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28 de fevereiro de 2022
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Método de avaliação: avaliação repartida no dia 19 de abril às 14:30 (garantia geral e
garantias especiais de natureza pessoal) e no dia 30 de maio às 14:30 (duração de 90 minutos) com a
restante matéria (+ trabalho facultativo, a entregar até à época normal: escolher um tema e fazer uma
apreciação de um acórdão sobre a matéria) /exame final. Inscrição na avaliação repartida com data-
limite a dia 4 de abril, através de envio de e-mail para afilipa@uc.pt e para o e-mail da professora.
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Bibliografia Principal:
- VASCONCELOS, L. Miguel Pestana, Direito das Garantias, 3.ª ed., Almedina, Coimbra, 2019.
- LEITÃO, Luís Manuel de Menezes, Garantias das Obrigações, 5.ª ed., Almedina, Coimbra,
2016. (para os meios de conservação da garantia patrimonial)
- VARELA, João de Matos, Das Obrigações em Geral, Vol. II, 7.ª Ed., Almedina Coimbra,
1999(reimpressão), (para os meios de conservação da garantia patrimonial)
- GOMES, Manuel Januário da Costa, Estudos de Direito das Garantias, Almedina, Coimbra,
2004.
- MONTEIRO, Jorge Ferreira Sinde, Garantias das Obrigações.
- Publicação dos Trabalhos de Mestrado (coordenação), Almedina, Coimbra, 2007.
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E-mail: UC35425@UC.PT
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doutrina tem preferido esta última opção diferenciadora, entre reforço quantitativo e
reforço qualitativo.
No direito bancário, grande parte dos credores com garantia especial são
bancos. Para garantia destes créditos há um vasto conjunto de garantias, v.g, o
penhor financeiro ou penhor a favor de instituições bancárias (com a especial
característica de ser um penhor sem desapossamento).
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Nem sempre foi assim, nem sempre a responsabilidade do devedor foi uma
responsabilidade patrimonial: no direito romano, a responsabilidade era de natureza
pessoal, sendo que o incumprimento dava o direito ao credor de “atacar” a própria
pessoa do devedor, designadamente mantendo-o em cárcere privado e escravizando-
o. Mais tarde, começou a conceder-se um prazo para o cumprimento antes da
apreensão da própria pessoa. Depois, em vez de aprisionar, passou a possibilitar-se
que pagasse com os respeitos bens. Mais tarde, a prisão por dívidas passou a ser de
natureza pública. Hoje, a responsabilidade do devedor é puramente patrimonial, o
devedor só responde até às forças do seu próprio património.
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oscilações desta garantia. A lei vem prever determinados mecanismos que protegem o
credor contra essas oscilações de património, sobretudo quando elas são legitimas e
visam defraudá-lo. Por isso, falamos dos meios de conservação da garantia
patrimonial (artigos 605.º e ss. – declaração de nulidade; sub-rogação do credor ao
devedor; impugnação pauliana; e o arresto -).
Uma segunda questão que vinha sendo discutida era que era necessário a
provocação da insolvência do devedor para que o credor tivesse legitimidade para a
respetiva invocação. O legislador vem assim dizer que não é necessário que o ato
nulo seja necessário para despoletar ou agrave a insolvência do devedor: o que diz a
lei é que basta a circunstância de aquele ato dificultar a satisfação do crédito.
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Este instituto encontra-se previsto nos arts. 606.º e seguintes do Código Civil.
Este é um meio que pretende reagir contra uma omissão do devedor quanto ao
exercício de um direito. Aqui, permite a lei que o credor se substitua ao devedor no
exercício desse mesmo direito. Assim, o devedor não põe em marcha determinada
tutela que seria favorável ao seu património, substituindo-se o credor ao devedor no
exercício desse mesmo direito.
b) Pressupostos
A lei vem ainda excecionar aqui atos que, pela sua natureza – v.g., uma
ação de investigação da paternidade, se há suspeitos de ser um presumível
filho de multimilionário – não permitem a sub-rogação ou substituição. São já
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atos excluídos pela própria lei, como é a revogação da herança por doação por
ingratidão do donatário, na medida em que a lei reserva apenas ao doador
essa possibilidade.
De acordo com o art. 2067.º, n.º 3, os bens herdados não vão para o
património do repudiante, mas só na medida necessária para satisfação dos
respetivos credores. No excedente, eles vão integrar a cota dos restantes
herdeiros. Não se trata aqui, assim, de um plena sub-rogação por ambas as
razões4.
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Ac. do Tribunal da Relação de Guimarães de 30-11-2017; Ac. da Relação de Lisboa de 04-12-
2012.
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A ação pauliana vem regulada a partir dos artigos 610.º e segs. Do Código
Civil. Tal como a sub-rogação, é uma possibilidade que o credor tem de tentar
conservar a garantia patrimonial.
b) Pressupostos
Como prevê o art. 610.º do CC, os atos têm que ser atos suscetíveis de
diminuição da garantia patrimonial de satisfação do crédito, a qual pode ocorrer
por diminuição do ativo, ou até por aumento do passivo.
(1) Estes atos, que são ações do devedor, têm que representar um risco
de não satisfação do crédito do credor. Ao contrário do que sucedia no Código
de Seabra, não é necessário que os atos praticados pelo devedor causem ou
agravem a sua insolvência, mas é necessário que haja uma diminuição da
garantia patrimonial. E não podem ser atos de natureza pessoal, ainda que
tenham repercussões patrimoniais, v.g., a perfilhação, a adoção, não são atos
impugnáveis, assim como o divórcio. Mas já o será a partilha de bens entre
cônjuges, porque são atos com reflexos e conteúdo patrimonial. Assim, a
partilha é suscetível de ser impugnada através da ação pauliana.
(2) Depois, têm de ser atos positivos do devedor, não podendo ser atos
de terceiro, embora em determinados limites se possa admitir que, não sendo
atos do devedor, foram praticados para defraudar o devedor, v.g., se a
sociedade pessoa coletiva autoriza uma diminuição do seu património de modo
a deixar sem conteúdo a sua quota. Assim, apesar do ato de alienação dos
bens da sociedade não ser um ato do devedor, é determinado por ele e pelos
seus interesses, não sendo um ato formalmente do devedor, mas acabando
materialmente por o ser. Pode assim efetivamente ser um ato de terceiro, mas
determinado pelo devedor para defraudar os respetivos credores.
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(8) No n.º 2, al. a), estabelece ainda o legislador que é necessário que o
crédito seja anterior ao ato que se pretende impugnar, só podendo impugnar
atos posteriores à constituição do crédito, porque esses atos pressupõem a
diminuição da garantia com a qual contava para satisfação do respetivo crédito.
