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DIREITO ADMINISTRATIVO
PROF. PAULO OTERO
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DIREITO ADMINISTRATIVO | Prof. Paulo Otero
DIREITO ADMINISTRATIVO
ADMINISTRAR, ADMINISTRAÇÃO E DIREITO (PÁGS. 20 A 34)
1. ADMINISTRAR
Proveniente do latim, a palavra administrare introduz uma noção de servir alguma coisa
ou agir na direção de algo. Assim, de acordo com uma génese histórica e etimológica, é possível
dividir a palavra em três ideias:
à Ação: implica agir.
à Rumo: agir em direção a um fim específico.
à Subordinação: tem sempre em vista um propósito.
Por outro lado, administrar consiste também numa organização, que envolve a gestão
de recurso, com vista à satisfação de interesses. Assim, é uma gestão humana, de recursos, que
envolve, não só, planear (estabelecer uma estratégia), mas também organizar (dispor dos meios
adequados), conformar (uma intervenção conforme à realidade), controlar e informar (comunicar
decisões). Visando a satisfação de interesses de terceiros, entende-se que é uma atividade
delegada – tendo, assim, natureza fiduciária.
Como atividade delegada, administração pressupõe que existe um titular cuja gestão de
interesses está em causa e uma atividade subordinada à vontade real ou presumida desse
titular, que deve exigir responsabilidade daquele que gere os seus interesses. Ou seja, a
Administração Pública cumpre uma obrigação.
Note-se que a dualidade da noção administração, que pode respeitar ao exercício, bem
como à organização, pode remeter-se à administração de interesses privados (administração
privada) ou à administração de interesses públicos. Quando se tratem de interesses privados,
estes não se encontram ligados ao poder público nem correspondem a necessidades com
relevância política – já no que respeita a interesses privados, poder-se-á afirmar a
correspondência. Ainda assim, nada implica uma separação: as entidades privadas podem ser
encarregues da gestão de interesses públicos, exercendo poderes administrativos (exercício
privado de interesses e poderes públicos), numa lógica de delegação. Pode, ainda, ocorrer que
entidades privadas exerçam interesses de natureza privada, com importante relevância pública
(com um toque administrativo) – Santa Casa da Misericórdia, Cruz Vermelha Portuguesa.
Em suma, a distinção entre Administração Privada e Administração Pública comporta
efeitos jurídicos: a privada prossegue interesses privados e a pública prossegue interesses
públicos; os ordenamentos a que se encontram sujeitos são diferentes; estão sujeitas a
princípios distintos (princípio da liberdade vs. princípio da competência); estão sujeitas a
tribunais distintos.
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(3) As zonas de miscigenação ocorrem quando as necessidades coletivas podem ser
objeto de satisfação através de formas de administração privada ou, até mesmo, num sistema
concorrencial, podem também ser objeto de satisfação pela Administração Pública. São casos
as áreas da saúde e da educação, nas quais concorrem instituições públicas e instituições
privadas.
Em termos gerais, para evitar estas migrações, o legislador poderá salvaguardar áreas
de reserva de iniciativa privada e áreas de reserva de administração pública.
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à Apesar da afirmação de posições de vantagem de particulares, é ainda
reconhecida a Administração Pública uma posição de soberania.
à A Administração está sujeita ao princípio da competência (permissão para o
exercício de dado poder) e ainda ao controlo da legalidade, da
constitucionalidade e judicial.
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O VOCABULÁRIO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (PÁGS. 63 A 124)
1. OS CONCEITOS CENTRAIS
O vocabulário da Administração Público é ladeado de três conceitos fundamentais: (1) o
interesse público, (2) a vinculação, (3) a responsabilidade. É em torno deste núcleo essencial
que se desenvolve, por conseguinte, toda a ação administrativa.
(1) O interesse público fundamenta a atividade administrativa. Assumindo uma função
teleológica, entende-se que o agir administrativo tem em vista a prossecução do interesse
público.
Em termos substanciais, a noção de interesse público reconduz-se ao bem comum e
pode definir-se como necessidades coletivas que dispõem de relevância política (um interesse
que é comum a todos). De acordo com a regência, o interesse público afigura-se como as
necessidades de uma pluralidade de sujeitos, que têm sempre de se articular com uma correta
compreensão da dignidade e dos direitos humanos, ou seja, integra uma dimensão social da
dignidade humana – a satisfação não pode derrogar o núcleo essencial do princípio da dignidade
da pessoa humana.
Note-se, assim, que o bem comum está delegado ao Estado, o que implica que esta seja
a razão de ser dos poderes públicos: em termos gerais, não pode ser desrespeitado o núcleo
essencial da dignidade humana e devem ser tidos em respeito os direitos e deveres
fundamentais do homem.
Funcionalmente, o bem comum deve ser o critério de ação dos governantes, o que
alicerça uma dimensão ética ao exercício do poder e conduz a um princípio de moralidade
administrativa. Apesar de tudo, a definição deste conceito indeterminado de bem comum
depende da opção política vigente, sendo permeável às demais ideologias. Assim, dada a
permeabilidade do conceito, é inquestionável a sua ligação ao princípio democrático – já que as
opções políticas são resultado da vontade popular. A Administração Pública tem, deste modo,
como fundamento, limite e critério de ação o interesse público; dada a importância da sua
prossecução, a ele subjaz um princípio de boa administração – não se trata apenas de alcançar
o bem comum, mas de alcançar o melhor bem comum.
No entanto, não deixa de ser fundamental salientar o pluralismo e a conflitualidade que
subjazem ao conceito. Importa, assim, tomar em consideração uma dimensão intertemporal e
equigeracional do agir administrativo – as decisões do presente não se devem dirigir em
exclusivo às gerações presentes, podendo igualmente beneficiar as futuras, evitando a oneração
excessiva das gerações futuras. É igualmente importante salientar as demais configurações de
interesses públicos - territoriais, associativos (ordem dos advogados), institucionais e
transnacionais – que introduzem um clima de conflitualidade, já que se afigura impossível a
satisfação de todos, o que complexifica o agir e introduz a necessidade de balanceamento.
(2) A vinculação denuncia a necessidade de conformidade orgânica, procedimental,
material e teleológica do agir administrativo com os parâmetros normativos. Assim, a
Administração encontra-se subordinada a parâmetros normativos de conduta, nomeadamente
através de: fixação de competência, do procedimento, do conteúdo da atuação e dos fins dessa
atuação. A evolução história veio, assim, paulatinamente, a definir a lei como o limite do agir
administrativo.
Apesar de haver, claramente, vinculação, esta não atua sempre com a mesma
intensidade, podendo ser absoluta/rígida, quando se trate de regras, ou relativa/flexível, quando
se trate de princípios jurídicos (maior abertura decisória). Em consequência, a violação de regras
envolve, naturalmente, um grau de certa superior à violação de princípios. Subsiste, como se vê,
uma área de discricionariedade administrativa, que pressupõe que a própria Administração
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escolha de entre várias possíveis soluções, dentro dos parâmetros de normatividade e
procurando promover a eficiência, economicidade e a otimização. Pressupõe assim que se
procura pela melhor administração, sob a premissa de que o administrador é um bom
administrador.
De um modo geral, entende-se que a vinculação conduz à formulação de um juízo de
legalidade (conformidade jurídica) e de mérito (tendo-se em conta parâmetros de eficiência,
oportunidade e conveniência). Assim, se o juízo de mérito concluir um mau uso das normas,
entra-se no campo de uma ilegalidade indireta, por desrespeito do princípio da boa
administração.
