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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

EXTENSÃO DE NACALA-PORTO

Regina Rodolfo

DIREITOS REIAS DE GARANTIA

Nacala-Porto, 2024
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
EXTENSÃO DE NACALA-PORTO

Regina Rodolfo

DIREITOS REIAS DE GARANTIA:


Consignação de Rendimentos
Privilégios Creditórios
Direito de Retenção

Trabalho de caracter avaliativo, pertencente a Direitos Reais e


Propriedade Intelectual, curso de licenciatura em Direito, 2º ano, I
semestre, leccionada pelo Dr. Victorino Mariano

Nacala-Porto, 2024
Índice
1. Direitos reias de Garantia .......................................................................................................................6

1.1 Classificação das Garantias reias ...................................................................................................6

2. Consignação de rendimentos ..................................................................................................................7

2.1 Legitimidade ..................................................................................................................................8

2.2 Espécies ..........................................................................................................................................8

2.3 Extinção..........................................................................................................................................8

3. Direito de Retenção ................................................................................................................................9

3.1 Posição do Retentor ........................................................................................................................9

3.2 Transmissão e extinção do direito de retenção .............................................................................10

4. Privilégios creditórios ..........................................................................................................................11

4.2 Extinção (art. 752 do CC) ..................................................................................................................12

Conclusão .....................................................................................................................................................13

Referencias Bibliográficas ...........................................................................................................................14


Introdução

Os direitos reais de garantia desempenham um papel fundamental no contexto jurídico,


assegurando a satisfação de créditos por meio da afectação de bens específicos. Neste trabalho,
exploraremos os diversos aspectos desses direitos, desde sua classificação até suas implicações
legais.

Objectivo Geral

Analisar os direitos reais de garantia sob a perspectiva jurídica, compreendendo sua natureza,
classificação e aplicação no contexto legal.

Objectivos Específicos

i. Investigar a classificação das garantias reais


ii. Examinar detalhadamente as garantias reais de consignação de rendimentos, privilégios
creditórios e direito de retenção, destacando suas características, legitimidade, espécies,
extinção e outras questões pertinentes.

Problemática e Justificativa

Os direitos reais de garantia são de suma importância para a segurança das relações jurídicas,
tanto para credores quanto para devedores. No entanto, sua complexidade e nuances requerem
uma análise aprofundada para uma compreensão abrangente.

Metodologia

Este trabalho será realizado por meio de pesquisa bibliográfica e análise jurídica, utilizando
fontes primárias e secundárias relevantes, como o Código Civil e doutrinas especializadas em
direito civil e direito das obrigações.

4
Estrutura do Trabalho

O trabalho será estruturado em três principais seções: Classificação das Garantias Reais; Análise
Detalhada das Garantias Reais de Consignação de Rendimentos, Privilégios Creditórios e Direito
de Retenção, abordando aspectos como legitimidade, espécies, extinção, entre outros; e, por fim,
Considerações Finais, onde serão apresentadas as conclusões e reflexões decorrentes da pesquisa
realizada.

5
1. Direitos reias de Garantia

Nos direitos reais de garantia, o que está em causa é a garantia de satisfação de um crédito. A
coisa é afecta ao cumprimento de uma obrigação, através (i) do valor da coisa ou (ii) dos seus
rendimentos, ou (iii) como preferência sobre os demais credores.

Se o crédito não for voluntariamente pago, o titular do direito real de garantia pode satisfazer o
seu crédito pelo produto da venda da coisa (é o mais frequente) ou por meio dos rendimentos que
a coisa gera. A coisa é assim funcionalizada à satisfação do crédito. Há ainda a preferência sobre
os demais credores: significa que, se a coisa é vendida, eu sou o primeiro a ser pago (isto
corresponde ao lado externo do direito real).1

De acordo com o artigo 601 do código civil, estabelece o seguinte: “pelo cumprimento da
obrigação respondem todos os bens do devedor susceptível de penhora, sem prejuízo dos regimes
especialmente estabelecidos em consequência da separação de patrimónios.

1.1 Classificação das Garantias reias


 Hipoteca
 Penhor
 Consignação de rendimentos
 Privilégios creditórios
 Direito de retenção
 Penhora
 Arresto.