Há uma exceção: se for posterior ao ato impugnado, se de alguma maneira o
ato for praticado com a intenção de defraudar o credor. O exemplo que se
costuma dar é o seguinte: se o devedor – que ainda não é devedor, mas que
se constituirá apos a celebração do contrato como devedor – pede a
concessão de um crédito. Entre o momento em que é decidia a concessão do
crédito e o momento da celebração efetiva do contrato, que até é normalmente
sujeito a forma escrita, o devedor decide alienar o seu património. Apesar de o
ato só se contar a partir do momento da sua celebração e essa constituição do
crédito ser formalmente posterior ao ato de alienação impugnada, admite-se a
respetiva impugnação, porque o ato foi praticado com o objetivo de defraudar o
credor (alínea a), parte final).
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c) Efeitos
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Ver os acórdãos sobre a sub-rogação e impugnação pauliana que a Doutora irá disponibilizar
no ucstudent.
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d) O regime Registral
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2.4. Arresto
a) Noção e Pressupostos
b) Responsabilidade do requerente
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factos que o levam a supor que o receio de dissipação daqueles bens faz
sentido, identificando os bens que quer ver arrestados.
d) Efeitos do Arresto
Diz o art. 622.º que os atos de disposição dos bens arrestados são
ineficazes em relação ao requerente do arresto, de acordo com as regras
próprias da penhora”. O direito do arrestante passa a ter prevalência sobre os
direitos que venham a ser adquiridos por um futuro adquirente, a partir da data
do respetivo arresto.
e) Natureza do Arresto
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Apesar de isto ter uma dimensão problemática grande, não iremos abordar isto com
exaustão.
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Bibliografia:
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note-se que quando a garantia incide sobre bens de terceiro, temos um reforço
quantitativo e qualitativo -. Ora, mas quando as garantias incidem apenas sobre o
devedor, há um reforço meramente qualitativo, no sentido de o seu direito prevalecer
sobre o direito dos demais.
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2. A Caução.
Diz o art. 623.º CC que “se alguém for obrigado ou autorizado por lei a prestar
caução sem se designar a espécie que ela deve revestir, pode a garantia ser prestada
por meio de deposito de dinheiro, títulos de crédito, pedras ou metais preciosos, ou por
penhor, hipoteca ou fiança bancária”. São estas as formas de prestar caução.
Um dos casos em que pode o tribunal exigir que se preste caução – e ela pode
ser prestada por qualquer meio, como aqui se disse – será, por exemplo, no caso do
arresto do art. 620.º, que diz que pode ser exigida ao arrestante, para garantia da sua
obrigação eventual, a prestação de caução, como garantia da eventual
responsabilidade que ele possa vir a ter deixando, por exemplo, caducar o respetivo
arresto. A prestação de caução pode até ser uma maneira de desincentivar o recurso
ao arresto, porque tem assim de prestar-se uma garantia.
Diz o artigo 625.º que se alguém estiver obrigado a prestar caução e não o
fizer, o credor tem possibilidade de registar hipoteca sobre bens do devedor, embora
com a limitação do n.º 2, limitando-se aos bens suficientes para assegurar o direito do
credor, i.e., limitando-se ao valor necessário para salvaguardar a respetiva obrigação.
No plano processual temos, nos arts. 906.º e ss. CPC, um processo especial
para a prestação de caução.
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3. A Fiança
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O artigo seguinte, acerca da regulamentação do mandato de crédito, está aqui posicionado
porque às vezes através do mandato de crédito é que se constitui a fiança, mas está aqui um pouco
descontextualizado.
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b) Caraterísticas da Fiança
1. Acessoriedade
2. Subsidiariedade
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14 de março de 2022
Vimos que uma das características que marca todo o regime da fiança é a
regra da acessoriedade – o fiador é sempre um devedor acessório, a fiança é sempre
uma obrigação acessória relativamente à obrigação principal. Vimos que esta nota da
acessoriedade que é marcante da fiança, acaba por se refletir em vários pontos do
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regime da fiança: desde logo, relativamente ao âmbito da fiança, art. 631.º, que não
pode exceder o âmbito da obrigação principal; depois, é esta acessoriedade visível no
632.º quando faz depender a validade da fiança da validade da obrigação principal.
Portanto, só em determinados casos em que o devedor conhecia a invalidade é que,
não sendo valida a obrigação principal, é valida a fiança, art. 632.º/2; no art. 637.º
Quanto aos meios de defesa, nas relações entre credor e fiador, quando é
exigido ao respetivo credor o cumprimento há um determinado número de meios de
defesa de que o credor por lançar mão, desde logo os meios próprios do credor, mas
também todos os meios que poderiam ser oponíveis pelo devedor ao credor, que
resultem da relação básica da obrigação principal. Por isso mesmo, há aqui também
essa ligação incindível entre a obrigação principal e a acessória; também o art. 651.º
determina que a extinção da obrigação principal determina a obrigação da fiança;
quanto à qualificação da fiança, se a divida principal for qualificada como comercial,
também a natureza da fiança será mercantil. Vimos também que a forma exigível para
o contrato de constituição da fiança é a que foi exigida para a constituição da
obrigação principal.
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(1) Neste caso, vimos já que quando o nosso credor vem demandar o fiador
acionando a garantia, há aqui um mecanismo que pode ser exigido pelo fiador se
houver benefício de excussão, sendo um dos seus meios de defesa. Mas não só: pode
também invocar outros meios de defesa.
(2) Vimos quanto à nota da acessoriedade que o fiador pode ainda invocar
todos os meios de defesa que seriam invocados pelo respetivo devedor, art. 637.º,
salvo se incompatíveis com a sua obrigação.
(3) Depois, temos ainda o caso julgado: pode haver já uma decisão judicial
que, numa ação onde participe o credor e o devedor principal. Será que esse caso
julgado entre devedor e credor é oponível ao fiador? Não é, pois não foi chamado à
ação, não pode exercer o contraditório. Mas pode beneficiar dele. Na parte da decisão
judicial que condene ou infira os direitos do credor face ao devedor, pode utilizar a seu
favor esse mesmo caso julgado, art. 635.º.
(5) Outro meio de defesa que pode ser usado nas relações com o credor é a
chamada exceção de compensabilidade, art. 642.º. Pode acontecer que, tendo o
credor direito a exigir o cumprimento por parte do devedor, esse devedor seja
simultaneamente credor. Na medida em que alguém tem créditos e débitos recíprocos,
até ao montante de cada um, pode haver compensação, v.g., A é devedor de 100
relativamente a B, mas é credor de 50. Se as dívidas forem líquidas e exigíveis,
podem qualquer dos credores fazer operar a compensação – aqui seria uma extinção
meramente parcial. Ou seja, segundo as regras da compensação apenas o credor-
devedor podia chamar à colação, não podendo ser feito por terceiro. O que a lei
permite é que seja invocável também pelo fiador, podendo invocar a exceção de
compensabilidade se forem dividas líquidas e exigíveis, estarem todos os requisitos
previstos para o funcionamento da compensação.