Num cenário de desrespeito pelas normas jurídicas, pode ocorrer inconstitucionalidade,
ilegalidade (desrespeito pela legislação ordinária, que poderá ser direta ou indireta, fraude à lei)
ou ilicitude, quando haja uma vontade consciente de desrespeito. Significa, assim, que nem
sempre a legalidade se reconduz a ilicitude – podendo ocorrer que uma situação de ilegalidade,
depois de conhecido o erro e de persistência no mesmo, se torne numa situação de ilicitude. No
panorama de uma conduta inválida, importa notar que esta invalidade pode ser consequente (a
norma ao abrigo da qual se agiu era inválida) ou originária/própria (a norma era válida). O
desvalor-regra dos atos administrativos é a anulabilidade, podendo no entanto ser também a
nulidade ou a inexistência.
Note-se, em termos gerais, que a garantia da vinculação reside no controlo judicial, o que
denuncia a especial interdependência entre o poder judicial e o poder administrativo, sendo que
o primeiro pode limitar o agir do segundo. Ainda, panoramicamente, a vinculação está sujeita a
uma pluralidade de normas jurídicas e extrajurídicas (quando ocorre juridificação de tais
realidades).
(3) A responsabilidade fomenta o controlo dos resultados e dos efeitos da conduta
administrativa, procurando aferir o respeito, quer pelo interesse público, quer pela vinculação
(normatividade). Denuncia-se, assim, a necessidade de a Administração Pública prestar contas
da sua atividade.
Assim, relembre-se que esta necessidade de prestar contas se fundamenta em vários
aspetos: o agir administrativo é um poder delegado, logo há que responder perante o titular; a
prestação de contas fundamenta a própria vinculação, preenchendo o conceito; o controlo
provém do princípio republicano; o princípio democrático exige que a administração seja
legitimidade por maioria política. De um modo geral, dado que o poder atribuído à Administração
não é um privilégio, a responsabilidade e necessidade de prestação de contas decorre da
Garantia do Estado de Direito, limitando a autoridade do poder.
Tipologicamente, a responsabilidade pode ser por ação (algo que se fez e não deveria
ter feito) ou por omissão (aquilo que não se fez ou que se deixou de continuar a fazer). Em par
do que foi já referido, analisar a responsabilidade, implica analisar a conformidade jurídica da
conduta, controlar o mérito (a eficácia – se apta, a efetividade – se os efeitos pretendidos, e a
eficiência – se os resultados alcançados).
Já no que respeita ao objeto da responsabilidade, esta pode assumir várias aceções:
à Responsabilidade política – apreciação da oportunidade das soluções;
à Responsabilidade contenciosa – envolvendo litígios e uma solução pelo tribunal;
à Responsabilidade civil – gerando obrigação de indemnizar;
à Responsabilidade criminal – as condutas são tipificadas como crimes, levando
mesmo a pena de prisão;
à Responsabilidade disciplinar – violação de deveres, levando a infração
disciplinar;
à Responsabilidade financeira – violação de atos financeiros públicos que digam
respeito às normas de realização das despesas públicas;
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à Responsabilidade internacional e europeia – envolve a violação de
compromissos internacionais ou europeus.
Quando se trate de responsabilidade civil, os destinatários poderão ser de natureza
pessoal (titulares do órgão) ou de natureza institucional (versa sobre a própria instituição).
Não só o objeto ou os destinatários variam, mas também o cenário. Assim, a
responsabilidade poderá ocorrer no seio da Administração Pública (responsabilidade intra-
administrativa, entre subalterno e superior hierárquico), perante os tribunais (responsabilidade
judicial, numa ação contra o Estado), perante órgãos políticos (responsabilidade política
concentrada, apreciação pela AR de atos administrativos do Governo) ou perante o
eleitorado/opinião pública (responsabilidade política difusa, através de controlo social,
contencioso ou financeiro).
Para terminar, é fundamental não esquecer os efeitos da efetivação da responsabilidade
da Administração. Pode verificar-se, então, vários tipos: atos sancionatórios (um juízo de
responsabilidade, que introduz alterações na ordem jurídica); atos absolutórios (apesar do juízo,
não alteram a ordem jurídica); recomendações (expressam um sentido preferencial de decisão
futura, sem força imperativa); atos informais (tendo formas inorgânicas, poderão ou não ter
conteúdo sancionatório).
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e) Que envolvem posições de: supremacia da Administração, igualdade ou de
supremacia dos titulares.
f) Que envolvem um título jurídico: válido, inválido (pode cominar em
anulabilidade ou em inexistência ou nulidade) ou sem título jurídico (p. e. -
situações paracontratuais, cuja estrutura se aproxima de um contrato –
acordo tácito; ou situações de estado de necessidade, como agentes da
proteção civil arrombarem uma porta).
g) Execução instantânea ou continuada: produção de efeitos num só momento
ou produção, de efeitos, ao longo do tempo.
Doutrina: alguns autores entendem que todo o direito administrativo se
reconduz a situações jurídico-administrativas. A regência discorda, na
medida em que considera que nem sempre se pode reconduzir o Direito
Administrativo a uma relação jurídica; para além disso, nem as demais
relações administrativas se reconduzem a jurídico-administrativas
(remissão a outras qualificações).
A pretensão formula um pedido efetuado pelo particular à Administração ou contra a
mesma (ato de vontade do particular, que envolve uma conduta ativa ou passiva da
Administração). Poderá ser primária se envolver um dado pedido/decisão ou secundária se
envolver a reapreciação de uma decisão jurídica anterior. No entanto, é importante lembrar que
a pretensão não garante uma decisão favorável.
Como envolve sempre o direito a receber uma decisão, em termos processuais, a
pretensão pode ser dirigida a obter a apreciação dos pressupostos de conhecimento da questão
material ou pode envolver o mérito do pedido (não o procedimento, mas o conteúdo). Em
contraponto, a decisão da administração poderá estar vinculada por norma impositiva
(vinculação a decidir favoravelmente), por norma proibitiva (vinculação a decidir
desfavoravelmente) ou por norma permissiva (poder discricionário).
No que respeita aos destinatários, as pretensões podem ser dirigidas à Administração
ou aos tribunais contra a Administração (não permite, o princípio da separação de poderes,
pretensões de mérito do agir administrativo). No entanto, a Administração é a destinatária
preferencial das pretensões dos particulares – devem ser dirigidas as pretensões primeiramente
à Administração (princípio de decisão prévia), o que revela que não há concorrência entre a
Administração e os tribunais, estando estes segundos dotados de competência para dirimir
litígios.
As garantias são posições jurídicas de vantagem que fundamentam pretensões relativas
a condutas administrativas – são trunfos. Permitem, de um modo geral, obter decisões positivas,
condutas materiais, a defesa da legalidade face a omissões ou ações ilegais, a não adoção de
uma conduta, etc. Assim, reforçam o protagonismo dos particulares.
Note-se, podendo levantar-se a questão, que não existe uma obrigação dos particulares
controlares/denunciarem a Administração, nem ninguém poderá ser obrigado a denunciar
situações que o autoincriminem (direito à não autoincriminação). Em termos tipológicos,
podemos encontrar garantias políticas, garantias administrativas ou garantias judiciais.
