELES, Mariza, et al. Psychosocial work conditions and quality of life among
primary health care employees: a cross sectional study. Heatlh and Quality of life
Outcomes. v.12, n.72, mai. 2014.
 YALTIRIK, Mehmet et al. Schizophrenia and dental management: review of the
literature. Quintessence International, v.35, n.4, p. 317-320, mai. 2004.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 147
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS OROFACIAIS ASSOCIADOS À


UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS DE SOPRO NA REGIÃO
DO SERIDÓ POTIGUAR

Adson Gomes dos Santos¹; Samara Carollyne Mafra Soares²

PALAVRAS-CHAVE: Anormalidades da boca. Síndrome da Disfunção da Articulação


Temporomandibular. Música.

INTRODUÇÃO
O ato de tocar um instrumento musical traz uma sensação de bem-estar considerável
ao músico, porém, até que se obtenha um bom desenvolvimento técnico é necessário que o
instrumentista se dedique assiduamente aos estudos do mesmo para cumprir as exigências
profissionais existentes, sendo expostas a possíveis problemas de saúde (SALES, 2017).
Isso se torna ainda mais preocupante em relação a boca e suas estruturas anexas, uma
vez que o sistema estomatognático sofre influência dos hábitos aos quais é solicitado. Essa
influência se torna maior quando é imposta uma força de forma repetitiva e a longo prazo na
cabeça e nos músculos da face. Sendo assim, a prática do instrumento musical de sopro pode
levar a ocorrência de relações não ideais desencadeando problemas funcionais que gera
insatisfação nesses indivíduos (GŁOWACKA, 2014).
Este estudo teve por objetivo descrever os impactos orofaciais associados à utilização
de instrumentos musicais de sopro na região do Seridó potiguar, e conhecer o perfil social e as
características de estudo musical desses instrumentistas.

METODOLOGIA
É uma pesquisa do tipo transversal, exploratória e observacional, com análise
descritiva e inferencial.
O estudo foi desenvolvido nas Bandas Filarmônicas de seis cidades da região do Seridó
do Rio Grande do Norte. As cidades selecionadas para realização da pesquisa foram: Caicó,
Cruzeta, Jardim do Seridó, São José do Seridó, Serra Negra do Norte e Timbaúba dos Batistas.
Envolveu a participação de 130 músicos no total com idade acima de 12 anos. A coleta de dados
constituiu-se da aplicação de questionários individuais aos instrumentistas de sopro com
questões autorreferidas sobre apinhamento dentário, traumatismos e ulcerações de tecidos
moles, xerostomia e dores musculares, além do questionário QST/DTM (ANGELA, 2013). Foi
realizada também uma inspeção visual das estruturas orais e periorais, quais sejam: lábios,
dentes anteriores superiores e inferiores e língua destes indivíduos.
Foi realizada análise descritiva utilizando o software SPSS onde as variáveis
quantitativas do estudo com distribuição normal foram descritos através de média e desvio-
padrão e os não-normais através de mediana, quartil 25 e quartil 75; As quantitativas forem
dicotomizadas e convertidas em categóricas para que seja aplicado o teste do Qui-quadrado de
Pearson e calculada a Razão1 de Prevalência entre elas para medir a magnitude das associações;
As independentes significativas no Qui-quadrado foram usadas na Regressão de Poison. Foi
considerado um nível de significância de 5%.
A pesquisa obteve aprovação Comitê de Ética em Pesquisa para seres humanos da
Universidade do Estado do Rio grande do Norte (UERN) tendo como número do parecer:
1.147.199.

1
Estudante de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: adsongomes@live.com
² Professora de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail:samaramafra@uernbr

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 148
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil dos participantes
Entre os instrumentos de sopro mais tocados estão o clarinete (30,8%), o trompete
(16,2%), o trombone (10,8%), o saxofone alto (10%) e a flauta transversal (9,2%).
Na amostra, 84% tem idade entre 11 e 30 anos e o sexo mais prevalente foi o masculino
(61,5%), o que corrobora com a literatura, nos estudos de Neto et al. (200)6 e de Barbosa et al.
(2017) .
Os resultados apontam também que instruções de alongamento e postura foram
recebidas pela maior parte dos instrumentistas (97,7%), porém a grande parte destes relatou não
realizar alongamentos ou aquecimento dos músculos da face antes de tocar o instrumento
(70,8%), e também que não são realizados exercícios de relaxamento após tocar os instrumentos
(80%). Na pesquisa de Barbosa et al. (2017), menos da metade dos músicos se aqueciam e 18%
realizavam exercícios de relaxamento antes de tocar.
Grande parte dos participantes da pesquisa afirmaram estar dispostos a suportar
desconforto/dor para desenvolverem as habilidades com o instrumento (65,4%) e também em
sua maioria não relacionou o hábito de tocar com a possibilidade de malefícios para a saúde
(76,2%). Em caso de se machucar/ferir a maioria considerou importante procurar um posicional
de saúde (58,5%), sendo o médico apontado pela maioria como o profissional a ser procurado
(34%), seguido por um resultado expressivo onde nenhum profissional é procurado (32%), e
do dentista (11%) que foi o terceiro mais apontado.
Alterações Referidas
Com relação à mudança da posição dentária, foi relatado pela maior parte dos artistas
que não houve mudança na posição (80%), esse pouco ou nenhum efeito na mudança da posição
dos dentes dos instrumentistas de sopro pode estar relacionada ao fato da força ser amortecida
pelos lábios e não exceder o limite para que a movimentação aconteça
(GRAMMATOPOULOS, 2009).
Entretanto, uma parcela dos músicos notou que seus dentes lingualizaram após
começar a tocar o instrumento, sendo essa alteração mais prevalente na arcada superior. Ainda
relativo a isso, mais de um quarto afirmou sentir os dentes moles ao menos uma vez após tocar.
Głowacka et al., (2014), afirmaram que alguns instrumentos de sopro (trompete, clarinete e
flauta transversal) podem sim trazer uma mudança na posição dos dentes anteriores.
Um resultado importante foi o de a maioria dos instrumentistas terem se ferido tocando o
aerofone (52%), sendo estas lesões predominantemente na região de lábio. Contudo, essas lesões
demoraram menos de duas semanas para desaparecer.
Em relação à xerostomia, quase 78% dos indivíduos relataram algumas vezes sentir a
boca seca durante ou após tocar, estando essa sensação associada à ardência em algumas
pessoas. Já a dor muscular foi apontada em 39% da amostra total, sendo a região da bochecha
a de maior incidência.
Apesar de a dor muscular não estar presente na maioria dos voluntários, observou-se
uma associação positiva, estatisticamente positiva entre as pessoas que relaram senti-la durante
ou após tocar com a incidência de DTM (p<0,01). Na pesquisa de Gonçalves et al., (2009) os
resultados apontaram que na população brasileira pelo menos um sintoma de DTM é
apresentado em 37,5% da população. No grupo de instrumentistas de sopro essa realidade
também se comprova, uma vez que diversos estudos trazem que um ou mais sintomas de DTM
estão presentes nesses indivíduos (JANG et al.,2015; YASUDA et al., 2016).
O teste de avaliação QST/DTM apontou que 30,8%(n=40) dos participantes da
pesquisa é portador da Disfunção Temporomandibular. A presença dessa disfunção pode ser
não somente desencadeada pelo ato de tocar, mas também ser fator agravante ou perpetuante
de um problema já pré-instalado (LACERDA, 2015).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 149
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As instruções quanto alongamento e postura mostraram-se importantes à saúde dos


músicos, tanto que os valores dos portadores de DTM foram mais expressivos nas pessoas que
não receberam tais orientações. Os músicos que não se alongavam apresentaram uma maior
prevalência de DTM que os que se alongavam, essa relação também aconteceu quanto ao
alongamento e relaxamento dos músculos da face e com relação a colocar força nos dentes. Foi
possível observar que pessoas que faziam exercícios de relaxamento apresentavam menores
scores de DTM que as que realizavam aquecimento, sendo este resultado homólogo ao do
estudo de Barbosa et al., (2017).
A DTM foi observada em maior número na faixa etária de 12 a 18 anos (60% dos que
possuem DTM), porém a literatura traz o contrário, como no estudo de Biasotto et al. (2005),
que afirmam que esta alteração está mais presente em pessoas com idades mais avançadas.
Porém, Paulino et al., (2018), concluíram que 69% dos entrevistados tinham DTM, estando essa
relacionada a tensão emocional, ansiedade e presença de hábitos parafuncionais.
Os resultados da presente pesquisa apresentam associação positiva, significativamente
estatística também para prevalência de DTM no sexo feminino, o que corrobora com a maioria
dos estudos publicados nessa temática (DONNARUMMA, 2010).
No presente estudo não foi observado diferença significativa quanto ao tempo em que
os músicos tocam com a presença de DTM. O que difere de Mariotto et al., (2015) que observou
que os participantes com pouca prática têm 8,57 vezes mais chances de apresentarem DTM do
que os participantes com muita prática. Porém, seu estudo e este se relacionam quanto à
quantidade de horas semanais de estudo, onde os grupos não diferem estatisticamente entre si
e, portanto, a frequência semanal não influenciou tal associação.
Alterações encontradas:
Com base na inspeção visual realizada pelo pesquisador observou-se que a maioria dos
participantes da pesquisa não apresentaram assimetria facial (81,5%), nem alterações em lábio
(63,3%), comissura labial (81,5%) e língua (85,4%).
No que se refere ao posicionamento dos dentes anteriores a maior parte dos músicos
apresentou alguma alteração, sendo as principais: apinhamento (23,1%) e desgaste (22,3%) e
ainda uma associação de ambas em parte dos indivíduos (16,9%). O desgaste relatado pode ser
causado pela presença de hábitos parafuncionais, que estão ligados à frequência de exposição
dos músicos a situações de estresse emocional e ansiedade (HIRSCH, 1982).
A análise bivariada entre alterações em lábio e as variáveis independentes (sexo
instruções de alongamento, alongamento dos músculos, exercícios de relaxamento após tocar,
disposto a suportar a dor, idade, tempo que toca, duração de ensaio diária, hora de estudo
semanal) não apresentaram associação estatisticamente significativa. As alterações em lábio
estiveram mais presentes nas pessoas que relataram não sentir dor nos músculos da face durante
ou após tocar, e essa associação apresentou significância estatística (p=0,01). Pode-se inferir
então que os indivíduos que não sentem dor muscular, fazem maior pressão enquanto tocam
e/ou conseguem tocar por mais tempo, expondo os lábios à tais alterações.

CONCLUSÃO
Tendo em vista os aspectos observados, o ato de tocar instrumentos de sopro pode ser
considerado um fator de predisponente ao aparecimento de algumas alterações orofaciais como
a DTM e as lesões em lábio nos músicos de filarmônicas do Seridó e que as instruções de
alongamento, postura e relaxamento tem um valor positivo na diminuição do aparecimento de
possíveis lesões orais e periorais.
Ressalta-se a importância da inter-relação entre o Cirurgião-Dentista com os músicos,
seus parentes e professores, para que assim, os instrumentistas de sopro possam ter um
desenvolvimento satisfatório mantendo a saúde geral e bucal e sua qualidade de vida.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 150
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS

• Barbosa, M. M., Cunha, R. S. C. & De Oliveira, M. G. L. PREVALÊNCIA DE


DESORDENS TEMPOROMADIBULARES EM MÚSICOS. Revista Univap 22, 805
(2017).
• Biasotto, G.D.A. Abordagem interdisciplinar das disfunções temporomandibulares.
São Paulo: Manole; 2005.
• Donnarumma, M.D.C., Muzilli, C.A., Ferreira C., Nemr K. Disfunções
temporomandibulares: sinais, sintomas e abordagem multidisciplinar. Rev CEFAC.
2010;
• Głowacka A, Matthews-Kozanecka M, Kawala M, Kawala B. The impact of the long-
term playing of musical instruments on the stomatognathic system - Review. Adv Clin
Exp Med. 2014;23(1):143–6.
• Gonçalves DAG, Speciali JG, Jales LCF, Camparis CM, Bigal ME.
Temporomandibular symptoms, migraine, and chronic daily headaches in the
population. Neurology. 2009;
• Grammatopoulos E. A study of the effects of playing a wind instrument on the occlusion
(Master of Philosophy), University of Birmingham 2009.
• Hirsch JA, McCall WD, Bishop B. Jaw dysfunction in viola and violin players. J Am
Dent Assoc. 1982;
• Jang J-Y, Choi Y-C, Bae J-H, Kim S-T. Signs and symptoms of temporomandibular
disorders in instrumental performers. J Dent Rehabil Appl Sci. 2015;
• Lacerda F, Barbosa C, Pereira S, Manso MC. Estudo de prevalência das disfunções
temporomandibulares articulares em estudantes de instrumentos de sopro. Rev Port
Estomatol Med Dent e Cir Maxilofac. 2015;56(1):25–33.
• Mariotto LGS, Caetano KADS, Vidal CL, Reis AC dos. Efeito da prática de
instrumentos musicais nas disfunções temporomandibulares e distúrbios do sono. Clin
Lab Res Dent. 2015;21(4):220.
• Neto SJ, Almeida C de, Bradasch ER, Corteletti LCBJ, Silvério KC, Pontes MM de A,
et al. Ocorrência de sinais e sintomas de disfunção temporomandibular em músicos. Rev
da Soc Bras Fonoaudiol. 2009;14(3):362–6.
• Paulino MR, Moreira VG, Lemos GA, Da Silva PLP, Bonan PRF, Batista AUD.
Prevalência de sinais e sintomas de disfunção temporomandibular em estudantes pré-
vestibulandos: Associação de fatores emocionais, hábitos parafuncionais e impacto na
qualidade de vida. Cienc e Saude Coletiva. 2018;
• Sales RC. 2017_RafaelCalvaoSales_tcc. 2017;
• Yasuda E, Honda K, Hasegawa Y, Matsumura E, Fujiwara M, Hasegawa M, et al.
Prevalence of temporomandibular disorders among junior high school students who
play wind instruments. Int J Occup Med Environ Health. 2016;

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 151
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DE DOIS TRECHOS DA REGIÃO


ESTUARINA DO RIO APODI-MOSSORÓ/RN.
Raimundo Audei Henrique Junior1; Cláudio Diego Gomes de Paiva*1; Mariana Almeida de
Oliveira1; Lucas Vinícius Faustino1; Luzia Geize Fernandes Rebouças2; Danielle Peretti3

Palavras Chave: Diversidade. Fatores Abióticos. Impactos antrópicos.

Introdução
Áreas úmidas correspondem a ecossistemas localizados na interface entre ambientes
terrestre e aquáticos, continentais ou costeiros, naturais ou artificiais, permanente ou
periodicamente inundados ou com solos encharcados, cujas águas podem ser doces, salobras
ou salgadas, apresentando biotas adaptadas à sua dinâmica hídrica (JUNK et al., 2013). Entre
os tipos de áreas úmidas estão os estuários, com sua cobertura vegetal, os manguezais. Em
condições naturais, os estuários são biologicamente mais produtivos do que os rios e o oceano
adjacente, por apresentarem altas concentrações de nutrientes que estimulam a produção
primária (NASCIMENTO, 2018). Esses ambientes aquáticos também são reconhecidos por
apresentarem dinamicidade quanto ao forte aporte de água doce e gradientes de concentração
halina e térmicas (MIRANDA et al., 2012). Com isso, o estuário é responsável por sustentar
inúmeras espécies em diferentes posições da cadeia trófica, assumindo relevância na
manutenção e no equilíbrio da biodiversidade residente.
Os manguezais, de acordo com Schaeffer-Novelli (1995), são ecossistemas costeiros
peculiares às regiões tropicais e subtropicais, de transição entre os ambientes terrestre e
marinho, sujeito às variações das marés. Apesar de sua importância, os manguezais no Brasil
são vulneráveis a uma série de ameaças (carcinicultura, aterramentos, poluição, ocupação
desordenada) e, segundo Santana et al. (2015) os impactos antrópicos desencadeiam problemas
ambientais que ameaçam as diferentes formas de vida que habitam estas áreas úmidas. No Rio
Grande do Norte, o manguezal se encontra bastante degradado em consequência da exploração
do sal marinho, que vem sendo realizada desde os primórdios da ocupação antropogênica na
região (SOUZA; FERREIRA, 2019).
O estuário do rio Apodi-Mossoró e sua região de mangue encontram-se em vários
estágios de degradação e a carência de estudos pode culminar na falta de práticas de
conservação e manejo desses espaços, falhando também nos princípios que norteiam a
legislação ambiental. Assim, a presente proposta teve por objetivo caracterizar ambientalmente
dois trechos estuarinos do rio Apodi-Mossoró, avaliando os parâmetros físico-químicos da
água, a diversidade de organismos e os impactos antrópicos.

Metodologia
A pesquisa teve como área de estudo trechos estuarinos do rio Apodi-Mossoró,
localizado no noroeste do estado do Rio Grande do Norte, cuja escolha fundamentou-se nos
conceitos de estuário formulado por Fairbridge (1980). A área estudada inclui a comunidade de
Passagem de Pedras, em Mossoró, até a desembocadura, entre os municípios de Grossos e Areia
Branca. O trecho de Passagem de Pedras foi avaliado em três áreas (estuário, meio e rio) devido
à fragmentação do ambiente por duas barragens (passagens molhadas). As áreas avaliadas para
o estudo foram georreferenciadas utilizando-se GPS (Global Position System) e as idas a campo

¹ Estudante do curso de Ciências Biológicas (Lic.) do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; *Bolsista PIBIC
² Bióloga. Membro do grupo de pesquisa em Ecologia e Sistemática Animal/ Ciências Biológicas/UERN.
3
Professora do departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
danielleperetti@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 152
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ocorreram nos meses de dezembro de 2019 e janeiro de 2020, no período diurno e em horários
de maré baixa.
Nestas áreas foram obtidos os parâmetros físico-químicos da água como temperatura
(°C), potencial hidrogeniônico (pH), condutividade elétrica (µS.cm-1) e sólidos totais
dissolvidos (TDS) (ppm) através de um medidor multiparâmetro PCSTestr 35. Para verificação
da biodiversidade residente foram avaliados o corpo aquático e seu entorno (manguezal). Foram
realizados registros fotográficos das espécies e posterior identificação com o auxílio de
bibliografias, sites e/ou profissionais especializados. Também foram feitos registros
fotográficos dos resíduos sólidos.

Resultados e Discussão
Nos quatro pontos de coleta, observou-se que os valores de temperatura e pH se
mantiveram constantes, entretanto, os valores de condutividade e de total de sólidos dissolvidos
foram altos para as áreas estuário e meio. A salinidade, por sua vez, apresentou um valor
acentuado na área Grossos (Tabela 1).
Tabela 1: Valores dos parâmetros abióticos nas áreas de amostragem de dois trechos estuarinos
do rio Apodi-Mossoró/RN em dezembro de 2019.
Estuário Meio Rio Grossos
Temperatura (°C) 28,3 28,6 27 30,6
pH 8,6 8,6 8,49 8,28
Condutividade (μs.cm-1) 889 854 4,12 12,52
TDS (ppm) 630 605 2,92 8,9
Salinidade (ppm) 2232 2136 11,1 3648
pH – Potencial hidrogeniônico; TDS – Totais de Sólidos Dissolvidos

A temperatura mesmo não apresentando grandes oscilações, foi maior em Grossos


durante a maré baixa. Kinner (1967), aponta que a temperatura em meios estuarinos pode ter
maior variação, e isso é evidenciado entre o estuário de Passagem de Pedras e Grossos. O pH,
manteve-se alcalino, estando em consonância com a faixa de equilíbrio de 6 a 9 para ambientes
aquáticos (CETESB, 2009).
A alta condutividade no estuário e na zona intermediária do barramento (meio) em
Passagem de Pedras pode ser consequência do confinamento da água salgada, consequência da
fragmentação do habitat em função da construção da barragem. O valor de TDS também se
mostrou elevado nestes trechos. De acordo com Gomes (2017) as concentrações elevadas se
relacionam com a baixa profundidade da região, bem como sua hidrodinâmica em períodos de
estiagem. Em Grossos, o valor da salinidade foi, comparativamente, o mais elevado,
caracterizando um ambiente hipersalino, resultado de aportes pluvio-fluvial baixos e
evaporação alta (MEDEIROS et al., 2018).
Durante os períodos de coleta, foram realizados registros fotográficos de espécies
ocorrentes nos ambientes terrestre (manguezal) e aquáticos (estuário e rio) (Tabela 2).
Em Grossos houve registro da espécie Goniopsis cruentata nas porções sedimentares
e associados a raízes e caule de árvores do mangue. De acordo com Schubart (2006), indivíduos
desse gênero são abundantes e adaptados para a vida terrestre e aquática em ambientes tropicais.
No entanto, essas espécies podem ser ameaçadas devido a crescente redução territorial das
faixas de mangue, como consequência da ocupação, poluição e atividades pesqueiras,
acarretando predação e na competição por recursos alimentares inter/intraespecíficos
(PINHEIRO, et al., 2016). Registra-se a ocorrência do molusco do gênero Littorina associado
aos caules das árvores do mangue. Segundo Ferreira et al. (2014) as espécies de Littorina são
utilizadas como indicadoras de ambientes degradados.
A Classe Insecta foi observada em todas as áreas de estudo. No reino animal, os insetos
têm destaque por apresentarem ampla diversidade taxonômica (BRUSCA; BRUSCA, 2003),
podendo ser encontrados nos mais variados ecossistemas. Observou-se, também, a presença de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 153
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ninhos construídos em árvores próximas ao rio. As aves, provavelmente, buscam áreas que
apresentem condições para se manterem, sendo a disponibilidade de invertebrados importante
para a seleção destes espaços (MENDONÇA, 2016).
Tabela 2: Registro de organismos/evidências nas áreas de amostragem de dois trechos
estuarinos do rio Apodi-Mossoró/RN em dezembro de 2019 e janeiro de 2020.
Organismo/Evidência Descrição Local Coletado
Aratu vermelho
Classe Malacostraca Grossos
Ordem Decapoda
Espécie Goniopsis cruentata
Filo Mollusca
Classe Gastropoda
Género Littorina Grossos

Filo Mollusca
Classe Gastropoda
Género Littorina Grossos

Lagarta mede palmo


Classe Insecta
Ordem Lepidoptera Grossos

Estuário
Pupa de louva-deus
Classe Insecta
Ordem Mantodea

Borboleta rainha Estuário


Classe Insecta
Ordem Lepidoptera
Família Nymphalidae
Espécie Danaus gilippus
Rio
Filo Chordata
Subfilo Vertebrata
Classe Aves

Filo Arthropoda Rio


classe Insecta
Ordem Hymenoptera
Família Formicidae
Chupa-areia Rio
Família Gobiidae
Gênero Awaous
Espécie Awaous tajasica
Piaba Rio
Família Characidae
Gênero Astyanax
Espécie Astyanax bimaculatus (Linnaeus, 1758)

Tilápia Rio
Família Cichlidae
Gênero Oreochromis
Espécie Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758)

No rio, com o auxílio de pescadores do local, foram coletados exemplares de Awaous


tajacica (Lichtentein, 1822), popularmente conhecidos como chupa-areia. Esses indivíduos
possuem uma dieta generalista, onívora e oportunista, no entanto, alguns estudos vêm
evidenciando a ingestão de poluentes em sua alimentação (SANTOS, 2015). A espécie Astyanax
bimaculatus (Linnaeus, 1758), por sua vez, são espécies de pequeno porte, servindo de alimento
para outros peixes e aves. E Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758), oriunda de ambientes
lacustres do continente africano, disseminou-se pelo Brasil (MIRANDA; MAZZONI1; SILVA,
2010). De acordo com Pérez et al. (2004), os indivíduos dessa espécie apresentam adaptações

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 154
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

para ocupar novos ambientes e resistir à salinidade, altas temperatura, baixo teor de oxigênio
dissolvido e possuir considerável plasticidade alimentar.
Durante os campos para registro biológico, observou-se a grande quantidade de
resíduos sólidos em todas as áreas do estudo (Tabela 3). Lima et al. (2020) destacam que o
agravamento da poluição pode desencadear a deterioração ecológica, inibição de rotações
fluviais, alterações no solo e degradação geoambiental. Assim, a biodiversidade passa a ser
descaracterizada, reduzindo seu papel ecológico e ambiental.
Tabela 3: Registro de resíduos sólidos descartados de forma incorreta nas áreas de amostragem
de dois trechos estuarinos do rio Apodi-Mossoró/RN em dezembro de 2019 e janeiro de 2020.
Presença de Resíduos Sólidos
Passagem de Pedras Grossos

A B C D

E F G H
A e F=garrafas plásticas, latas e recipientes em isopor; H=sacola plástica; B e G=calçados; C=bolsa feminina; D=pneu; E=papelão

Os impactos antrópicos podem causar consequências negativas para os ecossistemas,


afetando diretamente ou indiretamente na dinâmica comportamental de muitas espécies. O
desmatamento, as atividades industriais e a crescente ocupação populacional, aumentam o
descarte incorreto de latas, plásticos, papéis, dentre outros agentes poluentes que degradam o
habitat e interferem na forma de vida dos seres vivos (SANTANA et al, 2015).

Conclusão
Os trechos estuarinos do rio Apodi-Mossoró possuem características abióticas típicas
da região estuarina e da época do ano (período de estiagem). A diversidade biológica está
presente tanto no manguezal quanto no meio aquático, entretanto, observa-se que parâmetros
abióticos como TDS e presença de espécies indicadoras de ambientes degradados parecem estar
se tornando dominantes, e a presença dos resíduos sólidos deixa claro o processo de destruição
pelos quais as áreas desta pesquisa estão sofrendo. É necessário que os estudos sejam
continuados neste ambiente e, apesar da interrupção desta pesquisa (necessidade de isolamento
pela pandemia do vírus SARS-Cov2), sugere-se o acompanhamento sistemático da área para
verificar mudanças em sua caracterização ambiental.

Agradecimentos
Ao CNPq pela concessão da bolsa e à UERN pelo apoio logístico.

Referências

BRUSCA, R.C.; BRUSCA, G.J.. Invertebrados. 2. ed. Massachusetts: Sinauer Associates, 2003. 966
p.
CETESB, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Significado ambiental e sanitário das
variáveis de qualidade das águas e dos sedimentos e metodologias analíticas e de amostragem.
Qualidade das águas interiores no estado de São Paulo. Série relatórios, p.4-7, 2009.
FAIRBRIDGE, R.W. The estuary it’s definition and geo-dynamic cycle. In: OLAUSSON, E. & Cato,
I. (eds.). Chemistry and Biogeochemistry of Estuaries. Wiley, New York, 1980. p. 1-35.
FERREIRA, M. S.; MÁRSICO, E. T.; CONTE JUNIOR, C. A.; MARQUES JÚNIOR, A. N.; MANO,
S. B.; SÃO CLEMENTE, S. C. Contaminação por metais traço em mexilhões Perna perna da costa

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 155
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

brasileira. Ciência Rural, v.43, n.6, jun, 2013. Disponível em:


<http://www.scielo.br/pdf/cr/2013nahead/a16213cr6591.pdf> Acesso em 25 jun 2014.
GOMES, Carla Karine Soares. Estudo dos nutrientes dissolvidos no complexo estuarino do arraial
– Maranhão. 2017. 38 f. Monografia (Especialização) - Curso de Oceanografia, Universidade Federal
do Maranhão, São Luís, 2017.
JUNK, W. J et al.. Brazilian wetlands: their definition, delineation, and classification for research,
sustainable management, and protection. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems,
v.24, p.5-22, 2013.
KINNER, O. Physiology of estuarine organism with special reference to salinity and temperature;
general aspects. In: LAUFF, G. H. Estuaries. Washington. American Association for the Advancement
of Science. p. 525-540. 1967.
LIMA, L. H.; MARINO, M. T. R. D.; FAÇANHA, M. C.; TAVARES, V. L.; MORAES, S. G.;
PINHEIRO, L. S.; AGUIAR, M. D. C. Análise espaço-temporal do uso e ocupação da app no estuário
do rio pirangi, ceará, brasil. Brazilian Journal Of Development, Curitiba, v. 6, n. 8, p. 62010-62020,
ago. 2020.
MEDEIROS, David Hélio Miranda de; CAVALCANTE, Andrea Almeida; PINHEIRO, Lidriana de
Souza; ROCHA, Renato de Medeiros. Variação Longitudinal da Salinidade do Estuário Hipersalino do
Rio Apodi/Mossoró (Rio Grande do Norte, Brasil). Revista Brasileira de Geografia Física, Recife, v.
11, n. 3, p. 850-863, jun. 2018.
MENDONÇA, Maria Luiza Andrade. Ocorrência sazonal e reprodução de Himantopus mexicanus
(aves: charadriiformes) em salinas do estuário do rio apodi-mossoró, nordeste brasileiro. 2016. 72
f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ecologia e Conservação, Universidade Federal Rural do Semi-
Árido, Mossoró, 2016.
MIRANDA, Jean Carlos; MAZZONI1, Rosana; SILVA, Cláudio Eduardo de Azevedo. Ocorrência da
tilápia do nilo oreochromis niloticus linnaeus, 1758 na microbacia do rio Mato Grosso, saquarema,
estado do Rio de Janeiro. Saúde e Biologia, v. 5, n. 2, p. 47-50, dez. 2010.
MIRANDA, L.B.; CASTRO, B.M.; KJERFVE, B. Princípios de oceanografia física de estuários, 2
ed. Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
NASCIMENTO, R. S. Diversidade da ictiofauna estuarina do rio Ceará, Fortaleza (Ceará, Brasil).
2018. 42 f. Monografia (Especialização) - Curso de Engenharia de Pesca, Universidade Federal do
Ceará, Fortaleza, 2018.
PÉREZ, J.E.; MUÑOZ, C.; HUAQUIN, L.; NIRCHIO, M. Riesgos de la introducción de tilapias
(Oreochromis sp.) (Perciformes: Cichlidae) em ecosistemas acuáticos de Chile. Revista Chilena de
História Natural. v. 77. p. 195-199. 2004.
PINHEIRO, Marcelo A. A.; SANTANA, William; BEZERRA, Luis Ernesto A.; KRIEGLER, Nicholas;
RIO, Juliana P. P.. Avaliação dos caranguejos Grapsídeos (Decapoda: Grapsidae). Porto Alegre:
Sociedade Brasileira de Carcinologia - Sbc, 2016. p. 182-191.
SANTANA, L. M. B. M.; LOTUFO, L. V. C.; ABESSA, D. M. S.. A contaminação antrópica e seus
efeitos em três estuários do litoral do ceará, Nordeste do Brasil. Arquivos de Ciências do Mar,
Fortaleza, v. 42, n. 2, p. 93-115, dez. 2015. Disponível em:
http://www.periodicos.ufc.br/arquivosdecienciadomar/article/view/5853. Acesso em: 02 jul. 2020.
SANTOS, Washington Azevedo dos. História natural do “peixe de areia”, Awaous tajasica
(Lichtenstein, 1822) (Teleostei: Gobiidae) no Baixo São Francisco, Nordeste do Brasil. 2015. 95 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Programa de Pós Graduação em Diversidade Biológica e
Conservação nos Trópicos, Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2015.
SCHAEFFER-NOVELLI, Y. Manguezal ecossistema entre a terra e o mar. São Paulo: Caribbean
Ecological Research, 1995.
SCHUBART, C.D.; CANNICCI, S.; VANNINI, M.; FRATINI, S. Molecular phylogeny of grapsoid
crabs (Decapoda, Brachyura) and allies based on two mitochondrial genes and a proposal for
refraining from current superfamily classification. Journal of Zoological Systematics and
Evolutionary Research, v. 44, n. 3, p. 193-199. 2006.
SOUZA, Italo Bruno Fonseca de; FERREIRA, Rafael da Costa. Mapeamento de áreas de conflitos
ambiental no estuário do rio Apodi/Mossoró. 2019. 17 f. TCC (Graduação) - Curso de Ciência e
Tecnologia, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Angicos, 2019. Disponível em:
https://repositorio.ufersa.edu.br/handle/prefix/2420. Acesso em: 02 maio 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 156
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CARACTERIZAÇÃO CITOARQUITETÔNICA DOS NÚCLEOS


HABENULARES MEDIANTE IMUNOHISTOQUÍMICA PARA
PROTEÍNA S100B

Alcivan Batista de Morais Filho¹; Augusto Ítalo Matos Carvalho¹; José Rodolfo Lopes de
Paiva Cavalcanti²

Palavras-chave: Anatomia microscópica. Habênulas. Proteínas S100.

1.0 Introdução

O cérebro dos mamíferos se divide em dois componentes: telencéfalo e diencéfalo,


este segundo compõe a parte mais central, em contato com as paredes laterais do III
ventrículo, e um de seus componentes, o epitálamo, forma o teto desta cavidade (MOINI;
PIRAN, 2020). O componente nervoso do epitálamo é composto por um par de núcleos
bilaterais e bem conservados evolutivamente: os núcleos habenulares medial (HbM) e lateral
(HbL) (BUNNEY et al., 2017), ambos podem ser divididos em subnúcleos, embora as
relações estruturais e funcionais entre estes permaneça ainda por esclarecer (BALDWIN et
al., 2014), como é de se esperar diante da complexidade da redes neuronais nas quais se
envolvem os núcleos.

A localização anatômica dos núcleos habenulares fornece fácil acesso a um grande


número de estruturas encefálicas, já que boa parte das vias sensitivas, motoras e límbicas
possui uma conexão diencefálica (MOINI; PIRAN, 2020). Aferindo através de vias como a
estria medular e enviando comando através de feixes como o fascículo retroflexo, os núcleos
dispõe de contatos com neurônios produtores de uma gama de neurotransmissores,
localizados em regiões que estão comumente associadas à regulação do comportamento e são
tipicamente afetadas em algumas neuropatologias, tais como vício e compulsões, assim como
suas contrapartidas: os distúrbios do humor e abstinência (BALDWIN et al., 2014;
MIZUMORI; BAKER, 2017).

______________________________

¹Estudante do curso de Medicina, Faculdade de Ciências da Saúde, Departamento de Ciências Biomédicas,


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
²Orientador do projeto e professor do curso de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde, Departamento de
Ciências Biomédicas, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 157
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Diante da necessidade de estudar essas estruturas e suas conexões ao nível celular, a


busca por marcadores e técnicas de avaliação histológica ganham espaço no meio científico.
O marcador sugerido por este estudo é uma proteína da família S100, de carreadoras de
cálcio. Este grupo de proteínas está presente majoritariamente em astrócitos perivasculares
maduros, mas se encontra distribuída até certa concentração em outras células nervosas
(THELIN; NELSON; BELLANDER, 2017). A proteína existe no sistema nervoso central sob
a forma dos dímeros S100AB e S100BB, referidos juntos como S100B, cujo peso celular
permite quantificação no sangue periférico que é usada clinicamente como marcador de lesão
nervosa (LUO et al., 2019). Participante do controle homeostático do cálcio, a S100B atua em
um grande hall de sinalizações por segundo mensageiro, regulando assim diversos processos
citológicos e extracelulares em processos constitucionais ou patológicos (THELIN;
NELSON; BELLANDER, 2017).

Propõe-se, então, descrever a citoarquitetura e anatomia microscópica dos núcleos


habenulares a partir da marcação imunohistoquímica da S100B no encéfalo de ratos Wistar
jovens.

2.0 Metodologia

Trata-se de uma pesquisa experimental onde foram utilizados 6 ratos jovens, com
idade de 3 meses, machos, da linhagem Wistar. Os animais foram obtidos no biotério central
da universidade em questão, transferidos para o laboratório de neurologia experimental, após
aprovação pela Comissão de Ética em Experimentação Animal - CEEA, através do parecer Nº
07/16 e protocolo 03/2016. Foram realizados todos os cuidados necessários para evitar o
stress e sofrimento dos animais. Atingindo a idade necessária, os animais foram submetidos à
perfusão transcardíaca, onde os animais foram anestesiados com Xilazina e Quetamina e, após
atingir o plano anestésico, foi realizada a toracotomia, punção cardíaca e a infusão de solução
salina com heparina e em seguida paraformaldeído a 4%. Após a perfusão foi realizada
remoção e microtomia dos encéfalos e posteriormente imunohistoquúmica para S100B. Logo
após, os cortes foram montados em lâminas sinalizadas e, depois da secagem, foi feita a
intensificação com ósmio e montagem das lamínulas. As secções foram examinadas ao
microscópio óptico (Leia DM6). As imagens foram obtidas no aumento de 4X para capturar
cortes no nível médio dos núcleos.

3.0 Resultados e Discussão

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 158
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na Figura 1, obtida em corte ao nível Bregma – 3,36mm, é possível identificar região


hipercorada rodeada por áreas com menor concentração do marcador. Tal região marcada com
mais eficiência pode ainda ser dividida em uma área medial, um pouco mais densa, e uma
lateral mais heterogênea, são estes, respectivamente os componentes medial (HbLm) e lateral
(HbLl) do HbL. O limite medial, mais claro, lateral à parede do III ventrículo ocupa a posição
anatômica do HbM. Em ordem, nas partes superior e inferior ao HbL há a estria medular
(EsM) e o fascículo retroflexo (Fr) com duas duas porções demarcadas (FrM e FrL). (EsM) e
o fascículo retroflexo (Fr) com duas duas porções demarcadas (FrM e FrL).

Figura 1 - Fotomicrografia em campo claro revelando imunohistoquímica contra S100 em nível de núcleo da
habênulas. Barra: 300µm. Fonte: produzida pelos autores.

A HbM, apesar de ser considerada negligenciada por Baldwin et al. (2014), foi alvo de
estudos mais recentes que tentaram elucidar a função desta região. McLaughlin et al. (2017)
apontaram que lesões provocadas em inputs do HbM, como o septo triangular e o bed nucleus
da comissura anterior, desencadearam comportamentos associados à ansiedade e ao medo,
respectivamente. Ademais, o núcleo per se mostrou-se estar relacionado com os sintomas de
abstinência à nicotina, importante droga ativadora do sistema colinérgico (LEE et al., 2019).
Neste trabalho, o marcador considerado astrocitário não demonstrou grande afinidade pelo
núcleo, ao contrário dos marcadores neuronais, cujos experimentos resultaram em imagens
hipercoradas e bem delimitadas (ANDRES; VON DÜRING; VEH, 1999), sugerindo que o
núcleo é densamente composto por corpos celulares de neurônios.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 159
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A HbL tem envolvimento importante na fisiopatologia da depressão, condição


psiquiátrica cada vez mais prevalente na população mundial (GOLD; KADRIU, 2019).
Ainda, outros estudos apontam uma possível relação da HbL com o ritmo circadiano, por
meio da conexão neuronal do núcleo supraquiasmático (NSQ) com áreas hipotalâmicas não-
NSQ (BANÕ-OTÁLORA; PIGGINS, 2017), o que pode também sugerir algum envolvimento
de ritmo circadiano com distúrbios psiquiátricos, que podem ter seus sintomas intensificados
ou atenuados a depender da oscilação do ciclo. Quanto à estrutura a cargo dessas funções, a
HbL mostrou-se, em outros estudos, bem corada por marcadores difusos, como a
imunohistoquímica para a acetilcolinesterase (ANDRES; VON DÜRING; VEH, 1999), assim
como a S100B, astrocitária, caracterizando o núcleo, holisticamente, como heterogêneo, cujas
subdivisões possuem uma neurópila com maior concentração de astrócitos em relação à HbM.

Comparando com outras caracterizações na literatura, a S100B se mostrou


discretamente mais eficiente na diferenciação entre os subnúcleos da HbL quando confrontada
com os resultados obtidos com cresyl violet (ANDRES; VON DÜRING; VEH, 1999), um
corante histológico básico utilizado para visualização dos corpos de Nissl, ou seja, um
marcador para neurônios que, nesse caso, se mostrou mais eficaz para demarcar a HbM, assim
como o faz a ressonância nuclear magnética (WATSON et al., 2017), com os acréscimos que
este é um exame não invasivo e que produz melhor diferenciação em relação à substância
branca adjacente.

A marcação com base na proteína carreadora de cálcio se mostrou semelhante à que


faz uso da acetilcolinesterase (ANDRES; VON DÜRING; VEH, 1999), considerada difusa,
dada a presença disseminada da enzima em questão no tecido nervoso. Todavia, ainda na
mesma comparação, a S100B não produziu um contraste tão claro entre as subdivisões da
HbL.

4.0 Conclusões

Reforça-se a composição neuronal densa da HbM e o caráter heterogêneo da HbL


quando vista como um todo. A marcação com S100B permitiu delimitação de ambos os
núcleos habenulares, incluindo as subdivisões da HbL. A eficiência do uso da proteína para
delimitação das estruturas se mostrou intermediária quando comparada aos outros marcadores
descritos pela literatura.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 160
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

5.0 Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico (CNPq) no desenvolvimento deste trabalho pelo incentivo à pesquisa e à
concessão de bolsa de pesquisa.

6.0 Referências

ANDRES, K. H.; VON DÜRING, M.; VEH, R. W. Subnuclear organization of the rat
habenular complexes. Journal of Comparative Neurology, v. 407, n. 1, p. 130–150, 1999.
BALDWIN, P. R. et al. The medial habenula: still neglected. Frontiers in Human
Neuroscience, v. 7, p. 931, 17 jan. 2014.
BANÕ-OTÁROLA, Beatriz; PIGGINS, Hugh D.. Contributions of the lateral habenula to
circadian timekeeping. Pharmacology, Biochemistry and Behavior, v.162, p.46-54,
nov./2017. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28624585/. Acesso em: 14 set
2020.
BUNNEY, P. E. et al. Orexin activation counteracts decreases in nonexercise activity
thermogenesis (NEAT) caused by high-fat diet. Physiology and Behavior, v. 176, n. 1, p.
139–148, 2017.
GOLD, Philip W.; KADRIU, Bashkim. A Major Role for the Lateral Habenula in Depressive
Illness: Physiologic and Molecular Mechanisms. Frontier in Psiquiatry, v. 10, p.1-7,
mai/2019. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyt.2019.00320/full.
Acesso em: 14 set 2020.
LEE, H. W. et al. The Role of the Medial Habenula Cholinergic System in Addiction and
Emotion-Associated Behaviors. Frontiers in Psychiatry, v. 10, n. 100, p. 1-7, fev/2019.
Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6404551/. Acesso em: 14 set
2020.
LUO, Q. et al. The Role of S100B Protein at 24 Hours of Postnatal Age as Early Indicator of
Brain Damage and Prognostic Parameter of Perinatal Asphyxia. Global Pediatric Health, v.
6, p. 2333794X1983372, 2019.
MCLAUGHLIN, I. et al. The medial habenula and interpeduncular nucleus circuitry is critical
in addiction, anxiety, and mood regulation. Journal of Neurochemistry, v. 142, n. 2, p. 130-
142, ago/2017. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6740332/#R9. Acesso em: 14 set 2020.
MIZUMORI, S. J. Y.; BAKER, P. M. The Lateral Habenula and Adaptive
BehaviorsTrends in NeurosciencesElsevier, , 1 ago. 2017. Disponível em:
<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28688871>. Acesso em: 2 mar. 2019
MOINI, J.; PIRAN, P. Diencephalon: Thalamus and hypothalamus. Functional and Clinical
Neuroanatomy, p. 267–292, 2020.
THELIN, E. P.; NELSON, D. W.; BELLANDER, B. M. A review of the clinical utility of
serum S100B protein levels in the assessment of traumatic brain injury. Acta
Neurochirurgica, v. 159, n. 2, p. 209–225, 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 161
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

WATSON, C. et al. An ontologically consistent MRI-based atlas of the mouse diencephalon.


NeuroImage, v. 157, p. 275–287, 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 162
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CARACTERIZAÇÃO DE ESPECIALISTAS PARA APRECIAÇÃO DO


DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM CONHECIMENTO DEFICIENTE
EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIALISE

Bárbara Verônica Damascena de Sousa Medeiros1; Maria Gabriela Dantas de Azevedo Silva2;
Tayná Martins de Medeiros3; Jéssica Dantas de Sá Tinôco4.

Palavras-chave: Processo de Enfermagem. Doença Renal Crônica. Diálise Renal. Educação


em Saúde.

Introdução:
Dentre as etapas do Processo de Enfermagem, a etapa diagnóstica destaca-se por sua
relevância frente a identificação de problemas precisos que culminem em resolutividade do
plano de cuidados. Os diagnósticos de enfermagem são julgamentos clínicos das respostas do
indivíduo, da família ou comunidade a problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais.
São interpretações cientificas dos dados levantados, usadas para orientar o planejamento de
enfermagem, a implementação e a avaliação (HERDMAN, KAMITISURU, 2018).
A NANDA-Internacional apresenta o diagnóstico conhecimento deficiente composto
pelas seguintes características definidoras: comportamento inapropriado; conhecimento
insuficiente; desempenho inadequado em um teste; e seguimento de instruções inadequado. Os
fatores relacionados apresentados pela taxonomia são: conhecimento insuficiente sobre
recursos; informações incorretas apresentadas por outros; informações insuficientes; e interesse
insuficiente em aprender. As condições associadas para esse rótulo diagnóstico são: alteração
na função cognitiva; e alteração na memória (HERDMAN; KAMITSURO, 2018).
Esse diagnóstico foi aprovado pela taxonomia em 1980 e revisado no ano de 2017.
Entretanto não possui nível de evidência. Frente a isso, a NANDA-I sugere a realização de
1- Estudante do curso de enfermagem do Departamento de enfermagem Campus
Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
barbara_veronica.01@hotmail.com
2- Estudante do curso de enfermagem do Departamento de enfermagem Campus
Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
gabrielaadaantas@gmail.com
3- Estudante do curso de enfermagem do Departamento de enfermagem Campus
Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
tayna.martins14@hotmail.com
4- Professor do Departamento de enfermagem da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Líder do Grupo de Pesquisa Enfermagem Campus Caicó -
GRUPECC; e-mail: jessicadantas@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 163
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

estudos no sentido de elevar o nível de evidência desse, com o risco de ser removido nas
próximas edições (HERDMAN; KAMITSURU, 2018).
Em frente ao diagnóstico, o papel do enfermeiro vai além do ato de orientar ou de impor,
entra a incorporação da conscientização e do empoderamento das pessoas a respeito da situação
atual em que estão passando ou das implicações de suas escolhas para a saúde, o que contribui
para a autonomia do sujeito na relação ao cuidar. Esse empoderamento é um processo que
implica na mobilização e valorização dos indivíduos, com recursos próprios, que lhes permitam
sentir-se no controle da própria vida (TRENTINI; PAIM; SILVA, 2014)
Sendo assim, reconhecer os indicadores que caracterizam o conhecimento deficiente na
clientela renal crônica submetida à hemodiálise proporcionará maior precisão ao enfermeiro na
inferência do referido diagnóstico. Inferências diagnósticas precisas refletem intervenções
efetivas, culminando em resultados positivos de saúde para o conhecimento adequado da
clientela e consequente adesão terapêutica.
A análise de conteúdo feita por especialistas teve como objetivo constatar com esses a
adequação das características definidoras do diagnóstico de enfermagem conhecimento
deficiente para a clientela submetida à hemodiálise. Foi estimada assim a proporção de
especialistas que reconhecem a inclusão das características definidoras como componentes do
diagnóstico analisado, e suas definições operacionais construídas (LOPES; SILVA; ARAÚJO,
2012).
Portanto, o estudo teve como objetivo caracterizar especialistas capazes de julgar
indicadores diagnósticos do conhecimento deficiente na clientela submetida à hemodiálise.

Metodologia:
Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem quantitativa.
Para a seleção dos especialistas realizou-se uma busca por meio da plataforma Lattes,
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), pelo endereço:
www.buscatextual.cnpq.br. Foi utilizada a opção de busca avançada por assunto com o intuito
de identificar os profissionais de saúde do Brasil que possam atuar como especialistas.
Adotou-se a estratégia proposta por Lopes, Silva e Araújo (2012) com a divisão da
amostra em dois grupos de especialistas, um com enfermeiros atuantes na prática clínica em
hemodiálise, com no mínimo 5 anos de experiência, e outro grupo com especialistas em
diagnósticos de enfermagem.
A caracterização dos especialistas foi realizada com perguntas estruturadas que
contemplaram as variáveis: sexo, idade, tempo de exercício da profissão, estado em que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 164
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

trabalha, maior titulação acadêmica, todas as áreas de atuação até o momento, ocupação atual,
tema da monografia de especialização, da dissertação ou tese, caso existisse, tempo de
experiência no uso dos diagnósticos de enfermagem e em que situação ocorreu tal utilização
(prática clínica ou ensino).
Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, com medidas de tendência
central e dispersão, além de valores absolutos de relativos para as variáveis categóricas.
Após a aceitação para a participação da pesquisa foi encaminhado ao especialista o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o questionário semiestruturado referente a
caracterização desse.

Resultados e Discussão:
Nesse sentido, obtiveram-se as respostas de oito especialistas, sendo todos do sexo
feminino. Entre faixas etárias diferentes de 27 a 38 anos de idade. Em relação ao tempo de
formação variou de 5 anos de formação (12,5%), seguindo 6 anos (12,5%), 7 anos, (25%), 9
anos (12,5%), 10 anos (12,5%), 15 anos (12,5%) e 17 anos de formação (12,5%).
No tocante ao nível de formação obtido, sete especialistas correspondendo a 87,5%
apresentava o doutorado como titulação máxima, e apenas 12,5% possuiu título de mestre.
Referente a atuação profissional seis (75%) atuam na docência, um (12,5%) atua na assistência
e um (12,5%) atua como pesquisador. No concerne ao estado/país em que atuam, todos os oito
especialistas (100%) atuam no estado do Rio Grande do Norte/Brasil.
Se tratando do desenvolvimento de estudos na temática, identificou-se que sete
especialistas (87,5%) desenvolvem estudos na área de diagnósticos em enfermagem, cinco
(62,5%) em Processo de Enfermagem, três (37,5%) em doenças crônicas e quatro (50%)
pesquisaram ou pesquisam sobre a doença renal crônica.

Conclusão:

Conclui-se que o perfil dos especialistas selecionados e que aceitaram participar do


estudo foram em sua totalidade do sexo feminino, com média de idade de xx. A maior parte
desses possuem formação de enfermagem nos últimos 7 anos e possuem titulação de doutorado.
A maior parte desses atuam na área docente e a maioria desenvolve estudos nas áreas
de diagnósticos de enfermagem e doença renal crônica. Esses resultados refletem a expertise
dos especialistas selecionados e sua capacidade de julgamento quanto a proposição de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 165
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

indicadores diagnósticos para o diagnóstico de enfermagem conhecimento deficiente em


pacientes submetidos à hemodiálise.

Referências:

HERDMAN, Tracy Heather; KAMITSURU, Shigemi. Diagnósticos de enfermagem da


NANDA-I: definições e classificação 2018-2020. 11 ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.

LOPES, Marcos Venícios de Oliveira; SILVA, Viviane Martins da; ARAÚJO, Thelma Leite
de. Methods for Establishing the Accuracy of Clinical Indicators in Predicting Nursing
Diagnoses. International Journal of Nursing Knowledge. v. 23, n. 3, out, 2012.

TRENTINI, Mercedes; PAIM, Lygia; SILVA, Denise Maria Guerreiro Vieira da. Pesquisa
convergente-assistencial: delineamento provocador de mudanças nas práticas de saúde.
Porto Alegre: Moriá; 2014.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 166
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CARACTERIZAÇÃO DOS UNIVERSITÁRIOS COM ÊNFASE PARA A ANÁLISE


DE NÍVEIS PRESSÓRICOS, GLICÊMICOS E CONDICIONANTES

Joyce Oliveira de Sousa1; Layane da Silva Lima2; Samara Wiliane dos Santos Silva²; José
Giovani Nobre Gomes3.

PALAVRAS CHAVES: Hipertensão Arterial; Hiperglicemia; Universitários; Descrição.

INTRODUÇÃO
A hipertensão arterial sistêmica é uma morbidade multicausal relacionada comumente
com as doenças cardiovasculares (COSTA, MACHADO, 2010). Caracteriza-se como um dos
maiores problemas de saúde pública enfrentados atualmente por gerar incapacidade e morte
prematura (PEIXOTO et al., 2017).
Tendo em vista a rotina acadêmica extenuante e estressante de um universitário,
verifica-se condicionantes predisponentes a tais enfermidades. Isso em razão da exaustão e
correria, que resultam alimentação precária, falta de disposição física e psíquica para exercícios,
entre outras práticas (ARIÑO; BARDAGI, 2018).
Diante disso, houve-se a necessidade de pesquisar sobre o tema níveis pressóricos e
glicêmicos em universitários de uma universidade pública da cidade de Pau dos Ferros - RN,
visto que existe uma deficiência da pesquisa na região. Assim, essa investigação tem como
objetivos caracterizar o perfil dos universitários com ênfase para a análise de níveis pressóricos
e condicionantes; e caracterizar o perfil dos universitários participantes da pesquisa;
METODOLOGIA
Os participantes do estudo foram acadêmicos dos cursos de enfermagem e pedagogia.
O critério de inclusão foi estar devidamente vinculado à universidade; e como exclusão:
apresentar uma condição clínica que impeça sua participação na pesquisa.
A primeira etapa da coleta se iniciou após aquisição do termo de consentimento. Após
foi feita a verificação da pressão arterial, a qual obedeceu a recomendação da VII Diretriz
Brasileira de Hipertensão, em 3 dias distintos e foi feita a média aritmética entre os valores
obtidos. A segunda etapa foi a avaliação peso (Kg) e altura (m). Cada discente estava com o

1
Estudante do Curso de Enfermagem – CAMEAM, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-mail:
joycesousa1730@gmail.com ;

2
Estudantes do Curso de Enfermagem – CAMEAM, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-
mail: laypb@hotmail.com ; samarawsantoss@gmail.com ;
3
Professor do Curso de Enfermagem – CAMEAM, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-mail:
jgiovaninobre@gmail.com ;

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 167
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mínimo de roupas, descalço e imóvel, posicionada em pé no centro da balança digital, a qual


tem suporte para 150 kg (de marca G-Life Magna CA4000). Para a altura (cm), foi utilizada
uma fita métrica anexa a parede, na qual os jovens foram posicionados em pé, eretos e imóveis
com braços estendidos ao longo do corpo e de joelhos unidos.
Por último foi aplicado um questionário com os discentes, levantando informações
como hábitos alimentares e de vida dentro da academia. Foi disponibilizado uma área adequada
para resposta e o participante ficou à vontade para responder, para que não haja nenhuma
interferência tendenciosa nas respostas.
Os dados dos níveis pressóricos, avaliações antropométricas e do questionário foram
estatisticamente analisados por meio de estatística descritiva com apresentação de medidas de
tendência central e estudos bi-variados de correlação e associação.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A amostra teve o total de 65 universitários, sendo 21 do sexo masculino e 44 do
feminino, havendo uma predominância em relação ao gênero feminino em ambos os cursos.
Diante disso, os testes de Spearman’s, assim como Qui-quadrado de Pearson apresentaram
correlação estatisticamente significativa (p = 0,002) entre os cursos no tocante ao gênero dos
acadêmicos, sendo que o curso de enfermagem apresenta uma maior proporção de indivíduos
masculinos em relação aos femininos,
Gráfico 1: Relação do Sexo com os Cursos de quando comparados os dois cursos.
Graduação de uma instituição de ensino superior
Esse achado dialoga com estudos como
do município de Pau dos Ferros- RN
o de Guedes (2008) que expressa ser
natural a definição dos papéis do
24 feminino e masculino no mundo do
trabalho. Expõe, também, que as
20
18 mulheres demonstram preferência por
ciências humanas e letras. Outros
aspectos que se pode citar são os que
envolvem a construção histórico-
político-sociocultural dos grupos. Dito
isso, ambos os cursos permeiam uma
3
historicidade que os ligam ao trabalho
ENFERMAGEM PEDAGOGIA feminino em sociedade que refletiam os
Fonte: Dados próprios dos autores, 2020. papeis maternos isso proporcionou uma

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 168
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ampliação da educação da mulher, porém voltados para características de trabalho consideradas


maternais (LOURO, 2000), de vocação, subserviência, abnegação e caridade (OJEDA, 2008).
Isto pois, pode-se enxergar nesse processo histórico da educação das mulheres a instituição de
doutrinas e práticas sociais que constroem a subjetividade masculina e feminina, justificando
sua instauração nas práticas sociais atuais (OJEDA, 2008)
Ademais, com relação as idades dos participantes, não houve diferença nas médias dos
acadêmicos quando comparados os cursos, pois não há valor significativamente estatístico
(p=0,558), conforme Tabela 2.

Tabela 2: Relação do curso de variáveis antropométricas e de pressão em universitários


Variáveis Curso Nº Valor de p
Idade (anos) Enfermagem 22,89
Pedagogia 23,67 0,558
Peso (Kg) Enfermagem 66,32
Pedagogia 60,29 0,087
Altura (m) Enfermagem 1,67
Pedagogia 1,61 0,013
Índice de Massa Corpórea (IMC) Enfermagem 23,47
Pedagogia 23,15 0,783
Pressão Arterial Sistólica Média Enfermagem 108,68
(PASM) Pedagogia 108,52 0,955
Pressão Arterial Diastólica Média Enfermagem 68,16
(PADM) Pedagogia 72,96 0,014

Fonte: Dados próprios dos autores, 2020.


Quanto as análises das médias de outras variáveis como, peso, altura, IMC, Pressão
Arterial Sistólica Média (PASM) e Pressão Arterial Diastólica Média (PADM) entre os cursos,
com base no teste t, demonstrou-se que houve diferença estatística significativa na altura dos
universitários, com os de enfermagem sendo mais altos. Já os estudantes de pedagogia
apresentaram maior média da pressão arterial diastólica.
Tendo em vista o número de participantes, vale salientar que para dados mais precisos
seria necessário um número maior de participantes. Este achado pode ser justificado pelos
contratempos na efetuação da pesquisa enfrentados no cenário pandêmico da Covid-19.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi exposto, esse trabalho elenca maior prevalência de indivíduos de sexo
feminino no universo dos cursos abordados. Ademais os indivíduos de enfermagem são mais
altos e com maior PADM. Por fim, temos como limitação o tamanho da amostra que foi

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 169
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

reduzida em decorrência do momento pandêmico vivido e, logo, pode ter interferido nos índices
obtidos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao órgão PIBIC_UERN, que concedeu a oportunidade de realização do
estudo. Aos departamentos dos devidos cursos que nos receberam e permitiram a pesquisa em
seu espaço; aos discentes por colaborarem; e às minhas colegas de pesquisa pela parceria nesta
rica experiência.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Vigilância alimentar e nutricional - Sisvan: orientações básicas para a coleta,
processamento, análise de dados e informação em serviços de saúde.Brasília, DF: Ministério
da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica, Coordenação-
Geral da Política de Alimentação e Nutrição, 2004.
COSTA, F. P.; MACHADO, S. H. O consumo de sal e alimentos ricos em sódio pode
influenciar na pressão arterial das crianças? Ciênc. Saúde Colet, v. 15, n. supl.1, p. 1383-1389,
2010/06 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232010000700048>.
Acesso em 30 de jul. 2020.
GEORGIEV, A.M., KRAJNOVIC, P.H.D., STEVULJEVIC, J.K., et al. Hiperglicemia e
Hipertensão não diagnosticadas como indicadores dos vários fatores de risco de doenças
cardiovasculares no futuro entre a população de estudantes sérvios. J Med Biochem, v.37, n.3,
2018. Disponível: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6298463/>. Acesso em 1
de jul. 2020.
LOURO, G. L. Mulheres na sala de aula. In: Del Priore M. História das mulheres no Brasil. 7.
ed - São Paulo (SP): Contexto; 2004. p. 443- 81.
OJEDA, B. S. et al. Saberes e verdades acerca da enfermagem: discursos de alunos
ingressantes. Rev. bras. enferm., Brasília, v. 61, n. 1, p. 78-84, Feb. 2008. Disponível:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
71672008000100012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 5 de agosto.
2020. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672008000100012.
PEIXOTO, M. R. G. et al. Ganho de peso na vida adulta: preditor da hipertensão arterial?. Cad.
saúde colet., Rio de Janeiro, v. 25, n. 1, p. 58-64, Mar. 2017. Disponível:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
462X2017000100058&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 18 julho de
2020. http://dx.doi.org/10.1590/1414-462x201700010023
VII DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. São Paulo: Sociedade
Brasileira de Hipertensão, v. 107, Nº 3, Suplemento 3, Setembro 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 170
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CLASSIFICAÇÃO DE MICROORGANISMOS EM AMOSTRAS DE


SECREÇÃO TRAQUEAL EM PACIENTES SUBMETIDOS A
VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA

Deyziane Avelino da Silva; Larissa Rifane Costa1; Carmem Josaura Lima de Oliveira2; Luzia
Cibele de Souza Maximiniano3; Alcivan Nunes Vieira4

Palavras chave: Antibacterianos, Resistência Microbiana a Medicamentos. Pneumonia


Associada à Ventilação Mecânica. Segurança do Paciente.

Introdução: As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde são consideradas um problema


relevante de saúde pública, que resulta em índices elevados de complicações clínicas,
prolongamento do período de hospitalização, aumento direto sobre os custos da assistência,
além de favorecer a seleção e disseminação de microrganismos multirresistentes (BRASIL,
2017).
As infecções associadas ao uso de Ventilação Mecânica Invasiva (VMI) estão entre as
mais graves e onerosas para os serviços hospitalares devido às complicações associadas a ela e
os respectivos insumos necessários para trata-las (BRETINI et al, 2019). O objetivo desse
estudo é descrever a prevalência de microorganismos presentes em amostras de secreção
traqueal de pacientes submetidos a VMI na UTI, com diagnóstico de Pneumonia Associada à
Ventilação Mecânica (PAVM).

Metodologia
Estudo será analítico, transversal, retrospectivo e prospectivo, com abordagem
quantitativa. Foi realizado na UTI do Hospital Regional Tarcísio de Vasconcelos Maia situado
na cidade de Mossoró – RN. A população estudada foram os pacientes internados na UTI
Intensiva do referido Hospital e que tenham sido submetidos à VMI no período que compreende
os meses de janeiro de 2018 a maio de 2020. Para a coleta de dados foi utilizado um formulário
com as seguintes informações: idade, sexo, comorbidades, motivo de internação da UTI, uso
VMI, desfecho da internação na UTI, coleta de secreção traqueal, resultado da coleta
(microorganismo isolado). Considerando o nível de significância de 5% (= 0,05) e um erro
amostral relativo de 8% (erro amostral absoluto = 4%) foi calculada uma amostra de 342
prontuários. Foi realizada análise paramétrica dos dados considerando o nível de significância
de 5% (= 0,05) e um erro amostral relativo de 8% (erro amostral absoluto = 4%). Estudo
aprovado pelo CEP UERN com o parecer 3.202.598 de 15/03/2019.

Resultados e discussão
Quanto à idade identificou-se uma média de 55, moda 52 e mediana de 56 anos; o
tempo de uso da VMI correspondeu a: média 9, moda 1 e mediana de 7dias. Por sua vez a
permanência na UTI foi caracterizada como: média 11, moda 2, mediana 7 dias. Na medida em
que aumenta o tempo de uso da VMI as complicações a ela relacionadas também
significativamente; nos cinco primeiros dias de suporte invasivo a possibilidade de ocorrer a
PAVM aumenta entre 3% por dia e 2% a cada dia subsequente (CDC, 2018).

1
Acadêmica de enfermagem da FAEN UERN. deyzianesilva@hotmail.com; larissarifanearaujo@gmail.com
2
Enfermeira da UTI cardiológica do Hospital Wilson Rosado. carmem_jos@hotmail.com
3
Enfermeira. Aluna do Programa de Pós Graduação em Saúde e Sociedade da UERN. luziacibele42@gmail.com
4
Enfermeiro. Docente da FAEN UERN, orientador da pesquisa. alcivannunes@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 171
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As principais disfunções orgânicas que motivaram a internação na UTI foram:


distúrbios renais (2,34%); cardiovasculares (7,7%); respiratórios (5,6%). Alguns pacientes
foram submetidos as seguintes procedimentos cirúrgicos: cirurgia torácica (8,5%); abdominal
(17,6%); neurológicas (57,8%) e ortopédicas (7%).
Os germes mais prevalentes nas amostras de secreção traqueal foram: Acinetobacter
SP. (32%); Pseudomonas SP. (22%); Klebsiella SP. (15%); Staphyloccocus Aureus (5%);
Enterobacter SP. (4%); Escherichia Coli. (3%); salientando que em uma mesma amostra foram
encontrados mais de um dos germes citados acima. Identificou-se que esse resultado corrobora
com outro estudo que identificou: Pseudomonas aeruginosa e a Klebsiella pneumoniae, ambas
com 28,8%; Acinetobacter baumanii; Staphyococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) e
Proteus mirabilis, com 10,7% (BRETINI, 2019).
A infecção causada por mais de um microrganismo, ou aquela onde esses germes são
multirresistentes, está associada ao uso de esquemas terapêuticos com antibióticos de amplo
espectro bem como às maiores taxas de mortalidade.
Quanto ao desfecho da internação foram identificados: 25% alta para outro setor ou
serviço e 65% para os óbitos; também há registro de evasão do setor, seja espontânea ou com
ajuda de familiares.
As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IrAS) emergem entre as principais
causas de morbidade e mortalidade hospitalar e estão associadas às pessoas que se submetem a
procedimentos invasivos. As IRAS são consideradas um problema relevante de saúde pública
que resultam em índices elevados de complicações à saúde, no prolongamento do período de
hospitalização, aumento direto sobre os custos da assistência, além de favorecer a seleção e
disseminação de microrganismos multirresistentes (EL-KHOLY, 2012).
A Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM) é uma infecção que surge
entre 48 a 72 horas após a intubação traqueal e com o início da VMI, em até 48 horas após a
retirada do tubo orotraqueal. Esta infecção está associado a um aumento no período de
hospitalização e a índices de mortalidade que podem variar de 24% a 76%, repercutindo de
maneira significativa nos custos hospitalares (PRAVIN CHARLES, 2014); nos EUA ela fica
entre 20% a 60% (BRETINI et al, 2019).
Este perfil de infecção está relacionado com a virulência dos germes identificados,
além das complicações decorrentes da doença de base e de outras descompensações inerentes
ao suporte intensivo.
O alto risco de mortalidade relacionada às IRAS está intimamente associado a fatores
como a realização de procedimentos invasivos, diagnósticos e terapêuticos, à gravidade da
doença de base que acomete o paciente, ao sítio da infecção, à adequação da terapia e à
sensibilidade dos microrganismos aos antimicrobianos (AVCI, 2012).
A PAVM é a principal causa de mortalidade entre as IrAS independente da frequência
encontrada em cada instituição. Suas repercussões na via aérea se somam às complicações
decorrentes do uso prolongado de VMI.

Conclusão:
Os germes mais prevalentes nas amostras de secreção traqueal foram: Acinetobacter
SP.; Pseudomonas SP.; Klebsiella SP.; Staphyloccocus Aureus; Enterobacter SP.; Escherichia
Coli. (3%). Em várias amostras foram encontrados mais de um dos germes citados acima.
Conforme a sua etiologia, a PAVM pode apresentar desfechos distintos variando desde
a alta da UTI, óbito ou transferência para serviço especializado. É necessária a instituição de
mecanismos de vigilância, efetivar uso de protocolos assistenciais na perspectiva de promover
a Segurança do Paciente no que diz respeito às IrAS.

Agradecimentos: à UERN pelo apoio logístico e operacional para a viabilização desta pesquisa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 172
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências bibliográficas
AVCI M, Ozgenc O, Coskuner SA, Olut AI. Hospital acquired infections (HAI) in the elderly:
comparison with the younger patients. Arch Gerontol Geriatr. 2012 Jan-Fev; 54(1):247-50
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária Medidas de Prevenção de Infecção
Relacionada à Assistência à Saúde. Brasília: Anvisa, 2017
BRETINI, Laura Cardoso; Araújo, Eduardo César Silva; Silveira, Thais Haddad; Negrinho,
Nádia Bruna da Silva; Pedigone, Maria Auxiliadora Mancilha; Brunherotti, Marisa Afonso
Andrade. Incidence of mechanical ventilator-associated pneumonia and the most prevalent
etiological agents in an intensive care unit in the interior of São Paulo. Rev. Epidemiol. Controle
Infecç. Santa Cruz do Sul, 2019 Jul-Set; 9(3):227-233.
Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Pneumonia (Ventilator-associated [VAP]
and non-ventilator-associated Pneumonia [PNEU]) Event. Jan 2018; [acesso em 11 fev 2018].
Disponível em: https://www.cdc.gov/nhsn/PDFs/ pscManual/6pscVAPcurrent.pdf
EL-KHOLY A, Saied T, Gaber M, Younan MA, Haleim MMA, El-Sayed H, et al. Device-
associated nosocomial infection rates in intensive care units at Cairo university hospitals: first
step toward initiating surveillance programs in a resourcelimited country. Am J Infect Control.
2012 Ago; 40(6):216-20.
PRAVIN CHARLES MV, Kali A, Easow JM, Joseph NM, M Ravishankar, Srinivasan S, et al.
Ventilator-associated pneumonia. Australas Med J. 2014; 7: 334–44.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 173
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CLASSIFICAÇÃO DE PACIENTES POR CONDIÇÃO OCLUSAL

Mikaele Garcia de Medeiros¹ , Alison Alexandre Santos Silva¹ ; Eduardo José Guerra Seabra 2.
1
Palavras-chave: Classificação. Oclusão Dentária. Edentulismo. Reabilitação.

INTRODUÇÃO

Historicamente, a dificuldade de comunicação entre os profissionais dentistas e os


laboratoristas levou a necessidade da criação de algumas classificações como as propostas por
KENNEDY, CUMMER, BAILYN, WILSON, APPLEGATE, entre outros. Estes autores
classificaram os arcos parcialmente desdentados segundo características topográficas e/ou
outras. Dentre estas, a classificação mais usada é a de KENNEDY, por, provavelmente, ser a
mais simples, conhecida e utilizada 1,2.
Outras classificações também foram feitas em relação às mais diversas áreas de atuação
da Odontologia. Entre elas estão a classificação das cavidades artificiais sugeridas por
BLACK3, as quais foram reunidas em cinco classes que requeriam a mesma técnica de
instrumentação e restauração; o sistema de classificação das más oclusões, desenvolvido por
ANGLE, que agrupa as maloclusões em três grandes grupos tornando-se a mais conhecida e
utilizada até os dias atuais, certamente pela simplicidade de compreensão e abrangência 4 e a
classificação do estado físico de pacientes adultos pela Associação Americana de
Anestesiologistas, originando a sigla ASA, em que os pacientes foram distribuídos em seis
categorias estreitamente relacionadas a morbidade e mortalidade anestésica 5.
Todas essas classificações, assim como tantas outras existentes, foram feitas com o
intuito de melhorar a comunicação e o intercâmbio científico entre os profissionais, auxiliar o
ensino, além de facilitar no estudo, planejamento e tratamento dos casos. Tais classificações,
podem, portanto, melhorar os processos de ensino e aprendizagem nos cursos de Odontologia
que têm como objetivo primordial formar um clínico geral capaz de diagnosticar, planejar,
executar e avaliar os problemas odontológicos de cada paciente de forma integral, de modo que
promova uma nova percepção dos estudantes e profissionais de odontologia em relação às reais
demandas da população6.
A partir desse referencial, o objetivo desta pesquisa foi propor e avaliar se a classificação
proposta pelos autores, que agrupa os pacientes em quatro tipos de acordo com a sua condição
oclusal, pode ser verificada na população. A partir dessa constatação essa classificação pode
ser útil na comunicação interprofissional, na facilitação do estudo e do ensino sobre o
diagnóstico e plano de tratamento integrado para que se obtenha melhor noção da necessidade
e complexidade de reabilitação oral.

METODOLOGIA
A presente pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (CEP-UERN) sob o parecer número:
3.147.201. Os pacientes do presente estudo foram avaliados mediante concordância e assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A presente classificação, por enquanto denominada classificação “SEABRA-
MEDEIROS”, fundamentou-se na condição oclusal encontrada nos pacientes das clínicas
¹ Acadêmica de Odontologia do departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte. E-mail: mikaelem@live.com
2 Professor do departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-

mail: eudeseuler@hotmail.com; ejgseabra@yahoo.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 174
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

odontológicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Esta classificação se propôs


a reunir os pacientes em quatro classes, de acordo com a condição oclusal dos mesmos, então
tem-se: Paciente TIPO 1 - indivíduos totalmente dentados; Paciente TIPO 2
- indivíduos parcialmente desdentados com contenção cêntrica (dimensão vertical mantida) ;
Paciente TIPO 3 - indivíduos parcialmente desdentados sem contenção cêntrica (diminuição da
dimensão vertical); Paciente TIPO 4 - desdentados totais.
Após a proposição desta classificação, deu-se o início ao estudo transversal e analítico. O
qual foi desenvolvido em duas fases: a primeira foi a utilização da classificação proposta, como
ferramenta de pesquisa para a coleta de dados, para a identificação do perfil dos pacientes
frequentadores das clínicas odontológicas da UERN. Um exercício de treinamento intra e
interexaminadores, foi conduzido pelo coordenador da pesquisa para a coleta de dados da
primeira fase da pesquisa. Um total de 10 pacientes, foram examinados pelos autores. Na
segunda fase, a validação aparente foi feita por meio da avaliação do instrumento, a
classificação, por juízes. Foram selecionados casualmente três estudantes do décimo período
do curso de odontologia da universidade para colaborar na validação aparente. Foi feita uma
amostragem não probabilística, por conveniência, por meio da qual pacientes que estavam sob
atendimento durante os 6 meses de coleta e que aceitaram participar do estudo foram incluídos
Foram critérios de inclusão: indivíduos de ambos os gêneros, com mais de 18 anos,
atendidos na clínica odontológica da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus
Caicó. Foram excluídos pacientes que não conseguissem, por qualquer motivo, promover a
abertura bucal; pacientes portadores de próteses fixas e de implante dentário. A coleta de dados
foi feita nas clínicas odontológicas da UERN durante o período de fevereiro a julho de 2019.
As avaliações foram conduzidas em uma sala individual, confortável, garantindo o sigilo, a
privacidade e confidencialidade das informações.
Essa avaliação consistiu num exame clínico por inspeção visual realizado por um único
examinador com auxílio de um abaixador de língua (espátula de madeira). Após avaliação,
dados foram registrados em uma ficha clínica desenvolvida especificamente para esta pesquisa,
e as informações sociodemográficas e sobre a autopercepção de saúde bucal que foram
levantadas, estão inseridas nessa ficha. Inicialmente foi avaliada a presença ou ausência de
dentes E, posteriormente, a oclusão do paciente era observada. Neste momento, a presença ou
ausência de contenção cêntrica, de acordo com as características bucais encontradas, foi
avaliada. A posteriori, para a realização da validação aparente, foram selecionados ao acaso 21
pacientes, para que juízes reavaliaram e qualificaram estes pacientes conforme a classificação
proposta pelos autores.
Na segunda fase da pesquisa participaram três juízes, com conhecimento técnico sobre
o assunto, que foram devidamente treinados pelos autores. Houve uma análise
interexaminadores, para saber se eles concordavam entre si, e os níveis de concordância foram
estimados pelo coeficiente Kappa.
Os dados foram tabulados em software (Microsoft Excel 2016®), e analisados por teste
estatístico aplicado no pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Science) na versão
18.0, para a análise estatística descritiva das características gerais da população estudada.
Utilizou-se o índice Kappa e intervalo de confiança de 95% para verificar a confiabilidade do
instrumento proposto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na primeira fase do estudo participaram 122 pacientes das clínicas integradas de


odontologia da UERN, sendo a maioria (60,66%) do sexo feminino e com idade média de 40,3
anos. No que concerne aos resultados do tipo de paciente pela classificação proposta, 100% dos
pacientes se enquadraram em algum TIPO da classificação, sendo o paciente TIPO 2

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 175
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(desdentado parcialmente com contenção cêntrica) o mais prevalente, correspondendo à 69 dos


pacientes (56,56%). Ao realizar a validação aparente com os três juízes, todos conseguiram
classificar os pacientes dentro dos grupos da classificação proposta. Houve um grau de
concordância Kappa de 85%, o que equivale a uma concordância quase perfeita entre os juízes.
Portanto, a classificação foi avaliada de forma positiva, demonstrando assim sua aplicabilidade
e sua reprodutibilidade.
Diversas áreas da saúde utilizam classificações de pacientes assim como, por exemplo,
a classificação de risco usada em hospitais como forma de triagem para que o processo de
identificação seja dinâmico prevenindo complicações, proporcionando um embasamento
decisório que contribuí para o planejamento da assistência, estabelecendo o perfil do paciente
e fortalecendo o processo de comunicação das diferentes necessidades de atenção 7. No presente
estudo, a proposta dessa nova classificação de pacientes na área odontológica, assim como a
anteriormente mencionada, também visa contribuir com a otimização da comunicação,
planejamento e tratamentos. Segundo ela, para cada tipo de condição bucal há níveis diferentes
de dificuldade para composição e execução do tratamento clínico, exigindo tomadas de
informações com diferentes níveis de complexidades.
Estudos longitudinais prospectivos concluíram que o número de dentes é um preditor
significativo de mortalidade independente dos fatores de saúde, status socioeconômico e estilo
de vida8. Neste sentido, pacientes TIPO 1, totalmente dentados, tem uma maior expectativa e
qualidade de vida que os pacientes dos outros tipos da classificação. Contudo, os fatores
socioeconômicos e demográficos devem ser cuidadosamente considerados na interpretação
desses achados, uma vez que o edentulismo é conhecido como uma condição dos pobres e
doentes com baixo nível de escolaridade 9. Condição evidenciada com este estudo em que todos
os pacientes TIPO 4, desdentados totais, tinham somente o ensino fundamental.
A reabilitação oral é um tratamento que requer um planejamento amplo, em virtude de
que muitos casos têm a necessidade da interrelação das diferentes áreas da Odontologia. Neste
contexto, pode inferir que os pacientes do TIPO 2, TIPO 3 e TIPO 4 necessitam de um plano
de tratamento mais resolutivo e emergencial, o qual envolverá um maior nível de complexidade
(desde a idealização até a execução), de forma gradual, respectivamente nessa ordem.
Complicações clínicas foram observadas em pacientes com alteração da DVO,
dificultando a reabilitação oral, sendo, portanto, recomendado o seu restabelecimento de forma
progressiva 10. Isso torna o tratamento do paciente TIPO 3, parcialmente desdentado sem
contenção cêntrica, mais complexo. Somente para estimar a DVO adequada existem vários
métodos disponíveis. Essa dificuldade pode ser antecipada e minimizada a partir do momento
em que o dentista incorpora o entendimento do perfil do paciente, segundo a classificação neste
estudo proposta.
Todo o planejamento reabilitador deve ser construído a partir do que se chama de
“espaço real de trabalho”, justificando a necessidade do uso da relação cêntrica (RC) para os
pacientes TIPO 3 e TIPO 4. Desse modo, o fato de o paciente ter ou não a dimensão vertical
mantida pela contenção cêntrica tem extrema importância na complexidade do seu plano de
tratamento e dos procedimentos clínicos a serem realizados. Por essa razão, os pacientes que
apresentam ausências dentárias, mas que não apresentaram alterações na sua contenção cêntrica
(TIPO 2) foram agrupados separadamente dos edêntulos parciais sem contenção cêntrica (TIPO
3), visto que os pacientes TIPO 2 possuem uma estabilidade funcional satisfatória e melhor
prognóstico. Dessa maneira, pode-se estabelecer uma ordem crescente de complexidade no
diagnóstico e planejamento entre os grupos (TIPO 1> TIPO 2> TIPO 3).
Por também ter finalidade didática e por também se aplica ao ensino na Odontologia ,
pode-se afirmar que esta classificação pode ser empregada em cursos de Universidades públicas
e privadas para distribuição dos pacientes para estudantes da graduação segundo níveis de
complexidade crescente propostos nas Diretrizes Curriculares Nacionais vigentes no Brasil.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 176
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Nos casos de maior complexidade a classificação SEABRA-MEDEIROS ajudará


proporcionará melhor visualização do grau de dificuldade do caso. De forma que, mesmo em
pacientes TIPO 3, por exemplo, o planejamento do tratamento possa ser otimizado, ficando
menos dispendioso e mais resolutivo.

CONCLUSÃO

Considerando os resultados obtidos, todos os pacientes examinados foram incluídos


na classificação SEABRA-MEDEIROS.
Evidencia-se que a classificação apresenta aplicabilidade, reprodutibilidade ,
confiabilidade, facilidade de visualização, propicia boas condições de comunicação
interprofissional e pode ser utilizada na prática clínica odontológica para auxiliar no estudo e
planejamento integrado dos casos clínicos.

REFERÊNCIAS
1. GIL, C. Avaliação comparativa dos sistemas de classificação dos arcos parcialmente
edentados: uma revisão crítica de oitenta anos. Rev Odontol Univ Sao Paulo 1998; 12:
65-74.
2. HENDERSON D, STEFFEL VL. Mc cracken´s Prótese Parcial Removível. Artes
medicas. Porto Alegre, 5; 1979. 121 – 139.
3. BLACK GV. Operative Dentistry. Chicago: Medico Dental, 1908; 2 -15.
4. PINTO EDM, GONDIM PPDC, LIMA NSD. " Critical analyses of some malocclusions
register and evaluation methods." Rev Den. Press Ortod Ortop Facial 2008; 13: 82-
91.
5. Asa-hq.org [www.asahq.org]. Washington, DC American society of
anesthesiologists. Asa physical status classification system. [cited 2018 Jul 13].
Available from: https://www.asahq.org/resources/clinical-information/asa-physica l-
status-classification-system.
6. LOMBARDO I. Reflexões sobre o planejamento do ensino de Odontologia. Ver
ABENO 2001; 1: 17-24
7. SOUZA CCD, ARAÚJO FA, CHIANCA TCM. Scientific literature on the reliabilit y
and validity of the manchester triage system (MTS) protocol: A integrative literature
review. Rev Esc Enferm USP 2015;49: 144-151.
8. HOLM‐PEDERSEN P, SCHULTZ‐LARSEN K, CHRISTIANSEN N, AVLUND
K. Tooth loss and subsequent disability and mortality in old age. J Am Geriatr
Soc 2008; 56: 429– 435.
9. PERES MA, BARBATO PR, REIS SCGB, FREITAS CHSDM, ANTUNES JLF.
Perdas dentárias no Brasil: análise da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal 2010. Rev.
Saúde Pública 2013; 47: 78-89.
10. ALHAJJ MN, KHALIFA N, ABDUO J, AMRAN AG, ISMAIL I. A. Determination of
occlusal vertical dimension for complete dentures patients: an an updated review. J
Oral Rehabil 2017; 44: 896-907.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 177
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

COMPOSIÇÃO CORPORAL DE PACIENTES PÓS-CIRURGIA DE


REVASCULARIZAÇÃO CARDÍACA SUBMETIDOS AO
TREINAMENTO INTERVALADO E CONTÍNUO

Alice Kelly de Souza Oliveira1; Jorge Luis Torres Júnior2; Ivana Alice Teixeira Fonseca3
Palavras-chave: Composição corporal. Treinamento. HIIT. Reabilitação cardíaca

Introdução: As doenças cardiovasculares estão entre as principais causas de morte em vários


países e sua ocorrência tem aumentado de forma epidêmica nos países em desenvolvimento
(GARBOSSA et al., 2009). Essas doenças, na realidade brasileira, ocupam a liderança das
causas de morte e de internação hospitalar, correspondendo a 32,6% dos óbitos de causa
determinada (KEENAN et al.,2005; RENAULT et al., 2008). Apesar das inúmeras
alternativas para o tratamento da doença arterial coronariana, a revascularização do miocárdio
é uma opção com indicações precisas de médio à longo prazo, com bons resultados,
contribuindo para o aumento da expectativa e melhoria da qualidade de vida dos pacientes
com doença coronariana. A atividade física é um fator importante na prevenção primária e
secundária, bem como no tratamento das várias doenças cardiovasculares (POLOCK e
WILMARK, 1993). A inatividade física tem sido considerada um fator de risco importante
das doenças cardiovasculares (Diário Oficial da União. Portaria, 2001).

O interesse em medir a quantidade dos diferentes componentes do corpo humano iniciou-se


no século 19 e aumentou no final do século 20 devido à associação entre o excesso de gordura
corporal e o aumento do risco de desenvolvimento de doenças coronarianas, diabetes mellitus
tipo 2, ósteo-artrites e até mesmo alguns tipos de câncer (HEYWARD, 2000). Até o início do
século 20, a análise da composição corporal ainda era feita por meio de dissecação de
cadáveres, considerada até hoje a única maneira direta de medir os principais componentes do
corpo humano. Em 1940, Behnke e colaboradores iniciaram estudos que objetivavam
estabelecer métodos indiretos para determinar a composição corporal. Segundo Martin e
Drinkwater (1991), essas técnicas são divididas em três grupos: diretas, indiretas e
duplamente indiretas. O método direto, apesar de apresentar elevada precisão, tem utilidade
limitada, pois a análise é realizada por dissecação física ou físico-química de cadáveres.
A avaliação da composição corporal é importante para determinar o estado de saúde dos
indivíduos e observar a evolução em programas de dieta, exercícios físicos, e até mesmo em
intervenções cirúrgicas, como por exemplo em pacientes submetidos a cirurgia de
revascularização do miocárdio (CRM), onde o estilo de vida e a saúde do indivíduo terá
influência direta nos resultados da composição corporal. A sua análise detalhada permite a
quantificação de grande variedade de componentes corporais e torna-se de extrema
importância porque permite determinar a quantidade total e regional de gordura corporal
(FRAGOSO E VIEIRA, 2000).
1 Estudante do curso Educação Física Licenciatura do Departamento de Educação Física da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; email: aliceoliveira@alu.uern.br
2 Aluno do curso de mestrado acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Saúde e
Sociedade, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN;
juniorjorge19@hotmail.com
3 Professora adjunta do Departamento de Educação Física da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte Participante do Grupo de Pesquisa Cultura Corporal, Educação e
Desenvolvimento Humano, ivanateixeira@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 178
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O treinamento intervalado de alta intensidade (High Intensity Interval Training, HIIT), vem
sendo cada vez mais utilizado pela comunidade científica. Este método de treinamento
consiste em uma alternância de períodos de exercício aeróbio em alta intensidade com
períodos de recuperação passiva ou ativa em uma intensidade moderada-baixa, sendo
usualmente praticado em cicloergômetros ou esteiras motorizadas (TJONNA et al., 2013). A
principal vantagem deste treinamento está na capacidade de manutenção do exercício em alta
intensidade por maiores períodos de tempo em comparação ao EMC (aeróbio moderado
contínuo), garantindo um maior dispêndio energético e maior estimulação da capacidade
cardiorrespiratória máxima por sessão de exercício físico (ROGNMO et al., 2004; TRAPP et
al., 2008). Já o exercício contínuo pode desempenhar um papel significativo na perda de peso,
devido ao seu poder de aumentar o gasto de calorias (SEAGLE et al., 2009). Além disso,
aumenta a eficiência do sistema cardiorrespiratório e, consequentemente, diminui as chances
de comorbidades associadas à obesidade, como as doenças cardiovasculares. Relatou-se que o
exercício aeróbio reduz os riscos cardiovasculares, principalmente, devido à sua capacidade
de melhorar a função vascular em adultos saudáveis, em pacientes com doenças
cardiovasculares (PIERCE et al., 2008).
Objetivo: Comparar os efeitos dos diferentes tipos de treinamento na composição corporal de
indivíduos em reabilitação cardíaca.
Metodologia: O trabalho foi aprovado pelo - Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UERN
(n°2.780.722; CAAE: 83085618.7.0000.5294).

Amostra
O estudo trata-se de um ensaio clínico controlado e randomizado, composto por 13
participantes, sete foram alocados 7 (5 homens e 2 mulheres, com idade de 59 ± 9,99 anos)
no grupo de treinamento intervalado de alta intensidade, e 6 (4 homens e 2 mulheres, com
idade de 62 ± 8,16 anos) para o treinamento contínuo de moderada intensidade.
O recrutamento dos voluntários se deu, inicialmente, por meio dos dados obtidos no Hospital
Wilson Rosado na cidade de Mossoró-RN. Por meio de ligação telefônica o pesquisador
entrou em contato, informando nome e formação, e o motivo daquela ligação, título da
pesquisa, explanando como seria feito cada momento, quais procedimentos seriam realizados
caso o indivíduo aceitasse participar, foi marcada uma reunião presencial na residência de
cada indivíduo, na presença de algum familiar responsável para apresentação dos riscos e
benefícios da pesquisa.
Todos os voluntários que aceitaram participar, assinaram o Termo de consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) e preencheram uma ficha de avaliação global onde foram registrados
dados pessoais (data de nascimento, endereço, telefone de contato), dados sociodemográficos
(sexo, raça/etnia, renda, nível de escolaridade), história pregressa (doenças e cirurgias prévias,
hábitos e vícios), dados da doença (tempo de doença cardíaca) e uso de medicamentos.
O cronograma de treinamento foi montado juntamente com os voluntários, de acordo com os
horários disponíveis, mantendo o horário de início dos exercícios inalterado, durante o tempo
do protocolo experimental.
O recrutamento dos participantes também ocorreu por intermédio dos cardiologistas de
Mossoró, que foram informados sobre a pesquisa e o programa a ser desenvolvido com os
pacientes. Nesse contato era solicitado ao médico que atuasse no projeto como facilitador e
apoiador, enviando pacientes e encorajando-os a participar.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 179
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Um total de 73 pacientes que realizaram a CRM, no Centro Cardíaco do Hospital Wilson


Rosado Mossoró-RN, e que estariam na fase III da RC durante os exames foram selecionados
para participar da pesquisa. Alguns não conseguimos o contato, e outros não cumpriram os
critérios de inclusão. Somente 20 pacientes aceitaram participar da pesquisa, após o início dos
exames.

Medida da composição corporal


A composição corporal foi medida por meio do BodyMetrix (BodyMetrix®, Intelametrix,
2.5MHz) que é um equipamento de ultrassom portátil. A medida é indolor, sendo feita com o
indivíduo na posição ortostática, com o profissional habilitado na sua lateral, posicionando o
transdutor do ultrassom em cada porção corporal a ser medida. No presente estudo foram
avaliados três pontos (tríceps, suprailíaca e coxa), finalizando com um valor globalizando
todos os pontos coletados, por meio do software do equipamento (BodyView), dando um
resultado da massa magra e gorda do corpo como um todo. Os sujeitos foram avaliados
trajando roupas leves. As medidas de massa corporal foram coletadas por balança digital
(Omrom®, precisão 100g) e estatura por meio de estadiômetro (SLimFit, precisão de 0,1 cm)
fixado na parede do ambulatório.
O Índice de Massa Corporal (IMC), foi calculado a partir da divisão da massa corporal em
quilogramas (kg), pela estatura em (m), elevado ao quadrado (kg/m2).

Análise estatística: A caracterização da amostra se baseou na estatística descritiva. Os dados


são apresentados como média ± desvio padrão (DP) e porcentagem. Para testar a normalidade
e a homocedasticidade foram utilizados os testes de Shapiro Wilk e Levene, respectivamente.
Para as comparações entre as médias foi utilizada a anova com um fator de variação (TC x TI)
e medidas repetidas (pré x pós treinamento). Como post hoc foi utilizado o teste de
Bonferroni. O nível de significância adotado foi de α = 0,05.

Resultados e discussão: Os dados relacionados à composição corporal dos participantes


estão descritos na tabela 1. Não foram encontradas diferenças em nenhuma das variáveis
analisadas entre a condição pré e pós treinamento e entre os grupos TI e TC. Esses resultados
obtidos não correspondem aos parâmetros encontrados na literatura. King (2001) obteve como
resultado uma maior eficácia do treinamento intervalado do que no treinamento contínuo de
baixa intensidade com relação à melhora da composição corporal, do condicionamento físico
e da taxa metabólica de repouso. 

TABELA 1: Dados de composição corporal antes e após o treinamento intervalado e contínuo


MASSA MASSA GORDURA GORDURA IMC
CORPORAL MAGRA (%) NO CORPO EM
GRUPOS TEMPO (kg/m2)
TOTAL (kg) (%) EXCESSO
(%)

66,2 ± 12,4 20,3 ± 1,5 24,5 ± 5,0 5,7 ± 3,2 24,7 ± 2,0
PRÉ
TI

(n = 4) 64,5 ± 11,7 21,0 ± 2,0 21,8 ± 7,8 4,0 ± 4,0 24,3 ± 1,7
PÓS

TC PRÉ 66,3 ± 11,8 21,0 ± 1,4 22,3 ± 4,3 5,7 ± 4,7 26,8 ± 2,9

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 180
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(n=3) 65,0 ± 13,1 21,5 ± 0,6 20,4 ± 1,1 3,0 ± 1,4 25,4 ± 3,8
PÓS

TI - treinamento intervalado; TC- treinamento contínuo; IMC- índice de massa corporal n – números de participantes; IMC-
índice de massa corporal

Conclusão: O treinamento não provocou alterações na composição corporal,


independentemente do tipo de treinamento.

Agradecimentos: Agradeço à PROPEG e a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte


pela bolsa e pela oportunidade de participar do programa de Iniciação Científica.

Referências:

SANT’ANNA, M. S. Métodos de avaliação da composição corporal em crianças, Viçosa,


2008. No Prelo.

FRAGROSO I & VIEIRA F (2000). Morfologia e Crescimento - Curso Prático. Edições


FMH

GARBOSSA, A.; et al. Effects of physiotherapeutic instructions on anxiety of CABG


patients. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2009;24(3):359-66.
KEENAN, T. D.; et al. Bypassing the pump: changing practices in coronary artery
surgery. Chest. 2005;12(8):363-9

POLOCK, M. J.; WILMARK J. H. Exercícios na saúde e na doença. 2ª ed. Rio de Janeiro:


Medsi;1993

TJONNA, A. et al. Low- and High-Volume of Intensive Endurance Training


Significantly Improves Maximal. Oxygen Uptake after 10-Weeks of Training in Healthy
Men. PLOSOne. Vol. 8. Núm. 5. p.1-7. 2013.

ROGNMO, O et al. High Intensity Aerobic Interval Exercise is Superior to Moderate


Intensity Exercise for Increasing Aerobic Capacity in Patients with Coronary Artery
Disease. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. Vol. 11. Núm. 3. p.216-222. 2004

TRAPP, E. G, et al. The effects of high-intensity intermittent exercise training on fat loss
and fasting insulin levels of young men. Int J Obes. Vol. 32. Núm. 4. p.684-691. 2008.

RICARDO, Morgana. TREINAMENTO INTERVALADO DE ALTA INTENSIDADE:


QUEBRANDO PARADIGMAS NA REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR. Revista
Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo. v.10. n.57. p.16-28. Fev.
2016.

GL, Pierce et al. Effects of exercise training on forearm and calf vasodilation and
proinflammatory markers in recent heart transplant recipients: a pilot study. Eur J
Cardiovasc Prev Rehabil. 2008; 15: 10-18.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 181
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA DE ÁRVORES DO CAMPUS


CENTRAL DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE
DO NORTE, MOSSORÓ – RN
Carlos Walber Batista Henrique¹; Diego Nathan do Nascimento Souza²

Palavras-chave: Biodiversidade. Exótica. Levantamento. Paisagismo.

Introdução
A arborização é um trabalho contínuo que faz parte de uma cultura universal,
tratando-se de um componente de grande importância na ambientação e paisagismo de
cidades. Arborização urbana é o conjunto de árvores que geralmente varia entre
espécies que são introduzidas e se desenvolvem em áreas públicas e/ou privadas de uma
cidade, visando o bem estar socioambiental, fisiológico e econômico da sociedade local
(CABREIRA; CANTO-DOROW, 2016).
É fato que as árvores são bastante utilizadas para arborização urbana, uma
prática cultural exercida desde as primeiras cidades construídas com o intuito de
melhorar o clima, diminuir ruídos, melhorar o ar, fazer sombra, criação de microclimas
entre outros benefícios (GRAZIANO, 1994), fatores que trazem bem-estar para a
população inserida ao ambiente. Diante disso, é interessante conhecer a espécie arbórea
que está sendo introduzida em um determinado local para que não ocorram problemas
ecológicos, socioambientais e consequentemente econômicos. A arborização urbana
pode ser um processo vantajoso, mas a falta de conhecimento e planejamento pode
trazer problemas ao representar um centro de conflito nas áreas urbanas como, por
exemplo, em cidades, universidades ou em outros ambientes naturais. Segundo
Carvalho (2004), 80% das árvores existentes nas cidades são exóticas, essa margem
como cita o autor é devido ao desconhecimento de nossas espécies. Segundo (ROCHA
et al., 2004), locais arborizados proporcionam a população, o contato com o meio
ambiente, o qual proporciona sensação de liberdade, bem-estar, calmaria além de
quebrar a inércia da paisagem de concreto das cidades aproximando homem e natureza.
Assim, o presente trabalho teve como objetivo identificar, classificar e registrar
todas as árvores que estão presentes na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte
na cidade de Mossoró-RN, frente à busca de mais informações para a caatinga em áreas
urbanas, o que é de suma importância para o desenvolvimento, manutenção e
conservação do ecossistema local, servindo também de contribuição para trabalhos
futuros nessa área.

Metodologia

O levantamento florístico foi realizado no campus central da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Mossoró-RN. Em seu interior encontram-se
espécies típicas do bioma caatinga e algumas exóticas. O levantamento florístico deu-se
a partir de caminhadas aleatórias por todo o campus (blocos de salas de aula,
laboratórios, ginásio, salas da administração, centro de convivência, biblioteca, etc.) a
partir de coletas quinzenais e/ou mensais, que foram realizadas durante um ano (Agosto
de 2019 a Julho de 2020), abrangendo os períodos chuvoso e seco. As árvores foram

¹Graduando em Ciências Biológicas Bacharelado do Departamento de Ciências Biológicas da


Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; e-mail: wallberhenrique123@gmail.com.
²Professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; e-
mail: diegosouza@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 182
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

fotografadas e catalogadas seguindo-se os procedimentos sugeridos por Mori et al.


(1989), os quais incentivam fortemente que o material amostral esteja em fenofase
reprodutiva, apresentando flores e/ou frutos.
A identificação das espécies foi realizada através de morfologia comparada
com exsicatas do Herbário Dárdano de Andrade Lima (MOSS), da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido; utilizando bibliografia especializada, como chaves
taxonômicas; e, quando necessário, com o auxílio de especialistas para cada família
botânica. A classificação das famílias seguiu o sistema do Grupo da Filogenia de
Angiospermas IV (APG IV, 2016). Enquanto que o nome científico foi conferido
através de sites especializados em taxonomia vegetal, a partir dos quais se pode conferir
as espécies já catalogadas em todos os herbários do Brasil. Por fim, todos os registros
(fotografias) das árvores foram arquivadas no computador do Laboratório de Ecologia e
Sistemática Vegetal (LESV) e servirão de herbário virtual para pesquisas e
monitoramento das árvores locais em trabalhos futuros.

Resultados e Discussão

O levantamento florístico de componentes arbóreos apresentou 56 espécies,


distribuídos em 20 famílias, sendo essas: Anacardiaceae, Annonaceae, Apocynaceae,
Arecaceae, Bignoneaceae, Burseraceae, Chrysobalanaceae, Combretaceae,
Euphorbiaceae, Fabaceae, Malpighiaceae, Malvaceae, Meliaceae, Moringaceae,
Moraceae, Myrtaceae, Rhamnaceae, Rubiaceae, Rutaceae e Sapotaceae.
Dentre as famílias, as mais representativas foram a Fabaceae, com 17 espécies,
seguida por Anacardiaceae, com 8 espécies. Das 56 espécies, 21 (37,5%) são nativas e
35 (62,5%) exóticas. Assim, o número de espécies exóticas empregadas na arborização
do Campus Mossoró-RN mostra-se superior ao de espécies nativas.
A família Fabaceae é apontada como uma das famílias mais numerosas em
diversos levantamentos florísticos com espécies lenhosas na caatinga, o que demonstra
ser um padrão para a região semiárido (DA SILVA et al., 2012). Levantamentos
florísticos realizados por outras universidades UFMT, UFSM e UFBA, UFMG,
representam bem a dominância da família Fabaceae em ambientes urbanos
(LOMBARDI; MORAIS, 2003; CABREIRA; CANTO-DOROW, 2016; CARVALHO
et al., 2017; PATRÍCIO, 2017), assim como foi demonstrado no presente trabalho. A
utilização desta família na arborização urbana, pode estar relacionado a diversos fatores
relacionados a sua morfologia e fisiologia, como arquitetura da copa, fornecimento de
sombra, beleza cênica, flores coloridas, alta capacidade de dispersão de sementes e por
possuírem um alto percentual de riqueza de espécies com potencial ornamental
(CABREIRA; CANTO-DOROW, 2016).
A família Anacardiaceae apresenta características semelhantes a família
Fabaceae quanto suas vantagens para um ambiente urbano, as quais seriam diminuição
de ruídos, microclimas amenos, qualidade do ar, paisagismo, características que
melhoram o clima local, também são arvores de médio a grande porte com caules
lenhosos. No entanto, as árvores de Anacardiaceae em ambiente urbano produzem
frutos mais ricos comercialmente que as plantas de Fabaceae, o que traduz em
ambientes ótimos para maior biodiversidade local atraindo mais insetos polinizadores,
aves e animais, tornando esses ambientes mais atrativos para os cidadãos e turistas
(BARROSO 1991, BARROS 1995).
Um ponto importante que deve ser considerado na gestão de arborização
urbana é a priorização do uso de espécies nativas, pois contribui para conservação da
flora e clima local, em que as espécies nativas apresentam características que favorecem

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 183
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sua adaptação, resistindo a danos de manejo e ações antrópicas, além de contribuir para
educação e reeducação ambiental, cuja população pode fazer o reconhecimento das
espécies nativas nestes locais urbanizados (OSAKA et al., 2016). Infelizmente, não é a
realidade que se observa nas cidades brasileiras, pelo contrário, há uma desproporção
alarmante com a predominância de exóticas (ALMEIDA; RONDON NETO, 2010),
algo similar ao que se observou no presente estudo.

Conclusão

A arborização do Campus da UERN em Mossoró-RN apresenta uma riqueza de


família e espécies vegetais, destacando-se as famílias Fabaceae e Anacardiaceae. Diante
dessa ampla diversidade de espécies, destaca-se o domínio de árvores exóticas no local
de estudo. Assim, faz-se necessário à introdução de árvores nativas, sendo interessante
em setores que ainda não estejam ocupados para a realização de plantios com espécies
originárias do Brasil, tendo em vista que, as espécies já são adaptadas à região trazem
bem-estar e melhoram o microclima, além de serem importantes para conservação da
flora e do patrimônio genético.

Agradecimentos

Ao laboratório LESV, por meio do qual pude participar do programa PIBIC, o


qual me proporcionou experiência em pesquisa para que eu possa contribuir para o
bioma (caatinga) e perfeiçoar meus conhecimentos.

Referências
APG, IV – The Angiosperm Phylogeny Group. An update of the Angiosperm
Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV.
Botanical Journal of the Linnean Society, n. 181, p. 1-20, 2016.
ALMEIDA, D. N.; RODON NETO, R. M. Análise da arborização urbana de três
cidades da região norte do Estado de Mato Grosso. Acta Amazônica, Manaus, v.40,
n.4, p. 647-656, 2010.
BARROSO, G. M. Sistemática de Angiospermas do Brasil. v.2. Imprensa Universitária,
Viçosa. 1991.
BARBOSA, D. C. A.; BARBOSA, M. C. A.; LIMA, L. C. M. Fenologia de espécies
lenhosas da caatinga. In Ecologia e conservação da caatinga (LEAL, I. R.;
TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C., eds.). Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, p.657-693. 2003.
CARVALHO, P. E. R. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais,
potencialidades e uso da madeira. Colombo, PR: Embrapa Floresta, 2004. 640p.

CABREIRA, T. N.; CANTO-DOROW, T. S. do. Florística dos componentes arbóreo e


arbustivo do campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria,
RS. Ciência e Natura, Santa Maria, v. 38, n. 1, p.9-23, jan-abr 2016.

DA SILVA, B. L. R.; TAVARES, F. M.; CORTEZ, J. S. A. Composição florística do


componente herbáceo de uma área de Caatinga – Fazendo Tamanduá, Paraíba, Brasil.
Revista de Geografia (UFPE), v. 29, n. 3, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 184
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

GRAZIANO, T. T. Viveiros Municipais. Departamento de Horticultura – FCAVJ –


UNESP. Notas de Aula, 1994.

LOMBARDI, J. A.; MORAIS, P. O. Levantamento florístico das plantas empregadas na


arborização do campus da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG.
Lundiana-International Journal of Biodiversity, v. 4, n. 2, p. 83-88, 2003.

MORI, S. L.; SILVA, G. L.; CORADIN, L. Manual de manejo do herbário


fanerogâmico. Ilhéus: CEPLAC. 1989. 104 p.

OSAKA, L. K.; TAKENAKA, E. M. M.; SILVA, P. A. Arborização urbana e a


importância do planejamento ambiental através de políticas públicas. ANAP Brasil,
Tupã, v. 9, n. 14, p. 1-8, 2016.

PATRICIO, P. P. M. Florística e diagnóstico da arborização da Universidade Federal de


Mato Grosso, campus Cuiabá. 2017. 91 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais
e Ambientais), Faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato
Grosso, Cuiabá, 2017.

ROCHA, R. T.; LELES, P. S. S.; OLIVEIRA NETO, S. N. Arborização de vias


públicas em Nova Iguaçu, RJ: o caso dos bairros Rancho Novo e Centro. Revista
Árvore, Viçosa-MG, v. 28, n. 4, p. 599-607, 2004.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 185
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONHECIMENTO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM SOBRE O


BRINQUEDO TERAPÊUTICO

Jacimara Maria de Medeiros Souza1; Marcelly Santos Cossi².

¹ Estudante do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio


Grande do Norte, Campus Caicó; e-mail: jacimaramedeiros@hotmail.com.
² Professor do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Campus Caicó; e-mail: marcellycossi@uern.br
Palavras-chave: Enfermagem pediátrica. Jogos e Brinquedos. Saúde da Criança.

Introdução
A assistência à criança vem se estabelecendo de forma concreta desde 1990, ano em
que surgiu o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA assegura o acesso integral
às linhas de cuidado voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema
Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 2006).
O brinquedo terapêutico (BT) é caracterizado como uma estratégia que possibilita a
dramatização de papéis que tenham como consequência a diminuição da ansiedade e do
estresse da criança. Ainda, o BT pode ser utilizado por qualquer profissional da enfermagem,
em qualquer criança e no local que seja adequado para ambas (LEITE; SHIMO, 2007).
Por isso, a necessidade da aproximação dos profissionais de enfermagem sobre o uso
do BT, de modo a propor mudanças ao atendimento infantil, colaborar com a humanização da
assistência a saúde e compreender o entendimento da criança sobre o seu processo de
hospitalização.
Logo, tais considerações conduziram a necessidade de responder à seguinte questão
de pesquisa: qual o conhecimento dos profissionais de enfermagem acerca do brinquedo
terapêutico?
Portanto, objetivou-se investigar o conhecimento dos profissionais de enfermagem
sobre o brinquedo terapêutico.

Metodologia
Estudo exploratório do tipo transversal, de abordagem qualitativa. Realizado com
onze profissionais da equipe de enfermagem que atuam no setor de pediatria e obstetrícia do
Hospital do Seridó (HS), localizado na cidade de Caicó.
A coleta de dados ocorreu no período de Abril a Outubro de 2019, atendeu aos
critérios éticos e utilizou-se de um roteiro de entrevista semiestruturada contendo nove
perguntas fechadas relacionadas à caracterização dos participantes e oito perguntas abertas
relacionadas a temática. As entrevistas foram gravadas e os dados obtidos foram transcritos e
tabulados.
Os resultados obtidos foram organizados em duas etapas. Nos referentes à
caracterização dos participantes, os aspectos sócio/demográficos foram descritos contendo as
variáveis relevantes para o estudo A etapa de análise das falas foi por meio da análise de
conteúdo (MINAYO, 2007). Realizou-se a leitura flutuante do material empírico e a
constituição do corpus, considerou-se as concordâncias entre as opiniões dos sujeitos, bem
como as opiniões de maior relevância, desconsiderando impressões vagas, que não se
aproximaram do objetivo deste estudo.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 186
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Essa produção científica possibilitou uma reflexão acerca do atendimento prestado às


crianças internas na pediatria do HS e ofereceu informações para serem geradas ferramentas
voltadas à diminuição do estresse da hospitalização infantil e para a humanização da
assistência em enfermagem pediátrica.

Resultados e Discussão
A caracterização dos membros da equipe de enfermagem evidenciou que a (46%)
estão entre 41 e 55 anos e (82%) dos participantes são do sexo feminino. Quanto ao estado
civil, 45% solteiros e um mesmo quantitativo é casado (45%). Um percentual de 54% possui
de 2 a 3 filhos. No tocante à formação e qualificação profissional, 72% finalizaram o ensino
médio em escola pública; 54% são enfermeiros; 28% técnicos de enfermagem e 18% auxiliares
de enfermagem. No que se refere à experiência profissional, 46% tem entre 16 e 30 anos de
exercício profissional e 72% da população total possui de 1 a 15 anos de exercício da profissão
na pediatria.
A análise das falas resultou na organização de duas categorias: Conhecimento sobre
o brinquedo terapêutico, sua importância e disponibilidade de recursos; facilidades e
dificuldades no uso do brinquedo terapêutico.
Na primeira categoria observou-se que a maioria dos participantes não conhecia o
BT, ficando em dúvida e confundindo com o brinquedo normativo que é desempenhado no
hospital, além disso, os participantes relacionaram o BT à utilização do parquinho, escolinha
e brinquedoteca. Apesar de não conhecerem realmente de que se trata o BT, todos
reconheceram a importância do brinquedo e do brincar no tratamento da criança hospitalizada.
Apenas um participante demonstrou visão mais coerente com o que preconiza o BT, mas não
evidenciou sua finalidade terapêutica e ainda o citou como recreação.

Aqui no hospital já é implantado, tem a pracinha com parquinho e tem a classe


hospitalar com os brinquedos também, mas com a enfermagem eu nunca ouvi falar
(ENTREVISTADO 8).

Ouvi falar sobre o BT na especialização. Na faculdade, como já faz muitos anos que
me formei, não paguei nada relacionado. O brinquedo terapêutico traz uma quebra
na ansiedade das crianças hospitalizadas e é como se fosse uma recreação para eles
mesmo tendo o objetivo de ensinar a eles. Mas eu não conheço os tipos
(ENTREVISTADO 4).

Para Marques et.al, (2016), o BT é uma ferramenta que pode amenizar o desconforto
da criança no ambiente hospitalar, diminuindo a ansiedade e ajudando a criança entender sobre
seu processo de hospitalização, porém para sua aplicação é necessário material lúdico
específico para comprovação de sua efetividade.

Eu acho que de alguma forma o brinquedo ajuda sim no tratamento das crianças
hospitalizadas. Muitas vezes quando se toca em brinquedo nesse ambiente a criança
fica mais tranquila, é um fato que eles saem daquela tensão que eles estão, devido à
patologia que existe neles e vão desparecer um pouco, brincar com o brinquedo e se
distrair, por isso eu acho que ajuda muito no tratamento da crianças, pois alivia o
estresse (ENTREVISTADO 11).

Quanto ao brinquedo normativo, este é desenvolvido na classe hospitalar, um espaço


que possibilita o acompanhamento pedagógico educacional, garantindo a continuidade do
processo de desenvolvimento escolar durante a internação.
De acordo com Malaquias et. al, (2014), o BT é frequentemente comparado apenas
ao ato normativo, relacionando-o exclusivamente ao brincar e à distração da criança, o que
limita a função terapêutica do brinquedo.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 187
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Sobre os recursos necessários para a empregabilidade do BT na prática, os


entrevistados relataram que os recursos humanos são os mais importantes, destacando a
necessidade de profissionais capacitados para a sua utilização. Porém, em nenhum momento
eles se reconhecem como parte desse recurso, pois não se sentem capacitados para desenvolver
o BT. Todos relataram que o serviço dispõe de brinquedos, livros de histórias, jogos e
parquinho na brinquedoteca, que podem ser utilizados para aplicabilidade do BT.
Ainda, a maioria dos participantes relataram que a enfermagem não tem acesso a
esses recursos. Apenas três profissionais afirmaram ter acesso e utilizarem historinhas e
brinquedos da brinquedoteca para acalmar as crianças na enfermaria.
Aqui tem os brinquedos, tem as residentes que fazem algum tipo de terapia com eles,
só não sei se é esse que você está falando. Lá tem jogos, velocípede, bonecas,
bicicletinha muita coisa que utilizam para brincar (ENTREVISTADO 1).

Sempre no horário que está aberto já levei eles para lá (brinquedoteca) e fiquei com
eles brincando e pintando. Eu já tive também alguns casos de ir pegar alguns
brinquedos lá e levar para enfermaria e brincar com eles (ENTREVISTADO 10).

Na segunda categoria que destaca as facilidades e dificuldades demonstradas pelos


participantes para a utilização do BT, notou-se que, apesar do desconhecimento desse recurso,
a maioria dos participantes relataram a pertinência em utilizá-lo em suas práticas,
reconheceram a necessidade de capacitações e a importância da universidade estar inserida
nos serviços de saúde como mecanismo facilitador.
Apenas dois profissionais explanaram a impossibilidade de utilização, devido à falta
de tempo e à sobrecarga de trabalho da equipe de enfermagem.
Se tivesse uma pessoa para ensinar como utilizar, eu não teria nenhuma dificuldade,
pois sou aberta a coisas novas que melhorem a assistência à saúde das crianças
internas. Eu, sem dúvida, apoiaria (ENTREVISTADO 7).

Um mecanismo facilitador seria um projeto de extensão em parceria com as


universidades para dar suporte aos profissionais e ensinar como utilizar o brinquedo
terapêutico. Porque os profissionais veriam os bons resultados e ficariam motivados
a executarem (ENTREVISTADO 4).

A tríade ensino-pesquisa-extensão proporciona uma maior participação de discentes


e docentes nos serviços de saúde. Esta integração universidade-serviço possibilita o
compartilhamento de novas experiências, que contribuem para fortalecimento profissional de
acadêmicos e enfermeiros, incentivando o avanço científico e o aperfeiçoamento da
enfermagem (GÓIS et al., 2018).
Eu não teria dificuldades e nem facilidades, teria determinação para não utilizar. Se
me deixassem só na pediatria e me desse recursos humanos para me ajudar eu até
poderia tentar. Na estrutura que funciona aqui, Deus me livre não quero esse
brinquedo (ENTREVISTADO 8).

Argumentos relacionados às dificuldades internas e à falta de recursos humanos para


utilização do BT, não justificam a privação do direito da criança brincar (GARANHANI;
VALLE, 2012).

Conclusão
A população do estudo possui conhecimento restrito sobre o BT. Porém, reconhecem
a importância do brincar para a criança durante a hospitalização. Os participantes não se
sentem capacitados para inseri-lo em sua prática diária, por isso não se reconhecem como

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 188
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

recurso humano disponível no hospital para aplicar o BT, destacando a necessidade de


educação permanente para os profissionais do setor da pediatria e reconhecendo a inserção da
universidade no serviço como um recurso facilitador.
A pesquisa contribuiu para a avaliação crítico-reflexiva da assistência de enfermagem
em pediatria, reconhecendo a necessidade da educação permanente para equipe de
enfermagem e a importância da inclusão do tema teórico/prático sobre o BT nos cursos
técnicos e superiores de enfermagem.
Os resultados alcançados contribuem para a construção do conhecimento científico
acerca do BT para a enfermagem, amparado por uma assistência à saúde da criança
humanizada e holística.

Agradecimentos
Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UERN) por proporcionar
a aproximação com a pesquisa.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Estatuto da Criança e do Adolescente / Ministério da
Saúde. Brasília. Editora do Ministério da Saúde, 2006. 96 p.

GARANHANI Mara Lúcia, VALLE Elizabeth Ranier Martins do. O significado da


experiência cirúrgica para a criança. Ciências, cuidado e saúde, v. 11, n. 5. 2012. Disponível
em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/17084. Acesso em:
05 de Fev. de 2020.

GÓIS, Amanda Regina da Silva; SANTOS, Cibelle Nayara Sena dos; LIMA, Ingrid Andrade;
SILVA, Vívian Ferreira da; GONÇALVES, Vitória Hadassa Gomes Barbosa; ABRÃO,
Fátima Maria da Silva. Group of studies and research in nursing: teaching, research and
extension experiences. Revista de Enfermagem da UFPI, v. 7, n. 3. 2018. Disponível em:
https://revistas.ufpi.br/index.php/reufpi/article/view/751. Acesso em: 19 de Fev. de 2020.

LEITE, Tânia Maria Coelho, SHIMO Antonieta Keiko Kakuda. O brinquedo no hospital uma
análise da produção acadêmica dos enfermeiros brasileiros. Escola Ana Nery, v. 11, n. 2.
2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-
81452007000200025&script=sci_arttext. Acesso em: 25 de out. de 2018.

MALAQUIAS, Tatiana da Silva Melo, BAENA, Juliane Ayres, CAMPOS, Ana Paula dos
Santos, MOREIRA, Simone Raquel Klaus, BALDISSERA, Vanessa Denardi Antoniassi,
HIGARASHI Ieda Harumi. O uso do brinquedo terapêutico durante a hospitalização infantil
saberes e práticas da equipe de enfermagem. Ciências cuidado e saúde, v. 13, n. 1. 2014.
Disponível em:
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/21802. Acesso
em: 15 de jan. de 2020.

MARQUES, Elisandra Paula; GARCIA, Tirzá Maris Bruneto; ANDERS, Jane Cristina; LUZ,
Juliana Homem da; ROCHA, Patricia Kuerten; SOUZA Sabrina de. Lúdico no cuidado à
criança e ao adolescente com câncer: perspectivas da equipe de enfermagem. Escola Anna
Nery, v. 20, n. 3, 2016.

MINAYO Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em


saúde. 10 ed. São Paulo. Hucitec, 2007.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 189
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONHECIMENTO DEFICIENTE EM PACIENTES SUBMETIDOS À


HEMODIALISE: PROPOSIÇÃO DIAGNÓSTICA

Maria Gabriela Dantas de Azevedo Silva1; Bárbara Verônica Damascena de Sousa Medeiros2;
Tayná Martins de Medeiros3; Jéssica Dantas de Sá Tinôco4.

Palavras-chave: Processo de Enfermagem. Doença Renal Crônica. Diálise Renal. Educação


em Saúde.
Introdução:
O crescimento da longevidade da população induz ao aparecimento das doenças
crônicas, destacando-se a Insuficiência renal crônica (IRC) como um problema de saúde pública
em todo o mundo. Na literatura, encontram-se artigos que apontam alguns problemas de
enfermagem evidenciados em pacientes hemodialíticos, em que o Conhecimento Deficiente se
tornou o principal fator causal da não adesão ao regime terapêutico, especificamente quando se
trata de enfermidades crônicas, (OLIVEIRA, et al, 2013).
O Processo de Enfermagem possibilita ao enfermeiro a elaboração de um plano
assistencial específico que compreende todos os cuidados com o paciente, a identificação e
monitoração dos efeitos adversos do tratamento, bem como as complicações da própria doença
(FRAZÃO; ARAÚJO; LIRA, 2013).
Estudos de validação diagnóstica são realizados em todo o mundo no sentido de
aprimorar a linguagem profissional da enfermagem, tornando o processo de raciocínio
diagnóstico preciso, com vistas a resultados positivos em saúde. As etapas do processo de
validação incluem: análise de conceito, análise de conteúdo por especialistas e validação clínica
(LOPES; SILVA; ARAÚJO, 2012).
Dentre os problemas de enfermagem evidenciados na clientela em tratamento
hemodialítico, a literatura aponta o Conhecimento Deficiente como o principal fator causal da
não adesão ao regime terapêutico, especificamente quando se trata de enfermidades crônicas.
A falta de conhecimento apresenta-se frequente relacionada a enfermidade bem como ao regime
de tratamento em que se encontra submetido, seja ele medicamentoso ou não-medicamentoso
(OLIVEIRA, et al, 2013).
Desse modo, a partir do fornecimento de indicadores diagnósticos que melhor
caracteriza a problemática nesse paciente, o trabalho tem-se o objetivo de analisar a adequação
dos indicadores diagnósticos e referências empíricas conhecimento deficiente nos
hemodialíticos a partir da opinião de um grupo de especialistas.

Metodologia:
Trata-se de uma análise de conteúdo por especialistas para adequação dos indicadores
clínicos do diagnóstico de enfermagem conhecimento deficiente para a clientela submetida à
hemodiálise.
1- Estudante do curso de enfermagem do Departamento de enfermagem Campus
Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
gabrielaadaantas@gmail.com
2- Estudante do curso de enfermagem do Departamento de enfermagem Campus
Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
barbara_veronica.01@hotmail.com
3- Estudante do curso de enfermagem do Departamento de enfermagem Campus
Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
tayna.martins14@hotmail.com
4- Professor do Departamento de enfermagem da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Líder do Grupo de Pesquisa Enfermagem Campus Caicó -
GRUPECC; e-mail: jessicadantas@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 190
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A seleção dos especialistas ocorreu através de uma busca na plataforma Lattes, do


Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq). Em seguida,
adotou-se a estratégia proposta por Lopes, Silva e Araújo (2012), no qual se realiza a divisão
em dois grupos de especialistas, um com enfermeiros atuantes na prática clínica em
hemodiálise, com no mínimo 5 anos de experiência, e outro grupo com especialistas em
diagnósticos de enfermagem.
Assim, o instrumento foi enviado para a apreciação de cinquenta e seis especialistas.
Desses, oito especialistas retornaram o instrumento preenchido, compondo a amostra final. Esse
instrumento de pesquisa enviado aos especialistas foi desenvolvido a partir dos resultados da
revisão integrativa da literatura, e contém indicadores clínico do diagnóstico de enfermagem
conhecimento deficiente em pacientes submetidos à Hemodiálise e as suas referências
empíricas.
A adequação ou não das características definidoras para cada um dos diagnósticos do
conhecimento deficiente foram mensuradas a partir de uma escala Likert, como propõem Lopes,
Silva e Araújo (2012), onde 1 - indicava que a característica definidora NÃO é adequada ao
diagnóstico a qual se propõe; 2 - a característica definidora é POUQUÍSSIMA adequada ao
diagnóstico que se propõe; 3 - a característica definidora é DE ALGUM MODO adequada ao
diagnóstico que se propõe; 4 - a característica definidora é CONSIDERAVELMENTE
adequada ao diagnóstico que se propõe; e 5 - a característica definidora é MUITO adequada ao
diagnóstico que se propõe.
Seguindo a mesma escala descrita acima foram julgadas também as definições
operacionais, obtidas através da primeira etapa. Os dados obtidos foram organizados por meio
de planilhas no programa Microsoft Office Excel 2012 e analisados estatisticamente a partir do
pacote estatístico SPSS versão 25.0.
Além disso, os especialistas ainda tiveram a oportunidade de acrescentar comentários
nesta etapa, no qual indicava a relevância de acrescentar a sugestões de modificação, retirada
ou acréscimo as características definidoras propostas.

Resultado e Discursão:
A avaliação realizada pelos especialistas em relação aos indicadores diagnósticos e as
definições operacionais gerou os seguintes resultados:
Tabela 1. Concordância entre os especialistas acerca da adequação dos indicadores
diagnósticos e definições operacionais propostas. Caicó, 2020.

Indicadores diagnósticos Adequado(%) Não Adequado(%) IVC

Características definidoras
Comportamento inapropriado 87,5 12,5 0,8
Conhecimento insuficiente relacionado à patologia 87,5 12,5 0,8
Desempenho inadequado em um teste 87,5 12,5 0,8
Seguimento de instruções inadequado 87,5 12,5 0,8
Conhecimento insuficiente relacionado ao tratamento 87,5 12,5 0,8
Conhecimento insuficiente acerca das ações de autocuidado 75,5 25,5 0,7
Não seguimento do tratamento 100 0 1,0
Aumento do número de intercorrências clínicas 87,5 12,5 0,8
Fatores causais
Baixo grau de escolaridade 87,5 12,5 0,8
Crenças populares que interferem no tratamento 75,5 25,5 0,7
Limitações físicas 63,0 37,0 0,6
Falta de apoio familiar 87,5 12,5 0,8

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 191
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Condições sociodemográficas desfavoráveis 100 0 1,0


Conhecimento insuficiente sobre recursos 100 0 1,0
Informações incorretas apresentadas por outros 100 0 1,0
Informações insuficientes 87,5 12,5 0,8
Interesse insuficiente em aprender 87,5 12,5 0,8
Alteração na função cognitiva e na memória 100 0 1,0

Assim, os indicadores diagnósticos propostos apresentaram bom índice de validade de


conteúdo entre os especialistas. Apenas os indicadores: Conhecimento insuficiente acerca das
ações de autocuidado; Crenças populares que interferem no tratamento; e Limitações físicas
apresentaram IVC menor que 0,8.

Conclusão:
Conclui-se que, os especialistas julgaram como adequadas as seguintes características
definidoras para o diagnóstico conhecimento deficiente em pacientes submetidos à
hemodiálise: Comportamento inapropriado; Conhecimento insuficiente relacionado à
patologia; Desempenho inadequado em um teste; Seguimento de instruções inadequado;
Conhecimento insuficiente relacionado ao tratamento; Não seguimento do tratamento;
Aumento do número de intercorrências clínicas. E como fatores causais: Baixo grau de
escolaridade; Falta de apoio familiar; Condições sociodemográficas desfavoráveis;
Conhecimento insuficiente sobre recursos; Informações incorretas apresentadas por outros;
Informações insuficientes; Interesse insuficiente em aprender; e Alteração na função cognitiva
e na memória.
Apenas os indicadores diagnósticos: Conhecimento insuficiente acerca das ações de
autocuidado; Crenças populares que interferem no tratamento; e Limitações físicas foram
julgados como inadequados. Assim, as sugestões foram acatadas e reformuladas.
Com isso, a partir da dos resultados e discussão, evidencia-se a relevância do estudo
para construção e identificação dos indicadores clínicos para o diagnóstico. Dessa forma a
presença desses indicadores para mensurar a existência do diagnóstico conhecimento deficiente
veio com o intuito facilitador para que os profissionais consigam mensurar de forma mais
precisa a existência desse diagnóstico.
Por fim, o estudo apresentou certa limitação relacionada ao pequeno número de artigos
que abordasse a temática, assim como, apresentou um número reduzido de respostas dos
especialistas. É importante destacar que no geral as sugestões se resumem ao detalhamento e
indicação da decisão sobre a ocorrência ou não do indicador diagnóstico. Com isso e todas as
outras sugestões feitas, deixa clara a importância de saber a opinião de especialistas da área
para o aperfeiçoamento da pesquisa.

Referências:
FRAZÃO, Cecília Maria Farias de Queiroz; ARAÚJO, Adriana Dias de; LIRA, Ana Luisa
Brandão de Carvalho. Implementation of nursing process to the patient submitted to
hemodialysis. Rev Enferm UFPE. 2013; 7(Esp):824-30.

LOPES, Marcos Venícios de Oliveira; SILVA, Viviane Martins da; ARAÚJO, Thelma Leite
de. Methods for Establishing the Accuracy of Clinical Indicators in Predicting Nursing
Diagnoses. International Journal of Nursing Knowledge. v. 23, n. 3, out, 2012.

OLIVEIRA, Edina Araújo Rodrigues, et al, Perfil epidemiológico de pacientes renais crônicos
em tratamento hemodialítico: um estudo descritivo. Rev Multiprofissional em Saúde do
Hospital São Marcos. 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 192
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONHECIMENTO E PRÁTICAS DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE E


DAS GESTANTES NO USO DE PLANTAS MEDICINAIS: UMA
PESQUISA-AÇÃO

Maria Valéria Chaves de Lima1; Thaina Jacome Andrade de Lima2; Kalyane Kelly Duarte de
Oliveira3

Palavras-chave: Plantas Medicinais. Gravidez. Fitoterapia.

INTRODUÇÃO
O uso das plantas medicinais é uma prática difundida em todo mundo, seu uso é
essencial para muitas terapêuticas desde os tempos antigos até os dias atuais. Dados recentes
apresentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) demonstram que aproximadamente
68 a 80% da população mundial que reside em países em desenvolvimento necessitam de
plantas medicinais para seus cuidados primários em saúde. Devido a isso e estimulados pela
OMS, inúmeros países criaram ambientes, ações e políticas para esse uso adequado dessa
prática.
No Brasil, juntamente com a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPICS) instituída em fevereiro de 2006 criou se a Política Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) que entrou em vigor em junho do mesmo ano e
que serviu de partida para que logo após novas PIC’s também fossem implementadas nos
serviços (CORREA; SOARES; MUCCILLO-BAISCH, 2018).
Além disso, a fitoterapia e o uso de plantas medicinais apresentam-se ainda como
uma identidade cultural de povos de diferentes tipos e gerações repleta de lendas e mitos. No
Brasil, por exemplo, está prática surgiu com os indígenas e foi formulando sua identidade aos
poucos, sendo adaptada e complementada também pelas culturas europeias e africanas. A
flora do país ou do ambiente também diz muito sobre como será a realização desta pratica
nele, no caso do Brasil que tem uma flora abrangente e diversificada, a fitoterapia é
basicamente uma fonte histórica cultural e social do povo brasileiro estando presente
fortemente na atenção primaria (IBIAPINA et al, 2014).
Contudo embora seja um tratamento que de fato é eficaz, limita-se a um
conhecimento repassado de pessoa para pessoa, mas o uso da de plantas medicinais deve ser
algo observado e ensinado pelos profissionais de saúde devido ao fato de que estas possuem
composições químicas que precisam ser dosadas adequadamente.
No caso das gestantes que é um grupo que merece extrema atenção esse uso é
corriqueiro, muitas vezes não informado aos profissionais de saúde. Dado o exposto de que
algumas dessas ervas podem ocasionar efeitos tóxicos teratogênicos ou abortivos para mãe e
para o bebê. Ao pensar assim, leva se em conta o poder que algumas dessas plantas têm para
atravessar a barreira placentária (NUNES, 2016).
Portanto, levando-se em conta os aspectos abordados nesse estudo questiona-se: Qual
o conhecimento dos profissionais de saúde sobre as plantas medicinais? Como acontece a
indicação de uso para as gestantes? Qual o conhecimento das gestantes sobre as plantas
medicinais? Como acontece o uso dessas plantas?

1
Discente do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado de
Pau dos Ferros CAPF E-mail:valerialima13@hotmail.com
2
Discente do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado de
Pau dos Ferros CAPF E-mail: thainajacome@hotmail.com
3
Professora Doutora do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus
Avançado de Pau dos Ferros CAPF E-mail: kenfoliveira@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 193
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A pesquisa tem como pressuposto que existe o uso de plantas medicinais pelas
gestantes, no entanto esse uso não é por indicação de profissionais de saúde, mas é baseado na
crença popular e não no conhecimento científico. E ainda, que os profissionais de saúde não
indicam o uso de plantas medicinais pelas gestantes por limitação de conhecimento sobre o
uso das plantas durante a gestação.
Portanto o objetivo deste trabalho é analisar o conhecimento e a prática dos
profissionais de saúde e das gestantes no uso de plantas medicinais.

METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa que se utiliza da
técnica de pesquisa-ação. A pesquisa foi desenvolvida na cidade de Pau dos Ferros, situada
no estado do Rio Grande do Norte, em 5 Unidades básicas de saúde. Participaram da
pesquisa 5 médicos, 6 enfermeiros, 9 agentes comunitários de saúde, e 16 gestantes .A coleta
de dados foi realizada através de entrevista semiestruturadas e individual com perguntas
fechadas e abertas propostas por um roteiro e também por seminários com gestantes e
profissionais, sendo que alguns destes seminários foram realizados na modalidade online
devido a pandemia do Covid-19. O roteiro utilizado para as entrevistas continha a
caracterização dos sujeitos da pesquisa e logo após perguntas especificas sobre o tema.
Os profissionais aptos a particpar ds pesquisa serão aqueles que atuam na
assistencia e realizam pré-natal há mais de 6 meses nesta mesma função, e serão excluidos
aqueles que estiverem de férias de licença ou que exerçãm cargos administrativos.Quanto as
gestantes participaram aquelas cadastradas pelas unidades básicas de saúde e que possuam a
partir de 18 anos.
Os dados coletados foram analisados pelo método de análise de conteúdo de
Laurence Bardin.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em relação a caracterização dos participantes da pesquisa na categoria profissionais
70% eram do sexo masculino; 55% deles possui tempo de formação superior a 5 anos; 35%
atua na estratégia de saúde da família a qual respondeu a entrevista por menos de 1 ano, 35%
atua a mais de 5 anos, e 25% atua entre 1 a 5 anos.
Quanto as gestantes participantes: 81,25% possuem mais de 20 anos; 50% das
entrevistadas se encontravam no 1º trimestre de gravidez. Período de extrema atenção para
esta pesquisa visto os riscos de teratogenicidade com diferentes tipos de compostos durante
está fase da gravidez. Santana; Silva, (2019) traz em seus estudos que o uso de plantas
medicinais sem indicação e em períodos específicos como o primeiro e o último semestre
podem gerar riscos de problemas na formação do feto assim como aborto.
Sobre o estado civil das gestantes 62,5% são solteiras; 37,25% delas terminaram o
ensino médio, 25% não concluíram o ensino médio,6,25% possui apenas o fundamental
completo,25% o fundamental incompleto e 6,25% chegou a ingressar no ensino superior,
mas não concluiu a formação.

O uso de plantas medicinais


Através da análise do discurso dos profissionais e da separação destes em categorias,
evidencia-se duas características importantes: A primeira delas é que os profissionais de
saúde não recebem formação adequada quanto a prescrição e uso de plantas medicinais,
sendo que o conhecimento que possuem sobre o tema foi adquirido pelo conhecimento
popular e pela própria convivência em comunidade. A segunda evidência é a de que o tema
não é incluído nas consultas, ainda que a maioria dos profissionais acredite que o uso de
plantas medicinais e seus derivados durante a gravidez seja prejudicial ao feto.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 194
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Esses resultados podem ser reflexo da falta de disciplinas que abordem o tema
dentro das matrizes curriculares dos cursos de formação, assim como podem ser uma
representação da falta de incentivo adequado dos governos quanto ao repasse financeiro para
implementação e prescrição de produtos e plantas medicinais nos ambientes públicos de
saúde. E de modo geral o pouco conhecimento profissional sobre plantas medicinais aponta a
triste perca de uma terapêutica integradora e proporcionadora de benefícios a saúde e de
vínculos entre profissional e usuário (JÚNIOR; et al 2016).
Em relação a gestantes ficou claro que elas conhecem utilidades das plantas
medicinais, e algumas até relataram uso em outras fases da vida, no entanto durante o período
de gravidez suspenderam a prática por apresentarem dúvidas, principalmente se há benefícios
neste uso ou se existem apenas malefícios. As participantes afirmaram conhecer plantas
capazes de gerar efeitos abortivos, no entanto alegaram não receber orientações quanto a isso
nas consultas rotineiras do pré-natal, apontando que este conhecimento vem de seus
antepassados ou até mesmo de sites da internet.
Portanto a busca dessas gestantes em entender ou conhecer para que servem as
plantas medicinais expõe a necessidade de interpor esse ponto no contexto das consultas
tendo em vista a premissa de redução de riscos no caso de plantas prejudiciais a gravidez.
Assim como a diminuição de desconfortos tendo em vista as plantas indicadas.

Pesquisa-ação
Devido a modalidade de pesquisa-ação no trabalho, realizou-se dois seminários com
gestantes e profissionais em duas unidades básicas de saúde vinculadas a pesquisa. Em
ambos os seminários se trabalhou o uso seguro das plantas medicinais. Produziu-se um
folheto com a listagem das plantas medicinais e fitoterápicos mais utilizados na região e suas
indicações e contraindicações para o período gestacional. Somado a isso incentivou-se e
capacitou-se as gestantes quanto a realização do escalda-pés, atividade a qual também se
utilizam de compostos de plantas, e se distribui receitas para a produção de repelentes
caseiros em episódios de alergia ou desconforto em relação ao tradicional.
Realizou-se também um seminário online vinculado a um dos grupos de extensão da
Faculdade de Enfermagem FAEN/UERN que trabalha com grupos de gestantes. Para
realização deste seminário utilizou-se a plataforma Google Meet para discussão dos temas,
tentou-se preservar a mesma ordem de atividades realizadas nos momentos presenciais,
adaptando de forma possível o encontro as ferramentas online sem que esse perdesse sua
qualidade e essência informativa e construtiva.

CONCLUSÕES
Diante dos resultados encontrados evidenciou-se o uso de plantas medicinais pela
população. No entanto é um saber que necessita ser aprimorado e que também merece
atenção dos profissionais. Pois, embora estes não possuam o conhecimento apropriado e
suficiente no momento, devem aperfeiçoar –se e implementar essa prática em sua rotina de
trabalho, visando o uso seguro dessas plantas bem como a valorização da cultura da
população e sua participação no processo terapêutico e promocional de saúde.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte por apoiar o
projeto e fornecer a bolsa. A todos profissionais e gestantes que participaram da pesquisa
permitindo que esses dados fossem produzidos.

REFERÊNCIAS:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 195
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CORREA, Natalia; SOARES, Maria Cristina Flores; MUCCILLO-BAISCH, Ana Luiza.


Conhecimento do tema plantas medicinais e fitoterápicos como instrumento tecnológico na
formação dos acadêmicos de enfermagem. VITTALLE-Revista de Ciências da
Saúde, v. 30, n. 2, p. 38-46, 2018. Disponível em
https://periodicos.furg.br/vittalle/article/view/7496 Acesso em 08 de Março de 2019.

DUARTE, Ana Flávia Schvabe et al. O uso de plantas medicinais durante a gravidez e
amamentação. Visão Acadêmica, v. 18, n. 4, 2018. Disponível em
https://revistas.ufpr.br/academica/article/view/55983/34825 Acesso em 11 de setembro de
2020.

IBIAPINA, Waléria Viana et al. Inserção da fitoterapia na Atenção Primária aos usuários do
SUS. Rev Ciênc Saúde Nova Esperança, v. 12, n. 1, p. 58-68, 2014.Disponível em
<http://www.facene.com.br/wp-
content/uploads/2010/11/INSER%C3%87%C3%83O-DA-FITOTERAPIA-NA-
ATEN%C3%87%C3%83O-PRIM%C3%81RIA-AOS-USU%C3%81RIOS-DO- SUS.pdf >
Acesso em 08 de março de 2019

NASCIMENTO JÚNIOR, B. J. et al. Avaliação do conhecimento e percepção dos


profissionais da estratégia de saúde da família sobre o uso de plantas medicinais e fitoterapia
em Petrolina-PE, Brasil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 18, n. 1, p. 57-66,
2016. Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-
05722016000100057&script=sci_arttext&tlng=pt Acesso em 11 de setembro de 2020.

NUNES, Josefina Dorotéa. UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS DURANTE A


GESTAÇÃO. 2016. 55 f. TCC (Graduação) - Curso de Enfermagem, Faculdade de
Enfermagem Nova EsperanÇa de MossorÓ (facene/rn), Mossoró/rn, 2016.

SANTANA, Lourenço Luis; DA SILVA, Ana Cláudia Abreu. Os Riscos do Uso de Plantas
Medicinais Durante o Período Gestacional. Acta Toxicológica Argentina, v. 26, n. 3, 2019.
Disponível em http://ppct.caicyt.gov.ar/index.php/ata/article/view/13108/pdf Acesso em 10
de setembro de 2020.

SCHIAVO, Morgana et al. Conhecimento sobre plantas medicinais por mulheres em


processo de envelhecimento. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, v. 38, n. 1, p. 45-
60, 2017. Disponível em
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminabio/article/view/27279/22633 Acesso em 10
de março de 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 196
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DEPRESSÃO, UMA DOENÇA NEUROINFLAMATÓRIA: REVISÃO


SISTEMÁTICA

Maria Alicia Borges Morais1; Dayane Pessoa de Araújo2


Palavras-chave: Citocinas. Inflamação. Neuroinflamação. Transtorno Depressivo.

INTRODUÇÃO

Os transtornos depressivos, dentre os quais se inclui o Transtorno Depressivo Maior


(TDM), caracterizam-se pela sensação de tristeza, vazio e irritabilidade, atrelada a distúrbios
somáticos e/ou cognitivos que exercem impacto sobre o estado global dos indivíduos (DSM-
5, 2014). De acordo com o documento Depression and Other Common Mental Disorders
publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o TDM envolve sintomas como
melancolia, perda de interesse e prazer, além de diminuição da energia; a depender de sua
duração ou severidade, pode ser classificado como leve, moderado, severo ou distimia (WHO,
2017).
Relatórios globais estimam que 322 milhões de pessoas vivem com depressão no
mundo, atingindo uma proporção de 4,4% da população. Esse número aponta um aumento de
18,4% dos casos entre 2005 e 2015 (WHO, 2017).
As bases fisiopatológicas dos transtornos depressivos há muito vêm sendo explicadas
a partir da teoria monoaminérgica. Esta afirma que a depressão é resultante da diminuição
patológica da neurotransmissão das aminas biogênicas serotonina (5-HT) e norepinefrina
(NE), que desempenham papel essencial na modulação do humor, motivação e recompensa
(BERGER; ROTH, 2014).
Apesar de amplamente difundida, a teoria monoaminérgica da depressão apresenta
algumas limitações, principalmente no que diz respeito às causas dos distúrbios
monoaminérgicos e à taxa de refratariedade ao tratamento com antidepressivos, evidenciando
incongruências ainda não elucidadas (VISMARI; ALVES; PALERMO-NETO, 2008).
Estudos recentes têm defendido a relação entre o sistema imunológico e o
desenvolvimento de distúrbios psiquiátricos. Sugerem que processos inflamatórios no sistema
nervoso periférico e no sistema nervoso central estão intimamente associados a quadros de
depressão (HONG; KIM; IM, 2016). Tais achados revelam um novo olhar sobre os
mecanismos envolvidos na fisiopatologia do transtorno, mas, são necessárias maiores
investigações para atestar a factibilidade da hipótese neuroinflamatória da depressão.
O presente estudo pretende correlacionar o processo de neuroinflamação, bem como
os seus mediadores, ao desenvolvimento e progressão da depressão, de modo a caracterizar o
transtorno e contribuir para o surgimento de terapias mais eficazes para o quadro, haja vista o
crescente número de casos em todo o mundo.

METODOLOGIA

Este estudo bibliográfico baseou-se na revisão sistemática de artigos coletados na base


eletrônica de dados PubMed. Foram analisados os artigos publicados entre os anos de 2013 e
2018.

1
Estudante do curso de Medicina do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; email: mariaalicia@alu.uern.br
2
Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; email:
dayanepessoa@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 197
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para a busca e coleta dos artigos, foram utilizados termos relacionados à temática da
pesquisa, padronizados pelo vocabulário estruturado e multilíngüe Descritores em Ciências da
Saúde (DeCS); são eles: Neuroinflammation, Inflammation, Depression e Cytokines. Os
termos foram subdivididos em três cruzamentos utilizando o operador booleano AND. Foram
obtidos os seguintes cruzamentos: Neuroinflammation AND Depression AND Cytokines
AND inflammation; Inflammation AND Depression; Cytokines AND Depression.
Como critérios de inclusão têm-se artigos originais, publicados na íntegra e
disponíveis nas línguas inglesa e/ou portuguesa. Foram excluídos os artigos de revisão, não
disponibilizados online entre os anos de 2013 e 2018 e não condizentes com a temática.
Inicialmente, os artigos foram selecionados por título, seguindo os critérios de
inclusão e exclusão supracitados. No primeiro cruzamento, de um total de 186 artigos, 10
foram selecionados; no segundo cruzamento, foram selecionados 108 artigos dentre o total de
6456; no terceiro cruzamento, dentre 7004 artigos, foram selecionados 32 artigos. Após a
leitura dos resumos, foram selecionadas as seguintes quantidades de artigos: 6 artigos no
primeiro cruzamento, 13 artigos no segundo cruzamento e 5 artigos no terceiro cruzamento,
caracterizando uma amostra final de 24 artigos a serem analisados na íntegra.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a leitura dos artigos selecionados na íntegra, observou-se que se tratavam dos
mecanismos inflamatórios envolvidos na patogenia da depressão e suas repercussões
morfofisiológicas. A discussão será organizada nos seguintes eixos temáticos:

Os componentes neuroinflamatórios subjacentes à fisiopatologia da depressão

A neuroinflamação é entendida como o processo de ativação imunológica no Sistema


Nervoso Central (SNC), cuja resposta a estímulos estressores baseia-se, fundamentalmente,
na produção e secreção de substâncias conhecidas como citocinas (DEY; GIBLIN, 2018).
Zhao e colaboradores (2018) reportaram que a neuroinflamação produziu
comportamentos depressivos em ratos submetidos ao LPS. Esse estado neuroinflamatório foi
acompanhado pelo aumento dos níveis de TNF-α na habênula.
Evidências neuroinflamatórias foram encontradas em amostras post-mortem de
indíviduos com depressão (MAHAJAN et al., 2018). Os autores descreveram a expressão
aumentada de genes relacionados à sinalização de interleucinas, quimiocinas e interferon no
giro denteado dos indíviduos.

O papel das células da glia na caracterização neuroinflamatória do transtorno


depressivo

As células gliais, notadamente micróglia, astrócitos e oligodendrócitos, têm sido


apontadas como mediadoras da neuroinflamação associada à depressão e suas repercussões.
Envolvidos na resposta imunológica em nível central, astrócitos e micróglia, ativados,
contribuem para a regulação e liberação de mediadores inflamatórios, cujos efeitos
neurotóxicos podem levar ao dano e perda neuronais (WANG et al., 2019). Estudos pré-
clínicos reportaram significativas alterações na atividade dessas células em modelos animais
de depressão induzidos pelo estresse.
Wang e colaboradores (2018) demonstraram o acúmulo de radioligantes específicos
para TSPO, importante marcador de ativação microglial, no hipocampo de ratos adultos com
comportamentos semelhantes à depressão. A ativação microglial produziu um aumento na
expressão de citocinas inflamatórias como Il-1β, TNF-α e Il-6 na região cerebral mencionada.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 198
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Em estudo realizado com ratos submetidos ao estresse crônico, além do aumento de


citocinas pró-inflamatórias e das taxas de ativação microglial, os comportamentos depressivos
foram positivamente correlacionados com a diminuição no número de oligodendrócitos no
córtex pré-frontal, apesar dos animais não apresentarem desmielinização (YANG et al., 2015).
Pesquisas clínicas também comprovaram a associação entre a atividade microglial e o
transtorno depressivo. De acordo com Setiawan et al (2015), pacientes que tiveram episódios
depressivos secundários ao transtorno depressivo apresentaram maiores volumes totais de
TSPO no córtex pré-frontal, ínsula e córtex cingulado anterior, evidenciando a presença de
neuroinflamação durante o episódio depressivo.

O inflamassoma NLRP3 como evidência neuroinflamatória na depressão

O inflamassoma NLRP3 é um complexo multiproteico envolvido na resposta


imunológica inata. Constituído por NLRP3, ASC e caspase-1, este inflamassoma regula a
secreção das citocinas pró-inflamatórias Il-1β e Il-18 como resposta a agentes estressores e
tem sido apontado como importante mediador da depressão em modelos animais do distúrbio
induzidos pelo estresse crônico e pelo LPS (ZHANG et al., 2015; ZHANG et al., 2014).
No trabalho de Zhang et al (2015), foi identificado um aumento importante nos níveis
de Il-1β ativa no hipocampo de ratos com comportamentos depressivos, o que levou à
neuroinflamação e supressão da neurogênese hipocampal. Essas alterações foram controladas
pelo inflamassoma NLRP3 através da ativação da caspase-1, responsável pela maturação e
secreção da forma ativa de Il-1β. Outra evidência da atuação do inflamassoma foi a maior
expressão dos seus componentes NLRP3 e ASC no hipocampo desses animais. A inibição do
inflamassoma foi capaz de reduzir os comportamentos semelhantes à depressão nos ratos.
No modelo animal de depressão induzida pelo LPS, foi identificada a super-expressão
de Il-1β no cérebro de ratos, indicando a ação do inflamassoma NLRP3. Essa hipótese foi
confirmada através da maior expressão dos componentes NLRP3, caspase-1 e ASC nos
cérebros animais (ZHANG et al., 2014).
A partir desses resultados, o inflamassoma NLRP3 pode ser apontado como
importante alvo no desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes no tratamento
do transtorno depressivo, sendo necessária a avaliação de sua eficácia em pesquisas clínicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados dessa pesquisa demonstram que a superexpressão de citocinas


inflamatórias em várias regiões cerebrais, a ativação do inflamassoma NLRP3 e as respostas
das células gliais promovem o desenvolvimento de um ambiente neuroinflamatório que pode
preceder o transtorno depressivo e/ou contribuir para a sua progressão. Essas considerações
sugerem que terapias anti-inflamatórias podem ser vislumbradas como novas soluções que
contribuam para a regressão do transtorno depressivo. Todavia, futuras pesquisas clínicas
mais abrangentes são necessárias para que seja afirmado o efeito terapêutico das drogas anti-
inflamatórias diretamente sobre os sinais e sintomas depressivos.

AGRADECIMENTOS

À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e ao Conselho Nacional de


Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio institucional e financeiro à
produtividade científica.

REFERÊNCIAS

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 199
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AMERICAN PSICHIATRY ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais: DSM-5. 5° ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992 p.

DEY, Adwitia; GIBLIN, Pamela A. Hankey. Insights into macrophage heterogeneity and
cytokine-induced neuroinflammation in major depressive disorder. Pharmaceuticals, v. 11,
n. 3, 17 p., 2018.

BERGER, Miles; ROTH, Bryan. Farmacologia da neurotransmissão serotoninérgica e


adrenérgica central. In: GOLAN, D. E. et al. Princípios de farmacologia: A base
fisiopatológica da farmacologia. 3° ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. 972 p. p.
208-226.

HONG, Heeok; KIM, Byung Sun; IM, Heh-In. Pathophysiological role of neuroinflammation
in neurodegenerative diseases and psychiatric disorders. International Neurourology
Journal, v. 20, n. suppl 1, p. 2-7, 2016.

MAHAJAN, Gouri J et al. Altered neuro-inflammatory gene expression in hippocampus in


major depressive disorder. Progress in Neuro-Psychopharmacology & Biological
Psychiatry, v. 82, p. 177-186, 2018.

SETIAWAN, Elaine et al. Role of Translocator Protein Density, a Marker of


Neuroinflammation, in the Brain During Major Depressive Episodes. JAMA Psychiatry, v.
72, n. 3, p. 268-275, 2015.

VISMARI, Luciana; ALVES, Glaucie Jussilane; PALERMO-NETO, João. Depressão,


antidepressivos e sistema imune: um novo olhar sobre um velho problema. Revista de
Psiquiatria Clínica, v. 35, n. 5, p. 196-204, 2008.

WANG, Yun et al. Inhibition of activated astrocyte ameliorates lipopolysaccharide-induced


depressive-like behaviors. Journal of Affective Disorders, v. 242, n. 1, p. 52-59, 2019.

WANG, Ya-Lin. et al. Microglial activation mediates chronic mild stress-induced depressive-
and anxiety-like behavior in adult rats. Journal of Neuroinflammation, v. 15, 14 p., 2018.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Depression and other common mental disorders:


Global health estimates. Geneva: World Health Organization, 2017. 21 p.

YANG, Ping et al. Changes in proinflammatory cytokines and white matter in chronically
stressed rats. Neuropsychiatric Disease and Treatment, v. 11, p. 597-607, 2015.

ZHANG, Yi et al. Involvement of Inflammasome Activation in Lipopolysaccharide induced


Mice Depressive-like Behaviors. CNS Neuroscience and Therapeutics, v. 20, p. 119-124,
2014.

ZHANG, Yi et al. NLRP3 Inflammasome Mediates Chronic Mild Stress- Induced Depression
in Mice via Neuroinflammation. International Journal of Neuropsychopharmacology,
v.18, n. 8, 8 p., 2015.

ZHAO, Ya-wei et al. Blocking p38 signaling reduces the activation of Pro-inflammatory
Cytokines and the Phosphorylation of p38 in the Habenula and Reverses Depressive Like
Behaviors Induced by Neuroinflammation. Frontiers in Pharmacology, v.9, 14 p., 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 200
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA AMPLIAÇÃO DO USO DO


DISPOSITIVO INTRAUTERINO (DIU)

Antônio de Medeiros Pereira Filho1; Isabelle Cantídio Fernandes Diógenes1; Patricia Estela
Giovannini1

Palavras-Chave: Planejamento Reprodutivo. Contracepção Feminina. Dispositivo Intrauterino


(DIU).

INTRODUÇÃO

O uso de métodos contraceptivos repercute positivamente na saúde reprodutiva da


população, permitindo prevenir gestações não planejadas, reduzindo, consequentemente, a
ocorrência do aborto inseguro (GONZAGA et al., 2017).
Mundialmente, o Dispositivo Intrauterino (DIU) é um dos métodos mais utilizados e
uma alternativa com vantagens como baixo custo e longa duração, seguro e sem efeitos
sistêmicos (CLELAND et al., 2012). No entanto, em regiões da América Latina e da África
Subsaariana, o dispositivo ainda é subutilizado (UNITED NATIONS, 2019).
No Brasil, os direitos sexuais e reprodutivos são uma prioridade contemplada na Política
Nacional dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos (BRASIL, 2005), que recomenda a
ampliação de ações chave no campo da saúde da mulher, com destaque para o aumento da oferta
de métodos anticoncepcionais reversíveis de longa duração, no Sistema Único de Saúde (SUS).
Para tanto, o Ministério da Saúde (MS) se responsabiliza pela oferta de 100% dos métodos
anticoncepcionais para os usuários, o que também inclui o DIU T Cu 380ª ou DIU de cobre.
Porém, apesar da disponibilidade do DIU através do SUS, apenas 1,9% das mulheres
em idade fértil utilizam o dispositivo (MACHADO, 2017). Em contrapartida, a gravidez não
desejada prevalece em 55,4% das gestações no Brasil, e o aborto inseguro, em uma em cada
cinco mulheres, e em proporção ainda maior no Nordeste, Norte e Centro-Oeste, sob a
influência de fatores de vulnerabilidade (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2012).
Diante disso, o presente estudo teve como objetivo investigar os elementos com
potencial de influenciar, tanto positivamente, quanto negativamente, na utilização do DIU, no
Brasil e no mundo.

METODOLOGIA

Estudo exploratório, utilizando o método de revisão integrativa (RI) (SOUZA, SILVA


e CARVALHO, 2010). Os resultados foram analisados por meio de análise de conteúdo
temático-categorial sistematizada (OLIVEIRA, 2008).
A questão norteadora da pesquisa foi: “Quais são os elementos com potencial de
influência sobre o uso do DIU (positivamente ou negativamente), em mulheres em idade fértil,
no Brasil e no mundo?”.
Na estratégia de busca foram utilizados os descritores “Dispositivos Intrauterinos” e
“Adesão” em português, e no idioma inglês “Intrauterine Device” e “Acceptance”, combinados
mediante o uso do operador booleano AND, pesquisados nas bases de dados PubMed,
MEDLINE®, LILACS, e Scientific Eletronic Library Online/SciELO; Portal de Periódicos
CAPES/MEC; Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD); e o Banco de
Teses Capes. Foram incluídos estudos primários com textos completos disponíveis em
1
Estudante do curso de Medicina do Departamento de Ciências Biomédicas – DCB da Universidades do Estado
do Rio Grande do Norte – UERN; antoniomedeirosfilho@alu.uern.br
Professoras do DCB - UERN Membros do Grupo de Pesquisa Grupo de Estudos em Saúde Coletiva – GESC –
UERN: email: isabellefdes@gmail.com; patriciagiovannini@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 201
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

português, inglês ou espanhol, publicados no período entre 2005 e 2018, com base no ano do
estabelecimento da Política Nacional de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos (BRASIL,
2005). Por sua vez, foram excluídos os trabalhos que não atenderam à questão norteadora, e os
repetidos. Os estudos assim recuperados foram submetidos a triagem, mediante a leitura dos
títulos e resumos. Por último, os estudos triados foram depurados, mediante a leitura, na íntegra.
Dados e informações dos artigos selecionados foram tabulados em instrumento
desenvolvido com auxílio do software Microsoft Office Excel, testado e consolidado mediante
a realização de um teste piloto. As referências foram organizadas com o auxílio do software
livre Zotero versão Standalone para navegador Internet Chrome.
A análise de conteúdo iniciou com a leitura exaustiva dos artigos selecionados e a
construção das hipóteses provisórias, seguindo pela determinação das unidades de registro (UR)
e de significação (US), para então desenvolver a análise temática das UR, até o desvelamento
das categorias, de acordo com os critérios de homogeneidade, exaustividade, exclusividade,
objetividade, adequação e relevância quantitativa e qualitativa das mesmas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste estudo foram investigados os elementos que podem influenciar o uso do DIU, no
Brasil e no mundo, resgatando a produção científica do período 2005-2018, com auxílio de seis
diferentes recursos informacionais. Assim, foram captados 399 artigos, dos quais 275 foram
excluídos, e 124, selecionados. O Portal Capes e MEDLINE® foram as principais plataformas
em número de trabalhos selecionados, com 57/45,97% do total, cada uma. Outros nove artigos
(7,89%) corresponderam a PubMed, e um (0,17%) a SciELO. Já as buscas na base LILACS, e
em ambos os repositórios de teses, da Capes e BDTD, não retornaram resultados, sinalizando a
necessidade de ampliar o incentivo à pesquisa e às publicações, na América Latina, bem como
de uma maior visibilidade do assunto, no âmbito dos Programas de Pós-Graduação, levando em
conta que ele é do interesse de diversas áreas do conhecimento, e que envolve questões
diretamente relacionadas ao cumprimento de metas dos Objetivos do Desenvolvimento
Sustentável, até 2030.
Por outro lado, os resultados apontaram o Brasil como líder da produção científica sobre
o uso do DIU, na América Latina, e em terceiro lugar, mundialmente, com 5/3,82% dos artigos
publicados, ainda distante, porém, dos Estados Unidos, com 23/17,56% dos trabalhos
publicados, e da Índia, com 59 publicações (45,04%). Dentre os estudos nacionais, um foi um
estudo multicêntrico, incluindo o Brasil e outros três países latinoamericanos (DA SILVA-
FILHO et al., 2016), dois deles foram realizados em São Paulo (DE ARAÚJO et al., 2008;
FERREIRA et al., 2014), e outros dois, em Pernambuco (FERREIRA et al., 2010; SCAVUZZI,
SOUSA e AMORIM, 2016), realçando, dessa forma, a contribuição de pesquisadores do
Nordeste do Brasil, para o aprofundamento do conhecimento sobre o tema.
Do total da produção, a maioria foi relacionada aos níveis de evidências 3 e 4, com
38(30,64%) e 63(50,8%) dos artigos, respectivamente, correlacionando com a elevada
qualidade da produção científica analisada, que poderá tornar-se ainda maior, a partir do
desenvolvimento de um maior número de estudos randomizados, os quais representaram 1,62%
dos estudos, no período investigado.
Por sua vez, a análise de conteúdo temático-categorial sistematizada revelou 15
categorias (Tabela 01). Características do DIU foi a única categoria identificada,
exclusivamente, como elemento favorável ao uso do dispositivo, enquanto mitos e conceitos
errôneos, e acesso ao dispositivo e/ou aos serviços de saúde, foram duas categorias identificadas
como elementos desfavoráveis, unicamente. As 12 categorias restantes, foram compostas por
elementos favoráveis, mas também por outros, desfavoráveis.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 202
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Tabela 01. Elementos capazes de influenciar o uso do DIU: categorias desveladas na análise da
produção científica mundial, período 2005-2018. Mossoró, RN, 2020.

Elementos Favoráveis Frequência Elementos Desfavoráveis Frequência


Características do DIU 63 Razões médicas 76
Características das pacientes 58 Razões não médicas 61
Aconselhamento/Informação 37 Mitos e conceitos errôneos 39
Características do serviço 14 Aconselhamento/Informação 18
Razões não médicas 7 Habilidades dos profissionais de 11
saúde
Razões médicas 5 Características do serviço 7
Habilidades dos profissionais de 3 Acesso ao DIU e/ou a serviços de 5
saúde Saúde
Características das pacientes 4
Frequência geral 187 221

As características do DIU também foi a principal categoria alinhada aos elementos


favoráveis ao uso deste método contraceptivo, com destaque para: segurança, praticidade
(FERERIRA et al., 2014; SCAVUZZI, SOUZA e AMORIM, 2016), longa duração, baixo
custo, confiança, livre de hormônios e que pode ser utilizado por nulíparas (SCAVUZZI,
SOUZA e AMORIM, 2016). Outras categorias de destaque incluíram as características das
pacientes, com realce para a faixa etária entre 20 e 29 anos, o grau de escolaridade, e ter pelo
menos um filho (ARUNA, ARUNA e SARADA, 2015), aconselhamento/informação,
sinalizando que o aconselhamento de qualidade e a utilização de materiais didáticos de apoio
podem favorecer o uso do DIU (KARRA et al., 2017), e as características dos serviços,
incluindo aspectos estruturais e a disponibilidade de um programa educativo (DE ARAÚJO et
al., 2008). É importante que os profissionais nos serviços, busquem reforçar tais elementos
positivos, no sentido de potencializar a sua influência, para aumentar a utilização do DIU no
grupo populacional das mulheres em idade fértil, as quais, no Brasil, têm acesso a este vantajoso
método contraceptivo, gratuitamente, através do SUS.
Ao mesmo tempo, é importante atentar para aquelas categorias de elementos
desfavoráveis ao uso do DIU, e realizar esforços para superar a influência negativa de elementos
como, por exemplo, os relacionados a razões médicas, principal categoria identificada, que
inclui efeitos secundários em algumas mulheres, mais comumente ao começarem a utilizar o
dispositivo, tais como: aumento do fluxo menstrual, sangramento intermenstrual, corrimento,
cãibras, doença inflamatória pélvica e mais raramente, expulsão (SCAVUZZI, SOUZA e
AMORIM, 2016) ou deslocamento do DIU (DE ARAÚJO et al., 2008). Mitos e conceitos
errôneos, que representam potencial desestímulo ao uso do DIU, constituíram relevante
categoria, com elementos como relatos negativos de amigos, familiares ou profissionais de
saúde sobre o DIU, ouvidos por pacientes, além da persistência de mitos, como acreditar que o
DIU não pode ser utilizado por mulheres nulíparas (DA SILVA-FILHO et al., 2016). Razões
não médicas também tiveram destaque entre as categorias de elementos desfavoráveis ao uso
do DIU, entre os quais, o desejo de engravidar e a opção pessoal (DA SILVA-FILHO et al.,
2016) foram frequentes. O acesso gratuito ao DIU no Brasil é uma conquista que ampliou o
acesso à saúde e aos direitos reprodutivos da população feminina. É importante, no entanto, um
olhar diferenciado sobre os grupos vulneráveis, de modo a assegurar o acesso ao DIU e aos
serviços de saúde, importante categoria identificada neste estudo, que diz respeito aos desafios
da atenção integral a pessoas em contextos de vulnerabilidade, como mostra um estudo que
envolveu um grupo de mulheres em situação de rua (SAVER et al., 2015).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 203
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONCLUSÃO

No presente estudo foram analisados os elementos capazes de influenciar o uso do DIU


em mulheres em idade fértil, sendo identificado um conjunto de categorias, cujo desvelamento
traz subsídios ao desenvolvimento de abordagens, que podem contribuir para o fortalecimento
das políticas públicas e a melhoria dos índices de desenvolvimento humano.
Devido ao número razoavelmente elevado de artigos selecionados, a heterogeneidade
nas características dos grupos de pacientes incluídos nos distintos estudos, bem como entre as
respectivas intervenções, foram algumas das diferenças notadas, representando uma limitação,
que foi contornada mediante cuidadosa tabulação dos dados e estrita observância do protocolo
de pesquisa, assegurando a consolidação dos resultados e análise adequadas, o que permitiu
atingir os objetivos do estudo.
Além disso, foi possível apontar lacunas no conhecimento sobre o tema, incluindo a
necessidade de torná-lo mais presente nos Programas de Pós-Graduação, nas diversas áreas de
interesse, de aumentar o incentivo à pesquisa e às publicações na Região da América Latina e
o Caribe, do desenvolvimento de estudos randomizados, e da realização de pesquisas que
abordem a temática, no Rio Grande do Norte, representando uma importante perspectiva para
futuros estudos.

REFERÊNCIAS

ARUNA, S. S. R. Y.; ARUNA, S.; SARADA, B. K. A study on acceptance and discontinuation


of intrauterine contraceptive device and its determinants in a tertiary care centre. J of Evidence
Based Med & Hlthcare, v. 2, n. 26, p. 3804-3811, jun. 2015. Disponível em:
<https://www.jebmh.com/data_pdf/Aruna%20Subha%20Shree%20Rao%20Yellayi.pdf>.
Acesso em: 19 ago. 2020

BRASIL, Ministério da Saúde. Direitos sexuais e direitos reprodutivos: uma prioridade


do governo. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.

CLELAND, J. et al. Contraception and health. The Lancet, v. 380, n. 9837, p. 149–156, jul.
2012. Disponível em: <https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-
6736(12)60609-6/fulltext>. Acesso em: 19 ago. 2020

DA SILVA-FILHO, A. L. et al. Non-hormonal and hormonal intrauterine contraception: survey


of patients’ perception in four Latino American countries. The European Journal of
Contraception & Reproductive Health Care, v. 21, n. 3, feb. 2016. Disponível em: <
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.3109/13625187.2015.1137281>. Acesso em: 19 ago.
2020

DE ARAUJO, F. F.; BARBIERI, M.; GUAZZELLI, C. A. F.; LINDSEY, P. C. The T 380A


intrauterine device: a retrospective 5-year evaluation. Contraception, v. 78, n. 6, p. 474–478,
dez. 2008. Diponível em: < https://www.contraceptionjournal.org/article/S0010-
7824(08)00370-3/fulltext>. Acesso em: 19 ago. 2020.

FERREIRA, A. L. C. G.; SOUZA, A. I.; LIMA, R. A.; BRAGA, C. Choices on contraceptive


methods in post-abortion family planning in the norteasth Brazil. Reprod Health, v. 7, n. 5,
may. 2010. Disponível em: < https://doi.org/10.1186/1742-4755-7-5>. Acesso em: 19 ago.
2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 204
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FERREIRA, J. M. et al. Reasons for Brazilian women to switch from different contraceptives
to long-acting reversible contraceptives. Contraception, v. 89, n. 1, p. 17-21, jan. 2014.
Disponível em: < https://www.contraceptionjournal.org/article/S0010-7824(13)00602-
1/fulltext>. Acesso em: 19 ago. 2020.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (coord). Nascer no Brasil: inquérito nacional sobre parto
e nascimento. 2012. Disponível em: <http://www6.ensp.fiocruz.br/nascerbrasil/>. Acesso em:
19 ago. 2020

GONZAGA, V. A. S. et al. Barreiras organizacionais para disponibilização e inserção do


dispositivo intrauterino nos serviços de atenção básica à saúde. Revista da Escola de
Enfermagem da USP, v. 51, n. 0, 18 dez. 2017. Disponível em:
<https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v51/0080-6234-reeusp-S1980-220X2016046803270.pdf>.
Acesso em: 19 ago. 2020

KARRA, M.; CANNING, D.; FOSTER, S. et al. Location and content of counselling and
acceptance of postpartum IUD in Sri Lanka. Reprod Health, v. 14, n. 42, mar. 2017. Disponível
em: <https://reproductive-health-journal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12978-017-
0304-7>. Acesso em: 19 ago. 2020

MACHADO, R. B. Uso de dispositivos intrauterinos (DIU) em nulíparas. São Paulo:


FEBRASGO, 2017. Disponível em: <https://www.febrasgo.org.br/media/k2/attachments/16-
serie_diu.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2020

OLIVEIRA, D. C. Análise de conteúdo temático-categorial: uma proposta de sistematização.


Revista Enfermagem UERJ, v. 16, n. 4, p. 569–576, dez. 2008. Disponível em:
<http://files.bvs.br/upload/S/0104-3552/2008/v16n4/a569-576.pdf>. Acesso em: 08 abr. 2019

SAVER, B. G.; WEINREB, L.; GELBERG, L.; ZERGER, S. Provition of contraceptive service
to homeless women: results of a survey of health care for the homeless providers. Women
Health, v. 52, n. 2, p. 151-161, 2012. Disponível em:
<https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22458291/>. Acesso em: 19 ago. 2020

SCAVUZZI, A.; SOUZA, A. S. R.; AMORIM, M. M. R. Continued compliance and degree of


satisfaction in nulligravida and parous women with intrauterine contraceptive device. Rev.
Bras. Ginecol. Obstet. v. 38, n. 3, p. 132-139, mar. 2016. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
72032016000300132&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 ago. 2020

SOUZA, M. T.; SILVA, M. D.; CARVALHO, R. Integrative review: what is it? How to do it?
Einstein (São Paulo), v. 8, n. 1, p. 102–106, mar. 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/eins/v8n1/pt_1679-4508-eins-8-1-0102>. Acesso em: 05 abr. 2019

UNITED NATIONS; DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS;


POPULATION DIVISION. Contraceptive use by method 2019: data booklet. [s.l: s.n.].
Disponível em: <
https://www.un.org/development/desa/pd/sites/www.un.org.development.desa.pd/files/files/d
ocuments/2020/Jan/un_2019_contraceptiveusebymethod_databooklet.pdf>. Acesso em: 18 jul.
2020

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 205
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM CONHECIMENTO DEFICIENTE


EM PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIALISE: BUSCA NA
LITERATURA
Tayná Martins de Medeiros1; Bárbara Verônica Damascena de Sousa Medeiros2; Maria
Gabriela Dantas de Azevedo Silva3; Jéssica Dantas de Sá Tinôco4.

Palavras-chave: Processo de Enfermagem. Doença Renal Crônica. Diálise Renal. Educação


em Saúde.

Introdução:
Dentre os problemas de Enfermagem evidenciados nos pacientes hemodialíticos, o
Conhecimento Deficiente se destaca como a causa da não adesão ao regime terapêutico. Dessa
forma, sobressai-se a necessidade de avançar nos estudos acerca desse diagnóstico de
enfermagem para essa clientela. A revisão integrativa da literatura apresenta um propósito
amplo na abordagem metodológica no que se refere às revisões, pois é capaz de permitir a
inclusão de estudos experimentais e não experimentais para que possa haver uma melhor
compreensão do fenômeno que está sendo analisado (SOUZA; SILVA; CARVALO, 2010)
Com isso, o estudo tem como objetivo identificar o conhecimento presente na literatura
acerca dos indicadores diagnósticos que caracterizem o conhecimento deficiente na clientela
hemodialítica.

1- Estudante do curso de enfermagem do Departamento de enfermagem Campus


Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
tayna.martins14@hotmail.com
2- Estudante do curso de enfermagem do Departamento de enfermagem Campus
Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
barbara_veronica.01@hotmail.com
3- Estudante do curso de enfermagem do Departamento de enfermagem Campus
Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
gabrielaadaantas@gmail.com
4- Professor do Departamento de enfermagem da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Líder do Grupo de Pesquisa Enfermagem Campus Caicó -
GRUPECC; e-mail: jessicadantas@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 206
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia:
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, seguindo os passos propostos por
Whittemore e Knalf (2005), a saber: identificação do problema; busca ou amostragem na
literatura; coleta de dados; análise e síntese dos dados; discussão dos resultados e apresentação
da revisão integrativa.
Foram selecionados 6 artigos, a partir de buscas nas seguintes bases de dados: Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline),
SciVerse Scopus (Scopus), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Literatura Latino-
americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Base de Dados de Enfermagem
(BDEnf), bem como nas literaturas NANDA-Internacional e o estudo de GALDEANO (2007),
utilizando-se os descritores no vocabulário controlado Medical Subject Headings (MeSH):
Knowledge; Health Education; Nephrology Nursing; Renal Dialysis, respectivamente,
separados pelo operador booleano AND.
Fez-se necessário a criação de um protocolo de pesquisa contendo: objetivo, questão,
estratégias para a busca dos artigos (base de dados, descritores e cruzamentos), seleção dos
estudos que inclui os critérios de inclusão e exclusão, estratégia para avaliação dos dados,
avaliação dos estudos inclusos e estratégia para a análise/interpretação e síntese dos dados.
Com isso, para homogeneizar a busca o trabalho foi realizado por três pesquisadores
simultaneamente através de uma revisão de literatura para que pudesse chegar a um melhor
consenso, ademais, foi desenvolvido um instrumento para a extração de dados contendo:
identificação, tipo de publicação, características metodológicas do estudo, resultados e
classificação do estudo.

Resultado e Discursão:
Referente aos artigos que foram encontrados ao utilizar-se os seguintes cruzamentos,
classificamos como sendo identificados inicialmente na Biblioteca Virtual da Saúde, a BVS 33
artigos, sendo 6 artigos selecionados por título, após a leitura dos resumos foram selecionados
4 artigos para permanecer, em seguida, após leitura do texto completo permaneceram 3 artigos,
sendo 2 artigos pertencentes a base de dados da Lilacs e 1 artigo pertencente a BDEnf.
Na base de dados da Scielo encontrou-se um total de 5 artigos ao utilizar-se dos referidos
descritores, dentre esses cinco estudos, 3 artigos foram selecionados por títulos, após leitura
dos resumos 2 artigos permaneceram, em seguida foi realizado a leitura do texto completo ao
qual os 2 artigos permaneceram,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 207
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Por conseguinte, a base da SCOPUS abarcou um total de 330 artigos encontrados. Dessa
maneira, após o passo de leitura de todos os títulos, foram selecionados 3 artigos, dentre os 3,
2 foram excluídos após leitura dos resumos, e 1 artigo permaneceu após a leitura do texto
completo.
Nesse contexto, ao caracterizar os estudos concluiu-se que seis artigos permaneceram
até o final, dentre os seis, metade (50%) datavam do ano de 2018 e a outra metade compreendia
entre os anos de 2011, 2015 e 2017, sendo 1 artigo referente a cada ano desse, correspondendo
16,6%. Dentre os países com maior índice de publicação, dos 6 artigos selecionados,
sobressaíram-se 5 artigos pertencentes ao Brasil atingindo uma porcentagem de 83,4% e 1
artigo pertencente aos Estados Unidos da América (16,6%). Nesse sentido o idioma
predominante foi o português e o inglês. Ademais, foram adicionados indicadores também
propostos pela NANDA-Internacional e pelo estudo de GALDEANO (2007).
Identificaram-se dezoito indicadores diagnósticos, a saber: Comportamento
inapropriado, Conhecimento insuficiente relacionado à patologia, Desempenho inadequado em
um teste, Seguimento de instruções inadequado, Conhecimento insuficiente relacionado ao
tratamento, Conhecimento insuficiente acerca das ações de autocuidado, Não seguimento do
tratamento, Aumento do número de intercorrências clínicas, Baixo grau de escolaridade,
Crenças populares que interferem no tratamento, Limitações físicas, Falta de apoio familiar,
Condições sociodemográficas desfavoráveis, Conhecimento insuficiente sobre recursos,
Informações incorretas apresentadas por outros, Informações insuficientes, Interesse
insuficiente em aprender, Alteração da função cognitiva e Alteração na memória.

Conclusão:
Conclui-se que existem dezoito indicadores diagnósticos capazes de representar o
conhecimento deficiente na clientela renal submetida à hemodiálise. Desses, oito caracterizam
a ocorrência do problema, são eles: Comportamento inapropriado, Conhecimento insuficiente
relacionado à patologia, Desempenho inadequado em um teste, Seguimento de instruções
inadequado, Conhecimento insuficiente relacionado ao tratamento, Conhecimento insuficiente
acerca das ações o autocuidado, não seguimento do tratamento, Aumento do número de
intercorrências clínicas.
E dez indicadores são fatores causais do conhecimento deficiente na clientela
hemodialítica, a saber: Baixo grau de escolaridade, Crenças populares que interferem no
tratamento, Limitações físicas, Falta de apoio familiar, Condições sociodemográficas
desfavoráveis, Conhecimento insuficiente sobre recursos, Informações incorretas apresentadas

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 208
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

por outros, Informações insuficientes, Interesse insuficiente em aprender, Alteração na função


cognitiva e na memória.
O estudo apresentou certa limitação relacionada ao pequeno número de artigos que
abordasse a temática, pois a maioria da literatura aborda sobre as alterações fisiológicas ou
psicológicas do paciente, deixando uma lacuna sobre a problemática do conhecimento
deficiente.

Referências:

GALDEANO, Luiza Elaine. Validação do diagnóstico de enfermagem Conhecimento


deficiente em relação à doença arterial coronariana e à revascularização do miocárdio.
2007. 151 f. Tese (Doutorado) - Curso de Enfermagem, Universidade de São Paulo, Ribeirão
Preto, 2007.

GALVAO, Cristina Maria; SAWADA, Namie Okino; TREVIZAN, Maria Auxiliadora.


Revisão sistemática: recurso que proporciona a incorporação das evidências na prática da
enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 12, n. 3, p. 549-556,
Jun. 2004.

SOUZA, Marcela Tavares de; SILVA, Michelly Dias da; CARVALHO, Rachel de. Revisão
integrativa: o que é e como fazer. Einstein (São Paulo), São Paulo, v. 8, n. 1, p. 102-
106, Mar. 2010.

WHITTEMORE, Robin; KNAFL, Kathleen. The integrative review: update methodology. J


Adv Nurs. 2005. 52(5):546-53.

Conclui-se que foram considerados adequados os itens que apresentaram IVC maior ou
igual a 0,8. Na realização do cruzamento proposto nas bases de dados, inicialmente encontrou-
se ao utilizar como descritores no vocabulário controlado Medical Subject Headings (MeSH):
Knowledge; Health Education; Nephrology Nursing; Renal Dialysis, respectivamente,
separados pelo operador booleano AND.
A partir do cálculo do IVC, apenas os indicadores diagnósticos Conhecimento
insuficiente acerca das ações de autocuidado (0,7); Crenças populares que interferem no
tratamento (0,6); e Limitações físicas (0,7) foram considerados não adequados. Os demais

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 209
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

foram julgados como adequados pelos especialistas. Além disso, foram consideradas as
sugestões apresentadas por esses no sentido de melhorar a compreensão das definições
operacionais.
Os especialistas julgaram como inadequados apenas os indicadores diagnósticos
Conhecimento insuficiente acerca das ações de autocuidado, Crenças populares que interferem
no tratamento e Limitações físicas. No entanto, após ser acatados e reformulados quanto às
sugestões apresentadas pelos especialistas, como também visto a importância dos mesmos
mediante a literatura, ficou decidido que os indicadores deveriam permanecer e fazer parte do
instrumento.
Por fim, é importante ressaltar e reconhecer a relevância desses indicadores na clientela
submetida a hemodiálise, pois só assim consegue-se identificar de maneira mais precisa e
correta o conhecimento deficiente nesse público, como também para que o profissional
enfermeiro possa propor medidas e educação em saúde de forma direcionada e efetiva.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 210
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EFEITOS DO TREINAMENTO CONCORRENTE EM PARÂMETROS


NEUROMUSCULARES E DE COMPOSIÇÃO CORPORAL EM
MULHERES

Lucas Nogueira da Silva1; Ivana Alice Teixeira Fonseca2


Palavras-chave: Treinamento de força. Treinamento intervalado de alta intensidade.
Hipertrofia muscular.

1. INTRODUÇÃO3
A força muscular pode ser definida como a capacidade de exercer força sobre um
objeto externo ou uma resistência (SUCHOMEL, NIMPHIUS, STONE, 2016). O termo
treinamento de força é utilizado para descrever um exercício que exige a movimentação da
musculatura corporal ou a tentativa do mesmo, contra uma força oposta (FLECK, 2017).
O treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) é caracteristicamente composto
por estímulos de alta intensidade alternados com intervalos de curta duração realizados de
forma ativa ou passiva, sendo desta forma repetidos durante toda uma sessão de treinamento
(Gibala et al., 2014).
O treinamento de resistência cardiorrespiratória pode ser caracterizado por exercícios
prolongados, contínuos ou repetidos de contrações máximas e submáximas que quando
realizados por vários meses ou anos, provocam uma variedade de adaptações metabólicas e
morfológicas (COFFEY; HAWLEY, 2017).
Ambos os treinamentos vêm sendo utilizados na promoção da saúde física e mental de
homens e mulheres. A junção do treinamento de força com o cardiorrespiratório é apresentada
como treinamento concorrente (TC), que pode ser realizado em uma mesma sessão ou em dias
alternados (HAKKINEN et al., 2003).
Uma estratégia de treinamento concorrente bem planejada pode melhorar força de
resistência e força muscular sem comprometer o desenvolvimento de outras capacidades físicas,
mostrando-se mais eficaz do que as mesmas de formas separadas na melhora das capacidades
de aptidão física (BALABINIS et al., 2003).
Estudos mostram que o TC pode ativar simultaneamente vias intracelulares
concorrentes, resultando em interferência entre as adaptações induzidas pelo treinamento de
força e resistência (COFFEY et al., 2007).
Um dos principais questionamentos a respeito do TC gira em torno das diferentes
adaptações geradas pelos dois modelos de treinamento, podendo estas, serem associadas ou

1
Estudante do curso de bacharelado em Educação Física, do Departamento de Educação Física,
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; lucasnogueira@alu.uern.br
2
Professora adjunta do Departamento de Educação Física da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; Participante do Grupo de Pesquisa Cultura Corporal, Educação e
Desenvolvimento Humano; ivanateixeira@uern.br
3
Este trabalho apresenta partes do estudo iniciado pela aluna de mestrado do Programa de Pós
graduação em Saúde e Sociedade Keuvia Mirlandya Alves da Silva, orientada pela profa. Ivana
Alice Teixeira Fonseca. A aluna não concluiu o mestrado.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 211
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

concorrentes. Embora esse tipo de treinamento apresente muitos benefícios, a literatura aponta
muitas controvérsias sobre o assunto. O presente estudo teve, portanto, como objetivo analisar
os efeitos do treinamento concorrente, composição corporal e na força muscular de mulheres
saudáveis.

2. METODOLOGIA
Aspectos éticos: O projeto foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da UERN a
aprovado com parecer de número: 3.147.115. Recrutamento da amostra: realizado por meio
de comunicação oral em visita às salas de aulas da UERN (Campus Central) e por meio de
mídias sociais. Número da amostra: 36 indivíduos que foram distribuídos aleatoriamente em
três grupos de 12, sendo estes treinamento concorrente (TC), treinamento de força (TF) e
treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT). Critérios de inclusão: mulheres com idades
entre 18 e 35 anos de idade, aparentemente saudáveis, sem histórico prévio de lesões osteomio-
articulares, que não estivessem realizando nenhum programa de treinamento regular nos
últimos 6 meses; que possuíssem um total semanal de no máximo 150 minutos de atividade
física ou que fossem sedentárias, de acordo com a classificação do International Physical
Activity Questionnaire (IPAQ – versão curta) e que não fizeram uso de suplementação
nutricional e/ou substâncias ergogênicas durante todo o período de intervenção. Critérios de
exclusão: as participantes que responderem ao menos uma pergunta positiva no Questionário
de Prontidão para Atividade Física - PAR-Q, que ultrapassassem o limite de 25% de falta nos
treinamentos ou faltarem três sessões de treinos consecutivos ou ainda, se apresentarem
resultados nos exames bioquímicos fora das taxas de normalidade.
O estudo teve uma duração de 16 semanas; na primeira semana foi realizada a fase de
recrutamento da amostra, onde os indivíduos assinaram os Termos de Consentimento Livre e
Esclarecido – TCLE, e responderam a alguns questionários como o IPAQ e o PAR-Q; na
segunda semana foram realizados os pré-teste, como teste de 1RM e ultrassom; na terceira
semana foi realizado um período de familiarização composto por duas sessões de treino durante
a semana, com intervalo de 48 horas entre as mesmas; da quarta semana à décima quinta foi
realizado o período de intervenção, com os grupos de TC, TF e HIIT, totalizando doze semanas
de treinamento; na décima sexta semana foram realizados os pós testes de 1RM e ultrassom.
3. Instrumentos: a) Composição corporal: a análise de composição corporal foi realizada
por meio de um equipamento de ultrassom portátil (BodyMetriz®, Intelametrix, 2.5MHz). A
análise de espessura muscular foi feita pelo mesmo equipamento de ultrassom, onde foram
realizadas as imagens do tríceps braquial e da coxa, ambos do lado direito do corpo, a partir da
passagem da sonda no sentido vertical; c) Força máxima dinâmica: Para análise da força
máxima dinâmica, foi utilizado o teste de uma repetição máxima (1RM), realizado nos
exercícios de supino reto e leg press 45º. d) Percepção subjetiva de esforço: Para mensurar a
PSE foi utilizada a escala adaptada de Borg (2000) de 6-20, nessa escala o indivíduo indica um
número entre 6 e 20, onde o menor valor representa que a atividade realizada exigiu um esforço
com baixa intensidade e o maior valor um esforço muito intenso.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Devido ao cenário atual, em meio a uma pandemia, não foi possível dar continuidade
aos testes e coletas, como também pela desistência de três dos participantes durante o processo,
resultando assim em uma amostra final de três pessoas. As variáveis analisadas foram:
composição corporal e força máxima dinâmica de membros superiores e inferiores.
A tabela 1 mostra os resultados obtidos após doze semanas de treinamento nos
parâmetros de composição corporal.
A tabela 2 mostra a carga máxima alcançada na realização dos testes de 1RM antes e
após as 12 semanas de treinamento. Mesmo após as dezesseis semanas de realização do

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 212
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

cronograma da pesquisa, devido ao pequeno número de indivíduos na amostra final, não foi
possível realizar uma análise mais detalhada dos dados.

Tabela 1. Composição corporal, pré e pós período de treinamento.


PRÉ TREINAMENTO
P. DE P.
IDADE PESO ALTURA IMC MLG MLG
NOME GRUPO GORDURA GORDO
(anos) (kg) (cm) (kg/m2) (kg) (%)
(%) (kg)
VOL. 01 TF 22 49 154 21 23 11 10 21

VOL. 02 TF 23 49 150 22 22 11 10 21

VOL.03 HIIT 19 52 152 22 22 11 11 21

PÓS TREINAMENTO
P. DE P.
IDADE PESO ALTURA IMC MLG MLG
NOME GRUPO GORDURA GORDO
(anos) (kg) (cm) (kg/m2) (kg) (%)
(%) (kg)
VOL. 01 TF 22 53 154 22 21 11 12 23

VOL. 02 TF 23 52 150 23 20 11 11 22

VOL. 03 HIIT 19 54 152 23 22 12 12 22

Vol: Voluntário; TF: Treinamento de força; HIIT: Treinamento intervalado de alta intensidade; IMC: Índice de
massa corporal; P. de gordura: Percentual de gordura; P. gordo: Peso gordo; MLG: Massa livre de gordura.

Tabela 2. Carga máxima em testes de 1 repetição máxima (1RM).


MMII MMSS
PRÉ TREINAMENTO GRUPO (kg) (kg)
VOL. 01 TF 40 17
VOL. 02 TF 150 29
VOL. 03 HIIT 140 27

MMII MMSS
PÓS TREINAMENTO GRUPO (kg) (kg)
VOL. 01 TF 60 26
VOL. 02 TF 230 40
VOL. 03 HIIT 220 34

Vol: Voluntário; TF: Treinamento de força; HIIT: Treinamento intervalado de alta intensidade; MMII: Membros
inferiores; MMSS: Membros superiores.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 213
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

5. CONCLUSÃO
Com o n obtido não foi possível uma análise detalhada dos dados para avaliarmos entre
quais grupos de treinamento houve melhores resultados. Contudo devido ao encerramento do
projeto no caminho da sua construção não foi possível chegar a uma conclusão referente aos
objetivos do presente estudo.

6. AGRADECIMENTOS
Agradeço ao auxílio financeiro recebido no valor de bolsa pelo Programa de Iniciação
científica do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ).

7. REFERÊNCIAS
BALABINIS CP et al. Early phase changes by concurrent endurance and strength
training. J Strength Cond Res, 2003. 393-401.
COFFEY VG, HAWLEY JA. The molecular bases of training adaptation. Sports Med, 2007.
737-763.
COFFEY, V.; HAWLEY, J. Concurrent exercise training: Do opposites distract? J.
Physiology. 2017. 2883–2896.
GIBALA et al. Physiology caland health-related adaptations to low-volume interval
training: influences of nutrition and sex. Sports Med. 2014. 127-137.
HAKKINEN K. et al. Neuromuscular adaptations during concurrent strength and
endurance training versus strength training. European Journal of Applied Physiology, 2003.
42-52.
LEVERITT M et al. Concurrent strength and endurance training. A review. Sports
Medicine, 1999. 413-427.
SAKAI R Z. Alta frequência de treinamento de força aumenta a espessura muscular em
homens treinados. 2018. 50 – 53. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento
Humano), Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Universidade
Metodista de Piracicaba, 2018.
SUCHOMEL TJ; Nimphius S; Stone Mh. The importance of muscular strength in athletic
performance. Sports Med. 2016. 1419-49.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 214
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EQUIPAMENTOS PARA AVALIAÇÃO DA APTIDÃO


CARDIORRESPIRATÓRIA DE IDOSOS: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA

Nyáskara Jasminne Santos Soares¹, Liebson Henrique Bezerra Lopes2, Ezequiel Soares
da Silva2, Thiago Alefy Almeida e Sousa3, Ivana Alice Teixeira Fonseca4, Maria Irany
Knackfuss4, Glebia Alexa Cardoso4, Manoel da Cunha Costa5, Adalberto Veronese da
Costa4.

Palavras chaves: Qualidade de vida, Teste de aptidão Cardiorrespiratória, Idosos.

INTRODUÇÃO

O sistema cardiorrespiratório é considerado um dos mais afetados pelo declínio


funcional, conforme o avanço da idade, a habilidade de captação e transporte de oxigênio
durante a atividade física diminui, influenciando de forma negativa a qualidade de vida
dos idosos. Dessa forma, manter um nível de aptidão cardiorrespiratória é indispensável
para o idoso continuar realizando atividades diárias.

Hoje em dia, existem diversos testes e métodos para verificar e avaliar o nível de
aptidão cardiorrespiratória e condicionamento físico de cada indivíduo. O teste de aptidão
cardiorrespiratória que apresenta um resultado mais preciso para avaliação do
condicionamento físico por meio do Vo2 é através do teste cardiopulmonar
ou ergoespirometria, um método direto que tem o papel de examinar os gases expirados
durante o exercício físico por meio de uma máscara facial, realizado em uma esteira
ergométrica ou bicicleta estacionária, onde o paciente é monitorado a todo momento com
1
Estudante do Programa Institucional de Iniciação Científica da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte – PIBIC/UERN;
2
Estudante do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Sociedade da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – PPGSS/UERN;
3
Estudante do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Computação da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte e Universidade Federal Rural do Semi-Árido – PPGCC/UERN/UFERSA;
4
Professor(a) do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Sociedade da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte-PPGSS/UERN
5
Professor do Laboratório de Avaliação da Performance Humana da Escola Superior de Educação Física
da Universidade de Pernambuco – LAPH/ESEF/UPE.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 215
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

eletrocardiograma, oxímetro de pulso e medição da pressão arterial. pode durar entre 8 e


12 minutos, de acordo com o protocolo de cada pessoa.

Porém existem outras metodologias que podem ser aplicadas para esse fim e
gerarem resultados esperados, como por exemplo:

O teste de uma Milha, onde o indivíduo é submetido a uma caminhada pela


distância de uma milha, em um percurso plano, podendo ser feito por todas as idades,
desde que aguente finalizar o exercício, ao final o avaliador registra a frequência cardíaca
do indivíduo, a partir daí é avaliado o Vo2 máximo por meio de uma equação.

O teste de Cooper, também conhecido como teste de 12 minutos é feito por


pessoas entre 17 e 52 anos de idade, nesse método o indivíduo deve percorrer andando
ou correndo, uma pista marcada a cada 10 metros em 12 minutos, após esse tempo o
avaliador encerra o teste e avalia a distância percorrida com a ajuda de uma equação.

O teste de Ruffier é um dos mais simples, depende apenas do próprio organismo


para sua realização, consiste em o indivíduo executar 30 agachamentos no período de 45
segundos, o profissional responsável pelo teste deverá conferir a frequência cardíaca antes
do exercício com o indivíduo sentado por 15 segundos, logo após a conclusão do exercício
e por fim depois de 1 minuto do final da execução. Com os dados em mão é aplicada uma
fórmula.

Teste de Havard, também conhecido como step test, mensura a capacidade de


recuperação após o teste onde o indivíduo deve subir e desce durante 45 segundos de um
banco de 40 cm de altura, ao final do exercício mede a pulsação durantes os três primeiros
minutos, a partir disso é feito o cálculo.

Os testes mais eficazes em sua maioria são realizados dentro de laboratórios por
permitir um maior controle do ambiente e da intensidade do exercício, porém são poucos
esses métodos que permitem avaliar diretamente a saúde do idoso respeitando os aspectos
funcionais.

Este estudo tem por objetivo verificar através de uma revisão sistemática a
essência de equipamentos específicos que avaliem a aptidão cardiorrespiratória de idosos,
por meio do exercício físico.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 216
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

METODOLOGIA

Foi realizada uma consulta eletrônica por meio das seguintes bases de dados:
Embase, Lilacs e PubMed. As palavras chaves utilizadas foram: Cardiorespiratory fitness
or physical fitness and exercise test or cardiopulmonar exercise test and elderly,
pesquisadas previamente nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS).

Os artigos identificados pela estratégia da busca inicial foram avaliados de forma


independente por dois autores, conforme os seguintes critérios de inclusão: (1) População
(Idosos); (2) Intervenção (Cardiopulmonary exercise test); (3) Desfecho
(Cardiorespiratory fitness); (4) Tipo de estudo (experimental). Quanto aos critérios de
exclusão, foram excluídos os artigos duplicados por meio do gerenciador de referências
Mendeley, na etapa seguinte foram excluídos os artigos de validação, revisões
sistemáticas e os que não apresentassem nos títulos testes de exercícios cardiopulmonares
em idosos.

RESULTADOS e DISCUSSÃO

Foram encontrados 305 artigos, dos quais somente 12 seguiam os critérios de


inclusão, sendo 8 artigos com testes diretos e 4 artigos com testes indiretos. A quantidade
por estudo variou entre 16 e 1282 indivíduos, na maioria dos testes diretos, os sujeitos da
pesquisa são do sexo masculino e apresentam algum tipo de doença. Nos testes diretos os
equipamentos utilizados para estimativa da aptidão cardiorrespiratória formaram um
padrão de combinação entre ergômetro (Ergoespirometer-TrueOne®2400; Parvo Medics
UT,USA / Autospirometer System 9-Minato Medical Science, Osaka, Japan /
MedGraphics, MSE® / Master screen CPx. CareFusion, Hoechberg, Germany /
MedGraphics UltimaTM / Micro Medical-Care Fusion, Kent, Reino Unido),
eletrocardiograma e ventilômetro, sendo utilizado a bicicleta ergométrica em 4 testes e a
esteira + protocolo de Bruce nos outros 4, dentre os testes indiretos 3 dos 4 testes tinham
a bicicleta ergométrica como equipamento para estimar a aptidão cardiorrespiratória em
idosos.

Todos os 4 testes indiretos foram realizados em laboratório com algum tipo de


ergômetro, provavelmente devido aos cuidados que são necessários para a população
estudada.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 217
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para que os participantes realizassem os testes de esforço, foram utilizados


ergômetros controlados por meio do computador, de acordo com o protocolo de Bruce,
considerado eficaz e seguro, onde a carga é aplicada de maneira progressiva e de forma
contínua, podendo ser modificado para indivíduos idosos.

Uma das variáveis mais utilizadas e com melhor indicador para medir a aptidão
física dos idosos nas comparações entre os teste foi o VO²pico, sendo utilizado em 6 dos
8 testes.
Identificação

Registros identificados na pesquisa em


base de dados; (Embase n=38,
LILACS n=18, PubMed n=249)
(nTotal=305)

Número de relatos duplicados


(n=110)
Triagem

Número de relatos
Número de relatos rastreados excluídos por título e
(n=195) resumo (n=148)
Elegibilidade

Número de artigos em texto Número de artigos em


completo avaliados para texto completo excluídos,
elegibilidade (n=47) com justificativa:
Revisão sistemática (n=3)
Artigos de validação (n=3)
População abaixo de 60
Número de artigos incluídos anos (n=27)
em síntese qualitativa (n=12) (nTotal=33)
Incluídos

Número de estudos com Número de estudo com


Método direto (n=8) métodos indiretos (n=4)

Figura 1: Fluxograma do processo de seleção dos estudos.

CONCLUSÃO

Conclui-se que os testes de aptidão cardiorrespiratórios aplicados em idosos


correspondem na combinação de equipamentos com protocolos modificados para esse
público. Porém é necessário mais estudos específicos quanto aos equipamentos e
protocolos utilizados na avaliação dos idosos saudáveis, já que a maioria dos estudos
apresentados estiveram relacionados com doenças. Também pode-se observar que os

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 218
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

equipamentos são de custo elevado e de difícil acesso, levando a pensar na necessidade


de desenvolvimento de ferramentas e equipamentos mais acessíveis.

AGRADECIMENTOS

Ao PIBIC/UERN pela ajuda financeira da bolsa, a Universidade do Estado do


Rio Grande do Norte (UERN), e ao grupo de pesquisa em tecnologias aplicadas a saúde
do Laboratório de Avaliação do Desemprenho Aquático (LADA).

REFERÊNCIAS

Bortz IV WM, Bortz II WM. How fast do we age? Exercise performance over time as a
biomarker. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 1996; 51: 223-5.

Cardiopulmonary Exercise Test: Background, Applicability and Interpretation Artur


Haddad Herdy,1,2,3 Luiz Eduardo Fonteles Ritt,4,5 Ricardo Stein,6,7,8 Claudio Gil
Soares de Araújo,9,10 Mauricio Milani,11 Romeu Sérgio Meneghelo,12,13 Almir Sérgio
Ferraz,12 Carlos Hossr

Cooper K. O programa aeróbico para o bem estar total. Rio de Janeiro: Nórdica, 1982.

Kline GM, Porcari J, Hintermeister R, Fredson OS, Ward A, Mccarron RF, Ross J, Rippe
JM. Estimation of VO2 mas from a one mile track walk, gender, age, and body weight.
Medicine and Science in Sports and Exercise, 1987, 199(3):253-259.

Teste de cooper de 12 minutos. Disponível em:


<http://www.pbclasalle.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/23/1870/50/arquivos/File/Test
e-de-Cooper.pdf>

Aptidão cardiorrespiratória. Disponível em:


<https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao-fisica/aptidao-
cardiorrespiratoria/41045#:~:text=Relacionada%20a%20exercícios%20dinâmicos%2C
%20a,sistemas%20respiratório%2C%20cardiovascular%20e%20musculoesq>Acesso
em: 13 Ago 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 219
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ESTIMULAÇÃO PRECOCE EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA:


USO DE APLICATIVO MÓVEL PARA A PRÁTICA NO LAR.

Giovanna Sabrina da Silva Nunes¹; Fátima Raquel Rosado Morais².

Palavras-chave: Microcefalia. Zika Vírus. Estimulação Precoce. Tecnologias em saúde.

Introdução
O crescimento no número de recém-nascidos (RN) com microcefalia no Brasil tem
sido observado desde o mês de outubro de 2015, principalmente na região nordeste,
consistindo em uma situação peculiar que exigiu a atenção dos dirigentes de saúde
(OLIVEIRA; COELHO, 2015).
As crianças com microcefalia decorrente do Zika Vírus podem apresentar diversas
alterações clínicas e funcionais que comprometem aspectos neuropsicomotores. Sá, Cardoso e
Jucá (2016) afirmam que a estimulação precoce de bebês nascidos com microcefalia é capaz
de promover a harmonia do desenvolvimento entre vários sistemas orgânicos funcionais
dependentes ou não da maturação do Sistema Nervoso Central (SNC).
Neste sentido, instituições de saúde de todo o mundo já reconhecem o valor social e
terapêutico das tecnologias do cuidado. As tecnologias em cuidado e saúde traduzem-se na
aplicação prática de conhecimentos. Incluem, dessa forma, máquinas, procedimentos
cirúrgicos, clínicos, programas, remédios e sistemas para prover cuidados à saúde.
(TRINDADE, 2013)
A tendência de incluir tecnologias entre as atividades em saúde é crescente e o uso de
aplicativos que possibilitem maior facilidade no desenvolvimento do processo terapêutico,
podem ter papel importante nas ações de cuidado no lar. Em particular, quando se aborda a
estimulação precoce para a microcefalia, entende-se que a família precisa desenvolver
habilidades que contribuam para o desenvolvimento cognitivo e neuropiscomotor das crianças
acometidas pela problemática e que o uso da tecnologia associada com as orientações podem
potencializar esse aprendizado e gerar mais ações que contribuam para o desenvolvimento
infantil.
O presente estudo teve como objetivo apreender como o uso de um aplicativo móvel
pôde contribuir para a melhoria das ações de estimulação precoce de crianças com
microcefalia em seu domicílio. Através dele buscou-se identificar os conhecimentos e as
práticas dos familiares acerca da estimulação precoce no lar, avaliar a adesão das mães ao uso
do aplicativo móvel como instrumento potencializador da estimulação precoce e identificar a
contribuição do uso do aplicativo móvel para o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças
com microcefalia.

Metodologia
A população da investigação foi de quatorze mães de crianças diagnosticadas na
cidade de Mossoró com microcefalia e a amostragem foi não-probabilista por conveniência.
Para tanto, na definição da amostra, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: mães
de crianças com microcefalia com até três anos de vida, que apresentaram doenças
exantemáticas ou tiveram diagnóstico da infecção pelo Zika Vírus na gestação, residentes no
município de Mossoró; e de exclusão: genitoras com transtornos mentais ou em uso de drogas
¹Aluna do curso de Licenciatura/Bacharelado em Enfermagem do Departamento de
Enfermagem – DEN da Faculdade de Enfermagem - FAEN da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN. E-mail: giovannagssn@gmail.com
²Professora do Departamento de Enfermagem – DEN da Faculdade de Enfermagem – FAEN
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Coordenadora do Núcleo de
Atenção Materno Infantil – NAMI. E-mail: fraquelrm@gmail.com
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 220
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

alucinógenas, ausência da criança em quatro intervenções/encontro de estimulação no NAMI,


sequenciais. Após aplicação desses critérios a amostra dessa investigação ficou definida em
11 mães de crianças microcefálicas.
O primeiro momento contou com a apresentação do projeto às mães das crianças com
microcefalia decorrente do Zika vírus. Esse primeiro contato buscou apresentar o estudo,
explicando objetivos da pesquisa e as práticas de intervenção a serem realizadas no lar. Com o
interesse em participar do estudo e a anuência das genitoras, foi solicitada a assinatura do
TCLE e aplicado um questionário inicial, com questões relacionadas aos dados
sociodemográficos, aos conhecimentos e as práticas da família a respeito da estimulação
precoce no lar.
Na sequência foi dado início a fase seguinte da investigação que foi constituída por
ações de intervenção no que diz respeito a estimulação precoce. A intervenção se deu através
do aplicativo móvel, no qual foram colocados os vídeos com as atividades de estimulação
precoce a serem reproduzidas pelas mães. Foram enviados um total de três vídeos, um por
mês durante os três meses do estudo, cada um com, em média, 6 minutos de duração.
Objetivando uma maior interação e aproximação com as participantes foi criado um grupo no
WhatsApp para as mães receberem orientações após a postagem de cada vídeo.
A intervenção teve início a partir do envio do primeiro vídeo para o aplicativo móvel.
Ao fim da primeira semana de atividades de estimulação precoce no lar pelas participantes foi
dado início a construção do diário de campo, com o intuito de facilitar para que a mãe pudesse
lembrar das primeiras tentativas e realizar um feedback desses primeiros dias. Nesse
momento, foram encaminhados áudios através do WhatsApp, em conversas individuais, com a
finalidade de expor para a pesquisadora quais foram as facilidades, dificuldades, limitações e
o que interferiu nas práticas durante a primeira semana de estimulação precoce no domicílio.
Em caso de dificuldades na reprodução dos exercícios propostos ou no manejo com o
aplicativo móvel, foram realizados encontros presenciais entre mães e pesquisadora nos
mesmos dias que as mesmas levam seus filhos para o atendimento no NAMI, evitando assim
gastos com deslocação.
Ao fim do primeiro mês de atividades no lar foi realizada uma nova interação com as
participantes via WhatsApp. Foram feitas as mesmas perguntas só que para o período de 30
dias. Após a construção do segundo diário de campo foi informado aos familiares à postagem
de um novo vídeo e, dentro do período de um mês, realizada uma nova interação. Ocorreu
deste modo até o fim dos três meses de pesquisa. Foi informado, também, que a estimulação
deveria ser realizada pelo menos três vezes por semana e com, no mínimo, 15 minutos de
duração.
Terminada a etapa da intervenção foi realizada uma nova entrevista com as mães,
utilizando o instrumento de coleta II, para que estas pudessem apresentar seus relatos a
respeito das suas experiências com a estimulação no lar durante os três meses de utilização do
aplicativo.
A análise de dados se deu inicialmente pelo processamento do instrumento I para
responder as perguntas um e dois dos objetivos específicos. Em um segundo momento foram
analisados os diários de campo vendo a evolução desses familiares durante os três meses de
pesquisa. Em seguida, analisamos o instrumento II a fim de responder os demais objetivos
desse estudo.
A pesquisa foi realizada com base nas normas e diretrizes estabelecidas na Resolução
466/2012 do Código de Ética em Pesquisa com seres humanos, que garantiu o total sigilo,
respeito e anonimato dos participantes, bem como o direito a recusa ou desistência em
qualquer momento da pesquisa. Foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
antes da aplicação do questionário.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 221
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultados e Discussão
Entendendo que a Estimulação Precoce deve ser orientada e realizada no lar,
questionou-se as mães se faziam e quais eram as práticas relativas a EP no lar:
[...] faço massagem, mexo os braços, mostro os brinquedos a ele, para ver se
ele segue com os olhos. (Mãe 2)
Minha filha tem um miniconsultório em casa. Tem espelho, tatame, bola.
Faço estimulação sensorial, motora, de linguagem, tudo. Eu sempre foquei
muito o sensorial, a piscina de bolinhas, várias texturas de massas de
modelar, amoeba, várias texturas de esponjas, ela tem, também, as talas
extensoras para os braços, e o material para pintura [...] (Mãe 3)
Observa-se nos relatos, ações que contribuem para o desenvolvimento das crianças
com microcefalia decorrente do ZIKV. No geral, as participantes buscam reproduzir os
movimentos, especialmente os motores, observados ou ensinados pelos profissionais nos
atendimentos, possivelmente por considerarem essas ações mais simples para serem
realizadas no domicílio. No caso, observa-se em uma mãe, a utilização de diferentes objetos e
estratégias nas atividades de EP, não se restringindo apenas ao aspecto motor, área mais
estimulada pelas demais.
Para além das mães que tentam realizar ações de estimulação nas crianças no espaço
do lar, algumas acabam por relatar dificuldades nesse manejo:
[...] eu faço estimulação em casa as vezes, mas é difícil. Nem sempre eu
acho tempo. (Mãe 10)
[...] o tempo é curto. A gente é dona de casa, está sempre ocupada, mas eu
procuro mostrar a ela os brinquedos, falar os nomes, sempre que eu posso,
eu faço isso. (Mãe 09)
Nesses discursos fica evidente a questão tempo, especialmente pelo acúmulo de atividades,
como condição que interfere na possibilidade de realizar EP no lar.
O uso das tecnologias, em particular na área da saúde, acaba atuando como
instrumento que contribui para a formação do conhecimento, e das práticas, de pessoas com
necessidades específicas (NOBRE; SOUSA; NOBRE, 2015). Em particular, o uso de
tecnologias para as práticas de EP no lar, foi bem percebido pelas mães:
Eu achei ótimo. Bem prático e fácil de fazer [...] eu sempre gosto bastante de
todas as atividades apresentadas até hoje. Muito bem planejado. Ajuda muito
as atividades orais na mastigação dele que tem dificuldade de deglutição.
(MÃE 10)
Eu achei muito interessante e importante, porque são atividades simples que
qualquer membro da família pode fazer e não são demorados, não estressam
a criança [...] além de trazerem benefícios [...] (MÃE 9)
Os relatos acima demonstraram que o uso da tecnologia na estimulação das crianças
com microcefalia no ambiente domiciliar foi bem recebido pelas mães. Pôde-se observar que
mesmo as que apresentaram, em um primeiro momento, dificuldades com sua utilização,
mudaram sua relação com a tecnologia.
Outro recurso relacionado a tecnologia foi o grupo do WhatsApp que desempenhou
papel importante na pesquisa. Além de sua utilização para a postagem dos vídeos,
orientações, avisos e lembretes, ele permitiu uma maior aproximação entre as mães e entre a
pesquisadora e as mães. Algumas participantes que, no início da pesquisa, não entendiam
como o grupo iria ajudá-las, ao final estavam motivando outras mães fora do grupo.
É uma oportunidade para que a gente no futuro possa participar de outros
grupos e ensinar outras mães que, ainda não sabem lidar com essa condição
da criança [...] (MÃE 6)
Tal discurso reforça a ideia de que as orientações e os vídeos com as atividades de
estimulação favoreceram a apropriação de conhecimento, já que era possível visualizar as
atividades a serem reproduzidas com as orientações necessárias.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 222
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O mais importante para mim foi o vídeo, porque com ele eu não faço mais
“na doida”, pois eu tenho o vídeo para me orientar. Então eu acho muito
importante [...] (MÃE 1)
Eu assisti todos os vídeos, e eu senti que eles ajudaram muito ela. Todos os
vídeos foram muito importantes, e eu continuo fazendo as atividades até hoje
[...] (MÃE 3)
Foi possível perceber uma maior segurança na realização das atividades a partir da
existência de vídeos explicativos. Para muitas mães a realização da estimulação precoce no lar
pode se caracterizar como algo assustador, tendo em vista a ausência de um profissional para
a realização da ação.

Conclusão
Com base nos discursos apresentados, para as mães essa pesquisa foi um momento de
apropriação, no qual sentiram-se acolhidas, empoderadas, partes de um processo e
corresponsáveis pelo desenvolvimento dos seus filhos. Os profissionais, por sua vez, podem e
devem se apropriar do uso dessas tecnologias como ferramenta de enfretamento na melhoria
da assistência em saúde, ampliando o olhar da família e a relação com os serviços.
A união de pais, profissionais e tecnologias pode significar melhoras satisfatórias no
desenvolvimento da criança, desde que haja compromisso por parte dos profissionais e
disposição, por parte dos familiares, para construir e desenvolver um acompanhamento virtual
de qualidade

Agradecimentos
Agradeço ao Programa CNPq/PIBIC pelo financiamento do projeto de pesquisa, à
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN pela concessão da bolsa de
iniciação científica e a todos que compõe o Núcleo de Atenção Materno-Infantil – NAMI pela
experiência, aprendizados, apoio e oportunidade de executar o trabalho.

Referências

NOBRE, R.H.; SOUSA, J.A.; NOBRE, C.S.P. Uso dos Laboratórios de Informática em
Escolas do Ensino Médio e Fundamental no Interior Nordestino. Revista Brasileira de
Informática na Educação, v. 23, n. 3, 2015.
OLIVEIRA, Wanderson Kleber; COELHO, Giovanini Evelim. Boletim Epidemiológico:
situação epidemiológica de ocorrência de microcefalias no Brasil, Bol. Epidemiológico da
SVS/MS, v. 46, n. 34, p. 1-3, Brasília, 2015.
SÁ, Fabiane Elpídio de; CARDOSO, Kátia Virgínia Viana; JUCÁ, Renata Viana Brígido de
Moura. Microcefalia e Vírus Zika: do padrão epidemiológico à intervenção precoce. Rev
Fisioter s Fun, Fortaleza, v. 1, n. 5, p. 2-5, 12 jul. 2016.
TRINDADE, Evelinda. Desenvolvimento da Avaliação de Tecnologias de Saúde no mundo.
BIS Bol. Inst. Saúde, São Paulo, v. 14, n. 2, 2013.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Screening, assessment and management of
neonates and infants with complications associated with Zika virus exposure in útero.
2016. Disponível em: https://www.who.int/csr/resources/publications/zika/assessment-
infants/en/ Acesso em: 24 de setembro de 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 223
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EVOLUÇÃO CLÍNICA DOS PACIENTES COM DOENÇA DE CHAGAS POR


TRANSMISSÃO ORAL
Bruna Souza Ferreira ; Eliane de Freitas Oliveira2; Wogelsanger de Oliveira Pereira3.
1

Palavras-chave: Doença de Chagas. Evolução clínica. Contaminação de alimentos.

1. INTRODUÇÃO

A doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, é considerada


uma doença negligenciada de grande impacto na morbimortalidade com
aproximadamente 6 a 7 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo, a maioria na
América Latina. Destes, cerca de 20% são compostos por brasileiros infectados em
diferentes regiões (YASUDA; CARVALHO, 2012; BRASIL, 2015 apud DIAS et al.,
2016; WHO, 2015). No Nordeste, especificamente no Rio Grande do Norte, esta doença
tem relevância epidemiológica, uma vez que o último inquérito soroepidemiológico
realizado na mesorregião Oeste Potiguar demonstrou soropositividade de 6,5% (BRITO
et al., 2012).
A doença é caracterizada por uma curta fase aguda, seguida de uma longa fase
crônica conhecida como forma crônica indeterminada, que pode durar toda a vida ou
evoluir para as formas cardíaca (20-30%) e/ou ou digestiva (9-14%) (OLIVEIRA, 1991;
PRATA, 2001; ANDRADE et al., 2015; DIAS et al., 2016).
A doença de Chagas por transmissão oral tem ganhado importância
epidemiológica por ser a principal forma de transmissão nas regiões em que há controle
efetivo intradomiciliar e peridomicílio de triatomíneos (YASUDA; CARVALHO, 2012).
Nos últimos anos, foram notificados 1.081 casos por transmissão oral (68,9%) no Brasil
(BRASIL, 2015 apud DIAS et al., 2016). No Rio Grande do Norte, foi confirmado o surto
de doença de Chagas aguda oral, com 18 casos no Município de Marcelino Vieira em
outubro de 2015, possivelmente relacionado à ingestão de caldo de cana (VARGAS et
al., 2018).
Nesse contexto, são necessárias medidas para melhorar o acesso ao diagnóstico e
tratamento precoces, a vigilância contínua, o desenvolvimento de investigações
epidemiológicas consistentes, a capacitação de recursos humanos em saúde para o manejo
da doença de Chagas por transmissão oral, de modo a produzir protocolos para o
tratamento, bem como desenvolver uma rede de assistência para casos graves (YASUDA;
CARVALHO, 2012).
Além disso, torna-se preeminente a necessidade de acompanhamento dos casos
por esse tipo de transmissão, uma vez que os pacientes com comorbidades preexistentes
apresentam complicações clínicas mais frequentes, além de maior risco de evoluir a óbito
em casos de internamento hospitalar (VARGAS et al., 2018).
Dessa forma, este estudo tem como objetivo avaliar a evolução clínica dos
pacientes com doença de Chagas por transmissão oral.

2. METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em cinco tempos (1, 2, 3, 4), referentes à fase aguda da
infecção em outubro de 2015 (tempo 1) e a fase crônica após um ano e meio (tempo 2),
dois anos e meio (tempo 3), e três anos e meio (tempo 4). Esses casos são correspondentes
ao surto de doença de Chagas diagnosticado após ingestão de caldo de cana de açúcar no
município de Marcelino Vieira em outubro de 2015 (BRASIL, 2016).
O grupo de estudo foi constituído por sete pacientes. Para a fase aguda (tempo 1),
a inclusão desses indivíduos foi baseada na presença de anticorpos anti-T. cruzi da classe
1
Estudante do Curso de Medicina do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN); email: ferreirab95@gmail.com .
2
Médica clínica geral pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Email: eliane.freitasoliveira@gmail.com
3
Professor orientador do Departamento de Ciências Biomédicas da UERN. E-mail: wogel.uern@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 224
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

IgM no sangue periférico, associada ao contexto epidemiológico e manifestações clínicas.


Para a fase crônica (tempos 2, 3, 4), a inclusão desses indivíduos foi baseada na sorologia
reagente (anticorpos anti-T. cruzi da classe IgG) para a infecção chagásica a partir de dois
testes com princípios metodológicos ou preparações antigênicas diferentes. Foram
excluídos os indivíduos que não puderam realizar acompanhamento no Ambulatório de
doenças de Chagas da UERN (ADOC-UERN), bem como aqueles indivíduos que o
preferiram fazer em outro serviço de saúde.
Os indivíduos foram submetidos a uma avaliação clínica, abordando
principalmente a presença de sinais e sintomas gerais ou específicos aos sistemas
cardiovascular e gastrointestinal, bem como à realização de um minucioso exame físico.
Para a avaliação completa e detalhada, os exames complementares necessários foram
realizados e avaliados por profissional médico, principalmente no que diz respeito ao
sistema cardiovascular, como o eletrocardiograma e o ecocardiograma transtorácico. Os
resultados obtidos foram submetidos a análise descritiva, sendo a apresentação das
variáveis mensuradas realizada através de medidas descritivas como média e desvio
padrão.
Este estudo pertence ao projeto estruturante denominado “Doença de Chagas: do
vetor a biologia molecular do Trypanossoma cruzi à estratificação do risco de morte em
áreas endêmicas do RN” ao qual foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com seres
humanos da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (CEP-UERN), como
instituição executora.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os sete pacientes incluídos no estudo têm média de idade de 44 anos, variando


entre 10 e 75 anos, dos quais 43% são do sexo feminino e 57% do sexo masculino. Destes
indivíduos, seis realizaram tratamento com Benzonidazol para doença de Chagas na fase
aguda, enquanto que uma paciente do sexo feminino com 75 anos não realizou tratamento.
Os sintomas relatados com maior frequência foram fadiga (100%), febre
prolongada (85,71%), mialgia (85,71%), edema em face (85,71%), edema em membros
inferiores (71,43%), exantema (28,57%) e cefaleia (14,29%). Na avaliação clínica
durante a fase crônica do estudo, os pacientes não relataram nenhum sinal ou sintoma.
Durante a avaliação da fase aguda, a média da pressão arterial de todos os
indivíduos acompanhados clinicamente foi de 112 x 77 mmHg, variando a pressão arterial
sistólica entre 130 e 90 mmHg, enquanto que a pressão arterial diastólica teve o maior
valor aferido de 90 e menor de 60 mmHg. Na fase crônica, a média da pressão arterial
aferida foi de 120 x 81 mmHg, de modo que houve variação da pressão arterial sistólica
entre 140 e 90 mmHg, bem como da pressão diastólica entre 90 e 70 mmHg. Quando
avaliada a frequência cardíaca destes pacientes, a média obtida na infecção aguda foi de
80 batimentos por minuto, com variação entre 100 e 68, enquanto que na infecção crônica,
a média obtida foi 64 batimentos por minuto, variando entre 88 e 52 batimentos.
As alterações eletrocardiográficas foram observadas em apenas dois indivíduos,
apenas na fase crônica da doença. O indivíduo 01 apresentou baixa voltagem do complexo
QRS, taquicardia sinusal e desvio de eixo para a esquerda apresentada apresentadas
apenas no tempo 02 do estudo, evoluindo sem alterações nos demais tempos de estudo,
enquanto que o indivíduo 02 apresentou baixa voltagem no tempo 03, persistindo com a
alteração no tempo 04 do acompanhamento clínico.
As manifestações clínicas abrangem desde quadros assintomáticos até casos que
evoluem com insuficiência cardíaca grave, choque cardiogênico e óbitos. Os achados
clínicos mais comuns são febre prolongada, cefaleia, palidez, mialgias, exantema e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 225
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

edemas de face e membros inferiores (DIAS et al., 2016). A febre é a manifestação


predominante na quase totalidade dos casos, com temperatura elevada de início contínuo
e, posteriormente, de caráter vespertino com duração média total de 18 dias. A mialgia
pode ser intensa, generalizada e caracterizada em pontada (PINTO et al., 2008). O edema
de membros inferiores e de face, normalmente coincide com o desaparecimento da febre,
com características de edema inflamatório, inelástico e pouco doloroso. O exantema é do
tipo macular, não pruriginoso e não doloroso, localizado em geral no tórax, dorso,
membros inferiores e pescoço, poupando face e regiões palmo plantares, demonstrando
sinal de abundante parasitemia característica da transmissão oral (DIAS et al., 2016).
A evolução assintomática dos pacientes acompanhados no estudo, os classifica
com a forma indeterminada da doença de Chagas. Segundo Dias e colaboradores (2016),
São considerados portadores dessa forma clínica os indivíduos em fase crônica com
sorologia reagente e/ou exame parasitológico positivo para T. cruzi, os quais não
apresentam síndrome clínica específica da doença, e com resultados de ECG
convencional, estudo radiológico de tórax, esôfago e cólon normais.
Os pacientes acompanhados não apresentaram alterações expressivas nos exames
clínico e físico sugestivas de miocardite chagásica aguda, de modo que o
eletrocardiograma também não apresentou alterações na fase aguda. Dois indivíduos
mostraram alterações ecocardiográficas inespecíficas na fase crônica da doença.
O ECG mostra-se alterado na maioria dos casos de miocardite aguda chagásica
por transmissão oral, mostrando alterações difusas da repolarização ventricular, intervalo
QTc prolongado, sobrecarga de átrio esquerdo, baixa voltagem dos complexos QRS,
bloqueios atrioventriculares, bloqueios de ramo, taquicardia sinusal e fibrilação atrial
(DIAS et al., 2016). O eletrocardiograma tem elevado valor prognóstico, uma vez que um
traçado normal na fase aguda se relaciona apenas com o desenvolvimento de alterações
na fase crônica em 30 %, enquanto que 61% dos que apresentam alguma alteração na fase
aguda desenvolvem a cardiomiopatia chagásica crônica (NAVARRO, 2014).
Enquanto o ECG estiver normal, o prognóstico dos casos com doença de Chagas
na forma indeterminada é semelhante ao da população geral, sendo que a realização desse
exame de maneira seriada pode detectar a evolução para a forma cardíaca. Dessa forma,
não se recomenda realizar outros exames complementares de rotina enquanto o ECG for
normal (DIAS et. al., 2016).

4. CONCLUSÃO

A evolução clínica da doença de Chagas por transmissão oral acontece de forma


incipiente, com alterações sutis e inespecíficas nos exames complementares,
principalmente eletrocardiograma, o qual deve ter sua frequência seriada para diagnóstico
precoce da evolução para as formas clínicas da doença, principalmente para forma
cardíaca, a qual se destaca pela maior morbimortalidade.

5. REFERÊNCIAS

1. ANDRADE C.M.; et al. Chagas disease: morbidity profile in an endemic area of


Northeastern Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, vol. 48,
n.6, 2015.
2. BRITO CRN; et al. Seroepidemiology of Trypanosoma cruzi infection in the semiarid
rural zone of the State of Rio Grande do Norte, Brazil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop,
vol. 45, n.3, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 226
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

3. DIAS, J.C.P.; et al. II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas. Epidemiol. Serv.


Saúde, vol. 25, n. (esp.), 2016.
4. NAVARRO, I.C. Perfil de expressão de microRNAs no miocárdio na infecção
aguda pelo Trypanosoma cruzi em camundongos. Dissertação (Mestrado).
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2014.
5. OLIVEIRA J.R. Forma indeterminada da Doença de Chagas. Implicações
médicotrabalhistas. Arq. Bras. de Card, vol. 54, n.2, 1991.
6. PINTO, A.Y.N.; et al. Fase aguda da doença de Chagas na Amazônia brasileira. Estudo
de 233 casos do Pará, Amapá e Maranhão observados entre 1988 e 2005. Revista da
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 41, n. 6, p. 602-614, 2008.
7. PRATA A. Clinical and epidemiological aspects of Chagas disease. Lancet Infect.
Dis, vol. 1, n.2, 2001.
8. VARGAS A.; et al. Investigação de surto de doença de Chagas aguda na região extra-
amazônica, Rio Grande do Norte, Brasil, 2016. Cad. Saúde Pública, vol. 34, n.1,
2018.
9. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Chagas disease in Latin America: an
epidemiological update based on 2010 estimates. Weekly epidemiological record,
vol. 90, n. 6, 2015.
10. YASUDA, M.A.S.; CARVALHO, N.B. Oral Transmission of Chagas Disease.
Clinical Infectious Diseases, vol. 54, n. 6, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 227
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FATORES DE RISCO CARDIOVASCULARES EM TRABALHADORES


DO CAMPUS AVANÇADO DE PAU DOS FERROS (CAPF/UERN)

Laise Lara Firmo Bandeira1; Izael Gomes da Silva 2; Maria Dianna Sousa2; Sara Taciana
Firmino Bezerra3

Palavras-chave: Doenças Cardiovasculares. Saúde do Trabalhador. Enfermagem.

INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares (DCVs) são um grupo de doenças que afetam o coração


e os vasos sanguíneos. Apresentam origem multifatorial, ou seja, determinadas e condicionadas
por diversos fatores, sejam eles modificáveis ou não modificáveis. Como fatores não
modificáveis temos idade, etnia, histórico familiar, já os fatores modificáveis, considerados
passíveis de prevenção, são a hiperlipidemia, tabagismo, etilismo, hiperglicemia, obesidade,
sedentarismo, estresse, e alimentação inadequada (OPAS, 2017; ULGUIM et al, 2019).
Configurando-se como a principal causa de morte no mundo, sobretudo em países de
baixa e média renda, as DCVs apresentam no Brasil grandes desafios à saúde pública, além de
impor limitações à qualidade de vida dos indivíduos relacionadas a aspectos físicos, sociais,
financeiros e de saúde (BRASIL, 2013).
O local, a estrutura da organização e as condições e ritmos de trabalho no qual o
trabalhador está inserido, como as longas jornadas de trabalho, não realização de atividades
físicas e lazer, o estresse, conflitos no trabalho, deslocamento para trabalhar e a adoção de
hábitos alimentares não saudáveis podem influenciar no adoecimento cardiovascular (JODAS
et al, 2009).
Neste sentido, é de grande valia identificar os fatores de risco para o adoecimento
cardiovascular em trabalhadores de uma Instituições de Ensino Superior, que embora
carreguem especificidades quanto à ocupação trabalhista, trabalham e dividem o mesmo espaço
físico da IES em seus turnos de trabalho e carregam algumas similaridades quanto à rotina de
vida que podem levar ao desenvolvimento de DCVs .
Diante do exposto, foram propostos os seguintes objetivos de ordem mais específica:
verificar os dados clínicos e antropométricos dos trabalhadores do CAPF e avaliar os fatores de
risco cardiovascular dos trabalhadores do CAPF.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de natureza básica, com abordagem descritiva


predominantemente quantitativa junto aos trabalhadores do Campus Avançado de Pau dos
Ferros (CAPF), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética, sob número: 3.244.100,
conforme exigências estabelecidas pela Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde,

1 Estudante do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado de
Pau dos Ferros -CAPF/UERN; email: laisebandeira@alu.uern.br;
2
estudantes do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado de
Pau dos Ferros -CAPF/UERN; email: izaelsilva@alu.uern.br; diannasouza97@gmail.com
3 Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,

Campus Avançado de Pau dos Ferros -CAPF/UERN. Membro do Grupo de Pesquisa Conhecimento, Enfermagem
e Saúde das Populações - GRUPESCES; e-mail: sarataciana@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 228
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

que trata da pesquisa envolvendo seres humanos. Todos os participantes assinaram e receberam
uma cópia do Termo de Consentimento livre e esclarecido.
Participaram da pesquisa 33 trabalhadores, sendo 27 docentes e 6 técnicos
administrativos. Os mesmos atenderam aos critérios de inclusão, vínculo empregatício com a
UERN e exercício de suas funções trabalhistas no (CAPF). Foram excluídos os trabalhadores
que estavam sob: licença maternidade, férias e atestado médico durante o período de coleta de
dados.
A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de formulário contendo dados
de identificação, psicossociais, demográficos, e de fatores de risco para o adoecimento
cardiovascular. Foi incluído no formulário exame físico composto por aferição das medidas
antropométricas, pressão arterial e glicemia. Todos seguindo os parâmetros da VII Diretriz
Brasileira de Hipertensão Arterial.
Uma vez realizada a coleta dos dados, os resultados obtidos foram organizados em
banco de dados informatizado com o auxílio do programa Excel e submetidos a análise. Após
a estruturação final os resultados foram descritos conforme o perfil da mostra.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram da pesquisa 33 trabalhadores, (27 docentes e 6 técnicos administrativos.


Sendo a maioria do sexo masculino (57,6%) e com predomínio de idade até os 50 anos (87,9%).
Com relação a autodeclaração de cor/etnia foi mais presente a cor branca (63,6 %).

Tabela 1. Características socioeconômicas dos trabalhadores do CAPF. Pau dos Ferros, 2020.
Variáveis n %
Sexo
Masculino 19 57,6
Feminino 14 42,4
Idade (anos)
25 a 40 17 51,5
41 a 50 12 36,4
51 a 60 4 12,1
Raça
Branca 21 63,6
Parda 9 27,4
Negra 1 3,0
Amarela 1 3,0

Fonte: Dados próprios dos autores, 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 229
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Tabela 2: Fatores de Risco para o Adoecimento Cardiovascular dos trabalhadores do CAPF. Pau dos Ferros, 2020.
Variáveis n %
Sedentarismo 10 30,3
Etilismo 0 0
Tabagismo 1 3,0
IMC
Baixo peso (<18,5Kg/m²) 0 0
Normal (≥18,5kg/m² e ≤ 24,9kg/m²) 12 36,3
Sobrepeso (≥25Kg/m² e ≤ 29,9kg/m²) 14 42,4
Obesidade classe I (≥30Kg/m² e ≤ 34,9kg/m²) 6 18,2
Obesidade classe II (≥35Kg/m² e ≤ 39,9kg/m²) 1 3,0
Obesidade classe III (> 40 Kg/m²) 0 0
Circunferência Abdominal
Normal (<80 para mulheres) 5 15,1
Normal (< 94para homens) 9 27,3
Elevado (>80 para mulheres) 9 27,3
Elevado (>94 para homens) 10 30,3
Pressão arterial sistêmica (mmHg)
Normal ≤ 120 mmHg 24 72,8
Pré-hipertensão 120-139 mmHg 7 21,2
Hipertensão estágio I 140-159 mmHg 2 6,0
Hipertensão estágio II 160- 179 mmHg 0 0
Hipertensão estágio III ≥ 180 mmHg 0 0

Fonte: Dados próprios dos autores, 2020.

Com relação ao sedentarismo, os resultados revelam que 30,3% dos participantes não
praticam atividade física, o que pode contribuir para maiores chances de elevação dos níveis
pressóricos segundo estudo que analisou a associação entre atividade física e fatores risco
cardiovasculares (BERNARDO et al, 2013).
Em relação ao IMC e medidas antropométricas, constatou-se que a maioria dos
trabalhadores do CAPF encontram-se agrupados em duas categorias do IMC, sobrepeso e
obesidade classe I (60,6 %). Enquanto que nos dados referentes à medida da circunferência da
cintura foi encontrada medida elevada em 57,5% dos entrevistados, apresentando resultados
semelhantes aos encontrados na pesquisa de Audi (2016) sobre os fatores de risco para DCVs
em servidores de instituição prisional.
Quanto à pressão arterial sistólica os resultados foram semelhantes aos encontrados
por Oliveira (2017) em estudo realizado com docentes de uma Instituição de Ensino Superior,
onde verificou-se que a maioria dos participantes apresentam valores pressóricos normais
(72,7%), embora apresentem outros fatores de risco cardiovasculares.

CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos, percebe-se a prevalência de fatores de risco para o
desenvolvimento de patologias cardiovasculares nos trabalhadores do CAPF embora os
mesmos apresentem elevado nível de escolaridade, baixa faixa etária e não sejam etilistas nem
tabagistas, o que pode estar relacionado a outros fatores aqui não analisados como
hereditariedade, alimentação, hiperlipidemia e estresse.

AGRADECIMENTOS

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 230
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pela possibilidade de realizar a


pesquisa. Ao programa PIBIC/UERN pela oportunidade e concessão da bolsa. Aos
participantes que direta e/ou indiretamente contribuíram para a construção desse estudo.

REFERÊNCIAS

AUDI, Celene Aparecida Ferrari et al. Fatores de risco para doenças cardiovasculares em
servidores de instituição prisional: estudo transversal. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v.
25, p. 301-310, 2016.
BERNARDO, Aline Fernanda Barbosa et al. Associação entre atividade física e fatores de
risco cardiovasculares em indivíduos de um programa de reabilitação cardíaca. Revista
Brasileira de Medicina do Esporte, v. 19, n. 4, p. 231-235, 2013.
BRASIL. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: hipertensão arterial
sistêmica. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível
em<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategias_cuidado_pessoa_doenca_cronica.p
df> Acesso em 10 de Setembro de 2019.
JODAS, D. A. et al. Risco para doenças cardiovasculares de trabalhadores de higiene de um
hospital universitário público. Revista Mineira de Enfermagem, v. 13, n. 3, p. 399-406,
2009. Disponível em < http://www.reme.org.br/artigo/detalhes/205 > Acesso em 10 de
Setembro de 2019.
OLIVEIRA, Webert Junior de et al. Avaliação da Pressão Arterial de Docentes de uma
Instituição de Ensino Superior. NBC-Periódico Científico do Núcleo de Biociências, v. 7, n.
14, 2017.

OPAS. Organização Pan Americana de Saúde. Doenças Transmissíveis e não


Transmissíveis. 2017. Disponível em: <
https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=569:conceito-
doencas-cronicas-nao-transmisiveis&Itemid=463. Acesso em: 09/09/2019

ULGUIM, F.O. et al. Trabalhadores da saúde: risco cardiovascular e estresse ocupacional.


Res. Bras. Med. Trab. V.17, n.1, p. 61-68, 2019. Disponível em: <
http://www.rbmt.org.br/details/421/pt-BR/trabalhadores-da-saude--risco-cardiovascular-e-
estresse-ocupacional. Acesso em: 02/09/2019

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 231
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA E DIABETES: UMA


ANÁLISE SOBRE ANATOMOFISIOPATOLOGIA BÁSICA E
FATORES DE RISCO

Letícia de Lima Mendonça1; Thiago Luís de Holanda Rego1; Natanias Macson da Silva1;
Allyssandra Maria Lima Rodrigues Maia2
1
Estudantes do Curso de Medicina do Departamento de Ciências Biomédicas, da Faculdade de
Ciências da Saúde, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-mails:
leticiadlm10@gmail.com; thiagolholanda100@gmail.com; nataniasmacson95@gmail.com.
2
Professor do Curso de Medicina do Departamento de Ciências Biomédicas, da Faculdade de
Ciências da Saúde, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-mail:
allyssandramr@hotmail.com.

Palavras-chave: Doença Crônica. Saúde Pública. Adolescência. Metodologias Ativas.

Introdução
As mudanças socioeconômicas e culturais intensificadas nas últimas décadas trazem
consigo uma maior prevalência de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e seus
fatores de risco, como a obesidade e o sedentarismo (DUARTE; BARRETO, 2012). Fato o qual
reitera essa realidade é o de que 73,9% dos óbitos ocorridos no Brasil em 2010 tem associação
com DCNT (RATTNER et al, 2012), dentre as quais estão a Diabetes, a qual, em 2019, colocou
o Brasil na quinta posição entre os países com maior número de pessoas acometidas por essa
doença (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2019), e a Hipertensão Arterial
Sistêmica (HAS), com prevalência de cerca de 25% na população adulta brasileira, havendo
estimativas de que esse número atinja 40% em 2025 (SILVA et al., 2016).
A melhoria nas condições de vida de uma população perpassa constantemente os
fundamentos da saúde e da educação (CARVALHO, 2015). É o que prevê a Organização
Mundial de Saúde (OMS) ao propor o conceito de Educação em Saúde, definida como a
combinação de experiências de aprendizado articuladas com o fim de expandir o conhecimento
e influenciar o comportamento de indivíduos e comunidades, fornecendo subsídios para
melhorar sua saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018). A interação entre tais eixos
surge, portanto, como uma ferramenta de construção da participação popular nos serviços de
saúde e, simultaneamente, de aperfeiçoamento da intervenção científica no cotidiano das
famílias e sociedades (VASCONCELOS, 1998).
Nesse contexto, entendendo a adolescência como um período em que comportamentos
a serem transferidos à vida adulta serão estabelecidos (VIERO et al., 2015), percebe-se a
importância de orientar o adolescente a se tornar sujeito ativo do seu cuidado, da promoção da
saúde e da prevenção de agravos. O presente estudo, portanto, tem por objetivo avaliar a eficácia
de metodologias ativas não só em constatar o atual cenário do ensino básico da Mesorregião
Oeste Potiguar frente à HAS e à Diabetes, mas também em disseminar o conhecimento
anatomofisiológico necessário para compreensão dos seus fatores de risco e complicações,
auxiliando o discernimento entre o saber científico e senso comum.

Metodologia
O presente estudo trata-se de um corte transversal de natureza quantitativa realizado
com 273 alunos regularmente matriculados no segundo ano do ensino médio de escolas públicas
estaduais pertencentes a 12a Diretoria Regional de Educação, na mesorregião do Oeste Potiguar.
A população foi estratificada de maneira proporcional, garantindo uma amostra representativa

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 232
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

da região e de cada escola, sendo excluídas aquelas cujo número de participantes previsto fosse
inferior a 13, por inviabilidade metodológica. As estratégias utilizadas como metodologias
ativas são descritas na Figura 1.
A obtenção dos dados se deu por aplicação de um mesmo questionário padronizado
antes e após a ação educativa, a fim de constatar o impacto da intervenção no entendimento
sobre Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes. A abordagem de cada um desses temas no
questionário possuía quatro questões de múltipla escolha, as quais tratavam prioritariamente de
um dos seguintes aspetos: anatomia, fisiologia, fatores de risco ou senso comum versus
conhecimento científico. Os dados coletados foram armazenados em arquivo do programa
Excel (versão 2013), sendo posteriormente submetidos à análise estatística descritiva, com base
em frequências absolutas e relativas.
É importante enfatizar que este estudo foi aprovado pelo comitê de Ética e Pesquisa
(CEP-UERN), sob o número 3.145.023. Assim, para que o aluno participasse da pesquisa, era
obrigatória a apresentação de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou de
um Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE).

Figura 1: Descrição metodológica.

Fonte: Próprio autor, 2020. Mossoró/RN.

Resultados e Discussão
Analisando o contexto anterior à intervenção, o desempenho dos alunos deixou muito
a desejar, como mostra a Figura 2. Esse cenário é ainda mais preocupante frente ao tema de
Diabetes, o qual obteve porcentagens de acerto inferiores às de HAS em ambos os questionários
aplicados (21,80% versus 26,56% no pré-ação e 49,24% versus 56,59% no pós-ação). Nessa
perspectiva, o principal eixo de dificuldade apresentado pelos alunos foi referente à anatomia,
o qual teve a menor média de acertos tanto antes da ação (13,74%), empatado com Fisiologia,
quanto no após ela (20,42%). Concomitantemente, as questões que avaliavam essa competência
previamente à intervenção foram as que os alunos mais disseram não saber responder em ambos
os temas avaliados, tendo apenas 39,93% de acertos na referente à HAS e 45,05% na que
abordava Diabetes. Esta última foi, ainda, a pergunta mais errada de todo o questionário, na
qual apenas 8,42% dos alunos marcaram a assertiva correta.
O primeiro impacto importante da ação educativa realizada foi, portanto, o acréscimo
em mais de 100% na quantidade de acertos dos alunos entre os questionários pré e pós
intervenção (de 24,17% para 52,91%), o que constata uma melhora no repertório intelectual
destes e na sua capacidade de atuar frente à manutenção da saúde e à preservação da vida da
sua família e comunidade. Assim, em consonância com a habilidade preconizada pela Base
Nacional Comum Curricular para os estudantes do Ensino Médio (MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO, 2017), ações educativas como a aqui proposta podem ser um elemento chave
para a detecção e avaliação de vulnerabilidades relacionadas aos desafios contemporâneos que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 233
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

os jovens estão expostos, com o intuito de desenvolver e propagar ações de prevenção e


promoção da saúde e do bem-estar.

Figura 2: Acertos por eixos nos questionários pré e pós ação educativa.

Fonte: Próprio autor, 2020. Mossoró/RN.

O eixo sobre os principais fatores de risco para as patologias abordadas foi o que os
alunos obtiveram melhor média de acertos antes da ação (41,58%). Tal constatação pode ter
relação com o fato de a temática ser bastante explorada pela mídia e pelas fontes de
comunicação, o que reafirma a importância de práticas pedagógicas relacionadas à saúde e à
educação como forma de estimular a prevenção a tais agravos e, consequentemente, de evitar
que as demandas em saúde sejam dependentes de bens e serviços médico-assistenciais ou, até
mesmo, vistas de uma perspectiva normativa e higienista (CARVALHO, 2015).
Concomitantemente, ganhou destaque durante análise dos dados a importante melhora
dos estudantes no eixo relacionado ao senso comum versus conhecimento científico, no qual se
observou quase 2,4 vezes mais acertos no questionário pós intervenção em relação ao pré
intervenção, indo de 27,66% para 65,65%. A relevância de tal avanço é percebida, por exemplo,
quando quase 18% da amostra considerou correta, em momento inicial, a assertiva que
orientava a interrupção do tratamento com insulina em pacientes diabéticos pelo seu potencial
em causar dependência química, quando na verdade esse ato pode trazer graves consequências
para a saúde do indivíduo e apenas deve ser feita sob orientação médica. Outras assertivas
anteriormente mal esclarecidas no repertório dos estudantes diziam respeito a hábitos
alimentares e de exercícios físicos, os quais são cruciais para o tratamento de ambas as
patologias e devem ser bem orientados.
Por fim, um aspecto curioso encontrado nas análises dos dados refere-se ao fato de que
as escolas localizadas em Zona Rural, apesar de terem tido uma média menor de acertos entre
ambos os questionários (34,91%) quando comparadas às de Zona Urbana (39,20%), obtiveram
melhor desempenho nas perguntas que contrapunham o senso comum e o conhecimento
científico (48,78% contra 46,27% de acertos). Contudo, não se deve excluir a possibilidade do
achado ter acontecido ao acaso, tendo em vista a menor amostra de estudantes da zona rural
(41) quando comparada à zona urbana (232)
De todo modo, o presente estudo reafirma um potencial importante demonstrado pelas
metodologias ativas de fornecer um aprendizado significativo de Anatomia e Fisiologia
Humana, o que é corroborado pela sua capacidade de manter a motivação dos estudantes na
busca pelo aprendizado (MARCONDES, 2015) e de despertar a sua curiosidade, à medida que
se inserem na teorização e trazem novos elementos (BERBEL, 2011). Assim, tais metodologias
mostram ser alternativas para integrar e dinamizar o ensino-aprendizado, podendo ser cruciais
para a educação em saúde e para o autocuidado ao longo da vida.

Conclusão
O conhecimento prévio dos estudantes acerca de HAS e Diabetes, dois dos agravos mais
prevalentes na atualidade, deixou a desejar e merece atenção futura, sendo tal déficit

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 234
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

especialmente importante no contexto dos conhecimentos anatomofisiológicos básicos.


Contudo, as metodologias ativas utilizadas foram capazes de melhorar significativamente o
desempenho dos alunos em todos os eixos, com destaque para a desmistificação de noções
errôneas propagadas pelo senso comum. Sugere-se, portanto, a maior experimentação dessa
alternativa como meio de dinamizar o processo ensino-aprendizagem, principalmente no
âmbito da Educação em Saúde, contribuindo para prevenção de agravos e prevenção da saúde.

Agradecimentos
Os agradecimentos do presente estudo são destinados ao CNPq pela concessão da
bolsa, à UERN e à 12ª DIRED pela parceria, aos estudantes participantes da pesquisa e toda a
equipe de apoio das instituições de ensino visitadas, como professores e equipe pedagógica.

Referências
BERBEL, Neusi Aparecida Navas. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de
estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, v. 32, n. 1, p. 25-40, 2011.
CARVALHO, Fabio Fortunato Brasil de. A saúde vai à escola: a promoção da saúde em
práticas pedagógicas. Physis, Rio de Janeiro, v. 25, n. 4, p. 1207-1227, Dec. 2015.
DUARTE, Elisabeth Carmen; BARRETO, Sandhi Maria. Transição demográfica e
epidemiológica: a Epidemiologia e Serviços de Saúde revisita e atualiza o tema.
Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 21, n. 4, p. 529-532, 2012.
INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION. IDF Diabetes Atlas, 9th edn. Brussels,
Belgium, 2019. Disponível em: https://www.diabetesatlas.org. Acesso em 29 jun. 2020.
MARCONDES, Fernanda Klein. Experiências no uso de metodologias ativas no ensino de
Fisiologia, em um curso de graduação em Odontologia. III Simpósio Internacional de
Inovação em Educação, p. 1-10, 2015.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2017.
Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 29 jul. 2018.
RATTNER, Daphne et al. As cesarianas no Brasil: situação no ano de 2010, tendências e
perspectivas. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Brasil 2011: uma análise da situação
de saúde e a vigilância da saúde da mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2012, v. 1, p. 371-
397 2012.
SILVA, Elcimary Cristina et al. Prevalência de hipertensão arterial sistêmica e fatores
associados em homens e mulheres residentes em municípios da Amazônia Legal. Rev. bras.
epidemiol., São Paulo , v. 19, n. 1, p. 38-51, Mar. 2016.
VASCONCELOS, Eymard Mourão. Educação popular como instrumento de reorientação das
estratégias de controle das doenças infecciosas e parasitárias. Cad. Saúde Pública, Rio de
Janeiro , v. 14, supl. 2, p. S39-S57, 1998.
VIERO, Vanise dos Santos Ferreira et al. Educação em saúde com adolescentes: análise da
aquisição de conhecimentos sobre temas de saúde. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro , v. 19,
n. 3, p. 484-490, Sept. 2015.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Health education. Geneva, 2020. Disponível em:
<http://www.who.int/topics/health_education/en/>. Acesso em: 31 jul. 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 235
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INDICADORES BIOLÓGICOS, FUNCIONAIS E DE TREINAMENTO EM


FUTEBOLISTAS DE DIFERENTES CATEGORIAS DE FORMAÇÃO

Arthur Ayron Leonardo da Silva 1; Paulo Vitor Pereira da Silva 2; Marcelo Henrique Alves
Ferreira Silva3.
Palavras-chave: Futebol. Antropometria. Maturação. Treinamento. Desempenho.

Introdução
Alguns estudos têm coletado informações sobre a morfologia, maturação
biológica e desempenho funcional de jovens futebolistas, afim de caracterizar,
compreender e sistematizar o processo de formação esportiva dessa população
(FIGUEIREDO et al., 2009; MALINA; FIGUEIREDO; COELHO-E-SILVA, 2017;
VALENTE-DOS-SANTOS et al., 2012). Além disso, estudos prévios buscaram
compreender o processo de seleção de talentos no futebol (BUCHHEIT et al., 2012;
CARLING; LE GALL; MALINA, 2012; FIGUEIREDO; COELHO E SILVA; MALINA,
2011). Apesar do aumento de estudos nessa temática, geralmente as análises se concentram
em países europeus e na faixa etária de 11 a 14 anos (FIGUEIREDO et al., 2011).
Entretanto, são escassos os estudos sobre os jovens futebolistas brasileiros nas
últimas categorias de formação, bem como as características de seu treinamento, destinado
ao alto rendimento. Essas informações podem contribuir para a criação de uma base de
dados que permita esclarecer e acompanhar os jogadores que chegam na última fase da
formação esportiva, com informações adequadas para seguir no processo de treinamento
em longo prazo.
Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi descrever e comparar indicadores
biológicos, funcionais e de treinamento de jovens futebolistas em diferentes categorias de
formação.
Metodologia
Participaram do presente estudo 26 jogadores da categoria sub-16 (15.53 ± 0.43
anos; 173.9 ± 6.4 cm; 65.1 ± 6.7 kg; 1.01 ± 1.10 anos de experiência esportiva), e 33 da
categoria sub-18 (17.27 ± 0.61 anos; 175.0 ± 6.2 cm; 65.8 ± 7.9 kg; 1.66 ± 1.04 anos de
experiência esportiva), do sexo masculino, pertencentes a um clube da região Nordeste do
Brasil. Os indicadores biológicos dos jogadores foram definidos através da caracterização
das variáveis antropométricas (massa corporal, estatura e adiposidade), da idade
cronológica e da maturação. As medidas antropométricas dos jogadores foram avaliadas
de acordo com o protocolo estabelecido por Lohman, Roche e Martorell (1988). Para este
fim, foram obtidos os valores de estatura, massa corporal e adiposidade (somatório das
dobras de gordura subcutânea tricipital, subescapular, suprailíaca, coxa, perna e
abdominal). A maturação biológica foi determinada pela idade esquelética, a partir do
exame radiológico da mão e punho esquerdos, através dos procedimentos previstos no

1
Estudante do curso de Educação Física do Departamento de Educação Física da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: arthurayron@hotmail.com
2
Estudante do curso de Educação Física do Departamento de Educação Física da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: paulo_vitor.silva@hotmail.com
3
Professor do Departamento de Educação Física da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte; Líder (Coordenador) do Grupo de Pesquisa Diagnóstico, Quantificação e
Controle da Carga de Treinamento no Esporte (UERN); e-mail: marcelosilva@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 236
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

método FELS (ROCHE; THISSEN; CHUMLEA, 1988). A categorização dos atletas por
grupo maturacional foi determinada de acordo com Malina et al. (2010).
Os indicadores de desempenho foram definidos pela capacidade intermitente e
cardiorrespiratória. Para as variáveis de desempenho foi aplicado o teste de desempenho
intermitente Brazilian Soccer Test (SILVA; LIPAROTTI; FIGUEIREDO, 2015), sendo
verificada a distância alcançada. Além disso, foi realizada uma avaliação direta
cardiorrespiratória, através de um teste de esforço máximo em esteira rolante, segundo o
protocolo descrito no estudo de Castagna et al. (2006), para o diagnóstico do consumo
máximo de oxigênio (VO2 max). No que se refere ao indicador de treinamento, foi
determinada a experiência esportiva, isto é, o tempo, em anos, de prática da modalidade.
Para o tratamento estatístico dos dados foram realizadas análises descritivas
relativamente às variáveis biológicas, variáveis de desempenho e para os indicadores de
treinamento das categorias sub-16 e sub-18. O teste Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para
verificar a normalidade de distribuição dos dados. Posteriormente, realizou-se o teste de
Levene, para verificar a homogeneidade das variâncias. Observando que a distribuição dos
dados foi homogênea, recorreu-se ao teste t de Student para amostras independentes, com
o intuito de constatar diferenças entre os jogadores da categoria sub-16 e da sub-18,
referente às variáveis biológicas, de desempenho e de treinamento. Todos os
procedimentos estatísticos utilizaram o nível de significância de p < 0,05 e foram realizados
no software Statistical Package for Social Science (SPSS ®, Chicago, USA) para
Windows®, versão 20.0.
Resultados e Discussão
Os resultados descritivos e comparativos das variáveis biológicas, funcionais e de
treinamento entre futebolistas sub-16 e sub-18 estão descritos na Tabela 1. Os resultados
mostraram que não houve diferença significativa entre as categorias sub-16 e sub-18, em
relação à estatura e a massa corporal. Nossos achados não confirmam os resultados de
estudos anteriores. No estudo de Matta et al. (2014), os futebolistas brasileiros da categoria
sub-17 mostraram-se mais altos e mais pesados que os futebolistas do sub-15. Já na
investigação de Coutinho et al. (2015), os futebolistas portugueses do sub-17 e sub-19
apresentaram-se, aparentemente, mais altos do que os da categoria sub-15. E ainda, os
portugueses do sub-19 mostraram-se mais pesados do que os jovens do sub-17 e sub-15.
Malina, Coelho-e-Silva e Figueiredo (2013) identificaram que a estatura e a massa corporal
se sobrepuseram consideravelmente aos quatro estágios maturacionais, na investigação de
jovens futebolistas espanhóis e portugueses, entre 15 e 17 anos.
De acordo com os resultados da nossa amostra, verificamos que não houve
diferença significativa entre os jogadores das categorias sub-16 e sub-18, em relação às
variáveis funcionais, apesar de haver tendência dos sub-18 apresentarem melhor
desempenho intermitente e resistência cardiorrespiratória. Valente-dos-Santos et al. (2012)
acompanharam jovens futebolistas portugueses de 10 a 18 anos, durante 5 anos, e
identificaram que o desenvolvimento do desempenho aeróbio esteve significativamente
relacionado com a idade cronológica, idade esquelética e com o volume de treinamento
anual. O desempenho aeróbio avançou, quase linearmente, entre os 10 e 18 anos e não se
sabe se este desempenho continua a crescer após a idade esquelética de 18 anos. Roescher
et al. (2010) observaram um aumento na capacidade de desempenho intermitente com a
idade (sub-14 ao sub-18).
Referente ao indicador de treinamento analisado, os futebolistas do sub-18
apresentaram maior experiência esportiva do que os jovens do sub-16. Nossos resultados
confirmam os achados apresentados em estudos anteriores (COUTINHO et al., 2015;
FIGUEIREDO et al., 2011). Apesar de haver diferença entre os jogadores do sub-16 e do
sub-18, em relação aos anos de prática esportiva, parece que esta variável não contribuiu

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 237
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

para diferenciá-los funcionalmente. Figueiredo et al. (2011) verificaram que a experiência


esportiva foi o indicador que influenciou as variáveis funcionais dos futebolistas
portugueses entre 13 e 14 anos.
Tabela 1. Estatística descritiva e resultados comparativos das variáveis biológicas,
funcionais e de treinamento entre futebolistas sub-16 e sub-18, através do teste t de Student,
para amostras independentes.
Variáveis Sub-16 Sub-18 t (p)
Biológicas
IC, anos 15.53 ± 0.43 17.27 ± 0.61 0.000*
IE, anos 17.25 ± 0.74 17.82 ± 0.28 0.001*
Estatura, cm 173.9 ± 6.4 175.0 ± 6.2 0.505
MC, kg 65.1 ± 6.7 65.8 ± 7.9 0.727
Adiposidade, mm 55.5 ± 13.3 50.6 ± 12.9 0.218
Funcionais
BST, m 1700 ± 190 1760 ± 140 0.195
𝑉̇ O2máx, ml/kg/min 58.73 ± 4.77 60.34 ± 5.90 0.263
Treinamento
Exp Esp, anos 1.01 ± 1.10 1.66 ± 1.04 0.022*
(*) Significância: p<0,05. IC = idade cronológica; IE = idade esquelética; MC = massa corporal; BST =
Brazilian Soccer Test; 𝑉̇O2máx = consumo máximo de oxigênio; Exp Esp = experiência esportiva.
Em relação à idade esquelética, observamos que houve diferença significativa
entre os futebolistas do sub-16 e sub-18. E ainda, a distribuição do estágio maturacional
mostrou maior quantidade de avançados na categoria sub-16, assim como maior quantidade
de normomaturos e maturos na categoria sub-18. Em ambas as categorias não foram
verificados futebolistas no estágio atrasado (Tabela 2). Isto reforça a tendência e
direcionamento para a escolha dos mais avançados, a nível esquelético, no processo de
seleção e/ ou sucesso no futebol (FIGUEIREDO et al., 2009; MALINA et al., 2013;
MALINA et al., 2010; VALENTE-DOS-SANTOS et al., 2012).
Tabela 2. Distribuição dos futebolistas das categorias sub-16 e sub-18, de acordo com o
estágio maturacional.
Estágio Maturacionalᵃ
Categoria Atrasados Normomaturos Avançados Maturos
Sub-16 (n = 26) 0 5 18 3
Sub-18 (n = 31) 0 12 6 13
Total 0 17 24 16
ᵃAtrasados = idade esquelética inferior à idade cronológica em mais de 1 ano. Normomaturos = idade
esquelética dentro da amplitude de ± 1 ano em relação à idade cronológica. Avançados = idade esquelética
superior à idade cronológica em mais de 1 ano. Maturos = maturidade esquelética ou adulto.
O presente estudo tem como limitação a amostra reduzida, o que nos impede de
generalizar os resultados para outros jovens jogadores brasileiros das categorias sub-16 e
sub-18. Estudos futuros poderão analisar outras variáveis como as dimensões psicológica,
técnica e tática, e outros indicadores de treinamento, na mesma faixa etária estudada e em
categorias menores de formação.
A análise das dimensões biológica, de desempenho e de treinamento em diferentes
categorias de formação tem implicações práticas determinantes na prescrição e na
avaliação do efeito do treinamento. Além disso, as variáveis analisadas no presente estudo
poderão contribuir para a identificação e seleção de futebolistas, bem como, para o
acompanhamento e transição destes ao longo do processo de formação.
Conclusão
O que diferenciou os futebolistas sub-16 e sub-18 foram as variáveis idade
esquelética e experiência esportiva. Não houve diferença entre as categorias, em relação ao

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 238
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

tamanho corporal e ao desempenho. A distribuição do estágio maturacional da nossa


amostra seguiu a tendência e direcionamento para a escolha dos mais avançados a nível
esqueléticos nas últimas fases de formação futebolística.
Agradecimentos
Os autores agradecem aos professores colaboradores, ao ABC Futebol Clube, a
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, a Faculdade de Ciências do Desporto e
Educação Física da Universidade de Coimbra (Portugal) e aos atletas.
Referências
1.BUCHHEIT, Martin et al. Assessing maximal sprinting speed in highly trained young
soccer players. International journal of sports physiology and performance, v. 7, n. 1,
p. 76-78, 2012.
2.CARLING, Christopher; LE GALL, Frank; MALINA, Robert M. Body size, skeletal
maturity, and functional characteristics of elite academy soccer players on entry between
1992 and 2003. Journal of sports sciences, v. 30, n. 15, p. 1683-1693, 2012.
3.CASTAGNA, Carlo et al. Aerobic fitness and yo-yo continuous and intermittent tests
performances in soccer players: acorrelation study. The Journal of Strength &
Conditioning Research, v. 20, n. 2, p. 320-325, 2006.
4.COUTINHO, Diogo et al. Typical weekly workload of under 15, under 17, and under 19
elite Portuguese football players. Journal of sports sciences, v. 33, n. 12, p. 1229-1237,
2015.
5.FIGUEIREDO, A. J.; COELHO E SILVA, M. J.; MALINA, R. M. Predictors of
functional capacity and skill in youth soccer players. Scandinavian journal of medicine
& science in sports, v. 21, n. 3, p. 446-454, 2011.
6.Figueiredo, A. J., Gonçalves, C. E., Coelho-e-Silva, M. J., & Malina, R. M. (2009). Youth
soccer players, 11–14 years: maturity, size, function, skill and goal orientation. Annals of
Human Biology, 36(1), 60-73.
7.LOHMAN, T.; ROCHE, A.; MARTORELL, R. A. Anthropometric standardization
reference manual. Human kinetics books, 1988.
8.MALINA, R. M.; COELHO-E-SILVA, M. J.; FIGUEIREDO, A. J. Growth and maturity
status of youth players. Science and soccer: Developing elite performers, p. 307-332,
2013.
9.MALINA, Robert M.; FIGUEIREDO, António J.; COELHO-E-SILVA, Manuel J. Body
size of male youth soccer players: 1978–2015. Sports Medicine, v. 47, n. 10, p. 1983-
1992, 2017.
10.MALINA, Robert M. et al. Idade esquelética em jogadores de futebol juvenil:
implicações para verificação de idade. Clinical Journal of Sport Medicine , v. 20, n. 6,
pág. 469-474, 2010.
11.MATTA, Marcelo de Oliveira et al. Morphological, maturational, functional and
technical profile of young Brazilian soccer players. Revista Brasileira de
Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 16, n. 3, p. 277-286, 2014.
12.ROCHE, Alexander Francis; THISSEN, David; CHUMLEA, William. Assessing the
skeletal maturity of the hand-wrist: Fels method. Thomas, 1988.
13.ROESCHER, C. R. et al. Soccer endurance development in
professionals. International journal of sports medicine, v. 31, n. 03, p. 174-179, 2010.
14.SILVA, Marcelo H. A. F.; LIPAROTTI, João R.; FIGUEIREDO, Antônio J. Aplicação
de um teste de desempenho específico para jovens futebolistas. Annals of Research in
Sport and Physical Activity, n.6, p. 25-41.
15.VALENTE-DOS-SANTOS, João et al. Longitudinal predictors of aerobic performance
in adolescent soccer players. Medicina, v. 48, n. 8, p. 61, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 239
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO E ACIDENTE VASCULAR


ENCEFÁLICO: UMA ANÁLISE SOBRE ANATOMOFISIOPATOLOGIA
BÁSICA E FATORES DE RISCO

Thiago Luis de Holanda Rego1; Natanias Macson da Silva1; Letícia de Lima Mendonça1;
Allyssandra Maria Lima Rodrigues Maia2
1
Estudantes do Curso de Medicina da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-mails: thiagolholanda100@gmail.com;
nataniasmacson95@gmail.com; leticiadlm10@gmail.com.
2
Professora Doutora do Departamento de Ciências Biomédicas da Faculdade de Ciências da
Saúde, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-mail:
allyssandramr@hotmail.com.
Palavras-chave: Saúde Pública. Adolescência. Doença Aguda. Metodologias Ativas.

Introdução
Ao considerarmos os múltiplos aspectos que envolvem a saúde, percebe-se que sua
concepção deve ir além do modelo biomédico e avaliar o ambiente no qual o indivíduo ou um
determinado grupo social está inserido. Nessa perspectiva, a educação em saúde visa a
transcender o modelo de atendimento que objetiva apenas reduzir a dor humana e, para isso,
busca modificar a realidade de forma a reduzir as vulnerabilidades sociais e desenvolver uma
população mais saudável (SILVA; PELAZZA; SOUZA, 2016).
Nesse contexto, uma população frequentemente vulnerável é a dos jovens durante a
transição criança/adolescente/adulto, quando se destaca o papel fundamental não apenas da
família, mas também da escola na construção do conhecimento do indivíduo (JARDIM, 2013).
Outrossim, comorbidades crônicas e prática de atividades nocivas ao sistema vascular são
frequentemente desencadeadas por hábitos desenvolvidos durante a fase da adolescência. Tais
condições são causas importantes de morbimortalidade no Brasil e no mundo, visto que estão
entre os principais fatores de risco para agravos como a Doença Isquêmica do Coração e o
Acidente Vascular Encefálico (AVE), os quais lideraram o ranking das principais causas de
morte no mundo há 15 anos, sendo, em 2016, responsáveis por 15,2 das 56,9 milhões (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2018).
Dessa forma, torna-se cada vez mais relevante o incentivo para que o adolescente se
torne sujeito ativo do seu cuidado, utilizando para isso estratégias de educação em saúde que
busquem a prevenção de agravos, a promoção da saúde e o autocuidado (SOUSA et al., 2013).
Com esse intento, constata-se que a construção de práticas pedagógicas relacionadas à saúde e
à educação são de fundamental importância para evitar que as demandas em saúde sejam
“medicalizadas”, ou seja, dependentes da oferta de bens e serviços de ordem médico-
assistencial (BARROS, 2002) ou, até mesmo, vistas de uma perspectiva normativa e higienista
(CARVALHO, 2015).
Por fim, tendo em vista não somente que compreender a anatomia e a fisiologia básicas
acerca dos principais agravos à saúde pública é imprescindível para se evitar comportamentos
de risco que possam desencadeá-los, mas também entendendo a adolescência como etapa em
que os jovens adquirem autonomia em identificar e utilizar as formas e os meios para preservar
e melhorar a sua vida, estimar a capacidade de compreensão de jovens acerca de aspectos
anatomo fisiopatológicos de agravos torna-se uma importante ferramenta na redução da alta
incidência e/ou prevalência desses na população. O presente artigo, portanto, busca avaliar os
conhecimentos anatômicos e fisiopatológicos de adolescentes do segundo ano do ensino médio

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 240
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

acerca de agravos agudos, sendo eles Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) e AVE, bem como
descrever o impacto do uso das metodologias ativas no aprendizado sobre essas doenças.
Metodologia
O presente artigo se refere a um estudo epidemiológico de corte transversal realizado
com 273 alunos regularmente matriculados no segundo ano do ensino médio de escolas públicas
e estaduais da mesorregião do Oeste Potiguar, pertencentes a 12a Diretoria Regional de
Educação (DIRED). Para obtenção de uma amostra representativa de cada escola e da região,
a população foi alocada e estratificada de maneira proporcional, sendo incluídas apenas aquelas
instituições cujo número de participantes previsto fosse de pelo menos 13 estudantes para
garantia de viabilidade metodológica. A Figura 1 descreve a metodologia ativa utilizada, sendo
esta parte de uma ação educativa que incluía outros agravos em saúde.

Figura 1: Descrição metodológica.

Fonte: Próprio autor, 2020. Mossoró/RN.

A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de um mesmo questionário antes
e após a intervenção, tendo como objetivo identificar o impacto da ação educativa frente ao
entendimento do Infarto Agudo do Miocárdio e do Acidente Vascular Encefálico. O
questionário era estruturado e padronizado, sendo a abordagem de cada um desses temas feito
com quatro questões de múltipla escolha, as quais discorriam especificamente sobre um dos
seguintes aspetos: anatomia, fisiologia, fatores de risco ou senso comum versus conhecimento
científico. Os dados coletados foram armazenados, tabulados e organizados em arquivo do
programa Excel (versão 2013). Em seguida, foram submetidos à análise estatística descritiva,
com base em frequências absolutas e relativas.
Destaca-se a aprovação da presente pesquisa pelo comitê de Ética e Pesquisa (CEP-
UERN), sob o número 3.145.023, sendo necessária a apresentação de um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou de um Termo de Assentimento Livre e
Esclarecido (TALE) para que o estudante participasse do estudo.

Resultados e Discussão
A avaliação das respostas registradas no questionário pré ação educativa revelou que
a média de acertos foi de 44,78% no tema IAM e de 30,3% nas perguntas sobre AVE, achados
que resultaram em uma média de acerto geral de 37,55%. Nesse cenário, os principais eixos de
dificuldade relatados foram anatomia e fisiologia, os quais contabilizaram uma média de
28,94% de acertos. Nas perguntas sobre anatomia, os conhecimentos requeridos eram relativos
à existência de artérias que irrigam o coração (Artérias Coronárias) e à estrutura celular do
encéfalo. Já na compreensão fisiológica, foi avaliado a entendimento sobre a apresentação típica
do infarto (localização da dor e irradiação), bem como qual estrutura do encéfalo é

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 241
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

comprometida no AVE (vasos sanguíneos). Tal perspectiva pode representar uma fragilidade
no ensino das ciências biológicas no ensino médio conhecimento que, segundo Lima et al
(2009), é essencial no desenvolvimento intelectual dos estudantes durante o ensino básico,
atuando na manutenção da saúde e preservação da vida, tornando-os disseminadores de
conhecimentos importantes para a comunidade.
Por conseguinte, cabe ressaltar que, ainda no questionário pré intervenção, a pergunta
a qual obteve mais acertos requisitava que o aluno reconhecesse a importância de fatores como
estresse, tabagismo e consumo de álcool no maior risco de desenvolvimento do IAM. Essa
constatação demonstra o poder da influência de meios comunicativos, como televisão, internet
e rádio, os quais divulgam reiteradamente as consequências nocivas do uso de drogas.
Em contrapartida, a pergunta mais errada nesse mesmo questionário demandava o
reconhecimento do neurônio como principal célula do encéfalo. Nesse quesito, a maioria dos
alunos assinalou uma alternativa a qual erroneamente alegava que o sistema nervoso periférico
é formado pelo encéfalo e pela medula, enquanto o sistema nervoso central é pelos nervos. Tal
achado, revela um déficit no reconhecimento básico da localização anatômica das estruturas do
corpo humano, uma vez que a compreensão da distribuição morfológica da medula, do encéfalo
e dos nervos contribuiriam no entendimento dos termos “central” e “periférico”.
No questionário pós ação, observou-se uma média de acertos de 78,63% nas perguntas
de IAM e 65,27% nas relativas à AVE, resultando em uma média de acertos de 71,95%,
caracterizando um crescimento de 91,61% frente ao questionário pré ação. Tal avanço evidencia
que a metodologia ativa utilizada na dinâmica foi capaz de fornecer um bom aprendizado acerca
dos agravos, capacidade destacada por Marcondes (2015) e Lima et al (2009). Nessa
perspectiva, Berbel (2011) destacou, ainda, o potencial das metodologias ativas em despertar a
curiosidade dos alunos à medida que se inserem na teorização e trazem novos elementos.
Ademais, as perguntas sobre anatomia e fisiologia permaneceram sendo as mais
erradas no questionário pós ação, com média de acertos de 62,88%, o que revela uma maior
dificuldade em conseguir fazer com que os alunos sejam introduzidos a esses temas. A Figura
2 demonstra a porcentagem de acertos por questões nos questionários inicial e final.

Figura 2: Acertos por eixo nos questionários pré e pós ação

Fonte: Próprio autor, 2020. Mossoró/RN.

Por fim, quando a avaliação dos questionários pré-ação é realizada frente à localidade
da escola, se em zona urbana ou rural, nos é revelado uma porcentagem discretamente maior
nas escolas pertencentes à zona urbana (38,04% vs 34,77%). Sobre o tema, dados do senso
demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010) demonstram que
a taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais na zona rural é de 29,8%, e na zona
urbana esse número representa 10,3%. Nesse contexto, ainda que a branda diferença de acertos
entre os participantes possa representar um menor nível de escolaridade entre os alunos da zona
rural, não deve-se excluir a possibilidade do achado ter acontecido ao acaso, tendo em vista a
menor amostra de estudantes da zona rural (n=41 versus n=232 na zona urbana), o que suscita,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 242
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

portanto, estudos mais aprofundados sobre a temática. A Figura 3 demonstra a porcentagem de


acertos no questionário pré ação por eixo em cada uma das zonas estudadas.
Figura 3: Acertos por eixo no questionário pré ação segundo as Zonas

Fonte: Próprio autor, 2020. Mossoró/RN.

Conclusões
O entendimento dos alunos sobre IAM e AVE previamente à ação demonstrou-se
insatisfatório, especialmente no que tange à compreensão anatômica e fisiológica básica dos
órgãos e processos envolvidos no desenvolvimento e apresentação desses agravos. Entretanto,
cabe ressaltar a avaliação satisfatória inicialmente avaliada acerca dos fatores de risco do IAM.
Ademais, a metodologia utilizada foi capaz de aprimorar satisfatoriamente o entendimento
estudantil em todos os eixos avaliados. Propõem-se, dessa forma, que não somente as
metodologias ativas sejam utilizadas como alternativa no processo ensino-aprendizagem, mas
também que as instituições de ensino busquem combater os déficits relacionados à
compreensão dos processos de saúde e doença e assim auxiliem ainda mais na atenuação da
ocorrência de agravos e na preservação da saúde.

Agradecimentos
Os agradecimentos destinam-se ao CNPq pela concessão da bolsa, bem como à UERN
e à 12ª DIRED pela parceria. Reconhecimento também deve ser proferido aos estudantes
participantes da pesquisa, além de toda a equipe de apoio das instituições de ensino visitadas.

Referências
BERBEL, Neusi Aparecida Navas. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de
estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, v. 32, n. 1, p. 25-40, 2011.
CARVALHO, Fabio Fortunato Brasil de. A saúde vai à escola: a promoção da saúde em
práticas pedagógicas. Physis, Rio de Janeiro, v. 25, n. 4, p. 1207-1227, Dec. 2015.
IBGE. Censo Demográfico. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em:
<https://censo2010.ibge.gov.br/>. Data do acesso: 1 jul. 2020.
JARDIM, F. A. et al. Doenças sexualmente transmissíveis: a percepção dos adolescentes de
uma escola pública. Cogitare Enfermagem. 18, 2013.
LIMA, Adalmira Batista et al. Anatomia humana para as escolas de ensino fundamental e
médio do município de Patos–PB: um estudo preliminar. Universidade Integrada de Patos,
2009. Disponível em: <http://coopex.fiponline.edu.br/pdf/1288453984.pdf>. Acesso em: 1
jul. 2020.
MARCONDES, Fernanda Klein. Experiências no uso de metodologias ativas no ensino de
Fisiologia, em um curso de graduação em Odontologia. III Simpósio Internacional de
Inovação em Educação, p. 1-10, 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 243
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SILVA, Maria Isabel; PELAZZA, Bruno Bordin; SOUZA, Janeth Helta. Educação e saúde:
relato de experiências de Ações educativas para saúde em comunidades Socialmente
vulneráveis. Revista Eletrônica da Divisão de Formação Docente, v. 3, n. 1, p. 17-40, 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 244
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INFLUÊNCIA DA MÍDIA DIGITAL COMO MÉTODO


COMPLEMENTAR DE ORIENTAÇÃO DE HIGIENE ORAL EM
PACIENTES PEDIÁTRICOS

Layanny Silva Soares1; Patrícia Bittencourt Dutra dos Santos2

Palavras-chave: Higiene bucal. Biofilme dentário. Mídia Audiovisual.

Introdução
A cárie dental e a doença periodontal são, ainda hoje, consideradas as enfermidades
bucais mais frequentes, constituindo-se em problemas de saúde pública, podendo resultar na
perda do elemento dental se a atenção precoce e adequada não lhes for direcionada (GARCIA,
et al., 2009). A prevenção continua sendo a melhor forma de tratamento por propiciar a
preservação da saúde bucal da população (AXELSSON et al., 1993; BERVIQUE e
MEDEIROS, 1983).
Dessa forma, a educação e motivação do paciente merecem destaque dentro dos
métodos preventivos existentes na odontologia. O processo educativo consiste na informação,
na conscientização e na motivação e deve ser iniciado preferencialmente na infância, pois
nesta fase, o ser humano está crescendo e se desenvolvendo, tanto física quanto
intelectualmente (GUIMARÃES et al., 2003).
A seleção de métodos e orientações adequadas a respeito da manutenção de uma boa
saúde bucal é muito importante. De forma geral, estes são classificados em diretos e indiretos.
A orientação direta ao paciente se dá por meio de fotos, radiografias, macromodelos, espelho
de mão e conversa individual. É considerado o método mais efetivo para modificação do
comportamento do paciente, capaz de levá-lo a exercer um efetivo controle de placa
bacteriana (COUTO et al., 1992). Por outro lado, a orientação indireta, realizada mediante
recursos audiovisuais, é considerada como auxiliar na educação (GARCIA, et al., 2009), de
forma a influenciar na motivação concomitantemente à orientação direta.
Ao se trabalhar com programas educativo-preventivos em saúde pública, o uso de
métodos de motivação indiretos deve ser estimulado, pois estes permitem que um maior
número de pessoas tenha acesso a eles de forma contínua (MEDEIROS E CARVALHO,
1990). Diante disso, novas pesquisas devem ser dirigidas no sentido de melhorar a eficácia de
métodos de orientação audiovisuais para que estes possam ser utilizados com maior segurança
em programas de saúde pública. O objetivo do estudo foi avaliar a efetividade da mídia digital
instrutiva como método complementar na orientação da higiene bucal de crianças de 7 a 12
anos atendidas na Clínica infantil da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

Metodologia
O presente estudo incluiu pacientes infantis que necessitavam de tratamento
odontológico na Clínica Infantil da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Os
critérios de inclusão adotados foram: crianças de ambos os sexos, com idades variando de 7 a
12 anos, com necessidade de atendimento clínico e que tinham acesso à internet por algum
tipo de aparelho eletrônico compatível com a reprodução de vídeos. Já os critérios de exclusão


1
Estudante do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail: soareslayanny@gmail.com;
2
Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: pati_bittencourt@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 245
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

foram: indivíduos que apresentavam qualquer tipo de alteração psicomotora que comprometia
a correta higienização da cavidade oral e crianças que não concordaram em participar da
pesquisa. A amostra foi dividida em dois grupos: o grupo experimental (grupo 1) e o grupo
controle (grupo 2). Os dois grupos foram compostos por 5 crianças cada, com necessidade de
tratamento odontológico. O grupo 1 recebeu instruções acerca da higiene bucal por meio de
orientações verbais e vídeos explicativos. O grupo 2 recebeu instruções acerca da higiene
bucal por meio de orientações verbais, apenas.
As crianças foram examinadas na Clínica Infantil da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte por uma avaliadora. Tanto as crianças do grupo experimental quanto as do
grupo controle receberam orientações de higiene oral pelo método verbal. As crianças
pertencentes ao grupo experimental assistiram ao vídeo instrucional na clínica logo após o
atendimento odontológico e receberam o “link” que dava acesso ao mesmo vídeo para que
pudesse ser acessado fora do âmbito clínico quantas vezes achasse necessário.
Os percentuais de mancha branca ativa, sangramento gengival e biofilme dentário
coletados antes e depois do tratamento ortodôntico interceptador foram comparados
intragrupos por meio do teste t pareado, enquanto a diferença entre os valores inicial e final
foram comparados intergrupos por meio do test t. A somatória de todos os valores foram
incluídos na formação do índice de higiene bucal que foi submetido aos mesmos testes. Para
tal foi utilizado o Software Statatistic for Windows 7.0 sendo considerado resultados
significantes para p<0.05.

Resultados e discussão
A Tabela 1 mostra que não houve diferença estatisticamente significante para
nenhuma das variáveis analisadas (Presença de Biofilme, Sangramento Gengival, Mancha
Branca Ativa e Higiene bucal) antes e após a orientação de higiene bucal, para o grupo
controle.
Tabela 1. Comparação intragrupos para todas as variáveis antes e após a orientação de higiene
no grupo controle (%) (Teste t pareado).
Inicial Final p
Média (DP)
Presença de biofilme 22,20 (10,96) 20,46 (10,66) 0,113
Sangramento gengival 14,91 (15,32) 15,70 (14,35) 0,780
MBA 4,80 (6,91) 5,53 (6,11) 0,696
Higiene bucal 13,97 (13,02) 13,90 (11,98) 0,945

Entretanto, na avaliação intragrupos (Tabela 2), o grupo experimental obteve uma


melhora significativa em todas as variáveis analisadas.
Tabela 2. Comparação intragrupos para todas as variáveis antes e após a orientação de higiene
no grupo experimental (%) (Teste t pareado)
Inicial Final P
Média (DP)
Presença de biofilme 24,48 (11,34) 12,32 (4,83) 0,015
Sangramento gengival 13,93 (5,41) 5,13 (4,33) 0,004
MBA 5,10 (3,07) 1,63 (2,24) 0,005
Higiene bucal 14,50 (10,73) 6,36 (5,88) 0,000

Na tabela 3 está descrita a comparação intergrupos para as variáveis avaliadas antes da


orientação de higiene bucal. Os resultados mostram que os grupos foram compatíveis para
todas as variáveis, não apresentando nenhuma diferença estatisticamente significante.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 246
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Tabela 3. Comparação intergrupos para variáveis antes da orientação de higiene (%) (Teste t).
Experimental Controle P
Média (DP)
Presença de biofilme 24,48 (11,32) 22,20 (10,96) 0,754
Sangramento 13,93 (5,41) 14,91 (15,32) 0,895
gengival
MBA 5,09 (3,07) 4,80 (6,90) 0,931
Higiene bucal 14,50 (10,72) 13,97 (13,02) 0,903

Na tabela 4 está a comparação intergrupos após a orientação de higiene bucal. Não


houve diferença estatisticamente significante para nenhuma das variáveis analisadas, com
exceção do percentual de higiene bucal (p=0,037) (Tabela 4). Para tal, observou-se um maior
percentual nos pacientes do grupo controle (13,89%) do que no grupo experimental (6,36%).
Tabela 4. Comparação intergrupos para as variáveis após a orientação de higiene (%) (Teste t)
Experimental Controle P
Média (DP)
Presença de biofilme 12,31 (4,82) 20,46 (10,66) 0,158
Sangramento gengival 5,13 (4,32) 15,70 (14,35) 0,153
MBA 1,63 (2,23) 5,52 (6,10) 0,217
Higiene bucal 6,36 (5,88) 13,89 (11,98) 0,037

Como base para o cálculo amostral desta pesquisa, foi utilizado um outro estudo, o
qual demonstra que o tamanho ideal da amostra foi estimado em 19 pacientes compondo cada
grupo (grupo controle e grupo experimental) (AL-SILWADI et al, 2015). E apesar da amostra
final ter sido em 10 participantes no total, seus dados são relevantes e devem ser ponderados,
pois se trata de um estudo pioneiro, que avalia o grau de higiene bucal em pacientes
pediátricos e o poder das mídias digitais como método complementar na orientação da
higiene.
Na tabela comparativa de todas as variáveis antes e após a orientação de higiene bucal
do grupo controle (Tabela 1), não se observa diferença estatisticamente significante para
nenhuma variável, porém é possível perceber que houve uma pequena piora referente ao
sangramento gengival, aumentando de 14,91% para 15,70%, e referente à presença de mancha
branca ativa, aumentando de 4,80% para 5,53%. Esse resultado corrobora com Campos de
Carvalho et al. (2014) que afirmaram que a orientação verbal pode não ser efetiva, em
decorrência de falha na linguagem utilizada pelo profissional e pela falta de concentração dos
pacientes.
Na tabela 2, que consiste na comparação intragrupos para as variáveis antes e após a
orientação de higiene bucal no grupo experimental, todas elas apresentaram diferenças
estatisticamente significativas. Esses resultados confirmam a ideia de Pei et al. (2017) de que
o vídeo tem um papel vantajoso na obtenção de uma boa comunicação entre o profissional e o
paciente, de modo que este tem uma maior retenção de informações e, assim, um melhor
desempenho educacional.
Na tabela 3, referente à comparação intergrupos para as variáveis antes da orientação
de higiene, nota-se que não houve diferença significante. Os dados comprovam que os grupos
foram compatíveis na avaliação inicial, e esse fato é de grande relevância para a comparação
da avaliação final, visto que a amostra se mostrou homogênea.
Na comparação intergrupos para as variáveis após a orientação de higiene bucal
(Tabela 4), pode-se observar um maior contraste nas diferenças dos valores. Embora as
variáveis isoladas não tenham apresentado diferenças estatisticamente significativas, o índice

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 247
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

de higiene bucal, apresentou uma diferença estatisticamente significativa, no qual no grupo


experimental apresentou uma porcentagem menor (6,35%) que o grupo controle (13,89%). Os
autores entendem que a amostra reduzida pode ter mascarado possíveis diferenças
significantes para as variáveis isoladas, e por essa razão tenha sido observada significância
apenas quando as variáveis foram agrupadas.
Dessa forma, os resultados do presente estudo, em geral, corroboram com o estudo de
Ramos et al. (2015) o qual afirmou que o processo de criação e execução do vídeo auxilia a
troca de conhecimentos e parece ser uma forma inovadora para a aquisição de conhecimentos,
com alto potencial de utilização por adolescentes e jovens nos dias de hoje. Acredita-se que
tais mídias podem se transformar em uma ferramenta de auxílio para a comunidade na
aquisição de conhecimentos e solução de dúvidas na área de saúde bucal.

Conclusão
Baseando-se nos resultados obtidos na pesquisa, é possível concluir que a mídia digital
mostrou-se uma importante ferramenta auxiliar na melhoria da escovação dentária em
crianças e o método utilizado e a acessibilidade fornecida ao paciente através da
disponibilidade do vídeo foram importantes no reforço diário sobre a forma correta de
executar uma boa escovação e assim manter a higiene oral adequada. Há a necessidade de
amostras maiores para aumentar a confiabilidade do estudo.

Agradecimentos
À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pela concessão da bolsa.

Referências
AL-SILWADI, Fadi M. et al. Effect of social media in improving knowledge among patients
having fixed appliance orthodontic treatment: a single-center randomized controlled
trial. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, v. 148, n. 2, p. 231-
237, 2015.
AXELSSON, Paulander et al. Integrated caries prevention effect of a needs-related preventive
program on dental caries in children. Caries research, v. 27, n. Suppl. 1, p. 83-94, 1993.
BERVIQUE, Janete de Aguirre; MEDEIROS, Ernesto Pilotto Gomes de. Paciente educado,
cliente assegurado: uma proposta de educaçäo odontológica do paciente. In: Paciente
educado, cliente assegurado: uma proposta de educaçäo odontológica do paciente. 1983.
p. 150-150.
CAMPOS DE CARVALHO, Emilia et al. Efeito de vídeo educativo no comportamento de
higiene bucal de pacientes hematológicos. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 16, n. 2,
2014.
COUTO, José Luiz do; COUTO, Rosemary da Silveira; DUARTE, Cesário Antonio.
Motivação do paciente: avaliação dos recursos didáticos de motivação utilizados para a
prevenção da cárie e doença periodontal. RGO (Porto Alegre), p. 143-50, 1992.
GARCIA, Patrícia Petromilli Nordi Sasso et al. Educação em saúde: efeito de um método de
auto-instrução sobre os níveis de higiene oral em escolares. Pesquisa Brasileira em
Odontopediatria e Clínica Integrada, p. 333-337, 2009.
GUIMARÃES, Amanda Oliveira; COSTA, Iris do Céu Clara; OLIVEIRA, Aline Louise da
Silva. As origens, objetivos e razões de ser da odontologia para bebês. J Bras Odontopediatr
Odontol Bebê, v. 6, n. 29, p. 83-6, 2003.
MEDEIROS, Urubatan Vieira de; CARVALHO, José Carlos de Castro. Estudo sobre as
condições da saúde bucal da população. Programa comunitário de atenção periodontal. Rev.
Assoc. Paul. Cir. Dent, p. 165-70, 1990.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 248
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PEI, Dandan et al. Multimedia patient education to assist oral impression taking during dental
treatment: A pilot study. International Journal of Medical Informatics, v. 102, p. 150-155,
2017.
RAMOS, Maria Eliza Barbosa et al. Promoção de saúde: Criação de vídeo para educação em
saúde. Vinculado ao Projeto de Extensão UFRJ. Interagir: pensando a extensão, n. 20, p.
39-52, 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 249
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DE ARBUSTOS DO CAMPUS


CENTRAL DA UERN, MOSSORÓ-RN

Maria Izabel Mendonça Pessoa¹; Diego Nathan do Nascimento Souza²

Palavras-chave: Caatinga. Catalogação. Flora arbustiva. Semiárido. Urbano.

Introdução
A caatinga é um ecossistema com grande diversidade de fauna e flora, mas não é
exceção dos outros ecossistemas como a mata atlântica, por exemplo, que também foram
muito urbanizados pelo homem. De acordo com Viana e Pinheiro (1998), essa mudança
interfere nos parâmetros demográficos de diferentes espécies e, consequentemente, na
estrutura e dinâmica dos ecossistemas. Sendo que a caatinga também é uma área muito
explorada e devastada, pela urbanização, por exemplo na construção de grades parques
eólicos, fábricas ou na expansão de cidades. Dessa forma, esse bioma encontra-se cada vez
mais fragmentado e com seus hábitats alterados.
Myers et al. (2000) apontam que a fragmentação de hábitats e a supressão da
vegetação nativa estão entre as maiores ameaças à biodiversidade global. E além disso, a
caatinga é um bioma que por muito tempo não teve o devido cuidado para a identificação
de suas espécies como a floresta amazônica ou mata atlântica. Logo, faz-se necessário que
cada vez mais se conheça a riqueza de plantas da caatinga.
Tanto nas grandes quanto nas pequenas cidades, o conhecimento da flora local é
muito importante para o manejo ambiental local, então cidades circunscritas no domínio da
caatinga também merecem atenção. Logo, a importância da identificação de espécies
florísticas em áreas urbanas é de grande relevância para planejamento urbano e também
para a manutenção da fauna local. Muitas áreas urbanas acabam substituindo espécies
nativas por exóticas, não havendo o devido cuidado com a composição florística local,
assim perdendo este conhecimento para o progresso. Sendo assim, os fragmentos urbanos
tornam-se verdadeiras ilhas de diversidade cercadas por uma matriz de baixa complexidade
(DEBINSK; HOLT, 2000).
Portanto, a importância da identificação das espécies florísticas arbustivas da
caatinga urbanizada é de grande relevância para o conhecimento acadêmico. Tendo em
vista a importância da identificação de espécies florísticas da caatinga, que foram
“perdidas” para a urbanização, será feito um levantamento das espécies arbustivas na
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte para promover assim o enriquecimento do
conhecimento de espécies em regiões urbanizadas.
Assim, este trabalho tem como objetivo elaborar uma lista florística com a
identificação e classificação de arbustos do campus da UERN e contribuir com o
enriquecimento do conhecimento da composição da diversidade arbustiva em áreas
urbanizadas da caatinga.

¹Estudante do curso de Ciências Biológicas, do Departamento de Ciências Biológicas, da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: m.izabel1994.imp@gmail.com
²Professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-
mail: diego_nathan@yahoo.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 250
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia
O trabalho foi desenvolvido na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
(UERN), campus central, na cidade de Mossoró-RN, que é uma área urbanizada da
circunscrita dentro do domínio da caatinga. As plantas foram fotografadas a partir de
caminhadas por entre os blocos de todas as faculdades do campus central.
Este trabalho é de cunho bibliográfico e quantitativo. Primeiramente, foi feito um
estudo bibliográfico com o intuito de buscar outros autores que viessem a embasar o atual
trabalho, sendo desenvolvido entre agosto de 2019 a julho de 2020. O trabalho teve suas
coletas não efetuadas pela aluna, pelo advindo da pandemia da COVID-19. Por este motivo
os dados foram coletados pelo professor orientador, que coletou de forma livre as imagens
das plantas e enviando para a identificação a classificação dessas espécies por parte da
aluna. Para identificação, foi usada o sistema APG IV (2016). Após a identificação, as
plantas foram classificadas em família, espécie e nome comum, e as imagens foram
encaminhadas para geração de uma lista florística de espécies arbustiva da caatinga.
Resultados e discussões
Foram catalogadas 28 espécies arbustivas, sendo algumas identificadas ao nível de
espécie, e outras ao nível de gênero e família (Tabela 1). Dentre as mais representativas,
estão as famílias Apocynaceae (7 espécies), Araceae e Cactaceae (4 espécies),
Euphorbiaceae e Agavaceae (2 espécies), conforme tabela 1. Sendo em sua grande maioria
de espécies nativas, demostrando a importância da riqueza de espécies nativas. Segundo
Gomes et al. (2017), essa composição florística nativa é muito importante para a
conservação da biodiversidade local.

Tabela 1: Lista florística dos arbustos do campus Central da Universidade do Estado do


Rio Grande do Norte, Mossoró, RN.
Família Espécie Nome comum

Apocynaceae Asclepias sp. Suriaca Asclepias


Catharanthus Roseus Pervinca do cabo
Nerium oleande -
Nerium sp. -
Allamanda catharteca Alamanda-Amarelo
Catharanthus sp. -
Plumeria Rubra Jasmim manga

Araceae Caladium bicolor Caládio


Spathiphyllum sp. Lírio da paz
Anthurium sp. Tracheophyta
Araceae 1 -

Agavaceae Agave angustifolia Piteira-do-caribe


Agave tequilana Agave-azul

Asparagaceae Dracaena trifasciata Espada de são Jorge

Sansevieria sp. -

Echinocactus grusonii

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 251
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Cereus jamacaru Mandacaru


Opuntia sp. -

Euphorbiaceae Codiaeum variegalum Cróton


Anlidesma sp. -

Lythraceae Punica granatum Romã

Lamiaceae Clerodenchum sp. -

Malpighiaceae Malpighia punicifolia L. Acerola

Malvaceae Hibiscus sp. -

Nycataginaceae Bougainvillea glatina choisy -

Peperacea Peperomia magnoliifolia -

Porém, também foi observado a presença de espécies exóticas. Segundo Hoppen


et al. (2015), isso acontece pelo mal planejamento da arborização urbana, pois as espécies
exóticas ocupam um espaço que poderia ser preenchido por nativas, o que demonstra que a
presença de espécies exóticas traz a necessidade de um melhor planejamento na
arborização da universidade. Já Machado et al. (2006) afirma que a substituição de
espécies nativas pelas exóticas acabam uniformizando as paisagens de cidades diferentes e
reduzindo a biodiversidade no meio urbano. Assim demonstrando a importância da
preservação das espécies nativas da caatinga.
Conclusão
O presente trabalho demonstra a importância da identificação de espécies arbustivas em
ambiente urbanizado de Mossoró-RN, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
para assim haver o enriquecimento bibliográfico e também para promover a conservação
das espécies arbustivas da caatinga.
Agradecimentos
À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pelo apoio e logística durante a
pesquisa, e também a equipe do Laboratório de Ecologia e Sistemática Vegetal (LESV).
Referências bibliográficas
DEBINSKI, D. M.; HOLT, R. D. Review: A survey and overview of habitat fragmentation
experiments. Conservation Biology, v.14, n.2, p.342-355, 2000.
GOMES, S. et al. A VEGETAÇÃO DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
SERGIPE: FLORÍSTICA E FITOSSOCIOLOGIA. REVSBAU, Piracicaba – SP, ano
2017, v. 12, n. 4, p. 23-41.
HOPPEN, M. I.; DIVENSI, H. F.; RIBEIRO, R. F.; CAXAMBÚ, M. G. Espécies exóticas
na arborização de vias públicas no Município de Farol, PR, Brasil. Revista da Sociedade
Brasileira de Arborização Urbana, v. 9, n. 3, p. 173-186, 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 252
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MACHADO, R. R. B.; MEUNIER, I. M. J.; SILVA, J. A. A.; CASTRO, A. Árvores


nativas para a arborização de Teresina, Piauí. Revista da Sociedade Brasileira de
Arborização Urbana, v. 1, n. 1, p. 10-18, 2006.
MARQUES, K. et al. Composição florística da Praça Victor Civita, zona sul da cidade de
São Paulo, SP. Revista Nacional de Gerenciamento de cidades, Piracicaba – SP, ano 2019,
v. 7, n. 50, p. 58-76.
MYERS, N. et al. Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, v.403, p.853-
858, 2000.
SILVA, A. et al. Aspectos de ecologia de paisagem e ameaças à biodiversidade em uma
unidade de conservação na Caatinga, em Sergipe. Revista Árvore, Viçosa, ano 2013, v. 37,
n. 3. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-
67622013000300011&script=sci_arttext&tlng=pt . Acesso em: 31 ago. 2020.
VIANA, V. M.; PINHEIRO, L. A. F. V. Conservação da biodiversidade em fragmentos
florestais. Série Técnica. IPEF, v.12, n.32, p.25-42, 1998.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 253
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LEVANTAMENTO PRELIMINAR E DIVERSIDADE DE FORMIGAS


(HYMENOPTERA: FORMICIDAE) EM MOSSORÓ, RN.

Damiana Rodrigues Agostino 1, Eduarda Silva de Oliveira 2 & Maisa Clari Farias Barbalho de
Mendonça3.

Palavras-chave: Mirmecofauna. Pitfall. Índices de Diversidade. Riqueza de espécies.

INTRODUÇÃO
A mirmecofauna da América do Sul, com relação ao número de espécies, é a mais rica
do mundo, caracterizada, principalmente, pelo predomínio das subfamílias, Myrmecinae,
Dolichoderinae e Ponerinae (BATTIROLA et al, 2005). As formigas pertencem à ordem
Hymenoptera, a qual também reúne as abelhas e vespas. Em geral são insetos pouco daninhos
à agricultura, exceto as saúvas (GALLO et al, 2002).
As formigas são consideradas os animais dominantes na maioria dos ecossistemas
terrestres. Devido à sua importância ecológica, alta diversidade, dominância numérica, uma
base razoável de conhecimento taxonômico, facilidade de coleta e sensibilidade a mudanças
ambientais, o conhecimento sobre Formicidae tem alto potencial de embasar ou ser empregado
como modelo em estudos de biodiversidade (ALONSO; AGOSTI, 2000). Existem ferramentas
básicas para estudos ecológicos, utilizando comunidades de formigas como indicadores da
condição do ambiente (MAJER, 1983; SILVA; BRANDÃO, 1999).
A biodiversidade de formigas tem sido estudada com o objetivo de compreender as
perturbações ocasionadas pelas constantes simplificações dos ecossistemas naturais, pois além
de responderem ao estresse do meio, as formigas apresentam ampla distribuição e abundância
local, são facilmente amostradas e relativamente mais fáceis de serem identificadas do que
outros organismos (ALONSO; AGOSTI 2000).
São consideradas importantes agentes no meio, pois estão envolvidas em processos
ambientais como aeração, decomposição e ciclagem de nutrientes (ANDERSEN, 1991). Além
disso, apresentam uma diversidade de adaptações ecológicas e sociais, e esse aspecto favorece
a sua ampla dispersão no ambiente (HÖLLDOBLER; WILSON, 1990). Apresentam ainda, alta
sensibilidade as variáveis ambientais e capacidade de reagir rapidamente a mudanças do meio
(ANDERSEN, 1991). Por esses motivos os Formicidae têm sido utilizados para avaliar o estado
de conservação/degradação dos ambientes (ANDERSEN, 1997; SILVA; BRANDÃO, 1999).
Vários são os estudos que reportam a viabilidade do seu uso como bioindicadores da qualidade
ambiental em agroecossistemas (NASH et al. 1998; CONCEIÇÃO et al. 2006; LACAU et al.
2008; PEREIRA et al. 2010; DELABIE et al. 2007). Mais especificamente em área de Caatinga
alguns trabalhos sobre a diversidade de formigas já foram realizados, como por Freire et al.
(2012), Nunes et al. (2011) e Leal (2003) com a finalidade de avaliar os ambientes.
Baseado nas informações acima expostas, o presente estudo objetiva realizar um
levantamento da fauna de formigas, assim como analisar a diversidade e riqueza em áreas
distintas na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, RN.

METODOLOGIA

1
Estudante do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas do Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: damianarodrigues042@gmail.com;
2
Estudante do curso de Bacharelado em Ciências Biológicas do Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: eduardasilva1297@hotmail.com;
3
3 Professora do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Membro do Grupo de Pesquisa Ecologia e Sistemática Animal. e-mail: maisaclari@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 254
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O estudo foi desenvolvido na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte,


Mossoró, RN. Foram amostradas duas áreas: (A) – área com fragmento de caatinga, próxima a
biblioteca central, com representantes vegetacionais como jurema, catingueira, marmeleiro,
juazeiro, xique-xique, etc; (B) área em processo de regeneração após desmatamento, localizada
próxima ao ginásio, esta área sofreu desmatamento há cerca de três anos e encontra-se em
processo de regeneração.
As coletas foram realizadas durante o período de dezembro/2019 a março/2020,
semanalmente, sendo utilizadas armadilhas de queda do tipo pitfall de solo, confeccionadas
com garrafas do tipo ‘’pet’’, de 2L cortadas ao meio, sendo que a base da garrafa
(aproximadamente 18cm de altura) foi enterrada ao nível do solo (SARMIENTO, 2003). As
armadilhas foram preenchidas a um terço de seu volume, com um composto líquido contendo
uma solução de água, detergente e álcool a 70%. O detergente auxilia na coleta dos indivíduos,
pois quebra a tensão superficial, prevenindo a fuga das formigas da armadilha
(BESTELMEYER et al., 2000).
Em cada área de estudo foi estabelecido quadrantes com 25 m2 (5x5m), e em cada
quadrante foram instaladas 10 armadilhas do tipo pitfall (BESTELMEYER et al., 2000),
totalizando 20 armadilhas, sem atrativos. Os exemplares coletados foram separados dos demais
organismos e em seguida armazenados em frascos com álcool a 70%, devidamente etiquetados,
para posterior identificação. Foram identificadas até o nível taxonômico de subfamília,
utilizando-se a chave de identificação proposta por Baccaro (2006).
A riqueza observada foi definida como o número absoluto de formigas coletadas, e a
frequência relativa foi baseada no número de ocorrência de cada subfamilia. As medidas de
diversidade de Shannon-Wiener, dominância e Equitabilidade foram calculadas usando o
software Past (HAMMER et al., 2013), e o programa sofware Excell.

RESULTADO E DISCUSSÃO
Foram coletados 710 exemplares de formigas (Tabela 1), pertencentes a família
Formicidae, Ordem Hymenoptera, pertencentes a três subfamílias: Dolichoderinae (465
indivíduos), Formicinae (155 indivíduos) e Pseudomyrrmecinae (90 indivíduos). Segundo
Baccaro et al, (2015) a subfamília Dolichoderinae compreende 25 gêneros no mundo e 11 no
Neotrópico. Formicinae abriga 51 gêneros viventes em todo o mundo, com 17 gêneros na
Região Neotropical e Pseudomyrmecinae é uma subfamília principalmente neotropical que
abriga apenas três gêneros. Desse total de formigas coletadas, 350 indivíduos ocorreram na área
antropizada, enquanto que na área preservada ocorreram 360 indivíduos.

Tabela 1. Levantamento de subfamílias de formigas coletadas em dois ambientes distintos, no


campus da UERN, Mossoró, RN.
Área antropizada (A) Meses
Subfamilias Dez Jan Fev Mar Total
FORMICINAE 42 19 4 0 65
DOLICHODERINAE 125 24 46 14 209
PSEUDOMYRMECINAE 37 5 30 4 76
N 204 48 80 18 350

Área preservada (B) Meses


Subfamilias Dez Jan Fev Mar Total
FORMICINAE 80 10 0 0 90
DOLICHODERINAE 193 40 18 5 256
PSEUDOMYRMECINAE 9 3 2 0 14

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 255
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

N 282 53 20 5 360

As três subfamílias foram registradas tanto na área antropizada (A) como na área com
vegetação preservada (B). Dentre as subfamílias mais abundantes destaca-se a Dolichoderinae,
com 209 exemplares coletados na área antropizada e 256 na área preservada. A segunda
subfamília mais frequente foi a Formicinae, com 65 e 90 exemplares coletados na área
antropizada e na área preservada, respectivamente (Tabela 1).
A frequência de ocorrência observada pela presença de todas as subfamílias por
ambiente foi mais expressiva durante os meses de dezembro, janeiro e fevereiro e houve uma
redução durante o mês de março com à ausência da subfamília Formicinae na área antropizada.
Na área preservada os resultados foram os mesmos para os meses de dezembro e janeiro, com
o registro das três subfamílias. Já os meses de fevereiro e março apresentaram redução no
número de espécies com a ausência da subfamília Formicinae no mês de fevereiro e das
subfamílias Formicinae e Pseudomyrmecinae durante o mês de março (Figura 1). Observamos
que a subfamília Dolichoderinae esteve presente em todos os meses amostrados.
Pseudomyrmecinae

0,0
Área preservada 10,0 Mar Fev Jan Dez
5,7
3,2

22,2
área antropizada 37,5
10,4
18,1

100,0
Dolichoderinae

Área preservada 90,0


75,5
68,4

77,8
área antropizada 57,5
50,0
61,3

0,0
Área preservada 0,0
Formicinae

18,9
28,4

0,0
área antropizada 5,0
39,6
20,6

0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0

Frequência relativa (%)

Figura 1. Frequência de ocorrência das subfamílias Dolichoderinae, Formicinae e


Pseudomyrmecinae em ambas as áreas de estudo.

Comparando o número de subfamílias de formigas das áreas amostradas, observamos


que a área preservada apresentou um maior número de exemplares coletados, tendo um índice
de dominância de 0,5697. Os índices de diversidade, riqueza e equitabilidade avaliados
apontam a área antropizada como a região de maior diversidade.

Tabela 2 – índices de Diversidade, Dominância, Riqueza de espécies e equitabilidade analisados


comparativamente entre as duas áreas amostradas.
Tratamento área preservada Area antropizada
N individuos 360 350
Dominance_D 0.5697 0.4382

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 256
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Simpson_1-D 0.4303 0.5618


Shannon_H 0.7153 0.9522
Margalef 0.3398 0.3414
Equitability_J 0.6511 0.8667

Alguns fatores podem ser responsáveis por este resultado, pois a área antropizada
passou por um desmatamento e atualmente encontra-se em processo de regeneração, além do
tipo do solo, que permite a formação de ninhos. No entanto a área preservada possui solo com
afloramento de rochas, além de vegetação de porte baixo e falhas na vegetação. Leal (2003)
estudando a diversidade de formigas em áreas de caatinga na região do Xingó (nos estados de
Alagoas e Sergipe) observou que, áreas de tabuleiros com relevo plano e solos mais profundos
foram mais diversificadas que áreas acidentadas com solo raso ou com rocha-mãe exposta. A
autora relata que isso se deve ao fato da dificuldade de construção de ninhos das formigas nesse
tipo de paisagem.

CONCLUSÃO
Três subfamílias foram observadas na região de estudo, sendo Dolichoderinae a mais
abundante, com 465 individuos. A área que apresentou maior os maiores índices de diversidade,
riqueza e similaridade foi a antropizada, provavelmente devido o tipo de solo e de espécies
vegetais presentes.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a UERN pela concessão da bolsa de Iniciação Científica e pelo
apoio na realização desse estudo. Agradecemos ainda ao laboratório de Ictiologia pelo auxílio
da sua infraestrutura na triagem, análise e montagem das formigas.

REFERÊNCIAS

ALONSO, L. E.; D. AGOSTI. Biodiversity studies, monitoring and ants: an overview. p.


1−8. In: AGOSTI, D.; J. D. MAJER; L. E. ALONSO; T. R. SCHULTZ (eds.). Ants: Standard
Methods For Measuring And Monitoring Biodiversity. Washington, Smithsonian Institution
Press, 280 p. 2000.
ANDERSEN, A.N. Responses of ground-foraging ant communities to three experimental
fire regimes in a savanna forest of tropical. Biotropica 23 (4b): 575-585. 1991.
BACCARO, F. B. Chave para as principais subfamílias e gêneros de formigas
(Hymenoptera: Formicidae). Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA. Programa
de Pesquisa em Biodiversidade – PPBIO. Faculdades Cathedral. 34p. 2006.
BACCARO, F. B; FEITOSA. R. M; FERNANDEZ, F; FERNANDES, I. O; IZZO, T. J;
SOUZA, J. L. P & SOLAR, R. Guia para os gêneros de formigas do Brasil. Manaus: Editora
INPA, 2015. 388p.
BATTIROLA, L. D.; M. I. MARQUES; J. ADIS; J. H. C. DELABIE. Composição da
comunidade de Formicidae (Insecta, Hymenoptera) em copas de Attalea phalerata Mart.
(Arecaceae), no pantanal de Poconé, Mato Grosso, Brasil. Revista Brasileira de
Entomologia, v.49, n.1, p.107-117, 2005.
BESTELMEYER, B. T; AGOSTI, D.; ALONSO, L.E; BRANDÃO, C.R.F.; BROWN JR,
W.L.; DELABIE, J.H.C.; SILVESTRE, R. Field Tecniques for the study of grounddwelling
ants: an overview, description, and evaluation. In: AGOSTI, D.; MAJER, J D.; ALONSO,
L.E.; SCHULTZ,T.R. (Ed.). Ants – Standard methods formeasuring and monitoring
biodiversity. Washington, D.C.: Smithsonian Institution Press, 2000. p.122- 144.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 257
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONCEIÇÃO, E.S.; COSTA-NETO, A.O.; ANDRADE, F.P.; NASCIMENTO, I.C.;


MARTINS, L.C.B.; BRITO, B.N.; MENDES, L.F.; DELABIE, J.H.C. Assembléias de
Formicidae da serapilheira como bioindicadores da conservação de remanescentes de
Mata Atlântica no extremo sul do estado da Bahia. Sitientibus série Ciências Biológicas 6
(1): 296-305. 2006
DELABIE, J.H.C.; AGOSTI, D.; NASCIMENTO, I.C. DO. Litter ant commutities of the
Brasilian Atlantic rain forest region, pp. 1-17. In: AGOSTI, D.; MAJER, J., ALONSO, L.;
SCHULTZ, T. (eds.). Sampling ground- dwelling ants: case studies from the worlds’ rain
forests. (S. l.): School of Environmental Biology, (Bulletin,18), 275p. 2000
FREIRE, C.B.; OLIVEIRA, G.V.; MART, F.R.S.; SOUZA, L.E.C.; RAMOS-LACAU, L.S.;
CORRÊA, M. M. Riqueza de formigas em áreas preservadas e em regeneração de caatinga
arbustiva no sudoeste da Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Biociências 10 (1): 131-134.
2012.
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BAPTISTA, G.C.
de; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIM, J.D.;
MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. Entomologia Agrícola. Piracicaba: FEALQ,
2002. 920p.
HÖLLDOBLER, B.; WILSON, E.O. 1990. The ants. Cambridge, Harvard University Press,
732p.
LACAU, L.S.R.; ZANETTI, L.; DELABIE, J.H.C.; MARINHO, C.G.S.; SCHLINDWEIN,
M.N.; LACAU, S.; NASCIMENTO, L.S.R. Respostas das guildas de formigas
(Hymenoptera: Formicidae) a práticas silviculturais em plantio de eucaliptos. Agrotropica
20 (1): 61-72. 2008.
LEAL, I.R.; TABARELLI, M.; SILVA, J.M.C. Ecologia e conservação da caatinga: uma
introdução ao desafio, pp. XIII – XVII. In: LEAL, I.R.; TABARELLI, M.; SILVA, J.M.C.
(eds.). Ecologia e conservação da caatinga. Recife: Editora da Universidade Federal de
Pernambuco. 822p. 2003
NASH, M.S.; WHITFORD, W.G.; ZEE, J.V.; HAVSTAD, K. Monitoring changes in stressed
ecosystems using spatial patterns of ant communities. Environmental Monitoring and
Assessment 51 (1): 201-210. 1998.
NUNES, F.A.; MARTINS SEGUNDO, G.B.; VASCONCELOS, Y.B.; AZEVEDO, R.;
QUINET, Y. Groud-foraging ants (Hymenoptera: Formicidae) and rainfall effect on
pitfall trapping in a deciduous thorn woodland (Caatinga), Northeastern Brazil. Revista
de Biologia Tropical 59 (4): 1636-1650. 2011.
PEREIRA, J.L.; PICANÇO, M.C.; DA SILVA, A.A.; BARROS, E.C.; SILVA, R.S.;
GALDINO, T.V.S.; MARINHO, C.G.S. Ants as environmental impact bioindicators from
insecticide application on corn. Sociobiology 55 (1B): 153-164. 2010.
SARMIENTO-M, C.E. Metodologías de captura y estudio de las hormigas. In: FERNÁN-
DEZ, F. (Ed.). Introducción a las hormigas de la región neotropical. Bogotá: Instituto de
Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, 2003. p. 201-210.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 258
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LISTA DE ESPÉCIES HERBÁCEAS E SUBARBUSTIVAS PRESENTES


NO CAMPUS CENTRAL DA UERN, MOSSORÓ-RN

Deyse Karoline Alves Costa¹; Diego Nathan do Nascimento Souza²

Palavras-chave: Área urbana. Caatinga. Levantamento florístico. Sistemática vegetal.

Introdução
De acordo com Ramalho et al. (2009), o levantamento florístico pode ser considerado
um importante instrumento para a avaliação de fragmentos arbóreos-arbustivos existentes em
uma determinada área, como também para subsidiar na tomada de decisões quanto aos
eventuais cortes de árvores para utilização da biomassa vegetal para a produção de energia,
retirada de lenha e madeira, para outros fins de menor interesse socioeconômicos, pecuária,
dentre outros aspectos. Embora esses estudos precisem de uma maior intensificação, já
apontam que essas áreas apresentam uma extraordinária diversidade florística. Além disso, os
estudos florísticos são muito importantes para se conhecer as espécies vegetais presentes tanto
em áreas preservadas, quanto antropizadas, como no caso de ambientes urbanizados.
Conhecer a biodiversidade remanescente em fragmentos de vegetação de uma cidade é
um passo importante para embasar políticas de conservação e justificar a criação de novas
Unidades de Conservação (MORO et al., 2011). Dentre os principais riscos à conservação
biológica nas cidades estão a eliminação da cobertura vegetal para expansão urbana e a
introdução de espécies exóticas (MCKINNEY 2002; BREUSTE 2004). Por isso, existe a
necessidade de cada vez mais se estudar a flora das cidades e, assim, auxiliar no manejo das
plantas e da fauna local que depende dos recursos vegetais.
Embora não atraiam tantos estudos quanto as que ocorrem em ambientes naturais por
não possuir um apelo conservacionista, ou por não ter uma beleza exuberante, em sua maioria,
o estudo das plantas em ambientes urbanos vem ganhando crescente importância
(LUNDHOLM & MARLIN 2006; THOMPSON & MCCARTHY 2008). Esse aumento do
interesse em trabalhos nessas áreas pode ter relação com o aumento da população urbana. E
embora as plantas menores como subarbustos e herbáceas sejam ainda pouco reconhecidas ou
valorizadas, esse estrato da vegetação é muito importante também para a conservação de
outras espécies animais, que também utilizam de seus recursos para se manterem.
Segundo Toledo (1993), atualmente no Brasil, cerca de 73% da população vive em
cidades. Essa constatação já é suficiente para justificar a preocupação com o adequado
planejamento e manejo do ambiente urbano sob vários aspectos, sendo a arborização urbana
um deles. Sendo assim, o presente trabalho objetivou realizar um levantamento florístico das
espécies herbáceas e subarbustivas de uma área urbana da cidade de Mossoró.

¹Graduanda em Ciências Biológicas Bacharelado do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade


Estadual do Rio Grande do Norte; e-mail: karolcosta.bio@gmail.com.
²Professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; e-mail:
diegosouza@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 259
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

 Local
O estudo foi realizado no Campus central da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, localizado na cidade de Mossoró-RN, (5°12'18.5"S 37°18'57.9"W). O campus está
inserido na área urbana da cidade, que por sua vez está introduzida no bioma caatinga, que de
acordo com Amancio Alves et al. (2009), é um tipo de formação vegetal com características
bem definidas: árvores baixas e arbustos que, em geral, perdem as folhas na estação seca
(espécies caducifólias), além muitas cactáceas. A caatinga apresenta três estratos: arbóreo (8 a
12 metros), arbustivo (2 a 5 metros) e o herbáceo (abaixo de 2 metros).

 Coletas
As coletas foram feitas, preferencialmente, no período chuvoso (janeiro a junho), pois
é nesse período que ocorre a floração da grande maioria das espécies e também o surgimento
de algumas que, geralmente, não sobrevivem ao período seco.
Foram feitas caminhadas aleatórias pelo campus com a finalidade de fazer registros
fotográficos das espécies encontradas no local, tanto as de ocorrência natural quanto aquelas
plantadas em vasos (inseridas). As fotos foram feitas utilizando um aparelho de celular e
depois transferidas para uma pasta no drive para serem identificadas.
Para a identificação das espécies foram utilizados o aplicativo PlantNet, o Google
Imagens e sites como o Jardineiro.net e CRPol. Levando em conta o sistema de classificação
APG IV (2016). Conforme foram sendo identificadas, as imagens eram sendo separadas em
pastas de acordo com a família.

Resultados e Discussão

Foram registradas aproximadamente 50 espécies, distribuídas em 21 famílias. Dentre


elas 31 foram identificadas a nível de espécie e outras apenas a nível de família.
Também foi obtido como resultado uma lista com as espécies identificadas contendo
informações quanto ao hábito e sua origem, apontando que, aproximadamente, 37% desse
total é composto por espécies nativas.
Apesar de concordar com a literatura quando se diz que a Caatinga possui uma
extraordinária biodiversidade nativa, ainda existe a questão das espécies inseridas e a ação
antrópica sobre esse bioma.
Espécies herbáceas e subarbustivas ainda são pouco exploradas nos vários biomas
brasileiros, quando comparadas a trabalhos com arbustos e árvores (ARAÚJO et al., 2005),
mas é bom atentar que trabalhos que envolvem a identificação de herbáceas e arbustos
também são importantes para contribuir com o conhecimento acerca da flora local,
explorando ainda mais a biodiversidade. Quando se fala em trabalhos com listas florísticas em
ambientes antropizados, geralmente o estrato herbáceo e/ou subarbustivo não é muito
mencionado (TROIAN et al., 2011), o que ressalta a necessidade de mais trabalhos com essas
plantas.

Conclusão

Conclui-se que, apesar de ser um ambiente antropizado, a UERN possui uma considerável
variedade de espécies.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 260
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos
À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN pela bolsa concedida à
primeira autora.

Referências
AMANCIO ALVES, J. K.; ARAÚJO, M. A.; NASCIMENTO, S. S. Degradação da
Caatinga: uma investigação ecogeográfica; Revista Caatinga, v. 22, n. 3, p. 126-135
Universidade Federal Rural do Semi-ÁridoMossoró, Brasil. 2009.
ARAÚJO, E. L. et al. Diversidade de herbáceas em microhabitats rochoso, plano e ciliar
em uma área de caatinga, Caruaru, PE, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 19, n. 2, 2005.
BREUSTE, J. H.; Decision making, planning and design for the conservation of
indigenous vegetation within urban development. Landscape and Urban Planning 68: 439-
452. 2004.
HASSEMER, G. Levantamento florístico de plantas vasculares espontâneas em
ambientes antrópicos no campus da Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, Brasil. 40 f. Trabalho de conclusão do curso de Ciências Biológicas, em
cumprimento da disciplina Estágio II (BIO5156) no segundo semestre, 2010.
Jardineiro.net; Dispoível em< https://www.jardineiro.net/> . Acesso em: setembro de 2020.
LOMBARDI, J. A.; MORAIS, P. O. Levantamento florístico das plantas empregadas na
arborização do campus da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG.
Lundiana, v. 4, n. 2, p. 83-88, 2003.
MCKINNEY, M. L. Urbanization, biodiversity, and conservation. BioScience, v. 52, p.
883-890, 2002.
MORO, M. F., CASTRO, A. S. F.; ARAÚJO, F. S. Composição florística e estrutura de
um fragmento de vegetação savânica sobre os tabuleiros pré-litorâneos na zona urbana
de Fortaleza, Ceará. Rodriguésia, v. 62, n. 2, p. 407-423, 2011.
PLANTNET-PROJECT/ PlantNet identificação planta. Versão 3.1.5. Plantnet-project.org,
2014.
RAMALHO, C. I. et al. Flora arbóreo-arbustiva em áreas de Caatinga no semiárido
baiano, Brasil. Revista Caatinga (Mossoró), v. 22, n. 3, p. 178-186, julho/setembro de 2009.
Rede de catálogos polínicos online. Disponível em: < http://chaves.rcpol.org.br/ >. Acesso
em: 16/8/2020
STEVENS, P. F. (2001 onwards). Angiosperm Phylogeny Website. Versão 14, julho 2017.
Disponível em: <http://www.mobot.org/MOBOT/research/APweb/>. Acesso em setembro de
2020.
TROIAN, L. C. et al. Florística e padrões estruturais de um fragmento fl orestal urbano,
região metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil. Iheringia Série Botânica, v. 66, n. 1,
2011.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 261
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MATERIAIS E DADOS ENVIADOS POR CIRURGIÕES-DENTISTAS


AOS LABORATÓRIOS DE PRÓTESE DENTÁRIA PARA CONFECÇÃO
DE PRÓTESES TOTAIS E PARCIAIS REMOVÍVEIS
Matheus Lopes da Silva 1; Francisca Janiele Pinheiro Pereira 2; Ana Clara Soares Paiva
Torres3
PALAVRAS-CHAVE: Planejamento. Reabilitação Oral. Tratamento Protético.

INTRODUÇÃO
O aumento da expectativa de vida e a consequente aumento da população idosa estão
relacionados com o aumento da necessidade de tratamento protético (POLYCHRONAKIS,
2014). Dados do levantamento epidemiológico de base nacional SBBrasil 2010 mostram que o
número de dentes perdidos, cariados e obturados em idosos é, em média, de 27,53, com
destaque para o componente “dentes perdidos” (média de 25,29 dentes) (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2011).
As próteses removíveis, sejam elas totais ou parciais, são uma opção de tratamento que
pode reverter a situação das perdas dentárias em pacientes que não podem se submeter ao
tratamento com implantes dentários (POLYCHRONAKIS, 2014). Em pacientes desdentados
totais, o uso de próteses totais convencionais (PT) está associado com uma melhor qualidade
dietética, melhor satisfação, eficiência mastigatória e melhor qualidade de vida; principalmente,
quando comparadas à condição totalmente edêntula (BAJORIA, 2012). Nesse mesmo sentido,
em pacientes parcialmente desdentados as próteses parciais removíveis (PPR) também
restabelecem diversas funções, assim como fonética, estética e mastigação, próprias do
aparelho estomatognático (HU, 2019)
Durante todas as etapas de elaboração e confecção da prótese dentária existem diversos
aspectos que podem levar ao fracasso do tratamento, sendo a falta de comunicação entre
cirurgiões-dentistas e protéticos um deles. Todo e qualquer procedimento de reabilitação oral
necessita de troca de informações entre o cirurgião-dentista (CD) e o técnico em prótese
dentária para que o trabalho protético seja feito da melhor forma, evitando insucessos do
tratamento e prejuízo ao sistema estomatognático (HU, 2019; CEBECI, 2018).
Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar o planejamento e a qualidade dos trabalhos
destinados à confecção de próteses totais e próteses parciais removíveis enviados por
cirurgiões-dentistas para laboratórios protéticos comerciais situados na cidade de Caicó (RN).

METODOLOGIA
O presente estudo consistiu em uma pesquisa do tipo observacional, realizado em
recorte do tipo transversal. Segundo informações disponíveis na página eletrônica do Conselho
Regional de Odontologia do Rio Grande do Norte (CRO-RN), foram identificados os
Laboratórios de Prótese Dentária inscritos no Conselho, na categoria Laboratórios de Prótese
Dentária (LPD) registrados como empresa (n=2), no município de Caicó/RN. De posse desses
dados, os laboratórios inscritos foram selecionados para participarem do estudo. Os dois
laboratórios anuentes foram identificados por letras (A e B), sem qualquer meio de
caracterização por nomes, a fim de garantir a confidencialidade dos envolvidos.
1
Estudante do curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: matheuslpds1@gmail.com
2
Estudante do curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: janieleppereira@gmail.com
3
Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: x_ana_clara_x@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 262
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Este estudo, previamente a realização de qualquer etapa, foi submetido e aprovado no


Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da UERN, com o parecer de
aprovação n. 3.932.182. Os nomes dos cirurgiões-dentistas e de pacientes presentes em
requisições ou modelos, não foram registrados. O critério de inclusão preceituado para
participar da pesquisa, se deu a partir de no mínimo, uma confecção laboratorial realizada
envolvendo PT e PPR.
Os modelos observados e as suas respectivas requisições foram avaliados segundo
questionários de extração de dados especificamente desenvolvidos para este fim. Os itens
contemplados nestas análises foram elencados na Tabela 1 e 2.

Tabela 1. Itens observados e avaliados para trabalhos em prótese total.


Tópicos de avaliação Condições avaliadas
• Presença de bolhas na área chapeável;
Análise dos modelos • Delimitação da área chapeável pelo Cirurgião-Dentista;
anatômicos para prótese • Demarcação das áreas de alívio.
total
• Recorte do molde funcional pelo cirurgião-dentista no limite posterior;
• Material utilizado para o selamento periférico;
Análise de molde
• Material utilizado para realização da moldagem de corpo.
funcional em prótese total
• Informações clínicas: formato do rosto, cor da pele, idade;
• Determinação das características: modelo, marca e cor dos dentes pelo
Análise do plano de Cirurgião-Dentista;
orientação em próteses • Linhas de orientação (linha alta do sorriso, linha média, linha dos caninos);
total • Registro interoclusal nos casos de reabilitação de ambos os arcos;
• Material utilizado para o registro interoclusal.

• Montagem dos dentes em modelos articulados;


• Tipo de articulador utilizado;
• Condição do arco antagonista;
Análise da montagem dos
• Informações clínicas do paciente na requisição para montagem dos dentes em
dentes em prótese total
cera (formato do rosto, cor da pele e idade);
• Descrição de modelo, marca e cor dos dentes determinados na requisição pelo
cirurgião-Dentista.
Análise de pedidos de • Cor da gengiva determinada na requisição;
acrilização em prótese • Gengiva caracterizada.
total

Com o objetivo de identificar os trabalhos e impedir que os mesmos fossem avaliados


em duplicidade foi estabelecida uma marcação com o símbolo “*” e siglas com as iniciais da
fase laboratorial em que o trabalho se encontrava no momento da análise. Os trabalhos
excluídos da amostra, foram os que não apresentaram identificação da solicitação laboratorial
do cirurgião-dentista na requisição ou os que possuíam requisição ausente ou danificada. Foram
realizados registros fotográficos de modelos e requisições para discussões de eventuais dúvidas
entre os pesquisadores. Os pesquisadores executaram todas as avaliações conjuntamente a partir
de parâmetros previamente definidos e entraram em consenso para os casos duvidosos. Os
métodos empregados para coleta de dados não causaram nenhum tipo de dano ou prejuízo à
integridade física das requisições e trabalhos avaliados.

Tabela 2. Itens observados e avaliados para trabalhos em prótese parcial removível.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 263
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Tópicos de
Condições avaliadas
avaliação
• Presença de bolhas e suas características;
• Classificação de Kennedy e suas modificações;
Análise dos modelos de
• Presença de nichos, seu posicionamento, quantidade e
trabalho de prótese
extensão;
parcial removível
• Tipo de gesso;
• Demarcação de trajetória de inserção e remoção.
• Concordância entre estrutura metálica e desenho do
Análise da estrutura
planejamento;
metálica em prótese
• Presença de bolhas na estrutura metálica;
parcial removível
• Tipos de gessos utilizados.
• Registro interoclusal;
• Material utilizado para registro interoclusal;
Análise de montagem
• Montagem dos modelos em articuladores;
dos dentes em prótese
parcial removível • Condição do arco antagonista;
• Descrição de modelo, marca e cor dos dentes determinada pelo
dentista.
Análise de pedidos de • Cor da gengiva determinada na requisição;
acrilização em prótese • Solicitação da caraterização da gengiva.
parcial removível

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No presente estudo, foram avaliados um total de 85 trabalhos de prótese total e 160
trabalhos de prótese parcial removível enviados para dois laboratórios de prótese dentária
situados no município de Caicó/RN. Do total de trabalhos em prótese total 25 (29,41%) eram
modelos anatômicos, 02 (2,31%) estavam na fase de moldagem funcional, 28 (32,94%) eram
planos de orientação, 13 (15,30%) estavam na fase de montagem dos dentes e 17 (20%) eram
pedidos de acrilização. Dentre os trabalhos de prótese parcial removível 40 (25%) eram
modelos de trabalho, 27 (16,88%) eram estruturas metálicas, 01 (0,62%) era moldagem
funcional, 64 (40%) era montagem de dentes e 28 (17,5%) eram pedidos de acrilização.
Em relação as próteses totais, nenhum continha indicação de zonas de alívio na
requisição e apenas 01 continha a indicação dessas zonas no próprio modelo. Apenas 01 destes
modelos possuía indicação da zona da moldeira. Dos planos de orientação, apenas 05 tinham
indicação de informações clínicas, sendo que 04 indicavam o formato do rosto do paciente e 01
indicava a idade. Em 08 destes planos a requisição não indicava a marca dos dentes. Dos 17
pedidos de acrilização, 05 não diziam a cor da gengiva. Já nas próteses parciais removíveis, 33
(82,5%) não estavam acompanhados de requisição bem preenchida com indicação do
planejamento da estrutura metálica. A maior parte dos modelos de trabalho era classe III de
Kennedy (n=18).
No presente estudo, foi possível observar que além destes, um erro comumente
observado foi o envio de modelos para confecção de próteses sem a devida montagem destes
em articulador. Do total de 13 trabalhos em PT, na fase de montagem de dentes, 11 não estavam
montados em algum tipo de articulador. Das 64 montagens de dentes nas PPR, apenas 25
(39,06%) estavam montados em articulador, todos do tipo charneira e apenas 03 (4,68%)
descreviam o modelo do dente. Esse procedimento tem sido indicado por ampliar as
possibilidades de simulação das características anatômicas e funcionais do paciente,
fundamentais para o reestabelecimento do padrão oclusal e análise da dimensão vertical.
As requisições enviadas pelos cirurgiões-dentistas para os laboratórios protéticos,
possuíram como principais falhas: encaminhamento de modelo anatômico; pedido de
montagem de dentes e moldagem funcional (em PPR) acompanhados de uma pobre descrição
de finalidades e exigências na requisição; ausência de identificação do profissional e do
paciente como meio de melhor assimilação do serviço a ser realizado. Além disso, por vezes, a

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 264
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

requisição não apresentava as informações clínicas importantes, deixando evidente a


negligência do CD ao deixar que algumas escolhas fossem feitas pelo técnico em prótese
dentária.
Dos 40 modelos de trabalho em PPR, 30 (75%) tinham nichos preparados, sendo que,
destes, 25 foram confeccionados em local adequado. Diante disso, Torres et al (2011)
verificaram, também, que dos modelos que apresentavam nichos, poucos estavam preparados
de modo correto ou de acordo com os parâmetros considerados adequados. Nenhum dos
modelos avaliados no presente estudo tinha pino-guia para indicar a trajetória de inserção e
remoção da estrutura metálica a ser confeccionada. Dentre os pedidos de acrilização, 16
(57,14%) não especificavam cor da gengiva.
Foi possível constatar a precária relação entre o CD e o técnico de prótese dentária no
que diz respeito aos interesses do paciente. Com isso, pode-se perceber um serviço mecanizado
e pouco individualizado, descaracterizando os propósitos de reestabelecimento das funções
biológicas, funcionais e estéticas, próprias de cada paciente. A relação de comunicação entre o
CD e o técnico de prótese, se mostra como um vínculo distante e de pouco envolvimento quanto
às finalidades de realização de um trabalho bem elaborado, a partir de explicações descritivas
dos objetivos que se pretende atingir (ALI , 2018).

CONCLUSÃO
Diante dos resultados obtidos foi possível perceber que a qualidade dos modelos e das
requisições recebidas pelos laboratórios de prótese, em sua maioria, estava comprometida. Boa
parte das requisições estava preenchida de forma inadequada. Tais situações podem
comprometer a confecção dos trabalhos protéticos. Contudo, o vínculo e a interação entre o CD
e o técnico de prótese dentária são importantes para que erros durante os processos laboratoriais
e clínicos possam ser minimizados.

REFERÊNCIAS
ALI, S.A., et al. Communication between dentists and dental technicians during the fabrication
of removablepartial dentures in Khartoum State, Sudan. Acta Stomatologica Croatica, v.52,
n.3, p.246-253. 2018.
BAJORIA, A.A., et al. Evaluation of satisfaction with masticatory efficiency of new
conventional complete dentures in edentulous patients-a survey. Gerodontology, v.29, n.3,
p.231-238, 2012.
CEBECI, N.Ö. Factors associated with insufficient removable partial denture design
instructions. Dental and Medical Problems, v.55, n.2, p.173-177. 2018.
HU, F., et al. Using intraoral scanning technology for three-
dimensional printing of kennedy class i removable partial denture metal framework: a clinical
report. Journal of Prosthodontics, v.28, n.2, p.473-476. 2019.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Projeto SB Brasil 2010: Condições de saúde bucal da população brasileira 2009-2010:
Resultados principais. Brasília: Ministério da Saúde; 2011. 68 p. Série C. Projetos, Programas
e Relatórios. Disponível em:
http://dab.saude.gov.br/CNSB/sbbrasil/arquivos/projeto_sb2010_relatorio_final.pdf.
TORRES, E.M., et al. Avaliação do planejamento para prótese parcial removível e da qualidade
dos modelos e requisições enviados aos laboratórios. Revista Odontologica do Brasil Central,
v.20, n. 52, p.25-30. 2011.
POLYCHRONAKIS N., et al. A Survey of Removable Partial Denture (RPD) Retentive
Elements in Relation to Type of Edentulism and Abutment Teeth in Commercial Laboratories
in Athens. Acta Stomatologiva Croatica., v. 48, n. 3, p. 199–207. 2014.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 265
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MONITORAMENTO POPULACIONAL DE AEDES SPP NO CAMPUS


CENTRAL DA UERN UTILIZANDO ARMADILHAS DE OVIPOSIÇÃO
(OVITRAMPAS)

Fabricia Diana Vieira Ana Soares de Oliveira ; Iron Macêdo Dantas .


1; 2 3

Palavras-chave: Arboviroses. Dengue. Mosquito. Monitoramento.

INTRODUÇÃO

Os relatos sobre as arboviroses são pertinentes desde a antiguidade. Segundo Andries


2006, o primeiro relato de caso de doença semelhante à dengue foi registrado numa
enciclopédia chinesa da dinastia Chin (265 a 420 anos a.C.). Posterior a isso, por duas vezes
ao longo dos anos houve erradicação do Aedes aegypti no Brasil. Porém, em 1976, ocorreu
uma reintrodução do vetor no país, facilitada pela baixa qualidade do sistema epidemiológico,
e fatores antrópicos que favoreceram sua disseminação até os dias atuais (ZARA, et al. 2016).
Com essa propagação teve-se uma maior transmissão do mosquito, no qual é
responsável por transmitir a dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Representando um
grande problema de saúde pública.
O Aedes aegypti se prolifera facilmente em criadouros com disponibilidade de água,
pouca matéria orgânica em decomposição e expostos em locais sombreados. Podendo manter,
assim, a densidade populacional (FÁVERO, 2015). A sua dispersão e o seu desenvolvimento
são diretamente influenciados pela presença de chuva, uma vez que no período chuvoso
aumenta a quantidade de criadouros, sendo a estação chuvosa o período em que a população
desse mosquito atinge níveis elevados e ocorrem epidemias de dengue (FÁVERO, 2015).
O Aedes aegypti possui desenvolvimento com metamorfose completa passando pelas
fases de ovo, larva, pupa e adultos, sendo sua fase de ovo a pupa na água e adultos fora dela.
(BEZERRA et al., 2009). E no caso da transmissão, ela ocorre por parte da fêmea dessa
espécie, pois diferentemente do macho que se alimenta de frutas, ela necessita de sangue para
ajudar no desenvolvimento dos ovos. Além disso, durante seu ciclo de vida, que tem em
média 30 dias, ela pode colocar entre 150 a 200 ovos (SSP-ES. 2015) e o seu habitat está
intimamente ligado às condições domiciliares e peridomiciliares ofertadas pelo modo de vida
das populações humanas. (BESERRA, et al. 2009).
Esse cenário de dispersão em larga escala do vetor exigiu medidas de captura e
monitoramento por parte de pesquisadores da área entomológica e órgãos de saúde, com o
intuito de se ter uma visão panorâmica da situação. Desse modo, um dos métodos adotados
e mais eficaz para essa coleta funciona por meio de ovitrampas. Este tipo de armadilha
garante a inquirição da presença do mosquito em todos os períodos do ano, além de ser
sensível e econômico. (MONTEIRO et al. 2014) (BRAGA e VALLE.  2007). 
Portanto, esta pesquisa é uma continuação de um projeto iniciado em agosto de
2016, no qual estamos fazendo o levantamento populacional do mosquito Aedes sp no

1-Estudante do Curso de Ciências Biológicas - FANAT - UERN; e-mail: fabriciavieira@alu.uern.br

2-Estudante do Curso de Ciências Biológicas - FANAT - UERN; e-mail: anasoares@alu.uern.br

3- Professor do Curso de Ciências Biológicas - FANAT - UERN; Participante do Grupo de Pesquisa Ecologia
e Sistemática animal; e-mail: irondantas@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 266
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Campus Central da UERN, onde nos anos anteriores, foram coletadas 4.786 larvas entre
abril e junho 2017, 12.243 entre agosto de 2017 a Julho de 2018 e  8.088 larvas no período
de 2018 a 2019.
Desse modo, o objetivo dessa pesquisa foi continuar o monitoramento
populacional de larvas de Aedes spp no Campus Central da UERN iniciado em 2016,
utilizando armadilhas de oviposição (ovitrampas) no período de agosto de 2019 a julho de
2020.

METODOLOGIA

O experimento foi montado no Campus Central da UERN em Mossoró-RN. Foram


instaladas armadilhas de oviposição em 10 diferentes pontos do Campus Central de acordo
com a seguinte distribuição: 01) Bloco da FASSO, 02), Departamentos da FANAT, 03) Salas
de aulas do curso de Ciências Biológicas, 04) PRODEPE, 05) Bloco da FAD, 06) Bloco da
FE, 07) PROEG, 08) Biblioteca, 09) Bloco da FACEM, 10) Bloco da FAFIC (Figura 01).
Pretendia-se fazer o levantamento durante o período de dezembro de 2019 a julho de
2020, entretanto devido ao isolamento social motivado pela pandemia do Covid-19, o
experimento foi interrompido no mês de março de 2020.
Além disso, durante o monitoramento houve algumas amostras perdidas, pois como
ficava localizada aos banheiros, alguns blocos em tempos de férias permaneciam fechados.

Figura 01. Localização das armadilhas ovitrampas, no Campus Central da UERN, Mossoró,
dezembro a março de 2020.
Fonte: Google maps <https://www.google.com.br/maps/@-5.2059466,-37.315934,440m/data=!3m1!1e3?hl=pt-
PT&authuser=0>

Foram utilizadas armadilhas de captura de ovos de Aedes (ovitrampas) confeccionadas


com copos plásticos na cor preta, com capacidade de 250 ml, em seu interior foi colocado
água e adicionado uma palheta de tecido rugoso vermelho (carpete) fixado com clips uma vez
que o inseto tem a comportamento de tigmotropismo para oviposição (figura 02).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 267
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 02. Armadilhas de oviposição (ovitrampas) utilizadas para captura de ovos de Aedes
aegypti. Mossoró, 2019-2020.

Estas armadilhas foram colocadas a uma altura de aproximadamente 1,5, nos


banheiros das respectivas faculdades ou unidades acadêmicas sempre na segunda-feira e
coletadas na sexta-feira da mesma semana.
As amostras retiradas dos copos foram transferidas para os potes plásticos com a
mesma capacidade de 250 ml, de modo que a água e a palheta permaneceram nesses
potes por mais sete dias para uma observação da emergência e realização da contagem de
larvas. As larvas permaneceram nos recipientes até a emergência dos adultos, para que
fosse realizada a confirmação da identificação do Aedes no estágio adulto.
Para realização da identificação dos adultos, estes foram sacrificados sob
refrigeração e posteriormente observados sob lupa e identificados.
Os resultados da flutuação populacional serão analisados conjuntamente com os
dados de precipitação, temperatura e umidade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Durante o período da coleta foram analisadas 95 palhetas, confirmado a presença do
processo larvário do mosquito em 23 palhetas durante os meses de dezembro de 2019 a março
de 2020.
Verifica-se prevalência das larvas em todo o período do estudo, com o mês de
março/2020 sendo o que apresentou maior número de larvas (Figura 03).

Figura 03. Número de larvas de Aedes aegypti em armadilha ovitrampas, nos meses de
dezembro de 2019 a março de 2020, no Campus Central da UERN, Mossoró - RN 2019-2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 268
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Este comportamento pode estar relacionado a precipitação na cidade de Mossoró


durante estes meses (Figura 04), uma vez que a quantidade de chuvas aumenta o número de
criadouros naturais, elevando assim a população (FÁVERO, 2015)

350
300
250
precipitação mm

200
150
100
50
0
Dez. 2019 Jan. 2020 Fev. 2020 Mar. 2020
Período

Figura 04. Precipitação na cidade de Mossoró-RN nos meses de dezembro de 2019 a março
de 2020.

Fonte: LABIMC- UFERSA <https://labimc.ufersa.edu.br/estacao-meteorologica/>

O mosquito Aedes aegypti, esteve presente no Campus Central da UERN em todo o


período do levantamento, entretanto nos blocos das faculdades FAD e FE, não foram
registrados nenhuma ocorrência (Tabela 01).
As maiores ocorrências ocorreram nos blocos da FANAT, FASSO e ´PRODEPE
(pontos 01, 02, 03 e 04), que ficam em uma área próxima (Figura 01 e Tabela 01), e também
observa-se presenças maiores na PROEG e FAFIC (pontos 07 e 10) o total de de larvas
obtidas como também o total de adultos em cada bloco da Universidade, de modo que os
blocos que tiveram um número maior de larvas foi o DEPARTAMENTO DE
BIOLOGIA/PROPEG/FAÇO/ECONOMIA/PRODEPE e já que prevaleceu com o número
maior de adultos foi o DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA.

Tabela 01: Nº de Larvas por armadilha de captura de ovos de Aedes (ovitrampa), no Campus
Central da UERN, Mossoró, 2019-2020.

dezembro janeiro fevereiro março Total por


Locais 2019 2020 2020 2020 local
1 Bloco da FASSO 0 16 1 2 19
10 Bloco FAFIC 0 8 0 4 12
2 Departamento FANAT 0 13 17 13 43
3 Sala de aula Ciências 0 0 4 0 4
Biológicas
4 PRODEPE 11 0 0 8 19
5 Bloco da FAD 0 0 0 0 0

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 269
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

6 Bloco da FE 0 0 0 0 0
7 PROEG 0 0 0 22 22
8 Biblioteca 0 0 5 0 5
9 Bloco FACEM 0 0 2 1 3
Total por período 11 37 29 50 127

CONCLUSÃO
As armadilhas de ovitrampas demonstraram resultados positivos na coleta de ovos de
Aedes agypti.
O Aedes agypti esteve presente no Campus Central da UERN durante o período de
coleta.
O período de observação foi insuficiente para concluir o levantamento da flutuação
populacional do inseto.

AGRADECIMENTO

Agradeço ao programa PIBIC-UERN pela oportunidade e concessão da bolsa.

REFERÊNCIAS

ANDRIES, S. Histórico. Instituto Virtual da Dengue do Estado do Rio de Janeiro, 2006.


BESERRA, Eduardo B. et al. Ciclo de vida de Aedes (Stegomyia) aegypti (Diptera,
Culicidae) em águas com diferentes características. Iheringia. Série Zoologia, v. 99, n. 3,
p. 281-285, 2009.
BESERRA, Eduardo B.; RIBEIRO, Paulino S.; OLIVEIRA, Sueide A. de. Flutuação
populacional e comparação de métodos de coleta de Aedes (Stegomyia) aegypti (Diptera,
Culicidae). Iheringia. Série Zoologia, v. 104, n. 4, p. 418-425, 2014.
BRAGA, Ima Aparecida; VALLE, Denise. Aedes aegypti: vigilância, monitoramento da
resistência e alternativas de controle no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 16, n.
4, p. 295-302, 2007.
CARVALHO, Danilo O. et al. Supressão de uma população de campo de Aedes aegypti no
Brasil pela liberação sustentada de mosquitos machos transgênicos. PLoS negligenciou
doenças tropicais , v. 9, n. 7, pág. e0003864, 2015.
FÁVERO, E. A. Estudo da relação entre indicadores entomológicos para Aedes aegypti
obtidos de MosquiTRAPs, de armadilhas de oviposição e de coleta de adultos com
aspiradores. Dissertação Mestrado em Ciências da Saúde., 2015.
MONTEIRO, Fred Julio Costa; CARVALHO, José Carlos Tavares; SOUTO, Raimundo
Nonato Picanço. Distribuição da oviposição e dinâmica temporal do Aedes aegypti
(Linnaeus) por meio de ovitrampas. EntomoBrasilis, v. 7, n. 3, p. 188-192, 2014
Mosquito Aedes Aegypti. Mosquito Saúde, 2015. Disponível em: <
https://mosquito.saude.es.gov.br/aedes-aedypti>. Acesso em 22.10.2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 270
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ZARA, Ana Laura de Sene Amâncio et al. Estratégias de controle do Aedes aegypti: uma
revisão. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 25, p. 391-404, 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 271
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

NÍVEIS PRESSÓRICOS ASSOCIADOS A ESTRESSE E GÊNEROS EM


UNIVERSITÁRIOS
Samara Wiliane dos Santos Silva 1; Joyce Oliveira de Sousa2; Layane da Silva Lima²; José
Giovani Nobre Gomes3.
PALAVRAS CHAVES: Universitários. Hipertensão. Estresse. Gênero.
INTRODUÇÃO
A hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma morbidade multicausal bastante
notificada na vida adulta, estando relacionada comumente com as doenças cardiovasculares
(COSTA, MACHADO, 2010). Doença crônica não transmissível, manifestada por aspectos
ambientais e/ou genéticos, como má alimentação; sedentarismo; tabagismo; uso demasiado de
medicamentos precursores, entre outros (GEORGIEV et al., 2018).
Compreendendo a jornada intensa e estressante de universitários, observa-se
condicionantes que os levam a predisposição desta enfermidade. Pois, a exaustão e correria
culminam majoritariamente em maus hábitos e indisposição física e psíquica para
enfrentamentos diários (ARIÑO; BARDAGI, 2018).
Diante disso, buscou-se investigar e analisar os determinantes elencados como causas e
justificativas para esse adoecimento em universitários de uma universidade pública da cidade
de Pau dos Ferros - RN, de forma a levantar dados que possam alertar a toda comunidade,
considerando o diagnóstico precoce assertivo para o tratamento e a recuperação da qualidade
de vida desses indivíduos e crucial para evitar futuros agravantes.
Assim, objetivou-se analisar índices pressóricos associados a estresse e gêneros em
distintos cursos. De forma específica, buscou-se analisar a prevalência entre gêneros, discutir
os resultados entre os cursos pesquisados e associar a carga de estresse aos índices pressóricos.
METODOLOGIA
Os participantes do estudo foram acadêmicos dos cursos de enfermagem e pedagogia.
O critério de inclusão foi estar devidamente vinculado à universidade; e como exclusão:
apresentar uma condição clínica que impeça sua participação na pesquisa. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa _ CEP-UERN

1
Estudante do Curso de Enfermagem – CAMEAM, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-mail:
samarawsantoss@gmail.com ;

2
Estudantes do Curso de Enfermagem – CAMEAM, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-
mail: joycesousa1730@gmail.com; laypb@hotmail.com
3
Professor do Curso de Enfermagem – CAMEAM, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-mail:
jgiovaninobre@gmail.com ;

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 272
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A primeira etapa da coleta se iniciou após aquisição do termo de consentimento. Após


foi feita a verificação da pressão arterial, a qual obedeceu a recomendação da VII Diretriz
Brasileira de Hipertensão, em 3 dias distintos e foi feita a média aritmética entre os valores
obtidos. A segunda etapa foi a avaliação peso (Kg) e altura (m). Cada discente estava com o
mínimo de roupas, descalço e imóvel, posicionada em pé no centro da balança digital, a qual
tem suporte para 150 kg (de marca G-Life Magna CA4000). Para a altura (cm), foi utilizada
uma fita métrica anexa a parede, na qual os jovens foram posicionados em pé, eretos e imóveis
com braços estendidos ao longo do corpo e de joelhos unidos.
Por último foi aplicado um questionário com os discentes, levantando informações
como hábitos alimentares e de vida dentro da academia. Foi disponibilizado uma área adequada
para resposta e o participante ficou a vontade para responder, para que não haja nenhuma
interferência tendenciosa nas respostas.
Os dados dos níveis pressóricos, avaliações antropométricas e do questionário foram
estatisticamente analisados por meio de estatística descritiva com apresentação de medidas de
tendência central e estudos bi-variados de correlação e associação.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Gráfico 1: classificação dos níveis pressóricos e o A pesquisa contou com 65 participantes,
curso.
sendo 38 de enfermagem e 27 de pedagogia.
Quanto a prevalência das alterações entre os
distintos cursos, observa-se que há um maior
número de acadêmicos com índices pressóricos
normais em detrimento daqueles classificados
como hipertensos ou pré-hipretensos em ambos
os cursos analisados (Gráfico 1).
Para além dessa análise, os testes de
Spearman’s, assim como Qui-quadrado de
Pearson não apresentaram correlação
estatisticamente significativa (p = 0, 940),
Fonte: dados próprios dos Autores, 2020.
quando comparados os dois cursos.
No entanto quando realizada a relação entre os níveis pressóricos e gênero,
identificamos correlação (Gráfico 2). Por meio do teste de Q² com valor de p = 0,019, entre

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 273
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

gênero e a classificação baseada em índices Gráfico 2: classificação dos níveis pressóricos e o


gênero.
pressóricos, obteve-se maior número de pré-
hipertenso ou hipertenso entre os indivíduos do
sexo masculino. Esse resultado também se mostra
no estudo de Malta et al. (2018) no qual os
indivíduos do sexo masculino apresentaram a média
de pressão arterial mais alta.
Ademais, os testes demonstram que na
amostra estudada, todos os indivíduos com níveis
pressóricos elevados referiram que as exigências
aplicadas pelos cursos estavam na medida certa,
sugerindo que a carga de exigência não tem sido
Fonte: dados próprios dos Autores, 2020.
fator determinante para hipertensão. É importante
salientar que o grupo pesquisado apresentou pequeno percentual de casos com Pressão Arterial
alterada, o que pode contribuir para essa falta de relação.
O estudo de Pomini et al. (2018) concluiu que a vivência acadêmica pouco influencia
sob as condutas de saúde, de forma isolada. Porém, variáveis universitárias afetam em
comportamentos de risco como consumo e abuso de álcool e outras drogas (ARIÑO;
BARDAGI, 2018; LIMA et al., 2017), baixo consumo de frutas e verduras, a não realização de
exercício aeróbio (LIMA et al., 2017), os quais são fatores para alteração dos níveis pressóricos.
Tabela 1: níveis pressóricos em universitários e nível de exigência dos cursos.
Classificação dos níveis pressóricos Total
Normal Pré-hipertensão
/Hipertensão
Avaliação do Deveria exigir um pouco mais. 4 0 4
nível de Exige na medida certa. 42 5 47
exigência do
Deveria exigir um pouco menos. 6 0 6
curso?
Total 52 5 57
Fonte: dados próprios dos autores, 2020.

CONCLUSÃO
Diante disso, o estudo discutiu a associação de níveis pressóricos com gênero e estresse
entre universitários de cursos de áreas distintas. No entanto, não identificou associação com
carga de estresse e nível de exigência nos cursos com as alterações. O trabalho teve como

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 274
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

limitação a quantidade da amostra, em decorrência ao cenário pandêmico vivido, o que


dificultou o contato com os participantes e pode ter interferido nos índices obtidos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao PIBIC_UERN, que concedeu a oportunidade de realização do estudo. Aos
departamentos dos devidos cursos que nos receberam e permitiram a pesquisa em seu espaço;
aos discentes por colaborarem; e às minhas colegas de pesquisa pela parceria nesta rica
experiência.
REFERÊNCIAS
ARIÑO, D. O., BARDAGI, M. P. Relação entre Fatores Acadêmicos e a Saúde Mental de
Estudantes Universitários. Psicol. Pesqui. Juiz de Fora, v.12, n. 3, p.44-52. 2018. Disponível:
<https://periodicos.ufjf.br/index.php/psicologiaempesquisa/article/view/23791> Acesso em 03
de ago. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica:
diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36).
COSTA, F. P.; MACHADO, S. H. O consumo de sal e alimentos ricos em sódio pode
influenciar na pressão arterial das crianças? Ciênc. Saúde Colet, v. 15, n. supl.1, p. 1383-1389,
2010/06 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232010000700048>.
Acesso em 30 de jul. 2020.
GEORGIEV, A.M., KRAJNOVIC, P.H.D., STEVULJEVIC, J.K., et al. Hiperglicemia e
Hipertensão não diagnosticadas como indicadores dos vários fatores de risco de doenças
cardiovasculares no futuro entre a população de estudantes sérvios. J Med Biochem, v.37, n.3,
2018. Disponível: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6298463/>. Acesso em 30
de jul. 2020.
LIMA, C. A.G. et al. Prevalência e fatores associados a comportamentos de risco à saúde em
universitários no norte de Minas Gerais. Cad. saúde colet., Rio de Janeiro, v. 25, n. 2, p. 183-
191, Apr. 2017. Disponível:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
462X2017000200183&lng=en&nrm=iso>. access on 03 Sept. 2020. Epub July 10,
2017. http://dx.doi.org/10.1590/1414-462x201700020223.
MALTA, D. C. et al. Prevalência da hipertensão arterial segundo diferentes critérios
diagnósticos, Pesquisa Nacional de Saúde. Revista Brasileira de Epidemiologia [online]., v.
21, suppl 1. 2018. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1980-549720180021.supl.1>.
Acesso em 3 set. 2020.
VII DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. São Paulo: Sociedade
Brasileira de Hipertensão, v. 107, Nº 3, Suplemento 3, Setembro 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 275
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

NÍVEIS PRESSÓRICOS EM UNIVERSITÁRIOS: DADOS CLÍNICOS,


ANTROPOMÉTRICOS, HÁBITOS ALIMENTARES E
SEDENTARISMO.
Layane da Silva Lima1; Joyce Oliveira de Sousa2; Samara Wiliane dos Santos Silva2; José
Giovani Nobre Gomes3.
PALAVRAS CHAVES: Universitários. Hipertensão Arterial. Dados Antropométricos.
Sedentarismo
INTRODUÇÃO
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é caracterizada como níveis elevados de
pressão arterial, o que provoca um maior esforço do coração em bombear o sangue corretamente
para todo o corpo (DIBELLI, 2020).
Um indivíduo é considerado hipertenso quando sua pressão arterial atinge valores maior
ou igual a 140 mmHg e/ou 90 mmHg. Tendo como principais fatores de risco para desenvolver
a patologia a idade, o estresse, o hábito de fumar, o excesso de peso (sobrepeso e obesidade), o
consumo de refrigerantes e bebidas alcoólicas, a inatividade física e o consumo excessivo de
sal (BRASIL, 2019).
A partir disso, devido à jornada intensa e estressante do universitário, observa-se os
riscos condicionados para predispor essa enfermidade. Isso decorrente da exaustão, gerando
falta de tempo, o que corrobora para a má alimentação, falta de disposição física, entre outras.
Assim, verificou-se a necessidade de um estudo sobre níveis pressóricos em universitários de
uma universidade pública da cidade de Pau dos Ferros/RN.
Assim, este artigo tem como objetivos avaliar dados antropométricos de universitários
relacionando-os com os níveis pressóricos; associar hábitos alimentares com níveis pressóricos;
correlacionar sedentarismo ou inatividade com níveis pressóricos;
METODOLOGIA
Os participantes do estudo foram acadêmicos dos cursos de enfermagem e pedagogia,
os quais estavam devidamente vinculados à universidade.
Após aquisição do termo de consentimento, sendo o estudo aprovado pelo Comitê de

1
Estudante do Curso de Enfermagem – CAMEAM, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-mail:
laypb@hotmail.com ;

2
Estudantes do Curso de Enfermagem – CAMEAM, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-
mail: joycesousa1730@gmail.com; samarawsantoss@gmail.com ;
3
Docente do Curso de Enfermagem – CAPF, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. email:
jgiovaninobre@gmail.com;

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 276
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Ética e Pesquisa _ CEP-UERN, foi feita a verificação da pressão arterial, a qual obedeceu a
recomendação da VII Diretriz Brasileira de Hipertensão, e foi feita a média aritmética entre os
valores obtidos. A segunda etapa foi a avaliação peso (Kg) e altura (m). Cada discente estava
com o mínimo de roupas, descalça e imóvel, posicionada em pé no centro da balança digital (de
marca G-Life Magna CA4000). Para a altura (cm), foi utilizada uma fita métrica anexa a parede,
na qual os jovens foram posicionados em pé, eretos e imóveis com braços estendidos ao longo
do corpo e de joelhos unidos.
Por último foi aplicado um questionário com os discentes, levantando informações
como hábitos alimentares e de vida dentro da academia. Foi disponibilizado uma área adequada
para resposta e o participante ficou à vontade para responder, para que não haja nenhuma
interferência tendenciosa nas respostas.
Os dados das avaliações antropométricas, níveis pressóricos e do questionário foram
estatisticamente analisados por meio de estatística descritiva com apresentação de medidas de
tendência central e estudos bi-variados de correlação e associação.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A amostra foi composta por 65 participantes, sendo 38 do curso de enfermagem e 27 de


pedagogia. Nas análises das médias dos dados antropométricos entre os cursos, com base no
teste t, demonstrou que houve diferença estatística significativa na altura dos universitários,
sendo os de enfermagem mais altos, sem diferenças para os demais dados analisados.
A relação das médias de IMC com os níveis pressóricos, os quais foram classificados
como Pressão normal e Pré-hipertensos/hipertensos, com base no teste t, demonstraram que
houve diferença estatística significativa (Tabela 1). Os indivíduos com índices mais elevados
de PA apresentaram uma média de IMC muito superior aqueles que apresentavam índices
pressóricos normais; demonstrando uma relação direta entre IMC e hipertensão. Esse resultado
converge com o estudo de Cassiano et al (2019), o qual traz uma correlação positiva acerca do
IMC com níveis pressóricos, e isso é justificado devido aos hábitos de vida.

Tabela 1: Correlação do IMC com os níveis pressóricos.


N Mean Std. Valor de p
Índice de Massa Corpórea
Deviation
Normal 58 22,7922 3,93304 0,002
Classificação dos
Pré-
níveis pressóricos 7 27,9771 3,80868
hipertensão/Hipertensão

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 277
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Ao relacionar a inatividade física com os níveis pressóricos alterados, pelos testes de


Correlação de Pearson e Spearman, respectivamente com valores de 0,125 e 0,127, demonstram
que não houve correção entre a frequência de prática de atividades físicas com a classificação
dos níveis pressóricos (Tabela 2). No entanto, vale salientar que o grupo pesquisado apresentou
pequeno percentual de casos com a pressão alterada, o que pode contribuir para essa falta de
relação.

Tabela 2: Relação da Atividade Física com os níveis pressóricos

Frequência dos Pressão normal Pré hipertensão/ Total Valores de p


exercícios Hipertensão
Todos os dias 5 1 6 Pearson ,125
Quando tenho tempo 22 2 24 Spearman ,127
Dificilmente pratico 21 2 23
Nunca faço 5 0 5
TOTAL 53 5 58

Esse resultado confere com o estudo de Santos el al (2018), tanto na quantidade da


maioria de denominarem sedentário, quanto da não correlação entre inatividade física e
alteração dos níveis pressóricos. Ainda corroborando com a Organização Mundial da Saúde
(2016), a qual diz que apesar de 80% da população do mundo ser sedentária, existem estudos
que sugerem não haver associação estatisticamente significativa entre sedentarismo e
hipertensão.
Nas análises da alteração da pressão com os hábitos alimentares não mostraram
correlação. Mas vale salientar o tamanho da amostra e a quantidade de pessoas que tiveram
alteração na PA e o número que responderam o questionário. Isso pode ter corroborado para a
existência não significativa.

LIMITAÇÕES

Devido a ocorrência da pandemia do Sars-Cov-19, houve uma dificuldade para a coleta


de dados. Bem como o tamanho da amostra também gerou uma limitação, o que não garante
uma análise mais precisa.

CONCLUSÃO
A pesquisa realizada concluiu que não houve correlação entre a alteração da pressão
arterial em detrimento da inatividade física e em relação aos hábitos alimentares nos grupos
estudados. Mas, ao correlacionar com o percentil do IMC frente ao diagnóstico de Hipertensão
Arterial, apresentou diferença estatística.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 278
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a universidade que permitiu que a pesquisa acontecesse no seu espaço;
aos alunos que participaram da coleta de dados, e aos professores da instituição que foram
colaboradores para o desenrolar da pesquisa.

REFERÊNCIAS
BRASIL.2019
CASSIANO, M. H.; SANTANA LUZ, A. B.; BEZERRA, M. S., et al. Correlação entre os
índices antropométricos e pressão arterial de adolescentes e adultos jovens em um município
do nordeste brasileiro. Revista Ciência Plural, v. 5, n. 2, p. 49-67, 28 ago. 2019.
DIBELLI, S.C. Hipertensão arterial sistêmica em estudantes e seus fatores de risco no início e
fim do curso universitário. 2019. 32 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências
Biológicas) – Universidade Federal de Uberlândia, Ituiutaba, 2020.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Actividad física. Brasília: WHO, 2016.
Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs385/es/.
SANTOS, A.M, PORELLI J.P, JESUS, K.E.M, et al. Fatores de risco para hipertensão em
jovens universitários. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, v.17, n.01, 2018.
VII DIRETRIZ BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL. São Paulo: Sociedade
Brasileira de Hipertensão, v. 107, Nº 3, Suplemento 3, Setembro 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 279
1
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O SUPORTE BÁSICO E AVANÇADO DE VIDA FRENTE AOS RISCOS E


ACIDENTES OCUPACIONAIS NO SAMU

Larysy Raquelly Vidal de Souza 1; Natanias Macson da Silva 1; Izete Soares da


Silva Dantas Pereira 2; Ellany Gurgel Cosme do Nascimento2

1Estudante do Curso de Medicina do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-mails: larysyvidal@gmail.com;
nataniasmacson95@gmail.com.
2Professoras Doutoras do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte, Mossoró/RN. E-mail: izetedantas@hotmail.com;
ellanygurgel@hotmail.com.

Palavras-chave: Riscos Ocupacionais. Qualidade de Vida. Atendimento Pré-Hospitalar.

1. Introdução

Desde a sua criação em 2003, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU)


é o principal componente da Política Nacional de Atenção às Urgências, sendo a forma pela
qual o Ministério da Saúde implementa a assistência pré-hospitalar (APH) no âmbito do SUS a
quaisquer lugares onde um indivíduo vier a precisar (VIEIRA & MUSSI, 2008). Para atender
com rapidez e precisão, os profissionais atuantes no SAMU são suscetíveis diariamente aos
inúmeros riscos ocupacionais.
Os riscos ocupacionais dizem respeito não somente às situações relativas aos acidentes
e às doenças no ambiente de trabalho, mas também às circunstâncias operárias que podem
romper o equilíbrio físico, mental e social dos trabalhadores. Desse modo, situações causadas
pelas próprias naturezas das funções e em resultado de ações ou fatores externos e que
aumentem a probabilidade de ocorrência de lesão física, psíquica ou patrimonial, podem ser
compreendidas como de risco (LEITE et al, 2016).
Nessa perspectiva, o presente estudo buscou realizar uma avaliação do ambiente de
trabalho no qual os trabalhadores das unidades de serviço móvel de suporte básico e avançado
de vida, do SAMU, estão inseridos, analisando desde a relação do exercício da profissão com
o desenvolvimento de doenças influenciadas pelo estresse laboral, assim como riscos e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 280
2
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

acidentes de trabalho aos quais estão expostos os profissionais, realizando uma breve reflexão
acerca do comprometimento da qualidade de vida.

2. Metodologia
A coleta de dados foi realizada no período entre julho e outubro de 2019. A amostra
analisada abarcou um total de 49 profissionais de saúde do SAMU do município de Mossoró-
RN, sendo 10 médicos, 9 enfermeiros, 20 técnicos de enfermagem e 10 condutores-socorristas,
mediante população de 78 trabalhadores lotados, sendo excluídos aqueles que se recusaram a
participar da pesquisa, assim como estavam afastados do serviço por férias, licença maternidade,
ou médica. O projeto da pesquisa foi encaminhado para o Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da
Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, para
apreciação, sendo aprovada em março de 2019, com o número de CAAE:
09002119.1.0000.5294.
Utilizou-se um questionário semiestruturado com 30 perguntas, capaz de traçar o perfil
dos profissionais, envolvendo as seguintes variáveis: idade, gênero, estado civil, escolaridade,
número de salários mínimos, tempo de trabalho no serviço, função, jornada de trabalho,
exercício de outras funções, hábitos de vida, desenvolvimentos de doenças durante a carreira
profissional no SAMU, itens acerca dos riscos ocupacionais e histórico de acidentes de trabalho.
Para a aplicação do questionário, foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), no qual os indivíduos pesquisados foram esclarecidos sobre o estudo, sobre seus
objetivos e sobre o anonimato diante de publicações. Os dados foram organizados em software
Excel®, versão 2013, além de armazenados e organizados em arquivo do programa
STATISTICA e, após isso, foram submetidos à análise estatística descritiva, com base em
frequências absolutas e relativas. Posteriormente, mediante a constatação da distribuição
normal e variação homogênea, os dados foram submetidos à análise de variância.

3. Resultados e Discussão

A análise abrangeu dados sociodemográficos, hábitos de vida e condições de trabalho,


avaliadas a partir dos riscos e acidentes laborais. Os resultados apontam para um perfil
profissional com faixa etária de entre 33 e 61 anos, com idade média de 43 anos e
predominância do sexo masculino (65,3%). Quanto ao estado civil, os participantes declararam-
se casados (67,4%), solteiros (18,4%), divorciados (10,2%), viúvos (2%) e outros 2% não
souberam declarar. Quanto à escolaridade, 55% são graduados, dos quais 74% possuem pós-

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 281
3
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

graduação; 2% possui curso superior incompleto; 30,6% possuem curso técnico; e 12,3%
ensino médio. No que diz respeito à jornada de trabalho, a carga horária média é de cerca de 28
horas, sendo que 57% afirmaram possuir outra ocupação além do SAMU. (Figura 01).

Tabela 1: Características sociodemográficas dos profissionais de saúde do SAMU.


Mossoró, 2020

Variáveis Geral M* E** TES*** CS****


Idade (anos)
Faixa média (anos) 43 43 45,5 41,7 43,6
Sexo (%)
Masculino 65,3 100 45 40 100
Feminino 41,7 0 55 60 0
Estado Civil (%)
Casado 67,4 80 45 70 70
Solteiro 18,4 0 45 20 10
Divorciado 10,2 20 10 5 10
Viúvo 2 0 0 5 0
Escolaridade (%)
Ensino médio 12,3 0 0 0 60
Técnico 30,6 0 0 55 40
Superior Completo 55 30 0 40 0
Superior Incompleto 2 0 0 5 0
Pós-graduação 38,7 70 100 25 0
Jornada de Trabalho
Carga Horária média (H) 28 36,8 22,8 27,7 35,8
Acúmulo de Função (%) 57 60 70 60 30

*Médicos; **Enfermeiros; ***Técnicos de Enfermagem socorristas;


****Condutores socorristas.

Fonte: Elaborado pelos autores. Mossoró/RN.2020.

Quanto ao adoecimento dos profissionais de saúde, analisou-se as doenças


psiquiátricas. Com isso, 26,5% relataram histórico de ansiedade e 6,1% de depressão no
exercício das funções. Na análise do quadro atual, 18,4% relataram ansiedade nas categorias de
técnico em enfermagem (40%) e enfermagem (11%), não sendo relatada nas demais; 2%
afirmaram depressão, apenas em técnicos de enfermagem (5%).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 282
4
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Em termos gerais, 28,6% afirmaram desenvolver doenças relacionadas ao trabalho no


SAMU, sendo desse total, 28,6% possuem hipertensão arterial sistêmica (HAS), podendo estar
somatizada à outras, como tremor essencial, angina estável, enxaqueca, estresse físico e mental;
14,3% apresentam lombalgia e 14,3% com comprometimento de articulações; 2% com
depressão; sendo os demais portadores de obesidade, calculose renal, doença do refluxo
gastroesofágico e gota.
Quanto aos acidentes de trabalho, 28,6% afirmaram ter sofrido algum tipo de acidente
de trabalho. Dos acidentes, 21,4% foram vítimas de acidente automobilístico, com 33,3%
provocados por incêndio; 28,6% afirmaram contaminação por perfurocortantes e destes,
25% foram expostos a fluidos corporais, como sangue; 7% sofreram alguma fratura. Os demais
acidentes de trabalho incluem queda da viatura em movimento, torção de tornozelo e ruptura
de tendão por excesso de peso.
No que diz respeito à exposição dos profissionais aos riscos ocupacionais, 89,8%
afirmaram vulnerabilidade para riscos no SAMU, com 85,7% expostos a riscos de acidentes;
71,4% a risco de infecção; 69,3% a agressão física; 67,3% ao assédio moral; 32,6% a riscos
pela carga mental despendida; 67,3% a contaminação por perfurocortantes; 71,4% a riscos de
assaltos e 39% a riscos por falta de materiais, como fardamentos, luvas, máscaras, álcool,
desfibrilador portátil, oxímetro, medicações, aspiradores e ambulâncias climatizadas.
A saúde do trabalhador engloba uma série de fatores capazes de assegurar, promover
e dar continuidade ao mínimo de bem-estar necessário em seu ofício, primeiramente, para ele
próprio e, consequentemente, para o paciente, o que se encontra em conformidade com o
conceito de saúde do trabalhador expresso na política de saúde do trabalhador, em que a Portaria
Nº 1.823, de 23 de agosto de 2012. Desse modo, com o comprometimento da saúde dos
trabalhadores devido aos riscos e acidentes no ambiente de trabalho, às condições inadequadas
nos locais, afetam diretamente a saúde mental e física dos referidos profissionais, possibilitando
o aumento ou manutenção do grau de morbidade no atendimento de urgência.
A população em geral e os próprios profissionais da saúde quando realizam
determinado atendimento, primam por qualidade de serviço. Com isso, configura-se um grande
risco a constatação do nível de produção e de atendimentos em detrimento da qualidade de
quem atende e de quem é atendido. Sabendo que a qualidade em saúde não se dá única e
exclusivamente por um atributo, mas por um conjunto deles, segundo Uchimura e Bosi (2002).
Esses atributos contribuem para o nível de excelência profissional, por meio do uso de recursos
de maneira eficiente, com a redução do risco profissional, além do alto grau de satisfação por
parte dos usuários.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 283
5
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

4. Conclusões
Os resultados apontam um número considerável dos profissionais com doenças
ocupacionais, reafirmando a alta carga mental e física no exercício do APH, expondo-os ao
desenvolvimento de doenças físicas e mentais. Quanto aos riscos e acidentes ocupacionais, a
maioria afirma exposição, além de já terem sofrido algum acidente laboral, o que demonstra o
risco de adoecimento, comprometendo a qualidade de vida.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Portaria nº 1.823/GM, de 23 de agosto de 2012. Institui a


Política Nacional da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.

LEITE, Hillda Dandara Carvalho Santos et al. Risco ocupacional entre profissionais de saúde
do serviço de atendimento móvel de urgência-SAMU. Enfermagem em Foco, v. 7, n. 3/4, p.
31-35, 2016

UCHIMURA, Kátia Yumi; BOSI, Maria Lúcia Magalhães. Qualidade e subjetividade na


avaliação de programas e serviços em saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 18, p. 1561-
1569, 2002.

VIEIRA, Célia Maria Sales; MUSSI, Fernanda Carneiro. A implantação do projeto de


atendimento móvel de urgência em Salvador/BA: panorama e desafios. Revista da Escola de
Enfermagem da USP, v. 42, n. 4, p. 793-797, 2008.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 284
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PAINEL MULTIFACETADO DO PACIENTE COM HANSENÍASE E DO


SEU NÚCLEO FAMILIAR

Tassio Danilo Rego de Queiroz¹ ; Ellany Gurgel Cosme do Nascimento².

Palavras-Chave: Hanseníase. Núcleo Familiar. Discurso. Compreensão.

1. INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma patologia de caráter crônico e infectocontagioso, possuindo como


agente etiológico a bactéria bacilar gram-positiva Mycobacterium leprae, infectadora da
periferia nervosa e, de maneira mais trófica, as células de Schwann, sendo o tratamento
gratuito e disponível em qualquer unidade de saúde (BRASIL, 2017). No ano de 2016 foram
identificados no Brasil 25.218 novos casos de hanseníase, de forma a categorizá-lo como o
segundo país com a maior incidência mundialmente, atrás apenas da Índia (MINISTÉRIO DA
SAÚDE DO BRASIL, 2018). No estado do Rio Grande do Norte, consoante o Programa
Estadual de Hanseníase da Secretaria Estadual de Saúde Pública (SESAP), de 2010 a 2017,
foram detectados 2.084 mil novos casos da doença. Ainda, ao encontro dos dados da SESAP,
Mossoró constituiu o município com mais casos notificados dessa patologia em 2017, com
40% do total verificado no estado.
Embora exista tratamento e real chance de cura, há um processo de estigmatização,
rejeição e exclusão dos portadores em razão da história imagem construída na humanidade
sobre a condição hansênica, permeando inclusive fragmentos bíblicos que a mencionam. Para
Gaudenci (2015), tal enfermidade precisa ser avaliada em toda a sua amplitude e relevância,
em especial, em decorrência de ocasionar a segregação do coletivo, desbalanços financeiros e
o próprio sofrimento do ser humano, tendências a serem agravadas em situação de diagnóstico
feito tardiamente e em tratamentos dos quais houve evasão.
Nessa ótica, o estudo intencionou identificar os conhecimentos dos pacientes
hansênicos e dos seus familiares (aos quais são mais vinculados) acerca da Hanseníase.

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo exploratório descritivo, com abordagem qualitativa. A pesquisa


foi realizada no município de Mossoró-RN, com 9 pacientes portadores de Hanseníase e 9
familiares desses correspondentes pacientes hansênicos. A coleta de dados deu-se por via de
uma entrevista semiestruturada e individual,pré-agendada, nas residências dos sujeitos
pesquisados, em local de reserva prévia. Os dados concernentes à identificação dos
participantes foram avaliados por estatística descritiva e os discursos foram avaliados à égide
da análise temática de conteúdo, proposta por Bardin e sistematizada por Minayo(2012).

¹ Estudante do Curso de Medicina do Departamento de Ciências Biomédicas


da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail:
tassiodanilo2209@gmail.com.
² Professora Adjunta do Departamento de Ciências Biomédicas da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Vice- Líder do Grupo de Estudos
em Saúde Coletiva. E-mail: ellanygurgel@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 285
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A faixa etária dos participantes variaram de 40 a 77 anos, 66,6% se autodeclararam


como pardos, 55,5% eram homens, 66,6% possuem como escolaridade o ensino fundamental
incompleto e 66,6% afirmaram ter alguma profissão. A maioria afirmou que o diagnóstico
ocorreu entre 04 meses e 01 ano atrás (44,4%), pelo menos 3 pessoas residem na sua moradia
(66,6%) e que a pessoa da residência com quem mais se relaciona é o filho/filha(55,5%).No
tocante aos familiares participantes da pesquisa, a idade oscilou entre 24 a 63 anos, 100% dos
parentes são representados por mulheres e a maioria possui como escolaridade o ensino médio
completo ou incompleto.
Quanto ao reconhecimento do portador de Hanseníase no cotidiano, essa categoria
representa a forma pela qual o ente parental é capaz de detectar um paciente com Hanseníase
na realidade corriqueira. Sousa et al (2013) constatou o conhecimento ainda escasso sobre a
hanseníase entre os contatos intradomiciliares, apesar de familiares próximos terem sido
acometidos pela doença e a escolaridade da maior parte da amostra corresponder ao ensino
médio, incompleto e completo(80%). A limitação informativa dos sujeitos parentais é
exemplificada nas falas a seguir:

“...só se eu vesse alguma mancha. Mancha grande, mea marrom.” (US-1 parente).
“Por mancha, se eu ver uma mancha, eu acho que eu ia conhecer.” (US-3 parente).

Savassi e Modena (2015) discutem não somente o quão fundamental é a atenção


primária enquanto nível de atenção em saúde para o controle da hanseníase, mas também uma
doença vinculada à falta informativa, a despeito de ser curável. É notória a escassez
informacional acerca da hanseníase, prevalece-se a ideação oriunda do senso comum, o que
simbolicamente constrói uma doença sob a luz de hipóteses pessoais e crenças. A
verbalização do seguinte usuário denota a referenciação à unidade básica de saúde como local
para o cuidado e atribui um signo cutâneo de caráter cromático, representado pelo semblante
facial.

“Dá pra ver porque ela tá com o rosto muito vermelhado, aí dá pra parecer que é
hanseníase...devia se cuida né… e se tratar, ir ao posto, pra fica bom da hanseníase.”(US-4
parente).

As representações dos familiares sobre a hanseníase caracterizam-se rudimentares e


formuladas vagamente (AVELLAR et al, 2018). É importante o envolvimento familiar no
contexto da hanseníase para o auxílio da eficácia da vigilância dos contatos (ROMANHOLO
et. al, 2017). Conforme as análises de Marinho et al(2019), a hanseníase traz consigo
conotações negativas a exemplo do temor da mancha, com a sua possível difusão e o
comprometimento da vida do paciente. Nessa perspectiva, a verbalização do entrevistado a
seguir, além de reforçar o caráter ocular do diagnóstico, conota que outros problemas
cutâneos como uma impingem possuem uma maior leveza do quadro, abrindo margens, nas
entrelinhas discursivas, para sugerir a maior gravidade da hanseníase.

“…a pele né...algumas feridas, manchas vão aparecendo. Então eu acho que fica mais fácil
você visualizar...é… na pele do que você dá um diagnóstico sem saber os resultados né.”
“...no caso da minha mãe, quando eu percebi a ferida, eu,eu via que num era impinge…”
“...não é uma simples impinge, porque senão já tinha sido tratada.” (US-2 parente).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 286
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Marinho et al.(2014) fala sobre o processo do esperar do paciente, tanto por parte dos
profissionais quanto por parte dos próprios familiares, de subjetividades que colaborem com a
situação e que o encoraje nas diversas reinserções. Além disso, menciona a necessidade do
intercâmbio de informações não só dos profissionais para o paciente, mas também para o
corpo populacional em termos gerais, o que também inclui os parentes, e, assim, haja um
potencial de superação de conhecimentos construídos socialmente. Assim, majoritariamente,
evidenciou-se a inspeção - o aspecto visual - como instrumento maior definidor do status do
provável “paciente”, o que se correlaciona diretamente com o estigma da patologia em razão
do apelo estético da pele nas sociedades humanas, tendo reflexo na fala dos familiares
entrevistados, como se a cútis tivesse em si um valor social. Dessa maneira, vislumbram-se os
julgamentos ideológicos que se processam diante da manifestação clínica do agravo em
questão, tendo em vista a importância dada ao aspecto “sadio” da pele.
Outrossim, resta evidente como limitação do presente trabalho e, logo, perspectiva
para produções vindouras a captação dos estigmas dos profissionais diversos da área da saúde
sobre a condição hansênica e de que forma essas ideologias respingam no processo de
acolhimento, assistência e amparo ao portador dessa patologia. Possivelmente, as nuances que
circundam o paciente com hanseníase e influenciam-no na trajetória multifacetada do estar e
do ser no processo saúde-doença dependam, dentre outros fatores, desses pactos
simbolicamente construídos nas variadas esferas sociais, das quais o núcleo familiar
configura-se decisivo, porém não isolado.

4. CONCLUSÃO

Depreende-se a carência de conhecimentos elementares acerca da hanseníase por parte


dos portadores e dos familiares. A presente pesquisa conseguiu flagrar no escopo discursivo
dos pacientes e dos familiares a predominante construção arquétipa de um semblante visual
como marco da condição hanseníase.
Assim, despertar o latente descrédito dado às doenças socialmente negligenciadas, nas
quais a hanseníase posiciona-se no rol de destaque. Nessa seara, urge valorizar as
subjetividades desses pacientes e do seu núcleo familiar.

5. AGRADECIMENTOS

Reconhecemos a oportunização da Iniciação Científica e o fomento PIBIC-UERN, o


ambulatório hansênico do Centro Clínico Vingt Un Rosado, Unidades Básicas de Saúde
mossoroenses contactadas, profissionais de saúde possibilitadores da pesquisa. Sobretudo,
expresso gratidão aos pacientes e familiares permitidores de voz social e científica a eles
proporcionadas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 287
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

6. REFERÊNCIAS

AVELLAR, L. Z. et al. Entre o temor e a insignificância: representações sociais da


Hanseníase para adolescentes com a doença e seus familiares. 2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Vigilância das Doenças Transmissíveis. Guia Prático sobre a Hanseníase [ recurso
eletrônico ] Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de
Vigilância das Doenças Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.

