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“Só Deus sabe, padre, as coisas de que

uma mesma mão e uma mesma alma


são capazes”
Erico Verissimo

Resumo. Este trabalho versa sobre a investigação policial de


homicídios dolosos, de autoria inicialmente desconhecida, realizada
Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul, especialmente em Porto
Alegre. Em um levantamento bibliográfico preliminar, constatou-se a
escassez de literatura nacional acerca do tema, diversamente da
bibliografia estrangeira. Objetivou-se, dessa forma, identificarem-se os
métodos e técnicas empregados na investigação policial de homicídios.
Foram duas as hipóteses norteadoras deste estudo, quais sejam: a) a
modalidade de investigação desenvolve-se sob bases empíricas, através
de métodos dedutivos, indutivos e até intuitivos, estando
freqüentemente alicerçada apenas em provas testemunhais e confissões,
tendo frágil amparo técnico-científico; b) a solução dos crimes de
homicídio não decorre de boas estruturas técnicas, metodológicas e de
logística, mas está relacionada à dedicação profissional e ao tratamento
prioritário destinado a essa espécie delitiva. A metodologia empregada
neste estudo foi de caráter qualitativo, o que propiciou uma inserção no
modus faciendi do processo investigatório e uma melhor compreensão

*
Este texto integra a monografia de conclusão apresentada ao Curso de
Especialização em Segurança Cidadã: Violência, Criminalidade e Polícia, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em março de 2005, sob
orientação da Profa. M.Sc. Nara Rejane S. Widholzer.
**
Policial Civil – Escrivão de Polícia - Instituição de vínculo: Polícia Civil –
Corregedoria-Geral de Polícia (COGEPOL) Porto Alegre/RS.
sobre o assunto. Para constituição da amostra dos entrevistados,
observou-se o maior número de remessas de procedimentos policiais
por parte dos respectivos órgãos de trabalho, selecionando-se dez
policiais civis por critérios de função e notório saber. Foram
confirmadas as hipóteses da pesquisa, constatando-se ainda, entre
outras descobertas, que a prioridade dada à investigação de homicídios
impossibilita a apuração de outros delitos e que os policiais aplicam, em
suas investigações, métodos doutrinários consagrados, apesar de não
terem recebido essa orientação em seus cursos de formação, o que
demonstra a capacidade de superação por parte do policial civil.
Palavras-chave: Investigação de homicídios; Polícia Civil; crime;
sociologia da violência.

Introdução

O presente estudo acerca da investigação policial


sinteticamente demonstra a gênese da persecução penal. No
complexo mecanismo persecutório, encontra-se a investigação
policial, que subsidiará a ação penal a ser promovida pelo
Ministério Público e eventual denúncia, pronúncia e condenação
perante o soberano Tribunal do Júri, tornando-se, assim, por via
oblíqua o instrumento que conduz o investigado ao sistema
penitenciário.
A atividade policial tem possibilitado constatar os
dilemas da investigação criminal e seu complexo processo de
desenvolvimento. A investigação policial deve ser um processo
de conhecimento que não se baseie exclusivamente no
empirismo, mas que se utilize de um aparato científico capaz de
transformar simples vestígios em indícios, e estes, em prova.
Paralelamente, essa investigação deve ser desenvolvida dentro do
estrito cumprimento do dever legal, com respeito à dignidade
humana, preservando-se a imagem da vítima, de seus familiares e
do investigado.
Uma vez que a pretensão deste estudo é levar a conhecer
a metodologia e os procedimentos utilizados na investigação

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policial de homicídios, torna-se aqui interessante apenas o exame
da prática de homicídios dolosos e, ainda, com autoria
inicialmente desconhecida.
Partindo-se da hipótese de que a investigação policial de
homicídios é desenvolvida, predominantemente, com base
empírica, através de métodos dedutivos, indutivos e até
intuitivos, com frágil amparo técnico-científico, sendo por vezes
alicerçada apenas em provas testemunhais e confissões, o que
pode levar a conclusões equivocadas. Por outro lado, quando o
desenvolvimento das investigações processa-se com emprego de
métodos e técnicas científicas, se constituirá uma prova mais
qualificada e confiável, afastando-se, assim, eventuais equívocos.
A hipótese secundária é a de que, atualmente, as soluções dos
crimes de homicídio estão diretamente relacionadas à dedicação
profissional e ao tratamento prioritário destinado a essa espécie
de delito, não sendo decorrência de boas estruturas de recurso
Pelo exposto, com este estudo, objetiva-se identificar os
métodos, técnicas, procedimentos e instrumentos empregados na
investigação policial de homicídios, buscando-se também, a
partir desse diagnóstico, aferir a eficácia do processo. Deseja-se
também, com a compreensão do fenômeno em questão, subsidiar
o trabalho dos investigadores, traçando-se princípios de
uniformização e padronização de procedimentos investigadores
no que tange aos delitos de homicídio, contribuindo-se para o
desenvolvimento doutrinário da instituição policial, que necessita
de parâmetros científicos melhor definidos.
Quanto à metodologia empregada na pesquisa optou-se
por um estudo exploratório, descritivo e de análise qualitativa,
com exame de casos restritos à região de Porto Alegre. Como
instrumento de pesquisa, elegeu-se a entrevista semi-estruturada,
buscando-se acessar e identificar as condutas de investigação
(métodos e técnicas) adotadas pela Polícia Civil, contemplando
aspectos como a formação e o aprendizado da investigação de
homicídios. Paralelamente às entrevistas, procedeu-se às análises
de cinco inquéritos policiais de homicídios, iniciados sem autoria