à Políticas: direito ao sufrágio, direito de participação política, direito de iniciativa
popular (referendos, p. e.), direito de petição, direito de resistência.
à Administrativas (acionar, junto da Administração, fiscalização da sua conduta):
garantias petitórias (pedir uma primeira decisão sobre dada situação), garantias
impugnatórias (colocam em causa dada decisão, solicitando alteração ou
revogação), a queixa do Provedor de Justiça (denuncia do agir da Administração
perante o Provedor de Justiça, que procederá à averiguação).
à Judiciais: determinam a formulação de pretensões contra a Administração,
podendo vidar a resolução de dado litígio, o efeito útil da sentença e a execução
da sentença contra a Administração.
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A REVOLUÇÃO ADMINISTRATIVA (PÁGS. 128 À 164)
1. A REVOLUÇÃO ADMINISTRATIVA
É sabido que é no Estado que reside a melhor tutela garantística a liberdade: sem esta
autoridade não há garantia de efetiva liberdade, tal como sem liberdade nenhuma autoridade é
legítima – resulta, assim, a necessidade entre autoridade e liberdade, que cabe à Administração
Pública. Ora, nas últimas décadas tem-se vindo a reequacionar esse equilíbrio, o que conduziu a
que a Administração Pública e o ordenamento regulador correspondente sofressem alterações.
Nestes termos, note-se desde logo a mudança das ideias de vinculação à lei: a lógica de
Administração como serva da lei tem perdido força, em resultado, sobretudo da imperfeição da
lei e da abertura do ordenamento – desmistificou-se o mito de uma completa subordinação à lei.
Deve-se, esta perda de importância, também à crise da representação política parlamentar, que
retirou legitimidade democrática à lei, o que fez com o que o Governo ganhasse legitimidade
reforçada – órgão superior da Administração Pública.
Para além disso, outras mudanças se operaram: o Estado foi objeto de uma abertura
externa, internacionalizando-se (nomeadamente, com a integração na União Europeia) e, ainda,
permitiu a sua fragmentação interna – passou a descentralizar poderes em entes infraestaduais
e a delegar funções a entidades privadas.
1.2. A SUSTENTABILIDADE
No contexto da revolução da Administração, surgem vários entendimentos que podem
ser dados à visão que tem das gerações anteriores e das gerações futuras:
à Administração Conservadora: coloca ênfase nas gerações passadas, afirmando
que o presente se encontra condicionado pelo passado;
à Administração Predadora: coloca ênfase no agir do presente, que consome o
futuro – não age conforme o futuro, sem preocupações sustentáveis;
à Administração Sustentável: entende que o presente deve ser ditado pelo futuro,
o que significa uma preocupação com o facto de a geração presente não
consumir, esgotar ou sacrificar o consumo da população futura.
Assim, em termos gerais, o que significa sustentabilidade? Desenvolvimento e satisfação
de necessidades da geração atual, não restringindo a capacidade das gerações futuras. Exige,
deste modo, o aproveitamento racional dos recursos naturais.
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BASES JURÍDICAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – O CONCEITO E AS FUNÇÕES
(PAGS. 171 À 250)
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Assim, podemos traçar alguns traços gerais do conceito da função administrativa: integra
toda a atividade pública, que visa a satisfação das necessidades coletivas (não envolve definir
opções políticas primárias nem produzir sentenças judiciais); essas necessidades fundamentam-
se num ato jurídico (normas de atribuição); visa a satisfação de tarefas principais, como
ordenação da vida social, garantia da ordem e da segurança, realização de prestações sociais,
obtenção de recursos financeiros e gestão de meios humanos e materiais; envolve a prática de
atos jurídicos e de operações materiais.
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à Normas de atribuições: a satisfação pertence à Administração e permitem que
as entidades publicas coletivas satisfaçam o interesse público, levando a
violação a incompetência absoluta (ilegalidade orgânica).
à Normas de competência em sentido estrito: distribuem os poderes entre os
vários órgãos das entidades administrativas, levando a violação a incompetência
relativa (meramente anuláveis).
1. Normas de competência potestativa: as alterações dependem da
intervenção unilateral.
2. Normas de competência não potestativa: as alterações não dependem
da intervenção uniliteral, exigindo outras cooperações.
Quanto às normas que disciplinam o exercício de uma competência, podemos distinguir
vários tipos:
à Normas que definem princípios gerais: devem salientar-se os princípios da
legalidade da competência, da irrenunciabilidade da competência e da
inalienabilidade da competência.
à Normas que fixam os pressupostos do exercício, figurando um cenário para o
exercício dos poderes; o erro nos pressupostos conduz a incompetência.
à Normas que determinam os fins do exercício, definindo o motivo pelo qual a
competência deve ser exercida, levando o desrespeito a uma situação de desvio
de poder.
à Normas que estabelecem limites ao exercício, estabelecem as condições e
requisitos do objeto da decisão; a violação conduz a violação da lei.
à Normas que relevam o procedimento e a forma do exercício, cuja violação leva
a ilegalidade formal ou vício de forma.
Quanto às normas que regulam normas de competência, podemos, de entre elas,
distinguir:
à Normas que regulam a produção as normas de competência.
à Normas que disciplinam as relações entre as fontes das normas de
competência.
à Normas que resolvem conflitos de normas de competência, quer seja conflitos
decorrentes do conteúdo (competência odiosa, conflito negativo; competência
agradável, conflito positivo).
à Normas que definem critérios de interpretação.
à Normas que incidem sobre a integração de lacunas.
Note-se que, as normas que regulam normas de competência, têm particular relevância
nas relações entre os demais espaços de sobreposição decisória da Administração, onde se
estabelecem potenciais relações conflituantes.
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patrimonial), natureza organizativa (através de estruturas funcionais e ordenadas de pessoas
singulares, integrando o interior de pessoas coletivas) ou natureza privada (recorrendo a
entidades privadas para a prestação de serviços, através de regimes contratuais).
Neste sentido, os últimos anos, de profunda revolução administrativa, têm permitido
significativas alterações nos meios recorridos: a aproximação do regime do trabalho público ao
regime do trabalhador privado; a venda de património público, nomeadamente quando
alicerçado a motivações financeiras; aumento das necessidades financeiras; recurso contratual
a meios privados, fomentando parcerias público-privadas e privatização de serviços públicos,
criando zonas de Administração Pública mínima. Para além disso, note-se que a conjunta
financeira atual tem contribuído para o repensar destes meios, procurando-se também pela
estabilidade económica.
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à Administração eletrónica e Administração tradicional
à Administração transparente e Administração opaca
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Acresça-se que podem assumir natureza substantiva (atos de satisfação de pretensões),
de natureza procedimental (exigir a tramitação processual de dada pretensão) e processual (que
se permitem exercer junto dos tribunais contra a Administração.
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da Constituição, ou não fundamentais, constantes de atos normativos
infraconstitucionais.
à Sujeições: o sujeito encontra-se vinculado a suportar, na sua esfera jurídica, os
efeitos da atuação unilateral do titular de uma posição jurídica ativa potestativa.
Podem assumir natureza geral, decorrentes da vida em comunidade, com o
propósito de vincular a generalidade dos cidadãos; ou natureza especial, impõe
a vinculação para um número determinado de pessoas.
à Ónus: estabelecem um determinado encargo como meio para obter uma posição
de vantagem – são estabelecidos em proveito do interesse do próprio - não
resultando, o incumprimento, em qualquer ilicitude, apenas impedindo a
obtenção de uma vantagem.