GAUDENCI, Eliana Maria. Qualidade de vida, depressão e incapacidade física de pessoas


com hanseníase atendidas em uma Unidade de Referência. 2015. 101f. Dissertação
(Mestrado em Atenção à Saúde) - Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Atenção à
Saúde, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, 2015.

MARINHO, Fabiana Drumond et al. Percepções e sentimentos diante do diagnóstico,


preconceito e participação social de pessoas acometidas pela hanseníase. Arquivos de
Ciências da Saúde, v. 21, n. 3, p. 46-52, 2014.

MARINHO, Fabiana Drumond et al. Temor e insignificância: representações sociais da


hanseníase para adolescentes com a doença. Psicologia, Saúde & Doenças, v. 20, n. 1, p.
192-208, 2019.

MINAYO, Maria Cecilia de S.; SANCHES, Odécio. Quantitative and qualitative methods:
opposition or complementarity?. Cadernos de saúde pública, v. 9, n. 3, p. 237-248, 1993.

MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim


Epidemiológico: Hanseníase, v. 49, n. 4, p. 1-10, 2018.

RAMOS, Leila Bitar Moukachar et al. Hanseníase e estigma no século XXI: narrativas de
moradores de um território endêmico. 2017.

ROMANHOLO, Helizandra Simoneti Bianchini et al. Vigilância de contatos intradomiciliares


de hanseníase: perspectiva do usuário em município hiperendêmico. Rev Bras Enferm
[Internet], v. 71, n. 1, p. 175-81, 2018.

SAVASSI, Leonardo Cançado Monteiro; MODENA, Celina Maria. Hanseníase e a atenção


primária: desafios educacionais e assistenciais na perspectiva de médicos residentes. Hansen
Int, v. 40, n. 2, p. 2-16, 2015

SOUSA, Lorena Margalho et al. Conhecimento sobre hanseníase de contatos


intradomiciliares na Atenção Primária em Ananindeua, Pará, Brasil. Revista Brasileira de
Medicina de Família e Comunidade, v. 8, n. 26, p. 20-23, 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 288
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PERCEPÇÃO DE MULHERES SOBRE O RETORNO DA ATIVIDADE SEXUAL NO


PUERPÉRIO

Maria de Fátima Santos de Medeiros1; Roberta Kaliny de Souza Costa2

Palavras-chave: Saúde da Mulher. Sexualidade. Período pós-parto.

Introdução
O puerpério é a fase do ciclo gravídico-puerperal em que a mulher vivencia mudanças
que marcam o retorno do organismo ao estado pré-gestacional (BRASIL, 2019). Este período
se caracteriza como um momento marcante para a mãe e toda a família, no qual ocorrem
adaptações psicológicas, fisiológicas, comportamentais e emocionais, gerando diversas
expectativas, incertezas e anseios.
No que tange a interação sexual com o parceiro diante dessa nova realidade e rotina,
os ajustes para a retomada da intimidade vão acontecendo gradualmente. Entretanto, nem todos
os casais vivenciam esse período de maneira agradável, devido a fatores como o contexto social,
demandas geradas pelo papel de mãe, crenças e tabus que contribuem para o aparecimento de
limitações na atividade sexual (SIQUEIRA; MELO; MORAIS, 2019).
As alterações na sexualidade podem ocorrer em qualquer momento da vida
reprodutiva, em função de fatores diversos tais como a disfunção sexual e a paridade
(CAVALCANTI; FARIAS; ITHAMAR; SILVA; et al, 2014). Estudos mostram que essas
mudanças podem iniciar antes ou ainda na gravidez, permanecerem e/ou se intensificarem no
pós-parto, provocando flutuações no desejo, diminuição na frequência, redução na qualidade e
na satisfação das relações sexuais, bem como disfunções que vão além da dimensão biológica
da mulher (FERNÁNDEZ-SOLA; HUANCARA-KANA; GRANERO-MOLINA;
CARMONA-SAMPER; et al, 2018).
Na percepção de muitas mulheres o pós-parto é um momento de abstinência ou mesmo
de limitação da atividade sexual, no qual se aguarda o retorno do corpo à normalidade, a
cicatrização de pontos da região perineal ou da cesariana. Nesse período, a possibilidade de
sentir dor na relação, o medo de engravidar, a ejeção de leite durante o ato sexual e o nível de
satisfação do parceiro também se apresentam como preocupações das mulheres (JESUS;
AZEVEDO, 2017).
Nessa perspectiva, a identificação dos conhecimentos e necessidades da mulher sobre a
retomada da atividade sexual no pós parto é importante para que haja a detecção de conflitos
emocionais, relacionais e a desmistificação dos tabus, fugindo do diagnóstico e tratamento de
problemas limitados à questão ginecológica, para a valorização da vida sexual e reprodutiva da
mulher e seu companheiro.
Assim, o objetivo desta pesquisa foi descrever a percepção de mulheres sobre o retorno
da atividade sexual no puerpério.

1 Estudante do Curso de Enfermagem do Campus Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-
mail: mariafsmedeiros@hotmail.com
2 Professora do Curso de Enfermagem do Campus Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Membro do Grupo de Pesquisa em Enfermagem Campus Caicó/UERN – GRUPECC; e-mail:
robertaksc@bol.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 289
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia
Estudo exploratório, do tipo transversal, com abordagem quantitativa, realizado com
83 mulheres adstritas das Estratégias de Saúde Família (ESF) de Caicó-RN.
Utilizou-se como critérios de inclusão: mulheres com idade superior a 18 anos,
primíparas, com tempo de puerpério de 45 dias a 11 meses e 29 dias, acompanhadas pelas
equipes da ESF. Excluiu-se as que não apresentaram condições físicas e/ou psíquicas para
realização da coleta, que possuíam lactentes de risco (peso ao nascer <2.500g, idade gestacional
<36 semanas, anomalias congênitas), apresentaram complicações no parto e/ou no puerpério
(mediato e imediato) e que prolongaram a sua permanência no serviço de saúde.
A coleta de dados foi realizada entre junho e dezembro de 2019 de forma individual,
em espaço reservado, nas unidades básicas de saúde da família ou no próprio domicílio das
puérperas, utilizando-se um questionário elaborado para este fim. O instrumento se encontrava
dividido em quatro partes: 1) dados sociodemográficos; 2) características obstétricas e
puerperais; 3) características sobre o retorno da atividade sexual após o parto; 4) percepção
sobre o retorno da atividade sexual após o parto. Das 98 primíparas aptas a participarem da
pesquisa, 83 foram entrevistadas, uma não quis participar e as demais não foram localizadas. A
participação ocorreu de forma espontânea, após esclarecimento sobre a pesquisa, autorizadas
mediante leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Os dados foram organizados em planilhas do Microsoft Excel 2010 XP e analisados
a partir da estatística descritiva, com o auxílio do software Statistical Package for Social
Science (SPSS), versão 20.0. Obteve-se parecer para realização pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, sob o número 3.147.087 e CAAE:
05138818.3.0000.5294.

Resultados
A faixa etária das participantes variou entre 18 e 43 anos, onde 52% tinha até 24 anos.
Do total de mulheres, 40% possuía ensino médio completo e 18% ensino fundamental
incompleto. Em relação ao estado civil, 48% tinha companheiro fixo e 48% solteiras.
Quanto aos tipos de partos, 69% realizou cesariana e 26% teve seus filhos pela via
vaginal. As mulheres relataram ter participado da consulta puerperal (66%). Quando
questionadas sobre possíveis incômodos durante o puerpério, mencionaram insatisfação com o
próprio corpo (51%) e queixas como: dores nos seios (23%), na cirurgia (13%), no corpo e no
abdômen (5%), inchaços (6%), dentre outras.
No que se refere ao tempo de retorno à atividade sexual, 90% das mulheres referiram
que os 40 dias pós-parto não era adequado e 10% respondeu que as relações sexuais poderiam
ocorrer antes dos 40 dias. A iniciativa do retorno sexual de 64% das entrevistadas partiu do
casal, 28% do parceiro e 8% da própria mulher. Em relação à satisfação com a atividade sexual
no puerpério, a maioria (64%) relatou piora, 18% respondeu que permanecia normal e 17% não
emitiu opinião pois não havia retomado.
As mulheres (63%) apresentaram dúvidas e/ou medos antes de retornarem a atividade
sexual. Destes, os mais prevalentes foram: engravidar novamente (33%), abrir a cirurgia (33%),
e sentir dor com (23%). Em relação às dúvidas relatadas, 27% foram em relação à cicatrização
da incisão, 15% se o corpo estaria preparado, e 11% se sentiriam dor.

Discussão
Os resultados deste estudo mostram que a idade das participantes se encontra dentro
da faixa etária média do Brasil (FERNANDES; SANTOS; BARBOSA, 2019), assim como o
nível de instrução acima de oito anos (KOTTWITZ, GOUVEIA, GONÇALVES, 2018).
O elevado número de cesarianas corrobora com percentuais excessivos desse tipo de
parto realizado no país, mesmo com o alerta das autoridades sanitárias acerca dos riscos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 290
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

imediatos e a longo prazo para a saúde da mulher e do seu filho, gerando altas taxas de
mortalidade, de morbidades maternas, perinatais e comprometimento de futuras gestações
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).
A maior parte das mulheres declarou estar insatisfeita com seu próprio corpo, uma
condição associada à ocorrência de mudanças corporais características dessa fase do ciclo
gravídico puerperal, que é evidenciada na literatura como um sentimento marcante da mulher
nesse período (JUSTINO et al., 2019).
As transformações corporais e as adaptações femininas ao pós-parto podem ser objeto
de intervenção do profissional de saúde ainda com ações educativas no acompanhamento pré-
natal ou mesmo na visita e consulta puerperais. Esta última foi realizada por mais da metade
das mulheres, configurando-se como um importante momento de avaliação do estado de saúde
da mãe e do recém-nascido, bem como um momento oportuno para tirar dúvidas, identificar
situações de risco ou intercorrências, junto ao planejamento familiar e a sexualidade (BRASIL,
2019).
Na consulta é possível identificar, orientar e tratar possíveis queixas, facilitando o
retorno à atividade sexual no pós-parto de forma saudável (SOUSA et al., 2009; MARQUES;
LEMOS, 2010).
O início das relações sexuais foi relatado pelas mulheres como não sendo adequado
nos 40 dias após o parto devido a fatores como medo, desconforto físico, distúrbios hormonais,
percepção negativa da própria imagem corporal, cansaço, cuidados com o bebê, amamentação,
tarefas domésticas e diversas outras funções exigidas nesse período. Essas condições são
normalmente apresentadas na literatura como dificuldades enfrentadas pela mulher para a
vivência da sexualidade de forma desejada e prazerosa (JUSTINO et al., 2019).
A principal iniciativa do retorno da atividade sexual entre os entrevistados foi do casal.
Neste sentido, ressalta-se a importância da abordagem dessa temática com a mulher e seu
companheiro durante o pré-natal, oportunizando a reflexão e o diálogo antes da vivência no
puerpério, como forma de minimizar conflitos (ENDERLE; KERBER; LUNARDI; NOBRE et
al., 2013).
Para a maioria das mulheres, as relações sexuais pioraram após o parto. Essa
insatisfação pode ser justificada pela diminuição do desejo, da frequência e duração do ato
sexual, bem como pela dispareunia, acompanhada por modificações na lubrificação vaginal
(MARQUES; LEMOS, 2010)
As dúvidas e /ou medos estavam presentes no retorno das atividades sexuais. Entre os
mais prevalentes estavam o receio de engravidar novamente, a preocupação com a cirurgia, o
desconforto físico e a diminuição da libido. Tais achados evidenciam a carência de ações
educativas e assistenciais, para sanar dúvidas, desmistificar tabus e preparar a mulher para lidar
com as alterações no padrão de sexualidade que incidem no puerpério.

Conclusão
Os resultados do estudo apontam limitações das mulheres para a atividade sexual após
o parto, com o relato de queixas relacionadas às mudanças hormonais, à falta de tempo, ao
cansaço, além do enfrentamento de dificuldades como a dispareunia, o sangramento e
diminuição da libido.
A escassez de publicações sobre a temática se apresenta como uma limitação do estudo
e, ao mesmo tempo, aponta para a necessidade de novas pesquisas, que venham contribuir para
o direcionamento de ações educativas e assistenciais, voltadas para a sexualidade da mulher no
período pós-parto.
Diante disso, enfatiza-se a importância da abordagem sobre sexualidade ainda no pré-
natal e na consulta puerperal, para identificar possíveis disfunções, sanar dúvidas, medos e
propiciar o retorno a atividade sexual com segurança e plenitude.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 291
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos

À PROPEG UERN pela bolsa de iniciação científica; às Unidades Básicas de Saúde do


município de Caicó, pela disponibilidade para realização da pesquisa; a cada puérpera pelas
contribuições.

Referências

BELENTANI, L. M; MARCON, S. S; PELLOSO, S. M. Sexualidade de puérperas com bebês


de risco. Acta Paul Enferm, Maringá, v. 24, n. 1, p. 107-13. 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Consulta Puerperal. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019.

CAVALCANTI, I.F.; FARIAS, P. N.; ITHAMAR, L.; SILVA, V. M.; et al. Função sexual e
fatores associados à disfunção sexual em mulheres no climatério. Rev Bras Ginecol Obstet. v.
36, n. 11, p. 497-502, 2014.

ENDERLE, C. S.; KERBER, N. P. C.; LUNARDI, V. L.; NOBRE, C. M. G. et al.


Condicionantes e/ou determinantes do retorno à atividade sexual no puerpério. Rev. Latino-
Am. Enfermagem, Rio Grande, v.21, n.3, p. 1-7, 2013.

FERNANDES, F. C. G. M; SANTOS, E. G. O; BARBOSA, I. R. A idade da primeira gestação


no Brasil: dados da pesquisa nacional de saúde. J. Hum. Growth Dev, São
Paulo, v.29, n.3, 2019.

FERNÁNDEZ-SOLA, C.; HUANCARA-KANA, D.; GRANERO-MOLINA, J.; CARMONA-


SAMPER, E.; et al. Sexuality throughout all the stages of pregnancy: Experiences of expectant
mothers. Acta Paul Enferm. v. 31, n. 3, p. 305-12, 2018.

JESUS, W. G.; AZEVEDO, V. M. G. O. Sexualidade no puerpério: a visão do casal.


Enfermagem Obstétrica. v. 4, n. 58, 1-6, 2017.

JUSTINO, G. B. S. et al. Saúde sexual e reprodutiva no puerpério: vivências de mulheres. Rev


enferm UFPE on line, São Carlos, v.13. 2019.

KOTTWITZ, F; GOUVEIA, H. G; GONÇALVES, A. C. Via de parto preferida por puérperas


e suas motivações. Esc Anna Nery, Porto Alegre, v. 22, n.1. 2018.

MARQUES, D. M; LEMOS, A. Sexualidade e amamentação: dilemas da mulher/mãe. Rev


enferm UFPE on line, Rio de Janeiro, v.4, n. 1, p. 175-83, 2010.

SIQUEIRA, L. K. R; MELO, M. C. P; MORAIS, R. J. L. Pós-parto e sexualidade perspectivas


e ajustes maternos. Rev. Enferm. UFSM-REUFSM, Santa Maria, v. 9, n. 58, p. 1-18, 2019.

SOUSA, L. et al. Mensuração e características de dor após cesárea e sua relação com limitação
de atividades. Acta Paul Enferm, Ribeirão Preto, v. 22, n.6, p. 741-7, 2009.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas.


Genebra, CH: Organização Mundial da Saúde, 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 292
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PERFIL BIOLÓGICO E DE DESEMPENHO DE JOVENS


FUTEBOLISTAS EM FASE DE ESPECIALIZAÇÃO

Paulo Vitor Pereira da Silva 1; Arthur Ayron Leonardo da Silva 2; Marcelo Henrique
Alves Ferreira Silva 3.
Palavras-chave: Futebol. Antropometria. Idade Óssea. Aptidão Física.

Introdução
Na última década houve um aumento do número de estudos sobre crescimento
somático, maturação biológica e aptidão física de jovens futebolistas (LAGO-PEÑAS et
al., 2014; MENEGASSI et al., 2015; MALINA et al., 2017). Matta et al. (2014) reportam
que esses estudos foram geralmente conduzidos por países europeus e não havia
investigações sobre futebolistas brasileiros publicadas em revistas internacionais. Além
desta lacuna na literatura, as informações disponíveis se concentram na faixa etária de 11
a 14 anos e pouco se sabe sobre os jogadores de futebol na fase de especialização. Os
autores ainda reforçam a importância de uma base de dados que permita acompanhar e
melhorar o processo de formação através de uma melhor compreensão do atleta,
fornecendo um quadro adequado para programas de treinamento a longo prazo.
Outro aspecto relevante é a falta de informações sobre as diferentes posições. A
ausência dessas informações torna difícil caracterizar e criar um perfil mais detalhado do
desempenho dos futebolistas brasileiros. Afinal, a identificação de posições específicas
de cada futebolista é importante para otimizar o seu desenvolvimento físico, fisiológico,
psicológico, técnico e tático, com o intuito de prepará-los para níveis mais elevados em
sua carreira (SILVA; BLOOMFIELD; MARINS, 2008). Kunrath et al. (2017) sugerem
que o treinamento deve ser individualizado, alinhados à capacidade física e estágio
maturacional de cada jogador.
Com isto exposto, o objetivo desse estudo foi descrever o perfil morfológico,
maturacional e de desempenho de futebolistas em fase de especialização, por posição e
de acordo com estágio maturacional.
Metodologia
Participaram do estudo 60 jovens futebolistas de 15 a 18 anos (16,49 ± 1,02 anos;
174,3 ± 6,2 cm; 65,4 ± 7,3 kg), do sexo masculino, com 1,37 ± 1,11 anos de prática
esportiva, pertencentes a um clube profissional da região Nordeste do Brasil.
Referente às posições de jogo foram definidos: defensores (zagueiros e laterais),
médios (volantes e meias) e atacantes. As avaliações foram realizadas no ambiente
habitual dos praticantes, em 15 dias, ocorrendo no início da época esportiva (entre os
meses de fevereiro e março). O perfil dos jogadores foi definido através da caracterização
das variáveis biológicas e de desempenho funcional, descritos a seguir. As variáveis
biológicas foram definidas pela idade cronológica, medidas antropométricas e maturação

1
Estudante do curso de Educação Física do Departamento de Educação Física da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: paulo_vitor.silva@hotmail.com
2
Estudante do curso de Educação Física do Departamento de Educação Física da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: arthurayron@hotmail.com
3
Professor do Departamento de Educação Física da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; Líder (Coordenador) do Grupo de Pesquisa Diagnóstico, Quantificação
e Controle da Carga de Treinamento no Esporte (UERN); e-mail: marcelosilva@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 293
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

biológica. As medidas antropométricas dos sujeitos foram aferidas de acordo com os


protocolos estabelecidos por Lohman, Roche e Martorell (1988). Assim, foram realizadas
a medição da estatura, massa corporal e adiposidade - soma das dobras de gordura
subcutânea (tricipital, sub-scapular, suprailíaca, coxa, perna e abdominal). A maturação
biológica foi determinada pela idade esquelética, a partir do exame radiológico da mão e
punho esquerdos, através dos procedimentos previstos para o método FELS (ROCHE;
CHUMLEA; THISSEN, 1988). A categorização dos atletas por grupo maturacional foi
determinada de acordo com Malina et al. (2010). Para as variáveis de desempenho foi
aplicado o teste de desempenho intermitente Brazilian Soccer Test (BST) (SILVA;
LIPAROTTI; FIGUEIREDO, 2015), sendo verificada a distância alcançada. Além disso,
foi realizada uma avaliação direta cardiorrespiratória, através de um teste de esforço
máximo em esteira rolante, segundo o protocolo descrito no estudo de Castagna et al.
(2006), para o diagnóstico do consumo máximo de oxigênio (VO2 max).
Em relação à análise estatística, foram aplicadas medidas de tendência central,
para as variáveis biológicas e variáveis de desempenho dos futebolistas, por posição e de
acordo com o estágio maturacional. O teste Kolmogorov-Smirnov também foi utilizado
para verificar a normalidade de distribuição dos dados. Posteriormente, realizou-se o teste
de Levene para verificar a homogeneidade das variâncias. Recorreu-se ao teste
paramétrico ANOVA one-way e o post-hoc de Scheffé, para verificar se havia diferença
entre os futebolistas de acordo com o estágio maturacional e por posição, referente às
variáveis estudadas. O Statistical Package for the Social Sciences® (SPSS®, Chicago,
USA), versão 20.0 para Windows®, foi utilizado para todas as análises estatísticas, sendo
adotado um p < 0,05 como valores relevantes.
Resultados e Discussão
Observando a Tabela 1, por posição no campo, existiram evidências estatísticas
de que houve diferença significativa entre defensores, médios e atacantes somente em
relação à estatura (p = 0,011). Após análise post-hoc, observamos que a diferença se
encontrava entre os defensores e médios (p = 0,013). Ou seja, os defensores eram mais
altos que os médios. Em estudo de Gil et al. (2005) com futebolistas espanhóis (14 a 21
anos), não se encontraram diferenças de estatura entre defensores, médios e atacantes. Em
outro estudo com jogadores portugueses Sub-19, os zagueiros eram mais altos que os
laterais, médios e atacantes (REBELO et al., 2013). Neste último estudo, os autores
concluíram ainda que, independente do nível competitivo, os goleiros e os zagueiros
tendem a ser mais altos e mais pesados que as demais posições.
Tabela 1. Estatística descritiva e análise da variância (ANOVA) para verificar o efeito
da posição sobre as variáveis biológicas e de desempenho dos jovens futebolistas.
Posição
Variáveis Defensores Médios Atacantes p
(n = 19) (n = 25) (n = 11)
Biológicas
IC, anos 16,41 ± 1,05 16,59 ± 0,96 16,69 ± 1,24 n.s.
IE, anos 17,54 ± 0,45 17,55 ± 0,74 17,70 ± 0,34 n.s.
IE – IC, anos 1,16 ± 0,91 0,98 ± 0,95 1,02 ± 0,98 n.s.
Estatura, cm 176,79 ± 6,50 171,73 ± 4,52 172,57 ± 5,30 *D˃M
Massa Corporal, kg 66,26 ± 7,14 63,16 ± 6,16 66,04 ± 7,86 n.s.
Adiposidade, mm 49,22 ± 12,50 49,73 ± 8,44 58,32 ± 17,79 n.s.
Desempenho
BST, m 1772 ± 163 1766 ± 166 1713 ± 78 n.s.
VO2max, ml/kg/min 59,85 ± 6,45 60,37 ± 5,32 59,79 ± 3,81 n.s.
(n.s.) não significativa; (*) p<0,05; (**) p<0,01. IC = idade cronológica; IE = idade esquelética; BST =
Brazilian Soccer Test; VO2max = consumo máximo de oxigênio; Exp Esp = Experiência Esportiva; D =
Defensores; M = Médios; A = Atacantes; *D˃M (p = 0,013).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 294
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na distribuição do estágio maturacional dos jovens futebolistas, não foram


verificadas diferenças significativas entre avançados, normomaturos e maturos nas
variáveis antropométricas e de desempenho, apesar de haver uma tendência dos maturos
apresentarem maior massa corporal e adiposidade, e os normomaturos terem melhor
desempenho intermitente (Tabela 2). Menegassi et al. (2015), em estudo com futebolistas
jovens, apontaram evidências de que jogadores mais avançados no processo maturacional
tendem a desempenhar níveis de desempenho mais significantes quando comparados a
jogadores de desenvolvimento maturacional inferior. Matta et al. (2014) não encontraram
diferenças estatisticamente significativas entre os estágios maturacionais em jovens
futebolistas Sub-17, referente às variáveis antropométricas e de desempenho. Os autores
acreditam que este resultado seja devido à homogeneidade maturacional dos futebolistas
da categoria Sub-17.
Tabela 2. Estatística descritiva e análise da variância (ANOVA) para verificar o efeito
do estágio maturacional em relação às variáveis biológicas e de desempenho.
Estágio
Maturacional
Variáveis Normomaturo (N) Avançado (A) Maturo (M) p
(n= 17) (n = 24) (n = 16)
Biológicas
IC, anos 16,92 ± 0,95 15,74 ± 0,65 17,10 ± 0,84 **N˃A;**A<M
IE, anos 17,15 ± 0,90 17,55 ± 0,27 18,00 ± 0,00 **N<M; *A<M
Estatura, cm 174,83 ± 5,97 174,51 ± 6,32 174,83 ± 6,76 n.s.
Massa Corporal, kg 65,32 ± 7,05 65,17 ± 7,01 66,82 ± 8,68 n.s.
Adiposidade, mm 46,80 ± 10,02 56,39 ± 15,84 53,97 ± 10,04 n.s.
Desempenho
BST, m 1807 ± 164 1722 ± 143 1702 ± 150 n.s.
VO2max, ml/kg/min 60,38 ± 3,78 59,23 ± 5,17 58,80 ± 6,96 n.s.
(*)p<0,05; (**)p<0,01; (n.s.) não significativa. IC = idade cronológica; IE = idade esquelética; BST =
Brazilian Soccer Test; VO2max = consumo máximo de oxigênio; Exp Esp = Experiência Esportiva; N =
Normomaturo; A = Avançado; M = Maturo; *A<M para Exp Esp (p = 0,043).
Os resultados encontrados são de grande importância para treinadores
responsáveis pelo processo de formação em longo prazo de jovens futebolistas. A análise
das dimensões biológicas e funcionais contribui para a seleção de jovens jogadores para
uma equipe de formação, bem como, para o acompanhamento desses futebolistas ao
longo do processo (transição de uma categoria para outra). A identificação do estágio
maturacional deve direcionar a metodologia e a carga de treinamento a ser aplicada ao
jovem futebolista.
O tamanho da amostra e a impossibilidade de generalizar os resultados para
outras regiões brasileiras, estão entre as limitações do estudo. É necessário termos cautela
em comparar os resultados do nosso estudo com outros citados na literatura, pois alguns
destes foram realizados em períodos que já compreendiam a temporada competitiva,
diferentemente do nosso estudo que compreendeu o início do período de preparação.
Conclusão
Os futebolistas do presente estudo apresentaram diferenças significativas, entre
as posições, somente na variável estatura (os defensores eram mais altos que os médios).
Não houve diferenças significativas entre as posições referente às variáveis de
desempenho e as demais biológicas.
Em relação à distribuição do estágio maturacional, não houve diferença entre os
estágios maturacionais e as variáveis biológicas e de desempenho. É possível que essa
distribuição maturacional (maior quantidade de avançados e maturos) justifique, em
parte, o fato de não ter havido diferenças nos aspectos morfológicos e funcionais.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 295
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Sugere-se novos estudos verificando a relação entre os estágios maturacionais e


os indicadores de treinamento físico, técnico e tático em futebolistas nas diferentes fases
do processo de formação em longo prazo.
Agradecimentos
Os autores agradecem aos professores colaboradores, ao ABC Futebol Clube, a
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, a Faculdade de Ciências do Desporto e
Educação Física da Universidade de Coimbra (Portugal) e aos atletas.
Referências
1.CASTAGNA, Carlo et al. Aerobic fitness and yo-yo continuous and intermittent tests
performances in soccer players: acorrelation study. The Journal of Strength &
Conditioning Research, v. 20, n. 2, p. 320-325, 2006.
2.GIL, Susana M. et al. Physiological and anthropometric characteristics of young soccer
players according to their playing position: relevance for the selection process. The
Journal of Strength & Conditioning Research, v. 21, n. 2, p. 438-445, 2007.
3.KUNRATH, C. A. et al. Maduración somática y aptitud física en jóvenes jugadores de
fútbol. Revista Andaluza de Medicina del Deporte, v. 10, n. 4, p. 187-191, 2017.
4.LAGO-PEÑAS, Carlos et al. Relationship between performance characteristics and the
selection process in youth soccer players. Journal of Human Kinetics, v. 40, n. 1, p.
189-199, 2014.
5.LOHMAN, T.; ROCHE, A.; MARTORELL, R. A. Anthropometric standardization
reference manual. Human kinetics books, 1988.
6.MALINA, Robert M.; FIGUEIREDO, António J.; COELHO-E-SILVA, Manuel J.
Body size of male youth soccer players: 1978–2015. Sports Medicine, v. 47, n. 10, p.
1983-1992, 2017.
7.MALINA, Robert M. et al. Skeletal age in youth soccer players: implication for age
verification. Clinical Journal of Sport Medicine, v. 20, n. 6, p. 469-474, 2010.
8.MATTA, Marcelo de Oliveira et al. Morphological, maturational, functional and
technical profile of young Brazilian soccer players. Revista Brasileira de
Cineantropometria & Desempenho Humano, v. 16, n. 3, p. 277-286, 2014.
9.MENEGASSI, Vanessa Menezes et al. Os indicadores de crescimento somático são
preditores das capacidades físicas em jovens futebolistas?. Revista brasileira de Ciência
e Movimento, v. 25, n. 1, p. 5-12, 2017.
10.REBELO, António et al. Anthropometric characteristics, physical fitness and technical
performance of under-19 soccer players by competitive level and field position. Int J
Sports Med, v. 34, n. 4, p. 312-317, 2013.
11.ROCHE, Alexander Francis; THISSEN, David; CHUMLEA, William. Assessing the
skeletal maturity of the hand-wrist: Fels method. Thomas, 1988.
12.SILVA, Cristiano Diniz; BLOOMFIELD, Jonathan; MARINS, João Carlos Bouzas.
A review of stature, body mass and maximal oxygen uptake profiles of U17, U20 and
first division players in Brazilian soccer. Journal of sports science & medicine, v. 7, n.
3, p. 309, 2008.
13.SILVA, Marcelo H. A. F.; LIPAROTTI, João R.; FIGUEIREDO, Antônio J.
Aplicação de um teste de desempenho específico para jovens futebolistas. Annals of
Research in Sport and Physical Activity, n.6, p. 25-41.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 296
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PERFIL CLÍNICO DE PACIENTES QUE DEMANDAM TRS DURANTE


A INTERNAÇÃO EM UTI
Sarah Glícia de Medeiros Dantas1; Carmem Josaura Lima de Oliveira2; Evilamilton Gomes de
Paula3; Luana Adrielle Leal Dantas4; Alcivan Nunes Vieira5

Palavras chave: Lesão Renal Aguda. Unidades de Terapia Intensiva. Cuidados Críticos.

Introdução
A Insuficiência Renal Aguda (IRA) é uma complicação clínica inerente a algumas
condições clínicas e intervenções realizadas em Unidade de Terapia Intensiva; sua ocorrência
neste setor tem aumentado devido à pandemia causada pelo Sars-CoV-2 (SONESP, 2017).
Tendo em vista a atual situação do Brasil no que diz respeito à pandemia causada pelo
novo corona vírus (superlotação hospitalar, elevada demanda dos serviços hospitalares, satura
serviço e o número desproporcional de profissionais nos serviços, ocasiona uma sobrecarga e a
saturação do sistema de saúde em todo o país.
O presente estudo tem como objetivo avaliar as condições clínicas, intervenções
terapêuticas e fatores de riscos relacionados à Insuficiência Renal Aguda em pacientes
admitidos na Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Justifica-se pela prevalência de IRA em UTI, pois apesar da evolução tecnológica
disponível para a assistência a estes pacientes, sua taxa de mortalidade ainda é considerada
elevada. E tem sido potencializada durante a pandemia causada pelo novo corona vírus.
Portanto, faz-se necessária a ampliação do conhecimento quanto a estas condições e
intervenções, bem como acerca do monitoramento da função renal na UTI.

Metodologia
Trata-se de um estudo observacional, documental retrospectivo e prospectivo de
abordagem quantitativa. Foi desenvolvido nas UTI’s dos seguintes Hospitais: Hospital Wilson
Rosado – HWR (R. Pedro Velho, 250, Santo Antônio, Mossoró - RN), e Hospital Regional
Tarcísio de Vasconcelos Maia – HRTVM (R. Projetada, S/N - Aeroporto, Mossoró – RN).
Foram incluídos os pacientes com idade superior a 18 anos, internados em UTI por período
superior a 5 dias e que tenham se submetido à TRS em caráter hemodialítico. Os dados foram
coletados mediante aplicação de um formulário contendo questões sobre os dados clínicos de
cada paciente: data de admissão, tempo de internação, doença de base, intervenções realizadas
na UTI, uso de ventilação invasiva. A análise foi paramétrica e frequencial; a pesquisa foi
aprovada pelo CEP UERN com o parecer 3.202.607 de 19/04/2019.

Resultados e discussão
Com relação às idades onde a IRA foi mais identificada os pacientes foram distribuídos
em: 25% 70 a 80 anos; 27,8% entre 60 e 70 anos; 30,6% 70 a 80 anos. Há, portanto, uma relação
direta entre a IRA e a idade do paciente; fisiologicamente a terceira idade já impõe mudanças
nos sistemas orgânicos e em se tratando da função renal destacam-se: redução da quantidade de
néfrons funcionantes, dimunuição da Taxa de Filtração Glomerular e alterações na
permoseletividade glomerular que pode ser acompanhada por proteinúria (TELES; et al).
Os motivos de admissão na UTI foram agrupados nos seguintes agravos: síndromes

1
Acadêmica da enfermagem da FAEN UERN. sarah.gliter@gmail.com
2
Enfermeira da UTI do Hospital Wilson Rosado. carmem_jos@hotmail.com
3
Enfermeiro nefrologista. Hospital Regional Tarcísio de Vasconcelos Maia. evigdepaula@gmail.com
4
Enfermeira do Hospital do Rim. luanadantas904@gmail.com
5
Enfermeiro. Docente da FAEN UERN, orientador da pesquisa. alcivannunes@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 297
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

coronarianas (infarto agudo do miocárdio, edema agudo de pulmão, bloqueio de ramo, sepse,
pós operatório, hipoglicemia, insuficiência respiratória. A média de internação na uti 17,7 dias
(entre 4 e 63 dias).
A mortalidade dos pacientes que desenvolveram IRA nas UTI pesquisadas ficou em
torno de 70%; mesmo sendo uma lesão renal aguda não séptica o risco de morte aumenta
consideravelmente dadas as complicações inerentes a este agravo (PINHEIRO, et al 2019).
Em se tratando de comorbidades foram identificadas: HAS, DM, câncer, cirrose,
obesidade. São agravos que por si mesmos já aumentam as chances do paciente desenvolver a
IRA, pois promovem repercussões urêmicas, metabólicas e endócrinas que derivam do processo
de instalação de uma falência renal progressiva (SANTOS; MARINHO, 2013) (GARSK et al,
2016).
Uma vez instalada a IRA, e as suas complicações, se associa às doenças de base,
comorbidades e ao efeito nefrotóxico de vários medicamentos. Ela é responsável pela piora do
prognóstico de pacientes críticos, as medidas de prevenção e tratamento precoce podem
impactar favoravelmente na evolução clínica; para isso faz-se necessária a atuação de uma
equipe multiprofissional e especializada que estabeleça metas quanto às complicações da IRA
e quanto à instituição precoce do tratamento (BENICHEL; MENEGUIN, 2020).
Durante a internação em UTI os pacientes geralmente demandam intervenções de
maior complexidade assistencial, as quais podem ter repercussões na função renal. Algumas
pesquisas evidenciaram algumas intervenções terapêuticas e diagnósticas que possuem esse
potencial, destacando-se: a Ventilação Mecânica Invasiva (VMI) e o uso medicamentos com
ação nefrotóxica (SLATER et al., 2016; PERES; WANDEUR; MATSUO, 2015). Neste estudo
observou-se que 39% dos pacientes se submeteram ao uso de VMI, 8% usaram drogas
vasoativas e em 86% foram administrados esquemas terapêuticos com antibióticos de amplo
espectro: Amicacina, Vancomicina, Ceftriaxona, Levofloxacina, Getamicina, Vancomicina,
Cefepima, Rifampicina, Imipenem + Cilastatina Sódica, Azitromicina, Tazocin, Linezolida,
Meropenem, Polimixina B, Oxacilina, Metronidazol.
As implicações nefrotóxicas derivadas da antibioticoterapia já são reconhecidos pela
literatura, dentre as principais categorias contribuintes encontram-se os aminoglicosídeos, os
glicopeptídeos e as polimixinas. A utilização de várias classes de antibióticos pode aumentar as
chances para o desenvolvimento da LRA, os quais quando associados a drogas vasoativas e
contraste radiológico, potencializam ainda mais seus efeitos degenerativos (BENICHEL;
MENEGUIN, 2020).
Tendo em vista os eventos multifatoriais que contribuem para o desenvolvimento de
LRA, é necessário estabelecimento do perfil clínico e o mapeamento dos principais fatores de
risco que podem levar a lesão renal ao paciente internado em terapia intensiva.

Conclusão
O perfil dos pacientes que desenvolvem IRA na UTI se caracteriza, predominantemente,
por adultos com idade superior a 60 anos, com comorbidades (HAS e DM); são submetidos aos
procedimentos invasivos de alta complexidade na UTI tais como a VMI e o uso de
vasopressores. Dados os motivos de admissão neste setor, esses paciente sutilizam esquemas
terapêuticos com antibióticos de largo espectro, além das suas associações.
A ocorrência da IRA na UTI relaciona-se com fatores de risco associados à terapêutica
empregada, comorbidades prévias, agravos agudos, idade, distúrbios hidroeletrolíticos,
distúrbios do equilíbrio ácido básico, balanço hídrico acumulativo e a necrose tubular aguda. O
monitoramento da função renal através do balanço hídrico, avaliação clínica e de exames
laboratoriais pode detectar precocemente esta disfunção, favorecendo a instituição de medidas
para preservá-la e/ou recuperá-la.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 298
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos: à UERN pelo apoio institucional para o desenvolvimento da pesquisa através


do PIBIC.

Referências
BENICHEL, Cariston Rodrigo; MENEGUIN, Silmara. Fatores de risco para lesão renal aguda
em pacientes clínicos intensivos. Acta Paul. Enferm. São Paulo, v.33, 2020. Disponível em: <
http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
21002020000100404#t1 > Acesso em: 17 Set. 2020.
GARSKE, C. C. D.; et al. Avaliação das interações medicamentosas potenciais em prescrições
de pacientes em unidade de terapia intensiva. Rev. Saú. e Pesq. v. 9, n. 3, set./dez. 2016.
Disponível em: < http://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/saudpesq/ article/view /53
99/2915 >.
PINHEIRO, Kellen Hyde Elias; et al. Risk factors and mortality in patients with sepsis, septic
and non septic acute kidney injury in ICU. J. Bras. Nefrol. São
Paulo, v .41, n.4, Out./Dec. 2019. Disponível em: <
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-28002019000400462> .
Acesso em: 17 Set. 2020
PERES, L.A.B., WANDEUR, V., MATSUO T. Preditores de injúria renal aguda e de
mortalidade em uma Unidade de Terapia Intensiva. Jornal Brasileiro de Nefrologia, [s.l.], v. 37,
n. 1, p. 38-46. 2015. Disponível em: http://bjn.org.br/details/1722/pt-BR/preditores-de-injuria-
renal-aguda-e-de-mortalidade-em-uma-unidade-de-terapia-intensiva
Sociedade de Nefrologia do Estado de São Paulo – SONESP. Doença renal crônica atinge 12
milhões no Brasil. São Paulo, 2017. Disponível em: < http://sonesp.nefrosp.org.br/tag
/estatisticas-em-nefrologia/>.
SLATER, M.B. et al. Identifying high-risk medications associated with acute kidney injury in
critically ill patients: a pharmacoepidemiologic evaluation. Pediatric Drugs, [s.l.], v. 19, n. 1, p.
59-67. Fev 2017. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs40272-016-
0205-1.
TELES, Flávio; et al. Impacto da diálise em pacientes críticos idosos com injúria renal aguda:
uma análise por propensity-score matching. Braz. J. Nephrol, v.41, n.1, p.14-21, 2019.
Disponível em: < https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
28002019000100014 > Acesso em: 17 Set. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 299
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PERFIL DOS TRABALHADORES DO CAMPUS AVANÇADO DE PAU


DOS FERROS (CAPF/UERN)

Maria Dianna Sousa1; Laise Lara Firmo Bandeira2; Izael Gomes da Silva2; Sara Taciana
Firmino Bezerra3

Palavras-chave: Servidores. Descrição. Socioeconômico.

Introdução

O adoecimento cardiovascular, assim como outros tipos de adoecimento, caracteriza-


se por significar um dos grandes desafios à saúde pública no Brasil. Ademais, é importante
ressaltar que muitos condicionantes estão associados a esse problema, dentre os quais se
destacam o estilo de vida das pessoas e os modos de produção que levam às formas de adoecer
e morrer dos indivíduos.
Muitos desses fatores de risco são considerados passíveis de prevenção. Por
conseguinte, a atuação conjunta dos profissionais de saúde é indispensável. Para tanto, existe a
preocupação em se pesquisar qual é o perfil dos trabalhadores que mais são acometidos por
doenças cardiovasculares, com o intuito de entender a relação do contexto individual e coletivo
que pode estar associada a essa problemática.
Torna-se, pois, necessário fazer associações que ajudem a tornar perceptíveis os
grupos de trabalhadores que são mais acometidos por determinadas doenças e como eles lidam
com os dilemas que delas decorrem.
Ao se perceber a vinculação do indivíduo com sua ocupação, entendemos questões
momentâneas e algumas duradouras, como o enfado e o estresse, os quais representam
importantes fatores a serem ponderados (TAVARES; DE ASSIS, 2017).
À vista disso, este trabalho tem como objetivo descrever o perfil social e econômico
dos trabalhadores do Campus Avançado de Pau dos Ferros, da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (CAPF-UERN).

Metodologia

De um ponto de vista metodológico, esta pesquisa possui uma natureza básica, com
abordagem descritiva e predominantemente quantitativa.
Além disso, o projeto de pesquisa ao qual este trabalho vincula-se foi aprovado pelo
Comitê de Ética, sob o número: 3.244.100, conforme exigências estabelecidas pela Resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que trata da pesquisa envolvendo seres humanos.
Desse modo, todos os participantes receberam e assinaram uma cópia do Termo de
Consentimento Livre Esclarecido.
A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de formulários que solicitava
informações de identificação, psicossociais, demográficas, e de fatores de risco para o

1
Estudante do curso de graduação em Enfermagem do Departamento de enfermagem da Universidade do Estado
do Rio grande do Norte.; e-mail: mariasousa@alu.uern.br
2
Estudantes do curso de graduação em Enfermagem do Departamento de enfermagem da Universidade do Estado
do Rio grande do Norte.; e-mail: laisebandeira@alu.uern.br, izaelsilva@alu.uern.br
3
Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Coordenadora
da Pesquisa Avaliação do Risco cardiovascular dos trabalhadores do Campus Avançado de Pau dos Ferros
(CAPF); Membro do Grupo de Pesquisa Conhecimento, Enfermagem e Saúde das Populações – GRUPESCES.
E-mail: sarataciana@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 300
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

adoecimento cardiovascular. Contudo, tivemos que paralisá-la em 13 de março de 2020 em


razão da pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2. Foi incluído no formulário exame físico
composto por aferição das medidas antropométricas, pressão arterial e glicemia. Para mais,
destacamos que todos seguiram os parâmetros da VII Diretriz Brasileira de Hipertensão
Arterial.
Participaram do estudo 33 trabalhadores, os quais atenderam aos critérios de inclusão,
vínculo empregatício com a UERN e exercício de suas funções trabalhistas no Campus
Avançado de Pau dos Ferros. Acresce a isso o fato de que não participaram da pesquisa
trabalhadores que estavam sob: licença maternidade, férias e atestado médico durante o período
de coleta de dados. A tabulação e análise dos dados foram feitas com auxílio do Software Excel.

Resultados e discussões

Assim, participaram da pesquisa 33 trabalhadores, sendo 27 docentes e 6 técnicos


administrativos.

TABELA – Perfil socioeconômico dos trabalhadores do Campus Avançado de Pau dos Ferros
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Pau dos Ferros, 2020.

Variáveis n %
Sexo
Feminino 14 42,4
Masculino 19 57,6
Idade
27 a 45 24 72,7
45 a 60 9 27,3
Etnia
Branco 22 66,7
Pardo 9 27,3
Preto 1 3,0
Amarelo 1 3,0
Escolaridade
Mestre 12 36,4
Doutor 15 45,4
ESC 6 18,2
Renda R$
2.200,00 a 7.999,00 7 21,2
8.000,00 a 16.000,00 26 78,8
Condições de saúde
Boa 20 60,6
Regular 12 36,4
Ruim 1 3,0
Usa Álcool
Sim 20 60,6
Não 13 39,4
Tabagista
Sim 1 3,0
Não 32 97,0
Doenças Crônicas
Sim 13 39,4
Não 20 60,6
Faz uso de fast foods semanalmente

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 301
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Sim 23 69,7
Não 10 30,3
Pratica de Atividade Física
Sim 11 33,3
Não 22 66,7
Ocupação
Docente 27 81,8
Técnico administrativo 6 18,2
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.

Quando analisamos o fator idade, percebemos que a maioria dos servidores,


participantes do estudo, é composta por jovens entre 27 e 47 anos, o que nos remete ao que
Girotto (2017) diz sobre transformação da universidade pública e privada.
A partir dos dados, torna-se perceptível o modo como os indivíduos enxergam sua
própria saúde com relação a doenças crônicas, sendo que os que mais relataram achar sua saúde
regular ou ruim foram os que mais disseram ter algumas das doenças apresentadas no
formulário.
Observamos, também, que a utilização do fast food para o consumo de alimentos não
é predominante entre os indivíduos que recebem os maiores salários. Isso nos faz constatar que
o não uso dessa rede alimentícia não é determinado por questões financeiras, mas por outros
fatores, como o gosto. Diez Garcia (1997) afirma que isso é uma questão ampla, que envolve
cultura, memória familiar e até experiências pessoais; ou seja, esse costume vai muito além de
condições sociais.
A preferência por alimentos desse tipo foi discutida no formulário, mesmo que não
esteja exposta na tabela, uma vez que este trabalho impõe restrições relativas a espaço.
A quantidade de participantes que afirmaram o uso de álcool não foi alarmante.
Contudo, os que disseram fazer o consumo, quando questionados em relação à quantidade,
afirmaram beber semanalmente.
Em relação a doenças que familiares adquiriram, a porcentagem é maior. Mais
precisamente, no que diz respeito ao nível de parentesco, tratam-se de familiares de 1° e 2° grau
dos sujeitos da pesquisa.
As doenças mais apresentadas foram hipertensão arterial sistólica, asma e obesidade.
Com menos frequência surgiram também convulsões, diabetes mellitus, litíase biliar, síndrome
do pânico, taquicardia, endometriose e litíase renal.

Considerações Finais

Os dados contidos nessa pesquisa nos permitem analisar o perfil socioeconômico dos
trabalhadores na sua relação com suas doenças, suas percepções e seus hábitos de vida. Este
trabalho poderá futuramente ser usado no desenvolvimento de outras pesquisas.
Esta pesquisa futuramente pode ser aprofundada ou até mesmo ampliada visto que sua
interrupção não foi planejada nem desejada pelos seus pesquisadores.
Foi possível avaliar e comparar dados com o intuito de entender os hábitos exercidos
pelos indivíduos no que diz respeito, a saber, se eles são ou não possíveis doenças.

Agradecimentos

Registro os nossos agradecimento ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação


Científica (PIBIC). Em especial, à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pela bolsa
concedida, que muito ajudou no crescimento acadêmico. Aos participantes voluntários de nossa
pesquisa que fizeram com que ela se tornasse possível e rica.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 302
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências

GARCIA, Rosa Wanda Diez. Práticas e comportamento alimentar no meio urbano: um estudo
no centro da cidade de São Paulo. Cadernos de Saúde Pública, v. 13, n. 3, p. 455-467, 1997.

GIROTTO, Eduardo Donizeti. A classe trabalhadora vai à universidade: análise das


implicações político-pedagógicas a partir dos dados do Departamento de Geografia–
USP. Revista da ANPEGE, v. 13, n. 20, p. 209-235, 2017.

TAVARES, Eliane Soares; DE ASSIS, Ana Paula Gomes. Perfil dos trabalhadores de um
laboratório de análises clínicas. Revista da Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa-Congrega
Urcamp, p. 178-195, 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 303
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DA QUEILITE ACTÍNICA EM


TRABALHADORES RURAIS SINDICALIZADOS DE CAICÓ-RN

Luanna Mayrany Alves Costa Silva1; Jamile Marinho Bezerra de Oliveira Moura2

PALAVRAS-CHAVE: Lesão Labial. Patologia Oral. Exposição Solar.

INTRODUÇÃO
A queilite actínica (QA) destaca-se por ser uma lesão potencialmente maligna,
definida como uma condição degenerativa do epitélio de revestimento que afeta o lábio.
Estima-se que 95% dos casos de câncer de lábio inferior, são decorrentes de QA (RÍOS,
2017). A exposição crônica dos lábios a radiação ultravioleta (UV) do sol é o principal
fator etiológico associado a essa lesão, especialmente o tipo B (UVB), devido ao seu
maior potencial de penetração. O lábio inferior é mais frequentemente acometido devido
a maior exposição dessa região a radiação solar (CAVALCANTE, 2008).
Essa lesão pode apresentar-se em duas formas clínicas: a forma aguda é a menos
comum, caracterizada por eritema brandos, fissuras, ulcerações e crostas, e ocorre quando
há exposição excessiva ao sol, em um curto espaço de tempo, frequentemente com a
resolução dessas alterações clínicas (CINTRA, et al., 2013). A forma crônica ocorre
quando há exposição prolongada e cumulativa aos raios UV. A apresentação clínica mais
comum exibe lábios ressecados, com fissuras, aumento de volume discreto e difuso, perda
do limite entre semimucosa labial e pele, além de pápulas e/ou manchas leucoplásicas
(ARNAUD, 2014).
Acomete principalmente indivíduos do sexo masculino que desempenham
atividades ocupacionais expostos à radiação solar. Dentre os fatores de risco que
influenciam no desenvolvimento da lesão, destacam-se a frequência de exposição aos
raios solares sem a devida proteção, a intensidade dos raios solares e o grau de
pigmentação cutânea (LUCENA, et al., 2012). Considerando a relevância de tais
aspectos, o presente estudo objetivou identificar em trabalhadores rurais do município de
Caicó-RN a prevalência de queilite actínica, bem como analisar a presença e o perfil das
lesões referente à sua apresentação clínica.

METODOLOGIA
Foi realizado um estudo do tipo transversal, descritivo e analítico com uma
abordagem quantitativa. A amostra do estudo foi constituída por 300 agricultores rurais
que aceitaram participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE) e estavam sindicalizados no município de Caicó-RN. A
coleta dos dados se deu através da aplicação de um questionário individual, estruturado
com questões abertas e fechadas, construído a partir de questionário adaptado ao validado
por Lucena (2012) e exame clínico da mucosa labial conforme a classificação clínica de
Silva et al., (2006) e Cintra et al., (2013). Previamente à coleta dos dados foi realizado
uma calibração entre os examinadores da pesquisa.

1
Discente do curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: luannamayranya@gmail.com
2
Docente Adjunto IV do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: jamilemarinho@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 304
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os dados foram analisados por estatística descritiva e inferencial. As variáveis


quantitativas como idade, anos de agricultura, tempo de exposição ao sol, quantidade de
cigarros e de bebida foram teoricamente categorizadas a partir do maior risco de
prevalência de queilite actínica, enquanto as variáveis relacionadas ao tempo foram
categorizadas pela mediana, de acordo com a obtenção do menor valor p do método de
categorização. Em seguida, para identificar a associação entre queilite actínica e variáveis
categóricas, foi realizado o teste do qui-quadrado ou o teste exato de Fisher. Para
identificar os fatores associados a queilite actínica, foi realizada análise de regressão
logística múltipla. Para isso, foi utilizado o método Stepwise Forward Selection
Procedure.
A modelagem foi iniciada pelas variáveis mais significativas do método Qui-
quadrado e, em seguida, as demais variáveis foram adicionadas uma a uma, aceitando um
valor crítico de p <0,20 para compor o modelo. A permanência da variável na análise
múltipla ocorreu por meio do teste da razão de verossimilhança, ausência de
multicolinearidade, bem como sua capacidade de melhorar o modelo através do teste de
Hosmer e Lemeshow. Os dados foram analisados no programa Statistical Package for the
Social Science (SPSS) 25.0 e em todas as análises o nível de significância foi considerado
igual a 5%. A pesquisa em questão foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) sob CAAE
03410918.7.0000.5294, parecer 3.101.702, emitido em 23 de dezembro de 2018.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra estudada foi composta por 300 trabalhadores rurais sindicalizados em
Caicó/RN, sendo observada uma prevalência de 12% (n=36) de queilite actínica. Todas
as lesões se apresentaram exclusivamente no lábio inferior. De acordo com os parâmetros
clínicos utilizados, identificou-se 30 (10%) casos de QA do tipo crônica e 06 (2%) da
aguda. Com relação às características clínicas, foi considerado diferentes graus de
severidade para a lesão, conforme ilustrado na Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição em relação quanto à presença de Queilite Actínica e suas


características clínicas em trabalhadores rurais de Caicó/RN, Brasil, 2020.
Ausência da lesão Queilite Actínica Queilite Actínica Queilite Actínica
Leve Moderada Severa

264 (88%) 26 (8,7%) 09 (3%) 01 (0,3%)


As lesões de QA leve foram caracterizadas pela presença de descamação,
ressecamento e edemas leves. Na QA moderada, foi comum a presença de fissuras, áreas
vermelhas e/ou brancas acompanhadas de edemas e descamação mais acentuada. Já na
QA severa, foi marcante a presença de crosta, atrofia do lábio, fissuras e áreas brancas
e/ou amarronzadas, de acordo com as figuras 1, 2 e 3, respectivamente.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 305
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No tocante ao sexo dos indivíduos diagnosticados com QA, observou-se que


16,4% (n=31) eram do sexo masculino, enquanto 4,5% (n=5) pertenciam ao sexo
feminino. Esse resultado corrobora aos estudos já existentes na literatura como nos de
Cavalcante et al (2008), Lucena et al (2012) e Cintra et al (2013). Além disso, foi possível
observar a existência de significância estatística entre a presença de QA e o sexo
masculino (p=0,002).
Adicionalmente, a faixa etária de 52 a 58 anos representou 16,2% (n=17) dos
participantes que possuíam a lesão. Da totalidade dos acometidos, 18,9% (n=30)
afirmaram possuir algum grau de escolaridade. Lucena et al (2012) reportou em seu
estudo que quanto menor o nível de escolaridade, maior a probabilidade do
desenvolvimento de leões potencialmente malignas; o que foi semelhante a estes
resultados. Já Camargo et al (2009) aponta em seus achados que não houve relação.
Na Tabela 2 observou-se que 13,2% (n=33) dos diagnosticados com QA
desenvolviam uma jornada de trabalho na agricultura em dois turnos. Evidenciou-se,
ainda, que 17,6% (n=20) ficavam expostos à radiação solar por mais de 09 horas, exibindo
um valor de p (0,050) no limiar da significância estatística.

Tabela 2. Associação entre fatores de risco e a presença de queilite actínica em


trabalhadores rurais, Caicó-RN, Brasil, 2020.
Variáveis Sim % Não % RP IC 95% Valor
de p
48 a 75 anos 11 11,5% 85 88,5% 1,00 0,067
Anos de 40 a 47 anos 18 17,5% 85 82,5% 0,66 0,33 1,32
agricultura 14 a 39 anos 7 6,9% 94 93,1% 1,65 0,67 4,09
Cor da Branca 25 23,4% 82 76,6% 1,00 0,000
pele Morena 11 6,2% 167 93,8% 3,78 1,94 7,37
Negra 0 0,0% 15 100,0% 0,77 0,69 0,85
Horário de Dois turnos 33 13,2% 217 86,8% 2,20 0,70 6,89 0,153
trabalho Um turno 3 6,0% 47 94,0%
Exposição >9 horas 16 17,6% 75 82,4% 1,84 1,00 3,38 0,050
solar Até 9 horas 20 9,6% 189 90,4%
diária
Exposição 7 dias 32 14,0% 197 86,0% 2,48 0,91 6,77 0,059
solar <7 dias 4 5,6% 67 94,4%
semanal

No que diz respeito aos hábitos de vida e de saúde, tais como o tabagismo e o
etilismo, foi observado entre os que apresentaram QA, que 03 eram tabagistas, 06 etilistas
e 03 faziam uso concomitante de tabaco e álcool. Dessa forma, independente da baixa
frequência de hábitos encontrados na amostra, importante ressaltar a ação sinérgica que
estes hábitos exercem sobre a mucosa labial já alterada pela radiação solar.
Medidas de fotoproteção, como o uso de protetor solar foi mencionado por apenas
12,7% (n=7) dos agricultores, já o uso do chapéu foi mais expressivo, correspondendo a
14,2% (n=28). O presente estudo não encontrou associação significativa entre a presença
de fotoproteção e a ocorrência de QA, achados semelhantes aos resultados de Silva et
al (2006). Por outro lado, uma relação estatisticamente significativa foi observada entre
QA e a ausência do uso de protetor labial com FPS (Fator de Proteção Solar) valor de p=
0,001 e o uso de protetor labial do tipo manteiga de cacau (p= 0,025), o qual não possui
FPS. Aqueles que citaram usar tal medida como fotoproteção foram mais propensos a
desenvolver a lesão, uma vez que a manteiga de cacau é considerada ineficaz contra a
ação dos raios UV. Os trabalhadores mostraram desconsiderar a importância do uso de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 306
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

protetor solar corporal e labial, cujo uso foi observado em apenas 18,3% (n=55) e 1,7%
(n=5) respectivamente, dados condizentes com os achados de Lucena et al. (2012).

CONCLUSÃO
Destarte, a quelite actínica foi mais prevalente em indivíduos do sexo masculino,
de fototipo de pele clara, sensível aos efeitos da radiação UV. Não houve nenhum caso
de QA sem a associação com exposição crônica aos raios solares. As alterações clínicas
mais constantemente encontradas foram descamações, fissuras, alterações de cor,
ressecamento e atrofia labial. Assim, fica explícito a necessidade de formulação de
medidas educativas e preventivas voltadas para os trabalhadores rurais, bem como
estratégias terapêuticas adequadas a fim de reduzir os riscos potenciais para a
transformação maligna da lesão de queilite actínica.

AGRADECIMENTOS
Ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de
Caicó-RN pela receptividade e a todos os trabalhadores (as) pela contribuição com a
ciência. Expresso também minha gratidão ao Programa Institucional de Iniciação
Científica da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pelo apoio financeiro
concedido.

REFERÊNCIAS
ARNAUD R.R. et al.Prevalence and factors associated to actinic cheilitis in beach
workers. Oral Diseases v.18, p. 575– 579, 2014.

CAMARGO M.B; DUMITH S.C; BARROS AJ. Regular use of dental care services by
adults: patterns of utilization and types of services. Cad Saúde Publica v.25,p. 1894–
1906,2009.

CAVALCANTE A.S.; ANBINDER A.L.; CARVALHO Y.R. Actinic cheilitis: clinical


and histological features. Rev J Oral Maxillofac v.66, p.498–503, 2008.

CINTRA J.S. et al. Queilite Actínica: Estudo epidemiológico entre trabalhadores rurais
do município de Piracaia – SP. Rev assoc paul cir dent, v.67(2), p.118-221, 2013.

LUCENA E.E.S.; COSTA D.C.B.; SILVEIRA E.J.D.; LIMA K.C. Prevalence and factors
associated to actinic cheilitis in beach workers. Oral Diseases v.18, p. 575– 579, 2012.

RÍOS P.; MALDONADO C.; NORAMUENA P.; DONOSO M.; Prevalencia de queilitis
actínica em pescadores artesanales, Int.J.Odontostomat, v. 11(2), p. 192 -197. Valdivia,
Chile.2017.

SILVA F.D., et al. ESTUDO DA PREVALÊNCIA DE ALTERAÇÕES LABIAIS EM


PESCADORES DA ILHA DE SANTA CATARINA. Revista Odonto Ciência – Fac.
Odonto/PUCRS, v. 21, n. 51, p.37-42, 2006.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 307
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PERFIL LEUCOCITÁRIO DE ESCOLARES DA REDE PÚBLICA DO


MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN

Thalita Fernanda de Jesus Pires¹; Gilka Torres Barisic2; Dayseanne Araújo Falcão3;
Palavras-chave: Hemograma. Alterações leucocitárias. Leucocitose. Leucopenia. Linfócitos
Atípicos.

INTRODUÇÃO
Existe no meio ambiente uma quantidade enorme de agentes infecciosos, como por
exemplo: os vírus, bactérias, fungos, protozoários e parasitas, que são responsáveis por causar
doenças nos seres humanos.¹ Para isso, o ser humano possui no seu organismo meios de se
defender contra esses agentes, contando então com as funções exercidas pelo sistema imune.
Para que essa proteção ocorra de maneira eficaz, o sistema imune realiza quatro funções:
primeiro detecta a infecção, tenta contê-la, em seguida mantém a regulação imune e em quarto
lugar protege o indivíduo em relação a uma futura entrada desse mesmo patógeno.²
O sistema imune tem células que são responsáveis pelo desenvolvimento da resposta do
organismo contra os patógenos. Os leucócitos são as células centrais para todas as respostas
imunes elaboradas, especialmente linfócitos, macrófagos células dendríticas e as citocinas
produzidas por essas células.¹ O termo leucócito é de origem grega, Leuco significa “branco” e
cito, “célula”. Leucócitos, ou glóbulos brancos são células nucleadas que têm como principais
funções o combate e eliminação de microrganismos e estruturas químicas estranhas ao
organismo – sejam eles patogênicos ou não. Os leucócitos apresentam-se em vários tamanhos,
formas e números e, na maioria das vezes, agem como se fossem organismos vivos e
independentes, com capacidade de se mover e fagocitar microrganismos e resíduos por conta
própria. Em média, existem de 4.000 a 11.000 leucócitos/mm³ no sangue periférico.4
Os neutrófilos são as células brancas sanguíneas circulantes em maior quantidade e são
responsáveis pelas fases iniciais das reações inflamatórias. A migração dos neutrófilos para os
locais de infecções quando ocorre entrada de microrganismos acontece de forma rápida, na
tentativa de eliminar os invasores através da fagocitose que são capazes de realizar.³ Já os
monócitos, que são os fagócitos mononucleares, migram na sequência para intensificar o
processo de fagocitose, contando com a ajuda das células dendríticas já localizadas nos tecidos.
Por último, são recrutados os linfócitos que contribuirão para o fim do processo infeccioso
através das citocinas que produzem ou da liberação de substâncias tóxicas para células
parasitadas.
O conjunto de avaliações das células do sangue que, reunido aos dados clínicos, permite
conclusões diagnósticas e prognósticas de grande número de patologias é chamado de
hemograma. O leucograma faz parte do hemograma e representa a avaliação da série
leucocitária do sangue. Os parâmetros que constituem o leucograma são: a contagem total de
leucócitos ou leucometria total, expressa em milhares/ L de sangue e a contagem diferencial,
expressa em percentual e em número absoluto (também em milhares/ L de sangue) de cada tipo
de leucócito (contagem diferencial).6
¹Estudante do curso de Ciências Biológicas do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte – UERN; e-mail: thalitafernanda10@hotmail.com
2
Professora do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN; e-mail: gilkabarisic@uern.br
3
Professora do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
Vice-líder do grupo de pesquisa Nutrição e Saúde; e-mail: dafalcao@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 308
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Essa pesquisa teve como objetivo realizar a coleta de amostras de sangue e o


levantamento de possíveis alterações leucocitárias encontradas nos hemogramas, e caso
encontre alguma alteração, analisar bibliograficamente as possíveis causa das mesmas.
METODOLOGIA
Local de realização da pesquisa:
Esta pesquisa foi realizada na Escola Estadual Aida Ramalho Cortez Pereira, que possui
alunos das três séries do ensino médio, com alunos em faixa etária contida entre 14 e 18 anos,
onde realizamos a coleta das amostras biológicas e entrevista com os alunos para coleta de
dados relativos ao estado de saúde anterior e atual dos alunos. As amostras biológicas foram
transportadas para o Centro Clínico Vingt Um Rosado, entidade pública de atendimento
ambulatorial, que, de forma colaborativa, realizou a análise dos hemogramas e emitiu os laudos
que foram entregues aos alunos como forma de benefício pela participação na pesquisa. Após
as análises todas as amostras foram descartadas,
Processo de obtenção do TCLE:
Após aprovação da pesquisa no comitê de ética, foi agendada uma reunião para
apresentação do projeto à senhora diretora Hévila Maria Barbosa da Silva, bem como ao
professor de Biologia Niedson Alves, em todas as suas dimensões.
O convite para participar da pesquisa foi lançado aos alunos inicialmente no próprio
ambiente de sala de aula, durante um pequeno bate-papo entre pesquisadores e alunos em
espaço aberto pelo professor de Biologia durante as suas aulas. Em momento posterior, para a
assinatura do TALE, os alunos foram convidados a se dirigirem a uma sala destinada pela
diretoria da escola para os momentos reservados da pesquisa (a princípio, a sala em que se reúne
a banda de música da escola) onde os alunos puderam esclarecer todas as suas dúvidas em
relação à pesquisa e assinar o TALE (ou TCLE para maiores de 18 anos), se concordassem em
participar do estudo. Com relação aos pais dos alunos, estes foram convidados a participar de
uma reunião com os pesquisadores para convite à participação e esclarecimento de dúvidas,
dando ênfase a justificativa, aos objetivos, as contribuições e aos riscos e benefícios do estudo.
Ao fim da reunião, os que desejaram, puderam se dirigir à mesma sala reservada e dirimirem
quaisquer dúvidas residuais. Também ao fim da reunião, os pais receberam o TCLE e puderam
levar para casa para refletir sobre o documento e o assinarem, se assim desejarem. Caso
decidissem pelo consentimento. Os pais entregavam o documento assinado para os filhos e estes
levavam o documento para a escola, onde foi recolhido pelos pesquisadores.
Coleta de material biológico:
De forma prévia à coleta da amostra, os alunos responderam a um questionário sobre
seu estado geral de saúde (APÊNDICE 1), de modo que fossem coletadas informações sobre
situações que podem influenciar alterações no hemograma e para que, caso as alterações fossem
encontradas, houvesse o estabelecimento das relações entre estas e as possíveis causas.
O material biológico utilizado, no caso o sangue, foi coletado por um profissional da
enfermagem, levado até à escola, e armazenado em um tubo que estava identificado com um
código, a idade e o sexo do paciente e, encaminhado juntamente com seu cadastro (e demais
documentos).
Após a realização dos exames, foram emitidos laudos pelo Centro Clínico Prof. Vingt
Um Rosado, e entregues em envelopes fechados aos pais dos alunos para conhecimento dos
resultados e possíveis encaminhamentos médicos.
Análise estatística dos dados
Os dados obtidos foram tabulados em planilhas do programa Microsoft Excel para
levantamento de parâmetros estatísticos como médias, porcentagens, desvio padrão, entre

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 309
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

outras. A partir das tabelas foram gerados gráficos ilustrativos das alterações encontradas nos
hemogramas e das suas significâncias estatísticas utilizando o Test t de Student.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletados 19 hemogramas no total, destes, somente quatro com leves alterações
(TABELA 1).
Tabela 1: Quadro demonstrativo das alterações encontradas em hemogramas e alterações no
estado geral de saúde relatadas pelos participantes.
ALTERAÇÃO NO ALTERAÇÃO DE SAÚDE
ALUNO CÉLULA IMPLICADA
HEMOGRAMA RELATADA
A004 Leucocitose Neutrófilos SR
A005 Leucocitose NI Infecção viral sintomática.
Inflamação na garganta; anemia;
A013 Leucopenia Linfócitos e Monócitos
perda de peso.
A011 Leucopenia Monócitos Perda de peso.
NI – Não Identificada; SR – Sem Relato.

Quando um hemograma apresenta valores superiores a 11.000 mm3, são interpretados


como uma condição chamada de leucocitose. A leucocitose é uma resposta do nosso organismo
à alguma infecção por bactérias, vírus, fungos ou protozoários, ou então uma resposta a
situações de estresse, muito esforço físico e até mesmo doenças que afetam a medula óssea,
como a leucemia. Para identificar a causa da leucocitose, pode-se observar o tipo de leucócito
que se apresenta em maior quantidade. Há relatos de que as bacterioses normalmente são
acompanhadas de um aumento nos neutrófilos; viroses são acompanhadas de um aumento
de linfócitos, já em alergias e infecções por vermes, percebe-se um aumento dos eosinófilos.7
Quando apresenta valores abaixo de 4.000 glóbulos brancos/µL isto é chamado de
leucopenia, podendo ocorrer alguma variação destes valores ao longo da vida do paciente,
estando, porém, normalmente associado a algum problema de saúde. A leucopenia pode
representar um sintoma dos tratamentos de quimioterapia e de radioterapia, além de estar
relacionado a doenças do sistema imunológico. Além disso, os leucócitos baixos podem estar
associados a tumores e fibroses, doenças do fígado, doenças do rim, doenças autoimunes,
presença de substâncias citotóxicas, surgindo também em função de uma falha grave da medula
devido à terapia com corticoides e outros imunossupressores, na Doença de Hodgkin, entre
outros. Agentes físicos, químicos ou biológicos que venham a interferir na medula podem
causar a redução dos leucócitos.8
Foi percebido que houve uma maior procura e interesse na realização dos exames pelas
candidatas do sexo feminino, dos 19 exames realizados, 12 (63,16%) correspondiam a pessoas
do sexo feminino e 7 (36,84%) do sexo masculino. Infelizmente, problemas logísticos gerados
por deflagração de greve das escolas do estado do Rio Grande do Norte em fevereiro do corrente
ano e, em seguida, do distanciamento social (em vigor até o presente momento), impediram o
recrutamento de um número maior de participantes.
As informações fornecidas pela análise do sangue periférico pretendem avaliar a medula
óssea, se está produzindo um número suficiente de células maduras de diferentes linhagens, e
os processos de proliferação, diferenciação e aquisição de funções de cada tipo celular estão se
desenvolvendo de maneira adequada em todas as linhagens celulares. A partir da contagem
diferencial dos leucócitos (avaliação da concentração de cada uma das linhagens de leucócitos
e da morfologia das mesmas em esfregaço sanguíneo), é possível identificar alteração de
concentração e/ou de morfologia de cada um dos subtipos, que seria indicativa de doenças

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 310
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

hematológicas como, por exemplo, as leucemias. 9 A diversidade de informações que o


hemograma pode fornecer é ampla e inespecíficas, de modo que é importante ressaltar que a
realização do hemograma não é suficiente para realizar de fato um diagnóstico sobre uma
patologia específica.
Diante as informações sobre o sistema imune, as formas como ele reage ao processo
inflamatório, a importância dos leucócitos como componente central do sistema imune e as
informações que o hemograma pode fornecer sobre o perfil imunológico dos pacientes, o
objetivo dessa pesquisa é identificar as possíveis alterações leucocitárias visualizadas em
hemogramas, além de averiguar a porcentagem de escolares que apresentam valores altos de
leucócitos (leucocitose) e valores baixos (leucopenia), as associações aos valores em diferentes
linhagens, suas possíveis alterações morfológicas e relatos de possíveis causas a partir do
depoimento dos próprios escolares e/ou dos pais e responsáveis no município de Mossoró-RN.
O levantamento de dados de hemogramas com alterações leucocitárias é relevante na busca de
causas e prevenção de diversas doenças, além de servir de parâmetro para identificação da
frequência dessas alterações na rotina de um laboratório de análises clínicas.

CONCLUSÃO
Foram realizados hemogramas em estudantes da rede estadual de ensino, com idades
entra 14 e 18 anos. Uma pequena parte dos hemogramas exibiu alterações nas concentrações
gerais de leucócitos ou de suas linhagens específicas, leucocitose ou leucopenia, com provável
associação a quadros infecciosos em alguns participantes, de acordo com o relatado dos
mesmos. Em sua maioria, contudo, os resultados de hemograma ilustraram a inexistência de
tais alterações indicando que a maior parte dos alunos se encontra saudável.

REFERÊNCIAS

1. Roitt I, Brostoff J, Male D. Imunologia. 6ª edição. São Paulo, editora Manole, 2003.
2. Murphy K, Travers P, Walport M. Imunologia de Janeway. 7ª edição. Porto Alegre: Artmed,
2010.
3. Abbas AK, Lichtman AH, Pillai S. Imunologia Celular e Molecular. 8ª edição. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2015.
4. Melo MAW; Silveira CM. Laboratório de hematologia: teoria, técnicas e atlas – 1 ed – Rio
de Janeiro: Rubio, 2015.
5. Naoum PC; Naoum FC. Interpretação laboratorial do hemograma - São José do Rio Preto,
2008.
6. Failace R. Hemograma. Manual de interpretação. 5ª edição. Porto Alegre, editora Artmed,
2009. 424 págs.
7. Santos V. Leucocitose. //biologianet.uol.com.br/doencas/leucocitose.htm. Acesso em: 9 de
abril de 2018.
8. Leite, Patrícia. Leucocitos altos ou baixos demais. www.mundoboaforma.com.br/leucocitos-
altos-ou-baixos-demais-o-que-significa. Acesso em: 9 de abril de 2018.
9. Grotto, HZW. O hemograma: importância para a interpretação da biópsia. Rev. Bras.
Hematol. Hemoter. 2009; 31(3):178-182 [DISSERTAÇÃO]. São Paulo: Universidade de São
Paulo; 1992.
10. Santos LA, Silvério ASD, Órfão LH. Perfil leucocitário de uma população do sul de Minas
Gerais. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 13, n. 1, p. 506-513,
2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 311
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 312
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PREVALÊNCIA DA DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR


ASSOCIADA AOS FATORES PSICOLÓGICOS NOS DISCENTES DOS
CURSOS DE ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE –CAICÓ/RN
Caio Rodrigues Maia1, Daniela Mendes da Veiga Pessoa2
Palavras-Chave: Síndrome da Disfunção da Articulação Temporomandibular.
Transtornos de Ansiedade. Estresse Emocional. Odontologia. Enfermagem.
Introdução
A disfunção temporomandibular (DTM) é um dos distúrbios que acomete as estruturas
musculares e articulares do sistema estomatognático, que pode ocorrer em qualquer faixa
etária e gênero, porém possui maior prevalência nos adultos entre 20 e 45 anos e,
principalmente, indivíduos do gênero feminino (LERESCHE, 1997), sendo a causa mais
comum da dor orofacial³. Os fatores psicológicos são considerados importantes influências na
patogenia da DTM, tendo em vista que vários autores colocam este distúrbio no espectro de
doenças relacionadas com o estresse e ansiedade, pois a fadiga muscular que gera disfunções
deste tipo, geralmente, ocorre em virtude de hábitos parafuncionais e que são desencadeados,
em sua maioria, por estresse emocional, o que afeta o tônus dos músculos mastigatórios e
posturais cervicais. Porém, não significa que todos os indivíduos com ansiedade, depressão ou
elevada carga de estresse obrigatoriamente possuirão disfunções temporomandibulares.
Diante disso, os alunos de cursos de graduação formam uma população que estão
expostos ao diversos fatores citados para desenvolvimento, em algum momento das suas
vidas, disfunção temporomandibular ou traços desta(ZINKE; BERTH; HANNING, 2010).
A ansiedade como estado momentâneo é chamada de ansiedade estado, logo, a
ansiedade-traço significa que há presença de traços e características referentes à ansiedade
como distúrbio psicológico em que o indivíduo precisa ser encaminhado para ser
diagnosticado mais precisamente por um profissional da psiquiatria e psicologia. (BIAGGIO;
NATALÍCIO; SPIELBERGER, 1977).
Nesse sentido, o objetivo da presente pesquisa foi verificar a prevalência da Disfunção
Temporomandibular (DTM) e os fatores psicológicos associados a esta condição nos alunos
de graduação de Enfermagem e Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Campus Caicó, associada aos fatores e estados psicológicos.
Metodologia
Esta pesquisa é do tipo transversal, exploratória e de natureza quantitativa. O estudo
foi realizado na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), no Campus Caicó,
localizado no município de Caicó/RN. A coleta de dados se deu de fevereiro a maio de 2019.
A amostra incluiu a população de todos os discentes regularmente matriculados nos
cursos de Odontologia e Enfermagem do Campus Caicó da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN) no período destinado à coleta de dados (170 indivíduos). Após
aplicados os critérios de exclusão (indivíduos menores de 18 anos de idade e que não
estivessem frequentado as atividades acadêmicas presencialmente, a composição final da
amostra contou com 131 discentes, sendo 67 discentes de Odontologia e 64 de Enfermagem.
Para aferir as características socioeconômicas, sociodemográficas e dos hábitos de
saúde da população do estudo, foi aplicado um questionário com perguntas abertas e
1
Graduando do curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Departamento de Odontologia, Campus Avançado de Caicó. E-mail:
caiorodriguesmaia@gmail.com
2
Docente do curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Departamento de Odontologia, Campus Avançado de Caicó. E-mail:
danielapessoa@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 313
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

fechadas. Para aferir a prevalência de disfunção temporomandibular (variável dependente),


aplicou-se um questionário validado, o QST/DTM (PAIVA, 2013). Esse instrumento consiste
em um formulário contendo 05 (cinco) perguntas com pontuações para cada resposta,
objetivando classificar estágios iniciais e a presença ou não de disfunção temporomandibular,
de forma simples, ágil, segura e confiável. O escore total de 5 a 6 pontos é referente aos não
portadores de DTM e o escore total de 7 a 15 pontos, para portadores de DTM.
Para a coleta de dados referente ao estado psicológico dos alunos, foi aplicado um
questionário validado para medir o grau de ansiedade traço e ansiedade estado (grau de
estresse), o IDATE7. Tal questionário é composto de duas partes, uma referente à ansiedade
estado e a outra parte à ansiedade traço. O IDATE possui 20 (vinte) perguntas (em cada parte)
e 04 (quatro) alternativas para cada pergunta. Após as respostas, faz-se a soma dos escores e
chega-se ao resultado para verificar se há ou não ansiedade e qual tipo ela é. O escore total
varia de 20 a 80 pontos. Valores de 20 a 34 pontos representam escore baixo/normal de
ansiedade, de 35 a 49 pontos mostram um nível médio de ansiedade e a presença desta como
um fator influenciador no cotidiano do indivíduo, o que atrapalha as atividades normais, e de
50 a 64 pontos, um alto nível de ansiedade que pode gerar redução significativa da
concentração do indivíduo em que os pensamentos são muito dispersos e o indivíduo busca
obter alívio constante e, de 65 a 80, um nível de ansiedade muito alto que pode ser associado
ao pavor e medo constante17.
As variáveis independentes principais referem-se às dimensões da ansiedade traço e
da ansiedade estado. As demais variáveis independentes são: sexo (M/F), idade (em anos),
período (semestre) que o discente está cursando, curso (Odontologia/Enfermagem), uso de
medicação (sim/não), tipo de medicação, portador de doença crônica (sim/não), tipo de
doença crônica, estadia fora da sua residência familiar ou da sua cidade natal, fator
socioeconômico (renda familiar em reais), presença de hábitos parafuncionais (roer unhas,
chupar dedo, outros), tabagismo (sim/não), etilismo (sim/não), uso de drogas ilícitas (sim/não)
e tipo de droga.
Foi realizada análise descritiva das variáveis dependente e independentes do estudo.
Para as variáveis quantitativas as mesmas foram descritas através de média (M) e desvio-
padrão (DP). As variáveis categóricas foram descritas através de frequências absoluta e
percentual. Na análise inferencial foram utilizados o Teste T de Student e Qui-Quadrado de
Pearson, considerando-se um nível de significância de 5%.
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UERN sob o parecer de
número 3.036.038.

Resultados e Discussão

Em relação às características dos discentes de Odontologia e Enfermagem, tem-se que


a média de idade é de 24 anos (DP 4,9), renda média de 2.986,82 (DP 2.549,21), 74,8% são
mulheres, 24,4% dos discentes faz uso de alguma medicação, 6,9% faz uso de pscotrópicos,
10,7% é portador de alguma Doença crônica, 45% reside com a família, 45,8% faz algum
hábito parafuncional, 3,1% fuma, 3% usa algum tipo de droga ilícita.
Observou-se que aproximadamente metade dos discentes apresentaram a disfunção
temporomandibular (49,6%). Em relação aos hábitos de saúde, foi encontrado que nos
indivíduos que possuíam hábito parafuncional, quase a totalidade roía as unhas (onicofagia), o
que mostra um certo grau de estresse e ansiedade no cotidiano dos universitários. A doença
crônica não-transmissível mais comum foi a Asma. E em relação ao etilismo, mais da metade
dos participantes fazem uso frequente das bebidas alcoólicas (57,3%). Já em relação às drogas
ilícitas, poucos indivíduos relataram fazer o seu uso, sendo a Cannabis sativa a única relatada
pelos graduandos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 314
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No que concerne à associação da DTM com o sexo dos indivíduos estudados,


observou-se na obtenção da razão de prevalência que os indivíduos do sexo feminino
possuem 46% mais prevalência de possuir disfunção temporomandibular do que os indivíduos
do sexo masculino (p=0,010; IC=0,313-0,932), em que 43% das mulheres apresentaram
DTM, enquanto 55% não apresentaram. Já 69,7% dos homens possuíam DTM e 30,3% não
tinham tal disfunção.
O espectro de ansiedade-estado mais frequente foi o nível médio com 74%, assim
como na ansiedade-traço em que 74% dos discentes possuíam o nível médio. No tocante às
variáveis relacionadas às dimensões da ansiedade-Estado e da ansiedade-Traço houve
diferenças estatisticamente significantes em relação à presença de DTM, conforme a tabela 1.

Tabela 1: Presença de DTM em relação ao escore médio das dimensões do IDATE-Estado¹ e


IDATE-Traço, 2019².
PRESENÇA DE DTM
n M(DP) DM p IC(95%)
Sim 65 2,89(0,98) 0,36 0,045 0,009-0,715
Sinto-me ansioso¹
Não 66 2,53(1,05)
Estou preocupado¹ Sim 65 2,62(0,87) 0,37 0,020 0,060-0,686
Não 66 2,24(0,92)
(-0,735)-
Sinto-me Bem¹ Sim 65 2,66(0,81) -0,46 0,001
(-0,185)
Não 66 3,12(0,77)
Preocupo-me com Sim 65 2,68(1,09) 0,43 0,017 0,078-0,784
coisas sem
Não 65 2,25(0,93)
importância ²

Deixo-me afetar Sim 65 2,74(1,00) 0,39 0,030 0,038-0,742


por coisas
Não 66 2,35(1,03)
pequenas²

Levo os Sim 65 2,42(1,06) 0,38 0,029 0,041-0,730


desapontamentos
Não 66 2,03(0,93)
muito à sério²

A população universitária tem grande prevalência de fatores psicológicos como e a


ansiedade e o estresse, em especial os cursos da área da saúde, entre eles, Odontologia e
Enfermagem. Esses fatores alteram a conjuntura sistêmica do organismo, que surgem na
graduação e podem se estender até a vida profissional. Tais achados, corroboram os
resultados do presente estudo, na qual os sujeitos pesquisados possuíam um nível médio de
ansiedade. Observou-se na presente pesquisa que a prevalência de DTM foi maior na
população feminina. Nesse sentido, diversos estudos corroboram tais resultados, pois
demonstram que a maior prevalência de Disfunção Temporomandibular (DTM) no sexo
feminino, causada pelo nível de estresse psicológico e graus de ansiedade mais elevados nesta
população.(FERNANDES et al., 2007).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 315
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusão
Os resultados deste estudo demonstraram uma considerável prevalência da disfunção
temporomandibular e ansiedade nos alunos dos cursos de Odontologia e Enfermagem do
Campus Avançado de Caicó da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Ademais,
foi verificada a relação positiva entre esses fatores psicológicos, como a ansiedade e o estresse
emocional com a prevalência de DTM.
Tais achados sugerem a importância do conhecimento desta relação pelo cirurgião-
dentista e pelos profissionais da psicologia, no intuito de propor um tratamento com
abordagem multiprofissional, além da participação de outros profissionais da área da saúde
como neurologistas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas, visto que a disfunção
temporomandibular é uma doença de etiologia multifatorial, o que melhoraria o prognóstico
em relação à DTM e aos distúrbios psicológicos. Todavia, faz-se necessário mais estudos
dessa temática utilizando os mesmos instrumentos usados nesta pesquisa, porém com caráter
longitudinal.
Agradecimentos
À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e todos os seus docentes.
Referências

BIAGGIO, A. M. B.; NATALÍCIO, L.; SPIELBERGER, C. D. Desenvolvimento da forma


experimental em português do Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) de
Spielberger. Arq. bras. Psic. apl., v. 29, n. 3, p. 3144, 1977.
FERNANDES, A. Ú. R. et al. Desordem temporomandibular e ansiedade em graduandos de
odontologia. Ciência Odontologia Brasileira, v. 10, n. 1, p. 70–77, 2007. Disponível em:
<http://www.fosjc.unesp.br/cob/artigos/v10n1_10.pdf>.
LERESCHE, L. Epidemiology of temporomandibular disorders: implications for the
investigation of etiologic factors. Crit Ver. Oral Biol Med, v. 8, p. 291–305, 1997.
PAIVA, A. M. F. V. DE. Construção e validação de questionário simplificado para triagem
de pacientes com disfunção temporomandibular (QST/DTM). 2013. UFRN - Natal, 2013
[Tese de Doutorado].
ZINKE, A.; BERTH, H.; HANNING, C. Psychological distress and anxiety compared
amongst dental patients- results of a cross-sectional study in 1549 adults. BCM Oral Health,
2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 316
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PREVALÊNCIA DAS LESÕES DE MUCOSA BUCAL E SEU IMPACTO


NA QUALIDADE DE VIDA DE ESCOLARES

Marília Marlene Nóbrega¹; Patrícia Bittencourt Dutra dos Santos²

Palavras-chaves: Qualidade de vida. Patologia bucal. Mucosa bucal. Criança.

Introdução
Lesões de mucosa bucal são condições que ocorrem nos tecidos moles da boca,
reconhecidas sob a forma de diferentes lesões fundamentais que se apresentam por aspectos
clínicos diversos como alterações de cor, formações sólidas, coleções líquidas e perdas
teciduais (HIPÓLITO et al., 2010). Essas alterações podem ser de origem infecciosa, ser
decorrentes de trauma ou irritação local, como também devido às manifestações de doenças
sistêmicas ou podem ainda estar relacionadas a hábitos e estilo de vida (NEVILLE et al.,
2009). As condições que mais acometem a mucosa bucal da população infantil, em geral, são
as estomatites aftosas recorrentes, mucocele, herpes labial, língua fissurada, língua
geográfica, língua saburrosa, candidíase bucal e as lesões traumáticas (FURLANETTO,
2006).
A qualidade de vida relacionada à saúde bucal (QVRSB) foi definida como “o
impacto das doenças bucais sobre aspectos da vida cotidiana que são importantes para os
pacientes e pessoas, com os impactos sendo de magnitude suficiente, quer em termos de
frequência, gravidade ou duração, para afetar a percepção do indivíduo sobre sua vida em
geral” (Silva et. al, 2009). Tem sido apontada na literatura a necessidade de considerar as
dimensões funcionais e psicossociais da saúde bucal para a avaliação de intervenções
odontológicas, como o impacto na qualidade de vida relacionado à saúde bucal
(GHERUNPONG et al., 2004). Os instrumentos utilizados para avaliar o impacto das
condições bucais na qualidade de vida são os questionários, denominados genericamente de
indicadores sócio-dentais (REISINE, 1981).
É importante a investigação no que se refere a ocorrência de lesões em crianças, visto
que, em grande parte dos casos, tal condição não recebe um rápido diagnóstico que possibilite
um pronto tratamento (KNIGHT, 2003; TACK et al, 2002). Diante disso, é de fundamental
importância oferecer à comunidade uma investigação de diagnóstico de lesões bucais, além de
desenvolver ações para ampliar as melhorias de condições saúde bucal e qualidade de vida. O
objetivo do estudo foi avaliar o impacto das lesões de mucosa bucal na qualidade de vida
relacionada à saúde bucal em crianças de 8 a 10 anos de idade matriculadas nas escolas
municipais de Caicó-RN.

Metodologia
Tratou-se de um estudo observacional, transversal, realizado com 71 escolares entre
8 a 10 anos de idade regularmente matriculados em Escolas Municipais de Caicó-RN.
Os critérios de inclusão adotados para os pacientes da pesquisa foram: indivíduos de
ambos os sexos, com idades entre 8 a 10 anos, matriculados nas escolas municipais de Caicó-
RN. Já os critérios de exclusão foram: crianças com necessidades especiais e pais/filhos que
recusaram a participação na pesquisa. As crianças foram divididas em dois grupos: Grupo
lesão (GL): composto por 26 crianças com presença de lesões bucais diagnosticadas durante a
realização do exame clínico e Grupo controle (GC): composto por 45 crianças que não
apresentaram lesões bucais durante o exame clínico.

¹Acadêmica do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: marilia_nnobrega@hotmail.com;
²Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: pati_bittencourt@hotmail.com.
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 317
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A qualidade de vida relacionada à saúde bucal em crianças foi aferida através do


questionário Child Perceptions Questionnaires (CPQ8-10) amplamente utilizado para avaliar
a auto-percepção de Qualidade de Vida Relacionado à Saúde Bucal (QVRSB) em grupos
etários entre 8 e 10 anos (BARBOSA et al., 2009), enquanto que a avaliação de Lesões de
Mucosa Bucal foi realizada através de um exame clínico. As lesões foram identificadas
segundo o tipo de lesão fundamental presente, sua localização, tamanho, tempo de evolução e
sintomatologia. A sequência do exame dos tecidos moles bucais seguiu os critérios da
Organização Mundial de Saúde (WHO, 1997) modificado por Bessa et al., (2004). Foi
realizada a comparação intergrupos para a avaliação da qualidade de vida e seus componentes
por meio do teste t. Em todos os testes foram adotados níveis de significância de 5%.

Resultados e Discussão
De acordo com os resultados, a prevalência de crianças que apresentaram lesão de
mucosa foi igual a 36,61%. Todas as lesões encontradas foram benignas e grande parte de
tamanho pequeno/médio com recente evolução (Tabela I).
Tipo de Quantidad Sintomatologi Tempo de Tamanho/ Localização
lesão e% a evolução Extensão
Mucocele 4 (5,63%) 100% Não 1 Semana 2 Pequenas 4 Lábio inferior
2 Médias
Língua 2 (2,81%) 100% Não Mais de um Média Dorso da língua
geográfic ano
a
Língua 1 (1,40%) 100% Não Indeterminad Média Dorso da língua
saburrosa o
Úlcera 17 100% Sim 16 Menos de 6 Pequenas 10 Mucosa Jugal
aftosa (23,94%) 1 semana 7 Médias 7 Gengiva
1 Mais de 4 Grandes
uma semana
Abscesso 2 (2,81%) 100% Sim 2 Semanas Médio 1 Região de 44
1 Região de 46
Total 26 - - -
(36,61%)

A tabela II mostra que houve diferença estatisticamente significante na qualidade de


vida entre os dois grupos. Os resultados mostram que crianças com lesões bucais apresentam
uma pior qualidade de vida em relação à saúde bucal, principalmente no âmbito de sintomas
orais e bem-estar social.
Tabela II- Comparação intergrupos para a qualidade de vida e seus componentes (teste t).
Grupo Lesões Grupo Controle P
(n=26) (n=45)
Média (DP)
Sintomas orais 6,38 (2,78) 4,44 (2,82) 0,006
Limitações 3,58 (2,64) 2,33 (2,97) 0,091
funcionais
Bem-estar emocional 3,03 (3,46) 2,77 (3,98) 0,781
Bem-estar social 4,65 (5,69) 2,20 (4,05) 0,038
Qualidade de vida 17,61 (11,94) 11,75 (11,05) 0,045
(CPQ8-10)

¹Acadêmica do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: marilia_nnobrega@hotmail.com;
²Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: pati_bittencourt@hotmail.com.
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 318
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Estudos vêm sendo desenvolvidos com o intuito de determinar a frequência de lesões


na mucosa bucal em diferentes regiões geográficas. A impossibilidade de se alimentar e a
ocorrência de dor e desconforto são aspectos negativos que essas lesões são capazes de gerar.
Com isso a qualidade de vida é determinada por meio da importante percepção de diferentes
fatores que causam impacto na saúde bucal, fatores estes relacionados ao domínio físico,
social e psicológico (CARMINATTI et al., 2017).
Na Tabela I constatou-se que a prevalência de alterações bucais (n=26; 36,61%) no
presente estudo foi muito semelhante ao estudo de Oliveira et al.(2015), o qual mostrou
prevalência de 30.1%. Entretanto há uma grande variabilidade na literatura, de modo que
Casamayou et al. (2016) mostraram uma prevalência maior com 54%, enquanto Lima-Rivera
et al.(2016) reportaram uma prevalência inferior, correspondendo a 10%.
Como exposto na Tabela 1, dentre as lesões verificada, foi possível constatar que a
úlcera aftosa foi a mais prevalente (23,94%) e resultado semelhante foi observado em estudo
recente (CASAMAYOU et al., 2016). Pesquisas mostraram que as úlceras aftosas recorrentes
são uma das lesões que causam maior sensação dolorosa em crianças, devido à exposição do
tecido conjuntivo e à inflamação relacionada ao processo (SHULMAN, 2005; NEVILLE et
al., 2009) A segunda lesão mais prevalente no presente estudo foi a mucocele (5,63%),
contradizendo o estudo de Calvacante et al. (1999), o qual mostrou a lesão de mucocele como
sendo a mais prevalente (25,40%.). De acordo com o presente estudo, a língua saburrosa se
apresentou com a menor prevalência (1,40%), porém a comparação com outros estudos deve
ser cautelosa já que em alguns critérios de diagnóstico, a língua saburrosa não é considerada
uma patologia (BEZERRA et al., 2000).
Houve diferença significante na qualidade de vida quando os grupos foram
comparados, e isso leva a crer que de alguma maneira, a presença de lesões bucais influencia
na piora da QVRSB em crianças de 8 a 10 anos (Tabela II). Entende-se então, que a presença
de lesões em crianças interfere na sua qualidade de vida. Esses resultados corroboram com os
resultados de López-Jornet et al., (2009) os quais constataram que as doenças da mucosa oral
têm um impacto negativo na saúde e na qualidade de vida de crianças. Villanueva-Vilchis et
al. (2016) também mostraram em seu estudo que pacientes com lesões da mucosa oral
apresentam baixa qualidade de vida e que essas lesões influenciam a diretamente em suas
atividades cotidianas.
A tabela I mostra que as lesões aftosas foram as mais frequentemente encontradas. O
nível de desconforto provocado pela presença de úlceras na cavidade oral é variável, uma vez
que os pacientes possuem diferentes reações frente à ulceração oral. Em geral, as crianças
tendem a ter uma reação mais negativa frente às lesões aftosas. Esse fato explica a piora na
qualidade de vida para o item “Sintomas Orais” em pacientes com lesões bucais encontrada
na tabela II.
Em geral, a sintomatologia dolorosa pode ainda limitar o bem-estar social de crianças
com lesões. Nossos resultados mostram que esse fator foi estatisticamente diferente entre os
grupos avaliados. Corroborando com esses resultados, Llewellyn et al. (2003) descobriram
que pacientes com doença bucais apresentaram níveis mais altos de limitações funcionais, dor
física, desconforto psicológico e do desempenho das atividades diárias. Nesse sentido, pode-
se ter uma melhor compreensão de tais lesões para assim incentivar medidas que busquem
orientar melhor os responsáveis pelas crianças, assim como instituir o tratamento adequado
quando se fizer necessário.

Conclusão
Com base nos resultados dessa pesquisa é possível concluir que a presença de lesões
bucais interfere negativamente na qualidade de vida das crianças, mostrando também que sua
¹Acadêmica do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: marilia_nnobrega@hotmail.com;
²Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: pati_bittencourt@hotmail.com.
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 319
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

maior prevalência é de lesões benignas, sendo de fundamental importância o conhecimento do


cirurgião-dentista para que estejam preparados para diagnosticá-las e tratá-las.

Agradecimentos
Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pela
concessão da bolsa, à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e à colega Luana
Cristina Silva de Andrade pela contribuição para o desenvolvimento da pesquisa

Referências
BARBOSA TS, TUURELI MC, GAVIA MB. Validity and reliability of the Child
Perceptions Questionnaires applied in Brazilian children. BMC oral health.2009; 9:13.
BESSA CF, SANTOS PJ, AGUIAR MC, DO CARMO MA. Prevalence of oral mucosal
alterations in children from 0 to 12 years old. J Oral Pathol Med. 2004;33(1):17-22.
BEZERRA S, COSTA I. Oral conditions in childrens from birth to 5 years: the findings of a
children’s dental program. J Clin Pediatr Dent. 2000; 25:79-81.
CARMINATTI M et al. Impacto da cárie dentária, maloclusão e hábitos orais na qualidade de
vida relacionada à saúde oral em crianças pré-escolares. Audiol Commun Res.2017;22:1-8.
CASAMAYOU R et al. Lesiones de la mucosa bucal en una población infantil de
Montevideo, Uruguay.
CAVALCANTE ASR et al. Lesões bucais de tecido mole e ósseo em crianças e
adolescentes.1999. Vol 2, N(1).
FURLANETTO, Crighton 2006; Jahambani et al., 2012; Shulman 2005.
GHERUNPONG S, TSAKOS G, SHEIHAM A, Developing and evaluating an oral health-
related quality of life index for children; the CHILD-OIDP. Community dental health.2004.;
21:161-9.
HIPÓLTOI RA, Martins CR. Prevalence of oral mucosal alterations in Brazilian adolescents
held in two juvenile re-educations centers. Ciência & Saúde Coletiva. 2010.. v.15, p.3233-
3242.
KNIGHT J. Diagnosing Oral Mucosal Lesions. Phys. Assist. 27(3):34-9, 42-3, 2003.
LIMA R, LUCIANA M et al. Prevalência de lesões bucais em crianças de 6 a 12 anos.
Salusvita.2016, Bauru, v. 35, n. 3, p. 411- 422.
LLEWELLYN CD, WARNAKULASURIYA S. O impacto da doença estomatológica na
qualidade de vida relacionada à saúde bucal. Eur J Oral Sci. 2003; 111 (4): 297–304. doi:
10.1034 / j.1600-0722.2003.00057.
LÓPEZ JP , CAMACHO AM, LUCERO BM . Medindo o impacto da doença da mucosa oral
na qualidade de vida. Eur J Dermatol. Nov-Dez 2009; 19 (6): 603-6. doi: 10.1684 /
ejd.2009.0762.
NEVILLE BW et al. Oral and Maxillofacial Pathology 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
OLIVEIRA LJC et al. Oral mucosal lesions impact on oral health-related quality of life in
preschool children. Community Dent Oral Epidemiol 2015; 43: 578–585.
REISINE T. Theoretical considerations in formulating sociodental indicators. Social science
& medicine Part A, Medical sociology. 1981;15:745-50
SHULMAN JD. Prevalence of oral mucosal lesions in children and youths in the USA. Int J.
Paediatr Dent.2005;15(2):89-97.
SILVA PSL, LEÃO VML, SCARPEL, RD. Caracterização da população portadora de câncer
de boca e orofaringe atendida no setor de cabeça e pescoço em hospital de referência na
cidade de Salvador - BA. Rev CEFAC. 2009. 11(Supl 3):441-7.
TACK DA, ROGERS RS. Oral drug reactions. Dermatol Ther.; 15:236-50, 2002.

¹Acadêmica do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: marilia_nnobrega@hotmail.com;
²Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: pati_bittencourt@hotmail.com.
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 320
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

VILLANUEVA-VILCHIS MC, LÓPEZ-RÍOS P, GARCÍA IM, GAITÁN-CEPEDA LA.


Impact of oral mucosa lesions on the quality of life related to oral health. An etiopathogenic
study. Med Oral Patol Oral Cir Bucal. 2016 Mar 1;21 (2):e178-84.
WHO. Oral Health Survey. Basic Methods. Geneva: World Health Organization.; 1997.

¹Acadêmica do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: marilia_nnobrega@hotmail.com;
²Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: pati_bittencourt@hotmail.com.
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 321
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PREVALÊNCIA DE ANEMIA NA POPULAÇÃO IDOSA ENTRE OS


GÊNEROS NO MUNÍCIPIO DE MOSSORÓ-RN

Lara Candice Costa de Morais Leonez1; Micheline Morgane Figueiredo Costa Souza2;
Samillys Valeska Bezerra de França Silva2; José Rodolfo Lopes de Paiva Cavalcanti3; José Edvan
de Souza Júnior3

Palavras-chave: Envelhecimento. Anemia. Gênero. Qualidade de vida.

1 Estudante do curso de Medicina do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade


do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: laracandice@gmail.com.

2 Mestra em Saúde e Sociedade; Laboratório de Neurologia Experimental da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: souzamicheline99@gmail.com;
samillysvaleska@gmail.com.

3 Professor do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade do Estado do Rio


Grande do Norte. E-mail: joserodolfolopes@uol.com.br; profjedvan@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 322
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INTRODUÇÃO

Desde o final do século passado o Brasil tem experienciado transformações sociais


que influenciam diretamente o seu perfil populacional. A redução progressiva das taxas de
natalidade e mortalidade infantil, assim como a elevação da expectativa de vida ao nascer, por
exemplo, têm contribuído para a diminuição da parcela jovem da população (menores de 15
anos) e concomitante crescimento do grupo de idosos acima de 60 anos (MYRRHA et al.,
2014).
Conforme o último recenseamento elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE (2010), o Brasil possui mais de 20 milhões de habitantes na faixa etária
acima de 60 anos, o que corresponde a cerca de 10% da população total. Em adição, dados
apresentados por Myrrha e colaboradores (2014) preveem que o grupo populacional com
maior taxa de crescimento até 2030 será o de idosos entre 65 e 79 anos, o que corrobora com
as estimativas de transição demográfica.
Além dos aspectos socioeconômicos, essa transição epidemiológica gera
repercussões para a área da saúde, como a alteração dos padrões de adoecimento e causas de
morte. Isso ocorre devido às modificações biológicas que acompanham o envelhecimento e,
geralmente, resultam em déficit das funções fisiológicas, culminando com o surgimento de
comorbidades. Em geral, observa-se uma ascensão das condições crônicas do sistema
cardiovascular e neoplasias (AMARAL et al., 2015; ARAUJO, 2012).
A anemia é uma das doenças crônicas com prevalência significativa entre os idosos,
sobretudo no que diz respeito àqueles institucionalizados e hospitalizados. Seu
desenvolvimento é normalmente associado a menor qualidade de vida, assim como maior
risco de internação e morte. Pesquisas nessa área continuam escassas no Brasil e se fazem
necessárias para investigação da etiologia e implicações da doença na terceira idade
(MILAGRES et al., 2015; SILVA et al., 2016).
Este estudo teve como objetivo avaliar a diferença entre gêneros na prevalência de
anemia em idosos no município de Mossoró-RN por meio da análise do perfil bioquímico da
hemoglobina sérica. Além disso, buscou-se identificar correlação entre os achados
hematológicos e o perfil socioeconômico dos participantes.

METODOLOGIA

Tratou-se de um estudo descritivo, transversal, com abordagem quantitativa. Os


estudos descritivos são úteis para investigar a distribuição de uma variável dentro de uma
população, como uma doença. Já o estudo transversal implica na observação de tais padrões
acerca de um objeto em um período definido de tempo (HULLEY et al, 2015). A abordagem
quantitativa, por sua vez, considera tudo que pode ser quantificável, utilizando medidas
estatísticas para prever a mensuração de variáveis pré-estabelecidas (DYNIEWCZ, 2007).
O delineamento proposto para a pesquisa caracterizou-se como individual-
observacional-seccional (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 2008). Esta foi desenvolvida
em cinco Unidades de Saúde da Estratégia Saúde da Família (ESF) do município de Mossoró-
RN, dispostas em diferentes Núcleos de Atenção à Saúde da Família (NASFs), de modo a
abranger todas as zonas da cidade. Foram selecionadas aquelas que possuíam grupos de
idosos consolidados, a fim de otimizar a execução da metodologia.
A população do estudo foi composta pelos idosos cadastrados nas Unidades de Saúde
e a amostra foi calculada com base no total de habitantes do município com idade superior a
60 anos, totalizando 135 participantes. Estes foram divididos igualmente em cinco grupos,
correspondentes a cada Unidade de Saúde. Após aplicação dos critérios de inclusão e
exclusão, 45 idosos foram removidos da amostra, que resultou em 90 indivíduos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 323
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A coleta de dados foi realizada com auxílio de questionário previamente elaborado,


contendo perguntas acerca da identificação geral, aspectos socioeconômicos e culturais e
exames bioquímicos (solicitados anteriormente pelo médico da Unidade). Todas as entrevistas
foram feitas em sala reservada, após os devidos esclarecimentos sobre os objetivos do estudo
e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Pesquisa submetida e aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UERN sob CAAE nº 64387517.0.0000.5294.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do total de 135 idosos selecionados para integrar a amostra, 45 foram eliminados


pelos critérios de inclusão e exclusão, totalizando 90 participantes. Destes, 11 foram
diagnosticados com anemia, o que corresponde a uma prevalência de 12,2%. Foram adotados
os valores de referência de hemoglobina sérica normal como maior ou igual a 12g/dL em
mulheres e 13g/dL em homens (WHO, 2017).
De forma semelhante, uma pesquisa realizada com idosos atendidos pela ESF no
Acre encontrou prevalência de anemia autorreferida de 13,4% (AMARAL et al., 2015). Em
contraste com esses dados, um estudo produzido pela Organização Mundial da Saúde entre os
anos de 1993 e 2005 demonstrou uma prevalência global de anemia entre os idosos de 23,9%
(WHO, 2008), quase o dobro dos valores citados. De maneira geral, observa-se uma
diversidade de resultados na literatura brasileira (BUFFON et al., 2016; MUNÕZ et al.,
2016), o que reafirma a diversidade de fatores envolvidos no desenvolvimento da anemia.
Vale ressaltar ainda o resultado do trabalho produzido por Agrawal et al. (2011), na
Índia, que investigou anemia em idosos residentes na zona rural e encontrou uma prevalência
de cerca de 60%. Esses dados revelam o déficit na assistência à saúde dessa população, assim
como a urgência da realização de pesquisas em saúde nas áreas menos urbanizadas.
Dentre os 90 idosos entrevistados, 13 (14,45%) eram homens e 77 (85,55%),
mulheres. No grupo dos homens, 2 foram diagnosticados com anemia, o que representa uma
prevalência de 15,4% no sexo masculino. Já entre as mulheres, 9 tiveram diagnóstico
confirmado, o que traduz uma prevalência de 11,7% no sexo feminino. De semelhante modo,
um estudo realizado no Rio Grande do Sul com idosos assistidos pela ESF (BUFFON et al.,
2016), também com amostra predominantemente feminina, demonstrou maior prevalência em
homens (10,1%) que em mulheres (8,1%). Essa mesma realidade foi observada em idosos
atendidos a nível ambulatorial, que demonstraram prevalência de 55,7% em homens e 36,2%
em mulheres (COSTA; SOARES; OLIVEIRA, 2016).
No que diz respeito à renda dos entrevistados, foram encontrados os dados expostos
na Tabela 1. Percebe-se que os casos mais frequentes de anemia se concentram entre os
indivíduos que não possuem renda mensal e aqueles que recebem até dois salários mínimos,
perfazendo um total de 92,2% da amostra.

Tabela 1: Prevalência de anemia em uma amostra de idosos no município de


Mossoró-RN de acordo com a renda mensal.
Renda mensal Frequência de anemia Percentual Percentual cumulativo
Sem renda 13 14,4 14,4
< 01 salário 1 1,1 15,6
01-02 salários 69 76,7 92,2
02-03 salários 1 1,1 93,3
03-04 salários 3 3,3 96,7
> 04 salários 3 3,3 100,0
Total 90 100,0 100,0

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 324
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Buffon e colaboradores (2016) também detectaram maior ocorrência de anemia em


idosos com renda familiar de até 1 salário mínimo, o que pode indicar o impacto do perfil
socioeconômico no desenvolvimento da doença. Porém, de maneira geral, Dawalibi, Goulart
e Prearo (2014) afirmam que a renda não teve influência sobre a qualidade de vida de idosos
residentes em São Paulo. A renda média dos idosos neste último trabalho foi entre 1 e 3
salários mínimos, relativamente maior que a apresentada aqui, o que pode explicar a diferença
dos resultados. De todo modo, mais estudos são necessários para elucidar a importância dessa
variável.

CONCLUSÕES

Ante o exposto, é possível concluir que há diferença na prevalência de anemia entre


os gêneros em idosos residentes no município de Mossoró-RN, sendo superior no sexo
masculino. Ademais, a renda mensal, utilizada como indicador do perfil socioeconômico dos
participantes, apresenta-se como uma variável possivelmente associada ao surgimento de
doenças crônicas como a anemia, em uma relação inversamente proporcional. Tais achados
são de fundamental importância no direcionamento da assistência à população idosa, assim
como para estimular o desenvolvimento de novos estudos voltados à promoção da saúde
desse grupo populacional crescente.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPEG) da UERN


pelo incentivo ao desenvolvimento científico no âmbito da nossa Universidade, ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelos investimentos
destinados a este fim, e a todos os participantes que se dispuseram a contribuir para a
realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS

AGRAWAL, S. et al. Geriatric health: need to make it an essential element of primary health
care. Indian Journal of Public Health, v. 55, n. 1, p. 25-29, 2011.

ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia e Saúde. 10 ed. Rio de


Janeiro: MEDSI, 2008.

AMARAL, T. L. M. et al. Qualidade de vida e morbidades associadas em idosos cadastrados


na Estratégia de Saúde da Família do município Senador Guiomard, Acre. Rev. Bras.
Geriatr. Gerontol., v. 18, n. 4, p. 797-808, 2015.

ARAUJO, J. D. Polarização epidemiológica no Brasil. Epidemiol. Serv. Saúde, v. 21, n. 4, p.


533-538, 2012.

BUFFON, P. L. D. et al. Prevalência e caracterização da anemia em idosos atendidos pela


Estratégia Saúde da Família. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., v. 18, n. 2, p. 373-384, 2015.

CENSO, I.B.G.E. Disponível em: < http://www.censo2010.ibge.gov.br/> Acesso em: 23 jun


2020, v. 23, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 325
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

COSTA, E. D.; SOARES, M. C.; OLIVEIRA, C. C. Prevalência e caracterização da anemia


em idosos atendidos em um centro médico no interior de Sergipe. Nutr. clín. diet. hosp., v.
36, n. 4, p. 65-72, 2016.

DAWALIBI, N. W.; GOULART, R. M. M.; PREARO, L. C. Fatores relacionados à


qualidade de vida de idosos em programas para a terceira idade. Ciência & Saúde Coletiva,
v. 19, n. 8, p. 3505-3512, 2014.

DYNIEWICZ, A. M. Análise do grau de dependência e predisposição à úlcera de pressão em


pacientes de hospital universitário. Cogitare Enfermagem, v. 12, n. 1, 2007.

HULLEY, S. B. et al. Delineando a pesquisa clínica. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

MILAGRES, G. S. Q. et al. Prevalência e etiologia da anemia em idosos: uma revisão


integral. Medicina (Ribeirão Preto), v. 48, n. 1, p. 99-107, 2015.

MYRRHA, L. J. D. et al. O uso das taxas de crescimento por idade para identificação das
principais etapas da transição demográfica no Brasil. R. Bras. Est. Pop., v. 31, n.2, p. 259-
275, 2014.

MUNÕZ, R. L. S. et al. Prevalência de anemia em idosos internados em enfermarias gerais de


um hospital universitário. RBCEH, Passo Fundo, v. 13, n. 1, p. 25-34, 2016.

SILVA, E. C. et al. Factors associated with anemia in the institutionalized elderly. PloS one,
v. 11, n. 9, p. e0162240, 2016.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Worldwide prevalence of anaemia 1993–2005:


WHO global database on anaemia. Geneva: World Health Organization, 2008.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Nutritional anaemias: tools for effective prevention


and control. Geneva: World Health Organization, 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 326
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PREVALÊNCIA DOS DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM ESTILO


DE VIDA SEDENTÁRIO E OBESIDADE EM PACIENTES ADULTOS
COM AFECÇÕES CARDIOVASCULARES HOSPITALIZADOS
Maria Luiza de Araújo Guedes1; Rayonara Medeiros de Azevedo2; Nívia Samara Dantas de
Medeiros3; Maria Isabel da Conceição Dias Fernandes4
1
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Bolsista PIBIC-CNPQ; e-mail: malu.luizaag@gmail.com
2
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Bolsista PIBIC voluntária; e-mail:
rayonaramedeiros@alu.uern.br
3
Estudante do curso de enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; Bolsista PIBIC voluntária; e-mail: niviadantasm@gmail.com
4
Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; Vice-líder do Grupo de Pesquisa em Enfermagem Campus Caicó (GRUPECC); e-mail:
isabelfernandes@uern.br
Palavras-chave: Diagnóstico de enfermagem. Comportamento sedentário. Obesidade.
Doenças cardiovasculares.

Introdução
Nos últimos 15 anos as doenças cardiovasculares (DCV) foram consideradas a principal
causa de mortes em todo o mundo, tornando-se um dos maiores problemas de saúde pública. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que até o ano de 2030 quase 23,6 milhões de
pessoas morrerão de DCV (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2015).
No Brasil, as doenças cardiovasculares são responsáveis por 51,6% dos óbitos. De
acordo com o cardiômetro, no ano de 2020, mais de 216 mil pessoas morreram em consequência
das afecções cardiovasculares. Em estimativa realizada pela SBC, ao final desse ano, quase 400
mil cidadãos brasileiros poderão morrer por essas doenças (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CARDIOLOGIA, 2020).
A ocorrência de DCV pode ser atribuída a um conjunto de fatores de risco modificáveis,
como tabagismo, etilismo, hipertensão arterial, obesidade e sedentarismo (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2015).
O sedentarismo é avaliado como um dos principais fatores responsáveis por DVC,
comprometendo entre 50 a 80% da população do mundo (REZENDE et al., 2014). No Brasil,
47% dos adultos não praticam atividades físicas suficientemente, sendo classificado como um
dos países mais sedentários do mundo (GUTHOLD et al., 2018). A obesidade também foi
considerada como um dos principais fatores responsáveis pelo aumento da incidência de DCV.
Hoje o perfil da população mundial apresenta número significativo de indivíduos obesos e com
sobrepeso (BRASIL, 2019).
Diante disso, o objetivo da pesquisa foi identificar a prevalência dos diagnósticos de
enfermagem estilo de vida sedentário e obesidade, seus indicadores clínicos e fatores
relacionados em pacientes adultos com afecções cardiovasculares hospitalizados.

Metodologia
Trata-se de um estudo transversal, com abordagem quantitativa, realizado no Hospital
Regional Telecila Freitas Fontes, localizado na cidade de Caicó/RN.A população foi composta
por pacientes com afecções cardiovasculares e que estavam hospitalizados no hospital acima
referido, sendo coletado uma amostra de 36 pacientes.Os critérios de inclusão para os
participantes do estudo foram: apresentar diagnóstico de doença cardiovascular confirmado e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 327
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ter idade superior a 18 anos. Foram excluídos aqueles pacientes sem condições físicas e
psíquicas para participar da coleta.
A coleta de dados foi realizada com um instrumento composto por duas partes. A parte
I – Dados sociodemográficos e clínicos. E a parte II foi composta pelos indicadores
clínicos/fatores relacionados dos diagnósticos de enfermagem obesidade e estilo de vida
sedentário.
Os dados coletados foram organizados em planilhas separados do Microsoft Excel e
analisados com o auxílio do IBM SPSS Statistic versão 19.0 for Windows. As frequências
relativas e absolutas dos diagnósticos e seus componentes foram avaliadas. A pesquisa foi
aprovada com parecer favorável sob o número 3.234.418 e CAAE: 09005819.9.0000.5294, em
obediência à Resolução 466/2012.

Resultados e Discussão
Esta pesquisa demonstrará as frequências dos diagnósticos de enfermagem obesidade,
estilo de vida sedentário e seus componentes em pacientes com problemas cardiovasculares.
Na Tabela 1 é exposto o diagnóstico de obesidade.
Tabela 1 –Prevalência do diagnóstico obesidade e seus componentes em pacientes com
doenças cardiovasculares. 2020.
Variáveis N %
Diagnóstico de enfermagem
Obesidade 16 44,4
Característica definidora
Índice de massa corporal 16 44,4
Fatores relacionados
Distúrbio do sono 29 80,6
Consumo de bebidas açucaradas 26 72,2
Comportamento sedentário que ocorre por ≥ 2 25 69,4
horas/dia
Média de atividade física diária inferior à 24 66,7
recomendada para idade e sexo
Percepções alimentares desorganizadas 21 58,3
Frequencia alta a restaurantes e de consumo de 16 44,4
frituras
Medo relativo à falta de suprimento de alimentos 15 41,7
Comportamento alimentar desorganizado 12 33,3
Hábito de beliscar alimentos com freqüência 12 33,3
Tempo de sono reduzido 10 27,8
Consumo excessivo de álcool 05 13,9
Alimentos sólidos como principal fonte alimentar 05 13,9
antes dos 5 meses de idade
A obesidade esteve presente em 44,4% da amostra pesquisada e foi constada pela
presença do índice de massa corporal acima de 30 Kg>m2. Os fatores desencadeadores
principais para esse achado foram: distúrbio do sono, consumo de bebidas açucaradas,
comportamento sedentário que ocorre por ≥ 2 horas/dia, média de atividade física diária inferior
à recomendada para idade e sexo e percepções alimentares desorganizadas.
A obesidade é considerada uma doença resultante do acúmulo de gordura no organismo
(BRASIL, 2019). Alguns pacientes deste estudo desenvolveram alterações que são resultantes
do diagnóstico obesidade. Dentre esses, o distúrbio do sono. Esse tipo de distúrbio é atribuído
ao aumento da massa corporal, o qual é responsável pelo comprometimento da função
respiratória durante o ciclo do sono (KOPELMAN, 2000).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 328
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Em relação ao consumo de bebidas açucaradas verifica-se que a ingestão de hidratos de


carbono líquido causa menos saciedade em comparação à hidratos de carbono sólido, o que leva
ao aumento do total da energia consumida (PAN, 2011).
Relacionado ao comportamento sedentário, esse resultado é semelhante à pesquisa
realizada no Brasil onde houve comparação entre adultos que passam aproximadamente 180
min/dia sentados (ROCHA et al., 2019). O sedentarismo não se aplica apenas ao indivíduo que
não pratica exercícios regulares, mas as atividades que não aumentam consideravelmente o
gasto energético (RAVAGNANI et al., 2013).
Percepções alimentares desorganizadas também apresentou alta prevalência. O ideal
para o indivíduo se alimentar seria de até cinco vezes por dia com alimentos integrais,
legumes/vegetais, proteínas, produtos lácteos, oleaginosas, azeite de oliva e frutas (BRASIL,
2014).
Na Tabela 2 será apresentada a prevalência do estilo de vida sedentário nos pacientes
com problemas cardiovasculares.
Tabela 2 – Prevalência do diagnóstico estilo de vida sedentário e seus componentes em
pacientes com doenças cardiovasculares.
Variáveis N %
Diagnóstico de enfermagem
Estilo de vida sedentário 29 80,6
Características definidoras
Falta de condicionamento físico 33 91,7
Média de atividade física diária inferior à 30 80,3
recomendada para idade e sexo
Preferência por atividade com pouca 18 50
atividade física
Fatores relacionados
Treinamento insuficiente para fazer 14 38,9
exercício físico
Interesse insuficiente para a atividade 13 36,1
física
Recursos insuficientes para a atividade 11 30,6
física
Motivação insuficiente para a atividade 10 27,8
física
Conhecimento insuficiente sobre os 08 22,2
benefícios à saúde associados ao exercício
físico
O estilo de vida sedentário esteve presente na maioria da amostra pesquisada. Essa
problemática foi constatada pela falta de condicionamento físico, média de atividade física
diária inferior à recomendada para idade e sexo e preferência por atividade com pouca
atividade.
A alta prevalência do estilo de vida sedentário é considerada um resultado significante
já que representa um percentual superior aos achados da literatura (MARTINS et al., 2015). A
falta de condicionamento físico foi a principal característica. Mediante a ausência do
condicionamento físico, o indivíduo diminui o funcionamento musculoesquelético e metabólico
resultando na perda da força muscular, resistência cardiovascular e flexibilidade, tornando-o
incapaz de praticar o exercício físico (MELLO et al., 2005).
Quanto ao treinamento insuficiente para fazer exercício físico, sabe-se que muitos
indivíduos deixam de praticar exercícios por falta de habilidade ou capacidade para o uso de
materiais e/ou equipamentos (GUEDES, 2008).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 329
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusão
Quase metade dos entrevistados apresentaram obesidade. Os fatores mais frequentes
nesses indivíduos foram: distúrbio do sono, consumo de bebidas açucaradas, comportamento
sedentário que ocorre por ≥ 2 horas/dia, média de atividade física diária inferior à recomendada
para idade e sexo e percepções alimentares desorganizadas. A maior parte apresentou
diagnóstico estilo de vida sedentário, com prevalência das características definidoras falta de
condicionamento físico, média de atividade física diária inferior à recomendada para idade e
sexo e preferência por atividade com pouca atividade física.
O presente estudo apresentou como limitação a paralisação da coleta de dados em
virtude da pandemia do Covid-19. Durante o processo de coleta foi anunciado um decreto que
suspendeu as atividades acadêmicas, dessa forma, a pesquisa foi interrompida.

Agradecimentos
Ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico) pela
oportunidade de ser bolsista de Iniciação Científica. Aos profissionais do Hospital Regional do
Seridó Telecila Freitas Fontes e aos participantes da pesquisa que se prontificaram em colaborar
com o estudo.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde, 2019. Disponível em:
<https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45612-brasileiros-atingem-maior-indice-
de-obesidade-nos-ultimos-treze-anos. Acesso em: 20 jul. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de Atenção Básica.
Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
Saúde, Departamento de Atenção Básica. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
GUEDES, N. G. Acurácia das características definidoras do diagnóstico de enfermagem "estilo
de vida sedentário" em portadores de hipertensão arterial. 2008. 94 f. Dissertação (Mestrado
em Enfermagem) - Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem. Universidade Federal
do Ceará, Fortaleza, 2008.
GUTHOLD, R; STEVENS, G.A;RILEY, L. M; BULL, F.C. Tendências mundiais de atividade
física insuficiente de 2001 a 2016: uma análise conjunta de 358 pesquisas de base populacional
com 1,9 milhão de participantes, v. 6, n. 10, p.1077-1086, 2018.
KOPELMAN, P. G. Obesity as a medical problem. Nature, v. 404, n. 6778, p. 635- 643, 2000.
MELLO, M.T. et al. O exercício físico e os aspectos psicobiológicos. Rev. bras. med. esporte ;
v.11, n.3,p. 203-207, 2005.
PAN, A; HU, F. B. Effects of carbohydrates on satiety: differences between liquid and solid
food. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. v.14, n.4, p.385-390, 2011.
RAVAGNANI, C. F. C., et al. Estimativa do equivalente metabólico (MET) de um protocolo
de exercícios físicos baseada na calorimetria indireta. Revista Brasileira de Medicina e Esporte,
v. 19, n. 2, p. 134-138, mar/abr, 2013.
REZENDE, L. F. M. et al. Sedentary behavior and health outcomes: an overview of systematic
reviews. PLoS One, v. 9, n. 8, p.1-7, 2014.
ROCHA, B. M. C. et al. Comportamento sedentário na cidade de São Paulo: ISA-Capital
2015. Rev. bras. epidemiol. São Paulo, v. 22, Ed. 190050, 2019.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Cardiômetro: Mortes por doenças
cardiovasculares no Brasil. Disponível em: http://www.cardiometro.com.br/sobre-o-
cardiometro.asp. Acesso em: 14 julho de 2020.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. (WHO). Global action plan for the prevention and
control of noncommunicable diseases 2013-2020. Geneva (Switzerland); 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 330
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PROTOCOLO DE DESENVOLVIMENTO DO BIOBANCO DE DENTES


HUMANOS

Lucas Dantas Pereira1; Gustavo Barbalho Guedes Emiliano2


Palavras-Chave: Dentes; Biobanco; Odontologia

Introdução
A organização e manutenção de um biobanco de dentes é necessária, a fim de que os
dentes sejam armazenados e mantidos até a época de sua utilização. Pode-se dizer que o cenário
atual dos biobancos de dentes tem dado um enfoque maior para as pesquisas e o treinamento
laboratorial préclínico. As faculdades de Odontologia devem organizar seus próprios biobancos
de dentes, objetivando fornecer material biológico adequado para os graduandos e
pesquisadores. Os dentes humanos são considerados material biológico segundo a resolução
CNS Nº 441, de 12 de maio de 2011, a qual versa sobre o regimento para armazenamento e
utilização de material biológico humano com finalidade de pesquisa. O primeiro banco de
dentes humanos criado no Brasil foi na Faculdade de Odontologia da Universidade de São
Paulo, em 1996. (VINHOLES; FERNANDES; RITZEL, 2011; REZENDE, 2011). No
Biobanco de dentes, métodos adequados de esterilização, desinfecção e estocagem são
utilizados, considerando, inclusive, a manutenção possível das propriedades fisiológicas dos
tecidos dentários. Assim, a biossegurança é imprescindível para no funcionamento do banco de
dentes (Rezende, 2011). O Biobanco de dentes no ensino pré-clínico, proporciona o uso
biosseguro do elemento dental e no desenvolvimento de pesquisas científicas, oferece a
distribuição regulamentada de dentes, facilitando a aprovação de projetos nos Comitês de Ética
em Pesquisa (NOBRE et al., 2011). Segundo Ferreira et al. (2003), estudos in vitro têm grande
contribuição para o ensino das diferentes áreas da Odontologia, pois é possível avaliar técnicas,
testar materiais e desenvolver novos métodos e produtos, visando ao aprimoramento da
qualidade dos serviços odontológicos e biomédicos prestados à população. As atividades de
extensão, considerando-as como as atividades desenvolvidas em conjunto com a comunidade
na construção da cidadania, requerem dentes humanos, tanto no processo de atenção à saúde
(fins clínico-terapêuticos) quanto na educação em saúde bucal. Assim, a estruturação do
Biobanco de Dentes Humanos se impõe como necessário, levando em consideração a
implementação em outras instituições tais como, a Faculdade Integrada de Patos- PB,
Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal da
Paraíba, Universidade Federal de Feira de Santana, dentre outras. As atividades desenvolvidas
no curso de Odontologia inserem-se em três planos integrados: o ensino, a pesquisa e a
extensão. Em cada um deles, há a necessidade de utilização dos dentes humanos, desde
disciplinas da formação básica até as disciplinas de formação profissional. Desta forma, este
protocolo de desenvolvimento tem por objetivo estabelecer a partir de uma revisão da literatura

1
Estudante do Curso de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail
lucascaico22@gmail.com
2
Professor do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte participante
do Grupo de Estudos Interdisciplinares em Ciências Odontológicas; e-mail: legclinica@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 331
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

as condições necessárias a implantação de um Biobanco de Dentes Humanos, para atender as


necessidades acadêmica e científica do curso de Odontologia da UERN.

Metodologia
Foi realizada uma revisão da literatura acerca da legislação pertinente a instalação e
funcionamento de biobancos de dentes, bem como revisão da literatura das experiências no país
da consolidação e rotinas de um biobanco de dentes. Foram desenvolvidos a partir de
adaptações os modelos de cartas de solicitação de dentes humanos, de livro de registro de
doadores e armazenamento de dados, rotina de Coleta dos dentes, condições armazenamento
dos dentes, preparo dos dentes para empréstimo.

Resultados e Discussão
A organização e manutenção de um biobanco de dentes é necessária, a fim de que os
dentes sejam armazenados e mantidos até a época de sua utilização. Pode-se dizer que o cenário
atual dos biobancos de dentes tem dado um enfoque maior para as pesquisas e o treinamento
laboratorial pré-clínico. Os documentos cartas de solicitação de dentes humanos, de livro de
registro de doadores e armazenamento de dados, rotina de Coleta dos dentes, condições
armazenamento dos dentes, preparo dos dentes para empréstimo foram selecionados das
instituições brasileiras que tem biobancos de dentes humanos, entre elas FOUSP, e adaptados
à realidade institucional. Esses resultados possibilitam o começo da coleta de dentes a partir de
contatos com estabelecimentos de saúde a fim de que se possa efetivamente começar a doação
de dentes.

Conclusões
A formação do biobanco de dentes humanos da UERN a partir da doação de uma
coleção particular dará suporte as disciplinas pré-clínicas e clínicas, tais como dentística,
endodontia e periodontia para o pleno desenvolvimento de suas atividades, atendendo a toda
legislação e código de ética pertinente.

Referências
REZENDE, Lázara Regina. Banco de dentes humanos: contribuição para o ensino e pesquisa
odontológica. Disponível em: www.bioeticapr.org.br/upload/
biblioteca/banco_de_dentes_humanos.doc. Acessado em: 29 de março de 2019.
NOBRE, Livia. COSTA, Simone de Melo; LIMA, Eduardo Brandão; MAMELUQUE, Soraya;
MELO, Ana Elizabeth Martins Antunes; PIRES, Cássia Pérola dos Anjos Braga; SANTOS,
Alan Júlio Duarte. Banco de Dentes Humanos: articulação da extensão com o ensino e a
pesquisa no curso de Odontologia da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES.
5º FEPEG. 21 a 24 de setembro de 2011. Montes Claros. 2011. Disponível em:
http://www.fepeg.unimontes.br/index.php/eventos/forum2011/paper/viewFile/2516/ 1737.
Acesso em: 15 de março de 2019
VINHOLES, Julia Itzel Acosta Moreno; FERNANDES, Daniela Casarin; RITZEL, Irene
Fanny. Banco de dentes humanos no curso de Odontologia da ULBRA – Campus
Torres.Conversas Interdisciplinares. V.1, 2011. 11p. Disponível
em:http://revista.ulbratorres.com.br/site/images/anoI/artigo03.pdf. Acesso em: 27 de março de
2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 332
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

QUEILITE ACTÍNICA E SUA ASSOCIAÇÃO COM FATORES


OCUPACIONAIS, HÁBITOS DE VIDA E SAÚDE DE
TRABALHADORES RURAIS DE CAICÓ-RN

Maria Helaynne Diniz Faria1; Jamile Marinho Bezerra de Oliveira Moura2

PALAVRAS-CHAVE: Exposição Solar. Agricultores. Lesão Labial.

INTRODUÇÃO
Dentre as patologias relevantes da cavidade oral estão inseridas as lesões cancerizáveis
que apresentam potencial de transformação maligna, destacando-se a queilite actínica (QA) que
é definida como uma condição degenerativa do epitélio de revestimento que afeta o lábio. Os
fatores de risco que influenciam no seu desenvolvimento são a frequência de exposição aos
raios solares sem a devida proteção, a intensidade dos raios solares e o grau de pigmentação
cutânea (LUCENA et al., 2012).
O potencial de transformação maligna da lesão pode ser aumentado quando associado a
outros fatores carcinogênicos, como o álcool e principalmente o fumo. A queilite actínica pode
evoluir para o carcinoma de lábio e estima-se que 95% dos casos de câncer de lábio inferior
originam-se dessa patologia. Tal lesão é mais frequentemente encontrada em indivíduos do sexo
masculino, com idade superior aos 40 anos, e de pele clara que se expõem assiduamente ao sol,
como os agricultores rurais (SILVA et al., 2006; SILVA et al., 2020).
Clinicamente, apresenta-se de duas formas: aguda e crônica. A forma aguda é menos
comum, caracterizada por eritema brandos, fissuras, ulcerações e crostas, e ocorre quando há
exposição excessiva ao sol, em um curto espaço de tempo. A forma crônica ocorre quando há
exposição prolongada e cumulativa aos raios ultravioleta, com alterações epiteliais irreversíveis
(CINTRA et al., 2013). O presente estudo objetivou identificar em trabalhadores rurais do
município de Caicó-RN a prevalência de queilite actínica e sua associação com fatores
ocupacionais e hábitos de vida, tais como; tabagismo, etilismo e medidas de fotoproteção, bem
como avaliar o nível de conhecimento dessa população sobre a lesão.

METODOLOGIA
Foi realizado um estudo do tipo transversal, descritivo e analítico com uma abordagem
quantitativa. A amostra do estudo foi constituída por 300 agricultores rurais que aceitaram
participar da pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e
que estavam sindicalizados no município de Caicó-RN. A coleta dos dados se deu através da
aplicação de um questionário individual, estruturado com questões abertas e fechadas,
construído a partir de um questionário adaptado ao validado por Lucena et al., (2012) e exame
clínico da mucosa labial conforme a classificação clínica de Silva et al., (2006) e Cintra et al.,
(2013). Previamente à coleta dos dados foi realizado uma calibração entre os examinadores da
pesquisa.

1 Discente do curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade


do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: dinizlaynne@gmail.com
2 Docente Adjunto IV do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: jamilemarinho@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 333
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os dados foram analisados por estatística descritiva e inferencial. As variáveis


quantitativas como idade, anos de agricultura, tempo de exposição ao sol, quantidade de
cigarros e de bebida foram teoricamente categorizadas a partir do maior risco de prevalência de
queilite actínica, enquanto as variáveis relacionadas ao tempo foram categorizadas pela
mediana, de acordo com a obtenção do menor valor p do método de categorização. Em seguida,
para identificar a associação entre queilite actínica e variáveis categóricas, foi realizado o teste
do qui-quadrado ou o teste exato de Fisher. Para investigar os fatores associados a queilite
actínica, foi realizada análise de regressão logística múltipla. Para isso, foi utilizado o método
Stepwise Forward Selection Procedure.
A modelagem foi iniciada pelas variáveis mais significativas do método Qui-quadrado
e, em seguida, as demais variáveis foram adicionadas uma a uma, aceitando um valor crítico de
p <0,20 para compor o modelo. A permanência da variável na análise múltipla ocorreu por meio
do teste da razão de verossimilhança, ausência de multicolinearidade, bem como sua capacidade
de melhorar o modelo através do teste de Hosmer e Lemeshow. Os dados foram analisados no
programa Statistical Package for the Social Science (SPSS) 25.0 e em todas as análises o nível
de significância foi considerado igual a 5%. A pesquisa em questão foi aprovada pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) sob CAAE
03410918.7.0000.5294, parecer 3.101.702, emitido em 23 de dezembro de 2018.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados foram coletados entre o período de dezembro de 2019 e março de 2020. A


amostra foi constituída por 300 participantes, entre os quais a maioria pertencia ao sexo
masculino (63%), com uma média de idade de 54 anos e média de renda mensal de até um
salário mínimo. Entre os trabalhadores sindicalizados, 61% (n=184) possuíam ensino
fundamental incompleto, já 20% (n=62) afirmaram não possuir nenhum grau de escolaridade.
No que se refere a jornada de trabalho, 83% (n=250) relataram trabalhar durante os dois
turnos (manhã e tarde) por 07 dias da semana. No entanto, não foi encontrado diferença
estatisticamente significativa (p=0,153) nesse resultado para a prevalência de QA. Porém, pode-
se perceber diferença estatisticamente significativa (p=0,050) para indivíduos com exposição
solar diária >9h. Quanto ao uso de algum tipo de fotoproteção, 91% (n=275) afirmaram utilizar
fotoprotetores. Dentre esses, 18% (n=55) afirmaram usar protetor solar e 65% (n=197) utilizam
o chapéu para trabalhar. Tais achados são semelhantes aos encontrados por Silva et al. (2006)
em um estudo realizado com pescadores em Santa Catarina.
A análise dos dados permitiu observar que a prevalência da lesão foi de 12% (n=36) nos
trabalhadores rurais do município de Caicó-RN. Segundo os parâmetros clínicos utilizados na
pesquisa, 10% (n=30) dos casos tratavam-se de queilite actínica do tipo crônica e apenas 2%
(n=6) do tipo aguda. 100% dos casos foram identificados na região de lábio inferior, dados
semelhantes com os relatados por Santos et al. (2018).
Com relação à faixa etária, notou-se um maior acometimento entre 52 e 84 anos de
idade. Além disso, destaca-se que a QA crônica foi mais frequente no sexo masculino 16%
(n=31), entretanto, a QA aguda foi comumente observada no sexo feminino. Esse dado pode
ser justificado pelo fato do público masculino desempenhar uma jornada de trabalho mais longa,
com maior tempo de exposição à radiação solar, quando comparado às mulheres. Esses
resultados coincidem com achados prévios descritos na literatura (Silva et al., 2006; Lucena et
al., 2012; Cintra et al., 2013).
Segundo Santos et al. (2018) os indivíduos mais afetados pela queilite actínica são do
sexo masculino, acima dos 40 anos e com baixo grau de pigmentação cutânea. No tocante aos
fatores associados, Silva et al. (2020) apontam que o consumo de álcool e tabaco a longo prazo
associado à ação carcinogênica da radiação ultravioleta (UV) aumenta muito o risco de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 334
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

desenvolver essa condição patológica. No entanto, neste estudo, não foi observado diferença
estatisticamente significativa (p= 0,823) na prevalência de QA em trabalhadores que possuíam
algum hábito como tabagismo e/ou etilismo, dados condizentes com o estudo de Santos et al.
(2018), contudo, discordando dos resultados das pesquisas de Silva et al. (2006) e Ferreira et
al. (2016). Entretanto, no presente estudo foi identificada associação estatisticamente
significativa entre a prevalência de QA e outros fatores, tais como: cor da pele, sexo, anos de
trabalho na agricultura e escolaridade, conforme ilustrado na Tabela 1.

Tabela 1. Análise múltipla da prevalência de Queilite Actínica (QA) associada a variáveis


sociodemográficas e ocupacionais em trabalhadores rurais, Caicó-RN, Brasil, 2020.
Variáveis Referência Previsora RP RPaj ICaj Maior Valor
Menor de
p**
Pele Pele Branca Pele Morena 0,30 0,32 0,16 0,63 0,001
Sexo Feminino Masculino 3,64 3,99 1,61 9,91 0,003
Anos de 14 a 39 40 a 47 anos* 1,92 2,04 1,06 3,92 0,032
Agricultura
Escolaridade Analfabeto Ensino 1,97 2,45 1,14 5,28 0,022
Fundamental*

*Variáveis
Dummy
**Hosmer and
Lemeshow = 0,789

Os resultados acima estão em consonância com os estudos de Lucena et al (2012),


Ferreira et al. (2016) e Santos et al. (2018). A associação com a cor da pele pode ser justificada
devido a melanina ser um fator de proteção natural contra os raios UV, pois indivíduos de pele
clara são mais sensíveis aos efeitos nocivos da radiação solar. Notadamente, o público feminino
desta pesquisa desempenha atividades agrícolas e também doméstica, já os homens devido à
resistência e vigor físico em executar atividades na agricultura, desempenham uma maior
jornada de trabalho em relação as mulheres, levando-os a uma maior exposição solar e,
consequentemente, sofrem ao longo dos anos, maior efeito acumulativo da radiação UV.
Os estudos mencionados anteriormente destacaram a presença de QA em indivíduos
com mais de 45 anos de agricultura (exposição ao sol acumulada). No trabalho de Santos et al.
(2018), os autores mencionaram que 14 anos foi o tempo suficiente para que o efeito cumulativo
da radiação solar sem a devida proteção provocasse o surgimento da lesão de QA, diferindo
com os resultados encontrados nessa pesquisa.
O conhecimento sobre essa lesão potencialmente maligna torna-se importante para o
diagnóstico precoce. Assim, também foi analisado o grau de conhecimento dos trabalhadores
rurais a respeito QA, dentre estes, apenas 4,3% da amostra (n=13) afirmaram ter conhecimento
sobre a lesão, em específico sobre a sua etiologia. Tais resultados foram semelhantes aos
encontrados por Santos et al. (2018) entre os trabalhadores da mineração no estado do Paraíba,
os quais disseram não ter conhecimento da relação entre a lesão e a exposição ao sol, não sendo
observado dados significativos (p=0,872) na prevalência de QA.
Lucena et al. (2012) verificaram que o diagnóstico de QA em trabalhadores expostos ao
sol tinham relação direta com indivíduos de baixo nível de escolaridade, educação e renda
mensal quando comparado com aqueles sem a lesão, mostrando que tais aspectos podem afetar
na incidência da QA.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 335
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONCLUSÃO
Observou-se que a prevalência de queilite actínica foi relativamente baixa nos
trabalhadores rurais do município de Caicó-RN, além dos mesmos possuírem pouco
conhecimento sobre a lesão. Diante disso, os resultados obtidos com essa pesquisa justificam a
necessidade da conscientização para o uso de medidas de fotoproteção, assim como torna
evidente a implementação de estratégias que busquem a prevenção e detecção precoce de lesões
potencialmente malignas nessa população, a fim de reduzir os índices de morbidade e
mortalidade. O acompanhamento clínico dos pacientes acometidos é imprescindível para evitar
o desenvolvimento de um câncer de lábio.

AGRADECIMENTOS
Ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Caicó
pela receptividade e a todos os trabalhadores (as) pela contribuição com a ciência. Expresso
também minha gratidão a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pela oportunidade
de estar inserida no campo da pesquisa.

REFERÊNCIAS

CINTRA J.S. et al. Queilite Actínica: Estudo epidemiológico entre trabalhadores rurais do
município de Piracaia – SP. Rev assoc paul cir dent, v.67(2), p.118-221, 2013.

FERREIRA A.M. et al. Prevalence and factors associated with oral potentially malignant
disorders in Brazil’s rural workers. Rev Oral Diseases, p.1-7, 2016.

LUCENA E.E.S.; COSTA D.C.B.; SILVEIRA E.J.D.; LIMA K.C. Prevalence and factors
associated to actinic cheilitis in beach workers. Oral Diseases v.18, p. 575– 579, 2012.

SILVA F.D., et al. ESTUDO DA PREVALÊNCIA DE ALTERAÇÕES LABIAIS EM


PESCADORES DA ILHA DE SANTA CATARINA. Revista Odonto Ciência. Fac.
Odonto/PUCRS, v. 21, n. 51, p.37-42, 2006.

SILVA, L.V.D., DE ARRUDA, J.A.A., ABREU, L.G. et al. Demographic and


Clinicopathologic Features of Actinic Cheilitis and Lip Squamous Cell Carcinoma: a Brazilian
Multicentre Study. Head and Neck Pathol, 2020. https://doi.org/10.1007/s12105-020-01142-
2.

SANTOS R.F. et al. Prevalence of and Factors Associated with Actinic Cheilitis in Extractive
Mining Workers. Brazilian Dental Journal .29(2): 214-221, 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 336
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RELAÇÃO ENTRE TRANSTORNOS MENTAIS, CONDIÇÃO


SOCIOECONÔMICA E PERFIL DE SAÚDE BUCAL DE ADULTOS
E IDOSOS DO CAPS III
Matheus da Silva Regis¹, Isabela Pinheiro Cavalcanti Lima²

¹Estudante do Curso de Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade


do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: matheussregis@gmail.com
²Professora do Departamento de Odontologia da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte; e-mail: belapcl@yahoo.com.br

Palavras chaves: “Transtornos mentais”. “Idoso”. “Adulto”. “Saúde bucal”.


Introdução
Transtornos mentais (TM) são um vasto grupo de patologias psicossociais
capazes de impactar negativamente a saúde física, qualidade de vida e desempenho
pessoal do indivíduo nas esferas familiar, profissional, escolar e social (AMARAL,
2011). Dentre os fatores de risco para o surgimento de transtornos mentais destacam-se
ambiente, sexo, idade, estado de saúde geral e condições socioeconômicas (HAAS et al,
2009).
O CAPS tem como função prestar atendimento clínico em regime de atenção
diária evitando assim a internação em hospitais psiquiátricos. Além disso, promove a
inserção dos pacientes em ações intersociais, regula a rede de assistência em saúde
mental e dá suporte à rede básica. (MINISTÉRIO DA SAÚDE). A portaria Nº 3.088, de
dezembro de 2011 ressalta a garantia de acesso e qualidade dos serviços, ofertando
cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar. Incluindo,
portanto, a assistência odontológica, tentando abranger o máximo da população
(TELES, 2010).
Segundo Morales (2014), o quadro psicótico dos idosos é composto por
depressão, demência, transtornos ansiosos e transtornos psicóticos. Além disso, o
avançar da idade vem acompanhado do surgimento de doenças crônicas, limitações
físicas, déficit sensorial e isolamento social que comprometem a qualidade de vida do
indivíduo idoso. Nesse contexto, os idosos compõem um grupo com alta prevalência de
transtornos mentais e, consequentemente, procura de serviços de saúde de cunho
psicossocial.
Os principais transtornos diagnosticados estão a esquizofrenia, transtorno
bipolar, depressão, transtornos de humor, transtornos de personalidade, ansiedade,
transtornos neurocognitivos, entre outros. A partir disso, há toda uma preocupação e
cuidados com relação a saúde geral desses indivíduos, assim como, na saúde bucal.
(MORALES et al, 2014); (PESSINE, 2015).
Dessa maneira, o presente estudo objetivou avaliar a relação entre os transtornos
mentais, condição socioeconômica e condição de saúde bucal de adultos e idosos
usuários do CAPS III: Arte de viver, no município de Caicó-RN.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 337
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia
Este estudo foi APROVADO pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UERN, com
Número do Parecer: 3.242.193. E se trata de um trabalho de campo, exploratório,
explicativo e transversal. A aplicação do questionário e exames seriam realizados no
Centro de Atenção Psicossocial III: Arte de Viver, no município de Caicó – RN. A
amostra correspondia a 130 usuários que condizia com 10% da população total de
usuários adultos e idosos do CAPS III.
Seriam incluídos neste estudo usuários adultos com faixa etária de 35 a 44 e
idosos e 65 a 74 anos de idade, usuários de ambos os sexos, aqueles que tivessem
condições mentais para responder as questões do questionário de maneira consciente,
além de condições físicas para manter a boca aberta durante o exame da cavidade oral, e
usuários que consintam em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. E
seriam excluídos da pesquisa usuários que tivessem menos de 1 ano de registro na
instituição.
A coleta de dados seria realizada por acadêmico do curso de Odontologia da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Seria aplicado um
questionário que visasse colher informações pessoais do indivíduo (sexo, idade,
nacionalidade), informações sobre sua saúde geral, condição socioeconômica, uso de
medicamentos, sua saúde bucal e, por fim, uso e frequência de serviço odontológico.
Para o exame físico da cavidade bucal dos usuários adultos e idosos dessa
unidade seriam realizados se baseando na Pesquisa Nacional de Saúde Bucal do Brasil
(SB-Brasil, 2010), e que a partir do prontuário do usuário, este seria levado para a sala
05 nas dependências do CAPS III: arte de viver, para que fosse apresentado o TCLE,
assinatura do TCLE e o exame da cavidade bucal, caso o usuário não esteja presente
naquele dia, o exame físico intraoral, será realizado em outros dias da coleta de dados.
Para a avaliação da saúde bucal dos usuários, seriam coletadas as informações sobre
cárie dentária, doença periodontal e edentulismo, estes seriam realizados sob luz
ambiente, com posição confortável para o usuário, e os instrumentais utilizados seriam:
Sonda milimetrada da OMS, espelho odontológico, bandeja, gazes, materiais
devidamente estéreis, utilizando as fichas clínicas do SB- Brasil, 2010. Para a aplicação
do questionário e execução do exame físico intraoral ocorreriam por um período de no
máximo 20 minutos. Os instrumentais seriam esterilizados previamente e os
pesquisadores usando EPI (gorro, máscara, luva e jaleco).
O diagnóstico do transtorno mental apresentado pelo paciente seria determinado
pela análise de seus documentos armazenados no CAPS. A ausência de documento com
diagnóstico não excluiria o indivíduo do estudo
Todavia, a realização da pesquisa foi inviabilizada durante um longo tempo (este
prévio à pandemia) devido às deficiências graves no setor de esterilização das Clínicas
Odontológicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, impossibilitando o
uso dos instrumentais para avaliação da saúde bucal dos usuários. Associado a este fato
soma-se a posteriori a pandemia pelo COVID-19 que exigiu distanciamento social entre
todos os participantes desta pesquisa.
Resultados e discussão
A atenção à saúde bucal dessa população é de suma importância, visto que os
estudos de Valesco Ortega et al (2013), Bertaud et al (2013) e Dickerson et al (2003)
demonstraram que a condição de saúde bucal desse grupo é pior quando comparada
com a população em geral. Altos valores de CPO-D, assim como, o Índice Periodontal
Comunitário foi constatado.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 338
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Segundo Dickerson, (2003) tais condições são provenientes da alteração do


fluxo salivar proveniente dos medicamentos que os indivíduos com TM fazem uso.
Almeida (2016) a dieta do indivíduo também influenciava para condição de saúde bucal
precária, assim como o acesso aos serviços odontológicos e condição socioeconômica,
principalmente para o aumento do índice CPO-D. A sensação de boca seca (xerostomia)
associada com o uso de gomas de chiclete com açúcar e negligência da escovação
também são pontos que acarretam no crescimento do índice CPO-D de acordo com
Valesco et al (2013).
São vários os fatores que contribuem para o comprometimento da condição de
saúde bucal de indivíduos com transtornos psiquiátricos, incluindo entraves
comportamentais, baixa escolaridade, condição socioeconômica em baixo nível, baixa
motivação para o cuidado da saúde geral e bucal, medicações utilizadas, a não procura
do atendimento odontológico, alteração cognitiva e falta de segurança e habilitação por
parte de muitos profissionais para o atendimento a esse grupo especifico. (VALESCO-
ORTEGA, et al 2013; MORALES-CHAVEZ, et al, 2014; BERTAUD et al. (2013).
Conclusão
Portanto, a própria literatura demostra a deficiência da saúde bucal dos pacientes com
transtornos mentais, voltadas principalmente pelas suas limitações físicas e mentais,
motivação, acesso aos serviços odontológicos, medicamentos e condições
socioeconômicas. A partir desse cenário, é importante uma atenção de uma equipe
multidisciplinar a saúde dessa população para a garantia da saúde bucal satisfatória e
consequente qualidade de vida.
Agradecimentos
Agradecer a professora orientadora maravilhosa que acreditou na nossa ideia do projeto
e teve paciência. Agradeço a dupla de pesquisa, minha instituição de ensino UERN e a
todos que deram sua contribuição a este estudo. Agradeço ainda ao CNPq pela ajuda
financeira.
Referências
ALMEIDA, D. K. Correlação entre saúde bucal, condição socioeconômica e
grau de escolaridade de pacientes do PSF São Pedro na cidade três corações
MG. Alenas/ MG. 2016.
AMARAL. O.L. Transtornos mentais. Intuito de estudos e orientação da
família. Água Branca- SP, 2011.
BERTAUD, G.V, et al.Oral health status and treatment needs among psychiatric
inpatients in Rennes, France: a cross-sectional study. BMC Psychiatry. 2013 Sep
21;13:227.study. BMC Psychiatry 2013.
DICKERSON,F.B, et al. Somatic healthcare utilization among adults with
serious mental illness who are receiving community psychiatric services. Med
Care. 2003.

HAAS, N. A. et al. O desafio do diagnóstico oral em pacientes especiais. RFO,


São Paulo 2009; 14(3):211-15.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Relatório Final da 3a Conferência Nacional de


Saúde Bucal (Saúde Bucal: acesso e qualidade, superando a exclusão social).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 339
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Brasília, Agosto 2004.

MORALES, C.M.C, et al. Prevalence of bucco-dental pathologies in patients


with psychiatric disorders. J Clin Exp Dent. 2014 Feb 1;6(1):e7-e11
PESSINE L. G, et al. Programa de extensão furbmóvel do curso de odontologia
da FURB: Relato de experiência de um projeto de extensão desenvolvido no
CAPS II e CAPS AD.
TELES, M.B. et al. Psychosocial work conditions and quality of life among
primary health care employees. 2014.
VELASCO, O. E. et al. A comparison of the dental status and treatment needs
of older adults with and without chronic mental illness in Sevilla, Spain.Med
Oral Patol Oral Cir Bucal. 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 340
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REUSO DO EFLUENTE DE PISCICULTURA NO CULTIVO DE Vigna


unguiculata (FABACEAE): ASPECTOS FISIOLÓGICOS E
BIOQUÍMICOS

Rayonasna Lo-Ruama Filgueira da Silva1; Leandro de Paula Bezerra2; Tawanny Kayonara


Borges de Aguiar 3; Letícia Lima de Macedo1; José Hélio de Araújo Filho4
Palavras-chave: Estresse hídrico. Salinidade. Reaproveitamento. Adaptação.

Introdução

O semiárido brasileiro é uma região afligida pela escassez de água e a produção de


alimentos e produtos naturais nessa região deve estar fundamentada em princípios e técnicas de
convivência com a seca. Além disso, outra ameaça crescente que degrada os solos e água,
avançando pelo semiárido, é a salinização. As pesquisas acerca da salinidade dos solos e da
água auxiliam nas intervenções sobre como promover a remediação e a implementação de
culturas em territórios propensos a estresses abióticos (MORAIS et al., 2019).
Visando a conservação destes recursos, trabalhos devem ser pautados visando o uso
racional e aproveitamento dos recursos hídricos disponíveis, como reutilização de rejeitos
salinos em sistemas de produção.
Visando a destinação adequada da água de piscicultura que é salina, o estudo da
aplicação de novas possibilidades de cultivo de plantas adaptadas às condições de elevadas
concentrações de sais, que sejam capazes de manter sua produção, abre perspectivas para o
cultivo comercial de espécies com potencial econômico (OLIVEIRA, 2019). Neste aspecto,
estudos já desenvolvidos com a cultura do feijão-de-corda (Vigna unguiculata), cereal bastante
utilizado como parte da dieta dos brasileiros, têm demonstrado o potencial produtivo da cultura
pois se mostra consideravelmente resistente às condições de salinidade quando comparada a
outras espécies (SILVEIRA et al., 1999).
Na busca pelo destino adequado de rejeito de despesca da Tilápia (Oreochromis
niloticus) na irrigação de plantas de feijão-de-corda, como uma forma viável de economia dos
recursos hídricos no semiárido nordestino, objetivou-se nesta pesquisa, a compreensão dos
mecanismos fisiológicos e bioquímicos de adaptação de V. unguiculata em condições de
estresse osmótico decorrente da salinidade do efluente.

1
Estudante do curso Ciências Biologicas do Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail: rayonasnasilva@alu.uern.br
leticialima32175@outlook.com
2
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da Universidade Federal do Ceará
(UFC); e-mail: leandro.bioquimica@gmail.com
3
Mestranda pelo Programa Multicêntrico de Pós-Graduação em Bioquímica e Biologia
Molecular da UERN; e-mail: tawannyborgesl@gmail.com
4
Professor do Departamento de Ciências Biológicas; e-mail: hélio.filho.bio@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 341
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

A pesquisa foi conduzida em casa de vegetação da Universidade do Estado do Rio


Grande do Norte (UERN), Mossoró-RN, localizada pelas coordenadas geográficas 05° 12' 10"
leste e 37° 18' 57" oeste. A temperatura média da cidade é de 35,9oC ± 2.7, fotoperíodo de 12
h e umidade relativa do ar de 49% ± 5.5%. O clima da região segundo a classificação de
Koppen, é do tipo BSw’h, caracterizado por ser muito quente e seco, com estação de chuva no
verão se atrasando para o outono.
Sementes de feijão-de-corda (Vigna unguiculata) de duas cultivares foram adquiridas
de forma comercial e outra proveniente de agricultura familiar, sendo que esta última se
mostrou tolerante à salinidade, como mostraram resultados anteriores do nosso grupo de
pesquisa. Foram plantadas 3 sementes por muda contendo adubo orgânico e areia como
substrato, na proporção de 2:1.
Os blocos foram organizados por meio de delineamento inteiramente casualizado com
um total de 48 mudas, das quais 24 correspondiam a variedade sensível (F1) e as outras 24
correspondiam ao feijão tolerante à salinidade (F2). As mudas foram dispostas em quatro blocos
contendo 12 mudas cada, sendo 6 plantas de cada variedade e submetidas a diferentes
tratamentos. Para estabelecimento e aclimatação das plântulas, as sementes foram irrigadas com
água de abastecimento, tendo uma condutividade elétrica de 0,61 dSm-1, mensurada com o
auxílio de um condutivímetro. Aos 14 dias realizou-se o desbaste de modo a deixar apenas uma
plântula em cada muda e, em seguida, foi feita a medição da altura de todas as plantas e, em
seguida, foi iniciado o tratamento com efluente salino em diferentes níveis de salinidade (T1 =
0,61 dSm-1 ;T2 = 2,5 dSm-1 e T3 = 5,0 dS dSm-1). Os blocos foram organizados em esquema
fatorial 3 x 2 (níveis de salinidade x cultivares de feijão), perfazendo 6 tratamentos com três
repetições, cada.
Aos 18 dias de irrigação com efluente de piscicultura, as plantas foram coletadas para
análises fisiológicas (altura, número de folhas, biomassa e teor relativo de água) e bioquímicas
(conteúdo de peroxidação lipídica, conteúdo de peróxido de Hidrogênio, proteínas totais e
mensuração da atividade de enzimas do sistema anti-oxidativo como a Catalase, Ascorbato
Peroxidase e Superóxido Dismutase). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância
e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade e expressos em média e
desvio padrão da média (Média ± DP, n=3), utilizando o software estatístico R.

Resultados e Discussão

Tabela 1: Determinação das variações de altura (Alt), teor relativo de água (TRA), biomassa
seca de raiz (BSR) e parte aérea (BSPA) e número de folhas (NF) de plantas de Vigna
Unguiculata submetidas a efluente de piscicultura com diferentes níveis de condutividade
elétrica: T1 = 0,61 dSm-1 (Controle), T2 = 2,5 dSm-1 e T3 5,0 dSm-1.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 342
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Tabela 2: Atividade da superóxido dismutase (SOD), ascorbato peroxidase (APX), catalase


(CAT), teor de peróxido de hidrogênio (H2O2) e malondialdeido (MDA) em plantas de Vigna
Unguiculata submetidas a efluente de piscicultura com diferentes níveis de salinidade: T1 =
0,61 dSm-1 (Controle), T2 = 2,5 dSm-1 e T3 5,0 dSm-1.

Os resultados obtidos corroboram com os dados de SILVA NETO (2019) que


trabalhou com o mesmo efluente de piscicultura. Quanto ao TRA, foi observado uma diferença
significativa. O TRA é um fator indispensável para evidenciar o potencial hídrico dos tecidos
vegetais submetidos a condições de estresse abiótico (PIMENTEL 2004).
Neste trabalho, as plantas de V. unguiculata não apresentaram modificações
preocupantes no sistema enzimático, mas ainda assim foram eficientes em combater o H2O2
oriundo do metabolismo, retardando os danos sofridos pelas biomoléculas responsáveis por
manter a integridade celular.

Conclusão

Os resultados da presente pesquisa são pertinentes quanto ao planejamento e manejo


para uso do efluente de piscicultura que, geralmente, é descartado sem nenhum aproveitamento.
Neste sentido, o conjunto de resultados obtidos respaldam as respostas observadas nos
parâmetros fisiológicos e bioquímicos, consolidando a indicação da água de rejeito da
piscicultura utilizada neste experimento para o reaproveitamento na irrigação. Com isso, tem-
se como alternativa o cultivo de plantas de V. unguiculata dando um destino adequado a esse
rejeito e evitando seu descarte de maneira incorreta nos ambientes, além de ser uma alternativa
de economia dos recursos hídricos no semiárido nordestino.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 343
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos

Agradecemos imensamente aos meus amigos acadêmicos, os quais felizmente são


muitos, por serem meu baluarte na vida acadêmica. Agradecemos aos envolvidos também pela
oportunidade de participar do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC),
amparado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a
UERN, por ser também o meu lar.

Referências

MORAIS, M.B. et al. Salt Stress Induces Increase in Starch Accumulation in Duckweed
(Lemna aequinoctialis, Lemnaceae): Biochemical and Physiological Aspects. Journal of Plant
Growth Regulation, v.38, p.683-700, 2019.

OLIVEIRA, F.F.M. et al. Ecophysiological response of Lippia gracilis (Verbanaceae) to


duration of salt stress. Ecotoxicology and Environmental Safety, v.178, p.202-210, 2019.

SILVA NETO, J. M. D.; Efluente da piscicultura alteram a morfofisiologia e bioquímica de


Lippia grata (Verbenaceae). Universidade doEstado do Rio Grande do Norte, 2019.

SILVEIRA, J. A. G.; CARDOSO, B. B.; MELO, A. R. B.; VIÉGAS, R. A. Salt-induced


decrease in nitrate uptake and assimilation in cowpea plants. Revista Brasileira de Fisiologia
Vegetal, v.11, n.2, P.77-82, 1999.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 344
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SABERES E PRÁTICAS DOS CUIDADORES DE CRIANÇAS COM


MICROCEFALIA ACERCA DA ESTIMULAÇÃO PRECOCE

Gabriel Victor Teodoro de Medeiros Marcos¹; Cintia Mikaelle Cunha de Santiago Nogueira²

Palavras-chave: Estimulação precoce, microcefalia, profissionais de saúde

Introdução
No Brasil, de 2015 a 2016 a epidemia do Zika Vírus (ZIKV) acarretou no aumento de
casos de microcefalia associada à infecção congênita. O maior número de casos confirmados
entre todo o continente Americano fora identificado no Brasil, principalmente na região
nordeste (OLIVEIRA; COELHO, 2015).
A criança microcefálica pode apresentar dificuldades básicas que implicam nas suas
capacidades gerais, apresentando dificuldades em sentar, andar, engatinhar ou realizar ações
como agarrar e manipular objetos. Se não adequadamente tratados esses prejuízos se estendem
até a vida adulta (WILLRICH; AZEVEDO; FERNANDES, 2009).
Com o intuito de contribuir com o desenvolvimento infantil, a Estimulação Precoce (EP)
é indicada para crianças com microcefalia e é um recurso terapêutico que objetiva estimular a
criança e ampliar suas competências, abordando os estímulos que interferem na sua maturação,
em prol do favorecimento do seu desenvolvimento neurológico (BRASIL, 2016).
Todavia, sabe-se que a EP deve ter continuidade para além dos ambientes hospitalares
sendo fundamental que a família participe ativamente no processo de estimulação precoce no
lar (BRASIL, 2016). Para tal, é imprescindível que os pais e cuidadores tenham conhecimentos
suficientes para a realização das práticas de EP.
Assim, o presente estudo teve como objetivo apreender os conhecimentos de mães de
crianças com microcefalia decorrente do ZIKV acerca da estimulação precoce.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo, exploratório com abordagem qualitativa. A população do
estudo que fora previamente estabelecida era de quatorze mães de crianças diagnosticadas na
cidade de Mossoró com microcefalia. A amostragem não-probabilista fora adotada por
¹Aluno do curso de Licenciatura/Bacharelado em Enfermagem do Departamento de
Enfermagem – DEN da Faculdade de Enfermagem - FAEN da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN. E-mail: gabriel.marcos@alu.uern.br
²Professora do Departamento de Enfermagem – DEN da Faculdade de Enfermagem – FAEN
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Coordenadora do Núcleo de
Atenção Materno Infantil – NAMI. E-mail: cintiamikaelle@gmail.com
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 345
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

conveniência. Todavia, o número de participantes da pesquisa caiu para 11 (onze) mães após a
aplicação dos critérios de inclusão/exclusão.
Como instrumento de coleta de dados, fora adotada a técnica de entrevista semiaberta,
contendo questões relacionadas aos dados sociodemograficos, aos conhecimentos e as práticas
da família a respeito da estimulação precoce no lar. Finalizado o processo de investigação os
dados foram processados seguindo as seguintes etapas: Transcrição das entrevistas; leitura
exaustiva do material obtido com as transcrições; categorização dos núcleos de sentido
(palavras ou expressões que respondiam os objetivos do estudo. Nesta última etapa, os núcleos
deram origem a falas recortadas, sem perca de contexto, e nesse processo foram obtidos os
trechos que respondiam aos objetivos.
A pesquisa respeitou todos os aspectos éticos e foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte através do parecer nº 3.181.264.

Resultados
As mães foram indagadas a respeito dos conhecimentos relativos a estimulação precoce:
[...] a meu ver, é mais para ela relaxar os músculos, para ela não ficar tão
tensa... Ela fica toda rígida e eu procuro fazer mais assim... massagem (Mãe
4).
[...] eu acho que melhora no físico, né?... Porque eles são muito, as mãozinhas,
os bracinhos enrijecidos, duros, eu acho que ajuda nisso aí (Mãe 7).
É perceptível que as mães possuem falas que apresentavam apenas um conhecimento
elementar quanto as questões relacionadas ao desenvolvimento infantil, sendo que o discurso
se prendia a uma visão muito rasa das questões que envolvem as práticas de EP.
Outras mães relataram dificuldades para realização da EP no domicílio por diversos
fatores:
[...] o tempo é curto. A gente é dona de casa, está sempre ocupada, mas eu
procuro mostrar a ela os brinquedos, falar os nomes, sempre que eu posso, eu
faço isso. (Mãe 09)
Eu morro de medo de machucá-la. Ela tem os braços e as pernas bem rígidos
e eu não tenho certeza de até onde eu posso ir, então quase não faço. Só coloco
ela no cavalinho e ela gosta [...]. (Mãe 08)
Observando esses relatos observa-se os empasses que coexistem com as necessidades
da criança e as tarefas domésticas. Apesar disso, as mães demonstram interesse em realizar
essas atividades de estimulação.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 346
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Outrossim, é notória a necessidade de informação por parte das mães. Que por muitas
vezes, além de carência de orientação quanto ao percurso que deve seguir para garantia dos
seus direitos, encontra-se em uma situação de fragilidade devido a ausência de orientação
quanto a realização das práticas de EP no seu dia-a-dia.
Como método de enfrentamento, a orientação por parte dos profissionais que prestam
atendimento às crianças com microcefalia de corrente do ZIKAV na rede de assistência à saúde,
se tornou um instrumento de empoderamento e que concebe estratégias eficientes que envolvam
a família nas atividades de estimulação precoce.
Nesta perspectiva, questionou-se às mães, quais foram os principais profissionais
responsáveis por orientá-las em relação à estimulação precoce a ser realizada nas crianças:
[...] os fisioterapeutas, os fonoaudiólogos, todos eles orientam. Eles disseram
para fazer em casa o mesmo que eles faziam nas sessões. (Mãe 10)
[...] isso de chamar mais atenção dele, mostrar as plaquinhas, as cores. Foi a
psicóloga que falou. (Mãe 7)
A fisioterapeuta só me disse que era para estimular sempre e me mandou ficar
olhando ela fazer no consultório, mas nunca me ensinou [...]. (Mãe 1)
É possível perceber nas falas das mães, a diversidade de profissionais responsáveis pelas
orientações, evidenciando que não existe apenas uma classe profissional envolvida no
acompanhamento dessas crianças, mas sim um trabalho multiprofissional. Todavia, a partir dos
discursos, observamos as fragilidades das orientações prestadas, sendo que evidenciado que por
muitas vezes, a família não é vislumbrada como parte importante da assistência integral à
criança.

Conclusão
É possível perceber que embora as mães demonstrassem interessem em desenvolver as
práticas de EP no lar, ainda existem obstáculos no percurso como o conhecimento superficial
da importância das práticas e como realiza-las.
Para que os cuidadores exerçam essa função de modo satisfatório, é necessária uma
articulação com a equipe multidisciplinar, de modo a incluir a família no processo terapêutico
valorizando sua autonomia, seus sentimentos e suas necessidades.

Agradecimentos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 347
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradeço ao Programa CNPq/PIBIC pelo estabelecimento do projeto de pesquisa, à


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN e ao Núcleo de Atenção Materno-
Infantil – NAMI pela experiência, aprendizados, apoio e oportunidade de executar o trabalho.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de Estimulação


Precoce: Crianças de zero a 3 anos com Atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor
Decorrente de Microcefalia. Brasília: Ministério da Saúde, 2016, 123 p. Disponível em:
http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/novembro/34/Diretrizes-de-estimulacao-
precoce.pdf Acesso em: 04 de agosto de 2020 de 2016.

OLIVEIRA, Wanderson Kleber; COELHO, Giovanini Evelim. Boletim Epidemiológico:


situação epidemiológica de ocorrência de microcefalias no Brasil, Bol. Epidemiológico da
SVS/MS, v. 46, n. 34, p. 1-3, Brasília, 2015.

WILLRICH, Aline; AZEVEDO, Camila Cavalcanti Fatturi de; FERNANDES, Juliana


Oppitz. Desenvolvimento motor na infância: influência dos fatores de risco e programas de
intervenção. Rev Neurociências, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 51-6, 2009

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 348
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA DA PESCA


ARTESANAL NO BRASIL

Adalcina Fernandes Ferreira1; Andrezza Graziella Veríssimo Pontes2

Palavras-chave: Saúde do Trabalhador. Saúde Coletiva. Saúde e Ambiente. Pesca Artesanal.


Sistema Único de Saúde.

Introdução

De acordo com a Lei Nº 11.959 de junho de 2009 que dispõe sobre a Política Nacional
de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, a pesca pode ser classificada como:
comercial, na qual se insere a artesanal e industrial; e não comercial, dividindo-se em científica,
amadora e de subsistência. Compreende-se a pesca artesanal a partir da categoria “povos do
mar”, introduzida por Diegues (1995), como populações humanas que têm uma percepção
complexa do meio-marinho e seus fenômenos naturais. De um lado, há um vasto conhecimento
empírico adquirido pela observação continuada dos fenômenos físicos e biológicos, como
ventos, marés, reprodução dos cardumes de peixes. De outro lado, as explicações para tais
fenômenos também passam pela representação simbólica e pelo imaginário dos povos do mar.
Estes incluem-se nas chamadas culturas tradicionais.
O processo de trabalho da pesca artesanal caracteriza-se principalmente pela
simplicidade tecnológica, pelo uso de instrumentos e de barcos artesanalmente construídos
pelos próprios pescadores, pelo trabalho familiar sem a prática do assalariamento e pela
organização de todo processo de produção (pescar, desembarcar, distribuir o pescado) com o
mesmo grupo de trabalho (FEITOSA, TUPINAMBÁ, 2002). A Organização Internacional do
Trabalho (OIT) considera a pesca como uma das mais desgastantes e perigosas atividades
desenvolvidas pelo homem (FREITAS; RODRIGUES, 2014), o que traz repercussões diretas e
indiretas para o processo saúde-doença desses trabalhadores.
Segundo Nogueira (2017) as estatísticas oficiais reconhecem mais de 970 mil
pescadores artesanais com responsabilidade pela segurança alimentar no Brasil. No entanto,
poucos são os estudos voltados à vida, ao trabalho, à saúde e ao ambiente desse segmento de
trabalhadores (DALL’OCA, 2004). Observa-se também a incipiência no Sistema Único de
Saúde (SUS) em identificar e intervir sobre os problemas de saúde de pescadores e pescadoras
artesanais, conforme estabelecem as Política Nacional de Atenção Integral das Populações do
Campo, Florestas e Águas e a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora.
Diante disso, objetiva-se identificar na produção científica brasileira problemas e necessidades
de saúde de trabalhadores da pesca artesanal, bem como ações, serviços e políticas de saúde
dirigidos a esses trabalhadores.

Metodologia

1
Estudante do curso de Enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte; e-mail: adalcinaferreira@alu.uern.br
²Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; Participante
do Grupo de Estudos Educação, Trabalho, Saúde e Enfermagem – GEETSE; e-mail: andrezzapontes@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 349
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Pesquisa de abordagem qualitativa (MINAYO, 2010) cuja metodologia utilizada foi a


revisão integrativa (SOUZA; SILVA; CARVALHO, 2010). Para o levantamento dos artigos na
literatura, foram realizadas buscas na Scientific Electronic Library Online – Scielo, utilizando-
se os Descritores em Ciências da Saúde – DeCS na língua portuguesa: Saúde do Trabalhador;
Pesca Artesanal; Necessidades e Demandas de Serviços de Saúde.
Os seguintes critérios de inclusão foram: artigo publicado na íntegra; disponíveis on
line, no idioma português; em periódicos indexados na Scielo. E os de exclusão: teses,
dissertações, editoriais, cartas, manuais e artigos que não atendam a temática do estudo. Foram
encontrados 9 artigos no Scielo, excluídos 2 por repetição, totalizando 7 artigos como material
de análise.
Realizaram-se leituras na íntegra dos artigos selecionados, utilizando como instrumento
de pesquisa um roteiro sobre as questões: Em quais condições socioeconômicas e políticas os
pescadores artesanais estão inseridos? Que aspectos culturais eles possuem? Existem conflitos
ambientais nos territórios onde vivem os pescadores artesanais? Que problemas e necessidades
de saúde de pescadores artesanais são identificados na literatura científica? Que práticas,
serviços e políticas de saúde são dirigidas aos trabalhadores e às trabalhadoras da pesca
artesanal?
A análise teve como base o referencial teórico da Saúde Coletiva, particularmente na
abordagem integrada dos campos Saúde do Trabalhador e Saúde e Ambiente mediante as inter-
relações das categorias teóricas produção, trabalho, ambiente e saúde, ancorada na Teoria da
Determinação Social do Processo Saúde Doença, na Epidemiologia Crítica e dialogando com a
Sociologia do Trabalho (PONTES; RIGOTTO, 2014; PORTO, 2005).

Resultados e Discussão

Contexto econômico, social e cultural

A pesca artesanal envolve pescadores, pescadoras e marisqueiras. É uma atividade que,


na maioria das vezes é exercida por homens, que são introduzidos nesse trabalho de forma
precoce. As mulheres estão mais presentes na mariscagem. Vivem, geralmente, em
comunidades tradicionais, cuja cultura tem forte relação com o mar. Possuem condições sociais,
políticas, econômicas e ambientais difíceis envolvendo falta de saneamento básico, baixo grau
de escolaridade, baixa renda e condições de trabalho precárias; contexto que se relaciona
diretamente com o processo saúde-doença individual e coletivo. O trabalho envolve a pesca, a
coleta, o comércio e venda de peixes e marisco utilizando embarcações de pequeno e médio
porte e equipamentos com pouca ou nenhuma sofisticação. O valor do trabalho é pago mediante
a entrega do produto ou no serviço prestado, sendo estimado que 5,8 milhões de pescadores no
mundo ganham menos de US$ 1 por dia. A renda do pescador e de seus dependentes fica
comprometida, impactando diretamente na subsistência, condições de moradia, transporte e na
manutenção da saúde. Além disso, ocorre a precarização do acesso ao sistema previdenciário e
de seguro social, o que contribui para o aumento dessa informalidade e exclusão social desses
trabalhadores (FREITAS; RODRIGUES, 2014; PENA; GOMES, 2014; ARAÚJO; SASSI;
LIMA, 2014; PENA; MARTINS; REGO, 2013; PINHEIRO; DARNET, 2014).
Conflitos ambientais

Pescadores, pescadoras e marisqueiras convivem com a degradação dos ambientes dos


territórios de pesca pela contaminação de esgotos, por falta de saneamento, poluição química,
industrial e agrotóxica, além de vivenciarem conflitos com setores, como turismo, aquicultura,
agronegócio e energia. Isso contribui com a diminuição da biodiversidade marinha e,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 350
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

consequentemente, reduzir as espécies, assim essas condições ambientais interferem na saúde


dos trabalhadores da pesca, uma vez que eles sofrem com os efeitos emergentes das mudanças
climáticas que ameaçam os recursos dos quais dependem para a subsistência (PENA et al.2018;
NÓBREGA et al. 2014).
Problemas e necessidades de saúde

Os pescadores artesanais se constituem como classe trabalhadora de extrema


vulnerabilidade ao desenvolvimento de doenças, expostos a cargas de trabalhos exaustivas sem
pausas e vivendo em situações de acentuada pobreza. Diante disso, os problemas de saúde
associados ao trabalho e ao ambiente são: radiações solares e riscos de neoplasias, cataratas,
labirintites, inflamações gênito-urinárias, alergias, infecções respiratórias, dermatites de
contato com animais e plantas marinhas, riscos para a coluna vertebral relacionados ao
transporte de peso, posturas nocivas, e principalmente lesão por esforço repetitivo e distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho apresentando com alta prevalência (94,7%) nesses
trabalhadores (PENA et al.2018; PENA; GOMES, 2014; NÓBREGA et al. 2014; PENA;
MARTINS; REGO, 2013).

Ações, serviços e políticas de saúde

Há uma inexistência de ações estruturadas e permanentes da vigilância em saúde do


trabalhador, bem como a precariedade nos serviços de saúde nas comunidades pesqueiras,
gerando graves consequências na morbidade e mortalidade dessa população, uma vez que se
considera o alto grau dos riscos da atividade pesqueira e sua natureza informal. A promoção e
proteção da saúde precisam ser consideradas prioritárias no rol das políticas públicas de saúde
e previdência social, permitindo a melhoria das condições de vida e saúde, a redução da pobreza
e da desigualdade social (PENA et al.,2018; PENA; GOMES, 2014; PENA; MARTINS;
REGO, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora limitada em termos quantitativos, a produção científica brasileira evidencia as
dificuldades de vida e trabalho de pescadores e marisqueiras e apontam a necessidade de
efetivação de políticas públicas de atenção integral à saúde dessa parcela significativa de
trabalhadores e trabalhadoras.

Referências

ARAÚJO, Ismael Xavier de; SASSI, Roberto; LIMA, Eduardo Rodrigues Viana de. Pescadores
Artesanais e pressão imobiliária urbana: Qual o destino dessas comunidades
tradicionais?. Revista de Gestão Costeira Integrada, v. 14, n. 3, p. 429-446, 2014.

DALL’OCA, A. V. Aspectos sócioeconômicos, de trabalho e de saúde de pescadores do Mato


Grasso do Sul. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva). Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, Corumbá, 2004.

DIEGUES, Antonio Carlos Santana. Povos e Mares: leituras em sócio-antropologia marítima.


São Paulo: NUPAUB-USP, 1995.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 351
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FREITAS, M.B; RODRIGUES, S.C.A. As consequências do processo de desterritorialização


da pesca artesanal na Baía de Sepetiba (RJ, Brasil): um olhar sobre as questões de saúde do
trabalhador e o ambiente. Ciência & Saúde Coletiva, 19(10):4001-4009, 2014

FEITOSA, Regina; TUPINAMBÁ, Soraya Vanini. Ambiente Litorâneo: aspectos sócio-


culturais. Apostilas para o curso de formação de lideranças. n.4. Fortaleza: instituto terramar,
2002.

MINAYO, M.C.S. O desafio da Pesquisa Social. In: MINAYO, M.C.S.; DESLANDES, S.F.
Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 29. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

NOGUEIRA, L.S.M.; SOUZA, D.M.; BORGES, A.M. Segurança e saúde dos pescadores
artesanais no estado do Pará. São Paulo: Fundacentro, 2017.

NÓBREGA, Gabriela Silva da. et al. Formação para marisqueiras em segurança de alimentos
e saúde do trabalhador: uma experiência na comunidade de Ilha do Paty, Bahia, Brasil. Ciência
& Saúde Coletiva, v. 19, p. 1561-1571, 2014.

PONTES, A.G.V; RIGOTTO, R. M. Saúde do Trabalhador e Saúde Ambiental:


potencialidades e desafios da articulação entre universidade, SUS e movimentos sociais.
Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 39 (130): 161-174, 2014.

PORTO, M. F. Saúde do Trabalhador e o desafio ambiental: contribuições do enfoque


ecossocial, da ecologia política e do movimento pela justiça ambiental. Cad. Saúde Pública,
v. 10, n. 4, 2005.

PENA, Paulo Gilvane Lopes; MARTINS, Vera; REGO, Rita Franco. Por uma política para a
saúde do trabalhador não assalariado: o caso dos pescadores artesanais e das
marisqueiras. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 38, n. 127, p. 57-68, 2013.

PENA, Paulo Gilvane Lopes; GOMEZ, Carlos Minayo. Saúde dos pescadores artesanais e
desafios para a Vigilância em Saúde do Trabalhador. Ciência & Saúde Coletiva, v. 19, p.
4689-4698, 2014.

PINHEIRO, José Olenilson Costa; DARNET, Laura Angélica Ferreira. Comunidades


tradicionais em áreas litorâneas da Amazônia: estudo sobre desenvolvimento local em Vila
Mota, Pará, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 9, n.
1, p. 145-162, 2014.

PENA, P. G. L. et al. Vigilância em saúde do trabalhador da pesca artesanal na Baía de Todos


os Santos: da invisibilidade à proposição de políticas públicas para o Sistema Único de Saúde
(SUS). Rev Bras Saúde Ocup, v. 43, n. supl 1, p. e10s, 2018.

SOUZA, M.T.; SILVA, M.D.; CARVALHO, R. Revisão integrativa: o que é e como fazer.
Einstein, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 352
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM X PROJETO


PEDAGÓGICO DE CURSO

Luiz Paulo Nunes Neto1; Fernando Jeferson Queiroz dos Santos2; Johny Carlos de
Queiroz3

Palavras-chave: Enfermagem. Sistematização da Assistência. Curso de graduação.

INTRODUÇÃO
Segundo Tannure e Pinheiro (2010) a Sistematização da Assistência de
Enfermagem (SAE) é uma metodologia científica que vem sendo cada vez mais
implantada na prática assistencial, conferindo maior segurança aos pacientes, melhora da
qualidade da assistência e maior autonomia aos profissionais de enfermagem. Consonante
Adamy, Zocche e Almeida (2019) Florense Nightingale identificou a sistematização do
cuidado, desde 1854, quando a Enfermagem iniciou seu percurso para adoção de uma
prática baseada em conhecimentos científicos.
O Processo de Enfermagem (PE) surge no Brasil na década de 1970, proposto por
Wanda de Aguiar Horta, que enfatizou o planejamento da assistência, na tentativa de
tornar a enfermagem uma profissão autônoma e caracterizá-la como ciência (ADAMY;
ZOCCHE; ALMEIDA, 2019). A SAE surge no sentido de regulamentar a atuação do
enfermeiro pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) objetivando favorecer a
implantação do PE. Ademais, permite aos profissionais de enfermagem adequar-se à
realidade do mundo globalizado, que busca mais eficiência na disposição de informações
referentes à assistência à saúde da população (TANNURE; PINHEIRO, 2010).
Em 2002 o COFEN regulamentou a SAE através da Resolução 272/2002,
preconizando a sua ação como atividade privativa do enfermeiro, realizada em
instituições públicas e/ou particulares (COFEN, 2002), revogada em 2009, através da
Resolução 358/200 e traz os aspectos positivos referentes à implementação da SAE,
juntamente com o Processo de Enfermagem, no que diz respeito a organização do corpo
de enfermagem (COFEN, 2009).

1
Discente do Curso de graduação em enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade
do Estado do rio Grande do Norte. E-mail: luiz2000nunes@gmail.com
2
Discente do Curso de graduação em enfermagem do Departamento de Enfermagem da Universidade
do Estado do rio Grande do Norte. E-mail: fernandojqsantos@gmail.com
3
Professor Me do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do rio Grande do Norte. E-
mail: johnycarlos@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 353
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A execução da SAE está diretamente relacionada com o PE, que se baseia na


investigação e tratamento das necessidades do indivíduo, a partir de atividades crítico-
reflexivas ligadas à prática, no qual o enfermeiro irá observar, planejar, executar e avaliar
suas ações. Assim proporcionar-se-á maior segurança ao paciente e uma maior
independência ao profissional, devido o embasamento teórico que torna mais fidedignas
às ações tomadas pelos enfermeiros (MEDEIROS, 2011).
Se faz necessário então que os enfermeiros adquiram conhecimentos acerca das
teorias de enfermagem e do Processo de Enfermagem, além das demais áreas e temáticas,
para que possam assistir diretamente o paciente, a família e a comunidade, para assim
obter indicadores de saúde, subsidiando a avaliação da qualidade da assistência prestada
(TANNURE; PINHEIRO, 2010). Neste sentido foram levantados o seguinte
questionamento: Como a Sistematização da Assistência de Enfermagem está enfatizada no
ensino de graduação em enfermagem? É enfatizada no Projeto Pedagógico de Curso?
A abordagem dessa questão torna-se fundamental, tendo em vista que a análise
dos documentos permitirá um olhar mais crítico em relação ao que se faz necessário ser
abordado no ensino de Enfermagem, compreendendo de que forma o PE contribui no
processo formativo dos discentes e sua posterior atuação nos serviços de saúde. Essa
problematização se faz necessária tendo em vista a realidade as dificuldades enfrentadas
no serviço de saúde para sua implantação.
Esse estudo tem como objetivo Identificar no Projeto Pedagógico de Curso como a
Sistematização da Assistência de Enfermagem está enfatizada no ensino de graduação em
enfermagem.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa documental realizada no Projeto Político de Curso
(PPC) do curso de graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (FAEN/UERN), Campus Central, no período de agosto de 2019
a julho de 2020. Segundo Gil (2002) a pesquisa documental assemelha-se muito à
pesquisa bibliográfica, diferenciando na natureza das fontes que se utiliza de materiais
que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de
acordo com os objetos da pesquisa. A análise será fundamentada na Análise de Conteúdo
com elaboração de categorias proposto por Bardin (2009).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O PPC do curso de graduação em Enfermagem da UERN, objeto de estudo dessa
pesquisa, foi revisado pela última vez em janeiro de 2020, possibilitando assim a

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 354
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

atualização do documento de acordo com a atual realidade do curso. A leitura e análise


do PPC possibilitou a percepção de que a temática da SAE ainda é negligenciada, não
sendo tratada de forma direta nos tópicos referentes ao ensino da instituição.
No tópico sobre o histórico do curso desde a sua criação e as modificações do
PCC, trata-se que no ano de 1996 quando é implementado um novo Projeto Político
Pedagógico, este tinha como uma de seus alicerces a modificação das bases teóricas e
metodológicas da formação para que o futuro enfermeiro assuma a coordenação do
processo de trabalho da enfermagem. No entanto, no tópico posterior que aborda as bases
referenciais do curso, especificamente no subtópico referente ao Processo de Trabalho da
Enfermagem, não existem menções à SAE como seria necessário.
Seguidamente, nos tópicos referentes aos objetivos do curso e as competências e
habilidades a serem desenvolvidas, não é abordada a SAE como porte da formação do
enfermeiro, assim como, na matriz curricular que subdivide o currículo do curso em
diferentes áreas temáticas.
No PCC existem duas menções a SAE, de forma indireta, que não implicam no
processo formativo dos discentes: o desenvolvimento de um PIBIC que data de 2018-
2019 com o título de “Sistematização da assistência de enfermagem em serviços de
urgências e emergências: uma revisão integrativa” e um projeto de extensão realizado de
2017 a 2018 com o título “Compreensão dos enfermeiros sobre a sistematização da
assistência em um hospital público”.
O PCC ainda traz a referência de um curso de especialização sobre “Metodologia
da Assistência de Enfermagem” de 1991. Entretanto, não foram observadas modificações
posteriores no PCC que fossem resultado desse curso, que comtemplasse a SAE no
currículo. Evidenciou-se assim que a SAE não é abordada de forma direta no PCC da
FAEN/UERN, ou seja, que implique na institucionalização do ensino da SAE.
Entendendo essa temática como fundamental para formação de um profissional de
enfermagem capaz de atuar de forma sistematizada, organizada e efetiva, faz-se notória a
necessidade de aborda-la no PCC para que o seu ensino seja institucionalizado
obrigatoriamente.
CONCLUSÃO
Através da leitura e estudo do PPC percebe-se que a temática da SAE não é
abordada na matriz curricular. Essa questão dificulta a institucionalização do ensino da
temática no curso de graduação em enfermagem da UERN, tornando a sua discussão não
obrigatória no decorrer do curso.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 355
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Entendendo que a SAE garante ao profissional de enfermagem, autonomia e


resolutividade sobre as situações enfrentadas na realidade (TANNURE; PINHEIRO,
2010), é necessário que o discente da graduação em enfermagem tenha contato direto com
essa temática durante o seu processo formativo, compreendendo como esse conhecimento
na sua prática profissional.
Considerando que o PPC destaca que o ensino é um reflexo do contexto histórico
da enfermagem e da sociedade brasileira, visando a formação profissionais engajados
com a realidade, existe então a importância de se abordar de forma direta a SAE no projeto
pedagógico, de modo a garantir a institucionalização da temática e adequação a realidade
prevista pelo COFEN.
Essa pesquisa possibilita a visualização da realidade quanto ao PPC da Faculdade
de Enfermagem da UERN e a sua deficiência no que diz respeito a abordagem da SAE,
refletindo em uma dificuldade de aproximação dessa temática no processo formativo.
Portanto, possibilita e subsidia as discussões para futuras alterações no PPC, visando a
aproximação do escrito com a SAE.

REFERÊNCIAS
ADAMY, EK, ZOCCHE, DAA, ALMEIDA, MA. PROCESSO DE
ENFERMAGEM: a arte de integrar o ensino e o serviço na formação. Porto Alegre:
Moriá, 2019.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009.
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução 272, de 27 de agosto de 2002.
Sistematização da assistência de enfermagem (SAE) nas instituições de saúde. Rio
de Janeiro: COFEN, 2002. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-
cofen2722002-revogada-pela-resoluao-cofen-n-3582009_4309.html>. Acesso em: 10
mar, 2019.
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução nº358/2009, de 15 de outubro
de 2009. Dispõe sobre a sistematização da assistência de enfermagem e a
implementação do processo de enfermagem em ambientes, públicos ou privados
em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem e dá outras providências. Rio
de Janeiro: COFEN, 2009. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluocofen-
3582009_4384.html>. Acesso em: 10 mar, 2019
GIL, AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2002
SILVA, JP, GARANHANI, ML, PERES, AM. Sistematização da Assistência de
Enfermagem na graduação: um olhar sob o Pensamento Complexo. Rev. Latino-Am.
Enfermagem. jan.-fev. 2015.
TANNURE, M. C; PINHEIRO, A. M. SAE: Sistematização da Assistência de
Enfermagem: Guia prático. Rio De Janeiro, Guanabara Koog

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 356
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TEATRO COMO DISPOSITIVO TERAPÊUTICO EM SAÚDE MENTAL

Lídia Stéfanie Dantas Silva 1; Dulcian Medeiros de Azevedo2

Palavras-chave: Terapia pela Arte; Saúde Mental; Desinstitucionalização; Terapêutica;


Serviços de Saúde Mental.

Introdução
O marco da Reforma Psiquiátrica Brasileira foi a Lei 10.216 de 2001, que com o
suporte político da III Conferência Nacional de Saúde Mental, aprovou a Reforma
Psiquiátrica com o objetivo de reduzir progressivamente leitos psiquiátricos e extinguir
hospitais psiquiátricos, além da criação de serviços substitutivos ao hospital e de programas
para dar suporte os moradores de hospitais e desamparados socialmente (BRASIL, 2015).
Surge então o modelo psicossocial, com a premissa da (re)inserção social da pessoa
com transtorno mental, participação ativa dos usuários, família e comunidade, na tomada de
decisões do serviço de saúde (COSTA-ROSA, 2012).
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), rompem com os paradigmas do antigo
modelo, voltando-se para a promoção da saúde com foco na integralidade do sujeito
(SOUZA; GULJOR; SILVA, 2014). As oficinas terapêuticas são um exemplo de recurso
terapêutico que podem desenvolver atividades geradoras de renda, alfabetização e oficinas
expressivas voltadas para manifestações artísticas como pintura, dança, música e teatro
(BRASIL, 2004; AZEVEDO; MIRANDA, 2011; SOUZA, PINHEIRO; 2012).
O ambiente artístico apresenta-se como terapêutico sendo visualizadas suas
potencialidades nas interações entre os sujeitos; no romper da imagem de um transtorno
mental isolado para uma reconstrução de identidades alicerçadas no protagonismo e na
resiliência (PORTUGAL; MEZZA; NUNE, 2018). Considerando o uso do teatro enquanto
instrumento terapêutico, questiona-se: Qual a percepção de usuários do CAPS acerca do
grupo de teatro em seu tratamento?

Metodologia
Pesquisa de caráter descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvida nos Centros
de Atenção Psicossocial (CAPS) dos municípios seridoenses de Caicó-RN (CAPS III) e
Parelhas-RN (CAPS I), a partir de grupos de teatro destes serviços.
O instrumento utilizado, construído pelos próprios autores, foi uma entrevista semi-
estruturada composta por duas partes: A – caracterização dos participantes, contendo seis
questões; B – questões abertas relacionadas diretamente ao objeto de estudo, também com
seis questões. Todos os envolvidos participaram de forma espontânea, após esclarecimentos
sobre a pesquisa, seguido de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE), tendo participado 12 usuários, sendo três do CAPS III e nove do CAPS I.
Após a coleta os dados foram preparados da seguinte forma: a priori, organizaram-se
as informações colhidas na caracterização dos participantes da pesquisa, de forma descritiva,
na planilha do Excel. Posteriormente, os dados obtidos nas entrevistas foram transformados
em um conjunto de escritos denominado corpus, submetidos a análise do software Iramuteq
(Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires).

1
Estudante do Curso de Graduação em Enfermagem, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campu s
Caicó; e-mail:lidiadantas95@gmail.com
2
Orientador. Professor do Departamento de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande d o No rt e,
Campus Caicó; e-mail: dulcianmedeiros@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 357
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Após a análise do Iramuteq, obteve-se aproveitamento de 82,81% do corpus após


edição com 212 seguimentos de textos analisados, gerando cinco classes apresentadas por um
dendograma (Figura 1), que representa a disposição e as interações entre as mesmas. A classe
1 corresponde a 21,7% do corpus analisado; a classe 2 a 14,62%; a classe 3 a 21,23%; a
classe 4 a 30,19% e a classe 5 a 12,26%.

Figura 1: Classes geradas a partir da Classificação hierárquica descendente (CHD), Caicó-RN, 2020.

Fonte: Iramuteq.

Com base nas classes apontadas pela CHD do Iramuteq, neste resumo expandido será
trabalhada somente a Classe 04, que originou a Categoria 01(Vida em atos: a arte de
apresentar-se e sua significância

Resultados e Discussão
Os participantes da pesquisa eram em sua maioria mulheres (58,3%), com tempo
médio de participação no grupo de teatro/oficina terapêutica de 7,5 anos. O Grupo Iluminarte
(CAPS I) é o mais antigo e conta com um grupo de pessoas desde sua fundação. Quanto a
idade, a média foi de 53,8 anos, sendo o mais jovem com 40 anos e o mais velho 75 anos.
Entre as falas dos usuários observou-se frequente menção sobre o ato de se
apresentar, evidenciando a incorporação e transformação dos sentidos durante as
apresentações. Percebe-se nas falas como este momento é oportuno para a compreensão de si
e abstrair-se dos fatores intrínsecos e extrínsecos:

[...] depois que você pinta a sua cara você não é mais você [...] e as vezes ali a gente,
até durante os ensaios, durante as apresentações, eu percebo que aquela an siedad e,
aquela coisa que eu sofro de transtorno de ansiedade, de síndrome do pânico, aquilo
some, desaparece [...]parece que outra dimensão sei lá, sai da realidade
(ENTREVISTA 3).

[...] se eu chegar assim com ‘poblema’ de casa ou na mente tipo né, o momento q ue
eu começo a ensaiar, começo a apresentar uma peça ali eu esqueço s ab e, es queço
tudo mesmo, é muito maravilhoso, muito (ENTREVISTA 8).

No interior das pautas teatrais a construção de um novo personagem abre espaço para
o exercício do autoconhecimento e a separação entre o eu social e o eu lírico. Durante a
encenação, o ator experimenta novas formas de se expressar entre os membros da peça e o
público, distanciando-se do rótulo de um diagnóstico. Descobrindo outras identidades,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 358
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

constituem o cerne da personagem e possibilita o exercício do redescobrimento de si


(PORTUGAL; MEZZA; NUNES, 2018).
O Grupo Iluminarte compõe seus roteiros a partir das vivências e falas
compartilhadas durante a oficina da palavra, onde se encontram semanalmente para partilha
de vivências, debater textos e filmes, entre outras atividades. Ao levar o cotidiano enfrentado
por seus componentes, a apresentação passa a ser um ato de romper paradigmas, levando ao
público externo um novo posicionamento sobre a temática da saúde mental, abrindo portas
para a mudança de velhas concepções (MECCA; PINTO, 2017).
Para os usuários, a oportunidade de apresentar-se em espaços públicos e em outras
cidades é a chance de provar de novos olhares, não como “loucos”, mas como artistas,
desfrutando da aprovação do público e de seu reconhecimento.

[...] fiquei assim até chorei, lá na câmara, fiquei emocionado, nunca tinha sido
aplaudido por ninguém. É bom o grupo [...] me sinto melhor [...] se sente que
apresentar pra outras pessoas aí a pessoa já se sente gente (ENTREVISTA 1).

Nós já se apresentemos no Rio grande do Norte quase todo; Nat al a p rimeira v ez


num sei o que de saúde mental, [...]eu me sinto bem e eu tenho mu it o s co nh ecid o
porque quando a gente se apresenta diz o nome da gente ai as vezes eu vou passando
na rua uma pessoa diz: oi tudo bom? [...]Eu respondo toda contente (ENTREVISTA
4).
A gente [...] foi pra Natal duas ‘vez’, foi pra Caicó num sei quantas ‘vez’, pra
Currais Novos [...] Pode ir chamar que a gente vai e com maior prazer de se
apresentar, pra ver a reação do povo. Então se o povo aplaude a gente de pé é
porque a gente merece (ENTREVISTA 9).

A arte é grande aliada no debate do lugar da saúde mental na sociedade. Durante as


peças a comunicação entre ator e público é estabelecida provocando aquele que assiste a
abertura para uma nova opinião e reinterpretação de um assunto estigmatizado no imaginário
da população. Eis que as apresentações aproximam o grande público para a vivência
particular daquele que possui um transtorno mental (MELHOMENS; LIMA, 2014).
Não é de hoje que manifestações públicas de arte acontecem com o intuito de
sensibilizar a população com a causa dos defensores da saúde mental. Em meados dos anos
1980 uma diversidade de atividades culturais ocupou os espaços das cidades para informar a
população das atrocidades em que os internos dos hospitais psiquiátricos sofriam. Nesse
sentido, fala-se de arte não somente como terapêutica, mas como forma política de garantia
dos direitos fundamentais do ser humano (AMARANTE et.al, 2019).
A separação criada na vigência do modelo manicomial entre as pessoas “normais e
os loucos” tem sido um dos grandes objetivos dos novos tempos. Ancorada na dimensão
sociocultural do modelo psicossocial a arte, juntamente com a cultura em geral, desponta
como artifício na desconstrução dos “muros” que isolavam os loucos, trazendo-os de volta
para ocupar os espaços sociais. Progressivamente os grupos artísticos formados por usuários
dos serviços substitutivos ocupam os espaços da cidade (AMARANTE; TORRE, 2018). O
teatro de rua é o cartão de visitas para chamar atenção dos cidadãos para a luta
antimanicomial e a favor da inclusão social.

Conclusão
Destaca-se que o teatro, assim como a própria arte em sua dimensão, é apenas um
exemplo de dispositivo terapêutico na perspectiva psicossocial não sendo, necessariamente, a
única opção de tratamento viável. É necessário buscar alternativas de acordo as necessidades
dos usuários de saúde mental, elegendo o projeto terapêutico singular como fio condutor do
processo.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 359
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos
Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UERN) por proporcionar
essa experiência de pesquisa científica durante a graduação.

Referências
AMARANTE, P. et al. Da arteterapia nos serviços aos projetos culturais na cidade: a
expansão dos projetos artístico-culturais da saúde mental no território. In: AMARANTE, P;
NOCAM, F. Saúde mental e arte: prática, saberes e debates. 2. ed. São Paulo: Zagodani,
2019.
AMARANTE, P.; TORRE, E.H.G. “De volta à cidade, sr. Cidadão!” – Reforma psiquiátrica e
participação social: do isolamento institucional ao movimento antimanicomial. Revista de
administração pública, Rio de Janeiro, vol.52, n.6, p.1090-1107, 2018.
AZEVEDO, D. M.; MIRANDA, F.N. Oficinas terapêuticas como instrumento de reabilitação
psicossocial: percepção de familiares. Escola Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 339-
345, 2011.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégias. Saúde mental no SUS: os centros de atenção psicossocial.
Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
COSTA-ROSA, A. O modelo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao
modelo asilar. In. AMARANTE, Paulo. Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade. Rio
de janeiro: Fiocruz, 2012. p. 141-168.
MECCA, R.C; PINTO, D.S. A construção da memória social das produções artísticas na
saúde mental pós reforma psiquiátrica no Brasil. Revista Internacional interdisciplinar,
Florianópolis, v.14, n.2, p. 75-92, 2017.
MILHOMENS, A.E; LIMA, E.M.F.A. Recepção estética de apresentações teatrais com atores
com história de sofrimento psíquico. Interface, Botucatu, v. 18, n. 49, p. 377-88, 2014.
OLIVARES, A.E.L; CAMARGO, G.G.A; PIMENTEL, A.S.G. Arte e saúde: performance
como intervenção terapêutica. Revista NUFEN, Belém, v.9, n.3, p. 78-92, 2017.
PORTUGAL, C.M; MEZZA, M; NUNES, M. A clínica entre parênteses: reflexões sobre o
papel da arte e da militância na vida de usuários de saúde mental. Revista de Saúde Coletiva,
Rio de Janeiro, v. 28, n. 2, p. 2-19, 2018.
SOUZA, A. C.; GULJOR, A. P. F.; SILVA, J. L. L. Refletindo sobre os centros de atenção
psicossocial. Avances em Enfermería, Bogotá, v. 32, n. 2, p.292-298, 2014.
SOUZA, L. G. S.; PINHEIRO, L. B. Oficinas terapêuticas em um Centro de Atenção
Psicossocial – álcool e drogas. Aletheia, Canoas, n. 38-39, p. 218-227, 2012.
Paulo, v.20, n.1, p, 81-96, 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 360
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E INCLUSÃO SOCIAL: UM


ESTUDO NO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E
OUTRAS DROGAS

Patrícia da Silva Moura 1; Paula Renata da Cunha 1; Dulcian Medeiros de Azevedo2

Palavras-chave: Saúde Mental. Usuários de Drogas. Terapêutica. Serviços de Saúde Mental.

Introdução
Um imensurável número de pessoas consome SPA’s, algumas de forma sensata,
porém, outras possuem o risco de afetar a saúde e adquirir dificuldades associadas ao
convívio social e profissional (COMISSÃO GLOBAL DE POLÍTICAS SOBRE DROGAS,
2016).
Do ponto de vista da política pública de saúde, conforme a lei Federal nº 10.216, de
2001, o usuário é percebido como uma pessoa com problema de saúde em potencial, e não
mais criminoso. Recomenda-se a organização e consolidação de uma assistência enfocada na
atenção comunitária, propondo um destaque para o processo de reabilitação e inclusão social
deste usuário (BRASIL, 2001; BRASIL, 2004).
Porém, o processo de (re) inclusão social indica um campo ainda distante, pois a
mentalidade da distinção sobre o uso de SPA’s lícita e ilícita se faz presente na sociedade, de
forma que o social é diminuído ao subjetivo, ao orgânico, e/ou limitado a uma simples
‘assistencialização’, ou a atuações que tendem apenas a diminuir os desprazeres sociais.
Portanto, não possibilita a discussão do uso de SPA’s diante de um raciocínio coerente e
eficaz, mas a partir de uma inclusão contida a uma exclusão que ocorre ao mesmo tempo
(PAIVA et al., 2014).
O interesse pelo objeto de estudo surgiu após cursar a disciplina Políticas Públicas de
Saúde Mental, do Curso de Graduação em Enfermagem (Campus Caicó), e em seguida, pela
participação do Programa de Educação pelo Trabalho (Pet-Saúde Gradua-SUS), com enfoque
em saúde mental. Tal projeto possibilitou a vivência em um Centro de Atenção Psicossocial,
para o tratamento de usuários de álcool e outras drogas (CAPS ad).
Objetivou-se identificar a percepção de usuários de SPA’s sobre o processo de
(re)inclusão social.

Metodologia
Estudo de caráter descritivo, com abordagem qualitativa desenvolvido com 15
usuários em tratamento no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPS
ad), do município de Caicó – RN. Após esclarecimentos sobre a pesquisa os participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa recebeu
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do estado do Rio Grande do
Norte (CEP/ UERN) sob o Parecer nº 3181304.
A coleta dos dados efetivou-se durante o mês outubro mediante entrevista
semiestruturada composta por duas etapas: A- caracterização dos participantes, contendo 16
questões; B- aspectos de inclusão social, contendo 06 questões.
1
Estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Campus Caicó; e-mail: patriciasm2016@hotmail.com
2
Orientador. Professor do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio Gran d e d o
Norte, Campus Caicó; Pesquisador Grupo de Pesquisa em Enfermagem Campus Caicó/UERN (GRUPECC); e -
mail: dulcianmedeiros@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 361
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A análise dos dados colhidos (falas dos participantes foi realizada através do
software informático Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Testes et de
Questionnaires (IRAMUTEQ). O IRAMUTEQ é um software gratuito que possibilita realizar
análises estatísticas de um conjunto de escritos de indivíduos/palavras. Através da análise
textual é possível realizar a análise de entrevistas, textos, documentos, e outros materiais
(CAMARGO; JUSTO, 2017). Após confeccionar o corpus textual cada fala dos participantes
foi separada e codificada por uma “linha de comando” (Ex: ****pat_01 *ida_64 *sex_01).
Posteriormente ao processamento e análise realizados pelo IRAMUTEQ foram
geradas 05 classes (Figura 1), com 68 segmentos de texto classificados (73,12% de
aproveitamento). Contudo, após análises e leitura das classes apenas a Classe 1 (20, 6%) se rá
discutida, para atender à normatização deste evento científico.

Figura 1: Classificação hierárquica descendente (CHD).

Fonte: Iramuteq

Resultados e discussão
Dentre os entrevistados, 86,7% eram usuários do sexo masculino. A idade média
verificada foi de 44,4 anos. Quanto ao estado civil, 66,7% eram solteiros, e todos residiam na
zona urbana (100%), sendo 20% destes moradores de rua. Pouco mais da metade (53,3%)
declarou uso de SPA’s lícitas.
Verificou se que as falas dos entrevistados foram direcionadas para a relação entre as
dificuldades associadas ao preconceito por ser usuário de SPA e o processo de inclusão social.
Desse modo, foi possível observar uma visão de preconceito da sociedade para com o usuário,
tornando o processo de inclusão social fragmentado e/ ou inexistente.

Acredito que o usuário de droga é vis to pela sociedade com uma visão de
preconceito, em todo lugar que chega. A sociedade se afasta p o r med o . A família
age do mesmo modo, sente medo e se esconde (ENTREVISTA 14).

Acredito que o usuário de droga é visto pela sociedade com uma visão de
preconceito, não é aceito pela sociedade, desse modo é excluído. Eu já me senti
excluído por usar ou ter usado droga (ENTREVISTA 11).

Acredito que o usuário de droga é visto pela sociedade com uma visão de
preconceito. Quem não me conhece, e acredita que eu não faço uso de s ubstâncias
psicoativas, conversa comigo, porém com um tempo de conversa quando relato q u e
faço uso de drogas (ENTREVISTA 10).

Infere-se que na percepção dos usuários, a sociedade ainda apresenta uma visão de
preconceito e discriminação para com o usuário de SPA, tal visão está associada ao
pensamento de criminalidade e periculosidade de modo que estes enfrentam dificuldades para
a (re)inclusão social.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 362
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Estudo realizado em um município do Rio Grande do Sul com adolescentes em


tratamento em um CAPS ad, demonstrou que os usuários de SPA’s sofrem com situações de
preconceito, de modo que estes acabam sendo rotulados pela sociedade como crackeiro,
maconheiro, marginal e ladrão. Consequentemente, apresentam dificuldades para iniciarem e
participarem de atividades que os vinculem ao uso da droga e desse modo possam interferir
em seus vínculos sociais, como por exemplo, iniciarem e retornarem ao tratamento uma vez
que o abandonam (BARCELOS et al., 2019).
O usuário de SPA sofre com desestímulo para buscar tratamento e maior
comprometimento de sua saúde, ao perceber visões negativas que a sociedade apresenta
diante do uso de substâncias psicoativas (BARCELOS et al., 2019).
Outro estudo realizado, com o objetivo de analisar o perfil dos usuários de crack
mediante meios de comunicação, assemelha-se a este ao trazer em seus resultados que o
usuário é conceituado mediante um perfil negativo, evidenciado por situações de preconceito
e estigma (ZANOTTO; ASSIS, 2017).

Acredito que o usuário de droga é visto pela sociedade com uma visão de
preconceito, como alguém sem valor. Porém, antigamente isso era pior
(ENTREVISTA 09).

Acredito que o usuário de droga é visto pela sociedade como algu ém q u e n ão t em


nenhum valor, que não merece respeito, nos lugares que frequenta recebe crít icas
destrutivas e quando está sobre efeitos da substância é desprezado (ENTREVISTA
15).

[...] imediatamente a pessoa se afasta, age com preconceito, até mesmo aqueles q ue
também são usuários de alguma substância psicoativa (ENTREVISTA 10).

Acredito que o usuário de droga é visto pela sociedade como alguém que não
merece estar entre os demais. Quando está sobre efeitos da droga se comporta de um
modo e quando não está se comporta totalmente diferente (ENTREVISTA 05).

Torna-se evidente a exclusão social vivida pelos usuários de SPA do CAPS


pesquisado, além de situações associadas ao desprezo ou perda de valor diante da sociedade,
consequentemente a inexistência do respeito de grande parte da sociedade e do processo de
inclusão social.
Essa privação presente nas falas dos participantes, a privação de trocas sociais, que
enfatizam o valor social do sujeito, possui possibilidades de ser prejudicada pela simples
condição deste ser um indivíduo que utiliza SPA’s desse modo seu valor perante a sociedade
é diminuído (VECCHIA; SANCHES, 2018).

Conclusão
Para o usuário, a (re)inclusão social é um processo que ocorre por meio do
tratamento, sendo uma consequência positiva. Porém o processo de (re)inclusão do usuário de
SPA é permeado por preconceito e estigma social, razões que comprometem a qualidade de
vida dos usuários e familiares, tornando o (re)incluir-se em espaços de convívio social ainda
mais difícil.
Necessita-se mudar a visão da sociedade para com o usuário, favorecer a (re)inclusão
social mediante desenvolvimento de novos estudos na área, qualificação profissional, maior
inclusão de acadêmicos nos serviços de saúde mental, propondo inovações diante do
tratamento, além de mais investimentos para estes serviços.
Participar deste estudo possibilitou associar o campo da teoria ao campo da prática
assistencial, especificamente, a prática do enfermeiro enquanto ser imprescindível no

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 363
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

processo de inclusão do usuário de SPA, pois este profissional em especial, tem como objeto
de trabalho, a ato de cuidar, uma das formas de possibilitar a (re)inclusão social.

Agradecimentos
Ao Programa de Bolsas Para Iniciação Científica (PIBIC/ UERN) pela oportunidade
para desenvolver esta pesquisa e pelo auxílio financeiro.

Referências
BARCELOS, K. L. et al. Aspectos que dificultam o tratamento do adolescente usuário de
drogas. Journal of Nursing and healt, v.9, n.3, 2019.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção
e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial
em saúde mental. Brasília: Congresso Nacional, 2001. Disponível em:
https://www.saude.mg.gov.br/images/documentos/lei_10216.pdf. Acesso em: 06 mar. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.197, de outubro de 2004. Redefine e amplia a
atenção integral ao usuário de álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde –
SUS, e dá outras providências. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2004/prt2197_14_10_2004.html. Acesso em: 06
mar. 2020.
CAMARGO, B. V.; JUSTO, A. M. Tutorial para uso do software IRAMUTEQ:
Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de
Questionnaires. Santa Catarina: Laboratório de Psicologia Social da Comunicação e
Cognição, 2017.
COMISSÃO GLOGAL DE POLÍTICA SOBRE DROGAS. Avanços na reforma de políticas
sobre drogas: uma nova abordagem à descriminalização, relatório 2016. Disponível em:
http://www.globalcommissionondrugs.org/wp-content/uploads/2016/11/GCDP-Report-
2016_POR.pdf. Acesso em: 06 mar. 2020.
PAIVA, F. S. et al. A percepção profissional e comunitária sobre a reinserção social dos
usuários de drogas. Psicologia e sociedade, v. 26, n. 3, p. 696-706, 2014. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/psoc/v26n3/a18v26n3.pdf. Acesso em: 06 mar. 2020.
VECCHIA, M. D.; SANCHES, L. R. Reabilitação psicossocial e reinserção social de usuários
de drogas: revisão da literatura. Psicologia e sociedade , v. 30, 2018. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/psoc/v30/1807-0310-psoc-30-e178335.pdf. Acesso em: 06 mar.
2020.
ZANOTTO, D. F.; ASSIS, F. B. Perfil dos usuários de crack na mídia brasileira: análise de
um jornal e duas revistas de edição nacional. Revista de Saúde Coletiva, v. 27, n. 3, p. 771-
792, 2017. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/physis/v27n3/1809-4481-physis-27-03-
00771.pdf. Acesso em: 06 mar. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 364
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resumos expandidos de
CIÊNCIAS EXATAS E DA
TERRA

http: // propeg.uern.br/sic/anais
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 365
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ACELERAÇÃO DO UNIVERSO E MODELOS DE QUINTESSÊNCIA

Mateus Felipe Araújo Medeiros1 ; Fábio Cabral Carvalho2 ; Maria Aldinez Dantas3
Palavras-chave: energia escura fantasma. cmb. parâmetro de hubble.

INTRODUÇÃO
As observações feitas por Hubble no século XX, mostraram que as galáxias se
afastavam uma das outras, com velocidade proporcional a sua distância. Essa descoberta
intrigou diversos cosmólogos a se questionarem sobre o comportamento dessa velocidade de
afastamento. Em 1998, medidas de distância usando supernovas do tipo Ia evidenciaram que o
universo estava se expandindo aceleradamente. Explicar essa expansão tornou-se um desafio
para a Cosmologia, tendo em vista que a gravidade é uma força naturalmente atrativa, o mais
lógico a se concluir era que o Universo teria uma expansão desacelerada.
Entre as possíveis soluções para esse fenômeno, a mais recorrente é explicar a
aceleração através de uma componente de energia extra e desconhecida no conteúdo material
do Universo. Em modelos de quintessência temos propriedades que rementem a de um efeito
gravitacional repulsivo que em largas escalas supera a gravidade convencional [2].
Nas últimas décadas, os astrônomos com o auxílio de telescópios espaciais atingiram
uma compreensão maior sobre os parâmetros cosmológicos. As observações apontaram que a
energia escura, modelada como uma constante, explica de forma mais simples a natureza da
aceleração. Os dados observacionais atuais também preveem a existência uma outra
componente material desconhecida responsável pela formação de estruturas em largas escalas,
essa componente é chamada de matéria escura. Estudos apontam que esse novo constituinte só
interage gravitacionalmente e que provavelmente é uma partícula não-relativística.
O modelo formulado com base no cenário cosmológico previsto pelos dados
disponíveis, o ΛCDM, que trata a energia escura como uma constante, com pressão 𝑝 = −𝜌, e
a matéria escura como uma partícula não-relativística que só interage gravitacionalmente,
chamada de matéria escura fria. Por outro lado, estudos recentes mostram que dois tipos de
observações cosmológicas tendo como referencial o modelo ΛCDM obtiveram dois valores
diferentes para o parâmetro de Hubble (H 0 ), essa diferença se aproxima de 6σ [1].
Esse novo problema, que pode ocasionar uma crise na Cosmologia, ficou conhecido
como “Tensão de H 0 ” e não é previsto e nem explicado pelo modelo mais aceito, o ΛCDM. Essa
tensão é resultado do desacordo entre as medidas de objetos em altos redshifts, como a Radiação
Cósmica de Fundo em Micro-ondas (RCF) e Oscilações Acústicas Bariônicas (BAO), e em
baixos redshifts, como as Supernovas do tipo Ia.

1 Estudante do cursode Licenciatura em Física do Departamento de Física da Universidade do Estado Rio Grande
do Norte; e-mail: mateusaraujosamp@gmail.com;
2 Professor do Departamento de Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Vice -líder do Grupo

de Cosmologia e gravitação da UERN; e-mail: fabiocabral@uern.br;


3 Professora do Departamento de Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, participante do Grupo

de Cosmologia e gravitação da UERN; e-mail: aldinezdantas@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 366
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Uma solução possível, sem que seja necessário descartar todo o modelo ΛCDM, é
modificarmos as propriedades da energia escura tratando como um campo escalar dinâmico,
que evolui se tornando mais negativo com o tempo. Para isso, o objeto de estudo foi o trabalho
publicado por Alestas et al. (2020) [1].
METODOLOGIA
O projeto foi desenvolvido no período de agosto de 2019 a julho de 2020. A
metodologia de trabalho consiste da realização de seminários regulares dentro do grupo de
Astrofísica e Cosmologia abertos ao público e de discussões reservadas entre os membros do
grupo. Em nosso trabalho utilizamos os dados da radiação cósmica de fundo disponibilizados
pelo satélite PLANCK [2] e realizamos testes estatísticos construídos na linguagem de
programação Fortran. Utilizamos a linguagem LATEX para confeccionar nossos trabalhos para
apresentações em congressos e escrever artigos, visto que além de ser a linguagem mais
utilizada na Física, é obrigatória nas revistas científicas internacionais da área.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As observações de RCF e BAO feitas pelo satélite Planck e publicadas em 2018 [3],
sugeriram um valor de H0 em torno de 67.4 ± 0.5 km/s/Mpc. Em contraponto, as medidas de
distâncias de Cefeidas e Supernovas do tipo Ia realizadas pela colaboração SH0ES em 2019
[4], sugeriram um valor de 73.5 ± 1.4 km/s/Mpc. Essa tensão é hoje um dos problemas mais
debatidos na Cosmologia com diversas soluções possíveis na literatura, entre elas: novas
espécies relativísticas, inomogeneidades locais, energia escura fantasma, gravidade modificada
e etc [1].
Algumas soluções possíveis para a tensão, descartam o modelo ΛCDM ou adicionam
novos parâmetros nas equações tornando o modelo muito mais complicado. Uma alternativa é
modificarmos as propriedades da energia escura no modelo. Adotando a energia escura como
um campo escalar dinâmico que fica cada vez mais negativo com o tempo, ou seja, um modelo
de energia escura fantasma. Também tem sido usadas novas parametrizações em w.
A Cosmologia padrão trata o Universo como um fluido perfeito e homogêneo em
largas escalas. No contexto da relatividade geral, precisamos adotar componentes extras de
densidade de matéria-energia para explicar a atual fase acelerada do Universo. Em um modelo
cosmológico existem uma série de expressões que descrevem seu comportamento. É possível
entendermos melhor a importância da matéria escura e da energia escura através de uma
expressão que descreve a relação entre pressão e densidade, a equação de estado.
No modelo WCDM o parâmetro equação de estado permanece constante, mas não pode
ser diferente de -1. Portanto, estudar os impactos da energia escura na dinâmica do universo e
na equação de estado são facilitados através dele. No modelo WCDM, a equação de estado para
a energia escura é dada por:
𝑝 = 𝑤𝜌, (1)
onde 𝑤 é o parâmetro da equação de estado que caracteriza o fluído, 𝜌 é a densidade e 𝑝 é a
pressão. A dinâmica do Universo obtida através das equações de Friedmann, é dada pela
equação:

𝐻(𝑧) = 𝐻0 √Ω𝑚 (1 + 𝑧)3 + Ω𝑟 (1 + 𝑧)4 + Ω𝑑𝑒 (1 + 𝑧)3(1+𝑤) + Ω𝑘 (1 + 𝑧)2 , (2)


𝑧 é o redshift, Ω𝑚 é a densidade de matéria, Ω𝑟 é a densidade de radiação, Ω𝑑𝑒 é a densidade
de energia escura e Ω𝑘 é a densidade de curvatura.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 367
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para o modelo ΛCDM, o 𝑤 assume da constante cosmológica (Λ) que é igual a -1.
Esse valor constante está relacionado com a densidade de energia de vácuo. A equação de
estado e a equação da dinâmica são dadas por:
𝑝 = −𝜌, (3)
𝐻 𝑧 = 𝐻0 √Ω𝑚 (1 + 𝑧) + Ω𝑟 (1 + 𝑧)4 + ΩΛ + Ω𝑘 (1 + 𝑧)2 ,
( ) 3 (4)
onde ΩΛ é a densidade da constante cosmológica.
O modelo adotado durante esse trabalho utiliza a parametrização CPL presente no
artigo de Alestas et al. (2020) [1] e foi considerado sem densidade de curvatura. A propriedade
da energia escura foi modificada considerando uma energia com um valor de 𝑤 inicial (𝑤1 ) e
um valor de 𝑤 hoje (𝑤0 ). A equação da parametrização é dada por [1]:
𝑤 = 𝑤0 + 𝑤1 𝑧/(1 + 𝑧), (5)
Com a parametrização da equação (5), pode-se reescrever a equação (2) e obter:
𝑤 𝑧
−3 1
(6)
𝐻(𝑧) = 𝐻0 √Ω𝑚 (1 + 𝑧)3 + Ω𝑟 (1 + 𝑧)4 + Ω𝑑𝑒 (1 + 𝑧)3(1+𝑤0 +𝑤1 ) 𝑒 1 +𝑧 .
Como o somatório de todas as densidades do conteúdo material do Universo representa o todo,
podemos dizer que:
Ω𝑚 + Ω𝑟 + Ω𝑑𝑒 = 1. (7)
Então substituindo (7) em (6), temos:
𝑤1 𝑧 (8)
𝐻(𝑧) = 𝐻0 √Ω𝑚 (1 + 𝑧)3 + Ω𝑟 (1 + 𝑧)4 + (1 − Ω𝑚 − Ω𝑟 )(1 + 𝑧)3 (1+𝑤0 +𝑤1 ) 𝑒 −31 +𝑧 .
Por fim criamos um programa no Fortran 77, que executava um teste de dinâmica
usando o modelo da equação (8). O teste fixava Ω𝑚 e Ω𝑟 com os dados do Planck 2018, 𝑤0 , 𝑤1
e ℎ são parâmetros livres e então calculamos os valores da distância de diâmetro angular (d A)
para cada combinação e comparamos com o valor medido pelo Planck 2018. Todos os valores
obtidos pelo programa que possuíam um erro de ±0,001 em relação ao valor teórico.
Lembramos que a equação da distância de diâmetro angular é dada por:
𝑧 𝑑𝑧
𝑑𝐴 = ∫0 𝑟 , (9)
𝐻(𝑧)
onde 𝑧𝑟 é o redshift de recombinação com valor adotado igual a 1100, 𝐻(𝑧) é o modelo e 𝑑𝐴 é
a distância de diâmetro angular.
Através do modelo da equação (8) e de um programa na linguagem de programação
Fortran 77, relacionamos o d A do Planck 2018 [3] com os valores obtidos deixando ℎ, 𝑤0 e 𝑤1
livres. Com isso, conseguimos um espaço paramétrico com distância de 𝑤0 − 𝑤1 com vários
valores para ℎ.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 368
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 1: Espaço paramétrico 𝑤𝑜 − 𝑤1

O gráfico da figura 1 é um espaço paramétrico de 𝑤0 − 𝑤1 que mostra as combinações


de ℎ, 𝑤0 e 𝑤1 . As linhas pretas são as linhas de contorno que expressam os valores de ℎ para o
Riess [4] e para o Planck [3]. Portanto, é possível utilizar os valores dentro do intervalo de 0,674
e 0,7403 para obter o best-fit do valor de ℎ.
CONCLUSÃO
Na figura 1, reproduzimos os resultados do artigo de Alestas et. al. (2020) [1], contudo
para obter resultados era necessário aumentar o número de iterações do programa e para isso
era necessário maior poder computacional. O estudo tinha como principal objetivo checar se
um modelo de energia escura fantasma era viável para solucionar o problema da Tensão de H 0.
Contudo, em decorrência da pandemia de Covid-19, o acesso a computadores melhores foi
dificultado prejudicando o cronograma do trabalho. Então só foi possível realizar um teste de
dinâmica, outros testes envolvendo Ω𝑚 , Ω𝑟 , ℎ, 𝑤0 e 𝑤1 não puderam ser executados.
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que
através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) patrocinou esse
projeto. A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) pela infraestrutura.
REFERÊNCIAS
[1] ALESTAS, G.; KAZANTZIDIS, L.; PERIVOLAROPOULOS, L. H0 tension, phantom
dark energy, and cosmological parameter degeneracies. Physical Review D, [S.L.], v. 101, n.
12, p. 123516, 16 jun. 2020.
[2] LIMA, J. A. S. Cosmologia, quintessência e aceleração do universo. Revista USP, São
Paulo, n. 62, p. 134-147, ago. 2004.
[3] PLANCK COLLABORATION. Planck 2018 results. VI. Cosmological parameters.
2018. Disponível em: https://arxiv.org/abs/1807.06209. Acesso em: 05 ago. 2020.
[4] RIESS, Adam G.; CASERTANO, Stefano; YUAN, Wenlong; MACRI, Lucas M.;
SCOLNIC, Dan. Large Magellanic Cloud Cepheid Standards Provide a 1% Foundation for the
Determination of the Hubble Constant and Stronger Evidence for Physics beyond ΛCDM. The
Astrophysical Journal, [S.L.], v. 876, n. 1, p. 85, 7 maio 2019. Disponível em:
https://arxiv.org/abs/1903.07603. Acesso em: 05 ago. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 369
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AME+: UMA APLICAÇÃO WEB COMO MEIO DE PROMOÇÃO AO


ALEITAMENTO MATERNO E PREVENÇÃO AO DESMAME
PRECOCE
Lucas Gabriel Figueiredo Duarte1, Thalia Katiane Sampaio Gurgel2, Cicília Raquel Maia
Leite3
Palavras-chave: Aleitamento Materno, Promoção da Saúde, M-Health

Introdução
Em 2001, consultores internacionais em lactação realizaram uma revisão sistemática da
literatura científica a convite da Organização Mundial de Saúde (OMS), com o objetivo de
definir em termos científicos e teóricos um tempo de duração satisfatório do aleitamento
materno exclusivo. A partir do estudo que foi desenvolvido, a OMS passou a recomendar a
promoção do aleitamento como a única fonte de alimento para praticamente todos os lactentes,
até 6 meses de vida do bebê (WHO, 2001). Podendo ser complementado até os 2 anos ou mais.
Existem diversos fatores que podem causar prejuízos ao bebê com o início do desmame
precoce, de acordo com a OMS, a partir do momento que a mãe começa a introduzir outros
alimentos, pode haver um maior número de episódios de diarreia, doenças respiratórias, riscos
de desnutrição, menor absorção de nutrientes importantes providos do leite materno, como o
ferro e o zinco, e uma menor eficácia da lactação como método anticoncepcional.
Os benefícios que o aleitamento materno exclusivo traz, não são apenas para bebês, são
apontados diversos efeitos benéficos para mães, pois o ato de amamentar protege contra o
câncer de mama, evita uma nova gravidez, melhora o vínculo afetivo entre mãe e filho e
melhora a qualidade de vida. Sendo assim, mesmo diante de diversos benefícios que a
amamentação exclusiva pode trazer, alguns problemas enfrentados por nutrizes durante o
aleitamento materno, se não forem precocemente identificados e tratados, podem ser
importantes causas de interrupção da amamentação.
A partir disso, podem ser desencadeadas diversas intercorrências mamárias que fazem
com que mães introduzam uma alimentação inadequada e precoce em seus bebês, podemos
destacar casos de bebês que possuem sucção fraca, mães que possuem problemas na descida do
leite, ingurgitamento mamário, dores nos mamilos, infecção na mama, mastite, abscesso, dentre
outras intercorrências. Esses problemas que foram citados, dentre outros podem levar ao
desmame precoce.
Além dos problemas que são obtidos frequentemente durante o processo de
amamentação, há outros fatores que também causam o desmame precoce, de acordo com uma
pesquisa feita em (DEMIRCI et al., 2016), um dos pontos que as puérperas desejavam obter
por meio da tecnologia, era um tipo de apoio emocional, informativo e técnico, conselhos para

1
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Informática da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail:lukasgabriel08@hotmail.com
2
Estudante do Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação (UERN/UFERSA). Email:
thaliasampaio8@gmail.com
3
Professora do Departamento de Informática (DI) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN), e-mail: ciciliamaia@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 370
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

lidar com as dificuldades e decepções que são enfrentadas na amamentação, orientação sobre
mudanças na amamentação ao longo do tempo, e informações sobre produção de leite.
Portanto, considerando o contexto social da pesquisa que foi apresentada, este projeto
tem como principal objetivo desenvolver uma plataforma que visa abordar as principais
dificuldades que as nutrizes enfrentam durante o processo de amamentação, intitulada AME+.
Tendo a missão de fornecer apoio informativo e técnico, dando suporte e assistência em
problemas relacionado às intercorrências mamárias na amamentação, fazendo com que a nutriz
obtenha a orientação correta para o seu problema específico, e não introduza alimentação
precoce em seu bebê, consequentemente promovendo o aleitamento materno.
Metodologia
A metodologia de desenvolvimento do trabalho foi dividida em 7 (sete) etapas, descritas
a seguir:
1. Etapa 1: Realizar um levantamento bibliográfico sobre as principais dificuldades
enfrentadas no processo de amamentação;
2. Etapa 2: Identificar os requisitos e funcionalidades necessárias para a implementação
do Ame+;
3. Etapa 3: Identificar as tecnologias atuais existentes para desenvolvimento de aplicativos
móveis;
4. Etapa 4: Implementar primeiro protótipo da plataforma por meio da tecnologia
escolhida;
5. Etapa 5: Disponibilizar a plataforma para que seja utilizada e testada no ambiente real;
6. Etapa 6: Realizar a manutenção e correção de erros;
7. Etapa 7: Serão desenvolvidos os relatórios, artigos científicos para posteriormente
serem divulgados os resultados.
Resultados e Discussão
O projeto teve como êxito o desenvolvimento de um material específico para o público
desejado, a plataforma realiza a anamnese a partir de um questionário para saber informações
pertinentes a respeito da mãe e do bebê, a partir disso ela auxilia por meio de informações o
manejo correto para determinadas intercorrências mamárias. A plataforma desenvolvida
funciona da seguinte forma: i) coleta de dados (anamnese): feita na própria plataforma, ao
colher os dados, os mesmos são armazenados em um banco de dados onde servem de auxílio
para construir o perfil de cada usuário ; ii) dispõe de informações sobre intercorrências
mamárias, dores, fissuras, mastite, ingurgitamento, cuidados com o bebê etc. E iii) dispõe de
funcionalidades sobre intervalo entre mamadas, ambientação, pega correta e higienização.
A figura 1 apresenta o formulário onde contém a anamnese sobre a mãe e o bebê, a
figura 2 mostra o menu principal da plataforma juntamente com funcionalidade de “hora da
mama’’ e “doeu e agora?”, a figura 3 mostra orientações sobre a pega correta do bebê.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 371
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 1 – Processo de anamnese da plataforma

Fonte: Gurgel (2020)

Figura 2: Menu e funcionalidades

Fonte: Gurgel (2020).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 372
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 3: Orientações sobre pega correta do bebê

Fonte: Gurgel (2020)

Conclusão
O desenvolvimento deste trabalho se orientou pela necessidade de promover o
aleitamento materno exclusivo por meio da plataforma Ame+. Fornecendo apoio motivacional,
suporte, incentivo e confiança para as mães. Por meio dela foi apresentada uma visão geral da
plataforma com informações e orientações pertinentes que auxiliam as lactantes em seu
processo de amamentação, consequentemente auxiliando na promoção da saúde.

Agradecimentos
Agradecemos ao Grupo de Engenharia de Software (GES), à Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (UERN) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pelo apoio na condução desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
DEMIRCI, J. et al. Access, use, and preferences for technology-based perinatal and
breastfeeding support among childbearing women. J Perinat Educ, p. 25:29–36, 2016
WHO, W. H. O. The optimal duration of exclusive breastfeeding: report of an expert
consultation.: Geneva, 2001

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 373
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE DA VULNERABILIDADE NATURAL À PERDA DO SOLO


DO MÉDIO CURSO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO APODI
MOSSORÓ-RN
Victor Elias Leite¹, Franklin Roberto da Costa²

1.INTRODUÇÃO

De acordo com Hollanda et al (2012) a realização do manejo integrado de bacias


hidrográficas (MIBH) pode ser considerado como uma das unidades geográficas ideal para se
caracterizar, diagnosticar, avaliar e planejar o uso dos recursos. Neste sentido, os autores
entendem que os recursos naturais ganham destaque, uma vez que são nessas complexidades
que se constituem as principais formas de uso do solo, consumindo-os, exaurindo-os ou
conservando-os.
Estes recursos, segundo Grisi (2000), podem ser entendidos como componentes bióticos
e abióticos que permitam à manutenção, crescimento e reprodução dos seres vivos. Esses
componentes, segundo o autor, devem ser utilidades pela sociedade, com a meta do
desenvolvimento econômico e social.
O médio curso superior da Bacia Hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró apresenta-se
como uma unidade geográfica e de planejamento composta por diversas formas de ocupação,
passando por ocupações urbanas em áreas consideradas de preservação ambiental, além de
propriedades rurais variadas, que produzem diferentes cultivos e criação de animais.
Esse recorte espacial é formado pelo rio Apodi Mossoró e seus afluentes, que o
condiciona como uma bacia, conforme o conceito de bacia hidrográfica citada por Oliveira e
Ferreira (2001), afirmando que estas são compostas basicamente de um conjunto de superfícies
vertentes e de uma rede de drenagem, por cursos hídricos confluentes, formando um único leito.
Neste sentido, o presente trabalho procurou identificar a vulnerabilidade natural do
curso médio superior da Bacia Hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró – BHRAM/RN, tendo
como suporte as Geotecnologias.

2. METODOLOGIA

Nesta pesquisa, os resultados e conclusões da pesquisa foram apresentados, a partir da


atualização e elaboração de mapas do meio físico, com suporte de geotecnologias, tendo como
norteadora a metodologia proposta por Crepani et al. (2001). Segundo o autor, para a realização
do mapa de vulnerabilidade natural, é necessário a criação de indicadores ligados às
características do meio físico (geologia, geomorfologia, solos, vegetação e clima).
Para o presente trabalho, foram obtidos dados de bases secundárias, em escalas
variadas, provenientes da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMARH/RN e
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Os dados obtidos foram integrados e processados no SIG QGIS Essen 2.14.18, para a
realização do mapeamento da Vulnerabilidade Natural da área em estudo. O processamento se
deu pela valoração das características da área de estudo, classificando-as de acordo com o
predomínio da morfogênese (modificam a paisagem) ou da pedogênese (formação dos solos);
Os dados foram classificados em uma escala de 1,0 a 3,0, segundo metodologia
adotada por Crepani et al. (2001)
Com os mapas produzidos, o passo seguinte foi realizar a álgebra de mapas, que
consiste em realizar a sobreposição de mapas transformados de formato vetorial (.shp) para o
formato raster (geotiff), em que é feito uma média aritmética simples na calculadora raster,

¹ Estudante do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: axl-v@hotmail.com
² Professor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Membro do Núcleo de
Estudos Geoambientais e Cartográficos – NEGECART/CAPF/UERN; e-mail: franklincosta@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 374
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

existente no software QGIS. Foram trabalhados os mapas de Geologia, Geomorfologia, Solos,


Vegetação e Clima (Intensidade Pluviométrica) para a execução da álgebra.
Após elaboração dos mapas por tema, executou-se o mapa da vulnerabilidade natural
a perda de solo da área em estudo. Com os mapas temáticos elaborados, foi possível extrair a
quantidade de áreas existentes para cada variável e identificar quais os graus de vulnerabilidade
existentes para o médio curso da bacia hidrográfica do rio Apodi-Mossoró.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os mapas abaixo representam a classificação das áreas pelas variáveis da área física e
o grau de vulnerabilidade associado a cada variável (FIGURA 1). Para fins de análise, a área
em estudo foi dividida em 03 (três) partes distintas, classificadas como porção sul, central e
norte.
FIGURA 01 – Mapa da classificação das variáveis do meio físico e o grau de vulnerabilidade para cada tema.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

A primeira área, porção sul, predomina uma geologia mais antiga, que data do
proterozóico, com rochas mais duras e menos vulneráveis. A Geomorfologia é marcada pela
depressão sertaneja, juntamente com Planaltos Residuais. Este último responsável pela divisão
da área sul da área central. O solo predominante é o latossolo amarelo distrófico em toda sua
porção sul e central. É um solo antigo, com grau de vulnerabilidade moderadamente vulnerável,
com valor de 2,5. O clima da porção sul e central é característico de clima semiárido, com
poucas chuvas e concentradas em poucos meses, ao longo do ano, o que dá para toda a porção
centro-sul da área em estudo uma vulnerabilidade alta para essa variável.
A porção central tem características semelhantes a porção sul, no que se refere a
geologia e geomorfologia, com algumas particularidades na parte leste dessa área. Em alguns
pontos, como nos municípios de Portalegre, Martins, Viçosa e Riacho da Cruz, o grau de
vulnerabilidade é considerado medianamente estável (2,0), enquanto o restante da área
apresenta estabilidade (1,0). A Geomorfologia se apresenta moderadamente estável (1,5). Os
solos são considerados moderadamente vulnerável, tendenciando a morfogênese. Em relação a
vegetação, a porção central apresenta vulnerabilidade que varia entre medianamente estável-
vulnerável (2,1), em áreas preservadas, à vulnerável (3,0), principalmente nas áreas de
agricultura e culturas permanentes e de agropecuária.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 375
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A porção norte, terceira área escolhida para análise, apresenta uma geologia mais
recente, composta, principalmente, pela Formação Açu e a Formação Jandaíra, cujo grau de
vulnerabilidade é de 2,4 e 2,5, respectivamente, considerado moderadamente vulnerável, além
dos depósitos aluvionares, que são considerados de grau 3,0, ou seja, vulnerável. A
geomorfologia também se apresenta vulnerável, formado pelo Tabuleiro e pela planície fluvial,
com grau de vulnerabilidade entre 2,3 e 3,0. Os solos aluviais e o cambissolo eutrófico foram
considerados os mais vulneráveis da área em estudo, com valores entre 2,5 e 3,0, além de uma
pequena área na parte norte do município de Apodi com estabilidade (1,0) para o tema solos.
Para o tema vegetação, a predominância é de áreas vulneráveis decorrentes da agropecuária. A
parte mais ao norte do município de Apodi tem uma vulnerabilidade natural menor, pela
influência da savana estépica arborizada e florestada. Por fim, a intensidade pluviométrica da
porção norte foi influenciada pelos municípios de Apodi e Severiano Melo, que apresentaram
uma distribuição mais regular da chuva, tendo o município de Apodi, por exemplo, 70 dias de
chuvas (o maior da área em estudo). Isso fez com que o grau de vulnerabilidade fosse de 2,0 a
2,7, o que a deixa como moderadamente vulnerável. As demais áreas, como visto anteriormente,
se apresentaram vulnerável. A soma dos 05 (cinco) mapas deram como resultado o mapa síntese
da vulnerabilidade natural à perda do solo (FIGURA 02).

FIGURA 02 – Mapa da vulnerabilidade natural da área em estudo.

Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

As áreas, em km², para cada grau de vulnerabilidade, pode ser visto no quadro 01.
Quadro 1: Vulnerabilidade natural da área em estudo
Média Grau de Vulnerabilidade Área (km²) %
1,6 – 1,7 Moderadamente Estável 860,05 24,93
1,8 – 2,2 Median. Estável/Vulnerável 1.728,94 50,11
2,3 – 2,6 Moderadamente Vulnerável 740, 17 21,45
2,7 – 3,0 Vulnerável 121,18 3,51
Total 3.450, 34 100,0
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Na figura 02, observa-se que a porção centro-sul do curso médio da bacia hidrográfica
do rio Apodi – Mossoró – CMBHRAM se apresenta entre moderadamente estável a

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 376
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

medianamente estável/vulnerável. Em alguns pontos, como o extremo sul, onde está localizado
o açude de Pau dos Ferros, assim como outros corpos d’água representativos, observou-se áreas
classificadas como vulnerável, de acordo com o quadro 01.
Já a parte centro norte do CMBHRAM se apresentou com maior grau de
vulnerabilidade, com valores que variaram entre 2,2 e 3,0. As maiores áreas vulneráveis estão
na parte nordeste da bacia, onde está localizado a barragem de Santa Cruz, no município de
Apodi.
A média geral da vulnerabilidade da área em estudo foi de 2,04, o que a coloca como
um grau Medianamente Estável/Vunerável.

4. CONCLUSÕES

O CMBHRAM se apresenta como uma área com vulnerabilidade natural tendenciando


para estabilidade pedogênese/morfogênese. Na porção nordeste, onde se localiza o principal
corpo d’água da região e os sistemas naturais mais frágeis, a vulnerabilidade natural se mostrou
mais preocupante, com elevado grau de vulnerabilidade (3,0).
A metodologia de análise adotada no presente artigo se mostrou satisfatória e revelou
que a bacia se encontra na classe Medianamente Estável/Vulnerável, com valor médio de 2,04,
na escala de 1,0 a 3,0. O resultado obtido se deu pela grande área de estabilidade e
medianamente estável/vulnerável, representando uma área de 2.588,99 km2 (75,04% da área
total da bacia).
Nesse sentido, é possível afirmar que a vulnerabilidade natural da área em estudo
preocupa, principalmente nas áreas que apresentam corpos d’água e geologia mais recente, uma
vez que são nelas que a vulnerabilidade se apresentou mais elevada.
Sugere-se que, para essas áreas, sejam criados critérios que limitem o uso e ocupação,
tendo como suporte as legislações ambientais em vigor, visando a conservação e/ou restauração
dos sistemas naturais ainda existentes. Com estudos complementares é possível propor áreas de
proteção para vegetação nativa e o uso sustentável do solo, principalmente na porção centro-
norte do CMBHRAM.

6. AGRADECIMENTOS

Agradecimento à bolsa de iniciação científica PIBIC/UERN disponibilizada pela


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

5. REFERÊNCIAS

CREPANI, E.; MEDEIROS, J. S. de; HERNANDEZ, P.; FLORENZANO, T.G.; DUARTE,


V.; BARBOSA, C. C. F. Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento Aplicados ao
Zoneamento Ecológico-Econômico e ao Ordenamento territorial. São José dos Campos:
SAE/INPE. (INPE-8454-RPQ/722), 2001.
GRISI, Breno M. Glossário de ecologia e ciências ambientais. 2ª Ed. João Pessoa: Ed.
Universitária - UFPB, 2000.
HOLLANDA, M. P.; CAMPANHARO, W. A.; CECÍLIO, R. A. Manejo de bacias
hidrográficas e a gestão sustentável dos recursos naturais. In: MARTINS, L.D.;
HANNAS, T.R.; VENTURA, R.C.M.O.; ALVIM-HANNAS, A.K.; MENDONÇA, J.A.;
FÚCIO, L.H.; LONGO, L.B.F.; LAMAS, L.P.A.; SILVA, L.B.; FURTADO, L.B.; COSTA,
M.O.; SILVA, R.C.S. (Org.). Atualidades em desenvolvimento sustentável. Manhuaçu:
FACIG, 2012, v. 1, p. 57-66.
OLIVEIRA, Alcione de; FERREIRA, Elisabeth. Caracterização de sub-bacias
hidrográficas. Lavras: UFLA/FAEPE, 2001.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 377
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Análise de Desempenho de um Middleware Adaptativo Através da


Mineração de Processos

Bruno Paulino Marinho¹; André Gustavo Pereira da Silva²

Palavras-Chave: Mineração de Processos. Adaptação. Lógica Temporal Linear.

Introdução
O presente relatório é resultado das atividades realizadas enquanto bolsista voluntário
no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC).
Este projeto teve como proposta analisar o desempenho de um middleware adaptativo
através da verificação de um conjunto pré-definido propriedades lógicas temporais. Com o
aumento no desenvolvimento de aplicações em sistemas distribuídos, principalmente com as
cidades inteligentes e internet das coisas, e a necessidade por operações mais robustas tem
acompanhado essa demanda, é desejável que essas aplicações sejam auto adaptáveis. Para isso
a técnica de mineração de dados foi vista como aliada na avaliação de desempenho de
middlewares, com base na geração de logs de eventos, que é algo simples de se implementar e
que muitas vezes já faz parte em diversos sistemas. Middleware é uma camada de software
entre o sistema operacional e a aplicação distribuída, que visa abstrair detalhes relativos à
distribuição.

Metodologia
Inicialmente fui direcionado a fazer leituras teóricas que muito me foi útil para que
pudesse compreender o funcionamento e a aplicação de forma eficiente. Perpassei sobre os
temas de sistemas distribuídos e seus padrões de aplicação, as tecnologias RMI (Remote
Method Invocation) e JMS (Java Message Service), e a mineração de dados; em seguida,
comecei a parte prática, reproduzindo exemplos dessas aplicações.

Resultados e Discussão
Durante o projeto, foi estudado os padrões remotos básicos de uma aplicação de
sistema distribuído, sendo eles: Requestor, responsável por organizar as requisições até o
invoker; Client Proxy, que tem como função garantir a transparência no acesso, fazendo com
que as chamadas remotas funcionem como se fosse uma chamada local; Invoker, assumindo o
papel de uma espécie de memória que guarda os objetos remotos que estão chegando ao
servidor para serem processados através do Request Handler, que, em seneguida, envia os
dados da invocação ao Marshaller para ser deserializado; Marshaller transforma os dados a
invocação em byte streams que é o formato de dado que percorre a rede, assim como todas as
requisições são feitas remotamente pela internet isso precisa ser; Client Request Handler, atua
como gerenciador da comunicação no lado do cliente estabelecendo uma conexão de rede,
enviando o pedido e recebendo as respostas do servidor, para, finalmente, fechar a conexão até
seja feito mais alguma requisição pelo cliente; Server Request Handler, tem ação de comunicar-
se com Client Request Handler, recebendo o pedido e entregando a resposta; Interface
Description, aqui está determinado os padrões que serão usados no decorrer do processo para
as trocas de informações entre Client Proxy e Invoker estejam alinhadas. Na Figura 1 é possível
visualizar o diagrama de sequência que ilustra a sequência de chamada desses padrões.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 378
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 1: Funcionamento de requisições de um middleware

Fonte: VÖLTER; KIRCHER; ZDUN, 2005, p.70.

Também foi visto neste projeto a ferramenta de mineração de dados ProM (Process
Mining), que, com base em logs de eventos, torna possível entender como os dados são
coletados e tratados. A ferramenta possui a capacidade de diagnosticar possíveis problemas em
sua aplicação se baseando em regras estipulados pelo minerador de dados.
Por fim, foi examinada a biblioteca LTL Checker, desenvolvida em Java e utilizada
para avaliação de desempenho de sistemas, avaliando seus logs de evento e aplicando lógica
temporal. Ficou claro que existem queries que determinam o que deve ser buscado e em que
condições e sequência devem estar notados nos logs.
Uma das verificações realizadas é a seguinte:
"formula rule7( A: activity , B: activity ) := { } " + "( (activity != " + eventB + " _U
activity == " + "\"ServerRequestHandler_waitMessages\"" + ")" + " \\/ [](activity != " +
"\"InvokerEcho_invoke\"" + ") );"
Nela, está definido que o método waitMessages, do ServerRequestHandler, deve
sempre preceder a chamada ao método invoke, do Invoker.

Conclusões
Observando todo o conteúdo estudado, é possível inferir que através da análise de
lógica temporal é provável avaliar o desempenho de um sistema distribuído, servindo de base
para adaptação de um middleware adaptativo.

Agradecimentos
Sou grato a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte por conceder a oportunidade de
ser voluntário em um projeto de iniciação científica, e ao professor André Gustavo Pereira da
Silva por esclarecer todas as dúvidas durante o processo.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 379
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências

VÖLTER, Markus; KIRCHER, Michael; ZDUN, Uwe. Remoting Patterns: Foundations of


Enterprise, Internet and Realtime Distributed Object Middleware. Chichester: John Wiley
& Sons Ltd, 2005.

Val´erie Issarny, Mauro Caporuscio, Nikolaos Georgantas. A Perspective on the Future of


Middleware-based Software Engineering. Workshop on the Future of Software
Engineering. FOSE 2007, 2007, Minneapolis, United States. pp.244-258, 2007.

¹Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Ciência da Computação


da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: brunomarinho@alu.uern.br.
²Professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte Líder do Grupo de Pesquisa Análise de Desempenho de um Middleware
Adaptativo Através da Mineração de Processos; e-mail: andregustavo@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 380
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE PERTURBATIVA DE MODELOS DE ENERGIA ESCURA

Lucas Leopoldo Rodrigues Dantas; Fábio Cabral Carvalho

Palavras-chave: Quintessência. Expansão acelerada do universo. Equação de Friedmann

Estudante do curso de Física do Departamento de Física da Universidade do Estado do Rio


Grande do Norte; e-mail: lucasleopoldord@gmail.com

Professores do Departamento de Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;


Fábio Cabral Carvalho; e-mail: fabiocabral@uern.br

1. Introdução

Em 1998 foram realizadas medidas de distância de supernovas do tipo Ia (SNIa) por dois
grupos independentes, o Supernovae Cosmolgy Project (SCP) e o High-Z Supernova Search
Team (HzST). Os resultados mostraram que um Universo formado apenas por radiação,
bárions e matéria escura fria não era compatível com as observações. No contexto do modelo
cosmológico padrão (MCP), essas observações de SNIa indicaram que o Universo se expande
aceleradamente. Além disso, para explicar a aceleração, precisamos postular uma nova forma
de energia, de natureza desconhecida, chamada de Energia Escura, por interagir apenas
gravitacionalmente. Dois modelos de Energia Escura muito estudados na literatura são a
Constante Cosmológica, associada a densidade de energia do vácuo; e os Campos Escalares,
ou modelos de Quintessência, que difere da Constante Cosmológica pelo fato de mudar
conforme o tempo.

Neste trabalho, revisitamos alguns aspectos dos modelos de quintessência, como sua
dinâmica cosmológica e evolução da sua equação de estado. Investigamos também as
equações de movimento para alguns potenciais de quintessência, finalizando com a análise de
pontos fixos para o caso específico de potenciais exponenciais.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 381
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

2. Metodologia

O projeto foi desenvolvido no período de agosto de 2017 a julho de 2018, durante a sua
realização abordamos em forma de seminários e discussões os temas selecionados seguindo a
ordem defini pelo cronograma. O trabalho envolveu a leitura e a produção de resumos sobre
os conteúdos apresentados nos textos selecionados.

3. Resultados e discussão

Primeiramente obteremos a equação de Friedmann através do uso da energia potencial


gravitacional T e a energia cinética K de uma partícula qualquer. Consideremos um meio se
expandindo uniformemente com densidade , podemos escolher qualquer lugar como seu
centro, pois, de acordo com o principio cosmológico, todos os lugares no universo são iguais.
Agora, vamos considerar uma partícula de massa que se encontra a uma distancia desse
centro. A partícula sofre ação da força somente do material dentro desse raio, e sua massa M
total é dada por . Sua energia potencial gravitacional e sua energia cinética são,
respectivamente:

e ̇ .

Os pontos representam derivadas temporais. Aplicando o princípio da conservação de energia,


obtemos:

̇ . (1)

É possível realizar uma mudança para um sistema de coordenadas diferentes, chamadas de


coordenadas comóveis. Como a expansão é uniforme, a relação entre a distância real ⃗ e a
distância comóvel que chamaremos de ⃗ pode ser escrita como ⃗ ⃗. As distâncias no
sistema de coordenadas ⃗ são fixas por definição e o termo é crucial, é o chamado fator
de escala do universo que mede a taxa de expansão do universo. Reescrevendo a Eq. (1),
temos:

̇
,

onde é chamada curvatura e descreve a geometria do universo. Definindo ,


podemos escrever:

̇
. (2)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 382
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

̇
Essa é a forma padrão da equação de Friedmann e a grandeza é conhecida como parâmetro

de Hubble, e pode ser representada por . Derivando a Eq. (2) em função do tempo, obtemos:

̈ ̇
( ) ( ) , (3)

̇
onde usamos ̇ ( ). É possível reescrever as equações (2) e (3) da seguinte
forma respectivamente:
̇
(4)

̇ [ ̇ ] (5)

Para estudar a dinâmica do sistema, vamos introduzir as seguintes variáveis adimensionais:


̇ √
e (6)
√ √

Derivando e em função de e utilizando as Eqs. (4) e (5). Obtemos:


[ ] (7)


[ ], (8)

onde ⁄ .

É importante ressaltar que todos os modelos com constante correspondem ao potencial


exponencial, dado por


(9)

o que significa dizer que as Eqs. (7) e (8) são exatas. É possível obter os pontos fixos deste

sistema utilizando e :

a) é indeterminado.
b) .

c) ( ⁄ [ ⁄ ] ) ⁄ .

√ ⁄ ⁄ [ ⁄
d) ( ⁄ ] ) ⁄

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 383
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O potencial exponencial (9) dá origem a uma solução na qual e


⁄ . Se , a solução é um atrator durante as eras de radiação e
matéria, mas não se estende à época de aceleração cósmica.

A pressão e a densidade de energia da quintessência são dadas, respectivamente por


̇ ̇
e . Logo, a sua equação de estado é . O que implica dizer

que a quintessência é dinâmica e este é um fator que a diferencia de ouros candidatos a


energia escura como a constante cosmológica, a qual possui densidade de energia sempre
constante e .

4. Conclusão

O problema da aceleração recente do Universo pode ser explicado por diversos


modelos completamente distintos. No contexto da teoria relatividade geral de Einstein,
precisamos propor a existência de componentes exóticas, como a energia escura, com
propriedades físicas inesperadas e natureza desconhecida. Neste trabalho estudamos aspectos
teóricos dos modelos de quintessência, um candidato à energia escura. Esses modelos
possuem uma dinâmica caracterizada por um campo escalar, para ser mais preciso, além de
uma das teorias mais aceitas para explicar a expansão acelerada do universo, seus modelos
são classificados de acordo com a evolução da equação de estado. Além disso, estudamos os
pontos fixos do sistema quando é constante, ou seja, corresponde a um modelo com potencial
exponencial.

5. Agradecimentos

Gostaria de expressar minha imensa gratidão ao CNPq, pelo apoio financeiro e a UERN.

6. Referências

Liddle, A. An introduction to modern cosmology. 2ª ed. West Sussex: Wiley, 2003. 22 p;

Tsujikawa, S. Quintessence: a review – Tóquio. Classical and Quantum Gravity, 2013;

Lima, J. A. S. Cosmologia, quintessência e aceleração do universo. Revista USP, n.62, p. 124-


147, jun/ago. 2007;

Fagundes, H. V. Modelos cosmológicos e aceleração do universo. Revista Brasileira de


Ensino de Física, n.2, p. 247-253, jun. 2002.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 384
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

APLICAÇÃO DE COAGULANTE DE ORIGEM VEGETAL NO TRATAMENTO DE


EFLUENTE DE UMA UNIDADE INDUSTRIAL DE PRODUÇÃO DE MOLHOS E
CONDIMENTOS

Rossine Ferreira da Silva Junior1; Janete Jane Fernandes Alves2.


Palavras-chave: Tanfloc SG. Coagulação. Floculação.

Introdução
A indústria alimentícia é um dos pilares econômicos no Brasil, movimentando
cerca de US$ 40 bilhões nas exportações só no ano de 2019 (ABIA, 2019). Se tratando
da etapa de produção de condimentos, segundo a ANA (2017), cerca de 2.269 L de água
são utilizados por dia, porém, apenas 457 L são consumidos, gerando uma quantidade
bastante expressiva de efluente. Os 80% não são aproveitados em nenhuma outra etapa
de produção e, por inúmeras vezes descartado inadequadamente em lagos e rios,
acarretando em impactos nocivos a vida aquática e a ecossistemas dependentes de forma
indireta ou direta dessas águas. Largamente utilizado em diversos segmentos da indústria,
como também em sistemas de abastecimento urbano, o processo de
coagulação/floculação surge como uma alternativa interessante diante da necessidade de
uma técnica eficaz e simples de executar, sobretudo na remoção de turbidez, cor dureza
e coliformes (GRAY, 2005). O método baseia-se na adição de agentes coagulantes que
por meio de hidrólise libera íons positivos que interagem com as partículas carregadas
negativamente presentes no meio, formando flocos que são posteriormente removidos por
sua decantação. Considerando que agentes coagulantes inorgânicos, como por exemplo à
base de alumínio são os mais utilizados no mundo inteiro, os mesmos apresentam efeitos
prejudiciais à saúde humana, como o mal de Alzheimer, além de outros aspectos
negativos, o Tanfloc SG (Figura 1) que é produzido pela empresa TANAC a partir da
extração da casca da Acacia Mearnsii (Acácia Negra), atua como alternativa viável para
substituí-los, pois o mesmo é biodegradável, pode atuar em uma larga faixa de pH e não
prejudicial a vida aquática e humana.
Figura 1: Estrutura molecular do Tanfloc SG obtido a partir Neste sentido,
do tanino extraído da Acácia Negra. nesta pesquisa foi
estudada a aplicação do
Tanfloc SG no
tratamento do efluente
gerado numa unidade
industrial de produção
de temperos, molhos e
condimentos utilizando
um equipamento Jar
Test para determinação
da dosagem do agente
coagulante/floculante
utilizado no processo,
assim como o pH do
meio (NUNES, 2018),
visando eficiência,
Fonte: Mangrich et al. economia e
1 (2014).
Estudante do Curso de Química do Departamento de Química da Universidade Estado do Rio
Grande do Norte; E-mail: rossinesilvaa@gmail.com;
²Professor do Departamento de Química da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN Participante do Grupo de Pesquisa Eletroquímica e Química Analítica; E-mail:
janete3672@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 385
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

principalmente que o efluente tratado vá ao encontro das determinações do CONAMA


em sua Resolução N° 430 de 13 de maio de 2011 para lançamento direto de efluentes no
corpo receptor.
Metodologia
Reagentes e Soluções
As amostras do efluente foram coletadas numa unidade industrial de produção de
temperos, molhos e fermentados acéticos com comercialização diária de toneladas em
produtos e geração semanal de mais de 7 m³ em efluentes. Para calibração e mudança do
pH do efluente, foi utilizada uma solução de NaOH (5 mol L-¹).
Procedimento Experimentais e Instrumentais
O procedimento experimental foi montado numa bancada utilizando um
equipamento Jar Test com 6 unidades de agitação, da marca Milan, modelo JT – 203.
Figura 2: Equipamento Jar Test utilizando nos ensaior de coagulação/floculação.

Fonte: Próprio autor.

Foram adotadas as condições de 120 rpm por 5 minutos para agitação rápida
visando uma desestabilização das cargas em menor tempo possível e, 45 rpm por 10
minutos para agitação lenta com o intuito de que os haja o agrupamento dos coloides,
seguido por 30 minutos de sedimentação dos flocos formados.
O estudo para otimização das condições de tratamento do efluente, foi realizado
variando a concentração do agente coagulante usando 200, 400 e 600 mg L-1, em meio a
pH 4, 6 e 8, utilizando solução de hidróxido de sódio (5 mol L-1), gotejando-a no efluente
em constante agitação.
As análises de DQO, nitrito, nitrato e cor foram realizados por meio de curvas de
calibração construídas num espectrofotômetro de UV-visível, modelo Cary 50 Bio, da
marca Varian. As análises de íons cloreto foram realizadas por meio do método de Mohr,
as análises de DBO por meio da metodologia do Standard Methods 5210 – B e, as medidas
de turbidez foram realizadas num turbidímetro da marca Alfakit.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 386
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultados e Discussão
Analisando o gráfico e Figura 3: Espectros de absorção UV - vis das amostras
seus respectivos espectros coletadas dos efluentes tratados em relação ao efluente
referentes aos efluentes tratados bruto.
(Figura 2), foi possível assegurar
que há uma proporção
concentração/pH, pois, à medida
que o tanino era dosado em
concentrações superiores a 200
mg L-1 em meio aos pH 4, 6 e 8 ,
as amostras dos efluentes tratados
adquiriram picos com maiores
absorbância na região de 270 nm,
referente a agrupamentos
fenólicos dispersos no meio,
assim como o pico que se estende
de 400 a 500 nm, referente a
coloração. Quando dosado o
tanino em 200 mg L-1, o mesmo
mostrou-se mais eficiente quando
associada à condição de pH igual
à 6 (Tabela 1), resultando na remoção de 100% da turbidez, 96,30% de cor, 98,40% de
íons cloreto, 54,43% de DBO e 31,34% de DQO em relação ao efluente bruto.
Conclusão
Os experimentos desenvolvidos comprovaram a viabilidade técnica do Tanfloc
SG pois se mostrou ser um excelente agente coagulante, possibilitando ao efluente tratado
abranger quase todos parâmetros determinados pelo CONAMA em sua Resolução n° 430.
Por mais que o mesmo seja comercialmente mais custoso que os agentes coagulantes
convencionais, a sua escolha é recomendada, pois o tanino pode-se trabalhar numa larga
faixa de pH e, se dosado em excesso, o mesmo não acarreta em impactos nocivos, pois
não há estudos que comprovem alguma agressividade a vida marinha e a saúde humana.
Agradecimentos
Este trabalho não poderia ser realizado sem o apoio financeiro do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, a Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte – UERN e ao Laboratório de Eletroquímica e Química
Analítica – LEQA por toda sua infraestrutura.
Referências Bibliográficas
Agência Nacional de Águas (Brasil). Água na indústria: uso e coeficientes técnicos /
Agência Nacional de Águas. Brasília: ANA, 2017. 37 p.: il.
COMUNICAÇÃO ABIA. Indústria de Alimentos Fecha 2018 com Crescimento e
Geração de Empregos, 13 de Fevereiro de 2019, Disponível em ABIA:
https://www.abia.org.br/vsn/tmp_2.aspx?id=394. Acesso em: 01 de setembro de 2019.

CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Dispõe sobre as condições e padrões


de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução nº 357. Resolução nº 430,
de 13 de maio de 2011.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 387
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

GRAY, N. F. Water Technology – An Introduction for Environmental Scientists and


Engineers. 2nd Edition. Dublin: Elsevier Science & Technology Books, 2005. 640 p
MANGRICH, A. S.; DOUMER, M. E.; MALLMANN, A. S.; WOLF, C. R. Química
verde no tratamento de águas: uso de coagulante derivado de tanino de Acacia mearnsii.
Revista Virtual de Química, v. 6, p. 2-15, 2014. Disponível
em:http://dx.doi.org/10.5935/1984- 6835.20140002. Acesso em: 02 de fevereiro de 2020.
NUNES, J. A. Tratamento Físico-químico de Águas Residuais Industriais. 5ª ed.
Aracaju – Segipe. Editora Info Graphics Gráfica, 2008.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 388
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Aplicação do método Just In Time para elaboração do Calendário


Acadêmico

Adriel Carneiro Leão do Nascimento​1​; Profº Drº Carlos Heitor Pereira Liberalino​2

Palavras-chaves​; Otimização. Software. Automatização.

1​
Estudante do curso de ciência da computação do Departamento de Informática da
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; e-mail: adrielleao@alu.uern.br

2​
Professor do Departamento de informática da Universidade Estadual do Rio Grande do
Norte, docente pesquisador do Grupo de Pesquisa ​Otimização e Inteligência Artificial​;
e-mail: heitorliberalino@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 389
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Introdução

A inegável necessidade de gerenciamento de processos, acarreta aumento da demanda no


controle de atividades, que são evidenciadas por falhas e atrasos de sistemas ultrapassados
com problemas eventuais. Todavia a adoção de softwares traz a eficiência para a solução de
contratempos.
No cotidiano, processos automatizados ganham espaço pela confiança em sistemas não
tolerantes a erros de execução e maior gestão em tempo hábil. Agilidade em processos
culmina em ganhos na produtividade, padronização e diminuição em funções repetitivas.
O Just In Time (JIT) é a metodologia que objetiva a execução de processos organizacionais
em demandas e eliminação de falhas. De acordo com Corrêa e Gianesi (1992), “os problemas
do processo não são aceitos passivamente, ao contrário, a eliminação destes problemas, os
quais são geralmente encobertos pelos estoques gerados, constitui um pressuposto para a
utilização do sistema JIT”. Nesse estudo, os estoques gerados são percebidos como
procedimentos já desempenhados pela mão de obra técnica.

Os conceitos do JIT e engenharia de software combinadas à automatização expõe a redução


de tempo no desenvolvimento do calendário, proposta pelo software e consequentemente
ganhos produtivos na anulação de desperdícios que são entendidos como qualquer fonte
geradora de prejuízos.
Partindo da concepção sobre o JIT, a automatização do Calendário Acadêmico busca a
simplicidade de métodos e processos, mantendo qualidade e confiabilidade à vida acadêmica
da instituição. Desse modo, o estudo produzido proporciona a compreensão sobre os
benefícios da automatização de eventos repetitivos aplicados a filosofia JIT.
No contexto apresentado, este trabalho tem como objetivo específico:
● Automatizar o calendário acadêmico/UERN;
● Otimizar o tempo de resposta na elaboração do calendário;
● Comprovar a eficiência do método JIT na elaboração do calendário.

Metodologia

De acordo com Wazlawick(2009), “a pesquisa não-experimental consiste no estudo de


fenômenos sem a intervenção sistemática do pesquisador”. A partir desta informação, o
seguinte estudo fora desenvolvido com leituras de referenciais teóricos advindos de livros,
bem como análises de calendários para o reconhecimento de padrões na concepção de
eventos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 390
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A tecnologia utilizada foi HTML5, CSS3, Django, Linguagem Python 3 e Arquivo CSV,
especificando o software como aplicação web tal qual não indica a necessidade de
conectividade à internet.
O aprofundamento do estudo sobre o método Just-In-Time (JIT), realizado por leituras e
comparações funcionais à Engenharia de Software, ofereceu material teórico e base
metodológica forte na ordem dos objetivos aspirados.
Como consequência das análises de calendários, houve proposição de um limite máximo
de 100 dias para o início e fim de cada período, também a disposição de prazos e regras
pré-estabelecidos no algoritmo, utilizando a linguagem Python foi possível utilizar
bibliotecas Pandas e Datetime.
A sequência lógica do programa tem as datas do CSV seguidas por parâmetros e
condições que são as variáveis responsáveis pela validação das datas, a utilização do
framework Django com CSS3 personaliza o visual, atribuindo forma e cores obrigatórias na
aplicação, assim o estudo teve seu método bifurcado em duas seções: estudo do método JIT e
construção do software.

Resultados e Discussão

Com a base no que foi exposto em parágrafos anteriores, a relação empregada na união do
método JIT e o software produz um entendimento maior da otimização de processos como
forma de agilizar o sistema de gestão universitária. Diante disso, as perspectivas de utilização
do sistema JIT como metodologia estrutural de comandos empreendidos em demandas pelo
algoritmo, transformou processos longos e não sujeitos a mudanças relativas de execução em
um único processo objetivo, aglomerado de várias funções e baixa manutenção.
Diante do exposto a utilização do software como ferramenta de organização expõe ganhos
produtivos por meio de redução no tempo de elaboração e planejamento do calendário, a
padronização de procedimentos executados por técnicos, agora, pelo software possibilita
maior velocidade e assim gera menor tempo na entrega do calendário universitário.

Paralelismo entre JIT e Engenharia de Software

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 391
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O método JIT busca em demasia a contínua melhoria de processos produtivos, elevando


esse conceito como essencial à seu objetivo fundamental, tal qual a engenharia de software
tem como um de seus pilares a contínua otimização de algoritmos. Segundo ​Puntambekar
(2013), é um mito afirmar que após o código está funcionando, o trabalho foi concluído; ao
contrário, a grande parte do trabalho inicia após a entrega do software.
O layout de processos celulares fixado no JIT expõe a coordenação dos roteiros na
produção, portanto visa reduzir a movimentação de elementos e tempo de SETUP. A
estrutura algorítmica absorve esse componente, em razão da eficácia empreendida na escolha
de procedimentos criacionais do software, então é possível afirmar a organização celular
como conceito paralelo a modelagem de processos do software.

O SETUP do JIT e escalabilidade do software concretizam a gestão ágil na mudança de


processos sem a paralisação ininterrupta das funções de ambos, o trânsito de comandos sofre
um delay menor, pois há um ciclo contínuo de organização e facilitadores nos sistemas. Os
facilitadores são o material humano e a ausência de um elemento não afeta o desempenho das
operações no sistema, pois a multifuncionalidade laboral é flexível.
Outrossim a constante relação de lead time zero como peça chave do JIT e resposta do
software trazem o produto final como o constituinte de todos os processos, desde a cadeia
criativa e produtiva até a utilização final. Encontram-se qualidade e confiança, embora o
produto seja realizado em menor tempo.

Funcionalidades do Software

Tendo o carácter funcional da aplicação condicionado à automatização e redução no tempo


de elaboração do calendário, o software provê um conjunto de funções trabalhando sobre
parâmetros, organizados em sequência intolerantes a erros e dependente de aprovação
sistemática de variáveis concomitantes.

Procedimentos do software abandonam a intervenção persistente de técnicos e revisões


longas, o aumento produtivo ocasionou a redução de tempo na elaboração, pois atividades
realizadas com auxílios de programas de edição de texto, contagem de eventos e observação
rígidas tornaram todas essas técnicas obsoletas ao poder computacional utilizados pelos
padrões do algoritmo. Funções exercidas pelo software geram disparidade pelo seu

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 392
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

comportamento autômato e a autonomia humana, assim a chance de erros e atrasos foram


nulas.

A ordenação de atividades sem mudanças previsíveis, antes definidas e agrupadas por


técnicos, culminaram processos automáticos e padrões com baixa manutenção, as relações
funcionais de eventos não sofreram alteração de prazos, mas houve a concentração de vários
procedimentos em único elemento virtual.

Conclusão
A leitura de referenciais teóricos e análise de calendários possibilita uma maior
compreensão de métodos utilizados ao decorrer da pesquisa, orientando a parte lógica das
funções desempenhadas no algoritmo e itens da interface gráfica.

A abrangência da metodologia Just-In-time sinaliza todos os processos executados, desde a


linha criacional a produtiva, utilizando-se de conceitos da engenharia de software é obtida a
equiparação conceitual de métodos compartilhados entre si, logo há uma correlação forte e
comprobatória da otimização contínua de processos. Assim, o software e estudo cumprem
todos os objetivos da pesquisa e por conseguinte o software atende as funções planejadas.

Agradecimentos

Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica(PIBIC) pelo financiamento do


projeto de pesquisa e à UERN pela concessão da bolsa de Iniciação Científica.

Referências Bibliográficas
CORRÊA, H. L.; GIANESI, ​I. G. N.​ ​JIT, MRP II e OPT​: Um Enfoque Estratégico, 2. ed.
São Paulo: Atlas ,1992, Cap.3, 4p.

WAZLAWICK, R. S. ​Metodologia de pesquisa para ciência da computação​, 6.


Reimpressão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, 42p.
PUNTAMBEKAR​, ​A. A. ​Software Engineering & Software Quality​, 4. ed. Chennai:
Technical Pub, 2013, 9p.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 393
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

APLICAÇÃO MÓVEL PARA AUXILIAR NA REABILITAÇÃO DE


PACIENTES COM DISFAGIA OROFARÍNGEA
Allan Kardec Cunha1, Exlley Clemente dos Santos2, Cicília Raquel Maia Leite3
Palavras-chave: Ingestão de Alimentos, Deglutição, Monitoramento, M-Health

Introdução
É crescente o uso de dispositivos móveis direcionados para prestação de serviços na
saúde. O uso desses dispositivos na área da saúde, é denominado Mobile Health (mHealth). O
mHealth têm diferentes formas de prestação de serviços médicos, seja para diagnóstico,
divulgação de informações, monitoramento do paciente, com um acompanhamento mais
contínuo em tratamentos, melhorando a comunicação entre os pacientes e os profissionais de
saúde, entre outras aplicações encontradas na literatura (FAVA, 2014). Conforme estudo com
mHealth publicamente disponíveis aos consumidores, o número de aplicações móveis
aumentou mais de 100% de 2013 a 2015. Além disso, aplicações mHealth para os consumidores
que visam o bem-estar, dieta e exercícios consiste em 85% das aplicações. A gestão de doenças
e tratamentos compreende 24% das aplicações mHealth e 11% outras aplicações (PATIENT
ADOPTION OF MHEALTH, 2015).
Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é desenvolver uma aplicação móvel na área da
saúde, mais especificamente, uma aplicação móvel inteligente para auxiliar na reabilitação de
pacientes com disfagia orofaríngea. A disfagia orofaríngea, está relacionado a dificuldade de
deglutição dos alimentos, durante o trajeto do alimento da boca até passagem da faringe para o
esófago. A disfagia orofaríngea não é uma doença, sendo um sintoma em sua maioria,
decorrente de algumas doenças. A prevalência de disfagia na população geral é entre 16 a 23%
(CHIOCCA et al., 2005). A disfagia é um sintoma comum em pacientes com Alzheimer, Idosos,
Doenças Oncológicas, Parkinson, Acidente Vascular Cerebral (AVC), entre outras, em suas
fases moderadas e avançadas (DUTHEY, 2013). A disfagia pode provocar a entrada de
alimentos nas vias aéreas, gerando como consequências: tosse, asfixia, problemas pulmonares
e aspiração (ASSOCIATION et al., 2004). Os pacientes com disfagia podem também apresentar
outras complicações como: desnutrição, desidratação e mortalidade prematura (EKBERG et al.,
2002). Assim essas complicações afetam de forma negativa a capacidade de alimentação do
paciente (JENNIFER; MIKOTO, 2000).
A reabilitação de pacientes com disfagia orofaríngea tem como objetivo estabilizar o
aspecto nutricional, eliminar os riscos de aspiração e complicações associadas (DEPIPPO et al.,
1994). A reabilitação da disfagia pode incluir modificações na dieta alimentar, como líquidos
espessantes, condutas terapêuticas, exercícios que visem adaptações musculares e estratégias
seguras de deglutição (LANCASTER, 2015).
A não aderência das recomendações das intervenções, podem ocasionar consequências
graves e podem induzir maior risco de aspiração e penetração (KREKELER et al., 2017). Desta
forma, aumenta-se as chances de desenvolver desidratação (SILVA, 2015), desnutrição

1
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Informática da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail:
2
Estudante do Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação (UERN/UFERSA). Email:
exlleyclemente@gmail.com
3
Professora do Departamento de Informática (DI) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN), e-mail: ciciliamaia@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 394
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(SERRA-PRAT et al., 2012), pneumonia relacionada à aspiração (LOW et al., 2001), entre
outras complicações que diminuem a qualidade de vida do paciente e aumenta-se as chances de
mortalidade destes (BAIJENS et al., 2016).
Assim, com o desenvolvimento da aplicação móvel proposta, serão fornecidas
informações das terapias de reabilitação em relação as consistências alimentares adequadas ao
caso específico de disfagia do paciente e possibilitará ao profissional de saúde responsável pelo
paciente uma comunicação mais continua fornecendo informações e conselhos.
Metodologia
A metodologia de desenvolvimento do trabalho foi dividida em 6 (seis) etapas, descritas
a seguir:
1. Etapa 1: revisão bibliográfica para embasamento dos conhecimentos, sobre: estudos que
abordam o desenvolvimento de mHealth voltados para o contexto da disfagia;
2. Etapa 2: mapear as informações para auxiliar na reabilitação de pacientes disfágicos,
por meio dos conhecimentos médicos e estudos catalogados na literatura;
3. Etapa 3: modelagem e especificação dos requisitos, por meio de diagramas de casos de
uso e de sequência;
4. Etapa 4: projetar/implementar a aplicação móvel por meio da prototipação, com o uso
de ferramentas open source e técnicas de inteligência artificial;
5. Etapa 5: aplicar cenários de testes, e verificar a eficácia da aplicação móvel proposta;
6. Etapa 6: Serão desenvolvidos os relatórios, artigos científicos para posteriormente
serem divulgados os resultados.
Resultados e Discussão
O projeto teve como êxito o mapeamento das informações necessárias ao
monitoramento remoto e auxílio na reabilitação dos pacientes com disfagia. O sistema
desenvolvido funciona em três etapas: i) coleta de dados: utilizando um Equipamento Médico
Assistencial (EMA) não-invasivo durante o processo de ingestão alimentar, são coletados sinais
sonoros da deglutição, movimentos mandibulares e duração da refeição; ii) pré-processamento
dos dados: realizada por meio do software Matlab; e iii) análise de dados: consiste na análise
dos sinais, na verificação de consistência alimentar e no envio de recomendações.
Figura 1 - Visão Geral de Funcionamento do Sistema

Fonte - Santos (2019)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 395
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Dentre as finalidades do sistema desenvolvido, pode-se citar:


● auxílio aos profissionais de saúde na triagem de pacientes com suspeita de disfagia;
● fornecer informações pertinentes sobre o tratamento dos pacientes disfágicos;
● fornecer informações relacionadas às condutas alimentares dos pacientes disfágicos.
A Figura 2 apresenta a tela principal da aplicação.
Figura 2: Tela Principal do Sistema Mobile

Fonte: Maia (2020).


Conclusão
A aplicação das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) têm se evidenciado
na sociedade como de conhecimento de todos. E neste contexto que esse trabalho atuou na
implementação dos sistemas de apoio à decisão em dispositivos móveis proporcionando assim
benefícios, tais como: detecção precoce de doenças, monitoramento contínuo de pacientes,
prevenção do agravamento de doenças, permitir atividades cotidianas para os pacientes, e
evolução da eficiência dos serviços de saúde.
Agradecimentos
Agradecemos ao Grupo de Engenharia de Software (GES), à Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (UERN) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pelo apoio na condução desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
ASSOCIATION, A. S.-L.-H. et al. Model Medical Review Guidelines for Dysphagia Services
[monograph on the Internet] 2004 [Revision to DynCorp 2001 FTRP by ASHA].2004.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 396
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BAIJENS, LW. et al. European Society for Swallowing Disorders-European Union Geriatric
Medicine Society white paper: oropharyngeal dysphagia as a geriatric syndrome. Clin Interv
Aging. 2016;11:1403.
CHIOCCA, J. et al. Prevalence, clinical spectrum and atypical symptoms of gastro-oesophageal
reflux in argentina: a nationwide population-based study. Alimentary pharmacology &
therapeutics, Wiley Online Library, v. 22, n. 4, p. 331–342, 2005.
DUTHEY, B. Priority medicines for europe and the world:a public health approach to
innovation. WHO Background paper, v. 6, 2013.
DEPIPPO, K. et al. Dysphagia therapy following stroke a controlled trial. Neurology, AAN
Enterprises, v. 44, n. 9, p. 1655–1655, 1994.
EKBERG, O. et al. Social and psychological burden of dysphagia: its impact on diagnosis and
treatment. Dysphagia, Springer, v. 17, n. 2, p. 139–146, 2002.
FAVA, P. Tecnologia móvel para a saúde: Práticas fundamentais para implementadores de rrc.
In: . [S.l.]: FAO/COOPI, 2014.
JENNIFER, C. D.; MIKOTO, B. Evaluation and treatment of swallowing impairments. Am
Fam Physician, v. 61, n. 8, p. 2453–2462, 2000.
KREKELER, B. N. et al. Patient Adherence to Dysphagia Recommendations: A Systematic
Review. Dysphagia, v. 33, p.173-184, ago. 2017.
LANCASTER J. Dysphagia: its nature, assessment and management. Br J Community Nurs.
2015. doi:10.12968/bjcn.2015.20.Sup6a. S28.
LOW, J. et al. The effect of compliance on clinical outcomes for patients with dysphagia on
videofluoroscopy. Dysphagia. 2001;16:123–7.
PATIENT ADOPTION OF MHEALTH: Use, Evidence and Remaining Barriers to Mainstream
Acceptance. Usa: Ims Institute For Healthcare Informatics, 2015.
SANTOS, E. C. Sistema fuzzy para detecção de obstruções nas vias aéreas durante o processo
de ingestão de alimentos. Monografia (Bacharelado) - Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte. 2019.
SILVA, L. B. de C. (2015) Distúrbios da Deglutição: Receitas e Viscosidades. [S.l.]: Editora
Rubio.
SERRA-PRAT, M. et al. Oropharyngeal dysphagia as a risk factor for malnutrition and lower
respiratory tract infection in independently living older persons: a population-based prospective
study. Age Ageing. 2012;41:376–81.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 397
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BIOTRACKER: FERRAMENTA PARA RASTREAR LARVAS DE


POLVOS
Paulo H. Lopes1; João P. Trindade2; Mateus de Carvalho Costa3; Anderson Abner de S. Souza4;
Wilfredo Blanco5
Palavras-chave: Rastreamento de multi-objeto; paralarvas de Octopus insularis’; Redes Neurais
Convolucionais; Classificação de Comportamentos.

Introdução
Atualmente, ferramentas computacionais têm sido desenvolvidas com o objetivo de promover
a investigação do comportamento de algumas espécies de animais. Com base em algoritmos de
processamento de imagem e visão computacional, um conjunto dessas ferramentas permite aos
cientistas estudar comportamentos coletivos, padrões de movimento e mecanismos cognitivos neurais
de animais a partir de vídeos ou sequência de imagens (WANG; CHENG; QIAN; LIU et al., 2016).
Essas características biológicas coletadas fornecem inspiração para construir sistemas virtuais, como
sistemas de robôs de enxame (OH; SHIRAZI; SUN; JIN, 2017), robôs bioinspirados (SICILIANO;
KHATIB, 2016) e algoritmos de otimização bioinspirados (GANDOMI; ALAVI, 2012). Além disso,
as informações adquiridas por meio dessas investigações contribuem para a melhoria da criação e
reprodução de animais em ambiente de cativeiro (IGLESIAS; FUENTES; VILLANUEVA, 2014).
Algoritmos de rastreamento multi-objeto permitem a aquisição de padrões de movimento de
vários animais (BRADSKI; KAEHLER, 2008), que são dados essenciais para a análise de seus
comportamentos, sem a necessidade de trabalhos manuais repetitivos e monótonos, assim como a
colagem de marcadores nos objetos de interesse (em nosso caso, animais).
Tivemos acesso a vídeos da espécie Octopus insularis (Cephalopod: Octopodidae) durante a
fase inicial de vida (paralarvae). Essa espécie, em particular, é um polvo comum nas águas costeiras
rasas do Norte e Nordeste do Brasil (BATISTA; LEITE, 2016). A espécie é um polvo de médio porte
e é considerada a principal espécie de cefalópode comercial em águas rasas ao redor de ilhas oceânicas
tropicais e ao longo da costa brasileira. Esse aspecto tem sido considerado em alguns estudos visando
a preservação da espécie, principalmente por ser objeto de pesca (LEITE; HAIMOVICI; MATHER;
OLIVEIRA, 2009). Além disso, espécies de polvos têm sido investigadas inspirando pesquisadores
no desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial (ÍÑIGUEZ, 2017) e na reprodução de
padrões de movimentos aplicados em sistemas mecatrônicos feitos pelo homem (CIANCHETTI;
FOLLADOR; MAZZOLAI; DARIO et al., 2012).
A pele dos cefalópodes é composta por várias camadas, incluindo duas de cromatóforos. Os
cromatóforos são órgãos neuromusculares que compreendem sacos elásticos de pigmentos coloridos.
Quando excitados, os músculos se contraem, expandindo o cromatóforo e produzindo o aparecimento
de cores pigmentares. Quando eles relaxam, a energia armazenada no sáculo elástico se retrai,
deixando visível a base pálida.
Estudos anteriores já descreviam alguns comportamentos de paralarvas de polvos, como nadar
para trás e nadar lateralmente. O Enteroctopus megalocyathus recém-eclodido também exibe um
comportamento em que os animais se sentam no fundo com a cabeça para cima e os braços abertos,
prendendo-se ao vidro com suas ventosas. No entanto, observamos um comportamento que não foi
descrito antes neste estágio, semelhante ao que os adultos costumam fazer para se limpar; em que o
corpo da paralarva adota uma forma de curvatura enquanto seus braços se esfregam entre eles e sobre
a superfície corporal, juntando-se ao seu manto (para ilustrações de comportamento ver Figura 3).
Este trabalho apresenta uma ferramenta computacional composta por uma seqüência de
algoritmos (pipeline) de visão computacional conhecidos para identificar a localização de várias
1
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Computação da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: phlopes11@gmail.com
2
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Computação da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: joaotrindade@alu.uern.br
3
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Computação da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: mateuscostas@alu.uern.br
4
Professor do curso de Ciência da Computação do Departamento de Computação da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; Participante do Grupo de Pesquisa GIC; e-mail: andersonabner@uern.br
5
Professor do curso de Ciência da Computação do Departamento de Computação da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; Líder do Grupo de Pesquisa GIC; e-mail: wilfredoblanco@uern.br
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 398
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

paralarvas de Octopus insularis. Com as localizações podemos extrair uma região de interesse (ROI)
retangular em volta de cada paralarva. A ferramenta será capaz de calcular a trajetória e a velocidade
de cada paralarva durante o vídeo. Cada sub-imagem delimitada pelas ROIs são as entradas de uma
Rede Neural Convolucional (RNC) para classificar seus comportamentos.

Metodologia
Uma câmera suspensa foi colocada para gravar vídeos coloridos (1440X1080 - largura x altura
da resolução do quadro) com aproximadamente 22 minutos de duração. Cinco larvas de Octopus
insularis foram registradas em movimento e comportamento livres. As paralarvas, geralmente com 2
a 3 milímetros de comprimento, estavam dentro de um recipiente cilíndrico com dimensões de 80mm
X 5mm para o diâmetro da base e altura respectivamente.

Figura 1: Processo e parâmetros do


pipeline. (A) Diagrama de fluxo
contendo as etapas do pipeline
(primeira linha) e seus resultados
correspondentes (segunda linha)
aplicados na sub-imagem (caixa
delimitadora preta em B). (B) Quadro
de vídeo contendo cinco paralarvas. (C)
Histogramas em escala de cinza do
quadro de vídeo mostrado no painel B e
linha vertical vermelha em um valor de
cor em escala de cinza 80.

Processamento de cada quadro/frame: Cada quadro de vídeo colorido passa por um pipeline
de processamento - uma sequência de etapas - com o objetivo principal de detectar as larvas do polvo
(Figura 1A). As etapas são descritas a seguir: (1) Converter em escala de cinza (Figura 1B). (2)
Binarização: notamos visualmente que as larvas são mais obscuras (pixels próximos de zero). Para se
ter uma ideia da magnitude desse valor, verificamos o histograma do quadro/imagem (Figura 1C) e
verificamos que um possível bom valor seria th = 80 (Figura 1C, linha vertical vermelha); logo antes
do perfil de aumento exponencial observado para valores de cor> 90. A saída dessa operação é uma
imagem apenas com as cores branco e preto (Figura 1A, Binarização th = 80). (3) Detecção de
contorno: As regiões brancas são segmentadas e os centros de massa são calculados para cada uma
delas. (4) Clustering: Usamos um algoritmo K-means (KANUNGO; MOUNT; NETANYAHU;
PIATKO et al., 2002) para agrupar os centros de massa, com k = 5 para detectar as 5 paralarvas
(Figura 1A, Clustering K-MEANS). (5) Região de interesse (ROI): Uma caixa delimitadora com
dimensão 80x80 é calculada para cada cluster/paralarva (Figura 1A, ROI).
Rastreamento: O rastreamento das paralarvas é calculado usando as coordenadas de saída do
K-means (vetor de tuplas [(x1, y1), (x2, y2) … (xn, yn)]). Cada coordenada (x, y) representa a posição de
um animal em um determinado quadro. Dois vetores, um do quadro anterior k-1 e outro do quadro
atual k, são entradas para o algoritmo de correspondência de cluster; neste caso, o algoritmo húngaro
(CUI; ZHANG; CUI; CHEN, 2016) foi selecionado para realizar esta tarefa.
Classificação do comportamento: As sub-imagens (ROI do paralarvae) provenientes do
pipeline são a entrada para a Rede Neural Convolucional (RNC) treinada e construída no framework
TensorFlow. Usamos um modelo básico de rede do MobileNet V2. A RNC foi treinada para
reconhecer 4 classes de comportamento diferentes: natação para trás (BckSw), natação lateral (LatSw),
natação rastejante (CrwSw) e limpeza (Clean).
Plataforma computacional: Este trabalho foi desenvolvido utilizando a linguagem de
programação Python versão 3.6.5 e a biblioteca OpenCV Open Source versão 3.4.1. O
desenvolvimento, validação e teste da ferramenta foram executados principalmente em uma
configuração de hardware com processador intel i7-8700, com 16GB de RAM e uma placa gráfica
GTX1070 8GB Nvidia GeForce.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 399
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 3: Esquema da arquitetura de classificação. O ROI de cada paralarva é uma entrada para a Rede Neural
Convolucional, que foi previamente treinada para classificar quatro comportamentos (natação para trás -BckSw,
natação lateral - LatSw, natação rastejante - CrwSw e limpeza - Clean). No quadro retangular preto é apresentada
uma visão geral da arquitetura MobileNet.

Resultados e Discussão
Nesta seção, apresentaremos os resultados em que um vídeo com aproximadamente 22
minutos (40963 frames) é analisado pela ferramenta proposta. Fomos capazes de gerar três resultados
principais e são eles: mapas de localização, onde são mostradas as posições de cada animal dentro do
recipiente cilíndrico (Figura 4); série de quadros de valores de velocidade (Figura 5); e a série de
estruturas de comportamento (Figura 6).
A Figura 4 apresenta os mapas de localização das paralarvas individuais e a localização
populacional (o mapa laranja), estimada a partir do algoritmo de rastreamento implementado. Pelas
figuras, é possível perceber que os animais preferem se deslocar nas regiões mais próximas da borda
do contêiner. Este é um aspecto interessante que já foi visto no início deste ciclo de vida animal; o
fato de os animais terem um instinto natural de buscar proteção em estruturas sólidas. Esse
comportamento é comumente observado em animais inseridos em seu habitat natural, em busca de
abrigo contra a predação.

Figura 4: Mapa de localização


individual e populacional. Os gráficos
em vermelho, verde, azul, magenta e
ciano mostram as localizações de
cada animal separadamente. O
gráfico em laranja mostra a
localização considerando todos os
animais.

A Figura 5 mostra o comportamento realizado por cada animal e quanto tempo eles o mantêm
(em porcentagem) ao longo dos intervalos de tempo. Isso foi possível graças ao classificador usando
a RNC, que permitiu identificar os comportamentos a partir das imagens da amostra (ROI do
paralarvae). Conforme explicado na seção 2 (Métodos), a RNC categoriza os comportamentos das
paralarvas em quatro categorias: BckSw, CrwSw, LatSw e Clean. Quando a RNC identifica um
comportamento com precisão <90%, é criada uma categoria denominada Não Identificado para
representar essa situação. É importante destacar que as situações Não Identificadas correspondem a
uma parte muito pequena da análise, apenas 1,18%, o que não compromete a investigação
comportamental em sua totalidade.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 400
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 5: Série de dois paralarvas


durante 200 quadros/frames com a
classificação de comportamento
individual. Os comportamentos são
mapeados para números, conforme
mostrado em cada legenda gráfica. Cada
gráfico de pizza, ao lado do gráfico
correspondente, resume há quanto
tempo o animal estava assumindo cada
comportamento.

Conclusão
Apresentamos uma robusta ferramenta de código aberto capaz de identificar, rastrear e
reconhecer o comportamento da espécie Octopus insularis. A ferramenta implementada foi baseada
em algoritmos simples de processamento de imagem e visão computacional para reconhecer e rastrear
as paralarvas em um vídeo. Ela fornece métricas como posição, velocidade e por último, mas não
menos importante, o comportamento de cada paralarva; esta última realizada usando uma Rede Neural
Convolucional que obteve uma acurácia de mais de 90%. Esta ferramenta facilita e acelera o estudo
deste animal, previamente feito manualmente, sem ferir ou interagir com ele, tornando o estudo o mais
natural possível; e automatizar com precisão a detecção, rastreamento e reconhecimento do
comportamento.

Agradecimentos
PHL e MCC foram apoiados com bolsas de iniciação científica pela Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (UERN - 2018) e pelo Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq - 2019)
respectivamente.

Referências
BATISTA, A. T.; LEITE, T. S. Octopus insularis (Cephalopoda: Octopodidae) on the tropical coast of
Brazil: where it lives and what it eats. Brazilian Journal of Oceanography, 64, n. 4, p. 353-364, 2016.
BRADSKI, G.; KAEHLER, A. Learning OpenCV: Computer vision with the OpenCV library. "
O'Reilly Media, Inc.", 2008. 0596554044.
CIANCHETTI, M.; FOLLADOR, M.; MAZZOLAI, B.; DARIO, P. et al., 2012, Design and development
of a soft robotic octopus arm exploiting embodied intelligence. IEEE. 5271-5276.
CUI, H.; ZHANG, J.; CUI, C.; CHEN, Q., 2016, Solving large-scale assignment problems by Kuhn-
Munkres algorithm. 822-827.
GANDOMI, A. H.; ALAVI, A. H. Krill herd: a new bio-inspired optimization algorithm.
Communications in nonlinear science and numerical simulation, 17, n. 12, p. 4831-4845, 2012.
IGLESIAS, J.; FUENTES, L.; VILLANUEVA, R. Cephalopod culture. Springer Science & Business
Media, 2014. 9401786488.
KANUNGO, T.; MOUNT, D. M.; NETANYAHU, N. S.; PIATKO, C. D. et al. An efficient k-means
clustering algorithm: Analysis and implementation. IEEE Transactions on Pattern Analysis & Machine
Intelligence, n. 7, p. 881-892, 2002.
LEITE, T. S.; HAIMOVICI, M.; MATHER, J.; OLIVEIRA, J. L. Habitat, distribution, and abundance of
the commercial octopus (Octopus insularis) in a tropical oceanic island, Brazil: Information for
management of an artisanal fishery inside a marine protected area. Fisheries Research, 98, n. 1-3, p. 85-
91, 2009.
OH, H.; SHIRAZI, A. R.; SUN, C.; JIN, Y. Bio-inspired self-organising multi-robot pattern formation: A
review. Robotics and Autonomous Systems, 91, p. 83-100, 2017.
SICILIANO, B.; KHATIB, O. Springer handbook of robotics. Springer, 2016. 3319325523.
WANG, S. H.; CHENG, X. E.; QIAN, Z.-M.; LIU, Y. et al. Automated planar tracking the waving bodies
of multiple zebrafish swimming in shallow water. PloS one, 11, n. 4, p. e0154714, 2016.
ÍÑIGUEZ, A. The Octopus as a Model for Artificial Intelligence. 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 401
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A FLORA DA SERRA DO


JATOBÁ, NO MUNICIPIO DE SÃO RAFAEL/ RN

Jefferson Santos Ferreira1; Aldemberg Araújo2; Valdir Fernandes Gadelha Júnior3;


Manoel Cirício Pereira Neto4

Introdução
A maior parte das caatingas está localizada nas depressões interplanálticas do
território brasileiro (AB’SÁBER 1974), geralmente localizadas em altitudes baixas,
embasados pelo escudo cristalino brasileiro datado do Pré-Cambriano. Nesse contexto,
os Inselbergs surgem como sendo importantes ambientes, relacionadas à afloramentos de
rochosos, que emergem do plano que as cerca, por vezes, importantes refúgios da flora
(KRIEGER; POREMBSKI; BARTHLOTT, 2003; PEREIRA NETO; SILVA, 2012).
Nesse caso, é notável a função do complexo processo geoecológico e também do
elevado grau de endemismo dessas regiões, de modo que os Inselbergs começam a
receber cada vez mais a atenção por parte dos pesquisadores (MEIRELLES, 1999;
CUNHA; 2005; BARROS, 2008; PEREIRA NETO; SILVA, 2012; PESSANHA; 2014).
A vegetação dos Inselbergs, por exemplo, acaba por se diferenciar daquela que a
circunda devido a fatores edáficos e microclimáticos, que formam um conjunto de
características específicas para alguns grupos de plantas adaptadas; sendo esses ambientes
considerados centros de diversificação para alguns grupos de plantas como as
Bromeliaceae, Cactaceae e Velloziaceae (POREMBSKI et al., 1998).
Nesse contexto, no município de São Rafael, localizado no estado do Rio Grande
do Norte, na mesorregião do oeste potiguar, se observam atualmente um dos importantes
campos de inselbergs do estado, com destaque à “Serra do Jatobá”, “Lájea Formosa” e
“Pindoba”. Essas áreas, entretanto, ainda carecem de estudos que potencializem o
entendimento de suas características, potencialidades e limitações.

1
Estudante do curso de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Campus de Assú; e-mail: jeffersonsantosferreira8@gmail.com
2
Estudante do curso de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Campus de Assú; e-mail: aldemberg.rn2013@gmail.com
3
Estudante do curso de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Campus de Assú; e-mail: jr.gadelha69@gmail.com
4
Professor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Campus de Assú; Líder do Grupo de Pesquisa Ambiente & Sociedade; e-mail:
ciricioneto@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 402
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Esse trabalho consiste no reconhecimento das áreas de inselbergs, juntamente ao


levantamento da composição florística de Caatinga relacionada especificamente à Serra
do Jatobá, no município de São Rafael/RN. Esse levantamento é de extrema importância
para a identificação de espécies potencial da flora localizadas nesse tipo de ecossistema.

Metodologia
O trabalho baseia-se na abordagem geossistêmica de Bertrand (1971) e
apresentada por Silva, Neto e Paula (2014), e das considerações realizadas por Pereira
Neto e Silva (2012) sobre a flora de inselbergs. Foi realizado o levantamento bibliográfico
sobre a flora da Caatinga e dos inselbergs. Com relação ao levantamento das espécies da
flora, essa se procedeu pela observação e identificação de árvores, arbustos e espécies da
Caatinga presentes na “Serra do Jatobá”, localizada no município de São Rafael/RN. A
visita de campo foi realizada entre os meses de agosto e dezembro de 2019, com o auxílio
de mateiro-guia onde foram feitos registros fotográficos para a catalogação das espécies,
além da retirada de ramos e flores de algumas espécies para posterior identificação.

Resultados e Discussão
O município de São Rafael está localizado em uma região de clima semiárido, na
região central do Rio Grande do Norte. Esse território é geologicamente caracterizado por
extensos afloramentos graníticos, com altitude média entre 100 a 200 metros,
representativa no contexto da Depressão Sertaneja e entrecortado por alguns inselbergs.
Nesse caso destaca-se ainda a extensa planície fluvial do Piranhas-Assú.
Conforme já ressaltado, o recorte espacial da pesquisa, a serra do Jatobá se insere
na parte lestre do território de São Rafael, com altitude média de 400m e forte declividade.
Esse inselberg se destaca pela rusticidade de seu afloramento proeminente, com a quase
totalidade de sua área com a exposição da rocha-matriz e ausência de solo.
Com relação à vegetação identificada no inselberg conhecimento popularmente
como “Serra do Jatobá” destacam-se, nas áreas de maior declive algumas espécies
comuns da Caatinga. Em todo o inserberg é observada principalmente a predominância
de espécies tais como macambira (Encholirium spectabile), xique-xique (Pilosocereus
gounellei), coroa de frade (Melocactus zehntneri), mandacaru (Cereus jamacaru) e urtiga
(Cnidoscolus urens) – esse último em menor número. Além dessas espécies, na Serra do
Jatobá se destacam também a jurema-preta (Mimosa tenuiflora), a maniçoba (Manihot
glaziovii), o velame (Croton heliotropiifolius), o marmeleiro (Croton sonderianus), o

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 403
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

algodão-do-mato (Cochlospermum vitifolium) e a imburana (Commiphora leptophloeos)


– embora vistas em menor quantidade e frequência na área de estudo, de acordo com o
gradiente altitudinal e características diversas.
Nesses inselbergs não é comum à retirada dessas espécies pelos visitantes, mas é
importante destacar a retirada em pequena escala de algumas dessas plantas típicas, que
são de bastante interesse das pessoas por sua particular beleza; para o uso nas residências
e em jardins tais como a coroa de frado, xique-xique, entre outras.
Gradualmente, na base da desse inselberg (Serra do Jatobá) se encontra ainda uma
maior diversidade de espécies como jurema-branca, jurema-preta (Mimosa tenuiflora),,
feijão brabo (Phaseolus vulgaris), pereiro (Aspidosperma pyrifolium), catingueira
(Caesalpinia pyramidalis), faveleira (Cnidoscolus phyllacanths), angico (Anadenanthera
colubrina), oiticica (Licaniarigida Benth), carnaúba (Copernicia cerifera). Destaque-se
ainda a presença da algaroba (Prosopis juliflora), como uma espécie indicadora do
processo de degradação na área.
A disponibilidade de água e sedimentos na base do inselberg faz com que essa
vegetação tenha uma maior densidade de sua cobertura vegetacional. Por conta dessas
árvores estarem situadas em torno do inselberg cria-se um clima agradável, que atrai a
visita de um maior número de pessoas nessas áreas. Além disso, os raios solares parecem
não chegar com tanta intensidade ao solo, contribuindo para manter o solo úmido na área
e favorecer a vegetação da caatinga sempre verde nos períodos de menor umidade.
Nas épocas com o maior índice de chuva no ano que vai do mês de janeiro ao de
julho, tem-se a presença de um riacho com as águas das chuvas que escorrem pelo
inselberg durante esses meses – caracterizando ainda um típico ambiente ciliar que
merece ser melhor conhecido posteriormente.
A conservação dessas áreas correspondentes aos ecossistemas rupícolas e ciliares,
ainda carecem da falta de atenção por parte da sociedade, provocando diversas atividades
potencialmente impactantes; com exemplo ao turismo desordenado, relacionado à coleta
de espécies das plantas nativa, da mineração ilegal e atividades esportivas como escalada,
“surfe na pedra” e as próprias queimadas (MEIRELLES, 1999; BARROS 2008,
AXIMOFF 2014), devendo assim a ver um maior monitoramento dessa áreas.

Conclusões
Os inselbergs são áreas de certa complexidade ambiental, com destaque à
interessante composição e diversidade florística da Caatinga. O levantamento preliminar

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 404
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

da flora na ‘Serra do Jatobá’ se destaca como um importante passo ao conhecimento


regional e à conservação desses ecossistemas. A continuação dos estudos nessas áreas
são, portanto, de grande relevância acadêmica e social se fazendo necessário, pois para a
mitigação dos impactos negativos e geração de renda às comunidades locais.

Agradecimentos
Os autores agradecem à concessão da bolsa PIBIC UERN para a realização da pesquisa.

Referências
AXIMOFF, I. Biologia e conservação de duas espécies de bromélias ameaçadas e
endêmicas de inselbergs litorâneos na região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.
Dissertação (Mestrado em Biodiversidade em Unidades de Conservação) - Instituto de
Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2014.
BARROS, A. A. M. Análise florística e estrutural do Parque Estadual da Serra da Tiririca,
Niterói e Maricá, RJ, Brasil. Tese (Doutorado em Botânica). Escola Nacional de Botânica
Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 237p,
2008.
BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço metodológico. Caderno de
Ciências da Terra, n. 13, p. 1-27, 1971.
CUNHA, M. B. A família Orchidaceae no Parque Natural Municipal da Prainha,
Rio de Janeiro, Brasil. Dissertação (Mestrado em Botânica) - Instituto de Pesquisa
Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2005.
KRIEGER, A.; S. POREMBSKI, e W. BARTHLOTT. “Temporal dynamics of na
ephemeral plant community species turnover in seasonal rocks pools on Ivorian
inselbergs”. Plant Ecology, 167: 283-292, 2003.
MEIRELLES, S.T.; Pivello, V.R. & Joly, C.A. The vegetation of granite rock outcrops
in Rio de Janeiro, Brazil, and the need for its protection. Environmental Conservation,
1: 10-20, 1999.
PEREIRA NETO, M. C; SILVA, N. M. Relevos residuais (maciços, inselbergues e
cristas) como refúgios da biodiversidade no Seridó potiguar. Revista GEONORTE,
edição especial, v.1, n.4, p. 262-273, 2012.
PESSANHA, A.S.; Neto, L.M.; Forzza, R.C. & Nascimento, M. Composition and
conservation of Orchidaceae on an inselberg in the Brazilian Atlantic Forest and floristic
relationships with areas of Eastern Brazil. Revista de Biología Tropical, 62(2): 829-841,
2014.
POREMBSKI, S. Tropical inselbergs: habitat types, adaptive strategies and diversity
patterns. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v. 30, n. 4, p. 579-586, 2007.
POREMBSKI, S.; MARTINELLI, G.; OHLEMÜLLER, R.; BARTHLOTT, W.
Diversity and ecology of saxicolous vegetation mats on inselbergs in the Brazilian
Atlantic Forest. Diversity and Distributions, v. 4, p. 107 – 119, 1998.
SILVA, M.M; NETO, C.A.F; PAULA, D.P. O uso do método geossistêmico na
compartimentação ambiental do município de Coreaú, Ceará. Revista Geonorte, Ceará,
V. 10, p. 631 - 634, 2014.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 405
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DESENVOLVENDO UM SISTEMA DE LOCALIZAÇÃO POR


SMARTPHONE BASEADO EM SENSORES INERCIAIS

Christian Lima Freitag 1; Anderson Abner de Santana Souza2

PALAVRAS – CHAVE: Auto-localização, Unidade de Medição Inercial, Integração de Dados.

INTRODUÇÃO

Os sistemas de auto-localização são parte integrante de diversos sistemas mais


complexos como, robôs, aviões, automóveis, entre outros. Eles são formados por um conjunto de
sensores e circuitos de processamento que medem alguma grandeza que pode ser utilizada para se
ter uma estimativa da localização, é o que acontece com os Sistema de Posicionamento Global (do
inglês, GPS), e são instâncias dos chamados Sistemas de Aquisição de Dados (RAYMOND, 2019).
Um dispositivo que tem sido amplamente utilizado na implementação de sistemas de localização
são as Unidades de Medição Inercial (UMI), que tipicamente contém sensores capazes de aferir
grandezas cinemáticas como, aceleração linear, velocidades, aceleração de giro e campo magnético
(SILVA, 2015).
Sistema de localização inercial (ou navegação inercial) pode ser definido como uma
técnica onde as grandezas cinemáticas são medidas por acelerômetros, giroscópios e, em alguns
casos, magnetômetros, para estimar a posição e/ou orientação de um objeto, relativo a um ponto de
partida (WOODMAN, 2007). Avanços recentes na fabricação de dispositivos
Microeletromecânicos - MEMS (Micro-Eletro-Mechanical Systems) tem possibilitado a construção
de sensores inerciais ou UMI, como os necessários para a navegação inercial, cada vez menores e
mais leves, que podem ser embarcados em diversos dispositivos como câmeras, drones e
smartphones.
Os smatphones atuais possuem sensores que dão a possibilidade de se implementar um
sistema de auto-localização. Um smartphone tipicamente contém um dispositivo MEMS com
acelerômetro giroscópio, barômetro e magnetômetro. Esses sensores formam a UMI dos
smartphones que medem a aceleração, taxa de rotação e orientação espacial desses aparelhos
(RAYMOND, 2019). É importante mencionar que além desses, os smartphones possuem GPS,
sensores de luz e outros, entretanto com a UMI é possível implementar um sistema de localização
que funcione tanto em ambientes internos como externos.
Alguns exemplos aplicação de sistemas de localização com cálculo da trajetória de
movimentos com smartphones podem ser encontrados na literatura. Silva (2015) utiliza um
smartphone com o sistema Android para implementar um sistema de localização e navegação
inercial para um robô móvel. Já Fourati e Manamanni (2013) desenvolveram um sistema de
rastreamento de pedestre, no qual uma UMI é fixada no pé do pedestre para que sua trajetória seja
computada à medida que ele caminha. Scaramuzza e Zhang (2020) mostram como um sistema de
1 Discente do curso de Ciência da Computação do Campus de Natal, UERN. e-mail: christianfreitag@alu.uern.br.
2 Docente do curso de Ciência da Computação do Campus de Natal, UERN, integrante do Grupo de Pesquisa em Inteligência
Computacional - GIC. e-mail: andersonabner@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 406
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

medição inercial pode ser combinado com câmeras para se implementar sistemas de navegação
autônoma visual-inercial para veículos aéreos não tripulados.
Neste trabalho tivemos como objetivo desenvolver um sistema de localização inercial
baseado na UMI de um smartphone para fazer parte de um sistema de Auxílio na Locomoção de
Pessoas com Restrições Visuais. O sistema de localização pode servir como uma ferramenta para
calcular a trajetória que uma pessoa com a visão prejudicada está fazendo ao se locomover,
ajudando-a a se auto-localizar.

METODOLOGIA

Com o objetivo de proceder com a implementação do sistema de localização inercial do


smartphone foram seguidas algumas etapas de investigação e desenvolvimento. Em uma primeira
etapa, estudamos alguma forma de acessar os dados da UMI de um smartphone comercial. Por
conta de limitações em alguns smartphones, optamos por utilizar informações de acelerômetro e
giroscópio. Alguns smartphones não possuem magnetômetro ou barômetros. Foram investigadas
algumas bibliotecas ou ferramentas de aquisição de dados para smartphones Android. Diante das
possibilidades, programação e facilidade de acesso aos dados foi escolhida a ferramenta
Androsensor (2020). Ela permite o acesso direto aos dados de todos os sensores disponíveis do
smartphone.
Os dados acessados foram analisados e foi verificado que possuem grandes taxas de
variações, mesmo com o smarphone estático, sem movimento. Investigando um pouco mais a
fundo, descobrimos que este fato é comum em UMI’s de baixo custo, e é referido como ruídos
sobre os dados, sendo necessária a implementação de filtros para atenuar os efeitos desses ruídos.
Procedemos com a implementação dos filtros necessários, adotando a linguagem Python
para testes offline (fora do smartphone) e a linguagem React Native para aquisição de dados e testes
internos ao smartphone.
Após a implementação dos algoritmos de filtragem, procedemos com a execução dos
cálculos necessários para a estimação dos movimentos a partir dos dados sensoriais inerciais
filtrados. A posição é adquirida pela dupla integração das acelerações lineares enquanto que a
orientação é dada diretamente pelas informações do giroscópio. Ambas, posição e orientação, dão a
noção espacial de onde o smartphone está, com base na somatória de pequenos movimentos
estimados em um intervalo de tempo curto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para tentar validar os algoritmos e equações implementadas, realizamos alguns


experimentos com um smartphone comercial dentro do ambiente do Campus da UERN em Natal.
Com o smartphone ligado e com o Androsensor ativado para capturar os dados sensoriais da UMI
do smartphone, foram realizadas diferentes trajetórias.
Mesmo com a filtragem, os resultados alcançados foram considerados não tão úteis
sozinhos para o projeto como um todo, pois os cálculos da posição são fortemente influenciados
pelos ruídos sensoriais. A Figura 1 , linha em vermelho, mostra a o trajeto (coordenadas cartesianas

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 407
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

x, y e z em metros) calculado para um trajeto retangular feito com o smartphone em mãos de um


operador. Após verificar que o trajeto calculado não correspondeu ao trajeto realizado, investigamos
a aplicação de outras filtragens possíveis para melhorar o resultado.
Aplicamos a Filtragem de Kalman para tentar atenuar ainda mais os efeitos dos ruídos,
porém, ainda assim, os resultados apresentados não foram condizentes com o esperado, como
mostra a Figura 1, linha em preto. Atribuímos esse insucesso ao fato de a UMI de um smartphone
não fornecer dados com qualidades suficiente para uma estimativa dos movimentos realizados com
o mesmo.

Figura 1: Trajetória estimada pelo sistema de localização inercial implementado para um trajeto
retangular feito por um operador. A linha em vermelho mostra o resultado obtido sem a aplicação
do Filtro de Kalman, enquanto que a linha em preto mostra o resultado obtido com a Filtragem de
Kalman.

Novas investigações foram feitas e mostraram que sistemas inerciais funcionam de


maneira mais apropriada com o auxílio de câmeras, formando os sistemas de navegação visual-
inercial, como mostrado em (SCARAMUZZA & ZHANG, 2020). Dessa forma, como trabalhos
futuros, iremos investigar essa possibilidade de fusão de informações (UMI e câmeras), já que os
smartphones possuem câmeras, em muitos deles, de alta qualidade que podem ser utilizadas para a
implementação de um sistema de localização mais robusto.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 408
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONCLUSÃO

Neste trabalho foi implementado um sistema de auto-localização baseado em dados de


sensores inerciais de um smartphone, com o objetivo de este ser aplicado a um sistema de Auxílio
na Locomoção de Pessoas com Restrições Visuais. A implementação seguiu os passos sugeridos na
literatura para o desenvolvimento de sistemas de navegação inercial, porém os resultados
alcançados foram considerados não adequados para que o sistema de localização seja utilizado, de
forma individual, no sistema geral. Consideramos que tal fato se deve a má qualidade dos dados
sensoriais fornecidos pela UMI do smartphone, diferentemente dos dados mais acurados fornecidos
por UMIs mais bem projetadas e manufaturadas, encontradas no mercado.
Como perspectivas futuras, iremos investigar a possibilidade de integrar ao sistema de
localização inercial informações visuais de câmeras, já que, de acordo com a literatura mais atual,
sistemas visual-inercial permitem estimativa de movimentos de forma mais acurada. Os
smartphones permitem o uso de câmeras, que em dispositivos mais modernos, proveem imagens de
alta qualidade para o propósito desejado, o que pode contribuir para a implementação de um bom
sistema de localização visual-inercial.

REFERÊNCIAS

ADROSENSOR, http://www.fivasim.com/androsensor.html, Acessado em 2020.

WOODMAN, O. J. An introduction to inertial navigation. Technical report, Cambridge:


University of Cambridge, 2007.

SILVA, Pedro Ramon de Melo. Localização de robô em ambiente interno utilizando um


dispositivo móvel baseado no sistema operacional Android para navegação inercial.
Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas – Faculdade de Engenharia
Mecânica, Campinas, SP, 2015.

REYMOND, Mack. Exploring Data Acquisition and Trajectory Tracking with Android
Devices and Python. Medium, 2019.

Fourati, H. and Manamanni, N. Position estimation approach by complementary filter-aided


imu. 12th Biannual European Control Conference, 1:4028–4213, 2013.

SCARAMUZZA, Davide; ZHANG, Zichao. Visual-Inertial Odometry of Aerial Robots.


Encyclopedia of Robotics, Springer, 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 409
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA RASTREAMENTO DE


CARDUMES DE PEIXE ZEBRAFISH

Daniel Teodolino Barbosa Torres1; Bruno Cruz de Oliveira2


Palavras-chave:​ Visão computacional. OpenCV. Python

Introdução
O comportamento coletivo de animais tem sido estudado há anos por cientistas das
mais diversas áreas do conhecimento. Por serem animais, a primeira área que nos vem à
cabeça é a biologia, onde o estudo do comportamento coletivo permite o entendimento dos
mecanismos neurais cognitivos envolvidos no processo e de como os animais evoluem.
Entretanto, outras área tem usado o comportamento coletivo de animais como inspiração. Por
exemplo, na computação, os algoritmos evolutivos são usados para resolver problemas de
otimização, a inteligência de enxame é aplicada para modelar processos complexos de tráfego
e transporte; na engenharia, o estudo do comportamento coletivo é utilizado para criar robôs
capazes de interagir e trabalhar juntos.
Para entender os princípios por trás do comportamento de cardumes é importante
obter e analisar quantitativamente os movimentos de cada indivíduo no cardume. O
rastreamento manual é tedioso, demorado e, em determinadas situações, impossível. O
rastreamento por vídeo permite a automação e aumento de precisão na obtenção dos dados de
movimento do cardume, além de ser possível encontrar medidas inteiramente novas baseadas
em recursos que não seriam detectáveis ou contáveis por métodos manuais.
Em laboratório, a forma mais comum de rastrear peixes é utilizando uma câmera
sobre um aquário com água rasa de forma que o movimento dos peixes possa ser considerado
um movimento no plano bidimensional. Dessa forma, o rastreamento é uma tarefa de
reconhecer padrões e guardar a localização dos objetos no decorrer do tempo. Entretanto, o
rastreamento de peixes possui características únicas que a tornam desafiadoras. A
identificação de cada indivíduo é difícil, pois, a forma do peixe muda constantemente de
modo que não é possível representar o peixe por um modelo, os indivíduos têm alto grau de
similaridade e a textura do peixe é muito pequena na imagem para ser usada na identificação
de indivíduos diferentes, e ainda, quanto maior a densidade de peixes na água, maior a
ocorrência de oclusões de indivíduos. Do ponto de vista do rastreamento, as dificuldades
ocorrem pois o movimento dos peixes é muito complexo e as oclusões geram erros de
identificação que fragmentam as trajetórias.
Este trabalho tem como objetivo desenvolver um sistema para rastreamento de
cardumes de peixe zebrafish através de vídeo em ambiente de laboratório utilizando
ferramentas abertas.

Metodologia
Durante este trabalho foram realizadas as seguintes etapas:
1. Levantamento de requisitos

1
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Ciência da Computação do
Campus de Natal da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
danielteodolino@alu.uern.br.
2
Professor do Departamento de Ciência da Computação do Campus de Natal da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Participante do Grupo de Pesquisa Grupo de Sistema Embarcados e
de Tempo Real; e-mail: brunocruz@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 410
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Durante esta etapa foram pesquisadas as ferramentas existentes para fazer o mesmo
tipo de tarefa proposta por esse trabalho. Entre as principais ferramentas proprietárias temos o
EthoVision® (2020) que permite rastrear o baricentro de diversos tipos de organismos,
contudo, a quantidade de objetos é limitada e a oclusão causa a perda da identidade do peixe,
e o ANY-maze® (2020), que sofre de problemas semelhantes ao EthoVision®. Quanto às
ferramentas abertas podemos citar de forma resumida duas das mais conhecidas, sendo elas: o
idTracker (PÉREZ-ESCUDERO et al., 2014) - ferramenta de código aberto para rastrear
diversos tipos de animais, mas sua implementação foi feita utilizando MATLAB®, uma
ferramenta proprietária; o Tracktor (SRIDHAR; ROCHE; GINGINS, 2019) - ferramenta de
código aberto para rastrear diversos tipos de animais, tendo como vantagem utilizar a
linguagem de programação Python e a biblioteca aberta de visão computacional OpenCV.
Vários métodos de rastreamentos foram propostos tentando superar as dificuldades
apontadas anteriormente. Na proposta por Delcourt et al. (2011), os pesquisadores precisam
marcar manualmente os objetos com etiquetas coloridas. No entanto, o processo de marcação
manual é muito complicado, e as marcas podem afetar o comportamento social dos animais
rastreados. Propostas mais recentes tentam identificar os peixes de forma automática, como
em Bai et al. (2018), que identifica os peixes através do histograma de gradientes orientados.
Wang et al. (2016) utiliza técnicas de processamento de imagens para encontrar o contorno do
peixe e a partir daí encontrar a cabeça e o resto do corpo através de funções matemáticas.
Ainda nesta etapa foram estudadas as principais técnicas de processamento de
imagem utilizadas para rastrear objetos em vídeo.
2. Modelagem
A modelagem deste trabalho tomou como base o artigo de Wang at al (2016),
seguindo as seguintes etapas.
O passo inicial é a eliminação das informações irrelevantes, ou seja, tudo que
aparece no vídeo e que não é um peixe. Para isso o fundo da imagem foi calculado como
sendo a média de todos os quadros do vídeo em escala de cinza.
Rastrear um objeto qualquer em um vídeo consiste em localizar o objeto em cada
quadro do vídeo e guardar sua posição. Assim, para cada quadro do vídeo, foram realizados
os passos abaixo:
● Conversão do quadro para escala de cinza: abstração dos quadros para
posterior processamento.
● Subtração do fundo da imagem: a imagem do fundo do vídeo, encontrada
anteriormente, é subtraída da imagem do quadro atual em escala de cinza. A imagem
resultante contém os peixes em escala de cinza e o restante da imagem na cor preta;
● Binarização da imagem: técnica de processamento de imagens para
segmentação, a fim de separar os objetos de interesse do plano de fundo, esta técnica consiste
em converter tudo que está acima de um limiar para branco e tudo que está abaixo para preto,
gerando uma imagem que contém “sombras” no formato dos peixes em branco e o fundo da
imagem em preto;
● Cálculo do contorno: operação que retorna, para cada objeto na imagem
binarizada, uma lista de coordenadas dos pontos que fazem o seu contorno;
● Reamostragem do contorno: Cada contorno é então reamostrado para que os
seus pontos fiquem equidistantes;
● Cálculo da curvatura: para cada ponto de um contorno é então calculada a sua
curvatura como sendo: o ângulo formado entre a tangente à curva no segmento que termina no
ponto atual sobre o comprimento desse segmento;

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 411
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

● Encontrando a cabeça e a cauda do peixe: o ponto com curvatura mais


acentuada é a cauda do peixe e o ponto com uma curvatura grande, mas não tão acentuada é a
cabeça do peixe, conforme podemos ver na Figura 1;
● Rastreamento: nesse passo os peixes encontrados no quadro atual precisam ser
mapeados nos peixes encontrados no quadro anterior. Como de um quadro para outro os
peixes percorrem pequenas distâncias, foi calculada a métrica euclidiana de todos os peixes
do quadro atual para todos os peixes do quadro anterior e em seguida foi utilizado o algoritmo
de Kuhn–Munkres para fazer o mapeamento.
● Guardar a posição de cada peixe: uma vez mapeado o peixe, a posição de cada
um é salva no rastreamento correspondente.

(c)

Figura 1: (a) Contorno reamostrado do peixe. (b) Gráfico da curvatura calculada. (c)
Visualização da informações obtidas e armazenada para cada peixe de um quadro

3. Implementação
Para a implementação do modelo definido foi escolhida a linguagem Python 3. O
Python é uma linguagem de alto nível, orientada a objetos que pode ser utilizada em diversos
sistemas operacionais como Windows, Mac OS e Linux, sendo bastante utilizada atualmente
na área de visão computacional.
Para aplicar as técnicas de processamento de imagem optou-se pelo uso da biblioteca
Open Source Computer Vision Library (OpenCV). Essa biblioteca é implementada em C, mas
pode ser utilizada em C, C++, Java, MATLAB e Python, possuindo versões disponíveis para
os sistemas operacionais Windows, Linux, Mac OS e Android.
As ferramentas citadas anteriormente são amplamente utilizadas pela indústria e pela
comunidade científica e atendem aos objetivos deste trabalho de serem abertas ao uso.
4. Testes
Esta etapa foi realizada durante todo o desenvolvimento. Foram utilizados conjuntos
de quadros de vídeos para garantir que o comportamento de todos os módulos desenvolvidos
estavam de acordo com o especificado
5. Validação
Esta etapa foi realizada utilizando os vídeos fornecidos pela Doutoranda/UFMA
Marta de Oliveira Barreiros. Os vídeos de resolução 1920x1800 (largura x altura) e 30 fps são
de cardumes de peixes zebrafish com cerca de 10 indivíduos em um aquário com pouca água.
Um novo vídeo foi gerado marcando cada peixe com uma cor e número e uma
checagem visual quadro a quadro foi feita para verificar se a identidade do peixe se mantém
durante todo o vídeo.
6. Documentação
A documentação de todo o processo pertencente a pesquisa científica proposta foi
realizada em todos os passos descritos neste documento.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 412
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultados e Discussão
O presente trabalho é capaz de rastrear os peixes seguindo os passo descritos na
seção anterior guardando, para cada peixe, as seguintes informações: posição da cauda do
peixe, posição da cabeça do peixe e a direção que ela aponta. A Figura 1(c) mostra de forma
visual as informações armazenadas em um quadro do vídeo. O algoritmo é capaz de processar
cerca de 16 quadros por segundo um computador com processador Core i5 Dual-Core de
1.6Ghz e com 4Gb de memória RAM DDR3. Os peixes têm um comportamento muito
dinâmico e em algumas situações muitos animais se juntam e passam por cima um do outro.
Nessas situações pode ocorrer a perda da identidade de um ou mais peixes. Essas situações
devem ser atacadas com outras abordagens e deverão fazer parte de futuras pesquisas e
melhorias do algoritmo implementado neste trabalho

Conclusão
As soluções estudadas funcionam relativamente bem com quantidades muito
pequenas de animais e algumas limitam a apenas um animal. A técnica apresentada em Wang
et al. (2016) também falha na manutenção da identidade dos peixes quando ocorrem oclusões
parciais ou totais. Contudo, acredita-se que as demais informações geradas pela técnica -
como contorno, posição e direção da cabeça e posição da cauda - podem ser utilizadas para
atacar os problemas de oclusão através de inteligência artificial.
Este trabalho atinge seu objetivo, mesmo que, em alguns casos de oclusão total ou
parcial de um animal, sua identidade possa ser perdida. O código gerado pode receber
melhorias e novas funcionalidades, abrindo portas para novas pesquisas.

Agradecimentos
À Marta de Oliveira Barreiros doutoranda/UFMA por fornecer os vídeos utilizados
neste projeto.

Referências
ANY-maze®. https://www.anymaze.co.uk. acessado em: 17 de setembro de 2020.
BAI, Y.; ZHANG, S.; FAN, Z. Y.; LIU, X.; ZHAO, X.; FENG, X.; SUN, M. Automatic
multiple zebrafish tracking based on improved HOG features. ​Nature Scientific Reports​.
2018. 8: 2045-2322. DOI: 10.1038/s41598-018-29185-0
DELCOURT, J.;. YLIEFF, M.; BOLLIET, V.; PONCIN, P.; BARDONNET, A. Video
tracking in the extreme: A new possibility for tracking nocturnal underwater transparent
animals with fluorescent elastomer tags. ​Behaviour Research Methods​. 2011. 43(2),
590–600. DOI: 10.3758/s13428-011-0060-5
ETHOVISION®. https://www.noldus.com. acessado em: 17 de setembro de 2020.
PÉREZ-ESCUDERO, A.; VICENTE-PAGE, J.; HINZ, R.C.; ARGANDA, S.; DE
POLAVIEJA G.G. idTracker: tracking individuals in a group by automatic identification of
unmarked animals. ​Nature Methods​. 2014. 11(7):743–751. DOI: 10.1038/nmeth.2994
SRIDHAR, V.H.; ROCHE, D.G.; GINGINS, S. Tracktor: Image-based automated tracking of
animal movement and behaviour. ​Methods in Ecology and Evolution​. 2019. 10: 815– 820.
https://doi.org/10.1111/2041-210X.13166
WANG S.H.; CHENG X.E.; QIAN Z-M; LIU Y; CHEN Y.Q. Automated Planar Tracking the
Waving Bodies of Multiple Zebrafish Swimming in Shallow Water. ​PLoS ONE​. 2016. 11(4):
e0154714. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0154714

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 413
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA WEB COLABORATIVO


PARA OBJETOS DE ROBÓTICA EDUCACIONAL

Kefton David Nunes de Melo1; Sebastião Emidio Alves Filho2

Resumo:
A robótica tem expandido-se gradativamente, consequentemente levando ao crescimento de
possibilidades de aplicação de projetos nessa área, seja em meio acadêmico ou não. Apesar
de ser uma área em crescimento, ainda existe uma carência na facilidade de se obter
conhecimentos palpáveis sobre, devido à falta de plataformas organizadas especializadas
nesse tema, fazendo com que a busca por temas específicos em robótica através de
ferramentas de pesquisa generalizada seja ineficiente. A proposta desse projeto é desenvolver
a plataforma RepositORE, que tem como objetivo ser um repositório estruturado de Objetos
de Robótica Educacional.

Palavras-chave: ​Robótica. Objetos de Aprendizagem. Metadados. Sistemas de


recomendação. Dublin Core.

Introdução
A Robótica Educacional pode ser definida como um conceito didático com o objetivo
de demonstrar na prática, conceitos de robótica, conceitos que nem sempre são de fácil
compreensão quando demonstrados somente por meio da teoria. As demonstrações e
atividades facilitam a assimilação dos conteúdos por parte do aluno, fazendo com que o
mesmo entenda a relação entre teoria e prática, tornando assim a aprendizagem mais
dinâmica.
É possível aplicar esse método de aprendizagem de robótica de várias maneiras, usando de
atividades e projetos. Algumas aplicações são: construir maquetes dinâmicas ou não, através
do uso de sensores, motores, engrenagens, lâmpadas e etc; desenvolver o lado psicomotor do
aluno através da manipulação dos kits de robótica; facilitar a aprendizagem, relacionando
teoria e prática.
Apesar de a Robótica Educacional ser um paradigma relativamente recente, existem
empresas que atualmente comercializam variados kits de aprendizagem em robótica. O
trabalho de Gurgel(2018) mostra que tais kits, que são compostos por ​hardware e ​software​. A
parte de ​hardware nos kits educacionais é composta por sensores, rodas, motores e etc. Os
softwares possuem linguagens de programação textuais, baseadas em alguma linguagem de
programação já existentes. Os kits mais conhecidos são: LEGO MINDSTORMS, Arduíno,
VEX, Modelix Robotics, GoGoBoard e entre outros.
Em se tratando de Objetos Educacionais, estudos e pesquisas bibliográficas existentes
na literatura relatam que as plataformas existentes de Objetos de Aprendizagem(OA) não
possuem foco em conteúdo sobre robótica. Foi diagnosticado também que grande parte dos
1
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Informática da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: keftonmelo@alu.uern.br

2
Professor do Departamento de Informática da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Líder do Grupo de Pesquisa em Tecnologias na Educação; e-mail:sebastiaoalves@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 414
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Objetos de Aprendizagem de robótica estão localizados em blogs e páginas sem organização


e sem descrição de metadados, tornando mais difícil encontrar atividades e objetos por meio
de ferramentas de pesquisa generalizadas.

Metodologia
Ao estudar os repositórios de OAs, foi visto que a grande maioria desses repositórios
utiliza de descrição de campos por meio de metadados na inserção dos objetos, isto é, os
dados do objeto são referenciados por um padrão de metadados. Dentre eles, o padrão de
metadados Dublin Core se destaca, devido à sua simplicidade e adaptabilidade. Usando dessa
capacidade de adaptação do Dublin Core, foi possível adequar o seu uso para a inserção de
Objetos de Robótica Educacional criando uma adaptação na nomenclatura do padrão, como
uma forma de extensão do Dublin Core(GURGEL, 2018).
Em relação ao estudo sobre os repositórios de Objetos de Aprendizagem, foi
elaborado uma pesquisa sobre as tecnologias atuais mais utilizadas na construção de
aplicações web, as quais constam os ​frameworks,​ banco de dados em tempo real, ferramentas
de hospedagem de código e IDEs. Foi escolhido o ​framework de código aberto ​front-end
Angular para a construção das interfaces de usuário utilizando o conceito de SPA(s​ingle page
aplication​), devido aos benefícios que o mesmo trás quanto ao desenvolvimento de
aplicações web(JADHAV et. al, 2015). O Angular tem uma estrutura baseada em
componentes, o que possibilita uma melhor legibilidade e manutenção de código facilitada,
além de ser escrito na linguagem Typescript, permitindo a orientação a objetos, tipagem de
variáveis e injeção de dependência de código.
Para suporte ao ​back-end​, foi optado por utilizar os serviços da plataforma Firebase
(MORONEY, 2017). O Firebase proporciona de diversas funcionalidades que facilitam o
desenvolvimento das aplicações. As ferramentas fornecidas são: Autenticação de usuários,
armazenamento de arquivos de imagem e vídeo, duas opções de bancos de dados NoSQL
(Firestore e Realtime Database), relatório de falhas, hospedagem, laboratório de testes e
funções de nuvem.

Resultados e Discussão
A plataforma RepositORE é estruturada em dois tipos de permissões: Usuário e
Administrador. Cada um dos tipos de permissão disponibiliza funcionalidades diferentes para
o uso. O Usuário pode: cadastrar-se no RepositORE informando nome, e-mail e senha, ou
utilizando uma conta do google ou facebook; pesquisar objetos armazenados no sistema; ver
os metadados de um objeto; cadastrar um objeto de robótica no sistema; editar objeto que foi
cadastrado; deletar objeto cadastrado; sugerir edição de algum aspecto de um objeto
cadastrado por outro usuário e avaliar objeto criado por outro usuário. O Administrador pode:
Executar todas as funções definidas para o usuário comum, e também analisar os objetos e
verificar as sugestões de edição de objetos.
As ferramentas utilizadas são: Angular v9.1.11; banco de dados, autenticação e
storage do Firebase; IDE Visual Studio Code e a plataforma de hospedagem de código
Github. O RepositORE está atualmente em reconstrução devido à mudanças ocorridas no
Angular desde sua primeira construção, e estão e serão introduzidas novas funcionalidades.
Nas figuras 1, 2 e 3 é demonstrado o ​layout​ atual do repositório.
Dentre as funcionalidades que serão implementadas, está um Sistema de
Recomendação de Conteúdo. A Recomendação de Conteúdos relaciona conteúdos apreciados
pelo usuário com outros conteúdos preexistentes, fazendo uma filtragem para o usuário e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 415
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

recomendando-o conteúdos similares, ou seja, é um processo de ajuda na tomada de decisões


do usuário.

Figura 1: Tela de Login


Fonte: Autoria Própria

Figura 2: Tela de Cadastro de Usuário


Fonte: Autoria Própria

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 416
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 3: Tela de Cadastro de Objetos


Fonte: Autoria Própria

Conclusões
O RepositORE facilita e supre a carência na busca de atividades de robótica
educacional. O esquema de colaboração entre usuários e estrutura de metadados
modificada permite uma maior efetividade de buscas. A implementação de um sistema de
recomendação combinado com o sistema de buscas facilita as pesquisas e navegação por
parte do usuário.

Agradecimentos
Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) por ter concedido a bolsa no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em
Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI).

Referências
GURGEL, Thalia Katiane Sampaio. ​RepositORE: Um Repositório de Objetos de
Aprendizagem para Robótica Educacional. ​2019. 113f. Trabalho de Conclusão do Curso
de Ciência da Computação, Faculdade de Ciências Exatas e Naturais, Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2019.
JADHAV, Madhuri A.; SAWANT, Balkrishna R.; DESHMUKH, Anushree. Single page
application using angularjs. ​International Journal of Computer Science and Information
Technologies​, v. 6, n. 3, p. 2876-2879, 2015.
MORONEY, Laurence; MORONEY; ANGLIN. ​Definitive Guide to Firebase​. Apress,
2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 417
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DESENVOLVIMENTO DE UMA FERRAMENTA BASEADA EM


INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL PARA DIAGNÓSTICO DE SEGURANÇA
EM REDES DE COMPUTADORES

Davi Oliveira Rebouças¹; João Roberto¹, Emídio Lopes¹, Isaac de Lima Oliveira Filho²

Palavras-chave: Aprendizado de máquina. Ataque de Negação de Serviço. Segurança da


informação.

INTRODUÇÃO

Existem atualmente vários mecanismos de proteção de dados, dentre eles podemos citar os
firewall (Stallings, 2013), que são mecanismos que bloqueiam determinadas portas de acesso
externos, ou seja restringindoo acesso a determinados componentes de rede (máquinas,
servidores, terminais, etc). Outro serviço importante na proteção da infra estrutura de rede de
uma empresa, principalmente se esta permite tráfego de informações entre matriz e filiais, é o
uso de VPN’s (Virtual Private Networks) (Stallings, 2013). Nestas redes é possível criar um
canal virtual de comunicação seguro entre hosts, utilizando o link de internet (desprotegido).
No entanto, apesar de serem métodos bem eficientes, ainda é possível que dentro da rede
utilizada possam existir pessoas não autorizadas, por exemplo, hackers, crackers ou
colaboradores despreparados ou mal orientados, que possam prejudicar a segurança dos dados
e do funcionamento dos serviços de uma empresa.
A frase “é melhor prevenir do que remediar” retrata perfeitamente alguns casos de ataques a
empresas, onde o atacante, obtendo sucesso em suas invasões, certamente ocasionará
prejuízos a empresa alvo. Este prejuízo pode ir além do financeiro, e afetar diretamente a
imagem e a reputação da companhia. Neste caso, é recomendado que a empresa invista no
treinamento dos colaboradores, na compra de equipamentos, de softwares, etc, sempre
buscando melhorar o nível de segurança da informação.
Neste sentido, este projeto de pesquisa propõe realizar um levantamento dos tipos de
algoritmos dentro do conceito de deep learning, configurar e treinar estes algoritmos sobre as
bases de dados em repositórios relacionados à ataques em redes de computadores e por fim
desenvolver, baseado nestes algoritmos, um sistema computacional que possa analisar em
tempo real os dados coletados e predizer a existência de ataques e a melhor maneira de trata-
los.

1 - Graduando de Ciência da Computação pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN
2 - Professor - Ciência da Computação pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 418
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

METODOLOGIA

Através do estudo sobre os principais algoritmos do tipo Deep Learning, foi realizado
levantamento das possíveis bases de dados com informações de determinados tipos de
ataques. Após a escolha destas bases e dos algoritmos supervisionados, foram realizados
experimentos sobre as bases escolhidas, de forma a configurar e aprimorar os parâmetros de
base, aumentando a acurácia (taxa de acerto na predição) dos algoritmos selecionados.

Figura 1 – Linguagem da Aplicação

Fonte: Compilação do Autor

Em sequência, foi realizado o levantamento de requisitos do sistema proposto, em função das


funcionalidades necessárias para que os usuários (equipe de T.I) possam minimizar os riscos
de ataques a seus serviços. Neste ponto, foi necessário modelar, desenvolver e validar o
sistema proposto, aplicando-o sobre outras bases de dados, que serão utilizadas para este fim.
Por fim, após o desenvolvimento deste sistema, foram realizados testes comparativos em
relação aos resultados obtidos e em relação a outros algoritmos ou sistemas presentes na
literatura.
Para auxílio na construção e desenvolvimento do projeto foram utilizadas algumas
ferramentes do tipo open source como o Scikit-learn, que é uma biblioteca de aprendizado de
máquina de código aberto que suporta aprendizado supervisionado e não supervisionado.
Além disso foram utilizadas diversas ferramentas auxiliares à linguagem de programação base
para o sistema, que é a linguagem Python e suas bibliotecas principais como o NumPy, SciPy
e Matplotlib.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 419
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O desenvolvimento desse trabalho iniciou-se com o levantamento bibliogŕafico dos


classificadores da base, onde foi possível obter uma visão clara de qual seria o melhor tipo de
algoritimo que corresponderia melhor a sistemática de todas as funcionalidades do sistema.
Após a transformação da coleta em base apropriada e da realização de treinamentos dos
classificadores sobre a base de ataques, tomou-se como base a implementação de Silva (2011)
que detalha uma Rede Neural Artificial que teve suas características alteradas através de
Algoritmos Genéticos para obter melhores taxas de acerto sobre conexões normais e anormais
de uma rede de computadores.
Nesse estudo citado foi observado que a classificação correta de ataques e de tráfego normal
através das Redes Neurais Artificiais aumenta em até 17,6% com a utilização de Algoritmos
Genéticos. Já a utilização de um Sistema Nebuloso apresenta um ganho modesto, da ordem de
5% na taxa de acerto de ataques e tráfego normal. Porém, com a junção das Redes Neurais ao
Sistema Nebuloso, formando o sistema Neuro-Fuzzy, é possível obter um ganho nas taxas de
acerto da ordem de 30% em relação a um sistema sem a implementação desses dispositivos.
Figura 2 - Layout do Sistema

Fonte: Compilação do Autor

CONCLUSÃO

O levantamento bibliográfico foi realizado, trazendo outras opções de bases de ataques,


trabalhos relacionados, tipos e configurações de classificadores a serem utilizados no projeto.
Foi realizado também um levantamento de funcionalidades e especificação de quais ataques
serão abordados pela aplicação. Foram feitos testes com os classificadores com bases de
ataques de negação de serviço.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 420
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Em relação as dificuldades apresentadas durante a construção do projeto, uma das principais


foi a complicada transformação dos arquivos de coleta para uma base padronizada aceita
pelos classificadores. Além disso, o período em que nos encontramos, de pandemia da
COVID-19, acabou por dificultar o andamento correto do cronograma do projeto em seu
tempo previsto.
Por fim, após as implementações, as taxas de acerto para detecção de invasões e de tráfego
normal foram obtidas e comparadas. Elas apresentaram, em todos os métodos de IA, taxas de
acerto maiores que o sistema inicial utilizado.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e ao CNPQ pela ajuda


pedagógica, estrutural e financeira para o formento deste trabalho. Agradeço também a todos
que participaram de alguma forma na produção desta publicação.

REFERÊNCIAS

Ian Goodfellow, Yoshua Bengio, and Aaron Courville. Deep Learning. The MIT Press.
2016.Filho, hayrton Rodrigues Prado. Os riscos e os prejuízos causados pela
vulnerabilidade da segurança da informação. Disponível em
https://revistaadnormas.com.br/2018/05/29/os-riscos-e-os-prejuizos-causados-pela-
vulnerabilidade-da-seguranca-da-informacao/. Acesso em 04 de abril de 2019.
FACELI, K. et al. Inteligência Artificial: Uma Abordagem de Aprendizado de Máquina.
1rd. ed. [S.l.]: LTC, 2011.
Allan Liska and Timothy Gallo. Ransomware: Defending Against Digital Extortion (1st
ed.). O'Reilly Media, Inc. 2016.
SHUI YU. Distributed Denial of Service Attack and Defense. Springer Publishing
Company, Incorporated, 2013.
SILVA, Jacson Rodrigues Correia. Sistemas de detecção de intrusão com técnicas de
inteligência artificial. 2011. 143 f. Dissertação (Pós-Graduação em Ciência da Computação)
– Curso de Ciência da Computação, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2011.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 421
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DESENVOLVIMENTO DE UMA FERRAMENTA PARA


RECONHECIMENTO E CONTAGEM DE LARVAS DE CAMARÃO

William Arcanjo Mendes de Morais​1​; Adriana Takahashi​2

Palavras-chave​: Larvicultura. Carcinicultura. Análise de imagens.

Introdução
A carcinicultura é uma atividade socioeconômica muito importante no Brasil e no
mundo, e sua comercialização está em crescente expansão, tendo oferta insuficiente no
mercado mundial. A pesca predatória do camarão no mar é uma atividade de custo muito alto,
elevando o preço do produto, tornando mais atrativa a produção deste produto em cativeiros
(Natori et al., 2011). O Brasil iniciou essa atividade na década de 70, com inúmeros
momentos intensos até os dias atuais, desde a escolha de uma espécie que não se adaptou bem
às condições climáticas e ambientais nacionais, ao desenvolvimento de tecnologias
apropriadas aliadas a sistematização do cultivo e produção do crustáceo (ABCCam).
Empresas nacionais viram boas perspectivas do produto no mercado internacional, devido às
situações da política econômica, as condições do mercado e também ao incentivo de políticas
públicas para o desenvolvimento da carcinicultura no país, e em 2003, o Brasil atingiu a
liderança mundial no em produtividade, sendo o Rio Grande do Norte (RN) o estado líder de
maior comercialização do crustáceo (Sousa; Teixeira; Lima, 2007). Entretanto, entre 2003 a
2016, o estado sofreu uma queda drástica na comercialização e exportação do crustáceo,
devido, principalmente a doença causada pelo vírus da Síndrome da Mancha Branca que ataca
o camarão e afeta sua produtividade. Em meados de 2017, o estado demonstrou recuperação
no mercado, retornando a exportar o crustáceo, adotando novas técnicas para evitar ou
conviver com a mancha branca, além de se destacar na produção de larvas de camarão (IBGE,
2017, Nunes e Feijó, 2017).
O histórico da carcinicultura no Brasil, assim como no estado do RN, demonstra que
o sucesso dessa atividade, depende, desde aplicações tecnológicas e domínio de técnicas de
manejo na criação do crustáceo ao domínio da larvicultura. Indústrias brasileiras têm
demonstrado muito interesse em ingressar na nova geração de sistemas de cultivo e produção
de camarões, ou seja, carcinicultura associada ao uso de inovações tecnológicas e protocolos
de cultivo de biossegurança, considerando resultados de sucessos, como o aumento da
produtividade visto em alguns países asiáticos (Nunes; Madrid; Andrade, 2011).
Considerando a importância socioeconômica dessa atividade produtiva na economia e geração
de empregos e renda no estado do RN, e também contribuir para o desenvolvimento
tecnológico que auxilia o fortalecimento da carcinicultura brasileira em escala industrial,
neste projeto de pesquisa foi desenvolvido uma ferramenta para reconhecimento e contagem
de larvas de camarões. Considerando que a larvicultura, processo de produção de pós-larvas, é
uma etapa complexa, envolve muitos cuidados e altos riscos financeiros, este projeto de
pesquisa objetivou o desenvolvimento de uma ferramenta de baixo custo, e que, aliada às
técnicas de produção, auxilia no controle e qualidade das larvas de camarão.

Metodologia
Os procedimentos metodológicos adotados para o desenvolvimento da ferramenta
1
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Computação da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte; email: williammorais@alu.uern.br.
2
Professora do Departamento de Computação do Campus de Natal da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, Participante do Grupo de Pesquisa de Inteligência Computacional; email: adrianatakahashi@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 422
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

tecnológica para a larvicultura, ferramenta para reconhecimento e contagem de larvas de


camarões, são descritos a seguir:
1. Levantamento de requisitos: etapa de definição do domínio do problema e
aquisição de conhecimentos específicos e necessários para elaboração de soluções eficientes
fazendo uso de tecnologias existentes. Esta etapa se deu em duas partes:
1.1. Levantamento bibliográfico da fundamentação teórica sobre: carcinicultura
(brasileira e mundial) (Dabadé, 2015, Natori et al., 2011, Ormond et al., 2004, Siqueira,
2017), larvicultura (brasileira e mundial) (Lima, 2007, SENAR, 2016, Thomaz et al., 2004),
técnicas de manejo e produção (Manso, 2006), técnicas de amostragens e contagem de larvas
(SENAR, 2016), técnicas de visão computacional (Gonzalez; Woods, 2010), técnicas de
inteligência computacional (Haykin, 2003), e tecnologias móveis.
1.2. Levantamento de requisitos (software e hardware) necessários para a ferramenta
desenvolvida, com base na fundamentação teórica, descrição e delimitação da problemática.
2. Modelagem: etapa de especificação precisa e completa do funcionamento da
ferramenta, descrição de um modelo conceitual que compreende a análise e o projeto de
aplicação. Esta etapa se deu nos seguintes passos:
2.1. Aquisição da imagem: construção de uma ferramenta para geração de imagens
contendo larvas de camarões de tamanhos e posições configuráveis, assim como a densidade
de larvas. A construção da ferramenta aquisição das imagens contendo larvas de camarões foi
necessária, pois, a compra de lotes de larvas de camarão durante todo o período da execução
do projeto para experimentação era inviável, devido aos custos, e o produto muito perecível.
2.2. Conversão monocromática: técnica para converter uma imagem colorida, RGB,
em uma imagem monocromática, tons de cinza;
2.3. Binarização: técnica para segmentar a imagem contendo larvas de camarões,
consiste em separar os objetos de interesse, as larvas, e o plano de fundo (Kaewchote;
Janyong; Limprasert, 2018, Sauvola e Pietikäinen, 2000). Para a escolha de um limiar
adequado para a binarizar a imagem foi estudado o histograma de várias imagens geradas.
2.4. Extração de atributos: agregação dos pixels da etapa anterior por regiões de
mesmo valor de intensidade luminosa dos pixels, gerando um total de rótulos contidos na
imagem. O método escolhido está implementado em Python utilizando a biblioteca OpenCV e
extrai o contorno de uma área (Suzuki; Be, 1985) (ou regiões que foram segmentadas no
processo anterior).
2.5. Reconhecimento e classificação: identificação da região, considerando seu
contorno e área, e posteriormente, sua classificação, se é larva ou não. Para o reconhecimento
das larvas, foram considerados todas as áreas, bem como os contornos, encontradas na
extração de atributos e analisados utilizando o k-means associado ao seu desvio padrão, para
classificar entre a classe larvas ou classe ruídos. Os casos onde a região é menor que o
parâmetro configurável (tamanho de uma larva) são removidos (classe ruídos).
2.6. Contagem: total de rótulos dos contornos considerando as exclusões no processo
de reconhecimento e classificação.
3. Implementação: a etapa de implementação se deu na escolha de ferramentas livres
e/ou abertas e de amplo uso na comunidade científica e indústria.
Para a implementação do modelo conceitual foi escolhida a linguagem Python 3, por
ser uma linguagem de alto nível, orientada a objetos e utilizada em diversos sistemas
operacionais, como Windows, Mac OS e Linux.
Para implementação das técnicas de processamento de imagem optou-se pelo uso da
biblioteca Open Source Computer Vision Library (OpenCV). Essa biblioteca é implementada
em C, mas pode ser utilizada em C, C++, Java, MATLAB e Python, possuindo versões
disponíveis para os sistemas operacionais Windows, Linux, Mac OS e Android.
4. Testes e validação: ​etapa de verificação se solução implementada satisfaz a

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 423
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

problemática, avaliando a eficiência da solução implementada, bem como a verificação do


atendimento aos requisitos da problemática. Realização de testes controlados tentando falsear
a solução, bem como, a verificação e eliminação de possíveis erros existentes na modelagem
e/ou desenvolvimento.

Resultados e discussão
Neste trabalho foram implementados técnicas de reconhecimento e contagem de
larvas de camarão com parâmetros configuráveis, considerando a fase larval. Foram também
implementados técnicas para geração de imagens contendo larvas de camarão, simulando
imagens reais. A Figura 1 (a) mostra a imagem gerada para simular os experimentos deste
projeto.

(a) (b)

Figura 1: (a) Imagem gerada de larvas de camarão. (b) Contagem.


De acordo com a descrição do trabalho na metodologia, após a aquisição da imagens é
realizada a análise da imagem e encontra-se a quantidade total de larvas. A quantidade de
larvas de camarão é mostrado na Figura 1 (b) da imagem gerada na Figura 1 (a) com uma
precisão de 96.6%.

Conclusão
Este trabalho teve como objetivo o desenvolvimento de uma ferramenta para
reconhecimento e contagem de larvas de camarão, utilizando técnicas de processamento e
análise de imagens. Os resultados obtidos mostram uma porcentagem média de 94% de
precisão na contagem de larvas contidas nas imagens analisadas realizadas em testes.
Considerando que o processo de contagem de larvas de camarão (usualmente) é dispendioso e
desgastante por se tratar de um processo manual, com uso de placas de petri, beckers e
pipetas, e a existência de uma ferramenta de contagem de organismos aquáticos, XperCount,
de custo elevado, a ferramenta desenvolvida neste trabalho demonstra bons resultados iniciais,
contudo, esses resultados, espera-se, podem ser melhorados, considerando que, na análise dos
resultados foi constatado que precisão dependem de diversos fatores, como, iluminação,
densidades altas das larvas, condições da água, entre outros. Acredita-se que essa precisão
pode melhorar se for utilizadas técnicas de aprendizagem de máquina para uma caracterização
e melhor extração de características da classe larva de camarão (considerando também a
oclusão).

Agradecimentos
Agradecimentos à UERN pelo incentivo e apoio financeiro no desenvolvimento
deste projeto de iniciação científica.

Referências
ABCCam. História da carcinicultura no Brasil. Associação Brasileira de Criadores de
Camarão. Disponível em:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 424
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

<http://abccam.com.br/2011/02/historia-da-carcinicultura-no-brasil/>. Acesso em: 25 março


2019.
DABADÉ, D. S. Shrimp quality and safety management along the supply chain in Benin.
PhD thesis, Wageningen University, Wageningen, NL, 2015.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção da Pecuária Municipal 2017.
Disponível em:
<https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/economicas/agricultura-e-pecuaria/9107-pro
ducao-da- pecuaria-municipal.html?edicao=22651&t=publicacoes>. Acesso em: 25 março
2019.
GONZALEZ, R. C.; WOODS, R. E. Processamento digital de imagens. 3 ed. São Paulo.
Pearson Prentice Hall. 2010.
HAYKIN, S. Redes Neurais: Princípios e Práticas. 2 ed.: Bookman, 2003.
KAEWCHOTE, J.; JANYONG, S; LIMPRASERT, W. Image recognition method using
Local Binary Pattern and the Random forest classifier to count post larvae shrimp. Agriculture
and Natural Resources, v. 52, 371-376, 2018.
LIMA, L. C. M. Sobrevivência e crescimento larval do camarão marinho Litopenaeus
Vannamei alimentado com o copépodo bentônico tisbe biminiensis. Dissertação (Mestrado
em Biologia Animal) - Curso de Pós-Graduação em Biologia Animal, Universidade Federal
de Pernambuco, Recife, 2007.
MANSO, P. R. J. Produção em cativeiro de larvas de camarão marinho Litopenaeus
vannamei: influência do campo magnético sobre a metamorfose e sobrevivência larval. 2006.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Curso de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006.
NATORI, M. M.; SUSSEL, F. R.; SANTOS, E. C. B.; PREVIERO, T. C.; VIEGAS, E. M.
M.; GAMEIRO, A. H. Desenvolvimento da carcinicultura marinha no Brasil e no mundo:
avanços tecnológicos e desafios. Revista Informações econômicas, Instituto de Economia
Agrícola (IEA), São Paulo, 2011.
NUNES, A. J. P.; FEIJÓ, R. G. Vírus da mancha branca e a convivência no cultivo do
camarão marinho no Brasil. Panorama da Aqüicultura, Rio de Janeiro. v. 27, n. 162, 2017.
NUNES, A. J. P.; MADRID, R. M.; ANDRADE, T. P. Carcinicultura marinha no Brasil:
passado, presente e futuro. Panorama da Aqüicultura, Rio de Janeiro. v. 21, n. 124, 2011.
ORMOND, J. G. P.; MELLO, G. A. T.; FERREIRA, P. R. P.; LIMA, C. A. O. A
carcinicultura brasileira. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES
Setorial, Rio de Janeiro, n. 19, p. 91-118, 2004.
SAUVOLA, J.; PIETIKÄINEN, M. Adaptive document image binarization. Pattern
Recognition, v. 33, p. 225-236, 2000.
SENAR. Larvicultura de camarão marinho: do náuplio a pós-larva. Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural - Coleção SENAR - 166, Brasília, 2016.
SIQUEIRA, T. V. Aquicultura : a nova fronteira para aumentar a produção mundial de
alimentos de forma sustentável. Boletim Regional, Urbano e Ambiental, Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), v. 17, p. 53-60, 2017.
SOUSA JR, J. P.; TEIXEIRA, K. H.; LIMA, R. C. Camarão brasileiro: uma análise
comportamental dos preços brasileiro e internacional. Revista de Política Agrícola,
Publicação da Secretaria de Política Agrícola do MAPA, Brasília, Ano XVI, n. 3, 2007.
SUZUKI, S; BE, K. A. Topological structural analysis of digitized binary images by border
following. Computer Vision, Graphics, and Image Processing, v. 30, n. 1, p. 32–46, 1985.
THOMAZ, L. A.; OSHIRO, L. M. Y.; BAMBOZZI, A. C.; SEIXAS FILHO, J. T.
Desempenho larval do camarão-d'água-doce (Macrobrachium rosenbergii De Man, 1879)
submetido a diferentes regimes alimentares. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 6, p.
1934-1941, 2004.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 425
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Determinação de Trânsito Planetário por meio de Transformada de Fourier

Bruna Karla de Sousa​1


Bráulio Batista Soares​2

Palavras-chave​: Estrelas. Exoplanetas. Curvas de Luz.

Introdução
A primeira evidência científica da existência de exoplanetas​3 data o início do século
XX (LANDAU, 2017), porém a primeira detecção de fato ocorreu apenas em 1992 (WOO,
2016). Desde então, um grande número deles passou a ser descoberto em decorrência do
aperfeiçoamento da tecnologia de telescópios que possibilitaram medições mais precisas do
movimento das estrelas e da intensidade de seu brilho.
Inúmeros métodos foram desenvolvidos para a detecção de planetas extra-solares,
dentre eles o de velocidade radical, astrometria, cronometria de pulsares, microlente
gravitacional, disco circunstelar e aquele em que este trabalho imprime seu enfoque, o
método de trânsito. Através destes métodos foram detectados até o momento 4335​4
exoplanetas.
O método de trânsito, apesar de ser bastante limitado em termos empíricos, mostra-se
o mais eficiente meio de detecção até o momento. Ele consiste em detectar a “sombra” que
um planeta gera ao transitar diante da estrela hospedeira. A passagem do corpo celeste
provoca então a diminuição do brilho captado pelo telescópio, o que permite que tal método
seja aplicado mesmo a estrelas muito distantes. Sua limitação, por outro lado, se apresenta no
fato de que apenas planetas cujos planos orbitais estejam em perfeito alinhamento com a
posição de captação dos telescópios poderão ser detectados deste modo, o que reduz a
abrangência de fenômenos passíveis de observação a uma porcentagem bastante modesta.
Ainda assim, o método de trânsito tem sido o mais poderoso na detecção de exoplanetas,
concentrando 76,1%​5​ das descobertas realizadas até então (NASA, 2020).
Ao cruzar o intervalo entre o telescópio e a estrela hospedeira, como mencionado
anteriormente, o exoplaneta provoca uma diminuição na intensidade de luz captada pelo
sensor, derivando disto uma deformação no gráfico plotado pela aquisição desses dados ao
longo do tempo. A este gráfico dá-se o nome ​Curva de Luz (CL), e através é possível
observar um padrão de comportamento característico do trânsito planetário de um exoplaneta,

1
Estudante do curso de Ciência e Tecnologia do Departamento de Ciência e Tecnologia da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: brunaakarlaa@hotmail.com
2
Professor do Departamento de Ciência e Tecnologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Líder (ou participante) do Grupo de Pesquisa de Astroestatística; e-mail:
brauliosoares@uern.br
3
Planetas que se encontram fora do Sistema Solar
4
http://exoplanet.eu/catalog/
5
3254 de 4277

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 426
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

especialmente no que diz respeito à amplitude e periodicidade de um padrão singular de


deformação.
Este trabalho objetivou determinar o trânsito planetário a partir da CL 11d, captada
pelo telescópio KEPLER e obtida no site da NASA, utilizando como método a Transformada
de Fourier (TF).

Metodologia
A fim de determinar o trânsito planetário, uma tabela de dados descrevendo a variação
espectral ao longo do tempo - ou seja, uma CL - foi obtida no site da NASA, mais
especificamente aquela identificada como 11d.

Extrato da Tabela da CL 11d cuja extensão completa conta com 1763596 linhas
(NASA, 2020b).
Tais dados foram inseridos no programa RStudio de maneira a plotar um gráfico de
Brilho x Tempo, expondo imageticamente a variação da intensidade de luz obtido na
observação da estrela em questão.
Como explica Santos, “a transformada de Fourier é uma técnica matemática que
decompõe uma função temporal (um sinal) em frequências (espectro do sinal)” (SANTOS,
2019, p. 37). Portanto, na segunda etapa do trabalho, utilizou-se o recurso da Transformada
de Fourier, disponível também no software RStudio, na qual foram convertidos os dados
temporais em frequenciais. Desta forma, um novo gráfico foi plotado em que o eixo x passou
a conter a densidade espectral, em watts, e o eixo y a frequência, em dias.

Resultados e Discussão
Ao plotar os dados da Tabela da CL 11d com auxílio do software RStudio, obteve-se
o Gráfico 01, de Brilho x Tempo.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 427
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Gráfico 01: É possível observar a variação do brilho através do tempo.


A fim de ajustar a CL em dados frequenciais, utilizou-se a Transformada de Fourier
obtendo-se o Gráfico 02.

Gráfico 02: Observa-se variação significativa no período de intersecção do


exoplaneta.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 428
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusões
Observa-se que a Transformada de Fourier revelou, ao converter dados temporais em
sequenciais, uma significativa marca da passagem do exoplaneta na estrela observada pelo
telescópio KEPLER. O tratamento da CL 11d por meio da Transformada de Fourier
mostra-se promissor para a determinação do trânsito planetário.
A partir deste resultado preliminar, pretende-se reaplicar o procedimento
metodológico com uma maior envergadura de dados, ampliando o rigor da experiência que
estará em contínua comparação às confirmações já atestadas pela NASA.

Agradecimentos
Agradeço à UERN e à PIBIC pelo apoio financeiro.

Referências

LANDAU, Elisabeth. Overlooked Treasure: The First Evidence of Exoplanets. 2017.


Disponível em:
<https://www.nasa.gov/feature/jpl/overlooked-treasure-the-first-evidence-of-exoplanets. />.
Acesso em: Junho de 2020.
NASA (2020a). Exoplanet Catalog [Internet]. Disponível em:
<https://exoplanets.nasa.gov/exoplanet-catalog/>, Acesso em: Junho de 2020.
NASA. Two Ways to Get Kepler Light Curves
Disponível em: <https://www.nasa.gov/kepler/education/getlightcurves>, Acesso em:
: Novembro de 2019.
RSTUDIO. Versão 1.2.5001 de 19 de setembro de 2019; RStudio, PBC, 2011.
Disponível em: <https://rstudio.com/products/rstudio/download/> Acesso em: Junho de 2020.
SANTOS, Natane Martiniano dos. Detecção de Exoplanetas por meio da
Transformada De Fourier. 73 páginas. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em
Ciência e Tecnologia). Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.
WOO, Marcus. The First Planet Ever Discovered Around Another Star. 2016.
Disponível em:
<http://www.bbc.com/earth/story/20161019-the-first-planet-around-another-star>. Acesso
em: Junho de 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 429
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Efeitos da Interação Dipolar na Nucleação de Vórtices em Nano-cilindros


FM1/NM/FM2.

Ellen Mileide Amorim Costa1; Maria das Graças Dias da Silva2


1
Estudante do Curso de física do Departamento de física da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais-
FANAT.; E-mail: morim795@gmail.com;
2
Professora do Departamento de física da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais -FANAT, Membro do
Grupo de Pesquisa em Magnetismo; E-mail: mariadias@uern.br

"Palavras-chave:" Fases magnéticas. Campo dipolar. Nanomagnetismo.

Introdução

Nanomagnetismo envolve o controle e a manipulação da magnetização em sistemas


muito pequenos, tornando possível a aplicação em várias áreas tecnológicas, desde
aplicações na medicina como também ao desenvolvimento na mídia de gravação e nano-
osciladores. Das características magnéticas dessas estruturas podemos dar ênfase aos
efeitos de confinamento e o forte acoplamento dipolar na estrutura de vórtices de nano-
elementos ferromagnéticos.
Nanoestruturas que exibem a excitação de dois e três vórtices acoplados mostram a
possibilidade de amplificação do sinal de nano-osciladores onde poderá ser controlada pela
polaridade dos núcleos dos vórtices (Kumar, 2014).
Nesse sentido, temos interesse em estudar sistemas magnéticos nanoestruturados
que exibam configurações de vórtices e, consequentemente, possuam potencial para futuras
aplicações tecnológicas, como sendo possíveis em sistemas do tipo FM1/NM/FM2.

Metodologia

Consideramos tri-camadas com materiais ferromagnéticos espaçados por um


material não-magnético do tipo FM1/NM/FM2 sendo FM1 (Fe ou Py) (Figura 1). Aplicamos
um campo magnético externo na direção positiva de x. Nosso objetivo é analisar e entender
o comportamento da magnetização e das fases magnéticas apresentadas. Partimos do
cálculo micromagnético envolvendo o sistema de energia, onde temos a minimização de
torque para cada célula de simulação, assim, podemos construir a configuração magnética
dos mapas de spin e da curva de histerese magnética da nanoestrutura.
Consideramos as células de simulação com tamanho d envolvendo N átomos. Este
tamanho escolhido tende não contemplar mudanças significativas em seus momentos
magnéticos.

Figura.1. A) Figura esquemática do sistema estudado, nanopartícula de três camadas (FM1/NM/FM2), onde
temos duas camadas ferromagnéticas separa por uma não-magnética (ε). O campo magnético externo é
aplicado na direção x (Hexx). Estudamos as fases magnéticas nucleadas no nacilindro FM1 (espessura t1) e no
FM2 (espessura t1), enquanto mudamos as suas espessuras e materiais.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 430
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A densidade de energia é representada pela equação 1, a seguir:

A 
 1  mˆ  mˆ k   M S H . mˆ j  K .  mˆ xj  
2
E j
d2 j k j j

M S2  mˆ j  mˆ k  mˆ j  nˆ jk  mˆ k  nˆ jk   (1)
2
 
k  n3jk
 3
n5jk 
j
 

O primeiro termo é a energia de troca intrínseca, onde A representa a intensidade de troca


do material ferromagnético, sendo normalizada por d2, área da célula unitária. O segundo
termo representa a energia Zeeman. A energia de anisotropia é representada pelo terceiro
termo, e o último termo é a energia magnetostática devido ao efeito dipolar. Ms é a
magnetização de saturação, m̂ é a direção do momento magnético da i-ésima célula, nij
representa a distância entre as células i e j na célula unitária d. A borda da célula unitária é
igual a 3 nm, os parâmetros magnéticos de intensidade de troca (A), constante de
anisotropia (K) e magnetização de saturação (Ms), foram obtidos de (Grimsditch, 2004) e
(Dantas, 2013) para o Ferro (Fe) e Permalloy (Py) tabela 1.

Tabela.1. Parâmetros magnéticos do ferro e do permalloy.

Resultados e Discussão

Os resultados indicam que, pela escolha adequada dos materiais e das dimensões
intrínsecas é possível controlar a nucleação de vórtices no material em pares de nano-
cilindros ferromagnéticos. Trabalhamos com células de simulação de aresta igual a d = 3
nm. Variando o espaçamento não-magnético como também as espessuras e materiais.
Obtemos que as fases magnéticas podem ser formadas nos pares de nanoestruras, podendo
aniquilar ou nuclear vórtices em um dos nano-cilindros como também formar pares de
vórtices com chiralidades distintas. Na figura 02, temos os diagramas de fases de nano-
cilindricos únicos com campo externo aplicado na direção de x, tanto para o Ferro (Figura
2A) quanto para Permalloy (Figura 2B). À medida que o espaçado ε for aumentando, para
determinadas espessuras das nanoestruturas (t1 = 21 nm e t2 = 6 a 21 nm), teremos o estudo
do alcance da interação dipolar.

Figura.2. Diagrama de fases para único nano-cilindro de Ferro e Permalloy com campo externo aplicado na direção de x (Silva,
2014).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 431
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Saturamos o sistema com campo de 5 kOe na direção positiva de x e ao retirarmos o


mesmo, estudamos a fase em remanência. Na figura 3, temos duas curvas de magnetização
para pares de nano-cilindros de Fe com diâmetro, D = 81 nm, e espessuras relativas t1 e t2
distintas (21 nm, nano-cilindro inferior e 6 nm, nano-cilindro superior) e variando o
espaçador não magnético de 0.9 nm a 9 nm. Em pares muito próximos, a magnetização
remanente é alta em comparação a uma distância de 9 nm (curva preta) onde a
magnetização no plano do sistema torna-se aproximadamente zero.

1,0

0,8 Hexx

A t2 FM2
0,6
ε
Sxx

0,4 t1
FM1

0,2 D
D 81 nm Fe(21 nm)//6 nm
0,0  = 0.9 nm
 = 9 nm
B
-0,2
0 1 2 3 4 5
Hexx (kOe)
Figura.3. Curvas de magnetização para nano-cilindros com D = 81 nm, t1 = 21 nm (inferior) e t2 = 6 nm (superior), espaçados
com ε = 0.9 nm (curva vermelha) e ε = 9 nm (curva preta).

Os pontos em destaque na figura 3, são as fases magnéticas paras as respectivas


configurações. Nas figuras 4 e 5, temos as fases nucleadas tanto FM1 (nano-cilindro
inferior) quanto para o FM2 (nano-cilindro superior), mostramos as fases superiores para
ambas nanoestruturas. Os resultados evidenciam que a forte interação dipolar proporciona a
fase AF (antiferromagnética), como mostrada nas setas brancas das figuras 4 e 5. O
diagrama de cores representa o ângulo da magnetização em relação ao plano xy do sistema.
Quando distanciados os cilindros apresentam uma configuração Vórtice/ Domínio com
magnetização menor.
-1,000 -1,000

40 40
FM1 FM2
32 -0,6000
32 -0,6000

24 24

16 16
-0,2000 -0,2000

A
8 8
Dy (nm)
Dy (nm)

0 0
0,2000 0,2000
-8 -8

-16 -16

-24 0,6000 -24 0,6000

-32 -32

-40 -40
-40 -32 -24 -16 -8 0 8 16 24 32 40 1,000 -40 -32 -24 -16 -8 0 8 16 24 32 40 1,000

Dx (nm) Dx (nm)

Figura.4. Fase magnética de pares de nano-cilindros no ponto A da figura 3.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 432
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

40 -1,000 40 -1,000

32 32

24 -0,6000 24 -0,6000

16 16

8 -0,2000 8 -0,2000
D y (nm)

Dy (nm)
0 0

-8
0,2000
-8 0,2000
B
-16 -16

-24 -24 0,6000


0,6000

-32 -32
1,000
-40 -40
-40 -32 -24 -16 -8 0 8 16 24 32 40 1,000 -40 -32 -24 -16 -8 0 8 16 24 32 40
Dx (nm) Dx (nm)

Figura.5. Fase magnética de pares de nano-cilindros no ponto B da figura 3.

Conclusões

O estudo mostra-se promissor, com resultados relevantes. Evidenciando forte


interação para pequenos valores de espaçador não-magnético que poderão ser roteiro para a
futura construção de dispositivos tecnológicos. Porém, tem-se, muito a investigar.
Este estudo carece de mais simulações para analisar os efeitos da separação entre
os materiais magnéticos, o efeito de um campo externo perpendicular ao plano dos cilindros
e outros efeitos de anisotropia e anisotropia de forma.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao departamento de Física da UERN como também aos


demais colaboradores da UFRN e UFERSA pela constante colaboração e a UERN pelo
apoio financeiro.

Referências

KUMAR, Dinesh, BARMAN, Saswati, BARMAN, Anjan. Magnetic Vortex Based


Transistor Operations. Scientific Reports, 4108, 17 fev. 2014.

GRIMSDITCH, Marcos, et al. Normal Modes of Spin Excitations in Magnetic


Nanoparticles. Physical Review B 69, 174428, 28 maio 2004.

DANTAS, A. L. et al. Thermal Hysteresis of Interface Biased Dipolar Coupled


Nanoelements. Journal of Applied Physics, v. 113, p. 17D710, 24 maio 2013.

OGNEV, Alexey. et. al. The Remagnetization Process Feature of Trilayer Nanodisks.
Solid State Phenomena Vols. 168-169, pp 249-252, 30 dez. 2010 .

SILVA, M. G. D. Efeitos da Interação Dipolar na Nucleação de Vórtices em Nano-


Cilindros Ferromagnéticos. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, Natal, 2014.

PRIBIAG,Vlad. S. et al. Magnetic Vortex Oscillator Driven by d.c. Spin-Polarized


Current. Nature Physics. 3, 498, julho de 2007.

PUFALL, M. R. et al. Low-field current-hysteretic oscillations in spin-transfer


nanocontacts, Physical. Review B vol. 75, 140404 (R), abril de 2007.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 433
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ESTUDO, ANÁLISE E IMPLEMENTAÇÃO DE UM


NETWORK OPERATION CENTER EM UM
LABORATÓRIO DE ENSINO E PESQUISA DE
REDES DE COMPUTADORES
1 2
Francisco M. da C. Monteiro ; ​Rommel W. Lima​

RESUMO
O presente resumo expandido busca realizar algumas considerações sobre o
desenvolvimento do projeto PIBIC que trata-se da implementação de um Network
Operation Center (NOC) no laboratório de ensino e pesquisa de redes de computadores.
Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa com o objetivo de determinar qual a
ferramenta de gerenciamento melhor se adequa ao laboratório, considerando o tamanho
do ambiente e os tipos de equipamentos, ​dentro todas as ferramentas a escolhida para ser
instalada foi o Zabbix.

Palavras-chave​: NOC, Gerenciamento, Rede, Zabbix.

1 Estudante do curso de Ciência da Computação do departamento de informática da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; E-mail:
franciscomarcos1616@gmail.com

2 Professor do Departamento de Informática da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; Líder do Grupo de Pesquisa em Redes de Computadores,
Sistemas e Multimídia. E Coordenador do Laboratório de Redes e Sistemas Distribuídos (LORDI).; e-mail: rommelwladimir@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 434
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INTRODUÇÃO

As ​redes de computadores e os sistemas distribuídos evoluíram e hoje estão tão


integrados às organizações que os utilizam que são praticamente indispensáveis, com isso
surge a necessidade de manter estes sistemas sempre funcionando da forma mais adequada
possível. Segundo Matos (2009) o gerenciamento de redes surge com o objetivo de planejar
o crescimento, efetuar o monitoramento e proporcionar uma alta disponibilidade dos
recursos da rede.
Uma das formas de otimizar o gerenciamento é através de um NOC (Network
Operation Center). Para Cassol (2015) ​o objetivo do NOC é monitorar a infraestrutura de
TI e realizar a gestão de incidentes. Tendo sempre como meta manter o ambiente o mais
estável possível.
O projeto tem como objetivo final o desenvolvimento de um NOC para o
Laboratório de Redes e Sistemas Distribuídos – LORDI. Para isso, nessa primeira etapa do
projeto foi realizado um estudo para identificar qual ferramenta melhor se adequa as
características do Laboratório.

METODOLOGIA

Para desenvolvimento do presente projeto, foi feita uma pesquisa com o objetivo de
entender como funciona o gerenciamento de redes e como iniciar um, onde foi descoberto
que para dar início era preciso entender bem o ambiente que será gerenciado neste caso o
LORDI, para em seguida escolher a ferramenta que melhor se adeque ao Laboratório.
Durante a revisão bibliográfica foi descoberto que existem diversas ferramentas
para monitoramento de rede, e que para iniciar o gerenciamento é muito importante ter uma
boa noção da quantidade e diversidade de equipamentos do ambiente, para ajudar na
escolha da ferramenta.
Com isso foi feito um inventário da infraestrutura de rede do LORDI, para
identificação dos ativos gerenciáveis e contendo algumas informações importantes da
infraestrutura de TI. Como resultado foi desenvolvido um relatório contendo todos os
equipamentos, ​bem como seus respectivos modelos e localização dentro do laboratório. Em
seguida ​foi feita uma pesquisa nos principais portais, sobre as ferramentas de
gerenciamento de redes mais populares do mercado. As cinco ferramentas que mais se
destacaram na pesquisa foram, PFsense, Bacula, AWStates, Nagios e Zabbix, foi feito um
estudo mais detalhado sobre cada uma dessas ferramentas.
Dentre elas a que melhor atendia às necessidade do LORDI, foi o Zabbix. Trata-se
de uma ferramenta de gerenciamento que basicamente realiza o monitoramento em tempo
real dos logs e da capacidade de armazenamento em discos dos servidores. O passo
seguinte foi selecionar o banco de dados, pois para funcionar o Zabbix precisa estar
instalado em um servidor local ou remoto. Para instalar em conjunto com a ferramenta, o
BD escolhido foi o Postgresql por haver muita documentação e vários tutoriais de
instalação de ferramentas de gerenciamento de redes em conjunto com esse banco.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 435
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após os estudos da documentação do Zabbix, foi feito a instalação da ferramenta


em conjunto com o Postgresql, durante o processo foi desenvolvido um tutorial de
instalação do Zabbix e configuração do Postgresql, para caso seja necessário reinstalar.
Segundo Benício (2015) “Monitorar uma rede é verificar a eficácia do
funcionamento de cada serviço, equipamento e processos existentes em uma mesma
infraestrutura”. Para fazer o monitoramento de um determinado host (todos os
equipamentos monitorados são conhecidos como hosts) é preciso ter um agente instalado
no equipamento, o agente é responsável por fazer a coleta das informações e enviá-las para
o servidor Zabbix.
Existem dois tipos principais de agentes, passivos que funcionam da seguinte
forma, o servidor Zabbix envia uma solicitação de um determinado valor, o agente
processa a solicitação e retorna o valor que foi perdido. e o agente passivo que envia os
resultados periodicamente (em um tempo determinado), usando uma lista de verificações
ativas que está no servidor Zabbix. Para os testes foi escolhido o agente ativo, pois nele é
possível determinar um tempo para ele enviar as informações coletadas.
Para estudo da ferramenta foram instalados dois agentes. O primeiro no próprio
servidor Zabbix, necessário para geração de alertas caso o mesmo venha a apresentar mal
funcionamento (autogerenciamento). A instalação foi bem sucedida e o monitoramento se
mostrou funcional.
O segundo agente foi instalado em um dos servidores do LORDI, O segundo teste
também foi bem sucedido. A figura abaixo ilustra o funcionamento do gerenciamento com
os dois agentes.
​ Figura 01:​ Agentes Zabbix

CONCLUSÃO

Além do estudo sobre os conceitos relacionados com o Gerenciamento de Redes de


Computadores, foi identificado os ativos gerenciáveis do Laboratório e realizado uma
pesquisa para determinar a ferramenta de gerenciamento para implantação de um NOC no
LORDI. Como resultado da pesquisa optou-se pelo Zabbix, sendo o mesmo instalado em
um servidor local no Laboratório, onde foram realizados alguns testes e instalação de
agentes, para determinar as funcionalidades da ferramenta.

AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente ao CNPq pela concessão da bolsa, a Mizael que é o técnico


do laboratório por me ajudar a resolver os problemas que encontrei ao longo do
desenvolvimento projeto, também gostaria de agradecer a ajuda dos meus colegas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 436
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REFERÊNCIAS

BENÍCIO, Washington Ernando Pereira. ​MONITORAMENTO E GERENCIAMENTO


DE REDES UTILIZANDO ZABBIX. 2015. Disponível em:
http://zabbixbrasil.org/files/Monitoramento_e_Gerenciamento_de_Redes_Utilizando_Zabb
ix.pdf. Acesso em: 31 ago. 2020.
CASSOL, Luciano A.; SPERONI, Eduardo; DALLAPORTA, Lucimara. ​Implantação do
Núcleo de Operaç ao e Controle-NOC na UFSM. ​2015.
GOMES, Pedro César Tebaldi. ​NOC: COMO FUNCIONA A CENTRAL DE
OPERAÇÕES DE REDE? Disponível em: https://www.opservices.com.br/noc/. Acesso
em: 19 ago. 2020.
HORST, Adail Spínola; DOS SANTOS PIRES, Aécio; DÉO, André Luis Boni. ​De A a
Zabbix: Aprenda a monitorar e gerenciar aplicações e equipamentos de redes com o
Zabbix​. Novatec Editora, 2015.
MATOS, Leonardo Kolisnik. ​Gerenciamento de equipamentos de rede utilizando o
software​ CACTI. 2009.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 437
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EXCITAÇÕES DE VÓRTICES POR CORRENTE POLARIZADA DE


SPIN

Severino Diogo Rodrigues Dantas 1; Ana Lúcia Dantas 2


Palavras-Chave: Spin-transfer torque; Corrente polarizada de spin; Nanotecnologia;
Spintrônica; Nanomagnetismo;
INTRODUÇÃO

A descoberta da Magnetorresistência Gigante (GMR) confirmou que o fluxo de


elétrons através de um material magnetizado é alterado pela interação da corrente elétrica
com a magnetização do material, dessa forma, percebeu-se que a condução de elétrons com
momento de spin paralelo a magnetização do material ferromagnético e favorecida. Esse
efeito deu origem ao conceito de filtros de spin e tornou comum o uso de meios
magnetizados para a produção de corrente elétrica polarizada, com predominância de
elétrons com mesmo spin. Em 1996, Slonczewski (1996) e Berger (1996) previram que uma
corrente elétrica polarizada exerce torque magnético (STT).

