Você está na página 1de 16

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA E SUA

FUNDAMENTAÇÃO ESPECÍFICA

Gustavo Rocha de Souza

Introdução

Com o advento da Lei nº 13.015, de 21 de julho de 2014, foram acrescentadas à CLT


novas regras promovendo mudanças quanto ao processamento de recursos no âmbito da
Justiça do Trabalho. Em especial, foi adicionado o art. 896, § 1º-A, que impõe a necessidade
de se atender requisitos de maior rigidez na elaboração dos fundamentos do recurso de revista.
Não foram criadas disposições acerca da maneira de se elaborar o recurso de agravo de
instrumento.
Como se sabe, diferentemente do recurso de revista, cuja fundamentação está
prevista no art. 896 da CLT, a fundamentação do recurso de agravo de instrumento gera
dúvidas e acaba sendo estabelecida pela doutrina e jurisprudência na interpretação sistemática
do Processo do Trabalho.
Dessa forma, apesar de o novo art. 896, §1º-A da CLT ter trazido alterações apenas
no tocante à fundamentação do recurso de revista, a prática processual tem demonstrado que
as mudanças implementadas pela nova Lei dificultaram não somente que os litigantes
tivessem o seu recurso de revista apreciados pelo TST, mas também os recursos de agravo de
instrumento.
O objetivo do presente artigo é analisar de que modo a Lei nº 13.015/14 influenciou a
forma de se fundamentar o recurso de Agravo de Instrumento (AIRR).

1. Agravo de instrumento na Justiça Comum e na Justiça do Trabalho

O Agravo de Instrumento é o recurso cabível contra as decisões que denegarem


interposição de recursos, originalmente previsto no art. 522 do CPC.
Cumpre destacar que o agravo de instrumento previsto na CLT é bastante distinto do
agravo de instrumento previsto no art. 522 do CPC, pois neste o agravo é cabível para recorrer
de decisões interlocutórias. Entende-se por interlocutória a decisão que não é definitiva nem
terminativa, ou seja, é aquela em que o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente,
sem resolver o mérito ou extinguir o processo.
Na justiça do trabalho, por sua vez, em regra, as decisões interlocutórias são
irrecorríveis. Trata-se do princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, como se
pode depreender da leitura dos arts. 799, § 2º e 893, § 1º, da CLT, e na Súmula nº 214 do
TST. É incabível, portanto, a utilização do recurso de agravo contra decisão interlocutória
proferida no processo trabalhista.
A finalidade do agravo de instrumento no Processo do Trabalho é possibilitar o
destrancamento do recurso ao qual se denegou seguimento (897, “b”, da CLT). Em sendo o
objetivo do agravo de instrumento destrancar recursos, sua fundamentação restringe-se a
impugnar os fundamentos utilizados para denegar o processamento do recurso principal, e,
nesse sentido, surgem algumas particularidades, que se passa a enfrentar.

2. Agravo de Instrumento e a usurpação de competência pelos TRT’s

Inicialmente, cumpre explicitar que os Tribunais Regionais do Trabalho detêm


competência para exercer o primeiro juízo de admissibilidade do recurso de revista. O artigo
896, § 1º, da CLT, preceitua que: “O Recurso de Revista, dotado de efeito devolutivo, será
apresentado ao Presidente do Tribunal recorrido que, poderá recebê-lo ou denegá-lo,
fundamentando, em qualquer caso, a decisão”. O referido dispositivo permite ao Presidente
do Tribunal Regional denegar seguimento ao recurso, o que não configura usurpação de
competência, nem qualquer irregularidade, na medida em que o ato está em conformidade
com a legislação processual trabalhista.
Vale ressaltar que o juízo de admissibilidade a quo possui natureza precária e não
vincula o órgão ad quem, tendo em vista que a análise de toda a matéria constante no recurso
de revista é devolvida ao Tribunal Superior do Trabalho. Portanto, o juízo de admissibilidade
a quo não se restringe ao exame dos pressupostos extrínsecos, mas alcança também os
requisitos intrínsecos do recurso de revista, nos termos do art. 896 da CLT. E o recurso de
agravo de instrumento tem a finalidade de proporcionar à parte um novo pronunciamento
sobre os pressupostos de admissibilidade do recurso de revista, quando este tiver o seu
seguimento denegado pelo TRT. Tal é o entendimento do Tribunal Superior do Trabalho,
conforme se pode depreender no acórdão, verbis:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA -


COMPETÊNCIA DO TRT PARA DENEGAR SEGUIMENTO AO
RECURSO DE REVISTA. A decisão que nega ou autoriza seguimento ao
Recurso de Revista, proferida pelo TRT, no exercício do primeiro juízo de
admissibilidade, decorre da previsão constante do art. 896, § 1º, da CLT, não
havendo falar em usurpação de competência. Agravo de Instrumento a que
se nega provimento. (AIRR - 274-18.2014.5.22.0104 , Relator Ministro:
Márcio Eurico Vitral Amaro, Data de Julgamento: 26/08/2015, 8ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 28/08/2015)