A hipoteca, que pode ser hipoteca voluntária (quando resulta de contrato, que é a mais
frequente na vida prática), hipoteca legal (quando resulta da lei e após proceder-se ao respectivo
registo na conservatória), ou ainda, hipoteca judicial (quando resulta de sentença judicial e após
proceder-se ao respectivo registo na conservatória).2

1
SILVA, Pedro Miguel. Direito Reais-I semestre. 2018/2019
2
Cfr. https://www.advogadosinsolvencia.pt/mapa/garantias-reais

6
O penhor que, quanto à sua natureza, pode ser: penhor civil, penhor mercantil, ou penhor
financeiro; e quanto ao objecto pode ser: penhor de coisas ou penhor de créditos (sobre as
várias modalidades de penhor, consultar o nosso artigo: penhor. Os credores titulares dos direitos
reais de garantia emergentes de penhor designam-se de credores pignoratícios.3

No que diz respeito as garantias reias de Consignação de rendimentos, Privilégios creditórios e


Direito de retenção, iremos nos aprofundar mais detalhadamente como temas principais do
presente trabalho.

2. Consignação de rendimentos

A consignação de rendimentos é uma garantia real, e pode ser prestada pelo próprio devedor ou
por terceiro. Assim sendo, este último apenas compromete essa parcela dos seus rendimentos. A
consignação de rendimentos pode resultar de um contrato entre o garante, o devedor e o credor ou
de decisão judicial.

Neste último caso é frequente que o tribunal onde ocorre a execução para pagamento da dívida já
vencida, proceda à penhora de bens do devedor, e afecte ao pagamento da dívida os rendimentos
que o bem penhorado produza.

Na consignação de rendimentos contratual, o bem que gera os rendimentos consignados pode


manter-se em poder do seu titular, mas pode também acontecer que passe para o poder do credor,
ficando este equiparado a locatário.

A consignação de rendimentos vigorará apenas por tempo determinado, ou estabelecendo-se um


prazo fixo, pelo tempo necessário ao pagamento integral da dívida.

De acordo com o código civil, estabelece O cumprimento de uma obrigação, ainda que
condicional ou futura, pode ser garantido mediante a consignação dos rendimentos de certos bens
imóveis ou de certos bens móveis sujeitos a registo.

3
Idem
7
A consignação pode garantir o cumprimento da obrigação e o pagamento dos juros ou apenas o
cumprimento da obrigação ou só o pagamento dos juros (n. 1 e 2 do artigo 656).

2.1 Legitimidade

Só tem legitimidade para constituir a consignação quem possa dispor dos rendimentos
consignados (art.º 657.º, n.º 1 do CC), ainda que não lhes caibam iguais poderes sobre os bens
que os produzem. Será o caso do usufrutuário. Observe-se que esta garantia tanto pode ser
prestada pelo próprio devedor como por um terceiro (art.º 657.º, n.º 2 do CC).

2.2 Espécies

Existem duas espécies de consignação de rendimentos: a voluntária e a judicial. Diz-se voluntária


a que é instituída pelo devedor ou por terceiro, mediante negócios entre vivos ou testamento; e
judicial a que resulta de uma decisão do tribunal (art.º 658.º, n.º 1 e 2 do CC).

A consignação voluntária exige escritura pública, documento particular autenticado ou


testamento, desde que verse sobre coisas imóveis; mas basta um escrito particular, quando se
refira a móveis (art.º 660.º, n.º 1 do CC).

2.3 Extinção

A consignação de rendimentos extingue-se, nos termos do art.º 664.º do CC, pelas seguintes
causas:

a) O decurso do prazo estipulado – mas tal não significa necessariamente que dívida se
extinga, pois, na verdade, pode acontecer que, em virtude de os rendimentos recebidos
durante o prazo convencionado ou admitido por lei (art.º 659.º, n.º 2 do CC) não atingirem
o montante da dívida, esta se mantenha na parte correspondente, apesar de se extinguir a
consignação;
b) A extinção da obrigação a que serve de garantia, visto que é acessório dela;
c) O perecimento da coisa que produz os rendimentos consignados, sem prejuízo do disposto
nos arts.º 692.º e 701.º do CC;
d) A renúncia do credor (arts.º 663.º, n.º 3, e 731.º do CC).