A proposta teórica de Slonczewski e Berger abriram novas perspectivas para o


desenvolvimento de nano-osciladores por transferência de spin (STOs) que utilizam corrente
de spin polarizada como método de reversão da magnetização. Há grandes expectativas no
controle de sistemas nanoestruturados de materiais ferromagnéticos para o desenho de nano-
antenas e micro-ondas, dois são os fatores que justificam o interesse atual nesse tipo de
tecnologia: o espectro de excitações magnéticas de materiais ferromagnéticos é da ordem de
micro-ondas (GHz) e existe a possibilidade de manter a precessão da magnetização por
corrente polarizada constante.

Nano-osciladores ferromagnéticos possuem grandes chances de se tornarem novas


alternativas para dispositivos como, por exemplo, radares de celulares, que estão definidos
para operar em radiofrequência. Entretanto, para que existam aplicações práticas desse tipo
de tecnologia é necessário que o dispositivo possua largura de linha estreita (Menor do que
10 MHz) e alta potência (Na faixa de µW) (DEAC et al., 2008).

Levando em consideração o interesse no estudo de nano-osciladores magnéticos


tanto pela comunidade acadêmica quanto pela indústria magneto-eletrônica, analisamos no
presente trabalho o espectro de excitação de vórtices ferromagnéticos em nano-discos
ultrafinos de Permalloy (Ni80Fe20).

METODOLOGIA
Quando estudamos nanoestruturas magnéticas (1nm = 10-9m), devido ao tamanho da
superfície e ao intenso número de variáveis, simular um simples sistema pode ser fisicamente
e/ou computacionalmente impossível. Tais variáveis, como por exemplo, os parâmetros dos
materiais, as dimensões da nanoestrutura e a quantidade de íons presentes no sistema,

1
Estudante do Curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia do Departamento de Ciência e Tecnologia da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; E-mail: diogo19842009@bol.com.br.
2
Professora do Departamento de Ciência e Tecnologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; E-
mail: dantasal@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 438
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

interagem de forma retroativa e simultânea, o que torna o algoritmo complexo e de difícil


rodabilidade nos compiladores atuais.
De modo a resolver esse problema, utilizamos a teoria micromagnética para fazer
uma adaptação do sistema de um nível atômico para um sistema a nível nanométrico. Dessa
forma, a representação atômica é substituída por uma representação de unidades fundamentais
que chamamos de células cúbicas de simulação, de aresta d, onde, cada uma delas, representa
um volume de íons dos materiais que não diferem significativamente em seus momentos
magnéticos. O tamanho da célula não é arbitrário, ele é ponderado de acordo com o
comprimento de troca (ltroca) do material. Feito isso podemos garantir que todos os momentos
magnéticos dos íons daquele volume possuem a mesma direção e damos a ele um momento
magnético efetivo.
(1)
𝑙𝑙𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡𝑡 = 𝜋𝜋�2𝐴𝐴�𝜇𝜇 𝑀𝑀2
0 𝑠𝑠

Baseado na teoria micromagnética, a energia magnética do sistema é dada por:

1 𝑚𝑚
�𝑗𝑗 . 𝑚𝑚
� 𝑘𝑘 3�𝑚𝑚
�𝑗𝑗 . 𝑛𝑛�𝑗𝑗𝑗𝑗 ��𝑚𝑚 � 𝑘𝑘 . 𝑛𝑛�𝑗𝑗𝑗𝑗 �
�𝑗𝑗 + 𝑀𝑀𝑆𝑆2 � � � 3 −
𝐸𝐸 = − � 𝐻𝐻𝑀𝑀𝑆𝑆 𝑧𝑧̂ . 𝑚𝑚 5 �
2 𝑛𝑛𝑗𝑗𝑗𝑗 𝑛𝑛𝑗𝑗𝑗𝑗
𝑗𝑗 𝑗𝑗 𝑘𝑘

𝐴𝐴 (2)
+ � ��1 − 𝑚𝑚
�𝑗𝑗 . 𝑚𝑚
� 𝑘𝑘 �
𝑑𝑑 2
𝑗𝑗 𝑘𝑘
onde o primeiro termo está associado com a energia do campo externo, também reconhecida
como energia Zeeman, o segundo termo é a energia de interação dipolar e o último está
associado a energia de troca de primeiros vizinhos. A partir da energia magnética podemos
obter o campo efetivo que é definido como sendo:
�⃗𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒
𝐻𝐻 𝑖𝑖
= −∇𝑀𝑀��⃗𝑖𝑖 𝐸𝐸 (3)

��⃗𝑖𝑖 = 𝑀𝑀𝑠𝑠 𝑚𝑚
onde 𝑀𝑀 � 𝑖𝑖 . Assim, a configuração pode ser requerida a partir da condição de torque
nulo sobre todos os momentos magnéticos do sistema. Considerando o grande número de
variáveis do sistema, utilizamos o método do campo local autoconsistente para encontrar a
configuração de equilíbrio, em remanência, do nano-disco de Permalloy. A partir da
configuração de equilíbrio, aplicamos uma corrente polarizada de spin, perpendicular à face
do nanodisco e obtemos as oscilações da magnetização como função do tempo, como
mostrado no esquema abaixo:

(1) Leitura dos parâmetros físicos e magnéticos, inclusive a intensidade da densidade de


corrente polarizada de spin.
(2) Inicia a configuração da magnetização, nesse caso, configuração de saturação
(3) A partir da configuração da magnetização, calcula o campo efetivo (campo de troca,
campo externo e campo dipolar)
(4) Checa se a magnetização está na direção do campo efetivo, que é a condição de
equilíbrio.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 439
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(5) Se não, muda a configuração da magnetização. Coloca a magnetização na direção do


campo efetivo local, e volta para o passo (3);
(6) Se sim, salvo a configuração de equilíbrio.
(7) A partir da configuração de equilíbrio, calcula as oscilações da magnetização como
função do tempo e da densidade de corrente polarizada de spin.
(8) A partir das oscilações como função, calcula-se a transformada de Fourier e obtém-se
o espectro das excitações da magnetização como função corrente polarizada de spin.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nossos resultados indicam que um nanodisco de Permalloy, com 96 nm de diâmetro e altura
de 30 nm, em seu estado de remanência (H = 0), exibe um vórtice magnético centrado na origem do
plano da amostra, como mostra a figura 1. Essa é a configuração de um vórtice típico, onde a
componente da magnetização, no centro do vórtice, é perpendicular ao plano da amostra.

Figura 1. Perfil da magnetização de um nanodisco de Permalloy com 96 nm de diâmetro e altura de 30 nm, em seu
estado de remanência (H = 0). O código de barra de cores indica o ângulo da magnetização com o eixo z.

O estudo da dinâmica é baseado na equação de movimento de Landau-Lifshitz-Gilbert-


Slonckzewski:
��⃗𝑗𝑗
𝑑𝑑𝑀𝑀 ��⃗𝑗𝑗
𝑑𝑑𝑀𝑀 |𝑔𝑔|𝜇𝜇𝐵𝐵 𝐽𝐽 (4)
��⃗𝑗𝑗 × 𝐻𝐻
= −𝛾𝛾 �𝑀𝑀 �⃗𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 − 𝛼𝛼𝑀𝑀
��⃗𝑗𝑗 × �− ��⃗𝑗𝑗 × �𝑀𝑀
𝛽𝛽𝑀𝑀 ��⃗𝑗𝑗 × 𝑃𝑃�⃗�
𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑑𝑑𝑑𝑑 2𝑒𝑒𝑒𝑒𝑀𝑀𝑆𝑆3

onde o primeiro termo é o termo de Landau-Lifshitz, o segundo é o termo de fenomenológico de


Gilbert associado ao amortecimento e o último é o termo de Slonckzewski associado ao torque de
corrente polarizada de spin. J é a densidade de corrente polarizada de spin e P é a polarização da
corrente.
Nossos resultados indicam que a corrente polarizada de spin realiza um torque, sobre a
magnetização, aumentando suas amplitudes de oscilações, como pode ser visto na Figura 2(a) e 2(b).
Na figura 2(a), onde não há corrente polarizada de spin aplicada, as oscilações na componente x total
da magnetização, como função do tempo, são da ordem de 10-7. Enquanto quando o sistema é
submetido a uma densidade de corrente de J=3x107 A/cm², como mostra a Figura 2(b), as amplitudes
de oscilações passam a ser da ordem de 10-7.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 440
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 2. Oscilações da componente x total da magnetização como função do tempo (a) J=0; e (b) J=3x107 A/cm², em
um nanodisco de Permalloy com 96 nm de diâmetro e altura de 30 nm, em seu estado de remanência (H = 0).

As figuras 3(a) e 3(b) mostram os espectros de excitações, para o nanodisco de permalloy


com 96 nm de diâmetro e altura de 30 nm, em seu estado de remanência (H = 0), com densidade nula e
densidade de corrente de J=3x107 A/cm², respectivamente. Nossos resultados, preliminares, mostram
que a corrente polarizada apresenta o efeito de estreitar a largura de linha, bem como aumentar a
amplitude e, consequentemente, a potência.

Figura 3. Espectro de oscilações da componente x total da magnetização como função do tempo (a) J=0; e (b) J=3x107
A/cm², em um nanodisco de Permalloy com 96 nm de diâmetro e altura de 30 nm, em seu estado de remanência (H = 0).

CONCLUSÃO
Considerando os efeitos de aumento da potência, bem o estreitamento da largura de linha, nossos
resultados indicam o efeito da corrente polarizada de spin em vórtices magnéticos, se apresenta como promissor
para o desenho de nanoatenas.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Departamento de C&T/UERN, a UERN e ao PIBIC/CNPq.
REFERÊNCIAS
BERGER, P. L. Emission of Spin Waves by a Magnetic Multilayer Traversed by a
Current. Physical Review B, pp. 54, 9353, 1996.
DEAC, A. et al. Bias-driven high-power microwave emission from MgO-based
tunnel magnetoresistance devices. Nature Physch 4, p. 803-809, 2008.
SLONCZEWSKI, J. Current-Driven Excitation of Magnetic Multilayer. Jornal of
Magnetism and Magnetic Materials, vol. 159, pp. L1-L7, 1996.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 441
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Investigação das Fases Magnéticas de Bicamadas de Terras-raras


através de medidas de Histerese Térmica.

Anderson Alves Gurgel1; Francisco Queiroz2; Vamberto Dias de Mello3

Palavras-chave: Terras-Raras. Hólmio. Histerese. Magnetização. Ciclo Térmico.

Introdução
O magnetismo é uma das áreas mais importantes na Física da Matéria Condensa,
porque os materiais magnéticos tem uma grande importância no desenvolvimento da
tecnologia contemporânea. Esses fatores fazem o magnetismo ser uma área muito
requisitada para os físicos experimentais. O principal objetivo dessa área é estuda os
fenômenos magnético que ocorre nos diversos materiais existentes. Existem uma
variedade de técnicas teóricas e experimentais que podem ser aplicadas para o estudo
desses materiais.

Nos últimos anos tem sido visto que existe uma enorme mobilização nas
universidades para ser desenvolvido matérias magnéticos novos, que consigam satisfazer
a demanda do mercado e ao mesmo tempo possam ser eficazes como os já utilizados.
Observa-se que nos materiais magnéticos a presença de novas fases magnéticas, que tem
sua origem em propriedades intrínsecas dos materiais que compõem as chamadas
multicamadas magnéticas. Essas fases provem principalmente da interação entre
materiais magnéticos em contato, como também da modificação das propriedades
intrínsecas causadas pelo confinamento de materiais magnéticos em filmes finos.

Materiais que tem chamado a atenção nesse quesito, são os materiais denominados
de terras raras, que são materiais produzidos dos elementos da série dos lantanídeos na
tabela periódica, eles exibem uma diversidade de fases magnéticas complexas que têm
sua origem na interação de troca dos elétrons localizados 4f. Devido a esses fatos este
trabalho se propõe a estudar estes compostos na forma de filmes finos e em multicamadas
magnéticas formadas por dois diferentes elementos de terras raras, uma vez visto na
literatura a grande variedade de fases magnéticas nesse materiais. O objetivo é buscar as
possíveis mudanças nas fases magnéticas de filmes e volumes (hélice e fan, por exemplo)

1
Estudante do Curso de Licenciatura em Física do Departamento de Física da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: andersongurgel@alu.uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 442
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

que poderiam ocorrer sob efeitos de superfície, interface, campo e temperatura quando os
compostos estiverem constituindo uma bicamada magnética. Neste contexto, o projeto
visa caracterizar através da simulação da técnica experimental da histerese térmica o
potencial tecnológico das bicamadas de Hon/Gdm.

Para o estudo da histerese térmica nas bicamadas de Hon/Gdm, investigaremos


através de dois processos distintos: o Ciclo térmico normal e o processo Zero Field
cooling/Field cooling (ZFC-FC), na presença de campo externo e, no limite de baixas
temperaturas até temperaturas em torno da menor temperatura de Néel da multicamada.
Acreditamos que os processos ciclo térmico e o ZFC-FC nas bicamadas poderá criar
diferentes fases, em uma mesma temperatura.

Metodologia
A metodologia desenvolvida neste trabalho foi dividida em duas partes onde na
primeira correspondeu a um trabalho teórico e a segunda a um desenvolvimento
computacional do objeto de estudo. Para se desenvolver uma modelagem computacional
é preciso entender o comportamento e os estados do sistema físico, para o mesmo foi
utilizado a modelagem do hamiltoniano:

𝑬 = 𝑬𝒆𝒙𝒄𝒉 + 𝑬𝒂𝒏𝒊𝒔 + 𝑬𝒆𝒙𝒕

Onde, Eexch representa a energia de troca entre os momentos magnéticos, Eanis


energia de anisotropia magnetocristalina, e Eext energia Zeeman devido ao campo
magnético externo aplicado.

Em seguida estabelecemos a modelagem teórica do sistema e desenvolvemos um


algoritmo computacional para realizar a simulação dos dois processos de histerese
térmica. O primeiro é chamado de ciclo térmico, que consiste em aquecer e resfriar a
amostra a um campo constante. O segundo é denominado ZFC-FC, que é um processo no
qual a amostra é resfriada a campo zero depois aquecida e resfriada com um campo
constante. Antes de iniciar os estudos da bicamada foi estudado o comportamento de um
único elemento no qual o escolhido foi o hólmio.

O programa recebe informações sobre o elemento em questão e realiza uma


simulação com o mesmo. Primeiramente a amostra é submetida a um processo de ciclo
térmico ou ZFC-FC no intervalo 20K a 140K, a escolha de temperaturas envolve

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 443
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

propriedade do material como temperatura Curie e Neel. O mesmo foi simulado em dois
modelos o primeiro o simulou em filmes finos com 7, 10, 12, 20 e 24 planos e após ele
foi simulado como um volume com respectivamente a mesma quantidade de planos. Em
ambas as simulações o campo era fixo e a temperatura variava, os campos utilizados
foram no intervalo compreendido entre 100Oe e 110kOe, onde podemos observar a
evolução da histerese até o seu desaparecimento. Abaixo as tabelas 1 e 2 representam as
simulações de filmes e volume para a terra rara Hólmio(Ho).

Nº PLANOS TIPO TEMPERATURA CAMPOS


07 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 14KOe
10 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 95KOe
12 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 105KOe
20 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 105KOe
24 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 80KOe
07 Planos Volumes 20K – 140K 100Oe –110KOe
TABELA 1: SIMULAÇÕES DO HO EM CICLO TÉRMICO

Nº PLANOS TIPO TEMPERATURA CAMPOS


07 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 14KOe
10 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 95KOe
12 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 105KOe
20 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 105KOe
24 Planos Filmes Finos 20K – 140K 100Oe – 80KOe
07 Planos Volumes 20K – 140K 100Oe –110KOe
TABELA 2 SIMULAÇÕES DO HO EM ZFC FC

Com as simulações realizadas, utilizamos o programa Origin para a criação dos


gráficos objetivando identifica os perfis magnéticos e intervalos de campo e temperatura
no qual ocorrem as histereses.

Resultados e Discussão

Com os gráficos obtidos se extraiu informações importantes que foram: em qual


intervalo de campos a curva de histerese se fechava e onde haveria uma transição de fase.
Essas informações são de sua importância nas aplicações tecnológicas, pois não seria
viável ter para uma temperatura especifica ter dois valores de magnetização (informação
gravada) distinto, pois isso implicaria na perda de informação. Com gráficos também é
possível visualizar a fase magnética em que a amostra se encontra. Para começar a analisa
observamos na figura 1 exemplos dos resultados obtidos nas simulações, nele observamos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 444
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

os intervalos sobre o quais o laço de histerese se fecha para uma determinada amostra, ou
volume e também pelos processos de ciclo térmico ou ZFC FC.

FIGURA 1: PERFIS DAS CURVAS DE HISTERESE NOS PROCESSOS DE CÍCLO


TÉRMICO E ZFC-FC, PARA FILMES FINOS DE 12 PLANOS DE HO.

Os gráficos acima são alguns exemplos de resultado das simulações que o


programa pode nos retorna, neles é possível identifica tanto o momento que o laço de
histerese é fechados, de uma determinada configuração e processo, como também é
possível identifica as transições de fase magnética, uma vez que o perfil da curva muda
em alguns pontos. Como por exemplo no ciclo térmico em filmes de 12 planos no ponto
de 110K é possível identificar uma transição de fase no aquecimento mas vale ressaltar
que mesma ocorre próxima de 100 K no resfriamento, isso tem um impacto direto numa
aplicação tecnológica, uma vez que o dispositivo pode ser sujeito a vários temperatura
diferente e assim perde alguma informação. O ideal seria obter um material no qual não
houvesse esse tipo de distinção para uma faixa de campo ou temperatura. Nesse sentido
abaixo estão os resultado de todas simulações feita onde não é possível observa o
fenômeno da histerese.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 445
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Nº DE PLANOS TIPO FIM DA HISTERESE


07 PLANOS Filmes Finos 12KOe - 14KOe
10 PLANOS Filmes Finos 90KOe - 95KOe
12 PLANOS Filmes Finos 100KOe - 105KOe
20 PLANOS Filmes Finos 100KOe – 105KOe
24 PLANOS Filmes Finos 75KOe – 80KOe
07 PLANOS Volumes 105KOe – 110KOe

TABELA 3: RESULTADOS DO HO EM CICLO TÉRMICO

Nº DE PLANOS TIPO FIM DA HISTERESE


07 PLANOS Filmes Finos 1KOe – 3KOe
10 PLANOS Filmes Finos 3KOe – 5KOe
12 PLANOS Filmes Finos 5KOe – 7KOe
20 PLANOS Filmes Finos 8KOe – 9KOe
24 PLANOS Filmes Finos 9KOe – 10KOe
07 PLANOS Volumes 5KOe – 7KOe

TABELA 4: SIMULAÇÕES DO HO EM ZFC FC

Conclusão

As multicamadas de Ho simuladas pelo programa mostram que ele pode ter uma
aplicação tecnológica para um determino intervalo de campo e temperatura que a mesma
está submetida. O objetivo era produzir uma multicamada com Ho e Gd entanto a medida
com Gd não foi possível por motivos técnicos, mas as suas simulações e resultados seria
feito pelo mesmo processo ao qual o Ho foi submetido e assim por conseguia a bicamada
procederia da mesma forma. Assim em um futuro próximo esperasse ter esses resultados,
assim como esse trabalho mostrou, para as multicamadas somente os com Ho.

Agradecimentos

Agradeço ao CNPq pelo apoio financeiro, a Universidade do Estado do Rio


Grande do Norte pelo apoio Estrutural e ao Grupo de Magnetismo Teórico da UERN pelo
apoio na pesquisa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 446
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências

[1] MAGNETIC Properties of Gd/Dy Superlattices: Exeriment and Theory. PHYSICAL


REVIEW LETTERS, [S. l.], v. 64, n. 22, p. 2703-2706, 28 maio 1990.

[2] FILHO, F. C. M. Efeito Magnetocalórico em Filmes de Hólmio. 2011. Dissertação


(Mestrado em Física) - Faculdade de Ciênicas Exatas e naturais, Universidade do Estados
do Rio Grande do Norte, Mossoro, 2011.

[3] A. Bhattacharyya, S. Giri, S. Majumdar Spin-glass-like state in GdCu: role of phase


separation and magnetic frustration. PHYSICAL REVIEW LETTERS, 20 abril 2011.

[4] MIMURA, Y. Magnetic properties of amorphous alloy films of Fe with Gd, Tb, Dy,
Ho, or Er. Journal Applied Physics, n. 3, p. 1208. ISSN 00218979.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 447
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MÉTODOS DE PURIFICAÇÃO DE SEBO BOVINO PARA OBTENÇÃO


DE BIODIESEL

Maria Eduarda de Oliveira Cruz1; Lilia Basílio de Caland2


Palavras-Chave: Sebo; Óxido de cálcio; Esterificação; Índice de acidez; Índice de
saponificação;
INTRODUÇÃO
O uso de biocombustíveis tem se apresentado como uma alternativa de suprimir a
demanda de consumo dos combustíveis fósseis por serem de origem renovável, se regenerar
espontaneamente e emitirem menos poluentes. Dentro desse cenário, o biodiesel ganha
destaque por ser um combustível produzido a partir de fontes naturais como óleos vegetais
(óleo de soja, girassol e mamona), gorduras animais (sebo bovino) ou óleos residuais (óleo de
fritura).
A utilização do sebo bovino traz inúmeros benefícios, sejam eles ambientais por
apresentar uma alternativa de descarte correta desse resíduo bastante poluente, ou econômicos
devido ao seu baixo custo de comercialização. Apesar dos benefícios, o sebo bovino apresenta
desvantagens no que diz respeito a grande quantidade de carotenoides responsáveis pela
coloração acentuada e à presença de metilamina (CH 3-NH2) responsável pelo odor
característico do sebo. Além disso, outra desvantagem é a presença de ácidos graxos livres na
sua composição, fator que influencia no elevado índice de acidez, no rendimento da reação e
no produto final de boa qualidade.
Dessa maneira, o objetivo deste trabalho consiste em desenvolver materiais e métodos
de purificar o sebo bovino para obtenção do biodiesel. Para tanto, a gordura animal necessita
passar por um tratamento prévio, principalmente para reduzir o índice de acidez e aumentar o
grau de clarificação do sebo bovino.

METODOLOGIA

Para obter o bioclarificante (BIOCL) foi utilizado a areia da praia misturada com
carbonato de sódio calcinados por 4 h a 900 °C para que ocorresse a formação de silicato de
sódio (Na2SiO3). O material resultante desta calcinação foi lavado, filtrado e acidificado até pH
1 e em seguida, seco em uma estufa a 150 °C durante 24 h para ativação da sílica.

Na preparação do bioadsorvente (BIOAD) foram utilizadas cascas de abacaxi.


Inicialmente, as cascas foram lavadas com água destilada e posteriormente secas em uma estufa
a 150 °C durante 24 h. O produto seco foi triturado até obter um pó fino e em seguida as
partículas trituradas foram calcinadas por 12 h a 650 °C com uma taxa de aquecimento de 5,5
°C e arrefecidas à temperatura ambiente em um dessecador.

Para fins de comparação, utilizou-se adsorventes sintéticos como o óxido de cálcio


comercial (CaOCM) e sílica gel (SGEL) e também adsorventes naturais como o óxido de cálcio
obtido de conchas calcinadas (CaOCC) e da casca de ovo (CaOCV), ambos os materiais

1
Estudante do Curso de Bacharelado em Ciência e Tecnologia do Departamento de Ciência e Tecnologia da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; E-mail: mariaeduardaoliveiracruz@gmail.com
2
Professora do Departamento de Ciência e Tecnologia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; E-
mail: liliabasilio@yahoo.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 448
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

produzidos por nosso grupo de pesquisa (Vale, 2018). Vale ressaltar que foram otimizadas as
condições de tempo, temperatura e etapas adicionais para a produção desses materiais.
Na purificação da matéria-prima, o sebo bovino passou por um tratamento químico
utilizando diferentes metodologias. A metodologia desenvolvida neste trabalho para a
purificação do sebo bovino pode ser explicitada no fluxograma da Figura 1.

Figura 1. Metodologia empregada para a purificação do sebo bovino.


Após a purificação do sebo, as amostras foram caracterizadas analisando a sua
coloração, o índice de acidez (IA) e o índice de saponificação (IS). Empregando as diferentes
metodologias desenvolvidas, foi realizada a síntese do biodiesel utilizando a reação de
transesterificação, a qual ocorreu em duas etapas. Na primeira etapa, adicionou-se 16% (m/m)
de metanol e 0,56% (m/m) de catalisador (metóxido de sódio), em relação à massa do sebo. O
sistema foi aquecido a 60 ºC ± 5 °C por 1 h, sob refluxo. Na segunda etapa, os ésteres obtidos
foram novamente submetidos à reação com adição de 4,0% (m/m) de metanol e 0,14% de
catalisador (Boog et al., 2011).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos resultados referentes ao aspecto das amostras de sebo, observou-se que dentre
todos os materiais alcançados, o bioclarificante obtido nos diferentes níveis não apresentou
qualquer mudança na coloração da amostra do sebo. O óxido de cálcio (natural e sintético) foi
o mais eficiente para a eliminação das impurezas, resultando em uma amostra de sebo bem mais
límpida (Figura 2).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 449
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 2. Coloração das amostras de sebo após a purificação.


Uma vez que o índice de acidez do sebo bruto (SBR) calculado foi de 17,50 mg
NaOH/g, observou-se que os valores do IA das amostras diminuiu consideravelmente para
todas as metodologias desenvolvidas (Figura 3). O método empregando a esterificação dos
ácidos graxos (EACG) do sebo, foi o que obteve o menor índice, de 2,50 mg NaOH/g, embora
a coloração tenha se tornado mais turva.

Figura 3. Gráfico do Índice de Acidez.


Referente aos resultados do índice de saponificação, que avalia a proporção da gordura
composta por ácidos graxos para formar sabão, observou-se que o valor da amostra de sebo
utilizando o óxido de cálcio obtido das conchas calcinadas estava de acordo com o que aponta
a literatura que é na faixa de 190 a 200 mg KOH/g (Levy, 2011) (Figura 4).

Figura 4. Gráfico do Índice de Saponificação


Não foram obtidos resultados na produção de biodiesel devido ao inconveniente
reacional que se observou na presença de uma única fase na reação de transesterificação. Como
o trabalho ainda está em andamento, será realizado outras reações para produção de biodiesel.
CONCLUSÃO
Por meio da caracterização do sebo foi possível observar que o índice de acidez
mostrou maior variação. Apesar da matéria-prima ter um alto índice de acidez (17,50 mg
NaOH/g), observou-se que os melhores resultados foram os que utilizaram o CaO na forma
natural e sintética e a esterificação dos ácidos graxos, embora a presença do H2SO4 tenha sido
um influente negativo na coloração.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 450
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Além disso, a eliminação das impurezas do sebo foi alcançada quando utilizado o
óxido de cálcio (natural e sintético). Desse modo, novos estudos serão realizados em busca de
melhorar os métodos de purificação e a acidez do sebo bovino e também obter o biodiesel
empregando os melhores materiais e métodos desenvolvidos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a UERN, a parceria com o laboratório de química farmacêutica da UFRN,
ao INDAMA e ao PIBITI pelo apoio financeiro.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E
BIOCOMBUSTÍVEIS. Resolução nº 14, 18 de maio de 2012.
BOOG, J. H. F.; SILVEIRA, E. L. C.; CALAND, L. B.; TUBINO, M. Determining
the residual alcohol in biodiesel through its flash point. Fuel, v. 90, p. 905-907, 2011.
LEVY, G. A inserção do sebo bovino na indústria brasileira de biodiesel: análise
sob a ótica da Economia dos custos Transação e da Teoria dos Custos de Mensuração.
2011. 117 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2011.
VALE, I. C. Produção e caracterização de catalisadores naturais heterogêneos
para a obtenção do biodiesel de algodão. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em Ciências e Tecnologia) - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Natal, 2018.
PARENTE, E. J. de S. Biodiesel: uma aventura tecnológica num país engraçado.
Embraapa Fortaleza: Tecbio, p. 1-66, 2003.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 451
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MINING_RNA: SISTEMA WEB PARA MINERAÇÃO DE DADOS EM


ESTUDOS TRANSCRIPTÔMICOS A PARTIR DE MICROARRANJOS

Marcos Vinícius Pereira Diógenes¹; Carlos Renan Moreira²; Pedro Victor Morais Batista³
Prfª. Dra. Christina Pacheco Santos Martin⁴; Profª. Dra. Cicília Raquel Maia Leite⁵
Palavras-chave: Bioinformática. Bancos de Dados Genéticos. Expressão Gênica.

Introdução
O Projeto Genoma Humano (PGH) foi um estudo internacional com duração de 13
anos, de 1990 a 2003, sequenciando o genoma humano e tornando-o acessível para estudos
adicionais. O sequenciamento da base do DNA humano possibilitou o desenvolvimento de
tecnologias mais avançadas de análise biológica, dentre elas o microarranjo. O grande número
de pesquisas utilizando essas tecnologias resultou na necessidade da criação de bancos de dados
públicos onde a vasta quantidade de dados gerados seriam armazenados e disponibilizados.
Dentre as principais bases de dados biológicos, está o Gene Expression Omnibus (GEO).
Dentre os tipos de pesquisa resultantes do surgimento dessas tecnologias, está o estudo
transcriptômico, que consegue identificar informações a partir das sondas utilizadas pelo
microarranjo e com isso prover uma enorme quantidade de dados para a pesquisa que está sendo
realizada uma vez que, cada análise pode ter até 450.000 variáveis (sondas genéticas). Isso faz
com que a depender do que está sendo pesquisado, a análise desses dados passe a ser bem
complexa do ponto de vista computacional (HIRA; GILLIES, 2015).
As ferramentas computacionais de interpretação de dados biológicos a fim de produzir
novos resultados, em sua maioria, são desenvolvidas e utilizadas sem uma interface gráfica de
usuário, utilizando-se apenas do texto em terminal para oferecer seus recursos. A maior parte é
desenvolvida na linguagem de programação R.
O presente trabalho de iniciação científica é parte de um trabalho de mestrado, com
objetivo de desenvolver um sistema WEB atendendo as necessidades de usabilidade, que seja
capaz de auxiliar na mineração de dados de estudos transcriptômicos em microarranjos
armazenados no banco de dados biológico GEO, para delimitação de testes inicialmente nos
estudos relacionados ao diabetes. Espera-se que o sistema desenvolvido possa ajudar
pesquisadores a obter novos resultados a partir de pesquisas de expressão gênica existentes,
utilizando para isso um conjunto de filtros para pré-processamento, algoritmos de mineração e
aprendizagem de máquina.

Metodologia
O presente tem como objetivo implementar um sistema capaz de recuperar dados a
partir do banco de dados biológico GEO, os quais serão pré-processados de forma a validar as
informações para as próximas etapas que, a depender da escolha do usuário, pode ser a
mineração ou o processamento manual desses dados a partir de filtros disponibilizados no
sistema.
¹Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Informática da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: marcosmtlphnx@gmail.com
²Estudante de mestrado de Ciência da Computação do Departamento de Informática da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: c.renan.moreira@gmail.com
³Estudante do curso de Odontologia da Uninassau; e-mail: pvmbatista07@gmail.com
⁴Professora do PPGCC da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido;
⁵Professora do Departamento de Informática da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte. Líder do Grupo de Engenharia de Software; e-mail: ciciliamaia@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 452
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O desenvolvimento do sistema proposto neste trabalho, assim como as etapas


seguintes à sua implementação, objetiva:
1. Implementar uma Application Programming Interface (API) de interação com
o Gene Expression Omnibus (GEO);
2. Desenvolver uma interface para pré-processamento dos dados;
3. implementar técnicas de mineração e aprendizagem de máquina para atuação
nos dados pré-processados;
4. Desenvolver uma interface de análise e interação entre o usuário final e as
informações do estudo;
5. Proporcionar uma interface intuitiva para que usuários sem conhecimento prévio
de programação possam utilizar-se dos dados contidos no estudo;
6. Possibilitar a extração de novas informações e resultados a partir de dados brutos
publicados no GEO;
7. Desenvolver um sistema que se encaixe no uso cotidiano de pesquisadores da
área de bioinformática e afins.
Para atingir os resultados propostos, pretende-se que o sistema esteja disponível em
tempo integral em um domínio da internet, possibilitando que pesquisadores em qualquer lugar
no mundo possam utilizá-lo. O uso da ferramenta deverá seguir um modelo passo-a-passo no
qual o pesquisador avança entre as telas até chegar na listagem dos dados filtrados durante as
etapas anteriores.
Com os resultados expostos e os dados filtrados, o pesquisador poderá utilizar uma
sequência de filtros para selecionar dados úteis e identificar informações relevantes ao objetivo
de seu trabalho. Inicialmente, o foco será na utilização dos filtros em estudos relacionados à
diabetes.
A arquitetura planejada para o sistema, exemplificada pela Figura a, terá 3 API’s
distintas, um banco de dados e uma interface WEB para interação com o usuário final. Esta
arquitetura descentralizada permite a alocação de algoritmos para servidores diferentes, para
fins de diminuir a carga de processamento na máquina do usuário final.
A API 01 cumprirá as tarefas relacionadas à mineração de dados e aprendizagem de
máquina. Pretende-se que ela suporte a implementação de diversos algoritmos de mineração
para a análise dos dados em utilização pelo usuário final em sua pesquisa. A implementação
dos algoritmos deverá ser gradual, de forma a suportar adições após a conclusão da primeira
fase do projeto.
A API 02 realizará o pré-processamento dos dados carregados no sistema WEB, e
poderá carregar diretamente dados do banco de dados local, e solicitar que a API 03 busque
novos dados no GEO. Seu desenvolvimento se dará seguindo rigorosamente os princípios de
reuso, para que mais filtros possam ser inseridos em fases futuras.
A API 03 será responsável pela captura dos dados do dataset solicitado pelo usuário, e pelo
armazenamento das informações relevantes no banco de dados local. Apesar de ser uma tarefa simples,
pode ter alto custo de processamento, a depender da complexidade e volume das informações contidas
no estudo transcriptômico sendo utilizado.
O sistema WEB irá conter a interface gráfica de utilização responsável pela interação
com o usuário. Os procedimentos solicitados pelo usuário deverão ser acessíveis de forma
intuitiva, de forma a facilitar a utilização até mesmo dos filtros mais complexos a todos os
níveis de usuários.
A base de dados será relacional, armazenará todos os dados relevantes para consulta.
Pretende-se que os dados fiquem armazenados de forma a permitir o usuário recuperar os
resultados processados anteriormente, também deverá armazenar pré-definições de filtros

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 453
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

definidos pelo usuário para que ele possa aplicar as mesmas configurações em pesquisas
futuras.

Figura a: Visão Geral da Arquitetura do Sistema (fonte: Autoria própria)

Resultados e Discussão
Durante a investigação para o desenvolvimento do sistema proposto foi necessário a
implementação de algumas funcionalidades básicas imprescindíveis ao sistema. Para que fosse
possível a análise inicial dos dados do GEO, foi realizado um mapeamento preliminar do
formato e os padrões dos dados contidos nos arquivos disponibilizados pela base de dados. A
partir disso, foi criado um algoritmo de pesquisa inteligente capaz de ler e interpretar os
conjuntos de dados contidos em um arquivo proveniente de um estudo transcriptômico
armazenado no GEO, e armazenar os dados relevantes coletados.
Um banco de dados relacional foi implementado utilizando MySQL, a fim de
armazenar as informações. Foi também implementada uma interface WEB preliminar,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 454
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

utilizando a linguagem de programação PHP, para visualização dos resultados, e uma API de
interação com o GEO e de captura das informações utilizando a linguagem de programação
Python.

Figura b: interface parcial da visualização dos dados obtidos (fonte: Autoria própria)

Conclusão
Os dados obtidos a partir dos metadados do dataset capturado do GEO demonstraram
que os objetivos previstos para este trabalho são alcançáveis, e que outras funcionalidades
podem ser implementadas em versões futuras do projeto, garantindo que um sistema cada vez
mais completo seja disponibilizado para o público alvo.

Agradecimentos
Primeiramente ao Grupo de Engenharia de Software (GES) e à Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (UERN) pelo fornecimento da infraestrutura e suporte científico para
a realização deste trabalho, ao CNPq como órgão concessor da bolsa.

REFERÊNCIAS
HIRA, Z.; GILLIES, D. F. A review of feature selection and feature extraction methods applied
on microarray data. Advances in Bioinformatics, v. 2015, p. 1–13, 07 2015. Citado na página
8.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 455
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os Efeitos do Aconselhamento Errado de um


Agente Virtual: Estudo Piloto

Daniel Teodolino B. Torres1 , Althierfson Lima1 , Maria José Ferreira2,3,4 ,


Alberto Signoretti1 , Raul Benites Paradeda1,2,3
1
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Brasil
2
Instituto Superior Técnico, Portugal
3
INESC-ID, Universidade de Lisboa, Portugal
4
Instituto de Tecnologias Interativas
[danieltorres,althierfsonlima]@alu.uern.br
[maria.jose.ferreira,raul.paradeda]@tecnico.ulisboa.pt
[albertosignoretti]@uern.br

Resumo: Assistentes virtuais são recursos tecnológicos que estão pre-


sentes no dia a dia das pessoas, auxiliando em tarefas especı́ficas, como
navegar em um mapa. Porém, sabe-se que esses recursos não são perfeitos
e são suscetı́veis a dar conselhos errados, afetando o nı́vel de confiança
que o ser humano tem sobre esses assistentes virtuais. Assim, este artigo
tem como objetivo descrever a metodologia utilizada para mensurar os
efeitos que o aconselhamento incorreto de um agente virtual tem na con-
fiança das pessoas. Para isso, desenvolvemos um jogo da memória intera-
tivo que utiliza um agente robótico virtual, aconselhando o jogador sobre
quais cartas podem formar pares. Foi realizado um estudo piloto onde
25 jogadores interagiram três vezes com o agente. Em duas condições do
estudo, o agente fornece as pistas erradas sobre as cartas e nas outras
duas as oferece pistas certas. Nossos resultados preliminares sugerem que
as percepções jogadores-agente foram afetadas pelo comportamento do
agente.

Palavra-chave: Confiança · Conselhos Errados · Jogo da Memória ·


Agente Virtual

1 Introdução

Os recursos tecnológicos são cada vez mais usados em nossa sociedade para
facilitar o dia a dia das pessoas. É possı́vel classificar esses recursos de acordo com
a finalidade para a qual foram desenvolvidos, como comunicativos, educacionais,
para assistência fı́sica, entre outros. No entanto, um dos recursos mais modernos
está na área de assistência pessoal. Essa tecnologia é usada para auxiliar humanos
em tarefas especı́ficas, por exemplo, navegação em mapas (GPS), ou em casas
inteligentes que podem ser controladas por comando de voz. Bons exemplos são
assistentes virtuais como ALEXA (Amazon), SIRI (Apple), Cortana (Microsoft)
ou Google Assistente. Porém, sabe-se que essas tecnologias não são perfeitas e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 456
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

2 Torres, et al.

apresentam falhas ou dão recomendações erradas, o que pode afetar a confiança


da pessoa em um assistente virtual.
Embora os pesquisadores estejam explorando mecanismos para lidar com
comportamentos defeituosos desse tipo, ainda não está claro se a falha do agente
virtual/assistente ou o conselho incorreto terá um impacto positivo ou negativo
no nı́vel de confiança da pessoa. Portanto, esse tipo de análise é um elemento
essencial quando queremos criar uma conexão efetiva entre humanos e agentes.
Para Hancock et al. [2], a confiança é fortemente influenciada pelo desempenho
do agente e outros atributos, como transparência. Além disso, alguns resultados
mostram os efeitos negativos sobre como o ser humano percebe um agente após
comportamentos errôneos [5, 7].
Este artigo descreve a metodologia usada para mensurar os efeitos que o
aconselhamento incorreto de um agente virtual pode ter sobre a confiança das
pessoas. Nesse sentido, desenvolvemos um jogo da memória interativo onde um
agente robótico virtual fornece pistas de qual carta o jogador deve virar.

2 Metodologia

A fim de investigar os efeitos que o conselho errado de um agente pode causar a


uma pessoa, executamos uma metodologia em que alguns fatores foram mensu-
rados antes e depois da interação. Esta técnica permite verificar se a interação
com o agente em nosso cenário afeta o participante quanto aos fatores medidos.
Portanto, antes da interação, todos os participantes assinaram um Termo de
Consentimento, e foi solicitado o preenchimento de alguns questionários como:
Personalidade (Big Five [3]), Experiência de Jogo [4], Confiança [1] e Godspeed
[6]. Na pós-interação, todos os questionários foram aplicados novamente, exceto
o de Personalidade.

2.1 Implementação

Para realizar este estudo, implementamos um jogo da memória com a presença


de um agente virtual capaz de orienta o jogador quanto as cartas que formam
pares. Além disso, o agente desenvolvido possui animações capazes de fazer o
ser humano perceber quais sentimentos estão sendo expressos. Por exemplo, se
o agente está triste ou feliz, o ser humano é capaz de perceber esses sentimen-
tos. Essa estratégia nos permitirá verificar se a simulação de sentimentos pode
influenciar o nı́vel de confiança de uma pessoa. Portanto, para medir essa in-
fluência, desenvolvemos um agente virtual denominado Roboldo. Para validar
nossas animações, pedimos a alguns participantes que informassem qual senti-
mento percebem no agente, veja Fig. 1, para cada uma ilustração das animações
desenvolvidas. Essa verificação ocorreu em um estudo paralelo com outro grupo
de participantes.
Após a validação dos sentimentos do agente, a próxima etapa foi o desenvolvi-
mento do jogo da memória. O aplicativo foi desenvolvido utilizando a linguagem
de programação C# e o motor de jogo Unity. Neste estudo, o participante joga

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 457
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os Efeitos do Aconselhamento Errado de um Agente Virtual: Estudo Piloto 3

Fig. 1. Roboldo simulando emoções.

três partidas seguidas. A cada vez, as cartas são dispostas aleatoriamente e nu-
meradas de 1 a 12. Não há limite para o número de tentativas ou erros, e a rodada
termina quando o participante consegue completar todos os pares. Roboldo está
programado para fornecer pistas que são apresentadas verbalmente (através do
pacote RT-Voice PRO text-to-speech) e em texto, conforme a Fig. 2.

Fig. 2. Aplicativo do Jogo da Memória.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 458
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

4 Torres, et al.

2.2 Estudo
O estudo consiste em um design interativo em que um agente virtual fornece
pistas para auxiliar o participante a virar as cartas. Com base neste cenário,
formulamos a seguinte hipótese:
– H1: A interação com o agente pode influenciar a percepção que uma pessoa
tem do agente.
– H2: O nı́vel de confiança sentido por uma pessoa pode ser reduzido se o
agente der conselhos errados.
– H3: A experiência do jogo é afetada positivamente pela presença do agente
se ele fornecer pistas corretas sobre o jogo em comparação com um agente
que fornece pistas incorretas.
Para aplicarmos o método dividimos os participantes em cinco condições de
estudo (Tabela 1). Os participantes da condição C1 jogaram o jogo da memória
com ausência do agente, e as pistas eram mostradas corretamente, porém, em
formato de texto na tela. Nas demais condições, o agente estava presente em
todas as interações do jogo. Porém, em C2 e C3, o agente fornece aos partici-
pantes pistas corretas (que o ajudarão a formar os pares), e em C4 e C5 o agente
dá pistas erradas (que não formam pares). Além disso, em C2 e C4, o agente
realiza animações simulando sentimentos, e em C3 e C5, o agente não expressa
sentimentos.

Table 1. Condições de Estudo

Condição Pista Animação do Agente Expressão Emocional


C1 Correta – Não
C2 Correta Sim Sim
C3 Correta Não Sim
C4 Errada Sim Sim
C5 Errada Não Sim

O estudo piloto foi realizado em uma sala isolada e contou com a participação
aleatória de pessoas que formaram uma amostra de 25 indivı́duos (média de 25
anos; DP = 4,33). O grupo (6 mulheres (média 24,33; DP = 5,12) e 19 homens
(média 24,89; DP = 4,03)) foi dividido em entre as condições C1 a C5, sendo
distribuı́dos 5 participantes por condição.

3 Resultados
H1: Para testar essa hipótese, analisamos as respostas dos participantes do ques-
tionário Godspeed nas pré e pós-etapas do estudo nas condições com a presença
do agente (C2-C5). Como nossos dados não apresentaram distribuição normal,
optamos por um teste não paramétrico (Wilcoxon). Nossos resultados sugerem

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 459
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os Efeitos do Aconselhamento Errado de um Agente Virtual: Estudo Piloto 5

que os participantes tiveram uma percepção diferente em termos de inteligência


em C2 (Z=-2,041, p=0,041) e C3 (Z=-2,023, p=0,043). Em termos de antropo-
morfismo (Z=-2.000, p=0,046), competência (Z=-2,032, p=0,042) e benevolência
(Z=-2,023, p=0,043) em C4. Em C5 não encontramos diferenças estatı́sticas.
H2: A partir das respostas do questionário de confiança, aplicamos o Wilcoxon
Signed Ranks Test para verificar se havia sig. diff. entre as pré e pós-etapas. En-
contramos apenas diff. em C4 em termos de competência (Z=-2,032, p=0,042)
e benevolência (Z=-2,023, p=0,043).
H3: De acordo com um teste de Wilcoxon usando as respostas do questionário
de experiência de jogo, observamos diferenças estatı́sticas. para a condição sem
Roboldo (C1) para efeitos negativos (p=0,043, Z=-2,023) e positivos (p=0,042,
Z=-2,032). Em relação às condições com o agente virtual (C2-C5), apenas os
efeitos positivos apresentaram diferenças estatı́sticas em todas as condições: C2
(p=0,042, Z=-2,032), C3 (p=0,043, Z=-2,023), C4 (p=0,046, Z=-1,997) e C5
(p=0,042, Z=- 2.032).

4 Discussões e trabalhos futuros


Nossos resultados demostram a influência na percepção do jogador sobre o agente
com base no comportamento desenvolvido para o agente. Além disso, a confiança
da pessoa em relação ao agente revelou ser afetada primeiro pela tarefa em si e
depois pelo comportamento do agente em fornecer dicas corretas ou erradas.
Como trabalho futuro, pretendemos aumentar a população do estudo, realizar
uma análise dos dados do log do aplicativo para verificar o comportamento dos
participantes dentro do jogo e analisar se a personalidade de uma pessoa pode
influenciar seu comportamento.

References
1. Benbasat, I., Wang, W.: Trust in and adoption of online recommendation agents.
Journal of the association for information systems 6(3), 4 (2005)
2. Hancock, P., Billings, D., Schaefer, K.: Can you trust your robot? Ergonomics
in Design: The Quarterly of Human Factors Applications 19, 24–29 (09 2011).
https://doi.org/10.1177/1064804611415045
3. John, O., Donahue, E., Kentle, R.: The big five inventory: versions 4a and 54 (1991)
4. Poels, K., de Kort, Y., IJsselsteijn, W.: D3. 3: Game experience questionnaire: devel-
opment of a self-report measure to assess the psychological impact of digital games
(2007)
5. Ragni, M., Rudenko, A., Kuhnert, B., Arras, K.O.: Errare humanum est: Erroneous
robots in human-robot interaction. In: 2016 25th IEEE International Symposium
on Robot and Human Interactive Communication (RO-MAN). pp. 501–506 (2016)
6. Rosenthal-von der Pütten, A.M., Krämer, N.C., Herrmann, J.: The effects of hu-
manlike and robot-specific affective nonverbal behavior on perception, emotion, and
behavior. International Journal of Social Robotics pp. 1–14 (2018)
7. Salem, M., Eyssel, F., Rohlfing, K.J., Kopp, S., Joublin, F.: To err is human(-like):
Effects of robot gesture on perceived anthropomorphism and likability. International
Journal of Social Robotics 5, 313–323 (2013)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 460
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

OTIMIZAÇÃO DE ROTEAMENTO DE VEÍCULOS APLICADO À


LOGÍSTICA DE DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DA AGRICULTURA
FAMILIAR NO RN

Carolayne Barreto da Silva1; Roberval Gonçalves Moreira Filho2;


Francisco Chagas de Lima Júnior3

PALAVRAS-CHAVE: Problema de Roteamento de Veículos, Caixeiro Viajante com Coleta


de Prêmios, Agricultura Familiar

1. INTRODUÇÃO
No contexto da produção agrícola familiar este trabalho tem como motivação
desenvolver uma ferramenta de apoio à logística de escoamento da produção do pequeno
produtor, a qual caracteriza-se como componente de um sistema mais amplo, que está sendo
construído, de forma colaborativa e coordenada. O sistema consiste de um portal regional que
será um espaço de sistematização da oferta de produtos da agricultura familiar existentes na
Região Nordeste, denominado Plataforma Digital – Portal PAS/NE.
Os métodos de otimização desenvolvidos neste trabalho poderão ser aplicados à
logística (clusterização e roteamento) de qualquer cadeia produtiva, entretanto será aplicado,
para efeito de validação, à cadeia produtiva do leite no contexto do pequeno produto do estado
do Rio Grande no Norte.
No que diz respeito à cadeia produtiva do leite, os números globais impressionam:
“133 milhões de propriedades mantêm 363 milhões de cabeças com aptidão leiteira, ocupando
20% das terras agrícolas do Planeta. Mais de 600 milhões de pessoas vivem em propriedades
leiteiras.”
O Brasil é o maior produtor de leite da América Latina e o quarto produtor mundial
(XIMENES, 2014), sendo comum neste contexto, a existência de grandes empresas e de
pequenos produtores (artesanais ou familiares), os quais atuam na produção e/ou processamento
da cadeia leiteira.
No contexto do pequeno produtor rural, a cadeia produtiva leiteira apresenta
características bem particulares. É comum entre os pequenos produtores o emprego de recursos
tecnológicos tradicionais, sem o uso de inovações que agreguem valor ao produto, além de
limitações na estrutura fundiária, nos meios de transporte, bem como, o uso de processamento

1
Estudante do curso de Ciência da Computação – UERN, carolayneb101@gmail.com
2
Estudante do Mestrado em Ciência da Computação – MCC UERN/UFERSA, roberval1994@live.com
3
Professor do Departamento de Informática DI-FANAT/UERN, fclimajr@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 461
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

artesanal na produção dos derivados. Os lucros para à cadeia produtiva do leite ao alcance do
pequeno produtor são limitados, pois, aa maioria das vezes o principal destino da sua produção
é o mercado informal (GURGEL, et al, 2019).
Considerando as particularidades da produção leiteira “familiar”, fatores relativos à
forma de coleta, tipo de transporte e à logística de distribuição dos produtos são determinantes
para a ocorrência de baixos lucros, (ou mesmo prejuízos) e funcionam como limitantes do
acesso de tais produtores às políticas públicas.
Dado o cenário existente, a implementação de um modelo de otimização que considere
como variáveis às atividades de identificação de nichos produtores (clusters), a logística de
coleta, de transporte e da distribuição do leite e de seus derivados, contribuirá fortemente para
a melhoria do desempenho do setor na participação, por exemplo, no processo de compras
governamentais.
2. METODOLOGIA
A metodologia aplicada no desenvolvimento da pesquisa consistiu no estudo
sistemático do problema de roteamento de veículos, mais particularmente, do caso do Problema
do Caixeiro Viajante com Coleta de Prêmios (PCVCP), bem como, de métodos de resolução
para tal problema, os quais foram eles: Modelagem matemática e resolução de método exato
utilizando ILO IMB Cplex e Implementação e teste com a Metaheurísticas GRASP (LIMA
JÚNIO, et al 2009).
Os métodos implementados foram aplicados ao problema de coleta e distribuição de
produtos da agricultura familiar, com um estudo de caso focado na coleta de leite de produtores
da região do Território Sertão do Apodi, no Rio Grande do Norte.
A metodologia aplicada na resolução do problema teve como foco as seguintes
suposições:
▪ O uso de informações empíricas para o resolver problema alvo do projeto deixa a
desejar e pode comprometer a atividade fim, em termos de custos e depreciação da
qualidade do produto.
▪ O uso dos resultados obtidos no processo de roteamento tem potencial para auxiliar
no processo de decisão, otimizando os aspectos relativos ao custo e riscos
existentes.
3. RESULTADOS
Os resultados computacionais foram executados com dois tipos de instância: fictícias
e reais. As instâncias fictícias utilizadas foram as presentes no trabalho de Chaves, (2003), e no

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 462
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

trabalho de Oliveira, (2018), em todas as instâncias foi utilizado o prêmio mínimo de 75% do
total. As Tabelas 1 e 2 apresentam os resultados obtidos.
Tabela 1.: Resultados obtidos pelas instâncias de Chaves, (2003).

Tabela 2: Resultados obtidos pelas instâncias de Oliveira, (2018).

As instancias reais para PCVCP foram criadas com base em dados reais do Terrítóro
Sertão do Apodi, onde cada cidade da região é um vértice do grafo e a distância entre elas foi
feita com base no Google Maps, o prêmio de cada vértice é a produção média da cidade e a
penalidade é a média da distância de uma cidade para todas as outras dividido pelo número de
cidades. Os gráficos da Figura 1. apresentam as informações do valor das funções objetivo e
dos tempos de execução para as instancias reais.
Figura1. Resultados computacionais das instancias reais.

Valor da Função Objetivo Tempo de Execução

4. DISCUSSÃO:

As discussões inerentes ao trabalho realizado nesta pesquisa têm o foco em torno dos
seguintes assertivas:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 463
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

▪ A logística de distribuição de produtos da agricultura familiar é consistente com um


caso particular de roteamento de veículos, especificamente com o problema do caixeiro
viajante com coleta de prêmios - PCVCP.
▪ O uso de métodos exatos (modelo matemático) apresenta limitações de tempo de
computação para o problema.
▪ A metaheurística GRASP superou a dificuldade relativa ao tempo de computação
(complexidade do problema) e apresentou resultados bastante competitivos com o
método exato.
5. CONCLUSÕES
Tendo como base as discussões motivadas pelos resultados de pesquisa obtidos pode-
se chegar as seguintes conclusões:
▪ No RN a maioria dos produtores de leite possui estrutura fundiária limitada e os recursos
tecnológicos empregados são tradicionais e de baixo custo, sem inovações capazes de
agregar maiores rendimentos à produção.
▪ Apesar das dificuldades com: a organização coletiva, os serviços de assistência técnica, a
falta de crédito e a seca, o volume de leite produzido é expressivo e a produtividade das
matrizes supera a média do Nordeste.
▪ O resultado da pesquisa pode contribuir expressivamente com a otimização de coleta e
distribuição de leite no contexto real do problema.
▪ Os resultados (algoritmos e métodos) podem ser facilmente adaptados para outros
contextos, tanto na variação do contexto geográfico, quanto para mudanças de produto.
6. AGRADECIMENTOS
A equipe de pesquisa deste trabalho agradece ao CNPq pela concessão de bolsa de
iniciação científica e à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pela Infraestrutura
disponibilizada.
REFERÊNCIAS.
CHAVES, Antônio Augusto et al. Modelagens exata e heurística para resolução do problema
do caixeiro viajante com coleta de prêmios. Relatório Técnico–DECOM, Universidade
Federal de Ouro Preto, Ouro Preto. 2003.
GURGEL, L. A.; NUNES, E. M. A dinâmica socioeconômica da pecuária do Rio Grande do
Norte: análise da cadeia produtiva do leite do território da cidadania sertão do Apodi.
Revista. Economia. NE, Fortaleza, v. 50, n. 2, p. 59-76, abr./jun., 2019.
LIMA JÚNIOR, Francisco Chagas de. Algoritmo Q-learning como estratégia de exploração
e/ou explotação para metaheurísticas GRASP e algoritmo genético. 2009.
OLIVEIRA, Manuel Joaquim da Silva et al. Optimização de circuitos de recolha de lixos
domésticos em zonas urbanas. 2008.
XIMENES, L. J. F. Bovinocultura leiteira no Nordeste: uso racional dos fatores de produção
para maiores lucratividade e rentabilidade. Escritório Técnico de Estudos Econômico do
Nordeste – Etene. Banco do Nordeste, 2014.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 464
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PREDIÇÃO DE SÉRIES TEMPORAIS UTILIZANDO REDES NEURAIS

Autores: Marcos Fonseca, Sandino Jardim e Harold Angulo


Palavras-chave: aprendizado de máquina, redes neurais, séries
temporais

Introdução
A análise da carga de tráfego da rede exerce um papel crucial na
provisão de serviços de Internet. Redes corporativas de alta
velocidade que desejem prover serviços integrados de voz, vídeo
e dados, por exemplo, necessitam de um bom mecanismo de controle
de congestionamento para garantir que haja vazão de dados
suficiente para que cada um destes serviços opere numa qualidade
desejada. Nesse sentido, a predição da carga de tráfego sobre a
rede pode auxiliar tais mecanismos de maneira a antecipar
decisões de gerenciamento de recursos que se tomadas sob demanda
poderiam denegrir os serviços em utilização.
À medida em que foi avançando a utilização de aprendizado de
máquina sobre diversas áreas da computação, esta ferramenta
passou também a ser aproveitada no campo das redes de
computadores e na predição de tráfego de rede. Modelos baseados
em redes neurais têm sido bastante utilizados nesse sentido a
fim de encontrar padrões complexos em dados de tráfego e assim
antecipar seu comportamento.
Esse projeto avaliou diferentes modelos de redes neurais
orientados para predição de tráfego de Internet a partir de uma
base de dados que capturou o tráfego em um ISP urbano, a fim de
verificar a eficácia de cada um deles em prever com maior
precisão e rapidez. O estudo foi feito com o objetivo de poder
apontar o modelo que pudesse prover a melhor predição com o menor
tempo para ser utilizado em um projeto de doutorado vinculado à
UFRN que pretende avaliar o impacto da antecipação do tráfego
sobre o consumo de energia de servidores dedicados à provisão de
serviços de Internet.

Metodologia
Esta seção descreverá como foram conduzidos os experimentos
realizados para avaliação dos algoritmos de DL, aproveitando
para apresentar tanto os algoritmos avaliados quanto a base de
dados de tráfego utilizada.

Conjunto de dados de tráfego utilizado


Os dados de tráfego utilizados foram extraídos de uma captura
realizada durante 57 meses (de julho de 2013 até março de 2018)
em um ponto de presença de um ISP na Itália, como parte de um
trabalho realizado pelos autores do trabalho publicado em [1].
Apenas o tráfego HTTP foi capturado, isto é, apenas as
requisições dos clientes do ISP a uma categoria específica de
páginas da web.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 465
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Preparação dos dados


De posse desta série temporal, dividimos os dados em janelas de
tempo de cinco minutos, usando o intervalo médio como valor
estatístico representativo de cada janela, isto é, a média entre
a base e o pico de requisições por segundo de cada janela.
Convencionamos que cada requisição representaria uma carga de
dados de 1 Megabit, a fim de representar a série temporal na
forma da variação de bits pelo tempo. Desta forma, o gráfico
representativo para janelas de cinco minutos está ilustrado na
Figura 1.

Figura 1 – Série de dados convertida para vazão por janelas de cinco


minutos
Modelos de Redes Neurais Utilizados nos Experimentos
Redes neurais para predição de séries temporais são muito úteis,
pois são capazes de aproximar uma função de mapeamento de
variáveis de entrada em variáveis de saída, sendo robustas à
ruído, conseguindo aprender e prever mesmo lidando com dados com
valores faltantes, além de poderem lidar com entradas e saídas
multivariadas [3]. Por estas razões, optamos por selecionar
modelos baseados em redes neurais para nossos testes, descritas
a seguir.
Multi-layer Perceptron
Trata-se de uma rede neural semelhante as redes neurais do tipo
perceptron. Perceptrons são um tipo de rede neural artificial
inventada em 1958 por Frank Rosenblatt, que atuam como um modelo
simples de neurônio na forma de um classificador binário.
Long Short-term Memory (LSTM)
Durante o processo de treinamento de uma rede neural, pode
acontecer de que entre as iterações haja estagnação ou
extrapolação dos valores de aprendizado da função. Arquiteturas
LSTM conseguem memorizar o estado das células de maneira a
recuperar saídas anteriores para manter a evolução do
aprendizado.
Stacked LSTM
Múltiplas camadas LSTM ocultas podem ser empilhadas uma sobre a
outra a fim de aumentar a profundidade do aprendizado e adicionar

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 466
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mais níveis de abstração. Uma camada LSTM requer uma entrada


tridimensional e produzem saídas bidimensionais.
Convolutional Neural Network – LSTM
Uma rede neural convolucionária (CNN) é um tipo de rede neural
desenvolvida para trabalhar com conjuntos de imagens
bidimensionais. Podem ser muito efetivas na extração e
aprendizado de características de sequências de dados
unidimensionais, como é o caso de séries de dados temporais.
Implementação
Todas as implementações foram executadas em ambiente Python. As
redes neurais foram implementadas usando a biblioteca Python
Keras [4] que executa sobre a biblioteca de código aberto
TensorFlow [5]. Todos os experimentos foram conduzidos
executados numa máquina virtual VMWare com Sistema Operacional
Ubuntu 18.04 LTS com 64GB de memória RAM e processador Intel
Xeon E5 2.0 GHz de 20 núcleos.
O conjunto de dados foi normalizado dentro do intervalo [0,1] e
possui um total de 208437 amostras. Destas, decidimos selecionar
a metade (104218 amostras) para teste e a outra metade para
validação.

Resultados e Discussões
Nesta seção será provido um resumo dos resultados obtidos nos
experimentos de predição de tráfego através de gráficos. O
gráfico a seguir ilustra as predições obtidas de dois dos modelos
para um período de sete dias.

a) MLP (b) LSTM


Figura 2 – Predição de uma semana para cada um dos modelos avaliados
A partir da Figura 2, observa-se que todos os modelos foram
capazes de capturar as ondulações na demanda ao longo do tempo,
apesar de não terem sido tão precisos com relação à amplitude.
A fim de avaliar a precisão na predição dos modelos, foram
extraídas três métricas: erro médio absoluto (Mean Absolute
Error, MSE); erro mediano absoluto (Median Absolute Error, MedAE
e; erro quadrático médio (Mean Squared Error, MSE).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 467
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(a) MAE (b) MedAE (c) MSE


Figura 3 – Métricas de precisão utilizadas
Com base na Figura 3 podemos perceber que os modelos acabaram
apresentando resultados parecidos, muito próximos um do outro
(por volta de 2.5x10-3 de erro médio; 2.0x10-3 de erro mediano e
1.0x10-3 de erro quadrático). Portanto, consideramos que em
termos de precisão, os modelos de certa forma acabaram se
equivalendo. Nesse sentido, a escolha entre eles passou a ser
guiada pela velocidade com que estes poderiam oferecer uma
predição, recordando sua futura utilidade em um sistema de tempo
real.

(a) Tempo de treinamento (b) Tempo médio de


predição
Figura 4 – Medição de tempo de treinamento e de predição
A Figura 4 mostra que o modelo MLP apresentou tanto o menor tempo
de treinamento (pouco mais de 50 segundos) como o menor tempo
para obter uma predição uma vez treinado. Os resultados também
demonstraram que a adição de mais uma camada deixa o modelo
Stacked com quase o dobro de tempo de treinamento, apesar de,
dentro da pouca variação na precisão entre os modelos, ter sido
o de melhor resultado.
Conclusões
Este projeto avaliou quatro diferentes modelos de redes neurais
para predição de uma série temporal representando variação de
tráfego de Internet ao longo do tempo. Os resultados demonstraram
que os modelos se equivalem em termos de precisão na predição,
mas o modelo MLP se sobressai em termos de velocidade de
treinamento e predição, se candidatando como o mais promissor
para ser utilizado num sistema de tempo real alimentado por
predição.
Referências
[1] A. Morichetta, M. Trevisan, and L. Vassio, “Characterizing
Web Pornography Consumption from Passive Measurements,”

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 468
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Lect. Notes Comput. Sci., vol. 11419 LNCS, pp. 304–316,


2019.
[2] Cisco Systems Inc., “Cisco ASA 5500 Series Adaptive
Security Appliances for the Internet Edge,” pp. 1–13,
2012.
[3] J. Brownlee, Deep Learning for Time Series Forecasting -
Predict the Future with MLPs, CNNs and LSTMs in Python.
2018.
[4] F. Chollet and others, “Keras.” GitHub, 2015.
[5] Martin Abadi Ashish Agarwal and X. Zheng., “{TensorFlow}:
Large-Scale Machine Learning on Heterogeneous Systems.”
2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 469
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Preparação e caracterização microestrutural e magnética de MnFe2O4


obtido a partir de minerais
Antonio Aldivan Dantas Melo1, Fernanda Costa de Medeiros 2; João Maria Soares3
Palavras-chave: Ferrita de manganês. Magnetita. Hematita. Reação do estado sólido.

Introdução
As ferrita de manganês (MnFe2O4) é de grande interesse na ciência fundamental,
especialmente para entender a relação entre propriedades magnéticas e sua estrutura
cristalina e química [1,2]. MnFe2O4 é amplamente utilizada em dispositivos de
microondas, radares, registro digital, ferrofluidos, catálise, adsorção e sistemas de
refrigeração magnética [3-9]. Pós de MnFe2O4 foram produzidos pelo método de reação
em estado sólido. Os materiais de partida utilizados nesta preparação foram os minerais
manganês (Mn) e ferro (Fe) extraídos de minas no estado do Rio Grande do Norte.
Este trabalho é uma continuidade de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida
desde o ano de 2017, onde já se obteve resultados satisfatórios com a metodologia
utilizada, em números foram produzidas ferritas de manganês com teor de pureza de
85%. Mostrando-se a viabilidade da produção da ferrita de manganês diretamente dos
minerais Fe e Mn, sem o uso de reagentes químicos de alta pureza. Isso pode permitir
sua produção com baixo custo em grande escala para uso comercial.

Metodologia
Os minerais precursores usados neste trabalho foram todos extraídos de depósitos
minerários do estado do RN. Minérios contendo óxidos de ferro (magnetita e hematita)
e de manganês (pirolusita) foram a matéria-prima para a produção da ferrita.
Inicialmente, foi feito a moagem separadamente dos minerais no moinho planetário com
a finalidade de obter pós para iniciar o processo de síntese. Feito isso, utilizamos a
espectroscopia de fluorescência de raios-X para analisar a porcentagem dos elementos
químicos contidos em cada minério in natura. A purificação do ferro e manganês foi
realizado pelo processo de imantação e levigação respectivamente, onde a relação da
porcentagem elementar de cada minério antes e após tratamento pode ser observada na
Tabela 01. A estequiometria foi elaborada de tal forma que sua razão foi definida como
1Mn:2.8Fe. Os pós dos minerais precursores foram pesados estequiometricamente,
misturados diretamente e calcinados em uma faixa de temperatura de 1100°C durante
10 horas, em atmosfera ambiente. A amostra do material foi macerado, pesada e
estudadas após o tratamento térmico. A separação magnética do material foi feito
através da dispersão em água, o uso de sonicador e imã. Após a secagem, ultilizou-se do
difratometria de raios-X para comprovar a formação da fase cristalina de MnFe2O4 com
simetria cúbica. A caracterização magnética dos pós foi feito com a utilização do
magnetômetro de amostra vibrante.

1
Estudante do Curso de Licenciatura em Física do Departamento de Física da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: divan10.dantas@gmail.com
2
Estudante do Curso de Licenciatura em Física do Departamento de Física da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: Fernanda-medeiros09@hotmail.com

3
Professor do Departamento de Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
joaomsooares@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 470
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Minério de Ferro Minério de Manganês


Elem. Natural Purif. Elem. Natural Purif.
Fe 66,4% 99,48% Mn 37,90% 49,93%
Al 32,4% Si 35,95% 30,47%
Mn 0,38% Al 17,81% 3,91%
Si 0,35% Ba 5,99% 9,85%
Tabela 01: Resultados de EFRX para minérios ferro e manganês.

Resultados e Discussão
Resultados de DRX dos pós obtidos usando o método de reação do estado
sólido, sem o uso de aditivos químicos de alta pureza, apresentaram um aumento
progressivo do teor da fase cristalina de MnFe2O4 de acordo com uma relação pré-
estabelecida do tempo com a temperatura (ver Figura 01). Foi observado que a
calcinação feita na temperatura de 1100°C por 1 hora, já se obteve um pó com 77% da
ferrita de manganês, amostra MNO_A. Fixando essa temperatura e aumentando o tempo
de calcinação, o percentual de MnFe2O4 cresce gradativamente. O melhor resultado
obtido foi alcançado para a amostra MNO_D, quando tivemos um teor com 86,9% da
ferrita de manganês. Como exemplo, destacamos os parâmetros obtidos para a amostra
MNO_B em que o refinamento confirma a formação da fase cristalina de MnFe2O4 com
simetria cúbica, grupo espacial Fd-3m:1 e parâmetro de rede a = 8,5068 Å. Além disso,
existe também a presença de outras fases secundárias como: SiO2 (Trigonal, P3121),
MnO2 (Ortorrômbica, Pbnm:cab) e Fe2O3 (Trigonal, R-3c:H). O tamanho médio dos
cristalitos (Dm) da ferrita de manganês aumentam com o tempo e temperatura de
calcinação das amostras, variando de Dm = 84 a 133 nm.

Figura 01: (a) Padrões de DRX da ferrita de manganês produzidos em diferentes temperaturas.
Abreviatura usada para identificação dos índices de Miller: MNO (MnFe2O4), Q (SiO2), FO
(Fe2O3) e MO (MnO2).

A Figura 02 mostra os ciclos de histerese magnéticos, à temperatura ambiente,


obtidos usando um magnetômetro de amostra vibrante. A magnetização de saturação,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 471
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MS, para todas as amostras foi alcançada em um campo magnético baixo, em torno de 4
kOe. O valor de MS aumenta com o percentual da fase magnética de MnFe2O4, como
mostrado no inserte superior da Figura 02. O maior valor de Ms = 47 emu/g foi obtido
na amostra MNO_D que possui 86,9% de MnFe2O4. Podemos atribuir que o ganho no
valor de Ms deve-se basicamente ao aumento no percentual da ferrita de manganês, uma
vez que as fases secundárias presentes nas amostras não contribuem para essa
comportamento magnético, à temperatura ambiente. Além disso, os valores de Dm
nessas amostras são maiores que o diâmetro de crítico de monodomínio para ferrita
spinel (~70 nm). Portanto, as nanopartículas que compõem a fase de MnFe2O4 estão no
regime de multidomínio magnético. As amostras produzidas de MnFe2O4 são
magneticamente macias, onde consequentemente obteve-se pequenos campos
coercitivos, HC = 30-48 Oe. O inserte inferior da Figura 2 mostra que o valor de Hc
diminui com a aumento de Dm. Esse é esperado quando estamos no regime de
multidomínio, onde as mudanças magnéticas são devidas ao movimento de parede
domínio. Neste regime Hc pode diminuir com o aumento de Dm.

Figura 02:(a) Medições magnéticas à temperatura ambiente de amostras de MnFe2O4. (b) Ms e


Hc versus Dm.

Conclusões
A partir dos resultados apresentados, a síntese obtida pelo método de reação em
estado sólido, utilizando diretamente os minerais do estado do RN, de modo que não foi
adicionado em seu processo nenhum tipo de aditivo químico, comprova ser um processo
favorável no quesito custo benefício para a obtenção de pós da ferrita de manganês. Esta
rota de síntese é razoavelmente rápida, simples e de baixo custo. Difratogramas de
raios-X confirmam a formação da fase cristalina de MnFe2O4 com simetria cúbica,
grupo espacial Fd-3m:1 e parâmetro de rede a = 8,49 Å. O tamanho médio de cristalito
aumentou com o tempo de calcinação das amostras. O percentual da fase cristalina de
MnFe2O4 das amostras de variou de 77 a 86%. Medidas magnéticas, à temperatura

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 472
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ambiente, mostram que as amostras saturam em campo magnético baixo, H = 4 kOe. Os


valores de MS obtidos para amostras variaram de 35-50 emu/g, além disso, mostraram
um comportamento ferrimagnético mole com valores HC ~ 30 Oe. O método de síntese
não requer o uso de reagentes químicos, o que permite sua produção em larga escala
para uso comercial.

Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq pelo apoio financeiro e ao Centro de Síntese e Análise de
Materiais Avançados (CSAMA) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN) pelo apoio estrutural.

Referências
[1] M.A. Willard, Y. Nakamura, D.E. Laughlin, M.E. McHenry, Magnetic
properties of ordered and disordered spinel-phase ferrimagnets, J. Am.
Ceram. Soc. 82 (1999) 3342–3346.
[2] Y.M.Z. Ahmed, Synthesis of manganese ferrite from non-standard raw
materials using ceramic technique, Ceram. Int. 36 (2010) 969–977.
[3] M. Pardavi-Horvath, Microwave applications of soft ferrites, J. Magn. Magn.
Mater. 215 (2002) 171–183.
[4] L. Zhuang, W. Zhang, Y.X. Zhao, D. Li, W.P. Wu, H. Shen, Temperature
sensitive ferrofluid composed of Mn1−xZnxFe2O4 nanoparticles prepared by a
modified hydrothermal process, Powder Technol. 217 (2012) 46– 49.
[5] J.H. Huang, Z.Q. Tong, Y. Huang. J.F. Zhang, Selective catalytic reduction of NO
with NH3 at low temperatures over iron and manganese oxides supported on
mesoporous sílica, Apll. Catal. B Environ. 78(2008)309-314.
[6] S.B. Han, T.B. Kang, O.S. Joo, K.D. Jung,Water splitting for hydrogen
production with ferrites, Sol. Energy 81 (2007) 623–628.
[7] C. Alvani, G. Ennas, A. La Barbera, G. Marongiu, F. Padella, F. Varsano,
Synthesis and characterization of nanocrystalline MnFe2O4: advances in
thermochemical water splitting, Int. J. Hydrog. Energy 30 (2005) 1407– 1411.
[8] H. Kaneko, N. Gokon, N. Hasegawa, Y. Tamaura, Solar thermochemical
process for hydrogen production using ferrites, Energy 30 (2005) 2171–2178.
[9] R.R. Bhosale, R.V. Shende, J.A. Puszynski, Thermochemical water-splitting
for H2generation using sol-gel derived Mn-ferrite in a packed bed reactor, Int. J.
Hydrog. Energy 37 (2012) 2924–2934.
[10] A. E. Berkowitz and W. J. Schuele, J. Appl. Phys., 30 (1959), pp. 134S–135S]

[11] Cullity, B. D., & Graham, C. D. (2011). Introduction to magnetic materials. John
Wiley & Sons.]

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 473
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Usando Minerais
Sandro Elierton de Oliveira Duarte1; Carlos Henrique Nascimento Cordeiro2; João Maria
Soares3
Palavras-chave: Hexaferita tipo M; Minerais; Barita; Celestital; Hematita; Magnetita.

Introdução

O presente estudo se refere ao desenvolvimento de um método para a síntese de


hexaferritas de bário (BaFe12O19) para uso na produção de ímãs permanentes e várias outras
aplicações. A natureza inovadora deste trabalho é a utilização de minerais oriundos do Estado
do Rio Grande do Norte (RN) como precursores para a produção destas hexaferritas. Os
minerais utilizados no processo de sintese foram: barita (BaSO4), hematita (Fe2O3) e
magnetita (Fe3O4). A hexaferrita de bário é um material magnético muito importante na
indústria tecnológica. Sua aplicação vai desde a fabricação de ímãs permanentes de baixo
custo até em componentes para aplicações de alta complexidade.

Metodologia
De posse dos minerais, iniciou-se uma seleção prévia de acordo com a coloração e
morfologia da rocha, em seguida transformamos estes minerais em pedaços menores e
selecionados, onde então passamos a realizar uma identificação elementar do material através
de Espectroscopia de Fluorescência de raios-X por Energia Dispersiva (EDXRF). De acordo
com os elementos identificados nas amostras, por catação, separamos aqueles que obtiveram
maior percentual em massa dos elementos desejados e passamos então para a maceração
manual do material selecionado. Com o material macerado repetimos a análise de EDXRF,
onde identificamos a presença de alguns elementos não pertencentes às fases dos materiais de
interesse, com isso, entramos então para a etapa de purificação.
As purificações dos minerais dependem de algumas propriedades físicas dos mesmos,
por exemplo, para purificarmos o ferro usamos a propriedade magnética da magnetita, já que
as fases não dessejadas não eram magnéticas. O processo consiste em fazer o material
macerado, na forma de suspensão a base de água, passar por uma região de campo magnético
intenso (ímã de NdFeB), deste modo as partículas com propriedades magnéticas, que é o caso
da magnetita seriam atraídas e se mantiriam retidas neste campo. Dessa forma as fases não
magnéticas passarão sem serem atraídas por esta região de campo magnético, sendo
encaminhadas para o descarte. Esse procedimento foi repetido várias vezes, em seguida
fizemos novamente a análise de fluorescencia de raios-X, em termos de metais, mostrou um
teor de ferro próximo a 100 %.

1
Discente do Curso de Física da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais- FANAT, Departamento de Física, Campus
Central, UERN. E-mail: elierton3@hotmail.com
2
Mestrando do Programa de Pós-Graduação de Física da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais- FANAT, Departamento
de Física, Campus Central, UERN. E-mail: henriquesax519@gmail.com
3
Doutor em Física, docente do Departamento de Física da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais - FANAT, Campus
Central, UERN. E-mail: joaomsoares@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 474
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O mesmo raciocínio foi ultilizado para purificarmos a barita, na qual se apresentou


muito heterogênea em relação às fases que a formava, tendo uma presença muito signicativa
de sílica nas amostras recolhidas. Vimos que a diferença de densidade da barita e da sílica é
muito grande, por isso decidimos usar o método de levigação que consiste na separação por
diferença de densidade, o qual foi facilitado pela alta densidade do bário em relação a do
silício. Com esse método passamos de uma concentração de barita em torno de 50 % para 80
%, com a impureza residual sendo identificada como quartzo (SiO2).

As amostras foram peneiradas em malha de 200 mesh (abertura 0,074 mm) e em


seguida misturadas em conformidade com estequiometria (1,00g Fe – 0,35g Ba) necessária
pra aquisição da hexaferrita de bário, logo após, encaminhamos as amostras para o forno na
qual fixamos a temperatura e variamos o tempo de calcinação. Depois de todos os ensaios, foi
verificado que os parâmetros mais adequados para formação da hexaferrita de bário, eram a
calcinação a 1200°C durante 720 minutos, que pode ser verificado na Figura 1.

Figura 1: Gráfico da temperatura contra o tempo de calcinação.

Depois de calcinado e já com a fase obtida, fizemos outro processo para melhorar as
propriedades magnéticas do material, o mesmo consiste em uma moagem e uma recalcinação.
Na moagem foi utilizado os seguintes parâmetros: velocidade de rotação de 400 rpm, inversão
da rotação a cada 5s e uma força de moagem de aproximadamente 40 gramas de esfera para 1
grama de amostra. Os parâmetros para a recalcinação foram os seguintes: 1000 °C por 240
minutos. Inicialmente fixamos a temperatura de calcinação e variamos os tempos de moagem
em intervalos de 30 minutos, em seguida fizemos o processo inverso, fixamos o tempo de
moagem e variamos a temperatura de calcinação em intervalos de 100 °C. Os resultados
obtidos foram satisfatórios e estavam de acordo com o que estava reportado na literatura.

Resultados e Discussão

O material foi caracterizado através do refinamento Rietveld a partir dos dados da


difração de raios-X pelo programa Maud. A análise de DRX e refinamento Rietveld
confirmaram a formação da fase cristalina BaFe12O19 cujo grupo espacial é P63/mmc. As
partículas de BaFe12O19 tiveram tamanho médio estimado de aproximadamente 250 nm para
primeira calcinação e 100 nm para a recalcinação, nas medidas de magnetização obtivemos
para a primeira calcinação um campo coercivo de 0,57 kOe, uma remanência de 14,77 emu/g
e uma magnetização de saturação de 57,02 emu/g. Já na recalcinação obtivemos um campo
coersivo de 4,28 kOe, uma remanência de 26,15 emu/g e uma magnetização de saturação
entorno de 46,80 emu/g. O difratograma de raios-X da amostra referente a primeira

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 475
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

calcinação é mostrado na Figura 2(a) e em seguida a Figura 2(b) que mostra o difratograma de
raios-X da amostra calcinada novamente. Dos resultados podemos observar claramente a
formação da fase cristalina da Hexaferrita de Bário. Acreditamos que a grande diferença entre
os resultados obtidos na calcinação e na recalcinação seja devido a distribuição dos tamanhos
dos grãos nas amostras, quando moemos a amostra e em seguida recalcinamos,
homgenizamos o tamanho dos graõs.

Figura 2(a): Difratograma de raios–X da BaFe12O19 referente Figura 2(b): Difratograma de raios–X da BaFe12O19
a primeira calcinação em 1200°C por 720 min. referente a recalcinação em 1000°C por 240 min.
Nas Figuras 3(a) e 3(b) são mostradas as curvas de magnetização MxH para as duas
amostras, calcinada a 1200°C por 720 minutos e recalcinada a 1000°C por 240 minutos,
respetivamente. Tal resultado vem a corroborar com as medidas de difração de raios-X, onde
observamos a duas fases, uma correspondente ao BaFe12O19 e a outra fase corresponde Fe2O3.
Os resultados de MxH mostram um aumento 7,5X nos valores de Hc, em relação as duas
amostras preparadas. Este ganho em Hc pode ser atribuído a uma maior homogeneização nos
tamanhos das partículas de BeFe12O19 dentro da região de monodomínio magnético. Além
disso, a razão Mr/Ms = 0,56 confirma a previsão do modelo Stoner-Wohlfarth (Mr/Ms=0,5)
para um sistema de partículas monodomínio isotrópico.

Figura 3(a) Curvas de histerese da BaFe12O19 Figura 3(a) Curva de histerese da BaFe12O19 moída
calcinada a 1200°C por 720 min. por 180 min. e recalcinada a 1000°C por 240 min.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 476
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusão

As nanopartículas de BaFe12O19 foram obtidas pelo método de reação do estado


sólido, dos resultados de difração de raios-X observamos a presença de hematita (Fe2O3) em
todas as amostras. Observou-se do estudo das curvas de histerese magnética que o aumento da
presença da fase de hematita, coincidia com a diminuição da magnetização nas amostras. Os
resultados de MxH mostraram um aumento de 7,5X na coercividade das amostras de
BaFe12O19 moída e recalcinada. Apesar de ter a fase da hematita, os resultados obtidos no
método utilizado mostrou que o método é ótimo para a produção de hexasferritas de bário a
partir de minerais.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio


Financieiro ao CNPq. Ao Centro de Síntese e Análise de Materiais Avançados (CSAMA-
UERN).

Referências.

SIXTUS, K. J.; KRONENBERG, K. J.; TENZER, R. K. Investigations on barium ferrite


magnets. Journal of Applied Physics, v. 27, p. 1051-1057, set. 1956.

ZHAO, J. et al. Preparation and electromagnetic properties of the BaFe12O19/multiwall carbon


nanotubes/poly(3-methyl-thiophene) composites. Polymer Composites, Wiley Online Library,
v. 34, n. 11, p. 1801-1808, 2013.

NOVAK, P.; RUSZ, J. Exchange interactions in barium hexaferrite. , v. 71, n. 18, p. 184433,
maio 2005.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 477
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PRODUTO ENERGÉTICO EM NANOPARTÍCULAS BI-MAGNÉTICAS


DO TIPO NÚCLEO/CASCA COM GEOMETRIA CILÍNDRICA
Samuel Pedro Gomes¹; Leonardo Linhares Oliveira²
Palavras-chave: Nanomagnetismo. Campo Dipolar. Ímãs permanentes.

Introdução

Nanopartículas magnéticas têm mostrado um elevado potencial tecnológico para aplicações em


nanotecnologia. Tais partículas são caracterizadas pelas dimensões em escala nanométrica,
dando origem ao surgimento de novos padrões magnéticos, causados pelo balanço entre as
energias intrínsecas ao sistema. Desse modo, é de grande interesse o estudo dos estados
magnéticos no equilíbrio e dos mecanismos de reversão da magnetização, que dependem
fortemente das energias de anisotropia e de troca, bem como da interação dipolar. Entre as
diversas possibilidades de aplicações tecnológicas de nanopartículas, destaca-se as do tipo
núcleo/casca, que podem ser utilizadas na produção de ímãs permanentes, uma vez que essa
alternativa se mostra experimentalmente viável, pois podem apresentar características
interessantes, podendo promover um avanço no desenvolvimento na indústria de produção de
ímãs permanentes de alto desempenho [1,2]. Uma das características de maior relevância no
que concerne a imãs de alto desempenho é o produto energético máximo (BH)max. Ele é o
parâmetro que qualifica o material com potencial de ser usado para esta finalidade. Atualmente
os ímãs permanentes que possuem (BH)max mais elevado fazem uso de metais terras-rara. No
entanto, a crescente demanda por uso de ímãs permanentes de alto desempenho levou a um
fenômeno conhecido como “crise das terras raras”, elevando o custo de produção e tornando
inviável o uso destes em larga escala. Na procura pelo aumento do produto energético máximo
e solução da problemática apresentada, as nanopartículas bi-magnética do tipo núcleo/casca
vem sendo alvos de pesquisas acadêmicas e industriais, buscando-se combinar as propriedades
magnéticas e possibilitar a sua viabilidade técnica para a aplicação direta na construção de ímãs
permanentes [3].

Levando em consideração que o nosso sistema consiste de um a partícula com geometria


retangular, de núcleo composto de material ferromagnético duro (ferro-platina) e casca um
material ferromagnético macio (cobalto-ferro), podemos fazer uma descrição qualitativa e
tembém quantitativa do comportamento da magnetização como função das porções de cada
material. Propusemos um modelo teórico, que inclui previsões analíticas constatadas por
simulações numéricas, para investigar o impacto da interação dipolar entre o núcleo e a casca
sobre o produto energético máximo, bem como o padrão de magnetização dos constituintes da
nanopartícula como função do diâmetro do núcleo e como função da espessura da casca.

Estudos anteriores mostraram que nanopartículas cilíndricas com um núcleo ferromagnético


duro e uma casca ferromagnético macio apresentam uma melhora considerável do produto
energético máximo, seja com simetria esférica [4], seja com simetria cilíndrica [5]. Ao longo
do trabalho, exploraremos as análises e correlação entre a otimização do (BH)max e as dimensões
cilíndrica da nanopartícula, tais como o diâmetro do núcleo e espessura da casca; analisaremos
como um material com magnetização de saturação mais elevado pode impactar na otimização
do (BH)max; investigaremos o efeito do parâmetro de rigidez de troca sobre o (BH)max, bem
¹ Estudante do Curso de Ciência e Tecnologia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: samuelpedro@alu.uern.br
² Professor do Departamento de Ciência e Tecnologia da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte Participante do Grupo de Magnetismo; e-mail: leonardolinhares88@yahoo.com.br;
leonardolinhares@uern.br
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 478
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

como as fases magnéticas apresentadas pela nanopartícula, uma vez que o campo dipolar pode
afetar mais intensamente materiais que apresentam rigidez de troca de menor intensidade.

Metodologia

Consideramos as nanopartículas com estrutura do tipo núcleo/casca dispostas em geometria


cilíndrica, onde o sistema apresenta dimensões nanométricas. A descrição da nanopartícula
considerando cada íon que a constitui é inviável computacionalmente, pois envolve um número
relativamente grande de variáveis acopladas magneticamente. Para contornar essa limitação,
faremos uso da teoria micromagnética na descrição das energias magnéticas envolvidas e as
nanoestruturas serão subdivididas em pequenos cubos, denominados de células de simulação,
em que cada uma representa uma pequena porção da nanoestrutura. Atualmente, existe um
serviço disponível na página NIST (http://math.nist.gov/ oommf/) que permite o acesso a um
algoritmo utilizado na descrição de sistemas magnéticos nanoestruturados. Por se tratar de
software com código fechado, optaremos por desenvolver rotinas numéricas, de modo que a
garantir total controle de elementos de interesse, tanto nos sistemas atuais quanto em projetos
futuros, como por exemplo, o padrão geométrico, a interação dipolar entre nanopartículas e a
descrição topológica de interfaces. A descrição das fases magnéticas de equilíbrio é feita em
termos dos momentos magnéticos das células de simulação. A partir da densidade de energia
calcula-se os campos efetivos sobre cada momento magnético e então é feita uma busca pela
configuração magnética de equilíbrio. Tal configuração é obtida quando o torque sobre todos
os momentos magnéticos é nulo. A curva de magnetização é obtida inicializando o cálculo em
situações que são facilmente identificáveis, como a saturação da magnetização em campos
magnéticos intensos. Para um dado valor de campo magnético externo, a configuração de
equilíbrio é obtida levando em consideração a configuração dos momentos magnéticos no
estágio do campo magnético anterior A metodologia utilizada na descrição dos modelos
teóricos dos nossos programas pode ser encontrada nas referências [6,7,8,9] para sistemas
ferromagnéticos onde considera-se a interação dipolar de longo alcance.

Resultados e discussões
Para a realização das simulações, consideramos uma nanopartícula bimagnética do tipo
núcleo@casca com geometria cilíndrica, composta por um núcleo magneticamente macio - Fe
(Ferro) e uma casca magneticamente dura - FePt (Ferro-Platina). A nanoestrutura é descrita em
termos das dimensões (diâmetro do núcleo, espessura da casca e altura), bem como os
parâmetros magnético dos materiais. Escolhemos o núcleo cuja base possui dimensões
compreendidas compreendido em uma faixa de 11nm e 15nm, com alturas de 10nm e 15 cascas
com espessuras variando de 1nm até 5nm, por se tratar de dimensões usuais em dispositivos
nanométricos.
Ao longo das simulações, encontramos valores do produto energético máximo para uma
nanopartícula com núcleo de diâmetro de 11 nm como ilustra a Figura I e para uma
nanopartícula com diâmetro de 15nm como ilustra a Figura II. Em ambas as figuras é
apresentado o comportamento do (BH)max em função da espessura da casca, para diferentes
diâmetros. A curva de cor preta da Figura I corresponde a uma nanopartícula com diâmetro de
11 nm e altura de 10 nm, já a curva azul corresponde a um sistema cujo diâmetro é de 15nm e
a altura é de 10 nm. Na Figura II temos o produto energético máximo para nanocilindros com
11 nm (curva preta) e 15 nm (curva azul) de diâmetro, com uma altura de 15 nm. Em cada

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 479
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

figura podemos observar que as curvas com diferentes diâmetros e na faixa de espessura de
casca analisadas, (BH)max é uma função decrescente de δ. Podemos ver ainda que quanto mais
alta for à nanopartícula, maior será o ganho no produto energético.

Figura I: (BH)max para numa Figura II: (BH)max para numa


nanopartícula com diâmetro de 11 nm nanopartícula com diâmetro de 7 nm, com
(curva preta) e de 15 nm (curva azul), com casca de espessura δ, com altura h de 10
casca de espessura δ, com altura h de 10 nm ( preta), h de 15 nm ( vermelho) e h de
nm. 20 nm (azul).

Analisando a Figura I percebe-se que para uma nanopartícula composta de um núcleo de Fe


com uma casca de FePt com espessura de 1 nm o (BH)max apresenta valor de 789.2 kJ/m3, já
uma nanopartícula bimagnética com espessura de casca igual a 1nm e diâmetro de 15 nm o
produto energético é de 773.98 kJ/m3. Embora no estágio inicial a partícula com núcleo de 11
nm de diâmetro produto energético ligeiramente maior, a partícula com núcleo de 15 nm
apresenta valores de produto energético máximo maior em regimes de cascas mais espessas.
Na figura II observa-se um comportamento semelhante. Porém o (BH)max apresenta valores
ligeiramente menores, por exemplo, uma partícula Fe (d = 11 nm)@FePt(δ = 1) x h=10 nm
apresenta (BH)max de 789.2 kJ/m³, já uma partícula Fe (d = 11 nm)@FePt(δ = 1) x h=15 nm o
produto energético é de 788. kJ/m³. Observando as Figuras I e II podemos observar que
partículas cilíndricas constituídas de um núcleo é ferromagnético macio e uma casca é
ferromagnética dura, o produto energético máximo é uma função decrescente da espessura da
casca. Uma partícula Fe (d = 11 nm)@FePt(δ = 1) x h=10 nm apresenta (BH)max de 789.2 kJ/m³
já uma partícula com Fe (d = 11 nm)@FePt(δ = 5) x h=10 nm o produto energético possui valor
igual a 531.9 kJ/m³. Para um diâmetro maior temos Fe (d = 15 nm)@FePt(δ = 1) x h=10 nm
a partícula apresenta (BH)max = 773.98 kJ/m³, ao passo que para uma casca de 5 nm p produto
energético é de 567.6 kJ/m³. Os modelos teóricos propostos em magnetismo o afirmam que
(BH)max é uma função da magnetização média da partícula. Nos sistemas estudados no presente
trabalho o material que apresenta magnetização mais elevada é o que constitui o núcleo. Por
outro lado a casca é constituída de um material com magnetização relativamente mais baixa.
Portanto o fato de aumentar a espessura da casca, estaremos aumentando o percentual

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 480
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

volumétrico da partícula que possui material de baixa magnetização. Dessa forma, a


magnetização média da partícula irá apresentar uma redução se a espessura da casca é
aumentada. O FePt, que é um material utilizado na sintetização de ímãs permanentes de alto
desempenho possui um (BH)max teórico de 406.7 kJ/m³. Porém em sua constituição existe um
metal nobre, a platina, podendo tornar relativamente alto o custo de produção, ou até mesmo
inviável. Com os sistemas analisados, o resultados obtidos apresentam valores interessantes.
Fazendo uso de uma pequena fração de metal nobre, os sistemas analisados apresentaram um
ganho no produto energético teórico de cerca de 91%.
Resultados encontrados indicam que a combinação de dois materiais podem ampliar o produto
o produto energético máximo e que esta é favorecida para nanopartículas com diâmetro de
núcleo pequeno. Nos sistemas analisados a altura da nanopartícula interfere de maneira negativa
no ganho do (BH)max, pois resultados ligeiramente melhor foram obtidos para alturas menores.

Conclusão
Apresentamos a problemática do desenvolvimento de materiais magnéticos para a produção de
ímãs permanentes, que geralmente são constituídos de elementos do tipo terras-rara,
demandando um custo elevado em sua fabricação. O estudo das nanoestruturas do tipo
núcleo@casca visa minimizar essa problemática, de forma a combinar dois elementos com
propriedades magnéticas distintas, buscando melhorar a composição das nanoestruturas
magnéticas e de seu (BH)max. Ao longo do trabalho, observamos que o acoplamento de dois
materiais pode tornar viável a fabricação de nanoestruturas magnéticas com uma composição
que não faz uso de materiais terras-rara, além de ampliar o (BH)max para determinadas
configurações de estruturas. Concluímos que as nanopartículas bimagnéticas do tipo
núcleo@casca com geometria cilíndrica se mostrou uma alternativa viável para a construção de
ímãs permanentes nanoestruturados, pois com essas nanopartículas conseguimos resultados
com um aumento considerável no produto energético máximo.

Agradecimentos
Agradeço à UERN pelo aporte financeiro, à Prof. Ana Lúcia Dantas pelas conversas e
coorientação e aos colegas de turma pelas longas horas de estudo e de descontração.

Referências
1. ZENG, H. et al. Bimagnetic Core/Shell FePt/Fe3O4 Nanoparticles. Nano Letters, v. 4, n. 1,
p. 187 - 190, 2004.
2. NANDWANA, V. et al. Bimagnetic nanoparticles with enhanced exchange coupling and
energy products. Journal of Applied Physics, v. 105, n. 1, 2009.
3. BOURZAC, K. The rare-earth crisis. Technology Review, v. 114, n. 3, p. 58, Junho, 2011
4. OLIVEIRA, L. L.; DANTAS, ANA L. ; PEDROSA, S. S. ; REBOUÇAS, G. O. G. ; DA
SILVA, R. B. ; DE ARAÚJO, J. M. ; CARRIÇO, A. S. . High-energy product core-shell
nanoparticles. PHYSICAL REVIEW B, v. 97, p. 134413, 2018.
5. SOUZA, R. M. ; SANTOS, Y. S. M. ; OLIVEIRA, L. L. ; Nunes, M. S. ; DANTAS, ANA
L. ; CARRIÇO, A. S. . Energy product of cylindrical FePt@CoFe 2 and FePt@Fe nanoparticles.
AIP Advances, v. 9, p. 125131, 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 481
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

6. DANTAS, A. L.; REBOUÇAS, G. O. G.; CARRIÇO, A. S. Depinning field of a periodic


domain wall array in vicinal nanowires. Journal of Applied Physics, v. 105, p. 07C116, 2009.
7. DANTAS, A. L.; CAMLEY, R. E.; CARRIÇO, A. S. Thermal hysteresis of interface biased
ferromagnetic dots. Journal of Applied Physics, v. 75, p. 123907, 2007.
8. OLIVEIRA, L. L. Nanoetruturas magnéticas do tipo núcleo/casca: Um estudo do impacto do
campo dipolar. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. natal, p. 22 - 40. 2016. (CDU
53.084.88-022.533).
9. OLIVEIRA, L. L. et al. Confinement of Magnetic Vortex and Domain Wall in Dipolar-
Coupled Concentric Nanocylinders. IEEE Transactions on magnetics, v. 51, n. 11, November
2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 482
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PROPOSTA DE META-HEURÍSTICAS EVOLUTIVAS HÍBRIDAS


PARA O PROBLEMA DO CORTE BIDIMENSIONAL GUILHOTINADO

Anderson Coelho Goulart¹; Alan Douglas Carvalho Rebouças¹; Dario José Aloise¹.

¹Departamento de Informática - DI - Faculdade de Ciências Exatas e Naturais - FANAT -


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN
andersongoulart@alu.uern.br; alandouglasicapui@hotmail.com; darioaloise@uern.br;

Palavras-chave: Otimização Combinatória. Algoritmo genético. NP-Difícil.

Introdução
Problemas de otimização combinatória visam escolher a “melhor” configuração ou
conjunto de parâmetros para atingir algum objetivo (PAPADIMITRIOU; STEIGLITZ, 1998).
Dentre os vários problemas existentes na indústria com essa característica, chama a atenção os
problemas de corte e empacotamento. Esses tipos de problemas começaram a ser estudados por
(KANTOROVICH, 1939), sendo intensificadas as pesquisas nos anos 60, a partir do trabalho
de (GILMORE; GOMORY, 1961). Desde então, estes problemas vêm sendo estudados
extensivamente na literatura. Para tentar solucioná-los, foram realizados inúmeros estudos de
diferentes áreas focados em investigar e aplicar diversas técnicas e métodos de resolução como:
programação linear, programação dinâmica, programação inteira (Branch-and-Bound),
heurísticas e meta-heurística (GOMES, 2011). A explicação para isto está na importância
econômica e na dificuldade e complexidade para se resolver estes problemas.
Um problema específico presente nos problemas de corte e empacotamento é o
problema de corte bidimensional guilhotinado, o qual é um problema de otimização
combinatória NP-Difícil (CHUNG; GAREY; JOHNSON, 1982). Ou seja, não existe algoritmos
exatos polinomiais para resolvê-lo, a menos que P=NP. O que justifica a busca por algoritmos
heurísticos/meta-heurísticas. Este problema consiste em determinar a melhor maneira de se
produzir peças retangulares, realizando cortes do tipo guilhotina, em placas também
retangulares de tamanhos maiores e padronizadas, em diversos materiais como vidro, papel,
aço, acrílico, entre outros, disponíveis em estoque, evitando ou minimizando o desperdício.
Este trabalho apresenta duas propostas de meta-heurísticas evolutivas híbridas para
solucionar o Problema do Corte Bidimensional Guilhotinado, formada por um algoritmo
genético tradicional (AG) e um algoritmo genético de chaves aleatórias viciadas (BRKGA),
ambos em conjunto com uma heurística de montagem O(mn).

Metodologia
O padrão guilhotinado permite que os itens sejam separados por cortes que se estendem
de uma borda a outra da placa utilizada ou do retângulo anteriormente cortado seguindo uma
ordem predefinida. Esta pesquisa foca em solucionar o caso guilhotinado do problema de corte
e estoque bidimensional, no qual rotações de 90º são permitidas. Foi desenvolvida uma
heurística de montagem O(mn) que segue o que já havia sido feito anteriormente por
Nascimento, Longo e Aloise (1999), mas com uma pequena modificação. Na heurística
desenvolvida anteriormente, é eleito uma ordem de corte, onde os itens a serem cortados são
inseridos nas placas a partir desta ordem. Há, também, a lista de sobras (áreas ou espaços
disponíveis nas placas), onde a cada inserção é removido o espaço ocupado pelo objeto nas
sobras, sendo que até duas novas sobras podem ser inseridas na lista. Existem quatro ou duas
possibilidades de corte, se as rotações forem ou não permitidas, respectivamente. O algoritmo

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 483
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

desenvolvido escolhe uma dessas possibilidades e acrescenta à lista de sobras. Além do mais,
as sobras da placa são fixadas e durante os testes é eleita a possibilidade onde a maior sobra é
a resultante. Isso acaba ocasionando na perda da importância de criar uma ordem de teste dos
objetos, já que o menor objeto sempre será escolhido, gerando a maior sobra. Assim, foi feita a
mudança na heurística original e, no lugar de fixar a sobra e apenas percorrer a lista de itens, o
item que é fixado e todas as sobras existentes são testadas, conforme mostrado na Figura 1.

Figura 1 - Comportamento da heurística de montagem

Baseado em (NASCIMENTO; LONGO; ALOISE, 1999)

Caso o item atual não se encaixe em nenhuma sobra ou a lista de sobras esteja vazia,
uma nova placa é aberta e o algoritmo recomeça a partir desta lista de sobras (Figura 2).

Figura 2 - Inserção de um novo contêiner

Fonte: Baseado em (NASCIMENTO; LONGO; ALOISE, 1999)

Resultados Computacionais
Os algoritmos foram desenvolvidos em C++ e os testes foram executados em uma
máquina equipada com processador Intel Core 2 Quad Q8200 4x2,3GHz, 4GB de memória
RAM DDR3 1066MHz e sistema Kubuntu Linux 14.04 64bits. As instâncias escolhidas foram
obtidas em <http://or.dei.unibo.it/library/two-dimensional-bin-packing-problem>. O conjunto
de instâncias possui 10 classes com 50 instâncias em cada uma. Cada classe é dividida em 5
grupos de 10 instâncias de tamanhos 20, 40, 60, 80 e 100 itens, respectivamente, totalizando
500 instâncias. As seis primeiras classes foram geradas randomicamente utilizando o método

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 484
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

proposto por Berkey e Wang (1987), enquanto as outras quatro foram criadas usando o método
proposto por Martello e Vigo (1998). O comparativo entre os resultados Melhor, Pior, Média,
Desvio Padrão e Tempo para essas instâncias entre o algoritmo genético híbrido (AG-H) e
BRKGA híbrido (BRKGA-H) se encontra na Tabela 1, na próxima seção. A lista completa das
instâncias utilizadas, bem como seus resultados podem ser encontrados no seguinte link:
<https://www.dropbox.com/sh/sugs9go3lzvuqgp/AAAHLgMQIGI1pBmnXZFX4-i3a?dl=0>.

Tabela 1 - Quadro comparativo dos resultados obtidos pelas meta-heurísticas


Desvio Tempo da
Melhor Pior Média
padrão média (s)

AG-H 7196 7282 7245,548 0,032 0,576

BRKGA-H 7140 7190 7169,082 0,035 0,959


Fonte: Rebouças, Alan D. C. PROBLEMA DE CORTE BIDIMENSIONAL GUILHOTINADO NÃO-ESTAGIADO: UMA
ABORDAGEM ATRAVÉS DE META-HEURÍSTICAS EVOLUTIVAS HÍBRIDAS (2020)

O Algoritmo Genético Híbrido mostrou-se relativamente rápido (média de 0,57


segundos) em relação ao BRKGA Híbrido. O AG-H executou por 300 iterações. Seus demais
parâmetros foram uma população de 300 indivíduos, uma população elite de 60 indivíduos e
uma população imigrante (indivíduos novos em cada iteração) de 30 indivíduos. O BRKGA-H,
em relação as configurações, utiliza as mesmas utilizadas no AG-H com a diferença que, neste
caso, há a tendência para o cruzamento característico do BRKGA. A tendência escolhida, a
partir de testes preliminares, foi de 0,7 ou 70% de chances do gene vir do progenitor elite. O
BRKGA-H conseguiu melhorar os resultados do AG-H obtendo uma média de 7169
contêineres, enquanto o Genético obteve 7245 contêineres a média. A Tabela 2 apresenta os
resultados do BRKGA-H em relação ao limite inferior (LB) de Dell´Amico, Martello e Vigo
(1999). A primeira coluna se refere as classes de instâncias. O próximo par de colunas se refere
aos resultados obtidos pelo BRKGA-H. As entradas relatam a proporção média (valor da
solução heurística) / (limite inferior), calculado sobre as dez instâncias geradas.

Tabela 2 - Resultado da Meta-heurística Híbrida BRKGA-H em relação ao limite inferior


(LB) de Dell´Amico, Martello e Vigo (1999)
Classes BRKGA-H/LB Tempo
Classe I 1,04 4,40
Classe II 1,02 5,84
Classe III 1,07 11,37
Classe IV 1,04 10,18
Classe V 1,05 11,70
Classe VI 1,06 12,57
Classe VII 1,11 12,74
Classe VIII 1,11 13,74
Classe IX 1,00 0,17
Classe X 1,06 13,15
Fonte: Rebouças, Alan D. C. Problema de corte bidimensional guilhotinado não-estagiado: uma
abordagem através de meta-heurísticas evolutivas híbridas (2020)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 485
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusão
Este artigo propôs uma estratégia de solução para o Problema de Corte Bidimensional
Guilhotinado através de meta-heurísticas evolutivas híbridas. Para isso, foram utilizadas a meta-
heurísticas Algoritmo Genético e BRKGA em conjunto com uma heurística de montagem
O(mn).
A proposta de solução apresentada mostrou-se promissora em relação ao Problema de
Corte Bidimensional Guilhotinado, na qual a utilização da heurística de montagem associada
às meta-heurísticas evolutivas possui grande potencial para alcançar resultados competitivos
em um bom tempo computacional, como foi apresentado nos resultados dos algoritmos.

Referências
BERKEY, J. O.; WANG, P. Y. Two-dimensional finite bin-packing algorithms. Journal of the
Operational Research Society, Springer, v. 38, n. 5, p. 423–429, 1987.

CHUNG, F. R.; GAREY, M. R.; JOHNSON, D. S. On packing two-dimensional bins. SIAM


Journal on Algebraic Discrete Methods, SIAM, v. 3, n. 1, p. 66–76, 1982.

DELL’AMICO, M., MARTELLO, S. and VIGO, D. An Exact Algorithm for Non-Oriented


Two-Dimensional Bin Packing Problems, in preparation, 1999.

GILMORE, P.; GOMORY, R. A linear programming approach to the cutting stock problem.
Operational Research, v. 9, p. 849–859, 1961.

GOMES, J. A. R. Problema de corte bidimensional: Aplicação a um caso real. Instituto Superior


de Economia e Gestão, 2011.

GONCALVES, J. F.; ALMEIDA, J. R. de. A hybrid genetic algorithm for assembly line
balancing. Journal of Heuristics, Springer, v. 8, n. 6, p. 629–642, 2002.

GONCALVES, J. F.; BEIRÃO, N. Um algoritmo genético baseado em chaves aleatórias para


sequenciamento de operações. Revista Associação Portuguesa de Desenvolvimento e
Investigação Operacional, v. 19, n. 2, p. 123–137, 1999.

KANTOROVICH, L.V. Mathematical methods of organizing and planning production


(tradução de um trabalho em russo datado de 1939). Management Science, v.6, p.366–422,
1939.

MARTELLO, S.; VIGO, D. Exact solution of the two-dimensional finite bin packing problem.
Management Science, INFORMS, v. 44, n. 3, p. 388–399, 1998.

NASCIMENTO, H. do; LONGO, H.; ALOISE, D. Uma Heurística O(mn) para o Corte
Bidimensional Guilhotinado. Anais do XXXI SBPO-Simpósio Brasileiro de Pesquisa
Operacional, p. 1197–1206, 1999.

NORONHA, T. F.; SILVA, M. & ALOISE, J. D. Uma Abordagem sobre Estratégias Meta-
heurísticas. 2005.

PAPADIMITRIOU, C. H.; STEIGLITZ, K. Combinatorial Optimization, Algorithms and


Complexity. Mineola, New York: Dover Publications, Inc., 1998.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 486
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Purificação dos Minerais Precursores usados na Preparação da Ferrita


de Manganês
Antonio Aldivan Dantas Melo1, Fernanda Costa de Medeiros 2; João Maria Soares3
Palavras-chave: Ferrita de manganês. Magnetita. Hematita. Reação do estado sólido.

Introdução
As ferrita de manganês (MnFe2O4) é de grande interesse na ciência fundamental,
especialmente para entender a relação entre propriedades magnéticas e sua estrutura
cristalina e química [1,2]. MnFe2O4 é amplamente utilizada em dispositivos de
microondas, radares, registro digital, ferrofluidos, catálise, adsorção e sistemas de
refrigeração magnética [3-9]. Pós de MnFe2O4 podem ser produzidos pelo método de
reação em estado sólido.
Alguns trabalhos já reportados na literatura descrevem processos de síntese de
ferrita de manganês, a partir de minerais como: hematita (Fe2O3) e pirolusita (MnO2).
Neste trabalho, usamos minérios in natura que foram purificados por processos de
separação magnética ou levigação. Esses minérios foram extraídos de minas no estado
do Rio Grande do Norte. Os minerais in natura e purificados foram analisados usando
espectroscopia de fluorescência de raios-X e difrstometria de raios-X.

Metodologia
Foram usados dois processos para purificação dos minérios de manganês e ferro.
O primeiro processo usado foi a levigação que se baseia na separação granulométrica de
misturas heterogêneas entre sólidos granulares que separa os mesmos pela diferença de
densidade. O segundo processo usado foi à imantação, usado aqui para a purificação do
minério de Fe, que é um método específico utilizado em sistemas no qual pelo menos
uma das fases seja magnética.
O estudo da composição elementar semi-quantitativa dos minerais foi feito
usando espectrômetro de fluorescência de raios-X (EFRX) da Shimadzu, modelo EDX-
7000. A microestrutura e composição das fases cristalinas dos minerais foi realizado um
difratômetro de raios-X da Rigaku, modelo Miniflex II.

Resultados e Discussão
Os minérios contendo óxidos de ferro (magnetita e hematita) e de manganês
(pirolusita) foram purificados para a produção da ferrita de manganês. Inicialmente, foi
feito a moagem separadamente dos minerais precursores num moinho planetário (3
horas) com a finalidade de obter pós para iniciar o processo de síntese. Feito isso,
utilizamos o Espectrômetro de Fluorescência de raios-X (EFRX) para analisar a
porcentagem dos elementos químicos contidos em cada minério in natura. Como

1
Estudante do Curso de Licenciatura em Física do Departamento de Física da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: divan10.dantas@gmail.com
2
Estudante do Curso de Licenciatura em Física do Departamento de Física da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: Fernanda-medeiros09@hotmail.com

3
Professor do Departamento de Física da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
joaomsooares@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 487
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mostrado na Tabela 01, temos 66,4 % de ferro e 37,9 % de manganês nos minerais in
natura. A purificação dos minérios de ferro e manganês foi realizada pelos processos de
imantação e levigação, respectivamente. Para o processo de purificação do minério de
Mn, uma determinada quantidade do material foi macerada manualmente. Em seguida,
foi colocado num Becker com água destilada e misturado manualmente até a formação
de uma mistura homogênea. Feito isso, esperava-se o material mais denso aluir para o
fundo do recipiente por volta de 2 min, em seguida era descartada a água com outros
materiais menos densos. Esse processo foi repetido entre 20 a 25 vezes. Por fim, o
material afundando foi colocado pra secar numa estufa a 100 °C durante 2 h. Após esse
processo de purificação o percentual de manganês aumentou para 49,9 %, ver Tabela
01. Além da composição do elementar do Mn no mineral, também foi feita uma análise
mineralógica usando difração de raios-X. A Figura 1(a) mostra um difratograma de
raios-X do mineral de Mn, após o processo de purificação. Através do refinamento
Rietveld do XRD obtemos o percentual das fases cristalinas que compõem esse mineral:
39,3 % de pirolusita (MnO2), 18,4 % de gravegliaita (MnSO3.3H2O), 38,7 % de
quartzo (SiO2) e 3,6 % de barita (BaSO4). Este compósito mineral foi o material
precursor de Mn usado no processo de síntese da ferrita de manganês deste trabalho.
Minério de Ferro Minério de Manganês
Elem. Natural Purif. Elem. Natural Purif.
Fe 66,4% 99,48% Mn 37,90% 49,93%
Al 32,4% Si 35,95% 30,47%
Mn 0,38% Al 17,81% 3,91%
Si 0,35% Ba 5,99% 9,85%
Tabela 01: Resultados de EFRX para minérios ferro e manganês.

O processo de imantação foi usado para a purificação do minério de Fe, que é um


método específico utilizado em sistemas no qual pelo menos uma das fases seja
magnética [7]. Inicialmente inserimos o pó de minério de ferro em um becker em meio
aquoso e utilizamos um ímã de neodímio para produzir um campo magnético intenso de
aproximadamente 0,5 T. Ao aproximarmos o ímã do becker, as fases magnéticas
presentes no pó de minério de ferro eram atraídas e as não magnéticas ficavam dispersa
na solução. Dessa forma as fases não magnéticas foram encaminhadas para o descarte.
Esse processo foi repetido várias vezes até atingirmos um alto grau de pureza com um
teor de ferro em torno 99,5%, como observado na Tabela 1 usando EDXRF. Para
simplificar a estequiometria e os parâmetros de calcinação durante a síntese,
submetemos o mineral de ferro a um tratamento térmico (800 oC / 2 h), em atmosfera
ambiente. A Figura 1(b) mostra que o tratamento usado foi exitoso para a obtenção de
hematita (Fe2O3) com alta pureza.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 488
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figure 01: Difratogramas de raios-X dos minerais purificados de manganês (a) e ferro (b).
Abreviatura usada para identificação dos índices de Miller: MSO (MnSO3.3H2O), Q (SiO2),
MO (MnO2) e BSO (BaSO4).

Conclusões
A partir dos resultados apresentados, conseguimos mostrar que é possóvel
purificar os minérios de ferro e de manganês usados na síntese da ferrita de manganês.
Com o processo de imantação ou separação mangética, conseguimos elevar o teor de Fe
no minério in natura de 66,4% para 99,5%, após a purificação. Usando um tratamento
de térmico por calcinação de 800 oC / 2 h, transformação todo mineral de ferro
purificado em hematita. Com o processo de levigação, aumentamos o teor de Mn do
mineral in natura de 37,9% para 49,9%, após a purificação. Os resultados de DRX
revelam que as fases cristalinas de Mn que compõem esse mineral, são: pirolusita
(MnO2) e gravegliaita (MnSO3.3H2O).

Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq pelo apoio financeiro e ao Centro de Síntese e Análise de
Materiais Avançados (CSAMA) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN) pelo apoio estrutural.

Referências
[1] M.A. Willard, Y. Nakamura, D.E. Laughlin, M.E. McHenry, Magnetic
properties of ordered and disordered spinel-phase ferrimagnets, J. Am.
Ceram. Soc. 82 (1999) 3342–3346.
[2] Y.M.Z. Ahmed, Synthesis of manganese ferrite from non-standard raw
materials using ceramic technique, Ceram. Int. 36 (2010) 969–977.
[3] M. Pardavi-Horvath, Microwave applications of soft ferrites, J. Magn. Magn.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 489
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Mater. 215 (2002) 171–183.


[4] L. Zhuang, W. Zhang, Y.X. Zhao, D. Li, W.P. Wu, H. Shen, Temperature
sensitive ferrofluid composed of Mn1−xZnxFe2O4 nanoparticles prepared by a
modified hydrothermal process, Powder Technol. 217 (2012) 46– 49.
[5] J.H. Huang, Z.Q. Tong, Y. Huang. J.F. Zhang, Selective catalytic reduction of NO
with NH3 at low temperatures over iron and manganese oxides supported on
mesoporous sílica, Apll. Catal. B Environ. 78(2008)309-314.
[6] S.B. Han, T.B. Kang, O.S. Joo, K.D. Jung,Water splitting for hydrogen
production with ferrites, Sol. Energy 81 (2007) 623–628.
[7] C. Alvani, G. Ennas, A. La Barbera, G. Marongiu, F. Padella, F. Varsano,
Synthesis and characterization of nanocrystalline MnFe2O4: advances in
thermochemical water splitting, Int. J. Hydrog. Energy 30 (2005) 1407– 1411.
[8] H. Kaneko, N. Gokon, N. Hasegawa, Y. Tamaura, Solar thermochemical
process for hydrogen production using ferrites, Energy 30 (2005) 2171–2178.
[9] R.R. Bhosale, R.V. Shende, J.A. Puszynski, Thermochemical water-splitting
for H2generation using sol-gel derived Mn-ferrite in a packed bed reactor, Int. J.
Hydrog. Energy 37 (2012) 2924–2934.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 490
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REDUÇÃO DE DIMENSIONALIDADE APLICADA A BIG DATA:


UM ESTUDO DE CASO COM CIDADES INTELIGENTES

Hélio Victor Apolinário Soares​1​; Pamela Jéssica da Silva​2​; Maximiliano Araújo da Silva
Lopes​3

RESUMO
O aumento no número dos dados aconteceu de forma muito acelerada e em grandes
dimensões. Com isso, tratar os problemas de análise de dados é de fundamental importância
para melhorar seu entendimento. Sendo assim, o projeto tem como objetivo a aprendizagem
da redução de dimensionalidade aplicada a Big Data, mostrando pontos importantes como
uma introdução ao o que é Big Data, como é utilizado esse termo na realidade e alguns
métodos como o ​Principal Component Analysis (PCA) e o ​t-Distributed Stochastic Neighbor
Embedding (t-SNE)​. Tendo isso em vista, foram feitos alguns estudos, como leitura de artigos
sobre a temática, o desenvolvimento e análise de alguns códigos feitos com a ferramenta
MATLAB, trazendo assim um conhecimento tanto prático como uma base teórica.

Palavras-chave​: Big Data. Redução de dimensionalidade. T-SNE. PCA.

1​
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Informática da
Universidade do Rio Grande do Norte; email: heliosoares@alu.uern.br
2​
Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Informática da
Universidade do Rio Grande do Norte; email: pamelasilva@alu.uern.br
3​
Professor do Departamento de Informática da Universidade do Rio Grande do Norte
Membro do Grupo de Pesquisa de Engenharia de Software;
email: maximilianolopes@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 491
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INTRODUÇÃO

Inicialmente, na primeira metade do século XX, os primeiros computadores


eram enormes e ocupavam espaços de grande proporção como um apartamento, mas
não apresentava muita capacidade de memória como se temos hoje, um exemplo de
um desses computadores é o ENIAC - usava os cartões perfurados para a manipulação
de informações.
No entanto, com o aprimoramento dos recursos computacionais, desde o início
da alocação de memória em computadores até os métodos mais atuais como o
armazenamento de dados em nuvem junto com o avanço da capacidade de memória
destes computadores. O conceito de “Explosão de Informações” foi emergindo com o
passar do tempo, por meio de avanços tecnológicos como os dos computadores,
recursos eletrônicos e da internet, e assim, logo se tornando o que se conhece
atualmente por “Big Data”.
Tendo em vista o que foi abordado anteriormente, pode ser notado a existência
de diversos casos de grande dimensões de dados no dia-a-dia, como por exemplo, com
a presença das redes sociais, é possível se extrair imensas quantidades dimensões de
dados, sendo eles temporais, pessoais, quantitativos, qualitativos e com diversas outras
características. Além destes veículos de comunicação, também pode ser observado
casos de empresas que trabalham com outros tipos de dados, como bancos, empresas
especializadas e universidades por exemplo.

METODOLOGIA

Esse estudo teve como principal método de pesquisa a investigação do assunto


através do estudo de artigos, problemática e problemas matemáticos. Após isso a
pesquisa partiu para estudos de casos utilizando códigos na plataforma MATLAB.
Nela é possível gerar os códigos sobre a redução de dimensionalidade de dados.
Com o uso do MATLAB geramos códigos sobre o estudo de casos e
desenvolvemos um gerador em específico. A pesquisa tem como objetivo a
prorrogação da mesma para que nela a pesquisa possa avançar para códigos autênticos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O termo Big Data é usado para referenciar o grande volume de dados - sendo
um dado uma informação ou atributo que possivelmente pode ser armazenado ou
retirado de uma companhia, grupo ou entidade. Com isso, quando se é apresentado
um grande volume de dados, pode ser difícil de compreendê-los e representá-los de
forma simples e de fácil análise, sabendo que o tamanho em Gigabytes não é
mensurável para distinguir do volume de dados padrão, sendo que o número destes
dados armazenados estão sempre crescendo.
Com base no que foi dito anteriormente, e de acordo com ORACLE (2018) é
possível se observar três características marcantes, denominadas de “Os três V’s do
Big Data”, sendo eles volume, velocidade e variedade. O volume de informações é
grande e é necessário um local com um armazenamento bom e que sobre espaço para
aumento e com uma boa organização. Já o outro é a velocidade, já que estas
informações estão sendo rapidamente recebidas, fazendo com que precisem ser
armazenadas em algum local de forma rápida e organizada. E também a variedade,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 492
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

existem também os dados já estruturados, que são fáceis de acoplar no banco de


dados, mas também há os dados não estruturados e semiestruturados, fazendo com que
precise do pré processamento para a adaptação desses dados.
Levando em consideração o que foi repassado, surgem alguns desafios em
relação ao Big Data, como por exemplo o volume dos dados, já que eles crescem
rapidamente, é necessário saber armazenar de eficiente , organizada e que sejam
válidos para que não esteja sendo usado espaço com informações irrelevantes. Do
mesmo modo, a segurança destes dados é fundamental, uma vez que pode conter
quantidades enormes de dados sensíveis e dados relevantes, como em um banco.
Estes pontos são os que trazem a complexidade do grande volume de dados,
fazendo assim, objetivo deste trabalho coerente. Ou seja, é usado métodos de redução
de dimensionalidade para que tenha uma compreensão de forma que não se perca a
proporção e características dos dados de forma inteligente. Usando neste projeto os
métodos PCA e t-SNE para exemplificação e utilizamos a ferramenta de códigos
matemáticos MATLAB.
De acordo com RT2 - WP6 (2016), o ​Principal Component Analysis (PCA) ou
Análise dos Componentes Principais é uma técnica de redução de dimensionalidade e
um método estático. Além disso, tem como característica identificar as dimensões ao
longo das quais os dados se encontram mais dispersos. Com isso, usando a separação
dos conjuntos de dados , fica mais fácil a sua visualização. Com isso, tem-se a
Componente Principal sendo o melhor arranjo que representa a distribuição dos dados
e a Componente Secundário é perpendicular a Componente Principal, ou seja, o uso de
vetores e matrizes são de principal importância uma vez que os métodos têm como
finalidade a otimização de espaço. O PCA apresenta métodos de transformação de
matrizes para assim não perder as informações.
Com o uso desta técnica, se torna possível a identificação de padrões por meio
das semelhanças e diferenças por meio da análise dos dados. Assim, a identificação de
dados caracterizados por grandes dimensões é difícil, pois se torna uma visualização
precária em relação a análise e divisão dos dados.
Primeiramente, antes de ser falado do t-SNE, precisa ser falado sobre o método
que o originou, o Stochastic Neighbor Embedding (SNE) começa convertendo a
distancia euclidiana com alta dimensão entre os pontos de dados com condições
probabilísticas, com objetivo de entender as similaridades.
De acordo com MAATEN (2008) e LOPES (2019), o ​t-Distributed Stochastic
Neighbor Embedding (t-SNE) é uma técnica de redução de dimensionalidade com
foco em visualização de grandes números de dimensões. O t-SNE tem como objetivo
agrupar os dados em um espaço multi-dimensional para reduzir em uma melhor
visualização dos dados, normalmente é apresentado em 2D (duas dimensões). O
algoritmo é não-linear e se adapta de acordo com os dados, realizando transformações
em diferentes regiões do espaço multi-dimensional. O algoritmo é não-linear e se
adapta de acordo com os dados, realizando transformações em diferentes regiões do
espaço multi-dimensional. Sendo assim, se torna capaz de capturar muito da estrutura
local do espaço de múltiplos espaços, revelando assim os clusters - são as regiões no
espaço.

Dessa forma, com o que foi visto no decorrer do projeto, é possível analisar
que o t-SNE apresenta uma amostragem dos dados de forma mais fácil de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 493
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

compreender, conseguindo separar mais os grupos de dados, apesar de ter um


processamento mais demorado com mais instruções que o PCA que é mais simples e
linear.

CONCLUSÃO

Levando em consideração os fatos supracitados neste documento, pode-se


concluir que o projeto realizado não foi concluído como esperado, no entanto, trouxe
novos conhecimentos para os orientandos sobre redução de dimensionalidade e sobre
Big Data, e como esses tópicos estão presentes de forma tão frequente e de extrema
importância. Com isso, se dá a possibilidade de tratar os pontos omissos em projetos
posteriores.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao nosso orientador e professor Maximiliano Lopes, pelo o


apoio dado ao projeto, como a busca de materiais necessários e outras atividades
envolta da temática.

REFERÊNCIAS

LOPES, Maximiliano A.S.; NETO, Adrião D. Dória; MARTINS, Allan M., ​Parallel
t-SNE applied to data visualization in Smart Cities​. 2019.
Relatório de Atividades do Segundo Trimestre do WP6 - Análise e Visualização
de Dados​. 2016.
MAATEN, Laurens van der; HINTON, Geoffrey. Visualizing Data using t-SNE​.
Journal of Machine Learning Research​.​ ​set, 2008.
ORACLE. ​O que é Big Data?​, Oracle, 2018. Disponível em:
https://www.oracle.com/br/big-data/what-is-big-data.html. Data do acesso: 09 set.
2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 494
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REPOSITORE: CRIAÇÃO DO PROGRESSIVE WEB APP USANDO O


FRAMEWORK ANGULAR E GOOGLE FIREBASE COMO BAAS

Cleyton Carlos Santos Costa1; Sebastião Emidio Alves Filho²

Resumo:
Diversas ferramentas existem hoje em dia para desenvolvimento web, ao escolher
Angular e aliá-lo ao Google Firebase para criar uma um WebApp Progressivo que use todas
as novas tecnologias de Desenvolvimento Web para proporcionar uma experiência unificada
multiplataforma mostra-se muito benéfico para a construção do RepositORE, um sistema que
visa a facilitação na hora de encontrar conteúdo sobre Robótica Educacional através de
pesquisa baseada em metadados.
Palavras-chave: ​Computação em Nuvem, Angular, PWA, Agregador, Web.

Introdução
Desde sua criação, a Internet vem tomando cada vez mais espaço na vida da
população mundial. Desde sistemas de comunicação, dispositivos móveis até utensílios
domésticos, a Rede Mundial de Computadores é um serviço essencial nos dias atuais e as
ferramentas usadas nesse meio não param de evoluir no mesmo ritmo. Desde os primórdios
como rede de comunicação de instituições de ensino, vem se procurado o desenvolvimento
cada vez eficiente de ferramentas para facilitar tanto uso quanto o desenvolvimento, dando o
salto para os dias atuais, a internet está cheia de informações, bilhões de ​Sites indexados e
diversas ferramentas que permitem criar tais sites e aplicações que operam na rede.
Dentre tantas ferramentas que existem pela internet hoje em dia os pilares do
desenvolvimento web se encontra no HTML (HyperText Markup Language) o CSS
(Cascading Style Sheets) e o JS(JavaScript). Essas linguagens têm evoluído e o Javascript
tem se tornado cada vez mais popular desde seu lançamento. Javascript por ser executado no
navegador do cliente em vez do servidor do site tem mais agilidade e responsividade e nos
dias atuais essa linguagem vai além do navegador, podendo ser usadas para construir
aplicativos completos com o asm.js (DUCKET, 2011). Com o desenvolvimento de tantas
novas tecnologia, eficiência começou a se tornar uma necessidade quando o assunto é
desenvolvimento. Frameworks são uma forma de automatizar e simplificar partes do processo
de criação de uma forma uniforme e ágil.

Metodologia
Nesse projeto se utiliza um dos serviços mais populares da internet nos dias atuais,
Computação em nuvem. Computação em nuvem é uma forma de disponibilizar recursos
computacionais como infraestrutura(IaaS), Backend como um serviço(BaaS), ou até mesmo

1
Estudante do curso de Ciências da Computação do Departamento de Informática da Universidade
Estadual do Rio Grande do Norte; Email: cleytoncosta@alu.uern.br
²Professor do Departamento de Informática da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Líder do Grupo de Pesquisa em Tecnologias na Educação; e-mail:sebastiaoalves@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 495
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Software como um Serviço (SaaS) para quem precisa desses recursos, mas não tem o capital
para construir e manter por si próprio ou o custo-benefício não o satisfaça.
Em meio a diversos provedores de BaaS, foi escolhido o Google Firebase, um serviço
da Google que contém diversas ferramentas de Backend como Banco de Dados, Autenticação
e Armazenamento com uma grande facilidade de uso, fácil implementação e sua gratuidade,
até certo ponto pois o serviço cobra a partir de uso(MORONEY, 2017).
A metodologia que o projeto está sendo construído é a de um PWA(Progressive Web
App), um conceito híbrido de desenvolvimento de programas móveis e desenvolvimento
web. PWA é uma metodologia construída pelas e para as tecnologias de desenvolvimento
web mais atuais, que visa o desempenho, a disponibilidade, e adaptabilidade(TANDEL e
JAMADAR, 2018).
O projeto também está sendo criado sobre o ​framework Angular, que utiliza
TypeScript e remove a parte custosa da integração do Frontend com o Backend (JADHAV et
al., 2015). Organizando o PWA em Módulos, Componentes e Serviços de fácil visualização,
o Angular cria uma organização hierárquica que auxilia em focar no desenvolvimento sem ter
que preocupar excessivamente com erros provenientes de um código desorganizado.

Resultados
O principal objetivo deste trabalho é facilitar a localização e o reuso de OAs com
conteúdo destinado à Robótica Educacional, através da criação de um Repositório de Objetos
de Aprendizagem (ROA) que armazena não só os objetos educacionais, mas também
metadados. Atualmente o programa constitui-se dividido entre módulos que compõem as
principais funções do programa, que é a maneira que o Angular organiza o código.
Os Módulos permitem organizar o programa para que trabalhe de forma mais
eficiente entre seus componentes. Os Componentes são os blocos de construção, cada
componente é uma pagina função ou implementação de algo no projeto. Os Serviços são de
forma simplificada Componentes que disponibilizam uma função para outros componentes, e
que centralizam uma função específica para evitar repetição em vários pontos do código. As
figuras 1, 2 e 3 mostram o progresso do desenvolvimento do sistema.

Discussão
Em qualquer tipo de plataforma com muitos conteúdos, uma forma de indexar esse
conteúdo é essencial,mas sem uma forma de levar o conteúdo de interesse para possíveis
usuários interessados, toda a base de dados está fadada a ser pesquisada exaustivamente. Um
sistema de Recomendação é uma IA que trabalha com o conteúdo que você já acessou para
prever que tipo de conteúdo na base de dados talvez também possa lhe interessar. Agilizando
pesquisas e facilitando que conteúdo seja encontrado. Esse tipo de sistema também pode
aumentar a popularidade do sistema, já que se o usuário encontra algo que ele procura
facilmente, e também tem conteúdo que o interessa sendo sugerido, o usuário possivelmente
vai voltar a utilizar o sistema. No RepositORE(GURGEL, 2019), o sistema vai procurar por
conteúdos semelhantes e possivelmente desejáveis sobre Robótica Educacional. Auxiliando
na hora de encontrar projetos e métodos que o usuário esteja necessitando.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 496
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 1: tela de login.


Fonte: autoria própria.

Figura 2: tela de cadastro de usuário.


Fonte: autoria própria.

Figura 3: tela de cadastro de objeto.


Fonte: autoria própria.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 497
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusões
Construir o sistema do RepositORE no formato Progressive Web App ajuda desde a
hora da construção até a implantação, sendo que como o PWA é criado para ser um site, uma
vez hospedado, só é necessário usar um navegador para acessar o sistema. Não há
necessidade de o usuário estar em uma plataforma específica ou ter um sistema operacional
específico, melhoras podem ser adicionadas em tempo real e não tem a necessidade do
usuário ter que baixar periodicamente atualizações.
Com os serviços de Computação de nuvem também se elimina um dos maiores
problemas quanto a sistemas online, que é o de criar e manter a infraestrutura para manter
todo o sistema online. Tendo esse problema sendo eliminado, elasticidade é o próximo
problema resolvido, já que caso haja a necessidade de aumentar a capacidade da
infraestrutura tudo pode ser feito com um simples clique de um único botão.

E para o futuro têm-se como objetivo de melhorar ainda mais o sistema de


busca para ser mais eficiente e preciso, Além de também ser possível adicionar um sistema de
avaliação de todos os objetos dentro da base de dados e também incluir no projeto
Otimização de Motores de Buscas (SEO), para que o conteúdo seja simples e facilmente seja
acessado através de mecanismos de busca como Google e Bing Search.

Agradecimentos
Tendo adquirido tanto conhecimento durante essa jornada, e planejando melhorar
cada vez as minhas habilidades na área, os autores agradecem pela grande oportunidade dada,
e o apoio da UERN para com esse projeto através de uma bolsa PIBIC.

Referências
DUCKETT, Jon. ​Beginning html, xhtml, css, and javascript​. John Wiley & Sons, 2011.
GURGEL, Thalia Katiane Sampaio. ​RepositORE: Um Repositório de Objetos de
Aprendizagem para Robótica Educacional. ​2019. 113f. Trabalho de Conclusão do Curso
de Ciência da Computação, Faculdade de Ciências Exatas e Naturais, Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2019.
JADHAV, Madhuri A.; SAWANT, Balkrishna R.; DESHMUKH, Anushree. Single page
application using angularjs. ​International Journal of Computer Science and Information
Technologies​, v. 6, n. 3, p. 2876-2879, 2015.
MORONEY, Laurence; MORONEY; ANGLIN. ​Definitive Guide to Firebase​. Apress,
2017.
TANDEL, S.; JAMADAR, Abhishek. Impact of progressive web apps on web app
development. ​International Journal of Innovative Research in Science, Engineering and
Technology​, v. 7, n. 9, p. 9439-9444, 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 498
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SISTEMA PARA RASTREAMENTO, TRATAMENTO E


MONITORAMENTO DO DIABETES GESTACIONAL
INTEGRADO AO PRENEONATAL+

Jorge Luiz Silva Braz¹; Rodrigo Costa Brito²; Cicília Raquel Maia Leite³
Palavras-chave: Gravidez. Monitoramento. Auxílio.

INTRODUÇÃO

O Diabetes gestacional é um estado hiperglicêmico ou um grupo heterogêneo de


distúrbios metabólicos apresentando em comum a hiperglicemia, que resulta de defeitos
na ação da insulina, na secreção de insulina ou em ambas detectado na gestação e tal
estado que pode acarretar em problemas para o bebê o que gera muita preocupação para
as gestantes. Diante do exposto, o objetivo é desenvolver um sistema inteligente para
rastreamento, tratamento e monitoramento do diabetes gestacional integrado ao
Preneonatal+. Possibilitando assim, um melhor acompanhamento e orientação aos
pacientes.

METODOLOGIA

O projeto se constitui de dois módulos, um aplicativo móvel que tem as principais


funções do sistema e servirá de auxílio ao médico e como forma de facilitar a
comunicação entre o médico e a paciente, e um sistema web para que as pessoas possam
tem acesso ao aplicativo se cadastrando e inserindo as informações pertinentes ao caso.
Para o aplicativo móvel foram usados: Visual Code Studio, Android Studio, SQLite
e para o banco de dados foi utilizado o Fire Base.
Para o a parte web foram usados: Bootstrap para fazer os componentes gerais e na
parte do cadastro foi utilizado o Fire Base, para a compatibilidade com o aplicativo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O projeto teve como êxito o desenvolvimento da aplicação móvel com toda as suas
funcionalidades integrado ao módulo web que se encontra em funcionamento,
conforme telas expostas na Figura 1, Figura 2, Figura 3, Figura 4 e Figura. 5.
Os sistemas encontram-se na sua fase final, com o seu aplicativo já disponível na
Google Play. Como resultado futuro é esperado a integração com o módulo web.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 499
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 1: Tela de Autenticação Figura 2: Painel de Atividades do Especialista

Figura 3: Painel de Atividades da Gestante

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 500
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 4: Tela inicial da página web

Figura 5: Tela de cadastro de médico

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 501
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a UERN (Universidade Estadual do Rio Grande do Norte),
e ao GES (Grupo de Engenharia de Software) pela oportunidade de realizar o trabalho
e incrementar o meu conhecimento e proporcionar uma maneira de aplicar meus
estudos.

REFERÊNCIAS
MALTA, D. C. et al. A vigilância e o monitoramento das principais doenças crônicas
não transmissíveis no brasil-pesquisa nacional de saúde, 2013. Revista Brasileira de
Epidemiologia, Directory of Open Access Journals, v. 18, n. A00101s1, p. 3–16, 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 502
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TRATAMENTO DE EFLUENTES DA INDÚSTRIA DE


BENEFICIAMENTO DA CASTANHA DE CAJU USANDO CACTÁCEAS
COMO COAGULANTES/FLOCULANTES NATURAIS

Antônia Laísa Oliveira da Silva1; Keurison Figueiredo Magalhães2; Danyelle Medeiros de


Araújo2; Suely Sousa Leal de Castro2

Palavras-chave: Opuntia ficus-indica. Palma forrageira. Tratamento com cacto. Água


residuária.

INTRODUÇÃO

O cajueiro é uma árvore que possui uma melhor adaptação nas regiões costeiras do
nordeste brasileiro, tem como nome científico Anacardium occidentale L. e pertence à família
Anacardiaceae. O seu fruto é a castanha de caju e é a matéria-prima para a produção da
amêndoa da castanha de caju (ACC) (MAZZETTO; LOMONACO, 2009). Durante a
obtenção desta amêndoa é extraído o líquido da casca da castanha de caju (LCC), que é rico
em lipídeos fenólicos não-isoprenoides de origem natural, possuindo em sua composição os
ácidos anarcárdicos, cardanois, cardois e 2-metilcardois. Para o processo de beneficiamento
da castanha de caju se faz necessário a utilização de altas temperaturas, transformando o ácido
anarcárdico em cardanol, que se torna o principal constituinte do líquido, produzindo o que é
denominado de LCC técnico (MAZZETO; LOMONACO, 2009).
No decorrer do processo de obtenção da amêndoa da castanha de caju é gerado um
grande volume de efluente, no qual o LCC está presente, o que torna-o rico em compostos
fenólicos e uma fonte poluidora do meio ambiente, contendo limite de concentração de fenóis
totais acima do estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), de
acordo com a Resolução N° 430 de 13 de maio de 2011. Desta forma, o efluente precisa
passar por um processo de tratamento antes de ser descartado no meio ambiente.
Nas indústrias de beneficiamento da castanha de caju (IBCC) são realizados alguns
tipos de tratamento, dentre estes encontram-se o processo de coagulação, que é uma
transformação físico-química de partículas coloidais presentes em águas ou efluentes,
produzindo partículas maiores que podem ser retiradas posteriormente por um processo físico
de separação. Após, há o procedimento de floculação, no qual acontece a aglomeração das
partículas coaguladas para formar partículas mais densas, consequentemente facilitando a
sedimentação (RICHTER, 2009). Para esses processos, geralmente são utilizados coagulantes
inorgânicos, como os sais de alumínio (CARDOSO et al., 2008). Porém, o uso desse
coagulante pode gerar um grande volume de lodo contendo uma quantidade significativa
desse metal, o que pode acarretar em problemas de toxicidade na vegetação, caso sejam
descartados sem tratamento no solo; e pode gerar efluentes tratados ainda com quantidades
consideráveis de alumínio, que permanecem na água após o tratamento. Além disso, no
organismo humano, o excesso de alumínio pode agravar o mal de Alzheimer e causar


1
Estudante do curso de Licenciatura em Química do Departamento de Química da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte.
2
Professores do curso de Licenciatura em Química do Departamento de Química da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte. Grupo de Pesquisa: Grupo de Eletroquímica e Química Analítica. E-mail:
suelycastro@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 503
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

raquitismo, anorexia, constipação intestinal e alterações neurológicas (CHEDEVILLE;


DEBACQ; PORTE, 2009).
De acordo com Richter (2009), há mais de 30 anos que são estudados polímeros
orgânicos no intuito de diminuir os resíduos causados pelos coagulantes químicos metálicos.
Dentre os polímeros orgânicos naturais estão as cactáceas (ZHANG, 2006; YIN, 2010), cuja
como coagulante e/ou floculante para a remoção de turbidez, DQO, metais pesados, pH, etc.,
tem sido demonstrada em vários estudos e usando diferentes matrizes, tais como efluentes
urbanos, água de rio, efluentes de curtume e efluentes texteis (NHARINGO; ZIVURAWA;
GUYO, 2015; ZARA; THOMAZINI; LENZ, 2012; SWATHI et al., 2014; BOUATAY;
MHENNI, 2014; RACHDI; SRARFI; SHIMI, 2017). Porém, nenhuma das cactáceas tem sido
aplicadas no tratamento dos efluentes da IBCC.
Dessa forma, o objetivo do trabalho foi avaliar o desempenho de diferentes cactáceas
como coagulante/floculante natural no tratamento de efluentes reais da indústria de
beneficiamento da castanha de caju, com vistas ao desenvolvimento, no futuro, de uma
metodologia capaz de remover os compostos orgânicos ou reduzi-los a níveis aceitáveis para
a disposição do efluente no meio ambiente ou para o seu reuso, mas que também seja
ambientalmente correta para aplicação nas empresas.

METODOLOGIA

Os cactos do gênero Cereus jamacaru (mandacaru) e Pilocereus gounellei (xique-


xique) foram coletados em uma região a 11 km de distância da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN), a caminho de Natal/RN, e o cacto de gênero Opuntia
cochenillifera (palma) foi coletado ao lado do Laboratório de Eletroquímica e Química
Analítica (LEQA), em uma pequena plantação já voltada para a experimentação. Para a
produção do coagulante, foram retirados os espinhos dos cactos e, em seguida, foram cortados
em pedaços e, posteriormente, foram triturados em um liquidificador industrial.
Após a preparação do coagulante foi realizada a coleta do efluente em uma Indústria
de Beneficiamento da Castanha de Caju, em Mossoró-RN, e logo após foi feita a
caracterização do efluente (medidas de pH e condutividade, determinação de íons cloreto e
análise da demanda química de oxigênio (DQO).
O processo de coagulação foi realizado em um aparelho Jar-Test, com controle de
velocidade; para a coagulação (mistura rápida) será utilizada uma velocidade de 120 rpm por
e para a floculação (mistura lenta), 40 rpm. Para determinar o tempo de decantação adequado,
após o processo de coagulação/floculação, foram retiradas alíquotas de amostra a cada 30
minutos, até 240 minutos. Para cada experimento foi utilizado um volume de efluente de 800
mL. Após definição do cacto que apresentou a maior remoção de DQO, foi avaliado o efeito
da secagem do cacto na sua eficiência de remoção de DQO do efluente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente foi realizada a caracterização do efluente (Tabela 1). A realização destes


estudos preliminares é de suma importância para a pesquisa pois fornece informações
relevantes sobre o efluente. Como pode ser visto, o valor da DQO é bastante elevado,
mostrando a existência de alto teor de matéria orgânica no efluente, confirmando a
necessidade de tratamento desse efluente antes do mesmo ser descartado nos corpos
receptores ou de ser reutilizado. Os demais parâmetros apresentaram valores dentro do
permitido para descarte em corpos aquáticos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 504
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Tabela 1: Parâmetros físico-químicos avaliados para a caracterização do efluente da IBCC.

Parâmetros
Resultados Unidades
Analíticos
pH 6,6 -
Condutividade 5,13 mS cm-1
Concentração
875,69 mg L-1
de cloreto
DQO 2826,75 mg L-1

Como pode ser observado na Figura 1, o coagulante natural que apresentou a maior
eficiência em temos de remoção da matéria orgânica (95,6% de remoção de DQO) e maior
rapidez no processo de decantação (30 min) foi o mandacaru (Cereus jamacaru), apesar das
demais cactáceas também terem apresentado boa eficiência como coagulante. Segundo
reportado na literatura (ZARA; TOMAZINI; LENZ, 2012), os coagulantes naturais formam
flocos maiores quando comparados aos coagulantes metálicos, o que pode justificar o rápido
processo de decantação. Assim, o mandacaru foi o cacto selecionado para o experimento
subsequente.

Figura 1: Porcentagem de remoção de DQO como uma função do tempo de decantação dos
flocos formados a partir do tratamento feito com os coagulantes naturais estudados.

90
Remoção de DQO (%)

60

Mandacaru
Xique-xique
30 Palma

0
0 30 60 90 120 150 180 210 240
Tempo (min)

Para avaliar o efeito do processo de secagem no potencial coagulante do mandacaru,


este cacto foi seco em uma estufa com temperatura constante de 100 ºC durante 24 h e o
resultado desse estudo encontra-se representado na Figura 2. Como pode ser observado, o
cacto seco apresentou baixa eficiência no processo de coagulação e baixa estabilidade dos
flocos, mostrando que o cacto natural é a forma mais eficiente de se utilizar este coagulante.
Provavelmente, a alta temperatura pode ter causado a perda das propriedades coagulantes do
mandacaru.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 505
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 2: Porcentagem de remoção de DQO como uma função do tempo de decantação dos
flocos formados a partir do tratamento feito com o mandacaru natural e seco.

100

Remoção de DQO (%)


80

60
Mandacaru seco
Mandacaru natural
40

20

0
0 30 60 90 120
Tempo (min)

CONCLUSÕES

As diferentes cactáceas apresentaram bom efeito coagulante/floculante no tratamento


de efluentes reais da indústria de beneficiamento da castanha de caju, sendo que o cacto
Cereus Jamacaru natural foi o que obteve a maior eficiência, removendo 95,6% de DQO,
quando as velocidades de 120 e 40 rpm foram aplicadas para coagulação e floculação,
respectivamente, e 30 minutos de decantação.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela


Bolsa de Iniciação Tecnológica (PIBITI) concedida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOUATAY, F.; MHENNI, F., Int. J. Environ. Res., v. 8, p. 1295-1308, 2014.


CHEDEVILLE, O.; DEBACQ, M.; PORTE, C.. Desalination, v. 249, n. 2, p. 865-869, 2009.
MAZZETTO, S.E.; LOMONACO, D. Quim. Nova, v. 32, n. 3, p. 732, 2009.
NHARINGO, T.; ZIVURAWA, M.; GUYO, U., Int. J. Environ. Sci. Technol., v. 12, p. 3791-
3802, 2015.
OLIVEIRA, E.M.S. Tratamento de efluentes da indústria de beneficiamento da castanha de
caju usando processos eletroquímicos de oxidação avançada. Dissertação (Mestrado em
Ciências Naturais) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2014.
RACHDI, R.; SRARFI, F; SHIMI, N.S., Water Science and Tecnlogy, v. 76, p. 1875-1883,
2017.
RICHTER, C.A. ÁGUA: métodos e tecnologia de tratamento. 1ª ed. Editora blucher, 2009.
SWATHI, M.; SINGH, A.S.; ARAVIND, S.; SUDHAKAR, P.; GOBINATH, R.; DEVI, D.S.
Int. J. App. Sci. Eng. Res., 3, 436-446, 2014.
ZARA, R.F.; THOMAZINI, M.H.; LENZ, G.F. Revista de Estudos Ambientais, v. 14 p. 75-
78, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 506
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

UM ESTUDO DE TÉCNICAS DE AGRUPAMENTO PARA DADOS NÃO


CONVENCIONAIS

Iago Henrique de Oliveira 1; Rosiery da Silva Maia 2; Adriana Takahashi2

Palavras-chaves: Intervalar. K-means. Erros.

Introdução
Com o avanço tecnológico, existe um volume muito grande de informações
produzidas, processadas e/ou transmitidas, e, muitas vezes, são exigidas uma maior precisão e
qualidade dessas informações. Existe na computação, alguns problemas, tratados geralmente
pela análise numérica, denominados de erros computaciona is. Esses erros podem ser gerados
desde o início, no processo de aquisição dos dados, durante o processamento dos dados (erros
de arredondamento e/ou truncamento, entre outros) ou durante o processo de transmissão dos
dados (Barroso, 1987). O tratamento desses problemas computacionais influenciam
diretamente a precisão e a qualidade dos dados exigidos em cada problemática.
Outro ponto a ser considerado também, além da precisão dos dados, é a geração de
um grande volume de dados para serem analisados e armazenados, onde, a medida que esse
volume aumenta, sua análise se torna mais difícil e complicada para a capacidade e precisão
humana. Existem algumas técnicas que analisam os dados e os classificam baseados em suas
heterogeneidades ou homogeneidades, conhec idos como técnicas de agrupamento e
classificação (Haykin, 2001, Kohonen, 1997, Mitchell, 1997, Russel, 2004). Visando filtrar e
assim obter informações mais significativas em um grande volume de dados, este projeto de
pesquisa apresenta algumas técnicas de agrupamento convencionais e técnicas de análise
numérica para controle da qualidade dos resultados dos dados não usuais (Moore, 1966).
O objetivo deste projeto é apresentar uma abordagem de classificação de dados
utilizando técnicas de agrupamentos para um conjunto de dados não usuais, com controle da
precisão desses dados. Para o desenvolvimento desse objetivo, foram realizados os seguintes
passos: levantamento bibliográfico da fundamentação teórica de algumas técnicas de
agrupamento e de controle da precisão de dados; levantamento bibliográfico de abordagens
que tratem de dados não convencionais utilizando técnicas de agrupamento; implementação,
testes e validação da escolha do método de agrupamento com controle de precisão nos dados;
e documentação dos resultados.

Metodologia
Este projeto trata de uma pesquisa de iniciação científica que pode ser aplicado em
diversas áreas, tais como, análise de imagens (processo de segmentação de imagens),
inteligência computacional (métodos de resolução de problemas utilizando buscas,
aprendizagem de máquina), análise numérica (métodos numéricos para tratamento da precisão
dos dados), entre outras áreas da computação ou correlatas.

1 Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Computação,


Campus de Natal, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
iagooliveira@alu.uern.com.
2 Professora do Departamento de Computação, Campus de Natal, da Universidade do

Estado do Rio Grande do Norte. Membro do Grupo de Pesquisa GIC - Grupo de


Inteligência Computacional; e-mails: rosierymaia@uern.com e
adrianatakahashi@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 507
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para o desenvolvimento do projeto, foram utilizadas as seguintes metodologias


científicas:
- Na etapa do desenvolvimento do referencial teórico foi utilizado a pesquisa
exploratória, pois, na literatura foram buscadas problemas e conceitos relacionados com a
problemática deste projeto (técnicas de agrupamento, técnicas para controle da qualidade e
precisão dos dados, matemática intervalar);
- Na etapa do processo de desenvolvimento, análise e codificação da técnica de
agrupamento escolhida foram utilizadas: análise quantitativa e comparativa para análise dos
resultados obtidos através do método de agrupamento de controle de qualidade dos dados;
metodologia estruturada para o desenvolvimento e codificação da técnica de agrupamento
escolhida, sendo dividida em: levantamento de requisitos, para delimitação do domínio do
problema e aquisição de conhecimento necessário (levantamento bibliográfico) para
elaboração de soluções eficientes fazendo uso de tecnologias existentes; modelagem
conceitual, para especificação do funcionamento da técnica de agrupamento escolhida;
implementação, codificação do modelo conceitual; e validação e documentação, para analisar
os resultados e validar a técnica escolhida, bem como a documentação de todo o processo de
desenvolvimento da pesquisa.

Resultados e Discussão
As técnicas de agrupamento ou clustering têm como objetivo agrupar, de acordo com
algum critério definido a priori (exemplo, similaridade dos dados), um conjunto de dados em
grupos menores mutuamente exclusivos. Os grupos de dados resultantes devem apresentar
alta homogeneidade entre os dados do mesmo grupo e alta heterogeneidade entre os dados de
outros grupos.
Com o objetivo de agrupar ou segmentar em partes significativas um grande volume
de dados, algumas técnicas de agrupamento foram estudadas, tais como, k-means, k-Nearest
Neighbors (KNN) e Kohonen. O k-means utiliza a similaridade das informações para realizar
o agrupamento, tendo como dados iniciais a quantidade de centroides ou grupos que serão
fragmentados o conjunto ou volume de dados de entrada (Carvalho, 2001, Kanungo et al.,
2000). O KNN, muito utilizado em reconhecimento de padrões e redução de
dimensionalidade de dados, é um algoritmo de aprendizado de máquina que classifica através
da pluralidade de pesos atribuídos aos seus vizinhos (Haykin, 2001). O Kohonen ou mapas
auto-organizáveis (SOM) trata da dimensionalidade dos dados, agrupando e organizando os
dados de acordo com suas relações, sendo capaz de diminuir a dimensionalidade de um grupo
de dados mantendo algumas propriedades dos dados iniciais (Costa, 1999, Kohonen, 1997).
Aliados as técnicas de agrupamento, o desenvolvimento de técnicas que, de alguma
forma, controlam os erros computacionais ou a precisão nos dados, são essenciais quando se
faz necessário uma maior acuracidade nos resultados processados (sistemas Fuzzy, sistemas
intervalares) (ZADEH, 1065, MOORE, 1966). Para um controle mais rigoroso de alguns tipos
de erros de discretização, aquisição ou processamento computacional, este projeto aborda a
técnica de agrupamento por k-means associada a teoria intervalar (Takahashi et al., 2004). O
uso da teoria intervalar associado a técnica de agrupamento, busca soluções mais eficientes
para alguns problemas computacionais e que, procura retratar de forma mais fidedigna a
realidade, bem como, minimiza ou controla os erros nos resultados, melhorando a qualidade
dos resultados e garantindo a precisão requerida.

Conclusão
Estudos que buscam uma maior precisão na representação de dados e estimativa dos
erros computacionais, geralmente, são dispendiosos e complexos na análise e tratamento
numérico. A qualidade dos resultados computaciona is estão diretamente relacionados ao

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 508
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

conhecimento e controle dos erros no processo computacional. O estudo de técnicas para


agrupamento intervalar buscam garantir que no processamento, o tratamento do erro
computacional se torne o menor possível e conhecido, onde, os métodos consistem em
manipular os dados iniciais, garantindo que a informação real esteja contida nos dados,
posteriormente computa-os, mantendo um indicativo de controle do erro. É interessante
ressaltar que, a importância da precisão requerida em um sistema computacional deve ser
avaliada ao se adotar alguma técnica para tratamento numérico, pois, o custo computacional
aumenta significativamente de acordo com a complexidade do problema.

Agradecimentos
Agradecimentos a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte em especial ao
Departamento de Computação, Campus Natal, local de desenvolvimento desta pesquisa.

Referências
BARROSO, Leonidas Conceição et al. Cálculo Numérico: com Aplicações. 2a ed. São
Carlos: Harbra: São Paulo, 1987.
CARVALHO, Luis Alfredo Vidal. Datamining: A mineração de dados no marketing,
medicina, economia, engenharia e administração. São Paulo: Érica, 2001.
COSTA, José Alfredo Ferreira. Classificação automática e analise de dados por redes neurais
auto-organizáveis. Universidade Estadual de Campinas (tese de doutorado), 1999.
HAYKIN, Simon. Redes Neurais: Princípios e Pratica. Bookman, 2001.
KANUNGO, Tapas et al. The analysis of a simple k-means clustering algorithm. Processing
of the Sixteenth Anual Symposium on Computational Geometry, 2000.
KOHONEN, Teuvo. Self-Organizing Maps. Springer-Welag, 1997.
MITCHELL, Tom. Machine Learning. McGrawHill, 1997.
MOORE, Ramon E. “Interval Analysis”. Prentice Halls, 1966.
RUSSEL, Stuart J.; NORVING, Peter. Inteligência Artificial. Editora Elsevier Ltda, 2004.
TAKAHASHI, Adriana, BEDREGAL, Benjamin R. C., LYRA, Aarão. Uma versão intervalar
do método de segmentação de imagens utilizando o k-means, XXVII CNMAC, 2004.
ZADEH, Lotfi. A. Fuzzy sets. Information and control, 1965.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 509
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

USO, CAPTAÇÃO E QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA


ÁREA URBANA DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN

Isabel Cristina Silva Ferreira1; Lucas Matheus Garcia Tôrres2; Filipe da Silva Peixoto3

Palavras-chave: Abastecimento Urbano. Sistema aquífero Apodi. Aquífero Açu. Aquífero


Jandaíra. Poços tubulares.

Introdução

Gerenciar e planejar os recursos hídricos é essencial para a sustentabilidade hídrica.


Para tal, é necessário um conjunto de informações, visando dar suporte a produção e modelos
de gerenciamento e planejamento desses recursos. (CAMPOS e STUDART, 2001; OLIVEIRA
et al., 2017).
O município de Mossoró, com população estimada de 294.076 habitantes, sendo assim
o segundo município mais populoso do estado do Rio Grande do Norte, possui uma demanda
hídrica de cerca de 3.430 m3/h para abastecimento doméstico e industrial (CAERN 2019). O
abastecimento na área urbana desse município corresponde a uma matriz hídrica de 70%
composta por água subterrânea captada através de poços tubulares e 30% pelas águas
superficiais do açude Armando Ribeiro Gonçalves.
Diante disso, este trabalho teve por objetivo identificar o uso, a capitação e a
qualidade das águas subterrâneas e a descrição hidrogeológica através dos perfis dos poços
construídos nessa área e construção de um cadastro de poços georreferenciados identificando
tipos de captação, aquíferos mais explorados, distribuição espacial do uso da água e
classificação hidroquímica da água.

Metodologia

A coleta de dados se deu a partir de um cadastro de 27 poços operados pela


Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte – CAERN, com a finalidade de
obter-se as análises físico-químicas e bacteriológicas e 80 poços com registro no
SIAGAS/CPRM (2020), que mesmo com a escassez de informação são capazes de produzir
um bom diagnóstico hidrogeológico.
Com isso, os dados obtidos foram sistematizados em um banco de dados e inserido em
um Sistema de informação Geográfica – SIG com o auxílio do software Quantum-Gis versão
3.4.4. Posteriormente foram especializados, com a utilização de shapefiles das malhas
geográficas disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Em seguida, utilizou-se os poços operados pela CAERN e seus parâmetros físico-
químicos para elaborar-se uma modelagem da qualidade da água subterrânea voltada para o
abastecimento urbano do município. As análises foram aplicadas por meio do software
Qualigraf 2.0, gerando informações sobre a salinidade e associações hidroquímicas.

Resultados e Discussão

1
Estudante do curso de Licenciatura em Geografia do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: isabelferro070@gmail.com
2
Estudante do curso de Licenciatura em Geografia do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: lucas-matheus-@hotmail.com
3
Professor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Líder do grupo de
pesquisa em Geografia Física do Semiárido; e-mail: felipepeixoto@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 510
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os poços tubulares são a principal fonte de capitação para abastecimento urbano. Na


área urbana do município de Mossoró/RN, os poços variam consideravelmente no nível de
profundidade, sendo alguns rasos atingindo apenas 7 metros, e outros, mais profundos
podendo chegar a 1.071 metros de profundidade.
Utilizando-se do máximo de informação disponível no cadastro produzido a partir
dos dados do SIAGAS, traçou-se dois perfis hidrogeológicos (Figura 1). O perfil 1 (Figura 2),
baseado em 7 perfis construtivos em um alinhamento NW – SE, caracterizando a geometria
aquífera até a profundidade de 970 m. O perfil 2 (Figura 3), produzido a partir de um
alinhamento SW - NE, definindo a geometria aquífera com profundidades de até 950 m.
Ambos os perfis identificaram 4 unidades hidrogeológicas, como sendo Barreiras, Aquífero
na formação Jandaíra, Aquítardo Quebradas e Aquífero Açu. Exceto o Barreiras, os demais
compõem Sistema Aquífero Apodi - SAA, denominado por Manoel Filho et al., (2010), em
estudo com modelagem de teste de aquífero no município de Baraúna.

Figura 1: Perfis hidrogeológicos

Fonte: Elaborado pelos autores (2020).

Figura 2: Perfil 1 da geometria aquífera

Fonte: Elaborado pelos autores (2020).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 511
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 3: Perfil 2 da geometria aquífera

Fonte: Elaborado pelos autores (2020).

De acordo com os dados 32 poços atingem o aquífero Açu com característica de


confinamento e semi-confinamento, devido à presença de poços artesianos, 48 poços captam
água do aquífero livre, representado pelo Jandaíra e em 25 poços não é possível identificar o
tipo de aquífero captado.
A partir dos dados disponibilizados pelo SIAGAS/CPRM, verifica-se que, no
município de Mossoró o uso das águas subterrâneas é distribuído em seis tipologias,
abastecimento urbano, abastecimento doméstico, abastecimento industrial, abastecimento
doméstico/animal, irrigação, entre outros. Com 66% da totalidade dos poços, observa-se que o
maior uso das águas subterrâneas neste município, é para abastecimento urbano.
A análise de qualidade da água, baseada em 16 poços operados pela CAERN para o
abastecimento de água da cidade são todos locados no aquífero Açu. Todos os poços possuem
classificação de água quanto à salinidade como água doce, com exceção do poço 28 que
possui água salobra porque possui uma condutividade elétrica de 1.022,00 e sólidos totais
dissolvidos de 664,3 mg/L.

Conclusão

Com o estudo, constatou-se diversos usos das águas subterrâneas na área urbana de
Mossoró, como irrigação, abastecimento industrial e para atividades de lazer. Nesta área de
estudo, O SAA (Sistema Aquífero Apodi), se caracteriza com 2 principais aquíferos: Jandaíra,
com profundidades que variam entre 350 e 400 metros, sendo caracterizado como aquífero
livre e o Aquífero Açu, com camada limítrofe superior entre 600 e 860 metros, limitado por
aquitardo Quebradas, atuando como camada confinante e semi-confinantes.
Verificou-se uma boa qualidade das águas do aquífero Açu, classificadas como água
cloretadas sódicas (93%) ou cloretadas mistas (7%), e que, quase na totalidade, águas doces e
naturalmente adequadas ao consumo humano, segundo os parâmetros analisados.
Contudo, é essencial a produção de dados e informações que deem suporte ao
gerenciamento hídrico municipal, visando a conservação qualitativa e quantitativa das águas,
prevenindo a contaminação dos aquíferos Jandaíra e Açu que são fontes de águas tão
importantes para a sustentabilidade hídrica da cidade.

Agradecimentos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 512
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Á Companhia de Água e Esgoto do Rio Grande do Norte – CAERN, pela


disponibilização das fichas de monitoramento da qualidade da água dos poços em operação na
cidade de Mossoró – RN, e ao serviço geológico brasileiro – CPRM pela atualização e oferta
dos dados de perfis litológicos no Sistema de Informação de Água Subterrânea – SIAGAS e
Ao CNPq pelo financiamento da bolsa da aluna Isabel Cristina Silva Ferreira

Referências
CAERN, Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte, 2019, disponível em:
http://www.caern.rn.gov.br/, acesso em 09 de fev, 2019.
CAMPOS, J. N. B. STUDART, T. M. Gestão das águas: princípios e práticas, 2. Ed,
Forteleza: ABRH, 2001.
MANOEL FILHO, J. et al., Avaliação dos Recursos Hídricos Subterrâneos e Proposição
de Modelo de Gestão Compartilhada para os Aquíferos da Chapada do Apodi, entre os
Estados do Rio Grande do Norte e Ceará. Vol. III – Hidrogeologia. AGÊNCIA
NACIONAL DE ÁGUAS - ANA. PROGRAMA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO
DOS RECURSOS HÍDRICOS. Acordo de Empréstimo N° 7420-BR, Banco Mundial, 2010.
OLIVEIRA, R. M. ; CAVALCANTE. I. N. ; ARAÚJO, K. V. ; SILVEIRA, R. N. C.M. ;
PEIXOTO, F. S. ;LIMA NETO, I. O. . Estudo hidroquímico do Aquífero Barreiras no
Município de Eusébio, Ceará. REVISTA DO INSTITUTO GEOLÓGICO, v. 38, p. 21-36,
2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 513
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Vínculos Observacionais Sobre Modelos de Quinta-essência

Gabriel da Silva Rodrigues; Edesio Miguel Barboza Junior.

Palavras chaves: Expansão acelerada; Função de Hubble; Parâmetros cosmológicos;


Supernovas do Tipo Ia; Evolução Estelar.

Estudante do curso de física do departamento de física da universidade do estado do rio grande do


norte; e-mail: gabriellrodriigues@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 514
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

1. Introdução

O estudo de supernovas cresce cada vez mais, e isto é devido, principalmente, á suas
aplicações na cosmologia, particularmente as supernovas de tipo Ia. Por serem notáveis
indicadores de distância, as supernovas do tipo Ia formam hoje uma das principais
ferramentas para entender a estrutura e evolução do Universo. Através de observações de
supernova de tipo Ia, se evidenciou que o Universo passa por uma fase de expansão
acelerada. A fim de explicar esta descoberta, foram propostas varias ideias, que vão desde
o ressurgimento da constante cosmológica proposta por Einstein, até mudança nas teorias
de gravitação. Apesar dos esforços, entender o mecanismo pelo qual o Universo aumenta
sua taxa de expansão continua sendo um grande desafio, e um importante campo de
pesquisa na cosmologia moderna. As supernovas foram essenciais para que se tenha
descoberto está fase de expansão acelerada do Universo, assim como são de extrema
importância para que se entendam os mecanismos que causam está expansão acelerada.
Portanto, esta projeto, busca entender a importancia das supernovas, especialmente as
Supernovas de tipo Ia no desenvolvimento da cosmologia.

2. Metodologia

Foram utilizamos os dados observacionais mais recentes para restringir os valores de


parâmetros cosmológicos e assim determinar os modelos que mais se adequam aos dados. Os
principais testes cosmológicos que foram empregados fazem uso de medidas de distância
luminosidade de supernovas. Ocorreram encontros semanais entre orientador e aluno. E foram
apresentados semanalmente resumos acerca do conteúdo do trabalho.

3. Resultados e discussões

Em geral, a cosmologia lida com escalas extremamente grandes, seja de espaço,


tempo, massa, ou energia. Para se estudar a vastidão do cosmos, o sistema de medidas
internacional não é conveniente, um metro é muito curto, um quilograma é uma massa
estranhamente pequena e um segundo é um tempo muito breve. Estudar um Universo
gigantesco, que tem uma variedade de composição material e que tem uma gama
extremamente vasta de escalas de estruturas, planetas que orbitam estrelas, estrelas que se
localizam em galáxias, galáxias que estão ligadas gravitacionalmente formando aglomerados
de galáxias, que são localizados em superaglomerados maiores ainda é bastante complexo.

Estudante do curso de física do departamento de física da universidade do estado do rio grande do


norte; e-mail: gabriellrodriigues@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 515
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Portanto, dado a riqueza e complexidade do cosmos, a única maneira que se tem para
tratar de tal assunto é analisando em grandes escalas, isto é feito adotando uma hipótese
simplificadora, o principio cosmológico. O principio cosmológico diz que, o Universo em
grandes escalas, da ordem de 100 Mega parsec (MPC) ou mais, parece o mesmo em todas as
direções em torno de cada ponto, ou seja, o Universo é homogêneo e isotrópico. A
cosmologia se fundamenta em três equações principais a equação de Friedmann; equação de
Fluidos; e a equação de aceleração, mostradas a seguir,

8𝜋𝐺 𝐾𝑐 2 1
𝐻(𝑡) 2 = 𝜀 (𝑡 ) − ,
3𝑐 2 𝑅20 𝑎(𝑡) 2

3𝑎̇
𝜀̇ + (𝜀 + 𝑃) = 0,
𝑎

𝑎̈ 4𝜋𝐺
= − 2 (𝜀 + 3𝑃)
𝑎 3𝑐

Expandindo o fator de escala em série de Taylor temos,

1
𝑎 (𝑡) ≈ 1 + 𝐻0 (𝑡 − 𝑡 0 ) − 𝐻02 𝑞0 (𝑡 − 𝑡 0 )2 ,
2

É bom ressaltar que a expansão em série de Taylor (5.52) não se baseia em nenhum
modelo de Universo especifico. Ou seja, está é uma determinação cinemática do fator de
escala, onde 𝐻0 e 𝑞0 somente fazem um modelagem da expansão do Universo em torno de 𝑡 0.
Podemos estimar o valor de 𝑞0 para o modelo de Friedmann, através da equação de
aceleração,

𝑎̈ 4𝜋𝐺
= − 2 (𝜀 + 3𝑃) ,
𝑎 3𝑐

Para uma equação de estado dada por,

𝑃 = 𝑤𝜀,

1
Com 𝑤 = 0 representando matéria não relativística, 𝑤 = radiação, 𝑤 = −1 constante
3
cosmológica. A densidade de energia levando em conta todas as componentes é dada por,

𝜀 = ∑ 𝜀𝑖 ,
𝑖

Estudante do curso de física do departamento de física da universidade do estado do rio grande do


norte; e-mail: gabriellrodriigues@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 516
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Logo, a equação de aceleração é dada por,

𝑎̈ 4𝜋𝐺
= − 2 ∑ 𝜀𝑖 (1 + 3𝑤𝑖 ),
𝑎 3𝑐
𝑖

Dividindo ambos os lados da equação ode aceleração pelo parâmetro de Hubble 𝐻,

𝑎̈ 1 8𝜋𝐺
− 2 = [ 2 2 ] ∑ 𝜀𝑖 (1 + 3𝑤𝑖 ),
𝑎𝐻 2 3𝑐 𝐻
𝑖

8𝜋𝐺 1
Onde a quantidade entre colchetes é o inverso da densidade de energia critica, [ ]= ,
3𝑐 2 𝐻2 𝜀𝑐

obtemos

𝑎̈ 1 𝜀𝑖
− 2 = ∑ (1 + 3𝑤𝑖 ),
𝑎𝐻 2 𝜀𝑐
𝑖

𝜀𝑖
Definindo um parâmetro de densidade = Ω𝑖 , obtemos
𝜀𝑐

𝑎̈ 1
− 2 = ∑ Ω𝑖 (1 + 3𝑤𝑖 ),
𝑎𝐻 2
𝑖

No tempo presente, 𝑡 = 𝑡0,

𝑎̈ 1
𝑞0 = − 2 = ∑ Ω𝑖,0 (1 + 3𝑤𝑖 ),
𝑎𝐻 2
𝑖

Em um Universo contendo radiação, matéria e constante cosmológica temos que,

1
𝑞0 = Ω𝑟,0 + Ω𝑚,0 − ΩΛ,0 ,
2

4. Conclusão

Devido à observação de Supernovas do tipo Ia chegamos à conclusão de que o


Universo passa por uma fase de expansão acelerada. Esta conclusão decorre do fato que as
Supernovas observadas em 𝑧~0.5 são, cerca de 0.25 magnitudes mais apagadas em média do
que deveriam ser caso o Universo fosse desacelerado, com Ω𝑚,0 = 0.3 e sem constante
cosmológica. Os dados de Supernovas vão até 𝑧~1; no entanto, isto está fora do intervalo
onde uma expansão descrita em termos de 𝐻0 e 𝑞0 é adequada para descrever o fator de escala

Estudante do curso de física do departamento de física da universidade do estado do rio grande do


norte; e-mail: gabriellrodriigues@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 517
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

𝑎 (𝑡). Assim, os dois grupos liderados por Adam Riess e Saul Perlmutter, que obtiveram estes
dados de Supernovas, inclusive ganharam o Nobel de 2011 por evidenciar que o Universo
passa por uma fase de expansão acelerada, costumeiramente descreveram os resultados em
termos de um modelo de Universo no qual contem matéria e constante cosmológica.
Escolhendo valores de Ω𝑚,0 e ΩΛ,0 , é calculado o valor esperado da relação entre 𝑚 − 𝑀 e 𝑧
e comparado com os valores observados. Com isso temos que o melhor modelo que se ajusta
aos dados observáveis é o modelo de um Universo plano que contém matéria e constante
cosmológica e um parâmetro de desaceleração negativo, Ω𝑚,0 = 0.3, ΩΛ,0 = 0.7, 𝑞0 =
−0.55. O parâmetro de desaceleração negativo nos diz que 𝑎̈ > 0, ou seja, o Universo está
aumentando a sua taxa de expansão. Um dos principais objetivos da cosmologia moderna é
entender os mecanismos físicos pelos quais o Universo está se acelerando, e entender a
natureza do que está causando está aceleração, que chamamos de Energia escura. Ao longo
deste trabalho foi possível observar que as Supernovas tiveram uma fundamental influencia
no desenvolvimento da cosmologia, principalmente no que diz respeito à expansão acelerada
do Universo e foi possível entender como isto de fato ocorreu.

Figura 1 – Modulo de distancia versus o redshift para SN tipo Ia a partir dos dados do High -z
Supernova Search Team e Supernova Cosmology Project. (Figura retirada de Introduction to Cosmology –
Barbara Ryden)

Estudante do curso de física do departamento de física da universidade do estado do rio grande do


norte; e-mail: gabriellrodriigues@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 518
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resumos expandidos de
CIÊNCIAS HUMANAS

http: // propeg.uern.br/sic/anais
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 519
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

“GUARDIÃO DA CULTURA MOSSOROENSE”: VINGT-UN E A


DIFUSÃO DA CULTURA CIENTÍFICA

Lílian Marineth Almeida Bezerra 1; Francisco Fabiano de Freitas Mendes 2

Palavras-chave: Política cultural. Produção de Saberes. Conhecimento Científico.

Introdução
A Coleção Mossoroense é conhecida pelo seu caráter diversificado, carregando
consigo mais de 4.000 títulos das mais variadas temáticas. Jerônimo Vingt-Un Rosado teve
papel fundamental na construção e idealização da coleção, colaborando não somente como
alicerce principal dela, mas também como autor, sendo capaz de estabelecer uma identidade
social através da sua conjunção.
Em meio aos seus múltiplos papéis, Vingt-Un engendrou certo apelo à ciência ,
inclusive, em suas próprias publicações. Durante os anos de 1974 a 1978, Vignt-Un assumiu a
direção da Escola Superior de Agricultura de Mossoró – ESAM, período no qual atividades
científico-cultural foram potencializadas, levando-o a receber inúmeras homenagens pelo seu
desempenho. Ao mesmo tempo em que buscava trazer avanços voltados a administração da
instituição, ele também publicava diversos trabalhos, folhetos e livros ratificando o seu nítido
interesse pela ciência.
Dessa forma, o presente estudo tentou compreender como se deu esse processo de
difusão cientifica, tendo em vista todas as medidas que ele tomou a favor do conhecimento
científico durante esse período, assim como as suas próprias publicações, discursos e
solenidades, tentando analisar as estratégias utilizadas para isso.

Metodologia
A pesquisa se deu através de algumas etapas. Primeiramente, houve a delimitação dos
títulos que fizessem jus aos objetivos do projeto. Em seguida, foi feita uma análise crítica em
cima desses títulos, buscando compreender o papel que eles tiveram no contexto em que
estavam inseridos. O diálogo historiográfico entre os autores e a historiografia potiguar e
brasileira também foi crucial para o desempenho da pesquisa, pois cumpriu a função de
estabelecer uma conexão historiográfica.
O estudo deste trabalho foi fundamentado em ideias e pressupostos de teóricos que
apresentam significativa importância na definição e construção na prática da história cultural e
da história social da cultura (ver em: WILLIAMS, 2000, 2011; CHARTIER, 1990, 1994; De
CERTEAU, 1982, 1995, 2011; GINZBURG, 2001).

Resultados e discussões
A atuação de Vingt-Un Rosado, não somente como idealizador da coleção, mas
também como autor de inúmeros títulos, se faz de forma imprescindível. Apesar de não se

1
Estudante do curso de História, do Departamento de História – FAFIC – Campus Central, da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: lilianbezerra29@gmail.com
2
Professor do curso de História, do Departamento de História – FAFIC – Campus Central, da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; Líder do Grupo de Pesquisa: História do Nordeste – sociedade e cultura; e-mail:
fabianomendes@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 520
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

considerar um escritor e sim um organizador de livros e folhetos, ele foi responsável por uma
rica produção na Coleção Mossoroense. Foram 253 livros e 297 folhetos organizados por ele
até 25 de outubro de 2002, segundo o levantamento feito por sua filha, a escritora Isaura Ester
Fernandes Rosado Rolim.
Durante 1974 a 1978 Vingt-Un publicou 23 trabalhos, sendo 7 folhetos e 16 livros.
Nessas obras ele deixava clara a sua afeição pelo conhecimento, sobretudo, o conhecimento
científico. Para que se possa compreender melhor isso é necessário retroceder um pouco e
analisar cuidadosamente a história da ciência, observando uma tentativa de definição do que
venha a ser o conhecimento, assim como o processo de produção, assimilação e divulgação do
conhecimento científico. Além da percepção de conceber a história da ciência como
colaboradora na busca de novas respostas para impasses até então não solucionados, tais como
o intervalo entre a produção científica e a sua aplicabilidade tecnológica.
O conceito de mediação cultural também foi bastante explorado, buscando
compreender quais as estratégias que Vingt-Un utilizou para conseguir transmitir, de forma
efetiva, tantas informações sobre os mais diversos assuntos para um público tão diversificado.
Para isso, a discussão feita por Angela de Castro Gomes foi essencial:
Talvez seja possível pensar no mediador como um agente que produz a
“rotinização” de significados de bens culturais. Tal atividade tem como
premissa, muitas vezes, fazer com que seus produtos sejam
“recebidos/consumidos” em larga escala, utilizando para isso suportes de
grande circulação, tudo variando ao longo do tempo/espaço.

Conclusões
A presente pesquisa chega a um ponto no qual os resultados obtidos apontam para as
manifestações da difusão científica não somente sob a influência de Vingt-Un, mas também
sob influência de outros fatores externos presentes em outros títulos. O enfrentamento desses
textos se faz necessário numa etapa posterior.

Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq pela bolsa PIBIC e a Pró-reitoria de Pesquisa de Pós-graduação
da UERN pelas orientações e condução do processo.

Referências
ALFONSO-GOLDFARB, Ana Maria; FERRAZ, Márcia Helena Mendes; BELTRAN, Maria
Helena Roxo. A historiografia contemporânea e as ciências da matéria: uma longa rota cheia
de percalços. In: ALFONSO-GOLDFARB, Ana Maria; BELTRAN, Maria Helena Roxo (Ed.).
Escrevendo a História da Ciência: tendências, propostas e discussões historiográficas. São
Paulo: Educ/ Livraria da Física/ Fapesp, 2004. p. 49–73.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Ed.
Bertrand Brasil, 1990.
CHARTIER, Roger. A história hoje: dúvidas, desafios, propostas. Estudos Históricos. Rio de
Janeiro, vol. 7, n. 13, 1994.
De CERTEAU, Michel. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
De CERTEAU, Michel. História e psicanálise: entre a ciência e a ficção. Belo Horizonte-MG:
Ed. Autêntica, 2011.
De CERTEAU. Michel. A cultura no plural. 2ª ed. Campinas-SP: Papirus, 1995.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 521
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

GINZBURG, Carlo. Olhos de madeira: nove reflexões sobre a distância. São Paulo: Cia. das
Letras, 2001.
GOMES, Ângela de Castro; HANSEN, Patrícia Santos. INTELECTUAIS MEDIADORES:
Práticas culturais e ação política. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016
WILLIAMS, Raymond. Cultura e materialismo. São Paulo: Ed. Unesp, 2011.
WILLIAMS, Raymond. Cultura. 2ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 522
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A EDUCAÇÃO E O PROCESSSO DE COMUNICAÇÃO PELO


AFETAMENTO

Vinícius Campelo Pontes Grangeiro Urbano1; Jucieude de Lucena Evangelista2


Palavras-chave: Educação; Comunicação; Afetos.

Introdução:
O presente trabalho recorre a uma experiência realizada com os professores da
rede de ensino do Vale Jaguaribe, no estado do Ceará, onde houve a possibilidade de
exercitar a proposta empírica do projeto e deixar fluir todo o manancial teórico-
metodológico da pesquisa.
A experiência ocorreu a partir de uma capacitação para professores do ensino
básico. A capacitação ocorreu através de duas videoconferências, para turmas diferentes
de professores, nas quais tivemos a oportunidade de aplicar de dois modos diferentes as
estratégias metodológicas da nossa pesquisa.
De modo sucinto, trago aqui a fala elaborada para a vídeo conferência, onde se
buscou conduzir uma reflexão sobre a importância do ensino com amor e com afetamento,
onde as emoções humanas ganham corpo e voz, realizando o processo de educação como
processo de comunicação.

Metodologia:

Fazendo ouvidos a crítica que o escritor Edgard Ribeiro (2008) conduz em seu
romance ao personagem Nguon, quando fala em primeira pessoa sobre o texto ao qual o
amigo manda para que ele possa opinar, onde ele diz:

“Os labirintos que levam às boas histórias passam por trilhas que nascem bem
além do universo pessoal, pois que se enraízam em um mistério. É preciso saber
fechar os olhos e mergulhar na escuridão. O mundo já tem uma quota excessiva

1
Estudante do curso de Filosofia do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais (FAFIC) da
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte.; e-mail: viniciuspsicologiapg@gmail.com
2
Professor do Departamento de Comunicações Sociais (DECOM) da Universidade Estadual do Rio
Grande do Norte Líder do Grupo de
Pesquisa da Complexidade (GECOM).; e-mail: jucieudelucena@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 523
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

de escrivinhadores trabalhando a meio metro do solo, amparados por redes ou


camas elásticas”
Assim, a imersão no sentir e amparado teoricamente pelos autores que se
apresentaram ao longo da discursão, se buscou usar como método a potência dos
afetos e a utilização de metáforas narrativas como modo rebuscado de criara imagens
e realizar des...fazeres3 imagéticos. Sempre tentando trazer a luz as experiências e os
afetos como principal estratégia de comunicação.

Resultados e Discussão:
Aos que esperavam de mim quantificações e números expressivos sobre o afeto,
eu peço licença, a muito que minha ciência não é a positivista, a muito que minha ciência
é a humana, é a rigorosa, a que se debruça na hermenêutica, que extravasa por vez os
números e o naturalismo, mas peço que não se dispensem, pois talvez o que eu trago em
minhas palavras e na sonoridade da fala que apresentei, seja inclusive o tema para o qual
eu fui convidado a falar. Hoje lhes trago uma narração minha mas que não é só minha,
porque esta é composta por outros que me afetaram, e com os quais busque afetar os
professores com quem dialoguei. Assim trago as ideias da ciência da complexidade de
Edgar Morin, da ciência que busca uma decolonialidade, que busca o humano.
Logo, busco a saída deste engodo amargo que caiu o ocidente, que por muito cessa
da vida um dos seus principais mananciais, este engodo é a concepção de um Homem
Sapiens Sapiens, um ser apenas fluido de razão e saber, pois esta ideia só negligência a
dimensão Demens do humano, como explica Morin (2005).
O Demiens, este lado que foi tão capengado por nós é o lado que permite e que
conduz o humano ao belo, a criação, o Demens ou os afetos são engrenagens de nossa
vida, posto que a razão também se sustenta sobre o amor pelo conhecimento.
A afetividade, este amor é o que nos conecta com o outro, é o que nos da gosto do
aberto, como explica Han (2019). É o que permite um pouco mais nas relações, e este
permitir um pouco a mais está para além da relação amorosa, se encontrando também na
relação do educar.
Pois amar é estar afetado por algo, é se permitir alçar voos para um
compartilhamento ao lado de. Amar é verbo não predicativo, e é por isto que pede de nós
o conviver, o compartilhar para compreender, diferente da razão que só se apropria do

3
EVANGELISTA (2017)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 524
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

conhecimento para explicar. O amor, este afeto primordial e abençoado por Eros e os
Querubins, nos faz tentar, nos faz sonhar com o amanhã e esperançar, como diria Freire
(2004). Esse gesto de esperançar está nos fundamentos do gesto de educar.
Talvez por isto, pelo poder deste afeto que Freire (2007) nos salienta para esta
postura radical de amar, de afetar e ser afetado. Por isto meus caros e minhas caras, que
educar está para além de um mero conteúdo, pois se este fosse a raiz do aprender, bastaria
os livros ou as maquinas com sua frieza para poder promover a educação, mas não é algo
tão simples, o educar consiste sobretudo em uma relação de diálogos entre humanos,
relação esta que por afetar mutualmente os que ali estão abre para o educador e o
educando a relação de ensino e transmissão (FREIRE, 2004).
Quem passou pela escola e nunca teve a experiência daquele educador/educadora
que lhe serviu de inspiração? Que o fez amar aquele conteúdo? O afeto da sociabilização,
da troca do diálogo é o que faz o toque nos âmagos dos sujeitos e o que os convoca ao
aprender. É o que faz o surgir das primeiras palavras no humano, que o faz a se por ereto
e andar de modo contrário a gravidade, é o afeto da família que promove a segurança e o
afetamento do ensino que convoca ao aprender mais (CYRULNIK, 1991).
Por isto não é à toa que no momento de reclusão provocado pela pandemia de
COVID-19, muitos não veem a hora de ir para escola ou faculdade, porque ali esperam
encontrar as pessoas as quais fazem do seu cotidiano mais doce. Não veem a hora de
escutar a aula daquele ou daquela educadora que o afeta ao falar com tanto amor sobre
seu conteúdo que tanto ama, pois escutar e ver o outro por uma tela deixa um gosto de
falta, um gosto que por mais que haja o encontro virtual não encontro de verdade, porque
falta o calor, o olhar, o estar ao lado de.
Por isto meus caros e minhas caras que jamais a profissão de educador/educadora
serão substituído por maquinas, por que a ausência deste outro não tem a capacidade para
me inspirar para mais, por mais que o conteúdo me afeto não posso compartilha-lo, não
posso escutar a voz sonora e ver as expressões do educador/educadora ao falar com amor
sobre seu conteúdo.
Nós somos seres de afeto, e isto nos move, aos que ainda duvidam disto, peço que
leiam Maturana (2002), que sempre aponta a carga do afeto explica, que nunca há
ausência deste em nossas vidas, por mais que se ausente o máximo deste ainda se teve a
interferência diante de uma decisão.
Por isto na mensagem que levamos aos educadores/educadoras, enfatizamos no
amor pela transmissão do que eles fazem, buscando usar as imagens da arte, da música,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 525
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

das narrativas, contos e história, para romper a concepção de educação que se baseia na
reprodução de informações como processo de transmissão de conhecimento.
Conhecimento se constrói, não se transmite.
A lógica do pensamento de Paulo Freire é precisa quanto a isto, pois somos seres
abertos ao mundo. Então se permitir afetar e também afetar o outro configura uma postura
radical do amor, postura que nos permite compartilhar, que nos desassocia dessa visão
desnaturada de individuo, pois não há individual, não a solitário, o que há é o singular,
uma expressão única mais não isolada, pois somos uma construção do singular e do social,
não há esta separação (AGAMBEN, 2013)
É por isto que é preciso a sociabilização, é por isto que nos afetamos e que
precisamos nos permitir ao afeto no processo de educação, porque ele causa, ele rompe,
ele provoca. Veja o que é a filosofia se não a amante da sabedoria (AGAMBEN, 2009),
e veja de onde parte toda ciência se não da ação de amor pelo saber.

Conclusão:
Nos dois encontros nos quais a experiência foi realizada foram usadas estratégias
diferentes a partir do mesmo texto. Em ambos o objetivo foi motiva o relator de
experiências dos docentes. No primeiro momento ele foi trabalho de moído mais árido,
usando conceitos e autores para motiva a discussão. Essa estratégia implicou no
distanciamento dos docentes.
No segundo momento iniciamos coma provocação aos docentes para que
relatassem suas experiências, destacando que o objetivo era dialogar a partir dessas
experiências. Assim, colocamos os sujeitos no lugar dos conceitos e dos teóricos. Para
desenvolver a educação como processo de comunicação que afeta o outro é necessário
colocar o sujeito no centro do processo, para compreendê-lo e construir conhecimento
junto e em diálogo. Nesse segundo momento foi salientada a importância da vivência
como possibilidade formativa e como elemento de comunicação entre educador e
educando, o que geral mais diálogos e afretamentos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 526
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REFERÊNCIAS:
AGAMBEN, G. O que é o contemporâneo? E outros ensaios. Santa Catarina:
Argos, 2009.
AGAMBEN, G. A comunidade que vem. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
CYRULNIK, B. O nascimento do sentido. Lisboa: Instituto PIAGET, 1991
EVANGELISTA, J, L. SOBRE IMAGENS, PENSAMENTO E EDUCAÇÃO:
NARRATIVA DE UMA
CAMINHADA AO ENCONTRO DO SUJEITO IMAGINADOR NA ESCOLA. 2017
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 2004
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 30 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007
HAN, B. Agonia do Eros. 1 Ed Digital. Rio de Janeiro: Vozes, 2017.
MATURANA, R, H. Emoções e linguagem na educação e na politica. 3d. Belo Horizonte:
Editora UFMG. 2002
MORIN, E. Amor, Poesia e Sabedoria. 1 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2005.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 527
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO PME: INDÍCIOS POLÍTICOS E OS


DESAFIOS PRÁTICOS NA ESCOLA PÚBLICA

Alicy Daliane de Melo1; Aldeci Fernandes da Cunha2

Palavras-chave: Ações Políticas. Inclusão. Efetivação.

Introdução
As políticas educacionais no campo da Educação Especial são marcadas por avanços e
retrocessos, as quais vem possibilitando a construção de modelos educacionais que vão ao
encontro dos posicionamentos teóricos dos órgãos especialistas em educação. Assim, cada
política, carrega em si, as compreensões dos sujeitos envolvidos no processo de elaboração da
proposição política definida nos planos educacionais, em especial nas diretrizes para a oferta
da Educação Especial.
Encontramos em Cunha (2019), que o Brasil foi bastante tardio na proposição de
políticas educacionais para o atendimento as pessoas com deficiência e transtornos, período
de abandono sem a existência de diretrizes e de políticas de garantia para a oferta da educação
para este público.
A história da Educação de pessoas com deficiência no Brasil é marcada
desde o período colonial, por exclusão e abandono, sem a existência de
políticas públicas por parte do governo, que possibilitasse a existência de
uma ação educativa para com este público. As pessoas com deficiências
eram jogadas a própria sorte, não existindo assim, nenhuma preocupação por
parte do governo (CUNHA, p. 2, 2019).

É importante destacarmos, que mesmo com muitos retrocessos e, até mesmo tardio no
tocante a existência de políticas educacionais para a área da Educação Especial, muitas
questões foram avançando nos últimos vinte anos, sejam no campo legal, como também no
campo prático, nos cotidianos das escolas.
Pensando no campo legal, temos a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDBEN), que discute sobre o atendimento as pessoas com deficiência. No Título X, desta lei
assim, estabelece:
Art. 88. A educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-
se no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na comunidade.
Art. 89. Toda iniciativa privada considerada eficiente pelos conselhos
estaduais de educação, e relativa à educação de excepcionais, receberá dos
poderes públicos tratamento especial mediante bolsas de estudo,
empréstimos e subvenções (BRASIL, 1961).

Vemos que se inicia uma discussão legal sobre a oferta e o atendimento educacional as
pessoas público-alvo da Educação Especial. Tal atendimento, passa a ser uma garantia de

1
Estudante do curso de pedagogia do Departamento de educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; alicydalianedemelo@gmailcom.
2
Professor do Departamento de educação-Campus de Assu da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
participante Núcleo de Pesquisa em Educação(NUPED). fernandescunha@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 528
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

direito e dever do estado para a oferta dos serviços educacionais para com os estudantes com
deficiência e outros transtornos do desenvolvimento.
Outros documentos legais, voltados mais especificamente para o campo educacional,
também seguiram com a proposição de políticas educacionais nacionais para o atendimento
educacional ao publico da Educação Especial, como o I Plano Nacional de Educação de 1962,
que apresenta sobre a necessidade de investimento financeiro para tal fim. Ainda, tivemos a
LDBEN de 1996, que avança na discussão sobre o atendimento educacional, cirando um
capítulo específico e, ao mesmo tempo, avançando sobre o conceito de Educação Especial,
visto agora como uma modalidade de ensino.
O II Plano Nacional de Educação, instituído pela Lei nº 10.172/2001, estabelece
objetivos, metas e diretrizes para a oferta educacional aos estudantes com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e superdotação. Ainda na
proposição de planos nacionais de Educação, no ano de 2014, foi publicado um novo Plano
Nacional de Educação, com direção de dez anos 2014 a 2024, o qual no seu esboço apresenta
a Meta 4, destinada ao atendimento das pessoas público-alvo da Educação Especial.
A Educação Especial principalmente na escola pública vem desde sempre enfrentando
inúmeros desafios que precisam ser enfrentados e superados por parte de todos que dela faz
parte, alunos, famílias e escola.
O movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural,
social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os
estudantes de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo
de discriminação. A educação inclusiva constitui um paradigma educacional
fundamental na concepção de direitos humanos, que conjuga igualdade e
diferença como valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de
equidade formal ao contextualizar as circunstâncias históricas da produção
da exclusão dentro e fora da escola. (PNEEPEI,2008).

A partir do reconhecimento das dificuldades que são enfrentadas no sistema de ensino


se percebe a necessidade da criação de práticas que contribuam para a construção de escolas
inclusivas e meios de superar as exclusões que acontecem no cotidiano escolar.
O presente trabalho buscou analisar o Plano Municipal de Educação (PME) na cidade
de Assú/RN, especificamente a meta 4, que trata sobre as diretrizes municipais para o
atendimento ao público da Educação Especial.

Metodologia
Neste estudo assumimos uma opção de pesquisa que se caracteriza como qualitativa,
que para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa integra com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.
Para a realização do estudo, fizemos uma revisão de literatura, em especial pesquisas
no campo da legislação, como forma de compreendermos que vem sendo construído no
campo das políticas educacionais, analisamos o Plano Municipal de Educação (PME) do
município de Assú/RN. Ainda, realizamos a técnica do questionário, instrumento esse
construído e realizado por meio do Google Forms.
As informações construídas por meio do questionário, se deu em colaboração com um
técnico que é responsável pela Educação Especial na Secretária Municipal de Educação e,
com 5 gestores da rede municipal de ensino.

Resultados e discussões

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 529
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A organização do questionário se deu a partir dos objetivos propostos pela política


educacional do município, como também do estabelecido na PNEE de 2008, documento este
que estabelecia as diretrizes educacionais para os estudantes com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação, até setembro de 2020, com a
institucionalização da nova PNEE instituída pela lei 10.502 de 30 de setembro de 2020.
Assim, as questões propostas foram organizadas a partir do objetivo para Educação Especial
na perspectiva inclusiva, que assim se define
A política nacional de educação especial na perspectiva da educação
inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos
estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de
ensino para promover respostas as necessidades educacionais.
(PNEEPEI,2008).

Para que política nacional de educação seja colocada em prática se faz necessário que
sejam pensadas metas e estratégias de ensino para que esse aconteça de forma igualitária sem
descriminações e oferecendo os recursos necessários para que torne a caminhada educacional
menos desigual.
A primeira parte deste estudo, foi analisar a Meta 4 do Plano Municipal de Educação
do município de Assú/RN, e identificamos em nossas análises que as estratégias propostas
vão ao encontro do estabelecido no Plano Nacional de Educação, como também com as
diretrizes propostas pela em tão politica nacional da Educação Especial na perspectiva da
Educação inclusiva.
Quando analisamos as informações construídas junto a Secretaria Municipal de
Educação, identificamos que as ações e ou estratégias pensadas e publicadas por meio do
PME, poucas foram implementadas ou implantadas. Uma ação que merece ser destacada, a
qual se faz presente nas ações, é a contratação de estagiários-estudantes dos cursos de
licenciatura, em parceria com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), para auxiliar os professores que
tem alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e, altas habilidades e
superdotação.
É importante frisar, que mesmo com essa ação política, não existe por parte da
Secretaria Municipal de Educação, nenhum tipo de formação para com esses estagiários, os
quais terminam atuando como guardiãs dos alunos com deficiência.
Percebemos a partir das respostas dos gestores escolares, que não existem nas escolas
da rede municipal uma política pública voltada para o atendimento aos estudantes da
Educação Especial, e cada escola vai trabalhando com esse publico sem muito conhecimento
e sem investimentos.
Com base nas respostas dos questionários realizados com o técnico da secretaria
municipal de educação e com os gestores das escolas municipais, identificamos que existem
as estratégias para a efetivação porem, como apontado nas respostas, ainda existem muitos
pontos que precisam ser trabalhados, dentre eles, observa-se: a falta de recursos financeiros e
humano como fatores importantes que ainda não são atendidos, oque acaba por impedir a
efetivação de outras estratégias bem como monitoramento e avaliação. Os gestores escolares
apontam a falta de formação continuada na área como uma das principais dificuldades
enfrentadas por eles, pois nem sempre os professores tem a formação necessária para atender
as demandas que surgem no dia-a-dia das escolas, sendo esse um dos principais elementos
apontados como um dos maiores entraves para o atendimento educacional as pessoas que
apresentam algum tipo de deficiência e ou transtornos.
As discussões e análises construídas a partir das informações obtidas, nos levam a
compreender a inexistência de indícios políticos por parte da Secretária Municipal de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 530
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Educação para a construção de alternativas que garantam o cumprimento do estabelecido


como política para o atendimento educacional as pessoas com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação, no contexto da sala regular de ensino.

Conclusão
Com o este estudo conclui-se que o PME é muito bem articulado com as diretrizes
nacionais, mas que necessita um pensar político da gestão municipal no tocante a realização e
construção de condições para que as ações estabelecidas no documento possam ser efetivadas
no cotidiano das escolas da rede municipal de ensino.
O estudo nos propôs uma reflexão política sobre como o município vem ofertando a
Educação Especial sob a luz do estabelecido no Plano Municipal de Educação, de modo que
as ações pensadas/estabelecidas cheguem até as escolas e contribuam para o processo de
inclusão educacional das pessoas público-alvo da Educação Especial.
Assim, com o estudo percebemos a necessidade de investimentos, seja no tocante a
oferta de formação continuada não apenas para os professores, como também para todos que
compõem a escola, e na proposição organizacional da forma do atendimento educacional para
com este público, tendo em vista a inexistência de um modelo educacional no município,
inexistindo até mesmo, o modelo de atendimento adotado no brasil que são as salas de
recursos multifuncionais onde ocorre o atendimento educacional especializado (AEE).

Agradecimentos
Aqui deixamos nosso agradecimento ao CNPQ pelo apoio científico, que é de grande
importância para a construção do conhecimento científico, também a UERN por nos permitir
a cada dia viver a busca pela construção do saber. Agradecemos também aos profissionais da
prefeitura municipal de Assú pela colaboração com este trabalho.
Referencias
BRASIL, Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Brasília/DF,1961.Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/LEIS/L4024.htm. Acesso em 20 de out. de 2020.

BRASIL, Ministério da Educação/SECADI. Política nacional de educação especial na


perspectiva da educação inclusiva, 2008.

BRASIL, Lei n° 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e


dá outras providências. Brasília/DF, 2001. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/L10172.pdf. Acesso em 04 de outubro de 2020.

BRASIL, LEI Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da


educação nacional. Brasília/DF, 1996. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf. Acesso em 10 de outubro de
2020.
MINAYO, Maria Cecília de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; CRUZ NETO, Otávio.
Pesquisa Social: Teoria Método e Criatividade. 21. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

CUNHA, Aldeci Fernandes da Cunha. A Educação Especial Inclusiva no PME: indícios


políticos e os desafios práticos na escola pública In Programa Institucional de Iniciação
Científica/UERN- Edição 2019/2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 531
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A ÉTICA NA VOZ DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO

Ravana Ayra Ramos de Carvalho1 Giovana Carla Cardoso Amorim2

Palavras-Chave: Escola. Ética. Moral. Aprendizado.

Introdução

A moral se caracteriza como ação coletiva, envolvendo a questão social, as regras e a


cultura. Contudo, a ética é a interpretação acerca da moral. Dias (2020) relata que: para Kant,
a moral ordena: o sujeito sente-se intimamente obrigado a agir segundo determinadas regras.
Na área da sociologia, Durkheim (1974), preocupado em demonstrar a viabilidade de uma
educação moral laica, aceita a definição de Kant, que ele traduz por "agir bem é obedecer
bem". Dentre tais perspectivas, percebe-se que a ética e a moral possuem conceitos bastante
próximos entre os que dedicam- se a estudá-los, envolvendo similitudes e diferenciações.
Com a pesquisa, buscamos a estratégia da ampliação e propagação dos valores
comentados acima, que juntos ao currículo diversificado do modelo integral se articulam com
o projeto escolar, trazendo benefícios e a qualificação necessária aos indivíduos da
instituição. Sendo assim, é sabido que ambos não concorrem entre si, mas coexistem, um não
se sobrepõe ao outro porque tanto o processo educacional em si como os princípios éticos e
morais são imprescindíveis para a formação do jovem.
Tratar desse assunto é importante para que o principal público alvo (educandos e
educadores da E.E.T.I Aida Ramalho Cortez Pereira) tenha entendimento e consiga perceber
de forma intencional na sala de aula esses componentes essenciais para a progresso dos
indivíduos e que, na verdade, devem ser trabalhados desde a pré-escola, conforme La Taille
(2019).

Metodologia

. A metodologia utilizada foi a revisão de literatura e a ampliação da compreensão por


meio de vídeos na plataforma do YouTube, além da aplicação de questionários que envolvem
a constante da educação somada às concepções éticas e morais do corpo docente de 6 (seis)
professores da E.E.T.I. Aida Ramalho Cortez Pereira.
Em suma, percebe- se o quanto o complemento por intermédio de materiais e métodos
é significativo e indispensável para a pesquisa.

Resultados e discussões
.
Comumente, as palavras "moral" e "ética são empregadas como sinônimas. Por
exemplo, diz- se de uma pessoa que 'ela não é ética' para criticar seus comportamentos e

1
Aluna da Escola Estadual em Tempo Integral Aida Ramalho Cortez Pereira. E-mail: rvnayra@gmail.com
2
Professora do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande Norte – UERN,
participante do Grupo de Pesquisa de Formação e Profissionalização Docente e POSEDUC; e-mail:
giovanacarla@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 532
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

atitudes. Quando se fala em 'problemas éticos', costuma-se fazer referência a questões


atinentes aos deveres, portanto, ao plano moral. Emprega-se, na maioria das vezes, ética
como sinônimo de moral. Nota- se que tal sinonímia é perfeitamente aceitável, e alguns
autores empregam um ou outro conceito indistintamente.
A seguir será apresentado o resultado da análise realizada com o corpo docente da
E.E.T.I. Aida Ramalho Cortez Pereira no ano de 2019.

Tabela 1
Iniciais de seu nome M.B.B.
Idade 36 anos
Área de atuação Professora/Vice-diretora
Formação Licenciatura em Física UFF/Mestre em Ensino de
Física UFERSA
O que entende por ética? A ética está relacionada com os hábitos das pessoas,
o que é certo ou errado para viver em sociedade.
O que entende por moral? A moral engloba preceitos que mudam em virtude da
cultura.
Como você age com os alunos para construir uma Procuro transmitir valores nas minhas aulas e não
posição ética/moral? apenas ensinar o conteúdo. Quero prepará-los para a
vida, mostrando através do diálogo aberto o que é
certo ou errado para fazer na escola, por exemplo.
Na sua opinião como a escola pode discutir Existem inúmeras ferramentas para levar essa
princípios éticos e morais? discussão para a sala de aula: debates, filmes, rodas
de conversa.

Tabela 2
Iniciais de seu nome M.O.G.
Idade 37 anos
Área de atuação Professor de Arte/Educação
Formação Licenciatura em Música (UERN); Especialista em
Educação e Contemporaneidade (IFRN).
O que entende por ética? São princípios que norteiam a vida do ser humano,
de modo a motivar, disciplinar, ou até mesmo,
podendo distorcer o comportamento humano, tendo
suas bases em normas e valores existentes no meio
social.
O que entende por moral? São regras adquiridas ao longo da nossa formação,
sendo propagada por meio do comportamento
humano, tendo sua propagação através da nossa
cultura, educação e costumes.
Como você age com os alunos para construir uma Através da observação do tipo de comportamento
posição ética/moral? que os mesmos demonstram no ambiente escolar;
confrontando ideias de pensamento distintos, entre
colegas, a partir de uma temática a ser discutida em
sala de aula; analisando o tipo de relação
comportamental, oposta ao que os alunos pensam um
do outro.
Na sua opinião como a escola pode discutir Parcerias com instituições que promovem palestras
princípios éticos e morais? específicas ao tema sugerido nesta pesquisa; focar na
dicotomia, entre a realidade do aluno no ambiente
familiar e escolar, considerando as regras presentes e
posturas dos mesmos nestes espaços em que atuam.

Tabela 3
Iniciais de seu nome F.D.P.
Idade 45 anos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 533
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Área de atuação Professor de Língua Portuguesa.


Formação Licenciatura em Língua Portuguesa
O que entende por ética? São os valores morais de cada indivíduo.
O que entende por moral? Modo de agir com maior ou menor rigidez em certas
circunstâncias, nas quais você se impõe sobre outro
indivíduo; são valores individuais de cada cidadão.
Como você age com os alunos para construir uma Através de ações diárias, sempre demonstrando como
posição ética/moral? agir, como lidar com certas ocasiões, mostrando e
incentivando o modo certo de agir, de falar, de
pensar.
Na sua opinião como a escola pode discutir A escola deveria, com frequência, desenvolver ações
princípios éticos e morais? que propiciassem as discussões sobre ética e moral, a
fim de fortalecer o conhecimento sobre valores e
princípios.

Tabela 4
Iniciais de seu nome F.R.F.
Idade 25 anos
Área de atuação Professor de Química
Formação Licenciatura em Química
O que entende por ética? É a junção de valores morais e princípios que
direcionam o nosso comportamento perante a
sociedade.
O que entende por moral? Regras ou comportamentos adquiridos através de
uma cultura ou educação, que também orientam o ser
humano na sociedade.
Como você age com os alunos para construir uma Tomar cuidado com a vestimenta que apresento em
posição ética/moral? sala de aula, conter na minha fala ao máximo as
gírias ou palavras chulas, evitar conversas de
conteúdo controverso e desrespeitoso.
Na sua opinião como a escola pode discutir Através de diálogos com os alunos, seja em cada sala
princípios éticos e morais? ou numa palestra em toda a escola. Pode também
utilizar de recursos áudio visuais como filmes para
exemplificar conceitos certos e errados sobre o tema.

Tabela 5
Iniciais de seu nome E.J.N.
Idade 52 anos
Área de atuação Professor de Matemática
Formação Superior
O que entende por ética? O modo de agir de uma pessoa com as demais.
O que entende por moral? O costume de um povo de uma sociedade, que muda
constantemente.
Como você age com os alunos para construir uma Agindo e respeitando o comportamento individual
posição ética/moral? das pessoas, costumes que são renovados
constantemente.
Na sua opinião como a escola pode discutir Respeitando o comportamento, costumes ou hábitos
princípios éticos e morais? dentro da escola. Envolvendo pais, professores,
funcionários e alunos.

Tabela 6
Iniciais de seu nome M.S.N.M.
Idade 40 anos
Área de atuação Letras – Língua Inglesa
Formação Superior
O que entende por ética? Conjunto de valores de uma determinada sociedade.
O que entende por moral? São valores internos que nos levam a tomar decisões
que julgamos éticas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 534
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Como você age com os alunos para construir uma Tentando ser justo e transparente em minhas ações.
posição ética/moral?
Na sua opinião como a escola pode discutir Discutindo valores e postura. Através de seleção de
princípios éticos e morais? textos e problemáticas que coloquem o cidadão a
refletir sobre suas decisões e as consequências de seu
modo de agir.

Com base no exposto, torna-se evidente que as respostas do corpo docente foram
consonantes com a expectativa, possuindo resultados positivos e agradáveis em relação ao
modo como agem em sala de aula pra garantir não só o ensino, mas também demonstrando
ética e moral no convívio diário dentro da instituição, pautados pelo respeito e pela igualdade.
Contudo, pode-se perceber que as escolas públicas de Mossoró, especialmente a
E.E.T.I. Aida Ramalho Cortez Pereira já se preocupa com o modo de agir em sala de aula
para construir posições éticas e moais, sendo um dos grandes passos para o avanço da
sociedade atual.

Conclusão

Ao término da pesquisa conclui-se que os princípios estão sendo propagados para o


bom desenvolvimento dos educandos, agindo de forma significativa na formação e vivência
de valores éticos e morais, desde a sala de aula até toda a trajetória do cidadão (o que é
crucial).

Agradecimentos

Agradecemos à UERN pela oportunidade na participação da pesquisa e por todo


investimento e olhar em relação ao estudante do Ensino Médio.

Referências

DIAS, Maria Olívia. Ética, Organização E Valores Ético-Morais Em Contexto


Organizacional. Gestão e Desenvolvimento. 2014. Acesso em: 25 fev. 2020.

FALZETTA, Ricardo. Qual o papel da escola na formação ética e moral dos estudantes?
O globo. 05 jul. 2016. Disponível em: < https://blogs.oglobo.globo.com/todos-pela-
educacao/post/qual-o-papel-da-escola-na-formacao-etica-e-moral-dos-estudantes.html>.
Acesso em: 07 out. 2019.

FIGUEIREDO, Antônio Macena. Ética: origens e distinção na moral. Saúde, Ética &
Justiça. 2008. Disponível em: <
https://www.academia.edu/29573854/%C3%89tica_origens_e_distin%C3%A7%C3%A3o_d
a_moral_Ethics_origins_and_the_moral_distinction>. Acesso em: 20 jan. 2020.

TAILLE, Yves de La. Moral e Ética: uma leitura psicológica. Scielo. 2010. Disponível em:
< https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722010000500009#nt>.
Acesso em: 08 set. 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 535
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A EXPERIÊNCIA SOCIAL DOS ESTUDANTES DA EJA: COMO É


QUE ISSO VIRA CURRÍCULO PRATICADO NA ESCOLA?
Maria Eliza de Araújo Berto1; Francisco Canindé da Silva²

Palavras-Chave: Praticas cotidianas na escola. Conhecimento Senso Comum –


Cientifico. Organização pedagógica.

INTRODUÇÃO
O referido resumo resulta de uma pesquisa realizada a partir do projeto Currículos
pensados-praticados nos cotidianos da EJA: redes horizontais de saberesfazeresvalores,
no município de Assú/RN. Os objetivos da pesquisa são: reconhecer como os saberes da
experiência feita dos sujeitos da EJA se articulam como as práticas pedagógicas
cotidianas da escola; Compreender como os professores desta modalidade educativa
trabalham, curricularmente, os saberesfazeresvalores da experiência feita; produzir
sentidos epistemológicos e políticos aos processos de criação curricular cotidiano na EJA
como conhecimento válido.
Para que pudéssemos realizar a pesquisa foi elaborado um Diário de Bordo com
função de caracterizar nossas atividades durante o período das observações. Inicialmente
foi realizado encontros em que foi estudado os textos dos referidos autores: (SANTOS,
2002,2209); (FREIRE, 2002); (OLIVEIRA, PEIXOTO, SUSSEKIND, 2019).
Fundamentado nas leituras realizadas chegamos a conclusão de que a visão deve ser
voltada, não somente para as dificuldades existentes naquele espaço, mas capaz de
enxergar para além dos blocos de conteúdos das disciplinas.
Com a compreensão dos textos foi possível captar a necessidade de redimensionar
nossos pensamentos para a ideia de reinventar os métodos, tornando possível ultrapassar
os indícios de comodidade que ainda circundam as práticas dos professores. Nesse
sentido, é preciso capturar ao máximo, como é o trabalho dos professores da EJA e como
podemos relacioná-los com a realidade de vida dos alunos. Partindo da reflexão feita nos
textos, pode-se indagar: como enlaçar as experiências sociais dos alunos da EJA como
currículo?
METODOLOGIA
Nosso projeto foi organizado nas seguintes etapas: incialmente, realizamos a
leitura compreensiva do projeto de pesquisa para que pudéssemos chegar a uma
compreensão teórico-reflexiva dos espaçostempos cotidianos escolares, antes de
adentrarmos a rotina da sala de aula. Para esta compreensão também realizamos estudos,
relacionando textos que trabalhem a autonomia do estudante, do mesmo modo que
pudéssemos ter uma visão mais ampla ao chegarmos a escola, buscando relacionar os
textos lidos com a realidade de vida dos alunos envolvidos com a pesquisa.
Em um segundo momento iriamos realizar a pesquisa em uma escola estadual do
município de Assú/RN. Entretanto, com uma mudança que ocorreu o município de Assú
ficou apenas com um Centro de Educação para Jovens e Adultos. E com os contratempos

1
Estudante do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Departamento de Educação, Campus Avançado
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) em Assú. E-mail:
mariaelizaberto@hotmail.com
² Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (POSEDUC) e do Curso de Pedagogia, Campus
Avançado da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) em Assú. E-mail:
caninprof@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 536
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ocorridos por questões da pandemia provocada pelo Covid-19 que estamos vivenciando
em todo o mundo, nosso contato com a escola foi brevemente na primeira semana de
planejamento pedagógico do ano letivo de 2020.
Como procedimento metodológico fomos realizando leituras compreensivas do
projeto de pesquisa e dos textos previstos, a partir das reuniões via Google Meet, a fim
definirmos os eixos norteadores para realização do mergulho nos cotidiano da referida
escola.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com suporte nas leituras realizadas nos encontros virtuais, entendemos que era
necessário introduzir as práticas escolares da EJA uma concepção mais democrática de
ensino-aprendizagem, apoiados na visão de Freire (2002) ao expor em seus textos que o
principal objetivo da educação é conscientizar o aluno, principalmente em relação às
parcelas da população desfavorecidas. Pensando assim, uma educação voltada para a
conscientização deve vencer primeiro o analfabetismo político, e a partir disso ler o seu
mundo a partir da sua experiência, de sua cultura e de suas próprias histórias.
Nesse sentido, Santos (2009) nos ajuda a entender que educação é uma práxis que
se volta para os acontecimentos sociais nos seus mais distintos formatos. Em seus textos
foi possível assimilar a ideia de romper com as concepções de sociedade moderna em sua
incansável busca de desvendar, compreender e transformar a realidade dos sujeitos, partir
das fragilidades existentes na contemporaneidade. Sua luta é democratizar as formas de
conhecimento, impulsionando aos leitores a refletir sobre como vem se organizando o
sistema educacional no Brasil.
De forma distinta das pesquisas mais fechadas, metodologicamente, os estudos
nosdoscom os cotidianos, assumida no projeto de pesquisa, busca conversar com os mais
diversos acontecimentos que são produzidas nos espaços escolares e não escolares,
inclusive porque com o auxilio dos textos estudados fomos capazes de entender que esse
movimento não possui uma definição fechada, afinal não existe apenas uma única teoria
ou um único jeito de fazer os indivíduos adquirirem conhecimento.
CONCLUSÃO
Diante do que foi visto, durante os meses da pesquisa foi possível analisar que
nosdoscom os cotidianos é possível entender que todas as experiências dos indivíduos
que estão naqueles espaçostempos escolares são compostas por histórias e significados
para além das prescrições (avaliações, notas, tempo cronológico etc.) que na maioria das
vezes, mais excluem do que ajudam a fazer os alunos entenderem sua importância para a
sociedade.
Enquanto graduanda e colaboradora desta pesquisa, foi importante entender que
não apenas os currículos pensados constroem conhecimento nos espaçostempos
escolares, mas sim que os jovens, adultos e idosos são capazes de produzir conhecimento
nos mais diversos âmbitos de suas vidas. E por essa razão é necessário que estejamos
sempre atentos aos mais diversos sentidos ao adentrar a escola e não apenas ir a escola
com uma visão carregada do que consideramos e avaliamos como o correto. Afinal, são
amplas e variadas a formas de aprendizagens. É importante estarmos atentos
compreendendo que as formas de conhecimento vão além do conhecimento cientifico.
AGRADECIMENTOS
À Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPEG) da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte.
Ao Programa Institucional de Iniciação Cientifica (PIBIC) da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 537
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
OLIVEIRA, Inês Barbosa. PEIXOTO, Leonardo Ferreira. SUSSEKIND, Maria Luiza.
Estudos do cotidiano, currículo e formação docente: questões metodológicas, políticas
e epistemológicas. Curitiba: CRV, 2019.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a
política na transição paradigmática. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 538
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A Formação emancipatória

Débora Laiza Souza Maia1; João Marcos Ribeiro dos Anjos2; Maria Mikaelly Fonseca
Nogueira3; Vivian Liégia de Araújo Santos.4 José Teixeira Neto5

Palavras-Chaves: Exercício. Mestre Ignorante. Emancipação. Filosofia. Ensino Médio.

Introdução

A tentativa de reconhecimento da emancipação intelectual foi o ponto de partida para


o projeto; reconhecer a capacidade intelectual de cada um fez com que os integrantes do projeto,
tanto o professor como os estudantes, se colocassem um desafio, fazer com que o anúncio da
emancipação intelectual chegasse às escolas. Conhecer os conceitos e experiências de Jacotot
apresentadas em O mestre ignorante por Rancière (2002) fez com que baseássemos nossa
construção dos exercícios emancipatórios para a filosofia no ensino médio. O primeiro ponto
importante a se analisar na construção do exercício para o reconhecimento da emancipação
intelectual é que ele tem uma dimensão mais prática do que teórica, pois pela própria ordem
social que prever que todo o ensino deva partir de explicação para que a matéria/assunto seja
compreendido pelo seu interlocutor, o estudante não consegue perceber sua real capacidade
intelectual se não colocada de fato em prática quando atiçada pela vontade, sua ou de outrem,
ou pela necessidade. Eis que se constitui o segundo ponto para a elaboração do exercício
emancipador, atiçar à vontade que é regida pela necessidade e curiosidade individual. Todo o
indivíduo se encontra na necessidade de realizar algum feito, de reconhecer algo, por inúmeras
causas. Pondo sua vontade a seu serviço, realiza qualquer trabalho com atenção. Então o
exercício além de partir de uma dimensão mais prática precisa cativar a vontade dos estudantes.
Porém, cada necessidade ou interesse é individual. Daí ser necessário encontrar a coisa em
comum entre o professor e o estudante, por exemplo, para que se cative a vontade, terceiro e
último ponto na elaboração do exercício. Quando Jacotot se encontrou com seus alunos na
Holanda, não sabia falar a língua holandesa e os seus alunos holandeses não sabiam falar a
língua francesa e por isso surge do ponto em comum a necessidade de comunicação para o
aprendizado da língua francesa. Assim, o professor cativa a vontade dos estudantes para que
aprendam sozinhos a língua francesa.

Metodologia

Durante o projeto, a maior parte do tempo foi destinada a leitura e a análise da obra O
mestre ignorante (RANCIÈRE, 2020). Por meio disso, já haveria um certo entendimento do
que seria a obra, quais os seus pontos principais, etc.; no decorrer do projeto, também houve a
leitura e análise de textos secundárias, como Atualidade do Mestre Ignorante (entrevista

1
Aluna da Escola Estadual Professora Calpúrnia Caldas de Amorim, cursando 2° Ano do Ensino Médio. Bolsista
do Projeto PIBIC. E-mail: laizadebora6@gmail.com
2
Aluno da Escola Estadual Professora Calpúrnia Caldas de Amorim, cursando 2° Ano do Ensino Médio. Bolsista
do Projeto PIBIC. E-mail: bombril147@gmail.com
3
Aluna da Escola Estadual Professora Calpúrnia Caldas de Amorim, cursando 2° Ano do Ensino Médio. Bolsista
do Projeto PIBIC. E-mail: mikanogueira.f@gmail.com
4
Aluna da Escola Estadual Professora Calpúrnia Caldas de Amorim, cursando 2° Ano do Ensino Médio. Bolsista
do Projeto PIBIC. E-mail: vivianliegia01@gmail.com
5
Professor Adjunto IV, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Curso de Licenciatura em
Filosofia e do Mestrado Profissional em Ensino de Filosofia – PROF- FILO (Polo Caicó-UERN). Membro do
Grupo de Pesquisa Ensinar e Aprender na Educação Básica – GP-EAEB/UERN. E-mail: josteix@hotmail.com.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8672696320833854.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 539
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

concedida por Rancière a Vermeren, Cornu e Benvenuto em 2003) e Três lições de filosofia
(KOHAN, 2003). Além das leituras também aconteciam as discussões nas quais eram debatidos
os temas lidos. Após as leituras e as discussões, foi o momento da escrita. Nesse ponto, cada
um transcrevia o seu próprio entendimento sobre a obra. A leitura, a discussão e escrita são
técnicas de emancipação; na leitura, é possível conhecer um assunto; na escrita é possível
encontrar uma versão mais própria e na escrita, cada se apropria dos temas.

Resultados e Discussão

Após leitura e discussões, escrevemos sobre a obra O Mestre Ignorante e criamos


exercícios que poderiam ser trabalhados em sala de aula para o reconhecimento da emancipação
intelectual no Ensino Médio a partir de O mestre ignorante. No total, foram produzidos oito
exercícios pelos alunos do ensino médio que participaram desse projeto. Aqui apresentamos
quatro dos oitos exercícios.
O primeiro exercício foi baseado no curta-metragem Cuerdas escrito e dirigido pelo
espanhol Pedro Solís Garcia. O intuito do exercício é desenvolver o senso crítico e a capacidade
de improvisação elaborando um texto pessoal do que foi entendido no Curta e compartilhando
em uma roda de conversa a experiência individual.
O segundo exercício tem como intuito o ensino de qualquer assunto, matéria, a partir
da improvisação e da verificação do trabalho pelo mestre ignorante, sempre questionando o
indivíduo e pedindo para que ele prove o que afirma quando é questionado. Tal exercício foi
baseado em um dos exemplos que Rancierè (2002) dá em O mestre ignorante, sempre
explorando a dimensão prática e cativando a vontade do aluno.
No terceiro exercício, os alunos precisam ficar atentos a tudo que o professor fala,
comparando assim com o conteúdo do livro (qualquer livro). Seria no caso a tradução ou contra-
tradução do livro. Esse exercício deve ser associado ao exercício de repetição sempre que feito.
O quarto exercício é formado por quatro pontos: o primeiro seria a apresentação do
tema pelos professores, quando eles iriam falar da sua tradução, ou seja, do que entenderam do
tema abordado; a segunda parte seria a busca do aluno que iria procurar em livros ou na internet
sobre o tema; a terceira parte seria a escrita, no caso, o que o aluno aprendeu sobre o assunto; a
última parte seria a fala do aluno, quando ele iria exprimir sua aprendizagem. Assim, cada um
aprenderia de sua forma, uma coisa concreta, que mostra como somos capazes aprender. Tudo
isso sem um mestre explicador, apenas um mestre ignorante para lhe passar os comandos e algo
para a pesquisa, como os livros.
A principal obra trabalhada, O Mestre Ignorante, nos proporcionou uma visão
abrangente e de melhor entendimento sobre nosso Sistema Educacional e sobre a aprendizagem.
Assim, passamos a entender novos termos e a importância da filosofia na nossa educação, pois
é com a filosofia que nos questionamos sobre algo que antes estranhávamos, mas com ela
buscamos respostas. Aprendemos que podemos ser emancipados a partir de um mestre
emancipado se utilizarmos da nossa inteligência e vontade. Somos capazes de alcançar e
realizar qualquer objetivo se colocarmos vontade no que fazemos; somos todos iguais em
capacidade intelectual, o que nos diferencia é a vontade que colocamos naquilo que queremos
realizar.

Conclusão
Dessa forma no decorrer do projeto, os objetivos principais foram: compreender o
processo da emancipação, entender esse processo nos dias atuais e perceber a importância do
estudo filosófico no Sistema Educacional. A visão sobre o mestre emancipador e ignorante foi
esclarecedora para reconhecimento da igualdade das inteligências e para gerar os resultados
mostrados no anteriormente.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 540
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos

Agradecemos a todos os que estiveram envolvidos no projeto, ao Professor Teixeira


como orientador do projeto que sempre esteve presente esclarecendo dúvidas e nos orientando
quando necessário; a José Marcus estudante do Curso de Filosofia que sempre nos ajudou e nos
acompanhou no esclarecimento de dúvidas e na construção dos exercícios emancipatórios e a
todos os demais que contribuíram no debate sobre um tema rico, atual e importante.

REFERENCIAS:

RANCIÈRE, Jacques. Atualidades do Mestre Ignorante [Entrevista cedida a] VERMEREN,


Patrice; CORNU, Laurence e BENVENUTO, Andrea. Abril, 2003.

RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual.


Tradução de Lilian do Valle. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

KOHAN, Walter Omar. Três lições de filosofia da educação. Educ. Soc. [online]. 2003,
vol.24, n.82, pp.221-228. ISSN 0101-7330. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-
73302003000100012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 541
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO EDUCADOR INFANTIL: QUAIS


OS SABERES QUE ALICERÇAM A PRÁTICA NO COTIDIANO DA
SALA DE AULA?

Adeilza Pereira Wanderley1; Juliana Raquel Miranda Dantas2; Giovana Carla Cardoso
Amorim3

Palavras-Chave: Saberes Docentes. Formação Continuada. Prática do Professor.

Introdução

A infância é importante e deve ser vivida, não como uma preparação para a vida
adulta, mas como um período de fundamental importância para o indivíduo, com descobertas
e aprendizagens. A família e a escola entram com um papel fundamental nesse processo e o
professor da educação infantil tem grande participação. Considerando a importância desses
profissionais e entendendo que o perfil dos mesmos tem uma variedade de idade e tempo de
carreira, decidimos por analisar o perfil desses profissionais no município de Mossoró-RN
partindo do seguinte questionamento: Quem são os professores de Educação Infantil de hoje,
retratando o tempo de serviço, formação, saberes e práticas docentes.
Assim sendo, a presente pesquisa visa compreender quem são e quais saberes
subjazem a prática pedagógica dos(as) professores(as) que atuam nas escolas da educação
Infantil da rede pública de Mossoró/RN. Para isso, abordamos questões de tempo de
exercício, formação continuada e outros fatores que nos ajudaram a entender as influências e
necessidades da constante qualificação do professor da educação infantil. Iniciamos falando
de como surgiram as creches e quem eram esses profissionais, a necessidade da qualificação e
formação continuada necessária à prática profissional.
Foi na constituição de 1988 que houve um grande passo para que a educação das
crianças de zero a seis anos passasse a ter um valor também educativo, e não apenas de
assistência, e o estado teria o dever de assegurar esse direito, que foi conquistado graças a
pressão de movimentos populares que passaram a lutar por essa causa. Quando passamos a
falar no processo educativo das crianças pequenas é imprescindível considerarmos a formação
desses profissionais que passariam a trabalhar com essas crianças de uma forma diferente,
pois além de cuidar passariam a estimular seus processos naturais e a aprendizagem. O artigo
205 da constituição diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
provida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho”
(BRASIL, 1988, p. 1).
Ao passar dos anos, cada vez mais tem sido criadas e estudadas formas de trabalhar
na educação infantil, o método mais tradicional de cadeiras enfileiradas e atividades de xerox
onde padronizavam a educação das crianças tem perdido o espaço, já que foi visto que cada
criança tem maneiras diferentes de aprender, e atividades mais dinâmicas como jogos e

1
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte – UERN; e-mail: adeilza.mj@gmail.com
2
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte – UERN; e-mail: july__raquel@hotmail.com
3
Professora do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande Norte – UERN,
participante do Grupo de Pesquisa de Formação e Profissionalização Docente e POSEDUC; e-mail:
giovanacarla@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 542
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

brincadeiras tem se mostrado mais eficazes para a idade, além do que, esse período ainda não
é o de alfabetização como veremos a seguir.

Metodologia

A pesquisa classifica-se como qualitativa, descritiva e bibliográfica, pois a mesma é


baseada em dados de UEI’s do município de Mossoró-RN para os quais 20 professores que
atuam na educação infantil do município seriam entrevistados, mas devido a situação atual
que estamos vivendo de pandemia ficamos impossibilitados de ir à campo devido à suspensão
das atividades e a necessidade de distanciamento social, então optou-se pela aplicação de um
questionário eletrônico que resultou na resposta de um número maior de professores que o
previsto, totalizando um total de 60 docentes entrevistados. Para aprofundamento e análise
dos dados levantado a partir do questionário utilizamos autores como BRASIL (1988);
KISHIMOTO (1996); TARDIF (2010); BARROS (2015); OLIVEIRA (2018).

Resultados e discussões

Desempenhar um trabalho em qual profissão é tarefa que exige determinados


conhecimentos que são específicos para tal ofício, sem os quais tornaria quase, senão
impossível a realização de tal trabalho. Esses conhecimentos, ditos saberes da profissão, são
adquiridos/construídos ao longo de um tempo de aprendizagem acerca da história, dos
conceitos e das técnicas necessárias para as especificidades de cada profissão.
Não distante dessa realidade, o trabalho docente de um modo geral, e aqui cabe os
professores de todos os níveis da educação, envolve uma diversidade de conhecimentos para
que possa ser realizado dentro de uma sala de aula, ou em qualquer ambiente onde a ação
educativa se faça necessária.
Não é preciso estender-se muito no assunto para perceber o quão importante e
necessário é pesquisar e discutir sobre esses saberes que, com toda sua complexidade,
alicerçam a prática docente. Tardif (2010) classifica os saberes docentes como: saberes da
formação; saberes disciplinares; saberes curriculares e saberes experienciais.
Os saberes da formação são, de forma sucinta, todos os saberes construídos e
adquiridos durante o curso de graduação de nível superior, ou em escola normal; nos cursos
de pós-graduação, como especialização, mestrado ou doutorado. Na pesquisa, perguntado
sobre a formação profissional, constatou-se que 88,3% são especialistas; 5% são mestras e
6,7% das entrevistadas possuem apenas formação em pedagogia.
Sobre a participação em ações de formação em serviço (cursos, seminários,
palestras), durante o tempo em que está atuando como docente da Educação Infantil na Rede
Municipal de Ensino de Mossoró/RN, 93,3% alegam participarem, ou já terem participado de
alguma ação.
A formação continuada tem grande importância para a atuação do professor de
Educação Infantil visto que atualmente encontra-se diversos desafios já que muitas vezes até a
própria sociedade o trata como um cuidador, algo que não é ruim mas deve vir associado a
visão de que não é só isso, de que o pedagogo estuda para que essa fase seja decisiva para o
futuro das crianças, onde cada atividade, jogo, brincadeira, possuem grande importância já
que as crianças não aprendem como os adultos e os momentos iniciais fazem e farão toda
diferença, a criança precisa brincar, pular, subir, descer e cada movimento desse não é uma
brincadeira sem importância, mas são também exercícios cognitivos de coordenação que
auxiliam em seu desenvolvimento, a brincadeira e os jogos devem ser trabalhados, mas
muitas vezes até os pais reclamam e menosprezam esse trabalho dos professores e alegam que
as crianças estão indo para a escola só para brincar, não entendendo esse processo e que a

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 543
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

educação infantil ainda não é o período de alfabetização, mas continua sendo muito
importante:

Necessário se faz rever e ressignificar as formas de trabalho do professor


junto às crianças na primeira infância. Sendo assim, é indispensável que o
professor da educação infantil seja aquele que deve ter conhecimento sobre
como agir de forma a cuidar e educar, e fazer isso tendo a brincadeira como
atividade principal da criança. (OLIVEIRA, 2018, p. 23).
Essa autora escreveu sobre a formação continuada na educação infantil, seu estudo
teve como objetivo aprender os sentidos e significados constituídos por professoras da
educação infantil da Rede Municipal de Ensino do Município de Mossoró-RN, ela diz que:
Muitos também foram os autores que contribuíram para reflexão dos
professores sobre a sua profissionalização, já que trabalhar em creches
e pré-escolas a partir da valorização de crianças pequenas desde a
Constituição Federal de 1988 e das mudanças ocorridas na educação
com a LDBEN, demanda um profissional que atue para além dos
cuidados historicamente praticados com crianças de 0 a 5 anos.
(OLIVEIRA, 2018, p. 26).
Ao analisar o questionário, pode-se observar que há profissionais que formaram-se
há mais de 20 anos, até 35 anos. A época de graduação dessas profissionais possivelmente
não tinha uma visão tão positiva do lúdico em sala de aula, tendo um foco em uma pedagogia
mais tradicional. Entretanto, pode-se perceber a presença do brincar atualmente. Este
resultado possivelmente dá-se às atividades de formação continuada que essas profissionais
participam.
Os saberes disciplinares estão ligados aos componentes curriculares, ou seja, os
campos de conhecimento, que compõe as matrizes dos cursos de graduação nas instituições de
formação de professores, Nós sabemos que essa formação e o currículo das mesmas vão
variar de acordo com a época em que se formaram. Para entender melhor essa variação
questionamos sobre o tempo de formação, verificamos que 31,7% concluíram a graduação
entre 10 e 15 anos; 26,7% entre 6 e 9 anos; 11,7 concluíram entre 1 e 5 anos; 5% há 26 anos,
3,3% há 20 anos; 3,3% há 23 anos; 1,7% há 24 anos; 1,7% há 30 anos; 3,4% há 21 anos; 1,7%
há 35 anos; 5% há 20 anos; 1,7% há mais de 18 anos; 3,4 há 22 anos; 1,7% concluíram há
menos de 1 ano. Atualmente, por exemplo, as graduações em Pedagogia vem dando uma
ênfase maior ao brincar e as experiências vivenciadas pelas crianças, e uma das questões
abordadas nas pesquisa foi sobre como o brincar pode contribuir para a aprendizagem da
leitura e da escrita na Educação Infantil. Foi possível perceber resultados dessa nova
formação do pedagogo de forma positiva, pois apenas 1,7% dessas profissionais não
consideram a importância do brincar.
Os saberes curriculares correspondem ao modelo de educação específico da escola
onde o docente atua, por exemplo, os objetivos, conteúdos e métodos pensados e
desenvolvidos pela equipe escolar para desempenhar o seu trabalho. Sobre os documentos
oficiais que embasam sua prática pedagógica, 80% responderam que recorrem à BNCC, 10%
ao RCNEI, cerca de 3% às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil,
enquanto os 7% restantes afirmam recorrerem a outros meios.
Os saberes experienciais são os que os professores adquirem ao longo de suas
vivências profissionais, ou seja, constroem a partir das atitudes, decisões, que tomam frente à
uma determinada situação.
Mediante isto, pesquisamos sobre o tempo de atuação dessas profissionais na
Educação Infantil, pois de acordo com Tardif, (2010), o tempo de atuação produz as

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 544
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

experiências que serão cruciais para a construção dos conhecimentos necessários para sua
atividade em sala de aula.
Sobre o tempo de atuação na educação infantil, 18,3% disseram atuar há mais de 15
anos; 21,7% atuam entre 10 a 15 anos; 23,3% atuam entre 6 a 9 anos; 33,3% atuam de 2 a 5
anos; 3,4% há menos de 1 ano.
Sobre o tempo de atuação no local atual de trabalho, 13,3% atuam há mais de 15
anos; 11,7% atuam entre 10 e 15 anos; 10% atuam entre 6 e 9 anos; 51,7 atuam entre 1 e 5 a
anos; 13,3% atuam há menos de 1 ano.

Conclusão
Com base nos dados obtidos por meio do questionário, no qual foram entrevistadas
60 professoras, todas do sexo feminino com idade entre 21 e 55 anos, constatou-se que: dos
docentes que responderam ao questionário, 100% são mulheres. A respeito da idade,
constatou-se que 18,3% das professoras estão acima dos 51 anos, 35% estão entre 40 e 50,
36,7% estão 31 a 39 anos, 10% estão entre 21 e 30 anos, é possível entender um pouco do
perfil dessas profissionais onde a maioria possui especialização e todas as entrevistadas tem
graduação no curso de pedagogia. É possível identificar os saberes explicados por Tardif
(2010) nas respostas do questionário, também é visto que 93,3% dessas profissionais já
fizeram algum tipo de formação continuada, onde 98,3% delas consideram a importância do
brincar e apenas 1,7 não consideram. É possível compreender questões sobre tempo de
atuação e de conclusão de curso; como esses fatores influenciam nas atividades dos
professores e as documentações oficiais utilizadas em suas práticas.

Agradecimentos
Agradecemos à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pela oportunidade
na participação da pesquisa, por todo investimento e bolsa concedidos aos integrantes deste
projeto, às UEI’s e aos professores por participarem do questionário, contribuindo para o
desenvolvimento desta produção científica.

Referências

BARROS, Adelir aparecida Marinho de. Saberes docentes no contexto da educação


infantil: a prática pedagógica em foco. PUC-Campinas, 2015.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,
DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São
Paulo, Cortez, 1996, 183 p.
OLIVEIRA, Márcia Núbia da Silva. A formação continuada e sua significação para
professoras da educação infantil. / Márcia Núbia da Silva Oliveira. - Mossoró, 2018.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 11 ed. – Petrópolis, RJ :
Vozes, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 545
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A Guarda Nacional na Província do Rio Grande do Norte: Estado, Poder e


Sociedade (primeira fase: 1831-1850).

Sávyo Gustavo Fernandes Pereira 1; Fábio André da Silva Morais2.

Palavras-chaves: Guarda Nacional; instituição; Província do Rio Grande Norte;


recrutamento.

Introdução

A Guarda Nacional foi uma das mais importantes instituições militares do


Brasil oitocentista.

A força militar havia sido criada no Brasil através de lei de 18 de agosto de 1831, a
partir da influência da lei francesa de março de 1831 que reformulou a organização da guarda
francesa. De acordo com Jeanne Berrance de Castro, a Guarda Nacional vivenciou três
grandes fases em sua existência:

A primeira fase, grosso modo, a da Menoridade, vai de 1831 até a reforma


da Lei em 1850, quando a corporação, como força de grande contingente
popular, atuou de forma direta e intensa na campanha da pacificação
nacional. A segunda fase, que abrangeu o Segundo Reinado, de 1850 a
1889, caracterizou-se pelo início da aristocratização dos seus quadros
dirigentes, transformando-se depois em milícia eleiçoeira – força de
oficiais sem soldados. Finalmente, na terceira fase, a republicana, irá
verificar-se a absorção da milícia cidadã pelo Exército, como força de
segunda linha, assim conservando-se até seu total desaparecimento em
1922. (CASTRO, 1984, p.274).

O primeiro regulamento da milícia determinava que a guarda deveria ser composta por
todos brasileiros com idades entre 21 e 60 anos e com renda equivalente à dos eleitores (100$
réis), configurando-se enquanto um corpo de “cidadãos” (dentro dos critérios censitários
estabelecidos pela Constituição de 1824).

Em sua fase inicial, a Guarda Nacional teve um papel importante na repressão às


revoltas populares ocorridas na primeira fase da regência. Enquanto uma força paramilitar que
atuava em todo o território do império, organizada localmente, responsável pela ordem
pública e dirigida, sobretudo, pelos notáveis locais, a milícia acabou se tornando um poderoso
mecanismo de controle social.

Uma segunda fase da instituição tem início no ano de 1850, quando a instituição
passou por reforma em sua legislação. Com a lei n°602 de 19 de setembro de 1850, a Guarda
Nacional passou a ser diretamente subordinada ao ministro da justiça e aos presidentes de
1
Graduando do Curso de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte / CAWSL. E-mail:
savyo_ox7@hotmail.com
2
Professor Adjunto III do Departamento de História do Campus Avançado Prefeito Wálter de Sá
Leitão/CAWSL – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Membro do GEPES (Grupo de Estudos em
Poder, Estado e Sociedade). E-mail: fabioandremorais@yahoo.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 546
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

província. A nova lei também ampliou as exigências referentes às rendas exigidas “para a
ocupação dos postos do oficialato, restringindo ainda mais as condições de acesso aos postos
superiores da hierarquia militar”. (ENGEL, 2002, p.320) A mudança no sistema de
preenchimento das vagas do oficialato foi uma das mudanças mais sensíveis da reforma, ao
acabar com o mecanismo da eleição no suprimento dessas vagas, substituindo-o pelo da
nomeação a ser realizado pelo poder central a partir da indicação do presidente de província.
Assim, os quadros de oficiais da Guarda Nacional passaram a ser compostos essencialmente
por ricos proprietários de terra, que recebiam suas patentes a partir de então, ou do ministro da
justiça ou do presidente de província.

O foco inicial da presente pesquisa ficou centrado na primeira fase (1831-1850) da


Guarda Nacional na Província do Rio Grande do Norte, período de formação e organização da
instituição na província.

Metodologia

A pesquisa buscou empreender suas análises e critérios de verdade, a partir da


corrente histórica convencionalmente chamada de “história social”.

Desta forma, o referencial teórico metodológico empregado no estudo, foi guiado


pelas seguintes orientações: a) pensar a história como experiência humana; sendo esta
contraditória, não possuindo um sentido único, linear, nem com significados exclusivos,
pensando a história como um campo de possibilidade; b) centralizar-se metodologicamente,
nos conflitos sociais; procurando entendê-los, não como desajustes e resquícios da história,
mas como a própria base de experiências políticas presentes na vida das camadas populares da
sociedade, erigindo-se sobre ela uma cultura política não institucionalizada, mas igualmente
atuante na formação histórica; c) buscar um maior enriquecimento da síntese histórica, a partir
das experiências cotidianas das pessoas, das disputas políticas, econômicas, sociais,
negociações e resistências; d) estabelecer como padrão de construção do saber histórico,
aquilo que Thompson chamou de lógica histórica; ou seja, “um método lógico de investigação
adequada aos materiais históricos, destinado, na medida do passível, a testar hipóteses quanto
à estrutura, causação etc., e a eliminar procedimentos autoconfirmadores (“instâncias”,
“ilustrações”). (THOMPSON, 1981). É este diálogo que pode oferecer, como o devido rigor
que a disciplina histórica exige, não só os rumos da pesquisa, mas também sua validade.

Resultados e discussão

Nosso trabalho tomou como ponto de partida um conjunto de leituras e discussões que
ocorriam em reuniões quinzenais, a partir do levantamento e debate de textos teóricos e
historiográficos, essenciais para o aprimoramento da pesquisa.

No caso das fontes, após levantamento para a construção do percurso da pesquisa,


utilizamos como fontes principais de pesquisa as Falas e Relatórios dos Presidentes de
Província do Rio Grande do Norte entre 1830 e 1850.

Apesar de ser uma força paramilitar com funções diversas como “defender a
Constituição, a Liberdade, Independência e Integridade do Império; para manter a obediência

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 547
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ás leis, conservar ou restabelecer a Ordem e a tranquilidade pública”, a Guarda Nacional tinha


também, como atribuição primordial estabelecida em lei, “auxiliar o Exército de Linha na
defesa das Praças, Fronteiras e Costas” (Coleção das Leis do Império do Brasil de 1850,
p.314). Entretanto, sua grandeza numérica não se expressava numa força militar efetiva, pelo
contrário, funcionava muitas vezes como um empecilho na arregimentação de soldados para o
Exército. Além disso, era comumente utilizada como arma para perseguições políticas,
especialmente em períodos eleitorais.

No aspecto da manutenção da ordem e da tranquilidade pública, sua ação também era


limitada e precária, tendo em vista sua desorganização e falta quase completa de formação e
treinamento dos seus membros.

O presidente da província norte rio-grandense à época, Dr. Manoel Ribeiro da Silva


Lisboa, já expressava essa situação em 1837, expressando-se da seguinte maneira:

A organização da Guarda Nacional consiste aqui unicamente na eleição


dos comandantes, e oficiais; dentre os quais só um, ou outro se farda;
quanto aos soldados nem instrução, nem disciplina adquirem, seja pela
facilidade em iludir a lei, em si muito branda, seja pelo pouco que
consideram os seus chefes, que elevados um dia à essa graduação, se vêm
no outro ombreando na fileira com os seus mesmos soldados, e por
conseguinte sem prestígio para se fazerem obedecer e respeitar (Fala de
abertura da 3ª sessão da Assembleia da Província do Rio Grande do
Norte, 1837, p.10).

Para Wilma Peres Costa (1996), a Guarda Nacional foi uma milícia civil idealizada
como instrumento para enfraquecer os meios de coerção do Estado. Pelo fato de ser uma força
diletante, ela podia atuar em duas direções opostas, apoiando ou se opondo à colaboração
entre o poder privado e poder público, mantendo, ou não, a ordem, reprimindo, ou não, as
“classes perigosas” (como ocorreu na repressão às revoltas ocorridas na regência). Foi
também um importante instrumento das oligarquias regionais em sua luta contra os impulsos
extrativos do Estado. Ainda segundo a autora:

(...) a Reforma da Guarda Nacional em 1850, procurou-se neutralizar esse


segundo aspecto, fazendo com que todos os comandos passassem a
depender de nomeações do governo central. Com essa medida, o controle
da Guarda Nacional passou às mãos do partido no poder, por meio dos
presidentes de província, que nomeavam os comandos e distribuíam as
patentes mediante um complexo processo de transação com os quadros
partidários locais (COSTA, 1996, p.54).

Essa situação foi bastante debatida pelo vice-presidente da província, o Bacharel João
Valentino Dantas Pinajé, em sua fala de abertura na assembleia legislativa da Província do
Rio Grande do Norte em 1838. Seus argumentos sobre a precariedade da Guarda Nacional na
província, iam exatamente no sentido da necessidade de uma reformulação da lei, obrigando
que os chefes da milícia fossem nomeados pelo governo, e não por meio de eleição. Tal pleito

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 548
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

só foi implementado em 1850 (Fala de abertura da 1ª sessão da Assembleia da Província do


Rio Grande do Norte, 1837, pp.19-21).

Conforme relatório do vice-presidente de Província de 1850, a Guarda Nacional estava


organizada com 1 comando superior, 9 legiões, 15 batalhões e 6 esquadrões de cavalaria,
totalizando a sua força em número de 9.881 praças. Na prática, tais números expressam
apenas uma formalidade burocrática, pois com exceção do batalhão da capital, que ainda
apresentava alguma organização e funcionamento mínimo, pelos interiores a realidade era
uma força incapaz de apresentar condições triviais de funcionamento e treinamento.

Conclusão

Ao longo de quase duas décadas (1831-50) a situação da GN pouco mudou na


província. Uma fala bastante ilustrativa desse contexto foi expressa pelo presidente Antônio
Joaquim de Siqueira. Em sua fala de abertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa
Provincial no ano de 1848, o dignitário era taxativo ao comentar a situação da guarda: “direi,
contudo, que a da Província, segundo as informações colhidas, na sua generalidade não está
fardada, não tem disciplina alguma, nem conhecimento dos mais triviais manejos da arma, e
evoluções. Tudo quase que se tem despendido em semelhante objeto, há sido em pura perda”
(Fala de abertura da 1ª sessão da Assembleia da Província do Rio Grande do Norte, 1848,
pp.6-7).

Agradecimentos

Este trabalho contou com o apoio dos nossos familiares, do Departamento de História
(UERN/CAWSL), dos funcionários do Museu Histórico Lauro da Escóssia (Mossoró) e dos
funcionários e Direção do Campus Prefeito Walter Sá Leitão (UERN/Assú).

Referências

CASTRO, Jeanne Berrance de. A Milícia Cidadã: a Guarda Nacional de 1831 a 1850. São
Paulo: Brasiliana, 1977.
________ A Guarda Nacional. In: HOLANDA, S. B. de. (Dir.) História Geral da
Civilização Brasileira. 4ed. São Paulo: Civ. Brasileira, 1984. Tomo II. V4. pp.274-
298.
COSTA, Wilma Peres. A Espada de Dâmocles: O Exército, A Guerra do Paraguai e a
Crise do Império. São Paulo: Editora HUCITEC: Editora da UNICAMP, 1996.
ENGEL, Magali Gouveia. Guarda Nacional. In: VAINFAS, Ronaldo (Direção). Dicionário
do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, pp.318-319.
THOMPSON, Edward P. A Miséria da Teoria. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 549
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A LINGUAGEM INFANTIL: O LEITOR CAMPESINO NO CENTRO DO


PROCESSO
1
Jesany Sahara de Sousa Oliveira; 2Halina Márcia da Silva; 3Giovana Carla
Cardoso Amorim

Palavras-Chave: Leitor campesino. Formação Continuada. Prática do Professor.

Introdução
É de suma importância relatar a educação do campo para crianças nos anos
inicias de sua vida escolar e trazer a relevância do acesso à educação do campo a todos
como direito social. A educação do campo que não é menos importante que a educação
dos grandes centros, vem ganhando seu espaço ao longo dos anos. Um direito a
educação que todos têm; seja na zona urbana ou rural, na qual não pode ser vista como a
escola carente, escolinha rural ou inferiorizada por ser do campo. É impreterível uma
visibilidade maior por parte dos governantes no envio de docentes capacitados,
materiais para aulas de qualidade, investimento na estrutura escolar e todo suporte
necessário para que os camponeses tenham acesso a uma educação de excelência, que é
direito de todo cidadão brasileiro.
No livro “Por uma educação do campo - Arroyo, Molina e Caldart (2011), vem
englobar pontos importantes referentes à trajetória da educação do campo e que
tomaremos alguns como pontos de partida para explanação do texto. O silenciamento, o
clamor da terra e direitos a uma educação de qualidade serão discutidos no decorrer do
texto. Ao longo dos anos a procura por escolas do campo era muito maior que hoje,
tendo em vista que a zona rural tinha um contingente de pessoas bem maior, mas ainda
assim o silenciamento quanto a uma educação de qualidade, provimentos de matérias
continuam, mesmo com muitas conquistas que houveram ao longo dos anos, resultados
de muita luta e determinação por parte dos camponeses, lideres, MST e apoiadores da
causa.
A Escola do Campo configura-se num espaço educacional que, muitas vezes,
em detrimento da organização das instituições urbanas, é relegada ao descaso de
práticas pedagógicas bem estruturadas, assim como de pesquisas especificas da área.

Metodologia
Em detrimento da situação de pandemia a qual nos encontramos. A pesquisa
teve que ser redimensionada para uma perspectiva qualitativa e bibliográfica.

Resultados e discussões

1
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN; e-mail: jesanysahara05@hotmail.com
2
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN; e-mail: halinamarcia56@gmail.com
3
Professora do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande Norte – UERN,
participante do Grupo de Pesquisa de Formação e Profissionalização Docente e POSEDUC; e-mail:
giovanacarla@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 550
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Entendemos que a leitura é uma importante ferramenta para compreensão do


mundo. Ela nos proporciona uma qualidade e eficácia na aprendizagem não só da
Língua Portuguesa mais também de todas as outras disciplinas dispostas no currículo de
ensino. Porém, sabemos que a educação literária perpassa ainda por várias discursões e
como se não bastasse, à educação do campo também é uma pauta bastante discutida,
sendo assim, esta problemática se torna mais séria.
Sabe-se que a escola do campo possui inúmeras dificuldades, desde as séries
multiseriadas, falta de professores, evasão escolar, dentre outras, estas ainda enfrentam
a grande dificuldade de relacionar uma leitura voltada para a vivência de seus alunos,
propostas de ensino que respeitem o cotidiano destes e que se aproximem da qualidade
que se espera na sua formação. O que é bastante relevante ressaltar é que muitas vezes a
capacidade de leitura do aluno campesino é subestimada, e isso implica no empenho
dedicado a este público, não só no início da formação desses alunos, mas também em
toda sua trajetória escolar. É necessário que o educador envolva o aluno, para que este
consiga perceber e entender o espaço como seu, e que a sua participação é importante
para ações democráticas no itinerário da vida escolar.
Sob este viés, o teor literário demonstra relevância ímpar, uma vez que abarca
discussões relacionadas à formação humana – necessária para o crescimento do
indivíduo - quando este se vincula aos embates de caráter linguístico, cultural e social.
Costa (2007), não muito diferente, descreve alguns fatores que pressupõem o trabalho
com literatura infantil na escola. Conforme a autora, além do aspecto cultural - no qual,
a literatura se apresenta como uma instituição do pensamento e da arte que tem formato
próprio e especifico – há outro fator que, por sua vez, implica na fundamentação da
ação escolar em ensinar a ler e escrever, este é o fator educacional:
Essas ações passam pelo conhecimento da língua em de seus
usos sociais [...] O bom texto literário faz com que a língua de
todos os dias apareça em roupagem mais bonita e tratando de
assuntos, personagens e situações narrativas que sempre fazem
parte de nossas vivências (COSTA; 2007, p. 45).
Sendo assim, para desenvolver um bom trabalho na educação do campo o
educador precisa desenvolver atividades que articulem as várias áreas de conhecimento
que perpassem pela realidade de seus educandos, precisa estar preparado para relacionar
a sua disciplina a este meio, e também possibilitando que estes se reconheçam como
parte daquele espaço e que também são agentes transformadores da sua história. Além
disso, é de suma importância que esse educador consiga fazer um elo da identidade
cultural, vivências e saberes do campo com suas práticas pedagógicas, proporcionando
assim uma relação entre teoria e a realidade destes educandos, para que estes consigam
internalizar um conjunto de valores sociais.
É sabido que em qualquer processo educativo surge à necessidade de
ressignificar, seja nos textos literários ou nos cálculos exatos. Entretanto, entende-se
que, por vez, o estudante do ensino infantil ou fundamental (anos iniciais) precisa
desenvolver estímulos através da socialização primária ou secundária. Os pais têm o
papel fundamental, assim como a escola neste processo. Sabemos que as discussões em
torno da educação pública no Brasil é uma problemática social dialogada
frequentemente. Dessa forma, quando os problemas educacionais adentram aos espaços
rurais, o debate parte da argumentação de que a consonância difere dos conflitos
encontrados nas salas de aula rurais.
É papel da escola organizar processos de ensino que oportunizem os educandos
aprenderem a ler e a escrever de forma competente. O conceito de letramento sobrepuja
a ideia de um conjunto de habilidades individuais. Letramento, “[...] é um conjunto de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 551
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

práticas sociais ligadas à leitura e à escrita em que os indivíduos se envolvem em seu


contexto social” (SOARES, 2006, p.22).
No tocante ao letramento literário, seguimos a definição de Cosson e Paulino
(2009, p.52) que, sobre esta temática, conceituam como “o processo de apropriação da
literatura, enquanto construção literária de sentidos”. Isto nos faz entender que a
formação do leitor requer, de fato, uma aprendizagem intencionada. Sendo um processo,
é de fulcral importância a objetividade atrelada ao planejamento didático mediante as
propostas da educação literária.
A educação para os leitores campesinos abrange a necessidade não só de
proporcionar bons livros infantis literários, como também de viabilizar estruturas físicas
adequadas para essas crianças. Faz-se necessário criar propostas político-pedagógicas
articuladas, assim como a produção de material a partir do Programa Nacional do Livro
Didático, do MEC, trazendo ideias que dialoguem com a formação literária do leitor.
Segundo Arroyo, Molina e Caldart (2011), “não basta ter escolas no campo;
queremos ajudar a construir escolas do campo, ou seja, escolas com um projeto político
pedagógico vinculado as causa, aos desafios, aos sonhos, a história e a cultura do povo
trabalhador do campo”. Para que o sujeito inserido na escola do campo seja preparado
para os desafios da vida social com uma base sólida de aprendizado e orgulho de suas
origens.
De acordo com os autores supracitados, “há uma tendência dominante em nosso
país, marcado por exclusões e desigualdades, de considerar a maioria da população que
vive no campo como a parte atrasada.” Nessa linha de raciocínio, o povo rural é tido
como a população marginalizada, uma vez que os auxílios das políticas públicas e
educacionais são prioridades. Um dos maiores desafios da educação literária rural é o
investimento dos órgãos públicos justamente por terem a visão que a escola do campo
não necessita de investimentos.

Conclusão
O objetivo do presente trabalho foi desenvolver um breve estudo sobre o processo de
formação do leitor campesino, e principalmente os desafios que perpassam o meio da educação
no campo. A avaliação da qualidade da educação que vem sendo proporcionada ao público
camponês deve ser contínua, a fim de garantir a qualidade desta, para que seja possível
proporcionar um ensino justo e igualitário.
Para que fosse possível entender algumas questões, fizemos alguns recortes baseados
nas leituras propostas, pois em virtude do período que estamos vivenciando em detrimento da
pandemia do vírus COVID-19, não foi possível verificar in loco as estratégias literárias que
vem sendo desenvolvidas e adotadas nas escolas rurais de Mossoró.
Diante do exposto, pode-se concluir que a formação do leitor campesino deve respeitar
suas diversidades culturais, unindo os conteúdos as suas vivências, para que seja possível
formar com qualidade estes indivíduos, possibilitando assim, a sua identidade e autonomia. E
que os movimentos da Escola do Campo já avançou muito no que diz respeito a garantia aos
direitos sócias dos camponeses, mas ainda falta muito a se conquistar para que se possa garantir
uma educação igualitária e de qualidade.

Agradecimentos
Agradecemos à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pela
oportunidade na participação da pesquisa e por todo investimento concedido aos
integrantes deste projeto.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 552
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências
ARROYO, Gonzalez; ROSELI, Salete Caldart; MOLINA, Mônica Castagna. Por uma
Educação do Campo. 5. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.

BRASIL. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão.


Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação.
Câmara Nacional de Educação Básica. Diretrizes Curiculares Nacionais Gerais da
Educação Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria
de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013.
COSSON, Rildo; Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: contexto, 2006.

COSTA, Marta Morais da; Metodologia do Ensino da literatura infantil. Curitiba:


Ibpex, 2007.

PAULINO, Graça; COSSSON, Rildo; Letramento literário: viver a literatura dentro e


fora da escola. In: ZILBERMAN, Regina; ROSING, Tânia M. K. (Orgs.). Escola e
leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009.

SOARES, Magda; Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,


2006.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 553
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A PRÁTICA CIENTÍFICA EM FEIRA DE CIÊNCIAS NA ESCOLA

Índara Liliane da Silva Souza1 ; Simone Cabral Marinho dos Santos 2

Palavras-chave: Feira de Ciências; Aprendizagem; Aluno; Divulgação Científica.

INTRODUÇÃO

A Feira de ciências tem grande impacto no processo de ensino-aprendizagem ao


favorecer mudanças no que se refere ao aprimoramento do nível de conhecimento do
professor e promoção e valorização da prática científica pedagógica no espaço escolar (MEC,
2006). A feira de ciências, enquanto processo de ensino-aprendizagem, desenvolve a
criticidade do aluno e sua atuação no meio social, para torna-lo protagonista nas mudanças
sociais.
Considerando a importância e influência que as feiras de ciências possuem na esfera
social, como também no meio tecnológico e científico, emerge a questão problema desse
trabalho: Como a Feira de Ciências do Oeste Potiguar, realizado pela 13ª Diretoria Regional
de Educação e Cultura (DREC), contribui para a produção e disseminação do conhecimento?
Este trabalho justifica-se pela necessidade de avaliar a contribuição das Feiras de
Ciências na construção e disseminação do conhecimento científico, tecnológico e cultural na
escola, diante da prática desenvolvida pelos estudantes através dos métodos científicos e sua
eficácia no processo de ensino-aprendizagem. Objetivamos extrair elementos
potencializadores da cultura cientifica, bem como identificar características do protagonismo
estudantil nas feiras de ciências.

METODOLOGIA

O lócus de realização dessa pesquisa foi IX Feira de Ciências do Oeste Potiguar,


realizada pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/Campus Pau dos Ferros e 13ª
Diretoria Regional de Educação e Cultura (DIREC), da Secretaria de Educação do Estado do
Rio Grande do Norte. A DIREC contempla um total de sete municípios, cuja sede é em
Apodi, Rio Grande do Norte.

1
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UERN/CAPF); e-mail: indarasouza@alu.uern.br.
2
Professora do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN/CAPF);
e-mail: simone.cms@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 554
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O Projeto IX Feria de Ciências do Oeste Potiguar é inspirado no Programa “Ciências


Para Todos no Semiárido Potiguar” realizado pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido
(UFERSA), em parceria com a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e
Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), com objetivo de despertar a participação de
alunos em Feiras de ciências, cuja contribuição é de grande relevância para a sociedade.
Para fundamentar essa pesquisa, trazemos as contribuições de Reis (2018), Santiago,
Santos e Santos Filho (2015), principalmente, para tratar de experiencias de feiras de ciência e
a construção do saber cientifico na escola; assim como, nos utilizamos de Marconi e Lakatos
(2003) e Oliveira (2007) para definir os procedimentos metodológicos da nossa pesquisa.
Nesse ínterim, trata-se de uma pesquisa de campo de cunho qualitativo, tendo em vista
que, conforme Oliveira (2007, p. 59), “[...] pode ser caracterizada como sendo uma tentativa
de se explicar em profundidade o [...] resultado das informações obtidas [...]”. Para a referida
pesquisa, foi utilizado como instrumento de coleta de dados um formulário contendo 18
perguntas fechada e 1 aberta. A pesquisa ocorreu com alunos que participaram da IX Feira de
Ciências do Oeste Potiguar, em um total de 30 alunos, oriundos do ensino fundamental e
médio.
Concomitante, realizamos uma pesquisa documental por meio da análise da
publicação dos Anais da Feira de Ciências, cujos os resumos dos trabalhos das edições de
2016 a 2019, possibilitou-nos uma análise detalhada sobre as áreas que os trabalhos
abrangiam, proporcionando uma relação entre o que foi exposto pelos pesquisados através do
formulário, e a prática da elaboração dos trabalhos apresentados, correlacionando-os com o
contexto local e suas vivências no cotidiano.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos através da aplicação do formulário mostram uma visão


significativa dos participantes sobre a feira de ciências. Após conhecermos um pouco sobre o
perfil dos alunos e sua participação em sala de aula, questionamos sobre a influência que a
feira de ciências possui para eles. Conforme o gráfico 01, grande parte dos pesqusiados vêem
a feira de ciência como uma oportunidade de adquirir novos conhecimentos, assim como
possibilita novas oportunidades para os alunos.

Gráfico 1: Sobre a feira de ciências

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 555
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Dados da pesquisa de campo: formulário (2019)

A contribuição que a feira de ciências possibilita nos participantes que a fazem


popularizar, são transportados por toda vida. E ainda de forma protagônica, é possível
confirmar que o conhecimento aprendido é difundido em suas experiências. De fato, essa
experiência “[...] [D]a popularização da ciência e da tecnologia torna possível o despertar de
vocações e o incentivo de talentos para a pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e
esforços intelectuais em geral” (SANTIAGO; SANTOS; SANTOS. 2015).
É valido destacar diante das respostas do formulário o papel do professor, o mesmo
emerge na pesquisa como pessoa fundamental no processo de construção, estímulo e
influência no trabalho científico, essa experiência possibilita ainda, aos alunos e professores, a
capacidade de organizar e construir seu projeto, não estagnando na insuficiência de verbas e
equipamentos. (MASSARANI; DIAS. 2018). Questionados sobre quais as etapas do método
científico, os alunos responderam que:

Quadro I: Etapas do método científico


O método científico exige determinadas etapas. Assinale a opção na Respostas
qual, essas etapas estejam sequenciadas, corretamente:
Pesquisa bibliográfica, observação, hipótese, experimentos, conclusão 07
Observação, experimentos, pesquisa bibliográfica, hipótese, conclusão 05
Observação, pesquisa bibliográfica, hipótese, experimentos, conclusão 18

Dados da pesquisa de campo: formulário (2019)

É notado através da troca de aprendizagem professor-aluno, um entendimento


relevante dos pesquisados sobre as etapas do método científico. A aquisição dos
conhecimentos científicos desde a educação básica, viabiliza aos estudantes verdadeiras
ferramentas que transcorre todo o seu aprendizado, e oportuniza mudanças para além da sala
de aula.
Como supracitado, também foi realizado durante esta pesquisa uma análise
documental do Caderno de resumos das feiras de ciências (2016-2019), que consta um total
de 518 projetos de 2016 a 2019. Ao investigar os temas mais recorrentes, verificamos que em
todos os anos a categoria “Produtos naturais” aparece de forma mais incessante. De forma

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 556
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

específica, foram denotados temas que estavam em evidências em determinados anos, tais
como:

Quadro II: Temas específicos em evidência


Ajuda e prevenção a ansiedade e depressão 2019
Desconstrução da violência contra a mulher 2018
Bullying na escola 2017
Combate contra Aedes aegypti e mosquito da dengue 2016
Dados da pesquisa documental: Caderno de resumos (2016 a 2019)

As circunstâncias dessas temáticas procedem de fatores que estão intrínsecos no meio


social, e de relevância durante o ano de pesquisa. Por outro lado, temas com abordagem nas
ciências humanas, ainda carecem de maior evidência nas feiras de ciências. Portanto, a
divulgação das pesquisas exitosas provenientes da feira de ciência, traz inúmeros benefícios
para a comunidade assim como também para o protagonismo dos alunos a partir de seus
feitos.

CONCLUSÃO

Esse pensar e fazer ciência, está diretamente ligado com o interesse dos alunos diante
do alvo a ser investigado, e diante dessa pesquisa foi evidenciado a valoração que os
pesquisadores apresentam diante o seu contexto local, tornando a pesquisa relevante não
somente para a comunidade escolar, mas também para seu contexto e sociedade.

AGRADECIMENTO

Agradecemos ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica –


PIBIC/CNPq por possibilitar o acesso a pesquisa através do apoio financeiro e incentivo, e a
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte que contribui para o processo de construção
do conhecimento.

REFERÊNCIA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC). Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional


de Apoio às Feiras de Ciências da Educação Básica: Fenaceb. Brasília: MEC/SEB, 2006b.

OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 557
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REIS, José. Feiras de ciência: Uma revolução pedagógica (1965). In: MASSARANI, Luisa;
DIAS, Eliane Monteiro de Santana (Orgs.). José Reis: reflexões sobre a divulgação científica.
Rio de Janeiro: Fiocruz/COC, 2018. 236 p.

SANTOS, Simone Cabral Marinho dos; SOUSA, José Raul de; SOUZA Índara Liliane da
Silva; PINTO Lusia Gomes; SANTIAGO Maria Francilene Câmara; CELEDONIO, Natália
Rocha (Orgs.). Caderno de resumos da Feira de Ciências do Oeste Potiguar: edições VI,
VII, VIII e IX – 2016, 2017, 2018, 2019. Apodi/RN: REDE TER, 2020. Disponível em:
https://pesquisa-em-rede7.webnode.com/publicacoes/. Acesso em 05 de junho de 2020.

SANTIAGO, Maria Francilene Câmara. SANTOS, Simone Cabral Marinho dos. SANTOS
FILHO, Ivanaldo Oliveira dos. (Orgs) Ciência na escola: fazendo, vivendo e
experimentando. 1. E. Curitiba, PR: CRV, 2015.178 p.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 558
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A RELAÇÃO ENTRE LAICIDADE E O ENSINO RELIGIOSO NO


SISTEMA PÚBLICO DE ENSINO BRASILEIRO

Jane Cleide Soares Belo1; Valdicley Euflausino da Silva 2

Palavras Chave: Laicidade. Ensino Religioso. Ensino Público.

Introdução

As discussões sobre a Laicidade e o Ensino Religioso (ER) teve início com o projeto
Laicidade, Ética e Formação Docente em Ensino Religioso , referente ao Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN), em 2019, coordenado pelo professor Valdicley Euflausino da
Silva. O projeto tem como principal objetivo debater acerca do Ensino Religioso não
confessional e sua multiplicidade de alcance de fatores na contemporaneidade.
Nesse contexto, delimitamos e analisamos acerca da laicidade na esfera pública de
ensino e como tal temática pode auxiliar para um ER não confessional no âmbito educacional
público.
A laicidade brasileira é garantida pela Constituição Federal de 1988 e define que as
instituições religiosas não integrem as esferas públicas. No que diz respeito ao ER, o
Componente Curricular também está na Constituição Federal. Detalhe que, desde o período
republicano do país, ela está desde a constituição de 1934, com o destaque de ser referida
como disciplina facultativa nas escolas públicas.

Metodologia

Ao longo da pesquisa utilizamos alguns livros, artigos e dissertações que abordam as


discussões sobre o Ensino Religioso e a laicidade no Brasil. No que tange o tema sobre
Laicidade, metodologicamente recorremos a Fischmann (2012, 2016), Domingos (2010) e
Valente (2018). No que abrange a discussão sobre o Ensino Religioso recorremos a Rodrigues
(2017), Castro (2014) e Passos (2007). Além das leituras realizadas, ainda discutimos sobre
elas, realizamos fichamentos, produzimos artigos científicos e apresentamos trabalhos em
eventos científicos.

Resultados e Discursões

1
Estudante do curso de Ciências da Religião do departamento de Ciências da Religião da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: janebelo@alu.uern.com.
2
Professor do Departamento de Ciências da Religião da Universidade do Estado d o Rio Gran d e d o No rt e –
UERN. Participante do Grupo de Pesquisa Educação, Cultura e Fenômeno Religioso. E-mail:
valdicley_bambucha@yahoo.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 559
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os resultados iniciais indicam que a separação entre Estado e Igreja proporcionou que
alguns países como o Brasil tornassem laico, ou seja, se antes o Brasil era considerado um
país da denominação católica, no tempo hodierno, tal consideração não existe mais. Nesse
contexto, cada país tem o seu discurso de laicidade. Embora exista a laicidade estatal, os
Direitos Humanos permitem que cada indivíduo possa escolher a sua religião, pois ele é livre.
Apenas o Estado que não pode ser influenciado. Porém, não é outorgado impor sua crença a
outra pessoa nem ser intolerante com o outro por causa da sua manifestação religiosa.
No que diz respeito ao ER, as leituras estão proporcionando a visualização de que com
o passar dos anos, ele tornou-se um Componente Curricular que tem como objetivo o estudo
das religiões e é voltada para um ensino plural, porém, continua sendo de matrícula
facultativa, o que impede um entendimento mais concreto dos reais posicionamentos da área
nos sistema público.
Ademais, a relação estabelecida entre o ER e a laicidade ainda é frágil no âmbito
educacional brasileiro tendo em vista que ainda existem práticas prosélitas de professores
desta área. Tal fato infringe a noção de liberdade religiosa do sujeito, contribuindo para uma
ideia da intervenção religiosa na formação do ethos do sujeito e da sociedade.
Um detalhe a mais diz respeito ao fato de que, por um lado, o conceito de laicidade
brasileira é baseado na laicidade francesa Valente (2018), e por outro, sofreu influências da
laicidade norte-americana, também. Deste modo, é possível observar a partir das leituras
feitas que, no Brasil, apesar da constatação de laicidade, ainda existe a interferência da Igreja
na formação do Estado, e da identidade dos sujeitos.

Conclusão

As conclusões apontam para uma problemática muito ampla entre a relação de


laicidade e Ensino religioso nas escolas públicas, pois se a laicidade é a não intervenção das
camadas religiosas nas esferas públicas, como pode existir um componente curricular
assegurado constitucionalmente no ensino público o qual aborda justamente as religiões?
Existe a possibilidade de um Ensino Religioso diante da ideia de laicidade? Assim sendo,
como conclusões para este trabalho, apontamos a necessidade de aprofundarmos sobre as
temáticas e suas relações, com a finalidade de estabelecermos uma noção mais ampla da
problemática e assim obter respostas mais concretas.

Referências

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 560
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FISCHMANN, Roseli. Educação laica (nas escolas públicas): Uma questão política, cultural e
de direito. Porto. International Studies on Law and Education, v. 11, p. 05-18, mai-ago, 2012.
DOMINGOS, Marília. Laicidade: o direito à liberdade. Horizonte. Belo Horizonte, v. 8, n.
19, p. 53-70, out. 2010.
CASTRO, Raimundo Márcio de. Ensino Religioso na escola pública: história e memória.
São Paulo: Fonte Editorial, 2014.
FISCHMANN, Roseli Estado laico e ensino religioso nas escolas públicas: o posicionamento
da CONIB no STF. Porto. International Studies On Law and Education, v. 22, p. 17-18, jan-
abr, 2016.
FISCHMANN, Roseli. Estado Laico, Educação, Tolerância e Cidadania: para uma análise
da concordata Brasil-Santa Sé. 1. Ed. São Paulo: Factash Editora, 2012. p.153.
PASSOS, João Décio. Ensino Religioso: mediações epistemológicas e finalidades
pedagógicas. In: SENA, Luzia (Org.). Ensino Religioso e formação doente: ciências da
religião e ensino religioso em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2007. 148 p. p. 21-44.
VALENTE. Gabriela. Laicidade, Ensino Religioso e religiosidade na escola pública
brasileira: questionamentos e reflexões. Pro.posições. São Paulo, v. 29, n. 1, p. 107-127, jan.
2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 561
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ALGUMAS CONTRADIÇÕES DA ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA


MUNICIPAL EM MOSSORÓ NA CONSIDERAÇÃO DO PLANO
LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

Carlos Daniel Silva e Souza1; Jionaldo Pereira de Oliveira2

Palavras-chave: Espaço Urbano; AEIS; Legislação Urbana.

INTRODUÇÃO
Ao tratar do espaço urbano, Corrêa (2000) o define como uma “organização
espacial da cidade”, que pode ser apresentada como um conjunto de áreas fragmentadas
e articuladas entre si, onde os agentes que produzem o espaço são: os meios de produção;
os proprietários fundiários; o Estado e os grupos sociais que são excluídos, é visando
atender as necessidades dos grupos excluídos que o PLHIS é baseado, o mesmo contribui
para diminuição do déficit habitacional, e o Estado é o principal agente responsável para
resolução desse problema.
A cidade de Mossoró (Figura 1), está localizado no oeste do Rio Grande do
Norte, é a segunda maior cidade do estado ficando atrás apenas da capital Natal, a mesma
possui o plano diretor em vigência desde 2006, nele está contido as delimitações das
Áreas Especiais de Interesse Social – AEIS, conforme é descrito no segundo parágrafo
do Art. 48 “correspondem às porções do território municipal ocupada por população de
baixa renda destinada à regularização fundiária e urbanística ou à construção de habitação
de interesse social ou produção de lotes voltados à moradia popular” (MOSSORÓ, Plano
Diretor, 2006, p. 18)
Figura 1 – Mapa de localização de Mossoró, RN

Fonte: Autores, 2020.

1
Estudante do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; e-mail: Daniel.souza.cd@gmail.com;
2
Professor do departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: jionaldooliveira@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 562
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O objetivo desse trabalho é interpretar a reprodução do espaço urbano como um


processo dinâmico, complexo e contraditório que é condicionado por diferentes
componentes e fatores, buscar informações urbanísticas e sociais referentes aos setores
de abrangência do PLHIS em Mossoró e fazer as interpretações necessárias, produzir
mapas e cartogramas que demonstrem a dinâmica e complexidade urbana específicas dos
setores do PLHIS em Mossoró.
Para isso os métodos utilizados para alcançar os resultados foram baseados na
interpretação das legislações referentes às questões urbanas, as elaborações cartográficas
proporcionaram a organização dos dados adquiridos para que pudessem ser interpretados
da melhor forma.

METODOLOGIA
A primeira etapa da metodologia consistiu no levantamento bibliográfico de
materiais que tratassem do espaço urbano e dos Planos Locais de Habitação, a segunda
etapa foi baseada na busca por dados secundários como, os rendimentos médios das
pessoas com 10 anos ou mais de idade, do censo demográfico do IBGE (2010) e as Áreas
Especiais de Interesse Social (AEIS) que foram delimitadas pelo Plano Diretor de
Mossoró (2006).
Após a obtenção dos dados, a seguinte etapa consistiu na elaboração do mapa
com a finalidade de especializar as informações e fazer a sobreposição dos dados
adquiridos, para então analisar a relação entre os mesmos, para isso foi utilizado o
software de código livre Qgis 3.4, A última etapa foi baseada na visita nas AEIS, com a
finalidade de observar a situação real dessas áreas, entender a dinâmica urbana da cidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No século passado o Brasil passou por uma grande transformação referente ao
espaço urbano, segundo Rocha (2005, p. 182) “O Brasil em 1940 possuía 68,8% de sua
população no campo, invertendo essa posição em 1980, quando 67,8% da população
passou a residir em centros urbanos”, necessitando então de políticas que promovessem
o desenvolvimento urbano, Rocha (2005) complementa que foi ainda no Regime Militar
que se formularam as primeiras políticas urbanas do país.
O grande crescimento das construções nas cidades brasileiras, se tornou possível
através do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e o Banco Nacional da Habitação
(BNH), ambos também foram responsáveis pela transformação do território urbano do
Rio Grande do Norte. No caso da cidade de Mossoró, Oliveira (2016, p. 46) aponta que
foi na “década de 1970 que Mossoró passou a receber intervenções públicas habitacionais
no âmbito dos programas nacionais de desenvolvimento urbano iniciadas no período dos
governos militares”.
Apesar do crescimento elevado de habitações, o problema do déficit habitacional
ainda era recorrente nas cidades brasileiras, diante disso, o governo federal concebeu no
ano de 2004 a Política Nacional de habitação (PNH), conforme ressalta Magalhães (2013
p. 15) “Para enfrentar o desafio do setor habitacional, o governo promoveu ações
estratégicas em várias frentes: investiu no planejamento de longo prazo, ampliou
significativamente os investimentos e definiu uma nova estruturação institucional legal
para o setor.”
Dentre os instrumentos que proporcionaram a execução da PNH, estão o Sistema
Nacional de Habitação (SNH) e o Plano Nacional de Habitação (PlanHab), de acordo com
Bonduki (2013, p. 34) o SNH foi formado pelos três entes da federação e “foi nessa
perspectiva que surgiu a necessidade de elaboração dos planos locais de habitação como

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 563
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

um dos requisitos indispensáveis para Estados e municípios aderirem ao SNH”. Já o


PlanHab tem como seu principal objetivo
[...] formular uma estratégia de longo prazo para equacionar as necessidades
habitacionais do país, direcionando da melhor maneira possível, os recursos
existentes e a serem mobilizados, e apresentando uma estratégia nos quatro
eixos estruturadores da política habitacional: modelo de financiamento e
subsídio; política urbana e fundiária; arranjos institucionais e cadeia produtiva
da construção civil. (BRASIL, Ministério das Cidades, 2009, p. 9)

O PlanHab, dá subsídios para formulação do PLHIS que é o instrumento


utilizado para incluir a participação dos Estados e munícios nas estratégias do governo
federal referente ao desenvolvimento do setor habitacional, Magalhães (2013) ressalta
que o PLHIS mostra a necessidade de intensificação no levantamento de dados e
informações sobre o território, que são responsáveis por identificar a realidade em que o
Estado ou municípios estão.
A cidade de Mossoró apesar de ser uma cidade polo, com diversos tipos de
atividades econômicas que contribuem para formação da dinâmica urbana, enfrenta
problemas referente a ocupação social urbana, Oliveira (2014) acrescenta que

[...] o aproveitamento do solo urbano mossoroensse para a moradia na


atualidade revela um conjunto de contradições de diferentes aspectos, além de
expressar na sua estruturação os desníveis socioeconômicos entre das classes
que se configuram espacialmente, sendo o arranjo espacial formado pela
habitação popular um componente no qual essas diferenças se consolidam.
(OLIVEIRA, 2014, p.137)

A figura 2 complementa essa discussão. Ao analisar a mesma, percebe-se que as


AEIS estão quase em sua totalidade nos bairros que possuem as rendas mais baixas, das
sete áreas apenas uma está no bairro de renda considera média.
Figura 2 – Relação entre as AEIS e o rendimento médios das pessoas com 10 anos ou mais de idade nos
bairros de Mossoró, RN

Fonte: Autores, 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 564
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Através dessa analise percebe-se a importância do PLHIS para cidade, pois é


através dele que se torna possível a solicitação de recursos ao governo federal para
promover o desenvolvimento urbano, na visita a essas áreas, percebe-se que grande parte
ainda não possui construções e podem ser utilizadas para implementação de habitações
de interesse social ou produção de lotes voltados à moradia popular. As pessoas que
residem nas AEIS são de baixa renda, conforme a Figura 2, percebe-se também que as
áreas estão segregadas, não só pela distância dos centros urbanos, mas também pela falta
de infraestrutura e de equipamentos básicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existem, na cidade de Mossoró, serio problemas de gestão referente ao território
urbano, a desigualdade das classes se reflete nos processos de habitação nas AEIS, são
áreas atrativas para a população de baixa renda, levando em conta o baixo preço da terra,
pois são locais sem infraestrutura adequada e com pouca atuação da administração
municipal. O poder municipal tem se omitido diante dessa situação, as áreas periféricas e
segregadas se tornam a única opção para alguns moradores, entre as sete áreas apenas
uma contem construções de habitação de interesse social, localizada no bairro Santa
Delmira, esse seria uma das utilidades para as AEIS.
É notável a falta de interesse das autoridades pela população mais vulnerável
cidade, pois o município de Mossoró ainda não possui o projeto do PLHIS aprovado, ou
seja, é um dos fatores que impedem o recebimento de recurso dos programas do governo
federal, para promover o desenvolvimento nesses locais.

REFERÊNCIAS
BONDUKI, N. Planos Locais de Habitação: das origens aos dilemas atuais nas
regiões metropolitanas. In: DENALDI, R. (Org) Planejamento habitacional: notas
sobre a precariedade e terra nos Planos Locais de Habitação. São Paulo: Annablume,
2013.
BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Plano Nacional de
Habitação. Brasília: Ministério das Cidades, 2009.
CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano. 4. ed. São Paulo: Ática, 2000.
MAGALHÃES, I. Planos Locais de Habitação na estratégia da Política Nacional.
In: DENALDI, R. (Org) Planejamento habitacional: notas sobre a precariedade e terra
nos Planos Locais de Habitação. São Paulo: Annablume, 2013.
MOSSORÓ. Plano Diretor de Mossoró, RN. Mossoró, RN, 2006.
OLIVEIRA, J. P. Mossoró: Espaço urbano e questões habitacionais: análises sobre a
dinâmica urbana mossoroensse e a inserção da questão habitacional na atualidade.
Mossoró: Edições UERN, 2014.
OLIVEIRA, J. P. Mossoró: política urbana e habitação: Reflexões a respeito da política
urbana praticada em Mossoró na vigência do Estatuto da Cidade. Mossoró: Edições
UERN, 2016.
ROCHA, A. P. B. Expansão urbana de Mossoró (período de 1980 a 2004): geografia
dinâmica e reestruturação do território. Natal: EDUFRN, 2005.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 565
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Antropologia na Escola: Relações Étnico-Raciais e Religiosidade


Afro-Brasileira no Ensino Médio.
Camilly Emanuele Fernandes Gomes, Felipe Marinho Santiago, Lucas Lima Bezerra,
Rita de Cássia Nóbrega Clementino, Pedro Vitor Gomes de Araújo, Vitorio Honorato de
Freitas Pereira1, Eliane Anselmo da Silva2.

Resumo: A Antropologia tem expandido sua presença junto às mais diversas formações
não universitárias, e a escola ganha cada vez mais destaque. No Brasil, cada vez mais se
pauta um debate mais aprofundado em torno do seu ensino na Educação Básica,
compreendida enquanto espaço formativo alcançado pelas Ciências Sociais, através da
obrigatoriedade da disciplina de Sociologia no Ensino Médio, a partir da implementação
da Lei 11.684/08. Continuando nossas reflexões sobre o lugar do ensino da Antropologia
fora da Academia, assim, no Ensino Médio, esta pesquisa propôs ampliar a compreensão
do ensino/aprendizagem da Antropologia sob o ponto de vista de alunos desse nível de
ensino, partindo de reflexões sobre a temática étnico-racial, com ênfase na Lei 10.639/03.
A pesquisa propôs, além da disseminação do saber antropológico e das Ciências Sociais
na Educação Básica, colaborar com a implementação das Diretrizes Curriculares para a
Educação Étnico-Racial e o Ensino da História e Cultura Africana e Afro-brasileira na
escola. Tendo como foco a religiosidade, o objetivo foi familiarizar os estudantes da
Educação Básica com a cultura africana e afro-brasileira, contribuindo com o combate
ao preconceito étnico-racial e a intolerância religiosa na escola.
Introdução: Dando continuidade à compreensão do processo de ensino/aprendizagem
da Antropologia sob o ponto de vista dos alunos do ensino médio, objetivamos
proporcionar a partir da Lei 10.639, com foco nas religiões afro-brasileiras, reflexões e
conhecimentos para as relações étnico-raciais e para o combate a intolerância religiosa
na escola. Assim: Verificar o processo de ensino/aprendizagem dos conteúdos da
Antropologia sob o ponto de vista do aluno do ensino médio, identificando as principais
dificuldades e contribuições; Promover reflexões sobre as relações étnico-raciais com
base na Lei 10.639, combatendo o racismo e o preconceito na escola; Familiarizar os
estudantes com as religiões afro-brasileiras, contribuindo com a tolerância religiosa na
escola; Treinar as habilidades do aluno, levando-o a exercitar seus conhecimentos
antropológicos por meio de atividades que o inicie na prática científica e o familiarize no
ambiente acadêmico.
O Ensino de Sociologia na Educação Básica: Com a obrigatoriedade da disciplina de
Sociologia nos currículos do Ensino Médio, a partir da Lei 11.684/08, a Antropologia é
convocada a refletir acerca de questões referentes a Educação Básica e, com isto,
construir um novo lócus para debate. O ensino de conteúdos antes pensados apenas para
o Ensino Superior, agora para o Ensino Médio, traz desafios pedagógicos e
metodológicos para os professores. Estabelecendo como uma das finalidades centrais do
Ensino Médio a construção da cidadania do educando, a LDB evidencia a importância

1
Bolsistas do Programa de Iniciação Cientifica para o Ensino Médio (PIBIC-EM), alunos da Escola
Estadual Moreira Dias.
2
Prof.ª Dr.ª do Departamento de Ciências Sociais e Política (DCSP) da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN. Líder do Grupo de Estudos Culturais (GRUESC), Coordenadora do Núcleo de
Estudos Afro-Brasileiros (NEAB). E-mail: elianeanselmo@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 566
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

do ensino da Sociologia no Ensino Médio. Tendo em vista que o conhecimento


sociológico tem como atribuições básicas investigar, identificar, descrever, classificar e
interpretar/explicar todos os fatos relacionados à vida social, logo permite
instrumentalizar o aluno para que possa decodificar a complexidade da realidade social.
O Ensino de Antropologia na Escola: O ensino de Antropologia, embora não seja uma
disciplina obrigatória na Educação Básica, pode fazer parte da formação e estando
presente no processo ensino-aprendizagem. Nesse contexto, é importante considerar que
a Antropologia pode fornecer elementos teórico-metodológicos para se pensar as
sociedades atuais, a partir de noções como experiências culturais, rede de relações, papéis
sociais e o processo de constituição das identidades sociais. Compreender os contextos
sociais, culturais, políticos e econômicos através dos constantes fluxos, dos
hibridismos, do multiculturalismo, das novas identidades e sociabilidades
contemporâneas, na maioria das vezes marcados por atitudes etnocêntricas e de
diferenciações entre “nós” e os “outros”, se fazem cada vez mais fundamentais em
tempos vigentes. Partimos do pressuposto de que a Antropologia, dentro da disciplina de
Sociologia, pode ajudar alunos e professores da Educação Básica a conhecer, relativizar
e pensar criticamente a diversidade e a desigualdade que conforma a realidade
brasileira, desmistificando noções já naturalizadas e/ou essencializadas acerca do que se
entende por raça, cor, etnia, identidade, entre outros. Nessa perspectiva fazemos
referência a desnaturalização dos aspectos socialmente construídos, como o racismo e o
preconceito étnico-racial, bem como a intolerância religiosa, que compõem o foco dessa
proposta.
Educação para as Relações Étnico-Raciais e as Religiões Afro-brasileiras na Escola:
A temática étnico-racial a partir dos debates antropológicos, respaldados nas Leis
10.639/03, amplia o conhecimento adquirido em sala de aula e ainda colabora para com
as relações étnico-raciais na escola. A partir dos anos 2000, um conjunto de dispositivos
legais são desencadeados considerados como indutores de uma política educacional
voltada para a afirmação da diversidade cultural e da concretização de uma educação
para as relações étnico-raciais nas escolas. Compõem estes dispositivos: a Lei nº
10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-
brasileiras e africanas nas escolas públicas e privadas do ensino fundamental e
médio, complementada posteriormente pela Lei11.645 de 2009, que insere também o
índio e sua cultura; e o Parecer do Conselho Nacional de Educação em 2004, que aprovou
as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para
o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas. No tocante a religiosidade
afro-brasileira, o conhecimento e a familiarização com estas religiões contribuem
profundamente para o combate ao preconceito e a intolerância religiosa, a que são alvos
históricos no nosso país. As religiões afro-brasileiras apresentam-se em grande
variedade, indo de formas mais estruturadas a grupos informais, praticadas nas
comunidades tradicionais de matriz africana. De maneira geral, são grupos que se
organizam a partir de valores civilizatórios trazidos para o Brasil por africanos
transladados durante o sistema escravista, que possibilitou uma espécie de contínuo
civilizatório no país. Caracterizam-se pela vivência comunitária e prestação de serviços
à comunidade, com base na cosmovisão africana.
Metodologia e Resultados: Na escola onde já estava sendo desenvolvida a pesquisa -
Escola Estadual Desembargador Silvério Soares, na cidade de Areia Branca/RN - foram
aplicados questionários junto aos alunos da terceira série do Ensino Médio, sobre o
processo de aprendizagem dos conteúdos de Sociologia, com ênfase nos temas da

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 567
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Antropologia, enfatizando a questão étnico-racial e a religiosidade afro-brasileira. Entre


os resultados, destacamos que principal dificuldade continua sendo a carga horária da
disciplina de Sociologia, que não dá conta de todos os conteúdos propostos, e a
Antropologia e seus conteúdos ficam assim, suprimidos. A temática étnico-racial é tratada
de forma esporádica, assim como a religiosidade afro-brasileira, tratadas apenas na
ocasião da semana da Consciência Negra, no mês de novembro. A pesquisa sofreu uma
mudança, por motivos diversos, passando a ser realizada na Escola Estadual Moreira
Dias, na cidade de Mossoró/RN, que foi ainda prejudicada pelo contexto atual da
pandemia da Covid-19, da necessidade de isolamento social. Mas através das ferramentas
virtuais, em grupo de whatsapp, e reuniões pelo aplicativo google Meet, foi possível
manter os diálogos e fazer algumas reflexões sobre o novo contexto da pesquisa.
Sobre o ensino de Sociologia:
“A sociologia como disciplina no ensino médio é essencial para formar cidadãos com um
senso crítico para a sociedade, mas sua carga horária minúscula dificulta severamente o
trabalho do professor, que acaba tendo pouco tempo para abordar a fundo os temas, e dos
alunos, que assim recebem apenas uma base de conteúdos muito mais vastos”.
“Eu acho que sociologia, merecia pelo menos ser apresentado antes do ensino médio, já
que ele tem temas que serviriam desde sempre, e poderiam ser explorados mais a fundo.
Além de que, já deixaria uma base mais forte para o ensino médio, e daria para aprender
matéria com bem mais calma, dando a atenção que merece”.
Sobre os conteúdos de Antropologia:
“Como a antropologia tem de ser conciliada com a sociologia e a ciência política, parece
exceção o acesso aos conteúdos de antropologia dados por um profissional formado em
ciências sociais, como é o nosso caso”.
“Acho os conteúdos importantes como um todo, e também poderia ser apresentado mais
cedo ou a fundo, nas escolas. Eu acho a nossa cultura em si, muito interessante, mas pouco
valorizada, o que é uma pena já que deve ser uma das culturas mais ricas do mundo, e eu
culpo o entreguíssimo/complexo de vira-lata por grande parte dessa desvalorização”.
Sobre o racismo na escola:
“Nós sabemos que, como o bullying, o racismo está presente dentro do ambiente escolar.
Como uma pessoa branca, lembro-me das vezes em que ouvi comentários (pelo menos)
sobre características dos colegas negros, tais como seus cabelos ou especulações sobre
seu caráter”.
“Eu nunca presenciei pessoalmente, mas já ouvi relatos de uma amiga (2 anos mais nova
que eu) que teve que passar por uma situação dessas, e na época eu simplesmente não
consegui acreditar, como uma criança poderia tentar ofender a outra assim por causa da
cor da pele. O pior de tudo é que essa minha amiga, tinha sido xingada de “macaco” e
coisas desse gênero, dentro da própria escola, por um coleguinha da turma. Eu acredito
que boa parte da educação de uma pessoa é moldada em casa, se essa criança disse isso,
ela provavelmente já deve ter ouvido isso de alguém que ela convive. Acho que esse tipo
de gente é ignorante de mais, muito mente fechada, e não ficaria surpresa se também
fossem fanáticos religiosos”.
Sobre a intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana:
“Honestamente, não me lembro de ter presenciado uma aula dedicada ao assunto. A
ignorância em relação a tais religiões, dentro e fora da escola, é imensa, e por conseguinte
o preconceito também é”.
“Se não for para achar que a sua religião é a única verdadeira, nem tem por que está nessa
religião, o problema é desrespeitar as outras, e as religiões que mais são desrespeitadas,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 568
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

aqui no Brasil, são as de matriz africana/Afro-brasileiras (antes e depois de pesquisar


sobre, eu já tinha esse palpite, e infelizmente eu estava certa).
“E eu acho que com certeza tem algum nível de racismo, além da intolerância pura. Fora
que a intolerância é um crime no Brasil, mas eu quase ouço falar de alguma notícia a
respeito desse tema”.
Considerações Finais: Os resultados desta pesquisa, assim como as anteriores, denotam
uma experiência que é fundamental no tocante a presença da Antropologia na escola. Ao
refletir sobre sua relação com a Educação, é possível verificar que seus conceitos e objetos
de estudo possuem uma inserção significativa na Educação Básica, visto que levam o
aluno deste nível de ensino a refletir sobre questões pertinentes no contexto sócio cultural
de nosso país. Ocupando esses espaços fora dos muros acadêmicos, o saber antropológico
na escola proporciona um exercício dos conhecimentos adquiridos em sala de aula para o
cotidiano dos alunos. Pensar o racismo e a intolerância religiosa, como foi o intuito desta
pesquisa, é pensar uma sociedade mais justa e equânime, é pensar e concretizar uma nova
consciência e uma nova forma de exercer cidadania. Certamente os desafios são muitos e
não se resumem aqui. Mas comecemos apostando no papel da escola nessa empreitada,
assegurando que os conteúdos sejam assimilados e tenham valor prático na vida dos
estudantes. Continuaremos a insistir nesse objetivo, ressaltando a importância da
alteridade e da empatia na perspectiva metodológica exercida pela escola.
Bibliografia:
BASTIDE, Roger. 1989. As Religiões Africanas no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Pioneira.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Temas Transversais, Brasília/DF: MEC, SEF,
2000.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Sobre teias e tramas de aprender e ensinar:
anotações a respeito de uma antropologia da educação. Escritos Abreviados – Série
Cultura & Educação, 8.
GOMES, Nilma Lino. Práticas pedagógicas de trabalho com relações étnico-
raciais na escola na perspectiva da Lei nº 10.639/03. Ministério da Educação:
Brasilia, 2012.
GUSMÃO, Neusa M. M. de. Antropologia e educação: Origens de um diálogo.
Cadernos CEDES, v.18, n.43. Campinas, Dez. 1997.
LEAL, Ondina F.; ANJOS, José Carlos G. dos. “Cidadania de quem? Possibilidades
e limites da antropologia”. In: Horizontes Antropológicos. Ano 5, nº 10, maio de 1999.
MARIANO, Ricardo. 2007. Pentecostais em ação: a demonização dos cultos
Afro-brasileiros In: Intolerância Religiosa: impactos do neo-pentecostalismo no
campo religioso Afro-brasileiro. Vagner Gonçalves da Silva (Org.). São Paulo:
EDUSP. Pág. 119-147.
MOTTA, Roberto. 2002. Escatologia e visão de mundo nas religiões afro-brasileiras
In BRANDÃO, Sylvana (Org.) História das Religiões no Brasil. Recife: Ed.
Universitária da UFPE. p. 75-110.
PRANDI, Reginaldo. 2003. As Religiões Afro-brasileiras e seus Seguidores
In Afro-brasileiros, Pentecostais e Católicos, Vol. 3, Nº 01, Porto Alegre, Civitas:
PUCRS, junho de.
2005. Segredos Guardados. Orixás na alma brasileira. São Paulo:
Companhia das Letras.
ROCHA, Gilmar e TOSTA, Sandra Pereira. “Introdução” in: Antropologia &
Educação – Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009 (Coleção Temas & Educação;
10).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 569
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

APROXIMAÇÕES À DISCUSSÃO
DA DESIGUALDADE EDUCACIONAL

Cássia Gercina de Sousa Jácome1; Maria Eduarda de Oliveira Bezerra Medeiros2;


Iasmin da Costa Marinho3

Palavras-chave: Desigualdade. Política Educacional. Revisão de Literatura.

INTRODUÇÃO
O resumo em tela é recorte de pesquisa mais ampla intitulada: Desigualdades
intraescolares e gestão: estudo comparado em escolas públicas de Mossoró (RN), e tem
como objetivo apresentar aproximações à discussão da Desigualdade Educacional por
meio de breve revisão de literatura.
No Brasil, a educação é um direito social segundo a Constituição Federal de 1988
(Art. 6 e 205). Enquanto direito social garante “a participação na riqueza coletiva”
(CARVALHO, 2012, p.10). Dessa forma, a educação possibilita a vida social e a
execução dos direitos políticos e civis, em resumo, o exercício da cidadania. Essa
percepção do direito social da educação assumida pela CF (1988), registra um resgate
histórico em defesa da democracia. Após a ditadura militar, havia uma crença que o
espírito nacionalista democrático, a garantia das liberdades do povo e o desenvolvimento
social e econômico, seriam rapidamente reconquistados. Parte dessa perspectiva o título
dado a CF (1988) de “Constituição cidadã” (CARVALHO, 2012).
Para falar de cidadania é preciso considerar para além da dimensão legal dos
direitos sociais, como a educação, as condições objetivas de seu efetivo exercício. Como
questiona Thomas Marshall (1967): “a igualdade básica, quando enriquecida de
substância e concretizada nos direitos formais de cidadania, é consistente com as
desigualdades das classes sociais?”. Essa questão nos remete a compreensão de que não
é suficiente que os direitos estejam presentes e garantidos nas Leis, sem que haja uma
mobilização estrutural mais ampla, capaz de modificar as realidades, e diminuir as
desigualdades sociais. Como seria possível falar de formação cidadã em um dos países
mais desiguais do mundo?
De acordo com o Relatório “País estagnado: um retrato das desigualdades
brasileiras”, produzido pela organização OXFAM/Brasil, “a roda da redução das
desigualdades parou no Brasil” (2018, p. 11). Conforme os dados da pesquisa, entre os
anos de 2017 e 2018, o país apresentou um grave recuo no progresso social, como o
aumento da população em condições de pobreza, dos níveis de desigualdade de renda e
dos índices de mortalidade infantil. Essas constatações interagem também com a
estagnação do coeficiente de Gini para renda domiciliar per capita nos anos de 2016 e
2017. O Brasil encontra-se atualmente em 9º no ranking dos países mais desiguais do

1
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN); E-mail: cassiajacome@alu.uern.br.
2
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN); E-mail: mariaeduardamedeiros@alu.uern.br.
3
Orientadora e Coordenadora do Projeto de Iniciação Científica: DESIGUALDADES
INTRAESCOLARES E GESTÃO: ESTUDO COMPARADO EM ESCOLAS PÚBLICAS DE
MOSSORÓ (RN). Professora do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UERN). Participante do Grupo de Pesquisa Formação, Memória e Políticas Educacionais
(FORMEPE-UERN). Participante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Estado, Educação e Sociedade
(GEPEES-UERN).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 570
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mundo. Os 5% mais ricos do país, ganham por mês, o que os 95% restantes da população
recebem juntos (OXFAM, 2018).
O Relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), intitulado
“Pobreza na infância e adolescência” (2018), mostra que de 61% das crianças e
adolescentes brasileiros que vivem na pobreza, 49,7% têm privações múltiplas. Isso, quer
dizer, que muitos desses indivíduos estão expostos a inúmeras privações de forma
simultânea, tais como, a negação de direitos básicos, quais sejam: “educação, informação,
água, saneamento, moradia e proteção contra o trabalho infantil” (UNICEF, 2018, p. 6).
Dentro do mesmo grupo de crianças e adolescentes, 13,9 mil não têm acesso a nenhum
dos seis direitos, estão à margem das políticas públicas.
Em ordem das privações que mais afetam as crianças e adolescentes estão: “o
saneamento (13,3 milhões), a educação (8,8 milhões), água (7,6 milhões), informação
(6,8 milhões), moradia (5,9 milhões) e proteção contra o trabalho infantil (2,5 milhões)”
(UNICEF, 2018, p. 8). Do público de 4 a 17 anos, 20,3% têm o direito a educação
negligenciado. 13,8% frequentam a escola, mas, são analfabetos ou estão com atraso
escolar. 6,5% não acessa a escola. Quando observada a desigualdade de acesso à educação
de brancos e negros, há 545 mil meninas e meninos negros de 8 a 17 anos que são
analfabetos, contra, 207 mil que são brancos. Quanto ao gênero, 53% dos meninos são
afetados pelo analfabetismo e atraso escolar. Os mais pobres no Brasil, sofrem quatro
vezes mais privação de direitos que os ricos (UNICEF, 2018).
Observando os dados acerca da desigualdade social e educacional no Brasil, fica
evidente o abismo que ainda existe entre a função social da escola para a formação cidadã
e mercado de trabalho e as distorções geradas pela estratificação social. Além disso,
apesar da expansão quanto ao acesso à educação, uma parte da população pobre do país,
em idade escolar, não é atendida pelos sistemas de ensino. Nesse sentido, compreendemos
a desigualdade educacional enquanto parte da privação de outros direitos (desigualdade
moral). Negar a educação ou oferecer uma educação de baixa qualidade, principalmente
à camada popular, é o reforço da marginalização dos oprimidos.
A não oferta da educação de qualidade no Brasil, é uma forma de exclusão social
que se expressa não apenas no desempenho acadêmico dos estudantes, mas também nas
trajetórias escolares de abandono, repetência, reprovação e evasão (CURY, 2007). Cabe
destacar que a desigualdade no campo educacional é um conceito polissêmico
(SAMPAIO; OLIVEIRA, 2015). Nesse sentido, apresentaremos a seguir os
procedimentos metodológicos de levantamento dos estudos e pesquisas nacionais que
discutem a temática da desigualdade educacional, destacando as produções encontradas
em livros, artigos científicos, teses e dissertações.
METODOLOGIA
Para realização do trabalho ora apresentado, recorremos a abordagem qualitativa
de pesquisa (CRESWELL,2007), combinando aspectos da pesquisa bibliográfica e
documental. Foram realizados levantamentos de estudos e pesquisas junto ao banco de
dados da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD); e, Banco de Teses e
Dissertações da CAPES, com recorte temporal de 2000 a 2017. A pesquisa situa-se no
Paradigma Interpretativo que tem como objetivo exercer maior compreensão, significado
e ação, imergindo nos contextos pessoais e sociais dos sujeitos (COUTINHO, 2005). O
paradigma interpretativo se baseia em pesquisas como estudos de caso, empregando
técnicas quantitativas e qualitativas para descrever e analisar um objeto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os descritores utilizados nas buscas dos trabalhos de Teses e Dissertações nas
bases de dados BDTD e Banco de Teses e Dissertações da CAPES, foram refinadas a
partir de levantamento teórico de artigos científicos produzidos sobre o tema das

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 571
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

desigualdades educacionais. Dessa forma, definiu-se como descritores: Desigualdades


intraescolares; Desigualdade Educacional; Fatores intraescolares; Desempenho escolar e
Efeito escola. Os descritores foram utilizados ainda entre aspas ou na forma de plural, de
forma a refinar e facilitar a busca dos trabalhos.
Os critérios utilizados para inclusão e exclusão dos trabalhos foram estabelecidos
conforme sua presença na área de Educação e/ou áreas das Ciências Humanas
relacionados ao tema, bem como, de acordo com o recorte temporal de produções. Além
desses critérios utilizados como filtros, os trabalhos foram selecionados conforme os
títulos, resumos e palavras-chave. A análise sofreu recorte por meio do próprio objeto de
pesquisa, voltando-se apenas aos estudos desenvolvidos com base no Ensino
Fundamental. Permaneceram em análise os trabalhos disponíveis de forma integral junto
às bases de dados investigadas e que realizados os filtros e cortes aqui propostos,
enquadravam-se em fontes importantes à delimitação do problema investigado.
A busca na BDTD se deu de quatro formas diferentes, combinando descritores,
acrescentando o uso de aspas e plurais quando necessário. Para o descritor “Fatores
intraescolares”, foram encontrados 12 trabalhos entre teses e dissertações, após o uso dos
critérios de inclusão e exclusão já dispostos anteriormente, restou 01 trabalho de
dissertação de Silvana Soares de Araújo Mesquita (2009). Para os descritores
“Desempenho Educacional” e “Efeito-escola”, foram encontrados 205 trabalhos e apenas
02 dissertações foram escolhidas (MACHADO, 2011; OLIVEIRA, 2016). No uso dos
descritores "Desempenho Educacional" e "Desigualdade Escolar", foram encontradas 03
dissertações de mestrado (FERREIRA,2008; PENA, 2009; DAMASCENO, 2017). Para
o descritor: "Desigualdade intraescolar", 05 trabalhos, na forma de dissertações, foram
encontrados, e apenas 02 compuseram o inventário de trabalhos para análise.
A partir do levantamento junto a BDTD pode-se observar que apenas 09
dissertações de Mestrado foram inventariadas para análise nessa produção de
levantamento bibliográfico sobre o tema. As escolhas obedeceram aos critérios de
inclusão e exclusão estabelecidos anteriormente. No levantamento realizado junto a base
de dados da CAPES, utilizou-se a combinação de todos os descritores, quais sejam:
Fatores intraescolares; Desempenho Educacional; Desigualdade Escolar e Efeito Escola.
Foi utilizado o filtro para trabalhos produzidos no âmbito de Programas de Pós-graduação
em Educação, com área da avaliação em Educação.
Os primeiros resultados indicaram 9.490 trabalhos, utilizando o recurso das aspas
em cada descritor, foram filtrados 6.320 trabalhos. A partir disso acrescentou mais um
descritor, qual seja: “Ensino Fundamental”. Após extensa leitura dos títulos, resumos e
palavras-chave, restaram 08 trabalhos entre Teses e Dissertações, destes, apenas 04
encontravam-se disponíveis integralmente para análise (FILHO, 2013; COSTA, 2010;
ALVES, 2006; RANGEL, 2013). Ao finalizar o levantamento de teses e dissertações a
partir dos descritores apresentados, inventariamos um total de 13 trabalhos, sendo 2 teses
e 10 dissertações de 08 instituições diferentes. Os trabalhos se concentram entre os anos
de 2006 a 2017. Adiante analisaremos a produção desses trabalhos e como estes
contribuem a compreensão do nosso objeto de pesquisa.
CONCLUSÃO
Os trabalhos apresentam diferentes perspectivas metodológicas para apreciação
da temática da Desigualdade Educacional. A análise propiciou a observação da temática
anunciada de formas distintas, contribuindo para o ressalte da polissemia do conceito da
desigualdade, e das inúmeras frentes de apreciação dos fatores intraescolares. O
levantamento das Teses e Dissertações, no período de 2000 a 2017, com base nos
descritores: Desigualdades intraescolares; Desigualdade Educacional; Fatores
intraescolares; Desempenho escolar; e Efeito Escola, proporcionou uma visão das

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 572
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

produções já realizadas sobre o tema, modelos metodológicos mais viáveis para aferir os
fatores intraescolares, e recortes de observação do objeto de estudo em localidades
diversas. O levantamento, possibilitou ainda, a fixação das categorias de análise como:
Gestão Escolar, Desigualdades intraescolares; Política Educacional e Território, como
integrantes do processo de pesquisa e que se encontram disseminadas nas produções de
Teses e dissertações sobre o tema. O exercício exaustivo, porém, profícuo, de análise ora
pretendido, não se encerra aqui, servindo de base a novos processos de busca e
compreensão sobre o objetivo de pesquisa proposto, a serem desenvolvidos no decorrer
do Relatório da Pesquisa maior.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a toda equipe do Projeto de Iniciação Científica Desigualdades
intraescolares e gestão: estudo comparado em escolas públicas de Mossoró (RN) e à
equipe do Projeto de Extensão UERN vai à escola: formação e acompanhamento da
gestão escolar, por contribuir na execução dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS
ALVES, M.T. G. Efeito-escola e fatores associados ao progresso acadêmico dos alunos entre o início da 5ª
série e o fim da 6ª série do Ensino Fundamental: um estudo longitudinal em escolas públicas no município
de Belo Horizonte. Tese (Doutorado)-Programa de Pós-Graduação em Educação-FAE, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006a. 202 p.
CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. – 15 ed. – Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2012.
COSTA, Leandro Oliveira. Efeitos da gestão escolar e características individuais do diretor determinantes
do desempenho dos estudantes do ensino fundamental. 2006. 65f.: Dissertação (mestrado) - Universidade
Federal do Ceará, Programa de Pós-Graduação em Economia CAEN, Fortaleza-CE, 2006.
COUTINHO, C. (2015). Metodologia de investigação em ciências sociais e humanas: Teoria e
Prática. Coimbra: Almedina.
CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto / John W. Creswell ;
tradução Luciana de Oliveira da Rocha. - 2. ed. - Porto Alegre: Artmed,2007.
CURY, Carlos Roberto Jamil. A gestão democrática na escola e o direito à educação. RBPAE – v23, n.3,
p. 483-495, set/dez. 2007.
DAMASCENO, Wendel Alves. Persistência das desigualdades educacionais em escolas públicas de
Barbacena-MG: uma avaliação dos efeitos da política de responsabilização sobre as desigualdades
educacionais. 2017. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Federal de Juiz de Fora,
Juiz de Fora, 2017.
FILHO, Eriberto Barroso Façanha. Possíveis fatores extraescolares e intraescolares vinculados ao
desempenho em matemática na prova Brasil de alunos dos anos iniciais do ensino fundamental de uma
escola pública de Manaus/AM. / Eriberto Barroso Façanha Filho. – 2013. 111 f. Dissertação (Mestrado em
Ensino de Ciência e Matemática) – Universidade Luterana do Brasil//ULBRA, Canoas/RS, 2013.
OLIVEIRA, José Valmir Guimarães de. Análise do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica
do Ceará (SPAECE):um estudo comparativo entre o efeito escola e os resultados de proficiência em escolas
da rede estadual nos anos de 2012 a 2014. 2016. 131f. – Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do
Ceará, Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira, Fortaleza (CE), 2016.
OXFAM-Brasil. Relatório País Estagnado: um retrato das desigualdades brasileira, 2018. Disponível
em:https://www.oxfam.org.br/um-retrato-das-desigualdades-brasileiras/pais-estagnado/. Acesso em:
nov./2019.
PENA, Adriana de Carvalho Pessato. Desigualdades e diferenças na sala de aula: a nomeação dos diferentes
na produção da exclusão escolar. 2009. 119 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) - Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2009.
RANGEL, Jaqueline Vieira. Efeito Escola e Efeito Professor: um estudo dos fatores ligados à eficácia
escolar. Dissertação (mestrado profissional) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de
Educação/CAEd. Programa de Pós-Graduação em Gestão e Avaliação da Educação Pública, 2013. 138 p.
SAMPAIO, G. T. C.; OLIVEIRA, R. P. de. Dimensões da desigualdade educacional no Brasil. Revista
Brasileira de Política e Administração da Educação RBPAE, v. 31, n. 3, p. 511 530, set./dez. 2015.
UNICEF. Relatório Pobreza e Infância na Adolescência, 2018. Disponível em:
https://www.unicef.org/brazil/relatorios/pobreza-na-infancia-e-na-adolescencia. Acesso em: nov./2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 573
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ARQUIVOS ESCOLARES, PRÁTICAS EDUCACIONAIS E


RELIGIOSIDADE: UM ESTUDO DOCUMENTAL DO
EDUCANDÁRIO NOSSA SENHORA DAS VITÓRIAS
Kivia Dulce Fonseca 1; Sara Raphaela Machado de Amorim2.

Palavras-chave: História da Educação. Cultura Escolar. Investigação. Rio Grande do


Norte.

Introdução

A presente investigação trata-se de um estudo em fase de conclusão vinculado


ao Núcleo de Pesquisa em Educação/NUPED, da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte por meio do Programa Institucional de Iniciação Cientifica/PIBIC. No
desenvolvimento do projeto intitulado “Culturas escolares: percursos investigativos e
possibilidades interpretativas das práticas educacionais no município de Assú/RN
(1908-1928)”, Investigar as Culturas Escolares e práticas educacionais no município de
Assú no período de 1908 à 1928 é o sentido desta pesquisa.
O período apresentado para análise caracterizara-se como momento de
reorganização nacional a partir do ideário republicano, onde as escolas eram influentes
espaços de construção e disseminação de valores morais e cívico-patrióticos. No Rio
Grande do Norte, semelhante ao que ocorria na extensão de todo o país, foram criadas
instituições escolares adequadas com os novos objetivos de formação do cidadão
republicano.
Com o objetivo de investigar, mapear e estudar a documentação educacional
local no início do século XX, enquanto lócus de pesquisa referente a esse plano de
trabalho foi escolhida uma das primeiras instituições escolares do município de Assú, o
Educandário Nossa Senhora das Vitórias (1927), com o objetivo de investigar as
culturas escolares e práticas educacionais características deste espaço. Ressaltamos que
nas instituições de ensino, os arquivos escolares são a parte constituinte, que dá

1 Aluna de Iniciação Científica PIBIC. Graduanda do Curso de Pedagogia do Departamento de Educação


da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN; Campus Assú. Contato:
kiviadulce@gmail.com
2
Doutora em Educação. Líder do Núcleo de Pesquisa em Educação/NUPED-CNPq. Professora do
Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Contato:
raphaela.amorim@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 574
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

existência ao repositório dos documentos de informação diretamente relacionados com


o seu funcionamento, essa condição acaba por atribuir a esses arquivos uma importância
acrescida nos novos caminhos da investigação em educação, principalmente na área de
História da Educação, que colocam essas instituições, como enfatiza a autora Mogarro
(2005, p.77), “numa posição de grande centralidade para a compreensão dos fenómenos
educativos e dos processos de socialização das gerações mais jovens”.
Através dos acervos documentais é possível conhecer dimensões das atividades
administrativa e pedagógica de transformação da educação ao longo do tempo. Vale
frisar que os documentos são acontecimentos produzidos historicamente, reconhecidos
enquanto produtos que a sociedade fabricou, carregados de significados, por vezes
disfarçados nas escritas e na fala dos sujeitos que os produziram, evidenciando, assim, o
desafio para o pesquisador de um constante olhar minucioso sobre tudo o que compõe
os documentos históricos.
Neste sentido, tornou-se motivo de indagação conhecer como se deu este
processo na cidade de Assú, em 1927 foi inaugurado o Educandário Nossa Senhora das
Vitórias, inicialmente com o objetivo de formar as moças da aristocracia Assuense,
contudo, no ano seguinte a instituição ampliou a possibilidade de ingresso e
permanência também aos meninos, com o objetivo de expansão do ensino. Como o
próprio nome enfatiza, a escola é orientada por princípios religiosos católicos, tendo
como as primeiras professoras, as freiras da Congregação Filhas do Amor Divino.
O ensino ministrado no Educandário, subvencionado pelo governo do estado,
demonstra os interesses de figuras políticas na idealização desta instituição. Em face
com o vasto acervo que compreende os documentos datados desde a o dia de sua
fundação, é perceptível que a escola tem em sua história momentos peculiares. Diante
disso é preciso compreender a história das instituições escolares de modo mais
complexo, observando processos de continuidade e descontinuidade, as razões de suas
mudanças, desde as que se remetem as transformações nos espaços físicos, público de
desígnio e os interesses civilizatórios para essas pessoas letradas.

Metodologia

Aprofundar-se sobre a História das culturas escolares proporciona ao estudante o


diálogo com saberes, princípios e práticas de um período não vivido. A investigação por
meio das fontes e seus acervos marcam uma importante etapa da pesquisa e do fazer do

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 575
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pesquisador. A vista disso, optamos por investigar os arquivos escolares e sua dimensão
como fonte para pesquisa no campo da História da Educação, realizamos investigações
no Educandário Nossa Senhora das Vitórias uma das instituições educativas mais
antigas do município de Assú, criada nos anos iniciais do período republicano.
Desenvolvemos, assim, uma pesquisa de caráter exploratório, por meio das fontes
documentais que nos auxiliaram na investigação, sob uma abordagem qualitativa, e
diálogo com autores que são determinantes para as reflexões e entendimentos acerca do
objeto em estudo.
Para uma discussão mais profunda e com maior clareza da compreensão dos
conhecimentos propostos pelo processo investigativo, este estudo é respaldo teórico-
metodologicamente em concordância com os autores Le Goff (2003), Chartier (1990)
Frago (1995), Vasconcelos (2005) Vidal (2005), Certeau (2002) dentre outros autores
que discutem as categorias de análise que fundamentam o estudo, tais como a Culturas
Escolares, História das Instituições Escolares e Práticas Educacionais.
A escola é uma instituição que atribui-se como parte primordial da história da
sociedade, seus acervos compõem meios para reavivar a memória daqueles que fizeram
parte dessa instituição, logo, os documentos lá arquivados dão indícios sobre as práticas
administrativas e pedagógicas que abrem uma série de possibilidades de análise do
cotidiano da escola.
A partir do mapeamento, digitalização e estudo dos aspectos que emergiram das
fontes, percebemos a valorosa relevância da análise de tais materiais para a
compreensão da história da educação Assuense, bem como para o desenvolvimento de
estudos que contribuam para a historiografia da educação do Estado. Na referida
pesquisa e textos lidos, percebemos que a presença das instituições formadoras de
cunho católico, no âmbito escolar está fortemente ligada com a história da educação no
Brasil, através de ordens e congregações religiosas.
A chegada dessas instituições aqui no Brasil está diretamente ligada com a
intenção da igreja católica em fortalecer os seus ideais e com a atenção especial a
educação feminina, permeando o campo pedagógico com objetivo de educar a chamada
civilização cristã brasileira, considerando que a educação possibilita a elevação dos
padrões culturais dessas alunas.
Consideramos importante entender que momento foi esse, como e porque as
fontes são necessárias para concretizar a história de uma sociedade e de que modo
contribuíam para a formação do cidadão norte-rio-grandense. Pensar nessas práticas

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 576
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

educativas e culturais, tais como saberes construídos para aquela época através destes
documentos é provocar a reflexão sobre a sociedade no início do século XX, permitindo
conhecer a pluralidade das ideias que orientavam a busca pelos novos caminhos para a
educação pública. As fontes que detectamos sobre a educação no Colégio Nossa
Senhora das Vitórias, compreendem, por exemplo, atas de reuniões, planos
educacionais, diários escolares, cadernos de matriculas e fotografias.

Resultados e Discussão

Ao analisarmos a consolidação dessa instituição, principalmente devido à


presença considerável das Freiras como reflexo de santidade, entendemos que a
educação constituiu, para a Igreja, projeto de evangelização ou restauração católica na
sociedade norte-rio-grandense. Retoma-se aqui a o contexto inicial, a formação
feminina correspondeu aos anseios católicos como importante meio de evangelização e
interiorização da própria religião nessa sociedade, pelo cultivo e estímulo em defesa da
família, pela ordem e a disciplina nesta educação.
De certo, os planos educacionais desenvolvidos pelo Estado e pela Congregação
das Filhas do Amor Divino para as mulheres, não deixavam de favorecer a relação entre
escola e lar, essa relação escola, Igreja e educação feminina fazia parte das crenças
republicanas brasileiras que se estendeu por todo o século XX. A “vocação” feminina
para educar a infância, baseado no potencial de redenção pela pureza e amor ao
próximo, atributos dos quais as mulheres eram e até hoje são possuidoras, teve o efeito
maximizar a importância feminina na educação.
O que se evidencia como a atividade educativa explica e reconstrói modelos ou
ideologias, tornando-se essencial para atender as expectativas dominantes e suas
representações na sociedade. Ou seja, “educação é um produto da ideologia de seus
promotores” (RAMALHO, 1976, p. 16). Consequentemente, é uma relação de poder ou
dominação, pois é através das complexidades do processo educativo que as ações
podem ser legitimadas ou habitualizadas por determinado grupo.

Conclusão

A realização deste estudo nos permitiu a ampliação do olhar para os diversos


aspectos que circundam o Educandário Nossa Senhora das Vitorias na cidade de Assú.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 577
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os processos das nossas investigações, apontam possibilidades de novas pesquisas que


possam futuramente e de outros modos colaborar com a historiografia da educação
norte-rio-grandense. Em últimas palavras, as contribuições da nossa pesquisa consistem
como auxilio para promover uma melhora ao acesso dos documentos públicos,
possibilitando uma reflexão de como eram construídos os ideários escolares,
reafirmando a responsabilidade social da Universidade por meio da pesquisa científica.
Ter um olhar para novas perspectivas, compreendendo que os acervos possibilitam
vestígios que dão testemunho do passado escolar, neste caso, vestígio que constituem a
história da instituição.

Agradecimentos

Nossos agradecimentos são direcionados a todos que contribuíram direta e


indiretamente para o desenvolvimento desta pesquisa, em especial a Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte, ao Núcleo de Pesquisa em Educação/NUPED, a todos
que fazem parte do Programa Institucional de Iniciação Cientifica/PIBIC e as
instituições escolares que cederam seus materiais para a pesquisa aqui realizada.

Referências
CERTEAU, Michel. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
_____. Formas e sentido. Cultura e escrita: entre distinção e apropriação. Campinas:
Mercado de Letras; Associação de Leitura do Brasil, 2003.
CHARTIER, Roger. Escutar os mortos com os olhos. Lição inaugural n.195 do
Collège de France/Fayard, pronunciada por Roger Chartier em 2007, na cátedra “escrito
e culturas na Europa moderna”. In: Estudos Avançados. 24 (69), 2010.
FRAGO, Antonio Viñao. Historia de la educación y história cultural: possibilidades,
problemas, cuestiones. Revista Brasileira de Educação. Set/Out/Nov/Dez 1995.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Bernardo Leitão... [et al.] – 6 ed.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2012.
MOGARRO, Maria João. Os arquivos escolares nas instituições educativas
portuguesas. Preservar a informação, construir a memória. Pro-posições,
Campinas, v. 16, n. 46, p. 103- 116, jan./abr. 2005.
RAMALHO, Jether Pereira. Prática Educativa e Sociedade. Rio de Janeiro: Zahar,
1976.
VASCONCELOS, Maria Celi Chaves. Pesquisa em História da Educação: Acervos,
arquivos e a utilização de fontes. FRONTEIRAS: Journal of Social, Technological
and Environmental Science, Anápolis-Goiás, v.3, n.3, jul.-dez. 2014, p.33-47.
VIDAL, Diana Gonçalves. Apresentação do dossiê arquivos escolares: desafios à
prática e à pesquisa em História da Educação. Revista Brasileira de História da
Educação, Campinas, n. 10, p. 71-73, jul./dez, 2005.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 578
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AS REDES SOCIAIS COMO FORMA DE PARTICIPAÇÃO


POLÍTICA

Josefa Agleuda Campos Ferreira1; Telmir de Souza Soares2

Palavras-chave: Redes Sociais. Participação Política. Democracia.

INTRODUÇÃO
A democracia sempre se caracterizou pela ampliação, cada vez maior, das pessoas
da sociedade que são consideradas como cidadãs. A esse alargamento das fronteiras das
classes que fazem parte da forma de governo democrática deveria estar associado a
ganhos no que tange à participação política. Entretanto, em meio às modulações
performativas da constituição democrática, principalmente no que diz respeito ao modus
do sistema representativo, o que se viu ao longo de décadas foi o afastamento cada vez
maior do cidadão das decisões de Estado, sendo substituído por representantes que, no
mais das vezes, representam unicamente a sua vontade pessoal ou, mormente, a vontade
e os interesses aqueles que financiaram a campanha da eleição, as vezes por meio de caixa
dois, o que torna o eleito tributário de favores que um dia serão cobrados em franca
contradição com os interesses da sociedade que o elegeu.
Nesse sentido, o que vemos é um esvaziamento do interesse pela política e,
consequentemente, pela participação politica uma vez que nos encontramos diante de um
jogo de cartas marcadas. Assim, como mover os cidadãos para cuidar do poder que, uma
vez exercido sobre suas vidas pode vir a ser benéfico, muita embora, o mais das vezes, se
apresenta como nefasto, incongruente, injusto e incompetente vis-à-vis do bem público?
Assim, nossa pesquisa tem como objeto pensar o papel das redes sociais, no novo
contexto da cibernética, da disseminação do uso da internet, da afiliação de pessoas, de
forma cada vez mais continuada ao microcosmo das redes sociais o que possibilita, por
um lado, o reconhecimento em grupos de interesses, a adesão a ideários comuns, a
manifestação conjunta em grupos sociais, o processo de identificação e a abertura para a
declaração de interesses e pontos de vista mas, por outro lado, a convivência com a
identidade que exclui as divergência, a unicidade das vozes do grupo impossibilitando o
dissenso, a manipulação e a modelação dos interesses o que leva a polarizações, ao
recrudescimento de posturas radicais, à disseminação de Fake News, à atividades de
calúnia, de trollagens, entre outras questões menos nobres na nova arena política.
Mais do que nunca se faz necessário pensar esse novo cenários que surgiu em
meados dos anos 90 d0 século XX e se configura como o espaço por excelência do
política. Nesse sentido, vimos a ascensão de novos atores políticos na Itália, o crescimento
da extrema direta em países escandinavos, a vitória do “sim” ao Brexit, a vitória de
Donald Trump em 2016 e a de Jair Bolsonaro em 2018, o que nos faz pensar que o que

1
Estudante do curso de Bacharelado em Serviço Social do Departamento de Serviço Social da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: josefaferreira@alu.uern.br.
2
Professor do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Líder do
Grupo de Pesquisa Democracia em Rede; e-mail: telmir@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 579
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

poderia ser uma saída para a renovação da democracia tem se tornado, de fato, um dos
fatores do seu descrédito, da sua derrocada e do seu enfraquecimento.
Assim, as redes sociais se nos apresentam com um campo de possibilidades ainda
em aberto no que tange a uma perspectiva de participação política que venha a
desenvolver e a fazer funcionar, de forma adequada, a democracia. Como muitas das
criações humanas, as redes sociais são inócuas, dependendo seu aspecto benéfico ou
nocivo dos usos que dela são feitos. Nossa pesquisa consiste em observar os riscos que
levam aos usos inadequados e antidemocráticos, e pensar, de forma prospectiva, nos usos
possíveis que venham a servir de suporte à democracia enquanto governo que visa ao bem
comum.

METODOLOGIA
Nossa pesquisa teve um caráter eminentemente bibliográfico. Muitas são as
publicações que tentam dar conta dos modus hodiernos do fazer democrático e, em maior
quantidade aquelas que tratam do universo telemático, das suas possibilidades e dos seus
riscos. A despeito de que, no que concerne ao dia-a-dia do exercício do poder na
atualidade, podermos ter nos servido de uma vasta publicação que se dá em jornais e
revistas, nos broadcastings das principais emissoras de televisão, nos detivemos
referências bibliográficas mais recentes de pesquisadores e escritores que tratam desse
novo momento das redes sociais, das empresas de Big Data e da política nos últimos anos.
Tendo em vista a atualidade da temática, nos detivemos em livros bem recentes
como o de James Bridle que trata da regressão do conhecimento, dada a intensidade,
velocidade e impossibilidade de dar conta das informações com que somos bombardeados
na cotidianidade, o que conduz, segundo o autor, a que ele considera de A nova Idade
Média, situação que nos conduziria, segundo Eugeny Morozov, à morte da política pela
atuação das grandes corporações como ele indica em seu livro intitulado: Big tech: a
ascensão dos número. No que tange ao desenvolvimento histórico dos usos políticos da
internet, temos a obra Engenheiros do caos de Giuliano da Empoli, que nos apresenta
como a perspectiva de dar voz aos sem voz, sem deixar de manipulá-los, obviamente, fez
nascer, na Itália, o Movimento Cinco Estrelas que associou o uso de dados para
compreender o que desejavam os eleitores e, com isso, construir um produto política
capaz de seduzir eleitores de vários espectros políticos fazendo nascer o que conhecemos
como a manipulação política da democracia na atualidade.
Em contraponto às denúncias de Da Empoli e Morozov, por exemplo, temos o
livro de Davi Sumpeter, Dominados pelos números: do Facebook e Google às Fake News
– os algoritmos que controlam as nossas vidas, que afirma, baseado em dados e modelos
matemáticos, que toda a aura conspiracionista que associa as Big techs com a
manipulação de dados nada mais é do que um efeito sofístico, por assim dizer. Da
coletânea desses e de outros textos construímos a metodologia de nossa pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Uma pesquisa de tal envergadura, tendo em vista um objeto recente e que está se
constituindo, apresenta resultados promissores, mas ainda incipientes, tanto assim que o
presente projeto vai ser continuado para investigar os aspectos virtuais da participação
política por meio das redes sociais. Entretanto, constatamos que, de fato, a despeito da

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 580
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

postura negacionista assumida por Sumpter (2019), as Big techs como aponta Morozov
(2018) são capazes não só de acumular, concentrar e manipular megadados dos usuários
da internet, hoje a grande maioria da população mundial, como também estão aptas, por
meio de seus algoritmos, de promover tanto produtos, como necessidade, quanto
plataformas políticas.
Nesse sentido, essas grandes empresas cuja riqueza é maior que o PIB de vários
países mundiais de grande envergadura, como o Brasil, são capazes de, visando o lucro e
a ascensão do modo digital do capitalismo, promover mentalidades, modos de agir e
formas de pensamento que visem manipular a opinião pública levando ao ocaso da
política, uma vez que a mobilização baseada na perspectiva do engodo político tende a
anular a vontade das pessoas, o dissenso, a diversidade e, com isso, embotar o significado
efetivo de uma participação política real.
Da Empoli (2019) mostra que esse tipo de postura foi o motor do Movimento
Cinco Estrelas, que levou à vitória d’A Liga, na Itália. Essa mudança do cenário político
se baseou na gestão das insatisfações dos italianos com a política tradicional por um
analista de mídia digital associado a um ator/palhaço de grande expressão na Itália, Beppe
Grillo. Essa manipulação das massas se deu à reboque da Operação Mãos Limpas, que
comprovou o enraizamento da corrupção na vida política e empresarial da Itália e, com
isso, promoveu a destruição da maioria dos partidos tradicionais. Por outro lado, essa
derrocada política gerou o surgimento de novos partidos, de velhas insatisfações e de
novas manipulações.
Nesse contexto pessoas que estavam fora da política tradicional viram a
possibilidade de participar da vida pública e da política. As redes sociais surgem, nesse
momento, como a possibilidade de realizar a essência da democracia, mas não é isso que
aconteceu mundo afora.
De fato, as redes sociais têm em seu cerne essa possibilidade de efetivar,
em muitos sentidos, o projeto de um engajamento político das pessoas. Entretanto, o que
vemos, ainda, é um uso coordenado pelas forças econômicas, sociais e políticas que dão
suporte ao Capital, em se utilizar da participação política como uma forma de
confirmação de um ideário, de práticas e de posturas que interessam mais à burguesia em
suas várias modalidades que, propriamente, à grande massa de trabalhadores.
Há que se compreender o potencial das redes sociais no que concerne à
democracia e fazer dessa ferramenta de sociabilidade uma estrutura capaz de promover
um acesso às diferenças, às diversidades, aos dissensos que comportam a ampliação do
espaço democrático. Fora dessa perspectiva o que temos é uma mise-en-scéne que
midiática que permuta a democracia pela manutenção da ignorância do povo e promove
a sua eterna manipulação.

CONCLUSÃO
As redes sociais são uma realidade no que diz respeito às formas de sociabilidade
no mundo contemporâneo e, como diz Jean-Jacques Rousseau, filósofo genebrino da
época do Iluminismo, o progresso não dá passos para trás. Cabe a nós compreendermos
as possibilidades e os limites desse novo modo de ser da sociedade humana.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 581
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Claro que essa forma de relacionamento traz um mundo de possibilidades no que


tange à economia, à sociedade e à política. Encontrar o meio termo entre as demandas do
capital e, em meio a isso, aproveitar para promover a participação política que, um dia,
possa a mudar o próprio mundo do capital e de sua dominação parece ainda uma utopia.
Mas, devemos lembrar que a democracia ainda reside no mundo da utopia, ela jamais se
realizou enquanto ideal, ela sobrevive como um mal-estar aceito pelas classes
dominantes. Efetivar a democracia e usar as redes sociais nos parece um caminho possível
para promover uma rede que articule todos as dimensões desse alargamento da
democracia em meio à promoção de grupos de interesses, minorias e as pessoas excluídas
do processo político atual. Compreender as redes sociais ainda permanece um desafio,
mas também uma possiblidade real para a participação política.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRIDLE, James. A nova Idade Média: A tecnologia e o fim do futuro. São Paulo:
Editora Todavia, 2019.

EMPOLI, Giuliano da. Os engenheiros do caos. São Paulo: Editora Prestígio, 2020.

MOROZOV, Eugeny. Big tech: a ascensão dos números e a morte da política. São Paulo:
Ubu Editora, 2018.

SUMPTER, Davi. Dominados pelos números: do Facebook e Google às Fake News –


os algoritmos que controlam as nossas vidas. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil,
2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 582
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AS RELAÇÕES COLABORATIVAS ENTRE MUNICÍPIO E UNIÃO NA


IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA
DE PROFESSORES VINCULADAS AO PLANO DE AÇÕES
ARTICULADAS (PAR)

Antonio Gilson Fernandes de Oliveira1; Francisca Edilma Braga Soares Aureliano2

Palavras-chave: Formação de professores. Regime de colaboração. PAR.

INTRODUÇÃO

No decorrer das últimas décadas, muitas mudanças ocorreram no que se referem ao


planejamento da educação, seja nas esferas municipal, estadual ou federal, visando melhorias
no sistema educacional que abrangesse todo território nacional de forma equânime. Em 27 de
abril de 2007 o Governo Federal aprovou o Decreto 6.094 (BRASIL, 2007) que dispõe do
Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação que propõe efetivar o regime de
colaboração entre União, Distrito Federal, Estados municípios, com a participação das
famílias no desenvolvimento das políticas educacionais. Na mesma data foi lançado PDE
como uma proposta de governo que visava desenvolver as ações do PDE.
O referido Decreto lançou o Plano de Ações Articuladas (PAR) como um conjunto
de ações, apoiado técnica e financeiramente pelo Ministério da Educação para desenvolver as
metas do Termo de Compromisso. Para ser beneficiados com as ações do Governo Federal
para educação todos os gestores municipais e estaduais deveriam assinar o termo de
compromisso para receber assistência do MEC formulação do PAR.
O Plano de Ações Articuladas possui como meta oferecer aos entes federados um
instrumento de diagnóstico e planejamento das políticas educacionais, formulado para
estruturar e acompanhar o gerenciamento das metas definidas de forma estrategicamente
planejada, contribuindo para a construção e “solidificação” de um sistema nacional de ensino
de qualidade (BRASIL, 2011).
Trata-se de uma estratégia para o planejamento plurianual das políticas de educação,
em que os entes subnacionais elaboram plano de trabalho a fim de desenvolver ações que
contribuam para a ampliação da oferta, permanência e melhoria das condições escolares e,
consequentemente, para o aprimoramento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb) de suas redes públicas de ensino. O PAR está estruturado em quatro grandes
dimensões: Gestão educacional; Formação de professores e dos profissionais de Serviço e
Apoio Escolar; Práticas pedagógicas e Avaliação; e infraestrutura física e Recursos
Pedagógicos.
Este trabalho relata uma pesquisa que tem como objeto a Dimensão de Formação de
Professores realizada no âmbito do Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC),
que tem como objetivo analisar os mecanismos utilizados pelo MEC para efetivar o regime de
colaboração na implementação das ações do PAR (2016-2019) destinadas a formação
continuada de professores do município de Olho D’ Água dos Borges-RN.

1
Graduando em Pedagogia – CAP/UERN-Patu/RN. Voluntário na Pesquisa do Programa Institucional de
Iniciação Científica (PIBIC). E-mail: gilson1200@hotmail.com.
2
Orientadora. Professora Dra. do Departamento de Educação do CAP/UERN, Líder do Grupo de Pesquisa
FORMACE.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 583
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A formação e o trabalho docente é importante, uma vez que o mesmo deve estar
consciente que sua formação deve ser contínua e estar relacionada ao seu dia-a-dia. Segundo
Nóvoa (2002, p. 23), “o aprender contínuo é essencial e se concentra em dois pilares: a
própria pessoa, como agente, e a escola como lugar de crescimento profissional permanente”.
Para este estudioso, a formação continuada se dá de maneira coletiva e depende de
experiência e reflexões como instrumentos de análise. Nesse contexto, a prática pedagógica
estará sempre nesse processo contínuo em busca da construção do saber, o que significa a
constituição de uma conduta de vida profissional. Tal conduta visa gerir o processo educativo
dos níveis da prática reflexiva e da ciência aplicada.

METODOLOGIA

A pesquisa iniciou-se com o estudo bibliográfico sobre planejamento educacional,


regime de colaboração, relações federativas e formação continuada de professores que são as
bases teóricas do estudo. Realizou-se a análise dos documentos oficiais que tratam do PAR. A
metodologia seguiu os princípios do método histórico e dialético que verifica o processo
histórico e as relações que determinam o objeto (LUKÁCS, 2010). Os sujeitos da pesquisa
foram o Dirigente Municipal de Educação e um professor da rede pública e municipal de
ensino. Como instrumento de pesquisa para apreensão dos dados foi a entrevista
semiestruturada realizada em março de 2020. Os procedimentos de análise dos dados foram
os Núcleos de Significação de Aguiar e Ozella (2013).
Os conceitos teóricos que fundamentam a pesquisa partiu dos estudos de Abrucio
(2010), Lukács (2010), Nóvoa (2002), Libânio (2001), entre outros, além de dados obtidos
nos portais eletrônicos do governo federal (MEC/FNDE, PNE, PDE, LDB, BNCC, etc.) e o
Plano de Ações Articuladas (PAR) do município de Olho D’água do Borges – RN. Destacam-
se, ainda, como importante fonte científica os estudos acadêmicos com informações
atualizadas sobre o assunto.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados do estudo indicam que existem ações desenvolvidas pelo sistema de


colaboração via PAR, no que se refere à formação continuada no município de Olho D`água
do Borges - RN, tais como: o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC),
Tempo de Aprender, Política de Inovação Escola Conectada (PIEC), Formação sobre a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), além de formações que ocorrem geralmente nos
encontros pedagógicos. Mesmo assim, ainda há professores que buscam formações por conta
própria, como cursos de capacitação de curto prazo ou mesmo graduação e especialização em
sua área de atuação, tendo em vista a busca cada vez mais pelo aprimoramento profissional,
uma vez que nem todos atuam em sua área de formação.
As ações de formação continuada desenvolvidas no município ocorreram pelo
regime de colaboração via PAR, tendo grande relevância, considerando que o quadro de
professores(as) apresenta uma variedade diversificada na faixa etária. Encontramos no quadro
de professores profissionais que estão há mais de 20 anos em sala de aula, ao mesmo tempo
em que há profissionais recém-formados ou até mesmo bolsistas, os quais em sua maioria
assumem a função docente sem antes ter terminado a formação inicial. Libânio (2001, p. 14)
destaca que:

Formar-se é tomar em suas mãos seu próprio desenvolvimento e destino num


duplo movimento de ampliação de suas qualidades humanas e profissionais,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 584
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

religiosas e de compromisso com a formação da sociedade em que vive. A


formação docente é um processo de maturação da pessoa, realizada a partir
das experiências dos professores da instituição formadora, quanto dos
próprios sujeitos (formandos).

Sendo perceptível a evolução dos profissionais e do sistema de ensino básico da rede


municipal a partir da formação continuada vinculada ao regime de colaboração via PAR.

CONCLUSÃO

É notório que todo profissional para desenvolver um bom trabalho necessita de


estímulos, para que o mesmo desenvolva bem suas tarefas. Partindo dessa proposição, a
formação continuada deve ser levada mais a sério pelas pessoas, ou entidades que coordenam
a educação, independente da esfera (local, regional ou nacional). A plena efetivação de
programas voltados para a formação continuada de professores é visível, mas os incentivos
para que os docentes realizem os cursos se fazem urgentes, havendo assim a necessidade de
uma mobilização para que o acesso aos cursos de formação continuada seja para todos,
beneficiando as escolas em que esses profissionais atuam.
As ações do PAR no município de Olho D’Água dos Borges (2016) através do
regime de colaboração, muito tem contribuído na promoção de cursos de formação continuada
no sistema municipal de ensino, uma vez que o mesmo foi concebido como uma ferramenta
de gestão para o planejamento da política de educação que os municípios, favorecendo as
políticas educacionais e a sua continuidade, inclusive durante as mudanças de gestão,
constituindo-se como importante elemento na promoção de políticas de Estado na Educação.
Os programas formativos PNAIC, Tempo de Aprender, Educação Conectada, a
formação para docentes sobre a BNCC, geradas no PAR de Olho D’Água dos Borges-RN
para sua implementação entre 2016 e 2019, algumas duas delas ainda estão em andamento em
2020. Muitos são os desafios a serem transpostos, pois como foi abordado ao longo deste
trabalho, a educação e, consequentemente, a formação e capacitação dos professores, ainda é
algo pendente, sendo que essa pendência engloba a maioria dos profissionais.

REFERÊNCIAS

ABRUCIO, F. L. A dinâmica federativa da educação brasileira: diagnóstico e propostas de


aperfeiçoamento. In: OLIVEIRA, R. P., SANTANA, W. (Orgs.). Educação e Federalismo
no Brasil: combater as desigualdades, garantir a diversidade. Brasília: UNESCO, 2010, p.39-
70.

AGUIAR, W. M. J.; OZELLA, S. Apreensão dos sentidos: aprimorando a proposta dos


núcleos de significação. Rev. Bras. Estud. Pedagog. 2013, vol.94, n.236, pp.299-322.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. BNCC. Disponível em:


basenacionalcomum.mec.gov.br/abase. Acesso em: 07 maio 2020.

BRASIL. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: apresentação. Secretaria de


educação básica. Diretoria de apoio a gestão educacional. Brasília, DF, 2015.

BRASIL. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Disponível em:


http://www.fnde.gov.br/programas/par/par-apresentacao Acesso em: 20 jun. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 585
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BRASIL. Plano de Ações Articuladas. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.


Disponível em: http://www.fnde.gov.br/index.php/programas/par/sobre-o-plano-ou-
programa/preguntas-frequentes-2 Acesso em: 20 jun. 2020.

BRASIL. Programa Nacional de Informática na Educação. Fundo Nacional de


Desenvolvimento da Educação. Disponível em: https://www.fnde.gov.br/programas/proinfo
Acesso em: 20 jun. 2020.

BRASIL. Escola Acessível - apresentação. Ministério da Educação. Fundo Nacional de


Desenvolvimento da Educação. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/escola-acessivel
Acesso em: 20 jun. 2020.

BRASIL. PDE Escola. Ministério da Educação. Disponível em: http://pdeescola.mec.gov.br/


Acesso em: 20 jun. 2020.

BRASIL. Sobre o Pró-Infância. Ministério da educação. Fundo Nacional de


Desenvolvimento da Educação. Disponível em: http://portal.me.go.br/porinfancia Acesso em
22 jun.2020.

BRASIL. Pró-Letramento - Apresentação. Ministério da Educação. Disponível em:


http://portal.mec.gov.br/pro-letramento Acesso em: 20 jun. 2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Educação Conectada. 2019. Disponível em:


http://educacaoconectada.mec.gov.br/todas-noticias/218-mec-divulga-criterios-para-repasse-
do-programa-educacao-conectada Acesso em: 20 jun. 2020.

BRASIL. Secretaria De Estado De Educação. PNAIC – Pacto Nacional pela Alfabetização


na Idade Certa. Disponível em: http://www.se.df.gov.br/pnaic-pacto-nacional-pela-
alfabetizacao-na-idade-certa/ Acesso em: 22 jun. 2020.

LIBÂNIO, J. B. A arte de forma-se. 2.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

LUKÁCS, G. Prolegômenos para uma ontologia do ser social. Tradução de Lya Luft e
Rodnei Nascimento. São Paulo: Boitempo, 2010.

NETO, A. C. CASTRO, A. M. D. A. BARBALHO, M. G. C. Federalismo e educação no


Brasil: subsídios para o debate. Revista Educação em Questão, Natal, v. 50, n. 36, p. 42-72,
set./ dez. 2014.

NÓVOA, A. Escola nova. A revista do Professor. Ed. Abril. 2002.

OLHO DAGUA DO BORGES – RN, Secretaria Municipal de Educação, Plano de Ações


Articuladas (PAR), (2016-2020).

ROMANOWSKI, J. P. Formação e Profissionalização docente. Curitiba: Ibpex, 2007.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 586
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AS SIGNIFICAÇÕES DE UMA PROFESSORA PRECEPTORA SOBRE


O RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA /UERN

Larissa Júlia Souza Santos1; Maria Leidiane A. Marinho Honorato2; Clea Fiama de Andrade
Freire3; Antônia Batista Marques4

Palavras-chave: Residência pedagógica. Sentidos e significados. Psicologia Sócio-Histórica.

INTRODUÇÃO
O contexto educacional vivenciado nos dias atuais se configura como um reflexo de um
longo processo de mudanças que tiveram início no final do século passado. Esta pesquisa situa-
se no campo das discussões sobre o ensino e a aprendizagem deste século, de modo geral e, em
particular, no contexto das pesquisas sobre a dimensão subjetiva da realidade escolar com
ênfase nas significações de uma professora sobre o Programa Residência Pedagógica.
Para a realização desse estudo utilizamos os pressupostos teórico-metodológico da
psicologia soco-histórica, que tem sua gênese no materialismo histórico dialético, através dela,
é possível apreender o movimento da realidade e suas contradições. Esse movimento de
apreensão da realidade é feito utilizando-se as categorias que compõe o método, pois segundo
Aguiar e Machado (2016, p. 263) “As categorias permitem a apreensão da materialidade do
real, de sua essência, que, por ser dialética, é também movimento, processo.”
Para tanto, ressaltamos que este trabalho traz o resultado parcial da pesquisa PIBIC
(Programa Institucional de Bolsas de iniciação científica), ou seja, foi analisada as falas de uma
das professoras/preceptoras que participou do programa. Esta, por sua vez, será chamada pelo
nome fictício de Sensibilidade, pois durante todo o seu discurso foi possível perceber um olhar
sensível diante da realidade.
Destacamos a relevância deste trabalho, haja vista, existir poucas produções sobre a
temática, e bem como, por contribuir efetivamente para a descrição, análise e avaliação da
primeira experiência do RESPED-Pedagogia, consequentemente para a formação inicial no que
se refere ao processo de iniciação científica e formação continuada dos professores/preceptores.
Assim sendo, nos propomos a responder a seguinte pergunta de pesquisa: quais as significações
das professoras/preceptoras sobre o Programa Residência Pedagógica? Sendo assim, temos
como objetivo geral, apreender as significações da professora/preceptora em relação ao
programa Residência Pedagógica, ou seja, os sentidos e significados atribuídos por ela ao
programa.
Através da proposta metodológica dos núcleos de significação foi possível levantar
cinquenta e dois pré-indicadores, ou seja, iniciou-se a busca por palavras e trechos da fala da
professora, que nos levasse a apreender as significações da mesma, em relação ao programa.
Vejamos o que Aguiar; Soares; Machado (2015, p. 03) relatam sobre a palavra com significado:
“[...] é o mais importante material de análise e interpretação utilizado pelo pesquisador para
apreender as significações constituídas pelo sujeito frente à realidade.” Os pré-indicadores
foram aglutinados em dez indicadores. A etapa de sistematização dos indicadores consiste: “[...]

1
Graduanda em pedagogia\ juliasantos.16@hotmail.com\ UERN
2
Graduanda em pedagogia\anemarinhoa@hotmail.com\ UERN
3
Graduanda em pedagogia\ cleafiamagov@hotmail.com\ UERN
4
Doutora em educação \ antoniabatista@uern.br\ UERN

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 587
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

não apenas em destacar elementos de uma totalidade [...] mas também, neles penetrar,
abstraindo a complexidade das relações contraditórias e históricas que o constituem.”
(AGUIAR; SOARES; MACHADO, 2015, p. 67). E por último, os dez indicadores se
aglutinaram em dois núcleos de significação: 1. As mediações constitutivas da professora: da
escolha da profissão ao divisor de águas. 2.vivências e dificuldades financeiras: contribuições
do RESPED para a formação inicial superam a falta de bolsas.
Para a construção do primeiro núcleo de significação foram aglutinados cinco
indicadores que são: mediações constitutivas para a escolha da profissão, primeira impressão
sobre o programa, oportunidade de aprendizagem e desenvolvimento, rever conceitos e divisor
de águas. Abordamos a trajetória da professora desde as mediações constitutivas que a levaram
a escolher o curso de pedagogia, até o momento em que a mesma teve a oportunidade de
participar do programa.
No segundo núcleo destacamos o sentido que a professora dá as contribuições do
programa por meio das atividades e da relação entre as professoras e residentes, bem como, os
benefícios através da formação inicial das alunas, trazendo novidades, e embasamento em seus
conhecimentos. E por último, analisamos o posicionamento da professora, a respeito das
dificuldades financeiras enfrentadas pelas residentes, no entanto, ela ressalta a relevância do
programa para a formação inicial e incentiva a participação.

METODOLOGIA
O contexto da pesquisa foi o Programa Residência Pedagógica, no qual os sujeitos foram
três colaboradoras, estas são professoras/preceptoras que participaram do Programa. Utilizamos
os pressupostos teórico-metodológico da Psicologia Sócio-Histórica e autores como: Aguiar,
Soares e Machado, Marques, Barbosa e Barbosa e dentre outros. Para produção dos dados
utilizamos a entrevista reflexiva. Para análise e interpretação das informações utilizamos os
núcleos de significação. Nessa feita foi realizada a análise das falas de uma das professoras que
participaram da pesquisa. Utilizamos algumas categorias que compõe o método materialismo
histórico dialético e da psicologia Sócio-histórica que são: historicidade, mediação, atividade,
sentidos e significados. Segundo Aguiar e Machado (2016, p.264) “acredita-se que ao se lançar
mão do pensamento categorial, criam-se possibilidades de desvelar a realidade da docência,
incluindo-se aí as significações da atividade que são constituídas pelos professores.”

RESULTADOS E DISCUSSÕES
O resultado da pesquisa culminou em dois núcleos de significação. De acordo com
Marques, Soares e Barbosa (2020, p.185 ) “[...] cada núcleo de significação busca revelar o
sujeito na sua totalidade, no seu movimento, de forma não fragmentada”. Assim, no primeiro
núcleo intitulado: Mediações constitutivas da professora: da escolha da profissão ao divisor de
águas foi selecionada algumas falas para análise e interpretação.
Relacionando com o núcleo supracitado, foi solicitado que Sensibilidade falasse um
pouco de sua trajetória como professora. Segundo ela, a escolha da profissão se deu pela
vocação, ou seja, em suas palavras é como se já tivesse nascido com o dom para exercer a
profissão docente, sobretudo com as crianças pequenas.
Corroborando com esse pensamento vejamos o que sensibilidade fala: “veio primeiro a
vocação pra depois vir minha escolha [...]”. Com relação a esse aspecto é possível perceber a
abordagem inatista bastante presente em sua fala, ou melhor, fica explícito que em sua
concepção as pessoas já nascem com uma bagagem hereditária que orientam suas escolhas. De
acordo com Dalbosco “ [...] o inatismo se baseia na tese de que as ideias nascem com o sujeito,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 588
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

residindo no seu interior e, portanto, são anteriores à experiência.”( DALBOSCO, 2012. P.


269).
Na sequência, Sensibilidade relata que na escola em que concluiu o ensino médio:
“surgiu uma vaga de auxiliar de coordenação [...] eu fui chamada pra trabalhar [...] com o passar
do tempo eu fui ficando no lugar de algum professor”. Ao analisar as falas, e bem como, a
trajetória de Sensibilidade é possível perceber, que a mesma já atuava em sala de aula, desde
que concluiu o ensino médio, ou seja, antes de cursar o ensino superior.
Assim, através do relato anterior é possível perceber que existiram varias mediações ao
longo da trajetória de Sensibilidade que fizeram com que a mesma, escolhesse sua profissão,
inclusive, ela menciona sobre o bem-estar que sentia em sala de aula.
Outro fator que merece destaque diz respeito à ênfase dada por Sensibilidade as
contribuições do programa para sua vida pessoal e para sua formação continuada. Ela relata:
“Eu tive que rever muitos conceitos [...] eu tive que repensar atividades que eu já tinha feito e
foi como começar tudo de novo [...]”. Sensibilidade atribui ao programa um significado que
para sua prática é muito importante, pois a experiência vivida durante as atividades,
planejamento e discursões possibilitou uma formação crítica-reflexiva, isto é, que alia a teoria
e prática e compreende que elas de maneira alguma estão dissociadas.
Ela relata com bastante emoção, sobre o seu retorno a UERN após dez anos, bem como,
sobre seu reencontro com colegas e amigos do tempo da faculdade, que hoje atuam na
Universidade ou fazem mestrado. Logo depois, ela discorre em tom emocionado, que hoje
consegue ver a escola como um todo, ou seja, consegue pensar em todos os âmbitos. Sobre isso,
notemos o que ela fala: “eu ganhei muita coisa [...] esse programa foi um divisor de águas, me
tornou [...] uma professora mais global, eu penso agora na escola como um todo, não só na
minha sala de aula, não só a questão da alfabetização mais em todos os âmbitos.”
No segundo núcleo, Sensibilidade destaca que as atividades desenvolvidas no ambiente
escolar, constituiu uma união entre a formação inicial dos alunos participantes do programa
com as vivencias no chão da escola, dimensionando os aprendizados por meio da interação com
o espaço e com as professoras.
Ela diz; “[...] Vendo a formação desse pessoal a gente dizia: Meu Deus, olha o nível
desses alunos!! [...] É um ganho mútuo, não tem como ninguém sair perdendo.” Ou melhor, um
ganho tanto no aspecto da formação inicial, como também, para a formação daqueles que já
estavam presentes na realidade escolar.
Quando sensibilidade, foi questionada acerca dos pontos negativos do programa, ela
declarou: “[...] Os pontos negativos [...] não ter bolsas para todos, para todos os alunos.” Pondo
em condição que, em meio ao um conjunto de mediações relevantes para a formação, ela se
deparou com um ponto questionável, um desafio enfrentado na trajetória do programa. Em suas
falas posteriores podemos ver outro posicionamento, que apesar das faltas de bolsas, há um
engajamento no requisito incentivo à participação, na qual sensibilidade discorre; “[...] quem tiver
a oportunidade de participar, não só do residência mais de qualquer programa, participe!”.
Nessa declaração é possível perceber um complemento contraditório, que nos direciona as noções
fundamentais do materialismo histórico dialético, como também, da sócio-histórica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos resultados da pesquisa acredita-se que foi possível apreender as significações
da professora\preceptora sobre o Residência Pedagógica – UERN. Para, além disso, ficaram
evidentes os sentidos que Sensibilidade atribuiu ao programa, pois além das oportunidades que
ela frisa, para a sua formação continuada, também destaca o nível da formação das alunas do
curso de pedagogia, e bem como, as contribuições que elas trouxeram para o chão da escola.
Dito isto, ela faz menção sobre as suas contribuições para a formação inicial das residentes. A

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 589
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

professora, elogia a estrutura do programa, inclusive, que manteria da mesma forma, porém,
cita como ponto negativo a falta de bolsas e as dificuldades financeiras existentes, no entanto,
ressalta a relevância do programa para a formação inicial e aconselha a participação no mesmo.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao CNPQ pela bolsa que nos concedeu, a: Pro-Reitoria de Pesquisa e


Pósgraduação-PROPEG, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e as professoras
que se prontificaram a participar da pesquisa.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, W., SOARES, J., MACHADO. V., NÚCLEOS DE SIGNIFICAÇÃO: UMA


PROPOSTA HISTÓRICO-DIALÉTICA DE APREENSÃO DAS SIGNIFICAÇÕES.
Cadernos de Pesquisa, v.45, n.155, p.56-75. Jan./mar. 2015.

AGUIAR, Wanda Maria Junqueira & OZELLA, Sergio. Núcleos de Significação como
Instrumento para a Apreensão da Constituição dos Sentidos. Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2006, 26 (2), 222-245.

AGUIAR. Wanda M. J. MACHADO, V. C. Psicologia Sócio-Histórica como fundamento


para a compreensão das Significações da atividade docente.

BARBOSA, Silvia. M. C.; BARBOSA, Elza H. C ; MARQUES, Antônia B.; SOARES,


Júlio, R. S. Ensino e Pesquisa na graduação e Pós-graduação: Experiências no campo da
psicologia Sócio-Histórica. In: CARVALHO, Maria V. C; MARQUES, Eliana. S. A;
ARAUJO, Francisco. A. M. A. Educação e Formação Humana: Práticas de enfrentamento
em tempos de crise. 1º ed. EDITORA: Edufpi.Teresina, 2020

DALBOSCO, C. A., Educação e formas de conhecimento: do inatismo antigo (Platão) e da


educação natural moderna (Rousseau), Redalyc.org, 2012, disponível:
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84823364014, acesso: 11/08/2020

SZYMANSKI, Heloisa. A entrevista na pesquisa em educação: a pratica reflexiva. Heloisa


Szymanski (org.), Laurinda Ramalho de Almeida, Regina Célia Almeida Rego Prandini. –
Brasília: Liber Livro Editora, 2004. 4ª ed. (20011).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 590
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ASPECTOS SOBRE FORMAÇÃO DOCENTE EM ENSINO


RELIGIOSO E CATIMBÓ-JUREMA.

Carlos Alexandre Medeiros 1 Valdicley Euflausino da Silva 2

Palavras-chave: Formação Docente; Ancestralidade; Ensino Religioso.

Introdução

As discussões do presente trabalho versam sobre a formação docente em Ensino


Religioso. A pesquisa está vinculada ao projeto Laicidade, Ética e Formação Docente
em Ensino Religioso, referente ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), de
2019, coordenado pelo professor Valdicley Euflausino da Silva. O projeto objetiva
refletir e criticar acerca do Ensino Religioso não confessional no período hodierno.
Sendo assim, identificamos na trajetória da pesquisa diversas lacunas na
formação do docente da área em questão. Entre elas, a fragilidade metodológica e
teórica da área, os poucos curso de formação no Brasil e a quase inexistência de
conteúdos referentes às perspectivas ameríndias, indígenas, africanas, afrodescendentes,
afrodiaspórica, entre outras.
Nesse sentido destinamos nosso olhar para aprofundamento desta lacuna na
formação do docente desta área, dando ênfase catimbó-jurema.

Metodologia

Utilizamos alguns livros, artigos e dissertações que abordam as discussões sobre


o Ensino Religioso, formação docente e sobre expressões religiosas perspectivas
ameríndias, indígenas, africanas, afrodescendentes, afrodiaspórica. Destacamos Passos
(2007), Saviani (2009), Silva (2016), Assunção (2009), Cascudo (1978), entre outros.
Realizamos leituras dos textos, fichamentos, produzimos artigos científicos e
apresentamos trabalhos em eventos científicos.

Resultados e discussão

Ao longo desse processo inicial de pesquisa identificamos uma grande lacuna na


formação docente em Ensino Religioso. Uma acentuada fragilidade metodológica e
teórica da área que acaba dificultando o entendimento da área por setores que são contra
tal Componente Curricular.
Outro problema é a pouca oferta de curso de formação inicial em Ciências da
Religião no Brasil. Fato que dificulta a difusão do Ensino Religioso não confessional
nas escolas públicas de ensino.
Ademais, no percurso traçado identificamos a quase inexistência de conteúdos
referentes às perspectivas ameríndias, indígenas, africanas, afrodescendentes,
afrodiaspórica, entre outras. Damos ênfase nesse percurso ao catimbó-jurema.

1
Estudante regular do curso de graduação em Ciências da Religião da Univers idade d o Es t ado d o Rio
Grande do Norte no Campus Avançado de Natal. E-mail: carlos_geografia@hotmail.com
2
Professor do Departamento de Ciências da Religião da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
– UERN. Participante do Grupo de Pesquisa Educação, Cultura e Fenômeno Religioso. E-mail:
valdicley_bambucha@yahoo.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 591
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No longo processo de vivências no Brasil colonial esta tradição por muitos e


muitos anos fora relegada à marginalização social, pois, perante o olhar das
religiosidades predominantes não seria uma alternativa de uma religiosidade sã, pois na
visão colonizadora o Catimbó-jurema é uma prática de malefícios e sortilégios, onde as
pessoas que de certa forma praticava e expressava tal crença era um alvo abjeto do
processo de demonização pelo crivo cristão europeu colonizador.
Todas as tradições religiosas possuem modos particulares de se organizar e de
serem vivenciadas através de ritos próprios, possuindo suas narrativas com base nas
quais buscam vivenciar sua fé através de suas próprias existências.
Cabe destacar que o catimbó-jurema é de origem indígena e relaciona a árvore
jurema (Mimosa hostilis) como elemento central da liturgia catimbozeira, muitos
cultuam a ancestralidade (mestres) que é visto como referências aos antepassados
originais dessa ciência, quer sejam índios ou caboclos.
Além das influências literárias, o caboclo dos cultos afro-brasileiros, reproduziu
em muitos sentidos, a imagem do índio transformado em símbolo de nossa identidade
pelo movimento nacionalista, deflagrado durante a independência do Brasil (SILVA,
2005, p. 92).
Na memória histórica do povo brasileiro, o nativo bem como suas crenças,
tradições e costumes vem sendo apagadas ao longo do tempo, e este processo de
anulação de toda uma ancestralidade é intencional, vale lembrar que nas salas de aulas
de todo o Brasil o dia do “índio” é comemorado pintando o rosto das crianças,
colocando-lhes saiotes e de forma caricata e grotesca ensinando-lhes a emitir sons
guturais batendo a palma de suas mãos na boca movimentando-se em círculos.
Esta é a primeira impressão impregnada nas salas de aula brasileiras desde os
anos iniciais, em que com o passar do tempo vão se reforçando estereótipos acerca de
uma ancestralidade anulada por negligencia ou por falta de estudos mais aprofundados
acerca destes povos.
O que nos leva prontamente a nos questionar o porquê no ensino brasileiro, as
expressões religiosas nativas, tal qual o Catimbó-jurema tem ocupado lugar irrelevante,
quer seja em sala de aula ou até mesmo nas próprias academias, fomentando uma
invisibilidade intencional que a grosso modo vem desenvolvendo uma tendência de
ignorar qualquer pauta que destaque a diversidade existente e inegável no campo
religioso em nosso país.

Conclusão

Constatou-se, através das reflexões, que os percursos formativos e as práticas


pedagógicas do Ensino Religioso possuem diversas problemáticas. Entre elas a
mediação de prática fora do eixo hegemônico eurocentrado.
Nesse sentido abordamos uma possível relação entre o catimbó-jurema na esfera
em questão. Deste modo, tanto no ambiente acadêmico quanto nas instituições de
ensino escolares de educação básica devem repensar a importância de se colocar na
perspectiva histórica, cultural, antropológica o fenômeno do Catimbó-jurema já que diz
respeito às antigas tradições religiosas de grupos indígenas do nordeste brasileiro e há
de se levar em consideração que a região de colonização mais antiga é o nordeste, tendo
os seus primeiros registros históricos no processo de identidades brasileiras.
O que se espera deste estudo é que possa contribuir de alguma maneira para uma
reflexão crítica acerca de uma educação que não esteja subjugada a práticas pedagógicas
que não reforcem atitudes preconceituosas e discriminatórias, pois as experiências de
discussão acerca do Catimbó-jurema em sala de aula são inexistentes e o suporte teórico
que temos em relação a esta tradição religiosa nativa é voltada apenas a aspectos ligados

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 592
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ao campo das crenças sincréticas, superstições, um tabu retratado de forma


extremamente negativo.
Não podemos negar as contribuições nativas e/ou afro-ameríndias na história e
cultura brasileira, não propor a superação deste paradigma em sala de aula é contribuir
para uma exclusão simbólica destas tradições.

Referências

ASSUNÇÃO, Luiz Carvalho de. Reino dos mestres a tradição da jurema na


umbanda nordestina. Rio de Janeiro: Pallas, 2006.
BRASIL. Lei 10639 de 09 de janeiro de 2003. D.O.U de 10/ 01/2003.
_______. Lei 11.645 de 10 de março de 2008. D.O.U 11/03/2008
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual.
Secretaria de Educação Fundamental. – MEC/SEF, 1997.
CASCUDO, Luís da Câmara. Meleagro. Pesquisa do Catimbó e notas da magia
branca no Brasil. 2ª ed., Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, [1951]1978.
SAVIANI, Dermeval. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do
problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação v. 14 n. 40 jan./abr.
2009
SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e umbanda: caminhos da devoção
brasileira. 5. ed. - São Paulo: Selo Negro, 2005.
SILVA, Valdicley Euflausino da. Memória docente sobre matérias didáticos de
ensino religioso do Rio Grande do Norte: lembranças e recordações sobre a
Cartilha de Deus. 2016. 98 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de pós-graduação em
Educação, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 593
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Autonomia e liberdade: por uma proposta educacional emancipatória a


partir de O Mestre Ignorante de Jacques Rancière

José Marcus Guedes de Araújo1; José Teixeira Neto2

Palavras-chave: Igualdade de inteligências. Mestre explicador. Mestre emancipador.


Explicação. Emancipação intelectual.

Introdução

Em nossa leitura da obra O Mestre Ignorante (RANCIÈRE, 2002) realizada ao longo


dos encontros do Projeto Pesquisa (PIBIC/UERN 2019-2020), enfocamos, sobretudo, a questão
da aprendizagem de Filosofia no Ensino Médio. Para tanto, buscamos pensar a aprendizagem
de Filosofia a partir das lições presentes na obra citada e elaborar “exercícios emancipatórios”
a serem praticados nessa modalidade de ensino. O pano de fundo a partir do qual pensamos a
prática dos “exercícios” é a escola pública estadual de Ensino Médio de Caicó-RN, pois já
fomos bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID Filosofia
UERN/Caicó) e também estagiário no componente curricular Estágio Supervisionado I e II
(Curso de Filosofia do Campus Caicó). A pesquisa se justifica pela possibilidade de repensar e
de recolocar em questão, a partir de O mestre ignorante, a aprendizagem filosófica no Ensino
Médio e, ao mesmo tempo, a nossa própria formação na Licenciatura em Filosofia.

Metodologia

Em nosso trabalho de pesquisa utilizamos a pesquisa bibliográfica com a abordagem


interpretativa-filosófica, em que o foco primordial se centrava na leitura, análise e interpretação
do texto principal, bem como, de obras secundárias. Na segunda etapa de nossa pesquisa
construímos a partir da bibliografia base os “exercícios emancipatórios”. Realizamos
semanalmente encontros presenciais, no início do Projeto e, em seu fim, encontros online. Além
dos momentos em grupo cada um realizou leituras e pesquisas individuais.

Resultados e Discussão

Os resultados obtidos neste Projeto se materializaram na forma dos “Exercícios


Emancipatórios”. Em razão da natureza curta desta comunicação, não é possível apresentar os
exercícios em sua totalidade. Apresentaremos aqui, neste texto, um fragmento dos exercícios
construídos ao longo do Projeto.
Os exercícios estão divididos em três etapas: o exercício de leitura intercalado com o
exercício da escrita e com os exercícios da fala. A aplicação de tais exercícios se daria ao longo
de seis encontros, a princípio, distribuídos em dias letivos, durantes as aulas de cinquenta
minutos no Ensino Médio. Para a elaboração e prática dos exercícios, tomamos como inspiração
a experiência e os fundamentos descritos por Rancière (2002) de Joseph Jacotot (1770 – 1840),

1
Estudante do curso de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte – UERN. Membro do Grupo de Pesquisa Ensinar e Aprender na Educação Básica e bolsista do Projeto de
Iniciação Científica “‘Exercícios emancipatórios’: para uma aprendizagem de Filosofia a partir do Mestre
Ignorante de Jacques Rancière”.; e-mail: josemarcusguedes@gmail.com
2
Professor do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Vice-Líder do
Grupo de Pesquisa Ensinar e Aprender na Educação Básica; e-mail: joseteixeira@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 594
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sobretudo os aspectos ligados à repetição, improvisação, tal como as crianças na fase de


desenvolvimento e aprendizagem da língua materna, seguem por escuta e retenção, “[...] imitam
e repetem, erram e se corrigem [...]” (RANCIÈRE, 2002, p.19).
Sendo assim, consideramos que o primeiro passo em forma de exercício deverá ser o
da leitura e, para tanto, podemos escolher qualquer texto. Porém, tendo em vista o contexto
teórico desse trabalho, escolhemos um fragmento da obra do Mestre Ignorante. Por exemplo,
pode-se ler o fragmento do Capítulo I, intitulado “Uma aventura intelectual”. No primeiro
exercício seriam utilizados dez minutos para uma introdução da proposta de trabalho, bem
como, uma breve apresentação do livro em questão. Após a leitura realizada em sala, o mesmo
texto serviria para aprofundamento por meio de novas leituras e de pesquisas realizadas em
casa, sobre o tema, a obra, o autor e mesmo sobre outros textos relacionados com a questão. No
processo de leitura a ser realizado em sala e em casa, os estudantes seriam estimulados a pensar
algumas questões: o que é o mestre emancipador e o mestre explicador? Quais os efeitos da
explicação? O que é emancipação intelectual? O que é embrutecimento? Quais os caminhos
para a emancipação? Nesse processo, os estudantes seriam estimulados a anotar os termos
desconhecidos e as passagens que não entenderam; esse material seria a base para a busca e a
pesquisa e, posteriormente, seria debatido em sala, com os colegas e sob a observação do
professor. Esse exercício de leitura, de anotação, de pesquisa e de diálogo atende, portanto, ao
processo de tentativa, erro e correção. Estas questões, conjuntamente com as indagações,
dúvidas e intervenções feitas pelos estudantes norteariam o processo de leitura e os debates a
serem realizados em sala, porém o professor não seria uma fonte de conhecimento a ser
consultada, mas, um orientador dos processos de leitura e das discussões. O objetivo é fazer
com o que os estudantes percebam que são capazes de aprender e que é necessária uma
aprendizagem cujo resultado se situe muito além da reprodução de conhecimento e da obtenção
de notas para o avanço no sistema de ensino. Por um lado, o exercício despertaria no estudante
a percepção de sua capacidade intelectual e, por outro lado, o professor também estimularia as
vontades dos estudantes, para que estas busquem autonomamente o saber.
Após apresentar de modo rápido um “modelo” que parte da “emancipação intelectual”
e da “igualdade de inteligências”, analisaremos a seguir alguns temas-chave dessa proposta.
Para a emancipação intelectual é necessário que haja um mestre, um mestre ignorante, capaz de
anunciar a emancipação aos seus estudantes. Um mestre ignorante é qualquer pessoa
emancipada que anuncia a igualdade de inteligências e que, portanto, dá comandos aos
estudantes para que estes se emancipem. Nesse caso, um mestre ignorante também poderia ser
alguém que assume a função de professor, mas que contra um sistema embrutecedor insiste em
anunciar a boa nova da emancipação aos seus estudantes. Nas palavras do próprio Rancière
(2003, p. 188) o mestre ignorante é “[...] um mestre que não transmite seu saber e também não
é o guia que leva o aluno ao bom caminho, que é puramente vontade, que diz à vontade que se
encontra a sua frente para buscar seu caminho e, portanto, para exercer sozinha sua inteligência,
na busca desse caminho”. É importante tracejar neste resumo alguns sentidos empregados por
Rancière (2002) para a “emancipação intelectual”. Emancipação intelectual tem relação direta
com autonomia, com liberdade de pensamento. Um exemplo de emancipação é a leitura da obra
O Mestre Ignorante (2002), como aponta Walter Kohan (2003, p. 225) em seu texto Três lições
de Filosofia da Educação, quando diz sobre a referida produção: “Esse é seu valor filosófico e
pedagógico: mergulhar o leitor em um círculo do qual só pode sair valendo-se de sua própria
inteligência”.
A emancipação pode ser compreendida como a tomada de consciência por parte de
cada ser humano de sua natureza intelectual. Assim, um sujeito emancipado busca o
conhecimento por conta própria, não se restringindo ao que o mestre diz e estabelece ou aos
conteúdos programáticos; um ser humano emancipado não se limita a explicação de um mestre
explicador. O mestre explicador, por sua vez, é aquele que buscará sujeitar seu estudante à sua

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 595
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

lógica. Os professores-explicadores fazem uso da explicação como força motriz do processo


educacional. São aqueles que se veem como superiores, como portadores do saber, em relação
aos seus estudantes, que nada ou pouco sabem, e, portanto, devem aprender com seus
professores (RANCIÈRE, 2002).
A discussão do Mestre Ignorante trata da experiência do professor Jacotot,
personagem central dessa obra de Rancière (2002). Nesse sentido, Rancière (2002) apresenta a
transição que sofreu Jacotot, passando de um mestre explicador, que tinha em seu modo de
ensino a explicação como centro da transmissão de saber, para um educador que ensina o que
ignora e um pedagogo que não parte de uma desigualdade a ser reduzida, mas da igualdade das
inteligências, de uma igualdade a ser verificada. O mestre ignorante parte do princípio de que
todos são capazes de aprender por conta própria, sem a necessidade de serem socorridos pela
explicação de um terceiro. Nesse sentido, a partir do pensamento de Rancière (2002) temos que
o papel do professor, enquanto mestre ignorante, é anunciar aos seus aprendizes a emancipação,
verificar a igualdade de inteligências e tomar a igualdade como princípio de suas ações:

Não há ignorante que não saiba uma infinidade de coisas, e é sobre este saber, sobre
esta capacidade em ato que todo ensino deve se fundar. Instruir pode, portanto,
significar duas coisas absolutamente opostas: confirmar uma incapacidade pelo
próprio ato que pretende reduzi-la ou, inversamente, forçar uma capacidade que se
ignora ou se denega a se reconhecer e a desenvolver todas as conseqüências (sic) desse
reconhecimento. O primeiro ato chama-se embrutecimento e o segundo, emancipação.
No alvorecer da marcha triunfal do progresso para a instrução do povo, Jacotot fez
ouvir esta declaração estarrecedora: esse progresso e essa instrução são a eternização
da desigualdade. Os amigos da igualdade não têm que instruir o povo, para aproximá-
lo da igualdade, eles têm que emanciparas inteligências, têm que obrigar a quem quer
que seja a verificar a igualdade de inteligências. (RANCIÈRE, 2002, p. 11, grifo
nosso).

É importante repetir, a respeito da hipótese da igualdade de inteligências, que esta é


uma opinião assumida por Rancière (2002) em suas produções, especialmente na que tratamos
neste texto, O Mestre Ignorante. É um ponto de partida a partir do qual as decisões e os
pensamentos alinham-se com tal ideia, axiomática, como afirma o próprio Rancière (2003, p.
190) em entrevista intitulada: Atualidade de O mestre ignorante: “Mas a hipótese da igualdade
das inteligências não é fundada em uma teoria do conhecimento. É uma pressuposição, no
sentido de axioma, é algo que deve ser pressuposto para ser verificado”. Não sendo, portanto,
um dado científico, uma verdade demonstrável e testável, a igualdade de inteligências é um
princípio, que pode ser assumido como um pressuposto de que todos são capazes de aprender
mesmo que a manifestação dessas capacidades varie de acordo com a vontade, atenção e busca
empenhadas na produção de tais resultados, como se pode observar na escrita do filósofo
francês:

Não há dois tipos de espíritos. Há desigualdade nas manifestações da inteligência,


segundo a energia mais ou menos grande que a vontade comunica à inteligência para
descobrir e combinar relações novas, mas não há hierarquia de capacidade intelectual.
É a tomada de consciência dessa igualdade de natureza que se chama emancipação, e
que abre o caminho para toda aventura no país do saber. (RANCIÈRE, 2002, p. 38,
grifo do autor).

Consideramos que a igualdade de inteligências é entendida por Rancière (2002) como


um princípio que fundamenta todas as tomadas de decisões, seja dos indivíduos, dos sistemas
educacionais e, também, das políticas públicas de educação. Rancière (2003, p.187) afirma: “A
igualdade, nela mesma, não é nem um efeito produzido, nem uma finalidade a ser atingida, mas
um pressuposto que se opõe a um outro”. Se opõe necessariamente à desigualdade e não à

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 596
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

diferença, enfatiza Walter Kohan, em seu texto A igualdade (2019). É importante que se diga e
que se faça notar que a igualdade não se opõe à diferença, no entanto, opõe-se à desigualdade,
de tal forma que todos nós somos iguais e diferentes, iguais em nossas capacidades de aprender
e de produzir conhecimento e saber, mas diferentes nas nossas formas de manifestar tais
saberes. O que não pode acontecer, afirma Kohan (2019), é sermos iguais e desiguais,
superiores e inferiores. Baseado nas discussões de Paulo Freire e de Joseph Jacotot, Kohan
(2019) afirma que a diferença gera uma condição para a igualdade, pois se não fôssemos
diferentes, não haveria, dessa forma, a necessidade da igualdade.
A relevância de tais discussões dar-se em razão dos graves problemas de aprendizagem
enfrentados nos sistemas educacionais, sobretudo, os públicos. Portanto, esse Projeto visa
repensar os sentidos da aprendizagem e a partir de uma perspectiva filosófica encontrar formas
de engajar os estudantes através dos exercícios emancipatórios. Uma vantagem dessa
metodologia é que ela não requer muitos custos ou grandes aparatos técnicos, pois com os
materiais disponíveis na própria escola já é possível realizar tais exercícios, como no exemplo
demonstrado neste texto. Uma possível desvantagem é o tempo reduzido das aulas de Filosofia,
dispostas uma vez por semana, em cinquenta minutos aula.

Conclusão
De modo conclusivo queremos destacar o cumprimento dos objetivos de nosso plano
de trabalho, que vão desde a leitura da obra principal O mestre ignorante, realizada em sua
totalidade, bem como promovemos discussões a respeito da aprendizagem filosófica a partir de
tal obra. Por fim, construímos, com base nas análises e interpretações da obra principal e outras
secundárias, os exercícios emancipatórios, pensados para serem executados no Ensino Médio.

Agradecimentos

Nossos agradecimentos ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica


(PIBIC) pelo trabalho desenvolvido em apoio e incentivo à iniciação cientifica. À Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte pelo suporte prestado e pela bolsa durante os últimos meses
da pesquisa.

REFERÊNCIAS:

KOHAN, Walter Omar. Três lições de filosofia da educação. Educ. Soc. [online]. 2003,
vol.24, n.82, pp.221-228. ISSN 0101-7330. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-
73302003000100012.

KOHAN, Walter Omar. A igualdade. In: KOHAN, Walter Omar. Paulo Freire, mais do que
nunca: uma biografia filosófica. 1. ed.: 1. reimp. – Belo Horizonte: Vestígio, 2019, p. 81-
122.

RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual.


Tradução de Lilian do Valle. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

RANCIÈRE, Jacques. Atualidade de O mestre ignorante. [Entrevista cedida a] VERMEREN,


Patrice, CORNU, Laurence e BENVENUTO, Andrea. Educ. Soc., v. 24, n. 82, p. 185-202,
abr. 2003.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 597
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CAMINHOS DA DOCÊNCIA EM EDUCAÇÃO FÍSICA: O DESVELAR


DO SUJEITO EM FORMAÇÃO

Maria do Desterro Ciriaco de Souza1; Leilia Roseane da Costa Silva2; Ricardo dos Santos Pereira3;
Suênia de Lima Duarte4.
Palavras-chave: Formação Docente. Autoconhecimento. Jornal de Pesquisa.