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DIREITO ADMINISTRATIVO
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (PÁGS 254 A 292)
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DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCEÇÕES POLÍTICO-FILOSÓFICAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (PÁGS. 295 A 328)
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Perante as normas constitucionais, a Administração Pública é chamada a produzir bens
e a prestar serviços que satisfaçam os direitos económicos, sociais, culturais e ambientais. Estas
imposições de bem-estar, com a Administração como destinatária, conferem-lhe protagonismo
político – a Constituição em ação, que se confronta com a Constituição em omissão, em resultado
de um idealismo não concretizável pelo agir pragmático da Administração.
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limite da intervenção administrativa; para além disso, leva a que os direitos fundamentais sejam
tidos como instrumentos de defesa, mandatos de proteção, obrigações prestacionais,
vinculações procedimentais ou problemas organizacionais e que a conduta administrativa se
alicerce num princípio geral de justiça, na medida em que proíba o excesso ou a insuficiência,
tutele a confiança e promova a igualdade.
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CONSTITUIÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1. CONSTITUIÇÃO ADMINISTRATIVA
O conceito de Constituição Administrativa reporta-se às disposições constitucionais
referentes à Administração Pública e às suas relações com os cidadãos (posições jurídicas dos
particulares) – representa um verdadeiro código administrativo.
Desempenha, por norma, três funções: bases de regulação da organização, atividade e
autoridade da Administração Pública; fundamenta as garantias dos cidadãos face à
Administração; forma um setor normativo com força jurídica superior, designado normalmente
de Direito Constitucional Administrativo. Vincula, assim, toda a regulação da Administração.
Note-se, ainda, que esta Constituição Administrativa pode resultar de uma dimensão
formal, que foi objeto de publicação oficial – ou seja, que se encontra escrita -, ou pode resultar
de uma dimensão não escrita, proveniente da Constituição (Administrativa) não oficial.
Há, assim, dois conceitos de Constituição Administrativa:
à Uma Constituição Administrativa formal, que integra os preceitos da
Constituição Administrativa formal que se referem à Administração e às suas
relações com os cidadãos.
à Uma Constituição Administrativa material, cujos preceitos, integrando as
normas da Constituição formal, podem resultar da análise de fontes
infraconstitucionais, através das quais se obtêm essencialidades estruturantes
– ganham uma dimensão material constitucional ao nível da organização e
funcionamento da Administração.
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organização (maior em estados compostos), nos modelos de centralização e
descentralização do poder, simplicidade de estruturas, etc.
à O sistema económico: pode refletir-se, as distinções, entre sistemas económicos
de mercado e sistemas de direção central, sendo que nos primeiros será menor
a intervenção e maior a iniciativa privada (livre funcionamento do mercado), e
nos segundos será maior a intervenção da Administração, nomeadamente no
exercício da atividade empresarial, na produção de bens e na prestação de
serviços.
à O sistema político governativo: a dicotomia assenta entre a matriz presidencial e
a matriz parlamentar, sendo que o primeiro se reflete num protagonismo político
unipessoal adotado pela Administração, falando-se em Administração do
presidente; já o segundo promove a colegialidade, a direção e a
responsabilidade individuais, havendo legitimação indireta do Governo por via
parlamentar – Administração do Governo.
• Em Portugal, verificando o segundo cenário, concretiza-se o Governo
como o órgão superior da Administração Pública, competindo ao PM
dirigir a política, coordenar a ação dos ministros e controlar a maioria
parlamentar, de que é líder.
• Maioria absoluta parlamentar: se, nas eleições, os resultados forem de
maioria absoluta verifica-se uma Administração do primeiro-ministro,
enquanto órgão a que compete a Administração Pública e as suas
demais pessoas coletivas.
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Apesar de tudo, é fundamental reconhecer que não é possível dar projeção a todos os
interesses.
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à Princípio da soberania internacionalizada e europeizada: postura a convivência
do Estado com a sociedade internacional, integrando organizações
internacional, que se convertem numa autolimitação da soberania clássica; a
Administração torna-se também parte dessas instituições internacionais –
necessidade de políticas e soluções serem resultado de esforços conjuntos que
ultrapassam fronteiras; sujeição da Administração a normas de Direito
Internacional, normas convencionais e normas de Direito da União Europeia
(nomeadamente, em matéria orçamental); transferência, em algumas matérias,
da esfera decisória para o domínio internacional; dadas matérias transferem-se
também para o exercício em comum pela comunidade internacional; o
referencial normativo ser já de produção internacional.
à Princípio da unidade descentralizada: comporta o princípio da subsidiariedade,
autonomia e descentralização, sendo conjugada a unidade nacional com a
descentralização da Administração, com a criação de entes infraestaduais.
• Princípio da unidade: se a reserva de lei da República, a reserva
administrativa da Republica (matérias cuja decisão cabe ao Estado e
não a entes inferiores), reserva de função judicial a favor dos tribunais
do Estado (em detrimento dos arbitrais); em razão da descentralização,
princípios como – primado das fontes de juridicidade comum, definição
do Governo como órgão superior da Administração, responsabilidade
política do Governo perante Assembleia da República, não haver
matérias imunes ao interesse nacional.
• Princípio da subsidiariedade: intervenção do Estado apenas quando as
matérias não possam, não devam ou não sejam tão bem decididas por
entes infraestaduais, não podendo haver, ainda assim, privação de
poderes do Estado; regime autonómico para os arquipélagos, com
poderes legislativos e administrativos; autarquias locais, enquanto
poder administrativo local, não podendo ser criadas novas categorias
além das expressas na CRP; outras manifestações de autonomia em
entidades como associações públicas e institutos públicos; permissão
para a criação de novas entidades.
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à Princípio da unidade: limita a descentralização e a desconcentração e resulta da
posição do governo enquanto órgão superior da Administração Pública e da sua
responsabilidade política perante a Assembleia; atribui-se ao governo poderes
de intervenção intra-administrativa e sobre as restantes entidades
infraestaduais, que limitam a referida desconcentração e descentralização
(poderes de direção, superintendência e tutela – 199).
à Princípio da participação dos interessados na gestão da Administração:
representa um reforça da democracia e um complemento à legitimação
democrático-representativa, podendo envolver a participação na eleição de
titulares, a organização em associações públicas de base territorial e
socioprofissional, etc.
à Princípio da aproximação dos serviços às populações: envolvendo a
descentralização e a desconcentração, procurando a proximidade dos serviços
públicos às necessidades das populações; no entanto, daí decorrem limites
como o problema da imparcialidade e a utilização da informação (necessária
numa órbita de revolução administrativa, por forma a facilitar os procedimentos);
à Princípio da desburocratização: numa lógica de administração informatizada, o
objetivo será o de simplificar as estruturas e as relações, procurando, ainda, a
legitimidade democrática e não um aparelho de burocratas profissionalizados.
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interesses em questão; envolve neutralidade administrativa e parâmetros
objetivos, lógicos e transparentes de decisão
à Princípio da boa fé: que reúne vários corolários, como o respeito pelas
promessas feitas, a proibição do abuso do direito, a interdição de
comportamentos contraditórios, a relevância da culpa in contrahendo, a
proibição da fraude à lei e a tutela da confiança e da segurança jurídicas.
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à Princípio da liberdade de petição: representa a faculdade de os administrados
formularem pedidos à Administração Pública ou sobre matéria administrativa ao
poder público, em termos individuais ou coletivos, e com uma relação direta ao
direito de petição (permite defender posições jurídicas ou a juridicidade).