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conhecida, circunscritos à região metropolitana de Porto Alegre e
já remetidos ao Poder Judiciário.

A investigação policial de homicídios: métodos técnicas e do


procedimento

Mingardi (2001) salienta que, com o advento da carta


constitucional de 1988, a produção investigatória no estado de
São Paulo, nos primeiros anos, teve sensível queda, em razão de
a polícia não estar preparada para investigar sem o emprego de
métodos violentos. Logo, o impacto desse texto constitucional
demonstra que, apesar de as instituições policiais brasileiras
empreenderem enorme esforço, resta claro que não foram
reorientadas para atuarem eficazmente em um Estado
democrático de direito.
A palavra investigar advém do latim, investigatio, de
investigare, e, conforme Rocha (2003, p.22), significa indagar
com cuidado, observar os detalhes, examinar com atenção, seguir
vestígios, descobrir. A investigação policial, por sua vez,
constitui uma pesquisa acerca de fatos relacionados a uma ação
delituosa.
Para Richardson (1999), não existe uma fórmula mágica
e única para a realização de uma pesquisa ideal, uma vez que a
investigação é um produto humano, e seus produtores são
falíveis, exigindo-se, assim, necessário conhecimento da
realidade, noções de metodologia, técnicas de pesquisa e um
sério trabalho em equipe. Conforme O’Conell (1975, p. 331),
“Naturalmente que para cada crimen hay uma manera particular
de enfrentarse a él buscarle la solucion.” A astúcia humana torna-
se cada vez mais sofisticada, empreendendo cada vez mais
recursos para fugir da revelação da autoria do delito, o que exige
o emprego de métodos e técnicas das mais variadas ciências para
a constituição da prova, como destaca França (1998).
Ensina Rocha (2003, p. 23) que a investigação
desenvolve-se sob um raciocínio que parte do conhecido para o
desconhecido, retrocedendo no tempo até a obtenção de

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elementos que projetem as suas pesquisas para o momento do
crime.
Ao prefaciar Vítimas e Criminosos, a obra de Frederico
A. de Oliveira (1996) Copetti afirma que as investigações
policiais não aproveitam os conhecimentos criminológicos e
criminalísticos que poderiam potencializar as evidências
processuais. Diz ainda o autor que, a cada procedimento, tudo se
repete, a improvisação e o total desconhecimento de métodos de
investigação de homicídios. Seria muito diferente se as
investigações de homicídios obedecessem a critérios lógicos e se
a vitimologia convertesse-se em indispensável aliada ao
desvendamento dos crimes, pois a história das vítimas tem
profunda ligação com a própria história de seus algozes, sendo o
círculo de relações a chave para a busca da autoria do homicídio.
Conforme Rocha (2003) o investigador poderá se valer,
em um mesmo trabalho, de métodos dedutivos, indutivo,
analógicos, por vezes até mesmo o intuitivo, sendo que diante de
um crime misterioso o investigador pensará e formulará uma
suposição preliminar, conjeturando com base em sua experiência
e construirá mentalmente hipóteses de como teria ocorrido o
crime e quem o teria praticado.
O método dedutivo é um processo eficiente para o
estabelecimento da validade de um argumento, permitindo
chegar-se à conclusão a partir de premissas, mediante raciocínios
elementares, cada um dos quais se sabendo como válido. Essa é
uma maneira de se pensar em que se parte do geral para o
particular, formulando silogismos. Cobra (1976, p. 162) elucida,
através de exemplos, a dedução: “a descoberta de determinado
tipo de poeira, no calçado de alguém ou num veículo, pode
autorizar a conclusão de que aquela pessoa ou veículo passaram
por determinado local.”
O método indutivo desenvolve-se através de um
raciocínio que parte do particular para o geral, porém qualquer
conclusão obtida por esse método pode acabar sendo refutada,
por generalizar. Assim, por exemplo, a coleta de uma digital
pode conduzir à identificação do autor de um crime, obtendo-se