Introdução
Ao longo da formação do ser professor estão presentes aspectos formais, como os
relacionados aos conteúdos trabalhados, a metodologia utilizada, o tempo da formação, assim
como os aspectos sociais, culturais e subjetivos. A formação, portanto, deve considerar a
pluralidade.
Seguindo essa lógica, não podemos negar os outros atributos que perpassam a
formação e nossas ações, inclusive o olhar para nós mesmos no espaço em que nos situamos.
O ser professor não é apartado de quem nós somos, pois nos conhecermos é fundamental.
Precisamos conhecer a nós mesmos, inclusive nossos próprios demônios. Compreendê-los e
assumi-los, assim como Morin (1995) nos fez perceber na obra Meus demônios, é imperante,
visto que todo conhecimento implica um autoconhecimento. Esse pensar sobre nos mesmos,
sobre o humano que somos e sobre a humanidade, estaria tendo assento nos cursos de formação?
As reflexões que até aqui levantamos trazem aspectos que muitas vezes escapam as
nossas percepções rotineiras e, por esse motivo, é preciso um olhar atento, reflexivo e constante
de todos que estão imersos no processo de formação de professores. Nesses termos, passamos
a nos indagar a cerca dessa realidade e, dessas reflexões, emergiu nossa questão de partida:
como os cursos de licenciatura em educação física estariam atuando na formação dos futuros
professores? Para pensar essa questão, direcionamos nossos olhares ao Curso de licenciatura
em Educação Física, do Campus de Pau dos Ferros, da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (CEF/CAPF/UERN), instituição a que fazemos parte, enquanto discentes e docente.
Seguindo essa perspectiva, mas também considerando a pandemia do Covid-19, que
tem nos assolado a cerca de cinco meses, interrompendo as aulas da referida Instituição de
Ensino e exigindo uma reorganização desta investigação, percebemos que, para o momento,
seria impossível uma aproximação que desse conta de toda essa realidade. Por esse motivo,
direcionamos nossas lentes, exclusivamente, para os sujeitos em formação, os quais podem nos
propiciar uma leitura sobre a atuação do referido curso na formação discente e, desse enfoque,
produzimos nossos objetivos: o primeiro visa refletir sobre o ser professor partir do olhar de
discentes em formação do CEF/CAPF/UERN e o segundo analisar a percepção dos discentes
acerca da contribuição do jornal de pesquisa para a sua formação.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que, segundo Minayo (1994), busca responder a
questões muito particulares, firmando-se como um espaço de intuição, uma vez que explora o
subjetivismo, aprofundando-se no mundo de significados das ações e relações humanas,
preocupando-se com um nível de realidade não quantificável, mas com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes.

1
Discente do CEF/CAPF/UERN; e-mail: desterrosouza2014@gmail.com
2
Discente do CEF/CAPF/UERN; e-mail: leiliaroseane@outlook.com
3
Discente do CEF/CAPF/UERN; e-mail: rikardosantos.rp@gmail.com
4
Docente do Discente do CEF/CAPF/UERN; Participante do Grupo de Pesquisa Educação Física, saúde e
sociedade; e-mail: limaduarte-uern@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 598
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Nesse sentido e partindo dos nossos objetivos, procuramos investigar o ser professor
a partir da percepção dos discentes em formação. Para tanto, nos propomos a investigar alunos
regularmente matriculados no CEF/CAPF/UERN, assim como no PARFOR5, todavia, esses
últimos não puderam fazer parte da investigação, pois estavam em processo final de formação,
desenvolvendo seus trabalhos de conclusão de curso. Outro aspecto que merece ser destacado
é que, com a pandemia do Covid-19, houve dificuldade no recrutamento, o que fez reduzir os
sujeitos investigados a 03 discentes, selecionados por adesão. Para preservar suas identidades,
foram identicados com nomes fictícios: Amanda, Ana e Alice.
Como estratégia para o levantamento de informações, optamos por trabalhar apenas
com os jornais de pesquisa (JP) que, além da função citada, é um recurso teórico-metodológico
capaz de auxiliar no processo formativo para a escrita, a leitura, a (re) organização das ideias,
como também possibilita uma autoformação daquele que o escreve (BARBOSA, 2010).
Como o JP era uma recurso novo para os investigados, foram realizados dois
momentos de familiarização, através do google meet, e que possibilitou que os mesmos
pudessem realizar suas escritas. Estas deveriam ser feitas diariamente e, se não, quando
tivessem interesse em fazê-las. Por isso mesmo, era uma escrita livre, na qual os alunos
realizavam produções relativas a sua formação, a escola, ou mesmo tudo aquilo que pudesse
pensar nesses espaços ou mesmo a si mesmos.
É importante frisar que a escrita do JP, pode conduzir a um processo por meio do qual
o sujeito, aproxima-se do conhecimento de si e adquire consciência de seu percurso formativo.
Constitui-se, dessa forma, como uma experiência viva e reflexiva sobre si e suas trajetórias
formativas.
As informações obtidas a partir dos JP produzidos foram analisadas procurando
identificar elementos que permitissem a construção de nossas reflexões, especificamente acerca
do ser professor e ou de outros elementos que se inter-relacionassem com essa temática.

Resultados e discussão
Trilhando um caminho para pensar a formação docente, buscamos refletir sobre o ser
professor a partir do olhar de discentes em formação. Para tanto, analisamos a escrita dos JP
realizada pelos participantes desta pesquisa, a fim de pensar essa formação e refletirmos sobre
esse recurso metodológico para a formação do indivíduo. Constatamos que a escrita se
evidencia como um espaço de manifestação da subjetividade dos discentes, a qual parece ir se
fortalecendo. Quanto mais se escreve e se reflete sobre um dado aspectos, coisa, sujeito ou
realidade, mais entra em ebulição a manifestação do ser subjetivo6.
Em sequência, direcionamos o olhar para formação a partir da escrita dos JP e nos
deparamos com trechos como o de Amanda, que diz:
“Ainda não decidi ao certo se é o que realmente quero para o meu futuro, vou
seguir nas etapas da formação e no caminhar descubro as respostas. Se
destinar a docência, vou da o meu melhor, ser dinâmica, minha paciência
será bem colaborativa já que um dos leques do ser professor é ter paciência.”
(Amanda-16/07/2020)
Percebemos uma preocupação em dar o seu melhor para formar o outro. Ao escrever
que não decidiu ainda o que quer, pode até parecer estranho, mas a partir de o momento em que
ela se permite questionar, ela, naturalmente, já está se descobrindo e assumindo das rédeas do
seu existir. Esse aspecto é importante, como aponta Arroyo (2013, p.55): “A necessidade de

5
Programa de Formação, vinculado a CAPES, desenvolvido no CEF/CAPF/UERN.
6
É preciso ressaltar que, por mais que nos assumamos como seres subjetivos, não podemos desconsiderar a
objetividade que também nos perpassa e nos torna quem somos. A objetividade e a subjetividade, assim como bem
destacam Berger e Luckmann (1995) compõe o indivíduo que somos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 599
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

aprender a ser é mais radical do que a necessidade de aprender técnicas, habilidades de


sobreviver. Esta distinção é fundamental para todo processo educativo, inclusive escolar.”
Nos escritos de Alice, nos deparamos com o relato de um acontecimento marcante,
conforme é possivel perceber em sua escrita:
Aqui estou a registrar esse dia, que estava com receio que ele chegasse;
estava insegura, com medo e ansiosa demais. Tudo isso em virtude de uma
apresentação do plano de aula da disciplina de ginástica; eu e (Fulano) não
sabíamos qual estava mais “pilha”. E aconteceu... apresentamos com êxito e
uma sensação de alívio... Bem mais aliviados após as contribuições do prof.
E refleti muito sobre esse mix sentimentos; sei que muitas vezes é normal um
nervoso antes de alguma apresentação, mas senti muito medo, medo do que o
prof podia dizer, conhecendo o seu histórico. E me questionei mais uma vez:
Espero que não me torne um profissional que passe medo, essa sensação de
“pânico”. Que eu seja a diferença em meio a essas pessoas que transmitem
tais comportamentos. Encerro essa escrita cheia de gratidão, por ter visto o
lado bom que me angustiou tanto e ter compreendido ainda mais sobre o que
é ser docente; sem dúvidas, carregarei essa fato comigo (Alice-11/03/2020).
Este momento parece ter lhe afetado bastante e de forma negativa, pelo medo que lhe
atormentava, mas também positiva, pelo êxito obtido. Todavia, o medo que passou parece ter-
lhe “rasgado a alma”. Algo que sentiu e que não deseja para nenhuma outra pessoa. Espera,
inclusive, que jamais se torne um profissional desse tipo. Esse momento fez-lhe sentir no seu
âmago a necessidade de ser diferente e, sendo diferente, realizar no exercício da profissão, uma
prática pedagógica que não se paute no medo. Esse momento foi, de certa forma, um instante
de percepção do que é ser professor. Nós professores, como bem disse ela, precisamos ser a
diferença.
Já em um trecho escrito por Amanda é visivel a personificação do que é ser professor,
quando ela registra:
Compreendo que o ser professor é lidar com varias realidades e com o mundo
do outro, são trocas que significam parceria e uma vontade de fazer as coisas
acontecerem. Quero antes de mais nada cuidar do meu interior para passar
uma boa energia para esse externo, gerar uma troca satisfatoria, que toque
de uma forma positva os meus alunos, fazer adiferença nos pequenos detalhes,
sejam do simples ao imenso (Amanda-20/07/2020 ).
Ao expor sua concepção acerca do que é ser professor, na qual está presente a
necessidade de saber lidar com o mundo do outro. Entende que faz parte de ser professor o fato
de se perceber e se ver diante o outro, como capaz de sentir o mesmo que ele. Fica subentendido
na escrita de Amanda que as relações de troca entre professor-aluno são fundamentais para um
satisfatório exercício da docência. Pimenta (2012) corrobora essa discussão ao afirmar que a
atividade docente é práxis, isto é, a prática entre ensino-aprendizagem, garantindo que a
aprendizagem aconteça como consequência do ensinar. Sendo relacional, no sentido dado por
Freire (2011), ao dizer que quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender.
Outra questão importante que está bastante presente nos sujeitos investigados é a
percepção do JP como uma maneira de refletir sobre o mundo, sobre si, possibilitando o “se
perceber”. Para ilustrar essa percepção, a escrita de Alice é bastante, clara quando ela registra:
Entendi bem que melhor o que era o jornal de pesquisa e o quanto poderia
ajudar a tantas pessoas, foi um momento que voltei a refletir sobre muitas
coisas que passavam, senta e comentar tais sentimentos às vezes ficava com
isso só para mim e a partir de toda essa escrita sobre esse dia pude o quanto
é bom registra o que nos faz refletir, aqui estou eu refletindo e escrevendo
sobre o quão significativo pode ser o jornal de pesquisa (Alice – 18/02/2020).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 600
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O pensamento reflexivo é, a nosso ver, importantíssimo para a construção de um ser


professor ativo, capaz de se conhecer e se refazer. Segundo Barbosa (2010, p. 46), o JP “[...]
nos permite considerar a escrita a partir de ambas pespectivas: tanto na ótica de uma
organização mais interna e psíquica, quanto na ótica de nossa capacidade reflexiva,[...]”. Ana,
em um recorte de seus escritos, também identifica a importância do JP:
Registra aquilo que nos faz pensar é muito importante, uma maneira de
observar e apreender consigo mesma (Ana- 24/07/2020).
É notório, no fragmento exposto acima, a importância de fazer o registro do que se
pensa, pois é uma forma de organizamos os nosso pensamentos, aprendendo nessa espécie de
movimento de escuta de si. Para Barbosa (2010, p. 33), é “tão importante quanto darmos conta
do mundo que nos é exterior é avançarmos no conhecimento de nós mesmos”, sendo, dessa
forma, o JP uma das maneiras possíveis de autoconhecimento. É pertinente ressaltar a
importância do refletir, sendo este, um ato para melhorar sua prática, seja ela profissional ou
pessoal. Deste modo, compreendemos o JP como dispositivo bastante significativo na formação
docente, assim como durante a sua futura atuação profissional.

Conclusão
Diante das análises realizadas, é possível ratificar que a formação do ser professor não
se faz apenas a partir do ensino e da aprendizagem de saberes técnico-metodológicos. Outros
aspectos podem estar presentes e contribuir de maneira significativa. Nesses termos, a reflexão
e o autoconhecimento, mobilizados a partir da escrita do JP, constituíram-se como partícipes
na construção do ser professor reflexivo. É possível aprender e reconstruir seus saberes a partir
do autoconhecimento, que vem contribuir de forma significativa no processo de formação.
Acreditamos que é importante dar espaço para que o aluno possa pensar sobre si, permitindo a
construção de um olhar voltado para si, para sua formação, para o ser professor e para o mundo.
Ser docente parte de quem você é e de todo seu trajeto de vida, sem desconsiderar os aspectos
inerentes de cada sujeito e essas marcas revelam e subjetiva o ofício de ser professor. Percebe-
se ainda que os discentes em formação conseguem construir reflexões sobre a sua jornada
formativa, identificando elementos importantes para sua assunção como futuros professores.

Agradecimentos
Pela conclusão deste trabalho, agradecemos a Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte por ter concedido a aprovação PIBIC. Aos sujeitos envolvidos no processo de escrita
durante essa etapa da pesquisa. Ao professor Helder Cavalcante Câmara, por ter contribuído
significativamente no desenvolvimento deste projeto.

Referências
ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imagens e autoimagens. 15. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2013.
BARBOSA, Joaquim G; HESS, Remi. O diário de pesquisa: o estudante universitário e seu
processo formativo. Brasília: Liberlivro, 2010.
BERGER, P. & LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1995.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 2011.
MINAYO, Maria Cecília de Souza et a.l (org.). Pesquisa Social: Teoria Método e Criatividade.
21. ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
MORIN, E. Meus demônios. Portugal: Publicações Europa-América, 1995.
PIMENTA, Selma Garrido. Saberes pedagógicos e atividade docente. 3. ed. São Paulo:
Cortez, 2002.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 601
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CAMINHOS PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO


GEOGRÁFICO NA ESCOLA

Josélia Carvalho de Araújo1; José Elias de Oliveira Silva 2

Palavras-chave: Ensino de Geografia. Construção do Conhecimento. Educação Básica.

Introdução

Com o objetivo de aprofundar o processo investigativo acerca da construção do


conhecimento que se dá na educação básica, em torno do ensino de geografia, empreendemos
nossos trabalhos a partir da reflexão de texto atinentes ao ensino, observamos e interagimos
na realidade da Escola Estadual José de Freitas Nobre, em Mossoró, Rio Grande do Norte.
A observação cooperativa do discente Pibic foi de suma importância para
compreender a realidade escolar, preparando-se para nela agir quando da realização das
atividades junto aos alunos, sob a colaboração do Professor Moacir Vieira da Silva, egresso
do Curos de Geografia Licenciatura, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Importa mencionar a origem do referido professor colaborador porque figura como um
autêntico processo de formação docente. Ou seja, aquele que contribuimos para a sua
formação passa agora a ser colaborador na formação de novos docentes. Importante também
realçar a capilaridade social desta universidade.
Cumpre descrever que o processo investigativo se fez por meio da realização do
estágio supervisionado em geografia, momento oportuno de parceria entre a universidade e a
escola. E essa fase de formação docente, o estágio supervisionado, há que ser apresentada de
forma inovadora, seja aos discentes da universidade, seja aos da escola. Realizar esta pesquisa
tornou-se então uma oportunidade de aproximar ensino, pesquisa e extensão, essa tão
almejada tríade acadêmica.
Como resultados preliminares, apontamos que o campo, seja de estágio, seja de
trabalho, está ávido e prenhe de professores reflexivos, sempre dispostos a inovar e renovar
sua prática docente, por meio da construção do conhecimento junto aos seus alunos,
referendada em atividades de cunho cooperativo-participativo que os coloque no centro do
processo de ensino-aprendizagem, cuja postulação sempre nos foi apresentada pelos teóricos
do ensino. E essa foi a tônica da reflexão e da prática cujos resultados apresentamos a seguir.

Metodologia

Durante todo o percurso investigativo, a reflexão foi o que moveu os nossos


trabalhos. Reflexão acerca da literatura atinente ao ensino e seus processos e práticas; reflexão
acerca da prática nossa, enquanto professora e discente Pibic; reflexão acerca da prática do
professor do campo de pesquisa; e reflexão acerca da prática dos discentes do campo de
pesquisa.
E foi, a partir destas reflexões, que desenvolvemos oficinas de construção do
conhecimento junto aos alunos da educação básica, especialmente, sobre paisagem, por meio
da qual os alunos desenharam e escreveram sobre a sua concepção de paisagem. Feito o

1
Professora do Departamento de Geografia, Campus Universitário Central da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, Laboratório de Ensino de Geografia, Grupo de Pesquisa em Educação Geográfica, Grupo de
Estudos em Geografia Urbana e Econômica; e-mail: joseliacarvalho@uern.br;
2
Graduando do Curso de Geografia, Campus Universitário Central da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Laboratório de Ensino de Geografia, Grupo de Pesquisa em Educação Geográfica, Grupo de Estudos em
Geografia Urbana e Econômica; e-mail: eliassilva4k@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 602
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

exame das construções apresentadas por parte dos alunos, pudemos constatar o que ora
apresentamos na seção seguinte.

Resultados e Discussão

Dentre inúmeras situações que ocorrem cotidianamente na escola, o professor,


enquanto mediador do conhecimento, deve estar apto a propor medidas através de
metodologias de ensino que visem à construção do conhecimento dos alunos. Isso presume
que o professor, enquanto sujeito autonômo em sala de aula, deva deter de características que
o legitimam como mediador do conhecimento.
Segundo Castellar (2015), o trabalho no sentido da construção do conhecimento
pressupõe que o professor assuma a postura de mediador, estabelecendo o diálogo entre o
conhecimento prévio do aluno e o saber construído pela humanidade, para que, assim, o aluno
possa construir seu conhecimento, no nível em que lhe é possível. Essa postura foge à prática
cristalizada de o professor colocar-se diante da turma e passar a professar conteúdos
curriculares, prescindindo dos conhecimentos prévios dos alunos e da capacidade de
construção dos conhecimentos deles.
Sim. O aluno é capaz de construir conhecimentos. Não idênticos aos que se
encontram nos manuais didáticos, sem no nível em que lá está. Mas, segundo a sua
capacidade de apreensão, conforme as discussões que foram empreendidas, e segundo o nível
em que a sua congnição é capaz. Afinal, o conhecimento alheio à cognição do aluno não lhe é
legítimo.
Mas, e o conhecimento do aluno, no nível da educação básica não é científico? Não é
acadêmico? É, sim, no nível daquele que o produz, o aluno. Na prática, estamos falando de
situaçãoes-problema diante das quais o aluno é posto, como: produzir uma síntese de aula
sobre um dado tema; examinar um rol de dados, e a partir dele, elaborar uma tabela, seguida
de um gráfico, analisar e tecer considerações por meio de uma análise textual; interpretar
mapas, charges, tirinhas, figuras, fotografias, entre outros. São essas construções,
aparentemente incompletas, que levarão esse aluno a galgar níveis superiores de
conhecimento, projetando-se, inclusive, não só na sua capacidade de escrever, mas também de
ler.
O fato é que a o professor, a escola, enfim, o sistema educacional, no afã de cumprir
o currículo prescrito pelo sistema educacional, de “bater o livro capa a capa”, esquece-se que
o aluno existe, que o aluno tem uma mente. E, quando se lembra, chama a isso, atualmente, de
“metodologias ativas”, as quais colocam o aluno no centro do processo de ensino, por meio de
atividades. Ora, o aluno sempre deveu estar no centro do processo de ensino. Sempre os
teóricos do ensino o definiram como um processo intencional, mediado pelo professor, cujo
protagonista é o aluno. E é em busca dessa consiguração de processo de ensino que apostamos
na construção do conhecimento na escola.
Na geografia, torna-se necessário promover a forma como o aluno compreende o seu
espaço vivido, como ele entende o seu meio natural e social. As diferentes práticas de ensino
se configuram como caminhos, que levam ao melhor entendimento do aluno sobre os
conteúdos trabalhados. A ciencia geografica detém vários entendimentos sobre a realidade,
pois trabalha conteúdos de natureza fisica e social. Isso lega ao aluno o poder de ver o mundo
com as lentes geográficas.
Portanto, ser mediador do conhecimento na ciencia geográfica é entender como
relacionar os conteúdos com o cotidiano do aluno. Em decorrência disso, as metodologias
ativas surgem com alto poder formativo n a superação de práticas cristalizadas, que desgastam
o interesse dos alunos sobre os conteúdos trabalhados. O fato é que elas, as metodolgias
ativas, deveria ter sido “descobertas” há muito mais tempo, como parte do processo de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 603
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

formação do professor, no sentido da formação deu um professor reflexivo, que aprende com
sua prática, o que nos motiva a apostar no que podemos denominar de “epistemologia da
prática”. Assim, esse professor ampliará essa capacidade reflexiva aos seus alunos, fazendo-
os aprender a partir da própria reflexão, fugindo à tríade clássica e inerte de “apresentação-
explicação-perguta sobre dúvidas”.
Dentre as características essenciais que é destacado acima, temos algumas que as
consideramos fundamentais para a prática de ensino em Geografia. O trabalho em equipe
torna-se fundamental para a construção do indivíduo, para pratilhar ideias e para realização de
atividades que ajudam no desenvolvimento intelectual do aluno. Sem contar, do uso da
problematização da realidade dos alunos, que aproxima os conteúdos da ciencia geográfica
com a realidade dos alunos.
Práticas de ensino na ciêcia geográfica, geralmente, exploram o campo, já que o
trabalho de campo viabiliza ainda mais aos alunos entender o seu mundo com as lentes da
geografia. O trabalho de campo, na ciencia geográfica, torna-se de fundametal importância,
por meio de metodologias ativas.
Como profissionais em educação, não podemos nos limitar a condições impostas nos
ambientes escolares, que venham a impedir de desenvolvermos essas proposições. Conforme
Silva (2019), os arredores das escolas, o bairro em que a escola está inserido, e até mesmo o
percurso que os alunos fazem da escola para casa, disponibilizam uma série de informações
que fazem desses espaços excelentes laboratórios.
É certo que, para desempenhar boas práticas de ensino, o professor deva manter-se
com algumas características que o conduz a ser mediador do conhecimento, como
organização, pesquisa, metas e avaliação processual. A observação do desenvolvimento dos
alunos torna-se de fundamental importância para identificar o que já tem construido ao longo
de uma dado período. Torna-se importante que existam inúmeras práticas que visam à
aprendizagem significativa do aluno, como o trabalho coletivo, o uso de oficinas, de
seminários, entre outros. Logo, para se ter boa mediação pelo professor, é necessário que o
mediador do conhecimentotome consigo organização com suas práticas de ensino.
Almeida (2015, p. 5) nos destaca práticas essenciais para a organização do professor
em sala de aula: a) partir da reflexão sobre os alunos: quem são, onde moram, como é sua
vida escolar, quais são seus anseios e dificuldades, como é sua vida familiar, qual sua
condição social; b) procurar saber que conhecimentos específicos de geografia os alunos
possuem; c) propor metas claras quanto ao ensino de geografia a serem atingidas durante o
período letivo (bimestral, semestral ou anual); d) elaborar um plano de trabalho juntamente
com os alunos, tendo em vista as metas propostas; e) avaliar os alunos quanto ao seu
desempenho e em função do processo desenvolvido.
Práticas como essas apresentadas acima ajudam de maneira significativa na
organização do professor. Ressaltamos que não acreditamos em receitas que nos levam a
perfeição na prática de ensino. Antes, valorizamos a autonomia do profissional em educação,
e a inovação que os mediadores do conhecimento podem desenvolver cotidianamente no seu
ambito de trabalho. Sobretudo, é necessário esforço e dedicação pelo trabalho docente, pois
são inúmeras as práticas que devem ser aplicadas para a boa construção do conhecimento

Agradecimentos

Agradecemos à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, por meio da Pró-


Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPEG, que concedeu a bolsa de Iniciação
Científica para que o discente pudesse custear suas despesas acadêmicas para o
desenvolvimento da pesquisa. Agradecemos também à Escola Estadual José de Freitas Nobre,
especialmente, ao Professor Moacir Vieira da Silva, colaborador nessa pesquisa, por meio do

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 604
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

qual estendemos nossos agradecimentos aos seus alunos, que se dispuseram a estabelecer o
contínuo diálog conosco, por meio de atividades desenvolvidas em sala de aula.

Referências

ALMEIDA, R. Doin. A propósito da questão Teórico-metodológica sobre o ensino de


Geografia.Terra Livre , Rio claro, 2015.

CASTELLAR, Sonia Maria Vanzella.A formação de Professores e o ensino de


Geografia.Terra livre,Rio claro, 2015.

SILVA, Alcinéia S; FARIAS, Ricardo de C; LEITE, Cristina M. C.O trabalho de Campo para
além de uma atividade prática nas aulas de Geografia: Uma Metodologia de viabilização da
construção do conhecimento Geográfico.Revissta Tomoios,São Gonçalo (RJ),ano 15, n. 1, p.
31-45, jan-jun. 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 605
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

COMISSÃO NACIONAL DE FISCALIZAÇÃO DE ENTORPECENTES E


O COMBATE À “ERVA-MALDITA” NO NORDESTE (1936-1964)

Carlos Eduardo Martins Torcato1; Eric Sousa2.

Palavra-chave: Tráfico de drogas; Crimes; Jornais

INTRODUÇÃO
O tema da produção, comércio e consumo de drogas ilícitas está constantemente em
voga no debate público, mas sempre acompanhado de opiniões moralistas e seletivas. Nos
debates da administração pública o tema ganhou, ao logo da história, uma correlação com a
desordem pública. Os jornais, por sua vez, sempre acompanharam essa visão e deram
publicidade aos casos de pessoas envolvidas com o uso e o comércio de drogas ilícitas.
No campo acadêmico, a pesquisa sobre as drogas ilícitas, no Brasil, ainda é incipiente,
se compararmos aos impactos que este fenômeno causa na sociedade. A pesquisa sobre o tema
das drogas carece de mais dados e interpretações que ultrapassem os entendimentos fechados
da segurança pública. O tema precisa de abordagens de diferentes áreas para que seja possível
criar um entendimento cada vez mais maduro em relação às drogas.
Neste sentido, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) em
História, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), “Ébrios, loucos e
arruaceiros: produção de saberes sobre os usos de substâncias inebriantes na imprensa
nordestina (1932-1964)”, coordenado pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo Martins Torcato, tem sua
pertinência na contribuição de construção do conhecimento histórico com a temática das
drogas. Dentro desta pesquisa mais ampla, surgiu um tema mais específico. O recorte temporal
se dá pela criação da CNFE, em 1936, no primeiro Governo de Getúlio Vargas (CARVALHO,
2013), até o ano de 1964, quando ocorreu uma mudança na conjuntura política Brasileira com
a instalação do Regime Militar.
Analisando as notícias dos principais jornais do Rio Grande do Norte, a partir das
primeiras notícias sobre a CNFE em 1939, os jornais “A Ordem”, “Diário de Natal” e “O Poti”,
foi identificado a preocupação da Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes (CNFE)
sobre as plantações de maconha no Nordeste brasileiros. Portanto, este trabalho se propõe a
apresentar os resultados de tal análise e colocar a imprensa potiguar como um campo fértil para
a pesquisa sobre a História das Drogas.

METODOLIGIA
O acesso às fontes jornalísticas foi possibilitado pela pesquisa no acervo digital da
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Neste repositório de arquivos digitalizados, foi
realizado buscas por palavras-chaves relacionada ao objeto de pesquisa. Palavras como
maconha, cocaína e entorpecentes ajudaram a localizar notícias sobre produção, tráfico,
consumo e combate às drogas. Portanto, um catálogo de notícias relacionadas às palavras-
chaves escolhidas foi constituído, acompanhado de descrições sobre a materialidade e
recorrência das publicações. Este banco de dados possibilitou o cruzamento de informações
para uma análise mais ampla acerca de notícias sobre reuniões e ações da CNFE relacionadas

1
Professor Adjunto II – Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró-
RN, e-mail: carlostorcato@uern.br
2
Estudante do curso de Licenciatura História – Departamento de História da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, Mossoró-RN, e-mail: ericssousa@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 606
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ao nordeste brasileiro.
A análise destes dados se fundamentou nos estudos teóricos de pesquisa em periódicos,
como é o caso do artigo de Tânia Regina Luca História dos, nos e por meio dos periódicos
(2011), que contém orientações de como tratar estes tipos de fontes . Já para obter informações
sobre os jornal pesquisados, O Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte:1909-1987
(1987), de Manoel Rodrigues de Melo nos apresentas datas de fundação e pessoas envolvidos
na atuação dos jornais potiguares. Em relação ao contexto nacional das políticas relacionadas
ao consumo de substâncias ilícitas, a tese de doutorado de Carlos Eduardo Torcato A História
das drogas e sua proibição no Brasil: da Colônia à República (2016) possibilitou o
entendimento da atuação da Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes. Além destes,
o artigo de Eduardo Nunes Freire O design no jornal impresso diário: Do tipográfico ao digital
(2009) ajudou a identificar as evoluções técnicas na confecção dos jornais ao longo da História
da imprensa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
“Exportação em larga escala de maconha do Rio Grande do Norte para o Rio. 70% dos
crimes praticados sob a ação do perigoso tóxico.” (O Poti, 10/08/1947). Eis uma notícia de
primeira página de um dos principais jornais dos Rio Grande do Norte da primeira metade do
século XX, “O Poti”. Este jornal, juntamente com “O Ordem” e “Diário de Natal”, deram
publicidade às ações do governo federal em relação ao combate á produção, comércio e uso de
drogas, principalmente à maconha, na região Nordeste.
Para efetivar sua ação contra às drogas, o governo federal começou a constituir
comissões estaduais para representar os interesses da CNFE. No Rio Grande do Norte, está ação
já pode ser identificada no final da década de 1930. O periódico “A Ordem” publicou, no dia
23 de junho de 1939, as nomeações de integrantes da subcomissão estadual da CNFE no Rio
Grande do Norte. O ministério das relações exteriores, por meio do Decreto-lei 891, de 25 de
novembro de 1938, nomeou Armando Nogueira China; Oscar Homem Siqueira; Petrarca
Maranhão e Adolfo Ramires como representantes legais da “Sub-comissão estadual da CNFE”.
Isso, portanto, evidenciou que o combate às drogas estava se capilarizando ainda mais pelo
território nacional. O nordeste brasileiro se tornou uma grande preocupação para o combate às
drogas, principalmente por haver uma cultura, desde o período colonial, de plantações de “Erva-
maldita” (FRANÇA,2015), como era denominada a maconha nas notícias.
Outro jornal de grande representatividade no Estado Potiguar na época analisada (1939-
1964), também dedicou espaço em suas páginas para divulgar a preocupação da CNFE em
relação às drogas. Também em uma notícia de primeira página, no dia 10 de agosto de 1947,
“O Poti” estampou que 70% dos crimes praticados no Rio de Janeiro era fruto do consumo do
“perigoso tóxico” oriundo do Rio Grande do Norte. Escancaram a ligação do consumo de
maconha com a prática de crimes.
Inclusive, a CNFE começou a realizar eventos e estudos que investigavam a correlação
do consumo drogas, principalmente de maconha, ao comportamento criminoso. O jornal “A
Ordem” publicou, no dia 13 de maio de 1949, um estudo realizado pela CNFE, no Rio de
Janeiro, sobre “Os efeitos perniciosos da maconha”, em que descrevia os resultados de
experiências realizadas por médicos. A publicação em primeira página mostra que esse estudo,
respaldado por trabalho de médicos era uma boa argumentação contra o consumo e comércio
de maconha.
Dentro desta perspectiva, o “Diário de Natal” foi o periódico potiguar que mais publicou
notícias sobre a atuação da CNFE no Nordeste, principalmente a partir da década de 1950,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 607
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

quando o número de notícias relacionadas ao consumo e comércio de maconha passam a ser


mais recorrentes nas páginas dos jornais analisados. Também com destaque, o periódico relatou
o envio de policiais ao nordeste para destruir plantações da “Erva-maldita. (Diário de Natal,
03/10/1952). Ou seja, a grande imprensa potiguar estava atenta ao que a CNFE, assim como o
próprio governo federal, estava fazendo em relação ao combate à maconha.

CONCLUSÃO
Portanto, a análise das notícias proporcionou a construção de dados fundamentais para
a compreensão da História das drogas no Nordeste, principalmente, no Rio Grande do Norte,
Estado que carece muito de pesquisas com esta temática. A partir da coleta de dados nas fontes
jornalísticas, identificou-se como o governo Federal começou a agir, por meio da CNFE e de
suas representantes estaduais, de forma mais repressiva no combate às drogas. No caso
específico do Nordeste, no combate à Erva-maldita.

AGRADECIMENTOS
Agradeço à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) pela
disponibilização da estrutura necessária para que a pesquisa pudesse ser realizada e demais
pesquisadores que participaram do projeto.

REFERÊNCIAS

Primárias
“SUB-COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO DE ENTORPECENTES NESTE ESTADO.” A Ordem.
Natal, sexta-feira, 23/06/1939, primeira página, edição nº 1131.

“OS EFEITOS PERNICIOSOS DA MACONHA.” A Ordem. Rio de Janeiro, sexta-feira, 13/05/1949,


primeira página, edição nº 4003.

“EXPORTAÇÃO EM LARGA ESCALA DE MACONHA DO RIO GRANDE DO NORTE PARA O


RIO.” O Poti. Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte, sábado, 10/08/1947, primeira página, edição nº
845.

“ENVIO DE POLÍCIAIS AO NORDESTE PARA A EXTINÇÃO DA MACONHA” Diário de Natal,


Rio de Janeiro, segunda-feira, 03/10/1952, segunda página, edição nº 3029.

Bibliográficas
CARVALHO, Jonatas Carlos de. Regulamentação e criminalização das drogas no Brasil: A
Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes. Rio de Janeiro: Multifoco, 2013.

FREIRE, Eduardo Nunes. O design no jornal impresso diário. Do tipográfico ao digital. Revista
Galáxias, n.18, p.291–310, 2009.

LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY,Carla Bassanezi

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 608
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(org). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2008.

MELO, Manoel Rodrigues. Dicionário da imprensa no Rio Grande do Norte: 1907-1987. São Paulo
/ Natal: Cortez / Fundação José Augusto, 1987.

TORCATO, Carlos Eduardo. O proibicionismo centrista (1932-1964). In.: A História das drogas e sua
proibição no Brasil: da Colônia à República. Tese (Doutorado). Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 2016. p. 289- 311.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 609
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

COMO LIDAR COM A VIOLÊNCIA NA ESCOLA?

Ellen Yasmim da Silva Lira 1; Larine Sofia da Silva Lima 2; Paula Vitória Leandro Bezerra
Rocha3; Wendel Kawann da Silva Simões4; Jean Mac Cole Tavares Santos5

Palavras-chave: Fenômeno. Educação. Cotidiano Escolar. Medo.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos muito tem se falado sobre violência, porque até então passou a ser
parte do nosso cotidiano. A violência, entre outras, foi destacada por pessoas de diferentes
camadas sociais, como um dos principais problemas dentro da escola e na sociedade em geral,
resultando em consequências psicológicas, emocionais, físicas e até mesmo na interferência do
ensino dos professores e no aprendizado dos alunos. Assim, os ambientes escolares deixaram
de ser lugares protegidos e muitos pais perderam a tranquilidade ao levar seus filhos à escola.
Diante disso, nesse trabalho, temos como objetivo entender sobre a violência nas instituições
de ensino e como os professores lidam com a violência na sala de aula.

METODOLOGIA

Para alcançar o nosso objetivo, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa. Segundo


Richardson esse tipo de pesquisa “busca uma compreensão minuciosa dos sentidos e
características de cada situação apresentada pelos sujeitos pesquisados”. Uma compreensão que
ultrapassa a visão dos olhos, “permitindo fazer uma análise teórica dos fenômenos sociais
baseada no cotidiano das pessoas” (RICHARDSON, 2010, p. 103).
Quanto ao instrumento de pesquisa, optamos por uma entrevista semiestruturada com 2 (dois)
professores que lecionam no ensino médio na Escola Eliseu Viana.
A entrevista semiestruturada “é composta de perguntas abertas e fechadas, dando a
oportunidade ao entrevistado de discorrer sobre o tema sem se prender à indagação formulada,
possibilitando um maior aprofundamento acerca dos aspectos mais relevantes de determinado
tema” (RICHARDSON, 2010, p. 104).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

É notório que a violência na escola vem se tornando algo cada vez mais frequente na
sociedade. Ousamos em dizer que a violência é uma causa global. Não existindo indivíduos que
ainda não praticaram ou foram vítimas da violência. Comprovamos isso ao fazermos uma

1
Aluna do 2º ano do Ensino Médio na Escola João de Abreu. Bolsista CNPq/PIBIC EM. E-mail:
ellenyasmin0905@gmail.com.
2
Aluna do 3º ano do ensino médio no Centro Integrado Professor Eliseu Viana. Bolsista CNPq/PIBIC EM. E-mail:
larinesofia0404@gmail.com.
3
Aluna do 3º ano do ensino médio no Cento Integrado Professor Eliseu Viana. Bolsista CNPq/PIBIC EM. E-mail:
paulavitoria2013.1@gmai.com.
4
Aluno do 2º ano do Ensino Médio na Escola João de Abreu. Bolsista CNPq/PIBIC EM. E-mail:
wendelkauann900@gmail.com.
5
Professor do Curso de Pedagogia no Departamento de Educação, na Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte - UERN. Líder do Grupo de Pesquisa Contexto e Educação. E-mail: maccole@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 610
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pesquisa rápida em conversas informais, em família ou no meio profissional. Essa violência


põe em risco a ordem, a motivação, a satisfação e as expectativas dos alunos e do corpo de
docentes.
A violência é apresentada por Abramovay e Rua como um fenômeno de difícil
definição, por ter um caráter heterogêneo, deve-se considerar o sexo, a idade, o local e o status
de quem fala. Neste estudo, a violência foi apresentada como:

A intervenção física de um indivíduo ou grupo contra a integridade de


outros(s) ou de grupo(s) e também contra si mesmo- abrangendo desde os
suicídios, espancamentos de vários tipos, roubos, assaltos e homicídios até a
violência no trânsito, disfarçada sob a denominação de “acidentes”, além das
diversas formas de agressão sexual. Compreende-se igualmente, todas as
formas de violência verbal, simbólica e institucional (2002, p. 90).

Perguntamos aos professores o que podemos fazer para combater a violência nas
escolas? Nas palavras do professor 1:

para combater a violência, é necessária uma sensibilização, um processo de


educação nos nossos alunos. Assim existe vários aspectos que nos leva a essa
violência atual, porém é bem difícil, mas totalmente possível. Difícil porque
exige muito de todos os professores e familiares e dos próprios alunos.
Somente com educação, orientação e sensibilização é possível um caminho
melhor (PROFESSOR 1, 2020).

Para o professor 2:

Eu acredito que passa por um trabalho de conscientização e informação para


os alunos, mas também isso referencie-se em conhecimento a realidade do
aluno, e não é fácil conhecer a realidade de cada um. Então para combater essa
violência é necessário que trabalhe com o aluno e conheça a sua realidade que
pode não ser fácil, não é um processo simples e acaba acarretando essas
atividades de violência (PROFESSOR 2, 2020).

Na fala dos professores fica perceptível que para lidar e tentar combater a violência
na escola é necessário um trabalho que perpassa o muro das escolas. A escola deve trabalhar
com temáticas que sensibilizem os alunos a perceber que a escola é um ambiente diferenciado
que poderá transformar a vida de cada um deles. Conhecer a realidade do aluno também é algo
fundamental. Conhecer a realidade de cada aluno permite ao professor saber de onde vem essa
violência que ele sofre ou pratica.
O professor 1 quando perguntado qual o motivo da violência na escola crescer tanto
conta que está relacionado a: “aspectos familiares, políticos e sociais, então é um trabalho muito
profundo que pode auxiliar a um caminho bem longo nesse sentido, acho que precisamos
começar com orientação e educação que deve começar na família” (PROFESSOR 1, 2020).
Já o professor 2, a respeito do crescimento da violência na escola, se expressou da
seguinte maneira:

Querendo ou não, nós não podemos separar escola e sociedade. Cada vez mais
temos a sociedade mais violenta no mundo e isso acaba sendo reflexo também
nas escolas, e não temos como fazer com que o aluno passe do portão e
esqueça toda realidade que o circula, mudando só em atravessar o portão
(PROFESSOR 2, 2020)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 611
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A violência na escola é aumentada, em muitos casos, devido o aluno reproduzir na sala


de aula aquilo que se vivencia em casa, como agressão verbal e física por parte dos pais, no
convívio familiar e até nas ruas. Em ouras palavras, a violência na escola é um reflexo da
violência na sociedade.
Quanto mais violência nas ruas, em casa, na sociedade em geral, mais violência dentro
das escolas. Dessa forma, essas atitudes refletem em ameaças constantes aos educadores, que
por medo muitas vezes se afastam da profissão.

CONCLUSÃO

Com essa pesquisa podemos perceber o quão grave a violência escolar pode ser na
vida dos alunos e dos profissionais da educação. Assim, concluímos que diante de um ambiente
conturbado e vulnerável a escola perde suas características e funções essenciais de educação,
socialização, atividade da cidadania e de desenvolvimento pessoal, por isso devemos sempre
trabalhar a temática em sala de aula, buscando sempre sensibilizar todos os atores da escola.

AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer em primeiro lugar ao CNPq, por financiar o projeto,


garantindo nossa participação.
A universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN), por proporcionar o ambiente tranquilo para assistirmos as atividades teóricas.
Ao Grupo de Pesquisa Contexto e Educação (CONTEXTO) que contribuiu com as
discussões teóricas, ajudando na realização da pesquisa. E aos professores que aceitaram
colaborar com a pesquisa.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, M. et al. Violência nas escolas. Brasília: UNESCO, Coordenação DST/AIDS


do Ministério da Saúde, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça,
CNPq, Instituto Ayrton Senna, UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED,
UNDIME, 2002.

COMO LIDAR COM A VIOLÊNCIA NA ESCOLA?. Escola da inteligência: educação


socioemocional, 2020. Disponível em: https://escoladainteligencia.com.br/como-lidar-com-a-
violencia-na-escola/. Acesso em: 28/08/2020.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 612
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CURRÍCULO E EMANCIPAÇÃO SOCIAL NA EJA: UMA


ABORDAGEM PLURAL
Rayda Cristina Lopes1; Francisco Canindé da Silva²

Palavras-chave: Currículos pensados – praticados. Redes Horizontais. Espaços-tempos.

INTRODUÇÃO

O trabalho é resultante de uma pesquisa desenvolvida a partir do projeto:


Currículos pensados-praticados nos cotidianos da Educação de Jovens, Adultos e Idosos
– EJA: redes horizontais de saberesfazeresvalores, cujos objetivos ficaram assim
estabelecidos: entender os currículos pensados-praticados na EJA enquanto conjunto de
ações plurais tecidas no coletivo da escola; capturar, pelos movimentos metodológicos
assumidos no projeto, práticas curriculares emancipatórias na EJA; relacionar os diversos
saberesfazeresvalores produzidos nos cotidianos da EJA com a reflexão teórica proposta,
em escolas da rede estadual e municipal de ensino em Assú/RN.
Para que pudéssemos compreender e refletir quanto aos espaçostempos
cotidianos das escolas, inicialmente selecionamos como referencial teórico, concepções
de conhecimento e emancipação social inscritos no paradigma emergente das ciências
contemporâneas (SANTOS, 2002, 2009). Além do referido autor, também selecionamos
para nossa reflexões acerca dos conhecimentos percebidos-destacados (FREIRE, 2002);
e Andrade, Caldas, Alves (2019). A partir de seis movimentos teórico-metodológicos
considerados relevantes às pesquisa nosdoscom os cotidianos. Trata-se de um outro olhar,
ou outro modo de pensar as práticasteórias, pois considera outras experiências dos
sujeitos, percebendo além do já sabido, compreendendo estes espaços enquanto
movimento produtor de múltiplos saberes.
Fundamentando-nos em Santos (2002, 2009), entendemos que o paradigma
dominante vem operando no contexto social e educacional escolar, no sentido de tornar
o conhecimento dual – certo/errado; bom/ruim; eficiente/deficiente etc. Esse paradigma
reflete-se na organização curricular das escolas por meio da organização disciplinar, do
tempo de aulas fracionado, dos valores morais assumidos e outras questões de ordem
técnica. Ao contrário, o paradigma emergente busca superar o cientificismo nascido com
a ciência da natureza no século XVI. Trata-se de um projeto sociológico pós-moderno,
cuja marca da construção de conhecimentos é a solidariedade que ocorre por meio das
múltiplas redes de saberesfazerespoderes e lutas. Neste paradigma, a preocupação tem
sido com a desinvizibilização de saberes não-autorizados ou não reconhecidos como
saberes de valor, pois acontecem em espaçostempos não-autorizados pela ciência
moderna, e por isso não reconhecido como modo de saber.
Dessa maneira, buscamos compreender como vem sendo fabricado os
saberesfazeres nos cotidianos da EJA, para além das normas e regras que estão impostas
para os alunos especificamente para o público desta modalidade.
No contexto da abordagem metodológica qualitativa, assumimos as pesquisas
nosdoscom os cotidianos, apoiando-nos nas reflexões teóricas de Oliveira (2012), para a

1
Estudante do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Departamento de Educação, Campus Avançado da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) em Assú. E-mail: raydalopes@hotmail.com
² Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (POSEDUC) e do Curso de Pedagogia, Campus
Avançado da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) em Assú. E-mail:
caninprof@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 613
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

qual trabalhar qualitativamente refere-se a pensar o cotidiano não apenas fisicamente,


mas perceber como nesses espaçostempos são produzidos diversos outros saberesfazeres
que estão invisibilizados por uma ordem hegemônica social.
Para nossa pesquisa sobre currículos pensados-praticados nos cotidianos da EJA,
estabelecemos incialmente as seguintes etapas: Realizar um mergulho profundo e com
todos os sentidos nos cotidianos desta modalidade educativa, percebendo-destacando nós
que articulam as redes horizontais de saberesfazeresvalores; Relacionar com diferentes
fontes, os percebidos-destacados nos/dos/com os cotidianos da EJA, reconhecendo e
potencializando-os como conhecimento socialmente traduzível de emancipação;
Construir, em simbiose com as práticas pedagógicas cotidianas, recomendações e
reflexões possíveis ao campo do currículo na EJA.

METODOLOGIA
No primeiro momento realizamos a seleção dos referenciais teóricos-
metodológicos, especificamente com (SANTOS, 2002, 2009), (ANDRADE, CALDAS,
ALVES, 2019) e (FREIRE, 2002), destacando de cada um dos referidos autores, as
concepções de conhecimento.
Simultaneamente, selecionamos 01 escola da rede estadual que trabalha com a
modalidade educativa e de ensino – EJA como campo de pesquisa. Realizamos apenas
uma visita na abertura da Semana Pedagógica da referida escola. Logo após, não foi mais
possível retornar em função do momento de Pandemia do COVID-19.
Para realização dos mergulhos com todos os sentidos nos cotidianos da escola
(ALVES, 20080, prevíamos o Diário de Pesquisa para que pudéssemos registrar nossas
visões, como sentimos e as impressões que construímos. Nosso intuito era o de perceber
nesses espaçostempos os inéditos-viáveis freireanos e produzir outros
conhecimentossignificações (ANDRADE, CALDAS, ALVES, 2019).
A partir da reflexão teórica de Andrade, Caldas, Alves (2019) discutimos 06
movimentos metodológicos, a saber: (i) O sentimento de mundo; (ii) Ir sempre além do
já sabido; (iii) Criar nossos personagensconceituais; (iv) Narrar a vida e literatizar a
ciência; (v) Ecce femina; (vi) A circulação dos conhecimentossignificações. A partir
destes procedimentos metodológicos e inviabilizados pelo momento de pandemia,
optamos por trabalhar dois movimentos: ir além do já sabido e criar nossos personagens
conceituais, fazendo leitura dos textos por meio de reuniões, incialmente presenciais e
logo em seguida, virtualmente por meio do Google Meet.
A realização das leituras dos textos teóricos selecionados propiciou reflexões
quanto ao pensar a Educação de Jovens, Adultos e Idosos – EJA para além dos currículos
pensados de cima para baixo. Principalmente reconhecendo saberes produzidos por estas
pessoas jovens, adultas idosas na sua comunidade, fora dos espaços escolares, e de como
isso pode relacionar-se ao currículo.
Continuamente, elaboramos resumos/resenhas compreendendo como são
pensadospraticados os cotidianos das escolas de EJA enquanto espaço plural, rompendo
com a dicotomia micro e macro análise.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A pesquisa realizada a partir de uma abordagem plural possibilitou compreender
para além dos aspectos que quantificam ou selecionam os sujeitos como os que sabem e
os que não conseguem aprender. Considerando que existem outros tantos conhecimentos
decorrentes de outros saberes produzidos em diversos contextos sociais, entendemos que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 614
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

os currículos devem ser considerados enquanto conhecimento válido, visto que estas
outras experiências estão implicados na aprendizagem dos sujeitos.
A não valorização ou o não reconhecimento desses outros saberes produzidos
em espaços diferentes implica desvalorizar crenças e valores sociais em que essas pessoas
estão inseridas e assim uma fragmentação com a realidade vivida pelos sujeitos. Além
disso, significa enquadrá-los em um contexto estrutural que mais tem por objetivo moldar,
classificando-os enquanto aqueles que tem capacidade para aprender e aqueles que não
conseguem aprender, ou ainda, os que querem e os que nada querem.
Reconhecer essas práticas, saberes e acontecimentos cotidianos na Educação de
Jovens, Adultos e Idosos tem se tornado possível, mais amplamente, com as pesquisas
nosdoscom os cotidianos, pois existe a possibilidade de diálogo com diversos sujeitos em
seus movimentos inusitados e complexos.
De acordo com (ANDRADE, CALDAS, ALVES, 2019) os espaçostempos da
pesquisa não estão limitados apenas ao que está institucionalizado, e por isso exige
entendê-las entre as muitas teorias as quais temos a disposição ressignificando o que
sabemos com a realidade que encontramos nesses espaços.
Para Santos (2009) existem diversas práticas sociais que estão invisibilizadas
pelo saber hegemônico da ciência moderna como conhecimento matematizado e
estrutural. Estes, enquanto conhecimentos universais de caráter probabilístico,
aproximativo e provisório é considerado como conhecimento estruturalmente limitado
pois excluem outros conhecimentos/saberes que estão fora dessa lógica.
A partir dessa compreensão, sendo o saber científico moderno um saber
hegemônico, absoluto e considerado como único e válido passamos a compreender a
necessidade de revalorização do saberes ditos vulgares ou não válidos que também
acontecem nas mais diversas situações e espaços, denominado por Santos (2009) de
conhecimento prudente para uma vida decente.
Santos (2009) na discussão feita acerca do paradigma emergente afirma que
todo o conhecimento da comunidade foi negligenciado e esquecido por não ser um
conhecimento da ciência cognitiva instrumental. Embora negligenciado, esse
conhecimento solidário continuou a emancipar os sujeitos em suas relações cotidianas. A
ciência moderna passou a desconsiderar o sujeito enquanto ser pensante, ou seja, que
produz experiência. Para o autor, todo conhecimento é autoconhecimento, sujeito/objeto
são produzidos simultaneamente.
Quando relacionamos a reflexão a educação especificamente para o público da
EJA compreendemos que os saberes cognitivos-instrumentais não podem dar conta da
pluralidade dos saberes, dos valores decorrentes dos diversos espaços e situações em que
vivem esses sujeitos, assim como os outros saberes que estes produzem.

CONCLUSÃO
A pesquisa realizada com fundamentos nos estudos dos cotidianos possibilitou
pensar os espaçostempos da EJA como lugar de múltiplas aprendizagens e não apenas
como espaço em que as pessoas vão apenas como receptores de conhecimentos, mas
enquanto produtores de conhecimentos, e a escola como lugar de cruzamento de práticas
que se ressignificam de acordo com as necessidades do público.
Trabalhar com a EJA tomando por base os estudos nosdoscom os cotidianos
implica entender que todas as vivências dos sujeitos, alunos e professores são tecidas na
interação com as múltiplas histórias, sonhos e projetos de vida destas pessoas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 615
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Nesse sentido, os currículos pensadospraticados (OLIVEIRA, 2012) atendem e


acolhem melhor a diversidade do cotidiano ⸻ sabores, cheiros, gestos, sinais, indícios,
saberes da tradição e o conjunto das experiências traçadas ao longo da vida.

AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
À Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPEG) da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte.
Ao Programa Institucional de Iniciação Cientifica (PIBIC) da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte.

REFERÊNCIA
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
ANDRADE, Nívea; CALDAS, Alessandra Nunes; ALVES, Nilda. Os movimentos
necessários às pesquisas com os cotidianos – após muitas ‘conversas’ acerca deles. In:
OLIVEIRA, Inês Barbosa. PEIXOTO, Leonardo Ferreira. SUSSEKIND, Maria Luiza.
Estudos do cotidiano, currículo e formação docente: questões metodológicas, políticas
e epistemológicas. Curitiba: CRV, 2019.
OLIVEIRA, Inês Barbosa de. O currículo como criação cotidiana. Petrópolis, RJ: DP
et Alii; Rio de Janeiro: FAPERJ, 2012.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das
emergências. Revista Crítica de Ciências Sociais. n. 63, p. 237-280, out. 2002.
Disponível em www.boaventuradesousasantos.pt . Acesso em: 23 mar. 2020.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a
política na transição paradigmática. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2009.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 616
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CURRÍCULO POR ITINERÂNCIA: O CINEATRO COMO ENTRE-


LUGAR DE FORMAÇÃO DE PROFESSOR

Antonio Alves de Oliveira Neto1; Cláudia Maria Felício Ferreira Tomé2

Palavras-chave: Extensão; Formação; Itinerância; Cineatro

INTRODUÇÃO
É objetivando pensar o processo formativo de licenciandos em língua portuguesa a
partir do projeto de extensão Cineatro que pontuaremos como dar-se-á uma experiência de
currículo itinerante, fora das salas de aula, diferenciando-se de metodologias tradicionais,
porém não menos importantes.
O Cineatro nasce no ano de 2018 com a chegada da professora Beatriz Pazini Ferreira
ao Campus Avançado de Patu - CAP, visando desenvolver atividades teóricas e práticas de
cinema e teatro. Seu lócus de atuação inicialmente é no campus em uma cidade do interior,
Patu, com apenas 11.964 habitantes3, onde observando os dois turnos de funcionamento
pouco ou nada se podem ver fora dos horários das aulas e de uma rotina institucional e
acadêmica da tríade professor-sala-aluno. Dito isto, é primordial pensar que o ensino e o
processo de formação não estão restritos a uma sala, carteiras e quadro, por mais que a
modernidade tenha produzido modelos a serem seguidos e considerando a importância dessas
fabricações. Para Veiga-Neto (2002, p. 172)”, se, por um lado, é o currículo que dá a
sustentação epistemológica às práticas espaciais e temporais que se efetivam continuamente
na escola, por outro lado, são as práticas que dão materialidade e razão de ser ao currículo.
Vale salientar, que no contexto atual, as insatisfações perante o momento que um
governo de extrema-direita assume o país, de afloramento de preconceitos e discriminações, o
Cineatro, como um espaço de contestação, trouxe debates e discussões de cunho social,
questionando o status quo da conjuntura atual no âmbito do CAP, rompendo com a lógica de
que a formação se dá somente no espaço da sala de aula. Isto porque é enganosa a distinção
entre o saber ensinado e o saber vivenciado, caso aceitasse essa afirmação, não faria sentido o
termo comunidade escolar, muito em voga nas escolas públicas que adotaram as gestões
democráticas, uma vez que, os saberes escolarizados estão imbuídos de experiências,
vivências individuais e coletivas, o que permeia o que está dentro, Macedo (2006), critica tal
distinção dizendo da sua recusa em aceitar distinções entre o currículo formal e o vivido. Para
ela “a produção dos currículos formais e a vivência do currículo são processos cotidianos de
produção cultural, que envolvem relações de poder tanto em nível macro quanto micro. Em
ambos são negociadas diferenças.
Não à toa que a cada mudança de políticas sociais e diretrizes educacionais afetam
diretamente as universidades, como vêm acontecendo ultimamente. Entre questionamentos
sobre o real serviço prestado pelas instituições de ensino superior, negação da cientificidade

1
Graduando em Letras e suas respectivas literaturas pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, e-
mail: antonioalvesuern@gmail.com.
2
Orientadora do projeto de pesquisa Tornar-se Professor Na Itinerância: Projetos Formativos e Atribuição de
Sentidos à Formação. Prof. Doutora do Departamento de Letras, do Campus Avançado de Patu, da universidade
do Estado do Rio Grande do Norte. Líder do Grupo de Pesquisa Ensino, Literatura e Linguagem. E-mail:
claudiatome@uern.br.
3
Informação obtida no site do IBGE. Para mais informações, acesse https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rn/patu

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 617
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

na atuação dos cursos de graduação, principalmente as licenciaturas, nos deparamos com duas
problemáticas que norteiam esse trabalho: Como projetos de extensão itinerantes impactam
no processo ensino e aprendizagem e como eles se configuram currículos formativos?
Pensando não em responder a tal questionamento, mas antes problematizar currículo como
restrito ao ensino, esta pesquisa buscou analisar como o currículo é produzido nas relações
entre os sujeitos, concebendo-o como elástico, móvel, líquido, que escorre por entre as mãos
da formalidade, da institucionalidade e da burocracia que a universidade representa.
Assim, pensamos ser potente para a formação do licenciando para a formação do
licenciando, a atuação no projeto de extensão Cineatro, quer seja nas escolas, nas ruas e/ou
nos corredores do campus, quer seja, de forma virtual mediante a dinâmica de isolamento
social imposta pela pandemia da COVID 19.

METODOLOGIA
O presente estudo consistiu em uma pesquisa qualitativa do tipo participante numa
perspectiva pós-crítica que permitiu contar com os constructos teóricos de Paraskeva (2001,
2018) e sua contribuição mediante a defesa de uma Teoria Curricular Itinerante, de Macedo
(2006), ao conceber currículo como espaço-tempo de fronteira cultural, prática de
significação, de Butler (2018) ao considerar a participação política popular fora dos espaços
institucionais de poder, dentre outros teóricos.
O movimento da pesquisa partiu da interação entre os membros do projeto em
aplicativos Whatsapp, a rede social Instagram e a plataforma digital Youtube. Mais
especificamente lançamos de perguntas aos membros do Cineatro através de um grupo de
whatsApp, a saber um grupo focal online. As perguntas versaram em torno da participação
dos licenciando e as significações produzidas com tal participação para a sua formação no
projeto de extensão Cineatro. Dessa forma, o grupo contava com a participação de 12
integrantes de cursos como Letras e Pedagogia e tendo a nossa mediação nas interlocuções
propostas, como pesquisador e integrante. Além disso, foi possível acompanhar in loco
diversas atividades desenvolvidas fora do espaço universitário, tais como a exibição de filmes
em instituições escolares e a encenação de peças teatrais em diferentes espaços públicos da
cidade.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Nas escolas nas ruas campos construções


Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem vamos embora que esperar não e saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer
(Geraldo Vandré – Pra dizer que não falei das flores)

Antes de qualquer coisa, precisamos ponderar a atuação do projeto Cineatro, bem


como sua dinâmica que move e se movimenta, estabelecendo uma profícua correlação com a
música eternizada na voz de Geraldo Vandré nos tempos de Chumbo vivenciado pelo Brasil
entre 1964-1985 e utilizada aqui como epígrafe. A repressão, a violência, seja física ou não, o
silenciamento entorno daquele contexto histórico adentrou as instituições de saber e poder,
como as universidades. Momento que prevalecia o ensino reprodutor-tecnicista, onde o aluno
não era visto como agente participante da educação e sim como mero espectador.
Entendendo que o currículo é prática de significação, não é possível ser aprisionado
nos bancos das universidades, ele perpassa os corredores, a cantina, a biblioteca, a praça, as
ruas, as casas. Veiga-Neto refletindo sobre currículo e diferenças nos diz que “temos ainda
uma outra consequência no que se pode chamar de volatilidade, esse estado de contínua

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 618
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mudança, essa crescente leveza do ser, essa sensação de instabilidade em que só é constante a
própria inconstância. (2002, p. 174).
As necessidades, obstáculos e conquistas no campo educacional mudam de acordo
com as transformações histórico-sociais, considerando a dinâmica que envolve esses lugares,
como a universidade, que também forma aqueles que buscam somente o diploma, por mais
paradoxal que seja, também é espaço antisistêmico, segundo uma das falas dos participantes
do Cineatro

[...] Acredito que não foi fácil chegar até os dias de hj, enfrentando diversos
impasses, sendo atacados por todos os lados, sim, pq o teatro também sofre
diversas provocações. E desde que estou fazendo parte desse projeto, eu vejo
as lutas diárias para que continue existindo. Então, eu vejo o cineatro como
lugar de luta e de resistência!

Os corpos se aglutinam para expor suas pautas que não seriam sequer ouvidos nos
espaços comumente considerados legítimos (os conselhos deliberativos, as plenárias
departamentais) onde mesmo em conjunto as vozes não teriam força e nem validade,
formando assembleias, conforme Butler, "quando as multidões se reúnem, o que está em jogo,
aquilo pelo que se luta, é justamente o caráter público do espaço" (2018, p. 75). Mesmo em
meio à precariedade que uma parcela de discentes se enquadrem, é ela que os unem e os
fazem sentir a noção de pertencimento e laços de identidade, enquanto sujeitos políticos e
solidários que desejam para além da padronização de um currículo fechado, discutir e exercer
a política, religião, filosofia, artes, abordagens que por vezes as ementas disciplinares não
conseguem abarcar.
As artes, seja o cinema, seja o teatro, desde as civilizações clássicas foram
instrumentos de problematizações que nos fazem sair do lugar comum e buscar o senso
crítico. O que não seria currículo para alguns modelos traçados por Saviani (2001), com a
possibilidade de estudo do projeto de extensão Cineatro apontamos que o currículo é a aula
expositiva, mas também são os seus deslocamentos, suas movimentações para além dos
murros e das construções físicas. Assim destaca uma integrante do projeto:

O teatro contribui de forma significativa para nossa vida pessoal e


profissional, nos da um entendimento de mundo mais amplo, ele nos faz
refletir sobre nosso comportamento perante a sociedade, podemos levar para
o público críticas sócias de forma satírica. Também gera um conhecimento
entre os colegas, nos ensina a trabalhar no coletivo, nos ensina a sentir
emoções em consonâncias. Ele nos dá a oportunidade de termos uma maior
conexão com os outros. Sem falar que conseguimos enxergar coisas que
outras pessoas não veem, nos tornas sensíveis, além de promover em nós
uma visão crítica sobre determinados assuntos.

O sistema de ensino que busca limitar e controlar as práticas e ações do professor e do aluno,
que inscreve e escreve o currículo em documentos oficiais como se fosse possível generalizar o
processo ensino-aprendizagem e tornar única a formação, vai escapando através da itinerância, do
andar, do agir, do encenar, do debater e do questionar no entre-lugar da formação, a saber, o Cineatro.
No tocante a esse mote, Parakesva e Süssekind nos dizem que
São as tessituras de emancipação cotidianas desinvisibilizadas diante da
cegueira ocidental eugênica machopatriarcal que nos fazem caminhar na
construção de um mundo outro possível, para além do capital e do
colonialismo em que possamos vivenciar a emancipação humana. Para tanto
é preciso criar, nas pesquisas e nos cotidianos, conhecimentos e currículos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 619
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

rebeldes, itinerantes, rompendo com o conformismo e a acomodação (2018,


p.71).

São iniciativas como a do Cineatro, mesmo em meio às críticas e descrédito no


percurso da caminhada, que provocam a reflexão e a problematização se o ensino pode ser
enclausurado entre quatro paredes e preso a uma camisa de forças, limitando o processo de
formação que vai além de provas e notas, como a meritocracia nos quer fazer acreditar.
CONCLUSÃO
É notória a diferença na desenvoltura de participantes do Cineatro em atividades que
requer exposição e participação em público, bem como discussão e debates com temáticas
sociais, históricas e que envolvam as artes. No que concerne à formação desses futuros
profissionais, entendemos que isso permitiu produzir currículo na itinerância e, porque não
dizer, nos entre-lugares de formação.
Compreendemos, portanto, que estamos diante de um currículo contestador da
normalidade das coisas, para o qual a sala de aula não satisfaz as aspirações e as preocupações
do ser professor, assim como, as metodologias convencionais a seu serviço estão longe de
conter os anseios, em uma sociedade que cada vez mais requer que o professor se inove e
renove, abandonando o modelo apático e antiquado em frente a uma lousa.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de (com)partilhar conhecimento, leituras e


por ter aberto essa porta em uma área tão diferente pra mim. Deixo meu reconhecimento à
professora Cláudia Tomé por ter conduzido tão bem o projeto, apesar de todos os momentos
difíceis que atualmente vivenciamos. E por fim, mas não menos importante, as minhas
colegas Neta e Luciana por serem tão amigas e companheiras até o último momento dessa
Iniciação Científica. Ao meu colega “Bilu” que mesmo em meio as suas necessidades, nunca
duvidou os cuidados do seu notebook a mim, obrigado por ser um amigo de todas as horas,
sem você esse artigo não seria possível.
REFERÊNCIAS

BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria
performativa de assembleia. 1ª ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
MACEDO, Elizabeth. Currículo como espaço-tempo de fronteira cultural. Revista
Brasileira de Educação, n. 11, p. 285-296, 2006.
PARASKEVA, João M; SÜSSEKIND, Maria Luiza. Contra a cegueira epistemológica nos
rumos da teoria curricular itinerante. Revista Educação e Cultura Contemporânea, v. 15, n.
39, 2018.
PARASKEVA, João, M. Teoria curricular itinerante: desafios a involução curricular. In:
TOMÉ, Claudia; MACEDO (Org), Elizabeth. Currículo e diferença: afetações em
movimento. Curitiba, CRV, 2018.
VEIGA-NETO, Alfredo. De Geometrias, Currículo e Diferenças. Educação & Sociedade,
ano XXIII, n. 79, p. 163-186, 2002.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 620
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DA DESORBITAÇÃO À ESPERANÇA EM GABRIEL MARCEL

Karla Janayna Mendes Cruz 1; Marcos Érico de Araújo Silva.2

Palavras-chave: Ser; Desorbitação; Niilismo; Esperança.

INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é o resultado final do plano de trabalho “A metafísica da esperança
como resposta à desorbitação niilista do homem contemporâneo” oriundo do projeto “A LUTA
CONTRA O FENÔMENO DO DESESPERO OU NIILISMO NA
CONTEMPORANEIDADE: Kierkegaard e Gabriel Marcel contra a metafísica tradicional”,
projeto esse pertencente ao Programa Institucional de Iniciação Cientifica – PIBIC, edição
2019/2020, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –UERN. Esta produção tem
como base principal, a obra, O Homo viator: prolegômenos para uma metafísica da esperança
(Homo viator: Prolégomènes à une métaphysique de l'espérance) de 1945, e como obra
secundária, Aproximação ao mistério do ser: posição e aproximações concretas ao mistério
ontológico (Position et Approches concréts du Mystére ontologique) de 1949, ambos os textos
do filosofo francês, Gabriel- Honoré Marcel (1889-1973).
É importante ressaltar a importância que é atribuída ao programa de iniciação cientifica.
Esse tipo de projeto é responsável por aproximar os alunos com textos clássicos e o desafio da
leitura e interpretação de textos filosóficos e o desenvolvimento da pesquisa propriamente
filosófica. Este projeto em especifico, traz em evidencia o filosofo francês Gabriel Marcel, um
filósofo ainda pouco conhecido no Brasil, mas que possui certa influência na história da
filosofia, toda a discussão feita por Marcel, se dará na perca do sentido do “SER” do homem
contemporâneo, trazendo desse modo a reafirmação da problematização das questões
filosóficas.
Nossa pesquisa é iniciada diante do objetivo de investigar o desespero como sendo a
situação do homem contemporâneo, que dizer, como niilismo enquanto resultado de um modo
abstrato que a tradição compreendeu a metafísica possibilitando, em contraposição, repensar o
homem e a metafisica de forma concreta apontando saídas para o desespero. Compreender o
contexto contemporâneo da metafísica como niilismo. Analisar o contexto e situação do homem
contemporâneo como vivendo a experiência da desorbitação e por fim investigar em que
consiste a metafísica da esperança como saída da desorbitação.

1
Estudante do Curso de Licenciatura em Filosofia, Campus Caicó-CaC/UERN. Bolsista do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC), membro do Grupo de Pesquisa “Ensinar e aprender na educação
básica”, membro do grupo de pesquisa (DGP/CNPq): Núcleo de Estudos em Fenomenologia, Hermenêutica e
Mística. E-mail: karlaletras2014@gmail.com
2
Professor Adjunto IV, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Curso de Licenciatura em
Filosofia e do Mestrado Profissional em Ensino de Filosofia – PROF- FILO (Polo Caicó-UERN), Líder do grupo
de pesquisa (DGP/CNPq): Núcleo de Estudos em Fenomenologia, Hermenêutica e Mística. E-mail:
marcoserico@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 621
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da pesquisa faremos uso de traduções espanholas de duas


obras de Gabriel Marcel, pois ainda não existe traduções do pensador na língua portuguesa.
Usamos como metodologia, a técnica hermenêutica, possibilitando assim a introdução e o
desenvolvimento da pesquisa filosófica. Nos dedicamos ao estudo dos textos, Aproximación al
misterio del Ser: posiciones y aproximaciones concretas al mistério ontológico e Homo viator:
prolegômenos para uma metafísica da esperança, realizando leitura analítica e discursiva sobre
o pensamento filosófico de Marcel.
Por possuir planos diferentes de trabalhos e ser base do desenvolvimento monográfico,
a pesquisa foi realizada de modo individual, contando com a participação do orientando e
orientador. Os encontros foram realizados semanalmente e foram divididos dinamicamente em
três etapas, 1) leitura hermenêutica; 2) discussão crítica de dificuldades interpretativas do texto
e produção textual; e, por fim, 3) apresentação de comunicação oral de texto escrito.

RESULTADO E DUSCUSSÃO

Antes de apresentar qualquer definição, Marcel coloca como eixo central e norteador
de sua argumentação, a personificação da figura do homem contemporâneo, um homem que
está perdido e desconfigurado com o seu sentido da vida. Em todo o seu texto o filósofo faz uso
de exemplos para um melhor entendimento dos leitores. Desse modo é feito a idealização desse
homem problemático que nos ajudará em caráter experiencial a compreender o seu cenário
argumentativo.

[...] eu gostaria de apresentar primeiro um tipo de personagem abordagem


global e intuitiva de um homem que falta o sentido ontológico, o sentido de
ser, ou melhor, que ele perdeu consciência de possuir [...] Parece-me que a era
contemporânea é caracterizado pelo que pode ser chamado, indubitavelmente,
desorbitação da ideia de função; Eu tomo aqui a palavra função em seu
significado inteiramente geral, aquele compreende ambas as funções vitais e
as funções sociais. (MARCEL, 1955, p. 11, tradução nossa)

Diante de toda a conjuntura da sociedade contemporânea, o autor apresenta uma


preocupação especial a funcionalidade que toma uma grande proporção na construção da
sociedade e essa, por sua vez, interfere diretamente na vida humana. Marcel não condena as
funções, desde que elas estejam em suas devidas finalidades, a funcionalidade do fazer, mas o
que acontece é além, as funções aqui são confundidas com o ser. Entregue a mecanização o
homem contemporâneo se encontra de modo desprogramado com si mesmo, como podemos
ver na citação a cima, que lhe falta o sentido ontológico. O homem está, então, com o sentido
de seu ser adormecido e que inconscientemente perdeu a ciência de possui-lo, lhe falta
reconhecimento de si mesmo e isso lhe coloca em um sentimento de angústia. O ser não é algo
externo ao homem, é próprio dele, habita nele, mas diante da configuração apresentada, o ser e
o homem estão em desconexão e segundo Marcel isso se dará pelo aprisionamento na ideia de
função.
Marcel apresenta-nos o envolvimento do homem em suas atividades cotidianas e o
modo ao qual esse homem se prende a sua própria vida. Mas, mesmo que apreendido de modo
vicioso à vida, ele está desconectado com o sentido dela mesma, ou seja, este não se encontra
ligado com o sentido da vida. Como nos dirá Silva (2019, p. 83) está desprendido de sua
capacidade reflexiva sobre a vida “[...] Entenda-se por perda da capacidade reflexiva, o

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 622
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

processo de abstração da consciência que o homem precisa ter sobre si mesmo, suas relações
intersubjetivas e sua realidade em geral”. De forma mais clara compreendemos então o que
Marcel chama de desorbitação, quer dizer, esse movimento de perda da capacidade de refletir
sobre si, sobre a sua plenitude enquanto ser.
O filósofo francês nos atentará para um detalhe: o homem por mais irreflexivo que
esteja, ele terá forças internas que poderão ajudá-lo a resistir ao desespero. Essa força Marcel
chamará de poderes secretos, mesmo em desespero essa energia emanada internamente no
homem o alertara para o pleno, fazendo o mesmo questionar diante desse vazio que o inquieta.

O homem agonizante, para poder superar sua morte, deve ser valente e
enfrentar o seu próprio envelhecimento interior, porém ao voltar-se para sua
intimidade, buscando encontrar essa força, que lhe ajude a superar a agonia,
descobre que é um ser problemático para si mesmo, um ser que é uma pergunta
por si mesmo. (CARVALHO, 2019, p. 70-71).

Apenas o homem pode questionar sobre si, e também apenas ele poderá obter respostas.
Marcel colocará então o niilismo como o envelhecimento do homem, sobretudo o
envelhecimento da alma, “o niilismo, longe de ser algo positivo, é simplesmente a decadência
do homem contemporâneo” (MARCEL, 1979 apud CARVALHO, 2019), mas o homem pode
lutar e assim vencer o seu envelhecimento. Para que haja essa libertação é preciso que o homem
se reconheça, questione a sua postura, lute para superar o niilismo, tenha esperança e abandone
o pessimismo. A originalidade de Marcel, além de capturar este fenômeno no que designou de
desorbitação, encontra-se situado no modo como encaminha uma tentativa de solução ou de
abertura para a libertação do homem pela via do acesso ontológico ao mistério do ser. A
filosofia marceliana se destaca, pois, pela retomada da perda do sentido do ser no homem
contemporâneo.
O pensamento marceliano estende-se como uma longa colcha de retalhos que vão
sendo encaixadas e costuradas uma a uma. Marcel faz de suas obras tal como a colcha citada a
pouco, ideias e conceitos vão se unindo e formando o seu pensamento. De modo geral, sua
filosofia é construída e continuada, a cada nova obra com um novo complemento de seu
pensamento filosófico aprofundando sempre a mesma questão, a saber, a experiência de
desorbitação, de estar em cativeiro, em desespero e a libertação ou abertura para a esperança,
para o mistério do ser. Trazemos, então, como foco da presente pesquisa, o ser em desconexão
com o seu real sentido. Por conseguinte, o filosofo analisa a situação do homem contemporâneo
em seu estado de desorbitação. Tal discussão se estenderá para a obra do “Homo Viator”
(homem a caminho, em caminho, peregrino), onde Marcel continuará sua discussão apontando-
nos uma saída por meio da metafisica da esperança.
Marcel tratará, então, da experiência da existência humana como um ser ou estar cativo.
Marcel diz: “[...] quanto menos se experimenta a vida como cativeiro, menos será a alma capaz
de ver esta luz velada e misteriosa brilhar, [...]” (2005, p. 44, tradução nossa), entendemos então
que quanto mais o homem experiencia esse estado de cativeiro, de uma vida em cativeiro, mais
ele será propenso a conectar-se com a luz da fé, com a experiência da fé (creio) referindo-se a
esperança como luz da vida, como o sopro que trará o homem de volta a recuperar o sentido da
vida. Desse modo Marcel diz que mesmo que ainda não esteja visível, a alma olhará para a luz,
guiada pela esperança que lhe arrancará da escuridão ao qual se encontra. Mas seja o homem
em desorbitação ou em estado cativo (que ambos se referem a mesma situação), só será possível
a libertação, ou melhor, só será possível recobrar consciência do sentido do ser a partir da
esperança se o homem for exposto a tentação do desespero. Desse modo a esperança será a
interventora, acarretando de tal modo a superação do desespero, e, assim, de forma vitoriosa, a
recuperação do sentido do ser no homem.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 623
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONCLUSÃO

Os problemas filosóficos se estendem por toda história da filosofia, o que é novo, ou


soa como tal, são os novos olhares que são arremessados para essas problemáticas. Olhares
esses que permitem novas perspectivas e novas discussões acerca de um tema nada novo. E
essa é a grandeza da pesquisa, a possibilidade de adentrar ainda mais fundo nos caminhos
filosóficos e romper as barreiras e limitações da sala de aula. O presente trabalho carrega
consigo a grande importância do desenvolvimento de pesquisas no meio acadêmico, a
aproximação dos discentes com um “novo filósofo”, novas ideias e novos caminhos. Permitiu,
além do mais, a curiosidade e o interesse de dar continuidade com os estudos, passando a ser,
uma pesquisa monográfica.

AGRADECIMENTOS

Ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) pelo trabalho


desenvolvido em apoio e incentivo a iniciação cientifica e especialmente a Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte por todo o apoio dado para o funcionamento do respectivo
projeto, assim como o financiamento da mesma.

REFERÊNCIA:
CARVALHO, Genival Oliveira. A filosofia de Gabriel Marcel: Esperança no Tu Absoluto
como Fonte Suprema de Consciência e Sentido da Vida. Porto Alegre: Editora Fi, 2019.
Disponível em: < https://www.editorafi.org/643gabrielmarcel > Acesso em: 10-10-19
MARCEL, Gabriel. Aproximación al misterio del Ser: posiciones y aproximaciones
concretas al mistério ontológico. Traducción, prólogo y notas de José Luis Cañas. Madrid:
Ediciones Encuentro, 1987.

_______. Homo viator: prolegômenos para uma metafísica da esperança. Traducción Maria
José de Torres. Salamanca: Ediciones Sígueme, 2005.

SILVA, Ezir George. O filósofo em tempos sombrios: participação e aproximações concretas


do sentido ontológico. In: Trilhas Filosóficas: Dossiê em comemoração aos 130 anos do
nascimento de Gabriel Marcel, v. 12, n. 3, Edição Especial, 2019, p. 85-103, Ano 2020.
Disponível em: < http://natal.uern.br/periodicos/index.php/RTF/issue/view/101 > Acesso em:
14-09-2020

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 624
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DEMOCRACIA EM REDE: DA MODULAÇÃO DE


COMPORTAMENTO À POLARIZAÇÃO POLÍTICA NA WEB

Gleicy Kelly de Morais Lopes1; Telmir de Souza Soares2

Palavras-chave: Mídias Sociais. Ações Políticas. Ciberespaço.

INTRODUÇÃO
Diante à forte influência da mídia sobre a sociedade atual é notório que as redes
sociais, um meio que permite o compartilhamento de informações entre pessoas ou
empresas, proporcionam, hoje, um natural controle sobre o ser humano. Esse controle,
em geral, é fomentado devido ao indivíduo que, por si mesmo, se expõe e se submete a
esse controle e, isso acontec, quando o sujeito preenche, por exemplo, formulários de
login nas variadas plataformas de comunicação, fornecendo voluntariamente suas
informações pessoais.
As informações prestadas nas redes são consideradas um produto, isto é: o próprio
indivíduo transforma-se em produto num mercado onde tudo se vende e tudo se compra.
O filósofo coreano, Byung-Chul Han, no seu texto Psicopolítica, denomina em um dos
seus capítulos, a “Big Data”, que representa um sofisticado mecanismo de controle
alimentado com informação pessoal pelo próprio indivíduo. Essa livre circulação de
informações pessoais gera no ser humano um “pan-óptico”, onde tudo está transparente
e visível por todos os elementos. Seria esse um modelo de prisão, onde se pensa estar em
liberdade.
Nesses últimos anos, diversos estudos foram realizados constatando que há, no
ciberespaço, uma certa vigilância digital embutida atrás de toda essa tecnologia, o que
coopera com a modulação do comportamento dos indivíduos. A ferramenta do filtro
invisível, como denominou o autor Eli Pariser, tem levado os indivíduos para um caminho
mais isolado nas redes, pois a seleção de um conteúdo específicos para cada sujeito,
restringe ainda mais suas visões de diversidade, que o leva a se predispor de uma maior
intolerância a opiniões contrárias as suas. Esse mecanismo tem influenciado bastante os
usuários das mídias, especialmente no que diz respeito às suas posições políticas já que,
nos últimos anos, o cenário digital tem sido considerado como o grande foco da política
em geral, considerando que a internet facilitou o acesso à informação e,
consequentemente, à atuação política dos indivíduos. À vista disso, o que se tenta
investigar nesta pesquisa é como, através da observação camuflada dos algoritmos nas
ações dos sujeitos, vem sendo influenciando o comportamento e posições políticas dos
indivíduos nos últimos tempos.

1
Estudante do curso de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte; e-mail: gleicykm@outlook.com.
2
Professor do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Líder do
Grupo de Pesquisa Democracia em Rede; e-mail: telmir@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 625
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada através de investigação bibliográfica e, em meio às
variadas obras selecionadas para a pesquisa foi discutido, em reuniões temáticas, teorias,
comentários que abordassem a temática principal proposta para a discussão sobre
democracia, mídias sociais e política. Durante a trajetória do projeto, foram discutidos
diversos textos que envolvessem o tema central, entre todas elas, as que construíram essa
parte da pesquisa foram: A Sociedade de Controle, O filtro invisível e Psicopolítica. Além
dessas, também se fez uso dos textos de autores secundários que, com seus artigos e
resenhas, auxiliaram a compreensão dessas obras e somaram nas discussões conceituais.
Dessa maneira, a revisão de bibliografia foi o principal método utilizado pelos membros
do grupo para refletir a conjuntura política atual e associá-la às discussões sobre
democracia e mídias sociais.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Há poucos anos, muito se lê sobre como as plataformas online têm se tornado, de
fato, o palco principal do mercado de vendas, onde os dados pessoais fornecidos pelos
usuários nas plataformas sociais, são uma espécie de “produto” que as empresas compram
para fazer divulgação de suas mercadorias, baseando-se nos gostos e preferências que
cada indivíduo fornece ao preencher formulários, visitar sites e dar likes. De acordo com
Machado, em “[...] uma análise bastante detalhada do perfil de cada usuário, a empresa
especializa-se em produzir novos softwares que possibilitam um monitoramento intenso
do comportamento, dos interesses e da comunicação de quem a utiliza.” (2018, pp. 50-
51), é dessa maneira que surgem diversas propagandas baseadas no que estamos
supostamente interessados. Exemplificando: quando estamos conectados à uma conta do
Google/Facebook/Instagram, dentre outras, e vamos ao guia de pesquisa do nosso
navegador e colocamos, por exemplo, “notebook com Core i5 e 1TB” quando concluirmos
nossa pesquisa, muito possivelmente quando abrirmos nossas redes sociais, aparecerão
diversos anúncios relacionados à pesquisa acerca do notebook.
No entanto, à medida que vamos utilizando as ferramentas de pesquisa, visitando
sites e perfis que nos interessam, os mecanismos de busca, segundo Pariser (2012) vão se
adequando cada vez mais à visão de mundo de cada sujeito, excluindo sua imparcialidade,
como muitas pessoas acreditam. Ainda, segundo o autor, “Cada vez mais, o monitor do
nosso computador é uma espécie de espelho que reflete nossos próprios interesses,
baseando-se na análise de nossos cliques feita por observadores algorítmicos.” (2012, p.
07). Dessa forma, conforme nossos interesses vão sendo captados pelos algoritmos, eles
só irão nos revelar aquilo que nos parece ser relevante, seja sobre um objeto ou produto
a, até mesmo, nossa posição e preferências políticas. Isso é o que Pariser chama de “era
da personalização” (2012).
Demonstrando a veracidade de sua argumentação, Pariser começou a observar
como as publicações de seus colegas apareciam no seu feed de notícias do Facebook,
assim, “[...] ele percebeu que existia um filtro que estava agindo baseado em preferências
políticas da sua rede de amigos.” (FAVA; PERNISA JÚNIOR, 2017, p. 277). O autor
reparou que ao decorrer do tempo, só lhe apareciam publicações que condiziam com sua
orientação política, e que as postagens que fossem contrárias ao seu interesse foram
descartadas da sua página inicial do Facebook. Na imagem abaixo, Pariser mostra que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 626
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

existe um filtro que manipula as publicações, o qual ele denomina de “Filtro invisível”3
(2011).

Fonte: Filtro Bolha, 2017.

Imagem 1: exposição da manipulação do filtro no Facebook. Primeiro, ele recebia as


notificações dos amigos mais próximos, mesmo esses não compactuando dos mesmos
interesses políticos de Pariser. Depois, ele começa a notar que somente chegava
notificações dos amigos que compartilhavam do seu mesmo interesse político.
Dessa forma se torna ainda mais difícil que os sujeitos, moldados no seu eu digital
inconscientemente, desenvolvam algum tipo de tolerância a opiniões e posições
divergente das suas. À vista disso, podemos considerar que uma polarização política na
internet vem crescendo à medida que os filtros trabalham para personalizar nossas redes
de acordo com os nossos dados. O uso dos algoritmos na personalização dos conteúdos
vem dificultando a ampliação do acesso à informação política, principalmente com a
crescente disseminação das fake news, dessa forma, encontramos uma falha na ideia de
que “[...] a interação com a tecnologia levaria os cidadãos a perceberem que a internet
amplia o acesso à informação política, sendo que, com isso, eles passariam a se envolver
mais nos assuntos públicos, interagindo com novas perspectivas para a deliberação
pública. (HANSEN; FERREIRA, 2018, p. 08).

CONCLUSÃO
Em suma, temos evidenciado nas redes, a diminuição de pensamentos e ideias que
reconhecem e consideram a diversidade e a pluralidade de valores, doutrinas, políticas
etc. No âmbito do ciberespaço, o potencial democrático, não está suprindo as expectativas
de alguns pesquisadores que viam na internet, segundo Hansen e Ferreira (2018) a
capacidade de superar as falhas da democracia representativa. Segundo Pariser:
A democracia exige que os cidadãos enxerguem as coisas pelo ponto de vista
dos outros; em vez disso, estamos cada vez mais fechados em nossas próprias

3
Filtro invisível é a expressão que Pariser concebeu aos filtros presentes no ciberespaço que decidem o que
deve ou não ser mostrado para gente, é como se esses mecanismos soubessem o que é ou não importante
para nós, baseado no nosso histórico de navegação. De acordo com o autor “Eles são os motores de previsão,
constantemente criando e aperfeiçoando uma teoria de quem você é e o que você vai fazer e querer no
futuro. Juntos, estes motores criam um universo único de informação para cada um de nós – o que denomino
de filtro bolha - que fundamentalmente altera a maneira com a qual nós encontramos ideias e informações”
(PARISER apud FAVA; PERNISA JÚNIOR, 2017, p. 278).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 627
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

bolhas. A democracia exige que nos baseemos em fatos compartilhados; no


entanto, estão nos oferecendo universos distintos e paralelos. (2012, p. 09).

Quanto mais fechada nossa visão de mundo, mais intolerância à diversidade vai
haver. Com a era da personalização, estamos ficando cada vez mais fechados em nossos
próprios mundos, cercados somente por aquilo que condiz com o que concordamos e
apoiamos, sem a chance de haver um debate ou compreensão daquilo que está fora da
nossa bolha.

AGRADECIMENTOS
À PROPEG/UERN, que cada vez mais propicia o incentivo à pesquisa através dos
grupos de Iniciação Científica – PIBIC, colaborando para uma formação com mais
qualidade, motivação e dedicação à pesquisa.

REFERÊNCIAS
FAVA, Gihana; PERNISA JÚNIOR, Carlos. Filtro Bolha: como tecnologias digitais
preditivas transformam a comunicação mediada por computador. Revista Eco pós, vol.
16, n. 2, p. 275-294, 2017.

HAN, Byung Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo


Horizonte: Ayine, 2018.

HANSEN, J; FERREIRA, M. A. S. Da polarização à busca pelo equilíbrio: as relações


entre internet e participação política. Revista Eletrônica de Ciência Política, vol. 9, n.
1, p. 05-20, 2018. Disponível em: < https://revistas.ufpr.br/politica/article/view/56124>.
Acesso em: set. 2020.

PARISER, Eli. O filtro invisível: o que a internet está escondendo de você. Rio de
Janeiro: Zahar, 2012.

MACHADO, Débora. A modulação de comportamento nas plataformas de mídias


sociais. In: SOUZA, J; AVELINO, R; SILVEIRA, S.A. (Org). A Sociedade de Controle:
Manipulação e modulação nas redes sociais. São Paulo: Hedra, 2018. p. 47-69.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 628
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ECONOMIA POLÍTICA DA CIDADE: OS IMPACTOS DA INDÚSTRIA


CIMENTEIRA NOS MUNICÍPIOS DE BARAÚNA (RN) E RUSSAS (CE)

Fábio Ricardo Silva Beserra 1; Ana Beatriz Barros de Araújo2

Palavras-chave: Geografia Econômica. Cimento. Cimento Mizu. Cimento Apodi. Fábrica de


Cimento.

INTRODUÇÃO
A instalação das indústrias de cimento Mizu, em Baraúna (RN) no ano 2012, e a Cimento
Apodi, em Russas (CE) em 2013, provocou um conjunto de mudanças na dinâmica da
economia dos respectivos municípios. Suas localizações, no Nordeste brasileiro, se dão em
decorrência da abundante reserva de calcário existente, essencial à produção do cimento
Portland. Além do potencial natural que os municípios oferecem, incentivos fiscais e a
construção de infraestruturas também foram importantes para a instalação dessas duas
indústrias.

Embora tenham sido inseridas em estados distintos, as cimenteiras foram instaladas em datas
próximas e estão localizadas a poucos quilômetros de distância uma da outra. Desse modo,
analisaram-se os impactos provocados pelas indústrias de cimento na produção e organização
do espaço nos lugares em que foram instaladas em decorrência das alterações em suas
atividades econômicas, sobretudo nos desdobramentos de variáveis como arrecadação de
impostos, postos de trabalho criados, empresas direta e indiretamente associadas à produção
cimenteira dentre outros. Tais elementos manifestam-se nos territórios tanto material quanto
imaterialmente e articulam os lugares à produção em diferentes escalas.

METODOLOGIA
Para a realização da pesquisa, foram realizados três procedimentos, a saber: levantamento
bibliográfico, levantamento de dados secundários, entrevistas. Outros dois procedimentos,
existentes no planejamento original, o trabalho de campo e a aplicação de questionários,
foram inviabilizados em detrimento da Pandemia COVID-19, manifesta desde meados de
fevereiro/2020. Conquanto ao levantamento bibliográfico, foram pesquisados livros, artigos,
periódicos, além de artigos e materiais publicados em sites específicos. Posteriormente,
realizou-se o levantamento de dados estatísticos nos sites do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), Relação Anual de Informações Sociais e Cadastro Geral de Empregados
e Desempregados (RAIS/CAGED) e o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC).

Em seguida, realizaram-se entrevistas via Google Meet, uma plataforma para comunicação
por vídeo, com o secretário de Administração em Baraúna (RN) e o Chefe de Gabinete em
Russas (CE). Essa última etapa não atingiu 100% de seu objetivo, uma vez que a meta era
entrevistar três secretários em cada município. Após diversas tentativas de contato por e-mail,
telefone e whatsapp, apenas os acima mencionados retornaram e colaboraram com a
realização da pesquisa. O mesmo ocorreu na coleta de dados secundários a partir das
Prefeituras Municipais, que não manifestaram qualquer retorno até o momento da redação
desse resumo expandido. Por fim, realizou-se a análise dos resultados que permitiu chegar às
conclusões apresentadas no presente trabalho.
1
Professor Doutor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Mossoró; Professor
colaborador do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UERN (PPGEO/UERN); e-mail: fabioricardo@uern.br
2
Discente de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, ; participante do Laboratório de Geografia
Humana- LAGHUM; e-mail: anabarros@alu.uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 629
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A instalação de uma indústria envolve um conjunto de processos, desde a implementação de


infraestruturas, geração de novos ambientes até a oferta de empregos e o crescimento
econômico. Além disso, torna-se atrativa para outras atividades, principalmente nos setores
secundário e terciário (embora atinja indiretamente o primário, com aumento da demanda de
seus produtos). Por parte do poder público, em geral são oferecidos incentivos fiscais, como
insenção ou diminuição de impostos, além de infraestruturas e legislações necessárias à
atividade industrial. Assim, o território se modifica desde os processos iniciais de instalação
da indústria, podendo ser considerado o marco geográfico no qual se percebem a proximidade
e aglomeração, as ações dos agentes e atores sociais e as múltiplas escalas de alcance através
dos canais de fluxos de população, mercadorias, capitais, informações e comunicações
(LÓPEZ E AGUIAR, 2013).

Não de modo distinto, a implantação da indústria de cimento Mizu em Baraúna, gerou


mudanças, segundo Silva (2016, p.8), “O desvio na RN-015 foi o principal impacto causado
em função da indústria cimenteira no município. Esta adaptação foi responsável por algumas
mudanças no território para o melhor escoamento da produção e também de veículos da
fábrica”. O desvio na BR-015, ligado à divisa dos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará,
foi criado para um melhor escoamento do produto. Além disso, segundo o secretário de
administração de Baraúna, Andercio Fabrizio Barboza, a Prefeitura Municipal de Baraúna e o
Governo do Estado ofereceram incentivos fiscais à Mizu, e afirma “[...] O governo do estado
isentou durante uns 10 anos, [sic] se não me engano, o ICMS, enquanto a indústria
recompensou com um programa [...] O município, sim, o município ajudou, ajudou na criação
e tinha redução na lista de ISS [...]” (BARBOZA, 2020).

Pela presença de outras grandes atividades econômicas, como a indústria de calçados, a


fruticultura e o setor de serviços, dado a presença da Dakota Calçados, o Tabuleiro de Russas,
e a chegada da Universidade Federal do Ceará, o município de Russas não sofreu o mesmo
impacto que Baraúna com a instalação da Mizu. Se, em Baraúna, é possível afirmar que a
Mizu trouxe um incremento sensível à dinâmica econômica do município, inclusive
“ocupado” o vazio econômico deixado pelo arrefecimento da fruticultura irrigada, em Russas,
a Apodi se associa a um conjunto de outros elementos em seus sistemas de objetos, somando-
se ao que existia. Dentre os motivos que tornaram isso possível, destaca-se o papel do
Governo do Estado do Ceará quem, nos últimos 30 anos assumiu um papel
“desenvolvimentista” a fim de colocar o território cearense em posição de destaque frente a
economia nacional (PEREIRA JÚNIOR, 2012)

Os dados do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA/IBGE) mostram um


crescimento da população no município de Baraúna no ano seguinte da instalação da Mizu,
passando de um total de 24.977 habitantes em 2012 para 26.347 em 2013, representando um
crescimento percentual de 5,49%, taxa que só foi ultrapassada em 2008, dentre os anos de
2001 a 2019. Já no ano seguinte à instalação da Apodi, em Russas, a população continuou
crescendo, contudo, em um percentual menor que nos anos anteriores, passando de 2,39% em
2013, para 1,10% em 2014 e 1,04% em 2014, a partir daí o ritmo de crescimento populacional
de Russas tem decrescido.

Ainda com base em dados do SIDRA/IBGE, o PIB total no município de Baraúna, teve um
salto significativo, passando de 291.212 mil reais em 2011, para 442.935 mil em 2012,
obtendo assim um crescimento de 52,10%, no ano referente ao início das atividades da

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 630
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

indústria de cimento Mizu. A produção do PIB em Baraúna é ainda mais expressiva se


analisada no Setor Industrial, onde entre os anos de 2010, 2011, 2012 e 2013, obteve um
crescimento de, 21,23%, 151,95%, 218,00% e um desaceleramento de 63,39%
respectivamente. Enquanto que o crescimento do PIB da agropecuária correspondeu nos
mesmos anos a 9,26%, -18,25%, 22,79% e -6,07% e em 2014 teve uma queda no
crescimento de -42,57% sendo acompanhando de valores negativos e baixos no crescimento
até 2017 como apresentado no quadro 01.

QUADRO 01- Participação no PIB (%) total pelos setores industrial e agropecuário.

Município de Baraúna(RN)
Ano
Indústria Agropecuária
2010 21,23% 9,26%
2011 151,95% -18,25%
2012 218,00% 22,79%
2013 63,39% -6,07%
2014 -53,66% -42,57%
2015 145,45% -23,90%
2016 -32,89% 0,35%
2017 -13,47% -14,46%
FONTE: IBGE (2020)

Com uma queda no crescimento do PIB total em 2013, o município de Russas consegue
recuperar esse crescimento no ano posterior, em 2014. O PIB total apresentou-se da seguinte
forma, 12,39%, em 2012, 6,20%, em 2013 e 14,07% em 2014. Como a Apodi Cimentos
iniciou suas atividades no mês de dezembro, justifica-se o PIB ter resultados no ano seguinte.
Embora o setor industrial tenha contribuído para recuperar o PIB desacelerado em 2013, o
setor de administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social conheceu um
crescimento maior no ano do início das atividades da Universidade Federal do Ceará, em
2014, como apresentado no Quadro 02. Resta saber se essas dinâmicas são independentes
para cada município ou se há uma relação íntima entre os mesmos, a exemplo das atividades
envolvendo o agronegócio, na Região do Baixo Jaguaribe e na Chapada do Apodi.

QUADRO 02- Participação no PIB total pelos setores Industrial e de administração, defesa,
educação e saúde públicas e seguridade social

Município de Russas (CE)


Ano Administração, defesa, educação
Indústria e saúde públicas e seguridade social
2012 24,13% 3,54%
2013 -19,08% 15,45%
2014 9,78% 15,08%
FONTE: IBGE (2020)

De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), o número de


estabelecimentos voltados aos grandes setores da construção civil, comércio e indústrias
tiveram um crescimento significativo no período da instalação da cimento Mizu em Baraúna.
Em 2012, eram 17, 32 e 94 estabelecimentos nos setores da construção civil, comércio e
indústrias, nessa ordem. Já em 2013, apresentam 25, 78 e 98 respectivamente. Em Russas, o
crescimento aconteceu da seguinte forma, os setores da construção civil, comércio e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 631
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

indústrias passaram de um total de 176, 22 e 387 em 2012 para 195, 21 e 419, em 2013
respectivamente. A indústria em Apodi contribuiu nos empregos indiretos, já que o ano de
crescimento dos estabeleciementos ocorre concominante ao início das atividades da mesma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível afirmar que a dinâmica da economia mudou os dois municípios a partir da
instalação das indústrias cimenteiras, Cimento Apodi e Cimento Mizu. Contudo por
Russas(CE) ser um município de porte econômico maior que Baraúna(RN), os impactos
causados pela instalação da indústria foram menos expressivos em termos gerais. Nesse
período denominado por Santos (1994, p.52) “meio técnico-científico-informacional”, as
indústrias acompanham processos de mudanças contínuos, a cidade conhece mudanças
significativas desde a instalação até o decorrer das atividades industriais.

A instalação da Mizu em Baraúna significou a introdução da primeira fábrica instalada no


município, e que abriu portas para o aumento dos setores econômicos, contribuindo no seu
desenvolvimento. Como afirma, (SANTOS, 1987; SILVEIRA, 1997, p.21), “São os
movimentos da população, a distribuição da agricultura, da indústria e dos serviços, o
arcabouço normativo, incluídas a legislação civil, fiscal e financeira, que, juntamente com o
alcance e a extensão da cidadania, configuram as funções do novo espaço geográfico”.

AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica e a Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte por promover os meios financeiros para a produção do
presente resumo expandido e por contribuir com o conhecimento científico e a pesquisa que
são muito importantes para a sociedade.

REFERÊNCIAS
FREITAS, Ellen. Fábrica começa a produzir cimento já em dezembro. Diário do nordeste.
Disponível em: <https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/regiao/fabrica-comeca-a-produzir-
cimento-ja-em-dezembro-1.502913>. Acesso em: 05 nov. 2020.
LÓPEZ, Flor M. AGUILAR, Adrián G. La política de escalas y el espacio local en el análisis
geográfico. IN: LÓPEZ, Marcos Valdivia. MACÍAS, Javier Delgadillo (Coord). La geografía
y la economía en sus vínculos actuales: una antología comentada del debate contemporáneo.
México: UNAM; CRIM; IIE, 2013.
PEREIRA JÚNIOR, Edilson. Território e economia política: uma abordagem a partir do
novo processo de industrialização no Ceará. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012.
SANTOS, Milton. Por uma economia política da cidade: O caso de São Paulo. 2. ed. 1.
reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012, p. 52.
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. A questão: O uso do território. In: SANTOS,
Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI.
9. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006, cap. 1, p. 19-22.
SIDRA-Sistema IBGE de Recuperação Automática, SIDRA. Disponível em:
<https://sidra.ibge.gov.br/home/pimpfbr/brasil>. Acesso em: 17 jul. 2020.
SILVA, Hudson Tiago; FERNANDES, Maria José. Pequeno município e atividade
industrial: A produção de cimento em Baraúna (RN) e as mudanças no território. In: I
CONGRESSO INTERNACIONAL DA DIVERSIDADE NO SEMIÁRIDO, 1., Campina
Grande, 2016. Anais…Campina Grande: Realize Editora, 2016. Disponível em: <
https://www.editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/24029>. Acesso em: 04 nov
.2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 632
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ECONOMIA POLITICA DA URBANIZAÇÃO EM ZONA FRONTEIRA:


O ALTO OESTE POTIGUAR NO CONTEXTO DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE

Antonia Mirele Lopes da Silva1; Larissa da Silva Ferreira Alves2

PALAVRAS-CHAVE: Economia Política. Estado. Zona de Fronteira. Alto Oeste Potiguar.

INTRODUÇÃO
O presente ensaio tem por objetivo fazer uma discussão sobre a economia política da
urbanização no Alto Oeste Potiguar (AOP), área de fronteira interna com os estados do Ceará
e Paraíba, no contexto do estado do Rio Grande do Norte (RN).
Justifica-se essa pesquisa devido a necessidade de compreender os elementos sociais e
políticos que definem o que o Alto Oeste representa atualmente para seu contexto estadual e de
fronteira.
METODOLOGIA
Enquanto procedimentos metodológicos, primeiramente foi elaborada uma revisão
teórica com os principais temas e autores do debate aqui proposto Para isto, foram abordados
os conceitos de economia política da urbanização por Santos (2012), como também o papel do
Estado em Paulino (2017), fronteiras internas com Geiger (1993), bem como sobre o AOP com
Alves et al (2018). Foi construído ainda um banco de dados sobre dados de produção e trabalho
sobre o RN e do AOP pelos seguintes órgãos: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e Ministério do Trabalho e do Emprego
(MTE), todos do ano de 2015. Os métodos abordados foram: materialismo histórico, tendo em
vista se buscar no passado elementos para o entendimento da atual realidade socioterritorial;
bem como o indutivo, pois parte-se de uma compreensão quantitativa para inferir sobre a
realidade. Diante do significativo banco de dados construído sobre o RN e o AOP no que tange
às variáveis produção, estabelecimento e emprego, essa pesquisa analisou dados
correspondentes ao Alto Oeste Potiguar e Rio Grande do Norte no ano de 2015.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Região-fronteira do Alto Oeste Potiguar
Região-fronteira do Alto Oeste Potiguar, que discute uma breve exposição característica
da região – física e social – apresentando fenômenos dinamizadores que modificam o espaço;
O Alto Oeste Potiguar (Figura 1), por estar situado no interior do Rio Grande do Norte,
apresenta o bioma da caatinga e se configura com um clima semiárido, quente e seco com
longos períodos de estiagem (AB’SABER, 2003).
1: Região do Alto Oeste Potiguar

1
Graduanda no Curso de Geografia da UERN/campus CAMEAM, Pau dos Ferros. Estudante vinculada ao Núcleo de Estudos em Geografia
Agrária e Regional (NuGAR). E-mail: mirelelopes19@outlook.com
2
Profa. Dra. do Curso de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Dinâmicas Territoriais no Semiárido
(PLANDITES) e Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Geografia Agrária e Regional (NuGAR), campus CAMEAM/UERN, Pau dos
Ferros. E-mail: larissafeirra@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 633
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Base cartográfica: IBGE (2010), Sirgas 2000 UTM Zona 24 S, Organizado por: FREITAS, C. C. G. (2019).
Planejamento corporativo seletivo territorial do Rio Grande do Norte
Busca trazer um aporte histórico da economia do Rio Grande do Norte desde as grandes
navegações, mostrando também a crise das economias tradicionais e a ida de pessoas em
direção a capital, surgindo novas fontes de emprego e turismo no estado. Portanto, a economia
do Rio Grande do Norte a partir de estudos tiveram como hierarquia regional, atividades
urbanas, agregando os serviços ao terciário. Dessa maneira, tais estudos e fatos relacionados as
transformações de seus processos de urbanização e divisão do trabalho, e como eles são grandes
agentes e se (re) organizam dentro do espaço geográfico.
Abordagens sobre economia política da cidade e o papel do Estado: um contexto
do Alto Oeste Potiguar e o Rio Grande do Norte
A seção aborda uma análise da economia do estado trazendo também análises do Alto
Oeste Potiguar, visando as mudanças, formações e transformações da sociedade em relação aos
estabelecimentos formais.
Ao analisarmos dados de estabelecimentos formais (Gráfico 1) da região correspondente
ao Alto Oeste Potiguar, constatou-se uma notória desigualdade referente aos dados do estado
aqui estudado, e essa desigualdade torna-se também visível quando consideramos os dados do
AOP referente a apenas as cidades de Mossoró e Natal (gráfico, 2).
Gráfico 1: ESTABELECIMENTOS FORMAIS Gráfico 2: ESTABELECIMENTOS FORMAIS POR
POR GRANDE SETOR DE ATIVIDADE: ALTO GRANDE SETOR DE ATIVIDADE: ALTO OESTE
OESTE POTIGUAR E RIO GRANDE DO NORTE POTIGUAR, MOSSORÓ E NATAL

1457 AOP
1457 5864
MOSSORÓ
RN NATAL
20616
48655
AOP

FONTE: IBGE (2015), ORGANIZAÇÃO: FERNANDES (2018) FONTE: IBGE (2015), ORGANIZAÇÃO: FERNANDES (2018)
Os gráficos mostram os estabelecimentos formais por grandes setores de atividades,
estes que por sua vez estão divididos em agropecuária, indústria, serviços e administração
(defesa, educação e saúde públicas e seguridade social). Mostram ainda a intensa concentração
de oportunidades territorialmente focadas nos dois grandes eixos de investimentos e de
desenvolvimento do estado desde a década de 1970, que são Natal e Mossoró, ficando o AOP
como um todo, em seus 37 municípios componentes, com uma visível irrisória participação de
estabelecimentos formais no estado, podendo aferir uma menor complexidade na divisão do
trabalho, consequentemente uma menor significância e à parte dos eixos dinamizadores
econômicos do estado.
Análise de fatores econômicos do Alto Oeste Potiguar e Rio Grande do Norte

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 634
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Análise de fatores econômicos do Alto Oeste Potiguar e Rio Grande do Norte, aqui foi
feita uma análise de dados do RN e também do AOP mostrando em dados a busca por
entendimentos sobre atividades e serviços do estado. No Gráfico 03, mostra a distribuição do
Valor Adicionado Bruto do Alto Oeste Potiguar/RN no ano de 2015.
GRÁFICO 03: ALTO OESTE POTIGUAR-RN:
DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO BRUTO (VAB)
DO PIB A PREÇOS CORRENTES – 2015
Admini Agrope Indústri
stração, cuária a
defesa, 4% 5%
educ… Serviço
s
34%

FONTE: (IBGE, PIB DOS MUNICÍPIOS, 2015) ELABORAÇÃO DOS INTEGRANTES DO PROJETO
No Gráfico 04, mostra a participação recorrente dos setores de atividade na composição
do PIB, do Alto Oeste e do Rio Grande do Norte no ano de 2015.
GRÁFICO 04: PARTICIPAÇÃO DOS SETORES DE ATIVIDADE
NA COMPOSIÇÃO DO PIB - ALTO OESTE POTIGUAR E
RIO GRANDE DO NORTE (2015)
Administração, defesa, educação e
saúde públicas e seguridade social 29 57

Serviços 47 34

Indústria 21 5

Agropecuária 3 4

0% 20% 40% 60% 80% 100%


Rio Grande do Norte Alto Oeste Potiguar
FONTE: (IBGE, PIB DOS MUNICÍPIOS, 2015) ELABORAÇÃO DOS INTEGRANTES DO PROJETO5 M, H
No Rio Grande do Norte esse total é de 608.866 pessoas, como pode ser observado na
tabela 01, que mostra o número de estabelecimento por setor de atividade e o número de pessoas
ocupadas nesses estabelecimentos.
Tabela 01: NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E PESSOAL OCUPADO POR GRANDE SETOR DE
ATIVIDADE ECONÔMICA– RIO GRANDE DO NORTE E REGIÃO DO ALTO OESTE POTIGUAR
Grandes setores Estabelecimentos/RN Pessoas Estabelecimentos/AO Pessoas
Ocupadas/RN Ocupadas/AO

Agropecuária 1283 16588 10 51

Indústria 8988 114876 152 1028

Demais serviços 37955 308328 1007 3908

Adm, defesa e 429 169074 62 9096


seguridade

Total 48655 608866 1231 14083

FONTE: (IBGE, PIB DOS MUNICÍPIOS, 2015) ELABORAÇÃO DOS INTEGRANTES DO PROJETO

No gráfico 05, extraiu-se o percentual das pessoas ocupadas no setor formal em relação
a cada setor, comparando-se o Rio Grande do Norte e a região do Alto Oeste Potiguar.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 635
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Gráfico 05: PERCENTUAL DE PESSOAS OCUPADAS (EMPREGO FORMAL)


POR SETOR DE ATIVIDADE
ECONÔMICA - RIO GRANDE DO NORTE E REGIÃO DO ALTO OESTE POTIGUAR.

64,59
80,00 50,64
60,00 27,75 27,77
40,00 18,87
0,362,72 7,30
20,00
0,00

ALTO OESTE POTIGUAR RIO GRANDE DO NORTE

(IBGE, PIB DOS MUNICÍPIOS, 2015) ELABORAÇÃO DOS INTEGRANTES DO PROJETO)


No Rio Grande do Norte a maioria das ocupações está no setor de serviços (50,64%) e
na administração pública (27,77%). Na Região do Alto Oeste Potiguar as ocupações
concentram-se no setor de serviços (27,75%), mas principalmente no setor da administração
pública (64,59%), o que expressa a forte participação desse setor tanto na geração de riqueza
quanto no número de empregos formais na região do Alto Oeste.
CONCLUSÃO
Podemos relacionar as reflexões feitas no estado do RN através de sua ocupação em seu
contexto histórico, com o início das economias tradicionais à crise e reestruturação do território
pós-1970. Ressalta-se a diminuição da moradia no campo e o fluxo migratório para as grandes
cidades, coincidindo com ações de Estado implementadas para o investimento econômico em
serviços públicos e privados e o fortalecimento destes nos eixos Mossoró e Natal.
Já trazendo a análise dos dados correspondentes ao Alto Oeste Potiguar e Rio Grande
do Norte no ano de 2015, notamos uma grande característica aqui do AOP que é se mostrar
presente em relação ao restante do estado, ter como grande participação o fluxo migratório de
pessoas, seja ele pendular ou sazonal crescendo a economia daquela região, ofertando emprego
e renda e sem esquecer nos processos de ocupações e urbanização, trazendo à tona o Meio
Técnico Cientifico e Informacional (SANTOS, 2006).
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao apoio financeiro do CNPq, via bolsa de iniciação científica, ao Núcleo
de Estudos em Geografia Agrária e Regional (NuGAR), pelo espaço propício ao debate e
engrandecimento acadêmicos e à UERN, campus de Pau dos Ferros, pela possibilidade do
acesso ao ensino superior público e de qualidade.
REFERÊNCIAS
AB’SABER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas.
São Paulo: Ateliê editorial, 2003.
ALVES, Larissa da Silva Ferreira; DANTAS, Joseney Rodrigues de Queiroz; SOUZA, Gilton
Sampaio Dinâmicas urbano-regionais em territórios de fronteira interna. In: Mercator,
Fortaleza, v. 17, e17001, 2018.
GEIGER, P. P. Regiões Fronteira no Brasil. Ensaio apresentado à Conferência Internacional
de Desenvoh'imento Regional: The Challengeof lhe Fronlier. Llromovido Ilela Ben
GurionUnh'ersity. Israel, dezembro. 1993.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Brasília: 2018.
Disponível em: < https://cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em: 16/04/2018.
PAULINO, Robério (Org.). O estado como opressor e civilizador. Natal: EDUFRN, 2017.
276 p.
SANTOS, M. Por uma economia política da cidade. 2º Ed. São Paulo: EDUSP, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 636
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EDUCAÇÃO RURAL E SALA MULTISSERIADA: DESAFIOS


PARA PRÁXIS DOCENTE

Mércia Daniely da Silva1; Kamila Costa de Sousa2

Palavras-chave: Escola Rural. Prática Docente. Ensino multisseriado.

Introdução

A Educação Rural no Brasil revela em seu percurso histórico a negação do direito à


escola e ao ensino para os povos do campo, negação essa que atualmente ainda se manifesta
nas áreas rurais do país com o fechamento das escolas que ainda existem e resistem no campo.
Ao refletir sobre a trajetória da Educação Rural no país, a estudiosa Calazans (1993) apresenta
em sua obra como a escola rural no Brasil surgiu de forma tardia e sem continuidade. Quando
a escola surge no Brasil, ainda no II Império, em um contexto de país agrário, essa escola foi
destinada para a elite, a alta sociedade brasileira, excluindo desse processo não apenas negros
e índios, mas todos os camponeses que viviam do trabalho na terra.
A trajetória da Educação Rural no Brasil revela que do século XIX ao início do século
XX, não se identifica iniciativas educacionais para a área rural por parte dos governantes no
país, sendo apenas em 1930 que os primeiros programas de escolarização começaram a surgir
para atender a população do campo (CALAZANS, 1993). Mas, apesar dessas experiências de
escolarização terem iniciado no país a fim de atender a população do campo, as mesmas
apresentaram várias críticas visto que suas concepções eram oriundas de parcerias entre o
governo brasileiro e o norte-americano, assim esses programas, como destaca a autora,
chegaram ao Brasil como pacotes prontos, sem abertura para o reconhecimento e adaptação a
realidade e ao contexto rural brasileiro.
Foi a partir da década de 1990 que movimentos sociais do campo, como o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciam uma série de discussões e lutas em defesa
de uma perspectiva de educação para o território camponês que dialogue com as necessidades
dos assentados e com as realidades humanas, sociais, culturais e econômicas dos camponeses.
A partir das experiências não institucionais desenvolvidas pelo MST em acampamentos e
assentamentos de Reforma Agrária, o movimento passou a discutir publicamente e em espaços
institucionais e políticos, a proposta que nomeia de Educação do Campo. Assim, defende-se a
“[...] Educação do Campo e não mais educação rural ou educação para o meio rural”
(CALDART, 2004, p.1). Essa perspectiva de educação – a Educação do Campo – nomeia uma
perspectiva outra de escola, de tempos escolares, de currículo, de trabalho, é na verdade uma
ruptura com a tradicional e história Educação Rural e Escola Rural, que não reconheceu os
sujeitos do campo enquanto sujeitos de direitos.
Apesar de todas as conquistas no plano legal, sobre a necessidade de garantir a
educação/escola no território camponês, contextualizada com a vida do campo, atualmente
identificamos discrepância no que se refere às concepções e práticas educativas desenvolvidas
nos territórios camponeses. No Ceará, existem experiências exitosas e em constante
movimento, no que se refere à perspectiva de Educação do Campo, estando em diálogo com as
legislações que abordam essa nova concepção. Mas há também escolas funcionando de maneira

1
Estudante do Curso de Pedagogia do Departamento de Educação do Campus Avançado de Patu da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: merciasilva@alu.uern.br
2
Professora do Departamento de Educação do Campus Avançado de Patu da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte. Vice-líder do Grupo de Pesquisa “Formação, Currículo e Ensino – FORMACE”; e-mail:
kamilasousa@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 637
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

precária em muitos territórios rurais cearenses. No Estado do Rio Grande do Norte, a situação
também não é diferente, as escolas rurais que ainda sobrevivem, além de funcionarem com
poucos recursos materiais, humanos e pedagógicos, desenvolvem a educação escolar em salas
multisseriadas, ou seja, com estudantes de várias idades e séries dividindo o mesmo
espaço/tempo formativo.
Em meio a todas essas problemáticas, uma figura é importante para a resistência e
construção cotidiana de uma educação do campo nas escolas rurais: o/a educador/a. O/a
educador/a apesar de não ter condição de mudar a realidade material em que as escolas rurais
estão submetidas, os/as mesmos/as podem fazer transformações microbianas, mínimas, na
educação por meio da práxis docente que desenvolvem.
A partir das diversas questões que perpassam a realidade educacional do espaço rural
brasileiro essa pesquisa teve como objetivo geral compreender os desafios que os/as
educadores/as da Unidade de Ensino Rural Lauro Maia, localizada na zona rural do Município
de Patu/RN, enfrentam para desenvolver a práxis docente em salas multisseriadas, situadas em
um contexto social, histórico e cultural camponês.

Metodologia

Para entender a realidade educacional da escola rural multisseriada foi necessário


desenvolver o trabalho de campo para se aproximar do contexto em que a escola está situada e
conhecê-la a partir da percepção dos docentes, o que caracteriza essa pesquisa como sendo
qualitativa. No campo da pesquisa educacional, a Pesquisa Qualitativa é um dos tipos de
pesquisa mais utilizados não apenas pela possibilidade de coletar dados com uma maior
descrição do contexto em estudo, mas também pela possibilidade de utilizar e combinar
instrumentos de investigação diversos que contribuem para uma maior compreensão da
realidade estudada.
Contudo, mesmo considerando todos os elementos que contribuirão com os dados da
pesquisa é necessário destacar que “somente uma parte bem reduzida da totalidade está
representada nos dados” (GOLDENBERG, 2011, p. 59). Apesar de não ser capaz de captar a
totalidade da vida social, a pesquisa qualitativa por meio de técnicas e instrumentos de
investigação, consegue se aproximar de contextos sociais e sistematizar as dimensões possíveis
do movimento da realidade.
Como técnicas de pesquisa, foram desenvolvidas a observação participante e em seguida
a entrevista semiestruturada que serviu para aprofundar alguns dados captados durante a
observação no lócus de pesquisa e que demandavam um maior aprofundamento sobre o tema.
Foram elaboradas questões que promovessem a reflexão e auto reflexão dos sujeitos da
pesquisa, pois como destaca Rosa (2008) as perguntas na entrevista devem permitir que os
sujeitos possam verbalizar seus pensamentos, as tendências e as reflexões que possuem sobre o
tema que foi apresentado.
A pesquisa teve como sujeito uma educadora da Unidade de Ensino Rural Lauro Maia,
recém concludente do Curso de Pedagogia, que atua na escola lócus da pesquisa há quatro (04)
anos e que estava lecionando em uma sala de aula multisseriada com quatorze (14) estudantes
com faixa etária de seis (06) a onze (11) anos, nos níveis de 1º, 2º, 3º, 4º e 5º anos do Ensino
Fundamental Menor, turno vespertino. Ela será identificada nessa pesquisa como Girassol,
pseudônimo utilizado para preservar o anonimato da educadora.

Resultados e Discussão

A Unidade de Ensino Rural Lauro Maia, localizada na Zona Rural do município de


Patu/RN, assim como a maioria das escolas localizadas no campo, não possui uma

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 638
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

infraestrutura que ofereça as crianças que estudam nela, espaços-tempos diversos onde possam
interagir e construir o conhecimento para além da sala de aula. Na sua estrutura em geral,
possui: uma sala de aula que atende as crianças da Educação Infantil (turma multisseriada) pela
manhã e o Ensino Fundamental (turma multisseriada) a tarde; uma cozinha onde é preparada a
merenda escolar dos estudantes; uma sala de coordenação, uma sala de apoio e um pequeno
pátio integrando todos esses espaços. A escola não possui espaços como parque, quadra de
esportes, brinquedoteca, biblioteca e/ou sala de vídeo.
A escola rural também não possui em seu cotidiano a presença de uma coordenação
pedagógica, direção ou outro gestor escolar que acompanhe a rotina da mesma, sendo a
educadora a única profissional, além da merendeira, a estar presente cotidianamente na escola
desenvolvendo também o contato direto para o diálogo com os pais e familiares do estudantes
no que se refere aos aspectos pedagógicos.
Ao refletir sobre a estrutura da escola e sua rotina, a educadora entrevistada diz que:

Do meu ponto de vista a parte física poderia ser melhor se fosse maior e com uma
quadra esportiva, pois desta forma, os alunos teriam um lugar propício para praticar
os mais variados esportes. O suporte pedagógico atua na secretaria de educação,
localizado na área urbana do município, mas os planejamentos pedagógicos são
realizados a cada trinta dias, onde os coordenadores oferecem suporte para que os
professores atuem na sala multisseriada, optando por metodologias ligadas ao
contexto diário do aluno. (GIRASSOL. Entrevista, junho de 2020).

A Educação Rural/escola rural é caracterizada pelas estatísticas oficiais com os piores


índices de alfabetização, com estruturas precárias e com a falta de recursos humanos e materiais
pedagógicos e físicos (PINTO et.al., 2006). Para Sousa (2016, p.92) pensar a Educação Rural
é considerar que “[...] essa educação, quando ofertada, tende a ser débil no atendimento e tem
baixa condição de funcionamento — não se adaptando à vida e à realidade dos alunos; sendo
muitas vezes extensão da também precária educação ofertada nas áreas urbanas; instituindo
valores citadinos; e desmerecendo os valores camponeses.” Pode-se dizer que historicamente
não houve por parte do Estado o compromisso de desenvolver um projeto de educação para os
povos do campo que os reconhecessem em suas necessidades, tão pouco valorizando seus
modos de vida.
A partir do Movimento Nacional de Educação do Campo, iniciado nos anos de 1990 é
que se percebe uma orientação das secretarias municipais para o uso do termo “Educação do
Campo” para designar o ensino praticado na zona rural, mas em alguns casos sem uma
compreensão sobre a dimensão teórico-prática e política que essa terminologia expressa. É
também identificado o esforço de educadores e educadoras para tentar construir uma educação
na zona rural que atenda as necessidades dos seus estudantes, mesmo diante dos desafios
enfrentados.
Ao/a educador/a da escola rural, que atua em sala multisseriada há ainda uma dimensão
mais complexa, que se refere a sua prática docente em um contexto de ensino com estudantes
em tempos formativos tão diversos. A educadora Girassol, ao refletir sobre a sala multisseriada
e sua prática docente, revela que “Sabemos que atuar em uma sala multisseriada é um pouco
desafiador, no entanto, ao se deparar com níveis e idades diferentes o desafio se torna parceria
e amor, pois é preciso considerar a realidade de cada aluno e as suas dificuldades, para que
assim, possamos ter êxito no aprendizado” (GIRASSOL. Entrevista, junho de 2020), e
acrescenta “Eu gosto muito da minha prática, pois sempre procuro entender a realidade do meu
aluno e trabalhar em cima das atividades que eles apresentam, mas ainda tenho muito o que
aprender” (GIRASSOL. Entrevista, junho de 2020).
Percebe-se que para a educadora entrevistada a sua prática docente é perpassada não
apenas pelas dificuldades enfrentadas na sala multisseriada, mas é também marcada por seu

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 639
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

compromisso profissional com a formação dos estudantes. Assim como Paulo Freire (1987),
compreendemos a práxis docente como um caminho de transformação da realidade e do mundo,
que ao pensar e agir transforma-se a si e ao mundo, ou seja, o educador ao refletir seu agir ele
transforma a educação, muda a realidade educacional. A educadora Girassol sujeito dessa
pesquisa, em suas falas expressou seu compromisso de busca reconhecer o território em que
sua ação pedagógica se desenvolve, para desenvolver uma educação e ensino contextualizado
com a realidade dos estudantes.

Conclusão

Com a pesquisa foi possível concluir que a educadora sujeito da pesquisa, enfrenta
desafios para desenvolver a sua prática docente em uma sala de aula multisseriadas, desafios
esses que perpassam diversas dimensões como a oferta de uma estrutura física com qualidade,
com matérias didáticos e pedagógicos para o desenvolvimento do ensino na escola rural. No
entanto, apesar desses desafios indicados pela educadora, foi concluído que a educadora
reconhece a necessidade de desenvolver uma educação contextualizada com o território dos
sujeitos e que a mesma busca em sua prática docente conhecer e refletir sobre as necessidades
dos seus alunos.

Agradecimentos

Agradecemos a escola rural e a educadora por contribuírem para o desenvolvimento da


pesquisa.

Referências

CALAZANS, M. J. C. Para Compreender a Educação do Estado no Meio Rural: Traços de


uma Trajetória. In: DAMASCENO, M. N.; THERRIEN, J. (Coord.) Educação e Escola no
Campo. Campinas: Papirus, 1993.

CALDART, Roseli Salete. Elementos para Construção do Projeto Político e Pedagógico da


Educação do Campo. Rev. Trabalho Necessário, Rio de Janeiro, ano 2, n.2, p.1-16, 2004.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa. 12ª ed. Rio de Janeiro:
Record, 2011.

PINTO, J. M. R. et al. O Desafio da Educação do Campo. In: BOF, A. M. (Org.). A


Educação no Brasil Rural. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira, 2006. p.13-45.

ROSA, Maria Virgínia de Figueiredo Pereira do Couto. A entrevista na pesquisa


qualitativa: mecanismos para a validação dos resultados. 1 ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2008. 112 p.

SOUSA, K. C. Percursos e Projetos de Vida das juventudes egressas da escola do campo.


2016. 212 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade
Federal do Ceará, Fortaleza, 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 640
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ENSINO RELIGIOSO: CAMINHOS E POSSIBILIDADES ÉTICAS


PARA A SUPERAÇÃO DAS PRÁTICAS CONFESSIONAIS

Paulo Cavalcante de Albuquerque Melo1; Valdicley Euflausino da Silva 2

Palavras-chave: Ética. Ensino Religioso não confessional. Educação pública.

Introdução

Neste trabalho foi analisado e problematizado os discursos e práticas docentes que


caracterizam o Ensino Religioso (ER) nas escolas públicas do Brasil, tendo por finalidade
apontar quais são as possibilidades e necessidades de construir um código ético profissional
pautado no discurso da(s) Ciência(s) da(s) Religião(ões) (CR) para os professores deste
Componente Curricular.
Os questionamentos sobre o tema emergem a partir das leituras de Cavalieri (2007),
Oliveira (2012), Silva (2014; 2016) e Benevides (2017) que apresentam diversas realidades
catequética e confessional do ER nas escolas públicas. Realidade esta que vai contra os
princípios de laicidade do país que são expressos na constituição federal e contra as normas
para a educação brasileira contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCNs), Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), por exemplo. A pesquisa é essencial para a
área das CR por haver poucos trabalhos que reflitam sobre o tema da ética e a relação com a
prática docente.
Assim sendo, pretendemos, com o trabalho, contribuir para a discussão acerca da
ética docente, do ER e das CR, demonstrando que, de acordo com as características atuais
deste Componente Curricular, são necessárias mudanças práticas dos sujeitos responsáveis
pelas mediações pedagógicas em sala de aula e, dentre os fatores que podem contribuir para
esta superação dos hábitos prosélitos dos professores, está a ética docente com os
fundamentos epistemológicos das CR.

Metodologia

Usamos a revisão bibliográfica em livros, artigos e dissertação para o


desenvolvimento da pesquisa. Dessa maneira, foram utilizadas as contribuições de Silva
(2014; 2016) para as reflexões acerca dos discursos pedagógicos do ER, as de Passos (2006);
Cavalieri (2007); Oliveira (2012); e, Benevides (2017) para a análise das mediações
catequéticas presentes no ER no Brasil. Recorremos a Piper (2019) como aporte teórico para
possibilitar o entendimento da atual situação de desdobramento das licenciaturas em CR no
país.

Resultados e discussão

1
Estudante do curso de Ciências da Religião do Departamento de Ciências da Religião da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: paulomelo@alu.uern.br
2
Professor do Departamento de Ciências da Religião da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN. Participante do Grupo de Pesquisa Educação, Cultura e Fenômeno Religioso. E-mail:
valdicley_bambucha@yahoo.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 641
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A partir da pesquisa é possível perceber a compreensão colonial que ainda se tem do


ER na educação pública, isto é, a concepção que este Componente Curricular ainda deve ser
utilizado como subterfúgio para as ações eclesiásticas na educação dos sujeitos. Isto se deve
ao ethos que foi construído ao longo da história do ER no Brasil por parte dos que estavam
responsáveis por ele, remontando assim o século XVI, quando foram iniciadas as invasões
portuguesas em terras brasileiras, denominada pelos nativos de Pindorama.
Essa cosmovisão de um ER confessional ainda é presente em vários contextos, como
por exemplo, no Estado do Rio de Janeiro (CAVALIERI 2007) e no Rio Grande do Norte
(BENEVIDES, 2017) e principalmente onde não constam cursos de formação inicial em CR,
algo que atualmente é comum, pelo fato de não haver tantas licenciaturas e programas de pós-
graduação da área no Brasil (PIEPER, 2019).
Outro fator que contribui para as práticas catequéticas no ER é a presença de
discursos educacionais que não estão de acordo com os princípios de laicidade da educação
brasileira, dentre eles, destacam-se o confessional e o teológico (PASSOS, 2007). Este último,
embora dê um pouco mais de ênfase no pluralismo da multiplicidade de ideias religiosas,
ainda conserva a característica de catequese no ensino. Entretanto, pelo fato de a área da
Teologia ter relações próximas, causa, por vezes, confusões teórico-epistemológicas com as
CR. Este discurso ainda é bem presente nas mediações pedagógicas.
Levando em consideração estes aspectos levantados sobre o caráter do ER no Brasil
e as práticas docentes, é possível refletir sobre a pertinência da construção de um código ético
profissional pautado nas CR, que defendem um ER isento de proselitismo, que valorize o
pluralismo, a diversidade e o multiculturalismo religioso e que auxilie na superação dos
hábitos prosélitos que não cabem mais no contexto educacional público, contribuindo assim
para a valorização da diversidade cultural do país.

Conclusão

Pode-se concluir com a pesquisa que existem obstáculos a serem vencidos para a
superação das atuais práticas catequéticas do ER, entretanto, destacamos que é possível mudar
desde que haja empenho prático de todos inseridos nesta discussão. Dentre os pontos que
contribuem para a construção de um ER melhor, destacam-se a necessidade de investimento
em formação inicial nas CR, a autonomia epistemológica desta área em relação a Teologia e o
conhecimento sobre qual são os reais propósitos do ER. Para o alcance desses objetivos, a
ética profissional pautada nos discursos das CR poderá ajudar a nortear os docentes da área.

Referências

BENEVIDES, Araceli Sobreira. A carreira do docente do ensino religioso do munícipio de


Natal: transformações recentes. In: RISKE-HOCK, Simone (Org.). OLIVEIRA, Lilian Blanck
(Org.). POZZER, Adecir (Org.). Formação inicial em ensino religioso: experiência em
cursos de Ciência(s) da(s) Religião(ões) no Brasil. Florianópolis: Saberes em diálogos,
2017. 268 p. p.247-256.
CAVALIERI, Ana Maria. O mal-estar do ensino religioso nas escolas públicas. Cadernos de
Pesquisa, Rio de Janeiro, v. 37, n. 131, p. 303-332, maio/ago. 2007.
OLIVEIRA, Josineide Silveira de. O sagrado como semeador de estratégias do viver.
2012. 101 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de pós-graduação em Ciências da Religião,
Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 642
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PASSOS, João Décio. Ensino Religioso: mediações epistemológicas e finalidades


pedagógicas. In: SENA, Luzia (Org.). Ensino Religioso e formação doente: ciências da
religião e ensino religioso em diálogo. São Paulo: Paulinas, 2007. 148 p. p. 21-44.
PIEPER, Frederico. Ciências da Religião nas universidades públicas brasileiras: modelos de
implementação e desafios. REVER, São Paulo, v. 19, n. 2, p. 25-45, maio/ago. 2019.
SILVA, Valdicley Euflausino da. Os discursos sobre o ensino religioso e os materiais
didáticos do ensino religioso no Rio Grande do Norte: experiências, memórias e
identidades. 2014. 100 f. Trabalho de conclusão de curso de Ciências da Religião,
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.
SILVA, Valdicley Euflausino da. Memória docente sobre matérias didáticos de ensino
religioso do Rio Grande do Norte: lembranças e recordações sobre a Cartilha de De us .
2016. 98 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de pós-graduação em Educação, Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 643
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ESTÁGIO SUPERVISIONADO DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UERN


NA FORMAÇÃO INICIAL DAS(OS) ESTUDANTES

Lívia Maria Lins de Queiroz Xavier1; Maria Cleonice Soares2

Palavras-chave: Teoria-prática. Formação docente. Formação pessoal e profissional.

O estudo busca compreender o Estágio Supervisionado do Curso de Pedagogia da


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN para a formação inicial das(os)
estudantes de Pedagogia da UERN, a partir de uma análise desse componente curricular nos
estudos monográficos realizados nos períodos de 2017 a 2019.
O interesse por essa temática surgiu a partir de reflexões sobre a formação e atuação
docente, especificamente, no Estágio Supervisionado I e II, componentes integrantes e
obrigatórios na matriz curricular do Curso de Pedagogia da UERN. Estas disciplinas são
destinadas a proporcionar momentos de ensino-aprendizagem para estudantes e professoras
envolvidas no processo, de modo que tenham a oportunidade de conhecer e problematizar o
campo de atuação, vivenciando as teorias e práticas no contexto da sala de aula de forma a
ressignificar a formação inicial docente.
O Estágio Supervisionado escolar, conforme o Projeto Político Pedagógico do Curso de
Pedagogia da UERN, é compreendido como uma disciplina que se configura como um espaço
de produção do conhecimento, de forma a favorecer a pesquisa e a extensão por meio de troca
de experiências e vivências a partir da confluência das diversas atividades curriculares, não se
limitando assim, a transferência linear da teoria para a prática (UERN, 2012, p. 60).
Pimenta e Lima (2012) afirmam que o Estágio deve ser encarado não como um apêndice
no curso, mas como “[…] componente curricular e eixo central nos cursos de formação de
professoras(es), apresentam os aspectos indispensáveis à construção do ser profissional docente
no que se refere à construção da identidade dos saberes e das posturas necessárias” (p. 29).
Nesse sentido, o estágio configura-se como campo formativo teórico-prático.
A pesquisa objetiva analisar o Estágio Supervisionado do Curso de Pedagogia da UERN
na formação inicial docente a partir dos estudos monográficos de estudantes de Pedagogia da
UERN; identificar as perspectivas formativas do estágio supervisionado na formação inicial
docente das(os) estudantes de pedagogia.
No sentido de aprofundar nossos conhecimentos em relação ao componente Estágio,
fundamentamo-nos em autores como Pimenta e Lima (2012), Lima (2012; 2008), Soares
(2015). Para produzir as informações do estudo realizamos uma pesquisa exploratória com base
nas Monografias produzidas no Curso de Pedagogia, campus central, que versam sobre o
Estágio Supervisionado nos períodos/anos de 2017 a 2019.
Para o levantamento das monografias, realizamos, inicialmente uma pesquisa no site da
biblioteca (Portal UERN) por meio das palavras chaves: estágio de pedagogia, estágio
supervisionado, estágio obrigatório, estagiários, estudantes de pedagogia, e pedagogia e estágio.
Pesquisamos tanto nas listas de monografias disponíveis na Biblioteca Virtual como na física.
Após, organizamos uma lista com as monografias encontradas que tinham como objeto
de estudo o estágio supervisionado escolar. Como todas as monografias encontradas não
estavam disponíveis virtualmente, buscamos na Biblioteca Central e na Sala de Leitura da
1
Estudante do curso de Licenciatura em Pedagogia do Departamento de Educação – FE da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte - UERN; e-mail: livialiins@hotmail.com
2
Professor do Departamento de Educação/ Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte – UERN. Participa do Grupo de Pesquisa Educação e Linguagens - GEPEL; e-mail: cleonicesoares@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 644
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Faculdade de Educação as monografias físicas. Consultamos também o Departamento de


Educação da Faculdade de Educação para verificar as listas de monografias aprovadas no
período de estudo.
A partir do material encontrado, selecionamos 12 monografias de estudantes de
Pedagogia, campus central, UERN sobre o Estágio escolar do ano de 2017 a 2019. Iniciamos a
leitura das pesquisas, principalmente: resumos, metodologia, discussões, resultados e
considerações finais. Agrupamos as monografias selecionadas a partir dos seguintes enfoques:
processos formativos e vivências no estágio (MAIA, 2018) e (OLIVEIRA, 2018); saberes
teóricos e práticos, (MENDES, 2018) e (RODRIGUES 2019); o cuidar e o educar na Educação
Infantil (MOURA, 2017) e (NEPOMUCENO, 2019); os saberes e as práticas nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental (ANDRADE, 2018); saberes e práticas no ensino da Língua Portuguesa
(FARIAS, 2018), os saberes e práticas no Ensino de Matemática (CARMO, 2017), saberes e
prática na formação do professor da EJA (LEONEL, 2017); relação entre os estagiários e
professores supervisores de campo no Estágio Supervisionado (FREITAS, 2018) e
(OLIVEIRA, 2019).
Os trabalhos de Maia (2018) e Oliveira (2018) apontam que o estágio proporciona
aprendizagens significativas, constituídas pelos estudantes durante a formação, bem como os
desafios enfrentados durante o curto tempo do estágio. Nesse espaço, os estudantes podem
observar o seu futuro lócus de trabalho e o contexto social do âmbito escolar enquanto assumem
a responsabilidade de ser professor/aluno, em um lugar que futuramente estarão ocupando de
forma profissional.
Nas pesquisas monográficas de Mendes (2018) e Rodrigues (2019) podemos perceber
que uma das preocupações recorrente entre os estagiários é estabelecer o elo da teoria com a
prática, mesmo destacando as possíveis dificuldades que tiveram para relacionar essas
dimensões no cotidiano da prática, ressaltam a indissociabilidade entre uma e outra.
Nepomuceno (2019) e Moura (2017) estudaram o Estágio na Educação Infantil.
Consideram que o Estágio I tem um desafio peculiar, pois a atuação é com público infantil que
compreende crianças de 3 a 5 anos de idade e, muitas vezes, é a primeira experiência dos
estagiários como docentes. Moura (2017) chama a atenção para as dimensões do cuidar e o
educar na educação infantil, situando a necessidade de diferenciá-las. Enfatiza que para que
sejam trabalhadas de forma integral é importante que se conceba a necessidade que as duas têm
em caminhar juntos.
Andrade (2018, p.46), situa que as(os) estagiárias(os) organizam suas ações pedagógicas
de modo que envolvam os alunos de forma significativa nas atividades. Portanto, considera que
os recursos lúdicos com base a realidade das(os) alunas(os) são necessárias a prática docente.
As monografias de Carmo (2017) e Farias (2018), revelam que dentre as disciplinas
presentes nos Anos Inicias Ensino Fundamental, as matérias de Língua Portuguesa e
Matemática tem ênfase nas discussões do estágio II, tanto no que se refere ao ciclo de
alfabetização como nos demais anos. Há uma preocupação por parte da escola no
desenvolvimento de habilidades nestas duas áreas de ensino.
A monografia de Leonel (2017) estuda o Estágio na EJA, trazendo uma pesquisa
autobiográfica, onde narra sua própria experiência no estágio nesta modalidade de ensino. Ao
discutir sua vivência, pontua que poucos alunos se interessam por esta modalidade de ensino
no estágio, contudo é uma oportunidade de conhecer esse espaço de atuação do pedagogo.
Oliveira (2019) e Freitas (2018), estudaram a relação entre os estagiários e professores
supervisores acadêmicos e de campo no Estágio Supervisionado. Para Oliveira (2019) as
professoras supervisoras de campo de estágio ao receber os estagiários em sua sala, observam
a didática, a aula desse estagiário e orientam essa prática. Mas também aprendem, pois muitas
vezes, são mobilizadas a utilizar outras metodologias em suas aulas. Com isso, percebemos que
o Estágio também é formativo para as professoras supervisoras do campo escolar, que por sua

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 645
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

vez também problematizam o seu fazer frente metodologias adotadas no processo de ensino-
aprendizagem. Portanto, percebemos que há uma troca de conhecimentos e saberes entre os
professores e estagiários.
Inferimos que a(o) estagiária(o) consegue, durante seu tempo de estágio, aproximar-se
não somente do campo de atuação, mas também dos profissionais que pensam e desenvolvem
atividades didático-pedagógicas, o que possibilita perceber processos de atuação e interação
com a sala de aula com a diversidade e as demandas das(os) alunas(os) a quem ensina/aprende.
Conforme a monografia de Freitas (2018, p. 32), o estágio e a relação entre professoras
(es) supervisoras(es) de campo e estagiárias(os) é carregada de afetos. Ressalta a importância
dos três estágios para conclusão de curso, considerando que, são momentos decisivos para a
formação e para a assimilação entre a teoria e a prática. Sendo através dessas vivências no
estágio que os/as estudantes tem um crescimento pessoal e profissional, ao superar limites e
desenvolver conhecimentos sobre o campo escolar e a própria profissão.
A partir das monografias analisadas, foi possível perceber, de modo geral, que as autoras
expuseram a relevância que o Estágio Supervisionado tem para a formação inicial de
professores. Mesmo relatando as dificuldades, anseios e aflições que emergem durante esse
percurso, reafirmaram a necessidade deste componente no decorrer da sua formação, pois
possibilita o desenvolvimento e aprendizagem da profissão docente por meio das vivências in
loco, sendo este componente basilar na compreensão do contexto escolar durante a formação.
Constatamos assim, que o as implicações ocasionadas pelo Estado Supervisionado do
Curso de Pedagogia da UERN, fazem com que os estagiários superem desafios como
insegurança e receio de assumir uma sala de aula, tendo autonomia enquanto ainda graduandos.
Durante esse processo formativo, os alunos problematizam situações no seu campo de
atuação e ressignificam os seus conhecimentos para o desenvolvimento e aprimoramento
formativo. O que nos permite constar que o componente é relevante na formação de professores,
sendo significativo no seu processo de ensino-aprendizagem.
Agradecemos ao Programa Institucional de Iniciação Científica – PIBIC, e a
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN pela oportunidade de realizar a
pesquisa PIBIC.

ANDRADE, Neucivania Moura de. Saberes e práticas docentes desenvolvidas pelos alunos
estagiários do Curso de Pedagogia FE/UERN: narrativas de experiências. 2018. 35 f.
Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação,
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2018.

CARMO, Ana Carina Diógenes do. Estágio Supervisionado atuação do estagiário nas aulas
de matemática dos anos iniciais do ensino fundamental. 2017. 38 f. Trabalho de Conclusão
do Curso de Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação, Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte, Mossoró, 2017.

FARIAS, Taísa de Oliveira. Perspectivas dos Estagiários do Curso de Pedagogia sobre o


Ensino de Língua Portuguesa nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. 2018. 52 f.
Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação,
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2018.

FREITAS, Éricka L. Pereira. Estágio supervisionado e formação docente na FE/UERN:


percepção dos alunos sobre relação professor regente e estagiário. 2018. 35 f. Trabalho de
Conclusão do Curso de Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação, Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 646
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

LEONEL, Magaly Kelly Oliveira. Saberes mobilizados do estágio supervisionado na EJA:


narrativas de uma futura educadora. UERN, 2017. 46 f. Trabalho de Conclusão do Curso de
Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, Mossoró, 2017.

MAIA, Aline Emanuela Rodrigues. O Estágio Supervisionado no Curso de Pedagogia: as


significações de uma aluna sobre seu processo formativo. 2018. 52 f. Trabalho de Conclusão
do Curso de Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação, Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte, Mossoró, 2018.

MENDES, Rafaela Gurgel. Concepções e práticas sobre a educação infantil: entre o estudo
teórico e a vivência no estágio supervisionado. 2018. 38 f. Trabalho de Conclusão do Curso de
Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, Mossoró, 2018.

MOURA, Ruth Paulo do Nascimento. Experiências formativas do Estágio Supervisionado


I: o cuidar e o educar das crianças em tempo integral na educação infantil. 2017. 42 f. Trabalho
de Conclusão do Curso de Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação, Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2017.

NEPOMUCENO, Janaina Alana Crispim de Almeida. O Estágio Supervisionado I e sua


influência na formação inicial do professor. 2019. 32 f. Trabalho de Conclusão do Curso de
Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, Mossoró, 2019.

OLIVEIRA, Flaviana Fernandes de. Relatos de Experiências Vivenciadas no Estágio


Supervisionado II no Curso de Pedagogia/UERN/Mossoró/RN: aprendizagens e desafios.
2018. 35 f. Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de
Educação, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2018.

OLIVEIRA, Jéssica R. Bezerra de. Estágio Supervisionado: o que pensam as professoras da


rede pública de Mossoró. 2019. 45 f. Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia,
licenciatura plena, Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Mossoró, 2019.

RODRIGUES, Jéssica Raquel Bezerra de. Estágio Supervisionado: o que pensam as


professoras da rede pública de Mossoró. 2019. 35 f. Trabalho de Conclusão do Curso de
Pedagogia, licenciatura plena, Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, Mossoró, 2019.

SOARES, M. Cleonice. Atuação do estagiário do Curso de Pedagogia da UERN na sala de


aula na percepção do professor supervisor. 2015. 205 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, Mossoró, RN, 2015.

UERN. Faculdade de Educação – FE. Departamento de Educação – DE. Projeto Pedagógico


do Curso de Pedagogia. Via Impressa. Mossoró/RN, 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 647
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ESTUDO DA PRODUÇÃO DE SABERES SOBRE AS SECAS POR MEIO


DA COLETÂNEA “LIVROS DAS SECAS” (1980-1991) – SÉRIE C,
COLEÇÃO MOSSOROENSE

Carlos Henrique Gomes Silveira1; Lindercy Francisco Tomé de Souza Lins2

Palavras-chave: História das Editoras. Coleção Mossoroense. Discurso da seca. Vingt-un


Rosado. Capitalismo editorial.

Introdução

Entre os anos de 1980 e 1991, a editora Coleção Mossoroense publicou uma série de
livros com 22 volumes intitulada – a partir do 3º volume, publicado em 1982 – de “Livros das
secas”3, reunindo vários documentos de autores e temporalidades diferentes que versam sobre
as secas. Esta foi uma iniciativa de seu criador e principal editor o intelectual mossoroense
Vingt-un Rosado (1920-2005), então diretor da Fundação Guimarães Duque (FGD), vinculada
a Escola Superior de Agricultura de Mossoró (ESAM) – desde 2004, Universidade Federal
Rural do Semiárido (UFERSA). Ambas são também criações de Vingt-un: a ESAM, em 1967,
e a FGD, em 1974.
O objetivo da pesquisa foi realizar uma investigação empírica de caráter quantitativo
com a coletânea “Livro das secas”, procurando mapear os autores e as temáticas presentes nos
documentos selecionados e organizados majoritariamente por Vingt-un Rosado e outros 4
colaboradores, América Rosado, Otto Guerra, Tereza Aranha e José Bonifácio Câmara.
Os problemas do Nordeste, notadamente a seca, é o principal eixo temático da Coleção
Mossoroense, que desde sua criação, em 1949, publicou mais de 4 mil títulos organizados em
10 séries de “A” a “J”, sendo cerca de 900 destes sobre seca, abordada em perspectiva
interdisciplinar, como história, geografia, agronomia, paleontologia, botânica, etc. Logo,
compreendemos este trabalho como uma investigação inicial sobre parte de um projeto
editorial que se associal a outro maior no campo político e cultural da localidade mossoroense
e mesorregião do Oeste potiguar, empreendido por Vingt-un Rosado, principalmente a partir
de 1948, quando inicia a chamada “Batalha da Cultura”4. A Coleção Mossoroense surge
como parte da “batalha”, porém como um empreendimento privado, contando com auxílio
financeiro da prefeitura municipal de Mossoró. Este projeto foi utilizado por Vingt-un para
cunhar uma representação de si como um intelectual a serviço da cidade, o “guardião da
memória e da cultura mossoroense” (FERNANDES, 2014, p. 19).
1 Estudante do 7º período do curso de História do Departamento de História (DHI) da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail: carlossilveira@alu.uern.br.
2 Professor do DHI da UERN, membro do Grupo de Pesquisa História do Nordeste – Sociedade e Cultura; e-
mail: lindercylins@uern.br.
3 Os primeiros dois volumes são chamados “Memória da seca”, publicado em 1980, e “Memorial da seca”,
publicado no ano seguinte, em 1981. A partir do terceiro volume começam a serem chamados “Terceiro livro
das secas”, “Quarto livro das secas”, assim por diante. Sabe-se da existência de um “Vigésimo terceiro livro
das secas”, porém este não foi encontrado até o momento.
4 Dix-sept Rosado eleito prefeito da cidade, em 1948, convoca seu irmão mais novo, Vingt-un Rosado a
desenvolver um projeto cultural que começou com a criação da Biblioteca e Museu municipal e o Boletim
Bibliográfico, ainda no mesmo ano, as quais Vingt-un e uma comissão ficara responsável por administrar
(COSTA, 2012 p. 155).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 648
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

O trabalho desenvolveu-se inicialmente com a analise dos sumários dos livros. A


maioria deles estão salvaguardados na sede do Grupo de Pesquisa História do Nordeste -
Sociedade e Cultura, e o restante na Biblioteca Padre Sátiro, da UERN. Foram fotocopiados e
digitalizados como parte do plano de trabalho do projeto, e desde então, utilizados em arquivo
virtual. A partir da digitalização, a segunda parte do trabalho ocorreu com a análise
quantitativa e qualitativa dos “Livros das secas”, em que foi discutida sua temática com a
literatura especializada, a saber:
Fora feito constante diálogo Albuquerque Júnior (1988; 2008), o qual compartilhamos
a concepção de que a seca é mais que um fenômeno natural com consequências sociais, mas
um objeto de saber e poder; a partir da “Grande seca de 1877-79”, passou a ser considerado o
principal problema da região, avolumando-se os enunciados imagéticos discursivos sobre
este; antes era apenas problema para os pobres, com o episódio citado e devido a então região
Norte do país estar em crise econômica e política, a seca ganho grande visibilidade regional e
nacional, sendo acoplada as reivindicações das elites nortistas, usada estrategicamente na
política, na disputa por recursos para a região.
O trabalho de Andréa Lemos Xavier Galucio (2009), também nos foi de substancial
importância, pois serviu como parâmetro no que diz respeito ao domínio da “História das
editoras”. A autora se baseia no conceito de “campo editorial”, desenvolvido pelo sociólogo
francês Pierre Bourdieu, e em seu trabalho defende que o estudo das publicações, trajetórias
de editoras e atuação de seus editores contribuem para revelar projetos político-culturais mais
amplos e que as envolve (GALUCIO, 2004, p. 35).
Por fim, as considerações do historiador francês Jacques Le Goff (2013) sobre
documento/monumento, foram elucidativas no sentido de reconhecê-los como materiais de
memória coletiva, que precisão ser criticados a partir de suas condições de produção e
distribuição; como instrumento de um poder que serve a um grupo social (LE GOFF, 2013, p.
545).

Resultados e Discussões

A coletânea de 22 “Livros das secas” reúne um montante de 252


documentos/monumentos escritos, selecionados e organizados por: engenheiro agrônomo e
intelectual Vingt-un Rosado (8); Vingt-un e sua esposa, América Rosado (7); o jurista Otto
Guerra (2), filho de Felipe Guerra e responsável por reunir os artigos de seus pai; a então
professora de Serviço Social da UFRN, Tereza Aranha (2); e por fim, o bibliógrafo cearense
José Bonifácio Câmara (1). Outros financiadores e parceiros da FGD destacados nas
publicações, são: CNPq, com os volumes “Memorial da secas” e o “Sexto livro das secas”; a
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, através do Centro de Estudo e Debates
Presidente Café Filho, coeditando e financiando os volumes “Terceiro livro das secas” e o
“Quarto livro das secas”; PROVÁRZEAS, PROFIR e EMBRATER, nos volumes “Quinto
livro das secas”, “Sétimo livro das secas”, e “Nono livros das secas”; Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN), editando, através da Editora Universitária (Edufrn) os volumes
“Oitavo Livro das secas”, “Décimo livro das secas”, “Décimo primeiro livro das secas”,
“Décimo segundo livros das secas”; além da Secretaria Geral do Ministério da Educação, a
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte e a Associação
Brasileira de Algaroba, com os volumes “Décimo terceiro livro das secas”, “Décimo quarto
livro das secas” e “Décimo quinto livros das secas”; respectivamente.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 649
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

São reunidos mais de 100 autores diferentes, entre eles políticos, engenheiros,
geógrafos, agrônomos, juristas, historiadores, jornalistas, entre outros, que versam sobre
causas e soluções mais eficazes para resolver, atenuar, conviver, entender a problemática das
secas da região Norte/Nordeste. Estes remontam uma tradição discursiva técnico-científica e
político oligárquica nortistas desde a segunda metade do século XIX: artigos científicos,
relatórios institucionais do DNOCS e notícias retiradas de jornais, isto ao longo do século XX
até os primeiros anos da década de 1980.
Destacam-se numericamente e tematicamente os textos do político e jurista Felipe
Guerra (46); o engenheiro agrônomo, Francisco Alves de Andrade (10) 6; o geógrafo da USP
5

Aziz Nacib Ab’Sáber (8); e o meteorologista Adalberto Serra (3).


Constata-se que não foi uma seleção aleatória de documentos de importância sobre e
para os estudos das secas. Há uma construção discursiva na forma como estes documentos
estão organizados e uma motivação para que estes fossem selecionados – isto é, para além da
questão prática da aquisição, o fácil acesso e a notificação de um documento em detrimento
de outro, por exemplo.
Os livros foram publicados entre 1980 e 1991, momento em que a editora Coleção
Mossoroense estava no que é considerado sua segunda fase, a partir de 1974, alocada e
sustentada financeiramente pela ESAM, isto até 1994. Nesta fase, a editora teve um boom no
número de publicação passando de 243, quando financiada pela prefeitura, para 1.888 títulos
publicados. Não se pode dissociar o trabalho editorial com a reunião destes documentos com:
primeiro, o perfil intelectual de Vingt-un Rosado e seus interesses de estudo, como geologia,
paleontologia e agronomia; segundo, com o projeto político-cultural em curso desde de 1948,
chamado de “Batalha da cultura”, sendo Coleção Mossoroense e a ESAM exemplos de suas
realizações concretas.
No mais, a publicação destes livros, reforça a ideia de um certo “capitalismo editorial”
sendo a seca um elemento constituidor e unificador da identidade mossoroense fomentada
justo pelas construções discursivas, (re) produzidas e que circulam. Estas são produtos
simbólicos que atuam na criação de um sentimento de pertencimento a uma “comunidade
imaginada”, o que o próprio Vingt-un chama de “o país de Mossoró”, “um dos fundamentos
da experiência nacionalista que deita em papel projetos e estratégias de uma elite política
envoltos em atmosfera mitológica, na qual passado e presente se confundem na manutenção
de características que se pretendem atemporais” (MENDES apud ANDERSON, 2018, p. 64).

Conclusão

Estudar os “Livros das secas” é analisar as apropriações dos documentos/monumentos


da memória coletiva, os nomes, datas e saberes daqueles que procuraram entender e
solucionar o problema das secas. Por outro lado, é uma investigação sobre a (re) produção de
enunciados que forjam a seca como elemento constitutivo da identidade regional nordestina.
Enfim, é também compreender uma parte de uma projeto editorial que se associa a outro mais
amplo no campo da política e da cultura, desenvolvido em primeiro lugar por Vingt-un
Rosado com a Coleção Mossoroense, um instrumento de produção e distribuição de
constructos simbólicos que cria identidades e espacialidade como dispositivos de saber e
poder por meio da cultura, que também é um campo de conflito e disputa.
5 Felipe Neri de Brito Guerra (1867-1951), natural de Campo Grande, foi juiz de Direito em Mossoró,
desembargador e secretário de Educação; foi também grande defensor da açudagem nos jornais norte-rio-
grandense, como “A República”, “Diário de Natal”, etc.
6 Então professor da Escola Agronômica da Universidade Federal do Ceará, foi um defensor do chamado
“Humanismo telúrico” e da “solução compósita” com uma perspectiva crítica e antropológica nos estudos e
tratamento dos problema das secas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 650
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos

Grato ao CNPq pelo fornecimento da bolsa de pesquisa, o que foi importante para
viabilizar financeiramente o tempo dedicado ao projeto e até garantir minha permanência na
Universidade. Agradeço a paciência e solicitude do orientador Lindercy Lins; por fim, o
carinho de dona Silvana, minha mãe.

Referências

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Falas de Astúcia e de Angústia: a seca no


imaginário nordestino – De problema a solução (1877-1922). Dissertação (Mestrado em
História). Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, 1988.

ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. Palavras que calcinam, palavras que
dominam: a invenção da seca do Nordeste. In: Nos Destinos de Fronteira: história, espaços e
identidade regional. Recife, PE: Bagaço, 2008. p. 111-120.

COSTA, Bruno Balbino Aires. As “Batalhas” dos Rosados: política e cultura em Mossoró –
RN (1948-1967). IN: OPSIS, Catalão, v.12, n. 1, p. 146-163, jan/jun. 2012.

FERNANDES, Paula Rejane. A escrita de si do intelectual Jerônimo Vingt-un Rosado


Maia: arquivos pessoais e relações de poder na cidade de Mossoró (RN) – 1920 – 2005.
Vitória – ES, 2014. 210f. Tese (Doutorado em História) – Centro de Ciências Humanas e
Naturais, Universidade Federal do Espirito Santo, 2014.

GALUCIO, Andréa Lemos Xavier. Civilização Brasileira e Brasiliense: trajetórias


editoriais, empresários e militância política. Niterói – RJ, 2009. 316f. Tese (Doutorado em
História) – Universidade Federal Fluminense, 2009.

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução Bernardo Leitão; 5ª edição; Campinas,


São Paulo: Editora da Unicamp, 2003.

MENDES, Fabiano. O caos com causa: Vingt-un Rosado e o veio político da construção
identitária na Coleção Mossoroense. In:______. COSTA, Bruno B. Aires; FERNANDES,
Saul Estevam (Org.). Capítulos de história intelectual do Rio Grande do Norte. Natal, RN:
Editora Ifrn, 2018. p. 47-68

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 651
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ESTUDOS ICONOGRÁFICOS: REPRESENTAÇÕES DE


CULTURAS ESCOLARES E PRÁTICAS EDUCATIVAS
Wigna Maria Macêdo Oliveira Nascimento1; Sara Raphaela Machado de Amorim²

Palavras- chave: Pesquisa histórica. Fotografias. Arquivos Escolares. História das


Instituições Escolares.

INTRODUÇÃO
O objetivo desta pesquisa é discutir acerca do trabalho com fotografias do
universo escolar para o campo da História da Educação. Através das imagens, nos é
possível investigar quais as representações foram historicamente construídas acerca da
culturas escolares a partir das análises de elementos da cultura material, bem como bem
como observar os indícios que apontam para as práticas educativas desenvolvidas nas
instituições que se constituem enquanto lócus de pesquisa.
Esta investigação foi viabilizada a partir do acesso ao acervo documental, do
Educandário Nossa Senhora das Vitórias (1927), situado no município de Assú/RN. Além
das buscas realizadas no arquivo da referida escola, buscamos contatos com
memorialistas locais que nos disponibilizaram outros documentos que foram essenciais
para a realização deste estudo.
Os diálogos entre história e educação têm sido cada vez mais necessários e o
campo da História da Educação tem produzido conhecimentos diversos acerca da história
das instituições escolares, a partir da investigação por meio do diálogo entre os mais
distintos documentos que possam ser encontrados dentro e fora das instituições oficiais
de ensino. Este materiais trazem informações importantes sobre os seus períodos de
produção, a partir de documentos escritos, como atas, livros de ponto, e outros, além da
possibilidade do uso das fotografias escolares que construíram fortes representações
acerca do cotidiano vivenciado pelas pessoas que ocupavam aquele espaço escolar.

METODOLOGIA

1Graduanda do Curso de Pedagogia. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UERN - Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte. Contato: wignamacedo@hotmail.com
²Doutora em Educação. Líder do Núcleo de Pesquisa em Educação/NUPED-CNPq. Professora do
Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Contato:
raphaela.amorim@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 652
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para que esta pesquisa acontecesse, visitas ao acervo da instituição foram feitas,
documentos mapeados, digitalizados e catalogados a fim de analisarmos algumas
questões que incidem de forma direta sobre a fotografia escolar. Quando trabalhamos com
a história que é contada a partir dos registros impressos, percebemos diversos elementos
que emergem e dizem respeito aos contextos de produção circulação e recepção, bem
como atentamos para as especificidades no trabalho com cada documento utilizado.
Ao visitar o acervo do Educandário Nossa senhora das Vitórias, encontramos
alguns documentos, como Livros de Ponto, Atas, Livros de Registros de Frequência dos
alunos, fotografias. Apesar da diversidade de documentos encontrados, nosso estudo
encontra-se focado no trabalho com as imagens, por entendermos que estas foram
registradas com objetivo de contar a história da instituição e dos sujeitos que dela fizeram
parte, desde as glórias do passado, aos dias atuais.
De acordo com Vidal (1994, p.129) as imagens “não apenas ilustram uma época,
mas estão prenhes ou não de outras informações, acessíveis ou não, àqueles que os
interrogam. [...] São signos, e como signos devem ser tratados, interrogados nos seus
significantes e significado”.As imagens encontradas são datadas das primeiras décadas
do início do século XX, portanto, registros em preto e branco que apesar tempo,
encontram-se em ótimo estado, onde muitos indícios podem ser lidos.
A imagem se faz entender em nossos dias atuais como um documento, uma fonte
histórica que muito pode nos contar sobre realidades, e acontecimentos passados,
informações que seriam impossíveis de outra forma, temos acesso através de imagens,
pois a partir de um registro feito, várias informações podem ser construídas, ou reveladas,
a partir do contexto social e cultural de cada época, revelam a respeito das experiências
diárias vivenciadas no cotidiano escolar. Destacamos, ainda, que o ato de registrar o
cotidiano não era algo acessível à todas as instituições educacionais, o que nos aponta
para mais um elemento da cultura escolar do Colégio Nossa Senhora das Vitórias.
A partir do entendimento, significado e importância das imagens para os estudos
iconográficos, analisamos algumas fotografias que retratam e contam a história que vai
desde situações escolares cotidianas até festividades escolares e/ou cívicas.
Corroboramos com Viñao Frago (1995, p.69) ao dizer que “y sí, es cierto, la cultura
escolar es toda la vida escolar: hechos e ideas, mentes y cuerpos, objetos y conductas,
modos de pensar, decir y hacer.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 653
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os estudos iconográficos nos ajudam a perceber também, os acontecimentos


históricos, políticos e sociais, que vão nos dando um respaldo para chegarmos ao
entendimento sobre determinadas realidades aspectos centrais da educação, como se
davam as relações no cotidiano da escola, entender também o que a escola produzia acerca
de sua história.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Educandário Nossa senhora das Vitórias, fundado no ano de (1927) no
município de Assú, era de cunho católico a direção das filhas do amor divino, a fundação
da instituição tinha como objetivo educar as moças da região, esse era um desejo da igreja
católica em fortalecer seus ideais no mundo a fora, em seu primeiro ano de funcionamento
atendeu apenas as meninas, no ano seguinte é que foi aberto aos meninos. Era um marco
na história do Assú e região.
A partir das leituras, sobre os estudos iconográficos, que contam, em parte a
história da instituição através de imagens, mas também sobre a história da educação,
vivenciadas na época em que a escola era para poucos no Brasil. As imagens nos fazem
percorrer uma caminho muito amplo sobre como acontecia a educação no século XIX,
início do XX, as conjecturas políticas, sociais, e culturais da época em que a educação era
para poucos, onde a menina devia ter comportamento diferenciado, onde a preparação na
escola também, estava voltada para o casamento.

CONCLUSÃO

A partir dessa pesquisa entendemos a importância das fontes, e de sua


manutenção e cuidado para que no futuro, outros estudos possam ser realizados mediante,
a análise de imagens. Durante a pesquisa foi possível entender o quanto esse universo é
rico, e cheio de possibilidades, para que mais pesquisas surjam, pois o mundo da pesquisa
é amplo e inesgotável.
A pesquisa nos apresentou a imagem como discurso imagético, que precisa ser
lido, entendido, e o avanço nos estudos iconográficos nos permite entender, de forma
mais clara, as representações escolares e as práticas educativas que contribuem, para a
investigação histórica, pois a partir dos estudos com imagens nos é possível novas
descobertas importantes, para a história, como as experiências sociais e culturais de cada
época.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 654
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na análise das fontes, pudemos percorrer as décadas de funcionamento da


instituição, observando as mudanças desde a sua estrutura arquitetônica, até em sua
organização, propostas educativas, ofertas de disciplinas e cursos. Destacamos que as
fotografias nos oferecem perspectivas e olhares diferentes de quaisquer outras fontes que
possam ser utilizadas no campo da História da Educação. Desde a observação da
intencionalidade do ato de fotografar, dos objetivos que orientam a produção do registro
e os motivos para sua salvaguarda no acervo da instituição, nos aproximamos com os
meandros que constituem a trajetória de uma das instituições mais antigas do Vale do
Açu, compreendendo os sentidos e significados construídos ao longo de suas décadas de
atuação na referida localidade.

AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos se destinam às instituições que tornaram esta pesquisa


possível. Somos gratas à Universidade do estado do Rio Grande do Norte, que proveu
meios para chegarmos até aqui, financiando a pesquisa por meio do Programa
Institucional de Iniciação Científica/PIBIC. Agradecemos ainda, ao Educandário Nossa
Senhora das Vitórias, por abrir suas portas, nos permitindo acesso às fontes de seu acervo
privado, sempre com tanta disponibilidade e incentivo à pesquisa científica.

REFERÊNCIAS
ALMADA, Márcia. Cultura escrita e materialidade : possibilidades interdisciplinares
de pesquisa. Pós: Belo Horizonte, v. 4, n.8, p. 134 – 147, nov. 2014.
BACELLAR, Carlos. Fontes documentais: uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY
C.B., Fontes históricas, 2 ed. São Paulo: Contexto, 2008.
BURKE, Peter. Testemunha Ocular: história e Imagem. Tradução Vera Maria Xavier
dos Santos. Bauru, São Paulo: EDUSC, 2004.
MOGARRO, Maria João. Arquivos e educação: a construção da memória educativa.
Revista Brasileira de História da Educação. nº 10 de jul./dez.2005.
VIDAL, Diana Gonçalves. Fontes visuais na História: significar uma peça. Varia
História, Belo Horizonte, nº 13, Junho/94, p. 128-131.
VIÑAO FRAGO, Antonio. História da educação e história cultural: possibilidades,
problemas e questões. Revista Brasileira de Educação, 0, p. 63-82, 1995.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 655
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EXPANSÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSO EM


EDUCAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE (1998 – 2017): AVANÇOS E
DESAFIOS

Talita da Silva1; Allan Solano Souza2

Palavras-chave: Acesso. Distribuição democrática. Interiorização. Qualidade.

A presente pesquisa visa compreender o processo de estruturação e institucionalização


da pós-graduação strictu senso em educação, identificando suas principais legislações, e tem
como recorte o estudo dos avanços e as dificuldades para a sua expansão na região Nordeste.
Os procedimentos que foram realizados se deram por meio de revisão bibliográfica, em
autores como Kato e Ferreira (2016), Oliveira e Carvalho (2019), e Ramalho e Madeira
(2005), e compilação de dados quantitativos que foram agregados a partir do sistema
Geocapes. Nesse sentido, optou-se por uma abordagem quanti-qualitativa (MINAYO, 2001)
de caráter exploratório. Para a seleção e análise foram definidos dois indicadores: a
distribuição de discentes matriculados e titulados em âmbito da pós-graduação estrito senso e
o número de distribuição de bolsas. Diante de tais afirmações, aprofundamos como isto se deu
na Região Nordeste durante o período de 1998 a 2017, onde apresentam particularidades
diante de outras regiões e também desigualdades diante do acesso a esse nível de ensino.
Durante o processo de estudo, os dados foram compilados e organizados em tabelas e
gráficos, para melhorar a visualização e a sistematização dos indicadores. De modo particular,
no indicador bolsas foram analisados os números de distribuição para doutorados plenos,
mestrado, mestrado profissional, professor visitante nacional sênior, e pós-doutorados. Já para
o indicador de discentes matriculados e titulados, destacam-se aspectos relacionados ao
doutorado, mestrado e mestrado profissional, e em relação ao status jurídico das titulações em
educação em gráficos.
Do ponto de vista da estruturação e institucionalização foram estudados os planos
nacionais de pós-graduação partindo dos primeiros PNPGs, mas com ênfase em três planos
que comportam o recorte temporal estudado de 1998 a 2017. Representados pelo 4°PNPG
estão os anos de 1998-2004; pelo 5°PNPG 2005-2010; e o 6° PNPG entre 2011-2017, em
relação com o Plano Nacional de Educação (2014-2024), considerando o conhecimento
produzido em torno desses instrumentos de regulação da pós-graduação no país.
Foram necessários também um aprofundamento acerca dos cálculos em planilhas do
aplicativo Excel, relacionados à porcentagem, de forma a organizar melhor os dados dentro do
texto e de forma que pudessem estabelecer um diálogo entre a literatura especializada e os
quantitativos explorados. A investigação e coleta foi um processo enriquecedor e de muito
aprendizado, principalmente nas reuniões do grupo de pesquisa em que várias trocas de
saberes foram realizadas para qualificar a análise dos dados e aprimoramento do objeto de
estudo.
Os dados revelam que a partir de 2000, a região Nordeste teve um elevado
crescimento no número de distribuição de bolsas, estando diretamente relacionado com o
aumento do número de ingressantes e titulados. Um dos fatores que explicam esse fenômeno

1
Discente do 7° período do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.
silvatalita400@gmail.com
2
Doutor em Educação, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professor da Faculdade de Educação
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, atuando na graduação e na pós-graduação.
allansouza@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 656
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

está associado com a expansão do acesso a pós-graduação para as localidades mais


periféricas, contribuindo para a interiorização da formação de pesquisadores de alto nível.
Considera-se que é uma estratégia bastante pertinente e importante, pois tem o
objetivo de democratizar o ensino, alcançando às áreas interioranas do país, e a população que
habita nesses locais, oportunizando o conhecimento científico. Percebeu-se que esse processo
como traz Oliveira e Carvalho (2019) foi intensificado no ano de 2003, no governo do ex-
presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), que promoveu políticas de fortalecimento da
ciência e valorização da interiorização do ensino superior, através da expansão e
reestruturação da rede federal de ensino. Esse processo de expansão contribuiu para que até
2017 fosse alcançado um alto número de doutores e mestres titulados em educação no
Nordeste.
No ano de 2005 a 2010, de uma forma geral, na região Nordeste, considerando todas
as áreas do conhecimento foi possível perceber a elevação do número de bolsas para
doutorado pleno com um total de 15.550 com 16,7%, e para bolsas de mestrado com um total
de 27.053 sendo 19,4%, e do número de matrículas com 37.643 para doutorado sendo 11,9%;
78.528 para mestrado com 15,1%; e 8.879 para mestrado profissional com 17,7%, e
consequentemente de titulações para a região referente à pós-graduação de stricto senso.
Porém quando passamos a analisar os dados referentes à área da Educação, a distribuição é
considerada baixa diante do total de bolsas destinadas a região.
Do total de bolsas destinadas ao mestrado, correspondente a 27.053 distribuídas na
região, apenas 968 (3,6%) foram para essa área durante o período. Isto também é demonstrado
quando analisamos os dados referentes ao número de matrículas, pois de 37.643 discentes
matriculados no Nordeste para doutorado, 3.090 foram para a área de educação,
correspondendo a 8,2%, e dos 78.528 discentes matriculados no Nordeste para mestrado,
4.856 correspondem para a área de educação com 6,1% e nenhuma matricula de mestrado
profissional para a área. O que reflete nos percentuais acerca das titulações em educação que
se conferem em um total de 687 correspondendo a 11,6% de doutores titulados, 1.922 de
mestres titulados correspondendo a 6,7% ,e 0% de mestres profissionais titulados ao final dos
anos. Isso mostra que menos de 9% dos números de ingressos matriculados na região foram
para a área de educação entre 2005 a 2010, e que apesar disto, os números de titulações se
mantiveram estáveis, sendo que a maioria dos ingressos de doutorado conseguiu elevar o
percentual do número de titulação em relação ao número de matriculados. Percebe-se que
referente a essa distribuição no ano de 2005, há um desequilíbrio na distribuição de bolsas por
Regiões, principalmente no que se confere a área de educação. Tendo em vista que a Região
com mais número compete a Sul e Sudeste do país obtendo 73% dos programas de pós-
graduação, faz com que, passemos analisar os critérios para a distribuição das bolsas, serem
ofertadas em maior número para as regiões economicamente mais produtivas e desenvolvidas,
e onde o número de capital financeiro se sobressai, em razão da quantidade de infraestrutura,
fazendo com que sejam refletidos diante do cumprimento da meta proposta pelo 5° PNPG
(2005-2010), visto que objetiva um crescimento mais democrático, com vistas para o
atendimento das demandas sócias, como traz Ramalho e Madeira (2005, p.75) Apud Brasil
(2005).

A oferta da pós-graduação em educação nas cinco regiões, nos níveis de mestrado e


doutorado (73 programas no total, em 2005), apresenta-se com os seguintes
percentuais: Sudeste 45% mestrado e 56% Doutorado; Sul: 26% mestrado e 17%
doutorado; Nordeste: 16% mestrado e 17% doutorado; Centro-Oeste: 9% mestrado e
10% doutorado; Norte: 4% mestrado e nenhum doutorado. Se considerarmos
somente os doutorados, a concentração dos programas no eixo Sul-Sudeste é ainda
maior: as regiões Sul e Sudeste detêm de 73% dos programas de pós-graduação no
país. (RAMALHO; MADEIRA, 2005, p. 75).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 657
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na área de educação durante o 6° PNPG (2011-2017), onde se configurou em um


período marcado pela flexibilização na pós-graduação, abrindo espaço para o setor privado,
que segundo os autores estudados, como Kato e Ferreira (2016), trazendo riscos para a
qualidade. Isso refletiu diretamente numa política de incentivo a criação de mestrados
profissionais, que ao longo de 2011 a 2017, constatou-se que do total de 1.985 bolsas para a
área da educação na Região Nordeste, considerando esse tipo de Programa, nenhuma foi
destinada para essa área. Ao refletir esses dados, isso se deu ao reflexo de uma resistência
construída historicamente da área, e levando a refletir quais áreas foram direcionados os
investimentos de bolsas. Porém, quando trazemos dados acerca do número de discentes
matriculados, e titulados verificamos que esse foi o único período que houve matrículas e,
assim consequentemente titulações para mestrado profissional na área de educação, sendo as
Ies pública estadual, a maior responsável pelo número das titulações. Existe o incentivo ao
mestrado profissional, porém sem a destinação de bolsas para fortalecer esses programas.
O que traz riscos acerca da caraterização da pós-graduação via Ies públicas e sua
qualidade, já que apesar dos incentivos aos projetos de Ead para expandir o acesso, ele se
distribui carregado de incertezas e dificuldades, pois é oferecido nessas instituições vagas
referentes à oferta do mestrado profissional, com vista ao ensino mais pragmático voltado
para o mercado de trabalho, e o setor produtivo. (OLIVEIRA; CARVALHO, 2019). As
principais críticas a esses programas estão relacionadas com a construção de conhecimento
menos crítico e reflexivo. Entretanto, essa alusão precisa de uma investigação mais
consistente focando diretamente nos limites e avanços dos programas de pós-graduação
profissional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Houve relevante avanço da pós-graduação strictu senso em educação no Brasil. O


aumento de ofertas de bolsas, e vagas em diferentes regiões, reflete o crescimento do ensino
superior depois de sua institucionalização, demostrando sua expansão. Mas apesar de ter
obtido um grande avanço no que confere a essa distribuição durante esses anos para a região
Nordeste, no que se confere a área de educação, ela fica em desvantagem diante de outras
áreas. Processo que devemos considerar diante das reformas propostas visando à formação de
recursos humanos voltados para as empresas como citado por algumas das diretrizes do 6°
PNPG no ano de 2016, onde a distribuição de bolsas de pós- graduação na área de educação
apresenta uma queda na distribuição do Doutorado Pleno, de Mestrado e Pós-Doutorado, e o
número de discentes matriculados e titulados ainda carregam dificuldades acerca de sua
expansão diante de especificidades de acesso, permanência, e qualidade. Por fim, visto que o
trabalho é um recorte temporal, e é analisado de forma ampla, se faz necessário à realização
de mais pesquisas diante de várias outras diretrizes, e indicadores, para que se possam obter
mais dados diante da vasta gama de informações que o tema traz.

AGRADECIMENTOS

Quero expressar aqui minha gratidão a Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte, e à PROPEG por oportunizar o conhecimento cientifico, e proporcionar uma formação
relevante para a iniciação científica. Aos meus colegas, familiares e a todos que fizeram parte
dessa jornada.

REFERÊNCIAS

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 658
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

KATO, Fabíola Bouth Grello; FERREIRA, Luciana Rodrigues. A política de expansão e


financiamento da pós-graduação: as diretrizes do PNPG (2011-2020) e PNE (2014-2024).
Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, v. 32, n. 3, p. 677-697, 2016.

MINAYO, M. C. de L. (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 19. Petrópolis:


Vozes, 2001.

OLIVEIRA, João Ferreira de; CARVALHO, Renata Ramos da Silva. As metas do Plano
Nacional de Educação – PNE (2014-2024) para a educação superior brasileira: As tensões e
os desafios da expansão com Qualidade. In: SILVA, Mônica Aparecida da Rocha;
SANTUARIO, Armando Alcántara (org.). Políticas públicas de educação superior e
desenvolvimento: desafios e dimensões contemporâneas no Brasil e no México. Tocantins:
Eduft, 2019. p. 79-98.

RAMALHO, Betania Leite; MADEIRA, Vicente de Paulo Carvalho. A pós-graduação em


educação no Norte e Nordeste: desafios, avanços e perspectivas. Revista Brasileira de
Educação, n. 30, p. 70-81, 2005.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 659
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FONTES PARA A HISTÓRIA POTIGUAR: a transição do Regime Militar no


jornal Gazeta do Oeste (1977-1978)
Liliane Sonara Sousa Gomes (Bolsista/PIBIC)
Marcílio Lima Falcão (coordenador/PIBIC)

Objetivando entender como a construção do discurso jornalístico refletiu os


arranjos políticos do período da transição do Regime Militar para a redemocratização, no
Rio Grande do Norte, o projeto de iniciação científica Fontes para a História Potiguar
catalogou, ao longo do ano de 2019, matérias jornalísticas que circularam no jornal
mossoroense Gazeta do Oeste nos anos de 1977 e 1978. Buscou-se, também, organizar
as matérias do Gazeta do Oeste no sentido de compreender o lugar da imprensa nas
articulações políticas do período, especialmente, nas escalas estadual e municipal.

Considerada, do ponto de vista político, como um período complexo, a transição


do Regime Militar para a redemocratização encontra nas narrativas jornalísticas um
espaço profícuo ao entendimento dos (re)arranjos políticos que marcaram o contexto da
institucionalização de “um modelo político mais liberal, através da restauração
progressiva de algumas liberdades civis mínimas” (CORDATO, 2005, p. 84).

Dividida em três fases, a transição brasileira durou mais de uma década. A


primeira delas começa em 1974, quando o general Ernesto Geisel é escolhido Presidente
da República, e se encerra, em 1982, em um contexto profundamente marcado pelas
particularidades do “processo eleitoral, o conflito interno dentro das forças armadas e a
emergência de sérios problemas econômicos” (KINZO, 2001, p. 06). A segunda, de 1982
a 1985, caracterizou-se pelo surgimento de novos partidos políticos, pelas mobilizações
da sociedade civil em torno do direito de escolha do presidente da República pelo voto
direto, expressos na campanha das “Diretas Já” (1984) e nas articulações da candidatura
de Tancredo Neves, “representante das oposições” para a eleição indireta no Congresso
Nacional em 1985. No entanto, os embates políticos do período se evidenciaram no
momento que o Partido dos Trabalhadores (PT) não aceitou a “transição negociada” para
a escolha do sucessor do general João Figueiredo fazendo com que, segundo a análise de
Maria D’Alva G. Kinzo, “a nova ordem instaurada em 1985 desse seus primeiros passos
com sua legitimidade já questionada” (KINZO, 2001, p. 07).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 660
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A terceira fase (1985-1990) vai da eleição indireta de Tancredo Neves à eleição


de Collor de Mello (1989). A morte de Tancredo Neves, a crise política e financeira do
Governo José Sarney, os debates na Assembleia Constituinte, a Promulgação da Carta
Constitucional de 1988 e a escolha do primeiro presidente, por eleição direta, mostram
do ponto de vista político, como a transição não foi um processo abrupto (KINZO, 2001,
p. 09).

Diante de todos esses contextos, o papel da imprensa foi imprescindível no sentido


de apresentar narrativas que configuram uma forma de participação no processo como
meio de interligação entre o que se articulava nos bastidores do jogo político e a produção
de uma opinião pública que tecesse os caminhos para uma transição e liberalização
possível para os grupos que haviam apoiado os governos militares, especialmente em sua
fase mais autoritária. Desse modo, no Rio Grande do Norte, especialmente em uma cidade
de médio porte e que se localiza no interior do estado, como é o caso de Mossoró, a
imprensa foi uma das fiadoras desse processo. Jornais como o Gazeta do Oeste, fundado
por Canindé Queiroz, em abril de 1977, circulou pela primeira vez, com periodicidade
semanal, em 24 de setembro do ano de 1977, tornando-se um dos principais veículos de
informação sobre o contexto da transição.

Apresentando-se como “um veículo responsável, apartidário, informativo e


independente, comprometido com a verdade e a justiça”, estava organizado em 12 páginas
que tratavam sobre questões sociais, políticas e econômicas em todas as escalas da vida
cotidiana (GAZETA DO OESTE, p. 2, 17-24 set. 1977). Assim como outros pequenos
jornais que circulavam na cidade de Mossoró, o Gazeta do Oeste apresentava notícias
referentes aos principais grupos políticos que participavam da transição no Rio Grande
do Norte, na maioria das vezes, eram grupos que haviam ou continuavam apoiando o
Regime Militar. Desse modo, o Gazeta do Oeste teve uma participação importante para
fomentar a opinião pública em Mossoró. A imprensa como um todo teve um importante
papel na conjuntura do Regime Militar, entre a censura instaurada através do AI-5 e as
tentativas de resistir a censura denunciando os crimes cometidos pelo autoritarismo da
Ditadura e até mesmo a própria consolidação do Golpe Cível-Militar de 1964.

No contexto da abertura política, o Gazeta do Oeste publicava os principais


assuntos da política nacional e estadual, como o aumento do custo de vida, a corrida pela
sucessão presidencial e estadual, o aumento dos problemas urbanos como a falta de água

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 661
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

e a violência e os problemas das zonas rurais como a seca e a extrema pobreza.1 Os


posicionamentos do jornal pautavam-se em explicações sobre a situação local, eximindo-
se, na maioria das vezes, dos problemas estruturais que atingiam o país. Tal situação
mostra o quanto o Gazeta do Oeste estava associado aos interesses do governador Tarcísio
Maia, pois os elogios eram dirigidos ao governo do estado, especialmente em relação a
sua atuação em Mossoró, como ficou evidenciado durante os festejos do 30 de setembro
de 1977, data em que a cidade comemora a libertação dos escravos em 1883. Na ocasião,
o jornal utilizou toda a página 7 para apresentar aos mossoroense as obras realizadas pelo
governo Tarcísio Maia na cidade. Estadas, construção de prédios públicos, hospital da
polícia militar, reforma na casa do estudante, ponte e centro social foram apresentados à
população como forma de enaltecer o papel do governo estadual (GAZETA DO OESTE,
p. 7, 01, out./nov., 1977).

Nota-se que o crescimento das cidades e população urbana no Regime Militar,


não foi acompanhamento por uma política pública para melhorar a qualidade de vida dos
mais vulneráveis o que refletiu na ampliação das “desigualdades de classe social e de cor,
pois as pessoas com nível educacional mais elevado e os brancos tiveram inicialmente
mais oportunidades de ascensão social que os negros e as pessoas com mais baixo nível
educacional” (LUNA; KLEIN, 2014, p. 68).

A leitura dos exemplares do Gazeta do Oeste aponta que as articulações entre o


governo estadual e as elites políticas locais estavam em sintonia com o processo de
abertura “lenta, segura e gradual” proposta pelos militares. Mostrava que os Rosados,
grupo político dirigente em Mossoró, mantinha um bom relacionamento com o Regime
Militar, expresso em sua aliança com o governo estadual e com a atuação positiva de
Vingt Rosado, representante arenista local no Congresso Nacional, apoiando os projetos
dos militares.

1
A sucessão ao governo estadual no Rio Grande do Norte teve ampla divulgação pelo Gazeta do Oeste.
Em suas páginas foram apresentados os principais postulantes ao cargo e as estratégias políticas, bem os
embates que se configuraram em torno do papel do governador Tarcísio Maia no contexto da escolha de
seu sucessor. Sobre essas questões ver: FALCÃO, Marcílio Lima. No Labirinto da Memória: fabricação
e uso político do passado de Mossoró pelas Famílias Escóssias e Rosados (1902-2002). 2018. 321 f. Tese
(Doutorado em História). Faculdade de filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São Paulo, 2018, p.
213-225; CIRILO, Bruno Emanoel Pinto Barreto. A divisão política da família Rosado em Mossoró
contada nas páginas dos jornais O Mossoroense e Gazeta do Oeste: 1980-1988. 2016. 128 f. Dissertação
(Mestrado em Ciências Sociais e Humanas). Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Humanas,
UERN, 2016, p. 59-63.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 662
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Percebe-se que por todo o período da transição, a atuação do Gazeta do Oeste foi
dúbia. De um lado, fez circular questões sensíveis aos interesses dos militares, mas por
outro, levou essas discussões para a escala local, onde eximia as lideranças militares que
dirigiam a República dos problemas advindos das políticas empreendidas durante o
Regime Militar.

Assim, assuntos como inflação, greves, protestos nos grandes centros urbanos ,
pobreza e disparidades regionais eram tratados de forma a “afastar qualquer possibilidade
de ruptura ou de que a extinção ditadura militar resultasse de agudos conflitos sociais e
políticos” (LOHN, 2015, p. 02). Essa estratégia fez parte dos objetivos “dos acordos que
tramaram o aporte institucional e as bases que asseguraram a hegemonia liberal sobre a
transição para os marcos de um novo regime político” , bem como estabeleceram o
controle das narrativas que a população deveria receber e construir sua visão sobre o
Regime Militar e o período da transição (LOHN, 2015, p. 02).

Fonte: Gazeta do Oeste - 1977 e 1978.

Referências Bibliográficas

CIRILO, Bruno Emanoel Pinto Barreto. A divisão política da família Rosado em


Mossoró contada nas páginas dos jornais O Mossoroense e Gazeta do Oeste: 1980-
1988. 2016. 128 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais e Humanas). Programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais e Humanas, UERN, 2016.

CODATO, Adriano Nervo. Uma história política da transição brasileira: da ditadura


militar à democracia. Revista Sociologia Política, Curitiba, 25, p. 83-106, nov. 2005.

FALCÃO, Marcílio Lima. No Labirinto da Memória: fabricação e uso político do


passado de Mossoró pelas Famílias Escóssias e Rosados (1902-2002). 2018. 321 f. Tese
(Doutorado em História). Faculdade de filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São
Paulo, 2018.

LOHN, Reinaldo Lindolfo. Transição política no Brasil: a grande imprensa e a


institucionalização da “abertura” ao final da ditadura militar (Folha de São Paulo e Isto
É, 1974-1985). In: Anais do XXVIII Simpósio Nacional de História - Lugares dos
historiadores: velhos e novos desafios, Florianópolis, jul. 2015.

LUNA, Francisco Vidal; KLEIN, Herbert S. Mudanças sociais no período militar (1964-
1985). In: REIS FIHO, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá
(org.). A ditadura que mudou o Brasil: 50 anos do golpe de 1964. 1. ed. Rio de Janeiro:
Zahar, 2014.

KINZO, Maria D’Alva G. A democratização Brasileira: um balanço do processo político


desde a transição. São Paulo em Perspectiva, 15(4), 2001.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 663
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FORMAS DE COMÉRCIO E NOVOS ESPAÇOS DE CONSUMO SOB A


URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE PAU DOS FERROS (RN)

Vinícius Freitas Barros1; Josué Alencar Bezerra2

Palavras-chave: Comércio urbano. Urbanização contemporânea. Novas Centralidades.

Introdução

Há tempos que os múltiplos processos de urbanização vem sofrendo mudanças no


espaço geográfico, principalmente na era da modernização da técnica e da informação, em que
o comércio se tornou uma atividade importante para as dinâmicas urbanas e a formação das
cidades nas últimas décadas.
A leitura sobre o surgimento dos novos espaços de consumo, passa pela necessidade
entender a organização do espaço da cidade a luz do comércio urbano. Nesse caso, entende-se
que a cidade está também vinculada ao avanço das tecnologias e da informação, fatores esses
que fortalecem o consumo de mercadoria a qual tornam-se um dos processos responsáveis pelo
o crescimento urbano.
Diante disso, o que se pode entender sobre esse processo é que a produção e
organização das cidades se deu e se dá pela distribuição social e pelas atividades econômicas
(PINTAUDI, 2002). Nesse caso, foi o que nos levou a pesquisar uma realidade próxima,
localizada no semiárido nordestino, sob o olhar da geografia urbana no estudo do comércio e
consumo urbanos.
Compreende-se que as necessidades de consumo do homem causam grandes
mudanças nos meios de produção, devido a produção em massa e a demanda de produtos, sendo
eles como os que são indispensáveis para a vida, como também a variabilidade de insumos
existentes para consumo no mercado.
Nosso objeto foi a cidade de Pau dos Ferros, localizada no Oeste do Rio Grande do
Norte (Mapa 01), com um apopulação de aproximadamente 32 mil hanitantes, no entando que
exerce a centralidade em sua região que compõe mais de 40 municipios (BEZERRA, 2016),
através dos serviços especializados e da diversidade de comércio.
Devido está localizada próxima a vários pequenos municípios, Pau dos Ferros torna-
se uma cidade privilegiada para reprodução do capital, onde concentra diversas atividades de
comércio e serviço, representando um papel importante de centralidade na região, de modo que
ultrapassa os limites político-administrativos do Rio Grande do Norte, para alguns municípios
dos estados do Ceará e Paraíba. Isso posto, fez-se necessário analisar como ocorre esse processo
e de que forma essas mudanças impactam nas relações socioespaciais e na dinâmica da cidade.

1
Graduando do Curso de Geografia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus de
Pau dos Ferros (CAPF). Bolsista pelo Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC)
do CNPq. viniciusuern@gmail.com
2
Professor do departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus
de Pau dos Ferros (CAPF), josuebezerra@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 664
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Mapa 01- Cidade de Pau dos Ferros, Rio Grande do Norte, Brasil

Fonte: IBGE (2020), elaboração de Vinícius Freitas Barros, 2020.

Metodologia

Para realização desta pesquisa, buscamos o levantamento e leitura de textos associados


à temática como a origem e as formas de comércio (PINTAUDI, 2002), a relação da
globalização no espaço e na economia (SANTOS, 2005), de modo a interpretar as mudanças da
tecnologia para os modos de produção e a relação do trabalho, bem como sobre a produção do
espaço urbano e regional (CORRÊA, 2005 [1989]). Este estudo teve como objetivo analisar a
produção dos novos espaços de comércio e consumo na cidade de Pau dos Ferros (RN) no
período de 2006 a 2018.
Para análise da dimensão empírica, utilizamos dados sobre os setores da economia
extraídos da plataforma digital do RAIS/CAGED (2020), identificando a presença de um
processo de urbanização associado a difusão do terciário, projetando o comércio como setor
indutor do surgimento de novos espaços de consumo na cidade.

Resultado e Discuções

A distribuição de comércio e serviços como também das interações sociais presentes na


cidade, configuram diretamente na organização e produção dos novos espaços de consumo e na
formação de sub-centros (PINTAUDI, 2002), dessa maneira pode-se considerar que essas ações
em Pau dos Ferros partem para formação de novas centralidades, o que reflete em outros
problemas urbanos (BEZERRA; LIMA, 2011).
Na apresentação do gráfico 01, podemos observar a predominância do comércio e do
serviço em Pau dos Ferros e como as outras atividades econômicas inclui apenas uma pequena
fração desse todo, a partir dessa observação podemos comparar as mudanças ocorridas em 12
anos com o gráfico 02. Nele é possível ter uma interpretação de como funciona o setor
econômico da cidade de Pau dos Ferros, de modo que as atividades voltadas ao serviço ganham
uma nova porcentagem, deixando claro a predominância do setor terciário no município.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 665
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Gráfico 01 – Pau dos Ferros: Representação Gráfico 02 – Pau dos Ferros:


das atividades Econômicas no ano Representação das atividades econômicas
De 2006. no ano de 2018

industri
industria Serviço
a
5% 25%
8%
Serviço
34% Agropecuária
0%

Agropecuária
0%
comérci comércio
o construção 59%
57% civil
construção civil
8%
4%
Fonte: Rais/Caged (2019). Fonte: Rais/Caged (2019).

Essa dinâmica ao longo desses doze anos, foi fortalecendo o terciário da cidade, e novas
formas de comércio e serviço surgiam conforme o tempo. Para complementar a procura e a
necessidades dos consumidores, essas ações e as mudanças nos espaços de consumo tiveram
um papel importante para o crescimento urbano de Pau dos Ferros.

Figura 01 – Estabelecimentos comerciais Figura 02 – Áreas de expansão em Pau


em Pau dos Ferros. dos Ferros no ano de 2018.

Fonte: Vinícius Freitas Barros, jun. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 666
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusão

Esta relação do crescimento e modernização urbana acontece de forma desigual entre


os espaços, assim como suas atuais formas, algumas áreas consideradas elitizadas pelas classes
sociais, obtém um avanço maior e significativo do que em áreas consideradas periféricas, no
caso de Pau dos Ferros isso se dá pelo fato que as formas de comércio e os tipos de serviço
especializados se estabelecem ao longo da cidade visando o fluxo de capital e mercadorias
assim como os novo tipos de consumidores.
Nesse caso proporcionando a cidade um crescimento a partir da ocupação de suas áreas
de aproximação ao centro comercial. Estabelecendo a cidade um crescimento de forma
horizontal.

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, como também aos meus professores do curso de


Geografia da UERN-CAPF, em especial, ao meu orientador por estar sempre à disposição nas
orientações da pesquisa e ao CNPq pelo auxílio com bolsa de iniciação científica
disponibilizada no período de sua execução.

Referências

BEZERRA, J. A. A cidade e região de Pau dos Ferros: por uma geografia da distância em
uma rede urbana interiorizada. 429 f. Tese (Doutorado em Geografia). Universidade Estadual
do Ceará, Centro de Ciências e Tecnologia, Programa de Pós-graduação em Geografia,
Fortaleza, 2016.

BEZERRA, J. A.; LIMA, K. Q. de. Desigualdades Socioespaciais Em Pequenas Cidades: A


Segregação Residencial Na Cidade De Pau Dos Ferros-RN. Revista Geotemas, v. 1, n. 1, 30
jun. 2011. DOI: DOI: https://doi.org/10.33237/geotemas.v1i1.120

CORRÊA, R. L. O Espaço Urbano. 4 ed. São Paulo: Ática, 2005 [1989]. (Série princípios)

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estatísticas


populacionais de Pau dos Ferros, RN, Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rn/pau-
dos-ferros, Acesso em: 22 de Abril de 2020.

RAIS – Manual de Orientação da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), objeto de


estudo: Pau dos Ferros, Disponível em: http://bi.mte.gov.br/bgcaged/, Acesso em: 21 Abr.
2020.

PINTAUDI, S. M. A cidade e as formas do comércio. In: CARLOS, Ana F. A. (Org.). Novos


caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto, 2002. p. 143-158.

SANTOS, M. A urbanização brasileira. 5. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São


Paulo, 2005.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 667
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

GEO-GRAFIAS E DINÂMICAS TERRITORIAIS DOS SUJEITOS ATINGIDOS POR


BARRAGEM NO RIO GRANDE DO NORTE: UM ESTUDO SOBRE SÃO RAFAEL

Reginaldo Leonardo Júnior 1; Débora Bento Tavares 2; Zenis Bezerra Freire3

Palavras-chave: Território. Des-territorialização. São Rafael .

INTRODUÇÃO

Este trabalho é resultado da pesquisa de iniciação cientifica PIBIC/UERN. Tendo como


lócus de análise a microrregião do Vale do Açu, mais especificamente a cidade de São
Rafael/RN, que foi deslocada durante os períodos de 1970 a 1980 em virtude da construção da
Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves.
A necessidade da pesquisa justifica-se pela lacuna apresenta referente aos trabalhos na
perspectiva geográfica sobre o tema, uma vez que este processo vem sendo discutido por
comunicadores sociais e historiadores.
Neste sentido, a Geografia visa contribuir com o estudo dinâmicas territoriais, que
envolvem no deslocamento dos sujeitos, os processos de territorialização, des-territorialização
e re-territorialização. Entendendo estas noções construídas a partir do conceito de território,
em suas múltiplas abordagens. Para tanto, foi necessário apreender as perspectivas de des-
construção e re-construção da territorialidade dos sujeitos atingidos.
Dentro da problemática que perpassa a pesquisa se apresentam os conflitos em torno do
território, gerados a partir de uma tensão entre Estado que parte da lógica do
“desenvolvimento regional” e do “bem público” e moradores, que reivindicam a manutenção
de espaços de vivência. O que nos faz construir questões como quais os interesses que
permeiam as construções de grandes obras no semiárido nordestino? A quem serve as políticas
de açudagem na região? E quais os impactos destes processos aos sujeitos atingidos?
O esforço empregado se faz sobre a ótica crítica ao que é apresentado durante muito
tempo como desenvolvimento social/regional para o Nordeste brasileiro. Junto a estes
processos aglutinamos os conceitos de território e dinâmicas territoriais para uma
compreensão mais ampla do fenômeno estudado. Para tais fins, utilizamos como referencial
teórico levantado na pesquisa, a partir da discussão do território, autores como Raffestin
(1993); Haesbaert (2004); Saquet (2007) além disto, destacamos o uso de autores que
discutem os aspectos locais como Costa (2010).
A partir destes aspectos o presente trabalho teve como objetivo analisar as dinâmicas
territoriais dos atingidos por barragem no Estado do Rio Grande do Norte, com ênfase na
cidade de São Rafael que teve sua sede deslocada, e a antiga cidade inundada para a

1
Estudante do curso de Geografia do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte – UERN/CAWSL; E-mail: debora.tavares.gamer@gmail.com
2
Estudante do curso de Geografia do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte – UERN/CAWSL; E-mail: leoguarani847@gmail.com
3
Professora do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN/CAWSL, Participante do Grupo de Pesquisa Ambiente e Sociedade; E-mail: zenisbezerra@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 668
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

construção da Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, provocando processos de


des-territorialização nos sujeitos atingidos.

METODOLOGIA

A metodologia do trabalho, se deu em três etapas a primeira a partir da pesquisa


bibliografia com criança de banco de dados de trabalhos acadêmicos e artigos científicos
produzidos sobre a temática dos deslocamentos humanos, processos de des-territorialização e
construção de barragens, bem como os conflitos sociais que envolvem esses processos.
O levantamento dos trabalhos e suas análises, nos auxiliaram na construção de uma base
teórica da pesquisa além da ampliação do leque de diversas pesquisas empíricas que
contribuem na discussão da problemática através de diferentes localidades e perspectivas.
Além da pesquisa bibliográfica, foi realizada uma pesquisa documental sobre o processo
de construção da barragem Eng. Armando Ribeiro Gonçalves e as políticas que levaram a
mesma, como também dados históricos que pudessem colaborar com o entendimento dos
deslocamentos dos moradores de São Rafael, com o intuito de entender as nuances do
processo, neste sentido foram realizadas análises de produções de vídeos e produções
documentais e jornalistas sobre o tema estudado.
A metodologia do trabalho foi alterada quanto a pesquisa de campo, que estava prevista para
ocorrer ao longo do primeiro semestre de 2020. Em virtude da Pandemia Global da Covid-19.
Decretada pela Organização Mundial de Saúde em março de 2020 as medidas de isolamento e
distanciamento social inviabilizaram o acesso as áreas estudadas, tanto no município de Jucurutu
quando na cidade de São Rafael, portanto, os resultados da pesquisa se dão com os dados coletados em
campo até março do corrente ano, com questões que serão ampliadas na segunda edição deste projeto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os projetos de inundação de cidades e deslocamentos populacionais ocorridos em virtude


de construção de grandes projetos como barragens e usinas hidroelétricas fazem parte de uma
política comum do Estado brasileiro que passa a inundar histórias, memórias e cidades em
nome do “progresso” e do “desenvolvimento” que beneficia o grande capital.
A partir das diversas problemáticas que cercam esses projetos, se faz necessário,
entendermos seus desdobramentos, por meio de alguns pontos. O primeiro a ser destacado
nesta problemática, é a dimensão espacial e territorial destes projetos. Para isso, localizar toda
a área afetada pela construção da barragem e deslocamento da cidade, foi necessário para
observações produzidas. Outro ponto importante, está no planejamento da obra, que é
apresentada sobre constante mudanças no seu desdobramento. Este fator, nos permite
entender os entremeios da construção da barragem.
Assim, destacado por ser o principal afetado com a construção da barragem Eng.
Armando Ribeiro Gonçalves, o município de São Rafael, tem sua cidade submersa pelas
águas represadas do Rio-Piranhas. O deslocamento da cidade de São Rafael faz parte deste
contexto, como resultado da implantação do Projeto Baixo-Açu na microrregião do Vale do
Açu, área central do Estado do Rio Grande do Norte. A instalação da Barragem Eng. Armando
Ribeiro Gonçalves, encontra-se entre os municípios de Assú e Itajá como é possível observar
no mapa da Figura 1:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 669
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 1: Mapa de Localização da Área de Estudo.

Fonte: Elaboração dos autores

O projeto Baixo-Açu consiste por finalidade na construção da barragem Eng. Armando


Ribeiro Gonçalves destacado na Figura 2, realizado através da parceria entre o DNOCS
(Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) juntamente com a empresa norte-
americana USBR (United States Bureau Reclamations). Segundo o levantamento realizado
por Costa (2010) o projeto Baixo-Açu tem seu início através do PIN (Programa de Integração
Nacional), criado pelo ditador Médici em 1969 durante a Ditadura Civil-Militar. Segundo as
observações feitas ao projeto, Costa (2010) o objetivo na implantação é “expansão do
processo agro-industrial em vias de instalação no Brasil”. E não necessariamente no pensado
slogan de “combate à seca”, difundido no Nordeste.
Vale salientar que tais projetos não emergem de uma ora para outra, mas já vinha sendo
estudado para a região diante da parceria do DNOCS e USBR desde 1947, com uma proposta
inicial de construção de barragem “com o nome de Oiticica I, e seria construído entre a
cidade de Jucurutu e o distrito de Janúncio Afonso, conhecido como Barra de Santana, na
direção sul daquele município.” Costa (2010, p. 114). Este projeto inicial é redefinido e:

“Em 1962 novamente vieram ao Brasil, técnicos dos EUA, do departamento do


interior, para novos estudos no Baixo-Açu. Esses estudos foram apresentados à
Sudene e ao Denocs em março de 1963 e publicados em 1964, no boletim de
recursos naturais da Sudene, onde recomendavam realizações de pesquisas
hidrológicas, pedológicas, de controle de enchentes, agro-econômicos, etc.,
feitos a partir de 1967, pela firma Hidroservice. Entre 1967-71, a empresa
Hidroservice desenvolve estudos de reconhecimento da bacia do Rio-Piranhas,
indicando como possíveis locais de aproveitamento hidráulico no Baixo-Açu, o
já denominado Oiticica I, e outro local denominado de Oiticica II, entre São
Rafael e o povoado de Itajá, que na época, ainda não era município. Na escolha

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 670
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

para implantar o projeto da construção da Barragem, predominou o projeto


Oiticica II, que teve seu nome mudado para Engenheiro Armando Ribeiro
Gonçalves a partir de 1972 […]” (COSTA, 2010, p. 115)

Desta forma, o que inicialmente seria implantado no município de Jucurutu, é reelaborado


para a região do Baixo-Açu. A alteração no local a ser implantado o projeto, decorre das
condições políticas e econômicas impostas pelos latifundiários das áreas afetadas. Todavia,
direcionando o problema para as populações com menores capacidades de exercício de poder.
Que como nos traz Raffestin (1993) aparece de forma relacional, e como afirma Souza (1995)
se coloca como um campo de forças que por esse interim conseguem ou não deslocar os
impactos das obras para outros sujeitos mais vulneráveis aos desmandos do Estado.

Figura 2: Barragem Armando Ribeiro Gonçalves que inundou a cidade de São Rafael

Fonte: Autores, Trabalho de Campo, 2020

A construção da barragem levou ao deslocamento de milhares de pessoas, que acabaram


por gerar processos de des-territorialização a partir da ruptura com os territórios de vivencia,
como propõe Haesbaert (2004) a des-territorialização, não se coloca como um processo
absoluto, mas sim relacional, neste sentido, o território anterior ainda que destruído em sua
face material, permanece no sentido simbólico. Mesmo com a construção de uma nova
cidade, muitos moradores não conseguem se apropriar do território e criar laços de afetividade
com o local, neste contexto, Oliveira (2011) ao estudar o deslocamento das populações indica
que nem sempre há um processo topofílico como aponta Tuan (1983), em virtude de uma
“sensação de falseamento” das cidades construídas pelo Estado, uma vez que mesmo
materialmente se “parecendo” com o local anterior. Esse novo espaço não tem as marcas das
histórias destes sujeitos. O que leva a maioria dos moradores a ter dificuldades não somente
nos processos topofílico, como também na re-territorialização.

CONCLUSÃO

A pesquisa buscou vista evidenciar a relação entre os sujeitos atingidos com o território
desapropriado, em seu processos de deslocamento, e na reconstrução de seus espaços, revela
que este projeto e sua implantação, a partir do slogan de “combate à seca” visando solucionar
o abastecimento de água na região, torna-se contraditório. Pois “a política de construção de
barragens e entre elas, a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, é parte do conjunto da
política governamental que só beneficiou o grande capital, tendo em vista que a maior parte
dessas barragens, foram construídas em propriedades particulares” Costa (2010, p. 116).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 671
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

De certa forma, o processo de deslocamento amplia-se sobre como um campo relações,


no qual podermos observar a partir da ótica de relações de poder. O estudo do território a
partir da problemática que atinge estes sujeitos, é um esforço que contribui no
desenvolvimento de uma análise ampla que nos permita perceber as nuances em torno dos
projetos que vem impactando as populações mais vulneráveis. Com isso, seguimos no
proposito evidenciar tais relações, através da continuidade da pesquisa trabalhando a partir da
aproximação entre deslocamentos forçados e as dinâmicas territoriais.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CHELOTTI, M. C. Reterritorialização e Identidade Territorial. Sociedade & Natureza,


Uberlândia,vol. 22, p. 165-180, abr. 2010.

COSTA, D. A. da. São Rafael: A História da Cidade que o Progresso Naufragou. Gráfica S.
Expedito: Jucurutu/RN, 2010.

HAESBAERT, R. O Mito da Desterritorialização: Do “fim dos territórios” à


multiterritorialidade. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro, 2004.

OLIVEIRA, Ana Maria Cortez Vaz dos Santos. Processos de desterritorialização e filiação ao
lugar: O caso da Aldeia da Luz. (Dissertação de Mestrado) Faculdade de Letras. Coimbra 2011. p.
152.

RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder. Ática: São Paulo, 1993.

SAQUET, M. A. As Diferentes abordagens do Território e a apresentação do movimento e da


(i)materialidade. Geosul, Florianópolis, vol. 22, p. (55-76), 2007.

SOUZA, M. L. de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In:


CASTRO, I. E. de; GOMES, P. C. C.; CORREA, R. L. (Org.). Geografia: Conceitos e Temas.
Rio de Janeiro: Bertrand, 1995. p 165-205.

TUAN, Y. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: DIFEL, 1983.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 672
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

GEOGRAFIA ESCOLAR NO CONTEXTO DO SEMIÁRIDO: ESTUDO


DE CASO NA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL TARCÍSIO
MAIA, PAU DOS FERROS (RN)

Maria Elvira Lopes de Oliveira¹; Cícero Nilton Moreira da Silva²

Palavras-chave: Convivência. Ensino de Geografia. Educação no campo.

INTRODUÇÃO

Historicamente, o semiárido brasileiro é palco da produção e reprodução de


desigualdades sociais provenientes da carência de políticas públicas assistivas que realmente
sejam pautadas em sua realidade socioterritorial. É importante entendermos, nesse contexto, os
processos de estruturação da escola brasileira, para compreendermos e contextualizarmos a
Geografia Escolar no semiárido.
Em virtude da ausência de livros e materiais didáticos voltados diretamente à temática
do semiárido, para além da discussão da seca e da fome, a educação contextualizada surge como
uma metodologia de ensino criada pelas bases da educação no campo, em seu sentido coletivo
e de luta, em busca da construção de saberes alicerçados pela experiência dos sujeitos residentes
no território semiárido. Em síntese, a educação contextualizada associada à perspectiva de
educação do campo forma, integra e “guia” o indivíduo participante dessas realidades.
Esta perspectiva de estudos integra a linha de pesquisa “Dinâmicas espaciais e análise
regional”, trabalhada pelo Núcleo de Estudos de Geografia Agrária e Regional (NuGAR),
cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq. Desse modo, num intuito mais
amplo, pretendeu-se como objetivo: analisar como é realizada a abordagem dos conhecimentos
voltados ao semiárido, pelo professor de Geografia da Escola Estadual Tarcísio Maia, na cidade
de Pau dos Ferros (RN), situada na Região Imediata de Pau dos Ferros (IBGE, 2017).

METODOLOGIA
Este é um trabalho de natureza qualitativa. Ou seja, o estudo pauta-se na interpretação
do mundo real, a partir de experiências vividas entre o pesquisador e o sujeito pesquisado,

¹ Estudante de Graduação do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte (UERN), Campus Avançado de Pau dos Ferros (CAPF), membra do Núcleo de Estudos de Geografia Agrária
e Regional (NUGAR); e-mail: elviramariaholanda@gmail.com
² Professor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado
de Pau dos Ferros (CAPF); Líder do Núcleo de Estudos de Geografia Agrária e Regional (NUGAR); e-mail:
ciceronilton@yahoo.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 673
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

conforme assinala Oliveira (2008). Como procedimento metodológico, aplicou-se o estudo de


caso que, de acordo com Senger, Cunha e Senger (2004), adequa-se como uma das mais íntegras
técnicas que visam analisar intensamente, de forma exploratória, explanatória, ou descritiva
alguma unidade social. E, como estratégia para obtenção dos dados, utilizamos do questionário
em formato de formulário investigativo, interpretado como uma técnica de investigação eficaz
e vantajosa, como assinala Gil (2008, p.140):

Pode-se definir questionário como um conjunto de questões que são submetidas a


pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças,
sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento
presente ou passado etc. [...] as respostas a essas questões é que irão proporcionar os
dados requeridos para descrever as características da população pesquisada ou testar
as hipóteses que foram construídas durante o planejamento da pesquisa. [...] o
questionário apresenta uma série de vantagens.

Desse modo, além dos atributos metodológicos supracitados, essa pesquisa se


consistiu mediante as seguintes etapas: a) levantamento e leitura bibliográfica; (b) aplicação de
questionário; (c) análise de dados e resultados e; d) conclusões.
Ainda como base metodológica, delimitamos como área de estudo a Escola Estadual
Tarcísio Maia, localizada na zona urbana do município de Pau dos Ferros (RN). A escola
oferece ensino fundamental II (6º ao 9 º ano), e conta com dois professores licenciados em
Geografia. A localização da respectiva unidade escolar pode ser visualizada na (figura 1),
abaixo:

Figura 1: Localização da Escola Campo de estudo do projeto

Fonte: IBGE (2010)

A escolha pela localização do lócus desta pesquisa resulta do intuito de obtermos um


diálogo mais estreito entre os pesquisadores e uma comunidade escolar da rede pública local.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 674
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Aplicamos o questionário com 01 (um) professor de Geografia da respectiva escola, que


leciona no ensino fundamental II, durante o turno matutino. O entrevistado foi denominado
como Soares, afim de garantirmos o anonimato ao sujeito pesquisado. Nossos questionamentos
dirigem-se a sua postura com relação à temática do presente trabalho, e como a Geografia
Escolar o auxilia na abordagem destes conhecimentos.
Em primeira mão, indagamos ao professor se o mesmo costuma trabalhar diariamente
com conteúdos relacionados com o semiárido. O mesmo afirmou que sim. Mais precisamente
em conteúdos da Geografia física, tais como: “O Semiárido é um tipo de clima ligado ao clima
de estepes, que prevalece em regiões quentes, que apresentam pluviosidade baixa, altas
temperaturas e longos períodos de estiagem. Também encaixa como sendo uma área de
transição entre o clima desértico”.
O relato está diretamente voltado à relação do conteúdo com a Geografia. Sobre este
aspecto, vejamos: “[...] o estudo das regiões, paisagens e biogeografia do semiárido, é
imprescindível para o homem poder se relacionar com o meio em que vive, e dele extrair os
elementos básicos para sua convivência”, afirmou Soares. Com relação ao livro didático, o
professor assinalou conseguir relacionar seus conteúdos à realidade dos alunos e ainda salientou
que detém de possibilidades de executar aulas de campo, para facilitar ainda mais o
entendimento dessa relação.
Averiguamos com expressividade, o que o professor entende por educação
contextualizada, quando o mesmo afirma que: “Encaminha as abordagens de conteúdo, com
foco em dinamizar e condicionar a aprendizagem, com a realidade do discente e situações
peculiares dentro dos acontecimentos históricos e sociais. E com relação à aplicação destes
conteúdos, Soares pontua que é dever da escola trabalhar o tema, abordando seus aspectos
físicos e humanos, para que o aluno possa, de maneira geral, compreender sua dinâmica.

CONCLUSÕES

Concluímos que é real o distanciamento dos conteúdos e abordagens voltadas ao


semiárido para com a realidade dos alunos. Porém, através da aplicação do estudo de caso,
entendemos que para cada experiência há uma especificidade. Aqui, identificamos através do
professor, que a escola em análise possibilita trabalhar tais conhecimentos diretamente
conectados para com o dia-dia dos alunos; trabalho este que, segundo o professor, resulta na

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 675
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

tomada de atitude dos alunos, com relação à preservação de seu território. Desse modo,
compreendemos que a perspectiva da educação contextualizada pode fortalecer a Geografia
escolar, fazendo com que a mesma valorize e desenvolva os sentimentos, identidade e cultura
sobre o território semiárido, através do repasse prático de seus conteúdos, utilizando de sua
interdisciplinaridade singular e de seu leque de materiais e metodologias didáticas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq) e ao Núcleo de Estudos de Geografia Agrária e Regional (NuGAR); ao professor de
Geografia da Escola Estadual Tarcísio Maia e a toda equipe da referida escola, pela contribuição
direta e indireta para com a realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS
AUGUSTO, C. A. Pesquisa Qualitativa: rigor metodológico no tratamento da teoria dos custos de
transação em artigos apresentados nos congressos da Sober (2007-2011). RESR. Piracicaba/SP, Vol.
51, Nº 4, p. 745-764, Out/Dez 2013 – Impressa em Fevereiro de 2014

CARVALHO, L. D. A educação contextualizada como itinerário descolonial e complexo aplicado ao


ensino de Geografia nos contextos semiáridos. IN: 4º Congresso de Pesquisa e Ensino. Anais... São
Paulo: SINPRO-SP, 2015. Disponível em:
http://www1.sinprosp.org.br/conpe4/revendo/trabalhos/4.pdf. Acesso em: 29 de julho de 2020.

COSTA, A. S., et al. O uso do método estudo de caso na Ciência da Informação no Brasil. InCID:
Revista de Ciência da Informação e Documentação, 4(1), 49-69. 2013.

FILHO, Jose Farias Gomes. Crianças e adolescente no Semi-árido Brasileiro. Recife: Unicef, 2003.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. - São Paulo: Atlas, 2008.

KRAUS, L. A educação contextualizada no semiárido brasileiro: entre desconstrução de estereótipos e


construção de uma nova territorialidade. Revista de Geografia (UFPE). V. 32, N. 1, 2015.

OLIVEIRA, C. L. Um apanhado teórico-conceitual sobre a pesquisa qualitativa: tipos, técnicas e


características. Revista Travessias: educação, cultura e arte. 2(3): 1-16, 2009.

ROCHA, G. O. R. Uma breve história da formação do(a) professor(a) de Geografia no Brasil. Terra
Livre. São Paulo: n. 15, p. 129-144, 2000.

SENGER, I. et al. Um estudo de caso como estratégia metodológica de pesquisas científicas em


administração: um roteiro para o estudo metodológico. Revista de Administração da USP (RAUSP),
v. 2, n 3, Ago., 2004.

SILVA, F. P. Convivência com o semiárido: práticas interdisciplinares com alunos de uma escola
pública em Petrolina/PE. Revista Brasileira de Educação em Geografia. Campinas, v. 6, n. 11, p. 405-
412, 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 676
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

GRUPO ESCOLAR ALMINO AFONSO: UM IMPONENTE MONUMENTO


ESCOLAR NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE MARTINS/RN.

Thaís da Salete Gomes da Silva¹; Joseane Abílio de Sousa Ferreira²

Palavras-chave: história cultural; grupo escolar; história da educação.

Introdução

O presente trabalho tem como objetivo documentar e relatar as experiências vividas ao


longo do projeto de pesquisa denominado: “O acervo do grupo escolar Almino Afonso: livros
escolares e fontes históricas”. Esse projeto é coordenado pela Profa. Dra. Joseane Abílio de
Sousa Ferreira do Departamento da Educação (DE), do Campus Avançado de Patu (CAP), da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Os estudos sobre as instituições escolares representam um vasto campo para pesquisas,
desde a terceira geração da Escola dos Annales, quando foi possível estuda-las para
compreender melhor o seu papel dentro da história da educação. Isso tornou-se possível
graças a uma nova perspectiva de ver e contar os fatos por meio da História Cultural, que
permitiu uma releitura de mundo, através, da ampliação das fontes.
O trabalho tem como objetivos analisar a importância do Grupo Escolar Almino
Afonso para o processo de escolarização de Martins-RN, bem como entender os espaços de
convivência entre o museu escolar e das práticas escolares lá estabelecidas. É preciso
enfatizar, portanto que os objetivos não foram alcançados em sua totalidade, considerando
que o período compreendido para a realização da pesquisa, coincidiu com a pandemia do
Covid-19, a qual modificou a dinâmica de vida das pessoas, exigindo distanciamento social e
o fechamento de alguns estabelecimentos, incluindo escolas, que nesse caso, representa o
objeto da pesquisa e inviabilizou o acesso e a consequente exploração do mesmo.

Metodologia

A história social recebeu influência de dois paradigmas: o marxismo e a Escola dos


Annales. Do marxismo o que se sabe é que, sobretudo, entre as décadas de 1950 e 60, alguns
jovens historiadores começaram a escrever sobre a 'história de baixo', especialmente
Thompson que escreveu sobre a classe operária inglesa, e exerceu influência sobre outros
historiadores, para abandonar a história tradicional e investigar o social e a vida cotidiana
(HUNT, 1992). E a denominada Escola dos Annales, que não é uma instituição de ensino,
nem um movimento social, é sim uma revista tradicional francesa, que mostra a história
social, a partir de uma perspectiva interdisciplinar.
Peter Burke, em seu livro intitulado A escola dos Annales (1992) descreve bem o que
foi a revista, especialmente, entre 1929 a 1989, e a sua importância para disseminação da
nova história. É preciso saber, que a Escola dos Annales é dividida em três momentos: a
primeira, a segunda e a terceira geração.
A primeira geração vai de 1929 a 1950, tem como principais editores Lucien Febvre e Marc
Bloch, com o objetivo de se tornar uma revista de liderança intelectual na história social e
econômica fazendo “abordagem nova e interdisciplinar da história” (p.23). A segunda geração
(1950 a 1970) tem como principal nome Fernando Braudel, esse tinha pouco a dizer sobre
1 Graduanda de curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte. E-mail: thaisgomes262@gmail.com
2 Professora do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, líder
do projeto de pesquisa: “O acervo do grupo escolar Almino Afonso: livros escolares e fontes
históricas” E-mail: joseaneabilio@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 677
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mentalidades coletivas e valores, mas fez uma densa análise sobre tempo e espaço, e revelou
uma tendência em perceber as construções sociais a partir da dialética marxista, em que o
capital era determinante para a formação de classes e distribuição dessas nos espaços. “A
nobreza enriquecia e migrava para as cidades, os pobres tornavam-se cada vez mais pobres e
eram empurrados para a pirataria e o banditismo” (p.33). A terceira geração (1970 a 1889)
tem a frente o pensamento de Jacques Le Goff e Pierre Nora e trouxe mudanças intelectuais
significativas, principalmente porque suas ideias não podiam mais ser atribuídas a um nome,
mas estavam difusas entre diversos historiadores, dentro e fora da França. Dessa forma, foram
ampliadas as fronteiras da história, abrindo espaço para discussão de temas nunca antes
pensado, como infância, mulher, sonho, corpo e as próprias instituições escolares que
passaram a ser vista, a partir, desse momento, como fonte de pesquisa para a história da
educação.
A terceira geração da Escola dos Annales teve maior representatividades em relação a
ampliação das fontes de pesquisas, permitindo estudar uma série de minorias, a partir da voz
deles próprios e não dos grandes nomes, essa geração permitiu assim estudar as instituições
escolares como protagonistas na construção da história da educação.
A vida escolar esta pautada, a partir dos paradigmas da Nova História Cultural de
práticas e representações (CHATIER, 1998), da religiosidade, da linguagem e dos
experimentos (BURKE, 1992). Corroborando com o que foi dito, Magalhães (2004) observa
que as mudanças na educação são lentas e se constituem na multidimensionalidade de
princípios de práticas, representações e apropriações pelas quais as questões escolares não
podem deixar de interpretadas. Dessa forma, é possível compreender que as construções
escolares são modificáveis, no entanto, sem apresentar grandes rupturas, mantendo um caráter
de complementaridade e permanência em tempos e espaços específicos.
Quanto as práticas e representações escolares é possível notar que essas estavam muito
ligadas as práticas religiosas, história da leitura, e da disciplina, essa última adotada para
reforçar a obediência. A escola era quem detinha o poder de modificar as realidades de fazer o
povo refletir sobre aquilo que era conveniente, de um modo mais forte que o simples reflexo
de uma imagem social (BURKE, 1992).
Condições materiais, de funcionamento, a gramática escolar e escolarização aludem a
representação de apropriação da aprendizagem, as práticas por sua vez, estão relacionadas ao
saber e saber-fazer o qual constrói identidade e valoriza os contextos geográficas, sociais
geográficos (MAGALHÃES, 2004)
O tempo e o espaço como definidores de saberes foram se construindo ao longo da
nossa história da educação, e a partir das necessidades impostas para o desenvolvimento e sob
pressões sociais. Tais construções estão relacionadas a função social e a singularidade da
instituição escolar e da cultura, além do mais, determinam o currículo escolar. (FARIA
FILHO, VIDAL, 2000). O espaço escolar detinha uma arquitetura imponente para que fosse
admirada e respeitada, representasse mudança de hábitos e servisse para a socialização dos
conhecimentos necessários para inserção de crianças no mundo urbano. (FARIA FILHO,
1998)

A arquitetura escolar pública nasceu imbuída do papel de propagar a ação d e


governos pela educação democrática. Como prédio público, devia divulgar a
imagem de estabilidade e nobreza das administrações [...] Um dos atributos que
resultam desta busca é a monumentalidade, conseqüência de uma excessiva
preocupação em serem as escolas públicas, edifícios muito “evidentes”, facilmen t e
percebidos e identificados como espaços da esfera governamental (W OLFF, 1992,
p. 48).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 678
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A monumentalidade dava poder a escola e educação pública, e ao mesmo tempo em


que significava a democratização, era também “a elitização da educação e desprezo para com
a educação dos mais pobres” (FARIA FILHO, VIDAL, 2000, p.29), permanecendo a escola
como espaço excludente para aqueles que não se adequavam aos padrões econômicos ou
socais vigentes.
No que se refere as construções de tempo Faria Filho, Vidal (2000), observam que o
dia de aula tinha quatros horas, rigidamente estabelecidas com horário de atividades e de
descanso bem definidos, com distribuição de horários diário até do ano para o processo de
ensino, aprendizagem e avaliação, a fim de delimitar o tempo escolar. A rígida disciplina
escolar, não por acaso, estava associada a racionalidade do tempo capitalista, que queria
pessoal alfabetizado e disciplinados, para manter a produtividade e a ordem quando
estivessem a atuar no mercado.

Resultados e discussões

Os primeiros Grupos Escolares foram construídos em São Paulo, ainda no final do


século XIX; em 1908, já no século XX, esses grupos começaram a funcionar em Minas
Gerais, em prédios adaptados e instalados a partir de modelos padrões (FARIA FILHO,
VIDAL, 2000; FARIA FILHO, 1998). No Rio Grande do Norte (RN) a criação dos grupos
ocorre mediante cumprimento da Lei n. 249, de 22 de novembro de 1907, que autorizou a
Reforma do Ensino Primário e Decreto n. 178, de 29 de abril de 1908, que estabelece uma
rede de Grupos Escolares, sendo um em cada sede de comarca e a reabertura da Escola
Normal, para formação de professores.
Os Grupos Escolares que gradativamente foram compondo os espaços no RN,
refletiam os ideais republicanos, aplicados, por meio, do método intuitivo. O Grupo Escolar
Almino Afonso foi o sexto dessa natureza no estado, sendo criado pelo Decreto n° 196, de 21
de abril de 1909, com uma escola masculina, uma feminina e uma mista infantil.
A nova escola primária, com suas novas necessidades, exigia um espaço renovado e
específico para a finalidade educativa, por isso

[...] os programas arquitetônicos passaram a obedecer às determinações dessa n o va


realidade escolar: classes sequenciais, ambiente administrativo, valorização do
professor, novas relações entre os alunos. Como numa cidade ideal, os espaços s ão
articulados de forma a abrigar e instruir não só pelo seu conhecimento como
também pela sua articulação. (BUFFA, 2015, p.134)

Desde cedo as crianças deviam compreender que a construção de diferentes espaços,


exigia comportamentos específicos, por isso, a arquitetura e distribuição espacial era tão
importante na formação do aluno. Os monumentais grupos escolares, obedeciam em sua
maioria a plantas-tipo (um modelo padrão) em função do quantitativo de alunos, com 4, 8 ou
10 classes, distribuídas em um ou dois pavimentos, biblioteca escolar, museu escolar, sala de
professores e administração e um pátio central com espaços distintos para o ensino de
meninos e de meninas (FARIA FILHO, VIDAL, 2000).
A localização dos grupos era estrategicamente escolhida, em lugar central, ao lado de
imponentes edifícios públicos e constituía o núcleo urbano juntamente com Prefeitura, os
correios, bancos, praça central e igreja matriz, ao mesmo tempo em que se diferenciava de
casa e comércios (BUFFA, 2015). As características descritas de localização dos grupos, na
formação do espaço da cidade pode ser observado, também, no grupo escolar Almino Afonso,
que ocupa um lugar destaque, e ainda hoje encanta os que por lá passam pela sua arquitetura
singular.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 679
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Toda a estrutura de ensino devia de mantida pelo município, que nem sempre
conseguia, dessa forma os professores criavam os caixas escolares. No grupo escolar Almino
Afonso o caixa escolar, era um palhaço, o "comedor de moedas", na mão dele era colocado
uma moeda, e através de uma engrenagem a mão dele era elevada a boca, fazendo com que a
moeda fosse "engolida" pelo palhaço. O cofre percorria as fazendas da cidade, que a época
contava com uma extensão território bem maior que a atual, para que os fazendeiros fizessem
doações para manter o funcionamento da escola. A falta de recurso era uma realidade muito
presente nos grupos escolares, porque não havia fundos específicos para financiar a educação.
Estudar as instituições escolares é importante, porque elas constituem um marco
histórico carregado de significado, que delineiam a história da educação. A construção dos
seus espaços, seguem um objetivo temporal que pode ser compreendido, a partir de memórias
que deram sentido ao lugar. As práticas realizadas, os objetos e documentos guardados nas
instituições dão pistas da trajetória da educação e do interesse que ela foi/estar carregada.
Muito há para se estudar nas instituições escolares com o propósito de entender a História da
Educação, no caso do Grupo Escolar Almino Afonso, muito que podia ser explorado ficou
inviável em razão da pandemia, por isso, já existe um novo projeto aprovado, para dá
continuidade ao estudo sobre o grupo, a fim de conhecer seu papel no contexto de formação
educacional e social do lugar, revirando as fontes com um olhar novo, para recontar a história,
através de fatos não percebidos antes.

Referências

BUFFA, Ester. GRUPOS ESCOLARES PAULISTAS: ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E


PROPOSTAS PEDAGÓGICAS (1893-1971). Jornal Internacional de Estudos em
Educação Matemática, v. 8, n. 1, 2015.
BURKE, Peter. A escola dos Annales (1929-1989). Unesp, 1997.
BURKE, Peter. O que é história cultural?. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 1992.
CHARTIER, Roger et al. A história cultural. Entre práticas e representações. Lisboa:
Difel, v. 1, p. 12, 1998
FARIA FILHO, Luciano Mendes de. O espaço escolar como objeto da história da educação:
algumas reflexões. Revista da Faculdade de educação, v. 24, n. 1, p. 141-159, 1998.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de; VIDAL, Diana Gonçalves. Os tempos e os espaços
escolares no processo de institucionalização da escola primária no Brasil. 2000.
HUNT, Lynn. Apresentação: história, cultura e texto. A nova história cultural, v. 2, 1992.
MAGALHÃES, Justino Pereira de. Tecendo nexos. História das Instituições Educativas.
São Paulo: Editora da Universidade de São Francisco, 2004.
Pé Quente visita a escola Almino Afonso em Martins RN e mostra toda sua cultura
Parte 1. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ifRiOwBWKjw . Acesso em: 27
de Agosto de 2020.

WOLFF, Silvia Ferreira Santos. Espaço e educação: os primeiros passos da arquitetura das
escolas públicas paulistas. São Paulo: Dissertação de Mestrado, FAU/USP, 1992.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 680
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

GRUPO REFLEXIVO DE MEDIAÇÃO BIOGRÁFICA: EXPERIÊNCIAS


DOCENTES PARA FORMAÇÃO INICIAL EM PEDAGOGIA
Amanda Cibelly Costa dos Santos 1; Ana Karoliny de Souza Silveira 2; Roberta Ceres Antunes
Medeiros de Oliveira 3 .

Palavras-chave: Formação docente. Narrativas autobiográficas. Classe hospitalar.

Introdução

As classes hospitalares constituem-se como espaços que priorizam a garantia do direito à


educação para crianças e adolescentes que se encontram em tratamento de saúde. Nesses
espaços, as experiências cotidianas que são vividas com crianças e adolescentes em
tratamento de saúde são essenciais ao reconhecimento profissional da docência em classe
hospitalar.

Mesmo não havendo ainda cursos especializados de formação inicial e concursos públicos
exclusivos para a prática docente nesses espaços diferenciados de fazer educação pública no
Rio Grande do Norte, professores e estudantes em formação desejam e lutam para atuar
pedagogicamente em classes hospitalares e domiciliares, e passam a vivenciar experiências
conscientes e tácitas de formação docente in loco.

Na busca por compreender experiências pedagógicas que indicam uma formação docente
especializada, adquirida “no chão do hospital”, temos desenvolvido projetos de pesquisa para
atender a essa proposição. A primeira etapa do projeto foi intitulada - Experiências docentes
de aprendizagens com crianças em classes hospitalares, desenvolvido no período de
novembro de 2017 a novembro de 2018.

A segunda etapa investigativa teve início em fevereiro de 2019 e encerrou em fevereiro de


2020, com a proposta - Narrativas de experiências docentes em classes hospitalares no Rio
Grande do Norte. Esses projetos foram institucionalizados pela Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte (UERN), e em virtude do desenvolvimento deles, buscamos investigar
experiências de aprendizagens com crianças em tratamento de saúde, e contribuições dessas
experiências para a formação docente in loco.

Como proposta metodológica, inspiramo-nos em Passeggi (2011) para realizar o grupo


reflexivo como proposta de pesquisa-formação com professores de classes hospitalares do Rio
Grande do Norte. Consideramos como material empírico, narrativas autobiográficas (orais e
escritas) elaboradas individualmente e em grupo, acerca das experiências em contexto
hospitalar. Intencionamos colaborar com a formação inicial de discentes do curso de
Licenciatura em Pedagogia, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(CAWSL/UERN), buscando aproximar estudantes de iniciação científica ao contexto das
classes hospitalares, espaços de atuação pedagógica na sociedade contemporânea. Um dos

1
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Gran d e d o
Norte, Campus Avançado de Assú. amanda25cibelly@gmail.com
2
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Gran d e d o
Norte, Campus Avançado de Assú. karolsilveira.com@hotmail.com
3
Professora Adjunto II da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Departamento de Educação,
Campus Avançado de Assú. robertaceres@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 681
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

resultados da primeira etapa do projeto foi o convite do Núcleo de Atendimento Educacional


Hospitalar e Domiciliar do RN (NAEHD-SUESP-SEEC/RN) para colaborarmos em 2019
com o curso de formação continuada dos professores que atuam em classes hospitalares no
RN.

O grupo reflexivo de mediação biográfica foi desenvolvido tendo em vista a necessidade que
as professoras atuantes em classes hospitalares tinham de falar, partilhar e escrever sobre suas
experiências. Foi pensado enquanto proposta de prática de formação, pois possibilita aos
sujeitos participantes do processo, refletir e produzir teorias sobre seus modos de ser e de
fazer educação em contexto hospitalar.

O referencial teórico adotado situa-se na encruzilhada do movimento internacional da


pesquisa (auto)biográfica em educação (PASSEGGI, 2011; PASSEGGI, OLIVEIRA,
NASCIMENTO, 2019) e estudos da formação docente e o saber da experiência (LARROSA,
2002). Utilizamos as narrativas autobiográficas (orais e escritas) como fonte e método de
pesquisa-formação (PASSEGGI, NASCIMENTO & OLIVEIRA, 2016). Essas narrativas
foram produzidas e partilhadas entre professoras que atuam em classes hospitalares do RN e
estudantes em formação inicial do curso de Pedagogia (UERN), durante o ano de 2019,
quando participaram do curso de formação continuada para atuação docente nesse contexto,
proposta organizada pelo Núcleo de Atendimento Educacional Hospitalar e Domiciliar do RN
(NAEHD-SUESP-SEEC/RN), em parceria com a UERN.

O presente texto tem o objetivo de apresentar resultados acerca da nossa participação no


Grupo reflexivo de mediação biográfica e experiências de formação docente em classe
hospitalar no RN para a formação inicial de estudantes de Pedagogia.

Metodologia

A reflexividade do sujeito sobre as experiências vividas permitem uma melhor compreensão


de si e a possibilidade de aprender com as experiências. Nesse processo de ressignificação das
experiências, as aprendizagens contribuem para nossa formação. As aprendizagens e
(re)interpretações de si também fazem parte dos interesses da pesquisa (auto)biográfica em
educação. “Por nos falar de perto da relação dialética entre a reinvenção de si e a
ressignificação da experiência, daquilo que nos acontece e que constitui, certamente, um dos
terrenos mais férteis da pesquisa (auto)biográfica em Educação” (PASSEGGI, 2011, p. 147).
Tendo como base os princípios da pesquisa (auto)biográfica em educação, e voltando o nosso
interesse para a formação docente, justificamos o uso de narrativas autobiográficas como
dispositivos de pesquisa-formação, pois nos permitem compreender as experiências vividas e
aprendizagens resultantes da reflexividade sobre a pratica docente cotidiana em contexto
hospitalar, como apontam Passeggi, Oliveira e Nascimento (2019, p. 602) “é por permitir o
estudo de modos de interpretar, de dar sentido ao que acontece e ao que nos acontece, que as
narrativas se tornam uma fonte privilegiada da pesquisa sobre nossas formas de ver/escrever a
vida.” O uso das narrativas no grupo reflexivo de mediação biográfica enquanto um espaço de
formação, nos permitiu vivenciar esses momentos de diálogos entre pares, de aprender com
professoras que atuam em contexto hospitalar, de refletir sobre as experiências que nos
marcaram, e os sentidos que atribuímos a elas.

Para melhor conceituar o Grupo Reflexivo de Mediação Biográfica, utilizamos os estudos de


Passeggi (2011, p. 150) que define o conceito de grupo reflexivo e no âmbito da psicologia
social reflete sobre a noção de pertencimento, da atitude reflexiva no cerne das práticas de
formação docente mediante o uso de narrativas. No mesmo sentido, Passeggi (Ibid.) retoma o

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 682
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pensamento de Vygotsky “para distinguir dois aspectos da mediação biográfica: a mediação


semiótica, realizada por meio da linguagem e da mediação social, que diz respeito à relação
com o outro e consigo mesmo, como ser social”. Pertencer ao grupo nos permite uma melhor
compreensão de quem somos, das experiências vividas que contribuem para nossa formação
ao ressignificadas, nos permite aprender com as narrativas do outro e sua historicidade.

O grupo como espaço de formação, nos possibilita ressignificar experiências, compreender a


nós mesmos, mediante as reflexões que vão sendo tecidas, assim como podemos aprender nos
momentos de partilha com as narrativas das experiências do outro, contribuindo de forma
significativa para a formação docente. Esse espaço de trocas e partilhas constitui o grupo
reflexivo como método e dispositivo de pesquisa-formação que nos conduz ao entendimento
sobre os processos de formação docente. Passeggi, Oliveira e Nascimento (2019, p. 603)
definem:

O GRMB constitui-se um lugar privilegiado para a investigação qualitativa,


no âmbito da sociologia da educação, da história, filosofia e psicologia da
educação, propiciando a abordagem de inúmeras temáticas, uma vez que
permitem identificar, nas trajetórias relatadas, questões de interesse para a
pesquisa educacional, as políticas públicas, as práticas de formação.

Nossos estudos em Passeggi; Oliveira; Nascimento (2019) nos evidenciam a existência de três
momentos que fazem parte do processo de autobiografização, vivenciados no grupo reflexivo
de mediação biográfica. O momento iniciático é vivenciado na entrada no grupo, a exposição
no grupo tende a ser vista como um perigo, nesse sentido, uma luta é travada mediante a
ameaça de se expor. No momento maiêutico, a conviviabilidade entre os pares vai evoluindo e
a reflexão já iniciada nesse processo passa a construir as narrativas de si. No momento
hermenêutico, a pessoa que narra passa pelo processo de reinterpretação das experiências que
foram vividas. Nesse último momento de escrita, o sujeito conclui tornando-se mais
autônomo, como um processo de emancipação.

Resultados e Discussão

Como resultados, evidenciamos que o grupo como proposta de formação, tem nos permitido
vivenciar experiências formativas em diferentes contextos mais especificamente no contexto
da classe hospitalar, a partir das experiências compartilhadas com as professoras que atuam
em classes hospitalares. Foi possível construir novos conhecimentos e nessa partilha de
experiências vivenciadas pelas professoras “no chão do hospital”, conhecemos a Tecnologia
Assistiva.

Tecnologia Assistiva - TA é um termo ainda novo, utilizado para identificar


todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou
ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e
conseqüentemente promover vida independente e inclusão (BERSCH &
TONOLLI, 2006 Apud BERSCH, 2017, p. 2).

A TA é uma área do conhecimento que abrange vários recursos, visando promover


autonomia, independência e qualidade de vida para pessoas com deficiência. Algumas
professoras do grupo reflexivo compartilharam suas experiências com essa tecnologia e como
a incorporaram em suas práticas pedagógicas, os resultados para as crianças foram notáveis. A
partir do conhecimento prévio sobre essa tecnologia experienciado no grupo reflexivo, foi
despertando interesse por essa temática, o que nos levou a um aprofundamento do assunto,
quando percebemos que a TA é um recurso muito promissor e que se incorporado às práticas

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 683
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pedagógicas cotidianas em contextos escolares e não escolares, podem contribuir com o


desenvolvimento das crianças que dela precisam.

Concluímos que, na formação inicial aprendemos sobre a escola, sobre práticas pedagógicas e
o ensino institucionalizado, no entanto, muito do que abrange o trabalho do professor não está
no currículo da formação inicial, e o grupo reflexivo de mediação biográfica trouxe
contribuições valiosas para nossa formação inicial. Como afirmam Passeggi, Oliveira e
Nascimento (2019, p. 607):
O que fica para quem tem acesso à narrativa do outro é o conjunto de
experiências e saberes biográficos, aquilo que é construído pela atribuição de
sentidos, numa interrelação do que se fala, o que se escuta e o que
corresponde ao mundo da vida de quem participa dessa construção coletiva.

Conclusões

Como pedagogas/professoras em formação, estamos em constante aprendizagem. Em um


futuro próximo, seremos nós a ensinar e propiciar ao aluno a construção do conhecimento,
compreendendo, como afirma Freire (2016, p.47) “saber que ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.
Trazemos neste trabalho contribuições do Grupo Reflexivo de Mediação Biográfica para
nossa formação inicial.

A oportunidade de partilhar os conhecimentos construídos com professoras que atuam em


contexto hospitalar foi cheia de descobertas e ressignificações: aprendemos a respeito dos
desafios envolvendo crianças e adolescentes em situação de adoecimento, como enfrentá-los,
seu direito à educação, assim como ressignificamos saberes, direcionando um novo olhar para
formação inicial, como o caso das tecnologias assistivas, que pode vir a ser de grande ajuda
para auxiliar crianças com necessidades educacionais especiais a superar as barreiras que são
impostas e se desenvolver plenamente. Somos seres sociais, aprendemos com nossas
vivências em sociedade, seja em âmbito pessoal ou acadêmico, aprendemos com nossas
experiências, logo, temos que buscar na formação inicial, experiências dentro e fora das
instituições de ensino, que nos tornem profissionais competentes, pois seremos guias em uma
jornada de construção do conhecimento, é uma tarefa importante que requer empenho e
compromisso.

Referências
BERSCH, Rita. Introdução a Tecnologia Assistiva. Porto Alegre, 2017.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 2016.

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. In: Revista Brasileira
de Educação, n. 19, p. 20-28, 2002.

PASSEGGI, Maria da Conceição. A experiência em formação. Revista Educação. Porto


Alegre, v. 34, n. 2, p. 147-156, maio/ago. 2011.

PASSEGGI, Maria da Conceição; OLIVEIRA, Roberta Ceres de; NASCIMENTO, Gilcilene


Lélia do. O grupo reflexivo de mediação biográfica: método de investigação qualitativa e
dispositivo de pesquisa-formação. CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE
INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA, 8., 2019, Lisboa/Portugal. Atas. v. 2.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 684
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

IMAGEM COMO METODOLOGIA DE PESQUISA:


A REPRESENTAÇÃO E O REAL NO TEATRO IMAGEM

Adriele Erika da Silva1; Ysmilla Katalana de Oliveira Figueredo2; Dr. Hélio Junior Rocha de
Lima.3

Palavras-Chaves: Imagens. Teatro do Oprimido. Linguagem Visual.

Introdução
A maioria das pessoas hoje em dia tem fotografias de quando eram crianças, essas
fotos mostram muito sobre sua história, o tempo de sua infância. É perceptível a sociedade
humana era e é cercada de imagens. É comum avaliar as pessoas pelas fotos cotidianamente
postadas nas redes sociais. Onde as elas revelam ou criam a vida que querem mostrar para os
outros, e muitos relacionamentos têm como base a vida virtual criada através das imagens
passadas nas redes sociais.
E entre fotos e vídeos as pessoas se relacionam com o mundo lá fora. Através de
imagens se vê o quadro político, a violência, a vida de vários. Utiliza-se as imagens para se
comunicar com amigos, como os emojis; para entretenimento, assistindo um filme e para
informação, vendo um documentário, por exemplo. Desta forma pode-se perceber o quanto ela
é presente e essencial para humanidade, então

devemos considerar que a imagem não representa a realidade plasmada em


uma superfície amorfa, mas que é constituída e produzida pela realidade
social, que é mediadora entre o sujeito que a produz e aquele a quem se
destina, logo, neste texto a imagem é considerada como um artefato cultural.
(WELLER e BASSALO, 2011, p. 284)

Assim além da sociedade produzir imagens, também a utiliza como uma forma de
interação entre as pessoas e o mundo ao seu redor. Loizos (2008, p. 138) declara que “o mundo
em que vivemos é crescentemente influenciado pelos meios de comunicação, cujos resultados,
muitas vezes, dependem dos elementos visuais. Consequentemente o ‘visual’ e a ‘mídia’
desempenham papéis importantes na vida social, política e econômica”. Demostrando como a
presença da imagem na vida das pessoas além de ser crescente vem se tornando mais complexa.
Diante desse quadro, na pesquisa para o PIBIC, estudamos a imagem na pesquisa em
educação, e a partir das leituras e discussões feitas em grupo começamos a pensar: o que é a
imagem? Como conceituá-la? Ou na verdade, quais são as definições atribuídas à imagem? Ao
decorrer das reflexões que fizemos sobre a imagem pensamos sobre seu papel na sociedade e
em nosso relacionamento com ela. Esta reflexão continua no projeto de extensão Teatro
Imagem na Sala de Aula, onde nós vivenciamos a prática dos vários exercícios desta técnica de
teatro, além de conhecer sua teoria gradativamente.
Partindo dessa ideia buscamos explorar as técnicas do teatro imagem, a fim de perceber
quais e onde estão as imagens contidas nelas. No primeiro momento pode-se pensar ser
1
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Integrante do projeto de pesquisa “Texturas: Imagem na pesquisa em educação”; e-mail:
adrielleerika@gmail.com
2
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Integrante do projeto de pesquisa “Texturas: Imagem na pesquisa em educação”; e-mail:
ysmilla_katalana@hotmail.com
3
Professor do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Coordenador do
projeto de pesquisa “Texturas: Imagem na pesquisa em educação”; e-mail: heliolim@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 685
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

desnecessário refletir sobre a imagem no teatro imagem, pois se pressupõe que o teatro em si é
uma representação, onde não há realidade. No entanto, um dos nossos principais
questionamentos é que tudo o que se faz no teatro imagem é de fato representação? Se não, o
que é real e o que é imagem? Para esse estudo utilizaremos como fontes principais Areal (2012),
Loizos (2008), Boal (1980) e Barthes (1984). Além das fontes bibliográficas também
refletiremos com base nas fotografias feitas das atividades da extensão Teatro Imagem na Sala
de Aula e a nossa vivência com o teatro através do mesmo grupo.
Antes de falarmos do Teatro imagem, percebe-se se faz necessário entender um pouco
do Teatro do Oprimido (TO), pois o ele é na verdade uma técnica do TO. Este, por sua vez, foi
criado ou/e sistematizados pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal que “é um encontro (e, de
certa forma uma síntese) entre a cultura popular e a cultura para o povo” (1980, p. 23).
Inicialmente deve se ter em mente que o TO irá romper com algumas ideias propagadas pelo
teatro clássico. Ele consiste tem um teatro feito pelos oprimidos no qual eles pensam suas
próprias opressões. E dentro desta concepção se encontra o Teatro Imagem.

A imagem e o objetivo do teatro imagem


Poderíamos começar com a finalidade que é estabelecida para os exercícios do Teatro
Imagem. De que forma a imagem é vista, tratada e discutida dentro desta técnica de teatro. Qual
é o objetivo desta técnica e sua relação com a imagem? Ao escrever sobre o Teatro Imagem, na
verdade, ao sistematizá-la no livro Stop: C’set Magique (1980), Augusto Boal coloca como o
seu principal objetivo desenvolver a capacidade de refletir sobre as imagens com as quais nos
deparamos. É, segundo ele “nos ajudar a ver aquilo que olhamos” (1980, p. 34). Então,
poderíamos nos questionar: o que precisamos ver? Ou quais as imagens que estão diante de nós
e não vemos?
No dia a dia, por exemplo, encontramos uma grande quantidade de imagens de
violência, veiculadas por jornais televisivos e online. Hoje essas imagens se tornaram tão
comuns que não sentimos a violência da mesma forma. Elas passam pelos nossos olhos tão
rapidamente e repetidamente que não a vemos na sua totalidade, e muitas imagens contidas
nelas passam despercebidas. Barthes (1894, p. 27) destaca que quatro pensamentos, ou
“imaginários” estão presentes na imagem, e se chocam: o primeiro é como sujeito fotografado
se julga ser. O segundo é como ele queria que os outros o julgassem, o terceiro, é como o
fotografo o julga, ou seja, como ele imprime suas expressões nele. Quarto e último, como o
fotografo o utiliza para divulgar sua arte. Essas quatros noções estariam presentes na fotografia,
e muitas vezes não nos damos conta delas. Podemos pensar que algumas dessas noções
transpassam o autorretrato e estão presente em fotografias no geral e isto nos faz refletir como
Loizos (2008, p. 141) coloca que “A informação pode estar na fotografia, mas nem todos estão
preparados para percebê-la em sua plenitude”. Ou seja, nela se encontram, às vezes, diversas
noções e intenções.

A imagem nas técnicas de imagem


Boal traz algumas técnicas de imagem e, com vista nelas, propomos analisar algumas.
A primeira que escolhemos é a de “Ilustrar o tema com seu próprio corpo”, nesta os
participantes, de acordo com as regras do jogo e sua sequência, vão criando imagens corporais
como forma de se expressar, eles dizem algo, passam uma mensagem, uma mensagem que só
pode ser descrita através da imagem. Na primeira parte do exercício, os participantes fazem a
imagem de forma individual, cada um a seu tempo. Na segunda parte, chamada dinamização,
todos fazem a imagem ao mesmo tempo. Segundo Boal (1980), na primeira parte se tem uma
visão pessoal sobre o tema, psicológica, na segunda tem-se uma visão social.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 686
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Dinâmica de teatro imagem

Figura 1: arquivo do projeto PIBIC – Texturas da Educação

A fotografia foi feita durante uma oficina do grupo de Teatro imagem na sala de aula
com o Lefreire, onde cada participante iria ilustrar uma opressão com o seu corpo. A ilustração
do participante representa claramente um suicídio. Mas que outras interpretações podemos
fazer dessa imagem? Por mais que o participante represente algo, ele também o apresenta, por
sua vez, o espectador faz sua própria interpretação. Souza e Olária (2014, p. 7) declaram que
“A imagem é um produto que revela a visão de mundo, expressa a sensibilidade e a
intencionalidade de seu autor na captura de determinado momento da realidade”. Assim, a
imagem que nos foi apresentada, mesmo que nos pareça óbvia, pode levar a diferentes tipos de
interpretações.
Outra técnica que o autor apresenta e nos propomos a analisar, é A imagem de
transição (o real e o ideal) (BOAL, 1980, p. 61). Nesta técnica, primeiramente um grupo mostra
uma imagem de opressão (real), qualquer tipo de opressão que o grupo queira discutir. Depois
eles devem mostrar uma imagem onde não exista mais aquela opressão (ideal). Na dinamização
dessa técnica pede-se que o grupo apresente, de acordo com os sinais do coringa, a imagens de
transição entre a opressão real e o modelo ideal. Ou seja, pede-se que o grupo discuta
visualmente formas de superar aquela determinada opressão.
Segundo Boal “Esta terceira técnica consiste em trabalhar um modelo, em provocar
uma discussão com meios exclusivamente visuais. A palavra, mais do que nunca, deve estar
ausente. Mas não o debate, que deve ser o mais intenso e complexo possível” (1980, p. 61).
Nota-se que a imagem entra no campo da discussão, das diferentes opiniões, dos acordos e
desacordos que se estabelece nas relações sociais. Uma questão real é tratada naquele momento,
não é uma representação de algo ou alguém, mas a própria pessoa se expressando.

O teatro imagem na sala de aula do Centro de Educação de Jovens e Adultos de Mossoró/RN

Figura 2: Arquivo do projeto PIBIC: Textura na Educação

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 687
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A fotografia foi feita em uma oficina de teatro imagem juntamente com um círculo de
cultura realizada pelo 7º período de pedagogia FE/UERN e pelo projeto de Extensão Teatro
imagem na Sala de Aula em uma escola de Educação de Jovens e Adultos. Na imagem podemos
notar uma das experiencias do exercício citado acima. Percebe-se entre os participantes que
alguns deles formam uma imagem onde demostram serem silenciados. Nota-se que representam
uma opressão, então moldam seu próprio corpo afim demonstrarem-na. Não se sabe exatamente
à que opressão se referem neste momento, pois não há fala, no entanto, pode-se interpretá-la,
dar um significado para ela.

Considerações Finais
Boal (1980) irá chamar atenção para a forma como se observa essas imagens presentes
no cotidiano. Ele coloca que fazemos associações impossíveis através das imagens. Desta
forma, percebe-se que muitas vezes olhamos e não vemos, ou não refletimos sobre o que vemos.
Assim, o Teatro Imagem se propõe através de jogos teatrais desenvolver uma linguagem visual
mais crítica e reflexiva sobre a imagem. Diante disso, vê-se que o primeiro lugar onde a imagem
estar dentro do Teatro Imagem é no próprio objetivo para o qual a técnica se propõe, e neste
ponto ela tem um papel principal.
A partir das representações no Teatro Imagem pode-se fazer outras leituras, formado
outras próprias imagens sobre do que é apresentado. Diante do espectador não há só uma
representação, mas uma apresentação, então constrói-se a partir disso um significado. Assim
como Areal (2012, p. 69) fala das esculturas, talvez seja possível aplicar aqui o mesmo
pensamento sobre os modelos apresentados, que igualmente “podemos tocá-la, podemos olhá-
la de diferentes pontos de vista; são já objectos, não são apenas imagens.”. Então vê-se que
dentro deste teatro transita-se entre o real e a imagem, ou representação. Sendo que essa
transição possibilita um outro olhar sobre a imagem.

Agradecimentos
À FE – Faculdade de Educação
Ao Centro de Educação de Jovens e Adultos de Mossoró
À Propeg/UERN
Ao LEFREIRE
AO RESPED
Ao PIBID/Pedagogia

Referências
AREAL, Leonor - O que é uma imagem? Cadernos PAR. N.º 5 (Mai. 2012), p. 59-80.
BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota Sobre a Fotografia. Rio de Janeiro: Nova, 1984.
BOAL, Augusto. Stop, cést magique!. Civilização Brasileira, 1980.
LOIZOS, Peter. Vídeo, filme e fotografias como documento de pesquisa. In. BAUER, Martin
W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual
prático. 7ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
SOUZA, V. L. C. A., & Olária, V. (2014). Outros olhares sobre o uso da imagem em
pesquisa qualitativa: o exercício com a interpretação de Didi Huberman. Comunicação &
Informação, 17(2), 06-22. https://doi.org/10.5216/31812
WELLER, Wivian. BASSALO, lucélia de Moraes Braga. Imagens: documentos de visões de
mundo. Sociologias, Porto Alegre, ano 13, no 28, set./dez. 2011, p. 284-314

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 688
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INCLUSÃO DE ALUNOS COM AUTISMO NA ESCOLA PÚBLICA: A


EXPERIÊNCIA DE PRÁTICAS INCLUSIVAS DE UMA PROFESSORA

Cynthia da Silva Pereira¹; Maria Luiza da Silva Leite²; Normândia de Farias Mesquita
Medeiros³

Palavras-chaves: Docência. Práticas. Experiência. Inclusão

Introdução

Estudo no campo da formação e inclusão escolar, o objetivo consiste em identificar e


analisar as práticas inclusivas, á partir da experincia de uma professora que leciona na escola
pública e trabalha com aluno autista em sua sala de aula. A questão-problema é a seguinte: que
práticas são realizadas pela professora no processo de inclusao do aluno com autismo?
A educação inclusiva pressupõe mudanças legais, curriculares, avaliativas, e
representações diferenciadas dos sujeitos a serem incluídos e dos envolvidos no processo.
Destacamos que um marco na luta pelos direitos da pessoa com deficiência foi a promulgação
da Lei Nº 13.146, de 6 de Julho de 2015 que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (LBI), conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Em relação à política
nacional de proteção dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista foi instituída
pela Lei 12.764, de 27/12/2012, que assegura, dentre outros direitos, o seguinte: “atribuindo ao
gestor escolar ou autoridade responsável o cumprimento da diretriz inadiável de assegurar
matrícula ao aluno com transtorno do espectro autista (…)”. Também assegura que os alunos
com TEA serão atendidos pelo AEE, em Sala de Recursos ou na modalidade itinerante:
“deverão ser constituídas por alunos de uma única área de deficiência ou de Transtorno do
Espectro Autista ou de Altas Habilidades ou Superdotação”
Consideramos a formação de professores como uma das principais questões que se
apresentam diante da inclusão de alunos portadores de necessidades especiais. Como preparar
os futuros professore(a)s para atenderem as diferenças em suas salas de aula? Que tipo de
formação continuada será necessária? Como ser um(a) professor(a) inclusivo(a)? Observamos,
nas escolas públicas de Mossóro-RN que tem sido crescente o número de alunos nomeados com
“necessidades especiais”, nesse estudo destacamos alunos portadores de autismo ou Transtorno
do Espectro Autista (TEA).
Ressaltamos nesse estudo, a formação e o tempo de experiencia da docente para buscar
a compreensão da mesma sobre o fenômeno da diversidade e inclusão no espaço escolar. O
aprendido, o vivido, o experienciado por essa professora caminha na direção de aprender a ser
uma professora inclusiva. A docente é graduada em pedagogia pela Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte (UERN), no ano de 2009. Realizou especialização na área de educação
inclusiva pela UFERSA e participou tambem de curso de extensão por essa instituição.
Concluiu o mestrado em Educação pelo POSEDUC em 2016, apresentando na dissertação a
temática da inclusão. Possuiu mais de dez anos de experiencia na docência, sendo também
educadora de educação especial.

¹Estudante do curso de Pedagogia do Departamento Educação – DE da Universidade do Estado


do Rio Grande do Norte – UERN; E-mail: cynthiapereira@alun.uern.br
²Estudante do curso de Pedagogia do Departamento Educação – DE da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte – UERN; E-mail: luizaleite@alu.uern
³Professora do curso de Pedagogia e da pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação,
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; E-mail: fariasnorma@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 689
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

Na busca de respostas foram realizados estudos bibliográficos e entrevista semi-


estruturada (RICHARDSON, 1999) com a docente. Com base em Tardif (2002) e Freire(1996)
aprofundamos estudos sobre os saberes e as práticas docentes. “É pensando criticamente a
prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a prórpia prática” (FREIRE, 1996). Nóvoa
(1991;1995), trata da formação e da profissão docente. Para compreender a educação inclusiva
toma-se Manto An (2001). O entendimento do autismo (TEA), está no fato da pessoa apresentar
dificuldades no relacionamento interpessoal, cognição e linguagem, mas não significa que pode
ser nas três dimensões. Essa ideia de senso comum, de que têm dificuldade de demonstrar afeto,
evitar contato físico, são distantes, ficam isolados em seu próprio mundo, são pouco
comunicativas, não ocorre exatamente desta maneira. Segundo Bosa, 2002. Significa dizer que,
os indivíduos são singulares e se comportam de modo diferente. De acordo com Klin (2006) as
características mudam em cada caso.
Pesquisa qualitativa apoiada em Gil (1998) e Bogdan; Biklen, (1994), ao afirmarem
que “a abordagem qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é
trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma
compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo”. A experiência das práticas da
professora, nos encaminha numa perspectiva de Larrosa Bondía (2002, p,2), “ a experiência é
o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece,
ou o que toca. ”

Resultados e discussões

Na entrevista realizada com a professora, esta destaca que, existem muitos desafios,
aprendizagens e avanços na prática pedagógica. Não existe um “modelo” ou uma “receita” para
ensinar alunos com TEA, “sabemos que se dois alunos apresentarem o mesmo diagnóstico,
podem ter comportamentos diferentes para uma mesma atividade”. E explica que uma criança
com autismo pode aceitar bem uma atividade e para outra não dar certo. E continua: “ é
necessário priorizar a socialização e propor atividades pedagógicas adequadas a cada criança...o
que não é uma tarefa fácil”.
Ao ser questionada sobre os saberes e práticas necessários a(o) professor(a) para lidar
com essa problemática em sua sala de aula, revela que é importante o(a) professor(a) ter
sensibilidade para essa problemática, acolher, conhecer bem os alunos, não precisa ser um
especialista em TEA, mas tem que buscar conhecimentos, leituras e redirecionar sua prática
docente. “Eu busquei a formação continuada, gosto muito de ler, de estudar e conversar com
colegas mais experientes, que tenham um conhecimento mais aprofundado”(professora).
A docente ressalta que o(a) professor(a), em alguns casos não poderá conduzir
sozinho(a) a turma, pois se existir um caso mais grave de TEA (que muitas vezes são associados
com outras comorbidades), há necessidade de um(a) professor(a) auxiliar. A Lei garante esse
direito dependendo do contexto e do grau do TEA. E continua seu relato dizendo que a presença
de um número considerável de alunos portadores de necessidades especiais nas escolas
acontecem atualmente, pelo fato das pesquisas e estudos terem avançado nesse sentido, outra
questão também, é a importância da conscientização das famílias. Chama atenção para o fato
da presença do(a) auxiliar ser necessário(a), mas em alguns casos pode tolher um pouco o
desenvolvimento e a autonomia de um autista, já que está sempre muito próxima do(a) aluno(a).
Cita também a CID-10 que significa "Classificação Internacional de Doenças", e a DSM-5 é
uma sigla inglesa, Diagnostic and Statistical Manual, que significa Manual de Diagnóstico e
Estatística.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 690
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Outro ponto destacado foi a necessidade de utilizar novas e diferentes estratégias e


metodologias a partir de cada aluno, da realidade de cada um, trabalhando o potencial individual
e acreditando que são capazes de avançar sempre mais. Chama atenção para outro desafio ao
docente que é fazer com que esses alunos compreendam e aceitem o cumprimento das regas.
Ou seja, o aluno com TEA ao ingressar no ambiente escolar, apresenta dificuldades de
compreender as regras, fato que já se destaca no ambiente da sala de aula. Essa questão dificulta
muito a aprendizagem da convivência social. “Eu sempre fico atenta as informações da família
e as interações do aluno com os colegas na sala”.
Em relação as aulas relata que procura acompanhar bem o aprendizado do aluno,
trabalhando com materiais concretos, manter uma aproximação com a família e também
conversar com colegas professores para discutir as metodologias utilizadas para trabalhar os
conteúdos.
Na sala de aula utiliza muitas imagens, fotos reais que remetem ao cotidiano do aluno.
“Como por exemplo, ao trabalhar animais eu não levo desenhos de animais, mas fotos, porque
já motiva a linguagem....o diálogo....”. A docente destaca a importância de trabalhar a história
social com o aluno e as rotinas. E reforça a dificuldade dos alunos com TEA compreender as
rotinas e as regras. Outra atividade que utiliza e sugere aos colegas é gravar vídeos com o aluno.
De acordo com Silva (2012), o desenvolvimento de crianças com o transtorno autista acontece
por estímulos externos que são o apoio físico, verbal e gestual. As terapias comportamentais
aplicam esses apoios, mas podem ser desenvolvidos em sala de aula auxiliando no
desenvolvimento intelectual e autonomia desse aluno.

Conclusões

Defendemos a escola como um lugar de encontros, de interações, de possibilitar diversas


maneiras de ensinar e aprender, portanto faz-se necessário pensar um currículo crítico e
inclusivo. Muitos professore(a)s se questionam como ensinar e incluir a criança com TEA, sem
terem uma especialidade na área ou em sua formação inicial tiveram lacunas em relação ao
aprofundamento teórico-prático dessa problemática. Como trabalhar os conteúdos? Que
estratégias desenvolver?
Para concluirmos, podemos dizer que os desafios são muitos e precisamos de um grande
esforço de professores, família e escola para garantir o desenvolvimento e a aprendizagem
desses alunos com TEA. A escola precisa assegurar o acesso aos saberes escolares por meio de
um currículo crítico, criativo e inclusivo, por meio de práticas pedagógicas diferenciadas que
respeitem o ritmo e a realidade dos alunos. Necessitamos de professore(a)s sensíveis e bem
preparados de conhecimentos teórico-práticos, de planejamentos coletivos, de metodologias
que atendam a diversidade e a inclusão. E que os processos de avaliação sejam contínuos,
possibilitando aos professore(a)s acompanhar o desenvolvimento de cada aluno que está em
sala de aula.
Com a professora sujeito da pesquisa destacamos seu compromisso profissional com a
educação de todos, o respeito e a ética para com os alunos portadores de TEA. Que sua
experiência e motivação seja exemplo para muitos que pretendem seguir a profissão docente.
Os desafios são muitos e exige o empenho na aprendizagem das crianças, o esforço no
(re)direcionamento de práticas e metodologias.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 691
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos

Agradecemos ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica - PIBIC


UERN e a professora sujeito da pesquisa.

Referências

BOGDAN. Roberto C. e BIKLEN. Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação: uma


introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994.

BONDÍA, Larrossa Jorge.Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira


de Educação, v.19, jan-fev, 2002.

BOSA, C. Autismo: Atuais interpretações para antigas observações. In C. R. Baptista e C. Bosa


(Eds.), Autismo e educação: reflexões e propostas de intervenção. Porto Alegre: Artmed, 2002,
p. 21-39.

BRASIL, Lei 9.394/94, de 20 de dezembro de 1996. Institui as Diretrizes e Base da Educação


Nacional.

BRASIL. Lei 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Refere-se a política nacional de proteção


dos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários para a prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5 ed. São Paulo: Atlas, 1999.

KLIN, Ami. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Rev. Bras. Psiquiatr. São Paulo
, v. 28, supl. 1, p. s3-s11, Mai 2006 .

MANTO AN, M.T.E., Caminhos pedagógicos da inclusão. São Paulo: Memnon edições
científicas, 2001.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

SILVA, Ana Beatriz Barbosa; GAIATO, Mayra Bonifacio; REVELES, LeandroThadeu.


Mundo singular: entenda o autismo. Editora Fontana, 2012.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 692
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INCLUSÃO DE DISCENTES COM DEFICIÊNCIA: O QUE PROPÕE O


ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA – A EFETIVAÇÃO DE
DIREITOS NA UERN

José Bezerra Neto 1; Ana Lúcia Oliveira Aguiar2.

RESUMO:

Este estudo, intitulado Inclusão de discentes com deficiência: o que propõe o


estatuto da pessoa com deficiência – e a efetivação de direitos na UERN, desdobra -se de
estudos que veem sendo desenvolvidos dentro da política de inclusão da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN), através da Diretoria de Política e Ações Inclusivas
(DAIN), da referida universidade. Com o objetivo de compreender de que forma a Lei
Brasileira de Inclusão, Lei Nº 13.146/2015 reflete nas práticas pedagógicas do docente
mostra, neste resumo, o andamento de um projeto que desembocou da pesquisa supra citada.
Inspirou a partir das narrativas autobiográficas, metodologia do projeto e escuta das narrativas
dos sujeitos desta pesquisa, relatos de estudantes sobre a política de inclusão da UERN e, por
parte de um dos sujeitos da pesquisa, um livro que está em andamento sobre a história de
vida, de desafios e possibilidades. A construção do livro tem como dimensão relatar sua
trajetória da escolaridade básica ao ensino superior, até o momento, a partir das narrativas de
pessoas participantes que contribuíram para a construção de sua autonomia e independência.
No ensino superior, estudantes, sujeitos da pesquisa que narraram sobre as adequações
necessárias para a efetivação de direitos dos estudantes quanto às adequações curriculares,
avaliativas, metodológicas, com vistas aos aprendizados dos estudantes com deficiência para
a efetivação do que instrui a lei supracitada na perspectiva da quebra de barreiras atitudinais,
físicas, procedimentais, conceituais para a superação.

Palavras-chave : Deficiências. Legislação. Efetivação de Direitos. Inclusão.

INTRODUÇÃO:

A Constituição Brasileira de 1988 garante igualdade a todos sem distinção em seu


art. 5º, podemos garantir os direitos e garantias fundamentais a pessoa com deficiência. Mais
com muita luta a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) – Estatuto da Pessoa com Deficiência,
sancionada em julho de 2015 que entrou em vigor em janeiro de 2016 proclamam e
concordam que toda pessoa faz jus a todos os direitos e liberdades, ali estabelecidas, sem
distinção de qualquer espécie. A Diretoria de Políticas e Ações Inclusivas (DAIN) está ligada
à Administração Superior oficialmente, foi criada pela Resolução N° 2/2008 do Conselho
Universitário - CONSUNI, de 18 de abril de 2008 e, em 2010, passa a Diretoria, através da
Resolução Nº 31/2010-CD, e posteriormente, a ser Diretoria de Políticas e Ações Inclusivas
(DAIN), através da Resolução N° 5/2015-CD. O trabalho desenvolvido pela DAIN
consubstancia-se nas propostas gerais de ação com base nas Legislações Nacionais e
Internacionais de Educação Especial - buscando promover e ampliar intercâmbio com

1
Estudante do Curso de Administração do Departamento de Administração d a Un iv ersid ade Es t ado d o Rio
Grande do Norte; Barbosa-bezerra@hotmail.com.
2
Professora do Departamento de Educação da Universidade d o Estado do Rio Grande do Norte;
anaaguiar@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 693
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

diversas entidades, objetivando o gerenciamento, a transmissão e a fixação de técnicas e


metodologias no campo do ensino. Em seu art. 2º, a LBI diz que a pessoa com deficiência
aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. No Capítulo
da Educação, em seu Art. 27, a mesma Lei afirma que “A educação constitui direito da pessoa
com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado
ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus
talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características,
interesses e necessidades de aprendizagem [...]” (BRASIL, 2015b) e que, em seu Parágrafo
único. É dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar
educação de qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo de toda forma de
violência, negligência e discriminação. Apresentar as possibilidades para a efetivação de
direitos que preconiza a Lei Brasileira de Inclusão, como também fomentar a visibilidade de
seus resultados para os seis Campi da UERN, trocar experiência em eventos, ministrando os
conhecimentos relativos a este campo de conhecimento tanto dentro da instituição como na
sociedade. Principalmente, permitir mais possibilidades de atuação no processo de ensino-
aprendizagem.

METODOLOGIA

Como procedimento investigativo apontou para duas etapas. Na primeira, foi


proposto um estudo sobre a Lei Brasileira de Inclusão, Lei 13.146/2015 para aprofundamento
sobre o que dispõe a referida lei. Pretendeu-se uma leitura nos documentos da política de
inclusão da UERN, através da Diretoria de Políticas e Ações Inclusivas (DAIN) da referida
Universidade com o objetivo de conhecer o caminho e as orientações da referida Política de
Inclusão. Em sua segunda fase, rodas de conversa com o estudante através de suas narrativas
reflexivas sobre suas experiência nos processos de aprendizagem e as adequações necessárias
para a efetivação do direito que dispões a supra citada Lei. No campo de formação docente a
pesquisa (auto) biográfica é compreendida como uma metodologia que reflete a subjetividade
e a memória, o (re) conhecimento da realidade das práticas pedagógicas, escolares e
principalmente do sujeito professor. As narrativas foram transcritas após as rodas de
narrativas reflexivas e interpretadas à luz do como cada sujeitos da pesquisa narrou sobre as
adequações realizadas para o processo da efetivação de seus direitos.

RESULTADOS

Os estudantes entrevistados, sujeitos da pesquisa, apontam desafios, dificuldades e


superações, no decorrer da vida acadêmica. Observamos, em suas narrativas, que desde a
entrada encontraram dificuldades. No entanto, relatam as dificuldades levam à busca, ao
crescimento e que com o apoio da DAIN, da Equipe Multiprofissional, vão encontrando
condição para o entendimento sobre os aprendizados. As reuniões com os professores são
importantes para que as adequações entendidas e necessárias. A DAIN com uma equipe
multiprofissional a cada todo semestre encaminha aos departamentos orientações atualizadas
com pareceres para que os estudantes possam ter as adequações necessárias.
Com isso, os professores têm orientações quanto às adequações metodologias e
didáticas. Nos relatos, observamos que, durante os períodos, desde a entrada até os dias
atuais, mudanças na área da inclusão de discentes com deficiência na UERN, na Pesquisa e na
Extensão, na formação continuada ofertada aos profissionais da educação e na infraestrutura,
com a construção de passeios e sinalizações.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 694
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Quanto aos professores alguns encontram dificuldades, pois muitos estão aprendendo
a trabalhar com aluno com deficiência e aprofundar o caminho da formação continuada para a
área específica da inclusão de pessoas com deficiência. Os sujeitos da pesquisa, narram que
vem desenvolvendo seus estudos e alçando êxito, a despeito de dificuldades. Apontam que
estão conseguindo superar dificuldades, organizam suas atividades, produzem artigos,
participam das pesquisas, dos eventos, dos congressos, do salão de Iniciação Científica que
ocorre todos os anos. Um dos estudantes, sujeito desta pesquisa está em andamento com a
produção de um livro sobre sua trajetória de escolaridade básica e acadêmica.
Participarão desse livro através das suas narrativas, professores, gestores, amigos,
alunos. A inclusão ainda está em andamento e acreditam que as barreiras atitudinais vão
progredindo. Destaca a DAIN/ UERN pelo seu empenho com a participação da equipe
multidisciplinar o que tem permitido superação das dificuldades ao longo de toda a vida
acadêmica.

CONCLUSÃO

Este projeto, Inclusão de discentes com deficiência: o que propõe o estatuto da


pessoa com deficiência – e a efetivação de direitos na UERN, apresentou a importância da
LBI_ Lei Brasileira de Inclusão – Estatuto da Pessoa com Deficiência, LEI nº 13.146/2015,
uma lei cujos artigos prescrevem quanto à garantias do direitos das pessoas com deficiência,
salientam sobre a adequação, acessibilidade e condições que corrobora com objetivo de
manter os estudantes com deficiência dentro da universidade a possibilitar acesso e
permanência.

AGRADECIMENTOS

À Profa., Dra. Ana Lúcia Oliveira Aguiar pelo apoio, pelas orientações,
acompanhamento e incentivos na minha formação acadêmica.
À Ms Eliane Cota Florio pelo empenho em me ajudar no que lhe coube.
A todos que cooperaram para a minha pesquisa, muito obrigado.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Marcos Político Legais da Educação Especial na Perspectiva da Educação


Inclusiva / Secretaria de Educação Especial. -Brasília: Secretaria de Educação Especial,
2010.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Senado Federal. Subsecretaria


de Edições Técnicas, 1988. Disponível em: Acesso em: 04 jan. 2014.

BRASIL. Decreto n° 3.296 de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24


de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Diário Oficial da
União, Brasília, 1999b. Disponível em: Acesso em: 04 jan. 2014.

BRASIL. Decreto nº 10.146, de 06 de julho de 2015. Presidência da República. Legislação


Brasileira de Inclusão. Brasília, 2015a. Disponível em: Acesso em: 12 nov. 2014.

BRASIL. Lei Brasileira de Inclusão, Lei Nº. 13.146/2015. Presidência da República.


Legislação Brasileira de Inclusão. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 695
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Especial. Brasília, 2015b. Disponível em: Acesso em: 04 jan. 2014.

BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação -


PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 2014 Disponível em: Acesso
em: 12 nov. 2014.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 13. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 1996.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Presses Universitaires de France, 1990.

JOSSO, Marie-Christine. Da formação do sujeito... ao sujeito da formação. In: NÓVOA,


A.; FINGER, Matthias (org.). O método (auto) biográfico e a formação. Lisboa: Ministério
da Saúde, Departamento de Recursos Humanos da Saúde, 2010. p. 37-50.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 696
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

JESUÍNO BRILHANTE: O BANDOLEIRO DOS SERTÕES DO NORTE


DO BRASIL NO SÉCULO XIX

Maíra Oliveira de Sousa1; Francisco Linhares Fonteles Neto2


Palavras-chave: Banditismo. Rural. Crimes. Narrativas.
Introdução
A historiografia desenvolvida acerca da temática do Banditismo Social no Brasil ficou,
durante muito tempo, restrita a região Nordeste do país, no período que compreende o século
XX. Tal foco não se deu de maneira aleatória, é nesse local e nessa época que vão surgir bandos
chefiados por figuras como as de Virgulino Ferreira da Silva, conhecido popularmente como
Lampião, Antônio Silvino e a de Cristino Gomes da Silva Cleto, apelidado como Corisco.
Contudo, é possível localizar nesse local, significativos bandidos que agiram em um
espaço de tempo anterior ao citado e que não possuíram o mesmo destaque nas narrativas
históricas. Entre estes podemos citar o célebre Jesuíno Alves de Melo Calado, também
conhecido como Jesuíno Brilhante. Suas ações tem como cenário o sertão do norte do Brasil,
compreendendo o que hoje é conhecido como Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Em uma
época em que o estudo do Banditismo Social ainda é pouco explorado no país, durante o século
XIX, mais especificamente, na segunda metade deste, momento em que o Brilhante e seu bando
agiam pelas paragens do Nordeste.
Desse modo, é interessante perceber que parte dos registros que narram as peripécias
deste bandoleiro, mais especificamente às cantigas populares, o folclore e a literatura,
constroem uma imagem até hoje difundida, de um Brilhante que pode ser classificado como um
“bom bandido”. Portanto, suas práticas estão voltadas para a proteção e defesa da honra dos
sertanejos pouco afortunados. Assim, sua trajetória é narrada cheia de aspectos heróicos e
místicos, consagrando a figura do salteador.
Ademais, tal visão também é reforçada na obra de folcloristas e até mesmo
historiadores que apesar de apresentarem uma grande quantidade de fontes documentais, não
escapam da imagem sacralizada do bandoleiro. Entretanto, há documentos que contrapõe essa
perspectiva e mostram um Jesuíno Brilhante violento, não tão preocupado com a justiça para o
povo do sertão, mas sim com os seus interesses pessoais.
Dessa forma, na tentativa de produzir novos apontamentos sobre essa temática e relatar
sobre um personagem muitas vezes esquecido, o ponto principal aqui é mostrar as controvérsias
existentes entre às narrativas folclóricas, literárias e oficiais a respeito de Jesuíno Brilhante e as
complexas relações estabelecidas por ele e seu bando com o meio social ao qual estavam
inseridos.
Metodologia
A metodologia utilizada nesta pesquisa, baseou-se, inicialmente na investigação e
análise das fontes existentes sobre a temática. Assim, em primeiro lugar, foi realizado um
levantamento dos materiais jornalísticos em que o Brilhante e seu bando apareciam. Tal ação
contou com o auxílio da hemeroteca digital, uma ferramenta de busca online que permite,
através de palavras-chaves, uma averiguação rápida da presença do assunto em questão pelo
acervo da Biblioteca Nacional Digital.

1
Estudante do curso de História do Departamento de História da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; e-mail: mairaolisousa@gmail.com
2
Professor do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
Líder do Grupo de Pesquisa em História Social e Económica; e-mail:
franciscolinhares79@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 697
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Dessa forma, usando vocábulos como, “Jesuíno Alves”, “Jesuíno Calado” e “Jesuíno
Brilhante”, no período que engloba toda a década de 1870, pode-se, por meio do instrumento
citado anteriormente, localizar, aproximadamente, trinta periódicos, de todas as regiões do
Brasil, em que as ações dos bandoleiros foram noticiadas. Assim, após reunir este material,
notou-se a necessidade compreender o mesmo para além daquilo que transmitiam.
Portanto, foi realizada uma análise dos jornais tentando entender, principalmente, a sua
materialidade, a sua circulação e consequentemente, o seu alcance e a sua posição acerca das
práticas do Brilhante. Assim, tornou-se possível entender mais sobre essa figura ainda tão
lembrada por atos de heroísmo, mas que aparece fortemente vinculada a crimes hediondos nas
linhas das publicações.
Logo após o estudo desse conteúdo, a pesquisa seguiu para a avaliação de outro material,
a literatura e o folclore sobre Jesuíno Brilhante. Assim, tal ato foi possível por meio,
principalmente, da leitura e análise do livro de Rodolfo Teófilo, Os Brilhantes, 1885 e os versos
populares do ABC de Jesuíno, contido nas compilações de Rodrigues de Carvalho, em sua obra,
Cancioneiro do Norte, 1903. Por meio desses registros, procurou-se entender como se foi
construída e popularizada a imagem heróica do bandoleira, inversa a disseminada pelos jornais.
Portanto, se analisou os artifícios narrativos utilizados por cada escritor para explicar e
relatar às ações do Brilhante e seu séquito. Dessa maneira, podendo perceber como às práticas
destes, sempre são relacionadas a atos honrados e justos. Assim, depois de compreender cada
narrativa em seu lugar social e os interesses tidos por trás destas, foi viável compará-las. Dessa
forma, se obteve não apenas informações sobre a história do Brilhante, mas também
problematizações acerca da imagem mais divulgada do mesmo.
Ademais, é necessário enfatizar que a pesquisa em voga teve como principal referencial
teórico os estudos feitos na área da História Social com relação ao Banditismo Social do
historiador Eric Hobsbawm. A primeira de suas obras que faz menção a temática foi seu livro
Rebeldes Primitivos, escrito em 1959, uma década depois, ele publicou também Bandidos,
exemplar que trata o assunto com maior profundidade. Assim, este fez contribuições
significativas que auxiliaram no desenvolvimento deste estudo.
Resultados e Discussão
Para compreender acerca das ações do Brilhante, é necessário entender as circunstâncias
em que se desenvolveram. Assim, essas se estabelecem no período de tempo que vai de 1871
até a morte do bandoleiro 1879, período marcado na região Nordeste pela Revolta do Quebra-
Quilos (1874-1876) e a Grande Seca (1877-1879). Essa conjuntura compunha às circunstâncias
de pauperismo, miserabilidade e conflitos em que viviam os sertanejos da época.
Assim, entre as atuações do grupo algumas receberam maior destaque e,
consequentemente, repercussão. Dessa forma, pode-se citar a invasão na cadeia de Pombal, na
Paraíba, em 1874; o ataque na cidade de Imperatriz, Rio Grande do Norte, em 1876; e os
diversos roubos aos comboios de víveres, mandados pelo governo, que vinham trazer subsídios
às províncias do sertão nordestino no período da seca. É interessante perceber que as narrações
sobre essas condutas variam de acordo com às fontes aos quais se tem acesso.
Portanto, o folclore, às cantigas populares e a literatura vão apresentar um Jesuíno
Brilhante que defende os interesses dos sertanejos menos afortunados e só faz mal àqueles que
o atacam. Um verdadeiro “ladrão nobre” como Hobsbawm (1969) bem caracterizou esse tipo
de bandoleiro. Assim, para relatar acerca da visão que se tinha sobre esta categoria de fora da
lei, o autor supracitado afirma: “Não há dúvida de que o bandido é visto como um agente de
justiça, um restaurador da moralidade e que muitas vezes considera-se assim ele próprio.”
Entretanto, o governo e os jornais da época trazem uma perspectiva diferente das ações
de Jesuíno Brilhante e seu bando. Os noticiários relatam o terror, a miséria e a fragilidade nas
quais estavam submetidos os habitantes das regiões atacadas pelos bandidos. Assaltos,
violência, extorsões, relações entre o bando com aqueles que estavam no poder, até mesmo com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 698
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

policias, são narrativas constantemente abordadas pelos periódicos. Para entender melhor essa
dualidade de discurso é válido trazer como exemplo um acontecido que foi contemplado na
narrativa de ambas às concepções, a invasão na localidade de Imperatriz.
Dessa maneira, tal episódio ocorreu no ano de 1876, na cidade referida, a mesma
localiza-se no Rio Grande do Norte. Segundo as narrativas existentes sobre o sucedido, o
bandido e seu séquito, cerca de dez ou mais homens, foram até a localidade com o objetivo de
levar uma moça que estava acomodada na casa de Porfírio Leite Pinto e de matar um indivíduo
que estava detido na prisão do lugar. Contudo, a missão foi um verdadeiro fracasso. A força
policial da cidade, sabendo da estadia dos criminosos, montou um cerco com 15 praças e auxílio
de alguns cidadãos para deter os bandidos. O resultado foi um conflito armado que levou à fuga
do bando.
Dessa maneira, às páginas dos periódicos da época noticiaram o terror vivido pelos
habitantes de Imperatriz durante a passagem do Brilhante. Os textos caracterizam o bandoleiro
e seu bando como assassinos, ladrões, facínoras que estavam a espalhar o horror pelas
províncias norte-riograndenses. É possível observar melhor o dito a partir do trecho de uma
carta sobre o ocorrido publicada pelo jornal O Cearense, este pertencente a cidade de Fortaleza,
no Ceará, no dia 28/01/1877. No qual afirma:
Jesuíno Brilhante, o sicário feroz, convencido pela notória multiplicidade de seus
incessantes flagícios, fincado, como uma flecha, nos flancos deste povo; pisando na
face da sociedade, machucando-lhe os seios com o cauce das escopetas; condensando
cadáveres de moços, velhos, crianças assassinadas; fazendo abortar os que haviam de
nascer [...]. ( O CEARENSE, 1877)
No entanto, como já dito, esta não é a única forma de narrativa com a qual o acontecido
foi relatado. Existe, por exemplo, o ABC de Jesuíno, um conjunto de versos que pertencem ao
folclore da região, onde pode-se identificar uma contraposição à visão exposta pelos jornais.
Assim, neste é evidenciado a coragem e a dignidade dos bandoleiros. Em um dos trechos o
escritor afirma que os bandidos conseguiram fugir do cerco armado pela força pública, por
conta de uma intervenção divina, tendo em vista que os mesmos não mereciam nenhuma
punição.
Saíram todos do cerco
Livre e salvo de perigo,
Deus lhe concedeu a vitória
Pois não mereceu castigo.
Voltaram os empregados
Fortemente constrangidos.
Ademais, a literatura escrita a respeito de Jesuíno Brilhante e seu séquito reafirma a
perspectiva anteriormente referida. Rodolfo Teófilo, em seu romance, Os Brilhantes, 1885,
retrata-os como verdadeiros justiceiros que faziam cumprir a lei naquelas paragens. Dessa
forma, estes não cometiam crimes, apenas puniam aqueles que tivessem tal conduta.
Além disso, a historiografia produzida sobre o bandoleiro também não foge dessa
imagem. O historiador Raimundo Nonato, em sua obra Jesuíno Brilhante: o cangaceiro
romântico, 2007, apesar de abordar uma grande quantidade de fontes, permanece nessa visão
sacralizada do bandido. O brilhante é visto sempre como um inimigo do governo e nunca do
povo.
Entretanto, se este não fazia mal algum aos cidadãos comuns e se os últimos o apoiavam,
qual teria sido a motivação que levou os civis de Imperatriz a ajudar a força policial no cerco
supracitado? Tal fato encontra-se presente tanto em um ofício escrito pelo juiz de direito da
comarca, como nos noticiários da época. Para mais, os periódicos relatam verdadeiras
atrocidades cometidas pelo bando. Desde a associação com pessoas que estavam no poder,
assim, possivelmente, realizando práticas que assegurassem os interesses desses e não o do
povo; à ateamento de fogo em uma casa com pessoas dentro, surras e assassinatos de cidadãos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 699
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Após o exposto, é necessário afirma que o intuito desta pesquisa não é classificar o
Brilhante como herói ou vilão, mas apresentar outras versões acerca das práticas dessa figura.
O bandoleiro e seu séquito foi monumentalizado pelas narrativas populares e posteriormente
pela científica como uma lenda, um paladino. Contudo, como demonstrado, essa imagem pode
ser questionada, o que evidencia não o seu antagonismo, mas sim a complexidade das relações
entre este e a conjuntura ao qual estava inserido.
Desta maneira, o estudo em questão tem como principal vantagem a ampliação sobre o
olhar da vida do bandoleiro. Assim, revelando-se não existir um Jesuíno Brilhante
integralmente heróico ou facínora, pois a realidade foge dessa dualidade, há apenas uma pessoa
que agiu da maneira ao qual lhe convinha tendo em vista o seu contexto social e às suas
possibilidades .
Conclusão
De modo geral, compreendemos sobre o desenvolvimento do banditismo, nas regiões e
no período propostos, através da trajetória de Jesuíno Brilhante. Assim, constatamos o processo
de heroicização dessa figura. A literatura e o folclore sobre este são os principais responsáveis
pela difusão dessa imagem heróica. A historiografia tradicional também não foge do padrão
apresentado, o que consagra ainda mais esse personagem como “bom bandido”. Entretanto, as
demais fontes da época relatam um Brilhante diferente. Este último não tão honrado.
Assim, questionamos a visão corrente sobre o bandoleiro. Dessa maneira, se apresenta
às associações deste com os poderosos da época, além de algumas atrocidades realizadas por
ele e seu séquito. Portanto, desconstruímos a imagem do bandido justo, não com a intenção de
criar outro estigma, como o de vilão. Pois, entendemos que as relações sociais estabelecidas
entre o Brilhante e seu meio são complexas e ultrapassam tais limites.
Agradecimentos
Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que
com seu incentivo permitiu que nos dedicássemos ao desenvolvimento dessa pesquisa e a
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) que contribuiu com seu acervo e
infraestrutura.
Referências Bibliográficas
CARVALHO, Rodrigues. Cancioneiro do Norte. Paraíba: [s.n], 1903.
Correspondências. O Cearense, Fortaleza, 28 de janeiro 1877. p. 3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=709506&pasta=ano%20187&pesq=%2
2continua%20o%20terror%22&pagfis=11533 Acesso: 28 jul.2019.
HOBSBAWM, Eric. Bandidos. Rio de janeiro: Editora Forense, 1975.
NONATO, Raimundo. Jesuíno Brilhante: o cangaceiro Romântico. Mossoró: Vingt-um
Rosado, 2007
TEÓFILO, Rodolfo. Os Brilhantes. Brasília: Instituto Nacional do Livro/MEC, 1973. (1. ed.
1895)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 700
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Mapeamento das Comunidades Tradicionais de Terreiros em Mossoró (Primeira


Etapa)

Israela Míriam de Melo1, Eliane Anselmo da Silva2.

Resumo: Este trabalho apresenta os resultados da primeira etapa da pesquisa de


Mapeamento das Comunidades Tradicionais de Terreiros em Mossoró/RN, que
objetiva conhecer o universo das religiões de matriz africana nesta cidade, sobretudo
no que se refere aos aspectos socioculturais, econômicos e demográficos, mas também
suas variantes rituais e nomenclaturas, a partir da caracterização dos ritos, panteão de
divindades etc. A partir desse mapeamento será construído um banco de dados que
colabore com a construção de políticas públicas que beneficiem este segmento
religioso, bem como seu fortalecimento na luta contra a intolerância religiosa e para a
valorização do patrimônio afro-brasileiro da região. Como resultado inicial, foi criado
o Fórum de Terreiros de Matriz Afro-Ameríndia de Mossoró, junto as lideranças da
religião, no sentido de reorganizar as pautas e reivindicações da religião, bem como o
registro do quantitativo das casas de terreiros existentes atualmente na cidade.

Introdução: As religiões afro-brasileiras apresentam-se em grande variedade, indo de


formas mais estruturadas – como o candomblé – a grupos informais, voltados sobretudo
para a prática de terapias mágicas. Essas religiões se caracterizam por sua orientação
intramundana, ao mesmo tempo que se afastam de toda ideia de ascese (MOTTA,
2002). Os terreiros, como são chamadas as casas de cultos das religiões de matriz
africana, criam seu próprio mundo dentro do mundo, ao qual os fiéis têm acesso através
de um percurso iniciático, implicando o renascimento místico do indivíduo e do grupo
(Idem, 2002). Os Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana são, de
maneira geral, grupos que se organizam a partir de valores civilizatórios trazidos para
o Brasil por africanos transladados durante o sistema escravista, o que possibilitou uma
espécie de contínuo civilizatório no país, constituindo territórios próprios
caracterizados pela vivência comunitária e prestação de serviços à comunidade, com
base na cosmovisão africana. Com a ratificação da Convenção sobre a Proteção e
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais da Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), através do Decreto Presidencial
6.177 de 1º de agosto de 2007, foi reafirmado o compromisso do Estado brasileiro com
o respeito à diversidade cultural e à liberdade de expressão das práticas tradicionais,
estabelecendo também definições conceituais que orientam a construção de políticas
públicas destinadas a esses grupos. Nessa perspectiva, o mapeamento das comunidades
tradicionais de terreiros é uma prática já realizada pelo Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome (MDS), em parceria com a Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), e Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em várias capitais e estados do país, no
objetivo não apenas de contabilização, registro e geolocalização das comunidades, mas
de conhecer suas características em relação a um conjunto de indicadores pertinentes

1
Bolsista do Programa de Iniciação a Pesquisa (PIBIC), Estudante do curso de Ciências Sociais do
Departamento de Ciências Sociais e Política (DCSP) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN.
2
Prof.ª Dr.ª do Departamento de Ciências Sociais e Política (DCSP) da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN. Líder do Grupo de Estudos Culturais (GRUESC), Coordenadora do Núcleo de
Estudos Afro-Brasileiros (NEAB). E-mail: elianeanselmo@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 701
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

para orientar a construção de políticas públicas específicas. Os mapeamentos das


Comunidades Tradicionais de Terreiros de Matriz Africana, observam os aspectos
socioeconômicos e culturais, e colaboram no processo de formulação e implementação
de políticas públicas, operando enquanto instrumentos de visibilidade, proteção e
garantia de direitos. A realização desse tipo de pesquisa tem se multiplicado na última
década, e isso deve-se principalmente a alguns fatores, como: a crescente politização e
conscientização acerca de seus direitos, por parte das lideranças das comunidades
tradicionais de matriz africana; a conquista de assentos desse grupo social em instâncias
de participação e controle social; a propagação de instituições e órgãos governamentais
em nível estadual e municipal de promoção de políticas da igualdade racial, combate
ao racismo e defesa de direitos humanos, bem como a implementação de políticas
afirmativas e a consolidação e adoção da legislação concernente (SEPPIR, 2016). O
resultado final dessas iniciativas de ações de identificação e localização de Casas
Tradicionais de Matriz Africana oferecem dados quantitativos sobre diferentes aspectos
da realidade vivida por esses grupos, da sua distribuição no território brasileiro e da
contextualização de seu entorno. Além disso, permitem dar visibilidade a dados
qualitativos acerca da constituição desses territórios tradicionais, da trajetória de vida
das autoridades e lideranças tradicionais de matriz africana, bem como sobre o histórico
de lutas, resistências e insurgências contra a opressão que protagonizaram. Esses dados
são fundamentais para a elaboração e implementação de políticas específicas voltadas
para o combate ao racismo através da promoção da ancestralidade africana no Brasil, e
também para o fortalecimento de mecanismos de controle social. A caracterização das
Casas Tradicionais deve incluir informações que possibilitem o diagnóstico das
condições materiais e imateriais de reprodução da vida nas comunidades, com vistas a
motivar o conhecimento dos aspectos essenciais para o estabelecimento do diálogo
efetivo dos órgãos governamentais e de outras instituições com esta população. Isso vai
contribuir para o aprimoramento da gestão da política específica, bem como para a
ampliação da representatividade e até constituição de novas instancias de participação
social. Nesse sentido, a realização de mapeamentos pressupõe uma aproximação entre
os Povos de Comunidades Tradicionais de terreiros de Matriz Africana e o Estado, num
processo que permita tanto o acesso de lideranças e comunidades às informações sobre
seus direitos, como políticas e serviços que podem acionar, quanto a qualificação dos
agentes públicos para implementar tais políticas junto a essas comunidades. Desta
forma a participação das Casas e terreiros de matriz africana nos mapeamentos e
pesquisas socioeconômicas contribui para sua visibilidade e para a valorização da
ancestralidade africana, dos conhecimentos tradicionais de origem africana e para o
combate ao racismo. Assim, as religiões de matriz africana estão sendo verificadas
nessa pesquisa, a partir de seu caráter eminentemente étnico e marcadamente sócio-
comunitário. Elas se inserem enquanto um complexo cultural-religioso, através de um
conjunto articulado de significados e símbolos próprios a cada expressão ritual e
religiosa, que se destacam pela diversidade de expressões.
Metodologia e Resultados: As atividades da primeira etapa do Mapeamento das
Comunidades Tradicionais de Terreiros das Religiões de matriz africana na cidade de
Mossoró, teve início em julho de 2019, e término em julho de 2020. A primeira
atividade foi uma formação sobre o mapeamento de terreiros, realizada no dia 08 de
agosto de 2019, contanto com a participação de Ialaxé Flaviana de Oxum, do Ilé Axé
Dajó Obá Ogodô, de Extremoz/RN. Estiveram presentes a coordenadora, alunas
bolsistas e demais voluntários do projeto, assim como alunos integrantes do Núcleo de
Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) da UERN. O objetivo desta atividade, emergiu em
discussões sobre a religião do Candomblé, a fim de conhecermos sobre os costumes,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 702
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

crenças e tradições desse povo, nos preparando para termos uma maior familiaridade
quando fosse, posteriormente, realizada a parte prática do projeto, no caso, as visitas
aos terreiros.
No dia 20 de novembro de 2019, dia comemorativo à Consciência Negra, o
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), em parceria com a Comissão Permanente
dos Povos de Terreiros de Mossoró (COPPT) e a Rede de Jovens de Matriz Africana e
Terreiros do Rio Grande do Norte (REJOMATE-RN), realizou o I Fórum de Terreiros
de Religiões de Matriz Africana de Mossoró/RN e o XVI Louvação a Baobá. O evento
aconteceu no auditório da Estação das Artes Eliseu Ventania, onde estiveram presentes
sacerdotes e sacerdotisas de terreiros, e demais adeptos da religião. Logo após,
aconteceu a tradicional Louvação a Baobá, através de um grande culto em frente ao
Teatro Municipal Dix-Huit Rosado. No ensejo, foi plantado um Baobá – árvore sagrada
na tradição africana – nas proximidades da Estação das Artes Eliseu Ventania, como
apoio da Prefeitura Municipal de Mossoró e da Universidade do Estado do rio Grande
do Norte.
No ano de 2020, devido ao atual cenário que vivenciamos, da pandemia da
COVOD-19, nossas atividades foram realizadas de forma remota, por meio de lives,
disponibilizadas na rede social do Instagram @neabuern. O primeiro encontro,
realizado no dia 12 de maio de 2020, teve como mediadora a Professora Doutora Eliane
Anselmo (Coordenadora do NEAB e do Projeto de Mapeamento de Terreiros), e como
convidado, o Babalorixá Obá Walê Melqui D’Xangô, Sacerdote do Ilê Axê Dajô Obâ
Ogodô (Comum/Extremoz/RN), onde discutiu-se o tema “As Religiões de Matriz
Africana em Tempos de Pandemia”. Nessa atividade, Babá Melqui enfatizou sobre
como o isolamento vem afetando no cotidiano das casas de terreiros, uma vez que
modificou a sustentabilidade da renda familiar, decaindo consideravelmente nesse
tempo de pandemia. As rodas de conversas, o abraço, o afeto, o aconchego familiar, tão
presentes no cotidiano dos terreiros, foram se extinguindo diante do isolamento. A falta
de políticas públicas voltadas para esses grupos, é um dos principais fatores, segundo
Babá Melqui, que desagrega as religiões de matriz africana.
Em resposta às necessidades básicas das comunidades de terreiros diante do
contexto da pandemia, no dia 27 de maio de 2020, O NEAB e a REJOMATE
participaram da entrega de cestas básicas e máscaras, pelo Governo do Estado Rio
Grande do Norte, por meio da Secretaria do estado do Trabalho, da Habilitação e da
Assistência Social (SETHAS), para as comunidades tradicionais de terreiros de matriz
africana de Mossoró. O objetivo desta atividade emergiu a partir da mobilização dos
grupos e organizações ligadas a estas comunidades.
No dia 28 de maio de 2020, prosseguimos com o nosso segundo encontro, e
dessa vez contamos com a participação da Sacerdotisa de Jurema e Cientista Social,
Maria Rita, idealizadora do Terreiros do Futuro, sob a mediação de Lucas Súllivan, que
é Filósofo, Educador e Produtor Cultural da Rede de Jovens de Matriz Africana e
Terreiros do RN. O tema debatido foi “Participação e Controle Social: entre o papel
e os desafios das organizações sociais em tempos de pandemia”. Nessa atividade, foi
realizada uma reflexão em torno do papel desempenhado pelas instituições políticas e
sociais, baseado em torno de um racismo estrutural e uma intolerância religiosa do
mecanismo de Estado, que ocasiona a vulnerabilidade dos povos de terreiros. Maria
Rita, enfatizou especialmente a ineficiência de políticas públicas voltadas a este
público, que não somente se torna mais precário nesse tempo de pandemia, mas que
vêm de muitos anos atrás.
No dia 30 de junho, o NEAB/UERN fez o lançamento da Coordenação do
Fórum de Terreiros, com uma live sob a temática abordada foi “Participação

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 703
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Sóciopolítica e Religiosa: lançamento do fórum de terreiros de matriz afro-ameríndia


de Mossoró/RN”. A live contou com a participação de Lucas Súllivan (Filósofo,
Coordenador do REJOMATE, Ilê Axê Dajô Bàba Elejibô e membro NEAB/UERN);
Mácia Maria (Pedagoga, Atriz, Centro Espírita de Umbanda Xangô, Agodô); e Pai
Bolinha/ Franscisco Wellingtom (Centro Espírita de Umbanda Xangô Agojô), e
Professora Doutora Eliane Anselmo, mediadora.
Na live do dia 26 de julho, foi abordado o tema “Nós, Mulheres Negras:
atividade em comemoração ao dia internacional da mulher negra latino-americana e
caribenha, e dia Nacional de Tereza Benguela”, mediada pela Professora Doutora
Eliane Anselmo, cujas convidadas foram: Giselma Omilê (Coordenadora da
COEPPIR/SEMJIDH); Tatiane Anjos (Visão Mundial MJPOP-Brasil); Professora
Doutora Ivonete Soares (NEAB/UERN); e Lenilda Souza (Cia Escarcéu de Teatro
NEAB/UERN). Essa atividade se realizou por meio de uma troca de experiências sobre
o papel da mulher negra na sociedade, suas reivindicações e o fortalecimento desses
grupos. As discussões foram voltadas a partir de suas trajetórias de vida, e o
protagonismo frente a luta de cada uma dessas quatro mulheres negras sobre os seus
desafios e conquistas.
Considerações Finais: A primeira etapa da pesquisa do Mapeamento das
Comunidades Tradicionais de Terreiros em Mossoró, teve importantes parcerias no
decorrer da realização de suas atividades, que em sua maioria, devido ao atual cenário
da Pandemia COVID-19, se deram por meio do ambiente virtual. Durante os encontros,
pudemos discutir sobre os principais enfretamentos que as comunidades de terreiros
vêm sofrendo diante desse cenário. Diante dessas experiencias, o conhecimento teórico
nessa primeira etapa do projeto foi perceptível. Como dado concreto, conseguimos
contabilizar e registrar o número de 21 terreiros na cidade, que serão visitados durante
a parte prática do projeto, realizada com a continuidade deste, numa segunda etapa,
quando estiver amenizada a situação da pandemia. Após realização de todas as etapas
o mapeamento disponibilizará de um banco de dados que vai colaborar com a
construção de políticas públicas que beneficiem as comunidades de terreiros de
Mossoró. Essa iniciativa é a exemplo das demais experiências realizadas pelo Brasil,
um passo fundamental e definitivo para o reconhecimento e fortalecimento das
comunidades tradicionais de terreiros de matriz africana de nossa região, para suas
comunidades de entorno, e para a sociedade e a cultura do nosso país. E significa
também, uma importante política voltada para a produção de conhecimento qualificado
sobre esse universo. Assim, seguimos com as atividades que colaborem com o
fortalecimento da religião, combatendo a intolerância religiosa e valorizando o
patrimônio cultural afro-brasileiro de nossa região.

Referencial Teórico
BASTIDE, Roger. 1989. As Religiões Africanas no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Pioneira.
BOURDIEU, Pierre. 1972. Gênese e Estrutura do campo Religioso In A Economia das
Trocas Simbólicas. Ed. Perspectiva.
CAMARGO, Candido Procópio Ferreira de. 1961. Kardecismo e Umbanda: uma
interpretação sociológica. São Paulo: Pioneira.
DURKHEIM, Émile. 2000. As Formas Elementares da Vida Religiosa: O sistema
totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes (Coleção Tópicos).
ELIADE, Mircea. 1992. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira.
Salvador: EDUFBA, 2008.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 704
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Trad. Sandra Netz. 2.ed. Porto
Alegre: Bookman, 2004.
GEERTZ, Clifford (2001). A religião como sistema cultural In A interpretação das
Culturas. Rio de Janeiro: LTC.
GILROY, Paul. O Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência. Tradução de Cid
Knipel Moreira. São Paulo: Ed. 34; Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes,
Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.
GUIA ORIENTADOR PARA MAPEAMENTOS JUNTO AOS POVOS E
COMUNIDADES TRADICIONAIS DE MATRIZ AFRICANA. 2016 - Ministério da
Justiça e Cidadania Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais Tiragem: 15.000 mil exemplares
Distribuição Gratuita.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu
da Silva e Guacira Lopes Louro. 9ª ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
_______. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora
UFMG; Brasília: Representação da UNESCO no Brasil, 2003.
MARIANO, Ricardo. 2007. Pentecostais em ação: a demonização dos cultos Afro-
brasileiros In: Intolerância Religiosa: impactos do neo-pentecostalismo no campo
religioso Afro-brasileiro. Vagner Gonçalves da Silva (Org.). São Paulo: EDUSP. Pág.
119-147.
MOTTA, Roberto. 2002. Escatologia e visão de mundo nas religiões afro-brasileiras In
BRANDÃO, Sylvana (Org.) História das Religiões no Brasil. Recife: Ed. Universitária
da UFPE. p. 75-110.
PARÉS, Luis Nicolau. 2005. Antes dos Orixás. Dossiê África Reinventada In Revista
de História da Biblioteca Nacional. Ano I. Nº 6, dezembro.
PRANDI, Reginaldo. 2003. As Religiões Afro-brasileiras e seus Seguidores In Afro-
brasileiros, Pentecostais e Católicos, Vol. 3, Nº 01, Porto Alegre, Civitas: PUCRS,
junho de.
________ 2005. Segredos Guardados. Orixás na alma brasileira. São Paulo:
Companhia das Letras.
LEGISLAÇÃO

BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. (1996). Lei Nº 9.394 de 20 de dezembro de


1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. In: Diário Oficial da
União de 23 de dezembro de 1996.
BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. (2003). Lei Nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003.
Inclui no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e
Cultura Afro-Brasileira”. In: Diário Oficial da União de 10 de janeiro de 2003.
BRASIL. Ministério da Educação/ Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade. Orientações e Ações para Educação das Relações Étnico-Raciais.
Brasília: SECAD, 2006.
BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. (2010). Lei 12.288 de 20 de julho 2010.
Estatuto da Igualdade Racial.
BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. (2010). Lei 12.343 de 02 de dezembro de 2010,
que Institui o Plano Nacional de Cultura – PNC.
BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. (2000). Lei Programa Nacional do Patrimônio
Imaterial (PNPI), instituıd́ o pelo Decreto nº. 3.551 de 04/08/2000.
BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. (2010). Lei Decreto nº 7.272, de 25 de agosto
de 2010, Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, instituída pela
Portaria nº 992 de 13 de maio de 2009.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 705
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MAPEAMENTO DE EGRESSOS DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO


(FE/UERN): identificar percursos formativos, (re) avaliar ações
institucionais

Poliana Raquel Morais Pereira¹; Marcia Betania de Oliveira²


Palavras-chave: Acompanhamento de egressos. Faculdade de Educação (FE/UERN).
Avaliação institucional. Instituições de Educação Superior (IES)
Introdução
Esta investigação tem como objetivo geral mapear egressos da Faculdade de Educação
(FE/UERN) e apontar possíveis contribuições desse mapeamento para avaliação gestora e
didático-pedagógica da FE. Especificamente, se propõe a pensar e problematizar questões em
torno da formação acadêmica e atuação profissional dos egressos da FE/UERN, analisar
sentidos atribuídos pelos egressos quanto à qualidade dos cursos ofertados na FE/UERN,
contribuir com comissões específicas de avaliação (CPA, COSE, NDE, dentre outras) dos
cursos ofertados na/pela FE/UERN, fomentar e produzir discussões/acadêmico-científicas
sobre resultados do acompanhamento de egressos nas Instituições de Ensino Superior (IES).
A avaliação da graduação assume um papel significativo no fortalecimento da
educação superior, servindo como instrumento diagnóstico importante para referenciar e definir
políticas públicas relevantes para o desenvolvimento institucional e social (BRASIL, 2015).
Compreendemos o desenvolvimento de sistemas de acompanhamento de egressos,
assim como Lousada e Martins (2005, p.74), “[...] como um dos mecanismos que permita às
Instituições de Ensino Superior (IES) a contínua melhoria de todo o planejamento e operação
dessas organizações, particularmente do processo de ensino aprendizagem [...]”, o qual,
“tornou-se necessário [...] a fim de se conseguirem elementos da realidade para compor a
descrição e compreensão do fenômeno sob investigação” (LOUSADA; MARTINS, 2005, p.
74).
O sistema de acompanhamento de egressos da FE/UERN tem se dado por meio do
Portal do egresso da UERN (http://portal.uern.br/egressos/), disponibilizado na página da
instituição, desde 2017, com o objetivo de estabelecer uma interação entre a UERN o e os
profissionais por ela formados. De acordo com Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia da
Faculdade de Educação (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE,
2019a, p. 175): “O Portal é um canal que possibilita a obtenção de informações importantes
para a UERN mapeando a inserção social do egresso”.
A FE/UERN, por sua vez, criou no ano de 2020 o perfil “Histórias de vida”, no
instagram (@FE_uern), como campanha para mapear seus egressos. Entendemos, assim, como
Simon e Pacheco (2017, p. 12), que “a estruturação de um banco de dados para a coleta de
informações sobre egressos é apenas uma das nuances do sistema de acompanhamento de
egressos”, a qual deve certificar-se “efetivamente de que aquele indivíduo que concluiu os
estudos e recebeu o diploma está apto a ingressar no mercado de trabalho” (LOUSADA;
MARTINS, 2005, p. 74) e exercer as funções desenvolvidas durante o processo de formação
do curso

¹Estudante do Curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;
poliana-rakkel@hotmail.com.
² Doutora em Educação, docente na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN. Orientadora do
Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC) da Faculdade de Educação/FE; betaniaoliveira@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 706
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

A pesquisa empírica, de método quantitativo e amostral foi realizada na FE/UERN,


Campus Central, com apoio da Secretaria da FE/UERN e da Comissão FE (ComFE). Utilizou
como metodologia a combinação de vários métodos e técnicas, dentre eles o estudo de textos
(LOUSADA; MARTINS, 2005; SIMON; PACHECO, 2017) que abordam mecanismos de
acompanhamento de egressos em IES, identificando estratégias de análise de dados produzidos
por meio desse acompanhamento, sob perspectiva de pensar mecanismos de avaliação de
instituições a partir de outras pesquisas já realizadas.
Para o desenvolvimento da pesquisa em pauta, inicialmente foi feita uma revisão
bibliográfica de textos que auxiliaram na compreensão da temática; em um segundo momento
foram coletados dados disponibilizados em banco de dados como os fornecidos pela secretaria
da FE/UERN1 (texto com sistematização de dados publicados no portal do Egresso da UERN),
e por último, os colhidos através do perfil oficial da FE no instagram (@FE_uern).
De acordo com o Relatório do Curso de Pedagogia (UNIVERSIDADE DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO NORTE, 2019b, p.21), os dados obtidos indicam “uma boa inserção
dos egressos no mercado de trabalho, com a grande maioria atuando na área de formação, sendo
a faixa salarial compatível com o piso nacional do professor e com as condições econômicas da
região”. Quanto à formação continuada, “Vale destacar que, dos 44 que concluíram a pós-
graduação, em média, 60% foi em nível de especialização, 30% em nível de mestrado e 10%
em nível de doutorado. Dos 23 que estão cursando pós-graduação, 70% estão matriculados em
cursos de especialização e 30% em cursos de mestrado”. Esses dados apontam a contribuição
do curso de Pedagogia “para a formação continuada de seus egressos, considerando a oferta de
cursos de pós-graduação lato e stricto sensu pela Faculdade de Educação, com destaque para
seu Programa de Pós-graduação em Educação – POSEDUC, com o mestrado em educação”.
As estratégias de coletas e sistematização dos dados no perfil oficial da FE, no
Instagram, ocorreram da seguinte forma: para coleta, foram feitas divulgações em redes sociais,
merecendo destaque o quadro “Histórias de Vida”, no qual o egresso era/é convidado a
participar. Os depoimentos compartilhados pelos egressos foram considerados para construção
de ideias de nossa pesquisa. Foram recortados/destacados do perfil oficial da FE, no Instagram
e dos depoimentos divulgados no portal do egresso, um total de 25 falas de ex-alunos,
identificados no decorrer deste texto como E1, E2, [...] E24 e E25, cujas falas, quando aqui
registradas, serão destacadas em itálico, seguidas do ano de realização do registro na página do
instagram da FE/UERN. Definidas as estratégias e coletados os dados para efeito de posterior
organização e sistematização através de uma análise qualitativa, foram atribuídos sentidos às
informações fornecidas quanto à qualidade dos cursos ofertados na FE/UERN, sua atuação
mundo do trabalho após conclusão do curso, bem como a obtenção de qualificação profissional
com a educação continuada.

Resultados e Discussão
Os depoimentos do portal do egresso e do quadro “Histórias de Vida”, do Instagram
da FE/UERN, contou com a participação de 25 egressos da Faculdade de Educação. A coleta
de dados forneceu informações, no qual foi possível identificar nos tópicos a seguir. Quanto ao
perfil dos egressos que participaram da pesquisa, 24% mantêm vínculos com a UERN (de
trabalho ou como participantes de programas de pós-graduação), 40% concluíram o curso
recentemente (entre 2019 e 2020) e 36% são ex-alunos que ainda mantêm contato com a
universidade mesmo não estando mais vinculado a ela.

1
Com o afastamento das atividades presenciais em decorrência da Pandemia provocada pela COVID-19, as
informações foram colhidas de forma remota.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 707
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Quanto à inserção no mundo do trabalho, dos 25 egressos, 84% estão trabalhando na


área de formação e 16% não revelaram se estão ou não exercendo a profissão. Dentre os 84%
que estão inseridos no mundo do trabalho, 71% deles(as) estão atuando em cargos públicos e
29% no setor privado.
No que diz respeito à formação continuada, nove dos egressos (36%) participaram ou
estão participando de programas de pós-graduação. Os outros 64% nada declararam sobre o
assunto em seus depoimentos. No entanto, também foi interessante identificar que os egressos
que estenderam a vida acadêmica para além da graduação, mencionaram que a participação em
programas de iniciação científica foi o principal fator de motivação para isso, conforme destaca
E10: “O que mais me marcou durante a minha formação na FE foi a inserção no Programa de
Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), fato que corroborou para encaminhar a pós-graduação
lato e stricto senso” (2020).
A respeito do processo de formação acadêmica, os egressos relatam que a UERN lhes
proporcionou uma educação humana e profissional, preparando-lhes para atuar nas mais
diversas situações que possam surgir no mundo do trabalho. E17 destaca que “[...] por mais que
tivesse escolhido o curso [de Pedagogia], eu tinha medo de não dar conta de uma sala de aula.
O meu primeiro estágio foi desafiador, mas ao mesmo tempo instigante, onde eu pude reunir
todos os conhecimentos adquirido teoricamente na UERN, com a prática” (2020).
Os participantes afirmam estarem satisfeitos com a formação. Apesar dos problemas
de infraestrutura do local, é destacado que os professores desempenham seu trabalho da melhor
maneira possível, capacitando os alunos diante das dificuldades. Segundo o egresso E3, a
UERN é uma instituição que promove a formação profissional e humana de seus alunos,
possibilitando e potencializando oportunidades e o desenvolvimento de profissionais que atuam
no próprio Estado. Para E24, as aulas, “não tinham nada de tecnologia digital, mas a
competência dos professores nos preparava para enfrentar universos desconhecidos. Eles
falavam que não podíamos ser formados em conteúdos, mas em aprender a buscar
conhecimentos, nunca decorar e sim aprender e desenvolver habilidades da descoberta”
(2020).
O egresso E18, afirma que “A UERN sempre teve um perfil acolhedor e humano diante
de sua comunidade acadêmica [...]” (2020), completando que a graduação em Pedagogia lhe
proporcionou importantes experiências em diferentes espaços educacionais, como na
coordenação pedagógica nos anos iniciais, em práticas de letramento, alfabetização e
sistematização nas salas de aulas, até na realização de formação continuada de professores.

Conclusão
Essa investigação nos possibilita compreender que a importância do acompanhamento
de egressos, conforme Simon (2017, p. 2), constitui uma fonte de avaliação e informações
estratégicas para a instituição, pois ao saírem da universidade os egressos passam a acompanhar
as mudanças comportamentais que ocorrem na sociedade e levam para o seio da universidade
a necessidade de se transformar e adaptar-se à nova realidade, dominada pelas revoluções
tecnológicas e imposições do mercado competitivo”.
Sendo assim, na política de avaliação institucional, “[...] a informação configura-se
como um diferencial, trazendo conceitos mais próximos da realidade. Quanto mais fontes de
informação a gestão possuir, maior será a qualidade da avaliação, especialmente quando os
usuários estiverem entre os seus produtores e transmissores” (SIMON; PACHECO, 2017, p.
2).
O Portal do egresso é uma ferramenta que torna possível o mapeamento dos egressos
e consequentemente a coleta de informações dos alunos que fizeram parte da história de uma
Instituição, nesse caso, da Faculdade de Educação da UERN. A partir de depoimentos e relatos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 708
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

compartilhados pelos ex-alunos percebe-se que os serviços e o processo formativo oferecidos


pela instituição contribuíram para atuação dos profissionais não apenas para o mundo do
trabalho, mas principalmente, para sua formação humana.
A pesquisa mostra que a participação de egressos em políticas de avaliação
institucional fornece informações que podem contribuir para um melhor desempenho de uma
IES. Apesar de ser um número pequeno de participantes (25 egressos) se comparado aos
inúmeros profissionais formados pela FE/UERN, o mapeamento aqui destacado nos possibilita
identificar a qualidade de ensino que os discentes reconheceram ter sido contemplados mesmo
diante de dificuldades quanto a infraestrutura do local e ausência ou suporte básico de
tecnologias.

Agradecimentos
Agradecemos ao Programa de Iniciação Científica PIBIC pela oportunidade de aprendizagem
durante o desenvolvimento do projeto, e apoio financeiro através da bolsa para pesquisa. À
Faculdade de Educação, pela disponibilização de dados já coletados, e a todas as pessoas que,
deforma direta ou indireta, contribuíram para a realização desta pesquisa.
Referências
BRASIL. Política institucional de integração de avaliação de egresso na melhoria da IES.
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES). Instituto Nacional de estudos
e pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Vol.3. – Brasília: INEP, 2015. Disponível em
http://portal.inep.gov.br/documents/186968/484109/SINAES+-
+Sistema+Nacional+de+Avalia%C3%A7%C3%A3o+da+Educa%C3%A7%C3%A3o+Superi
or+Vol+3/4aa14291-0451-4017-b280-19f313eb4116?version=1.2 Acesso em 20. Fev. 2020.
FE_UERN. Faculdade de Educação-FE/UERN. Disponível em:
https://www.instagram.com/fe_uern/. Acesso em : 02 Ago. de 2020.
LIMA, Leonardo Araújo; ANDRIOLA, Wagner Bandeira. Acompanhamento de egressos:
subsídios para a avaliação de Instituições de Ensino Superior (IES). Avaliação: Revista da
Avaliação da Educação Superior (Campinas), [s.l.], v. 23, n. 1, p.104-125, mar. 2018.
FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/aval/v23n1/1982-5765-
aval-23-01-00104.pdf . Acesso em 15. Jan. 2020.
LOUSADA, Ana Cristina Zenha; MARTINS, Gilberto de Andrade. Egressos como fonte de
informação à gestão dos cursos de Ciências Contábeis. Revista Contabilidade e Finanças.
v.16, n. 37, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rcf/v16n37/v16n37a06.pdf Acesso
em 18. Jan. 2020.
SIMON, Lilian Wrzesinski; PACCHECO, Andressa Sasaki Vasques. Informações
estratégicas necessárias em um sistema de Acompanhamento de egressos. Simpósio
Avaliação da Educação Superior. Florianópolis, 2017. Disponível em
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/179323/101_00680%20-
%20ok.pdf?sequence=1. Acesso em Acesso em 19 Jan. Abr. 2020
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, Projeto Pedagógico do
Curso – PEDAGOGIA, Faculdade de Educação, Mossoró/RN, 2019a (documento digitado).
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Relatório do Curso de
Pedagogia, Faculdade de Educação, Mossoró/RN, 2019b (documento digitado).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 709
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MÍSTICA DO DESPRENDIMENTO EM MESTRE ECKHART

Járison Vicente Tintim1; José Teixeira Neto2

Palavra-chave: Deus. Esvaziamento. Criatura. Divinação. Humano.

Introdução

Se voltarmos nosso olhar para o contexto das tradições filosóficas, certamente nos
depararemos com questões que perpassam por todas as épocas históricas e que permanecem
vivas até os dias de hoje. Dessas disputadas questões decorrem tantas outras indagações, sendo
uma delas, a busca pelo conhecimento ou união com Deus/Uno, isto é, como conhecer o
princípio gerador de todas as coisas? No entanto, no ambiente filosófico-teológico e místico-
religioso cristão, a problemática ligada ao nascimento de Deus na alma e ao processo para se
alcançar tal finalidade se tornou uma questão central no século XIV e serviu como ponto de
partida para o projeto cujo resumo expandido ora apresentamos. No âmbito de uma pesquisa
filosófica, é relevante retomar essa discussão, pois possibilita ler e investigar obras de autores
que muitas vezes passam despercebidos na academia.
Na busca de compreender e analisar a problemática sobre o nascimento de Deus na
alma, percorreremos um caminho fundamentado na mística do Teólogo, Filósofo Frei
Dominicano Mestre Eckhart, considerado entre seus vários estudiosos tanto com um pensador
neoplatônico e como também um impulsionador da filosofia de Avicena e suas intepretações
de Aristóteles. Nessa pesquisa, entretanto, nos dedicaremos mais especificamente ao texto O
desprendimento a partir do qual destacaremos algumas questões centrais para uma introdução
à mística de Mestre Eckhart e sobre o processo de divinação do homem.
Portanto, o objetivo dessa presente pesquisa é analisar o processo do desprendimento
humano tendo em vista o nascimento de Deus na alma na mística de Eckhart. Dessa forma,
podemos nos perguntar: como o desprendimento e o esvaziamento na alma de todas as criaturas
concorrem para que a alma se volte Deus-Uno, princípio primeiro de todas as coisas, e a Ele se
una segundo a mística do Frei dominicano?

Metodologia

Para esta pesquisa, utilizamos exclusivamente a pesquisa bibliográfica com leitura e


análise do texto O desprendimento e revisão de literatura secundária. O resultado final desse
trabalho é a culminância de encontros semanais, inicialmente presenciais e, por fim, pelo
Google Meet, nos quais, sob orientação do professor responsável do projeto, procedíamos com
a leitura analítica para nos aproximar do texto eckhartiano e buscar compreender os principais
aspectos da sua mística especulativa. Além disso, a leitura era intercalada com discussões para
elencar os pontos considerados mais relevantes na filosofia de Mestre Eckhart e produzíamos
anotações e fichamentos desse levantamento bibliográfico para posterior aprofundamento.

Resultados e Discussão

1
Estudante do curso de Licenciatura em Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade do Rio Grande
do Norte; e-mail: jarisontintim@hotmial.com
2
Professor do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Vice-Líder do
Grupo de Pesquisa Ensinar e Aprender na Educação Básica; e-mail: joseteixeira@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 710
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os resultados obtidos a partir do material estudado permitiu compreender a


problemática inicial como também contribui para o próprio crescimento filosófico, intelectual
e espiritual dos participantes. Porém, não alcançaríamos tal objetivo sem antes compreender a
dimensão mais expressiva de Mestre Eckhart, a sua mística cuja linguagem paradoxal encerra
pensamentos nem sempre bem compreendidos pelo senso comum ou mesmo por lógicas mais
disjuntivas, como aquelas elaboradas a partir do princípio de não-contradição aristotélico.
Leonardo Boff (2006), em sua introdução ao Livro da Divina Consolação e outros textos
seletos, nos fala a respeito das questões fundamentais cuja dimensão também filosófica é
possível encontrar na mística do Mestre Eckhart: a primeira é o fato de ser uma experiência
radical imediata de Deus ou do Uno, ou seja, um homem que vive em constante busca do
conhecimento profundo de Deus seu criador, sem qualquer tipo de interposto ou vestes
sobrepostas ao verdadeiro Deus enquanto princípio primeiro e gerador de todas as coisas. Tal
experiência gera consequentemente outro tipo de experiência, não menos importante que a
primeira, a experiência da disjunção que significa e gera dualidade e separação: Deus-criação;
uno-múltiplo, intensificando em nós o desejo da unidade, isto é, o desejo de unir-se (ser uno) a
Deus, pois a necessidade da unidade só pode existir para quem vive a dualidade ou separação,
caso contrário não teríamos consciência dessa pluralidade, então, não necessitaríamos nem
desejaríamos essa unidade. Ademais, é válido também esclarecer que a unidade apresentada
pelos místicos não é algo que está em oposição à multiplicidade, mas sim, é uma unidade da
multiplicidade, ou seja, só acontece na multiplicidade. E para alcançarmos essa unidade da
multiplicidade é necessário recorrermos a alguns conceitos primordiais da mística; um consiste
na mística do desnudamento do mundo, esvaziamento e pobreza interior e exterior: “O espírito
mergulha de tal forma no Uno que se unifica (fica uno) com Ele no esquecimento místico de
todos os seres e também de si mesmo” (BOFF 2006, p.16). Outro aspecto importantíssimo é o
da mística da inserção no mundo, que ocorre na real experiência da presença divina no mundo,
que a partir da incansável busca de Deus acontece a unidade. Portanto, são essas as duas
condições essenciais para se alcançar a unidade com Deus dentro do contexto da multiplicidade
das criaturas, e isso acontece quando se busca constantemente conhecer a Deus sem véu, ou
seja, sem revestimentos, desnudado de nosso conhecimento sensível e esvaziando-nos de todas
as máscaras que escondem Deus.
Portanto, considerando o que já foi dito a respeito dos aspectos fundamentais da mística
de Eckhart, e provocados a refletir sobre as possibilidades de se alcançar o nascimento de Deus
na alma, chegamos aos seguintes resultados: para Mestre Eckhart (2006) a resolução para tal
problemática dar-se-á apoiada em uma palavra muito utilizada em seu vocabulário místico:
Abgeschiedenheit que é uma palavra do idioma alto alemão de conceito de difícil tradução que
pode ter como sinônimo as seguintes palavras: desprendimento, completa disponibilidade e
total liberdade. Todos esses sinônimos traduzem a própria natureza de Deus e o processo do ser
humano no caminho do assemelhamento de Deus, ou seja, o processo de divinação do homem.
O místico dominicano, em constante contato com escritos de outros mestres tanto
pagãos como cristãos, procurou de forma mais verdadeira possível apresentar a maior das
virtudes que capacitasse o ser humano a melhor e mais fiel união com Deus, e o tornar-se por
graça um só com Deus. Todavia a investigação rigorosa de Mestre Eckhart a respeito de como
o homem poderia atingir tal conhecimento para alcançar o nascimento de Deus na alma ao
tornar-se um só com Ele, lhe fez perceber claramente, que nenhuma das virtudes apresentadas
e consideradas importantes para outros mestres, como caridade, humildade e misericórdia
superava o puro desprendimento ou total disponibilidade ou total liberdade. Eckhart atribuía
essa superioridade ao fato que todas as virtudes estão voltadas às criaturas, e somente no
desprendimento o homem está desassociado das criaturas e voltado para Deus. Então, sendo o
desprendimento perfeito a maior e mais completa das virtudes para se alcançar o conhecimento
verdadeiro de Deus, como em termos práticos, se dá o desprendimento? Para Mestre Eckhart

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 711
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(2006), Jesus Cristo é o maior e mais fiel exemplo concreto do que seria um homem totalmente
desprendido das coisas do mundo. Mesmo estando e se relacionando com o mundo, logo Jesus
Cristo assume a natureza humana sem deixar de ser Deus: é verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, e, enquanto homem, como se poderia conciliar com o desprendimento perfeito?
Segundo os mestres que foram citados por Eckhart (2006), em cada ser humano existe dois
tipos de homens diferentes. O homem exterior, que é o ser sensitivo, ou seja, aquele que se
utiliza dos cinco sentidos para alcançar as virtudes da alma e o homem interior, que é o ser da
interioridade; o homem espiritual e amante de Deus, e não das coisas externas, não recorrendo
às potências da alma exterior, a não ser pela necessidade de contenção dos impulsos sensíveis
do homem, isto é, os impulsos da natureza animal do ser humano. Desta forma a interioridade
do homem age como chefe e guia de seus impulsos sensíveis, então, o homem interior se voltaria
potencialmente para o homem exterior, como guia de suas ações. De outro modo, os homens
agiriam como animais irracionais em relação ao seu objeto sensível.
Mas afinal, de fato, o que é, o desprendimento ou a completa disponibilidade? É,
portanto, segundo Mestre Eckhart (2006) torna-se tão sublime em si mesmo, ou seja, vazio de
todas as criaturas, que seu espírito permanece insensível diante das constantes mudanças
humanas: “Tamanho desprendimento inabalável conduz o homem à sua máxima semelhança
com Deus.” (ECKHART 2006 p. 151). Esta semelhança desprendida só pode ser alcançada pela
graça de Deus: “E sabe que estar vazio de toda criatura é estar cheio de Deus, e estar cheio de
toda criatura é estar vazio de Deus.” (ECKHART 2006 p. 152). Portanto, o “desprendimento”
se define como resposta para se alcançar, por graça, o nascimento de Deus na alma. Isto é, o
processo de Divinação do ser humano, que corresponde ao retorno da criatura ao criador,
tornando-se um só com Deus. Para tanto, não é suficiente apenas compreender a nítida distinção
entre o criador e a criatura, na qual tudo é múltiplo, mutável e mortal, enquanto, em Deus, tudo
é unidade, imutável e eterno. Mestre Eckhart acreditava que somente no profundo desapego ao
próprio eu, e apego a liberdade divina, isto é, a liberdade dada por Deus, alcançaríamos em nós,
um puro vazio. Como a natureza nega o vazio, Deus enquanto princípio de todas as coisas, ao
encontrar a alma vazia, nela habitaria. Deus em sua natureza perfeita preenche tudo aquilo que
se encontra completamente livre de qualquer coisa, e completamente vazio. Desta forma,
somente o desprendimento é capaz de nos proporcionar estar tão próximos do vazio restando
apenas o Nada, e consequentemente obrigando Deus a preencher esse Nada em nossa alma
desprendida.

Conclusão

Concluímos, portanto, que o Nascimento de Deus na alma ou o processo de Divinação


Humana só é possível de ser alcançado a partir do desprendimento como ação de esvaziamento
da alma de todas as criaturas, e consequentemente, um voltar-se para Deus como Uno, princípio
primeiro de todas as coisas. Ainda nesta vida é possível que a alma experimente imediatamente
Deus no processo de esvaziamento perfeito, isto é, no desnudamento ou desprendimento da
alma de todas as criaturas. Todo o processo se inicia com o reconhecimento de que no fundo
da alma exista uma fonte inesgotável que permanece escondida ou encoberta pelas imagens do
mundo e por tudo aquilo que não é Deus. Portanto, para se alcançar uma visão mística é
necessário que a alma proceda o processo de esvaziamento, desnudamento e desprendimento
de modo a ver em si mesma a sua fonte e a sua origem. Somente o desprendimento perfeito
possibilita que a alma se esvazie todas as coisas e redescubra o Deus que habita em si.
Consequentemente isso implicaria um unir-se a Deus e um deixar todo sofrimento, angústia,
todo tipo de desconsolação humana e ser completamente preenchido por Deus, portanto, não
sobraria nada de nós (criaturas) além do puro e completo Deus ou Uno. E quanto a experiência
de inserção no mundo, vimos para o cotidiano humano que o desprendimento é uma realidade

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 712
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

teoricamente possível, considerando que não se separa o homem interior do externo, mas que
Mestre Eckhart orienta o exercício constante da soberania do homem espiritual sobre homem
externo, uma luta contínua do espírito contra a carne, mas que nos proporcionara o nascimento
(redescobrimento) de na alma e a união perfeita e fiel da criatura e criador.

Agradecimentos
Agradeço ao Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC pelo
incentivo, e a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPEG da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte - UERN pela oportunidade que me fora concedida, e a todos que
contribuíram de forma direta e indiretamente nesse projeto.

Referências

BOFF, Leonardo. Introdução. In: ECKHART, Mestre. O livro da divina consolação e


outros textos seletos. introdução, Leonardo Boff; tradução, For. Raimundo Vier [et al] 6. Ed,
Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2006, p. 9-48.

ECKHART, Mestre. O livro da divina consolação e outros textos seletos. introdução,


Leonardo Boff; tradução, For. Raimundo Vier [et al] 6. Ed, Bragança Paulista: Editora
Universitária São Francisco, 2006.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 713
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Modulação deleuziana, modulação algorítmica e manipulação midiática na


sociedade de controle
Nicolas Samuel Gomes Leitão1

Telmir de Souza Soares2

Palavras-chave: Deleuze. Modulação. Algorítmos. Sociedade de Controle.

Introdução

Esse trabalho que é fruto do projeto de pesquisa Democracia em Rede: o papel das redes
sociais nos rumos do fazer democrático, busca refletir sobre uma das ferramentas e técnicas
existentes nas redes sociais para engajar e modular os indivíduos, partindo de uma discussão
iniciada por Gilles Deleuze: a ideia de modulação. Mas, em que consistiria esse tipo de modulação?
Qual a diferença de modulação e manipulação midiática? Como os algoritmos participam de uma
modulação e qual o motivo de seu uso?

Com as tecnologias nascidas no final do século XX e início do século XXI, a democracia


- que é, por essência, liberdade, dissenso, diversidade, espaço de diálogo, levando a formação de
uma opinião pública - passa a ter mais desafios, pois seus elementos característicos e, portanto,
essências, acabaram sendo abalados por uma nova forma, sutil e sofisticada, de tecnologia da
informação e comunicação, afetando assim suas estruturas e o funcionamento do fazer
democrático.

O presente trabalho traz para o debate os conceitos de modulação deleuziana, modulação


algorítmica e manipulação midiática, a partir de uma breve exposição do seu contexto histórico,
algo necessário uma vez que as modificações que o novo capitalismo projeta para se fundamentar
afetaram toda uma esfera material, social e, logo, comunicativa, tendo reflexos nos aspectos
performativos da materialização da democracia. Posteriormente, trazemos à discussão o que
seriam essas modulações e as manipulações e qual seriam seus papeis no novo modo de ser
neoliberal que consiste no que pode ser conceituado como sociedade de controle.

Metodologia

Por ser uma investigação bibliográfica, para compreender e apontar possíveis respostas,
partimos dos seguintes livros: Conversações de Gilles Deleuze; As Revoluções do Capitalismo de
Maurizio Lazzarato; Psicopolítica de Byung-Chul Han; Microfísica do Poder de Foucault; A
Sociedade de Controle, org. de Joyce Souza e Sérgio Amadeu e O Manifesto do Partido Comunista

1
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. (nicolassamuelg26@gmail.com)
2
Professor Adjunto IV do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Coordenador do Grupo de pesquisa Educação e Democracia. (telmir@gmail.com)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 714
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

de Marx e Engels. Todas leituras serviram de referência, tendo sido realizadas individualmente,
sendo fichadas e, posteriormente, socializadas no grupo de pesquisa objetivando fornecer,
amplicar e diversificar a visão sobre o objeto investigado, a saber, a manipulação midiática e a
modulação deleuzeana e algorítmica quanto ao contexto histórico e quanto à sua condição de
atuação nas relações do mundo atual, bem como os limites e possibilidades dessa conceituação.

Resultados e Discussões

Passando a fase de leituras, fichamento e discussões, foi compreendido que a modulação


deleuzeana, modulação algorítmica e a manipulação midiática têm como contexto histórico a
sociedade de controle, na qual surge os avanços das técnicas de produção e das tecnologias de
comunicação em massa, que apareceram no final do século XX e no início do século XXI, como
formas de condução da sociedade. Como Marx e Engels alertaram, no Manifesto do Partido
Comunista, a necessidade incessante que a burguesia tem em melhorar todos os instrumentos de
produção, revolucionando, assim, as relações de produção para poder se estabelecer em toda parte,
explorar em novos lugares, conservando e criando mais vínculos no mundo para sempre se projetar
em novos mercados, implica em assumir o controle hegemônico do mecanismo do Estado.

Os séculos XXIII e XIX foram os séculos das sociedades disciplinares, os séculos da


consolidação das instituições que são o efeito de uma virada no modo de produção completa da
antiga sociedade na qual o poder soberano existia. Com a ascensão de um modelo disciplinar e a
mudança na forma de produção, o poder não consistia mais enquanto poder de morte - caraterística
da era feudal - mas sim em um poder pela ordem que socializa primeiramente o corpo como um
objeto de produção necessário como força de trabalho. Esse poder disciplina os corpos cuidando
deles, pois a administração dos corpos por meio das famílias, escolas, presídios, hospitais e
indústrias é um recurso valioso para a produção, para a organização das cidades uma vez que estas
se tornaram não só espaços de habitação e de mercado, mas também espaços de intenso trabalho
para manter a nova vida existente sob o signo do novo capitalismo.

A terra e as máquinas eram nesse período recursos essenciais, a luta era por manter e
controlar esses recursos e espaços, porém, por necessidade, a reviravolta dos modos de produção
exigia um novo capital, de modo nenhum excluindo o outro, mas se conservando e indo além das
terras e máquinas. A sociedade disciplinar, que Foucault pensou nos anos 70, já não representava
a sociedade de sua época, as ideias e conceitos precisavam ser repensados, pois um novo mundo
transformado pelas novas tecnologias do capital estava surgindo.

O liberalismo passou a ser neoliberalismo. O mundo disciplinar foi sendo engolido por
uma sociedade de controle que não mais oprime ou disciplina a liberdade, mas sim, explora a
liberdade. O capitalismo foi sendo atualizado por uma nova revolução burguesa, constituindo no
mundo um neoliberalismo que explora não somente o corpo, mas também a mente dos homens e
das mulheres.

No passando, a manipulação midiática era uma ótima ferramenta para influenciar eleições,
vender produtos etc. Feita como que por artesões da mentira ou de verdades enganosas, pois a
manipulação exigia uma relação de trabalho manual, ela agora se apresenta sob a égide do digital,
do informacional. Se antes, o editor necessariamente precisaria trabalhar com as próprias mãos
separando e juntando para montar qualquer manipulação midiática, na nova era de comunicação

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 715
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

existente na sociedade de controle, não há mais uma relação de trabalho artesanal pois, com uso
dos dados e de algoritmos, é possível fazer comunicações personalizadas para qualquer público.

A sociedade de controle tem como uma das suas caraterísticas o monitoramento em 360
graus. As empresas chamadas de Big data que adentram o nosso acesso na web, tem a possibilidade
de ser o grande irmão vigilante diante dos nossos dados digitais e ainda acabam deixando em nós
um olho do espírito. Esse olho do espírito é o novo hábito de compartilhamento de si mesmo nas
redes, fazendo com que exista uma vontade de ser transparente.

Oferecemos mais e mais uma projeção de nós mesmos não só nas redes sociais, mas com
os clicks em qualquer link. A projeção feita por nós nesse espaço metafísico oferece, para o
mercado, mais produtos do proletariado, produtos feitos pelo próprio proletariado, no caso, ele
mesmo exposto na internet. Nesse contexto, diante da necessidade de algo mais poderoso que a
manipulação midiática, surge a modulação que é uma forma sutil de poder presente na sociedade
de controle. Essa forma de poder atua de modo silencioso e cada vez mais invisível, também, cada
vez mais próxima de nós, sondando nossa consciência, modulando como se modula rádio ou tv.

A modulação é quando se cristaliza em uma consciência determinada subjetividade. Na


sociedade disciplinar, o controle era limitado, agia apenas nos corpos. Mas em uma sociedade de
controle que explora a liberdade, o controle tem como ação, modular os cérebros com enquadros
mentais, sugerindo desejos ou qualquer outra coisa possível. Porque age como um mecanismo de
influência nas esferas das comunicações.

Por meio da modulação algorítmica, que tem como alma, toda uma inteligência artificial
que trabalha garimpando esses indivíduos dadificados, o capitalismo trabalha modulando de longe
toda uma realidade a partir da rede e das redes sociais. O marketing digital usa toda essa nova
tecnologia para, além de ter um feedback, vender produtos, criar desejos e necessidades visando
seduzir o possível comprador.

Para Deleuze, essa modulação tem como princípio ocupar espaços nas mentes das pessoas,
seja por motivo de negócios, como vender produtos, seja por motivos ideológicos, político e social.
Essa disputa na mente ocorre por meio de enquadramentos emocionais e também de imposição de
temas no diálogo cotidiano. A esfera de comunicação é bombardeada por esses enquadros
emocionais e imposições de temas, tudo feito para prender a atenção das pessoas e enraizar nelas
- se for com o objetivo de algo comercial - o mundo daquele produto.

Essa modulação deleuzeana são feitas por meio de manipulação do conteúdo da mídia ou
como modulação algorítmica - sendo essa a mais profunda das modulações, pois é personalizada
com a história do indivíduo. Os indivíduos tornaram-se algo divisível, um grande número de
pessoas passou a ser meros dados bem quantificados e organizados em tipos de consumidores por
essas empresas chamadas de Big data exatamente pelas suas capacidades de processar grandes
montantes de dados disponíveis ou disponibilizados em plataforma como Google, Facebook e
Instagram, por exemplo, e de sugerir produtos ou modular ações a partir do uso dos dados das
pessoas. Nessas empresas, os dados são armazenados, indexados, garimpados e tratados.

Conclusão

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 716
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na web, a grande maioria das publicidades produtos, já são adaptadas e moldadas para
consumidores especificados pelos dados. O consumidor, achando-se livre, acaba não percebendo
que todas as suas escolhas, no âmbito digital, são escolhas pré-definidas dentro de uma liberdade
que, no caso, é uma redoma de vidro feita pelas empresas parceiras de outras empresas de Big
data.

Essa modulação algorítmica também pode ser usada em campanhas políticas, foram até
usadas nas últimas eleições, para radicalizar, aos poucos, as pessoas mais propícias à determinadas
sugestões. Na sociedade de controle, consumidores e eleitores acabam sendo, tanto para empresas,
quanto para políticos, meros produtos. No âmbito do povo, não há um nós na política, não há uma
união pela democracia.

Vivemos no reino das necessidades. E nele a tecnologia, as máquinas, também habitam. A


tecnologia faz tanto parte das forças produtivas quanto das relações de produção e não só disso: a
tecnologia também faz parte do nosso íntimo, se tornou presente nas nossas relações comuns com
os outros e as outras. A tecnologia e a sua necessidade transcendem o espaço de trabalho. Já faz
parte de toda a nossa constituição no mundo, porque nos tornamos seres carente de tecnologia.

Agradecimentos

Agradeço ao CNPQ e à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN pela formação
democrática que vêm dando aos brasileiros de todos os cantos.

Referências bibliográficas

DELEUZE, G. Conversações. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2008.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 28ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

HAN, Byung-Chul. Psicopolítica: o neoliberalismo e as novas técnicas de poder. Belo Horizonte:


ÂYINÉ, 2018.

LAZZARATO, Maurizio. As revoluções do capitalismo. Civilização Brasileira, 2006.

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2005.

SOUZA, Joyce; AVELINO, Rodolfo, SILVEIRA; Sérgio Amadeu da. (Org.). A Sociedade de
Controle. Manipulação e modulação nas redes digitais. São Paulo: Editora Hedra. 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 717
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

NARRATIVAS DA ERVA MALDITA (1932-1964)

Carlos Eduardo Martins Torcato1; Renê Alves Vidal2.

Palavras-chaves: Jornal; Maconha e Crime.

Introdução
As consequências e discussões acerca do uso de entorpecentes eram estampadas nas
páginas de jornais potiguares entre 1934-1964 (período estudado nesta pesquisa), tais esses
como: O Diário de Natal, O Poti, A Ordem e o Mossoroense. A pesquisa se inicia em 1932,
período este onde o governo varguista preocupava-se com a regulamentação fiscal/sanitária de
entorpecentes, visando uma civilização idealizada, onde substâncias inebriantes de certa forma
adoeceriam a nação, tornando-a mais preguiçosa e outros aspectos negativos. Encerra-se em
1964, com a promulgação da lei 4.451, criada por Castelo Branco no primeiro ano da ditadura
militar, onde colocava o traficante de entorpecentes como inimigo do Estado, assim iniciando
o que muitos autores chamam de Guerra as Drogas.
É nesse período onde-se pouco foi dado atenção a estas substâncias inebriantes no Rio
Grande do Norte, onde se realiza esta pesquisa. As páginas dos periódicos acima citados
estavam completos de opiniões sob o que a sociedade deveria pensar ou como a polícia devia
agir acerca dos usuários de entorpecentes/maconha, ou da erva maldita, como o Diário de Natal
costumava chamar a cannabis sativa.
Esta pesquisa tenta entender como estas narrativas aparecem, muitas vezes bebendo de
ideias como a da lei seca na década de 1920 nos EUA. Tenta também tomar conhecimento de
quem está por trás de tais narrativas, se existem interesses, e por final, entender como se
desenvolveu a guerra as drogas no Rio Grande do Norte, a partir destes periódicos.

Metodologia
Esta pesquisa se iniciou em 2017 em uma bolsa de pesquisa do PIBIC (CNPq), chamada
Ébrios, Loucos e Arruaceiros: produção de conhecimento acerca do uso de substâncias
inebriantes na imprensa nordestina (1932-1964). Nesta pesquisa conseguimos (eu e todos os
integrantes da bolsa) fazer um banco de dados, de catalogações de notícias/narrativas sobre
drogas/substâncias inebriantes. Estas catalogações foram feitas nos jornais: O Poti, Diário de
Natal, A Ordem e O Mossoroense. Infelizmente percebemos que estudar toda a imprensa
nordestina era muita ambição, e que levaria um trabalho maior do que imaginávamos. Devido
a isto, delimitados nosso recorte temporal para estudar apenas um Estado do Nordeste: O Rio
Grande do Norte. Estado este que se encontra nosso grupo de pesquisa, no campus UERN
(Universidade do Estado do Rio Grande do Norte). As notícias dos periódicos de Natal-RN
(Diário de Natal, O Poti e A Ordem) foram encontradas na Hemeroteca Digital, acervo online
e gratuito da Biblioteca Nacional, com acessão O Mossoroense, que conseguimos através do
acervo do NUDOPH na UERN. Devido a ajuda de membros do grupo de pesquisa, conseguimos
fazer mais de 500 catalogações de notícias. Para estas pesquisas foram usadas palavras chaves
1
Professor Adjunto II – Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró-
RN, e-mail: carlostorcato@uern.br
2
Estudante do curso de Licenciatura História – Departamento de História da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, Mossoró-RN, e-mail: renxynai@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 718
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

tais como: “maconha”, “cocaína”, “entorpecentes”, “higiene mental”, “alcoolismo” e outras.


Dentre essas, a palavra mais presente nestes periódicos analisados foi a “maconha”. Somente
no Diário de Natal, onde se foi encontrada mais de 400 notícias com esta palavra chave entre
o período analisado. O recorte temporal foi escolhido devido a dois grandes marcos na história
da regulamentação de entorpecentes no Brasil: a criação da CFNE (Comissão Nacional de
Entorpecentes do Brasil), onde a União encara o combate às drogas como uma higienização
social e a promulgação da lei 4.451 em 1964, onde os usuários passam a serem visto como
inimigos do Estado, em uma espécie de declaração a guerra às drogas brasileiro. Porém nesta
pesquisa se iniciará somente em 1935, devido a limitação das fontes encontradas.

O uso de jornais como fonte de pesquisa histórica é algo recente na historiografia. De acordo
com Luca (2008), até a década de 1970, eram poucos os jornais usados como fontes
historiográficas, devido à forte influência do positivismo ainda presente na crítica a fontes
periódicas. Até então, os historiadores buscavam fontes com objetividade, neutralidade,
fidedignidade e credibilidade. No entanto, na segunda metade do século XX, sob influência da
escola de Annales, a historiografia começa a abandonar sua visão descritiva e atenta-se a outros
aspectos, como os relacionados à cultura. Com isso, percebeu-se como periódicos há anos
influenciavam a sociedade, por meio de suas opiniões. Sendo assim, os jornais, revistas e outros
periódicos viraram objeto de interesse à historiografia. Por isso a necessidade de
aprofundamentos de técnicas e métodos para analisar o periódico. Segundo Tânia Luca (2008):

Os jornais pareciam pouco adequados para a recuperação do passado, uma vez que
essas “enciclopédias do cotidiano” continham registros fragmentários do presente,
realizados sob o influxo de interesses, compromissos e paixões. Em permitirem captar
o ocorrido, dele forneciam imagens parciais, distorcidas e subjetivas (LUCA, 2008,
p.112)

Resultado e Discussões
Em 1932 é criada CNFE (Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes). O
Governo de Getúlio Vargas dá um grande passo no controle federativo de entorpecentes.
Jonatas Carvalho (2013) diz que:
[...] a partir de 1935 o governo brasileiro toma uma iniciativa que lhe dará condições
de dinamizar os mecanismos de controle internos quanto a questão comércio de
importação e exportação de entorpecentes, assim como a fiscalização do consumo de
tais substâncias. Um projeto que nasceu no interior do Palácio do Itamaraty em agosto
de 1935 e adquiriu força nacional para se tornar a mais alta instância sobre política
brasileira de drogas (CARVALHO, 2013, p.82);

Com a criação da CFNE (Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes) o Brasil


fortalece sua ideia de sanitarismo sob a população brasileira. Uma visão tanto médica, pois aqui
seria “papel do médico salvar a humanidade do vício” (SAAD, 2013, p.5). Quanto também de
progresso, na década de 1930 ideias eugenistas eram comuns nos discursos políticos.
Acreditava-se que o Estado devia fazer uma separação de fármaco e drogas, para a nação
caminhar para uma boa civilização. Como diz Luiza Saad: O que resumia tais anseios de ordem
podia ser encapsulado numa palavra/conceito: civilização” (SAAD, 2013, p.53).

O uso de entorpecentes tal como a maconha, era vista como um desvio de caminho a
civilização. Os periódicos aqui estudados mostram em suas páginas/narrativas como o uso de
maconha pode deixar um sujeito em “destroças”, como mostra um trecho de um conto policial
do Diário de Natal:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 719
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

“O professor olhou para os destroças daquela vida humana, abatida no chão da sórdida
espelunca. Estava habituado a espetáculos semelhantes, mas o rapaz ali estava, Ralph
Simpson, fora um hábil arquiteto, antes de se deixar dominar pela maconha” (Diário
de Natal, 1957, p.5)

E que Em 1972 o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon, declara a “guerra às
drogas”, iniciando/influenciando a abordagem internacional dessa temática onde “o tema do
controle mundial de psicoativos”(FERNANDO, FIZINATTO, 2012, p.11). No Brasil, esta
visão de combate às drogas começa a vogar burocraticamente em 1964, com a promulgação da
lei 4.451, criada por Castelo Branco no primeiro ano da ditadura militar, onde colocava o
traficante de entorpecentes como inimigo do Estado. Segundo Vagner Fernandes e Aline
Fuzinatto (2012):
No Brasil, durante a ditadura militar a “conduta dos usuários de drogas foi equiparada
legalmente em suas penas à conduta de traficar, um “comunistas”, um “traficante” e
um “maconheiro” representavam o mesmo perigo para os valores estabelecidos pela
ditadura militar” (D’ELIA FILHO, 2007, p.92 apud FERNANDES, FIZINATTO,
2012, p.11).

Ideias de repressão às drogas, como houve nos EUA com Richard Nixon eram presente
também nos periódicos potiguares. Havia-se cobranças as forças polícias locais, juntamente aos
políticos. Aqui nesta notícia no O Poti, é possível notarmos já em 1955 reclamações sobre a
forma branda que a policia trata os traficantes de drogas: “A polícia está inapta para dar combate
aos traficantes de maconha, pois estes continuam vendendo a erva maldita” (O Poti, 1955, p.6).

Conclusão
Com estas notícias é possível enxergar que o combate bélico a maconha/entorpecentes já
se desenvolvia a partir da década de 1930 no Rio Grande do Norte (e provavelmente no Brasil)
antes de 1964. Nota-se também que os jornais foram ativos nas discussões sobre o uso de
entorpecentes, mostrando ter interesses políticos/morais por trás de suas narrativas. Tais
periódicos cobravam o combate bélico a maconha, usando do discurso que tal substância levaria
o individuo a vadiagem e consequentemente ao crime. Muitas destas notícias eram colocadas
em locais estratégicos nos periódicos, para dar mais notoriedade a notícia, mostrando assim a
importância que tal notícia teria para os jornais. Tais narrativas levaram muitos a sofrerem
estigmas sociais, que levaram estas pessoas a irem para onde os criminosos teoricamente
deveriam ir: a cadeia. Hoje ainda vivemos consequências deste combate/visão as drogas.

Agradecimentos
Deixo aqui meu agradecimento primeiramente ao CNPq, pela oportunidade de se
ingressar neste mundo maravilhoso da pesquisa, onde pude amadurecer enquanto pesquisador.
Queria agradecer também aos meus colegas do PIBIC, que mesmo não remunerados não
deixaram de dá o melhor, para que hoje possamos ter um banco de dados gigante sobre nossa
pesquisa. E queria agradecer claro, ao meu orientador Carlos Torcato, pela paciência e pelo
aprendizado que me forneceu. A todos estes, apenas gratidão.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 720
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências:

Fontes Primárias:

POLÍCIA Inapta para dar combate aos traficantes da erva maldita". O Poti, Natal, 1955, p. 6.

Bibliográficas:

CARVALHO, Jonatas Carlos de. Regulamentação e criminalização das drogas no Brasil: A


Comissão Nacional de Fiscalização de Entorpecentes. Rio de Janeiro: Multifoco, 2013.

FERNANDES, Vagner Ribeiro. FUZINATTO, Aline Mattos. Drogas: Proibição,


criminalização da pobreza e mídia. In: Mídias e Direitos da Sociedade em Rede. UFMS -
Santa Maria, RS: 2012.

LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla
Bassanezi (org). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2008.

SAAD, Luísa Gonçalves. "Fumo de Nego": A criminalização da maconha no Brasil (c.1890-


1932). Dissertação. (PPG - História/Universidade Federal da Bahia), 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 721
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

NARRATIVAS DO PRESENTE:
COSMOVISÃO E COTIDIANO DO POETA E CORDELISTA ANTÔNIO
FRANCISCO

José Alberto da Silva1; Vinícius Campelo Pontes Grangeiro Urbano2; Ailton Siqueira de
Sousa Fonseca3

Palavras-chave: Antônio Francisco; Poesia; Cordel; Visão de mundo; Cotidiano

INTRODUÇÃO
Esta pesquisa se insere num conjunto de desafios e inquietações cognitivas do nosso
Grupo de Pesquisa do Pensamento Complexo (GECOM), que vem privilegiando pesquisas
guiadas pelo espírito de religar a ciência com outras formas de saberes como, por exemplo, a
ciência e a literatura, numa tentativa de construir um conhecimento pertinente, mais amplo e
complexo, sobre a condição humana, a cultura e práticas societárias diversas. Investe ainda
em pesquisas sobre o itinerário intelectual de personalidades cujo trabalho e reflexão podem
contribuir para um maior conhecimento sobre a cultura, a vida, a ciência e o próprio
conhecimento.
Nesta pesquisa demos continuidade a outras anteriores que focaram na cosmovisão de
mundo, nas memórias e cotidiano de um dos mais famosos poetas/cordelistas de Mossoró-
RN: Antônio Francisco. Nascido em 21 de outubro de 1949, num bairro chamado Lagoa do
Mato, cidade de Mossoró-RN, ele é poeta popular, xilógrafo, compositor e até hoje ainda
trabalha confeccionando placas. Antônio Francisco não nasceu poeta. Quando a poesia soprou
em seu coração e se fez verbo em sua boca, ele já tinha mais de quarenta anos. A poesia o fez
um poeta que escreve com toda aquela força e vida que tem a palavra quando quer nascer.
Hoje, as escolas, as festas populares, os eventos políticos, científicos e culturais ou, em
uma palavra, o Rio Grande do Norte, canta a voz desse poeta que no dia 15 de maio de 2006
tomou posse na Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC, na cadeira de número
15, patronímica do poeta cearense Patativa do Assaré. Antônio Francisco já produziu uma
vasta obra e continua produzindo, como, por exemplo, sua mais recente produção Quatro
léguas e meia de cordel (2019).
Esse poeta é, simultaneamente, popular e erudito, escreve como quem planta uma
semente para o futuro. Faz de suas palavras as fazedoras do amanhã. Sua escrita é uma
meditação, um grito de liberdade, um sonho a ser sonhado por quem a ler. Nessa edição
buscamos registrar, compreender e analisar a cosmovisão e o cotidiano desse poeta e
cordelista, Antônio Francisco.

1
Estudante do Curso de Ciências Sociais do Departamento de Ciências Sociais e Política (DCSP) da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), membro do Grupo de Pesquisa do Pensamento
Complexo (GECOM/UERN) e bolsista CNPq de iniciação científica (PIBIC). Email: josebetojs@hotmail.com
2
Estudante do Curso de Filosofia do Departamento de Filosofia (DFI) da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN), membro do Grupo de Pesquisa do Pensamento Complexo (GECOM/UERN) e bolsista de
iniciação científica (voluntário) dessa pesquisa (PIBIC). Email: viniciuspsicologiapg@gmail.com

3
Professor Doutor do Departamento de Ciências Sociais e Políticas da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN), Lider do Grupo de Pesquisa do Pensamento Complexo (GECOM/UERN). E-mail:
ailtonssfonseca@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 722
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Assim, essa pesquisa investiu nessas duas perspectivas, simultâneas: por um lado,
tentamos olhar sobre o olhar do poeta para compreendermos sua cosmovisão ou suas
narrativas do presente: como ele vê essa “modernidade líquida” (Bauman), como percebe a
cultura e a natureza atualmente, a cidade de Mossoró-RN, as relações sociais modernas, a
educação e a própria poesia produzida na cidade por outros poetas. Por outro lado, e ao
mesmo tempo, a pesquisa focou no cotidiano desse poeta: suas relações com a família, com os
amigos, os afazeres de casa, seu processo criativo diário, suas práticas recorrentes do dia-a-
dia. Foi com isso que podemos compreender suas “artes do fazer” e o “fazer das suas artes”
cotidianamente à medida que iam tecendo sua vida e ideias.

METODOLOGIA
Por se tratar de uma pesquisa sobre o itinerário, a vida e a obra de um dos grandes
poetas populares de Mossoró, foi necessário exercitarmos o método da escuta sensível no
sentido de René Barbier. Essa escuta começa por não interpretar, por suspender qualquer
juízo. Ela ajudou a compreendermos por ‘empatia’, o excedente de sentido que existe na
prática e nas narrativas de Antônio Francisco. Assim, ela nos deixou surpreender pelo
desconhecido que sem cessar anima a vida do poeta. A escuta sensível contribui para que o
sujeito se livrasse de seus entulhos interiores para entender os objetos, os outros e a si mesmo.
Ela exigiu uma abertura dos pesquisadores diante de seu objeto (Barbier, 1998, p. 168-199).
Além desses métodos, exercitamos leituras e fichamentos dos cordéis de Antônio Francisco e
sistematizamos os mesmos por meio de temáticas transversais abordadas por ele em suas
criações. Usamos também outros procedimentos complementares como, por exemplo, a
observação direta da vida cotidiana do poeta para captar e registrar suas memórias e histórias
de vida bem como ajudou no registro sonoro, visual (fotos) e audiovisual das entrevistas e
narrativas de vida do poeta. Ao todo, gravamos e transcrevemos mais de cinco horas de
entrevistas, memórias, relatos, citações e recitação poéticas. E mais: como estratégias de
pesquisa empregamos ainda a história oral que, como disse Paul Zumthor, podemos captar
experiências de vida e o “dinamismo concreto da voz” dele (2010) e a história de vida que
permite, como afirmou Marie-Christine Josso, a apreensão de uma aprendizagem experiencial
implicada diretamente no envolvimento do sujeito em suas três dimensões: sua prática
cotidiana, sua consciência sobre sua prática e sua consciência reflexiva/poética/criacional
(2010). Isto possibilitou a construção de uma representação do universo pessoal e criacional
do poeta Antônio Francisco. Além disso, aplicamos cinco questionários, várias entrevistas e
filmagens para o aprofundamento das questões anteriormente deixadas em abertas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Durante essa pesquisa duas coisas se mostraram impossíveis: uma delas é separar a
cosmovisão do poeta de suas memórias de infância e de seu cotidiano do presente. A outra, é
colocar aqui - nos resultados - tudo aquilo que conseguimos registrar sobre a vida, a obra, as
memórias e cotidiano de Antônio Francisco, esse cidadão que, nasceu e se criou em “Um
bairro chamado lagoa do mato”, lugar onde “Faltava dinheiro, sobrava alegria, naquele
pequeno pedaço de lar” (Francisco, 2012), é possuído por uma cosmovisão maior do que ele
e do que seu tempo. Durante nossas conversas e entrevista ele se mostrou marcado pela
perplexidade diante do mundo capitalista. E isso o aflige. Como ele mesmo recitou de
improviso: "Vi mulheres desnutridas, crianças nuas no peito, vi o rio Tietê todo poluído no
leito, eu não sabia que o progresso era desse jeito" e continua "no Natal o capitalismo é tão
selvagem que você só pensa que deu presente a pessoa se tiver dinheiro" (narrativa no dia
29/10/19).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 723
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Como percebemos, esse poeta usa a memória para imaginar e a realidade para
devanear: a poesia é filha legítima de vivências complexas e sentimentos profundos. É por
isso que, geralmente, sua poesia fala mais do que ele mesmo. Com o tempo, aprendeu a juntar
memórias de infância com reflexão de vida adulta. Mas como poeta, sabe que o grande
aprendizado não está, necessariamente, nos livros. Curioso como uma criança que não
envelhece, ele acredita que “o aprendizado lá fora é muito grande”. Ele vive suas memórias da
infância e diz que naquele tempo “o milagre era diário”; nele o menino ainda vive “tá
brincando a criança” e isso é “fazer da vida um poema” (narrativa no dia 19/12/2019).
Na cosmovisão de Antônio Francisco, passado e presente dialogam e servem como
matéria de reflexão poética do seu cotidiano. Isso se apresenta em suas narrativas sobre o
presente de sua cidade. Segundo ele, “a grande Mossoró era um polo cultural e industrial
repleto de rios e áreas verdes”. "Em 58, eu lembro como se fosse hoje, o rio secou. Hoje não
seca por causa do esgoto". Deste modo, o poeta nos faz pensar que não é apenas o rio que está
imerso ao esgoto, mas que a vida humana também que se encontra na eminência do seu
declive.
Naquela época, "Tudo tinha nome. Hoje não mais. A vida humana empobreceu porque
a palavra não diz mais nada, não povoa as ruas” (narrativa no dia 29/10/19). Talvez por isso
se tinha riqueza, porque se tinha verbo, se tinha subjetivo. Na concepção dele, o dinheiro e o
capital, constrangem o aflorar do humano, do sensível, do afetivo e da poética da prosa
cotidiana. Antônio Francisco começa e termina fazendo “uma soma da meditação e da
expressão, uma soma do pensamento e do sonho” (Bachelard, 2009, p. 275). Seus escritos e
narrativas orais arrancam o pensamento científico de sua disciplinaridade, ao mesmo tempo
que estimula uma imaginação poética como forma de tocar o lado sensível da concretude do
mundo.
Nas expressões poéticas desse narrador de nosso tempo, o passado é convertido no
instante-já da criação, a razão se alia a uma certa “intuição do instante” para poder escrever e
falar a outra voz, aquela que nos aproxima do ser, dos valores humanos, da natureza e de si
mesmo.
Seja na sua infância ou na sua vida adulta, Antônio Francisco foi um artesão de
palavras, de ações, de artefatos; foi um artesão de si mesmo, pois em tudo que fazia ele estava
inteiro. Na realidade, ele se refazia enquanto sujeito, em tudo que ele fazia. Criar poesia seria,
assim, para ele, recriar-se constantemente por meio de suas próprias palavras. A sua poesia o
fez reconhecidamente poeta de sua própria vida.
Percebemos que nele seus devaneios não eram fuga da realidade. Ao contrário, eram
meio de recriar a realidade, de reinventar uma saída, um jeito de jogar um pouco de luz nas
ruas escuras da cidade. Mesmo sem ler Bachelard ele sabia que “A quem deseja devanear
bem, devemos dizer: comece por ser feliz” (Bachelard, 2009, p. 13).
Os devaneios e a imaginação criadora de Antonio Francisco o tem levado a lugares
que seus pés nunca tocaram. É isso que ele expressa ao dizer: “meus olhos tem vontade de
subir no pico da Cabugi. Quero saber o que os meus olhos veem lá do alto dessa serra”
(narrativa concedida, 19.12.2019). O espaço e o tempo se conformam à realidade do poeta,
importando, para ele, apenas o instante mágico em que a palavra se faz coisa. Assim, notamos
que há horas na vida de um poeta em que o devaneio assimila o próprio real. O que ele
percebe é então assimilado. O mundo real é absorvido pelo mundo imaginário (porque a vida
também é para ser lida), como diria Guimarães Rosa (1985).
Por fim, olhando para os cordéis de Antônio Francisco ficamos com uma subversiva
imagem poética: a grande construção não é aquela que se ergue no exterior do homem como
uma torre que tenta riscar o céu, mas aquela que se eleva dentro de cada ser. A grande
construção é a edificação da alma humana nesse mundo desumanizado.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 724
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONCLUSSÕES
A preocupação filosófico-existencial engendrada por esse projeto poético não poderia,
naturalmente, negligenciar a importância das narrativas do presente: cosmovisão e cotidiano
do poeta e cordelista Antônio Francisco. Ele possibilitou, aos pesquisadores, uma ampliação
da experiência de mundo e um exercício de pensar de forma transdisciplinar e poética sobre a
vida, o ser, a sociedade e a criação artística.
Sendo reconhecido pela musicalidade, beleza e profundidade de seus poemas, Antônio
Francisco entrelaça fantasia e realidade, razão e sensibilidade, vida e ideias em tudo que faz e,
assim, escreve e se inscreve na história da cidade e na cultura popular da região. Ele nos
coloca diante do desafio de engendrarmos uma ciência complexa e poética, de forma inter e
transdisciplinar para compreendermos a muldimensionalidade de tudo que é humano.
As narrativas do presente desse poeta nos aproxima, em grande medida, de um saber
transversal e de outras maneiras de vivermos uns com os outros e com nós mesmos. Inscrito
em todos os seus escritos e ideias este poeta está sendo movido pelo utopia realista e
pertinente de ver nascer aquilo que Morin chama de “humano do humano”.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos especialmente Antônio Francisco e à sua família (em especial sua
esposa Nira), por ter nos acolhido com muito carinho, disponibilizado tempo para longas
conversas em sua cozinha e quintal, presenteando-nos não somente com pão e café, mas com
poesia e afeto, com memórias e presenças. Agradecimentos estendidos a seu neto e amigos
que nos acompanhavam a cada dia. Agradecimento singular a bolsa de iniciação científica
fornecida pelo CNPq, a PROPEG/UERN e ao GECOM pela oportunidade de pesquisarmos
um tema tão importante para nossa formação humana e intelectual.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBIER, René. A escuta sensível na abordagem transversal. In: BARBOSA, Joaquim
Gonçalves (Org.). Multireferencialidade nas ciências e na educação. São Carlos:
EdUFSCar, 1998, p. 168-199.

BACHELARD, Gaston. A intuição do instante. Trad. Antonio de Pádua Danesi (2ª ed.).
Campinas/SP: Verus Editora, 2010.

______. A poética do devaneio. Trad. Antonio de Pádua Danesi (3ª ed.). São Paulo: WMF
Martins Fontes, 2009.

CERTEAU, Michel de. A cultura no plural. Campinas: Papirus, 1995.


______. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.

ROSA, João Guimarães. Tutameia (terceiras estórias). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

JOSSO, Marie-Christine. Segunda parte – As histórias de vida como metodologia de


pesquisa-formação. In: Experiências de vida e formação. Tradução: José Cláudio e Júlia
Ferreira. São Paulo/Natal: EDUFRN/PAULUS, 2010, p.139-174.

ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 725
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Novas Datações Diretas de Gravuras Rupestres No Nordeste do Brasil

Gabriel Lima do Vale; Valdeci dos Santos Júnior

Palavras-chave: Cronologias. Petróglifos. Região Nordeste

INTRODUÇÃO

Este resumo expandido abordará os métodos existentes de datações diretas de


gravuras rupestres no Nordeste do Brasil, mais especificamente no estado Rio Grande do
Norte sendo este o estado pioneiro a utilizar os métodos de datação direta no Brasil em
gravuras rupestres, pois na atualidade os processos de datação das gravuras rupestre por
meio da técnica por microerosão encontram diversas barreiras para que sejam efetuados,
porém nos últimos vinte anos ocorreram avanços no campo cientifico. Principalmente a
técnica de pintura que fora estuda em diversas regiões como os sítios arqueológicos da
Serra do Araripe, no Ceará e Serra da Capivara que possui um rico acervo de arte rupestre
(ETCHEVARNE, 2007; PESSIS, 2003; MARTIN, 1997).

O Rio Grande do Norte foi à única região no Brasil a utilizar esse processo de
captação cronológica de gravuras produzidas por grupos pretéritos. Sendo a microerosão
a principal forma de obtenção de datação direta estudada até o presente momento, com
pesquisas coordenadas pelo Doutor Valdeci dos Santos Júnior e o criador do método de
datação e arqueólogo Robert G. Bedinarik.

É importante salientar que o a datação por microerosão não é o único método


existente para a datação de gravuras rupestres. Em casos em que ocorre o acumulo natural
de cristais na superfície da rocha, e a mesma esteja em um ponto em que receba energia
cósmica, ou seja, ocorra o processo de ionização dos cristais é possível fazer a datação
pelo método LOE (Luminescência Oticamente Estimulada). (MAIA et al, 2011)

O trabalho será desenvolvido utilizando um apanhado histórico dos métodos de


datações absolutas. Descrevendo-as e evidenciando seus resultados, além de compara-los
para que se estabeleça uma média cronológica e validação das datações dos petróglifos.
O trabalho realizado surgiu para suprir a carência dos estudos sobre datações de arte
rupestre no Rio Grande do Norte e no Brasil. Pontuando assim, como objetivo central o

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 726
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

processo de evidenciar os resultados obtidos, sistematiza-los e levantar questionamentos


sobre a validação do método de datação pelo processo de microerosão.

METODOLOGIA

A pesquisa teve seu início no laboratório com levantamentos bibliográficos sobre


os métodos de datação na arte rupestre como um todo, e nos passos seguintes a leitura foi
se afunilando até chegar no objetivo da pesquisa, que era o aprofundamento nas pesquisas
de datação direta por microerosão em gravuras rupestres no Rio Grande do Norte. Ao
qual será aprofundada a seguir.

O método de datação de gravuras utilizado na pesquisa faz uma análise


microscópica das modificações superficiais na rocha, assim observando e examinando a
formação da patina nos petróglifos dispostos nos painéis, assim como o processo
intémperico. Podendo ocorre três principais variações, a redutiva motivada pelo processo
de desgaste da massa da rocha, as alterações com acréscimo que estão ligadas ao aumento
da massa, e as alterações transformanciais ocasionadas por modificações físicas e
químicas (BEDNARIK, 1992).

A principal teoria aplicada para o estudo da microerosão é que as intempéries


tenham, ocorrido de forma progressiva e em cristais de quartzo originalmente fraturados
durante a elaboração das gravuras e a taxa de desgaste pode ser calibrada em gravuras do
mesmo sítio que possuam uma data já conhecida; o método analisa esse intemperismo
progressivo através da observação geométrica das partículas de quartzo do suporte
granítico que sofreram arredondamento das bordas de rocha recém-quebradas, que são
intituladas de “micro-wanes” (BEDNARIK, 2001).

Bednarik (1992, 2007) estabeleceu uma fórmula com dados geométricos e matemáticos
(figura 1) a partir da diminuição progressiva do tamanho dessas partículas durante um
determinado intervalo de tempo, conforme pode ser visto a seguir:
O raio de rocha diminui (estritamente falando não é equicircular na seção, mas
hiperbólico) em qualquer magnitude de tamanho, aumentando em função da
idade. Durante o processo de diminuição, a razão h: r é constante para qualquer
ângulo α, independentemente da distância de recuo das faces e da aresta.
Relação x: z é uma função de α, e em α = 60°, x = 2z. A dimensão x pode ser
expressa em forma algébrica:

Figura 1: Relação x: z é uma função de α, e em α = 60°, x = 2z. Fonte:Bednarik, 2007, p.130.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 727
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Isto leva à predição de β (figura 2), o ângulo que expressa a taxa de


desenvolvimento de diminuição em relação ao recuo de superfície:

Figura 2: Fórmula para β.Fonte: Bednarik, 2007, p.130.

A relação da largura A diminui com a idade, independentemente do retrocesso


factual, e é determinada, em última instância, pela relação α: β, que deve ser
estabelecida empiricamente. Segue-se que as dimensões A, r, z e os ângulos α
e β estão todos relacionados geometricamente e algebricamente, e que as
variáveis A, r, x, z e h são todas proporcionalmente equivalentes e aumentam
linearmente com a idade (figura 3). Destes, A é mais facilmente medido
fisicamente. É, portanto, a variável utilizada na medição de micro-wane.
(BEDNARIK, 2007, p.130).

Figura 3: Diagrama que descreve as leis da formação da diminuição (wane) em uma forma
simplificada.Fonte: Bednarik, 2007, p.130.

Resultados e Discussão

DATAÇÕES DIRETAS DOS PETRÓGLIFOS


PELO MÉTODO DA MICROEROSÃO NOESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE,
LOCALIZADO NA REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

Sítio arqueológico Município Datação Mur-e –(datação)

Açude das Flores III Afonso Bezerra 1011 +100 – 59 AP _

Sítio da Descoberta Fernando Pedrosa 2778 ± 397 anos AP. 1406 + 181/-136 AP

Santana do Matos 2646 + 211/-265 AP

Serra do Papagaio III Santana do Matos 2567 + 131/-186 AP _


Santana do Matos 1130 + 140/-178 AP

Santana do Matos 952 ± 158 AP

Santana do Matos 873 ± 79 AP

Caraúbas 5040 + 198/-119 AP

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 728
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Fazenda Pedra Caraúbas 2540 ± 158 AP _


Pintada

Santa Cruz Angicos 825 / + 127/-31 AP


_
Angicos 846 + 106 /-52 AP

Pedro Avelino 703 + 91/-68 AP

Serrote do Urubu Pedro Avelino 508 + 127/-32 AP _


Pedro Avelino 657 + 137/-22 AP

Pedro Avelino 516 + 119/-40 AP

Pedro Avelino 476 AP

A principal desvantagem da técnica da datação por microerosão se encontra por


depender da visão humana o que pode acarretar erros no processo de obtenção de dados
e a precisão da datação podendo dificultar os a coleta de dados para resultados precisos.
Mesmo com tal dificuldade esse é único método preciso na datação de gravuras rupestres.

CONCLUSÃO

Conforme observado nesse resumo expandido, as datações de gravuras rupestres obtidas


por métodos diretos ou indiretos no Brasil indicam ocupações holocênicas que variam
entre 476 AP a 11.760 BP, ressalvadas as margens de erros. A obtenção desses dados
cronológicos a partir da técnica de elaboração das gravuras rupestres vem somar aos
dados temporais já obtidos com as datações oriundas dos registros picturais e auxiliando
no entendimento dos processos de ocupações pré-coloniais do atual solo brasileiro.
Agradecimentos
Agradeço pela CNPq pelo incentivo financeiro com a bolsa de iniciação cientifica que
serviu como estimulo para seguir com a pesquisa.
BEDNARIK, Robert G.. A new method to date petroglyphs. Archaometry. V. 34
(2), p. 279-291, 1992

International, pp. 115-152, 2007.

MAIA, Luís P.; GASTÃO, F. G. C.; TATUMI, S. H.; LACERDA, L. D. “A utilização do


método de Luminescência Opticamente Estimulada para a datação de sedimentos de
dunas costeira do nordeste setentrional do Brasil”. Revista Virtual de Química. 3 (2),
p.103-115, 2011.

______. The Dating of Rock Art: a Critique. Journal of Archaeological Science . V. 29,
p.1-20, 2002.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 729
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

______. Petroglyphs in Italian Alps dated. Acta Archaeologica. V. 72(2), p.109–114,


2001.

______. Age estimates for the petroglyph sequence of Inca Huasi, Mizque, Bolivia.
Andean Past: Vol. 6, Article 13, 2000.

______. Analyses of Côa Valley petroglyphs. in International Rock Art Congress. Turim,
Italy: IFRAO, 1995.

______. A new method to date petroglyphs. Archaometry. V. 34 (2), p. 279-291, 1992.

ETCHEVARNE, Carlos. Escrito na pedra: cor, forma e movimento nos grafismo


rupestres da Bahia. Rio de Janeiro: Organização Odebrecht, 2007.

PESSIS, Anne Marie. Imagens da pré -história. São Paulo: FUNDHAM/PETROBRÁS,


2003.

MARTIN, Gabriela. Pré-história do Nordeste do Brasil. Recife: UFPE, 1997.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 730
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O CURSO DE HISTÓRIA DA URRN (1967-1978): CRIAÇÃO E


PRIMEIROS CURRÍCULOS

Alana Fabrícia Pereira Bezerra 1; Aryana Lima Costa 2


Palavras-chave: Ensino superior de História. História da Historiografia. Mossoró.
Currículos.