• Representação: uma chamada de atenção para a validade ou
oportunidade de uma decisão, retardando a decisão, em benefício de
melhor esclarecimento.
• Queixa: denunciar à Administração uma situação que envolve ações ou
omissões e que apela a uma investigação/averiguação, apurando
veracidade ou dimensão, podendo conduzir a revogação, sanção, etc.
• Reclamação: impugnação da decisão ao próprio autor, requerendo a
revogação, suspensão ou modificação;
• Recurso: impugnação de uma decisão perante a Administração,
solicitando a sua revogação, suspensão ou modificação;
• Petição em sentido estrito: pedido no sentido de ser adotada uma dada
providência em relação a um problema concreto;
à Princípio do arquivo aberto: representa o direito de acesso aos arquivos e
registos administrativos, embora salvaguardando informações relativas a
matérias sigilosas
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– o legislador deve garantir um procedimento que, antes de tomadas as
decisões, permita a participação dos cidadãos no processo de formação de atos
que os tenham como destinatários ou relativamente aos quais tenham interesse.
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contra o Estado e contra outras entidades públicas (p. e. o direito à propriedade
privada).
à Princípio da salvaguarda de garantias institucionais de natureza administrativa:
limitam, estas garantias, a margem de liberdade do legislador na sua
disponibilidade e configuração (são casos: autonomia regional, autonomia local,
autonomia das associações públicas, função pública e regime próprio, domínio
público e reserva de Direito Administrativo).
à Princípio da configuração de certos poderes administrativos como direitos
fundamentais: configura-se a natureza de direitos fundamentais a poderes
administrativos reconhecidos a entidades públicas (é o caso da autonomia
universitária, artigo 76º/2).
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DIREITO ADMINISTRATIVO
PERSONALIZAÇÃO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PERSONALIZADA
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Direito da União Europeia, que a pessoa coletiva pública está sujeita à influência dominante, que
é definida por três critérios: criação por entidades públicas, membros nomeados por entidades
públicas e capital maioritário pertencente a entidade pública – prevalece, assim, a materialidade,
em detrimento da forma.
Outro grande problema tem que ver com a crescente desresponsabilização: a
personalização das estruturas da Administração Pública leva a que seja o património do Estado
a responder pelos danos resultantes do agir. Para evitar esta afetação do património do Estado,
iniciando-se um processo de desresponsabilização patrimonial, criam-se entes satélites, que
prosseguem os seus fins, com a vantagem de não assumir os riscos de responsabilização
(salvaguarda do património do Estado). No entanto, entende-se, aqui, um desvio de poder: o ato
de criação é inválido, porque não segue os fins que lhe seriam atribuídos.
2. A COMPLEXIFICAÇÃO
A atividade administrativa, em termos clássicos, pode assumir uma vertente interpartes,
que diz respeito à relação entre uma entidade administrativa e vários sujeitos determinados, ou
uma vertente ergaomnes, que diz respeito à relação entre uma entidade administrativa com uma
generalidade ou pluralidade indeterminada de sujeitos.
No entanto, esta perspetiva clássica, com a personalização da Administração, veio a
complexificar-se, nomeadamente nas relações dentro da própria Administração e nas relações
desta com os cidadãos (desenvolveram-se relações intersubjetivas, que levaram à intervenção
plural de entidades públicas no âmbito de dada situação). Para além disso, verifica-se uma
progressiva conflitualidade entre diferentes interesses privados, bem como uma crescente
produção de efeitos decisórios face a terceiros.
Esta multilateralidade revela a multiplicidade de interesses públicos particulares em que
se desdobra o interesse público abstrato, que acaba por se revelar um conceito fragmentado
que perdeu generalidade e homogeneidade.
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supremacia e, ainda, a responsabilização dos órgãos pela sua conduta, sedo possível um órgão
desencadear uma ação judicial contra os atos praticados por outro órgão.
(2) As relações intraorgânicas reportam-se a situações que ocorrem no interesse de um
órgão da mesma pessoa coletiva. Pode, assim, verificar-se que a conduta do titular do órgão se
projeta atividade desenvolvida pelo mesmo órgão e, ainda, a sujeição dessas relações a normas
específicas de regulação (maiorias e responsabilização pessoal, por exemplo).
(3) As relações laborais reportam-se aos demais titulares dos órgãos das pessoas
coletivas, ou melhor, às relações que entre estes se estabelecem – a grande maioria
corresponde, afinal, a funcionários necessários à formação e expressão da vontade do órgão.
Estas relações envolvem, assim, o pessoal que faz parte da componente humana das diversas
estruturas, obrigando à conjugação dos interesses laborais com os interesses da entidade
patronal (traduzem-se em estatutos, regimes de exercício de funções, regimes de contratação,
exercício de direitos, etc.).
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constitucional – dispuser, esta é direta e expressa; caso contrário, será indireta. Entende-se,
assim, a prevalência dos primeiros em relação aos segundos.
(2) Por interesse entenda-se a relação de tensão entre um sujeito e um determinado bem
capaz de satisfazer as necessidades do sujeito. Podemos identificar dois polos: interesses
configurados como direitos subjetivos, conhecidos como direitos fundamentais; interesses não
configurados como direitos subjetivos, dispondo apenas de proteção constitucional. Pode ainda
verificar-se conflitos entre interesses públicos e interesses privados ou, até mesmo, entre
interesses públicos.
(3) Por valor entenda-se critérios de avaliação de bens ou de condutas, que traduzem
juízos axiológicos de bondade, superioridade e quantificação. Podem ter natureza hierárquica
superior ou inferior, que lhes irá determinar a prevalência.
à O Valor da Dignidade Humana: o valor fundamental da dignidade humana, de
acordo com a ordem constitucional, parece prevalecer sobre o interesse público
e face a qualquer ponderação de bens, interesses e valores com tutela
constitucional. Num caso de conflito entre dois valores que se alicercem à
dignidade humana, deve prevalecer o que maior intensidade ou proximidade
revelar a essa dignidade – em caso de paridade, ambos carecem de igual
proteção.
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de prevalência de um, deve analisar-se essa prevalência com base no princípio da
proporcionalidade (um sacrifício justificável e proporcional).
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O problema destas estruturas e decisões técnico-científicas afigura-se na sua
insusceptibilidade de substituição e de controlo jurisdicional – revela-se imune à fiscalização
política e limitadamente controlável pelos tribunais. No entanto, note-se uma limitação
importante: a aplicabilidade direta das normas constitucionais.
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à Privatização dos critérios substantivos de decisão: a atuação administrativa
passa a ser pautada por uma lógica própria dos agentes económicos privados
(critérios de atuação ligados à lógica privada). A atuação passa a estar
condicionada por instrumentos de mercado (concorrência, decisões estratégias
à luz dos critérios de mercado, atrair investimentos estrangeiros).
• Limite: lei habilitante, na medida em que se verifique precedência
de lei, que discipline os termos de acesso e permanência no
mercado, que garanta o papel subsidiário do Estado e que corrija e
sancione os comportamentos que ponham em causa o mercado e a
prossecução do interesse público.
à Privatização dos mecanismos de controlo da Administração: comporta a
privatização das entidades encarregues do controlo e dos mecanismos do
controlo (recurso a empresas do setor privado e uma aproximação aos sistemas
de controlo e gestão das empresas do setor privado).