É notório que, frequentemente, na prática processual trabalhista, as partes arguam


nas peças de agravo de instrumento a preliminar de usurpação de competência, alegando que
o Tribunal Regional não detém capacidade para emitir qualquer juízo de mérito sobre o
recurso de revista e, assim, denegar-lhe seguimento, sob pena de usurpar competência
reservada privativamente ao TST.
Todavia, a arguição da aludida preliminar caracteriza-se infundada, pois, conforme já
dito, os fundamentos exprimidos pelo juízo a quo não vinculam ou restringem o exame dos
pressupostos recursais pelo juízo ad quem, o qual apresenta liberdade para ultrapassar o óbice
apontado pelo TRT ao processamento do recurso de revista. Através do recurso de agravo de
instrumento pode-se afastar eventual equívoco havido na decisão proferida pelo juízo a quo,
porquanto sua finalidade é viabilizar o reexame dos fundamentos que denegaram seguimento
ao recurso de revista.
Inclusive, há precedentes do Tribunal Superior do Trabalho cujo entendimento é o de
que, uma vez que o próprio artigo 896, § 1º, da CLT estabelece expressamente a competência
do Presidente do Tribunal Regional do Trabalho para receber ou denegar seguimento ao
recurso de revista, a arguição da preliminar de usurpação de competência em sede de agravo
de instrumento revela-se absolutamente insubsistente, importando em litigância de má-fé, e
havendo a possibilidade de aplicação da multa de 1% sobre o valor da causa. Confira-se
verbis:

I) PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DO TRT PARA DENEGAR


SEGUIMENTO AO RECURSO DE REVISTA COM BASE NA ANÁLISE
DE MÉRITO DO APELO - LITIGÂNICA DE MÁ-FÉ - APLICAÇÃO DE
MULTA. 1. O art. 896, § 1º, da CLT, além de atribuir competência à
Presidência dos TRTs para examinar preliminarmente o recurso de revista,
tanto pelos seus pressupostos extrínsecos como pelos intrínsecos, impõe-lhe
a obrigação de fundamentar a decisão de admissibilidade, ou não, do apelo
extraordinário, como ocorreu na hipótese. Por outro lado, o TST apreciará o
teor do agravo de instrumento e procederá ao exame de todos os
pressupostos intrínsecos e extrínsecos do recurso de revista, não se
subordinando ao juízo de admissibilidade formulado pelo TRT. 2. Nessa
senda, a prefacial de incompetência do TRT para denegar seguimento ao
recurso de revista com base na análise de mérito do apelo se faz -contra texto
expresso de lei-, enquadrando o Agravante como litigante de má-fé, nos
termos do art. 17, I, do CPC, motivo pelo qual é de se aplicar a multa de 1%
sobre o valor da causa, a favor do Reclamante Agravado, nos termos do art.
18, -caput-, do CPC. II) AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECURSO DE
REVISTA INADMISSÍVEL - DESPROVIMENTO. Agravo de instrumento
a que se nega provimento, porquanto o recurso de revista patronal, versando
sobre a competência da Justiça do Trabalho, a prescrição do FGTS e ao
saque dos depósitos devidos a esse título no período posterior à alegada
mudança de regime jurídico, não reúne condições de admissibilidade,
tropeçando nos óbices das Súmulas 297, I, e 362 do TST e do art. 896, -a- e
-c-, da CLT. Agravo de instrumento desprovido, com aplicação de multa.
(AIRR-709-31.2010.5.22.0104, Relator Ministro: Ives Gandra Martins Filho,
Data de Julgamento: 27/02/2013, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT
08/03/2013)

Lembramos que o entendimento acima citado não é predominante no âmbito do TST,


embora haja consenso absoluto na jurisprudência quanto ao fato de que os TRT’s apresentam
legítima competência para exercer o primeiro juízo de admissibilidade do recurso de revista,
não se havendo de falar em nulidade do ato ou em usurpação de competência.
Outrossim, a título de esclarecimento, é de ocorrência comum na prática processual
trabalhista as partes agravantes suscitarem a preliminar de nulidade do despacho de
admissibilidade por negativa de prestação jurisdicional. Entretanto, uma vez que o Tribunal
Regional - amparado no art. 896, § 1º, da CLT - está apto a exercer o primeiro juízo de
admissibilidade do recurso de revista, a jurisprudência do TST harmonizou-se no sentido de
que o entendimento adotado pelo Tribunal Regional de origem não se confunde com negativa
de entrega da prestação jurisdicional. Nesse sentido, o seguinte julgado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA


EMPRESA. PRELIMINAR DE NULIDADE POR NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL AO DENEGAR SEGUIMENTO AO
RECURSO DE REVISTA. Não prospera a insurgência, uma vez que o
Presidente do Tribunal, prolator da decisão recorrida, poderá receber ou
denegar o recurso de revista, impondo como obrigação apenas a necessidade
de fundamentação do entendimento adotado. Trata-se de juízo prévio de
admissibilidade do recurso na esfera do Tribunal Regional, previsto no artigo
896, § 1º, da Consolidação das Leis do Trabalho, que não vincula ou
prejudica o novo exame, na instância superior, em sede de agravo de
instrumento. Logo, estando a decisão fundamentada e não prevendo a lei
nenhuma limitação à apreciação do recurso de revista, não cabe ao intérprete
fazê-lo, razão pela qual não se vislumbra a denunciada nulidade por negativa
de prestação jurisdicional. (AIRR - 455-92.2011.5.03.0026 , Relator
Ministro: Alexandre de Souza Agra Belmonte, Data de Julgamento:
30/09/2015, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 02/10/2015)
Por fim, esclarecemos, também, ser incabível a interposição de embargos de
declaração contra as decisões que denegarem seguimento ao recurso de revista. O referido
remédio processual encontra-se previsto no art. 897-A da CLT e 535 do CPC, e tem como
finalidade sanar omissão, contradição ou obscuridade de sentença ou acórdão. A oposição de
embargos declaratórios contra decisão de admissibilidade do Tribunal Regional do Trabalho
constitui erro grosseiro, razão por que não interrompe o prazo recursal para o ajuizamento do
agravo de instrumento. Nesse sentido o TST editou a Orientação Jurisprudencial nº 377 da
SDI-I, verbis:

OJ-SDI1-377 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DECISÃO


DENEGATÓRIA DE RECURSO DE REVISTA EXARADO POR
PRESIDENTE DO TRT. DESCABIMENTO. NÃO
INTERRUPÇÃO DO PRAZO RECURSAL (DEJT divulgado em
19, 20 e 22.04.2010). Não cabem embargos de declaração
interpostos contra decisão de admissibilidade do recurso de revista,
não tendo o efeito de interromper qualquer prazo recursal.

2. Súmula nº 422 e o princípio da dialeticidade

O recurso de Agravo de Instrumento tem por finalidade desconstituir os fundamentos


da decisão que denegou seguimento ao Recurso de Revista. Assim, a fim de que o agravante
tenha o seu Recurso de Revista destrancado e analisado, ele deverá atacar individualmente
todas as premissas lançadas na decisão agravada, expondo os argumentos jurídicos
necessários à demonstração de que os fundamentos da decisão foram equivocados. Se as
razões que fundamentam o agravo de instrumento forem impertinentes à matéria delineada na
decisão denegatória, o recurso haverá de ser não conhecido por ausência de fundamentação.
Em face de inúmeros recursos trabalhistas que deixaram de atacar especificamente os
fundamentos da decisão recorrida, o Tribunal Superior do Trabalho editou Súmula
estabelecendo que o TST não conhecerá dos recursos quando a parte deixar de impugnar os
fundamentos da decisão recorrida. É o que dispõe o item I da Súmula nº 422 do TST:

RECURSO. FUNDAMENTO AUSENTE OU DEFICIENTE. NÃO


CONHECIMENTO (redação alterada, com inserção dos itens I, II e
III) - Res. 199/2015, DEJT divulgado em  24, 25 e 26.06.2015. Com errata
publicado no DEJT divulgado em 01.07.2015
I – Não se conhece de recurso para o Tribunal Superior do Trabalho se as
razões do recorrente não impugnam os fundamentos da decisão recorrida,
nos termos em que proferida.
II – O entendimento referido no item anterior não se aplica em relação à
motivação secundária e impertinente, consubstanciada em despacho de
admissibilidade de recurso ou em decisão monocrática.
III – Inaplicável a exigência do item I relativamente ao recurso ordinário da
competência de Tribunal Regional do Trabalho, exceto em caso de recurso
cuja motivação é inteiramente dissociada dos fundamentos da sentença.

Portanto, consoante o item I da Súmula supracitada, e em obediência ao princípio da


dialeticidade, ao elaborar o recurso para o Tribunal Superior do Trabalho, a parte deverá
impugnar especifica e individualmente todos os fundamentos indicados na decisão que se
pretende reformar.
Nesse ponto há de se fazer uma observação acerca do que diz o item II, inserido
recentemente na Súmula nº 422 do TST: nos casos em que a decisão recorrida estiver
consubstanciada em despacho de admissibilidade de recurso ou em decisão monocrática, a
parte estará dispensada de impugnar os fundamentos que forem impertinentes ou secundários
à demanda. Uma vez que o Agravo de Instrumento é o recurso cabível de decisão monocrática
que denega seguimento ao Recurso de Revista, o agravante não está obrigado a atacar
eventuais fundamentos secundários e impertinentes lançados pelo julgador. Todavia, o
recorrente deverá impugnar especificamente todos os fundamentos que sejam principais e
pertinentes às matérias em debate.
Para saber se um fundamento é principal ou secundário, é necessário verificar se ele
por si só seria capaz de sustentar a negativa de seguimento do recurso. A título de
exemplificação, se o Tribunal Regional do Trabalho, analisando a matéria “horas in itinere”,
denegar seguimento ao recurso de revista do empregador, sob o fundamento de que havia
incompatibilidade entre os horários de início e término da jornada de trabalho do empregado e
os do transporte público regular (1), cumulado com o fundamento de que o apelo encontra
impedimento na Súmula nº 297 do TST (2), o agravante haveria de impugnar especificamente
ambos os fundamentos, na medida em que a adoção de apenas um deles seria suficiente para
denegar seguimento ao recurso de revista.
Cumpre também fazer menção a outro aspecto que se tem verificado nas práticas
processuais no âmbito do Tribunal Superior do Trabalho. É sabido que, em observância ao
princípio da devolutividade recursal, o recorrente deve renovar, na peça de agravo de
instrumento, os temas e as razões veiculados em sede de recurso de revista, sob pena de
ocorrer o instituto jurídico da preclusão. Isso porque o agravo de instrumento não comporta
inovação recursal, havendo necessidade imperiosa de se reiterar as questões e os fundamentos
previamente suscitados no recurso de revista. Tal como nos confirma o seguinte precedente
do TST:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA EM FACE