Introdução
Existem muitas perguntas, muitas fontes e muitas metodologias diferentes para narrar
sobre a trajetória de uma pessoa, de um curso, ou de uma instituição. E são essas escolhas que
fazemos que definem o nosso trabalho; é a forma como organizamos as peças que vamos
encontrando pelo caminho – através de muitas buscas –; é o recorte que fazemos; é a forma
como entendemos a criação de um curso; é o que procuramos e o que filtramos do que a gente
acha.
Objetivando responder questões a respeito da origem – por alguns parâmetros— do
curso de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte- UERN e resgatar os
primeiros currículos do mesmo, que dedicamos essa primeira etapa de pesquisas, por
compreender a importância desses esforços para história da historiografia brasileira e a
história do ensino superior de história no Brasil.

Metodologia

Trabalhamos como fontes os livros de atas e livros de pontos do Instituto de Ciências


Humanas- ICH (que se desdobrou na atual Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais-
FAFIC), a Legislação do Curso, o Projeto Pedagógico deste, alguns recortes de jornais do
Diário de Natal e do Diário de Pernambuco, o Portal da UERN, Decreto de Lei que o criou,
assim como também entrevista com ex-aluno/gestor/professor, que, por consequência da
pandemia do Covid-19, precisou ser realizada via e-mail.

1 Estudante do curso de História do Departamento de História da Universidade do Es t ad o d o Rio Gran d e d o


Norte; e-mail: alana_fabricia@hotmail.com.
2 Professora do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-mail:
aryanacosta@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 731
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para fazer uso dessa documentação, nos apropriamos de algumas leituras que nos
ajudou tanto metodologicamente, contribuindo com a organização e interpretação dessas
fontes, como nos ajudou a contextualizá-las no tempo e no espaço.
A exemplo disso, nos capítulos 5 e 7 do livro do Gimeno Sacristán – O Currículo –,
ele discute sobre a política curricular e traz para nós uma distinção entre o que é o currículo
prescrito e o currículo modelado pelos professores

O conhecimento não controla rigorosamente a prática do ensino porque n ão exis t e


um saber específico e inequívoco que assegure esse controle. Os paradigmas
aproveitáveis e as contribuições concretas das quais se abre mão s ão , em mu it o s
casos, contraditórios entre si. A imprecisão do objeto, de seus fins, as formas
variadas de chegar a resultados parecidos fazem do ensino uma atividade de
resultados imprecisos e nem sempre previsíveis. Realidade que se choca com a
racionalidade técnica que pretensamente quer desenhar as p ráticas p edag ógicas
apoiadas num conhecimento instrumental firme e seguro. (SACRISTÁ N, 2017, p .
173)

Não importa o quanto que se sabe sobre currículos, sobre ensino, sobre educação,
nunca há como prevê minuciosamente tudo o que vai ocorrer em uma sala de aula, todas as
necessidades de transposição didática de cada discente. Os problemas e imprevistos variam de
turma, variam de escola, variam de região, e tudo isso exige da/do docente uma adaptação.
Além de que, o conhecimento é vivo, professoras e professores são também pesquisadoras e
pesquisadores, o trabalho docente exige além de simplesmente incorporar o que está prescrito,
é preciso estudar sobre aquilo que estamos ensinando, é preciso selecionar aquilo que os
alunos e alunas da nossa realidade é capaz de absorver naquela determinada aula, e a melhor
forma de abordar esses assuntos.
É aí que entra a modelagem que Sacristán fala, é aí que entra a liberdade, inevitável,
docente. E é dessa forma que entendemos algumas discrepâncias que encontramos entre os
currículos prescritos pela legislação do curso, e os currículos incorporados pelos primeiros
professores e professoras do mesmo. Essas diferenças se explicam tanto pela regionalidade,
pela instabilidade do curso recém-criado, como por problemas naturais muito frequentes em
Mossoró na década de 60, que era o caso das enchentes que impediam a realização de aulas
(registradas nos livros de pontos do ICH).
Outros exemplos de apropriações feitas por nós que ajudaram a conduzir
cientificamente nossa pesquisa foram os escritos por Luiz Antônio Cunha (2000) que discute
sobre ensino superior e universidades no Brasil, contribuindo com informações muito
pertinentes sobre o campo da história do ensino superior de história; e o livro que o padre
Sátiro Cavalcante Dantas escreveu sobre os bastidores da luta pela estadualização da UERN,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 732
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ele que foi ativo desde a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras- FAFICIL (atual
Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais – FAFIC), que, segundo a PROEG-UERN, foi
criada em 1965 pelo Decreto de Lei Nº47-B/65 da Prefeitura Municipal de Mossoró e foi a
faculdade que primeiro adotou o curso superior de História na cidade. A última leitura citada
nos ajudou a contextualizar nossas fontes tanto no âmbito municipal (Mossoró) quanto
institucional (FURRN/UERN).

Resultados e discussão
Os passos dados por essa pesquisa, até o atual momento, resultaram em um artigo
que, se aprovado, em breve será publicado no dossiê “Teoria da História e História da
Historiografia” da Revista de História da UEG e apresentado em eventos, fazendo com que o
conhecimento desenvolvido a respeito do curso e financiado pela universidade seja difundido.

Conclusões

Algumas das conclusões que tivemos, durante esse processo, foi de que a cidade em
que o curso está localizado – Mossoró-RN – já investia pesadamente na produção de uma
memória e uma história local, e que a criação deste, evidentemente, é consequência disso.
Para além do citado acima, conseguimos localizar a criação do curso no tempo – 1965, se
considerarmos a fundação da FAFICIL; 1967, se considerarmos o início das aulas da primeira
turma; e 1968, se considerarmos a gênese da URRN –, e, também, mapear alguns sujeitos que
viraram objetos de pesquisa daqui para frente.
Ou seja, investigar sobre quem eram os sujeitos que assumiram a docência nos
primeiros anos do curso, a formação e as produções; e responder ao impacto que a criação
desse curso teve para a historiografia são os nossos próximos desafios.

Agradecimentos

Em último momento, e não menos importante, gostaríamos de agradecer à


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte por apoiar nosso trabalho, concedendo bolsa
de estudo que estimula a produção cientifica e enriquece a formação dos e das discentes que
têm acesso a ela.

Fontes

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 733
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Departamento de História. UERN. Projeto Pedagógico do Curso Licenciatura em História,


Campus Central, Mossoró/RN. 2018.

Diário de Natal. Faculdade de Mossoró: inscrições até dia 31. 19 de Janeiro de 1967, p.3.

Diário de Natal. Mais de cem jovens inscreveram-se na Faculdade de Filosofia. 23 de


dezembro de 1966. p. 4 e 5.

Diário de Pernambuco. Periscópio. 22 de dezembro de 1967, p. 20.

Livros de Atas do Instituto de Ciências Humanas. URRN – 1969-1993

Livros de Pontos do Instituto de Ciências Humanas. URRN – 1971, 1973-1977

MOURA, Wilson Bezerra de. Entrevista sobre o início do curso de História (1967). Via e-
mail, 29 de Julho de 2020.

Portal UERN. Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais- FAFIC. Disponível


em: http://fafic.uern.br/default.asp?item=fafic-apresentacao. Acesso em: 06 de Agosto de
2020.

Prefeitura Municipal de Mossoró. Decreto Nº 47-B/65. Dispõe sobre a criação da Faculdade


de Filosofia, Ciências e Letras de Mossoró e dá outras providências. In: PROEG-UERN: Atos
de Criação, Mossoró, 1973. Disponível em: http://www.uern.br/controledepaginas/proeg-atos-
regulatorios-criacao/arquivos/4238decreto_67_b_65_criaa%C2%A7a%C2%A3o_da_fafic.p df. Acesso em:
05 de Agosto de 2020.

Pró-Reitoria de Ensino de Graduação. Legislação do Curso de História. s/d.

Referências
CUNHA, Luiz Antônio. Ensino Superior e universidade no Brasil. In: LOPES, Elaine Marta
Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes; e VEIGA, Cynthia Greive (orgs). 500 anos de
educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

DANTAS, Sátiro. Os Bastidores de uma Luta. Mossoró, RN: Coleção FUNSERN, v.


8, 1990.

SACRISTÁN, Gimeno. A política curricular e o currículo prescrito. In: SACRISTÁN,


Gimeno. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. Tradução: ROSA, Ernani F. da Fonseca.
Revisão Técnica: HORN, Maria da Graça Souza. Porto Alegre: Penso, 2017, ed. 3.

SACRISTÁN, Gimeno. O currículo modelado pelos professores . In: SACRISTÁN,


Gimeno. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. Tradução: ROSA, Ernani F. da Fonseca.
Revisão Técnica: HORN, Maria da Graça Souza. Porto Alegre: Penso, 2017, ed. 3.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 734
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O CURSO DE HISTÓRIA DA URRN (1989-1998): REFORMAS


EDUCACIONAIS NO PERÍODO DA REDEMOCRATIZAÇÃO

Dário Alessandro de Souza Filho1; Aryana Lima Costa 2


Palavras-chave: Ensino superior de História. Currículos. História da Educação

Introdução

A graduação em História da URRN nasce com o escopo de formar professores para os


quadros da educação básica no Rio Grande do Norte. Trata-se de uma licenciatura que está em
funcionamento até os dias atuais, e que, no entanto, passou por muitas mudanças desde o
período de sua fundação. Reformas curriculares marcam o devir do curso que é nosso objeto.
Desta forma, esta pesquisa serve para que nós pensemos sobre um capítulo da história
do curso de História da UERN, campus Mossoró. Esse “capítulo” está localiza do
temporalmente no período em que estava acontecendo a Redemocratização do Estado
brasileiro, mais especificamente entre os anos de 1989 e 1998. A partir de um levantamento de
fontes e das primeiras leituras, o recorte (1989-1998) ganhou força, tendo em vista que o
projeto, primeiramente, abarcava todo o período de existência do curso, e, no entanto, permitia
recortes que surgissem através das fontes ou das problemáticas/temas que essas suscitassem.
Assim, fizemos a escolha de empreender um estudo a respeito de um período específico de tal
curso (1989-1998).
Após o fim da ditadura militar, o Brasil vivenciou uma instabilidade prescricional em
sua educação. A última Lei de Diretrizes e Bases havia sido promulgada em 1971, em meio ao
regime, e não poderia mais servir como base para o Estado, que passava por uma abertura
democrática – a despeito de a referida Lei de Diretrizes e Bases ter vigorado até o ano de 1996,
data da promulgação da LDB mais recente. Nesse âmbito, intensificam-se as discussões acerca
de como deve ser o ensino superior no país.
Concomitantemente, docentes e discentes do curso de História da URRN trabalhavam
objetivando uma renovação curricular da graduação, defendendo, em consonância com estas
reivindicações nacionais, uma maior sinergia entre ensino, pesquisa e extensão como forma de
dinamizar e de qualificar a formação do profissional de História na instituição.
O recorte temporal deste trabalho tem início no ano de 1989, data da já mencionada
primeira proposta de reformulação do currículo do curso de História da URRN. É através desta
proposta que podemos entrever as movimentações que estavam acontecendo a nível
departamental em relação ao futuro do curso. Este documento surge como uma resposta rápida
aos estímulos que o momento da política brasileira estava dando às universidades.
Contudo, é apenas no ano de 1995 que uma reforma do currículo de História –
possivelmente ensejada pelas discussões realizadas nos anos anteriores e pelas próprias
propostas formuladas pelo departamento – foi aprovada, sofrendo alterações em 1996 e em
1998. Esta última data marca o fim do recorte temporal, primeiramente porque ela representa o
ano da última alteração da reforma curricular de 1995, e em segundo lugar porque consideramos
que tal alteração reflete a última modificação, no que diz respeito ao currículo do curso, de uma

1 Estudante do curso de História do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;
e-mail: dariosouza4@hotmail.com.
2 Professora do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-mail:
aryanacosta@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 735
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

geração de professores, possivelmente representantes de uma outra tradição, que, entre 1998 e
2006 (reforma mais recente), viria a ser majoritariamente substituída.
Ainda não há uma bibliografia considerável a respeito da graduação em História da
UERN. No entanto, existe uma série de trabalhos, feitos, sobretudo a partir dos anos 2000, que
trazem como objetos cursos superiores de História no Brasil. Podemos citar, como exemplos,
os trabalhos de Sérgio Nascimento, que tratou do Projeto Político Pedagógico do curso de
História da UFPA (2008); de Aryana Costa sobre o curso da UFRN (2008); e de Helenice
Ciampi, publicado em 2002. Marieta de Moraes Ferreira produziu, em diversas publicações,
material sobre o curso de História da UDF e posterior FNFi da Universidade do Brasil (2008a,
2008b, 2012, 2013a, 2013b).
Tal bibliografia, com suas inquietações e seus resultados, ajudaram na construção do
nosso objeto e do nosso objetivo. Assim, perguntamo-nos até que ponto, no período que
compreende os anos de 1989 a 1998, essas intenções de reforma foram efetivadas no curso.
Para tanto, é preciso analisar quais ventos trouxeram este impulso modernizador à URRN, e se
tal impulso obteve êxito. Portanto, é mister investigar em que medida este clima – de passagem
de um governo autoritário para um retorno ao estado democrático – influenciou o curso de
História de Mossoró e fez com que reformas saíssem do papel e fossem levadas a cabo.

Metodologia

Trabalhamos com uma boa quantidade de documentação institucional, como atas de


reunião da congregação, matrizes curriculares, propostas de renovação do currículo,
planejamentos bienais para o curso, sistemáticas para adaptação curricular, programas
curriculares de disciplinas, e avaliações. Além disso, utilizamos fontes legislativas e
documentação advinda de outras instituições, como o Projeto Político Pedagógico de algumas
outras universidades. Para isso, precisamos de alguns cuidados metodológicos que dizem
respeito ao próprio ofício do historiador.
Primeiramente, consideramos que não se pode, em um trabalho de História, tomar as
fontes como verdades absolutas, sobretudo quando falamos de documentação oficial. Assim,
contextualizaremos e problematizaremos todas as fontes.
Em relação ao trabalho com currículos, concordamos com GIMENO (2000) quando
argumenta que:
Os currículos são a expressão do equilíbrio de interesses e forças que gravitam
sobre o sistema educativo num dado momento, enquanto que através deles se
realizam os fins da educação no ensino escolarizado. Por isso, querer reduzir
os problemas relevantes do ensino à problemática técnica de instrumentar o
currículo supõe uma redução que desconsidera os conflitos de interesse que
estão presentes no mesmo. O currículo, em seu conteúdo e nas formas através
das quais se nos apresenta e se apresenta aos professores e alunos, é uma opção
historicamente configurada, que se sedimentou dentro de uma determinada
trama cultural, política, social e escolar; está carregado, portanto, de valores e
pressupostos que é preciso decifrar [...]. (p.17).

Consideramos também que o currículo, como nos aponta o autor, traz consigo uma carga
histórica, é uma opção historicamente configurada, e, portanto, quando utilizado como um
instrumento que ajudará a construir o passado, deve ser analisado como tal.
Assim é que utilizamos os currículos enquanto fontes para a pesquisa histórica,
buscando extrair destes justamente os seus valores e pressupostos, tendo em mente, como já
dissemos, que não se pode simplesmente aceitar o que está escrito como uma verdade simples
e pura. É desejável e necessário, pelo contrário, problematizar, sempre, qualquer documentação.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 736
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para isso, torna-se imprescindível a reflexão de Le Goff (2006) quando, tratando acerca do
trabalho com documentos históricos, escreve:

O documento é monumento. Resulta do esforço das sociedades históricas para


impor o futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si
próprias. No limite, não existe documento-verdade. Todo documento é
mentira. Cabe ao historiador não fazer o papel de ingênuo. Os medievalistas,
que tanto trabalharam para construir uma crítica – sempre útil, decerto – do
falso, devem superar esta problemática, porque qualquer documento é, ao
mesmo tempo, verdadeiro – incluindo talvez sobretudo os falsos – e falso,
porque um monumento é em primeiro lugar uma roupagem, uma aparência
enganadora, uma montagem. É preciso começar por desmontar, demolir esta
montagem, desestruturar esta construção e analisar as condições de produção
dos documentos-monumentos. (p.538)

É através desta perspectiva que empreendemos nossas análises a respeito das matrizes
curriculares e dos demais documentos que utilizamos. Entendemos, então, que depende de nós,
historiadores, o correto aproveitamento dos documentos históricos, não deixando de considerar
aspectos como, por exemplo, as condições de produção das fontes, e as possíveis
intencionalidades, explícitas ou implícitas, de seus autores.

Resultados e discussão

A coleta e seleção das fontes foram realizadas, de modo que as pesquisas sobre o curso
de História da URRN/Mossoró podem contar agora com documentos mais organizados sobre a
sua trajetória. Buscando fontes na própria universidade, encontramos, no Núcleo de
Documentação e Pesquisa Histórica (NUDOPH) documentos como propostas de reforma
curricular, planejamentos bienais para o curso, avaliações, programas de disciplinas, textos
usados nas disciplinas, sistemáticas para adaptação curricular e alguns currículos do curso. Na
Pró-Reitoria de Ensino de Graduação (PROEG), encontramos todos os currículos do curso até
o final do século XX, bem como diversas resoluções que alteravam os currículos. Na
documentação da Faculdade de Filosofia e Ciências humanas, encontramos livros de ponto e
atas de reunião. Foi também a partir dessa documentação que pudemos empreender o recorte
do tema. Pudemos observar, então, que as reformas almejadas em fins da década de 1980 não
foram, em um curto prazo, concretizadas. Através das atas de reunião, por exemplo, é possível
constatar que a própria estrutura administrativa da URRN, deficiente à época, era um empecilho
para a aprovação das propostas – falta de funcionamento dos órgãos responsáveis era o principal
motivo apontado para o arquivamento dos documentos produzidos pelo departamento de
história. A partir de 1995, o curso começa a passar por alterações curriculares que, ainda que
de maneira tardia, trouxeram elementos da proposta de 1989, indicando uma continuidade das
ideias que levaram a comunidade acadêmica de História da URRN a formular suas propostas
de reforma curricular.

Conclusões

A partir das fontes já selecionadas, das discussões realizadas e da bibliograf ia


historiográfica e teórico/metodológica lida, pretendemos dar continuidade à pesquisa, de modo
que esta resulte em textos e, consequentemente, divulgação científica. Os documentos
selecionados até o momento abriram a possibilidade de novas fontes, pois neles estão contidos
os nomes de sujeitos relevantes que estiveram envolvidos no processo, como o chefe do
departamento de História à época, o professor Wilson Bezerra de Moura. Assim, é possível

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 737
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

vislumbrar a realização de entrevistas como um instrumento que possibilite a descoberta de


novos elementos relativos ao tema, podendo tornar a pesquisa mais completa. Ademais, tanto
a documentação escrita quanto a futura documentação oral servirão, para além desse projeto,
para todos e todas que tiverem interesse em investigar acerca do curso de História da UERN.

Agradecimentos

Agradecemos à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pela concessão da


bolsa de estudos que possibilitou o andamento da pesquisa e da divulgação científica do
trabalho, tendo sido essencial para que o projeto fosse apresentado em eventos. Agradecemos
também aos funcionários da UERN, sobretudo aqueles que trabalham no NUDOPH, na PROEG
e na FAFIC pela solicitude com que nos ajudaram na procura por documentos. Finalmente,
agradecemos aos professores do departamento de História pelos conselhos e críticas, sem os
quais a pesquisa certamente perderia em qualidade.

Referências

CIAMPI, Helenice. A História Pensada e Ensinada: da geração das certezas à geração das
incertezas. São Paulo: Educ, 2000.

COSTA, Aryana Lima. A Formação de Profissionais de História: o caso da UFRN (2004 -


2008). Programa de Pós-Graduação em História/UFPB. Dissertação de mestrado. 2010.

FERREIRA, Marieta M. A História como Ofício: a constituição de um campo disciplinar. RJ:


FGV, 2013a.

Mossoró. Resolução N° 02/95/ Consepe: Reformula o currículo do curso de História da


Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais – FAFIC – e dá outras providências. Mossoró, RN,
01 nov. 1995.

Mossoró. Departamento de História. Proposta de reforma curricular do curso de História


do Instituto de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Regional do Rio Grande do
Norte: Mossoró: 1989. (datilografado)

Mossoró. Instituto de Ciências Humanas e Sociais. Atas das reuniões do ICH de 1989 a 1993.

Mossoró. Resolução N° 24/1998: Altera a Resolução n° 02/95 CONSEPE que reformula


Currículo Pleno de História com alterações introduzidas pelo CONSEPE e dá outras
providências. Mossoró, RN, 28 jul. 1998.

Mossoró. Resolução N° 01/1996 - Consepe de 03 de Abril de 1996: Altera a resolução N°


01 95/CONSEPE que reformula o currículo pleno do curso de História e dá outras
providências. Mossoró, RN, 03 abr. 1996.

NASCIMENTO, Sérgio. A Formação de Professores no Curso de História da Universidade


Federal do Pará: uma análise do projeto político-pedagógico. Programação de Pós-Graduação
em Educação/UFPA, Dissertação de Mestrado, 2008.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 738
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 739
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O CURSO DE PEDAGOGIA DA FE/UERN: ELABORANDO


COMPREENSÕES HISTÓRICAS
Alane Danielly Bezerra da Silva¹; Amanda Fernandes de Lima Andrade²; Antonia Roberta
Targino da Costa²; Debora Dantas Silva²; Jéssica Élen Saldanha de Amorim²; Yasmin Stefany
Soares de Oliveira²; Marcelo Bezerra de Morais³
Palavras-chave: Faculdade de Educação; História da Educação; Pedagogia.
INTRODUÇÃO
A discussão sobre a formação de professores emergiu no Brasil após a proclamação da
independência, com a chegada do modelo republicano, mas o novo contexto não ocasionou
tantas transformações na área educacional como se esperava. Até então, os professores eram
formados dentro de escolas normais, as quais não davam tanta relevância ao ensino teórico,
focando principalmente a prática. Em 1930, contudo, o Brasil passou por uma grande
transformação política, econômica e social em decorrência do processo de industrialização,
cenário que impulsionou maiores discussões sobre a educação. (SOKOLOWSKI, 2013)
O movimento social renovador reivindicou, nessa mesma década supracitada, a criação
de mais escolas para formação de professores com bases científicas, desencadeando reformas
lideradas por Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, no Distrito Federal e em São Paulo,
respectivamente. O avanço do movimento da Escola Nova foi fundamental para instigar as
discussões sobre formação de professoras e fazer com que os governantes também se voltassem
para essa discussão, fazendo com que em 1939 os cursos de licenciatura e Pedagogia fossem
oferecidos na USP (Universidade de São Paulo), expandindo-se também por todo o país.
(SAVIANI, 2005).
Entretanto, os problemas com relação à formação de professores não se esgotaram,
ficando, ao contrário, mais aparentes com o tempo. Com o passar das transformações
educacionais, alinhadas com o contexto político em que estavam sendo discutidas, como regime
militar e posteriormente o avanço do neoliberalismo, muitos órgãos nacionais e internacionais
se mobilizaram pela educação e formação de professores, até chegarmos ao ano de 1996, onde
o modelo atual do curso de Pedagogia foi delineado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, a Lei nº 9.304/96.
No interior do Rio Grande do Norte, notadamente na região Oeste do estado, foi na
década de 1960 que a formação de professores para atuar nos anos iniciais ganha força com a
criação do curso de Pedagogia no ano de 1966, e ainda com a posterior criação da Faculdade
de Educação de Mossoró. A hoje Faculdade de Educação (FE), da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte (UERN) surge em setembro de 1968, a partir da Lei nº 20 da Prefeitura
Municipal de Mossoró, juntamente com a criação da antiga Fundação Universidade Regional
do Rio Grande do Norte (FURRN). Essa unidade de ensino nasce do desmembramento da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mossoró – criada pelo Decreto Municipal n. 47-
B/1965 – quando são instituídos, além da Faculdade de Educação de Mossoró, o Instituto de
Ciências Humanas e o Instituto de Letras e Arte. A partir desse desmembramento, a Faculdade
de Educação é autorizado pelo Conselho Estadual de Educação e Cultura para funcionamento
em 19 de novembro de 1967, sendo seu reconhecimento somente em 1973, pelo Decreto oficial
nº 72.263 (UNIVERSIDADE, 2012).
Diante da incansável trajetória do magistério em nosso país, os processos formativos
foram sofrendo alterações ao passo que a própria ciência da Educação foi progredindo e as
demandas contextuais foram surgindo. A própria profissão docente reinventa-se na era da

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 740
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

informação em tempo real, da globalização da economia, da realidade virtual, da Internet, da


quebra de fronteiras entre nações, do ensino à distância, da robótica e dos sistemas de produção
automatizados, do entretenimento e da sustentabilidade. (GATTI, BARRETO, 2009, p. 8).
Em virtude disso, este trabalho propõe uma discussão acerca de como foram sendo
formados os professores graduados pela FE/UERN. A Metodologia deste trabalho,
inicialmente, foi pensada para uma pesquisa de caráter documental e buscou elaborar perguntas
que serviriam de guia para desenvolver a pesquisa, com foco na formação docente para o ensino
de matemática. Contudo, em virtude do contexto de pandemia enfrentado no ano de 2020, em
virtude da propagação do novo Coronavírus (COVID-19), o projeto inicial foi redimensionado
e a proposta passou a ser desenvolvida a partir de uma pesquisa bibliográfica, posta a
impossibilidade de acesso aos documentos em virtude da necessidade do recolhimento social.
Assim, a partir desse redimensionamento do estudo, a pesquisa passou a ter como
objetivo geral elaborar compreensões sobre o curso de Pedagogia da Faculdade de Educação,
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, e como foi formando professores a partir
de sua fundação em 1966. Como objetivos específicos, buscamos compreender as
reformulações curriculares do curso, tendo em vista quais e como seus componentes buscam
consolidar uma formação para o ensino nos anos iniciais, e como o curso formativo em caráter
especial “Pedagogia da terra” buscou atender também esta demanda. O que será melhor tratado
nos próximos tópicos.
METODOLOGIA
Para o projeto de pesquisa intitulado “O curso de Pedagogia da FE/UERN e a formação
para o ensino de matemática: elaborando compreensões históricas” foi pensada uma
metodologia de pesquisa articulada às pesquisas desenvolvidas pelo “Grupo História Oral e
Educação Matemática – GHOEM”, o qual desenvolve estudos voltados para compreensões
historiográficas e busca realizar um mapeamento sobre a Educação Matemática em nível
Nacional, bem como formação de professore que ensinam Matemática (GARNICA, 2013).
A metodologia pensada inicialmente para a pesquisa foi de caráter documental e buscou
elaborar perguntas que posteriormente serviram como guia para desenvolver a pesquisa. Seriam
desenvolvidos estudos prévios para melhor compreensão sobre o assunto e, a partir disso, seria
realizada uma pesquisa em acervos documentais para produzir documentos que possibilitasse
elaborar as compreensões acerca do tema estudado, o que seria realizado após a análise e
sistematização desses documentos. Como já exposto, motivados pela pandemia ocasionada pela
propagação do COVID - 19, a busca por esses materiais foi impossibilitada, consequentemente
o trabalho foi redimensionado e a investigação foi direcionada para uma bibliográfica
(GOLDENBERG, 2004).
Para isso, foram pesquisados textos que tratassem do tema abordado e que pudessem
servir como referencial teórico para a pesquisa. Os textos selecionados buscaram trazer
compreensões sobre o surgimento da Faculdade de Educação FE/UERN, como também do
curso Pedagogia da Terra oferecido pela UERN. Assim, classificamos nossa pesquisa como
qualitativa, pois busca elaborar uma compreensão mais profunda sobre o tema estudado
(GODOY, 1995). Para as análises que serão apresentadas na sequência, nos fundamentamos
em Universidade (2012), Medeiros e Leandro (2013) e Costa (2014).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pela observação dos aspectos analisados, percebe-se que ao falar da formação de
professores, o contexto histórico possui sua importância e contribuição. As mudanças do

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 741
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sistema de governo e as transformações educacionais foram imprescindíveis para uma melhoria


na qualidade da educação. Sendo assim, os resultados apresentados neste trabalho se tratam de
breves recortes históricos da linha do tempo da Faculdade de Educação FE/UERN. Foram
estudados tanto questões referentes ao curso de Pedagogia, regularmente ofertado, como
também o curso de Pedagogia da Terra, oferta especial dessa unidade de ensino.
Ao ser realizada uma análise do histórico da FE/UERN, é notório como os processos de
institucionalização se intensificaram, contribuindo gradualmente para a formação dos
professores (as) no interior do RN. A FE foi instituída oficialmente entre as décadas de 1960 e
1980 e sofreu diversas alterações no modo de sistematizar a formação docente, conforme as
mudanças ocorreram, consequentemente a grade do curso foi adaptada de acordo com as
necessidades, contribuindo com a formação de professores.
Dentre essas transformações, podemos citar como exemplos: a reforma universitária
baseada na tríade: Ensino, Pesquisa e Extensão; oferecia habilitação nas áreas de Administração
Escolar e Ensino das disciplinas Atividades Práticas dos Cursos Normais; mudanças na
demanda das ofertas no ano de 1974 com a adição da disciplina de Supervisão Educacional e
no ano de 1978 com a disciplina Orientação Educacional. Essas mudanças indicam os primeiros
indícios de alteração curricular do curso de Pedagogia.
Referente a década de 1980, mais precisamente no ano de 1981, a professora Maria
Evidente de Oliveira foi nomeada diretora da Faculdade pelo então prefeito de Mossoró, João
Newton da Escóssia, onde sua principal ação foi o Projeto de Alfabetização e o Escola do povo.
No ano de 1982, há uma modificação no objetivo do curso com a adição de um olhar voltado
para a especialização da educação para o ensino de 1º e 2º graus. Já em 1984, é dado início a
uma espécie de revisão, no que se refere a estrutura do curso e o seu currículo. No ano de 1994,
estaria passando por uma nova reformulação curricular. Registre-se que de 1985 a 1989 a
UERN foi marcada pela luta em favor da estadualização da universidade.
Já na década de 1990, em 1995 o Curso de Pedagogia passa a disponibilizar uma
demanda de habilitação em Magistério da Educação Infantil e Séries Iniciais. Em 1998 há uma
modificação em sua nomenclatura, por uma exigência relacionada à carga horária de prática de
ensino, conforme o Art. 65 a LDB nº 9.394/96, que passou a exigir no mínimo 300 horas. Esses
pequenos recortes, possibilitam entender como ocorreram as modificações no Curso de
Pedagogia na Faculdade de Educação - FE e como implicaram mais especificamente no
currículo do curso, alterando a formação dos professores ao longo da história do curso.
Ao direcionar a análise para o curso de Pedagogia da Terra que foi ofertado pela
UERN, é necessário ter em mente sua origem por meio do Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária – PRONERA, um programa que surgiu em 1998, a partir das reivindicações
dos movimentos sociais do campo. A partir de 2001 foi incorporado ao INCRA, que se tornou
o responsável pela sua operacionalização. No tocante a contribuição, é perceptível como a
sustentabilidade foi foco da formação, carregando o princípio da preservação do meio ambiente,
sendo formada por meio de uma metodologia de consciência ecológica. Desse modo, entra em
cena a Pedagogia da Terra, a eco pedagogia.
O curso de Pedagogia da Terra foi de suma importância para a formação de professores
e movimentos sociais do campo. Conforme estudos, possibilitou aos envolvidos a
conscientização da terra e suas vivências como fundamentos principais de ensino. A formação
desses professores atuantes no campo, possibilita uma educação com mais qualidade.
CONCLUSÃO

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 742
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A partir dos estudos realizados para a elaboração da pesquisa, ressaltamos a importância


de discutir os aspectos históricos, sociais e políticos que contribuíram para o surgimento de
escolas e universidades que foram/são fundamentais para a formação de professores no Brasil.
Destacamos também a importância do curso de Licenciatura em Pedagogia e o curso Pedagogia
da Terra oferecidos pela FE/UERN.
Concluímos que o curso de Pedagogia da Faculdade de Educação sofreu inúmeras
alterações historicamente e que a FE teve uma grande contribuição para a formação de
professores do campo através da oferta do Curso Pedagogia da Terra, buscando atender as
demandas existentes nos diferentes contextos e, ainda, fortalecer a formação docente potiguar.

REFERÊNCIAS
COSTA, M A T. História e Memória da Faculdade de Educação da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte- UERN (1969-2006). In: COSTA, Maria Antônia Teixeira
da; OLIVEIRA, Meyre-Ester Barbosa de; FREIRE, Sílvia Helena de Sá Leitão Morais.
Narrando para não esquecer: Memórias e Histórias da Faculdade de Educação. Curitiba: Editora
CRV, 2014. cap.1, p.17-28.

GARNICA, A. V. M. Sobre historiografia: fragmentos para compor um discurso. Rematec


(UFRN), v. 8, p. 51-65, 2013.

GATTI, B. A.; BARRETO, E. S. de S. (Coord.). Professores do Brasil: impasses e desafios.


Brasília/DF: UNESCO, 2009.

GODOY, A. Uma revisão histórica dos principais autores e obras que refletem esta
metodologia de pesquisa em Ciências Sociais. Revista de Administração de Empresas São
Paulo, v. 35, n. 2, p. 57-63 Mar./Abr. 1995.

GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais.


ed. 8. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2004.

MEDEIROS, E. A.; LEANDRO, A. L. A. L. História de vida e formação no curso de


licenciatura em pedagogia da terra. Revista Educação On-line PUC-Rio, nº 12, RN, p.100-
112, 2013. Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/21607/21607.PDF Acesso
em: 10 de junho de 2020.

SAVIANI, D. História da formação docente no Brasil: três momentos decisivos. Educação


(Ufsm), Campinas, Sp, p. 11-26, 2005.

SOKOLOWSKI, M. T. História do curso de Pedagogia no Brasil. Comunicações, Piracicaba,


v. 20, n. 1, p. 81-97, 2013.

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE/DEPARTAMENTO DE


EDUCAÇÃO. Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia. Mossoró/RN,2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 743
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O ESTUDO DA OBRA OS LUSÍADAS, DE LUÍS DE CAMÕES E O


MUSEU ESCOLAR NO ANTIGO GRUPO ESCOLAR DE MARTINS
Natália Thalita Vieira Maia ¹; Joseane Abílio de Sousa Ferreira²

Palavras-chave: Obra rara. Acervo escolar. Instituições escolares.

INTRODUÇÃO
Os livros são instrumentos que unem peças da história e de toda evolução e
inovação da sociedade já vivenciadas, desde costumes, comportamentos, crenças,
linguagem e todo contexto da época passada de geração em geração até nos dias de
hoje. Os livros podem, dentro de um contexto social, trazer traços das representações e
práticas sociais, de um povo, de sujeitos e da escola de um determinado tempo. E
consequentemente, as obras literárias que compõem os acervos, detém de um valor
imensurável e torna as instituições que a preservam únicas e privilegiadas, por serem
existentes poucos exemplares, o que enriquece o acervo da instituição. O presente
trabalho pretende abordar a importância da obra os Lusíadas, de Luís de Camões e sua
vinda ao acervo do Grupo Escolar Almino Afonso na cidade de Martins no Rio Grande
do Norte/RN. Este trabalho é fruto de um protejo de pesquisa, que tem por título: “O
acervo do grupo escolar Almino Afonso: livros escolares e fontes históricas”,
coordenado pela Profa. Dra. Joseane Abílio de Sousa Ferreira do Departamento da
Educação do CAP/UERN. Devido ao valor simbólico da obra e sua importância para a
história da educação brasileira, surgiram inquietações sobre a instituição e motivos de
sua guarda no grupo escolar.
O local de guarda do livro é um antigo grupo escolar, instituições que foram
construídas com intenções de civilizar e solucionar os problemas da época através da
educação. Eram idealizados e apresentavam outro cenário ao local em que era
construído. O livro é um marco histórico que contempla a história de Portugal e a
passagem do Brasil colônia. É considerado obra rara e de referência para história
portuguesa, e ter um exemplar em uma instituição localizada em uma cidade turística
interiorana, visto que os demais exemplares de outras edições estão em bibliotecas
nomeadas mundo a fora, se faz necessário investigar para compreender esse percurso
até a chegada ao grupo.
O trabalho tem como objetivos analisar a obra e sua importância para o Brasil e
investigar quais os motivos do acervo do Grupo Escolar Almino Afonso ter sido
escolhido para fazer a guarda dessa obra que tem somente dois exemplares no mundo. E
com isso, entender o uso do livro para o acervo e a forma em que é explorada a obra na
instituição. Em decorrência da pandemia do Covid 19, os objetivos não foram
alcançados em sua integridade, pois, a pesquisa em campo coincidiu com o momento de
isolamento social, no qual modificou as atividades das instituições diversas e a
execução da pesquisa.

METODOLOGIA

1
Discente do curso de Pedagogia do Campus Avançado de Patu da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte-CAP/UERN. E-mail: natalia.thalita46@gmail.com
² Docente do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
CAP/UERN. Orientadora do projeto do Pibic: O acervo do grupo escolar Almino Afonso: livros
escolares e fontes históricas. E-mail: joseaneabilio@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 744
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O percurso percorrido para obter a compreensão do trabalho, foi em virtude da


revisão bibliográfica, que contempla alguns autores e momentos históricos que
enfatizam a importância e a representação dos livros e dos acervos escolares em seu
contexto.
Os estudos dos livros impressos ganham força com a nova história cultural, em
sua terceira fase da escola dos Annales, movimento de redescoberta da história e suas
fontes e objetos de pesquisa, como destaca Peter Burke (1997), em que aborda a
ampliação das fontes históricas, o envolvimento interdisciplinar e os livros
diversificando suas narrativas, expressando a história renovada. Com o surgimento de
novas abordagens e ampliado os objetos de estudos históricos, os historiadores foram
contribuindo para vários campos de estudos, que fazemos uso hoje. Infelizmente mesmo
com ampliação das fontes, o uso do livro foi transformado em objetos de propagar o
controle do ensino, causando um ensino unificado. Sendo que os livros utilizados na
época nem sempre concebiam o nome livro didático, mas eram usados como tal e
tinham grande impacto de ordem na sociedade. Como afirma Chartier (1999), o livro
sempre visou instaurar uma ordem; fosse a ordem da sua decifração, a ordem no interior
da qual ele deve ser compreendido ou, ainda, a ordem desejada pela autoridade que o
encomendou ou permitiu a sua publicação. O modo utilizado para disseminar o ensino
pelos livros sempre estabeleceram um relação muito forte com o discurso de ordem e
aculturação, como lembra o uso da bíblia pelos jesuítas, eram usados como manuais
para propagar a ordem, com discurso civilizador e mantido como verdade absoluta,
devido à escassez das fontes.
A construção dos grupos escolares foram fundamentais para a criação dos
acervos escolares e museus da história brasileira. Visto que a população não conhecia
sua própria história. A obra de Luís Vaz de Camões é conhecida mundialmente e
apresenta ser patrimônio material e imaterial para a sociedade, é um clássico da
literatura que retrata a história das navegações, mares nunca navegados, passagem do
Brasil colônia, experiência com outras culturas e movimento renascentista
contemplando toda Europa quinhentista. O livro se representa como concretização dos
símbolos, neles estão depositados registros utilizados desde as gravuras nas cavernas, a
linguagem, vestis, culturas. Os livros contam histórias que explicam comportamentos
atuais. Como destaca Bittencourt (1993) o livro didático expõem valores e nos
possibilita conhecer o contexto que se passa na época, diversificando as culturas,
linguagem, comportamentos, costumes, valores, ideias. As pessoas sentem necessidade
de entender, registrar o que ocorreu na história e o que se destaca em suas vidas. E é
algo que deveria ampliar olhares e permitir a reconstrução da história.
Os grupos escolares se configuraram em espaços adequados para a reprodução e
produção de uma cultura e ensino elitista. Os documentos encontrados nesse ambiente
revelam práticas e acontecimentos que ocorriam no espaço e mantem relação com os
livros contidos no acervo, pois, eram eles que disseminavam o ensino da época. A
utilidade dos livros estão diretamente ligadas ao ensino e ao discurso, como aborda
Foucault em seu livro A ordem do discurso (1996), o desejo do discurso simboliza
poder, e os livros por serem ferramentas de poder e o professor figura de autoridade,
propagava o discurso, com métodos de uso com os livros de memorização e fixação de
saberes. Essa abordagem de uso dos livros na escola distanciava o acesso para os
sujeitos comuns, os causava medo, devido ao espaço em que eles ocupavam na
sociedade. Ocorrendo um distanciamento, que explica o analfabetismo, as diferenças de
classes e as margens que o ensino não alcança. O estudo do percurso dos livros nos
mostram afirmações claras que os distanciam da sociedade, mas que são essenciais para

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 745
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

compreendermos a histórias dos antepassados, discursos silenciados e conhecer o lugar


em que a história se expressa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em virtude do isolamento social e do momento vivenciado pelo Covid-19, não
conseguimos ver a obra fisicamente e nem visitar o local de sua guarda. E recorrendo a
possíveis pesquisa já realizadas, não foi de grande sucesso, o que dificultou
consideravelmente a coleta de dados. E foi então que surgiu a oportunidade de uma
conversa informal com uma ex diretora do antigo Grupo Escolar que traz informações
fundamentais, que relata os objetos e as obras literárias que são conservadas no museu
instalado dentro da escola. O Museu Demétrio Lemos, foi concebido devido doação
destes pertences a escola, marcando a importância de Demétrio para a existência desse
precioso acervo na instituição. A ex diretora afirma o destaque do museu, as obras, com
ênfase na obra clássica “Os Lusíadas de Camões”, e o museu ainda é composto por mais
destaques clássicos: O Inferno de Dante, que faz parte da trilogia da divina comedia e
Orlando Furioso do escritor Ludovico Ariosto. A diretora ressalta que o grupo foi
frequentado pelos “filhos importantes” de Martins, e não esperávamos menos devido a
sua importância e sendo o 6° Grupo Escolar a ser construído no estado.
Conforme as vivencias e rumores na pequena cidade, a diretora presume que as
obras vieram para a guarda da instituição pela suposta doação de Demétrio, que
possivelmente adquiriu elas em suposições diversas, e fez a doação das mesmas por ter
um parentesco com a diretora da época, doou a sua biblioteca com vários exemplares
raros, além das três clássicas e objetos para o antigo Grupo. Demétrio Lemos é natural
da cidade de Martins, na qual era apaixonado. Figura importante para o crescimento da
cidade, ele cultivou o mundo, mas não esqueceu seu recanto. Em suas bem feitorias, na
qual ajudava sempre os outros, contemplou a cidade com seu acervo particular, desde
obras clássicas e bustos, inclusive o da praça central de Martins e a marcante doação de
conhecimento cultural riquíssimo para a sua cidade.
Figura 1- Exemplar da edição em pergaminho da obra “Os Lusíadas”, existente
apenas dois no mundo. Este com exclusiva dedicatória para Dom Pedro.

Fonte: Acervo do Grupo Escolar Almino Afonso.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 746
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Este livro é referência do museu, no qual atraem diversos historiadores e


estudantes, contém as folhas que apresentam um novo capitulo banhadas a ouro, e essa
edição em pergaminho, que é um material de encadernação utilizado desde a
antiguidade com pele de animais e sua escrita feita em auto mar, tem sua primeira
edição publicada em 1572, caracteriza o livro um clássico para a literatura epopeia.
Com a vinda do acervo de Demétrio Lemos, o Grupo se destaca ainda mais, visto que
sua construção teve grande impacto para a sociedade que o tornava e classificava um
ensino elitista, no qual até sua localização era centrada para a população burguesa, o que
evidenciava a disputa para disfruto dos alunos. Além de ser um monumento admirável,
detém a guarda de um acervo riquíssimo para a história cultural. Visto que a
conservação e preservação dessas obras são fundamentais, a temperatura e a umidade,
devem ser monitoradas e respeitadas. E quanto a observações e consultas, é importante
ter um local especifico, com regras a seguir da instituição. É necessário preservar esses
patrimônios, para que as futuras gerações possam conhecer e disfrutar a sua história.
Para Buffa (2002), a pesquisa acerca das instituições escolares é uma forma de
estudar a história e a filosofia da educação brasileira, na medida em que as instituições
que compõem os sistemas escolares estão impregnadas pelos valores de cada época.
Assim, a escola é uma das instituições que compõem a história brasileira e seu acervo
reativam memorias fundamentais como fonte de pesquisas. O acervo da instituição em
especifico, revela o vínculo entre as gerações e o tempo histórico que marcam em cada
período. Segundo Le Goff (2013, p.437) “A memória, a qual cresce a história, que por
sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro”. Desse
modo, a prevenção do esquecimento das práticas que ocorriam nesse espaço, instigam
estudos com evoluções e melhorias. Nesse sentido, conservar e organizar esse material
escolar vai além de acúmulos, muito tem haver, com a preservação e a busca por saber
mais sobre a dimensão material da vida escolar das instituições escolares.
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livro didático e conhecimento histórico:
uma história do saber escolar. Tese de doutorado. São Paulo: Faculdade de Educação
da USP, 1993.
BURKE, Peter. A escola dos Annales (1929-1989). Unesp, 1997.
BUFFA, Ester. História e filosofia das instituições escolares. In: ARAÚJO, José Carlos
Souza; GATTI JUNIOR, Décio (Org.). Novos temas em história da educação brasileira:
instituições escolares e educação na imprensa. Campinas/SP: Autores Associados;
Uberlândia: EDUFU, 2002. p. 25-38.
________. O que é História Cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
CHARTIER, R. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa e ntre
os séculos XIV e XVIII. Brasília: UnB, 1999, p.8)
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. São Paulo: Loyola, 1996.
LE GOFF, Jacques. História e memória. 7. ed. Campinas/SP: Editora da Unicamp,
2013.
PÉ QUENTE SHOW: mostra uma relíquia literária na cidade de Martins Rn. 8
min24s. Publicado pelo canal Pé quente show. Disponível em:
https://youtu.be/Qbx1jCJTDe8.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 747
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O FUNDAMENTO DO JUSTO EM EPICURO: UMA CHAVE DE


LEITURA DOS CONFLITOS CIVIS DA ANTIGUIDADE DE
LUCRÉCIO

Cintia Raquel Pereira Alves1; Antonio Júlio Garcia Freire2

PALAVRAS-CHAVE: Epicurismo. Justiça. Comunidade.

INTRODUÇÃO
O poema De rerum natura (DRN)3 é uma obra do filósofo epicurista romano Lucrécio,
escrito no século I a.C., em um período de grande agitação social e política da Roma de seu
tempo. Foi provavelmente baseado no Perí Phýseos (Sobre a natureza) do próprio Epicuro
(341 – 270 a.C.), o mestre reverenciado por Lucrécio em quase todo o poema. No início da
obra, Lucrécio faz uma súplica a Vênus (hoc patriai tempore iniquo, DRN, I, 41) para que a
paz possa prevalecer entre os seus conterrâneos (DRN, I, 1-43), demonstrando a sua
preocupação com os conflitos e turbulências políticas e sociais da sua época. Algumas
interpretações do poema defendem que o De rerum natura é antes de tudo, um trabalho com
conotação política, escrito sob a influência dos graves acontecimentos presenciados pelo
filósofo (FOWLER, 1989). Podemos dizer que se há uma perspectiva política na obra de
Lucrécio, esta se situa nos aspectos da vida em comum dos indivíduos. Nesse sentido, é
possível falar em uma visão epicurista da sociabilidade e que diz respeito a aspectos diversos,
tais como, o caráter “(...) antropológico da gênese das sociedades humanas; o ponto de vista
político da organização das cidades, da justiça e da obediência às leis; o ponto de vista ético
do valor respectivo dos diferentes modos de vida coletiva, que privilegia os laços de amizade
no interior da comunidade dos sábios” (GIGANDET; MOREL, 2011, p. 205). Para
fundamentar o modo como Lucrécio trata os conflitos civis da sua época4, esta pesquisa terá
como foco, principalmente, a análise do do fundamento do justo em Epicuro, o mestre de
Lucrécio.
O poema de Lucrécio ao longo dos seus seis Cantos, dos males da sociedade romana
de então - violência, avareza, decadência moral, tirania - propondo a filosofia epicurista como
um remédio para tais problemas. Não deixa de ser desconcertante de que se trata de uma
situação estranha à tradição do Jardim, uma vez que o próprio Epicuro aconselhava o sábio a
afastar-se de qualquer atividade política (EPICURO, 1988). São célebres e conhecidas as
máximas epicuristas “não tomar parte da política” e “viver escondido” (perí bíon). Além disso,
é importante destacar as passagens onde Epicuro menciona sua concepção de justo e justiça,
desenvolvida nas Máximas Principais (EPCURO, 2010).

1
Estudante do Curso de Direito do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
cintiaalves@alu.uern.br
2
Professor do Departamento de Ciências da Religião da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; E-mail:
prof.antoniojulio@gmail.com.
3
A abreviação de De rerum natura. Utilizada no contexto dos Estudos Clássicos para se referir à única obra de Lucrécio.
4
Esta pesquisa parte de problemas levantados em uma comunicação apresentada em setembro de 2016, no X Simposio
Nacional de Estudios Clásicos, Mendoza, Argentina.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 748
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

METODOLOGIA
A pesquisa foi caracterizada como uma investigação filosófica, a partir da tradução e
reinterpretação dos principais termos que constam dos textos originais, além da validação dos
argumentos construídos pelo filósofo e comentadores. Foram utilizadas técnicas qualitativas
de pesquisa, considerando principalmente a análise textual e de contexto, sob a perspectiva de
um conhecimento do tipo construtivista. Isso significa que os pesquisadores buscaram construir
uma hermenêutica do texto pesquisado, estabelecendo o significado dos conceitos a partir do
contexto filosófico que lhe é pertinente (CRESWELL, 2007, p. 34).
Como prática de pesquisa, buscou-se análise das noções e conceitos propostos e o
consequente posicionamento teórico que pudesse estabelecer as conclusões parciais e finais
(FOLSCHIELD e WUNENBURGER, 2002, p. 158-229). As fontes de pesquisa foram
estritamente bibliográficas, cujo acervo impresso foi disponibilizado em meio digital,
respeitadas as restrições de Direito Autoral e limitações de Copyright.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Algumas das proposições que permeiam a ética epicurista (principalmente em Epicuro


e Lucrécio) dizem que o sábio deve viver conforme a natureza, manter-se afastado da vida
pública, longe das cidades organizadas e dos conflitos que nascem a partir do modo de vida
adotado nas cidades. No entanto, viver uma vida natural, longe da vida pública, não significa
dizer que todos os consequentes aspectos da sociabilidade comum devem ser descartados, a
começar pelas leis que regem e ditam como as pessoas devem agir para que exista harmonia
nas relações humanas estabelecidas a partir desse modo de vida. Para o epicurismo, viver uma
vida conforme a natureza não é exatamente o mesmo que viver sem regras e com imprudência,
pois, isso traria ao homem uma série de problemas que, consequentemente, iriam gerar
perturbações à alma, impedindo a ataraxia. Para a filosofia epicúrea, a verdadeira felicidade
do homem só é possível se esta não traz consigo perturbações que o impeçam de viver com
prazer. Como atesta a seguinte passagem (EPICURO, 2010, p. 21):

É impossível viver prazerosamente sem viver prudentemente, belamente e


justamente, nem viver prudentemente, belamente e justamente, sem viver
prazerosamente. Aquele que está privado daquilo que permite daquilo que
permite viver feliz, mesmo se for correto e justo.

Dessa forma, viver longe da vida pública e suas consequentes obrigações e


complicações não é, necessariamente, o oposto de viver conforme as leis que regem as
comunidades e as cidades organizadas, uma vez que para Epicuro, viver uma vida conforme a
natureza é viver com prazer, não significando com isso, viver sem limites, sem regras ou sem
prudência. Para o filósofo do Jardim, “viver prazerosamente” significa viver através de uma
sabedoria prática, uma phrónesis, de maneira bela, virtuosa e justa.
Mas de qual “modo justo” Epicuro se refere? Se para o filósofo viver afastado da vida
pública é viver conforme a natureza, então viver conforme a natureza seria viver conforme uma
justiça moral ou política? Veremos que para Epicuro, as leis que regem as cidades organizadas
são convencionadas através de contratos, e esses contratos seriam então firmados por
conveniência, isto é, conveniente ao que seria mais benéfico à população ou aos que regem a
vida pública. Como afirma uma sentença (XXXIII) das Máximas Principais (EPICURO, 2010,
p. 55):

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 749
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Nunca houve justiça em si, mas nas relações recíprocas, quaisquer que sejam
seu âmbito e as condições dos tempos, uma espécie de pacto a fim de não
prejudicar nem ser prejudicado.

Nesta passagem, aparece a questão do convencionalismo jurídico o qual,


primeiramente, começa como problema porque entende-se que quando Epicuro fala de regras
criadas por convenção ele está se referindo a uma justiça que não é natural, isto é, não é
conforme a natureza. Com isso entende-se que há uma outra espécie de justiça. Em segundo
lugar, não se sabe qual o tipo de convencionalismo é aprovado por Epicuro. A questão
subjacente ao convencionalismo jurídico existe na medida em que, pelos textos que dispomos,
não está claro se Epicuro defendia separar o justo por convenção e o justo por natureza.
Além disso, não há para Epicuro, uma determinada Constituição - se assim podemos
modernamente chamar - melhor que a outra, ou que uma dada Constituição possa ser criada
conforme um critério de justiça que seja tão estável a ponto de ser considerada como critério
de validade para outras constituições ou contratos. Para o filósofo do Jardim, os muitos
contratos criados pelos mais diversos povos, de acordo com as suas particularidades e
necessidades é, na verdade, a manifestação de um só fundamento que seria então o critério de
validade para a existência da própria justiça: aquilo que é útil a cada comunidade. Na máxima
XXXI, que trata da ideia de justiça, Epicuro diz que “o direito natural simboliza a vantagem
recíproca de impedir os homens de prejudicarem os outros, e os livra de serem prejudicados”
(EPICURO, 2010, p. 49).
Dessa forma, não há um critério de justiça que seja universalmente válido e estável; o
que há de estável e válido é a própria necessidade de criação de leis que resolvam os conflitos
de uma dada comunidade ou cidade, e essa necessidade advém, justamente, do princípio de que
o homem não deve prejudicar seu semelhante (ou um membro da sua comunidade), assim como
seu semelhante não deve prejudicá-lo. Este princípio seria comum a todos os povos, ainda que
sejam diversas as formas de convenções criadas para atender a tal princípio, o qual muda de
acordo com o tempo, lugar e costumes de cada povo.
O que justifica a vida pública ou a vida política diante da proposta de um modo de
vida conforme a natureza é que a existência de leis, mesmo as que surgem através de um
contrato, nascem de um único motivo comum a todas as comunidades (e até mesmo as do tipo
proposta por Epicuro), que é garantir o aquilo que é útil a cada comunidade. Dessa maneira,
até mesmo uma política conforme a natureza passa pela existência de um contrato entre os
membros de uma comunidade, ainda que este contrato (ou pacto) não tenha a forma escrita.
Além disso, o que justifica a proposta de epicurista de viver uma vida conforme a natureza é
viver longe dos sofrimentos, que são o mal e o impedimento à vida feliz.
Para Epicuro, o mais importante é a diversidade de manifestações de um justo que
consiste em não prejudicar para também não ser prejudicado, isto é, um princípio comunitário.
Ao se quebrar este princípio, é rompida a ordem e os conflitos emergem. Indo além, o princípio
norteador de qualquer ideia de justiça, seja ela escrita ou não, é sempre baseado na ideia de
bem comum, de um interesse comum. Nesse sentido, tomando o seu contexto político como
fundamento, a defesa do que é mais justo para a coletividade é sempre mais importante do que
qualquer outra, isso porque a natureza humana, ainda que muitas vezes, o indivíduo venha a
pensar e agir de forma a só considerar seus interesses individuais, tende mais a querer buscar
uma justiça que, acima de tudo, seja mais conveniente para toda comunidade. Dessa forma,
esse é o princípio natural que rege as relações humanas e as impede de entrarem em constante
conflito. Para Epicuro, não há, necessariamente uma justiça natural absoluta, porque o natural
não é sinônimo de algo imutável, nem tampouco o contrário de convenção. A existência de
uma justiça absoluta não é possível porque a natureza humana, em seu próprio processo de
evolução, não é. Por isso, não se pode pensar em uma justiça imutável. Para Epicuro, o que de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 750
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

fato não muda é o princípio que rege a criação de todos os contratos em cada comunidade: o
bem comum, o útil a comunidade.

CONCLUSÃO

Em relação às passagens analisadas, os resultados dessa investigação apontam para as


contribuições do epicurismo à filosofia política, assumindo um viés prático já que se vincula a
um ethos, isto é, às condições objetivas de atuação do homem no mundo. Tais relações são
importantes na medida em que permitem entender a concepção filosófica dos conflitos civis no
mundo grego e romano dos séculos I e II a.C., mas que podem muito bem ser contextualizada
para os dias atuais.
Finalmente, nos parece que as passagens analisadas em Epicuro parecem fundamentar
a concepção de justiça e de comunidade adotada por Lucrécio, a qual o filósofo romano estava
interessado ao mencionar os elementos geradores dos conflitos civis, tanto em sua forma mais
geral, quanto nos eventos conflituosos de sua época.

AGRADECIMENTOS

A Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) que, através da Pro-


Reitoria de Pesquisa de Pós-Graduação (PROPEG), nos auxiliou com a concessão de Bolsa
PIBIC-UERN, e aos Departamentos de Ciências da Religião e Direito, deixamos o nosso
profundo agradecimento ao apoio e incentivo por parte da instituição ao Programa Institucional
de Iniciação Científica – PIBIC.

REFERÊNCIAS

CRESWELL, J. W. Projetos de Pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Trad.


Luciana de Oliveira Rocha. Porto Alegre: Artmed, 2007.
EPICURO. Antologia de Textos in Epicuro, Lucrécio, Sêneca e Marco Aurélio. São Paulo:
Abril Cultural, 1988.
EPICURO. Máximas Principais. trad. João Quartim de Moraes. São Paulo: Edições Loyola,
2010.
FOLSCHEID, D. e WUNENBURGER, J-J. Metodologia filosófica. Trad. Paulo Neves. São
Paulo: Martins Fontes, 2002.
FOWLER, D. Lucretius and politics, in M. Griffin and J. Barnes (eds.), Philosophia Togata
vol. 1. Oxford: 1989, p. 120–150.
GIGANDET, A.; MOREL, P-M. Ler Epicuro e os epicuristas. São Paulo: Edições Loyola,
2011.
SIMPOSIO NACIONAL DE ESTUDIOS CLASICOS, X, 2016, Mendoza. O conflito civil no
De Rerum Natura de Lucrécio e a defesa da ética epicurista. Mendoza (Argentina): Universidad
Nacional de Cuyo, 2016. (Comunicação oral).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 751
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O GRUPO ESCOLAR TENENTE CORONEL JOSÉ CORREIA E SUA


CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO ASSUENSE (1911-1927)
Micaele Cavalcante de Barros 1; Sara Raphaela Machado de Amorim2

Palavras-chave: História da Educação. História das Instituições Escolares. História dos Grupos
Escolares.
Introdução

A presente investigação versa sobre as contribuições educacionais do Grupo Escolar


Tenente Coronel José Correia no município de Assú/RN. De acordo com Vidal (2006), os
Grupos Escolares constituíram uma representação do ensino primário, oferecendo uma
organização e homogeneidade à educação pública e disseminando valores e normas sociais e
educacionais que foram de grande valia para efetivação da educação pública oficial objetivada
nos anos iniciais do século XX.
Tomamos enquanto ponto de partida que o aspecto de que o Grupo Escolar Tenente
Coronel José Correia, foi o primeiro grupo criado no município de Assú, sobretudo nas
primeiras décadas do período republicano em que a educação passava por várias
transformações e que o Rio Grande do Norte ainda possuía pouquíssimos Grupos Escolares.
Diante disso considerando relevante a discussão, nos propomos a investigar a participação do
referido Grupo Escolar no movimento de expansão educacional norte-rio-grandense e suas
contribuições para o desenvolvimento da educação pública e formação dos cidadãos Assuenses.

Metodologia

A busca por conhecer a história de uma instituição escolar não é tarefa fácil, é preciso
pesquisar e analisar documentos, fatos, sempre nos propondo a questionamentos que nos
possibilitem respostas e que nos permita auxiliar de maneira significativa a História da
Educação. Buscando assumir o compromisso de que os conhecimentos que são desvendados
possam favorecer para a historiografia da instituição, como nos afirma Magalhães (1996),
quando diz que se faz necessário questionamentos de forma que permita a construção de um

1
Aluna de Iniciação Científica PIBIC. Graduanda do Curso de Pedagogia do Departamento de Educação da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN; Campus Assú. Contato: micaelecb17@hotmail.com.
2
Doutora em Educação. Líder do Núcleo de Pesquisa em Educação/NUPED-CNPq. Professora do Departamen to
de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Contato: raphaela.amorim@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 752
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

processo histórico que contribua para a identidade das instituições educativas assumimos esse
estudo.
Nos propondo a avaliar as fontes documentais que tínhamos disponíveis, afim de
interpretá-las e analisá-las em suas entrelinhas, na busca por conhecimentos e informações do
que tange o Grupo Escolar Tenente Coronel José Correia instituição centenária do município de
Assú/RN. Desenvolvemos uma pesquisa de caráter exploratório, por meio de fontes
documentais que nos auxiliaram na investigação, a partir de uma abordagem qualitativa em
diálogo com autores que fomentaram nossas reflexões acerca da temática investigada, bem
como dos métodos e processos para alcançarmos os objetivos almejados com a proposta.
Nas discussões, na busca da compreensão dos conhecimentos propostos pelo processo
investigativo, recorremos a autores como Le Goff (2003), Magalhães (1996), Chartier (1990)
Frago (1995), Vasconcelos (2005) Vidal (2006), Certeau (2002) dentre outros autores que
discutem as categorias de análise que fundamentam o estudo, tais como a Culturas Escolares,
História das Instituições Escolares e Práticas Educacionais. Tais autores muito contribuíram e m
nosso processo investigativo, nos permitindo reflexões, amadurecimentos e ideias e
possibilidades de pesquisa.
Inicialmente nos propomos à busca por fonte e materiais para pesquisa, vistamos
acervos, a exemplo do Arquivo Público do Estado – APE, na Busca por fontes vindas do Jornal
A Republica, o Museu Lauro da Escócia para pesquisa no acervo do Jornal O Mossoroense,
também vistamos o acervo do Educandário Nossa Senhora das Vitória e o Acervo do Grupo
Escolar Tenente Coronel José Correia, ambos em Assú/RN. Nas oportunidades foram
selecionadas e fotografadas fontes referentes ao período de criação do Grupo Escolar em
estudo. Após o mapeamento dos documentos foi feito a leitura e digitalização, buscando manter
viva a história que tanto é significante para compreensão tanto do passado, quanto das questões
atuais. Após o contato documental, iniciou-se com uma análise propondo olhá-las
minuciosamente, afim desvendar as informações postas nas entrelinhas referentes ao período
ora analisado.

Resultados e Discussão

O Grupo Escolar Tenente Coronel José Correia, criado por meio do decreto nº 254 de
11 de agosto de 1911, durante a administração do governador Alberto Maranhão e inaugurado
no dia 07 de setembro de 1911, no município de Assú e figurou como uma importante
instituição educativa que mudaria o cenário educacional do município.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 753
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Apesar dificuldades no refere-se a fontes de pesquisas, conseguimos investigar questões


importantes deste Grupo Escolar. O prédio foi mudado de endereço, inicialmente funcionava na
Rua São Paulo e posteriormente em um novo prédio na Rua Coronel Wanderley. Ao longo
desses quase 109 anos aconteceram reformas e nos foi apresentado também relatos de incêndio
que contribuíram para que os registros forcem perdidos. De acordo com Bonato (2005), é
comum observar o desafio enfrentado por pesquisadores da área, a partir da impossibilidade de
encontrar materiais dos contextos de fundação das escolas, sobretudo quando trata-se de
instituições centenárias.
Diante da necessidade de fontes de pesquisa visitamos o Arquivo Público do
Estado/APE, onde tivemos acesso a umas das fontes mais significativas do nosso estudo, o
jornal A República, que foi o importante disseminador do ideário educacional do estado. Nesta
fonte tivemos acesso a matéria da festa de inauguração do Grupo Escolar, sendo apresentado
como uma brilhante festa onde também se comemorava a independência do Brasil, essa
informação nos foi tida como relevante já que com o Brasil estava passando por um momento
histórico com a proclamação da República e a educação só vinha a se modernizar.
Nas fontes encontradas na Escola, no Arquivo Público do Estado e em acervos digitais
também tivemos acesso ao modelo de educação que se era apregoado no Grupo Escolar em
questão. Como a instituição foi criada no período republicano, sua práticas tanto dos alunos
quanto do professorado condiziam com esse período. Uma educação moderna e com princípios
moralizadores, onde se idealizava que os alunos adquirissem um maior grau de instrução física,
moral e intelectual, objetivando formar sujeitos letrados e capacitados que atendessem os ideias
do novo modelo educacional que se formava. Os professores por sua vez passaram a ter suas
práticas modernizadas, com a criação dos Grupos Escolares passaram a existir ventilação e
iluminação adequada e uma boa higienização nos espaços, matérias de ensino como mapas,
blocos, livros e a realização de aulas mais dinâmicas com músicas, poesia e aulas de campo.
Com as investigações, nos foram abrindo caminhos para outra pesquisas que se tornou
trabalho monográfico e que dessa maneira possa contribuir para a história da instituição em
estudo e também para a história da educação do município de Assú.

Conclusão

Esta investigação, em diálogo com as outras que já realizamos, propõe contribuir para a
História da Educação, em especial para a história do Grupo Escolar Tenente Coronel José
Correia, a partir de uma pesquisa que aviva a história da educação assuense, que permite a

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 754
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

compreensão de como se dava o ensino na primeira instituição escolar do munícipio e que


contribui para que outros sujeitos possam conhecer questões referentes a educação no início do
século XX. Nesse estudo reafirmamos o valor da pesquisa como forma de conhecimento para
que nossa história não seja apagada e que possa servi de subsídios para que possam surgir
outras indagações.

Agradecimentos

Os agradecimentos a todos que direta ou indiretamente contribuíram para o


desenvolvimento desta pesquisa, a todos que nos auxiliaram na busca por fontes e que de certa
forma nos orientaram no trajeto. Nosso reconhecimento em especial a Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte, ao Núcleo de Pesquisa em Educação/NUPED e a todos que fazem
parte do Programa Institucional de Iniciação Cientifica/PIBIC.

Referências

BONATO, Nailda Marinho da Costa. Os arquivos escolares como fonte pra a história da
educação. Revista Brasileira de História da Educação, n° 10 jul./dez. 2005.

MAGALHÃES, Justino. Contributo para a história das instituições educativas : entre a


memória e o arquivo. Braga (Portugal): Universidade do Minho, 1996.

VIDAL, Diana Gonçalves; (Org.) Grupos Escolares: cultura escolar primária e a escolarização
da infância no Brasil (1893-1971). Campinas, SP: Mercado das Letras, 2006.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 755
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O IDEB NA REGIÃO DO ALTO OESTE POTIGUAR E O CONCEITO


DE QUALIDADE: PERSPECITVAS DOS GESTORES MUNICIPAIS DA
EDUCAÇÃO BÁSICA

Marcos Barbosa de Aquino1; Ciclene Alves da Silva2


Palavras-chave: IDEB. Qualidade da Educação. Análise do Discurso. Secretários Municipais
de Educação.
Introdução
Considerando os documentos legais do país em nível nacional como a Constituição
Federal, o conceito de qualidade só vem aparecer em sua última e atual versão publicada em
1988. A partir de então, foram criados documentos, diretrizes e parâmetros educacionais e os
discursos em torno de uma educação de qualidade tornam-se cada vez mais presentes.
Esse movimento crescente de debates é fruto de dois processos complementares: o
primeiro é fruto da democratização do acesso à educação, assegurado pela referida constituição
em seu artigo 205, garantindo não só o acesso, mas também a permanência; e o segundo
processo advém do desenvolvimento econômico e social capitalista e do aumento da exigência
de mão de obra qualificada, tornando a educação o principal meio de acesso ao mercado que,
cada vez mais exigente, pressiona o campo educacional a preparar os indivíduos a atenderem
as suas necessidades.
Contudo, nem a compreensão do primeiro e tampouco do segundo segmento é suficiente
para atender a compreensão do que seria uma qualidade educacional, do ponto de vista da
literatura especializada na área e de suas definições quanto ao que seria uma educação de
qualidade socialmente referenciada.
Em primeiro lugar, é preciso considerar que “Os conceitos, as concepções e as
representações sobre o que vem a ser uma Educação de Qualidade alteram-se no tempo e
espaço, especialmente se considerarmos as transformações mais prementes da sociedade
contemporânea, dado as novas demandas e exigências sociais, decorrentes das alterações que
embasam a reestruturação produtiva em curso [...]” (DOURADO, 2007, p. 3), portanto está
diretamente relacionado a uma percepção histórica, pensada em determinado momento, em uma
realidade específica, para uma necessidade ou interesses particulares.
Por exemplo, no Brasil a exigência por qualidade no processo educativo ganha espaço
com o desenvolvimento econômico-industrial. Com o aumento da demanda por mão de obra,
da competitividade, típica do mercado, e da exigência por profissionalização,
consequentemente, a atenção popular se volta à educação. A ideia de promover qualidade no
ambiente educacional estava ligada à expansão do número de escolas pelo país e ao acesso a
estas instituições, de forma a atender as exigências do mercado na produção de mão de obra
qualificada para os seus serviços. Entretanto, surge um novo patamar a partir da implementação
das duas fases anteriores, uma outra preocupação: saber se os alunos inseridos na escola estão
de fato aprendendo. As ações estabelecidas para este fim começam a se materializar com a
criação do Saeb em 1990, primeiro ano de sua aplicação.
O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) é um sistema de avaliação externa
de larga escala, com o objetivo de avaliar o desempenho dos alunos da Educação Básica
brasileira, composto por três avaliações de larga escala: (Aneb, Anresc/Prova Brasil e ANA).
A partir das médias de desempenho dos estudantes obtidas pelos dados das avaliações em larga

1
Estudante do curso de Pedagogia, do Departamento de Educação (DE), da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte, Campus Avançado de Pau dos Ferros (CAPF); e-mail: marcosaquino@alu.uern.br.
2
Professora doutora do Departamento Educação (DE), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN), do Campus Avançado de Pau dos Ferros (CAPF); e-mail: ciclenealves@bol.com.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 756
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

escala e as taxas de aprovação disponibilizadas pelo Censo Escolar, o Instituto Nacional de


Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) faz a junção destes dois indicadores
educacionais (de qualidade?) e cria o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB.
O objetivo do IDEB é avaliar as escolas do país com base no que eles consideram como
“indicadores” de qualidade. São eles: “[...] a) indicadores de fluxo (promoção, repetência e
evasão) e b) pontuações em exames padronizados obtidas por estudantes ao final de
determinada etapa do sistema de ensino (4ª e 8ª séries do ensino fundamental e 3º ano do ensino
médio)” (FERNANDES, 2007, p. 7).
Em linguagem simples, o que o IDEB precisa para definir se uma escola é de qualidade
ou não é que os alunos permaneçam na escola (fluxo) e sejam aprovados no fim do ano
(desempenho/proficiência), contudo algumas críticas são levantadas ao IDEB. A primeira
relaciona-se ao questionamento da (in)capacidade do índice em aferir a qualidade das escolas
públicas, uma vez que seus índices estão reduzidos apenas às disciplinas de português e
matemática e nas taxas de reprovação, não sendo suficientes para avaliar a complexidade do
processo educativo nas suas singularidades e particularidades, além de contribuir para a
produção de rankings e competição entre as escolas, corroborando para responsabilização,
privatização e sanções salariais, além da imprecisão dos testes em nível técnico e interpretativo,
desconsidera questões de nível socioeconômico.
Com base no que fora exposto, o objetivo deste trabalho é discutir a relação estabelecida
entre o conceito de qualidade dos gestores municipais de educação do Alto Oeste Potiguar e o
indicador do IDEB, considerando, nos discursos destes, a qualidade da educação ofertada nas
escolas públicas dirigidas por estes gestores. A intenção é construir um perfil do que seria uma
escola de qualidade, tendo por base os indicadores do IDEB e os discursos dos dirigentes
municipais de educação.
Metodologia
Como aspectos metodológicos, este trabalho se sustenta na abordagem de pesquisa
qualitativa em educação, entendendo que “A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como
a tentativa de uma compreensäo detalhada dos significados e características situacionais
apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produçäo de medidas quantitativas de
características ou comportamentos” (RICHARDSON, 2012, p. 90). Neste caso, o intento aqui
é compreender um fenômeno social específico, qual seja a qualidade educacional, bem como
os significados atribuídos pelos partícipes em relação a este fenômeno, não podendo assim
reduzir o foco da pesquisa a dimensões quantificáveis.
Para fundamentar este trabalho, foram utilizados, principalmente, os estudos de
Beisiegel (2006) que discute acerca da expansão, da democratização do acesso à educação e
sobre a sua influência na concepção de qualidade educacional; Ravitch (2011), ao abordar os
aspectos do sistema educacional americano, especialmente o sistema de avaliação, as políticas
educacionais e as causas e consequências de um modelo baseado na ideia de mercado; Brooke
e Soares (2008), analisando os estudos, os resultados e as pesquisas em eficácia escolar, além
da sua aplicação prática em busca do melhoramento escolar, e Fernandes (2007) apresentando
o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica e suas características.
Para isto, utilizou-se de um questionário semiestruturado3 com os secretários municipais
de educação, e para fins de análise dos dados trabalhamos com a análise de discurso
Foucaultiana. Os cinco municípios que compõem esta pesquisa fazem parte da região do Alto

3
Inicialmente, para atender a metodologia da pesquisa, o instrumento de coleta de dados seria realizado através
de entrevistas semiestruturadas com os secretários de cada município, contudo, com a incidência da pandemia da
COVID-19, eclodindo no país no final de fevereiro de 2020, houve o comprometimento desse instrumento, sendo
necessário realizar uma revisão e adequação ao questionário semiestruturado com vistas a viabilizar o
prosseguimento da pesquisa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 757
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Oeste Potiguar que, em sua totalidade, engloba 30 municípios, contabilizando 25% dos
municípios circunvizinhos a Pau dos Ferros/RN.
Resultados e Discussões
A partir dos estudos e reflexões realizadas acerca do IDEB e da ideia de qualidade,
buscamos agora investigar a relação que os secretários municipais de educação estabelecem
entre seus saberes e práticas com esses conceitos. A partir das falas dos sujeitos, é preciso tentar
“[...] encontrar, além dos próprios enunciados, a intenção do sujeito falante, sua atividade
consciente, o que ele quis dizer, ou ainda o jogo inconsciente que emergiu involuntariamente
do que disse” (FOUCAULT, 2019, p. 31).
A partir dos dados obtidos, é possível perceber que as três participantes possuem perfis
profissionais distintos, com faixas etárias que variam entre 35, até mais de 55 e com tempo de
atuação entre 1 e mais de 4 anos. Todas possuem formação profissional a nível de
especialização, bem como todas chegaram ao cargo por meio de indicação política, sendo duas
pertencentes ao quadro de servidores do município.
Os resultados apontam, através dos discursos das secretárias, enunciados que
caracterizam o IDEB enquanto um aferidor de qualidade, e encontra-se presente em falas como:
“É um indicador nacional que possibilita o monitoramento da qualidade”; “objetiva medir a
qualidade do aprendizado nacional” ;“O IDEB é um diagnóstico que apresenta a qualidade
do ensino”; “acompanhar como o país, os estados, os municípios estão avançando ou não
em suas aprendizagens ou se aproximando da qualidade da educação”; “[...] sinaliza se
estamos próximos ou distantes do objetivo que consideramos ideal para uma educação de
qualidade”. Os enunciados das três secretárias acerca do IDEB estabelecem uma formação
discursiva que deixa evidente a relação direta que elas estabelecem entre os resultados e a
qualidade educacional do município, reduzindo os fatores de rendimento e aprendizagem aos
números apresentados pelos indicadores
Os enunciados acima dispostos não só se alinham, a nível de discurso, com os
dispositivos de poder que o regularizam, como a Constituição Federal, o PNE e o Ministério da
Educação (MEC), como é o caso da Secretária 2, argumentando que “O IDEB como um
indicador nacional precisa de novas diretrizes operacionais e conceituais da avaliação que
visem à melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem e não apenas medir a qualidade do
aprendizado nacional”; como também a nível de prática, como está apresentado na fala da
Secretária 3, pois sua fala aponta para “Estimular o hábito da escrita e da leitura” enquanto
práticas que elevam a qualidade do ensino, sendo estes os parâmetros defendidos pelo IDEB .
Para Foucault, os discursos tidos como verdades, quando apoiados “[...] sobre um suporte e
uma distribuição institucional, tende a exercer sobre os outros discursos [...] uma espécie de
pressão e como que um poder de coerção” (FOUCAULT, 2014, p. 17).
Com relação a capacidade do índice em avaliar as escolas, as secretárias 1 e 2
encontram-se na mesma formação discursiva ao considerarem o efeito do índice em uma dupla
mão. A secretária 1 diz que o IDEB “É um indicador que tem pontos positivos e negativos. É
um instrumento que precisa ser aperfeiçoado e que novos elementos possam ser incorporados
ao sistema de avaliação”. Ela reconhece a insuficiência dos fatores do índice, mas não
apresenta quais “outros elementos” podem ser incorporados. Na concepção da Secretária 2 “Se
o resultado independente de ser bom ou não for analisado, estudado, sistematizado para
traçar as metas, planos de trabalho, será positivo. Se for usado para punir, premiar, expor
os resultados para que se tenha um olhar diferenciado, privilegiado isso é negativo”.
Em última análise, é perceptível que embora todas as secretárias, em alguns momentos
dos seus discursos estabeleçam, direta ou indiretamente uma relação entre o IDEB enquanto
medidor, mensurador, monitorador ou sinalizador de qualidade da educação, elas também
apresentam, principalmente as Secretárias 1 e 2 (mais novas no cargo e em idade), aspectos que
superam os meros dados do Índice, por exemplo a questão profissional e pedagógica, como a

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 758
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

formação continuada, o planejamento e os métodos de ensino; currículo com conteúdo bem


definidos, o foco em projetos políticos pedagógicos estruturados e com metas claras; aspectos
estruturais, tais como as condições estruturais e de funcionamento da escola; participação da
comunidade educacional nas ações e nas decisões; condições básicas de acesso e permanência
na escola através de garantias essenciais, como merenda e transporte escolar, bem como outros
aspectos que foram abordados anteriormente.
Conclusão
Este trabalho buscou compreender o conceito de qualidade atribuído ao campo
educacional no Brasil, suas modificações e (re)significações com o passar do tempo até a
atualidade, que se encontra muito atrelado principalmente ao processo de democratização, ao
crescimento do capitalismo e, enfim, à avaliação. Em seguida explicitamos as bases do
indicador educacional do IDEB, que se dá através das médias obtidas pelo Censo Escolar e
pelas avaliações em larga escala que compõem o Sistema de avaliação da educação Básica –
Saeb (Prova Brasil/Anresc, Aneb e ANA).
Finalmente, a fase final da pesquisa se pautou em analisar os discursos dos secretários
de educação do Alto Oeste Potiguar, na tentativa de compreender a relação estabelecida por
eles entre o IDEB e a ideia de qualidade, sendo possível perceber que todas atribuem ao IDEB,
através de seus discursos, a função de aferidor de qualidade. Entretanto, não se reduzem
somente a ele quando se referem às suas práticas, revelando uma dualidade presente em um
mesmo discurso, resultado da presença de práticas e discursos ora convergentes e divergentes,
ora contraditórios relacionados ao índice, e que permeiam o campo educacional.
Agradecimentos
Agradeço ao CNPq e a minha orientadora pela paciência e dedicação na correção do trabalho.
Referências
BEISIEGEL, Celso de Rui. A qualidade do ensino na escola pública. Brasília: Liber Livro
Editora, 2005.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:
promulgada em 05 de outubro de 1988.
DOURADO, Luiz Fernando (Coord); OLIVEIRA, João Ferreira de; SANTOS, Catarina de
Almeida. A qualidade da educação: conceitos e definições. Brasília: Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2007.
FERNANDES, Rodrigues. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Brasília. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2007.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2019
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada
em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
INEP. IDEB: resultados e metas. Brasília. Disponível em: http://ideb.inep.gov.br/resultado/.
Acesso em: 12 mar. 2020.
RAVITCH, Diane. Vida e morte do grande sistema escolar americano: como os testes
padronizados e o modelo de mercado ameaçam a educação. Porto Alegre: Sulina, 2011.
REYNOLDS, David et all. Conectando eficácia ao melhoramento escolar. In: BROOKE,
Nigel; SOARES, José Francisco (orgs). Pesquisa em eficácia escolar: origem e trajetórias.
Belo Horizonte: Editora UFMG, p. 425-457.
RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 759
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O LUGAR DA LITERATURA DE CORDEL NA CULTURA


POPULAR

Naiara Sandi da Silva Gomes Saraiva 1

Palavras- Chave: Cultura popular. Folclore. Literatura de Cordel.

Considerações Finais

A literatura popular proclama a necessidade da participação pública do homem nas


atividades que exerce, de forma a (re)conhecer os caminhos da liberdade e da integração
na vida social trilhando literatura e política por meio das manifestações populares. O
principal foco da nossa pesquisa é compreender o lugar da poesia popular, cordel na
cultura popular, visto que é necessário valorizar as tradições culturais, sobretudo a
literatura popular. É muito importante conhecer as influências, as interferências e os
diálogos que se firmaram e que serviram para a construção da poesia popular, pois,
muitas vezes, ela não tem recebido o devido respaldo em lugares que julgamos o dever
de conhecê-la, se compararmos a proporção de estudos que perseguem a literatura
canônica. Embora as manifestações populares não desaparecem, apenas mudam de
contexto, de acordo com os costumes e a tradição do povo de acordo com cada região.

Resultados e Discussões

O nordeste buscou valorizar e veicular as raízes populares por meio da literatura


de cordel, espetáculos populares, espetáculos de rua, poesia oral, dentre outras
manifestações artística sendo a atividade cultural popular do Recife, sobretudo teatral,
muito intensa na década de 1920. A cultura popular dever ser estudada de forma ampla
e, segundo Ayala; Ayala (1995) para podermos compreendê-la é necessário discutir
sobre o que é folclore: “o folclore não flutua no ar, só existe encarnado numa
sociedade, e estudá-lo sem levar em conta essa sociedades é condenar-se a
apreender apenas a superfície” (AYALA; AYALA, 1995, p. 32). Câmara Cascudo
(1965) define folclore como sendo algo em uso, vivo, útil, diário e natural, sendo a
oralidade um recurso indispensável para a consagração da cultura popular. A exemplo,
apresenta as notícias, os cantos, as anedotas como gêneros não duradouros, mas que
carregam em suas práticas a resistência e a conservação daquilo que é considerado
nacional ante ao vanguardismo, devido ao seu caráter formal pretérito vivo. As
mudanças ocorridas na sociedade é o que leva as transformações sociais, sobretudo
as condições de vida da sociedade.
Há a arte popular que é própria dos centros urbanos, industrializados e elaborada
por artistas pertencentes às classes sociais distintas do seu público:

desde o século XVI uma série de escritores procuraram abordar a


temática da cultura popular, embora dentro de uma perspectiva

1
Discente do curso de Letras – Língua Portuguesa, do Departamento de Letras da Universidade Estadual
do Rio Grande do Norte do Campus Avançado de Patu (CAP). E-mail: naiaragomes@alu.uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 760
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

normativa e reformista [...] Tais escritos tinham por finalidade


apontar os erros e as superstições das classes subalternas e se
encontravam em consonância com o espírito da época que
buscava a moralização, quando não tinha a extinção, das
manifestações populares (ORTIZ, 1985, p.3).

Com essas pesquisas foram surgindo novos pontos de vistas e abordagens sobre
o que é literatura popular. Segunda a autora, “os costumes populares pertencem ao um
passado longínquo, mas, se curva diante da possibilidade de encontrar sua origem”
(ORTIZ, 1985, p.6). De acordo com Ayala e Ayala (1995) a cultura popular é regida por
uma lógica da necessidade, em que solidariedade, auxílio mútuo, vida comunitária são
importantes para a existência de suas diferentes manifestações. A cultura popular tem
seus princípios na comunidade para possa mostrar seu interesse e ponto de vista sobre o
assunto do qual se trata a cultura popular. Além disso, Ayala e Ayala (1995) observam
que o modo de como percebemos ou notamos a cultura popular, ela é observada por
meio da tradição, do conhecimento do povo, que é passado de geração em geração.
A literatura de cordel é algo que vem de tempos que foi trazida pelos
portugueses e plantada aqui no Brasil. O cordel era algo que era mais do povo, por ser a
apresentado para a população de classe mais baixa da época, distribuídos em folhetos,
em que todas as pessoas teriam acesso a esses cordéis. Luyten (2006) destaca que

as modalidades poéticas populares do Nordeste são muito mais


conhecidas nacional e internacionalmente do que as versões paulistas
[...] Devido à migração de nordestinos para outras regiões do Brasil,
notadamente São Paulo, verificamos, hoje em dia, que a capital
paulista se tornou um dos maiores centros produtores e emissores de
poesia popular nordestina. [...] A cultura popular nordestina [...]
expandiu-se, sobretudo no século XX, de tal modo que hoje é possível
notar sua influência em todos os meios culturais do País, desde a
literatura das classes dominantes ao teatro e cinema (LUYTEN, 2006,
p. 79).

A poesia popular tem amplas definições e está ligada também a poesia de cordel
que são folhetos de impressão precária e expostos à venda pendurados em varais de
barbante. O nome vem de Portugal onde esse tipo de folheto de literatura popular
também era produzido. Também eram encontrados em países como Espanha, França,
Itália e Alemanha.
A primeira notícia que se tem sobre a literatura de cordel lusitana vincula-se ao
nome de Gil Vicente, que publicou, sob esta forma, algumas de suas peças (ABREU,
1995). Ao longo, do tempo foi se modificando o modo de publicação e logo veio
surgindo os folhetos que ficou com o acesso mais fácil da população mais pobre, eram
pendurados em varias na feira, onde toda a população tinha o prazer de conhecer de
perto, os tão famosos cordéis. Os cordéis eram muito parecidas com as cantigas
medievais, pois possui uma rima e expressa algum sentimento seja ele de raiva ou
felicidade: “as características físicas dos folhetos, aliadas á maneira de vendê-los, têm
sido os atributos mais recorrentes ao se tentar uma definição. A primeira notícia que se
tem sobre a literatura de cordel lusitana vincula-se ao nome Gil Vicente, que publicou,
sob esta forma, em algumas de suas peças” (ABREU, 1995, p. 19). As poesias
populares, os cordéis, apresentam fatos e acontecimentos que evocaram para uma

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 761
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

cultura de resistência e incita a pensar e a questionar, pois a dignidade e a liberdade do


homem estão em crise e a representação da cultura popular, por meio da literatura, pode
ser a arma para combater a intolerância.

Metodologia

Durante nossa pesquisa para dar ênfase ao assunto abordado trabalhamos com
autores que escreviam sobre o tema, na cultura popular, trabalhamos com Marcos Ayala
e Maria Ignez Novais Ayala (1995), que traz de forma ampla os conceitos trabalhados
fizemos um levantamento suas principais tradições, na literatura popular, para trabalhar
com o a literatura de cordel usamos os textos de Márcia Abreu (1997) que mostra
algumas características da cultura popular. Nosso principal foco foi pesquisar sobre a
cultura popular dando ênfase na literatura de cordel. Esses cordéis tem ênfase na cultura
popular, pois enfatiza a cultura do povo, as festas tradicionais e o folclore.

Considerações finais

O gênero cordel propaga a veia memorialística, tradicional e demarca o processo


de resistência para a construção da identidade cultural nordestina. Dentre esse espaço
tão rico percebemos o quanto, a cultura popular foi ganhando espaço na sociedade,
aprendemos a sua origem e o modo de como ela foi se evoluindo ao longo do tempo,
pois de diferentes formas foi mostrando todos os tipos e forma. Assim como a
importância de se estuda a cultura popular, que é nascida a partir de tradições, folclores
e também na literatura de cordel, onde é uma forma de se expressar seja por uma
indignação ou pra fazer alguma denúncia.

Referências

AYALA, Marcos e AYALA, Maria Ignez Novais. Cultura Popular no Brasil:


perspectiva de analise. São Paulo: Editora Ática, 1995.

ABREU, Márcia. Pobres leitores pobres. Dossiê Memória Social da Leitura, Revista
Horizontes, Bragança Paulista, n o 15, Editora Universidade São Francisco, 1997.

CASCUDO, Luiz de Câmara. Antologia do Folclore Brasileiro. São Paulo: Martins,


1965.

LUYTEN, Joseph M. Desafio e repentismo do caipira de São Paulo. In: BOSI,


Alfredo. (Org.). Cultura brasileira: temas e situações. 4. ed. São Paulo: Ática, 2006 .
ORTIZ, Renato. Cultura popular: Românticos e folcloristas. São Paulo, PUC-SP,
1985.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 762
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O MONITORAMENTO DA AGENDA GLOBAL DE EDUCAÇÃO


2015-2030: AÇÕES DESEMPENHADAS PELA CAMPANHA
NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO AO PNE.

Jociene Araújo Lima1 Emanuela Rútila Monteiro Chaves2

Palavras-chaves: Crise Estrutural do Capital. Campanha Nacional Pelo Direito à


Educação. Agenda Global de Educação 2030.

INTRODUÇÃO
Estamos inseridos atualmente em um cenário de profunda crise, definida por Mészáros
(2010), como uma crise que possui um caráter crônico e sistêmico, que tem sua raiz na
economia e perpassa todas as esferas sociais, dentre elas a educação. A educação, neste cenário
de crise sistêmica, ganha uma destacável função, sendo pensada com o objetivo de enaltecer o
capital, através de um fictício papel amenizador das dificuldades sociais ocorridas no mundo.
Mendes Segundo (2005), assevera que o grande responsável pela propagação e manutenção da
função atribuída à educação pelo capital são as organizações multilaterais, algumas de caráter
internacional, como o Grupo Banco Mundial, que têm ao longo do tempo, difundido o discurso
que associa diretamente educação ao alívio da pobreza.
Dessa forma, podemos destacar a década de 1990 como o período em que a educação
passou a receber recomendações e estratégias internacionais. Essa interferência se deu por meio
de documentos derivados de conferências nacionais, regionais e internacionais do Movimento
de Educação Para Todos (EPT), com destaque para a Declaração de Jomtien (1990) e o Marco
de Ação de Dakar (2000). Esses documentos, influenciaram fortemente as reformas educativas
de cunho neoliberal nos países de periferia do capital. O movimento de EPT, de acordo com
Mendes Segundo (2005), tem como estratégia divulgar o papel atribuído à educação na
superação da pobreza e na promoção de países desenvolvidos economicamente. Seguindo essa
lógica de homogeneização das políticas de educação, foi aprovado um novo compromisso,
agora de caráter global, enquanto recorte do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS)
4, no rol da Agenda da Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, a Agenda Global
de Educação é monitorada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE).
Um dos principais instrumentos que vem dando continuidade à agenda internacional
aliado às diretrizes do Banco Mundial no Brasil, agora sob a denominação de Agenda
Educativa Global 2030, é o Plano Nacional de Educação (PNE), regulamentado pela Lei nº
13.005/2014. Atualmente, contamos com algumas organizações não governamentais que
buscam monitorar e efetivar as metas do PNE, com o discurso de defender o direito à educação
e reforçar movimentos em prol de uma educação de qualidade. A CNDE, faz um trabalho de
monitoramento das metas do PNE no Brasil, trazendo o que já foi concretizando e fazendo uma
análise crítica dos desafios que permanecem.

1
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte- UERN. E-mail: jocienelima@alu.uern.br
2
Professora do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte- UERN. E-mail: emanuelarutila@uer.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 763
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Dessa forma, ao longo dos anos, a CNDE vem desenvolvendo no Brasil, várias ações
na concretização das metas do PNE, articuladas às metas internacionais para a educação.
Assim, o objetivo geral deste trabalho é analisar quais são as ações desenvolvidas pela
Campanha Nacional pelo Direito à Educação na concretização das metas da Agenda Global de
Educação 2015-2030, a partir do monitoramento e do engajamento da mesma, em prol da
concretização do PNE, tendo como foco os documentos resultantes das Semanas de Ação
Mundial (SAM).
que são eventos organizados pela CNDE a fim de promover uma discussão em torno
do monitoramento do PNE, desde 2014.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia usada neste trabalho se fundamenta na ontologia de Marx, dando a
devida centralidade ao objeto e enfatizando a primazia da realidade histórico-social, sobre o
conhecer. A ontologia de Marx, que tem no trabalho a categoria fundante do ser social,
considera a realidade enquanto compósito entre essência e aparência, no qual se articulam
singularidade e universalidade, tendo como matriz objetiva a categoria da possibilidade no
sentido de instauração do trabalho livremente associado, emancipado do jugo totalizante e
opressor do capital (TONET, 2013). Assim, conforme o objeto de estudo, a pesquisa apresenta
cunho bibliográfico e documental, visando analisar as ações desenvolvidas no Brasil para
concretizar a agenda Global de Educação 2015-2030, associada aos ODS, a partir do
monitoramento e do engajamento da CNDE, em prol da concretização do PNE 2014-2024.
No início do texto, será contextualizado brevemente o surgimento da CNDE, sua
organização e a relação entre ela e as diretrizes do Banco Mundial no Brasil. A análise e atuação
da Campanha se baseará nas análises de Tuão (2017) e no site da organização. Em seguida,
analisaremos os documentos das SAMs, a partir das reflexões de Leher (1998), Pereira e
Pronko (2018), Chaves (2019), destacando as ações desenvolvidas pela Campanha na
concretização das metas da Agenda Global de Educação 2015-2030 que tem articulação direta
com as metas do PNE, destacando um olhar crítico ao monitoramento executado pela
Campanha.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A CNDE foi criada em outubro de 1999, no contexto de avaliação das metas de
Jomtien e discussão inicial em torno das metas de Dakar, tendo como fundadores um grupo de
organizações da sociedade civil. A CNDE, neste cenário de criação, tinha com eixo basilar
atuar na busca de parcerias que transformassem os rumos das políticas, até então estabelecidas
no campo educacional, em políticas baseadas em seus princípios. Através de seu discurso de
buscar como prioridade o direito de todos á educação, que segundo Neves (2010), são direitos
pautados nos documentos internacionais, a CNDE tem defendido os interesses internacionais
e particulares nas políticas públicas do Brasil.
Atualmente a CNDE, tem tido um extenso poder de interferência e controle das
diretrizes para a educação nestes eventos, se colocando como única organização da sociedade
civil que tem buscado inserir nas políticas educativas. Dessa forma, grande parte do
financiamento das ações do CNDE são advindas do financiamento da Unesco (Organização
das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura), que é atualmente uma organização
subordinada aos ditames do Banco (LEHER, 1998). Dessa forma, mesmo a CNDE, criticando
a política de rendimento e avaliações, pautadas nas recomendações do Banco Mundial e da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ela defende as

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 764
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

políticas e as concepções de educação ditadas pela Unesco, que é um organismo que vem
coordenando as metas neoliberais para as políticas de educação no mundo. A articulação entre
a CNDE e o Banco, vai muito além da Unesco. O Banco ao longo de sua atuação nas políticas
educativas tem conseguido parceiros para atuar a seu favor. Segundo Pereira e Pronko (2018),
estes parceiros atuam na continuidade e prevalência de suas políticas neoliberais dentro dos
países. Essas parcerias, na maioria das vezes, são de entidades civis, que não tem influência
direta no governo ou nas políticas educacionais, mas suas interferências e articulações têm
grande poder de decisão nos rumos que as políticas educacionais tomam nos países a favor das
diretrizes do Banco. De acordo com Tuão (2016), a defesa dessas políticas por parte da CNDE,
tem a intenção de criar um consenso em torno das ideias defendidas pelo Banco para o setor
educacional.
A CNDE conta com grandes articulações e colaboradores, que em parceria com a
campanha tem organizado a SAM. Estes eventos estão situados no rol das principais ações que
a CNDE desempenha para efetuar o monitoramento do PNE. Porém, a CNDE desenvolve
outras ações em paralelo com as SAM na busca pela concretização do PNE. Uma dessas ações,
é a estratégia de articulação institucional, que é a mobilização popular. Como representante da
sociedade civil, a CNDE vem conseguindo um público que tem defendido seus interesses em
diferentes espaços, envolvendo várias pessoas da sociedade civil neste processo, ganhando um
espaço de aceitação nacional e internacional. Outra ação da campanha na busca pela
concretização do PNE, é o conhecimento sobre o plano e sobre a conjuntura política que o
Brasil está inserido. A CNDE, destaca que tem promovido a produção de conhecimento através
de documentos que vêm sendo lançados no site, fruto de pesquisas realizadas pela organização.
Esses documentos destacam que a comunicação, a formação de atores sociais, a proximidade
entre as discussões realizadas e a produção deste material disponibilizado gratuitamente com
uma linguagem acessível, tem conscientizado a população da urgência de se fazer cumprir o
PNE.
Assim, evidenciamos que nos documentos resultantes da SAM, do ano de 2015 a
2019, a CNDE tem deixado evidente, que como organização representante da sociedade civil,
tem feito um forte monitoramento ao PNE, se empenhando em garantir que se faça cumprir
todas as metas que a Agenda Global de Educação tem estabelecido, já que o PNE é o
instrumento de alcance dessas metas no Brasil. Neste sentido, é evidenciado em cada
documento e evento proposto pela campanha que as ações traçadas para concretizar o PNE,
na verdade tem uma intenção articulada ao cumprimento da Agenda Global de Educação 2030,
que são exigências de muitas instâncias multilaterais subordinadas ao Banco Mundial. Não é a
toa que este organismo internacional financeiro é responsável por criar metas e recomendações
na intenção de transformar o globo, através da educação, em um globo segundo as vontades
dos senhores do mundo (LEHER, 1998).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluímos, que a CNDE tem sido a principal organização que tem atuado no
cumprimento do Compromisso Global de Educação, uma vez, que ela vem desenvolvendo
várias ações e tem feito um forte trabalho de monitoramento das metas do PNE de modo
articulado com a Agenda Global de Educação. Todavia, não podemos deixar de enfatizar a
articulação existente entre a CNDE e as diretrizes das políticas do Banco. A participação da
CNDE na escrita do texto do Compromisso Global, influenciou diretamente na definição das
metas no Brasil. Dessa forma, podemos compreender que o texto defendido pela campanha
tanto na Agenda Global como no PNE, se contradiz com o discurso de política que ela vem
pregando, tendo em vista que ela critica as políticas neoliberais e cunho meritocrático que o

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 765
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Banco Mundial impõe, mesmo dando continuidade, em meio a algumas descontinuidades, ao


ideário da EPT, que segue a cartilha de políticas do Banco Mundial (CHAVES, 2019). Dessa
forma, não podemos nos deixar levar por seu discurso, uma vez que a campanha tem como
principal financiadora de seus eventos, organizações multilaterais que são subordinadas ao
Banco Mundial. Em suas recomendações esse organismo alia educação ao alívio da pobreza, e
formação de capital humano por meio do fomento de habilidades e competências como meio
de promover a tão propagada empregabilidade no cenário de expansão destrutiva do capital
globalizado.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Faculdade de Educação (FE), a Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte (UERN), e de modo especial, ao CNPq por proporcionar aos alunos programas como o
(PIBIC) que enriquecem ainda mais nossa formação por meio da pesquisa.

REFERÊNCIAS

CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO. Quem somos. A campanha.


ed.2003. Disponível em: https://campanha.org.br/quem-somos/a-campanha/. Acesso em: 09 de
janeiro de 2020.
CHAVES, Emanuela Rútila Monteiro. Crise estrutural, imperialismo e destrutividade do sistema:
projeto educativo de (in)sustentabilidade do capital na Agenda 2015-2030. (Tese de Doutorado)
Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós- graduação em
Educação Brasileira, FACED-UFC. 2019.
LEHER, Roberto. Da ideologia do desenvolvimento à ideologia da globalização: a educação
como estratégia do Banco Mundial para alívio da pobreza 1998.Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1998.

MENDES SEGUNDO, Maria das Dores. O Banco Mundial e suas implicações na política de
financiamento da educação básica no Brasil: o FUNDEF no centro do debate. (Tese de
Doutorado) Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós-
graduação em Educação Brasileira, FACED-UFC. 2005.

PRONKO, Marcela. O Banco Mundial no campo internacional da educação. In: PEREIRA,


João Márcio Mendes. PRONKO, Marcela (Org). A demolição de direitos: um exame das
políticas do Banco Mundial para a educação e a saúde (1980-2013). Rio de Janeiro: Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, 2014. p. 89-112.

TONET, Ivo. Método científico: uma abordagem ontológica. São Paulo: Instituto Lukács,
2013. 136 p.

TUÃO, Renata Spadetti. A Campanha Nacional pelo Direito à educação no Brasil:


fundamentos do projeto de concertação nacional. In: XXIX Simpósio Nacional de História -
contra os preconceitos: história e democracia. 2017. Anais eletrônicos. Brasília, UNB.
Disponívelem:<https://www.snh2017.anpuh.org/resources/anais/54/1502763687_ARQUIVO
_RENATA_SPADETTI_TUAO_ST_037.pdf>. Acesso em: 04/01/2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 766
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O MUNDO DA VIDA ESTÁ EM TODO ESPAÇO: DANÇA DE


CABOCLOS E SUA REPRESENTAÇÃO EM TODA REGIÃO

Maria do Carmo da Silva Vieira Neta1; Rosalvo Nobre Carneiro2


Palavras-Chave: Ações Comunicativas, Mundo da Vida, Cultura e Reprodução Simbólica.

Introdução

Esse artigo faz parte de uma pesquisa do Programa de Bolsa de Iniciação Científica
(PIBIC) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte campus Pau dos Ferros (CAPF),
que se trata do mundo da vida é suas ações comunicativa são ações que naquele tempo,2004
não era muito percebida mais já atualmente são muito notados, com isso podemos citar os três
mundos de Habermas, trata de sentimentos que com isso vem um conjunto que envolve raiva e
amor.Herrlein Junior (2007) vem falar que, sua teoria da ação comunicativa (TAC) tem como
problemática a investigação dos sintomas patológicos de desintegração social presentes na
sociedade contemporânea (capitalismo tardio), tais como a perda de liberdade, a perda do
respeito pela vida humana e a perda de significado da própria vida humana. No mundo social
são envolvidos por ações comunicativas que tem muito sentindo com a razão, que por exemplo
podemos se comunicar, com uma cultura ou população que se completa muito bem com o
primeiro mundo de Habermas, que se trata de sentimentos junto com ele vem a razão que é um
junto que vai se fecha, muito bem com o ultimo mundo que se chama subjetivo, que se cria a
sua própria identidade, ou seja através de seu meio comunicativo que ele pode se a cultura,
religião e crenças que com isso o ser humano cria a sua própria personalidade, que com isso
podemos te a sua própria opinião que vai gerar os valores a moral até mesmo em poder.

Na ação comunicativa, podemos perceber seis pontos chaves que caracteriza que são
comunicações cotidianos que se trata de trabalho voluntários que acontecer através de uma ação
que envolver a razão e emoção, no questionamento e ligado a incerteza algo que não tenha
comprovação que verdade, na situação ideal de fala se liga a argumentação que se trata
argumenta se explica ou chega a um conceito comum, o consenso está envolvido a chega a uma
conclusão de bom senso e por último a comunicações cotidianas que se trata de ideias e
sentimentos acontecer na troca de informação que acontecer por exemplo na sala de aula o
professor, está passando conhecimento para quem está ouvindo ou seja o aluno, está fazendo
uma troca de conhecimento. Ou seja, podemos perceber que para Habermas o ser humano e
construído por vários sentindo que nele envolver razão e emoção no mundo da vidapodemos
perceber que com isso tudo ao agir comunicativo se refere ao pensamento racional que podemos
usar a mente de maneira mais sensata que não pode mistura a emoção e a razão.

Manifestações espaciais da dança de caboclo ou malhação de Judas como é bem


conhecido no Brasil se se trata de uma cultura que está localizado em várias cidades da região
que nela acontece através do povo. A dança de caboclo ela é caracterizada simbolicamente com
sua pisada forte que através dela é uma forma de identificar a dança de caboclo ou malhação de
Judas na minha pesquisa foi percebido que os grupos de danças de cada região são reproduzido
através de pessoas da cidade, ou seja, é o próprio povão que trabalha para ter sucesso no grupo
1
Estudante do curso de Geografia do Departamento de Geografia da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte; e-mail:maryask@live.com
2
Professor Doutor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Espaço, Ensino e Ciências Humana
(GEPEECH) e Coordenador do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica
(PIBIC); e-mail: rosalvonobre@uern.br
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 767
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

A pesquisa foi feita a distância não tivemos como utilizar outros meios pois devido a
pandemia não tivemos como fazer observações a campo.A metodologia utilizada foi pesquisas
na internet e com pessoas da cidade, lembrando que devido a pandemia não foi possível ter
nossa primeira observação em campo mas com isso tudo não teve nenhum problema para
continuar pesquisa buscamos pessoas da cidade para identificar a cultura que tinha em cada
região e com isso percebemos que muitas cidades ainda não tem uma feira livre uma festa junina
uma festa da padroeira percebemos que ainda falta esse contexto para cidade.

Resultadose Discussões

Ao concluir a pesquisa percebi nitidamente a importância da cultura na cidade, em


cada região, hoje ela está envolvida em todo meio social de uma cidade.Observei também o a
falta de desenvolvimento de uma cidade que não tem um grupo de dança ou a tradição de festa
junina, deixa muito a desejar, pois é uma parte muito importante para o desenvolvimento da
cidade.

Figura 1: se refere ao levantamento onde se localizava os grupos de danças de caboclos em


cada região.

Conclusão

Como percebemos a ação comunicativa está em todo meio para uma pessoa ter
identidade ela tem primeiro que tem situação comunicativa individual ou seja preciso de
conhecer e ter sua própria identidade, com isso a manifestação espacial de dança de caboclo
está interligada uma com a outra pois para acontecer uma dança é preciso comunicação de um
grupo ou de uma população sabemos que a característica do da malhação de Judas são as pisadas
fortes que nela característica muita luta tem também a fantasia que tem que ser muito colorida
para ter harmonia todos os caboclos tem que estar com máscara para não perder a magia da
dança.

Agradecimentos

Quero dar meus agradecimentos por participar dessa belíssima pesquisa ao professor
doutor Rosalvo nobres Carneiro Por ter me orientado na pesquisa Sou muito grata a cada
conhecimento que me proporcionou não poderia deixar de fora ao amigo colaborador da

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 768
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pesquisa Fábio que sempre estava presente na reunião e dando aquele suporte a mais obrigado
a todos que proporcionaram uma pesquisa incrível.

Referências

HERRLEIN JUNIOR, Ronaldo. UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE


HABERMAS: TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA. Prâksis, Novo Hamburgo, v. 1, n. 4,
p. 49-58, jan. 2007. Disponível em:
https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistapraksis/article/view/598. Acesso em: 01 out.
2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 769
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O OUTRO COMO CRITÉRIO PARA O EXERCÍCIO DE UMA


FENOMENOLOGIA DA LINGUAGEM EM MERLEAU-PONTY
Joébesson Bonyelle Lima1. José Francisco das Chagas Souza2

Palavras Chave: Intersubjetividade. Percepção. Corpo próprio. Alteridade.

Introdução

Alguns dos questionamentos do filósofo, sobre a fenomenologia da linguagem e


alteridade já aparecem em sua obra Fenomenologia da percepção (1999), na qual Merleau-
Ponty (1908-1961) pesquisa as relações entre o sujeito, o outro, seu corpo e o mundo, onde
surgira o sentido de toda nossa experiência. Cujo objetivo deste projeto é apresentar seu olhar
sobre linguagem e do outro na referida obra.
Desta forma, o estudo em curso justiça-se a partir de conceitos da linguagem e a
alteridade a cada dia vêm despertando o interesse de alunos universitários e pesquisadores
sejam em busca de uma nova abordagem, ou melhor, compreensão dos textos presentes. A
linguagem para o filósofo francês é utilizada pelo eu e o outro, ambos partindo do entendimento
de experiência e existência no mundo.
É por meio da linguagem que torna possível a compreensão do outro e percebe a si
mesmo, construindo a comunicação entre eles. E o elemento principal para que seja possível a
relação intersubjetiva em sua fenomenologia é a percepção. Apresentando em sua tese o corpo-
próprio como expressão da linguagem. A linguagem tem uma função primordial em seu
pensamento, pois é através dela que estabelecemos a união entre o eu e outro. Os objetivos,
pois são os de Compreender os conceitos de Merleau-Ponty no contexto de sua concepção da
filosofia da linguagem: linguagem viva da fala falada e fala falante. Perceber que a percepção
e o corpo próprio são bases para se empreender uma linguagem encarnada no mundo vivido.
(CAMINHA, 2019). Escrever textos a partir de temáticas que envolvam a linguagem e eu-outro
– intersubjetividade na relação dialógica. Demonstrar nos estudos empreendidos por Merleau-
Ponty, além de atuais, instigam a novas descobertas e importância de uma linguagem inovadora
para a prática filosófica em nossos dias.

1
Estudante do Curso de Filosofia do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte-UERN; e-mail: joebssonlima@alu.uern.br .
2
Professor do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do rio Grande do Norte-UERN. Vice-líder
do GP – NEFHEM (Núcleo de Estudos em Fenomenologia, Hermenêutica e Mística); E-mail:
josefrancsico@uern.br .

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 770
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia.

O caminho até a elaboração de um artigo, já finalizado, assim como, do presente


resumo, se deu através de encontros de leituras e estudos dos textos extraídos das obras do
filósofo francês, Merleau-Ponty, a Fenomenologia da Percepção (1999) e a Prosa do Mundo
(2012), através de e destaques extraídos do próprio autor em outras obras: Signos (1991) e
Conversas (2004), e de comentadores, (CAMINHA, 2019; SOUZA, 2019), bem como da
pesquisa que apontará temas inerentes, contrapontos e críticas ao tema geral deste Projeto, com
intuito de moldar caminhos para criação e produção de outros textos ou artigos provenientes da
análise que será feita durante o desenvolvimento das etapas que apontaram este Projeto de
Pesquisa. Documentações (fichamentos) das discussões. Semanalmente, conforme foi proposto
no cronograma do Projeto, depois de realizada antecipada leitura, aconteceu os encontros
presenciais no início, já os últimos meses, as atividades foram realizadas de forma remota-
síncrona via plataforma do Google Meet. As reflexões nos levam divulgar nos espaços internos
do Campus nos eventos agendados para o final do ano. A temática será divulgada no Salão
PIBIC-2020 que ocorrerá como primeiro espaço da divulgação deste trabalho. Além do mais,
o artigo elaborado como produto deste projeto poderá ser publicado em Revista Acadêmica
e/ou e-books que professores estão organizando.
Resultados e discussões.
A partir de estudos realizados e tendo por base o pensamento fenomenológico da
linguagem, o autor contemporâneo aqui estudado, produzimos um texto com estudo mais
detalhado como produto final das pesquisas realizadas durante a vigência do PIBIC que ora
termina. Quase todas as obras do principal autor usado na pesquisa, faz referências à linguagem
e sua ação viva exercida como existência do ser. As vantagens se juntam às redescobertas do
pensamento do referido autor em se tratando da linguagem, bem como os artigos, dissertações
e teses que vem se produzindo nos últimos anos no Brasil. A limitação maior detectada fica por
conta de importantes obras ainda não estão traduzidas para a Língua Portuguesa. As reflexões
nos levam divulgar nos espaços internos do Campus. A temática será divulgada no Salão
PIBIC-2020 que ocorrerá como primeiro espaço da divulgação deste trabalho. Após este
momento, a proposição será de continuidade nas pesquisas e aprofundamento na problemática
ora trabalhada.

Conclusão
O objetivo desta síntese foi descrever o percurso de Merleau-Ponty em sua obra
Fenomenologia da Percepção (1999) no que diz respeito à linguagem e alteridade. Após trilhar

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 771
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

nos textos de Husserl que tradicionalmente via a linguagem apenas como eventualidade da
consciência, o filósofo francês torna possível a fenomenologia da linguagem e a alteridade, algo
importante para a vida humana, da qual estamos inseridos no mundo. A linguagem na visão
merleau-pontyana, é criação que o sujeito faz no ato da fala, uma linguagem que o mesmo
descreve como modalidade do corpo.
Compreende-se que Merleau-Ponty retorna a fenomenologia, valendo-se de pontos
específicos como a percepção e gesto corporal enquanto expressão da linguagem. O corpo para
o filósofo passa a ser destaque o centro do mundo e no processo da linguagem. Procurando
construir uma nova forma de pensar por meio do eu e o outro, numa relação de experiências
vivenciadas no mundo. Dessa forma, a pesquisa encontra-se em abertura que permite
acréscimos, novos olhares e perspectivas na abordagem de uma linguagem viva sempre em
devir.
Agradecimentos
Os agradecimentos pelo bom êxito e realização do Projeto deveu-se à bolsa PIBIC
concedida pela PROPEG/UERN. Ao departamento de Filosofia/UERN – Campus Caicó e o
compartilhamento dos saberes ao longo do ano de vigência do PIBIC/2019-2020.
Referências
CAMINHA, Iraquitan de Oliveira. 10 lições sobre Merleau-Ponty/ Iraquitan de Oliveira
Caminha. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. - (Coleção 10 Lições).

MARTINI, Oneide Alves. Merleau-ponty: corpo e linguagem: a fala como modalidade de


expressão/ Oneide Alves Martini. São Paulo, 2006.

MERLEAU-PONTY, Maurice, 1908-1961. Fenomenologia da Percepção; [tradução Carlos


Alberto Ribeiro de Moura]. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. - (Tópicos)

MERLEAU-PONTY, Maurice, 1908-1961. Signos; [tradução Maria Ermantina Galvão Gomes


Pereira]. 1ª edição brasileira. S. Paulo: Martins Fontes, 1991.

MERLEAU-PONTY, Maurice, 1908-1961. Conversas, 1948/ Maurice Merleau-Ponty:


organização e notas de Stéphanie Ménasé. Trad.: Fabio Landa & Eva Landa. Revisão da
tradução: Maria Appenzeller. São Paulo: Martins Fontes, 2004. (Tópicos).

MERLEAU-PONTY, Maurice, 1908-1961. A Prosa do Mundo. Tradução de Paulo Neves e


Maria Ermantina Galvão Gomes Pereira. São Paulo: Cosac Naify, 2012.

MERLEAU-PONTY, Maurice. O visível e o invisível. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2014.


SOUZA, José Francisco das Chagas. Travessia e Desvelamento do Ser-tão Linguístico de
Grande Sertão: Veredas a partir da Fenomenologia da Linguagem de Merleau-Ponty.
2019. 243 f. (Doutorado em Letras/PpGL/UERN). Pau dos Ferros-RN, 02/02/2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 772
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O PLANO LOCAL DE HABITAÇÂO DE INTERESSE SOCIAL DE


MOSSORÓ E SUA VINCULAÇÂO COM O ESPAÇO POLITICO
NACIONAL

Paulo da Silva Santos1; Jionaldo Pereira de Oliveira.2

Palavras-chave. Desigualdade social, PLHIS, Mossoró, Geografia Urbana, Políticas


Públicas.
Introdução

Neste projeto nos propomos a estudar o PLHIS, na cidade de Mossoró, localizada no


Estado do Rio Grande do Norte. Compreendida aqui como uma cidade que cresce as margens
da (des)legalidade, através do processo de uso e ocupação do solo nas comunidades carentes.
Procuramos um enfoque em pesquisa qualitativa, através das discussões do PLHIS.
Trazendo à tona as representações que a população pobre de Mossoró carrega em suas lutas
pelo acesso ao espaço urbano.

Buscamos compreender como se deu a desigualdades social e habitacional no


município de Mossoró e por qual motivo o PLHIS não foi implantado, uma vez que o
município contratou uma empresa de Natal para a elaboração do Plano. Mossoró começou
se originar uma cidade informal, que tem como traços dos loteamentos clandestinos e
irregulares, cortiços, conjuntos irregulares, áreas de risco, esses traços vêm acontecendo
desde a sua morfologia. Em nosso trabalho damos ênfase na moradia precária, como aquelas
que tomam parte do processo de favelização.

O PLHIS, Plano Local habitacional de Direito social, que é o enfoque deste projeto,
seria uma medida para ameninar a desigualdade social e habitacional que perpetua dentro do
território de Mossoró. O PHLIS, é um projeto de lei, oriundo da gestão do ex presidente,
Luiz Inácio Lula da Silva, projeto esse que busca diminuir a desigualdade habitacional que
se alastra por todo país, incluindo Mossoró.

1
1Estudante do curso de Geografia do Departamento de DGE- Departamento de Geografia- da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: paulosantos@alu.uern.br
2
Professor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte do Líder do
Grupo de Pesquisa Grupo de estudos Urbanos e Regionais e-mail: jionaldooliveira@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 773
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (Lei Federal n° 11.124/05,


SNHIS) criado no ano de 2005, com a aprovação do Projeto de Lei de iniciativa popular
apresentado ao Congresso.

Parafraseando OLIVEIRA, Mossoró elaborou o seu PLHIS, Plano de Habitação de


Interesse Social, no ano de 2009, como requisito de Lei 11.184/05. O mesmo Plano se quer
foi aprovado pela câmara de Vereadores.

Atualmente é possível observar uma nova complexidade no movimento de


reprodução social de Mossoró, que se baseia num conjunto de atividades
econômicas e convive com específicos problemas urbanas, muitos dos quais
influenciados pelas desigualdades sociais. (OLIVEIRA, 2014, p. 40.).

Assim sendo, o autor reafirma que Mossoró vive em um intenso processo de


desigualdade social, que existente desde a sua morfologia, que vem sendo ampliada pelas
atividades econômica existente no municio que perpetuará ainda mais esta desigual social e
habitacional.

O projeto tem como objetivo, averiguar e desvendar por qual motivo o PLHIS, Plano
Local de Interesse Social, não está sendo revigorando perante a lei no município de Mossoró.

Metodologia

Para a realização desta pesquisa qualitativa, foi utilizado como metodologia


levantamentos bibliográficos (livros, artigos científicos e leitura de dispositivos legais).
Ancorando-se em trabalhos como o de SANTOS (2008), SANTOS (1997). Deste modo,
analisamos as divergências e afinidades dos textos de leis e seus respectivos significados;
houve também uma Interação para compartilhar os resultados e experiências sob as
orientações do professor orientador do projeto. Ao fazermos uma pesquisa de campo, que
infelizmente não foi possível fazermos em todos os bairros previstos, em razão da expansão
do Covid-19, mas aos bairros que fomos, conseguimos ver a imensa desigualdade social
crescente em Mossoró, pessoas vivendo literalmente de formas precária, tanto social como
habitacional. Tentamos ter um encontramos presencial com Katia Pinto, atualmente
responsável pela área de habitação da cidade, ria de regra devido ao covid-19, não foi
possível, então resolvemos a fazer a solicitação do PLHIS, mas a secretaria informal que o
mesmo não foi convertido em lei municipal.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 774
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultados e Discussões

Vejamos agora, uma foto, que foi tirada na aula de campo.

Fonte: Pesquisa de campo.

A imagem acima, mostra a ausência do PLHIS, que amplia a desigual social e


habitacional em Mossoró, onde de acordo com relatos de moradores, eles vivem à mercê da
sorte, pois quando chove, a situação fica terrível, pois com os esgotos a céu aberto, em
algumas casas a água suja, invadem as casas dos moradores, a coleta de lixo não é regular.
O abastecimento de agua em alguns desses bairros não são regulares.

Tudo isso acontece pelo fato das políticas públicas não serem de fato executada,
como PLHIS, o Plano Diretor, que precisa ser reformulado em Mossoró, pois não
corresponde os anseios da população em um modo geral principalmente dos mais pobres,
vale salientar que o Estatuto da Cidade, também não é posto em pratica no município. Então,
todas essas ações que não são complicas pelo poder executivo, tende a aumentar a
problemática da desigualdade social e habitacional em Mossoró.

Vejamos, mais uma imagem, que retrata a condições precária desta população, que
vivem literalmente excluídas, pelas políticas públicas. (PLHIS).

Fonte: Pesquisa de campo.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 775
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Ao analisamos está imagem, levantou-se alguns questionamentos, como por qual


motivo, esses bairros apesar de serem exclusos pelo PLHIS e de mais políticas públicas,
continuam crescentes? E chegamos a uma conclusão, aplicada na visão da Geografia política
e da Geografia urbana, juntas. Primeiro a ausência do Estado para a população pobre é
mínima, logo essa camada da população não irá bairros nobres ou médio, onde já é
perceptível, uma ação pública mais eficaz, por tanto essas populações pobres irão construir
suas casas nestes bairros, que estamos investigando, Quixabeirinha, Dix-Sept Rosado, Bom
Jesus e por fim Dom Jaime Câmara, pois são neles onde o preço do solo é mais barato, logo
será lá que eles irão viver, mesmo sem condições satisfatórias para viver em alguns casos.

Conclusão.

Concluo afirmando que o PLHIS, surgiu para amenizar as desigualdades sociais e


habitacionais dos municípios, via de regra, concluímos que há um descaso coletivo no
município de Mossoró com a aplicação desta lei, que compreende ao poder executivo,
legislativo e boa parte da população que sabem dos seus direitos e não cobram das esperas
competentes. Lembrados também que está problemática não é fato insolado, se estende a
boa parte do território brasileiro.

Agradecimentos

Agradeço a Deus em primeiro lugar, pela dadiva da vida, agradeço ao meu orientador,
Professor Jionaldo Oliveira, por ter prestado todo auxílio e a quem sou grato. Obrigo a CNPq,
agradeço a UERN.

Referencias

OLIVEIRA, J. P. Mossoró: espaço urbano e questões habitacionais. Mossoró-RN: Edições


UERN,
2014. ______. Mossoró: política urbana e habitação. Mossoró: Edições UERN, 2016.
Plano Local de Habitação de Interesse social – PLHIS: Relatório Preliminar. Mossoró,
2009.
SANTOS, M. A urbanização brasileira. – 5. ed. – São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2008.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo. Razão e emoção. 2. ed. São Paulo:
Hucitec, 1997.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 776
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O REGIME DE COLABORAÇÃO ENTRE MUNICÍPIO E UNIÃO NA


IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS DE FORMAÇAÕ INICIAL DE
PROFESSORES VINCULADO AO PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS (PAR)

Gabriela de Oliveira Araújo1; Francisca Edilma Braga Soares Aureliano2

Palavras-chaves: Relações Colaborativas. Formação Docente. Planejamento de


Educação.

INTRODUÇÃO

Na atualidade a uma grande preocupação com a educação, e em particular a


formação dos profissionais da educação básica e suas condições de trabalho, Segundo
Gatti (2012), quando bem realizada a formação, permite ao professor realizar uma
continuação, avançando em seu aperfeiçoamento profissional. Dessa maneira a formação
é uma exigência dos organismos internacionais para uma melhor qualidade da educação.
Diante dessa necessidade percebe-se a importância do surgimento de estratégias
que os entes federativos (União, Estado, Distrito federal e Municípios) possa se articular
na busca pelo processo de formação. Dessa maneira o Regime de Colaboração previsto
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.94/96 e a Constituição
Federal de 1988, passa a ser recomendado pelo Plano de Metas Compromisso Todos pela
Educação constituído pelo Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007 que também
implantou o Plano de Ação Articulada (PAR) como um sistema de ações de apoio técnico
e financeiro, com o objetivo de mobilização em torno da educação básica, pautada em sua
melhoria, como um programa de medidas do Ministério da Educação. O PAR foi
implementado junto com o Plano de Desenvolvimento de Educação (PDE) com o
propósito de efetivar as ações do Plano Nacional de Educação (PNE).
Dessa forma a pesquisa tem como objetivo analisar as ações de formação inicial
de professores do PAR (2016-2019) implementadas no município de Olho D’Água do
Borges, verificando como ocorre os mecanismos utilizados pelo MEC para efetivar o
regime de colaboração na efetivação das ações, diagnóstico e planejamento nas políticas
educacionais que é idealizado para estruturar e coordenar metas definidas de forma
estratégicas, que auxilia para a construção de um sistema nacional de ensino com mais
recurso e qualidade.

METODOLOGIA

O presente trabalho é resultado do projeto de pesquisa do Programa Institucional


de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) apoiada pelo Conselho Nacional e
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) vinculado à Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (UERN) Campos Avançado de Patu (CAP), intitulado: “Plano
de Ações Articuladas: as relações de colaboração entre município e união para

1
Graduanda do Curso de Pedagogia do Campus Avançado de Patu da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, e Bolsista CNPq do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC.
Email:ghabii.araujo55@gtmail.com
2
Professora Dra. do Curso de Pedagogia do Campus Avançado de Patu da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte e coordenadora do Projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica.
Líder do Grupo de Pesquisa FORMACE do DE/CAP/UERN. Email: edilmaaureliano@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 777
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

implementação de políticas de formação de professores”, que teve como plano de


trabalho: “O regime de colaboração entre município e união na implementação de
políticas de formação inicial de professores vinculadas ao Plano de Ações Articuladas”
(PAR). O estudo teve como campo de pesquisa a Secretaria Municipal de Educação do
município de Olho D’Água do Borges- R/N e como sujeito da pesquisa o Dirigente
Municipal de Educação. O instrumento de coleta de dados utilizada foi a entrevista
semiestruturada.
O método adotado foi o da pesquisa crítica que se pauta nas bases teóricas do
materialismo histórico-dialético que se caracteriza pelo movimento do pensamento
construído em meio às contradições da vida social e criticar os determinismos filosóficos
da teoria do conhecimento (LUKÁCS, 2010). Os procedimentos da pesquisa perpassaram
pela revisão da literatura sobre os conceitos teóricos em discussão no cenário acadêmico
em torno do planejamento educacional, regime de colaboração, relações federativas e
formação de professores (GATTI, 2012; ABRÚCIO, 2010; SAVIANI, 2009) que darão
sustentação a análise dos dados. Além disso, foi realizada a análise de documentos
relacionados a criação e a formulação do PAR do referido município; à aplicação de
questionário para caracterização dos sujeitos e entrevistas semiestruturas. Os dados foram
estruturados para análise em núcleos de significação (AGUIAR; OZELLA, 2013) e em
seguida entrecruzados com o referencial teórico adotado.
A coleta de dados foi realizada em fevereiro de 2020. Nessa circunstância,
utilizou-se gravador de áudio, um roteiro que possibilitou nortear um diálogo entre o
sujeito pesquisado com a finalidade de aprofundarmos mais a temática abordada.

RESULATADOS E DISCUSSÃO

O PAR teve sua primeira implementação no município em 2007, considerando o


grande número de escolas com o baixo índice de desenvolvimento da média nacional. Em
análise dos recursos do Plano para a educação do município verifica-se as relações
federativas entre a União e o Município no desenvolvimento das ações.
Na edição do PAR (2016-2019) os programas que dão acesso a formação inicial
aos profissionais que já atuavam em sala de aula, o município de Olho D’Água dos Borges
não foi contemplado, pois todos os professores eram licenciados em suas respectivas
áreas de atuação. O referido município teve acesso as ações de formação inicial na
primeira edição do PAR (2007-2011).

[...] é de suma importância esse plano pois os recursos vêm pela ação
do PAR. [...] Todos são em regime de colaboração com os entes
federados, porque já está no Plano Nacional de Educação e no Plano
Municipal de Educação e é de forma articulada. (DME. Entrevistada.
Olho D’água do Borges-RN 21/03/2020).

A entrevistada ver o PAR como um mecanismo de apoio ao sistema de ensino


municipal para viabilizar as ações do PNE e do PME. O PAR se institui por um termo de
cooperação entre o MEC, os estados e os municípios para que possam estes receber
recursos adicionais. Na execução da pesquisa vemos que o município de Olho D’Água
do Borges – R/N, tem o Plano de Ações Articulas como programa que se encontra em
vigência, porém no que se refere a formação dos profissionais.

Na cidade, com o programa PROFORMAÇÃO onde os professores que


participava da formação tinha que se desloca até o município de Patu -
RN onde tinha o Campus UERN que oferecia o curso na modalidade

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 778
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

presencial. Após a LDB os professores da rede pública no município


passaram por um concurso público onde o critério era o processo
seletivo que só dava acesso ao profissional que possuía formação de
nível superior, depois passou-se a preparar esses profissionais para
especializações e formação continuada. (DIRIGENTE MUNICIPAL.
Entrevistada. Olho D’água do Borges-RN 21/03/2020).

Portanto, na última edição do PAR de Olho D’Agua dos Borges (2016-2019) não
gerou nenhuma ação para formação inicial, visto que antes no período de elaboração do
plano todos os professores já tinham formação inicial na área em que atua, pois o
município realizou concurso público, e tinha a licenciatura como critério para
contratação. A DME, relata que todos os docentes que atuam na educação básica já têm
a qualificação na área específica.
Sabemos que o plano é uma estratégia que transfere recursos para o município em
regime de colaboração, mas que nem sempre atende ao cronograma que foi elaborado e
aprovado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), mas o governo
federal atrasa na liberação dos recursos financeiro, e como o município é pequeno e
basicamente não tem arrecadação fiscal, não tem como dar andamento às ações porque
não dispõe de recursos próprios.
É preciso que o regime de colaboração funcione como contrapartida dos entes
federativos para que ocorra um trabalho de excelência no ensino dos municípios, e não
uma transmissão de responsabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De cordo com a pesquisa realizada pode-se considerar que o Município de Olho


D’Água do Borges – R/N, tem o Plano de Ação Articulada como ferramenta de suma
importância para os recursos no Município, realizando a atualização constantemente,
porém encontra em processo de análise para alguns recursos, pois a escola Municipal
estar inadimplente por falta de conclusão da obra, sendo assim fica restrito os recursos
para a educação básica e as assistências técnicas do MEC para o município.
Analisando o regime de colaboração proposto pelo PAR para a implementação da
formação inicial, constatamos que não foram geradas ações pelo PAR (2016-2019) no
município, somente para a formação continuada e recursos financeiros que provoca
efeitos de mudanças nas diferentes áreas da educação (educação infantil, anos inicias e
anos finais), voltada para o aperfeiçoamento dos professores. Isso ocorreu, porque no
diagnóstico da realidade local, o município informou que todos os professores já tinham
formação específica para atuar no magistério. Além disso, o município estabeleceu cursos
de licenciatura como exigência nos concursos públicos para professores.

REFERENCIAS:

AGUIAR, Wanda Maria Junqueira de; OZELLA, Sérgio. Apreensão dos sentidos:
aprimorando a proposta dos núcleos de significação. Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, Brasília, DF, v. 94, n. 236, p. 299-322, jan./abr. 2013.

ABRUCIO, Fernando Luiz. A dinâmica federativa da educação brasileira: diagnóstico e


propostas de aperfeiçoamento. In Oliveira, Romualdo Portela de; Santana, Wagner (orgs).
Educação e federalismo no Brasil: combater as desigualdades, garantir a diversidade.
Brasília: UNESCO, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 779
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BRASIL. Palácio do Planalto. Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> . Acesso em: 25
de jul. de 2020.

BRASIL. Decreto nº 6094 de 24 de abril de 2007. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Decreto/D6094.htm>.
Acesso em: 25 de jul. 2020.

GATTI. Bernardete A. Formação Inicial de Professores para a Educação Básica:


Pesquisas e Políticas Educacionais. Disponível em:
<http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1899/1899.pdf>. Acesso em:
09. ago. 2020.

LUKÁCS, G. Prolegômenos para uma ontologia do ser social: questões de princípios


para uma ontologia hoje tornada possível. São Paulo: Boitempo, 2010.

OLHO D’ ÁGUA DOS BORGES. Plano de ações Articuladas. Secretaria Municipal de


Educação. Olho D’Água dos Borges-RN: 2016.

SAVIANI, Demerval. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do


problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de Educação. nv. 14 n. 40 jan./abr.
2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/rbedu/v14n40/v14n40a12.pdf >.Acesso em:
27 jun. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 780
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

OS USOS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO E A EDUCAÇÃO:


PESQUISA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA COM PROFESSORES DO
ENSINO MÉDIO
Ana Clara Dantas de Souza 1, Ana Beatriz de Oliveira 2, Izabel cristina Batista Alves 3, Maria
Eduarda da Costa Lopes4, Nívea Lara Martins de Moura5,Layza Thalya da Silva Rosa 6,
Jucieude de Lucena Evangelista 7

Palavras-chave: Educação; Meios de comunicação; Formação; Cultura midiática.

Introdução
Este projeto consiste na continuidade do projeto submetido ao Edital PIBIC-EM, edição
2018-2019. A pesquisa iniciada em 2018 possuia caráter exploratório sobre os usos dos meios de
comunicação na educação, sendo direcionada aos estudantes do Ensino Médio. O projeto agora
apresentado mantém o caráter exploratório, porém esta pesquisa foi ao uso dos meios de
comunicação com peos professores. Através desse estudo pretendiamos colher dados, que
associado aos dados levantados na primeira parte da pesquisa, nos ajudassem a compreender a
presença e osfluxos operados pelos meios de comunicação na escola, considerando conflitos e
diálogosentre os mesio de comunicação e o universo institucional e sociocultural escolar.
Partimos da ideia de que os meios de comunicação desenvolvem papel formador e
socializador na contemporaneidade, paralelamente ao papel que a escola desenvolve com a
educação formal. Os procedimentos metodológicos deste projeto compreendiam três estratégias:
primeiro, a capacitação do estudante sobre os princípios do conhecimento e da pesquisa científica;
segundo, o exercício da prática da pesquisa baseado na elaboração e aplicação de instrumentos de
pesquisa quantitativa; terceiro, a avaliação pedagógica da pesquisa a partir de relatos de
experiência escritos pelos estudantes pesquisadores do Ensino Médio.
O objetivo geral da pesquisa era promover a iniciação científica para estudantes do Ensino
Médio através de uma pesquisa sobre os usos dos meios de comunicação e suas relações com a

1
Aluna do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Maria Stella Pinheiro Costa. E-mail:
anacsouza1766@gmail.com.
2
Aluna do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Maria Stella Pinheiro Costa. E-mail:
anabeatriz250620@gmail.com.
3
Aluna do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Maria Stella Pinheiro Costa. E-mail:
izabelb_alves@hotmail.com.
4
Aluna do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Maria Stella Pinheiro Costa. E-mail:
mariaeduarda644@gmsil.com.
5
Aluna do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Maria Stella Pinheiro Cos ta. E-mail:
laramartins321abc@gmail.com.
6
Aluna do primeiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Professora Maria Stella Pinheiro Costa. E-mail:
layza.thalya321@gmail.com.
7
Orientador. Professor de Departamento de Comunicação Social. Membro do Grupo de Pesquisa do Pensamento
http://propeg.uern.br/sic/anais/e do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Cultura e Sociedade. E-mail: jucieudelucena@uern.br.
Complexo 781
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

formação escolar. A pesquisa envolveu a atuação de seis estudantes do primeiro ano do Ensino
Médio. Como objetivos específicos pretendiamos estudar as relações entre a formação apreendida com os
meios de comunicação e a formação escolar por parte dos professores, investigar a percepção dos
professores sobre a formação apreendida por eles com os meios de comunicação, por fim, pretendíamos
conhecer como a cultura midiática está presente na sala de aula por meios dos professores.

Metodologia
As estratégias metodológicas foram divididas em três momentos: o primeiro momento, de
preparação do pesquisador do Ensino Médio; o segundo momento, de realização da pesquisa pela
elaboração e aplicação dos instrumentos de coleta de lados, pelo tratamento das informações
coletadas e pela elaboração de relatórios de pesquisa; o terceiro momento, de elaboração de um
relato de experiência do nosso grupo.
O momento de preparação correspondeu à nossa introdução como pesquisadores do
Ensino Médio no universo da pesquisa científica. Essa introdução foi feita através de uma
cpacitação de 30 (trinta) horas/aula, distribuídas em 10 (dez) encontros de 02 (duas) horas/aula.
Esses encontros foram realizados no ambiente da escola entre agosto e dezembro de 2019. A
abordagem do momento de preparação foi baseada nos seguintes conteúdos: princípios a relação
entre o conhecimento científico e o senso comum; noções de métodos e de teorias científicas;
noções de escrita científica; noções de sobre construção de um projeto de pesquisa; elaboração e
uso de instrumentos de pesquisa nas ciências sociais.
Esse processo deveria ter sido encerrado com a realização de um ensaio de pesquisa. Este
ensaio consistia na elaboração de um problema pelo nosso grupo, que fosse relativo ao universo
da nossa escola, para o qual seria elaborado um questionário, que seria aplicado com algum dos
seguimentos da escola. A partir dos dados coletado seria realizado o exercício de análise e de
produção de um texto contendo essa análise. A partir da experiência realizada com esse ensaio
seria desenvolvido o segundo momento da pesquisa.

Resultados e Discussão
Diante do retalo feito acima, o principal resultado que podemos apresentar sobre nosso
trabalho envolve o que está definido no objetivo geral da pesquisa, a promoção de iniciação
científica para estudantes do Ensino Médio. A estratégia desenvolvida para realizar esse objetivo
foi desenvolvida na primeira parte dos nosso trabalho, que correspondeu ao nosso momento de
preparação para fazer posteriormente a pesquisa sobre o uso dos meios de comunicação pelos
professores.
O momento de preparação foi ministrado pelo professor orientardor, Jucieude de Lucena
Eangelista. O conteúdo do curso de preparação foi trabalho através de uma apostila que teve como
referências os livros A Arte da Pesquisa (BOOTH, COLOMB, WILLIAMS, 2005), Ciências
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 782
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Humanas e Complexidade (BASTOS, 2009), Manual de Investigações em Ciências Sociais


(QUIVY, 2013) e Folosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras (ALVES, 2003).

A introdução no curso foi feita através do questionamento sobre o conhecimento


científico e sua relação com outros saberes. Nesta parte do curso, compreendemos que há saberes
diferentes do saber científico, como o senso comum e o pensamento mítico, que proporciona m
explicações diferentes para os problemas do mundo. O que caracteriza a separação da ciência em
relação a esses outros saberes é que ela se baseia em teorias e métodos de investigação
sistemáticos e rigorosos, baseados em fatos, no calculo e repetição de padrões.

Aprendemos que toda pesquisa começa com uma pergunta, que depois é transformada em
um problema. A pergunta é importante porque é a partir dela que colhemos imformações para
saber se ela pode ser transformada em um problema de pesquisa, além disso, as informações
coletadas nos ajudam a saber fazer as perguntas certas para encontrar um problema de pesquisa.
A prendemos sobre isso pela comparação entre problemas práticos e problemas de pesquisa.
Entendemos que um problema prático tem sempre uma solução prática, mas os problemas de
pesquisa não precisam ter uma solução prática. O resultado de um problema de pesquisa pode
ser alcançar um conhecimento que não tinhamos antes de começar a pesquisa. Assim, seus
resultados nem sempre são palpáveis.

Depois de ter um problema para investigar, entendemos que é preciso ter objetos para a
pesquisa. Toda pesquisa tem um objetivo geral e objetivos específicos. O objetivo geral é
importante porque ele expressa o principal propósito da pesquisa, enquanto os objetivos
específicos são importantes para a construir a metodologia. O objetivos específicos são ações que
realizamos para realizar o objetivo geral. Assim, a partir desse objetivos definimos as estratégias
do trabalho: quais dados serão coletados; como serão coletados; como serão trabalhados; quais
instrumentos de pesquisa serão usados. No nosso trabalho o istrumento de pesquisa seria o
questionário fechado com perguntas de multipla escola. Entendemos que, para elaborar um
questionário de pesquisa, é preciso relacionar as perguntas aos objetivos, porque elas devem
ajudar a coletar as informações que ajudem a realizá-los.

Dentre as nossas estratégias metodológicas estava a realização de um ensio de pesquisa.


Esse ensaio serviria para que experimentássemos o que foi estudado no cruso de preparação,
eleborando nosso próprio problema de pesquisa, pela elaboração do nosso isntrumento de coleta
de informações e pelo exercício de análise dessas informações. O objetivo geral do nosso ensaio
de pesquisa era compreender o entendimento que os estudantes da Escola Maria Stella, tinham
sobre o Novo Ensin Médio. Nossos objetivos específicos eram: conhecer como os estudantes têm
acesso às informações sobre a politica educacional; conhecer a opinião dos estudantes sobre os
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 783
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

cortes de recursos na educação; verificar o entendimento sobre as consequências que a nova


política tem sobre o futuro dos estudantes. A partir desses objetivos começamos a elaborar nosso
instrumento de coleta de dados. Cosntruímos um questionários, do qual apresntamos algumas
perguntas: as informações que você tem sobre o Novo Ensino Médio são suficientes para você
entender o que ele significa? Por qual meio de comunicação você se informa sobre o Novo Ensino
Médio? Você confia na qualidade das fontes de informação sobre o Novo Ensino Médio que você
tem acesso? Você busca informações diretamente no portal do Ministério da Educação – MEC,
sobre o Novo Ensino Médio?
No entento, o ensaio da pesquis não chegou a ser finalizado. O ensaio estava programado
para acontecer no primeiro bimestro de ano letivo de 2020. Durante o trabalho de elaboração do
questionário as atividades escolares foram suspensas em função da pandemia de COVID-19. Nos
primeiros meses, quando ainda não ocorriam atvidades remotas na escola, as ativisdades da
pesquisa foram completamente suspensas. Com das atividades escolares de modo remoto,
retomamos o trabalho da pesquisa, porém, sem a realização do ensaio que estava previsto
anteriormente. Seguimos direto para o trabalho de orientação para a construção do instrumento
de coleta de dados sobre o uso dos meios de comunicação pelos professores.

Apesar dessa tentativa de seguir com a pesquisa, as atvividades não avaçaram


adequadamente. Os encontros foram irregulares, sem a partiricpação completa de todo o grupo
de bolsistas. Houve rotatividdade na participação, a cada encontro os participantes não se
repetiam. Isso cocorreu principalmente pela dificuldade de uma boa conexão com a internte por
parte das bolsistas. Este fato, levanta o questioamento sobre as condições em que devem estar
ocorrendo o ensino remoto nas escolas de Ensino Médio. É evidente que esse questionamento
não está no universo de interesse da nossa pesquisa, mas consideramos pertinente levantá-lo por
que ele teve impacto direto sobre nosso trabalho. Além disso, o ensino remoto implica também
no uso de tecnologias de comunicação, estas sim dizem respeito ao nosso trabalho. Mesmo não
sendo possível efetivar a pesquisa que foi planejada, as condições que enfrentemos indica que é
preciso também refletir sobre essas condições no cotidiano do trabalho docente.

Referências
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Edições
Loyola, 2003.
BASTOS. Rogério Lustosa. Ciências Humanas e Complexidade : projetos, métodos e técnicas
de pesquisa. Rio de Janeiro: E-papers, 2009.
BOOTH, Wayne C, COLOMB, Gregory G., WILLIAM, Joseph M.. A Arte da Pesquisa. São Paulo:
Martins Fontes, 2000
QUIVY, Raymond, CAMPENHOUDT, Luc Van. Manual de investigação em Ciências Sociais. Lisboa
– PT: Gradiva, 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 784
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PARTICIPAÇÃO E DELIBERAÇÃO: UMA ANÁLISE DO CONSELHO


MUNICIPAL DE SAÚDE DE MOSSORÓ-RN

Nathália Caroliny da Cunha1; Terezinha Cabral de Albuquerque Neta Barros2.

Palavras-chave: Conselho Municipal de Saúde. Participação. Políticas Públicas.

Introdução
Depois da constituição de 1988, a participação passou a ser vista sob o prisma de um
novo paradigma – como participação cidadã, baseada na universalização dos direitos sociais,
na ampliação do conceito de cidadania e numa nova compreensão sobre o papel e o caráter do
Estado. Esta atividade cívica passou a ser concebida como elemento social periódico e
planejado ao longo de todo o circuito de formulação e implementação das políticas públicas,
porque estas ganharam destaque e centralidade nas estratégias de desenvolvimento,
transformação e mudança social.
Segundo GOHN (2001) conselhos gestores são canais institucionais, plurais,
permanentes autônomos, formados por representantes da sociedade civil e poder público, cuja
atribuição é a de propor diretrizes das políticas públicas, fiscaliza-las, controla-las e deliberar
sobre elas, sendo órgãos de gestão pública vinculados a estrutura do poder executivo, ao qual
cabe garantir a sua permanência. Os conselhos gestores se instauram enquanto instância
deliberativa e de controle social, no bojo de um processo de descentralização administrativa e
de ampliação da participação popular e surgem como instâncias para promover uma mudança
na gestão das políticas públicas a partir de “um novo padrão de relação entre Estado e sociedade,
criando novas formas de contrato social, por meio da ampliação da esfera social pública”
GOHN (Maria da Glória, 2001, pg.10)
No entanto, uma coisa é o que a lei assegura e outra é como ela será realmente na
prática. A grande questão é se esses espaços realmente atuam com a finalidade pelo qual foram
criados respeitando a paridade de seus membros e os princípios democráticos. Nesse trabalho,
iremos analisar o conselho de saúde de Mossoró para os anos de 2008 e 2019 procurando
responder se realmente este é um espaço participativo e democrático como prevê a sua
funcionalidade.

Metodologia

Como procedimento metodológico optamos pela pesquisa qualitativa. Inicialmente


nos determos sobre os principais teóricos que problematizam sobre Participação e Conselhos
Gestores, e as análises documentais (atas, regimento interno e aparato legal de suas atividades).
Na segunda fase realizamos a pesquisa observacional do campo, procurando verificar como
aconteciam as reuniões. O campo também foi importante para a realização de entrevistas com
os conselheiros.

Resultados e Discussão
Conselhos Gestores de Políticas Públicas foram criados com a função de fiscalizar e
deliberar sobre as políticas públicas de órgãos públicos, destinação de verbas e uma maneira da

1
Graduanda do Bacharelado em Ciências Sociais do Departamento de Ciências Sociais e Política (DCSP) da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail: nathaliia332@gmail.com
2
Professora do Departamento de Ciências Sociais e Política (DCSP) da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN); e-mail: terezinhacabral@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 785
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

população saber e até entender como se dão estes referidos processos. Na cidade de Mossoró,
situada no estado do Rio Grande do Norte, o Conselho de Saúde foi criado no ano de 1991, em
seu regimento interno sua atividade tem caráter deliberativo e permanente atuando na
formulação de estratégias e no controle da execução da política pública municipal de saúde,
inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas deliberações seguirão as diretrizes da
conferência estadual de saúde.
Em visitas as reuniões ordinárias, as discussões eram pautadas sobre a importância de
legitimar o conselho como uma ferramenta e um canal de participação onde todos pudessem
conhecer e entender como se dá o processo. A frequência das reuniões ao longo dos anos é uma
forma de verificar a atividade de funcionamento, já que a saúde é uma política pública das mais
importantes entre os direitos sociais, como podemos observar no gráfico abaixo a quantidade
de reuniões ordinárias e extraordinárias:

Figura 01: Frequência de Reuniões do Conselho Regional de Saúde de Mossoró de 2008 a 2019

23%

77%

Reuniões Ordinária Reuniões Extraordinária

Fonte: Dados da pesquisa. Elaborado pelas autoras, 2020.

Percebemos na figura acima que a quantidade de reuniões ordinárias prevalece em


maior número, com 77% isso revela o caráter planejando de seu funcionamento.
A composição junto ao conselho é realizada por diversas entidades como
universidades públicas, igrejas/religiões, movimento estudantil, pessoas com deficiência e
ONG, sindicato rural e urbano, serviços/conselho de classes/OAB. As funções dos membros do
Conselho não são remuneradas sob qualquer forma, sendo seu exercício considerado serviço
público relevante, sendo esses eleitos através de eleição direta através de voto secreto em urna.
Na figura 02 podemos observar a porcentagem de presenças e ausências nas reuniões dos
conselheiros.

Figura 02: Porcentagem das ausências e presença nas reuniões do Conselho de Saúde de Mossoró/RN

37%
63%

Ausenças Presenças

Fonte: Elaboração Própria, 2020.

Na análise constatamos que as ausências são mais significativas, com 63% do que as
presenças. Isso evidencia que as faltas dos conselheiros são constantes nas reuniões, o que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 786
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

prejuduca na continuidade das discussões assim como a própria importância na representação


de suas instâncias. Detalhando por ano na figura abaixo podemos analisar a quantidade de
ausências e presenças dos conselheiros durante os 11 anos. O que podemos inferir sobre o
comprometimento desses nas reuniões que pautam sobre a política de saúde.

Figura 03: Número de Reuniões realizadas anualmente pelo Conselho de Saúde de


Mossoró/RN de 2008 a 2019.
16

14

12

10

0
2008 2009 2010 2011 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Fonte: Autoria Própria, 2020.


Os dados revelam uma oscilação dessas reuniões no decorrer dos anos, demonstrando
que muitas das ocasiões, as reuniões não preenchiam o número mínimo de participantes para
sua realização, principalmente no ano 2011 e 2017.
Em entrevista3 com o Presidente do Conselho no ano de 2018, este afirmou que o
governo municipal não interfere em decisões do conselho, apenas é repassado às pautas e essas
pautas são debatidas. As decisões e sugestões voltam para a secretaria de saúde para viabilizar
os recursos para realizações das atividades do conselho. Ao analisar as atas, pode-se verificar
uma frequência considerável de reuniões, todo mês realiza-se uma e dependendo da urgência
de algumas pautas, o conselho se reúne em seções extraordinárias.
As pautas mais frequentes das reuniões ordinárias é a aquisição de leitos para UTI no
munícipio, ressaltando sempre que se faz necessário o aproveitamento e detalhamento correto
dos repasses, para que os conselheiros entendam como se dá o rateio da verba federal para a
saúde municipal. Destacando que são nas conferências municipais e estaduais, é que se dá o
planejamento anual, adaptações do Plano Operativo e do Plano de Ação- (PNAISARI) que é
uma parceria do ministério da saúde com a secretária de direitos humanos para auxiliar
adolescentes em conflito com a lei, credenciamentos de leitos para os hospitais dos municípios,
contratos que são emergenciais como cirurgias que não são realizadas em Mossoró, e que cabe
o munícipio encaminhamento para outras localidades.

Quadro 01 – As pautas que aparecem com mais frequência nas reuniões do Conselho Municipal de
Saúde de Mossoró
PAUTAS: FREQUÊNCIA:
Urgência e emergência da saúde mental 05 vezes
Repasses financeiros 17 vezes
Equipamentos adequados para as UBS 12 vezes
Atenção básica e saúde na família 19 vezes

3
Entrevista concedida no dia 19.11.2019

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 787
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

APAMIM (Maternidade Almeida Castro) 32 vezes


Liga Mossoroense de combate ao câncer 35 vezes
Aquisição de leitos de UTI para o município 42 vezes
Fonte: Elaboração Própria, 2020.

No conselho um dos aspectos citados foi sobre a importância de capacitações em


finanças, descrito em ata. Para que o conselheiro consiga repassar informações corretas e
precisas sobre o funcionamento financeiro tanto do conselho como da secretaria municipal.
De acordo com Gohn (2001) são necessárias capacitações, mas com ressalvas. Ela
afirma que
Devemos considerar duas questões: primeira – os sujeitos da ação, dos cursos,
devem ser oriundos da sociedade civil, bem como do aparelho estatal”. Em
alguns casos, o representante do poder público necessita até mais do curso-ele
não sabe compartilhar, decidir junto. A democracia deliberativa tem outra
lógica e outras exigências. Segunda – um curso não pode nunca ser visto como
uma mera capacitação técnica. Há que se desenvolver saberes ético-políticos
para que estes cursos acrescentem alguma coisa de fato significativa na prática
cotidiana daqueles cidadãos. (GOHN, 2001; p.10)
Conclusões
Conforme o regimento interno do Conselho Municipal de Saúde de Mossoró (CMS),
que rege em caráter deliberativo sempre chamando atenção na formulação de estratégias e no
controle da execução da política pública. Percebemos o debate para o investimento em
capacitações e engajamento das instituições e da sociedade civil, para que haja crescimento da
participação em suas deliberações. Seguindo o critério pelo qual criado de fiscalizar o
funcionamento do SUS, no âmbito municipal. No entanto, observamos que os conselheiros
ainda sentem dificuldade com relação a capacitações orçamentárias, dificuldades essas, que
fazem o conselho andar em passos mais lentos com relação a sua situação fiscal. Ainda assim,
ao analisar os gráficos percebemos ausências significativas e muitas vezes sem justificativa
acarretando longos períodos para resolução de pautas. Verificamos ainda que alguns anos as
reuniões foram de baixa frequência por falta de algumas atas e outras por não haver conselheiro
suficiente para o quórum. Concluo assinalando que ainda há um longo caminho para ser
trilhado de aprendizado para com o conselho como órgão deliberativo e por parte dos
conselheiros

Agradecimentos
Toda a minha gratidão a minha orientadora que mesmo em meio a tanta dificuldade,
me incentiva e me ajuda a crescer. Obrigada Terezinha, por ser inspiração. A UERN pela bolsa,
aos conselheiros que ajudaram na pesquisa e obrigada dona Edilene por gritar comigo
mandando estudar.

Referências
CORREIA, Mcc. Desafios para o controle social: subsídios para a capacitação de conselheiros
de saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. 2005.
FARIA, Cláudia Feres. Democracia deliberativa: Habermas, Cohen e Bohman. Lua Nova:
Revista de Cultura e Política, n. 50. 2000. p.47-68.
GOHN, M. G. Conselhos gestores e participação sociopolítica. São Paulo: Cortez, 2001.
GIDDENS, Anthonny. Sociologia. 4ª ed. Porto Alegre. 2005.
MILLS, C. W. Sobre o artesanato intelectual e outros ensaios. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed, 2009.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 788
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MOSSORÓ, Conselho Municipal de Saúde. Atas de reuniões ordinárias/extraordinárias de


2008 a 2019. 2019
PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. Entrevista com Zigmunt Bauman. Tempo Social.
Vol. 16. n. 1; Jun. 2004. p. 301-325,
STEPHEN, Kanitz. Observar e pensar. Revista Veja. Ed. 1865, ano 37, n 31. 04 de agosto de
2004, p. 18.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 789
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PENSANDO A TECNOLOGIA NA COMUNIDADE QUILOMBOLA


JATOBÁ - PATU/RN

Ângela Maria Solano de Moura1; Larissa Hellen Morais de Queiróz2; Samuel Penteado Urban3

Palavras-chave: Educação Tecnológica. Quilombo. Tecnologia Social. Tecnologia Apropriada.

Introdução
Com base no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), constata-se
que há no estado do Rio Grande do Norte aproximadamente 60 comunidades
quilombolas/remanescentes de quilombos (INCRA, 2018). No caso da comunidade Jatobá,
localizada no município de Patu/RN - objeto/sujeitos da presente pesquisa, o processo de aquisição
da titulação foi concluído em 2014 (PEREIRA, 2019, p. 215)
Constata-se que muitas dessas comunidades, em especial os sujeitos da comunidade Jatobá,
são alvos de aplicações tecnológicas que não são continuadas e nem mesmo perpassam por um
processo educativo horizontal que valorize os saberes locais, destacando-se a relação
problema/não problema.
O objetivo geral desse trabalho foi o de compreender a relação existente entre Tecnologia
e Educação no contexto da comunidade quilombola Jatobá, tendo como foco principal a
produção/utilização tecnológica dessa comunidade.

Metodologia
Este projeto de pesquisa insere-se, em seu aspecto geral, no que se denomina comumente
como pesquisa qualitativa. Em função do contexto pandêmico, a metodologia que pretendia contar
com uma revisão bibliográfica acerca da temática em consonância com observações de campo, foi
mais concentrada para a perspectiva teórica, e assim, utilizado de experiências ligadas a
observações anteriores à pesquisa, e algumas conversas informais com a líder da comunidade.
De forma mais específica, foram realizadas um levantamento e aprofundamento teórico em
temas como: Tecnologia Social e Educação CTS (THOMAS & SANTOS, 2016; NOVAES, DIAS,
2009; DAGNINO, 2009), Práxis pedagógica (FREIRE, 1981; FREIRE, 2011), e Comunidades
Quilombolas (PEREIRA, 2019); bem como a realização de uma síntese crítica da literatura
econômica, sociológica e pedagógica contemporânea relativa ao problema.

1
Graduanda do curso de Pedagogia do CAP/UERN
2
Graduanda do curso de Pedagogia do CAP/UERN
3
Professor do curso de Pedagogia do CAP/UERN (orientador)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 790
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultados e Discussão

Com o objetivo de compreender a manifestação da tecnologia na comunidade Jatobá,


observou-se a presença do que se entende por Tecnologia Social (TS) na comunidade, porém,
concluiu-se que há a predominância presença da Tecnologia Apropriada (TA). É nesse sentido, que
o presente tópico irá apresentar uma discussão teórica acerca da tecnologia de maneira geral,
seguida das definições de TS e TA.

De forma inicial, faz-se importante destacar aqui, a compreensão do que vem a ser a
tecnologia (ou melhor, tecnologias) e suas respectivas características. Com base em Thomas e
Santos (2016, p. 16, tradução nossa), uma possível definição acerca da tecnologia é: o “(…)
conjunto de ações (cognitivas, artefatuais e práxicas) realizadas conscientemente pelos humanos
para alterar ou prolongar o estado das coisas (naturais ou sociais) com o objetivo de que
desempenhem um uso ou função (desde um ramo convertido em "naturfacto" até um sistema
produtivo robotizado).”

Num sentido ontológico, “As tecnologias constituem uma dimensão da atividade humana,
de condição humana, englobando desde a transformação da matéria-prima até a organização
política de qualquer sociedade. (THOMAS & SANTOS, 2016, p. 16, tradução nossa).

A preocupação com as tecnologias, caminha no sentido de que elas regulam os espaços e


as condutas de diversos atores; condicionam estruturas de distribuição social, custos de produção,
acesso a bens e serviços; geram (e as vezes resolvem) problemas sociais e ambientais; participam
ativamente das dinâmicas de mudança social (econômicas, políticas, ideologicas, cultutrais), sendo
elas inclusivas ou excludentes. (THOMAS & SANTOS, 2016, p. 17).

No que se refere a TA, Num panorama histórico, Novaes e Dias (2009) apontam que a TA
tem seu berço na Índia no final só século XIX, e mais tarde, influenciou o economista alemão,
Schumacher, “para designar uma tecnologia que, em função de seu baixo custo de capital, pequena
escala, simplicidade e respeito à dimensão ambiental, seria mais adequada para os países pobres.”
(NOVAES & DIAS, 2009, p. 21).

A partir das décadas de 1970 e 1980, Novaes e Dias (2009) afirmam que vários foram os
pesquisadores dos países do norte global, os ditos países “avançados”, objetivando a produção de
artefatos tecnológicos. Nesse período, houve grande proliferação de grupos de pesquisadores
partidários da ideia da TA nos países avançados e significativa produção de artefatos tecnológicos
baseados nessa perspectiva. Dentre as preocupações estavam: minimizar a pobreza dos países
subdesenvolvidos, resolver problemas ambientais, levando em consideração a criação de fontes
alternativas de energia. (NOVAES & DIAS, 2009, p. 22)

A presença dessa manifestação tecnológica, em grande parte dos casos, está vinculada à
“boas intenções”, já que se buscam resolver alguns problemas de determinadas localidades. Nas
palavras de Novaes e Dias (2009, p. 25-26), “embora centrada no objetivo de desenvolvimento
social, sua postura era defensiva, adaptativa e não-questionadora das estruturas de poder
dominantes no plano internacional e local”, além de ter como grande característica o modelo de
implantação vertical (top down), sem que seja de fato compreendida as reais necessidades da
comunidade, e nem mesmo uma construção coletiva que perpassa pela educação.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 791
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A TA é muitas vezes entendida como sinônimo da TS, sobretudo em relação à seus


objetivos relacionados à diminuição da pobreza e responsabilidade ambiental, mesmo que em sua
essência, a TA tenha uma caráter mais reformista e menos emancipador que a TS.

Por sua vez, a Tecnologia Social surge por meio de um novo entendimento baseado na
construção social da tecnologia, em preocupação com a crescente exclusão social, precarização e
informalização do trabalho, objetivando uma tecnologia correspondente as reais necessidades das
comunidades. (DAGNINO, 2009, p. 10).

Uma definição frequente acerca da TS, com origem na Rede de Tecnologia Social, e
questionada por Dagnino (2009) e Thomas e Fressoli (2009), compreende esta tecnologia como
“produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade
e que representem efetivas soluções de transformação social”. (DAGNINO, 2009, p. 8)

Com isso, esta última está ligada a construção coletiva, que perpassa pela construção
conjunta do conhecimento, tendo aí, o papel da educação.

No entanto, esse processo educativo não foi realizado pelas instituições que “apoiam” a
comunidade, como é possível observar no trabalho de Pereira (2019), nas experiências anteriores
do pesquisador e das pesquisadoras, bem como em conversas informais com a líder do
movimentos, e que compõem os resultados da presente pesquisa. A exemplo disso temos as
situações abaixo:

- Em 2009 com apoio da Fundação Banco do Brasil, houve a criação de uma cooperativa
de costura de roupas que contou com a implantação de equipamentos tecnológicos
(máquinas), mas que ocorreu de cima para baixo, caindo em desuso.

- Através do Programa Governo Cidadão, através do qual foi construída a mini adutora na
comunidade, a mesma foi utilizada de forma parcial, sendo que no geral, não atendia as
demandas amplas da comunidade.

- Em 2017, foi realizado um projeto para a construção hortas coletivas, onde foram doadas
mudas pela prefeitura de Patu, sem que houvesse uma construção do projeto à partir das
demandas da comunidade, incluindo até mesmo, equipamentos para que fosse possível o
plantio e produção das mudas, já que não há área para plantio na comunidade4.

Portanto, esses foram projetos mal sucedidos em consequência da implantação de ações


verticalizadas ligadas a TA, sem que fossem consideradas as reais necessidades da comunidade,
resultando em desuso.

Nas palavras de Freire (1981, p. 35), a manifestação da TA na comunidade esteve ligada ao


ato de “reduzir os grupos populares a meros objetos de minha pesquisa”. E assim “não posso
conhecer a realidade de que participam a não ser com eles como sujeitos também deste
conhecimento que, sendo para eles, um conhecimento do conhecimento anterior (o que se dá ao
nível da sua experiência quotidiana) se torna um novo conhecimento.” (FREIRE, 1981, p. 35)

4
De modo geral, os membros da comunidade trabalham na área urbana de Patu.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 792
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Por outro lado, por meio da análise limitada em função do contexto pandêmico, não foi
possível constatar a presença de Tecnologias Sociais (TS) na comunidade, mas apenas
manifestações da Tecnologia Apropriada (TA).

Conclusão

Portanto, observou-se na comunidade que através da perspectiva da TA, até se tinha boas
intenções, mas caíram no desuso pelo fato de não terem sido consideradas as reais necessidades
da comunidade. Isso não quer dizer que não se possa haver apoio externo, mas sim que se faz
necessário a construção conjunta da tecnologia, perpassando pelo processo de educação popular,
ou no mínimo uma construção conjunta do uso das tecnologias implantadas na comunidade, para
que não se crie a relação problema/não problema. Isto é, um problema para as instituições eternas
à comunidade, podem não ser problemas para a comunidade.

Referências

DAGNINO, Renato. Tecnologia Social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas:
IG/UNICAMP, 2009.

FREIRE, Paulo. Criando métodos de pesquisa alternativa. In: BRANDÃO, Carlos Rodrigues.
Pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 34-41.

FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 2011.

NOVAES, Henrique T.; DIAS, Rafael. Contribuições ao Marco Analítico-Conceitual da


Tecnologia Social. In: DAGNINO, Renato. Tecnologia Social: ferramenta para construir outra
sociedade. Campinas: IG/UNICAMP, 2009. p. 17-53.

PEREIRA, Camila da Silva. Identidades (re)descobertas e a luta quilombola por direitos


territoriais no estado do Rio Grande do Norte, Brasil. 2019. 291 f. Tese (Doutorado em
Geografia) – Universidade Federal do Ceará, 2019.

THOMAS, Hernán; Guillermo, SANTOS. Tecnologías para incluir: ocho análisis socio-técnicos
orientados al diseño estratégico de artefactos y normativas. Carapachay: Lenguaje Claro Editora,
2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 793
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PERCURSO HISTÓRICO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO EM


TEMPO INTEGRAL NO BRASIL

Rodrigo Rodrigues Araújo1; Antônia Maiza Jacinto de Oliveira2; Maria Euzimar Berenice
Rego Silva3.

Palavras-chave: Educação Integral.Estrutura Física. Políticas Públicas. Formação Humana.

Introdução

As políticas que regem a educação em tempo integral no Brasil passaram por várias
experiências ao longo do tempo. Gadotti (2009) em “Educação Integral no Brasil: inovações
em processo” nos mostra o percurso percorrido pelas políticas de educação em tempo integral
e as diversas tentativas de implantação de instituições que pudessem servir como referência
para a implementação de uma política que posteriormente pudesse trazer contribuições para
todo o sistema de ensino brasileiro, baseada nos resultados das experiências das instituições
de ensino que desenvolveram uma proposta de educação integral e em tempo integral. De
acordo com o autor, a educação integral e em tempo integral no Brasil passou a ser vista como
uma política pública a partir do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932”. Mais
tarde, a partir da década de 1960, começam a surgir os primeiros modelos de educação
(integral) em tempo integral no Brasil.
É, traçando esse percurso, que este trabalho discorre a seguir, com o objetivo de
identificar legislações e políticas públicas que fomentam a educação em tempo integral. A
temática desse trabalho é parte integrada ao plano de trabalho “POLÍTICAS E PRÁTICAS
DE COMBATE À VIOLAÇÃO DE DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES –
FASE III” do projeto “FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO: INTERFACES
ENTRE AFETIVIDADE, VIOLÊNCIA E ESPIRITUALIDADE – FASE III” inscrito no
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte (UERN), que gerou uma monografia no curso de pedagogia do Plano
Nacional de Formação de Professores da Educação Básica. Além disso, esse tema também
tem vínculo com o plano de trabalho “DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E
AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO INTEGRAL”, vinculado ao Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica do Ensino Médio (PIBIC-EM).

Metodologia

Nossa pesquisa tem como método a pesquisa bibliográfica e pesquisa documental.


Inicialmente fizemos uma pesquisa nos bancos de dados do scielo, utilizando os descritores:
educação integral, formação, desenvolvimento, afetividade e formação docente. Como
encontramos muitos títulos, refinamos a busca a partir da junção de apenas duas expressões
por busca, utilizando o termo educação de tempo integral. Então, passamos a olhar os
resumos e textos completos. Na primeira busca utilizando a expressão “educação integral e

1
Discente voluntário do PIBIC graduando do Curso de Pedagogia/PARFOR/CAPF/UERN e membro do Grupo
de Pesquisa FORMEPE/UERN. E-mail: rodrigoraraujo12@gmail.com.
2
Ex-bolsista do PIBIC-EM/UERN/CNPq pela Escola Estadual Doutor José Fernandes de Melo - Ensino Médio -
Promédio Integral, atualmente, é aluna do 1º Período do Curso de Enfermagem da Universidade Potiguar. E-
mail: antonia.maiza@hotmail.com.
3
Mestra em Ciências Sociais e professora orientadora, vinculada ao Departamento de Educação/CAPF/UERN e
Vice Líder do Grupo de Pesquisa FORMEPE/UERN. E-mail: berenicesilva@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 794
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

formação docente” nos deparamos com 31 trabalhos, muitos deles em língua estrangeira,
então, filtramos a busca para “Coleções: Brasil”, o número de textos reduziu para 17, o que
nos possibilitou analisar os resumos e os textos completos de cada ensaio.
Foram feitas as leituras de quatro textos e uma obra que abordam a Educação
Integral e a Educação em Tempo Integral. São elas: História(s) da Educação Integral
(COELHO, 2009); Formação Continuada em Escolas de Tempo Integral: narrativas de
professoras (BRAGANÇA; PEREZ, 2016); Educação integral/educação integrada e(m) tempo
integral: concepções e práticas na educação brasileira (BRASIL, 2009); Educação integral no
Brasil: inovações em processo (GADOTTI, 2009).

Resultados e discussões

Dentre as experiências citadas por Gadotti (2009) estão a “Escola Parque” criada por
Anísio Teixeira, os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), outra proposta de
educação integral em tempo integral, que surge em um período posterior ao projeto de Anísio
Teixeira que serviu como referência para a sua criação, é claro que, com alterações e
características próprias. Os CIEPs foram implementados por Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro.
Essa proposta de Darcy Ribeiro desencadeia uma série de outros modelos de
educação integral e em tempo integral à medida que o Governo Federal brasileiro passa por
mudanças como os Centros Integrados de Atendimento à Criança (CIACs) e os Centros de
Atenção Integral à Criança (CAICs) nos governos de Fernando Collor (1990-1992) e Itamar
Franco (1992-1994), respectivamente.
Com base nesses recortes extraídos da obra de Gadotti (2009) podemos notar que a
educação integral e as propostas de educação em tempo integral no Brasil foram sendo
adaptadas as mudanças de governo, mas uma proposta sempre traz consigo traços da anterior,
sendo uma das principais referências a proposta de educação em tempo integral do projeto de
Anísio Teixeira, principalmente no quesito de política pública. O que todas as iniciativas de
educação integral apresentadas até aqui têm em comum, é que elas estão empenhadas em
manter o aluno por mais tempo na escola. O conceito de educação integral que um ou outro
projeto emprega é o que pode diferenciá-los. As “Escolas Parques” de Anísio Teixeira
consideravam importante o exercício de atividades diferenciadas do cotidiano enfadonho “do
lápis e papel”, tais como, atividades desportivas, artísticas, artesanais, entre outras, que levam
o aprendiz a sentir prazer em passar mais tempo na escola. Essas atividades eram ofertadas no
contra turno das atividades escolares “normais”. Já os CIEPs, CIACse CAICs eram marcados
pelo seu ímpeto social: os projetos eram direcionados a famílias em estado de vulnerabilidade
social. Ou seja, havia uma seletividade dos beneficiários que teriam direito a serem inseridos
nesses espaços educativos.
Considerando o período em que esses projetos foram aplicados, podemos dizer que
eles são umas das primeiras tentativas de se implementar uma política de educação em tempo
integral. A partir de 1932 a educação brasileira se norteia por novas reivindicações e pleiteia
mudanças. Dentro desses planos de mudança a educação integral, principalmente a partir da
década de 1960, é um dos pontos essenciais na busca por uma educação de qualidade, gratuita
para todos e em tempo integral. O tempo ampliado da permanência do aluno na instituição de
ensino é um dos requisitos para que se atinjam os objetivos almejados.
É preciso que esse tempo seja aproveitado com eficiência, de modo que a
aprendizagem alcance os resultados positivos. Nesse sentido, é importante refletirmos sobre o
que é educação em tempo integral; sobre os aspectos de uma educação que é oferecida por
uma instituição de ensino que se dispõe a manter o aluno por mais tempo na escola, um tempo
que leva esse sujeito a passar dois turnos do dia nessa instituição, se esse aspecto por si sóde
fato promove uma educação de qualidade.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 795
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No formato de política pública, as iniciativas de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro


com as “Escolas-Parque” e os “CIEPs” foram os primeiros exemplos desse tipo de proposta
educacional. O Programa Mais Educação, instituído pela Portaria Interministerial nº 17, de 24
de abril de 2007 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei nº 9.394, de
20 de dezembro de 1996, determinam o formato de uma política de educação em tempo
integral na etapa do Ensino Fundamental da Educação Básica de maneira mais específica
quanto ao viés de política pública.
O Programa Mais Educação entra no cenário brasileiro como um esboço de uma
política pública de educação em tempo integral devidamente caracterizado, com todas as
diretrizes que justifiquem o período ampliado do aluno na escola.O art. 1º, § 1º do Decreto n.º
7.083, de 27 de janeiro de 2010, estabelece a jornada ampliada, e considerando assim
educação em tempo integral quando o aluno permanece na escola um período diário igual ou
superior a sete horas.
Além do Programa Mais Educação, outra proposta de educação em tempo integral se
destaca enquanto política pública, mas essa, voltada para a etapa do Ensino Médio. É o
Programa Ensino Médio Inovador, instituído pela Portaria nº 971, de 9 de outubro de 2009, e
também a Medida Provisória 746/2016, que deu origem a uma reforma no Ensino Médio que
foi convertida em lei, Lei n.º 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que institui a Política de
Fomento à Implementação de Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral.
Considerando essa trajetória, podemos notar que houve uma progressão no fomento a
política de educação em tempo integral a nível nacional. Inicialmente as escolas poderiam
aderir por meio de um programa de governo que ao longo do tempo se configurou em lei.
Agora as instituições que se predispuserem a empreender uma proposta de educação em
tempo integral, têm respaldo na Lei nº 13.415/2017. Insto no âmbito do Ensino Médio.

Conclusão

Os resultados da pesquisa apontam para muitos desafios a serem superados em uma


proposta de educação em tempo integral, como a falta de investimento na estrutura física da
escola, definir atividades que sejam atrativas para o educando, algo essencial para garantir a
permanência do aluno na instituição em uma jornada prolongada que se concretize em efetivo
aprendizado e desenvolvimento da formação do sujeito, assim como indicam possibilidades
de se pensar uma proposta educativa para além dos muros da escola, baseadas em alternativas
como parcerias com a comunidade externa e o uso de espaços não escolares, além do
desenvolvimento de atividades pedagógicas de acompanhamento individual e coletivo dos
discentes.

Agradecimentos

Agradecemos a colaboração dos discentes PIBIC-EM, bem como, ao CNPq pela


concessão de bolsa de Iniciação Científica do Ensino Médio.

Referências

BRAGANÇA, Inês Ferreira de Souza; PEREZ, Juliana Godói de Miranda.Formação


continuada em escolas de tempo integral: narrativas de professoras. Educação & Realidade,
dez. 2016, v. 41, n.4, p. 1161-1182.Disponível em:
(http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
62362016000401161&lang=pt). Acesso em: 24 ago. 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 796
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996.


Disponível em: (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm).Acesso em: 25 abr.
2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Educação integral/educação integrada e(m) tempo


integral: concepções e práticas na educação brasileira. Brasília, DF: 2009.

BRASIL ,Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 20 de dezembro de 1996.


(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm) acesso em 25 de abril de 2020.

BRASIL, Portaria nº 971, de 9 de outubro de 2009.


(http://educacaointegral.mec.gov.br/images/pdf/port_971_09102009.pdf) acesso em 25 de
abril de 2020.

COELHO, Lígia Martha C. da Cosa. História(s) da educação integral.Em Aberto, Brasília, v.


22, n. 80, p. 83-96, abr. 2009.

GADOTTI, Moacir. Educação integral no Brasil: inovações em processo. São Paulo:


Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009. (Educação Cidadã; 4).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 797
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

POLÍTICAS CURRICULARES E DE GESTÃO EM ESCOLAS DE


TEMPO INTEGRAL (RUSSAS/CE) E SUAS POSSÍVEIS
IMPLICAÇÕES NAS DINÂMICAS ESCOLARES
Vitória Letícia Duarte da Silva; 1Marcia Betânia de Oliveira2
Palavras-chave: Políticas curriculares. Gestão Escolar. Escola de tempo integral.
Formação Docente. Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

INTRODUÇÃO

Inicialmente, este projeto tinha como objetivo geral investigar políticas


curriculares e de gestão em escolas de tempo integral no município de Russas/CE e suas
possíveis implicações nas dinâmicas escolares. Especificamente, visava analisar como as
escolas lócus de investigação se apropriam desta política, destacando como adaptam,
reinterpretam e recriam suas propostas curriculares e práticas pedagógicas, bem como a
investigar formas de resistência às orientações para “implementação” desse modelo de
escola. Por fim, analisar sentidos atribuídos a significantes como qualidade da educação,
protagonismo juvenil, formação integral, metodologia inovadora de ensino, ensino
comum a todos, dentre outros que vierem a ser destacados ao longo do projeto.
Considerando-se o processo vivenciado a partir das medidas de afastamento social
decretado em função da pandemia provocada pelo novo coronavírus (COVID 19)
previstas pelo Decreto Estadual/RN nº 29.512, de 13 de março de 2020, não foi possível
visitar as escolas lócus para o processo de investigação quanto às possíveis implicações
das políticas curriculares e de gestão nas dinâmicas em escolas de tempo integral
(Russas/CE).
Nessa perspectiva, o projeto limitou-se à questionar: Como a pesquisa
CNPq/PIBIC “Políticas curriculares e de gestão em escolas de tempo integral” contribui
para nossa compreensão sobre currículo, política e políticas de currículo? Para tal
compreensão, nos detivemos à fundamentação bibliográfica, a partir da leitura do texto
“Abordagens do ciclo de políticas”, de Mainardes (2006) e dos textos “Currículo” e
“Política”, do livro Teorias de Currículo de Lopes e Macedo (2011).

METODOLOGIA
O percurso metodológico desenvolvido para a tessitura deste texto se constitui,
portanto, com base na leitura do texto “Abordagens do ciclo de políticas”, de Mainardes
(2006) e dos textos “Currículo” e “Política”, do livro Teorias de Currículo de Lopes e
Macedo (2011). O trabalho está dividido em quatro partes: a primeira aborda currículo,
de acordo com a perspectiva de Lopes e Macedo (2011). A segunda destaca significações
no que concerne à política propriamente dita. A terceira apresenta a abordagem do ciclo
de políticas de Ball e Bowe, sob a perspectiva de Mainardes (2006). Por fim, considera
que foi possível desconstruir conceitos iniciais sobre os temas em destaque, entendendo
o ciclo de políticas como uma abordagem que critica a realidade, buscando novos
conceitos e princípios, baseados no contexto prático e no cotidiano das escolas. Essa
desconstrução sobre currículo, política e políticas de currículo, a partir de nossa

1
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte; e-mail: vivilduarte3@gmail.com
2
Professora do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Contexto e Educação; e-mail:
betaniaoliveira@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 798
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

inserção/participação no projeto de pesquisa em pauta (CNPq/PIBIC), nos possibilita


compreender que as dinâmicas escolares precisam ser consideradas como parte do
processo de produção das políticas curriculares e de gestão (não somente) em escolas de
tempo integral.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
1 Currículo
O livro das autoras Lopes e Macedo (2011) utilizado como aporte teórico em nossa
pesquisa, tem seu objetivo apresentado de forma clara logo no início com o capítulo
denominado Currículo. A definição de currículo, portanto, é algo constituído ao longo
das eras, se tornando parcial, ou seja, mutável.
Ao abordarem Currículo, as autoras destacam que os estudos curriculares,
partindo do movimento Escolanovista no Brasil, entendiam que a escola precisava se
voltar para a resolução dos problemas sociais gerados pelas variações econômicas da
época. Às teorias curriculares, então, surgiram: o Eficientismo social e o Progressivismo.
Seguindo o conceito de eficientismo, “A escola e o currículo são, portanto, importantes
instrumentos de controle social.” (LOPES; MACEDO, 2011. p. 22). Nesse movimento, o
currículo científico era defendido e associado à administração escolar, conceitos de
eficácia, eficiência e economia. Por conseguinte, percebe-se que o eficientismo social não
explana sobre conteúdo ou a seleção destes.
Em contrapartida, o progressivismo “conta com mecanismos de controle social
menos coercitivos” (p. 23). Mais à frente na linha temporal, as autoras destacam que a
abordagem tyleriana estabelece um vínculo entre currículo e avaliação. Sendo assim, o
rendimento do aluno estava diretamente ligado à implementação eficiente do currículo.
Em suma, para essas autoras, “a construção curricular é processo do qual professores e
mesmo alunos, podem ou devem participar em diferentes momentos.” (LOPES;
MACEDO, 2011. p. 26).

As autoras tratam de como a escola pode servir de instrumento de controle social,


como molde para a construção de um indivíduo acrítico, nos possibilitando compreender
a forma como a ação da educação pode influenciar nas desigualdades. Então, a pergunta
central deixa de ser “o que ou como ensinar” e passa a ter um sentido mais profundo: “[...]
por que alguns aspectos da cultura social são ensinados como se representassem o todo
social? Quais as consequências da legitimação desses aspectos para o conjunto da
sociedade? [...]” (LOPES; MACEDO, 2011. p. 31).

Lopes e Macedo (2011) abordam, ainda, o conceito de ‘currere’ o qual, segundo


William Pinar, é um processo tido como ação, como um sentido particular e uma
esperança pública. O currículo deve proporcionar, portanto, ao sujeito entender a natureza
de sua experiência; “como uma conversa entre o indivíduo com o mundo e consigo
mesmo” (LOPES; MACEDO, 2011. p. 35).
As autoras nos possibilitam compreender que o currículo técnico, amplamente
utilizado em meados da década de 1970, não dava conta das realidades vividas nas
escolas, apontando que crescem as críticas ao conceito restrito de currículo. Por fim, as
autoras discorrem sobre o conceito multifacetado de currículo, a partir de bases teóricas
trazidas pelo pós-estruturalismo para os estudos sobre currículo. O pós-estruturalismo,
segundo as autoras, é uma vertente de pensamento que busca desconstruir os conceitos
de currículo para nele buscar sentido. Para as autoras, o pós-estruturalismo considera a
linguagem construtora do mundo ao invés de somente representá-lo; desconstruindo,
assim, as estruturas que o estruturalismo prevê.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 799
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

2 Política

Lopes e Macedo (2011) discutem temas específicos sobre políticas, dividindo o


texto em tópicos que, desse modo, facilita a interpretação. Por conseguinte, elas levantam
as questões principais que dizem respeito às investigações sobre currículo e políticas
curriculares. Iniciam abordando Concepções de política e a separação entre projeto e
implementação, destacando como a concepção de política é tida como guia para a prática.
Desse modo, as autoras nos possibilitam compreender que a sociedade capitalista é tida
como base para este estudo, tornando, assim, os resultados como soluções para os
impasses de implementação das políticas. Em vista disso, os investigadores teóricos não
conheciam como a política funciona como ciência social, ou seja, como e por que as
políticas funcionam da maneira que funcionam.

Na política de currículo, os estudos que assumem um enfoque estrutural de cunho


marxista consideram que a política é um conjunto de decisões determinadas pelas relações
econômicas estruturadas pelo modo de produção capitalista. Os estudos pós-
estruturalistas, por sua vez, consideram que há um questionamento “às identidades fixas,
dentre elas dominante/dominado, dominação/resistência, centro/periferia.” (LOPES;
MACEDO, 2011. p.238)

Nesse sentido, as políticas de currículo só podem ser realizadas, segundo


diferentes autores, por três grandes grupos: o aparelho de Estado, a economia e as várias
instituições da sociedade civil. De acordo com Lopes e Macedo (2011), Michael Apple
afirma que a imposição de sistemas de avaliação centralizados nos resultados, determina
o currículo como estrutura dominante do trabalho dos professores. As autoras enfatizam
que as interpretações de Apple sobre políticas de currículo influenciaram,
significativamente, o pensamento curricular brasileiro nos anos de 1990.

As autoras discutem Política de currículo: a abordagem do ciclo de políticas, a


partir de estudos de Stephen Ball. Esse autor reconhece a importância da análise do
Estado, mas afirma que qualquer teoria de política educacional que se preze não pode se
limitar a uma perspectiva do domínio estatal. Desse modo, cita os três contextos principais
do ciclo de políticas, os quais detalharemos no item a seguir, a partir do texto de
Mainardes (2006): o contexto de influências, contexto de produção do texto político e
contexto da prática. Por fim, as autoras destacam que o currículo se torna uma luta
constante por sua própria significação. Porém, ele, também, luta pela significação do que
vem ser a sociedade, justiça social, emancipação, transformação social.

3 Abordagem do Ciclo de Políticas de Ball

Mainardes (2006) destaca as principais ideias da abordagem do ciclo de políticas,


formuladas por Ball e Bowe, que contribuem, significantemente, para a análise de
políticas educacionais. O autor aponta que esta abordagem adota uma orientação pós-
moderna, além de destacar a natureza complexa e controversa da política educacional,
enfatiza os processos micropolíticos e a ação dos profissionais que lidam com as políticas
no nível local. Indica, também, a necessidade de articularem os processos macro e micro
na análise de políticas.

Nesse cerne, eles formularam o ciclo baseado em três contextos iniciais: o


contexto de influência, o contexto da produção de texto e o contexto da prática, conforme
já destacados no texto de Lopes e Macedo (2011). Os três possuem uma inter-relação,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 800
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

não havendo sequência temporal e linearidade. Cada um desses contextos apresenta


arenas, lugares e grupos de interesse e cada um deles envolve disputas e embates (Bowe
et al., 1992).

CONCLUSÃO

Tendo em vista os autores/textos trabalhados, procuramos desenvolver uma


sequência lógica sobre currículo e políticas de currículo, de modo a salientar o
conhecimento por nós adquirido com o presente estudo. Desse modo, entendemos que o
currículo se constrói em sua desconstrução, partindo de ações do próprio ambiente
curricular, ou seja, onde o currículo é implementado, encontraremos um rascunho de
significados para tal. Como destacado, Lopes e Macedo (2011) explanam suas teorias
sobre currículo com o viés pós-estruturalista, ou seja, despindo-se dos sentidos enraizados
para uma nova construção, aprimorando novos significados.

Entendemos que o ciclo de políticas de Ball e colaboradores, aqui abordado, é


complexo e traz contribuições significativas para a análise de políticas educacionais,
reagindo a perspectivas macro e micro. Concluímos que os textos por nós trabalhados
durante a realização da pesquisa nos serviram como referencial teórico-analítico para o
projeto de pesquisa que ora desenvolvemos, sobre currículo, políticas e políticas de
currículo, como forma de compreensão geral da trajetória de políticas educacionais, desde
sua formulação inicial até sua implementação. Também, possibilitaram compreensões
gerais sobre o pensamento pós-estrutural e complexo, apresentado por Ball, trazendo
contribuições importantes para a pesquisa.

Conseguimos desconstruir conceitos iniciais sobre os temas em destaque, além de


entendermos que o ciclo de políticas é uma abordagem que critica a realidade, buscando
novos conceitos e princípios, baseados no contexto prático e no cotidiano das escolas.
Portanto, é possível percebermos a pluralidade e a complexidade que a análise teórica
proposta pelos autores em destaque está inserida, envolvendo o macro e o microcontextos.
Além de buscar dar voz a cenários antes silenciados, como a própria experiência da sala
de aula.

As leituras propostas e a desconstrução de conceitos como os de currículo, política


e políticas de currículo, a partir de nossa inserção/participação no projeto de pesquisa em
pauta (CNPq/PIBIC), nos possibilita compreender que as dinâmicas escolares precisam
ser consideradas como parte do processo de produção das políticas curriculares e de
gestão (não somente) em escolas de tempo integral.

AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -
CNPq/UERN, através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica -
PIBIC, pela concessão da bolsa durante esse processo para o desenvolvimento da
pesquisa.

REFERÊNCIAS
LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth. Teorias de Currículo. São Paulo:
Cortez, 2011.

MAINARDES, Jefferson. Abordagem do ciclo de políticas: uma contribuição para a


análise de políticas educacionais. Vol. 27. Campinas: Educ. Soc. 2006.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 801
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PRÁTICAS EDUCATIVAS DESCRITAS NOS PROJETOS


PEDAGÓGICOS E NOS PROJETOS DIDÁTICOS DAS
INSTITUIÇÕES/ASSOCIAÇÕES DE EDUCAÇÃO NÃO ESCOLAR
NA CIDADE DE ASSÚ/RN

Mylena Karla da Fonseca Silva 1; Alcides Leão Santos Júnior2

Palavras-chave: Educação não escolar. Prática educativa. Educação Social.

Introdução

A educação escolarizada sob a orientação de educadores/professores tem sua


origem na antiguidade e vem passando por inúmeros processos de modificações na
tentativa de/em responderem aos anseios dos estudantes, do mundo do trabalho e de
uma sociedade em constante processo de mutação para atender aos inúmeros
fins/finalidades demandados por uma sociedade que, também, se transforma. Entretanto,
sabemos que os processos educativos não acontecem exclusivamente no âmbito das
Unidades Escolares, mas em todos os espaços que se preocupam com a formação
humana, assim, a Educação Não Escolar (ENE) que “[...] consiste em um termo cuja
conceituação resulta de uma necessidade histórica emergente, dado o atual contexto de
fortalecimento do caráter estruturado de práticas educativas para além dos limites da
escola” (SEVERO, 2017. p. 133 -134) tem, também, procurado atender às demandas
vigentes, principalmente no atendimento de pessoas em situação de risco social e ou em
vulnerabilidade social fazendo uso do desenvolvimento de práticas educativas que
configuram-se no “[...] produto final a partir do qual os profissionais adquirem o
conhecimento prático que eles poderão aperfeiçoar”. (SACRISTÁN, 1999. p. 73).
A partir das práticas da Educação Não Escolar (ENE) postula-se que a educação
vai além da instituição escolar. Ela está em toda a parte e apresentam-se com múltiplas
finalidades tais como a construção de conhecimentos e a formação política e social dos
indivíduos.
Nossa ênfase recaiu sobre a Educação Social tendo em vista que esta, no
decorrer dos tempos passou por diversas transformações, na forma de produção, nas
relações humanas e na tecnologia e que consegue de forma transversal percorrer quase
todas as modalidades de ensino/educação. Trata-se não de uma modalidade de
educação, mas de um dos seus campos que a partir do desenvolvimento de práticas
educativas e pedagógicas favorece o crescimento intelectual e político, a autonomia e a
independência dos sujeitos sociais através de um constante processo de (auto) critica e
(auto) revisão da sua relação consigo, com o outro e com o mundo visando à
emancipação.
É nessa perspectiva que a Educação Social atua, isto é, promovendo a
1
Discente do Curso de Pedagogia, do Departamento de Educação, Campus Avançado de Assú da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Assú, Rio Grande do Norte, Brasil. E-mail:
mylena.carla@hotmail.com
2
Doutor em Educação (UFBA) e Professor do Departamento de Educação, Campus Avançado de Assú da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Assú, Rio Grande do Norte, Brasil. E-mail:
santosjunioralcides@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 802
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

transformação da realidade e a inclusão. Assim, nossa pretensão é apresentar as práticas


educativas das Instituições/Associações de Educação Não Escolar na cidade de
Assú/RN descritas em seus documentos (Projetos Pedagógicos e nos Projetos
Didáticos). A saber, no município de Assú/RN encontramos quatro (04)
Instituições/Associações que ofertam educação não escolar e que tem pedagogo em seu
quadro de servidores/voluntários: 1) a Associação de Moradores dos Bairros de
Frutilândia e Fulô do Mato I e II (AMBFFM) que tem como objetivo ocupar as crianças
e adolescentes, contribuindo para a vida escolar e social e atende crianças a partir de 2
anos até idosos; 2) a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) tem como
missão de defesa do direito das pessoas com deficiência intelectual e múltipla. Para isso
atua em diversos setores: assistência social, saúde, educação, lazer, assistência jurídica.
Atende crianças e adolescentes com todos os tipos de deficiência, mas o ponto central é
a pessoa com deficiência intelectual e múltipla; a 3) a Indústria do Conhecimento do
SESI tem como objetivo Levar o conhecimento a comunidade e cultura. Atende a todos
os membros da comunidade/sociedade assuense e o 4) Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos da Prefeitura Municipal de Assú que tem como objetivo
ocupar crianças e adolescentes no contra turno da escola e fortalecer vínculos da criança
e a comunidade. Atende famílias atendidas pelo Centro de Referência e Assistência
Social (CRAS) e o Centro de Referência de Assistência Social (CREAS) e famílias em
vulnerabilidade social.
Nossa proposta em identificar as práticas educativas desenvolvidas nas
instituições que desenvolvem educação não escolar na cidade de Assú/RN ocorreu
porque acreditamos que a educação não escolar (não formal) pode contribuir/propiciar o
desenvolvimento educacional e uma formação politica cidadã por intermédio da
Educação Social.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa documental que “[...] busca identificar informações


factuais nos documentos a partir de questões e hipóteses de interesse” (CAULLEY apud
LÜDKE e ANDRE, 2003. p. 38) para grupos, instituições, comunidades e indivíduos, a
fim de compreender melhor sua realidade. Ela pode ser entendida, como uma
aproximação direta entre pesquisador e objeto pesquisado, tendo uma visão dos fatos e
fenômenos mais próximos do pesquisador. A ênfase dada ao contato direto do
pesquisador com a fonte a ser pesquisada pode demonstra que na realidade da inserção e
vivências, o investigador se apropria de conhecimentos e sentidos sobre o que pretende
pesquisar.
No processo de captura dos dados, inicialmente, foi realizado um contato prévio
através de visita in loco as Instituições/Associações para informar os objetivos da
pesquisa e solicitar, ao responsável a assinatura da Carta de Anuência, e em seguida
foram realizadas visitas, pré-agendadas, para a leitura das fontes documentais (Projetos
Pedagógicos e Projetos Didáticos) a fim de identificarmos quais práticas pedagógicas
são desenvolvidas. A leitura das fontes documentais foi direcionada por um
questionário contendo onze (11) questões para delinearmos a caracterização da
instituição e identificação das práticas educativas desenvolvidas em seus espaços.

Resultado e discussão

A educação possui uma função inegavelmente social. Assim, como um campo de


múltiplas relações, a educação busca a transformação dos indivíduos em sujeitos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 803
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

participativos, autônomos, emancipados e transformadores dos espaços em que


vivem/habitam. Seguindo este direcionamento Ventoso Péres (1999) salienta que na
prática da Educação Social há um conjunto de ações fundamentadas e ordenadas através
de práticas educativas não convencionais, realizadas, preferencialmente, no âmbito da
esfera não escolar, guiadas para o desenvolvimento apropriado e eficaz da socialização
dos sujeitos sociais a fim de dar respostas aos seus problemas e necessidades sociais. A
Educação Social possui como uma das suas intenções a atenuação dos problemas e
questões sociais/culturais principalmente de populações excluídas, em situação de risco
e ou marginalizadas. Assim, para o desenvolvimento destas ações é indispensável que o
planejamento seja construído tendo como referências as necessidades e demandas do
público envolvido e dos objetivos propostos pelas instituições educativas.
Pelo que pudemos analisar as quatro Instituições/Associações não escolares que
desenvolvem ações educativas na cidade de Assú/RN procuram desenvolvê-las através
de ações planejadas entre os educadores sociais, a coordenação pedagógica e
administração das referidas instituições e procura desenvolver suas práticas pautadas em
diretrizes (PPP e documentos oficiais) das Instituições/Associações que nasceram com
uma finalidade própria, qual seja: desenvolver atividades pedagógicas e educativas para
crianças, adolescentes e adultos e fornecer atendimento especial a crianças e
adolescentes que apresentam alguma deficiência.
As práticas educativas descritas nos documentos oficiais das
Instituições/Associações não escolares na cidade de Assú/RN são realizadas de forma
trans-interdisciplinar através de ações que envolvem o desporto, as artes e a literatura.
Pelo que pudemos perceber as práticas educativas são realizadas na sua maioria através
de atividades desportivas e culturais (música). São atividades coletivas que devem
primar pela cooperação, solidariedade e pelo atendimento às particularidades e
individualidades, como é o caso do Atendimento Educacional Especializado (AEE). Ao
desenvolver atividades coletivas que vão desde as oficinas de artes, de música, práticas
desportivas, como aponta Giné (2007), e atividades que desenvolvem o raciocínio
lógico as instituições estão desenvolvendo a sensibilidade dos sujeitos envolvidos. Isso
para nós pode demonstrar que através dessas práticas os sentimentos de coletividade e
colaboração pode provocar uma forma outra de olhar o mundo e seus problemas, além
das situações experienciadas pelos envolvidos nas ações de forma que outros
sentimentos e manifestações de como lidar com a arbitrariedade, as injustiças e a
maldades ganhem um contorno diferenciado. Não é demais relembrar que a Educação
Social prima pelo desenvolvimento de práticas educativas que tenham dimensão
individual e coletiva. Individual no sentido de transformação interna da/na forma como
o sujeito concebe o outro, o seu mundo e as suas idiossincrasias e coletivo no sentido
como em grupo se modifica e transforma o seu entorno.
Nos achados da pesquisa foi percebido que as diversidades de práticas
pedagógicas desenvolvidas pelas Instituições Não Escolares, na cidade de Assú/RN,
podem se configurar como momentos diferentes daquelas que estão sendo corporificada
na escola formal. Sabemos que, todas as práticas necessitam de metodologias e de
recursos distintos para o alcance dos objetivos. Assim, percebemos que as Instituições
Não Escolares, locus da pesquisa, fazem uso de metodologias e recursos didáticos que
primam pela atividade coletiva. Essa forma de atividade mais usual tendo em vista que
os recursos didáticos podem ser pouco elaborados, mas de fácil aquisição, pois fazem
parte dessa forma, as atividades desportivas, artes (dança, capoeira) e contação de
histórias e estão no rol das metodologias e recursos utilizados nas práticas educativas
das diferentes metodologias de ensino.
Há de se inferir que mesmo sem apresentar práticas educativas que diferem das

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 804
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

utilizadas em espaços escolares formais, acreditamos que o direcionamento e a


intencionalidade presentes no desenvolvimento das práticas não formais da educação
pode ser o diferencial da educação escolar e da educação não escolar, isso porque a
educação social trabalha e se desenvolve através da sociabilidade e da capacidade de
conviver com o outro se tornando uma maneira que possibilita a aptidão do sujeito
educar-se. Assim, sinalizamos com base na análise dos documentos que no
desenvolvimento dessas práticas educativas as Instituições Não Escolares que
desenvolvem ações na cidade de Assú/RN procuram promover o que Morin (2015)
denomina de religação de saberes produzindo um conhecimento pertinente e
transdisciplinar fazendo com que o diálogo, a interação e a convivência com o diferente
flua como prática de vida em sociedade.
Há de se inferir que mesmo sem apresentar práticas educativas que diferem das
utilizadas em espaços escolares formais, acreditamos que o direcionamento e a
intencionalidade presentes no desenvolvimento das práticas não formais da educação
pode ser o diferencial da educação escolar e da educação não escolar, isso porque a
educação social trabalha e se desenvolve através da sociabilidade e da capacidade de
conviver com o outro se tornando uma maneira que possibilita a aptidão do sujeito
educar-se.
Postulamos, por fim, pelo que os documentos nos possibilitaram analisar que as
Instituições Não Escolares na cidade de Assú/RN, mesmo com fragilidades conceituais
desenvolvem práticas educativas através da educação social, e que de igual modo, essas
instituições tem um papel relevante para a sociedade assuense por possibilitar
transformações cotidianas na vida de muitos cidadãos em situação de vulnerabilidade
social e educacional, e a população a quem se dirige.

Considerações finais

Ao apresentarmos as práticas pedagógicas, ao mostrarmos como ocorrem seus


planejamentos e ao expormos os recursos didáticos mais utilizados no desenvolvimento
de ações educativas nas/pelas Instituições não escolares na cidade de Assú/RN podemos
inferir que a intervenção de uma prática educativa deve ser histórica e cultural. Assim,
suas ações devem responder às questões que emergem, também, no momento da sua
realização. Percebemos que as ações educativas nas/pelas Instituições Não Escolares na
cidade de Assú/RN parecem serem transplantadas, isto é, são materializada tal qual está
estabelecida nos documentos oficiais e que os educadores sociais possuem pouca (ou
nenhuma) chance de exercer a sua ação educativa de forma autônoma.
É inegável que as Instituições/Associações possuem objetivos, missão bem
como uma concepção de educação diferente daquelas da educação escolar. Mas,
podemos afirmar que pelo seu caráter de difundir e atuar por meio de práticas
educativas direcionadas à população em estado de vulnerabilidade social, educativo-
social e político que forma a grande maioria dos que procuram por essas instituições,
elas cumprem e desenvolvem práticas não escolares que culminam em exercícios de
cidadania e de autoafirmação dos sujeitos atendidos. Estas práticas estão amparadas pela
influência na definição de uma proposta de trabalho que direciona a prática cidadã.
Igualmente, compreendem ações educativas que oferecem competências para a vida,
para o trabalho e a cultura em geral, contudo precisam ser reinventadas (reprogramadas)
para que possam atender às demandas do momento atual, é preciso e urgente que os
educadores sociais das Instituições pesquisadas assumam o desenvolvimento de suas
práticas educativas de forma autônoma para que assim possam, também, assumir o “ato
politico” de educar.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 805
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências

GUINÉ, N. Proyecto docente e investigador. Barcelona: Universidad de Barcelona.


2007.

HAAS, Celia Maria. Projetos pedagógicos interdisciplinares. In. HAAS, Celia Maria;
BERKENBROCK-ROSITO, Margarete May (Org.). Interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade: políticas e práticas de formação de professores. Rio de Janeiro:
Wak Editora, 2014. p. 107- 142.

LÜDKE, M.: MARLI. E.D. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2º ed. Rio
de Janeiro: E.P.U, 2003.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Trad. Eliane Lisboa. 5. ed.


Porto Alegre: Sulina, 2015.

SACRISTÁN, J. Gimeno. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: ARTMED


Sul, 1999.

SEVERO, José Leonardo Rolin de Lima. A formação de pedagogos para a educação em


contextos não escolares: apontamentos críticos e alternativas curriculares. In.
SILVESTRE, Magali Aparecida; PINTO; Umberto de Andrade (Org.). Curso de
pedagogia: avanços e limites após as Diretrizes Curriculares Nacionais. São Paulo:
Cortez Editora, 2017. p. 127 – 162.

VENTOSA PÉREZ, Victor J. Intervención socioeducativa. 2 ed. Madrid: CCS, 1999.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 806
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PROFESSOR POR ENUNCIAÇÃO DA CULTURA: A QUARTA CULT


COMO ESPAÇO DE FORMAÇÃO

Luciana Carla da Silva1; Cláudia Maria Felício Ferreira Tomé2

Palavras-Chave: Formação, Currículo Itinerante; Extensão, Quarta Cult.

Introdução
O presente estudo se fundamenta numa pesquisa sobre o Currículo e reflexões de
como ele se dá no processo formativo dos discentes de Letras Língua Portuguesa que
participaram do projeto de extensão Quarta Cult. As discussões estão embasadas nos
constructos de Paraskeva (2018) com a Teoria Curricular Itinerante (TCI), a qual viabiliza e
valida uma ecologia de saberes, que não se adquiriam ou incorporariam caso esses
conhecimentos se prendessem apenas ao aporte de componentes curriculares obrigatórios na
relação sala de aula/ professor. Além disso as contribuições de Butler (2018) sobre a
representação dos corpos em aliança e as significações do espaço são importantes para
significação desses sujeitos. Ademais, considerando autores pós-estruturais, entendemos que a
formação do docente não é sinônimo de conhecimento epistemológico, ocidental, imposto por
uma matriz curricular dominante. Contrariamente, defendemos que não há uma
universalização, nem conceitos totalizadores, mas produções contínuas de sentidos no entre-
lugar ensino-extensão em que a heterogeneidade e a diferença vão possibilitar conhecer
pensamentos, vivências, agentes. Tratamos, pois, de um currículo que estar para além de uma
matriz disciplinar que o reduz a um instrumento planejador, ou seja, interessa-nos apresentá-
lo como artefato cultural, de produção de sentidos. O nosso objetivo é compreender a
atribuição de sentidos à formação docente por meio de um currículo itinerante mediante um
projeto de extensão.

Metodologia:
O presente estudo consiste numa pesquisa qualitativa do tipo participante, visto
participamos na condição de membro de um projeto de extensão ,objeto deste estudo,
denominado “Quarta Cult: Literatura, Artes e Sociedade” do Departamento de Letras do
Campus Avançado de Patu-CAP. Consideramos tal projeto como produção curricular
itinerante na formação dos licenciando de Letras Literaturas do CAP.
A pesquisa conta com a criação de um grupo focal como instrumento virtual de
pesquisa. Trata-se de um grupo de whatsApp, considerado como grupo focal online intitulado
Formação Itinerante, no qual temos participação como moderadora e participante do projeto,
de extensão Quarta Cult. Na condição de bolsista de iniciação científica nos valemos dos
demais participantes do “Quart Cult” como sujeitos dea pesquisa, com os quais se procedeu a
conversação via whatappp Partimos de temáticas discutidas na Quarta Cult, as quais nos
valíamos para fomentar as discussões e comentários o que possibilitou refletir também sobre
as próprias vivencias. Além disso, foram utilizados dados de relatórios do próprio projeto para
criação e desenvolvimento da conversação. Os sujeitos são aqui registrados por nomes
fictícios para resguardá-los como colaboradores. No mais, contamos, semanalmente com

¹ Discente do Curso de Letras Língua Portuguesa e respectivas Literaturas da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte- UERN.
2
Orientadora do projeto de pesquisa Tornar-se Professor Na Itinerância: Projetos Formativos e Atribuição de
Sentidos à Formação. Prof. Doutora do Departamento de Letras, do Campus Avançado de Patu, da universidade
do Estado do Rio Grande do Norte. Líder do Grupo de Pesquisa Ensino, Literatura e Linguagem Líder do Grupo
de Pesquisa Ensino, Literatura e Linguagem E-mail: claudiatome@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 807
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

apontamentos da orientadora do projeto PIBIC para um melhor processo investigativo da


pesquisa bem como sobre o arcabouço teórico que a embasa.

Resultados e Discussões
A atribuição de sentidos sobre currículo deu-se ao longo da história através de lutas
político discursivas quebrando os fundamentos do modelo ocidental e seus princípios
universais transcendentais, em que no contexto pós-moderno questões como heterogeneidade
e diferença passam a serem incluídas. O pensamento ou modelo ocidental que apagava as
pluralidades desconsiderava as diferenças, e os seus conceitos universais e totalizadores já não
respondiam aos anseios de uma gama da população. Conforme Santos (2007) o pensamento
abissal, o qual se divide em duas linhas, a visível e a invisível. Para que a visibilidade seja
possível ou validada conta-se com o apagamento de saberes, experiências, agentes que se
encontra do outro lado da linha. Sendo o genocídio linguístico uma das marcas deixadas pelo
pensamento moderno ocidental através da sua condição abissal. Nesse sentido, comungamos
com a ideia de uma teoria curricular desterritorializada, de não espaços (AUGE, 2003 APUD
Paraskeva 2018), que considera o mundo da diferença, conforme DELEUZE APUD
Paraskeva (2018) sendo, pois, capaz de capturar situações, vivências que só são possíveis
quebrando e rompendo abissalidade,
Este estudo recusa uma observação presa à sala de aula, ou a componentes curriculares
impostos como norma para a formação, canonizado. Entendemos que o currículo não é
estanque, está em movimento, desconstruindo e deslocando-se. Nessa perspectiva, o projeto
de extensão “Quarta Cult: Literatura, Artes e Sociedade “ofertado pelo Departamento de
Letras ”- DL do Campus Avançado de Patu-CAP, torna-se relevante na construção dos
sujeitos em formação para docência, pois conforme Moreira e Silva (1994, p.28), currículo é
“um terreno de produção e de politica cultural” e é sobre esse terreno que apresentamos as
“falas” dos componentes do projeto de extensão.
O “Quarta Cult: Literatura, Artes e Sociedade” foi um projeto com durabilidade de
agosto 2018 a agosto de 2019 com participação de discentes do curso de Letras de vários
períodos sendo um total de trinta participantes. A nossa pesquisa se constitui como um
recorte, uma releitura dos momentos já vivenciados pelos participantes. Dentre os objetivos
do citado projeto estar a ampliação dos conhecimentos acadêmicos dos participantes, criando
para isso um espaço cultural de leitura e performance poética, dos quais se davam por meio de
saraus literários. entretanto apresentaremos que as significações postas a estes integrantes vão
além do contido na proposta em si, pois a produção curricular é desviada da norma, há
deslocamentos, saindo do planejado para aquilo que é vivenciado. De acordo com Lopes e
Macedo (2011, p. 203) “O currículo é, como muitos outros, uma prática de atribuir
significados, um discurso que constrói sentidos”
O projeto não saia do local específico: o CAP, mas fazia com que o público pudesse
ocupar diversos espaços desde os da resistência aos do conhecimento sobre temas polêmicos
que eram trazidos para discussão e debate em sociedade gerando formadores de opiniões.
Com relação às apresentações dos saraus, Para Brígida, integrante do Quart Cult o evento do
Quart Cult, “o espaço era escolhido de acordo com o tema da apresentação, alguns temas
meios que necessitavam de uma apresentação ao ar livre, para conseguir alcançar outros
públicos, outras mentes”.
Sobre a participação na extensão ofertada pelo Campus, ressaltamos que no período
em que o projeto se desenvolveu, ainda não havia a curricularização da extensão, porém
contemplava as horas extras também necessárias para o cumprimento do Projeto Pedagógico
de Curso. Para além do aproveitamento de horas, a integrante, Flor diz sentir “a necessidade
de participar de atividades além da sala de aula, [viu] no Quarta Cult a possibilidade de
conseguir [se] expressar melhor diante do público.” Posteriormente ela acrescenta “Através

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 808
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

do Quarta Cult pude melhorar minha maneira de me expressar e com certeza, melhorei minha
desenvoltura em apresentar seminários, por exemplo, o que antes era um desafio muito
grande.” Podemos perceber que as significações ultrapassam “o tempo” de duração do
projeto, os quais configuraram como práticas curriculares que constroem e produzem sujeitos
Flor se apresenta como quem tinha suas dificuldades em relação às aulas, conforme as
normatividades de uma matriz disciplinar conteudista. Esse processo aponta para o constructo
Macedo (2006), ao defender que educação não se faz apenas através do ensino, o qual tem
sido utilizado como sinonímia e isso apaga o caráter mais abrangente que há na educação.
Vale dizer que dentre as cobranças que são feitas na formação, encontra-se a exigência quanto
a desenvoltura nas apresentações, domínio da oralidade, etc. Percebe-se, mediante a fala de
Flor, que são nesses espaços além da sala de aula, textos, discursos, trocas distantes do
conteúdo canonizado, do idealizado para aprimoramento do ser que vão se construindo esses
sujeitos. Entretanto esses saberes não apagam a importância dos demais, a saber, os saberes
viabilizados pelos componentes curriculares. A abrangência das experiências no projeto inclui
também lugares apagados, vistos por alguns com certo preconceito, são os entrelugares da
diferença, sobre os quais fala Jota:

Sobre esse momento de pandemia, se for pensar na questão de resistência...


A gente passava muitas vezes dificuldades lá na UERN. Para realizar os
trabalhos do quarta cult a gente enfrentou algumas coisas né e alguns
professores estão enfrentando isso agora, essa questão de não tá podendo dá
aula presencial então o quarta cult ensinou um pouco a como valorizar o
nosso espaço né e o que tem ao nosso alcance ensinou a gente a trabalhar,
com o pouco que a gente tem.

Sendo o projeto que tinha entre um dos seus objetivos os de valorizar a cultura no
meio acadêmico, dando espaço para outros sentidos, outras vivências por meio da arte, o
Quarta Cult também deixou suas contribuições na maneira de se portar perante o imprevisível,
agora apontado como o momento de pandemia. Ou seja, trata-se de inventar, de entender que
a educação é feita de imprevisíveis. De acordo com Paraíso, podemos pensar esse processo
como “artefato cultural que ensina e produz sujeitos, que está em múltiplos espaços
desdobrando-se em diferentes pedagogias.” (PARAÍSO, p.11) Assim como nas atividades
realizadas no projeto, os alunos têm a possibilidade de se reinventar e adentrar em outros
universos de sentidos antes inimagináveis e, a partir disso, conseguir encontrar novas
possibilidades, novas potências de vida. Isto também contribui para melhor entender e
conseguir viver em tempos difíceis, a exemplo do que estamos vivenciando com a pandemia.
Ajuda a encontrar e/ou fazer novos caminhos quando os já conhecidos não podem mais ser
trilhados.
Diante destas inúmeras mudanças no quadro educacional, é produtivo pensar sobre as
formas de ensino, pincipalmente em que os meios possíveis são os remotos, ainda que não
dispense o monitoramento, é possível uma dose de recusa ao epistemicidio. Tal recusa invoca
uma espécie de inventabilidade. Sobre isso, o integrante Gledson comenta:

(...)aconteceu na cantina naquele espaço em frente a cantina do Campus


Avançado de Patu durante o intervalo, começou um pouquinho de atraso oito
e trinta não é, e a própria natureza parece que estava boicotando a gente
naquele dia. É, tava tendo muito vento forte e tava querendo bagunçar a
ornamentação começou a chover um pouco e a gente tava sob pressão não é
porque a gente trabalhava com isso né, a gente trabalhava com, a gente
colocava o dedo na ferida a gente trabalhava temas polêmicos, batia de
frente é com aquele conservadorismo, é bandeiras que ao nosso ver
promoviam de certa forma a discriminação e o projeto quarta cult era

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 809
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

totalmente contra isso num era, a gente trabalhava inclusão, trabalhava o


respeito entre outras coisas e tava tudo conspirando contra a gente e de
repente para um pouco a chuva, para um pouco o vento e a galera dos outros
cursos lotou ali aquele espaço da cantina e a gente chega arrepiou realmente
contamos com a participação do professor B do departamento de Educação e
ele cantou se não me engano uma canção de Belchior é a gente ainda
declamou poemas de artistas, artistas negros é que realmente defendiam
essa bandeira da inclusão social contra a discriminação social e racial e para
mim foi bastante arrepiante.

Inspirados em Paraskeva (2018) sobre a Teoria Curricular Itinerante (TCI, podemos


dizer que a “Quart Cult’’ produziu sentidos na “espontaneidade”, nos saberes do cotidiano da
vida, advindo das trocas que o academicismo ocidental não comportaria, da cultura que não
são discutidas no cânone, nem aceitas pelo conhecimento científico, mas que são valiosas
para construir sujeitos na contemporaneidade. Trata-se, segundo Paraskeva (2018), de ter o
encontro com aquilo que vivem. Seguindo os constructos de Butler (2018) não são
necessariamente pessoas de um mesmo perfil, mas sim inúmeros seres humanos com
identidades diversas, raças, contextos que se unem no mesmo proposito, reivindicar o direito
de aparecer, mesmo que inconscientemente os seus corpos ali presentes se manifestam diante
o espaço que antes chamado de acadêmico agora se torna campo de resistência e saberes.
Universidade, docência, comunidade criam laços e começa a falar uma só língua, a
pluralidade de sujeitos é respeitada.

Conclusões
As experiências que constroem sujeitos em formação não se dão apenas no léxico, no
conhecimento do gênero textual, mas nas relações vivenciais vivências que refutam, conforme
Paraskeva 2018), uma geografia hegemônica que causa uma eutanásia do outro, dos saberes,
das experiências que compõem a construção do ser professor.

Agradecimentos
A Deus por tudo, a UERN por investir na pesquisa da qual contribuiu sobremaneira na
minha vida pessoal e profissional. E por osso, a parabenizo. À minha orientadora Doutora
Claudia Tomé, uma excelente profissional que faz jus a está aqui citada, muito humana e que
visualiza e pratica um ensino construtor de sentidos para seus licenciandos. A minha família,
meu namorado e todos do Projeto Quart Cult.

Referências
BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria
performativa de assembleia ; 1ª ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
PARAÍSO, Marlucy Alves. Currículo e formação profissional em lazer. In: ISAYAMA,
Helder(org.) Lazer em Estudo: Currículo e formação profissional.
Campinas:PAPERIES,2010b.
PARASKEVA, João, M . Teoria curricular itinerante: desafios a involução curricular. In:
TOMÉ, Claudia; MACEDO (Org), Elizabeth. Currículo e diferença: afetações em
movimento. Curitiba, CRV, 2018
LOPES, Alice Cassimiro; MACEDO, Elizabeth. Teorias do currículo. São Paulo: Cortez,
2011
MACEDO, Elizabeth. Currículo como espaço-tempo de fronteira cultural. Revista
Brasileira de Educação, n. 11, p. 285-296, 2006a,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 810
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PROJETOS EDUCACIONAIS COMO MEIO DE EFETIVAÇÃO DAS


POLÍTICAS NA ESCOLA

Kênia Bruna da Silva 1; Jean Mac Cole Tavares Santos2

Palavras-chave: Projetos Educacionais. Ensino-aprendizagem. Ciências para todos.

INTRODUÇÃO

Neste trabalho, temos como objetivo compreender como as políticas educacionais são
desenvolvidas, por meio de projetos educacionais, no ambiente da Escola. Para embasar nossa
pesquisa dialogamos com autores que percebem a política enquanto possibilidade de
ressignificação no contexto escolar, deixando de lado qualquer interpretação de política como
implementação. Dessa forma, partimos do “entendimento da política de currículo como uma
luta pela significação do que vem a ser currículo” (LOPES, 2005, p. 447).
Assim, pensamos a concepção de política em Braun, Maguire e Ball (2016), mostrando
a política como um procedimento que está variavelmente e por repetidas vezes em contestação,
sujeito a interpretações e traduções de diferentes modos nas instituições e salas de aula. Assim,
entendemos as políticas educacionais como produções de significações curriculares
desenvolvidas em múltiplos contextos.

METODOLOGIA

Desenvolvemos uma pesquisa qualitativa que se caracteriza como uma pesquisa


exploratória e descritiva. Qualitativa, pois segundo Minayo (2009, p. 21) a pesquisa qualitativa
“trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores
e das atitudes”.
Assim, a pesquisa qualitativa tem aprofundamento nas relações sociais buscando
entender as subjetividades dos seres humanos expressos em determinado contexto, exploratória
pois para Gil (1999, p. 21), a pesquisa exploratória objetiva-se em apontar os diferentes olhares
para o mesmo problema, com tudo possibilitar uma visão geral a respeito do tema proposto e
descritiva, segundo Gil (1999, p. 22), a pesquisa descritiva tem o intuito de descrever o
fenômeno em discussão, a fim de caracterizar o objeto em estudo.
Como instrumento da coleta de dados realizamos uma entrevista semiestruturada com
uma gestora de uma escola da rede pública, a fim de identificarmos quais políticas educacionais
e projetos estão sendo desenvolvidos na instituição. Para preservar a identidade da entrevistada,
na análise dos dados coletados, substituímos o nome da mesma por Ana.
A escola lócus da pesquisa é localizada na zona urbana da cidade de Mossoró - RN. A
instituição oferta apenas a etapa de Ensino Médio Integral, de acordo com os dados fornecidos
no portal QEdu, das coletas realizadas pelo Censo Escolar/INEP 2018, a instituição possui o

1
Graduanda do curso de Publicidade e Propaganda no Departamento de Comunicação Social – DECOM, na
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN. Bolsista CNPq/PIBIC. E-mail:
kenya_bruna@hotmail.com.
2
Professor do Departamento de Educação, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. Líder do
Grupo de Pesquisa Contexto e Educação. E-mail: maccole@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 811
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

total de 29 funcionários, 282 estudantes matriculados, destes 119 estão matriculados no 1º ano,
70 estão matriculados no 2º ano e 90 estão matriculados no 3º ano.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na análise de dados, foi possível constatar que a instituição passou por diversos
processos de implementação de políticas públicas, Ana, discorreu um breve histórico sobre
como se deu os sistemas de implementação:

Foi a segunda escola de Mossoró a implantar o Ensino Médio Integral. Em


2010 possuiu o Ensino Médio Inovador, depois de alguns anos passou a ser
semi-integral, e tornou-se em 2018 uma das escolas que possuía Ensino Médio
Integral. Atualmente a escola contém 170 alunos, distribuídos em seis turmas
(duas de cada série). A grade curricular da escola é mais extensa que as escolas
regulares, possui uma ‘Base Diversificada’: que são eletivas, estudo orientado
e práticas experimentais e avaliações (ANA, 2019).

Atualmente a instituição de ensino, oferta o Ensino Médio Integral, que funciona por
meio de um sistema, no qual contempla uma jornada de oito horas e meia no Ensino
Fundamental e de nove horas e meia no Ensino Médio. Segundo Ministério da Educação (MEC,
2017):

O Ministério da Educação (MEC) tem fomentado estratégias de apoio visando


a necessidade de estabelecer ações conjuntas entre os entes federados, que
propiciem novas organizações curriculares para o novo ensino médio,
compatíveis com as perspectivas da sociedade contemporânea e com os anseios
dos jovens, em conformidade com a Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017.
Outro fator muito importante a ser considerado é a meta 6 do Plano Nacional
de Educação (PNE), que trata do compromisso de oferecer Educação em tempo
integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo
menos, 25% dos(as) alunos(as) da Educação Básica.

Na coleta de dados foi possível identificar que apesar da carga horária ser mais extensa,
a adaptação foi ocorrendo de modo gradativo de acordo com a vivência da rotina: “No início
os alunos mostravam dificuldades com o ensino integral, pois diziam ter vários projetos em
mente para as horas vagas que seria um turno. Com o tempo foram se adaptando” (ANA, 2020).
Para consolidar o desenvolvimento de políticas como o Ensino Médio Integral, a
escola elabora e aplica projetos que auxiliam o processo de ensino-aprendizagem dos
estudantes. Os principais, de acordo com a entrevistada Ana, são: ciência para todos, são João,
sarau e o capacitação de vagas.
O projeto Ciência para todos é desenvolvido em parceria com a Universidade Federal
Rural do Semi-Árido (UFERSA), Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN),
Secretaria do Estado de Educação e Cultura do Rio Grande do Norte (SEEC) e a Diretoria
Regional de Educação e Cultura (DIREC). Tem como objetivo proporcionar ao aluno o
desenvolvimento acerca do método científico, antes do contato com o Ensino Superior, sendo
ensinado passo a passo para cada estudante de como desenvolver projetos científicos.
Além disso, o programa realiza capacitações sobre o método científico com alunos e
professores por meio da Metodologia Científica ao Alcance de Todos - MCAT. A partir dessa
metodologia, acontecem oficinas de elaboração de projetos, feiras de ciências escolares,
regionais e a participação dos melhores projetos em feiras de ciências nacionais e
internacionais.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 812
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O projeto Sarau, criado e desenvolvido dentro da escola, ocorre de forma


interdisciplinar, buscando enriquecer a leitura dos estudantes e consequentemente desenvolver
e instigar o prazer e o hábito pela leitura.
Já o projeto São João, também criado e desenvolvido por professores e alunos da
própria escola, busca introduzir os conteúdos propostos pela Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), por meio de uma proposta educacional, procurando expandir o processo de ensino-
aprendizagem com estratégias que estejam ligadas a tradição cultural que envolve a região.
Por fim o projeto Captação de vagas, que é um processo de divulgação, que envolve
os próprios estudantes em outras escolas do município de Mossoró. Os estudantes apresentam
a instituição, expondo a proposta do Ensino Médio Integral e como ela ocorre em suas
vivências. Dessa maneira, é uma forma de outros estudantes se identificarem e serem instigados
a ingressarem na instituição.
Com a pesquisa foi possível identificar, que essa metodologia atinge tanto os
estudantes como os familiares responsáveis por eles. “Por ser uma das únicas escolas a ter o
ensino médio "inovador" que seria o ensino integral, acaba influenciando alguns pais a acharem
que é melhor para os filhos” (ANA, 2020).
De acordo com a gestora entrevistada “a organização dos estudos dos alunos ocorre
através de uma disciplina que auxilia na organização dos estudos dos discentes. Sendo
acompanhado pelos professores, ajudando a esclarecer as dúvidas” (ANA, 2020).
As práticas experimentais são voltadas para área das ciências da natureza, na qual
realizam experimentos. Além disso, Ana ressalta que nas segundas-feiras ocorrem avaliações
na instituição e justifica como esses projetos auxiliam no processo de ensino-aprendizagem:
“Esses projetos visam melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Através desses projetos,
foi possível chegar em feiras nacionais como a FEBRACE e em eventos internacionais. A
escola desenvolve os projetos do Sarau e São João” (ANA, 2020).
Além disso, fica evidente o reflexo da implementação desses projetos, uma vez que
instiga o ensino-aprendizagem na relação dos estudantes e professores da instituição, sobre esse
aspecto, ANA afirma que:

os projetos trazem impactos na formação dos alunos. Eles sempre falam das
oportunidades que lhes são ofertadas como a abordagem da arte
contemporânea, de poderem conhecer outras culturas e principalmente
trabalharem em equipe, pois através da inclusão da arte é possível identificar
a grandiosidade da contemporaneidade.

Com o propósito de descrever e explorar a influência das políticas educacionais e os


projetos no ambiente da escola, percebemos que os projetos, sejam eles criados e
implementados na própria escola ou projetos maiores, como por exemplos os que tem parceria
com as universidades tem um bom desenvolvimento, contribuindo para a implementação das
políticas públicas e alcançam seus objetivos com resultados satisfatórios, contribuindo para um
ensino aprendizagem de qualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mediante esse trabalho foi possível compreender como ocorre e a importância das
políticas educacionais, como também os projetos que estão sendo implementados no ambiente
escolar. Visto que, grande parte delas visam aperfeiçoar o processo de ensino-aprendizagem
por meio dos projetos educacionais que estão sendo realizados de forma ativa e envolvendo os
discentes que estão no ambiente escolar.
Foi possível entender como os projetos são desenvolvidos dentro da escola, destacando
os resultados que estão sendo gerados através da formação humana, impactando diretamente o

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 813
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

estudante e/ou professor, apontando que esses indivíduos estão contextualmente colocando a
política em prática, ou seja, são sujeitos fundamentais na implementação das políticas nas
escolas.

AGRADECIMENTO

Agradecemos ao CNPq, instituição de grande importância para o fomento da pesquisa


no país, pela bolsa de iniciação científica, possibilitando que pudéssemos concluir parcialmente
nossa pesquisa.
Agradecemos a UERN por nos permitir o desenvolvimento de projetos como esse.
Agradecemos a PROPEG, em nome de Ismael Nobre pela atenção e cuidado no trato
com os alunos.
Agradecemos ao Grupo de Pesquisa Contexto e Educação (CONTEXTO) que
contribuiu com as discussões teóricas, ajudando na realização da pesquisa.
Agradecemos aos professores e gestores de todas as escolas que foram lócus da
pesquisa por abrir as portas das escolas públicas e acreditar na parceria universidade e escola
pública.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Política de Fomento à Implementação de Escolas de


Ensino Médio em Tempo Integral (EMTI). Disponível em:<
http://portal.mec.gov.br/publicacoes-para-professores/30000-uncategorised/55951-politica-
de-fomento-a-implementacao-de-escolas-de-ensino-medio-em-tempo-integral-emti> Acesso
em: 10 de ago. de 2020.

BALL, Stephen. J; MAGUIRE, Meg; BRAUN, Annette. Como as escolas fazem políticas:
atuação em escolas secundárias. Ponta Grossa: Editora UEPG, 2016.

Ciência para Todos para Todos no Semiárido Potiguar. Disponível


em:<https://cienciaparatodos.com.br/quem-somos/> Acesso em: 10 de ago. de 2020
> Acesso em: 10 de ago. de 2020.

ESCOLAR/INEP, Censo. Eefm Ee Aida Ramalho Cortez Pereira: sobre a escola. Sobre a
Escola. 2018. Disponível em: https://www.qedu.org.br/escola/72600-eefm-ee-aida-ramalho-
cortez-pereira/sobre. Acesso em: 05 ago. 2020.
Educa mais Brasil. Importância da feira de ciências para construção do pensamento
científico, 2019. Disponível
em:<https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/escolas/importancia-da-feira-de-ciencias-
para-construcao-do-pensamento-cientifico> Acesso em: 10 de ago. de 2020

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.

LOPES, Alice Casimiro. Política de currículo: recontextualização e hibridismo. Currículo


sem Fronteiras, v. 5, n. 2, p. 50-64, jul./dez. 2005.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18
ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 814
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REFLEXÕES AUTORAIS DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA

Monalu Albuquerque Dias1; Alessandro Teixeira Nóbrega 2; Ludenilson Marconey da Silva


Lopes e João Raulino de Oliveira Neto

Palavras-chave: Pedagogia. Pesquisa-ação. Imaginário poético. Imagem poética.

INTRODUÇÃO
Tendo em vista que, as reflexões autorais, isto é, a exposição de suas próprias ideias e
sentimentos, são importantes para o desenvolvimento da criatividade e estímulo à imaginação,
o intuito da pesquisa é despertar nas estudantes do curso de pedagogia, o desejo de expor suas
reflexões autorais mediante a leitura e reflexões das tirinhas presentes na obra “Talvez isso” do
desenhista e roteirista de história em quadrinhos Marcelo Campos (2015), em encontros
promovidos no projeto de pesquisa.
A pesquisa traz em si, conteúdo sisudo, considerando que se trata do que as estudantes
de pedagogia sentem em sua alma, seus tormentos, e aflições, a partir das tirinhas presentes no
livro supracitado. Contudo, de acordo com Thiollent (2005, p. 31), “A pesquisa não perde a sua
legitimidade científica pelo fato dela estar em condição de incorporar raciocínios imprecisos,
dialógicos ou argumentativos acerca de problemas relevantes” (THIOLLENT, 2005, p. 31).
Pelo contrário, relaciona o estudo científico com o encantamento artístico, ou seja, da maneira
que é realizado o estudo, se aborda o encantamento provocado pela estética sem deixar de ser
científico.
Devido a diversidade e a transubjetividade de pensamentos, várias significações podem
ser feitas de uma imagem poética, como será abordado posteriormente. No âmbito acadêmico
– ou até mesmo fora – a imaginação criativa costuma ser desconsiderada, condicionando o
sujeito a limitação de que na realidade tudo tem um limite e um modo correto de fazer, como
se todas as perguntas pudessem ser respondidas. O conteúdo da tirinha, a identificação com a
imagem poética dela, afeta de alguma forma o leitor e neste possivelmente surgirá algum
sentimento que o fará refletir sobre o que leu e sentiu ao ler.
Se faz necessário frisar que imaginação que aqui se refere, trata-se da elaboração de
Gastón Bachelard (2000), a imaginação criativa do sujeito pensante. Estudam-se as tirinhas de
Marcelo Campos (2015) como “o espaço compreendido pela imaginação” (Bachelard, 2000,
p.196).
O objetivo da pesquisa é estudar as tirinhas com base nos sentimentos que elas inspiram
nas estudantes de pedagogia. Tendo em vista que as reflexões feitas nos textos, relatam
situações que demonstram conflitos comumente vivenciadas pelo ser humano, e com grandes
reflexos no processo de formação da profissão docente.

1 Estudante do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte


- UERN. E-mail: monachave99@gmail.com
2 Professor do Departamento de educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

- UERN. Membro Grupo de Estudo e Pesquisa Educação e Linguagem (GEPEL). E-mail:


alessandronobrega@uern.br
Ambos Estudantes do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte - UERN.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 815
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

METODOLOGIA
A abordagem desta pesquisa é qualitativa, e o método usado é o da pesquisa-ação
(Thiollent 2011; Haguette 1987; Morin 2004 e outros), pois os sujeitos pesquisadores
pretendem interferir na situação problematizada durante a pesquisa, ter uma melhor
compreensão acerca das perspectivas da situação problematizada, além de participar da
atividade proposta junto com os sujeitos pesquisados. De acordo com SEVERINO (2007), a
pesquisa-ação tem o intuito de ir além de somente compreender, mas intervir nas situações,
querendo assim, modificá-las. Ou seja, “o conhecimento visado articula-se a uma finalidade
intencional de alteração da situação pesquisada”. Pretendendo que, ao mesmo tempo que realiza
um diagnóstico e a análise de uma determinada situação, os sujeitos pesquisadores busquem
meios de realizar modificações no contexto, que levem a um aprimoramento das práticas
analisadas. (SEVERINO, 2007, p. 120).
A metodologia utilizada nesta pesquisa foi a realização de Oficinas de Pensamento
denominadas “Banquetes de Reflexões Autorais”, nas quais foram convidadas estudantes que
possuem textos, poesias, tirinhas e outras obras de reflexão autoral, e no momento em questão,
tiveram a oportunidade de as expor. Após um diálogo sobre seus sentimentos em relação ao que
foi exposto, pedimos que escrevessem sobre a imagem poética dos textos expostos pelos
pesquisadores, como algumas tirinhas selecionadas do livro “Talvez isso...” de Marcelo
Campos (2015), as quais se configuram em reflexões autorais por se tratar da expressão de
ideias e sentimentos próprios do escritor. Essas imagens poéticas foram recolhidas e analisadas,
para que fossem identificados quem são esses sujeitos, o que elas escrevem e o motivo de não
publicarem seus textos, e a partir daí conseguirmos promover uma reflexão que as encorajem a
publicar essas obras, levando-as a dar importância aos seus pensamentos mais íntimos e que
muitas vezes são rebaixados em detrimento de escritos puramente acadêmicos que
desconsideram a alma do sujeito pensante.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A imensidão é uma categoria do devaneio poético, que revela a intensidade da imagem
em seu valor onírico. Ou seja, o seu valor na imaginação, no sonho. O devaneio da imensidão
produz a consciência da ampliação do ser imensificante. Dentro desta esfera de imersão em si
mesmo, de uma dimensão imaginativa, é possível trazer múltiplas possibilidades de
interpretações que estão na própria multiplicidade de significação das palavras. Isto porque,
uma obra autoral tem reflexões próprias, mas que não impedem – pelo contrário, estimula – a
imaginação criativa do sujeito leitor que também é sujeito pensante e capaz de, a partir do
impacto de uma reflexão de outrem, fazer reflexões autorais.
De acordo com Novaes (2005, p.11), a obra de arte fornece matrizes de ideias que não
se limitam nos enunciados das palavras, mas possuem significações abertas. O que ele vai
chamar de “poder de expressão elíptica” (p.11). Isto nos remete que uma obra de arte de
pensamento propõe provocar o leitor a ponto de que ele seja mais que o sujeito de consumo
passivo, mas, o participador ativo da obra por meio das interpelações. Prioridade, portanto, do
fazer sobre o saber. Pois como já nos desperta “[...] a imaginação é mais importante do que o
saber.” (apud BARROS, 2008, p. 37).

“[...] Todo excitante provoca, e os efeitos são necessariamente


repartidos entre os pares: ser excitado é ser afetado. Mais: todo grande
artista –poeta, escritor e/ou desenhista– é um excitante particularmente
poderoso, e é por isso que voltamos sempre a ele. [...]” (p.11).

Ambos Estudantes do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte - UERN.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 816
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Bachelard (2000) vai afirmar que a imagem não tem passado. No sentido de que a
explicação da imagem poética deve partir do presente; da repercussão atual, da sensação que
ela causa ao leitor. Neste sentido, cada imagem poética desperta sentimentos novos nos
indivíduos. Inclusive, em um mesmo indivíduo, mas em momentos diferentes, a significação
será outra. Apresentamos aqui um fragmento da pesquisa com uma das estudantes que
concordou em expor sua reflexão. Iremos chamá-la de Estudante 1, para manter o anonimato e
preservar sua integridade.
Figura 1 – tirinha da página 9

Fonte: Talvez isso…, 2015

Na reflexão feita pela estudante sobre a tirinha 9 do livro, observamos as correlações


que a autora da reflexão faz com as situações de sua vida no presente momento em que escreve,
trazendo suas experiências pessoais para solidificar os sentimentos que têm ao ler o texto de
Marcelo Campos.
Somos feitos de pedaços, retalhados, costurados por dores e curas, alegrias e
tristezas, dúvidas e certezas, fé e descrença. Há coisas, sentimentos, que viram
cicatrizes em nós, talvez seja para que, de alguma forma, a gente aprenda a
lição. Outras latejam dentro da gente, por mais que se queira esquecer, que se
tente apagar, mas ela está ali, se fazendo presente, na nossa memória, no nosso
olhar. Dores que nunca curam... quando dou por mim, já não me reconheço
mais. Talvez, na verdade, nunca tenha me conhecido, e por mais que queira
arrancá-la de mim, lembrando-me que, se tivesse tomado outro rumo,
escolhido outro caminho, não estaria com ela ali, pulsando, mas ao mesmo
tempo, vejo que é tão inútil tal sentimento... porque são esses remendos e
feridas que me fazem ser quem sou, um ser desconhecido/conhecido em
muitos momentos, que se faz e refaz, entre espinhos e flores, nesse caminho
chamado vida! (ESTUDANTE 1)

A ideia colocada nesta reflexão, encontra respaldo no que diz Paulo Freire (1999).
Somos seres inacabados, portanto, há sempre novas lições a aprender e ainda assim, não
saberemos tudo de nós mesmos. (FREIRE, 1999)
É aí que ocorre a repercussão. Quando através de uma imagem poética singular, ressoa-
se em ecos sobre outras almas, outros corações, de modo a ser difícil determinar a sua
profundidade e seu término (Bachelard, 2000, p.183). É nesta repercussão que cabe afirmar a
intensidade dos sentimentos que ressoam de uma obra artística como as tirinhas presentes no
livro “Talvez isso...”. A repercussão ocorre quando “[...] a imagem que a leitura das tiras nos
oferece faz-se verdadeiramente nossa. Enraíza-se em nós mesmos [...]” (p.188).
Entretanto, como essa ressonância não está na causa da imagem poética, mas no
sentimento do leitor, na realidade é o próprio leitor que cria esse significado. O leitor torna-se
criativo na medida em que utiliza sua consciência imaginante. Por isso ela é singular, nova e
única. Não tem passado. Porque depende da ressonância no leitor. Não se pode explicar uma

Ambos Estudantes do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte - UERN.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 817
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

manifestação artística apenas por sua relação com a realidade social. Não há uma causa da
imagem poética.
A criatividade do leitor advinda de sua consciência imaginante, evidentemente, está
relacionada com as suas vivências, experiências de vida e sociais, – como declara Marcelo
Campos em entrevista dada ao Site de história em quadrinhos Universo HQ “autor das tirinhas
afirma ser mais “fácil” realizar esse trabalho autoral, com textos e desenhos criados a partir de
sua vivência e experiências” – e, portanto, tem relação com a realidade. É através dessa
criatividade, que a consciência imaginante se descobre como uma origem. Isolar esse valor de
origem de diversas imagens poéticas é o que deve interessar, num estudo da imaginação, a uma
fenomenologia da imaginação poética. (Bachelard, 2000, p.188).
Neste sentido, a imagem poética concede ao leitor certa autonomia de ressignificar
aquilo que lê a partir de sua imaginação criativa, isto é, as reflexões do leitor são e também
devem ser consideradas autorais.

CONCLUSÃO
Pode-se concluir o quão importante é para professores em formação, desenvolver a
imaginação criativa por meio do devaneio poético para o exercício da criatividade tão
objetivada na profissão docente, utilizando-se das tirinhas de Marcelo Campos para provocar e
causar impactos na alma das estudantes de pedagogia que participaram da pesquisa, pois nota-
se que as estudantes conseguem escrever bem o que sentem lendo o que é proposto e refletem
bastante a respeito.
É relevante enfatizar que devido ao contexto pandêmico que o país enfrenta desde
meados de fevereiro, as oficinas de pensamento estão suspensas ao público, e por não
acreditarmos ser interessante a nossa pesquisa fazer oficinas de pensamento online, preferimos
apenas nos reunir internamente para discutir sobre aquilo que já tínhamos e aprimorarmos
nossas análises.
AGRADECIMENTOS
Gratidão a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para o desenvolviment o
desta pesquisa como um todo. Á UERN e ao CNPq por propiciarem bolsas de estudo que
permitiram que ocorresse esse trabalho, contribuindo para a nossa formação.

REFERÊNCIAS

BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural,
2000. p. 183-353.

______. A poética do devaneio. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.


BARROS, Manoel de. Memórias inventadas: a terceira infância. São Paulo: Editora Planeta do
Brasil, 2008.

CAMPOS, Marcelo. Talvez isso.... São Paulo, 2015.


Entrevista de Marcelo Campos ao Universo HQ. Disponível em:<<
http://www.universohq.com/noticias/marcelo-campos-comenta-album-talvez-isso/>>. Acesso
em: 28 de abril de 2019.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro:


Paz e Terra, 1999.

Ambos Estudantes do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte - UERN.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 818
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

NOVAES, Adauto (org). Poetas que pensaram o mundo. São Paulo: Companhia das Letras,
2005.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. rev. E atual. São
Paulo: Cortez, 2007.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. 14 ed. rev. e aum. São Paulo: Cortez,
2005.

Ambos Estudantes do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte - UERN.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 819
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RELAÇÕES ENTRE AFETIVIDADE, VIOLÊNCIA,


ESPIRITUALIDADE E FORMAÇÃO

Vinicius Batista Vieira1; Ana Júlia Dantas Cardoso2; Ana Paula Fagundes de Freitas3;
Matheus Giliard Silva Sousa4; Maria Euzimar Berenice Rego Silva5.
Palavras-chave: Desenvolvimento. Direitos. Infância. Vínculos Afetivos.

INTRODUÇÃO
Apresentamos aqui os resultados das investigações realizadas no plano de trabalho
"001 - RELAÇÕES ENTRE AFETIVIDADE, VIOLÊNCIA, ESPIRITUALIDADE E
FORMAÇÃO – FASE III", vinculado a Pesquisa "FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
HUMANO: INTERFACES ENTRE AFETIVIDADE, VIOLÊNCIA E ESPIRITUALIDADE
– FASE III", cadastrada no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC),
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), bem como, nos planos de
trabalho "001 - AFETIVIDADE E ESPIRITUALIDADE NA FORMAÇÃO HUMANA" e
"002 - DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E AS PRÁTICAS DE
EDUCAÇÃO INTEGRAL", vinculados a Pesquisa "INTERFACES ENTRE
AUTOCONHECIMENTO, ESPIRITUALIDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO",
cadastrada no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica do Ensino Médio
(PIBIC-EM) da UERN, que objetivam refletir sobre as interfaces entre as vivências
espirituais, a afetividade e a violação de direitos de criança e adolescentes e as implicações
para a formação humana no contexto da educação de municípios vinculados ao Programa
de Extensão "Diálogos Autobiográficos: trilhas da formação dos/as educadores/as
serranos/as" (Diálogos Serranos), com destaque para o município de Portalegre, RN, em
que são desenvolvidas ações do Projeto de Extensão “DIÁLOGOS SERRANOS
PORTALEGRENSES: INFÂNCIA E AUTOEDUCAÇÃO” (Diálogos Portalegrenses),
ações vinculadas ao Núcleo de Extensão Universitária em Educação em Direitos Humanos
(NUEDH), do CAPF/UERN.
Com isso priorizamos elucidar as percepções e experiências de membros da equipe
executora do Projeto de Extensão "Diálogos Portalegrenses" sobre as relações entre
afetividade, violência e formação, seja em relação às vivências no cotidiano escolar,
profissional, familiar e religioso, a partir da reflexão sobre a importância dessas temáticas
para as pessoas que cuidam ou já tiveram alguma atuação com crianças em diversos espaços
sociais, tais como: igrejas, templos religiosos, convívio familiar, escolas, programas de
assistência social, entre outras instituições, que atendam e recebem essas crianças.

1
Estudante voluntário do 5º período do Curso de Letras/Língua Portuguesa do Departamento de Letras
Vernáculas, Campus de Pau dos Ferros, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e membro do
FORMEPE; e-mail: vinicius_batista12@live.com.
2
Estudante bolsista do PIBIC-EM/UERN/CNPq do 2º Ano da Escola Estadual Margarida de Freitas - Ensino
Médio, Portalegre/RN, substituindo a discente Clara Beatriz Silva de Souza, desde 14/02/2020; e-mail:
juliadantas283@gmail.com.
3
Estudante bolsista do PIBIC-EM/UERN/CNPq do 2º Ano da Escola Estadual Margarida de Freitas - Ensino
Médio, Portalegre/RN, substituindo o discente Antonio Danilo Ferreira de Oliveira, desde 14/02/2020; e-mail:
paulinhafrei123tas@gmail.com.
4
Estudante ex-bolsista do PIBIC-EM/UERN/CNPq do 2º Ano da Escola Estadual Margarida de Freitas - Ensino
Médio, Portalegre/RN, substituindo a discente Dheneffer Samira Dantas Jacinto, desde 14/02/2020; e-mail:
matheusgggiliard@gmail.com.
5
Mestra em Ciências Sociais e professora orientadora, vinculada ao Departamento de Educação/CAPF/UERN e
Vice Líder do Grupo de Pesquisa FORMEPE/UERN. E-mail: berenicesilva@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 820
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As discussões de afetividade e violência são de fundamental importância nos


diversos espaços elencados, tendo em vista um grande campo de debates e investigações
sobre esses temas e os vínculos com as discussões sobre direitos da criança enquanto parte
imprescindível a constituição dos Direitos Humanos, assim como a diversidade de percepções
sobre os mesmos.

METODOLOGIA

A pesquisa é de caráter qualitativa, cuja metodologia envolveu estudos teóricos,


pesquisa documental e de campo. As leituras feitas versavam sobre violência, formação,
desenvolvimento, afetividade e espiritualidade, com destaque para a abordagem psicanalítica
de Winnicott (1982).
Visando conhecer a realidade portalegrense, através dos índices de violência contra
crianças, bem como, as ações de política pública desenvolvidas no âmbito local, realizamos
uma pesquisa documental junto a instituições parceiras do Projeto de Extensão "Diálogos
Portalegrenses". Priorizamos a análise dos relatórios de notificações, atendimentos e
acompanhamentos de três instituições fundamentais no desenvolvimento de políticas públicas
voltadas para a defesa e combate à violação de direitos de crianças e adolescentes no
município de Portalegre/RN: o Conselho Tutelar; o Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente; e o Programa de Acolhimento Familiar (AFAM). As referidas
instituições, disponibilizaram, respectivamente, os relatórios e/ou diagnósticos dos seguintes
anos: 2019, 2012 e 2014.
Tendo em vista a situação emergente de saúde, paralelamente, fizemos uma
reformulação no desenvolvimento da pesquisa, elegendo como sujeitos da pesquisa os
membros do Projeto de Extensão "Diálogos Portalegrenses. Para isso aplicamos um
questionário contendo 10 perguntas abertas e fechadas com todos os 33 membros, buscando
identificar os sujeitos que lidaram ou lidam com crianças em diversos ambientes como:
igrejas, templos religiosos, convívio familiar, escolas, ou outros grupos que integram o
público-alvo de nossa pesquisa. Esse instrumento foi desenvolvido pela ferramenta do Google
Form, que permite a elaboração de questionários e o recebimento online das respostas.

RESULTADOS E CONCLUSÕES

As discussões sobre violência e afetividade tem um amplo espaço na sociedade. A


violência por ser um fator emergente e de grande amplitude em suas esferas e a afetividade
por ser um tema distinto e pouco refletido em determinados contextos em que estão inseridas
as crianças. Para iniciar, é fundamental conhecermos melhor os sujeitos da pesquisa,
buscando identificar sua trajetória e experiência com crianças. Essas informações permitem
compreender melhor o processo investigativo.
Do questionário aplicado aos 33 colaboradores do Projeto de Extensão "Diálogos
Portalegrenses", tivemos a devolutiva de 25 sujeitos. Compreendendo as seguintes categorias:
uma docente da UERN; 08 discentes de cursos de graduação; 01 discente de especialização da
UERN; 11 discentes do PIBIC-EM; 04 membros da comunidade.
Em primeiro lugar, destacamos a experiência dos colaboradores com o público
infantil, em que 88% dos respondentes afirmaram ter experiência com crianças e 12%
afirmaram que não, percebemos que nossos sujeitos em sua maioria tem contato com
crianças, como demonstra o Gráfico 1, percebemos que variam as faixas etárias das crianças,
sendo o número maior entre crianças de 04 a 07 anos de idade, o que equivale a 68% dos
participantes.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 821
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Gráfico 1 - Vínculos com crianças dos membros dos "Diálogos Portalegrenses", segundo a faixa etária das
crianças.
Fonte: arquivos da pesquisa, 2020.

Além disso, é importante conhecer o espaço que os colaboradores tem esse contato e
experiência com as crianças, seja na vida profissional ou pessoal. O Gráfico
ráfico 2 caracteriza
esses espaços:

Gráfico 2 - Ambiente de contato dos membros dos "Diálogos Portalegrenses" com crianças.
Fonte: arquivos da pesquisa, 2020.

No Gráfico 2, percebemos
mos que os espaços de contato com as crianças são varivariados,
de acordo com a trajetória de cada colaborador,
colaborador sendo que o ambiente familiar é o que mais
apresentou respostas, totalizando 72 72%. E com base nos diagnósticos locais,, é dentro do
contexto familiar que acontece com maior frequência os casos de violação de direitos de
crianças. Os espaços de trabalho totalizaram 40%,
40% tendo em vista que muitos colaboradores
são profissionais ou agentes de políticas com contato direto com às crianças.
A formação doss colabor
colaboradores também é fundamental para melhor conhecer ou lidar
com a manifestação daa violência e o restabelecimento dos vínculos afetivos os em casos de
violência contra crianças. 72% dos respondentes afirmaram que nunca participaram de
formações específicas sobre afetividade
fetividade ou violência. E apenas 28% participaram. Os
colaboradores que participaram de formações foram por meio das secretarias municipais de
Portalegre/RN, do governo estadual e do envolvimento nas pesquisas doo PIBIC e do PIBIC-
EM. Dessa forma, a maioria dos sujeitos
sujei possivelmente não tem preparação para entender e
lidar com casos de violência, muitas vezes, nem conseguindo a identificação
identificação de marcas de
violência e, principalmente, fazer a distinção entre elas.
Já em relação a percepção dos
d sujeitos sobre a afetividade na formação infantil
infantil, todos
entendem que ela é um m processo importante na infância.
infância Contudo, identificamos diversas
visões de mundo e percepções diferentes relacionadas às experiências vividas por cada sujeito
em relação a manifestação de violência e a afetividade.
afetividade
A diversidade das respostas constitui um aspecto fundamental em nossa pesquisa.
Podemos citar como exemplos: “São discussões importantes e pertinentes, tendo em vista ser
uma temática fundamental no processo de formação da criança e assim buscando
compreender melhor como ocorre esse processo desde o início da vida ao todo processo de
formação infantil.” trazendo a afetividade para um lado de formação da criança e “É de
grande relevância, visto que, o corpo humano se constitui em relações constantes com outros
corpos, assim, vivenciará diversas situações em que a afetividade se expressará e, saber

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 822
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

compreendê-la certamente ajudará no processo de autoconhecimento e conhecimento dos


outros.” Este segundo exemplo nos traz reflexões sobre o corpo e sua relação com a
afetividade.
Diante das discussões acima, ressaltamos em nossa pesquisa a importância de
estudos sobre a afetividade e a violência, especialmente para agentes nas áreas de educação,
saúde e assistência social, já que elas constituem o principal foco de políticas públicas de
direitos humanos voltados para a infância. Na análise das respostas, todos os colaboradores
afirmam que é importante a inclusão dessas discussões nessas áreas, como podemos perceber
nos seguintes questionamentos: “Todas as áreas que lidam com a elaboração, execução e
avaliação de políticas públicas para crianças e adolescentes precisam ter formação sobre
desenvolvimento emocional, afetividade e a diversidade de aspectos que envolvem as diversas
formas de violação de direitos humanos, especialmente, as crianças.” e “Somos uma
sociedade cada vez mais individualista, precisamos mudar isso, com urgência e uma das
formas é discutir temáticas como violência e afetividade em todas as categorias de serviços
sociais.”
Garantir a inclusão desses temas nas referidas áreas nos levaram a procurar entender
os desafios vividas no cotidiano dos membros colaboradores, bem como, os impactos sociais
da violência e da afetividade em sociedade, quando vivemos em determinados grupos socias.
Dentre os desafios citados pelos colaboradores estão: a falta de conhecimento e
preparação; a desconstrução da cultura da punição; a falta de órgãos ativos; construção de
uma sociedade em que sejam internalizados novos paradigmas formativos, desnaturalização
de situações de violência, tabus que precisam ser quebrados.
Os desafios nas discussões sobre violência apontaram para um questionamento final:
Você está preparado para lidar com a manifestação da violência? Essa pergunta nos leva a um
processo de reflexão sobre como agirmos em um processo de violência, quais as medidas e
atitudes devemos ter. Apenas 07 participantes de nossa pesquisa afirmam que se sentem
preparados para lidar com situações de violência e 18 dizem que não. As respostas acima
dependem muito da história de vida de cada colaborador, suas experiências vividas levam a
um processo formativo diante das situações de violência no cotidiano.
Dentre os tipos de violência presenciados pelos colaboradores, a violência física e a
violência psicológica ganham destaque sobre as principais violências no âmbito do município
de Portalegre/RN, visto que os documentos de políticas locais analisados destacam os maus
tratos, negligência e o abandono com maior índice de notificações, no ano de 2019
(PORTALEGRE, 2019), adentrando no papel das políticas públicas que são geridas pelos
órgãos públicos no combate a violência contra crianças e adolescentes, enquanto, uma
violação dos direitos humanos.
Por último, 60% dos colaboradores afirmaram que já presenciaram a manifestação da
violência, seja no ambiente familiar, profissional ou educacional, e 40% disseram que não.
Podemos analisar que maioria dos participantes da pesquisa não tem formação necessária para
o enfrentamento da violência, não estão preparados e já presenciaram a manifestação da
violência.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao CNPq pela concessão de bolsas do PIBIC-EMUERN e pelo papel


social e transformador da iniciação científica na vida e formação dos discentes no ensino
médio. Por último, agradecemos aos colaboradores da nossa investigação.

REFERÊNCIAS
WINNICOTTI, Donald W. A Criança e o seu mundo. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 823
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte- UERN


Pró-reitoria de Pesquisa - PROPEG
Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais - FAFIC
Departamento de Ciências Sociais e Política - DCSP
Docente: Lidiane Alves da Cunha
Discente: Crislaine Cristina Gadelha
Gilmara Soares de Oliveira

Saberes do feminino e performances de cura: transmissão de práticas ancestrais

Resumo expandido

Como um saber que é ritualizado e ao mesmo tempo performatizado, longe de ser


imóvel, herdado e preservado em contextos bem definidos, os saberes de cura são um
conhecimento vivo em que as formas e participantes aparentemente fixas, são na verdade
constantemente transformadas, sobretudo no que diz respeito à conhecimentos que são
partilhados e transmitidos por mulheres.
Há um fascínio pela figura da anciã que cura e benze nos dias de hoje. Esse saudosismo
muito mais do que revelar o sumiço dessas mulheres em muitas cidades apontam algo mais
crítico: a vida da mulher contemporânea é solitária, estressante e muitas vezes vazias de seus
ritos e ciclos. A necessidade da mulher pela vivência com outras mulheres remonta aos
primórdios de nossa vida em sociedade e vai muito além dos ciclos sociais, chegando a
interferir nos ciclos hormonais e na liberação de serotonina. No entanto, na correria de nossos
dias, já não mais convivemos com nossas anciãs, não aprendemos o que estas aprenderam com
as suas e, apesar de isso ser algo bastante conhecido, não sabemos mesmo em que ponto e
profundidade temos interferido em elementos tão necessários para nossas experiências
cotidianas.
Paralelo a esse esvaziamento da experiência de vivência e partilha da vida em
comunidade pelas mulheres, pipocam ativismos pelas redes sociais, que adentram nosso
cotidiano e levam boa parte das horas de nossos dias. Formam-se comunidades invisíve is,
proximidades impensáveis no plano concreto e assim, é no espaço do virtual que constroem-se
as relações de compadrio e amizade e transmissão de conhecimento entre as mulheres. Cresce

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 824
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

a busca por experiências que nos conectem ao feminino e empoderem sem nos fragmentar, sem
no entanto essa busca permeada por um ideal quase idílico, utópico, idealizado, tamanha a
solidão que as mulheres se encontram. Assim, pipocam cursos, workshops, vivências,
dinâmicas, em que essa mulher contemporânea possa se reconectar com sua essência, perdoar
o masculino em si e ligar-se há saberes que não nos foram transmitidos porque não mais nos
conectamos.
Se esse movimento tem por um lado propiciado esse encontro, sua construção distante
da vivência e do cotidiano de cada mulher tem favorecido, contrariamente, uma nova caça às
bruxas, uma gourmetização de saberes e de seus usos, discriminando mais que integrando. Ao
invés de se acessar esses saberes diretamente pela convivência, a experiência cotidiana, ele é
primeiro fetichizado, idealizado, e faz justamente o caminho inverso ao que fizeram nossas
antepassadas, que ao se unirem em roda para aprender com as mais velhas, exercitam o que
Clarice Estés chama de “ser jovem enquanto velha e sábia enquanto jovem”, na medida em que
qualquer saber, seja de cura ou sagrado referente ao feminino, nunca era separado de seu
cotidiano e da poesia que as envolviam em uma complexa trama que integrava as mulheres
entre si e faziam bricolagens com seu cotidiano. As rezas eram reinventadas para os males de
seu tempo, os remédios adaptados às plantas disponíveis, e os saberes ensinados às que se
interessassem em aprender e possuíssem o dom para a cura.
O que vemos, embora haja esse crescimento por saberes e vivências na internet ou
grupos de whatsapp, é que eles são fragmentados e como por uma busca por status e afirmação,
já que carecem da tinta do cotidiano, reforçam preconceitos e estigmas, aprisionam onde supõe
libertar. Não conseguem fugir da ditadura de um padrão do feminino, de estereotipização dos
saberes de cura que milenarmente foram acessíveis às mulheres e famílias nas mais diversas
culturas. Plastificam o feminino e o vendem como algo tópico, mera perfumaria dos prazeres
do ego. Não se chega ao fundo da questão. No máximo, põe um bálsamo na ferida mas quem
se importa, ninguém tem tempo mesmo para ir além de sua timeline.
Todo um rol de conhecimentos ligados às parteiras estão novamente sendo acessados,
sob o título de parteiras da tradição, em que mais uma vez a palavra tradição vem para garantir
o status sobre um saber. Se as mulheres convivem com mulheres de gerações mais velhas,
saberiam parir. Mas as mulheres em idade fértil são hoje filhas de mulheres que pariram em
hospitais, em partos cesarianos traumáticos. Tantos elementos contribuem para que hoje, o
parto normal em suas diversas modalidades, seja encarado como um novo modismo.
Junto à isso, uma grande quantidade de mulheres preparam-se em cursos de Doulas
para acompanhar as mulheres em trabalho de parto, e são elas que militam diuturnamente em

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 825
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

nome do parto normal. No entanto, esquecem, em muitos casos, de ouvir os desejos e


necessidades das mulheres, e criam amarras onde antes pretendia libertar. Não importa quão
difícil seja aquele parto ou quais os medos e angústias, preconiza-se o parto normal. Instituem
uma idealização de parto em que mulheres discriminam mulheres, em nome de um padrão do
que seria normal ou natural, muito embora esse natural não seja assim como descrevem, pois
muito longe da maneira como nossas avós pariam, o parto torna-se uma grande produção, com
fotógrafos, banheiras, velas, incenso, cenários, doulas e obstetrizes. Enfim, de normal só o
eufemismo.
Também não é para qualquer mulher não. Esse acompanhamento todo custa mais caro
que uma cesariana, sim, a mesma cesariana que viralizou porque para um médico era mais
lucrativa e cômoda. Investe-se na beleza do momento, no rito de passagem, num resgate de um
feminino estereotipado, em que a mulher não pode desistir, tem que enfrentar a dor e não pode
parir de outra forma senão assim. No entanto, as mulheres das classes mais pobres continuam
parindo em maternidades despreparadas e o parto normal para elas continua sem ter nenhum
do glamour que elas veem nos blogs e comunidades de mulheres que buscam “resgatar” o
feminino.
Poderia dar exemplos também com relação aos remédios que as benzedeiras, raizeiras
indicam. Saberes que foram apreendidos pelo convívio com os mais antigos e que agora vêm
revestidos sob o título de naturopatas, terapeutas e uma infinidade de nomes que vão compor o
rol dos agentes de cura que apreendem os conhecimentos tradicionais mas buscam uma
apresentação compatível com a ciência ocidental, dos consultórios médicos, embora trabalhem
com práticas que só muito recentemente foram admitidas como saberes de cura em espaços de
saúde da medicina ocidental.
O mesmo ocorre com a religiosidade. Se nossas avós podiam praticar sua religiosida de
cotidianamente, quem busca o sagrado precisa hoje ligar-se a uma sintonizadora, participar de
rodas de cura com alguém que foi treinado por outro alguém, e que vai cobrar por essa
experiência religiosa. Não estou aqui entrando na discussão do que que pode ou não ser
cobrado, atento somente que o rol dos elementos que vão compor esse universo do feminino,
embora pareçam crescer nos dias de hoje, são muito mais produtos e como tais, prontos para
serem consumidos por essas mulheres que se desconectaram em algum momento dos saberes
de cura e seus dons.
Nesse sentido que, ao observar as benzedeiras, enquanto possuidoras de um saber de
cura vivenciado no cotidiano, estão muito mais livres e abertas do que essa mulher
contemporânea que possui preconceito sobre como se deve curar, parir ou professar o feminino

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 826
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

enquanto sagrado. Cria-se para libertar, ensina-se para emancipar e sobretudo, vivencia-se tudo
isso no cotidiano e é ele que as fazem integrar aquilo que é importante e o que é desnecessário,
mesmo que o ritual modifique-se. Mas como se faz com as mulheres nos dias de hoje, que
possuem dom de cura e sentem-se chamadas para exercer tal poder.
Ao nos depararmos com tais histórias de vida e memórias durante a pesquisa e ter
vivenciado a busca por esses saberes nos dias de hoje em diversos grupos, religiosos ou não,
surgiu o desejo de aprofundar o estudo sobre esses saberes que vão se organizar em torno do
elemento arquetípico do feminino e suas práticas de cura e como esses saberes são incorporados
nos dias de hoje ao cotidiano das mulheres que os procuram. Buscamos compreender como
esses saberes de cura teem se organizado em torno de novas práticas de cura em grupos de
mulheres, especificamente, doulas, terapeutas e grupos de mulheres, com o que há de novo
nessa busca do feminino e a busca por conecxão, seja virtual ou não, com os dons, a cura e a
religiosidade aliada ao arquétipo feminino.
A questão desse projeto de pesquisa é descobrir como se constitui o sujeito que cura e
como essas experiências lhe atribuem legitimidade para tal prática nos dias de hoje, através da
vivência performatizada desse dom junto à outras mulheres e como a busca desse saber ligado
aos saberes de cura feminino enquanto arquétipo influenciam essas práticas. Refiro-me
notadamente, as atividades profissionais ou amadoras de Doulas, Obstetrizes, terapeutas
holísticas e formadoras de grupos de mulheres, sejam virtuais ou presenciais. a partir de tais
práticas, buscamos responder quais critérios somados ao ato de falar, de um encadeamento
estético e performático vão compor as narrativas de cura. Claro que a utilização de códigos
culturais comuns aos indivíduos que participam dão efeito nesse sentido, criando uma imagem
repleta de critérios de legitimidade. E observar esses elementos será nosso objetivo secundário.
Como um procedimento extremamente atualizado, a aquisição desses saberes que antes
eram partilhados pelas mulheres nas vivências cotidianas, em que o rito se misturava as
atividades do dia a dia, temos hoje a profissionalização e busca como formação complementar
dessas atividades, antes atributos de parteiras, benzedeiras e praticantes das mais diversas
religiões. Desfeito esses vínculos e dado as atividades da vida moderna, os sabeeres de cura
não são mais estimulada por um momento específico ou por uma lógica imprescindível de ser
quebrada, mas resurgem espontaneamente em grupos organizados para determinados fins.
Assim, podemos perguntar como se constitui o sujeito que narra suas experiências e
como esse se constitui de legitimidade. Quais critérios somados ao ato de falar ordenam o
encadeamento estético, religioso e moral nesse sentido e que amarração as histórias de vida e
suas experiências do ponto de vista do que foi realmente vivido, tanto quanto do que foi ouvido,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 827
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

interpretado e situado nas suas trajetórias vão trazer de legitimidade necessária para ser esse
elemento de cura e de apoderamento desses saberes. Assim a tradição dentro dessa abordagem
é a performance e é fundamentalmente a experiência do ato narrativo dos sujeitos no momento
em que interpretam as suas trajetórias e seu ofício e os grupos aos quais se vinculam. Vão além
do que é primeiramente perceptível, residindo nos grupos de mulheres que buscam hoje se
organizar para tais fins e ressignificam as práticas e saberes de cura antes partilhados pelas
mulheres em ambientes domésticos.
Por serem produtos de uma atividade comunicativa que ocorre em um contexto
determinado, os saberes de cura femininos são representações do grupo social que as engendra
e à situação em que essa produção se processa. Enquanto texto, esses saberes ganham uma
existência autônoma, sendo apenas um dos componentes da comunicação que se dá entre quem
cura e quem está sendo curado e por isso perde o sentido quando destacado do contexto ou da
situação em que é narrado. ao considerar as performances de cura apenas como texto, além de
se perder o caráter determinante desse processo, ignora-se a existência de um autor que a
produz ou recria como um bricoleur. Em um ritual de cura, várias peças de um conjunto de
rezas são reunidas e recompostas de acordo com as combinações possíveis e a oportunidade do
instante. Cada mulher que busca em grupo desenvolver práticas de auto cuidado é autora de
sua própria prática cujas variações as diferenciam das de outros curadores a partir de uma
complexa rede de elementos que envolvem a maneira como aprenderam o saber e como foi
transmitido, sua experiência e influências religiosas e a performaticidade que lhe é própria e
ímpar.
Nas práticas de cura observadas neste projeto, embora possuam diferenças quanto a
religiosidade e a maneira como apreenderam e praticam esse saber, é possível perceber que a
diferença reside mis nas técnicas de aferição, na performance e no texto que executam. Ainda
assim, essa diferenciação, serve para mostrar que como saber híbrido, esses conhecimentos
teem incentivado a formação de grupos de cura do feminino e daí a formação para novas
práticas, saberes e ofícios, especificamente analisados por essa pesquisa, tais como, Doulas,
Terapeutas e formadoras em cursos e vivência de cura do feminino.
Em diversas fases da pesquisa de doutorado, encontrei no facebook pessoas que
rezavam pela internet e mulheres jovens que se intitulam benzedeiras e até mesmo cursos à
distância em que são ensinados os segredos desse saber. Não cabe nesta pesquisa afirmar quem
é ou não benzedeira, mas a distinção dentro do ritual dessa apropriação da reza e sua
consequente performance é visível nas mulheres com mais de 70 anos, ao passo que nas mais
jovens estão muito mais atreladas ao texto da reza (CUNHA:2012). Isso porque, assim como o

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 828
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sentido da palavra é dado pelo seu uso na linguagem, o sentido de uma reza é o seu uso e sua
produção e fruição numa determinada situação social. A benzeção se estende para além do
instante do rito, seja por uma conversa, uma pausa para melhor explicar quem colocou o mau
olhado, se homem ou mulher ou como parece a pessoa, se já é um mal antigo ou mesmo se
usado elementos da memória como histórias de outras pessoas com o mesmo mal para reforçar
o poder e a legitimidade da reza sobre este. Foi diante de tais constatações que surgiu o interesse
de pesquisar esses fluxos de saberes que envolvem a busca de um feminino arquetípico aliado
à práticas de cura nos dias de hoje e a crescente busca e oferta desses saberes sobre novas
roupagens.
A pesquisa será estruturada em 4 etapas, compreendendo o período de 2 anos,
organizada em torno das seguintes atividades:
1. Leitura e abordagem do estado da arte do tema (de Agosto 2017 à Janeiro de
2018);
2. Primeiras abordagens do campo e redefinição da amostra e dos atores
envolvidos, dando-se preferência para aqueles que atuem na região Oeste do
estado do Rio Grande do Norte (de Março 2018 à Junho de 2018);
3. Pesquisa de campo e análise de material (de Agosto 2018 à Janeiro de 2019);
4. Relatório final e publicação em periódico especializado de artigo completo (de
Março de 2019 à Agosto de 2019);
5. Participação do Grupo de Pesquisa GECOM bem como participação em eventos
científicos com artigo teórico ou resultados preliminares (fluxo contínuo).

Buscamos assim compreender esse saber que é um elemento compartilhado tanto por
quem cura quanto por quem é curado, transmitido por um processo de reelaboração e recriação
que as integra em nova práticas no momento presente. São recursos explicativos de sua própria
realidade, de saúde, doença e bem estar não só de quem pratica mas também da comunidade,
caracterizando situações em que curadoras e ouvintes se reconhecem nas dinâmicas do
cotidiano. A memória, essa habilidade intelectual semelhante à escrita, é o instrumento
privilegiado para registro da saúde, doença, valores e conhecimento da comunidade, quer sejam
das coisas práticas ou até mesmo das doenças e suas mazelas, dentro de uma concepção
holística, religiosa ou não, e será aqui a metodologia utilizada. É assim que ao invocar as
lembranças das doenças que andavam pelo mundo , o sentido popular da palavra memória,
que é poder criador, imaginação e talento poético. É sinônimo de sabedoria, pois dela depende

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 829
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

a continuidade da existência de vários elementos culturais característicos do grupo


(FERNANDES, 2007 pág. 33).
Assim, nesse fluxo em que o híbrido poder de cura se dá através dessa estilização do
arquétipo feminino que esses saberes vão se constituir como exibição pública e performática
do seu poder de memória. Isso porque em seu aprendizado, além de captar e registrar o texto
poético do poder de cura da própria mulher, doulas, terapeutas e mais mestras de cura, incluem
um rol de estórias que conhece e foram apreendidas ou por ouvir contar ou vivenciar. Sua
riqueza está na maneira de contá-los, reificando seu poder de cura e reconhecimento pela
comunidade, bem como os gestos, a entonação da voz, a construção dos diálogos e todos os
outros elementos expressivos e que não podem ser apreendidos a partir tão somente da leitura
de um texto escrito.
É o que dona Toinha, benzedeira de Parnamirim, dizia durante a pesquisa da tese: “o
povo chega aqui com os meninos doentes, não sabem fazer um chá pros meninos”. Esses
conhecimentos envolvem modelos de atenção à saúde e práticas de autoatenção como descritos
por Menendéz (2009), uma arte tão antiga quanto profunda, simples mas de difícil descrição.
Na verdade, difícil por ser simples. Como toda arte, há uma técnica que é preciso aprender e
dominar. O aspecto de arte enquanto ofício só aparece depois, mesmo estando ali o tempo todo,
pois ela está além da existência. Daí a importância desses sabeeres de cura serem
performatizados, seja em rituais ou nos encontros de formação, sendo essa categoria chave para
compreendermos esses encontros do feminino.
Discussões em torno dos estudos da performance entraram no campo da antropologia
no Brasil na última década do século 20, fruto das preocupações de Victor Turner sobre dramas
sociais e a experiência e os ritos na passagem das sociedades tribais para as sociedades
complexas, Isso porque para Turner, o papel do mito na sociedade simples é substituído pela
performance nas sociedades complexas. Se por um lado o rito seria o centro da vida tribal
tratando de tudo o que é sagrado, o tradicional estaria associado com a periferia do Social.
Portanto a noção de performance abrange diversas linhas de análises que vão
ultrapassar as áreas dos conhecimentos englobando diversas disciplinas. Assim, o ato
performativo, como outros atos de fala, são situados em contextos e como tais, construído s
pelos que participam deste evento. Há sempre papéis, maneiras de falar e agir, portanto, a
performance é um ato comunicativo, mas como categoria ela distingue-se dos outros atos de
fala, principalmente por sua função expressiva ou poética em que são ressaltados o modo de
expressar a mensagem e não tanto o seu conteúdo. Não importa por exemplo como a reza da
benzedeira é construída, mas sim o interesse de como a performance é construída não só por

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 830
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ela mas pelos participantes, envolve um importante evento artístico e o ato artístico em si. Por
isso neste trabalho, procuramos utilizar a performance como modo de capturar os momentos
performáticos, as qualidades dramáticas da voz e corpo que o narrador emprega para sua
performance e os estilos poéticos entendendo aqui poesia como a linguagem em uso da voz e
do corpo e nas respostas dos participantes em meio a sua vida cotidiana que vão transformar
um relato num contar dramático e participativo.
Luciana Hartmann chama atenção para o termo performance a partir da etimologia da
palavra par former, De origem francesa e que estaria ligada à ideia de dar forma seja um
conhecimento a uma experiência ou a imaginação. (página 231) .Trabalhar com a performance
de cura das benzedeiras está inevitavelmente ligado às experiências práticas e cotidianas das
mesmas, principal maneira que o ser humano tem de manifestar, comunicar e até mesmo
compreender as experiências é quase sempre narradas em forma de textos construídos através
de palavras, em estruturas inteligíveis de significado, bem como quanto à organização de uma
série de códigos e dispositivos culturais que permitem que uma narrativa seja compreendida.
De acordo com Hartmann, “ao contrário do que ocorre nas narrativas escritas, das
performances narrativas, o tempo e o espaço do narrador encontram-se com o tempo e o espaço
da audiência, propiciando uma interação, um diálogo e uma troca de experiências que estão,
no aqui e agora compartilhado, mostrando a própria Cultura em emergência (pág.229.) 2005.
A partir de uma revisão das teorias sobre a natureza da performance podemos enumerar
reivindicações comuns que são: procedimento ordenado de ações; senso de representação
coletiva e o reconhecimento de que os atos performativos são diferentes portanto dos eventos
ordinários do cotidiano uma performance cultural, as expressões simbólicas concorrem para
uma unidade dos sentidos que habilitam a cultura com a ideia da unidade de significado. Assim,
a performance tanto dá forma como é formada pela experiência e será vista em relação aos
hábitos receptivos, invertendo a perspectiva etnológica. Situa-se portanto no contexto ao
mesmo tempo cultural e situacional, aparecendo como uma emergência e é também uma
conduta na qual o sujeito assume aberta e funcionalmente a responsabilidade e é um
comportamento que pode ser repetitivo sem ser redundante. Da mesma forma, a performance
modifica o conhecimento já que não é simplesmente um meio de comunicação pois ao
comunicar ela marca os sujeitos envolvidos. Por isso a performance vai estar ligada a prática
da linguagem poética, ligados intimamente ao corpo. Com isso, vai ser sempre compreendida
em termos da poética. Sua maneira própria de existir no tempo em que ouve, vê e respira. Por
isso,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 831
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

para que um texto seja reconhecido por poético (literário) ou não depende
do sentimento que o nosso corpo tem. Necessidade para produzir seus
efeitos, isto é, para nos dar prazer. É este a meu ver, um critério absoluto.
quando não há prazer - ou ele cessa- o texto muda de natureza. (Zumthor,
2000, p. 41). Performance, recepção e leitura.

Nesse processo o próprio etnógrafo deve também se incluir fazendo uma


contextualização em que os textos e contextos são observados. Só assim, torna-se possível
movimento de análise do micro para o macro, de um evento particular de performance para o
que dela é medido de um contexto político econômico e sociocultural mais amplo. Assim,

a performance é um modo de comunicação verbal que consiste na tomada


de responsabilidade de um performer para uma audiência, através da
manifestação de sua competência comunicativa. Essa competência apoia-
se no conhecimento e na habilidade que possui para falar nas vias
socialmente apropriada do ponto de vista da audiência. O ato de expressão
da performance é sujeita a avaliação de acordo com sua eficiência. Quanto
mais hábil, mais intensifica a experiência, através do prazer
proporcionado pelas qualidades intrínsecas ao ato de expressão (Harttman,
2005, p. 233).

A partir de discussões sobre o reavivamento do xamanismo em diversos lugares do


mundo, Bárbara Tedlock faz uma contribuição ao descrever senão todos, mas a maioria dos
movimentos dedicados tanto a reacender práticas ancestrais ligadas ao culto da Terra quanto a
criar novas abordagens xamanistas, colocando sob o mesmo guarda-chuva práticas de
etnomedicina e o paganismo em suas diversas facetas. A expectativa de Tedlock parece ser a
de que situações de opressão a que as mulheres ao longo da história foram submetidas,
potencializadas ao se eclipsar as expressões religiosas de cura e autocura em função de etnia e
classe social, tornaram-se mecanismos de resistência. A contribuição de Tedlock está em fazer
uma revisão de classe e gênero para os achados arqueológicos e os relatos dos etnólogos e
antropólogos, uma vez que “por muito tempo, as avaliações das crenças religiosas e práticas
de cura das mulheres basearam-se em opiniões refletidas na visão masculina e explicadas por
conceitos extraídos de tradições religiosas e acadêmicas com tendência machista” (p. 281).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 832
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A obra de Tedlock traz em suas quatro partes descobertas arqueológicas, relatos,


depoimentos, fotos e imagens de mulheres em diversas partes do mundo que usam ou usaram
o curandeirismo e o xamanismo como formas de expressão religiosa e política. Para rever essas
questões na formação da História das Mulheres, a autora pergunta qual a relevância em relação
a uma tradição feminina perdida no xamanismo, e coloca como forma de contribuição a sua
própria história, que deriva de uma avó de origem Ojibwe que lhe ensinou parte de processos
xamânicos de cura. Segue guiando-se, segundo ela mesma, na habilidade de duas premissas –
“um raciocínio dedutivo intelectual e um raciocínio emocional intuitivo” (p.22). Com pitadas
de neurociência, busca explicar porque a fisiologia e a biologia química das mulheres as
“capacitam de um modo tão particular para exercer o papel das xamãs” (p.22), atuando em seus
papéis xamânicos transcendentais como parteiras guerreiras, profetas e na cura; termina
propondo uma revitalização atual do feminismo xamânico no mundo inteiro. Em muitas
tradições xamânicas existe um caminho traçado por mulheres que une artesanato à
espiritualidade, como o povo Huichol na região Centro-oeste do México, cuja disciplina da
espiritualidade feminina foca o aprendizado da tecelagem propiciando o acesso ao mundo
espiritual para criar novos desenhos (p. 77). Isso coincide com a atividade de Dona Toinha, que
enquanto espera as pessoas para benzerem tece lençóis de retalhos, esperando e criando um
tecido novo enquanto espera pelos que procuram suas reza. Não há nesse ofício o transe, mas
sim uma prática que se une a um cotidiano que desmistifica a ação, simplifica e reitera seu
poder de cura nessa simplicidade.
Discorrendo sobre as formas de xamanismo no mundo, a autora aborda vários
consensos, como “estado alterado de consciência” ou “estados xamânicos de consciência” (p.
86), sobre a energia e o conceito desta ser uma forma da eletricidade que permite a cura. A
autora reforça, com base em pesquisas, a capacidade das mulheres segundo sua constituição
fisiológica - dentro dela, a hormonal -, que exerce um papel crucial nas habilidades xamanistas,
pois logo antes e durante a menstruação as mulheres exercem com mais vigor seus poderes de
cura e profecia. As oscilações de humor e a sensibilidade exacerbada desse período do mês,
que no Ocidente tem sido denominado de tensão pré-menstrual e é tratada como doença, são
na verdade, manifestações de um estado de consciência alterado resultante da biologia feminina
(p. 177). Segue relatando expressões que denominam a relação das mulheres com seus ciclos,
dentre elas as flores como símbolo da força feminina de vida utilizada na religião e na medicina.
Fica clara a intenção da autora de fazer com que parteiras, curandeiras, benzedeiras,
xamãs que ainda lutam por legitimidade, conheçam a história de como e porque as mulheres

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 833
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

foram excluídas desse campo de conhecimento, olhando com uma nova perspectiva o registro
arqueológico e histórico, a pesquisa fisiológica e a Psicologia inovadora.
Essa é a grande diferença entre essas mulheres que sempre curaram todos os tipos de
pessoas e as mulheres de hoje que estudam a cura a partir da formação da medicina e sistema
oficial de ensino. Elas compreendiam a doença para além do mal do corpo e a idéia de ofício
expõe uma obrigação para além dos riscos. Hoje, as profissionais de saúde, são mais temerosas
com as doenças do que acreditam nos poderes de cura. E é nesse sentido que espero que a
pesquisa possa contribuir para o conhecimento acadêmico dessas práticas e possa ultrapassar a
noção rasa que se tem desses movimentos e saberes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGIER, Michel. Encontros etnográficos. São Paulo:UNESP, 2015.


AMORIM, Cleides. Medicina popular: técnica ou crença. Comissão Maranhense de

Folclore, São Luís: Boletim 18, p. 6-7, Dezembro, 2000.

ARAÚJO, Alceu Maynard. Medicina Rústica. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In

Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura.

São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 197-221.

BETHENCOURT, Francisco. O imaginário da magia. São Paulo: Companhia das

letras, 2004.

BOSI, E. Cultura e desenraizamento. In: BOSI, Alfredo, (org). Cultura brasileira:

temas e situações. São Paulo, Ática, 1987, cap.2, p. 16-41.

_______. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 4. ed. São Paulo,

Companhia das Letras, 1995.

_______. Tempo vivo da memória. São Paulo, Ateliê, 2003.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Os Deuses do Povo. São Paulo: Brasiliense, 1980.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 834
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

________. O festim dos bruxos - relações sociais e simbólicas na prática do

curandeirismo no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1986.

BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO,

Janaina. (org.). Usos & abusos da história oral. 8.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

pp.183-191.

BORNHEIM, Gerd e BOSI, Alfredo. O conceito de tradição - Contradição. Rio de

Janeiro: Zahar, 1997.

BURKE, Peter. Cultura popular na idade moderna. São Paulo: Cia das letras, 1989.

CARVALHO, José Jorge de. O lugar da cultura tradicional na cultura moderna.

UNB/DAN. Série Antropológica, 77. Brasília, 1989.

CONNERTON, Paul. Como as sociedades recordam. Oeiras, PT: Celta Editora,

1999.

ESTES, Clarissa Pinkola. O Dom da História. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

______. A ciranda das Mulheres sábias. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

ESPINHEIRA, G. Metodologia e prática de trabalho em comunidade - ficção do

real: observar, deduzir e explicar - esboço de metodologia de pesquisa. Salvador:

Edufba, 2008.

FERNANDES, Frederico. A voz e o sentido. São Paulo: UNESP, 2007.

FERREIRA, Jerusa Pires. Os ofícios tradicionais. Revista USP. São Paulo (29): 102

- 106, março/maio 1996.

__________. Cultura das Bordas: edição, comunicação, leitura. São Paulo, Ateliê
Editorial, 2010.
HALL, Stuart. Da diáspora. Belo Horizonte: Ed. Da UFMG, 2002.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 835
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LAPLANTINE, François e RABEYRON, Paul-Louis. Medicinas paralelas. São Paulo:

Brasiliense, 1989.

LENCLUD, G. A tradição já não é o que era. Terra, número 9 – Outubro de 1987.

Disponível em www.terrain.revues.org. Acesso em 14 de Abril de 2013.

LÈVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. São Paulo: Companhia das Letras,

2005.

_________________. O feiticeiro e sua magia. In: Antropologia estrutural. Rio de

Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985.

LOYOLA, Maria Andréa. Médicos e curandeiros: conflito social e saúde.São


Paulo: Difel Ed., 1983.
MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. In Sociologia e Antropologia. São
Paulo:Cosac Naify, 2003.
MENENDEZ, E. L. Sujeitos, saberes e estruturas. São Paulo: Hucitec, 2009.
MILLS, Wright. O artesanato intelectual. In: A imaginação Sociológica. 4.a ed.

Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro, Zahar, 1975.

QUIVY, Raymond e CAMPENHOUDT, Luc Van. Manual de Investigação em

Ciências Sociais. Lisboa:Gradiva, 2013.

SARLO, Beatriz. Culturas populares, velhas e novas. In Sarlo, B. Cenas da vida pós-

moderna. Rio de Janeiro: ed. UFRJ, 2000.

SENNETT, Richard. O artífice. Rio de Janeiro: Record, 2013.

TEDLOCK, Bárbara. A mulher em corpo de Xamã. Rio de Janeiro: Record, 2013.

TURNER, Victor. Floresta de Símbolos: aspectos do ritual Ndembu. Rio de

Janeiro: Eduff, 2005.

______________. O Processo Ritual: Estrutura e Anti Estrutura. São Paulo:

Vozes, 1974.

ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 836
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

_______________. Performance, Recepção e Leitura. São Paulo: Educ, 2000.

_______________. Tradição e Esquecimento. São Paulo: Hucitec, 1997.

_______________.Escritura e nomadismo: entrevista e ensaios. [Traduzido por


Jerusa Pires Ferreira e Sônia Queiroz]. Cotia: Ateliê Editorial, 2005.

WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2010. 256 p.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 837
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SATISFAÇÃO COM A VIDA: UM ESTUDO COM CUIDADORES DE


PACIENTES DO CENTRO ESPECIALIZADO EM REABILITAÇÃO II

Flávia Batista de Sousa;1Maria Taiza Galdino Vieira 1;Soraya Nunes dos Santos Pereira 3

Palavras-chave: Qualidade de vida. Sobrecarga. Implicações sócio econômicas. Bem estar.


Cuidado.
INTRODUÇÃO
Este estudo apresenta um recorte da pesquisa realizada no Centro Especializado em
Reabilitação II (CER II), localizado na cidade de Catolé do Rocha, no Estado da Paraíba, com
o intuito de investigar sobre a satisfação com a vida dos cuidadores dos pacientes do CER,
relacionando as implicações sócio-econômicas com a qualidade de vida destes cuidadores.
Fez parte do projeto de Pesquisa – PIBIC (2019-2020) da Universidade do Estado do Rio
Grande do norte /UERN do Campus Avança do de Patu – CAP, em parceria com o Centro
Especializado em Reabilitação / CER II Vitória Pereira de Oliveira em Catolé do Rocha (PB).
O CER é um espaço de atenção ambulatorial especializado em reabilitação que realiza
diagnóstico, tratamento, concessão, adaptação e manutenção de tecnologia assistiva, constituindo-se
em referência para a rede de atenção à saúde da pessoa com deficiência no território. O CER II de
Catolé do Rocha é organizado a partir da combinação de duas modalidades de reabilitação (física e
intelectual). Trazemos o conceito de reabilitação da pessoa com deficiência, que compreende um
conjunto de medidas, ações e serviços orientados a desenvolver ou ampliar a capacidade funcional e
desempenho dos indivíduos, tendo como objetivo desenvolver potencialidades, talentos, habilidades e
aptidões físicas, cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais, profissionais e artísticas que
contribuam para a conquista da autonomia e participação social em igualdade de condições e
oportunidades com as demais pessoas.
As pessoas com deficiências são aquelas que apresentam qualquer alteração ou
condição, simples ou complexa, momentânea ou permanente, de etiologia biológica, física,
mental, social e/ou comportamental, que requer uma abordagem especial, multiprofissional e
um protocolo específico (CAMPOS et al., 2009). São pessoas que não possuem autonomia e
levam um significativo nível de dependência de seus cuidadores.
Fomos motivados a realizar esta investigação devido ao fato de saber que algumas
pesquisas na área apontam que prestar cuidado é um evento de vida que pode produzir
desfechos negativos tais como depressão, pior condição de saúde física e níveis mais baixos
de bem estar em adultos e idosos. O ato de cuidar de pessoas com deficiências e outras
síndromes neurológicas é complexo. Normalmente, os cuidadores lidam com uma diversidade
de sentimentos, eles se veem obrigados a agregar novas atividades a sua rotina de vida, além
dessa atividade lhes trazer sobrecarga de ordem física, emocional e social, cuja saúde,
normalmente vai se deteriorando com a exposição continuada a essas condições relativas ao
ato de cuidar, de onde se conclui que o cuidador, principal agente de produção de cuidados e
proteção, também precisa de atenção das áreas de Saúde, Educação e Psicologia, mas não tem
uma trajetória idêntica e nem linear para todos os envolvidos. Muitos cuidadores são capazes
de lidar bem com as tarefas do cuidar, sem se sentirem onerados.
No caso da nossa pesquisa mantivemos como foco esse cuidador, que é aquele que
assume a função de auxiliar as atividades diárias, visando uma melhoria da saúde e da
qualidade de vida daquele que possui algum tipo de necessidade básica, levando em
consideração suas particularidades e necessidades. Essa missão exige, na maioria das vezes,
dedicação em tempo integral e renúncias pessoais, podendo acarretar uma sobrecarga física e
emocional (OLIVEIRA et al., 2008).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 838
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Deixando claro os principais conceitos da nossa pesquisa, tivemos como


embasamento teórico, um referencial bibliográfico baseado em OLIVEIRA (2013), SÁ;
RABINOVISH (2006), PIMENTA; RODRIGUES; GREGUOL (2010), RIBEIRO,
BARBOSA (2011) e outros.
Esta pesquisa teve os seguintes objetivos: 1-Avaliar a satisfação com a vida de
cuidadores de usuários do Centro Especializado em reabilitação II “Vitória Oliveira Pereira”
no município de Catolé do Rocha-PB; 2-Conhecer as variáveis de domínio físico, domínio
psicológico e domínio relações sociais que mais influenciam a satisfação com a vida dos
cuidadores que acompanham os usuários do CER II; 3-Correlacionar a satisfação com a vida
com o perfil socioeconômico dos cuidadores de usuários do Centro Especializado em
reabilitação II “ Vitória Oliveira Pereira”; 4- Indicar variáveis que possam contribuir com a
construção de novos modelos de cuidado na assistência à saúde dos cuidadores que
acompanham os usuários do CER II.
METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada individualmente e no serviço de reabilitação CER II em
Catolé do Rocha (PB). Inicialmente foi realizado contato direto com a direção do CER II
Vitória Oliveira Pereira para apresentar a proposta da pesquisa e solicitar a autorização para
realização do estudo. Foi feito contato com cada cuidador para estabelecimento do rapport no
qual as pesquisadoras esclareceram acerca da pesquisa e foi solicitada a assinatura do Termo
de Consentimento livre e esclarecido. Em seguida os instrumentos começaram a ser aplicados
no CER II, de forma individual. As pesquisadoras abordavam os cuidadores e explicavam
sobre os objetivos. Deixava cada participante livre para escolher se preferia ler e responder
individualmente ou se preferia que as pesquisadoras lessem os instrumentos e fossem
respondendo a sua vista.
O estudo foi do tipo transversal descritivo, por meio de dois instrumentos:
questionário sócio econômico e escala de satisfação com a vida, que avalia sobre qualidade de
vida. O WHOQOL-bref, que consiste na versão abreviada do WHOQOL-100, ambos
desenvolvidos pelo Grupo de Qualidade de Vida da OMS. Este questionário foi escolhido por
ser um instrumento reconhecido internacionalmente e validado no Brasil, além de possuir um
bom desempenho psicométrico aliado à facilidade de uso (BRACCIALI et al., 2012).
O questionário sócio-econômico é composto por duas partes, à primeira– Ficha de
Informações sobre o Respondente – caracteriza os sujeitos. A segunda, é composta por
questões sobre condições de moradia. O WHOQOL-bref consta de 26 questões, sendo duas
questões gerais de qualidade de vida e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas que
compõe o instrumento original. As respostas de todas as questões foram formuladas por meio
de uma escala de intensidade do tipo Likert de cinco pontos, sendo que os escores mais altos
denotaram melhor qualidade de vida (BRACCIALI et al., 2012). As opções de resposta foram
as seguintes: tipo intensidade (nada-extremamente), capacidade (nada-completamente),
avaliação (muito insatisfeito-muito satisfeito; muito ruim-muito bom) e frequência (nunca-
sempre) (TRIGUEIRO et al., 2011).
O objetivo do Projeto PIBIC do DE/CAP/UERN (2019-2020) era pesquisar 200
cuidadores dos usuários CER II, porém, o período destinado à coleta de dados foi
interrompido diante da Pandemia COVID-19, ficando o serviço suspenso por determinação de
Decreto Municipal. Por isso, os dados aqui apresentados correspondem a 85 cuidadores de
usuários do Centro Especializado em Reabilitação II Vitória Oliveira Pereira – CER II no

1Graduanda em Pedagogia ; E-mail:flaviasousa@alu.uern.br. Grupo de Pesquisa FORMACE UERN/CAP


1 Graduanda em Pedagogia; E-mail: thaisagaldino@gmail.com @alu.uern.br. Grupo de Pesquisa FORMACE UERN/CAP
2: Prof.ª Mestre Orientadora Adjunto IV do Depto de Educação CAP/UERN. e-mail:sorayanunes@uern.br Grupo de Pesquisa FORMACE
UERN/CAP

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 839
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

município de Catolé do Rocha (PB), residentes em 10 municípios da microrregião de Catolé


do Rocha (PB). Para atender aos critérios de inclusão na pesquisa, os participantes deveriam
apresentar-se como cuidadores principais, familiares ou não, com ou sem remuneração para o
exercício da atividade, tempo de cuidar superior a quatro semanas, responsáveis pelo bem-
estar, assistência e prestação de cuidados ao usuário.
RESULTADOS
O fato da coleta de dados ter sido interrompida, apresentaremos neste estudo somente
os resultados preliminares dos dados até aqui coletados, sem as devidas análises finais, posto
que a pesquisa será dada continuidade uma fez que foi submetida novamente a seleção no
PIBIC (2020-2021), tendo sido aprovada e a equipe permanecerá empenhada em dar
continuidade aos objetivos propostos.
Apresentaremos agora a escala com todas as questões e o número absoluto de
resposta dada naquele item, vale lembrar que as respostas eram excludentes:
Foi dada a seguinte instrução:
Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número que lhe parece a
melhor resposta.
Muito Ruim Ruim Nen ruim – Boa Muito
Nem boa Boa
1.Como você avalia a sua qualidade de vida? - 2 28 49 6
2. Quão satisfeito(a) você está com a sua 2 8 13 58 4
saúde?
As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas semanas.
Nada Muito pouco Mais ou menos Bastante Extremamente
3. Em que medida você acha que sua dor 46 19 11 14 5
(física) impede você de fazer o que você
precisa?
4.O quanto você precisa de algum 39 18 12 16 -
tratamento médico para levar sua
vida diária?
5.O quanto você aproveita a vida? 13 29 26 17 1
6. Em que medida você acha que a sua vida - 3 8 56 18
tem sentido?
7. O quanto você consegue se concentrar? 4 16 23 41 1
8. Quão seguro(a) você se sente em sua vida 4 15 23 41 2
diária?
9. Quão saudável é o seu ambiente 18 9 15 42 1
físico (clima, barulho, poluição,
atrativos)?
As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de fazer
Nada Muito pouco Mais ou menos Bastante Extremamente
10. Você tem energia suficiente para seu dia- - 13 34 36 2
a- dia?
11. Você é capaz de aceitar sua aparência - 4 25 43 13
física?
12. Você tem dinheiro suficiente para 7 46 24 8 -
satisfazer suas necessidades?
13. Quão disponíveis para você estão as 3 11 35 33 3
informações que precisa no seu dia-a-dia?
14. Em que medida você tem oportunidades de 22 40 20 2 1
atividade de lazer?
As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de
vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas.
Muito bom Ruim Nen ruim –Nem Boa Muito Boa
boa
15. Quão bem você é capaz de se locomover? - 2 10 57 16
Muito Insatisfeito Insatisfeito Nem satisfeito nem Satisfeito Muito satisfeito
insatisfeito
16. Quão satisfeito(a) você está com o seu 4 18 17 41 5
sono?
17. Quão satisfeito(a) você está com sua - 8 15 59 3
capacidade de desempenhar as atividades do
seu dia-a-dia?
18. Quão satisfeito(a) você está com sua 1 14 20 47 3
capacidade para o trabalho
19. Quão satisfeito(a) você está consigo - 9 12 56 8

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 840
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mesmo?
20. Quão satisfeito(a) você está com suas - 7 9 62 7
relações pessoais (amigos, parentes,
conhecidos, colegas)?
21. Quão satisfeito(a) você está com sua 3 13 11 51 7
vida sexual?
22. Quão satisfeito(a) você está com o 1 13 13 53 5
apoio que você recebe de seus amigos?
23. Quão satisfeito(a) você está com as 1 11 9 58 6
condições do local onde mora?
24. Quão satisfeito(a) você está com o seu 2 20 15 44 4
acesso aos serviços de saúde?
25. Quão satisfeito(a) você está com o seu 1 20 3 55 6
meio de transporte?
As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas coisas nas últimas duas semanas.
Nunca Algumas Frequentemente Muito Sempre
vezes frequentemente
26. Com que Frequência você tem 13 46 15 7 4
Sentimentos negativos tais como mau humor,
desespero, ansiedade, depressão?
Alguém lhe ajudou a preencher este questionário?

Quanto tempo você levou para preencher este questionário?

Os dados conseguidos até o momento não nos permitem fazer qualquer inferência,
pois temos menos de 50% dos participantes, porém nos adiantamos e apresentamos um
esboço de como será realizada a análise.
A escala WHOQOL-bref será analisada agrupando as questões pelos seus domínios e facetas.
Domínio 1 - Domínio físico (Q3,Q4,Q10,Q15,Q16,Q17,Q18)
 Q3. Dor e desconforto; Q4. Energia e fadiga; Q10. Sono e repouso; Q15. Mobilidade;
Q16. Atividades da vida cotidiana; Q17. Dependência de medicação ou de tratamentos; Q18.
Capacidade de trabalho.
Domínio 2 - Domínio psicológico (Q5,Q6,Q7,Q11,Q19,Q26)
 Q5. Sentimentos positivos; Q6. Pensar, aprender, memória e concentração; Q7. Auto-estima;
Q11. Imagem corporal e aparência; Q19. Sentimentos negativos; Q26. Espiritualidade/religião/crenças
pessoais.
Domínio 3 - Relações sociais (Q20,Q21,Q22)
 Q 20. Relações pessoais; Q21. Suporte (Apoio) sócia; Q 22. Atividade sexual
Domínio 4 - Meio ambiente
 Q8. Segurança física e proteção; Q9. Ambiente no lar; Q12. Recursos financeiros; Q13.
Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade; Q14. Oportunidades de adquirir novas
informações e habilidades; Q23. Participação em, e oportunidades de recreação/lazer; Q24. Ambiente
físico: (poluição/ruído/trânsito/clima); Q25. Transporte.
Após isso será analisado cada domínio e feito uma revisão bibliográfica para
referenciar nossas descobertas, bem como a análise quantitativa e assim contribuir com o
entendimento desses dados e suas análises darão subsídios para o desenvolvimento de novas
pesquisas e o planejamento de intervenções junto aos cuidadores que se mostrarem mais
vulneráveis na prestação do cuidado a pessoas com deficiências.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados obtidos até o momento no presente estudo apontam para a importância de se
investir em pesquisas sobre o bem-estar subjetivo da população de cuidadores e poderão,
ainda, subsidiar os profissionais, especialmente da área da saúde, em suas práticas
assistenciais, visando a valorização da satisfação com a vida e promovendo um novo olhar
sobre a reabilitação das pessoas com deficiências.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRACCIALLI, L.M.P. et al. Qualidade de vida de cuidadores de pessoas com necessidades especiais. Rev.
Bras. Ed. Esp., Marília, v. 18, n. 1, p. 113-126,
CAMPOS, C.C. et al. Manual prático para o atendimento odontológico de pacientes com necessidades especiais.
Goiânia: Ministério da Saúde,2009.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 841
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FLECK, M.P.A. et al. Aplicação em português do instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida
“WHOQOL-bref” Rev Saúde Pública, v. 34, n. 2, p. 178-183. Abril, 2000.
OLIVEIRA, M.F.S. et al. Qualidade de vida do cuidador de crianças com paralisia cerebral. RBPS, v. 21, n. 4, p.
275-280, 2008.
TRIGUEIRO, L.C.L. et al. Perfil sociodemográfico e índice de qualidade de vida de cuidadores de pessoas com
deficiência física. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.18, n.3, p. 223-227, jul/set. 2011.
SÁ, S.M.P.; RABINOVICH, E.P. Compreendendo a família da criança com deficiência física. Rev. bras.
crescimento desenvolv. hum., v. 16, n. 1, São Paulo, 2006.
OLIVEIRA, J.F. Qualidade de vida em mães com filhos deficientes da Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais de Montes Claros-MG.Minas Gerais, 2011.
PIMENTA, R. A.; RODRIGUES, L. A.; GREGUOL, M. Avaliação da qualidade de vida e sobrecarga de
cuidadores de pessoas com deficiência intelectual. Revista Brasileira de Ciências da Saúde, João Pessoa, v. 14,
n. 3, p. 69-76, jul./set. 2010.
BARBOSA, APM.; RIBEIRO M.T.F. Relação da sobrecarga do cuidador, perfil funcional e qualidade de
vida em crianças com paralisia cerebral. Ver Neurocienc. 2011

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 842
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TEATRO IMAGEM E A IMAGEM NA EDUCAÇÃO

Ysmilla Katalana Oliveira Figueiredo1; Adriele Erika da Silva2; Dr. Hélio Junior Rocha de
Lima.3

Palavras-chave: Imagem na educação. Jogo teatral. Teatro imagem.

Introdução
O presente texto é resultado do estudo e pesquisa sobre imagem em educação
desenvolvido no âmbito do PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica),
no qual, por meio de leituras e discussões de diversos aspectos e conceitos, sistematizamos
caminhos acerca do tema. Durante o processo da pesquisa, foram surgindo alguns
questionamentos que deram impulso ao estudo, tais como: o que é a imagem? Existe uma forma
de conceituá-la? No decorrer dos estudos, poderemos verificar, ainda que preliminarmente, há
potência na imagem traduzida em um poder que atravessa as relações interpessoais. No entanto,
elencamos o teatro-imagem, por percebermos a sua aplicabilidade no âmbito educacional. Os
exercícios e jogos provocam reflexões sobre as pessoas como reprodutoras, recriadoras ou
criadoras, produtoras de imagens.
Assim, pudemos perceber que a sociedade produz e utiliza as imagens como uma
forma de interação entre as pessoas e o mundo ao seu redor. Loizos (in: BAUER; GASKELL,
2008, p. 138) declara que “o mundo em que vivemos é crescentemente influenciado pelos meios
de comunicação, cujos resultados, muitas vezes, dependem dos elementos visuais.
Consequentemente o ‘visual’ e a ‘mídia’ desempenham papéis importantes na vida social,
política e econômica”. Demostrando como a presença da imagem na vida das pessoas além de
ser crescente vem se tornando mais complexa.

A imagem na cena
Inicialmente, pode-se começar com a finalidade que é estabelecida para os exercícios
do teatro imagem. De que forma a imagem é vista, tratada e discutida dentro dessa técnica de

1
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Integrante do projeto de pesquisa “Texturas: Imagem na pesquisa em educação”; e-mail:
ysmilla_katalana@hotmail.com
2
Estudante do curso de Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Integrante do projeto de pesquisa “Texturas: Imagem na pesquisa em educação”; e-mail:
adrielleerika@gmail.com
3
Professor do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Coordenador do
projeto de pesquisa “Texturas: Imagem na pesquisa em educação”; e-mail: heliolim@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 843
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

teatro? Qual é o objetivo dessa técnica e sua relação com a imagem? Ao escrever sobre o teatro
imagem, na verdade, ao sistematizar a técnica, no livro Stop: C’est Magique (BOAL,1980),
Augusto Boal coloca como objetivo desenvolver a capacidade de refletir sobre as imagens com
as quais as pessoas se deparam, ou seja, uma técnica que visa ajudar a ver aquilo que se olha.
Desse ponto surgem mais questionamentos, como: o que é preciso ver? Ou quais as imagens
que estão diante de nós e não vemos?
No dia a dia, por exemplo, as pessoas se envolvem com uma grande quantidade de
imagens de violência, veiculadas por jornais televisivos e online. Hoje, essas imagens se
tornaram comuns, e os acontecimentos que impactavam e causavam horrores não parecem
provocar mais sentimentos adversos. Ao que parece, a violência cotidiana está banalizada. As
imagens passam pelos olhos tão rapidamente e repetidamente que não se vê na sua totalidade,
e muitas imagens contidas nelas passam despercebidas. Tomando a fotografia como referência,
Barthes (1984, p. 27) destaca quatro pensamentos, ou “imaginários”, que estão presentes na
imagem e se chocam: o primeiro, é como sujeito fotografado se julga ser; o segundo, é como
ele queria que os outros o julgassem; o terceiro, é como o fotografo o julga, ou seja, como ele
imprime suas expressões nele; e o quarto e último, é como o fotógrafo o utiliza para divulgar
sua arte. Essas quatros noções estariam presentes na fotografia, e muitas vezes não se dá conta
delas. Pode-se pensar que algumas dessas noções transpassam o autorretrato e está presente em
fotografias no geral. Como Loizos (in: BAUER; GASKELL, 2008, p. 141) coloca: “A
informação pode estar na fotografia, mas nem todos estão preparados para percebê-la em sua
plenitude”.
Ao pensarmos sobre o objetivo para o qual o teatro imagem se propõe, podemos refletir
sobre a posição e a relação que temos com as imagens no nosso cotidiano. Muitas vezes ao
olharmos os noticiários, vemos fotografias e vídeos como prova de um fato. E é comum
escutarmos frases como “uma imagem vale mais que mil palavras” ou “a imagem não mente”.
De modo que algumas imagens são tidas como comprovações, como verdades, no entanto,
Loizos (in: BAUER; GASKELL, 2008, p. 138), ao discutir sobre a imagem, chama atenção
justamente para “uma falácia implícita na frase ‘a câmera não pode mentir’. Os seres humanos,
os agentes que manejam a câmera, podem e, de fato, mentem”, pode-se perceber isso através
das fakenews, por serem compartilhadas e, às vezes, atribuída credibilidade, isentas de um olhar
crítico da imagem. É também notório que Boal faz uma diferenciação entres o ver e o olhar,
logo entendemos que ele se refere a um olhar mais atento e sensível que possa perceber a
imagem de forma mais crítica e clara. Ao discutir sobre essa diferença de olhar e ver, Areal

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 844
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(2012, p 27) a “imagem é sempre semântica, isto é, tem um significado”, ou seja, ela passa uma
mensagem, há um sentido e, também, uma intenção.

O real x a imagem
As técnicas do teatro imagem, apresentadas por Boal (1980), atuaram como
parâmetros de jogos e exercícios que passaram a servirem como base para reflexão e análise
durante o processo da pesquisa. Por exemplo, a primeira dinâmica é a de ilustrar o tema com
seu próprio corpo. Os participantes, de acordo com as regras do jogo e sua sequência, vão
criando imagens corporais como forma de se expressar. Os jogadores comentam algo,
expressam suas emoções, e promovem o diálogo de imagens que são descritas, pelo
companheiro de jogo ou os demais jogadores, através de outra imagem. Na primeira parte do
exercício, os participantes fazem a imagem de forma individual, cada um a seu tempo. Na
segunda parte, chamada dinamização, todos fazem a imagem ao mesmo tempo. Segundo Boal
(1980. P 50-51), na primeira parte se tem uma visão pessoal, psicológica, sobre o tema, na
segunda tem-se uma visão social.
Outra técnica analisada é a imagem de transição (o real e o ideal) (BOAL, 1980, p.
61). Nesta técnica, primeiramente um grupo mostra uma imagem de opressão (real), qualquer
tipo de opressão que o grupo queira discutir. Depois eles devem mostrar uma imagem onde não
existe mais aquela opressão (ideal). Na dinamização dessa técnica pede-se que o grupo
apresente, de acordo com os sinais do pedagogo do teatro, as imagens de transição entre a
opressão real e o modelo ideal. Ou seja, pede-se que o grupo discuta visualmente formas de
superar aquela determinada opressão.
O pensar o que seria imagem e o que seria realidade dentro do exercício nos fez partir
de alguma perspectiva e, neste caso, a da pessoa que representa a opressão. Essa representação
é uma imagem impulsionada por uma situação real, uma coisa, algo concreto, de fato
acontecido. No entanto, ao pensar pelo olhar daqueles com quem se compartilha a imagem, ela
pode ser considerada real pelos demais, por se tratar de algo que se possa tocar e também fazer
uma imagem. Além disso, se há uma transição do “real” para o ideal, que realidade é essa?
Seria a opressão que se representa ou o que se apresenta naquele momento? Areal (2012, p.
65) coloca que “o conceito de imagem ou representação se opõe ao de apresentação ou
presentificação (presentation) ou presença da coisa. Uma imagem não se pode tocar (apenas a
superfície do seu suporte), ao contrário da coisa.” O que nos leva a pensar que podemos ter
tanto uma representação como uma apresentação da opressão real ou de um “ideal”.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 845
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O teatro imagem conforme sistematizado por Augusto Boal (1980. p 61) “[...] consiste
em trabalhar um modelo, em provocar uma discussão com meios exclusivamente visuais. A
palavra, mais do que nunca, deve estar ausente, mas não o debate, que deve ser o mais intenso
e complexo possível”. Nota-se que a imagem, além de uma imitação, expressa o que é singular,
um pensamento que ao passo que soa individual, transpira o coletivo. A imagem abre as mais
diferentes opiniões sobre um tema de interesse do grupo. Acordos e desacordos que se
estabelecem ou se acirram nas relações sociais. Uma questão real é tratada naquele momento,
não é uma representação de algo ou alguém, mas a própria pessoa se expressando.

Considerações finais
Portanto, a partir das representações no teatro imagem pode-se fazer outras leituras,
criando outras imagens sobre a coisa apresentada. Aquilo que está sendo mostrado ao
espectador não há só uma representação, mas uma apresentação, então constrói-se a partir disso
um significado. Assim como Areal (2012, p. 69) fala das esculturas, “podemos tocá-la, podemos
olhá-la de diferentes pontos de vista; são já objectos, não são apenas imagens.”. Então, o que
pudemos perceber é que dentro deste teatro transita-se entre o real e a imagem, ou apresentação
e representação. Sendo que essa transição nos possibilita um outro olhar sobre a imagem.
O teatro imagem conforme sistematizado por Augusto Boal (1980. p 61) “[...] consiste
em trabalhar um modelo, em provocar uma discussão com meios exclusivamente visuais. A
palavra, mais do que nunca, deve estar ausente, mas não o debate, que deve ser o mais intenso
e complexo possível”. Nota-se que a imagem, além de uma imitação, expressa o que é singular,
um pensamento que ao passo que soa individual, transpira o coletivo. A imagem abre as mais
diferentes opiniões sobre um tema de interesse do grupo. Acordos e desacordos que se
estabelecem ou se acirram nas relações sociais. Uma questão real é tratada naquele momento,
não é uma representação de algo ou alguém, mas a própria pessoa se expressando.

Agradecimentos
À FE – Faculdade de Educação
Ao Centro de Educação de Jovens e Adultos de Mossoró
À Propeg/UERN
Ao LEFREIRE
AO RESPED
Ao PIBID/Pedagogia

Referências
AREAL, Leonor - O que é uma imagem? Cadernos PAR. N.º 5 (Mai. 2012), p. 59-80.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 846
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota Sobre a Fotografia. Rio de Janeiro: Nova,
1984.

BOAL, Augusto. Stop, cést magique!. Civilização Brasileira, 1980.

LOIZOS, Peter. Vídeo, filme e fotografias como documento de pesquisa. In. BAUER, Martin
W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual
prático. 7ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

SOUZA, V. L. C. A., & Olária, V. (2014). Outros olhares sobre o uso da imagem em
pesquisa qualitativa: o exercício com a interpretação de Didi Huberman. Comunicação &
Informação, 17(2), 06-22. https://doi.org/10.5216/31812

WELLER, Wivian. BASSALO, lucélia de Moraes Braga. Imagens: documentos de visões


de mundo. Sociologias, Porto Alegre, ano 13, no 28, set./dez. 2011, p. 284-314

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 847
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TRÁFICO DE DROGAS E ENCARCERAMENTO

Lúcio Romero Marinho Pereira1; Manoel Matias de Carvalho Neto2; Millena Fernandes das
Chagas3; Ricélio Fontes da Silva4

Palavras-chave: Direito. Política Antidrogas. Apenados. Processo Penal

Introdução

O uso de substâncias psicoativas sempre esteve presente na história da Humanidade, a


qual “apresenta uma propensão singular a procurar substâncias psicotrópicas e, não raro, de
persistir em seu uso, não obstante os seus inerentes riscos” (IVERSEN, 2012, p.17 apud
ANDRADE, 2015, p.55). Com a força de setores moralistas da sociedade norte-americana,
em uma escala crescente de proibicionismo, deflagrou-se a Guerra Contra as Drogas,
consistindo em um conjunto de políticas públicas voltadas, em modalidade bélica, à
eliminação da produção, distribuição e consumo de drogas proscritas. Tal política foi
expandida para os países periféricos, utilizando as legislações penais e processuais penais
internas como instrumentos de segurança pública.
Nesse contexto, a temática dessa pesquisa foi delimitada a partir das relações
processuais e dados sociais obtidos em 88 (oitenta e oito) processos em fase de conhecimento
e 77 (setenta e sete) em sede de Execução Penal de apenados condenados pela prática dos
tipos da Lei n.º 11.343/2006 que tramitam nas unidades judiciárias estaduais criminais da
Comarca de Mossoró – RN, instaurados entre os anos de 2006 a 2019, com o objetivo de
investigar as consequências dessa política antidrogas e sua repercussão no meio prisional. A
quantidade de processos de conhecimento não é coincidente, haja vista que durante a pesquisa
constatou-se apenados que possuíam mais de uma condenação por crimes de drogas, fato esse
que justifica a existência dos 88 (oitenta e oito) processos de conhecimento.

Metodologia

O presente trabalho apropriou-se, basicamente, da pesquisa documental direta que,


segundo Marcone e Lakatos (2008, p.188), “constitui-se, em geral, no levantamento de dados
no próprio local onde os fenômenos ocorrem”. Além disso, explica os autores que a pesquisa
se subdivide em pesquisa de campo e a de laboratório. No caso, optou-se, notadamente, pela
pesquisa de campo, que é aquela na qual se busca colher dados com o fito de encontrar uma
resposta para um problema levantado.
A pesquisa em apreço valeu-se, preponderantemente, da pesquisa quantitativo-
qualitativa, eis que dos dados numéricos catalogados exsurge a necessidade de uma análise
aprofundada dos fenômenos sociais que os cercam. Nesse passo, com a finalidade precípua de
observar o perfil sociodemográfico – e outras informações relacionadas aos processos – dos
apenados, cumpriu-se a missão de analisar, detalhadamente, as informações constantes nos
autos, indo desde o inquérito policial, perpassando pela denúncia, decisões interlocutórias,
sentenças, acórdãos, até a fase executória da pena. Neste norte, os pontos da pesquisa foram
os seguintes: comarca de origem; magistrado sentenciante; capitulação do crime cometido;
1
Orientador dessa pesquisa, Mestre em Ciências Sociais, docente do curso de Direito – FAD/UERN, membro
pesquisador do GECOM/UERN. E-mail: romeromarinho@uern.br.
2
Estudante do curso de Direito do Departamento de Direito da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte;
mmatias_16@Outlook.com.
3
Estudante do curso de Direito do Departamento de Direito da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte;
millenachagas@alu.uern.br.
4
Estudante do curso de Direito do Departamento de Direito da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte;
ricelio-fontes@hotmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 848
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pena; regime carcerário; tipo e quantidade da droga apreendida no momento da prisão;


antecedentes; reincidência; tipo da defesa no processo de conhecimento e execução; sexo;
idade ao tempo do fato; local de residência; estado civil; escolaridade; existência de filhos;
etnia; profissão e indícios de organização criminosa.

Resultados e Discussão

Na sua maioria, os apenados eram solteiros, com 38 (trinta e oito) ocorrências, além
disso, 30 (trinta) deles não possuíam filhos, mostrando fragilidade nas suas relações sociais e
prematuridade no ingresso ao tráfico de drogas. Nesse sentido, do contingente pesquisado,
dividiu-se por faixa etária, encontrando-se o seguinte quadro: 19 (dezenove) foram
condenados entre 18 e 21 anos, 15 (quinze) entre 22 e 25 anos e 20 (vinte) entre 26 e 30 anos.
Assim, eram jovens 54 (cinquenta e quatro) apenados, à data do crime. Este fato justifica o
elevado índice de 55 (cinquenta e cinco) apenados não reincidentes, pois essa faixa etária
demarca a maior ocorrência do início da prática de crimes de drogas na maioridade e,
consequentemente, a primeira condenação.
Quanto ao grau de instrução, demonstrou-se uma baixa escolaridade, visto que 29
(vinte e nove) apenados possuíam o ensino fundamental e apenas 6 (seis) o ensino médio,
sendo os demais, 3 (três) sem escolaridade, 12 (doze) alfabetizados e 27 (vinte e sete) não
especificados.
No que pese ao gênero, o tráfico de drogas mostra-se um crime extremamente
masculino, sendo constatado 58 (cinquenta e oito) homens contra 19 (dezenove) mulheres,
mesmo assim, a presença de mulheres, em se comparando à ocorrência em outros crimes, é
bastante elevada.
Em relação à etnia, a pesquisa contabilizou 16 (dezesseis) apenados negros, 28 (vinte e
oito) pardos e 11 (onze) brancos. Com isso, para cada 1 (um) apenado branco, há 4 (quatro)
do grupo formado por negros e pardos. Essa proporção representa a discrepância racial
existente no Brasil, marcada por um longo período de escravidão, que resultou em um cenário
atual de forte desigualdade social (BATISTA, 2003). Um Estado Penal, por sua vez, cria uma
seletividade em face das populações menos favorecidas e sujeitas a determinados tipos de
crimes que ocorrem em virtude desta condição (CARDOSO e MONTEIRO, 2013), como o
tráfico de entorpecentes e a sua promessa de rentabilidade. Por consequência disso, verifica-se
a presença de uma biopolítica criminal que estigmatiza negros e pardos com o argumento
racista de que estes são propensos a prática de atos criminosos (LEMOS, AQUIMES et al.,
2017).
A pesquisa demonstrou que 17 (dezessete) apenados eram desempregados, ao passo
que 44 (quarenta e quatro) trabalhavam ao tempo do delito. No entanto, a análise das
profissões encontradas na pesquisa revelou que os empregados são de baixa remuneração,
com profissões que são limitadas a uma renda média mensal de valores entre R$ 1.382,75
(mil trezentos e oitenta e dois reais, e setenta e cinco centavos) pago a um soldador e R$
996,60 (novecentos e noventa e seis reais, e sessenta centavos) a um gesseiro (CAGED,
2019), gravitando bem próximo em torno da linha nacional de pobreza estabelecida de acordo
com a orientação do Banco Mundial (IBGE, 2019), que tem como patamar atual uma renda
mensal per capita de R$ 904,20 (novecentos e quatro reais e vinte centavos)5.
A fragilidade econômica dos apenados torna-se mais evidente ao olharmos para as
localidades de suas residências antes da prisão. O valor médio do metro quadrado em 20
(vinte) dos 22 (vinte e dois) bairros de Mossoró encontrados na pesquisa, quais sejam Santo
Antônio; Abolição IV; Belo Horizonte; Dom Jaime Câmara; Barrocas; Bom Jardim;
Redenção I; Santa Delmira; Alto da Conceição; Alto do Sumaré; Três Vinténs; Nova

5
Taxa de conversão da paridade de poder de compra para consumo privado. US$ 1,00 PPC para R$ 5,48, em
29/06/2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 849
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Mossoró; Paredões; Aeroporto II; Costa e Silva; Aeroporto I; Rincão; Ilha de Santa Luzia;
Planalto 13 de Maio e Boa Vista, são de 1,33 a 8,52 vezes mais baratos em comparação ao do
bairro Nova Bethânia6, considerado um de maior valorização imobiliária da cidade.
De outra banda, no tocante a capitulação do crime em que incorreram os apenados das
88 (oitenta e oito) sentenças pesquisadas, dessume-se que o tráfico de drogas previsto no art.
33, caput da Lei 11.343/06, ostenta o maior número de ocorrências, abrangendo um total de
56 (cinquenta e seis) condenados, ao passo que, logo em seguida, o crime de associação para
o tráfico, previsto no art. 35 da citada lei, representou apenas 9 (nove) casos. As elevadas
ocorrências do delito de tráfico de drogas, entre outras razões, dão-se em falta de disposição
legal objetiva do que seria uso e tráfico, fato esse que repercute diretamente na superlotação
carcerária. A despeito disso, observa-se que das 88 (oitenta e oito) sentenças proferidas, em
33 (trinta e três) delas o juiz fixou como regime inicial o fechado, ao passo que 28 (vinte e
oito) ao regime semiaberto e 17 (dezessete) ao aberto; as 4 (quatro) restantes correspondem a
penas restritivas de direito.
Da análise acurada das sentenças, verifica-se, ainda, uma certa resistência acerca da
aplicação da minorante prevista no § 4.º do art. 33 da Lei 11.343/06, tendo em vista que sua
aplicação representa apenas 20 (vinte) incidências. Nos termos desse artigo, a aplicação da
causa de diminuição de pena é restrita aos réus primários, de bons antecedentes, que não se
dediquem às atividades criminosas nem integrem organização criminosa. Em boa parte dos
casos, notou-se que a negativa a esse benefício se deu não pelo réu integrar organização
criminosa, posto que tão somente 6 (seis) réus apresentaram tais características, mas sim em
razão da dedicação a atividade criminosa, que é um critério imbuído de considerável
subjetividade, o que enseja questionamento, porquanto ser esse também um fator do alto
encarceramento na cidade de Mossoró. A subjetividade revelou-se frequentemente com a
seguinte expressão: utilizar a droga como meio de vida.
Dentre os fatores para a aplicação da pena, é considerado a quantidade de droga
apreendida no momento do flagrante. Com efeito, as drogas apreendidas resumiram-se a
maconha, crack e cocaína, presentes em 54 (cinquenta e quatro), 45 (quarenta e cinco) e 18
(dezoito) ocorrências, respectivamente. Nesse contexto, nos casos que a maconha esteve
presente, em 33 (trinta e três) destes foram apreendidas, no máximo, 100 (cem) gramas ou
100 (cem) trouxinhas, já na perspectiva do crack, foi encontrada a mesma proporção em 31
(trinta e um) incidentes, ao passo que o quadro se repetiu em 11 (onze) oportunidades com a
cocaína. O elevado índice de prisões por baixas quantidades de drogas é um reflexo da
política antidroga, a qual não foca sua atenção pública às organizações criminosas,
aprisionando, na maioria das vezes, apenas pequenos varejistas (WACQUANT, 2003). Este
quadro se coaduna ao pensamento de Olavo Hamilton (ANDRADE, 2015), quando afirma
que a maioria dos encarcerados são pequenos traficantes sem vínculo direto com atividades
violentas.
Nesse fio condutor, vale dizer que das 88 (oitenta e oito) sentenças proferidas, 46
(quarenta e seis) delas condenaram os réus a penas entre 4 a 8 anos, enquanto as penas acima
de 8 anos denotam 13 (treze) condenações e aquelas abaixo de 4, juntamente com as
restritivas de direitos, correspondem a 29 (vinte e nove) condenações.
Na tramitação dos processos de conhecimento predominou a defesa constituída, à
medida que na fase de execução os números se equilibraram, o que aponta para uma
dificuldade financeira de manutenção de uma defesa patrocinada as suas expensas. Contudo,
mesmo havendo em maioria advogados constituídos, tramitaram 28 (vinte e oito) destes
processos de conhecimento em menos de 1 (um) ano, denotando que não houve levantamento
de grandes questionamentos probatórios e processuais por parte da defesa técnica.

6
Essa constatação adveio das informações obtidas através da Prefeitura municipal de Mossoró, por meio da
Secretaria da fazenda, com base nos dados do SIAT-SEFAZ/FMM, de 01/06/2018 a 01/06/2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 850
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusão

A atual política de drogas encarcera na Comarca de Mossoró – RN, em sua maioria, as


pessoas de baixo grau de ensino, pois este fator atua como vetor socioeconômico e os
condiciona ao desemprego ou a uma posição marginal no mercado de trabalho, o que resulta
em baixas condições econômicas e favorece o aliciamento pelo tráfico. Além disso,
constatamos que estes indivíduos moram em bairros periféricos e, na sua maior parte, são
negros ou pardos, jovens e não possuem estrutura familiar bem definida. Diante disso,
concluímos que há um direcionamento sanitarista a setores vulneráveis da população, dessa
forma, a legislação antidroga provoca uma verdadeira eugenia social e retira de circulação os
indesejados sociais.
Ademais, a política antidroga mostra-se inócua, pois encarcera, principalmente,
pequenos traficantes, cujos danos à sociedade, bem como os impactos das suas prisões na
oferta e no consumo de drogas são insignificantes em relação aos do crime organizado, fato
que demonstra o desperdício de recursos públicos. Por fim, a lei de drogas se distancia da
principiologia constitucional, pois converte o cidadão marginalizado em marginal e apresenta
como única presença estatal em sua vivência o sistema punitivo, assim, o exclui das demais
políticas públicas básicas e gera mais problemas do que resolve.

Referências

ANDRADE, Olavo Hamilton Ayres Freire de. Princípio da proporcionalidade e guerra contra
as drogas. 2° ed. Natal – RN: OWL, 2015.
BATISTA. Vera Malaguti. Difíceis Ganhos Fáceis. Drogas e Juventude Pobre no Rio de
Janeiro. 2° ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
CAGED. Cadastro Geral de Empregados e Desempregados. Perfil do município. Ministério
da Economia, Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, 2019. <Disponível em:
http://pdet.mte.gov.br/perfil-do-municipio> Acesso em: 03 jul. 2020.

IBGE. Síntese de indicadores sociais. Uma análise das condições de vida da população
brasileira, 2019. <Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101678.pdf> Acesso em: 30 jun. 2020.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia


científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

LEMOS, Flávia Cristina Silveira et al. O extermínio de jovens negros pobres no Brasil:
práticas biopolíticas em questão. A Revista Pesquisas e Práticas Psicossociais. v. 12, n. 1
(2017). p. 164-174.

MONTEIRO, Felipe Matos; CARDOSO, Gabriela Ribeiro. A seletividade do sistema


prisional brasileiro e o perfil da população carcerária, 2013. <Disponível em:
http://depen.gov.br/DEPEN/depen/espen/Aseletividadedosistemaprisionalbrasileiro.pdf>
Acesso em: 30 jun. 2020.

WACQUANT, Loic. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. Instituto
Carioca de Criminologia. Coleção Pensamento Criminológico. Volume: 6. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 2003.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 851
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TRAJETÓRIAS JUVENIS E ESPAÇOS PÚBLICOS EM MOSSORÓ/RN

Juliana Kallyne Torres Marinho1; Pedro Antônio Marques Firmino2; Jamilson Azevedo
Soares3

Palavras-chave: Modernidade. Transformações espaciais. Espaço Público. Jovens.

INTRODUÇÃO
Os jovens como sujeitos sociais assumem cada vez maior protagonismo a partir de
suas percepções, comportamentos e práticas espaciais em relação às transformações e seus
desdobramentos sob a égide da modernidade urbana.
Os estudos sobre o(s) espaço(s) público(s) inseridos nos cenários urbanos em processo
de reconfiguração/requalificação quanto à forma e o seu consequente rebatimento em relação
aos usos e apropriações pelos jovens da cidade, certamente, ampliam as possibilidades para
um maior conhecimento sobre a realidade urbana local e suas significações para as trajetórias
e narrativas dos jovens contemporâneos.
O estudo objetiva compreender as transformações no(s) espaço(s) público(s) em
Mossoró/RN e seus reflexos no contexto dos seus segmentos juvenis, notadamente em relação
aos usos e apropriações desses espaços por esse tipo de público, na contemporaneidade.

METODOLOGIA
Inicialmente, consistiu no aporte teórico proporcionado pela literatura específica de
autores que teorizaram sobre espaço público e suas transformações no contexto das cidades
contemporâneas e também sobre as práticas espaciais dos segmentos juvenis urbanos, a
exemplo de Gomes (2012), Carlos (2011), Santos (2007), Serpa (2007), Groppo (2004),
Dayrel (2003), Carrano (2013), entre outros. A partir das contribuições no campo teórico,
elaborou-se um questionário com 15 questões que visavam contemplar os objetivos definidos.
Assim, realizou-se uma pesquisa através do formato on-line com a aplicação de 103
questionários eletrônicos com questões abertas e fechadas a jovens de 15 a 29 anos residentes
em diferentes espaços da cidade.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Incialmente, indagou-se aos entrevistados o que é espaço público e qual o seu


significado para eles. Tal provocação resultou em diversas respostas que concebiam o espaço
público como um ambiente gratuito, democrático, construído e definido para o uso da
população da cidade, assim como um espaço de socialização e lazer entre diferentes.
Posteriormente, foi indagado quais eram os espaços públicos na cidade de Mossoró/RN. A
maioria apontou que eram aqueles situados na área central da cidade como, a Estação das
1
Estudante do curso de Geografia do Departamento de Geografia - DGE da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte - UERN; e-mail: julianamarinho@alu.uern.br.
2
Estudante do curso de Geografia do Departamento de Geografia - DGE da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte - UERN; e-mail: pedrofirmino@alu.uern.br.
3
Professor do Departamento de Geografia - DGE da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN;
e-mail: jamilsonsoares@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 852
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Artes, o Memorial da Resistência, a Praça da Convivência e a Praça dos Esportes e a dos


Patins. Infere-se, assim, que para os segmentos juvenis de Mossoró, tais espaços
correspondem a aqueles que foram readequados/revitalizados para serem referências como
espaços públicos modernos na perspectiva de promover os encontros, atividades, interações e
o compartilhamento de interesses comuns entre os frequentadores. Nesse contexto, ruas,
praças e espaços de fora dessa parte da área central não parecem se constituir como espaços
públicos para tais usos.
Quando indagados acerca de que se tinham conhecimento e/ou se observaram as
transformações no espaço público da cidade no presente século (Gráfico 5), 82,5% dos
pesquisados afirmaram que tiveram conhecimento e observaram essas transformações.

Nesse mesmo contexto, foi perguntando se as transformações afetaram o cotidiano


deles (Gráfico 6). Assim, 50% dos jovens responderam que afetaram bastante e outros 35,7%
responderam que afetaram parcialmente. Tal influência no cotidiano dos jovens se deve ao
fato de que estas transformações permitiram novos usos e apropriações por parte desse
segmento em relação aos espaços públicos requalificados/revitalizados, a partir da adoção de
características modernas e imitativas das metrópoles. Esses novos espaços influenciam a vida
cotidiana juvenil local que passa a corporificar novas trajetórias, ocupações e ações em
relação ao espaço geográfico e consequentemente, aos espaços públicos que adquirirem novos
conteúdos na área central local.

Acerca da quantidade dos espaços públicos da cidade (Gráfico 8), 44,7% dos jovens
responderam que eram pouco suficientes; semelhantemente, 44,7% responderam insuficientes

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 853
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

e apenas 7,8% apontaram os espaços públicos como suficientes, indicando uma carência
quase que unânime acerca dos espaços públicos disponíveis para os jovens, apesar dos
espaços já existentes na cidade.

Em relação ao nível de satisfação com os espaços públicos da cidade (Gráfico 9) as


opiniões classificaram-se em 61,2% pouco satisfeitos; 20,4% insatisfeitos e 14,6% satisfeitos,
dados que refletem problemas como a falta de segurança e ausência de investimentos nesses
locais. São questões que podem ser observadas também ao indagar os entrevistados sobre
como eles definiriam os espaços públicos de Mossoró/RN.

CONCLUSÃO
No contexto das cidades contemporâneas, a relação entre espaço público e os diversos
segmentos sociais urbanos podem ganhar novos significados a partir das apropriações e dos
usos que fazem dos espaços e equipamentos existentes. Em Mossoró/RN, essa realidade
ganhou uma maior dimensão com as transformações processadas em uma parte de sua área
central que possibilitou o surgimento de espaços para a realização de festas, eventos e para a
prática da convivência e sociabilidade.
Nesse sentido, as formas espaciais readequadas/revitalizadas passaram a compor o
cenário para os novos conteúdos e sentidos dados a esses espaços, com reflexos no cotidiano
de grande parte dos jovens locais que passaram a frequentar, usar e se apropriar desses novos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 854
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

espaços para a prática da convivência, sociabilidade e atividades lúdico-recreativas. Tais


espaços tornaram-se referências principais como espaços públicos na cidade, tendo em vista a
visibilidade destes e as possibilidades postas para atrair os jovens, os quais passaram a
conferir maior importância para estes espaços centrais em detrimento das ruas, praças e
demais espaços fora desse circuito modernizado.

AGRADECIMENTOS
À PROPEG/UERN pela oportunidade propiciada através do PIBIC de adentrar os
caminhos iniciais da pesquisa, constituindo-se como uma etapa relevante para uma formação
com mais motivação, empenho e qualidade.

REFERÊNCIAS

CARLOS, Ana Fani Alessandrini. A Condição espacial. São Paulo: Contexto, 2011.

CARRANO, Paulo César Rodrigues. Jovens na cidade. In: Trabalho e sociedade, 2001, ano
I, n. 1. <http://paulocarrano.wordpress.com/>. Acesso em 10.01.2013.

DAYREL, Juarez. O jovem como sujeito social. In: Revista Brasileira de Educação, n. 24,
set./dez. 2003.

GOMES, Paulo César da Costa. Espaços públicos: um modo de ser do espaço, um modo de
ser no espaço. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORRÊA, Roberto
Lobato. Olhares geográficos: modos de ver e viver o espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2012.

GROPPO, Luís Antônio. Dialética das juventudes modernas e contemporâneas. In: Revista
de educação do COGEIME, ano 13, n. 25, dez./2004.

SANTOS, Milton. O Espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: USP, 2007.


SERPA, Ângelo. O espaço público na cidade contemporânea. São Paulo: Contexto, 2007.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 855
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 856
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

UM ESTUDO SOBRE O SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO


DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN E IMPLICAÇÕES PARA A
GESTÃO LOCAL.
ANÁBIA MIRELLY FERREIRA DE OLIVEIRA1; MA. EUGÊNIA MORAIS DE
ALBUQUERQUE2
Palavras-chave: Sistema de Avaliação. Educação. Município de Mossoró.
Introdução:

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) e a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional (LDB, Lei no 9.394/1996) (BRASIL, 1996), permitem aos municípios
criarem suas próprias regras de gestão educacional através do Sistema Municipal de Ensino
(SME), o que consagra o poder local como lócus de decisões significativas para a sociedade.

Essa é uma grande inovação, considerando a autonomia do município para organizar,


conforme as necessidades locais, uma rede de escolas mantidas e administradas pelo poder
municipal, um órgão gestor, a Secretaria Municipal de Educação e um órgão normativo e
fiscalizador – o Conselho Municipal de Educação.

Essas instâncias de poder, criadas através de leis e normas próprias do sistema,


consagram, assim, a autonomia municipal na área da educação, de modo a garantir, de acordo
com o artigo 15 da LDB 9394/96, que os sistemas de ensino assegurem “às unidades escolares
públicas de educação básica que os integram, progressivos graus de autonomia pedagógica e
administrativa e de gestão financeira, observada as normas gerais de direito financeiro público”
(BRASIL, 1996).

Nesse contexto, o Plano Nacional de Educação – PNE/2014/2024 – enfatiza a


importância da criação de Sistemas Municipais de Ensino através de legislação própria “no
prazo de 2 (dois) anos contados da publicação desta Lei, adequando, quando for o caso, a
legislação local já adotada com essa finalidade” (PNE/2014, art. 9º) (BRASIL, 2014). Este
artigo tem como objetivo compreender como se estrutura o sistema de avaliação e gestão
educacional nas escolas do município de Mossoró-RN.

1
Aluna do 4º período do curso de Pedagogia da UERN.
2
Professora da Faculdade de Educação da UERN. Disciplina de Política e Planejamento da Educação Básica.
Mestre em políticas e Práxis da Educação (UFRN), membro do grupo de pesquisa do FORMEPE.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 857
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Sistema de Avaliação da Educação Municipal (SIAVE)

O município de Mossoró, promulgou A LEI Nº 3704, DE 13 DE MARÇO DE 2019,


que Institui o Sistema de Avaliação da Educação Municipal (SIAVE) no âmbito da Secretaria
Municipal de Educação, com o objetivo de assegurar o desempenho dos estudantes e a
consequente qualidade da educação pública.

Art. 2º - O SIAVE ao promover a avaliação das unidades educacionais, dos órgãos de


apoio à educação e SME, avaliará o desempenho dos estudantes, dos professores, supervisores,
gestores e funcionários da educação básica, devendo assegurar: I – avaliação da aprendizagem,
avaliação institucional, interna e externa, de cada uma das unidades educacionais, avaliação
global da Rede Municipal de Ensino e dos demais órgãos de apoio à educação e da SME;

Criando o Sistema de Avaliação do município de Mossoró. Como forma de acompanhar,


avaliar a política da Educação Pública Municipal, estabeleceu a Lei de Responsabilidade (LRE,
2011), alicerçada nas diretrizes estabelecidas no Plano Municipal de Educação do decênio
(2015-2025) e suas ações. E o Mapa Educacional é uma estratégia de gestão que foi instituído
pela Lei de Responsabilidade Educacional nº 2.717, de 27 de dezembro de 2010. É um
instrumento de planejamento, monitoramento e avaliação das ações, metas e/ou resultados das
unidades escolares do ensino municipal de Mossoró/RN.

O art. 2º “A qualidade da educação é compromisso de toda a sociedade,


devendo ser trabalhada em regime de colaboração norteada por equilibrada
divisão de responsabilidades, de modo a garantir gradativa evolução para um
sistema de educação estável e cooperativo, de acordo com responsabilidades
compartilhadas entre as instituições e atores sociais;” (LRE, 2011).

O Regime de colaboração é complexo, pois envolvem ações e comprometimento de


diversos atores sociais e instituições administrativas como a Prefeitura Municipal de Mossoró,
a Secretaria Municipal da Cidadania, o Conselho Municipal de Ensino, a Gerência Executiva
da Educação; a Rede Municipal de Ensino (escolas e unidades de educação infantil); o Conselho
do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (FUNDEB); o Conselho de Alimentação Escolar (CAE); os
Conselhos Escolares (CE); objetivando a melhoria do ensino da rede municipal.

Configura-se um sistema de planejamento capaz de monitorar, avaliar, se às Ações,


Metas, Projetos e Planos de atividades estão sendo cumpridos, acompanhando o funcionamento
da gestão dentro da escola, bem como fazendo uma avaliação política de todo o sistema

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 858
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Municipal de Educação. Para sua efetiva implementação faz necessário o empenho de todos
gestores, supervisores, professores, alunos e pais.

O Mapa Educacional

O Mapa Educacional, trata-se de uma ferramenta de planejamento que auxilia no


processo de acompanhamento das ações e melhorias dos resultados de cada unidade escolar, de
forma a impulsionar uma mobilização por parte de todos para atingir os indicadores e Metas.
Conforme a Planilha do Excel (2013/2014) apresentam 13 indicadores que está na seguinte
ordem 1. Matrícula e Evasão; 2. Infraestrutura física; 3. Rendimento escolar; 4. Desempenho
escolar; 5. Programas educacionais e apoio de currículo escolar; 6. Programa educacional de
apoio aos professores e servidores; 7. Produção pedagógica científica e cultural; 8. Promoção
de atividades de responsabilidade social; 9. Programa de apoio à família; 10. Quadro do corpo
docente; 11. Quadro de funcionários; 12. Funcionamento dos conselhos escolares; 13.
Modernização pedagógica e administrativa.

O preenchimento do Mapa Educacional acontece da seguinte forma: a rede escolar


estabelece metas para o ano letivo e no final do ano avalia se as metas foram alcançadas, com
a possibilidade também de solucionar as dificuldades encontradas. Essa ferramenta faz com
que todos os servidores da escola se sintam monitorados e pressionados a cumpri com eficiência
as metas estabelecidas para o alcance e bons resultados. Devendo procurar levar em conta as
desigualdades estruturais das escolas, bem como no tocante ao perfil do corpo docente.

Metodologia

A pesquisa é de caráter exploratória tem como objetivo central compreender como se


estrutura o sistema de avaliação e gestão educacional nas escolas do município de Mossoró-
RN, utilizamos o método qualitativo, realizamos uma pesquisa bibliográfica, abordando autores
como Matias e Pereiras (2016), Terto e Pereira (2011), Freitas (2011). A pesquisa documental,
caracterizada como técnica central desse estudo, analisou os documentos legais e normativos
existentes no país e no município de Mossoró, referentes ao sistema de avaliação municipal e
Responsabilidade Educacional (LRE), no Ensino Fundamental.

Resultados e discussão

Para compreender a atual tendência de Gestão Educacional brasileira é preciso


compreender o contexto político e socioeconômicos onde as políticas educacionais estão sendo

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 859
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

definidas, ressaltando que a medida que o estado moderno muda suas formas de organização e
gerenciamentos das suas funções, o campo educacional também é afetado e tende a se
modificar.

Várias ações são propostas a estados e municípios a fim de estabelecer “A


Nova Gestão Pública”, como a limitação das dimensões do setor público, uso de mecanismos
de mercado, comercialização de órgãos públicos; onde é valorizado apenas os resultados
positivos, desclassificando as unidades escolares que não se encaixam nos padrões impostas, e
não levando em consideração todas as dificuldades e desigualdade que permeia o meio
educacional; Terto e Pereira (2011), frisam que a implantação dessa Nova Gestão Pública estar
além da melhoria do ensino, além da obtenção de resultados satisfatório do desenvolvimento
educacional, se tratando então em encaixar a educação em uma modalidade de mercado.

O sistema de avaliação educacional instaurada no município de Mossoró-RN tem sido


um importante aliado na busca de informações acerca do funcionamento das unidades escolares
bem como no enfretamento de dificuldades presente no cotidiano da gestão. Porém, segundo
Matias e Pereira (2016), é nítido que o comportamento dos professores e gestores tenham
mudado diante das implantações de premiações, que estimula assim uma competição causando
uma desestabilidade nas atividades desenvolvidas em conjunto já que o sistema de avaliação da
educação municipal de Mossoró deve funcionar com condições materiais, afim de garantir o
acesso, permanência e sucesso de todos os alunos matriculados.

Conclusão

A pesquisa conseguiu identificar que, as possíveis melhorias que o sistema de avaliação


da educação municipal possa trazer, ele também desencadeara uma competição entres as
unidades escolares e também entre os discentes, pois umas das formas de incentivar a obtenção
de metas dentro do sistema é a oferta de premiação como por exemplo: 14º salário pago aos
professores referente a obtenção satisfatória das metas exigidas. Essa “lógica da eficiência,
eficácia e produtividade, mediação por desempenho, premiações” tem se instalado como
proposta pelo sistema, criando uma cultura baseada em Responsabilização dos profissionais de
educação pelos resultados que tem influenciado as decisões do cotidiano da gestão escolar.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 860
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências Bibliográficas
BRASIL. Lei de Diretrizes e bases da educação nacional. Nº 9.394/96 de 20 de dezembro de
1996. Diário Oficial da União, Brasília, 23 de dezembro 1996.
_______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
_______. Lei nº 13.005, de 25 de julho de 2014. Aprova o plano Nacional de Educação. PNE e
dá outras providências. Disponível em: <http: //www.planalto.gov.br/ccivil_03/ _Ato2011-
2014/Lei/L13005.htm>. Acesso em 25 de julho de 2020.
FREITAS. Dirce. Reflexos da avaliação centralizada na educação municipal. Disponível
em<https://www.anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/PDFs/trabalhosCompletos/comunicac
oesRelatos/0136.pdf> Acesso em 24 de julho de 2020
JORNAL OFICIAL DE MOSSORÓ. Mossoró, ano XI, n. 501-c, Mar./2019
MATIAS, Maria. PEREIRA, Gilson. A política pública educacional de Mossoró: uma submissão
a lógica de mercado? POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL. Mossoró: Edições
UERN,2016
MONLEVADE, J. Educação pública no Brasil: contos & descontos. Ceilândia, DF: Idea,1997.
MOSSORÓ.leismunicipais.com.br/a/rn/m/mossoro/lei-ordinaria/2010/272/2717/lei-ordinaria-
n-2717-2010-institui-a-política-de-responsabilidade-educacional-no-municipio-de-mossoro-e-
da-outras-providencia.
TERTO, Daniela. PEREIRA, Raphael. A nova gestão pública e as atuais tendências da gestão
educacional brasileira. Disponível em <
https://anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/PDFs/trabalhosCompletos/comunicacoesRelatos
/0121.pdf > Acesso dia 24 de julho de 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 861
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E SUA RELAÇÃO COM A


VULNERABILIDADE AMBIENTAL EM UMA ÁREA NAS PROXIMIDADES
DO RIO APODI-MOSSORÓ, MOSSORÓ-RN

Raquel Cunha Paiva1; Carlos Daniel Silva e Souza2; Gutemberg Henrique Dias3

Palavras-chave: Vulnerabilidade Ambiental; Risco; Degradação; Urbanização.

INTRODUÇÃO
A cidade de Mossoró está localizada entre duas capitais, Natal-RN e Fortaleza-
CE, de acordo com o IDEMA (2008), possui área total de 2.110,21 km² e está situada
geologicamente na bacia potiguar, com todo seu território inserido na bacia hidrológica
do Rio Apodi-Mossoró. A área urbana de Mossoró é cortada pelo rio, ou seja, o mesmo
está incluído na vivência dos moradores da cidade, esse fator pode proporcionar danos ao
meio ambiente caso o uso e cobertura da terra seja realizado de forma irregular, nas
proximidades dos cursos de águas que são consideradas áreas vulneráveis.
A Cobertura e Uso da Terra está diretamente relacionada com o meio ambiente e
a forma como o mesmo é tratado, pelo fato da área urbana está incluída nas proximidades
do rio. Em algumas situações tem havido ocupações em áreas de risco ambiental podendo
ocorrer a degradação ao meio ambiente e intensificar a vulnerabilidade ambiental da área.
Nesse sentido, Chaves e Lopes (2008, p. 10) apontam que a “vulnerabilidade representa
o grau de fragilidade de uma área e/ou de uma população, assim como a sua possível
capacidade de resposta diante da materialização de um acontecimento danoso”. Os danos
que potencializam a vulnerabilidade da área urbana têm sido causados por descargas de
esgotos domésticos e industriais (ANDRADE; FELCHAK, 2009) e a retirada da mata
ciliar.
A partir dessa análise, o presente trabalho visa estudar a vulnerabilidade ambiental
e a pressão urbana exercida sobre uma área delimitada entre a Av. Coelho Neto, Alberto
Maranhão, Jerônimo Dix-Neuf Rosado e a Francisco Mota, onde existe uma concentração
urbana mais próxima do rio.

METODOLOGIA
A metodologia aplicada na presente pesquisa se iniciou através de revisões
bibliográficas prévias, que proporcionaram o foco da pesquisa, como também a contínua
leitura durante a elaboração do trabalho. A partir da metodologia de Alves (2006), que
desenvolveu as bases para elaboração de mapa de vulnerabilidade ambiental na cidade de
São Paulo, foi construída uma estrutura de dados geográficos a partir de informações
extraídas dos setores censitários do IBGE (2010), utilização da base cartográfica da área
urbana de Mossoró-RN mapeada pelo Laboratório de Geografia Física (LAGEF) da
UERN, bem como, a partir do uso de imagem de satélite oriunda do Google Earth que
serviu para identificar o polígono delimitador da área do projeto.
A base cartográfica foi estruturada no software QGis 3.4, tendo sido construído o
mapa de Risco Ambiental, baseado em Dias (2013), que optou “pela distância de 100

1
Estudante do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;
e-mail: raquelcuunha@gmail.com
2
Estudante do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;
e-mail: daniel.souza.cd@gmail.com
3
Professor do departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
gutembergdias@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 862
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

metros dos cursos d’água devido à área dos setores censitários e a própria geometria das
drenagens que se encontram localizadas em vales abertos facilitando o espraiamento
águas quando em períodos de enchentes”. A partir da área urbana do rio foi delimitado o
buffer, onde mais de 50% dentro dessa área é considerado ALTO risco de vulnerabilidade,
e menos de 50% dentro dessa área é considerado BAIXO risco. No mapa de Degradação
Ambiental, foi usada como base a “variável 17” (domicílios articulados permanentes com
banheiro de uso exclusivo dos moradores com sanitário e esgotamento sanitário via rede
geral de esgoto ou pluvial) do censo IBGE (2010), onde mais de 50% da área saneada é
considerada de BAIXO índice de degradação ambiental, e menos 50% da área saneada é
considerada ALTO índice. Através da elaboração e junção dos mapas de risco ambiental
e degradação ambiental associados à malha digital dos setores censitários do município
de Mossoró, foi construído o mapa de Vulnerabilidade Ambiental da área em estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com o resultado do mapa de Risco (figura 1), vale destacar, que o bairro Ilha de
Santa Luiza, localizado no centro da área de estudo, está situado quase totalmente em
áreas de Alto Risco Ambiental, situação que pode ocasionar vários danos ao meio
ambiente, em visita a campo foi possível identificar que as construções residenciais
predominam nesse bairro, mas também existe a presença de comércios em geral. Os
bairros Centro e Alto da Conceição (localizados na área noroeste da área de estudo) são
locais com grande dinâmica urbana, ocupados por construções variadas, comércio,
residências, áreas de lazer etc.
Figura 1: Mapa de Risco

Fonte: Autores, 2020


A degradação ao meio ambiente cresce de acordo com o crescimento urbano, no
caso de Mossoró, como já visto na Figura 1, a cidade tem ocupado áreas de risco, situação
que trará danos ao meio ambiente, com a finalidade de mitigar a degradação ambiental
nas cidades, uma das alternativas é o tratamento de resíduos danosos à natureza. A partir
da análise do mapa de Degradação (figura 2), o Alto índice corresponde a 43,6% da área
total, sua maior parte são áreas ocupadas O Baixo índice de degradação marca 56,4% da
área em estudo, dividido em áreas cobertas e não cobertas por construções, com mais de
50% em seus setores censitários saneados.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 863
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 2: Mapa de Degradação

Fonte: Autores, 2020

De acordo com a Figura 3, a baixa vulnerabilidade corresponde aproximadamente


a 1,7 km², com a atuação do saneamento básico. A vulnerabilidade Média, estende-se a
aproximadamente 1,6 km², com sua maior parte em intensa cobertura do solo urbano,
podendo variar em residências, comércio e algumas empresas que possui um alto teor de
poluição, a maior parte dessas áreas estão sem saneamento básico, fator que proporciona
cada vez mais a degradação ambiental. A Alta vulnerabilidade ambiental está quase na
sua totalidade do bairro Ilha de Santa Luzia, localizado no centro da área de estudo, é
cortado por um canal e tem o território delimitado por outros dois.
Figura 3: Mapa de Vulnerabilidade Ambiental

Fonte: Autores, 2020

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 864
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONCLUSÃO
A maior parte da área de estudo está sendo usada e coberta por diversos tipos de
empreendimentos (Figura 4), muitas vezes em locais impróprios em desacordo com as
leis ambientais, provocando impactos ao meio ambiente, pode-se destacar que as áreas de
preservação permanente não estão sendo respeitadas, prova disso é a quantidade de
construções ocupando essas áreas, inclusive por empreendimentos classificados como de
grande potencial poluidor.
Figura 4: Mapa de Uso e Cobertura da Terra

Fonte: Autores, 2020

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, H. P. F. et al. Vulnerabilidade socioambiental na metrópole paulistana: uma
análise sociodemográfica das situações de sobreposição espacial de problemas e riscos
sociais e ambientais. Revista Brasileira de Estudos de População, 2006.

ANDRADE, A. R. FELCHAK, I. M. A poluição urbana e o impacto a qualidade da água


do Rio das Antas – Irati/PR, GEOAMBIENTE ON-LINE, Jataí-GO, n. 12, p 108-132,
jan./jun. 2009. ISSN 1679-9860

CHAVES, S. V. V; LOPES, W. G. R. Riscos, perigo e vulnerabilidade em áreas


urbanas: uma discussão conceitual. IV Encontro Nacional da Anppas. Brasília-DF,
2008.

DIAS, G. H. Identificação da vulnerabilidade socioambiental na área urbana de


Mossoró-RN, a partir do uso de técnicas de análises espaciais. Dissertação (Mestrado
em Ciências Naturais). Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Programa de
Pós-Graduação em Ciências Naturais. Mossoró, 2013.

IDEMA, Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande


do Norte. Perfil do seu Município Mossoró. Disponível em:
http:<//www.idema.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=PASTAC&TARG=875&ACT=&P
AGE=10&PARM=&LBL=null > Acesso em: 19 jan. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 865
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

VÍNCULOS AFETIVOS NA FASE PRÉ-NATAL E A FORMAÇÃO INFANTIL

Leandro Gomes Silva1; Ana Beatriz de Souza Lima2; Francisco Jeferson Marcelino Pinto3; Maria
Euzimar Berenice Rego Silva4

Palavras-chave: Afetividade. Gestação. Infância. Desenvolvimento Humano.

Introdução

A gravidez desencadeia várias transformações na mulher, que por sua vez, será uma futura
mãe, seja fisicamente ou psicologicamente, as mudanças serão inevitáveis. É uma necessidade do
corpo se adequar a nova realidade que uma gravidez pode trazer. Junto a isso, como sublinha Stein-
ner ( 1983), sabemos da importância dos vínculos afetivos para o desenvolvimento integral da cri-
ança. Assim, nosso trabalho nasce da curiosidade de saber como as mulheres mães de primeiro fi-
lho/a membros dos Projeto de Extensão “DIÁLOGOS SERRANOS PORTALEGRENSES: IN-
FÂNCIA E AUTOEDUCAÇÃO” (Diálogos Portalegrenses) trabalharam ou não maneiras de aflo-
rar os laços afetivos com seus filhos durante a gravidez, pois, é importante saber que estímulos fo-
ram mobilizados por essas mulheres, de modo que, a personalidade do bebê vai sendo formada de
acordo com sua relação com a mãe, afinal de contas, o primeiro ser com quem a criança se comuni-
ca é com a mãe desde a gestação. Isso nos leva a refletir sobre várias situações, entre elas: Se a gra-
videz foi planejada? Quais vínculos foram mobilizados durante toda a gestação? Portanto, nosso
objetivo geral é: Refletir sobre os vínculos afetivos com a criança durante a gestação e os primeiros
dias de vida pelas mães membros do Projeto de Extensão "Diálogos Portalegrenses", e os objetivos
específicos são: identificar as políticas públicas voltadas para a gestação que estimule a afetividade
na gestação; comparar as percepções das mães participantes das ações do Projeto de Extensão "Diá-
logos Portalegrenses" sobre os vínculos afetivos na formação humana, segundo a faixa etária e o
nível de escolaridade; conhecer os impactos das vivências afetivas para os bebês durante a gestação
e os primeiros dias de vida na formação humana; observar/comparar as mulheres que tiveram mais
de uma gestação e/ou aborto a mudança nesses vínculos.

Metodologia

Nossa pesquisa está relacionada com as atividades do Projeto de Extensão “Diálogos Porta-
legrenses” e foi pensada, do ponto de vista metodológico, buscando articular os estudos já realiza-
dos acerca do tema com outras leituras para fundamentar melhor nosso trabalho. Nossa pesquisa é
de cunho qualitativo e foi realizada da seguinte maneira: a) estudos bibliográficos relacionados ao
tema, entre os teóricos, podemos citar: Steiner (1983) que trata da importância do desenvolvimento
integral da criança e da afetividade; Winnicott (1982) sobre mães e bebês desde a gestação e os
primeiros tempos de vida ; e Luzes (2012) que discorre sobre a Ciência do Inicio da Vida (CIV),
entre outros; b) pesquisa documental sobre políticas públicas locais voltadas para a gestação e a
primeira infância, com destaque para as ações da Secretaria Municipal de Trabalho, Habitação e
Assistência Social (SEMTHAS), através do Programa Criança Feliz e dos grupos de gestantes do

1
Discente voluntário do PIBIC/UERN e estudante do 2º Período do Curso de Letras Espanhol do CAPF - da Universi-
dade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: leand_silva@hotmail.com.
2
Bolsista do PIBIC-EM/UERN/CNPq e discente do 3º Ano da Escola Estadual Margarida de Freitas - Ensino Médio,
Portaegre/RN. E-mail: cristianaandreaso@gmail.com.
3
Bolsista do PIBIC-EM/UERN/CNPq e discente do 3º Ano da Escola Estadual Margarida de Freitas - Ensino Médio,
Portaegre/RN. E-mail: jefersonadonai07@gmail.com.
4
Mestra em Ciências Sociais e professora orientadora, vinculada ao Departamento de Educação, CAPF/UERN; Vice-
Líder do Grupo de Pesquisa “Formação, Memória e Políticas Públicas”; e-mail: berenicesilva@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 866
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

município de Portalegre/RN; c) escolha de participantes da pesquisa que são as mulheres mães


membros do Projeto de Extensão “Diálogos Portalegrenses”, aplicamos questionário com perguntas
abertas e fechadas, relacionadas à temática, e por fim, c) Análise dos dados.

Resultados e Discussão

A SEMTHAS no município de Portalegre, RN, conta com dois grupos de gestantes, vincu-
lados aos territórios de atuação dos dois Centros de Referência e Assistência Social (CRAS). Se-
gundo informações da SEMTHAS, de 2018 até fevereiro de 2020, os grupos de gestante tiveram
144 atendimentos, sendo que 45 gestantes estavam fora do perfil para inclusão no grupos do CRAS
I ou II ou não participaram das reuniões mensais e por isso não receberam o kit. Atualmente, estão
sendo acompanhadas regulamente 10 gestantes (PORTALEGRE, 2020a).
A faixa etária das gestantes atendidas de 2018 a fevereiro de 2020, variou entre 45 e 13 a-
nos de idade. Aparecendo um número significativo de gestantes adolescentes, 12 gestantes entre 13
e 17 anos de idade, das quais 05 viviam na zona rural (PORTALEGRE, 2020a).

Conclusões

Agradecimentos

Ao grupo de pesquisa FORMEPE, ao CNPq pela concessão de bolsas do PIBIC-EM e a


todas as colaboradoras da nossa pesquisa.

Referências

A importância das relações afetivas. Trecho do filme “O Começo da Vida”, dirigido por Estela
Renner e produzido por Maria Farinha Filmes. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=cRGgY_R3OGc. Acesso em: 14 set.2020.

Ciência do Início da Vida: Dra. Eleanor Luzes - TEDxRIO+20. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=id5xNgdYcWo. Palestra realizada pela Dra. Eleanor M. Luzes
no evento TEDxRio+20 no final de 2012. Acesso em: 14 set.2020.

STEINER, Rudolf. Andar, falar e pensar. São Paulo: Antroposófica, 1983.

WINNICOTTI, Donald W. A Criança e o seu mundo. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 867
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resumos expandidos de
CIÊNCIAS SOCIAIS
APLICADAS

http: // propeg.uern.br/sic/anais
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 868
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A ADOÇÃO DE METODOLOGIAS ATIVAS NA EDUCAÇÃO JURÍDICA:


A EXPERIÊNCIA DO PROJETO LABORATÓRIO DE EDUCAÇÃO
JURÍDICA DA FAD/UERN
Inessa da Mota Linhares Vasconcelos1; Fernanda Abreu de Oliveira2

Palavras-chave: DIDÁTICA DO ENSINO. METODOLOGIAS INOVADORAS. PROCESSO


DE ENSINO APRENDIZAGEM.

Introdução:

Em decorrência das transformações do perfil dos discentes da educação superior e da sociedade


em geral, bem como da constante atualização da aprendizagem, faz-se imperiosa a reflexão sobre
as estratégias metodológicas utilizadas pelos docentes para o acompanhamento das demandas
impostas pela moderna dinâmica educacional e das transformações sociais, entendendo-se que as
metodologias não devem ser compreendidas somente como meras técnicas ou como objetos de
ilustração da aula, mas sim deve fomentar a adoção de uma postura dialógica, ativa, reflexiva e
crítica por parte de todos os atores integrantes deste processo de ensino e aprendizagem
(docentes e discentes) e seus projetos de mundo, para que possam contribuir para suplantar a
indubitável crise de qualidade pela qual vem passando a educação jurídica no Brasil, realidade
essa reconhecida e corroborada pelos autores que se dedicam à análise da temática (AGUIAR,
2004; RODRIGUES, 2005).

O professor deve ter em mente que as temáticas trabalhadas em sala deverão contribuir para a
formação de um determinado perfil de sujeito atuante em uma dada sociedade, em determinado
momento histórico. Para desenvolver um trabalho condizente com essa perspectiva, é importante
o docente realizar escolhas metodológicas que favoreçam o desenvolvimento de uma prática
pedagógica que seja pautada na formação desse novo tipo de sujeito: crítico e autônomo, nos
termos postos por Nóvoa (1995). Portanto, o desafio que se apresenta ao docente, em especial ao
professor de Direito, tido como um curso com perfil conservador e tecnicista é o de rever o seu
pensar e agir pedagógico em consonância com os referenciais teóricos e práticos presentes na
contemporaneidade, havendo necessidade de repensar sua prática e romper com o ritual

1
Professora do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Participante do Grupo
de Pesquisa Cidadania, Participação Popular e Políticas Públicas – UERN; e-mail: inessavasconcelos@gmail.com
2
Professora do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Participante do Grupo
de Pesquisa Clínica de Direitos Humanos – UFPR e do Grupo de Pesquisa Estado, Segurança Pública e Cidadania –
UERN. E-mail: fernandaabreu@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 869
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

tradicional da docência: a de mero professor transmissor do conteúdo, que tem as missões de


meramente garantir o cumprimento de um cronograma e de aplicar os instrumentos de avaliação.

O Curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte


(UERN), encontra-se em processo constante de (re)formulação de seus paradigmas didático-
pedagógicos, de maneira a identificar, assimilar e promover o emprego das novas práticas
acadêmicas e metodológicas, marcadamente aquelas vertidas à inovação, tal como acontece com
as tecnologias da informação e da comunicação (TICs), e ao protagonismo discente. Nesta
perspectiva, guia-se por uma consciência clara da necessidade de reformulação dos papéis dos
atores integrantes do processo de ensino-aprendizagem, especialmente tomando-se por parâmetro
que a eficácia deste processo se relaciona particularmente com o papel ativo não apenas do
docente, mas especialmente do discente, quanto a cada uma das ações que integram o ensino, a
pesquisa e a extensão no âmbito universitário.

No sentido de contribuir para a ressignificação dos paradigmas didático-pedagógicos, no ano de


2019, tiveram início no âmbito da Faculdade de Direito da UERN as atividades do projeto de
pesquisa “Laboratório de Educação Jurídica da FAD/UERN”, que objetivou contribuir para a
capacitação continuada do docente do curso em relação à prática da educação superior, com
enfoque na didática, na utilização de metodologias ativas e das TICs na educação jurídica, bem
como nas questões contextuais e acadêmicas que hodiernamente se apresentam como desafios
para o magistério jurídico.

Assim, o presente trabalho visa a compilar as experiências do projeto de pesquisa Laboratório de


Educação Jurídica da FAD/UERN no ano de 2019, identificando como, a partir das discussões
fomentadas pelo projeto, tem ocorrido a ressignificação do fazer docente no âmbito do curso de
graduação em Direito da FAD/UERN, com a previsão no Projeto Pedagógico e crescente adoção
de metodologias ativas e utilização de novas ferramentas pedagógicas no processo de ensino
aprendizagem, que propiciam novas formas de relação com o conhecimento e uma nova maneira
de aprender, ínsita à sociedade contemporânea.

O mencionado projeto de pesquisa constituiu-se como um espaço de discussão e de


desenvolvimento de ações que possibilitaram aos docentes da FAD/UERN refletirem sobre as
suas experiências de ensino e o seu papel docente, reavaliar e reelaborar conhecimentos sobre a
ação pedagógica, tendo o potencial para contribuir com mudanças qualitativas na atuação
docente e para a melhoria do Curso de Direito, a partir da auto reflexão, do intercâmbio de
experiências e da formação para o uso de metodologias inovadoras na educação jurídica.

Metodologia:

Trata-se de um relato de experiência do Projeto de Pesquisa Laboratório de Educação Jurídica da


FAD/UERN, aprovado em edital próprio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UERN

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 870
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(PROPEG/UERN) e desenvolvido durante o ano de 2019. As atividades do projeto, realizadas


junto ao curso de Graduação em Direito, envolveram, além dos pesquisadores, o corpo docente
de 35 (trinta e cinco) professores, com a realização de discussões sobre o perfil docente e
discente da FAD/UERN, avaliação da aprendizagem, além reuniões, rodas de conversa, relatos
de experiências e oficinas práticas abordando as temáticas metodologias ativas e TICS na
educação jurídica, ministradas por pesquisadoras do projeto ou convidados, por ocasião da
realização das semanas de planejamento do Departamento de Direito da FAD/UERN, bem como
propiciaram a participação de pesquisadores da equipe executora na construção do novo projeto
Pedagógico do Curso de Direito da FAD/UERN, aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e
Extensão da UERN (CONSEPE/UERN), no ano de 2019, fomentando a discussão e intensa
inserção da temática das metodologias ativas e TICs na educação jurídica no texto do PPC.

Em relação aos cursos/oficinas e rodas de conversa, foram promovidos em parceria com o


Departamento e Direção da Faculdade de Direito. O método adotado em cada oficina prática
utilizou a metodologia própria definida pelo Projeto. O material para os cursos também foi
desenvolvido pelo Projeto. A FAD ofertou o espaço para a realização das atividades e os
docentes participaram delas, durante as semanas de planejamento pedagógico semestrais. Até o
momento foram ofertados quatro cursos de curta duração na área de metodologias ativas na
educação jurídica, a saber: "Uso das TIC's no ensino aprendizagem" “Metodologias ativas na
educação jurídica”, Gameficação na educação jurídica” e "Sala de aula invertida",

Em relação à contribuição do projeto de pesquisa no processo de construção do novo PPC do


Curso de Direito, houve a efetiva participação de quatro pesquisadores nas discussões, os quais
se fizeram presentes e atuantes em reuniões semanais com o Núcleo Docente Estruturante do
Curso de Direito, durante os meses de fevereiro a julho de 2019, redundando na forte inserção
da temática do uso das metodologias ativas e de ferramentas de TICs ao longo de todo o texto do
PPC.

Resultados e Discussão:

O projeto teve ampla aceitação pela comunidade acadêmica da FAD/UERN, com boa
participação e comprometimento do corpo docente, tendo sido constatado um significativo
aumento na utilização das metodologias ativas e ferramentas de TICs pelos docentes nas
disciplinas do Curso de Graduação em Direito, a exemplo do uso da sala de aula invertida,
gamificação, do método de caso; Role-Playing, debates, diálogos e simulações, além da
produção de mídias com temática jurídica pelos discentes, uso de ferramentas como a vídeo
conferência e sala de aula virtual (Google classroom), aula-pesquisa em revistas e jornais online,
ensino jurídico com vídeos do Youtube etc, fortalecendo, assim, o aprendizado dos componentes
curriculares e, por fim, a pesquisa em si, a geração de conteúdos disponibilizados na página
eletrônica do curso de Direito e realização de eventos, contribuindo, portanto, para a melhoria da
qualidade da educação jurídica, uma vez que propiciou maior reflexão sobre a prática pedagógica
docente, tendo como parâmetro a estrutura do processo de ensino-aprendizagem e seus

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 871
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

elementos constitutivos, além de ter possibilitado o desenvolvimento de competências próprias, a


cooperação entre docentes e o intercâmbio de experiências e de saberes, a partir de uma reflexão
crítica sobre as práticas pedagógicas até então realizadas e a efetivação de práticas inovadoras de
ensino.

No entanto, destaque-se que as atividades do projeto foram, em parte, comprometidas pelo início
do programa de Doutorado Interinstitucional em Direito, iniciado no ano de 2019, em que parte
dos docentes do curso está matriculado, dificultando a realização de reuniões e encontros do
projeto, sendo de grande importância que este possa ser redimensionado e tenha continuidade.

Conclusões

As ações desenvolvidas pelo projeto na seara do uso das novas metodologias na educação
jurídica mostram, para além da importância de aprender sobre tais teorias, que é preciso propiciar
aos docentes da FAD a imersão imediata em sua esteira prática (aprender pelo fazer), para que
então ampliem exponencialmente a utilização das metodologias e ferramentas favoráveis ao
protagonismo discente.

Denota-se que é preciso investir continuamente em capacitação continuada do docente em


relação à prática do ensino superior, com enfoque na didática do ensino jurídico, na utilização de
metodologias ativas e das novas tecnologias como apoio a aprendizagem na educação jurídica,
bem como nas questões contextuais e acadêmicas que hodiernamente se apresentam como
desafios para o magistério jurídico, a fim de fomentar o desenvolvimento de competências
próprias, o intercâmbio de experiências e de saberes, a partir de uma reflexão crítica sobre as
práticas pedagógicas até então realizadas, e a cooperação entre docentes para efetivar práticas
inovadoras de ensino, possibilitando, ainda, aos discentes de iniciação à docência (monitores), o
despertar para as novas práticas pedagógicas e abordagens metodológicas do processo de ensino-
aprendizagem.

Agradecimentos

Expressamos agradecimentos à Faculdade de Direito, ao Departamento de Direito e ao Núcleo


Docente Estruturante, pelo incentivo e contribuição para o desenvolvimento dessa pesquisa, bem
como aos professores, discentes e corpo técnico administrativo da FAD e DED que participaram
das atividades do projeto.

Referências

AGUIAR, Roberto A. R. Habilidades: ensino jurídico e contemporaneidade. Rio de Janeiro :


DP&A, 2004.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 872
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

NÓVOA, A. Vidas de Professores. 2. ed., Porto Editora, Porto, 1995. (Coleção Ciências da
Educação).

RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Pensando o ensino do Direito no século XXI: diretrizes


curriculares, projeto pedagógico e outras questões pertinentes. Florianópolis: Fundação Boiteux,
2005.

_____, Horácio Wanderlei; ARRUDA JÚNIOR, Edmundo Lima de (org.). Educação jurídica:
temas contemporâneos. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2011. p 383-383 Disponível em:
Acesso em: 10 set 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 873
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A EFETIVIADE NORMATIVA DAS AÇÕES AFIMARTIVAS NA


FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE
Francisco Cavalcante de Sousa 1, Tharleton Luis de Castro Santos 2, Lauro Gurgel de Brito3

Palavras-chave: Cotas socioeconômicas. Igualdade jurídica. Educação.

INTRODUÇÃO

Desde o século passado, tanto no Brasil, quanto em outros países, buscam-se alternativas
para reduzir as discrepâncias existentes dentro da sociedade, sejam elas oriundas das relações
de gêneros, sexualidades, etnias, raças, nacionalidades ou classes sociais. Como opção para
solucionar esse problema, a instituição das ações afirmativas foi pensada. Se no início a atenção
se voltou ao mercado de trabalho, foi na área da educação que esse instituto ganhou mais força
no nosso país, principalmente, quando se pensa no acesso ao ensino superior como ferramenta
transformadora de realidades e redutora de desigualdades.
Nessa ocasião, o Direito desempenha um papel chave na caminhada para alcançar esse
objetivo. Cabe a ele cumprir a alcunha que o senso comum lhe outorga: de ser a “Justiça”. Para
tanto, seu principal aliado é a norma, algo que muitas vezes também lhe é aplicado como
sinônimo. É possível questionar-se, porém, se um texto normativo tem toda essa capacidade de
atender às expectativas geradas, em especial nesse caso específico já que a redução de
desigualdade social é um trabalho complexo e hercúleo. Quando se trata de norma, é possível
analisá-la sobre os seguintes planos: validade, vigência, eficácia social e, também, efetividade.
Este último, é o que mais nos interessa para saber a relação da norma com a realidade. É no
plano da efetividade que é possível perceber se os objetivos para os quais se elaborou uma
legislação conseguem ser alcançados na prática ou não.
Assim sendo, a norma que será analisada neste momento é a Lei Estadual do Rio Grande
do Norte, nº 8.258, de 27 de dezembro de 2002 (RIO GRANDE DO NORTE, 2002), dispositivo
normativo que institui a ações afirmativas, mais precisamente na modalidade de “Cota
Socioeconômica” na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. É com base
nesse questionamento que se estrutura este trabalho, cujo objetivo consiste em analisar a
efetividade da cota socioeconômica na Faculdade de Direito da UERN.

METODOLOGIA

O percurso da nossa pesquisa iniciou-se com a análise bibliográfica e a revisão literária,


a fim de sedimentar e compreender certos conceitos, em esfera acadêmica, temporal e
geográfica, como por exemplo, o que são “ações afirmativas”, “Cotas” “efetividade normativa”,
“discriminação positiva” e “medidas compensatórias”.

1
Graduando em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e
bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC; E-mail:
franciscocavalcante@alu.uern.br.
2
Graduando em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e
voluntário do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC; E-mail:
tharletonsantos@alu.uern.br.
3
Doutor em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), Mestre em Direito pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), Professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN); E-mail: laurogurgel@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 874
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para compreensão da origem e da evolução do conceito de ações afirmativas,


procuramos entender as experiências nos Estados Unidos e as primeiras tentativas de
institucionalizá-las no Brasil. Também investigamos a guinada acontecida nos anos 90, com
alguns projetos de lei, até culminar nas ações afirmativas para ingresso ao ensino superior no
Brasil, já nos anos 2000. Nesse caso, o texto de Moehleck, (MOEHLECK, 2012) foi basilar.
Ao entendermos o significado das ações afirmativas, percebemos que a realidade na
Faculdade de Direito da UERN era ainda mais particular, quando comparada a outros cursos,
porque os Cursos de Direito no Brasil, desde o século XIX, visavam atender à elite política e
econômica do país (NOGUEIRA, 2020), fato também constatado na pesquisa de Queiroz e
Santos (2006), ao mostrar que antes das ações afirmativas na Universidade Federal da Bahia –
UFBA, o percentual de alunos vindos da rede pública de ensino era apenas de 27% em cursos
como Direito, Medicina, Engenharia Civil dentre outros. Um curso que atende às elites
necessita ainda mais da adoção de ações afirmativas.
Tendo ciência desses fatos, precisávamos ainda compreender o conceito de efetividade
normativa. Adotamos então a concepção trazida por Marcelo Neves (1994), segundo quem a
efetividade normativa ocorre quando a norma consegue cumprir os objetivos para os quais foi
elaborada. Em suma, há uma coincidência em relação àquilo que se pretendia com a elaboração
do texto normativo e o resultado alcançado. No caso das cotas na Faculdade de Direito, a
efetividade seria alcançada se aqueles que antes eram excluídos de seu ingresso agora puderem
fazê-lo. Tratando-se ainda de forma mais específica de ações afirmativas, temos o que versa
Hass e Linhares (2012) sobre os respectivos objetivos: combater a discriminação em certos
espaços, reduzir a desigualdade entre determinados grupos, transformação social, finalidade de
acesso à escola e ao mercado de trabalho, além da integração, num mesmo espaço, de diversos
grupos sociais existentes.
Após essa etapa e munidos desse conhecimento, passamos a coletar, junto à Diretoria
de Admissão, Registro e Controle Acadêmico da UERN – DIRCA4, os dados de alunos
formados entre anos de 1981 a 2018 na Faculdade de Direito da UERN. De posse dos dados
dos concluintes, os segmentamos em dois grupos, um de concluintes antes da aplicação das
cotas socioeconômicas (1981 a 2006) e outro grupo após aplicação das cotas socioeconômicas
(2007 a 2018), a fim de constatar se os alunos cotistas conseguiam concluir o curso em tempo
hábil tal qual os demais estudantes

RESULTADOS E DISCURSÃO

Com os dados obtidos na DIRCA e segmentados da maneira supracitada, chegamos à


seguinte situação. Durante o período de 1981 a 2006, a taxa de proporção entre ingressantes e
concluintes na Faculdade de Direito da UERN foi de 71,69. Já no grupo de concluintes de 2007
a 2018, período que esteve vigente a cota socioeconômica, essa taxa correspondeu a 74,1.
Mesmo que o aumento não tenha sido numericamente tão expressivo, ele se apresenta
suficiente para afastar qualquer ideia de que a norma não atingiu a pretensão esperada. Mais do
que isso, ele sustenta a hipótese de que há efetividade normativa no caso em tela. Preocupante
seria se tivesse havido uma queda nesse número, pois indicaria que o aluno cotista, ao entrar no
espaço universitário, não conseguia concluir o curso dentro tempo hábil, tal qual os não cotistas.

4
A Diretoria de Admissão, Registro e Controle Acadêmico (DIRCA) é vinculada à Pró-Reitoria de Ensino de
Graduação (PROEG), sendo responsável pelo registro e controle dos atos acadêmicos do/a discente de graduação
na UERN, desde a entrada na instituição até o momento da Colação de Grau. Compet e a essa Diretoria a emissão
oficial de dados referentes ao ensino de graduação na UERN para os diversos setores da Reitoria, Pró -Reitorias,
Faculdades, Campi e Departamentos, bem como dados e informações para a Sociedade em Geral (UERN, 2019).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 875
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Pelo contrário, as cotas se evidenciam bem sucedidas na Faculdade de Direito. São dotadas,
portanto, de efetividade normativa.

CONCLUSÃO

De posse dos dados obtidos na DIRCA, concluímos que a Lei Estadual nº 8.258, de 27
de dezembro de 2002, do Rio Grande do Norte, detém efetividade normativa, tendo em vista
que aquele indivíduo, que antes era excluído do espaço universitário e do curso de Direito da
UERN, consegue nele adentrar, cursar e concluir tal qual os demais estudantes.
A lei consegue atender aos requisitos para efetividade normativa propostos por Neves
(1994) e aos objetivos traçados por Haas e Linhares (2012), já que o estudante, de posse do
diploma de ensino superior, poderá exercer a carreira jurídica que escolher e galgar novos
espaços, outros patamares econômicos, e mudar a realidade na qual ele está inserido.

AGRADECIMENTOS

Nossos agradecimentos à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, à respectiva


Faculdade de Direito – FAD, e à Equipe da DIRCA, através do seu diretor, Daniel de Morais
Cunha, bem assim ao CNPQ/PIBIC pela oportunidade desta pesquisa. Agradecemos também
ao Professor Doutor Mademerson Leandro da Costa pela contribuição na seara estatística.

REFERÊNCIAS

HAAS, C. M.; LINHARES, M. Políticas públicas de ação afirmativa para admissão em ensino
superior são justificadas no Brasil? Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v.
93, n. 235, p. 836-863, 2012. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-
66812012000400015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 01 mar. 2020.

MOEHLECKE, S. Ação afirmativa: história e debates no Brasil. Cadernos de Pesquisa


(Fundação Carlos Chagas), São Paulo, v. 117, p. 197-218, 2003.

NEVES, M. A Constitucionalização Simbólica. São Paulo: Editora Acadêmica , 1994

NOGUEIRA, J. A. Regulação da educação jurídica: os cursos jurídicos e possibilidades


estratégicas para seu fortalecimento. In: JALES, Andrea Maria Pedrosa Silva. Regulação
democrática: princípios constitucionais, regime-jurídico administrativo e participação
popular. Mossoró: EDUERN, 2020.

QUEIROZ, D. M.; SANTOS, J. T. D. Sistema de cotas: um debate. Dos dados à manutenção


de privilégios e de poder. Educação & Sociedade , Campinas, v. 27, p. 717-737, 2006.

RIO GRANDE DO NORTE. Lei no 8.258, de 27 de dezembro de 2002. Estabelece reserva de


vagas nas Universidades Públicas Estaduais para alguns alunos egressos da Rede Pública de
Ensino. Diário Oficial [do Rio Grande do Norte], no 10.398, de 28 de dezembro de 2002, p.
30.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 876
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A FENOMENOLOGIA ABRINDO HORIZONTES NO DIREITO

Yasmin Cristina Dias da Silva1; Maria Audenora das Neves Silva Martins2
Palavras-chave: Educação. Criminalidade. Crianças e Adolescentes. ECA.

INTRODUÇÃO
Hodiernamente, a criminalidade na juventude brasileira tem apresentado altos índices,
contudo, a morte de jovens (15 e 29 anos) por homicídio não é um fenômeno recente, podendo
ser observado desde a década de 1980. No Rio Grande do Norte, a taxa de homicídios nessa
faixa etária, em 2017, foi a maior do país. Essa infeliz e alarmante situação traz à tona a
precariedade dos serviços públicos, não só na área da segurança, mas, principalmente, na raiz
do problema, a precariedade ao acesso e a qualidade da educação pública no Brasil.
A pesquisa desenvolvida analisou as leis na Constituição Federal e do Estatuto da
Criança e do Adolescente que garantem a educação para crianças e jovens; sistematizou a
concepção da fenomenológica para a Educação; investigou a dialeticidade do Direito, da
Educação e da criminalidade a partir de uma abordagem fenomenológica.