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resultado geral a partir do exame particular da digital presente no
local de crime.
Na prática policial, conforme Cobra (1976, p.163),
raciocina-se por analogia, fazendo-se comparações, para se
verificar e constatar as semelhanças entre os fatos que estão
sendo investigados e outros ocorridos anteriormente. As
semelhanças de circunstâncias entre casos distintos podem
conduzir a resultados idênticos, razão pela qual o investigador
deve examinar o modus operandi dos delinqüentes, pois
criminosos habituais agem freqüentemente do mesmo modo, com
o emprego de semelhantes recursos, propiciando o emprego do
método analógico.
Conforme mencionado, o método intuitivo também pode
ser empregado na investigação policial. Para Rocha (2003, p.
37), intuição é a visão direta de alguma coisa, o conhecimento de
algo independentemente de raciocínio lógico, porém, que não
pode ser confundido com palpite, devendo seu emprego ser
reservado para situações ausentes de outras possibilidades.
Conforme Cobra (1976), a investigação policial é
desenvolvida em três fases, quais sejam: fase das constatações,
quando ocorrem observações, colheita preliminar de informações
e conhecimento das provas objetivas; fase do raciocínio, quando
o investigador inicia processos de emprego de métodos
dedutivos, indutivos, analógicos e até intuitivos, formulando
hipóteses; e fase da verificação de hipóteses, quando se poderá
obter convicção ou certeza acerca de determinado caso. Para
Cobra (1976), a partir do conhecimento de um crime, como por
exemplo, um homicídio, os policiais passarão a formular
hipóteses acerca do evento criminoso, de seus detalhes, de suas
circunstâncias, analisando o modo como o crime foi praticado, os
detalhes, os motivos e a possibilidade das autorias, tornando as
hipóteses suposições provisórias. O autor (id., p.166) leciona:
No trabalho de verificação de hipóteses, os encarregados
de investigações ficam em situação idêntica a do viandante que,
andando por terras estranhas e desejando alcançar determinado
lugar, encontra, à certa altura da estrada, ponto donde saem

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diversos caminhos, tendo de fazer uma opção, podendo seguir
um rumo e ter, até mesmo, que retroceder quando constatar que
seu norte não é o da verdade. O trabalho de exame de detalhes ou
circunstâncias objetiva a descoberta da autoria do evento
criminoso, e será para a captura de detalhes e das circunstâncias
que os encarregados da investigação, por vezes, terão que tomar
novos caminhos para atingir o objetivo principal. A partir da
exclusão de hipóteses, restarão aquelas, em tese, correspondentes
à realidade, sendo que, destas, algumas conduzirão à convicção,
outras à almejada certeza.
Restará presente a convicção quando os elementos
probatórios forem unicamente subjetivos, isto é, sem apoio de
provas materiais, de elementos objetivos. Cobra (id.) exemplifica
afirmando que, por melhores que sejam a prova testemunhal e a
confissão, só permitirão a convicção porque faltará elemento
material corroborador.
Para Hespanha (1996, p. 179), a fidelidade ou a
infidelidade do testemunho não depende apenas das qualidades
morais, culturais, intelectuais ou biogenéticas da testemunha e
dos numerosos fatores relacionados aos sentimentos de sua vida
psíquica. A verdade ou o erro e a fidelidade ou a infidelidade do
testemunho são resultados, também, do conhecimento científico,
da competência profissional daqueles que interpretam as
declarações da testemunha. Tourinho Filho (1997, p. 285, v.3)
afirma que a experiência tem demonstrado que não se pode e
nem se deve, em princípio, atribuir valor probatório absoluto
para a confissão.
Por sua vez, haverá certeza quando os elementos
objetivos – provas materiais – permitam concluir, sem sombra de
dúvidas, sobre os acontecimentos. Assim, se, num local de
homicídio, é encontrada uma impressão digital, e seu dono
confessa a prática do crime e aponta o lugar onde está o
instrumento utilizado no crime, possibilitando a sua apreensão,
não haverá apenas convicção, mas certeza da autoria, em
decorrência do conjunto objetivo. No plano concreto, nem
sempre é possível a obtenção da certeza da autoria ao final da