DE DECISÃO PUBLICADA ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.015/2014. AGRAVO DE INSTRUMENTO GENÉRICO.
FORMULAÇÕES INESPECÍFICAS SOBRE ADMISSIBILIDADE DA
REVISTA. AUSÊNCIA DE RENOVAÇÃO DA MATÉRIA E DOS
FUNDAMENTOS. AGRAVO DE INSTRUMENTO
DESFUNDAMENTADO. O agravo de instrumento é recurso autônomo e
exige desenvolvimento de tese (arts. 524, II, e 544, § 4º, I, do CPC e Súmula
n° 422 do TST), de modo que sua mera interposição não é suficiente para
devolver a esta Corte o conteúdo do recurso de revista. No caso, o agravo
não desenvolve nenhuma tese, não revigora os fundamentos, simplesmente
remete à leitura do recurso de revista. Não se questiona aqui que o agravo
possa conter fundamentação sucinta, mínima, suficiente para aferição da
temática e do atendimento dos pressupostos recursais da revista, mas essa
não é a situação dos autos. Na forma interposta, o agravo mostra-se
desfundamentado, sem motivação pertinente, contrariando a exigência de
dialeticidade inerente aos recursos. Agravo de instrumento a que se nega
provimento. (AIRR - 2517-24.2012.5.08.0126, Relator Desembargador
Convocado: Paulo Américo Maia de Vasconcelos Filho, Data de
Julgamento: 19/08/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 21/08/2015)

3 – A Lei 13.015/2014 e o depósito recursal do Agravo de Instrumento


O artigo 899, § 7º, da CLT já previa que: “No ato de interposição do agravo de
instrumento, o depósito recursal corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do valor do
depósito do recurso ao qual se pretende destrancar”, significando que a interposição do
agravo de instrumento haveria sempre de ser precedida de um depósito recursal na quantia de
50% correspondente ao valor do depósito efetuado em sede de recurso de revista. Cite-se:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


RECURSO ANTES DA ÉGIDE DA LEI 13015/2014. DESERÇÃO.
AUSÊNCIA DE DEPÓSITO RECURSAL RELATIVAMENTE AO
AGRAVO DE INSTRUMENTO PREVISTO NO ARTIGO 899, §7º, DA
CLT. PRECEDENTES. AGRAVO NÃO CONHECIDO. Não se conhece do
Agravo de Instrumento quando não efetuado o depósito recursal previsto
pelo artigo 899, §7º, da CLT. Caberia à parte efetuar o recolhimento do
depósito equivalente à metade do montante do depósito para fins de
interposição de recurso de revista, vigente à época da interposição do
Agravo de Instrumento. Entendimento em consonância com o artigo 899,
§7º, da CLT. Agravo de instrumento não conhecido. (AIRR - 438-
45.2012.5.11.0011 , Relator Desembargador Convocado: Cláudio Armando
Couce de Menezes, Data de Julgamento: 19/08/2015, 2ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 28/08/2015)
A Lei nº 13.015/2014 trouxe novas disposições acerca da matéria do depósito
recursal em recurso de agravo de instrumento, acrescentando um parágrafo oitavo ao artigo
899 da CLT. O referido dispositivo estabelece que:

899, §8º - “Quando o agravo de instrumento tem a finalidade de destrancar


recurso de revista que se insurge contra decisão que contraria a
jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho, consubstanciada
nas súmulas ou em orientação jurisprudencial, não haverá obrigatoriedade de
se efetuar o depósito referido no § 7º deste artigo.”

Como se vê, o novo parágrafo do art. 899 da CLT traz uma exceção à regra prevista
no dispositivo antecessor: se o agravo de instrumento interposto para destrancar o recurso de
revista suscitar a hipótese de a decisão regional ter efetivamente afrontado Súmula ou
Orientação Jurisprudencial do TST, ele poderá ser instruído sem o recolhimento do depósito
recursal.
Do ponto de vista prático, o §8º do artigo 899 da CLT poderia ser explorado para se
pleitear indiscriminadamente a dispensa do pagamento do depósito recursal do agravo de
instrumento, bastando que o agravante realizasse menções genéricas sobre a decisão do
Tribunal Regional ter contrariado Súmula ou Orientação Jurisprudencial do TST.
Foi visando evitar esse tipo de atitude por parte dos litigantes que o Tribunal
Superior do Trabalho editou o Ato n.º 491/SEGJUD.GP, em 23 de setembro de 2014, para
regulamentar as alterações ocorridas com a nova Lei. Acerca do conteúdo incluso no §8º do
art. 899 da CLT, o TST estabeleceu em seu Ato nº 491 a seguinte disposição:

“Art. 23 – A dispensa de depósito recursal a que se refere o § 8º do artigo


899 da CLT não será aplicável aos casos em que o agravo de instrumento se
refira a uma parcela de condenação, pelo menos, que não seja objeto de
arguição de contrariedade a súmula ou a orientação jurisprudencial do
Tribunal Superior do Trabalho.
Parágrafo único. Quando a arguição a que se refere o caput deste artigo
revelar-se manifestamente infundada, temerária ou artificiosa, o agravo de
instrumento será considerado deserto”.

Portanto, ao interpor o recurso de agravo de instrumento, não basta à parte alegar


genericamente contrariedade à jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho,
tampouco serão admitidas arguições consideradas infundadas ou artificiosas. Pois, consoante
o Ato estabelecido pelo TST, eventual tentativa indiscriminada de obter a dispensa do
pagamento do depósito recursal poderá acarretar a deserção do apelo.
Além disso, o Código de Processo Civil, em seu art. 17, VI, reputa como litigante de
má-fé aquele que provocar incidentes manifestamente infundados. Por essa razão, nas
hipóteses em que se verificar a ocorrência de arguições ardilosas, a parte poderá ser apenada
com a obrigação de pagar multa não excedente a 1% da causa, consoante previsto no art. 18
do CPC.