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Diz ainda o n.º 2 do artigo que se o fiador mudar de fortuna de modo que haja
risco de insolvência, tem o credor a faculdade de exigir o reforço da fiança.
Estabelece ainda o n.º 3 que uma das condições para a assunção da obrigação
é haver património que garanta a respetiva ligação. Se o património se alterar de
modo a pôr em risco a devida satisfação do crédito, pode o credor exigir ou o reforço
da fiança, ou a prestação de garantia.
f) Pluralidade de fiadores
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Vem o art. 649.º estabelecer que será o regime diverso caso se obriguem
vários fiadores conjuntamente, ou isoladamente. Quando há vários fiadores e estes se
obrigam isoladamente, aplica-se o regime das obrigações solidárias, i.e., o credor
pode demandar qualquer dos fiadores pela totalidade da respetiva divida, não
podendo eles invocar o benefício da divisão e, se um deles cumprir, fica sub-rogado
na totalidade dos direitos do credor sobre o devedor, e tem também direito de regresso
relativamente aos outros con-fiadores, o que não pode é exercer ao mesmo tempo as
duas opções, art. 649.º. Satisfeita a parte dele, pode exigir dos restantes a sua quota
interna de responsabilidade. O que não pode é depois exigir a totalidade, pois todos os
con-fiadores ficariam assim depois sub-rogados nos direitos do credor. Ora, se exerce
o direito sobre os outros fiadores, não pode ser sub-rogado na totalidade do que
pagou.
g) Extinção da fiança
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Além disso, tem ainda uma outra possibilidade. A fiança pode ainda garantir
obrigações futuras – ainda não constituídas, mas determinadas e que possam ser
constituídas futuramente -. Se se tratar de fiança que visa garantir a obrigação futura,
o fiador pode revogar a garantia enquanto não for contraída a obrigação principal,
enquanto não for constituída a obrigação garantida, se a situação patrimonial do
devedor se agravar em termos de pôr em risco a satisfação do direito que viria a
adquirir posteriormente, art. 654.º.
1. A subfiança
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credor, fica sub-rogado nos direitos do respetivo credor -tal como vimos na
disciplina das relações entre devedor e fiador -, mas com uma obrigação
garantida, com uma fiança.
2. A retrofiança
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Ac. de Uniformização de Jurisprudência STJ de 23/01/2001, que diz no sumário “É nula por
indeterminabilidade do seu objecto, a fiança de obrigações futuras, quando o fiador se constitua garante
de todas as responsabilidades provenientes de qualquer operação em direito consentida, sem menção
expressa da sua origem ou natureza e independentemente da qualidade em que o afiançado
intervenha.”
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indevidamente foi pago e pode, aí, invocar os meios de defesa. Assim, neste
segundo momento vem a fiança a readquirir a característica da acessoriedade.
Então, quanto à discussão da natureza deste instituto, MÓNICA JARDIM
entende que, ainda assim, esta fiança pode ser enquadrada na categoria geral
destas garantias pessoais a que designamos como fiança, porque adquirindo o
credor a possibilidade de opor num segundo momento, embora não o possa
fazer num primeiro momento, acaba por não responder de forma mais onerosa
do que aquela que responde o devedor e, portanto, a garantia não viola o art.
631.º, continuando a não ter um âmbito maior que o da obrigação principal.
JANUÁRIO GOMES toma outra posição, com a qual IRENE GIRÃO concorda.
Ora, ele acaba por efetivamente responder autonomamente e de forma mais
onerosa do que o devedor, porque o devedor poderia ter invocado tais meios
de defesa e ele não pode fazê-lo. Isso ultrapassa uma das características
indefetíveis da fiança, que é o da acessoriedade, não sendo o âmbito da
garantia o mesmo do que o da obrigação principal. Embora possamos ter uma
categoria híbrida – esta garantia também não se coaduna completamente com
a garantia autónoma. Na garantia autónoma, o garante nunca pode opor ao
credor nenhum meio de defesa que decorra da relação entre credor e devedor,
da obrigação garantida, e aqui pode. Ora, não se trataria de uma verdadeira
fiança, mas não também de uma garantia autónoma -. Defende então
JANUÁRIO GOMES que se trata de uma garantia híbrida. No primeiro
momento aproxima-se mais da garantia autónoma, aplicando-se as regras da
garantia autónoma. No segundo momento, mais de uma fiança, aplicando-se
as regras da fiança. Ora, podemos até estar perante um caso em que o
respetivo fiador pague e pague devidamente, apesar de não poder invocar os
meios de defesa, nem se colocando o problema.
e) Regime insolvencial.
4. O mandato de crédito.
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conceder crédito a um terceiro, mas conceder crédito por conta própria, não por conta
do mandante.
Isto aparece no âmbito das garantias porque a obrigação assumida pelo autor
do encargo é, uma vez feito o encargo, ele responde relativamente ao crédito
concedido como fiador. A assunção da obrigação como fiador trata-se da constituição
de uma garantia meramente legal, não de assunção voluntária, embora se apliquem
as regras, obviamente, quanto á responsabilidade futura, esta consequência é
meramente legal. Então, aquele que dá o encargo assume a obrigação de uma vez
concedido o crédito, relativamente a esse crédito assumir a obrigação de, com o seu
património, garantir essa mesma dívida.
Também não temos aqui obviamente uma verdadeira fiança, pois essa é uma
garantia de natureza voluntaria e a posição de fiador aqui em causa tem origem na
própria lei. Também não se aplica na integra o regime da fiança porque há aqui regras
incompatíveis, nomeadamente a possibilidade que tem o autor do encargo de revogar
o respetivo contrato, como diz no art. 629.º, n.º 2.
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Temos uma garantia típica, nominada, mas que vai buscar elementos de
contratos distintos: da fiança e do contrato de mandato. Podemos convocar regras de
um domínio ou de outro, desde que compatível com esta figura.
Vimos já que o dador do encargo, que encarrega alguém, pode revogar e tem a
qualidade de fiador. Enquanto o crédito for conferido, não revogando, encontra-se
desde logo obrigado, mas relativamente a uma obrigação futura, não sendo
necessário qualquer outra intervenção do dador da ordem para a assunção da
responsabilidade do encarregado enquanto fiador.
Ora, uma letra é uma ordem que o sacador dá ao sacado de pagar uma
determinada quantia, art. .1º LULL. A letra é um título que deve conter um mandato
puro e simples de pagar uma quantia determinada. A pessoa do sacador dá uma
ordem através da letra e diz “pague-se esta quantia e coloque a letra à ordem de
alguém”. A letra é sacada pelo próprio sacador através dessa ordem de pagamento.
Depois, depende da aceitação do sacado, que aceitando se obriga e fica responsável
pelo cumprimento da divida titulada.
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Nas livranças o que está em causa é uma promessa de pagamento por parte
de determinada pessoa, que escreve uma livrança prometendo pagar a outrem uma
quantia determinada.