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investigação, porém esta restará completa tanto com a certeza
quanto com a convicção, por assim ter atingido a última fase do
processo investigatório, disponibilizando a possibilidade de
conclusão sobre a autoria delitiva.
Conforme Dorea (1995, p.208), os departamentos de
polícia norte-americanos adotam um procedimento técnico-
metodológico padrão para as investigações de casos com morte
denominado método dos círculos concêntricos. Esse método
consiste simplesmente em se considerar a vítima como o centro
de uma série de círculos e, iniciando-se as investigações a partir
daquele que dela se encontre mais próximo, ampliando-se ao
infinito, abrangem-se todos os círculos de relação da vítima. A
prática desse método de investigação, somada ao emprego de
técnicas de coleta e análise de indícios, poderá constituir-se em
um procedimento capaz de apontar a autoria e as circunstâncias
de um crime. Uhnak (apud Dorea, 1995) sustenta que, na maioria
dos casos, o assassino é encontrado dentro de quatro paredes da
casa da vítima, sendo que, ao invés de andar pelas ruas,
procurando novas vítimas, em geral ele está em casa, ajudando
nos preparativos do enterro.
Para Rocha (2003), a complexidade da investigação
confronta-se com a necessidade de uma apuração dinâmica,
rápida e firmada em conhecimentos interdisciplinares, pois, em
matéria investigatória, persiste a máxima de Locard, para quem o
tempo que passa é a verdade que foge.
A oxigenação da doutrina de polícia judiciária brasileira,
atualmente, ressurge com Queiroz (2000). O autor propõe uma
maior qualificação ao inquérito policial, apresentando, para isso,
a técnica da recognição visiográfica, utilizada pelo FBI e
introduzida no Departamento de Homicídios da Polícia Civil do
Estado de São Paulo em 1995. Conforme essa técnica, o policial
que atende ao homicídio relata minuciosamente o que viu e
sentiu no local, baseando-se na heurística e na semiótica.
A necessidade pela busca de novos métodos e técnicas,
tanto para a investigação quanto para a prevenção de homicídios
motivou a Metropolitan Police da Inglaterra, ou, mais

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especificamente, sua unidade de prevenção de homicídios,
trabalhar no sentido de estudar a mente dos criminosos,
objetivando a criação de um perfil psicológico que defina os
sinais de perigo para ser utilizado tanto de forma preventiva
como no auxílio à investigação policial, (cf. Herbert, 2005).
Corrobora Douglas (2002), pioneiro na análise investigativa do
comportamento criminal e responsável pela criação do perfil
psicológico de criminosos no FBI.

Categorias de Análise

Formação policial e aprendizado da investigação de


homicídios

Esta categoria comporta dois momentos o da concepção


dos entrevistados acerca da formação policial e o segundo, ao
aprendizado prático da investigação de homicídios. De acordo
com os sujeitos, a instrução recebida durante formação é de
extrema relevância, porém criticaram as deficiências dessa
instrução. Veja:

A academia deu apenas o rumo.


[...] a academia tinha que ser assim, inquérito policial e
investigação criminal, só o que precisava. Eu fiz um
concurso público, era formado em Direito e aí fiquei
estudando mais um ano e meio de Direito em pleno curso
de delegado. O que eu tinha que ter e não tive é com o que
vou trabalhar, que é a investigação.
Na realidade, a gente não sabia, a gente se achava, achava
que estava preparado, mas daí, no dia-a-dia, a gente foi
vendo que muitas coisas só se aprendia trabalhando.

Os entrevistados, em seu conjunto, afirmam que o ensino


da investigação, especialmente de homicídios, é apresentado a
partir de experiências pessoais e profissionais dos instrutores,
não havendo a reunião de métodos didático-pedagógicos e,

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conseqüentemente, inexistindo qualquer orientação que objetive
a padronização de procedimentos.
Em sua absoluta maioria, os policiais não demonstraram
conhecimento de métodos doutrinários de investigação, salvo os
ensinamentos sumariamente recebidos durante o curso de
formação. Entretanto, condutas instaladas reflexivamente no
cotidiano policial a partir do conhecimento prático demonstram a
aplicação espontânea de conceituados métodos de investigação
de homicídios, apesar do desconhecimento doutrinário. Um
exemplo de tal prática é a utilização do método dos círculos
concêntricos, desenvolvido por Uhnak (1995), o qual sustenta a
probabilidade de o homicida pertencer ao círculo de relações da
vítima. Observem-se as falas a seguir apresentadas:

Na realidade, o homicídio, quando não tem autoria, é


fundamental que a gente inicie investigando a vítima. A
peculiaridade do delito de homicídio é a investigação da
vítima [...] isso é a lógica do dia-a-dia que vai mostrando
para a gente.
Eu sigo uma rotina que a gente aprendeu na prática, a
gente conseguiu esclarecer casos e foi aprendendo. Eu
oriento o meu pessoal agora que estou chefiando a
investigação.
[...] saber se a vítima tinha inimigos, se era usuário de
drogas, se pagava corretamente seus fornecedores, quem
eram seus amigos.