4 – A Lei 13.015/2014 e a fundamentação do Agravo de Instrumento


Com o advento da Lei nº 13.015/14 foram trazidas novas disposições sobre o
processamento de recursos no âmbito da Justiça do Trabalho. Dentre as novas disposições,
acrescentou-se à CLT o artigo 896, §1º-A, que exige a adoção de um procedimento específico
e, vale dizer, mais rigoroso, na elaboração do Recurso de Revista.
O novo artigo 896, §1º-A, da CLT demanda, sob pena de não conhecimento, que a
parte indique: I) o trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestionamento da
controvérsia objeto do recurso de revista; II) a indicação, de forma explícita e fundamentada,
de contrariedade a dispositivo de lei, súmula ou orientação jurisprudencial do TST que
conflite com a decisão regional; III) a exposição das razões do pedido de reforma,
impugnando todos os fundamentos jurídicos da decisão recorrida, mediante demonstração
analítica de cada dispositivo de lei, da Constituição Federal, de súmula ou orientação
jurisprudencial cuja contrariedade aponte.
Importante salientar que as exigências previstas nos incisos I, II e III, do novo
dispositivo da CLT são cumulativas. É necessário que o recorrente observe
concomitantemente o preenchimento dos três requisitos: a transcrição ou indicação do trecho
do acórdão regional que pretende ver prequestionado (1), o apontamento dos dispositivos
legais e/ou jurisprudência que repute infringidos (2), e o confronto analítico entre as razões
expostas no recurso e cada dispositivo indicado como violado (3). Se, por exemplo, a parte se
limitar a transcrever o trecho da decisão regional e a indicar os artigos legais ou a
jurisprudência que considere violados, mas não proceder ao confronto analítico entre as
razões recursais e os dispositivos, o apelo haverá de ser não conhecido. Nesse sentido, o
seguinte julgado:

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº


13.015/2014. INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. JULGAMENTO EXTRA
PETITA. DIFERENÇAS SALARIAIS. REDUÇÃO DA CARGA
HORÁRIA. JUSTIÇA GRATUITA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
NÃO PREENCHIMENTO DO REQUISITO CONSTANTE DO ARTIGO
896, § 1º-A, III, DA CLT. O recurso de revista interposto sob a égide da Lei
nº 13.0015/2014 submete-se à observância dos requisitos estabelecidos no
artigo 896, § 1º-A, da CLT. No caso, a reclamada indicou os trechos da v.
decisão regional que consubstanciam o prequestionamento das matérias
suscitadas, em atenção ao inciso I do § 1º-A do artigo 896 da CLT.
Entretanto, não expôs seus argumentos procedendo ao devido confronto
analítico entre a tese recorrida e cada um dos dispositivos apontados como
violados, pelo que desatendeu ao disposto no artigo 896, § 1º-A, III, da CLT.
Recurso de revista não conhecido. DIFERENÇAS SALARIAIS. REDUÇÃO
DA GRATIFICAÇÃO DE FUNÇÃO. DANO MORAL.
CARACTERIZAÇÃO. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS
CONSTANTES DO ARTIGO 896, § 1º-A, I E III, DA CLT. Não merece
conhecimento o recurso de revista interposto na vigência da Lei nº
13.015/2014 que não preenche os requisitos do artigo 896, § 1º-A, I e III, da
CLT, na medida em que a parte deixa de indicar os trechos da v. decisão
regional que consubstanciam o prequestionamento das matérias suscitadas,
bem como não expõe seus argumentos por meio de demonstração analítica
em cotejo com a decisão recorrida. Recurso de revista não conhecido.
MULTA DO § 8º DO ARTIGO 477 DA CLT. PAGAMENTO DA
RESCISÃO NO PRAZO. ATRASO NA HOMOLOGAÇÃO. O artigo 477,
§ 6º, da CLT trata apenas dos prazos para o pagamento das parcelas da
rescisão do contrato de trabalho. Tem-se que o fato gerador da multa de que
trata o § 8º deste artigo é o retardamento na quitação das verbas rescisórias.
Se a reclamada, ao efetuar o pagamento das parcelas rescisórias, observou os
prazos previstos na lei, não há que se falar na penalidade prevista no art. 477,
§8º, da CLT. Recurso de revista conhecido e provido. (RR - 177-
18.2013.5.03.0060 , Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de
Julgamento: 05/08/2015, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/08/2015)

É notório, pois, que as exigências legais supramencionadas foram inseridas em artigo


