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NOÇÕES GERAIS DE DIREITO ADMINISTRATIVO

1. CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Celso Antônio Bandeira de Mello: “o direito administrativo é o ramo do direito público (taxonomia ou taxinomia ou
natureza jurídica) que disciplina a função administrativa, bem como pessoas e órgãos que a exercem”.

Hely Lopes Meirelles: “o conceito de Direito Administrativo Brasileiro, para nós, sintetiza-se no conjunto harmônico de
princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e
imediatamente os fins desejados pelo Estado”

Maria Sylvia Zanella Di Pietro: “o ramo do direito público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas
administrativas que integram a Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exercer e os bens de que
se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública”.

PARA CONCURSOS: Direito Administrativo é o ramo do direito público (estuda atividades estatais) que estuda princípios
e regras reguladores do exercício da função administrativa (ÓRGÃOS, AGENTES E ATIVIDADES).

Taxonomia: é ramo de direito público


Norma é gênero de duas espécies: princípios e regras
Conjunto de princípios e regras do DA recebe o nome de “regime jurídico-administrativo”.

2. CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DO OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO (DIOGENES GASPARINI):


Seis correntes principais para a conceituação do Direito Administrativo e definição de seu objeto:

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1) corrente legalista: considera que o Direito Administrativo resume-se ao conjunto da legislação administrativa
existente no país. Tal critério é reducionista, pois desconsidera a doutrina na identificação dos princípios
básicos informadores do ramo;

2) critério do Poder Executivo: consiste em identificar o Direito Administrativo como o complexo de leis
disciplinadoras da atuação do Poder Executivo. Esse critério é inaceitável porque ignora que a função
administrativa também pode ser exercida fora do âmbito do Poder Executivo - tarefas administrativas
desempenhadas pelo Legislativo e pelo Judiciário (função atípica) e também cometidas a particulares por
delegação estatal (exemplo: concessionários e permissionários de serviço público);

3) critério das relações jurídicas: com base nesse critério, pretende-se definir o Direito Administrativo como a
disciplina das relações jurídicas entre a Administração Pública e o particular. A insuficiência do critério é clara,
pois todos os ramos do Direito Público possuem relações semelhantes e, além disso, muitas atuações
administrativas não se enquadram no padrão convencional de um vínculo interpessoal, como é o caso da
expedição de atos normativos e da gestão de bens públicos;

4) critério do serviço público: muito utilizado entre autores franceses na metade do século passado, tal critério
considera que o Direito Administrativo tem como objeto a disciplina jurídica dos serviços públicos (“escola do
serviço público”). O critério mostra-se, atualmente, insuficiente na medida em que a Administração Pública
moderna desempenha muitas atividades que não podem ser consideradas prestação de serviço público, como é
o caso do poder de polícia e das atuações de fomento (incentivo a determinados setores sociais);
O poder de polícia é atividade adm de limitação, restrição. Não cria vantagem para os administrados.

5) critério teleológico ou finalístico: considera que o Direito Administrativo deve ser conceituado a partir da ideia
de realização de atividades que permitem ao Estado alcançar seus fins. Essa concepção é inconclusiva em
razão da dificuldade em definir quais são os fins do Estado;

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6) critério negativista: diante da complexa tarefa de identificar o objeto próprio do Direito Administrativo, alguns
autores chegaram a sustentar que o ramo somente poderia ser conceituado por exclusão, isto é, seriam
pertinentes ao Direito Administrativo as questões não pertencentes ao objeto de interesse de nenhum outro
ramo jurídico. Tal modo de analisar o problema é insatisfatório por utilizar um critério negativo
(cientificamente frágil) para estabelecer a conceituação.

Critérios para definição do objeto do Direito Administrativo ATUAL: critério funcional, segundo o qual o Direito
Administrativo é o ramo jurídico que estuda a disciplina normativa da função administrativa, independentemente de
quem esteja encarregado de exercê-la: Executivo, Legislativo, Judiciário ou particulares mediante delegação estatal.