Esses procedimentos vão ao encontro do que expõe


Rocha (2003, p. 23) ao escrever que, em uma ocorrência de
homicídio, o primeiro passo do investigador é identificar a vítima
e saber tudo a seu respeito, enquanto os peritos fazem o exame
de local. Depois, com os elementos obtidos no local, o policial
iniciará a busca pelas pessoas relacionadas à vitima e,
possivelmente, com o crime. Essa constatação corrobora a teoria
dos círculos concêntricos, pela qual o homicida apenas
excepcionalmente não freqüenta os círculos de relações das
vítimas.

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De acordo com as entrevistas transcritas, apenas um dos
dez entrevistados recebeu instrução específica para a
investigação de homicídio após ter concluído o curso de
formação. Logo, foi recorrente a informação de que o processo
de aprendizado da investigação teria se dado por meio da própria
prática, a partir da análise de casos em puro exercício de
empirismo, o que veio a confirma uma das hipóteses do estudo
em tela. Veja:

[...] a partir dos casos do dia-a-dia, nosso conhecimento


vai se ampliando... também se aprende fazendo estudo de
caso.
Eu aprendi a investigar homicídio na prática e também
com policiais mais velhos.
[...] o que a gente aprende mesmo, principalmente na
investigação de homicídio, é na prática, depois de
formado.

Ficou assim demonstrada a capacidade de o policial civil


abstrair, a partir de experiências do cotidiano, o desenvolvimento
de métodos que, inconscientemente, são projetados nas
investigações.
Os entrevistados também se manifestaram acerca das
carências de recursos que vão desde a escassez de papel até a
inexistência de equipamentos de proteção individual. Observem-
se as falas:

Falta pessoal. A nossa deficiência maior é de pessoal e


tecnologia.
Tomando por base que a Polícia Civil, já em 1980, previa
um efetivo maior do que tem hoje e o crescimento
populacional, posso afirmar que há carência de recursos
humanos. Também temos carência de material, faltam
filmadoras, computadores, não existe material de escuta
ambiental em quantidade necessária.

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[...] tá faltando computador, uma filmadora facilitaria,
uma máquina digital, dessas modernas, daria para tirar
fotos do local e fazer levantamentos, mas não dispomos.

Os entrevistados com mais de dez anos de serviço


perceberam ter havido melhoras estruturais nas condições de
investigação em relação à época de seus respectivos ingressos.
Foi, inclusive, salientado por alguns policiais que, no início de
suas carreiras, não conheciam computador e que nem
imaginavam que esse instrumento fosse capaz de possibilitar
tantos benefícios para a investigação policial. Pôde-se observar
ainda que houve uma sensível evolução qualitativa nos quadros
funcionais da Polícia Civil nos últimos dez anos, em razão das
maiores exigências de qualificação para o acesso à carreira
policial e pela melhora na formação.

Na minha época, 1980, a polícia era uma polícia


romântica, né. Tu trabalhava pela paixão... na época, se
amarrava cachorro com lingüiça, tinha que empurrar
viatura, só existia revólver, a prática de tiro era com .22
porque a munição era mais barata que o .38... a polícia
mudou um monte.

Todos os entrevistados conferiram extrema relevância ao


isolamento e preservação dos locais de crime, para posterior
exame, porém, entendem que essas medidas cautelares seriam
maximizadas se houvesse um serviço pericial mais bem
estruturado.

[...] a gente fica brabo com os brigadianos quando eles


mexem no local do crime, mas às vezes eles preservam
tudo, e aí não adianta nada, porque a perícia não aproveita
o local preservado, por falta de meios... não que o perito
não seja bom, mas é como a gente, não dispõe de meios.
Segurança pública não é prioridade.

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As considerações expostas pelos sujeitos ilustram, ainda
que superficialmente, a crise estrutural da instituição policial
encarregada do desenvolvimento da investigação criminal, que se
mantém graças à dedicação e qualificação de seus integrantes.