METODOLOGIA

Para a elaboração da pesquisa foi indispensável realizar uma revisão de literatura


através de uma pesquisa informacional com abordagem qualitativa dos dados. A metodologia
empregada para sua realização foi à pesquisa bibliográfica por meio de livros, periódicos
científicos e conhecimentos variados em várias fontes de pesquisa sobre o tema. Houve,
sobretudo, o exame das principais leis que versam sobre os direitos da criança e do adolescente,
entre elas a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Também foi necessário a obtenção de dados
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Observatório da Violência do Rio
Grande do Norte (Obvio) acerca os índices de violência no Brasil e no Rio Grande do norte,
respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é um verdadeiro marco de


projeção aos direitos de igualdade sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade ou
quaisquer outras formas de discriminação. Neste sentido, destacamos o art. 5º da referida
Constituição que diz “todos são iguais perante a lei”. Tal afirmação garante o princípio da
isonomia, a fim de proteger o indivíduo contra o arbítrio e descriminação, favorecendo a
equidade entre todos os cidadãos.
No tocante aos direitos da criança, do adolescente e do jovem, a Carta Magna, traz em
seu texto, o princípio da Absoluta Prioridade, conferindo a família, a sociedade e ao Estado o
dever de assegurar a efetivação de direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
entre outros, como afirma o seu artigo 227°, in verbis:

1
Discente do curso de Direito do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte -
UERN; e-mail: yasmindias006@gmail.com.
2
Professora Doutora do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN;
Líder e coordenadora do GECA – Grupo de Estudos da Criança e do Adolescente; e-mail:
audenoraneves@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 877
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988)

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sancionado em 13 de Julho de 1990,


é o principal instrumento normativo do Brasil que trata sobre os direitos da criança e do
adolescente, ele traz a incorporação de avanços decorrentes da Convenção sobre os Direitos da
Criança das Nações Unidas e o caminho para a concretização e consolidação de mudanças já
iniciadas na Constituição Federal de 1988. Conforme explica a psicóloga da Vara da Infância e
da juventude do Distrito Federal, Andréa de Paula, com o ECA a criança e o adolescente passam
a ser sujeitos de direito, deixando a submissão do poder familiar.
Além disso, o estatuto cita alguns exemplos para efetivação da Prioridade Absoluta,
elencando que deve ser dado máxima preferência ao atendimento nos serviços públicos;
preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; destinação privilegiada
de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. (BRASIL,
1990)
O direito a educação das crianças e adolescentes tem extrema importância, e deve ser
garantido e preservado pelo Estado e pela família, conforme prevê a Constituição no art. 205º.
O art. 206 afirma que o ensino deverá ser ministrado com igualdade de condições para o acesso
e permanência na escola e no art. 208º que o Estado deverá garantir acesso à educação básica
obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive para aqueles que a ela não tiveram
acesso na idade própria. Nesse sentido, Ferraz (1983, p. 32) é assertiva ao dizer que o direito à
educação é um “Direito fundamental, inalienável, de que é titular cada pessoa humana,
independentemente de sua raça, origem, sexo, cor, convicções políticas, religiosas etc.”.
A educação, na concepção fenomenológica é concebida como

[...] uma busca por um conhecimento que não está no professor e tampouco
no aluno, mas na relação de ambos com o objeto de conhecimento. Assim, o
conhecimento não é algo separado do humano, mas aquilo que faz com que o
homem seja o que é, já que este só pode conhecer o mundo porque o
interioriza, porque o toma como consciência, como algo próprio e particular.
(FAVRETO, E. K.; DIAS, R. P. F. p. 273)

Nesse prisma, é inegável o evidente de fato de que a educação representa importante


papel na construção do ser humano, ter uma educação de qualidade significa ter melhores
oportunidades, e por isso o acesso à educação precisa ser democrático e universal, bem como
as condições para o acesso e permanência a escola precisam ser igualitários, conforme assinala
o art. 3º do ECA.
Apesar do ECA ser um importante instrumento legal para a garantia dos direitos das
crianças e dos adolescentes, com 30 anos de existência, o estatuto continua sendo alvo de
críticas, principalmente com relação a crianças e adolescentes em conflito com a lei que ficam
à mercê de um sistema socioeducativo superlotado e que não reabilita de forma adequada.
Especialistas apontam a necessidade de atualização da lei, tendo em vista que a sociedade não
é estática, e que as leis também não devem ser, carecendo de reformulações quando necessárias.
Contudo, Irandi, ex-integrante do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente), é contra alteração no ECA, pois, segundo ele o estatuto ainda não foi
integralmente aplicado pelo Estado. Já o coordenador da Comissão da Infância e Juventude do

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 878
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Consepe (Conselho de Direitos Humanos do Estado de São Paulo), Ariel de Castro, explica que
a limitação orçamentária do Estado é uma das razões pelas quais o ECA não é plenamente
implementado, e por decorrência disso há ausência de vagas nas unidades de internação.
Segundo Iolete Ribeiro, presidente do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente), em entrevista ao jornal Tribuna do Norte, em matéria de educação
e saúde o ECA tem avançado, ainda que esses avanços limitem-se, sobretudo, às crianças,
estando ainda distante dos adolescentes. Segundo ela, o racismo estrutural presente no Brasil
gera o alto índice de violência na juventude, mas que precisa ser desnaturalizado, visto que isso
é um dos fatores que nos leva ao não reconhecimento do adolescente como sujeito de direito.
Paralelo a isso, a falta de acesso a escola ou a não permanência nela está diretamente
ligada aos altos índices de criminalidade na juventude, verificando-se que a maioria dos jovens
em conflito com as leis tem baixa escolaridade ou sequer concluíram o Ensino Fundamental. A
criminalidade tem cor, idade, gênero e grau de escolaridade, conforme dados obtidos pelo
Observatório da Violência do Rio Grande do Norte (Obvio), cerca de 93% das vítimas de crimes
graves, no RN, entre os anos de 2011 e 2018, eram homens, 85% eram pretas ou pardas, 49%
tinham entre 18 e 29 anos e 31% não tinham completado o Ensino Fundamental.
O ano de 2017 foi um ano difícil para a juventude brasileira, onde 35.783 jovens foram
assassinados, sendo que 51,8% dos óbitos ocorreu com jovens de 15 a 19 anos; 49,4% para
pessoas de 20 a 24; e de 38,6% entre jovens de 25 a 29 anos. O estado do Rio Grande do Norte
foi um dos estados com maior índice de homicídios entre jovem naquele mesmo ano, com taxa
de 152,3 por grupo de 100 mil jovens. (IPEA, 2019, p. 25-26)
Há, portanto, uma notória fragilidade nos serviços públicos, principalmente da
educação, contudo, a ausência de lazer, esportes e capacitação profissionalizante aumenta ainda
mais as chances desses jovens serem acolhidos pelo crime.

CONCLUSÃO

A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente se constituem


com marco na projeção dos direitos na infância, rompendo paradigmas ao caracterizar a criança
e o adolescente como sujeitos de direito e por traduzirem a ideia de proteção integral e absoluta
para a criança e o adolescente.
Contudo, ainda que a leis da aludida Constituição e do ECA sejam avançadas, com
base no resultado do levantamento realizado, muitos problemas ainda se mostram,
principalmente com os jovens em conflito com as leis, medidas socioeducativas e
ressocialização.
A inércia do Estado na concretização dos direitos fundamentais da criança e do
adolescente tem deixado uma lacuna gigantesca na sociedade, nota-se nos altos índices de
homicídios entre jovens de 15 a 29 anos demonstrados em pesquisas recentes, revelando a
precariedade na segurança, saúde e educação. Infelizmente, em nosso país, uma morte a mais
ou uma a menos apenas entra para a estatística.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pelo apoio e incentivo


dado a projetos de pesquisa como este que além de ser um importante aprendizado para os
discentes, é um dos principais meios que a universidade pode contribuir com a sociedade.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988.
Brasília, out. 1988. Disponível em:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 879
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 23 mar.


2020.

BRASIL. Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, jul. de 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil03/leis/l8069.htm. Acesso em: 23 mar. 2020.

ECA faz 30 anos. Verônica Lima. Brasilia: Rádio Câmara de Brasília, 6 mai. 2020, 7 min e 36
segs. Entrevista com Psic. Andréa de Paula. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/internet/agencia/infograficos-html5/ECA30anos/index.html.
Acesso em: 30 mar. 2020.

FAVRETO, Elemar Kleber; DIAS, Rafael Parente Ferreira. Por uma educação significativa:
uma abordagem fenomenológica do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência
- PIBID. Revista Linhas. Florianópolis, v. 19, n. 39, p. 271-285, jan./abr. 2018.
FERRAZ, Esther de Figueiredo. A importância do Direito Educacional. Mensagem, Revista
do Conselho de Educação do Ceará, Fortaleza, n. 8, pp. 17-43, 1982-1983 (número especial
sobre Direito Educacional).

IPEA. Atlas da Violência. Brasília: Rio de Janeiro: São Paulo: Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada; Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ. ECA 30 anos - Após quase 30 anos ECA continua
alvo de críticas e polêmicas. Paraná, 28 nov. 2019. Disponível em:
http://crianca.mppr.mp.br/2019/11/217/ECA-30-ANOS-Apos-quase-30-anos-ECA-continua-
alvo-de-criticas-e-polemicas.html. Acesso em: 4 mai. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 880
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A IMPORTÂNCIA DAS TECNOLOGIAS NA EDUCAÇÃO NO


CONTEXTO DA PANDEMIA NO BRASIL

Anália Gomes de Oliveira Melo1; Sulliany da Silva Brito 2 ; Maria Audenora das
Neves Silva Martins 3.

Palavras-chave: Covid-19. Educação à distância. Escolas. Desafio.

INTRODUÇÃO

A pandemia da Covid-19 vem trazendo imensos desafios para todos os setores, no Brasil
e no mundo. No atual estágio de desenvolvimento tecnológico da sociedade contemporânea, as
mudanças processam-se em uma velocidade muito grande. O avanço do Coronavírus está
forçando escolas e universidades a mudarem suas metodologias de ensino.
Sendo assim, neste momento tem sido necessário pensar em novas tecnologias que
possam ser aplicadas na educação e poder ajudar a suavizar o problema momentâneo, como
também colaborar para fortalecer a cultura digital e avançar rumo a uma nova educação.
Sabemos que não podemos esperar que todos se adaptem repentinamente a estes novos tempos.

Os sistemas de comunicação evoluem com extrema rapidez e essa dinâmica é


parte da vertiginosa modernidade em que estamos imersos. Não podemos nos
deslumbrar com essas novidades ou ficar apreensivos pelo perigo de que
substituam nossa função de educar. Mas não devemos ignorar as
possibilidades que eles abrem para aperfeiçoar nosso trabalho, como o acesso
a sites de apoio e atualização pedagógica ou a programas interativos para
alunos com dificuldades de aprendizagem. (MENEZES, 2010, p.122).

Neste ambiente de indefinição, quarentena e de restrições, o segmento educacional


brasileiro público e privado pode encontrar nas novas tecnologias, aliados importantes para
manter seu compromisso de educar jovens e adultos ao redor do Brasil. Desta forma, o estudo
se justifica porque, na proporção em que se traz à reflexão sobre a utilização de informação e
comunicação no aprendizado do aluno, sendo que, o mesmo, procura colaborar com a expansão
e implantação dessas tecnologias do cenário educacional. No entanto, com o fechamento das
instituições, da noite para o dia milhares de professores e milhões de estudantes estão tendo que
encontrar novas formas de lecionar e aprender, o que é um enorme desafio para quem ainda
está acostumado com salas de aulas cercadas por paredes, com cadeiras enfileiradas, um quadro
branco e, algumas vezes, um projetor multimídia.

Desse modo, é de se esperar que a escola, tenha que “se reinventar”, se desejar
sobreviver como instituição educacional. É essencial que o professor se
aproprie de gama de saberes advindo com a presença das tecnologias digitais

1
Discente Bolsista do Programa de Iniciação Científica – PIBIC-EM. E-mail: analiagoliveira@hotmail.com
2
Discente Bolsista do Programa de Iniciação Científica – PIBIC-EM. E-mail: Sullysilva13@gmail.com
3
Docente do Curso de Direito. Líder do GECA – Grupo de Estudos da Criança e do Adolescente. Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: audenoraneves@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 881
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

da informação e da comunicação para que estes possam ser sistematizadas em


sua prática pedagógica. (SOUZA, 2011, p.20)

E utilizando a tecnologia como um instrumento de apoio para uma verdadeira


mudança. Através de aplicativos e softwares, as aulas tiveram continuidade seguindo o
calendário escolar. Neste momento que estamos vem aos professores o desafio de não só pensar
em estratégias interessantes para serem ofertadas no formato EAD, como também dimensionar
o tempo diário para atividades online. E aos pais um desafio de ensinar as atividades aos seus
filhos, algo que muitos sentem dificuldades.

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizados os dados do MEC PARECER


5/2020 que apresenta a reorganização do calendário escolar e carga horária, o livro as
tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era informática (LÉVY, 1993), formação
e docente: o analógico e o digital em debate da revista UFG, enciclopédias, sites de notícia e
educação sobre a situação presente no Brasil durante a pandemia causada pelo covid19 e como
isso afetou a educação, os alunos e professores.
Essa pesquisa teórica sistematizou as dificuldades de professores e profissionais de
educação assim como estudantes e os familiares após a mudança repentina de aula presencial
para o EAD (ensino a distância) oportunizando a uma minoria de estudantes das escolas
públicas aulas online.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Ultimamente, sabemos que estamos vivendo uma realidade digital a qual muitas coisas
estamos fazendo através de um aparelho eletrônico, vai de pagamentos de contas a aulas
remotas, e nesse meio existe a desigualdade a qual vivemos e que muitos não percebem. Mas
devido ao isolamento social que estamos passando, podemos ver o quanto isso é real em nosso
mundo. Estamos na era digital a qual está se tornando eficaz e sendo pedido para se fazer as
coisas pelos meios digitais, mas essa realidade não existe para todos. E no meio educacional
sabemos que as escolas estão tendo aula pela web, mas não são todas, até o momento só as
redes de ensino particulares, ou instituições que já estão com plataforma adequada para isso, e
de certa forma não estão sendo prejudicados, pois tem fácil acesso aos meios tecnológicos.

Aqueles que já possuem computador enfrentam outras dificuldades para acessar a


Internet, como: a falta de infraestrutura em telecomunicações, o custo de acesso.
Outros cidadãos que vivem às margens da sociedade sendo privados das tecnologias
são os analfabetos, que por não saberem ler e escrever, ou algumas vezes o fazerem
com muita dificuldade, tornam-se integrantes do duplo analfabetismo: o funcional
e o digital (GALVÃO, 2020).

Então, sabe-se que muitos dos professores se reinventarem para poder dar suas aulas de
forma remota para os alunos era digital, pois muitos nasceram no início da expansão
tecnológica. Hoje em dia é muito comum encontrarmos alunos nativos digitais e professores
analógicos, e muitos alunos não abrem mão de um celular nem por uma aula presencial. Mas
nesse tempo de hoje, podemos ver que muitos estão sentindo falta das suas aulas presenciais,
do contato com amigos e professores. Sabemos que nessas aulas os docentes que muitos são
acostumados com a comunicação analógica que é toda linguagem não verbal, porém sem
restringir apenas aos movimentos corporais, mas também estão inclusos postura, gestos,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 882
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

expressão facial, tom de voz dentre outros, algo que fica difícil para eles em uma aula totalmente
digital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, sabemos que o uso de computadores, notebooks e celulares vem se tornando
cada vez mais comum hoje em dia e mais ainda nesse isolamento social que estamos passando.
Porém nem todos tem acesso a esses meios tecnológicos, e que seria de grande relevância as
escolas disponibilizarem cursos de informática que ensinassem, como professores aptos para
aprender a lidar com essas tecnologias e assim, a fazer que os alunos tenham mais possibilidades
de aprender e expandir seus conhecimentos. Contudo, para que isso aconteça é necessário que
sejam criadas parcerias para melhorar o uso das tecnologias nas escolas.

AGRADECIMENTOS

Nossos sinceros agradecimentos ao PIBIC-EM - Programa Institucional de Bolsas de


Iniciação Científica, do CNPq para alunos do Ensino Médio, operacionalizado pela
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, pelo amparo financeiro no decurso
da pesquisa.

REFERÊNCIAS

GALVAO, A. Analfabetismo Digital: Seção e-Notícias do site Observatório da Imprensa,


Edição 217, março 2003. Disponível em:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/eno260320031.htm. Acesso em: 19 jun.
2020.

LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. O Futuro do Pensamento na Era da


Informática. São Paulo: Editora 34, 1993.

MENEZES, Luis Carlos de. Ensinar com a ajuda da tecnologia. In: Nova Escola. São Paulo,
Ano XXV, Nº 235, set. 2010.

SOUSA, R. P.; MOITA, F. M. C.; CARVALHO, A. B. G. Tecnologias digitais na educação.


Campina Grande: EDUEPB, 2011.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 883
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO

Núncia Kaiary Teixeira Bezerra.1; Maria Audenora das Neves Silva Martins.2
Palavras-chave: Educação. Evasão Escolar. Jovens Infratores.

INTRODUÇÃO

A Constituição Federal de 1988 explana acerca da educação, em seu Capítulo III, do


Art. 205 ao Art. 214. Essa conjuntura reforça a relevância da educação para a sociedade, e
principalmente para as crianças e os adolescentes, agentes sociais que passam por fases
importantíssimas de aprendizado. Dessa forma, a garantia de uma educação de qualidade torna-
se um pilar essencial na vida dos jovens, tão expressivo ao ponto de necessitar de
especificidade, essa garantida com o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Nesse sentido, a educação se configura como um direito fundamental, tendo sua
primazia com a Carta Magna e o seu complemento com o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Essa garantia é fundamental para o processo de desenvolvimento humano, além de proporcionar
a concretização da cidadania, tendo em vista as diversas fronteiras abertas pelo ensino, atuando
em escolhas profissionais e pessoais, assim, o conhecimento faz-se transformador e
indispensável para a estruturação da vida.
Em consonância com Vanessa Vieira Pessanha (2013), “[...] trabalho e educação têm
uma relação direta entre si e, além disso, há uma ponte perceptível entre o tema com a noção
de justiça social, procurando contribuir toda essa construção para o almejado processo de bem-
estar social.” À luz desse prisma, constata-se o impacto do ensino no exercício da cidadania, no
futuro laboral, e consequentemente na ascensão social e na melhoria da qualidade de vida.
Logo, a complexidade do assunto exige atuação do Poder Público em conjunto com a família e
a sociedade – aspecto destacado tanto pelo Art. 205 da Constituição Federal quanto pelo Art.
4º do Estatuto da Criança e do Adolescente. Paralelo à isso, a pesquisa como princípio educativo
permite analisar as relações diretas existentes entre má qualidade da educação, evasão escolar
e jovens na criminalidade, essencial para compreender a desigualdade vigente no Brasil.

METODOLOGIA

Com o intuito de chegar ao desígnio do plano de trabalho, realizou-se uma pesquisa


bibliográfica pluridisciplinar. Na instância do Direito Constitucional, ocorreu o entendimento
da Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente, a fim de investigar
o suporte que a legislação proporciona para a educação, e suas disposições acerca das garantias
para as crianças e os adolescentes. Ademais, foram investigados dados do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) referentes ao ano de 2017, com a finalidade de
identificar a diferença dos índices entre os bairros da Zona Sul e da Zona Norte. Para a
fundamentação, foi feita a sondagem de artigos científicos, artigos publicados em revistas e
periódicos. Por último, é importante mencionar a técnica de triangulação de dados, utilizada
com o propósito de relacionar três problemáticas, a insuficiência da educação brasileira, os

1
Estudante do curso de Direito do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte -
UERN; e-mail: nunciakaiary23@gmail.com.
2
Professora Doutora do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN;
Líder do Grupo de Pesquisa GECA – Grupo de Estudos da Criança e do Adolescente. E-mail:
audenoraneves@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 884
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

índices de abandono na escola e os menores infratores, considerações essenciais para produzir


o presente resumo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme Ferreira (2000), a educação é um direito que se fundamenta na ação do


Estado, mas é compartilhado pela família, comunidade e sociedade em geral. Essa explanação
dialoga com a análise feita dos índices do IDEB – referentes ao balanceamento de 2017 e aos
anos iniciais do ensino fundamental, pois os resultados também são consequências dessa
interação entre os entes responsáveis. O IDEB foi criado em 2007 e os seus dados são
ponderados entre o fluxo escolar e o desempenho atingido nas avaliações do Censo Escolar e
do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
Em relação à Zona Norte de Natal, foi possível perceber que a maioria das escolas
estão abaixo da média ideal imposta pelo IDEB, sendo algumas mais afetadas: Escola
Municipal Prof. Reginaldo Ferreira Neto, Escola Municipal Prof. Waldson José Bastos Pinheiro
e Escola Municipal Professora Maria Dalva Gomes Bezerra. A primeira tinha como meta 5,5,
mas atingiu 4,8; a segunda era 4,5 e obteve apenas 3,6; já a terceira deveria contemplar 6,0 e
conseguiu somente 4,9. Quanto à Zona Sul de Natal, vale ressaltar que as escolas apresentam
um melhor desempenho de acordo com o IDEB, se comparadas com as da Zona Norte, mas
ainda possuem empecilhos para superar, segue alguns exemplos: Escola Municipal São José,
Escola Municipal Prof. Ascendino de Almeida e Escola Estadual Prof. Luís da Câmara
Cascudo. A primeira deveria atingir 5,4, porém alcançou 5,1; a segunda também alcançou 5,1,
contudo seu alvo seria 5,3; por último ficou o melhor desempenho, alcance de 4,7 com meta de
4,8.
É possível perceber que a desigualdade é latente até na questão das Zonas
Administrativas, tendo em vista que a Zona Sul apresenta melhor desempenho do que a Zona
Norte, revelando uma deficiência no ensino público, o qual está distante de estabelecer a
universalização do acesso à educação básica, e de ofertá-la com a devida qualidade. Essa
problemática transparece outras duas questões de extrema importância, o abandono escolar e a
invisibilidade social que submete os jovens à criminalidade. Nesse sentido, a seguinte fala de
Queiroz expressa pontos críticos da realidade brasileira:

A evasão escolar que, não é um problema restrito apenas a algumas


unidades escolares, mas é uma questão nacional que vem ocupando
relevante papel nas discussões e pesquisas educacionais no cenário
brasileiro, assim como as questões do analfabetismo e da não
valorização dos profissionais da educação expressa na baixa
remuneração e nas precárias condições de trabalho. Devido a isto,
educadores brasileiros, cada vez mais, vêm preocupando-se com as
crianças que chegam à escola, mas, que nela não permanecem.
(QUEIROZ, 2002, p. 2)
Esse contexto está expresso na legislação, no Art. 208 da Constituição Federal de 1988,
o qual afirma a obrigatoriedade do Poder Público e dos pais ou responsáveis de zelar pela
frequência escolar, assim como está presente no Art. 53 do Estatuto da Criança e do
Adolescente que o direito à educação é essencial para os três pilares, desenvolvimento pessoal,
exercício da cidadania e preparo laboral, sendo assim, o inciso I assegura igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola. E, ainda, é complementado pelo Art. 101,
inciso III do ECA, reforçando a matrícula e a frequência obrigatória no ensino fundamental.
Para Ferreira (2000), são vários os fatores que provocam o fenômeno da evasão
escolar, a escola não atrativa, um grupo de professores despreparados; o aluno desinteressado,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 885
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sem disciplina, com problemas de saúde, gravidez; pais ou responsáveis ausentes; além de
outras questões sociais, como a conciliação do estudo com o trabalho, violência física entre os
alunos e em relação a gangues. A partir desse contexto, a complexidade da educação é reiterada,
visto que são amplos os fatores que impedem a efetivação desse direito.
É indispensável citar que o ECA engloba medidas protetivas para crianças e
adolescentes que de alguma forma estejam com os seus direitos violados, tanto pelo Estado
quanto pela sociedade ou família, além das medidas socioeducativas vitais para os jovens
infratores, os quais não perdem seus direitos fundamentais por terem cometido delitos, o direito
à educação continua válido e deve ser empregado como forma de prevenir a prática dos crimes
e de evitar a reincidência.
Ao traçar um paralelo com a análise feita dos indicativos do IDEB, os quais são piores
em escolas que não atingem o padrão de qualitativo de ensino, além de serem localizadas em
bairros periféricos, historicamente carentes de suporte financeiro e suscetíveis às nuances da
criminalidade entre os jovens que estão à margem da sociedade, e são negligenciados pelo
Estado, os seus direitos fundamentais, que deveriam ser garantidos pelo Estado Democrático
de Direito, encontram-se apenas nas teses dos princípios constitucionais. Nesse seguimento,
faz-se presente a compreensão de que o direito à educação necessita ser articulado entre os
dirigentes com o intento de democratizar o acesso à aprendizagem, a fim de garantir o
verdadeiro exercício da cidadania. Esse contexto conversa com a explanação de Pessanha:

Essa construção com alicerces jurídicos fortes merece destaque,


podendo surgir daí a noção de exigibilidade do direito à educação
enquanto direito intrínseco à condição humana, que legitima a
promoção de políticas públicas para efetivá-lo, bem como de ações
judiciais que se façam necessárias nesse sentido. (PESSANHA, 2013)

Acerca do que foi exposto, observa-se novamente a complexidade das garantias


educacionais, as quais constituem um pilar essencial na vida humana, por isso, os preceitos
jurídicos devem ser legitimados com primazia.

CONCLUSÃO

É indiscutível a importância da educação como agente atuante na construção social


esperada para obter uma sociedade democrática e igualitária. Concomitantemente, a
Constituição Federal de 1988 outorgou direitos para crianças e adolescentes, consagrando-se
como um marco. Ainda, o decreto do Estatuto da Criança e do Adolescente, fundado pela Lei
8.069, no ano de 1990, expandiu a gama de direitos já instituídos pela Constituição Federal,
prevendo sanção tanto para os pais ou responsáveis, quanto para o Estado e a sociedade em
geral, em caso de negligência e violação de diretos.
Nesse cenário, o acesso e a permanência na escola deveria ser primordial, contudo, a
realidade denota um severo distanciamento entre os desígnios jurídicos e a realidade, as
políticas públicas insuficientes resultam em exclusão, o abandono por parte do Estado perpetua
famílias desestruturadas que não conseguem promover suporte aos jovens, e as escolas padecem
de estrutura regular. A formação escolar é um direito de toda criança e adolescente, porém,
impasses precisam ser resolvidos, a evasão escolar impede a concretização desse direito, a
criminalidade desvia o caminho do jovem e o impede de exercer seu papel de cidadão com
maestria. Com a análise realizada das Zonas Administrativas de Natal, Norte e Sul, ficou clara
a necessidade de intervenção do Poder Público, da família e do corpo social, pois são
representantes corresponsáveis em articular uma aplicabilidade legislativa satisfatória e digna
de toda criança e adolescente.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 886
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AGRADECIMENTOS

Dedico meus genuínos agradecimentos à Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte, por proporcionar a vivência desse projeto, aos docentes responsáveis por elaborar com
primazia os projetos, e aos demais discentes pesquisadores. Não obstante, agradeço o apoio da
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação-PROPEG, referente ao auxílio financeiro provindo
da bolsa PIBIC-UERN.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 23 mar.
2020.

BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266>. Acesso em: 23 mar. 2020.

FERREIRA, L. A. M. . Evasão Escolar. Encontros Pela Educação, 2000. Disponível em:


<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Educacao/Doutrina>. Acesso em: 19 maio 2020.

IDEB_ Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, 2017. Dados disponíveis em:


<http://portal.inep.gov.br/ideb>. Acesso em: 20 maio 2020.

PESSANHA, Vanessa Vieira. Um panorama do direito fundamental à educação na


Constituição Federal de 1988. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 18, n.
3557, 28 mar. 2013. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/24050>. Acesso em: 23 mar.
2020.

QUEIROZ, L. D. . Um Estudo Sobre a Evasão Escolar: Para se Pensar a Inclusão Social.


25ª Reunião anual da Anped , Caxambu, v. 1, n.1, p. 01-01, 2002. Disponível em:
<https://cutt.ly/5gzhRwE>. Acesso em: 19 maio 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 887
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A SITUAÇÃO DO TRANSPORTE INTERMUNICIPAL DE PASSAGEIROS NO RIO


GRANDE DO NORTE

Discente: Emykson Suevy Ribeiro Silva¹

Orientador: João Rodrigues Freire²

Introdução

O transporte Rodoviário é uma categoria de transporte terrestre realizado por


veículos de pequeno, médio e grande porte. Atualmente, no Brasil, o transporte
coletivo de longa distância por ônibus é responsável pela maior parte das ligações
intermunicipais e interestaduais disponíveis para mobilidade de pessoas, sendo
fundamental para o desenvolvimento do país.

O Rio Grande do norte não fugindo da estatística nacional, tem em sua estrutura
territorial formada por rodovias que abrangem todo o estado, permitindo o fácil acesso
a múltiplas regiões, tendo como transporte coletivo o principal meio de mobilidade
intermunicipal.

Por se tratar de prestação de serviço torna-se necessária a intervenção


governamental para estabelecer regras e parâmetros básicos de circulação desses
meios de transporte.

Considerando bases teóricas de perspectivas sociológicas acerca do tema,


utilizando aspectos metodológicos e análises comuns nas ciências sociais, tendo
como base estrutural as recomendações descritas no livro “introdução à pesquisa em
ciências sociais: a pesquisa qualitativa na educação”.

o presente trabalho busca investigar a atuação estatal no setor e caracterizar


empresas diretamente ligadas à mobilidade regional.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 888
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

1- Fundamentação Teórica
A necessidade de um serviço de transporte eficiente, torna-se indispensável
para a mobilidade urbana. De acordo com Scott e Storper (2003) as melhorias nos
modos de transporte e comunicação (o desenvolvimento de sistemas de canais,
ferrovias, redes rodoviárias ou telégrafo e telefone) quase nunca desaceleraram
as tendências de urbanização no sistema capitalista moderno e eles até
incentivaram sua extensão espacial.
Em razão da crescente expansão do comércio devido ao aprofundamento da
globalização, combinada com melhorias regulares nas técnicas de transporte e
comunicação, favoreceu a proliferação mundial de densas aglomerações
produtivas. (Scott e Storper, 2003, p.179)

A implementação do processo de expansão industrial e modernização


agrícola fomentada pelo Estado brasileiro, incidiu no Rio Grande do Norte no
crescimento do processo de industrialização na década de 70. (Santos, 2007, p.
236)

O aumento populacional no decorrer do tempo gerou uma demanda maior de


transporte e a criação de uma regulamentação passou a ser de suma
importância para a padronização de características e especificações técnicas
que visam melhorar a prestação de serviço fornecida por determinada empresa.

O transporte intermunicipal é de autonomia estadual, no tocante ao RN, o


Departamento de Estradas e Rodagens (DER-RN) que compete o planejamento,
a regulamentação, a concessão, a permissão, a autorização, a fiscalização e o
controle dos Serviços de Transporte Coletivo Rodoviário Intermunicipal de
Passageiros. (RN, 2002)

Considerando as alegações de Triviños (1987) sobre o contexto do fenômeno


social que se estuda, o projeto utiliza metodologias de prática com propósito
transformador do conhecimento adquirido da realidade que se procura
desvendar seus aspectos essenciais.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 889
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

2- METODOLOGIA
2.1 Ligações rodoviárias entre os municípios do Rio Grande Do Norte

Um dos objetivos é identificar, quantificar e classificar as principais linhas


rodoviárias responsáveis pelo transporte de passageiros do Rio Grande Do
Norte, uma maneira de conseguir tais informações é coletando os dados por
meio dos órgãos reguladores de transporte.

Utilizando da metodologia de pesquisa documental, foi solicitado na


plataforma online do sistema de informação ao cidadão (e-SIC), registros acerca
da quantidade de empresas regularizadas, frotas utilizadas e detalhamento
sobre rotas vigentes no Rio Grande Do Norte.

Decretos governamentais foram utilizados para interpretar informações e


competências presentes nos documentos disponibilizados pelo DER-RN, que
serão discutidos mais precisamente nos resultados obtidos com o projeto.

2.2 Investigar a ausência do estado na regulação do transporte


intermunicipal

A fim de apurar a presença do estado como braço regulador nos transportes


rodoviários intermunicipais no estado do Rio Grande Do Norte, foram feitas
pesquisas utilizando como fonte documental sites e matérias de cunho
jornalístico que abordam o assunto com o intuito de informar a população acerca
da problemática.

3- Considerações Finais

O departamento de estradas e rodagens disponibilizou as informações


solicitadas descritas na metodologia do presente trabalho. Tais informações
dispõem de dados relevantes e de suma importância para o prosseguimento do
projeto.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 890
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Foram identificadas 53 licenças para empresas transportarem os passageiros


em caráter intermunicipal, no qual 51 tinham rotas ligada à capital Natal,
importante polo de desenvolvimento no estado.

O primeiro dado disposto nos documentos foram acerca da divisão deles,


categorizados por STOR (serviço de transporte opcional regular) e STR (serviço
de transporte regular), que de acordo com o decreto Nº 27510 de 21 de Junho
de 2017 caracteriza STR como o transporte realizado entre 2 (dois) ou mais
municípios, sendo permitido o transporte de passageiros em pé, de acordo com
as características veiculares definidas no art. 55 e STOR como os realizados em
caráter alternativo e complementar ao Serviço de Transporte Regular, sendo
permitido o transporte de passageiro em pé, desde que o veículo seja dotado de
corredor central. (RN, 2017)

Na categoria do STR apenas uma empresa foi identificada como regular, a


Viação Jardinense, corporação presente no estado desde o ano de 1969. Outro
ponto interessante a ser observado é que essa é a única empresa regularizada
que presta serviço no Oeste potiguar disponibilizando de frotas que interligam
diversas cidades com alta demanda de mobilidade como por exemplo Mossoró
e Pau Dos Ferros.

Nas licenças avaliadas, havia algumas com o prazo de validade vencidas e


rotas que já tinham sido desativadas, em detrimento disso, percebe-se a
deficiência de fiscalização do órgão regulador. Isso pode ter inúmeros fatores,
um deles é falta de efetivo policial ou contingente de servidores capacitados a
fiscalizar tais transgressões administrativas.

Dotando de resultados coerentes, consistentes e de valor científico,


apresentados até o momento, fica claro que o setor merece uma atenção
especial para melhoria do serviço prestado a população do Rio Grande Do Norte.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 891
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

4- Referências

Allen J. Scott et Michael Storper Lavoisier. Régions, Mondialisation Et


Développement | « Géographie, économie, Société. Vol. 8, 2003, p 169-192.

GOVERNO DO RIO GRANDE DO NORTE. Decreto Nº 16.225, Consolida o


Regulamento dos Serviços de Transporte Coletivo Rodoviário Intermunicipal
de Passageiros e Revoga os Decretos nº13.508, de 11 de setembro de 1997,
14.036, de 25 de junho de 1998, 14.381, de 29 de março de 1999, 14.455, de 22
de junho de 1999, 15.277, de 15 de janeiro de 2001, e o 16.085 de 29 de maio de
2002., Natal/RN: Diário Oficial do Rio Grande Do Norte, ano MMII, 30 de julho de
2002.

GOVERNO DO RIO GRANDE DO NORTE. Decreto nº 27510,. Dispõe sobre o


Sistema de Transporte Coletivo Rodoviário Intermunicipal de Passageiros do
Rio Grande do Norte (STIP/RN), e dá outras providências., Natal/RN: Diário
Oficial do Rio Grande Do Norte, ano MMXVII, 22 jun. 2017.

Número de ilegais é 5,7 vezes maior. Tribuna Do Norte, Natal/RN, 23 Jul. 2014.
P.1. Disponível em: http://www.bancadigital.com.br/diariodovale/
reader2/Default.aspx?pID=1&eID=495&lP=38&rP=39&lT=page. Acesso em: 13
Julho. 2020.

SOUSA, Felipe Brum de Brito. Gerenciamento da qualidade do transporte


coletivo de longa distância por ônibus. (Dissertação de Mestrado) Programa de
Pós-Graduação em Engenharia de Produção/UFRGS, Porto Alegre, 2004.

SANTOS, Vaneska Tatiana Silva. Reestruturação Socioespacial Do Seridó Norte-


rio-grandense: Desafios E Veredas Construindo Uma “Nova” Realidade.
Natal/RN, p. 220-245.

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução À Pesquisa Em Ciências


Sociais: A Pesquisa Qualitativa. São Paulo: ATLAS S.A, 1987. 175 p. ISBN
85-224-0273-6.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 892
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A TRAJETÓRIA DA DÍVIDA PÚBLICA MUNICIPAL NO BRASIL

Francilene Lopes de Oliveira1


Rodolfo Ferreira Ribeiro da Costa2

Palavras-chave: Cadeias de Markov. Endividamento Subnacional. Municípios. LISA.

INTRODUÇÃO
A Constituição de 1988 foi o ponto de partida para uma maior autonomia fiscal dos
estados e munícipios, proporcionando recursos que levou tais Unidades Federativas a compor
uma fatia considerável do bolo dos gastos do setor público. Essa elevação dos gastos –
impulsionada pela ausência de regras fiscais – resultou em descontrole no gerenciamento da
dívida pública subnacional e em seu consequente aumento.
Diante deste cenário, três intervenções foram feitas por parte do governo federal no
intuito de controlar e reestruturar as dívidas dos estados e municípios. A primeira delas ocorreu
logo um ano depois da aprovação da nova Constituição, em 1989; a segunda, em 1993; e a
terceira, em 1997-2000. Essas intervenções, em conjunto com a Lei de Responsabilidade Fiscal,
conduziram a uma sútil recuperação das contas públicas locais ao longo da primeira década dos
anos 2000, no entanto, o cenário de retomada não durou muito, e já na segunda década dos anos
2000 o descontrole do endividamento público subnacional exigiu atenção novamente.
Assim, elege-se como objetivo deste estudo analisar a trajetória da dívida pública
municipal no Brasil e verificar se tal trajetória pode ser influenciada pelas relações espaciais
entre os municípios.

METODOLOGIA
Para o alcance do objetivo deste estudo, optou-se pelo uso da matriz de transição de
Markov em suas versões não condicional e condicional, semelhante a Schettini e Azzoni (2013),
além do LISA – Local Indicator of Spatial Analysis – como indicador de dependência espacial.
A base de dados utilizada corresponde a dívida de 3.549 municípios brasileiros no período que
vai de 1998 a 2012, obtidos a partir da base Finanças Brasil – FINBRA disponibilizados pela
Secretaria do Tesouro Nacional – STN. A escolha dos dados se deu mediante dois critérios: (i)
ter o maior número de informações comparáveis possível; (ii) evitar o uso de municípios que
tenham sofrido desmembramentos/fusões ao longo do tempo.
De posse da amostra, os municípios foram distribuídos levando em conta o
endividamento público e a dependência espacial entre eles. No primeiro caso, os munícipios
foram divididos em cinco níveis diferentes: no nível 1, ficaram os munícipios com
endividamento de até R$ 867.898,96; no nível 2, os municípios com dívida entre R$ 867.898,97

1
Estudante do curso de Ciências Econômicas do Departamento de Economia da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: francileneoliveira@alu.uern.br
2
Professor do Departamento de Economia da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: rodolfocosta@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 893
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

e R$ 1.442.195,25; no nível 3, aqueles com passivo entre R$ 1.442.195,26 e R$ 2.469.059,00;


no nível 4, somente aqueles com dívida entre R$ 2.469.059,01 e R$ 5.312.855,87; por fim, no
nível 5, os municípios com endividamento superior a R$ 5.312.855,87. No segundo caso, assim
como no primeiro, também foram definidas cinco faixas para o LISA (REY, 2001): baixo-
baixo, baixo-médio, médio, médio-alto e alto-alto. Um LISA baixo-baixo significa que a dívida
de um munícipio é baixa e a de seus vizinhos também; um LISA baixo-médio quer dizer que o
passivo de um município é baixo e o dos seus vizinhos é médio; e assim por diante. Nos dois
casos, os munícipios foram dispostos de modo que cada nível contivesse cerca de 20% da
amostra.
Desse modo, a matriz de transição de Markov não condicional foi construída a partir
da distribuição dos municípios quanto ao endividamento público, enquanto a matriz de
transição de Markov condicional (ou espacial) foi elaborada com base na distribuição dos
municípios quanto à dependência espacial. De posse disso, foi feito o comparativo entre ambas
as matrizes, com a matriz não condicional servindo de base para a comparação com a matriz
Markoviana espacial.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A matriz não condicional (𝑃 ) analisa a movimentação dos municípios entre os níveis
de endividamento, onde o ponto inicial é o ano de 1998 e o ano de 2012 é o ponto final.
0.011 0.014 0.034 0.227 0.714
0.000 0.004 0.008 0.072 0.915
𝑃 = 0.001 0.003 0.004 0.018 0.973
0.000 0.003 0.000 0.006 0.993
0.000 0.000 0.000 0.001 0.999
A primeira linha da matriz representa a probabilidade de um município pertencente ao
nível 1 em 1998 permanecer ou mudar de estado em 2012, as outras linhas seguem essa mesma
lógica até o último nível. Dessa forma, é possível ver que apenas 1,1 % dos municípios
pertencentes ao estado 1 em 1998 permaneceram nesse estado em 2012; 1,4% passaram ao
estado 2; e 3,4% progrediram para o estado 3. Analisando os estados 2 e 3, vemos que em 2012
cerca de 91,5% e 97,3%, respectivamente, estão no mais alto nível endividamento. Os
municípios que se encontravam inicialmente nos estados 4 e 5 estão quase que em sua
totalidade, no estado 5 em 2012. De fato, a soma das probabilidades das colunas de indica um
resultado convergente para questão do endividamento público municipal.
Em seguida foi analisado a trajetória do endividamento público municipal
condicionado a dependência espacial entre os municípios, utilizando o LISA, onde cada bloco
representa a probabilidade de um município permanecer ou migrar para outro estado de
endividamento.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 894
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LISA Estado 1 2 3 4 5
1 0.000 0.000 0.020 0.152 0.828

Baixo-Baixo
2 0.000 0.000 0.000 0.077 0.923
3 0.000 0.000 0.000 0.009 0.991
4 0.000 0.000 0.000 0.008 0.992
5 0.000 0.000 0.000 0.000 1.000
Estado
Baixo-Médio 1 2 3 4 5
1 0.013 0.000 0.052 0.195 0.740
2 0.000 0.010 0.010 0.040 0.940
3 0.000 0.000 0.000 0.000 1.000
4 0.000 0.000 0.000 0.000 1.000
5 0.000 0.000 0.000 0.000 1.000
Estado 1 2 3 4 5
1 0.009 0.000 0.009 0.112 0.871
Médio

2 0.000 0.007 0.000 0.037 0.955


3 0.006 0.000 0.006 0.006 0.983
4 0.000 0.000 0.000 0.000 1.000
5 0.000 0.000 0.000 0.000 1.000
Estado 1 2 3 4 5
1 0.007 0.013 0.007 0.188 0.785
Médio-Alto

2 0.000 0.000 0.000 0.042 0.958


3 0.000 0.000 0.000 0.016 0.984
4 0.000 0.007 0.000 0.014 0.979
5 0.000 0.000 0.000 0.000 1.000
Estado 1 2 3 4 5
1 0.019 0.030 0.060 0.336 0.556
Alto-Alto

2 0.000 0.006 0.028 0.144 0.822


3 0.000 0.017 0.017 0.067 0.899
4 0.000 0.000 0.000 0.018 0.982
5 0.000 0.000 0.000 0.011 0.989
Fonte: COSTA e MORAIS (2019)

Os resultados evidenciam um crescimento do endividamento público municipal para o


estado 5, assim como na matriz de transição não condicionada. No entanto, a velocidade do
endividamento dos municípios é minimizada, ou seja, na medida em que há uma forte interação
entre os municípios, há a uma melhoria na gestão da dívida. No bloco baixo-baixo, 17% dos
municípios pertencem aos 3 (2%) e 4 (15,2%); no bloco baixo médio, há uma maior frequência
dos municípios no demais estados, e esse aumento da frequência de municípios continua nos
demais blocos, médio, médio-alto e alto-alto.

CONCLUSÃO
A análise realizada, mostra que a trajetória do endividamento público municipal, é
afetada pela interação entre os municípios. Quanto mais forte é essa interação, melhor se torna

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 895
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

a gestão da dívida. Fato explicado, possivelmente, porque as localidades próximas,


compartilham e adotam ações entre si, como, por exemplo, a escala a produção de bens e
serviços que levam a um melhoramento de suas arrecadações. Dessa forma, o governo federal
brasileiro deve levar em consideração tal interação já que, a relação espacial entre os municípios
é um fator natural para o controle da gestão da dívida.

AGRADECIMENTOS
Gostaria de prestar agradecimentos a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
pela oportunidade de participar do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica; e
ao CNPq, pelo fomento à ciência, à pesquisa, e pelos recursos destinados a este fim.
REFRÊNCIAS
COSTA, R. F. R.; MORAIS, G. K. O. The Municipal Public Debt Trajectory in Brazil. The
Empirical Economics Letters, v. 18, p. 1193-1199, 2019.
REY, S. J. Spatial empirics for economic growth and convergence. Geographical Analysis,
v. 33, n. 3, p. 195-214, 2001.
SCHETTINI, D.; AZZONI, C. R. Diferenciais regionais de competitividade industrial do
Brasil no Século 21. EconomiA, Brasília (DF), v.14, n.1B, p.361–387, 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 896
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Análise das agroindústrias familiares e os efeitos do Programa Garantia


Safra nos territórios rurais do Rio Grande do Norte

Ellen Sarah da Silva Azevedo1; Joana D’arc Rebouças Mendonça2; Emanoel Márcio Nunes3.

Palavras-chave: Desenvolvimento. Garantia-Safra. Agricultura. Agroindústria.

Introdução

Na dinâmica territorial, a diversificação, a heterogeneidade e a especificidade de cada


território têm sido consideradas fatores importantes e potenciais no sentido de impulsionar o
desenvolvimento, especialmente no meio rural. É nesse sentido que as unidades familiares
assumem um papel decisivo nesse processo, de modo que a sua composição diversificada de
atividades econômicas tende para a valorização de temas e produtos antes desprezados pelos
defensores da modernização agrícola, a exemplo da organização coletiva dos agricultores
familiares e da produção de alimentos de consumo interno. Para tanto, de acordo com
Abramovay (1999), na realidade rural brasileira se faz necessária uma mais intensa e
elaborada articulação entre as políticas públicas que estimulem ao máximo esse
desenvolvimento. E é neste sentido que a agricultura familiar se interliga à dinâmica do
desenvolvimento territorial, uma vez que a primeira está relacionada à execução de atividades
produtivas e à geração de renda em cada território rural, contribuindo para que haja uma
ampliação das dimensões e econômica, social, política e ambiental.
A região Nordeste do Brasil é possuidora da maior quantidade de estabelecimentos da
agricultura familiar, porém é fortemente marcada pelo ambiente especialmente por meio do
fenômeno da seca, onde os períodos de estiagem exercem influência direta e negativa na
produtividade rural. E os resultados são significativas quedas na produção agropecuária,
afetando principalmente produtores de pequeno porte, ou seja, os agricultores familiares. É
nesse âmbito que têm sido desenvolvidas práticas e novas tecnologias com vistas a amenizar
os efeitos das secas. Giambiagi e Alem (2008) afirmam que, para a redução dos impactos das
estiagens no meio rural, especialmente do semiárido do Nordeste, a intervenção do Estado é
justificável diante a existência de externalidades, podendo dessa forma interver por meio de
mecanismos de política e subsídios para que as externalidades negativas se tornem positivas.
Nesse contexto, o Governo Federal tem executado, juntamente com a participação dos
municípios e estados e, através de uma política pública de aporte aos agricultores, o Garantia
Safra. O programa Garantia-Safra caracteriza-se por ser uma ação voltada para os agricultores
familiares que são submetidos à perda ou frustrações de safras causadas pelas estiagens
prolongadas ou pelo excesso de chuvas. Na verdade, o Garantia Safra é um mecanismo
recente de política agrícola que serve como garantia da renda aos agricultores familiares,
encontrando-se inserido em um dos grupos do Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar (PRONAF). Para tanto, este é voltado especialmente para os municípios
do semiárido identificados com perda de pelo menos 50% da produção agrícola total.

1
Graduanda do Curso de Ciências Econômicas do Departamento de Economia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; E-mail: ellensarahsa@gmail.com.

2
Graduanda do Curso de Ciências Econômicas do Departamento de Economia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; E-mail: joannamendoncah@gmail.com.

3
Professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Líder
do Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento Regional: Agricultura e Petróleo; E-mail: emanoelnunes@uern.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 897
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Visando verificar a efetividade do Programa Garantia-Safra, o objetivo é analisar a


importância do Programa como apoio financeiro para agricultura familiar do Semiárido dos
dez territórios do Estado do Rio Grande do Norte. Partindo, assim, do princípio da efetiva
participação, mediante o número de adesões e indenizações dos agricultores e municípios por
território, bem como o montante de recursos subsidiado para cada safra no período de
2006/2007 à 2018/2019 (MDA, 2017).

Metodologia

A área de abrangência da pesquisa considera o recorte territorial na análise do


Programa Garantia Safra, recorte este definido pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial
(SDT), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), e os territórios estudados foram:
Açu-Mossoró, Alto Oeste Potiguar, Sertão do Apodi, Sertão Central Cabugi e Litoral Norte.
Para execução da pesquisa foram usados dados principalmente de fonte secundária,
obtidos pelo endereço eletrônico (site) do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA).
Para tanto, os dados se referem ao número de adesões e indenizações dos municípios e
agricultores familiares, bem como o montante de recursos financeiros subsidiados em cada
safra para cada território, no período das safras 2006/2007 a 2018/2019.
No intuito de atingir o objetivo deste trabalho, foi realizado uma análise descritiva no
sentido de investigar durante o período abordado da safra de 2006/2007 à 2018/2019, a
implementação e evolução do Programa Garantia-Safra nos quatro territórios rurais do estado
do Rio Grande do Norte.

Resultados e Discussão

A tabela 01, nos traz os dados referentes ao montante de recursos financeiros que o
Programa beneficiou por safra para cada território, no período de estudo analisado.

Tabela 01: Montante de recursos aportados pelo Programa (R$) por território, Safra
2006/2007 a 2018/2019.
Período da Safra
Território 2007/ 2008/ 2009/ 2010/ 2011/ 2012/ 2013/ 2016/ 2018/
2006/ 2007
2008 2000 2010 2011 2012 2013 2014 2017 2019
Açu-Mossoró 1.122 19.982 15.626 45.504 80.218 87.557 167.324 5.801 304.421 292.179
Alto Oeste - - 14.355 40.284 57.984 92.269 210.131 7.153 375.250 353.039
Sertão Do
- 17.738 23.513 38.844 59.866 165.538 165.538 6.144 322.630 325.533
Apodi
Sertão Central
Cabugi e - 6.864 5.726 23.256 23.002 36.414 23.256 2.105 110.370 101.694
Litoral Norte
Trairí - 32.639 40.112 70.992 83.635 99.062 172.254 6.256 328.477 361.737
Fonte: MDA, 2017. Elaborado pelos autores, 2019.

Por ser o Rio Grande do Norte constituído por 10 territórios, cada um deles com
números próprios de munícipios, e consequentemente de agricultores, o valor total de recursos
aportados do Garantia Safra difere bastante. Do início do período analisado até a safra
2013/2014, o valor financeiro do aporte cresce consideravelmente. Como se pode observar a
safra que houve maior montante aportado foi a 2013/2014. Para tanto, o território Seridó

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 898
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

obteve o maior número de aportes mediante a participação total de seus munícipios, com um
montante de R$ 7.168.900,00 (sete milhões, cento e sessenta e oito mil e novecentos reais),
em contrapartida com a não participação do território Terra dos Potiguares nessa mesma safra.
No entanto, a maior variabilidade percentual relacionada ao número de aportes por município
em cada território apresenta no Sertão Central Cabugi e Litoral Norte com uma variação de
10%, em seguida destaca-se Potengi com 9% e Açu Mossoró com 7,14%.
Ainda diante do valor total de recursos advindos do Programa, esse aporte é realizado
diretamente aos agricultores para cada território. Como mostra a tabela 02.

Tabela 02: Número de agricultores aportados pelo Garantia-Safra por território, Safra
2006/2007 a 2018/2019.
Período da Safra
Território
2006/ 2007/ 2008/ 2009/ 2010/ 2011/2 2012/2 2013/2 2016/2 2018/2
2007 2008 2009 2010 2011 012 013 014 017 019
Açu-Mossoró 68 1.211 947 2.528 4.178 4.292 5.871 6.825 6.821 5.657
Alto Oeste - - 870 2.238 3.020 4.523 7.373 8.416 8.408 7.173
Sertão Do Apodi - 1.075 1.425 2.158 3.118 3.923 5.719 7.229 7.229 6.383
Sertão Central Cabugi e
- 416 347 1.292 1.198 1.785 2.183 2.477 2.473 1.994
Litoral Norte
Fonte: MDA, 2017. Elaborado pelos autores, 2019.
O território Açu-Mossoró foi o primeiro beneficiado pelo Programa Garantia Safra,
com o aporte realizado a 68 agricultores familiares residentes de apenas 1 dos 14 municípios
que compõe o território, o município de Grossos. A partir daí houve expressivos aumento nos
números de munícipios contemplados, 8 para as safras 2007/2008 e 2008/2009; 10 para a
safra 2009/2010 e 13 para a safra 2010/2011, até que na safra 2011/2012, o território atingiu a
totalidade de seus municípios, permanecendo constante até a safra 2018/2019. O significativo
aumento no número de agricultores teve seu ponto mais alto no período da safra 2013/2014,
com o alcance de 6.825 trabalhadores.

Conclusão
O Programa Garantia-Safra vem sendo um importante e recente mecanismo de política
agrícola de suporte para os agricultores familiares, que perdem ou frustram as suas produções,
nos dez territórios do estado do Rio Grande do Norte. O Garantia Safra é capaz de subsidiar
minimamente os prejuizos sofridos pelos agricultores familiares, sendo, portanto, um
programa de fortalecimento para permanencia do homem no campo na agricultura familiar e
também como meio de renda. Nota-se claramente a evolução na abrangencia do Programa nos
dez territórios do Estado, tanto quanto ao números de agricultores e alcançando cada vez mais
os municipios que ainda não participam.
Apesar de não se enquadrar na categoria “seguro”, o Programa Garantia Safra tem
contribuído positivimante com a necessidade de suporte para o produtor rural, em que por um
lado, a questão da seca não necessariamente é um fenomeno natural passivel de ser controlado
por ele; mas, por outro, nos faz enxergar que se há tanta demanda pelo subsidio da política
agrícola, logo produção subentende-se como vem sendo dificil e prejudicada a produção rural
através dos agricultores familiares.
É, principalmente diante desses resultados que se pode perceber a importancia do
mecanismo Garantia-Safra como instrumento de aporte ao agricultor familiar, no sentido de
promover a possibilidade de recomeço em suas atividades, uma vez que estes perdendo ou
frustrando as suas safras por questões proprias da região, impactam diretamente na
possibilidade de ascensão quanto a renda e produtividade desse meio.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 899
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos

Agradecemos ao CNPq – UERN pela oportunidade nos dada e pelo apoio financeiro. Assim
como a todos que sempre estão desenvolvendo pesquisas para essa instituição.

Referências

ABRAMOVAY, R. Agricultura familiar e desenvolvimento territorial. Reforma Agrária –


Revista da Associação Brasileira de Reforma Agrária. Brasília: MDA, NEAD, Consultoria
IICA. v. 28, n. 1, p.1 - 21, Janeiro/Agosto 1999.
BIANCHINI, Valter. Vinte Anos do PRONAF, 1995-2015. Avanços e Desafios. Brasília:
SAF/MDA, 2015.
Brasil. Lei no 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa;
altera as Leis no 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428,
de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis no 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de
14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/L12651compilado.htm. Acesso em: 16 de Setembro de 2017.
BRASIL: Ministério do Desenvolvimento Agrário PRONAF – Cartilha do Programa
Garantia-Safra Brasília: Pronaf/SAF/MDA, 2006 11 p.: il
BUAINAIN, Antônio Márcio. Agricultura familiar, agroecologia e desenvolvimento
sustentável: questões para debate. 1° Ed - Brasília: IICA, 2006.
DELGADO, N. G. BONNAL, P. LEITE, S. P. Desenvolvimento Territorial: Articulação de
Políticas e Atores Sociais. Convênio IICA – OPPA/CPDA/UFRRJ. Rio de Janeiro,
Dezembro/2007.
FERREIRA, V. S. JALES, J. V. PESSOA, L. M. F. MAYORGA, M. I. O. Análise da
Importância do Projeto Garantia-Safra na Produção de Grãos: O Caso do Ceará.
Fortaleza. 2006.
GIAMBIAGI, Fabio. DE ALÉM, Ana Cláudia Duarte. Finanças públicas: teoria e prática
no Brasil. Elsevier Brasil, 2008.
Gil, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. - São Paulo: Atlas, 2002.
GRISA, C. SCHNEIDER, S. Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil. Porto
Alegre: 1º Ed. da UFRGS, 2015.
MIOR, Luiz Carlos. Agricultura familiar, agroindústria e desenvolvimento territorial.
Colóquio Internacional de Desenvolvimento Rural Sustentável. Florianópolis, v. 22, p. 1-
15, 2007.
MDA. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Disponível em:
<http://www.mda.gov.br/sitemda/secretaria/saf-garantia/sobre-o-programa> Acesso em: 10 de
Setembro de 2017.
SCHNEIDER, Sérgio. Teoria social, agricultura familiar e pluriatividade. Revista Brasileira
de Ciências Sociais, v. 18, n. 51, p. 99-121, Fevereiro/2003.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 900
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Análise das agroindústrias familiares e os efeitos do Programa Nacional de


Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) nos territórios rurais
do Rio Grande do Norte

Joana D’arc Rebouças Mendonça1; Ellen Sarah da Silva Azevedo2; Emanoel Márcio Nunes3.

Palavras-chave: Desenvolvimento. Cadeia produtiva. Agricultura. Agroindústria.

Introdução

A agroindústria familiar além possuir força de trabalho, prioritariamente, familiar,


caracteriza-se por possuir uma infraestrutura com função específica de beneficiamento e/ou
processamento de produtos de origem vegetal e/ou animal com produção em pequena escala
que mantem sincronia entre a capacidade de produção da matéria-prima e a capacidade de
processamento. Essas características fazem de a agroindústria familiar ter um diferencial das
indústrias, onde os produtos são padronizados e produzidos em larga escala. (TORREZAN;
CASCELLI; DINIZ, 2017).
Economicamente, a agroindústria familiar agrega valor aos produtos e gera renda,
podendo tornar-se, em muitos casos, a principal fonte de renda da propriedade rural.
Além disso, a agroindústria familiar cria oportunidades de trabalho, garantindo a
melhoria das condições de vida do meio rural e contribuindo para o
desenvolvimento econômico da região.
Socialmente, a agroindústria familiar ajuda a fixar o homem no campo,
especialmente os jovens, que, na falta de ocupação laboral no campo, acabam
migrando para o meio urbano, em busca de oportunidades de trabalho.
Culturalmente, a agroindústria familiar valoriza as tradições e os costumes, por meio
da comercialização de produtos regionais, cujas receitas tradicionais são repassadas
de geração para geração. (TORREZAN; CASCELLI; DINIZ, 2017. p. 11, 12).

O que orientou a pesquisa, de forma geral, foi de que as cadeias produtivas, com sua
estrutura de unidades de agregação de valor e formas de organização, formam um conjunto de
iniciativas que constrói um novo e promissor formato de desenvolvimento endógeno. Porém
as estruturas de governança são deficientes em termos de gestão e não têm sido capazes de
promover a dinamização econômica dos territórios Açu/Mossoró, Alto Oeste Potiguar, Sertão
do Apodi e Sertão Central Cabugi e Litoral Norte (RN).
Esta pesquisa contribuiu para desconstruir a grande narrativa do desenvolvimento
regional/territorial, remetendo o seu significado e sentido ao conjunto das experiências e
iniciativas emergentes que os agricultores e as populações do meio rural têm colocado em
prática. Neste sentido, a análise serviu como ponto de partida para a problematização sobre
como está se dando o processo de mudança técnica, econômica, social e política nos espaços
rurais no Nordeste e do Brasil.

1
Graduanda do Curso de Ciências Econômicas do Departamento de Economia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; E-mail: joannamendoncah@gmail.com.

2
Graduanda do Curso de Ciências Econômicas do Departamento de Economia da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte; E-mail: ellensarahsa@gmail.com.

3
Professor do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Líder
do Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento Regional: Agricultura e Petróleo; E-mail: emanoelnunes@uern.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 901
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para efeito desta pesquisa serão investigadas unidades de agregação de valor nos
territórios do Açu-Mossoró, Alto Oeste, Sertão Central Cabugi e Litoral Norte e Sertão do
Apodi (RN), com duas principais cadeias produtivas: polpa de frutas e apicultura. Tal como se
apresentam na realidade, as práticas e formas de gestão e de organização dos
empreendimentos econômicos. O estudo dessas cadeias emerge como uma problemática de
pesquisa sobre de que modo os agricultores inovam, criam, fazem ajustes e buscam novos
modos de “fazer as coisas” e, com isso, resolvem problemas que surgem com a prática diária
no processo de produção, na gestão da propriedade e como se organizam, no processamento
de produtos, no acesso a crédito à aos mercados.

Metodologia

A delimitação do tema desta pesquisa foi intimamente ligada à estratégia


metodológica utilizada, a qual consistiu na definição de situações empíricas que foram
analisadas por meio de duas técnicas consolidadas de investigação: o estudo de caso e a
análise comparativa. Segundo Gil (2008), o estudo de caso é caracterizado por um estudo
mais aprofundado a fim de obter seu conhecimento mais amplo e detalhado sobre o assunto. E
o método comparativo resulta na investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos,
com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles.
Foram usados, também, na pesquisa dados secundários. Segundo Richardson (2012)
os dados secundários referem-se às informações que não apresentam relação direta com o
acontecimento registrado, tendo sido reunidos para algum outro propósito que não o estudo
imediato em mãos. Os dados usados foram obtidos através de órgãos estaduais como a
assistência técnica e os institutos de planejamento e pesquisa (Banco do Nordeste, FAPERN,
EMATER, EMPARN etc.), além de ONGs e empresas do setor privado.

Resultados e Discussão

A produção de frutas no Rio Grande do Norte é uma das atividades mais dinâmicas do
Estado, sendo destaque na expansão do agronegócio potiguar. Atuando na ampliação de
mercado e aumento da competitividade de micro e pequenos fruticultores, assim foi pensado e
realizado o Seminário da Agroindústria de Polpa de Fruta do Território Sertão do Apodi
através da parceria NEDET/UERN e SEBRAE que apoiou a legalização das unidades de
beneficiamento. Essa parceria gerou também uma consultoria para adequação e regularização
junto ao ministério da agricultura pecuária e abastecimento – MAPA, de 10 agroindústrias de
polpa de frutas no território Sertão do Apodi.
Por meio dos resultados do projeto de pesquisa identificou que uma das maiores
dificuldades dessas cadeias está na legalização das unidades de beneficiamento, assim a
parceria com o Sebrae surgiu da necessidade de uma intervenção em apoiar os grupos
produtivos da agricultura familiar para o processo de legalização das unidades de
beneficiamento.
Ao final da consultoria foram entregues na reunião do colegiado territorial Sertão do
Apodi 10 plantas e memorial descritivo para a conformidade com Legislação Sanitária
Vigente; Maior segurança alimentar; Padronização de produtos e processos produtivo;
Aumento da produtividade; Redução dos desperdícios; Melhor qualidade dos produtos; Maior
competitividade e Sustentabilidade; Prospecção de novos clientes. E como resultado dessa

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 902
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

parceria foi o primeiro Selo de Inspeção Federal – SIF para a unidade de beneficiamento da
cadeia de polpa de fruta, no município Apodi, no qual a Cooperativa Potiguar de Apicultura e
Desenvolvimento Rural Sustentável (COOPAPI) no território.
Na cadeia da apicultura vem sendo objeto de estudo da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN, desde o ano de 2010 e tem desenvolvido pesquisa e extensão
dentro da dinâmica territorial, nas quais possibilitam indagações e novas propostas. Assim, o
suporte e acompanhamento técnico especializado para as Unidades de Extração e Entrepostos
de Mel, nos Territórios Sertão do Apodi; Açu-Mossoró; Alto Oeste; Sertão Central Cabugi e
Litoral Norte, possam sair da clandestinidade, e obter os respectivos registros, sendo que parte
destas foram contempladas com aprovação em primeira instância (Manifestação de Interesse -
MI) no projeto do governo estadual RN Sustentável.

Conclusão
Após estudar os territórios, torna-se perceptível que eles são derivados de uma relação
desigual de forças que envolve tanto o domínio quanto o controle econômico e político do
espaço e sua apropriação, seja material ou simbólica. Voltando um pouco na história, as
políticas públicas direcionadas ao desenvolvimento rural buscavam introduzir modelos
planejados que não observavam a diversidade do espaço geográfico e muito menos, tinham a
preocupação em buscar o diálogo com atores locais um ambiente que pudesse legitimar a sua
formulação, implantação e avaliação das ações desenvolvidas. Os territórios da cidadania
Açu-Mossoró, Alto Oeste Potiguar e Sertão do Apodi, vem buscando desenvolver
mecanismos que possam reverter à ausência de uma coerência política e social em relação às
políticas públicas pensadas para os territórios, já o Território Rural Sertão Central vem
buscando se firmar. Tudo isso se reflete no esforço para a criação de colegiados territoriais,
onde são apresentadas, discutidas e definidas ações e projetos via políticas públicas. Um dos
desafios do colegiado é pensar numa gestão que contribua para o favorecimento da equidade
social no território. Por isso que o colegiado tem papel importante na integralização das
políticas públicas atuando no poder público municipal, estadual e federal. Ou seja, há um
avanço bastante significativo na estrutura social e econômica dos territórios, seja para
fortalecer a identidade territorial da sua população através da inovação e implantação de
propostas que gerem desenvolvimento ou ainda preservar a natureza, sua cultura e modo de
vida local.

Agradecimentos

Agradecemos ao CNPq – UERN pela oportunidade nos dada e pelo apoio financeiro. Assim
como a todos que sempre estão desenvolvendo pesquisas para essa instituição.

Referências

AQUINO, Joacir Rufino de; SCHNEIDER, Sérgio. 12 anos da política de crédito do


PRONAF no Brasil (1996 – 2008): uma reflexão crítica. VIII CONGRESSO LATINO-
AMERICANO DE SOLCIOLOGIA RURAL. Porto de Galinhas/PE, 15 a 19/11/2010.
CHAYANOV, Alexander. A Teoria das Cooperativas Camponesas. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2017.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. - São Paulo: Atlas,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 903
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

2008.

NUNES, Emanoel Márcio, SILVA, P. S. G., SILVA, M. R. F., SÁ, V. C. (2020). O Índice de
Condições de Vida (ICV) em Territórios Rurais do Nordeste: evidências para os territórios
Açu-Mossoró e Sertão do Apodi, no Rio Grande do Norte. Revista de Economia e Sociologia
Rural, 58(1), e190917. https://doi.org/10.1590/1806-9479.2020.190917

NUNES, Emanoel Márcio; GONDIM, M. F. R.; SILVA, M. R. F. da . Identidade e reestruturação


produtiva nos territórios Açu-Mossoró e Sertão do Apodi, no Rio Grande do Norte. Estudos Sociedade
e Agricultura, v. 27, p. 137-166, 2019.

RICHARDSON, Roberto Jany. Pesquisa social; métodos e técnicas. 3. ed. - 14. reimpr. - São
Paulo: Atlas, 2012.

TORREZAN R; CASCELLI, S.M. F; DINIZ, J. D. A S. Agroindústria familiar: aspectos a


serem considerados na sua implantação. Brasília, DF: Embrapa, 2017. Disponível em:
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/165331/1/ABC-AGR-FAMILIAR-
Agroindustria-familiar-aspectos-a-serem-considerados-na-sua-implantacao-ed-01-2017.pdf.
Acesso em:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 904
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE MULTITEMPORAL DA REGIÃO COSTEIRA DA RESERVA


DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ESTADUAL PONTA DO
TUBARÃO – RDSEPT A PARTIR DE IMAGENS LANDSAT

Francisco Leonardo Rodrigues da Silva 1; Karinny Alves da Silva 1; Rodrigo Guimarães de


Carvalho2

Palavras chave: Análise multitemporal, Legislação, Zona costeira

INTRODUÇÃO

A Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988 define Zona Costeira como sendo o espaço
geográfico de interação entre o ar, mar e a terra, incluindo seus recursos renováveis ou não,
abrangendo uma faixa marítima e terrestre.
De acordo com Portela et. al. (2014) a zona costeira é composta de complexa relação
entre os elementos ambientais e o intenso trânsito de matéria e energia presente, tratando-se por
tanto, de uma área bastante dinâmica, além de ter uma magnitude significativa em direção à
economia da região, bem como, para a qualidade de vida da população então estabelecida.
Essa dinâmica ocorre por meio de processos erosivos naturais, nos quais se convertem
em transformação da paisagem, por meio de deposição de sedimentos. Entretanto, a influência
antrópica exercida nesses ambientes tem intensificado esse processo e acarretado incontáveis
impactos socioambientais. Nesse contexto temos que “As intervenções humanas, diretas e
indiretas, nos sistemas costeiros e estuarinos têm como consequência que estes se tornem cada
vez mais vulneráveis à ação dos agentes naturais e dos resultantes das próprias ações
antrópicas.” (DIAS, et. al, 2011).
Assim como definido por Souto & Amaro (2003) o Geoprocessamento é uma
tecnologia que faz o uso de técnicas matemáticas e computacionais na abordagem de
informações geográficas. Seus recursos computacionais concedem a execução de análises
profundas ao integrar dados de diversas datas, através de um banco de dados georreferenciados,
no qual o cruzamento dos respectivos dados permite constituir a analogia em intervalos de
tempo dentre datas determinadas.
Essa pesquisa busca através da aquisição de imagens Landsat e por meio de técnicas
de geoprocessamento, realizar uma análise multitemporal nas ilhas barreiras da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Estadual Ponta do Tubarão – RDSEPT, que no decorrer dos anos
evidenciou-se modificações na paisagem e na morfologia costeira. O estudo faz uma captação
de imagens Landsat num período de 33 anos, entre os anos (1985 a 2018).

METODOLOGIA
Trebossen et al. (2005); Chu et al. (2006) apud Moreira (2014) abordam que para o
monitoramento costeiro, fazer o uso de imagens obtidas por sensores remotos, é uma formidável
ferramenta de análise mulltitemporal para acompanhamento de dinâmica costeira, para também
tomar conhecimento dos aspectos geomorfológicos, onde é possível compreender todos

1
Estudante do curso de Gestão Ambiental do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; leonardoschulz97@gmail.com; karinnya290@gmail.com.
2
Professor do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Líder do Laboratório de Áreas Costeiras e Zonas Protegidas – LECAP, rodrigo.ufc@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 905
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

elementos geográficos, assim tornando capaz o entendimento da historiografia da área em


estudo.
O trabalho se desenvolveu por meio do uso de imagens digitais dos satélites Lansat5
TM e Landsat8 OLI, foram georeferenciadas de acordo com o sistema de referências SIRGAS
2000, zona 24 Sul. O procedimento para o processamento das imagens foi executado no
software Quantum GIS versão 2.18. Logo em sequência fora realizado os procedimentos de
análises das composições coloridas (RGB) formada pelas bandas 7/4/2, que nessa composição
apresenta cores artificiais próximas a coloração natural, foi feita a utilização da banda 7 por
apresentar uma resposta mais satisfatória à morfologia do terreno o que permitiu a aquisição
das informações sobre a geomorfologia da área em questão, a banda 4 já que absorve a energia
captada, permitiu, dar um destaque nos corpos de água, facilitando o mapeamento do
delineamento, a utilização da banda 2 correspondente a fração do verde no Espectro
Eletromagnético (EEM), viabilizando um contraste notável entre os meios em circunstâncias
de preamar, possibilitando uma resolução da linha de costa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A região da RDSEPT, caracterizada por estar submetida a constantes processos de
transporte de sedimentos litorâneos e eólicos, ocasionando a instabilidade morfológica em boa
parte da área, onde foi realizado o estudo trata-se de uma área de terrenos sedimentares
destacando alguns elementos geológicos, como dunas móveis e fixas, a praia, barramentos
arenosos, regiões lamosas.
Faz-se uma caracterização da linha de costa dentre os anos dos quais foram adquiridas
imagens, acerca da movimentação sedimentar das ilhas barreiras presentes na RDSEPT, assim
foi feito um cruzamento de imagens no intervalo de tempo: 1985 a 2018. Como demonstrado
na figura 1.
Dessa forma, os elementos geoambientais alterados ao longo dos anos pelas forçantes
meteo-oceonográficas, evidenciados no monitoramento com base na análise multitemporal de
sensoriamento remoto. As imagens proporcionaram uma comparação em quatro anos
diferentes, possibilitando o diagnóstico de áreas vúlneraveis ou danificadas por atividades
antrópicas na região, além das mudanças causadas pelos encadeamentos de erosão devido aos
processos naturais.
Cabe ressaltar que a Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988 assegura a proteção e
preservação das zonas costeiras, em seu Art. 7º cita que a degradação dos ecossistemas, do
patrimônio e dos recursos naturais da Zona Costeira implicará ao agente a obrigação de reparar
o dano causado e a sujeição às penalidades previstas no art. 14 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto
de 1981.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 906
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 1: Mapa comparativo da linha de costa em estudo, litoral setentrional do Rio Grande do
Norte nos anos 1985, 1995, 2005 e 2018/ Fonte: Landsat 5 TM/ Landsat 8 OLI (Earth
Explorer).

Através dos resultados adquiridos, os indicadores mostraram processos erosivos no


decorrer dos anos, sejam eles de forma natural ou por ações antrópicas atípicas na região, a
dinâmica costeira está inteiramente relacionada às forçantes meteo-oceanográficas, que são as
ações exercidas sobre os sedimentos ali presentes, no caso o sedimento de praia facilmente
levados pelas ondas e ação dos ventos que são muito presentes na região e com grande
intensidade no sentido NE.
Como foi destacado nas imagens dos anos avaliados e evidenciado em outros estudos
também, nota-se uma movimentação sedimentar na linha de costa e na sua estrutura,
deslocando-se mais para o oeste de acordo com as correntes marinhas da região e os ventos no
sentido nordeste que são comuns na aréa na maior parte do ano, cerca de 8 meses.
Silva & Vital (2019) demonstram que não há grandes perdas dos sedimentos que
compõem a linha de costa, mas sim uma variação e movimentação na mesma, no sentido leste-
oeste carregando esses sedimentos criando até novas composições geológicas, nas quais
seguem o curso dos ventos no sentido NE, numa constante horizontal. Ou seja, as ilhas barreiras
passaram por um processo evolutivo onde não perderam sua composição, se transformaram ao
longo do tempo.

CONCLUSÃO
A utilização das técnicas de geoprocessamento referentes a análise das imagens do
sensoriamento remoto, se mostraram satisfatórias e eficientes, onde obteve-se que a região tem
predisposição a recessão da linha de costa. A compreensão da área em questão foi favorecida
graças a elaboração da base multitemporal no QGIS.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 907
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

De acordo com os resultados até aqui evidenciados, faz-se presente que esse estudo
possa colaborar com estudos futuros no manejo e planejamento do uso dessa área, por estar
localizada numa região dinâmica e vulnerável aos processos naturais, onde também pode
ocorrer interferências humanas, por ser uma região costeira costuma atrair o turismo, além de,
conter habitantes residindo próximo a essa região, onde a mesma juntamente com o manguezal
servem como uma espécie de barreira contendo o avanço do mar.
Onde também o estudo da legislação possibilitou mostrar que a região por sua
vulnerabilidade, não pode comportar construções sob a mesma, pois causam impactos e
interferências na dinâmica costeira, o uso deve ser monitorado e controlado mesmo para
visitações, ou algum tipo de atividade que vier a ser desenvolvido nessa determinada área.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a UERN e ao CNPQ pela concessão da bolsa de iniciação
tecnológica através do PIBIT-UERN e pelo apoio logístico que viabilizou a realização da
pesquisa.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Instrução Normativa nº 2, de 27 de julho de 2018. Dispõe sobre os conceitos e os
critérios para identificação das áreas de domínio da União, de gestão da SPU, relacionadas nos
incisos III, IV, VI e VII do art. 20 da Constituição Federal. Diário Oficial Da União. Disponível
em: < http://www.in.gov.br/web/guest/mater ia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/34554817/do1-2018-07-30-instrucao-normativa-
n-2-de-27-de-julho-de-2018-34554799 >. Acesso em 12 jun. 2020.
DIAS, J. A.; FREIRE, Paula; FREITAS, Conceição; KLEIN, Antonio; SILVA, Paulo.
Importância do conhecimento sobre a morfodinâmica estuarina e costeira para a gestão do
litoral. Revista de Gestão Costeira Integrada - Journal of Integrated Coastal Zone
Management, vol. 11, núm. 3, 2011, pp. 271-272.
MOREIRA, A.; DUARTE, C. R.; SOUTO, M. V. Aplicação de técnicas de sensoriamento
remoto na análise multitemporal da linha de costa de região de Icapuí/CE, entre 1984 e 2013.
Revista Geonorte , ed. Especial 4, v.10, .1, p. 52-58, 2014. Disponível em: <
http://www.sinageo.org.br/2014/trabalhos/3/3-26-1086.html >.
SILVA, Filipe Ezeqiuel & VITAL, Helenice. (2019). Quantifying the high coastal dynamics of
tropical mesotidal barrier island-spit systems: case study in Northeast Brazil. Geo-Marine
Letters. 10.1007/s00367-019-00610-1.
SOUTO, Michael Vandesteen Silva & AMARO, Venerando Eustáquio. Análise
multitemporal quanto ao uso e ocupação do solo da região da ponta do tubarão, município
de Macau/RN, utilizando técnicas de geoprocessamento. Anais XI SBSR, Belo Horizonte,
Brasil, 05 - 10 abril 2003, INPE, p. 1649 - 1655.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 908
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Governo do Estado do Rio Grande do Norte


Secretariado de Estado da Educação, da Cultura e dos Desportos - SECD
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NO RTE - UERN
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PRO PEG
Departamento de Pesquisa - DP
Campus Universitário Br-110, KM-46 - Costa e Silva – Fone: (084) 3315-2180 / 3314 9856
CEP: 59600-970
e-mail: dp@uern.br

RESUMO EXPANDIDO

DADOS CADASTRAIS DO PROJETO


Projeto de Pesquisa (Título do Projeto)

Aplicação do Modelo Vetorial de Correção de Erro (VECM) para oferta de exportação do Melão Fresco
do Rio Grande do Norte no período de 2000 a 2018
Pesquisador Responsável

Herica Gabriela Rodrigues de Araújo Ribeiro


Faculdade/Campus Departamento e-mail
hericaaraujo@uern.br
Ciência Econômicas/Assú Economia eco.araujoherica@gmail.com

1. RESUMO EXPANDIDO DO PROJETO


Nos últimos anos, ocorreu uma crescente demanda de frutas in natura, e essa demanda tem impulsionado
o aumento da produção e das exportações dos principais países ofertantes, dentre os quais, a China, a
Índia e o Brasil que, juntos, respondem por 45,9% do total mundial e têm suas produções destinadas
principalmente aos seus mercados internos (BRASIL, 2017).

O Brasil ocupa grande espaço no mercado mundial de frutas. O segmento brasileiro de fruticultura possui
uma posição de destaque contribuindo para a geração de empregos, impostos e divisas. Atualmente, o
melão ocupa posição de destaque na pauta de exportações nacionais, sendo a fruta mais exportada pelo
Rio Grande do Norte. Sua produção é concentrada nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia.
Tais estados investiram na dinamização e expansão da produção deste produto, mas nessa pesquisa a
ênfase se dará somente para o estado potiguar. Objetiva-se estimar uma função de oferta de exportação do
melão fresco por meio de um Modelo Vetorial de Correção de Erros (VEC).

O modelo empírico a ser testado é a função de oferta de exportação que é composta por uma vasta
combinação de variáveis explicativas potenciais, dada a multiplicidade de fatores que podem afetar a
capacidade, bem como a disposição dos produtores de determinado país em produzir e exportar seus
produtos. A capacidade produtiva do setor exportador constitui relevante condicionante das quantidades
ofertadas por um país. Desse modo, é provável que um índice apropriado de capacidade produtiva, como
a produção interna, seja capaz de explicar parcela significativa da evolução da oferta de exportações,
principalmente no que tange ao seu comportamento tendencial.

LnExpt + LnRr+ LnPet + LnPdt + Lne (14)

onde:
Expt é o volume de exportações de Óleo Bruto;
Rr é a Renda Relativa;
Pet é o Preço de Exportação;
Pdt é o Preço Doméstico
Lne é a Taxa de Câmbio

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 909
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As exportações de melões frescos são referentes a quantidade mensal exportada obtidas na base de dados
comércio exterior brasileiro (ComexStat) (2019). A taxa de câmbio (média comercial mensal de compra)
utilizada é disponibilizada pelo Instituto de Pesquisa em Economia Aplicada (IPEA, 2019). A renda
relativa é calculada dividindo o valor das importações mundiais em dólares, referentes aos dados do
Banco Mundial (WORLD BANK, 2019), pelo PIB do Estado em dólares. Os preços de exportação do
melão são obtidos a partir da divisão do valor mensal exportado em dólares pela quantidade mensal
exportada pelo Rio Grande do Norte e convertidos em reais a partir de dados da taxa de câmbio nominal
divulgados pelo Banco Central do Brasil disponíveis na base de dados do IPEA. Os preços internos do
melão são divulgados pelo agrolink (AGROLINKFITO, 2018).

O período de análise da pesquisa será de janeiro de 2000 a dezembro de 2018 e os testes estatísticos e as
estimativas serão analisados por meio do software livre R.

O resultado da oferta de exportação de melão para o Rio Grande do Norte é evidenciada pela tabela
abaixo.
Tabela 1 - Estimativas do Modelo de Correção de Erros (VEC)

Variável Desvio-
Coeficiente Estatística t
explicativa Padrão
Exportação de
Melão Amarelo 1.000.000
Renda Relativa 0.037724 -0.11482 0.32855
Preço Externo do
Melão Amarelo 0.844378 -0.203 4.15944
Preço Domestico
do Melão
Amarelo -4.540290 1.55970 -2.91100
Taxa de câmbio -0.240814 -0.0737 -3.26745
Fonte: Dados da pesquisa.

Os resultados dos coeficientes do modelo ajustado apresentaram sinais esperados, exceto o do preço
de exportação de papel (Tabela 1). Constatou-se que um aumento de 1% na renda relativa dos países
consumidores do melão amarelo, acarreta um aumento de 0,037% nas exportações nacionais do produto.
Esse resultado é confirmado por Penha e Alves (2018), pois no caso potiguar, apesar do fator
competitividade ter tido importância em alguns períodos, o crescimento do comércio mundial foi uma das
principais fontes de crescimento efetivo. Blanchard (2007) evidencia que as exportações dependem
diretamente da renda dos países e também da taxa de câmbio.

Um acréscimo de 1% no preço externo do melão amarelo leva a um acrescimento de 0,844%, na


oferta de exportação de melão do estado. É importante ressaltar que no mercado de melão, há recuperação
dos preços da fruta quando há menor oferta no atacado, segundo Cepea (2016).

Um aumento de 1% no preço interno do melão reduz 4,5% às exportações potiguares de melão.


Assim, se o preço interno do melão aumenta, quando comparado com o externo as empresas vão optar por
vender sua produção internamente. Assim, entende-se que os preços, os custos e a produção são
importantes para oferta de melões. Outra variável importantíssima para a oferta será a taxa de câmbio.

Sobre a taxa de câmbio, verificou-se que uma desvalorização cambial de 1%, aumenta as
exportações nacionais em 0,24%. Assim, a adoção de uma taxa de câmbio que valorize a moeda nacional

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 910
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pode apresentar consequências danosas para o segmento de fruticultura do Estado potiguar.

Penha & Oliveria (2015) apontam para os ganhos de competitividade do estado do Rio Grande do
Norte nas últimas duas décadas. No entanto, os autores destacam aspectos macroeconômicos, como
câmbio e alterações geopolíticas que favoreceram a inserção potiguar no comércio internacional.
Em relação aos choques de impulso resposta foi obtido o gráfico 1 com as figuras de cada uma das
variáveis analisadas.

Com base no gráfico 3 figura 1 e 2 mostra o comportamento da variação do erro de previsão para o
quilograma, correpondendo a 0,19% dos choques são correspondentes a quilograma exportadas do melão
para o primeiro mês, esse foi seu maior impacto, já seu menor impacto aconteceu no segundo mês
(0,07%), depois reduziu- se para 0.05% e a partir do quinto mês manteve-se constante. A renda, a taxa de
câmbio e o preço externo tenderam para zero.
A análise do gráfico 3 figura 3 mostra que quando ocorre uma variação do erro de previsão no
preço externo há um impacto de 0,14% dos choques na oferta da fruta entre o primeiro e segundo, mas
logo o choque se dissipa e não pendurar. A renda, a taxa de câmbio e o quilograma tenderam para zero.
Na figura 4 do gráfico 3, a variação do erro de previsão para da taxa de câmbio se dá por 0,13% da
taxa de câmbio no primeiro mês, nesse tem-se o maior impacto, no segunto mês caiu para 0,05%, manteu-
se crescente até o quarto mês, a qual obteve quase 0,08%, após deve um decrescimento no quinto mês e
se manteve constante com aproximadamente 0,07%. O volume de exportações e o preço externo
obteveram resultados quase semelhantes, apenas no segundo mês obtiveram -0,01% registando o menor

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 911
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

impacto, após isso o volume de exportações obteve resultados um pouco mais elevados que o preço
externo, a renda teve um crescimento até o terceiro mês, resultando 0,03%, teve um pequeno declínio do
terceiro ao quarto mês e permaneceu constante com resultados aproximados de 0,015%.
Dessa forma, é importante ressaltar que quando foi dado um choque nas variáveis estudadas a que
mais impactou as demais foi nessa ordem a taxa de câmbio, o preço externo e o volume de exportações de
melão.
As considerações finais sobre o estudo indicou que a Fruticultura, mesmo tendo uma ampla gama de
espécies cultivadas, apresenta um rol das principais frutas produzidas restrito, tanto nos âmbitos mundiais,
nacionais e no Rio Grande do Norte, o melão amarelo tem destaque na balança comercial, sendo
responsável por empregos e renda para o estado. Foi possível verificar através dos parâmetros estimados
uma relação de longo prazo entre as variáveis do modelo. As variáveis: preço de exportação do melão, a
taxa de câmbio e o volume de exportação apresentaram comportamentos condizentes com o modelo
teórico. Portando, os resultados dessa pesquisa possibilitaram inferir que essas variáveis são
determinantes importantes da oferta de exportação de melão para o Rio Grande do Norte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGROLINK- AGROPECUARIA. Cotações de preços. Disponível em:<


https://www.agrolink.com.br/cotacoes/frutas/melao/>. Acesso em 4 Abr. 2019.

BLANCHARD, Olivier. MACROECONOMIA. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - CEPEA. Oferta x Preço de


melão. Disponível em:< https://www.hfbrasil.org.br/br/oferta-x-preco-de-melao.aspx>. Acesso em 10 jun
2019.

COMÉRCIO EXTERIOR ESTATISTICA (COMEXSTATS). Importação e Exportação em Geral.


Disponível em:< http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home>. Acesso em: 15 de Jan. de 2019

INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA ( IPEA). Taxa de câmbio real. Disponível


em:< http://dados.gov.br/dataset/ipeadata>. Acesso em 12 de Fev. de 2019.

PENHA, THALES AUGUSTO MEDEIROS; ALVES, HELDERLANE CARNEIRO. Desempenho das


exportações do melão potiguar e cearense: uma análise de constant market share. Revista de Estudos
Sociais, V.20, n.41, 2018.

PENHA, Thales Augusto M.; OLIVEIRA, P. R. S.. A evolução do comércio agroalimentar mundial e
seus impactos no Polo Açú-Mossoró: uma abordagem de redes. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, 53, 2015, João Pessoa.
Anais… 2015.

WORLD BANK. Open data. Disponível em:< https://data.worldbank.org/indicator>. Acesso em 10 mar.


2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 912
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

APOSENTADORIA PARA OS PROFESSORES E


PROFESSORAS DA UERN: CAMINHOS E DESAFIOS PARA
ACESSO AO DIREITO

Paula Isadora Almeida1; Rivânia Lúcia Moura de Assis2.

PALAVRAS-CHAVE: Previdência Social; Regime Próprio de Previdência no RN;


Direito.
INTRODUÇÃO
Nossa pesquisa é decorrente de estudos investigativos sobre a previdência dos
servidores públicos do Estado do Rio Grande do Norte, juntamente com o desejo de
conhecer e investigar os desafios percorridos pelos/as docentes da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN) para acessarem seu direito a aposentadoria.
A previdência social dos servidores públicos do estado do Rio Grande do Norte
teve início no ano de 1962 em 1º de abril, por meio da Lei Estadual n.º 2.278. A autarquia,
vinculada à Secretaria do Estado da Administração e dos Recursos Humanos (SERAH),
o Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do Rio Grande do Norte (IPE). Em
2005 o IPE é extinto e os servidores vinculados ao Instituto são transferidos para o recém
criado Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do Rio Grande do Norte
(IPERN), trata-se de um Regime Próprio de Previdência Social do RN (RPPS/RN);
oferecendo cobertura, em relação aos beneficiários, de aposentadoria por invalidez,
aposentadoria compulsória, aposentadoria voluntária por idade e tempo de contribuição,
dentre outros. Cabe destacar que em 2005 a previdência do Regime Próprio dos
Servidores do RN passou por uma reforma com base na reforma que ocorreu em 2003 no
âmbito da previdência dos servidores públicos federais.
Deste modo, objetivamos com essa pesquisa analisar os desafios enfrentados pelos
professores da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte para a concretização de

1. Estudante do curso de Serviço Social do Departamento de Serviço Social da Universidade do


Estado do Rio grande do Norte; e-mail: paulaisadora2008@hotmail.com
2. Professora do Departamento de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; Coordenadora da Pesquisa Aposentadoria para os professores e professoras da UERN:
caminhos e desafios para acesso ao direito; e-mail: rivanialma@hotmail.com

sua aposentadoria. Consideramos importante e relevante compreender os caminhos


percorridos pelos/as professores/as para suas aposentadorias, bem como perceber o papel

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 913
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

institucional da UERN no apoio aos/as professores/as em curso de aposentadoria. Para


tanto, procuramos como sujeitos da nossa pesquisa professores e professoras que se
aposentaram em 2019. Por fim, cabe destacar o nosso compromisso em dar ampla
divulgação dos resultados dessa pesquisa para a comunidade acadêmica a fim de
contribuir para melhor gestão e organização dos servidores públicos no acesso a
previdência.
METODOLOGIA
A construção de um projeto de pesquisa parte de uma questão que desejamos
investigar, obter mais conhecimento e trazer resultados que possam influenciar outras
investigações. Assim, a metodologia “é um instrumento que servirá como guia para as
ações de estudo proposto” (DESLANDES, 1994, p. 31). Adotamos o método o
materialismo histórico e dialético para analisar os fatos ancorado na perspectiva de
totalidade, levando em consideração a contradição e a processualidade das relações entre
o singular, o particular o e universal.
Iniciamos com uma pesquisa documental com a qual analisamos a legislação da
previdência dos servidores públicos do RN; as instruções normativas do IPERN; os
documentos oficiais do estado que tratam da previdência e alguns documentos dos
sindicatos de servidores públicos sobre matéria de previdência. A investigação dos
citados documentos utilizou os sítios eletrônicos, bem como matérias de jornais e revistas.
A análise teve por base os seguintes aspectos: alterações nos direitos dos servidores
públicos do estado do Rio Grande do Norte, medidas governamentais que impactam na
previdência, e as consequências para os trabalhadores e trabalhadoras do referido estado.
A pesquisa de campo foi realizada com professores e professoras da UERN.
Iniciamos com uma pesquisa exploratória para identificar os/as professores/as que se
aposentaram em 2019 e encontramos um total de dezesseis professores/as. Deste
quantitativo somente cinco conseguiram responder a pesquisa. Pretendíamos realizar uma
entrevista semi-estruturada e gravada com esses docentes, mas devido ao contexto de
pandemia da Covid-19 não foi possível realizar as entrevistas como tínhamos planejado.
Devido essa impossibilidade optamos por aplicar um questionário que foi enviado por e-
mail para os/as professores/as aposentados/as após contato telefônico realizado para
explicar a pesquisa. Os/As docentes responderam o questionário e enviaram de volta
também via e-mail e assim conseguimos coletar os dados necessários para a pesquisa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 914
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A pesquisa é de cunho qualitativo, pois compreendemos ser essa a melhor forma


para possibilitar uma aproximação com a essência dos fenômenos, evitando as armadilhas
da aparência.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De primeiro momento descobrimos que a UERN tinha autonomia para realizar a
análise e concessão das aposentadorias dos docentes, o setor responsável era a Pró-Reitora
de Gestão de Pessoas (PROGEP). Essa pró-reitoria era responsável pela análise da
situação do/a docente para comprovar se teria cumprido todas as regras de aposentadorias
e em menos de um mês era emitido o parecer sobre o deferimento ou indeferimento da
aposentadoria. Entretanto, no período mais recente a UERN deixa de ser responsável por
essa análise e o IPERN passa a realizar todo o processo de administração das concessões
de aposentadorias dos/as servidores/as da UERN.
Os sujeitos escolhidos para essa pesquisa são professores/as aposentados/as da
UERN, o público alvo consiste em cinco docentes, um homem e quatro mulheres que se
encontram na mesma situação de aposentadoria, em sua maioria, deram início a carreira
acadêmica na instituição a partir do ano de 1986. De acordo com a pesquisa foi possível
identificar que a transferência do processo de análise da aposentadoria para o IPERN não
trouxe benefícios para os/as docentes, pois o tempo de análise dos processos aumentou
bastante o que, segundo os/as entrevistados/as gerou incertezas, ansiedades, preocupações
e duvidas além de relatos de que gostariam que a UERN estivesse presente nesse
momento, tendo em vista, que os docentes passaram muitos anos de suas vidas dedicados
à instituição.
Todos/as deram entrada no processo de aposentadoria de forma voluntaria, mas
destacaram que estavam preocupados com as reformas da Previdência Social e queriam
evitar a perda de direitos, caso demorassem mais um ano para se aposentar. Como
também, tiveram dificuldades com o processo no IPERN, principalmente quanto a
demora na análise, pois o processo tramitava de uma pasta pra outra sem que os docentes
soubessem exatamente onde se encontrava o processo. Os/as docentes apontam que seria
interessante que a UERN tivesse uma equipe para ajudar durante o trâmite,
principalmente na organização e coleta dos documentos necessários, assim como
esclarecer dúvidas e auxiliar durante o período.
Os/as docentes em sua maioria relataram não sentir receio ou medo de se
aposentar, mas ressaltaram que devido a situação política e econômica do país não
possuíam uma segurança de que os direitos já garantidos seria mantidos; além disso

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 915
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sentiam insegurança de estabilidade salarial, podendo sofrer congelamentos e retirada de


outros direitos. Esse contexto, que se agrava, tem gerado inúmeras incertezas,
instabilidade e inseguranças para o conjunto da classe trabalhadora. Um/a dos/as
entrevistados/as ressalta que: “a aposentadoria é um momento importante das nossas
vidas, precisamos desse momento para olhar para nós mesmas e decidir por outros
caminhos.” Agora, aposentados, eles/elas sonham em aproveitar a vida de maneiras
diferentes, fazerem o que desejar, ir aonde quiserem, investir em novos projetos.
Questionamos a opinião deles também sobre a reforma da Previdência Social do Rio
Grande do Norte, todos/as estão de acordo que as mudanças propostas não trarão
benefícios para os servidores públicos, representando uma extensão da reforma do
Governo Federal, causando uma queda na qualidade de vida do/a aposentado/a.
CONCLUSÃO
Identificamos que o processo de aposentadoria pode demorar entre quatro a seis e
que essa demora ocasiona ansiedades para os/as professores/as demandantes. O IPERN e
a UERN deveriam investir na capacitação dos profissionais para que possam trabalhar em
conjunto e de forma mais eficaz, evitando o acumulo ou mesmo engavetamento de
processos de aposentadoria por muito tempo. Percebemos ainda que as reformas da
Previdência significam um ataque a aposentadoria retirando direitos já garantidos e,
principalmente, acelerando o pedido da aposentadoria dos professores/as por medo de
serem prejudicados com perdas advindas destas reformas. Com a pesquisa percebemos
também que os recém aposentados/as nutrem vários sonhos a serem conquistados.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico por conceder a bolsa de pesquisa e tornado esse projeto possível. A
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e docentes por terem contribuído para o
desenvolvimento desta pesquisa fornecendo os documentos, informações e contatos que
possibilitaram os resultados obtidos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Projeto de Emenda Constitucional nº 06 de março de 2019 (PEC 06/2019).
DESLANDES, Suely Ferreira. Pesquisa social: teoria, método e criatividade / Suely
Ferreira Deslandes, Otavio Cruz Neto, Romeu Gomes; Maria Cecília de Souza Minayo
(organizadora). – Petrópolis, RJ: Voraz, 1994.
RIO GRANDE DO NORTE. Lei 8633 de 05 de fevereiro de 2005.
RIO GRANDE DO NORTE. Lei Complementar 308 de 25 de outubro de 2005.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 916
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AS NOVAS FORMAS DE ASSISTIR TELEVISÃO ONLINE: ESTUDO DE


CASO PRODUÇÃO DE AUDIOVISUAL NO ÂMBITO DA TV COM

Rafaela Lucio da Silva1 Marco Lunardi Escobar22

Palavras-chave: televisão universitária. Programação. Interação.

INTRODUÇÃO
Este projeto PIBIC buscou analisar um fenômeno que surgiu para substituir a tradicional
maneira de se assistir televisão, via transmissão satélite ou cabo. A forma on demand de se assistir
vídeos pela internet, seja em sites, plataformas ou redes sociais, fez surgir um novo telespectador
internauta. Trata-se de um consumo de material audiovisual, onde não se depende mais da grade
televisiva de programação. Esta pesquisa analisou preferências deste usuário, seu comportamento
e anseios a partir da utilização desta tecnologia do streaming ( assistir vídeos postados online).
Pesquisa-se o papel da televisão como veículo de comunicação que vivencia desafios porque as
novas tecnologias revolucionam a forma como nos entretemos e nos comunicamos. E com diversas
possibilidades de programações diferenciadas fornecidas através da internet, cada vez menos as
pessoas se contentam em assistir apenas a TV aberta ou a canais de assinatura. Se estudou a
perspectiva de mercado e audiência após instalação de uma produtora/emissora de televisão
laboratorial para a UERN, uma vez que o Departamento de Comunicação Social criou a TV COM,
projeto de extensão institucionalizado, que cria um canal para divulgação dos trabalhos acadêmicos,
bem como os resultados de pesquisa e extensão de toda a universidade, e que nem sempre chegam
ao conhecimento dos públicos interno e externo da instituição.

METODOLOGIAS
Neste projeto optou-se pela pesquisa descritiva, uma vez que serão analisados os fatos
inerentes à nova televisão laboratorial do DECOM por meio de registros, estudos e observações que
irão embasar o trabalho positivamente por meio das conclusões do próprio pesquisador.
A coleta de dados utilizou a observação sistemática, possibilitando ente nder o público da TV COM,
para identificar e descrever as características dos fenômenos que motivam as pessoas a assistirem ao
canal universitário a partir de técnicas de coleta de dados, como o questionário e a observação.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

1
Estudante do curso de Jornalismo do Departamento de Comunicação Social da Universidade do Rio Grande do Norte
e-mail: rafaelalucio@alu.uern.br
2
Professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade do estado do Rio Grande do Norte, e -mail:
marcoescobar@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 917
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

De acordo com Scolari (2009) as características relevantes da hipertelevisão seriam o


consumo não- linear ou assincrônico, a fragmentação das telas, a aceleração do ritmo, o uso do
tempo real na ficção, a intertextualidade, a ruptura da linearidade, a multiplicação de
personagens e programas narrativos, a televisão de “muitos para muitos”, como o YouTube, e a
utilização de novas telas. As transformações possibilitaram que gêneros e formatos que tem sido
exclusivos do meio televisivo nas últimas décadas migrassem para internet.
No estudo da TV COM, percebe-se que a emissora se insere nessa nova forma de se fazer
mídia e de se produzir televisão para os seus telespectadores online que a acompanham as
novidades pelo instagram e veem a integra de seus programas e matérias no Youtube ou no IgTV (a
ferramenta televisiva do Instagram), sendo assim uma webtv universitária, que produz conteúdo
para seu público alvo (estudantes, professores) de acordo com seus interesses e mantendo a
padronização de uma emissora que seria a de se produzir reportagens sobre o que está em alta ou o
que precisa ser divulgado no campus de sua Dessa forma, o projeto permitiu identificar quais os
conteúdos que mais interessam ao público do canal. Sem informações acerca de suas ambições e
suas preferências não será possível identificar quais serão os temas e a linguagem que deverá será
adotada para obter êxito na comunicação estabelecida com este novo público. Com a criação da
nova emissora - TV COM – necessário que haja uma identificação que não seja exclusiva com o
público estudantil. Os discentes e docentes devem ser tratados como receptores e ao mesmo tempo
como produtores de conteúdos. A participação do público por meio da televisão na era transmídia
traz uma tecnologia cada vez mais avançada, necessitando de formas de abordagem de conteúdos
cada vez mais adaptadas para este meio. Percebe-se que as formas de se assistir televisão se
expandiram, existem as tradicionais com os televisores e se us canais mas também existem os
aplicativos das smartvs, celulares, notebooks, etc, criando assim novas formas de se consumir
conteúdo televisivo, principalmente quando se trata de uma emissora.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante 07 meses entre 2019 e 2020, baseados em observações, realizações de análises e
enquetes e observando o comportamento do nosso público, observamos o quanto eles são engajados
é como determinados tipos de conteúdos eles tem uma interação maior com nossas mídias socia is
algumas publicações nos fez perceber como é importante essa interação é feedback para
continuamos com o trabalho.
A partir de uma determina publicação que foi feita no dia cinco de dezembro de 2019, sobre
intervenção artística no âmbito da universidade, com uma egressa, Sabrina Bezerra, do curso de
Publicidade e Propaganda da UERN. Enquanto artista, a publicitária realizou uma intervenção a
sobre espaços urbanos. Abordou a representatividade feminina dentro da universidade, o que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 918
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

interessou a TV COM a gravar uma matéria, o que repercutiu com um alcance de 577 seguidores.
Destes novos internautas, 11% não seguiam o Instagram da TV COM, e passaram a seguir depois
dessa publicação, comum total de 709 visualizações na época (2019).
Depois dessa publicação percebeu-se que o público da TV se identificava com diversos
assuntos é era um publico bastante aberto para conteúdos com maior diversidade possível. Dessa
forma, passou-se a observar que os conteúdos eram bem aceitos, com alcances das publicações
cada vez maior. Assim, aumentaram-se as enquetes para buscar o melhor conteúdo ao novo
publico.
Figura 1- Reprodução de enquete no Instagram

No dia 26 de julho de 2020 a TV COM, por sugestão desta pesquisa, lançou mais uma
enquete. Procura-se saber quis saber que tipo de matéria era preferência Tinha o formato de
resposta objetiva, com a seguinte pergunta “que tipo de conteúdo você prefere ver na TVCOM’ . As
quatro opções eram: “no âmbito da universidade, local, regional ou nacional. Teve-se uma interação
de 216 contas alcançadas com a opção de “âmbito da universidade”, e apenas 08 seguidores
votaram em conteúdos regionais, e apenas 05 indicaram para assunto nacional. A opção menos
votada foi temas locais, com somente 03 indicações na enquete.
Com esses resultados pode-se perceber como é importante a pesquisa e buscar opinião dos
seguidores, de se estar em contato e interagindo reciprocamente. Com isso percebeu-se que o
publico que segue o perfil da TV é bastante fiel ao tipo de conteúdos que o projeto de extensão traz
a este telespectador.
A TV COM na tentativa de atingir mais nossos seguidores faz suas atividades de forma
colaborativa, e confirmou-se que publico tinha uma ligação muito grande com assuntos no âmbito
da universidade, começamos a produzir conteúdos em parceria com um projeto de extensão do
Departamento de Comunicação (DECOM), que é um laboratório de comunicação do urbano,
conhecido como Padoca, onde qualquer interessado tem a oportunidade de participar de
intervenções artísticas. Como o público da TV COM se identifica com esse tipo de conteúdos, em

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 919
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

parceria com o Laboratório Urbano Padoca iniciou-se um quadro de programa chamado “Prosa na
Padoca”. As publicações do Prosa na Padoca são bem mais visualizadas que as demais, e possuem
grande interação com as redes sociais do projeto TV COM.
Em agosto de 2018, o perfil @tvcom tinha cerca de 300 seguidores, após a frequência de posts,
enquetes, sorteio e participação em eventos diversos, a TV COM se encontra em Agosto de 2020
com cerca de 2.577 seguidores. Foi perceptível também aumento de inscritos e visualizações nos
vídeos postados no Youtube com as prévias que eram postadas no instagram para anunciar uma
nova matéria.

CONCLUSÕES
Após sete meses de observações baseadas nos objetivos de atingir um público-alvo (estudantes
e professores) e comunidade em geral, que descobriu o perfil por meio das próprias redes sociais
conclui- se que tivemos um publico misto que gosta de variações de conteúdos no âmbito da
universidade, com representatividade cultural, social, e intervenções artista, assim sabendo que esse
publico estar cada vez mas fiel por conta dos conteúdos postados em nossas redes socia is, enquetes
que foram feitas.
As redes sociais da TV COM tiveram considerável aumento no engajamento e interação,
depois que passou-se a ouvir a opinião dos seguidores, o que fez com que estes internautas se
sentissem à vontade para sugerir que tipo de conteúdos desejavam assistir. Este fato traz um
resultado positivo em interações com público e impulsiona as publicações.
Nota-se a importância de estar sempre em diálogo com o telespectador, seja por enquetes ou
pedidos de pautas. Para que se tivesse um resultado positivo era preciso esta conexão, e para
conhecer as opiniões dos seguidores nas enquetes deram o retorno desejado. Vale destacar a
questão de se atender o telespectador/internauta ao responder às mensagens que o público enviava.
Foi um fundamental para o incentivo das equipes da emissora, para poder produzir as pautas
solicitadas, o que permitiu um desenvolvimento e alcance de interação com o publico.

AGRADECIMENTOS
À concessão de bolsa PIBIC da UERN . Aos internautas e membros da TV COM que
participaram das atividades propostas durante a realização da pesquisa.

REFERÊNCIAS

SCOLARI, Carlos A. The Grammar of Hypertelevision: An Identikit of Convergence-Age Fiction


Television (Or, How Television Simulates New Interactive Media). In: Journal of Visual Literacy.
2009. Vol. 28 Issue 1, 28-50

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 920
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ASSISTENTES SOCIAIS NAS LUTAS EM DEFESA DA SAÚDE


PÚBLICA NO BRASIL (1986-2002)
Hanany Brandão Pereira1; Mirley Jordana Fernandes da Silva2; Iana Vasconcelos Moreira
Rosado3; Sâmya Rodrigues Ramos4; Aione Maria da Costa Souza5

Palavras-Chave: Serviço Social. Sistema Único de Saúde. Reforma Sanitária. Lutas sociais.

INTRODUÇÃO

O Serviço Social é uma especialização do trabalho coletivo inserida na divisão social e


técnica do trabalho, sendo uma profissão que se debruça sobre as expressões da questão social
oriundas do modo de produção capitalista. A atuação de assistentes sociais no Brasil encontra-
se em sua grande maioria na Seguridade Social, considerada como um dos mais importantes
avanços no que diz respeito a proteção social atendendo a históricas reivindicações da classe
trabalhadora, abrangendo as políticas de Saúde, Assistência Social e Previdência Social.
No âmbito da saúde, a inserção de assistentes sociais ocorreu nos primórdios da
profissão, na década de 1930, se expandindo no decorrer dos anos, notadamente a partir da
implementação do Sistema Único de Saúde (SUS). Durante longo período, a formação e o
trabalho do/a assistente social estiveram marcados por uma perspectiva conservadora, o que se
expressou também na atuação destas(es) profissionais na saúde. Entretanto, no contexto de crise
da ditadura militar no Brasil, em fins da década de 1970 e início dos anos 1980, tem impulso o
processo de revisão crítica da profissão e sua vinculação aos interesses da classe trabalhadora,
o que se reflete em alterações na relação do Serviço Social com as lutas em defesa dos direitos
sociais, incluindo-se a saúde.
Neste estudo, realizamos um breve panorama da Política de Saúde no Brasil e em
paralelo a isso, abordamos a inserção dos/as assistentes sociais nessa política, ressaltando a
atuação desses/as profissionais nas lutas em defesa da saúde pública no Brasil no período entre
a realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, considerada um marco na saúde
pública brasileira, até o término do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2002, período em
que se difundiu um redirecionamento ao Estado com a implementação da contrarreforma
neoliberal no Brasil, acarretando profundas contradições à materialização do SUS.
O objetivo geral da pesquisa foi resgatar a inserção de assistentes sociais nas lutas em
defesa da Saúde Pública no Brasil no período de 1986 a 2002. E para isso buscamos refletir
sobre a participação dessas/es profissionais na construção do projeto de Reforma Sanitária,
identificar sua atuação no processo da construção do controle social em saúde e analisar o seu
protagonismo em movimentos coletivos contra a privatização da saúde no Brasil.

METODOLOGIA

1
Estudante do curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; participante do Grupo
de Estudos em Serviço Social, Trabalho e Lutas Sociais; e-mail: hananybrandao@gmail.com
2
Assistente Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; participante do Grupo de Estudos em
Serviço Social, Trabalho e Lutas Sociais; e-mail: mirleyjordanaaa@gmail.com
3
Professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; líder do Grupo
de Estudos em Serviço Social, Trabalho e Lutas Sociais; e-mail: ianavasconcelos@uern.br
4
Professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; pesquisadora do
Grupo de Estudos em Serviço Social, Trabalho e Lutas Sociais; e-mail: samyarr@uol.com.br
5
Professora do Programa de Pós-graduação em Serviço Social e Direitos Sociais da UERN; pesquisadora do Grupo
de Estudos em Serviço Social, Trabalho e Lutas Sociais; e-mail: aionesousa@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 921
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O processo da pesquisa foi norteado pelo materialismo histórico dialético, por


compreendermos que este se constitui um método de interpretação da realidade que nos
possibilita compreender os fenômenos dentro de uma totalidade concreta, ou seja, o sentido
histórico, as contradições e determinações que permeiam o contexto social em que se inserem.
Para tanto, o presente estudo valera-se da abordagem de cunho qualitativo que, como
Martinelli (1999, p. 23) afirma: “É em direção a essa experiência social que as pesquisas
qualitativas, que se valem da fonte oral, se encaminham, é na busca dos significados de
vivências para os sujeitos que se concentram os esforços do pesquisador [...]”.
Deste modo, fizemos uma revisão bibliográfica das categorias estudadas, subsidiadas
em autores como Matos (2013), que discorre sobre a trajetória do Serviço Social na área da
saúde. Além disso, o autor ressalta a aproximação da categoria de assistentes sociais com
métodos de estudos críticos, articulando-se às lutas em defesa da saúde pública, em consonância
com o projeto ético-político do Serviço Social. A autora Bravo (et al, 2017) nos traz a reflexão
sobre a atuação do Serviço Social na saúde, atrelada as discussões sobre os movimentos sociais
e o avanço destes, como forma de resistência na política de saúde. Outrossim, as referidas
autoras abordam sobre a construção das lutas em defesa da saúde pública, organizadas pela
Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde (FNCPS).
Na pesquisa de campo, definimos, à priori, 5 (cinco) profissionais para participar de
entrevista semiestruturada, sendo uma de cada região do Brasil – Nordeste, Norte, Sul, Sudeste,
Centro-Oeste. Porém, devido as dificuldades de contato com assistentes sociais em algumas das
regiões, intensificadas no contexto da pandemia da COVID-19, foram realizadas entrevistas
com 3 (três) profissionais, sendo elas da região Nordeste, Sul e Centro-Oeste.
Como instrumento de coleta de dados, elaboramos um modelo de roteiro de entrevista
semiestruturada com 6 (seis) questões. Em relação ao processo para entrevistar as profissionais,
foi possível sua realização de forma presencial com a assistente social da região Nordeste em
evento, no período antes da pandemia da COVID-19. As entrevistas com profissionais da região
Sul e Centro-Oeste, foram realizadas de forma virtual, encaminhadas pelo e-mail.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisar a participação de assistentes sociais na construção da reforma sanitária requer


considerar a conjuntura do final da década de 1970 e início da década de 1980, permeada pela
crise no regime militar e emergência de um ciclo de crise econômica que perdura até os dias
atuais, como também os novos direcionamentos para a sociedade brasileira e o Serviço Social.
Foi nesse contexto de efervescência política e econômica que o movimento sanitário se
fortaleceu e alcançou grande participação popular bem como sindical nos debates em relação
as condições de vida dos/as trabalhadores/as, contribuindo com propostas que contemplassem
o direito à saúde pública e universal. Essa ampla participação e mobilização de diversos setores
da sociedade resultou na 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, considerada um marco
na saúde pública brasileira, que dispõe em seu Relatório Final a saúde como um direito,
atestando que a mesma não é apenas ausência de doença mas é resultante de diversos fatores de
condições de vida, sejam físicas, mentais, sociais e/ou econômicas. Em meio a um cenário de
mobilizações populares e disputas entre o Projeto de Reforma Sanitária e o Privatista, atendendo
as reivindicações do movimento sanitário, a Constituição Federal de 1988 regulamentou “a
integração dos serviços de saúde de forma regionalizada e hierárquica” (BRAVO e MATOS,
2006, p.7), implementando o SUS, declarando a saúde como um direito de todos e dever do
Estado, tendo seu marco legal nas Leis n° 8.080/1993 e n° 8.142/1993, ressaltando

a democratização do acesso; a universalização das ações; a melhoria da qualidade dos


serviços, com a adoção de um novo modelo assistencial pautado na integralidade e
equidade das ações; a democratização das informações e transparência no uso de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 922
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

recursos e ações do governo; a descentralização com controle social democrático; a


interdisciplinaridade nas ações (CFESS, 2010).

Com base na revisão da literatura, pode-se depreender que o Serviço Social recebeu
influências dessa conjuntura, visto que estava atravessando um processo interno de revisão, de
negação do Serviço Social tradicional (intenção de ruptura) e aproximação com temáticas
embasadas na tradição marxista, “esta década é fundamental para o entendimento da profissão
hoje, pois significa o início da maturidade da tendência atualmente hegemônica na academia e
nas entidades representativas da categoria” (BRAVO e MATOS, 2006, p.8). Vale salientar que,
nesse período, houve uma ampliação das produções e debates teóricos no âmbito acadêmico,
apresentações de trabalhos em saúde com viés crítico em eventos e congressos, no entanto,
pouco se observou esse processo de renovação da profissão no cotidiano institucional.
Desse modo, Bravo e Matos (2006) destacam que o Serviço Social na área da saúde
chega à década de 1990 com lacunas no que diz respeito ao trabalho nos serviços, sem
articulação com os setores progressistas em saúde, inexistindo vínculos da categoria com o
Movimento Sanitário. Esse cenário se modifica ao decorrer da década de 1990, quando houve
o fortalecimento do projeto ético-político da profissão, o qual coaduna com os princípios da
reforma sanitária, favorecendo a inserção de assistentes sociais nas lutas pela efetivação do
SUS. Ambos os projetos se posicionam contra o projeto neoliberal instaurado nessa década,
ainda vigente na sociedade brasileira e que ascendeu em resposta à crise do capital internacional
dos anos de 1970, submetendo os direitos sociais a lógica do capital. Esse redirecionamento do
papel do Estado, pretendia atender as requisições do setor produtivo, mediante a uma política
de ajuste pautada na redução de custos, descentralização e desresponsabilização das funções
básicas do Estado (BRAVO, 2006), restringindo os avanços no SUS. O modelo de política de
saúde vigente reflete a correlação de forças sociais. De tal modo, é imperativo o envolvimento
de assistentes socais e demais trabalhadores/as nas lutas em defesa da saúde pública.
Destarte, no período delimitado neste estudo ocorreram modificações no arcabouço
teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-político da profissão, incidentes também na
área da saúde. Assim, resgatamos esse processo a partir da análise de assistentes sociais que
participaram desses momentos de lutas em defesa da saúde pública no Brasil.
A trajetória profissional das assistentes sociais que participaram deste estudo perpassa
a inserção em diferentes áreas, destacando-se o trabalho docente e a área da saúde. Ao analisar
a participação da categoria de assistentes sociais nesse processo de construção coletiva, uma
profissional destaca que a categoria de assistentes sociais não teve inicialmente uma
participação mais efetiva na Reforma Sanitária. Por outro lado, esta entrevistada denota a
importância das mudanças incorporadas na profissão no horizonte da ruptura com o
conservadorismo, notadamente na década de 1990, para alavancarem a articulação da categoria
com as lutas em defesa dos direitos da classe trabalhadora, dentre os quais se inclui o
atendimento às necessidades de saúde. Outra profissional, referindo-se aos anos 1990,
rememora: “Lembro da participação de apenas duas assistentes sociais neste tempo. E a
contribuição foi no sentido também de qualificação dos conselheiros municipais” (entrevista
3). Embora não tenha ocorrido uma participação intensa/massiva de assistentes sociais nas lutas
pelo direito à saúde n período de forte efervescência do movimento sanitário, é importante
elucidar que a categoria não esteve alheia a este processo. Nos termos de uma entrevistada:

Naquele momento percebia o envolvimento de assistentes sociais no âmbito da saúde


de uma forma efetiva, em especial na organização dos serviços nas dimensões da
gestão e do controle democrático. Na década de 1990 no estado de Goiás, diversas
assistentes sociais ocupavam espaços significativos e contribuíram com a inauguração
de frentes de trabalho. E ainda, na assessoria e estruturação dos conselhos de saúde.
Contudo, assistentes sociais assumem compromisso com a saúde desde os anos de
1961 que temos notícias. (entrevista 2)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 923
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Todas as entrevistadas participam ou participaram de espaços de controle social na


saúde, as quais citaram tanto as conferências quanto os conselhos (municipal, estadual e
nacional), inclusive duas delas registraram participação nestes espaços integrando suas mesas
diretoras. Compreendemos que a ampliação da participação de assistentes sociais no controle
social dar-se-á em relação ao amadurecimento do Serviço Social enquanto profissão na década
de 1990, ao se aproximar de vertentes, princípios e valores voltados à defesa dos interesses da
classe trabalhadora. Por conseguinte, este salto em relação à década anterior, denota o
compromisso ético-político dos/as profissionais, a partir da incorporação da defesa dos
princípios da Reforma Sanitária, no referido tempo histórico, na área da saúde (MATOS, 2013).
Ao analisarem a participação da categoria de assistentes sociais nesses espaços
coletivos, as entrevistadas relataram o quanto tem aumentado a proporção de profissionais nesse
processo, bem como tem se constituído em participação qualificada. Nas análises das
entrevistadas, torna-se evidente o protagonismo do Conselho Federal de Serviço Social em
conjunto com os Conselhos Regionais de Serviço Social nesse processo; como também a
importância dos movimentos sociais na luta em defesa da saúde pública, na contracorrente dos
ataques historicamente deflagrados pelos representantes do capital e seus aliados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados produzidos por meio desta pesquisa confirmam que o envolvimento de


assistentes sociais nas lutas em defesa da saúde pública se fortalece significativamente a partir
dos anos 2000. Desse modo, é evidenciado o crescente protagonismo desta categoria nessas
lutas, impulsionado pelo movimento interno de renovação da profissão, ocorrido nas décadas
de 1980 e 1990, fundamental para a constituição das bases teórico-metodológica, técnico-
operativa e ético-política que alicerçam o compromisso destes/as trabalhadores/as com o SUS,
na contracorrente das fortes ofensivas que o assolam.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico – Brasil, por meio de bolsa de iniciação científica; bem como às assistentes sociais
que se dispuseram a participar das entrevistas, que foram de suma relevância neste processo.

REFERÊNCIAS

BRAVO, M. I. S.; ANDREAZZI, M. F. S. e MENEZES, J. S. B. As lutas pela saúde nos anos


2000: a participação da Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde. In: SILVA, Alexandra
X.; NÓBREGA, Mônica B.; MATIAS, Thaísa S. C. (Orgs). Contrarreforma, intelectuais e
Serviço Social: as inflexões na política de saúde. Campina Grande: Eduepb, 2017.
BRAVO, Maria Inês Souza. Política de Saúde no Brasil. In: MOTA, Ana Elizabete et al (Orgs.).
Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006. p. 88-110.
BRAVO, Maria Inês S.; MATOS, Maurílio C. Projeto Ético-Político do Serviço Social e sua
Relação com a Reforma Sanitária: elementos para o debate. In: MOTA, Ana E. et al (Orgs.).
Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006. p. 197-217.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Parâmetros para Atuação de Assistentes
Sociais na Política de Saúde. Brasília: CFESS, 2010.
MARTINELLI, Maria L. Pesquisa Qualitativa: um instigante desafio. São Paulo: Veras, 1999.
MATOS, Maurílio Castro de. Serviço Social, ética e saúde: reflexões para o exercício
profissional. São Paulo: Cortez, 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 924
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BRASIL EM TEMPOS DE PANDEMIA

Luiz Rodrigo Pires Pereira1; Gustavo dos Santos Pereira 2; Maria Audenora das Neves
Silva Martins 3.

Palavras-chave: Pesquisa. Isolamento. Ciência. Estudo. COVID-19.

INTRODUÇÃO
O assunto retratado e abordado nesse resumo expandido, provem de um problema
que estamos vivendo atualmente no mundo inteiro, que seria o problema da pandemia do
corona vírus Covid-19, que nos prende em casa em isolamento social a mais de 7 meses,
impossibilitando diversas atividades e dificultando outras mais. Levando em consideração o
problema, esse resumo tende a explicar algumas situações relacionas a algumas atividades
nesse período de distanciamento.
METODOLOGIA
Para dar continuidade à pesquisa foram recolhidos dados de diversas matérias sobre
tal problemática, problema esse, que mesmo atingindo a todos, alguns realmente sofrem mais
do que outros, devido as suas respectivas situações de vida, sempre existindo aquela parte
sem acesso à informações mais frequentes e precisas e acabam sendo mais vítimas, tanto da
própria problemática maior ou até mesmo de outras situações sejam socias e econômicas ou
políticas, como por exemplo, a escassez de recursos da população mais pobre em relação à
estudos, cuidados básicos e essenciais como saneamento, a falta disso pode acarretar em
mais casos de contágios, sendo assim de extrema precariedade a situação em que se encontra
qualquer família que não tenha condições, como é o caso de moradores de Cidade Estrutural,
região pobre de Brasília, que vivem em local com o esgoto a céu aberto, assim culminando
no contágio dos mesmos, isso devido à falta de consideração do governo em relação à esses
que sofrem mais do que nós mesmos, por não ter carteira assinada, não conseguir trabalhar
mesmo sendo extrema necessidade. Dessa forma explicando e comentando na página
Correio Braziliense em 2020, a infectologista do Hospital Brasília, Ana Helena Germoglio
ressalta:
Quanto mais ficarem em casa, mais suave a ascensão da curva. A rede
pública tem problemas, mas todos os profissionais estão dando seu máximo.
Se todo mundo fizer sua parte, reduzindo o contágio, a assistência será
melhor para todos.
A partir dos descasos, uma parte da população empatiza com vários habitantes dessa
situação e se solidarizam, como é o caso da campanha audiovisual que dá notícias e
informações sobre o vírus para população carente, que começou a ser divulgada na Paraíba.
Devido ao isolamento, o processo de pesquisa muitas vezes fica mais inacessível do
que antes para outras, considerando necessidade do uso da internet, coisa que muitos não
possuem acesso bom e frequente, certas vezes nem acesso. Porém o isolamento também cria
algumas oportunidades novas de pesquisa, aumento de o número de pesquisas sobre o
próprio isolamento, como o comportamento das pessoas antes comparados a agora, entre

1
Discente Bolsista do Programa de Iniciação Científica – PIBIC-EM. E-mail:pires.luizrodrigo@gmail.com
2
Discente Bolsista do Programa de Iniciação Científica – PIBIC-EM. E-mail: gustavocbv333@gmail.com
3
Docente do Curso de Direito. Líder do GECA – Grupo de Estudos da Criança e do Adolescente. Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. E-mail: audenoraneves@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 925
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

outras coisas, como afirma o docente da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação Alex


Primo: “Adversidades são momentos propícios ao estudo científico de uma série de questões
sociais”.
Alex iniciou uma pesquisa sobre as interações na internet durante o isolamento social.
Segundo ele, o espaço das mídias sociais tem suas particularidades, como a idealização e a
valorização de aparentes situações felizes. Nas circunstâncias atuais, alterações nos modos
de interação e situações de depressão e ansiedade têm chamado a atenção para novas
pesquisas como esta. Ele explica que a pesquisa tem o objetivo de avaliar, entre outras coisas,
se as pessoas estão conseguindo satisfazer suas necessidades de interação por esses meios e
se essas modalidades conseguem propiciar certo bem-estar a elas, Devido ao aumento
visível, Alex aponta:
A pesquisa não tem a finalidade de antever cenários, mas podemos dizer que
muitas pessoas vão mudar a relação com a conversação pela internet.
Ocorreu um aprendizado à força, o que pode ser visto principalmente com
as pessoas de mais idade, por exemplo, que se viram obrigadas a ingressar
nessa realidade.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tendo em vista vários desses cenários apresentados, nos provem o assunto decorrente
da economia brasileira durante os tempos de isolamento social que estamos vivendo a mais
de 7 meses, especialistas debatem sobre a economia, pós COVID-19, em 2020, no Fórum de
Desenvolvimento do Rio, dentre eles Paulo Vicente Alves, professor da Fundação Dom
Cabral, dizendo ele:

Estamos no fim de um desses ciclos, que já podia ser identificado por


acontecimentos como a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China,
recessões em vários países com uma série de protestos e o Brexit. Já a
pandemia é um evento imprevisível, mas que também vem ocorrendo uma
por década, só que essa veio muito mais forte, forçando o realinhamento da
geopolítica mundial e mudando estruturalmente a sociedade. É preciso
pensar fora da caixa, porque a caixa explodiu.

Considerando, essa afirmação, ainda não sabemos como agir diretamente, após o fim
da quarentena, mas por agora algumas ações podem reduzir o impacto econômico da
pandemia do COVID-19. Uma delas seria o governo ter aberto um prazo para receber
doações de computadores, notebooks e algumas outras coisas desse tipo, e essa semana
reabrindo o prazo, estendendo-o até o dia 29 de maio deste ano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, fica evidente que a pandemia do COVID-19 foi e está sendo um empecilho
na vida dos pesquisadores e cientistas do Brasil e do mundo. Pode-se observar também, que
atividades diárias tais como uma reunião se tornaram verdadeiros desafios para o
pesquisador e cientistas, fazendo com que métodos precisem ser tomados para contornar a
problemática que uma pandemia possa vir a ser.

AGRADECIMENTOS

Fica aqui registrado nosso agradecimento ao amparo e oportunidades dadas PIBIC-


EM - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, do CNPQ para alunos do

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 926
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Ensino médio, sendo instrumentalizado pela UERN – Universidade Estadual do Rio Grande
do Norte, pelo apoio financeiro em nossas pesquisas.

REFERÊNCIAS:

BRAZILIENSE, Correio. Falta de saneamento deixa população carente mais vulnerável


à Covid-19. Disponível em:
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2020/03/23/internas_economi
a,835984/falta-de-saneamento-deixa-populacao-carente-mais-vulneravel-a-covid-19.shtml.
Acesso em: 21 out. 2020.
FEDERAL, Governo. Alternativas para uma economia pós-coronavírus são debatidas
por especialistas. Disponível em:
https://www.querodiscutiromeuestado.rj.gov.br/noticias/5783-alternativas-para-uma-
economia-pos-coronavirus-sao-debatidas-por-especialistas. Acesso em: 21 out. 2020.
GOV.BR. Retomada econômica no pós-Covid: o investimento em infraestrutura como
indutor de prosperidade. Disponível em: https://www.gov.br/economia/pt-
br/canais_atendimento/imprensa/artigos/2020/retomada-economica-no-pos-covid-o-
investimento-em-infraestrutura-como-indutor-de-prosperidade. Acesso em: 21 out. 2020.
UFRGS. Pesquisa analisa as interações pela internet durante o isolamento social.
Disponível em: https://www.ufrgs.br/coronavirus/base/pesquisa-analisa-as-interacoes-pela-
internet-durante-o-isolamento-social/. Acesso em: 21 out. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 927
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CANDIDATURAS FEMININAS: MULHERES IMPRESSAS NA LEI OU


EXPRESSIVAS NO CAMPO?

Vanderlânia Crislany da Silva Ferreira1; Cyntia Carolina Beserra Brasileiro2.

Palavras-chave: Eleições, Mulheres, Partidos, Cotas, Voto.

Introdução

Passado mais de meio século da conquista das mulheres ao voto, ainda visualizamos
de maneira reduzida a participação das mulheres em cargos de disputa e assentos nas esferas
públicas. Na tentativa de rompimento de estereótipos e oportunização, a busca por incluir as
mulheres nestes espaços relegados em sua grande maioria a grupos de interesses específicos
tem se intensificado.
Um destes exemplos é a Lei 9100/95 que estabelece as normas para eleição e garante
a candidatura de mulheres no Artigo 11, Inciso 3 em, no mínimo 20% das vagas dos partidos
ou coligações. Lei atualizada em 1997, com a Lei nº 9.504 essa percentagem aumenta para
30% e torna-se obrigatória esta proporção mínima na participação que se estende para cargos
eleitos por voto proporcional. São leis que podem ser pensadas enquanto políticas de ações
afirmativas ao reconhecerem a ausência mais enfática de uma representação feminina.
No Brasil, a sub-representação encontra nestas leis um propulsor para aumento da
participação, entretanto pode ser identificadas contravenções haja vista que muitas delas
aparecem somente na representação para garantir o cumprimento da lei e em candidaturas
laranjas. (DAHLERUP; FREIDENVALL, 2010). Diante deste cenário, a pergunta problema
que norteia a nossa pesquisa é: Pode-se identificar uma ampliação do número de mulheres nos
espaços de tomada de decisão e assim a efetividade das cotas aos cargos do executivo e
legislativo na eleição de 2018?
Desse modo, o objetivo desta pesquisa foi avaliar o quantitativo de candidaturas
femininas aos cargos de governadora, deputadas estaduais e federais no ano supracitado.
Consideramos mapear e avaliar o quantitativo de candidatas que se lançam através das cotas
dos partidos, avaliando se as mesmas garantem uma expressão e posição destas mulheres no
ambiente político.
Com esta pesquisa pretende-se contribuir academicamente para discussão e avaliação
da representação de mulheres nas casas legislativas, e como a questão da mulher assumindo
cargos passa por muitos entraves. Para a formação discente, deseja-se que a proposta
contribua no incentivo à leitura e pesquisa, na sugestão de recortes temáticos e
aprofundamento sobre as questões políticas e cidadãs que atravessam as nossas vivências.

Metodologia

A pesquisa foi realizada mediante (1) um levantamento bibliográfico que identificou


a literatura que versa sobre participação feminina, eleições e cotas para as mulheres em

1
Estudante do Curso de Ciências Sociais do Departamento de Ciências Sociais e Política da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: vanderlaniasferreira@gmail.com
2
Professor do Departamento de Ciências Sociais e Política da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.
Participante dos Grupos de Pesquisa: Estudos Sócio Culturais e Informação, Cultura e Práticas Sociais. E-mail:
cyntiacarolina@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 928
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pesquisas realizadas e publicadas em artigos e revistas nacionais sobre a temática no Brasil.


Uma vez realizado a pesquisa bibliográfica, (2) foi feito o levantamento de dados através dos
sites oficias do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que
traz registros das candidaturas femininas na eleição de 2018. Este levantamento permitiu a
identificação do quantitativo das que se candidataram, as que foram eleitas e, como elas se
apresentam nos assentos legislativos pós eleição.
Com o levantamento e cruzamento de dados buscou-se problematizar se (e quando) a
obrigatoriedade da Lei em garantir 30% do registro às candidatas mulheres é eficaz ou apenas
mais um instrumento que não se consolida na prática. Para este estudo, o mapeamento destas
candidaturas permitiu-nos criar (3) um gráfico de representação dos cargos legislativos em
que mulheres concorrem, enfatizando os cargos de deputadas estaduais e federais. Por último,
consolidou-se a pesquisa com (4) a produção de um texto que contemple o cenário nacional
nas eleições 2018 e as candidaturas femininas, numa problematização acerca da lei, sua
efetividade e a real expressão da mulher na tomada de posição política.

Resultados e Discussão

Dado o referencial teórico escolhido para este projeto, trabalhamos inicialmente com
a inserção da mulher na vida política formal. Para além das cotas citadas, outra tentativa de
incentivo a participação feminina na política foi feita ainda em 2018 quando o plenário do
Tribunal Superior Eleitoral declarou que os partidos deveriam reservar pelo menos 30% dos
recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha para financiar as campanhas de
candidaturas femininas; eles também estenderam essa norma ao tempo de propaganda
eleitoral gratuita reservado aos partidos eleitorais em rádio e televisão. Mas, de fato existe a
garantia de aumento?
No gráfico a seguir, teremos a totalidade de candidaturas femininas na área legislativa
em sua relação com a quantidade de candidatas eleitas de acordo com as suas respectivas
regiões.

Fonte: TSE, 2020. Elaboração própria, 2020.


Quando avaliamos a relação número de candidaturas e efetividade é possível
identificar que o número de mulheres eleitas é muito menor do que o número total de
candidaturas, independente da região. Chegando a piorar em regiões que não possuem sequer
1.000 candidaturas femininas, na Região Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, chega a 2%.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 929
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Quando somamos o total de candidatas eleitas para o cargo de deputadas, o maior número de
deputadas eleitas será encontrado no Sudeste Brasileiro com 72 candidaturas femininas.
Entretanto, a maior efetividade de eleitas se revela no Norte e Nordeste, esta última região
acompanhando uma tendência das eleições para executivo municipal (ALZIRAS, 2018).
O Brasil tem no legislativo o percentual de 15% de deputadas federais assumindo
cargos, o que representa o quantitativo de 77 mulheres no universo de 513 assentos
disponíveis, como disposto no gráfico 2:

Fonte: TSE, 2020. Elaboração própria, 2020.


Essa desigualdade consegue ser ainda mais preocupante se tratando dos cargos de
Senadora e Chefe de Estado. Em 2018 apenas 28 mulheres se candidataram para o cargo de
Governadora e apenas uma foi eleita, no Estado do Rio Grande do Norte. No que se refere as
deputadas estaduais, o número se repete, como disposto nos gráficos abaixo, configurando
apenas 163 assentos conquistados, o que coloca o Brasil abaixo do percentual indicado de
representação para mulheres do IPU.

Fonte: TSE, 2020. Elaboração própria, 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 930
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As cotas foram criadas para gerar uma maior igualdade de gênero e representatividade,
mas o Brasil, mesmo após anos de sua implementação, figura em 132º lugar no ranking
“Women in Nacional Parlaments” divulgado pela da União Interpalamentar (MARDEGAN,
2020). Quando pensamos este número tão baixo, avaliamos as dificuldades que fazem estas
mulheres aparecerem de maneira tímida. Schartzenberg (1978, p. 101) avalia a participação da
mulher na política como privativa, sua presença é muito pequena “tão grande é a pressão de
nossa sociedade patriarcal, que as mantém confinadas em posições subalternas; tão intensa é a
prática do sexismo, do chauvinismo masculino, para defender o que ainda é território do
macho”.

Conclusões

Diante do exposto, podemos dizer que a política de cota não tem sido vivenciada em
sua efetividade, o quantitativo de candidaturas pode aumentar ou ser superior a 30% em
algumas regiões na eleição de 2018, mas com a maior parte do Brasil não é o caso. Quando
observamos os gráficos 1 e 2, vemos que apenas 6 estados alcançam esse feito nas. As cotas
são uma poderosa ferramenta na luta contra a desigualdade, mas ainda não são tratadas
devidamente, precisam ser melhoradas para que a representatividade seja verdadeiramente
alcançada em termos de efetiva mudança por todo território nacional e em todos seus cargos
públicos – e até mesmo não-públicos.
É preciso também que continuem pesquisando as razões que levam a esse
comportamento: porque mulheres são tão fortemente excluídas da vida política, porque a
política formal ou informal é um campo visto de forma tão predominantemente masculina e
porque parte dos candidatos, partidos e eleitores acreditam que mulheres podem não
conseguir fazer o mesmo papel que um homem, mesmo tratando-se de uma área que afete a
sua vida diariamente e ela, algumas vezes, possua tanta experiência quanto o mesmo.

Agradecimentos
Nosso agradecimento à Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, ao que fazem a Pró-
Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, pelo apoio científico. Ao Departamento de Ciências
Sociais e Política e ao Grupo de Práticas Culturais (Gruesc) e o Grupo de Pesquisa
Informação, Cultura e Práticas Sociais.

Referências
ALZIRAS, Instituto. Perfil das prefeitas no Brasil: mandato 2017-2020 [recurso eletrônico] /
[org. Instituto Alziras]. —— Rio de Janeiro. Instituto Alziras. 2018. Dados eletrônicos (pdf).
DAHLERUP, Drude & FREIDENVALL, Lenita. Electoral Gender Quota Systems and their
implementation in Europe. Policy & Politics vol 38 no 3• 407–25. 2010.
CARVALHO, Daniela D; YASUDA, Thais Guedes. A sub-representação feminina na
política brasileira em face das inovações democráticas legislativas. VirtuaJus – Belo
Horizonte, v.13 - n.1, p.363-383– 1º sem. 2017. ISSN: 1678-3425.
MARDEGAN, Ivan Osmo. Theory and evidence of women’s political exclusion in Brazil.
Orientador: George Avelino Filho. 2020. 145 f. Tese (Doutorado em Administração pública) -
Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2020. Disponível em:
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/28931. Acesso em: 18 set. 2020.
SCHWARTZENBERG, Roger-Gérard. O Estado Espetáculo. Rio de Janeiro, Difel, 1978.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 931
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CARTOGRAFIA SOCIAL DA POPULAÇÃO COM DEFICIÊNCIA


IDOSA DE MOSSORÓ/RN
Nelissimara Santos Soares1; Maria do Perpétuo Socorro Rocha Sousa Severino2

Palavras-chave: Pessoa com Deficiência. Idoso. Cartografia Social. Mossoró.

Introdução

O envelhecimento populacional é uma realidade mundial e o aumento da população


idosa tem mudado o formato da pirâmide demográfica. Esse fenômeno está relacionado a
múltiplos fatores decorrentes das transformações societárias em curso nas áreas econômica,
social, política, cultural, saúde, entre outras.

O envelhecimento vem acompanhado de maior risco de redução das funcionalidades;


por conseguinte, a população idosa tende a apresentar grande percentual de deficiência. Deste
modo, o cruzamento entre deficiência e envelhecimento torna essa aproximação teórica urgente,
pois possibilita uma fonte de diálogo e vislumbra a reivindicação de ampliação das políticas
para ambos segmentos sociais.

Segundo a Política Nacional do Idoso (Lei Nº 8.842, 1994), considera-se idosa a pessoa
maior de sessenta anos de idade. E, de acordo com a Lei Brasileira de Inclusão (2015), pessoa
com deficiência é

aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas (BRASIL, Lei Nº 13.146, 2015, Art. 2º, p. 9).

Esse conceito articula os impedimentos orgânicos às barreiras exteriores, sendo estas


potencializadoras das limitações humanas. Esse conceito traz uma aproximação com o modelo
social de deficiência que a compreende como uma experiência resultante da interação entre
características corporais do indivíduo e as condições da sociedade em que ele vive.

Segundo Medeiros e Diniz (2004), no modelo social a deficiência não deve ser
entendida como um problema individual, mas como uma questão social, em que se transfere a
responsabilidade das desvantagens das limitações do indivíduo para a incapacidade da
sociedade em ajustar-se à diversidade.

De acordo com o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE, 2010), a população brasileira foi contabilizada em 190.732.694 pessoas. Desse total,
7,4% é constituído de pessoas idosas e 23, 9% de pessoas com algum tipo de deficiência. O Rio
Grande do Norte registrou uma população de 3.168.027 habitantes, desses 10,84% são pessoas
idosas e 27,86% são pessoas com deficiência, constituindo a maior taxa nacional. O município
de Mossoró/RN, lócus dessa pesquisa, declarou uma população de 259.815 habitantes, sendo

1
Estudante do curso de Serviço Social do Departamento de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN); Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre a Terceira Idade (NEPTI) e-mail:
nelissimara@hotmail.com
2
Professora do Departamento de Serviço Social da UERN; Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas
Públicas (GEPP); e-mail: socorroseverino@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 932
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

13.981 idosos. Todavia, a quantidade de pessoas com deficiência por faixa etária, no município
não foi divulgada.

A Cartilha do Censo 2010: pessoa com deficiência (2012) apresenta do total de pessoas
acima de 65 anos os seguintes percentuais de deficiências: 49,8% visual; 38,3% motora; 25,6%
auditiva e 2,9% intelectual.

Diante dessa realidade, essa pesquisa estabeleceu como objetivo geral: elaborar uma
cartografia social da população com deficiência idosa de Mossoró/RN e, como objetivos
específicos: identificar quem são, quantos são e onde estão as pessoas com deficiência idosas
na cidade de Mossoró/RN; conhecer as condições de vida da população com deficiência idosa;
detectar os serviços, programas, projetos e benefícios efetivados nos equipamentos sociais
municipais que atendem a população com deficiência idosa e, como essa os acessam; identificar
as principais barreiras que interferem na condição de vida da população com deficiência idosa.

Metodologia

A pesquisa de natureza qualitativa, articulou pesquisa bibliográfica, referenciada


principalmente em Gorayeb, Meireles e Silva (2015), Medeiros e Diniz (2004), Bardin (1997),
Santos e Nascimento (2020); pesquisa documental, referenciada, sobretudo na Política
Nacional do Idoso (1994), na Lei Brasileira de Inclusão (2015) e na Cartilha do Censo
(2010/2012); e pesquisa de campo.

Inicialmente realizamos um estudo exploratório para identificarmos os equipamentos


sociais que atendem pessoas com deficiência idosa em Mossoró, no qual identificamos treze
Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), três Centros de Convivência para Idosos
(CCI), quatro Casas Nossa Gente (CNG), uma Unidade de Convivência Familiar, uma
Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPi)- Instituto Amantino Câmara -, Associação
dos Deficientes Visuais de Mossoró (ADVM), Associação dos Deficientes Físicos de Mossoró
(ADEFIM), Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), Associação de Surdos de
Mossoró (ASMO). Fundamentada nesse estudo, definimos uma amostra dos equipamentos
sociais que declararam atender maior contingente de pessoas com deficiência idosa em cada
zona da cidade e as instituições específicas das pessoas com deficiência, exceto a ASMO e a
APAE por não terem associados(as) idosos(as) com deficiência, no momento da pesquisa.

Conduzida pelos critérios acima mencionados, a amostra foi composta por oito
equipamentos sociais, distribuídos nas quatro zonas da cidade. Na Zona Norte, constituíram a
amostra a ADVM, onde realizamos uma entrevista e aplicamos três questionários, a ADEFIM,
uma entrevista e três questionários e o Instituto Amantino Câmara, uma entrevista e sete
questionários. Na Zona Sul, elegemos o CCI do Bairro Pereiros, onde realizamos uma entrevista
e aplicamos um questionário. A Zona Leste foi representada pelo CRAS do Bairro Bom Jesus
onde realizamos uma entrevista e aplicamos dois questionários e pelo CRAS do Bairro Sumaré,
onde realizamos uma entrevista e aplicamos cinco questionários. Na Zona Oeste, os dados
foram coletados no CRAS do Bairro Redenção, onde realizamos uma entrevista e aplicamos
três questionários e na CNG do Bairro Abolição II, uma entrevista e um questionário.

Na pesquisa de campo realizamos, após agendamento, entrevista semiestruturada com


oito profissionais e aplicamos questionário a vinte e cinco pessoas com deficiência idosa nos
próprios equipamentos sociais onde se vinculam.

Resultados e Discussão

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 933
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As pessoas com deficiência idosa que participam das instituições pesquisadas estão
predominantemente na faixa etária compreendida entre 60 a 64 anos de idade, sendo quatorze
pessoas do sexo feminino e onze do sexo masculino.

A deficiência física (motora) se destaca, atinge dezessete pessoas, seguida de quatro


pessoas com deficiência visual, duas com deficiência auditiva e duas pessoas com deficiência
intelectual. A maioria das pessoas afirmara ter deficiência adquirida. Esses dados encontrados
na realidade pesquisada divergem das taxas nacionais já mencionadas, em que a deficiência
visual é majoritária, ficando a deficiência física/motora em segundo lugar.

Das pessoas entrevistadas, sete são analfabetas, uma sabe ler e escrever, quatro possuem
ensino primário incompleto, quatro têm ensino primário completo, cinco têm ensino médio
incompleto, três têm ensino médio completo e uma tem ensino superior incompleto.

Sobre o estado civil, sete são solteiras, cinco casadas, sete divorciadas e seis viúvas. A
maioria tem de 1 a 2 filhos, reside em casa própria e sete pessoas são abrigadas no Instituto
Amantino Câmara, única ILPi em Mossoró, no momento.

Das pessoas com deficiência idosas pesquisadas, 88% afirmou ter renda mensal de 1
salário mínimo, apenas três têm entre 2 a 3 salários mínimos. Dezessete possuem renda
vinculada ao benefício previdenciário (aposentadoria), seis acessam o benefício assistencial
(Benefício de Prestação Continuada - BPC), uma aposentadoria rural e uma é pensionista. A
maioria das pessoas classifica sua situação econômica como média, duas como boa e apenas
uma como má. Atualmente, apenas duas pessoas idosas desenvolvem atividades remuneradas.

A maior parte das pessoas entrevistadas afirma ter alguma doença crônica, destacando-
se pressão alta, seguida de diabetes, mas também encontramos pessoas idosas que afirmam não
ter doença (06). A maioria também afirma usar medicação diária, apenas três não usam. Destas,
doze consideram sua saúde como nem boa, nem má, oito como muito boa e cinco como boa.
Nenhuma avalia sua saúde como má.

De acordo com os profissionais entrevistados, em nenhum equipamento social há oferta


de programas, projetos e serviços específicos para pessoas com deficiência idosas. Todavia,
estas participam de atividades como: palestras, orientações e reuniões sobre diversas temáticas
e de outras atividades, como: trabalhos manuais, danças, datas comemorativas, leituras, práticas
religiosas, rodas de conversas. Nesses equipamentos também não há recursos de tecnologia
assistiva, os quais possibilitam a ampliação da autonomia e independência no desenvolvimento
de atividades, promovem uma maior participação e inclusão social.

Os profissionais identificaram que as principais barreiras que interferem na condição de


vida da população com deficiência idosa nas instituições e no cotidiano são: falta de mobilidade,
de acessibilidade, de transporte público adaptado - embora a maioria das pessoas com
deficiência idosas utilizem transporte coletivo em seus deslocamentos -, de equipe técnica
especializada que possa desenvolver acessibilidade comunicacional, atitudinal, entre outras.
Outros pontos mencionados foram a falta de espaço na sociedade, a falta de respeito e
dificuldades nas relações familiares.

Conclusão

A Cartografia Social da população com deficiência idosa de Mossoró elaborada com


base na amostra dos equipamentos sociais pesquisados, revela a totalidade de vinte e cinco

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 934
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pessoas com deficiência idosa, distribuída territorialmente e majoritariamente na Zona Norte


da cidade. Predomina a faixa etária entre 60 a 64 anos, sexo feminino, baixa escolaridade,
doenças crônicas. Há equivalência entre solteiros e divorciados, casados e viúvas. A renda
mensal é baixa, advinda de benefícios previdenciário e assistencial.

Prevalece a deficiência física, adquirida. Essa condição exige uma cidade com
mobilidade, transporte, equipamentos e mobiliários urbanos acessíveis, visto que a ausência
desses constituem as principais barreiras identificadas, impedem a participação plena e
igualitária em vários aspectos, interferindo negativamente na condição de vida dessa população.

Destacamos igualmente a ausência da oferta de programas, projetos e serviços


específicos e de equipe técnica especializada para atuar com essa população em situação de
vulnerabilidade social, agudizada pela velhice, deficiência, pobreza, gênero, doenças crônicas,
mobilidade reduzida, falta de acessibilidade, residirem em territórios periféricos, outros em
instituição de longa permanência. Essa realidade remete a implementação urgente e contínua
dos direitos garantidos legalmente para o enfrentamento das demandas específicas desses
segmentos populacionais que, nesse momento, se encontram violados.

Agradecimentos

Ao Programa Institucional De Iniciação Científica Da Universidade Do Estado Do Rio


Grande Do Norte.

As instituições, seus representantes e as pessoas com deficiência idosas que


contribuíram com a realização da pesquisa.

Referências

BRASIL. Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994, dispõe sobre a Política Nacional do Idoso.

BRASIL. Lei nº 13.146/2015. Lei Brasileira De Inclusão Da Pessoa Com Deficiência (Estatuto
Da Pessoa Com Deficiência).

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010.

BRASIL. Cartilha do Censo 2010 – Pessoas com Deficiência/ Luiza Maria Borges Oliveira
/ Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) / Secretaria Nacional
de Proteção dos Direitos as Pessoa com Deficiência (SNPD)/ Coordenação-Geral do Sistema
de Informações sobre a Pessoa com Deficiência; Brasília: SSDH-PR/SNPD, 2012.

BRASIL. Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8


de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098,
de 19 de dezembro de 2000.

GORAYEB, A; MEIRELES, A. J. A; SILVA, E. V. Princípios Básicos de Cartografia e


Construção de mapas sociais. In: GORAYEB, A; MEIRELES, A. J. A; SILVA, E. V (Org.).
Cartografia Social e Cidadania: experiências de mapeamento participativo dos territórios de
comunidades urbanas e tradicionais. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2015.P. 9-24.

MEDEIROS, Marcelo; DINIZ, Débora. ENVELHECIMENTO E DEFICIÊNCIA. In:


CAMARARO, Ana Amélia (Org). OS NOVOS IDOSOS BRASILEIROS MUITO ALÉM
DOS 60? Rio de Janeiro, 2004.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 935
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CENA MUSICAIS DECOLONIAIS EM MOSSORÓ/RN

Yuri Rodrigues de Lira 1, Mikaelly Itala da Silva Gonçalves 2, Tobias Arruda Queiroz33

Palavras-chave: Cena musical, pandemia, lives,cultura afrodiaspórica.

Ante os efeitos que a pandemia ocasionou ao impossibilitar os encontros presenciais e


a investigação anteriormente pretendida em trabalho de campo, partimos para uma observação
dentro do nosso repentino cenário, nas nossas possibilidades. Então passamos a analisar e
discutir nos encontros realizados de forma online e virtual, os efeitos que o distanciamento
social e a impossibilidade das pessoas se reunirem em prol da música estava causando para os
artistas e para os ouvintes no período de isolamento em 2020. Desde o “boom” das lives, até os
agenciamentos e negociações que se desenrolaram em torno da dinâmica do “ao vivo” até os
sintomas de nostalgia que atingiram os consumidores de serviços de streaming depois do
chamado “distanciamento social” que a pandemia promoveu.

As relações sociais foram potencializadas para o meio virtual, a partir de uma outra
ordem. O consumo via streamings de áudio e vídeo cresceu e com isolamento social esses meios
têm se tornado uma considerável fonte de entretenimento, por consequência acabou atingindo
também a maneira de se produzir e consumir música. Da mesma maneira afetou a forma como
nós pesquisadores observamos as cenas musicais e as sociabilidades envolta.

Dada esta premissa, temos como objetivo principal investigar as “Cenas Musicais
Decoloniais” (QUEIROZ, 2019) em Mossoró/RN. Sendo assim, pretendemos trazer para nossas
pesquisas a mulher negra na cena musical mossoroense, a representatividade que ela tem e os
espaços em que ela ocupa; As negociações do gênero musical executado e, por fim, investigar
o perfil do público que frequenta os locais onde ocorrem suas apresentações.

1Estudante do curso de Jornalismo do Departamento de Comunicação da Universidade do Estado do Rio Grande


do Norte; e-mail: yurilira@alu.uern.br

2Estudante do curso de Comunicação Social (Habilitação em Jornalismo) do Departamento de Comunicação da


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: mikaellyitala@live.com
3
Orientador da pesquisa e Professor do Departamento de Comunicação da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte Líder do Grupo de Pesquisa de Comunicação (GCOM); e-mail: tobiasqueiroz@gmail.c o m

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 936
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A ideia deste trabalho é examinar como se encontra a atuação dessas artistas no período
da pandemia. Isso será feito por meio de entrevistas, análises de redes sociais, sites de
compartilhamento de música e algumas lives. O estudo pretende fazer uma comparação entre
as lives e os shows ao vivo, por meio de entrevistas com uma ou mais artistas negras que estejam
atuando no cenário musical de Mossoró. Também pretendemos focar na representatividade que
essas artistas exercem no seu meio de atuação e na representação da cultura negra na sua
música, performance, estética e discurso.

Assim será investigado também o público que assiste as lives em comparação com as
que frequentam os shows. Pretendemos comparar os públicos para identificar a presença de
corpos negros em ambos os locais, e assim constatar se o público autodenominado negro
consome esses produtos em diferentes espaços de sociabilidade. E, dessa forma, investigar se
há algum aspecto da afrodiáspora na cena musical mossoroense, seja ela virtual ou presencial.
Nos primeiro meses de pandemia, quando o mundo pôs em pratica o distanciamento
social e tentava se resguardar em suas residências, logo ficou evidente a mudança no consumo
de música por parte dos ouvintes. Não mais sair para bares, nada de bailes, boates e muito
menos shows e festivais. E não parou por aí. Em maio de 2020, o Spotify revelou que durante
a pandemia cresceu o número de plays em músicas e hits antigos, evidenciando a nostalgia no
consumo. Isso pode ser observado pelas demandas das próprias lives, onde artistas aposentados
e bandas que já não mais estão ativas viram o público cobrar por shows virtuais “ao vivo”. E
essa novidade logo se popularizou. As lives passaram a fazer parte da rotina de quem conseguia
e podia evitar sair de casa. A nostalgia em momentos de incerteza pode ser explicada pela
psicologia social, mas as transformações no modo de consumo e na forma de consumo de
música em situações adversas se molda aos eventos cotidianos, é de nosso interesse, como
destaca JANOTTI JR (2020):

Se antes a classificação musical estava associada às prateleiras


das lojas de discos, programação das rádios, grades televisivas
e escutas diferenciadas (no quarto, na sala, no show, no baile).
Hoje, a intersecção entre trilhas sonoras agrupadas por
atividades e a classificação dos gêneros musicais implicam
modos de experienciar música através das interrelações entre
períodos do dia, afazeres e escutas de música (JANOT T I JR,
2020, p.20)

Desse modo, é possível vislumbrar como a cultura digital possibilita outras formas do
indivíduo se relacionar com a música, e na impossibilidade do tradicional ao vivo, novas formas
de comunidades e grupos se reunirem em uma cena torna-se possível.
Chegamos a conclusão de que os espaços de produção musical está para os individuos
negros além de uma forma de exaltar de forma positiva a cultura negra e todos os elementos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 937
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

que a cercam, também funciona como uma ferramenta de oposição a um sistema opressor, e
racista, além de quebrar de estereótipos referentes à cultura da diáspora. Assim podemos
chamar a atenção para a importância de mostrar pessoas negras ocupando espaços de
protagonismo.

Referências

ARGÔLO Marcelo; GUMES Nadja Vladi. A cor dessa cidade sou eu: Ativismo musical no
projeto Aya Bass, p. 6-10, GP Comunicação, Música e Entretenimento, 2020.

GOMES Itania maria Mota; ANTUNES Elton. Repensar a comunicação com Raymond
Williams: estrutura de sentimento, tecnocultura e paisagens afetivas, p.3-5 Open Access, 2018.

JANOTTI JR. Jeder. Gêneros musicais em ambientações digitais. Belo


Horizonte:PPGCOM,UFMG, 2020. 20,41 p.

SANTOS Melina; QUEIROZ Tobias. Que negro é esse na cultura do metal. IASPM JOUNAL,
p.2,7,10,13,2020

SILVA Tarcízio. Comunidades, algoritmos e ativismos digitais: Olhares Afrodiaspóicos. São


Paulo:Desvelar, IBPAD, LiteraRua, 2020. 12-42 p.

QUEIROZ, Tobias Arruda. Valhalla. All Black In e Metal Beer: repensando a cena musical a
partir dos bares no interior do Nordeste. Recife, Tese (Doutorado em Comunicação) –
Universidade Federal de Pernambuco, 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 938
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONVERGÊNCIA CULTURAL NAS REDES SOCIAIS: ESTUDO DO


USO DAS REDES SOCIAIS EM EVENTOS CULTURAIS DA CIDADE
DE MOSSORÓ/RN

Gledston Barbosa Bravo Neto1; Fernanda Bôto Paz Aragão2

Palavras-chave: Internet. Cultura. Interação.

INTRODUÇÃO
Fenômenos concernentes à internet e à cultura participativa dos sujeitos estão
suscitando discussões sobre novos paradigmas relacionados aos envolvidos no processo
comunicativo. A internet transformou os comportamentos, bem como os comportamentos
transformaram a internet em uma relação de interação que foge de qualquer determinismo
tecnológico (CASTELLS, 2003).
Em uma perspectiva diferente das teorias da comunicação de massa, especialmente da
teoria hipodérmica, compreende-se que os receptores do processo comunicativo não são
passivos à comunicação, uma vez que a relação semiótica que é estabelecida entre mensagem
e receptor já se configura como interação (PERES, 2008). No entanto, atualmente, essa relação
interativa está mais presente, visto que a internet proporciona um alto nível de conexão entre as
pessoas (SANTAELLA, 2003). Portanto, diante da maior facilidade de publicar conteúdo e
interagir com seus pares, sujeitos do processo comunicacional crescem em participação nas
redes sociais.
Nesse contexto, a produção de comunicação pode ser realizada por qualquer pessoa
por meio dos canais presentes na internet. Tal fenômeno também é discutido por Jenkins (2009)
sob a alcunha de cultura da convergência. Para Jenkins (2009), produtores e consumidores de
comunicação são confundidos em uma dinâmica interativa que, muitas vezes, confunde os
papeis no processo comunicativo. É nesse cenário que esta pesquisa busca compreender a
dinâmica interativa no Instagram durante o espetáculo Mossoró Cidade Junina (MCJ) que já
faz parte do calendário cultural de Mossoró.
O estudo teve como objetivo compreender a dinâmica interativa dos sujeitos por meio
do Instagram durante o evento Mossoró Cidade Junina, um grande evento cultural que acontece
na cidade de Mossoró.

METODOLOGIA
A pesquisa foi de natureza qualitativa por meio da coleta de dados secundários que
fazem referência ao evento e à cultura em Mossoró. Além disso, foram realizadas observações
de conteúdo que fazia referência ao evento em perfis públicos. As análises buscaram identificar
temas retratados na teoria e tal tipo de análise consiste em encontrar núcleos de sentido com
significados (DESLANDES; MINAYO, 2004).

1
Estudante do curso de Comunicação Social – Habilitação em Publicidade e Propaganda do Departamento
de Comunicação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: gledstonneto@alu.uern.br

2
Professora do Departamento de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;
e-mail: fernanaaragao@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 939
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Como estratégia de delimitação do tema e direcionamento da pesquisa, foi escolhida


uma hashtag3 com o nome de um dos eventos do MCJ, o Pingo da Mei Dia
(#pingodameidia2019). Desta forma, foi possível atingir o objetivo de pesquisa de entender
como as pessoas interagiram na rede social ao se tratar do MCJ. A escolha do Pingo da Mei Dia
ocorreu por se tratar de uma festividade que, embora aconteça em um único dia, recebe um
amplo número de participantes. A hashtag analisada apresenta mais de 1000 publicações
relacionadas a ela, representando bastante interação.

RESULTADOS

Rebouças (2018) conta que em 1997 tinha início o Mossoró Cidade Junina, um evento
que se tornaria tradição do povo potiguar, intencionando reunir os pequenos festejos juninos
que aconteciam nos bairros da cidade de Mossoró em um único grande evento. Anos se
passaram, o evento foi crescendo e tomando proporções gigantescas, reunindo, nas últimas
edições, quase 1 milhão de pessoas em suas festividades ao longo do mês de junho na cidade
de Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte.
Dentro do Mossoró Cidade Junina há um evento que é considerado o maior bloco
junino do país, o Pingo da Mei Dia. O Pingo, como é chamado popularmente por muitos, é o
responsável por abrir os festejos juninos na cidade de Mossoró e desde o seu surgimento em
2009, leva uma multidão às ruas e esse número cresce a cada ano. Ele é realizado geralmente
na primeira ou segunda semana do mês de junho, e as atrações começam a se apresentar a partir
do meio-dia, por isso o nome Pingo da Mei Dia.
É possível observar a presença de conceitos teóricos como Cultura da Convergência e
Cultura Participativa nos resultados que serão apresentados, principalmente ao observarmos
pelo prisma de Jenkins (2009). Jenkins (2009) denomina a cultura da convergência como
processo complexo em que velhas e novas mídias se encontram permitindo que a produção de
conteúdo aconteça de modo mais democrático, viabilizada pelo uso da tecnologia e por uma
cultura participativa. É isso que acontece quando a imagem do Mossoró Cidade Junina não é
formada apenas a partir de campanha publicitária feita pela prefeitura, mas também pela
participação das pessoas.
Como já foi elucidado, a análise se deu através da participação das pessoas por meio de
publicações com a hashtag #PingodaMeiDia2019. O uso dessa hashtag no Instagram foi
observado nas 25 publicações consideradas mais relevantes e postadas no feed4 dos usuários.
Segundo a o Instagram, as publicações tidas como mais relevantes são aquelas consideradas
populares, podendo ter alternância dependendo do dia e do perfil utilizado para observar.
A coleta de dados aconteceu pelo celular entre os dias 11 e 13 de agosto de 2020. Vale
lembrar que devido às medidas de proteção contra a Pandemia da COVID-19, não houve o MCJ
em 2020 com a participação presencial do público. Dessa maneira, poderia aparecer na pesquisa
recordações do evento que teve sua última edição presencialmente em 2019.
Entre as 25 publicações analisadas, somente 3 delas foram vídeos e todo o restante foi
fotos postadas individualmente ou em formato de carrossel, ou seja, com mais de uma foto na
mesma publicação. A partir de tais dados, percebeu-se um interesse maior das pessoas em
publicar fotos e não vídeos. Os usuários que tiveram as suas publicações entre as mais
relevantes eram em sua maioria jovens, com mais de mil seguidores no Instagram, residentes
3
Hashtag é um composto de palavras-chave, ou de uma única palavra, que é precedido pelo símbolo cerquilha
(#). Tags significam etiquetas e referem-se a palavras relevantes, que associadas ao símbolo # se tornam
hashtags que são amplamente utilizadas nas redes sociais. Disponível em: https://canaltech.com.br/produtos/O
que-e-hashtag/. Acesso em: 10/09/2020 às 22h50.
4
O feed do Instagram reúne todas as publicações do perfil e serve como um resumo do conteúdo que você
produz. Disponível em: https://www.canva.com/pt_br/aprenda/feed-instagram/. Acesso em: 10/09/2020 às
23h01.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 940
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

da cidade de Mossoró e a maioria foi homens. Tais informações refletem o perfil da amostra
escolhida ou expressar uma predominância desse perfil como bastante popular no Instagram
entre os participantes do evento.
Como as análises foram feitas a partir de publicações de caráter público, podemos tecer
que as redes sociais digitais transformaram o comportamento da sociedade nas questões sobre
o que é exposto e o que é mantido em sigilo. A possibilidade de tornar algo público ao
compartilhar informações na internet tem estimulado os usuários das redes sociais a expor
conteúdos que antes eram mantidos em privado. Bauman (2001) trata essa mudança como uma
redefinição da esfera pública num palco em que dramas privados são encenados, publicamente
expostos e assistidos. Com o crescente número de usuários das redes sociais e a capacidade de
algo se tornar tão público a ponto de obter fama, é gradativo o número de pessoas que tentam
se tornar famosas por meio da internet.
Quanto ao conteúdo presente nas publicações analisadas, grande parte das fotos
postadas por mulheres mostravam sua roupa, cabelo e maquiagem. Houve uma predominância
no uso de roupas coloridas e trajes juninos, a exemplo das peças quadriculadas e floridas.
Observou-se a alegria como núcleo temático por ser a principal expressão transmitida nas fotos
dos participantes. Na legenda, as publicações expressavam sentimentos positivos ou neutros,
não houve nenhuma crítica negativa ao evento. Além da #PingodaMeiDia2019, algumas das
postagens apresentaram outras hashtags, texto, emojis5 e menções a outras pessoas.
Somente uma publicação foi feita no dia 8 de junho de 2019, data de realização do
evento e isso pode ter acontecido devido a uma possível preferência da função stories6 para
postar fotos em tempo real, enquanto no feed a maioria dos usuários planejariam a publicação
tendo uma seletividade maior. As outras publicações, em sua maior parte, foram feitas em até
uma semana após o evento ou como uma recordação compartilhada apenas em 2020. Das 25
publicações sob análise, apenas 1 não recebeu comentários dos usuários do Instagram. A
maioria dos comentários no restante das outras 24 postagens continham elogios para a
festividade, para a beleza da pessoa que divulgou ou demonstração de saudade do evento que
não aconteceu presencialmente em 2020.
Entre as publicações analisadas, metade delas apresentavam pessoas
desacompanhadas e a outra metade continha casais ou grupos de amigos e parentes. Nas fotos
de pessoas desacompanhadas, algumas delas tinham como possível intenção mostrar a roupa e
a maquiagem usadas para ir ao evento e geraram comentários com elogios a esses itens. Já as
publicações com mais de uma pessoa presente na foto mostravam um clima de alegria e união,
muitas delas continham a marcação das demais pessoas expostas na foto, o que acabou
motivando a escrita de comentários e o engajamento entre as pessoas.
Quanto ao ambiente das fotos e vídeos publicados, a maior parte tem como cenário a
cidade de Mossoró, em especial o local onde aconteceu o Pingo da Mei Dia 2019. Aparecem
também entre as publicações mais relevantes que fazem parte desta pesquisa, fotos em que os
indivíduos aparecem numa moradia, aparentando ser uma foto tirada antes deles irem ao evento.
Os ambientes nas fotos podem ser identificados através da percepção da aglomeração de
pessoas e locais que remetem à cidade de Mossoró, mas houve uma facilidade na identificação
por conta da marcação de localização presente em algumas publicações.

5
Forma simples e prática de condensar sentimentos e expressões complexas em imagens. Disponível em:
https://olhardigital.com.br/noticia/20-emojis-que-voce-esta-usando-errado/77426. Acesso em: 10/09/2020 às
23h15.
6
Consiste na possibilidade de publicar fotos ou vídeos que ficam acessíveis por até 24 horas.
Disponível em: https://neilpatel.com/br/blog/instagram-stories-o-que-e/. Acesso em: 10/09/2020 às
23h25.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 941
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CONCLUSÃO

A realização desta pesquisa permitiu concluir que a interação das pessoas no Instagram
durante o evento Mossoró Cidade Junina tem grande valor para a formação da imagem do
evento. Foi possível observar que as pessoas funcionam como mídia a partir do que elas
divulgam em suas redes sociais. Desta forma, é factível a formação de opinião a respeito do
evento. Os resultados mostram que o Pingo da Mei Dia 2019 é abordado no Instagram pela
maioria com opiniões positivas ou neutras, o que contribui na construção de um pensamento
positivo sobre o evento alinhando-se ao que a Prefeitura de Mossoró planeja comunicar.
A tecnologia possui uma relação estreita com o MCJ, uma vez que permite observar a
participação das pessoas ao compartilhar o que é vivenciado. As informações compartilhadas
nas redes sociais apresentam cada vez mais relevância na vida dos seus usuários ao serem
tratadas como importantes ferramentas na formação da imagem sobre eventos, pessoas,
instituições e marcas. Esta pesquisa apresenta relevância na formação de um retrato específico
da amostra escolhida sobre a dinâmica interativa dos sujeitos no Mossoró Cidade Junina,
especialmente no Pingo. Futuras pesquisas podem ser realizadas para investigar outros grupos
considerados relevantes, bem como o cenário a partir de mudanças que podem ocorrer a
qualquer momento nas redes sociais.

BIBLIOGRAFIA
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
CASTELLS, M. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade;
tradução Maria Luiza X. de A. Borges; revisão Paulo Vaz. – Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência; tradução: Susana Alexandria. 2.ed. – São Paulo:
Aleph, 2009.
MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8a Ed. São
Paulo : Editora Hucitec, 2004.
PERES, Clotilde. Semiótica e gestão de marcas. PEREZ, Clotilde (org) Hiperpublicidade. São
Paulo: Thomson, 2007, vol. 1. -----------------. Planejamento publicitário. In: PEREZ, Clotilde
(org) Hiperpublicidade. São Paulo: Thomson, 2008, vol. 2.
REBOUÇAS, Nathalia. Mossoró Cidade Junina completa hoje 21 anos de criação. Mossoró
Cidade Junina, 22 de maio 2018. Disponível em:
<http://mossorocidadejunina.hospedagemdesites.ws/2018/05/22/mossoro-cidade-junina-
completa-hoje-21-anos-de-criacao/>. Acesso em: 10 de set. de 2020.
SANTAELLA, Lúcia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. Revista
Famecos, v. 10, n. 22, p. 23-32, 2003.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 942
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DELIMITAÇÃO LEGAL DA FAIXA DE PRAIA E MONITORAMENTO


MORFODINÂMICO: UM ESTUDO DE CASO NA PRAIA DE SÃO
CRISTÓVÃO – AREIA BRANCA

Karinny Alves da Silva 1; Francisco Leonardo Rodrigues da Silva 1; Rodrigo Guimarães de


Carvalho2

Palavras chave: Zona Costeira. Legislação. Morfologia.

INTRODUÇÃO
O Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (Lei n° 7.661/88) tem por objetivo
proporcionar o uso dos recursos e ocupação das zonas costeiras de modo a assegurar a
sustentabilidade dos ecossistemas. O Art. 21 do Decreto n° 5.300/04 determina que as praias
são bens públicos de uso comum do povo em qualquer direção e sentido (BRASIL, 2004).
Dessa forma, é resguardado a construção de qualquer empreendimento de cunho privado
na praia. No entanto, devido a constante dinâmica das zonas costeiras, delimitar os ecossistemas
costeiros é um processo complicado.
Na praia conhecida popularmente por Fenda do Biquíni, área de estudo da presente
pesquisa, duas construções localizadas em uma falésia altamente erodida foram embargadas
por estarem em área de praia. Porém, uma observação in loco permite perceber as diferenças
da praia para a área onde as barracas se encontram.
Contudo, a presente pesquisa tem por objetivo desenvolver um estudo teórico com base
na legislação e observação temporal, por meio de satélite, da área a fim de delimitar a zona de
praia e determinar se os empreendimentos encontram-se ou não em local inadequado.

METODOLOGIA
O presente estudo foi desenvolvido na praia popularmente conhecida por Fenda do
Biquíni, estando inserida na praia de São Cristóvão, zona rural do município de Areia Branca
no Rio Grande do Norte.
Segundo Ferreira (2019), a área de estudo divide-se em dois ecossistemas, uma falésia
altamente erodida, com grande declividade em direção à praia, chegando a se confundir com
esta, a qual é plana, apresentando menor quantidade de sedimentos.
As barracas encontram-se localizadas na área erodida da falésia, considerando a
tonalidade dos sedimentos, não chegando a atingir a zona de praia. Devido à alta declividade
da falésia ocasionada pelo processo erosivo e transporte de sedimentos os ecossistemas podem
misturar-se, tornando confuso a delimitação da faixa de praia.
Antes de qualquer procedimento, foi feito um estudo da legislação pertinente. Após foi
realizada uma análise geomorfológica temporal na área de estudo. Por meio de imagens digitais
dos satélites Landsat 5 TM e Landsat 8 OLI, as quais foram georreferenciadas para o sistema
de coordenadas SIRGAS 2000, zona 24 Sul e processadas no Qgis versão 3.4.10 Madeira.
Após, foi realizada análise das composições coloridas (RGB) das bandas 7/4/2, a
primeira corresponde a morfologia do terreno, a banda 4 destaca os corpos d’água por meio da
absorção de energia e a banda 2 penetra a superfície da água, permitindo contraste dos meios
de preamar, da linha de costa e da baixa mar. Foram utilizadas imagens do sensoriamento
remoto dos anos de 1985 a 2018, em um intervalo de 33 anos.
Com a finalidade de se comparar a altimetria, a parti da área onde as barracas se
encontram até a praia, foi feito um mapa utilizando imagens de satélite convertidas do Google
1 Estudante do curso de Gestão Ambiental do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; karinnya290@gmail.com; leonardoschulz97@gmail.com.
2 Professor do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,

Líder do Laboratório de Áreas Costeiras e Zonas Protegidas – LECAP, rodrigo.ufc@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 943
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Earth para o Qgis versão 3.4.10 Madeira, sendo georreferenciada para o sistema de coordenadas
SIRGAS 2000, zona 24 Sul. A imagem utilizada é do ano de 2018, sendo a mais recente.

RESULTADOS E DISCURSSÕES
A praia de São Cristóvão, assim como Ponta do Mel e Cacimbinha, encontra-se em uma
área plana e baixa, sendo formada pela sedimentação fluvial e marinha (FERREIRA, 2019).
Entre 1985 e 2018 houve pouca mudança no acúmulo de sedimentos no litoral a leste,
enquanto no litoral a oeste tem-se uma grande extensão de praia, a qual é delimitada por
vegetação rasteira, que dá início a um novo ecossistema.
Na área de estudo a um promontório, formado devido a existência de rochas que barram
a ação marinha, reduzindo o processo erosivo. Este faz com que a parte a barlavento tenha uma
maior deposição de sedimentos, formando praias mais arenosas. Já a parte a sotavento é mais
plana tendo uma extensão de praia bem maior.
Com isso, pode-se concluir a existência de pouco processo erosivo na área da praia
Fenda do Biquíni. Logo, considera-se grande possibilidade que esta mantenha-se da mesma
forma por mais algumas décadas.
O Art. 10, § 3º da Lei 7.661 de 16 de maio de 1988 determina praia como sendo a “área
coberta e descoberta periodicamente pelas águas, acrescida da faixa subsequente de material
detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, até o limite onde se inicie a
vegetação natural, ou, em sua ausência, onde comece um outro ecossistema” (BRASIL, 1988).
Vale ressaltar, que limites costeiros são constantemente moldados pela dinâmica
marítima, aérea e pluvial, dessa forma, a delimitação de praia é variável no tempo e espaço.
Assim sendo, as determinações de uso e ocupação também podem variar de acordo com as
necessidades, disponibilidade de recursos ou fatores ambientais diversos (TEIXEIRA, 2008).

Figura 1: Mapa de comparação da linha de costa do litoral setentrional do Rio Grande do Norte nos anos 1985,
1995, 2005 e 2018/ Fonte: Landsat 5 TM/ Landsat 8 OLI (Earth Explorer).

1 Estudante do curso de Gestão Ambiental do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte; karinnya290@gmail.com; leonardoschulz97@gmail.com.
2 Professor do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,

Líder do Laboratório de Áreas Costeiras e Zonas Protegidas – LECAP, rodrigo.ufc@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 944
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Analisando a Figura 1, nota-se que o mar durante a preamar atinge até uma determinada
área, fincando ainda uma parte com sedimentos arenosos sem resquício de umidificação. Antes
de se chegar a área de solo avermelhado, a qual consiste na falésia altamente erodida. Logo,
entende-se que a faixa de praia limita-se onde inicia a elevação do solo de tonalidade vermelha.
O conhecimento de campo foi realizado no dia 09 de fevereiro de 2020, pelo horário da
manhã. Uma consulta prévia a tábua de maré levou a escolha desse dia por que a maré estaria
baixa, atingindo uma altitude máxima de apenas 0,3 m. Dessa forma seria possível visualizar
claramente até onde iria o alcance da maré alta, sendo representado pela faixa de solo úmido.
É notório a diferença altimétrica da falésia até a praia. Devido à grande declividade da
segunda, por meio dela é possível chegar a praia, passando pelas barracas em questão. Visando
melhorar o acesso, foi instalado no local uma passarela, feita a parti de carretéis, que se estende
do topo da falésia até as barracas. A parti desta é possível perceber de forma mais clara a
declividade da área.
Considerando o objetivo da presente pesquisa foi feita uma análise altimétrica a partir
de imagens de satélite da área, partindo da coordenada 4°55’21.56”S 36°57’23.97”O,
localizada entre as duas barracas, até o mar (Figura 2).

Figura 2: Análise altimétrica da zona costeira de São Cristóvão, em Fenda do Biquíni/ Fonte: dados do Google
Earth, 2018.

Analisando o mapa da Figura 2 é possível notar que as barracas (ponto inicial)


encontram-se a uma altura de 8 m do nível do mar, e a praia (ponto final), está a uma altura de
2 m do nível do mar. Logo, tem-se na área uma declividade de 6 metros. É importante ressaltar
que as barracas não se encontram no topo da falésia.

1 Estudante do curso de Gestão Ambiental do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do


Estado do Rio Grande do Norte; karinnya290@gmail.com; leonardoschulz97@gmail.com.
2 Professor do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,

Líder do Laboratório de Áreas Costeiras e Zonas Protegidas – LECAP, rodrigo.ufc@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 945
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Falésia consiste em um talude íngreme. A ação do meio natural ou antrópico pode


desencadear movimentos na mesma, estes são classificados em quedas, tombamentos,
deslizamentos, espalhamentos, escoamentos e deformações (BARBOSA, 2017).
Ainda de acordo com a referida autora, as deformações ocorrem em taludes altos e
íngremes, com alterações visíveis, apresentando escarpas, bancos, fendas, trincheiras e
protuberâncias. A movimentação é pouco frequente e muita baixa, mal sendo notada, sendo
este o caso de Fenda do Biquíni.
Assim, considerando-se a altimetria e as características dos ecossistema nota-se que as
referidas barracas encontram-se em uma altura inadequada ao alcance do mar, mesmo em
preamar, estando fora da zona de praia.

CONCLUSÃO
Por ser um ambiente altamente frágil e dinâmico a zona costeira necessita de legislação
e fiscalização rigorosas, pois interferências antrópicas nessa região podem causar danos
irreversíveis nos aspectos ambientais, paisagísticos, históricos, culturais. Logo a necessidade
de se haver um planejamento específico para estas áreas.
No entanto, a partir de tudo que foi debatido é possível notar que se faz necessário uma
determinação mais precisa dos limites das zonas costeiras, é comum haver divergências entre
as delimitações de praias e dunas por exemplo. Considerando que cada ecossistema tem normas
de uso e ocupação específicas, essas divergências findam confundindo a sociedade civil e
dificultando o trabalho dos órgãos fiscalizadores.
Por conta da dinâmica costeira, muitas praias sofrem com acréscimo de sedimentos ou
processos erosivos, alterando constantemente suas delimitações. No entanto, vale ressaltar que
no caso da área de estudo foi possível notar que a faixa de praia sofreu poucas alterações ao
longo de 30 anos, não havendo erosão, nem acréscimo de sedimentos na faixa de praia. Dessa
forma, a delimitação de praia poderia ser mais precisa.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a UERN e ao CNPQ pela concessão da bolsa de iniciação
cientifica através do PIBIC-UERN e pelo apoio logístico que viabilizou a realização da pesquisa
em campo.

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Nathalia Marinho. Estabilidade das falésias da Barreira do Inferno – RN.
(Dissertação) Pós Graduação em Engenharia Civil – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte – UFRN. Natal, 2017.
BRASIL. Decreto nº 5.300 de 7 de dezembro de 2004. Disponível em:
<https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/97168/decreto-5300-04>. Acesso em 12 de
jun. 2020.
BRASIL. Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7661.htm>. Acesso em 12 jun. 2020.
FERREIRA, Joyce Clara Vieira. Relação praia-falésia de São Cristóvão, Ponta do Mel -
Areia Branca (Litoral Setentrional) e Cacimbinha - Tibau do Sul (Litoral Oriental), RN
– Brasil. (Tese) Programa de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte - UFRN, Natal, p. 241, 2019.
TEIXEIRA, George Luiz Sampaio. Aspectos jurídicos da ocupação de áreas de praia no
litoral do estado do Ceará. (Monografia) Faculdade De Direito Da Universidade Federal Do
Ceará. Fortaleza, 2008.
1 Estudante do curso de Gestão Ambiental do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; karinnya290@gmail.com; leonardoschulz97@gmail.com.
2 Professor do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,

Líder do Laboratório de Áreas Costeiras e Zonas Protegidas – LECAP, rodrigo.ufc@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 946
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO CURSO DE PUBLICIDADE E


PROPAGANDA UERN

Thaysa Lobo Pegado1; Paula Apolinário Zagui2; Jéssica de Oliveira Fernandes3

Palavras-chave: Docência. Ensino superior. Publicidade. Metodologias ativas.

INTRODUÇÃO
Os cursos de bacharelado em Publicidade e Propaganda no Brasil não possuem no currículo
disciplinas de docência no ensino superior, isto se deve ao fato de que não serão formados professores
e, sim, profissionais para o mercado da área. Os graduados, ao decidirem seguir a carreia de docência
acabam, por vezes, atuando como educadores, mas sem a formação e o debate sobre os processos de
ensino-aprendizagem. Assim, surge a necessidade de pesquisar sobre as possíveis abordagens para o
ensino-aprendizagem dos alunos do curso de Publicidade e Propaganda e suas particularidades em
relação ao currículo do curso.
As práticas docentes devem estar alinhadas ao Projeto Pedagógico do curso nas seguintes
vertentes: construção do conhecimento, função social do curso e a formação do aluno participativo.
Nessa vertente, devem incentivar a autonomia do educando no seu processo de aprendizagem, a
participação do aluno que se dá por meio da sua responsabilidade como promotor do seu
conhecimento e do apoio, por meio das habilidades de um comunicador/publicitário, para modificar
e ajudar a comunidade ao qual ele está inserido.
Dentro dessa perspectiva se constitui o seguinte problema de pesquisa: Quais os processos
de ensino-aprendizagem podem auxiliar na formação do educando autônomo, capaz de ir em
busca do seu conhecimento e contribuir com a comunidade?
Para isso, acreditamos que se deve desenvolver nos educandos do curso de Publicidade e
Propaganda um pensamento crítico que os torne agentes transformadores e não apenas receptores de
informações. O estudante necessita fazer conexões, tecer teorias para poder construir suas próprias
ideias. Essa proposição se alinha ao pensamento complexo de Morin (2003) ao qual propõe
pensarmos como se dá o conhecimento e como se produz conhecimento.
Morin (2003) propõe pensarmos que o conhecimento é multidimensional e inseparável:
Se a noção de conhecimento diversifica-se e multiplica-se quando a consideramos, podemos
legitimamente supor que comporta diversidade e multiplicidade. Desde então, o
conhecimento não seria passível de redução a uma única noção, como informação, ou
percepção, ou descrição, ou ideia, ou teoria: deve-se antes concebê-lo com vários modos ou
níveis, aos quais corresponde cada um desses termos (MORIN, 2003, p.20).

1
Estudante do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda Uern, email: thaysapegado@alu.uern.br
2
Professora do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda Uern, email: paulazagui@uern.br
3
Professora do curso de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda Uern, email: jessicaolif@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 947
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Strauss (1989) aborda, em “A Ciência do Concreto”, dois tipos de pensamento: aquele que
nascemos com ele e o que domestica a maneira como pensar. Com isso, faz uma crítica à ciência que
segue de forma linear (principio, lógica), tratando, nesse ponto, das ações que visam “domesticar” o
pensamento, e explica como funciona o cérebro (do homem que não conhece a ciência), daquele que
não conhece a regra para poder pensar. O autor transporta isso para a cultura. O ser humano é separado
pela cultura, mas é unido dentro daquilo que faz a espécie existir. Aquilo que é invariável é que faz a
relação da cultura com a língua. O autor começa a mostrar sobre o pensamento da ciência (como um
pensamento único e melhor) e depois desconstrói isso ao compreender que somente aquele que
conhece a ciência é que sabe pensar.
No âmbito da sala de aula, podemos pensar em diferentes vertentes que nos põem sempre em
um duelo do pensamento domesticado com o pensamento selvagem: quando disciplinamos o
pensamento ao disponibilizar regras e modelos para os alunos apenas seguirem, apesar de facilitar a
produção dos alunos, pode inibir o surgimento de novos modos de fazer e agir com intuito de fornecer
ao educando uma aprendizagem ativa.
Para Bacich e Moran (2018) a aprendizagem é ativa quando “aprendemos ativamente desde
que nascemos e ao longo da vida, em processos de design aberto, enfrentando desafios complexos,
combinando trilhas flexíveis e semiestruturadas, em todos os campos (pessoal, profissional, social)
que ampliam a nossa percepção, conhecimento e competências para escolhas mais libertadoras e
realizadoras” (BACICH; MORAN 2018, s/p). Diante dessa abordagem, a pesquisa se propõe a
estudar as possíveis maneiras de fazer que o educando saia da posição de receptor de informações
para produtor de conhecimento, do seu próprio saber.

METODOLOGIAS
A pesquisa utilizou o estudo de caso como estratégia metodológica, com recorte espacial no
curso de Publicidade e Propaganda da UERN e considerou as quatro características essenciais:

1. Particularismo: o estudo se centra em uma situação, acontecimento, programa ou


fenômeno particular, proporcionando assim uma excelente via de análise prática de
problemas da vida real;
2. Descrição: o resultado final consiste na descrição detalhada de um assunto submetido à
indagação;
3. Explicação: o estudo de caso ajuda a compreender aquilo que submete à análise,
formando parte de seus objetivos a obtenção de novas interpretações e perspectivas,
assim como o descobrimento de novos significados e visões antes despercebidas;
4. Indução: a maioria dos estudos de caso utiliza o raciocínio indutivo, segundo o qual os
princípios e generalizações emergem a partir da análise dos dados particulares [...]
(MERRIAM apud Duarte, 2009, p.217).

Para o desenvolvimento do raciocínio indutivo, as teorias do pensamento complexo de Morin


permitirão atingir os objetivos propostos, pois a pesquisa das possíveis metodologias ativas se baseia
em um processo de ensino-aprendizagem não linear, horizontal, participativo e colaborativo.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 948
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Ao iniciarmos a pesquisa de metodologias ativas no curso de publicidade e propaganda, nos


deparamos com algumas particularidades que eram marcantes: se tratava de um curso com uma matriz
curricular que permitia a realização de atividades práticas em que pudéssemos inserir o educando em
um contexto mais ativo em sala de aula, mas o espaço físico das salas de aula ainda se apresentavam
de maneira que reforçavam a ideia de aulas expositivas, mais conhecidas como sala de aula tradicional.
É aqui que o questionamento da pesquisa ficou mais acentuado. De que maneira as aulas poderiam
ser mais participativas e colaborativas? Como poderíamos proferir debates em que os alunos
participassem de maneira ativa, desde a produção deles até o desenvolvimento?
A partir deste questionamento, foram realizadas atividades testes para depois analisarmos
quais as situações em que houve maior participação dos alunos durante as aulas e após as aulas. A
disciplina escolhida foi a de Promoção de Vendas e Merchandising pelo seu caráter prático e pela
quantidade de alunos matriculados, no total de 12 alunos, o que facilitou inserir atividades práticas.
Para Moran:
um sentido amplo, toda a aprendizagem é ativa em algum grau, porque exige do aprendiz e
do docente formas diferentes de movimentação interna e externa, de motivação, seleção,
Interpretação, comparação, avaliação, aplicação. Aprendemos também de muitas maneiras,
com diversas técnicas, procedimentos, mais ou menos eficazes para conseguir os objetivos
desejados. As metodologias precisam acompanhar os objetivos pretendidos (MORAN, s/d,
s/p)
Com base neste entendimento, as atividades realizadas foram escolhidas com objetivos
específicos. 1. Aulas de campo: os educandos teriam que analisar os ambientes em que eles estavam.
Nessa estratégia, a análise foi incentivada a ser feita de acordo com o que foi explanado em sala de
aula e para descobrirem novas situações. Escolhemos 3 campos, sendo 2 estabelecimentos comerciais
e uma rua em que havia muitos comércios. Objetivo: motivar e envolver o educando com o conteúdo
estudado. 2. Solicitação de leitura de sedimentação do conteúdo após as aulas. Objetivo: Inversão de
foco, o aluno deve procurar por conceitos e aprofundar no assunto. 3. Atividade prática: criação de
um espaço utilizando as técnicas de organização de espaços apresentadas na disciplina. Objetivo:
trabalho em equipe com a colaboração de todos.
Durante a realização das atividades, fizemos a observação dos participantes e após elas foram
considerados os relatos e dados trazidos pelos alunos por meio de seus relatórios de campo. No caso
de atividades práticas de extensão em conjunto com a disciplina, foram analisadas as conclusões das
atividades. Para explanar os resultados vamos nos referir ao grupo como TURMA A.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Durante o processo de análise das atividades desenvolvidas, foram consideradas as
características da TURMA A. Todos os alunos apresentavam faixa etária similar, entre 20 a 25 anos
e a maioria estava em estágios na área.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 949
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As aulas de campo foram as que mais apresentaram participação dos educandos durante a
realização, se tratavam de atividades que exigiam a observação de determinados espaços de consumo,
que colocavam o educando em situação de pesquisador de campo.
As leituras complementares foram as que tiveram menor retorno, resultado que
compreendemos estar ligado ao fato de que esta atividade envolve o educando assumir seu papel
como construtor do seu conhecimento ao mesmo tempo que teria que lidar com as adversidades de
tempo e outros compromissos.
A atividade prática obteve um bom engajamento em seu planejamento, mas na execução do
projeto as atividades do grupo ficaram incompletas, comparadas com objetivo inicial. O resultado
dessa atividade foi importante para aprofundarmos em sala de aula os seguintes pontos: a) a técnica:
na prática profissional é preciso realizar com atenção e analisar aquilo que realmente é possível
executar dentro do que foi planejado, para isso, é preciso considerar o engajamento da equipe,
financiamento, tempo, técnicas de execução. b) compromisso com o projeto: apesar das dificuldades
técnicas e de engajamento de equipe apresentada, de que maneira poderíamos gerenciar uma crise?

CONCLUSÕES
A pesquisa não se fechou em metodologias que funcionaram ou não, mas em possibilidades
de realização de atividades que pudessem deixar os alunos em uma posição de seres ativos em seus
processos de aprendizagem. Apesar de algumas atividades terem menos retorno ativo dos educandos,
não significa que elas não são eficientes, são questões observadas para serem questionadas e
aprimoradas em futuras ações.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pela concessão da bolsa de
pesquisa e por todo apoio durante a realização da mesma. Agradecemos aos educandos que
participaram das atividades propostas durante a realização da pesquisa.

REFERÊNCIAS

BACICH, Lilian & MORAN, José. Metodologias ativas para uma educação inovadora: Uma
abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.
BARROS, Antonio; DUARTE, Jorge (orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em Comunicação.
São Paulo: Atlas, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. Disponível em
http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2013/12/metodologias_moran1.pdf Acesso em
Jan 2020.
MORIN, Edgar. Educar na era planetária. São Paulo: Cortez editora, 2003.
STRAUSS, Levi. O pensamento selvagem. Campinas: Papirus, 1989.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 950
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FRUTAS E HORTALIÇAS MINIMAMENTE PROCESSADAS:


PERCEPÇÃO DA VIABILIDADE ECONÔMICA, SOCIAL E
AMBIENTAL EM MOSSORÓ-RN

Katianny Kelly Medeiros Costa¹; Roseano Medeiros da Silva²

Palavras-chave: Alimentação. Sustentabilidade. Comportamento Alimentar. Consumidor.

INTRODUÇÃO
A forma de se produzir alimentos vem passando por grandes transformações, tendo em
vista a procura de produtos de consumo rápido, principalmente por causa da preparação e
facilidade. De acordo com Garcia (2013) os avanços tecnológicos na indústria dos alimentos e
na agricultura tem forte influência na qualidade alimentar da sociedade. No entanto há uma
preocupação das ciências da saúde em estudar a estreita relação entre a dieta e algumas doenças
associadas à alimentação.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) as frutas e hortaliças são os
alimentos mais importantes para se ter uma dieta equilibrada, sendo indispensável o consumo
de pelo menos 400g/dia de frutas, legumes e verduras (JUNQUEIRA; LUENGO, 2000).
Na categoria de melhor qualidade de tempo de preparo se destacam as frutas e hortaliças
minimamente processadas principalmente por ter características mais próximas do “in natura”
e com alto valor agregado.
De acordo com Perez et al., (2008) as hortaliças minimamente processadas passaram a
surgir em vista das exigências do consumidor em buscar alternativas que leve menos tempo na
hora do preparo ou quando este não tem tanta habilidade em preparar alimentos.
É notável que o perfil dos consumidores nos últimos tempos vem mudando. Mesmo
com a maior exigência, ainda há limitações de informações e esclarecimento em relação a
qualidade dos alimentos, principalmente das frutas e hortaliças minimamente processadas.
Desse modo, o presente trabalho visa analisar a percepção dos consumidores sobre os alimentos
minimamente processados em 4 estabelecimentos do município de Mossoró/RN.
METODOLOGIA
O presente estudo fez uso da pesquisa bibliográfica e de campo. Foram escolhidos 1
mercado e 3 supermercados na cidade de Mossoró-RN. Durante as visitas de campo foram
aplicados 20 questionários em cada estabelecimento, totalizando 80 questionários. Os
questionários abordaram perguntas em relação a escolaridade do consumidor, se conheciam os
produtos minimamente processados, quais fatores as pessoas achavam importantes na escolha
desses alimentos. Após a aplicação dos questionários os dados foram analisados e representados
graficamente no software Excel 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre dos 80 participantes da pesquisa, pode-se notar que no supermercado D 95% das
pessoas tinham superior completo e no supermercado B a maior incidência foi de pessoas que
tinham o ensino médio completo, representando 45% (Gráfico 1).

¹Estudante do curso de Gestão Ambiental do Departamento de Gestão Ambiental da


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN; katiannycosta@alu.uern.br
²Professor do Departamento de Gestão Ambiental da Universidade do Rio grande do Norte;
roseanomedeiros@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 951
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Gráfico 1: Escolaridade dos entrevistados.


100

PORCENTAGEM
80

60

40

20

SUP A SUP B SUP C SUP D

Fonte: Elaborado pelos Autores, 2020.

Para Perez et al., (2008) ao citar Ragaert et al. (2004) e Leather (1995) ressalta que os
maiores consumidores desse tipo de alimento, considerado um dos mais caros, são os que
possuem escolaridade e renda mais alta.
Em relação a se os consumidores conheciam as frutas e hortaliças minimamente
processados, (gráfico 2) os dados mostram que a maior incidência de pessoas que conheciam
as frutas e hortaliças minimamente processadas foi no supermercado B (95%) seguido do
supermercado D (90%).
Na pesquisa de Amorim e Nascimento (2011) mostra que 66,7 % dos entrevistados
conheciam as frutas e hortaliças minimamente processados. Já na pesquisa de Perez et al.,
(2008) foi registrado um percentual de 23% de pessoas que consumiam esses alimentos, apesar
de conhecerem esse produto. No entanto não é só a praticidade que vai definir na hora da
compra, mas existem diversos outros fatores, como segurança alimentar.

Gráfico 2: Conhecimento em relação às frutas e hortaliças minimamente processadas.


95 90
75
PORCENTAGEM

50 50
25
5 10

SUP A SUP B SUP C SUP D

SIM NÃO

Fonte: Elaborado pelos Autores, 2020.

Posteriormente foi perguntado quais as características os consumidores consideram


importantes na escolha de frutas e hortaliças minimamente processadas. A maioria classificou

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 952
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

como o mais importante a questão da higiene, como exemplo do supermercado C (58,3%) e


respectivamente supermercado D (52,9) (Gráfico 3).
Esse resultado se mostra semelhante a pesquisa feita por Souza (2001) em que os
consumidores que preferem comprar estes produtos 71,8% associam à higiene e 19,2% à
praticidade.
Gráfico 3: Fator determinante na escolha de frutas e hortaliças minimamente processadas.
100,0
PORCENTAGEM

80,0
58,3
60,0 42,1 52,9
40,0
40,0 33,3
13,3
21,1
13,3 8,3
20,0 15,823,5
20,0 11,8 10,5 13,3
5,3 5,9 5,9 5,30 0 00 0
0,0

SUP A SUP B SUP C SUP D

Fonte: Elaborado pelos Autores, 2020.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa mostram que as pessoas com o ensino superior são os maiores
consumidores de frutas e hortaliças minimamente processados. Dos 80 entrevistados apenas
5% disseram que não conheciam os alimentos minimamente processados. Outro ponto
interessante é que os entrevistados consideram mais importante na hora da compra desse tipo
de alimento a higiene e a praticidade.
Pode-se concluir que pesquisas voltadas para avaliação e percepção de alimentos
minimamente processados é realmente promissor, mas há um longo caminho a ser percorrido
pelas empresas bem como pela pesquisa. É necessário que se haja uma maior propaganda e
informação sobre esses produtos para que os consumidores possam ter maior segurança na hora
da compra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GARCIA, Rosa Wanda Diez. Reflexos da globalização na cultura alimentar: considerações


sobre as mudanças na alimentação urbana. Revista de Nutrição, v.16, n. 4, 2003. Disponível
em :< https://doi.org/10.1590/S1415-52732003000400011> Acesso em: Jul 2020.

JUNQUEIRA, Antônio Hélio; LUENGO, Rita de Fátima Alves. Mercados diferenciados de


hortaliças. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 18, n. , p. 95-22, 2000. Disponível em: <
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
05362000000200003&script=sci_abstract&tlng=pt> Acesso em: Set 2019.
PEREZ, Ronald et al., Perfil dos consumidores de hortaliças minimamente processadas de Belo
Horizonte. Hortic. Bras. v.26 n.4, p.441-446, 2008. Disponível em
:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
05362008000400004&lng=pt&tlng=pt> Acesso em: Abr 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 953
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SOUZA, Rubens Antônio Mandetta de. Mercado para produtos minimamente processados.
Informações Econômicas, São Paulo v.31, n.3, 2001. Disponível em:<
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/2001/tec1-0301.pdf> Acesso em: Ago 2020

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 954
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

GEOTURISMO E PATRIMÔNIO GEOMORFOLÓGICO NA REGIÃO CENTRAL


POTIGUAR: INSTAGRAM GEOROTEIROS, FACEBOOK GEOROTEIROS.

Alice Carvalho de Castro 1


Maria Anthonya Flores Silva3 2
Rudson Gomes dos Santos
Silvana Praxedes de Paiva Gurgel4

RESUMO

A identificação do patrimônio geomorfológico o faz potencial “recurso” de desenvolvimento do turismo


local e promoção da geoconservação por meio do geoturismo, segmento com foco na divulgação dos
conhecimentos sobre a geodiversidade e sua proteção. O presente projeto tinha como objetivo principal
mapear o patrimônio geomorfológico da porção Setentrional do Planalto da Borborema, Rio Grande do
Norte, Nordeste do Brasil. Este mapeamento ocorreu pela integração de Sistemas de Informações
Geográficas - SIG; assim como a adaptação instrumentos oficiais de inventário, sendo dois nacionais e
um internacional: Inventário da Oferta Turística, Categoria C1 – Atrativos Naturais (Ministério do
Turismo), Inventario da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos - SIGEP;
Inventário da Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico - PROGEO
(Portugal), para construção de instrumento único de inventário dos monumentos geomorfológicos, e
posterior aplicação (quando voltasse à normalidade da pesquisa) na porção Setentrional do Planalto da
Borborema. Baseando-se nos métodos propostos o presente projeto subsidiará o planejamento
ambiental e a geoconservação do patrimônio geomorfológico local. Os resultados alcançados com a
pesquisa foram: a elaboração de um perfil na rede social Instagram em conjunto com o Facebook, de
nome “Georoteiros”, em 26 de maio de 2020, com a publicação de “vídeocasts”, narrativa em áudio e
vídeo com o uso de imagens para ilustração da narrativa, nas quais, até o momento de publicação do
presente trabalho são 18 publicações autorais, somente com acervo digital autoral e cedido por
parceiros. A área de estudo possui um potencial paisagístico e de geodiversidade peculiar, é uma área
economicamente carente, portanto, fomentar novas opções de turismo, através da interiorização é de
grande importância.

Palavras-chave: Geomorfologia, Geoconservação, Geopatrimônio, Redes Sociais, Instagram,


Facebook.

INTRODUÇÃO

O Geoturismo, que conceitualmente é: “a disponibilização de serviços e meios interpretativos que


movem o valor e os benefícios sociais de lugares com atrativos geológicos e geomorfológicos,
assegurando sua conservação para o uso de estudantes, turistas ou outras pessoas com interesses
recreativos ou de ócio" (Hose, 2000, p. 136).

1
Bolsista do projeto e Estudante do curso de Turismo (bacharelado) do Departamento de Turismo da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte; e-mail: alice_castro23@hotmail.com
2
Voluntária do projeto e Estudante do curso de Turismo (bacharelado) do Departamento de Turismo da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: mah.hoshel@gmail.com
3
Voluntária do projeto e Estudante do curso de Turismo (bacharelado) do Departamento de Turismo da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: gomes.rudson@gmail.com
4
Orientadora, professora Departamento de Turismo, UERN/ CAN; e-mail: silvanapraxedes@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 955
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O patrimônio geomorfológico compõe o patrimônio natural definido pela UNESCO, ele consiste o
conjunto de feições geomorfológicas, mapeados em diferentes escalas e delimitados em geossítios,
também denominados geomorfossítios, podendo ser utilizados para diversos fins de ordem econômica
ou cientifica, dada as suas características e relevância identificadas por um inventário.
O Projeto de Pesquisa Geoturismo e o Patrimônio Geomorfológico na Região Central Potiguar tem por
objetivo geral a divulgação do geopatrimônio, mapear o patrimônio geomorfológico da porção
setentrional do Planalto da Borborema, Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil. Através do
mapeamento, visa a identificação do Patrimônio Geomorfológico da região central do referido Estado.
Por meio da elaboração e aplicação de instrumentos de inventariação dos monumentos geomorfológicos
como serras, picos, escarpas monumentais, entre outras feições, baseando-se em informações coletadas
em campo e delimitando com informações geradas pela integração de SIG (Sistema de Informação
Geográfica), como subsídio à geoconservação do patrimônio geomorfológico, assim como, ao
planejamento ambiental. Por meio desse mapeamento descobrimos lugares que poderiam fazer parte de
um roteiro turístico na região (central) onde além de tornar o lugar mais conhecido poderia realizar o
turismo de diferentes segmentos entre eles.

METODOLOGIA

Para o alcance dos objetivos propostos, a metodologia ora concebida consistiria em fases sucessivas de
gabinete e de campo que incluíram:
● Levantamento e revisão bibliográfica;
● Elaboração de vídeocasts (vídeos com relato de pessoas que trabalham ou já trabalharam com
o geoturismo ou o patrimônio geomorlogico);
● Postagem no perfil do projeto (em ambas as plataformas, com uso de edição e glossário para
melhor integrar com o público-alvo afim de divulgar da melhor forma o destino escolhido).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Atualmente, não podendo fazer viagens de campo devido a Pandemia (para a coleta de informações
como havia sido planejado fazer no início do ano), ficou mais difícil colocar em prática a metodologia
inicial de levantamentos de dados coletados em campo, então, lançamos o perfil de Facebook e
Instagram @Geo_Roteiros (Figuras 1 e 2) que é uma forma de divulgação e conhecimento sem precisar
sair de casa, divulgando os resultados do projeto de uma forma mais descontraída e de fácil acesso (na
sua mão). Com novidades toda semana e curiosidade dessa região que apesar de tão linda é pouco
conhecida.
A seguir informações do engajamento no Instagram dos últimos 7 dias até o dia atual (23/10).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 956
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 1: “Print” da pagina principal do Facebook e os dados de engajamento até o dia 23 de outubro
de 2020.

Figura 2: “Print” da página principal do Instagram @geo_roteiros e os dados de engajamento até o dia
23 de outubro de 2020.

Por meio do perfil nas redes sociais (Instagram e Facebook), são divulgados informações, eventos e
novidades a respeito do Geoturismo e do Geopatrimonio no estado do Rio Grande do Norte, além de
mostrar informações a respeito do geoparque Seridó, que tem ainda 21 geossítios que imprimem, cada
um deles, traços bastante singulares e inclusive, é no Geoparque Seridó onde nasce o rio mais

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 957
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

importante do Rio Grande do Norte, pelo menos do ponto de vista histórico. Das entranhas do município
de Cerro Corá surge o Rio Potengi, primeiro chamado de Rio Grande, que originou o nome do estado,
onde podemos ver a conservação do geopatrimônio...

RELATAR SUA EXPERIENCIA E A DO GRUPO


Apesar de não poder ir a campo como originalmente planejado, por causa do cenário atual de pandemia,
o fato de estamos sempre pesquisando algo a respeito para conhecimento e também divulgação (em
relação aos perfis de divulgação nas plataformas digitais, do património geomorfologico do estado) nos
leva a enxergar cada vez mais o potencial não apenas da região central potiguar, como também de todo
o estado do Rio Grande do Norte, para práticas de atividades que leve em conta a geoconcervação e a
preservação de todos esses locais, assim como a sua importância também para a própria cultura local
também.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos os subsídios de bolsa PIBIC UERN.

REFERÊNCIAS

BAL, Ana Lourdes. REBOUÇAS, José de Paiva. Um novo geoparque no Brasil. Seridó Potiguar, 5 de
dezembro de 2019. Disponível em: https://ufrn.br/imprensa/reportagens-e-saberes/31837/um-novo-
geoparque-no-brasil . Data do acesso: 21 de outubro de 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 958
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

IMPACTOS AMBIENTAIS DAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS NA BACIA


DO RIO APODI-MOSSORÓ
Enaira Liany Bezerra dos Santos1; Roseano Medeiros da Silva2

Palavras-chave: Agrotóxicos; Saúde Humana; Poluição Ambiental;

INTRODUÇÃO
A bacia do Rio Apodi Mossoró é a segunda maior bacia presente no estado do Rio
Grande do Norte (RN), compreendendo 26,8% do território estadual, o que corresponde a uma
área de 14.271,00 km² (MARTINS, 2009). Sobre a bacia são realizadas as mais diversas
atividades, desde a fruticultura irrigada à pesca. Não somente pela economia ela é importante,
principalmente quando consideramos o clima semiárido e a importância dos corpos hídricos
para tal região.
Como muitos corpos hídricos, o Rio Apodi Mossoró sofre muitos impactos da
exploração humana. De acordo com Silva (1993), desde a década de 1990 o rio apresentava
graves sinais de degradação, tais como assoreamento, lançamento de esgotos e desmatamento
da mata ciliar. Tais problemas não se restringiam apenas a um trecho, mas estavam presentes
desde próximo à sua nascente.
O setor agrícola requer uma posição de destaque quando falamos desses impactos
sobre os hídricos, pois afeta de diferentes formas a qualidade ambiental desses. Em áreas rurais
muitas famílias por vários motivos de ordem econômica e social utilizam-se de vazantes de rios
para plantio de culturas temporárias e permanentes, visando a sua subsistência (OLIVEIRA,
2019, p. 13).
Assim, a agricultura, que por si só pode impactar negativamente o ambiente físico,
torna-se ainda mais uma atividade de risco ao se instalar próximo aos corpos hídricos.
Rapidamente os impactos podem chegar na água e serem transportados a jusante. Por isso,
torna-se necessário atentar às práticas mesmo que dos pequenos agricultores e evitar impactos
significativos ao meio ambiente e à saúde das pessoas envolvidas.
De acordo com Oliveira (2019), apesar dos pequenos agricultores terem modificado e
adaptado algumas técnicas de cultivo (como o uso de máquinas e compostos químicos na
plantação), eles ainda podem não ter percepção de como essas novas práticas e metodologias
podem impactar negativamente o meio ambiente. Principalmente aquelas plantações situadas
próximo a corpos hídricos e onde a qualidade dessa água já se encontra comprometida, como é
o caso do Rio Apodi Mossoró, que se encontra poluído e contaminado em boa parte de sua
extensão.
O objetivo do trabalho é discutir os riscos e impactos potenciais das atividades de
produtores agrícolas da bacia do Rio Apodi Mossoró, assim como discutir sobre as principais
alterações causadas pela atividade agrícola nos corpos hídricos.

METODOLOGIA
O presente trabalho se baseou em pesquisa bibliográfica para realizar o levantamento
de trabalhos que discutem sobre as alterações sobre os recursos hídricos promovidas pelas
práticas agrícolas, assim como pesquisas em legislação ambiental para classificar e diferenciar
essas alterações. De acordo com Marconi e Lakatos (2011) a pesquisa bibliográfica ou de fonte

1
Estudante do curso de Gestão Ambiental do Departamento de gestão Ambiental da UERN;
enairasantos@alu.uern.br
2
Professor do Departamento de Gestão Ambiental da UERN; roseanomedeiros@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 959
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

secundária conta com a busca de todo o material bibliográfico já tornado público sobre o
determinado assunto e veiculados em diferentes meios de comunicação.
Além disso, foi buscado discutir dados obtidos a partir do trabalho de Oliveira (2019)
e evidenciar a probabilidade de padronização dos resultados da pesquisa mencionada. Como
suporte para o desenvolvimento dessa pesquisa, foram feitas pesquisas bibliográficas
envolvendo as temáticas impacto ambiental, uso de agrotóxicos e os riscos à saúde e ao meio
ambiente (OLIVEIRA, 2019, p. 26).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
PRÁTICAS E RISCOS AMBIENTAIS DE PRODUTORES RURAIS DO POLO AGRÍCOLA
APODI-RN
A pesquisa de Oliveira (2019) foi realizada na cidade de Apodi, em quatro dos sítios
que compõem o polo agrícola do Apodi. A pesquisa contou com a aplicação de 25 questionários
para agricultores. Os resultados demonstraram que os produtores, apesar de terem passado a
usar substâncias químicas como pesticidas para incrementar a produção, não conhecem os
riscos nem praticam o uso de tais insumos de forma correta, o que culmina em riscos
socioambientais incontáveis.
Gráfico 1: uso de agrotóxicos pelos produtores Gráfico 2: Orientação quanto ao manuseio
8% 8%
4% Não

Sim
Sim
Não Não Utiliza
92% 88% Agrotóxicos

Fonte: Oliveira, 2019. Fonte: Oliveira, 2019

Alguns dos resultados obtidos estão ilustrados nos gráficos 1 e 2, que constam que a
maioria dos produtores entrevistados usam agrotóxicos e a maioria também não recebe
nenhuma orientação técnica para o uso e manuseio desses produtos químicos. Além disso, a
maioria também descarta as embalagens dos agrotóxicos de forma errada, o que pode acarretar
danos ao meio ambiente e à saúde desses produtores.
Gráfico 3: Destinação final das embalagens de agrotóxicos
8%
Queima
16% Enterra

76% Não Utiliza


Agrotóxicos

Fonte: Oliveira, 2019


A pesquisa de Oliveira (2019) constatou o estado de risco ambiental que esses
produtores se encontram, pois a maioria nem sequer Equipamento de Proteção Individual (EPI)
utiliza na hora da mistura, não há uma dosagem sempre padronizada e alguns até reutilizam a
embalagem do agrotóxico para guardar água. É perceptível a necessidade de haver o
acompanhamento de um técnico para auxiliar na elaboração de atividades relacionadas à
manutenção destas regiões (OLIVEIRA, 2019, p. 41).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 960
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Assim, são incontáveis o número de impactos socioambientais que podem estar sendo
concretizados a partir das práticas equivocadas de muitos produtores. O próximo tópico buscou
pesquisar sobre essas possíveis alterações, enfocando nas alterações sobre os recursos hídricos.

DEGRADAÇÃO E IMPACTO AMBIENTAL DECORRENTE DAS PRÁTICAS


AGRÍCOLAS

De acordo com o CONAMA, Resolução 001/86, impacto ambiental é:

(...) considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades


físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma
de matéria ou energia resultante das atividades que, direta ou indiretamente,
afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II – as atividades
sociais e econômicas III – a biota IV – as condições estéticas e sanitárias do
meio ambiente V – a qualidade dos recursos ambientais (BRASIL, 1986).

As práticas agrícolas causam degradação no solo, promovendo alterações físicas, onde


estas alterações estruturais podem ser permanentes ou temporárias e tem grande influência no
processo erosivo ressalta De Deus & Bakonyi (2012, p. 1310) ao citar Carpenedo & Mielniczuk
(1990). Além disso o cultivo continuado e sem a reposição de nutrientes, o solo perde sua
fertilidade, causando grande prejuízo na produção (SAMPAIO; ARAÚJO; SAMPAIO, 2005).
Outro fator está relacionado ao uso inadequado de defensivos químicos. Apesar de
serem produzidos para exterminar ou diminuir o desenvolvimento de determinados organismos
que podem ser prejudiciais à agricultura, também podem causar impactos negativos à
biodiversidade e efeitos nocivos à saúde humana, podendo tornar-se carcinogênicos, como
afirmam Sampaio, Araújo & Sampaio (2005).
Conforme Dias, Tanaka e Malmonge (2019), muitos estudos apontam efeitos antes
impensados dos agrotóxicos na saúde humana, tais como a permanência dessas sustâncias no
sangue humano, no leite materno, e em resíduos encontrados nos alimentos. Esses podem estar
tendo influência direta sobre o aparecimento de enfermidades, como cânceres, doenças mentais
e disfunções na reprodução humana.
O descarte sem supervisão de resíduos e insumos agrícolas, combinado ao uso sem
dosagem certa em lavouras, faz com que os locais livres de contaminação por essas substâncias
sejam quase inexistentes (DIAS; TANAKA; MALMONGE, 2019). Ao estudarem sobre a
contaminação de águas subterrâneas e superficiais por agrotóxicos em Santa Rita (PB), Ismael
e Rocha (2019) concluíram que a maioria das substâncias usadas na plantação de cana-de-
açúcar se enquadravam na classe de risco dos contaminantes potenciais (CP), sendo a maioria
também identificados como substâncias fáceis de serem transportadas por meio de escoamento
superficial da água.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Torna-se importante mapear as práticas realizadas pelos agricultores da Bacia do Rio
Apodi Mossoró para identificar os possíveis riscos, impactos e casos de degradação ambiental
já instaurados e prevenir casos futuros e assim garantir o desenvolvimento sustentável dessas
atividades.
Durante a pesquisa foram abordados os grandes problemas causados pela utilização de
agrotóxicos na agricultura sem um planejamento adequado. Entre eles podemos destacar a
perda da biodiversidade e os efeitos à saúde pública. Além disso, torna-se imprescindível
sensibilizar os produtores rurais por meio de práticas de educação ambiental mostrando meios
mais conscientes de cuidar de sua produção agrícola de forma mais limpa e eficiente, para que
esses possam garantir sua produtividade e sustento de modo sustentável.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 961
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n.001, de 23 de janeiro de 1986.


Dispõe sobre critérios básicos e diretrizes gerais para o Relatório de Impacto Ambiental RIMA.
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 17 fev. 1986.

DE DEUS, Rafael Mattos; BAKONYI, Sonia Maria Cipriano. O impacto da agricultura sobre
o meio ambiente. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v. 7, n.
7, p. 1306-1315, 2012. Disponível
em:<https://periodicos.ufsm.br/index.php/reget/article/view/5625> Acesso em: 27 Ago 2020.

DIAS, G. C.; TANAKA, F. C.; MALMONGE, L. F. Efeitos das contaminações de corpos


hídricos oriundos da atividade industrial e agrícola. Rev. Augustus, v. 24, n. 48, 2019.

ISMAEL, L. L.; ROCHA, E. M. R. Estimativa de contaminação de águas subterrâneas e


superficiais por agrotóxicos em área sucroalcooleira, Santa Rita/PB, Brasil. Ciência e Saúde
Coletiva, v. 24, n. 12, 2019.

MARTINS, Daniel Freitas Freire. Influência espaço-temporal e fisiológico na absorção de


nutrientes e elementos tóxicos por Eichhornia crassipes visando o uso adequado da sua
biomassa: o caso do Rio Apodi/Mossoró. 2009. 148 f. Dissertação (Mestrado em Química).
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN, 2009. Disponível em:
<https://repositorio.ufrn.br/jspui> Acesso: 20 Abr 2020

OLIVEIRA, Marina Gurgel de. Vulnerabilidade e situações de riscos ambientais do Polo


agrícola Apodi-RN. 2018. 51 f. Monografia (Graduação em Gestão Ambiental. Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró/RN, 2018.

RIBAS, Priscila Pauly; MATSUMURA, Aida Terezinha Santos. A química dos agrotóxicos:
impacto sobre a saúde e meio ambiente. Revista Liberato, v. 10, n. 14, p. 149-158, 2009.
Disponível em:<http://revista.liberato.com.br/ojs_lib/index.php/revista/article/view/142>
Acesso em: 27 Ago 2020.

SAMPAIO, E. V. S. B.; ARAÚJO, Maria do Socorro B.; SAMPAIO, Yony SB. Impactos
ambientais da agricultura no processo de desertificação no Nordeste do Brasil. Revista de
Geografia, Recife, v. 22, n. 1, p. 90-112, 2005.

SILVA, F. C. As principais fontes de poluição do rio Mossoró-Apodi na altura do sítio


urbano do município de Mossoró. 1993, 59 p. Monografia apresentada ao Curso de
Especialização em Desenvolvimento Regional da UERN, Mossoró – RN.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 962
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

IMPACTOS AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE GROSSOS/RN:


PROPOSTA DE BACKGROUND PARA ATIVIDADE TURÍSTICA

Claudemir Lopes da Costa1; Wendson Dantas de Araújo Medeiros2

Palavras-chave: Planejamento ambiental. Gestão ambiental. Turismo. Sustentabilidade.

Introdução
O presente resumo está contextualizado com o projeto de pesquisa
PIBIC/UERN/CNPq intitulado Caraterização e diagnóstico de impactos ambientais do
município de Grossos/RN: proposta de background para a atividade turística. Nesse sentido,
está contextualizado com as propostas de implementação e desenvolvimento do turismo na
região do Polo Costa Branca, constituído por 17 municípios, entre os quais o município de
Grossos, objeto deste estudo. Uma das propostas deste projeto é contribuir para o processo de
planejamento e gestão ambiental em nível municipal, sobretudo relacionados ao
desenvolvimento do turismo.
O turismo é uma das principais atividades econômicas do mundo, com maiores índices
de crescimento, representando cerca de 10% da economia mundial (MASSARI, 2016). É uma
atividade que tem no meio ambiente os seus principais atrativos, vindo a se apropriar dos
recursos naturais de áreas receptoras de turistas. Desse modo, o turismo pode impactar o meio
ambiente destas áreas, tanto de forma positiva como de forma negativa.
Segundo Grimm e Sampaio (2017), mesmo sendo considerada uma atividade menos
agressiva que outras, o turismo pode trazer consequências negativas ao meio ambiente, tanto
nos aspectos sociais quanto nos aspectos físicos.
O município de Grossos, localizado na mesorregião Oeste do Rio Grande do Norte, no
litoral setentrional, apresenta uma área dotada de importantes recursos naturais que possuem
forte atratividade turística, como um ambiente costeiro dotado de belas praias e dunas,
rio/estuário em contraste com a paisagem da caatinga, que marca o litoral da Costa Branca, com
o apelo turístico de que é o lugar onde o sertão encontra com o mar. Estas características
moldam os aspectos socioculturais que reforçam a atratividade do lugar. Além disso, a presença
da atividade salineira e a localização estratégica, entre dois municípios de forte apelo turístico
– Areia Branca, um dos carros chefe do Polo Costa Branca, e Tibau, município marcado por
um forte turismo de segunda residência, com provável eixo de expansão direcionado ao
município de Grossos.
Nesse contexto, há uma relativa expectativa de apropriação do território de Grossos
pelo turismo, que pode gerar impactos ambientais significativos, tanto positivos quanto
negativos e que podem gerar a degradação dos recursos naturais, principais atrativos do turismo.
Considerando que o município possui uma dinâmica ambiental própria a ser considerada em
todo e qualquer processo de ocupação territorial e que já possui diversas atividades instaladas
geradoras de impactos ambientais e, considerando ainda as características cumulativas e
sinérgicas dos impactos ambientais, este estudo objetivou realizar uma breve análise dos

1
Estudante do curso de Gestão Ambiental do Departamento de Gestão Ambiental/FACEM da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte - UERN; claudemircosta@alu.uern.br
2
Professor adjunto do Departamento de Gestão Ambiental/FACEM da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte - UERN, pesquisador do Grupo de Estudos em Gestão Ambiental; wendsonmedeiros@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 963
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

principais impactos ambientais presentes no município de Grossos de modo a contribuir para a


produção de um background de impactos ambientais que venha a subsidiar ações de
planejamento e gestão ambiental municipal, voltados ao desenvolvimento do turismo de modo
sustentável.
Metodologia
Os procedimentos metodológicos estão pautados em pesquisa bibliográfica, pesquisa
de campo e análise de impactos ambientais.
A pesquisa de campo foi realizada no mês de fevereiro de 2020 com o intuito coletar
dados in loco quanto à identificação das atividades humanas já instaladas no município (agentes
de impactos), bem como os seus impactos ambientais, interferências na paisagem e
georreferenciamento dos impactos ambientais identificados. Para o georreferenciamento, fez-
se uso de um GPS modelo Garmim Etrex 30, cedido pelo Núcleo de Estudos Socioambientais
e Territoriais da UERN.
Também se fundamentou na análise ambiental sistêmica, considerando-se a integração
entre a dinâmica ambiental e a interferência humana. A concepção de impacto ambiental
adotada seguiu a Resolução nº 01/1986-CONAMA que define impacto ambiental como
qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das
atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a
segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a
qualidade dos recursos ambientais (CONAMA, 1986, Art. 1º).
Uma vez identificados os principais impactos, estes foram avaliados quanto aos
atributos e parâmetros caráter, magnitude e escala, adaptados do método proposto por Oliveira
e Medeiros (2007), conforme discriminado a seguir:
• Caráter: representa a influência de uma ação/atividade na área afetada, tendo como resposta
uma alteração no seu constituinte ambiental. Positivo (P): quando a ação realizada/atividade
produz uma alteração benéfica no constituinte ambiental ou na área. Negativo (N). Quando
a ação realizada/atividade produz uma alteração adversa no constituinte ambiental ou na
área.
• Magnitude: representa a força do impacto ambiental, apresentando-se numa dimensão que
se torna gradual às diferenciadas ações/atividades produtoras dos impactos no sistema
ambiental. Fraca (Fr). Quando as alterações são pouco expressivas, não provocando
descaracterização dos constituintes ambientais ou da área. Moderada (Md): quando as
alterações são medianamente elevadas, a ponto de descaracterizar constituintes ambientais
ou a área. Forte (F). quando as alterações são expressivas a ponto de provocar
descaracterização dos constituintes ambientais ou da área.
• Escala. Delimita a extensão espacial do impacto, tendo como referência a relação entre a
ação causadora/atividade e a extensão territorial atingida/afetada. Local (L). Quando a
extensão do impacto se restringe à area impactada ou no máximo à área de estudo ou
município. Regional (R). Quando a extensão do impacto ultrapassa os limites territoriais
municipais.
Em seguida, procedeu-se a uma breve discussão analítica dos impactos ambientais.

Resultados e discussão
Foram identificados e georreferenciados os principais impactos ambientais e/ou
agentes produtores de impactos ambientais no espaço turístico do município de Grossos (figura

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 964
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

1). Os impactos identificados estão relacionados ao efetivo uso e ocupação do solo e associados
às principais atividades produtivas presentes no município, os quais serão listados a seguir.
Figura 1- Distribuição dos principais impactos/agentes de impactos identificados no espaço turístico
do município de Grossos/RN.

Fonte: Pesquisa de campo, fev/2020.

1. Poluição hídrica. (N-Md-R) A poluição hídrica identificada no município de Grossos está,


predominantemente, situada no rio Apodi-Mossoró. Tem como um dos principais agentes ou
atividades impactantes a navegação, seja para transporte por meio das balsas que fazem a
ligação com o município de Areia Branca, seja por meio da atracação de barcos pesqueiros, seja
por meio da trafegabilidade de balsas para escoamento da produção salineira. No pequeno ponto
de atracação das embarcações, foi possível perceber visualmente a presença de óleos e graxas
na água, o que no contexto da foz do rio Apodi-Mossoró, torna-se cumulativo à poluição gerada
pelo porto do município vizinho, Areia Branca.
Além desta fonte de poluição, soma-se o lançamento de esgotos in natura de pequenos
estabelecimentos comerciais e da ocupação urbana em área desprovida de saneamento básico.
Estes lançamentos são realizados diretamente no rio Apodi-Mossoró, mas também nos canais
de marés situados à margem do rio.
2. Deposição inadequada de resíduos sólidos (N-Fr-L). Foi verificada a deposição de resíduos
sólidos em pequena quantidade, em área interior, mais afastada da linha de costa. Este impacto,
embora de pouca magnitude e de escala local, levanta a necessidade de uma melhor gestão
ambiental dos resíduos sólidos em nível municipal.
3. Ocupação irregular em áreas de marinha (N-Md-L). Próximo à faixa de praia identificou-
se um processo de ocupação por residências, algumas com características de uso turístico
(turismo de segunda residência) que se deu através de um processo de desmatamento de
vegetação original de restinga e de degradação de ambientes dunares. Em decorrência de terem
sido instaladas em áreas instáveis ambientalmente, devido à dinâmica sedimentar costeira, boa
parte destas áreas e destas ocupações estão vulneráveis ao risco de avanço das dunas e de erosão
costeira.
4. Degradação da paisagem (N-F-L). Observou-se a existência de uma grande cratera
provavelmente devido à extração de material de empréstimo, propiciando uma vasta área
degradada. Assentada sob os tabuleiros, além da retirada da vegetação original e da alteração
da topografia, tem-se o alagamento temporário dessa área, provocando riscos à proliferação de
vetores de doenças e à contaminação do lençol freático.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 965
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

5. Artificialização da drenagem natural (N-F-R). Este impacto está associado, principalmente,


à atividade salineira, historicamente instalada no município, que promoveu alguns desvios de
cursos d’água e represamento de afluentes e canais de maré, propiciando um alagamento
permanente da área da planície fluviomarinha.
6. Salinização dos solos (N-Md-L). A salinização dos solos, sobretudo da área da planície
fluviomarinha, é outro impacto negativo associado à atividade salineira. Associado a este
impacto há, ainda, potencial risco de salinização do lençol freático.
7. Salinização dos corpos hídricos (N-F-R). A salinização dos corpos hídricos, sobretudo os
canais de marés e o rio Apodi-Mossoró estão associados ao lançamento de águas mães
decorrentes do processo de produção do sal marinho na área de estudo. Se pouco controlado,
este impacto pode desencadear sérios desequilíbrios ao meio aquático da área de estudo,
estendendo-se para além dos limites municipais de Grossos.
8. Desmatamento (N-Md-L). Este impacto, muitas vezes associado ao início de qualquer
processo de ocupação de um dado território, engloba tanto a retirada de vegetação original de
Caatinga, de restingas e fixadoras de dunas, bem como de manguezais e vegetação de transição
em áreas de apicum. Tanto a instalação histórica da atividade salineira, como o processo de
expansão urbana, as atividades agropecuárias, a ocupação com casas de veraneio e de segunda
residência e a atividade de carcinicultura marinha têm contribuído com esse processo de
desmatamento e de degradação ambiental.
9. Assoreamento (N-F-R). Corresponde ao soterramento de cursos ou corpos d’água. Trata-se de
um impacto negativo observado no canal do rio Apodi-Mossoró, na foz, bem como nos canais
de maré visitados. Suas causas podem estão atribuídas a fatores antrópicos, como a devastação
dos manguezais ao longo do histórico processo de ocupação humana, aos barramentos do canal
principal e de seus afluentes, propiciando uma menor energia hidráulica no fluxo sedimentar
natural. Além disso, pode ter interferência da neotectônica, que condiciona a drenagem e o
processo de transferência de sedimentos para o litoral (MAIA; BEZERRA, 2012).
10. Degradação de Dunas (N-Md-L). As dunas constituem uma importante unidade de paisagem
do município e com importante valor ambiental, ecológico e turístico. Contudo, ao longo do
tempo, parte das dunas vem sendo degradadas para dar lugar a assentamentos humanos, como
residências direcionadas ao turismo ou lazer. Muitas dessas ocupações, no entanto, encontram-
se ameaçadas pelo avanço das dunas.
11. Geração de emprego e renda (P-Md-R). A presença da atividade salineira, principalmente,
tem sido responsável por boa parte da geração de receitas e de emprego para o município e seus
munícipes, muitas vezes, tornando-se as principais alternativas de emprego permanente no
município e dinamizando a economia do município, juntamente com a carcinicultura marinha
e atividades de serviços e agropecuária.
Esta breve análise dos impactos ambientais permite um conhecimento prévio, um
background, que pode auxiliar no processo de gestão ambiental desses impactos e de impactos
futuros a serem gerados com um possível incremento da atividade turística, como é a
expectativa do Polo Costa Branca.
O turismo é uma atividade que arrasta consigo mais de 55 outros setores da economia.
Para se instalar, precisa preparar o espaço receptor, dotá-lo de estruturas mínimas que efetivem
a função turística do território. Assim, pode-se prever a abertura de novas estradas e vias de
acesso; a ocupação mais densa na faixa costeira, principalmente, em razão do modelo de
turismo de sol e mar, para a instalação de equipamentos de restauração e hospedagem; a
ampliação de serviços na área urbana entre outros. Estas possíveis alterações trazem consigo
novas alterações no meio ambiente e na paisagem local, produzindo impactos como
desmatamento, degradação de área de dunas, impermeabilização do solo, aumento na geração
de resíduos sólidos e esgotos, intensificando a poluição ambiental (hídrica, do solo e do ar),
demanda por mais áreas para disposição desses resíduos (mais desmatamento e degradação de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 966
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

áreas naturais). Com isso, alguns dos impactos já identificados poderão a ser ampliados e, a
característica sinérgica e cumulativa dos impactos ambientais, demandará todo um processo de
gestão ambiental voltado à manutenção de um estado harmônico entre sociedade e meio
ambiente de modo que a atividade turística possa se desenvolver de modo sustentável e
promover os seus benefícios, sobretudo, relacionados ao emprego e renda, tão necessários neste
município e em muitos outros do Rio Grande do Norte.

Considerações finais
A identificação de impactos já existentes no meio ambiente de uma localidade que
prevê uma intensificação da ocupação por qualquer outra atividade prevista em planos e
programas governamentais, como é o caso de Grossos que integra o Polo Costa Branca de
Turismo, é de suma importância para um processo de planejamento e gestão ambiental em nível
territorial.
Os impactos identificados permitem que a atividade turística a ser instalada,
independente de processos de licenciamento ambiental obrigatórios, conforme a lei, seja
pensada de modo a ocupar áreas mais propícias e ambientalmente adequadas, de modo a
minimizar os impactos futuros a serem gerados, bem como minimizar os efeitos sinérgicos e
cumulativos dos impactos ambientais, propiciando maior estabilidade da atividade turística ao
longo do tempo.
Como o território de Grossos apresenta uma dinâmica ambiental instável, sobretudo
associada aos processos costeiros (erosão eólica e costeira), o conhecimento prévio do território
e desta dinâmica, bem como dos impactos identificados, permite predizer, com maior acurácia
os impactos futuros da atividade turística.
Por fim, a baixa ocupação do território compreende uma grande oportunidade de se
promover uma ocupação turística planejada, evitando problemas futuros já bem conhecidos da
ocupação turística em outras áreas costeiras do Nordeste brasileiro.

Agradecimentos
Ao CNPq pela concessão de bolsa durante os meses de maio a julho de 2020.
Ao Núcleo de Estudos Socioambientais e Territoriais do Departamento de Gestão Ambiental
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pelo apoio logístico para a realização da
pesquisa.

Referências
CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução Conama nº 001,
de 23 de janeiro de 1986. Diário Oficial da União, 17 de fevereiro de 1986.
GRIMM, I. J.; SAMPAIO, C.A.C. Crise ambiental, política climática e o turismo: Algumas
reflexões. Revista Brasileira de Ciências Ambientais, Brasil, Online, n. 44, p. 95-112, 2017.
OLIVEIRA, F.F.G.; MEDEIROS, W.D.A. Bases teórico-conceituais de métodos para avaliação
de impactos ambientais em EIA/RIMA. Mercator – Revista de Geografia da UFC. Fortaleza,
ano 06, n. 11, p. 79-92, 2007.
MAIA, R. P.; BEZERRA, F. H. R. Geomorfologia e Neotectônica da bacia hidrográfica do rio
Apodi-Mossoró – NE/Brasil. Mercator, v. 11, n. 24, Fortaleza, jan-abr. p. 209-228, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 967
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

IMPACTOS DA EXPANSÃO DA ENERGIA EÓLICA NO LITORAL


NORTE-RIO-GRANDENSE

Ronaria Nayane Santos da Silva1; José Elesbão de Almeida2

Palavras-chave: Investimentos. Eletricidade. Crescimento. Emprego. Renda.

Introdução
Desde o século XIX o modelo de crescimento industrial baseou-se de forma
predominante no uso exacerbado de energia e de recursos naturais não renováveis, com
impactos danosos ao meio ambiente. Esse padrão de crescimento deu evidentes sinais de
exaustão já na segunda metade do século XX, redundando na realização de uma série de eventos
com o propósito de chamar atenção para os limites do crescimento a qualquer custo. Nos anos
recentes tem se observado uma maior preocupação dos agentes governamentais com a
implementação de políticas voltadas à mitigação das mudanças climáticas, graças a elevação
do tom das críticas nos fóruns internacionais, com o agravamento dos problemas ambientais e
da tomada de consciência em esfera planetária dos danos causados à sociedade e ao meio
ambiente pelo modelo de desenvolvimento que surgiu da Revolução Industrial. Ao mesmo
tempo como válvula de escape tem se intensificado a corrida pelo desenvolvimento de novas
tecnologias e a inclusão de energias renováveis, principalmente eólica, solar, biomassa e
biodiesel, na matriz energética, tanto em nível mundial como nacionalmente.
Estudos como o da ANEEL (2009) dá indicações de que, historicamente, a energia
eólica era utilizada há milhares de anos no bombeamento de água, moagem de grãos e outras
aplicações que envolviam energia mecânica. A propósito, podemos mencionar que a energia
dos ventos também era utilizada no tempo das grandes navegações. Os Gregos, Romanos, e
mais tarde os portugueses, por exemplo, utilizaram-na para mover, total ou parcialmente, os
seus barcos, visando o comércio a longa distância, conquistando novos domínios ou explorando
mares desconhecidos. Quanto a geração de eletricidade, as primeiras tentativas surgiram no
final do século XIX, mas somente um século depois, com a crise internacional do petróleo na
década de 1970, foi que ocorreram interesses e realizações de investimentos para viabilizar o
desenvolvimento e aplicação de equipamentos em escala comercial.
Na nova agenda de ações da ONU, para o desenvolvimento sustentável, até 2030,
foram estabelecidos 17 objetivos, dentre os quais merece destaque o acesso confiável,
sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos, conforme estabelecido no 7°.
Para isso, será necessário expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia, principalmente
de países em desenvolvimento e menos desenvolvidos, para o fornecimento de serviços de
energia modernos e sustentáveis. Foi nesse contexto, portanto, que se deu a preocupação com
a exploração de energias renováveis no Brasil nos anos recentes. A partir de vários estudos
pôde-se verificar e comprovar que o Brasil sempre foi um dos poucos países detentores de
grandes fontes renováveis de energias, como solar, biomassa, biodiesel, geotérmica e eólica.

1
Aluna do 8º Período do curso de Ciências Econômicas/CAPF/UERN. E-mail: nayane_santos2014@hotmail.com
2
Doutor em Economia, professor do Departamento de Economia/CAPF. Líder do Núcleo de Estudos em Economia
Política do Desenvolvimento – NEEPOD/CAPF/UERN. E-mail: elesbaoalmeida@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 968
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O objetivo da pesquisa foi estudar a expansão dos investimentos na geração de energia


eólica como alternativa sustentável na produção de eletricidade para a composição da matriz
energética do Rio Grande do Norte, no intuito de identificar os fatores determinantes da
localização dos referidos empreendimentos no litoral potiguar, particularmente na região da
costa branca e seus efeitos positivos e negativos para a economia local, além de mensurar os
impactos econômicos causados pela instalação dos parques eólicos nas referidas localidades.
Metodologia
A área delimitada para o desenvolvimento da pesquisa foi a região denominada “Costa
Branca”, localizada entre a parte central e oeste do Rio Grande do Norte, a qual é composta
pelos seguintes municípios: Areia Branca, Galinhos, Grossos, Guamaré, Macau, Porto do
Mangue, Mossoró, São Rafael, Serra do Mel e Tibau.
Para o desenvolvimento da pesquisa utilizamos dados secundários, publicados pela
Revista Brasil Energia, Associação Brasileira de Energia Eólica – ABEEÓLICA, BNDES,
livros, jornais, teses, dissertações, monografias, além de estudos desenvolvidos por alguns
especialistas, bem como relatórios e Boletins da ANEEL (Agencia Nacional de Energia
Elétrica), do CRESESB (Centro de referência para Energia Solar e Eólica), do CERNE (Centro
de Estratégicas em Recursos Naturais & Energia), IDEMA-RN, dentre outros.
No mapa 1 abaixo podemos perceber que a região Nordeste se encontra em posição
privilegiada quando comparada com o restante das regiões brasileiras, com potencial capaz de
gerar mais energia do que as outras quatro regiões restantes juntas, sendo o Rio Grande do
Norte o estado com maior capacidade de produção, tendo em vista sua localização geográfica
diferenciada, cuja velocidade dos ventos é mais favorável.

Mapa 1: Potencial Eólico do Brasil (2001)

Fonte: O Atlas do Potencial Eólico (2001).

Como fica nítido no mapa, a região nordestina apresenta condições mais favoráveis à
produção de energia gerada pelo vento, em virtude da sua localização geográfica privilegiada
cuja velocidade dos ventos varia de 7 a 8,5m/s, a uma altura de 50 metros. O destaque está no
Rio Grande do Norte, onde os ventos são bem mais frequentes. Some-se isso vários outros
atrativos, como créditos facilitados do BNDES, além dos incentivos fiscais oferecidos pelo
governo potiguar para atrair instalações de parques para a região.
Os cinco estados com maior geração em 2018 foram Rio Grande do Norte (13,64
TWh), Bahia (11 TWh), Piauí (5,9 TWh), Rio Grande do Sul (5,56 TWh) e Ceará (5,53 TWh).
Em setembro de 2018, 74,12% da energia consumida no Nordeste veio de usinas eólicas
instaladas na região, com fator de capacidade de 76,58% e geração de 7.839,65 MWméd.
Convém destacar ainda, que no mesmo período, 13,98% da energia consumida no SIN (Sistema
Interligado Nacional) provinha do sistema eólico, com fator de capacidade de 72,30% e geração
de 8.983,58 MWméd (ABEEÓLICA, 2018). O SIN é composto por quatro subsistemas, quais
sejam: Nordeste, Norte, Sudeste/Centro Oeste e Sul.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 969
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A capacidade instalada de energia eólica no Brasil subiu para 14,7 gigawatts (GW) em
2018, um aumento de 15,7% em relação a 2017, segundo informou a Associação Brasileira de
Energia Eólica (ABEEÓLICA). Ao todo, em 2019, o Brasil já contava com 583 parques eólicos
em 12 estados, com destaque para o Rio Grande do Norte (150) e Bahia (135).
Resultados e Discussões
Espera-se que o elevado desempenho do posicionamento do RN em termos de geração
de eletricidade proveniente da força do vento venha a se constituir em uma importante estratégia
de desenvolvimento para o estado e sobretudo para os municípios localizados no entorno dos
parques eólicos. Não obstante, essa possibilidade depende de um planejamento adequado e
criação de infraestrutura e boa logística para construção de torres, pás e outros equipamentos
utilizados nas instalações dos parques eólicos, além da ampliação das redes de transmissão em
construção bem como da formação de mão de obra qualificada para a prestação de serviços
especializados de manutenção dos aerogeradores.
Mapa 2: Situação das usinas eólicas no estado do RN

Fonte: ANEEL / Global Wind Atlas (2020).

Atualmente, o estado do RN conta com 441 usinas, sendo 156 em operação, 12 em


construção, 12 vencedores em leilão e 211 DRO. As cores do mapa 2 acima indicam a
velocidade dos ventos, sendo o azul mais fraco e o vermelho mais intenso. Assim, como
podemos observar, o potencial do RN para a produção de energia renovável é
consideravelmente elevado, sobretudo eólica. Podemos adicionar ainda que as condições para
geração de energia fotovoltaica, são amplamente favoráveis e atualmente se encontram em
expansão no estado, com vultuosos investimentos já realizados e outros anunciados.
O mapa abaixo mostra o potencial eólico do Rio Grande do Norte, com ventos à altura
de 100 metros. Percebe-se que o referido estado é privilegiado no que se refere à capacidade de
geração de eletricidade a partir dos ventos, tanto pela maior intensidade como em velocidade.

Mapa 3: Potencial eólico do Rio Grande do Norte a 100m de altura

Fonte: COSERN (2003).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 970
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Segundo estudo da COSERN (2003), o Rio Grande do Norte possui posição geográfica
privilegiada, no que se refere ao potencial eólico, com ventos mais intensos principalmente no
seu litoral, cuja velocidade varia entre 7m/s e 9m/s, mas também com potencial no interior, nas
áreas elevadas do litoral (Norte e Nordeste do estado) e nas regiões serranas.
Os estudos relativos aos impactos das atividades eólicas são razoavelmente escassos e
ainda se encontram em fase de desenvolvimento, tendo em vista que as instalações desses
empreendimentos são recentes. Pode-se considerar que esse tema constitui um campo vasto
para novas pesquisas sobre os efeitos externalizantes dos parques eólicos. Não obstante, há
perspectivas de geração de externalidades positivas, com a criação de postos de trabalho, na
fabricação de torres, na instalação e manutenção dos aerogeradores, além de oportunidades de
serviços especializados e pagamentos de royalties aos proprietários de terras onde se localizam
as usinas eólicas. Quase sempre localizados em áreas pouco desenvolvidas, os
empreendimentos eólicos contribuem para a geração de emprego e renda para a população local,
ainda que em capacidade reduzida. Nos últimos anos, com a construção dos primeiros parques
eólicos no RN, várias famílias passaram a contar com uma renda adicional, como é o caso de
algumas comunidades em Guamaré, João Câmara, Parazinho e Serra do Mel.
Conclusão
Pode-se concluir, que a produção de energia através da fonte eólica tem sido
significativa para o estado do RN, contribuindo para a diversificação da matriz energética
nacional e estadual, ampliando a oferta por fontes alternativas, sustentáveis e limpas, reduzindo
os impactos ambientais e sociais. Dentre os fatores determinantes para a instalação destes
empreendimentos no estado podemos considerar a disponibilidade de recurso (vento favorável),
a localização privilegiada da costa branca potiguar, além de crédito facilitado e incentivos
fiscais oferecidos pelo governo do estado. Estes são fatores principais que concorreram para a
instalação dos aerogeradores no referido estado.
Dentre os efeitos externalizantes, pode-se destacar a instalação de várias empresas no
entorno dos parques eólicos, desde a fabricação de torres até prestadoras de serviços
especializados e treinamento de mão-de-obra para o referido segmento, bem como a geração de
emprego e renda nas comunidades onde as usinas estão instaladas, além de royalties aos
proprietários de terras.

Bibliografia
ABEEÓLICA. Associação Brasileira de Energia Eólica. Boletim de Dados. Janeiro de 2016.
Disponível em: http://abeeolica.org.br/pdf/Boletim-de-Dados-ABEEolica-Janeiro-2016-
Publico.pdf. Acesso em: 28 set. 2016.
ABEEOLICA. Associação Brasileira de Energia Eólica. Disponível em: www.abeeolica.org.br.
Acesso em: 07/02/2018.
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA - ANEEL. Matriz de energia elétrica.
2009. Disponível em:
<http://aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/operacaocapacidadebrasil.asp> Acesso em:
20 fev. 2016.
BRASIL. Atlas do Potencial Eólico Brasileiro. Brasília, 2001.
CERNE. A Indústria dos Ventos e o Rio Grande do Norte. Natal, 2014.
CERNE: Centro de estratégias em recursos naturais e energia. Disponível em:
http://cerne.org.br/energia-eolica, acesso em: 15/02/2018.
COSERN. Potencial Eólico do Estado do Rio Grande do Norte. 2003. Disponível em
<http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/download/atlas_eolico/atlas_eolico_RN.pdf>.
Acesso em: 15 set. 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 971
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INFRAESTRUTURA DOS MUNICIPIOS DO SEMIARIDO: UMA


APLICAÇÃO DA TECNICA DE ANALISE MULTIVARIADA.
Alriane Silvestre da Silva¹; Ionara Jane de Araújo²

Palavras-chave: índices de infraestrutura. Componentes principais. Análise de


conglomerados.

1 INTRODUÇÃO

A infraestrutura tem um papel fundamental para o crescimento e desenvolvimento de


uma região, impactando diretamente na qualidade de vida da população. A solução dos
problemas de infraestrutura é condição necessária para a melhoria do bem-estar da população,
ao ampliar a infraestrutura, há uma redução de custos e aumento da produtividade, o
aprimoramento da qualidade dos bens e serviços permite que todos tenham acesso a serviços
básicos.

De acordo com Graefe et.al, (2008), os maiores beneficiados com o desenvolvimento


da infraestrutura são os mais pobres, os autores ressaltam que problemas de acesso a água estão
mais relacionados a infraestrutura do que a sua escassez, a insuficiência de energia elétrica é
devastador para a saúde, melhores sistema de transporte e estradas pode proporcionar melhor
acesso às escolas, hospitais e centros comerciais, o que, por sua vez, melhoraria a educação,
saúde e oportunidades de negócios, ou seja, melhoria na infraestrutura pode aumentar as
oportunidades econômicas fortalecendo o potencial de uma região gerando desenvolvimento.

Investimento em infraestrutura social e urbana torna-se um importante fator de


competitividade econômica além de atrair indivíduos e firmas gerando um maior
desenvolvimento das cidades e regiões. Um exemplo de que essas análise se converge
permitindo uma melhor compreensão da questão da infraestrutura adequada para a promoção
do desenvolvimento é a “importância que a disponibilidade de equipamentos e serviços de
saúde e educação(...), tem tido na decisão locacional de empresas que não querem que seus
executivos e técnicos (e suas respectivas famílias) se instalem em cidades e/ou regiões nas quais
esses serviços são precários ou deficientes” Ipea (2015).

Dada a importância da infraestrutura para o desenvolvimento de uma região, optou-se


em hierarquizar os municípios do semiárido através da análise fatorial, determinando para tal
algumas variáveis referentes a infraestrutura, sendo possível identificar quais desses fatores tem
maior ou menor influência no resultado obtido. A análise fatorial é uma técnica aplicada em
várias áreas de estudo, especificamente para o desenvolvimento é possível destacar os trabalhos
de Barbosa(2013), Rosado; Rossato e Lima (2015), Morais; Sobreira e Lima(2018),
Marques(2010), Benitez (1998) entre outros.

_____________________________________________
1
Estudante do curso de Ciências Econômicas. Departamento de Economia/Campus Assu. Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte; e-mail: alriane.silvestre@gmail.com

2
Professores do Departamento de Ciências Econômicas/Campus Assu. Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte. Participante do Grupo de Pesquisa Gestão do Território e Desenvolvimento Regional e Altos Estudos
Econômicos ; e-mail: ionarajane@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 972
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

De acordo com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), o


Semiárido Brasileiro é composto por 1.262 municípios, dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará,
Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. Onde os
critérios para delimitação do Semiárido foram aprovados pelas Resoluções do Conselho
Deliberativo do referido órgão de nº 107, de 27/07/2017 e de nº 115, de 23/11/2017.

Mais do que qualquer outra área do país, o semiárido brasileiro é altamente dependente
dos elementos climáticos, que definem, há séculos, a sobrevivência das famílias e dos rebanhos.
Caracteristicamente essa região sempre passou por grandes secas e, mesmo em anos regulares
ou bons, a precipitação, que ocorre em quatro meses, apresenta-se de maneira muito variável
no tempo e no espaço, inclusive com grande número de dias sem chuva durante a estação
chuvosa, comprometendo a disponibilidade de água e forragem durante todo o ano (CORREIA
et al, 2011).

Diante do exposto o presente trabalho se justifica por não haver nenhuma analise
utilizando a técnica destacada para os municípios do semiárido, com variáveis relacionadas a
infraestrutura, sendo um fator determinante, dada a vulnerabilidade da região, Teixeira(2016)
destacas que para região ter um balanço econômico positivo, envolve uma maior infraestrutura,
tanto rural como urbana, viabilizando o acesso da população aos serviços de saúde, educação
entre outros no presente trabalho será possível identificar quais variáveis contribui de forma
negativa ou positiva para colocação dos municípios quanto a sua infraestrutura.

O objetivo Geral do presente trabalho é classificar os municípios do semiárido quanto


a sua infraestrutura a partir da análise multivariada, tendo como objetivos específicos: validar
as variáveis escolhidas; Calcular o índice de infraestrutura dos municípios do semiárido;
classificar os municípios quanto ao índice e Identificar as variáveis que influenciam os níveis
de infraestrutura.

2 METODOLOGIA

2.1 Área geográfica de estudo

O semiárido brasileiro corresponde a 1262 municípios, onde atualmente abrange todos


os estado do Nordeste e parte do estado de Minas Gerais localizado no Centro Oeste, a inclusão
do Maranhão, único estado que não fazia parte, ocorreu em 2017, quando o conselho
deliberativo da SUDENE (2017), aprovou novos critérios para delimitação do Semiárido,
incluiu mais 73 municípios distribuídos em sete estados: Bahia, Ceará, Maranhão, Minas
Gerais, Paraíba, Pernambuco e Piauí. De acordo com o Instituto Nacional do Semiarido
(INSA)(2017), ao acrescentar as novas localidades a população total da área é de 27.870.241
habitantes, com densidade demográfica de 25 hab/km². O presente artigo trabalhou com a
totalidade dos municípios.

2.2 Natureza, fonte dos dados e variáveis

Com a finalidade de calcular o índice dos municípios e a partir dele classifica-los


quanto o nível de infraestrutura dentro da área estudada, foram selecionados a princípio 12
variáveis, mas após alguns testes, optou-se em trabalhar com 9, listadas abaixo, que de forma
conjunta expressa a infraestrutura de um município. As variáveis são de origem secundária
retidas do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Censo Demográfico
2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 973
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Quadro1 – Variáveis a serem analisadas


Lixo acumulado nos Iluminação pública Rede geral de abastecimento
logradouros de água
Rede geral de esgoto Existência de energia elétrica Calçada
Lixo coletado Pavimentação Esgoto a céu aberto
Fonte: Elaborado pelas autores a partir dos dados do Censo Demográfico 2010.

2.3 Método de análise dos dados


Como recurso analítico para construção do índice dos município do semiárido, foi
utilizada a técnica multivariada a partir da análise fatorial, a qual fornece elementos para analisar a
estrutura de interrelações de um conjunto de variáveis, procurando descrevê-las através de um
número menor de índices ou fatores, buscando identificar um fator comum (Fávero,2009). Para
atingir o objetivo foi utilizado Software estatístico IBM SPSS Statistics 20, aplicando o método dos
componentes principais e a análise de conglomerados não Hierárquicos K-médias. Após a
confirmação da utilização do modelo, afim de calcular o índice, é gerada as comunalidades, os
autovalores e as cargas fatoriais,
O cálculo do Índice de Infraestrutura (IINFE) para os municípios do Semiárido, foi
baseado no Índice Geral de Degradação (IGD) de Cunha et.al (2008), dado por:
𝑝
𝜆𝑗 ∗
𝐼𝐼𝑁𝐹𝐸 = ∑ 𝐹
∑ 𝜆𝑗 𝑗𝑖
𝑗=1

Em que IINFEi é o índice de infraestrutura para o i-ésimo município; 𝜆𝑗 é o valor total


do autovalor de cada fator extraído(p); ∑ 𝜆𝑗 é a somatória desses valores totais; a explicação de
cada fator na variância total é dado pela razão entre o valor total de cada fator pela soma dos
valores totais e o 𝐹𝑗𝑖∗ é o j-ésimo escore fatorial padronizado do i-ésimo município,

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a construção do índice dos municípios do semiárido, foi necessário a aplicação


de alguns pressupostos, para afirmar a adequação da analise fatorial, sendo destacado por
Fávero (2009) a matriz de correlações, verificar a estatística Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e o
teste de esfericidade de Bartlett e analisar a matriz anti-imagem.

Foi possível identificar na matriz de correlação, valores significativos entre as


variáveis para justificar a o uso da técnica, a confirmação veio com o teste de Bartlett que
avalia a hipótese de que a matriz de correlações pode ser a matriz identidade, essa hipótese não
foi afirmada, assim foi possível utilizar o método da análise fatorial.

A estatística do KMO nos diz se o modelo está adequado, os valores variam entre 0 e
1, onde de acordo com Fávero et.al (2009), esses valores mostram o grau de correlação parcial
entre as variáveis, quanto mais próximo de 1 for o valor, mais adequada está o modelo e valores
acima de 0,6 indica que a análise pode ser considerada adequada. O valor obtido no teste foi de
0,678. E finalmente para ajustar o modelo, com a matriz anti-imagem, foi possível definir as
variáveis trabalhadas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 974
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Após o ajuste do modelo, o método dos componentes principais foi aplicado, sendo
possível agrupar os municípios de acordo com características similares. Os fatores selecionados
explica 66,33% do modelo, determinados pelos autovalores gerados. Em uma escala de 0 a 100,
o índice de infraestrutura urbana médio foi de 47,74 com um desvio padrão de 11,83. Isto
significa que os municípios com índice de infraestrutura urbana maior que 59,57 foram
classificados com grau de infraestrutura alta ; os municípios com índice de infraestrutura urbana
entre 47,74 e 59,56 foram classificadas com grau de infraestrutura média; e municípios com
índice menor que 47,74 foram classificadas com baixo grau de infraestrutura.
A tabela 1 sintetiza as informações de acordo com o grau de infraestrutura dos
municípios do semiárido.

Tabela 1 - Frequência dos municípios do semiárido quanto ao grau de infraestrutura (2010)


Grupos Frequência Absoluta Frequência Relativa
Baixo 655 51,90
Médio 395 31,29
Alto 212 16,81
Total 1262 100
Fonte: Elaboração própria com base nos resultados.

Em relação aos municípios classificadas com alto grau de infraestrutura, 212 deles
foram classificadas nesse grupo, o que representa 16,81% do total. 395 municípios foram
classificadas com média infraestrutura, representando 31,29. Por fim, mais de 50% de todos os
municípios foram classificadas com baixo grau de infraestrutura, isto é, 655. Diante dos dados
apresentados, em termos gerais, no Brasil e em particular do semiarido ainda prevalece uma
baixa infraestrutura, sendo necessária uma maior atenção dos órgão competentes para dotar esse
público de necessidades básicas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho buscou demonstrar o nível de infraestrutura dos município do semiárido


brasileiro. Com isso, construiu-se o Índice de infraestrutura dos municípios, através da técnica
de análise multivariada conhecida como análise fatorial. Sendo possível agrupar essas
localidades em categorias: baixa, média e alta.

Após o ranking, foi possível identificar que mais de 50% dos municípios localizados
na região estudada tem um infraestrutura baixa de acordo com as variáveis analisadas. Na
prática esses resultados podem instrumentar os governos locais ou regionais na formulação de
estratégias afim de melhorar a infraestrutura desses municípios

Referências

BARBOSA, F. R. G. M. Índice de desenvolvimento dos municípios da microrregião de


dourados-ms: uma aplicação da análise fatorial. Dourados-MS. 2013

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 975
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BENITEZ, R.M. A infraestrutura, sua relação com a produtividade total dos fatores e seu
reflexo sobre o produto regional. IPEA. nº19. 1999.

BRASIL. Decreto n. 107, de 27 de jul. de 2017. Estabelece critérios técnicos e científicos


para delimitação do Semiárido Brasileiro e procedimentos para revisão de sua
abrangência. Recife, jul. 2017.

CORREIA, R. C.; KIILL, L. H. P.; MOURA, M. S. B. de CUNHA, T. J. F.; JESUS JUNIOR,


L. A.; ARAÚJO, J. L. P. A região Semiárida Brasileira. In: Voltolini, T.V.. (Org.).
Produção de caprinos e ovinos no semiárido. 1ed. Petrolina-PE: Embrapa Semiárido, 2011, v.
1, p. 21-48.

FÁVERO, L.P. et al. Análise da dados: modelagem multivariada para tomada de


decisões. Primeira Edição. Rio de Janeiro. Elsevier. 2009.

GRAEFE, L.et.al. Construindo um Mundo Melhor: O Papel da Infra-Estrutura no


Crescimento Econômico. Econ South .Volume 10, Number 2 Second Quarter 2008.
Disponível em:
<http://www.frbatlanta.org/pubs/econsouth/08q2portugues_construindo_um_mundo_melhor_
o_papel_da_infra-estrutura_no_crescimento_economico.cfm>. Acesso em: 19 jul. 2017.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo Demográfico 2010. Resultados


do universo – características da população e dos domicílios.

Instituto Nacional do Semiárido (INSA). Nova delimitação expande o semiárido até o


Maranhão: 73 novos municípios foram incluídos. 2017.

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Políticas sociais: acompanhamento e


análise. Brasilia.2015.

MARQUES, A. F. Aplicação da análise multivariada na infraestrutura e no desempenho


das escolas públicas do Ensino Fundamental e Médio pertencentes ao Núcleo Regional
de Educação de Paranavaí. Acta Scientiarum Technology, Maringá, v. 32, n. 1, p. 75-81,
2010.

MORAIS, G. A. de S; SOBREIRA, D. B.; DE LIMA, J. E. Padrão e determinantes da


infraestrutura urbana das microrregiões brasileiras. Geosul, Florianópolis, v. 33, n. 66, p. 262-
291, mar. 2018. ISSN 2177-5230. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/2177-5230.2018v33n66p262>.
Acesso em: 22 de jul. 2018. doi:https://doi.org/10.5007/2177-5230.2018v33n66p262.

ROSADO, P. L; ROSSATO,M. V; DE LIMA, J. E. Análise do Desenvolvimento


Socioeconômico das Microrregiões de Minas Gerais. REN. Vol. 40. nº2. 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 976
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MACONHA E LIVRE DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE:


UMA ABORDAGEM CONFORME O TRANSCONSTITUCIONALISMO

Olavo Hamilton Ayres Freire de Andrade 1


Francisca Amanda Lima Pires 2

PALAVRAS-CHAVE: Transconstitucionalismo. Livre desenvolvimento da personalidade. Uso


recreativo da maconha.

Introdução

Impõe-se investigar se o uso recreativo da maconha pode ser reivindicado como


elemento de afirmação da identidade. Para tanto, necessário compreender o direito ao livre
desenvolvimento da personalidade e sua repercussão no contexto do consumo dessa específica
droga. Na hipótese da utilização lúdica dos canabinoides ser entendida como liberdade
protegida por referido instituto, insta, ainda, perscrutar a legitimidade de sua proibição, de
forma a ponderar os bens constitucionais envolvidos.
Nesse contexto, a pesquisa tratou de investigar o caráter transconstitucional tanto na
afirmação do livre desenvolvimento da personalidade, direito vinculado à noção de dignidade
da pessoa humana, quanto sua repercussão no problema do uso recreativo da maconha. Partiu-
se da compreensão do transconstitucionalismo, identificando essa ideia na construção da noção
de livre desenvolvimento da personalidade e no debate do uso recreativo da maconha como
liberdade a ser protegida.

Metodologia

Realizou-se uma análise de duas decisões definitivas de tribunais estrangeiros,


especificamente o Amparo en Revisión 237/2014 (Suprema Corte de Justitia de la Nación de

1
Professor do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; Líder do Projeto de
Pesquisa “Descriminalização do uso recreativo de maconha pelas Cortes Constitucionais: uma abordagem
conforme o transconstitucionalismo”; olavo@hamilton.adv.br.
2
Discente do nono período da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; integrante
do Projeto de Pesquisa “Descriminalização do uso recreativo de maconha pelas Cortes Constitucionais: uma
abordagem conforme o transconstitucionalismo”; amandaliiima22@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 977
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

México) e o caso State v. Kantner (Supreme Court of Hawaii) para identificar, em cada uma
delas, elementos marcadores da teoria do transconstitucionalismo.

Resultados e discussão

Em 31 de maio de 2013, a Sociedad Mexicana de Autoconsumo Responsable y Tolerante


(SMART), em consórcio com algumas pessoas físicas, requereram da autoridade administrativa
competente a expedição de autorização que permitisse a seus associados o consumo regular,
com fins meramente recreativos, do psicoativo cannabis sativa e do psicotrópico THC,
conhecidos por marijuana.
Argumentaram que em razão do consumo de maconha algumas pessoas projetam suas
preferências e características que lhes diferenciam e singularizam, pelo que a proibição
resultaria inconstitucional, porque implicaria na supressão de condutas que conferem ao
indivíduo uma identidade específica, restrição que, no seu entender, não teria justificativa, uma
vez que a imposição de um único padrão de vida saudável não seria admissível em um estado
liberal, que funda sua existência a partir do reconhecimento da singularidade humana e
independência.
O pleito restou negado na esfera administrativa e, levado ao judiciário, chegou à
Suprema Corte de Justicia de la Nación na forma do Amparo en Revisión 237/2014 (2015),
após ter sido indeferido em todas as instâncias anteriores.
O recurso foi a julgamento em 04 de novembro de 2015. Inicialmente, a Suprema Corte
de Justicia de la Nación marcou a definição de livre desenvolvimento da personalidade a partir
de julgados de outras cortes constitucionais. No que Slaughter (2003) identificaria como
fertilização constitucional cruzada, a corte estabeleceu que referido postulado garante uma área
residual de liberdade não compreendida no conteúdo de outras liberdades públicas, protegendo
o livre-arbítrio em certos espaços vitais que, de acordo com a experiência histórica, são mais
susceptíveis de serem afetados pela intervenção estatal. Assim, o livre desenvolvimento da
personalidade seria invocável sempre que a ação humana não estiver tutelada por um direito
de liberdade específico.
No que Marcelo Neves (2009) marcaria como transconstitucionalismo entre ordens
estatais, porque reinterpretação do direito local a partir da incorporação de sentidos normativos
extraídos de outras ordens jurídicas, a corte identificou o instituto do decisional privacy,
decorrente do devido processo legal substancial, como equivalente no direito constitucional
norte-americano, passando a pontuar que o livre desenvolvimento da personalidade se trata de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 978
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

garantia a um âmbito de liberdade na tomada de decisões que somente dizem respeito ao


indivíduo, incluindo aspectos como a maneira de se comportar em público, estilo de vida e
outras perspectivas gerais da ação humana.
Assim, a Suprema Corte de Justicia de la Nación de México exemplificou como
liberdade, decorrente do instituto sob análise, o direito ao exercício de atividades recreativas,
tais como viajar para fora do país, caçar e montar a cavalo, além de outros aspectos, tais aqueles
relacionados à sexualidade e gênero, a exemplo do reconhecimento da transexualidade como
legítima manifestação da individualidade. Da Supreme Court of the United States, citou
julgados que reconheceram como decisões pessoais legítimas, protegidas pelo texto
constitucional, aquelas relacionadas com a contracepção, educação, criação dos filhos,
relacionamento familiar e outras concernentes ao direito a privacidade.
Quanto à questão de fundo, num diálogo constitucional com corte estrangeira de
instância inferior, citando o juiz Levinson em voto divergente da maioria no caso State v.
Kantner (SUPREME COURT OF HAWAII, 1972), a Suprema Corte de Justicia de la Nación
de México reconheceu que a eleição de alguma atividade lúdica ou recreativa é uma decisão
que pertence indubitavelmente a esfera de autonomia pessoal, protegida pela Constituição.
Afirmou que essa decisão pode incluir, como ocorre no caso sob exame, a ingestão ou o
consumo de substâncias que produzam experiências que em algum sentido afetem os
pensamentos, as emoções e/ou as sensações da pessoa. Ressaltou, ainda, que a decisão de fumar
maconha pode ter distintas finalidades, tais como o alívio da tensão, a intensificação das
percepções, o desejo de novas experiências pessoais e espirituais. Por isso, tratando-se de
experiências mentais, encontram-se dentre as mais íntimas e pessoais que alguém pode
experimentar, de tal maneira que a decisão de um indivíduo, maior de idade, de afetar sua
identidade desta maneira com fins recreativos ou lúdicos se encontra tutelada pelo direito ao
livre desenvolvimento da personalidade.
Ainda utilizando o direito estrangeiro, a corte amparou-se na regulação da Holanda,
onde não se pune o consumo quando pequena quantidade da droga é adquirida em coffee shops,
e na do Uruguai, na qual o Estado controla a comercialização, produção e distribuição da
maconha, autorizando ainda o cultivo por indivíduos ou associações, desde que respeitado
certos limites.
Nesse caso, sem dúvida, o reconhecimento do direito ao consumo lúdico da maconha se
deu a partir da compreensão de que o problema das drogas se insere no contexto de um único
sistema funcional da sociedade mundial, ainda que disciplinado pelas mais diversas ordens
jurídicas, demandando abordagem complexa que perpasse esses mesmos ordenamentos, em

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 979
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

diálogo constitucional abrangente e realizado, sobretudo, entre as cortes que tenham como
missão a afirmação dos direitos fundamentais e limitação do poder. Revela-se, portanto, o
conteúdo transconstitucional no enfrentamento do tema.
Quanto à outra decisão analisada, no ano de 1972, a Supreme Court of Hawaii, órgão
de cúpula do judiciário do estado do Havaí, Estados Unidos da América, submeteu a julgamento
uma apelação em que se discutia a constitucionalidade da proibição do uso recreativo da
maconha. Segundo um dos argumentos, não constituiria razoável e racional o exercício do
poder de polícia sobre essa atividade, protegida que seria pela garantia de igual proteção e do
devido processo legal substancial, já que os canabinoides não teriam os mesmos efeitos
danosos que os opiáceos e outras drogas mais nocivas, devendo ser regulada, a exemplo do
álcool e tabaco. Outro argumento era no sentido de que a decisão de utilizar de forma lúdica
referida droga seria liberdade fundamental protegida pelo ordenamento constitucional.
Majoritariamente, a corte considerou que o fato da maconha ser menos nociva que a
maioria das outras drogas ilícitas não torna arbitrária sua proscrição e criminalização. No que
é pertinente ao uso recreativo da maconha como liberdade fundamental, o tribunal entendeu
que a experiência do indivíduo com essa específica droga não se inclui na classe de interesses
que a Constituição concede o mais alto grau de proteção. A vivência do indivíduo com a
maconha diferiria da situação do nativo norte-americano, cuja utilização do peiote, outra
substância entorpecente, faria parte de sua religião e cultura, por isso protegida
constitucionalmente (SUPREME COURT OF HAWAII, 1972). Assim, utilizar canabinoides
não seria liberdade protegida constitucionalmente.
Não obstante o resultado, importante registrar os votos divergentes lançados naquele
julgado. O juiz Levinson (SUPREME COURT OF HAWAII, 1972) entendeu que a questão
fundamental seria saber se o indivíduo tem, constitucionalmente protegido, o direito de induzir,
em si, uma condição mental alucinatória por meio do uso de maconha, ao que respondeu que
tal deve ser reconhecido, fundamentado que estaria na autonomia pessoal e na privacidade, bens
de caráter constitucional que propiciam ao cidadão o estabelecimento de seus projetos de vida.
Prosseguiu enaltecendo a importância da natureza espiritual do homem, de seus sentimentos e
de seu intelecto, asseverando que, derivada da dignidade da pessoa humana, a autonomia
pessoal protegeria o direito do indivíduo de se desenvolver em acordo com suas forças internas,
de forma a se tornar um ser humano único.
Já o juiz Kobayashi (SUPREME COURT OF HAWAII, 1972) consignou ser mais
razoável uma abordagem regulatória do uso recreativo da maconha, à exemplo das bebidas
alcoólicas e do cigarro. Tal mudança legal incutiria na sociedade o respeito que é necessário

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 980
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

para a preservação da justiça penal e, prospectivamente, contribuiria para diminuir a


criminalização da geração mais jovem.
Os dois votos discordes, já em 1972, reconheceram no uso recreativo da maconha, ainda
que sob outros qualificativos (liberdade fundamental, autonomia pessoal, direito à
privacidade), mas com semelhante conteúdo, o direito ao livre desenvolvimento da
personalidade.

Conclusão

O debate sobre o uso recreativo da maconha, enquanto liberdade a ser protegida,


inclusive sob o manto do livre desenvolvimento da personalidade, tem sido submetido como
problema de índole constitucional nas mais diversas ordens jurídicas, sobretudo a partir das
cortes constitucionais, demandando abordagem complexa, de forma a promover a conversação
entre os ordenamentos e atores envolvidos, conducente a reconhecer, não obstante sua inerente
pluralidade, que o problema das drogas se apresenta no contexto de um único sistema funcional
da sociedade mundial. Nesse específico aspecto a atividade dos tribunais tem sido conflituosa,
o que pode ser exemplificado pela discrepância nos casos State v. Kantner (1972) e Amparo en
Revisión 237/2014 (2015), julgados, respectivamente, pela Supreme Court of Hawaii e
Suprema Corte de Justicia de la Nación de México. Tal conflito vigoroso é, também, um
aspecto previsto na teoria do transconstitucionalismo.

Bibliografia

NEVES, M. D. C. P. Transconstitucionalismo. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.


SLAUGHTER, A.-M. A Global Community of Courts. Harvard International Law Journal,
Cambridge, 44, n. 1, 2003. 191-219. , (2003) 44 191.
SUPREMA CORTE DE JUSTITIA DE LA NACIÓN DE MÉXICO. Amparo en Revisión
237/2014. [S.l.]. 2015.
SUPREME COURT OF HAWAII. State v. Kantner. [S.l.]. 1972. USA. State of Hawaii.
ZAFFARONI, E. R. et al. Direito penal brasileiro: teoria geral do direito penal. 4. ed. Rio de
Janeiro: Revan, v. I, 2011.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 981
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MENSURAÇÃO DO ENDIVIDAMENTO E PREJUÍZOS FINANCEIROS


DOS SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS PROVOCADOS PELOS
SUCESSIVOS ATRASOS SALARIAIS PROMOVIDOS PELO GOVERNO
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE NOS ANOS 2016, 2017 e 2018
Brena Samara de Paula1; Pablo Marlon Medeiros da Silva2; Alan Martins de Oliveira3; Rosângela
Queiroz Souza Valdevino4; Auris Martins de Oliveira5.
Palavras-chave: Juros. Empréstimos. Dívidas. Problemas de saúde. Salários congelados.

Introdução
No ano de 2016 foi dado início a uma crise financeira sem precedentes na vida dos
servidores do Estado do Rio Grande do Norte - RN. Aconteceram constantes atrasos salariais no
funcionalismo. Mas, exceções aconteceram, referente aos servidores do legislativo, judiciário,
Ministério Público, Tribunal de Contas, Assembleia Legislativa, professores da rede pública
estadual (ensino médio) cujos salários são pagos com recursos federais, além daqueles de órgãos
que possuem receita própria, como Detran, JUCERN, CAERN etc. Ficaram penalizados os
servidores da Saúde, Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, UERN, Auditores
Fiscais e Técnicos da Tributação, tanto ativos como inativos, e pensionistas do IPERN – Instituto
de Previdência do RN; incluindo-se nestes últimos os professores aposentados do ensino médio.
Nos primeiros meses em 2016, os salários foram pagos no mês seguinte. Porém, dentro do
limite que preceitua a lei. Mas, já a partir da competência agosto os salários foram pagos com
atraso, no dia 19 de setembro. Nos meses seguintes, o governo começou a pagar os salários com
atraso e parcelado no mês seguinte. No ano de 2017, os atrasos nos pagamentos dos salários se
acentuaram. Os salários de janeiro e fevereiro de 2017 foram pagos parcelados, sempre no mês
seguinte, com uma parcela inicial de R$ 4.000 (quatro mil reais) e a segunda parcela no final do
mês subsequente. Aquele ano foi concluído com um atraso três folhas de pagamentos, referentes
a novembro, dezembro, e décimo terceiro salário.
Iniciado o ano de 2018, os salários continuaram sendo pagos sempre com uma parcela
inicial de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) e a segunda parcela nos meses seguintes ao prazo legal.
Os salários do mês de novembro de 2017 foram pagos em janeiro de 2018. Já os salários de
dezembro de 2017 foram pagos em fevereiro de 2018. Os vencimentos de janeiro de 2018 foram
creditados no final de fevereiro de 2018. Por fim, o mês de fevereiro de 2018 foi pago até o fim
de março de 2018, sempre em duas parcelas.
Torna-se mister descrever o que não é o objetivo desta pesquisa. Não é discorrer,
questionar ou fazer conjecturas e análises sobre as quedas na arrecadação colocadas pelo

1 Estudante do Curso de Ciências Contábeis da UERN; E-mail:


brenauern2013@gmail.com
2 Doutor em Administração pela UnP; E-mail: pablo_marlon17@hotmail.com
3 Professor da UFERSA. Doutor em Agronomia pela UFERSA; E-mail:
alanmartins@ufersa.edu.br
4 Professora de Ciências Contábeis da UERN. Doutoranda em Administração pela
UNIFOR; E-mail: rosangelavaldevino@uern.br
5 Professor de Ciências Contábeis da UERN. Doutorando em Ciências Contábeis pela
UNISINOS; E-mail: aurismartins@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 982
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

governo, nem tampouco fazer interpretações técnicas, financeiras ou econômicas sobre as causas
destes desajustes nos pagamentos dos salários de alguns servidores públicos estaduais do RN.
A característica deste trabalho está em mensurar o endividamento e prejuízos financeiros
dos servidores ocasionados pelos sucessivos atrasos salariais nos anos 2016, 2017 e 2018, em um
ambiente de juros elevados na economia e salários congelados. Quando são colocados os termos
endividamento e prejuízos financeiros, parte-se do pressuposto de que esses constantes e
ininterruptos atrasos salariais causaram impactos brutais nas finanças pessoais dos trabalhadores
públicos do RN. Neste sentido, definiu-se como problema, qual o impacto para os servidores
públicos estaduais provocados pelos constantes e ininterruptos atrasos salariais?
Isto posto, segundo Freitag et al. (2009) a contabilidade estuda o patrimônio, sendo
aplicável ao controle do patrimônio pessoal, cuja área se convencionou chamar de finanças
pessoais. Quando se coloca a variável juros, Ishii (2017) afirma que os empresários possuem
algum grau de influência sobre a formação das taxas de juros, enquanto que a influência dos
consumidores (pessoas físicas) sobre juros é inexistente.

Metodologia:
Por sua característica de descrever fenômenos, correlacionando variáveis ou fatos,
implicando em observação, registro e análise, esta pesquisa classifica-se como descritiva
(MARION et al., 2010). Neste sentido, tem-se a afirmação de Silva (2010), este tipo de pesquisa
objetiva descrever as características de determinada população ou fenômeno, relacionando
variáveis existentes. Quanto a sua abordagem, é quantitativa, uma vez que se prevê a aplicação de
métodos quantitativos para interpretação dos fatos detectados (GIL, 2008).
Como forma de coleta de dados, foi feito uso de questionário padrão (MARION et al.,
2010); ou seja, seguiu-se um roteiro predeterminado de perguntas, com questões abertas e
fechadas (MARCONE; LAKATOS, 2017). Os sujeitos de pesquisados foram formados por
servidores públicos do estado do Rio Grande do Norte das áreas da Saúde, Segurança Pública,
UERN, Auditores Fiscais e Técnicos da Tributação, tanto ativos como inativos e pensionistas do
IPERN, incluídos nestes últimos professores aposentados da Rede Estadual de Ensino (ensino
médio), através do envio de questionários elaborados no Google Docs.
Os dados foram coletados no mês de julho de 2020. A amostra resultou em um número de
361 respondentes e seus dados foram tratados utilizando-se técnicas de estatística descritiva.

Resultados e Discussão:

3.1 PERFIL DA AMOSTRA

A amostra contou com um número de 361 respondentes e teve, em sua maioria, servidores
ativos (84,5%), indivíduos atuantes na área de educação por meio da universidade estadual
(43,8%), do sexo masculino (53,2%), de 51 a 60 anos (34,9%), casados ou em união estável
(72%), com filhos (83,7%), com mais de 30 anos de serviço público estadual (26,6%), que
possuem outras pessoas na família que ajudam nas despesas de casa (55,1%) e 72% dos
pesquisados não possuem outro vínculo empregatício. 98% dos respondentes afirmaram ter sido
atingidos pelos constantes atrasos salariais aos servidores públicos do estado do Rio Grande do
Norte nos de 2016 a 2018. Apenas 40% possuíam reservas financeiras para lidar com o problema.
Destes, 25% precisaram utilizar ainda no primeiro ano seus investimentos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 983
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

3.2 DIFERENÇA DE MÉDIA ENTRE OS RESPONDENTES NAS VARIÁVEIS


PESQUISADAS

Em relação à diferença de médias entre as variáveis, que variaram de 1 (sim) até 2 (não)
mediante as respostas dos sujeitos da pesquisa, observou-se que, para a questão de haver reservas
financeiras para lidar com o atraso de salários, indivíduos ligados à saúde (1,78), mulheres (1,72),
aqueles que possuem filhos (1,64), inativos (1,68), dentro da faixa etária entre 51 e 60 anos
(1,68), com mais de 31 anos de serviço (1,64), que possuem outros integrantes da família
ajudando na renda (1,67), e os que não possuem outro vínculo (1,63) apresentaram os maiores
escores, indicando estarem menos preparados para os efeitos do endividamento por não conterem
reservas guardadas para os eventuais infortúnios. Por outro lado, servidores da área de tributação
(1,45), indivíduos mais jovens (1,53), e os que possui entre 11 e 15 anos de serviço público
demonstraram maior precaução diante da realidade adversa.
Questionados sobre a manutenção do padrão de vida durante a crise financeira, 80,1% dos
respondentes alegaram não conseguir manter sua realidade de consumo durante a época de
atrasos salariais, situação que prejudicou, em grande escala, inativos (1,86), servidores da saúde
(1,87), mulheres (1,86), indivíduos de 51 a 60 anos, pessoas separadas ou divorciadas (1,87),
aqueles que possuem filhos (1,81), os que trabalham até 10 anos no serviço público estadual, os
que não possuem outras pessoas na família com renda dentro de casa (1,82) e aqueles que não
possuem outro vínculo empregatício (1,83).
Como meios de minimizar os impactos da crise, 38% dos pesquisados precisaram vender
bens pessoais para conseguir pagar suas dívidas e manter o mínimo necessário para a
sobrevivência da família; 56,8% afirmaram ter se utilizado de cheque especial, com riscos de
aumentarem suas dívidas na época. Além disso, mais de 65% afirmou ter contraído algum tipo de
empréstimo, seja formal ou informal.
Por fim, um fato que chamou a atenção no estudo era que cerca de 43% dos respondentes
afirmaram ter contraído algum tipo de problema de saúde decorrente dos atrasos salariais
corriqueiros, seja físico, psicológico, ou ambos. Dentre esses, os mais afetados foram inativos
(1,50), funcionários da universidade estadual (1,51), mulheres (1,46), indivíduos de 41 a 50 anos
(1,49), viúvos e separados (1,38 e 1,40, respectivamente), com 16 a 20 anos de serviço público
estadual (1,48), os que não recebem ajuda familiar (1,50) e aqueles que não possuem outro
vínculo (1,52). Não houve diferença de médias entre os que possuem filhos ou não.

Conclusões:
O presente artigo teve como objetivo mensurar o impacto dos sucessivos atrasos salariais
para os servidores do RN. As evidências encontradas possibilitaram a constatação de que
mulheres, indivíduos acima de 50 anos, aqueles que possuem filhos, não tem outro vínculo
empregatício, separados ou viúvos foram os que mais tiveram dificuldades em lidar com o
problema, sendo obrigados a tomar medidas emergenciais para minimizar os impactos da crise
gerada, e em muitas situações, acometidos também de doenças físicas, psicológicas ou ambas.
Este trabalho tem um imensurável significado social, ao publicizar os gravíssimos
prejuízos causados por uma decisão administrativa de não se priorizar o pagamento em dia dos
salários dos servidores. Os resultados desta pesquisa servem como alerta para os demais gestores
públicos do RN. Pode servir, ainda, como justificativa para a implantação de políticas públicas de
crédito com juros menores para minimizar os prejuízos identificados, e principalmente para
sensibilizar o governo para a urgente necessidade de quitação dos passivos existentes.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 984
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Ademais, é oportuno ressaltar que, devido a esse trabalho ter utilizado uma amostra por
conveniência, seus resultados não poderão ser extrapolados ao público aqui investigado,
demandando que novos estudos sejam realizados, fazendo uso de técnicas de estatística
inferencial, que permitam um olhar mais aprofundado a respeito da temática.

Referências:
FREITAG, V. C. et al. A contabilidade para Controle das Finanças Pessoais:a visão do
acadêmico. In: SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO (SEMEAD), 12, 2009, São Paulo. Anais
eletrônicos...São Paulo: USP, 2009. Disponível em:
<http:www.ead.usp.br/semead/12semead/resultado/na_resumo.asp?cod_trabalho=669>. Acesso
em: 01 abr. 2017.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 6. ed., 2017.
ISHII, Karlin Saori. O comportamento entre juros e crédito no Brasil para consumidores e
produtores. Revista de Estudos Sociais – Journal of Social Studies, Cuiabá-MT, v. 19. n. 39
(2017).
MARCONI, Maria de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia
científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
MARION, José Carlos; DIAS, Reinaldo; TRALDI, Maria Cristina; MARION, Marcia Maria
Costa. Monografia para os cursos de administração, contabilidade e economia. 2ª ed. São
Paulo, Atlas, 2010.
RICHARDSON, R.J. Pesquisa Social: Métodos e técnicas, 3a. Ed., São Paulo: Editora Atlas,
2014.
SILVA, Antonio Carlos Ribeiro da. Metodologia da pesquisa aplicada à contabilidade:
orientações de estudos, projetos, artigos, relatórios, monografias, dissertações, teses. 3. ed. São
Paulo: Atlas, 2010.
SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elaboração de
dissertação. 3. ed. rev. atual. Florianópolis: Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, 2001.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 985
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MODELOS MENTAIS NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO DE


EMPREENDEDORES NA CIDADE DE LIMOEIRO DO NORTE -
CEARÁ

Edigleuson da Costa Ribeiro1; Ana Augusta da Silva Campos2

Palavras-chave: Representações. Empreendedorismo. Processo Decisório.

1 Introdução

Ambientes competitivos, aceleração tecnológica e potencial de crescimento mundial são


aspectos atentamente observados por diversas organizações que possuem, em alguns casos, as
mesmas ferramentas e oportunidades . Algumas, entretanto, ficam para trás e outras se perdem
diante da evolução das concorrentes.
O que acontece de diferente nessas organizações que decolam na frente das demais vem
sendo cada vez mais investigado e estudado por empresas que estão sintonizadas com o atual
ambiente competitivo. Senge (2010), por exemplo, ao dedicar-se à análise daquilo que eleva ou
enterra uma organização, afirma que o insucesso, o sucesso, as ações medíocres ou
espetaculares dessas empresas estão diretamente conectadas ao modelo mental dos seus
gestores.
Um modelo mental é, antes de tudo, uma representação do processo cerebral que usamos
para dar sentido ao mundo (WIND; CROOK; GUNTHER, 2005). Para Senge (2012 apud DIAS
et al., 2014), os modelos mentais são presunções que impactam na maneira como o sujeito
enxerga e interpreta o mundo a sua volta. Dessa forma, o indivíduo traduz as informações e as
transforma para, então, tomar decisão (SENGE, 2010). Esse pensamento é complementado por
Wind, Crook e Gunther (2005) quando expõe que a não atualização do modelo mental do sujeito
ou da organização pode levar à exposição perigosa, arriscando sua saúde e qualidade de vida,
o que pode acabar em uma situação duradoura.
No caso dos gestores, seu modelo mental deve ser treinado e adaptado para que possam
ter melhor capacidade de visualização do meio em que estão inseridos. De acordo com
Chapman e Ferfolja (2001 apud DIAS et al, 2014), as experiências vividas por cada gestor,
sucessos e fracassos, dão origem a crenças que nem sempre podem ser verdadeiras. Mas, para
assegurar a tomada de decisão, elas devem ser constantemente testadas, já que guiam todo o
processo de funcionamento da organização.
O desafio de estabelecer e desenvolver critérios de preparação para situações cada vez
mais voláteis fez com que o estudo sobre modelos mentais no processo de tomada de decisão
se fortalecesse. Em linhas gerais, a preocupação com a tomada de decisão nas organizações,
leva à busca por meios que possam evitar erros nesse processo. Daí, a importância da
representação do processo por meio de modelos mentais, pois é uma forma de prever fatores
que podem contribuir na otimização e na tomada de decisão com mais precisão.
É importante esclarecer que a tomada de decisão está inteiramente ligada ao modo como
a pessoa age, pensa, reflete e soluciona os problemas à sua volta, sejam eles no trabalho ou na

1 Estudante do curso de administração. Departamento de Administração. Universidade do Estado do Rio Grande


do Norte. E-mail: Edigleusoncosta@gmail.com
2 Professora do Departamento de Administração da UERN – Doutorado em Psicologia Social e Antropologia das
Organizações pela Universidade de Salamanca – USAL; E-mail: augustacampos@uern.br; Líder do Grupo de
Pesquisa Tecnologia, Empreendedorismo e Administração de Recursos Humanos - TEARH

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 986
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sua própria vida pessoal (SENGE, 2010). No que diz respeito aos empreendedores, apesar de
toda tecnologia à sua disposição, há ainda muita dificuldade quanto a informações precisas que
os auxiliem na tomada de decisão. Isso exige do gestor um raciocínio lógico, ágil e coerente
para solucionar as situações que lhes são impostas.
Considerando a discussão já estabelecida com a temática e dialogando com ela, este
estudo busca entender como se desenvolve o processo decisório na cidade de Limoeiro do
Norte. Trata-se de uma região do interior do estado do Ceará que conta com um forte comércio
estimulante da economia local. A localização estratégica da cidade faz dela um polo econômico
importante para o estado. A presença de empresas que trabalham com extração de minerais,
produção agrícola em larga escala e agropecuária faz da cidade uma área de crescente expansão
econômica.
O objetivo geral da pesquisa é construir um modelo mental que represente o processo
de tomada de decisão dos empreendedores da cidade de Limoeiro do Norte, Ceará. Já os
objetivos específicos são: caracterizar os empreendedores da cidade de Limoeiro, destacando
seu perfil empreendedor; identificar as variáveis importantes na tomada de decisão desses
empreendedores; verificar as relações entre as variáveis do modelo mental e o processo de
decisão dos empresários da cidade de Limoeiro; estabelecer um modelo predominante na
tomada de decisão para o caso dos empreendedores da cidade de Limoeiro-CE.

2 Metodologia

No que se refere aos fins, a pesquisa é do tipo descritiva. Conforme Vergara (1998, p.
45), pesquisa descritiva “[...] é aquela que expõe característica de determinada população ou de
determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlações entre as variáveis e definir sua
natureza.” Quanto aos meios, a pesquisa é bibliográfica, visto que faz uma revisão de estudos
relacionados à temática; de campo, uma vez que exigiu coleta de dados.
O universo investigativo é composto por empreendedores da cidade de Limoeiro do
Norte, no Ceará, a quem foi aplicado um questionário por acessibilidade. Do tipo autoinforme,
sem identificação dos entrevistados, o questionário foi elaborado de acordo com a escala
LIKERT, com sete níveis, indicando o nível 1 a existência de um baixo nível de identificação
com a variável pesquisada e o nível 7 uma alta identificação.
A pesquisa possui uma abordagem quantitativa. Segundo Roesch (1999, p.13) a
pesquisa quantitativa implica em “[...] medir relações entre variáveis (associação ou causa-
efeito), em avaliar algum sistema ou projeto”. Com os dados coletados, foi realizada a Análise
Fatorial, que, segundo Pereira (2004, p. 122), “[...] é uma análise multivariada que se aplica à
busca de identificação de fatores num conjunto de medidas realizadas”. Após aplicação do
questionário aos empreendedores, foi elaborada uma base de dados para proceder com as
análises da estatística descritiva e de regressão múltipla. Os resultados estão apresentados a
seguir, em forma de tabela.

3 Resultados e Discussões

3.1 Perfil dos Participantes

Destaca-se que 84% dos sujeitos da amostra têm idade entre 21 e 56 anos. 67% iniciaram
a carreira na área de gestão com idade inferior a 27 anos. Constatou-se que 61% não tinham
nenhuma experiência na área e 50% não haviam feito nenhum tipo de capacitação profissional
a nível técnico ou na área de gestão e afins.
79% dos respondentes possuem o seu negócio próprio e 73% trabalham no setor de
comércio atacado/varejista. Quanto ao porte das suas organizações, 94% são de pequeno e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 987
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

médio porte, 65% possuem até 6 colaboradores na empresa em que trabalham. Concernente à
carga horária de trabalho, 73% trabalham mais de 41 horas por semana.
Os resultados mostram que os empreendedores pesquisados, jovens adultos, com idade
até 30 anos e pouca experiência, dedicam altas horas ao trabalho. Tais características são
notáveis em pesquisas sobre empreendedores do Brasil e do mundo. (GEM, 2019).

3.2 Análise do Modelo Encontrado

Tabela 01 – Modelo de Análise de Regressão Múltipla para a Tomada de Decisão dos


Empreendedores
Variáveis Independentes F de Significação P Valor
Conhecimento 0,00 0,21
Inteligência Emocional 0,00 0,89
Relacionamento e Comunicação 0,00 0,77
Missão e Estratégia 0,00 0,02
Criatividade e Inovação 0,00 0,62
Liderança 0,00 0,09
Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa (2020).

Na pesquisa, o R ajustado teve uma representatividade de 63% para as variáveis


consideradas significativas. A variável independente encontrada representa 63% da variável
dependente, nesse caso a tomada de decisão. As demais variáveis não se mostraram
significativas para a amostra analisada, conforme observado na tabela 01.
Considerando o nível de confiabilidade P = 0,05 e o valor P na variável de Missão e
estratégia de 0,02, mediante a análise de regressão múltipla, a única variável consistente nesta
análise foi a Missão e estratégia. As demais variáveis não foram consistentes, pois seus
resultados foram superiores ao nível de confiabilidade de P Valor, que é de 0,05, conforme
mostra a tabela 01. Assim, os cálculos comprovam a inconsistência e a não validação das
demais variáveis.
O modelo encontrado indica que a Missão e Estratégia são os melhores preditores da
tomada de decisão para os empreendedores de uma amostra da cidade de Limoeiro de forma
consistente. No entanto, as outras variáveis independentes mostram que os demais valores não
impactaram na tomada de decisão desses empreendedores.
Esse modelo está diretamente relacionado com a missão estratégia. Acreditamos que
isso ocorre devido aos objetivos organizacionais. Nesse caso, o empreendedor toma decisão
visando alcançar os objetivos estratégicos da empresa, o que pode levar a organização ao
sucesso ou fracasso no mercado. Michael (2011) afirma que o empreendedorismo estratégico
possui uma perspectiva incumbida na busca por oportunidades. Desse modo, a empresa
concentra-se em absorver as informações em seu ambiente externo e trazê-las para seu ambiente
interno, aplicando todas as inovações percebidas e apropriadas ao seu ambiente organizacional.
Assim posto, o modelo mental regulado pela missão e estratégia é extremamente válido em um
ambiente intensamente competitivo e propenso ao crescimento das organizações.

4 Conclusão

Diante dos dados expostos neste trabalho, pode-se concluir que o modelo mental mais
utilizado para a tomada de decisão dos empreendedores de Limoeiro do Norte-Ceará se baseia
nos objetivos estabelecidos pelas organizações, derivados da Missão da Organização, gerando
estratégias para posicionamento no mercado. Observou-se que os gestores, empreendedores e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 988
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

empresários, buscam, antes de tudo, a realização dos seus negócios, o que pode causar impactos
positivos e negativos, tanto para organização quanto para eles próprios. A adoção desse tipo de
modelo pode variar ainda segundo o viés dos próprios empresários, pois, mesmo que sigam os
princípios organizacionais, eles podem também ser guiados por seus próprios instintos, crenças
e leituras que fazem do ambiente.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer primeiramente à Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte, pelos aprendizados que venho adquirindo dentro dela. Agradeço também à Pró-Reitora
de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPEG, por acreditar neste trabalho e disponibilizar a chance
de que ele fosse executado e registrado neste documento. Agradeço imensamente à orientadora
desta pesquisa, professora Dra. Ana Augusta da Silva Campos, que me ofereceu a oportunidade
de trabalhar com ela e, dia após dia, adquirir novos conhecimentos que contribuíram para o meu
crescimento na pesquisa, abrindo espaço para mais estudos nessa região. Agradeço
imensamente aos empreendedores do Município de Limoeiro – CE, pela colaboração e
participação na pesquisa. Por fim, agradeço a todos os amigos que me ajudaram a manter o foco
e lutar pela finalização deste trabalho.

Referências

DIAS, D, T, de A. et al. A Relação entre os Modelos Mentais dos Empreendedores e o Desempenho


Organizacional: Um Estudo Exploratório. CONNEXIO, Rio Grande do Norte, Ano 4, p. 127-144, jun.
2014. Edição Especial.

GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR – GEM. Empreendedorismo no Brasil: relatório


executivo, Paraná, 2019, 22 jul. 2020. Disponível em: https://empreender360.org.br/wp-content/uplo-
ads/2020/07/Relat%C3%B3rio-Executivo-Empreendedorismo-no-Brasil-2019.pdf. Acesso em: 31 de
jul. 2020.

MICHAEL. A, H. Administração Estratégica: competitividade e globalização. Tradução de All


Tasks. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

PEREIRA, J. C. R. Análise de dados qualitativos: estratégias metodológicas para as ciências da sa-


úde, humanas e sociais. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.

ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guia para
estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudos de caso. São Paulo: Atlas, 1999.

SENGE, M. Peter, A Quinta Disciplina: Arte e prática da organização que aprende. 26. ed. Rio de
Janeiro: Best Seller, 2010.

VERGARA, Sylvia Constante. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo:


Atlas, 1998.

WIND, Yoran; CROOK, Colin; GUNTHER, Robert. A força dos modelos mentais: transforme o ne-
gócio da sua vida e a vida do seu negócio. Porto Alegre: Bookman, 2005.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 989
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MULHERES INDÍGENAS NO BRASIL COLÔNIA:


DESVELANDO AS RAÍZES DO IMBRICAMENTO ENTRE
RACISMO E PATRIARCADO NA FORMAÇÃO BRASILEIRA.

Camilla Viegas Costa Laranjeira Borges1; Prof. Dra. Mirla Cisne Álvaro2.

Palavras-chave: Mulher. Período colonial. Sexo. Raça. Classe.

INTRODUÇÃO

Ao analisar o processo de formação da sociedade brasileira e a constituição das


estruturas de hierarquização que produzem lugares sociais, problematizamos a
importância de uma unidade dialética entre as relações sociais de sexo/gênero, étnico-
raciais e de classe para a apreensão das contradições que constituem a realidade
concreta. Pode-se confrontar que não há separação entre a exploração capitalista e a
opressão patriarcal e racista, mas uma imbricação entre esses sistemas - ou, como
expõe Saffioti (1984, p. 19), "opressão e exploração não são propriamente fenômenos
distintos", apenas se manifestam como dimensões específicas (política, cultural, social,
sexual etc.) de um mesmo processo multidimensional. A confluência das múltiplas
formas de opressão e os efeitos que ela gera. Sob essa ideia, apresentamos que o sistema
patriarcal e racista no Brasil não se explica sem colonização e colonização sem opressão
patriarcal e racista.
Com a abordagem que volta-se a racializar unicamente as pessoas negras, a qual
desobriga o grupo branco do reconhecimento de sua posição nas relações raciais, essa
omissão é responsável por reafirmar o branco como padrão normativo, perpetuando e
naturalizando seus privilégios sem questionar as origens históricas ligadas à
colonialidade, às quais são reelaboradas na dinâmica das relações sociais. Não podemos
afirmar que existe um apontamento predeterminado no que se refere às conquistas ao
longo da história, porém, o patriarcado ainda se faz presente no mundo inteiro. Dentre o
campo social, historicamente analisado, muito contribuiu para assentar preconceitos e
sustentar ideologias racistas adotadas pelo arquétipo do patriarcado na formação de
gerações em nossa sociedade. Em decorrência de dominação sexista, dificuldades e
desafios podem ser atribuídas e/ou relacionadas à educação recebida no contexto
familiar regido pelo modelo patriarcal.
Objetivamos então, compreender a relação entre o racismo e o patriarcado na
formação do Brasil colônia e identificar suas expressões sobre a vida das mulheres
escravizadas, particularmente, nas mulheres indígenas. Nesse sentido, além de
compreender suas vivências, visamos também identificar a existência de mulheres
protagonistas de luta e resistência, a fim de construir um saber histórico que conceda
maior visibilidade às mulheres indígenas.

1
Estudante do curso de Serviço Social do Departamento de Serviço Social da Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte, UERN; e-mail: camillaviegas14@gmail.com.
2
Professora do Departamento de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
integrante do Núcleo de Estudos sobre a Mulher Simone de Beauvoir (NEM) e líder do Grupo de Estudos
e Pesquisa das Relações Sociais de Gênero e Feminismo (GEF).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 990
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

METODOLOGIA

Para a análise do nosso objeto de investigação partimos da apreensão da


realidade e sua materialidade, a fim de possibilitar a investigação da sociedade. Para
isto, fundamentamos o nosso estudo no materialismo histórico dialético, como método a
abrir caminho para o conhecimento da realidade concreta. Constituindo-se assim, como
instrumento que nos possibilita compreender a totalidade social como resultado de
múltiplas determinações, capaz de superar, portanto, a condição de imediaticidade e
naturalização dos acontecimentos. Concordamos, pois, que somente integrando os
diferentes fatos sociais em uma dimensão de totalidade é que “o conhecimento dos fatos
se torna possível enquanto conhecimento da realidade” (LUKACS, 2003, p.76).
Como procedimento metodológico utilizado para o alcance dos nossos
objetivos foi realizada uma pesquisa de tipo bibliográfica e de campo de natureza
qualitativa. Esta, de acordo com Minayo (2002), busca a compreensão da realidade da
vida social, aprofundando-se nas ações humanas, a fim de compreender a dinâmica das
relações sociais. Concomitante a isto, é imprescindível destacar também a importância
da pesquisa bibliográfica, uma vez que o conhecimento acumulado vem para
fundamentar nossos caminhos, como forma de nortear, compreender e contribuir para
transformação da realidade.
Por fim, para o desempenho da pesquisa bibliográfica, foram realizadas leituras
centradas em autores clássicos brasileiros, com destaque para Gilberto Freyre, Darcy
Ribeiro, Paulo Rezzuti e H. Saffioti, afim de pesquisar sobre as condições de vida, luta e
resistência das mulheres, destacadamente as indígenas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Brasil colônia é um cenário o qual define o lugar material e intelectual das


mulheres indígenas no país. Cotidianamente, as mulheres não possuem perspectiva
como sujeitos pensantes, mas como executores "por natureza" de trabalho manual "não
qualificado". Em outras palavras, o lugar social das mulheres indígenas é o das servas.
Isso é caótico junto ao tratamento de sua imagem como adereço de um "objeto
turístico", como conclui Cumes (2012). Este imaginário é tão imenso que as práticas
que o reproduzem coexistem com os discursos que o criticam. Mas o Brasil colônia não
se reduz a uma dominação étnica, mas cobre outros campos de diferenciação, como
sexo e a classe social através da qual as desigualdades se inscrevem. Pelo mesmo
motivo, quando mulheres falam sobre suas experiências de discriminação mostram a
interconexão ou dificuldade na separação entre as variáveis raça/etnia, sexo e classe.
As mulheres indígenas, apesar de seu lugar no contexto da colonização
patriarcal, ou talvez por isso mesmo, elas têm uma força importante. Este poder está
associado ao mesmo tempo com sua heterogeneidade, capacidade de organização
política e riqueza étnico-cultural. Isso implica que não existe uma só voz e não pensam
em uma só linha.
Assim, refletimos sobre a vivência de Luiza Cantofa, na tribo dos Tapuias
Paiacus, natural da cidade de Apodi no Rio Grande do Norte. No ano de 1825, foi uma
das líderes em que comandou e incentivou a revolta indígena contra o governo. Naquela
época os colonizadores queriam obrigar aos índios que saíssem de suas terras para eles
fundar vilas. Luiza era uma índia já idosa que morava com sua neta Jandi. Desde então,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 991
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ela começou a liderar o movimento. Cantofa, foi brutalmente assassinada em Porta


Alegre junto à sua neta Jandi. Rezzutti (2018) traz em sua obra “como foi a luta de
muitas das que hoje até são conhecidas, mas tiveram a história do seu passado narrada
parcialmente”, assim, configura-se a luta de Luiza Cantofa, a qual é contada como uma
lenda na cidade de Apodi e, seus descendentes da tribo paiacu, alegam ser verdadeira e
de grande significado histórico e instigador de luta pelo seu povo.

Outra mulher símbolo de resistência é Clara Filipe Camarão, mulher indígena


que rompe com papéis ligados aos afazeres domésticos, e ascende como guerreira,
realizando combates junto ao seu companheiro, Felipe Camarão, nas batalhas contra a
invasão holandesa. De acordo com Rezzutti (2018), Clara esteve à frente na batalha de
Porto Calvo (1637), comandando uma legião de mulheres, que em meio à desordem,
participaram ativamente para continuidade da luta. Ela é conhecida também como
heroína de Tejecupapo. E devido à execução de grandes feitos, tem seu nome inscrito no
livro de aço, conhecido por abrigar o nome de heróis e heroínas da pátria. Contudo, sua
história cai no esquecimento, e após a morte do marido, deixa de existir qualquer
documento sobre ela, o que colabora, portanto, para invisibilidade das suas ações.
A lembrança de Luiza Cantofa e de Clara Camarão é transmitida
principalmente pela tradição oral, tendo em vista a falta de documentação sobre seus
feitos. O rosto dessas mulheres, como o de muitas outras, são desconhecidos. E suas
ações, ocultadas da história. Por isso, destacamos essas mulheres, como forma de tirá-
las do papel de coadjuvante, realocando-as como protagonistas, responsáveis pela nossa
formação social.

CONCLUSÕES

Nesse contexto, é necessário buscar abranger as possibilidades múltiplas de


narrativas, estratégias de lutas e realidades em que vimos atuantes do movimento de
mulheres indígenas.
A invisibilização de mulheres negras e indígenas com suas pautas específicas e
de seus movimentos de resistência, são sustentadas no sistema patriarcal que faz uso de
valores hierárquicos o qual destinam as mulheres à condição de inferioridade.
Complementamos que desprender a exploração das opressões pode contribuir para,
além de fragmentar a apreensão da totalidade, segmentar as lutas. O patriarcado, com
materialidade e cultura, penetrou em todas as esferas da vida social.
Contudo, são os processos de resistência aos poderes determinados, os quais na
maioria das vezes, ainda mostram-se ocultos, que somente conhecimentos vinculados
com a descolonização do feminismo podem tirar do esquecimento histórico.
Reforçamos então, a necessidade de adotar a noção de consubstancialidade,
para compreensão das relações sociais de raça/etnia, sexo e classe, uma vez que tais
dimensões se encontram interligadas, uma não pode ser erradicada enquanto as demais
permanecem intactas. Defendemos, portanto, a necessidade de uma luta de classe
articulada ao feminismo antirracista, para a efetivação de uma política emancipatória.

AGRADECIMENTOS

À UERN pela oportunidade de vivenciar a Iniciação científica e a todos(as) que


colaboraram direta, ou indiretamente, durante o processo desta pesquisa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 992
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REFERÊNCIAS

AURA, Estela Cumes. Mujeres indígenas patriarcado y colonialismoun: desafío a la


segregación comprensiva de las formas de domínio. Nº. 17, 2012

LUKÁCS, Gyorgy. História e Consciência de Classe: estudos sobre a dialética


marxista. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da Pesquisa Social. In: MINAYO, Maria
Cecília de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu (orgs.). Pesquisa
social: teoria, método e criatividade. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

REZZUTTI, Paulo. Mulheres do Brasil: a história não contada. Rio de Janeiro: Leya,
2018.

SAFFIOTI, H. I. B. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis:


Vozes, 1976.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 993
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MULHERES NEGRAS E INDÍGENAS NO BRASIL COLÔNIA:


DESVELANDO AS RAÍZES DO IMBRICAMENTO ENTRE RACISMO
E PATRIARCADO NA FORMAÇÃO BRASILEIRA.

Fernanda Ianael Evangelista de Oliveira1; Prof. Dra. Mirla Cisne Álvaro2.

Palavras-chave: Mulher. Período colonial. Sexo. Raça. Classe.

INTRODUÇÃO:

A atual sociedade patriarcal-racista-capitalista possui em seus pilares um passado de


exploração e opressão, com fortes marcas do patriarcado e dos mais de 300 anos do regime
escravista. Essas marcas podem ser sentidas até hoje, e através delas buscamos investigar o
imbricamento entre racismo e patriarcado no processo da formação brasileira, como elementos
estruturais e estruturantes que reverberam sobre as vidas das mulheres e mais fortemente, sobre
as indígenas e negras.
A relevância da temática em tela é perceptível ao considerarmos a invisibilidade
feminina na nossa formação histórica, tendo em vista a ausência das narrativas escritas e
protagonizadas por mulheres. Estas são encontradas apenas em breves passagens, que em sua
maioria, fortalecem estereótipos de passividade, cordialidade e submissão. Assim, para
compreendermos o atual sistema patriarcal-racista-capitalista, é imprescindível repensar a
história que nos foi contada. História essa, narrada por homens, que em grande medida, não dão
visibilidade a participação das mulheres – especialmente as negras e indígenas – contribuindo,
portanto, para o seu ocultamento como sujeito político.
Dessa maneira, a retomada ao período colonial, tem o intuito de analisar a construção
sócio-histórica das mulheres na sociedade brasileira a partir de uma perspectiva feminista
crítica, visando romper com a ideia de “uma essência natural feminina” e possibilitar a
percepção da “subalternidade conferida às mulheres como resultado de uma construção social”
(CISNE, 2015, p.30). Assim, partimos da concepção de imbricamento e consubstancialidade, a
fim de realizar uma análise das particularidades na dinâmica das relações sociais de exploração
e apropriação sobre as mulheres.
Objetivamos então, compreender a relação entre o racismo e o patriarcado na formação
do Brasil colônia e identificar suas expressões sobre a vida das mulheres escravizadas e
indígenas e de que modo a dimensão étnico-racial e de classe diferencia suas experiências.
Nesse sentido, além de compreender suas vivências, visamos também identificar a existência
de mulheres protagonistas de luta e resistência, a fim de construir um saber histórico que
conceda maior visibilidade às mulheres.

METODOLOGIA:

Para a análise do nosso objeto de investigação partimos da apreensão da realidade e


sua materialidade, a fim de possibilitar a investigação da sociedade. Para isto, fundamentamos

1
Estudante do curso de Serviço Social do Departamento de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, UERN; e-mail: fernandaianael16@gmail.com.
2
Professora do Departamento de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte integrante do
Núcleo de Estudos sobre a Mulher Simone de Beauvoir (NEM) e líder do Grupo de Estudos e Pesquisa das
Relações Sociais de Gênero e Feminismo (GEF).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 994
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

o nosso estudo no materialismo histórico dialético, como método a abrir caminho para o
conhecimento da realidade concreta. Constituindo-se assim, como instrumento que nos
possibilita compreender a totalidade social como resultado de múltiplas determinações, capaz
de superar, portanto, a condição de imediaticidade e naturalização dos acontecimentos.
Concordamos, pois, que somente integrando os diferentes fatos sociais em uma dimensão de
totalidade é que “o conhecimento dos fatos se torna possível enquanto conhecimento da
realidade” (LUKACS, 2003, p.76).
Como procedimento metodológico utilizado para o alcance dos nossos objetivos foi
realizada uma pesquisa de tipo bibliográfica e documental de natureza qualitativa. Esta, de
acordo com Minayo (2002), busca a compreensão da realidade da vida social, aprofundando-se
nas ações humanas, a fim de compreender a dinâmica das relações sociais. Concomitante a isto,
é imprescindível destacar também, a importância da pesquisa bibliográfica, uma vez que o
conhecimento acumulado vem para fundamentar nossos caminhos, como forma de nortear,
compreender e contribuir para transformação da realidade.
Por fim, para o desempenho da pesquisa bibliográfica, foram realizadas leituras
centradas em autores clássicos e contemporâneos brasileiros, com destaque para Gilberto
Freyre, Darcy Ribeiro, Clóvis Moura, Silvio Almeida e H. Saffioti. Já a pesquisa documental
foi realizada junto ao Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, por meio do seu acervo digital, a
fim de pesquisar documentos da época do Brasil colônia, com o fito de identificar relatos de
fatos que nos subsidiem a análise sobre as condições de vida, luta e resistência das mulheres,
destacadamente as escravizadas e indígenas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES:

O racismo e o patriarcado são elementos estruturantes da sociedade brasileira, que


conjuntamente ao capitalismo propiciam o chão para as desigualdades e violências. O racismo
estrutural aliado ao capitalismo resulta em séculos de ocupação colonial, com fortes expressões
das relações patriarcais e raciais que podem ser percebidas desde o processo da nossa formação
social. Estabelecendo assim, “condições sociais para que, direta ou indiretamente, grupos
racialmente identificados sejam discriminados de forma sistemática” (ALMEIDA, 2019, p.64).
Essas formas históricas de dominação sob as quais o sistema patriarcal, entrelaçado ao
racismo e capitalismo se estrutura, deriva de uma dimensão de interesses nítidos e propicia
então, um amplo terreno para exploração. No tocante a isto, tendo em vista a nossa formação
sócio-histórica assentada no modelo escravista patriarcal, encontramos o reflexo das
desigualdades relacionadas às vidas das mulheres sustentadas meio a um sistema de dominação
masculina, firmada a partir de relações hierárquicas de poder.
Nesse contexto, as mulheres brancas são propriedades dos pais, e posteriormente dos
maridos, experimentando processos de exploração e submissão, sem direito a participação da
vida em sociedade. Destinadas ao casamento e a reprodução, essas mulheres recebiam educação
rígida e controle, só podendo sair de casa para “se batizar, para se casar e para ser enterrada”
(ARAÚJO, 2004, p.40).
Eram delas ainda, o papel de preservar os costumes europeus, sendo exigida a
submissão ao poder masculino. Estas devem conservar sua castidade e fidelidade, estando
sujeitas à morte, pois de acordo com o Código Filipino: o marido que desconfia da fidelidade
conjugal, ou que encontra a mulher em adultério: “poderá matar assim a ela, como o adultero”
(Livro V, título 38). Ficam evidentes então, os padrões misóginos impostos pela sociedade, que
conforme Saffioti (1979, p.93), funcionam como modo de estabelecer a aceitação da
supremacia do homem sobre a mulher em todas as esferas sociais.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 995
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No caso das mulheres indígenas e negras as ações se apresentam de forma mais


intensiva, haja vista que além de subordinadas ao poder masculino, estas têm seus corpos
apropriados para o trabalho forçado e exploração sexual.
Ao serem escravizadas, as mulheres indígenas eram vistas como meros objetos com
função de procriação, suportando o uso do seu corpo para finalidades alheias a sua vontade.
Apontada como: “de sexo bom de fornicar, de braço bom de trabalhar, de ventre fecundo para
prenhar” (RIBEIRO, 1995, p.48), elas eram aproveitadas pelos colonizadores, não apenas como
mão de obra e instrumento de trabalho, mas também como fonte de reprodução e formação da
família.
O mesmo acontece com as mulheres negras. Arrancadas do seu país de origem, a
mulher africana era vendida como propriedade para satisfação dos homens brancos. Sendo
utilizadas não apenas como máquina reprodutora “para aumentar o plantel dos escravos de seus
senhores” (REZZUTI, 20188, p.48), mas também como objetos de satisfação sexual. Desse
modo, além dos papéis desempenhados pelas mulheres como trabalhadoras, mãe negra, ama de
leite, e reprodutora. Destacamos também, as marcas da violência sexual e o estupro colonial
como um mecanismo de dominação e expressão do poder dos homens na sociedade escravista
patriarcal.
Contudo, buscamos salientar aqui a visão da mulher forte e resistente, a fim de romper
com a narrativa historiográfica que reforça estereótipos de disponibilidade sexual e passividade.
Pois ao contrário do que é pregado, há luta e resistência, exigindo esforço contínuo para seu
domínio. Posto isto, destacamos a atuação das mulheres como base primordial para nossa
formação social. É através delas que são executadas as primeiras ações de luta, pois diante do
contexto de opressão, são elas símbolos de resistência aos novos modos de vida impostos
através da colonização.
É o caso de Zeferina, liderança e guerreira do quilombo do Urubu. Chegando ao Brasil
na condição de escravizada, foi uma personagem importante nas insurreições baianas, traçando
estratégias de luta em busca da liberdade. Participou da revolta de 1826, na qual confrontou a
tropa comandada por José Baltasar da Silveira. Diante a batalha ecoava gritos de incentivo,
permanecendo corajosa, mesmo estando em desvantagem. Porém, foi aprisionada nessa
ocasião, “de arco e flecha nas mãos, lutou bravamente antes de ser submetida à prisão”
(MOURA, 2014, p.247).
Outra mulher símbolo de resistência, mas que se mantém ocultada na historiografia é
Maria Felipa de Oliveira, mulher negra que atua na luta contra os portugueses. Segundo
Rezzutti (2018), Maria Felipa age conjuntamente a outras mulheres da ilha de Itaparica, na
Bahia, espionando os movimentos das embarcações ancoradas nas imediações da ilha.
Seduzindo os soldados portugueses, elas faziam com que estes se despissem, e os surrava com
galhos de cansanção, uma planta urticante que queima na pele. Assim, neutralizando os
inimigos, as mulheres incendeiam suas embarcações, causando perdas significativas no exército
lusitano, pois além da sedução, estas mulheres participam também do combate físico, armadas
com facões e o que mais pudessem servir para expulsão dos inimigos.
A lembrança de Zeferina e Maria Felipa é transmitida principalmente pela tradição
oral, tendo em vista a falta de documentação sobre seus feitos. O rosto dessas mulheres, como
o de muitas outras, são desconhecidos. E suas ações, ocultadas da história. Por isso, destacamos
essas mulheres, como forma de tirá-las do papel de coadjuvante, realocando-as como
protagonistas, responsáveis pela nossa formação social.

CONCLUSÕES:

A sociedade colonial encontra-se, portanto, apoiada no sistema patriarcal que faz uso
de valores hierárquicos que destinam as mulheres à condição de inferioridade. São elas as

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 996
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

primeiras a sofrerem com a escravização, principalmente as negras e indígenas, tendo em vista


as marcas do racismo como elemento que propicia a sua exploração.
É nesse contexto de opressão que a colonização se mantém, e estrutura o sistema
patriarcal-racista-capitalista até os dias atuais, fortalecendo assim, a exploração/dominação
sobre determinados grupos. Dentre os quais as mais afetadas são: as mulheres, negras, indígenas
e pobres, compondo a base da pirâmide social.
Reforçamos então, a necessidade de adotar a noção de consubstancialidade, para
compreensão das opressões de raça/etnia, sexo e classe. Uma vez que tais dimensões se
encontram interligadas, e uma não pode ser erradicada enquanto as demais permanecem
intactas. Defendemos, portanto, a necessidade de uma luta de classe articulada, para a
efetivação de uma política emancipatória.

AGRADECIMENTOS:

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, através


do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC pelo financiamento do
projeto de pesquisa. À UERN pela concessão da bolsa de Iniciação científica e a todos que
colaboraram direta, ou indiretamente, durante o processo desta pesquisa.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Silvio. Djamila Ribeiro (Coord.). Racismo estrutural. São Paulo: Polén, 2019.

ARAÚJO, Emanuel. A arte da sedução: sexualidade feminina na colônia. In: DEL PRIORI,
Mary (org.) História das Mulheres no Brasil. São Paulo, Editora Contexto, 2013, pp.45-77.

CISNE, Mirla. Gênero, Divisão Sexual do Trabalho e Serviço Social. 2ª ed. São Paulo:
Outras Expressões, 2015.

LUKÁCS, Gyorgy. História e Consciência de Classe: estudos sobre a dialética marxista. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da Pesquisa Social. In: MINAYO, Maria Cecília
de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira; GOMES, Romeu (orgs.). Pesquisa social: teoria,
método e criatividade. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas. 5ª ed. São Paulo:
Editora Anita Garibaldi, 2014.

REZZUTTI, Paulo. Mulheres do Brasil: a história não contada. Rio de Janeiro: Leya, 2018.

RIBEIRO, Darcy. O Povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo, Companhia
das letras, 1995.

SAFFIOTI, H. I. B. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis: Vozes,


1976.

ORDENAÇÕES FILIPINAS, Livro V. Universidade de Coimbra. Disponível em:


<http://www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/ordenacoes.htm>. Acesso em: 31. Set. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 997
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MUROS QUE FALAM


EM CONTEXTOS DE RUPTURAS DEMOCRÁTICAS

Júnia Mara Dias Martins1; Marilya Cavalcante Alves2; Thaísa Bastos Lopes Mascarenhas Pinto3

Palavras-chave: Cidade. Grafite. Pixo. Democracia. Folkcomunicação.

Introdução

O projeto deu continuidade à pesquisa iniciada com circunscrição em Mossoró-RN, porém,


nesta etapa, com extensão a todo o território nacional e parte da América do Sul. Analisamos
mensagens grafadas em formas de grafite, pixo e lambe no espaço urbano; na busca da
compreensão sociológica dessas manifestações em períodos de crise política e crescimento da
extrema direita, especialmente no Brasil.
Inscritos em espaços públicos ou privados, as pichações e os grafites dividem opiniões
num cenário conflitante de concentração das mídias, proteção ao direito de propriedade privada,
preservação do patrimônio público e exclusão social. Nosso intuito, contudo, não é estabelecer
caráter de julgamento desse tipo de prática, mas sim, observar a cidade como organismo vivo,
caótico e pulsante, na qual, os muros, que demarcam territórios, funcionam também como mídia
marginal, como espaço sígnico simbólico, de comunicação exposta aos seus transeuntes.
Sugerimos que tal espaço tenta firmar um lugar de fala de comunicadores sociais que
muitas vezes não têm voz na grande mídia. Analisamos, neste sentido, tais manifestações de
expressão como práticas sociais da cultura juvenil no contexto da folkcomunicação (BELTRÃO,
2001), tendo como base o método etnográfico, a análise dialética de viés qualitativo e a utilização
da fotografia e das redes sociais como instrumentos auxiliadores da investigação.
A pesquisa visa o mapeamento dos discursos tangentes às mensagens dos muros, tendo a
“cidade como texto” a partir dos escritos de José D’Assunção Barros (2001); a noção de espaço sob
a fala de Milton Santos (2006); e a dialética destas mensagens alicerçada na microssociologia do
cotidiano delineada por Henri Lefebvre (1999; 2001). O vínculo entre estética, política e
comunicação, por sua vez, está abalizado nos estudos de Jürgen Habermas (2011) e Jacques
Rancière (2010).

Metodologia

O objeto que nos serve como base de conteúdo para a pesquisa desenvolvida são algumas
fotografias registradas pelo grupo de pesquisa e outras, majoritariamente, recebidas por internautas
que acessam o perfil do projeto no Instagram (@muros_quefalam) e a página do Facebook
(@murosqfalam). O Instagram, contudo, tem sido o principal meio de divulgação da pesquisa e
interação com o público.
As mensagens que postamos no Instagram são simultaneamente publicadas na página do
Facebook. A postagem contém uma fotografia capturada no espaço urbano, acompanhada de crédito
do(a) autor(a), local da captura e legenda com análise. Boa parte destas mensagens também têm
extensão do tema no story do perfil, no qual procuramos interagir, levantando questionamentos ou
realizando enquetes sobre o assunto em questão.

1 Professora orientadora, lotada no Departamento de Comunicação (DECOM-UERN). Coordenadora do Pro jeto d e


Pesquisa Muros Que Falam. Email: juniamartins@uern.br.
2 Estudante do 4o. Período de Jornalismo. Email: marilyaalves@alu.uern.br.
3 Estudante do 4o. Período de Jornalismo. Email: mascarenhaspinto@alu.uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 998
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A alimentação dos stories é feita diariamente, com fotografias de pixos, grafites e lambes
compartilhados de outros perfis; porém, às quartas, sextas e domingos, publicamos fotografia e texto
analítico autoral em nosso feed. Cabe salientarmos que todas as postagens do feed do nosso Instagram
possuem legenda para cegos, por isso, são acompanhadas da hashtag #ParaCegoVer, comum a textos
com esse tipo de recurso. Esse é o caminho de praticarmos uma comunicação mais inclusiva, revelando
às pessoas com deficiência visual algumas mensagens que constroem o espaço urbano.
O tipo de pesquisa adotado, quanto à abordagem, é a qualitativa, que se propõe a responder
questões muito particulares, nas quais, a preocupação com os processos e os fenômenos não pode ser
quantificada. Envolve, portanto, um universo de significados, valores, símbolos e crenças, na tentativa
de aproximação de uma compreensão mais profunda das relações (MINAYO, 2007). Já o método de
procedimento selecionado é o etnográfico, que “fornece informações sobre o comportamento de pessoas
em grupos, organizações e comunidades e também sobre como essas pessoas entendem seu próprio
comportamento.” (GIDDENS, 2012, p. 49). Quanto aos objetivos, trata-se de pesquisa com análise
interpretativa, a qual é apoiada nos resultados alcançados nos estudos dos materiais/conteúdos
coletados, na fundamentação teórica e na experiência pessoal do investigador. (TRIVIÑOS, 1992).
Quanto à análise das mensagens, está pautada na Análise Crítica do Discurso (ACD), em
conformidade com o pensamento de Teun van Dijk (2008), que assinala o discurso não somente no
campo da língua, mas como linguagem contextualizada num ambiente histórico, político e cultural,
logo, como instrumento de poder. Partimos do pressuposto de que o ato de se comunicar e suas funções,
ampliadas e complexibilizadas ao longo dos séculos, têm na linguagem seu instrumento basilar para
apreensão e ressignificação das coisas do mundo.

Resultados e Discussão

A crise da social-democracia é uma realidade. E ela vem acompanhada, entre outras coisas,
da desaceleração econômica, da perda da confiança nas instituições de poder legitimadas, da
crescente polarização ideológica. O modelo tirânico de governar, consentido por maioria dos
eleitores que o legitimam através do voto, assentindo com o crescimento da extrema direita, pode
ser observado em conjunturas políticas contemporâneas ao redor do mundo. É o caso de muitos
países da América do Sul, que têm vivido períodos de turbulências, conflitos e incertezas nos
últimos anos, como o Chile, Colômbia, Paraguai, Equador e Brasil, por exemplo.
Todo esse cenário de rupturas democráticas tem encontrado nas ruas da cidade um palco de
reclames e visibilidade. Muitos dos temas deturpados ou silenciados pela grande mídia são
externados por agentes sociais que ocupam a pólis e inscrevem seus textos nas paredes, postes,
calçadas. Esses textos, com diversas formas e formatos, podem constituir uma comunicação, uma
mídia em mãos de marginalizados sociais (BELTRÃO, 2001), os quais usam o espaço citadino para
ecoar a sua voz, poesia, arte, indignação. Muito além da verticalidade do concreto, é também a
cidade o lugar de exposição, sedimentação e questionamento dos pensamentos individual e coletivo.
Acreditamos que o Projeto Muros Que Falam dá visibilidade às mensagens desses agentes sociais,
grafadas na cidade como poesia, grito, arte.
Atualmente nosso perfil do Instagram contém 490 seguidores e 120 publicações. Nesta
segunda etapa do projeto, a postagem com maior alcance e curtidas foi a fotografia de um pixo com
a frase “Tome um porre de livros que a ressaca é de cultura”. Tal postagem, registrada em Salvador-
Bahia, teve 68 compartilhamentos, 737 curtidas, foi favoritada 46 vezes e alcançou 8.176 pessoas.
A segunda publicação de maior acesso, registrada em Jardim Monte Verde, São Paulo, traz
um texto bem atual, que diz:
A pandemia existe, mesmo que você não esteja doente. O racismo existe, mesmo que v o cê
não se considere racista. O privilégio branco existe, mesmo que você não o perceba. A
violência policial existe, mesmo se você conhece um policial gente boa. Seu mundo não é o
mundo, nem tudo é sobre você. (INSTAGRAM MUROS QUE FALAM, 2020).
Tal publicação alcançou 3.666 pessoas, foi compartilhada 93 vezes, com 55 favoritamentos
e 241 curtidas. Já a terceira postagem de maior alcance foi a fotografia de um pixo feito na parede

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 999
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na qual podemos ler a frase “A vida vale mais que a
porra do Lattes”. Essa teve 123 curtidas, 73 compartilhamentos, alcance de 1.410 pessoas, das quais
12 favoritaram.
Entre outros conteúdos encontrados, registrados e analisados, temos referências à depressão,
machismo, aborto, diversidade religiosa, feminicídio e racismo. Porém, também há referências a
personalidades como Clarice Lispector, Charlin Chaplin, Fernando Pessoa e João Gilberto, o que
contempla o caráter de escape artístico da comunicação marginal.
A nossa pesquisa, intitulada “Muros Que falam: comunicação marginal na cidade em
contextos de rupturas democráticas” foi apresentada e publicada nos anais do Congresso Ibero-
americano de Comunicação (IBERCOM 2019), realizado em novembro de 2019, na PUC de
Bogotá-Colômbia. A coordenadora do Muros Que Falam, Júnia Martins, cedeu entrevista ao Projeto
de Extensão Padoca (publicada no perfil do Instagram da Padoca) e apresentou o conteúdo do
referente PIBIC à turma de Jornalismo da PUC-RS, a convite da professora Beatriz Dornelles, em
setembro deste ano. Recentemente, em 07 de outubro, Júnia Martins também apresentou o Muros
Que Falam, sob o tema “Cidades para quem? Segregação e comunicação marginal no espaço
urbano”, na Semana Internacional Acadêmica e Cultural da Colômbia, realizada pela Universidade
Libertadores, situada em Bogotá.
O Muros Que Falam tem recebido fotografias e interações de pessoas do Brasil e da
América do Sul, com maior concentração das cidades de São Paulo, Vitória da Conquista, Campos
dos Goytacazes, João Pessoa, Buenos Aires e Bogotá. Páginas com perfis similares também têm
marcado o projeto e compartilhado nossas postagens, o que gera maior visibilidade para a pesquisa.
Os resultados obtidos confirmam a importância desse tipo de comunicação urbana como
válvula de espape para indivíduos e coletivos em situação de marginalidade social, na assertiva de
que muitos dos temas tratados são caros à grande mídia, abrindo, assim, espaço para que sejam
estimulados para ecoar nos muros da cidade.

Referências

BARROS, José D’Assunção. As Ciências Sociais e os modelos de cidade. Arquitetura Revista. v.


7; n.1; p. 21-33; jan-jun de 2001. São Leopoldo: Unisinos.
BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação
de fatos e expressões de ideias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
VAN DIJK, Teun A. Discurso e poder. São Paulo: Contexto, 2008.
GIDDENS, Anthony. Sociologia. 6.ed. Porto Alegre: Penso, 2012.
HABERMAS, Jürgen. Teoria do agir comunicativo. v.1. Racionalidade da ação e racionalização
social. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012. L
EFEBVRE, Henri. Para uma estratégia urbana. In: LEFEBVRE, H. A revolução urbana. Belo
Horizonte: Ed. UFMG, 1999.
______. Sobre a forma urbana. In: LEFEBVRE, H. O direito à cidade . São Paulo: Centauro, 2001.
RANCIÈRE, Jacques. Política da arte . Tradução Mônica Costa Netto. Urdimento, Santa Catarina –
Florianópolis (UDESC), v. 1, n. 15, p. 45-59, 2010.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4 ed. São Paulo:
EDUSP, 2006. Ebook. (Col. Milton Santos; v. 1).
TRIVIÑOS, Augusto. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Atlas, 1992.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1000
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O ACESSO AS TIC´S DURANTE O ISOLAMENTO SOCIAL POR


DISCENTES DO ENSINO MÉDIO DE MOSSORÓ

Caio Ivirson Oliveira Teixeira1; Raelysson Silas Melo de Lira2, Mateus Barbosa Nascimento3
Vinícius Claudino de Sá4

Palavras - Chave: Educação a distância. Covid19. Estratégias de Ensino

Introdução

Neste estudo buscou-se entender como os discentes de uma Escola Estadual localizada
no Município de Mossoró têm utilizado as Tecnologias da Informação e da Comunicação –
TIC´s neste momento de isolamento social e suspensão das aulas.
Segundo Thompson (1998) apud Geraldi e Bizelli (2015, P.1):

As TIC são potencializadoras da mídia que está associada à visão de mundo dos
indivíduos contemporâneoas, redefinindo valores e comportamentos sociais,
consolidando o domínio da comunicação e do entretenimento no jogo institucional
de cada sociedade concreta.

As TIC´s estão presentes em praticamente todos os lares, os computadores,


smartphones, tablets estão muito acessíveis, com tecnologias modernas que permitem os
usuários acessar conteúdo através da internet.
Segundo Geraldi e Bizelli (2015, P.1) “As tecnologias da informação e comunicação
(TIC) trazem novas formas e métodos de produção do conhecimento no ambiente escolar.
Inovações tecnológicas permitem melhorar a relação Escola/professor; professor/estudante e
estudante/estudante”. Desta forma, em um período de isolamento social, ocasionado pelo
Covid19, muitas instituições de ensino buscaram nas TIC´s uma forma de continuar mantendo
o contato entre os alunos, professores e escola.

1
Estudante do Ensino Médio do Centro Educ. de Educação Profissional; email: ivirsonteixeira@gmail.com
2
Estudante do Ensino Médio da Escola Estadual Abel Freire Coelho; email: melosilas6@gmail.com
3
Egressso da Escola Estadual Prof. Eliseu Viana; email: mateus.b.nascimento@gmail.com
4
Professor do Departamento de Administração da UERN; email: viniciusclaudino@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1001
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

Para realização deste trabalho utilizou-se pesquisa bibliográfica para construção do


arcabouço teórico, e a ferramenta para coleta dos dados foi o formulário eletrônico. Esse
formulário foi enviado para os discentes da Escola Estadual Abel Coelho, tendo retornado 15
formulários respondidos. Para a analise dos dados, fez-se o agrupamento das respostas e
foram elaborados gráficos para melhor visualizar os resultados.

Resultados e Discussão

Os resultados apresentados a seguir foram coletados a partir de formulário eletrônico


devido o isolamento social e suspensão das aulas na Escola Estadual Abel Coelho, o link para
o preenchimento do formulário foi enviado para os grupos do aplicativo WhatsApp, no
entanto foram respondidos apenas 15 questionários no período da pesquisa, que foi de Junho
de 2020 até o dia agosto de 2020.
No Gráfico 1, buscou-se identificar se os discentes estavam aproveitando o tempo
disponível para realizar algum tipo de curso a distância, o resultado apresentou que a maioria
61,5% não tinham realizado nenhum curso, no entanto, um número considerável disse que
sim, 38,5%, o que demonstra que mesmo com a suspensão das aulas muitos alunos estão
buscando se capacitar.

Gráfico 1: Você fez algum curso a distância nesse período de isolamento social?

Fonte: Pesquisa (2020)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1002
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No Gráfico 2, observa-se que a maioria utiliza o smartphone para assistir aulas na


internet, o que demonstra a importância deste tipo de equipamento nas TIC´s utilizadas pelos
estudantes da Escola estudada.

Gráfico 2: Você utiliza smartphone para assistir conteúdos e aulas na internet?

Fonte: Pesquisa (2020)

No gráfico 3, os estudantes afirmaram que quase sempre tem disponibilidade para


assistir conteúdos e aulas na internet com 60% das respostas, no entanto, chama atenção o
fato que apenas 6,7% responderam ter sempre a disponibilidade para esse tipo de aula.
A explicação para isso precisa ser investigada, mas há indícios que o custo de se
manter pacotes de dados limita os acessos, além de outros tipos de atividades, como trabalhos
ou o lazer que competem com os estudos quando se trata de uso das TIC´s.

Gráfico 3: Você tem disponibilidade para assistir conteúdos e aulas na internet?

Fonte: Pesquisa (2020)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1003
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusão
Neste estudo pode-se observar como as TIC´s têm sido utilizadas pelos alunos
de uma Escola Estadual de Mossoró, no entanto, o isolamento social e a suspensão das aulas
dificultaram o acesso aos respondentes.
Com os formulários entregues pode-se observar que o smartphone é a principal
ferramenta utilizada, e que existem indícios que os custos de se manter os pacotes de dados
dificultam o acesso, cabendo aqui novas pesquisas para se confirmar essa hipótese.
Por fim, percebe-se que as TIC´s são ferramentas importantes, mas ainda existem
barreiras para o seu uso e dificuldades na utilização para a formação de jovens do ensino
médio.

Agradecimentos

Agradecemos a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e ao CNPq pelas bolsas


oferecidas no decorrer deste PIBIC – EM.

Referências
1. CARVALHO, C. X., OLIVEIRA, D. e GAZOLLA, M. As inovações nos espaços
rurais: teorias, processos e formas. In: Anais… 47º Congresso da SOBER. Porto Alegre –
RS, 20p., 2009.
2. GERALDI, L.M.A, BIZELLI, J.L. Tecnologias da informação e comunicação na
educação: conceitos e definições. Revista on line de Política e Gestão Educacional. n. 18,
2015
3. SCHNEIDER, S & SCHMITT, C. J. O Uso do Método Comparativo em Ciências
Sociais. Porto Alegre, Cadernos, v.9, p.49 - 87, 1995.
4. KAUARK, Fabiana; MANHÃES, Fernanda Castro; MEEDEIROS, Carlos Henrique.
Metodologia da pesquisa: um guia prático. Itabuna : Via Litterarum, 2010.
5. MORAES, Roque. Debatendo o ensino de Ciências e as Feiras de Ciências. Boletim
Técnico do PROCIRS. Porto Alegre, V. 2, n. 5, 1986.
6. PEREIRA, A. B.; OAIGEN, E.R.; HENNIG. G. Feiras de Ciências. Canoas: Ulbra,
2000.
7. SANTOS, Adevailton Bernardo dos. Feiras de ciência: um incentivo para
desenvolvimento da cultura científica. Revista Ciência em Extensão, v. 8, n. 2, p. 155-166,
2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1004
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O PAPEL DAS AGROINDÚSTRIAS DE PEQUENO PORTE PARA A


DINAMIZAÇÃO ECONÔMICA DOS TERRITÓRIOS AÇU/MOSSORÓ,
SERTÃO DO APODI, ALTO OESTE POTIGUAR E SERTÃO CENTRAL
CABUGI E LITORAL NORTE (RN).

Ananda Fernandes da Costa1; Emanoel Márcio Nunes2

Palavras-chave: Diversificação econômica. Agroindústria. Cadeia produtiva.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Mior (2005 apud IPEA, 2013), a agroindústria familiar rural
caracteriza uma modo de organização em que a família rural produz, processa e/ou transforma
parte de sua produção agrícola e/ou pecuária, objetivando, sobretudo, a produção de valor de
troca que se realiza na comercialização. Prezotto (2002) menciona que a agroindústria de
pequeno porte é assinalada como uma das possibilidades para reversão das consequências
sociais desfavoráveis no meio rural. Havendo no ambiente rural não mais unicamente atividades
exclusivamente agrícolas, mas a pluriatividade, a pequena agroindústria, de característica
familiar, pode estimular a geração, direta e indireta, de novos postos de trabalho e de renda aos
agricultores familiares, promovendo a sua (re)inclusão social e econômica.
Este tipo de industrialização oferece alternativas de “descentralização regional da
produção; redução de custos de transporte; de ampliação e descentralização das oportunidades
de ocupação e remuneração de mão de obra; de utilização adequada os dejetos e resíduos; e de
diminuição das migrações desordenadas”. É uma visão de desenvolvimento que valoriza o meio
rural, tornando possível um melhor uso, e a recuperação e preservação ambiental. É um
processo que pode proporcionar um desenvolvimento local e regional mais equilibrado.
(PREZOTTO, 2002, p.139).
A hipótese geral que orientou a pesquisa foi a de que as cadeias produtivas (com sua
estrutura de unidades de agregação de valor, formas de organização, etc.) formam um conjunto
de iniciativas que constrói um novo e promissor formato de desenvolvimento endógeno, porém
as estruturas de governança são deficientes e não têm sido capazes de promover a dinamização
econômica dos territórios Açu/Mossoró, Alto Oeste Potiguar, Sertão do Apodi e Sertão Central
Cabugi e Litoral Norte (RN).
Do ponto de vista teórico, esta pesquisa contribuiu para desconstruir a meta-narrativa
do desenvolvimento regional/territorial, remetendo o seu significado e sentido ao conjunto das
experiências e iniciativas emergentes que os agricultores e as populações do meio rural têm
colocado em prática. Neste sentido, a análise serviu como ponto de partida para a
problematização sobre como está se dando o processo de mudança técnica, econômica, social
e política nos espaços rurais do Nordeste e do Brasil.

1
Estudante do curso de Ciências Econômicas do Departamento de Economia da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; e-mail: anandaffc@outlook.com

2
Professor do Departamento de Economia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e Líder do Grupo
de Pesquisa Desenvolvimento Regional: Agricultura e Petróleo; e-mail: emanoelnunes@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1005
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

2 METODOLOGIA

O trabalhou buscou compreender a dinâmica interna das cadeias produtivas – a


unidade de processamento e a Cooperativa/associação – visando entender o funcionamento das
estruturas de governança voltadas para o processo de dinamização econômica dos territórios
Açu/Mossoró, Alto Oeste Potiguar, Sertão Central Cabugi e Litoral Norte, e Sertão do Apodi
(RN).

2.1 MÉTODO COMPARATIVO

A pesquisa se valeu do método comparativo que consistiu na comparação das cadeias


entre os territórios, como também da comparação dos território entre si. Conforme March Bloch
(1928 apud SCHNEIDER E SCHMITT, 1998, p.32), “... aplicar o método comparativo no
quadro das ciências humanas consiste (...) em buscar, para explica-las, as semelhanças e as
diferenças que apresentam duas séries distintas de natureza análoga, tomadas de meios sociais
distintos”. Schneider e Schmitt (1998) esclarecem que os meios sociais a que Bloch se refere
podem ser sociedades distantes no tempo e no espaço, ou sociedade sincrônicas, vizinhas no
espaço, e que possuem um ou mais pontos de origem comum.
A análise foi orientada pela perspectiva interpretativa interligando as informações dos
projetos de pesquisa conduzidos pela Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (FACEM/UERN), pelo Programa de Pós-Graduação em
Planejamento e Dinâmicas Territoriais do Semiárido da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte (UERN-Campus Pau dos Ferros), e pelo Programa de Pós-Graduação em Economia
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN-Campus Central). Tomando o
conjunto das quatro dimensões referidas.
As cadeias produtivas contaram com a elaboração de entrevistas semiestruturais com
os informantes-chave de cada cadeia (unidade de processamento, cooperativas, centrais de
comercialização, etc.), utilizando-se o indicador de saturação e repetição sistemática da
informação para verificação do ponto de encerramento das mesmas. Trabalhou-se com dados
secundários, sobretudo os de fontes usuais de pesquisa, como estatísticas sobre demografia,
produção, e outras disponibilizadas pelo IBGE (censos, pesquisa sobre produção municipal,
etc.) e outros órgãos estaduais como a assistência técnica e os institutos de planejamento e
pesquisa (Banco do Nordeste, FAPERN, EMATER, EMPARN, etc.), além de ONGs e
empresas do setor privado. Por fim, a partir da base de dados do Sistema de Gestão Estratégica
(SGE - FACEM/UERN)), realizou-se a junção e a complementação das informações.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos territórios acompanhados pelo NEDET/UERN o Programa de Aquisição de


Alimentos - PAA foi operacionalizada nos anos de 2012 a 2016 a quantia de R$ 12.044.075,77
atendendo diretamente a 2758 agricultores familiares, assentados da reforma agrária e
pescadores artesanais. As avaliações acerca do PAA indicam que uma das principais limitações
diz respeito à falta de clareza dos beneficiários (agricultores familiares e pessoas/famílias em
situação de insegurança alimentar) em relação ao programa, seus objetivos, modalidades e
procedimentos.
Observa-se que, embora com a divulgação do programa no território, o acesso às
modalidades ocorreu gradativamente, esta ascendência pode ser resultante da auto-organização
dos grupos e também, da ampla divulgação e debates em reuniões do colegiado. Ou seja, a
política territorial, através de reuniões nos municípios buscou incentivar a inserção dos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1006
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

agricultores no PAA. A modalidade CPR Doação3 foi a mais acionada pelos agricultores e
pescadores. Nos 4 territórios, a adesão dos agricultores familiares ao PAA é bastante
significativa desde os anos iniciais de sua implementação.
Os dados sistematizados a partir do portal da transparência PAA (2016) mostram que
no território Açu-Mossoró, um montante R$ 6.629.213,13, no território Alto Oeste Potiguar R$
4.537.835,5, no território Sertão do Apodi R$ 14.762.862,28 e o Sertão Central com o menor
valor R$ 904.603,00. As ações do PAA, vêm gerando, diretamente, oportunidades valiosas de
inclusão produtiva para os beneficiados, e indiretamente, estimula o processo de construção dos
mercados locais e regionais, abrindo um leque de possibilidades para a dinamização econômica
e o desenvolvimento do território. Além do mais, o programa preza pela boa qualidade dos
produtos e pela não degradação do ambiente, compartilhando respeito mútuo na relação entre
o homem e a natureza.
A partir dos dados levantados foi possível visualizar investimentos do PNAE em todo
o estado do Rio Grande do Norte, e especialmente no recorte feito nos quartos territórios, dentre
os eles, é identificado o Açu-Mossoró com a maior quantidade de recurso disponível para a
compra de alimentação escolar entre os anos de 2012 a 2014, chegando a atingir em 2014 um
recurso surpreendente de R$ 6.316.272,00 R$, vale ressaltar que o mesmo, tem mostrado
superioridade em todos os anos analisados. Este fato, que pode ser explicado pela grande
participação dos atores territoriais, significativa participação da agricultura familiar e o grande
número de alunos (beneficiados) existente no território.
Porém, o que mais chama atenção é a disparidade no montante de recursos de todos os
anos somados, entre os territórios com a maior e o com a menor participação, uma diferença de
R$ 13.590.956,00, já que ambos os territórios (Açu-Mossoró/Sertão Central) possuem apenas
a diferença de quatro municípios. É importante destacar que o território do Açu-Mossoró possui
um contingencial populacional bem maior que o do Sertão Central, além deste território ser
mais novo, o que justifica a sua inferioridade em relação a todos os demais. O Sertão do Apodi
e o Alto Oeste tiveram participação mais modesta em relação ao Açu-Mossoró, porém, não
satisfatórias visto o potencial produtivo e econômico de suas regiões.
Analisando mais profundamente é possível afirmar que o programa a cada ano tem
tido um pequeno crescimento nesses territórios, alguns fatores que contribuíram foram à
diversificação dos produtos oferecidos e o aumento do número dos municípios que priorizaram
a compra dos produtos da agricultura familiar. Foram realizadas pesquisas no âmbito de 05
cadeias produtivas: Apicultura, Cajucultura, Polpa de Frutas, rizicultura e hortifrutigranjeiros.
Os resultados identificaram que uma das maiores dificuldades está na legalização das unidades
de beneficiamento. Através dos resultados obtidos encaminhamos com os atores locais a
articulação da regularização\legalização das unidades de beneficiamento no âmbito das cadeias
produtivas da agricultura familiar.
Dentro de tal contexto, firmou-se uma parceria entre NEDET-UERN e SEBRAE para
uma consultoria para adequação e regularização junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento (MAPA) de dez agroindústrias de polpa de frutas no território Sertão do Apodi.
Com um plano de ação de melhorias de algumas unidades já construídas e outras que não
possuíam unidades de beneficiamento – realizavam a produção de forma artesanal, nas próprias
casas dos agricultores – onde o objetivo consistiu em adequar e regularizar as unidades junto
ao MAPA, dentro dos padrões tecnológicos e higiênicos, conforme legislação vigente para
obtenção de Registro de Produtos – Popas de Frutas – e do Estabelecimento.
Entendendo que a cadeia produtiva do leite é uma das principais atividades
econômicas do Brasil, sobretudo na região do Nordeste e que as políticas agrícolas têm sido ao
longo das últimas décadas um importante instrumento de mudanças no setor pecuário, faz jus
3
Nessa modalidade, os produtos mais ofertados foram o peixe e a polpa de frutas, seguidos pelas hortaliças, mel
de abelha, castanha de caju e banana. (CONAB, 2016).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1007
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

desenvolver um trabalho de pesquisa no sentido de analisar a cadeia da bovinocultura de leite


no território Sertão do Apodi (RN). No que diz respeito ao rebanho para produção de leite,
verifica-se que de 2004 a 2014 houve uma tendência de crescimento. Em 2004, o plantel de
vacas ordenhadas nos Territórios do Alto Oeste Potiguar e Sertão do Apodi totalizava 38.686 e
nos anos de 2014 já ultrapassava as 51.000 cabeças. Mesmo diante de grandes adversidades
naturais, como o longo período de estiagem que assola toda a região nos mais variados setores
da economia, é possível afirmar que a bovinocultura se apresenta como uma importante
atividade econômica nesse território.

4 CONCLUSÕES

Os Território da Cidadania Açu-Mossoró, Alto Oeste Potiguar e Sertão do Apodi vêm


buscando na última década do século XXI, desenvolver mecanismos que possam reverter à
ausência de uma coesão social e política em relação às políticas públicas pensadas para os
territórios, já o Território Rural Sertão Central vem ainda buscando se afirmar como espaço de
discussão. Isto se reflete no esforço que vem sendo posto em prática – a criação dos colegiados
territoriais – onde são apresentadas, discutidas e definidas ações e projetos via políticas
públicas. Entretanto, esses espaços ainda necessitam de bases mais sólidas para se configurar
definitivamente como um ambiente de definição de estratégias que visam o fortalecimento das
atividades econômicas e das condições de vida da população que habita o local.
Pensar numa gestão que fortaleça a tomada de decisão, com vista a contribuir para
favorecimento da equidade social no território, constitui-se em um dos desafios do colegiado.
Ou seja, o colegiado tem um papel fundamental na integralização das políticas públicas como
estratégia para atuação dos diferentes atores/agentes nas instituições e organizações da
sociedade civil, poder público municipal, estadual e federal que possam dialogar
permanentemente tecendo assim, as redes de poder socioterritoriais para fortalecer a identidade
territorial da sua população na perspectiva de inovar no planejamento e na implantação de
propostas de desenvolvimento relacionando-as com as atividades econômicas do território, bem
como considerando a necessidade de conservação ambiental e preservação cultural e do modo
de vida local.

5 AGRADECIMENTOS

Agradeço ao CNPq-UERN pela oportunidade de ser bolsista das instituições. Bem


como as demais organizações que contribuíram no desenvolvimento da pesquisa seja em forma
de apoio financeiro, de infraestrutura ou científico.

REFERÊNCIAS

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. O Perfil da Agroindústria Rural no


Brasil: Uma análise com base nos dados do Censo Agropecuário 2006. Brasília, 2013.09p.

PREZOTTO, Leomar Luiz. Uma concepção de agroindústria rural de pequeno porte. Revista
de Ciências Humanas, Florianópolis, n.31, p. 139, abr. 2002.

SCHNEIDER, Sergio; SCHIMITT, Cláudia Job. O uso do método comparativo nas Ciências
Sociais. Caderno de Sociologia, Porto Alegre, v.9, p.32-33, 1998.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1008
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O PERFIL DO APENADO DO COMPLEXO PENAL JOÃO CHAVES


MASCULINO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Ana Lídia Rodrigues da Fonseca¹


Luiz Ricardo Ramalho de Almeida²
Palavras-chaves: Construção. Fatores. Lei de Execução Penal. Direito. Reinserção Social.

INTRODUÇÃO

O presente resumo expandido discorre sobre o perfil do apenado do Complexo Penal


João Chaves Masculino (CPJC) situado na zona norte da cidade Natal. Esse trabalho é o
resultado do projeto de pesquisa (PIBIC 2019-2020) intitulado: O sistema prisional do Rio
Grande do Norte: um estudo sobre o processo de ressocialização do/a apenado/a durante o
cumprimento da pena nos regimes semiaberto e aberto (1ª etapa). Nesse resumo, destaca-se
o desenvolvimento das atividades referentes ao Plano de Trabalho “quem são os apenados/as
do sistema prisional do RN? – a construção do perfil dos apenado do Complexo Penitenciário (CPJC)
João Chaves (CPJC) - masculino e feminino.
O referido plano de trabalho objetivava caracterizar o perfil socioeconômico, educacional e
criminal e pessoal e familiar do/a apenado/a e dos regimes fechado, semiabertos e abertos (egresso)
em processo de ressocialização e reintegração social, atentando para os principais problemas
enfrentados durante a trajetória de vida dentro e fora do sistema prisional, bem como as estratégias
adotadas do Estado para a reinserção social, por meio de análise documental, registros do sistema
prisional.
Registramos que no primeiro momento, buscamos conhecer por meio de pesquisa a órgão
diretamente ligados ao Sistema Prisional do Rio Grande do Norte, dados estatísticos que permitissem
construir o perfil do apenado do CPJC. Nesse contexto, analisamos dados estatístico do IBGE,
referentes a população carcerária do Rio Grande do Norte, bem como dados do Conselho Nacional
de Justiça (CNJ) no que se refere aos números de apenados, perfil socioeconômico, educacional,
escolaridade, conjuntura familiar, fatores sociais, fatores religiosos e faixa etária do apenado.
O resultado da pesquisa, apresentamos sob forma de resumo expandido atendendo as
exigências do Conselho Nacional de Pesquisa - CNPq, ao Programa de Institucional de Bolsa
de Iniciação Cientifica (PIBIC) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
conforme descritos e analisados a seguir.

METODOLOGIA
O presente resumo teve como base teórico-metodológica a concepção dialética
materialista, observando a totalidade como resultado das operações de múltiplos elementos,
1 Graduanda em Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado de Natal.
Bolsista PIBIC (2019-2020). E-mail: fonsecaanalidia@gmail.com
2 Professor Doutor do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus
Avançado de Natal. E-mail: luizricardo@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1009
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mediante a decomposição do objeto de estudo do projeto de pesquisa, neste caso, o processo


de ressocialização do apenado/a do sistema prisional do RN.
Neste resumo destacamos o aspecto quantitativo da população carcerária do RN, no
que se a refere a população do CPJC masculino. Este levantamento foi realizado por meio
de coleta de dados e estatísticas do Sistema Prisional do Rio Grande do Norte, além de
analisar a aplicação e eficácia da Lei de nº 7.210 DE 1984 – Lei de Execução Penal, com
base na Constituição Federal do Brasil de 1988. Ressaltamos que nesta primeira etapa
objetivamos mapear o sistema prisional e a população carcerária, conforme projeto de
pesquisa.

RESULTADOS
De acordo com os dados do INFOPEN (2018), a população de pessoas privadas de
liberdade no Rio Grande de Norte era de 8.809 apenado. Os dados revelaram que a taxa de o
sistema prisional do RN disponibilizava 4.265 vagas em todo o seu complexo penitenciário.
Isto revelou que o sistema prisional do RN apresentava um déficit no tocante a capacidade
de vagas para o número de apenado.
No ano de 2019, o Conselho Nacional de Ministério Público (CNMP), divulgou em
seu Relatório de Visita que segundo o Relatório Anual de Inspeção Prisional do Ministério
Público que no Brasil tem uma população carcerária de 727.334 (setecentos e vinte e sete
mil, trezentos e trinta e quatro) pessoas encontram-se privadas de liberdade no País em 1.419
(um mil, quatrocentos e dezenove) estabelecimentos penais, segundo o Relatório Anual de
Inspeção Prisional do Ministério Público, o que corresponde a uma taxa de ocupação de
165,12% (cento e sessenta e cinco vírgula doze por cento). Ainda de acordo com os dados
levantados, destaca-se que a capacidade do sistema prisional e sua ocupação registra:
capacidade para homem é 5.884 e sua ocupação é 9.925 apenados; já para mulher a
capacidade é 288 vagas, tendo a ocupação de 535 apenadas. Isto revela que o sistema
prisional do RN registrava em 2019 um déficit de vagas de 4.288 (quatro mil, duzentas e
oitenta e oito), distribuídos em 22 (vinte e duas) unidades prisionais.
É importante destacarmos que de acordo com os dados levantados na pesquisa, a
distribuição da população carcerária do RN, registado no CNMP, por meio do Sistema
Prisional em Números, a maior concentração da população carcerária encontra-se na capital,
Natal, possui o expressivo e grave quantitativo de 633,55% (seiscentos e trinta e três vírgulas
cinquenta e cinco por cento).

DA POPULAÇÃO CARCERIA DO COMPLEXO PENITENCIÁRIO JOÃO


CHAVES (CPJC)

1 Graduanda em Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado de Natal.
Bolsista PIBIC (2019-2020). E-mail: fonsecaanalidia@gmail.com
2 Professor Doutor do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus
Avançado de Natal. E-mail: luizricardo@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1010
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O sistema prisional do Rio Grande do Norte é composto por cadeias públicas,


penitencias e hospital de custodio, totalizando 21 (vinte e um) estabelecimentos prisionais.
Desse universo, destacamos o Complexo Penal João Chaves (CPJC) masculino, locus
da pesquisa. No CNJC abriga custodiados nos regimes: fechado, semiaberto e aberto, com
alas separadas para cada regime. Acerca da população carcerária do CPJC quantidade de
apenados do gênero masculino é 490 homens, tendo a capacidade de ocupação de apenas
para 320 (trezentos e vinte) apenados.
No tocante ao perfil da população carcerário do CPJC masculino Deve-se ressaltar os
dados dos apenados, de modo geral, do Rio Grande do Norte. Em relação a faixa etária dos
apenados, a porcentagem de pessoas privativas de liberdade de 18 a 24 anos é 37,59%, de 25
a 29 anos é 24,03%, de 30 a 34 anos é 15,44%, de 35 a 45 anos é 15,88%, de 46 a 60 anos é
6,31%, de 61 a 70 anos é 0,69%, enquanto mais de 70 anos é 0,06%.
Em relação a cor ou etnia dos apenados, as porcentagens das pessoas privativas de
liberdade de etnia branca são de 17,09%, de etnia preta são de 10,64%, de etnia parda são
54,01%, de etnia amarela são 0,03%, de etnia indígena são 0,00%, enquanto de etnia não
informada são de 18,24%.
No tocante a escolaridade, 10,08% são analfabetos, 12,68% são alfabetizados,
45,49% possuem ensino fundamental incompleto, 4,46% possuem ensino fundamental
completo, 5,44% possuem ensino médio incompleto, 3,18% possuem ensino médio
completo, 0,27% possuem ensino superior incompleto, 0,17% possuem ensino acima de
superior completo, 0,00% possuem ensino acima de superior completo, enquanto 18,23%
não informaram sua escolaridade.
Em relação ao estado civil, 47,28% são solteiros, 27,61% possuem união estável,
8,21% são casados, 0,10% são separados judicialmente, 0,33% são divorciados, 0,23% são
viúvos, enquanto 16,23 não informaram seu estado civil, de acordo os dados do INFOPEN
/2018. Quanto ao perfil do homem privativo de liberdade norte-rio-grandense, a maioria estão
na faixa etária de 18 a 24 anos, com predominância da cor ou etnia parda, com a escolaridade
da maioria sendo apenas de ensino fundamental incompleto, e maioria com estado civil
solteiro.

DISCUSSÕES

AGRADECIMENTOS
Devemos enfatizar que no decorrer do projeto de pesquisa, o auxílio psicológico e
financeiro ofertado contribuíram significativamente para a minha formação acadêmica. No
mais, cabe aqui, agradecer a benevolência do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (PIBIC) pela bolsa disponibilizada e por incentivar nos pesquisadores dedicação

1 Graduanda em Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado de Natal.
Bolsista PIBIC (2019-2020). E-mail: fonsecaanalidia@gmail.com
2 Professor Doutor do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus
Avançado de Natal. E-mail: luizricardo@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1011
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

em relação ao objeto de pesquisa, de tão relevante importância para a sociedade norte-rio-


grandense.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública, Departamento Penitenciário Nacional.
Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias Atualização - Junho de 2017.
Brasília, 2019.
BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público (CNPM). Relatório de Visita do Rio
Grande do Norte. 2019.
BRASIL, Ouvidoria do Sistema Penitenciário/DEPEN. Relatório de inspeção em
estabelecimentos penais do Estado do Rio Grande do Norte. Brasília, 2014.
BRASIL. Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional – SISDEPEN.
Relatório analítico. Rio Grande do Norte, 2017.
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. 1984.
Disponível em: <http://planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>. Acesso em: 18 dez,
2019.
RIO GRANDE DO NORTE. Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Plano Estadual
de Educação nas Prisões. Natal, 2015.

1 Graduanda em Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado de Natal.
Bolsista PIBIC (2019-2020). E-mail: fonsecaanalidia@gmail.com
2 Professor Doutor do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus
Avançado de Natal. E-mail: luizricardo@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1012
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O PROGRAMA CRIANÇA FELIZ: APROXIMAÇÕES TEÓRICAS


PARA UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN

Adjair de Oliveira e Silva Júnior1; Márcia da Silva Pereira Castro2

Palavras-chave: Programa Criança Feliz. Implementação. Política de Assistência Social.

Introdução

Nossa reflexão parte do desenvolvimento da pesquisa O Programa Criança Feliz: uma


análise de seu processo de implementação no município de Mossoró-RN submetida ao Edital
nº 001/2018-PROPEG/UERN Iniciação Científica, através do Plano de Trabalho intitulado O
Programa Criança Feliz no município de Mossoró-RN: o que os dados nos apontam no período
de agosto de 2019 à agosto de 2020.
O Programa Criança Feliz foi criado pelo Governo Federal em 2016 através do Decreto
Nº 8.869, de 5 de outubro de 2016, mas vinha sendo desenhado desde o governo da ex-
presidenta Dilma Rousseff. Porém, só foi criado no governo de Michel Temer, pouco após a
articulação política que resultou no impeachment de Dilma Rousseff, em agosto de 2016. O
Programa se propunha a articular as políticas de assistência social, saúde, educação, direitos
humanos, direitos das crianças e dos adolescentes, cultura, entre outras
Em 2018, o programa passa por algumas alterações por meio do Decreto Nº 9.579, de
22 de novembro de 2018, tendo como intuito o desenvolvimento e o cuidado na primeira
infância, como apontam os artigos 97 e 98:

Art. 97. Considera-se primeira infância, para os fins do disposto neste Título,
o período que abrange os primeiros seis anos completos ou os setenta e dois
meses de vida da criança.
Art. 98. O Programa Criança Feliz atenderá gestantes, crianças de até seis anos
e suas famílias, e priorizará:
I - gestantes, crianças de até três anos e suas famílias beneficiárias do
Programa Bolsa Família, instituído pela Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004;
II - crianças de até seis anos e suas famílias beneficiárias do Benefício de
Prestação Continuada, instituído pela Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de
1993;e
III - crianças de até seis anos afastadas do convívio familiar em razão da
aplicação de medida de proteção prevista no art. 101, caput, incisos VII e VIII,
da Lei nº 8.069, de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, e suas
famílias. (BRASIL, 2018)

Embora tenha um desenho que abrange todo o território nacional, o Programa Criança
Feliz é implementado no âmbito dos municípios com diferentes particularidades históricas,
socioeconômicas e políticas. Assim, nosso intento era fazer um levantamento de dados que

1
Discente do curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN) e Bolsista de Iniciação Científica pelo CNPq. E-mail: juniorad30@gmail.com
2
Professora do curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN). Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). E-mail: marciasilva@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1013
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pudessem adensar a análise da implementação do Programa Criança Feliz no município de


Mossoró-RN.
Convém destacar que o programa foi criado em um período em que o neoliberalismo
estava ganhando força dentro do país, principalmente, depois da aprovação da Proposta de
Emenda à Constituição nº 95 em 15 de dezembro de 2016, a chamada PEC do Teto dos Gastos
Públicos, na qual estabelece um limite de “gastos” das principais políticas sociais por vinte (20)
anos, no caso, as políticas de seguridade social e Educação. Tendo em vista isso, o corte de
gastos nessas políticas repercute na implementação de programas e ações no campo
socioassistencial, tendo em vista a utilização da estrutura das políticas públicas para execução
desses programas governamentais.
Dessa forma, o Programa Criança Feliz atua com recursos indefinidos, já que não há
um orçamento próprio e pela magnitude de atuação em que ele se propõe, somando o fato de
que o governo não apresentou as despesas operacionais e administrativas do programa,
propondo apenas a utilização do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) há um
comprometimento de suas próprias ações.
Diante o exposto, nossos objetivos foram: 1) Identificar os arranjos institucionais
adotados no processo de gestão do Programa Criança Feliz, observando sua estrutura
organizacional, financiamento e capacidade instalada; 2) Sistematizar o perfil dos profissionais
que atuam no Programa Criança Feliz, destacando suas atribuições, e; 3) Identificar como se dá
o processo de coparticipação entre município e Governo Federal na implementação do
Programa Criança Feliz.

Metodologia

Do que foi proposto inicialmente para a Metodologia, parte não pôde ser desenvolvido
devido a pandemia e isolamento social ocasionado pelo novo Coronavírus. A realização de
atividades que seriam nas visitas in loco, não foram possíveis de realizar, já que se daria,
principalmente, através das visitas aos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) da
cidade de Mossoró-RN, que seriam realizadas no segundo semestre do cronograma da pesquisa,
depois da maturação teórica e discussão das leituras feitas para fundamentar a pesquisa.
Dentre o sugerido foram realizadas pesquisas bibliográfica e documental, acessando
informações e textos disponibilizados no site do Governo Federal, bem como, através da
literatura que discute o tema de políticas públicas necessárias para fazer as análises em relação
ao proposto pelo programa. No site foi possível acessar toda legislação pertinente ao Programa
Criança Feliz, bem como publicações acerca de avaliações, relatórios e recomendações sobre
sua inserção na estrutura do SUAS.
No campo teórico sobre políticas públicas e da política de assistência social foi
realizado leituras e fichamentos de Souza (2006), Souza (2013), Castro (2009), Sposati et al.
(1998), Silveira (2017), dentre outros. Salama e Valier (1997) nos proporcionaram a reflexão
do neoliberalismo e da pobreza no contexto do terceiro mundo e sua relação com as políticas
públicas. Para fundamentar a discussão do voluntariado e solidarismo, e, como essas se
configuram no cenário político, importantes na história da assistência social, a análise de Araújo
(2008) foi de grande relevância, assim como a compreensão do primeiro-damismo a partir da
produção de Torres (2002).
Importante destacar que nossas reflexões teóricas vêm se dando de forma ampliada
juntamente às atividades da equipe de outra pesquisa de Fluxo Contínuo (O Programa Criança
Feliz: agenda, formulação e implementação em tempos de “crise”). Dessa forma,
compreendemos que as reflexões são mais produtivas dado que a troca de ideias e percepções
acerca dos conteúdos são discutidas de forma mais interativa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1014
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultados

Depois de realizar a pesquisa dos documentos que definem a atuação do Criança Feliz
e analisando-os em relação as outras leituras feitas, foi possível notar a falta de objetividade no
desenho do programa, bem como a tentativa de sobrepô-lo à política de assistência social.
Apesar do desenho do Programa Criança Feliz propor uma articulação com as políticas de
saúde, educação, direitos humanos, direitos das crianças e dos adolescentes, cultura e
assistência social, é com essa última que há uma ligação mais estreita, chegando a invisibilizar
o que de fato é atribuição da política de assistência social.
O que se percebe é uma tentativa de minimizar a política estatal de assistência social,
através da “exaltação” de um programa de governo. Isso é evidente quando em fevereiro de
2017, o governo publica uma cartilha de orientações intitulada “A participação do SUAS no
Programa Criança Feliz”. O próprio título do documento mostra a discrepância sobre a atuação
do SUAS, descaracterizando-o, na tentativa de mostrar ser uma “parte” e não algo intrínseco,
como é posto no texto: “A política de Assistência Social é uma das políticas que integra o
Programa Criança Feliz” (BRASIL, 2017, p. 8).
Essa realidade observada em documentos publicados pelo Governo Federal também é
observada no município de Mossoró-RN. Mesmo com a limitação posta pela pandemia,
inviabilizando a realização da pesquisa de campo, a observação e consulta de reportagens e
divulgações de ações da Prefeitura Municipal nos conduz a algumas conjecturas, dentre outras,
a minimização da importância da política de assistência social.
Com a falta de definição de seu orçamento, o Programa Criança Feliz se mostra pouco
eficaz, além de entrar em choque com outros serviços ofertados, como o Programa de Proteção
e Atenção Integral à Família (PAIF), pertencente à proteção social básica do SUAS, presente
nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), englobando todo o seu público-alvo.
A partir dessas reflexões foi possível sistematizar o texto nominado: “O programa
criança feliz e a política de assistência social”, o qual foi submetido e aprovado para
apresentação oral no III Simpósio Internacional sobre Estado, Sociedade e Políticas Públicas a
ser realizado, via on line, em outubro próximo na Universidade Federal do Piaui. O texto é
resultante do trabalho conjunto com a equipe do projeto de Fluxo Contínuo supracitado.

Conclusão

O Programa Criança Feliz aparece em um contexto de radicalização neoliberal de


recessão de direitos sociais, mas a sua atuação e efetividade ainda são nebulosos, ainda mais
por ele se apropriar de uma estrutura que já vem sendo sucateada ao longo dos anos, no caso, a
do SUAS.
Não é novo que a política de assistência social passa por diversos desafios ao longo de
sua história, principalmente, dentro do cenário político, lugar onde ela não é considerada como
um direito social, por isso, é vulnerável a ataques e sucateamentos.
Dessa forma, fica evidente que o Programa Criança Feliz está inserido numa estratégia
de sucateamento e fragmentação da política de assistência social, particularmente, no que diz
respeito ao financiamento. Há uma lógica de inversão na importância entre um programa de
governo e uma política de estado, já que seria mais pertinente que serviços mais amplos, com
mais efetividade e que existem a mais tempo tivessem uma atenção maior para então, assim,
fortalecer a política de assistência social.

Agradecimentos
Os agradecimentos vão para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPQ), pelo incentivo financeiro com a bolsa de Iniciação Científica; e à

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1015
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), pelo espaço físico onde se pôde
realizar os encontros semanais para as discussões em relação à pesquisa.

Referências

ARAÚJO, Jairo Melo. Voluntariado: na contramão dos direitos sociais. São Paulo: Cortez,
2008.
BRASIL. A participação do SUAS no Programa Criança Feliz. Brasília, fev. 2017.
Disponível em:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/SUAS_no_Cria
ncaFeliz.pdf Acesso em: 30.ago.2019.
BRASIL. Decreto n. 9.579, de 22 de novembro de 2018. Consolida atos normativos editados
pelo Poder Executivo federal que dispõem sobre a temática do lactente, da criança e do
adolescente e do aprendiz, e sobre o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente, o Fundo Nacional para a Criança e o Adolescente e os programas federais da
criança e do adolescente, e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República,
2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2018/Decreto/D9579.htm Acesso em: 30.ago.2019.
BRASIL. Decreto n. 8.869, de 5 de outubro de 2016. Institui o Programa Criança Feliz.
Brasília, DF: Presidência da República, 2016. Disponível em:
http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/decretos/arquivos/decreto-8-869-05-10-2016.pdf
Acesso em: 5. jun. 2020.
BRASIL. Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro de 2016. Altera o Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal, e dá outras
providências. Brasília, DF: Senado Federal, 2016. Disponível em:
https://legis.senado.leg.br/norma/540698/publicacao/15655553 . Acesso em: 5 de jun. 2020.
CASTRO, Márcia da Silva Pereira. Implementação da política de assistência social em
Mossoró/RN: uma avaliação a partir dos Centros de Referência da Assistência Social.
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Natal-RN: Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, 2009. 163 f.
SALAMA, Pierre; VALIER, Jacques. Pobrezas e desigualdade no terceiro mundo. (trad.
Catherine M. Matieu). São Paulo: Nobel, 1997.
SILVEIRA, Jucimeri Isolda. Assistência social em risco: conservadorismo e luta social por
direitos. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 130, p. 487-506, set./dez. 2017.
http://dx.doi.org/10.1590/0101-6628.120
SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano
8, nº 16, p. 20-45, jul/dez. 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
45222006000200003&lng=pt&nrm=iso
SOUZA, L. M. DE. A agenda e as agendas no Brasil. Revista Cronos, v. 7, n. 1, 9 jan. 2013.
SPOSATI, Aldaíza et al. (org.). Assistência na Trajetória das Políticas Sociais Brasileiras
- Uma Questão em Análise. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1998.
TORRES, Iraildes Caldas. As primeiras-damas e a assistência social: relações de gênero e
poder. São Paulo: Cortez, 2002.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1016
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O SISTEMA PRISONAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN):


UMA ANÁLISE DOS PROGRAMAS E PROJETO DE REINSERÇÃO SOCIAL
NO COMPLEXO PENITNEICA JOÃO CHAVE – MASCULINO

Bruno Felipe Gonçalves 1


Luiz Ricardo Ramalho de Almeida 2
Palavras-chaves: Sistema Prisional; Rio Grande do Norte; Lei de Execução Penal.

INTRODUÇÃO
O presente resumo expandido discorre sobre o perfil do apenado do complexo
penal João Chaves masculino (CPJC) situado na zona norte da cidade natal. esse trabalho
é o resultado do projeto de pesquisa (PIBIC 2019-2020) intitulado: o sistema prisional do
rio grande do norte: um estudo sobre o processo de ressocialização do/a apenado/a
durante o cumprimento da pena nos regimes semiaberto e aberto (1ª etapa). Nesse resumo,
destacamos o desenvolvimento das atividades referentes ao plano de trabalho “
ressocialização e reinserção social nos espaços prisionais do RN: uma análise das dos
programas e projeto de ressocilização e reinserção social no espaço prisional – complexo
penal João chave masculino. O referido plano de trabalho objetivava analisar os projetos
e programas de ressocialização dos/as apenados/as ofertados aos/as apenados/as durante
o cumprimento de pena em regime privativo de liberdade, considerando tanto a
capacidade dos programas de ressocialização, observando os fatores que contribuem para
o processo de ressocialização e reinserção do apenado observando.
Registramos que no primeiro momento, buscamos conhecer por meio de pesquisa
a órgão diretamente ligados ao Sistema Prisional do Rio Grande do Norte, dados
estatísticos que permitissem conhecer o sistema prisional do Estado, observando a
efetivação dos direitos dos apenados. O resultado da pesquisa, está organizado neste
resumo expandido que atende exigências do Conselho Nacional de Pesquisa - CNPq, ao
Programa de Institucional de Bolsa de Iniciação Cientifica (PIBIC) da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte, conforme descritos e analisados a seguir.

METODOLOGIA
O presente resumo teve como base teórico-metodológica a concepção dialética
materialista, observando a totalidade como resultado das operações de múltiplos
elementos, mediante a decomposição do objeto de estudo do projeto de pesquisa, neste
caso, o processo de ressocialização do apenado/a do sistema prisional do RN.

1
Discente de Direito na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte:
E-mail: brunogoncalves.bfg@oulook.com
2
Professor Doutor do Departamento de Direito, do Campus Avançado de Natal da UERN.
E-mail: luizricardo@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1017
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Neste resumo destacamos o aspecto quantitativo dos estabelecimentos penais no


Estado do Rio Grande do Norte. Em especifico, analisamos as condições do CPJC
masculino em que pese a realização de projetos e programa de ressocialização e
efetivação dos direitos dos/as apenados/as. Este levantamento foi realizado por meio de
coleta de dados e estatísticas do Sistema Prisional do Rio Grande do Norte, além de
analisar a aplicação e eficácia da Lei de nº 7.210 DE 1984 – Lei de Execução Penal, com
base na Constituição Federal do Brasil de 1988.

RESULTADOS
Com fulcro no Art. 5º, inc. XLVIII, da Constituição Federal: “a pena será
cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o
sexo do apenado”. O Estado do Rio Grande do Norte possui, atualmente, segundo os
dados mais recentes do boletim de Levantamentos de Informações Penitenciárias
INFOPEN (2019) cerca de 10.057 presos. Sendo 4.093 indivíduos em regime fechado;
1.574 em regime semiaberto; 1.115 em regime aberto; 3.230 em regime provisório; 45
em regime de medida de segurança.
Os apenados/as cumprem pena em 23 estabelecimentos penais localizados em
diferentes regiões do Estado. Desses, conforme o Relatório Consolidado Estadual-RN,
Junho de 2019. O sistema prisional do Estado do Rio Grande do Norte, dispõe: no
município de Apodi, com o Centro de Detenção Provisória de Apodi. No município de
Caicó, a Penitenciaria Des. Francisco Pereira da Nóbrega. No município de Caraúbas,
dispõe da cadeia Pública Promotor Manoel Alves Pessoa Neto. Em Ceará Mirim dispõe
a Cadeia Pública Dinorá Simas Lima Deodato. No município de Jucurutu conta com
Centro de Detenção Provisória de Jucurutu. Este Centro de Detenção possui 44 presos no
total, sendo que 18 estão em regime fechado; 26 são presos provisórios (sem condenação).
Em Macaíba dispõe do Centro de Detenção Provisória de Macaíba.
Já no município de Mossoró, com a Cadeia Pública desembargador Manoel
Onofre de Souza. Além disso, o munícipio comporta o Complexo Penal Agrícola Dr.
Mário Negócio. Além de disponibilizar da Penitenciária Federal de Mossoró. No
município de Nísia Floresta dispõe da Penitenciária Estadual Dr. Francisco Nogueira
Fernandes, Nele está situada a Penitenciária Estadual Rogério Coutinho Madruga. Na
cidade de Nova Cruz tem a Cadeia Pública Nominando Gomes da Silva. No município
de Parnamirim tem a 03 (três) estabelecimentos. Destaca-se, Centro de Detenção
Provisória de Parnamirim (feminino) e provisórios (sem condenação); Tem conta com o
Centro de Detenção Provisória de Parnamirim (masculino) e a Penitenciária Estadual de
Parnamirim. Na região do alto-oeste, no munícipio de Paus dos Ferros, dispõe do
Complexo Regional de Pau dos Ferros.
Na capital do Estado, a cidade de Natal, conta com o maior número de
estabelecimentos penais e de apenados. São no total 05 (cinco) estabelecimentos, que
abriga 3.280 presos. Entre os estabelecimentos e o número de internos estão: Cadeia
Pública Prof. Raimundo Nonato Fernandes, Deve-se ressaltar que há a Central de
Monitoramento Eletrônico, em que são monitorados 1.353 apenados no total, sendo que
1.281 estão no regime aberto; 66 são presos provisórios (sem condenação).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1018
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No tocante ao Complexo Penal Dr. João Chaves, abriga 1.471 presos no total,
sendo que 355 estão em regime fechado; 177 em regime semiaberto; 938 estão em regime
aberto. No entanto, 130 vagas (23.21%) são destinadas aos indivíduos do sexo feminino,
por sua vez, 430 vagas (76.79%) são para o público do sexo masculino.

DISCUSSÃO
Diante do exposto, dados levantados do número de estabelecimentos penais e a
população carcerária do Rio Grande do Norte, é maior do que sua capacidade de
acomodação. Revelam dados do INFOPEN que no Estado tem um déficit de vagas de
4.288 (quatro mil, duzentas e oitenta e oito), distribuídos em 22 (vinte e duas) unidades
prisionais, conforme preconiza o INFOPEN, dados apresentados em 2019.
A superlotação dos estabelecimentos penais, revela um fato marcante, a garantia
dos direitos dos apenas, inviabilizando, a realização de projetos e programa de
ressocialização dos/as apenados/as, soma-se a isto, as frequentes rebeliões que destruíram
parte da estrutura dos estabelecimentos penais. Outro fato, importante a destacar e a
efetivação dos direitos da população carcerária do Estado. Neste tópico, destacamos a
que nos estabelecimentos penais há um evidente desrespeito, quando se observa a Lei de
Execução Penal 7.210 de 1984.
De acordo com a referida lei, os apenados têm direito a assistência educacional,
por meio de projetos e programas educacionais e de ressocialização e reinserção social;
religiosa, saúde e assistência jurídica. Os estabelecimentos penais não disponibilizam aos
apenados/as espaço para efetivação a realização de programas e ou projeto de
ressocialização. Tal fato fere gravemente aos direitos dos apenados conforme preconiza
a LEP vigente no país. Isto reforça a compreensão de que os estabelecimentos penais
funcionam meramente como locais para segregar a vida dos apenados não importando o
processo de ressocialização deste para reingressa na sociedade.

CONCLUSÃO
Diante do exposto, é perceptível, após a análise dos relatórios disponibilizados
pelo Depen e Infopen, que a unidades penais existentes no RN possuem sérias defasagem
em suas estruturas assistenciais aos apenado/as. Tais estabelecimento penais não estão de
acordo como as orientações da Lei de Execução Penal, nº 7.210 de 1984. Tal fato implica
no desrespeito aos direitos dos apenados, assim como, a impossibilidade de realização
projetos e programas de ressocialização e reinserção social da população carcerária.
No que concerne a assistência jurídica preconiza na LEP, entendemos que está
não é realizada nos estabelecimentos penais, consequentemente, marca o desrespeito dos
direitos dos/as apenados. A assistência educacional vem sendo mitigado ao longo dos
anos. Não há registro de programa e projetos de ressocialização desenvolvidos nos
estabelecimentos penais nos últimos cinco anos, conforme nos indicar a Secretaria de
Segurança Pública. Tal fato se justifica pelas constantes rebeliões e a destruição dos
espaços penais. Diante disso, vemos que o sistema prisional do RN, no momento,
apresenta espeço de reclusão dos/as apendas, firmando-se num espaço de violação de
direitos.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1019
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AGRADECIMENTOS
Devemos enfatizar que no decorrer do projeto de pesquisa realizamos atividades
que contribuíram para minha formação acadêmica. No mais, cabe aqui, agradecer a ao
do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) por incentivar nos
pesquisadores dedicação em relação ao objeto de pesquisa de tão relevante importância
para a sociedade norte-rio-grandense.