que trata especificamente do Recurso de Revista (896 da CLT). Nenhuma modificação,
contudo, ocorreu no que diz respeito ao procedimento de se elaborar o recurso de Agravo de
Instrumento. Todavia, a partir de uma perspectiva prática, as inovações trazidas pela Lei nº
13.015/14 repercutiram sensivelmente no modo de se elaborar os fundamentos do Agravo de
Instrumento.
Conforme já explicitado, o Agravo de Instrumento (AIRR) tem por finalidade obter o
processamento do Recurso de Revista trancado. E, a fim de ter o seu apelo provido, o
agravante haverá de atender duas condições: a) deverá impugnar específica e individualmente
todos os fundamentos adotados no despacho denegatório; b) é indispensável que a parte
reitere em sua peça os temas e as razões previamente suscitados no Recurso de Revista. O não
atendimento de uma ou ambas as condições poderá acarretar o não conhecimento do recurso
por desfundamentado.
Desde a entrada em vigor da Lei nº 13.015/2014, constatou-se que um grande
número de recursos de agravo de instrumento teve o seu provimento negado por não terem
sido atendidas no recurso de revista as exigências dos incisos I, II e III do art. 896, § 1º-A, da
CLT. Em sua maioria, a negativa de provimento daqueles AIRR ocorreu em razão do item I
do referido dispositivo, que estabelece que a parte deve transcrever o trecho da decisão
regional que consubstancia o prequestionamento da controvérsia. Trata-se de casos em que o
Presidente do Tribunal Regional, verificando a ausência de transcrição do trecho do acórdão,
recusa seguimento ao recurso de revista; e os recorrentes, inconformados com a decisão
denegatória, interpuseram agravo de instrumento alegando: a) a desnecessidade de se
transcrever ou indicar o trecho da decisão regional; b) ter o recurso de revista preenchido os
requisitos do art. 896, §1º-A, da CLT. Em ambos os casos, o TST negou provimento aos
agravos de instrumento ao averiguar que a parte efetivamente deixou de atender ao requisito
previsto no inciso I do citado dispositivo. Isso significa que o desatendimento dos requisitos
do art. 896, § 1º-A, da CLT importa em erro letal, impassível de ser sanado em sede de agravo
de instrumento. A fim de exemplificar o explanado, o seguinte aresto:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO


REGIONAL PROFERIDO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014.
PROCESSO EM FASE DE EXECUÇÃO DE SENTENÇA. COISA
JULGADA. CONTA DE LIQUIDAÇÃO. RECURSO DE REVISTA NO
QUAL NÃO SE INDICA O TRECHO DA DECISÃO RECORRIDA QUE
CONFIGURA O PREQUESTIONAMENTO. Em relação aos acórdãos
regionais publicados a partir de 22/09/2014 (vigência da Lei 13.015/2014),
caso dos autos, é pressuposto intrínseco de admissibilidade do recurso de
revista a indicação "do trecho da decisão recorrida que consubstancia o
prequestionamento da controvérsia". Ao contrário do alegado pela
Agravante, não se trata de formalidade sanável, mas de pressuposto de
admissibilidade, cujo não atendimento implica o não conhecimento do
recurso de revista, conforme a expressa redação do art. 896, § 1º-A, I, da
CLT. Agravo de instrumento de que se conhece e a que se nega provimento.
(AIRR - 101200-15.2009.5.04.0029 , Relatora Desembargadora Convocada:
Cilene Ferreira Amaro Santos, Data de Julgamento: 30/09/2015, 4ª Turma,
Data de Publicação: DEJT 09/10/2015)

Todavia, há hipóteses em que o Tribunal Regional equivocadamente denega


seguimento ao recurso de revista sob o fundamento de que o recorrente deixou observar os
pressupostos de admissibilidade do art. 896, § 1º-A, da CLT. Em tais casos, caberá à parte
impugnar o despacho denegatório, declarando ter preenchido aqueles pressupostos recursais.
Exemplificando, há ocasiões em que o recorrente, embora não transcreva a integralidade da
matéria que pretende prequestionar, expõe apenas um pequenino trecho da decisão, tal como
uma frase do acórdão, e mesmo assim o TRT decide pela negativa de seguimento do recurso
de revista. Nessa situação, o agravante poderá alegar que preencheu requisito legal (inciso I
do art. 896, §1º-A) mediante a transcrição daquela uma única frase registrada no acórdão
regional. Tal argumento caracteriza-se suficiente para se obter o provimento do agravo de
instrumento e, consequentemente, ter apreciado o recurso de revista. Apesar de tratar-se de
agravo, o seguinte aresto ilustra bem o que se acabou de explanar:

AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE MANTÉM DECISÃO QUE
NEGOU SEGUIMENTO AO RECURSO DE REVISTA COM
FUNDAMENTO NO ARTIGO 896, § 1º-A, I, DA CLT. INDICAÇÃO DO
TRECHO DA DECISÃO RECORRIDA QUE CONSUBSTANCIA O
PREQUESTIONAMENTO DA CONTROVÉRSIA OBJETO DO
RECURSO DE REVISTA. Nos termos do artigo 896, § 1º-A, I, da CLT,
incluído pela Lei nº 13.015/2014, é ônus da parte, sob pena de não
conhecimento, "indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o
prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista". No caso,
observa-se que parte recorrente satisfez tal requisito, pois transcreveu o
trecho pertinente da sentença constante do acórdão regional, o qual foi
utilizado pelo Tribunal "a quo" como um dos fundamentos para manter a
sentença que não reconheceu o vínculo de emprego com a reclamada, o que
consubstancia, portanto, o prequestionamento da controvérsia objeto do
recurso de revista. Assim, dá-se provimento ao agravo para prosseguir no
exame dos pressupostos do agravo de instrumento. Agravo conhecido e
provido. B) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE
REVISTA. VÍNCULO DE EMPREGO. O recurso encontra-se
fundamentado tão somente em divergência jurisprudencial, a qual, contudo,
não enseja o seu cabimento, tendo em vista que o aresto colacionado é
formalmente inválido, na medida em que não cita a fonte oficial ou o
repositório autorizado e que publicado, em desacordo com a Súmula nº 337
do TST e com o art. 896, § 8º, da CLT. Agravo de instrumento conhecido e
não provido. (Ag-AIRR - 366-14.2012.5.04.0121 , Relatora Ministra: Dora
Maria da Costa, Data de Julgamento: 07/10/2015, 8ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 09/10/2015)

