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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

EXTENSÃO DE NACALA-PORTO

Cremildo Maria Marcelo Araújo Cuvanjua

Evolução Histórica do Direito Administrativo


Sistemas Administrativos
Enquadramento no Sistema Moçambique

Nacala-Porto, 2024
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
EXTENSÃO DE NACALA-PORTO

Cremildo Maria Marcelo Araújo Cuvanjua

Evolução Histórica do Direito Administrativo


Sistemas Administrativos
Enquadramento no Sistema Moçambique

Trabalho de caracter avaliativo, pertencente a Direito


Administrativo, curso de licenciatura em Direito, 2º ano, regime
pós-laboral, leccionada pela Docente: Dra. Lieda Msanga

Nacala-Porto, 2024
Índice
1. Introdução ........................................................................................................................ 4

2.1 Generalidades ............................................................................................................ 5

3 Sistemas Administrativos ................................................................................................... 5

3.1 Sistema administrativo Tradicional .................................................................................... 5

3.2 Sistema Tipo Francês ou a administração executiva ........................................................ 6

3.3 Sistema Tipo Britânico ou Judiciária .................................................................................. 8

Conclusão ............................................................................................................................. 10

Bibliografia ........................................................................................................................... 11
1. Introdução

O presente trabalho pretende abordar sobre a evolução histórica do Direito Administrativo. O


Estado emergiu, historicamente, em virtude da natureza social do homem e da necessidade de
um mecanismo, consensual, para garantir a satisfação das necessidades colectivas, assim
como para regular a interacção entre os indivíduos no contexto social. É nesse contexto que a
administração pública é concebida.

Objectivo Geral

O trabalho possui como objectivo geral analisar a evolução histórica do Direito


Administrativo

Objectivos Específicos

Abordar as características dos diferentes tipos de sistemas administrativos;

Enquadrar os sistemas no contexto no ordenamento moçambicano.

4
2. Evolução histórica do direito administrativa
2.1 Generalidades1

Como sucede com sistemas políticos e com os sistemas judiciais, a estruturação da


administração pública varia em função do tempo e do espaço. A história e o direito
comparado mostram um bem que os modos jurídicos de organização, funcionamento e
controlo da administração não são os mesmos em todas as épocas e em todos os países. A
tipificação desses diferentes modos jurídicos dá lugar ao estudo dos sistemas administrativos.

O Direito Administrativo tem sua origem na França, no século XVIII e no início do século
XIX, sendo reconhecido como um ramo Autónomo do direito no início do processo de
desenvolvimento do Estado de Direito, baseado no princípio da legalidade e da separação.

A primeira grande distinção a fazer é a que espera, historicamente, o sistema tradicional que
vigorou na Europa até aos séculos XVII e XVIII, dos sistemas modernos que se implantaram
nessa altura ou posteriormente.
De entre estes, haverá depois que fazer uma nova subdivisão, porque a estruturação da
administração pública seguiu caminhos diversos conforme os países, designadamente em
Inglaterra e em França.
Conforme este autor existem assim três tipos fundamentais do sistemas administrativo o
sistema tradicional, sistema de tipo britânico ou de administração judiciária e o sistema de
tipo francês ou de administração executiva.

3 Sistemas Administrativos

3.1 Sistema administrativo Tradicional2

O sistema administrativo da Monarquia tradicional europeia assentava nas características


seguintes:3

i. Indiferenciação das funções administrativas e jurisdicional e, consequentemente,


inexistência de uma separação rigorosa entre os órgãos do poder executivo e do poder
policial.

1
DO AMARAL, Diogo Freitas, Manual de Direito administrativo – volume I, Almedina, 4ª edição, 2016
2
Idem pp.88
3
Idem
5
ii. Não subordinação da administração publica ao principio da legalidade e,
consequentemente, insuficiência do sistema de garantias jurídicas dos particulares face
a administração.

3.2 Sistema Tipo Francês ou a administração executiva4

O sistema tipo francês ou de Administração executiva, podemos apontar desde logo o seu
surgimento em França através de uma revolução levada a cabo pelo conselho de Estado e o
seu desenvolvimento ao longo do século XIX. Este sistema vigora em Portugal desde 1832 e
em quase toda a Europa continental ocidental e em muitas ex-colónias tornadas independentes
no século XX, incluindo Moçambique. As suas principais características são:

i. Separação de Poderes: com a Revolução francesa foi proclamada expressamente,


logo em 1789, princípio da separação dos poderes com todos os seus corolários
matérias e orgânicos.
ii. Centralização dos poderes administrativos: A Administração Pública tem uma
estrutura fortemente centralizada e hierarquizada. Esta centralização tem origem na
tradição napoleónica e reflete as características da história francesa. Esta dispõe de
poderes exorbitantes, destacando-se de forma muito visível dos restantes cidadãos o
que a torna muito diferente dos particulares. Estes poderes são poderes fora do normal,
diferentes dos poderes normais, que se extrapolam e diferenciam dos poderes dos
particulares e que permitem à Administração prosseguir determinadas tarefas públicas.
Como exemplo de um desses poderes temos o poder da execução prévia.
iii. Sujeição da Administração aos Tribunais Administrativos: Neste sistema o
princípio da separação de poderes tem um papel muito relevante. Este principio
consagra que a Administração e a Justiça se encontram separadas e não se confundem.
Assim, os tribunais judiciais comuns não interferem com o funcionamento da
Administração Pública. Foi neste panorama que, em 1799, foram criados os Tribunais
Administrativos, que não eram verdadeiros tribunais mas que eram diferentes dos
tribunais comuns. Os Tribunais Administrativos eram órgãos da Administração
independentes e imparciais, incumbidos de fiscalizar a legalidade dos actos
administrativos.

4
https://psicanalisarodireitoadministrativo16b.blogs.sapo.pt/os-sistemas-administrativos-3345
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Existia neste sistema uma jurisdição própria caracterizada pela existência de uma ordem de
tribunais judiciais e uma ordem de tribunais administrativos, sendo que nestes últimos
existiam níveis de jurisdição distintos caracterizados pela existência de dois tribunais:
Tribunais Administrativos Centrais e o Supremo Tribunal Administrativo.

iv. Subordinação da Administração ao Direito Administrativo: A resolução dos


litígios da Administração é levada a cabo pelos tribunais administrativos. Neste
sistema foi criado um ramo especial do Direito – o Direito Administrativo – que
regula a forma como a Administração pode utilizar os seus poderes especais de
autoridade ( os típicos poderes exorbitantes da Administração no sistema Francês).
Este ramo do Direito afasta-se do direito privado e é diferente do Common law.

v. Privilégio da execução prévia: O Direito Administrativo confere à Administração


poderes “exorbitantes” sobre os cidadãos, por comparação com os poderes “normais”
reconhecidos pelo Direito Civil aos particulares nas relações entre si. A Administração
dispõe de um poder de auto-tutela uma vez que esta determina o Direito a aplicar. As
decisões unilaterais da Administração têm em regra força executória própria. Neste
sistema temos presente tanto a auto-tutela declarativa como a executiva. Isto é, no
sistema Francês, a Administração dispõe de auto-tutela declarativa, a qual lhe permite
declarar unilateralmente o Direito a aplicar, e de auto-tutela executiva, que lhe permite
executar as suas decisões sem recurso a tribunal. Por isso mesmo, estas decisões
podem ser impostas pela Administração com recurso á coacção sem necessidade de
qualquer intervenção prévia do poder judicial. A Administração tem assim o poder de,
por si só, obrigar o particular a obedecer às regras por esta impostas, através de
medidas coercivas, não precisando de recorrer ao tribunal para fazer executar as suas
regras.
vi. Garantias jurídicas dos administrados: São alcançadas através do recurso aos
tribunais administrativos onde os direitos subjetivos públicos são invocáveis contra o
Estado. O Estado é responsabilizado por todos os atos praticados pelos seus
funcionários e garante aos particulares as respectivas indemnizações, quando for caso
disso, assumindo então a responsabilidade perante os cidadãos.

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3.3 Sistema Tipo Britânico ou Judiciária5

Em primeiro lugar, quanto ao sistema de administração judiciária, também denominado de


sistema Inglês, Britânico ou Anglo-Saxónico. Este sistema vigora hoje na generalidade dos
países anglo-saxónicos, Características tradicionais deste sistema de administração podem ser
referidas:

i. Separação de Poderes: O Rei foi impedido de resolver, por si ou por conselhos


formados por funcionários da sua confiança, questões de natureza contenciosa, por forca
da lei de abolição da Star Chamber (1641) e foi proibido de dar ordens aos juízes,
transferi-los ou demiti-los, mediante o Acto f Senlement (1701).6
ii. Estado de Direito: culminando uma longa tradição, iniciada na Magna Carta, os
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos britanicos foram consagrados no Bill of
Rights (1689). O Bill of Rights determinou, nomeadamente, que o direito comum seria
aplicável a todos os ingleses.
iii. Descentralização dos poderes administrativos: A Administração não está centralizada
e não concentra em si todos os poderes, pelo que existem dois órgãos que dispõe do
poder sendo eles a Administração central (Central Government) e a Administração local
(Local Government). Não existe o conceito de Estado enquanto pessoa coletiva uma vez
que a Administração Pública não dispõe de poderes diferentes dos atribuídos aos
particulares.