O aval é como uma garantia nos termos da qual o avalista assume uma das
obrigações de um dos subscritores do título, qualquer que ele seja, garantindo a
obrigação do avalizado. Por exemplo, o aval numa livrança visa garantir o
cumprimento da obrigação daquele que lhe faz a promessa de pagamento de uma
determinada quantia. Portanto, o avalista garante com o seu património a obrigação de
pagar aquela quantia no caso de ela não ser paga pelo devedor originário.
A lei disciplina o aval quanto às letras, que é também aplicável no que toca às
livranças por remissão do art. 77.º, parte final.
No caso das letras, estas podem ter vários subscritores: o sacador, o sacado
(depois do aceite da letra), ou um outro subscritor que seja por exemplo um
endossante. O que garante o aval? Ele pode ser dado por um terceiro ou por qualquer
dos subscritores da letra e relativamente a cada um dos subscritores da letra, v.g., o
avalista pode avalizas as obrigações assumidas pelo sacador, ou pelo sacado, ou por
um terceiro que endosse. O avalista pode ser qualquer um dos subscritores da letra –
à exceção do sacado – e obriga-se nos mesmos termos em que está obrigado o
avalizado.
Quando não se diga na letra quem é o avalizado, a lei, nos termos do art. 31.º,
presume que o aval é dado relativamente ao sacador.
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No que toca ao aval, encontramos também a figura do aval geral, que pode
colocar alguns problemas, sobretudo no caso das livranças. Em causa está a eventual
necessidade de uma garantia que seja flexível. Tal como na fiança omnibus, o avalista
acaba por garantir uma obrigação cartular, mas de uma livrança ainda não preenchida.
Quando se trata de aval geral, o eventual avalista, celebrando um contrato com o
credor, vai comprometer-se a avalizar todas as dívidas a contrair por aquele devedor.
Acontece muitas vezes no financiamento de sociedades comerciais: o banco confere
crédito, mas quer outras garantias, recorrendo muitas vezes à fiança omnibus; mas
também pode recorrer a uma livrança que, em caso de não cumprimento por parte do
devedor, garanta.
Temos aqui uma obrigação complexa constituída por dois contratos, sendo o
primeiro um contrato de crédito e o segundo um contrato de garantia, o qual abrange
os créditos já concedidos e os créditos ainda por conceder, sendo a livrança assinada
em branco - será a mesma posteriormente preenchida, na medida da sua
responsabilidade -.
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A solução do acórdão deve ser entendida com cuidado. Tem-se entendido que
esta solução abrange o aval, mas quando já se deu o preenchimento da respetiva
livrança. Não assim sucederá quando a letra ainda está por preencher, porque não
existe ainda, verdadeiramente, a obrigação assumida por parte do avalista. Então, só
em caso de incumprimento é que se verifica o facto que constitui a obrigação e aciona
a garantia. E, nos contratos de tempo indeterminado, diz-se que podem denunciar a
todo o tempo. Assim, enquanto não houver incumprimento e preenchimento do título,
não se aplica esta solução, porque não existe ainda a obrigação cartular. Conclui-se,
assim, que o aval geral é permitido quando sujeito a pacto de preenchimento, mas só
nasce a obrigação do avalista aquando do preenchimento da livrança.
21 de março de 2022
6. A Garantia Autónoma
a) Noção
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Apesar de não estar prevista na lei, a pratica foi impondo uma certa
regulamentação, bem como a sua legitimidade, que esta normativamente justificada
com base no princípio da liberdade negocial e da autonomia privada.
d) Modalidades.
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A obrigação garantida pode também ser, por exemplo, nos casos em que há
antecipação de pagamento, aquele que antecipa exige uma garantia de reembolso no
caso de a contraparte não cumprir o respetivo negócio.
b) Estrutura da operação
A fiança tem o mesmo objeto da obrigação garantida. Aqui não: como vimos, a
obrigação garantida pode ser uma obrigação de prestação de facto e a garantia
autónoma é sempre assumida como obrigação de pagar um valor pecuniário a título
de indemnização pelo não cumprimento.
Dada a natureza não típica desta garantia, têm-se colocado algumas questões:
está sujeito a determinada forma? Há doutrina que dizia que como se trata
normalmente de contratos de elevado valor, seria de exigir, para proteção das partes,
a redução a escrito destes contratos. Mas sendo contratos atípicos, não há nenhuma
norma que preveja a sua redução a qualquer tipo de formalidade, tendo de valer o
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princípio da liberdade contratual. Mas a circunstância de a lei não exigir uma forma
não quer dizer que os contraentes não tomem precauções a esse nível. Qualquer dos
intervenientes, em regra, são contraentes profissionais, que se protegem através da
redução a escrito destes contratos, fazendo intervir profissionais do Direito que
assegurem essa mesma proteção.
e) A autonomia.
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ou se o negócio de que decorre a obrigação garantida for um negócio proibido por lei
ou contrário aos bons costumes, v.g., um contrato internacional em que o objeto seja a
compra e venda de produtos estupefacientes. Aí pode haver levantamento da
autonomia. Também se admite a possibilidade de o devedor recorrer a procedimentos
cautelares para evitar que o credor receba o valor garantido ou que o garante pague,
mas deve nestes casos exige-se que a prova seja inequívoca9.
f) Regime Insolvencial.
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A maior parte das vezes tem de se fazer prova documental e dessa prova documental resultar
inequívoco (sem qualquer sombra de dúvida) que aquele facto aconteceu.
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Note-se que pode extinguir-se o contrato de garantia e manter-se a relação de garantia, ou
vice-versa.
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7. As Cartas de Conforto.
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Se existe uma massa insolvente, um crédito sobre a massa, mas ela não for capaz de
satisfazer os respetivos créditos, o credor acaba por não poder executar a garantia, mas essa
circunstância não significa que ele não responsabilize o devedor pelo incumprimento, só que essa
obrigação não é garantida.
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Esta declaração pode ser mais ou menos intensa. Costuma distinguir-se entre
cartas de conforto fracas, medias e fortes. Só estas fortes é que são verdadeiras
garantias pessoais. Nas cartas de conforto ou de patrocínio fracas, o confortante, que
não podemos chamar garante, pois não garante nada nem aumenta a probabilidade
de satisfação do crédito, mas dá-lhe determinadas informações sobre o devedor, v.g.,
se controla ou tem participação na sociedade devedora ou está a par das suas contas.
b) Estrutura
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A obrigação assumida nas cartas fortes pelo patrocinador pode ser uma
garantia atípica ou típica, tudo dependendo da declaração negocial do patrocinador.
Pode ser, por exemplo, uma fiança. Pela declaração negocial que o patrocinador faz
na carta de conforto pode deduzir-se que aquela garantia dada na carta forte constitui
uma fiança. Mas também pode deduzir-se que se trata de uma outra garantia atípica,
com maior autonomia que a fiança.
d) Regime Insolvencial.