REFERÊNCIA
BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública, Departamento Penitenciário
Nacional. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias Atualização –
INFOPEN, Junho de 2017. Brasília, 2019.
BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público (CNPM). Relatório de Visita do Rio
Grande do Norte. 2019.
BRASIL, Ouvidoria do Sistema Penitenciário/DEPEN. Relatório de inspeção em
estabelecimentos penais do Estado do Rio Grande do Norte. Brasília, 2014.
BRASIL. Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional –
SISDEPEN. Relatório analítico. Rio Grande do Norte, 2017.
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. 1984.
Disponível em: <http://planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>. Acesso em: 18 dez,
2019.
RIO GRANDE DO NORTE. Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Plano
Estadual de Educação nas Prisões. Natal, 2015.
BRASIL. Levantamento Nacional das estatísticas do sistema penitenciário brasileiro.
Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen. Acesso em: 27 de
fevereiro de 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1020
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS NA PRÁTICA JURÍDICA


DA FAD/UERN

Antônio Lauriano de Souza Monte¹; Cicília Raquel Maia Leite²; Ana Mônica
Medeiros Ferreira³; Inessa da Mota Linhares Vasconcelos 4; Denise dos Santos
Vasconcelos Silva 5; Pedro Fernandes Ribeiro Filho6.

Palavras-chave: Tecnologia da informação, inclusão digital, direito, ferramentas.

INTRODUÇÃO
O Ministério da Educação no ano de 2004 instituiu as Diretrizes Curriculares
Nacionais por meio da Resolução n. 09/2004 do curso de Direito. Nele o Núcleo de
Prática Jurídica entra com o intuito de aumentar o conhecimento técnico-jurídico dos
estudantes.
O Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) da Faculdade de Direito (FAD) da Universidade
Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) tem o objetivo de proporcionar um
aprendizado especifico de cada área do direito ao longo dos 2 anos em que o aluno
permanece no NPJ. O Núcleo de Prática Jurídica da FAD - UERN desenvolve um
trabalho de assistência jurídica à população com abrangência aos municípios de
Mossoró e Serra do Mel.
Segundo Krammes e Cardoso (2011) à primeira vista, Direito e Tecnologia são
ciências que possuem poucas características em comum, tratando-se de ramos tão
diversos do estudo científico. Sendo assim, por muito tempo, foram estudadas e
concebidas dessa forma isolada. Contudo, com o avanço significativo da área da
informática, essas duas ciências até então dadas como distintas tendem a convergir e
conceder um melhor aproveitamento para ambas.
Diante do exposto, objetivo deste trabalho é realizar uma revisão sistemática acerca
do uso das novas tecnologias no núcleo de prática jurídica, para auxiliar na adaptação
dos cursos de nível superior da área do direito aos novos recursos computacionais, bem
como implementar um sistema de gerenciamento de assistidos e controle de processos
que estejam sendo acompanhados pelo NPJ.

METODOLOGIA

O trabalho está dividido em seis etapas:


 Etapa 1: Realizar uma revisão bibliográfica;
 Etapa 2: Mapear as informações para auxiliar na elaboração de sistemas;
 Etapa 3: Modelagem e especificações dos requisitos;
 Etapa 4: Realizar pesquisas em outros Núcleos de Prática e estabelecimentos
jurídicos;

¹Estudante do curso de Ciência da Computação do Departamento de Informática da Universidade do Estado do Rio


Grande do Norte; e-mail:laurianomonte@alu.uern.br
²Professora do Departamento de Informática da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e -mail:
ciciliamaia@uern.br.
³Professora da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: anamonica@uern.br
4
Professora da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-
mail:inessavasconcelos@uern.br
5Professora da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:

denisevasconcelos@uern.br
6Estudante do curso de Direito do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-

mail: pedro.fernandesrf@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1021
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

 Etapa 5: Apresentar as ferramentas/sistemas/aplicativos;


 Etapa 6: Desenvolvimento de relatórios e artigos científicos.

Durante os seis meses de realização do projeto no Núcleo de Prática, três meses de


forma presencial e outros três de forma remota, foram realizadas duas das seis etapas
da metodologia que foram as etapas 2 e 3. As etapas 1, 4 e 5 foram iniciadas sendo
interrompidas por causa da disseminação da Covid-19 e a última não foi inicializada
ainda por causa de não haver tempo hábil para seu desenvolvimento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O projeto teve como êxito o mapeamento das informações necessárias para auxiliar
na elaboração de sistemas, assim como a modelagem dos requisitos. Tendo iniciado
também o desenvolvimento de um sistema para gerenciamento dos processos que os
advogados do NPJ assistem.

Protótipo de aplicação web em desenvolvimento para a gestão dos assistidos do


Núcleo de Prática Jurídica da FAD/ UERN, conforme apresentado na Figura 1 e Figura
2.
Figura 1: Protótipo de tela de login da aplicação web.

Figura 2: Protótipo de tela de cadastro da aplicação web.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1022
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Aplicação em desenvolvimento para controle e comunicação entre alunos,


professores e indivíduos que se encontram na posição de procurar assistência
jurisdicional no NPJ. Quanto ao Protótipo de aplicação mobile tem-se: a Figura 3 e
Figura 4.

Figura 3: Protótipo de tela de login do app mobile. Figura 04 - Tela de notícias

CONCLUSÃO

Nessa perspectiva de convergência dessas duas ciências e como ambas podem se


beneficiar disso e tendo em vista a atual situação do Núcleo de Prática Jurídica da FAD
- UERN, buscou-se melhorar sua eficiência por meio do emprego da tecnologia através
do levantamento de requisitos necessários para acompanhar o avanço das tecnologias
computacionais.

AGRADECIMENTOS
Agradeço ao CNPq, a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), ao
Grupo de Engenharia de Software (GES), a Prof. Dr. Cicília Raquel Maia Leite, a Prof.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1023
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Dr. Ana Mônica Medeiros Ferreira e a Prof. Dr. Inessa da Mota Linhares Vasconcelos,
pela oportunidade prestada de ampliar o meu conhecimento.

REFERÊNCIAS
KRAMMES, Alexandre Golin; CARDOSO, Marcelo Herondino. Sistemas Jurídicos e
Tecnologia: evolução e influências. , [s. l.], 2011. Disponível em: https://trello-
attachments.s3.amazonaws.com/5c2e318c3a032942af40d2e9/5cc704fa2878550e9b26
a388/e651b30355dc3b66777cf08af9e2e0c9/29603-29619-1-PB_(1).pdf.

NUNES, Edson de Oliveira. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃOCÂMARA


DE EDUCAÇÃO SUPERIOR: RESOLUÇÃO CNE/CES N° 9, DE 29 DE
SETEMBRO DE 2004. , [s. l.], 2004. Disponível em:

SANTOS, Jaqueline Lucca. Julgamento colegiado e as novas tecnologias: uma análise


da qualidade/integridade da decisão colegiada proferida virtualmente. 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1024
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Observatório de turismo do RN: pesquisas e cenários (parte 2)

Samuel Jordan de Souza França1; Dr. Sidcley D'Sordi Alves Alegrini da Silva2

Palavras-chave: OBSERVATURN; Rio Grande do Norte; Investigção; UERN

1 INTRODUÇÃO

O turismo é uma das principais atividades econômicas mundiais, além de possuir um viés
calcado nas questões sociais e ambientais. Assim, é interessante definir turismo, como:

Os deslocamentos curtos e temporais das pessoas para destinos fora do lugar de


residência e de trabalho e as atividades empreendidas durante a estada nesses destinos.
(BURKART E MEDLIK, 1981, p. 66)

Nessa definição, conceitos como deslocamentos fora do lugar de residência e de trabalho


introduzem positivamente a conotação de viagens de férias/lazer, em contraposição a residência
e ao trabalho, mas, ao mesmo tempo, deixa fora conceitos modernos de turismo como são as
viagens por motivos de negócios, com ou sem complementos de lazer ou as férias em segundas
residências.

Sendo assim, o turismo como matéria de estudos universitários começou a ser fomentado
no período compreendido entre as duas guerras mundiais (1919 e 1938). Durante esse período
economistas europeus começaram a publicar os primeiros estudos na área, cabe destaque a
chamada Escola de Berlim com autores como Glucksmann, Schwinck ou Bormann. (SILVA,
2011)

Neste contexto, a proposta deste projeto PIBIC justifica-se pela necessidade de continuar
auxiliando a iniciativa pública e privada na tomada de decisões de natureza turística,
monitorando-se a atividade no Estado do RN, agregando informações importantes sobre o perfil
dos visitantes, seus gastos, suas motivações de viagem, os principais meios de transporte
utilizados, dentre outros elementos estatísticos ou não, que possam conduzir as políticas
públicas estaduais e também atrair e consolidar investidores privados nas diversas regiões
turísticas do Estado.

Diante do exposto, o OBSERVATURN teve seu embrião fundacional a reunião ordinária


do Conselho Estadual de Turismo do RN – CONETUR em agosto de 2017. Tal conselho
congrega instituições públicas, privadas e do terceiro setor. Este órgão consultivo deliberou
pela criação do OBSERVATURN nas dependências do Campus de Natal da UERN que já
empreendeu, juntamente com os parceiros do CONETUR diversas pesquisas relacionadas ao
fenômeno turístico.

1
Estudante do curso de turismo do Campus de Natal da UERN. Bolsista PIBC/UERN. E-mail:
samueljordan@alu.uern.br
2
Professor do departamento de turismo do Campus de Natal da UERN. Vice-líder do Grupo de Estudos Turísticos
UERN/CnPq e Coordenador do OBSERVATURN. E-mail: sidcleyalegrini@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1025
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As pesquisas do OBSERVATUR são financiadas pela Fecomercio/IPDC, em parceria


com a UERN, UnP, UFRN, IFRN, SETUR/RN, SETUR/Natal, EMPROTUR e o Sindicato dos
Bugueiros do RN e acontecem com uma periodicidade aproximada de 4 meses entre elas.
Sendo assim, a parte proposta de continuidade (parte 2) pretendeu dá seguimento às
pesquisas empreendidas pelo observatório, orientando na tomada de decisões de natureza
turística no RN para o setor público e privado. Os principais resultados obtidos foram: a
sugestão de novas políticas públicas de turismo para o RN e a conquista de novos voos
internacionais, onde se destaca a ampliação de voos diretos entre Natal e Buenos Aires pela Gol
Linhas Aéreas e pela Aerolíneas Argentinas e a conquista de novos voos entre Natal e
Amsterdam, onde este último irá injetar mais de R$ 56 milhões na economia do RN.

Recentemente, o observatório recebeu o convite da Fecomercio/RN, através do “Projeto


Verena” para integrar o site: “Trade Turístico do RN”, em cooperação entre as entidades
parceiras já mencionadas e o Estado da Renânia-Palatinado na Alemanha, com investimento na
ordem de R$ 60.000,00 do Estado alemão. As informações e pesquisas do Observatório de
Turismo do RN são organizadas e publicadas e podem ser consultadas pelo seguinte endereço
eletrônico: encurtador.com.br/CESZ8.

2 METODOLOGIA

A metodologia é o instrumento que possibilita a averiguação de um dado objeto de estudo,


prerrogativa fundamental para se fazer ciência. Ela procura descrever os procedimentos de
condução de uma pesquisa científica, fornecendo informações básicas, servindo de guia à
elaboração de projetos e de instrumentos de coletas de dados.

As pesquisas empreendidas pelo observatório no biênio 2019-2020 foram de caráter


qualitativo e quantitativo. Segundo Lakatos e Marconi (2004, p. 35), “o estudo qualitativo é o
que se desenvolve em uma situação natural; é rico em dados descritivos, tem um plano aberto
e flexível e focaliza a realidade de forma complexa e contextualizada”.

A coleta dos dados qualitativos e quantitativos foram realizadas pela equipe do


observatório, seus bolsistas permanentes e auxiliadas pelo setor de estatística do IPDC da
Fecomercio/RN e do IFRN. Os questionários foram tabulados e analisados criteriosamente,
com vistas à elaboração de documentos oficiais e devidamente publicados no site “Trade
Turístico do RN”.

O modelo metodológico apresentado anteriormente foi planejado e conduzido pelo curso


de turismo da UERN e seus parceiros, monitorando-se os cenários e perspectivas do turismo
potiguar, através de uma metodologia calcada em pesquisas de campo, com dados primários
oriundos de questionários aplicados nos principais portões de entrada de turistas no RN, a saber:
Aeroporto Internacional Aluízio Alves, Rodoviária de Natal, Mossoró, Caicó, Pau dos Ferros,
além de questionários aplicados em atrativos turísticos representativos no RN, notadamente nos
municípios de Natal e Tibau do Sul, principais produtos turísticos do Estado.

Os questionários foram estruturados e padronizados, junto a uma amostra representativa


da população pesquisada. Para a realização destas pesquisas foi utilizada uma equipe de
entrevistadores devidamente treinados para a pesquisa em foco. Todos os questionários
preenchidos são analisados e recebem avaliação de consistência por parte da coordenação do
observatório, medida adotada que visa garantir a qualidade e fidelidade das informações
coletadas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1026
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os anos de 2019 e 2020 foram enrriquecedores para o Observatório, uma vez que se
conseguiu alcançar todos os objetivos em questão de produção científica, bem como em
expandir as realizações do Observatório. As perspectivas para à atividade e reconhecimento do
Observatório são promissoras, devido a valorização das pesquisas científicas na área do turismo
e o incentivo da academia e do trade turístico para a coleta destes dados.

Cabe destacar algumas pesquisas realizadas pelo observatório: em 2019, em parceria


com o IPDC Fecomércio RN, foi traçado o Perfil do Turista de Alta Estação em Natal, pesquisa
essa que foi realizada entre os dias 15 e 22 de Janeiro, onde foram entrevistados 1.096 turistas
em diversos pontos da cidade e no aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Resalta-se, ainda,
que em 2020 realizou-se uma importante pesquisa em campo para traçar o Perfil
socioeconômico do folião do Carnaval de Natal. Foram 16 pesquisadores voluntários, 2
coordenadores de grupos e 2 coordenadores de pesquisa que utilizaram questionários físicos e
digitais (através da plataforma google forms) que obtiveram o número final de 1.517
entrevistados durante os 4 dias de carnaval nos 5 polos carnavalescos da cidade. A aceitação da
pesquisa foi muito boa, sendo amplamente divulgada nos meios de comunicação oficiais de
toda a região, que subsidiou a Prefeitura do Natal para à melhoria e ampliação do evento.

Já em época de pandemia, foi realizada a paesquisa que verificou a Intenção de viagem


do turista potiguar pós-Covid-19, realizada entre os dias 26 de maio de 2020 a 03 de junho de
2020, onde foram aplicados 1.253 questionários, no formato digital, através da plataforma
Google Forms. Nessa pesquisa, evidenciou-se que 74% do turista potiguar pretende viajar após
a pandemia da COVID-19, sendo que 24% desses turistas pretendem viajar dentro do Rio
Grande do Norte.

Nesse contexto, o trabalho realizado pelo observatório trouxe importantes conquistas ao


longo de 2020. Recebemos o convite para ingressar na Rede Brasileira dos Observatórios de
Turismo (RBOT). Fizemos parte da equipe que elaborou o Plano de Retomada do Turismo de
Natal. Houve, também, uma parceria importante, como o trabalho em conjunto com a
Universidade Estadual do Piauí (UESPI).

4 CONCLUSÃO

Destaca-se nesse trabalho que os todos os objetivos delineados foram atingidos, como
analisar o perfil do turista potiguar através de pesquisas em campo, analisar as informações
obtidas em pesquisa de demanda turística, e usar esses dados para a orientação de novas
pesquisas que auxiliarão no direcionamento do mercado turístico do Rio Grande do Norte.
Apontando os cenários e perspectivas do OBSERVATURN no biênio 2019-2020.

Sendo assim, os cenários e perspectivas de continuidade das pesquisas do


OBSERVATURN são promissoras, uma vez que o referido projeto conta com uma gama
diversificada de parceiros, que alimentam a estrutura e as pesquisas desenvolvidas.

Com os dados coletados, é válido ressaltar a importância do trabalho científico


empreendido pelo projeto PIBIC/UERN para o monitoramento da atividade turística dentro do

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1027
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Estado do Rio Grande do Norte, bem como o incentivo e a divulgação desses trabalhos de forma
ampla e descentralizada.

5 REFERÊNCIAS

BURKART, A.J and MEDLIK,S. Tourism: past, present and future. London: Heinemann,
1981. LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia científica. 4. ed.
São Paulo: Atlas, 2004.
SILVA, Sidcley D’sordi Alves Alegrini da Silva. El turismo rural en Currais Novos/RN –
Brasil: propuestas estratégicas para su desarrollo y expansión. Tesis doctoral. (Programa de
doctorado en turismo integral, interculturalidad y desarrollo sostenible). Universidad de Las
Palmas de Gran Canaria. 2011.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha mãe, por me incentivar a sempre perseguir os meus sonhos. A


Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, por me conceder está bolsa de estudos. Aos
meus professores, que sempre me apoiaram dentro do trabalho científico.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1028
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PATRIMÔNIO HISTÓRICO DE CEARÁ-MIRIM/RN: UMA DESCRIÇÃO

Thales Caetano Ribeiro1


Maria Antônia das Flores Silva2
Eduardo Elias de Souza3
Marília Medeiros Soares4

RESUMO
A identificação do patrimônio edificado da cidade de Ceará-Mirim tem fundamental
importância para que se possa posteriormente realizar um projeto de utilização desses bens
enquanto atrativo turístico. Para isso foram propostos como objetivos identificar os princiais
exemplares do patrimônio edificado, compreender o contexto histórico de sua produção na
cidade, analisar a importância desse patrimônio no contexto atual da cidade e apreender a
percepção da comunidade local em relação aos edifícios estudados. Para alcançar esses
objetivos foi realizada uma revisão bibliográfica e visitas ao local, onde pôde-se registrar a
riquesa de detalhes dos prédios e perceber a relação que a população tem com eles. Foram
escolhidos para o presente estudo os prédios da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição,
a Biblioteca Pública, o Solar dos Antunes e o Mercado Público, alguns dos principais
exemplares do patrimônio edificado da cidade. Percebe-se que a população tem certa
intimidade com a igreja e com o Mercado Público, frequentando esses espaços. Já os prédios
da biblioteca pública e o Solar dos Antunes (atual prefeitura), apesar de estarem em localização
privilegiada, não são tão frequentados pela população.

INTRODUÇÃO

O município se Ceará-Mirim viveu no século XIX e início do século XX um período de


grande prosperidade devido à força da economia canavieira. Essa atividade econômica teve
fundamental importância no início da povoação da capitania do Rio Grande nos finais do século
XVI e início do XVII. Atualmente, essa atividade não tem mais o mesmo status, mas o auge da
atividade deixou para a cidade um importante legado de edifícios históricos, estando estes
fazendo parte do dia-a-dia da população e contribuindo para o transporte da memória social
entre gerações (SOARES et al, 2012).
Para perceber a função desse patrimônio para a localidade procura-se com a pesquisa
identificar os princiais exemplares, compreender o contexto histórico de sua produção na
cidade de Ceará-Mirim, analisar a importância desse patrimônio no contexto atual da cidade e
apreender a percepção da comunidade local em relação aos edifícios estudados.

METODOLOGIA
Para a obtenção dos dados da pesquisa foram realizadas, além do levantamento e revisão
bibliográfica, visitas ao local, onde pôde-se registrar a riquesa de detalhes dos prédios e
perceber, mesmo que através de conversas informais junto à população local, a relação

1
Voluntário do projeto e Estudante do curso de Turismo (bacharelado) do Departamento de Turismo da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte; e-mail: thalescaetano@alu.uern.br
2
Voluntária do projeto e Estudante do curso de Turismo (bacharelado) do Departamento de Turismo da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte; e-mail: floressilva@alu.uern.br
3
Voluntário do projeto e Estudante do curso de Turismo (bacharelado) do Departamento de Turismo da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte; e-mail: eduardoelias@alu.uern.br
4
Orientadora, professora Departamento de Turismo, UERN/ CAN; e-mail: mariliamedeiros@uern.br
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1029
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

existente entre ela e o patrimônio arquitetônico da cidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Alguns dos principais exemplares do patrimônio arquitetônico de Ceará-Mirim são a
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a Biblioteca Pública, o Solar dos Antunes e o
Mercado Público, por esse motivo escolhidos como objeto desse trabalho.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição (Foto 1), um dos maiores templos
católicos do estado do Rio Grande do Norte, data de 1900 (Alves, 2008) e é motivo de orgulho
para a população de Ceará-Mirim. Apesar de a cidade possuir outras igrejas as pessoas têm o
hábito de freqüentar a missa na matriz, sendo comum as pessoas da área rural do município
irem à missa naquela igreja, estando evidente a impressão de que a missa naquele templo tem
um valor ou uma importância diferente (SOARES, 2012).
Foto 1: Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição

Fonte: Marília Medeiros Soares, 2020

No que diz respeito ao prédio da atual Biblioteca Pública de Ceará-Mirim (Foto 2), este
foi construído entre os anos de 1929 e 1930, sendo, devido a sua imponência, adquirido pela
família do Dr. José Pacheco Dantas e doado ao município, se tornando, em 1977, a sede da
Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas (Alves, 2008). Apesar de possuir uma
localização privilegiada (na esquina de duas das principais ruas da cidade) percebe-se que a
população de forma geral, apesar de ter conhecimento sobre o funcionamento da instituição,
não tem um interesse em ter acesso, só frequentando o prédio aqueles que têm a necessidade
de utilização.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1030
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Foto 2: Biblioteca Pública Municipal Dr. José Pacheco Dantas

Fonte: Marília Medeiros Soares, 2020

Já o edifício conhecido como Solar dos Antunes, atual prefeitura, (Foto 3), além de sua
beleza em estilo neoclássico tem ainda importância histórica, tendo sido palco, em períodos de
pujança econômica, de reuniões entre políticos, intelectuais e comerciantes, e de festas e saraus
oferecidos àqueles que compunham a alta sociedade cearamirinense (ALVES, 2008).
Foto 3: Solar dos Antunes

Fonte: Marília Medeiros Soares, 2020

Esse edifício foi construído em 1888 pelo tenente-coronel da guarda nacional José
Antunes de Oliveira, tendo sido doado em 1975 para ser a sede da prefeitura e restaurado pela
Fundação José Augusto em 1978. Devido a suas características construtivas, imponência e
importância para a cidade, foi tombado pela Fundação José Augusto em 1988.
O último edifício objeto desse estudo é o Mercado Público de Ceará-Mirim (Foto 4), que
foi construído pelo senhor do Engenho Cruzeiro e inaugurado em 1881, tendo o coronel
recebido a autorização para explorá-lo comercialmente pelos 20 anos posteriores (ALVES,
2008).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1031
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Foto 4: Mercado Municipal de Ceará-Mirim

Fonte: Thales Caetano Ribeiro, 2019

Quando construído, o mercado abrigava as diversas atividades da feira, sendo sua parte
interna dividida em pequenos “locais” reservados aos vendedores de diversas mercadorias.
Atualmente esse local não mais abriga as mais diversas atividades, sendo conhecido como o
“Mercado do Café”, pois com a expansão da feira foram construídos outros espaços,
conhecidos como o “Mercado da Carne” e o “Mercado das Frutas e Verduras”. O “Mercado do
Café” tem atualmente a função de fornecer alimentação para a população, sendo o ponto de
encontro da comunidade de Ceará-Mirim, tendo alguns o hábito de ir ao Mercado tomar café-
da-manhã, outros lanchar (caldo-de-cana preferencialmente), outros almoçar, ou até
simplesmente conversar com amigos e tomar um “pinga”.
Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico. Comunidade. Ceará-Mirim.

RELATAR SUA EXPERIENCIA E A DO GRUPO


A realização das visitas à cidade de Ceará-Mirim e a oportunidade de conhecer os detalhes e a
história dos edifícios histórico foi muito enriquecedor, sendo cada vez mais evidente o potencial
que esses prédios tem enquanto atrativos turísticos culturais para o Rio Grande do Norte.

REFERÊNCIAS
ALVES, Gibson Machado. Ceará-Mirim: memória iconográfica. Prefeitura Municipal de
Ceará-Mirim, Ceará-Mirim/RN, 2008
SOARES, Marília Medeiros; BANDEIRA, Sâmia Érica; SILVA, Anelino Francisco da. O
patrimonio arquitetônico de Ceará-Mirim e sua configuração no contexto da cidade. Anais do II
Seminário “O papel do geógrafo no contexto social atual”, 2012

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1032
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RELAÇÃO DA CRIMINALIDADE COM A RECONSTRUÇÃO DO


SABER JURÍDICO ATRAVÉS DA FENOMENOLOGIA

Alexsandra de Freitas Nobre1; Maria Audenora das Neves Silva Martins.2


Palavras-chave: Jovens. Escolas. Dignidade.

INTRODUÇÃO

No delinear das leis Brasileiras o direito a educação faz parte dos princípios superiores
da constituição, sendo considerado um dos elementos que compõem a dignidade da pessoa
humana. Tal supremacia, facilita sua prospecção afim de vincular a proteção educacional para
crianças e jovens através da união, estados, municípios e familiares. A pesquisa desenvolvida
voltou-se para a área da educação municipal da cidade de Natal/RN. Durante o curso da
pesquisa buscou-se investigar a dialética do Direito, a Educação e a Criminalidade através da
fenomenologia; com o propósito de compreender os obstáculos vivenciados periodicamente por
crianças e adolescentes das quatro zonas administrativas.

METODOLOGIA

Para a concretização da pesquisa foi imprescindível realizar uma revisão de literatura


através de uma pesquisa informacional com abordagem qualitativa e quantitativa dos dados. A
partir desta etapa tornou-se possível selecionar doze escolas municipais pertencentes as quatro
zonas administrativas. Cada zona corresponde a três centros de aprendizagem, estando
codificados de acordo com o nome da instituição. A Zona Sul representa as escolas J, AS e SJ;
já a Zona Leste demostra os educandários S, MM e U; a Zona Oeste indica os colégios D, B e
N; e a Zona Norte apresenta os centros de aprendizagem A, M e JP.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fenomenologia é uma filosofia de valor que busca as puras significações.


Descortinando toda ideia pré-estabelecida, mergulhando nas raízes subjetivas do intelecto
humano e reafirmando de onde vem e para que veio. Dizimando o senso operacional que se
insere no contexto social, com o intuito de retrair a autonomia individual. A fenomenologia
compõe ao direito uma expansão elementar no campo dos fatos e valores, desprendendo-se da
óptica rudimentar de que apenas os aspectos normativos devem ser analisados, desapoderando-
se da perspectiva estrutural da norma formal. Tal busca pelo valor real das originalidades
implica em uma transfiguração na vida das pessoas.
Para Guimarães (2005): Reduzir o direito à sua mera operacionalidade técnica é
destituí-lo dos seus conteúdos humanos que indicam a sua ratio essendi, a sua razão de ser. A
fenomenologia não é compatível com meras explicações positivistas, calculadas
matematicamente afim de atestar o resultado do que foi previsto. Dispensa análises de cópias
ajustadas de supostas realidades. Seu intento é desnudar tais adaptações e voltar as coisas
mesmas com propensões descritivas da originalidade.

1
Discente do curso de Direito do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte -
UERN; e-mail: alexsandrazenzefilis@gmail.com.
2
Professora do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN; Líder do
Grupo de Pesquisa do GECA – Grupo de Estudos da Criança e do Adolescente; E-mail: audenoraneves@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1033
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

“O dado é o dado da consciência intencional. As representações do dado é que podem


originar inúmeras divergências” (GUIMARÃES, 2005, p. 13). A compatibilidade do direito
com a fenomenologia é exposta através do núcleo do método fenomenológico, que é a
compreensão. Visto que, é impróprio ao homem viver isolado, em detrimento disto, ele busca
construir elos coletivos que posteriormente sucedem a ideais divergentes. Para que tais
divergências sejam reprimidas, basta mergulhar-se em cada um, e compreender qual o sentido
real de seus pensamentos, o motor invisível da sua consciência. Entretanto, a criação familiar é
uma influenciadora da violência. Quando a criança cresce tolerando agressões físicas ou
psicológicas desponta uma tendência a pratica-las posteriormente. Os primeiros indícios podem
ser observados no relacionamento com os colegas, professores ou parentes. Essa criança torna-
se um adulto com lacunas afetivas, desencadeando síndromes, alucinações do passado
“doloroso” e que serão reproduzidas mediante a qualquer desavença ou insatisfação como
forma de amenizar seu sofrimento, destilando dor ao outro.
A violência que afeta as crianças e adolescentes devem ser interrogadas com base em
análises da sua essência, cujo, é um problema de saúde pública e que continuará a se intensificar,
enquanto não for abordado sob o aspecto fenomenológico. Tendo em vista, que o fenômeno da
criminalidade tem uma dinâmica ativa no dia-a-dia, a relação circundante no momento atual é
exclusiva de compreensão fenomenológica, a ponto de captar a dialética dos gestos e
movimentos que concerne ao ato criminoso. Vendo quais laços foram desfeitos na sua infância,
os princípios que deixaram de ser ensinados ou foram transgredidos, contribuindo para um
distinto comportamento acerca da sociedade e seus compartimentos, sejam elitistas ou culturais.
O adolescente sabe que a escola é seu caminho de ascendência, contudo, ela não
sustenta o seu dia, ela não o defende da violência urbana, assim, opta por não a frequentar. Vai
em busca de qualquer atividade que gere renda, não importando os obstáculos, e sim os frutos
deles; se repelindo de valores que em seu lar ou na rua não são ensinados. A ausência empática
que não foi estimulada facilita a crueldade em fase do outro, sem consideração alguma sob as
necessidades do próximo, levando em conta apenas o próprio eu. E o delito é a forma do
adolescente mostrar sua autoridade que só é respeitada através do medo. Isso, alimenta seu ego,
dá a sensação de poder, segurança, estabilidade naquele momento. Fatores estes, que não
participaram de sua infância e que só podem ser vistos quando há um olhar desprovido de
julgamento, da taxação de delinquente.
As crianças nascem sob um espectro de pureza, no qual dilui-se gradativamente,
mediante a absorção dos fatores comportamentais que circulam ao seu redor. A proporção da
convivência com estes abre espaço para que sua liberdade seja aprisionada, como resultado,
movimenta-se para minoridade. Não obstante, a aplicação da fenomenologia no ambiente
escolar surge como um resgate na vida do aluno, libertando-o de preconceitos estabelecidos.
Quando os valores educacionais entrelaçados com o amor não fazem parte da criação familiar,
a criança cresce sem uma consciência de si mesmo. O que implica em condutas egoístas, com
direcionamento a ignorância, que supostamente será propagada hereditariamente, caso não
surge uma nova perspectiva. É imprescindível que a criança seja amparada tanto em questões
alimentícias, tanto quanto em princípios descortinados. Tendo em vista que a escola é uma
complementação de aprendizagem e não uma mãe.
Entre os educandários analisados das quatros zonas administrativas, os maiores índices
obtidos pelo IDEB foram das escolas da zona sul. Sendo a escola SJ a pioneira em aprovação
entre as demais com 95,51%. Tal resultado, é fruto de investimento em dinâmicas e oficinas
concedendo a liberdade da criança em ambos, com o intuito de facultar a elevação da sua
criatividade e despertar a inquietude racional que consequentemente nos ensinos fundamentais
e médios corresponderá em um elevado índice educacional. Contudo, é possível mencionar que
esses rendimentos também sofrem influência de uma política interna que abomina o bullying,
bem como trata questões de hiperatividade e falta de limite.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1034
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Em termos de reprovação, a escola J lidera com 17,14%, sendo necessário um ajuste


em seu planejamento que instiga a criançada a ter prazer em aprender, já que possui uma
condição financeira semelhante à das demais escolas citadas desta zona. A instituição AS, é
percursora entre as anteriormente citadas em termos de abandono, com 1,98%. Pode ser
considerado um número elevado se for comprar com a escola N da Zona Oeste que possui uma
estrutura inferior a escola AS.
No contexto geral a escola S, situada na Zona Leste representa o maior índice de
reprovação, com 22,26%. E ao ser comparada com as demais escolas analisadas da sua zona, a
mesma lidera em termos de abandono escolar com 4,98% que pode ser justificada por uma
minúscula estrutura escolar contraria a visão de Santos (2015) que é imprescindível a presença
de espaços para os jovens desenvolverem seu intelecto. A escola U dispara em questão de
aprovação com 92,97%. Tal resultado é animador para (a) o gestor em consequência de ser um
bairro com uma população média de desempregados, não facultando que as crianças
frequentassem a unidade escolar ou repetisse de ano. Já a escola MM, está no padrão médio nos
quesitos IDEB, aprovação, reprovação e abandono. Significando que sua metodologia é
produtiva para o pouco investimento que lhe es atribuído.
Entre as 12 instituições analisadas, a escola D, localizada na Zona Oeste denota o
maior índice de abandono e reflete também a um índice elevado em reprovação de 19,02% ao
comparar com os demais educandários da sua zona. Fato que pode ser observado pelo ângulo
de carência deste bairro. A fome exerce um papel crucial ao baixo índice educacional. É
indispensável para a absorção de conhecimento que o cérebro esteja com uma sensação
satisfatória em questão alimentar. Entretanto, tais escolas não dispõem de uma vasta opção
alimentícia, tendo que liberar os alunos antecipadamente em virtude de não a ofertar. Na medida
em que ocorre a dispensa, é menos um dia de conhecimento adquirido que supostamente não
será reposto. E sucede a evasão escolar, porque a maioria dos alunos frequentam a escola em
busca de comida, elevando o número de reprovação e quando não há, eles se vão.
Já as escolas B e N tem um índice satisfatório no IDEB em face da sua localidade,
ambas com 4%. Tais instituições em condições adequadas seriam passiveis a uma educação de
alto nível em uma localidade extremamente desamparada, o que corrobora com a afirmação de
Santos (2015, p. 52) “[...] o não acesso ou o acesso de forma precária o que contribui para
ampliar as situações de desigualdade social, e, no caso dos jovens, interferem no
desenvolvimento de suas potencialidades”. É valido ressaltar que tal resultado satisfatório
possivelmente é benefício das campanhas e ações desenvolvidas contra o bullying, falta de
limite e preconceito de gênero.
A escola JP na área da Zona Norte não há abandono escolar, de maneira idêntica à
escola N. As demais intuições estudas da Zona Norte apresentam o mínimo percentual de
evasão, fato curioso em decorrência de altos indicies de criminalidade nestes bairros, além de
serem extremamente vulneráveis, dispondo de esgotos ao ar livre, o que implica a contaminação
da população local por qualquer tipo de vírus que faça parte do esgotamento. A saúde precária
acompanha-se ao péssimo atendimento à população, sendo negligente. Vale reiterar ainda que
não há iluminação pública adequada, mesmo com os moradores pagando corretamente pelo
serviço. De maneira semelhante, a água é irregularmente fornecida, que impede a higienização
correta dos banheiros das escolas, bem como outras atividades que torna a água indispensável.
Como parte da insuficiência destes bairros a segurança pública teria que monopolizar-se ali,
entretanto, na realidade não conta nem com uma sincronização diária de patrulhas, implicando
no aumento da criminalidade e reprovação escolar. Em contrapartida, os professores investem
na raiz do mínimo que se tem e isso altera significantemente a propagação e o não abandono
escolar.
A instituição M obteve o resultado mais elevado no que se refere tanto a aprovação
quanto ao IDEB. Tal rendimento é consequente do incontável esforço por parte da gestão e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1035
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

corpo docente, por não prover do devido e necessário investimento ao aborda e combater fatos
diários como desvio de atenção, comportamento violento, bullying e demais atitudes que
resultam rendimentos extraordinários para aquela instituição.
Já a escola A desponta com maior número em reprovação, o qual deveria ser mais
elevado se for comparar com as condições materiais e profissionais. As escolas dessas
localidades são carentes em sua totalidade, o que reflete um aprendizado insuficiente. No qual
o corpo docente é incompleto, e para que a instituição não paralise o ensino em fase das lacunas,
faz-se uma permuta disciplinar, de maneira que os docentes repassem seu conhecimento mesmo
não tendo uma especialização naquela determinada disciplina. Todavia, essa atuação não traz
vantagens, pelo contrário, possibilita ao aluno um conhecimento raso, colocando-o abaixo das
escolas que tem um especialista para cada matéria.

CONCLUSÃO

Indubitavelmente, a fenomenologia contribui para a compreensão da relação entre


criminalidade e a educação. No direito possibilita que as subjetividades ocultas nas condutas
sejam analisadas, e não somente os fatores normativos. Criando uma ponte com a educação
afim de prevenir que os contratempos das crianças e adolescentes não sejam negligenciados,
para que não haja espaço para condutas criminosas.
Apesar de toda deficiência em políticas públicas, o Brasil dispõe de vários projetos preventivos
ao mundo do crime que são inseridos de forma lúdica no ambiente escolar. No entanto, algumas
instituições não os desenvolvem corretamente, o que faculta os indicies baixos no IDEB. Torna-
se perceptível que esses bairros mais afastados do centro são negligenciados pelo prefeito e
estado, e por isso são mais vulneráveis. De modo que a estrutura frontal das escolas em sua
grande maioria está caindo aos pedaços, ou pichadas, seus jardins são os matos que não são
removidos, o que reflete a um lugar “abandonado” que molda-se de ninho para jovens sem
perspectivas de futuro se esconderem e hipoteticamente aliciar outras crianças.
Diferentemente das escolas do centro e zona sul, que conta com uma ótima estrutura,
professores formados nas matérias que lecionam, bibliotecas organizadas que
consequentemente desperta uma atenção especial por parte do aluno e o instiga a querer
permanecer naquele local, contando ainda com plano alimentar regular, e guarita com vigilantes.
Tais benefícios impulsionam seus altos níveis no IDEB em fase das escolas que infelizmente
não desfruta nem de uma alimentação regular, isto é, aquelas esquecidas pelo município e
estado.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à UERN por potencializar projetos de pesquisa como este que estabelece
contato diretamente com as necessidades sentidas pela população, e possibilita exteriorizar a
realidade que em muitas ocasiões é mascarada ou esquecida a depender das conveniências de
quem tem o poder.

REFERÊNCIAS

GUIMARÃES, Aquiles Côrtes. Fenomenologia e Direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris,


2005.

SANTOS, Gisely Tainã Lira Ribeiro dos. Escola, juventude e participação: análise sobre a
percepção dos jovens educandos da Escola Marista Champagnat de Natal. 2015. 63f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social), Departamento de Serviço

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1036
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Social, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015. Disponível em:
https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/4570/1/GiselyTLRS_Monografia.pdf.
Acesso em: 29 fev. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1037
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RISCOS AMBIENTAIS NO LITORAL DE GROSSOS/RN: UMA BREVE


ANÁLISE

Yasnara Thayane Silva de Andrade1; Wendson Dantas de Araújo Medeiros2

Palavras-chave: Processos perigosos. Erosão costeira. Avanço de dunas. Gestão ambiental


municipal.

Introdução
O presente resumo está inserido no contexto do projeto de pesquisa PIBIC/UERN
Análise de Riscos Ambientais no Litoral da Costa Branca, e faz parte de um plano de trabalho
desenvolvido especificamente para o município de Grossos/RN.
Grossos é um município situado na porção setentrional do litoral do Rio Grande do
Norte, na mesorregião Oeste Potiguar, e integra um dos 17 municípios que compõem o Polo de
Turismo da Costa Branca. Situado entre os municípios de Areia Branca, a leste, e Tibau, a oeste,
apresenta características naturais e ambientais que o tornam atrativo para o desenvolvimento
do turismo, sobretudo de sol, areia e mar. Além disso, a sua posição geográfica entre esses dois
municípios, pode justificar uma demanda de produção do espaço turístico, seja para fins de
deslocamento (interligando os dois municípios vizinhos) ou receptor de turistas. Em ambos os
casos, pode-se prever uma ocupação do território com estruturas e/ou atividades que venham a
dar suporte ao desenvolvimento turístico do Polo Costa Branca.
Dotado de paisagem marcada pela presença de um estuário, praias arenosas, dunas
móveis e vegetação de caatinga predominante, este município abriga historicamente atividades
ligadas à atividade salineira, a principal atividade do município, que integra desde a produção
artesanal, mecanizada até o refino, escoamento e comercialização do sal marinho. Esta
atividade encontra-se situada nas áreas de planície fluviomarinha e foi responsável por
promover alterações paisagísticas e ambientais, semelhantes às identificadas por Medeiros
(2017) no município de Areia Branca e que estão associadas à intensificação de riscos
ambientais naquele município vizinho.
Diante disso, este estudo teve como objetivo realizar uma breve análise dos principais
riscos ambientais ao longo do litoral do município de Grossos, buscando compreender a sua
relação com as atividades instaladas, bem como contribuir para uma gestão dos riscos e
ordenamento territorial municipal, em um possível incremento da ocupação territorial advinda
do turismo.

Metodologia
Os procedimentos metodológicos estão pautados em pesquisa bibliográfica, pesquisa
de campo e análise de riscos ambientais no litoral do município de Grossos, a partir de uma
abordagem sistêmica e integrada do meio ambiente (MONTEIRO, 2000; BERTRAND, 2004).
A pesquisa de campo foi realizada no mês de fevereiro de 2020 com o intuito coletar
dados in loco, identificar a atuação de riscos ambientais no território, a partir da concepção
teórico-metodológica de Julião et. al. (2009) combinada com Medeiros et al. (2012), onde os
1
Estudante do curso de Gestão Ambiental do Departamento de Gestão Ambiental/FACEM da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte - UERN; yasnaraandrade@alu.uern.br
2
Professor adjunto do Departamento de Gestão Ambiental/FACEM da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte - UERN, pesquisador do Grupo de Estudos em Gestão Ambiental; wendsonmedeiros@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1038
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

riscos ambientais estão relacionados ao conjunto de processos ambientais perigosos, quer


através da sua dimensão espaço-temporal, a perigosidade, quer através dos seus reflexos na
sociedade, a vulnerabilidade.

Resultados e discussão
O principal risco identificado no território de Grossos, que apresenta manifestações
visíveis no espaço foi a erosão costeira. Este processo perigoso está associado ao ataque
constante das ondas do mar à costa e pode ter causas diversas. Do ponto de vista natural, pode-
se associar às mudanças climáticas, que podem contribuir para um possível avanço do mar para
o continente, promovendo a erosão da costa arenosa. Contudo, Medeiros et al. (2018) ao
analisar o risco de erosão costeira para uma faixa litorânea do município de Areia Branca,
identificaram a possível contribuição antrópica neste processo. Segundo esses autores, as
intervenções realizadas no canal do rio Apodi-Mossoró, como a construção de barragens que
impediram a chegada de sedimentos no litoral e, dessa maneira, interferiram no equilíbrio
sedimentar, podem ser um dos principais fatores responsáveis pelo intenso processo erosivo na
costa de Grossos. A diminuição de areias transportadas pela deriva litorânea associada ao
recorte retilíneo da costa, a sua característica arenosa e a possível atuação da neotectônica
(MAIA; BEZERRA, 2012) contribuem para a atuação deste processo perigoso. Assim, o
território de Grossos apresenta forte suscetibilidade à erosão costeira.
A construção de residências de veraneio e alguns equipamentos de restauração em
áreas de praia geraram um quadro de vulnerabilidade a esse processo perigoso, colocando
estruturas e pessoas expostas a este processo, conforme se observou in loco (figura 1).

Figura 1- Erosão costeira e estruturas expostas na praia de Grossos (suscetibilidade e vulnerabilidade)

Fonte: pesquisa de campo, fev/2020.


Outro risco que se manifesta com certa frequência é o avanço de dunas, processo eólico
deflagrado naturalmente, mas que pode ter tido contribuição antrópica recente, a partir do
desmatamento de algumas áreas para a construção de estradas e loteamentos. As dunas
presentes no município de Grossos são predominantemente móveis. Isto é, migram
naturalmente em função da atuação dos ventos predominantes. Esta característica marcante no
município pode estar associada a toponímia do lugar, como se percebe na localidade de Areias
Alvas, uma referência às areias esbranquiçadas das dunas móveis.
Migrando naturalmente para o continente, percebe-se a existência de uma
suscetibilidade do território a esse processo. A instalação de estruturas humanas,
principalmente, estradas (figura 2) e casas de veraneio em zonas de movimentação das areias
dunares produziu um quadro de vulnerabilidade a este processo, como se percebe com maior
intensidade nas praias de Pernambuquinho e Areias Alvas, onde as dunas chegam a avançar
sobre estas estruturas citadas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1039
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Figura 2- Avanço de dunas sobre a estrada que liga Grossos a Areia Branca

Fonte: Pesquisa de campo, fev/2020.


Estes dois processos perigosos deixam clara a suscetibilidade do território e permitem
compreender que a dinâmica ambiental deve ser levada em consideração em qualquer processo
futuro de ocupação da costa, sobretudo aquele previsto em decorrência do turismo. Dessa
maneira, um processo de ocupação que leve em conta a atuação desses processos perigosos
pode vir a contribuir para um ordenamento territorial mais seguro, reduzindo ou evitando a
criação de vulnerabilidades e territórios de risco.
Além desses dois processos perigosos mais intensos e visíveis no município, tem-se
ainda os riscos de salinização dos solos e dos corpos d’água, associados à atividade salineira,
que requerem uma gestão ambiental com forte responsabilidade socioambiental empresarial
para o seu controle e mitigação.

Considerações finais
A análise dos principais riscos ambientais identificados no município de Grossos
permitiu conhecer um pouco da dinâmica ambiental por trás dos processos perigosos e a atuação
do homem na produção de territórios de risco, produzindo vulnerabilidades em áreas
naturalmente suscetíveis aos riscos ambientais.
Dessa maneira, espera-se que este estudo possa ser útil nos processos de planejamento
territorial e ambiental em nível municipal, visando a um ordenamento territorial mais adequado
e seguro frente à atuação dos processos perigosos aqui identificados. Também, pode ser de
utilidade para auxiliar a gestão municipal quanto à gestão dos riscos ambientais, com vistas ao
controle, mitigação dos processos perigosos atuantes ou mesmo para a adoção de medidas de
adaptação e resiliência aos riscos ambientais.

Agradecimentos
Ao PIBIC/UERN pela concessão de bolsa para a realização deste trabalho.
Ao Núcleo de Estudos Socioambientais e Territoriais do Departamento de Gestão Ambiental
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pelo apoio logístico para a realização da
pesquisa.

Referências
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física global. Esboço metodológico. R. RA'EGA,
Curitiba, n. 8, 141-152, 2004. (Tradução de Olga Cruz).
JULIÃO, R. P., NERY, F., RIBEIRO, J. L., BRANCO, M. C.; ZÊZERE, J. L. Guia
metodológico para a produção de cartografia municipal de risco e para a criação de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1040
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Sistemas de Informação Geográfica de base municipal. Lisboa: Autoridade Nacional de


Protecção Civil, 2009.
MAIA, R. P.; BEZERRA, F. H. R. Geomorfologia e Neotectônica da bacia hidrográfica do rio
Apodi-Mossoró – NE/Brasil. Mercator, v. 11, n. 24, Fortaleza, jan-abr. p. 209-228, 2012.
MEDEIROS, W.D.A. Dinâmicas territoriais recentes e riscos ambientais no Litoral: estudo
comparativo entre os municípios de Areia Branca (RN, Brasil) e da Figueira da Foz (Centro,
Portugal). Tese de Doutoramento em Geografia Física. Faculdade de Letras, Universidade de
Coimbra, Coimbra, 2017
MEDEIROS, W. D. A., CUNHA, L. J. S.; ALMEIDA, A. C. Riscos ambientais no Litoral:
estudo comparativo Brasil-Portugal. Cadernos de Geografia, n. 30/31, Coimbra, p. 107-115,
2012.
MEDEIROS, W. D.A.; CUNHA, L.; ALMEIDA, A.C.A. Riscos ambientais na orla costeira do
município de Areia Branca (Nordeste do Brasil). Revista GeoInterações, Assú, v.2, n.1, p.3-
16, jan./jun. 2018.
MONTEIRO, C. A. Geossistemas: a história de uma procura. São Paulo: Contexto, 2000.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1041
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TECNOLOGIAS SOCIAIS SUSTENTÁVEIS E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL


NO SEMIÁRIDO POTIGUAR: PERSPECTIVA DE ALINHAMENTO COM A AGENDA
20301

Eduardo José Ferreira da Silva2


Janine Beatriz Torres3
Márcia Regina Farias da Silva4
1. INTRODUÇÃO
A Tecnologia Social (TS) é um dos meios de se concretizar o paradigma da
convivência com o semiárido e vai contra as práticas tecnológicas adotadas no âmbito do
combate à seca, onde para o Nordeste brasileiro eram transferidas tecnologias não adaptadas à
realidade do Semiárido (ASA, 2009 apud GUALDANI; FERNANDÉZ; GUILLÉN, 2015).
Por muito tempo a tecnologia foi considerada algo neutro, que não apresentava algum
interesse embutido e eram aplicáveis a qualquer região e cultura. Estudos como o de Dagnino
(2014) mostram como muitas tecnologias foram pensadas para servir a um modelo de
desenvolvimento excludente, uma vez que a ciência e a tecnologia eram subordinadas aos
interesses do sistema.
A partir da década de 1980, sob o forte impacto do sistema neoliberal e consequente
aumento dos problemas sociais e ambientais existentes, passa-se a difundir a preocupação
com bases tecnológicas que permitissem um desenvolvimento mais sustentável, a partir do
conhecimento dos atores sociais envolvidos na problemática (GUALDANI; FERNANDÉZ;
GUILLÉN, 2015). De acordo com a Rede de Tecnologia Social (RTS, 2010), Tecnologia
Social se conceitua como “quaisquer produtos, técnicas e metodologias desenvolvidas na
interação dos saberes científico e popular e que representam efetivas soluções de
transformação da sociedade”.
A cisterna é uma das Tecnologias Sociais mais difundidas no Semiárido brasileiro,
mas não só para armazenar água as TS servem. Essas possuem inúmeros usos, tais como:
acesso à água para beber (cisterna domiciliar e o dessalinizador), produção de alimento

1
O presente trabalho está inserido no projeto intitulado: Cisternas Fertilizadas: Fortalecendo a Autonomia das
Mulheres no Semiárido. Financiado pelo CNPq - Edital n. 36/2018 – A – Desenvolvimento de Tecnologia
Social. Processo: 443489/2018-1.
2
Aluno de Gestão Ambiental pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), E-mail:
<duda30anne@gmail.com>;
3
Aluna no Programa de Pós Graduação em Geografia (PPGEO) pela UERN, E-mail:
<janinebeatriz38@gmail.co m>;
4
Professora Doutora, no Departamento de Gestão Ambiental (DGA) da UERN, E-mail:
<mreginafarias@hotmail.co m>.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1042
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(cisterna calçadão e enxurrada), manejo de fontes de energia renovável (ecofogão e


biodigestor) e existem as TS de usos múltiplos (poço cacimbão, tanque de pedra, barragem
subterrânea e plantação de palma) (GUALDANI; FERNANDÉZ; GUILLÉN, 2015). Quando
se afirma a efetividade de uma TS e há um contexto favorável, tais TS são incorporadas em
Políticas Públicas financiadas pelo Estado. Diante desta reflexão, o presente artigo tem por
objetivo identificar como as tecnologias sociais implementadas tem contribuído para o
fortalecimento da capacidade de produção das mulheres da comunidade Hipólito, Mossoró
(RN), com vista a implantação de cisternas fertilizadas, visando a igualdade de gênero e a
agricultura sustentável como preconiza a Agenda 2030.

3. METODOLOGIA
3.1 Área de Estudo
Localizado na zona rural do município de Mossoró (RN), o Assentamento Hipólito
está distante 28 km, no sentido Mossoró/Natal. Foi declarado área de interesse em Reforma
Agrária 1987, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). O
Assentamento foi um dos primeiros implantados no estado, configurando-se também como
um dos maiores em termos de área ocupada, com 6.685,24 hectares. Inicialmente, foram
assentadas 137 famílias (BRAGA, 2006; INCRA, 2018). Hoje, de acordo com informações
recolhidas em campo, existem na localidade 170 famílias, contando com os agregados.
O procedimento metodológico teve inicio com a realização da pesquisa bibliográfica e
documental, foram realizadas também discussões em grupo, sobretudo, a partir do Grupo de
Estudos em Gestão Ambiental (GEGA) e no Laboratório de Ecologia Aplicada (LEA), do
Departamento Gestão Ambiental da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
DGA/UERN. Os temas centrais foram: Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas
(ONU) e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS); tecnologia sociais e a
conivência com semiárido, desenvolvimento territorial, políticas públicas e sustentabilidade.
Em um segundo momento foram realizadas visitas em campo que tinham o objetivo de
apresentar o projeto e a comunidade de desenvolvimento do projeto, visando apresentar o
projeto a comunidades, ouvir o grupo de mulheres e observar as ações de implantação da
tecnologia social (cisternas fertilizadas), bem como identificar as tecnologias existentes na
comunidade e a percepção das mulheres sobre essas tecnologias sociais.
O terceiro momento, adotando a Técnica de Pesquisa de Grupo Focal, foi realizada
uma reunião com o grupo de mulheres do Assentamento. O Grupo que tem o nome de
“Mulheres em Ação”, na qual participaram 4 pesquisadores da Universidade do Estado do Rio

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1043
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Grande do Norte (UERN), 13 mulheres do referido grupo e 01 representante do Centro


Feminista 8 de Março (CF8), totalizando assim, 18 pessoas.
A Técnica de Grupo Focal é um dos instrumentos que podem ser usados nas pesquisas
qualitativas e obedece a critérios estabelecido pelo pesquisador com base nos objetivos da
investigação, cabendo a este a criação de um ambiente agradável à discussão, para que os
participantes manifestem suas percepções sobre os temas abordados (TRAD, 2009).
O grupo focal foi realizado em 06 de março de 2020, a reunião foi realizada no local
onde o Grupo Mulheres em Ação costuma se reunir, na Igreja São Francisco, localizada no
Assentamento. Divido em quatro momentos, e foram apresentados temas como: (a) a inserção
das tecnologias sociais no assentamento; (b) a importância da assistência técnica; (c) a
percepção das agricultoras sobre essas tecnologias e (d) questões relacionadas a participação
das mulheres no grupo. No sentido de direcionar os temas a serem discutidos no grupo, foi
elaborado previamente um roteiro de entrevista, com perguntas abertas que foram facilitadas
pelos pesquisadores. A intenção das facilitadoras do grupo foi de direcionar a discussão, de
forma em que todas as participantes pudessem colocar suas impressões e opiniões, a partir das
provocações feitas.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 A atuação das mulheres e as tecnologias sociais

De acordo com informações recolhidas em campo, o Grupo “Mulheres em Ação” é


composto por um total de 35 mulheres. Entretanto, considerando as dificuldades de acesso aos
espaços públicos que as mulheres enfrentam, nem todas tem a oportunidade de participar ativamente
de todas as discussões feitas no grupo.
Durante a realização do Grupo Focal foram identificados três tipos de tecnologias
sociais no assentamento estudado, a saber: P1MC, P1+2 e o Reuso de água, que está sendo
implementado no assentamento pelo projeto “Cisternas Fertilizadas: Fortalecendo a
autonomia das Mulheres no Semiárido”. Na percepção das mulheres estudas as tecnologias
sociais tem o papel principal de facilitação do acesso à água. As principais mudanças
apontadas pelas mulheres do Grupo Mulheres em Ação em relação as tecnologias sociais na
comunidade foi o benefício da água para uso geral na casa, outro elemento importante que foi
destacado pelas mulheres se refere as práticas de agroecologia que começaram a atuar na
comunidade a partir da implantação das cisternas. De acordo com os relatos do Grupo, antes
das tecnologias havia uma grande dificuldade no desenvolvimento de atividades agrícolas. As

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1044
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mulheres relataram que não havia água nem para o uso humano e a dessedentação animal, tão
pouco havia água para o desenvolvimento de outras atividades, como a agrícola.
Segundo as mulheres ouvidas com a implantação do P1+2 na comunidade foi possível
o cultivo em quintais produtivos. As mulheres passaram a produzir nas suas próprias
residências, frutíferas, hortaliças, entre outras e também a desenvolver a criação de animais.
Essas atividades segundo as participantes vieram a contribuir de forma significa para a
geração de renda na comunidade e atualmente são atividades exercida por grande parte da
comunidade, principalmente, pelas mulheres do Grupo.
Cabe ressaltar que para um problema entrar na agenda pública, é necessário haver pelo
menos três tipos de fluxos: fluxo do problema, da alternativa ou solução e o fluxo político.
Por volta dos anos 2000 pode-se notas esses três tipos de fluxos: o primeiro, do problema,
quando é percebido o quanto as políticas adotadas anteriormente não resolveram o problema
do Nordeste e a questão da seca ganha mais destaque; o fluxo alternativa/solução, que se
inicia com a fundação da ASA, a emergência do paradigma de convivência com o Semiárido
e a defesa deste pelos diversos atores sociais; e o fluxo político, que ocorre quando a ASA
ganha força de atuação e relevância a partir das relações que estes estabeleciam.
A primeira Política Pública merecedora de destaque é o Programa Um Milhão de
Cisternas (P1MC), que tem como principais atores a ASA, o Ministério de Desenvolvimento
Social (MDS) e as famílias receptoras da tecnologia em questão.
O programa P1MC teve o objetivo de construir Um Milhão de Cisternas, com a
capacidade 16 mil litros, outro programa que surgiu paralelo ao P1MC, foi o P1+2, Programa
Uma Terra e Duas Águas: Construção de cisternas de 52 mil para que as famílias possam
utilizar a água de chuva armazenada para consumo humano e animal, bem como cultivo de
alimentos. Esse programa P1+2, objetiva também construir cisternas com 52 mil litros nas
escolas, o que deu o nome do programa Cisternas nas Escolas das zonas rurais. A população
local teve na implementação dessas tecnologias uma verdadeira “benção”, conforme as
mulheres ouvidas.
O Grupo “Mulheres em Ação” destaca que os principais pontos observados na
importância do Grupo foram a troca de saberes, a participação ativa das mulheres idosas da
comunidade a troca de informações e experiências entre as mulheres e, sobretudo, a
construção de uma consciência de coletividade e de parceria entre as mulheres.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final do projeto com previsão em 2021 espera-se que a implantação das cisternas
fertilizas possam contribuir para aumentar a oferta hídrica para famílias rurais da comunidade

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1045
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

estudada, por meio do reuso de águas cinzas e do armazenamento pluviométrico, na


perspectiva de contribuir para sustentabilidade local. A implantação de tecnologias sociais
pode auxiliar no fortalecimento da soberania alimentar, inclusão econômica e a autonomia das
mulheres na comunidade estuda, a partir do uso eficiente dos recursos hídricos.
Assim, é de suma importância o desenvolvimento de atividades que auxiliem na
multiplicação da tecnologia social a partir das ações de comunicação e divulgação das ações
do projeto, com vista a redução das desigualdades sociais, conforme o décimo objetivo do
desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

1. BRAGA, Libânia Maria. Assentamento Hipólito: realidade e perspectivas dos


jovens assentados. 2006. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
2. DAGNINO, Renato. Tecnologia Social: contribuições conceituais e metodológicas.
Campina Grande, PB: EDUEPB, 2014. Disponível em:
<http://books.scielo.org/id/7hbdt>. Acesso: 20 nov. 2019.
3. GUALDANI, C.; FERNANDÉZ, L.; GUILLÉN, M. L. Convivência com o
Semiárido Brasileiro: reaplicando saberes através de Tecnologias Sociais. Brasília:
IABS, 2015.
4. INCRA, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Relatório de Gestão de
Exercício de 2017. Natal, 2018. Disponível em:
<http://www.incra.gov.br/media/docs/relatorio- gestao/2017/sr19-rn.pdf>, Acesso: 16
de jul de 2020.
5. REDE DE TECNOLOGIA SOCIAL (RTS). Tecnologia Social e Desenvolvimento
Sustentável: Contribuições da RTS para a formulação de uma Política de Estado de
Ciência, Tecnologia e Inovação. Brasília: SERTS, 2010. Disponível em:<
http://www.mobilizadores.org.br/> Acesso: 13 ago. 2019.
6. SILVA, Camilo Vinícius Trindade. Tecnologias Sociais de convivência com o
Semiárido: um estudo de caso no Rio Grande do Norte – Brasil. Dissertação
(Mestrado em Manejo de Solo e Água) – Universidade Federal Rural do Semiárido
(UFERSA), Mossoró, 2018. Disponível em: <
http://repositorio.ufersa.edu.br/bitstream/prefix/883/1/CamiloVTS_DISSERT.pdf>
Acesso: 22 out. 2019.
7. TRAD, Leny A. Bomfim. Grupos focais: conceitos, procedimentos e reflexões
baseadas em experiências com o uso da técnica em pesquisas de saúde. Physis:
revista de saúde coletiva, v. 19, n. 3, p. 777-796, 2009.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1046
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TEMAS E PESQUISAS QUE SÃO DESENVOLVIDOS E


TRABALHADOS NO ENSINO MÉDIO PÚBLICO EM MOSSORÓ

Emilly Joyce Alves Tertulino; Hanna Lyvia Maia Freire; Jaciara Santos Leite; João Victor
Aquino Bezerra; Julia Ester da Silva Lustosa; Kelly Ruama Cazuza; Kelvin Gabriel da Silva
Chachá; Khyara Luanny de Lima Fernandes; Loíse dos Santos; Marcondes Alves de Morais
Filho; Letícia Rayane Melo da Silva; Maria Alice de Sousa Paiva; Marcos Paulo Alves
Câmara; Maria Glenda da Costa Alencar; Sabrina Vitória Oliveira de Medeiros; Thayssa
Karla da Silva Lima; Tiago Barreto de Almeida Barros; Wanessa Helena Duarte Favacho;
Wellyka Wênia da Fonseca; Willian Nathã da Silva Medeiros1; Jefferson Garrido de Araújo
Neto2

Palavras-chaves: Pesquisa. Iniciação Científica. Jovens Cientistas.

Introdução
A ideia de pesquisar o “fazer ciência” no ensino médio das escolas públicas na cidade
de Mossoró surgiu com a criação do Projeto de Pesquisa “Ciência e tecnologia: popularização
da ciência no ensino médio da cidade de Mossoró”, que tinha o objetivo de envolver alunos e
professores da rede estadual de ensino de instituições vinculadas à XII DIREC, na tentativa de
se construir um referencial que indicasse quais os temas que envolvem ciência, tecnologia,
meio ambiente, novas mídias e outros, e que são trabalhados nas atividades de ensino das
diversas áreas do conhecimento, no cotidiano de sala de aula da rede pública de ensino.
Durante o desenvolvimento da pesquisa surgiram alguns obstáculos que apesar de
serem pontuais não permitiram que fossem atingidas todas as 18 (dezoito) escolas planejadas,
que seria o alvo prioritário inicial. Com a deflagração da greve dos professores da rede
pública no início do semestre letivo 2020.1 e com o decreto estadual que suspendeu as
atividades presenciais no âmbito das escolas públicas no estado do RN em função da
Pandemia, decidimos centrar nosso olhar mais apurado no que estava sendo pesquisado na
escola que os alunos bolsistas estudam, o CEEP – Centro de Educação Profissional Professor
Francisco de Assis Pedrosa.

Metodologia
Elegemos como método de pesquisa a análise de conteúdo, por entender que no
contexto dos estudos contemporâneos este método preocupa-se basicamente com a análise das
mensagens (JÚNIOR, 2006). Entendemos que temas científicos e tecnológicos como
conteúdos de ensino e aprendizagem no ensino médio público exigem um olhar específico
sobre a análise documental existente e é neste aspecto que a análise de conteúdo também nos
permite estudar a frequência com que as temáticas científicas são inseridas no cotidiano do
ensino regular, em especial no estabelecimento que elegemos como análise, que se trata de
uma escola de ensino profissionalizante. Além dessas considerações, a análise de conteúdo é

1. Estudantes do Ensino Médio do CEEP - Centro Estadual de Educação Profissional Professor Francisco
de Assis Pedrosa – Mossoró/RN, bolsistas de Iniciação Científica. Email:
jovenscientistaspibic@gmail.com
2. Professor do Departamento de Comunicação Social, DECOM, da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, UERN, Líder do Grupo de Pesquisa Comunicação Estratégica, Discurso e Novas
Tecnologias – COMDITE. Email: jeffersongarrido@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1047
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sistemática porque se baseia num conjunto de procedimentos que se aplicam da mesma forma
a todo o conteúdo analisável.
Em virtude dos motivos já elencados, que nos permitiram observar e interagir
especificamente com a iniciação científica na escola CEEP, identificamos 5 (cinco) principais
projetos que se destacaram pela fundamentação, organização científica, bem como no
envolvimento da temática apresentada pelos seus participantes e pela diversidade de temas.
São eles os projetos “A utilização do fruto da palma forrageira (opuntia cochenillifera) como
fonte alternativa de vitamina C”; “Monitorando a Cochonilha de Escama (Dactylopius
Coccus) na plantação da Palma (Opuntla Cohenillefera) através de um bioinseticida à base da
Liambra (Vitex Agnus Castus); “Eco Coleta: aplicativo de auxílio à população no combate ao
descarte inadequado de resíduos sólidos urbanos em Mossoró/RN; “Uma abordagem sobre os
índices de suicídio nos estudantes do CEEP – Mossoró e “Canudo biodegradável à base da
fibra do coco: Cocanudo”.

Resultados e Discussão
O processo da descoberta consiste em se aproximar do objeto e acompanhar o seu
desenvolvimento, sua organização e suas características. Foi por esse movimento que nos
aprofundamos com os alunos “Jovens Cientistas” que desenvolvem a iniciação científica no
CEEP e que integram uma instituição que tem o apoio incondicional da Direção da Escola e
conta com um corpo docente que investe em Ciência e faz do conhecimento científico um
desafio na formação do aluno-cidadão da eeducação pública em Mossoró. Pelas temáticas que
nos foram apresentadas identificamos uma variedade de opções diversificadas, que nos faz
compreender que além de necessária para o desenvolvimento social, a ciência também é
acessível e está ao alcance dos que são instigados pelo fascínio da descoberta e da criação da
inovação.
1. O primeiro projeto é “A utilização do fruto da palma forrageira (opuntia cochenillifera)
como fonte alternativa de vitamina C”. O estudo desenvolvido pelas alunas Hanna Freire,
Jaciara Leite e Letícia Silva com a orientação das professoras Nicole Nobrega e Elaine
Cristina pesquisou que através de um processo experimental com as amostras do extrato
concentrado do fruto da palma forrageira pode-se constatar que existe uma quantidade
considerável de vitamina C, bem como uma boa palatabilidade segundo as características
sensoriais (cor, sabor, textura e aroma) facilitando a inclusão na alimentação cotidiana
humana. Para realizar os testes, as pesquisadoras utilizaram os princípios químicos da
iodometria com o iodato de potássio (10%), para observar a alteração de cor na solução do
fruto da palma forrageira e da laranja no processo experimental.
As jovens cientistas concluíram com o estudo que o fruto da palma forrageira pode
atuar como fonte alternativa de vitamina C, uma vez que os valores referenciais diários de
ácido ascórbico estão entre 75mg (mulheres) e 90mg (homens), segundo as Referências de
Ingestão Dietética (Dietary Reference Intakes - DRIs) do ano de 2000. Para elas o fruto da
palma ultrapassa essa média, podendo assim atuar como fonte alternativa e ser consumido na
alimentação humana a fim de estabelecer a aquisição de benefícios ao organismo, bem como
ao sistema imunológico devido às quantidades satisfatórias de ácido ascórbico (vitamina C)
encontradas a partir do processo experimental.

2. O segundo projeto é “Monitorando a Cochonilha de Escama (Dactylopius Coccus) na


plantação da Palma (Opuntla Cohenillefera) através de um bioinseticida à base da Liambra
(Vitex Agnus Castus) e foi desenolvido pelas alunas Emilly Tertulino, Ericka Andrade, Klara
de Souza e Glenda Alencar, sob a orientação da professora Elaine Oliveira. Na pesquisa

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1048
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

observou-se que a palma forrageira tem grande importância na atividade pecuária, pois possui
um alto nível de resistência às condições climáticas, como a seca. Além disso, a palma
forrageira (Opuntia e Nopalea) é um alimento importante na atividade pecuária por ser
adaptada às condições climáticas da região e poder alcançar produtividade de até 40 toneladas
de matéria seca por hectare e por colheita.
O experimento analisou visualmente que antes da aplicação do bioinsceticida o Palmal
estava com a cor amarelada, devido a retirada de nutrientes da Palma por conta da infestação
da cochonilha. Foram realizadas algumas aplicações em intervalos variados e foi percebido
que as que foram feitas com o intervalo de tempo para 12h foram as mais eficazes. Com base
no experimento perceberam que os resultados ocorreram como esperado, de forma que o
bioinscetida agiu com eficácia no combate da infestação da cochonilha na plantação de palma.
A última fase da pesquisa que se deu especificamente de modo visual, através de pesquisas no
campo ainda precisa de análises em laboratório.

3. O terceiro projeto é o “Eco Coleta: aplicativo de auxílio à população no combate ao


descarte inadequado de resíduos sólidos urbanos em Mossoró/RN e foi desenvolvido pelos
alunos Kelvin Chachá, Marcos Câmara, Alice Paiva Sabrina de Medeiros, Wanessa Favacho e
Willian Medeiros, com a orientação dos professores Elaine Oliveira e Cláudio de Azevedo. A
pesquisa em desenvolvimento visa criar o aplicativo Eco Coleta capaz de auxiliar na coleta
seletiva de resíduos sólidos urbanos, sendo capaz de auxiliar no combate ao descarte
inadequado de resíduos sólidos urbanos, através da educação ambiental.
As conclusões inicias apontam que o aplicativo vai facilitar o acesso à informação
entre os usuários e os serviços de coleta seletiva por todos os agentes envolvidos no processo
que envolve o lixo. Percebeu-se que o aplicativo pode ser uma ferramenta aplicável ao desafio
da Educação Ambiental para sensibilização da população no que diz respeito a
sustentabilidade. É importante destacar que o aplicativo ainda está em fase de testes, faltando
ainda disponibilizar o uso geral para a população.

4. O quarto projeto é “Uma abordagem sobre os índices de suicídio nos estudantes do CEEP
– Mossoró, desenvolvido pelos alunos Júlia Lustosa, Thayssa Lima, Wellyka da Fonseca,
Marcondes Alves de Morais Filho e João Victor Aquino Bezerra, tendo como orientadores os
professores Antônio Rêgo e Ana Freitas. A pesquisa buscou analisar os fatores que podem
contribuem para incentivar o suicídio entre os adolescentes da escola CEEP e quais os
principais fatores que levam as pessoas tirarem a sua própria vida.
Durante as pesquisas foi possível perceber que um número razoável de estudantes
apresentavam pensamentos suicidas e com isso pode-se observar a importância de se ter
psicólogos nas escolas, no processo de comunicação, tanto no que refere à escola, quanto aos
seus problemas pessoais. Foi percebido, portanto, entre os adolescentes, a falta de
oportunidade para refletirem sobre todos os riscos aos quais estão expostos diariamente e,
com isso, impossibilitados de reformular suas opiniões e de pensarem sobre seus hábitos e
sobre possíveis soluções protetoras para tais riscos. Para os Jovens Cientistas, o tema ainda
merece atenção especial.
5. O quinto projeto é o “Canudo biodegradável à base da fibra do coco: Cocanudo”.
Desenvolvido pelos alunos João Lucas, Khyara Fernandes, Loise dos Santos e Kelvilane
Celis, a pesquisa consistiu na produção de um canudo biodegradável utilizando a fibra do
coco, vinagre e gelatina, materiais de grande relevância no mercado nacional. Considerando
os resultados obtidos nessa pesquisa, depreende-se a boa aplicabilidade do Cocanudo para o

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1049
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

consumo, levando em consideração o tempo médio de uso do produto num contexto geral. O
produto também se qualifica como um material de rápida degradação, principalmente quando
comparado ao canudo plástico, o qual tem um ciclo de vida útil muito pequeno e podem levar
muitos anos até ser totalmente degradado.
Conclusão
Percebeu-se que os objetivos propostos foram alcançados, pois tornou-se possível a
divulgação científica de parte de um grande acervo de iniciação científica que é produzido
anualmente por estudantes do ensino médio da rede pública da cidade de Mossoró,
especificamente na escola CEEP. Os dois primeiros projetos já são estudos concluídos e
fornecem elementos para a aplicação científica no setor agrícola; o terceiro alia meio
ambiente e tecnologia, mas ainda está na fase de tabulação dos resultados, estando em
andamento; o quarto, também já concluído, se justifica pela análise de uma abordagem do
comportamento humano e se configura numa problemática que tem atingido uma significativa
parcela da população, e o quinto, já com resultados finais, mantém o foco na busca de uma
sociedade sustentável, que busca nos elementos naturais uma forma de não poluir o meio
ambiente.
Os resultados superaram as expectativas iniciais em razão da qualidade e
comprometimento dos alunos pesquisadores e dos professores orientadores. Essas primeiras
descobertas criaram inquietações que exigiram um olhar mais específico para outras
instituições, o que resultou no surgimento da segunda fase, denominada de Projeto Jovens
Cientistas. Acreditamos que os resultados obtidos neste recorte temporal serviram para
despertar outros jovens que também acreditam na ciência como ferramenta de
desenvolvimento da sociedade.

Agradecimentos
Ao CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, nossa
gratidão pela concessão das 20 (vinte) cotas de bolsas para os jovens cientistas pesquisadores.
A UERN – Universidade do Estado do RN, pela oportunidade de permitir o PIBIC-EM para
fomentar ciência no ensino médio e contribuir com a pesquisa no interior do nosso estado.
Referências

ALVES, Marta Assunção, et al. "Fruto de palma [Opuntia fícus-indica (L) Miller, Cactaceae]:
morfologia, compocicão química, fisiologia, índices de colheita e fisiologia pós-colheita."
Revista Iberoamericana de TecnologíaPostcosecha 9.1 (2008): 16-25.

Durkheim E. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: WMF Martins Fontes; 2011.

FRANÇA, Marta San Juan. Formação e informação centífica. São Paulo: Sumus, 2005.
GIACHETI, Linair de Jesus Martins. José Reis, a ciência que fala. São Paulo: Annablume;
Fapesp, 2006.

JÚNIOR, Wilson Corrêa da Fonseca. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São


Paulo: Atlas, 2006.
MARTINEZ, Marina. Cochonilha. InfoEscola: Navegando e Aprendendo. Disponível em>
https://www.infoescola.com/insetos/cochonilha/ Acesso em 07 Mar. 2018.
SILVA, Alessandro Costa da. Reaproveitamento da casca do coco verde. Revista Monografias
Ambientais: REMOA, vol. 13, no. 5, dezembro 2014, pp. 4077-4086.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1050
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Turistificação de Natal/RN Através da Roteirização 1

Fernanda Gomes de Freitas 2

Francielen Letice de Souza Silva3

Michele Galdino Câmara Signoretti4

O projeto é pensado na linha de pesquisa Gestão e planejamento sustentável do turismo,


do curso de Natal, que contempla em seus estudos, Roteiros Turísticos. Essa é a segunda edição
deste projeto e inicialmente, na sua primeira edição, a pesquisa indicou roteiros nas quatro (4)
zonas da Cidade (Norte/Sul/Leste e Oeste) separadamente, para que a distribuição da oferta
fosse equilibrada e potencializada, assim como nas áreas com roteiros já consolidados. Diante
desse resultado, na segunda edição, pretende-se rever esses roteiros já delimitados, adapta-los
a situação atual, uma vez que, a primeira edição ocorreu em 2013, antes da liberação de
capacitação da coordenadora, e a partir daí construir uma atualização desse banco de dados por
meio de inventariação das zonas e seus serviços. Depois, partiremos para a etapa de integração
dos roteiros, que fará uma intercessão das rotas, mostrando pontos intermodais (modalidades
de transportes) em que o turista poderá sair de um roteiro para o outro permitindo assim,
diversas combinações temáticas. Por último, transformaremos as informações em um guia da
cidade chamado “Roteiro Ginga com Tapioca”, com mapa, legendas autoexplicativas e
distintas por cores. A intenção de disseminar a informação organizada dos produtos e serviços
turísticos com a construção de novos roteiros, parte da necessidade eminente de ampliação,
atualização e diversificação do produto turístico Natal, uma vez que o próprio avanço da cidade
propicia zonas atualmente tidas como carentes de atratividade turística. Diante das propostas,
entendemos que a execução da segunda edição do projeto permitirá ampliar a formação de
pesquisadores especializados em estudos de roteirização, gestão dos destinos, imagem e
desenvolvimento local, além de compreender como a circulação turística é necessária para o
fomento e economia das Cidades.

Palavras-chave: Turistificação. Roteiros Turísticos. Circulação turística. Cidade do Natal.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1051
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Introdução/Justificativa

O termo “Turistificação” foi criado após leitura de um artigo do consultor de empresas e


conferencista Stephen Kanitz, com o tema: “Precisamos Turistificar o Brasil”. Assim, e pela
adaptação junto aos professores envolvidos nessa pesquisa, a ideia é fazer a junção do
substantivo “turismo” com o verbo (ação) de “transformar” uma localidade qualquer em um
roteiro turístico. Considerando o que se entende do termo turístico “Roteirização” como sendo
o processo de racionalização das viagens que sincroniza espaço, tempo, bens e serviços,
podemos dizer que é um instrumento que facilita a promoção e a venda do destino, combinando
as atividades histórico-culturais sociais e naturais. Em relação à localidade, foi escolhida a
cidade do Natal, a capital do estado do Rio Grande do Norte. Dentre as razões da escolha,
destaca-se o fato de Natal ser uma cidade turística com grande potencial de rotas alternativas
às de sol e mar, porém, com pouca infraestrutura, vontade política e formação qualificada para
o desenvolvimento das mesmas. Além disso, recentemente, a cidade vem enfrentando uma
série de dificuldades procedentes da crise na economia nacional, na segurança pública estadual
e nos preços abusivos das passagens aéreas, tornando urgente alternativas de ampliar sua oferta
turística. Ainda sobre o porquê da Cidade do Natal, atualmente, os esforços públicos e privados
vêm se concentrando em focar tanto a imagem do destino quanto seus serviços nos aspectos da
experiência histórico/social/cultural, não só para atrair e receber bem um número cada vez
maior de turistas, mas também para incentivar essa atividade tão importante para o
desenvolvimento econômico e social das Cidades e dos Estados. Pensando na estruturação
dessa oferta turística de forma sustentável, o projeto propõe a investigação de novas rotas para
serem oferecidos como roteiros turísticos para Natal. Segundo Bernier, o “turismo como
atividade de consumo de massa começa a manifestar-se nos anos 1970. Desde então, vem
experimentando um contínuo e intenso processo de mudanças que obriga aqueles que se
dedicam a sua análise a reinterpreta-lo constantemente, em busca de instrumentos que
permitam otimizar seu enorme potencial” (Bernier apud Scarpati 2008. p.1). Além da sua
capacidade de mudança e do seu caráter complexo e multisetorial, o profissional de turismo
também passa por alguns preconceitos caracterizados pelo desconhecimento apropriado da
atividade que a caracteriza como uma atividade menor, de fácil gestão e predatória, o que nos
leva a crer que sua pesquisa e seu conhecimento estão longe de serem satisfatórios. Resultado
desse universo pouco explorado, é que mesmo depois desses 49 anos de atividade no Brasil, as
perguntas no meio do turismo continuam sendo as mesmas: como diversificar a oferta turística
dos pólos, cidades e países para que o turista permaneça o tempo necessário para desenvolver
a economia de toda a cadeia produtiva do turismo? Dentre as tentativas e as necessidades
eminentes de conhecer tal fenômeno, surge em 2003 o Ministério do Turismo, que defende um
modelo de gestão que visa à ampliação do consumo do produto turístico no mercado nacional
e o aumento da taxa de permanência e gasto médio do turista por meio da criação de roteiros
turísticos com o lançamento, em abril de 2004, do projeto Roteiros do Brasil (Programa de
Regionalização do Turismo: Roteiros do Brasil, Diretrizes Operacionais, 2011-2014). Desde
então, roteirizar se tornou parte das discussões do estudo do turismo e de seus termos técnicos
e por ser um tema um tanto recente, ainda não permitiu uma grande interação entre a teoria e a
prática. Apesar de sua importância indiscutível para a atividade do turismo e o mercado, a
literatura especifica ainda é insuficiente. Muitos cursos inserem o tema em suas grades
curriculares como disciplina obrigatória, optativa ou tópico da disciplina de Agências de
Viagens. Com isso, os roteiros turísticos tornaram-se fundamentais na organização e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1052
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

comercialização do turismo como produto diversificado que imprime a imagem histórico-


cultural do destino.

Objetivos

Objetivo Geral: Diversificar e sistematizar a informação dos produtos e serviços turísticos,


através da investigação de novos roteiros turísticos para a cidade do Natal.

Objetivos Específicos:

a) Criar um banco de dados que disponibilize informações importantes de pontos turísticos,


estruturas de lazer e serviços em geral para o turista e o próprio morador da cidade do Natal;
b) Indicar novos roteiros utilizando cores específicas;

c) Integrar os roteiros através de terminais (pontos) intermodais (modalidades de transporte),


onde o turista possa sair de um e entrar em outro roteiro com facilidade;

d) Elaborar um guia da cidade, com mapa, legendas autoexplicativas e distintas por cores.

Metodologia

1) Levantamento Bibliográfico e Demarcação de Espaço

Durante a execução do projeto o (a) bolsista realizará buscas em sistemas de bibliotecas


científicas, periódicos indexados da CAPES, sites específicos no que se refere à artigos
científicos sobre temas correlatos ao projeto. Também realizará consultas constantes aos livros
e periódicos existentes na biblioteca da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN. Assim como, pesquisas em mapas da cidade que demarquem bairros e limites entre as
zonas administrativas (norte, sul, leste e oeste). O (A) Bolsista procederá a catalogação e
fichamento de todo material bibliográfico levantado.

2) Coleta de Dados em Campo

Com a demarcação destas zonas, o bolsista irá a campo coletar dados para a realização de um
diagnóstico dos espaços com notório potencial turístico utilizando como base o modelo do
Ministério do Turismo.

Nestas visitas serão observados todos os tópicos que compreendem: infraestrutura básica,
hospedagem, alimentação, agências de turismo, entretenimento, lazer, história, geografia, meio

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1053
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ambiente, cultura, transporte e religiosidade. As visitas serão guiadas por um roteiro de


observação que inclua para cada tópico aspectos relativos a este.

3) Indicação e Integração de Roteiros

Após o diagnostico coletado, criaremos um banco de dados de cada zona e a partir das suas
características recomendaremos a indicação dos quatro (4) itinerários com cores específicas.
Em seguida, integraremos os roteiros através de pontos de intercessão das cores, onde o usuário
poderá optar por percorrer ou não todas as zonas com as opções de transportes disponíveis.

4) Elaboração do Guia da Cidade

Nessa etapa, teremos a colaboração dos participantes do curso com especialidade em


georreferenciamento e cartografia, para a construção de um mapa com legendas
autoexplicativas e distintas por cores que sirva de guia para a cidade.

5) Preparação e Apresentação do Relatório Parcial

A (o) bolsista apresentará junto a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPEG) um


relatório parcial das atividades realizadas durante os primeiros seis meses de execução do
projeto.

6) Participação em Eventos Científicos

O bolsista participará como autor de pelo menos dois eventos, um interno, o XV Salão de
Iniciação Científica da UERN e outro externo e internacional, o INVTUR 2020 na cidade de
Aveiro, Portugal, ambos, com apresentação de resumo com dados dos resultados da pesquisa.

7) Preparação e Apresentação do Relatório Final

Ao termino da execução do projeto, a (o) bolsista remeterá a PROPEG o relatório final de todas
as atividades realizadas. Em termos de produtos espera-se elaborar: - 1 guia das 4 zonas de
Natal com o “Roteiro Ginga com Tapioca”; - 1 trabalho para apresentação em evento nacional
e outro evento internacional; - 1 artigo científico completo para publicação em periódico
indexado (QUALIS entre A1 e B3); - 1 relatório parcial aos 6 meses - 1 relatório final aos 12
meses

Referências
1. BAHL, Miguel. Viagens e roteiros turísticos. Curitiba: Protexto, 2004.
2. BERNIER, Enrique Torres. “actualización de las megatendências del mercado
turístico”. Apuntes del Programa de Doctorado en Gestión y Risarollo Turístico
Sostenible”. Málaga: UMA, 2005.
3. BRASIL. Ministério do Turismo. Programa de Regionalização do Turismo: Roteiros do
Brasil, Diretrizes Operacionais, 2011-2014.
4. ______. Segmentação do turismo e o mercado. Brasília: Ministério do Turismo, 2010.
5. ______. Nova Cartilha do Programa de Regionalização do Turismo: Regionalização,
Sensibilização e Mobilização, 2019. Disponível em:
http://www.turismo.gov.br/%C3%BAltimas-not%C3%ADcias/12288mtur-publica-nova-

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1054
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

cartilha-do-programa-de-regionaliza%C3%A7%C3%A3o-do-turismo.html. Acesso em:


01 abr. 2019.
6. IBGE. Dados do Censo 2010. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em: 10 jun. 2013.
7. JÚNIOR, Manoel Onofre. Guia da Cidade do Natal. Minas Gerais: Editora UFRM, 1998.
8. KANITZ, Stephen. Precisamos Turistificar o Brasil. Disponível em:
(http://blog.kanitz.com.br/turistificarturistificando-brasil/). Acesso: 03 jun. 2013.
9. MCKERCHER, B., Lew, A. A. Correntes turísticas e Distribuição Espacial de Turistas
cit in Compêndio de Turismo. Lisboa: Instituto Piaget, 2004.
10. SCARPATI, Federico Vignati. Gestão de destinos turísticos - Como atrair pessoas para
polos, cidades e países. Ed. SENAC, 2008.
11. SEBRAE. Projeto de desenvolvimento de produtos e roteiros turísticos. Manual de
operações – Roteiros e banco de dados, 2005.
12. URRY, John. The Tourist Gaze. London: Sage Publications, 1990.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1055
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

UM OLHAR JURIS EDUCACIONAL DOS ATOS INFRACIONAIS


COMETIDOS POR JOVENS NO MUNICÍPIO DE NATAL-RN

Margaret Darling Bezerra.1; Maria Audenora das Neves Silva Martins.2


Palavras-chave: Educação. Direitos Humanos. Exclusão. Vulnerabilidade.

INTRODUÇÃO
Inicialmente o desenvolvimento desta pesquisa buscou analisar a ineficácia das Leis brasileiras
relacionadas com a Educação e sua relação com os altos índices de atos infracionais cometidos
por jovens excluídos do ambiente escolar. Realizando um estudo juris educacional da
criminalidade dos jovens no município de Natal/RN, ao longo da pesquisa podemos constatar
que a educação de má qualidade oferecida pelo município, é um dos fatores que contribui para
marginalização, na medida em que exclui crianças e jovens do processo educativo, deixando-
os vulneráveis numa sociedade violenta e marginalizada, pois o município de Natal passa por
uma onda de criminalidade sem precedentes. A maioria dos jovens em conflitos com as leis
foram excluídos das escolas públicas e não concluíram o Ensino Fundamental, os altos índices
de abandono escolar tanto no Ensino Fundamental, quanto no Ensino Médio é uma realidade
alarmante. Parte-se do pressuposto que a educação é um direito humano na medida em que o
Estado além de permitir o acesso e a permanência das crianças e jovens na escola ofereça um
ensino que seja um instrumento para a legitimação da dignidade humana. Através da pesquisa,
podemos constatar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Constituição Cidadã,
o Estatuto da Criança e do Adolescente, assim como a Lei de Diretrizes de Bases da Educação
Nacional não estão sendo cumpridos no atual contexto, promovendo a exclusão de crianças e
jovens do sistema escolar tornando-as vulneráveis no município de Natal/RN e essa
vulnerabilidade pode estar estimulando-os a cometerem pequenos e grandes delitos. O objetivo
desta pesquisa é levantar questões que envolvem os jovens do município de Natal e discutir
sobre a responsabilidade e todos os fatores que levam esses jovens a abandonarem a escola,
tornando-os mais suscetíveis ao mundo do crime, onde ao longo da pesquisa se tornou possível
expor os problemas institucionais, sociais e jurídicos que as famílias e jovens vivenciam
diariamente, como também os motivos que levam esses adolescentes ao cometimento de crimes
mesmo sabendo que esse é um caminho no qual dificilmente terá êxito ou chegará com vida a
maior idade.

METODOLOGIA
O método utilizado durante toda pesquisa foi o de realizar entrevistas por telefone ou
visitas, previamente marcadas na Delegacia Especializada do Adolescente, Conselho Tutelar
da região norte e nas Delegacias das regiões de Natal em busca de registros dos atos infracionais

1
Discente do curso de Direito do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN; e-
mail: margaretdarling.bezerra@gmail.com.
2 Professora doutora do Departamento de Direito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN; Líder do

Grupo de Pesquisa GECA – Grupo de Estudos da Criança e do Adolescente. E-mail: audenoraneves@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1056
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

cometidos por jovens desta cidade, visitando as escolas e conversando com os funcionários,
professores e alunos sobre as maiores dificuldades enfrentadas, colhendo depoimentos que
contribuíram para esclarecer questionamentos necessários para o projeto de pesquisa, desta
forma podemos colher dados e informações peculiares da vivência dos profissionais dessas
instituições, alguns dados técnicos foram alcançados pelo fornecimento de estatísticas do IDEB,
do Atlas da Violência – IPEA 2019, por números de atos infracionais fornecidos pela Delegacia
Especializada do Adolescente e nas páginas online de instituições governamentais, foi utilizado
leitura em teses de Mestrado e Doutorado voltados para esta temática produzidos por
pesquisadores de universidades do Estado do RN, revistas jurídicas e pedagógicas, Declaração
Universal dos Direitos Humanos, Constituição Cidadã, Estatuto da Criança e do Adolescente,
e a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando se estabelece a educação como direito intransferível a todos os seres humanos,
também estamos falando sobre o processo de construção igualitária de uma sociedade justa e
democrática. No Brasil, a obrigatoriedade do ensino e as mudanças legais determinaram a
elevação de iniciativas públicas e ações pedagógicas, com apoio legal para a sua efetiva
implementação. Decorre desta sistemática a necessidade de se analisar a responsabilidade pela
oferta do ensino obrigatório e, por outro lado, a responsabilidade do aluno e pais quanto à
infrequência. De forma esclarecedora, Fernandes (1994, p. 11) reitera, que há praticamente cem
anos, a bandeira da escola primária obrigatória, pública e laica permanece fincada no solo das
sociedades modernas. Há quase cem anos, leigos e religiosos continuam a enfrentar-se na luta
pelo sentido do direito à educação que, não obstante, apesar dos percalços, manteve-se sob
hegemonia laica.
O direito à educação transformou-se, assim pela mediação instituída pela escola, numa
das referências identificatórias do mundo que partilhamos, reconhecendo-nos como
pertencentes a uma sociedade "escolarizada". No artigo 2º da Lei de Diretrizes e Bases
observamos a definição da pessoa humana destacada pelo tríplice capacidade de adquirir pleno
desenvolvimento pessoal; inserir-se nas relações políticas e qualificar-se para o trabalho.
Educa-se o povo para capacitar qualquer pessoa para desenvolver a plenitude de si mesma;
envolver-se com as demais e produzir. O artigo 22º supõe que a escolarização obrigatória seja
capaz de formar para a cidadania. A educação é concebida como um meio para atingir a
“finalidade” do ser humano como sujeito autônomo, político e produtivo. Essas três
capacidades delimitam a concepção ontológica da LDB. Conforme a tese assumida por Piaget
(1978, p. 62) no que se refere à hipótese a priori, que situaria a predeterminação no sujeito e
não mais nos objetos, achamo-nos igualmente diante de uma espécie de limite, mas em um
sentido oposto. Parece geneticamente evidente que toda construção elaborada pelo sujeito
supõe condições internas prévias.
Passando a análise dos fatores que levam ao não cumprimento da obrigatoriedade da
educação, verifica-se que um dos grandes obstáculos diz respeito à repetência, o não
cumprimento da frequência escolar compulsória se deve a própria escola. Esta situação tem
uma relação direta com a questão da qualidade da educação que deve facilitar a aquisição de
conhecimentos, habilidades e atitudes que têm valor intrínseco e que também ajudam no
encaminhamento de metas humanas importantes. A educação é um fenômeno expressivo da
organização social, pois revela a natureza e a condição de uma determinada sociedade ou grupos
sociais por meio de aspectos culturais, econômicos e políticos. A partir da Educação podemos
identificar tanto como diferentes fatos ou circunstâncias educacionais interferem nas decisões
familiares como são afetados por sua condição material. De forma assertiva, Sales; Alencar
(1997, p. 35) diz que é necessário reconhecer a criança e ao adolescente como cidadãos, sujeito
de direitos especiais pela sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e pela

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1057
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

necessidade de proteção contra toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência


e opressão, com prioridade a direitos fundamentais à vida, à saúde, à educação, ao lazer, à
profissionalização à cultura, à dignidade, à convivência familiar e comunitária e à proteção
especial. A sociedade geralmente não percebe que estes não nasceram infratores, nem pediram
para ser, apesar de muitas vezes serem conscientes do que fazem. Porém, são seres humanos
que erram, mas, possuem um grande potencial de transformação e merecem atenção, pois são
vítimas e réus, desta violência. Estas crianças e adolescentes autores de ato infracional,
encontram-se privados de viver sua infância, comprometendo todo o seu processo de
desenvolvimento.
Segundo os dados coletados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e compilados pelo
Atlas da Violência, em publicação anual do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e
do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Estado do Rio Grande do Norte é onde morrem
mais jovens de forma violenta no Brasil, recentemente o Estado assumiu a posição de mais
violento do país, em 2017, foram 62,8 mortes violentas por 100 mil habitantes, maior índice
entre as unidades da federação. Entre as pessoas de 15 a 29 anos, os jovens potiguares também
são os que mais morrem em crimes violentos. Um estudo recente do Observatório da Violência
do Rio Grande do Norte (Obvio) traçou o perfil das vítimas do Estado. Entre 2011 e 2018, cerca
de 93% das vítimas eram homens, 85% eram pretas ou pardas, 49% tinham entre 18 e 29 anos.
Além disso, 31% não tinham sequer completado o ensino fundamental, 54% não exerciam
atividade remunerada e 39% ganhavam até dois salários mínimos.
Desta forma podemos observar que o perfil é o mesmo em todo Brasil: a vítima é em
sua maioria homem, jovem, negra, com baixa escolaridade e poucas oportunidades de trabalho,
embora seja difícil identificar um perfil dos homicidas, é bem provável que ele seja bem
parecido com o das vítimas, pois esse é o mesmo perfil dos jovens que estão envolvidos com o
crime. Afinal quais são as opções de escolha para um garoto desses, que mora em bairros
periféricos sem estrutura de educação, saúde, emprego ou família, muitos vão escolher entrar
para o crime. Em visita a vara da infância e juventude da cidade de Natal/RN o que mais foi
relatado é que há jovens que nem ao menos tem certidão de nascimento, então descobrem que
o pai e a mãe desses jovens, também nunca tiveram certidão de nascimento. A exclusão dessas
pessoas é tanta que, para o Estado, elas sequer existiam. Elas passam a existir só quando chegam
na sala do juiz depois de terem cometido alguma infração. Esses jovens são muito pobres, sem
estrutura familiar, às vezes criados pelos avós, porque os pais também estavam presos,
infelizmente, veem no crime e no tráfico de drogas uma alternativa fácil para melhorar de vida,
muitos deles não chegam a idade adulta, são mortos antes disso. Outro fator que tem feito
aumentar os índices de homicídios de jovens no Rio Grande do Norte é o fortalecimento de
facções criminosas, que brigam entre elas pelo controle do tráfico de drogas. Dentro do próprio
crime, criou-se uma cultura de que os menores de idade não são punidos, que eles ficam livres
rapidamente. Por isso muitos até assumem crimes que não cometeram, para livrar adultos. Mas
esse conceito não é verdadeiro, eles são punidos, muitas vezes, passam anos internados.

CONCLUSÃO
Conclui-se que o advento da ação violenta das facções criminosas, associadas ao
desamparo e exclusão social de uma sociedade em crise onde o governo não atua nem cria
políticas públicas eficazes, torna-se uma sociedade propícia a criminalidade e abandono escolar,
onde os marginais tem facilidade em recrutar jovens para o mundo do crime, o que desencadeia
na grande maioria dos casos a morte prematura desses jovens.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1058
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AGRADECIMENTOS
Agradeço ao PIBIC e a UERN por fomentar projetos de pesquisa como este que geram
aprendizado, apoio financeiro e vivência sobre a realidade que cercam os cidadãos e os próprios
estudantes pesquisadores do Estado do RN, agradeço a cada servidor das instituições visitadas,
que contribuíram para o desenvolvimento desta pesquisa.

REFERÊNCIAS
FERNANDES, Heloísa R. Sintoma social dominante e moralização infantil: Um estudo
sobre a educação moral em Émile Durkheim. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo:
Editora Escuta, 1994.
IDEB. Taxa de Rendimento escolar do Município de Natal/RN 2018. Disponível
em:https://www.qedu.org.br/cidade/1097-natal/taxas-rendimento/rede-
publica/urbana?year=2018. Acesso em: 22 de abril de 2020.
PIAGET, Jean. A epistemologia genética. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
SALES. Mione Apolinário; ALENCAR, Mônica M.T.O estatuto da criança e do adolescente
e a política social para a infância e juventude. In: em Pauta. Revista da Faculdade de Serviço
Social da UERJ. Nº 11, de dezembro de 1977, p.33-49.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1059
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

UMA ANALISE DOS PROGRAMAS E PROJETOS DE


RESSOCIALIZAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL NO ESPAÇO
PRISIONAL – COMPLEXO PENAL JOÃO CHAVES FEMINIMO
(CPJC)

Maria Alice de Melo1;

Prof. Dr. Luiz Ricardo Ramalho de Almeida2

Palavras- chave: Políticas públicas. Lei de Execução Penal. Principio da Dignidade da Pessoa
Humana.

Introdução

O sistema prisional brasileiro é conhecido hoje, pelas suas condições degradantes de


encarceramento e pela sua falência em diversos sentidos, e o sistema penitenciário do Rio
Grande do Norte não foge dessa realidade. Episódios como o massacre que ocorreu na
Penitenciária Estadual de Alcaçuz, situada no município de Nísia Floresta que fica a 40 km da
capital Natal, escancaram essa problemática. A rebelião e disputa entre facções rivais culminou
na morte, de ao menos 26 apenados, isso por que o número exato ainda é desconhecido.
Diante desse contexto, torna-se imprescindível o investimento em políticas públicas que
tenham como objetivo a ressocialização e reintegração dos/as apenados/as na sociedade.
Práticas essas, que têm, dentre muitos objetivos, evitar a reincidência e frear o ciclo de violência.
Ademais, a adoção dessas políticas está em consonância com o Principio da Dignidade da
Pessoa Humana, assegurado pela Constituição Federal de 1988.
Dentro desse cenário, há uma parcela da população carcerária que sofre ainda mais com
a negligência e o esquecimento, as mulheres privadas de liberdade. Portanto, os objetivos desse
trabalho são analisar os dados quantitativos da população carcerária feminina no Brasil, no RN
e mais precisamente no Complexo Penal João Chaves. Além disso, fazer uma analise
comparativa com os artigos da Lei de Execução Penal (Lei n. 7210, de 11-7-1984). O enfoque
dessa produção é analisar quais são e como são aplicadas as políticas públicas destinadas à
ressocialização das apenadas lotadas na penitenciaria feminina do Complexo Prisional João
Chaves, situado na zona norte da cidade de Natal/RN.

Metodologia

A metodologia utilizada nesse trabalho foi a análise quantitativa e qualitativa de dados


disponibilizados pelo Infopen Mulheres 2018. Além disso, a Lei de n° 7.210 de 1984 –

1
Estudante do curso de Direito do Campus Avançado de Natal da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;
e-mail: malicemelo2013@bol.com.br
2
Professor do curso de Direito do Campus Avançado de Natal da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte; e-mail: luizricardo@uern

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1060
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Execução Penal - LEP foi utilizada como referencial teórico para investigar a aplicabilidade dos
direitos assegurados pelo ordenamento jurídico brasileiro, no tocante ao cumprimento de pena.
Tendo sempre como escopo os Princípios da Ressocialização e da Dignidade da Pessoa Humana.
Resultados e Discussão

Com base no diagnóstico feito pelo Levantamento Nacional de Informações


Penitenciárias (INFOPEN), divulgado em maio de 2018, é possível traçar o perfil das mulheres
privadas de liberdade no Brasil, bem como dos estabelecimentos prisionais em que se
encontram. Segundo os dados publicados, o sistema prisional do Rio Grande do Norte conta
com 512 apenadas. A taxa de aprisionamento feminino no estado é de 29 mulheres custodiadas
para cada grupo de 100 mil mulheres, segundo esse mesmo estudo.
O Infopen Mulheres traz dados também sobre como ocorre na prática a garantia de
direitos básicos, como por exemplo, saúde, educação, trabalho que auxiliam na ressocialização
das apenadas. No âmbito educacional, apenas 8,20 % das mulheres privadas de liberdade são
envolvidas em atividades educacionais no Rio Grande do Norte. A educação é um direito
assegurado para o preso em cumprimento de pena, conforme o art. 17 da Lei de Execução Penal
de 11 de julho de 1984: “A assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a
formação profissional do preso e do internado”.
No entanto, o dado que mais choca e escancara o déficit no investimento em práticas
que viabilizem a reintegração das apenadas na sociedade, é o referente ao direito e ao mesmo
tempo dever, o trabalho. Segundo os dados apurados pelo Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias (INFOPEN), no RN, apenas 4 custodiadas se encontram em
atividade laboral, isso representa 0,78% da população carcerária feminina. Tal estatística prova
que o direito subjetivo disposto na LEP não se materializa. De acordo com o art. 28 dessa lei
extravagante: “O trabalho do condenado, como dever social e condição de dignidade humana,
terá finalidade educativa e produtiva”.
Ao analisar as políticas públicas adotadas pelo governo do RN voltadas para a
ressocialização especificamente das apenadas lotadas no Complexo Prisional João Chaves,
enfoque desse trabalho, podemos identificar projetos bastante promissores. Segundo dados
disponibilizados no dia 31 de outubro de 2019 pelo site da Secretaria de Estado da Justiça e da
Cidadania (SEJUC) do estado, a João Chaves Feminina abriga atualmente 131 internas em
regime fechado.
De acordo com uma reportagem desse mesmo site, 50 internas do Complexo Penal Dr.
João Chaves Feminino, na Zona Norte de Natal, participam de cursos de qualificação
profissional numa ação promovida pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) e o
Senai. “São oito cursos profissionalizantes. Nosso objetivo é muito claro, manter o controle do
sistema e levar educação e trabalho às unidades penais”, falou o secretário Pedro Florêncio.
A notícia traz a fala de uma das apenadas que é beneficiada com a iniciativa. Segundo a
interna, que participa do curso de panificação, ela está “agarrando a oportunidade com muito
empenho”. “É uma chance de sair daqui ressocializada, com uma atividade e quem sabe até
empreender”, contou. Para viabilizar as aulas, o Senai levou vários equipamentos ao presídio,
como um forno industrial, e uma unidade móvel para o curso de costureira.
Além dessa iniciativa, existe a parceria com o Programa Brasil Alfabetizado que atua no
Complexo Penal Feminino Dr. João Chaves, em Natal. Esse projeto visa a alfabetização de
jovens, adultos e idosos não escolarizados que ainda se encontram fora do domínio significativo
da prática social do ler e escrever. Em 2018, foram entregues pela Secretaria de Educação do
RN, 28 certificados para alfabetizandas, as quais são apenas do complexo.
Ademais, foi possível identificar que além de iniciativas públicas também existem
iniciativas privadas que auxiliam nesse processo de ressocialização. É o caso do projeto

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1061
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Transforme-se que atua na João Chaves Feminina há 14 anos. É um projeto social que promove
a capacitação das internas em moda e artesanato, principalmente na confecção de bolsas que
têm como tema, o empoderamento feminino. Segundo Efigênia, gestora do projeto, a iniciativa
possibilita que as apenadas, ao voltarem para o convívio em sociedade, tenham alguma fonte de
renda para sua subsistência. O programa tem o patrocínio da COSERN, através da Lei de
Incentivo à Cultura, Lei Câmara Cascudo.

Conclusão

Portanto, diante do que foi exposto, fica visível a importância do investimento em


políticas públicas que visem a ressocialização das mulheres privadas de liberdade. Essa é uma
das medidas necessárias que devem ser tomadas para modificar a atual conjuntura do sistema
prisional brasileiro como um todo, que se mostra ineficaz e desorganizado.
Além disso, é imprescindível a criação de novos e o melhoramento dos programas que já
existem. Pois, só por meio deles será possível efetivar e garantir os direitos básicos das apenadas,
previstos na Lei de Execução Penal, em consonância com os direitos fundamentais assegurados
pela Constituição Federal de 1988.

Agradecimentos

Meus sinceros agradecimentos ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação


Científica e à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte pelo incentivo e oportunidade.

Referências

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública (2018). Levantamento Nacional de


Informações Penitenciárias – INFOPEN Mulheres (2a ed.). Brasília, DF: Marcos Vinicius
Moura Silva.

BRASIL. Lei Nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Diário Oficial
da União, 13 jul. 1984. ASCOM SEAP.

Seap leva cursos profissionalizantes às internas da João Chaves. Disponível em: <
http://www.sejuc.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=216607&ACT=&PAGE=
&PARM=&LBL=UNIDADES+PRISIONAIS> Acesso em: 18 de dez 2019
AGORA RN. Participantes do Brasil Alfabetizado recebem certificado no complexo penal
feminino. Disponível em: < https://agorarn.com.br/educacao/participantes-do-
brasilalfabetizado-recebem-certificado-no-complexo-penal-feminino/> Acesso em: 18 de dez
2019

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1062
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

VIOLAÇÃO DE DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM


MOSSORÓ-RN: A REALIDADE DO CENTRO DE REFERÊNCIA
ESPECIALIZADA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CREAS)

Jemima Dantas da Cunha Miranda1; Mariana Dantas Soares2; Millena Soares Barbalho3;
Rebeca Brito de Freitas4; Gláucia Helena Araújo Russo5;

PALAVRAS-CHAVE: Infância. Adolescência. Assistência Social.

INTRODUÇÃO

Crianças e adolescentes são reconhecidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente


(ECA) como sujeitos de direitos e por sua condição de pessoa em desenvolvimento, diante
disso, a família, o Estado e a sociedade são responsáveis por protegê-los e colocá-los a salvo
de quaisquer situações que incidam contra sua vida e dignidade. Entretanto, no Brasil esses
sujeitos ainda têm seus direitos violados e são submetidos a diversas formas de violência, apesar
dos ordenamentos jurídicos existentes. Nesse cenário, um fato chama a atenção: os principais
agentes violadores, são, muitas vezes, seus próprios familiares.
Nesse sentido, pensar as violações de direitos cometidos contra crianças e adolescentes
torna-se fundamental para entendermos até mesmo a sociedade na qual vivemos. Assim, esse
resumo expandido objetiva analisar um pequeno recorte de tais violações: aquelas notificadas
ao Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), da cidade de Mossoró-
RN, no período de 2012 a 2019, mais especificamente tentando compreender os aspectos que
envolvem essas violências em suas diferentes tipificações.

METODOLOGIA

Para alcançarmos nossos objetivos trabalhamos com a pesquisa documental. De


acordo com Oliveira (2007), esta caracteriza-se pela busca de informações em documentos que
não receberam nenhum tratamento científico, como relatórios, revistas, cartas e outras matérias
de divulgação. Na primeira etapa da coleta de dados analisamos prontuários relacionados a
crianças e adolescentes cujo acompanhamento no CREAS/Mossoró se deu entre os anos de
2012 e 2019. Para tanto, foi necessária a leitura dos prontuários, assim como construir um
instrumental para orientar nossos olhares e registrar os aspectos quantitativos e qualitativos
presentes em cada relato.
De maneira particular, trazemos aqui um pequeno recorte dos dados coletados por nós,
particularmente os elementos quantitativos da pesquisa, alguns deles sistematizados e
organizados em tabelas e outros apresentados ao longo do texto, de maneira que possamos
visualizar a situação de violação de direitos de crianças e adolescentes no CREAS/Mossoró-
1
Graduanda em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). E-mail:
jemimadcmiranda@gmail.com
2
Graduanda em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). E-mail:
maryanadanntas@hotmail.com
3
Graduanda em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). E mail:
millenabarbalho@gmail.com
4
Bacharel em Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). E mail:
rebecafreitass@outlook.com
5
Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora Adjunto do
Departamento de Serviço Social da UERN e professora permanente do Programa de Pós-graduação em Serviço
Social e Direitos Sociais. E-mail: glauciarusso@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1063
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RN no período supracitado e, com isso, conhecer parte das demandas existentes no campo da
Assistência Social6, particularmente a proteção especial, para a infância e adolescência no nosso
município. No momento da análise dos dados, primamos por examiná-los criticamente, de
forma a fugir das armadilhas da aparência, cotejá-los com questões mais amplas da sociedade
e compreender aquilo que não se mostra de imediato.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O CREAS tem o “[...] papel de inclusão e proteção social a indivíduos e/ou famílias que
se encontram em situações de violação de direitos e de violência expressos em maus-tratos,
negligência, abandono, discriminações, dentre outras”, (BRASIL, 2008. p. 11), logo o
equipamento atua no atendimento a indivíduos que se encontram em risco social. Diante dessa
definição, muitas vezes, tal órgão recebe da rede socioassistencial7 ou do Sistema de Garantia
de Direitos8 denúncias ou acompanhamento de casos de violação de direitos de crianças e
adolescentes, nos permitindo traçar um perfil dessas violações no município de Mossoró-RN,
sem desconsiderar que se tratam daquelas situações denunciadas.
Nesse sentido, os casos trabalhados não abarcam a totalidade das infrações cometidas
contra esses sujeitos, contudo, a nosso ver, nos permitem ter uma visão geral da situação da
infância e adolescência em nosso município, assim como aquelas que, por sua vez tornaram-se
menos consentidas, legitimadas e/ou naturalizadas socialmente. Vejamos na tabela 1, as
principais violações encontradas:

Tabela 1 - Tipos de violação de direitos de crianças e adolescentes no CREAS Mossoró-


RN - 2012-2019 (n=117)

Tipos de violação Quantidade Percentual (%)


Violência sexual 56 47,86
Drogadição dos pais e/ou
responsáveis 05 4,27
Negligência 18 15,39
Conflito entre crianças 02 1,71
Conflitos familiares/alienação
parental 09 7,69
Drogadição do adolescente 05 4,27
Violência física/psicológica 14 11,97
Cumprimento de medida
socioeducativa 01 0,86
Tentativa de
suicídio/automutilação 02 1,71
6
A pesquisa de forma mais ampla se propôs a analisar a realidade de crianças, adolescentes e suas famílias em
nível municipal, nas áreas da Saúde, Assistência Social e Educação, contudo, no âmbito desse resumo expandido
nos detivemos especificamente a Assistência Social, mais particularmente à realidade do CREAS.
7
A rede socioassistencial é um conjunto integrado de iniciativas públicas e da sociedade, que ofertam e operam
benefícios, serviços, programas e projetos, isto supõe a articulação entre todas estas unidades de provisão de
proteção social. (BRASIL, 2005).
8
O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA) surgiu em 2006, para assegurar e
fortalecer a implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O sistema é formado pela integração
e a articulação entre o Estado, as famílias e a sociedade civil, para garantir e operacionalizar os direitos das crianças
e adolescentes no Brasil. (Disponível em: https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/como-combate-lo/sgdca/.
Acesso em: 21 ago. 2020.).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1064
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Evasão escolar 03 2,56


Vulnerabilidade social 02 1,71
Total 117 100,00
Fonte: Informações sistematizadas pelas autoras, a partir de dados coletados no CREAS/Mossoró-RN.

Embora o ECA, em 1990, tenha inaugurado um novo paradigma jurídico e ético-


político para a infância e adolescência brasileira, por meio do qual inseriu crianças e
adolescentes na agenda contemporânea dos direitos humanos (BRASIL, 2010), é preciso refletir
sobre a persistência da negação desses direitos, o que impede ou dificulta a muitas crianças e
adolescentes o desenvolvimento saudável e, ao mesmo tempo, aumenta a responsabilidade do
Estado, por meio de seus entes federados, da comunidade, da família e cada um de nós de
assegurar um compromisso com esses sujeitos. Nesse sentido, são muitas as violações sofridas
por crianças e adolescentes em seu cotidiano, dentre estas, na nossa pesquisa, destaca-se a
violência em suas diferentes faces – sexual (47,86%), negligência (15,39%), física e psicológica
(11,97%) –, demonstrando o quanto nossa sociedade agride e atenta contra a integridade física
e consequentemente psicológica e social daqueles(as) que a constituem, demonstrando que
entre a lei e sua concretização, embora tenhamos tido inúmeros avanços ainda há um árduo,
complexo e longo caminho a percorrer.
Outro aspecto a ser considerado na nossa pesquisa é o gênero dos sujeitos que tiveram
seus direitos violados. As meninas aparecem como as maiores vítimas das violências,
totalizando 65,22% e os meninos perfazendo um total de 33,91%, tivemos ainda um total de
0,87%, de pessoas não identificadas nos prontuários. Nos chamou a atenção, em particular, o
fato da maioria dos casos de abusos sexuais se darem contra a figura feminina, cerca de 75%
do total geral dos casos encontrados por nós, restando um percentual de 25% referente a
meninos sexualmente abusados, um dado consideravelmente inferior em comparação com a
realidade feminina. Esses dados refletem o quanto a nossa sociedade é estruturada em relações
de mando e obediência, sustentadas com base em padrões patriarcais e machistas, além disso,
tais dados estão em consonância com outras pesquisas, como as apresentadas por Russo et al
(2014).
Nos dados coletados sobre a violência sexual, o pai aparece como principal violador
representando 18,75%, seguido da figura do namorado/companheiro mais velho com 12,50% e
o padrasto como terceiro maior violador, com 10,42% dos casos. Fica evidente, portanto, de
forma contraditória, que a maior parte dos violadores são membros da família ou pessoas
próximas. Ou seja, aqueles de quem mais se espera respeito, afeto e proteção para com as
crianças e adolescentes, contudo, em nossa sociedade estes usurpam seu lugar, transformando-
se em violadores e as relações familiares em relações violentas.
Outro ponto a ser destacado diz respeito aos bairros onde as violações ocorrem, pois
estas estendem-se por inúmeros espaços da cidade, abarcando territórios os mais diversos,
contudo, há demarcações claras de classe. Conforme afirma Russo et al (2014), “diferenças de
gênero, classe social, etnia são fatores presentes no modo como a violência se expressa (p.
177)”, fato este que também verificou-se no decorrer da pesquisa, pois ao analisar a
territorialidade das violações, foi possível perceber que estas ocorrem em quase todos os
bairros da cidade, mas, se concentram mais fortemente naqueles considerados mais pobres.
Salientamos que “não podemos deixar de considerar que a violência é perpassada por
essas desigualdades ou assimetrias (RUSSO et al, 2014. p. 177)”. Entretanto, gostaríamos de
ressaltar que isso não significa a inexistência de violações de direitos de crianças e adolescentes
nos territórios ou bairros mais nobres da cidade, mas sua invisibilização e uma forte ausência
da denúncia que, dentre outros motivos, pode passar pela não utilização dos equipamentos da
rede socioassistencial por seus moradores, visto serem estes considerados próprios da

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1065
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

população de baixa renda. A nosso ver, o silêncio que cerca tais violações é permitida, inclusive
pela existência de muros que o facilitam, e isolam crianças e adolescentes em suas casas.

CONCLUSÃO
Após a avaliação dos prontuários, percebemos que as crianças e adolescentes atendidas
no CREAS/Mossoró foram alvos dos mais diversos tipos de violação de direitos, sendo a
violência sexual a predominante. Logo, crianças e adolescentes, apesar de estarem sob a tutela
de adultos, não estão protegidas. Durante a pesquisa, observamos também que a maioria das
denúncias tinha meninas como vítimas e ocorriam em sua maioria nas relações familiares, tal
realidade se agrava ainda mais quando se trata da violência sexual. Além disso, a pesquisa
evidenciou que as violências denunciadas ocorreram em bairros periféricos da cidade, enquanto
em bairros nobres, não houve denúncias. Deixando nítido que a violência é mais visível quando
se trata de pessoas pobres.
Os aspectos acima apontam a necessidade de desvelar a violência intrafamiliar e
desmistificar a figura da “sagrada” família como lugar de proteção. Reafirmamos, portanto, a
importância dos debates acerca dos direitos das crianças e adolescentes, desconstruindo, não
obstante, a visão romantizada em torno da instituição familiar, para que seja possível
concretizar o direito à convivência familiar, juntamente ao desenvolvimento saudável, a
garantia da proteção e de condições dignas de vida para nossas crianças e adolescentes,
conforme prevê o ECA e se espera da sociedade.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao Programa de


Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN). À Faculdade de Serviço Social (FASSO)/Departamento de Serviço Social (DESSO).
À equipe do Centro de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS).

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 8.069. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990).


Brasília, 2003.
MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde.
São Paulo/Rio de Janeiro-RJ: Hucitec-Abrasco, 1998.

OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis, Vozes, 2007.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Revista CREAS: Centro de Referência


Especializado de Assistência Social. Ano 2, n.1, v.1. Brasília: MDS, 2008.

RUSSO, Gláucia; DANTAS, Juliana; NOGUEIRA, Jéssica; TRINDADE, Hiago. Da omissão


denunciada: negligência intrafamiliar contra crianças e adolescentes no CREAS/Mossoró-RN.
In: Ser Social: Brasília, v. 16, n. 34, p. 65-90, jan.-jun./2014.

RUSSO, Gláucia; TRINDADE, Hiago; DANTAS, Juliana; NOGUEIRA, Jéssica. Quando a


realidade cala: violência psicológica intrafamiliar contra crianças e adolescentes em Mossoró-
RN. In: Temporalis. ano 14, n. 27, jan./jun. Brasília, 2014. p. 159-180.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1066
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resumos expandidos de
LINGUÍSTICA, LETRAS E
ARTES

http: // propeg.uern.br/sic/anais
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1067
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A CONFIGURAÇÃO DO MEDO E DO FANTÁSTICO NO CONTO


“GRAVATA”, DE CAIO FERNANDO ABREU

Nadson Diógenes de Sousa 1; Antonia Marly Moura da Silva 2


Palavras-chave: literatura fantástica; sobrenatural; conto contemporâneo.

INTRODUÇÃO
Este trabalho é um recorte da pesquisa intitulada O enlace do fantástico e do medo:
um estudo do conto fantástico brasileiro, Edital N° 001/2017- PROPEG/UERN, Fluxo
contínuo para institucionalização de Projetos, exercício 2019-2020. É uma abordagem crítica
de um conto e, assim, segue a tônica do referido projeto, que objetiva a análise do medo e do
fantástico em contos brasileiros. Seguindo tal linha de pensamento, escolheu-se o conto do
escritor Caio Fernando Abreu à luz do que afirma Alfredo Bosi (1974, p. 7) sobre as
peculiaridades do gênero, que em sua visão “condensa e potencia no seu espaço todas as
possibilidades da ficção”. A preferência pelo autor também se justifica pelo fato de sua
produção literária ressaltar problemáticas que giram em torno do cotidiano e do sujeito pós-
moderno, além do teor ideológico realçado pelo poder metafórico, simbólico e alegórico do
seu discurso romanesco.
É importante dizer que entre estudiosos da área, Abreu é reconhecido como um poeta
das minorias, um escritor antenado com as problemáticas de seu tempo. Em muitos de seus
contos, figurações irreais suscitam profundas reflexões sobre os dramas humanos, questão que
nos motivou a eleger o conto fantástico “Gravata”, da obra O ovo apunhalado (1975), por
percebermos que tal vertente ficcional parece não ter despertado a atenção merecida da
crítica. Em sua contística, Caio Fernando Abreu prestigiou o diálogo entre ficção e realidade,
delineando uma literatura de denúncia, num fazer poético antenado com o contexto de
produção de suas obras. Acrescente-se, ainda, a valorização do tema do homoerotismo em
muitas de suas narrativas. Essas marcas em sua ficção são demasiadamente exploradas pela
crítica literária. Entretanto, a perspectiva eleita como objeto de investigação neste trabalho
justifica-se pelo fato de o autor também ter se dedicado à produção de contos fantásticos,
envolvendo um campo supostamente negligenciado pelos estudiosos de sua obra, como já
pontuamos aqui. Destarte, a inclinação de nosso estudo pelo campo fantástico considera o
interesse por enfatizar o conto de Caio à luz de uma linha teórico-crítica pouco explorada.
Convém ressaltar que a obra de Caio Fernando Abreu é predominantemente
constituída de contos. Publicou dez livros de ficção, dos quais apenas dois romances Limite
Branco (1971) e Onde andará Dulce Veiga? (1990). Também escreveu novelas e peças de
teatro.
Na abordagem do conto selecionado, optamos pela teoria fantástica, por entendermos
que a narrativa em questão potencializa a atmosfera insólita, dando vazão ao entrecruzamento
do real e do irreal, bem como o sentimento de medo expresso na estrutura da narrativa. Cabe
dizer ainda que o medo como manifestação do fantástico tem sido objeto de múltiplos e

1
Estudante do curso de Letras – Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas do Departamento de Letras
Vernáculas – DLV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN (Campus Central); E-mail:
nadsonsousa@alu.uern.br;
2 Professora do Departamento de Letras Vernáculas – DLV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –

UERN (Campus Central). Membro do Grupo de Estudos de Literatura e suas Interfaces Críticas –
GELINTER/UERN/CNPq. Docente permanente do PPCL/UERN. E-mail: marlymoura@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1068
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

controversos olhares teóricos, resultando num debate em que não há um consenso sobre tal
relação. Em outras palavras: a posição de muitos teóricos diverge no tocante ao medo como
efeito fundamental do fantástico. Todorov (1980) afirma que o medo pode estar
constantemente relacionado ao fantástico, mas não é um efeito intrínseco. Entretanto,
estudiosos como Roas (2013), Lovecraft (2007) e Ceserani (2006) concordam que o medo é
condição necessária para a atmosfera fantástica, posto que seu efeito é condição básica para
instigar a emoção dos seres ficcionais e a transgressão do real.
O fantástico como atributo da ficção romanesca explora a relação entre o real e o
sobrenatural, realçando o evento insólito no mundo cotidiano; a congruência entre o ordinário
e o extraordinário instaura a transgressão, provocando um sentimento aterrorizante no leitor.
Para H.P. Lovecraft (2007, p. 13), “a emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o
medo, e o tipo de medo mais poderoso é o medo do desconhecido”, pois esse sentimento se
manifesta dos mais variados lugares, afligindo o homem moderno e o tornando impotente. É
importante dizer que Caio coloca o sujeito contemporâneo como protagonista de seus
enredos, o que se verifica em contos do livro O ovo apunhalado, como “Gravata”, por
exemplo, objeto de nosso estudo. Outros contos do autor marcados pelo teor insólito e dignos
de nota são “Retratos”, “Réquiem por um fugitivo” e Oásis, integrantes da mesma obra. Nesta
perspectiva, o presente trabalho procura evidenciar a irrupção do fenômeno sobrenatural
frente ao mundo real e a possível hesitação dos seres ficcionais, bem como identificar modos
de configuração do medo na estrutura narrativa. Por fim, interessa também descrever aspectos
da contística do escritor Caio Fernando Abreu.

METODOLOGIA
A pesquisa em pauta é de natureza descritiva e explicativa, uma vez que procurou
analisar o modo como Caio Fernando Abreu enaltece o fantástico e a problemática do medo
em sua ficção. É uma abordagem do tipo qualitativa, de caráter exploratória, pois “busca
apenas levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de
trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto” (SEVERINO, 2007, p. 123).
Classifica-se, também, como bibliográfica, posto que “é desenvolvida com base em
material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2002,
p. 44). Apresenta como corpus um texto literário, cujo propósito é analisá-lo à luz de teorias
sobre o medo e o fantástico na literatura. Para tanto, implicou-se leituras de textos literários,
da fortuna crítica de Caio, bem como textos sobre o fantástico e o medo. O método de
pesquisa é o dedutivo, pois partimos de aportes teóricos mais gerais sobre a temática
escolhida, a fim de analisar sua representação em um conto brasileiro contemporâneo.
O corpus escolhido para análise é o conto “Gravata”, da obra O Ovo Apunhalado
(2001), do escritor Caio Fernando Abreu. Configura-se como um trabalho teórico-crítico
desenvolvido à luz da crítica literária e da Teoria da Literatura. Como aporte teórico foram
utilizados os pressupostos de Todorov (1980), Roas (2013) e Ceserani (2006), que discorrem
sobre o fantástico; Bauman (2008), H. P. Lovecraft (2007) e França (2011) sobre a teoria do
medo, e Cardoso (2007) e Carneiro (2009), que discorrem sobre a obra de Caio Fernando
Abreu.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No cenário das letras brasileiras, Caio Fernando Abreu desponta como um dos
expoentes do conto, versando sobre temas em torno do sujeito contemporâneo. Carneiro
(2009) aponta que dentre as temáticas abordadas pelo autor estão a opressão do homem pelo
próprio homem, os problemas de interação social, a solidão e as crises existenciais do sujeito
contemporâneo que busca encontrar sua identidade. Cardoso (2007) afirma é a partir de O ovo
apunhalado (1975) que o escritor começa a ganhar destaque no cenário literário brasileiro.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1069
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Dividido em três partes – Alfa, Beta e Gama –, o livro aborda temas como perda, opressão,
família e consumismo. A autora chama atenção para a presença do insólito como aspecto
importante da primeira fase de Abreu, apontando o argentino Julio Cortázar como sua grande
influência.
No que tange ao fantástico, Todorov (1975) ressalta como traço desse modo ficcional
a irrupção do sobrenatural no cotidiano, rompendo as fronteiras do real, aspecto que causa
hesitação nos seres ficcionais. O cerne do fantástico, então, está na incerteza causada pela
deflagração de um evento insólito, que desafia as regras do mundo familiar, suscitando a
dúvida entre uma explicação natural ou sobrenatural. Segundo Roas (2013), essa hesitação
não é suficiente para definir um texto como fantástico, uma vez que para algumas narrativas
em que há o surgimento do fenômeno sobrenatural no mundo real não é possível atribuir uma
explicação lógica. Roas (2013) afirma que nossa concepção de real está alicerçada naquilo
que conhecemos, de acordo com os exemplos de cultura, ideologia e crenças de cada época.
Desse modo, é necessário que o texto fantástico se aproxime o máximo possível do mundo
cotidiano do leitor, isto é, se faça o mais realista possível para que o insólito possa irromper,
ocasionando, dessa forma, a transgressão do mundo real.
Partindo do pressuposto de que o medo é um efeito primordial do relato fantástico, é
válido ressaltar que esse sentimento, além de intrínseco ao ser humano, é associado à
incerteza e ao desespero, sobretudo na sociedade contemporânea, em que o mundo se
desenvolve e o ser humano se depara com o desconhecido, o que constitui uma fonte
exponencial de situações amedrontadoras e inquietantes (FRANÇA, 2011). Para Bauman
(2018), o medo atinge seu ápice quando é desvinculado de uma causa, ou seja, quando é
disperso, indistinto e não há razão aparente para o seu afloramento. Destarte, Ceserani (2006)
frisa que no relato fantástico o leitor é envolvido em um mundo cotidiano, familiar, para que
depois os mecanismos do medo e do terror sejam disparados. Roas (2013) corrobora ao
assinalar que o fenômeno sobrenatural – inexplicável, impossível e incompreensível – causa
uma ruptura no mundo ordinário do interlocutor, e a única reação possível seria a sensação de
medo.
O conto “Gravata”, narrado em terceira pessoa, apresenta um sujeito cujo nome não é
revelado, mas que aparentemente é um ser solitário. Ao vislumbrar uma gravata na vitrine de
uma loja, o homem passa a cobiçá-la, comparando às suas gravatas e as de outros homens, ao
seu ver, vulgares demais. O intenso desejo de posse motiva o protagonista a economizar por
um mês, aproximadamente, até a aquisição do acessório. Entretanto, ele se considera indigno
de usá-la, pois nenhuma de suas roupas é suficientemente nobre para acompanhá-la.
Concebida como algo sublime e divino, o homem tenta se impor diante da gravata, mas logo é
assolado por um sentimento difícil de aceitar: o medo. Por fim, adquire coragem e exibe a
gravata em torno de seu pescoço, quando sente sua garganta apertada pela gravata. No
desfecho do relato, antes de cair no chão, o personagem contempla-se no espelho e vislumbra
o exato momento em que é sufocado, inclusive o estranho movimento do objeto em seu peito.
A cena trágica e extraordinária do enforcamento do homem pela gravata configura-se como
um evento inexplicável e desconhecido aos olhos da razão.
No conto, a solidão, um aspecto central na ficção de Caio, parece provocar no
homem um sentimento de falta que motiva o consumismo, expresso em forma de metáfora,
podendo ser representado pela demasiada cobiça do homem por um objeto. O personagem,
apresentado no relato sem um nome, representa uma generalização, uma forma de denotar os
delírios dos sujeitos modernos numa sociedade de consumo. O desenho do sobrenatural não
irrompe em forma de monstro, mas num evento que confronta o real e o irreal, a loucura e a
lucidez. Podemos dizer que a gravata se configura como metáfora de um monstro pós-
moderno: indicia a cegueira pelo consumo desvairado ou o desejo de ter em detrimento de
ser. A gravata é antropomorfizada ao longo do conto e, ao final, ganha vida própria. O

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1070
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

protagonista é assolado pelo sentimento de pavor e incerteza despertado por algo


desconhecido, o que faz o leitor hesitar e questionar se aquilo está realmente acontecendo ou
se é algo fruto da imaginação do personagem. Contudo, ao fim da narrativa a hesitação é
quebrada, pois o narrador é estrangulado pela gravata, o que elimina a possibilidade de uma
explicação lógica, nos deixando apenas com a solução sobrenatural.

CONCLUSÃO
Caio Fernando Abreu se destaca no cenário das letras brasileiras como um escritor
antenado com as coisas de seu tempo. Muitos estudiosos já apontaram em sua produção
poética o importante diálogo entre ficção e história e entre vida e a arte. No conto em estudo,
procuramos evidenciar que na confluência do real e do irreal, sua obra suscita grandes
reflexões sobre a relação entre literatura e sociedade. Em nosso percurso investigativo,
verificamos que o escritor utiliza o discurso metafórico no conto “Gravata” para evidenciar
problemáticas sociais da contemporaneidade, tais como a solidão e o consumismo, assim
como foi dito neste trabalho. A acentuação do cenário sobrenatural serve para ilustrar os
medos advindos da modernidade, num cenário em que o desconhecido constitui-se como uma
das principais fontes deflagradoras dos mais diversos tipos de terror. Nesse caso, a obsessão
por um objeto tido como eminente acaba se tornando o algoz do protagonista.

AGRADECIMENTOS
Agradeço à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) por me
conceder a oportunidade de participar deste trabalho, aos membros do grupo de pesquisa do
qual faço parte e a todos e todas que contribuíram para o desenvolvimento da referida
atividade.

REFERÊNCIAS
ABREU, Caio Fernando. O Ovo Apunhalado. Porto Alegre: L&PM, 2001.
BAUMAN, Zygmunt. Medo Líquido. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2008.
BOSI, Alfredo. O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1974.
CARDOSO, Ana Maria. Sonho e transgressão em Caio Fernando Abreu: o entrelugar de
cartas e contos. 2007. 236 f. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2007.
CARNEIRO, Andreia da Silva. Indivíduo, história e sociedade em O Ovo Apunhalado de
Caio Fernando Abreu. 2009. 152 f. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira) –
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, 2009.
CESERANI, Remo. O fantástico. Tradução de Nilton Cezar Tridapalli. Curitiba: Editora
UFPR, 2006.
FRANÇA, Júlio. Fontes e sentidos do medo como prazer estético. In: VII PAINEL DE
REFLEXÕES SOBRE O INSÓLITO NA NARRATIVA FICCIONAL. 2, 2011, Rio de
Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Dialogarts, 2011, p. 58-67.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
LOVECRAFT, Howard Phillips O horror sobrenatural em literatura. Tradução de Celso
M. Paciornik. São Paulo: Iluminuras, 2007.
ROAS, David. A ameaça do fantástico. Tradução de Julián Fulks. São Paulo: Editora Unesp,
2013.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. São Paulo:
Cortez, 2007.
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Tradução de Maria Clara Correa
Castelo. São Paulo: Perspectiva, 1975.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1071
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO TRANSEXUAL EM DISCURSOS


MIDIÁTICOS

José Eduardo Pinto Duarte 1; Letícia Hellen de Souza Silva 2; Nayara Nicoly Braga 3; Marcos
Paulo de Azevedo4.

Palavras-chave: Transexualidade. Subjetividade. Poder. Corpo.

Introdução

Esta pesquisa teve como principal objetivo investigar os modos pelos quais os sujeitos
transexuais se constituem face às relações de saber-poder que os atravessam e que, também,
ditam, historicamente e de forma cristalizada, uma série de preceitos normativos acerca de
condutas comportamentais, estéticas e sociais sobre os seus corpos e seus hábitos. Ademais, a
investigação buscou, ainda, identificar a forma como os sujeitos transexuais materializam e
manifestam seus mecanismos de resistência frente às formas de interdições, violências e
exercício do poder que subjetivam e objetivam seus corpos e suas existências. Para isso,
tomamos como corpus desta pesquisa discursos difundidos nos mais diversos veículos
midiáticos, materializados em diferentes gêneros discursivos (entrevistas, reportagens, cartazes,
campanhas publicitárias etc.).
Nesse contexto, a mídia, enquanto um dos principais mecanismos de produção e
naturalização de estereótipos sociais e de gênero, interfere diretamente no modo de agir e,
consequentemente, no modo pelo qual sujeitos transexuais enxergam a si mesmos,
influenciando, portanto, de forma direta na constituição da subjetividade destes. Desse modo,
em nossa pesquisa, atentamos, especialmente, para o modo como o corpo transexual é
construído, discursivisado e cristalizado na memória do âmbito discursivo-midiático, haja vista
que o discurso referente à transexualidade se encontra relacionado aos sentidos
heteronormativos dominantes que atuam na sociedade.
A pesquisa foi fundamentada a partir dos postulados teóricos-metodológicos da
Análise do Discurso de linha francesa, mais especificamente aqueles voltados aos modos de
constituição dos sujeitos, do gênero e da sexualidade, tomando por base, sobretudo, os estudos
do filósofo francês Michel Foucault. Nessa perspectiva, Foucault explicita que os
procedimentos de subjetivação estão sempre perpassados pelas relações de poder que
circundam o inflexível agrupamento de saberes edificados sobre o homem pelas mais diversas
instâncias do conhecimento (FOUCAULT, 2014).
Assim, os objetivos desta pesquisa consistiram em identificar as relações de poder-
saber que concorrem na constituição da subjetividade transexual, analisando as práticas de
resistências postas em prática no processo de constituição dessa subjetividade; descrever como
a memória discursiva se manifesta no discurso midiático e atravessa a construção da
subjetividade transexual e estudar o corpo como materialidade discursiva produtora de vontades
de verdade sobre este sujeito.

1
Graduando do Curso de Letras Português do Departamento de Letras Vernáculas (DLV/FALA), da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: zeduardopintoz@hotmail.com.
2 Graduanda do Curso de Letras Português do Departamento de Letras Vernáculas (DLV/FALA), da Universidade

do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: leticiahellen211@hotmail.com.


3 Graduanda do Curso de Letras Português do Departamento de Letras Vernáculas (DLV/FALA), da Universidade

do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: nayaranicoly@gmail.com.


4
Professor (Orientador) do Departamento de Letras Vernáculas (DLV/FALA), da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; e-mail: marcospaulo@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1072
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

No decorrer da construção desta pesquisa, buscamos evidenciar a problemática em


torno do corpo transexual utilizando-se de uma abordagem descritivo-interpretativa, com a
finalidade de analisar as relações de poder-saber que atuam na constituição do sujeito
transexual. Como nos filiamos aos estudos foucaultianos, adotamos, ainda, o método
arqueogenealógico como fundamento de nossa investigação. Tal método serve de base para a
grande maioria de trabalhos na área da Análise do Discurso, pois nele está contida a ideia central
de Foucault sobre a manifestação das práticas discursivas e como estas devem ser analisadas, a
saber: partindo de um viés histórico e considerando a singularidade da sua emergência.
A escolha e análise do corpus de pesquisa se fez pensando-o como elemento do arquivo
(FOUCAULT, 2008), o que significa considerar a aparição de enunciados num dado domínio,
neste caso, o midiático, para que assim pudéssemos ver de que forma se materializa a memória
discursiva. Dito de outro modo, os enunciados que compuseram o corpus foram escolhidos e
analisados como práticas discursivas pertencentes ao campo midiático e que tratavam de um
tema específico: a transexualidade. Para melhor sistematizar a análise, definimos como trajeto
temático (MALDIDIER; GUILHAUMOU, 1997), isto é, como percurso da leitura do arquivo,
o seguinte trajeto: identidade de gênero, sexualidade, corpo, trabalho, família, violência,
direitos. Tal trajeto serviu de base para a apreensão de regularidades enunciativas e para análise
das relações de saber-poder que os constituem como acontecimento discursivo.

Resultados e Discussão

Com vistas à compreensão do processo de constituição da subjetividade transexual no


discurso midiático, ao longo da pesquisa, tomamos como objeto de análise algumas
materialidades, o que resultou em artigos publicados/enviados para publicação. A seguir,
apresentamos um resumo dos principais estudos realizados.
No primeiro deles, “O corpo trans em galeria: reflexões sobre o dispositivo da
transexualidade”, submetido a um periódico eletrônico, analisamos o modo como o dispositivo
da transexualidade atua no processo de objetivação/subjetivação de sujeitos trans, tomando
como objeto de análise três textos publicados no perfil Galeria Trans (@galeriatrans), da rede
social Instagram, o qual aborda temas como corpo e lutas da comunidade trans. A partir da
análise dos textos do Galeria Trans, percebemos que o dispositivo da transexualidade atua na
constituição dos sujeitos trans tanto interditando o processo de transição de seus corpos, como
regulando esse processo para que as adequações se deem dentro de um ideal de reprodução da
matriz heteronormativa. Notamos, ainda, que o funcionamento do dispositivo da
transexualidade tem seus alicerces em relações de saber-poder que emanam de discursos
patologizante enraizados socialmente que sustentam a naturalização da heterossexualidade e da
cisgeneridade.
Por outro lado, as análises mostraram que os sujeitos trans também têm resistido a
essas relações de saber-poder, por meio da constituição ética de si, ressignificando seus corpos,
tornando-os possíveis, a partir da construção de novos saberes sobre si, novas percepções de si,
pelo próprio sujeito.
No segundo estudo realizado, “Ela é trans, ela é capa de revista: a representação do
corpo trans em discursos midiáticos”, publicado nos anais do I Simpósio Nacional de Línguas,
Literatura e Ensino, realizado na UERN, campus Pau dos Ferros, analisamos as práticas
discursivas sobre o corpo transexual materializadas a partir de duas capas de revista: uma capa
da revista Elle Brasil e outra da revista TPM, ambas publicadas no ano de 2017, apresentando
sujeitos transexuais em destaque. A partir da interpretação comparativa feita entre as duas capas

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1073
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

analisadas, inferimos que os corpos dos sujeitos transexuais se apresentam inscritos em um


posicionamento de resistência frente às formas de cerceamento impostas pelos saberes
dominantes, que reiteradamente marginalizam sua identidade e subjetividade. Logo, a
materialização em questão subverte a ordem do discurso hegemônico e heteronormativo de
gênero normatizado pela sociedade, passando a construir processos identitários e formas de
representatividade, mesmo que em alguns aspectos, reproduza também estereótipos que
repetem esquemas de exclusão.
Dessa maneira, é notório que o discurso midiático relacionado ao sujeito transexual
estabelece relações de poder referente ao corpo, haja vista que ele está fortemente atravessado
por uma série de discursos que o objetivam/subjetivam. Nesse sentido, o âmbito discursivo -
midiático trabalha diretamente com a proliferação de discursos dominantes que tratam o corpo
enquanto um produto, atendendo a demandas de diferentes instâncias de poder.
Nos dois estudos acima resumidos, percebemos que o corpo transexual é socialmente
marcado pela heteronormatividade e por outras relações de poder que tendem a normatizá-lo.
Ao mesmo tempo, notamos que esses sujeitos, por meio do seu próprio corpo, criam estratégias
de resistência a essas interdições (FOUCAULT, 2014). No meio midiático, por exemplo,
dialogamos com o conceito de dispositivo em Foucault (1984), pensando em um dispositivo da
(tran)sexualidade, que atua por meio da construção de uma vontade de verdade em torno da
heteronormatividade como regra. Essa heteronormatividade atua sobre os corpos trans, na
tentativa de aproximar o corpo transsexual do cisgênero, como se o primeiro precisasse ser
corrigido. Durante as discussões, notamos que tal tentativa de aproximação entre ambos
funciona como um passaporte para a entrada do sujeito transgênero na sociedade, uma espécie
de aceitação.
No entanto, em nossos estudos, concluímos que essa ideia de aceitação deve ser
questionada, pois ela foi disseminada numa tentativa de controle, de padronização. Não é
preciso pedir permissão à sociedade para que um indivíduo materialize sua existência ou a
vivencie em plenitude. Com isso, destacamos a importância da representatividade dessas
pessoas nos diversos meios midiáticos, artísticos, de trabalhos, etc. Ocupar tais espaços mostra
que estas pessoas existem, resistem, tem força e que outras pessoas iguais a elas também podem
ocupar aqueles lugares, legitimando seus corpos como são e não a partir de uma vontade de
verdade estabelecida pela sociedade afim de excluir aqueles que desviam da
heteronormatividade.
Notamos, ainda, que as relações de poder-saber entre o sujeito trans e a sociedade se
dão através da produção destes discursos que são fundamentados em saberes científicos, como
a medicina, e culturais, como as religiões, a respeito dos papéis de gênero, comumente tratados
num modelo binário, que são assumidos em sociedade. As relações de poder-saber que
atravessam os sujeitos trans têm relação direta com as necessidades de intervenções no corpo,
com o modo como estas pessoas são enxergadas. Produz-se um sentido de que o corpo trans
precisa assemelhar-se com o corpo cis, igualar-se a ele, adequando o corpo trans à visão
heteronormativa do que seria um corpo humano. Essa perspectiva ignora todas as necessidades
do corpo trans. O corpo trans não quer ser um corpo cis, quer ser em sua plenitude um corpo
inteiramente transgênero.

Conclusão

Esta pesquisa buscou investigar a maneira como as relações de poder-saber vêm, ao


longo de um contexto histórico, influenciando de maneira massiva na moldagem da identidade
de gênero de sujeitos transexuais, embasando a pesquisa substancialmente nos estudos
foucaultianos e em escritas decorrentes da área da Análise do Discurso da linha francesa. Como
resultado das leituras e da problemática levantada, pôde-se analisar com mais atenção toda

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1074
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

carga histórica da sociedade, atravessada pela heteronormatividade que constantemente tenta


tornar pessoas cis como única maneira normal e aceita de viver. Tendo como fato o predomínio
da masculinidade sobre a feminilidade desde a antiguidade até hoje, pode-se verificar uma
busca insistente na estrutura social pela aplicação de regras para um corpo ser aceito.
Foi de suma importância ressaltar aqui os meios buscados por estes sujeitos de resistir
sobre uma sociedade que está sempre inovando suas ferramentas de propagar a normalização e
padronização do corpo trans. Notou-se que diante de uma vasta disponibilidade de ferramentas
midiáticas carregadas de discursos padronizados do patriarcado, há uma estrutura para criação
de padrões de gênero, necessitando assim, que um sujeito trans, enquanto sujeito ativo e
produtor de vontades, precise se reconhecer e enfrentar muitos obstáculos para defender sua
identidade.

Agradecimentos

Agradecemos à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) juntamente


à Faculdade de Letras e Artes (FALA) e ao Grupo de Estudos do Discurso da UERN
(GEDUERN) pelo apoio concedido para a realização da pesquisa.

Referências

FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 7. ed. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

FOUCAULT, M. O sujeito e o poder. In: Ditos e escritos IX: genealogia da ética, subjetividade
e sexualidade. Organização, seleção de textos e revisão técnica Manoel Barros da Motta;
tradução Abner Chiquieri. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014. p. 118-140.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado. 4.


ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.

GUILHAUMOU, J.; MALDIDIER, D. Efeitos do arquivo. A Análise do Discurso no lado da


história. In: ORLANDI, E. P. (org.). Gestos de leitura: da história no discurso. Tradução de
Betânia S. C. Mariani [et al.]. 2. ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997, p. 163-188.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1075
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A NARRATIVA LITERÁRIO-MEMORIALÍSTICA DE ONDJAKI

Clécia Viviane Elias da Silva 1; Geovani José da Silva 2; Concísia Lopes dos Santos 3

Palavras-chave: Os da minha rua. Bom dia camaradas. Literatura Angolana. Literatura de


Língua Portuguesa.

Introdução
O romance Bom dia camaradas (2014) e o livro de contos Os da minha rua (2015),
escritos pelo angolano Ondjaki, contam a infância vivida pelo menino Ndalu na Angola dos
anos de 1980: as questões políticas, a influência europeia, a presença dos cubanos no país, as
pessoas, a cidade de Luanda, a rua, os amigos, a escola.
Ndalu de Almeida, popularmente conhecido por Ondjaki é um escritor consagrado no
âmbito da literatura angolana, nascido em Luanda, em 1977, iniciou seus estudos em Luanda e
ampliando seus saberes posteriormente em Lisboa. Além de sua paixão pela escrita, Ondjaki se
interessa por teatro e pinturas.
Os da Minha Rua teve sua primeira impressão no ano de 2007 pela editora carioca
Língua Geral. Hoje, conta com várias traduções europeias, asiáticas e americanas, rendeu ao
escritor Ondjaki o Prêmio de Conto Camilo Castelo Branco em 2007.
Bom dia camaradas foi finalista do Prêmio Portugal Telecom de 2007, aqui no Brasil.
Nele, Ondjaki narra a infância do menino Ndalu, vivida na Luanda dos anos 1980, como se
pode ler na orelha do livro: “tudo isso contado pela voz da criança que fui; tudo isto embebido
na ambiência dos anos 1980.
Os dois livros objetos da pesquisa intitulada “Ondjaki: Memórias de uma infância em
Angola” têm em comum a Angola recém independente, o país do monopartidarismo político
vigente na época, o funcionamento dos cartões de abastecimento, as divisões sociais locais, os
professores cubanos, seus colegas, a escola onde estudou.
Embora sua obra tenha tido origem em um contexto turbulento, pois Angola tinha
conquistado a independência há pouco tempo e o país ainda sofria com as questões político-
sociais, Ondjaki constrói um universo lúdico em torno dos vinte e dois contos que permeiam a
estrutura de Os da minha rua e do romance Bom dia camaradas.
Nesses livros, o autor traz descrições de sua infância, dos seus momentos felizes e
retrata, através dos personagens que compõem a obra, a infância das crianças de Angola da
década de 1980 e 1990. Com o uso de uma linguagem jovem, rica e repleta de miudezas,
Ondjaki revela os olhares ingênuos e imaginários das crianças, diante da guerra civil. Embora
não a compreendessem, os impactos eram sentidos por elas, partindo da escassez de alimento e
da economia do país. Foram nessas memórias do menino Ndalu que esta pesquisa procurou se
deter.
Assim sendo, seu objetivo principal foi examinar como o autor cria sua narrativa,
observando a construção que faz de suas memórias quando criança, uma vez que traz para o

1
Estudante do Curso de Letras – Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas e Membro do Grupo
de Pesquisa em Literaturas de Língua Portuguesa – GPORT - do Campus Avançado de Pau dos Ferros da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: cleciavvivvi@gmail.com
2
Estudante do Curso de Letras – Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas e Membro do Grupo
de Pesquisa em Literaturas de Língua Portuguesa – GPORT - do Campus Avançado de Pau dos Ferros da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: geovani.j@hotmail.com
3
Professora Adjunta da área de Teoria da Literatura do Departamento de Letras Estrangeiras e Vice-Líder do
Grupo de Pesquisa em Literaturas de Língua Portuguesa – GPORT - do Campus Avançado de Pau dos Ferros da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: concisialopes@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1076
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

leitor um mundo infantil cheio de reflexões vividas em meio à tensão na luta pela construção
de um país independente.
Em seu ambiente cultural, histórico, político-social e literário, através de sua escrita
singular, a narrativa de Ondjaki nos permite a leitura de uma linguagem afetiva, nos coloca
dentro da história que nos é apresentada, assim como nos leva a refletir sobre as diversas
questões presentes na obra.

Metodologia
O estudo foi dividido em quatro partes, tendo seu início em Maio de 2019 e finalização
em Abril de 2020.
A primeira parte da pesquisa procurou analisar como se constituiu a vida vivida pelo
menino-narrador dos contos e do romance nos anos 1980: sua relação com colegas e
professores, a rua, os amigos, as brincadeiras e os momentos que levaram a uma reflexão sobre
essa vivência. Para isso, foi realizada uma leitura literária das obras ‘Bom dia Camaradas’
(2014) e ‘Os da minha rua’ (2015).
A segunda parte procurou perceber a ideia que constituía a Angola do momento
histórico narrado no romance, pelo viés da ficção. Detemo-nos especialmente na Escola, espaço
comum nas narrativas das duas obras. Como leituras teóricas as ideias de escola do filósofo
alemão Walter Benjamin (2002), bem como as das pesquisadoras brasileiras contemporâneas
Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1999). O suporte que tratou da educação em Angola teve
como principais referências o pesquisador e professor angolano Alberto Kapitango Nguluve
(2006) e a professora e pesquisadora angolana Elisete Marques da Silva (2003).
A terceira procurou revelar como o momento histórico, envolto pela guerra reflete na
vida do menino que as narra. O suporte histórico veio de Mazrui e Wondji (2010), que nos
apresenta uma Angola fragilizada e nos atualiza do percurso histórico da guerra civil que o país
sofreu nos anos de 1975 a 1976.
Na quarta e última parte, aperfeiçoamos o conhecimento e o aprofundamento do
material teórico norteador da pesquisa, realizando o registro dos resultados alcançados, com
vistas a apresentar e divulgar o trabalho final da pesquisa realizada.
No que diz respeito aos objetivos (GOLDSTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009),
esta pesquisa foi exploratória, buscando ampliar os conhecimentos sobre a área pesquisada;
descritiva, expondo as características do estilo do autor; e explicativa, ao esclarecer quais
fatores contribuem para tal escrita.
Em relação aos meios (GOLDSTEIN; LOUZADA; IVAMOTO, 2009), tratou-se de
uma pesquisa documental e bibliográfica, analisando documentos publicados sobre o autor e
sobre as obras escolhidas; e narrativa, uma vez que narra fatos ficcionais e verdadeiros que
poderão, por exemplo, resultar em um livro temático-bibliográfico da obra de Ondjaki.

Resultados e discussão
O presente projeto procurou analisar e realçar os efeitos causados pela poeticidade
presente na obra de Ondjaki como sinônimo produção literária em língua portuguesa. Para isso,
foram retomados pontos referentes à própria construção das obras e os aspectos que as
diferenciam e assemelham em cada um dos gêneros literários em que foi produzida.
Para ancorar nossa pesquisa no âmbito dos Estudos Culturais, contamos com os
pensamentos dos teóricos Homi K. Babha (2007) e Thomas Bonicci (2000; 2009) que nos
embasam nas relações pós-coloniais, no processo de construção de um país independente.
Um dos frutos da pesquisa é o artigo científico de título “Menino, no tempo do branco
isso não era assim” apresentado por Geovani José da Silva, no VII Encontro de Professores de
Literaturas Africanas/III AFROLIC, realizado em Natal – RN, entre os dias 29 e 31 de julho de
2019. Neste artigo é trabalhado a Angola no seu período colonial, assim como a conquista de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1077
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sua independência, sob a narrativa do escritor Ondjaki no livro ‘Bom dia, Camaradas’ (2006),
destacando-se como é analisada a Angola vista pelo olhar da personagem Camarada Antonio e
seu papel de rejeição ao regime democrático resultante do processo de independência do país,
em defesa da cultura portuguesa.
Na linha de memórias, em paralelo com as obras de Ondjaki, principal autor desta
pesquisa, foi realizada a leitura de Na minha pele, do escritor brasileiro Lázaro Ramos, a partir
do qual foi produzido e apresentado o artigo “Na minha pele, de Lázaro Ramos: uma leitura em
sala de aula”, de autoria de Clécia Viviane Elias da silva, o qual foi também apresentado no VII
Encontro de Professores de Literaturas Africanas/III AFROLIC, realizado em Natal – RN, entre
os dias 29 e 31 de julho de 2019. Até o momento se aguarda a publicação do E-book do evento.
Neste ano de 2020, entre os meses de Agosto e Setembro, foi desenvolvido um curso
de extensão de curta duração, elaborado e ministrado por Geovani José da Silva, intitulado
“Elementos sociais e culturais na obra ‘Os da minha rua’, de Ondjaki”. Este curso procurou
discutir a ficção angolana a partir de seus elementos sociais e culturais inerentes ao estilo do
autor. O curso ministrado teve duração de 30h/a, de modo on line (via plataforma Meet), sendo
vinculado ao Projeto de Extensão ENLACE – Leitura na Biblioteca, do Departamento de Letras
Estrangeiras do Campus Avançado de Pau dos Ferros.
Assim sendo, entendemos que se buscou, a partir desta pesquisa, contribuir para as
constantes descobertas da literatura de língua portuguesa produzida por Ondjaki em Angola,
destacando o caráter poético e memorialístico/ficcional que esta possui. Além disso, procurou-
se colaborar para a formação de futuros professores e pesquisadores no trabalho com a literatura
afro-brasileira, gerando subsídios para que os professores em formação possam atender à Lei
10.639/03, alterada pela Lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-
brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o
ensino médio.

Conclusão
Apesar de a pesquisa estar por hora finalizada, mas não concluída, consideramos que
é possível reconhecer a importância do projeto e os frutos advindos dessa busca pelo
conhecimento aprofundado dos estudos africanos, mais precisamente da cultura angolana e de
um dos seus escritores: Ondjaki.
A escolha dessas obras para a realização deste projeto pesquisa sustentou-se pelo fato
de que elas sintetizam aspectos relevantes e marcantes de seu autor, possibilitando uma análise
mais concreta das escolhas estéticas e aspectos relevantes nas produções. Ultrapassando o
público a que se destina, a escritura de Ondjaki cativa leitores de todas as idades e apresenta
um apelo lúdico e de fantasia que maravilham o leitor através da profundidade da temática e
das construções que levam o leitor a refletir, ou seja, indo além da leitura pelo mero prazer.
Buscou-se, a partir desse estudo, contribuir para as descobertas constantes da literatura
de língua portuguesa produzida em Angola, destacando o caráter poético e
memorialístico/ficcional que esta possui. Além disso, pretende-se colaborar para a formação de
futuros professores e pesquisadores no trabalho com a literatura afro-brasileira.

Agradecimentos
Agradecemos ao Professor Dr. Sebastião Marques Cardoso, professor da área de
Teoria da Literatura do Departamento de Letras Estrangeiras da FALA - UERN e líder do
Grupo de Pesquisa em Literaturas de Língua Portuguesa – GPORT - do Campus Avançado de
Pau dos Ferros da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, por nos dar a oportunidade
de participar de suas pesquisas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1078
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecemos ao Departamento de Letras Estrangeiras do Campus Avançado de Pau


dos Ferros, pela aprovação do projeto e apoio científico nas atividades desenvolvidas a partir
dele.
Agradecemos a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPEG - pela
aprovação do projeto, nos apoiando cientificamente, mas não dispomos de bolsa remunerada,
sendo um trabalho de pesquisa totalmente voluntário, tanto docente quanto discente, arcando
com todos os custos da pesquisa em desenvolvimento.

Referências
BENJAMIN, Walter. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. Tradução,
apresentação e notas de Marcus Vinicius Mazzari; posfácio de Flávio di Giorgi. São Paulo:
Duas Cidades; Ed. 34, 2002.
BHABHA, Homi K. O local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
BONICCI, Thomas. O pós-colonialismo e a literatura: estratégias de leitura. Maringá:
Eduem, 2000.
BONICCI, Thomas. (Org.). Resistência e intervenção nas literaturas pós -coloniais.
Maringá: Eduem, 2009.
GOLDSTEIN, Norma; LOUZADA, Maria Silvia; IVAMOTO, Regina. O texto sem mistério:
leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009.
LAJOLO, Marisa. ZILBERMAN. Regina. Literatura infantil brasileira: história e histórias.
6ª ed. São Paulo: Ática, 1999.
MAZRUI, Ali. A. WONDJI, Cristophe (Editores). História Geral da África, VIII: África
desde 1935. Tradução Luís Hernan de Almeida Prado Mendonça. Revisão técnica Kabengele
Munanga. Brasília: UNESCO, 2010.
NGULUVE, Alberto Kapitango. Política Educacional Angolana (1976-2005): organização,
desenvolvimento e perspectivas. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo. Orientadora: Professora Drª. Cristiane Maria
Cornélia Gottschalk. 2006.
ONDJAKI. Bom dia, camaradas. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
ONDJAKI. Os da minha rua. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2015.
SILVA, Elisete Marques da. O papel societal do sistema de ensino na Angola Colonial (1926-
1974). In: Kulonga: Revista de Ciências da Educação e Estudos Multidisciplinares. Luanda,
N° Especial, 2003.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1079
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A STREETCAR NAMED DESIRE: UM OLHAR SEMIÓTICO

Francisca Juliana Bezerra Nunes1; Michel de Lucena Costa2

Introdução

O presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise de Blanche Dubois,
personagem principal da peça “A Streetcar Named Desire”, sob a perspectiva da semiótica da
cultura. Para isto, realizamos um estudo da obra em questão, complementando com um material
que pudemos usar como aporte teórico. Usamos, além de textos teóricos sobre o teatro, textos
que falassem sobre a Semiótica da Cultura e a Semiótica do Teatro, para aplicá-la ao corpus da
pesquisa.
A Streetcar Named Desire é uma peça de Tennessee Williams (1947), que traz o apelo
aos sentidos do leitor. Em sua escrita, o autor, descreve e transmite emoções, desejos, sonhos e
ilusões perdidas, além de nos fazer perceber as situações vividas pelas personagens através da
imagem de ilusão perdida que elas transmitem, sendo esta, um processo de nos enganarmos a
nós próprios.
A obra contém um único ato que é dividido em onze cenas, contando com três
personagens principais: Blanche, a personagem principal; Stella Dubois, que é a irmã mais nova
de Blanche e Stanley Kowalski, que é o marido de Stella. Ele é tido como o antagonista da
história. Mich não é uma personagem principal, mas ele se torna uma personagem secundária
por simbolizar uma possível redenção de Blanche. As outras personagens (Eunice, Steve, Pablo,
Uma Mulher Negra, Um Médico, Uma Enfermeira, Um Jovem Cobrador e Uma Mulher
Mexicana), dão vida ao universo multiétnico de Williams, que se desenvolve durante a
primavera, o verão e o começo do outono, em New Orleans.
Diante do que foi exposto, o objetivo desta pesquisa será entender como se estrutura
os signos teatrais presentes na peça A Streetcar Named Desire, através da personagem Blanche
Dubois, bem como apresentar os signos do teatro que aparecem nesta obra.

Metodologia

Para que fosse possível atingir os objetivos propostos pelo projeto, foram realizadas
reuniões semanalmente, nas quais discutimos os textos teóricos propostos pelo orientador,
textos estes que foram também trabalhados em sala de aula na graduação. Deste modo,
iniciaremos com as discussões sobre o que é Semiótica da Cultura e a Semiótica do Teatro,
estas, que serão as bases teóricas desta pesquisa, buscando entender o processo semiótico da
peça.
A Semiótica da Cultura é uma teoria que surgiu na década de sessenta, na universidade
de Tártu, que fica localizada na Estônia. Ela se constituiu através de discussões entre
pesquisadores presentes, nos chamados Seminários de Verão, organizados entre Tártu, e em
Moscou, localizada na União Soviética. Tais pesquisadores, liderados por Juri Lótman,
buscaram entender o que caracteriza a linguagem da cultura, chegando ao conceito de
modelização. Segundo Irene Machado,

Por sistemas modelizantes entendem-se as manifestações, práticas ou


processos culturais cuja organização depende da transferência de modelos

1
Estudante do curso de Letras Língua Inglesa, vinculada ao Departamento de Letras Estrangeiras da UERN,
campus Pau dos Ferros. E-mail: franciscanunes@alu.uern.br
2
Orientador. Professor do Departamento de Letras Estrangeiras da UERN, campus Pau dos Ferros. E-mail:
michellucena@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1080
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

estruturais, tais como aqueles sob os quais se constrói a linguagem natural.


(...) Assim considerados, todos os sistemas semióticos da cultura são
modelizantes uma vez que todos podem correlacionar-se com a língua.
(MACHADO, 2003, p. 49)

Ou seja, o sistema modelizante primário é a língua natural e é através dela que


sistematizamos os outros sistemas que a Semiótica da Cultura chama de sistemas modelizantes
de segundo grau. Temos que a Escola de Tártu-Moscou não apresenta uma teoria do signo. Seu
objetivo foi trazer um método de análise que pudesse compreender como é sistematizada a
cultura. Por essa questão, podemos nos apoiar em outros estudos que complementem a nossa
análise, desde que responda a essa pergunta básica: Como? Como é sistematizada essa questão
que estamos apresentando. Deste modo, para nos ajudar a realizar a “tradução da tradição”, nos
apoiamos também nos estudos de Kowzan.
A Semiótica do Teatro, de acordo com Michel Corvin (2006, p. 273), “é ainda
embrionária”, pois os linguistas não admitem a extensão das categorias linguísticas, bem como
a análise semiológica dos sistemas artísticos. O Teatro é uma fala que fala uma língua. Isto quer
dizer que é “uma criação individual de signos destinados a uma consumação coletiva”
(CORVIN, 2006, p. 276).
Mais que qualquer outro sistema de significação, o Teatro se assinala por sua
dissipação semiológica: a simultaneidade da emissão dos signos, que são vezes semelhantes e
vezes dissemelhantes, obriga, para evitar a dispersão do sentido em direções que não são fáceis
de controlar, a conter a polissemia da arte dramática por meio de reiterações do mesmo signo,
pela justaposição de significantes, cujos significados são idênticos ou muito próximos.
Tadeusz Kowzan, em suas pesquisas sobre os signos teatrais, buscou como
compreendê-los, já que não recebiam tanta atenção dos estudos semióticos em sua época, ou
seja, em meados das décadas de 1970 e 1980. De modo geral, ele quis estudar os signos que
iam para além da “arte da palavra”.

A arte teatral faz uso dos signos extraídos de todas as manifestações da


natureza e de todas as atividades humanas. Mas, uma vez utilizados no teatro,
cada um destes signos obtém um valor significativo bem mais pronunciado
que no seu emprego primitivo. O espetáculo transforma os signos naturais em
signos artificiais [...]: daí o seu poder de “artificializar” os signos. (KOWZAN,
2006, p. 102)

Kowzan apresenta, de início, treze sistemas de signos, que vão desde aqueles que são
específicos do próprio texto teatral, até os que são da própria personagem. Analisaremos adiante
sobre quatro, especialmente, que são o cenário, a música, a iluminação e o vestuário, ambos
que envolvem a personagem Blanche Dubois. Com base nestes ensinamentos, realizamos a
análise da Peça Streeetcar Named Desire, de Tennessee Williams, onde faremos uma breve
discussão sobre os resultados obtidos.

Resultados e Discussão

Com base nos estudos que foram feitos durante todo o período em que o projeto foi
realizado, apresentaremos uma breve análise de alguns pontos da peça, para exemplificar a
nossa pesquisa. Utilizaremos os sistemas de signos propostos por Kowzan (2006), utilizando
sua teoria como forma de análise de Streetcar Named Desire.
De início, um dos pontos que mais se destaca é o cenário em que a história acontece.
De acordo com Kowzan (2006, p. 111) “A tarefa primordial do cenário, [...] é a de representar
o lugar: lugar geográfico [...], lugar social [...], ou os dois ao mesmo tempo”. New Orleans é

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1081
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

uma cidade conhecida por seu multiculturalismo, onde se misturam muitas influencias,
sobretudo as francesas, espanholas e africanas. De início, Williams faz com que o leitor perceba
a atmosfera presente na cidade, através de uma rua chamada Elysian Fields, que é a rua que
Blanche procura, e que na mitologia grega, seria o lugar para onde vão os homens virtuosos e
os heróis após a morte. Ele situa o leitor quanto ao lugar, o espaço e a realidade subjetiva:
descreve cores, cheiros, e ao charme que ameniza a pobreza do lugar:

O exterior de um edifício de esquina de dois andares em uma rua de Nova


Orleans, ter trilhos da L & N e o rio. A região é pobre mas, ao contrário de
regiões correspondentes em outras cidades americanas, tem um certo charme
que emana de sua própria condição de lugar mal-afamado. As casas, em sua
maioria, são estruturas brancas, desbotadas e cinzentas, com escadas a
desmoronar e com galerias cumeeiras singularmente ornamentadas.
(WILLIAMS, 1976, p. 7)

Williams continua a fazer a descrição do lugar em que a história se passa, descrevendo-


o de forma mais “lírica”:

[...] O céu que aparece ao redor do sombrio prédio branco é de um azul


singularmente delicado, quase um azul-turquesa, o que veste a cena com uma
espécie de lirismo e graciosamente atenua a atmosfera de decadência. [...]
Nessa parte de New Orleans, na realidade, sempre se está próximo de uma
esquina e sempre se ouve, algumas portas mais abaixo, na rua, o som de
estanho de um piano que está sendo tocado com apaixonada fluência de dedos
escuros. Esse piano tocando blues expressa o espírito da vida que se leva nesse
lugar. ” (WILLIAMS, 1976, p. 7-8)

Partindo deste trecho, analisamos um pouco a respeito do signo música. Segundo a


ideia de Kowzan (2006. p. 114) “A escolha do instrumento tem também um valor semiológico,
podendo sugerir o lugar, o meio social, o ambiente.”. O piano descrito acima, e tocada por um
pianista negro, enfatiza como é a vivencia daquele bairro de New Orleans. O blues é um gênero
musical originado de afro-americanos que viviam no sul dos Estados Unidos, e nos mostra
muito bem, e já como citado acima também, as várias culturas, todas juntas, presentes em uma
só cidade.
Ainda seguindo a ideia de Kowzan (2006, p. 114) sobre o signo música, mas agora
focando em Blanche, para o autor, “o tema musical que acompanha as entradas de cada
personagem torna-se signo [...] de cada uma delas, [...] acrescentado às cenas retrospectivas,
significa o contraste presente-passado”, analisamos também a significação da Polka
Varsoviana, que é remetida sempre que Blanche a associa ao suicídio de seu jovem marido. Ela
conta a Mitch que se casou com Allan quando os dois eram muito jovens e, embora o amasse
apaixonadamente, ele era infeliz, sempre possuindo certo nervosismo e suavidade. Um dia, ela
descobriu seu marido na cama com um homem mais velho. Ela e o marido fingiram que nada
havia sido descoberto e foram juntos a um cassino. Mas enquanto Blanche e o marido dançavam
a Polka Varsoviana, ela não se conteve e disse que ele o repugnava. Seu marido, a quem ela se
refere como “o menino”, saiu correndo do cassino e cometeu suicídio.
Blanche é muito franca e verdadeira quando narra o suicídio de Allan, seu marido
homossexual. Williams usa a música para enfatizar tanto a natureza atormentadora do seu
relacionamento, quanto a da morte de seu marido. E a conexão da Polka Varsoviana com o
incidente explica o porquê de essa música aparecer durante os momentos em que Blanche está
angustiada e ansiosa, ou seja, retrata seu estado de espírito, mostrando ao leitor o quão ela é

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1082
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

assombrada por esse passado, a tornando o que ela é. E só conseguimos nos dar conta que essa
música se passa apenas na cabeça dela na cena IX, que se inicia desta forma:

[...] Ouve-se, em rápida e febril melodia de polca, a varsoviana. A musica está


na mente dela; ela está bebendo para fugir à musica e à sensação de um
desastre que se aproxima e parece murmurar as palavras da canção. [...]
(WILLIAMS, 1976, p. 163)

Durante esta cena, Mitch vai até a casa dos Kowalski, discutir sobre o passado dela. A
sensação de não haver música, fica mais nítida ao ser confirmada por ele:

BLANCHE: Alguma coisa não está certa esta noite, mas não se preocupe. Não
vou interrogar a testemunha. Vou apenas... (toca a testa dele levemente; a
melodia da polca começa de novo) fazer de conta que não percebo nada
diferente em você. Essa música de novo...
MITCH: Que música?
BLANCHE: A varsoviana. A polca que eles estavam tocando quando Allan...
Espere! (ouve-se à distancia um tiro de revólver. Blanche parece aliviada.) O
tiro! Sempre para depois disto. (A música da polca torna a desaparecer.) Sim,
agora parou.
MITCH: Você está ficando maluca?
(WILLIAMS, 1976, p. 165 – 166)

Tudo que tem descrito na peça é a representação das agonias de Blanche, que nos é
mostrada através da música. Ela vem ressignificar essa agonia dentro da mente dela.
Analisamos também o signo iluminação, presente na peça. Ainda de acordo com
Kowzan (2006, p. 110 – 111), “ela se torna o signo da importância, momentânea ou absoluta,
da personagem ou objeto iluminado”. Em algumas partes da peça que acontecem à noite,
Blanche usa uma lanterna de papel para mascarar sua aparência e seu passado, além de, quando
de dia, não querer ser vista. Este signo foi analisado, pelo simples fato de esconder tudo o que
Blanche tenta não mostrar. Apenas um facho de luz é visto nela, justamente por significar os
momentos das ações da personagem, a penumbra. Williams a descreve como uma personagem
sutil e lírica, como uma mariposa que deve evitar a luz muito forte. A lanterna diminui os feixes
de luz da lâmpada e Blanche pode continuar a se manter como quer ser vista: como uma ingênua
beldade sulista. Quando Mitch descobre seu passado, ele rasga a lanterna de papel para poder
vê-la como ela é, mas ela fica assustada com o que está acontecendo e diz “Não quero realismo.
Quero magia. (Mitch ri.) Sim, sim, magia. É o que tento dar às pessoas. Não digo a verdade,
digo o que deveria ser verdade. [...] Não acenda a luz!” (WILLIAMS, 1976, p. 169), mas ele
acaba por acender a luz, e é como se ela estivesse sentindo dor por aquilo.
Por fim, analisamos o signo vestuário. Usando as determinações de Kowzan (2006, p.
109 – 110) sobre tal signo, o mesmo diz que

“o vestuário significa o sexo, a idade, a pertinência, a uma classe social, a


profissão, uma posição social hierárquica particular [...] pode significar todos
os tipos de nuanças, como a situação material da personagem, seus gostos e
certos traços do seu caráter.”

A vestimenta de Blanche simboliza o contraste entre a personagem e o cenário. Como


é destacado no texto, ela está vestida para a Garden District, que é um bairro nobre de New
Orleans, e não para o bairro que ela encontra. É possível perceber também, através dos estudos
semióticos, uma certa questão sobre o motivo de suas vestimentas e adereços serem da cor
branca, além da personagem ter um nome simbólico também, já que “Blanche” é branco em

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1083
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

francês, que sugere inocência e pureza. E é exatamente isto que Blanche quer passar para os
outros de si mesma.
Blanche aparece na esquina, carregando uma valise. Olha para uma tira de
papel, a seguir para o edifício, novamente para o papel e em seguida de novo
para o prédio. Sua expressão é de incredulidade, e ela parece chocada. Seu
aparecimento destoa nesse cenário. Ela está elegantemente vestida, com um
vestido branco de corpinho leve, colar e brincos de pérola, luvas e chapéu
brancos, com a aparência de quem estivesse chegando a um chá de verão ou a
um coquetel no parque do distrito. Ela tem cerca de cinco anos mais que Stella.
Sua delicada beleza deve evitar a luz forte. Há qualquer coisa em relação às
suas maneiras e em relação às suas roupas claras que lembram uma mariposa.
(WILLIAMS, 1976, p. 10-11)

Conclusão.

Diante do que foi exposto, os estudos semióticos culturais promoveram ajuda para que
conseguíssemos perceber vários elementos dentro do contexto teatral da peça, além de
entendermos como os signos são essenciais para a análise de uma situação. Sendo assim,
pudemos entender como se constitui os diversos sistemas semióticos, além de entender o que
significa cada um deles, como por exemplo uma vestimenta, um cenário ou uma música, no
contexto da peça A Streetcar Named Desire, e como esses detalhes nos permitem analisar o
comportamento de uma personagem.
Nós percebemos também que existem mais pontos a serem analisados e discutidos,
que serão desenvolvidos no decorrer deste trabalho, e que virá mostrar sobre o aspecto da
angustia ressignificada enquanto som, enquanto vestimenta, enquanto cenário, dentre outros
signos, ou seja, como a angústia foi ressignificada na peça, mas especificadamente na
personagem Blanche.
Concluímos que este material tem muitas características pertinentes, principalmente à
sua personagem principal, que precisam ser estudadas mais afundo. Usaremos esta pesquisa
para fins acadêmicos, nos aprofundando mais nela, através da produção de uma monografia,
que servirá como aprofundamento desta análise.

Referências.

ARISTÓTELES. Poética. Trad. Eudoro de Souza. São Paulo: Nova Cultural Ltda. 1991
BLUES. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020.
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Blues&oldid=59351440>. Acesso
em: 7 nov. 2020.
CARRASCO, Ney. Sygkhronos: a formação da poética musical do cinema – São Paulo:
Via Lettera: Fapesp, 2003.
CHEVALIER, Jean. GHEERBRANT, Alain. "Dicionário de símbolos: mitos, sonhos,
costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Trad. Vera da Costa e Silva et al." 23 ed. Rio
de Janeiro: José Olympio, 2009.
CHKLÓVSKI, V. A arte como procedimento. In: Teoria da Literatura: Formalistas
Russos. Porto Alegre: Globo, 1973, p. 39-56
CORVIN, Michel. Abordagem Semiológica de um Texto Dramático – A Paródia de Arthur
Adamov. In: Semiologia do Teatro. GUINSBURG, J.; COELHO NETTO, J. Teixeira;
CARDOSO, Reni Chaves (org). São Paulo: Perspectiva, 2006. p. 273-298
KOWZAN, Tadeusz. Os signos do teatro - Introdução à arte do espetáculo. In: Semiologia do
Teatro. GUINSBURG, J.; COELHO NETTO, J. Teixeira; CARDOSO, Reni Chaves (org). São
Paulo: Perspectiva, 2006. p. 93-124

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1084
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LEITE, Sônia. Angústia. Rio de Janeiro, Zahar ed. 2011.


LÓTMAN, I. "O conceito de texto". In: A estrutura do texto artístico. Tradução de Maria do
Carmo Vieira Raposo e Alberto Raposo. Lisboa: Editorial Estampa, 1978, p. 101-112
MACHADO, Irene. "Um projeto semiótico para o estudo da cultura". In: _____ Escola de
Semiótica; a experiência de Tártu-Moscou para o estudo da cultura. S. Paulo: Ateliê
Editorial/FAPESP. 2003, p. 23-66.
USPÊNSKI, B.A. "Elementos estruturais comuns às diferentes formas de arte. Princípios gerais
de organização da obra de arte em pintura e literatura". In: SCHNAIDERMAN, Boris (org).
Semiótica russa. Trad. Aurora Bernardini, Boris Schnaiderman e Lucy Seki. S. Paulo:
Perspectiva (Col. Debates, v. 162), 1979, p. 163-218.
WILLIAMS, Tennessee. Um bonde chamado Desejo. Tradução de Brutus Pedreira. São Paulo:
Abril Cultural, 1976.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1085
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A TRADIÇÃO DO REGIONALISMO LITERÁRIO BRASILEIRO

Maria Adriana Nogueira1; Roniê Rodrigues da Silva2

Palavras-chave: Regionalismo. Literatura brasileira. Representação. Identidade Nacional.

Introdução
O regionalismo tem representado uma tendência de destaque na formação do sistema
literário nacional, tornando-se uma das principais vertentes estéticas pela qual se desenvolve
nossa ficção. Desde o nacionalismo romântico à moderna literatura brasileira, percebemos seu
importante papel na definição e construção de uma autonomia literária. Sua aparição surgiu
especialmente a partir da preocupação em construir uma identidade nacional, em que pudesse
revelar as particularidades das regiões brasileiras, uma espécie de amostra de seus diferentes
aspectos sociais, históricos, geográficos e culturais. Contudo, vale destacar que sua reaparição
na história literária brasileira não se manifestou de maneira homogênea, mas diversa em seus
diferentes momentos.
Alguns estudiosos, como Ceccarello (2010) datam o surgimento da estética regionalista
a partir do Romantismo, denominado por sertanismo, em que tratou o sertão como principal
elemento a ser ficcionalizado, tendo seu momento de apogeu no Modernismo com os romances
de trinta, chamado por “romance “nordestino”. Teóricos, como Chiappini (1995) e Antonio
Candido (1987) consideram a tendência ainda vigente e de interesse da crítica contemporânea,
recusando, assim, a suposta ideia de uma “morte do regionalismo”, tendo em vista sua
permanência e constante reatualização na literatura.
José Carlos Garbuglio (1979) também destaca numa de suas falas que o regionalismo
tem “fôlego de gato”, reaparecendo tanto como tema da obra literária, mas também como objeto
de pesquisas produzidas pela crítica especializada e naquelas realizadas em programas de pós-
graduação. Considerando as observações dos autores citados, a proposta deste trabalho
justifica-se na medida em que coloca em discussão uma categoria literária que não é típica de
um dado momento, mas que acompanha o processo de formação da literatura brasileira,
evoluindo como tendência que atravessa e é atravessada pela história, conforme ressalta
Chiappini (1995).
De acordo com a teórica, a história do regionalismo brasileiro surge a princípio para
caracterizar a literatura produzida fora de São Paulo e Rio de Janeiro, como também
problematizar os efeitos da globalização após a chegada da industrialização e urbanização.
Destacando-o, desse modo, como forte tendência nas letras brasileiras.
De acordo com suas dez teses da autora sobre o tema, o termo regionalismo configura-
se como uma categoria universal e contemporânea, uma vez que tem suscitado não apenas a
consciência nacional a partir da valorização do local, mas também questões teóricas e estéticas
em relação ao outro cultural. Suas teses, de modo geral, buscam desconstruir a ideia de que o
regionalismo se trata apenas de personagens e regiões vinculadas ao ambiente rural.
Segundo Antonio Candido (1987), o tema regional sobrevive com vigor na literatura
nacional, uma vez que aparece estilizado “na seleção dos temas e dos assuntos, bem como na
própria elaboração da linguagem” (CANDIDO, 1987, p. 162). Em outras palavras do autor, sua
transcendência nas letras brasileiras dá-se em torno do valor universal de humanidade que
incorpora e da tensão criadora, além de problematizar os processos unificadores nacionais.

1
Estudante do curso de Letras/Língua Portuguesa, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN);
e-mail: nogadriana@yahoo.com.br.
2
Professor do Departamento de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), e-mail.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1086
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na percepção do crítico, a tradição do regionalismo apresenta-se como uma tendência


que sobrevive ao longo da história do sistema literário dada a tensão dialética entre o universal
e o local, de modo que as peculiaridades locais ganham amplitudes simbólicas universais.
Diante do exposto, o presente trabalho buscou realizar um estudo crítico do
regionalismo literário, considerando suas diversas aparições e perspectiva ao longo da ficção
brasileira. Para a realização desse intento, elegemos três importantes obras, cada qual
pertencente a um determinado regionalismo, a saber: O gaúcho, de José de Alencar; Luzia-
homem, de Domingos Olímpio; e Menino de engenho, de José Lins do Rêgo.
Como objetivos específicos, buscamos investigar o regionalismo como movimento
político, cultural e literário, visando estabelecer uma leitura comparatista que possibilite a
compreensão da função do regional em cada período de sua aparição. Assim como verificar de
que modo se constroem representações da identidade regional em confronto com as
manifestações de uma identidade universal, problematizando as tensões geradas pelo embate
entre uma tendência e outra e que, geralmente, considera a expressão regional de modo marginal
à grande literatura. Por último, entender a recepção crítica da literatura regionalista, observando
como, historicamente, esse tipo de obra tem sido lida, avaliada e julgada a partir de critérios
preconceituosos.

Metodologia
A metodologia adotada para execução deste projeto tem como ponto de partida os
estudos e pressupostos da Literatura Comparada, por meio dos quais problematizamos
tendências diferenciadas do regionalismo literário, analisando-as a partir da leitura de três
romances que compõem o corpus da investigação. Quanto aos procedimentos a serem
utilizados, a pesquisa se caracteriza como sendo de natureza bibliográfica a qual, segundo
Gonsalves (2001, p. 32), “[...] remete para as contribuições de diferentes autores sobre um
assunto”, constituindo-se, nesse caso, pela escolha e utilização de fontes literárias e teóricas a
respeito da temática examinada, e produção de um pensamento crítico a respeito do objeto de
exame. A pesquisa segue ainda uma abordagem qualitativa em que se visa “[...] explicar o
porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os valores [...] pois
os dados analisados são não-métricos [...]” (GERHARDT & SILVEIRA: 2009, p. 32).

Resultados e discussões
O romance regionalista brasileiro surge inicialmente no século XIX, a partir do
Romantismo no Brasil, tendo como principal tema a valorização das peculiaridades geográficas,
sociais e culturais, o que expressou, por sua vez, o desejo em promover uma autonomia literária
e, conseguintemente a construção de uma identidade nacional. José de Alencar destaca-se como
um dos principais idealizadores empenhado em descrever as paisagens brasileiras, sobretudo,
do interior do país. Sua obra O Gaúcho, publicada originalmente em 1870, configura um dos
principais projetos pertencentes a primeira fase regionalista, também denominada de
regionalismo pitoresco.
A narrativa conta-nos a história de Manoel Canho, cujas características remetem ao
herói romântico que busca refúgio na natureza como uma espécie de imagem de pátria ideal. A
valorização dos aspectos regionais, assim como a inadequação do personagem à realidade
exterior reforça a imagem da natureza como símbolo da nacionalidade que não se corrompeu
com a chegada da industrialização. Seu desapontamento frente a sociedade revela não apenas o
seu constante conflito com o mundo e a raça humana, mas o sentimento de individualismo dos
românticos, uma vez que “Manuel tinha a consciência de sua natureza ríspida e concentrada; a
indiferença e frieza que mostrava em seu trato, não provinha de um hábito somente: era a
repercussão interior da pouca estima em que o gaúcho tinha geralmente a raça humana
(ALENCAR, 2005, p. 114)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1087
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Apesar do personagem-protagonista sentir-se desamparado com relação a sociedade que


o rodeia, tornando-se um indivíduo solitário e melancólico, este, por sua vez, mostrar-se em
total harmonia e equilíbrio com a natureza:

No seio da profunda solidão, onde não há guarida para defesa, nem sombra
para abrigo, é preciso afrontar o deserto com intrepidez, sofrer as privações
com paciência, e suprimir as distâncias pela velocidade. Nenhum ente é capaz
de superar todos esses obstáculos como o homem, o gaúcho. De cada ser que
povoa o deserto, toma ele o melhor; tem a 76 velocidade da ema ou da corça,
os brios do corcel e a veemência do touro. (ALENCAR, 2005, p. 25-26)

O romance revela-se como um dos mais importantes da estética romântica ao retratar os


pampas do interior do sul do país, criando uma espécie de imagem grandiosa da nação. A
valorização do território brasileiro fornece, assim, as bases para a formação de uma tendência,
o regionalismo. A obra em seu conjunto celebra o interior do território brasileiro como um
espaço majestoso, repleto de belas paisagens, o que nos faz perceber a busca de Alencar em
ressaltar a diversidade cultural, assim como, a afirmação de uma identidade nacional. Nessa
perspectiva, O gaúcho se constitui como um dos projetos intelectuais que refletiu os ideais
políticos e sociais de sua época.
Além do regionalismo de Alencar, circunscrito no romantismo, temos o segundo
regionalismo, que surge sob a influência do naturalismo que, segundo Afrânio Coutinho (1986),
apresenta-se de forma mais documental, numa escrita cientificista.
Publicado em 1903, por Domingos Olimpío, o romance Luzia-Homem é considerado
um clássico do regionalismo naturalista ao destacar traços de cientificidade ao longo de toda a
narrativa. Assim como O Gaúcho, o romance de Domingos Olímpio volta-se para temas de
expressão local, no entanto, estes são apresentados com descrições realistas ao descrever os
sofrimentos do povo do sertão castigado pela seca e miséria.
O romance tem como principal personagem Luzia-Homem, retratada como uma mulher
de força física extraordinária, que esconde atrás de seus espetaculares músculos uma alma
feminina doce e sensível. A personagem representa não apenas a força da mulher nordestina
que busca resistir às adversidades da seca, mas a mulher como um todo que tenta superar-se,
não se limitando apenas ao cuidado do lar, mas que busca também os espaços do trabalho, ditos
na época como lugar exclusivamente masculino.
A obra discute a partir do olhar atento de Domingos Olímpio sobre o cenário do Ceará,
durante o período da extensa seca de 1878. O enredo é desvelado em meio a construção da
penitenciária em Sobral, local onde vários retirantes buscam abrigo e trabalho. Luzia se apresenta
ao mesmo tempo como uma mulher que desperta o desejo nos homens e a inveja nas mulheres.
Seu corpo é descrito como belo e musculoso, em virtude principalmente dos trabalhos forçados
que desempenhou no decorrer de toda a sua vida. Levada a trabalhar na roça desde pequena pelo
seu pai, a personagem passa a vestir-se com roupas de homens, costume que explica o estigma
de Luzia-Homem.
A personagem é apresentada como uma mulher dotada de força espetacular, que
desperta tanto o espanto quanto o preconceito por parte da sociedade. Apesar de sua força física
que a fazia superior entre os próprios homens, Luzia revela-se uma mulher tímida e frágil, que
esconde sua feminilidade por meio de suas roupas masculinizadas. Podemos perceber através dos
traços heroicos da personagem uma certa idealização romântica.
Além disso, o escritor Domingos Olímpio, destaca à seca de forma chocante, à medida
que expressa as condições miseráveis em que viviam os retirantes. Como podemos perceber na
passagem em que diz “[...] Deslizava a intérmina torrente de retirantes andrajosos, esquálidos,
torpemente sórdidos, parando de porta em porta, a mendigarem uma migalha, ossos, membranas
intragáveis, os resíduos destinados a repasto de cães” (OLIMPIO, 1984, p.44). Vale ressaltar,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1088
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ainda, que o autor não reduziu o indivíduo a condição de animal, contudo, o colocou dentro de
um cenário hostil e miserável.
Apesar da temática do regionalismo já ter percorrido um importante caminho na história
do sistema literário brasileiro, sua reaparição no Modernismo, segundo Antonio Candido,
(1980), apresentou-se de maneira amadurecida, em virtude dos aspectos de humanidade das
suas narrativas. Nesse contexto, o regionalismo de 30, produzido principalmente no Nordeste,
com as suas personagens realistas, trouxe à tona realidades de um Brasil até então ignorado. De
modo particular, muitos dos romances desta época destacam a transição da sociedade de
estrutura rural e oligárquica para uma sociedade urbana e burguesa.
José Lins do Rêgo surge no cenário literário nacional como um dos principais nomes
desse período. Após a publicação de seu primeiro romance Menino de Engenho (1932), obra
que lhe projetou como romancista de envergadura e lhe colocou ao lado daqueles que
produziam uma literatura de protesto e de denuncia social, a chamada literatura regionalista de
30.
Seu romance conta-nos sobre a decadência e exploração dos engenhos e a sua
substituição gradual pelas usinas. A região do Nordeste por sua vez apresenta-se como um
cenário de denúncia e crítica as mazelas sociais à medida que revela através de um narrador
autodiegético as decadências e misérias da época, como podemos perceber na passagem “[...]
Uma desolação de fim de vida, de ruína, que dá à paisagem rural uma melancolia de cemitério
abandonado” (REGO, 1982, p. 56). De um modo geral, a obra apresenta as memórias do
narrador e concomitantemente seu sentimento saudosista com relação aos engenhos.

Conclusão
Em síntese, percebemos, que o regionalismo na literatura brasileira tem passado por
diferentes perspectivas ao longo de sua evolução. Nessa interpretação, o termo regionalismo
deve ser tomado como um movimento que de modo algum é estático, mas que se transforma e
que, por isso, não deve ser exclusivo de um determinado momento histórico, (re)aparecendo
desde as primeiras manifestações literárias, voltadas para a representação dos valores locais,
mas também em obras contemporâneas, conforme percebemos ao longo desse trabalho.

Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq por ter financiado esta pesquisa, à UERN e ao professor
orientador, que colaborou com empenho para conclusão deste projeto.

Referências
ALENCAR, José de. O sertanejo. São Paulo: Martin Claret, 2005.
CANDIDO, Antonio A educação pela noite e outros ensaios. São Paulo: Ática, 1987.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. Rio de
Janeiro: Ouro sobre azul, 1980.
COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986.
CHIAPPINI, Lígia. Do beco ao belo: dez teses sobre o regionalismo na literatura. In: Estudos
históricos. Rio de Janeiro, vol. 8. n. 15, 1995.
GARBUGLIO, José Carlos. Fôlego de gato: regionalismo e suas versões. In: Acta Semiótica
et Linguística. São Paulo, 1979
GERHARDT, Tatiana Engel & SILVEIRA, Denise Tolfo. (orgs.) Métodos de Pesquisa. Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
OLÍMPIO, Domingos. Luzia-homem. São Paulo: Ática, 1984.
RÊGO, José Lins. Menino de engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1982.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1089
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES EM TESTEMUNHOS DA


COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE: MEMÓRIA, PODER E
RESISTÊNCIA EM PERÍODO DE DITADURA MILITAR BRASILEIRA

Andrea Mikaelly Rebouças de Azevedo1; Camila Steffany Freitas Costa2; Lúcia Helena
Medeiros da Cunha Tavares3
Palavras-chave: Discurso. Acontecimento. Memória. Relações de poder. Ditadura

INTRODUÇÃO

Em 1964 deu-se início, no Brasil, o que viria a ser conhecido como Anos de Chumbo.
Um governo sangrento regido por militares tomou a frente do país, e isso só teve fim em 1985.
Durante esse período destacou-se a tortura, a violência, e o desaparecimento de muitos que
resistiram a esse regime opressor. Em busca de esclarecer os ocorridos durante esse período
sombrio, em 2011, foi criada, através da Lei 12.528, a Comissão Nacional da Verdade (CNV),
que foi oficialmente instalada em 16 de maio de 2012, apresentando o relatório final em 2014.
A CNV reúne documentos e arquivos que esclarecem prisões, mortes e desaparecimentos da
época. Dessa forma, oferece aos sobreviventes e aos familiares dos que não conseguiram
sobreviver alguma forma de justiça.
Nesse sentido, este trabalho de pesquisa que aborda a violência cometida contra
mulheres à época, foi norteado pelas seguintes questões: “Como se materializam, na Comissão
Nacional da Verdade, os discursos sobre a violência contra a mulher? De que forma se
apresentam os testemunhos de mulheres e de seus parentes sobre a violência sofrida em época
de Ditadura Militar Brasileira? Quais os movimentos da memória e os mecanismos de poder
que permeiam os discursos sobre a violência contra a mulher na CNV?”. Assim, para melhor
traçar o percurso da investigação pretendida, para este trabalho, se tomou como objetivo geral
analisar os discursos da Comissão Nacional da Verdade sobre a violência contra a mulher na
Ditadura Militar Brasileira, além de interpretar os discursos materializados em testemunhos de
mulheres violentadas e de seus familiares, os quais conduzem à constituição de identidades e
descrever os vestígios de memória e os mecanismos de poder que permeiam esses testemunhos.

METODOLOGIA

A pesquisa em questão, pautada no método arqueogenealógico de Foucault, pode ser


classificada como uma pesquisa descritiva (GIL, 2002, p. 43) e documental, tendo em vista que
se analisará documentos “conservados em arquivos de órgãos públicos” (GIL, 2002, p. 46).
Quanto à geração dos dados, se configura como uma pesquisa qualitativa, sendo que esse tipo
de pesquisa se preocupa em “estudar os fenômenos que envolvem os seres humanos e suas
intrincadas relações sociais, estabelecidas em diversos ambientes” (GODOY, 1995, p.21), o
que leva a uma abordagem interpretativista dos dados. Tem como objeto de estudo os

1
Estudante do curso de Letras – Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas do Departamento de Línguas
Vernáculas da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; e-mail: andreareboucaas@outlook.com.br
2
Estudante do curso de Letras – Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas do Departamento de Línguas
Vernáculas da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; e-mail: camilasteffany@alu.uern.br
3
Professora do Departamento de Línguas Vernáculas da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte.
Participante do Grupo de Estudos do Discurso (GEDUERN); e-mail: helenamedeiros@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1090
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

testemunhos de familiares de mulheres que foram violentadas no período ditatorial em nosso


país. Os testemunhos fazem parte do Relatório da Comissão Nacional da Verdade – CNV e são
analisados de acordo com as concepções de Foucault (1970; 2001; 2008; 2014), Halbwachs
(2006), Gregolin (2003), Gaspari (2014) entre outros.
Desse modo, foram realizadas reuniões sistemáticas para a realização de leituras e
discussões sobre os textos lidos. Esses estudos se diversificaram entre as teorias foucaultianas,
os estudos culturais, a história da mulher e da dominação masculina, os estudos sobre memória
e linguagem. As leituras deram ênfase às categorias escolhidas para análise, como: sujeito
discursivo, sentido, discurso, enunciado, memória discursiva, mecanismos de poder, disciplina
e verdade. Essas leituras se deram entre a pesquisadora e as alunas bolsistas de iniciação
científica, tornando-se necessárias para a realização de debates sobre os textos lidos, o
planejamento da execução das etapas do projeto e a produção científica dos envolvidos na
pesquisa.
Realizou-se uma busca minuciosa pelos testemunhos de mulheres violentadas e de
familiares, parentes ou amigos dessas mulheres, em documentos relativos ao Relatório da
Comissão Nacional da Verdade, o qual aborda a história da Ditadura Militar Brasileira. Isso foi
feito no sentido de se constituir o arquivo da pesquisa, do qual foram selecionados dois
testemunhos, para serem analisados aqui. Após observação, seleção e coleta dos testemunhos
escolhidos, a análise se deu com base nas categorias analíticas de Michel Foucault.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foucault ressalta que (1970, p.08-09), “em toda sociedade a produção do discurso é ao
mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de
procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento
aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade”. Esse controle foi exercido, por muito
tempo na manipulação dos fatos reais das torturas, violências sexuais e assassinatos ocorridos
durante a ditadura.
Quanto à tortura, Gaspari (2014, p. 44-45) afirma que esta

é reconhecida e nunca é abertamente defendida. Toda a arquitetura de sua defesa se


dá através de raciocínios contorcidos. Ora se diz que o preso não pode ser amparado
pelas leis que protegem os direitos humanos, ora se relaciona o suplício à
circunstancialidade da confissão.

Entre os arquivos que fazem parte dos relatórios da CNV consta o caso de Aurora Maria
Nascimento Furtado, estudante de psicologia e militante, que era tida como parte dos
“desordeiros” que clamavam por um país de Estado Democrático. Abaixo pode-se ver a
narração do acontecido, disponível nos arquivos referentes aos relatórios da CNV.

Aurora foi capturada e torturada com instrumentos tais quais a coroa de cristo.
Porém, nos documentos oficiais da época, emitidos pelos órgãos do Estado,
afirmava-se que Aurora havia sido acidentalmente alvejada enquanto atravessava
uma rua em que houve troca de tiros entre os militares e os ocupantes de um carro
da fabricante Volkswagen. Seu corpo sofreu vinte e nove disparos - os quais
atingiram órgãos vitais -, ficou jogado na rua e deu entrada no IML como
indigente, sendo depois reconhecida pela irmã Sandra e seus pais. Foi Sandra
quem identificou as marcas de tortura, afirmando em depoimento à CEMDP, que
sua irmã tinha machucados na boca, fraturas nos braços, além de visível
afundamento do crânio. As declarações de Sandra se comprovam pelas fotos da

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1091
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

perícia local. Não fosse pelo surgimento da CNV, Aurora, brutalmente violada e
morta, teria sua subjetividade e sua história apagadas da memória.
(Caso Aurora Furtado. Arquivos CNV4).

O dano causado à família jamais será reparado como deve, mas o esclarecimento da
verdade honra a memória de quem morreu lutando por liberdade e por seu país.
O período da ditadura militar brasileira foi um momento de terror em que as relações de
poder, as punições e o apagamento da memória se estenderam causando grandes estragos na
vida de quem resistia ao regime político autoritário imposto na época. Através dos arquivos
publicados na Comissão Nacional da Verdade conseguimos resgatar alguns relatos que expõem
os terríveis momentos vividos por pessoas que se negavam a viverem em uma sociedade
autoritária.
Diante disso, ao analisarmos o relato de Izabel Fávero vemos um exemplo de como se
dava a dominação sobre o corpo alheio:

O prazer deles era torturar um frente ao outro e dizer “olhe, sua vadia, ó ele está
apanhando por culpa sua que você não quer colaborar”, entendeu? Ou o
contrário, entende? Era um jogo de tortura psicológica, física, para desestruturar
mesmo, desestabilizar a gente (CNV, volume I, 2014, p. 05).

Destarte, podemos observar, através da memória de Izabel, que no período ditatorial os


sistemas de punições modernos – em que se considera torturas psicológicas uma ferramenta
eficaz de punição - estiveram presentes na vida daqueles que quebraram a ordem do discurso.
Percebe-se o exercício do poder de um sujeito sobre o outro, no caso do militar em relação ao
militante, mas, como coloca Foucault “onde há poder há resistência”, também se percebe a
resistência de Izabel em se render ao seu algoz, mesmo sabendo que a punição por isso se dava
na tortura aplicada ao seu companheiro.
Ao explicar sobre o processo de transição em que os sistemas de punição passaram,
Foucault (2004, p. 17) relata que a tortura se torna uma das formas vistas como mais eficazes
para disciplinar os corpos, pois “não é mais o corpo, é a alma. A expiação que tripudia sobre o
corpo deve suceder um castigo que atue, profundamente, sobre o coração, o intelecto, a vontade,
as disposições”. Tendo isso em vista, compreendemos que, apesar de todas as violências físicas
que Izabel Fávero passou durante esse período em que esteve presa, as torturas psicológicas
foram as que deixaram marcas inesquecíveis em sua vida.
Com a queda da ditadura, o exercício do poder se modifica. É quando se preferem seguir,
então, outros meios de controle e vigilância. Com isso, segundo Foucault (1988, p.148), “o
direito de morte tenderá a se deslocar ou, pelo menos, a se apoiar nas exigências de um poder
que gere a vida (...)”. Daquela época para cá foram muitos os acontecimentos que deram um
outro rumo à história.

CONCLUSÃO

Por meio deste projeto de pesquisa, busca-se contribuir para a viabilização de


conhecimento sobre um período de opressão e também como as relações de saber/poder entre
dominantes e dominados podem estar ligadas aos casos de violência contra a mulher, inclusive
à violência sexual, na época da ditadura.

4
Informações disponíveis em: http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/arquivos/videos/casos-aurora-furtado-e-
issami-okano-10-de-abril-de-2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1092
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Esperamos que este trabalho sobre os sobreviventes e mortos no Regime Militar


Brasileiro contribua ainda para pesquisas futuras sobre a temática abordada e que a busca pela
verdade dos acontecimentos prevaleça.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, que nos possibilitou os recursos necessários para esta pesquisa se concretizar, e à
UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, que nos proporciona o contato com
a pesquisa.

REFERÊNCIAS

BRASIL. COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Brasília: CNV, 2014. (Relatório da


Comissão da Verdade, v. I).
BRASIL. COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE. Mortos e desaparecidos políticos.
Brasília: CNV, 2014. (Relatório da Comissão da Verdade, v. III).
CASO AURORA FURTADO. Disponível em:
http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/arquivos/videos/casos-aurora-furtado-e-issami-okano-
10-de-abril-de-2013.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 6 ed. São Paulo: Edições Loyola, 1970.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade 1: a vontade de saber. 18 ed. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1988.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: a vontade de saber. 14. ed. Rio de Janeiro:
Graal, 2001, 3v. V. 1.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 29 ed. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis:
Vozes, 2004.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 25 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2008.
GASPARI, Elio. A Ditadura Escancarada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002.

GREGOLIN, M. do R. Análise do Discurso: lugar de enfrentamentos teóricos. In:


FERNANDES, C. A. e SANTOS, J. B. C. (orgs). Teorias Lingüísticas: problemáticas
contemporâneas. Uberlândia: EDUFU, 2003.

GODOY, A. S. Pesquisa Qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de


Empresas, v.35, n.03, maio/junho de 1995, p.20-29. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S003475901995000300004&script=sci_pdf&tlng=pt.
Acesso: 18 de março de 2014.
HALBWACHS, M. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1093
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE DO DISCURSO E ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Priscilla Cibele Bessa Freitas Fernandes1; Secleide Alves da Silva2


Palavras-chave: Sujeito. Gramática. Análise Linguística.

Introdução

Durante muito tempo, os estudos linguísticos estiveram centrados na análise da


estrutura da língua escrita, considerando em suas reflexões apenas os aspectos formais,
deixando de fora tudo aquilo que fosse exterior à língua; aspectos contextuais, sujeito, discurso
e historicidade não eram abordados.
A Análise do Discurso (doravante AD) rompe com esse paradigma trazendo para o
bojo das discussões linguísticas todos esses elementos postos de lado pelo modelo estruturalista.
Surgindo da confluência de campos disciplinares distintos, ela se apoia nas teorias da
Psicanálise, do Materialismo Histórico e da Linguística a fim de analisar os textos não somente
em sua estrutura formal, mas sim em sua funcionalidade. Ela se propõe a analisar os discursos
produzidos levando em consideração sua constituição histórica, assim como a posição do
sujeito discursivo.
Mesmo com os avanços dos estudos linguísticos, tomando a linguagem em sua
constituição discursiva, a prática pedagógica da perspectiva frástica ainda é comum, o ensino
de língua materna, muitas vezes, ainda centra suas aulas em regras e nomenclaturas gramaticais.
Não se considera o sujeito que faz uso da língua enquanto pertencente a um determinado
contexto histórico e social; contexto este que interfere e até mesmo define as questões
linguísticas, como aponta Voesi (2004, p. 137) “É óbvio que a linguagem não só é determinada,
como também, no movimento contrário, reproduz a realidade social”.
A AD aliada ao ensino de língua materna também pode trazer contribuições à
formação de sujeitos autônomos, críticos e capazes de utilizarem recursos discursivos em favor
do exercício de cidadania, uma vez, que, conforme Orlandi (2002) a AD procura compreender
a língua como acontecimento e não somente como estrutura, e que o discurso é feito de sentidos
entre locutores, sendo a prática da linguagem.
Sendo assim, objetivamos nesse trabalho refletir sobre como as teorias e estudos
propostos pela Análise do discurso podem servir de fundamento para as práticas desenvolvidas
no ensino de língua Portuguesa, como a leitura, a produção textual e a análise linguística, além
de analisar como a gramática (enquanto estrutura linguística que permite o uso da língua pelos
falantes) e o discurso se inter-relacionam na produção discursiva e na construção de sentidos
nos diversos contextos de usos linguísticos.

Metodologia

Para o desenvolvimento das análises aqui desenvolvidas, utilizamos como aparato


teórico, principalmente as contribuições de Orlandi (2002) e Voesi (2004), dentre outros. Sendo
___________________________________________________________________________
1. Estudante do curso de Letras Português do Departamento de Letras Vernáculas - DLV da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN; e-mail: pri.bfds@gmail.com
2. Professora do Departamento de Letras Vernáculas - DLV da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte – UERN, participante do Grupo de Pesquisa GRED – Grupo de Estudos do
Discurso; e-mail: secleidealves@uern.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1094
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

esta uma pesquisa bibliográfica buscamos compreender as relações entre o discurso e a


gramática na produção de sentidos no uso da língua através de estudos e análises de material
bibliográfico sobre o tema.

Assim, iniciamos nosso percurso nos aprofundando nos estudos sobre as teorias da
Análise do Discurso francesa, buscando compreender suas principais categorias, dentre elas o
sujeito, o discurso, sentido e sua área de alcance. Depois, partimos para o estudo de referenciais
que apontassem para reflexões sobre o campo da AD e suas contribuições e/ou implicações no
ensino da língua portuguesa. Foi o momento de, além de livros, buscarmos outros textos, como
artigos, a fim de ampliar o horizonte de discussão e também conhecer o que, na atualidade, está
sendo discutido sobre o tema. Percebemos que não são muito numerosos os estudos
desenvolvidos especificamente nesta área.

Resultados e discussão
A Análise do Discurso (AD) é um campo teórico que estuda a linguagem em suas
realizações concretas, fazendo sentido em seus usos sociais. Ao analisar a linguagem, ela
ultrapassa os limites da estrutura da língua, considerando o sujeito e o contexto histórico e social
de produção como elementos essenciais, sem, no entanto, desconsiderar esta estrutura; a língua
é compreendida não só como estrutura, mas como um acontecimento.
Assim, o objeto de estudo da AD não é a língua em si, enquanto sistema imanente, mas
sim o discurso, ou seja, o conjunto formado pela materialidade linguística e os elementos
extralinguísticos que contribuem para que a linguagem signifique. Ao refletir sobre a
linguagem, abordam-se os discursos em sua constituição histórica e social. Estes não se
encontram isolados no tempo e no espaço; interagem com outros dizeres já produzidos em
épocas e em contextos diferentes, por sujeitos diferentes. Nessas relações interdiscursivas, a
memória discursiva, compreendida não como um conjunto de recordações passadas dos
indivíduos, mas como um conjunto de possibilidades de dizeres pertencentes ao corpo social,
possui um papel fundamental, pois é recorrendo-se a esta que se constroem redes de relações
entre os discursos que permitem a produção de sentidos. Para a AD, o que realmente importa é
compreender como ocorre a produção de sentidos, de que forma os dizeres significam.
Desde a década de 1960 até a atualidade, a AD vem se colocando como um campo
transdisciplinar que muito pode contribuir nos estudos da linguagem, uma vez que, estudando
a produção de sentidos, é a linguagem seu material de trabalho. Mas, cabe uma indagação, que
estimulou aqui a produção deste trabalho: há uma contribuição desses estudos da AD para o
ensino de língua portuguesa?
Os próprios PCNs (1998) já preconizam que o ensino gramatical deve ser trabalhado
como prática de reflexão sobre a língua e seus usos, através de leitura e produção de textos,
tanto orais como escritos. Isso possibilitará ao aluno diferentes meios de usos linguísticos. É o
que aponta o texto desse documento quando diz que
Em Língua Portuguesa, levando em conta que o texto, unidade de trabalho,
coloca o aluno sempre frente a tarefas globais e complexas, para garantir a
apropriação efetiva dos múltiplos aspectos envolvidos, é necessário
reintroduzi-los nas práticas de escuta, leitura e produção. (1998, p. 66)

As aulas de Língua Portuguesa devem pautar o seu ensino nos textos, pois são eles
que regulam a atividade comunicativa, uma vez que isso irá influenciar diretamente no
desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos, já que esse é um dos objetivos de
se ensinar português a falantes de língua portuguesa. O texto permite a interação em sala de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1095
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

aula, tornando o ensino proveitoso, possibilitando aos discentes o desenvolvimento de


competência discursiva. Sendo assim, é preciso entender como o conceito de texto, numa
perspectiva discursiva, pode contribuir com o ensino da língua materna.
Ao sugerir considerar-se as teorias discursivas para as aulas de língua materna,
estamos criando condições para que os alunos desenvolvam sua autonomia e se construam
como sujeitos, possibilitando-lhes uma prática de linguagem que permite agir e fazer sentido.
Compreendendo isso, o estudante será capaz de se incluir nesse processo que tanto acontece na
escola como fora dela, passa a se perceber como um ser social em relação aos outros, ao meio
em que se insere.
Trabalhar no ensino de língua portuguesa com o texto e a gramática numa perspectiva
discursiva implica reconhecer que a língua constitui, mas também ao mesmo tempo é
constituída pelos sujeitos. Estes sujeitos estão inseridos em uma história, em suma sociedade,
em uma realidade concreta que não pode ser prescindida do seu ato de aprender, de pensar sobre
a linguagem e a língua. Como bem nos aponta Orlandi (2012) quando coloca que
O texto não pode assim ser visto como uma unidade fechada pois ele tem
relação com outros textos (existentes, possíveis ou imaginados), com suas
condições de produção (os sujeitos e a situação) e com o que chamamos de
exterioridade constitutiva, ou seja, o interdiscurso, a memória do dizer (o que
fala antes, em outro lugar, independentemente). Orlandi (2012, p. 87).

É preciso fazer um deslocamento da noção fechada de texto enquanto um repositório


de informações que significam sempre da mesma maneira, em todos os momentos e para todos
os sujeitos. No ensino de língua materna é necessário perceber a gramática como constituinte
da língua, no sentido de que é ela que permite ao sujeito construir seus discursos, mas não como
um conjunto de regras fechadas que apenas servem para normatizar o uso linguístico. É preciso,
então, perceber a gramática da língua enquanto componente que permite formas de significar,
de fazer sentido.
Como aponta Antunes (2007), o trabalho com a gramática nas aulas de língua
portuguesa tem muitas vezes, se não na maioria delas, focado na nomenclatura gramatical,
incorrendo no prejuízo de “sonegar aos alunos a oportunidade da reflexão crítica e lúcida sobre
o real funcionamento da linguagem e sobre o que isso significa na vida das pessoas” (Antunes,
2007, p. 82). Para que isto não ocorra, pensar o trabalho com a linguagem numa perspectiva
discursiva é fundamental. Ou seja, pensar os alunos enquanto sujeitos discursivos, seres
conscientes de seu estado dentro de uma realidade histórica e social; e pensar o texto e a
gramática enquanto realizações sócio discursivas destes sujeitos.

Conclusão
Diante de tudo que até aqui já foi mencionado, afirmamos que, sem dúvida alguma, as
reflexões concebidas pela Análise do Discurso têm muito a contribuir com as aulas de língua
materna, possibilitando aos estudantes através da língua o reconhecimento de mecanismos
necessários para prática da cidadania, sendo ele o próprio responsável pela sua prática
discursiva. Portanto, salientamos a importância dos estudos no campo da Análise do discurso,
visto que eles proporcionam sentidos às aulas, possibilitando ao aluno constituir-se como um

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1096
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sujeito-autor, que reflete sobre si e sobre os usos linguísticos, e não apenas um mero reprodutor
de conteúdo.

Agradecimentos
Agradeço pela oportunidade de participar do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC) da UERN. Os conhecimentos adquiridos através desse projeto
foram bastantes valiosos para o meu aperfeiçoamento acadêmico.

Referências

ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São
Paulo: Parábola, 2007.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto
ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.
ORLANDI, E. P. Discurso e texto: formulação e circulação dos sentidos. 4. ed. Campinas, SP: Pontes
Editores, 2012.
_______. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 4. ed. Campinas, SP: Pontes, 2002.
VOESI, I. Análise do Discurso e o ensino de língua portuguesa. São Pulo: Cortez, 2004.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1097
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE DO ROMANCE A NOITE DAS MULHERES CANTORAS, DE


LÍDIA JORGE

Ananias Marcos de Souza Castro1; Maria Aparecida da Costa2

Palavras-chave: Lídia Jorge. Amor Eros. Idealização amorosa.

INTRODUÇÃO

A literatura desde os seus primórdios retrata muito da vida cotidiana, apesar de ser fictícia, ela
não perde essa essência do real, como afirma o escritor Miguel Real “o domínio da visão realista
do romance foi quase absoluto até meados do século XX” (REAL, 2001, p. 17), e por mais que
já estejamos no século XXI, esses traços realistas ainda são notados de forma acentuada. A
literatura portuguesa, por sua vez, segue essas vertentes com traços de realidade, principalmente
quando falamos em Lídia Jorge, a escritora portuguesa reflete sobre temáticas históricas e
recorrentes na sociedade portuguesa em, praticamente, todos os seus textos. Em palavras da
própria escritora sobre sua poética “Ainda que resulte dum território insondável, ela, [a
literatura] está inscrita numa linha de contiguidade com a minha própria vida.” (JORGE, 2009,
p. 37), ou seja, a partir da autora vemos que por mais que uma obra seja de ficção e que resulte
de alguma inspiração misteriosa ou vinda do imaginário, ela segue uma linha de proximidade
com a realidade. Dentre as temáticas abordadas por Lídia Jorge estão o preconceito racial, a
divisão de classes e as relações amorosas e suas variáveis. Observamos, sobretudo, que o amor
Eros aparece como fio condutor de suas tramas; e por mais que as histórias carreguem outras
temáticas, ele sempre se faz presente na construção das personagens. Nessa perspectiva, o
projeto Aspectos do romance português contemporâneo: um estudo de “A noite das mulheres
cantoras”, de Lídia Jorge teve como objetivo realizar um estudo crítico-analítico, com viés
sociológico e filosófico, do romance de Lídia Jorge, buscando identificar como o amor Eros
conduz ou modifica as ações das personagens. Para isso, foi escolhido o romance A noite das
mulheres cantoras (2012), que narra a história de um grupo musical de garotas que segue em
busca do sucesso na década de 1980, em Portugal. A narrativa é contada, em forma de
monólogo, pela protagonista Solange de Matos, 21 anos depois do ocorrido. Observamos que,
na busca pelo sucesso e realização profissional, estas mulheres vão deixando muito coisa para
trás, pelo caminho, como família, amores e outros sonhos.

METODOLOGIA

A pesquisa é de natureza descritiva bibliográfica, que se caracteriza pelo método interpretativo,


tendo em vista nossa busca em analisar a obra A noite das mulheres cantoras, de Lídia Jorge,
detectando elementos que justifiquem os objetivos de nossa pesquisa. A escolha da obra partiu,
principalmente, pela qualidade literária que a autora apresenta, como também pela escrita
instigante que prende o leitor ao abordar assuntos relevantes do contexto sócio/cultural

1
Graduando do curso de Letras - Português, bolsista do Programa Institucional de Iniciação Científica –
PIBIC/UERN, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Membro do Grupo de Estudos
Críticos da Literatura – GECLIT. amsc94@outlook.com.
2
Professora de Literatura Luso-Brasileira do Departamento de Letras Vernáculas, CAPF/UERN; Membro
permanente do Programa de Pós Graduação em Letras – PPGL/ UERN. Membro do Grupo de Estudos Críticos da
Literatura – GECLIT; e do Grupo de Pesquisa em Literatura de Língua Portuguesa - GPORT. Orientadora do
projeto. cidaminas@hotmail.com; mariaaparecida@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1098
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

português. Dentre as temáticas abordadas em A noite das mulheres cantoras estão as relações
interpessoais, como: a que o sujeito é capaz de se submeter para chegar ao sucesso, bem como
a crueldade do ser humano de um forma geral; além disso, aparecem as temáticas da imigração;
da ditadura portuguesa e da guerra colonial. Escolhemos como principal foco de nossa análise
as questões amorosas e a implicação da sexualidade nessas relações. Para desenvolvermos
nosso estudo, primordialmente, lemos a obra, objeto de análise, após esse momento, estudamos
e debatemos os textos teóricos que nortearam e embasaram nossa pesquisa. Para
compreendermos sobre o amor Eros utilizamos teóricos como Platão (2003), O Banquete: o
simpósio ou do amor; Denis de Rougemont (1988), O amor e o ocidente; Roland Barthes
(2007), Fragmentos de um discurso amoroso; Maria Aparecida da Costa (2015), A paz tensa
da chama fugaz: a configuração do amor no romance contemporâneo, Lygia Fagundes Telles
e Lídia Jorge; Julia Kristeva (1988), Histórias de amor; entre outros. Após as leituras do
romance e de teorias sobre o amor Eros, partimos para a análise do romance A noite das
mulheres cantoras de uma forma mais vertical, buscando compreender como o amor Eros se
faz presente nas ações das personagens.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O romance A noite das mulheres cantoras, de Lídia Jorge, conta a história de uma grupo musical
que sonhava em fazer sucesso nos palcos de Portugal na década de 1980, era formado por cinco
mulheres; Gisela Batista, as irmãs Maria Luisa e Nani Alcides, Madalena Micaia e Solange de
Matos. Detivemos nosso foco principal de investigação na narradora, Solange de Matos, que
conta a história do grupo, reavivando sua memória a partir de lembranças desencadeadas em
uma festa que ocorre 21 anos do ocorrido. Conforme já pontuamos, esse romance apresenta
temas importantes que remetem à história de Portugal, entretanto, nos aprofundamos nas
variáveis do amor Eros, especificamente, nos relacionamentos amorosos da personagem
Solange de Matos. Uma estudante de música que, além de contribuir na parte vocal, também
compunha as canções executadas pelo grupo musical. A jovem cantora conduz sua vida entre a
pensão onde morava e a escola de música – que um tempo depois deixa de frequentar – para se
dedicar aos ensaios na garagem onde ocorrem os encontros do grupo musical. A história dessas
mulheres começa a mudar com a chegada do coreógrafo, João de Lucena, contratado por Gisela
para cuidar da desenvoltura das artistas no palco. O coreógrafo, além ser bastante renomado no
ramo musical, possuía uma carreira internacional invejável, o que deixa as moças eufóricas
quando da sua chegada:

Nani olhava-o, deslumbrada. Maria Luísa, por sua vez, comparava


permanentemente a personalidade brutal do seu namorado com o caráter
delicado daquele homem que nos ensaiava, e cujos únicos gritos que se lhe
ouviam destinavam-se a sublinhar palmas, ritmos, andamentos. Nani gritava -
‘Aí vem ele!’ Mas Maria Luísa cantarolava baixinho – ‘Hum, hum... que nul
ne peut apprivoiser...’ Madalena, à parte, dizia em voz alta – ‘Esta criatura
veio pôr o mundo de pernas para o ar. Parece que o homem fez macumba com
a gente...’ ‘Aí vem ele!’ – gritava Nani correndo para o seu posto.” (JORGE,
2012, p. 125)

Aquele homem desperta o interesse de todas as moças do grupo, como vemos nas palavras da
narradora, cada uma das moças desejava-o e louvava-o a sua maneira, só com olhares, fazendo
comparações com pessoas de seu convívio ou até mesmo com algo mítico. Observamos, no

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1099
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

excerto acima, que Solange tenta justificar de forma geral o motivo de sua paixão pelo
coreógrafo, ou seja, todas do grupo se interessaram por ele, mas ela foi a que teve os sentimentos
de amor despertados de forma mais aguda. A trama se adensa quando João e Solange decidem
sair em um encontro, a jovem cantora discorre sobre a noite dizendo “Lembro-me dessa
primeira noite em que fui visitada pelo aceno do amor. Entrei e fiquei encostada à porta,
trancando-a com as costas, incapaz de me mover.” (JORGE, 2012, p. 162). Solange, de uma
forma romantizada, assume estar totalmente dominada pelo amor Eros, notamos que essa é a
primeira vez que ela demonstra ser tomada por tal sentimento. Assim, a compositora vai
desenhando aquele acontecimento como algo especial, provocador de uma transformação em
sua vida; Solange tenta descrever o que aconteceu mas não consegue definir os sentimentos,
misto de euforia com ansiedade de reencontrar o coreógrafo nos momentos do ensaio do grupo.
Constatamos, dessa forma, que a partir do momento que Solange tem o seu primeiro encontro
com o amor, é como se por um momento ela perdesse a capacidade de se dominar, agora Eros
é quem direciona suas atitudes. A cantora perde, de certa forma, o domínio de sua vida,
deixando tudo ser guiado pelo seu objeto amoroso. Observamos, contudo, que a partir da
lucidez de Solange com relação ao amor que sente pelo coreógrafo, ela passa a ter uma
dedicação quase devota a ele. Por João, a narradora abre mão de tudo a sua volta e interessa-se
apenas pelas coisas que rodeiam aquele homem: “Tudo o que dissesse respeito a João de Lucena
assumia uma proporção gigantesca, tudo o que não passasse pela sua figura não tinha
importância alguma.” (JORGE, 2012, p. 169), nesse trecho, notamos que além de idolatrá-lo,
Solange passa a idealizar João, tudo que faz referência a ele assume um nível mais elevado de
importância, algo criado em sua própria imaginação. Como afirma Júlia Kristeva “Enraizado
no desejo e no prazer de que pode se passar na realidade, para só acendê-los simbólica ou
imaginariamente, o amor, vocês haverão de concordar, reina entre as águas do narcisismo e da
idealização” (KRISTEVA, 1988, p. 27), embasado nesse pensamento vemos que o sujeito
amoroso passa a imaginar o objeto de amor da forma que deseja, passa a ver apenas as
qualidades e virtudes do seu objeto amoroso, e essas qualidades são a seu gosto, ou seja, o
amante busca no outro uma extensão de si mesmo: “Eis que o deus da vaidade veio ao encontro
do meu desejo” (JORGE, 2012, p. 192), observa Solange ao se referir a João de Lucena,
deixando entender uma alusão do seu amado com o próprio Narciso, a figura mítica grega que
está ligada a própria beleza e a vaidade. No entanto, a partir do pensamento de Solange,
percebemos um sentimento também narcisista, quando ela define que aquele homem não só
veio ao seu encontro, mas que ele veio ao encontro dos seus desejos, para satisfazer as suas
vontades. Com o desenrolar da trama, Solange descobre que João de Lucena é homossexual e
está com ela apenas para mascarar sua condição de homem gay, ela serve apenas de “manivela”
(JORGE, 2012, p. 278), que faz girar o relacionamento homo afetivo do coreógrafo com seu
amante José Alexandre. Após saber dessa informação, Solange e João se separam e passam
vinte anos sem se ver, o reencontro só vai acontecer na “noite perfeita” (JORGE, 2012, p. 11),
nome dado ao capítulo inicial da narrativa, dedicado a homenagear o antigo grupo musical.
Naquela noite, o antigo casal chama a atenção de todos no evento, mesmo depois de duas
décadas sem se encontrarem, eles se abraçam e dançam de forma sublime naquele salão, como
se nenhuma mágoa do passado existisse para os dois. Mesmo após todos esses anos distantes,
no momento em que Solange reencontra seu objeto de amor, já definhado e castigado pelos
anos, ela continua com o mesmo sentimento de outrora e leva João para morar no térreo de seu
prédio. Com isso, compreendemos que ela o tira do pedestal, onde havia colocado em seu tempo
de juventude, e o coloca sob seus pés, como uma forma de manter o controle do amor que ainda
sentia pelo coreógrafo. A idealização amorosa proporciona a infinitude do sentimento amoroso

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1100
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

que por não ter se realizado, não ter sido consumado, também não foi consumido pelo tempo;
permanecendo, pelo menos, para a narradora, como um sentimento vivo. Conforme aponta
Denis de Rougemont, o que o amante ama “é o próprio fato de amar.” (ROUGEMONT, 1988,
p. 35), sendo assim, vemos que para o amante o fato de estar amando é mais importante do que
o próprio objeto amoroso, um dos argumentos que pode justificar Solange continuar amando
João, mesmo sabendo de sua sexualidade homoerótica e após todo o tempo que passaram
separados.

CONCLUSÃO

Em nosso estudo, constatamos que mesmo passados vinte anos, a narradora continua nutrindo
um forte amor pelo coreógrafo. A não realização amorosa preservou o amor como algo eterno.
O filósofo Platão discorrendo sobre o amor, afirma que “o amor é o desejo da perpétua posse
do bem” (PLATÃO, 2003, p. 97). A partir disso, constatamos em nossa pesquisa, Aspectos do
romance português contemporâneo: um estudo de “A noite das mulheres cantoras”, de Lídia
Jorge, que apesar de o amor Eros ser uma temática constante nas obras literárias desde os
primórdios, ele permanece nos romances contemporâneos, envolvendo as personagens e
direcionando suas vidas.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao PIBIC/UERN pela oportunidade de crescimento e desenvolvimento intelectual e


social enquanto estudante e pesquisador na área da literatura. O agradecimento estende-se
também ao GECLIT - Grupo de Estudos Críticos da Literatura – por nos ceder o espaço físico
para reuniões, encontros e andamentos da pesquisa.

REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. Tradução H. dos Santos. 10. ed.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2007.
BRANDÃO, Junito de Souza. Dicionário Mítico – etimológico da mitologia e da religião
romana. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.
COSTA, Maria Aparecida. A paz tensa da chama fugaz: a configuração do amor no romance
contemporâneo, Lygia Fagundes Telles e Lídia Jorge. Natal: EDUFRN, 2015.
JORGE, Lídia. A noite das mulheres cantoras. São Paulo: Leya, 2012.
KRISTEVA, Julia. Histórias de amor. Trad. de L. T. da Motta. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1988.
PLATÃO: O Banquete: o simpósio ou do amor. 3. ed., Trad., Introdução e notas de Pinharanda
Gomes. Lisboa Guimarães Editores, 2003.
REAL, Miguel. Geração de 90: romance e sociedade no Portugal contemporâneo. Porto:
Campos das Letras, 2001.
ROUGEMONT, Denis de. O amor e o ocidente. Trad. De Paulo Brandi e Ethel Brandi
Cachapuz. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1101
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE LONGITUDINAL DA DURAÇÃO DAS VOGAIS


ANTERIORES ALTAS DE APRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS
LÍNGUA ADICIONAL

Antônia Rayane Felix Barra1; Clerton Luiz Felix Barboza2

Palavras-chave: Fonologia de Uso. Modelo de Exemplares. Duração vocálica.

INTRODUÇÃO

A língua inglesa possui em seu sistema sonoro 12 sons vocálicos (CRISTÓFARO


SILVA, 2012). Dentre eles estão os segmentos iː, como na palavra peak, e ɪ, como em pick,
sons estes que não estão presentes na fonologia do Português Brasileiro (PB). Entre os aspectos
que distinguem as vogais supracitadas está a duração, que nos segmentos analisados pode ser
representado da seguinte forma: iː > ɪ, ou seja, o primeiro som tem maior duração que o
segundo.
Dessa forma, objetivamos analisar as médias duracionais do i do PB e iː e ɪ do ILA, a
fim de investigar se aprendizes de Inglês Língua Adicional (ILA) conseguem distinguir o
detalhe fonético das vogais estudadas. Temos a seguinte pergunta-problema: de que maneira
emerge a duração das vogais anteriores altas do PB e do ILA por aprendizes brasileiros? Nesse
caso, hipotetizamos que a duração das vogais anteriores altas do PB e do ILA não apresentará
diferenças significativas quanto ao vozeamento da vogal seguinte, mas será influenciada pela
experiência de uso dos informantes, o que significa dizer que quanto mais avançado o semestre
investigado mais facilmente os informantes irão acessar os exemplares do ILA.
Para tanto, consideramos a Fonologia de Uso (BYBEE, 2001) e o Modelo de
Exemplares (PIERREHUMBERT, 2001) na análise da influência que o detalhe fonético do PB
exerce no armazenamento e produção do ILA, resultando na duração das vogais iː e ɪ do ILA
sendo produzidas com médias semelhantes à vogal i do PB. Na próxima seção destacam-se os
procedimentos metodológicos executados na pesquisa.

METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa longitudinal, quase-experimental e


quantitativa em que foi analisado o detalhe fonético duração por aprendizes de ILA.
Os dados foram obtidos através das gravações semestrais realizadas no projeto de
pesquisa Estudo Longitudinal do Desenvolvimento do Sistema Sonoro do Inglês por Aprendizes
Brasileiros: uma Perspectiva Dinâmica desenvolvido na Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN), campus central. A referida pesquisa envolveu alunos da graduação
em Letras - Língua Inglesa de diversos períodos.
Neste estudo, observamos o comportamento de duração da vogal i do PB e das vogais
iː e ɪ do ILA no momento em que os informantes cursavam o primeiro e quarto períodos. As
palavras selecionadas foram divididas entre aquelas que possuem contexto fonotático
desvozeado e contexto vozeado, visto que vogais apresentam maior duração quando seguidas

1
Estudante do Curso de Letras com Habilitação em Língua Inglesa e suas Respectivas Literaturas do Departamento
de Letras e Artes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: rayanebarra@outlook.com
2
Professor Doutor do Departamento de Letras com Habilitação em Língua Inglesa e suas Respectivas Literaturas
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; Líder do Grupo de Pesquisa em Fonética e Fonologia –
GPeFF; e-mail: clertonluiz@gmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1102
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

de segmentos vozeados (CRISTÓFARO SILVA, 2018). Assim, para a vogal i consideramos a


análise das palavras dica e tigre, enquanto na vogal i: analisamos as palavras beak e bead e
para ɪ foram analisadas pig e kick. Os testes cujas palavras foram retiradas consistiam na leitura
de frases em ambas as línguas.
O corte desta análise constituiu-se de três estudantes, composto por homens e
mulheres, que apresentassem dados referentes ao seu primeiro e quarto período no banco de
dados do projeto. Considerou-se a análise do quarto semestre visto que no terceiro semestre é
ofertada a disciplina Fonética e Fonologia I, momento no qual são abordados os aspectos
fonológicos da língua inglesa. Portanto, os alunos selecionados tiveram instrução explícita da
gramática fonológica do inglês e, por conseguinte, noções básicas da interfonologia PB-ILA.
As variáveis independentes controladas foram experiência de uso e vozeamento da
consoante seguinte. Com a variável experiência de uso pretendemos observar o comportamento
da aquisição das vogais dos informantes ao
Figura 1: Duração das vogais do PB e do ILA por
longo dos semestres. Esperamos com essa palavras com contexto desvozeado no primeiro semestre.
variável obter maior distinção do detalhe
fonético das vogais no quarto semestre, visto
que os alunos foram mais expostos à língua
inglesa. Por meio da variável vozeamento da
consoante seguinte buscamos averiguar se o
detalhe sonoro do segmento seguinte
influencia a aquisição das vogais.
Os testes estatísticos realizados
consistiram de uma ANOVA, onde os
resultados obtidos foram expostos no
diagrama de caixa ou boxplot, que, por sua
vez, permite visualizar a variação dos dados
numéricos de uma pesquisa. Discutimos a
seguir os resultados obtidos. Fonte: elaboração nossa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Iniciamos esta seção discutindo os resultados da análise das vogais do PB e do ILA


seguidos de contexto desvozeado. A Figura 1 apresenta um gráfico boxplot contendo as médias
duracionais das vogais presentes nas palavras dica, beak e kick coletadas no primeiro semestre.
Conforme o esperado, beak detém maior duração vocálica ao passo que kick apresenta
a menor duração. Observou-se que embora dica
Figura 2: Duração das vogais do PB e do ILA por apresente duração vocálica intermediária não
palavras com contexto desvozeado no quarto semestre.
houve diferença significativa desta em relação à
palavra beak. No entanto, as variações de
duração das vogais presentes em dica e beak
foram significativas se comparadas à palavra
kick. Assim, houve uma identificação no detalhe
fonético da vogal i do PB e iː do ILA, quando a
vogal iː do ILA deveria obter médias mais altas.
No quarto semestre, também foi
constatada diferença significativa na duração das
vogais do PB e ILA, conforme ilustra a Figura 2.
Todavia, o comportamento das médias de
duração em dica e beak no quarto semestre
Fonte: elaboração nossa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1103
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

divergem dos resultados obtidos no primeiro semestre.


Conforme ilustrado na Figura 2, a palavra com maior duração da vogal foi dica, seguida
por beak e kick. Assim, no quarto semestre houve uma tendência para a vogal i do PB ser mais
longa do que iː do ILA, não havendo diferença significativa entre elas. Assim, é possível inferir
que houve uma reorganização do sistema fonológico de modo inesperado, mas que ainda foi
possível fazer distinção significativa entre o detalhe fonético das vogais i: e ɪ do ILA.
Figura 3: Duração das vogais do PB e do ILA por palavras
Passa-se então à discussão dos dados
com contexto vozeado no primeiro semestre. referentes à variável vozeamento da consoante
seguinte. A Figura 3 apresenta um gráfico
boxplot contendo as palavras tigre, bead e pig
referentes ao primeiro semestre dos informantes.
Estas palavras representam, respectivamente, as
vogais i do PB, iː e ɪ do ILA.
Na Figura 3 é constatada alta
sobreposição da duração das vogais. O resultado
do teste estatístico aponta que houve diferença
não significativa das vogais do PB e do ILA
quando seguidos de contexto vozeado.
Assim, observa-se comportamentos
distintos de aquisição das vogais nos primeiros
semestres com contextos distintos. Desta forma,
Fonte: elaboração nossa. se por um lado os informantes conseguem
distinguir as durações entre cada vogal e produzi-
las de forma que a mais longa seja a vogal iː e a mais curta o ɪ do inglês, no caso de vogais
seguidas por consoantes desvozeadas apresentadas na Figura 1, por outro lado, os informantes
não conseguem alcançar a duração apropriada entre as vogais para que possa ser constatada
diferenças significativas quando as vogais são seguidas por consoantes vozeadas. Assim, em
contextos desvozeados os aprendizes não apresentaram dificuldade para distinguir a duração
das vogais, o que não é o caso dos contextos vozeados, em que os aprendizes apresentam maior
dificuldade na produção do referido detalhe fonético. Vejamos de que maneira se comporta as
durações das vogais após instrução explícita da fonologia da língua inglesa.
A Figura 4 apresenta os dados relativos à duração das vogais no quarto semestre.
Percebe-se que as médias vocálicas do PB e do ILA estão sobrepostas, como ocorreu no
primeiro semestre. Logo, também não houve
Figura 4: Duração das vogais do PB e do ILA por palavras
diferença significativa entre as vogais. com contexto vozeado no quarto semestre.
Com base nos resultados aqui
discutidos, isso nos leva a inferir que o
contexto fonotático de vogal seguido de
consoante desvozeada é mais favorável para
a aquisição da duração dos segmentos
vocálicos do ILA do que o contexto de vogal
seguido de consoante vozeada. Na próxima
seção apresentamos as conclusões desta
pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo


analisar o detalhe fonético duração da vogal
i do PB e iː e ɪ do ILA. Dessa forma, tivemos Fonte: elaboração nossa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1104
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

a seguinte pergunta-problema: de que maneira emerge a duração das vogais anteriores altas do
PB e do ILA por aprendizes brasileiros? A partir disso, tivemos como hipóteses que a duração
das vogais analisadas do PB e do ILA não seriam influenciadas pelo vozeamento de consoantes
seguintes e que haveria influência da experiência de uso dos informantes.
Assim, a observação dos dados com contextos fonotáticos diferentes indicou que o
contexto desvozeado é mais propício para a realização do detalhe fonético do ILA, uma vez que
observamos dificuldade de realização de modo esperado nos contextos de vogal seguida de
consoantes vozeadas. Ademais, a análise longitudinal permitiu a observação do comportamento
inesperado da aquisição das vogais, em que no quarto semestre os informantes não conseguiram
atingir a duração alvo das vogais, embora logo no primeiro semestre com contexto desvozeado
houvessem realizado tal feito. O resultado indica, dessa forma, um comportamento complexo
de aquisição da fonologia do ILA por aprendizes brasileiros no caso de contextos desvozeados.
Assim, nossas hipóteses não foram confirmadas. Em suma, a variável vozeamento do
contexto seguinte mostrou-se relevante para a duração das vogais e, por sua vez, a variável
experiência de uso mostrou que no quarto semestre os alunos não apresentaram resultados
significativos para a distinção do detalhe fonético de cada vogal, especialmente em contextos
vozeados.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pelo suporte financeiro; aos colegas do Grupo de Pesquisa em Fonética e


Fonologia (GPeFF), em especial à Miriam Gurgel e Cesar Souza pela ajuda com as análises
estatísticas; aos informantes da pesquisa, pela paciência e tempo disponibilizado para as
gravações.

REFERÊNCIAS

BYBEE, Joan. Phonology and language use. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.
CRISTÓFARO SILVA, Thaïs. Pronúncia do Inglês: para falantes do português brasileiro. 2ª.
ed. São Paulo: Editora Contexto, 2012.
PIERREHUMBERT, Janet B. Exemplar dynamics: word frequency, Lenition and contrast. In:
BYBEE, Joan; HOPPER, Paul (Comp.). Frequency and the emergence of linguistic
structure. Amsterdam: John Benjamins. p. 137-158, 2001.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1105
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANÁLISE MULTIMODAL DO DISCURSO DO TEXTO


JORNALÍSTICO

Raíssa de Souza Santos; Ivandilson Costa1

Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso. Redes Sociais. Multiletramentos.

INTRODUÇÃO

Com um enfático questionamento de como se caracteriza, do ponto de vista discursivo


e multimodal, um gênero jornalístico do meio digital e como sua análise pode vir construir um
processo de letramento crítico midiático, desenvolvemos esta pesquisa, que tem como
objetivo principal analisar, com o auxílio dos métodos e teorias apresentadas pela Análise
Crítica do Discurso (ACD), versões digitais de segmentos de mídia, com ênfase nos aspectos
sociais, discursivos e multimodais, a fim de subsidiar e desenvolver o trabalho de leitura
crítica e produção textual em sala de aula (FAIRCLOUGH, 1995; 2001; 2003; WODAK,
2004; RAMALHO; RESENDE, 2011). Assim, caracteriza-se esta como uma análise
multimodal do discurso do gênero postagem de Rede Social (RS) para construção de
letramento midiático.
Por meio desta investigação, buscamos analisar como se constitui estruturalmente e
discursivamente textos jornalísticos publicados em RS, desenvolvendo análises de elementos
de design visual em versões digitais (posts) de páginas de perfis jornalísticos, expondo como
se caracteriza a configuração e funcionamento de aspectos do design visual nos exemplares do
gênero em análise e, por fim, produzimos reflexões visando às práticas de letramento crítico
voltadas para a mídia.
Isto colocando como questões prioritárias o olhar expandido e suas interpretações
diante dos textos lidos, que muitas vezes não estão somente escritos com recursos verbais nos
livros, mas sobretudo são apresentados com um suporte de legendas, imagens, mapas, cores,
diagramas, layouts, enquadramentos, para o que, se os alunos não estiverem preparados para
realizarem uma leitura aprofundada, proficiente e crítica, os textos não serão compreendidos
em sua plenitude e potencialidade.
Com o discorrer de todas essas contemplações, a presente proposta visa a um estudo
de como se estabelece e se caracteriza essa fração midiática no meio social e como seu estudo
pode oferecer contribuições importantes ao processo de ensino-aprendizagem de língua,
contribuindo a fundo com a formação educacional e pessoal do sujeito social-aluno.

METODOLOGIA

Como paradigma de pesquisa, a presente proposta se ancora na abordagem qualitativa


e interpretativista de base crítica e documental (BAUER; GASKELL, 2008). Este
procedimento se faz necessário por compreendermos ser a pesquisa de natureza qualitativa,
aquela que lida com “descrições e interpretações da realidade social a partir de dados
interpretativos” (RESENDE, 2009, p. 57).

1
Graduada do curso de Licenciatura Plena em Letras, Campus Avançado de Assu, Departamento de Letras
Vernáculas, e-mail: raissa_raienny@hotmail.com; Professor Doutor, Departamento de Letras Estrangeiras,
Campus Avançado de Assu, e-mail: ivan.dilson.ic@gmail.com .

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1106
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na dimensão da coleta e geração de dados, tomamos os recursos de registros visuais e


coleta de documentos. No que diz respeito ao tratamento analítico dos dados, servirão de
ancoragem os pressupostos metodológicos da análise de discurso, mais especialmente de duas
fontes, a Análise Crítica do Discurso e a Gramática do Design Visual.
Tomaremos para constituição do corpus, exemplares de textos jornalísticos veiculado
no Instagram, uma RS online de compartilhamento de fotos e vídeos entre seus usuários. Com
o decorrer do seu crescimento e visibilidade, além de usuários físicos, o jornalismo entrou em
ênfase na rede, foram surgindo páginas de variados perfis e inúmeros seguidores em busca de
informações de diversos temas. O Instagram hoje é um dos meios de maior alcance de
notícias e possui extrema velocidade. Os seguidores se dividem nas páginas de acordo com
suas escolhas ideológicas, políticas e culturais.
Assim, nossa pesquisa tem, em seu corpus, como objeto, o gênero post (postagem) das
páginas Folha de São Paulo, que representa a assim chamada mídia hegemônica
(representativa dos grandes conglomerados de mídia, no dizer de Thompson (1998)), e Mídia
Ninja, que representa um jornalismo mais independente, inserida em um campo caracterizado
como o do midiativismo (BRAIGHI; LESSA; CÂMARA, 2018), sendo esse conceito
utilizado para referenciar movimentos sociais da mídia independente que utiliza a internet
para contrapor a narrativa dos veículos ligados aos grandes conglomerados de mídia.
Ambas foram selecionadas sem o propósito de comparações, e sim para analisar e
desenvolver uma leitura midiática em objetos que transmitem materiais similares, mas com
natureza e versões diferentes.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram selecionadas duas postagens, uma de cada página, ambas postadas no dia 24 de
setembro de 2019 e selecionadas por ter um caráter significativo, tomados como
representativos em função de caracteres como evento de destaque retratado, elaboração da
peça midiática em função do aparato multimodal, para fins de efeitos de relevância e impacto.
Assim, sob essa perspectiva, para a composição do universo da pesquisa, consideram-
se postagens compartilhadas no dia 24 de setembro de 2019, em que o atual presidente da
república brasileira, o senhor Jair Messias Bolsonaro, participou do evento da ONU–
Organização das Nações Unidas, e discursou sobre todo contexto histórico que o Brasil vivia
na época, incluindo em sua fala alguns comentários, que viralizaram na mídia de forma geral,
especialmente, no Brasil.

Figura 1: Postagem de jornal diário em RS Figura 2: Postagem de mídia alternativa

Fonte: Folha de S. Paulo, 24 set. 2019 Fonte: Mídia Ninja, 24 set. 2019

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1107
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Sendo assim, as páginas Folha de São Paulo e Mídia Ninja, utilizaram de recursos
midiáticos para compartilhar em suas vitrines sociais, postagens com ricos aspectos
multimodais para retratar trechos da fala do presidente. Em virtude destas características,
selecionamos as determinadas postagens para compor nosso trabalho.
Dessa forma, o corpus contempla o que se constitui como discurso midiático, trazendo
uma grande significação para construção de relação de poder, ideologia e hegemonia. Com
um alto grau de discurso e semiose, expondo a relação de imagem, texto, cores, fazendo
junção à expressão visual e escolhas de imagens que impactam o seguidor.

CONCLUSÃO

Diante de tudo o que expusemos no trabalho, é preciso, portanto, pôr em xeque a


natureza informacional do produto midiático, realçando seu caráter persuasivo para, a partir
dessa ação, abordar o gênero levando em conta aspectos relevantes como o balanço entre o
conteúdo simbólico, promocional, multimodal, imagético, as escolhas lexicais, a apresentação
das informações distribuídas no cenário visual e sua implicação em relação aos interesses
sócio-políticos e ideológicos em jogo. Estudos sobre o modo como se caracteriza estrutural e
funcionalmente a mídia se apresentam, dessa forma, como essenciais.
Portanto, concluímos um breve estudo para atender às indagações de como se
caracteriza no ponto de vista discursivo e multimodal, mais precisamente o gênero jornalístico
que circula em RS no meio digital. Analisamos, com o auxílio dos métodos e teorias
apresentadas pela ACD, com ênfase nos aspectos sociais, discursivos e principalmente
multimodal, evidenciando a configuração e funcionamento de aspectos do design visual nos
exemplares em análise, produzindo reflexões, visando às práticas de letramento crítico
voltadas para a mídia digital, e de como se constitui estruturalmente e discursivamente as
publicações, com o principal interesse em subsidiar e desenvolver o trabalho de leitura crítica
e produção textual em sala de aula, com isso, o papel do professor de língua é fundamental
para um trabalho da natureza tal como a relatada aqui.
Assim, reforçamos o presente trabalho tem a intenção de despertar e desenvolver esses
pontos, e o profissional da educação ressaltar e utilizar sua importância diante da construção
de cidadãos, tornando-os preparados para o enfrentamento de produções midiáticas e
sobretudo, discursivas. Para que haja esse engajamento, precisa-se entender que cabe ao
processo de letramento midiático esclarecer e desvendar as estratégias da mídia, a fim de que
o aluno-leitor-cidadão desenvolva habilidades de leituras críticas acerca do contexto
complexo da sociedade em que vive e interage.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; ao Programa


Institucional de Iniciação Científica, a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a
realização das pesquisas cientificas desenvolvidas neste trabalho.

REFERÊNCIAS

BAUER, M.; AARTS, B. A construção do corpus: um princípio para a coleta de dados


qualitativos. In: BAUER, M.; GASKELL, G. (Org.) Pesquisa qualitativa com texto,
imagem e som: um manual prático. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.
BRAIGHI, A.; LESSA, C.; CÂMARA, M. (Org.). Interfaces do midiativismo: teoria e
prática. Belo Horizonte: CEFET/MG, 2018.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1108
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FAIRCLOUGH, N. Analysing discourse: Textual analysis for social research. London/New


York: Routledge, 2003.
FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Editora da UnB, 2001[1992].
FAIRCLOUGH, N. Media discourse. Londres: Arnold, 1995.
RAMALHO, Viviane; RESENDE, Viviane. Análise de discurso (para a) crítica: o texto
como material de pesquisa. São Paulo: Pontes, 2011.
RESENDE, Viviane. Análise de Discurso Crítica e Realismo Crítico. São Paulo: Pontes,
2009.
THOMPSON, John. A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. Petrópolis:
Vozes, 1998.
WODAK, Ruth. Do que trata a ACD: um resumo de sua história, conceitos importantes e seus
desenvolvimentos. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 4, n. esp., p. 233-243, 2004
[2001].

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1109
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ARTICULAÇÃO ENTRE AS TEORIAS DA ARGUMENTAÇÃO


E AS CIÊNCIAS DO LÉXICO ESPECIALIZADO
Tafnes Lais da Silva Gomes 1; Edmar Peixoto de Lima 2
Palavras-chave: Terminologia. Repertório Terminológico. Argumentação.

Introdução

No âmbito das investigações sobre as comunicações especializadas destaca-se a


Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), proposta Cabré (1992). Essa vertente
teórica configura-se em uma área do conhecimento de grande relevância para as pesquisas
em Terminologia, sobretudo, por apresentar críticas às bases conceituais defendidas pela
Teoria Geral da Terminologia, desmistificando a noção de univocidade dos termos e,
também, pelo fato de considerar os aspectos variacionistas, como um fator importante
para se pensar a organização e a sistematização de uma área especializada. Nesse sentido,
Acrescentamos, ainda, que tanto a Terminografia quanto a Terminologia, no processo de
sistematização do repertório vocabular de uma área de estudos, possuem um caráter
multidisciplinar, pois para os estudos das unidades lexicais especializadas é necessário
acionar, além do conhecimento das áreas em Terminologia, a presença de um linguista
e/ou de um tradutor, a depender do projeto, e do conhecimento dos profissionais da
informática. Esse conjunto de profissionais de áreas de atuação diferentes é indispensável
na construção de um dicionário terminológico, por exemplo, pois cada um deles exerce
uma função no planejamento terminográfico resultante das investigações sobre a área
especializada.
Diante dessa contextualização, a presente investigação objetivou: i) pesquisar,
analisar e construir o corpus da argumentação (CORPARG); ii) investigar a Terminologia
que circula em teses, dissertações, artigos e livros acerca das teorias da argumentação; iii)
identificar e analisar as ocorrências das Unidades Terminológicas (UT) pertencentes às
teorias da argumentação, principiando a sistematização do banco de dados do repertório
Terminológico da área, utilizando como critério a lista alfabética e delimitando para esta
etapa da investigação apenas o repertório terminológico com a letra “A”.

1
Aluna da graduação em Letras Língua Portuguesa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN). E-mail: tafneslais2013@gmail.com.
2
Professora do departamento de Letras Vernáculas (DLV) e do Programa de Pós -graduação em Letras
(PPGL), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); líder do grupo de pesquisa em
Linguística e Literatura (GPELL). E-mail: edmarpeixoto@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1110
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Por fim, concluímos esta etapa da pesquisa com a convicção de que muitas
investigações ainda serão necessárias para a sistematização do repertório terminológic o
das teorias da argumentação e, consequentemente, para a construção da identidade desse
campo do conhecimento, considerando o caráter heterogêneo da área.

Metodologia

A presente pesquisa tem caráter qualitativo, pois envolve a análise subjetiva de


fenômenos sociais da escrita acadêmica, embora não tenha sido esse o objetivo primeiro.
É também uma investigação de orientação linguístico-terminológica, pois se configura
em um estudo no âmbito da Linguística Aplicada e que elege como objeto de estudos o
repertório terminológico pertencente à área da argumentação, considerando os textos
acadêmicos como foco de observação.
Para a organização do corpus, recorremos à Linguística de Corpus que nos ajudou
metodologicamente a estabelecer os princípios para a escolha dos termos a serem
analisados por meio da ferramenta computacional WordSmith Tool 6.0. O corpus da
argumentação (CORPARG) é formado por teses, dissertações, artigos e livros sobre o
tema. Para a seleção das teses e dissertações fizemos um levantamento dos grupos de
pesquisas voltados aos estudos da argumentação, cadastrados no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Continuamos a busca nos sites dos
grupos e/ ou dos programas de pós-graduação das universidades do país, como também
no site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com
a intenção de investigar livros, teses, dissertações e artigos publicados pelos membros
que possibilitassem a construção do corpus. Optamos por esses espaços de busca visando
maior credibilidade e confiabilidade, dado o rigor na observação dos critérios, no sentido
de aceitação dos textos para publicação, no caso dos artigos científicos; e, com relação às
dissertações e as teses, pelo fato de esses textos passarem pela aprovação de uma banca
formada por doutores na área do conhecimento. Quanto aos livros, o critério consistiu no
fato de eles serem indicados pelos pesquisadores da área e, consequentemente, fazerem
parte das referências a serem estudas nos cursos que tratam do tema. Assim, após a
seleção do corpus, passamos à digitalização dos textos impressos para o formato em PDF
e a conversão dos textos em PDF para o formato WORD e, finalizando a organização do
CORPARG, convertemos todos os textos no formato TXT para serem manipulados pelo
programa WordSmith Tools 6.0.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1111
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Realizada essa etapa, dedicamo-nos às análises das terminologias e, para isso,


estabelecemos os parâmetros e os critérios de organização da área. Para realizar essa
tarefa, segundo Krieger e Finatto (2004, p. 134), primeiro é necessária a construção de
“uma árvore de domínio” que funciona como “um diagrama hierárquico composto por
termos-chave de uma especialidade, semelhante a um organograma”. No caso das teorias
da argumentação, optamos por organizar uma representação conceitual da área da
argumentação e não a árvore de domínio conforme descrita pelas autoras, por acreditamos
que a representação conceitual promoveria “desenho” da área, considerando o seu caráter
de heterogeneidade. Assim sendo, delimitamos as duas subáreas mais conhecidas no
Brasil: a argumentação de base retórica e a de base linguística. Estabelecemos, então,
como critérios para determinar as UT pertencentes às teorias da Argumentação:
a) pertinência temática; b) pertinência pragmática; c) categoria linguística dos
substantivos ou sintagmas nominais e d) confiabilidade.

Resultados e Discussões

Entendemos que a maioria dos trabalhos de pesquisa (principalmente as teses e as


dissertações) relaciona o tema da argumentação à outra área do conhecimento, por essa
razão, fez-se necessária a delimitação da parte do trabalho em que o autor apresenta
apenas a fundamentação teórica nas teses e dissertações e, para os artigos e livros,
optamos por utilizar todo o texto. Para finalizar a construção do corpus, contabilizamos :
20 teses de doutorado, 20 dissertações de mestrado, 20 artigos científicos publicados em
periódicos e 06 livros, totalizando 66 textos com mais de 15 milhões de palavras. Como
resultados, iniciamos a sistematização do repertório vocabular das teorias da
argumentação com duas listas: uma da argumentação de base retórica e outra da
argumentação de base linguística. Para isso, inicialmente, priorizamos os termos
iniciados com a letra “A”, conforme quadros 01 e 02 a seguir.

Tabela 01 - Teoria da Argumentação de Base Retórica


01 Acordo prévio 12 Argumento
02 Auditório 13 Argumento ad hominem
03 Auditório particular 14 Argumentos baseados na estrutura do real
04 Auditório universal 15 Argumento de autoridade
05 Autoimagem 16 Argumento do desperdício
06 Analogia 17 Argumento pelo ridículo
07 Argumentação convincente 18 Argumento pelo exemplo
08 Argumentação discursiva 19 Argumento pelo modelo
09 Argumentação no Discurso 20 Argumento pela analogia
10 Argumentação persuasiva 21 Argumento pragmático
11 Argumentação Retórica 22 Argumento quase lógicos

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1112
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Fonte: as autoras

Tabela 02 - Teoria da Argumentação de Base Linguística


1. ADL 7. Argumentação interna
2. ADNL 8. Argumentação Linguística
3. Alocutário 9. Argumentação na língua
4. Alocutório 10. Argumento
5. ANL 11. Articuladores
6. Argumentação externa 12. Aspecto factual
13. Ato de argumentar
Fonte: as autoras

Conclusão

A principal contribuição da presente pesquisa é a proposta de sistematização dos


termos pertencentes à área da argumentação, instituindo assim os critérios para a seleção
das unidades terminológicas que, posteriormente, farão parte do Glossário Terminológico
das Teorias da Argumentação. Acreditamos que para a área da argumentação, essa pesquisa
e, consequentemente, esses resultados consistem em uma grande contribuição visto que,
ainda não fora realizado tal projeto no âmbito terminológico e argumentativo; e, para os
estudos da Terminologia, esta pesquisa figura como relevante pelo fato de ainda não se ter
dicionários terminológicos com o enfoque investigativo sobre área de estudos como a
proposição apresentada neste trabalho.

Agradecimentos
À Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), pela oportunidade
enriquecedora do programa de iniciação científica (PIBIC) que tornou possível a
concretização desta pesquisa.

Referências

KRIEGER, Maria da Graça; FINATTO, Maria José Bocorny. Introdução à


Terminologia: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2004.
LIMA, Edmar Peixoto de; Abordagem Terminológica Nas Veredas Teóricas Da
Argumentação: Uma Investigação Sob A Perspectiva Da Variação Denominativa.
Tese (Doutorado em Linguística aplicada) - Centro De Humanidades, Programa De Pós-
Graduação Em Linguística Aplicada – Posla, Universidade Estadual Do Ceará. Ceará,
2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1113
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As anáforas na tessitura de sentidos do anúncio publicitário


Paula Heloisa Soares Peregrino1; Profª. Dra. Jammara Oliveira Vasconcelos de Sá2;
Palavras-chave: Discurso publicitário. Processo referencial anafórico. Modo descritivo.

Introdução
É consenso entre os estudiosos da área que os anúncios publicitários têm como
objetivo persuadir um determinado público a obter determinados produtos e serviços.
Diante disso, é importante frisar o alcance que esse gênero teve na sociedade após as
revoluções industriais, e a partir do surgimento do mundo pós-moderno. Passando a
influenciar diretamente na forma de consumo das massas. Com isso, a realidade
consumista foi sendo continuamente modificada, surgindo assim à necessidade de criar
uma forma atrelada aos principais suportes de cada época, que pudesse alcançar um maior
contingente de pessoas, e assim obter lucro através da oferta de bens, produtos e serviços.
Nesse estudo, analisamos anúncios publicitários coletados em sites da internet, e
embasamos nossas análises nos pressupostos teóricos ancorados na semiolinguística,
através do modo de organização descritivo, desenvolvido por Charaudeau (2016), e nos
processos referenciais anafóricos para a construção de sentidos no texto, a partir de
Cavalvante (2011).
Dessa forma, o objetivo desse resumo é divulgar os resultados da pesquisa
proveniente do projeto PIBIC 2019-2020, sob a orientação da Profª. Dra. Jammara
Oliveira Vasconcelos de Sá. Nele, buscamos analisar a relação entre o processo anafórico
e o modo de organização descritivo na constituição do gênero anúncio publicitário em
sites de compras e serviços disponíveis na internet.

Metodologia
Nessa pesquisa, o método selecionado para realizarmos as análises foi de natureza
qualitativa sob o viés teórico de Flick (2009). Tal escolha foi feita, pelo fato de esse tipo
de pesquisa nos permitir um diálogo entre teorias, proporcionando uma visão social e
dialética sobre os pressupostos aqui analisados. Para as análises que tiveram como lócus
o gênero anúncio publicitário, amparamo-nos teoricamente à luz de Charaudeau (2016)
sobre o modo de organização descritivo e em Cavalcante (2011) acerca dos processos
referenciais anafóricos.
No modo de organização descritivo, Charaudeau (2016) busca elucidar como se
dá a estrutura discursiva, explicando o seu processo e o seu resultado. O autor defende
que é através da noção de descrição dos termos que é possível atribuirmos ao objeto do
discurso qualidades que o singularizam. Para isso, esses objetos são baseados na visão
de mundo encontrada na mente do sujeito, ou seja, são adaptados segundo a realidade
cultural de cada um. Ademais, é importante frisar que o processo de descrição envolve
três ações. São elas: o ato de nomear, que significa dar vida a um ser, localizar-situar,

1
Estudante do curso de Letras habilitação em Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN), voluntária do PIBIC/UERN. E-mail: heloisaperegrino939@gmail.com .
2
Professora e pesquisadora do curso de Letras Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Membro dos grupos de Pesquisa GPELL/ UERN e
GETEME/UFC. Coordenadora do Projeto de Iniciação Científica PIBIC/UERN com ID 2155.E-mail:
jammaravasconcelos@gmail.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1114
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

designando o lugar que ele ocupa no espaço, e qualificar atribuindo características aos
seres como forma de singularizar cada um.
No tocante aos processos referenciais anafóricos, Cavalcante (2011) destaca que,
na prática, o emprego da referenciação ocorre de maneira bem dinâmica, pois se dá
através dos discursos elaborados pelos sujeitos e suas respectivas bagagens culturais.
Cavalcante (2011) define as anáforas como expressões que estabelecem qualquer situação
de continuidade referencial. Elas são divididas em anáforas correferenciais ou diretas que
retomam um referente já introduzido no texto ou discurso, anáforas indiretas que não
resgatam o mesmo referente, mas introduzem um novo que, na verdade, se relaciona a
pistas que podem ser encontradas no cotexto, e as anáforas encapsuladoras que têm, em
linhas gerais, a função de resumir porções de textos, não alterando, porém, o seu sentido.

Análise dos Resultados e Discussão:


Durante esta pesquisa foram coletados 40 anúncios sobre diversos temas. A
amostra coletada para todo o projeto ocorreu no período de outubro/2019 a abril/2020.
No entanto, pela necessidade de substituição de uma voluntária concluinte, extendemos
a coleta durante os meses de abril e maio de 2020. Na busca por exemplificar as questões
propostas anteriormente, selecionamos, dentre o corpus, dois anúncios analisados em
seguida.

Figura 1

Fonte: https://www.instagram.com/p/B_gT8BlhXJR/. Acesso em: 20 de maio de 2020.

O anúncio publicitário da empresa “McDonalds”, na figura 1, possui as cores


predominantes da marca em todos os objetos encontradas na imagem. Nesse aspecto, a
tonalidade amarela e vermelha são usadas como um artifício imagético para chamar a
atenção do público para o consumo dos produtos que a marca vende.
Em relação à linguagem verbal do anúncio, o título centralizado no meio da
publicidade colorido entre letras amarelas e vermelhas, ganha destaque pelas palavras
homófonas utilizadas pelo anunciante para a realização de uma ação por parte do
consumidor. A palavra inglesa “DATE” que se encontra riscada e que significa
“encontro” em português, assemelha-se, foneticamente, com o termo “DEITE”, verbo
que expressa a ação de deitar na língua portuguesa.
Essa escolha lexical do anunciante para compor o que diz respeito à coesão textual
do discurso, foi feita para adicionar ao anúncio um aspecto humorístico, já que ao ligar
as duas palavras ao restante da frase, o leitor utiliza a sua capacidade intelectual de
relacionar o produto oferecido pela marca, ao fato de ficar em casa deitado no sofá. Isso
pode ser explicado por Charaudeau (2016) quando um ser é localizado-situado no mundo

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1115
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

através do recorte objetivo que o sujeito possui sobre ele, no caso do anúncio da
“McDonalds”, o possível consumidor projeta a imagem da mídia na sua realidade.
Além disso, ainda nesse sentido podemos citar o processo referencial anafórico
explicado por Cavalcante (2011) para classificar o termo “DEITE”. Esse verbo é uma
anáfora indireta que além de se relacionar com o termo “DATE”, também liga-se,
imageticamente, a figura do sofá, já que entre outras funções o público utiliza o móvel
para se deitar. Passemos ao segundo anúncio analisado.

Figura 2

Fonte: https://www.picuki.com/media/2240749380183764149. Acesso em: 30 de abril de 2020

O anúncio de batom da marca “quem disse, Berenice?”, apresentado na figura 2,


possui o fundo nas cores coral e rosa escuro, em associação à imagem de uma parte da
embalagem dos batons apresentadas ao lado esquerdo do anúncio. Ainda em relação a
esse aspecto, pode-se dizer que a seleção dessas cores é intencional, já que o anúncio
objetiva persuadir a consumidora. Dessa forma, as cores são selecionadas para agradar a
todos os gostos, desde os mais conservadores, até os mais arrojados.
No tocante à linguagem verbal do anúncio, podemos identificar situado no meio
da publicidade o título “O batom do beijo”, escrito com letras intercaladas entre um traço
mais fino em “o batom”, e em negrito “do beijo”. Abaixo do título em letras menores, e
também em negrito temos o nome da marca: “quem disse, Berenice?”. Posteriormente,
pode-se ver a descrição do produto que cumpre, nesse caso, um papel argumentativo, pois
ao atribuir qualidades ao batom, o anunciante possui o objetivo de persuadir o consumidor
a comprar o item ofertado.
Nesse sentido, Charaudeau (2016) defende que, no modo de organização
descritivo, o anunciante atribuiu qualidades ao produto para chamar a atenção do leitor.
Esse processo ocorre para que o possível consumidor possa satisfazer um desejo que
possui sobre algo no mundo, criado tanto pelo seu lado racional ao enxergar os fatos,
quanto pelos sentimentos idealizados a partir de sua visão subjetiva.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1116
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Ademais, no topo do anúncio entre o designer de uma coroa de louros, usada, por
exemplo, em cerimônias de grande prestígio como o OSCAR3, o anunciante seleciona
três aspectos encontrados no batom que podem despertar o interesse do consumidor. Ao
iniciar todos os enunciados com o superlativo “melhor”, o anunciante deseja exprimir um
grau de qualidade superior em relação a outros batons, ao afirmar que o produto possui
“Melhor aplicação”, “Melhor fixação”, e “Melhor beijo”.
Nessa campanha, pode-se perceber que a palavra “Beijo” aparece mais de uma vez.
Através da adjetivação desse termo, vislumbramos que o anunciante tenciona alcançar o
público feminino, em sua grande maioria, com o objetivo de mostrar que o uso do batom
em questão, as ajudará a manter a cor e as deixará despreocupadas com o retoque dele.
Assim, pode-se dizer que esse fato contribui, para a construção de um cenário
romântico no anúncio, em relação a isso Charaudeau (2016) advoga que situar o leitor no
espaço e no tempo adiciona ainda mais veracidade na mente do sujeito. Auxiliando-o a
visualiza o objeto do discurso. No caso desse anúncio, observamos que ao fazer uso do
cosmético, o público destinatário do produto será bem sucedido no plano das suas
relações interpessoais.

Conclusão
Nos anúncios publicitários analisados, é possível observar a forte influência que
as teorias estudadas possuem no que tange aos processos de estruturação do gênero
analisado. Tanto Charaudeau (2016), quanto Cavalcante (2011) desenvolvem uma linha
que converge com a nossa proposta de pesquisa, pois ambos possuem em seus estudos
elementos que nos ajudaram a cumprir com o nosso objetivo de analisar os anúncios
publicitários através dos recursos linguísticos presentes no gênero. Sendo assim, pode-se
dizer que esta pesquisa conseguiu, entre outras metas, mostrar a importância que a
Linguística Textual possui para a compreensão de fenômenos linguísticos recorrentes nos
gêneros, como o analisado.

Agradecimentos:
Agradecemos à Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) por nos
conceder a oportunidade de desenvolver pesquisas como essa, que nos ajudam a evoluir
como estudantes e profissionais da área.

Referências
CAVALCANTE, M.M. Coerência, referência, e ensino. São Paulo: Cortez, 2014. 170
p.
CHARAUDEAU, P. Modo de organização descritivo. In: _______. Linguagem e
discurso: modos de organização. 2. Ed. Tradução: Angela M. S. Corrêa e Ida Lúcia
Machado. São Paulo: Contexto, 2016. 107 -150 p.
FLICK, U. Desenho da pesquisa qualitativa. Tradução: Roberto Cataldo Costa. Porto
Alegre: Artmed, 2009. 147 p.

3
Cerimônia anual realizada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que premia e homenageia
profissionais da indústria do cinema pelas suas respectivas contribuições no ramo.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1117
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ATO DE FALA E GVD: UMA ANÁLISE EM TEXTOS PUBLICITÁRIOS

Rafaela Dalila da Costa Pinto1; Pedro Adrião da Silva Júnior2;


Plavras-chave: Pragmática. Atos de fala. Publicidade.

Introdução
A Pragmática se ocupa em estudar os elementos extralinguísticos para analisar o que
está presente no enunciado, explicitamente ou subentendido.
Um dos primeiros estudiosos a usar o termo pragmática foi o filósofo americano Peirce
(1839), em seu artigo How to make our ideas clear. Nele, o autor escreve sobre a tríade
pragmática: as relações entre signo, objeto e interpretante. Através deste esquema, Pierce
estabelece uma relação entre o que se diz, a quem este dito remete e o que ele significa. Uma
das teorias precursora dos estudos da pragmática e que possui grande relevância neste campo
de estudo da linguagem é a teoria dos atos de fala, proposta por Austin (1962), que será objeto
de estudo desta pesquisa.
Nosso estudo se fundamenta, também, na Gramática do Designer Visual, que estuda,
dentre outros, textos publicitários como veículo de comunicação. Esse gênero textual está
presente no nosso dia a dia, em forma de representações visuais, que se organizam e se
estruturam nos textos multimodais.
Este trabalho apresenta uma análise de algumas propagandas em língua espanhola
veiculadas em blogs e no twitter. Por se tratar de um gênero amplamente divulgado em meios
diversos, esse trabalho se justifica por fazer uma leitura interpretativa do texto propagandístico
a fim de melhor compreender como os recursos verbais e não verbais contribuem para um todo
significativo. São nossos objetivos: averiguar como o ato de fala diretivo aparece nos anúncios
publicitários; analisar as publicidades a partir da gramática do design visual na categoria
composicional; compreender como a gramática do design visual e os atos de fala contribuem
para a compreensão do gênero textual anúncio publicitário.
Metodologia
Nesse trabalho, utilizamos a metodologia descritiva e qualitativa, visto que se trata de
uma análise que busca analisar e descrever o ato de fala diretivo presente em anúncios
publicitários.
Incialmente, realizou-se um amplo estudo bibliográfico de autores que fundamentam as
teorias para este estudo: Austin (1962) e Searle (1969) que versam sobre os atos de fala, bem
como Kress, G. e Van Leeuwen (2006) que conceituam a gramática do design visual (GDV).
Posteriormente, selecionamos o corpus a ser analisado na pesquisa. Foram selecionados
sete textos, depois, nos detivemos ao estudo de cinco anúncios que melhor atendiam a nossa
proposta. Nosso terceiro passo se constituiu em analisar como o ato de fala diretivo se apresenta
nesse texto, assim como analisar os anúncios à luz da categoria composicional da GDV.
Resultados e discussão
Dentro da linguística, a pragmática estuda a linguagem em seu contexto de
comunicação. Dentro desse campo de estudos se desenvolve a teoria dos atos de fala que Austin

1
Estudante do curso de Licenciatura em Letras com Habilitação em Língua Espanhola, do Departamento de
Letras Línguas Estrangeiras, DA Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail:
rafarla_dalila18@hotmail.com.
2
Professor do Departamento de Letras Línguas Estrangeiras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte;
e-mail: pedroadriao@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1118
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(1962) classificou inicialmente em: locucionário, ilocucionário e perlocucionário.


Posteriormente, Searle (1969) classificou os atos de fala ilocucionários em cinco: assertivos,
comissivos, expressivos, declarativos e diretivos.
O ato de fala diretivo (nosso objeto de pesquisa) é muito utilizado para exprimir ordem, pedido,
desejo ou conselho.
A gramática do design visual (GDV) baseada na linguística sistêmica funcional, e
desenvolvida por Kress e Van Leeuwen estuda (entre outros pontos) a imagem em textos
multimodais, ou seja, textos que utilizam a linguagem verbal e não verbal. Esses autores,
dividiram a GDV em 3 metafunções: representacional, interativo e composicional. De acordo
com Kress e Van Leeuwen (2006, p. 176) a categoria composicional é “a composição do todo,
a maneira na qual os elementos representacionais e interativos são construídos para
relacionarem-se entre si, a maneira que eles se integram dentro do um todo significativo”.
Nesses termos, tem-se que essa metafunção é integrada por outras duas que são a
representacional e a interativa para que a fim de construir a coesão do texto imagético.
A metafunção composicional se divide em: valor de informação (ideal/real, dado/ novo,
centro/margem); saliência (máxima e mínima); estruturação (forte e fraca).
Apresentaremos, a partir de agora, a análise do corpus selecionado para este trabalho.
Anúncio 1

Disponível em: http://bastardossingloriaa.blogspot.com/2010/09/correccion-trabajo-teorico-segun.html

Essa publicidade foi veiculada na Argentina, país onde o inverno coincide com o
período de férias. Nesse sentido, a propaganda da coca-cola faz um apelo para que as pessoas
consumam o refrigerante mesmo em um clima frio. A expressão “tomá lo” deixa evidente esse
apelo da marca. O uso do imperativo é muito recorrente em publicidades e nesse caso, assinala
o ato de fala diretivo, levando o leitor a consumir um produto que seria mais apropriado para
estações quentes. A garrafa da coca-cola apresentada no centro da imagem se constitui como o
núcleo da mesma. Para a GDV, os elementos que se apresentam no centro da imagem tem um
valor maior do que os elementos que ocupam as margens, assim, o destaque que é dado a garrafa
visa chamar a atenção do público, enquanto os elementos que estão nas margens são
subordinados a imagem nuclear.
Anúncio 2

Disponível em: https://www.ejemplos.co/textos-publicitarios/.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1119
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O anúncio da cerveja “Damm” apresenta um tom machista: nele, podemos ver um garoto
avisando para a mãe que o pai espera essa cerveja em casa. Ou seja, a mulher sempre
responsável por fazer as compras é advertida pelo filho para não esquecer de comprar a cerveja
preferida do pai. A fala do garoto emprega o imperativo negativo “no”, o que configura o uso
do ato de fala diretivo que na frase funciona como uma advertência para que a cerveja do pai
esteja na lista de compras da casa.
No que concerne à imagem do lado esquerdo do anúncio temos o “real”, que de acordo com a
GDV é algo com o qual o leitor já está familiarizado. Do lado direito está o “novo”, ou seja,
algo que não é de conhecimento do leitor ainda, mas que requer sua atenção.
Anúncio 3

Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/12/campanha-espanhola-cria-polemica-ao-relacionar-


camisinha-a-hostia.html.

Essa publicidade trata do uso de métodos contraceptivos para a prevenção de gravidez


e doenças. Nela, é feita uma clara comparação entre a hóstia e a camisinha. A igreja católica
proíbe seus fiéis de usarem métodos contraceptivos, portanto, observamos uma crítica ao
catolicismo. Nesse texto, o ato de fala diretivo fica evidenciado pelo uso do imperativo “toma”,
que sugere uma ordem. Essa “ordem” associada a imagem faz alusão ao momento em que o
padre levanta a hóstia na celebração da missa e fala “tomai todos e bebei...”. A partir do valor
de informação (subfunção da categoria composicional), é possível compreender que a
informação contida no topo da imagem é prioritária, enquanto que a informação que fica na
base não é, já que será lida em momento posterior a primeira.
Anúncio 4

Disponível em: https://twitter.com/FeministasRDRM/status/732645388230885376

O anúncio quatro foi retirado do twitter e chama atenção para um problema social: a
violência contra a mulher. Para evidenciar a luta feminina e deixar claro o apoio a todas que
passam por esse problema, a propaganda utiliza a expressão “respondamos” que designa uma
ordem ou aviso. Esse uso denota o ato de fala diretivo. Quanto a GDV, observamos a saliência
que em ambas partes estão no mesmo nível de evidência.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1120
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Anúncio 5

Disponível em: https://twitter.com/BLUPacifico/status/941261056843894784?lang=ca

A propaganda acima, veiculada no twitter, anuncia a venda de próteses de silicone. Para


tal, usa a imagem de uma jovem triste com limões no lugar dos seios para indicar o tamanho
“imperfeito” dessa parte do seu corpo. Em contra partida, há ao lado uma imagem com a mesa
jovem segurando dois melões, que indicam a transformação e a possibilidade do seio desejado.
Na expressão “llamanos”, tem-se o apelo do cirurgião para que mulheres insatisfeitas procurem-
no para a implantação da prótese, esse apelo evidencia o ato de fala diretivo. Na primeira parte
da imagem, lado esquerdo, temos o dado real, aquilo que já é de conhecimento do leitor. Do
lado direito, tem-se o ideal, o que está por vir, ou seja, aquilo que exige mais atenção do leitor.
Conclusões
Essa pesquisa nos possibilitou compreender que o ato de fala diretivo se apresenta por
meio de verbos no imperativo, utilizado na linguagem propagandística como uma ferramenta
de persuasão do público. Assim como, compreender os aspectos imagéticos que auxiliam no
contexto das publicidades proporcionando uma leitura interativa e contribuindo para a melhor
interpretação do texto.
Agradecimentos
Agradecemos ao CNPQ, órgão que mantem o projeto dando suporte científico, bem como
suporte financeiro.
Agradecemos à UERN por nos oportunizar a participação em programas que difundem o
conhecimento científico, programas estes que se tornam indispensáveis em nossa formação.
Agradecemos à PROPEG pelo indispensável apoio à pesquisa e à ciência.
Referências
AUSTIN, J.L. Quando dizer é fazer: Palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1962. 136
p.
Disponível em: http://bastardossingloriaa.blogspot.com/2010/09/correccion-trabajo-teorico-
segun.html. Acesso em: 08 nov. 2019
Disponível em: https://www.ejemplos.co/textos-publicitarios/. Acesso em: 26 nov. 2019
Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/12/campanha-espanhola-cria-
polemica-ao-relacionar-camisinha-a-hostia.html. Acesso em: 10 dez. 2019
Disponível em: https://twitter.com/FeministasRDRM/status/732645388230885376. Acesso
em: 13 dez. 2019
Disponível em: https://twitter.com/BLUPacifico/status/941261056843894784?lang=ca.
Acesso em: 19 dez. 2019
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading images: the grammar of visual design. 5th. London
and New York: Routledge, 2006. 321 p.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1121
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

CRENÇAS DO LIVRO DIDÁTICO AMERICAN HEADWAY (SECOND


EDITION) SOBRE AS ATIVIDADES DE ESCRITA

Cibele Negreiros Maia¹; Júlia Ferreira Lima¹; Marcos Nonato de Oliveira²


1
Estudantes do curso de Letras Língua Inglesa e suas respectivas Literaturas do Departamento
de Línguas Estrangeiras da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; e-mail:
cibelenegreirosmaia09@gmail.com; juliaferreira@alu.uern.br
2
Professor do Departamento de Línguas Estrangeiras da Universidade Estadual do Rio Grande
do Norte, Líder do Grupo de Pesquisa sobre Crenças e Experiências; e-mail:
marcosnonato@uern.br
Palavras-chave: Crenças. Livro didático. Ensino-aprendizagem. Língua Inglesa. Escrita
Introdução
Esta pesquisa tem como objetivo investigar as crenças do livro didático American
Headway (second edition) sobre as atividades de escrita e sua relação com um ensino-
aprendizagem comunicativo. Sobre as crenças, podemos afirmar que são um conceito bastante
antigo e fundamental para compreendermos a razão de nossas ações, dentro do processo de
ensino-aprendizagem de línguas, ou seja, entendermos por que professores e alunos agem da
maneira que agem e por que materiais didáticos orientam da maneira que o fazem. O estudo
das crenças sobre o ensino-aprendizagem de línguas tem sido objeto de investigação da
Linguística Aplicada no Brasil no Brasil desde 1990, e no exterior desde 1980. Por ser uma
forma de pensamento, construídas a partir de nossas experiências, as crenças são instáveis e
emergentes, sociais e individuais com um grande valor para a investigação científica no campo
das ciências humanas (BARCELOS, 2006). Muitos são os termos utilizados pelos
pesquisadores para indicar a relação da ação com as crenças, por exemplo, imagens,
concepções, representações, teorias, cultura (BARCELOS, 2004). Por ser uma área com essas
características investigativas de dispersão semântica, as crenças são consideradas um tema
paradoxal, complexo e confuso, com uma conotação afetiva e avaliadora, conforme aponta
Pajares (1992). Esse posicionamento de Pajares diferencia o significado de crenças com o
significado de conhecimento, pois para ele a distinção entre um e o outro se dá pelo fato de as
crenças carregarem um traço emocional.
Para Barcelos (2006, p. 18), as crenças são “como uma forma de pensamento, como
construções da realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, co-construídas
em nossas experiências e resultantes de um processo interativo de interpretação e
(re)significação”. Com base nessa proposição de Barcelos (2006), a qual utilizamos neste
estudo, a maioria das coisas que construímos cognitivamente, em nossa vida, se materializa por
meio das experiências adquiridas em nossas interações humanas. Assim, concebemos as
crenças como formas de pensamento, advindas das nossas experiências e das nossas
interpretações sobre a realidade circundante. Essas experiências humanas, oriundas de nossas
atividades diárias, que, por sua vez, influenciam as nossas crenças e as expectativas que temos
sobre essas mesmas atividades (MICCOLI, 2010b), nos ajudam a representar o mundo e a
construir a nossa compreensão e a nossa identidade social.
Nesse contexto, o fenômeno de ensino-aprendizagem de línguas com o uso, cada vez
mais, diversificado de materiais didáticos, incluindo o uso das tecnologias digitais, tem se
tornado uma questão emergente, e também um grande desafio por assim dizer, para os
professores em serviço na escola pública. Por isso, o nosso interesse de investigar as crenças
presentes no livro didático American Headway tem a ver com a relação que essa temática tem
com as nossas abordagens de sala de aula no ensino de língua inglesa e com os resultados de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1122
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

nossa ação docente. Portanto, estudar as crenças presentes em o livro didático de língua inglesa
supracitado, sobre a orientação metodológica do ensino comunicativo de línguas, é, a nosso ver,
emergente, haja vista a relevância direta na qualidade do processo de aprender e de ensinar
língua inglesa.
No tocante à escrita, um dos primeiros pontos que merecem reflexão é a escrita como
trabalho. Escrever é mais do que ter inspiração, é trabalho, é desenvolver estratégias, é ter
perseverança para construir significados. Nesse sentido, não há espaço para se pensar em “dom
para a escrita”. Corroborando com essa visão, Antunes (2005, p. 38) afirma que “o mito de que
somente sabem escrever as pessoas que nasceram com esse ‘dom’ cai por terra numa análise
aprofundada e objetiva.
O conhecimento linguístico é outro aspecto necessário para o desenvolvimento da
escrita. Dominar a língua é a primeira exigência do ato de escrever. Escreve melhor quem
melhor conhece a língua, no entanto, isso não é o único elemento da construção do texto. De
acordo com Koch (2003, p. 30), “o sentido de um texto, qualquer que seja a situação
comunicativa, não depende tão somente da estrutura textual em sim mesma”. Construir um
texto perpassa por fatores que vão além do simples conhecimento das estruturas da língua
(ANTUNES, 2005).
Vale a pena ressaltar que escrever é também ter conhecimento do mundo, visto que
interagimos nesse espaço. Conforme salienta Oliveira, M. N. (2004, p. 31), “capacidade para
escrever indica a habilidade para funcionar como um membro letrado de uma comunidade
discursiva particular, formada com valores e práticas sociais pré-estabelecidas.”
A concepção destacada é a de uma visão escrita inter-relacionada com o resto do
mundo. Aprender a escrever é, dentre outras coisas, pertencer ao mundo e compreender as
práticas sociais de uma forma crítica. Como também escrever se refere a estar ligado a um grupo
social particular, cuja linguagem e cultura é comum aos membros, como ressalva a Noção de
Membro da etnometodologia, destacada por Garfinkel (1967).
Nessa perspectiva, escrever significa comunicar, interagindo com o outro através da
linguagem. É uma forma de compartilhar informações, crenças, emoções, alcançar propósitos
particulares e desenvolver o pensamento. Como argumenta Vygotsky (1995, p. 44), “o
desenvolvimento do pensamento é determinado pela linguagem, isto é, pelos elementos
linguísticos do pensamento e pela experiência sócio-cultural”.
Portanto, é nessa perspectiva que acreditamos que as crenças, reveladas pelas
atividades propostas de escrita do livro didático American Headway, podem nos dizer muito
sobre os limites dessa interação e do ensino comunicativo no espaço de sala de aula de língua
inglesa.
Metodologia
O foco desta pesquisa são as crenças sobre as atividades de escrita presentes no livro
didático American Headway (second edition), utilizado pelo departamento de Letras, do
Campus Avançado Profa. Maria Elisa de Albuquerque Maia (CAMEAM), da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Inserida dentro das ciências humanas ou
“educacionais”, esta pesquisa se caracteriza como uma investigação qualitativa,
interpretativista, descritiva e bibliográfica. Segundo alguns linguistas aplicados (NUNAN,
1992; SIGNORINI, 2005), a abordagem qualitativo-interpretativista é a mais adequada para a
investigação de temas subjetivos e complexos, com características que envolvem a cognição, a
heterogeneidade, o social, o individual e o emergente, como é o caso das crenças. O enfoque
qualitativo e a interpretação dos significados atribuídos pelos informantes desta investigação
(autores dos livros) fazem esta investigação se aproximar do que Erickson (1986) e Moita Lopes
(1994) intitulam pesquisa interpretativista. Esta pesquisa também tem o enfoque descritivo,
uma vez que pretende explorar um estudo de detalhada circunscrição do livro didático
pertencente ao ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras (língua inglesa). No nosso estudo,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1123
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

essas associações estão ligadas às atividades didáticas fornecidas pelo livro didático American
Headway (second edition), editado em 2010 pela editora Oxford University Press. O livro tem
cinco volumes e doze unidades temáticas, com exceção do livro starter que tem quatorze
unidades. Foram analisadas três unidades de cada volume, selecionadas aleatoriamente, para
identificar as crenças presentes nas orientações das atividades de escrita. Nossa hipótese
preliminar, nesta pesquisa, foi a de que os volumes possam encaminhar atividades de escrita
considerando a comunicação autêntica e significativa.
Após identificar as atividades de writting, realizamos a coleta em forma de prints, para
construção do corpus, que foi composto por 14 atividades, em seguida foi realizada a análise e
obtenção dos resultados obtidos. Tivemos como aporte teórico os estudos das crenças com
Barcelos (2004), (2006), Oliveira (2007), Perine (2012); Experiência e ensino aprendizagem
com Micolli (2010); sobre a escrita em língua estrangeira com Bastos (1996) e Souza (2002).
Resultados e Discussões
Durante o processo de investigação das atividades selecionadas dos livros do 6º e 9º
ano, foi possível identificar as crenças apresentadas por esse material a respeito do uso de
tecnologias digitais no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira. Iremos apresentá-
las a seguir.
No livro didático American Headway Second Edition percebe-se a presença de crenças
relacionadas a escrita condicionada e nos lembra do que Souza (2002) define como
“composição controlada”, ou seja, relaciona-se diretamente com o fato de tratar a escrita
como fenômeno secundário no processo de aprendizagem de uma Língua Estrangeira.
Alguns exercícios solicitam que o aluno construa sentenças isoladas a partir das palavras
que estão dispostas dentro de um quadro. Identificamos a crença de que, com algumas
atividades, não é possível explorar todo o potencial da produção escrita, visto que o aluno
permanece condicionado à repetição de padrões e estruturas da LE.
Isso se torna problemático pois tratam também a escrita como fixação de conteúdo
apresentado nas lições do livro didático. Bastos (1996) salienta que corrigir um texto apenas
em gramática e estrutura, sem focar no conteúdo do texto em si, o qual também é crucial para
a construção de sentido de um texto, não explora todo o potencial no processo de ensino-
aprendizagem de uma LE.
Em suma, exercícios focados em decorar sentenças, não são suficientes para ensinar ao
aluno a produção escrita em uma LE. O ato de escrever, em si, deve ser focado no pleno
exercício da liberdade, o aluno deve ter autonomia para explorar a sua capacidade de produzir
textos complexos em língua inglesa. Tendo em mente que escrever não é somente construir um
texto com frases soltas, sem que haja sentido e seja possível comunicar diretamente ao leitor
aquilo que se espera.
Diante do exposto, fica como responsabilidade do professor repensar tais atividades e
identificar de que modo é possível adaptá-las para a prática comunicativa e social de alunos em
processo de aprendizagem em língua inglesa. Sendo assim, abordar essas atividades em sala de
aula refletindo o poder comunicativo que a escrita possui, é essencial para a compreensão e
proficiência desses alunos.
Conclusão
Este trabalho teve como objetivo principal suscitar uma reflexão acerca de crenças
presentes no livro didático American Headway Second Edition e seus respectivos volumes, com
recorte temático em atividades de writing. Diante disso, foram apresentadas três unidades de
cada volume, a fim de obter uma análise crítica e detalhada das atividades de writing
selecionadas para o material didático.
Pretende-se, através destas colocações, despertar o interesse de alunos e professores para
reverem a forma como as atividades de writing são apresentadas nos materiais didáticos. Sendo
possível relações com atividades externas, explorar as capacidades cognitivas dos alunos com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1124
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

abordagens voltadas para a comunicação, afinal, o texto escrito é, fundamentalmente,


ferramenta de comunicação. BAHKTIN (2003) em Os Gêneros do Discurso de que a
comunicação ocorre por meio se gêneros discursivos. Relacionando com a realidade das escolas
e do material didático, esse relacionamento entre de fala e escrita, como prática social, não pode
ser ignorado.
Agradecimentos
Agradecemos ao órgão que concedeu a oportunidade de realização do projeto. Ao grupo de
pesquisa que participou das discursões e estudos acerca da teoria que foi trabalhada, assim como
dos segundos olhares concedidos diante das produções realizadas.
Referências
ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.
ANTUNES, I. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2003.
BARCELOS, A. M. F. Crenças sobre aprendizagem de línguas, linguística aplicada e ensino
de línguas. Revista Linguagem e Ensino, v. 7, n.1, Pelotas: UCPel, p. 123-156, 2004.
BARCELOS, A. M. F Cognição de professores e alunos: tendências recentes na pesquisa de
crenças sobre ensino e aprendizagem de línguas. In: VIEIRA ABRAHÃO, M. H.; BARCELOS,
A. M. F. (Orgs.). Crenças e ensino de línguas: foco no professor, no aluno e na formação de
professores Campinas, SP: Pontes Editores, 2006, p. 15-42.
ERICKSON, F. Qualitative research on teaching. In: WITTROCK, M. Handbook of research
on teaching. New York, Macmillan, 1986.
GARFINKEL, H. Studies in ethnomethodology. Englewood C. Liffs, New Jersey: Prentice-
Hall, 1967.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MICCOLI, L. Ensino e aprendizagem de inglês: experiências, desafios e possibilidades.
Campinas, SP: Pontes, 2010.
MOITA LOPES, L. P. Pesquisa interpretativista em Linguística Aplicada: a linguagem como
condição e solução. D.E.L.T.A. Vol. 10, n. 2, p. 329-338, 1994.
NUNAN, D. Research methods in language learning. Cambridge: Cambridge University
Press, 1992.
OLIVEIRA, M. N. A prática do feedback no ensino de inglês como LE. Dissertação de
Mestrado em Linguística Aplicada. Universidade Estadual do Ceará – Fortaleza-CE: 2004.
PAJARES, M. M. Teachers’ beliefs and educational research: cleaning up a messy construct.
In: Review of Educational Research. V. 62, no. 3, p. 307 - 332, 1992.
PERINE, C. M. Linguística Aplicada: Crenças e o desafio de formar professores de
línguas.
SILVA, K. A. Crenças sobre o ensino e aprendizagem de línguas na Linguística Aplicada:
um panorama histórico dos estudos realizados no contexto brasileiro.
SIGNORINI, I. O relato autobriográfico na interação formador/formando. In: Letramento e
formação de professor. KLEIMAN, A.; MATENCIO, M. L. (Orgs). Letramento e formação
do professor: práticas discursivas, representações e construção do saber. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 2005, p. 9 – 126.
SOUZA, L. G. Ensino da produção escrita em língua estrangeira (inglês) em um curso de
línguas: influência da avaliação ou concepção de escrita do professor?. 2002. 125 p.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da
Linguagem, Campinas, SP. Disponível em:
<http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/269792>. Acesso em: 26 mai 2020.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. /Trad. Jeferson Luiz Camargo/. São Paulo,
Martins Fontes, 1995.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1125
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DE CRIMINOSA À REJEITADA PELO POVO: AS Rds DO TEMA


DILMA ROUSSEFF NA DENÚNCIA DE IMPEACHMENT
José Rubens Pereira1; Maria Eliete de Queiroz2
Palavras-chave: Gênero Denúncia. Análise Textual do Discursos. Representação Discursiva.
Dilma Rousseff.
Introdução
Aportados nos estudos da Análise Textual dos Discursos (ATD), postulados pelo
teórico Jean-Michel Adam (2011), no campo da Linguística Textual (LT), a investigação
incide sobre a denúncia de impeachment contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, elaborada
pelos advogados Miguel Reale Junior, Janaina Conceição Paschoal, Hélio Pereira Bicudo e
Flávio Henrique Costa Pereira.
Sabendo-se que, “no momento em que o discurso é proferido pelo locutor são
construídas representações/imagens através dos seus pré-construídos e das suas
interpretações” (ALMEIDA; QUEIROZ, 2016, p. 86), voltamo-nos para o nível semântico do
texto e buscamos analisar as Representações discursivas (Rds) do tema “Dilma Rousseff”,
principal foco dos denunciantes, que é tematizado e retematizado no texto da denúncia de abertura
do processo de impeachment.
De acordo com Adam (2011), a ATD posiciona o texto em novas categorias de
análise, compreendendo-o como resultado da relação co(n)textual de sentido. É próprio de
Adam dinamizar a sua teoria por meio de esquemas, e temos no esquema de número 4 os 8
níveis ou planos de análise propostos pelo autor. Diante disso, as Rds se configuram no nível
semântico do texto, podendo ser entendidas como as “imagens” que todo texto constrói do
locutor, dos alocutários e dos temas tratados.
Justificamos a pesquisa por ser um meio de aplicação das teorias que fundamentam o
nosso trabalho, levando contribuições para a ATD, no que diz respeito a processos analíticos,
metodológicos e teóricos, e por investigarmos um discurso importante que fez parte de um
momento histórico da política e da sociedade brasileira. Outrossim, o estudo fortalece as
pesquisas do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino de Texto (GPET) do Campus
Avançado de Pau dos Ferros (CAPF/UERN).
Temos como objetivo principal, analisar as Rds da ex-presidenta Dilma Rousseff do
ponto de vista dos denunciantes, as quais concebemos como estratégias discursivas utilizadas
pelos locutores, a fim de demonstrar, por meios de recursos linguístico-textuais, a
incapacidade e conduta criminosa de Dilma Rousseff. Além disso, objetivamos investigar os
sentidos que são construídos na denúncia contra a ex-presidenta Dilma Rousseff,
especificamente, identificar e descrever os elementos linguísticos e textuais que orientam o
texto argumentativamente.
Metodologia
O projeto de pesquisa tem o enfoque qualitativo, de natureza interpretativista. Dessa
forma, enfatizamos o papel essencial do pesquisador nesse processo de investigação, haja
vista que partirá dele as interpretações do objeto estudado.
A pesquisa segue o método dialético, o qual seleciona e descreve as partes do objeto
em sua materialidade para que se tenha uma visão detalhada dos elementos que o compõe; e
hermenêutico, que consiste na etapa em que são estabelecidos os critérios de análise,
interpretação, explicação e exploração do objeto de investigação.

1
Estudante do curso de Letras/Língua Inglesa, do Departamento de Línguas Estrangeiras (DLE), da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Avançado de Pau dos Ferros (CAPF); e-mail:
josepereira@alu.uern.br.
2
Professora doutora do Departamento de Línguas Estrangeiras (DLE), da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN), do Campus Avançado de Pau dos Ferros (CAPF); e-mail: elietequeiroz@uern.com.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1126
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Elencamos as etapas de construção e interpretação dos dados da pesquisa em 3


momentos: o primeiro momento consistiu no estudo dos pressupostos teóricos da Linguística
Textual e da Análise Textual dos Discursos com base em Adam (2011); no segundo
momento, investigamos o gênero denúncia. O corpus selecionado é o texto que solicita a
abertura do processo de impedimento da então chefe do governo do ano de 2015, Dilma
Rousseff, alegando ter ela cometido crime de responsabilidade. Após a leitura, observamos
que apesar de o discurso ser perpassado do início ao fim por argumentos e imagens que
acusam a conduta irresponsável e criminosa da ex-presidenta, é na seção “1. Dos fatos” onde
se encontram as imagens mais representativas do texto elaborado pelos denunciantes. O plano
da denúncia é estruturado em 4 partes ou seções: a primeira e última partes (“1. Dos fatos” e
“4. Do pedido”) não apresentam subseções, enquanto que a 2 e 3 (“2. Dos crimes de
responsabilidade” e “3. Da responsabilidade da denunciada”) são dividias por 3 subseções
cada. Por fim, no terceiro momento, analisamos como se posicionam argumentativamente os
advogados denunciantes da ex-presidenta por meio de Rds. Para realizar as interpretações e
análises das Rds do tema “Dilma Rousseff”, utilizamos as categorias semânticas
referenciação, predicação, por Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2010) e a modificação por
Queiroz (2013).
Resultados e Discussões
Excerto 1: Rd de Presidenta, Irresponsável, Criminosa e Incompetente
“[...] a Presidente, que sempre se apresentou como valorosa economista, pessoalmente responsável pelas finanças
públicas, deixou de contabilizar empréstimos tomados de Instituições Financeiras públicas (Caixa Econômica Federal e
Banco do Brasil), contrariando, a um só tempo, a proibição de fazer referidos empréstimos e o dever de transparência
quanto à situação financeira do país. [...] Diante da legislação penal comum, a Presidente incorrera, em tese, nos
crimes capitulados nos artigos 299, 359-A e 359-C, do Código Penal, respectivamente, falsidade ideológica e crimes
contra as finanças públicas.”
“[...] a Operação Lava Jato, que em cada uma de suas várias fases colhe pessoas próximas à Presidente,
desconstruindo a aura de profissional competente e ilibada, criada por marqueteiros muito bem pagos.”

Fonte: Denúncia por crime de responsabilidade n. 1/2015 (BICUDO et al., 2015, p. 2-3)

É preciso esclarecer que a denúncia, elaborada pelos acusadores da ex-presidenta


Dilma Rousseff, expressa a opinião daqueles que a redigiram, buscando, argumentativamente,
construir um todo organizado em função da defesa da tese de que a ex-presidenta era corrupta
e que realizava, no seu primeiro mandado e continuou realizando no segundo, certas
atividades ilegais e criminosas que legitimavam a abertura de um processo de impeachment.
De acordo com os prescritores da denúncia, a ex-presidenta Dilma Rousseff praticou, além
dos crimes falsidade ideológica e crimes contra as finanças públicas, atividades ilegítimas
irresponsáveis que, nos termos da Lei 1.079/50, caracterizam-se como crimes de
responsabilidade.
A seguir, veremos como fora moldada a dinâmica dos argumentos para a elaboração
das Rds, com o intuito de defender a abertura do processo de impeachment.
Na primeira seção da denúncia, a estratégia de persuasão dos acusadores pauta-se sob
três pilares: primeiro, tratam desconstruir a imagem positiva da ex-presidenta de uma
profissional competente; segundo, traz à tona as suas relações pessoais e profissionais como
elemento decisivo que comprova a sua conduta corrupta; e terceiro, o desejo do povo
brasileiro de vê-la impedida de comandar o país. São esses artifícios que engendram para a
conclusão de que o processo de impeachment é viável, tanto do ponto de vista político e legal,
quanto do ponto de vista social.
Para compreendermos como são construídas as Rds da ex-presidenta na denúncia,
utilizamos como métodos analíticos da ATD a referenciação, a predicação e os seus
componentes que atuam como modificadores, isto é, os atributos referenciais e predicativos.
No primeiro recorte, temos os referentes “Presidente” e “Operação Lava Jato”, objetos
do discurso que nos permitem conceber as Rds da ex-presidenta enquanto Presidenta,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1127
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Irresponsável, Criminosa e Incompetente. As Rd 1, 2 e 3 estão voltadas para o referente


“Presidente”, enquanto que a 4 desenvolvida a partir do referente “Operação Lava Jato”.
Nesse caso, para que possamos seguir a construção da representação de Dilma Rousseff, as
predicações e os modificadores agem como mecanismos que nos possibilitam apresentar um
ponto de vista. Dessa maneira, o discurso dos denunciantes atribui ações e características para
a ex-presidenta e para a Operação Lava Jato, com o intuito de mostrar uma presidenta
criminosa, com a imagem fictícia de uma profissional competente e idônea, criada pela
publicidade.
A denúncia utiliza estratégias argumentativas que constroem a imagem negativa da
chefe de estado. O fato de criar uma representação de Presidenta indica, em primeira
instância, o significado forte que ela exprime, ao passar a ideia de que quem preside é aquele
que se encontra no último nível dos poderes, o que requer grande responsabilidade e
competência. Desse modo, produtores da denúncia elaboram um discurso incisivo e direto, na
tentativa de mostrar a suposta falha da ex-presidenta, enquanto governante máxima. O uso do
advérbio de modo “pessoalmente”, posto logo após o referente “Presidente”, intensifica o
sentido de responsabilidade inerente a quem preside.
A falha de Dilma Rousseff como presidenta, de acordo com os advogados, foi causada
pelo seu comportamento omisso, ao deixar de “contabilizar empréstimos tomados de
Instituições Financeiras públicas [...], contrariando [...] a proibição de fazer referidos
empréstimos e o dever de transparência quanto à situação financeira do país”. Os verbos da
predicação, em destaque, (contabilizar, contrariando, dever) denotam qual a atitude ideal
esperada de uma presidenta em detrimento da realidade, sendo seu dever ser transparente e
informar à união sobre suas movimentações financeiras com dinheiro público, quando na
verdade, o que ela fez foi contrariar a própria lei, omitindo-as.
A lei mencionada pela denúncia é a de nº 13.053/2014, aprovada em dezembro de
2014, que sancionava a redução da meta do resultado primário, visto que o crescimento da
economia brasileira não avançou como se era esperado. Assim, já que a meta havia sido
reduzida, a realização de empréstimos se tornava inviável, se a pretensão seria alcançar o que
se tinha estabelecido pela lei. Além disso, de acordo com a Lei nº 12.952/2014, a abertura de
empréstimos estava liberada, mas com uma condição, “desde que as alterações promovidas na
programação orçamentária sejam compatíveis com a obtenção da meta de resultado primário”
(Lei 12.952/2014). Assim sendo, conforme a denúncia, a ex-presidenta além de contrariar a
própria constituição ao omitir os empréstimos feitos para dar suporte a sua campanha, posto
que o art. 167, inciso V, da Constituição Federal, estabelece que são vedadas “a abertura de
crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos
recursos correspondentes” (CONSTITUIÇÃO, 1968), não estaria contribuindo para a
efetivação da lei orçamentária.
Diante disso, temos a representação discursiva de Criminosa. O texto dos
denunciantes traz os verbos da predicação “deixou”, “contrariando” e “incorrera”, mostrando
que a ex-presidenta agiu com dolo, deixando de contabilizar os empréstimos tomados da
Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, contrariando a própria lei em função de si
próprio e de sua reeleição e, assim, cometera crimes que, de acordo com os advogados, se
enquadram em falsidade ideológica e crimes contra as finanças públicas.
É aqui onde voltamos ao ponto inicial do primeiro excerto. Essas estratégias de
acusação foram usadas com a intenção de desconstruir a imagem positiva de Dilma Rousseff
que, consoante os denunciantes, fora criada ao longo do tempo por profissionais da
propaganda e publicidade. A denúncia traz o referente “Presidente” e a expressão adverbial
“sempre”, juntamente à locução adjetiva “valorosa economista”, que agem como os
modificadores do referente, para mostrar que a ex-presidenta se considerava uma profissional
competente e estimada, sempre reforçando a sua capacidade e formação acadêmica. Contudo,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1128
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mesmo assim, contrariou a lei, omitiu a abertura de empréstimos e não foi honesta com o
povo.
Para complementar e finalizar a representação de Incompetente, os advogados usam
outro campo semântico no percurso de sentido do texto. Dessa vez, a “Operação Lava Jato” é
apresentada como referente. Por meio do verbo da predicação “colhe”, a ação policial
denominada de Operação Lava Jato descobria os desvios de dinheiro praticados dentro da
Petrobrás e aprisionava políticos e pessoas próximas à ex-presidenta. Podemos ligar esse
argumento ao ditado popular “me diga com quem tu andas, que te direi quem tu és”, pelo qual
a denúncia tenta nos convencer que seria impossível que Dilma Rousseff se mantivesse hígida
e decente, haja vista que estava rodeada por sujeitos políticos que se alinhavam ao desvio de
dinheiro dos cofres públicos. Portanto, se os governantes de um nível inferior da hierarquia
política e subordinados da ex-presidenta eram corruptos, seria inevitável que a responsável
por esse governo não fosse corrupta, tendo em vista a sua função centralizadora.
Conclusão
Neste estudo, analisamos as Rds do tema “Dilma Rousseff” no texto da denúncia de
abertura do processo de impeachment contra a ex-presidenta. Os advogados constroem as
imagens de uma Presidenta que é Irresponsável, Criminosa e Incompetente. A estratégia
argumentativa que engendra o discurso dos denunciantes se organiza sob três pilares:
primeiro, tentam desconstruir a imagem positiva de uma presidenta competente e honesta;
segundo, põe em jogo as suas relações como elemento decisivo e comprobatório de sua
conduta corrupta; e terceiro, dizem ser os representantes do povo brasileiro, que manifesta o
desejo de vê-la impedida de comandar o país.
Agradecimentos
Sou grato ao CNPQ pelo incentivo e a minha orientadora por ter me escolhido.
Referências
ADAM, J. M. A Linguística Textual: introdução à análise textual dos discursos. Tradução:
Maria das Graças Soares Rodrigues et al. São Paulo: Cortez, 2011.
ALMEIDA, W. M.; QUEIROZ, M. E. Povo brasileiro: representações discursivas no
discurso da presidenta Dilma Rousseff. Diálogo das Letras, Pau dos Ferros, v. 05, n. 01, p.
82-96, jan./jun. 2016.
BRASIL. Lei nº 13.053/2014, 15 de dezembro de 2014. Dispõe sobre as diretrizes para a
elaboração e execução da Lei Orçamentária de 2014. Brasília, DF: Presidência da República,
2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13053.htm.
Acesso em: 25 jun. 2020.
BRASIL. Lei nº 12.952/2014, 20 de janeiro de 2014. Estima a receita e fixa a despesa da
União para o exercício financeiro de 2014. Brasília, DF: Presidência da República, 2014.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12952.htm. Acesso
em: 25 jun. 2020.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado
Federal, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm.
Acesso em: 25 jun. 2020.
QUEIROZ, M.E. Representações discursivas no discurso político. “Não me fiz sigla e
legenda por acaso”: o discurso de renúncia do senador Antonio Carlos Magalhães
(30/05/2001). 2013. 188f. Tese (Doutorado) -Programa de Pós-Graduação em Estudos da
Linguagem, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Natal. 2013.
RODRIGUES, M. das G. S; PASSEGGI, L; SILVA NETO, J. G. “Voltarei. O povo me
absolverá...”: a construção de um discurso político denúncia. In: ADAM, J.; HEIDEMANN,
U; MAIGUENEAU, D. (org.). Análises textuais e discursivas: metodologias e aplicações.
São Paulo: Cortez, 2010. p. 150-195.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1129
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DESCRIÇÃO DO FONEMA /S/ EM POSIÇÃO DE CODA NO FALAR


MOSSOROENSE – II ETAPA

Carlos Eduardo de Oliveira Pinheiro1; Gilson Chicon Alves2

Palavras-chave: Consoantes pós-vocálicas. Fonologia. Variabilidade.

Introdução

Os limites entre a fonética e a fonologia, em nível conceitual, são diminutos. Assim,


torna-se, muitas vezes, tarefa difícil evidenciar a distinção entre esta e aquela área de estudo.
Todavia, como salienta Roberto (2016, p. 16), é viável estabelecer que:

[...] a fonética estuda o som a partir do princípio material ou físico,


pormenorizando como se dá sua produção e quais são seus efeitos numa
perspectiva acústica, articulatória ou auditiva. Já a fonologia estuda quantos e
quais são os fonemas de determinada língua, como eles se organizam nas
diferentes sílabas e quais variações podem sofrer em diferentes fatores,
sejam eles linguísticos ou não (grifo nosso).

Pautado nessa perspectiva, este projeto insere-se, pois, no âmbito fonológico, visando a
descrever, como manifesto no título, o fonema /s/ em posição de coda no falar mossoroense.
Faz-se necessário, porém, relembrar que o constituinte silábico ao qual, neste trabalho, dá-se o
nome coda outras designações conceituais recebe. Para Camara Jr. (1970), por exemplo, aos
elementos marginais pospostos à vogal, centro da sílaba, dá-se o nome de consoantes pós-
vocálicas. Neste projeto, porém, adotar-se-á, quanto à nomenclatura utilizada para designar a
posição final de uma sílaba, a classificação proposta por Roberto (2016), qual seja: coda
silábica.
Sobre o /s/ em posição de coda silábica, muitos estudos já foram desenvolvidos ,
sobretudo em relação ao seu aspecto variável (cf. PEDROSA, 2009, por exemplo). Devido,
pois, a essa recorrente variabilidade, desperta-se e justifica-se o desejo de investigar, no falar
culto mossoroense, as ocorrências do fonema /s/ em posição de coda silábica.

Metodologia

Em se tratando de parâmetros metodológicos, o presente estudo classifica-se como


pesquisa de campo. Como corpus de análise, foi delimitado o falar culto mossoroense. Porém,
é pertinente mencionar que, neste trabalho, falantes cultos não serão considerados como
indivíduos que seguem, supostamente, todas as regras prescritivas contidas na gramática
tradicional, mas sim como “falantes urbanos com escolaridade superior completa, em situações
monitoradas” (FARACO, 2008, p. 47).
Para a coleta de dados, utilizaram-se entrevistas. Quanto à coleta, é necessário esclarecer
que o período pandêmico impediu a realização de tal atividade em forma presencial. Por isso,
elaboraram-se, alternativamente, questionários nos quais se pedia que os participantes desta
pesquisa respondessem, por meio de áudios, às questões presentes no documento a eles enviado.

1 Estudante do curso de Letras Língua Portuguesa e Respectivas Literaturas do Departamento de Letras Vernáculas
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: carloseduardolpt@gmail.com
2
Professor do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. e-mail:
gcario65@hotmail.com

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1130
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os entrevistados, por critérios necessários à análise, foram distribuídos em parâmetros


que consideraram os seguintes fatores: sexo e idade. Ao todo, selecionaram-se oito
participantes, sendo quatro do sexo feminino e quatro do sexo masculino. Quanto à idade, é
pertinente pontuar que essa variável foi dividida em duas categorias. A primeira consider ou
jovens todos os participantes que tinham entre 15 e 25 anos. A segunda categoria considerou
adultos todos os informantes que tinham entre 26 e 49 anos. Logo, além da variável sexo,
observou-se, também, a faixa etária de cada entrevistado.
No que concerne à análise da realização do /s/ pós-vocálico, foram observadas as
seguintes variáveis: tamanho da palavra (monossílaba, dissílaba, trissílaba, polissílaba), classe
gramatical da palavra em que havia o /s/ em posição de coda, posição da coda (final ou medial) ,
contexto anterior à coda, contexto posterior à coda, sexo (m, f), idade (j, a). Por fim, é oportuno
pontuar que todos esses fatores foram lançados no programa GoldVarb, por meio do qual foi
possível obter a porcentagem de ocorrência de cada critério anteriormente mencionado.
Ademais, para as discussões conceituais necessárias, foram utilizadas, principalmente ,
as perspectivas de Camara Jr. (1970), Cristófaro (2010), Pedrosa (2009), Roberto (2016), entre
outros, a fim de que fosse possível tecer classificações com rigor científico.

Resultados e Discussões

As pesquisas realizadas por Pedrosa (2009) apontam que, em posição pós-vocálica, o


fonema /s/ alterna suas realizações entre alveolar, palatal e glotal, sendo, também, passível de
apagamento. Dessa forma, o /s/ em posição de coda pode apresentar os seguintes alofones: [s,
z, ʃ, ʒ, h, 0]. Entretanto, no nosso corpus, apenas três desses alofones foram detectados em
posição medial [s], [ʃ] e [z], sendo que o primeiro predomina, com 205 realizações (68.1%),
enquanto o segundo registra 52 ocorrências (17.3%) e o terceiro, 44 ocorrências (14.6%). Em
posição final, a predominância também é do alofone [s] – também registramos algumas
ocorrências de 0, mas numa quantidade pouquíssimo expressiva.
É relevante relembrar, porém, que as realizações anteriormente mencionadas foram
observadas diante de fatores de variação: sexo, idade, posição da coda, tamanho da palavra,
classe de palavra, contexto anterior à coda. Por isso, apresentar-se-ão, adiante, os resultados
obtidos perante cada um desses fatores. Nesse sentido, verificou-se que, na variável sexo, os
informantes masculinos e femininos realizaram, predominantemente, o alofone [s]. Isso porque
os falantes masculinos apresentaram 110 realizações do alofone [s], número que corresponde a
75.3% do total. Semelhantemente, as participantes femininas realizaram, com predominância,
o alofone [s], registrado 95 vezes (61.3%). Abaixo do [s], houve, respectivamente, os alofones
[ʃ] e [z]. Esses, por conseguinte, ocorreram da seguinte forma: por participantes masculinos,
houve 20 realizações (13.7%) do alofone [ʃ] e 16 do alofone [z], correspondente a 11%. Já em
relação às participantes femininas, o alofone [ʃ] realizou-se 32 vezes (20.6%); o alofone [z], 28
(18.1%).
No que diz respeito à variável idade, o alofone [s] manteve predominância, sendo
realizado 89 vezes (64%) pelos informantes jovens e 116 vezes (71.6%) pelos informantes
adultos. Em seguida, observaram-se, respectivamente, os alofones [ʃ] e [z], que se distribuíram
da seguinte forma: por candidatos jovens, o [ʃ] realizou-se 21 vezes (15.1%); o [z], 29 vezes,
número que corresponde a 20.9% das realizações feitas pelos participantes jovens. Já em
relação aos candidatos adultos, o alofone [ʃ] foi realizado 31 vezes, quantidade que corresponde
a 19.1% das realizações feitas pelos informantes adultos. Em seguida, houve o alofone [z], que,
em se tratando dos informantes adultos, foi realizado 44 vezes (14.6%).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1131
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na variável correspondente a tamanho de palavra, o alofone [s] manteve predominância


em todos os segmentos. Assim, nas palavras monossílabas, em que se verificaram 56
ocorrências do /s/ em posição de coda, houve 34 realizações (60.7%) do alofone [s]. Das 22
realizações restantes, 19 deram-se como [z], número que corresponde a 33.9%, e apenas 3 como
[ʃ], equivalente a 5.4% do total. Em continuidade, em se tratando de palavras dissílabas, houve
97 realizações do /s/ em posição de coda silábica. Dessas, 60 formaram coda em [s], quantidade
que corresponde a 61.9% do total. Ainda em relação as 97, 22 palavras apresentaram coda em
[z] (22.7%); por último, apenas 15 palavras realizaram-se com coda em [ʃ]. Nas palavras
trissílabas e polissílabas, o alofone [s] apresentou, respectivamente, os seguintes resultados: 75
ocorrências nas trissílabas (81.5%) e 36 nas polissílabas (64.3%). O alofone [z], por sua vez,
não foi realizado nas palavras polissílabas e, nas trissílabas, foi realizado 3 vezes (3.3%). Já o
[ʃ] ocorreu 14 vezes nas palavras trissílabas (15.2%) e 20 vezes nas palavras polissílabas
(35.7%).
Além desses fatores, foi possível observar, também, as classes gramaticais em que
houve mais realizações do /s/ pós-vocálico. Por critérios metodológicos, mencionam-se aqui
somente as que apresentam um número significativo de realizações. Em primeiro lugar,
constaram os substantivos, classe em que foram realizados 123 casos do /s/ em posição de coda.
Essas realizações se deram, principalmente, com o alofone [s], que obteve 97 realizações
(78.9%). As demais se realizaram da seguinte forma: o [z] apareceu 15 vezes (12.2%); o [ʃ], 11
vezes (8.9%). Em segundo lugar, apareceram os verbos, os quais, das 61 realizações em que
houve o /s/ pós-vocálico, apresentaram 33 alofones [ʃ] e 28 [s]. Dessa forma, nos verbos, o [ʃ]
prevalece com 54.1% das realizações. Em terceiro lugar classificaram-se os adjetivos, com 34
realizações. Essas, por sua vez, deram-se exclusivamente com o alofone [s]. Em seguida
aparecem, com resultados semelhantes, os advérbios e os pronomes. Esta classe apresentou 22
realizações /s/ em coda; aquela 23. A diferença entre ambas é que, nos pronomes, o alofone [s]
prevalece, com 15 realizações (68.2%). Já nos advérbios, tanto o [s] quanto o [z] apresentam
resultados iguais: 9 realizações (39.1%). No mais, é pertinente mencionar que nos artigos, em
vez de [s], predominou o alofone [z], com 10 realizações (55.6%).
É relevante relembrar, por fim, que, dos 301 alofones do fonema /s/ encontrados nesta
pesquisa, manteve predominância o alofone [s], com 205 realizações. Em seguida, constou o
[ʃ], com 52 realizações e, por último, o [z], com 44 realizações. À guisa de uma conclusão,
torna-se pertinente apontar qual foi o contexto anterior que predominou em relação aos
resultados mencionados. Nesse sentido, é necessário evidenciar que a vogal central /a/ foi o
contexto mais produtivo, tendo em vista que foi registrado 104 vezes (34.6% do total). Desse
número, 71 realizaram como [s] (68.3%), 30 como [z] (28.8%) e 3 como [ʃ] (2.9%). Em segundo
lugar, houve a vogal média alta /e/, diante de que houve 72 realizações, das quais 42 deram-se
como [s], 23 como [ʃ] e 7 como [z]. Seria relevante, evidentemente, detalhar todos os demais
contextos anteriores. Entretanto, o espaço de que dispõe este gênero acadêmico não viabiliza
essa intenção. Por isso, neste tópico, optou-se por destacar somente dois dos contextos
anteriores que obtiveram mais recorrência. Todavia, tal particularidade não desfaz o resultado
principal desta pesquisa, qual seja: no corpus deste trabalho, os alofones do fonema /s/ em coda
são [s], [ʃ] e [z]. E, por fim, a predominância de realizações foi observada em [s], com 205
ocorrências, número que equivale a 68.1 % do total. Com esses dados, cumprem-se, portanto,
os objetivos delimitados a esta pesquisa.

Conclusões
Esta pesquisa apresenta quantos e quais foram os alofones do /s/ pós-vocálico
encontrados no falar culto mossoroense, bem como os fatores de variação observados em cada
realização. E, por assim proceder, cumpre os objetivos nela delineados. Os resultados

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1132
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

encontrados neste percurso sugerem que, em se tratando do /s/ em posição de coda, o alofone
predominante no falar culto mossoroense é o [s], tendo em vista que ocupou 68.1% das
realizações contidas no corpus deste trabalho.
Além disso, percebeu-se quais alofones são realizados no falar culto mossoroense e
quais, ao menos no corpus desta pesquisa, não são. Viu-se assim que, diante de todas as
possiblidades de realização do /s/ pós-vocálico, apenas os alofones [s], [ʃ] e [z] foram
visualizados neste trabalho.
Por assim proceder, este projeto contribui, enfim, para traçar o perfil do falante culto
mossoroense, tendo em vista que o âmbito no qual se insere, ou seja, o linguístico, revela,
significativamente, a identidade dos usuários de uma determinada língua (BAGNO, 2015).

Agradecimentos

Agradecemos, em primeiro lugar, à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,


que, por meio do apoio financeiro e estrutural, concede as condições necessárias ao
desenvolvimento deste projeto. Em segundo lugar, somos igualmente gratos a todos aqueles
que, direta ou indiretamente, ajudam-nos a enriquecer este trabalho com sugestões
bibliográficas.

Referências

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. 56. ed. São Paulo: Parábola Editorial,
2015.

CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Editora


Vozes Limitada, 1970. 114p.

CRISTÓFARO SILVA, Thais. Fonética e Fonologia do Português : Roteiro de Estudos e


Guia de Exercícios. 9. ed. São Paulo: Editora Contexto, 2010. v. 1. 275p.

FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008. 200p.

PEDROSA, Juliene Lopes Ribeiro. Análise do /s/ pós-vocálico no português brasileiro:


coda ou onset com núcleo foneticamente vazio? 2009. 136 f. Tese (Doutorado em
Linguística) — Curso de Pós-Graduação em Linguística – PROLING, Universidade Federal
da Paraíba, João Pessoa, 2009.

ROBERTO, Mikaela. Fonética, fonologia e ensino: guia introdutório. São Paulo: Parábola
Editorial, 2016. 175p.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1133
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DICAS E CONSELHOS SOBRE MATERNIDADE: ESTUDO DO ETHOS


DE UMA INFLUENCIADORA DIGITAL EM PERFIS PÚBLICOS NO
FACEBOOK E NO INSTAGRAM

Lareska Luanna Rocha de Freitas1; Rosângela Alves dos Santos Bernardino2

Palavras-chave: Análise Textual dos Discursos. Imagens de si. Ponto de vista.

Introdução
Delimitada pelo linguista francês Jean-Michel Adam e concebida como um meio de
assentar os campos da Linguística Textual (LT) e da Análise do Discurso (AD) em torno de
uma nova concepção sobre o texto, a Análise Textual dos Discursos (doravante ATD) é uma
proposta teórica e metodológica significante para se pensar o texto/discurso. Trata-se, assim, de
uma abordagem que investiga o texto sob à luz de sua faceta discursiva, reveladora de pontos
de vista, de posicionamentos e de representações acerca de seus sujeitos enunciadores, abrindo
margens para o diálogo com outros quadros teóricos da LT, da qual é parte integrante, bem
como das Teorias Enunciativas e da AD.
Vinculado ao projeto de pesquisa “‘Testemunhos, dicas, conselhos...’: um estudo do
ethos em discursos de uma influenciadora digital sobre experiências da maternidade”, este
trabalho tem como objetivo principal investigar como se dá a construção do ethos em discursos
produzidos por uma influenciadora digital sobre experiências da maternidade em um blog
pessoal, centrando-se em um corpus composto de textos orais e escritos, apresentados como
dicas e conselhos, coletados a partir do perfil público da blogueira nas plataformas Facebook
(“De mãe para mamãe”) e Instagram (@demaeparamamae). Especificamente, pretendemos: (i)
identificar e classificar os tipos de pontos de vista sobre experiências da maternidade
mobilizados pelo fiador do discurso no blog pessoal; (ii) verificar como os pontos de vista são
hierarquizados, como são (não) assumidos na argumentação e associados aos gêneros nos quais
são materializados; (iii) descrever os componentes visuais e verbais que compõem os discursos
do fiador no blog pessoal, observando como eles atuam na construção de uma imagem de si,
seu ethos dito e/ou mostrado; (iv) interpretar o modo como a influenciadora digital incorpora
seu interlocutor e quais os possíveis estereótipos ativados na construção de uma imagem de si;
(v) analisar, comparativamente, a atuação dos componentes visuais e verbais para a construção
do ethos do fiador em comunicações da fala e da escrita na web, nas duas referidas plataformas.

Metodologia
Centrando-se nos postulados da ATD, a presente pesquisa se volta para a interpretação
do sentido global dos enunciados através da observação de seus elementos internos e de sua
articulação com a dimensão discursiva, como propõe Adam (2011). Para o teórico, o estudo dos
níveis de análise textual (textura, estrutura composicional, semântica, enunciação e atos de
discurso) devem ser apreendidos dentro de uma relação indissociável com os níveis de análise
de discurso (objetivos, interação social e formação sociodiscursiva), que são determinantes na
materialização textual. Assim, detemo-nos nos fenômenos de Responsabilidade Enunciativa
(doravante RE) e coesão polifônica, relativos ao nível 7 de análise textual proposto por Adam
(2011). Outrossim, perscrutamos Rabatel (2016) e a sua problemática geral do ponto de vista.

1
Estudante do curso de Letras/Língua Portuguesa, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN);
e-mail: lareskafreitas@gmail.com.
2
Professora do Departamento de Letras Estrangeiras (DLE) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
membro do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino do Texto (GPET): e-mail: rosangelabernardino@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1134
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Por constituir uma “reflexão epistemológica e uma teoria de conjunto” (ADAM, 2011,
p. 25), a ATD inscreve-se como um lugar privilegiado de encontros teóricos, propiciando,
assim, uma abertura para discutir a noção de ethos, originalmente formulada pelo campo da
retórica, e redefinida por Dominique Maingueneau no campo da AD. Nessa concepção, um
olhar atento dos analistas sobre textos orais e escritos pode revelar as imagens e representações
dos sujeitos enunciadores que surgem em todo ato de enunciação, ou seja, o seu ethos. Partindo
de Maingueneau (2016), exploramos essa noção através do conceito de fiador discursivo. Este
corresponde a uma instância enunciativa que emerge como uma “voz” e como um “corpo
enunciante”, cuja identidade é o produto de sua enunciação e, ainda, o seu fator de legitimação.
Nosso corpus é constituído por 3 textos escritos e 4 textos orais, coletados a partir do
perfil público da influenciadora digital Mirela Acioly nas plataformas Facebook (“De mãe para
mamãe”) e Instagram (@demaeparamamae). Como critérios de seleção do corpus, definimos:
(a) a presença de um eixo temático discursivo sobre experiências de maternidade e seus assuntos
derivados (cuidados pessoais, vida profissional da, casamento etc.); (b) os enunciados com
objetivos, estrutura composicional e recursos linguísticos característicos dos gêneros de
discurso dicas e conselhos; (c) a seleção de enunciados produzidos pela influenciadora digital,
mesmo que sejam casos de interação comunicativa com as assinantes, inscritas e/ou seguidoras.
Apoiamo-nos em uma abordagem qualitativa, de natureza descritivo-interpretativa.
Utilizamos o processo misto de análise (MORAES, 2003), que combina os métodos dedutivo
e indutivo, visando articular reflexões acerca de categorias prévias e possíveis categorias
emergentes dos textos. Por fim, usamos o método comparativo (SCHNEIDER; SCHMITT,
1998) para ponderar acerca das relações entre os componentes visuais e verbais dos enunciados.

Resultados e discussões
Durante o processo de identificação, classificação e interpretação dos dados de nosso
corpus, divisamos pontos de vista (doravante PDV) cujas origens remetem especialmente a
quatro domínios distintos, mas que se conectam na materialização discursiva e que são
decisivos para a efetivação dos ethe discursivos do fiador, a saber: psicologia, empoderamento
feminino, experiências de maternidade e senso comum.
Considerando a distinção entre os tipos de pontos de vista, isto é, PDV narrado (cujas
falas pessoais do locutor-enunciador primeiro são escondidas por uma narração objetivante),
PDV embrionário (centro de perspectiva em um enunciador intradiscursivo, disposto em “ilhas
textuais”), PDV representado (representação das percepções de um enunciador de modo
aparentemente objetivante) e PDV assertado (de debreagem enunciativa máxima, constituído
pelos posicionamentos explícitos do locutor-enunciador primeiro) (RABATEL, 2016), notamos
uma ascendência pujante deste último sobre os demais em todo o nosso corpus. Tal constatação
ecoa na atitude do fiador dos discursos: essa “instância subjetiva encarnada”
(MAINGUENEAU, 2016) não se restringe em ostentar uma postura distanciada acerca dos
conteúdos proposicionais de sua enunciação. Pelo contrário, mesmo quando reverbera PDV
alheios, o fiador demonstra uma atitude de acentuado engajamento em face destes, assinalando
uma predominância dos movimentos de assunção de RE em sua argumentação.
Dentre as principais categorias definidoras de RE indicadas por Adam (2011),
verificamos que as modalidades e os índices de pessoas estiveram presentes em todos os textos
sondados, corroborando a análise apreendida quanto ao patente comprometimento e avaliação
do fiador sobre os dizeres. Isto coaduna-se com o caráter muito pessoal que cerca a proposta de
diário íntimo/álbum fotográfico/espaço de interação configurada nas redes sociais em exame.
Em relação aos gêneros de discurso dicas e conselhos, percebemos que apesar de terem
um contrato genérico dinâmico, seguem certas regularidades para que sejam percebidos
enquanto tais (finalidades, estatuto dos parceiros, lugar e tempo legítimos, suporte, composição
e recursos linguísticos). Nesse processo, a mobilização dos PDV pelo fiador, a forma como

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1135
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

hierarquiza-os e se posiciona em relação a eles é fulcral para a estabilização desses enunciados.


Assim, notamos que os PDV hierarquicamente superiores se concentraram sobretudo na parte
inicial dos textos do corpus, sendo depois retomados na parte final, ratificando os argumentos
que dão contornos à teia discursiva e constituindo uma importante ferramenta de persuasão.
Sobre a construção de imagens de si, apreendemos e tipificamos, em ordem de
prevalência, dois ethe dominantes nos enunciados: o ethos experiente e o ethos motivador. À
vista disso, o primeiro ethos revela um fiador respaldado nos conhecimentos adquiridos em
suas vivências de maternidade, transigente em suas opiniões e detentor de uma posição de
autoridade em relação à educação dos filhos. O ethos motivador, por sua vez, demonstra uma
imagem de uma mãe zelosa e incentivadora da autoestima de seus filhos, bem como alguém
capaz de motivar a si mesmo, apresentando uma postura de autoconfiança.
Tendo em conta o viés intimista e a relação de proximidade com seus destinatários
visados por Acioly em suas dicas e conselhos, notamos que, assim como atesta Maingueneau
(2016), o fiador se investe dos valores ligados ao universo ou mundo ético de seu público-alvo
e coenunciadores, incorporando padrões de comportamento e de pensamento comumente
associados às mulheres, esposas e mães. Discutimos os resultados obtidos nos excertos abaixo:
Excerto 1:

Hoje mais que nunca eu tenho certeza de que pequenas atitudes minhas hoje, podem fazer
toda a diferença na vida e no futuro dos meus filhos.
Entao, quando hoje por exemplo eu arrumo o material escolar dele, eu não mais faço
achando que é uma “obrigação” minha e sim que é mais uma oportunidade que eu tenho de mostrar
para o meu filho o quanto eu o amo e cuido dele. Por isso eu me encantei tanto por essas etiquetas
da @bbdu_instagram que contém mensagens de incentivo que falam o quanto ele é incrível, o quanto
eu acredito nele, o quanto eu me orgulho dele e muito mais [...]. A gente precisa lembrar sempre
que a maneira como amamos os nossos filhos influencia diretamente na maneira como eles irão se
amar e amar o próximo, então aproveite cada oportunidade para fazê-lo da melhor maneira! [...]
Fonte: Mirela Acioly, 21 jan. 2020. Disponível em: <https://cutt.ly/mfIjroK>. Acesso em: 03 mar. 2020.

Extraído de um publipost dedicado à promoção de uma marca e acompanhado de uma


imagem de divulgação do produto, o excerto 1 é uma amostra de um dos textos escritos em
reflexão. Identificamos em seu trecho inicial a exposição de um PDV que se destaca em relação
aos seus sucessores (Hoje mais que nunca eu tenho certeza de que pequenas atitudes minhas
hoje, podem fazer toda a diferença na vida e no futuro dos meus filhos), matizando toda a
enunciação elaborada. Esse início trata-se de um indício da preponderância do PDV assertado
no texto e do vasto engajamento do fiador em termos de RE, haja vista a existência de índices
de pessoa de grande pessoalidade (eu, meus, minhas), de termos de valor modal epistêmico
(tenho certeza, podem) e a reincidência de um dêitico temporal (hoje) que indicam uma fonte
enunciativa explícita e uma debreagem enunciativa máxima. Na sequência, o fiador se serve de
meios linguísticos que o põe no mesmo conjunto que o seu coenunciador (A gente) e, com essa
condição de equidade, adquire a competência precisa para instruí-lo, através de um imperativo
de valor modal (aproveite). Ademais, desponta um discurso que arquiteta o ethos motivador,
expondo um tom atencioso em relação aos filhos e incorporando a figura de uma mãe dedicada
e amorosa, preocupada com o bem-estar e com a autoestima de sua família.
É interessante notar que apesar de poder ser assimilado a priori apenas como um
anúncio publicitário, tendo em vista a finalidade de divulgação de um produto, o excerto 1
apresenta majoritariamente um tom reflexivo que permite identificá-lo como um conselho e,
também, dada a sua natureza propositiva, como uma dica sobre os cuidados com o material
escolar das crianças. Essa conjunção de gêneros, que se imbricam uns nos outros, maximiza o
poder persuasivo do fiador, contribuindo para a concretização de suas intenções comunicativas.
Excerto 2:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1136
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Aí, alguém vem aqui e diz: “Não tenho essa maturidade”. Quando você diz que não tem essa
maturidade, de alguma forma você tá dizendo assim: “Não tenho nem quero ter! Prefiro continuar
sendo como sou”. Você pode até dizer: “Não! Não é nada disso! ”, mas, de alguma maneira, é sim!
Porque quando você entende que alguém tá dizendo alguma coisa que pode te trazer uma melhoria
pros teus relacionamentos, principalmente, para o teu relacionamento, amiga, você... vai dizer
assim: “Opa, peraí! Calma, eu preciso prestar atenção aqui, no que a pessoa tá dizendo, e eu preciso
aprender sobre isto”. Porque eu tô falando pra você, isso daqui salva literalmente vidas! Trazendo
até pras crianças, tem muita criança que é muito mal compreendida exatamente porque pais não
entendem de perfis comportamentais, não aceitam e não respeitam o perfil da criança, e aí tentam
fazer o quê? Moldar a criança, fazer a criança ser uma coisa que ela não é.
Fonte: Mirela Acioly, 07 jan. 2020. Disponível em: <https://cutt.ly/VfIh1LV>. Acesso em: 04 mar. 2020.

O excerto 2, por seu turno, representa a transcrição integral de um vídeo postado nas
plataformas digitais e dá mostras das várias possibilidades propiciadas pela Web enquanto zona
de multimodalidade. Diante disso, o fiador que a princípio se porta com criticidade, desenvolve
paulatinamente – através de linguagem, tom de voz, gestos e olhares incisivos – conselhos
amparados no estabelecimento de um vínculo de afeição. Deixa de ser apenas uma celebridade
da internet que se dirige às mães sequiosas por um conteúdo atraente e passa edificar a imagem
de mãe que compartilha dos mesmos problemas (ethos experiente) e, ainda, alguém em quem
confiar: a amiga. Assim, a forma como tal fiador incorpora o coenunciador ao colocar-se em
lugar de igualdade é o fator catalizador da adesão ao seu discurso.

Conclusões
Constatamos a presença de dois tipos proeminentes de representações vinculadas à
instância enunciativa gestora da tessitura textual (fiador): ethos motivador e ethos experiente.
A partir de uma postura de estrito comprometimento diante das relações predicativas, o fiador
assume a RE nos enunciados, engajando-se com seus interlocutores, pela forma como aborda a
temática da maternidade. Tal postura de enfática responsabilização é explicitada nos tipos de
PVD que o fiador mobiliza, destacando-se o uso do PDV assertado, manifestado através de
notórios atos de fala e julgamentos do fiador. Outrossim, a junção dos elementos verbo-visuais
de tom pessoalista patente com a intimidade do costumeiro ambiente de gravação dos vídeos
(casa da influenciadora) endossa todo o senso de familiaridade almejado pelo fiador e alinha-
se à proposta de reconhecimento e receptividade direcionado ao público materno e feminino.

Agradecimentos
Agradecemos a todos os colegas do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino de Texto
(GPET) que colaboraram com nossos estudos, à docente orientadora, à UERN e ao PIBIC.

Referências
ADAM, J. M. A linguística textual: uma introdução à análise textual dos discursos. Trad. de
M. das G. S. Rodrigues et al. Rev. Técnica: J. G. da Silva Neto. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
MAINGUENEAU, D. Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.). Imagens de
si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: Contexto, 2016, p. 69-92.
MORAES, R. Uma tempestade de luz: a compreensão possibilitada pela análise textual
discursiva. Ciências & Educação, v. 9, n. 2, p. 191-211, 2003. Disponível em:
<https://cutt.ly/CfIhHi5>. Acesso em: 29 ago. 2020.
RABATEL, A. Homo narrans: por uma abordagem enunciativa e interacionista da narrativa.
Trad. de M. das G. S. Rodrigues, L. Passeggi e J. G. da Silva Neto. São Paulo: Contexto, 2016.
SCHNEIDER, S.; SCHMITT, C. J. O uso do método comparativo nas ciências sociais.
Cadernos de Sociologia, Porto Alegre, v. 9, p. 49-87, 1998. Disponível em:
<https://cutt.ly/sfIhCZk>. Acesso em: 29 ago. 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1137
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DISCURSOS SOBRE A DITADURA MILITAR BRASILEIRA:


RETORNO E RECONFIGURAÇÕES DA MEMÓRIA1
Allan Ravel da Silva Pereira 2; Andrea MiKaelly Rebouças de Azevedo3; Camila Praxedes de
Brito4; Clístenes Oliveira da Silva 5; Sandson de Souza Costa 6; Francisca Vilani de Souza7;
Lúcia Helena Medeiros da Cunha Tavares 8; Francisco Paulo da Silva 9

Palavras-Chave: Discurso. Ditadura Militar. Memória. Efeitos de sentido.

Introdução

Presenciamos na atual conjuntura brasileira um movimento de retorno ao período da


Ditadura Militar que divide posicionamentos, inscrevendo o confronto discursivo em torno de
sua memória. Nesse movimento, observamos a propensão do atual governo na defesa do
modelo político do regime militar, recorrendo à produção de uma Vontade de Verdade que
encontra na memória sua força geradora de sentido e na política um espaço propício aos usos e
abusos da memória que são convocados de forma recorrente no discurso político. Nesse
movimento, inscreve-se no fio dos discursos uma valoração positiva da ditadura ou uma
contestação às práticas de autoritarismo, repressão e ataque à soberania nacional que a Ditadura
colocou em cena na história política do Brasil.
Este projeto tratou desse movimento discursivo, analisando nos discursos sobre a
Ditadura Militar Brasileira, os efeitos de sentido que o retorno discursivo materializava em
diferentes gêneros discursivos que circularam nas mídias impressa ou virtual, a partir de 2018,
ano em que se acentuou o enfrentamento político entre correntes conservadoras e correntes
progressistas ou de esquerda atuantes no contexto político que perfilou o enfrentamento de
ideias na eleição do referido ano, eleição que culminou com a vitória do grupo político
conservador, para governar o país no período de 2018 a 2022.
Fundamentado na perspectiva da Análise do Discurso, especialmente nas contribuições
de Michel Foucault para este campo de investigação, para desenvolvermos este trabalho,
elegemos duas questões que dialogam entre si e conduziram o percurso de pesquisa: Como se
inscreve a memória da ditadura nos discursos que retomam este período na atualidade da
política brasileira? Que efeitos de sentido se produzem nesse movimento de retomada? Para
efetuar a análise, definimos como corpus discursos sobre a Ditadura Militar brasileira que
circularam nas mídias virtual e impressa a partir de 2018.

1
Relatório Final de Projeto Institucional de Fluxo Contínuo 2019/2020.
2
Estudante do curso de Letras-Inglês, do Departamento de Letras Estrangeiras da UERN. E-mail:
allanravel2011@hotmail.com
3
Estudante do curso de Letras-Português, do Departamento de Letras Vernáculas da UERN. E-mail:
andreareboucas@outlook.com.br
4
Estudante do mestrado – PPGL, Pau dos Ferros. E-mail: milahpraxedes@hotmail.com
5
Estudante do curso de Letras-Inglês, do Departamento de Letras Estrangeiras da UERN. E-mail:
clistenes.o.s@gmail.com
6
Estudante do curso de Letras-Inglês, do Departamento de Letras Estrangeiras da UERN. E-mail:
sandson3144@gmail.com
7
Professora do Ensino Básico, participante do Grupo de Pesquisa. E-mail: professoravilani@gmail.com
8
Professora do Departamento de Letras Vernáculas da UERN, participante do Grupo de Pesquisa. E-mail:
luciahelenamct@hotmail.com
9
Professor do Departamento de Letras Vernáculas da UERN, líder do Grupo de Pesquisa. E-mail:
f.paulinhos@uol.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1138
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Como objetivo geral, definimos analisar os mecanismos da memória e seus efeitos de


sentido no movimento de retorno dos discursos sobre a ditadura militar na atual conjuntura
política brasileira.

Metodologia

Fundamentaram teórico-metodologicamente esta pesquisa as contribuições da Análise


do Discurso (AD), especialmente nas contribuições da arqueogenealogia de Michel Foucault
para análise das relações saber/poder que engendram os discursos, a produção dos sentidos e
de subjetividades. Inserida em um campo de estudo interdisciplinar, cujos diálogos com outros
campos do saber se justificam pela heterogeneidade constitutiva de seu objeto – o discurso –
oferecendo subsídios para analisar a teia interdiscursiva que constitui os enunciados do corpus.
Para responder as questões de pesquisa, em conformidade com os objetivos traçados,
definimos como procedimentos metodológicos:
 Conceber o corpus como elemento do arquivo (FOUCAULT, 2000), o que possibilita
apreender os enunciados no seu domínio associado, sem o qual não se pode
descrever/interpretar o funcionamento interdiscursivo (FOUCAULT, 2000). Assim, os
enunciados do corpus foram analisados como elementos do arquivo, o que exigiu
considerar o sistema de enunciabilidade, aquilo que faz emergir o enunciado-
acontecimento, uma vez que o arquivo é “o que rege os enunciados como
acontecimentos singulares” (FOUCAULT, 2000, p. 149).
 O Corpus desta pesquisa se constituiu de enunciados que integram discursos políticos e
midiáticos, em diferentes gêneros discursivos, definidos pela natureza da singularidade
de cada investigador nos vários subprojetos que a integram. De modo mais específico,
o corpus será composto de discursos sobre a Ditadura Militar brasileira que
circularam/circulam nas mídias virtual e impressa a partir de 2018.
 Para realizar a análise, definimos como trajeto temático (GUILHAUMOU;
MALDIDIER, 1997), isto é, como operação de leitura do arquivo, o seguinte trajeto:
enunciado/ditadura/reconfigurações da memória que serviram de base para apreensão
de regularidades enunciativas e para análise das relações saber/poder que constituem a
retomada dos discursos sobre a Ditadura Militar na atualidade como acontecimento
discursivo. Isso porque, segundo Guilhaumou e Maldidier (1997, p. 166) o trajeto
temático “reconstrói os caminhos daquilo que produz o acontecimento na linguagem”.
 Assim, nos procedimentos de análise, conforme o trajeto de leitura traçado,
consideramos: 1) condições de emergência e sua função de existência, consideradas em
relação às práticas discursivas responsáveis pela sua formulação e circulação; 2) a
heterogeneidade discursiva que constitui o sujeito; 3) a descrição das regularidades
enunciativas que constituem a memória do período da Ditadura Militar, considerando-
as a partir das contradições das formações discursivas de onde emergiram os discursos;
4) análise dos mecanismos discursivos responsáveis pela reconfiguração discursiva da
memória da ditadura e pela inscrição do novo no movimento de retorno; 5) análise dos
efeitos da reconfiguração discursiva sobre os rumos da política nacional, mais
exatamente sobre os rumos da democracia brasileira.

Tais procedimentos sustentaram que os enunciados produzem sentidos quando


associados à memória discursiva, ao conjunto de enunciados que uma cultura mobiliza ,
transforma, retoma, ressignifica, desloca ou mesmo conserva. É desse modo que a
arquegenealogia aponta para a descrição dos discursos como práticas especificas de um arquivo.
Esse gesto colocou em evidência a análise da historicidade dos enunciados em sua condição de
acontecimento discursivo e sua singular maneira de provocar a reverberação do discurso.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1139
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultado e Discussões

O projeto iniciou oficialmente em setembro de 2019. No primeiro encontro, fizemos


leitura e discussão da proposta e definimos o subprojetos de cada membro. Para isso,
consideramos o interesse de investigação específico e que dialogaria com a proposta de
investigação matriz.
Realizamos encontros de leituras, mas fomos prejudicados pela ocorrência da CONVID-
19 e suspensão das atividades presenciais na Universidade, por medidas necessárias ao
cumprimento do isolamento social. Ademais, por indefinição no calendário da UERN,
acreditávamos que o projeto seria prorrogado e retomado logo que se definisse o retorno das
aulas. Diante desse quadro, o cronograma do projeto não pode ser contemplado na íntegra.
Mesmo diante deste quadro, como começamos concretamente a pesquisa antes da
homologação oficial, garantimos a participação de orientandos no I CONLLIT – Congresso
Nacional de Linguística e Literatura, realizado na cidade de Patu e promovido pela
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, no Campus localizado nesta cidade. Os artigos
apresentados neste evento foram publicados neste ano de 2020, por alunos da graduação, em
coautoria com o orientador Francisco Paulo da Silva: DITADURA MILITAR BRASILEIRA:
CONFIGURAÇÕES DISCURSIVAS NO GOVERNO BOLSONARO, de autoria de Allan
Ravel da Silva Pereira; FUNDAMENTALISMO NO GOVERNO BOLSONARO:
DISCURSOS E CONTRADISCURSOS, de Sandson de Souza Costa; e MECANISMOS DE
PRODUÇÃO DA VERDADE SOBRE OS GOVERNOS MILITARES NO GOVERNO
BOLSONARO, autoria de Clístenes Oliveira da Silva. (ANAIS do I CONLLIT, 2020).
As análises realizadas nos artigos supracitados, tomaram como corpus enunciados que
circularam na mídia virtual como Twitter, Facebook, jornais on-line. Com foco nos dispositivos
analíticos da Análise do Discurso, a análise centrou-se nos elementos linguístico-discurs ivos
que materializavam nos discursos e práticas do governo Bolsonaro, o artigo de Allan Ravel da
Silva Pereira, analisou enunciados que inscreviam no fio do discurso a valorização da Ditadura
e que circularam nas mídias por ocasião das comemorações alusivas ao seu aniversário.
Considerou também os mecanismos do contradiscurso que apresentavam outra versão sobre os
governos militares, assinalando práticas de violação aos direitos humanos e posturas
antidemocráticas e antinacional do regime ditatorial. A análise do enunciado que segue é
demonstrativa desse funcionamento discursivo:

O enunciado do Presidente produz um jogo de negação histórica da experiência nacional


com a ditadura, recorrendo ao apagamento da memória histórica e promovendo a inscrição de
uma outra narrativa que tenta positivar seus feitos.
O artigo de Sandson de Souza Costa focaliza no contexto do governo atual elementos
que caracterizam o discurso fundamentalista que subjaz a sua produção discursiva sobre o
professor e a educação. Para a análise, foram selecionados enunciados que circularam em
postagens na internet de representantes do governo e de seus opositores, de modo a descrever
e interpretar mecanismos constitutivos do interdiscurso das formações discursivas em confronto
político na atualidade. Como exemplificação, o enunciado abaixo é exemplificativo:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1140
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A análise apontou para a presença de uma política de produção negativa sobre a


produção científica da universidade, sobre o professor e a escola/universidade, acusando-os de
promoverem a ideologização do pensamento de esquerda na educação.
O trabalho de Clístenes Oliveira da Silva analisou efeitos da memória que inscrevem
uma verdade como efeito de uma vontade de verdade (FOUCAULT, 1996) que tenta se impor
nos discursos e práticas conservadoras e autoritárias do governo Bolsonaro, mostrando que a
posição-sujeito deste governo em relação ao militarismo, inscreve-o como modelo no plano
econômico, político, social e moral e marca sua tendência conservadora e autoritária. Para
promover essa verdade, utilizou de enunciados que mobilizou a memória, promovendo seu
retorno na atualidade. Isso se deu também na inscrição de uma posição anticomunista que
marcou a campanha do atual presidente, como se pode ver no movimento dialógico dos
enunciados abaixo:

Fonte: Blog do Noblat, 2018.

Nos trabalhos e leituras feitas durante a pesquisa, deixaram entrever que as formas
discursivas da memória política se inscrevem nas modalidades de existência do enunciado.
Assim, o enunciado participa de um domínio associado (FOUCAULT, 2000), estabelecendo
uma interdiscursividade que garante que alguns discursos devem poder ser lembrados, repetidos
como força argumentativa. Nesse sentido, como o discurso político é também espaço de
legitimação e, por isso, propício ao exercício de uma Vontade de Verdade (FOUCAULT, 1996),
para a qual a memória é força geradora de sentido, a relação interdiscursiva é recorrente nos
usos e abusos da memória na prática discursiva da política. A análise dos discursos do atual
governo sobre a ditadura confirma que a memória é uma operadora de sentidos na política.

Conclusão

As análises realizadas deixa visível que a produção de sentidos de um enunciado não


pode se dar fora das redes de memória que ele atualiza. Para isso, o enunciado é considerado
nas análises como parte de uma série, o que significa admitir sua relação com outros enunciados
que o precedem ou o seguem, como participando de um domínio associado que lhe apresenta
relações possíveis com o passado e que abre um futuro eventual (FOUCAULT, 2000).
Com efeito, a investigação realizada faz uma cartografia dos mecanismos discursivos
de reconfiguração da memória em uma conjuntura política marcada pela presença de setores
conservadores da política e setores progressistas e de esquerda aglutinados em partidos e
movimentos sociais.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1141
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Considerando o movimento de retorno dos discursos sobre a Ditadura e a afirmação de


Foucault (1996) que o novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta, esse
movimento marca o retorno do discurso materializando-se como singularidades do enunciado-
acontecimento. Assim compreende-se que para a descrição e interpretação do enunciado, deve-
se levar em conta a heterogeneidade constitutiva do discurso como objeto multifacetado, no
qual se inscrevem relações de saber-poder e que são responsáveis por sua produção e circulação
em práticas discursivas de um certo momento histórico (SILVA, 2010).

Agradecimentos

A todos que compõem o Grupo de Estudo dos Discurso da UERN – GEDUERN, que
dividem conosco saberes e afetos;
A PROPEG - UERN, por oportunizar políticas de incentivo à produção científica;
Ao DLV/FALA – UERN, pela parceria;
Ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem – PPCL, pelo apoio e
participação neste projeto.

Referências

CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E LITERATURA – CONLLIT: políticas e (re)


existências. Beatriz Pazini Ferreira, Francisca Lailsa Ribeiro Pinto (Orgs.). Anais... Mossoró,
RN: EDUERN, 2020. 717p. ISBN: 978-65-991344-2-5.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio.
São Paulo: Edições Loyola, 1996.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2000.
GUILHAUMOU, Jacques; MALDIDIER, Denise. Efeitos do arquivo. A análise do discurso no
lado da História. In: ORLANDI, Eni P. (Org.) Gestos de Leitura: da História no Discurso.
Campinas - SP: Ed. da UNICAMP, 1997.
SILVA, Francisco Paulo. Arquivo e memória na descrição/ interpretação de enunciados. In:
SILVA, Antônia Marly Moura et. al. De memória e de identidade : estudos interdisciplinares.
Campina Grande: EDUEPB, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1142
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

DISCURSOS SOBRE AS RELAÇÕES AFETIVAS INTER-RACIAIS

Pedro Lucas Pereira da Silva1; Francisca Maria de Souza Ramos Lopes2


Palavras-chave: Diversidade. Discriminação. Preconceito

Introdução

Este projeto tem como base a linguística aplicada e possui como problemática as
questões entorno das relações afetivas inter-raciais. Em uma sociedade miscigenada, onde não
existe uma raça pura, as relações afetivas inter-raciais têm muito envolvimento nisto, pois foram
elas que propiciaram esse estado de diversidade racial. Tendo em vista esta estruturação da
sociedade, buscamos então, analisar discursos produzidos por estudantes universitários,
observando seus pensamentos, acerca do assunto.
Quando se trata de relações afetivas inter-raciais, um assunto que se torna
indispensável nesta análise é o racismo, pois além de ser um tema bem recorrente no corpo
social do Brasil, vem obtendo mais relevância no cenário mundial, influenciando muito na
formação dos relacionamentos brasileiros, pois a “cor” tem uma atuação enorme na criação das
uniões afetivas, sendo visto por alguns como “requisito” necessário.
Quando se trabalha o racismo dentro destas produções discursivas, tem que se levar
em conta uma história de opressão acerca do povo negro, como evidencia a psicanalista Santos
(1983 p.19) afirmando que “a sociedade escravista, ao transformar o africano em escravo,
definiu o negro como raça, demarcou o seu lugar, a maneira de tratar e ser tratado, os padrões
de interação com o branco e instituiu o paralelismo entre cor negra e posição social inferior”,
ou seja, além da rotulação do negro como raça, foi feita também a inferiorização da mesma.
Quando se trata do “negro” no merca das relações afetivas, ele tem uma certa
“desvantagem” comparado ao “branco”, seja por não encaixar-se no “padrão de beleza”
imposto pela sociedade, por ser marginalizado pelas famílias das pessoas com quem
relacionam-se, ou até mesmo por não serem vistos como potencial para um matrimônio, como
diz Munanga (2004, p. 100) “a rejeição do negro e do mestiço cresce à medida que as
manifestações do casamento se aproximam da convivência das pessoas”. O que não podemos
negar é que existe um preconceito sobre essas pessoas, e isso se reflete em muitos parâmetros
da sociedade.
Justifica-se essa pesquisa, pela necessidade de oportunizarmos que os envolvidos
tenham um espaço em que possam pensar em suas práticas, assim criar recriar novas posições
e pensamentos acerca do assunto.
O objetivo principal dessa produção foi analisar depoimentos com experiências de
pessoas que vivenciam ou vivenciaram relações afetivas inter-raciais.
Este relatório trata de uma pesquisa dentro do paradigma qualitativo interpretativista
(MOITA-LOPES, 1994). Este defende que uma das maneiras eficazes de se conseguir
conhecimento é por meio desse tipo de estudo, pois a pesquisa nas ciências sociais é de natureza
humana, sendo assim interpretadas por “conhecimentos humanos”.
No trabalho foram analisadas sete (07) narrativas produzidas por alunos universitários.
Inicialmente foram feitos estudos teóricos com o bolsista, para que ampliasse o entendimento
e a visão social do assunto, observando-se uma história de estruturação da sociedade e sua
diversidade.
As narrativas foram aplicadas por meio de entrevistas semiestruturadas para à
definição dos procedimentos metodológicos, afim de que pudéssemos obter um material
sistematizado, para a construção dos dados.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1143
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No referencial teórico, recorremos, dentre outros, aos autores Santos (1983), Moutinho
(2004), Pacheco (2006), Ramos-Lopes (2010), Silva (2012), Almeida (2018) e Ribeiro (2019).
E uma breve panorâmica, evidenciamos, o autor Santos (1983) apresenta vários
aspectos sobre o racismo, relações afetivas, formação de identidade e a rejeição da própria.
Moutinho (2004) trata das relações afetivas inter-raciais, destacando o erotismo é as questões
sociais. Pacheco (2006) aborda temas acerca da raça, gênero e relações sexual-afetivas na
produção bibliográfica das ciências sociais brasileiras. Ramos-Lopes (2010) faz uma pesquisa
sobre como professores e professoras negros e negras se posicionam discursivamente ao
construírem suas identidades étnico-raciais. Silva (2012), a partir do discurso produzido por
duas pessoas: a primeira, uma mulher negra, casada com um homem branco; a segunda, um
homem branco, casado com uma mulher negra, analisou o matrimônio dos entrevistados,
focando na construção das identidades por meio de práticas discursivas racistas vivenciadas em
casamentos inter-raciais. Ribeiro (2019) em seu livro Pequeno manual antirracista, desmistifica
muitas perspectivas acerca de práticas racistas e Almeida (2018) no livro “o que é racismo
estrutural”, mostra-se como se estrutura uma sociedade racista que deprecia o negro.
Em seguida, começamos na construção dos dados, que por causa da pandemia da
covid-19, teve que ser modificada em alguns pontos, pois como de acordo com quarentena, não
podemos encontrar pessoalmente com os entrevistados, continuamos a pesquisa por meios
eletrônicos. Desta feita, aplicamos questionários com sete (07) pessoas, que presenciaram,
viveram ou vivem relações afetivas inter-raciais, selecionamos o material a ser analisado. Após
selecionar os questionários, analisamos os dados e os elementos específicos aos discursos dos
indivíduos, contidos nas narrativas dos sujeitos, identificando não só o que foi dito diretamente,
mas também o que está “subentendido” aos relatos.

Resultados e Discussão

Após a construção, interpretação e análise dos dados, esta pesquisa evidencia a não
aceitação familiar, como um dos grandes “impedimentos” para as relações afetivas inter-raciais.
A esse respeito, RFMS revela:

[...]Situações como a não aceitação dos pais, ou da própria família em sua


totalidade, em que seus filhos ou parentes tenham parceiros ou parceiras
negros/as que favorecem sua construção familiar, caracterizam esse
enraizamento que contempla ao que a sociedade (em sintonia com a própria
mídia, o estado e as demais instituições sociais em seus aspectos lamentáveis,
porém reais) já estereotipou e estruturou em alguns comportamentos,
discursos ou distorções sobre essas identidades.

Moutinho (2004, p.283) afirma que “a aceitabilidade (ou não) do relacionamento por
parte das famílias é uma das zonas de “sombra e silencio” nas quais as falas dos entrevistados
podem submergir”. Ou seja, ela apresenta este fator como uma das situações que se destacaram
em suas entrevistas, como também um dos fatores que deixa muitas marcas na vida das pessoas.
No cenário das relações afetivas inter-raciais o racismo estrutural, também é evidente.
O entrevistado Militante destaca:

[...]O racismo continua inserido dentro da nossa sociedade estruturalmente e


com toda certeza existe sim influencia dessa discriminação em
relacionamentos, por exemplo uma pessoa racista vai evitar ao máximo se
relacionar com uma pessoa negra, o que é muito triste ver isso na nossa
sociedade.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1144
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As abordagens feitas possibilitaram dialogar sobre o racismo estrutural, expondo um


sistema opressor advindo da escravidão, tendo como foco a submissão dos negros, Ribeiro
(2019, p.07) afirma “O racismo é, portanto, um sistema de opressão que nega direitos, e não
um simples ato da vontade de um indivíduo”. Nas instâncias sociais se percebe que o racismo
estrutural influencia na formação das relações afetivas, pois vivemos em um sistema que, em
decorrência do preconceito e da discriminação, nega direitos ao ser humano, dentre eles, o
direito aos relacionamentos com pessoas que pertencem a grupos étnicos diferentes.
O desejo erótico inter-racial, ora sobre a mulher negra, ora sobre o homem negro
também foi abordado pelos participantes.

Se tratando de mulher negra, muitas são vistas apenas como objeto


sexual, servindo apenas para saciar os desejos dos homens, mas não
para assumir um compromisso (Entrevistada Manu).

A esse respeito, Moutinho (2014, p. 348) destaca que “a “cor negra” como um elemento
de prestígio, posto que denota sensualidade. Entretanto, no caso do gênero feminino essa
correlação aparece frequentemente articulada ao estigma da prostituição”. Compreendemos que
a mulher negra é vista como objeto de adorno, de uso sexual, mas não uma mulher para construir
uma relação matrimonial.
Nos dados construídos nessa pesquisa nos foi revelado, segundo Anjinha:

[...]As pessoas negras em muitos casos quando são vistas para convivência
intima, são observadas em um angulo fetichista, degradando e limitando a
imagem do homem e da mulher negra para realização de desejos carnais
individuais.

O homem negro, e esse desejo erótico, ao que parece, nasceu mais tarde, mesmo assim,
ele também é visto como objeto de desejo erótico, ludibriado em suas proporções e desempenho
sexual. Segundo Moutinho (2014, p. 355) “O homem “negro”, excluído das telenovelas e do
mundo dos afetos televisivos aparece na reportagem com força no mundo dos prazeres, mas
não da conjugalidade”. A autora destaca a mistificação acerca do homem negro, que aparece
fortemente no mundo erótico sexual, mas não no matrimonial.
A marginalização pela “cor” faz com que as pessoas vejam o negro como marginal,
mostrando uma hierarquia de “cores”, criando uma imagem que o negro é “ruim”, “perigoso”.
Essas atitudes racistas tanto influenciam na formação das relações afetivas, como também no
contexto social. A entrevistada Nana revela que já se deparou com:

Pessoas se referindo a pessoa negra de maneira inadequada, e por fim,


assimilar o negro a um "bandidinho" "vagabundo" "assaltante", simplesmente
por vê-lo se aproximar”.

Nessa visão, Almeida (2018, p. 41) comenta que “Homens brancos não perdem vagas
de emprego pelo fato de serem brancos, pessoas brancas não são "suspeitas" de atos criminosos
pela sua condição racial”. Compreendemos que na sociedade a cor da pele além de um elemento
de exclusão é uma das formas de relacionar as ações do negro à marginalidade.

Conclusões

Nessa produção em que analisamos depoimentos, com vivências de sujeitos


negros/negras, a partir de relações afetivas inter-raciais, destacou-se em algumas narrativas

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1145
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

dificuldades na convivência afetiva entre pessoas de pertencimentos étnicos diferentes. Os


principais motivos destacados foram:
a) não aceitação familiar: críticas racistas acerca do parceiro.
b) o racismo estrutural: o sistema social que deprecia o negro.
c) desejo erótico: o negro como objeto de adorno.
d) hierarquia de “cores: a marginalização do povo negro
Essa pesquisa tem sentido de continuidade como uma forma de reflexão e
desmistificação de práticas racistas no que concerne aos relacionamentos afetivos inter-raciais.

Agradecimentos

Agradeço a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade do Estado do Rio


Grande do Norte (PROPEG/UERN), ao programa institucional de iniciação científica (PIBIC),
a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) pelo apoio e oportunidade, para que
os alunos possam ter contato com a pesquisa cientifica.

Referências

ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG): Letramento,
2018.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. Companhia das Letras, 2019.
RAMOS-LOPES, Francisca. A constituição discursiva de identidades étnico-raciais de
docentes negros/as: silenciamentos, batalhas travadas e histórias (re)significadas. 2010. 321 f.
Tese – (Doutorado) Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
SILVA, Ana Gabriella Ferreira da. Relações afetivas inter-raciais: histórias narradas de um
homem branco e uma mulher negra. 2012. 60 f. Trabalho de Conclusão do Curso de Letras da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Açu, 2012.
DA MOITA LOPES, Luiz Paulo. Pesquisa interpretativista em linguísticas aplicada: a
linguagem como condição e solução. DELTA: Documentação e Estudos em Linguística
Teórica e Aplicada, v. 10, n. 2, 1994.
PACHECO, Ana Cláudia Lemos. Raça, gênero e relações sexual-afetivas na produção
bibliográfica das Ciências Sociais Brasileiras-um diálogo com o tema. Afro-Ásia, n. 34, p.
153-188, 2006.
MOUTINHO, Laura. Razão, “cor” e desejo: Uma análise comparativa sobre relacionamentos
afetivo-sexual “inter-raciais” no Brasil e na África do Sul. 1. ed. São Paulo: editora Unesp,
2004.
SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro: As vicissitudes da identidade do negro brasileiro em
ascensão social. 2. ed. Rio de Janeiro: edições graal, 1983.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1146
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EDGAR ALLAN POE NO BRASIL: O GATO PRETO E O BARRIL DE


AMONTILLADO TRADUZIDOS PARA A TV

Ana Beatriz Tavernard Fernandes1; Emílio Soares Ribeiro2

Palavras-chave: Poe. Literatura. Televisão. Adaptação. Tradução.

INTRODUÇÃO

Sabe-se que as produções audiovisuais são artes heterogêneas e, como tal, abrangem
características básicas de outros sistemas. Por exemplo, possuem a plasticidade e a noção de
quadro (enquadramento) da pintura; o movimento e o ritmo de música e dança; o estilo
dramático, a noção de encenação, de cenário e de representação do teatro; e o estilo narrativo,
incluindo conflito, trama e montagem, das obras literárias. Comparando um texto literário com
uma produção audiovisual, aparentemente, há um abismo que separa estas duas esferas, cada
um com seu sistema de signos e seus códigos específicos. Nos currículos universitários, por
exemplo, os dois sistemas são colocados em campos estanques e são normalmente analisados
separadamente. Porém, os intercursos e diálogos entre as variadas linguagens são complexos,
como aponta Santaella (2005, p. 27). Para a autora, tende-se a confundir linguagem com o canal
em que ela está veiculada, e voltar a atenção para o meio em que as linguagens ocorrem.
Contrariando tal visão, Santaella (2005, p. 27) afirma que, embora o meio pelo qual determinada
linguagem é veiculada seja importante para se compreender a produção, transmissão e recepção
de suas mensagens, deve-se levar em conta as trocas de recursos entre as linguagens e seus
processos sígnicos.
Dessa forma, é importante que análises envolvendo, por exemplo, traduções para a
televisão ou cinema de obras literárias tenham como base a relação entre as linguagens
envolvidas, suas peculiaridades e como estas se relacionam na construção dos significados da
obra estudada. Além disso, tais pesquisas não podem negar as diversas maneiras como uma
obra literária é reescrita fora de seu sistema, de forma a assumir um novo lugar em seu novo
sistema. A crítica, a historiografia, o ensino, a antologia e a tradução cinematográfica são
exemplos de “refrações” (LEFEVERE, 1992), que representam o original para aquelas pessoas
que não tiveram acesso à literatura como foi escrita primeiramente.
No século XXI, percebeu-se um crescimento na quantidade de trabalhos que buscam
fugir de análises unilaterais entre cinema e literatura e de investigações que priorizam os
cânones literários. Muitos estudos passaram a incluir outras formas de adaptação, envolvendo
produções televisivas, musicais, videogames e a relação entre filmes, e a associar a adaptação
fílmica a concepções de tradução que evitam o caráter prescritivo e que valorizam o papel dos
tradutores (diretores, produtores, intérpretes) enquanto agentes importantes no processo.
Como corpus do presente trabalho, abordamos o gótico de Edgar Allan Poe nos contos
O gato preto (1843) e O barril de Amontillado (1846), os quais foram adaptados no episódio
Lenora da série televisiva Contos do Edgar (2013), dirigida por Pedro Morelli. A série traz
consigo as características marcantes das escrituras de horror de Poe, utilizando-se de técnicas

1
Estudante do curso de Letras Língua Inglesa do Departamento de Línguas Estrangeiras da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte – UERN; e-mail: beatriztavernard@outlook.com
2
Professor do Departamento de Letras Estrangeiras e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem,
da UERN; Membro do Grupo de Estudos da Tradução e do Grupo de Estudos do Gótico; e-mail:
emilioribeiro@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1147
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

tradutórias para produzir a obra audiovisual, levando em consideração as narrativas dos contos,
além de contextualizar as estórias no cotidiano do Brasil do século XXI. A prática de tradução
da literatura para as telas vem acompanhando o cinema desde o seu surgimento e, com o
desenvolvimento tecnológico e a relação entre as artes na contemporaneidade, tem ganhando
cada vez mais evidência. É incontestável a relevância dessa prática e de seus estudos no
contexto atual, no entanto, apesar de sua importância, é um assunto que não apresenta muitas
análises e críticas embasadas, sendo tratadas de forma bastante superficial e a partir de ideais
logocêntricos ou prescritivos.
Este estudo procurou apontar e discutir as estratégias e recursos que foram utilizados
para se traduzir a obra para o contexto brasileiro contemporâneo, mais especificamente no
âmbito urbano e suburbano de São Paulo. Além disso, busca contribuir significativamente para
os estudos da literatura e do cinema/televisão, auxiliando a crítica cinematográfica e os teóricos
que abordam tais temas, bem como leitores e espectadores em geral, podendo chamar a atenção
para os novos sentidos criados a partir da tradução do gótico de Poe.

METODOLOGIA

O trabalho descreve uma pesquisa que teve como intuito analisar a tradução dos contos
de Poe, O gato preto (1843) e O barril de Amontillado (1846), para o episódio Lenora da série
de TV Contos do Edgar (2013). Tratou-se de uma análise qualitativa, de cunho analítico-
descritivo. Em suas primeiras etapas, a pesquisa abordou os estudos tradutórios, levantando
discussões acerca de bibliografias referentes ao tópico trabalhado, aprofundando-se nos
aspectos da tradução e adaptação e trazendo trabalhos de teóricos que se voltam para os estudos
de tradução como Jakobson (1991), Arrojo (2003) e Rodrigues (2000). Apresenta a base
semiótica para as análises das traduções do gótico literário para a televisão, a partir de teóricos
como Plaza (2001), e ainda traz uma revisão bibliográfica de estudiosos que têm seus trabalhos
concentrados na área de adaptação fílmica como Stam (2000) e Hutcheon (2013). Em sua
segunda etapa voltou-se para os estudos do gótico, debatendo sobre estudiosos como Lovecraft
(2008) e Anne Williams (1995), com o intuito de embasar teoricamente as discussões sobre o
gótico na literatura e na televisão. Trabalhou, em sua terceira fase, com análises, a partir das
quais foram levados em conta os aspectos do gótico empregados por Poe nos contos acima
referidos, e, através dessas análises, pretendeu-se discutir acerca de como o episódio adaptado
traduziu as particularidades do gênero apresentado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os contos O gato preto (1843) e O barril de Amontillado (1846), de Edgar Allan Poe,
foram traduzidos para a televisão no episódio “Lenora”, da série de TV brasileira Contos do
Edgar (2013), que, relacionando representações dos dois contos, permitiu que aspectos das
referidas obras literárias fossem traduzidos para a TV com a ampliação do universo de terror
criado por Poe e a criação de novos sentidos no universo gótico televisivo.
Tanto na composição do conto O gato preto (1843) quanto na sua adaptação para a
televisão, pode-se entender a sucessão de eventos que provocaram o assassinato de Lenora
como peça fundamental na construção das histórias. Esses eventos, repletos de manifestações
sobrenaturais, trazem, além disso, a insanidade da personagem Edgar e a aversão e pavor
crescente em relação ao gato. Enquanto isso, no conto O barril de Amontillado (1846),
observamos o desenvolvimento da personagem Fortunato e o sentimento de ódio e vingança de
Montresor, que, no episódio da série televisiva, foi traduzido na personagem Edgar.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1148
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Ao unir o primeiro conto ao segundo, passamos a conhecer os eventos que sucedem a


morte de Lenora e a revelação de seu assassino. Enquanto na literatura, a insanidade, condição
característica do gótico, se dá devido à repulsa progressiva de Edgar para com os animais, na
série, este fator ocorre em consequência do ódio pelo gato e de seu desejo de reprimir o
sentimento de culpa pelo assassinato da esposa.
Alguns artifícios utilizados na tradução do conto foram fundamentais para inserir a
série no contexto do Brasil do século XXI, como a transformação do cenário de uma masmorra
para uma lanchonete. A iluminação, o uso de cores frias e a construção de um ambiente
empoeirado e abandonado foram recursos utilizados para produzir uma atmosfera de suspense
e causar nos telespectadores sensações de medo e repulsa. Além disso, o flashback como
recurso tradutório foi empregado para associar as duas narrativas que traduzem os contos, sendo
utilizado como memória de Edgar para conectar os dois contos e acrescentar no
desenvolvimento da trama de suspense.

CONCLUSÃO

Na análise realizada, pode-se distinguir o uso de diversos recursos utilizados na


tradução do conto para os livros, entre os quais estão o enquadramento, o jogo de cores e a
iluminação. O enquadramento proporcionou questionamentos a respeito de quem seria a
personagem fora de plano, ampliando a atmosfera de suspense, além de permitir a análise das
expressões em primeiro plano da personagem. O jogo de cores e iluminação propiciaram
analisar as passagens do tempo, com o uso do tom sépia, e a elaboração de um ambiente
mórbido e sombrio. Ao adaptar os contos, a série busca relacionar as duas histórias,
modificando alguns pontos do enredo para incluir as personagens. A introdução do flashback,
por exemplo, foi utilizada para explicar os eventos da história que levaram a personagem até a
cena inicial de assassinato de Lenora e para inserir a história no contexto e época apresentada
na série.
No decorrer desta pesquisa, ao analisarmos cada aspecto adaptado para a televisão, nos
deparamos com um leque de possibilidades e recursos que merecem ser investigados e
aprofundados, de forma que as análises aqui apresentadas não excluem novas perspectivas e
discussões acerca das representações góticas que a série Contos do Edgar faz da obra de Poe.

AGRADECIMENTOS

Ao programa CNPq/PIBIC pelo financiamento do projeto de pesquisa de Iniciação


Científica, à UERN pela oportunidade da pesquisa acadêmica, e aos participantes do grupo de
estudos tradutórios e de adaptação fílmica, vinculado ao Grupo de Estudos da Tradução –
GET/UERN - que impulsionaram a pesquisa através das discussões e debates nas reuniões.

REFERÊNCIAS

ARROJO, R (Org.). O signo desconstruído: implicações para a tradução, a leitura e o ensino.


2ª Ed. Campinas, SP: Pontes, 2003.

HUTCHEON, Linda. A theory of Adaptation. New York: Routledge, 2006.

JAKOBSON, ROMAN. Aspectos linguísticos da tradução. In: ______. Linguística e


comunicação. Tradução de Izidoro Blikstein e Paulo Paes. 14ª ed. São Paulo: Cultrix, 1991. p.
63-72.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1149
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LEFEVERE, André. Translation, rewriting, and the manipulation of literary fame. London:
Routledge, 1992.

LOVECRAFT, H. P. O horror sobrenatural em literatura. Tradução de Celso M. Paciornik.


São Paulo: Iluminuras, 2008.

MARTIN, Marcel; A Linguagem Cinematográfica, São Paulo: Ed. Brasiliense, 1990.

PLAZA, J. Tradução intersemiótica. São Paulo: Perspectiva, 2001.

POE, Edgar Allan. Edgar Allan Poe: Medo Clássico. Tradução de Marcia Heloisa. Rio de
Janeiro: Darkside Books, 2017. v. 1. p. 85-104.

RODRIGUES, Cristina C. Tradução e diferença. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

SANTAELLA, L. Matrizes da linguagem e pensamento: sonora, visual, verbal. São Paulo:


Iluminuras, 2005.

WILLIAMS, A. Art of darkness: a poetics of gothic. Chicago: The University of Chicago


Press, 1995.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1150
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EDUCAÇÃO MUSICAL A DISTÂNCIA NO BRASIL: O ESTADO


DA ARTE

Cleyton Oliveira Tibúrcio¹; Giann Mendes Ribeiro²

Palavras-chave: Música. Educação à Distância. Estado da Arte.

INTRODUÇÃO
Desde a fundação do Instituto Universal Brasileiro (IUB), em 1941, as
experiencias com Educação Musical à distância vem sendo desenvolvidas (Ribeiro 2013).
Com o desenvolvimento tecnológico e o advento da internet novas possibilidades para a
Educação à Distância vieram à tona. Com a grande gama de recursos tecnológicos se faz
necessário conhecer como tem sido feito o uso desses recursos para oferecer para o futuro
o que deu certo e o que ainda não foi testado, não só no que diz respeito à tecnologias,
mas também no ramo das metodologias e para o desenvolvimento da pesquisa na área.
Dentro desse contexto, a presente pesquisa busca contribuir para o futuro na
temática, trazendo um banco de dados mais atualizado das pesquisas e trabalhos
realizados dentro da temática de Música e EAD. Esta pesquisa tem como objetivo geral
realizar um levantamento acerca dos estudos sobre a Educação musical na modalidade a
distância no Brasil entre os anos de 2013 e 2019, e como objetivos específicos levantar a
quantidade de trabalhos com temática “Educação musical a distância” nas revistas
científicas da área da música, no catálogo de teses e dissertações da CAPES, nos anais de
eventos científicos da área da música, verificar os trabalhos que realmente tratam da
temática música e EaD; organizar os trabalhos em ordem cronológica de tempo e dentro
de categorias.

METODOLOGIA
A metodologia utilizada trata-se de um estado a arte, que é definido por Ferreira
(2002) como um estudo de caráter bibliográfico que tem como desafio mapear uma certa
produção acadêmica sobre determinado tema em diferentes campos do conhecimento.
Segundo Romanowski (2002, apud Romanowski e Ens 2006, p. 43) as pesquisas estado
da arte seguem alguns procedimentos: selecionar termos e frases que serão escolhidos
como descritores que irão direcionar as buscas a serem realizadas; depois é feita
localização dos bancos de pesquisa que serão consultados para ter o acesso aos textos;
estabelecimento de critérios para seleção dos materiais; levantamento de teses e
dissertações catalogadas; coleta do material de pesquisa; leitura das publicações;
organização do relatório de estudo que contém a sistematização das sínteses,
identificando as tendências dos temas abordados e as relações indicadas nas teses e
dissertações; e por último a análise e elaboração das considerações preliminares. Esses
foram os procedimentos adotados para a realização desta pesquisa, tanto no levantamento
dos dados como na análise dos mesmos.
¹Estudante do curso de Licenciatura em Música do Departamento de Artes da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: cleytonoliveira@uern.alu.br
²Professor do Departamento de Artes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Líder do Grupo de Pesquisa Perspectivas em Educação Musical; e-mail: giannmendes@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1151
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Partindo do conhecimento desse tipo de pesquisa, foi realizado o passo a passo
descrito anteriormente, sendo definidos como descritores “educação musical a distância
“música e EAD” e “Ensino a distância”. Depois de definidos os descritores foram
escolhidos os locais de busca.
Nosso objetivo foi realizar um levantamento acerca dos estudos sobre a Educação
Musical na modalidade a distância no Brasil. Realizamos o levantamento da quantidade
de trabalhos com temática “Educação musical a distância” publicadas nas revistas
científicas de música (Revista Brasileira em Música, Música Popular em Revista, Modus,
Música em perspectiva, Música & Cultura, Música na Educação Básica, Música e
Linguagem, Música em Contexto, Pesquisa em Música, Revista do Conservatório UFPel,
Revista Música, Ictus, Claves, Sonora, Orfeu e Revista em Pauta) no Catálogo de Teses
e dissertações da CAPES, bem como nos anais de eventos científicos da área da música
(ABEM, ANPPOM, CIEMS, SIMPOM, SIEMI, EDUCAMUS, SIMPOM , ABRAPEM,
ABET, CIEMS 1).
Após o levantamento dos trabalhos que se encaixavam nos critérios estabelecidos,
foi encontrada a seguinte quantidade de trabalhos:

Tabela 1: Anais de eventos científicos


Anais Total de trabalhos
Abem Nacional 16
Abem Regional – Nordeste 4
Abem Regional – Centro oeste 3
Abem Regional – Norte 0
Abem Regional – Sudeste 5
Abem Regional – Sul 1
Anais da Anppom 3
CIEMS 1

1
ABEM – Associação Brasileira de Educação Musical, ANPPOM – Associação Nacional de Pesquisa e
Pós – Graduação em Música, CIEMS – Conferência Internacional de Educação Musical de Sobral,
SIMPOM – Simpósio Brasileiro de Pós – Graduação em Música, SIEMI – Simpósio Internacional de
Educação Musical Inclusiva; EDUCAMUS – Encontro de Educação Musical do Cariri; ABET - Associação
Brasileira de Etnomusicologia; ABRAPEM - Associação Brasileira de Performance Musical; CIEMS -
Conferência Internacional de Educação Musical de Sobral; SIMPOM - Simpósio Brasileiro de Pós-
Graduandos em Música.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1152
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SIMPOM 0
SIEMI 0
EDUCAMUS 0
ABET 0
ABRAPEM 0
Total 33

No catálogo de teses e dissertações da CAPES, além do filtro na linha do tempo


também consideramos os seguintes filtros: o trabalho estar dentro da grande área
linguística, letras e artes; ter como área de conhecimento e área de avaliação artes/música,
dentro das áreas de concentração artes, arte educação e educação musical e
principalmente estar ligado a um programa de pós-graduação em música. Nessa busca
foram selecionados “ciências humanas” e “educação” nos filtros da “Grande área de
conhecimento” e “Área conhecimento” respectivamente, utilizando os descritores
acompanhados do termo “música”, para que não fossem deixados de fora trabalhos com
a temática nessa área de conhecimento. Desse modo, encontramos a seguinte quantidade
de trabalhos:
Tabela 2: Pesquisa no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES
Dissertações e Teses Total de trabalhos
Dissertações 16
Teses 8
Total 24

Na busca realizada nos periódicos das revistas da área da música, além do filtro
de tempo (2013 a 2019) e do uso dos descritores, utilizamos como filtro a leitura atenta
dos títulos, resumos e da introdução de cada trabalho a fim de identificar os que realmente
tratavam sobre a educação musical a distância, dessa forma chegamos ao número de 7
trabalhos encontrados com essa temática, sendo três artigos da revista da Abem e quatro
da revista Música em contexto. Das revistas selecionadas para essa busca não
conseguimos ter acesso apenas a revista Ictus devido o site se encontrar em manutenção,
tentamos o contato por e-mail mas não obtivemos resposta.