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A atuação administrativa, no que respeita ao armazenamento de informação, é limitada,
quer através de direitos fundamentais, quer através de princípios.
Quanto a direitos fundamentais, cabe referir:
à Direito de acesso a todos os dados informatizados que lhes digam respeito.
à Direito a exigir a retificação e a atualização dos dados informatizados.
à Direito a conhecer a finalidade a que se destina o armazenamento dos dados.
à Direito a ser esclarecido sobre a natureza obrigatória ou faculdade de recolha
de dados.
à Direito a consentir, expressamente, na recolha de certos dados.
à Direito à salvaguarda da confidencialidade dos dados pessoais.
Quanto aos princípios fundamentais, cabe referir:
à Principio da subordinação as normas constitucionais relativas à organização,
atividade e garantias administrativas.
à Princípio da paridade garantística entre as formas de exercício tradicional da
atividade administrativa e as novas formas eletrónicas de agir administrativo.
à Princípio da reserva de lei face a todas as exigências de utilização de meios
eletrónicos por parte dos cidadãos no seu relacionamento com a Administração
(só os atos legislativos podem criar novas obrigações aos cidadãos).
à Princípio da utilização de um meio alternativo aos meios eletrónicos (não pode
haver descriminação pela falta de acesso aos novos meios).
à Princípio da acessibilidade à informação e aos serviços administrativos por via
eletrónica.
à Princípio da neutralidade tecnológica (não pode haver prejuízo pela opção/não
opção pelos meios eletrónicos).
à Princípio da equivalência entre o suporte digital e o suporte físico.
à Princípio da segurança no relacionamento eletrónico – quatro requisitos
principais: a integridade (garantir a completude do documento), fidelidade
(garantir que o documento não foi alterado), autenticidade (prova de que o
emitente e o recetor são autênticos) e conservação (deve a documentação ser
arquivada e devem ser feitas cópias de segurança).
à Princípio da equilibrada ponderação entre o respeito pela confidencialidade e a
garantia de transparência da ação administrativa.
à Princípio da cooperação informática entre as diferentes Administrações
Públicas.
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DIREITO ADMINISTRATIVO
A DESTERRITORIALIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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DIREITO ADMINISTRATIVO
A DIMENSÃO INTERTEMPORAL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
3. A ATENDIBILIDADE DO PASSADO
O segundo problema da atuação administrativa, no que respeita à sua dimensão
Intertemporal, reside na consideração das situações passadas – nomeadamente, na sua
conversação ou, ao invés, na sua alteração, através da retroatividade. Podem, por isso, ocorrer
situações diversas:
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à Retroatividade em sentido próprio: a situação jurídica, já esgotada, é
reconfigurada, com uma intervenção a posteriori.
à Retroconexão em sentido próprio: a nova regulação produz efeitos para o futuro
(conserva os factos passados).
à Retroconexão com efeito retroativo: além de produzir efeitos futuros, atinge
também situações jurídicas do passado.
Quanto a esta atendibilidade do passado, há a ter em conta limites expressos: a
proibição da retroatividade das decisões que impunham sacrifícios excessivos; obrigatoriedade
de retroatividade em decisões sancionatórias de conteúdo mais favorável, em atos de execução
retroativa, em interpretações de decisões anteriores, numa declaração de invalidade (salvo
existindo terceiros de boa fé) e em decisões judiciais anulatórias.
Acresça, ainda, que como forma de atendibilidade do passado admite-se, também, a
vigência de direito transitório, que permite a aplicação da lei nova e a tutela de situações
adquiridas à luz da lei antiga.
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anulabilidade os tribunais não poderão modelar os efeitos destrutivos da retroatividade. A
regência entende que sim: o juiz passa a poder proceder à anulação de um ato, restringindo os
efeitos destrutivos decorrentes da retroatividade – podendo, mesmo, permitir que o ato continue
a produzir efeitos jurídicos.
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A Organização
Administrativa
2ª Parte
PROF. PAULO OTERO
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DIREITO ADMINISTRATIVO
TEORIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
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1.3. A PERSONALIZAÇÃO E DESPERSONALIZAÇÃO
O Direito Administrativo pode: atribuir personalidade jurídica ou desconsiderar a
personalidade jurídica.
à Atribuição de personalidade jurídica: é uma ficção, que não resulta da lei.
Exemplos de órgãos com personalidade: Presidente da República, Assembleia
da República, Tribunais, Provedor de Justiça, Procurador Geral da República. E
que permite conferir:
o Poder de auto-organização interna.
o Autonomia patrimonial e decisória.
o Responsabilidade civil própria.
o Personalidade judiciária e legitimidade processual (demandar e ser
demandadas).
à Desconsideração da personalidade jurídica: situações em que o Direito
Administrativo trata aquela entidade como se a mesma não tivesse
personalidade jurídica. Exemplos: litígios entre órgãos da mesma pessoa
coletiva; responsabilidade civil pessoal do titular do órgão (património do titular
é que responde, e não a pessoa coletiva).
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São, ainda, admissíveis figuras como: a representação de entidades públicas
(empréstimo legal de órgãos) e a gestão de negócios (entidades privadas que agem em nome da
administração pública).
Relações de Verticalidade e de
rígido, que não permite a intercomunicação.
2. Regência: o que caracteriza estas relações é uma elasticidade das normas,
logo há intercomunicabilidade. Porquê?
Interdependência
a. Princípio da Subsidiariedade: a decisão pertence à entidade de
âmbito menor, podendo, por mera eficácia, ser substituída pela
entidade de âmbito maior.
b. Princípio da supletividade do Estado: quando haja omissão, esta é
preenchida pelo Direito do Estado, que intervém até à entidade
pública disciplinar a matéria.
c. Princípio da prevalência do Direito do Estado: em casos de colisão,
deve prevalecer a jurisdição do Estado.
Cabe perguntar: existem poderes de intervenção entre as Entidades? A resposta parece
ser positiva, no sentido de se admitir: poderes de entidades públicas sobre entidades públicas e
de entidades públicas sobre entidades privadas.
Assim, nas relações intra-administrativas, podemos encontrar poderes que variam no
seu grau de intensidade:
1. Poderes de superintendência: uma entidade pública pode orientar a atividade de outra
entidade, através da fixação de diretivas (impõe fins) ou de recomendações (não
imperativas, de carácter preferencial). Incidem sobre a Administração Indireta e podem
conjugar-se com poderes de tutela (menos intenso).
2. Poderes de tutela: são poderes de controlo, que envolvem o controlo da legalidade e o
controlo do mérito (juízos de oportunidade e de conveniência).
a. Regime da tutela: só é admissível quando esteja prevista na lei, ainda que o
artigo 199º/1/g) a preveja; só pode ser realizada nos termos previstos na lei.
i. Especificidade: aquele a quem é permitido pedido (direito de petição),
implicitamente permite a tutela revogatória e anulatória – uma queixa,
p.e. permite à entidade a quem é formulada a revogação do ato em
causa.
ii. Exceções: as autarquias locais, apenas em termos inspetivos é que
podem tutelar o Estado.
b. Tipos de tutela.
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i. Financeira: tutela de mérito + de legalidade.
ii. Integrativa: confere qualquer coisa (o orçamento tem de ser aprovado
pela entidade tutelar).
iii. Inspetiva: averigua se houve, ou não, desrespeito pela lei.
iv. Sancionatória: queixa, processo crime ou sanção.
v. Revogatória:
1. Anulatória: cessa a vigência dos atos da entidade tutelar –
pressupõe ilegalidade.