8
3. Direito de Retenção

Numa primeira abordagem e descrição superficiais, diremos que o direito de retenção constitui a
“faculdade de o devedor da obrigação de restituição de uma coisa a reter, e não cumprir
legitimamente essa obrigação, enquanto o credor dessa restituição não cumprir, por seu turno,
uma obrigação que tenha para com aquele”.4

Enquanto recusa lícita da entrega de uma coisa a que se está adstrito até ao cumprimento pelo
credor da sua correspectiva obrigação, o direito de retenção surgiu e foi concebido,
originariamente, como mecanismo de persuasão e de pressão ao cumprimento da obrigação do
credor, emergindo, primordialmente, como uma forma de autotutela.

O direito de retenção encontra previsão nos artigos 754.º e seguintes do Código Civil, definindo-
o aquele primeiro preceito do seguinte modo: “o devedor que disponha de um crédito contra o
seu credor goza do direito de retenção se, estando obrigado a entregar certa coisa, o seu crédito
resultar de despesas feitas por causa dela ou de danos por ela causados”.

Por sua vez, o artigo 755.º concretiza casos especiais em que o legislador expressamente confere
o direito de retenção ao transportador, ao albergueiro, ao mandatário, ao gestor de negócios, ao
depositário, ao comodatário e ao beneficiário da promessa de transmissão ou constituição de
direito real que obteve tradição da coisa.

Por outro lado, enquanto garantia acessória e pressupondo um crédito garantido, o direito de
retenção acompanha as vicissitudes de crédito, sendo indivisível, igualmente como a hipoteca
(artigo 696.º) e o penhor (artigo 678.º), cujos regimes se aplicam por remissão dos artigos 758.º e
759.º.

3.1 Posição do Retentor

Segundo o artigo 758.º, o retentor é equiparado ao credor pignoratício, quando o direito de


retenção recaia sobre coisa móvel, ou à do credor hipotecário, se esse direito recair sobre coisa
imóvel (artigo 759.º), remetendo-se expressamente para o regime dessas garantias reais.

4
Gomes, Júlio, “Do direito de retenção (arcaico, mas eficaz...)”, Cadernos de Direito Privado,
n.º 11, julho/setembro 2005, p. 4. Citado por Maria Coimbra Piraça. O DIREITO DE RETENÇÃO DO PROMITENTE-
COMPRADOR: ALGUMAS REFLEXÕES. Almeida. 2018, p. 13
9
Constituindo um direito real de garantia, o retentor tem o direito a ser pago com preferência, em
relação aos demais credores, pelo valor da coisa retida (artigos 759.º e 604.º).

No que tange aos efeitos relativamente a terceiros, o direito de retenção é oponível erga omnes,
nos termos e fundamentos acima escrutinados. Apesar de não se exigir o seu registo, mantendo-se
ainda assim o seu carácter oponível a terceiros, a lei considera que a detenção e controlo material
da coisa retida é suficiente para assegurar a sua publicidade.

A falta de exigência de registo é defensável pelo facto de a retenção constituir por inerência uma
situação material objectiva ou ostensiva, facilmente apreendida e conhecida por qualquer terceiro,
assegurando-se, por essa via, a publicidade da sua existência e reconhecimento, bem assim a sua
oponibilidade a terceiros.5

Nesta senda, temos que o direito de retenção é oponível não só aos terceiros que vierem a suceder
aos contraentes na titularidade dos direitos e obrigações garantidos, como também a todos os
adquirentes posteriores da coisa retida.6

3.2 Transmissão e extinção do direito de retenção

No que concerne à transmissão do direito de retenção, o artigo 760.º não deixa margem para
dúvidas no sentido da intransmissibilidade sem que seja transmitido o crédito garantido.

A referida intransmissibilidade advém da sua natureza legal por respeito à conexão material
existente entre a coisa e o crédito garantido, que deixaria de existir caso se aceitasse a livre
transmissão dessa garantia desacompanhada do crédito que garante.