8. O Seguro de Crédito
12
Este diploma regula todos os seguros do ramo crédito.
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b) Os riscos.
- Al. c), relações cambiais cujo pagamento seja feito em moeda estrangeira,
i.e., pelo risco de desvalorização;
c) O sinistro
- Al. a), a insolvilidade justificada por falência do devedor ou outro ato judicial
com mesmo alcance;
- Al. b), insuficiência de meios manifestada em ação executiva, que faz com
que ponha em risco a obtenção do respetivo crédito;
Quanto aos limites de cobertura (art. 5.º/1), não se segura todo o montante de
crédito: há a obrigatoriedade de um limite a descoberto. Se o crédito é de 1 milhão,
limita-se o valor do crédito segurado a uma percentagem do total (o que já não
acontece no seguro-caução, porque nesse caso o tomador é o próprio devedor, não se
pondo em causa o seu desinteresse). Não se pode segurar todo o crédito porque se
todo o risco fosse transferido para a seguradora, havia o perigo de o credor se
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Uma outra limitação é que na indemnização a pagar pela seguradora, tem esta
a ver com uma percentagem do crédito seguro e não abrange, como diz o art. 12.º
(regra válida também para o seguro-caução), não são indemnizáveis quer os lucros
cessantes, quer os danos não patrimoniais.
d) Distinção da fiança.
e) Regime insolvencial
9. O Seguro-Caução
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b) Natureza jurídica
Mas também este seguro caução é sempre um contrato que tem como
beneficiário uma pessoa diferente daqueles que participam no próprio contrato de
seguro, tratando-se de um contrato a favor de terceiro (arts. 443.º e ss.), em que, por
contrato entre promitente e promissário, se celebra um negócio que beneficiara um
terceiro que não participa nesse contrato e que tem direito a exigir uma prestação.
Ora, há uma relação de natureza trilateral: uma relação básica ou de cobertura, entre
o promissário e o beneficiário, que justifica a atribuição do benefício; mas também há
uma relação entre o promitente e o promissário, que é o próprio contrato a valor de
terceiro, que é a chamada relação de valuta, o que ocorre muito com os seguros de
vida.
O contrato de seguro será a tal relação de cobertura. Mas existe entre devedor
e credor um outro negócio que justifica aquela atribuição, a tal relação de valuta. No
caso do seguro de vida, a relação de valuta é em regra gratuita, mas também pode ser
onerosa. Muitas vezes os bancos como condição para o crédito habitação exige que
seja feito um seguro de vida, sendo a relação de valuta que o justifica um contrato de
mútuo.
Quanto aos limites indemnizatórios, pode ser seguro todo o crédito. O que
continua a não ser indemnizável, nos termos do art. 12.º, são os lucros cessantes e os
danos não patrimoniais.
Este seguro ode ser prestado de forma direta ou indireta (art. 1.º/5). O que os
distingue é que depende de quem é a obrigação segurada, i.e., no seguro-caução
direta é o devedor que contrata com a seguradora no sentido de esta pagar ao credor
uma indemnização em caso de não cumprimento. No caso do seguro-caução indireta,
o segurador intervém como contra garante. O segurador intervém para garantir a
obrigação eventual desse mesmo garante. Por exemplo, o fiador que se obriga a
pagar ao credor em caso de incumprimento do devedor, mas faz um seguro-caução,
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transferindo esse risco eventual para uma seguradora, havendo assim uma dupla sub-
rogação, porque se o devedor não cumprir em primeiro lugar chama se o garante
(fiador) que vem cumprir as obrigações do devedor perante o credor e fica sub-rogado
nos respetivos direitos do credor sobre o devedor, mas como esta relação de garante
estava protegida pelo seguro caução, a seguradora vai ficar sub-rogada nos direitos
do garante contra o devedor13.
Como disse o art. 1.º/5, o seguro-caução pode ser direto ou indireto. Tal como
no seguro de crédito, a lei fala nos riscos seguráveis (art. 6.º/1), risco de
incumprimento ou atraso no incumprimento. Quando existe obrigação por parte de
alguém perante uma entidade de prestar caução – através de prestação de fiança,
aval, etc. -, se a caução tiver de ser prestada perante uma entidade pública, não
podem recusar uma apólice de seguro, i.e., não podem recusar que essa caução seja
assegurada por um seguro-caução indireto.
Quanto à quantia segura, vem o art. 7.º que não é necessário colocar limite a
descoberto, podendo a cobertura ser pela totalidade dos danos causados pelo
incumprimento ou atraso no cumprimento, com exceção dos lucros cessantes ou
danos não patrimoniais.
13
Note-se que até a própria companhia de seguros faz resseguros.
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A discussão sobre a natureza pode ter interesse para, nos aspetos em que não
está especialmente regulado, aplicarmos as regras de uma destas figuras: fiança,
garantia autónoma ou contrato de seguro.
c) Regime insolvencial
a) Caraterização
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tal obrigação de indemnizar pelos prejuízos que ele teve com esse evento que gera a
dita cobertura.
b) Modalidades e funções
Quanto à modalidade, na maior parte dos casos, eles dizem respeito apenas a
uma entidade. Mas pode acontecer que exista um contrato deste tipo – frequente,
sobretudo com intuitos especulativos – em que a entidades de referência são
múltiplas. Mas só são considerados verdadeiras garantias quando o evento a que se
submete a proteção cause prejuízos ao respetivo titular da proteção, i.e., quando ele
seja titular do ativo de referência.
28 de março de 2022
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Quando a solidariedade nos surge com fins de garantia, ela funciona como
garantia pessoal, reforçando quantitativamente a probabilidade de satisfação do
crédito. A circunstância de a solidariedade aparecer com funções de garantia vai fazer
diferença no plano interno.
c) Regime insolvencial.
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ocupa a posição o antigo e o antigo é liberado pelo credor. Aqui, é sempre necessário
acordo entre devedor e credor, ou entre o novo devedor e o devedor antigo, mas
sempre ratificado pelo credor.
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Na assunção de dívida, quando esta existe com fins de garantia, existe ainda
assim um contrato de garantia entre o novo e o antigo devedor, que é a relação onde
nos devemos basear para verificar qual é o regime das relações internas e a prova
dessa mesma garantia, tal como vimos para a garantia. É importante que o assuntor
que funciona como garante tenha prova de que funciona apenas como garante e não
como devedor principal14.
14
Fim da matéria para a 1.ª frequência.
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AS GARANTIAS REAIS
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13. A Hipoteca15
a) Noção e caraterização.
b) Espécies de hipoteca:
1. Hipotecas legais;
Encontram-se reguladas nos arts. 704.º e ss.. Diz o art. 704.º “As
hipotecas legais resultam imediatamente da lei, sem dependência da vontade
das partes, e podem constituir-se desde que exista a obrigação a que servem
de segurança”. Para que a hipoteca legal se constitua é necessário o registo,
sendo este um registo constitutivo, ao contrário do que sucede por exemplo
nas hipotecas voluntárias, sendo nelas o ato constitutivo o contrato, sendo
antes o registo condição de eficácia, mesmo inter partes.