Padrões adotados pela Polícia Civil nas investigações


de homicídios

Apesar das peculiaridades de cada homicídio, há


procedimentos genéricos de investigação que podem ser
observados no esclarecimento dos crimes. Não se pretendendo,
com isso, estabelecer formulas mágicas nem, o emprego
inflexível de métodos ou técnicas, devendo tão somente se buscar
uma padronização racional de métodos e técnicas apuratórias.
Entre eles, estão o isolamento e a preservação do local do crime,
o exame preliminar de vestígios e indícios, o exame pericial do
que inicialmente era imperceptível pelo investigador e a
realização de interrogatórios com observâncias técnicas, entre
outros.
Conforme Rocha (2003), os métodos de investigação
policial tendem a ser os mesmos em todos os países, diferindo,
porém, a forma de se documentarem as investigações, de acordo
com o sistema jurídico de cada país. Pelas falas recorrentes
surgidas nas entrevistas, pôde-se observar o emprego de alguns
procedimentos técnicos e metodológicos nesse processo
investigativo. Salientou-se a necessidade de isolamento e
preservação do local do crime, além da tomada de conhecimento
do círculo de relações das vítimas e testemunhas, e do imediato
comparecimento ao local, pois segundo Cabe lembrar que, para
Locard (1939), “o tempo que passa é a verdade que foge”.
Observem-se as falas a seguir:

[...] a investigação se inicia pelo imediato


comparecimento, quanto mais cedo, menos contaminação
do local... às vezes, acontecem alterações imprescindíveis,
como no caso de socorro, em que o cenário é alterado pela

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necessidade, o que pode trazer dificuldades à leitura do
local. A segunda providência será o isolamento do local
para análise da vítima, quando possível, das manchas,
objetos e coleta dos demais vestígios que poderão
contribuir para a elucidação do crime. Quando ocorre um
crime, tem-se que retroceder no tempo, partindo-se do
conhecido para o desconhecido. Deve-se iniciar o terceiro
momento pela busca de informações e, posteriormente,
surgirá a fase de avaliação e construção de inferências..., o
local de crime fala.
O primeiro passo é ter a informação do fato o mais rápido
possível, para que se possa encaminhar alguém para fazer
o local, com o local preservado... e se passa à coleta de
informações.
Não existe fórmula mágica...
[...]o homicídio tem que ter uma rotina, observar
princípios básicos... o principal de todos é a preservação
do local... depois do local, os próximos passos são as
testemunhas, familiares...

A presença dos policiais nos locais de crimes, também


foi destacada pelos entrevistados como ponto relevante para
apuração de um crime e de suas circunstâncias. Alguns chegaram
mesmo a afirmar que, em muitos casos, a solução do crime é
obtida já no próprio cenário do homicídio.
Os padrões identificados foram lecionados na Academia
de Polícia, antiga Escola de Polícia, e são observados pelos
policiais civis. O mesmo não ocorre, com o aprendizado
empírico, por exemplo, quanto ao método dos círculos
concêntricos, que, muito embora aplicável reflexivamente, não
chega a ser observado como procedimento padrão. Isso porque,
para sua implementação, faz-se necessário um suporte
pedagógico, o que só poderá ocorrer mediante o ensinamento
teórico.
Pelo discurso dos informantes, percebeu-se sua grande
disponibilidade em relação à profissão, o que pode se explicar,
novamente, pelo fato de terem ingressado na polícia por motivos

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vocacionais, o que comprova a hipótese desta pesquisa segundo a
qual a eficácia da solução de homicídios está relacionada à
dedicação profissional dos policiais.
Em razão da gravidade do delito, pela mobilização
psicossocial que deflagra e por sua repercussão no meio, a
apuração dos crimes de homicídio recebe tratamento
diferenciado dos demais casos.
O homicídio é tratado como prioridade em razão da
gravidade e pela carência de recursos para atender a todos os
casos.
Normalmente, é dada prioridade ao homicídio, porque a
investigação não tem pessoal para atender a todos os casos,
então, tem que responder com a apuração dos crimes mais
graves, como homicídio, estupro, latrocínio, que também são
aqueles de maior repercussão.

[...] eu penso que todos deveriam receber o mesmo


tratamento, mas, infelizmente, não dispomos de meios
para atender a todos os casos. Por muitas vezes, se tem
que parar toda a delegacia para investigar um homicídio.

Isso se torna cristalino quando da confrontação com os


dados disponibilizados pela DIPLANCO/PC referentes ao ano de
2003, pelos quais se constata que foram registradas 325
ocorrências de homicídio, instaurados 434 inquéritos policiais e
remetidos ao Poder Judiciário 218 procedimentos inquisitoriais, o
que perfaz uma média de 50,23%. Nesse mesmo período, foram
registrados 8.103 furtos de veículos, instaurados 6.840 e
remetidos ao Poder Judiciário 706 procedimentos policiais, ou
seja, apenas 10,32% das ocorrências, situação que se repete para
outras modalidades delitivas, que demandam investigação, como
no furto/em veículo. Comprova-se, assim, que a dedicação
prioritária ao crime de homicídio, considerado de maior
gravidade, acaba por inviabilizar a persecução penal dos demais
crimes, em decorrência das carências estruturais dos órgãos