A partir desses diferentes critérios utilizados para conceituar o objeto do Direito Administrativo, Diogo de Figueiredo
Moreira Neto elabora um quadro evolutivo do tema identificando diversas escolas:

1) Escola Francesa, Clássica ou Legalista: propunha um sentido limitativo ao conceito de Direito Administrativo,
restringindo-o ao estudo das normas administrativas de um país.

2) Escola Italiana: com conceito também limitado, entendia o Direito Administrativo como o estudo dos atos do Poder
Executivo. Seus expoentes: Lorenzo Meucci, Oreste Ranelletti e Guido Zanobini.

3) Escola dos Serviços Públicos: considerava o Direito Administrativo como o estudo do conjunto de regras
disciplinadoras dos serviços públicos. (Léon Duguit e Gaston Jèze).

4) Escola do Interesse Público: entendia que a noção fundamental para conceituar o Direito Administrativo era a ideia

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de bem comum ou interesse público, cuja proteção seria a finalidade última do Estado.

5) Escola do Bem Público: defendida por André Buttgenbach, entendia que a noção-chave para conceituação do
Direito Administrativo seria a de bem público.

6) Escola dos Interesses Coletivos: sustentava que a defesa dos interesses coletivos era a base para conceituar o
Direito Administrativo.

7) Escola Funcional: procurou associar o conteúdo do Direito Administrativo ao estudo da função administrativa. Celso
Antônio Bandeira de Mello

8) Escola Subjetiva: defendida no Brasil por Ruy Cirne Lima e José Cretella Júnior, centralizava a conceituação do
Direito Administrativo nas pessoas e órgãos encarregados de exercer as atividades administrativas.

9) Escolas Contemporâneas: as escolas mais atuais tendem a utilizar diversos critérios combinados para oferecer um
conceito mais abrangente de Direito Administrativo capaz de incluir todas as atividades desempenhadas pela
Administração Pública moderna.

3. CONCEITO DE FUNÇÃO ADMINISTRATIVA

a) caráter infralegal: FA é exercida em subordinação à lei (legalidade), como reforço da noção de Estado de Direito
e soberania popular. Sempre que o ato administrativo contrariar a lei ele será nulo;

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b) atuação “de ofício”: o Parlamento cria a lei (único meio de inovar originariamente na ordem jurídica). Judiciário e
o Executivo aplicam a lei criada. “Administrar consiste em aplicar a lei de ofício” – Executivo é dinâmico. A função
administrativa não é imutável (não existe coisa julgada material na função administrativa). Não há coisa julgada
material na adm pública, sempre é possível mudar a decisão da ADM (seja na via administrativa, seja na judicial).

c) típica mas não exclusiva do Executivo: Legislativo, Judiciário também exercem função administrativa (caráter
atípico). Pode ser exercida por particulares se houver delegação estatal (concessão e permissão de SP).

- o regime jurídico da FA é sempre o mesmo (regime jurídico-administrativo)

- gestor de negócios públicos: particular que assume espontaneamente (sem delegação estatal) o exercício de FA + na
ausência do Estado + interesse público + não há crime de usurpação (excludente) + reveste das prerrogativas típicas de
agente.

Exs: socorrista de parturiente; motorista que, diante de acidente em região de neblina, faz gestos de trânsito na
ausência da PRF

d) mérito do ato discricionário é seu núcleo: margem de liberdade para avaliar conveniência e oportunidade nas
decisões administrativas discricionárias

4. ESTADO, GOVERNO, PODER EXECUTIVO, ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E PODER PÚBLICO


Estado = povo + território + governo

Poder Executivo = estrutura hierarquizada que corresponde a um dos três Poderes básicos do Estado

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Administração Pública = em sentido subjetivo, é o conjunto de órgãos e entidades estatais no exercício da função
administrativa, independentemente de qual Poder pertença.
Governo = cúpula diretiva do Estado

Poder Público = estrutura estatal

5. SENTIDOS DO TERMO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA -


1º – Administração Pública em sentido subjetivo ou orgânico ou formal é o conjunto de agentes, órgãos e entidades
públicas que exercem a função administrativa;

2º – administração pública em sentido objetivo, material ou funcional, mais adequadamente denominada


“administração pública” (com iniciais minúsculas), é a atividade estatal consistente em defender concretamente o
interesse público (sinônimo de função administrativa).