iv. Sujeição da Administração aos tribunais comuns: Trata-se da tão conhecida unidade
de jurisdição. De facto, os tribunais comuns, também denominados de “courts of law”,
julgam tanto os litígios referentes á Administração Pública como os litígios entre aqueles
que não são funcionários desta, ou seja, os particulares. Assim, a Administração Pública
está sujeita á aplicação da lei por parte de tribunais judiciais comuns e não de tribunais
administrativos (uma vez que estes últimos não existem neste sistema). A lei é igual para
todos os cidadãos e não pode nenhuma autoridade invocar privilégios e imunidades.
Temos assim uma jurisdição única uma vez que não existem tribunais encarregados de
julgar especialmente a Administração. As questões administrativas são julgadas pelos
tribunais comuns pelo que não havia diferenciação de matérias.

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DO AMARAL, Diogo Freitas, Manual de Direito administrativo – volume I, Almedina, 4ª edição, 2016
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v. Subordinação da Administração ao Direito Comum: Todas as pessoas se regem pelo
mesmo Direito, o chamado “The common law of the land”, tanto o Rei como os
funcionários, os conselheiros e os cidadãos anónimos. Não existe um Direito
Administrativo mas sim o Direito Comum aplicado pelos tribunais comuns.
Consequentemente, a Administração está subordinada ao Common Law, logo a
Administração não dispõe de poderes exorbitantes nem de privilégios de autoridade
pública. Apesar disto, mesmo não existindo um Direito Administrativo, existem regras
que regulam a Administração e a forma como esta emite as suas decisões, regras estas
que formam o chamado “Procedimento Administrativo”.

vi. Execução judicial das decisões administrativas: A Administração não goza de poderes
de execução das suas decisões pelo que se pretende executar essas decisões terá de se
dirigir a um tribunal. Isto não quer dizer que a Administração no sistema britânico não
pudesse praticar nenhum acto administrativo sem recorrer aos tribunais, uma vez que a
questão da execução só se coloca quando a ordem administrativa não é voluntariamente
cumprida por um particular. Assim, se o particular não cumprir o seu dever, terá a
Administração de recorrer a um tribunal com vista á obtenção de uma sentença, para
garantir que o particular cumpra. A intervenção dos tribunais só acontece quando o
particular não cumpre voluntariamente o que a Administração ordena unilateralmente.
Podemos assim constatar que a Administração atua sem dispor de auto-tutela visto que
não pode por si só empregar meios coativos, necessitando para tal de recorrer aos
tribunais. Assim, o sistema anglo-saxónico caracteriza-se pela tutela garantida pelos
tribunais.

4 Enquadramento da Administração Pública Moçambicana

Em Moçambique, o sistema administrativo adoptado é geralmente baseado no sistema de tipo


francês, pois que combina algumas características do sistema administrativo em Moçambique:
Separação de poderes, Sujeição da Administração aos Tribunais Administrativos,
Subordinação da Administração ao Direito Administrativo, Subordinação da Administração
ao Direito Administrativo, Garantias jurídicas dos administrados.

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Conclusão

Contudo existem algumas características que distinguem nitidamente estes dois sistemas:
quanto à organização administrativa um é um sistema descentralizado o outro é centralizado;
quanto ao controle jurisdicional da administração o primeiro entrega aos tribunais comuns, o
segundo aos tribunais administrativos; quanto ao direito regulador da administração no
sistema de tipo britânico é o direito comum, que basicamente é direito privado mas no sistema
tipo francês é o direito administrativo, que é o direito público; quanto execução das decisões
administrativa o sistema de administração judiciária fá-la depender de sentença do tribunal,
ao passo que o sistema da administração executiva atribui a autoridade administrativa.

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Bibliografia
Livro:

CISTAC, Gilles, “O direito administrativo em Mocambique” Universidade Eduardo


Mondlane, Abril. 2009

DO AMARAL, DIOGO FREITAS, Manual de Direito administrativo – volume I, Almedina,


4ª edição, 2016 Acesso Biblioteca UCM- Extensão Nacala, março 2024.

Links:

https://psicanalisarodireitoadministrativo16b.blogs.sapo.pt/os-sistemas-administrativos-3345

https://jus.com.br/artigos/97997/principios-basilares-que-norteiam-a-administracao-em-
mocambique

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