Há também situações em que, apesar de a decisão do Tribunal Regional ter sido


publicada antes da vigência da Lei 13.015/2014, o recurso de revista tem o seu seguimento
denegado pelo Presidente do TRT. Em tais casos, o agravante poderá alegar que a Lei
13.015/2014 não se aplica àquele caso específico, argumentando que deixou de atender aos
requisitos do art. 896, §1º-A, da CLT, em razão do fato de o recurso de revista não estar
submetido ao critério temporal da nova Lei. Vale ressaltar que o TST entende que o critério
temporal da Lei 13.015/2014 é a data da publicação da decisão que julgou o recurso principal.
Uma vez que a exigência contida no inciso I do art. 896, § 1º-A, da CLT constitui o
principal fator a gerar o trancamento dos recursos de revista, cabe aqui analisar o
entendimento que o Tribunal Superior do Trabalho tem adotado quanto à expressão “indicar
o trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestionamento da controvérsia”,
inserida naquele dispositivo. Até agora, apenas duas Turmas adotaram uma posição a respeito
do assunto. A Oitava Turma do TST, interpretando o referido dispositivo legal, entende que a
parte recorrente satisfaz tal requisito se transcrever a ementa, o inteiro teor ou o trecho
pertinente do acórdão regional ou se indicar, com precisão, as folhas do respectivo trecho. Por
outro lado, a Sétima Turma do TST tem entendido que não basta a mera indicação das folhas
onde consta o trecho da decisão recorrida, havendo a necessidade de se transcrever a
literalidade do trecho na peça do recurso de revista. Entendeu também que a transcrição da
ementa do acórdão regional não serve aos propósitos do inciso I do art. 896, §1º-A da CLT,
na medida em que não comportam os fundamentos fáticos e jurídicos adotados pelo Tribunal
Regional. Nesse sentido, os seguintes precedentes:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


DENEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO DE REVISTA COM
FUNDAMENTO NO ARTIGO 896, § 1º-A, I, DA CLT. INDICAÇÃO DO
TRECHO DA DECISÃO RECORRIDA QUE CONSUBSTANCIA O
PREQUESTIONAMENTO DA CONTROVÉRSIA OBJETO DO
RECURSO DE REVISTA. Nos termos do artigo 896, § 1º-A, I, da CLT,
incluído pela Lei nº 13.015/2014, é ônus da parte, sob pena de não
conhecimento, "indicar o trecho da decisão recorrida que consubstancia o
prequestionamento da controvérsia objeto do recurso de revista". No caso,
não há falar em observância do requisito previsto no artigo 896, § 1º-A, I, da
CLT, porque se verifica que a reclamada, nas razões do seu recurso de
revista, não indicou precisamente as folhas, tampouco transcreveu a ementa,
o inteiro teor ou o trecho pertinente da decisão atacada que consubstancia o
prequestionamento da matéria recorrida. Agravo de instrumento conhecido e
não provido. (AIRR - 20550-45.2013.5.04.0221 , Relatora Ministra: Dora
Maria da Costa, Data de Julgamento: 16/09/2015, 8ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 18/09/2015)

AGRAVO EM RECURSO DE REVISTA - PROCESSO SOB VIGÊNCIA


DA LEI Nº 13015/2014 - PRESSUPOSTOS RECURSAIS - ART. 896, § 1º-
A, I, DA CLT - AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO TRECHO DA
DECISÃO RECORRIDA QUE CONSUBSTANCIA O
PREQUESTIONAMENTO DA CONTROVÉRSIA - TRANSCRIÇÃO
SOMENTE DA EMENTA DO ACÓRDÃO. Após a vigência da Lei nº
13015/2014, de acordo com o posicionamento definido pela 7ª Turma, para
atender o disposto no inciso I do § 1º-A do art. 896 da CLT, deverá a parte,
no seu recurso de revista, transcrever o trecho da decisão recorrida que
demonstraria a afronta a dispositivo de lei, súmula ou orientação
jurisprudencial, ou a divergência jurisprudencial indicada pela parte,
requisito que não foi cumprido pela ora agravante. Sublinhe-se que a mera
transcrição da ementa da decisão impugnada não se presta ao cumprimento
do requisito inserto no dispositivo referido, pois traduz apenas a síntese do
julgamento, sem evidenciar os fundamentos fáticos e jurídicos esposados
pelo Tribunal Regional sobre as matérias debatidas. Agravo desprovido.
(Ag-RR-7-03.2014.5.07.0027 , Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de
Mello Filho, Data de Julgamento: 07/10/2015, 7ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 09/10/2015)
Ainda, algumas Turmas do Tribunal Superior do Trabalho entenderam que a
transcrição integral da fundamentação do acórdão regional não atende à finalidade do inciso I
do art. 896, §1º-A, da CLT. Em tal situação, o recorrente haveria de transcrever o trecho
específico da decisão regional que pretende prequestionar. Confira-se, verbis:

"RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº


13.015/2014. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. "CHEERS".
OBRIGAÇÃO DE CANTAR E DANÇAR HINO MOTIVACIONAL DA
EMPRESA. A mera transcrição in totum da fundamentação do julgado
recorrido, sem a indicação ou explicitação da tese discutida e examinada
pelo Tribunal a quo, não é suficiente para satisfazer o pressuposto recursal
do prequestionamento. Com efeito, não é possível o exame do recurso de
revista quanto ao tema, porquanto as razões recursais não estão conforme o
artigo 896, § 1º-A, da CLT, nos termos da redação dada pela Lei nº
13.015/2014. Recurso de revista não conhecido. (RR - 1092-
70.2012.5.04.0611 , Relator Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de
Julgamento: 15/04/2015, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 24/04/2015)
    