2. Revogatória: juízo de inconveniência – pressupõe falta de
mérito/conveniência.
vi. Substitutiva: agir no lugar do tutelado.
vii. Contratual: pode existir, desde que não viole limites constitucionais.
3. Poderes de coordenação: ordenar e harmonizar interesses de entidades públicas
diferentes, em potencial conflito, evitando-se contradições. Assim, pressupõe uma
entidade que coordena (fins mais amplos) e várias entidades coordenadas.
a. Regime: regra geral, todas as entidades estão sujeitas a coordenação
governamental.
b. Exceções: quando estão sujeitas a cooperação ou quando sejam criadas pelos
governos regionais.
4. Poderes de cooperação: pressupõe a igualdade entre as entidades (colaboração na
concertação de interesses, predominando a paridade). Quando não existam
mecanismos de tutela, superintendência e coordenação, então existe o COOPERAÇÃO:
corresponde a deveres acessórios, como a informação, a lealdade, o auxílio, a
colaboração e a não criação de obstáculos (o mais importante).
a. Exemplos (artigo 229º/1 e 4): cooperação entre o Estado e as Regiões
Autónomas, entre a União Europeia e os Estados Membros, entre as
Administrações dos Estados Membros.
3. AS ESTRUTURAS ORGÂNICAS
Desde logo, importa encontrar e atribuir uma noção a ÓRGÃO:
Centro institucionalizado que expressa uma vontade que é imputável a
uma pessoa coletiva. Ou. Centro de imputação de direitos e deveres.
Assim, do órgão, é possível diferir: o cargo, o agente (titular do órgão) e a competência
(esfera de intervenção decisória do órgão).
É, ainda, possível distinguir vários tipos de órgãos:
1. Órgãos colegiais
2. Órgãos centrais e locais: conforme atuam sobre todo o território ou apenas sobre
uma fração deste.
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3. Órgãos ativos, consultivos e de controlo: conforme decidam, emitam pareceres
ou fiscalizem.
4. Órgãos permanentes e temporários: conforme atuem sempre ou apenas em
determinados períodos.
5. Órgãos representativos e não representativos: conforme sejam eleitos ou
nomeados.
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3.4. OS SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS
Os serviços administrativos são:
Conjuntos de pessoas singulares, que existem no âmbito das
pessoas coletivas e que visam implementar as atribuições das
pessoas coletivas, sob direção dos respetivos órgãos.
Assim, os serviços administrativos exercem atividades de auxílio, podendo ser
qualificados: em função do território (centrais ou locais), em função da hierarquia, em função de
serem principais ou secundários, em função de poderem ser exercidos por empresas privadas
ou por empresas públicas (natureza pública ou natureza privada).
Nota: até que ponto pode ir essa privatização?
Em termos de regime, os serviços administrativos podem reduzir-se a três ideias:
1. Poder de auto-organização interna.
2. Os de natureza pública pautam-se pelo princípio da continuidade, havendo
mesmo limites ao direito à greve (garantindo serviços mínimos).
3. Pautam-se, no geral, pelo princípio da igualdade e da onerosidade – não são
serviços gratuitos, já que pressupõem o pagamento de taxas moderadoras, por
exemplo.
4. Pressupõem a existência de relações especiais de poder: remissão (página 8)
estabelece-se um especial vínculo com a Administração, ou seja,
é o caso de se participar em dada organização política ou ser
dotado de um estatuto especial (funcionário público, utente do
serviço nacional de saúde, aluno do ensino público).
4. TEORIA DA COMPETÊNCIA
A competência pode ter duas aceções diferentes: a competência lato sensu e a
competência stricto sensu. A ter em conta, agora, a competência stricto sensu:
Conjunto de poderes funcionais que a lei confere para a prossecução
das atribuições das pessoas coletivas.
Assim, à competência é reconhecida uma relação íntima com as atribuições:
Atribuições são fins ou interesses cuja prossecução a lei incumbe às
pessoas coletivas públicas.
Ao conjunto das normas de competência stricto sensu e das normas de atribuição
chamamos de normas de competência lato sensu. Em termos gerais, refira-se que as normas de
competência são mais específicas, enquanto que as normas de atribuição definem fins gerais –
assim, as normas de competência determinam o modo como são prosseguidas as atribuições.
O regime encontra-se previsto nos artigos: 36º a 39, 51º e 52º do CPA.
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4.2. DELIMITAÇÃO DAS NORMAS DE COMPETÊNCIA
1. Delimitação em função do tempo: as competência são para ser exercidas no presente,
não sendo admissível o exercício para o futuro; para o passado apenas é admissível
mediante uma ordem.
2. Delimitação em função da hierarquia.
3. Delimitação em função do território.
4. Delimitação em função da matéria.
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2. Competência delegada ¹ delegação de assinatura (delegação de um ato material, em
que a rubrica é cometida ao funcionário – o autor material não é quem assina).
3. Competência delegada ¹ coadjuvação (função de auxílio ou coadjuvação dos órgãos,
resulta da lei e não carece de delegação).
4. Competência delegada ¹ subdelegação (delegação de poderes delegados – 2º, 3º e 4º
(...) grau).
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2. Poder de controlo: controlar como estão a ser acatadas as leis e as ordens, é um
poder inspetivo. É, também,
a. Poder de supervisão: faculdade de revogar, por falta de mérito, ou
anular, porque inválidos, os atos dos subalternos – sobre os atos.
b. Poder disciplinar: incide sobre as pessoas e sobre as condutas ilegais
ou contra as ordens (ilegais).
3. Poder de disposição da competência: poder de resolver conflitos positivos ou
negativos, poder de delegação aos subalternos e poder de substituição primária
(agir no lugar do subalterno).
6. ENTIDADES PRIVADAS
No seio das entidades privadas pode ocorrer colaboração de várias entidades privadas
e uma forma de exercício em lugar das entidades públicas. Quanto à colaboração, podem existir:
pessoas coletivas privadas de utilidade pública, instituições privadas de solidariedade social e ...
Quanto às formas de exercício por estas entidades privadas:
1. Concessionários: concessão de uma atividade a uma entidade pública.
2. Substituição da natureza: determinadas atividades não podiam ser exercidas,
anteriormente, por entidades privadas; quando passou a ser permitido, foram
transferidas para este domínio.
3. Funções públicas acessoriamente conferidas a entidades privadas.
4. Funções públicas excecionalmente atribuídas a entidades privadas.
Pergunta-se: há um fenómeno de delegação de poderes? Nos termos do artigo 267º/6,
estas entidades integram a Administração e estão sujeitas ao Direito Administrativo. Entende-se
que ocorra, antes, um fenómeno de devolução de poderes:
Reporta-se a um fenómeno de devolução de poderes, caracterizado pela transmissão, pelo
Estado, de uma parte dos seus poderes, para entidades que não se encontrem integradas na sua
pessoa coletiva. A qualquer momento pode o Estado retirar, a estas entidades, os poderes
transferidos – porque nunca deixam de ser poderes do Estado.