Casos de hipoteca legal são os do art. 705.º: “Os credores que têm
hipoteca legal são: a) O Estado e as autarquias locais, sobre os bens cujos
rendimentos estão sujeitos à contribuição predial, para garantia do pagamento
15
Início da matéria para a 2.ª frequência.
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Diz ainda o art. 708.º que pode a hipoteca legal ser registada
relativamente a quaisquer bens do devedor.
2. Hipotecas judiciais;
3. Hipotecas voluntárias.
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c) Regras gerais:
1. Os créditos assegurados.
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2. O objeto.
16
Mesmo quando a alienação do bem é feita através de execução específica, a lei, no art.
830.º/4, prevê a possibilidade de expurgação de hipoteca, exigindo-se ao promitente-vendedor faltoso
que entregue determinada quantia para haver renúncia à hipoteca e à expurgação da hipoteca.
17
O direito de retenção do art. 859.º prevalece sobre a hipoteca, passando a ser uma garantia
oculta não sujeita a registo, que prevalece sobre a garantia que é dada ao credor hipotecário mesmo
apos ele já ter registado o respetivo direito. Acaba por, ao prejudicar o credor hipotecário, se refletir em
matéria de trafico jurídico com um aumento generalizado da retribuição do crédito, uma vez que o
credor corre mais risco de não satisfação integral do respetivo crédito. Grande parte da doutrina,
entendida que esta proteção dada ao promitente-comprador, tem-se entendido que só é aplicável
quando ele seja consumidor para sua proteção como parte mais fraca, sobretudo quando estamos num
processo de insolvência, porque nós casos de contrato promessa sinalizado, mas com simples eficácia
obrigacional, o administrador da insolvência não é obrigado a executar o contrato. Se for um contrato
promessa com eficácia real, a lei obriga o administrador da insolvência ao cumprimento, dando-se nos
restantes casos a opção por cumprir ou não cumprir o contrato promessa, importando a partir daí saber
qual a indemnização que daí resulta, podendo dar direito ao direito de retenção ou então, de acordo
com alguns acórdãos de uniformização de jurisprudência, admitir que o promitente comprador tivesse
direito a indemnização calculada nos termos do art. 442.º, mas o Ac. 4/2019, para limitar as hipóteses
em que o direito de retenção é oponível a hipoteca, seguem PESTANA VASCONCELOS na linha de que
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que a lei vem dizer no n.º 2 do art. 698.º é que se houver posteriormente
divisão do bem comum, a hipoteca fica restringida à parte que vier a ficar na
titularidade do devedor.
3. A indivisibilidade.
deve valer apenas para o promitente-comprador consumidor, tendo depois gerado o problema de saber
quem é consumidor. Esse acórdão de 2019 acabou por optar pelo conceito restrito de consumidor. Já
veio um acórdão de 2021 dizer que a indemnização não deve ser calculada nos termos do 442.º, mas do
CIRE, não havendo nesses casos direito de retenção. SOVERAL MARTINS, AFONSO PATRÃO e
MARGARIDA COSTA ANDRADE vão no sentido de não admitir nesses casos, uma vez que a indemnização
devera ser calculada nos termos do CIRE porque não corresponde a um incumprimento imputável ao
promitente-vendedor, não havendo nesses casos direito de retenção. Essa oponibilidade generalizada
era injusta e punha em causa a própria confiança do credor hipotecário. Grande parte da doutrina
brasileira, para alargar o conceito de consumidor, lança o tema da vulnerabilidade para se perceber em
que medida se pode alargar esse conceito.
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É esta uma das normas para onde remetem a maior parte das garantias
reais e que devemos entender aplicável às garantias que representam o
reforço qualitativo do crédito. Diz o art. 694.º que é nula, mesmo que anterior
ou posterior á constituição da hipoteca, a convenção pela qual o credor fará
sua a coisa onerada no caso de o devedor não cumprir, porque em regra o
valor da coisa hipotecada é superior ao valor da garantia. Se o credor, não
havendo cumprimento, pudesse ficar com a coisa que é objeto da garantia, isso
redundaria em prejuízo para o devedor e muitas vezes, o credor, prevalecendo-
se da sua posição contratual, exigiria sempre isto mesmo. Por isso é que
falamos as vezes da admissibilidade de um pacto marciano: se o perigo é a
coisa que é objeto da garantia ter um valor muito superior ao respetivo credito e
o credor, quando pode ficar para si com a coisa em caso de incumprimento,
acaba por ficar com um valor muito superior ao crédito que concedeu e muitas
vezes já parcialmente cumprido, se possa admitir essa possibilidade de o
credor hipotecário ou penhoratício ver para sai respetiva coisa, embora essa
possibilidade esteja sujeita a uma previa avaliação do valor da coisa no
momento do incumprimento. Se nesse momento, avaliada a coisa por uma
entidade independente, se verificar que tem um valor muito superior ao crédito,
o credor tem de devolver o remanescente ao devedor e autor do penhor. Na
18
O grande problema que se punha na questão do penhor de estabelecimento era de saber se
era também necessário haver no penhor civil. Ora, se o penhor comercial estivesse sujeito ao
desapossessamento do penhor civil, perdia-se a vantagem dessa garantia.
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4 de abril de 2022
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Esta regra do art. 701.º deve ser conjugada com a do art. 780.º. A
circunstância de perecer a coisa ou a hipoteca se tornar insuficiente não é
imputável nem ao credor, nem ao devedor, então deve o credor exigir que o
devedor reforce ou substitua a hipoteca. Se ele não o fizer é que pode exigir
que faça o cumprimento através do vencimento antecipado, ou então o registo
de nova hipoteca sobre outros bens do devedor, no caso de dividas futuras.
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D) A redução da hipoteca.
A redução acaba por ser uma renúncia parcial e, nessa medida, segue
o regime da renúncia à garantia, tendo de ser expressa e com reconhecimento
escrito, visando salvaguardar o renunciante contra alguma precipitação da sua
parte.
Trata o art. 720.º da redução legal, que tem lugar nas hipotecas legais e
judiciais, a requerimento de qualquer interessado, exceto se por convenção ou
sentença a coisa onerada tenha sido especialmente indicada.
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E) A expurgação da hipoteca.
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F) A transmissão da hipoteca.
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sem o crédito, continuando a ser credor de 1000 perante o A, mas pode ceder a garantia a C
que é credor do mesmo devedor, passando o crédito de C a estar garantido nos limites da
garantia cedida, ou seja, apenas no crédito de 1000.
Mais uma vez, e como reflexo da indivisibilidade, o credor não pode transmitir
parcialmente a hipoteca, tendo de transferi-la na totalidade. Assim, não é admitida a
cessão parcial (art. 727.º/2).
G) A extinção da hipoteca.