Tabela 3: Lista dos Periódicos em Música


Revistas Total de trabalhos
Per Musi 0
Música Hodie 0
Opus 0
Revista da ABEM 3

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1153
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Debates 0
Revista Brasileira em Música 0
Música Popular em revista 0
Modus 0
Música em perspectiva 0
Música & Cultura 0

Música na educação básica 0


Música e Linguagem 0
Música em Contexto 4
Pesquisa em Música 0
Revista do Conservatório UFPel 0
Revista Música 0
ICTUS Indisponível
Claves 0
Sonora 0
Orfeu 0
Revista em Pauta 0
Total 7

Os trabalhos obtidos nos anais dos eventos científicos apresentaram categorias já


mencionadas anteriormente, e trouxe uma nova categoria que foi a das pesquisas com o
foco voltado para os cursos livres na modalidade a distância. As pesquisas foram
categorizadas em: 1 – Formação de Professores para o Ensino de Música a Distância;
2 – Uso da internet e das TIC para o ensino de música a distância; 3 – Ensino e
prática instrumental a distância; 4 - Cursos livres de música a distância; 5 -
pedagogia musical online para o ensino superior.
No catálogo de teses e dissertações da CAPES, tivemos acesso a trabalhos
vinculados aos programas de pós-graduações em música espalhados por todo o Brasil.
Nesse sentido, com base na temática, buscamos filtrar trabalhos relacionados diretamente
com a educação musical na modalidade a distância e obtivemos como resultados as
seguintes categorias: 1 – Ensino e prática instrumental a distância; 2 – Uso da internet
e das TIC para o ensino de música a distância; 3 – Formação de professores para o
ensino de música a distância; 4 - pedagogia musical online para o ensino superior; 5
– Desafios para a Educação a Distância.
Como mencionado anteriormente, encontramos trabalhos relacionados com a
temática em apenas dois periódicos de música, que foram os da Revista da Abem e da
Revista Música em Contexto. Mantendo o mesmo critério para a organização do conteúdo
em categorias, destacamos: 1 – Educação musical e Internet; 2 – Desafios da educação

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1154
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

musical a distância; 3 – Estudo da pedagogia musical online no ensino superior; 4 –


Ensino e prática instrumental a distância; 5 – Formação de professores para o
ensino de música a distância.
As reflexões acerca das temáticas abordadas revelam que a busca por
compreender como se dá a formação dos professores e quais metodologias estão sendo
utilizadas têm sido mais frequentes.

CONCLUSÃO
Com base nas leituras dos trabalhos, constatamos perspectivas distintas no que diz
respeito ao tema proposto sobre a educação musical a distância. Embora todas as
pesquisas estejam relacionadas com a temática, os resultados apontaram para contextos
específicos, sendo possível identificar várias categorias: 1 – Prática e ensino de
Instrumentos Musicais a Distância; 2 – Uso da Internet e das TIC para o Ensino de Música
a Distância; 3 – Formação de Professores para o Ensino de Música a Distância; 4 – Cursos
livres de música a distância; 5 – Educação musical e Internet; 6 – Desafios da educação
musical a distância; 7 – Estudo da pedagogia musical online no ensino superior.
Esses textos possibilitaram compreender como o tema tem sido desenvolvido na
área, gerando entendimento sobre o modo como a educação musical a distância tem sido
abordada em textos acadêmicos. Pensamos que o tema é bastante relevante, tanto no
tocante à interação entre a área das artes como entre a música e demais áreas de
conhecimento, daí a necessidade de mapeá-lo e discuti-lo.

AGRADECIMENTOS
Agradeço à PROPEG/UERN por possibilitar a minha iniciação científica.
Agradeço também ao Grupo de Pesquisa Perspectivas em Educação Musical por
todo suporte dado à esta pesquisa, através dos seus membros: discentes, docentes e
egressos do curso.

REFERENCIAS
AMATO, Daniel Chris; SANTOS, Jane Borges de Oliveira. O ensino de práticas
vocais nas Licenciaturas em música na modalidade Ensino a Distância (EaD). In:
XXIII Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM.
Anais. Manaus, 2017.

AMATO, Daniel Chris; SOLTI, Endre. O ensino das práticas vocais nos cursos de
licenciatura em música no Brasil: um levantamento preliminar em universidades
federais. In: XI Encontro Regional Sudeste da Associação Brasileira de Educação
Musical. Anais, São Carlos, 2018.

ARALDI, Juciane. Impactos das tecnologias e a mudança na cultura da


aprendizagem musical: um estudo sobre redes sociais e educação online. In: XXI
Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais,
Pirenópolis, 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1155
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ARISTIDES, M.A.Martins; NASCIMENTO, M. A. Toledo; BENVENUTO, J.


Emanuel. Um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) na formação e na atuação
dos professores de música da educação básica na região do Sobral: tecnologias e
práticas didático-pedagógicos para uma educação centrada no humano. In:
Encontro Regional Nordeste Abem, 14, 2018, Salvador. Anais, Abem, Teresina:
Universidade Federal da Bahia e Nova UCSAL, 2016, p. 14.

ATOLINI, Rafael Guerini. Um Estudo Sobre O Método Musicalização De adultos


Através Da Voz (Maav) No Prolicenmus: Contribuições De Sistemas De
Organização Do Conhecimento. 2016. 165 f. Dissertação (Mestrado em Música) –
Instituição De Ensino: Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2016.

AVILA, Alexandre Leite De. A Interpretação De Cifras Ao Teclado Na Formação


De Uma Discussão Sobre Aspectos Técnicos E Harmônicos Relativos Ao Ensino Do
Encadeamento De Acordes Proposto No Licenciandos Em Música: Prolicenmus.
2014. f. Dissertação (Mestrado em Música) – Instituição de Ensino: Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2014.

BELTRAME, Juciane Araldi. Educação musical online e semipresencial:


possibilidades metodológicas na extensão universitária. In: XXIII Congresso
Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais. Manaus,
2017.

BRASIL, Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro


de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.

COELHO, Raiden Santos. Mediação On Line: Um Estudo Sobre A Atuação De


Tutores À Distânia Do Curso De Licenciatura Em Música Da Unb. 2015. 162 f.
Dissertação (Mestrado em Música) – Instituição de Ensino: Universidade de Brasília,
Brasília, 2015.

AMATO, R. Santos; MARINS, P. R. Affonso. Presença virtual: um estudo sobre a


mediação didático-pedagógico musical online de tutores a distância de um curso de
licenciatura em música. In: Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e
PósGraduação em Música, 25, 2015, Vitória. Anais. Anppom. Vitória, 2015, p. 10.

COLABARDINI, Júlio César de Melo; OLIVEIRA, Marcia Rozenfeld Gomes de. O


perfil do docente on-line: uma análise do perfil docente em dois cursos de educação
musical a distância. Música em Contexto, Brasília, n. 1, p.27-51, 2016.

COSTA, J. D. Cardoso. O ensino de música a distância online: um relato de


experiência sobre o ensino aprendizagem de violão e ukulele na educação não
formal. In: Encontro Regional Sudeste da ABEM, 10, 2016, Rio de Janeiro. Anais.
Abem. Rio de Janeiro: Colégio Pedro II, 2016, p. 14.

COSTA, Hermes Siqueira Bandeira. A Docência Online: Um Caso No Ensino De


Teclado Na Licenciatura Em Música A Distância Da Unb. 2013. 140 f. Dissertação
(Mestrado em Música) – Instituição de Ensino: Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1156
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

COSTA, Hermes Siqueira Bandeira; MARINS, Paulo Roberto Affonso. Atuação


Docente Online: o professor de teclado a distância. In: XXI Congresso Nacional da
Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais, Pirenópolis, 2013.

EID, J.Pacheco; SILVA, R.S.Ferreira. Orientando o estágio em música na EaD:


como ajudar os alunos a escolherem os temas para seus Projetos? In: XIV Encontro
Regional Centro-Oeste da ABEM, 14. 2016, Cuiabá. Anais, abem, Cuiabá;
Universidade Federal de Mato Grosso, 2016, p.11.

FERLIM, Uliana Dias Campos; MARQUES, Jaqueline. Desafios da


supervisão/criação e tutoria a distância: um relato de experiência a partir da
disciplina Prática de Canto 1 do Curso de Licenciatura em Música a distância da
UnB. In: XXI Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical –
ABEM. Anais, Pirenópolis, 2013.

FERREIRA, N. S. A. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação &


Sociedade, v. 23, n. 79, p. 257-272, 2002.

GOHN, D. M. A internet em desenvolvimento: vivências digitais e interações


síncronas no ensino a distância de instrumentos musicais. Revista da Abem,
Londrina, v.21, n.30, p. 25-34, 2013.

GOHN, Daniel. Aprendizagem musical a distância: experiências com MOOCs. In:


XXI Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM.
Anais, Pirenópolis, 2013.

JARDIM, V. Souza; MARINS, P.R. Affonso. As interações no ensino da música a


distância apoiadas na utilização de videoconferências. In: Congresso da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, 26, 2016, Belo Horizonte. Anais.
Anppom. Belo Horizonte, 2016, p. 10.

JARDIM, Vanessa de Souza; MARINS, Paulo Roberto Affonso. As interações no


ensino e aprendizagem musical via videoconferência na educação a distância:
primeiras aproximações com a literatura. In: XIV Encontro Regional Centro-Oeste
da ABEM,
14. 2016, Cuiabá. Anais, abem, Cuiabá; Universidade Federal de Mato Grosso, 2016,
p.15.

JARDIM, V. Souza. MARINS, P. R. Affonso. Interações musicais via


webconferência: um caso no curso de licenciatura em música a distância da UnB.
In: Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, 27,
2017, Campinas. Anais. Anppom. Campinas, 2017, p. 8.

JARDIM, Vanessa de Souza; MARINS, Paulo Roberto Affonso. Interações musicais


via webconferência no curso de Licenciatura em Música a Distância da UnB: um
olhar para o planejamento docente. In: XXIII Congresso Nacional da Associação
Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais. Manaus, 2017.

JÚNIOR, Edgar Gomes Marques. Aprendizagem De Violão Em Um Curso De


Licenciatura Em Música À Distância: Relações Entre Estudantes E Material

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1157
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Didático. 2013. 85 f. Dissertação (Mestrado em Música) – Instituição de Ensino:


Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2013.

JÚNIOR, Edgar Gomes Marques. Ensino De Violão Através Da Internet: Análise De


Dois Vídeos Instrucionais Em Um Canal Do Youtube. 2017. 151 f. Tese (Doutorado
em Música) – Instituição de Ensino: Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

JÚNIOR, Josué B. dos Santos; FIGUEIRÔA, A. de Souza. Instrumento de sopro na


modalidade a distância. In: XXII Congresso Nacional da Associação Brasileira de
Educação Musical – ABEM. Anais, 2015.

JÚNIOR, Josué B. dos Santos; MARINS, P.R.Affonso. A utilização das tecnologias


da informação e comunicação nas práticas docentes: um estudo com egressos de
curso de licenciatura em música a distância da UnB. In: XIV Encontro Regional
CentroOeste da ABEM, 14. 2016, Cuiabá. Anais, abem, Cuiabá; Universidade Federal
de Mato Grosso, 2016, p.12.

LEITE, Jaqueline Camara. Caminhos Do Repertório Na Formação De Professores


De Música: Um Estudo Sobre O Prolicenmus. 2017. 296 f. Tese (Doutorado em
Música) Instituição De Ensino: Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

MARINS, Paulo Roberto Affonso; JARDIM, Vanessa de Souza; SANTOS JÚNIOR,


Josué Berto dos. A pesquisa em educação musical no EaD: um olhar para o curso
de licenciatura em música a distância da UNB. Música em Contexto, Brasília, n. 1,
p.7389, 2016.

MARQUES, G. Lima. Mídias sociais audiovisuais: uma possibilidade de ensino


aprendizagem online na educação musical? In: Encontro Regional Sul da ABEM, 18,
2018, Santa Maria/RS. Anais. Abem. Santa Maria/RS: Universidade Federal de Santa
Maria, 2018, p. 17.

MEIO, Daniel Baker. Criação Musical Com O Uso Das Tics: Um Estudo Com Os
Alunos De Licenciatura Em Música À Distancia Na Unb. 2014. 178 f. Dissertação
(Mestrado em Música) Instituição De Ensino: Universidade de Brasília, Brasília, 2014.

NUNES, Helena de Souza; SCHRAMM, Rodrigo. Tecnologias musicopedagógicas


para educação a distância: Reflexões sobre a proposição de um conceito. In: XXI
Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais,
Pirenópolis, 2013.

NUNES, Helena de Souza; SCHRAMM, Rodrigo. Educação musical e tecnologia: na


busca por um sistema de avaliação para o EaD em música. Música em Contexto,
Brasília, n. 1, p.111-133, 2016.

NUNES, Leonardo de Assis. Composição de Microcanções CDG no


PROLICENMUS - uma Discussão sobre o Confronto entre Respostas por
Antecipação e Liberdade para Criar. 2015. 146 f. Dissertação (Mestrado em Música)
– Escola de Música, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1158
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

OLIVEIRA-TORRES, F. de A. O ensino de música a distância: um estudo sobre a


pedagogia musical online no ensino superior. Revista da Abem, Londrina, v.21, n.30,
p. 49-62, 2013.

ONÓFRIO, R. M. Gomes. Discussões dobre o ensino de violão em ambientes


digitais: um paralelo entre a literatura e a opinião de um grupo de cinco
professores. In: Encontro Regional Sudeste da ABEM, 10, 2016, Rio de Janeiro. Anais.
Abem. Rio de Janeiro: Colégio Pedro II, 2016, p. 10.

ONÓFRIO, R. M. Gomes. A tecnologia e as interfaces no ensino do violão em


ambientes digitais. In: Encontro Regional Sudeste da ABEM, 10, 2016, Rio de Janeiro.
Anais. Abem. Rio de Janeiro: Colégio Pedro II, 2016, p. 11.

ONÓFRIO, Roberto Marcos Gomes de; MONTEIRO, Maria Iolanda. Gameficação:


uma pesquisa em um curso de violão no MOODLE. In: XI Encontro Regional
Sudeste da Associação Brasileira de Educação Musical. Anais, São Carlos, 2018.

PEREIRA, Estela Ferreira. Educação a distância no Brasil: formando professores


para atender à demanda da lei nº 11.769 de 2008. In: XXII Congresso Nacional da
Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais, Natal, 2015.

PEREIRA, Fabiano Lemos. A Aprendizagem De Música Através Da Internet: Uma


Pesquisa Empírica Na Educação Musical À Distância Em Universidades No Brasil
2013. 214 f. Dissertação (Mestrado em Música) - Instituição de Ensino: Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 2013.

REBOUÇAS, Felipe. A avaliação da performance no violão na modalidade EAD.


In: XXI Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM.
Anais, Pirenópolis, 2013.

REBOUÇAS, Felipe. O conceito de performance no ensino de violão em um curso


de licenciatura em música a distância. In: Encontro Regional Nordeste da Abem, 12.
2014, São Luis. Anais, Abem, São Luis; Universidade Federal do Maranhão, 2014, p.8.

REBOUÇAS, Felipe de Miranda. Modelos de avaliação da performance no violão em


um Curso de Licenciatura em Música a Distância. 2015. 133 f. Dissertação
(Mestrado em Música) – Escola de Música, Universidade Federal da Bahia, Salvador,
2015.

REQUIÃO, Luciana. Educação musical a distância: uma alternativa na formação


inicial de professores não especialistas na área da música. In: XXII Congresso
Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais, Natal, 2015.

REQUIÃO, Luciana. Educação musical a distância: experiências iniciais com


professores unidocentes. Música em Contexto, Brasília, n. 1, p.135-158, 2016.

RIBEIRO, G. M. Autodeterminação Para Aprender Nas Aulas De Violão A


Distância Online: Uma Perspectiva Contemporânea Da Motivação. 2013. 241 f.
Tese (Doutorado em Música) – Instituto de Artes: Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1159
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RIBEIRO, G. M. Educação musical a distância online: desafios contemporâneos.


Revista da Abem, Londrina, v.21, n. 30, p. 35-48, 2013.

RIBEIRO, R. Rodrigues. Educação a distância no curso presencial de licenciatura


em música: uma experiência com o ensino de história da música. In: Encontro
Regional Nordeste da Abem, 13, 2016, Teresina. Anais, Abem, Teresina: Universidade
Federal do Piauí, 2016, p.14.

ROMANOWSKI1, Joana Paulin; ENS, Romilda Teodora. As pesquisas denominadas


do tipo "Estado da Arte" em Educação. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v. 6,
ed. 19, p. 37-50, set./dez. 2006. Disponível em:
https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/article/view/24176. Acesso
em: 14 set. 2020.

SALTI, Endre; AMATO, D. Chris; FORNARI, José. Uma ferramenta computacional


para o aprendizado a distância da expressividade na improvisação musical
jazzística. In: Encontro Regional Nordeste Abem, 14, 2018, Salvador. Anais, Abem,
Teresina: Universidade Federal da Bahia e Nova UCSAL, 2016, p. 11.

SANTOS, Claudia Elisiane Ferreira Dos. Ebook Teclado Acompanhamento Da


Ufrgs: Uma Análise Da Correspondência Entre As Metas Almejadas Pelo
Prolicenmus E Repertório Proposto Para Estudo. 2014. 156 f. Dissertação (Mestrado
em Música) – Instituição de Ensino: Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.

SERAFIM, Leandro Libardi. Modelos Pedagógicos No Ensino De Instrumentos


Musicais Em Modalidade A Distância: Projetando O Ensino De Instrumento De
Sopro. 2014. 177 f. Dissertação (Mestrado em Música) – Instituição de Ensino:
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.

SILVA, Jackson Colares da. FaArtes virtual: Um Modelo de Ambiente Virtual para
o Ensino de Artes na Universidade Federal do Amazonas. In: XXIII Congresso
Nacional da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais. Manaus,
2017.

SOLTI, Endre et al. Um sistema computacional para o ensino a distância da


expressividade musical no jazz. In: XXIII Congresso Nacional da Associação
Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais. Manaus, 2017.

SOUZA, Tomás Teixeira de; MARINS, Paulo Roberto Affonso. MOOCs:


Mapeamento e Análise de Cursos de Música em Plataformas de Ensino a
Distância. In: XXIII Congresso Nacional da Associação Brasileira de Educação
Musical – ABEM. Anais. Manaus, 2017.

SCHULTZ, Edilson. Ensino De Teclado No Prolicenmus: Um Estudo Sobre As


Relações Entre O Repertório Exigido Nas Avaliações N2 E O Rendimento
Alcançado Pelos Egressos. 2017. 180 f. Dissertação (Mestrado em Música) –
Instituição de Ensino: Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1160
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

WESTERMANN, Bruno. A interação mediada por computadores e aprendizagem


de violão: revisão bibliográfica preliminar. In: XXI Congresso Nacional da
Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM. Anais, Pirenópolis, 2013.

WESTERMANN, Bruno. As Coisas e o Ensino de Violão: Relação Entre


Tecnologias Digitais e Características do Ensino do Instrumento no Contexto Da
Educação a Distância. 2017. 227 f. Tese (Doutorado em Música) – Instituição de
Ensino: Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1161
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ENSINO DE LITERATURA NA FORMAÇÃO INICIAL DOS


PEDAGOGOS: ALGUNS APONTAMENTOS

1
Beatriz Andrade dos Santos; Aparecida Suiane Batista Estevam2; Diana Maria Leite Lopes
Saldanha3

Palavras-chave: Ensino de Literatura. Formação inicial formal. Egressos de Pedagogia. Prática


docente.

Introdução
A pesquisa intitulada “O ensino de literatura na formação inicial formal: uma análise
dos saberes teórico-metodológicos apreendidos e suas implicações na prática do professor em
sala de aula nas vozes dos egressos de Pedagogia” está vinculada ao Grupo de Estudos e
Pesquisas em Planejamento do Processo Ensino-aprendizagem/GEPPE do Departamento de
Educação – CAPF/UERN e teve como principal objetivo investigar o ensino de literatura na
formação inicial formal do pedagogo.
Essa preocupação é decorrente dos resultados da pesquisa de doutorado “O ensino de
literatura no curso de pedagogia: um lugar necessário entre o institucional, o acadêmico e o
formativo” (SALDANHA, 2018), cujos dados apontam lacunas na formação inicial formal dos
pedagogos no que diz respeito ao ensino de literatura, leitura literária.
Nessa perspectiva, consideramos relevante questionar: qual a contribuição da
disciplina “literatura e infância” do curso de pedagogia do CAPF/UERN para a formação de
professores mediadores de leitura? Com intuito de responder a pergunta, objetivamos investigar
o ensino de literatura na formação inicial formal do pedagogo e suas implicações no
desenvolvimento das práticas de leitura literária a partir dos relatos dos alunos egressos do curso
de Pedagogia de 2010-2015 do Campus de Pau dos Ferros – CAPF/UERN, na cidade de Pau
dos Ferros RN.

1
Pedagoga; especialista em psicopedagogia institucional e clínica; professora da rede privada de ensino
e membro do grupo de pesquisa GEPPE. E-mail: beatrizandradesantos2@gmail.com
2
Mestranda em Ensino pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino – PPGE da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte - UERN. Membro do grupo de pesquisa GEPPE. E-mail:
suianebatista@gmail.com
3
Professora do Departamento de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN,
Orientadora e coordenadora da pesquisa. Membro do grupo de Pesquisa GEPPE. E-mail:
dianalsaldanha@yahoo.com.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1162
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Portanto, este estudo é considerado relevante por problematizar a formação dos


pedagogos no que diz respeito ao ensino de literatura, tendo em vista que o pedagogo precisa
de embasamento teórico-metodológico em literatura na sua formação inicial formal, pois é este
profissional que atuará nos primeiros anos da Educação Básica, logo, será o responsável por
mediar o contato das crianças com o universo literário.

Metodologia
O trabalho norteia-se pela abordagem qualitativa e tem como objeto de análise o
questionário online aplicado com os egressos do curso de pedagogia dos anos de 2010 a 2015
do Campus Avançado de Pau dos Ferros – CAPF da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte – UERN.
O questionário foi estruturado com 25 questões, abertas e fechadas, sendo que as 13
primeiras objetivavam traçar o perfil acadêmico, profissional e leitor dos egressos e as 12
questões restantes, referiam-se à opinião dos graduados acerca da concepção de literatura e
importância do ensino de literatura para a sua formação inicial formal. Devido às limitações e
pouca disponibilidade dos egressos em participar do estudo, este trabalho apresenta apenas a
análise dos dados referentes aos anos de 2010, 2011 e 2012.
Os dados foram construídos por dois grupos, sendo que o primeiro é formado por
egressos dos anos de 2010/2011, cujo recorte foi utilizado para construção da pesquisa
monográfica de Oliveira (2019) e o outro grupo é composto pelos discentes da turma de 2012.
Primamos em atentar para as questões éticas e de privacidade, por isso, os nomes dos
sujeitos colaboradores da pesquisa serão preservados, quando necessário será utilizado nomes
fictícios. Das turmas de 2010/2011, 18 (dezoito) egressos responderam o questionário, desses
apenas 1 (um) é do sexo masculino, os demais do sexo feminino. A maioria dos sujeitos atuam
na área de formação: Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Dos egressos
de 2012 obtivemos 11 (onze) questionário respondidos, todos do sexo feminino e a maioria não
atua na área de formação.

Resultados e Discussão

A formação de leitores críticos tem ganhado destaque nas pesquisas. Este tema nunca
foi tão relevante quanto agora, no atual cenário social que estamos vivenciando, pois a internet
e os meios de comunicação tem proporcionado aos sujeitos o acesso rápido a milhares de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1163
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

informações por meio de textos, imagens, vídeos, áudios, o que requer dos leitores uma análise
crítica e reflexiva sobre os dados.
Nesse sentido, consideramos indispensável a presença da leitura literária no espaço
educacional, pois esta leitura poderá despertar nos educandos o gosto pelas histórias e ampliar
seus horizontes e conhecimentos, permitindo-lhes expressar sua subjetividade e estabelecer
relações entre a sua realidade social e às leituras. No entanto, para que isso aconteça é necessário
que o professor atue como um mediador do processo, uma ponte que permite aos alunos, o
acesso ao mundo simbólico presente no texto literário.
Nessa perspectiva, consideramos relevante questionar aos colaboradores da pesquisa
se a disciplina Literatura e Infância contribuiu para sua formação leitora e de professor
mediador de leitura e de que modo. Diante das respostas dos egressos notamos convergências,
pois em sua maioria, afirmam que a disciplina Literatura e Infância foi essencial para a sua
formação enquanto leitora e mediadora de leitura.
Constatamos isso ao analisarmos alguns relatos. A egressa Guadalupe responde ao
questionamento da seguinte maneira: “Sim, contribuiu bastante, a disciplina me mostrou a
importância de ler obras literárias por prazer e enquanto professora transmitir este prazer
para os alunos” (DADOS DO QUESTIONÁRIO DA PESQUISA, 2019). Diante de sua resposta,
percebemos a importância dos estudos e experiências vivenciadas na disciplina para a própria
constituição leitora do graduando que se torna, por sua vez, fundamental para que o educador
forme outros leitores, pois como afirma Amarilha (2012, p.25) “[...] é difícil ensinar encontrar
prazer no texto quando nós mesmos não nos deparamos com esse momento. [...]”, ou seja, só
formamos leitores se primeiro formos leitores, apreciadores do texto literário.
Além da disciplina Literatura e Infância propiciar a formação de leitores, forma
leitores por prazer/gosto, como ficou explicitado na resposta de Valéria da Silva “[...] Essa
disciplina traz um encantamento pela leitura, que nos faz ficar apaixonados pelos livros. Dessa
forma, repassamos esse sentimento de amor pelos livros, para as crianças [...]” (DADOS DO
QUESTIONÁRIO DA PESQUISA, 2019), a afirmativa vai ao encontro do objetivo proposto na
disciplina que é a de formar leitores por gosto e não hábito, considerando a discussão de Villard
(1999), que o hábito desaparece logo que deixa de ser uma rotina obrigatória, por isso,
precisamos incentivar o gosto pela leitura.
Em fase disso, Villard (1999) afirma que é fundamental “[...] desenvolver o gosto pela
leitura, afim de que possamos formar um leitor para toda vida [...]” (VILLARD, 1999, p. 11),
ou seja, os graduandos são formados leitores por gosto, que leem por prazer e não por hábito,
no qual realizam leituras por obrigação. Ao formamos educadores amantes da leitura,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1164
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

intencionamos que estes, propiciem aos seus alunos o mesmo encantamento e prazer contidos
nas obras literárias.

Conclusão
Os dados obtidos mostram a relevância da disciplina de Literatura e Infância como
componente obrigatório para a formação dos pedagogos, pois, possibilita um conhecimento
teórico-metodológico sobre o ensino de literatura. Os futuros educadores são convidados a
deleitar-se nas histórias, a desenvolver o gosto pelo texto literário, a ampliar seu repertório de
leitura. Dessa forma, a disciplina contribui para a formação de mediadores de leitura que atuarão
na formação de novos leitores.
A pesquisa aponta a necessidade de expansão da carga horária da disciplina, pois em
seus relatos, os egressos revelam que apenas uma disciplina de literatura é “insuficiente” para
apropriar-se de todos os conhecimentos fundamentais acerca da leitura, mediação do texto
literário e formação de leitores. Portanto, diante dos resultados alcançados na primeira etapa de
pesquisa, percebemos o quanto a disciplina Literatura e Infância é fundamental na grade
curricular do curso de pedagogia.

Agradecimentos
Agradecemos a todos os colaboradores da pesquisa, que de forma direta ou indireta contribuiu
para o desenvolvimento deste estudo investigativo e com a difusão do conhecimento científico.

Referências
AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? Literatura infantil e prática pedagógica.
Petrópolis: Vozes, 2012.

SALDANHA, Diana Maria Leite Lopes. O ensino de literatura no curso de pedagogia: um


lugar necessário entre o institucional, o acadêmico e o formativo. Tese (doutorado) -
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós-
graduação em Educação. Natal,2018.

SALDANHA, Diana Maria Leite Lopes (coord.). O ensino de literatura na formação inicial
formal: uma análise dos saberes teórico-metodológicos apreendidos e suas implicações na
prática do professor em sala de aula nas vozes dos egressos de Pedagogia. Relatório Final. Pau
dos Ferros: PROPEG/UERN/DE/CAPF, 2019.

VILLARDI, Raquel. Ensinando a gostar de ler e formando leitores para a vida inteira.
Rio de Janeiro: Dunia, 1999.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1165
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

EXPERIÊNCIAS DA MATERNIDADE: UMA ANÁLISE DO ETHOS DE


UMA INFLUENCIADORA DIGITAL NO BLOG PESSOAL “DE MÃE
PARA MAMÃE”

Monaliza Correia Bento1; Rosângela Alves dos Santos Bernardino²

Palavras-chave: Maternidade; Ethos. Digital influencer.

Introdução
É pensando em contribuir para os estudos linguísticos do texto e do discurso que
desenvolvemos esse trabalho, dedicado à análise do ethos em discursos de uma influenciadora
digital, Mirela Acioly, a partir de textos escritos coletados do seu blog pessoal fixado no site
https://demaeparamamae.wordpress.com/sobre-2/, no qual ela destinou para expor testemunhos
e desabafos sobre experiências da maternidade, alegando ser também o meio que achou para
suprir o sentimento de solidão que essa nova fase, por vezes, pode despertar, podendo assim
ajudar outras mamães na mesma situação.
Os chamados influenciadores digitais, como o próprio nome sugere, utilizam as mais
variadas mídias digitais para influenciar o seu público, atraindo-o para consumir desde produtos
a adotar certos estilos de vida. Para isso, encarnam o que dizem, publicam e divulgam em seus
perfis e usam a forma como dizem para atrair esse público, que, sendo conquistado, passa a
acompanhar diariamente. Outra forma de conquistar seus seguidores é quando reproduzem
valores estereotipados, por exemplo, à medida que sugerem um estilo de vida e descontroem
outros.
Partindo desse contexto, este trabalho está vinculado ao projeto de pesquisa
“Testemunhos, dicas, desabafos, conselhos...’: um estudo do ethos em discursos de uma
influenciadora digital sobre experiências da maternidade”, desenvolvido pelo Programa de
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), do qual fazemos parte.
Como objetivos específicos, pretendemos: i) identificar e classificar os tipos de pontos
de vista sobre experiências da maternidade mobilizadas pelo fiador do discurso no blog pessoal;
ii) verificar como os pontos de vistas são hierarquizados, como são (não)assumidos na
argumentação e associados aos gêneros nos quais são materializados; iii) descrever os
componentes visuais e verbais que compõem os discursos do fiador no blog pessoal, observando
como eles atuam na construção de uma imagem de si; iv) analisar, comparativamente, sobre a
atuação dos componentes visuais e verbais para a construção do ethos do fiador em
comunicação da escrita na web, considerando o caráter multimodal do blog pessoal.

Metodologia
Para embasamento teórico, contamos com as contribuições da Análise do Discurso
praticada por Maingueneau (2013, 2015a, 2015b, 2016), sobre o ethos, seguimos também as
postulações sobre responsabilidade enunciativa, partindo da Análise Textual dos Discursos
ATD (ADAM, 2011) e aprofundamos nossos estudos sobre esse fenômeno com a abordagem
pragmático-enunciativa do ponto de vista por Rabatel (2016).

1
Estudante do curso de Letras/Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail: monalizabento@hotmail.com
² Professora do Departamento de Letras Estrangeiras (DLE) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN), Membro do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino de Texto (GEPET): e-mail:
rosangelabernardino@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1166
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O trabalho é composto por um corpus constituído de 5 textos coletados em um site da


internet, o blog pessoal da influenciadora digital mencionada. A metodologia do trabalho é
respaldada nos princípios de dedução e indução, com uma abordagem de tipo qualitativa, de
natureza descritiva e interpretativa. Para seleção dos textos escritos, consideramos os seguintes
critérios: selecionar somente os enunciados produzidos pela blogueira, selecionar os enunciados
cujas finalidades sejam características de testemunhos, dicas, desabafos, conselhos, e, por fim,
selecionar os enunciados em que o fiador do discurso (a blogueira) apresente testemunhos
relacionados a ela ou à maternidade. Como procedimento de análise, optamos por: identificação
e descrição dos fragmentos do texto e marcas linguísticas reveladores de um ethos dito e/ou
mostrado pelo fiador dos discursos; análise e interpretação do modo como a influenciadora
digital incorpora seu interlocutor e quais os possíveis estereótipos ativados na construção de
uma imagem de si; análise comparativa da atuação dos componentes visuais e verbais para a
construção do ethos do fiador.

Resultados e discussões
Quanto aos resultados da análise feita, vimos que o fiador do discurso mobilizou pontos
de vista na sua maioria próprios, algumas vezes trazendo a voz de outros para validar o seu
discurso, como de especialistas, por exemplo, pediatras, psicólogos tratando de assuntos
específicos a suas áreas. Quanto ao processo de hierarquização, concluímos que o fiador
assume, se responsabiliza pelos seus enunciados, pois a influenciadora sempre faz uso da
primeira pessoa do singular.
Outro ponto a destacar aqui é a importância das imagens que o fiador traz, para dar ainda
mais veracidade ao discurso escrito no blog, pois sempre é usada de acordo, imagens sorrindo
quando o assunto é prazeroso, triste uma imagem que represente dessa forma etc. Em relação
aos estereótipos, encontramos o de uma mulher, mãe, dona de casa, flexível, que se posiciona,
usando sua inexperiência para tirar suas dúvidas e de outras mães sobre o mundo da maternidade
e influenciadora, pois usa sua rotina de dona de casa para gerar conteúdo para o seu blog.
Apresentamos a seguir dois excertos de publicações feitas nos posts da influenciadora
digital Mirela Acioly, que compõe nosso corpus, assim veremos de forma mais detalhada como
chegamos aos resultados acima mencionados.

Excerto 1:
Amamentação

Fonte: postado em Sem categoria por mirelaacioly83

“Deixo desde já claro que eu quero incentivar ao máximo a amamentação e que o leite materno
é até hoje o alimento mais completo que existe, logo não há melhor para o seu bebê do que o
seu leite, mas quero falar da amamentação de uma forma diferente, espero que todas

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1167
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

entendam).[...] EU amei amamentar, EU não tive problema algum, EU me senti super a vontade
com essa experiência, EU pude ficar em casa, mas isso gente, fui EU!”

Aqui, temos dois recortes de um post da influencer Mirela Acioly. No título ela usa a
opção de ser direta, usando apenas a palavra “amamentação”. Ela revela um ethos dito quando
diz: “Deixo claro desde já que quero incentivar ao máximo a amamentação”, pois o fiador do
discurso transparece ser uma mãe a favor da amamentação, por isso busca incentivar outras
mães. Ainda nesse trecho encontramos um ethos híbrido, visto que além de assumir o papel de
mãe, ela também carrega bagagens científicas sobre o assunto, falando dele com propriedade
quando diz: “o leite materno é até hoje o alimento mais completo que existe”. No final do
recorte ela diz “espero que todas entendam”, buscando, assim, o apoio das suas coenunciadoras,
ao seu posicionamento.
No segundo trecho encontramos um ethos dito quando ela coloca: “EU amei [...] EU
não tive problema”. Sendo o “EU” em letra maiúscula, ela reconhece e deixa claro que com ela
foi assim, porém entende que com outras mulheres pode acontecer diferente. O fiador se mostra
compreensivo, não radical e não extremista ao falar desse assunto. Destacamos também a
imagem usada no seu post, ela usa suas imagens com expressões prazerosas de satisfação e
felicidade, dando maior credibilidade ao que por ela foi publicado, quanto a sua experiência
com a maternidade.

Excerto 2:
APNEIA EMOCIONAL, já ouviu falar???

Fonte: postado em Sem categorias por mirelaacioly83

“No outro dia, Matheus bateu com a cabeça no chão e pela primeira vez ele me assustou! Ele
chorou tanto que ficou roxo e nao respirava, quase que eu tenho um infarto! Comecei a sacudi-
lo e a pedir para ele voltar a chorar, tal nao era meu desespero!(...) Ele voltou a fazer isso umas
2/3 vezes, hoje por acaso fez e eu já reagi de uma forma totalmente segura. (Geralmente
acontece quando a pancada ou susto é forte) Acalmei-o, esperei ele voltar a respirar e tentei
chamar a atenção dele para outra coisa. Pronto… ‘problema’ resolvido sem agonias”.

Nos dois trechos o estilo falado pelo fiador é típico de uma conversa, ou relato de um
fato, descrevendo ação por ação, algumas dessas marcas são quando ela diz: “Ele chorou (...)
Comecei a sacudi-lo (...) Acalmei-o”. Outras marcas revelam a presença de um ethos dito de
uma mãe inexperiente, uma mãe de primeira viagem assustada com um fato novo ao qual ela
não teve controle e domínio da situação, vejamos: “ficou roxo e não respirava, quase que eu
tenho um infarto”. No segundo trecho encontramos um ethos mostrado, de uma mãe informada,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1168
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

com total controle da situação, agindo adequadamente, quando ela diz: “hoje por acaso fez e eu
já reagi de uma forma totalmente segura”. A construção dessa imagem, também nesse
depoimento, chama atenção ao assunto, a influenciadora faz uso de imagens que atraiam seus
coenunciadores, indicando de que falará o seu relato, experiência.

Conclusões

Ansiamos que este trabalho venha contribuir para melhor inteiração sobre as noções de
ethos, Análise do Discurso e, por sua vez, responsabilidade enunciativa.
Concluímos que o fiador dos discursos aqui apresentados destina e adequa suas
publicações visando atingir de modo a influenciar seu público alvo. Neste caso, os
coenunciadores incorporam o mesmo ethos da influencer, pois partilham do mesmo mundo,
sendo elas mulheres, mães, flexíveis e outros.

Agradecimentos

Agradecemos aos colegas de estudos pelo companheirismo e dedicação nas discussões,


ao PIBIC e CNPq, pela oportunidade da bolsa, e à minha instituição UERN.

Referências

ADAM, J-M. A linguística textual: uma introdução à análise textual dos discursos. Tradução
de Maria das Graças Soares Rodrigues, Luis Passeggi, João Gomes da S. Neto e Eulália Vera
Lúcia Fraga Leurquin. Revisão Técnica: João Gomes das S. Neto. 2. ed. revisada e aumentada.
São Paulo. São Paulo: Cortez, 2011.
MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Sousa-e-
Silva, Décio Rocha. 6. ed. ampl. São Paulo: Cortez, 2013. (Original francês 1998).
MAINGUENEAU, D. A propósito do ethos. In: MOTTA, A. R.; SALGADO, L. (Orgs.). Ethos
discursivo. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2015a, p. 11 - 29.
MAINGUENEAU, D. Discurso e análise do Discurso. Tradução de Sírio Possenti. São Paulo:
Parábola editorial, 2015b (Original francês 2014).
MAINGUENEAU, D. Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.). Imagens de
si no discurso: a construção do ethos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2016, p. 69 - 92.
RABATEL, A. Homo narrans: por uma abordagem enunciativa e interacionista da narrativa.
Tradução de Maria das Graças Soares Rodrigues, Luis Passeggi, João Gomes da Silva neto. São
Paulo: Contexto, 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1169
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FACES DO MEDO NO CONTO “DROENHA” DE JOÃO GUIMARÃES


ROSA
Sávio de Souza Carlos1; Antonia Marly Moura da Silva 2
Palavras-chave: João Guimarães Rosa. Conto contemporâneo. Medo.

Introdução
Este trabalho é um recorte dos resultados da pesquisa intitulada O enlace do
fantástico e do medo: um estudo do conto fantástico brasileiro, Edital N° 001/2017-
PROPEG/UERN, exercício 2019-2020. Desenvolveu-se como atividade de pesquisas
realizadas pelo Grupo de Estudos em Literatura e suas Interfaces Críticas – GELINTER, linha
de pesquisa Literatura e Imaginário”, obedecendo às diretrizes do referido projeto que teve
como objetivo a análise de narrativas com foco na problemática do medo e do fantástico em
contos brasileiros.
Seguindo tal linha de reflexão, escolhemos o conto “Droenha” de João Guimarães
Rosa, da obra Tutameia: terceiras estórias (1967), coletânea notadamente reconhecida pela
técnica narrativa e por outros aspectos estéticos peculiares, como a transgressão da forma, por
exemplo, já evidenciada em outras produções literárias do autor. Convém ressaltar que
Guimarães Rosa extrapola o limite da linguagem, criando um estilo em que símbolos gráficos,
ritmos, dentre outros traços, se misturam com a experiência leitora e contribuem para o
desvendamento dos sentidos do texto. Em seu discurso fabular, o escritor não se furtou do
sentimento de falar das coisas universais e do tema do medo, tão intimamente ligado aos
mistérios da vida, do desconhecimento do homem, um aspecto engenhosamente tratado em
poética.
Na literatura, o medo ocupa espaço central, muitas vezes configurado na imagem de
de fantasmas e seres sobrenaturais ou em torno de dramas humanos acerca do desconhecido e
dos mistérios da vida. E. A. Poe, sem dúvida, é um mestre no assunto, pois investiu com
esmero em suas variadas formas. De sua contística, digno de nota é o conto “O gato preto”.
No Brasil, a obra Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, é um exemplo pródigo nessa
temática. Como um ícone no que se concebe hoje como literatura do medo, o escritor se
sobressai pela criatividade e engenhosidade de seu discurso romanesco.
No cenário contemporâneo, João Guimarães Rosa no célebre romance Grande Sertão:
veredas delineou uma poética do medo na ação do personagem Riobaldo, que protagoniza o
jogo dual medo e valentia ao vivenciar o desconhecido e os mistérios de um pacto com o
diabo.
Nesta perspectiva, entendendo-se a relevância da temática no contexto da literatura,
sobretudo na ficção de Guimarães Rosa, o presente trabalho busca analisar “Droenha”, sob a
ótica do medo. Para isso, fazemos uma breve explanação sobre a natureza do medo, seguida
dos apontamentos sobre sua configuração no conto rosiano.

METODOLOGIA
Esta pesquisa, de natureza explicativa e interpretativa, teve como objetivo analisar as
configurações do medo em um conto de João Guimarães Rosa. Assim, utilizamos a

1 Estudante do curso de Letras – Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas do Depart amen to d e Let ras
Vernáculas – DLV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN (Campus Central); E-mail:
savioassetec@gmail.com.br;
2 Professora do Departamento de Letras Vernáculas – DLV, da Universidade do Estado do Rio Grande do No rt e

– UERN (Campus Central). Membro do Grupo de Estudos de Literatura e suas Int erfaces Críticas –
GELINTER/UERN/CNPq. Docente permanente do PPCL/UERN. E-mail: marlymoura@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1170
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

explicação e a interpretação como formas de compreender as manifestações do medo no conto


selecionado. É uma pesquisa de caráter bibliográfico, pois a abordagem da obra literária partiu
de uma perspectiva teórica sobre o tema em pauta. Para tanto, foram fundamentais a leitura de
textos literários, da fortuna crítica de João Guimarães Rosa, de textos sobre o medo e outros
assuntos a este relacionados. Também foram indispensáveis os pressupostos da teoria
literária, sobretudo no que se refere a ficção narrativa. Trata-se de um estudo crítico que teve
como propósito entender como o medo se configura na estrutura de “Droenha”, narrativa que
faz parte da coletânea Tutameia: terceiras estórias (1967) do referido escritor João Guimarães
Rosa.
A análise levou em conta o estilo rosiano expresso na arquitetura ficcional,
observando o modo de configuração do relato, que se desenvolve a partir de uma
problemática inicial: o drama do personagem que é fugitivo de um crime cuja veracidade só é
revelada ao fim da estória. Para tanto, utilizamos as reflexões de Delumeau (1978), Roas e
García (2013), no intuito de traçar perspectivas acerca da história do medo e sua integração à
arte literária. Além disso, convém destacar títulos significativos da fortuna crítica de João
Guimarães Rosa, que foram fundamentais para a compreensão do fazer poético rosiano, dos
qual assinalamos Ronai (1991), Novis (1989) textos que nos permitiram a identificação de
marcas do estilo do autor. A análise do conto também focaliza o efeito do duplo; para tando a
leitura realizada por Silva (2013) é outro aporte que agrega valor ao nosso estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Delemeau (1978) escreve sobre perspectivas que consideram o medo, desde seu
aparecimento individual até uma transformação coletiva. A generalização de um sentimento,
no entanto, não é tão simples como se parece, porque analisar o medo apresenta uma
dificuldade inicial, como caracterizar algo que surge de forma tão subjetiva? O salto, do
individual para o coletivo, é necessário. O medo pode ser definido como uma sensação,
muitas vezes precedida por uma surpresa. A reação à sensação difere de indivíduo para
indivíduo e mesmo que esse sentimento fosse provocado, enquanto experiência, em um
grupo, ainda assim haveria disparidades pela maneira de sentir e reagir ao medo.
De acordo com Delemeau (1978), é preciso resgatar os elementos que caracterizam a
formação do sujeito, para que se compreenda os efeitos ou a natureza do medo. As
civilizações antigas tinham medo dos fenômenos naturais, visto que ainda não conseguiam
dominá-los. No entanto, em todas elas, o medo tem o curioso efeito de temer a uma ameaça:
“el miedo es, en este caso, el hábito que se tiene, en un grupo humano, de temer a tal o a
cual amenaza (real o imaginaria)” (DELEMEAU, 1978, p. 19).
Não se deve, no entanto, pensar no medo apenas como um sentimento negativo, pois
ele é a condição necessária para manutenção da vida, como afirma Delemeau (1978, p. 13) o
medo “es ambiguo. Inherente a nuestra naturaleza, es una muralla esencial, una garantía
contra los peligros, un reflejo indispensable que permite al organismo escapar
provisionalmente a la muerte.” Sem o medo, o organismo estaria indefeso em situações de
perigo: é exatamente por essa razão que esse sentimento é capaz de preservar a vida.
Diferentemente dos outros animais o homem pensa constantemente em sua morte, ou
ameaças a condições próprias de sua vida. Estar consciente de que, a qualquer momento, algo
pode retirar sua vida, confere ao homem a sensação desagradável de conhecer o medo em seu
mais alto grau. Isso significa também que a natureza do medo não se restringe somente à
insegurança em relação à vida, mas há tipos diferentes, despertados por objetos distintos.
Nesse sentido, o medo humano é múltiplo e recria processos baseado na própria imaginação,
que é fruto de uma herança genética. Roas e García (2013, p. 59) consideram que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1171
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

“el miedo que experimenta nuestra especie, a diferenza de otros animales, no se corresponde
forzosamente com un peligro actual, sino que configura, em su herencia biológica o
antropológica, um imaginário donde se percibe la huella de uma intemperie ancestral”.
A herança mencionada pelo autor é fruto da formação de um sujeito, histórico e
social, que sofre o impacto de uma mudança também provocada por si mesmo, pelo fato de a
espécie humana está constantemente em evolução. Os ancestrais criaram para si deuses
baseados no desconhecimento das forças naturais. Mesmo com o advento da ciência e as
grandes observações humanas, o medo não largou o homem em seu desenvolvimento, criando
novas formas na ordem psíquica.
“Droenha” é o nono conto das quarentas estórias de Tutaméia. Num relato em terceira
pessoa, acompanhamos a história de Jenzirico, o personagem protagonista, fugitivo de um
crime que se instala em uma Serra, conforme assinala a narrador, lugar em que “viviam certos
fugidos criminosos;” (ROSA, 2009, p. 56). O herói é guiado até o local por Izidro, amigo e
confidente. A Serra é apresentada como um ambiente distante da cidade, longe de tudo e de
todos, e, sendo terra de fugidos, soma-se a característica de ser recanto de sujeitos criminosos:
“Ia topar de perto os outros definidos foragidos, se dizia que plantavam mandiocal, milhos,
deparando com esses não havia de estranhar o acaso” (ROSA, 2009, p. 56-57). Essa
ambientação inicial já provoca certa sensação do medo vivenciada pelo personagem.
O desconforto causado pela presença de Zèvasco no lugarejo, chamado de “tranca-
ruas”, não se restringe apenas a uma ameaça ao próprio Jenzirico, o qual sofreu a ação da
desforra, mas amplia-se, porque é uma ameaça local. O perigo representado pelo personagem
constrange a população. No entanto, o herói resolve tomar uma atitude, mas, a partir de então,
o sujeito não será mais o mesmo, como ressalta o narrador em “é quando a gente se estraga”
(ROSA, 2009, p. 57), vencer o temor de Zèvasco é criar um novo medo.
Jenzirico é a representação do homem que não pode esconder-se de sua consciência,
involucrado pela culpa, o pensamento constantemente se virando contra si, como se
contemplasse seu rosto em um espelho. Vive um pesadelo, uma fuga de si, tentando esquivar-
se dos próprios olhos. Não pode dormir, porque a consciência grita os temores provocados
pelo crime e põe, rente um ao outro, o sujeito e o assassino.
Há um contraste entre estar em um grandioso alpendre, símbolo da liberdade,
podendo vislumbrar o mundo até os limites impostos pela natureza e preso aos pensamentos.
A Serra não aparenta ser um lugar seguro, como considera o narrador: “só perigos o
esperassem” (ROSA, 2009, p. 56). O medo, dessa maneira, espreita Jenzirico por fora, pelos
perigos que lhe oferecem o lugar, mas também pelo desconforto de conviver com o crime. Por
todos os lados o personagem se vê desolado, abandonado e esquecido, apenas com mochila e
saco, os quais tinha de os resguardar.
Quando Jenzirico resolve conhecer o local, lembra-se pela primeira vez de seu nome:
“Sobrestado, tardador, quis escolher qual rumo, mão em arma. Jenzirico... — ele súbito se
advertiu, vez primeira atentava em seu nome, vasqueiro, demais despropositado” (ROSA,
2009, p. 56 grifo do autor). O crime pode ter provocado o desconhecimento de sua própria
identidade, transformando-o agora em um novo sujeito. Desconhecido de si e dos outros,
Jenzirico não pertence mais ao seu próprio mundo e a alucinação entra em cena como
elemento que causa dubiedade das informações, por isso conclui o narrador: “Se benzeu,
sacou de ombros, tudo sucedia por modo de mentira” (ROSA, 2009, p. 56).
Há um “efeito alucinador” constatado por Silva (2013), em razão da ambiguidade das
coisas, provocada pelo efeito do álcool e da constante dúvida permeada pela ação do crime.
Jenzirico não vê a realidade de forma una. Essa alucinação recriará um novo efeito em torno
do tema. O medo reaparecerá pelo sumiço das vestimentas do personagem. A princípio, o
personagem pensa haver relação com os macacos até confirmar que a única ameaça a ser
temida na Serra é a da gente: “tivesse um o ousio de aqueles ir procurar, por companhia? A

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1172
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

gente tem de temer a gente” (ROSA, 2009, p. 57 grifo nosso). Justamente, o medo mais
temido é o que lhe desperta do sono: “Despertou — ouvindo espirro humano” (ROSA, 2009,
p. 57).
A expectativa criada em torno do sumiço das roupas desperta dúvidas em Jenzirico –
se, de fato, a ameaça fosse humana, o personagem seria capaz de matar novamente para
sobreviver? Mas o temor põe em dúvida a veracidade do seu pensamento, rememorando uma
série de tensões vividas pelo herói. Se é considerado criminoso, muito mais o seria mediante a
refeita do crime, assimilando a Zèvasco, o homem que via na violência uma forma de prazer.
O conto se encerra com a declaração de que Tovasco, irmão de Jejibirro, mata
Zèvasco para vingar o sumiço do mesmo irmão. Jenzirico agora pode descansar, a saúde é
renovada pela remissão da culpa e o personagem volta ao seu “mundo sueto”, tomando as
suas vestimentas e pronto caçar os mocós. A encenação do cotidiano ganha vida para retomar
a consciência e o juízo de Jenzirico assaltados pelo crime.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
È unanime estre estudiosos do medo que este sentimento está diretamente ligado ao
desenvolvimento humano e foi expressivamente representado na literatura.
Em “Droenha”, o medo é instigado a partir da solidão e do desconhecimento do
personagem em relação ao local, longe do seio familiar e da esfera social. Não bastasse a
reclusão, o protagonista tem de viver inteiramente à espreita dos entes que habitam a Serra,
que estão nos arrabaldes do mundo, tão próxima do céu. No entanto, tem o seu pensamento
cativo à consciência que constantemente o acusa de um crime não-feito.
De um modo geral, podemos dizer que o sentimento do medo vivido pelo personagem
de Droenha configura-se como uma emoção decorrente de uma vasta lista de emoções, dentre
as quais convém lembrar|: a solidão, o medo por ter supostamente matado outro, o gesto
emblemático de voltar-se para o conhecimento de si, longe de tudo e todos, a sobrevivência
na serra... Em suma, Guimarães Rosa prestigia em seu discurso romanesco um modo
engenhoso de refletir sobre as ameaças da vida, o que nos faz pensar na repetida frase dita por
Riobaldo: “viver é muito perigoso”.

AGRADECIMENTOS
Agradeço à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte por propiciar a
oportunidade de minha participação nesta pesquisa. Agradeço também pelo material
disponibilizado para os estudos por parte da instituição e da minha coordenadora da pesquisa.
Grato aos que participaram direta e indiretamente na contribuição desta atividade.

REFERÊNCIAS

DELEMEAU, Jean. El miedo en el Ocidente. Taurus, 1978.


NOVIS, Vera. Tutaméia: engenho e arte. São Paulo: Perspectiva, 1989. (Debates, 223).
ROAS, David; GARCÍA, Patrícia. Visiones de lo fantástico: aproximaciones teóricas.
Málaga: e.d.a. libros, 2013.
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
______. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
______. Tutameia: Terceiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
RONAI, Paulo. Tutaméia. In: ______. COUTINHO, Eduardo F. Guimarães Rosa. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.
SILVA, Antonia Marly Moura da. “Tudo sucedia por modo de mentira”: o duplo e o insólito
em “Droenha”, conto de João Guimarães Rosa. Textos Completos do XI painel - Vertentes
teóricas e ficcionais do insólito. Rio de Janeiro, 2013.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1173
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

FRAGMENTAÇÃO COMPOSICIONAL E AUTORITARISMO EM


APRENDER A REZAR NA ERA DA TÉCNICA, DE GONÇALO M.
TAVARES

Jonnas Azevedo da Silva1, Annie Tarsis Morais Figueiredo (Orientadora) 2

Palavras-chave: Fragmentação. Autoritarismo. Narrador. Aprender a rezar na era da


técnica. Gonçalo M. Tavares.

A presente pesquisa visa analisar o romance Aprender a rezar na era da técnica


(2008), do escritor Gonçalo M. Tavares. Esta obra foi a última da tetralogia “O Reino”
integrada também pelas seguintes obras: Jerusalém, Um Homem: Klaus Klump e A
Máquina de Joseph Walser que foram publicadas entre os anos 2003 a 2007. Essas
narrativas juntas formam um conjunto de livros intitulados “Livros Negros” os quais
apresentam uma série de questionamentos sobre as relações de poder e violência. Com
esses escritos Gonçalo M. Tavares (doravante GMT) ganhou renome no âmbito literário.
A narrativa selecionada para este estudo expõe a história da família Buchmann.
No entanto, não temos a localização exata ou a época que se passa o romance,
encontramos indícios de que a trama se dá na Europa e que o sobrenome Buchmann tem
origem alemã. Assim, Aprender a rezar na era da técnica (doravante ARNET) conta a
história do médico cirurgião Lenz Buchmann, um jovem alemão que tem seu processo
educativo dirigido pela figura de seu pai Frederich Buchmann, um militar aposentado que
transforma a sua família em um “estado monárquico”, no qual faz uso do patriarcalismo
para dominar as atitudes de seus filhos. Frederich, ao longo do romance, torna-se uma
espécie de herança para seus filhos Albert e Lenz, isso acontece devido a tradição familiar
instaurada pelo patriarca, o modo que Frederich escolheu viver representava um ideal a
ser seguido por todos que carregam o sobrenome Buchmann e com o suicídio de Frederich
cria-se uma rivalidade entre os seus dois filhos pela disputa de seu legado.
Nessa perspectiva, visamos perceber como Lenz Buchmann se constrói como
personagem complexo, pois no romance notamos uma narração fragmentada construída
através da voz do narrador, escolha composicional que conversa com as atitudes de Lenz.
Dessa forma, o nosso objetivo é analisar o romance ARNET, focando no discurso
fragmentado do narrador, e, a partir disso, investigar a configuração de Lenz Buchmann
como personagem autoritário entrelaçado ao patriarca Frederich Buchmann, atentando
para os entrelaçamentos entre materialidade e conteúdo dentro da narrativa, tendo em
vista a configuração do narrador e construção subjetiva do protagonista.
Nosso artigo teve como base uma pesquisa qualitativa na qual buscamos analisar
alguns aspectos subjetivos do romance ARNET, propomos utilizar teóricos que
levantassem problematizações acerca das relações comportamentais de Lenz, tendo em
vista a fragmentação do romance e as relações homem e técnica/máquina. Dessa forma,
procuramos por uma análise que refletisse o teor técnico de ARNET, juntamente com as
escolhas composicionais de GMT para isso utilizamos de excertos do texto que
1
Estudante do curso de Licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e Respectivas
Literaturas, do Departamento de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (CAP/UERN);
E-mail: jonnasazevedo201819@gmail.com e jonnassilva@alu.uern.br
2
Professora de Literaturas de Língua Portuguesa do Departamento de Letras do Campus Avançado de Patu,
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (CAP/UERN). Participante dos Grupos de Pesquisa:
Literatura e cultura afro-brasileira, africana e da diáspora; Observatório de Crítica Literária, ensino e criação
e BIOS - Núcleo de Estudos em Biopolítica e Filosofia Contemporânea. E-mail: anniefigueiredo@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1174
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

representam as relações de Lenz Buchamann frente ao seu posicionamento de mundo, as


suas crenças, os valores e as relações humanas, assim escolhemos trechos que corroboram
para o nosso recorte analítico.
Auxiliam-nos nesta pesquisa Michel Foucault (1999), para pensarmos nos
métodos de controle que estavam presentes nas relações de Lenz. Utilizamos Mieke Bal
apud Yamakawa e Tofalini (2016), afim de identificar a variação das vozes e posições
que o narrador externo e interno desempenhou ao longo do discurso narrativo. Theodor
W. Adorno (2003) e Wayne C. Booth (1980), com o intuito de compreender os
posicionamentos que o narrador utilizou em sua narração fragmentada, assim entender os
entrelaçamentos composicionais de GMT frente ao protagonista Lenz.
ARNET é dividida em três partes intituladas: “Força”, “Doença” e “Morte”. Na
primeira parte encontramos um subtítulo nomeado “O adolescente Lenz conhece a
crueldade”, nesta seção temos o narrador em terceira pessoa expondo como era a relação
entre Frederich e Lenz Buchmann, essa relação de pai e filho era marcada por
aprendizados e instruções que buscavam tornar Lenz um “verdadeiro Buchmann”. Nesta
cena observamos Frederich segurando o braço de Lenz, e o guiando ao quarto de uma
empregada, afim que ele venha experenciar seu primeiro ato sexual, Fredrich passa a
dirigir ordens a Lenz dizendo: “— Agora vais fazê-la, aqui, à minha frente” (TAVARES,
2008, p. 17). Nessa passagem existe a relação de dominação, na qual o jovem Lenz e a
criadita sofrem uma violência física e psicológica que de maneira coercitiva obriga os
indivíduos da cena a realizarem o ato exigido. A relação sexual aqui existente é
transformada em uma operação de máquinas por Frederich que fazendo uso de sua figura
masculina transforma a sua casa em um “estado monárquico”, em que ele apresenta um
poder soberano atravessando a biopolítica, capaz de dominar e manipular os personagens
envolvidos na cena.
A construção do protagonista Lenz Buchmann no romance é complexa, diante
das influências e dos ensinamentos de seu pai, Lenz torna-se um homem ofensivo e cruel
que ver nas suas relações oportunidades de manipular e controlar as outras pessoas. Lenz
segue os ideais de seu pai se tornando o único filho capacitado de continuar com o legado
da família Buchmann. Na primeira parte do romance, existe um subtítulo chamado “Pede-
se mais pão”. Neste trecho temos o narrador apresentando um encontro entre Lenz e um
vagabundo o qual teria lhe pedido algo para comer, Lenz o convida a entrar na sua casa e
o recebe na cozinha, ao sentar-se na mesa o vagabundo é surpreendido por Lenz que passa
a manter relações sexuais com sua esposa Maria Buchmann na sua presença. O
vagabundo imediatamente inclina a cabeça para baixo temendo alguma repreensão, Lenz
fazendo uso de uma violência psicológica obriga o vagabundo a permanecer inerte
enquanto o ato é realizado. Dessa forma, Lenz controla as atitudes do vagabundo o
transformando em um espectador passando a manipular, tendo a voz de comando e o
direito sobre os corpos envolvidos nesse episódio.
Em torno destas situações Lenz torna-se um médico renomado pelo domínio da
“técnica”. A técnica exigida ao médico na sociedade de ARNET era um esvaziamento
dos sentimentos humanos. Em outras palavras, o personagem torna-se uma máquina que
age de maneira racional e eficaz abandonando o máximo possível as maneiras
sentimentais de transcender. Pensando nisto, temos o título do romance: Aprender a rezar
na era da técnica, o homem deve aprender uma nova maneira de rezar na era tecnológica,
o rezar aqui é visto como aspecto metafísico, uma capacidade de transcendência em que
o humano pode ir além do aspecto físico e automático, a técnica se apresenta como um
novo objeto que deve ser conhecido e experimentado. Com esse título, GMT elabora uma
crítica sobre as formas de relacionamento entre os indivíduos na sociedade, pois os
personagens veem tudo de forma segmentada como situações isoladas e desconectadas,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1175
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sendo que tudo é um conjunto interdependente. Isto acontece com o personagem Lenz
que no início do romance apresenta uma ideia fixa sobre a técnica, mas ao decorrer da
narrativa ele vai mudando sua posição no mundo, passando por um processo de
autoconhecimento chegando a perceber sua fragilidade e pequenez.
O cargo de cirurgião possibilita a Lenz um poder soberano capaz de interferir
diretamente na vida de seus pacientes, pois o poder soberano contemporâneo atravessa a
biopolítica que apresenta duas técnicas de controle, no entanto, dentro do hospital Lenz
centra-se na primeira: o corpo-espécie. Lenz tinha a vida de um pequeno grupo de pessoas
em suas mãos, mas ele queria mais, e para isso ele muda de profissão, passando a atuar
como político, cargo lhe dava uma maior quantidade de corpos a ser controlados como
também uma ampliação de seu poder. Essas relações e comportamentos de Lenz são
apresentados por um narrador em terceira pessoa onisciente o qual por momentos faz
intromissões na primeira pessoa, isso nos arremete a Mieke Bal apud Yamakawa; Tofalini
(2016), explica que não existe uma narrativa em primeira ou terceira pessoa, segundo ela,
ambas são narradas por um mesmo “eu”. Seguindo essa concepção, Bal faz a seguinte
diferenciação explicando que existe um “narrador externo” (fora da história) e “narrador
personagem” (dentro da história). O narrador deste romance faz uma alternância entre o
narrador externo e o personagem, ele apresenta a história de vida de Lenz com seu
posicionamento no mundo por meio de um discurso fragmentado.
ARNET é dividida em três partes, dentro de cada parte encontramos uma
sequência de capítulos e subcapítulos que juntos formam pequenos episódios da vida de
Lenz, os episódios não apresentam uma sequência cronológica, mas sim uma ordem
segundo os acontecimentos que formaram/construíram o personagem em suas diversas
posições no mundo da narrativa. Ao analisarmos o sumário, com a organização
fragmentada de cada título e subtítulo interligamos rapidamente ao modo de narrar, em
que a ordem do discurso do narrador externo/interno apresenta digressões e recuos no
tempo. A escolha composicional de GMT entre conteúdo e a materialidade da narrativa
conversam com as atitudes de Lenz, pois reflete a maneira que ele se relacionava com o
mundo, essa organização destaca a divisão funcional do mundo e a ilusão de
separabilidade que Lenz havia herdado do pai, isto faz com que o personagem adquira
uma visão autoritária com uma busca incansável pela técnica e poder.
O narrador deste romance foi criado com uma técnica específica, GMT para
construir a voz do narrador de ARNET permitiu a entrada da subjetividade em sua
narração. Com um discurso predominante no estilo indireto livre, o narrador faz
alternâncias na posição de sua voz. As várias posições desempenhadas pelo narrador
possibilita uma aproximação do leitor e por momentos um afastamento chegando
momentos a ficar imperceptível sua presença, assim o narrador deixa de estar fixo em
uma única posição e passa a ampliar o seu olhar como em uma câmera de cinema que
apresenta várias posições flutuantes. Percebe-se que essa mudança de focalização do
narrador com as flutuações se dá entrelaçado as mudanças de posição de Lenz no mundo
de acordo com os momentos de vida do personagem, como no início que ele é médico
seguido pelo politico e por último o seu estágio de doente. Dessa maneira, o narrador vai
detalhando a vida de Lenz sem nem um distanciamento, mas em alguns momentos temos
a aparição do estilo direto com falas demarcadas e travessões.
Dessa forma, a narrativa passa a ser construída segundo as atitudes de Lenz,
correspondendo seu formato e conteúdo ao estilo de vida do protagonista, assim temos as
várias posições que o narrador desempenhou para nos guiar e apresentar a posição de
Lenz no seu mundo. GMT com essa estética nos possibilita perceber como o romance foi
escrito de uma forma técnica em que os fragmentos conversam com a educação militar
de Lenz por parte de seu pai Frederich Buchmann e o seu estilo de vida prático, assim

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1176
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

temos o posicionamento de Lenz em uma sociedade altamente burguesa e caótica que


gera seres apáticos e egoístas, em que as suas relações pessoais são marcadas por conflitos
que exigem uma posição de ataque como em um campo de batalha.
Pesquisamos ao longo do artigo a configuração de Lenz como sujeito autoritário,
isto foi necessário para compreendemos as fragmentações no discurso do narrador
(externo e interno), pois essa escolha composicional de GMT representa a vida de Lenz.
O entrelaçamento entre a materialidade e o conteúdo com as fragmentações das partes,
títulos e subtítulos refletem a visão de separatista de Lenz e conversa com sua educação
militarizada. A voz fragmentada do narrador demonstra a cosmovisão de Lenz em uma
sociedade burguesa autoritarista. Dessa maneira, conseguimos ver que as escolhas
composicionais do romance são uma representação da vida Lenz Buchmann, ao longo da
narrativa percebemos que Lenz vai passando por um processo de autoconhecimento e
quando chegamos ao fim do romance percebemos que Lenz passa a compreender a sua
fragilidade enquanto indivíduo. Assim o narrador vai fazendo mudanças no seu
posicionamento de acordo com as fases da vida de Lenz, as fragmentações
desempenhadas ao longo do romance demonstram os vários posicionamentos de mundo
de Lenz, seja como médico, político e posteriormente doente.

Referências:

ADORNO, T. Posição do narrador no romance contemporâneo. In: Notas de


Literatura I. Tradução Jorge de Almeida. São Paulo: 34 Letras, 2003. p. 55-63

BOOTH, W. C. A retórica da ficção. Tradução de Maria Teresa H. Guerreiro. Lisboa:


Editora Arcádia, 1980. p. 165-181

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Tradução de Maria


Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 13. ed. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1999. p. 149

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel


Ramalhete. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. Tradução de Raquel Ramalhete. p. 348

TAVARES, G. M. Aprender a rezar na era da técnica: posição no mundo de Lenz


Buchmann. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 356

YAMAKAWA. I, TOFALINI. L. Aprender a rezar na era da técnica, de Gonçalo M.


Tavares: silêncio primordial. Memento – revista de linguagem, cultura e discurso
mestrado em letras. Vale do Rio Verde, v. 07, n. 1, p. 6-17, janeiro-junho, 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1177
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INFLUÊNCIA DA TRADUÇÃO FEMINISTA CANADENSE NAS TRADUÇÕES


BRASILEIRAS: REALIDADE OU ISULÃO?

Lucas Heitor Ananias Oliveira1; Nilson Roberto de Barros da Silva 2

Palavras-chave: Tradução feminista. Tradução de gênero. Linguística de Corpus.

Introdução

Na década de 1970, no Canadá, surgiu um movimento de estudos e traduções


feministas. Com base nesses estudos, tradutoras autodeclaradas feministas, como Nicole
Brossard e Barbara Godard, lutaram contra o apagamento de marcas e menções ao
feminino em obras traduzidas e defendiam uma maior visibilidade sobre essas marcas
dentro dessas obras. A ‘tradução de gênero’ ou ‘tradução feminista’, como esse estudo
também é chamado, abdica de uma linguagem que neutralize vestígios que exaltem o
masculino nas traduções para línguas que estão inseridas dentro de uma cultura
patriarcal. Além disso, muitas dessas tradutoras interpretam esse ato como um trabalho
que vai além da tradução, mas também como um ato político e intervencionista.

Dessa forma, criou-se a hipótese de que esse movimento poderia influenciar a


forma que tradutores de outras nacionalidades traduziriam, principalmente, obras
literárias para suas respectivas línguas e países. Assim, partindo da abordagem
metodológica de Linguística de Corpus, houve o planejamento de analisar uma possível
motivação ou inspiração no trabalho de outros tradutores após o movimento feminista
canadense.

Deste modo, esta pesquisa bibliográfica objetiva evidenciar se houve ou não


apagamento ou exclusão de palavras femininas que foram investigadas nos quatro
subcorpora, que compõem o corpus desta pesquisa, quais sejam: obras traduzidas por
homens e mulheres de 1900 a 1970 e, igualmente, coletâneas trabalhadas por homens e
mulheres de 1971 a 2016. Isto devido à intenção de se observar a influencia que o

1
Estudante do curso de Letras com Habilitação em Língua Inglesa do Departamento de Letras
Estrangeiras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: lucasheitor30@hotmail.com
2
Professor do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Coordenador do Grupo de Estudos de Tradução – GET/UERN; e-mail: nilsonbarros@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1178
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

movimento feminista obteve sobre a obra de demais tradutores. Com isso, este resumo
apresenta dados detalhados mais voltados ao terceiro plano de trabalho (subcorpus 03),
referente às obras de 1900 a 1970 traduzidas por mulheres.

Metodologia

Primeiramente, sendo uma pesquisa de característica descritiva, foi analisada a


quantidade e o contexto de menções a palavras-chave referentes ao gênero feminino,
utilizando o embasamento teórico-metodológico da Linguística de Corpus. Desta forma,
houve a comparação dessas palavras inseridas na obra original e de sua respectiva
tradução, com o intuito de analisar se houve ou não algum apagamento. Assim, para a
análise do corpus, houve o auxílio tecnológico do programa Word-Smith Tools 6.0
(SCOTT, 2012) que ajuda na exploração, disponibilizando um maior grau de
detalhamento e facilidade sobre a frequência e contexto que são usadas as palavras,
neste caso, voltadas ao terceiro subcorpus.

Desta forma, ocorreu a investigação com o objetivo de observar se houve


mudanças significativas às menções ao feminino durante suas traduções, caracterizando-
se apagamento ou ocultamentos dessas referências.

Assim, em especial no subcorpus 03, foram analisadas as palavras ‘girl’,


‘mother’, ‘Mary’, ‘widow’ e ‘daughter’ e também suas (possíveis) respectivas
traduções: ‘menina’, ‘garota’, ‘moça’, ‘mãe’, ‘Mary’, ‘viúva’ e ‘filha’. O subcorpus 3 é
composto por três obras do escritor Irwin Shaw: Love on a dark street (1965), Lucy
Crown (1956) e Two weeks in another town (1960), e suas respectivas traduções para
português brasileiro.

Resultados e discussão

Ao final da pesquisa descritiva, pode-se afirmar que não houve ocultamento


significativo sobre as referências de personagens femininos nos subcorpora antes ou
depois do movimento feminista canadense. Como também não houve mudanças
consideráveis em menções ao masculino nos subcorpora, ou seja, não se concretizando
um pressuposto de uma possível exaltação ao masculino.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1179
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Além disso, também se podem observar números aproximados quanto à


frequência de palavras relacionadas a personagens masculinos e femininos, tanto nas
obras originais quanto em suas traduções. Esse fato ocorre, por exemplo, no subcorpus
02, com a palavra ‘daughter’, mencionada na obra Pride and Prejudice (1813), e a
palavra ‘filha’, citada em sua tradução Orgulho e Preconceito (1982), onde as palavras
aparecem 31 e 36 vezes, respectivamente. Entretanto, há casos em que tradutores
preferem o ocultamento de palavras devido à sua repetição em frases e orações
(repetições que são comuns na estrutura gramatical da língua inglesa). Intervenções
feitas para a melhor adequação da expressão da língua inglesa para a língua portuguesa,
facilitando a leitura e adaptação da fala dentro do contexto. Portanto, este ato não é
caracterizado um ocultamento, já que a intervenção foi feita para a melhor adequação
gramatical do contexto para determinada língua ou país.

Conclusões

Com base nessa pesquisa, conclui-se que não houve influência notável do
movimento de escritoras feministas canadenses, que visavam obter uma maior
visibilidade do feminino em obras traduzidas, já que não são perceptíveis estratégias
que impliquem no ocultamento do feminino no corpus analisado.

Agradecimentos

Primeiramente, é preciso agradecer à Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte, pelo auxílio e oportunidade acerca dos estudos. Também há um agradecimento
especial a todos aqueles que participaram direta e indiretamente desta pesquisa
bibliográfica, através do suporte e incentivo.

REFERÊNCIAS

SCOTT, Mike. WordSmith Tools 6.0. Oxford: Oxford University Press, 2012.

SHAW, Irwin; Love on a Dark Street. 1965. p. 1-256.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1180
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SHAW, Irwin; Lucy Crown. 1965. p. 1-349.

SHAW, Irwin; Two Weeks in another Town. 1960. p. 1-484.

AUSTEN, Jane; Pride and Prejudice. 1813. p. 1-593.

AUSTEN, Jane; Orgulho e Preconceito. Tradução de Lúcio Cardoso. 1. ed. São Paulo:
Abril Cultural, 1982. p. 1-335.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1181
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

INFLUÊNCIA DO MOVIMENTO FEMINISTA CANADENSE NA


TRADUÇÃO BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DE MARCAS DE
GÊNERO

Samira Sabrina da Costa Rodrigues1; Nilson Roberto Barros da Silva2


Palavras-chave: Linguagem. Feminismo. Linguística de Corpus.

Introdução

Na década de 1970, eclodiu no Canadá uma intensa mobilização de movimentos


feministas, movidos pelo desejo das mulheres por direitos legítimos de questões como
equidade civil e de gênero, pautados numa vivência humana a partir dos princípios que regem
o empoderamento feminino. Em busca de mudanças para as normas morais originárias no
patriarcado que tanto as oprimem, estas mulheres invadiram as ruas e os protestos tomaram
grandes proporções, a ponto de influenciarem mulheres em diversas partes do mundo a
também lutarem por seus direitos enquanto mulher e ser social.

Contudo, esta influência não se resume apenas às questões políticas. Neste mesmo
período, a partir dos estudos das escritoras e tradutoras Nicole Brossard, Suzanne de
Lotbinière-Harwood, Susanne J. Levine e Barbara Godard, entre outras, dá-se início a um
segmento nos estudos de tradução denominado ‘tradução feminista’ ou ‘tradução de gênero’,
que tem como objetivo principal dar visibilidade à figura feminina na literatura traduzida,
trazendo uma proposta neutralizadora da chamada linguagem patriarcal, que consiste na
utilização de estratégias como neologismos, alteração gramatical da língua-alvo e utilização
de palavras de outros idiomas para construção de sentido que evidencie o feminino.
(SCHUTTE, 2007).

Segundo a escritora Schäffer (2010), as tradutoras brasileiras têm utilizado estratégias


de tradução feminista em suas traduções. Tendo em vista isso, como objeto de pesquisa deste
estudo bibliográfico, foi levantada uma hipótese de que os princípios feministas defendidos e
expostos nos movimentos feministas canadenses e introduzidos no campo literário por meio
do segmento de tradução feminista teriam influenciado tradutoras brasileiras a deixar em suas
traduções de romances literários da língua inglesa, marcas que evidenciem o destaque do
gênero feminino, baseado nos princípios da tradução feminista. Partindo dessa hipótese, a
investigação desta pesquisa, a qual possui a abordagem teórico-metodológica da Linguística
de Corpus, busca por marcas de gênero em traduções de obras literárias publicadas
anteriormente ou posteriormente ao movimento feminista ocorrido no Canadá na década de
1970.

O presente resumo tem como principal objetivo expor os resultados obtidos da


exploração do corpus compilado que compõe esta pesquisa, o qual é composto de trinta e oito
clássicos romances literários originários da língua inglesa e suas respectivas traduções para a
língua portuguesa por tradutores e tradutoras brasileiros, datados dos períodos antes e depois
do movimento feminista no Canadá, na década de 1970. Este resumo também apresenta os
resultados específicos do plano de trabalho 001 desta pesquisa, que corresponde à exploração

1
Estudante do curso de Letras com Habilitação em Língua Inglesa do Departamento de Letras
Estrangeiras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: samirascr15@gmail.com
2
Professor do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte, Coordenador do Grupo de Estudos de Tradução – GET/UERN; e-mail: nilsonbarros@uern.br
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1182
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

do subcorpus1 desta pesquisa, o qual é composto por romances originais e suas respectivas
traduções por homens nos períodos entre 1900 a 1970.

Metodologia

A pesquisa em questão tem um caráter descritivo e envolve procedimentos qualitativos


e quantitativos de análise, utilizando como embasamento teórico-metodológico a Linguística
de Corpus. A análise buscou por marcas de gênero no corpus, e para esta investigação, foram
escolhidas palavras, nas línguas portuguesa e inglesa, diretamente relacionadas a ambos os
gêneros para apurar os resultados da comprovação ou refutação da hipótese levantada. Esta
análise se deu por meio do programa computacional de análise de dados WordSmith Tools
6.0(SCOTT, 2012), o qual é responsável pela exploração e análise dos dados linguísticos do
corpus, onde houve a verificação da ocorrência das palavras pesquisadas nas obras nas listas
de palavras do programa, a frequência com as quais estas aparecem no corpus e, através das
linhas de concordância, em quais obras estas sentenças ocorrem. Os resultados das análises
destas palavras eram apresentados e discutidos quinzenalmente em reuniões com o
coordenador do projeto.

De maneira geral, a pesquisa das palavras escolhidas no corpus, dividido em


subcorpus1, subcorpus 2, subcorpus 3 e subcorpus 4, tinha como objetivo investigar a
possibilidade de haver no corpus a ocorrência de marcas de gêneros, o ocultamento ou a
substituição de termos relacionados ao gênero feminino nas obras.

Especificamente no subcorpus1, foram analisadas ocorrências de dez palavras


específicas, sendo elas ‘homem’ e ‘mulher’ da língua portuguesa e ‘miss’, ‘her’,
‘she’,‘widow’, ‘mother’, ‘girl’, ‘Mary’ e ‘daughter’ da língua inglesa. Esta análise ocorreu
tanto nas obras que compõem os textos originais, como também nas obras que compõem os
textos traduzidos, com suas respectivas traduções correspondentes. Os textos que compõem o
corpus analisado são os clássicos literários norte-americanos 1984 do autor George Orwell
(1949) e sua respectiva tradução, 1984, traduzido Wilson Velloso (1957), Gulliver’sTravels
do autor Jonathan Swift (1726) e sua respectiva tradução, As Viagens de Gulliver, traduzido
por Cruz Teixeira (1950), The Old Man andtheSea do autor Ernest Hemingway (1952) e sua
respectiva tradução, O Velho e o Mar, traduzido por Jorge de Sena (1956) e The
AdventuresofHuckelberryFinndo autor Mark Twain (1884) e sua respectiva tradução, As
Aventuras de Huckelberry Finn, traduzido por Monteiro Lobato (1959).

Resultados e Discussão
Após o término da pesquisa com base na metodologia da Linguística de Corpus, pode-
se afirmar que os resultados indicaram não haver marcas de gênero nas obras literárias
analisadas, não havendo ocultamento, substituição ou desvalorização do feminino, como
também não houve exaltação do masculino nos textos traduzidos. Portanto, as traduções antes
e após o movimento feminista canadense não possuem explícitas marcas de gêneros.
Na exploração do subcorpus2 da pesquisa, que corresponde a obras literárias
traduzidas por homens e datadas de 1971 a 2016, pode-se observar a correspondência das
palavras analisadas remetentes ao gênero feminino. A palavra ‘mulher’ analisada nos textos
traduzidos aparece 183 vezes, enquanto sua tradução correspondente na língua inglesa,
‘woman’, aparece 149 vezes nos textos originais, mostrando uma correspondência de
ocorrência entre os termos pesquisados, não havendo, portanto, marcas de ocultamento do
feminino, já que, na maioria das vezes, o termo em inglês aparecia na tradução de forma

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1183
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

correspondente. Também foi analisada a palavra ‘homem’ nos textos traduzidos, a qual
apareceu nas obras analisadas 270 vezes, enquanto nostextos originais, sua palavra
correspondente na língua inglesa, ‘man’, teve uma ocorrência de 417 vezes, mostrando assim
que na tradução não havia exaltação do masculino, e sim, em alguns casos, o ocultamento em
razão de se evitar a repetição do termo. Na análise do subcorpus3, que corresponde a obras
literárias traduzidas por mulheres e datadas de 1900 a 1970, também é possível perceber
correspondência dos termos pesquisados e nenhuma evidência de marcas de gênero. No
subcorpus4 também houve a análise da palavra ‘mulher’, a qual possuía 200 ocorrências no
subcorpus, enquanto sua palavra correspondente na língua inglesa, ‘woman’, possuía 168
ocorrências, demonstrando também certa medida de correspondência entre os termos e a falta
de marcas de gênero nas obras analisadas. Os resultados da análise desta pesquisa mostraram
que a diferença entre as ocorrências das palavras nos textos originais e traduções se referiam
aos sinônimos das palavras pesquisadas, ou a sentenças que referenciavam ambos os gêneros.
A partir da análise minuciosa do subcorpus1, que corresponde ao objetivo principal do
plano de trabalho 001 desta pesquisa, pode-se perceber que o feminino não é ocultado ou
desvalorizado, mas sim, substituído por outros termos que continuam fazendo referência ao
feminino. A palavra ‘mulher’ também foi analisada nos textos traduzidos, e teve um total de
116 ocorrências em todos os livros, enquanto nos textos originais, houve 65 ocorrências da
palavra correspondente na língua inglesa, ‘woman’. Nos textos originais, as palavras da língua
inglesa ‘wife’ (esposa), ‘she’ (ela), e ‘mrs’ (senhora) também correspondem à palavra
‘mulher’ nos textos traduzidos. Todas essas palavras referem-se ao feminino, deixando claro
que não há o ocultamento do mesmo e o deixando bem evidenciado. Também foi observada a
palavra ‘homem’ na análise deste subcorpus, a qual possuía 248 ocorrências nos textos de
tradução, enquanto sua palavra correspondente na língua inglesa, ‘man’, possuía 585
ocorrências nos textos originais. A discrepância de correspondência entre as ocorrências
analisadas se dá devido a alguns fatores de vocabulário, como por exemplo, no texto original,
aparecem com frequência as expressões ‘oldman’ e ‘youngman’, onde na tradução é
traduzido, respectivamente, como ‘meu pai’ ou ‘velho’ e ‘rapaz’ ou ‘jovem’.Muitas
ocorrências da palavra “homem” nas traduções também se referiam ao personagem ‘Homem
Montanha’ do livro As Viagens de Gulliver (1950). Os termos que faziam referência ao
masculino não sofreram alterações de ocultamento ou evidenciação, permaneciam tal qual
estavam representados nos textos originais.
Conclusões
A exploração dos dados linguísticos analisados trazem resultados satisfatórios à
conclusão da pesquisa. A hipótese inicial não é comprovada, significando não haver
evidências de marcas de gênero influenciadas pelo movimento feminista no Canadá na década
de 1970. Os gêneros feminino e masculino são retratados na tradução, na maioria das
ocorrências, tal qual ocorre nos textos originais. A substituição de algumas palavras por
outras com o mesmo sentido é frequente e não altera a presença explícita dos gêneros.
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pela
oportunidade de crescimento acadêmico. Agradeço ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo amparo financeiro de uma bolsa de
estudos para a permanência na execução deste projeto. Agradeço a todos que ajudaram
teoricamente no desenvolver desta pesquisa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1184
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências
HEMINGWAY, Ernest. O Velho e o Mar.Tradução de Jorge Senna. Edição Livros do
Brasil, 1956. p. 1-61.

HEMINGWAY, Ernest. The Old Man andtheSea.1952. p. 1-37.

ORWELL, George. 1984.1949. p. 1-393.

ORWELL, George. 1984. Tradução de Wilson Velloso. São Paulo: Companhia Editora
Nacional. 1957. p. 1-218.

SCHÄFFER, Ana M. M. Representações de tradução de gênero no dizer de tradutoras


brasileiras. Campinas, 2010. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas,
Instituto de Estudos da Linguagem. 2010.
SCHUTTE, Krista. Translating Puns in FeministWriting.MA
ThesisEnglishLanguageandCulture. Utrecht: Utrecht University, 2007.
SCOTT, Mike. Wordsmith Tools 6.0. Oxford: Oxford University Press, 2012.
SWIFT, Jonathan. Gulliver'sTravels. 1726. p. 1-383.

SWIFT, Jonathan. Viagens de Gulliver.Tradução de Cruz Teixeira. Fonte Digital, 1950. p. 1-


403.

TWAIN, Mark. The AdventuresofHuckleberry Finn: ed. 5, 1884. p. 1-496.

TWAIN, Mark.AsAventurasdeHuckleberryFinn.Tradução de Monteiro Lobato. 5. ed. São


Paulo: Editora Brasilense, 1959. p. 1-518.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1185
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

JOGADOR Nº 1: NOSTALGIA E VIOLÊNCIA

Hanna Hélida de Oliveira Silva;1


Charles Albuquerque Ponte2
Palavras Chaves: Nostalgia. Violência. Memória. OASIS.
INTRODUÇÃO:
A nostalgia nos leva a lugares da nossa memória que jamais poderemos
verdadeiramente retornar. Sua composição traz no âmago sentimentos afetivos que constroem
a história de qualquer indivíduo. Se o presente nos mostra novos fatos, novas histórias, um
turbilhão de informações e tecnologias ao alcance de um toque, a nostalgia promove uma
espécie de viagem a um passado “bom”, lugar onde nada de ruim poderá alterar a memória
que guardamos, mesmo que esta não seja realmente fiel aos fatos. É comum para todo ser
humano sentir-se nostálgico na presença de “gatilhos” que ativem memórias, mas foge ao
bom senso moldar sua vida por completo em um período de tempo incapaz de voltar.
No objeto de análise do presente trabalho, o filme Ready Player One (Jogador Nº 1), a
personagem de Halliday (Mark Rylance) acredita que a melhor década foram os anos 80.
Diante desses sentimentos, mesmo crescendo e tornando-se um homem de sucesso, todo o
trabalho de Halliday esteve voltado para a criação de um mundo virtual onde não apenas ele
pudesse reviver aquele tempo, mas todos que tivessem acesso ao seu mundo “saboreassem”
do prazer que ele sentiu.
A bolha temporal criada por Halliday torna-se tão densa que em um mundo pós-
apocalíptico no ano de 2045, onde tudo parece destruído e a desigualdade social perdura, as
pessoas optam por fugir da dura realidade e refugiar-se no OASIS.
METODOLOGIA:
O presente trabalho busca analisar as implicações da nostalgia cultural nas
personagens de Wade Watts (Ty Sheridan) e James Halliday, bem como discutir a relação
entre os dois como uma força dupla de utopia e violência. A pesquisa aqui apresentada é de
caráter analítico descritivo. para sua constituição foi desenvolvida uma discussão acerca da
influência de Halliday sobre a personagem de Wade, bem como a abdicação do segundo em

1
Aluna do curso de Letras habilitação em Língua Inglesa da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (CAPF).
2
Professor doutor do curso de Letras – Inglês da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(CAPF)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1186
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

construir uma personalidade própria. Visa, também, debater a maneira como toda uma
sociedade se molda de acordo com a nostalgia de um único homem.
RESULTADOS E DISCUSSÕES:
De acordo com Hutcheon e Valdés (1998), o termo Nostalgia foi aplicado pela
primeira vez em 1688 por Johannes Hofer, que o utilizou para identificar a dor sentida por
pessoas distantes de sua terra natal. A palavra surgiu, dos radicais gregos Nostos que
representar a casa de alguém e Algos que significa dor ou desejo.
A nostalgia pode ser interpretada como marcas atemporais, fixadas na memória do
indivíduo que o coloca “em lugar seguro” e que por vezes é lá que o indivíduo quer estar,
longe dos problemas do presente. Nessa perspectiva, Hutcheon e Valdés (1998, p. 20) nos
dizem que “É o distanciamento com o passado que purifica a realidade do que ele realmente
foi e faz com que ele pareça estável, coerente e a salvo das complicações do presente”,
surgindo assim “falsas memórias”, que se tratarão de lembranças de algo que não ocorreu, de
lugares jamais vistos e/ou lembranças distorcidas de algum evento. Freud (1899 p.180)
menciona o evento como “Um caso de deslocamento para alguma coisa associada por
continuidade; ou, examinando-se o processo como um todo, de um caso de recalcamento
acompanhado de substituição por algo próximo”. No caso de Halliday, essa substituição é
feita do presente pelo passado, da vida real pelo virtual. Para evitar encarar seu mundo, ele
constrói um novo, que usa de abrigo para si e posteriormente para outros tantos, como é o
caso de Wade Watts.
A realidade de Wade é significativamente frustrante, onde a população busca apenas
sobreviver. Não existe perspectiva, tampouco esperança, tudo está voltado para o OASIS. A
nostalgia de Halliday possui tamanho poder sobre a vida de Wade que este, acaba não
desenvolvendo uma personalidade e/ou gostos próprios. Ele pensa e age segundo o seu ídolo,
tornando-o assim, seu “servo”. A servidão voluntária é explicada por La Boétie (2006) como:
“[...]o povo que se escraviza, que se decapita, que, podendo escolher entre ser livre e ser
escravo, se decide pela falta de liberdade e prefere o jugo[...]”
De igual maneira, descrevo Halliday na figura do líder ditador, absoluto e egocêntrico,
considerado um deus por seus seguidores e por si próprio. São incontáveis as vezes em que a
sociedade coloca Halliday na posição de onipotência, em outros momentos ele mesmo se
coloca lá.
No decorrer dos testes, vemos que para dar as respostas corretas os competidores não
precisam apenas conhecer Halliday, eles precisam tornar-se o próprio. Um exemplo disso é
quando ele diz: “As chaves não estão em qualquer lugar sob nenhuma pedra. Podemos dizer

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1187
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

que estão invisíveis, escondidas num quarto escuro no meio de um labirinto que se localiza
em algum lugar bem aqui em cima”3 ao terminar essa frase, Halliday, na forma de seu avatar
Anorak, aponta para sua própria cabeça, deixando claro que para descobrir onde estão as
chaves é preciso entrar nesse quarto, atravessar o labirinto de sua mente para que então o
indivíduo seja digno. Ou seja, o campeão não ganhou por ser o mais inteligente ou melhor
estrategista, ele ganhou por conhecer tão profundamente Halliday, que era capaz de dar-lhe
especificamente as respostas ele gostaria de receber.
Se contrapomos a visão de Lá Boetie (2006) acerca da servidão vivida por Wade com
a visão de Jameson (1996) percebemos que para o primeiro, o escape do indivíduo que se
encontra rendido à servidão voluntária, trata-se unicamente de sua própria vontade. Afinal,
como o próprio menciona: “Que mais é preciso para possuir a liberdade do que simplesmente
desejá-la? Se basta um ato de vontade, se basta desejá-la, que nação há que a considere assim
tão difícil?”, já Jameson (1996, p. 43) acredita que a vontade é importante, porém em um
mundo capitalista existem inúmeros outros fatores que impedem que o indivíduo se liberte. “É
o desaparecimento do sujeito individual, ao lado de sua consequência formal, a crescente
inviabilidade de um estilo pessoa [...]”. Para Wade, essa percepção é essencial, porque as
consequências dessa definição se aplicam a toda uma moldura ideológica, definindo as
possibilidades da potência humana.
Acerca da violência, podemos dizer que esta surge de maneira sutil, já que se trata do
impedimento do direito alheio. Quando Halliday cria seu mundo e molda toda uma sociedade
subserviente a ele, rouba de cada indivíduo o direito de existir por completo. O desejo de
Wade em transformar o mundo real no OASIS também trata-se de uma violência, quando
Wade toma as decisões sobre o jogo ele amputa a liberdade do outro, que quisesse agir de
forma diferente.
CONCLUSÕES:
O presente trabalho desenvolveu uma análise das personagens de James Halliday e
Wade Watts, a maneira como o primeiro, mesmo após sua morte, moldou o segundo de
acordo com sua vontade. Caracterizei a personagem de Wade como um “prisioneiro” e
Halliday como um ditador, que envolto no pretexto da não criação de regras, manteve Wade e
toda sociedade como seus servidores e seguidores.
Pensando a servidão de Wade segundo Lá Boetie ou Jameson, seria difícil atrelá-lo a
um dos dois especificamente, já que ambos consideram a vontade de libertar-se algo

3
A fala tem início em 09:40: “The Keys aren’t just laying around under a rock somewhere. I suppose you could
say they’re invisible, hidden in a dark room that’s at the center of a maze that’s located somewhere up here.”

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1188
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

necessário e Wade não a possuía. A sociedade capitalista, como Jameson relata, também é um
motivo do qual Wade não consegue soltar as amarras, pois este não sucumbe às propostas de
Sorrento. Portanto, a personagem de Wade encaixa-se nas duas vertentes, pois tanto sua
vontade de “liberdade” como seus desejos materiais ocorrem, desde que, não fuja dos
preceitos estipulados por Halliday.
A violência, então, se configura à medida que um molda o outro, e o segundo segue
sem questionar, as ordens do primeiro. As decisões e escolhas de Halliday subjugaram uma
sociedade e quando Wade teve a chance de fazer diferente acabou optando por agir tal qual
seu ídolo.
AGRADECIMENTOS: Agradeço a todos os participantes que compuseram o grupo da
pesquisa e se dispuseram a partilhar saberes, agradeço ao prof. Dr. Charles Albuquerque
Ponte por seus ensinamentos, pela paciência e suporte se dispondo a sanar quaisquer duvidas
e/ou dificuldades.
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO:
Alves, C. M. & Lopes, E. J. (2007). Falsas Memórias. Paidéia. Vol. 17, Nº 36. p. 45-56.
Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/paideia/v17n36/v17n36a05.pdf> Acesso em 14 de
maio de 2020.

BOÉTIE, E. Discurso Sobre a Servidão Voluntária. eBooksLibris, 2006.

HERNANDEZ, Júlia Nogueira. Nostalgia enquanto tendência de comportamento entre os


jovens da geração Y. 2011. 68 f. Tese (Doutorado) - Curso de Comunicação Social,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. Disponível em:
https://lume.ufrgs.br/handle/10183/37563. Acesso em: 11 maio 2020.

JAMESON, Fredric. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo:


Ática, 1996.

JOGADOR Nº 1. Direção: Steven Spielberg. Produção: Dan Farah, Donald de Line, Ernest
Cline, Kristie Macosko, Jennifer Meislohn e Steven Spielberg. Intérpretes: Tye Sheridan,
Olivia Cooke, Bem Mendelsohn, Mark Rylance, Simon Pegg e outros. Roteiro: Zak Penn e
Ernest Cline. [S. I.]: produtoras, p.2018 (140 min.), son. color.

HUTCHEON, L.; VALDÉS, M. J. Irony, Nostalgia, and the Postmodern: A Dialogue.


Poligrafías: revista de teoría literaria y literatura comparada. Nº 3. Ciudad de México:
Universidad Nacional Autónoma de México, 1998-2000. p. 18-41, Disponível em: <
http://revistas.unam.mx/index.php/poligrafias/article/viewFile/31312/28976%20 >. Acesso
em: 09 junho 2020

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1189
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

JOGADOR Nº1: PÓS-MODERNIDADE E NOSTALGIA

Wigna Edibegna Raposo da Silva1; Charles Albuquerque Ponte2


Palavras-chave: Contemporaneidade. Sociedade. Tecnologia.

Introdução

A sociedade atual passou por uma série de mudanças em todos os espaços sociais ao
longo dos anos até chegar ao que conhecemos hoje; nos últimos 60 anos essas mudanças
ocorreram de forma significativa em todas as áreas como, por exemplo: nas artes, filosofia,
ciência, etc., mas principalmente nos campos socioeconômico e tecnológico. Os avanços da
tecnologia e a globalização da internet trouxeram consigo e foram fundamentais para a
disseminação do pós-modernismo, período onde nos encontramos hoje, a partir de um
processo de rupturas com relação ao modernismo, o movimento artístico anterior. O termo
convencionalmente conhecido por pós-modernismo é aplicado às mudanças ocorridas em
todos os âmbitos da vida cotidiana da sociedade desde os anos 1950: “A fábrica, suja, feia, foi
o templo moderno; o shopping, feérico em luzes e cores, é o altar pós-moderno”. (SANTOS,
1986, p. 10). Ainda segundo Santos (1986, p. 18), muito embora a pós-modernidade traga
essa carga de mudanças em relação ao modernismo, não se pode existir uma quebra total das
conquistas advindas do modernismo ou de qualquer outro período histórico, pois esses
períodos foram de descobertas indispensáveis para a sociedade em que vivemos, como o aço,
as fábricas, os computadores, a luz elétrica etc., pois “Assim, no fundo, o pós-modernismo é
um fantasma que passeia por castelos modernos”.
Em meio a todas essas mudanças encontra-se o sujeito pós-moderno inserido nesse
novo contexto social contemporâneo, que se torna cada vez mais autossuficiente, e o ritmo de
vida torna-se cada vez mais frenético. Longas jornadas de trabalho, trânsito caótico e
violência nos grandes centros acabam gerando certa sensação de vazio e até mesmo a perda de
sentido para a vida em sociedade deixando o indivíduo cada vez mais isolado e individualista:
“O indivíduo pós-moderno nasceu com o modernismo, mas o seu exagero narcisista é um
acréscimo pós-moderno” (SANTOS, 1986, p. 18). Assim como em todos os âmbitos da vida,
o pós-modernismo também está presente nas artes, onde ele se apresenta de forma eclética, a
arte pós-moderna é uma mistura de vários estilos, já que o pós-modernismo apresenta uma
1
Estudante do curso de Letras Língua Inglesa do departamento de Letras Estrangeiras da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN), bolsista PIBIC/UERN; e-mail: wignaedibegna@hotmail.com
2
Professor do departamento de Letras Estrangeiras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN),
coordenador da pesquisa Spielberg: nostalgia e violência; e-mail: charlesponte@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1190
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

falta de profundidade, ou seja, esse movimento não se aprofunda em um determinado campo


de estudo, ele se espalha superficialmente por várias áreas do conhecimento. Desse modo
podemos encontrar esse tom pós-modernista na cultura em geral: na música, na pintura, na
literatura, cinema etc. Nesse último, a nostalgia aparece como uma característica do pós-
modernismo, pois, se no modernismo prezava-se pelo novo, no pós-moderno o novo está na
busca pelo passado.
É no campo das artes, mais especificamente no campo cinematográfico que
encontramos o objeto de estudo desse trabalho. Sendo assim, o presente trabalho tem por
objetivo analisar como a nostalgia está estruturada no filme Jogador n° 1, produzido pelo
diretor Steven Spielberg no ano de 2018. Buscamos também fazer uma relação da nostalgia
encontrada no filme com a sociedade do momento de produção da obra.

Metodologia
Esse trabalho foi conduzido por caráter bibliográfico a partir da leitura de textos de
escritores como Santos (1986), Jameson (1996), Baudrillard (1981) e Hall (2006). A pesquisa
possui um caráter qualitativo, bem como interpretativo, para alcançar os objetivos.
Como uma obra do período pós-moderno, o filme Jogador n° 1 traz várias
características pós-modernistas, como a tecnologia invadindo a vida, a saturação de
informações, e a sensação de vazio. De acordo com Santos (1986) podemos atribuir essa
saturação de informações a outro fator importante do pós-modernismo, a tentativa de atender
a todos os públicos. Já que a economia passa a ser parte integrante de nossa vida, o dinheiro
fala alto e o fetichismo, relacionado segundo Jameson (1996) a um consumismo exacerbado,
torna-se parte integrante do mercado artístico, essa preocupação acontece como uma junção
entre a alta cultura, foco do modernismo, e a cultura de massa, alvo pós-modernista. Para
Jameson (1996), toda obra dialoga com o momento de sua produção, como uma espécie de
identidade, e cada período histórico tem a sua, pois quem está narrando fatos o faz a partir do
seu olhar moldado no seu presente, diferentemente de quem viveu no período narrado e pode
contar com sua experiência da época.
Contudo, com as mudanças e fragmentações sofridas ao longo dessas mudanças de
períodos, ocorre o que Hall (2006, p. 7) chama de crise de identidades, que “é vista como um
processo mais amplo de mudanças, que está deslocando as estruturas e processos centrais das
sociedades modernas e abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma
ancoragem estável no mundo social”. Sendo assim o presente é permeado por resquícios que
restaram do passado e do desejo pelo futuro.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1191
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultados e discussão
Jogador n°1 (2018) é um filme de Ficção científica do diretor Steven Spielberg, sua
trama é uma distopia futurística. O enredo se passa em 2045, quando o planeta é acometido
por um verdadeiro caos, já que a maioria de seus recursos naturais estão esgotados e grande
parte da população vive de forma precária em áreas periféricas em casas amontoadas e
situação de extrema pobreza. Sem dinheiro e sem perspectivas em suas vidas, os habitantes do
planeta começam a fugir dessa realidade caótica e partem para uma realidade alternativa, o
OASIS. Esse lugar de fuga trata-se de uma realidade virtual, um lugar onde existe uma
infinidade de mundos onde os jogadores podem ser e fazer o que quiserem de forma simulada,
tornando-se um lugar melhor do que a própria realidade, pois estes ainda contam com uma luz
no fim do túnel: podem conquistar o OASIS e como recompensa tornarem-se ricas, uma
perspectiva que elas não possuem em sua vida real.
O filme Jogador n°1 é repleto de nostalgia do início ao fim, muitas vezes chegando
ao exagero, causando uma disputa entre quantidade X qualidade, já que o incomodo é sentido
por alguns espectadores com um olhar mais crítico, ou passando despercebido por olhos
desatentos e até mesmo por falta de familiaridade com esses elementos. Podemos perceber o
padrão da nostalgia no filme, pois ela trata-se da releitura, da representação de um período
histórico, mais especialmente dos anos 80. No entanto, essa representação ocorre com uma
visão do presente, pois é um filme produzido sob o olhar de hoje que traz um regaste da
década de 80 em suas referências. Aqui incorporamos o conceito de pastiche, pois segundo
Jameson (1996) com o desaparecimento do sujeito e o fim da pincelada individual distinta
surge o imitar de um estilo: “os produtores culturais não podem mais se voltar para lugar
nenhum a não ser o passado: a imitação de estilos mortos, a fala através de todas as máscaras
estocadas no museu imaginário de uma cultura que agora se tornou global”. (JAMESON,
1996, p. 45).
O filme jogador n°1 é de fato uma verdadeira volta ao passado, contrariando a
própria proposta do filme ao sugerir uma realidade futurística para a trama, no entanto
percebemos que esse fascínio retro não consegue atingir os objetivos almejados quando
esquecemos o lado afetivo por um momento e focamos em questões estruturais do filme.
Toda essa grande quantidade de referências acaba tornando-se alusões aleatórias a vários
elementos da década de 80 e acaba caindo ao nível do meramente ilustrativo, segundo
Jameson (1996, p.32) para a imagem não se resumir somente ao decorativo “é preciso
reconstruir a situação inicial de onde surge a obra acabada”. Ou seja, não podemos voltar para
a década de 80, pois ela não existe mais. No entanto, ao deparar-se com conflitos na vida e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1192
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sociedade atual, o homem sempre busca um lugar de fuga, isso também acontece na arte pós-
moderna, “Quando o real já não é o que era a nostalgia assume todo o seu sentido,
sobrevalorização de verdade, de objetividade e de autenticidade de segundo plano. Escalada
do verdadeiro [...] ressurreição do figurativo onde o objeto e a substância desapareceram”
(BAUDRILLARD, 1981, p. 14). Assim acontece com James Halliday no filme, pois, ao
deparar-se com o presente onde não era feliz, sem amigos e sem a pessoa amada, decide
voltar a viver o passado, como um referencial.
Percebemos o filme usando a nostalgia para recuperar uma realidade perdida e
fazendo uso de recursos hipnóticos para citar o próprio presente no passado, uma contradição
do nosso presente social com um passado como referente, gerando um brilho falso da
imagem, pois tirando todos os momentos de mentira no filme, o que realmente sobra? Com o
uso da nostalgia, o filme Jogador n°1 tem a possibilidade de recuperar uma década perdida de
clássicos no cenário da cultura pop, mostrando que seus reflexos estão presentes até hoje no
cenário cultural. Dessa maneira podemos concluir que o filme Jogador n°1 efetivamente, com
todas as suas referências e tecnologia, retrabalha a cultura pop dos anos 80, usando a memória
afetiva para mascarar outros aspectos problemáticos deixados ao longo da trama.

Agradecimentos: À Universidade do Estado do Rio Grade do Norte, pela bolsa que permitiu
minha dedicação a esta pesquisa, e a todos os que participaram das discussões durante o curso
de um ano.

Referências
BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulações. 11. ed. [S.l.]: DP&A editora, 1991.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A
editora, 2006. p. 7-15.

IMDB. Did You Know?. Disponível em:


https://www.imdb.com/title/tt1677720/?ref_=nv_sr_srsg_0. Acesso em: 8 jun. 2020.

JAMESON, F. pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. 2 ed. São Paulo:


Ática, 2006.

JOGADOR Nº1. Direção: Steven Spielberg. Produção: Dan Farah, Donald de Line, Ernest
Cline, Kristie Macosko, Jennifer Meislohn e Steven Spielberg. Intérpretes: Tye Sheridan,
Olivia cooke, Bem Mendelson, Mark Rylance, Simon Pegg e outros. Roteiro: Zak Penn e
Ernest Cline. [S.I]: produtoras, p.2018 (140 min), son. Color.

SANTOS, J. F. O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 1986.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1193
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LEITURA E O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA: UMA ANÁLISE DE


LIVROS DIDÁTICOS E PROVAS DO ENEM

Camila Bezerra Freire1; Adriana Morais Jales2

Palavras-chave: Gêneros Textuais. Compreensão Leitora. Letramento.

Introdução

Nos últimos anos, diversos estudos têm surgido acerca do uso do livro didático e dos
processos de ensino-aprendizagem de línguas mediante a abordagem sociointeracional, com
atenção aos gêneros textuais. Essa perspectiva tem como uma das principais características o
ensino da leitura baseado na interação entre os sujeitos autor-texto-leitor. Além disso, trabalha
a essência do texto, pois promove meios de combinar conteúdo temático, propósito
comunicativo, estilo e forma composicional (KOCH e ELIAS, 2012). Destacamos os
documentos oficiais de ensino, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), Orientações
Curriculares para o Ensino Médio (2006) e a Base Nacional Comum Curricular (2018), que
adotam essa perspectiva e orientam o trabalho na sala de aula.
Contudo, apesar de as recomendações para o estudo de línguas baseado em textos
serem amplamente aceitas, ainda podemos observar que há grandes dificuldades no meio
escolar de vivenciar e propiciar esse ensino comunicativo (ANTUNES, 2002). Esse fato reflete
uma problemática no ensino de línguas do Brasil, visto que os alunos, muitas vezes, perdem a
oportunidade de conhecer o texto em sua totalidade, suas características, como compreendê-lo
e, logo, como a pensar criticamente.
Nesse sentido, sabemos que “toda educação comprometida com o exercício da
cidadania precisa criar condições para que o aluno possa desenvolver sua competência
discursiva” (BRASIL, 1998, p. 23). É importante frisar que essa competência discursiva é
possível de ser desenvolvida através de um estudo pautado em gêneros textuais. No entanto,
ainda é comum que estudantes, ao sair da escola, se sintam despreparados para lidar com as
situações comunicativas do dia a dia.
A partir de uma reflexão crítica sobre o ensino da leitura, passamos a nos questionar
se os alunos estão sendo preparados para além dos muros da escola. Tendo em vista que os
livros didáticos adotados nas instituições são um importante recurso de ensino e aprendizagem,
levantamos o seguinte questionamento: Como são orientadas as atividades de leitura de livros
didáticos de Língua Inglesa do Ensino Médio, com vistas ao letramento crítico e às provas do
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)? Ademais, estabelecemos alguns objetivos
específicos para a realização deste trabalho:
• Averiguar quais gêneros textuais são trabalhados nas atividades de leitura nos livros
didáticos do Ensino Médio;
• Verificar se os autores do livro didático do Ensino Médio abordam as características
dos gêneros textuais utilizados nas atividades de leitura;
• Investigar se os autores do livro didático orientam a se posicionarem frente ao texto
nas atividades de compreensão leitora;

1
Estudante do curso de Letras – Língua Inglesa do Departamento de Letras Estrangeiras – DLE da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: camilafreire@alu.uern.br
2
Professora do Departamento de Letras Estrangeiras – DLE/FALA/UERN; Coordenadora de Área do Programa
Institucional de Iniciação à Docência – PIBID; Professora do Mestrado Profissional em Letras – PROFLETRAS;
Membro do Grupo de Pesquisa em Linguística e Literatura – GPELL; e-mail: adrianajales@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1194
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

• Comprovar se há uma correlação das atividades de leitura orientadas nos livros


didáticos de Língua Inglesa do Ensino Médio, mais especificamente do 3° ano, com
as provas do ENEM.

Metodologia

Para a realização desta pesquisa, utilizamos o método interpretativo-descritivo de


ordem quali-quantitativa. Para melhor sistematizar as etapas de nosso estudo, atentamo-nos aos
seguintes passos: 1° passo: Levantamento das três maiores escolas de Ensino Médio da cidade
de Mossoró – RN, levando em consideração o número de alunos; 2° passo: Levantamento dos
livros didáticos utilizados em tais escolas; 3° passo: Análise das atividades de leitura, tendo em
vista apenas as atividades que introduzem as unidades, as quais denominamos “leitura
principal”; 4° passo: Levantamento das questões de língua inglesa do Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM) dos últimos três anos (2016, 2017 e 2018); 5° passo: Análise
comparativa das atividades de leitura analisadas e as questões de língua inglesa das provas do
ENEM. Como base para a nossa investigação, contemplamos os seguintes questionamentos:
(1) Quais gêneros são trabalhados nas atividades de leitura?; (2) O autor do livro didático aborda
as características dos gêneros utilizados nas atividades de leitura?; (3) As atividades de
compreensão de texto orientam os estudantes a desenvolverem o senso crítico? Se afirmativo,
como?; (4) Há uma correlação entre as atividades de leitura orientadas nos livros didáticos de
língua inglesa do Ensino Médio com as questões das provas do ENEM? Além disso, destacamos
que nossa pesquisa teve como referencial teórico os estudos dos autores: Antunes (2002; 2003),
Bakhtin (2003), Koch e Elias (2012), Marcuschi (2008), Solé (1998), entre outros.

Resultados e Discussão

Com base nas informações coletadas na 12° Diretoria Regional de Educação e Cultura
(DIREC) da cidade de Mossoró – RN, as três maiores escolas estaduais da cidade e as coleções
de livros didáticos de língua inglesa nelas utilizadas são: Escola Estadual Professor Abel Freire
Coelho, Centro de Educação Integrada Professor Eliseu Viana, ambas utilizam a coleção Learn
and Share in English3, e Escola Estadual Monsenhor Raimundo Gurgel que utiliza a coleção
Way to Go4.
Para nosso estudo, atentamo-nos para os seguintes critérios de análise: a indicação do
gênero textual nas atividades de leitura; o trabalho com as características dos gêneros (propósito
comunicativo, forma composicional e suporte) nas atividades de compreensão leitora, como
também o trabalho com o senso crítico do aluno; e a correlação entre os livros didáticos e as
provas do ENEM.
De acordo com os dados obtidos, averiguamos que a indicação do gênero textual é
realizada em grande parte dos livros didáticos. Com relação aos gêneros trabalhados,
percebemos que há um leque variado nas coleções, no entanto, alguns livros falham nesse
quesito. Sobre isso, Marcuschi (2008) argumenta que comumente acontece, porém, é um fato
que influencia negativamente para o desenvolvimento da competência comunicativa dos
alunos.
No tocante ao propósito comunicativo, verificamos que são grandes as lacunas, visto
que, em todos os livros, os números obtidos foram abaixo do esperado. A respeito disso,
Marcuschi (2008) diz que os gêneros textuais realizam-se linguisticamente mediante objetivos
comunicativos, sendo assim, o propósito comunicativo é uma das principais características dos
gêneros. Já a forma composicional, averiguamos que os autores realizam positivamente a

3
Autores: Amadeu Marques e Ana Carolina Cardoso
4
Autores: Claudio Franco e Kátia Tavares.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1195
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

orientação deste aspecto em todos os livros, deixando apenas algumas unidades de lado.
Compreendemos que “nós aprendemos a moldar o nosso discurso em formas do gênero”
(BAKHTIN, 2003, p. 283). Por causa disso, faz-se necessária a inclusão desta característica ao
se trabalhar com gêneros textuais em sala de aula.
Com relação ao suporte/meio de divulgação, verificamos que os autores fazem a
apresentação deste aspecto em todas as lições analisadas. Marcuschi (2008, p. 174) ressalta sua
importância ao dizer que “o suporte não é neutro e o gênero não fica indiferente a ele”. Por fim,
as orientações para o desenvolvimento do senso crítico do aluno foram trabalhadas em quase
todas as unidades, apresentando resultados significativos. Desse modo, evidenciando a
relevância de se motivar a autonomia do aluno perante o texto, como discute Solé (1998).
Podemos ver os resultados da primeira parte de nossa análise detalhadamente na Tabela 1.
Tabela 1: Resultados referentes às análises dos livros didáticos
LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA INGLESA DO ENSINO MÉDIO
Indicação Característica do gênero
Livro do gênero Gênero Textual Propósito Forma Suporte/ Desperta
textual comunicativo composicional Meio de Senso
Divulgação crítico
Learn 75% Artigo, Resenha, 50% 62,5% 100% 100%
and Pesquisa de
Share 1 opinião,
Introdução de
livro e Diário
Learn 75% Artigo, Roteiro 25% 62,5% 100% 75%
and de filme e Conto
Share 2
Learn 50% Discurso, Artigo 37,5% 50% 100% 87,5%
and e Anedota
Share 3
Way to 100% Infográfico, 12,5% 100% 100% 100%
Go 1 Mapa mental,
Artigo,
Biografia e
Poema
Way to 75% Artigo, Carta de 25% 62,5% 100% 100%
Go 2 aconselhamento,
Infográfico,
Carta, Entrevista
Way to 75% Artigo e 50% 75% 100% 100%
Go 3 Resumo

Fonte: Elaborada pelas autoras.

No que concerne a correlação entre as provas do ENEM dos anos 2016, 2017 e 2018
e os livros didáticos de língua inglesa analisados, averiguamos que no ano de 2016 há correlação
com a coleção Learn and Share in English de 40% para gênero textual e 6,66% para temática.
Com a coleção Way to Go, apresenta correlação de 40% para gênero textual e 13,33% para
temática. No ano de 2017, verificamos que existe correlação de apenas 6,66% entre os gêneros
textuais das provas e das coleções. Já no ano de 2018, identificamos que somente no critério
“gênero” da coleção Way to Go apresenta correlação com a prova do ENEM, com um resultado
de 6,66%.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1196
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Conclusão

Averiguamos que os livros didáticos de Língua Inglesa do Ensino Médio apresentam


uma adequação parcial aos critérios discutidos, visto que o propósito comunicativo, que faz
parte das características do gênero textual, não é indicado na grande maioria das unidades
presentes nas coleções. Não obstante, os demais aspectos mostram dados positivos. Além disso,
verificamos que a correlação entre as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e
os livros didáticos analisados não apresentam resultados significativos, dado que a correlação
diminui a cada ano de prova. Portanto, não se adequam ao último aspecto de investigação.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por


contribuir financeiramente para a realização desta pesquisa; à Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN) por ceder a infraestrutura para nosso estudo e às demais pessoas
envolvidas direta e indiretamente neste trabalho, agradecemos.

Referências

ANTUNES, Maria Irandé Costa Morais. Língua, gêneros textuais e ensino: considerações
teóricas e implicações pedagógicas. Perspectiva: Revista do Centro de Ciências da Educação.
Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ciências da Educação – v. 20, n 1.
Florianópolis, 2002. p. 65-75.

______. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro


e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília, MEC/SEF, 1998.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares


para o ensino médio (OCEM). Linguagens e códigos e suas tecnologias, conhecimentos de
língua estrangeira. Brasília: MEC, 2006.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum


Curricular. Brasília: MEC, 2018.

KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Gêneros textuais. Ler e compreender: os
sentidos do texto. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2012.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais no ensino de língua. Produção textual, análise
de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. Tradução: Cláudia Schilling. 6. ed. Porto Alegre: Penso,
1998.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1197
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LETRAMENTO ACADÊMICO E FORMAÇÃO DOCENTE NO CURSO


DE LETRAS

Thauan de Paiva Costa 1; Antônia Sueli da Silva Gomes Temóteo2

Palavras-chave: Ensino. Pesquisa. Linguística. Práticas.

INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa a apresentar resultados das reflexões realizadas no contexto
de discussões possibilitadas pelo Programa de Iniciação Científica e Tecnológica (PIBIC),
dentro do projeto Professores E(m) Formação: Práticas de Letramento Acadêmico Em Um
Curso de Letras, destacando como os estudos realizados sobre as práticas de letramento
podem ajudar na formação do estudante do Curso de Letras. A pesquisa desenvolveu-se em
uma abordagem bibliográfica, mediada pela leitura e estudo de textos sobre o letramento
acadêmico, no período de setembro de 2019 a agosto de 2020, através de encontros
programados, em que a professora orientadora reunia-se com o grupo do projeto, que
apresentava e discutia sobre como as práticas docentes para formação de professores estão
relacionadas com os eventos de letramento.
Na discussão ora apresentada, destacamos os estudos de Lea; Street, (2014) e
Kleiman (2008), em que o primeiro discorre sobre modelos de escrita e de letramento de
estudantes em contextos acadêmicos; e o segundo chama a atenção para as necessidades
formativas em contextos de formação de professores como resultado das crescentes demandas
que emergem na esfera educacional, como as avaliações de alunos na escola, de egressos da
universidade e de livros didáticos, por exemplo, os quais requerem conhecimentos específicos
sobre os mais diversos gêneros sobre os quais precisam agir. Os avanços tecnológicos
proporcionados pelos processos de globalização exigem novas práticas, novos saberes, no
mundo, os quais recaem diretamente sobre as demandas das escolas, desencadeando o que
podemos chamar de letramentos acadêmicos. Nessa mesma análise, a autora também mostra
as dificuldades que tanto o aluno quanto o professor têm para se adaptarem aos novos
modelos de ensino e de aprendizagem.
Assim, procuramos mostrar como as práticas de leitura e de escritas estão
relacionadas com a formação do estudante, em um curso como o de Letras, considerando as
dificuldades que o aluno tem em se adaptar às dificuldades ocasionadas pelas inserções de
novos métodos de ensino que surgem constantemente. Este trabalho, então, tem como
objetivo discutir a constituição do letramento acadêmico e como este pode influenciar o
desempenho do estudante em seu processo formativo, à medida que compreende os modelos
de ensino e de aprendizagem que se estabelecem, nesse contexto.

METODOLOGIA
O estudo desenvolveu-se numa abordagem bibliográfica, resultante das discussões
feitas pelo grupo de estudantes de Iniciação Científica, em que os envolvidos se organizavam
em encontros quinzenais, em que realizavam leituras, fichamentos e discussões de textos
teóricos que abordavam os estudos do letramento. A cada encontro, um membro do grupo
1
Graduando do Curso de Letras Língua Portuguesa e suas Respectivas Literaturas do Departamento de Letras da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; e-mail: thauan012@outlook.com
2
Professora Doutora do Curso de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1198
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ficava responsável pelo material de estudo que seria apresentado no encontro posterior. O
responsável por dirigir a conversa buscava compreender e relacionar com o que aprendiam em
sala de aula. Entre os materiais de base teórica utilizados estavam artigos, capítulos de livros,
e videoconferências, ao vivo, pelas redes sociais.
A fundamentação teórica em discussão traz Cavalcanti (2007), Kleiman (2008),
Zavala (2010), Lea; Street (2014), dentre outros. Esses estudos foram de grande importância
para cumprir os objetivos propostos na pesquisa, visto que formavam uma ponte teórica para
se entender o papel do letramento acadêmico como um formador de conceitos, oriundo de
uma prática social que possibilitava dar voz ao discente, como professor em formação. Um
erro comum do docente que vai começar seus estudos de língua materna ao entrar na
universidade é tentar dividir as disciplinas pelas suas determinadas áreas mas Cavalcanti
(2007) explica que não é interessante fazer essa divisão e sim estudar estes elementos de
forma que se interliguem um com o outro. Essa forma de letramento pode ajudar o docente a
entender que a sua formação pode se utilizar do aprendido nas aulas de literatura para
compreender alguns termos utilizados nas demais disciplinas.

No campo conceitual, ao invés da estabilidade dos níveis de an ális e d a ‘lín g u a’


(sintaxe, morfologia, léxico) e seus modelos teóricos, interessa pensar a língua
como uma porção de conjuntos híbridos de diversos fragmentos (modulações,
textos, tons) a partir dos quais são possíveis determinadas combinações.
(CAVALCANTI, 2007, p. 62)

Estudar o letramento é importante para a compreensão da formação docente, tanto


por estudantes, na formação inicial, como professores em processos de formação continuada,
pois, orienta entender conceitos e normas utilizados na academia. Ao ingressar nos primeiros
anos do curso, o estudante/professor pode sentir certa dificuldade em se acostumar com tudo
que é pedido a ser seguido na prática docente. Zavala (2010) conceitua o letramento
acadêmico como falar e atuar em um discurso, “A partir deste contexto, o conceito de
letramento envolve saber como falar e atuar em um Discurso, e o letramento acadêmico,
como falar e atuar em Discursos acadêmicos” (ZAVALA, 2010, p. 72). Ainda na fala da
Zavala (2010), a autora explica que o letramento constitui uma formação na identidade do
aluno/professor ou de outras pessoas, essa apropriação de letramento faz com que se tenha
sentido no seu próprio processo de formação como docente dentro da universidade. Todo o
material abordado foi de importância para a formação desta pesquisa, pois possibilitou
observar de uma maneira crítica como os estudos do letramento são importantes para a
formação do aluno como futuro professor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após os encontros, discussões e análises do material trabalhado, em conjunto com o
grupo de estudos, compreendemos que o letramento acadêmico se constitui de grande
importância, não apenas do ponto de vista da formação docente, mas também da formação
humana, como possibilidade para se adquirir uma opinião própria, crítica, a respeito de si e do
mundo. Evidenciou-se, nas discussões, que nem sempre o professor pode estar preparado para
atender as demandas da profissão, como aponta Kleiman (2008), assim como o estudante, no
início de seus estudos universitários (LEA; STREET, 2014), que apresenta dificuldades para
compreender e desenvolver os modelos de escrita acadêmica, implicando na necessidade de
definir estratégias que lhes possibilite desenvolver uma escrita própria, mas sem divergir das
normas e modelos do contexto universitário.
Zavala (2010) explica que o sistema de ensino superior deveria ser mais abrangente
ao acesso e promover a diversidade, para que então pudesse criar no domínio educativo um
lugar mais democrático, “em um sistema de ensino superior que busca ampliar o acesso e

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1199
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

promover a diversidade, é necessário fazer do domínio educativo um espaço mais


democrático” (ZAVALA, 2010, p. 92). Ao trazer as práticas de escrita e leitura que os
alunos estão acostumados fora do ambiente acadêmico, o professor de letras pode se
beneficiar de tais práticas e explicar de uma forma coesa quando se é necessário usar a
escrita e oralidade acadêmica. E assim, ao fazer tais associações, teríamos o letramento como
prática que, mesmo usando fontes de outros autores, possibilitaria o aluno a criar e ter sua
opinião própria, trazendo a sua própria formação como leitor e pesquisador.
Assim, pela natureza da própria pesquisa ser um estudo bibliográfico, ela tem como
base os próprios estudos e discussões dos participantes por meio de materiais teóricos sobre
o letramento acadêmico e das práticas de letramento dentro e fora do ambiente acadêmico,
assim, pode-se se dizer que o resultado desta pesquisa possui certa de importância no que se
diz respeito ao letramento acadêmico para os alunos que ingressam nos primeiros anos da
universidade. Visto que estes passam por um período de adaptação e prática constante para
seguirem a metodologia e o novo conteúdo que eles iram ver no futuro.

CONCLUSÃO
O objetivo ao longo deste trabalho foi trazer uma reflexão sobre a importância de se
estudar o letramento acadêmico como objeto que estivesse ligado à formação do docente
como futuro professor de língua portuguesa. De modo a possibilitar uma assimilação nas
práticas empregadas durante as discussões ocorridas durante os encontros fazendo ponte sobre
o material teórico abordado. Ao observar os textos das autoras estudadas, pode-se perceber a
importância desses estudos e a possibilidade de encontrar meios que facilitem uma melhor
forma de capacitação no aprendizado para aquele estudante que entrou na universidade e
começou os estudos e se deparou com certa dificuldade os conteúdos empregados na sala de
aula.
Desta forma, cabe como tarefa ao futuro professor, buscar tais meios que facilitem
um estudo mais amplo do letramento acadêmico, facilitando ao seu futuro aluno compreender
as regras e formas de escrita e fala dentro do ambiente acadêmico, não desprezando a fala e
escrita que eles tinham antes de entrar naquele espaço, mas fazê-lo compreender que existe os
momentos certos de usar a escrita, seja dentro do ambiente acadêmico, seja dentro da sua
casa, seja em suas atividades no ambiente de ensino, como docente.

AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer ao Programa de Iniciação Científica e Tecnológica (PIBIC)
pela oportunidade desse estudo, aos meus colegas de faculdade, professores e ao grupo de
estudo que participei pelo apoio teórico e emocional, a minha família em especial ao meu
irmão por todo apoio e paciência.

REFERÊNCIAS
CAVALCANTI, Marilda C. Do singular para o multifacetado: O conceito de língua
como caleidoscópio. Campinas: Mercado de Letras, 2007.
KLEIMAN, Angela B. Os estudos de letramento e a formação do professor de língua
materna. In: Linguagem em (Dis)curso – LemD, v. 8, n. 3, p. 487-517, 2008.
LEA, Mary; STREET, Brian. O Modelo de letramentos acadêmicos: teoria e aplicações. Filol.
Linguíst. Port., São Paulo, v. 16, n. 2, p. 477-493, jul./dez. 2014
ZAVALA, Virginia. Quem está dizendo isso?: Letramento acadêmico, identidade e
poder no ensino superior. Campinas: Mercado de Letras, 2010.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1200
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LETRAMENTO MULTIMODAL DIGITAL NAS ATIVIDADES DO


LIVRO DIDÁTICO LEARN AND SHARE ENGLISH
Júlia Ferreira Lima1; Maria Zenaide Valdivino da Silva2
Palavras-chave: Multiletramentos. Multimodalidade. Livro didático. Língua Inglesa.
Introdução
A comunicação toma forma e se efetiva em entidades, razoavelmente maleáveis, que
nos dá liberdade para montar o nosso discurso, de acordo com os nossos critérios e objetivos.
Consoante Cox e Assis-Peterson (2001, apud ROCHA, 2012), a língua é produto de um
coletivo, essencialmente linguístico e, consequentemente, refletem questões políticas,
ideológicas e econômicas dessa comunidade. Dessa forma, as práticas de ensino não podem
abandonar esse conjunto de fatores que, direta ou indiretamente afetam o indivíduo social.
É partindo desse pensamento que defendemos o ensino de uma língua estrangeira
fundamentada no desenvolvimento dos multiletramentos, para que o aprendiz desperte uma
capacidade de compreender além do que os textos transparecem, e não se deixe dominar ou
supervalorizar a cultura alheia. Outrossim, estimular-lhes uma consciência reflexiva, critica e,
assim, agirem discursivamente no mundo.
Considerando o fato de que utilizamos diversas maneiras de nos fazer entender,
conhecimentos a respeito da multimodalidade, também necessitam serem disseminados
juntamente ao letramento crítico que implica em “ter habilidades para analisar textos,
identificar suas origens e sua autenticidade, entender como os textos têm sido construídos a
fim de perceber suas lacunas, seus silêncios e suas ideologias” (NEW LONDON GROUP,
1996). E o letramento digital, que são “habilidades individuais e sociais necessárias para
interpretar, administrar, compartilhar e criar sentido eficazmente no âmbito crescente dos
canais de comunicação digital” segundo Dundeney, Hockly e Pegrum (2016, p.17), pois
conseguir ler, entender e produzir todas os modos que corroboram para a constituição do
macrosentido do texto é essencial no processo emancipatório.
Este artigo tem como escopo analisar as atividades do livro Learn & Share, com foco
na identificação das atividades com mais recursos semióticos e digitais, investigando o
potencial do livro didático de inglês, utilizado no ensino médio da escola pública, explorarando
o letramento multimodal digital dos alunos.
O presente relatório é composto de quatro seções, incluindo esta em que fazemos uma
breve introdução sobre as motivações para o desenvolvimento do trabalho. Na sequência,
apresentando conceitos sobre a multimodalidade. Em seguida apresentamos uma analise das
atividades do livro Learn & Share do segundo ano do ensino médio, como foco nas atividades
que envolvem textos multimodais digitais. Por fim, concluímos com nossas considerações
finais.
Metodologia
A pesquisa ora apresentada se insere no universo das ciências sociais, aplicada à

1
Estudante do curso de Letras Língua Inglesa e suas respectivas Literaturas do Departamento
de Línguas Estrangeiras da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; e-mail:
juliaferreira@alu.uern.br
2
Professora do Departamento de Línguas Estrangeiras da Universidade Estadual do Rio Grande
do Norte, Líder do Grupo de Pesquisa de estudos multimodais; e-mail: mariazenaide@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1201
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

educação, ou seja, às ciências sociais aplicadas, e se constitui como sendo uma investigação de
natureza descritiva e interpretativista, com análise qualitativa. Seguindo esse paradigma, é
importante que interpretemos as escolhas dos autores nos livros didáticos investigados. Os
procedimentos de análise incluem a descrição e a interpretação do corpus a ser analisado, no
caso um volume de livro didático Learn and Share English (MARQUES, CARDOSO, 2016)
do ensino médio aprovado pelo PNLD (Plano Nacional do Livro Didático), utilizado em escolas
estaduais de Pau dos Ferros-RN. Foi analisado o volume do segundo ano. O critério para este
volume foi o fato de os alunos, nesse período, não se encontrarem no início ou no fim deste
nível de ensino, mas no meio do processo. Este artigo focaliza na descrição dos textos
multimodais digitais presentes no livro didático Learn and Share English, com base no
letramento multimodal digital. Temos como base teórica os estudos de Gunther Kress (2010);
Gunther & Van Leeuwen (2001) sobre a multimodalidade; Roxane Rojo (2015 – 2019) acerca
dos multiletramentos e hipermodernidade, Gavin Dudeney, Nick Hockly e Mark Pegrum (2016)
sobre os letramentos digitais. Jon Callow (1999) sobre o letramento visual. Inicialmente,
fizemos um estudo e conhecimento sobre a teoria dos multiletramentos. Em seguida, foi feita a
coleta do corpus, composto inicialmente por 23 prints de atividades com mais recursos
multimodais. Em seguida, para produção final, percebemos um padrão nas atividades, assim,
iremos expor algumas das atividades que mais continham recursos multimodais, principalmente
que se relacionam com o digital, retiradas do livro Learn and Share English, e, por fim,
resultando nesse trabalho.
Resultados e Discussões
A multimodalidade evidencia múltiplos modos de um texto, e como podem influenciar
o desenvolvimento dos letramentos de estudantes. Em vista disso, conforme as imagens a
seguir, pode-se identificar outros modos além do texto escrito. A presença de um infográfico
na atividade representa um tipo de texto multimodal, visto que mescla o texto escrito, dividindo
espaço com imagens, fontes e cores, na tentativa de chamar a atenção dos estudantes.

Figura 1 Figura 2
Fonte: https://api.plurall.net/media_viewer/documents/1681848

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1202
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A figura 1 serve para introduzir os alunos ao tema que será abordado em seguida, com
questionamentos como “Do you have a cell phone? If so, how many times a day do you check
it?” e também pede para que façam uma relação entre a imagem que está ao lado com texto
principal, mesmo sem ter feito a leitura do artigo. Assim, os alunos usaram do conhecimento
prévio, observando a imagem para deduzirem qual tema será abordado. O texto vem trazendo
a discussão sobre o uso do celular no dia a dia dos jovens, isso implica que o aluno terá de
refletir sobre o uso consciente ou não do celular em sua vida. Após a leitura, cabe ao professor
levantar alguns questionamentos a respeito, explorar essa consciência crítica do aluno sobre seu
consumo, se está sendo benéfico ou não para ele.
Em seguida, na figura 2, temos um infográfico, texto de ampla circulação social, não
somente em livros didáticos, jornais e revistas, como também na TV e internet. Esse tipo de
texto consegue condensar muitas informações em uma única imagem, sendo um recurso
amplamente utilizado no meio da comunicação social. Para se trabalhar esse tipo de texto outros
fatores são envolvidos que vão além da competência escrita do aluno em decodificar o texto.
Sendo, portanto, um potencializador do ensino-aprendizagem, o professor deve explorar muito
mais do que o texto, utilizando as novas tecnologias, e recursos a seu favor.
O infográfico vem como complemento do texto anterior, trazendo alguns dados sobre
o uso da tecnologia na vida dos jovens. Assim é possível ampliar a discussão e reflexão,
levando-os a fazerem associações com o texto anterior e seu próprio cotidiano. A atividade é
para ser trabalhada em grupo, mas as questões são pessoais, e devem ser discutidas em sala de
aula.
O texto aborda, negativamente, o uso tecnologias, como mostram os títulos das
atividades (figura 1 e 2), colocando em evidência o foco principal: o vício em tecnologia.
Assim, a partir das atividades e discussões em sala se explora o letramento crítico do aluno,
fazendo com que reflita sobre o uso que faz do seu próprio celular e das tecnologias e, acima
de tudo, levando em consideração o contexto no qual estão inseridos.
É sabido que, mesmo sendo uma nova possibilidade de ensino e que, com o auxílio da
internet, e ferramentas como computadores e smartphones, o acesso a aprendizagem tornou-se
mais democrático, mas, tecnologias digitais podem ser responsáveis por pontos negativos
também. Em consequência disso, fica a critério do professor explorar todas as possibilidades
que os textos multimodais apresentam, visto que o texto não se constrói apenas com a escrita,
sendo possível explorar outros materiais, ou seja, além da escrita contamos com os modos
falados, imagéticos, áudio visuais e a articulação entre eles.
Neste contexto, o livro didático aborda, em sua maioria, o uso excessivo do celular,
mas, para explorar ainda mais o tema, entende-se que o professor tem de instigar o aluno a usar
os mecanismos de busca como o Google para pesquisar outros tipos de textos, vídeos, podcasts,
a fim de desenvolver no aluno um letramento digital. Apesar de entendermos que infográficos
são produzidos por profissionais e por isso circulam nos meios midiáticos, não é proibido
encorajar o aluno a produzir um. Além disso, o aluno pode e deve ser incentivado a construir
outros tipos de produções, além do texto escrito.
Pensando o letramento como prática social e conhecimento de mundo, o letramento
digital torna-se fundamental para desenvolver no aluno, não só as capacidades técnicas de
escrita verbal, como também a capacidade de pensar criticamente a sociedade em que vive.
Ainda sobre, (PEREIRA & BRASIL 2016, p. 1) entendem que o letramento é “a competência
que o aluno desenvolve, [...], para não apenas decodificar o conteúdo existente nos textos
apresentados a eles, mas, [...], lê-los de modo que estabeleçam uma apreciação crítica acerca
deles.”
Durante a análise do livro didático não foi possível identificar a abordagem de
ferramentas tecnológicas, focando, apenas, em mostrar os dispositivos tecnológicos, mas, parte

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1203
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

do princípio de que o aluno já sabe como utilizá-los. Em vista disso, o letramento digital não é
o foco do livro, mas as atividades são feitas para explorar e despertar os alunos para um
pensamento mais crítico acerca do seu cotidiano.
Conclusão
Essa pesquisa expôs a necessidade de se pensar acerca dos multiletramentos e da
multimodalidade englobando o uso das tecnologias digitais no processo de ensino-
aprendizagem de alunos de língua inglesa na escola pública. Através dessa pesquisa e análise
das atividades do livro didático, fica evidente que o livro apenas menciona os tipos de suportes
tecnológicos, mas não se aprofunda em solicitar que o aluno faça uma atividade em algum deles.
O livro didático aborda o ensino de inglês com foco na gramática, devemos pensar o
ensino não só centrado em estruturas gramaticais, mas sim, fomentado através do letramento
crítico. O ensino necessita ser atrelado ao contexto social em todas as suas dimensões – seja
política, religiosa etc. -, pautado na conscientização sobre os diferentes modos semióticos e
formas de domínio que a hegemonia faz uso. Promover uma percepção reflexiva, despertando
nos aprendizes de língua inglesa, um olhar que vá além da superficialidade material dos textos,
que são naturalmente multimodais. Entendemos que é indispensável saber que o texto
ultrapassa o modo verbal, ou seja, seu sentido é moldado a partir de diversos modos semióticos.
O pouco espaço impossibilitou de trazermos um analise mais completa, mas isso será feito em
um artigo que está em produção.
Agradecimentos
Agradecemos ao órgão que concedeu a oportunidade de realização do projeto. Ao
grupo de pesquisa que participou das discursões e estudos acerca da teoria que foi trabalhada,
assim como dos segundos olhares concedidos diante das produções realizadas.
Referências.
CALLOW, Jon. Reading the visual: An introduction. In: _____ Image matters: visual texts in
the classroom. Marrickville, N.S.W.: Primary English Teaching Association, 1999. p. 1 – 13.
DUDENEY, Gavin. Letramentos digitais / Gavin Dudeney, Nick Hockly e Mark Pegrum ;
tradução Marcos Marcionilo. – 1. Ed. – São Paulo : Parábola Editorial, 2016.
KRESS, Gunther & van LEEUWEN, Theo. Multimodal discourse: The modes and media
contemporary communication. London, New York: Arnold; Oxford University Press, 2001.
KRESS, Gunther. Multimodality. A social semiotic approach to contemporary
communication. New York, Routledge, 2010.
—. Literacy in the new media age. London, New York: Routledge, 2003, 2010
LIMA, Rosângela Andrade. A leitura do texto multimodal. In: GOMES; BARBOSA; LIMA;
GOMES (Orgs.). Texto, imagem e letramento visual. Teresina: EDUFPI, 2019
MARQUES Amadeu, Learn and Share in English : língua estrangeira moderna: inglês /
Amadeu Marques, Ana Carolina Cardoso. – 1. ed. -- São Paulo: Ática, 2016
PEREIRA, Tayanara & Virginia BRASIL. MULTIMODALIDADE E SUAS
IMPLICAÇÕES PARA O LETRAMENTO VISUAL. In: XIII EVIDOSOL e X CILTEC-
Online - junho/2016 -http://evidosol.textolivre.org
ROCHA, Cláudia Hilsdorf. Gêneros discursivos e multiletramentos no ensino de inglês no
fundamental I: em busca da formação plurilíngue. In: Gêneros textuais: teoria e prática.
Campinas, SP: Mercado de Letras. 2012.
ROJO, Roxane Helena R. Gêneros do discurso, multiletramentos e hipermodernidade. In:
Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros discursivos. São Paulo: Parábola Editorial.
2015
ROJO, Roxane. Letramentos, mídias, linguagens / Roxane Rojo, Eduardo Moura. – 1. Ed. –
São Paulo : Parábola, 2019.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1204
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

LETRAMENTO MULTIMODAL DIGITAL NO ENSINO DE INGLÊS:


VISUALIZANDO O LIVRO DIDÁTICO DO ENSINO MÉDIO E O
MANUAL DO PROFESSOR

Cibele Negreiros Maia1; Maria Zenaide Valdivino Silva2

Palavras-chave: Letramento multimodal. Letramento digital. Orientações.


Introdução
A partir do século XXI, com a criação da Web 2.0 e a democratização de aparatos
tecnológicos como smartphones, computadores, tablets, etc, o consumo dos textos multimodais
(com diferentes modos semióticos) aumentou, bem como a produção deles, já que agora todos
podem se engajar com amplos e diferentes recursos, seja através de posts em redes sociais,
mensagens no WhatsApp, vídeos no YouTube e etc. Assim, o letramento multimodal, em que
estão incluídos o letramento digital, visual, dentre outros, tem se tornado imprescindível para a
participação efetiva de alunos e cidadãos em geral nos meios de comunicação contemporâneos.
Por esse motivo, torna-se necessário a escola trabalhar com a promoção dos multiletramentos
a integração dessas tecnologias ao ensino de línguas estrangeiras, uma vez que as Orientações
Curriculares para o Ensino Médio (1999, 2002 e 2006), asseguram buscar possibilitar o
desenvolvimento da competência linguística a nível de permitir o acesso e produção a diferentes
tipos de informações, como também contribuir para a formação geral enquanto cidadão. Desta
maneira, esse trabalho buscou investigar como o livro didático de inglês do ensino médio tem
se posicionado para proporcionar através do ensino da língua o desenvolvimento do letramento
multimodal digital, numa perspectiva crítica. A fundamentação teórica utilizada compreende a
Gramática do Design Visual, de Kress e Van Leeuwen (1996, 2006), e o trabalho está dividido
em Introdução, Metodologia, Resultados e Discussões, Conclusão, Agradecimentos e
Referências.

Metodologia
Tendo em vista que visamos analisar fenômenos do contexto educacional,
especificadamente o ensino orientado pelo livro didático, esse trabalho se enquadra nas ciências
sociais aplicadas, e se constitui como sendo uma investigação de natureza descritiva e
interpretativista, com análise qualitativa. Assim, os procedimentos de análise incluem a
descrição e a interpretação do corpus analisado, sendo dois volumes de livros didáticos, um do
Learn and Share in English (MARQUES, CARDOSO, 2016) e outro do Alive High
(MENEZES et al., 2016), ambos do ensino médio aprovados pelo PNLD (Plano Nacional do
Livro Didático), sendo um deles (Learn and Share in English, de MARQUES, e CARDOSO,
2016) utilizado em escolas estaduais de Pau dos Ferros-RN e adotado por professores
preceptores da Residência Pedagógica (RESPED), subprojeto Letras/Inglês, coordenado, nesse
contexto, pela coordenadora deste trabalho. Desta forma, investigaremos os volumes do
segundo ano (pois nesse período os alunos não se encontram no início ou no fim deste nível de
ensino, mas no meio do processo) de cada coleção paralelamente aos manuais do professor.
Assim, no procedimento de análise, contemplaremos as seguintes categorias: (1) Identificação
da variação de textos multimodais, com base em ambientes virtuais presentes nos livros
didáticos; (2) Descrição e análise das propostas de atividades envolvendo os textos multimodais

1
Estudante do curso de Letras Língua Inglesa do Departamento de Línguas Estrangeiras da Universidade Estadual do Rio
Grande do Norte; e-mail: cibelenegreiromaia09@gmail.com
2
Professora do Departamento de Línguas Estrangeiras da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, Líder do Grupo de
Pesquisa Estudos Multimodais.; e-mail: mariazenaide@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1205
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

identificados; e (3) Análise dos textos multimodais e das orientações propostas no manual do
professor para o desenvolvimento do letramento multimodal e digital.

Resultados e Discussão
O primeiro texto3 selecionado (Figura 1) se encontra na segunda unidade, denominada
Digital Security. Ele foi assim escolhido porque apresenta uma grande disponibilidade de
recursos multimodais, dentre os demais textos presentes em ambientes virtuais encontrados no
livro. Na primeira questão do texto, é solicitada a leitura dos seis quizzes representados e na
sequência introduz três questionamentos. Assim, a proposta da atividade consiste em
desenvolver o letramento crítico através da reflexão sobre a recorrência desse tipo de texto na
vida dos alunos e a influência que ele pode exercer, como também possibilita a prática das
habilidades orais.
Figura 1. Texto multimodal em ambiente virtual

Disponível na página 35 do segundo volume do livro didático Alive high (MENEZES et al., 2016)

Na segunda questão, é solicitado que as repostas do exercício anterior sejam gravadas


em um podcast e compartilhadas com a turma. Ademais, também é apresentado um quadro com
frases exemplificando a estrutura que os alunos podem utilizar para responder as perguntas.
Assim, essa atividade tem o intuito de fazer o aluno praticar a habilidade de speaking (falar)
através de uma tecnologia digital.
Partindo para a análise do texto abordado nas questões, ao aplicar as categorias de
análise de composição de texto multimodal e a metafunção representacional, propostas por
Kress e van Leeuwen (1996), podemos perceber no que diz respeito ao valor da informação,
que a organização dos elementos do texto com os participantes (internos e externos ao texto) é
predominantemente imagética (ver figura 1), colorida e disposta de diversos recursos visuais.
Isso, porque como se trata de um conteúdo de entretenimento, torna-se necessário que a
produção do texto se articule de forma tanto atrativa como representativa e significativa, para
que dentre a infinidade de conteúdos disponibilizados na Web, o leitor se identifique, escolha
lê-lo e proporcione engajamento, atingindo, assim, o objetivo do produtor desse tipo de texto.
Em relação à saliência, que diz respeito aos elementos feitos para atrair a atenção do
leitor, podemos dizer que ela é composta através dos ícones e planos de fundo coloridos. Esses,
além de serem utilizados para atrair, também estabelecem relação com o conteúdo disposto no
modo verbal. Os ícones representam os participantes que o texto envolve, e os planos de fundo

3
Vale lembrar que o conceito de texto que consideramos, compreende a imagem como texto assim como o modo
verbal, uma vez que ela também pode ser repleta de sentidos e significados.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1206
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

retomam o conteúdo abordado no modo verbal. Por exemplo, o quizz número 6 apresenta o
questionamento “Qual dos seus amigos é viciado em você?” em um plano de fundo composto
com o desenho de pílulas. Assim, a imagem representa e retoma o sentimento de vício, abordado
no modo verbal.
No que diz respeito a estruturação, que corresponde aos dispositivos que conectam ou
desconectam elementos da imagem, significando se pertencem ou não a uma mesma formação
de sentido, podemos dizer que ele é estrategicamente organizado, pois são utilizadas caixas de
texto para orientar e tornar a leitura do modo verbal mais visível dentro do plano de fundo.
Como também, conectam o modo verbal com o visual, mostrando que esses elementos estão
diretamente interligados na formação de sentido.
Desta maneira, a análise desse texto, a partir desses três critérios de composição, nos
permite identificar os diferentes recursos utilizados pelo produtor para tornar o texto
multimodalmente rico. Como também, as diferentes estratégias aplicadas para aproveitar a
disposição e a variabilidade de recursos visuais do meio digital e tornar o texto significativo em
todos os modos semióticos, e consequentemente, mais atrativo também. No entanto, analisando
as orientações das questões do texto, no manual do professor, não conseguimos identificar
nenhuma sugestão nessa perspectiva. As orientações referentes à primeira questão, apenas
apresentam a resolução da atividade. As orientações da segunda questão, apesar de sugerir o
uso de ferramentas digitais (celular para gravação de áudio), menciona somente estratégias que
dão suporte à produção oral, deixando de fora o potencial de letramento multimodal digital que
pode ser desenvolvido a partir desse texto, uma vez que as orientações direcionam apenas o uso
do quadro para anotações de palavras-chave, planejamento e organização de ideias.
O segundo texto selecionado (figura 2), foi retirado do segundo livro didático em análise
(Learn and Share in English), sob o mesmo critério de riqueza multimodal. Ele se encontra na
primeira unidade, denominada Help! I can’t put down my phone. A primeira seção que trabalha
com esse texto apresenta quatro questionamentos: 1) questiona sobre a frequência de vezes que
se faz uso do celular, 2) de que forma a imagem e o título do texto estão relacionados, 3) o
público-alvo do texto, e 4) se o texto aborda os aspectos positivos ou negativos dos celulares.
Dessa forma, podemos perceber que a proposta da atividade consiste em trabalhar o
posicionamento crítico, uma vez que levanta reflexões a respeito do conteúdo. No entanto,
dentre as quatro questões, apenas a questão dois se refere além do modo verbal e parece não
conceber a imagem como um texto independente do verbal.
Na segunda seção que trabalha com esse texto, denominada Detailed Comprehension,
são apresentadas três questões. A primeira trata-se de uma questão de correlacionar frases
extraídas do texto. Na segunda, questiona sobre os benefícios mencionados no texto sobre os
celulares. Por último, na terceira, questiona sobre os problemas que podem ser acarretados pelo
uso desses aparelhos. Assim, a proposta dessa atividade consiste em localizar informações
específicas do texto, que a propósito estão mencionadas no modo verbal.
Partindo para a análise do texto no que diz respeito ao valor da informação, podemos
notar que há a utilização da estratégia da disposição de conteúdos direita-esquerda (dado-
novo), pois o modo verbal se posiciona à esquerda, uma vez que representa o conhecimento
dado, já a imagem, se localiza no lado direito do texto, pois se posiciona como conhecimento
novo, tendo em vista que representa o vício no celular, tema discutido no modo verbal. Em
relação à categoria topo/pé de página (ideal-real), percebemos que os recursos estão dispostos
conforme orienta Kress e van Leeuwen (1996), pois a imagem se localiza na parte de cima do
texto, uma vez que não representa o real, tendo em vista que se trata de um desenho.
No que diz respeito à saliência, ela foi constituída apenas pela imagem e a moldura
colorida, que se posiciona com o intuito de representar uma página da web e sinalizar que esse
texto se situa nesse meio. Na categoria de análise enquadramento, podemos dizer que ela é
composta através dos recursos em saliência juntamente com a moldura (representando a

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1207
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

formatação da Web), pois esses recursos orientam a leitura do texto e introduz o conteúdo do
modo verbal, que foi priorizado na produção.
Figura 2. Texto multimodal em ambiente virtual

Disponível na página 19 do segundo volume do livro didático Learn and Share in English (MARQUES; CARDOSO, 2016)

Assim, a análise a partir dessas categorias nos permite identificar diferentes estratégias
para produção de um texto multimodal, como por exemplo, o posicionamento de conteúdo
verbal com visual e relações de sentido estabelecidas entre eles. Ainda assim, dentre as setes
questões que abordam o texto, apenas uma se refere ao modo visual, o que é insuficiente, mas
já sinaliza um avanço, se comparado às demais atividades aqui analisadas. Paralelo a isso, no
manual do professor, algumas instruções sugerem chamar atenção na tipografia do texto (título,
formato, imagem e fonte do texto) alertando que esses recursos ajudam na identificação do
assunto principal, reconhecendo, assim, a importância dos recursos multimodais na composição
de sentido geral do texto e contribuindo para o letramento multimodal.

Conclusões
Por fim, concluímos que os dois livros didáticos analisados apresentam textos que se
valem da multimodalidade e dos multiletramentos, contribuindo, assim, para o trabalho de
desenvolvimento de diferentes letramentos. No entanto, enquanto o Alive High apresenta uma
maior variabilidade de modos e recursos nos textos, se comparado ao Learn and Share in
English, esse último ainda se sobressai em relação às atividades e orientações do manual do
professor para o trabalho na perspectiva multimodal, pois apesar da ênfase recair para o modo
verbal, alguma atenção ainda é dada para os demais modos, diferentemente do Alive High. De
toda forma, apesar do trabalho com esses textos ainda precisar ser aprofundado, podemos dizer
que estamos caminhando em direção a isso, e algum avanço foi registrado. Devido à falta de
espaço, não conseguimos nos detalhar tanto na nossa análise, mas produziremos um artigo para
descrição do trabalho de forma mais consistente.

Agradecimentos
Agradecemos ao CNPq por conceder a bolsa e incentivar o desenvolvimento da pesquisa e aos
membros do grupo de pesquisa por enriqueceram as discursões e debates acerca da teoria
estudada.

Referências
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading images: the grammar of visual design. London and
New York: Routledge, 1996, 2006

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1208
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

MOVIMENTO FEMINISTA E TRADUÇÃO: INFLUÊNCIAS E


CONTRIBUIÇÕES

Letícia Ellen Costa Lima1; Nilson Roberto Barros da Silva2


Palavras-chave: Gênero. Mulher. Linguística de Corpus.
Introdução
A questão do sexismo na linguagem é um problema bastante recorrente.
Atualmente, é possível perceber em vários contextos e diálogos a mulher em um papel
secundário, onde muitas vezes são relacionadas a expressões machistas que atingem
diretamente a figura feminina.
Apesar de a mulher ter conquistado maior espaço na sociedade, a linguagem
patriarcal ainda se faz e sempre esteve presente. Por isso, em 1970, no Canadá, ocorreram
movimentos feministas os quais inspiraram várias escritoras e tradutoras como Nicole
Brossard, Susanne J. Levine, Bárbara Godard, entre outras a lutar por uma maior
visibilidade feminina nas obras literárias, em busca, também, de combater as opressões
da língua vindas do patriarcado.
Além disso sabe-se que, no Brasil, existe um vocabulário que estigmatiza a figura
da mulher e, portanto, observando a grande importância do movimento feminista
canadense que proporcionou uma maior visibilidade feminina na linguagem, surge a
hipótese de que o movimento pode ter servido também de influência para tradutoras no
país, como bem defende Schäffer (2010), resultando na adoção de estratégias
relacionadas ao que se convencionou chamar tradução feminista, que procura evidenciar
o feminino.
Diante disso, percebendo que há uma linguagem patriarcal e levando em
consideração a hipótese de estratégias de tradução nas quais a presença da mulher é
evidenciada, o presente estudo tem como objetivo geral analisar traduções de romances
clássicos do inglês para o português realizadas por tradutores e tradutoras brasileiras no
período de 1900 a 2016. Por sua vez, o objetivo do plano de trabalho 002, por nós
desenvolvido, foi investigar romances traduzidos por homens entre 1971 e 2016, após o
movimento feminista canadense, verificando possíveis marcas de gênero nos textos
traduzidos.
Metodologia
Esta pesquisa possui caráter descritivo e também envolve procedimentos
qualitativos e quantitativos de análise. Além disso, tivemos como embasamento teórico-
metodológico a Linguística de Corpus. Para verificar as marcas de gênero nas traduções,
analisamos as palavras consideradas mais eficazes para a conclusão desse estudo,
contrastando a obra original e a tradução, sendo elas: “queen”, “girl”, “Mary”,
“mother”, “daughter”, “widow”, “miss”, “she”, “her”, “king” e suas respectivas
traduções, além de “homem” e “mulher”. Foi decidido que os termos a serem a
pesquisados poderiam ter relação tanto com gênero feminino quanto masculino.
1
Estudante do curso de Letras – Língua Inglesa do Departamento de Letras Estrangeiras – DLE da
Universidade do Estado do Rio Grande Norte; e-mail: leticiaellenc@gmail.com
²Professor do Departamento de Letras Estrangeiras – DLE/FALA/UERN; Coordenador do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC; Líder do Grupo de Estudos da Tradução –
GET/UERN; Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem – PPCL/UERN; e-mail:
nilsonbarros@uern.br
http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1209
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O trabalho foi realizado com o auxílio do programa computacional WordSmith


Tools 6.0 (SCOTT, 2012) que permite a verificação da ocorrência das palavras as quais
discutíamos durante reuniões quinzenais com o coordenador do projeto. O programa
disponibiliza as informações necessárias para saber a frequência e, através das linhas de
concordância, em quais obras as sentenças ocorrem. O subcorpus utilizado nesse estudo
são romances traduzidos no Brasil entre 1971 e 2016.
De forma geral, foram analisadas palavras de ambos os gêneros no subcorpus 1,
subcorpus 2, subcorpus 3 e subcorpus 4 com o intuito de verificar a hipótese sobre alguma
marca de gênero contida nos livros. Especificamente nesta análise, verificou-se a palavra
“queen” nas obras originais e “rainha” nas traduções do subcorpus 2, que é constituído
de 5 livros em inglês e suas respectivas traduções, sendo eles: Ulysses do autor James
Joyce (1922) e sua respectiva tradução, Ulisses, traduzido por Antonio Houaiss (1966).
Pride and Prejudice de Jane Austen (1813) e sua respectiva tradução, Orgulho e
Preconceito, por Lúcio Cardoso (1982). Jane Eyre de Charlotte Brontë (1847) e sua
respectiva tradução, por Marcos Santarrita (1983). Dubliners de James Joyce (1914) e sua
respectiva tradução, Dublinenses, por Guilherme da Silva Braga (2012) e The Shack de
William P. Young (2007) e sua respectiva tradução, A Cabana, por Ivanir Alves Calado
(2008). A fim de inspecionar a ocorrência de marcas de gêneros nas obras. Também foi
observada as palavras “king” e “rei” no mesmo subcorpus para verificar se ocorreu algum
tipo de alteração na tradução que pudesse indicar influência relacionada à estratégia
tradutória.
Resultados e Discussão
Ao final da análise, no geral, verificamos que no subcorpus 1, subcorpus 2,
subcorpus 3 e subcorpus 4 não houve marcas de gêneros, ocultamento do feminino,
desvalorização de termos relacionados a mulher ou exaltação do masculino no corpus
traduzido. Com isso, as traduções antes e após o movimento feminista canadense,
analisadas neste estudo, não possuem marcas aparentes relacionadas a questões de
gênero.
No subcorpus 2 (romances traduzidos por homens entre 1971 e 2016) foram
analisadas duas palavras e suas respectivas traduções: Queen, rainha, king e rei, para
verificar a ocorrência de alguma marca de gênero. A palavra “queen” aparece 11 vezes
em dois dos livros originais, enquanto “rainha” aparece 7 vezes na tradução de um livro.
Porém, vale ressaltar que no corpus onde não houve a ocorrência da palavra “rainha”, o
tradutor utilizou “dama” que também é um termo feminino. Apesar dessa mudança, não
há inferiorização da figura feminina pois, como esperado, na tradução foi utilizado
“damas de copas” e "dama de ouro” para se referir a “Queen of Hearts” e “Queen of
Diamonds” que estão presentes na obra original, ou seja, ainda é dada importância a
mulher. Diante disso, apesar da modificação, não há inferioridade e, portanto, não há
marca de gênero na tradução desse texto. Outro fato importante é que, nas próprias
traduções, foi possível perceber que o tradutor optou por usar, também, a palavra
“queen”, como mostra na obra original e, por mais que não ocorra a tradução do termo,
ainda há a presença do feminino.
A palavra “king”, que também foi analisada, aparece 22 vezes em cinco livros
originais e a palavra “rei” também é recorrente em todos os cinco livros traduzidos,
aparecendo 16 vezes. Foi notório que a maioria das sentenças correspondem às partes
originais, e em alguns trechos a palavra “king” também não foi alterada na tradução, ou
seja, ainda assim há a ocorrência do termo masculino. Apesar do termo masculino ser

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1210
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

mais recorrente que o feminino, percebemos que os tradutores usaram métodos


semelhantes, já que tanto “queen” quanto “king” aparecem, também, na tradução. Dessa
forma, não havendo marcas de gêneros.
Conclusão
Com base nesse estudo, vemos que as traduções analisadas aqui não são
influenciadas pelas manifestações feministas canadenses ocorridas em 1970. Percebemos
que os termos traduzidos estão, em sua maioria, relacionados à tradução, sejam
expressões masculinas ou femininas. Também notamos que, por algum motivo, os
tradutores e tradutoras optam por não traduzir todas as palavras analisadas, pois é comum
ver, no subcorpus 2, “king” e “queen” também nos livros traduzidos, nos permitindo
perceber que não houve, exatamente, marcas de gênero.
Agradecimento
Agradeço à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo suporte, incentivo e
oportunidade de fazer parte de um projeto tão enriquecedor que me permitiu obter
bastante conhecimento, contribuindo diretamente para minha formação acadêmica.
Referências

AUSTEN, Jane. Orgulho e Preconceito. Tradução de Lúcio Cardoso. São Paulo: Abril
Cultural, 1982. p. 1-335.

AUSTEN, Jane. Pride and Prejudice. 1813. p. 1-593.

BASSNET, Susan. Writing In No Man’s Land: Questions of Genderand Translation. Ilha


do Desterro, University of Warwick. Volume. n. 28, p. 63-73, 1992.

BRONTE, Charlotte. Jane Eyre. 1847. p. 1-868.

BRONTE, Charlotte. Jane Eyre. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves Editora S/A, 1983. p. 1-444.

JOYCE, James. Dublinenses. Tradução de Guilherme da Silva Braga. Porto Alegre, RS:
L&PM, 2012. p. 1-122.

JOYCE, James. Dubliners. 1914. p. 1-147.

JOYCE, James. Ulisses. Tradução de Antonio Houaiss. Difusão Editorial do Brasil, 1966.
p. 1-738.

JOYCE, James. Ulysses. 1922. p. 1-1305.

SCHÄFFER, Ana M. M. Representações de tradução de gênero no dizer de


tradutoras brasileiras. 2010. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas,
Instituto de Estudos da Linguagem. 2010.

SCOTT, Mike. Wordsmith Tools 6.0. Oxford: Oxford University Press, 2012.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1211
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

YOUNG, William P. A Cabana. Tradução de Ivanir Alves Calado. Rio de Janeiro:


Editora Sextante, 2008. p. 1-223.

YOUNG, William P. The Shack. 2007. p. 1-145.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1212
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O AMOR BIOPOTENTE EM O APOCALIPSE DOS TRABALHADORES,


DE VALTER HUGO MÃE

Sabrina de Paiva Bento1, Annie Tarsis Morais Figueiredo (Orientadora) 2

Palavras-chave: Personagem. Amor. Biopotência. O apocalipse dos trabalhadores. Literatura


Portuguesa Contemporânea.

Desenvolver pesquisa em literatura, em termos mais cotidianos, é compreender que não


se trata de um ato isolado, mas de atitudes processuais de investigação, de aspectos por vezes
desconhecidos, dos limites postos pela sociedade, até mesmo da própria natureza. Cultivar essa
inquietação investigativa diz mais sobre o alumiar dos olhos quando nos aproximamos do
objeto de estudo (conto, poema, romance e etc.) por meio das leituras, é quando passamos a
descobrir elementos importantes para o desenvolvimento da análise. Com isso, o texto reluz
para o pesquisador e, diante dessa comparação, não se pode cristalizá-lo ou colocá-lo em uma
camisa de força, em outras palavras, conduzir a análise textual apenas na aplicação de uma
teoria. Dessa maneira, devemos indagar aquilo que o texto contém, quais as suas motivações,
respeitando sua integridade, pois não podemos substituir o que temos diante de nós, mas
repostarmos sempre ao que está escrito, cotejar as inferências para saber se o texto as confirma
ou as rejeita.
Nessa perspectiva, o presente estudo tem por objetivo analisar no romance O apocalipse
dos trabalhadores, de Valter Hugo Mãe. Precisamente, como o amor, o que denominamos
como afeto biopotente, ou seja, que impulsiona e age como uma força de afirmação da vida,
irradiada entre personagens Maria da Graça, Sr. Ferreira, Quitéria, Andriy, Augusto e o cão
Portugal; tendo em vista, portanto, um circuito de relações existentes entre eles ao longo do
enredo. Em linhas gerais, o romance conta a história de duas diaristas que moram na cidade de
Bragança, no Norte de Portugal, vivendo em prol da organização e limpeza da casa de outros,
chorando em sepultamentos como carpideiras para conseguir um dinheiro extra, com salários
muito aquém do que se tinha por direito, essa era a rotina das mulheres-a-dias3.
A pesquisa se caracteriza como qualitativa-interpretativa e no âmbito dos estudos
literários o conceito de metodologia não atua autonomamente, tendo em vista estar sempre
subordinado a outro saber. Diante disso, há uma pré-condição: a de retificar a metodologia
como um fim em si, pois não se tem uma fórmula, receita dada de antemão e por isso quando
nos reportamos a pesquisa em literatura a partir dos procedimentos metodológicos que nela
existe teremos algo inacabado, possível de ser contestado, de outro modo, uma estudo em
aberto.
Em vista disso, como aparato teórico utilizamos: Candido (2007), Gancho (1991),
Masssaud Moisés (2013), para embasar os estudos sobre os personagens, além dos estudos
biopolíticos desenvolvidos por Giorgio Agamben, (2002), Michel Foucault (2002), enquanto
1
Estudante do curso de Licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e Respectivas Literaturas,
do Departamento de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (CAP/UERN); e-mail:
sabrinacapuern@gmail.com
2
Professora de Literaturas de Língua Portuguesa do Departamento de Letras do Campus Avançado de Patu, da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (CAP/UERN). Participante dos Grupos de Pesquisa: Literatura e
cultura afro-brasileira, africana e da diáspora; Observatório de Crítica Literária, ensino e criação e BIOS - Núcleo de
Estudos em Biopolítica e Filosofia Contemporânea. E-mail: anniefigueiredo@uern.br
3
Em Portugal mulher-a-dias refere-se a diaristas que trabalham faxinando casas e grandes palácios.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1213
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

poder sobre a vida e poder da vida; recorremos também a Vladimir Safatle (2016) no que diz
respeito ao circuito dos afetos. Busca-se com este estudo contribuir para a pesquisa acadêmica
no sentido de possibilitar outras aberturas analíticas partindo do texto literário para outros
saberes, em específico, o biopolítico e para além disso, os estudos que perpassam a criação
literária de Valter Hugo Mãe.
A sequência composta por: O nosso reino, O remorso de Baltazar Serapião, A máquina
de fazer espanhóis e o terceiro livro da tetralogia das minúsculas O apocalipse dos
trabalhadores marcam a ascensão do escritor tanto em Portugal quanto no Brasil. Para além
disso, Valter Hugo Lemos, escritor português, nascido em Angola, utiliza em suas produções
literárias e artísticas recursos de imagens e metáforas para discorrer sobre os indivíduos nas
situações mais diversas do cotidiano.
O apocalipse dos trabalhadores (2017) possui como cerne a vida em seu aspecto mais
desigual, mediante um cenário de pobreza devido à crise econômica e os resquícios dos anos
ditatoriais que Portugal enfrenta até os dias de hoje. Sob o olhar de imigrantes ucranianos,
protagonizado por Andriy e seus pais, é um país que revoluciona através das flores de modo
justo. No entanto, ocorre o revés, pois para os que habitam o lugar, a maneira de ver e vivenciar
difere dessa ilusão utópica, tendo em vista que as situações do cotidiano são palpáveis e esses,
como flores, quando retirados do solo, as suas pétalas sucumbem. Em outros termos, se trata de
moradores vivendo de modo subalternizado com condições mínimas de sobrevivência. As
pétalas, que de maneira figurativa ilustram esta pesquisa, representam os personagens
trabalhadores da narrativa; as flores, são as cidades que compõem Portugal, mais precisamente,
Bragança, porque é nesse espaço que se desenvolve a história; já os ceifeiros significa o sistema
representado nesse caso a partir do Estado. Assim, analisaremos como se dá a construção das
personagens Maria da Graça, Quitéria, bem como dos personagens Augusto, Andriy, Sr.
Ferreira e o cão Portugal, enquanto pétalas que compõem uma flor, sendo a alegoria para
Bragança diante do contexto biopolítico.
Maria da Graça Pragal é uma mulher de quarenta anos que trabalha como diarista na
cidade de Bragança e se sente indigna de participar das coisas mais belas e sagradas da vida.
Ao longo da narrativa, podemos observar a priori o vínculo relacional entre a protagonista e
sua amiga Quitéria. Duas diaristas com os mesmos trabalhos, pois ambas também são
carpideiras contratadas para chorar em sepultamentos; vivem a seu modo, contudo há uma
completude nas situações rotineiras das quais partilham. Alegoricamente, Quitéria também
compõe a flor-Bragança, portanto, é uma personagem-pétala inserida no contexto biopolítico e
está diante de mecanismos que promovem a vida a partir do Estado. Um desses mecanismos,
não apenas para ela, mas para Graça também, é o próprio trabalho; sendo que esse atua a partir
do biopoder conforme aponta a teoria desenvolvida por Michel Foucault e desenvolvida mais
tarde pelo filósofo italiano contemporâneo Giorgio Agamben: o poder atuando sobre todas as
instâncias da vida, pois seja como diaristas ou como carpideiras, as personagens necessitam dos
empregos para garantir a sobrevivência.
Por outro lado, se existe o poder sobre a vida há o poder da vida e podemos encontrar
isso a partir do relacionamento de Quitéria com o ucraniano Andriy. Quitéria é uma das quais
compreende a linguagem de Andriy, mesmo não tendo muito domínio do sotaque, e com isso
consegue saber mais a respeito dele, criando um vínculo afetivo. Em contrapartida ao “amor
humanizador” entre os personagens Quitéria e Andriy, retomamos a vivência da protagonista,
haja vista que é de suma importância pensar as questões que envolvem seu matrimônio com
Augusto. Por ser pescador vivia em alto mar e voltava de tempos em tempos à Bragança para
repouso, na narrativa a construção dele se dá a partir do viés de submissão por parte de sua
esposa Graça. Nesse relacionamento, o descansar está atrelado ao fato de chegar em casa e ter
quem o sirva do prato de comida até as sandálias nos pés.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1214
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O cão Portugal tipifica novos caminhos e linhas de fugas diante do contexto biopolítico
de Portugal, principalmente, no que tange seu contato com a protagonista do enredo, pois ao
contracenar com a mulher-a-dias chega a facilitar, a partir da relação de cumplicidade, o ofício
que ela exerce dentro da casa do patrão. Segundo Vladmir Safatle (2015), refletir sobre o amor
é partir de um interesse político, por assim dizer, biopolítico, tendo em vista as formas de
reconhecimento entre os sujeitos, pois ao mesmo tempo que o afeto desampara, também nos
recria. A cartografia afetiva traçada ao longo do relacionamento entre os personagens propicia
as transformações. Por isso a importância de ratificar a complexidade da relação entre Senhor
Ferreira e Maria da Graça, pois mesmo ferindo a dignidade dela também ocorre a identificação
dos corpos, tendo em vista que ambos sentiam amor um pelo outro. No enredo, a morte adquire
um caráter de possibilidade e ao se suicidar Sr. Ferreira protesta o fato de não poder consumar
este amor, como também Maria da Graça planeja o suicídio de modo impulsionador, pois
enxerga na morte a maturidade suficiente para dar um fim aos problemas e dilemas que
enfrentou em vida. Dessa forma, o afeto amor enquanto biopotente, por não caber no espaço
tão pequeno dentro de si, lampeja para além da vida e Maria da Graça por se encontrar com o
Sr. Ferreira do outro lado de lá dos sonhos é que se pôde abraçar, pelo lado mais interior do
amor, a completude das possibilidades dos umbrais e tudo isso por si está adentro das portas da
morte.

REFERÊNCIAS:
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2002

CANDIDO, Antonio. A personagem de ficção. 11. ed. São Paulo: Perspectiva, 2007.

GANCHO, Cândida Vilares. Como analisar narrativas. São Paulo: Ática, 1991

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza


da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 13. ed. Rio de Janeiro: Edições Graal,
1999

MASSAUD, Moisés. Dicionários de termos literários. 12ª ed. rev., ampl. e atual. São Paulo:
Cultrix, 2013

MÃE, Valter Hugo. O apocalipse dos trabalhadores. 2ª ed. São Paulo: Biblioteca Azul,
2007

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1215
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O ESPAÇO E A MEMÓRIA AFETIVA DA PERSONAGEM CELINA EM


RAKUSHISHA DE ADRIANA LISBOA

José Nilton Pereira de Moura Júnior1; Francisca Lailsa Ribeiro Pinto2

Palavras-chave: Espaço. Memória Afetiva. Crítica feminista. Rakushisha. Personagem Celina.

Introdução
A literatura de autoria feminina contemporânea traz em sua composição novas formas
de representação da mulher enquanto personagem, problematizando estereótipos e valores
socialmente criados que foram perpetuados durante muito tempo como uma forma de
manutenção para repressão desses indivíduos. Rakushisha (2007) de Adriana Lisboa surge em
mais um contexto de discussões políticas e sociais, o que torna o romance uma ancora teórica-
crítica para discussões sobre gênero, sendo este um instrumento de reflexão sobre os novos
espaços da mulher na contemporaneidade.
Rakushisha é um romance que adentra ao universo feminino de uma forma singular,
abordando temáticas relacionadas aos afetos, luto, sentimentos efêmeros e outras questões
específicas do gênero. A personagem Celina é descrita por Lisboa como uma mulher que passa
por uma situação traumática e perde precocemente sua única filha, fato esse que faz com que
por muito tempo ela não supere o luto, o que com o passar do tempo promove a perca da sua
identidade enquanto mulher. Celina recebe o convite de Haruki para acompanha-lo em uma
viagem a cidade de Kyoto no Japão e ela aceita de modo impulsivo, vendo aí uma possibilidade
de fugir da sua realidade de sofrimento atual. Ela usa a sua liberdade de locomoção como
solução para seus traumas emocionais do passado, e assim buscar se reconstruir através do
contato com o desconhecido. Nesse processo de desbravamento do novo, as memórias afetivas
do seu passado são ativadas e se tornam um fator essencial na construção desse ambiente ao
qual a personagem percorre, influenciando assim diretamente na forma de Celina pertencer e
perceber nesses novos espaços.
O objetivo dessa pesquisa foi analisar como as memórias afetivas contribuem para a
construção do espaço da personagem Celina de Rakushisha, buscando identificar a trajetória
que a mesma percorre afim de resgatar sua identidade enquanto mulher que foi perdida após o
trauma. Dessa forma, buscamos a partir desse estudo, fazer com que o leitor conseguisse
compreender como o espaço é trabalhado em Rakushisha a partir de uma perspectiva
contemporânea em diálogo com as questões políticas e sociais em torno do romance referente
a personagem feminina.

Metodologia
Para a realização dessa pesquisa foi percorrida as seguintes etapas metodológicas: a)
leitura crítica-analítica do texto literário Rakushisha de Adriana Lisboa e outros de autoria
feminina; b) leitura e discussão de textos críticos-teóricos sobre os estudos da teoria feminista
e também da categoria de espaço em uma perspectiva contemporânea; c) interpretação e análise
do romance a luz da teoria estudada, com enfoque crítico nos conceitos de afeto e memória;

1 Graduando do Curso de Letras Língua Portuguesa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Campus de Patu/RN; e-mail: joseniltonjunior@alu.uern.br.
2 Mestre em Letras, docente do departamento de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do

Norte, Campus de Patu/RN, Participante do Grupo de Pesquisa em Ensino, Literatura e Linguagem –


GELIN; e-mail: franciscalailsa@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1216
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na primeira etapa foi proposta a leitura do romance Rakushisha, assim como outros
textos literários de autoria feminina contemporânea, a fim de promover uma análise
comparativa para assim perceber os diálogos existentes entre os textos em relação a construção
do espaço da personagem feminina, levando também em consideração as discussões políticos
e sociais que envolvem a mesma.
Posteriormente realizou-se a leitura e discussão dos textos teóricos referente a teoria e
crítica feminista em conjunto com a categoria espaço. Para os estudos da categoria espaço em
uma perspectiva contemporânea, foram utilizadas as pesquisas de autores como Massey (2008)
que traz uma reflexão acerca do espaço da personagem feminina, levando em consideração as
consequências da globalização na construção social do indivíduo e os aspectos políticas e
sociais que permeiam o mesmo; Dalcastagnè (2012) sobre a discussão das novas perspectivas
da categoria espaço na teoria literária, desconstruindo algumas ideias tradicionalizadas no
decorrer do tempo e também problematizando a representação da mulher e seus estereótipos
perpetuados ainda na modernidade; Andrade (2008) com o conceito de Flâneur e como esse
ato literário ainda é reproduzido nos escritos contemporâneos; As categorias críticas escolhidas
foram os afetos e as memórias em torno da personagem feminina do romance, sendo utilizado
como embasamento teórico os escritos de Corrêa (2017) mostrando como a virada afetiva
modificou a visão do/a leitor/a e pesquisador/a acerca das construções literárias em relação a
influência dos afetos dos personagens; Castro (2016) faz uma releitura da teoria dos afetos de
Spinoza, destacando a importância desse estudo para se entender as atitudes e relações
humanas; Deleuze e Parnet (1998) sobre os afetos humanos a partir da teoria de Spinoza,
mostrando assim como eles contribuem para construção da identidade do indivíduo; Huyssen
(2000) discute a valorização das memórias e o seu retorno no presente, fazendo com que o
mesmo influencie diretamente nas ideias contemporâneas; e Halbwachs (1990) reafirma a
importância das memórias afetivas na construção do espaço do personagem literário.
Na terceira etapa, com base nas discussões levantadas a partir dos textos teóricos
referente ao espaço e a memória em diálogo com o romance Rakushisha, bem como outros
textos de autoria feminina, percebemos uma forte influência das memórias afetivas da
personagem Celina na construção dos espaços que a mesma transita. Dessa forma, nosso intuito
foi refletir sobre essa trajetória, problematizando a mesma para entender como o espaço é
construído a partir dos deslocamentos que corrobora nas memórias afetivas da protagonista.

Resultados e Discussão
As obras literárias carregam em sua composição marcas de cunho social, econômico e
até cultural do seu contexto de produção, o que torna a mesma de suma importância para os
estudos científicos em geral. Dessa forma, para analisar o texto de Adriana Lisboa é importante
se situar e conhecer parte desse contexto, através de uma discussão sobre as novas tendências
da literatura feminina, em diálogo com as novas perspectivas teóricas de espaços.
Segundo Dalcastagnè (2012) o espaço surge não apenas como um simples plano de
fundo para acontecer o enredo, mas como participante ativo e determinante da significação do
romance, desta forma Celina é apresentada como uma personagem que está sendo conduzida a
mudanças a partir da sua transição, o que faz com que a ambientação seja um fator determinante
nesse processo de redescobrimento.
Quando Celina chega à cidade de Kyoto, ela adentra a cultura local através dos escritos
do poeta Matsuo Basho, deixando-se ser guiada por todo esse trajeto. A autora utiliza esse
intertexto com intuito de aproximar tanto a personagem como o próprio leitor a cultura do
oriente, ainda tão desconhecida no ocidente. O olhar da personagem sobre a cidade é
transcendental, isso nos faz concluir que há uma visão de Flâneur em pleno contemporâneo e
durante esse processo de reconhecimento físico do local, ela também começa a reconhecer

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1217
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

lugares dentro de si mesma que foram esquecidos durante muito tempo, fato que faz com que
compreendamos que há uma transitividade tanto interna quanto externa a personagem.
Já na cidade de Kyoto Celina não consegue se desprender daquela dor, o que faz com
que ela reflita sobre o seu aprisionamento individual, como podemos observar no trecho: “Seis
anos antes, a dor apareceu na sua vida como um monstro saltando do armário. O jacaré
escondido debaixo da cama, que poderia morder sua mão, se a deixasse para fora do lençol”
(LISBOA, 2007, p. 86), pode-se supor que a autora faz uma referência a dor que ela vivenciou
no passado com a morte da única filha, dor essa que é revivida a partir do luto que nunca foi
superado e até então provoca efeitos negativos que a impedem de seguir em frente. Esse
acontecimento provoca diversos sentimentos como insegurança, tristeza, e frustação, que serão
carregados durante anos, contudo, todas essas sensações são desencadeadas por um
denominador comum, a culpa.
Durante todo o processo de reflexo da personagem, é perceptível uma evolução que
promove o recomeço e faz com que Celina lide melhor com seus sentimentos em relação ao
luto da filha. A personagem faz um questionamento em relação ao conforto que encontrou
naquele lugar tão desconhecido: “como seria possível que se sentisse em casa ali, se não
entendia nem mesmo as inscrições nas placas ao seu redor?” (LISBOA, 2007, p. 38). Nesse
trecho, vemos o acolhimento que a protagonista encontrou nessa cidade, ou seja, o ambiente
ideal para se redescobrir e que através das suas memórias afetivas, aquele ambiente também
pudesse se tornar um pouco seu, fato esse que proporcionou o bem estar de se sentir bem tão
longe de casa, pois ali também se tornou um pouco sua casa, faz parte da sua nova identidade.
As memórias afetivas se tornam um elemento crucial para que Celina pudesse se reconfigurar
e voltar para casa diferente. O espaço que a mesma estava inserida naquele momento pôde
proporcionar sua paz e reestruturar seu equilíbrio interior novamente, fazendo com que todo
aquele contexto faça parte da sua construção a partir de então.

Conclusão
Assim, o trauma da perda precoce da filha motiva Celina a fugir da sua realidade para
se redescobrir em um outro ambiente, fazendo com que ela transite e tente deixar seu passado
para trás através do contato com espaços totalmente diferentes do seu. O ato de transitar
promove uma autodescoberta fora da bolha e as memórias afetivas que a mesma carrega das
suas vivências do passado com sua família faz com que Celina sinta que pertence aquele lugar,
que ali ficará marcado como o novo começo, a superação das amarras que a culpa causou. Uma
prisão que durou anos, mas que a partir de então não existe mais.
O romance Rakushisha de Adriana Lisboa é um texto literário de grande relevância
para os estudos referente a crítica feminista, pois comove e conscientiza o leitor, vislumbrado
em Celina algumas das amarras que a mulher contemporânea ainda possui, presa em um sistema
que oprime através dos valores tradicionais e patriarcais naturalizados socialmente. Dessa
forma, a presente pesquisa pode ser vista como um ponto de partida para as novas perspectivas
que virão no futuro, pois só assim, talvez, poderemos entender os lugares possíveis da mulher
na sociedade.

Agradecimentos
À minha orientadora, Francisca Lailsa Ribeiro Pinto pelo auxílio prestado. À minha
família, pelo apoio e motivação. Agradeço também à Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte - UERN, por ter possibilitado a realização desta pesquisa.

Referências

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1218
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

ANDRADE, Cátia. I. N. B. Flanêurs em Lisboa: Pessoa, Saramago e Tabucchi. In: visões


poéticas de espaço – Ensaios. Assis, SP: UNESP publicações, 2008.

CASTRO, Rafael dos Santos. Os Afetos (Affectus) na Ética de Benedictus de Spinoza. In:
Olhares ético e político sobre a filosofia de Benedictus de Spinoza / Emanuel Angelo da
Rocha Fragoso e Francisca Juliana Barros Sousa Lima (org.). Fortaleza, CE: EdUECE, 2016.

CORRÊA, Diogo da S. Sobre afetos e a virada afetiva. SOCIOFILO, 2017. Disponível em:
https://blogdosociofilo.com/2017/10/26/sobre-afetos-e-a-virada-afetiva-por-diogo-silva-
correa/. Acesso em: 06 de maio de 2020.

DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território


contestado. Vinhedo, Editora Horizonte, 2012.

DELEUZE, G.; PARNET, C. Diálogos. São Paulo: escuta, 1998.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Revista dos tribunais, 1990.

HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos e mídias . Rio de


Janeiro: Aeroplano, 2000

LISBOA, Adriana. Rakushisha. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

MASSEY, Doreen B. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade . Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2008.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1219
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O FANTÁSTICO E O MEDO NO CONTO “UM ESQUELETO”


DE MACHADO DE ASSIS
Christian Lucas Siqueira Brasil1; Antonia Marly Moura da Silva 2
Palavras-chave: Fantástico. Medo. Conto. Machado de Assis.

INTRODUÇÃO
O trabalho constitui parte dos resultados da pesquisa O enlace do fantástico e do
medo: um estudo do conto fantástico brasileiro, edital Edital N° 001/2017-
PROPEG/UERN, Fluxo contínuo para institucionalização de Projetos, exercício 2019-2020.
O estudo integra as pesquisas realizadas pelo Grupo de Estudos em Literatura e suas
Interfaces Críticas – GELINTER, Linha de pesquisa Literatura e Imaginário e tem como
propósito analisar a configuração do fantástico no conto “Um esqueleto”, de Machado de
Assis.
O referido conto foi publicado originalmente no ano de 1875; é considerado por
muitos estudiosos da obra machadiana como um dos contos mais originais do escritor. No
relato, questões que envolvem vida e morte, a estranheza do enredo, a presença de
personagens inusitados e acontecimentos insólitos despertam no leitor sentimentos de
inquietação e medo, aspectos que contribuem decisivamente para reforçar a atmosfera
fantástica que fundamenta a narrativa.
Convém dizer que é no século XIX que Machado de Assis publica seus primeiros
contos. A coletânea intitulada Contos fluminenses (1870) reúne textos produzidas ao longo da
década de 60. É comum entre críticos literários a indicação de que sua produção contística
reúne em torno de duzentas narrativas, numa perspectiva temática, técnica e inovadora que
garantiu a importante classificação do escritor como contista moderno, pelo afastamento
estético dos modelos preestabelecidos.
Sob tal perspectiva, considerando a natureza insólita do conto “Um Esqueleto”
optamos por fundamentar nossa leitura à luz da teoria fantástica e do medo, levando em conta
a contribuição de vários teóricos que se debruçaram em torno das especificidades do modo
fantástico, dentre os quais convém ressaltar a conceituação de Todorov formulada em seu
livro Introdução a literatura fantástica (1975), Roas (2013) e Camarani (2014). Também é
importante destacar os autores cujo fundamentam as abordagens críticas sobre o conto
machadiano: Mello (2001), Rezende (2008), Pereira (2013).

METODOLOGIA
O trabalho em questão constitui-se como uma pesquisa de cunho qualitativo e
interpretativo e utiliza o método dedutivo, pois partimos de uma perspectiva geral para uma
visão particular do tema selecionado. Em outras palavras, partimos de conhecimentos já
existentes acerca do fantástico e do medo a fim de levantar proposições sobre o conto
machadiano.
É também uma pesquisa de natureza bibliográfica e, assim, não implica na coleta de
dados em campo, pois o corpus selecionado é composto de um texto literário e será objeto de
observação à luz da teoria da literatura e postulados teóricos sobre o fantástico e o medo.

1 Licenciado no curso de Letras com Habilitação em Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas
DLV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN; e-mail: christianlucas12@gmail.com.
2 Professora do Departamento de Letras Vernáculas – DLV da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –

UERN (Campus Central). Membro do Grupo de Estudos de Literatura e suas Interfaces Críticas –
GELINTER/UERN/CNPq. Docente permanente do PPCL/UERN. e-mail: marlymoura@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1220
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para isso, é importante levar em consideração alguns aspectos teóricos fundamentais


para a compreensão da temática, bem como para o modo de expressão da hesitação dos seres
ficcionais, traço que, segundo Todorov, é o responsável para o estabelecimento da narrativa
fantástica.
É importante compreender que ao longo do tempo vários teóricos tentaram definir as
peculiaridades da estética fantástica. Neste contexto, estamos cientes da polêmica em torno da
noção todoroviana de fantástico, sobretudo no que se refere ao uso do termo gênero para
classificar as obras de natureza insólita, bem como a defesa da hesitação como marca de tal
vertente ficcional, no entanto, não é propósito dessa pesquisa entrar nas especificidades de tal
discussão. Sendo assim, será desenvolvido uma abordagem crítica do conto selecionado para
nosso estudo, ressaltando-se aspectos fantásticos e do medo manifestados pelos seres
ficcionais e expressos na construção da narrativa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Embora a obra do escritor Machado de Assis esteja situada em um contexto literário
do século XIX, seus escritos ainda hoje continuam importantes e atuais. No que diz respeito
aos estudos literários, é um dos escritores brasileiros mais traduzidos, possivelmente pela
grandeza e originalidade de sua estética e pela sagacidade com que retratou aspectos da
sociedade da época de sua produção literária. Esses e outros motivos supostamente
despertaram o interesse de suas obras, não somente na academia, pois sua prosa cativou
leitores variados de todas as idades. No entanto, em sua fortuna crítica é notório o pouco
interesse em sua vertente fantástica. Muitos de seus contos de natureza insólita continuam
desconhecidos para um grande público. Nessa perspectiva, defendemos que a importância de
um estudo do conto “Um Esqueleto” (1875) publicado originalmente no Jornal das famílias,
que aqui elegemos como objeto de estudo.
No que se refere ao legado estético machadiano, Mello (1986) afirma que é com
Machado de Assis que o conto se populariza no Brasil, Assis destaca que o escritor
redimensiona a noção de conto que se tinha até aquele período.
Influenciado pela estética realista, Machado de Assis enaltece a forma irônica e
trágica, realça problemas sociais da época, além de ultrapassar o lugar comum e dar ênfase à
fatores psicológicos, a aspectos ficcionais e temáticas que influenciaram contistas de todas as
épocas, após sua produção literária.
Assis foi um ávido escritor no que diz respeito à valorização do fantástico, esse tipo de
narrativa sempre se fez presente em sua obra, como é o caso dos contos “A igreja do diabo”
(1884), “A causa secreta” (1885), “Entre santos” (1886) etc. Além disso, seus relatos seus
relatos apresentam-se intimamente relacionado com a fantasia e com o sonho, à exemplo de
“Anjo das donzelas (1864) e “A segunda vida” (1884). Muitos de seus contos, como é o caso
de “Um Esqueleto” (1875), abordam o medo como atributo necessário para a atmosfera
insólita, de acordo com Pereira (2014)
Convém dizer que o fantástico não é fruto de mentes perturbadas ou alucinações, mas
parte do racional, está ligado ao desenvolvimento da mente humana (CAMARANI 2014), por
isso, o fantástico não existe sem o sobrenatural, no entanto, o fantástico necessita de certa
racionalidade pois é diante de um acontecimento real que é possível identificar o insólito
ficcional. Segundo Todorov (1975), o fator determinante para identificação do fantástico é a
hesitação, quando o leitor identifica-se com o personagem e questiona a natureza do
acontecimento que rompe a ordem natural das coisas. Em outras palavras: diante do
sobrenatural é a hesitação dos seres ficcionais que define a natureza de tal evento, a hesitação
é indicador para a definição do fantástico, delimita se tal acontecimento tem explicação
segundo as leis naturais ou se é algo que extrapola essas leis.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1221
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Constantemente nas narrativas a hesitação em face de algo fantástico culmina no


medo, que é outro aspecto que será abordado aqui, este tema está presente desde muito tempo
na literatura. Roas (2013) aponta que o medo tem relação com a dor e a morte, uma vez que
também se relaciona com o caos indefinido gerado pelas mais diversas situações as quais o
medo se instala.
O conto “Um Esqueleto”, narrado em terceira pessoa, é dividido em seis partes, uma
história na qual o escritor constrói um segundo relato ou uma história dentro de outra história.
Trata-se da história de Doutor Belém e suas duas esposas D. Marcelina e o esqueleto da
primeira já falecida. A história Inicia-se com uma conversa entre amigos, doze rapazes que,
em uma casa de praia, “Falavam de artes, letras e política”, conforme declara o narrador. A
história começa no meio de uma noite “feia” com ameaça de chuva, sob uma atmosfera de
suspense, que se observa no trecho que segue: “O mar batia perto na praia solitária... estilo de
meditação em prosa. Mas nenhum dos doze convivas fazia caso do mar. Da noite também
não, que era feia e ameaçava chuva”. (ASSIS, 1973, p. 165).
A ação dos personagens e o inusitado da história narrada somam para o realce do
suspense, além de provocar no leitor formas de imersão na atmosfera insólita, como é o caso
do trecho no qual Doutor Belém apresenta o esqueleto de sua mulher morta: “— Já lhe
apresentei minha primeira mulher, disse o doutor para mim; são conhecidos antigos”
(ASSIS,1973, p. 173-174).
No conto, o medo e o insólito não são resultam apenas da imagem do esqueleto sobre
a mesa, mas, sobretudo, pela personalidade daquele homem que guarda algo tão macabro
(BARROS, 2011). No decorrer da trama, alguns fatores são determinantes para a construção
da personalidade do Doutor Belém, entre eles a naturalidade com que ele guarda o esqueleto –
como uma espécie de amuleto. Sua estranheza já era notada pelas outras pessoas que o
conheciam, como se observa neste trecho: “Conquanto eu fosse amigo dele e tivesse provas de
que ele era meu amigo, tanto medo inspirava ele ao povo, e era efetivamente tão singular, que
eu não podia esquivar-me a um tal ou qual sentimento de medo” (ASSIS, 1973, p. 168).
No relato, tudo coaduna para que Alberto hesite diante da figura medonha do Doutor.
“Olhei para aquele homem, para o esqueleto, para a senhora, e passava a mão pela testa, para
ver se efetivamente estava acordado, ou se aquilo era apenas um sonho” (ASSIS, 1973, p.
175-176).
Machado de Assis delineia o sentimento de medo de forma única, utilizando-se do
fantástico para construir um cenário de horror, provocando a hesitação no leitor e sobretudo
do personagem Alberto, como se observa no modo de exibição do esqueleto, no fragmento
que segue: “Era um armário de vidro, tendo dentro um esqueleto. Ainda hoje, apesar dos anos
que lá vão, e da mudança que fez o meu espírito, não posso lembrar-me daquela cena sem
terror.” (ASSIS,1973, p. 168).
Segundo Todorov (1975) quando se é posto em face do fantástico é necessário que
haja uma identificação do fenômeno como sendo parte da realidade ou não, neste caso o
fantástico está ligado a estranheza que a narrativa evoca. Nesse sentido, pode-se dizer que é o
estranhamento causado pela imagem da caveira aliada à personalidade insana do doutor
Belém agrega importante valor ao evento sobrenatural e ao efeito de estranhamento que
fundamenta a natureza fantástica do conto machadiano..
O insólito no conto “O esqueleto” reforça o terror situando-o no contexto da literatura
do medo, conforme preferem os teóricos mais recentes do fantástico. O medo que Alberto
sente ao se deparar com o esqueleto guardado da mulher morta de Doutor Belém, esqueleto
que no conto possui um valor simbólico, signo do amor do médico pela primeira mulher como
podemos observar a seguir: “ - É minha mulher, disse o Dr. Belém sorrindo. É bonita, não lhe
parece? Está na espinha, como vê. De tanta beleza, de tanta graça, de tanta maravilha que me
encantaram outrora [...]” (ASSIS,1973, p. 168).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1222
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Por fim, podemos dizer que tudo no relato contribui para a ambiguidade da história
narrada, marcada pelas instâncias duais: sonho ou realidade, lucidez ou loucura, verdade ou
mentira, normal ou anormal. As atitudes do Doutor em relação ao esqueleto da mulher amada
configuram o confronto do ordinário e do extraordinário, pois as experiências naturalizadas na
relação vida e morte só são possíveis no contexto da irrealidade. De um modo geral, o
comportamento controverso e inusitado do protagonista é sustentado pela natureza de sua
mente insana. E é nessa confluência razão e desrazão em que o fantástico se aloja..

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No conto “Um esqueleto”, observamos como se destaca o modo machadiano peculiar
de valorizar o real para realçar o sobrenatural, dando vasão ao medo na representação do
evento sobrenatural.
De um modo geral podemos dizer que na narrativa o estranhamento da ação narrativa
ganha contornos de loucura, um traço que Machado de Assis valorizou em sua produção
literária, como se observa em “O alienista”, por exemplo.
O confronto entre o estranho e o familiar na representação do médico da história
narrada é o instigador da hesitação que o leitor e os personagens sentem frente ao evento
irreal, isso reforçado na representação de uma figura de personalidade controversa. Assim,
engendrado a um sentimento de medo e estranheza Machado de Assis, no conto analisado,
traz à tona uma perspectiva ficcional que parece coadunar com toda a discussão teórica
levantada neste trabalho sobre as fronteiras e natureza do modo fantástico.

AGRADECIMENTOS
Agradeço a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte por ofertar-me a
oportunidade de participação nesta pesquisa. Estendo os agradecimentos à coordenadora da
pesquisa por ter auxiliado no percurso teórico, além do empréstimo de livros durante a
atividade.

REFERÊNCIAS
BARROS, Nismária Alves David. O estranho e o fingimento literário em “Um Esqueleto”, de
Machado de Assis. Revista de letras, n. 14, 2011. Disponível em:
https://periodicos.utfpr.edu.br/rl/article/view/2329
CAMARANI, Ana Luiza Silva. A literatura fantástica: caminhos teóricos. São Paulo, SP:
Cultura Acadêmica, 2014.
MAGALHÃES JÚNIOR, Raimundo. Contos fantásticos de Machado de Assis. Rio de
Janeiro: Bloch Editores, 1973.
MELLO, Ana Maria Lisboa de. Processos narrativos nos contos de Machado de Assis.
Revista do Instituto de Letras UFRGS. Rio Grande do Sul. v. 15, n. 30-31 (2001).
Disponível em: https://seer.ufrgs.br/organon/article/view/29735
PEREIRA, Diogo Nonato Reis. Considerações sobre o fantástico. Revista do mestrado em
Letras Linguagem, Discurso e Cultura – UNINCOR, v. 4, n. 2, jul./dez. 2013. Disponível
em: https://www.periodicosdeminas.ufmg.br/periodicos/memento-revista-de-linguagem-
cultura-e-discurso/
ROAS, David. A ameaça do fantástico. In:______. A ameaça do fantástico: aproximações
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Tradução de Maria Clara Correa
Castelo. São Paulo: Perspectiva, 1975.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1223
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O FENÔMENO DA REFERENCIAÇÃO: OS PROCESSOS DE


RECATEGORIZAÇÃO REFERENCIAL EM NOTÍCIAS DE PORTAIS
ONLINE

Leandro Vinícius Morais Silva 1; Lidiane de Morais Diógenes Bezerra2

Palavras-chave: Linguística Textual. Anáfora. Texto jornalístico

Introdução
A Linguística Textual (LT), ramificação relativamente nova da Linguística, tem como
objeto de estudo o texto, que pode ser analisado a partir da observação de diferentes
fenômenos, como o processo da referenciação, que, segundo Koch e Elias (2018), está
relacionado a duas exigências fundamentais da prática de produção textual: a repetição
(retroação) e a progressão. Na escrita de um texto, o autor escolhe um tema sobre o qual irá
desenvolver e, à medida em que faz isso, retoma esse tema, ao mesmo tempo em que
acrescenta novas informações. Sendo assim, a formação de um tema ou a sua remissão
caracterizam a ação de referenciar.
Sabemos que o texto é uma atividade sociocognitiva altamente complexa, pois envolve
uma série de fatores durante o processo de escrita e de interpretação. Dessa forma, durante a
produção textual, o autor está constantemente elaborando, adequando e articulando o seu
dizer para cumprir as exigências da interação. É com base nesse propósito que a referenciação
se faz essencial na escrita, visto que ela contribui ativamente para a coerência textual. Como
já dito, o tema ou assunto – também chamado de referente – é retomado frequentemente ao
longo do texto. À proporção em que vão sendo retomados, os referentes sofrem
transformações, às quais dá-se o nome de recategorização, cujo fenômeno é o foco deste
trabalho.
Deste modo, a recategorização está relacionada à possibilidade de um referente passar
por modificações no decorrer da construção textual. De acordo com Cavalcante (2012), essas
modificações se justificam por meio do direcionamento argumentativo que o autor intenciona
dar ao seu texto, podendo ser expressivas, emotivas, poéticas, etc. Assim, a recategorização
promove práticas textual-discursivas que desempenham funções importantes na tessitura do
texto, como organizar, introduzir e retomar referentes, entre outras.
Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é identificar e analisar o processo de
recategorização referencial em notícias de portais online, observando de que maneira a
introdução e a retomada de referentes podem afetar a orientação argumentativa desses textos,
bem como a construção de sentidos proporcionada pelo processo de referenciação textual.

Metodologia
Este trabalho é fruto de uma pesquisa qualitativa que visa compreender e discutir o
processo de referenciação em notícias de portais online, focando, mais precisamente, no

1
Estudante do curso de Letras (Habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas), do
Departamento de Letras Vernáculas, da Universidade do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail:
leandromorais.vinicius@gmail.com.
2
Professora do Departamento de Letras Estrangeiras (DLE), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN); membro do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino de Texto (GPET); e-mail:
lidianemorais@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1224
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

fenômeno da recategorização referencial, como também no seu papel de contribuinte para a


orientação argumentativa, e demais intenções possivelmente presentes nesses textos.
Em um primeiro momento, nos reunimos para realizar a leitura e discussão de textos
das autoras Koch e Elias (2018), material teórico que foi essencial para o desenvolvimento
das atividades posteriores. Em seguida, realizamos a leitura de textos publicados em portais
online, tais como: Uol, G1, R7, MSN, Estadão, Yahoo, entre outros, com o intuito de coletar
notícias que viriam a constituir o corpus dessa pesquisa.
Com uma significativa quantidade de notícias coletadas, selecionamos as que melhor
representam os fenômenos aqui analisados, e também optamos por aquelas com um mesmo
padrão de extensão, de uma a duas laudas. Concluída essa etapa, iniciamos a fase de pré-
análise dos dados coletados, momento em que realizamos uma leitura mais atenta de cada
notícia. Ao passo em que líamos, também destacávamos os processos referenciais, salientando
todos os referentes que eram introduzidos, bem como as suas retomadas ao longo do corpo do
texto, atentando para as expressões linguísticas que caracterizam o fenômeno da
recategorização.

Resultados e Discussão
Neste tópico, nos deteremos à análise do processo de recategorização presente nas
notícias coletadas dos portais online. Ao todo, durante a etapa de pré-análise, foram
examinadas cerca de cinquenta notícias. No entanto, para este resumo, selecionamos apenas
três, aquelas que julgamos melhor representarem o estudo em questão.
Como já dissemos, o autor de um texto deve apresentar e reapresentar o tema/referente
à medida que a escrita avança. Para isso, usam-se formas nominais que guiam o leitor para
uma determinada conclusão. Geralmente, essas formas nominais vão se modificando ao longo
do texto. Conforme Cavalcante (2012), a possibilidade de um referente passar por mudanças
durante a produção textual é chamada de recategorização referencial, já as expressões
nominais que retomam e transformam os referentes são chamadas de anáforas
recategorizadoras.
Observaremos melhor a questão da recategorização referencial nos trechos seguintes,
com expressões destacadas em negrito, por meio da notícia “Empresa chinesa será
patrocinadora do Corinthians até o fim de 2020”, retirada do portal online MSN:

O Corinthians acertou com um novo patrocinador para a temporada 2020.


Trata-se da Midea, multinacional do ramo de climatização, que estampará sua
logomarca nas costas da camisa do Timão, acima da numeração dos jogadores. Os
valores do contrato não foram revelados. A nova parceira do clube do Parque
São Jorge substituirá a Positivo, que estampava a camisa do Corinthians desde o
início da temporada 2018, mas optou em não renovar seu contrato. Com isso, o
departamento de marketing do Alvinegro agiu rápido e acertou com outro
patrocinador. A multinacional chinesa acertou com o Corinthians até o fim desta
temporada, quando o clube disputa o Campeonato Paulista, a Copa Libertadores, o
Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. A estreia da Midea no uniforme do
Timão será no dia 15 de janeiro, quando os comandados de Tiago Nunes
enfrentam o New York City FC na Florida Cup (Disponível em:
<https://bit.ly/3ijuB9e>. Acesso em: 10 de jan. de 2020).

A notícia relata a nova parceria do Corinthians com uma empresa multinacional


chinesa que terá sua logomarca estampada na camisa dos jogadores. Na análise dessa notícia,
temos os referentes “o Corinthians” e “o acerto com um novo patrocinador”, sendo que o
nome desse novo patrocinador é apresentado mais adiante como “Midea”, que também é
introduzido como referente. O primeiro referente é retomado mais à frente pela forma

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1225
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

nominal “Timão”, espécie de alcunha desse time. Depois, são utilizadas as expressões “clube
do parque São Jorge”, “o clube” e “os comandados de Tiago Nunes”, este último fazendo
referência ao treinador do time. Já o referente “acerto com um novo patrocinador” é
transformado e retomado por “o contrato” e “a nova parceria”. Enquanto o referente “Midea”
é recategorizado por “A multinacional chinesa”. Dessa forma, percebe-se que essas diversas
formas nominais recategorizadoras contribuíram para a continuidade do texto, formando uma
tessitura textual coerente, e ainda mantêm o referente no texto e na nossa memória, como
atinam Koch e Elias (2018).
Ainda podemos observar mais ocorrências como essas no recorte abaixo, feito de uma
notícia intitulada “Sony entra no mercado de carros elétricos, com o Sony Vision-S”, retirada
também do portal online MSN:

O Consumer Electronic Show (CES) 2020 começou em Las Vegas com uma
surpresa, a japonesa Sony, além de apresentar suas novas televisões e o novo logo
PS5, revelou seu primeiro carro Sony Vision-S. Um sedan 100% elétrico que,
embora seja no momento um conceito, abre a possibilidade da entrada da marca
japonesa de tecnologia no setor automotivo. Para isso, a empresa extrapolou
algumas de suas mais recentes tecnologias de imagem e som , bem como seu
software de inteligência artificial e integração com a nuvem da Sony, a fim de
“atualizar e evoluir continuamente suas funções”, embora o desenvolvimento do
carro seja o resultado da colaboração com um grupo de marcas (Disponível
em: <https://bit.ly/2YObL2d>. Acesso em: 10 de jan. de 2020).

Essa matéria trata de uma novidade vinda da empresa Sony, que é o anúncio de sua
entrada no setor automobilístico. Inicialmente, o referente “uma surpresa” é introduzido, e
será retomado mais à frente por “seu primeiro carro Sony Vision-S”. No campo da
referenciação, há formas nominais que resumem porções textuais e as transformam em um
referente. Koch e Elias (2018) denominam de rótulo o referente que resulta desse
encapsulamento. É o caso de “uma surpresa” que é referente e, ao mesmo tempo, resume a
porção textual “seu primeiro carro Sony Vision-S”, esta, por sua vez, o recategoriza. No
entanto, nesse caso, por anteceder a porção encapsulada, o referente recebe o nome de rótulo
prospectivo. No caso do referente, “a japonesa Sony” é recategorizado por “marca japonesa
de tecnologia” e “empresa”.
Como já dito anteriormente, e constatado por meio das notícias analisadas até aqui, o
fenômeno da recategorização promove a transformação de um referente por meio de formas
nominais. Nesse sentido, Koch e Elias (2018, p. 91) chamam atenção para o fato de que “[...]
as escolhas das formas nominais não são aleatórias nem neutras, mas estão atreladas ao nosso
projeto enunciativo, aos interesses no jogo interacional”. Tendo em vista essa questão,
analisaremos um recorte da notícia “Surfista morre em praia dos EUA após ser atacado por
tubarão”, coletada do portal online R7:

Um surfista morreu no último sábado, na Baía de Monterrey, no norte da


Califórnia, após sofrer um ataque de tubarão. O rapaz, de 26 anos, foi
identificado como Bem Kelly. O acidente ocorreu na Manresa State Beach. A
Repartição de Xerifes do Condado de Santa Cruz foi acionada, mas o rapaz foi
declarado morto ainda no local. Segundo o departamento, o incidente ocorreu a
cerca de 100 metros da faixa de areia. A praia está aberta somente para a prática de
esportes aquáticos como forma de reforçar o distanciamento social no controle
à pandemia de coronavírus. Após o ataque, o local deve ser fechado pelos
próximos cinco dias (Disponível em: < https://bit.ly/2BQcN4S>. Acesso em:
14 de maio de 2020).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1226
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A notícia relata uma tragédia ocorrida numa praia dos Estados Unidos, quando um
jovem foi atacado e morto por um tubarão. Como referentes desse texto, constatamos “um
surfista”, que é retomado e transformado por “o rapaz; “Manresa State Beach” recategorizado
por “o local” e por “a praia”; já “A Repartição de Xerifes do Condado de Santa Cruz” é
alterada por “o departamento”. Um ponto que chama atenção nessa notícia é o referente “um
ataque de tubarão” e suas formas nominais recategorizadoras “o acidente” e “o incidente”.
Segundo o dicionário Oxford Languagens, acidente é “qualquer acontecimento,
desagradável ou infeliz, que envolva dano, perda, sofrimento ou morte”, enquanto incidente é
algo que “tem caráter acessório, secundário; incidental, superveniente”. Ou seja, acidente
seria um acontecimento grave, ao passo que incidente seria algo de menor relevância. Na
notícia, não fica claro o porquê da escolha dessas formas nominais. Uma possibilidade seria a
de que a tragédia ocorrida com o jovem representa um acidente para o autor do texto e, em
contrapartida, seria um incidente na visão da Repartição de Xerifes. Não há como saber ao
certo. O que se pode afirmar é que a seleção das formas nominais recategorizadoras não
acontece aleatoriamente. Em qualquer forma de comunicação, há sempre um propósito, isto é,
há sempre uma intenção em nosso dizer. E é essa intenção que define quais formas nominais
recategorizadoras utilizar, e também conduz o nosso texto para um determinado
direcionamento argumentativo.

Conclusão

À vista de todos os fatos aqui descritos, atinamos que os processos inseridos no campo
da referenciação, em especial, a recategorização, fazem parte da organização global de um
texto, contribuindo para sua coesão e direcionando-o para um determinado propósito
comunicativo, mesmo que seja de forma involuntária. Portanto, salientamos a importância dos
estudos no campo da Linguística Textual, sobretudo, dos processos de referenciação, posto
que eles proporcionam uma melhor compreensão dos mais variados tipos de texto.

Agradecimentos
Agradeço pela oportunidade de participar do Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC). As experiências e conhecimentos adquiridos por meio desse
projeto foram de valia imensurável para o meu desenvolvimento acadêmico.

Referências
CAVALCANTE, M. M. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2012.
Empresa chinesa será patrocinadora do Corinthians até o fim de 2020. MSN. São Paulo, 08 de
jan. de 2020. Disponível em: <https://bit.ly/3ijuB9e>. Acesso em: 10 de jan. de 2020.
KOCH, I. V. ELIAS, V. M. Progressão textual e argumentação. In: ______. Escrever e
argumentar. São Paulo: Contexto, 2018. p. 85-101.
Sony entra no mercado de carros elétricos, com o Sony Vision-S. MSN. São Paulo, 07 de jan.
de 2020. Disponível em: <https://bit.ly/2YObL2d>. Acesso em: 10 de jan. de 2020.
Surfista morre em praia dos EUA após ser atacado por tubarão. R7. São Paulo, 11 de maio de
2020. Disponível em: < https://bit.ly/2BQcN4S>. Acesso em: 14 de maio de 2020.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1227
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O LUGAR DO TEATRO POPULAR NA LITERATURA POPULAR

Antonio Welden da Silva Vieira 1

Palavras- Chave: cultura popular. Folclore. Literatura Popular.

Introdução

A presente pesquisa compreende o lugar do teatro popular no universo da cultura


popular do/no nordeste. Para isso, é necessário conhecer os costumes e a tradição do povo que
ultrapassa gerações, mas que continua viva e se modifica ao longo do tempo. Essa cultura é
criada e desenvolvida pelo povo, na maioria das vezes, se firma entre a tradição e o erudito.
O conceito de cultura popular é bem amplo e não se pode cristalizar, já que a crítica literária
expõe opiniões diferentes, sendo assim difícil de definir e rotular com primazia. Por exemplo,
no nordeste, alguns autores considerados como eruditos pelo lugar de fala como Hermilo
Borba Filho e Ariano Suassuna2 eram defensores da cultura popular, sobretudo do teatro
popular, pois queriam levar o teatro para o povo e ainda valorizar a arte produzida por eles,
associando os costumes, os conhecimentos e a tradição. Vale ressaltar que a cultura erudita é
um conjunto de estudos e de conhecimentos da sociedade impostas por regras a serem
seguidas, muitas vezes, ligada a uma parte privilegiada da sociedade.

Metodologia

Utilizamos alguns autores para discussões no projeto de pesquisa, como Roger


Chartier (1995) para entender sobre a cultura popular; Antonio Augusto Arantes e Maria
Ignez Novais Ayala e Marcos Ayala (1986) para compreender sobre a diversidade da cultura
popular no Brasil; Antonio Augusto Arantes (2004) para abordagem sobre o que é cultura
popular e Maria de Lourdes Rabetti (2005) sobre o teatro popular no Brasil. Percebe-se que
alguns elementos do teatro popular, como o texto dramático Cabra-Cabriola, por exemplo, a
referência da cabra com as lendas e as superstições da região nordeste é um elemento muito
conhecido nas cantigas de ninar e também no teatro de bonecos que é um das marcas do teatro
popular, mamulengo, por exemplo.

Resultados e Discussões

A cultura popular está inserida no processo de construção e modernidade, abrangendo


as seguintes colocações: moderno e tradicional; culto e popular; e homogêneo e subalterno
(CANCLINI, 1980). Segundo o autor, a cultura popular explora essas contradições do popular
e está ligada à classe dos excluídos, que não tem reconhecimento e nem valorização se
comparado à cultura erudita, ou seja, a cultura popular está em consonância com as tradições
regionais, como inspiração dessas tradições. A cultura popular sofre desprestígio pela

1
Discente do curso de Letras – Língua Portuguesa, do Departamento de Letras da Universidade Estadual do Rio
Grande do Norte do Campus Avançado de Patu (CAP). E-mail: wendelkayky@hotmail.com.
2
Ariano Suassuna é o autor que uni a vertente, entre erudito e o popular quando desenvolve o Movimento
Armorial em 1970 que tem como foco a diversidade da cultura popular associada à arte erudita.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1228
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sociedade, porque é vista como algo marginalizado ou até mesmo vulgar. Vale ressaltar que a
região nordeste é que mais manteve suas tradições e costumes, como, a literatura de cordel, os
espetáculos de rua, as poesias populares e a tradição popular ainda têm sobrevivido mesmo
com os avanços tecnológicos da modernidade. Hermilo Borba Filho foi um defensor da da
arte popular, principalmente, quando dissemina a cultura popular e demarca um processo de
resistência para a construção de aspectos fundamentais da identidade cultural nordestina por
meio da literatura popular que pode ser aquela literatura que exprime, espontaneamente, uma
naturalidade genuinidade de um povo, e varia de acordo com suas crenças, seus valores e
costumes:

As formas "populares" da cultura, desde as práticas do quotidiano até às


formas de consumo cultural, podem ser pensadas como táticas produtoras de
sentido, embora de um sentido possivelmente estranho àquele visado pelos
produtores: A uma produção racionalizada, expansionista e centralizada,
barulhenta e espetacular, corresponde outra produção, chamada ‘consumo’.
Ela é matreira e dispersa, mas se insinua em todos os lugares, silenciosa e
quase invisível, pois não se manifesta através de produtos próprios e sim
através de modos de usar os produtos impostos pela ordem econômica
dominante (CHARTIER, 1995, p. 185).

A literatura popular pode estar ligada ao folclore que está enraizado na cultura popular e
na tradição. Além disso, cada região mantém sua “base folclórica” e, dessa forma, preserva a
tradição do povo mesmo com o passar do tempo. Entende-se por folclore todas as
manifestações culturais que caracterizam a identidade cultural de um povo. O folclore pode
ser reproduzido individual como coletivamente, reproduzindo os costumes e as tradições que
são passadas por gerações. Sendo assim, todos os elementos que fazem parte da cultura
popular e que estão enraizados na tradição desse povo podem ser vista no folclore. As
manifestações do folclore dão-se por meio de mitos, lendas, canções, danças, artesanatos,
festas populares, brincadeiras, jogos etc:

Acreditamos que a busca dos significados que o senso comum adota sobre a ideia de
folclore é válida, pois nela poderíamos localizar um amplo feixe de questões
pertinentes para o debate intelectual, tais como as representações hegemônicas da
população brasileira sobre ela mesma e parte de seu passado, ou seja, como este “povo
olha a si mesmo”. Outro ponto seria o de como essas representações sobre o
folclore/cultura popular são trabalhadas nas escolas com a ideia de identidade local,
regional e nacional (AMARAL, 1948, p.19).

Vale ressaltar que o teatro popular apresenta parte do folclore como os espetáculos
populares nordestinos: bumba-meu-boi, pastoril, fandango, superstições e lendas entre outras
manifestações populares. Segundo Hermilo (1968), fazer teatro popular não significar impor
ou doutrinar a opinião do povo, mas transmitir o que o povo conhece e pode compreender,
abordando questões sociais que levam a discussões: “Nossa arte é comprometida com o
homem e com o mundo, mas, por isso mesmo que é popular mantem-se fiel ao espírito do
nosso povo, vivo, vigoroso, amante da paz, irreverente e chocarreiro com o pomposo”
(HERMILO, 1968, p. 136).
O teatro popular pode ser definido como uma das vertentes mais ricas da cultura do
Brasil e está presente de forma abrangente principalmente no Nordeste, de forma que provoca
alterações com o tempo, mas que sobrevive com sua essência e raízes. O teatro popular pode
estar mais presente nos circos, nas praças e nos espaços públicos e atrai a atenção do povo que

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1229
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

não tem acesso à arte se comparado à elite. O teatro popular atinge o senso crítico do público
e pode provocar a reflexão de forma gratuita. O conceito de teatro popular no Brasil surgiu no
final da década de 1950. Os autores buscaram a cultura da periferia e da pobreza para o
protagonismo.
Nessa época, os autores se ajustavam aos limites para as apresentações, surgindo
adaptações para compor a realidade da época, são técnicas adotadas pelo elenco de atores e
empresários para manter-se no mundo artístico. Nesse contexto, as peças eram adaptadas de
modo que fossem ao gosto do publico, era feita pensando no público que a consumia. Dessa
maneira, o teatro foi se sobressaindo e se firmando dentro dos limites de palco e na cultura do
povo.
No nordeste, por exemplo, Hermilo procurou valorizar os saberes artísticos populares
do nordeste por meio do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP) e do Teatro Popular do
Nordeste (TPN):

Desejava, o TEP, a descoberta do teatro genuinamente brasileiro, isto é, de


assuntos nacionais que, bem tratados, tornar-se-iam universais. O campo era
vasto e inexplorado e sendo o teatro uma arte essencialmente popular os seus
temas deviam ser tirados daquilo que o povo compreendia e era capaz de
discutir (HERMILO, 1968, p. 133).

O teatro popular é um gênero que nasceu em ambiente menos elitizados, feito pelo e
para o povo, em circos, praças e ruas, na qual buscava autonomia em lugares públicos. Era
destinada a população, para levar questões em pauta, que fizessem o publico refletir e pensar
no que estava sendo trabalhando. Para Roland Barthes (1982), o teatro popular traduz-se na
obra que carrega no conteúdo uma intenção ou destino profundo que só pode ser
compreendido pelo povo. Na interpretação de Sábato Magaldi (1991), o teatro popular traz na
sua essência o intuito de envolver camadas populares pelos braços do espetáculo no ambiente
em que vivem, oferecendo textos e encenações de qualidade. Portanto, o teatro popular
necessita da popularização para atingir seu intento e dois exemplos de prática dessa
dramaturgia ajudam a interpretar o cenário de perspectivas que se apresenta.
A peça A Cabra-Cabriola, de Hermilo Borba Filho, por exemplo, representa bem a
tradição ao passado. A peça possui representatividade folclórica e cultural do povo por meio
da superstição, da lenda e do ditado popular, da representação do animal cabra que esteve
presente na vida de muitas crianças que cresceram ouvindo e temendo a cabra-cabriola.

Conclusão

O direito à reivindicação de popular abriu as portas para o desenvolvimento de


movimentos construídos pelas próprias camadas populares, como sindicatos, partidos
políticos e movimentos de minorias, que reuniam vários artistas e tinham como objetivo a
construção de uma arte para a conscientização do povo, por meio do teatro, da música, da
poesia, do cinema, da literatura e das artes plásticas, constituindo-se como um exemplo de
movimento que estava diretamente relacionado à participação popular. Nesse contexto,
destacava-se a importância da consciência libertadora, isto é, o povo deveria entender que era
uma camada subalterna da sociedade, a minoria, que era tanto a classe trabalhadora como a
classe revolucionária, responsável pela transformação da sociedade, com um percurso que
passava pela emergência do novo por meio da arte.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1230
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências

AMARAL, Amadeu. Tradições populares. São Paulo, Instituto Progresso Editorial, 1948.

ARANTES, Antonio Augusto. O Que é Cultura Popular.14° Ed. – São Paulo, SP:
Brasiliense, 2004. – (coleção primeiro passos; 60).

AYALA, Maria Ignez Novais; AYALA, Marcos. Cultura Popular no Brasil. São Paulo:
Ática. 1986.

BARTHES, Roland. Crítica e Verdade. São Paulo. Perspectiva, 1982. (Coleção Debates)

BORBA FILHO, Hermilo. Por uma arte popular total. In: Revista Civilização Brasileira.
Ano IV. Caderno Especial n. 2, Rio de Janeiro, 1968.

CANCLINI, N. Culturas híbridas. São Paulo, Edusp, 1989.

CHARTIER, Roger. Cultura Popular: revisitando um conceito historiográfico. Revista


estudos Históricos, Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, Vol. 8, n. 16, 1995.

MAGALDI, Sábato. Iniciação ao Teatro. São Paulo. Ática. 1991. (Série Fundamentos)

RABETTI, M. L. História do teatro popular no Brasil: Gastão Tojeiro entre autoria


artística e práticas sociais do teatro ligeiro. Revista do Lume (UNICAMP), Campinas - São
Paulo, v. 6, p. 137-143, 2005.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1231
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O MODO DE ORGANIZAÇÃO DESCRITIVO NA CONSTITUIÇÃO DO


ANÚNCIO PUBLICITÁRIO

Lídia Ruama de Araújo Souza1; Profa. Dra. Jammara Oliveira Vasconcelos de Sá2

Palavras-chave: Descrição. Discurso. Anáfora. Argumentação.

Introdução

É necessário atentarmos a todos os elementos que constituem o anúncio publicitário ao


estudar o gênero, pois quando articulados, eles formam um texto que pode ser verdadeiramente
persuasivo e apelativo ao leitor. Nesse trabalho, analisamos através do método de organização
descritivo e suas ferramentas, como é construído o discurso no gênero dos anúncios publicitários
encontrados em sites de compra online.
Temos como objetivo explicitar os dados de pesquisa referentes ao projeto PIBIC 2019-
2020 (Projeto de Iniciação à Pesquisa), orientado pela Prof.ª Dra. Jammara Oliveira Vasconcelos
de Sá. Para a análise, foram coletados 40 (quarenta) anúncios durante o período de outubro/2015
a abril/2020, entre eles selecionamos dois para ilustrar a análise nesse resumo.
O projeto busca analisar como ocorre a construção do gênero anúncio publicitário em
sites de compras e serviços disponíveis na internet. Para o desenvolvimento desse objetivo,
utilizamos a proposta sobre os modos de organização do discurso defendida por Charaudeau
(2016), juntamente com os estudos sobre os processos anafóricos desenvolvidos por Cavalcante
(2011). Com base em nossa análise, percebemos que através da ação de descrever um produto,
o autor entrelaça a persuasão natural do gênero aos diversos aspectos presentes no discurso.

Metodologia

Para a execução de nossas análises, propomos uma pesquisa de natureza qualitativa,


tendo em vista o caráter dialógico dos textos estudados. Nossos procedimentos metodológicos
ocorreram da seguinte forma: após desenhado nosso objeto de estudo, efetuamos, então, a
revisão dos textos sobre o gênero textual analisado e sobre os processos referenciais, com base
na proposta de Cavalcante (2011) sobre a referenciação. Estudamos, também, textos de
Charaudeau (2016) sobre o modo de organização descritivo e sua relação com a construção do
discurso. Durante o período de outubro/2019 a abril/2020, efetuamos a coleta de anúncios
publicitários em ambientes virtuais, publicados em sites na internet. Logo após esse momento,
fizemos uma seleção para o início das análises. Ao longo de todo o período do projeto,
aconteceram discussões em grupo sobre os estudos individuais e as análises em progresso.
Sobre as concepções que nortearam a análise de nossa amostra, assumimos as
seguintes: no que tange ao gênero de anúncio publicitário, levamos em consideração o que
defende Sousa (2017) ao caracterizar o anúncio como um gênero promocional de caráter
persuasivo, cujo o propósito comunicativo é divulgar produtos do âmbito da publicidade. Sobre
os estudos de Charaudeau (2016), é importante relembrar o conceito de “contrato” que ocorre
entre interlocutor e leitor numa situação de comunicação, de forma que ambos entrem em

1
Estudante do curso de Letras do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte; E-mail: lidiaruama@gmail.com .
2
Professora e pesquisadora do curso de Letras Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Membro dos grupos de Pesquisa GPELL/ UERN e
GETEME/UFC. Coordenadora do Projeto de Iniciação Científica PIBIC/UERN com ID 2155. E-mail:
jammaravasconcelos@gmail.com .

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1232
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

consenso sobre “as verdades” apresentadas na construção de argumentação persuasiva.


Vejamos o que aponta o autor sobre a ação de qualificar através da descrição:

[..] pode ser considerada a ferramenta que permite ao ser falante seu desejo de
posse do mundo: é ele que singulariza, que o especifica, dando-lhe uma
substancia e uma forma particulares, em função de sua própria visão das coisas,
visão essa que depende não só de sua racionalidade, mas também de seus
sentidos e sentimentos. (CHARAUDEAU, 2016, p. 115.)

Além da ação de qualificar, também são citadas como ferramentas de descrição os atos
de nomear – dar existência à algo ou à alguém - e de situar-localizar, que são utilizadas no texto
publicitário não só com o uso da linguagem verbal, mas também da não verbal – utilizadas
através de elementos imagéticos encontradas nos anúncios.
Deve-se, também, destacar a importância dos estudos de Cavalcante (2011) para a
fundamentação teórica do projeto que motivou esse resumo. A autora destaca que a
referenciação, conforme o próprio nome sugere, faz referência, ou seja, trata-se da introdução
de um elemento discursivo no texto, podendo apenas resgatar ou resumir algo já dito
anteriormente, por meio das anáforas: diretas ou encapsuladoras, ou fazer alusão a algo sem
necessariamente explicitá-lo, como no caso da anáfora indireta.

Resultados e Discussão

No decorrer da pesquisa, foram coletados 40 (quarenta) anúncios sobre os mais


variados temas: comida, eletrônicos, eletrodomésticos, cosméticos, bebidas, produtos de
limpeza. No intuito de ilustrar as análises efetuadas durante esta edição do PIBIC, selecionamos
2 (dois) anúncios: o primeiro foi o anúncio dos amaciantes “Mon Bijou”, e o segundo se refere
à cerveja sem álcool da marca “Brahma”.

FIGURA 1

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1233
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

(Fonte: https://twitter.com/BombrilOficial/status/1211797965926518784?s=19. Acesso: 14/02/2020)

Na figura 1, vemos o anúncio dos amaciantes “Mon Bijou”, da marca de produtos de


limpeza “Bombril”. O plano de fundo em azul escuro, faz alusão ao céu durante a noite, e os
rastros de luz em um tom de azul mais claro formam a imagem de fogos de artifício brilhantes
estourando no céu à noite. Em destaque na imagem, estão as diferentes embalagens
representando as fragrâncias do amaciante e, logo abaixo, a frase “que cor você vai usar para a
virada?”. O termo “cor” age como uma anáfora indireta que remete ao amaciante.
O enunciado “que cor você vai usar para a virada” é uma referência à superstição
popular que associa a cor da roupa usada, durante a passagem de um ano para outro, à
possibilidade de atrair algo que gostaria para o ano seguinte. Por exemplo, a cor branca traz paz,
amarelo traz dinheiro, vermelho traz amor etc. O próprio plano de fundo que retrata uma noite
de ano novo, quando fogos de artifício são usados para comemorar esta passagem, fortifica essa
imagem já criada mentalmente pelo leitor. Esse recorte de tempo age como uma ferramenta para
localizar e/ou situar o leitor, essa ação é um dos componentes do método descritivo apontado
por Charaudeau (2016), na intenção de apontar mais características ao ser ou ao texto apontado.
Combinando essa memória coletiva resgatada pela tradição à imagem construída,
percebemos que, ao falar das cores, o anúncio substitui a cor da roupa pela fragrância de
amaciante para roupas que será escolhida para a virada, como uma parte da tradição já
naturalizada na cultura brasileira.

FIGURA 2

(Fonte: https://twitter.com/brahmacerveja/status/1204480142682337280. Acesso: 18/02/2020)

O anúncio presente na figura 2 é referente à cerveja com 0,0% de álcool da marca


“Brahma”. Assim como a própria embalagem do produto, a cor predominante na imagem é um
gradiente de dourado metálico, com o enunciado “A zero álcool número 1 do Brasil”
apresentado em branco.
No texto, percebemos o uso dos processos referenciais anafóricos utilizados para
apontar características, “A zero álcool número 1 do Brasil” sendo uma anáfora indireta para se

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1234
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

referir à cerveja, que não tem teor alcoólico, e adicionando o atributo de não apenas ser uma
zero álcool, mas também a número 1 no país. O enunciado usa a ação descritiva não apenas para
nomear o objeto – “a cerveja zero álcool da marca ‘Brahma’” –, mas possibilita à ela uma
semelhança a outros produtos, ao mesmo tempo que também a qualifica, adicionando
características ao produto e o tornando singular e único.
Abaixo do enunciado, vemos um tipo de selo, num dourado mais vibrante que se
destaca no plano de fundo, onde se lê “19 WORLD BEER AWARDS: WORLD BEST STYLE
WINNER”, que em tradução livre, significa “19° PREMIAÇÃO MUNDIAL DE CERVEJA:
VENCEDOR DE MELHOR ESTILO”. A própria imagem do selo já aciona a nossa memória
coletiva na qual o selo adiciona veracidade ao que se está sendo dito. O prêmio adquirido pelo
produto na categoria de cervejas “Light” brasileiras, (conforme prêmio concedido, disponível
no link: http://www.worldbeerawards.com/shares/WBA19_A4_CountryWinnersBooklet.pdf.
Acesso: 01/08/2020), funciona como um argumento que solidifica as qualidades apontadas pelo
interlocutor anteriormente.

Considerações finais

Em primeiro lugar, podemos perceber que através da ação de descrever um produto,


podemos observar a maneira como o anúncio publicitário consegue entrelaçar a persuasão
natural do gênero a diversos aspectos presentes no discurso. Através de elementos como o
“contrato de verdade” (CHARAUDEAU, 2016) ancorado na situação de comunicação,
percebemos como a descrição se torna aos poucos uma espécie de argumentação, já que ao ter
a possibilidade de qualificar, nomear e/ou situar-localizar o produto, o interlocutor se encontra
livre para não apenas apelar ao racional, mas ao emocional e inconsciente do leitor.
Observamos o uso da anáfora utilizada no anúncio, e entendemos que ela consegue
apontar no discurso para as ações de nomear e qualificar, adicionando valores ao referente, e se
tornando uma ferramenta para a descrição do produto na constituição do gênero.

Agradecimentos

Agradecemos à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e ao


Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por tornarem
possível a oportunidade de participação de alunos e professores na prática da pesquisa
acadêmica.

Referências

CAVALCANTE, M. M. Referenciação: sobre coisas ditas e não ditas. Fortaleza: Edições UFC,
2011.

CHARAUDEAU, Patrick. A argumentação em uma problemática da influência. Ed. especial


vol. 14, n. 12. Tradução de Maria Aparecida Lino Pauliukonis. São Paulo: ReVEL, 2016.

CHARAUDEAU, Patrick. Problemas de abordagem na análise do discurso. In: _______.


Linguagem e discurso: modos de organização. 2. Ed. Tradução: Angela M. S. Corrêa e Ida
Lúcia Machado. São Paulo: Contexto, 2016.

SOUSA, Maria Margarete Fernandes de. A linguagem do anúncio publicitário. Fortaleza:


Imprensa Universitária, 2017.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1235
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O NÃO PERTENCIMENTO AO ESPAÇO PATERNO


EM HIBISCO ROXO, DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

Eliane Maria da Silva 1; Francisca Lailsa Ribeiro Pinto2

Palavras-chave: Kambilli. Espaço de violência e intolerância. Afeto de amor e medo.

Introdução
Este resumo parte dos estudos sobre o romance Hibisco Roxo (2011) da escritora
contemporânea e feminista Chimamanda Ngozi Adichie, e traz discussões acerca de uma
sociedade Nigeriana que perpetua um pensamento patriarcal e machista. A narrativa
conduzida pela voz da protagonista Kambili apresenta o espaço de violência e intolerância
vivenciado pela personagem, gerando o sentimento de não pertencimento à casa paterna,
causado através de dois afetos principais, o amor e o medo, e faz com que tanto a esfera
pública como privada a protagonista não tenha o sentimento de acolhimento, segurança
dentro do lar.
A pesquisa foca na constante submissão de violência causada pela relação de
medo e intolerância entre o pai Eugene e a filha Kambili, tendo em vista que a
protagonista não tem plena autonomia sobre sua vida. Mas, ao movimentar-se entre os
espaços, tanto geográfico como afetivo, através do transitar entre Enugu e Nsukka, ela
consegue ter um novo olhar sobre sua vida ao desabrochar o sentimento de não reconhecer
o lugar paterno, a esfera privada, como seu, e começa a construir novos elos afetivos a
partir das novas afecções. Com isto, ela passa a se auto questionar sobre sua posição
dentro desse espaço de submissão e intolerância, causado no lar governado pelo pai. Ao
pensar as relações afetivas de Kambili, percebemos que ela vivencia dois sentimentos
constantes: amor e medo. O amor sugerido como posse que oprime e silencia, cansando
lhe medo e submissão ao pai. O contato com novos espaços, geográfico e afetivo,
proporcionado pela convivência com a família de sua tia, Ifeoma, possibilitou uma nova
percepção de vida para a garota, com novos horizontes e descobertas de si mesmo.
Diante disto, o estudo procurou discutir e refletir os espaços de não
reconhecimento vivenciado pela personagem feminina Kambili, no romance Hibisco
Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie, quanto a relação dos afetos com seu pai no espaço
privado, a casa, tendo o amor enquanto propriedade, desencadeado na submissão da filha
protagonista, e o medo paralisante na condição de desamparo.

Metodologia
A pesquisa em questão, pautada em discussões sobre as vozes femininas no
romance contemporâneo, envolve a problematização da questão de gênero e do espaço
público e privado. Quanto ao método, primeiro foi realizada a leitura e discussão sobre o
texto literário Hibisco Roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie; posteriormente, a leitura
crítica-teórica sobre a categoria espaço, este contestado por vozes não-autorizadas e os
estudos de gênero; a investigação crítico-analítico do texto literário, à luz dos estudos
sobre os afetos de amor e medo.

1
Estudante do curso de Letras Língua portuguesa e respectivas literaturas da Universidade Estadual do Rio
grande do Norte – UERN, campus Patu-RN; e-mail: elianemaria@alu.uern.br
2
Mestre em Letras, docente do departamento de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Campus de Patu/RN, e-mail: franciscalailsa@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1236
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Na tentativa de levantar questionamentos e atingir nosso objetivo sobre o espaço


de não reconhecimento da personagem Kambili foram utilizados como base teórica as
contribuições de Regina Dalcastagnè (2012) acerca da posição da mulher em um espaço
contestado. Para além de um espaço geográfico, Massey (2008, p. 30-31) nos fala que só
o lugar não é suficiente para determina-lo, as inter-relações também contribuem para sua
construção, tendo em vista que não é algo estático, mas em constante construção. De outro
lado, os aportes teóricos de Okin (2008) quando diferencia as esferas do público e do
privado levando em consideração o conceito de gênero. E a leitura do filosofo Vladimir
Safatle (2016) em relação aos afetos de amor e medo vivenciado pela personagem
protagonista. Aliado ao pensamento de Beatriz Nascimento (2006) para esclarecer sobre
o amor entre corpos políticos como lugar de objetificação destes, legitimado pelas
relações a sua volta permitindo ser afetada dentro do espaço paterno.

Resultados e Discussões
Diante do exposto, as reflexões teóricos e críticas acerca do espaço geográfico e
dos afetivos percorridos pela protagonista do romance Hibisco Roxo, nota-se a busca
identitária de Kambili através do confronto das relações afetivas com sua família ,
principalmente com o pai, Eugene. Por meio do mover-se entre o espaço público, o lar da
tia idealizado como liberdade, e o privado, a casa governada pelo pai, mostra a construção
da maturidade feminina e a importância da representatividade que a obra tem para a
literatura contemporânea.
Afinal, os espaços percorridos pela narradora não são estáticos e fixo, mas um
processo de construção, passível a mudanças, como uma produção aberta e múltipla, os
quais possibilitam a inter-relação de vários lugares plurais e heterogêneos, como
elementos de um corpo para a sua construção como um todo. A personagem Kambili
transita entre os lugares não permitidos pelo pai, possibilitando a construção de novos
elos familiares e amorosos.
O que coaduna viver entre dois afetos duais, amor e medo. É importante ressaltar
que as relações familiares de Kambili mostra o seu sofrimento dentro do microssistema
familiar figurada pelo sistema patriarcal vigente, uma vez que por meio da relação
paternal de Eugene com a filha visualizamos a representação do amor como forma de
propriedade que desencadeia um medo invasor na personagem, o qual toda vez que se
percebe a possibilidade de punição pelo pai, esteja ele presente ou não, o medo a invade.
Foi na tentativa de enfocar a noção de espaço e de afeto, que esta pesquisa buscou
apresentar a tese de que a relação afetiva entre Kambili e Eugene se constitui a partir da
relação de autoritarismo estrutural, já que a construção do espaço de não pertencimento e
de reconhecimento da protagonista na narrativa paira em dois tipos de afetos secundários.
Como ressalta Safatle (2016, p. 23) “há momentos em que os corpos precisam se quebrar,
se decompor, ser despossuído para que novos circuitos de afetos apareçam”. Nesse
sentido, e elucidado anteriormente, nota-se que só se constrói relações afetivas a partir
das afecções, contato com outros corpos, sendo a relação de afeto de Kambili em seu
núcleo familiar bastante negativo em relação ao pai, pois é construída na base da opressão,
subordinação, silenciamento, violência física e psicológica. Afinal, personagem entendia
essa condição por acreditar ser providência Divina, e foi só a partir da percepção da garota
sobre a realidade deste espaço que começa a aflorar o processo de mudança em seu
pensamento, e nas suas relações afetivas.

Conclusão
Por meio desta pesquisa, buscou-se averiguar o romance contemporâneo Hibisco
Roxo de Chimamanda Ngozi Adichie a partir do viés da ficção enquanto provocação das

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1237
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

realidades vivenciadas por diversas famílias com modelos patriarcais enraizados. Com
isso, mostrou-se necessário o conhecimento da história de Kambili com o desejo de uma
nova perspectiva para história das mulheres, um novo reconhecimento dos espaços
ocupados pela figura do feminino e também refletir as situações de violência no contexto
familiar.
Pode se ver, então, que em uma sociedade machista que delega as mulheres
deveres e ao homem um “poder de soberania”, necessita discutir o silenciamento e a
omissão dos casos de violências sofridos por mulheres dentro do âmbito familiar, um
lugar motivado ao afeto de amor, não como espaço de dor e sofrimento, mas de se
perceber visível nele. Kambili só conseguiu enxergar isso quando teve a oportunidade de
conhecer a si mesma a partir de outras realidades diferentes da sua. Importa dizer que a
discussão não se esgota por aqui, existe muito a ser dito e a analisar, tendo em vista que
muitas mulheres são violentadas e oprimidas em diferentes espaços, e muitas vezes não
se dão conta, pedir ajuda é um ato de resistência.

Agradecimentos
Agradeço primeiramente a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte por
oportunizar o acesso ao universo da pesquisa que o PIBIC (Programa Institucional de
bolsas de Iniciação Cientifica) proporcionou. A minha família pelo apoio e incentivo. Aos
colegas de pesquisa que contribuíram significativamente durante todo esse processo de
aprendizagem.

Referências
ADICHIE, Chimamanda Ngozi, Hibisco roxo. Tradução Julia Romeu, São Paulo,
Companhia das Letras, 2011.
DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território
contestado. Vinhedo: Editora Horizonte, 2012.
MASSEY, Dorren B. Pelo Espaço: uma nova política da espacialidade, tradução Hilda
Pareto Maciel, Rogério Haesbaert. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2008.
OKIN, Susan Moller. Gênero, o público e o privado. Estudos Feministas, Florianópolis,
16(2): 440, maio-agosto/2008.
SAFATLE, Vladimir. O circuito dos afetos: Corpo político, desamparo e o fim do
indivíduo. 2ªedição revista, autêntica, 2016, PDF.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1238
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O PROCESSO DE FORMAÇÃO DOCENTE: AS DIFICULDADES DE


LEITURA E ESCRITA NO ÂMBITO ACADÊMICO

Roberta Bezerra Marinho1

Palavras-chave: Letramento acadêmico. Práticas sociais. Ensino superior.

Introdução

Atualmente, o ensino superior já não é mais uma exclusividade da classe abastarda,


visto que os alunos de famílias humildes têm conquistado espaço na academia, sobretudo nas
universidades públicas e isso graças às políticas públicas no campo da educação inclusiva.
Entretanto, o âmbito acadêmico costuma exigir desses alunos a produção de gêneros
específicos como o artigo científico, o ensaio acadêmico, fichamento, etc. Ou seja, diferentes
gêneros e tipos textuais com os quais não tiveram contato no ensino médio, não obstante
ainda há as dificuldades com relação à leitura dos textos, posto que há uma série de termos
científicos, campos do conhecimento, objetos de estudo até então desconhecidos.
Essa realidade se torna ainda mais notória, quando se pensa em um curso de
licenciatura em Letras que tem como marca registrada o exercício contínuo de leitura e
escrita, além disso, ainda há a exigência de artigos, apresentações de trabalho por parte de
professores como modo de avaliação, o que de certo modo se constitui como um incentivo a
produção científica. Por outro lado, os alunos apresentam dificuldades de leitura e escrita
acadêmica, que se caracterizam como obstáculos a formação docente, visto que segundo
Zavala (2010) a leitura e escrita são sistemas simbólicos inseparáveis das práticas sociais, que
revelam uma nova identidade, mudança na “visão de mundo” acerca do conhecimento
científico e a consciência do poder existente do discurso acadêmico.
O projeto de iniciação científica Professores e(m) formação: práticas de letramento
acadêmico em um curso de Letras teve como objetivo compreender como se constituem as
práticas do letramento acadêmico de alunos em um curso de Letras em uma universidade
pública norte-rio-grandense, além de identificar como essas dificuldades interferem na
formação de professores de Língua Portuguesa, por sua vez, o presente projeto é vinculado ao
Grupo de Pesquisa de Ensino, Literatura e Linguagem (GELIN), da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte.

Metodologia
Os estudos realizados através do Programa Institucional de Iniciação Científica
(PIBIC), no tocante ao projeto Professores e(m) formação: práticas de letramento acadêmico
em um curso de Letras se desenvolveu a princípio por meio de encontros quinzenais no
Campus Avançado de Patu-CAP/UERN, cuja abordagem de natureza qualitativa adotou o
método bibliográfico, uma vez que não foi possível fazer um estudo de caso, por sua vez, o
plano de estudo envolvia a leitura e fichamento dos textos, sobretudo, discussões sobre a
compreensão de cada participante acerca do letramento acadêmico e suas implicações para a
formação docente.

1
Estudante do curso de licenciatura em Letras Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas, do
Departamento de Letras, da Universidade do Estado Rio Grande do Norte, Email:
robertamarinho@alu.uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1239
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

No entanto, em função do isolamento social, devido a Pandemia do COVID 19, os


encontros se realizaram por meio da plataforma digital Google meet. Para tanto, utilizou-se
como referencial teórico as contribuições de César e Cavalcanti (2007), Moita Lopes (2013),
Cavalcanti (2015), (2014), Zavala (2010), Milroy (2011), Corrêa (2011), Fonseca (2013), Lea
(2014), Kleiman (2008). O material utilizado ao longo do projeto envolve uma compreensão
de como funciona a pesquisa em Linguística aplicada em contextos complexos, a revisão do
conceito de língua como sistema independente dos falantes e do contexto sociocultural, além
de problematizar o letramento acadêmico não só como habilidades e competências de ordem
cognitiva e individual, mas como práticas sociais que não se restringem ao ensino superior.

Resultados e discussão
A princípio, o conceito de Letramento acadêmico não parecia algo explícito para os
participantes do projeto, posto que tínhamos a idéia que o uso social da leitura e escrita , neste
caso se referia as habilidades e competências exigidas no ensino superior no que se refere a
produção de gêneros como a resenha crítica, o fichamento, o artigo científico, além da
compreensão dos conceitos teóricos de cada área do conhecimento, quando na verdade se
refere a um “ modelo de letramento que abrange do ensino fundamental ao universitário,
incluindo a pós-graduação, e corresponde ao que se entende por letramento “formal”
convencional (CORRÊA, 2011, p.337).
Em outras palavras, a compreensão entre as diferenças do saber científico e do senso
comum se caracteriza nesse modelo de letramento, posto que ainda no ensino fundamental os
alunos se deparam com questionamentos em torno das verdades pregadas pela sua crença e os
conceitos e teorias de cada disciplina, como no caso da Teoria da evolução de Charles
Darwin. Já no ensino superior, os estudantes passam da compreensão de uma disciplina como
a Língua Portuguesa para a Linguística que possui como objeto de estudo a linguagem, cujo
estudo não se volta apenas para os registros escritos, antes prioriza o uso oral em situações
concretas.
No decorrer das discussões, tomávamos consciência que no ensino básico o modo de
ensinar a produzir um texto dissertativo-argumentativo aos alunos era voltado para uma forma
de posicionamento implícito, sem o uso da primeira pessoa, o que já significava uma
delimitação entre o senso comum e o modo de apresentação do saber reconhecido como
válido na esfera científica, posto que “o letramento escolar é só uma forma de usar a
linguagem como parte de uma prática social que ganhou legitimidade por razões ideológicas
que se enquadram em relações de poder” (ZAVALA, 2010, p. 73). Ou seja, o uso da
linguagem escolar se diferencia de gêneros do cotidiano.
A leitura e discussão do texto O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e
aplicações, de Mary R. Lea, apresenta três modelos de letramentos, o modelo de habilidades
de estudos, cuja abordagem se concentra nos aspectos da forma da língua, o que nos pareceu
bem presente em componentes curriculares como Metodologia do trabalho científico e
Produção textual, pois durante as aulas era comum ouvir explicações quanto ao uso da forma
linguística com relação aos aspectos de impessoalidade e objetividade como característicos
dos textos científicos, já o modelo de socialização acadêmica, nos fez perceber como não
basta dominar as formas linguísticas dos gêneros, é preciso também que o estudante domine
temas e disciplinas para conseguir se inserir nos gêneros e discursos do meio acadêmico, pois
é a parte daí que membros são reconhecidos em dados campos de estudos, por sua vez, o
modelo de letramentos acadêmicos se assemelha com o segundo, com exceção que este tem
como foco a produção de sentido, poder e autoridade no âmbito institucional.
Por fim, tornou-se visível que não há um modelo ideal, mas que o importante é que
haja uma sobreposição desses modelos para dar conta das práticas sociais em torno da leitura
e escrita, como a orquestração de vozes que precisa estar presente no texto científico, caso

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1240
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

contrário a pesquisa desenvolvida não adquire validade, consequentemente, ao iniciar uma


pesquisa é preciso retomar abordagens anteriores, por isso há um fio do discurso acadêmico
que situa o estudo atual em comparação a outras perspectivas, por sua vez, há também uma
mudança de identidade, pois o estudante adquire habilidades tanto para a sua formação
acadêmica quanto para sua formação docente. Entretanto, a aquisição de tais habilidades
apresenta dificuldades, posto que os gêneros e discursos não são relativamente estáveis.

Conclusão

A realização do presente estudo permite concluir que os modelos de letramentos


acadêmicos variam segundo os propósitos e as abordagens teóricas utilizadas, entretanto, é
possível perceber como a sobreposição dos três modelos auxiliam no incentivo e aquisição
das habilidades necessárias ao estudante em um curso de Letras bem como na sua formação
docente, posto que na condição de professor de Língua Portuguesa, tais profissionais terão
mais consciência dos modos de transmissão orais e letrados no âmbito instrucional da escola e
das políticas de ensino-aprendizagem tanto por seu caráter ideológico quanto pelo prestígio
social que a escrita possui, mas também se pressupõe que guiarão a sua prática docente em
consonância com o contexto sociocultural do aluno, não priorizando apenas a forma
linguística, de modo a perceber como que só o modelo de habilidades de estudos não dá conta
do contexto educacional do Brasil, posto que o ensino de gêneros também envolve o estímulo
a consciência crítica, que só resultará em pontos positivos se também atrelado ao contexto
extra verbal.
Agradecimentos
Agradeço a Profª ma. Aline Inhoti pela idéia de elaborar esse projeto, por sua vez, sou
grata a Profª Dra. Sueli Timóteo por ter aceitado o convite para contribuir na ausência dela,
agradeço aos meus colegas Felipe, Rosângela, Ana Cristina e Thauan pelo conhecimento
compartilhado.

Referências
ZAVALA, Virgínia. Quem está dizendo isso?: letramento acadêmico, identidade e poder na
educação superior. In: VÓVIO, Cláudia; SITO, Luanda; GRANDE, Paula de. Letramentos.
Campinas, SP: Mercado das Letras, 2010. P. 71-95.
CORRÊA, Manoel Luiz Gonçalves. As perspectivas etnográfica e discursiva no ensino da
escrita: O exemplo de textos de pré-universitários. Revista da Abralin, Curitiba, v. 10, n. 4,
p.334-356, 31 dez. 2011. Trimestral. Disponível em:
https://revistas.ufpr.br/abralin/article/view/32435. Acesso em: 09 mar. 2020.
Komesu, F., & Fischer, A. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e
aplicações. Filologia E Linguística Portuguesa, São Paulo, v. 16, n. 2, p.477-493. Julh.
2014.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1241
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE


Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPEG
Campus Universitário Central

O TOM DA MODERNIDADE NAS CRÔNICAS DE PERY LAMARTINE:


A Natal de ontem

Coordenadora: Profª Drª. Izabel Cristina da Costa Bezerra Oliveira


(izabelcristina@uern.br)
Discente bolsista: Haddamis Hyago de Lima Barreto
(haddamisbarreto@alun.uern.br)

RESUMO EXPANDIDO

Esse projeto analisou as crônicas “O Aeroplano”, “A Viagem”, “Os Sobreviventes” e


“O Pouso Forçado”, de Pery Lamartine, como espaço revelador de elementos da
modernidade. O cenário mais representativo desse processo aparece de forma
diferenciada em cada texto, expondo personagens que protagonizam os efeitos vividos
a partir das mudanças na vida social, na vivência de novas experiências e na
compreensão que o ser humano passa a conviver com o tradicional e o moderno, às
vezes, de forma harmônica e outras reveladas com certo grau de preocupação.
Observou-se um olhar peculiar e sensível do aluno bolsista nas leituras e análises das
crônicas e a necessidade de conhecer e pesquisar um pouco mais sobre a literatura que
trata das questões da modernidade e o viés histórico e literário seguido pelo autor
estudado. Assim, para compreender de forma mais expressiva os textos estudados,
buscamos a teoria de Perry Anderson em seu estudo Modernidade e revolução (1986) e
a contribuição de Marshall Berman em Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura
da modernidade. Para tanto, foram colhidas as singularidades da tradição e da
modernidade representativas em cada texto, em especial, as que revelaram o
embelezamento e as tensões entre o velho e o novo.
(Palavras-chave: Literatura, crônica, tradição, regionalismo, modernidade)

METODOLOGIA

Essa pesquisa foi desenvolvida a partir de estudos de natureza bibliográfica que


elucidou questões a partir de leituras e análises de obras do autor estudado e priorizou
como fonte de dados a variedade de documentos escritos em livros, artigos, revistas,
periódicos, dentre outros. A escolha por esse método de pesquisa nos possibilitou um
estudo mais genérico sobre o objeto de estudo investigado e, certamente, poderá
contribuir como referência para pesquisas futuras.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1242
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

RESULTADOS ALCANÇADOS

O aluno bolsista desenvolveu, com responsabilidade, as ações planejadas que


envolviam a leitura e questionamentos acerca dos textos teóricos, bem como as análises
das crônicas de Pery Lamartine, previamente selecionadas para o estudo.

Os aspectos elencados sobre as mudanças ocorridas nos espaços urbano e rural


foram revelados pelo iniciante pesquisador, Haddamis Hyago, a partir de um olhar
ímpar, que expressa o cuidado, o interesse de compreender como se dá o processo da
pesquisa. Ao sistematizarmos as análises sobre os elementos da tradição e da
modernidade nas crônicas de Pery Lamartine, organizamos alguns trechos analisados
pelo discente:

Na primeira crônica “O Aeroplano”, o contexto analisado pelo aluno nos revela


os seguintes aspectos da tradição:

Neste texto, o autor citou as vestimentas da época, a contemplação de


uma novidade (à época), que era o avião, a precaução das pessoas na
hora do pouso da aeronave devido ao desconhecimento de como
funcionava o procedimento. O fato de o governador ter ido visitar a
cidade e as pessoas tornarem isso um evento, comparecendo, bem
vestidos, para estar na presença de uma figura ilustre, que foi recebido
com um banquete, demonstra ato típico de receptividade muito
comum da época.

(aluno bolsista Haddamis Hyago)

Considerando as atitudes, ações, objetos e costumes sob o viés da modernidade,


eis a observação:

À época, a aviação era uma modernidade, como ainda é nos dias


atuais. A indústria está sempre inovando e atualizando. O avião
naquele dia era o grande objeto de curiosidade da população.

(aluno bolsista Haddamis Hyago)

Na segunda crônica “A Viagem”, analisando as ações tradicionais, Haddamis


Hyago destaca antigas ações das famílias que tinham condições econômicas favoráveis e as
usavam de forma a contribuir com a educação de seus filhos:

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1243
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

“Acredito que o grande destaque das tradições era o costume antigo


que as famílias com mais poder aquisitivo tinham de mandar seus
filhos ainda jovens para os grandes centros como São Paulo, Rio de
Janeiro e Minas Gerais para estudar, mesmo para fazer o ensino
básico. Hoje, a acessibilidade desfaz a necessidade dessa prática, que
ainda é bem comum no caso do ensino superior, das pós-graduações,
especializações, mestrados, doutorados e pós-doutorados.”
(aluno bolsista Haddamis Hyago)

Quanto aos elementos da modernidade, o aluno-pesquisador menciona os meios


usados para o acesso à educação de qualidade:

“Dentre os elementos modernos da época nesse texto, observei os


meios mais comuns de locomoção na época eram os navios, os trens e
os veículos de tração animal. As viagens duravam muito tempo.”
(aluno bolsista Haddamis Hyago)

Passando a análise do terceiro texto estudado “Os Sobreviventes”, as marcas


representativas da modernidade foram assim observadas:

“O texto em questão é similar ao texto 02 (anterior). O texto “A


Viagem”, é a relato de ida e este é o da viagem de volta, então os
aspectos são parecidos. Há menção a um triste fato por consequência
da Segunda Guerra Mundial. Um navio foi torpedeado, e neste navio
estariam Pery Lamartine e seu amigo, caso não tivessem conseguido
partir num navio que saía numa data mais breve, e essa triste
passagem é justamente o que intitula este texto.”
(aluno bolsista Haddamis Hyago)

Novamente, o discente apresenta uma leitura cuidadosa e pontual acerca do texto


estudado e a partir da aprendizagem dos conceitos sobre modernidade, aponta com
precisão de que não conseguiu “captar aspectos modernos da época nesse texto. Pela
descrição dos fatos pelo autor, tudo parecia muito comum para aqueles tempos”.

No tocante ao quarto texto “O Pouso Forçado”, além de elencar os aspectos da


tradição, Haddamis Hyago cita também um aspecto relevante sobre a linguagem usada
nas crônicas:

“Aqui, podemos observar o uso do telegrama para comunicação direta


entre canais de longa distância. As viagens por terra também ainda
eram muito longas. Do interior do estado, Assu (que na época era mais
tratado como Açu), por exemplo, para Natal duravam quase 24 horas”.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1244
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

“Em todos os textos, observei uma linguagem de simples


entendimento, mas com termos que hoje caíram em desuso na nossa
língua. Precisei consultar o dicionário algumas vezes para ter certeza
do significado de algumas palavras e termos”.
(aluno bolsista Haddamis Hyago)

Por fim, conferindo os elementos da modernidade, o aluno observou como o


cronista dá visibilidade à questão da aviação, pois acaba sendo um tema recorrente em
seus textos. Assim descreve o aluno pesquisador:

“Mais uma vez, aqui, a figura do avião se fez presente, desta vez com
Pery já como piloto e exercendo suas funções a serviço de um
deputado que precisou fazer uma viagem de Assu até Macau e depois
até Natal”.
(aluno bolsista Haddamis Hyago)

Conclusões finais

É preciso levar em conta que as análises apresentadas pelo aluno bolsista nos
reportam a considerar cada vez mais sobre a importância de incentivar os discentes para
participar de projetos de pesquisa.

Em nosso estudo, o discente percebeu que o moderno e o tradicional estão


presentes nas crônicas de Pery Lamartine revelando-nos aspectos dinâmicos sobre a
cidade e meio rural. Um olhar poético foi posto pelo autor das crônicas e um olhar
cuidadoso foi percebido pelo aluno pesquisador em que ressaltou os elementos da
modernidade se contrapondo aos aspectos da tradição.

Por fim, evidencia-se que os vários espaços descritos pelo cronista nos
possibilita a fazer uma reflexão como é possível viver respeitando o passado,
preservando a tradição e, ter um olhar crítico para compreender o ser que deseja o novo
e saber vivenciar o que a modernidade pode lhe oferecer sem desconsiderar o que existe
em seu espaço social.

Referências:

ANDERSON, Perry. Modernidade e revolução. Novos estudos CEBRAP. São Paulo,


n. 14, p.2-15, fev., 1986.
ANDRADE, Mário de. Aspectos da literatura brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia,
2002.
ARAÚJO, Humberto Hermenegildo de. Modernismo: anos 20 no Rio Grande do
Norte. Natal: UFRN. Ed. Universitária, 1995.
AZEVÊDO, Neoroaldo Pontes de. Modernismo e regionalismo: os anos 20 em
Pernambuco. João Pessoa: Secretaria de Educação e Cultura da Paraíba, 1994.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1245
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e


história da cultura. 7 ed. Trad. de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da
modernidade. Tradução: Carlos Felipe Moisés, Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo:
Companhia das Letras, 1986.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 2 ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1994.
CÂNDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 5 ed.
Belo Horizonte; São Paulo: Itatiaia; Ed. da Universidade de São Paulo, 1975. 2v.
CASCUDO, Luís da Câmara. Crônicas de origem: a cidade do Natal nas crônicas
cascudianas dos anos 20. Raimundo Arrais (Org.). Natal: EDUFRN, 2005.
CASTELO, José Aderaldo. Modernismo e regionalismo. São Paulo: Edart, 1961.
LAMARTINE, Pery. Epopeia nos ares. Natal: Fundação José Augusto, 1995. ____.
Serra Negra, anos 1930”. Natal: Sebo Vermelho, 2000. ____. Coronéis do Seridó.
Natal: Sebo Vermelho, 2005; ____. Saint-Exupery na América do Sul. Natal: Sebo
Vermelho, 2008.
____. Velhas Oiticicas. Natal: Sebo Vermelho, 2011. ____. Crônicas versus estresse.
Natal: Sebo Vermelho, 2013.
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.
TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. 8 ed.
Petrópolis (RJ): Vozes, 1985.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1246
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PARA ALÉM DO QUINTAL: OS ESPAÇOS DE INTER-RELAÇÕES NA


ALDEIA COSMOPOLITA EM DIÁRIO DE BITITA DE CAROLINA
MARIA DE JESUS

Sebastiana Braga Ferreira1; Francisca Lailsa Ribeiro Pinto2

Palavras-chave: Mulheres negras. Afeto da subalternidade. Espaço de inter-relações. Aldeia


Cosmopolita. Carolina Maria de Jesus.

Introdução

O estudo acerca do feminismo trazendo personagens como protagonistas em suas


múltiplas trajetórias vem tendo uma maior visibilidade nesses anos dois mil. Dessa forma,
pesquisas tendo mulheres negras como protagonistas das narrativas literárias é um ponto
importante para as análises no campo da Literatura contemporânea.
Observamos que diversas são as pesquisas acadêmicas na área de literatura com foco
em narrativas com heróis masculinos, seguindo uma homogeneidade, e com isso trazendo
provocações acerca de um cânone branco e masculino, deixando de lado trajetórias de
escritoras e de mulheres protagonistas de romances, como o Diário de Bitita (2014) de
Carolina Maria de Jesus, corpus de nossa análise. Daí, a necessidade de trazer essas
discussões, bem como dos espaços de inter-relações percorridos pela personagem Bitita com
os seus afetos tecidos em meio a uma aldeia global, que parece não pertencer a determinados
lugares.
A pesquisa visa mostrar como a personagem Bitita se relaciona com os outros, as
inter-relações por meio do espaço, primeiro na favela e depois na cidade, trazendo o afeto da
subalternidade com os passos de uma mulher negra, mudando o viés destinado a ela, que
ocorre em outras narrativas no transcorrer da história. Para tanto, nos embasamos nas
estudiosas Massey (2008) sobre espacialidade, Dalcastagnè (2012) quanto ao meio urbano e
Spivak (2010) com a subalternidade, o lugar dos sujeitos, dentre outros.
Metodologia

Diante disso, a pesquisa teórico-crítica foi abordada a partir da leitura do romance


Diário de Bitita (2014) da escritora Carolina Maria de Jesus, e os questionamentos sobre as
inter-relações e os espaços percorridos pela protagonista Bitita, bem como algumas leituras
quanto o afeto da subalternidade, com o intuito de comprovar que a alegria da personagem
está condicionada ao outro.
Para a análise foi utilizado como embasamento teórico os estudos de Sandra Almeida
(2010) para falarmos como a ideia de heterogeneidade e de globalização se apresenta nas
narrativas, pois traz o sujeito, o espaço e suas identidades, não somente textos que falam de

1
Graduanda do Curso de Letras do Departamento de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte-Campus Avançado de Patu; e-mail: bastianaletras@gmail.com
2
Mestre em Letras, Professora do Departamento de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte-Campus Avançado de Patu, Participante do Grupo de Pesquisa em Ensino, Literatura e
Linguagem – GELIN; e-mail: franciscalailsa@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1247
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

sentimentos, mas vão além, pois mostram histórias em uma aldeia, esta também cosmopolita.
E o estudo do pesquisador Agamben em O que é o contemporâneo? e outros ensaios (2009)
sobre a contemporaneidade e as perspectivas de cada período fazendo uma ponte com o
romance contemporâneo em análise de Carolina e a protagonista Bitita desbravando os
espaços da aldeia cosmopolita.
Em seguida, nos servimos das percepções teóricas de Dalcastagnè (2012) quanto o
espaço urbano no que tange a sua mobilidade e transformação, e o deslocamento dos
personagens em meio a esse fluxo e a toda essa movimentação da favela à cidade. Atrelada a
leitura de Massey (2008) sobre o espaço de inter-relação, de trajeto, sempre em construção,
das várias vivências em simultâneo, tudo ocorrendo ao mesmo tempo, ou seja, entender como
a personagem Bitita muda de lugar, mas o anterior também se moverá, não ficará estagnado.
Na última etapa, realizou-se a leitura e as discussões com um texto teórico da
pesquisadora Spivak (2010) sobre a categoria da subalternidade e a compreensão da falta de
espaço para as mulheres negras, o que fala por si, a falta desse espaço presente nas narrativas
mostra como alguns sujeitos são vetados no lugar de seu protagonismo. E os estudos de
Spinoza, com sua pesquisa sobre afetos, nos quais tentamos problematizar o afetar e ser
afetado de Bitita, assim como a razão e emoção, dentre outras contribuições relevantes.
Resultados e discussões

Com relação às discussões da pesquisa, abordamos a questão das três proposições


sobre espaço defendidas pela geógrafa feminista Massey (2008), em Pelo espaço: uma nova
política da espacialidade: a primeira se refere à questão de inter-relação, a interação entre os
sujeitos, a segunda de multiplicidade, um espaço em que está presente uma grande quantidade
de pessoas, logo existe heterogeneidade - todos vivendo ao mesmo tempo, e a terceira o
espaço como construção, em que tanto os sujeitos como o próprio espaço estão em
movimento, se desenvolvendo e mudando. Daí, ao longo da narrativa em análise, surge
impressões da personagem ao se relacionar com outras pessoas que não pertencem ao seu
espaço, o lugar predestinado de Bitita, por ser pobre e da favela, como no espaço escolar. Para
tanto, os espaços são de grande importância para compreensão do agir, como nos descreve
Regina Dalcastagnè:
A cidade é um símbolo da sociabilidade humana, lugar de encontro e de vida
em comum (...) Mas é também um símbolo da diversidade humana, espaço
em que convivem massas de pessoas que não se conhecem, não se
reconhecem ou, mesmo se hostilizam. (DALCASTAGNÈ, 2012, p. 110)

Na literatura de Carolina Maria de Jesus, as relações de Bitita tanto com os sujeitos,


os colegas de sala de aula, quanto com o espaço escolar, não são fáceis, pois sugere um
espaço de não pertencer, de não caber, de não ser um espaço para uma mulher negra, o que
deixa bastante visível desde os objetos, como os quadros dos esqueletos, até a não explicação
por parte da escola de estudarmos determinadas matérias com um pensamento ainda
eurocêntrico. É também nesse movimento da personagem em descrever as inter-relações
quanto à forma que os colegas a chamavam que vamos aos poucos compreendendo o lugar de
disputa traçado para própria sobrevivência.
Muito embora saibamos que a sociedade não é homogênea, um mundo fechado, nele
se conjectura os vários grupos e classes sociais, além das diversas narrativas que dele
emergem e sucumbem sujeitos não privilegiados. Como frisa Sandra Almeida (2010) é na
aldeia global que vamos perceber a existência do fluxo, o movimento além-fronteiras e em

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1248
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

meio à globalização os sujeitos da nova aldeia cosmopolita não segue uma regularidade, mas
sim passa por uma hibridez causando uma movência em suas identidades. Ademais, em
Diário de Bitita a personagem em sua caminhada, vivências para conseguir trabalho, nele
encontram desafetos e se questiona por passar por essas lutas. Daí trazer o afeto da
subalternidade, este experienciado à margem, o invisível presente na sociedade, o resistir
nessa imensa aldeia global.
Daí esclarecemos que o afeto envolve ambos os sujeitos, seus determinados espaços,
e cada indivíduo é constituído por suas relações afetivas, e estas também adquirem novos
afetos. Dessa maneira, nesse percorrer até à zona urbana as teias afetivas de Bitita vai se
construindo, como pontos ligados as emoções e outros a razão em meio a esses espaços de
relações com indivíduos trocando afetuosidade, estes podem trazer alegria ou tristeza. Para
tanto, o agir dos sujeitos com suas vivências e experiências, bem como a protagonista quando
em contato com o outro, em algum momento ocorre o desânimo, pois o afeto traz também
uma relação de negatividade.
Assim, a personagem Bitita se constitui em meio à sociedade como Gayatri Spivak
descreve em Pode o subalterno falar? que “o sujeito subalterno feminino está ainda mais
profundamente na obscuridade” (SPIVAK, 2010, p. 67); assim a subalternidade vai construir
o ser da protagonista de Diário de Bitita, o que é também resistência diante de espaços sem
perspectivas para uma mulher negra em meio a cidade grande.
Diante disso, o destino atrelado às mulheres negras de trabalharem em profissões de
servir sem a devida valorização, como domésticas, cozinheiras, babás, percebida na narrativa,
corrobora no sujeito subalterno definido por Spivak, ou seja, aquele pertencente “às camadas
mais baixas da sociedade constituídas pelos modos específicos de exclusão dos mercados, da
representação política e legal, e da possibilidade de se tornarem membros plenos no estrato
social dominante” (2010, p.12). Entretanto, Bitita almejava a várias experiências, nos
diferentes espaços, pois desejava ser ouvida, logo afetada, não como escrava de um sistema,
mas é o que experimenta nos olhares dos poderosos:
Eu não podia trabalhar na cidade por não ter roupas. Na roça, qualquer coisa
serve. A vida é simples, sem burocracia. Fui trabalhar na fazenda do senhor
Nhonhô Rasa. Ele era surdo. Mas muito educado com os colonos. Eu era
pajem. Quanto leite, queijo e verduras! As empregadas me criticavam
dizendo: - Você é uma idiota, deixar a cidade para vir trabalhar no mato.
(JESUS, 2014, p.193)

Enfim, adentar nessa aldeia cosmopolita em meio a esse espaço restrito configurou o
exercício de mover-se, no passado e no presente da personagem. Em que pese à constatação
do poderio masculino e branco na produção da literatura brasileira contemporânea, Carolina
sinaliza que refletir sobre o desbravar feminino em meio à cidade, afeta a estrutura social, ao
mesmo tempo em que dela também se é afetada. Daí, nos ambientes em que sujeitos são
excluídos, não tem direitos garantidos, o reposicionamento de Bitita em meio ao estrato
social, com relações em que o outro a deixa invisível, é um desfio a mais que para a
personagem que vai além do quintal e desbrava outros aglomerados.
Conclusão
Em virtude disso, nesta pesquisa, buscou-se apresentar o afeto da subalternidade em
uma personagem negra e mulher na literatura é agenciar um caráter político no processo de
construção de uma sociedade que ainda nega e define os espaços. O estudo procurou ainda

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1249
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

apresentar as ações de inter-relações de Bitita que joga com os sentimentos afetivos da


personagem, mostrando o quão vulnerável é a personagem sem a possibilidade de ser ouvida.
Diante de tudo que fora exposto, a obra de Carolina Maria de Jesus Diário de Bitita
(2014) se faz necessária enquanto objeto de estudo haja vista as grandes negociações sociais
que os contextos político, econômico e social representam no mundo globalizado. É urgente,
rediscutir as posturais de pensamento europeu em relação ao combate da subalternidade, tal
ação só se concretiza criando meios e mecanismos para que esse outro “periférico” seja
ouvido. E a literatura brasileira contemporânea apresenta alguns desses sujeitos que estão às
margens, jogados para fora do “centro civilizado”, e com seus afetos muitas vezes esmagados
por relações que imperam em determinados espaços.
Agradecimentos

Agradeço aos que contribuíram nesse caminhar, de forma direta ou indireta,


dedicando um pouco do seu tempo para contribuir com o nosso. Imensa gratidão aos colegas,
familiares e todos evolvidos nesse projeto, vamos continuar crescendo juntos. Sigamos apenas
com algumas paradas necessárias nesse desbravar a imensidão que envolve a literatura.
Referências

AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? e outros ensaios. tradutor Vinícius


Nicastro Honesko. Chapecó, SC: Argos, 2009. 92 p.
ALMEIDA, Sandra Regina Goulart. Mulheres tão diferentes que éramos: a escritora
contemporânea e as narrativas cosmopolitas na aldeia global. p. 12-2. In:
DALCASTAGNÈ, Regina, LEAL, Virginia Maria Vasconcelos. Deslocamentos de gênero na
narrativa brasileira contemporânea. São Paulo. Editora Horizonte, 2010.
ALMEIDA, Sandra Regina Goulart. Mobilidades culturais, geografias afetivas: espaço
urbano e gênero na literatura contemporânea. p. 15-39. In: DALCASTAGNÈ, Regina.
Espaço e gênero na literatura brasileira contemporânea. Org. Regina Dalcastagnè, Virgínia
Maria Vasconcelos Leal. Porto Alegre (RS): Zouk, 2015. 288 p.
DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um espaço contestado.
Vinhedo, Editora Horizonte, 2012.
DELEUZE, Gilles, PARNET, Claire. Diálogos. Trad. Eloisa Araújo Ribeiro, São Paulo,
Escuta, 1998, 184 p.
JESUS, Carolina Maria de. Diário de Bitita. São Paulo: SESI-SP editora, 2014. 208 p.
MASSEY, Doreen B. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. tradução Hilda
Pareto Maciel, Rogério Haesbaert. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2008. 312 p.
SPINOZA, Benedictus. Ética demonstrada em ordem geométrica. tradução Roberto
Brandão, [s.d], 76 p.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? tradução de Sandra Regina Goulart
Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2010. 133 p.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1250
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

PRISCILA ENQUANTO TRADUÇÃO DO CONTO


METZENGERSTEIN, DE EDGAR ALLAN POE

Marina Mirelhe Gomes1; Emílio Soares Ribeiro2.

Palavras-chave: Gótico. Adaptação fílmica. Televisão.

Introdução

Na contemporaneidade, observa-se um crescimento de trabalhos acerca da


relação entre obras literárias e o cinema ou a televisão. Muitos estudos buscam fugir de
análises unilaterais entre cinema e literatura e procuram relacionar adaptação fílmica a
concepções de tradução que evitam o caráter prescritivo e que valorizam o papel dos
tradutores.
Para a presente pesquisa, selecionamos como corpus o conto Metzengerstein
(1832), do escritor Edgar Allan Poe, e sua adaptação Priscilla, episódio da série televisiva
brasileira Contos do Edgar (2013), produzida por Fernando Meirelles, dirigida por Pedro
Morelli e transmitida pela FOX.
O trabalho, assim, tem como objetivo geral analisar a tradução do conto de Edgar
Allan Poe para a série televisiva brasileira Contos do Edgar, voltando-se para a
investigação de como se dá a construção dos aspectos góticos no conto Metzengerstein e
para o estudo de como o episódio Priscilla traduz o gótico do referido conto, ao mesmo
tempo em que dialoga com o contexto brasileiro contemporâneo, em especial, com o
universo urbano e suburbano da cidade de São Paulo. O trabalho também busca auxiliar
na crítica cinematográfica, os estudiosos da literatura e do cinema/televisão, assim como
os leitores e espectadores em geral a compreender e analisar os diálogos entre literatura e
cinema/televisão.

Metodologia

A presente pesquisa foi qualitativa, de caráter analítico-descritivo.


Primeiramente, partindo do pressuposto de que a tradução fílmica de uma obra escrita
produz signos que traduzem os signos literários cinematograficamente, acrescentado
outras marcas, fez-se a leitura e discussão das teorias de tradução com enfoque no
processo tradutório, não no produto, mais especificamente estudos de autores como
Arrojo (2003), Rodrigues (2000) e Vieira (1996). Também fez-se um estudo de teorias
referentes à relação entre cinema e literatura, e as peculiaridades de cada sistema sígnico,
com base em autores como Stam (2000 e 2005), Julie Sanders (2006), Thomas Leitch
(2007 e 2008), Linda Hutcheon (2013) e Deborah Cartmell (2015).
Posteriormente, para se compreender a natureza da literatura gótica, fizeram-se
estudos na área, mais especificamente sobre a literatura de Edgar Allan Poe, a partir de
autores como Lovecraft (2008) e Vasconcelos (2002). Em seguida, houve a leitura do

1
Marina Mirelhe Gomes é graduanda do curso Letras-Inglês do Departamento de Letras Estrangeira - DLE
da Universidade do Rio Grande do Norte. E-mail: marinagomes014@gmail.com.
2
Professor do Departamento de Letras Estrangeiras e do Programa de Pós-graduação em Ciências da
Linguagem, da UERN; Membro do Grupo de Estudos da Tradução e do Grupo de Estudos do Gótico; e-
mail: emilioribeiro@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1251
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

conto Metzengerstein, de Edgar Allan Poe, a partir da qual foi feita a análise acerca dos
aspectos góticos na obra.
Fez-se também a leitura e a discussão de questões sobre o cinema,
fundamentadas em teóricos da linguagem cinematográfica, como Martin (2003). Em
relação à adaptação Priscila, fez-se uma descrição detalhada das sequências de plano, da
movimentação de câmera, do som e da iluminação das cenas que traduzem os aspectos
góticos de cada conto. Analisaram-se os processos pelos quais os signos tradutórios são
construídos na tela do cinema. Logo depois, através de análise acerca do diálogo entre os
materiais literário e fílmico, investigou-se como o conto de Edgar Allan Poe em estudo e
o episódio Priscila da série televisiva brasileira Contos do Edgar constroem a literatura
gótica de Edgar Allan Poe, e quais as estratégias utilizadas pelo diretor dessas produções
fílmicas para traduzir tais aspectos do conto para a realidade brasileira do século XXI.

Resultados e discussões

No presente trabalho, analisamos os aspectos góticos do conto Metzengerstein


(1832), de Edgar Allan Poe, e sua adaptação para o episódio Priscila da série televisiva
Contos do Edgar (2013), produzida por Fernando Meirelles e dirigida por Pedro Morelli.
Na análise do conto, observaram-se os efeitos do terror manifestados no
personagem principal Frederico. Também se destaca o caráter sobrenatural que é
mostrado através da maldição que acontece com o personagem. Também levamos em
consideração a ambientação em que a história do conto se passa, a Hungria com seus
castelos e palácios, que são espaços típicos dos romances góticos.
Na análise da adaptação fílmica observamos uma ênfase no supernatural que é
mostrado através da maldição que acontece com o personagem Fred como um aspecto
gótico. Outro aspecto observado na adaptação foi ambientação em que a história se passa.
O castelo e palácio do conto de Poe foram traduzidos no subúrbio de São Paulo, com
ênfase em uma classe social menos prestigiada. Assim, na adaptação fílmica, observa-se
uma espécie de domesticação enquanto recurso para a tradução de termos e objetos e,
assim, para aproximar o espectador brasileiro para os dias atuais.

Conclusão

Na adaptação do conto para a televisão houve uma ênfase no sobrenatural, na


manifestação do horror e os efeitos desse horror no personagem principal Frederico/Fred.
Também foi observado na adaptação fílmica a ênfase no contexto de produção brasileiro
contemporâneo, em especial, o universo urbano e suburbano da cidade de São Paulo.
Dessa forma, com a pesquisa, entende-se que não houve uma preocupação com
a manutenção de sentidos do texto de Poe, mas a sua reescrita para um novo contexto,
adaptando-o a uma nova época, inclusive.
A pesquisa foi importante para maior entendimento acerca da adaptação fílmica
e do gótico, permitindo compreender os diálogos entre literatura e cinema/televisão.

Agradecimentos

Ao programa CNPq/PIBIC pela oportunidade de desenvolver pesquisa na


graduação. À UERN pela oportunidade da pesquisa acadêmica, pela infraestrutura e o
ambiente proporcionando.

Referências

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1252
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

AMORIN, Marcel Alvaro. Da tradução intersemiótica a teoria da adaptação


intercultural: estado da arte e perspectivas futuras. Itinerários, Araraquara, 2013.

ARROJO, R (Org.). O signo desconstruído: implicações para a tradução, a leitura e o


ensino. 2ª Ed. Campinas, SP: Pontes, 2003.

CARTMELL, Deborah. 100+ Years of Adaptations, or, Adaptation as the Art Form
of Democracy. In: CARTMELL, Deborah (Ed.). A Companion to Literature, Film, and
Adaptation. Oxford: Wiley-Blackwell, 2012. p. 1-13.

FRANÇA, Júlio. O horror na ficção literária: reflexão sobre o horrível como uma
categoria estética. São Paulo, 2008.

HUTCHEON, Linda. A Theory of Adaptation. 2. ed. New York: Routledge, 2013.

LOVECRAFT, H. P. O horror sobrenatural em literatura. Tradução de Celso M.


Paciornik. São Paulo: Iluminuras, 2008e.

PLAZA, J. Tradução intersemiótica. São Paulo: Perspectiva, 2001.

POE, Edgar Allan. Analogia de contos extraordinários. 2. ed. São Paulo: Best Seller;
Edição de Bolso, 2010.

RESUMOS. Metzengerstein (Edgar Allan Poe). Disponível em:


http://resumos.netsaber.com.br/resumo-106286/metzengerstein. Acesso em: 11 maio.
2020.

RODRIGUES, Cristina C. Tradução e diferença. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

STAM, Robert. Beyond Fidelity: The Dialogics of Adaptation. In NAREMORE, James.


Film Adaptation. London: The Athlone Press, 2000. p. 54-76.

VASCONCELOS, Sandra Guardene. Dez lições sobre o romance inglês do século


XVII. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002, p.118-135.

VIEIRA, E. André Lefevere: a teoria das refrações e da tradução como reescrita. In:
______ (Org.). Teorizando e contextualizando a tradução. Belo Horizonte: Faculdade de
Letras da UFMG, 1996. p. 138-150.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1253
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

REFERENCIAÇÃO E ARGUMENTAÇÃO: UMA ANÁLISE DA


ORIENTAÇÃO ARGUMENTATIVA EM NOTÍCIAS DE PORTAIS
ONLINE

Francisco Felipe de Oliveira Rocha1; Lidiane de Morais Diógenes Bezerra2


Palavras-chave: Linguística Textual. Processos referencias. Avaliação.
Introdução
O processo de referenciação é de fundamental importância para a construção de
sentidos do texto, o que é suficiente para torná-lo bastante caro à Linguística Textual. As
muitas pesquisas que vêm sendo desenvolvidas em torno do fenômeno nas últimas décadas
partem dos postulados iniciais de estudos como o de Mondada e Dubois (2003), que se opõem
à visão de língua segundo a qual há uma relação de correspondência preexistente entre as
palavras e as coisas. As autoras, indo na contramão dessa visão, advogam em favor da
instabilidade constitutiva das categorias usadas para descrever o mundo, as quais passam por
variações e mudanças sincrônicas e diacrônicas. Assim, para darem conta da dinamicidade do
processo pelo qual a língua refere o mundo, optam por substituir o termo “referência” – até
então utilizado para este fim – por “referenciação”. São por esses fundamentos básicos que
nos norteamos.
Partindo de uma definição que contemple as características centrais do fenômeno,
concebemos a referenciação, parafraseando Cavalcante (2013), como a efetuação, por parte
dos sujeitos, de operações dinâmicas com motivação sociocognitiva, realizadas no decorrer do
discurso e tendo como finalidade a elaboração das experiências vividas e percebidas,
construindo – de modo compartilhado – objetos de discurso indispensáveis, como dito acima,
para a construção dos sentidos do texto.
Além disso, ao concordarmos com Koch e Elias (2018) a respeito de o uso da
linguagem ser essencialmente argumentativo, por extensão, postulamos, assim como o fazem
diversos outros autores, que a referenciação cumpre funções argumentativas. Sendo assim,
neste trabalho, buscamos analisar a orientação argumentativa dos processos referenciais em
notícias de portais online, um gênero textual do domínio discursivo jornalístico que se propõe
a apresentar neutralidade.

Metodologia
Para o desenvolvimento das análises aqui efetuadas, utilizamos como corpus 43
notícias – coletadas entre dezembro de 2019 e junho de 2020 - de diversos portais online,
dentre eles, Uol, G1, Estadão, Yahoo!, MSN e R7. Sendo esta uma pesquisa qualitativa,
temos por finalidade a interpretação dos processos referenciais ligados à orientação
argumentativa nessas notícias. Como aporte teórico, valemo-nos das contribuições de Alves
Filho e Costa Filho (2013), Cavalcante (2013), Cavalcante, Custódio Filho e Brito (2014),
Koch e Elias (2018) e Mondada e Dubois (2003).
Nos encontros da pesquisa, a princípio, lemos e discutimos capítulos do trabalho de
Koch e Elias (2018), leitura esta posteriormente complementada pelas demais obras já citadas,
que constavam na bibliografia do projeto de pesquisa. Em seguida, coletamos e realizamos

1
Estudante do curso de Letras (Habilitação em Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas, do
Departamento de Letras Vernáculas (DLV), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e-
mail: felopeoliveira.rocha@gmail.com.
2
Professora do Departamento de Letras Estrangeiras (DLE), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(UERN); membro do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino de Texto (GPET); e-mail:
lidianemorais@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1254
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

uma pré-análise dos textos que constituiriam o corpus para, por fim, concluirmos a análise
final aqui presente. Como critério principal para a seleção das notícias, optamos por priorizar
aquelas que, de um modo ou de outro, melhor representam a relação entre os processos
referenciais e a argumentação.

Resultados e discussão
Chegando, finalmente, à análise e discussão dos processos referenciais nos textos
coletados – que é o foco deste tópico -, iniciamos por dizer que, de acordo com Alves Filho e
Costa Filho (2013), é comum notar-se a geração de efeitos de imparcialidade e objetividade
referencial em notícias de jornais impressos (o mesmo, evidentemente, vale para as notícias
de portais online), “tática” esta a serviço da ideologia de neutralidade da imprensa, na busca
por “dar a entender que apenas se está apresentando objetivamente os referentes, sem emitir
juízo de valor acerca deles” (p. 190). É o que vemos no seguinte fragmento:

Depois de um período frio, o papa Francisco parece ter se reconectado com


a política argentina. Nesta sexta-feira, o Pontífice recebeu Alberto
Fernández em audiência no Vaticano e, segundo o presidente argentino,
mostrou disposição para apoiar seus compatriotas na renegociação da dívida
com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o maior problema econômico
da Argentina, que ameaça colocar o país à beira do desastre. (...) A reunião
entre os dois argentinos durou 45 minutos, exatamente o dobro do tempo
que Francisco compartilhou com o antecessor de Fernández, Mauricio
Macri, em 2016. (Disponível em:
https://brasil.elpais.com/internacional/2020-02-01/alberto-fernandez-diz-
que-o-papa-ajudara-na-renegociacao-da-divida-com-o-fmi.html. Acesso em:
01, fev. de 2020.)

A notícia, retirada do portal EL PAÍS e intitulada “Alberto Fernández diz que o Papa
ajudará na renegociação da dívida com o FMI”, versa sobre o encontro entre o papa e o
presidente argentino para a discussão de questões políticas. No trecho em destaque, temos
quatro referentes principais: o papa, introduzido pela expressão referencial “o papa Francisco”
e, logo em seguida, recategorizado - isto é, transformado - por “o Pontífice”; Alberto
Fernández, introduzido exatamente pelo nome próprio e recategorizado por “o presidente
argentino” – ambos são retomados, ainda, pela expressão “os dois argentinos”; além de
“Argentina” e “audiência no Vaticano”, mantidos em foco por “o país” e “A reunião”,
respectivamente.
Neste caso, observamos que o autor da notícia não toma partido explicitamente
acerca dos acontecimentos narrados ou da apresentação e manutenção dos referentes. Temos,
na verdade, expressões genéricas que indicam, por exemplo, a nacionalidade e o cargo
ocupado pelos referentes (no caso do papa e do presidente argentino), sem vestígios de juízos
de valor. Isso, no entanto, não faz com que o texto e os referentes sejam destituídos de
argumentação, uma vez que a “a neutralidade também é uma escolha, e isso, por si só, já
revela um trabalho do sujeito sobre o objeto” (CAVALCANTE, CUSTÓDIO FILHO e
BRITO, 2014, p. 31-32). Além disso, podemos analisar a orientação argumentativa deste
exemplo, ainda segundo o pensamento de Cavalcante, Custódio Filho e Brito (2014), por
outra perspectiva (que não exclui a opção pela neutralidade): a não repetição das expressões
referenciais funcionando como “recurso de elegância” ou “efeito estético”, já que “obedecer a
padrões estilísticos da escrita de um gênero [...] vale também como uma estratégia
argumentativa” (p. 113).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1255
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Em outros casos, vemos autores que não apenas apresentam e reapresentam os


referentes, mas tecem avaliações explícitas sobre eles. Como confirmação, tomemos o
seguinte trecho de uma notícia, coletada no portal G1, que relata a atitude de uma turma de
estudantes, a qual decidiu ajudar financeiramente – com o dinheiro que seria destinado à
formatura – no tratamento de saúde do filho da professora:

Uma turma de estudantes do ensino médio doou todo o dinheiro que juntou
para fazer a formatura para custear parte do tratamento do filho de uma
professora da Escola Estadual 14 de Fevereiro, em Pontes e Lacerda, a 483
km de Cuiabá. (...) Para a professora Lucilene Ezequiel a atitude dos alunos
surpreendeu e deu esperança para que ela continue exercendo a profissão
com amor. (...) Com a repercussão do ato de solidariedade, empresários da
região se reuniram e presentearam a turma com uma festa de formatura. (...)
Segundo a professora, o tratamento tem sido custeados por doações. Para
ela, entre todas as doações que a família recebeu, a que mais emocionou foi
o gesto de amor dos estudantes. (Disponível em:
https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2019/12/20/estudantes-doam-
dinheiro-de-formatura-para-pagar-tratamento-do-filho-de-professora-em-
mt.ghtml. Acesso em: 20, dez. 2019.)

Neste exemplo, destacamos a anáfora encapsuladora – cuja característica principal é


“resumir porções contextuais, isto é, o conteúdo de parte do contexto somado a outros dados
de conhecimentos compartilhados” (CAVALCANTE; CUSTÓDIO FILHO; BRITO, 2014, p.
78) - “a atitude dos alunos”, que resume a porção textual precedente sobre a contribuição
financeira dos alunos para o tratamento do filho da professora. Esse referente, por ser o tópico
central da notícia, permanecerá ativo durante todo o texto, sendo recategorizado, como em
destaque, por “o ato de solidariedade” e “o gesto de amor dos estudantes”. Essas duas
transformações evidenciam, através dos modificadores ou locuções adjetivas “de
solidariedade” e “de amor”, a avaliação positiva do autor do texto sobre o referente, e, sendo
essas formas nominais referenciais escolhas feitas em função de um projeto de dizer, como
nos dizem Koch e Elias (2018), contribuem para a orientação argumentativa.
No excerto seguinte, retirado também do portal G1, é noticiada a prisão equivocada
de um homem no lugar de seu irmão, em razão da semelhança dos nomes. A apresentação e a
transformação dos referentes cumprem efeitos de sentido interessantes, além de marcar
explicitamente a tomada de posição do autor da notícia. Vejamos:

Não era para ter deixado que eu passasse dois anos preso sem ter feito nada.
O que eu passei eu jamais vou esquecer na minha vida". A declaração é do
agricultor Eldis Trajano da Silva, de 36 anos, que passou dois anos e três
meses preso no lugar do irmão, Eudes Trajano da Silva. Eldis - com L -
foi preso em 2017. O erro só foi corrigido no último dia 9 de dezembro,
quando ele foi solto. (...) Os policiais estavam atrás de Eudes, com “u” no
início e “e” no final, irmão dele. (...) Eudes, com U, o verdadeiro
culpado, tinha sido preso em Canguaretama, por outro crime, com uma
identidade falsa com nome de Francisco de Assis. (...) Depois de quase um
ano preso, Eldis - o inocente - veio transferido para uma penitenciária que
fica em Ceará-Mirim, na região metropolitana de Natal. (Disponível em:
https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2019/12/29/jamais-vou-
esquecer-diz-homem-que-ficou-2-anos-preso-por-engano-no-lugar-do-
irmao-no-rn.ghtml. Acesso em: 29, dez. 2019.)

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1256
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Os referentes principais do texto – Eldis e Eudes – são introduzidos,


respectivamente, pelas expressões referenciais “o agricultor Eldis Trajano da Silva, de 36
anos” e “o irmão, Eudes Trajano da Silva”. Em seguida, o primeiro é mantido em foco por
“Eldis – com L” e recategorizado por “Eldis – o inocente”, enquanto o segundo é reativado
por “Eudes, com „u‟ no início e „e‟ no final, irmão dele” e “Eudes, com U, o verdadeiro
culpado”. Essa opção por ressaltar algumas das letras que compõem um e outro nome (“l” e
“i”/”u” e “e”) é fundamental para a construção dos referentes, uma vez que foi precisamente a
semelhança entre ambos que causou o equívoco, resultando na prisão do homem errado. Tal
semelhança poderia, evidentemente, confundir também o leitor, não fosse o cuidado do
produtor do texto de, sequencialmente, destacar as diferenças gráficas. Além disso, vemos a
manifestação do ponto de vista do autor da notícia nas anáforas recategorizadoras “Eldis – o
inocente” e “Eudes, com U, o verdadeiro culpado”, bem como no encapsulamento anafórico
“o erro”, que, a despeito de não ter um modificador em sua composição (é constituído apenas
pelo determinante e pelo nome), apresenta carga axiológica considerável.
A partir dessas observações, vemos que os autores de notícias de portais online
valem-se de estratégias argumentativas para o empreendimento de construir e reconstruir os
referentes, isto é, para o processo de referenciação, o que vai na contramão da suposta
imparcialidade da imprensa.

Conclusão
Como os resultados e discussões deste trabalho apontam, há uma relação bastante
estreita entre o processo de referenciação e a argumentação. Tal relação manifesta-se mesmo
num gênero que se propõe a apresentar neutralidade, como é o caso da notícia, seja pela
avaliação explícita do produtor do texto, seja pela opção pela “neutralidade”, ou, ainda, pela
obediência a padrões de estilo do gênero. Portanto, as notícias de portais online, ao contrário
do que se pode pensar, não são destituídas de orientação argumentativa.

Agradecimentos
Agradeço pela oportunidade de participar do Programa Institucional de Iniciação
Científica (PIBIC) da UERN que, enormemente, contribuiu para meu desenvolvimento
acadêmico. Agradeço, ainda, pela bolsa concedida, a qual foi fundamental para a realização
das atividades.

Referências

ALVES FILHO, F.; COSTA FILHO, J. N. S. A construção referencial de contraventores


sociais ricos e pobres em notícias. In: CAVALCANTE, M. M.; LIMA, S. M. C. (orgs).
Referenciação: teoria e prática. São Paulo: Cortez Editora, 2013.

CAVALCANTE, M. M. Os sentidos do texto. São Paulo: Editora Contexto, 2013.

CAVALCANTE, M. M.; CUSTÓDIO FILHO, V.; BRITO, M. A. P. Coerência,


Referenciação e Ensino. São Paulo: Cortez, 2014.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Escrever e argumentar. São Paulo: Contexto, 2018.

MONDADA, L.; DUBOIS, D. Construção dos objetos de discurso e categorização: uma


abordagem dos processos de referenciação. Tradução de Mônica Magalhães Cavalcante. In:
CAVALCANTE, M. M.; RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (Orgs.). Referenciação. São
Paulo: Contexto, 2003, p. 17-52.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1257
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

SENTIDOS DA PAIXÃO: UMA ANÁLISE DA VIOLÊNCIA EM


CONTOS DE CLARICE LISPECTOR

SILVA, Ranyele da 1
PEREIRA, Francisco Afrânio Câmara 2
Palavras-chaves: Clarice Lispector. Escrita feminina. Paixão. Violência.

Introdução

Este projeto teve como base de pesquisa a análise de duas coletâneas de contos da
autora Clarice Lispector, cujo objetivo geral foi analisar as relações entre a paixão e a
violência em contos dos livros Laços de família e A Via Crucis do corpo, como representação
ficcional das estruturas de dominação às quais as mulheres são submetidas, com ênfase nas
relações amorosas. A autora possui uma escrita marcada por propor diversas reflexões em
seus textos acerca da condição da mulher, expondo, muitas vezes, uma forte crítica voltada
para as estruturas sociais e familiares, em que a problemática do feminino é pertinente, haja
vista que a família e a sociedade determinam condições específicas para as mulheres.
Em Laços de família é possível observar aspectos da violência na narrativa clariciana,
que são colocados dentro das relações familiares e ocasionam uma espécie de (auto)
violência, pois o exterior fere a condição feminina, e por esta ser “dominada” por algumas
estruturas, a violência passa a ocorrer dentro de si, para que o outro não seja ferido. Em
contrapartida, na obra A Via Crucis do corpo a autora traz um outro prisma, já que a constante
introspecção apontada pela crítica como comum em sua obra, não é nítida nesta, e a violência
aqui é colocada a partir de questões do corpo e sobre ele, em razão de, na coletânea, ser
possível constatar questões sobre adultério, desejos reprimidos, homossexualidade,
prostituição, estupros e até assassinato.
Assim, esta pesquisa justifica-se a partir da relevância em se discutir a violência à qual
é submetida a mulher nas relações familiares, ou nos sistemas mais amplos de opressão social,
que é representada, na obra de Clarice, a partir da sua inquietação com os impasses das vidas
das mulheres, tal como os poderes a que elas têm acesso.

1
Graduanda em Letras Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas, do Campus Avançado de Assu -
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). silvaranyele2@gmail.com
2
Docente do curso de Letras Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas. Chefe do Departamento de Letras
Vernáculas do Campus Avançado de Assu – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Doutor em
Estudos da Linguagem, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, com área de concentração
em Literatura comparada.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1258
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A vigente pesquisa é de natureza interpretativa e configura-se no estudo do aspecto


temático das obras. Foram empregados o método hipotético-dedutivo e as técnicas de
pesquisa documental e de levantamento bibliográfico para a análise das obras selecionadas,
além da utilização de elementos de análise e crítica literária, tendo como corpus contos
selecionados das obras Laços de família (2009) e A Via Crucis do corpo (1998).
Em Laços de família foram selecionados sete dos treze contos da coletânea: “Devaneio
e embriaguez duma rapariga”; “Amor”; “A imitação da rosa”; “Preciosidade”; “Os laços de
família” e “O búfalo”. Em A Via Crucis do corpo foram nove dos catorze contos: “Miss
Algrave”; “O corpo”; “Ele me bebeu”; “Ruído de passos”; “Antes da ponte Rio-Niterói”;
“Praça Mauá”; “A língua do P”; “Melhor do que arder” e “Mas vai chover”.
Como aporte teórico, trabalhamos com Cortazar (2008), no tocante ao gênero conto;
Candido (2006), para tratar de literatura e suas influências sociais; Peixoto (2004), para
abordar a violência presente na obra de Clarice; Beauvoir (1967), referente aos estudos sobre
gênero; dentre outros nomes que foram essenciais para que esta pesquisa fosse bem
fundamentada.

Resultados e discussões

Após leituras, interpretações, análises e publicação de um artigo, esta pesquisa aponta


que as relações sociais e familiares interferem diretamente na construção das personagens,
ocasionando uma dualidade entre paixão e violência, bem como corroboram e influenciam
para que os discursos sobre gênero e sexualidade operem diretamente na construção social do
ser mulher e do “papel” do corpo feminino, que é apresentado na escrita de Lispector sob um
olhar crítico referente à sociedade patriarcal.
Foi possível identificar as representações da violência nos textos e suas relações na
construção das personagens, conforme aponta Peixoto (2004, p. 82):

A família como contexto para o desenvolvimento da mulher nos contos de Lispector


é, pois, apresentada, a um só tempo, como positiva e negativa. Embora proporcio ne
às mulheres a satisfação de laços afirmativos, também as restringe ao papel
subordinado de atender as necessidades dos outros e as priva de um exercício at iv o
na busca de realização dos seus desejos pessoais.

Assim, em Laços de família é perceptível que o contexto familiar interfere diretamente


na construção do eu mulher das personagens, pois estas permanecem presas em uma espécie
de “bolha” que as privam de viver o que a vida pode conceder, e essa bolha é justamente a
esfera familiar, as relações amorosas que são proporcionadas pela família e que a sociedade
patriarcal prega ser o ideal para uma mulher. Entretanto, quando as personagens passam pelo

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1259
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

processo de epifania, automaticamente fogem daquilo que é imposto e pregado sobre o que é
ser “a mulher ideal” e passam a buscar seus próprios desejos.
Em contrapartida, em A Via Crucis do corpo as personagens femininas são
apresentadas com mais ousadia, que vivem e buscam seus desejos, principalmente os
referentes ao corpo, mas que são reprimidas pelos diversos contextos sociais que apontam as
regras do que é “correto”. Pois, em uma sociedade patriarcal, as estruturas que podem
dominar são todas aquelas em que a mulher é silenciada, e ainda que sinta a necessidade de
falar, Clarice mostra o que a violência exterior ocasiona no interior das personagens, e por que
a interferência das relações amorosas constrói o que vem a ser chamado de paixão.
A paixão é, muitas vezes, apresentada nos contos como sendo vital para as relações
amorosas, alimento nos contextos afetivos, mas que por ser colocada pelas personagens
muitas vezes em primeiro plano, a escrita de Clarice Lispector aponta para a violência
simbólica que, de acordo com Bonnicci (2005, p.185),

Personagens femininas tradicionalmente construídas como submissas, dependentes,


econômica e psicologicamente do homem, reduplicando o estereótipo patriarcal,
passam, paulatinamente, a ser engendradas como sendo conscientes de sua condição
de inferioridade e como capazes de empreender mudanças em relação a esse estado
de objetificação. [...]

Com isso, é possível observar que “os sentidos da paixão” são colocados nos contos
como diversas maneiras de justificativas para a violência, principalmente a simbólica, que é
específica de uma sociedade patriarcal dominada por homens. Beauvoir (2019, p. 361 - 362)
aponta que “é muito difícil para uma mulher agir em nível de igualdade com o homem
enquanto essa igualdade não for universalmente reconhecida e concretamente realizada”.
Desse modo. a construção das personagens dos contos analisados aponta para a divergência
de personalidades, mas também apresentam a forte igualdade entre elas no que se refere à
violência simbólica, à desigualdade social entre homem e mulher, à submissão feminina, entre
outras questões identificadas em todas as narrativas analisadas.
Considerações Finais
Diante das leituras, discussões e análises realizadas ao longo do projeto, é nítida a
relevância que a literatura possui em relação às diversas discussões sociais e educacionais.
Para tanto, pôde-se perceber a forte influência e crítica que a escrita de Clarice Lispector traz
em relação à situação que a figura feminina é submetida na sociedade. Nesse sentido, é
notório como as relações entre paixão e violência presentes nos contos selecionados
representam as estruturas de dominação a que as mulheres estão submetidas.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1260
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Agradecimentos

Sendo esta uma pesquisa que contribuiu inteiramente para o meu desenvolvimento
crítico e acadêmico, deixo aqui os meus sinceros agradecimentos à Pró-Reitoria de Pesquisa e
Pós-Graduação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (PROPEG/UERN), ao
Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC), à Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (UERN), ao CNPq por ter financiado o início deste valioso projeto de
iniciação científica e, além disso, não poderia deixar de expressar a minha gratidão à Profª.
Drª. Lílian de Oliveira Rodrigues, pela criação do projeto, e ao Prof. Dr. Francisco Afrânio
Câmara Pereira, por assumir a pesquisa. E, ainda, à minha colega Joyce Caroline de Sousa,
por ter contribuído na construção do artigo publicado a partir das pesquisas realizadas neste
projeto.

Referências

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo; v. 2. A experiência vivida, 5. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2019.
BONNICI, Zolin, L. O. (org.) Teoria Literária: abordagens históricas e tendências
contemporâneas, 2.ed. Maringá: Eduem, 2005.
CÂNDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
COMISSÁRIO, Ana Paula Pereira. Uma leitura sobre o corpo feminino em a via crucis do
corpo, de Clarice Lispector. Dissertação (Mestrado Estudos da Linguagem) Universidade
Federal do Rio Grande do Norte: Natal, 2018.
CORTÁZAR, Júlio. Valise de cronópio. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1993.
LIMA, Luis Costa. “A mística ao revés de Clarice Lispector”. In: Por que Literatura.
Petrópolis: Vozes, 1969.
LISPECTOR, Clarice. Laços de família. Rio de Janeiro: Rocco, 2009.
LISPECTOR, Clarice. A via crucis do corpo. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
NUNES, Benedito. O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. São Paulo:
Ática, 1989.
NUNES, Benedito. A Paixão de Clarice Lispector. In: Os Sentidos da Paixão. Sérgio
Cardoso et al. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
NUNES, Benedito. O mundo imaginário de Clarice Lispector. In: O Dorso do Tigre. São
Paulo: Perspectiva, 1969.
PEIXOTO, Marta. Ficções Apaixonadas: gênero, narrativa e violência em Clarice Lispector.
Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Vieira & Lent, 2004.
REGUERA, Nilze Maria de Azevedo. Clarice Lispector e a encenação da escritura em A
via crucis do corpo. São Paulo: Editora UNESP, 2006.
RODRIGUES, Lílian de Oliveira. Clarice através do espelho. Dissertação (Mestrado em
Comunicação e Semiótica) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo: São Paulo, 1997.
SÁ, Olga de. A Travessia do Oposto. São Paulo: Annablume, 1993.
SÁ, Olga de. A Escritura de Clarice Lispector. 2ª ed. Petrópolis: vozes/PUC-SP, 1993ª
XAVIER, Elódia. Reflexões sobre a narrativa de autoria feminina. In: XAVIER, Elódia.
Tudo no feminino: a presença da mulher na narrativa brasileira contemporânea. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1991.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1261
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E EDUCAÇÃO

Antônia Maíra Emelly Cabral da Silva Vieira 1;


Ana Karina da Silva Xavier Bezerra 2;
Atawanny Glaicy da Silva 3;
Elda Silva do Nascimento Melo4;
Hemylia Johelen Souza Medeiros 5;
Monique Wanderley de Macêdo6;
Nalígia Maria Bezerra Lopes7.

Palavras-chave: Formação docente. Estado da arte. Pesquisa.

INTRODUÇÃO
A Teoria das Representações Sociais (TRS), formulada por Serge Moscovici (1978),
proporciona novas perspectivas de pesquisas com base em estudos sobre o homem e os saberes
do senso comum, no contexto das suas representações sobre a realidade. As Representações
Sociais se configuram, então, como um modelo simbólico e significativo da realidade social, o
que torna as pesquisas das TRS relevantes para o campo da educação, uma vez que, possibilitam
reconhecer o universo simbólico que envolve o contexto educacional.
As representações sociais contribuem para formar e forjar comportamentos “elas nos
guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os diferentes aspectos da realidade diária,
no modo de interpretar esses aspectos, tomar decisões e, eventualmente, posicionar-se frente a
eles de forma defensiva’’ (JODELET, 2001, p. 17)”. Por outro lado, as representações sociais
têm como ponto de partida também a diversidade dos indivíduos, atitudes e fenômenos em toda
sua estranheza e imprevisibilidade (MOSCOVICI, 1978). Assim, as representações sociais se
constitui como uma forma de conhecimento social, assim sendo, atuam na realidade orientando
comportamentos a partir do senso comum (MOSCOVICI, 1978).
Sobremaneira, ao compreender como algo dinâmico, as representações tornam
acessíveis a circulação de discursos, linguagens, conceitos e condutas de fontes distintas, que
compõem as subjetividades dos agentes sociais.
As representações sociais acrescentam à realidade, imagens e significados , tendo em vista que
auxilia de forma direta na percepção sobre o mundo e as coisas, o que reflete em suas ações
concretas, no tocante as suas ações.

1 Professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio grande do norte -UERN, membro dos grupos de
pesquisa Núcleo de Pesquisa em Educação-NUPED e do grupo de estudo e pesquisa educação e Linguagens-GEPEL; E-mail :
antoniamaira@uern.br
2 Estudante do curso de Pedagogia, do departamento de educação, campus Assu-CAWSL, da Universidade do Estado do Rio

Grande do Norte; e-mail: anakarinasilvaxavierbezerra@gmail.com


3 Estudante do curso de Pedagogia, do departamento de educação, campus Assu-CAWSL, da Universidade do Estado do Rio

Grande do Norte; e-mail: atawannysouza2.0@gmail.com


4 Professora do centro de Educação, Departamento de Práticas Educacionais e Currículo da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte-UFRN; Membro do grupo de pesquisa Educação e Representações Sociais e o grupo Escola Contemporânea e
Educação- ECOS. E-mail: eldasnmelo@hotmail.com
5 Estudante do curso de Pedagogia, do departamento de educação, campus Assu-CAWSL, da Universidade do Estado do Rio

Grande do Norte; e-mail: hemylia.hm@gmail.com


6 Estudante do curso de Pedagogia, do departamento de educação, campus Assu-CAWSL, da Universidade do Estado do Rio

Grande do Norte; e-mail: moniiquemacedo@hotmail.com


7 Professora do departamento de Educação, campus Assu-CAWSL, da Universidade do Estado do Rio grande do norte -UERN,

membro do grupo de pesquisa Núcleo de Pesquisa em Educação-NUPED; e-mail: naligiabezerra@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1262
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Assim sendo, buscamos com esse estudo realizar um levantamento bibliográfico sobre
a teoria das representações sociais como aporte teórico- metodológico em pesquisas em
educação e, ainda, compreender o surgimento, conceito e áreas de abrangência das
representações sociais como fenômeno e teoria.

Metodologia

O referencial teórico dessa investigação pauta-se em estudos sobre a Teoria das


representações sociais a partir de autores como: Moscovici (1978, 2012), Jodelet (2001),
Guareschi & Jovchelovitch (2013), Nobrega (2001), Sousa; Bôas; Novaes (2014) e Sá (1998).
O percurso metodológico é de abordagem qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994) sob a égide
de uma pesquisa bibliográfica (OLIVEIRA, 2014) e levantamento da literatura (LAVILLE &
DIONNE, 1999).
Durante o período de realização do projeto realizamos pesquisas de estado da arte com
vistas a fazer um levantamento dos trabalhos publicadas no programa de Pós-graduação em
Educação (PPGED/UFRN), no período de 2009-2019, no acervo da biblioteca digital da
Universidade Federal da Paraíba -
UFPB; da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, no período de 2011-2017, e
ainda, no Repositório Institucional da UFPB, selecionando trabalhos entre o período de 2009 a
2019.
De acordo, com as autoras Vieira e Melo (2014, p. 04) o estado da arte nos “permite
categorizar, analisar e refletir acerca das publicações como teses, dissertações e artigos, a fim
de perceber enfoques e perspectivas inerentes à necessidade do pesquisador”. Com base nisso,
entendemos que essa foi a melhor forma para conhecer as pesquisas realizadas a partir da Teoria
das Representações Sociais e temas emergentes à área da educação. Nessa etapa o grupo
realizou levantamento de dados sobre três temáticas de pesquisa diferentes, a saber:
Representações sociais e formação docente, representações sociais e o ser professor na
educação infantil e representações sociais e educação ambiental.
No que tange as representações sociais de formação docente selecionamos os trabalhos
na biblioteca digital do Programa de Pós Graduação em Educação (PPGED) da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Para tanto, fizemos um recorte temporal e
delimitamos um período de dez anos, 2009-2019, nesse momento encontramos 6 teses e 7
dissertações. Como palavras de busca utilizamos representações sociais e formação docente. A
coleta de dados aconteceu a partir das leituras dos resumos e, alguns casos, até a leitura
completa da obra. Mediante as reflexões apresentarmos os resultados.
Sobre representações sociais e o ser professor na educação infantil o levantamento foi
feito a partir do acervo da biblioteca digital da Universidade Federal da Paraíba -
UFPB e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, no período de 2011-2017,
somando o total de 04 trabalhos científicos, que indicam em seu título o uso das seguintes
palavras: representações sociais e ser professor na educação infantil. Os trabalhos inicialmente
foram selecionados por seu título, seguido da leitura dos resumos, e, para melhores
constatações, realizamos a leitura do desenvolvimento do trabalho. Nesse levantamento
encontramos 02 (duas) teses, 01 (um) monografia e 01 (uma) dissertação.
Ao analisar trabalhos sobre as Representações Sociais e Educação Ambiental (EA) no
âmbito escolar, tivemos como principais fontes de consulta o Repositório Institucional da UFPB
e no banco de Periódicos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Por meio destes
selecionamos trabalhos publicados entre o período de 2009 a 2019. Os trabalhos foram
selecionados pelo objeto de estudo que contemple representação social de educação ambiental,
depois foi feita a leitura dos resumos e elaboração das sínteses.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1263
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultados e discussões

A partir dos trabalhos analisados sobre as representações sociais e formação docente


percebemos que a teoria permite enxergar a articulação dos elementos constitutivos da profissão
docente, ao mesmo tempo que possibilita compreender como os professores pensam as práticas
pedagógicas e a formação continuada. Com base nisso, os trabalhos pautam-se na ideia que
“[...] pessoas e grupos, longe de serem receptores passivos, pensam por si mesmos, produzem
e comunicam incessantemente suas próprias e especificas soluções as questões que eles mesmos
colocam” (MOSCOVICI, 2012, p. 45). Para tanto, os pesquisadores empreendem esforços para
identificar a representação social de docência por professores e licenciados, com intuito de
problematizar questões que envolvem a profissão docente, tais como: identidade, organização
do trabalho pedagógico, desafios e dificuldades da profissão. Confirmamos, ainda, que as
pesquisas foram conduzidas por dois vieses, que se encontram relacionados, a teoria das
representações (MOSCOVICI, 1978) e a Praxiologia (Pierre Bourdieu).
As metodologias utilizadas nas dissertações e teses utilizam-se de instrumentos de
análise como: Teste de Associação Livre de Palavras (TALP), procedimentos de Classificação
Múltipla (PCM), Softwares EVOC, Excel, questionários, entrevistas semiestruturadas, análises
de conteúdos Bardin (2011), Observação in loco, analises multe dimensionais (MDS) análises
de menores espaços (SSA).
O que pudemos identificar é que os resultados dos trabalhos trazem muitas discussões
acerca da docência, como compreender e apreender o universo simbólico do ensinar e ser
professor. Assim, a teoria dar suporte para compreender as especificidades acerca da identidade
docente, do ser professor, contudo enfatizamos que tais análises ampliam as discussões no
âmbito educacional.
No que tange as representações sociais e educação ambiental, as produções ainda são
incipientes, mas muito importantes para a área. Os trabalhos considerados buscam
principalmente analisar as representações sociais de professores e/ou alunos em relação as
problemáticas ambientais. Quanto aos enfoques metodológicos, foi identificado apenas um
enfoque de pesquisa: a) Enfoque Qualitativo: estudos que levam em consideração aspectos
inter-relacionados dos objetos e do contexto pesquisado (SANTOIRE, 1999 apud SAUVÉ,
2000). Além disso, para realização das pesquisas foram utilizados mais de um instrumento de
coleta e análise dos dados como: análise de documentos (ex: Projeto Político Curricular - PPC),
análise das práticas pedagógicas desenvolvidas dentro da sala de aula, interpretações da
produção de desenhos e livros didáticos; entrevistas e questionários e o uso do Software
ATLAS.ti v.7.0.92. da empresa ATLAS.ti: Quality Software Developed bem como, análise de
conteúdo categorial temática.

Quadro 1 – Representações sociais e educação ambiental


Título da dissertação Autor Objetivo Metodologia
Do Timor-Leste a Paraíba: Ana Jesuína Analisar a percepção ambiental e Qualitativa.
Percepção Ambiental e as Fernandes de as representações sociais de Aplicação de
representações sociais de Jesus meio ambiente de professores e questionários aos
meio ambiente de educandos do ensino médio de professores e
professores e educandos do escolas públicas do Timor-Leste educandos de
ensino médio. e Paraíba. Timor-Leste e
Paraíba.
Da formação à prática do José Adriano Análise das representações Qualitativa.
professor de biologia: Cavalcante sociais acerca da formação em Debates.
representações sociais e Ângelo EA dos Estudantes de
docência em educação Licenciatura em Ciências
ambiental. Biológicas da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1264
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

As representações sociais de Eliane Maria As representações Sociais de Qualitativa.


aluno do ensino Barbosa de Meio ambiente dos alunos do Aplicação de
fundamental sobre meio Mendonça ensino fundamental e a questionários,
ambiente e a questão abordagem dos livros didáticos rodas de
ambiental nos livros sobre esta temática. conversas e
didáticos da Geografia. produção de
desenhos.
Fonte: Elaborado pelas autoras

Os resultados apontam para a necessidade de adequações que venham atender as novas


demandas de uma formação docente, preocupada em integrar uma sociedade mais sustentável
a partir da educação ambiental.

Quadro 2: Representações sociais e docência na Educação Infantil

TIPO / IDENTIFICAÇÃO. FUNDAMENTAÇÃO PROCEDIMENTOS


TEMATICA TEÓRICA METODOLÓGICOS
TESE: A docência Programa de Pós- Teoria das Representações a teoria do Núcleo Central
na educação graduação em Sociais de Moscovici (2003), (ABRIC,2000). Uso da TALP que
infantil: educação, Centro de Jodelet (2001); Especificidades foram submetidas a um
representações Educação da do Trabalho docente na tratamento com o auxílio do
sociais dos Universidade Educação Infantil: Kramer software EVOC (2000),
professores Federal do Rio (2002; 2006); Oliveira- identificando o núcleo central.
cursistas do Grande do Norte- Formosinho (2007); Zilma de
proinfantil do Natal/RN. Oliveira (2007), Formação
Estado do Rio Docente: Ramalho, Nuñez e
Grande do Norte Galthier (2003) e Tardif e
sobre o trabalho Lessard (2008), Análise de
docente. UFRN. conteúdo: Bardin (2004).
TESE: Habitus,PPGED - Doutorado Modelo desenvolvido por observação participante;
representações em Educação, Domingos Sobrinho (1998, entrevista semiestruturada;
sociais e aUniversidade 2000, 2003, 2010, 2011), que associações livres de palavras
construção do ser Federal do Rio articula a Teoria das (TALP); e questionário
professora da Grande do Norte Representações Sociais, de semiestruturado. Os dados foram
educação infantil Serge Moscovici, e os analisados, conforme proposta de
da cidade de fundamentos e conceitos da Bauer (2010); as associações-
Campina Grande – Praxiologia de Pierre Bourdieu. livres, por meio do software
PB. UFRN Fundamenta-se, também, na EVOC; e os dados do
Natal/RN. Teoria do Núcleo Central, cujo questionário, pelo software
enfoque é a abordagem Statistical Package for the Social
estrutural. Sciences (SPSS).
DISSERTAÇÃO: Centro de Educação Teoria das Representações Realizaram Associação Livre de
Representações (CE), Programa de Sociais Serge Moscovici Palavras (TALP), entrevista
sociais sobre Pós-Graduação em (1960), semiestruturada, Para o
docência na Educação da A representação social da tratamento dos dados, utilizamos
educação infantil Universidade psicanálise Serge Moscovici o software EVOC e ALCESTE.
na interface com a Federal da Paraíba. (1978).A formação em
política de pedagogia para a docência na
formação de educação infantil Oliveira
professores. (2007)
MONOGRAFIA: Universidade Moscovici (1961, 1978, 2001, A pesquisa de campo teve caráter
Representações Federal da Paraíba. 2003), Jodelet (2001), Ibañez exploratório de cunho qualitativo.
sociais acerca da Departamento de (1988), Arruda (1998), Sá instrumento de coleta de dados:
afetividade educação. (1998) e vários artigos, questionário semiestruturado.
elaborada pelos dissertações e teses, num
professores de recorte mais particular
educação infantil.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1265
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Fonte: Elaborado pelas autoras

Após a organização e análise dos dados, percebemos que para tratar sobre a teoria das
representações sociais os principais referenciais teóricos utilizados nas pesquisas foram
Moscovici (1978) que aponta a implicação da interação entre o individual e o social, construídas
na realidade. Encontramos ainda os estudos de Jodelet (2001) que apresenta a TRS como uma
forma de conhecimento social elaborados na coletividade como conhecimento do senso comum
que são guias de ação.

Considerações finais

O estudo nos possibilitou visualizar de que maneira a teoria das representações sociais
são empregadas como aporte teórico-metodológico em trabalhos e pesquisas acadêmicas. Sobre
isso, destacamos a finalidade de compreender as ações educativas cotidianas, considerando os
conhecimentos do senso comum como contribuição para a construção do conhecimento
científico, o que permite o estreitamento entre as teorias educacionais e as práticas vivenciadas.
Tal estreitamento viabiliza o conhecimento da realidade educacional em determinado
meio e possibilita o apontamento de possíveis soluções para ações concretas. Dessa forma os
estudos em representações sociais na área educacional podem orientar novas pesquisas sobre
aspectos que podem interferir no funcionamento institucional, no desenvolvimento e
aprendizagem dos sujeitos.
Com o projeto, conseguimos reconhecer a aplicabilidade da teoria em pesquisas sobre
formação de professores e educação, ampliando o olhar das estudantes para novos objetos de
estudos e possíveis relações da TRS com trabalhos já realizados em outros espaços de atuação
dentro e fora da Universidade. Constatamos, ainda, que o projeto contribuiu para ampliar a
formação cientifica das discentes, trazendo reflexões para trabalhos futuros, dentre eles
pesquisas monográficas no curso de Pedagogia e artigos científicos com base empírica com uso
de aspectos metodológicos próprios da TRS.

Referências bibliográficas

BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à


teoria e aos métodos. Porto: Porto, 1994.

JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão. In: (org.). As


representações sociais. Rio de Janeiro: EdURJ, 2001, p. 17-44.
LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em
ciências
humanas. Belo Horizonte: UFMG, 1999.
MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro:
Zahar. Editores, 1978.
______. Representações sociais: Investigações em Psicologia Social. 9. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2012.

OLIVEIRA, M.M. Como fazer pesquisa qualitativa. 6. ed, Petropólis, RJ: Vozes, 2014.

VIEIRA, Antônia Maíra Emelly Cabral da Silva; MELO, Elda Silva do Nascimento.
Representação social e o ser professor: o estado da arte. Anais FIPED, 2014. Disponível
em:http://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Modalidade_2datahora_24_05_2014_
21_49_02_idinscrito_1049_d43865bcaf8681e39d349663a848e7e4.pdf

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1266
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TEXTOS MULTIMODAIS DIGITAIS: UMA ANÁLISE SOBRE SUAS


ABORDAGENS NO LIVRO DIDÁTICO ALIVE HIGH

Lucas Eduardo Fernandes Bezerra1; Maria Zenaide Valdivino da Silva2

Palavras-chave: Ensino de língua inglesa. Multimodalidade. Multiletramentos.


Introdução
Com o advento da tecnologia, as transformações ocorridas no cotidiano das pessoas e
nos meios de comunicação são perceptíveis. Aparelhos eletrônicos, que antes tinham apenas
uma função, atualmente apresentam uma gama infinita de possibilidades, que cooperam
significativamente para as interações sociais. Essas transformações impactam fortemente na
vida das pessoas, principalmente em como essas pessoas agem, em um meio de tantas
alternativas. Além disso, as tecnologias influenciam fortemente no processo de ensino e de
aprendizagem de línguas em todos os níveis de escolaridade. As abordagens utilizadas por
professores para ensinar e estilos adotados por alunos para aprender, mudaram
significativamente e ganharam uma vasta ampliação, evidenciando uma grande diferença no
que antes era restrito apenas a alguns materiais básicos como lousa, caderno e lápis.
Com o passar do tempo, o LDLI (livro didático de língua inglesa) passou a ser inserido
nesse processo, mas ainda com algumas lacunas, como a pouca disponibilidade dos livros e a
escolha pouco criteriosa desse material (PAIVA, 2009).
Os avanços sociais fizeram com que o LDLI fosse o principal mediador da
aprendizagem nas escolas públicas brasileiras e com as transformações sociais, esse material
passou a contemplar não só textos escritos, mas também textos que se apresentam em uma
infinidade de modos e gêneros, como os digitais. Tendo em vista que “a escola é considerada a
agência principal onde se dá a formação de conceitos diretamente ligados ao exercício da
cidadania” (RIBEIRO, 2016), é dada a importância de analisar a abordagem de textos e
atividades que compõem o livro didático Alive High (MENEZES et al., 2016), adotado por
algumas escolas públicas de ensino médio, de Iracema-CE e de Pau dos Ferros-RN.
Esta pesquisa se alinha às perspectivas teóricas da semiótica social, que assume que
os produtores de signos os produzem com interesses relacionados diretamente à vida social e
de acordo com seus interesses (KRESS; VAN LEEUWEN, 1996, 2006), da multimodalidade
onde temos que “multimodal” contempla a variedade de fontes que são capazes de produzir
sentido (CALLOW, 2013) e dos letramentos que é o resultado da transição do termo
“letramento”, que indica a capacidade do usuário de utilizar a escrita a seu favor, considerando
que as práticas sociais são diversas (ROJO; MOURA, 2019).
No objetivo desta pesquisa, o alvo é o ensino de língua inglesa na perspectiva
multimodal, envolvendo abordagens do livro didático, além de analisar se as escolhas dos
autores do livro didático, considerando os textos em diferentes modos e gêneros e atividades,
atendem ou não, às necessidades do público atual – adolescentes conectados e imersos em
múltiplas linguagens cotidianamente, considerando que os meios digitais são repletos de textos
multimodais, exigindo dos leitores de forma geral, novas estratégias de leitura e novos
letramentos.
Metodologia

1
Estudante do curso de Letras Inglês do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte; e-mail: lucaseduardo092@gmail.com
2
Professora do Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, líder do
Grupo de Pesquisa em Estudos Multimodais; e-mail: mariazenaide@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1267
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A pesquisa aqui apresentada se insere nas ciências sociais, aplicada à educação, e se


constitui como uma investigação de natureza descritiva e interpretativista, com análise
qualitativa. Nesse sentido, inserida no contexto das ciências humanas. Os procedimentos de
análise incluem a descrição e a interpretação do corpus a ser analisado, no caso um volume do
livro didático Alive High (MENEZES et al., 2016), do ensino médio aprovado pelo PNLD
(Plano Nacional do Livro Didático).
O livro é divido em quatro partes e oito unidades. Considerando que todo texto é
multimodal e que todos são compostos de pelo menos dois modos (KRESS; VAN LEEUWEN,
1998), mesmo que um deles passe despercebido pela maioria dos leitores, foram encontrados
nove textos com maiores composições multimodais em cada unidade, aproximadamente.
Porém, para esta análise, foram selecionados somente os textos multimodais digitais. Dentre
esses, foram selecionados quatro para compor a análise completa, que segundo nossas análises
são os mais representativos e abarcam mais modos semióticos.
O procedimento de análise contemplou as seguintes categorias: (1) Leitura de textos
teóricos que tratam dos temas envolvidos; (2) Fichamentos e discussões com auxílio das obras
selecionados; (3) Levantamento qualitativo e numérico dos textos multimodais e das atividades
propostas pelo livro didático; (4) Seleção dos textos multimodais que contemplam os gêneros
digitais; (5) Análise dos dados obtidos, observando seus potenciais e limites; (6) Apresentação
de novas propostas e abordagens possíveis de serem desenvolvidas, além daquelas já presentes
no material investigado.
Resultados e discussão
Texto 1 – Seção Let’s listen, read and talk!

Figura 01 – Alive high – Unidade 1, p.18

O texto é uma história em quadrinhos e se apresenta nos modos visual e escrito. A


atividade propõe uma interação em grupo, mas prioriza o desenvolvimento do letramento
crítico. Isso é perceptível através das questões propostas pelo livro. Com auxílio do professor,
o aluno terá de refletir sobre suas vivências e sobre situações que já presenciou para responder
quais as vantagens e desvantagens de fazer novas amizades através da internet, além de ter que
refletir sobre a vida dos pais e amigos do estudante e ainda fazer uma breve análise sobre o
papel das redes sociais, na vida das pessoas.
Porém, a atividade não propõe que os alunos observem sobre como as personagens
estão na imagem. A multimodalidade, a percepção de significados representados em vários

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1268
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

modos, não é levada em conta. Poderia ser solicitado uma análise das expressões faciais, do
aparelho eletrônico que permite interações digitais, das cores do cenário e dos demais objetos
que ajudam na construção do sentido geral do texto. Tudo poderia ter sido explorado, num
objetivo de letrar os alunos visualmente, fazendo com que eles fiquem mais atentos às
composições visuais, que têm grandes significados e são capazes de fazer a diferença nesse e
em outros textos, dentro e fora da escola. Vale ressaltar que os produtores da imagem a
produziram com interesses e consideraram elementos visuais no cenário, nas personagens etc,
contudo esses elementos não são contemplados na atividade resolutiva proposta.
É importante destacar que o letramento crítico abordado na atividade é importante e
necessário, considerando que vivemos em um mundo altamente informatizado e que uma
infinidade de informações circula nos meios digitais, emergindo uma criticidade aguçada dos
leitores em geral. Assim, a abordagem aqui proposta busca fazer um complemento e não uma
substituição.

Texto 02 – Making connections

Figura 2 – Alive high – Unidade 1, p. 12

O texto é um infográfico e divide aplicativos que são usados em relações de amizade,


como facebook, twitter, instagram e aplicativos de conteúdo mais específico e que o foco não
é a interação entre usuários, como slideshare, pinterest e youtube.
Os recursos utilizados são balões coloridos com os nomes dos aplicativos, cores e
imagens que representam pessoas. A escolha das cores e divisão feita pelo autor pode ter sido
com a intenção de que o leitor perceba essa separação, e, após refletir, tenha a compreensão do
real motivo das escolhas feitas para composição do texto, acordando com a semiótica social.
A atividade proposta, busca desenvolver o letramento crítico, valorizando o
conhecimento que o aluno já tem, através de questões como “take a look at the text at the
previous page”, “which words are you familiar with?” and “what do you know about them?”.
O aluno refletirá sobre suas experiências digitais e será levado a perceber que palavras são
conhecidas para responder à pergunta, com orientação do professor.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1269
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Outro ponto ainda sobre o mesmo texto, é que a atividade proposta busca desenvolver
no aluno o letramento visual, perguntando-o exatamente sobre elementos explícitos e
implícitos, como em “what does the image show?”, “which of those social media are popular
in Brazil?” and “what do colors represent?”. Nesse caso, o aluno terá que observar atentamente
o que é exposto visualmente no texto, além de inferir algumas informações. Vale lembrar que
pela imaturidade dos alunos algumas composições visuais podem passar despercebidas e por
isso é importante uma orientação provocativa por parte do professor.
Dessa forma, a atividade proposta tem como objetivo desenvolver os letramentos
crítico e visual e será eficaz se for executada com bastante atenção e criticidade por parte do
docente, que precisará ter em sua prática um suporte teórico adequado.
Esse texto é o único sobre aplicativos que traz composições multimodais organizadas
nesse formato, já que os demais estão organizados em outro formato ou abordam outros
assuntos.
Conclusão
O presente trabalho analisou de forma atenta, as abordagens sugeridas pelos autores
do livro didático Alive high, com o objetivo de visualizar se essas estão suprindo as necessidades
do público atual de estudantes, das escolas públicas.
Com isso, concluímos que o material analisado tem suas vantagens e desvantagens e
depende de como esse trabalho é realizado dentro de sala de aula, pelo docente. Cada texto e
cada atividade tem seu potencial, como também seu limite, e ficou claro que o material atende
às necessidades do público atual de forma parcial. Não tivemos espaço suficiente para uma
análise maior e mais detalhada, contudo produziremos um artigo científico para que possamos
apresentar uma análise mais consistente e mais representativa dos dados obtidos.
Agradecimentos
Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e ao
Departamento de Letras Estrangeiras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pelo
apoio durante o desenvolvimento da pesquisa.
Referências
CALLOW, J. The shame of text to come Primary English Teaching Association Australia
(PETAA). Laura St, Newtown, NSW 2042, Australia. 2013.

KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, T. Front Pages (The Critical) Analysis of Newspaper
Layout. In: BELL, A.; GARRETT, P. (Ed.). Approaches to Media Discourse. Oxford:
Blackwell, 1998.

KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, T. Reading images: the gramar of visual design. London
and New York: Routledge, 1996, 2006

MENEZES, Vera. Alive high : inglês, 2º ano : ensino médio / Vera Menezes ... [et al.] ; - 2. ed.
– São Paulo : Edições SM, 2016. – (Alive high)

PAIVA, V. L. M. O. História do material didático de língua inglesa no Brasil. In: CRISTOVÃO,


V. L. M.; DIAS, R. (orgs.). O livro didático de língua estrangeira: múltiplas perspectivas.
Campinas, SP: Mercado de Letras, 2009, 17-56.

RIBEIRO, Ana Elisa. Textos multimodais : leitura e produção. 1 . ed. – São Paulo : Parábola
Editorial, 2016. 128 p.

ROJO, Roxane; MOURA Eduardo. Letramentos, mídias, linguagens. 1. ed. – São Paulo :
Parábola, 2019. 224 p.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1270
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

TRILHAS DA CIDADE: APONTAMENTOS SOBRE A POESIA


URBANA EM CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Mateus Bezerra Fernandes1; Alexandre Bezerra Alves2

Palavras-chave: Drummond. Modernismo. Cidade. Humano.

Introdução

Este trabalho de pesquisa buscou uma leitura interpretativa – à luz de várias teorias
sobre a lírica moderna e também contemporânea – focando a análise de poemas presentes em
quatro obras distintas de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), e cujo temário passa
pelo ambiente urbano e suas múltiplas representações nos versos do autor mineiro.
Contextualizando a importância do tema da presença da cidade na obra poética de
Drummond, passada a primeira metade do século XX, as conquistas da poesia moderna
nacional se tornariam mais claras e um dos responsáveis, certamente, passa por este escritor,
“sensível à fragmentária e isoladora vivência do urbanita, [...] [que] surpreende em meio a
esse novo e movimentado ambiente que está sempre a oscilar entre o progresso e a ruína,
entre a experiência e a reificação” (DIAS, 2006, p. 40).
A cidade experimentada pelo seu eu lírico aparece como tema ao mesmo tempo
insistente e fragmentado entre os elementos que figuram desde a fase inicial de sua poesia –
no caso, a obra Alguma poesia (1930) – e que seguiram até livros como Corpo (1984),
levando aqui em consideração o próprio princípio declarado pelo poeta de que “afinal, tudo
são relações humanas, que compreendem encontro, desencontro, distanciamento,
aproximação” (ANDRADE, 2008, p. 76).
Diante do exposto, aqui se buscou analisar representações poéticas da cidade frente
ao ser humano que predominem como tema existente, seja em sua forma interna – ligada à
representação da linguagem poética – ou em seu conteúdo, no qual a crítica de âmbito social
se faz presente nos poemas selecionados (no caso, a crítica a uma sociedade alienada diante
dos fatos cotidianos, caso da pobreza e da exploração do trabalho, ou do sentimento de
melancolia causado pelo isolamento nas grandes cidades). Isto é, focou-se também na
presença da poesia como representação simbólica da vida nas cidades, criando um cotidiano
citadino cheio de tensões e de indícios sobre o dia a dia urbano.

Metodologia

A metodologia utilizada para o trabalho aqui proposto partiu da pesquisa de âmbito


bibliográfico, como convém ao delineamento já consagrado como método interpretativo da
crítica literária, delimitando um determinado número de fontes teórico-críticas, cujo foco é a
discussão sobre temas e formas da poesia moderna junto ao tema da cidade, seja por parte de
estudiosos estrangeiros, como em Zenith (2015), Perrone (1996), Paz (1993), Friedrich (1978)
e Lynch (2017), ou da vasta tradição brasileira, tais como Candido (1977), Dalcastagné
(2015) e Perrone-Moisés (2016).

1
Estudante do curso de Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. E-mail: bf.mateus@hotmail.com
2
Professor do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
participante do Grupo de Pesquisa em Linguística e Literatura. E-mail: alexandrealves@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1271
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Resultados e Discussões

O estilo adotado pelo poeta, apesar de aparentemente simples, aumentou as


possibilidades de significação no contexto da poesia moderna do século XX. Analisando a
lírica moderna europeia – justamente aquela que influenciou o modernismo brasileiro, do qual
Drummond faz parte –, Hugo Friedrich (1978, p. 153) explica que essa nova adaptação que os
poemas adquirem resultou em uma “[...] dificuldade, tanto sintática como semântica, [...], [e]
parece exigir uma tradução do que se disse numa espécie de linguagem normal”. Assim,
Carlos Drummond de Andrade moldou sua poesia conforme as situações também comumente
relatadas e expostas dentro da cidade que ele escrevia, tratando dela com um de seus temas.
Dito isto, o poeta itabirano expressava em sua poesia “[...] a incapacidade de aderir à
vida, acentuando as barreiras entre nós e ela” (CANDIDO, 1977, p. 98). A dita “barreira”
citada se converteria na descrição perspicaz da inquietação que deixa o ser humano em uma
percepção solitária em meio a uma cidade plena de dificuldades, muitas delas incontornáveis.
Algumas destas situações são retratadas em poemas como “A rua diferente”, presente
na obra inaugural do mineiro, intitulada Alguma poesia (1930). No decorrer do curto poema –
por si só, uma consciência sobre o verso moderno –, o eu lírico relata as mudanças físicas e
também sociais que ocorrem em uma cidade: “Na minha rua estão cortando árvores / botando
trilhos / construindo casas.” (ANDRADE, 2015, p. 17). O crescimento do cenário urbano é
retratado de modo crítico, visto que, para acontecer, se fez necessária a modificação do
ambiente no qual seus habitantes estão imersos: “Minha rua acordou mudada. / Os vizinhos
não se conformam. / Eles não sabem que a vida / tem dessas exigências brutas.” (ANDRADE,
2015, p. 17).
O antagonismo que Drummond estabelece entre tais fatores urbanos expostos em “A
rua diferente” e sua dimensão temporal – o antes e o depois da intervenção na rua – colocaria
em evidência determinados aspectos como a relação entre memória e cidade, a qual desponta
ao longo de sua produção poética como um traço que permeia seus versos. De modo a
corroborar com o exposto, Dias (2006, p. 75) informa que “[...] a questão do espaço imediato
da cidade e a do espaço provinciano mediado pela memória atravessa boa parte de sua obra
[...], mas sempre se revestindo de diferenças e de contingências”.
A crítica sobre esse ambiente mecânico citadino emerge ainda mais explicitamente
no poema “Anoitecer”, presente em outra de suas obras, A Rosa do Povo (1945). Na poética
desse livro, Drummond apresenta um significativo tom nostálgico, porém consciente, com
relação a fatos do passado, não beirando o simples saudosismo, mas uma “[...] sondagem de
questões existenciais mais amplas” (DIAS, 2006, p. 98). Isto é, o eu lírico demonstra por meio
da memória como a vida atual está mecanizada e perdendo sua essência. Neste poema, no
título e em sua primeira estrofe, o eu lírico faz referência sobre como era o anoitecer em
cidades pequenas, nas quais tradicionalmente o sino da igreja da cidade dita o ritmo de seus
moradores, “É a hora que o sino toca” (ANDRADE, 2015, p. 109), em comparação ao fim de
tarde em uma metrópole, “mas aqui não há sinos” (ANDRADE, 2015, p. 109), munida de
outros artifícios que regem o cotidiano, como o constante trânsito de veículos e pessoas, “há
somente buzinas, / sirenes roucas, apitos” (Ibidem).
Apesar de toda a conjuntura presente na urbe que desgasta seu habitante, na última
estrofe o eu lírico exibe o que realmente lhe traz medo, tornando diminuta todas as passagens
anteriores que rementem ao dia a dia da cidade: a solidão de um citadino, “Hora da
delicadeza, / gasalho, sombra, silêncio” (ANDRADE, 2015, p. 110). A memória e a saudade
aparecem como torturas que mais causam sequelas, em grau superior a rotina desgastante da
metrópole, “É antes a hora dos corvos, / bicando em mim, meu passado, / meu futuro, meu
degredo;” (ANDRADE, 2015, p. 110).

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1272
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Essa relação entre as reminiscências do passado e a urbe permaneceu presente


cinquenta e quatro anos depois da publicação de sua primeira obra, agora no poema “Canção
de Itabira”, do livro Corpo (1984). Assim como em “Confidência de itabirano”, presente em
Sentimento do mundo (1940), mesmo agora na parte final da vida, o eu lírico do poeta
rememora a cidade de Itabira (MG), palco principal de seu passado: “Mesmo a essa altura do
tempo, / um tempo que já se estira, / continua em mim ressoando / uma canção de Itabira.”
(ANDRADE, 2015, p. 867).
A terra natal é representada como um importante elo entre presente e passado. Esta
harmonia desperta uma segurança emocional capaz de lidar com os obstáculos que o mundo
moderno impõe aos seus habitantes. De modo a analisar esse aspecto da imagem da cidade
ocidental, Kevin Lynch (2011, p. 05) nos diz que “[...] um ambiente característico e legível
não oferece apenas segurança, mas também reforça a profundidade e a intensidade potenciais
da experiência humana”. Ou seja, as lembranças de Itabira recorridas pelo eu lírico não seriam
apenas passageiras ou efêmeras, mas sim indicariam como o eu poético viveu intensamente
tal período de sua vida, resguardando, assim, as memórias lúcidas daquele tempo passado.
Deste modo, a nostalgia encontrada na “Canção de Itabira”, a desolação derivada da
rotina mecânica da urbe em “Anoitecer” e a indignação fruto da abrupta mudança no cenário
exposta em “A rua diferente”, por exemplo, expressam um eu lírico não alheio a vida no
tempo presente, mas capaz de identificar nela fatores nos quais justificam sua constante
rememoração do passado na imagem da cidade, de modo a justificar a rotina mecânica da
urbe em comparação à vivacidade em tempos idos.
Desta forma, como o próprio eu lírico drummondiano relatou em sua “Confidência
de itabirano”, há a intenção de se distanciar desse “[...] alheamento do que na vida é
porosidade e comunicação” (ANDRADE, 2015, p. 63). Observando de modo mais amplo o
que a pesquisa conseguiu captar, a poesia de Drummond transfigura as várias possibilidades
de se perceber e viver na cidade, fato que emerge através de uma representação lírica sobre o
passado e o presente, criando versos emblemáticos sobre a realidade urbana brasileira.

Conclusão

Os resultados deste estudo permitiram perceber o viés crítico social que Drummond
terminaria por expor em seus versos sob a problemática insígnia urbana, mote da poesia
moderna no decorrer do século XX, nascida justamente na cidade. A temática da urbe
continuaria ecoando na lírica brasileira, que vem mantendo a presença de tal cenário como
tema até chegar na lírica contemporânea do século XXI, provando que os versos do mineiro
não somente traziam um retrato presente, mas atento e perspicaz, como assim também é
escrita a poesia atemporal e que expõe as conotações aqui anotadas sobre a poesia do autor
mineiro em questão.
A poesia de Carlos Drummond de Andrade revela, portanto, uma tensão existente
entre o urbanita e o contexto que o transforma em um ser erradicado de um passado e
mecanizado pela rotina que a cidade impõe seu presente. Assim, a consciência presente na
lírica do poeta transcorre de modo a causar uma reflexão sobre a tendência que o eu lírico de
Drummond propõe, a de deixar o citadino refém da alienação e de sua própria existência.

Agradecimentos

Agradeço à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) por oferecer a


infraestrutura adequada à prática da pesquisa acadêmica e ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por subsidiar o projeto e alavancar as
pesquisas sobre a obra poética do mineiro Carlos Drummond de Andrade.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1273
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências

ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova reunião 23 livros de poesia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2015.

________ . Tempo vida poesia. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.

CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 2. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1977.

DALCASTAGNÈ, Regina. A cidade como uma escrita possível. In: AZEVEDO, Luciene;
DALCASTAGNÈ, Regina (orgs.). Espaços possíveis na literatura brasileira
contemporânea. Porto Alegre: Zouk, 2015.

DIAS, Márcio Roberto Soares. Da cidade ao mundo: notas sobre o lirismo urbano de Carlos
Drummond de Andrade. Vitória da Conquista: Edições UESB, 2006.

FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. Tradução de Marise M. Curioni/Dora F.


da Silva. São Paulo: Duas Cidades, 1978.

LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. 3. ed. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São
Paulo: WMF / Martins Fontes, 2011.

PAZ, Octavio. A outra voz. Tradução de Wlamir Dupont. São Paulo: Siciliano, 1993.

PERRONE-MOISÉS, Leyla. Mutações da literatura no século XX. São Paulo: Companhia


das Letras, 2016.

PERRONE, Charles A. Seven faces: Brazilian poetry since modernism. Durham: Duke
University Press, 1996.

ZENITH, Richard. Introduction. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Multitudinous


heart: selected poems. London: Penguin Books, 2015.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1274
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

UMA ANÁLISE DO ETHOS DE UMA INFLUENCIADORA DIGITAL


EM CONSELHOS E DICAS DE BELEZA PARA MÃES EM VÍDEOS NO
YOUTUBE

Ozeias Henrique Ventura de Oliveira1; Rosângela Alves dos Santos Bernardino2

Palavras-chave: Imagens de si. Discurso materno. Pontos de vista.

Introdução
Indo ao encontro dos postulados de Maingueneau (2016, p. 72) sobre ethos, texto e
discurso, assumimos que “qualquer discurso escrito, mesmo que a negue, possui uma
vocalidade específica, que permite relacioná-lo a uma fonte enunciativa, por meio de um tom
que indica quem o disse.” Portanto, tem-se o texto, que sinaliza a existência de um fiador,
caracterizado por ser a fonte do dizer, a fonte enunciativa, associado a uma cena genérica, e
uma cenografia. O fiador, por sua vez, apresenta uma imagem (ethos) de si, que é construída
por meio dos elementos linguísticos mostrados por ele em seu discurso. A imagem do fiador
suscitada no discurso leva a uma adesão (incorporação) dos leitores às ideias do fiador por meio
de uma maneira de dizer, que tem por consequência uma forma de ser e agir no mundo.
Seguindo esses postulados, direcionamos um olhar sobre os discursos produzidos nas
mídias digitais, especificamente os que se encontram na plataforma YouTube, que exercem
influência sobre a vida das pessoas e fazem com que elas assumam ideias e modos de ser. É
com base nessas circunstâncias que este trabalho, vinculado ao projeto de pesquisa
“Testemunhos, dicas, desabafos conselhos... ’: um estudo do ethos em discurso de uma
influenciadora digital sobre experiências da maternidade”, delimita o ethos como objeto de
análise, buscando investigar como se dá a construção da imagem de si em discursos produzidos
por uma influenciadora digital sobre produtos para as mães, sugerindo cuidados com a beleza.
Como objetivos específicos, pretende-se: i) identificar e classificar os tipos de pontos
de vista mobilizados pelo fiador do discurso em vídeos no Youtube sobre dicas de beleza para
as mães; ii) verificar como os pontos de vista são hierarquizados, como são (não)assumidos na
argumentação e associados aos gêneros nos quais são materializados; iii) descrever os
componentes visuais e verbais que compõem os discursos do fiador em vídeos no Youtube,
observando como eles atuam na construção de uma imagem de si, seu ethos dito e/ou mostrado;
iv) interpretar o modo como a influenciadora digital incorpora seu interlocutor e quais os
possíveis estereótipos ativados na construção de uma imagem de si; v) analisar,
comparativamente, a atuação dos componentes visuais e verbais para a construção do ethos do
fiador em vídeos no Youtube, considerando a relação com as demais plataformas onde se fixa
seu blog pessoal.

Metodologia
Como fundamentação teórica, o trabalho segue principalmente os conceitos e
postulados da Análise do Discurso praticada por Maingueneau (2016), bem como a noção de
ethos como um dos resultados observáveis do discurso e, a partir disso, propõem desenvolver
um diálogo com a Análise Textual dos Discursos – ATD (ADAM, 2011), de modo a tratar o
texto em seu funcionamento discursivo, nas situações reais de uso. Além disso, dialogamos
com a abordagem pragmático-enunciativa do Ponto de Vista – PDV (RABATEL, 2016).

1
Estudante do curso de Letras/Língua Portuguesa, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN);
e-mail: ozeiasventura2015@gmail.com.
2
Professora do Departamento de Letras Estrangeiras (DLE) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte,
Membro do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino do Texto (GPET): e-mail: rosangelabernardino@uern.br.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1275
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

O corpus da pesquisa é composto por 4 textos orais que foram transcritos do canal do
Youtube “De mãe para mamãe”, que sugerem conselhos e dicas para os cuidados com a beleza.
A metodologia de análise se baseia no princípio da dedução e indução, apoiando-se na
abordagem do tipo qualitativa, de natureza descritivo-interpretativa. Os critérios para a seleção
dos vídeos foram: selecionar enunciados produzidos somente pela influenciadora digital, uma
vez que pode ocorrer a interação entre a influenciadora e os seus seguidores por meio dos
comentários; enunciados que falem ou que estejam relacionados ao cuidado com a beleza; sobre
experiências da maternidade; e que demonstrem recursos linguísticos que sejam característicos
de dicas, desabafos e conselhos.

Resultados e discussões
A análise foi realizada seguindo as categorias que assinalassem o foco da pesquisa,
tais como: as marcas linguísticas que evidenciam a construção do ethos do fiador, sejam por
meio do ethos dito e/ou mostrado; os pontos de vista do fiador sobre as dicas de beleza; e o
processo de incorporação do ethos do fiador pelos coenunciadores. Percebe-se, com base na
análise do corpus, que o fiador apresenta o seu ponto de vista sobre os cuidados com beleza e,
ao fazer isso, mobiliza de forma inconsciente relações com outros discursos, evidenciando,
então, o interdiscurso. A construção do ethos do fiador se dá, sobretudo, por meio do ethos
mostrado e, eventualmente, essa constituição se inscreve na perspectiva do ethos dito.
No excerto abaixo, notamos o primeiro aspecto de incorporação entre o fiador e seus
interlocutores, visto que o fiador apresenta dicas para as mulheres sobre produtos que ajudam
no cuidado com a pele, criando um cenário propício para a construção da sua enunciação: em
um ambiente adequado, com materiais faciais e com uma construção corporal preparada para
utilizar produtos na pele.

(01): Esse vídeo, eu pensei, né?: “Acho que elas vão gostar porque elas perguntam muito”. E
dado o último vídeo que eu postei que foi a minha última ida a dermatologista, é...um... Eu
achei que vocês iam gostar e por isso eu tô gravando. Que é sobre os cuidados que eu tenho
com minha pele. [...] Porque eu vou mostrar o que que eu faço com o meu rosto de manhã, e
vou contar o que que eu faço com meu rosto de noite pra vocês, que foi as recomendações que
a doutora Gleice fez, que foi a minha “dermato”. Tô passando pra vocês porque vocês me
pediram muito. (palmas).

O fiador inicia o vídeo apontando para qual público ele é destinado (“Acho que elas
vão gostar”), ou seja, por meio do pronome pessoal “elas” o fiador indica as pessoas que o seu
discurso pretende alcançar (mulheres e mães, pois também é mãe), sendo, neste caso, aquelas
que buscam ter ou que têm um cuidado com sua pele. Além disso, o vídeo é iniciado com a
aparição de sua filha, o que reforça a construção do ethos do fiador, pois ao fazer isso o fiador
constrói a imagem da mulher e mãe que procura sempre ter o devido cuidado com sua aparência,
mesmo estando exercendo esse papel que demanda tempo e, para isso, recorre a profissionais e
produtos que a ajudem. Além disso, temos um traço afetivo no seu discurso, que é ouvir e
atender os seus seguidores, pois o ela se mostra preocupada com os seguidores que pediram as
dicas (“Tô passando pra vocês porque vocês me pediram muito”).
Com base nas marcas linguísticas deixadas no discurso do primeiro excerto,
construímos um ethos vaidoso, de uma mulher/mãe que cuida de sua aparência, ao mesmo
tempo em que se sensibiliza com outras mulheres/mães e as ajuda por meio de seus vídeos.
Além disso, temos a construção de um ethos cativante e compreensivo, já que o fiador se mostra
assim ao ouvir os pedidos e mencioná-los em seus vídeos, incorporando seu interlocutor.
Nos excertos abaixo, o fiador mostra dicas sobre produtos que mulheres podem usar
para cuidar do seu cabelo loiro, dicas sobre o momento certo para mudar o cabelo para loiro,

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1276
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

além de indicar pessoas e lugares em que os seus inscritos podem ir para ter um bom cuidado
capilar. O vídeo é finalizado com um conselho sobre como ter uma melhor qualidade de vida
nas relações sociais, que é narrado a partir de um produto utilizado para escovar os cabelos.

(02): Digo logo, não vou mentir, foi exatamente assim que eu falei: “Não gosto dessa escova”,
e continuei desembaraçando o cabelo. Aí chegou mais alguém e perguntei de novo: “você gosta
dessa escova?” e ela falou que sim, porque ela desembaraça o cabelo sem partir. E aí eu disse:
“eu não”. De novo. Gente, eu sei que eu fui usando e perguntando pro povo e o povo dizendo
que gostava e eu dizendo que não gostava. Terminei que eu gostei e COM-PREI. Então, isso
vale é, até de lição pra vida.

(03): E eu tenho meio que abuso de coisas famosas. E eu não sei, eu não sei, não sei, não sei.
Por exemplo: se todo mundo disser que aquela série é boa, aquela série com certeza vai ser a
última que eu vou assistir. E isso não é consciente, é realmente inconsciente.

(04): Isso vale de lição pra vida porque a gente tende a dizer que não gosta de alguma coisa
sem conhecer direito essa coisa. Então, é... assim como pessoas, a gente tende a dizer que não
gosta de certa pessoa sem conhecer direito essa pessoa. E só o fato de você dizer: “aí eu não
gosto, eu não gosto, eu não gosto”, já traz pra você uma carga, uma energia tão ruim que
termina te prejudicando sem você perceber. [...] Mas eu dizer que não gostava da escova estava
me fazendo não ter a oportunidade, ou não me dar a oportunidade de conhecer uma coisa que
eu ia é... gostar depois que eu conhecesse. Foi o que aconteceu. Eu dei a oportunidade a ela,
né?

O fiador inicia a sua reflexão através da comparação de duas ideias em seu enunciado.
Em um primeiro momento é narrado o contexto de aquisição da escova para os cabelos, em que
a influenciadora não demonstra nenhum interesse pela escova, mas continua usando em seu
cabelo e confrontando as pessoas sobre o produto, perguntando se elas gostam ou não, e sempre
refutando o “sim” delas. É dentro desse contexto que ela descobre a utilidade da escova e aponta
a situação como uma lição para vida, que é descrita em outro momento.
Nesse momento, o fiador torna evidente o aspecto interdiscursivo no seu discurso, que
é mobilizado de forma inconsciente. É ativado na memória discursiva dos coenunciadores o
seguinte discurso: “não fui com a cara dessa pessoa”, que é difundido em sociedade quando
existem situações, pessoas e até objetos que causam uma rejeição imediata, mesmo que não as
conheçamos e sem que tenham dado motivos para isso. No caso do fiador, isso se dá por ele
não simpatizar com produtos que são altamente populares e usados na sociedade, como ele
afirma no excerto 03 (“E eu tenho meio que abuso de coisas famosas”). Apesar de isso ser
sentido pelo fiador, ele muda de ideia sobre o produto ao chegar à conclusão de que ele era
realmente bom e eficiente para o cabelo, aparentando ser um sujeito aberto a mudanças.
Desse modo, conseguimos distinguir alguns ethe do fiador. O primeiro encontrado, no
excerto 02, é o ethos de uma pessoa insistente naquilo que acredita e se esforça muito para não
abrir de mão do que pensa, mostrando também, como afirma Maingueneau (2013), um tom que
dá autoridade ao que é dito e, nesse caso, configura-se como um tom de desprezo sobre o
produto, caracterizando o ethos mostrado (“Gente, eu sei que eu fui usando e perguntando pro
povo e o povo dizendo que gostava e eu dizendo que não gostava”). Nesse mesmo trecho (02)
percebemos o ethos de uma pessoa aberta a mudanças, e isso acontece pelo convencimento do
fiador sobre a utilidade do produto.
Podemos perceber que o fiador apresenta o seu ponto de vista (PDV) sobre o produto
de beleza (“escova”), afirmando seu olhar negativo sobre o objeto e se responsabilizando pelo
dito. Para confirmar o seu PDV, ele tenta se apoiar em um PDV alheio, de um locutor-

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1277
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

enunciador segundo (l2/e2 ) (“ela”), o indagando sobre a preferência do objeto. Contudo, recebe
uma resposta contrária e afirma, novamente, sua negativa. Nesse sentido, o fiador expressa um
PDV hierarquicamente superior aos demais pontos de vista situados na cena enunciativa, que é
comprovado pela defesa do seu PDV em detrimento do PDV alheio. Dentro das modalidades
elaboradas por Rabatel (2016) para nomear o PDV, apesar de apresentar nuances do PDV
narrado, podemos afirmar que no trecho analisado o que prevalece é o PDV assertado, visto
que o fiador insere a sua fala e a do l2/e2 por meio do discurso indireto, assinalado pelo verbo
mais a conjunção “que” (“ela falou que”/ “dizendo que”).
Vale ressaltar que, no caso do trecho 02, temos um apagamento de um ethos em
detrimento de outro, já que existe uma quebra/oposição de tons na construção da imagem do
fiador. Isso ocorre pela contraposição do ethos insistente e inacessível, com o ethos acessível e
tolerante do fiador com opiniões divergentes, pois em um momento o sujeito enunciador
apresenta uma forma de ser e, ao mesmo tempo, se expõe com uma imagem diferente da criada
anteriormente.
Por último, percebe-se ao menos outro ethos do fiador no excerto 04, que é o de uma
pessoa que se preocupa em refletir sobre as circunstâncias e aprender com o resultado gerado
por elas, revelando, também, além da posição de mulher e mãe, a sua posição de coach, já que
ela se assume como mentora e orientadora. Isso acontece quando o sujeito enunciador avalia a
experiência negativa que teve e a relaciona com outros contextos do convívio humano,
incentivando os seus coenunciadores a agirem de forma diferente das convencionais para
obterem experiências positivas e aprenderem com as experiências negativas.

Conclusão
Em síntese, percebemos que o fiador organiza e estrutura seus vídeos com o objetivo
de alcançar pessoas que compartilham do seu mesmo mundo ético: mulheres/mães que se
preocupam com a beleza e querem estar em harmonia com a sua imagem e vivência. Isso é
confirmado pela incorporação dos interlocutores, já que os coenunciadores que participam da
cena enunciativa do fiador solicitam vídeos com temas específicos, que são atentamente
produzidos. Dessa forma, observamos que os coenunciadores incorporaram os traços do ethe
construídos pelo fiador, participando do mesmo mundo ético, podendo assumir suas mesmas
características e posições ideológicas. Como resultado desta pesquisa, esperamos que esse
trabalho contribua de maneira significativa na compreensão do conceito do ethos dentro do
quadro teórico da Análise do Discurso, em conjunto com a teoria de Ponto de Vista e a noção
de Responsabilidade Enunciativa.

Agradecimentos
Agradecemos a todos os colegas que compõem o grupo da iniciação científica, à
UERN e à professora orientadora, que colaboraram com empenho para a conclusão deste
projeto.

Referências
ADAM, J-M. A linguística textual: uma introdução à análise textual dos discursos. 2. ed.
revisada e aumentada. São Paulo: Cortez, 2011.
MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Tradução de Cecília P. de Sousa-e-
Silva, Décio Rocha. 6. ed. ampl. São Paulo: Cortez, 2013.
MAINGUENEAU, D. Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (Org.). Imagens de
si no discurso: a construção do ethos. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2016, p. 69-92.
RABATEL, A. Homo narrans: por uma abordagem enunciativa e interacionista da narrativa.
Tradução de Maria das Graças Soares Rodrigues, Luis Passeggi e João Gomes da S. Neto. São
Paulo: Contexto, 2016.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1278
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

USO DE FONTES DE PESQUISA NA ESCRITA DE ARTIGOS


CIENTÍFICOS DE PESQUISADORES EXPERIENTES

Danielyson Yure de Queiroz Valentim1; José Cezinaldo Rocha Bessa2

Palavras-chave: Uso de Fontes. Letramento Acadêmico. Pesquisadores Experientes.

Introdução

A corrente modernização e as inovações tecnológicas no âmbito educacional e,


consequentemente, acadêmico, vêm instigando muitos estudos sobre o uso de fontes de
pesquisa. Isso se dá porque, como sabemos, a ampliação das fontes de pesquisa
disponíveis na internet e o advento da cultura do acesso aberto possibilitaram a
proliferação de conteúdos nem sempre confiáveis, relevantes e precisos – por alguns,
como Demo (2009), considerados verdadeiros lixos, o que acaba por afetar as práticas
de leitura e escrita na universidade.
Considerando, portanto, o contexto da cultura digital, na qual saber localizar,
selecionar, avaliar, sintetizar e citar fontes externas na escrita é considerado um
elemento-chave do letramento acadêmico (BURTON; CHADWICK, 2000), este
trabalho se volta para o estudo do uso de fontes na escrita de pesquisadores
considerados experientes.
O propósito do estudo foi contribuir e gerar discussões sobre o trabalho com o
uso de fontes de pesquisa na escrita científica. Acreditamos que o estudo sobre o uso de
fontes com foco na escrita de pesquisadores experientes constitui um empreendimento
investigativo relevante quando consideramos, dentre outros aspectos, que, cada vez
mais, trabalhos (PECORARI, 2003, 2006, 2015; MCCLURE E CLINK, 2008; DINIZ,
TERRA, 2014, BESSA, 2016a) têm relacionado casos de plágio, que tem se tornado
bastante recorrentes no meio acadêmico-cientifico, ao mau uso de fontes de pesquisa
por pesquisadores, independentemente do nível de formação.

Metodologia

O trabalho de pesquisa desenvolvido assume uma natureza interpretativa e uma


abordagem, predominantemente, qualitativa. Quanto à natureza das fontes coletadas, o
estudo pode ser classificado como uma pesquisa bibliográfica, na acepção de Gil
(2010).
O corpus de análise encontra-se constituído de 10 textos do gênero artigo
científico produzidos por pesquisadores experientes (com titulação de doutor) da área da
Linguística e publicados na Revista Linguagem em (Dis)curso, classificada como Qualis
A1 no sistema de avaliação da CAPES.
1
Estudante do curso de Letras/Inglês e Respectivas Literaturas do Departamento de Letras Estrangeiras
(DLE) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail: dvalentin123@hotmail.com
2
Professor Doutor do Departamento de Letras Estrangeiras (DLE), Campus Avançado de Pau dos Ferros,
da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); e-mail: cezinaldobessa@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1279
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Para desenvolvermos o estudo, buscamos fundamentação teórica em trabalhos


sobre letramento acadêmico, uso de fontes de pesquisa e práticas citacionais
desenvolvidos por estudiosos como Burton e Chadwick (2000), Pollet e Piette (2002),
Pecorari (2003, 2006, 2015), McClure e Clink (2008), Howard, Serviss e Rodrigue
(2010), Boch e Grossmann (2002) e Bessa (2016a, 2016b), Pinto (2018), dentre outros.

Resultados e Discussão

Considerando o objetivo de examinar como pesquisadores experientes


mobilizam fontes externas na escrita dos textos científicos que produzem,
sistematizamos o trabalho analítico em duas direções: i) uma perspectiva descritiva com
base no exame de dados quantitativos, focalizando, mais especificamente, aspectos
como quantidade de fontes citadas, origem/tipo de publicação, língua de publicação
e ano de publicação; ii) uma perspectiva interpretativa a partir da análise dos textos
recortados, contemplando os tipos de fontes e o modo como elas são mobilizadas.
Na análise descritiva sobre o uso de fontes em que procurarmos observar
aspectos como como quantidade de fontes citadas, veículo de publicação, língua de
publicação e ano de publicação, observamos os resultados que apontamos a seguir.
Quanto à quantidade de fontes, constatamos que a maioria dos pesquisadores
experientes, mais precisamente 6, se reporta a 20 ou mais trabalhos de pesquisa, o que
sinaliza que parte expressiva dos pesquisadores experientes demonstra dialogar com
uma quantidade considerável de fontes externas na construção de seus trabalhos de
pesquisa. Em relação à origem da publicação, observamos que os pesquisadores
experientes se utilizam de uma variedade de fontes de pesquisa, incluindo, dentre eles,
relatórios, dissertações de mestrado, teses de doutorado, páginas de internet e anais de
eventos, para fundamentar seus escritos, sendo que predomina o uso de fontes de
pesquisa de livros e periódicos. No que diz respeito à língua de publicação, verificamos
que predomina o uso de fontes de textos escritos em língua portuguesa, ainda que seja
recorrente cada pesquisador citar produções publicadas em pelo menos 3 línguas
distintas, incluindo o português. A propósito do ano de publicação dos textos citados,
percebemos que quase todos os pesquisadores experientes costumam citar tanto textos
recentes, publicados nos últimos 3 anos, quanto textos mais antigos, com período de
publicação acima de 20 anos. É possível percebemos, assim, que os pesquisadores
experientes do contexto investigado demonstram, em geral, fazer seleção e uso de fontes
de pesquisa em seus escritos de maneira pertinente e produtiva, considerando, por
exemplo, que mobilizam, em geral, fontes diversas, atualizadas e confiáveis.
Numa perspectiva de análise mais qualitativa do corpus, centramos a atenção
nos tipos e modos como os pesquisadores experientes mobilizam as fontes em seus
textos científicos. Nesse sentido, consideramos a proposta de classificação do uso de
fontes trazida por Howard, Serviss e Rodrigue (2010), que inclui patchwriting, cópia,
paráfrase e resumo. Além disso, consideramos 3 das formas de referência às palavras de
outrem estudadas por Boch e Grossmann (2002), quais sejam: a evocação, a ilhota
citacional e a citação.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1280
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

A análise do corpus nos permitiu perceber que as citações, em formato livre ou


recuado, com 29% das ocorrências, são os tipos mais recorrentes de citar as fontes. A
paráfrase constitui 27% das formas de mobilizar as fontes, enquanto a evocação
constitui 22% das formas de citar. O resumo e as ilhotas citacionais foram as formas
menos privilegiadas nos 10 artigos do nosso corpus. Embora seja um modo privilegiado
na escrita acadêmica (HOWARD, et al., 2010), nos textos analisados, apenas 9%
mobilizam essa forma de citar. Já as ilhotas citacionais contabilizaram 13% das
ocorrências.
Para ilustrar o olhar interpretativo sobre o corpus pesquisado e demonstrar como
as formas de citar as fontes são mobilizadas nos textos dos pesquisadores experientes,
apresentamos, a seguir, um excerto que exemplifica como o pesquisador experiente
mobiliza a evocação em uma seção de introdução de um artigo científico:

Alguns estudos do letramento científico (cf. SOUSA, 2016; SILVA, 2017) e da sociologia da ciência
(cf. DEMO, 2012; SANTOS, 2010) são utilizados para caracterizar o contexto acadêmico em que está
inserido o ProfLetras e identificar o desafio da construção para educadoras de uma pós-graduação
profissional sustentável. Estudos de origens distintas sobre práticas reflexivas na formação da
professora também contribuem para fundamentar esta pesquisa (cf. PERRENOUD, 2002;
SIGNORINI, 2000; SILVA, 2014). Para a análise linguística da dissertação selecionada, são utilizados
alguns pressupostos teórico-metodológicos da Linguística Sistêmico-Funcional – LSF (cf. EGGINS,
2004; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014; THOMPSON, 2014). (ACE04, p. 275, grifos nossos)

Neste excerto, o autor do ACE04 evoca trabalhos já existentes sobre o


letramento científico e sociologia da ciência quando se refere aos estudos de Sousa,
2016, Silva, 2017 e Demo, 2012, Santos, 2010, bem como a estudos de Perrenoud,
2002; Signorini, 2000, Silva, 2014, e a estudos da Linguística Sistêmico-Funcional –
LSF (EGGINS, 2004; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014; THOMPSON, 2014).
Podemos observar que o autor reporta-se a fontes externas como forma de indicar ao
leitor os trabalhos que fundamentam a sua pesquisa. Esse caso vai ao encontro de estudo
de Bessa (2016b), que aponta que o uso da evocação, na seção de introdução, tem como
finalidade mais específica explicitar autores ou perspectivas teóricas que fundamentam
o trabalho do pesquisador e/ou demarcar pesquisas prévias dentro do propósito do
produtor de proceder à problematização da pesquisa e à delimitação do tema.
Esse exemplo constitui um indício que, nos textos dos pesquisadores
experientes, são comuns formas de dialogar com fontes externas que sinalizam um
trabalho de síntese e/ou reelaboração das palavras de outrem. Indicia ainda que
pesquisadores experientes tendem a transitar e estabelecer, de forma pertinente e
produtiva, relações entre autores e perspectivas teóricas na construção de seus trabalhos
de pesquisa, o que reforça a ideia de que saber localizar, selecionar, avaliar e sintetizar
fontes constitui um elemento central no universo acadêmico-científico.

Conclusão

Os resultados de nossa pesquisa apontam que, no geral, os pesquisadores


experientes do contexto investigado, dialogam de modo pertinente e produtivo com as
fontes de pesquisa que mobilizam. É possível suscitar, contudo, que a mobilização de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1281
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

fontes mais atualizadas e um diálogo mais intenso com textos escritos em outras línguas
sejam elementos relativos à seleção e uso de fontes que requererem uma certa atenção.
Como conclusão, sustentamos que a condição de expertise e a familiarização
com práticas de letramento são elementos que contribuem para que os pesquisadores
experientes revelem uma escrita científica (mais) ajustada, quanto à seleção e utilização
de fontes de pesquisa, a convenções estabelecidas no universo científico e em sua
cultura disciplinar.

Agradecimentos

Ao CNPq, pelo apoio financeiro, e a Universidade do Estado do Rio Grande do


Norte (UERN).

Referências

BESSA, J. C. R. Dialogismo e construção da voz autoral na escrita do texto


científico de jovens pesquisadores. 2016a. 385 f. Tese (Doutorado em Linguística e
Língua Portuguesa) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
Araraquara, 2016.
BESSA, J. C. R. o discurso citado na macroestrutura textual de artigos científicos de
jovens pesquisadores. Ilha Desterro, v. 69, n. 3, p.45-61, 2016b.
BOSCH; GROSSMANN. Referir-se ao discurso do outro: alguns elementos de
comparação entre especialistas e principiantes. Scripta, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p.
97-108, 2002.
BURTON, V. T.; CHADWICK, S. A. Investigating the practices of student researchers:
patterns of use and criteria for use of internet and library sources. Computers and
Composition, 17(3), 309–328, 2000.
DEMO, P. O educador e a prática da pesquisa. Ribeirão Preto: Editora Alphabeto,
2009.
DINIZ, D.; TERRA, A. Plágio: palavras escondidas. Brasília: Letras Livres; Rio de
Janeiro: Editora Fiocruz, 2014.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
HOWARD, R. M., SERVISS, T.; RODRIGUE, T. K. Writing from sources, writing
from sentences. Writing and Pedagogy, 2, 177–192, 2010.
MCCLURE, R; CLINK, K. How Do You Know That? An Investigation of Student
Research Practices in the Digital Age. Libraries and the Academy, 9 (1): 115–132,
2008.
PECORARI, D. Plagiarism in second language writing: Is it time to close the case?
Journal of Second Language Writing, 30, 94–99, 2015.
PECORARI, D. Visible and occluded citation features in postgraduate secondlanguage
writing. English for Specific Purposes, 25: 4–29, 2006.
PECORARI, D. Good and original: Plagiarism and patchwriting in academic second-
language writing. Journal of Second Language Writing, 12, 317–345, 2003.
PINTO, M. da G. L. C. O labor da escrita: uma prática também testemunhada por
estudantes. Diálogo das Letras, v. 7, n. 3, p. 10 - 29, set./dez. 2018.
POLLET, M. C. ; PIETTE, V. Citation, reformulation du discours d’autrui. Une clé
pour enseigner l’écriture de recherche ? Spirale, n. 29, p. 165-179, 2002.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1282
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

USO DE FONTES DE PESQUISA NA ESCRITA DE TEXTOS


CIENTÍFICOS DE PESQUISADORES INICIANTES

José Evaristo de Paiva Neto1; José Cezinaldo Rocha Bessa2

Palavras-chave: Escrita Científica. Letramento acadêmico. Práticas de pesquisa.

Introdução

A capacidade de lidar com a multiplicidade de informações sobre pesquisa e produção


científica disponível na internet no contexto da era digital torna-se um enorme desafio para o
pesquisador que se encontra em um estágio de formação inicial. Considerando-se, pois, a
presença das tecnologias digitais no campo educacional e na esfera acadêmico-científica, assim
como a cultura do open acess e o aparecimento de periódicos com caráter suspostamente
fraudulento ou suspeito, um trabalho de seleção cuidadosa e avaliação crítica de fontes que
contribuam com o desenvolvimento do saber científico torna-se, cada vez mais, uma habilidade
fundamental para o êxito estudantil na atividade científica em nossos dias.
Compreende-se, nesse sentido, porque tem crescido entre pesquisadores das ciências da
linguagem o interesse por investigações que deem conta de estudar aspectos relativos à
capacidade de localizar, selecionar, avaliar, sintetizar e citar fontes externas (BURTON;
CHADWICK, 2000) nas práticas de leitura e escrita da universidade. Inseridos no contexto
dessas investigações, o presente trabalho objetiva examinar como pesquisadores iniciantes
dialogam com as fontes de pesquisas que introduzem e/ou mobilizam na escrita dos textos
científicos que produzem.
Interessa-nos, mais especificamente, focalizar aspectos como natureza das fontes
citadas e critérios utilizados na escolha das fontes, assim como compreender como e em que
medida as práticas de seleção e o uso de fontes de pesquisa corroboram com o domínio da
escrita acadêmico-científica e o letramento acadêmico dos pesquisadores investigados.

1
Estudante do Curso de Letras – Língua Portuguesa do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte/Campus Avançado de Pau dos Ferros; e-mail: evaristtonetto2000@gmail.com
2
Professor do Departamento de Letras Estrangeiras na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/ Campus
Avançado de Pau dos Ferros. Membro do Grupo de Pesquisa em Produção e Ensino do Texto (GPET); e-mail:
cezinaldobessa@uern.br

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1283
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Metodologia

Em consonância com os modos de fazer pesquisa que se enquadram no campo das


humanidades, esta proposta de investigação adota uma abordagem qualitativa com orientação
interpretativa dos dados, em conformidade com o entendimento de Laville e Dionne (1999).
Além disso, o presente estudo pode, quanto à fonte de dados, ser caracterizado como uma
pesquisa de cunho bibliográfico, de acordo com a classificação de Gil (2010).
Considerando o propósito da investigação empreendida, o corpus a ser analisado
constitui-se de textos do gênero artigo científico produzidos por pesquisadores iniciantes, mais
precisamente por estudantes de graduação da área de Letras. Os textos foram coletados na
revista Ao Pé da Letra, que é classificada como B2 no Webqualis da área de Linguística e
Literatura, na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), referente ao período de 2013-2016. Os critérios utilizados para constituição do
corpus foram os seguintes: a) artigos de pesquisadores nacionais; b) artigos publicados em
língua portuguesa; c) artigos de autoria individual; d) artigos empíricos, nos termos da
classificação e definição de Motta-Roth e Hendges (2010); e) artigos com volume textual
(número de páginas) aproximado.
Quanto à fundamentação teórica, reportamo-nos a trabalhos sobre letramento
acadêmico, uso de fontes de pesquisa e práticas citacionais desenvolvidos por estudiosos como
Burton e Chadwick (2000), Pollet e Piette (2002), Pecorari Pecorari (2003, 2006, 2015),
McClure e Clink (2008), Howard, Serviss e Rodrigue (2010), Bessa (2016a, 2016b), Pinto
(2018), dentre outros.

Resultados e discussão

Considerando nosso objetivo de examinar como pesquisadores em estágio de formação


iniciante dialogam com as fontes de pesquisa que introduzem em seus textos científicos, e como
tais pesquisadores se apropriam dessas fontes, empreendemos um esforço na tentativa de
explorarmos questões relacionadas às práticas de seleção e uso de fontes externas na escrita
acadêmico-científica. Nesse sentido, buscamos focalizar aspectos como quantidade, origem e
recência das fontes, procurando examinar a relação deles com o letramento acadêmico dos
pesquisadores iniciantes.
Quanto ao aspecto da quantidade de fontes citadas nos textos, constatamos que os
pesquisadores iniciantes do contexto pesquisado realizam um uso expressivo das fontes de

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1284
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

pesquisa em seus textos, revelando uma média variável de 11 a 20 fontes, o que mostra que, no
geral, os pesquisadores iniciantes dialogam com múltiplas fontes em seus textos de pesquisa.
Em relação ao tipo de fontes utilizadas nas produções científicas, os pesquisadores optaram
pela utilização de livros e periódicos, sendo que os livros ocuparam uma porcentagem de 60%
e os periódicos de 15%. A forte e destacada presença dos livros nas escolhas de fontes dos
pesquisadores iniciantes pode ser explicada tanto pela influenciada de uma cultura de uso de
livros característica das humanidades como pela dificuldade de consulta e seleção de textos em
meios digitais, aspecto, ao que parece, ainda marcante nas práticas de leitura e escrita entre
jovens pesquisadores. No que diz respeito à recência e/ou atualidade das fontes empregadas
pelos pesquisadores iniciantes, observamos que 26% de fontes localizadas entre 6 e 10 anos e
26% entre 11 a 20, sinalizando um equilíbrio no uso de fontes mais recentes e mais antigas.
Esse dado mostra, antes de tudo, que há uma perspectiva animadora quanto ao uso de fontes
atualizadas nos textos dos pesquisadores iniciantes.
Esses dados indicam que, ainda que não manifestem uma expertise nas práticas do
universo acadêmico-científico, os pesquisadores iniciantes demonstram um uso relativamente
adequado e pertinente das fontes de pesquisa em seus textos de pesquisa. É possível acreditar
que se manifeste um manejo intuitivo dessas fontes e/ou que o trabalho de revisão e avaliação
a que são submetidos, quando enviam artigos para periódicos, possa contribuir para que eles
demonstrem relativo êxito quanto ao uso das fontes nos textos que produzem.

Conclusão

As análises empreendidas sinalizam a necessidade de se pensar em propostas de


intervenções na área acadêmico-científica, primordialmente no que concerne à escrita
científica, que favoreçam um uso adequado e mais produtivo de fontes nas atividades de
pesquisa, especialmente de pesquisadores em início de carreira na graduação. Entendemos que
isso se faz ainda mais pertinente e necessário quando consideramos que são poucas as
disciplinas em cursos de graduação e mesmo de pós-graduação que focalizam o uso de fontes
de pesquisa na escrita científica.

Agradecimentos

Agradeço à Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e ao Programa Institucional


de Bolsas de Iniciação Científica, por proporcionarem a minha participação como pesquisador
voluntário na iniciação científica desta pesquisa.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1285
ISSN 2526-7841 Anais do SIC UERN

Referências

BESSA, J. C. R. Dialogismo e construção da voz autoral na escrita do texto científico de


jovens pesquisadores. 2016a. 385 f. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) –
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 2016a.

BESSA, J. C. R. o discurso citado na macroestrutura textual de artigos científicos de jovens


pesquisadores. Ilha Desterro, v. 69, n. 3, p.45-61, 2016b.

BURTON, V. T.; CHADWICK, S. A. Investigating the practices of student researchers:


patterns of use and criteria for use of internet and library sources. Computers and
Composition, 17(3), 309–328, 2000.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

HOWARD, R. M., SERVISS, T.; RODRIGUE, T. K. Writing from sources, writing from
sentences. Writing and Pedagogy, 2, 177–192, 2010.

LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em


ciências humanas. Tradução de Heloísa Monteiro e Francisco Settineri. Portalegre: Artes
Médicas, Sul Ltda.; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

MCCLURE, R; CLINK, K. How Do You Know That? An Investigation of Student Research


Practices in the Digital Age. Libraries and the Academy, 9 (1): 115–132, 2008.

MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. R. Produção textual na universidade. São Paulo:


Parábola Editorial, 2010.

PECORARI, D. Plagiarism in second language writing: Is it time to close the case? Journal of
Second Language Writing, 30, 94–99, 2015.

PECORARI, D. Visible and occluded citation features in postgraduate secondlanguage writing.


English for Specific Purposes, 25: 4–29, 2006.

PECORARI, D. Good and original: Plagiarism and patchwriting in academic second-language


writing. Journal of Second Language Writing, 12, 317–345, 2003.

PINTO, M. da G. L. C. O labor da escrita: uma prática também testemunhada por estudantes.


Diálogo das Letras, v. 7, n. 3, p. 10 - 29, set./dez. 2018.

POLLET, M. C.; PIETTE, V. Citation, reformulation du discours d’autrui. Une clé pour
enseigner l’écriture de recherche? Spirale, n. 29, p. 165-179, 2002.

http://propeg.uern.br/sic/anais/ 1286
Apoio:

Realização:
Anais do Salão de Iniciação Científica da UERN (SIC UERN)
Resumos expandidos
Publicação eletrônica on-line
ISSN: 2526-7841
Ano 2020

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN


Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação – PROPEG
Departamento de Pesquisa – DP
Campus Universitário Central, Av. Professor Antônio Campos, s/n, BR 110, km 48
Bairro Pres. Costa e Silva, Mossoró/RN, CEP 59.600-000
Telefones: (84) 3315 2176, 3315 2180, 3312 4839, 3314 9856 - Fax: (84) 3315 2177
e-mails: propeg@uern.br, dp@uern.br, pibic@uern.br

Sites
http://portal.uern.br/
https://propeg.uern.br//default.asp?item=propeg-proreitoria-apresentacao
https://propeg.uern.br/sic/anais/default.asp?item=sicanais-apresentacao
https://www.uern.br/eventos/sctiuern/default.asp?item=scti-apresentacao
https://propeg.uern.br//default.asp?item=propeg-iniciacao-cientifica-pibic
https://portal.issn.org/resource/ISSN/2526-7841

Você também pode gostar