Sobre as formas de extinção do direito de retenção, dispõe o artigo 761.º que o mesmo se
extingue pelas mesmas causas por que cessa a hipoteca e, ainda, pela entrega da coisa, quer
voluntária, quer involuntária, nos casos em que resultar de fraude ou violência.7

5
Costa, Mário Júlio Almeida, “Direito das Obrigações”, cit., p. 981. Citado por Maria Coimbra Piraça. O DIREITO DE
RETENÇÃO DO PROMITENTE-COMPRADOR: ALGUMAS REFLEXÕES. Almeida. 2018, p. 13
6
Cfr. Maria Coimbra Piraça. O DIREITO DE RETENÇÃO DO PROMITENTE-COMPRADOR: ALGUMAS REFLEXÕES.
Almeida. 2018, p. 13
7
Idem
10
4. Privilégios creditórios

Os privilégios creditórios são garantias especiais das obrigações (dívidas ou débitos),


estabelecidas na Lei que, tendo em conta a causa do crédito, conferem a certos credores o direito
de, independentemente de registo, serem pagos com prioridade ou preferência face a outros
credores.

Os privilégios creditórios podem ser:

i. Gerais, se incidirem sobre o valor de todos os bens móveis (e também imóveis) existentes
no património do devedor. Os créditos que beneficiarem destas garantias são considerados
créditos privilegiados, sendo pagos e graduados em 2.º lugar, depois dos créditos
garantidos (1.º lugar) mas à frente dos créditos comuns (3.º lugar) e dos créditos
subordinados (4.º lugar); ver: graduação de créditos.
ii. Especiais, se incidirem apenas sobre bens específicos, móveis ou imóveis, do património
do devedor. Os privilégios creditórios especiais são considerados garantias reais e, por
isso, os créditos que beneficiarem destas garantias são qualificados como créditos
garantidos, sendo pagos e graduados em 1.º lugar, à frente dos créditos privilegiados (2.º
lugar), dos créditos comuns (3.º lugar) e dos créditos subordinados (4.º lugar).

Dentro da categoria dos créditos garantidos, os créditos que beneficiam de privilégios creditórios
especiais prevalecem sobre a hipoteca, o direito de retenção e a consignação de rendimentos,
mesmo que essas garantias sejam anteriores.8

4.1 Espécies (artigo 735 do código civil)

Privilégios creditórios mobiliários e privilégios creditórios imobiliários (arts. 736 e 738 da lei
supra citada):

Os privilégios creditórios mobiliários são aqueles que incidem sobre bens móveis e podem ser
privilégios creditórios gerais ou especiais.

8
Cfr. https://www.advogadosinsolvencia.pt/mapa/privilegios-creditorios

11
Os privilégios creditórios imobiliários são aqueles que incidem sobre bens imóveis (urbanos,
rústicos, fracções autónomas, terrenos, etc…); via de regra, são especiais, mas também existem
muitos privilégios creditórios imobiliários gerais criados por Leis Fiscais.

4.2 Extinção (art. 752 do CC)


No que diz respeito a extinção dos Privilégios creditórios, dispõe o artigo 752 que o mesmo se
extingue pelas mesmas causas do direito da hipoteca.

12
Conclusão
A análise dos direitos reais de garantia revela sua importância para a segurança das relações
jurídicas, proporcionando meios eficazes para a satisfação de créditos. Ao longo deste trabalho,
examinamos diversas modalidades de garantias reais, desde a hipoteca até os privilégios
creditórios, destacando suas características, aplicabilidades e peculiaridades.

Ficou evidente que esses direitos desempenham um papel crucial no contexto jurídico, garantindo
a protecção dos interesses tanto dos credores quanto dos devedores. A compreensão detalhada de
suas nuances é fundamental para uma aplicação justa e eficaz no âmbito das relações contratuais
e patrimoniais.

13
Referencias Bibliográficas
Artigos:

SILVA, Pedro Miguel. Direito Reais-I semestre. 2018/2019

Maria Coimbra Piraça. O DIREITO DE RETENÇÃO DO PROMITENTE-COMPRADOR:


ALGUMAS REFLEXÕES. Almeida. 2018.

Sites:

https://www.advogadosinsolvencia.pt/mapa/privilegios-creditorios

Legislação:

Código Civil

14

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