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Aulas teóricas de

DIREITO ADMINISTRATIVO
Ano letivo 2021/2022 | Professor Paulo Otero
Francisca Caldeira Cardoso
Aula de 22/09

Matérias a tratar em Administrativo I:


• Os fundamentos da Administração Pública (Manual de Direito Administrativo,
Volume I, Paulo Otero);
• A organização da Administração Pública (Aulas teóricas e Manual de Direito
Administrativo, Volume I, Freitas do Amaral;
• O ordenamento da Administração/ o direito que a Administração aplica, e a
diferença entre a aplicação das fontes pelos tribunais e pela Administração;

3 sentidos possíveis de Administração:

1) Administração como atividade humana


A administração é uma atividade humana que se integra no âmbito de uma organização e
que envolve gestão de recursos e satisfação de interesses e necessidades.
A admistração tem a seu cargo planear, organizar, conformar (configurar a realidade),
fiscalizar e informar.
Administrar é exercer um poder que não é próprio, um poder que é delegado, que é
subordinado à função legislativa.

2) Administração no sentido de organização, no sentido de uma estrutura apta a


desenvolver determinado tipo de atividade.
Quando falamos de Administração em sentido de organização, utilizamos “AP”.

3) Administração como poder/autoridade, isto porque a função administrativa é uma parte


da soberania do Estado.

Administração Pública DIFERE de Administração Privada.


A Administração Privada não tem por via de regra poderes de autoridade e visa prosseguir
interesses privados, ao passo que a Administração Pública visa sempre interesses públicos
(interesses públicos como necessidades coletivas que têm repercussão pública - ideia do
bem comum).
Contudo, podem existir interesses públicos prosseguidos por entidades privadas. Exemplo
disso são os concessionários: a BRISA é uma entidade privada que prossegue um interesse
público (a manutenção das auto-estradas).

A distinção entre a Administração Pública e a Administração Privada baseia-se em vários


critérios:
1) Critério teleológico da ação: as entidades públicas têm sempre a finalidade de
prosseguir o chamado interesse público, ao passo que as entidades privadas não!
2) Ordenamento que as regula: a Administração Pública é disciplinada pelo Direito
Administrativo, ramo de Direito Público, ao passo que a Administração Privada é
disciplinada pelo Direito Privado.
3) Lógica que anima a respetiva atividade: a Administração Privada obedece a um
princípio de liberdade, expressão da autonomia privada (vale a regra “é lícito tudo o que
não é proibido). Por oposição, na Administração Pública, vigora a regra da competência
(vale a regra “só é lícito o que é permitido”);
4) Desvalor jurídico: quando em Direito privado, eu pratico um ato que é contrário à lei, o
ato é nulo (a anulabilidade é exceção), enquanto que, em Direito público, um ato
contrário à lei, é anulável;
5) A quem compete o controlo dos atos: a Administração Privada está a cargo dos
tribunais comuns/civis, ao passo que o controlo da Administração Pública está a cargo
dos tribunais administrativos.

Não obstante o que diferencia a Administração Pública da Administração Privada, há


flexibilidade de fronteiras, pelo que a distinção com base critérios apresentados acima não é
sempre fácil e óbvia.
Flexibilidade de fronteiras:
Há necessidades coletivas que, ora estão no hemisfério da Administração Pública, ora estão
no hemisfério da Administração Privada (“A TAP deve ser uma empresa de capitais
públicos, e estar na esfera da Administração Pública, ou deve ser privatizada e estar na
esfera da Administração Privada?”).
Há necessidades coletiva que podem ser objeto de privatização ou de coletivização — isto
depende sobretudo da opção política (nomeadamente, se o governo é mais ou menos
socialista) ou da opção do legislador.

Existem, muitas vezes, necessidades coletivas que estão em concorrência: uma mesma
necessidade coletiva tanto pode ser objeto da Administração Privada, como da
Administração Pública (exemplos: saúde e ensino).

Permeabilidade da Administração Pública:


Um modelo económico-constitucional de matriz socialista tende a aumentar a
Administração Pública. Por sua vez, um modelo económico-constitucional de matriz liberal
tende a aumentar a Administração Privada.
Ou seja, “diz-me que modelo constitucional tens que eu dir-te-ei que dimensão da
Administração Pública tens”.

É nas mãos da Administração Pública que se encontra o sucesso ou o insucesso do modelo


constitucional de bem-estar, pelo que a CRP, em matéria de bem-estar, está refém da
Administração Pública.

Enquadramento histórico
• Na revolução francesa, em França, veio-se a descobrir que julgar a Administração ainda é
um ato de administração — assim, o controlo da Administração não podia ser feito pelos
tribunais (se assim fosse, quebrava-se o princípio da separação de poderes).
• O Direito Administrativo surge em França, na sequência da revolução, para legitimar os
poderes exorbitantes da Administração.
• Há uma fuga da Administração para o Direito Privado — falamos do Direito
Administrativo Privado.

O que é o Direito Administrativo Privado? É um Direito privado condicionado/limitado por


opções de natureza pública (quando a Administração aplica Direito Privado, este Direito não
é igual ao que é aplicado pelos particulares).
Características do Direito Administrativo Português:
• Atribuição de poderes de autoridade à Administração:
• Atribuição de posições jurídicas de vantagem aos cidadãos;
• Sujeição a controlo judicial e ao princípio da jurisdicidade;
• Grande protagonismo do poder executivo (do Governo) no contexto da Administração;
• Historicamente, uma grande influência francesa e, atualmente, grande influencia do
Direito Alemão. Para além disso, ninguém sabe Direito Administrativo, se não souber
Direito da União Europeia;

Vocabulário da Administração Pública


1) Interesse público
2) Vinculações
3) Responsabilidade
Vocabulário da Administração Privada
1) Relações administrativas
2) Pretensão
3) Garantias

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