DICA: Particulares nunca podem integrar a Administração Pública, mas podem exercer a administração pública

6. FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO


Fonte é o local de onde algo provém. No Direito, as fontes são os fatos jurídicos de onde as normas emanam. As
fontes jurídicas podem ser de dois tipos:

a) primárias, maiores ou diretas: são o nascedouro principal e imediato das normas; e

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b) secundárias, menores ou indiretas: constituem instrumentos acessórios para originar normas, derivados de fontes
primárias.
No Direito Administrativo, somente a lei constitui fonte primária na medida em que as demais fontes (secundárias) estão
a ela subordinadas. Doutrina, jurisprudência e costumes são fontes secundárias.
a) Lei (fonte primária)
b) Doutrina (fonte secundária)
c) Jurisprudência (fonte secundária)
d) Costumes (fonte secundária)

7. SISTEMAS ADMINISTRATIVOS - DOIS SÃO OS SISTEMAS DE CONTROLE DAS ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS:

a) sistema da jurisdição una (modelo inglês). É o sistema adotado no Brasil.


UNA = única estrutura jurisdicional. Só o judiciário faz coisa julgada. Tripartição de poderes é cláusula pétrea.
Art. 5º. XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

b) sistema do contencioso administrativo (modelo francês): dualidade de jurisdição (Poder Judiciário + Contencioso
Administrativo) ambas podem julgar.

Na França, o contencioso administrativo é encabeçado pelo Conselho de Estado. Trata-se de um judiciário só para causas
de interesse da ADM pública, do qual não se pode recorrer ao judiciário.

8. CODIFICAÇÃO - no BR, o DA não é codificado (codificações parciais)

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- três etapas evolutivas de um ramo:
a) legislação esparsa;
b) consolidação;
c) codificação

9. COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR - no BR, é concorrente (U, E, DF e M)... alguns temas são de competência privativa
da União (ex.: legislar sobre desapropriação: art. 22, II, da CF).

10. INTERPRETAÇÃO DA NORMA ADMINISTRATIVA À LUZ DA NOVA LEI 13.655/18 – alteração da LINDB
- Objetivo geral: limitar o exercício das atividades de controle (TCs especialmente)

- Principal veto (art. 25): Quando necessário por razões de segurança jurídica de interesse geral, o ente poderá propor
ação declaratória de validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, cuja sentença fará coisa julgada
com eficácia erga omnes. 
NOVIDADES:

a) Decisão com base em valores jurídicos abstratos (conceitos indeterminados) deve considerar as
consequências práticas: Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores
jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão (art. 20 da LINDB);

b) Juízo de proporcionalidade integra a motivação: A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da


medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face
das possíveis alternativas (art. 20, parágrafo único, da LINDB);

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c) Consequências jurídicas integram a motivação do ato anulatório: A decisão que, nas esferas administrativa,
controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa
deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas (art. 21 da LINDB);

d) Interpretação da norma deve considerar os obstáculos e dificuldades reais do gestor: Na interpretação de


normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do gestor e as exigências
das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados (art. 22 da LINDB);

e) Obrigatoriedade de Regime de transição para novas interpretações: A decisão administrativa, controladora ou


judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo
novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para
que o novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e
sem prejuízo aos interesses gerais (art. 23 da LINDB);

f) Possibilidade de a autoridade celebrar compromisso de eliminação de irregularidade: Para eliminar


irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito público, inclusive no caso de
expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso,
após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com
os interessados, observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial. O
compromisso referido no caput deste artigo: I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e
compatível com os interesses gerais; II - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou
condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral; III - deverá prever com clareza as obrigações das
partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de descumprimento (art. 26 da LINDB).

g) Possibilidade de compensação por benefícios indevidos: A decisão do processo, nas esferas administrativa,
controladora ou judicial, poderá impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos

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resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos (art. 27 da LINDB);

h) Atos normativos podem ser precedidos de consulta pública, preferencialmente pela via eletrônica: Em qualquer
órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera organização
interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente por
meio eletrônico, a qual será considerada na decisão (art. 29 da LINDB);

i) Regulamentos, súmulas e respostas de consultas expedidos para aumento da segurança jurídica: Em qualquer
órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera organização
interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente por
meio eletrônico, a qual será considerada na decisão (art. 30 da LINDB);

j) Força vinculante obrigatória dos atos normativos expedidos para aumento da segurança jurídica (art. 30,
parágrafo único, da LINDB)

11. STARE DECISIS

Foi aprovada a Lei 13.655/18 que alterou a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-lei 4657/42). Agora, o artigo 30 da
LINDB contém um comando geral impondo às autoridades administrativas a necessidade de conferir maior segurança nas decisões por meio da
edição de súmulas administrativas:

“Art. 30. As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por meio de
regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas. Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo
terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão”

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De acordo com Floriano Peixoto de Azevedo Marques, titular de Direito Administrativo da USP, o artigo 30 da LINDB tem como objetivo
aplicar a técnica da “stare decisis” (vinculação aos precedentes) às decisões administrativas, orientação que remonta ao precedente London
Tramways vs London County Council, de 1898, no qual se consagrou, pela primeira vez, a vinculação da “House of Lords” (Legislativo Inglês)
às suas próprias decisões. “De acordo com tal teoria, terá o julgador de, preliminarmente, definir o holding (precedente), assim considerado
como a norma, a ser extraída do caso concreto, que deverá vincular as futuras decisões. Sua identificação passa pela identificação dos fatos
(material facts) e dos fundamentos necessários à constituição do precedente (racionale), excluindo-se, porém, o obiter dictum, que são as
considerações marginais ao julgado paradigma, que não terão efeitos vinculantes. Por intermédio dessa sistemática, para além de se preservar a
isonomia no tratamento dos administrados (treat like cases alike), pretende-conferir observância às decisões proferidas (backward-looking), bem
como constituir os futuros precedentes (fooward-looking)”1.

O nome “stare decisis” vem da fórmula latina “stare decisis et non quieta movere” (respeitar aquilo que foi decidido não alterando o
que se estabeleceu) e designa a teoria da vinculação aos precedentes. Originária do sistema da “common law”, a “stare decisis” foi
introduzida no direito brasileiro pela Emenda 45/04 como fundamento das súmulas vinculantes e, mais recentemente, pela Lei
13.655/18 acrescentando o art. 30 à LINDB que prevê as súmulas vinculantes administrativas.

Segundo o autor2, existem quatro hipóteses em que o novo art. 30 da LINDB é aplicável na criação de precedentes administrativos:

a) Precedente formado no âmbito de um procedimento administrativo (arts. 23 da Lei 13655/18 e 2 o, parágrafo único, XIII, da Lei
9784/99);
b) Necessária edição de súmulas administrativas uniformizando interpretações reiteradas da Administração Pública;
c) Precedente decorrente de parecer jurídico vinculante, como o previsto no artigo 40, § 1 o, da LC 73/93: “o parecer aprovado e
publicado juntamente com o despacho presidencial vincula a Administração Federal, cujos órgãos e entidades ficam obrigados a lhe
dar fiel cumprimento”;
d) Regulamentos administrativos editados para uniformização de procedimentos, como o Decreto 6759/09 que regulamenta a
administração das atividades aduaneiras, e a fiscalização, o controle e a tributação das operações de comércio exterior.

Uma vez firmado o precedente vinculante (holding), agora a autoridade somente poderá deixar de aplicar a solução se proferir uma decisão
fundamentada, na qual demonstre que existem diferenças substanciais entre o precedente e o caso atual, que justifique uma decisão diversa
(distinguishing) ou a necessidade de aprimoramento/superação do precedente (overruling), quer por razões jurídicas, quer econômicas, ou ainda

1
A nova LINDB e a incorporação da teoria dos precedentes administrativos ao país, in www.conjur.com.br
2
Floriano Peixoto de Azevedo Marques, idem.
11
pela cambialidade da situação de fato3. É o que se extrai também do art. 50, VII, da Lei 9784/99, segundo o qual devem ser obrigatoriamente
motivadas as decisões administrativas que “deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos,
propostas e relatórios oficiais”4

É importante atentar para os nomes em inglês utilizados no contexto da teoria da “stare decisis” (vinculação ao precedente):
“holding” (precedente), “distinguishing” (diferenciação) e “overruling” (superação do precedente).