"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA DA
SEGUNDA RECLAMADA. APELO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA
LEI N.º 13.015/2014. DEMANDA SUBMETIDA AO RITO
SUMARÍSSIMO. NÃO ATENDIMENTO DA EXIGÊNCIA. MATÉRIA
CONTROVERTIDA NO CASO: RESPONSABLIDADE SUBSIDIÁRIA.
Dentre as inovações inseridas na sistemática recursal trabalhista pela Lei n.º
13.015/2014, consta, expressa e literalmente, sob pena de não conhecimento
do Recurso de Revista, a exigência de que a parte proceda à indicação do
trecho da decisão recorrida que consubstancia o prequestionamento da
matéria impugnada no Apelo. A transcrição integral da fundamentação
adotada pelo acórdão quando da análise da matéria compreendida no tópico
em questão, não atende à exigência legal. Agravo de Instrumento conhecido
e não provido. (AIRR - 10636-61.2014.5.03.0087 , Relatora Ministra: Maria
de Assis Calsing, Data de Julgamento: 13/05/2015, 4ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 15/05/2015)

Outra situação peculiar tem ocorrido na prática processual trabalhista, desde a


entrada em vigor da Lei 13.015/2014. Trata-se de hipótese em que a decisão recorrida denega
seguimento ao recurso de revista sob o fundamento de que o recorrente deixou de observar os
requisitos dispostos no art. 896, §1º-A, da CLT, incluído pela nova Lei. Em tais casos ficou
decidido que, sempre que o agravante limitar-se a insistir nas violações de texto de lei e
divergência jurisprudencial apontados no recurso de revista, deixando de atacar o fundamento
da decisão negativa de admissibilidade - consistente no descumprimento dos requisitos
previstos no aludido dispositivo -, o apelo será tido por desfundamentado. Isso significa que à
parte não basta meramente reproduzir ou renovar as razões expostas no recurso de revista, se
os fundamentos do agravo de instrumento não impugnam a decisão denegatória. A fim de
ilustrar o caso mencionado, confira-se o seguinte julgado do TST:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA -


PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO - PROCESSO SOB VIGÊNCIA DA
LEI Nº 13015/2014 - AUSÊNCIA DE ATAQUE AOS FUNDAMENTOS
DA DECISÃO NEGATIVA DE ADMISSIBILIDADE - APELO
DESFUNDAMENTADO. Nos termos do art. 897, "b", da CLT, o agravo de
instrumento é o recurso cabível das decisões que denegarem seguimento à
interposição de recursos, sendo certo que, para obter sucesso com o recurso
interposto, a parte deve atacar individualmente todas as premissas indicadas
na decisão que se pretende reformar. Na espécie, o óbice processual
invocado pelo Tribunal de origem para negar seguimento ao recurso de
revista - descumprimento do inciso I do § 1º-A do art. 896 da CLT, incluído
pela Lei nº 13015/2014 (indicação do trecho da decisão recorrida que
consubstancia o prequestionamento da controvérsia) - sequer foi mencionado
no agravo de instrumento. Desrespeitado o princípio da dialeticidade
recursal, inserto no art. 514, II, do CPC, inviável o provimento do apelo.
Agravo de instrumento desprovido. (AIRR-1052-03.2013.5.03.0152, Relator
Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Data de Julgamento:
05/08/2015, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/08/2015)

Ante todo o exposto, podemos notar que, embora a Lei nº 13.015/2014 tenha
estabelecido regras mais rígidas apenas quanto à elaboração dos fundamentos do recurso de
revista, um grande número de agravos de instrumento foram desprovidos pelos magistrados
do Tribunal Superior do Trabalho devido àquelas mudanças. Dessa forma, concluímos que os
preceitos da nova Lei repercutiram sensivelmente na fundamentação dos recursos de agravo
de instrumento, merecendo, por isso, maior atenção por parte dos operadores do direito.

5 - Considerações finais
Com o advento da nova Lei 13.015/2014, o ordenamento jurídico passou a exigir a
adoção de um procedimento mais rigoroso quanto ao modo de se fundamentar o recurso de
revista. Nenhuma mudança ocorreu no que diz respeito ao modo de se elaborar o recurso de
agravo de instrumento. Apesar disso, desde a entrada em vigor da nova Lei, constatou-se que
um grande número de agravos de instrumento foram desprovidos em razão de não terem sido
atendidas na revista as exigências do art. 896, § 1º-A, da CLT.
Assim, a fim de que os operadores do direito não vejam o seus recursos de agravo de
instrumento serem desprovidos em razão das disposições da nova Lei, importa que se atentem
para: a) impugnar individual e especificamente todos os fundamentos adotados no despacho
denegatório; b) reiterar em sua peça os temas e as razões previamente suscitados no recurso
de revista. De modo que, ao preencher esses dois requisitos, os litigantes devem sempre
mencionar, nas razões do agravo de instrumento, argumentos referentes ao cumprimento dos
requisitos demandados no art. 896, § 1º-A, da CLT.

Referências

BRANDÃO, Cláudio. Reforma do Sistema Recusal Trabalhista: comentários à Lei nº


13.015/2014. São Paulo, LTr, 2015.

Você também pode gostar