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DIREITO ADMINISTRATIVO
A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA E A PROSSECUÇÃO DE INTERESSES
1. A PROSSECUÇÃO DE INTERESSES
O Estado é a pessoa coletiva por excelência: as restantes, que não disporiam dessa
centralidade, são entidades públicas menores. No entanto, atualmente, já se verificam sinais de
perda de centralidade do Estado:
1. Criação de fins independentes do Estado
2. Prossecução de fins respeitantes à União Europeia (enquanto Estado membro),
para além de fins próprios)
3. Entidades administrativas independentes dentro do Estado, com funções de
relação e com ligação direta com a União Europeia (Banco de Portugal, CMVM).
4. A subsidiariedade
5. A ideia de desregulação pública – neoliberalismo organizativo, ou seja, o
movimento atual de privatização.
Assim sendo, como conclusão: há um risco de debilitação do Estado (perda de eficácia
de intervenção e de regulação), sendo que o Estado já não tem o monopólio da definição dos
fins prosseguidos por grande parte da sua Administração.
2. ADMINISTRAÇÃO DIRETA
Engloba a Administração Central, órgãos e serviços de vocação nacional, com efeitos
sobre todo o território, e a Administração Periférica, circunscrita a um espaço territorial – pode
ser interna, se for no âmbito do território nacional; pode ser externa, se for fora do território, que
é o caso das embaixadas.
As embaixadas: em termos ficcionais são território do
Estado. Há um vínculo laboral destes – deveria ser um
vinculo laboral público. Para além disso, também lá
trabalham funcionários não sujeitos a esse vínculo
públicos – mas sujeitos ao Direito Privado do território
em causa.
Quanto à Administração Central: aponta para entidade públicas sob a égide do Governo.
No âmbito da sua função administrativa, o Governo é o órgão superior administrativo e é o órgão
que emite ordens e instruções.
No seio do Governo, cada ministro é um órgão administrativo e político, como topo da
hierarquia do ministério. No entanto, em termos jurídicos, não há hierárquica entre os elementos
do Governo: há apenas supremacia política (há igualdade jurídica – não pode haver ordens –
princípio da paridade hierárquica).
Apesar de igualdade, o Ministro das Finanças tem supremacia hierárquica jurídica (nos
termos da Lei Orgânica do Governo), que se constitui pela necessária aprovação sua de atos que
impliquem despesas.
Importa, ainda, referir, um setor da administração que está excluído de ordens:
1. Serviços Autónomos: com autonomia limitada, mas não sujeitos a ordens e
instruções (exemplo: Conselho Nacional de Educação);
2. Autoridades independentes: não têm personalidade jurídica e, apesar de ainda
serem estado, não estão sujeitos a ordens (exemplos: Provedor de Justiça)
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3. ADMINISTRAÇÃO INDIRETA
Prossegue fins públicos do Estado por entidades públicas com personalidade jurídica –
ou seja, os fins do Estado são prosseguidos de forma indireta, quer sob a forma pública, quer
sob a forma privada.
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NORMATIVIDADE REGULADORA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1. O PLURALISMO
Como característica essencial da normatividade reguladora da Administração Pública
temos a notar o pluralismo: uma pluralidade de normas a regular a Administração Pública. Assim,
para disciplinar uma matéria, o primeiro problema é determinar a norma aplicável.
Assim, verifica-se a concorrência de várias regulações normativas:
1. Normas Jurídicas
2. Factualidade com pretensão/aptidão reguladora
3. Normas extrajurídicas
Desta pluralidade resultam, necessariamente, soluções antagónicas: a conflitualidade
das demais normas gera, então, antinomias.
Assim sendo, a aplicação da normatividade na Administração Pública atual pressupõe:
1. Descobrir a norma aplicável
2. Resolver os conflitos
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a. Direito Penal: compreende atividades de investigação penal, aplicação de
sanções disciplinares, tomadas em consideração, aplicação de outras
sanções, critérios de natureza penal.
i. Por exemplo: interdição do exercício de uma função
b. Direito Processual Penal: comporta um reforço das garantias dos cidadãos.
i. Por exemplo: inquéritos, averiguações pela PJ.
c. Direito Processual Civil: enquanto direito subsidiariamente aplicável em
termos de processo penal.
3. AS NORMAS EXTRAJURÍDICAS
1. Normas técnico-científicas: normas que respeitam às atividades técnicas.
a. Normas que aferem da ausência de perigos para a saúde pública, normas de
conversão dos votos em mandatos, etc.
2. Normas de trato social: aplicáveis entre funcionários públicos e vinculando, assim, a
atuação administrativa.
3. Normatividade ética, moral ou deontológica: nomeadamente, perante a Administração e
os administrados.
a. Relação entre médico e paciente.
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2. A Normatividade que resulta da factualidade.
Decorre, por conseguinte, um problema quanto ao princípio da legalidade: a
normatividade oficial, ou seja, a publicada, é perfeitamente afastada pela não oficial.
Para além disso, em paralelo, quanto à factualidade exterior é possível distinguir:
à Situações de estado de emergência ou de sítio: como revoluções ou crises
financeiras.
à Fenómenos revolucionários
à Prática judicial reiterada: nomeadamente, interpretações realizadas pelo
tribunal.
E, ainda, uma factualidade exterior, mas diferente do agir administrativo:
à Acordos do Governo e de incidência governamentais
à Normas de organizações internacionais e de organizações não governamentais.
à Projeção vinculativa dos resultados do referendo
à Programa do Governo (exemplo: reversão da privatização da TAP).
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o O Governo é o órgão que negocia no cenário internacional: sobre
qualquer matéria, podendo fazer prevalecer a sua vontade sobre os atos
legislativas (sobrepondo-se as convenções internacionais);
Para além disto, na área concorrencial, ou seja, fora da reserva de lei, o Governo, se dada
matéria não foi ainda objeto da função legislativa, entre o decreto-lei ou o decreto-regulamentar.
à Vantagens do decreto regulamentar: fugir à fiscalização preventiva, não estar
sujeito a apreciação parlamentar; o decreto-lei tem de passar pelo Conselho de
Ministros e ser aprovado pelos Ministérios, enquanto que o decreto
regulamentar apenas tem de passar pelo Primeiro-Ministro e pelo ministro
competente;
Conclusão da regência: o primado da função legislativa não está nas mãos da
Assembleia da República: nem quantitativamente, nem qualitativamente.
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8. OS ESPAÇOS INTEGRADOS PELA ADMINISTRAÇÃO
Há um espaço de autonomia pública: similar à autonomia privada, é o espaço de
liberdade dentro da juridicidade, ao abrigo de precedência de lei, que é conferido à Administração
Pública. A bom rigor, não é uma liberdade, mas uma competência: conferida pela ordem jurídica.
à Distinção principal em relação à autonomia privada: a intervenção, nesta, da
ordem jurídica, é meramente declarativa – na autonomia pública, é já
constitutiva.
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8.1.3. DERROGAÇÃO ADMINISTRATIVA
Em qualquer norma: a uma previsão corresponde uma estatuição. É possível, neste
âmbito, entregar-se à Administração a estatuição: a Administração afasta a estatuição regra
definida pelo ordenamento jurídico – derroga a solução preferida pelo legislador.
Exemplificando: regra 1 vs. regra 2
(discricionária).
Assim, há duas estatuições alternativas: uma preferida e outra discricionária. Nestes
casos, a Administração está especialmente vinculada ao princípio da igualdade e ao dever de
fundamentação.
9. CONCLUSÃO
1. A Administração Pública é protagonista da legalidade.
2. A juridicidade tem espaços de abertura que concede à Administração Pública autonomia.
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