Diz o art. 730.º que o caráter acessório da garantia leva a que uma vez extinta
a obrigação, se extinga a garantia.
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Ainda, o caso do art. 699.º/2, hipóteses em que quem constitui a garantia é não
o proprietário, mas o usufrutuário. A preferência ou prevalência acaba por existir em
relação ao direito do usufruto e não alienação da propriedade. Se o objeto é o
usufruto, quando se extingue o usufruto, extingue-se também a respetiva garantia.
H) A execução da hipoteca.
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O art. 752.º/1 CPC vem dizer aquilo que diz o art. 797.º CC.
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esta proibição. Portanto, há que ter cautelas não apenas do ponto de vista do credor,
cuja dação não lhe pode ser imposta, mas tem também de se proteger o interesse do
devedor e não aceitar essa dação sem uma avaliação do valor da coisa por entidade
independente. De outra maneira, estaríamos a subverter as razoes que levaram o
legislador a proibir o pacto comissório. Assim, não devemos aceitar mesmo quando o
credor aceite, sem que haja esta tal avaliação independente.
I) O regime insolvencial.
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salários, por exemplo, é um privilégio creditório dos trabalhadores que não cede
perante a insolvência e, apesar de serem garantias ocultas, sobrepõe-se à hipoteca.
O bem objeto da garantia pode ter sido utilizado em benefício da massa e ter
sofrido uma desvalorização. No art. 166.º, a lei vem prever a possibilidade de atraso
na venda do bem objeto da garantia real. O credor deve ser compensado pelo prejuízo
que não lhe seja imputável, ou pelo atraso na alienação que fez com que o credor
viesse a receber menos do que receberia.
J) As hipotecas mobiliárias.
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O DL 54/75 foi revogado pelo DL 277/95 que aprovou o Código do Registo dos Bens
Mobiliários, mas este código nunca chegou a entrar em vigor por falta de requisitos de
forma, pelo que continua a ser aplicável. O DL 54/75. Este art. 4.º do DL 54/75 admite
que os veículos automóveis sejam objeto de hipoteca legal, judicial ou voluntaria. Em
termos de execução da hipoteca, prevê o DL 178-A/2005, no art. 15.º, a possibilidade
de apreensão judicial do veículo a requerimento do credor, sendo que este auto de
apreensão judicial do veículo vale como auto de penhora. Quanto aos navios, o art.
544.º Ccom., manda aplicar o regime geral da hipoteca. Quanto á legitimidade para
hipotecar, o art. 586.º. o art. 588.º Ccom. sujeitava a constituição de hipoteca sobre
navios a escritura publica e atualmente o DL201/98 de 2 de julho sujeita apenas a
forma escrita com reconhecimento da assinatura dos intervenientes. Tal como as
restantes hipotecas está sujeita a registo, modificando-se apenas o local onde se
regista, que será registada na Conservatória do Registo onde a matrícula está aberta.
Quanto as aeronaves, o registo é da competência da autoridade nacional de aviação
civil, registo conhecido internacionalmente nos termos da Convenção de Genebra de
19 de junho de 1949.
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2 de maio de 2022
14. O Penhor
a) Noção e caraterização.
Conforme o art. 666.º/1, desta noção retiramos já uma ideia do que é o penhor
e as suas características. Desde logo, é seguramente uma garantia real e, como
garantia real que é, confere preferência ao credor penhoratício no pagamento do
respetivo crédito ou no cumprimento do crédito de que é titular, com preferência
relativamente aos outros credores, preferência esta quanto ao valor de determinadas
coisas (móveis) ou direitos sobre que não incide hipoteca.
Também se admite aqui que o penhor é, tal como a hipoteca, uma garantia
acessória que garante o cumprimento de determinada obrigação, sendo acessória
desta.
Depois, tal como a hipoteca, o autor do penhor pode ser o próprio devedor ou
um terceiro. No fundo, sabemos que, não sendo ele devedor, pode onerar um bem
que lhe pertença como garantia da respetiva obrigação, embora esta não lhe pertença.
Pode também, tal como a hipoteca, garantir obrigações condicionais ou futuras (art.
666.º/3).
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Qualificamos o penhor como uma garantia real que incide sobre móveis ou
direitos, podendo o autor do penhor ser, desde que tendo legitimidade para dispor da
coisa, um terceiro. Neste caso temos não apenas um reforço qualitativo, como
também quantitativo: além de dar preferência, alarga também o acervo sobre o qual o
credor pode obter a satisfação do crédito.
b) As regras gerais:
No n.º 2 a lei faz aqui a primeira remissão para o art. 717.º, n ocaso da
hipoteca constituído por terceiro.
2. Forma do contrato.
3. As obrigações garantidas.
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4. O objeto da garantia.
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c) Penhor de coisas:
1. Constituição.
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coisa. Qualquer forma de entrega é admissível desde que cumpra este efeito.
Não se exige qualquer documento ou a redução a forma escrita.
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Diz a al. b), não usar dela sem o consentimento do autor do penhor,
exceto se o uso for indispensável à conservação da coisa. A sua intervenção é
apenas justificada para dar segurança à garantia, não sendo justificada por
nenhum outro interesse do credor penhoratício. Podemos aqui remeter para o
art. 673.º, onde se estabelece o regime do uso da coisa empenhada. Se a
atuação do credor estiver a pôr em causa a existência ou manutenção do
objeto da garantia, para tutela do proprietário, uma de duas: ou ele garante
através de caução esse direito eventual do autor da garantia, que é a
restituição da coisa nas coisas em que se encontrava; ou procede-se á entrega
da coisa a um terceiro que ficará como fiel depositário. Diz ainda a al. c) do art.
671.º que deve restituir a coisa extinta a obrigação a que serve a garantia.
Sendo acessório, uma vez finda a dívida, cessa também a garantia.
Se a coisa empenhada for uma coisa produtiva, a lei vem dispor no art.
672.º, numa solução muito próxima da consignação de rendimentos, é que os
frutos serão descontados nas despesas que o credor tiver de fazer com a
produtividade da coisa. Pode haver coisas móveis que sejam produtivas,
produzindo determinados rendimentos, mas para tal também é necessário
fazer despesas. Assim, os rendimentos são descontados nas despesas que o
credor fizer, são de seguida canalizados para o pagamento dos júris da dívida
e em terceiro lugar, se houver remanescente, são canalizados para o
abatimento do próprio capital, isto se não houver convenção em contrário.
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se possa pagar pela sua venda com preferência aos restantes credores. Mas a
lei prevê, mesmo antes de incumprimento, a possibilidade da venda antecipada
no art. 674.º, sempre que haja receio fundado de a cousa se perde ou
deteriorar, mas está sempre sujeita a prévia autorização judicial.