Em conclusão, havendo normatização específica dentro de determinado órgão, o precedente administrativo constitui uma fonte adicional para o
Direito Administrativo.

12. CONTEÚDO COMPLEMENTAR

LEI Nº 13.655, DE 25 DE ABRIL DE 2018.

Inclui no Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei


de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), disposições
Mensagem de veto
sobre segurança jurídica e eficiência na criação e na aplicação
do direito público.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o  O Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), passa a
vigorar acrescido dos seguintes artigos:

“Art. 20.  Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem
que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.

3
Floriano Peixoto de Azevedo Marques, idem.
4
Floriano Peixoto de Azevedo Marques, idem.
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Parágrafo único. A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação de ato,
contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.”

“Art. 21.  A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a invalidação de ato, contrato, ajuste,
processo ou norma administrativa deverá indicar de modo expresso suas consequências jurídicas e administrativas.

Parágrafo único.  A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as condições para que a
regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos
atingidos ônus ou perdas que, em função das peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos.”

“Art. 22.  Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos e as dificuldades reais do
gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos direitos dos administrados.

§ 1º  Em decisão sobre regularidade de conduta ou validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa,
serão consideradas as circunstâncias práticas que houverem imposto, limitado ou condicionado a ação do agente.

§ 2º  Na aplicação de sanções, serão consideradas a natureza e a gravidade da infração cometida, os danos que dela
provierem para a administração pública, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes do agente.

§ 3º  As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de mesma natureza e
relativas ao mesmo fato.”

“Art. 23.  A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou orientação nova sobre norma de
conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando
indispensável para que o novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente e
sem prejuízo aos interesses gerais.

Parágrafo único.  (VETADO).”

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“Art. 24.  A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de ato, contrato, ajuste, processo
ou norma administrativa cuja produção já se houver completado levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado
que, com base em mudança posterior de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas.

Parágrafo único.  Consideram-se orientações gerais as interpretações e especificações contidas em atos públicos de caráter
geral ou em jurisprudência judicial ou administrativa majoritária, e ainda as adotadas por prática administrativa reiterada e de
amplo conhecimento público.”

 “Art. 25.  (VETADO).”

“Art. 26. Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito público, inclusive no
caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após
realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados,
observada a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial.

§ 1º  O compromisso referido no caputdeste artigo:

I - buscará solução jurídica proporcional, equânime, eficiente e compatível com os interesses gerais;

II – (VETADO);

III - não poderá conferir desoneração permanente de dever ou condicionamento de direito reconhecidos por orientação geral;

IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções aplicáveis em caso de
descumprimento.

“Art. 27.  A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá impor compensação por
benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou da conduta dos envolvidos.

§ 1º  A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu cabimento, sua forma e, se
for o caso, seu valor.

§ 2º  Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre os envolvidos.”

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“Art. 28.  O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou erro
grosseiro.

“Art. 29.  Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade administrativa, salvo os de mera
organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para manifestação de interessados, preferencialmente por meio
eletrônico, a qual será considerada na decisão.   Vigência

§ 1º  A convocação conterá a minuta do ato normativo e fixará o prazo e demais condições da consulta pública, observadas
as normas legais e regulamentares específicas, se houver.

§ 2º  (VETADO).”

“Art. 30.  As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na aplicação das normas, inclusive por
meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a consultas.

Parágrafo único.  Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em relação ao órgão ou entidade
a que se destinam, até ulterior revisão.”

Art. 2º  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, salvo quanto ao art. 29 acrescido à Lei nº 4.657, de 4 de setembro
de 1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), pelo art. 1º desta Lei, que entrará em vigor após decorridos 180
(cento e oitenta) dias de sua publicação oficial. 

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