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policiais, o que se confirma pelo depoimento de um dos
informantes:
Foi um retrocesso quando, há três anos, se retirou da
Delegacia de Homicídios [DHD/DEIC] a investigação dos
homicídios de autoria desconhecida. O distrito não tem
condições. Quando acontece um homicídio, tem que parar todas
as outras investigações. Pára tudo, porque o pouco pessoal que se
dispõe terá que se dedicar ao homicídio.
Assim, diante desses dados, pode-se afirmar que a
solução dos homicídios está diretamente relacionada ao
tratamento prioritário destinado ao atendimento dessa espécie de
delito e pela dedicação dos policiais encarregados da
investigação, que se voltam quase que exclusivamente ao
desvendo de assassinatos. Isso pode explicar os consideráveis
índices de solução de crimes de homicídio e respectivas remessas
de inquéritos policiais ao Poder Judiciário, em detrimento de
outras modalidades criminosas menos privilegiadas pela
dedicação dos serviços de investigação.
Dos casos de homicídio referidos nas entrevistas, foram
examinados cinco inquéritos, que, por razões éticas e legais, não
serão identificados. Três inquéritos foram encaminhados ao
Poder Judiciário com apuração da autoria dos homicídios,
restando porém, em um dos casos, o acusado absolvido pelo
Tribunal do Júri por insuficiência de provas. Nos outros dois
casos, não foi possível o apontamento da autoria, em que pese,
em um desses casos, o convencimento policial ventilar chances
de se elucidar o caso. Assim, partindo-se do exame dos casos em
que foram identificadas as respectivas autorias e posteriormente
aqueles não-solucionados, pôde-se observar o que segue.
Em um dos casos, o registro de ocorrência policial
apresentava-se incompleto, havendo carências de dados
elementares, como a identificação de quem teria efetuado o
recolhimento do cadáver e testemunhas, uma vez que não se
conheciam a identidade da vítima, sua origem e, obviamente, a
identidade do criminoso. Apenas em um dos casos solucionados
houve a observação dos peritos sobre a não-preservação do local

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do crime. A materialidade do crime foi comprovada através de
laudos necroscópicos e, em um dos casos, por meio de exame e
DNA. A prova pericial demonstrou-se com maior robustez em
um único caso, em que só restou comprovada a autoria por
subsídios de exames papilares, residuográficos e balístcos. Nos
demais casos, a investigação policial apontou a autoria com base
em testemunhos e em uma confissão, o que, segundo a fala dos
próprios informantes, pode ser comprometedor:

[...] a prova indiciária involuntariamente pode acabar se


direcionando ao suspeito... é o caso xxx, onde
desapareciam “pessoas”, e três testemunhas avistaram um
suspeito com uma das vítimas, exatamente no dia de seu
desaparecimento. E o que acontece? Um policial é
procurado por uma das testemunhas, que diz: “Olha, a
pessoa que desapareceu esteve aqui, e um funcionário
anotou o nome do acompanhante e o seu “RG”. Três
testemunhas afirmaram que o desaparecido tinha estado
no local... Não havia outra hipótese. Tudo levava a crer
que o suspeito era o autor do crime, porém, não tínhamos
uma prova direta, que levasse à certeza da autoria, era
convicção firmada nos testemunhos, indícios que os
confirmavam e uma confissão.

Segundo Hespanha (1996, p. 175), a fidelidade do


testemunho nada mais é do que o resultado de um processo
psíquico do sensível e do racional que cada pessoa pode
perceber, sendo que o testemunho de uma pessoa conterá a
verdade que ela conseguiu percepcionar em relação aos fatos da
realidade. Logo, a testemunha de uma personalidade normal
poderá ser submetida a procedimentos sugestivos, interpretando a
realidade dos fenômenos de uma forma falsa ou errada. Da
mesma forma, segundo Tourinho Filho (1997), a confissão deve
ser vista com reservas.
Por sua vez, quanto aos casos não-solucionados, pôde-se
perceber, pelas leituras dos respectivos inquéritos policiais e dos
relatos dos entrevistados, que não houve a adequada preservação

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do local de crime em um dos casos e no outro, apesar da
preservação, a perícia não conseguiu fornecer subsídios
consideráveis para a investigação policial.
Constatou-se também que, nos casos sem apuração da
autoria, inexistem, em seus respectivos inquéritos policiais vários
documentos relacionados a investigação. Nos autos desses dois
procedimentos, as únicas peças periciais dizem respeito à
materialidade do crime.
Assim, com o exame desses procedimentos, constatou-se
a freqüente constituição da prova indiciária com base em
testemunhos e confissões, o que, como visto, pode conduzir ao
equivocado apontamento da autoria de um homicídio. Além
disso, também demonstrou-se o frágil amparo técnico-científico
que recebem as investigações.

Conclusão: Proposta de uma metodologia de investigação de


crimes de homicídios

Neste momento, torna-se oportuno fazer uma apreciação


a respeito das motivações e dos propósitos deste trabalho e das
conclusões a partir dele obtidas. Primeiramente, cabe lembrar
que a experiência profissional do pesquisador na área policial foi
o fator desencadeante da pesquisa, seguido da consciência da
necessidade de alteração da prática investigativa a partir da
Constituição Federal de 1988, que repele o emprego de
violências. Somou-se a isto a conscientização da
imprescindibilidade de um norteamento institucional capaz de
proporcionar condições para o estabelecimento de uma
padronização no que tange à investigação dos crimes de
homicídio. Igualmente, tem-se a convicção de que a repressão a
essa espécie de delito resulta no desestímulo à vingança privada e
no conseqüente fortalecimento do Estado.
Genericamente, a pesquisa teve por objetivo identificar
os métodos e técnicas empregados na investigação policial de
homicídios, sendo que, a partir desse objeto geral, apresentaram-
se outros específicos. A análise da eficácia do processo

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investigador demonstrou resultados satisfatórios, assim como o
fito de proporcionar subsídios ao trabalho investigativo,
podendo-se, a partir das conclusões da pesquisa, estabelecer um
traçado padrão, isso tudo associado ao desejo de,
pretensiosamente, contribuir-se para o desenvolvimento
doutrinário da instituição policial.
Confirmou-se a hipótese de que a investigação policial
de homicídio é desenvolvida sob bases empíricas, com emprego
de métodos dedutivo, indutivo e intuitivo, mas com frágil amparo
técnico-científico. Pôde-se ainda comprovar que essa
investigação funda-se, sobretudo, em testemunhos e confissões e
que a solução dos casos relaciona-se diretamente à dedicação
profissional dos investigadores e ao tratamento prioritário
destinado a essa espécie criminosa. Corroborou-se que o
tratamento prioritário destinado à investigação dos crimes de
homicídios acaba por intervir no desenvolvimento da apuração
de outras espécies de crimes, em decorrência do emprego de
todos os recursos humanos e materiais nas diligências pertinentes
ao homicídio, em detrimento dos demais. Finalmente, constatou-
se que, através do aprendizado empírico, forjado no cotidiano das
investigações, os policiais abstraem lições que são empregadas
no desenvolvimento de um método que se assemelha ao
consagrado pela doutrina de investigação policial de homicídios,
demonstrando-se, assim, a elevada capacidade de percepção do
policial civil, o que vem a justificar a terceira hipótese.
Através dos dados fornecidos pela DIPLANCO/PC e
pelo Poder Judiciário, pôde-se constatar a eficácia da
investigação policial de homicídios, como revelou o número
considerável de remessas de inquéritos policiais, além das
condenações dos acusados denunciados pelo Ministério Público e
levados ao Tribunal do Júri. Esse desempenho compromete as
atoardas que trazem à baila a discussão acerca da capacidade
persecutória da polícia judiciária. Deve-se ressaltar que, se o
desenvolvimento da investigação encontra dificuldades, isso se
deve, em parte, ao fato de a polícia não estar acompanhando o

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concomitante processo evolutivo, chegando inclusive a regredir
no que tange ao efetivo policial.
Nesse contexto dinâmico, apresentam-se os dilemas das
investigações policiais de homicídios, cabendo, por fim, reprisar
que este estudo engalanou-se na utopia que deve viver a
investigação policial moderna, qual seja, a obtenção de
convicções probatórias que afastem quaisquer hipóteses que
possam levar ao erro judiciário, muitas vezes fatal. Com
tranqüilidade, não apenas pelas observações do cotidiano policial
vividas pelo pesquisador, mas sobretudo pelos dados oficiais e de
campo apresentados, pode-se afirmar que a investigação policial
distanciou-se do emprego da prática de tortura essencialmente
por duas razões: porque a natureza do Estado Democrático de
Direito em vigência não tolera tal prática e porque a nova
geração policial reconhece que o valor da confissão como prova
é de presunção relativa, pelo que essa prática vem sendo
desprezada.
Por fim, consigne-se que políticas de respeito à
dignidade humana vem sendo divulgadas pelos órgãos de
segurança, com especial incentivo por parte da Secretaria
Nacional de Segurança Pública (SENASP/MJ), que realiza
excelente trabalho e supre uma lacuna na estrutura de segurança
nacional. A despeito das carências de toda ordem enfrentadas
pela polícia civil deste estado, apresenta-se a investigação
policial de homicídios com resultados satisfatórios, afastada do
emprego de métodos violentos, adaptando-se assim ao
ordenamento constitucional de 1998.

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