Sobre o produto da venda fica o credor com os direitos que lhe cabiam
em relação à coisa vendida, podendo o tribunal ordenar que o preço seja
depositado. Uma quantia em dinheiro não pode, em regra, ser objeto de
penhor. Isto reflete-se aqui pelo facto de o legislador prever desde já a
possibilidade de haver uma sub-rogação real se a coisa é vendida antes de
incumprimento do vendedor, sendo que a garantia se transfere para o preço da
venda. Teríamos aqui um penhor irregular, sobre determinada quantia em
dinheiro. Mas como acontece a outro propósito que iremos ver, para preservar
a garantia a lei vem estabelecer a possibilidade de aquela quantia em dinheiro
ser deixada na posse de um terceiro como depositário.
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6. A execução do penhor.
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7. A extinção do penhor.
d) O penhor de direitos:
1. O objeto
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Diz o art. 680.º que só é admitido quando tenha por objeto coisas
móveis com conteúdo patrimonial e que sejam suscetíveis de transmissão.
Estão de fora os direitos de crédito em que o credor possa exigir coisai móvel,
ou os direitos de crédito em que o credor tem direito a uma prestação de facto,
v.g., o direito que tem o mandante sobre o mandatário e que nasce sobre a
relação de mandato, o direito de exigir que pratique determinados atos jurídicos
por sua conta, porque não pode esse direito ser penhorado, ou o direito que
tem o dono da obra relativamente ao empreiteiro. Assim, alem de ter de ser um
direito transmissível, tem de tratar-se de um direito que confira a pretensão de
entrega de uma coisa móvel. Há, no entanto, outros direitos que podem, em
virtude de previsão em legislação extravagante, ser objeto de penhor, como o
são os direitos de autor, por força do art. 36.º Código de Direitos de Autor e
Direitos Conexos.
2. Forma e publicidade.
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essa quantia do seu restante património, pois essa quantia visa tao somente a
garantia do respetivo crédito.
Agora, pode aquilo que se entrega não ser uma quantia em dinheiro. Se
a pretensão de B sobre A não é a entrega de uma quantia em dinheiro, mas de
uma coisa móvel, quando vai cobrar o respetivo crédito é entregue ao respetivo
credor penhoratício a coisa devida a B. o n.º 2 é que então se refere à questão
que estávamos a tratar em primeiro lugar, se o objeto for uma quantia em
dinheiro. Se tiver outro objeto, o devedor não pode fazê-la senão aos dois
credores conjuntamente. Mas pode, por exemplo, e mantém-se o interesse
naquela afirmação, é que o que não pode fazer o A é pagar a um deles sem
haver acordo de ambos, mas podem as partes estabelecer que o pagamento
será feito ao autor do penhor sendo o pagamento liberatório, ou então ao
credor penhoratício C, sendo também liberatório. Em qualquer dos casos há
essa obrigação de desanexação. Se aquele montante em dinheiro for pago ao
autor do credor, para manter a garantia ele tem de desanexar do restante
património porque pode vir a ser executado para fins de garantia. Já se pagar
ao credor penhoratício, tem também, sob pena de responsabilidade. Neste
sentido, tratando-se da entrega de uma coisa há transformação do penhor de
direitos em penhor de coisa pela entrega ao credor, tratando-se de entrega em
dinheiro paga ao credor penhoratício, este tem de a conservar com fins de
garantia até à execução ou cumprimento do respetivo penhor, sendo então
titular dela, mas titular fiduciário, com fins de garantia.
e) O regime insolvencial.
1. O penhor mercantil.
O penhor mercantil vem regulado nos arts. 397.º e ss. do Ccom, sendo
mister que a dívida que se cauciona proceda de um ato comercial.
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A questão que aqui se coloca é a de saber se, tal como o penhor civil,
também o penhor mercantil exige desapossamento, a retirada da
disponibilidade material da coisa ao devedor ou autor do penhor. Pela leitura do
art. 398.º há autores que estabelecem a desnecessidade de desapossamento.
Diz este artigo que a entrega do penhor mercantil pode ser simbólica e pode
efetuar-se por declarações ou verbas nos livros de quaisquer estações públicas
onde se encontrem as coisas empenhadas, pela tradição da via de transporte,
pelo endosso da cautela de penhor… Assim, podia substituir-se a entrega
material das respetivas coisas por estes atos simbólicos de desapossamento.
Autores da Escola Clássica de Lisboa (ROMANO MARTINEZ, MENEZES
CORDEIRO) entendem que isto significa que não é necessário
desapossamento. Nós não concordamos com esta posição, com base em
várias razões:
(2) Outros argumentos têm que ver com a comparação com outro tipo
de penhores. Desde logo, vamos estudar o penhor bancário, que é constituído
a favor de estabelecimentos bancários. Esse penhor é um penhor mercantil,
está preenchido o critério do art. 497.º: trata-se de dívida comercial, um dos
intervenientes nomeadamente o credor penhoratício é comercial, portanto trata-
se de penhor mercantil. Este penhor conferido a favor de estabelecimentos
bancários +e um penhor sem desapossamento, em que a lei, dado que os
bancos não têm vocação para guardar as respetivas coisas que são objeto do
penhor (não têm vocação de depositários), pretendem que as coisas não lhe
sejam entregues, que fiquem na disponibilidade material do devedor. Então, a
efetividade da garantia, para ser assegurada, protegendo-se os interesses do
credor bancário que não recebe a coisa, era protegido através de sanções
penais. Há uma lei de 1989 que estabelecia que se o devedor autor do penhor
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(3) Por outro lado, também temos algum apoio neste sentido no Direito
Comparado, nomeadamente se verificarmos o Código Comercial de Macau.
Este sofreu grande influência do direito comercial português e o que acontece é
que no Código Penal de Macau, quando ao penhor mercantil o código vem
admitir algumas hipóteses de penhor sem desapossamento, prevendo quer um
quer outro. No âmbito do penhor com desapossamento, prevê que esse
desapossamento se faça por atos simbólicos, o que é um indício de que os tais
atos simbólicos não significam que não existe desapossamento. Assim,
retirando a possibilidade de dispor ao respetivo autor, tem as mesmas funções
da entrega material. Todas estas regras nos levam a supor que o legislador, no
art. 398.º, não pressupõe nenhuma regra que dispõe o desapossamento.
Todas estas regras nos levam a crer que o penhor mercantil geral, tal
como o penhor civil, é um penhor com desapossamento, embora se prescinda
dessa regra por exemplo no penhor relativamente a determinados
estabelecimentos bancários.
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2. O penhor de estabelecimento.
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4. O penhor financeiro:
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venda ou oneração. Mais uma vez, está aqui esta possibilidade, tal
como no penhor mercantil com apropriação. Podíamos perguntar se isto
não vai contra as regras da proibição do pacto comissório. No
preambulo, a lei fala na legitimação do pacto comissório, mas há um
equívoco do legislador, porque o que de facto se legitima não é um
pacto comissório, mas o pacto marciano. Basta vermos como se faz a
apropriação das coisas: só se faz se houver acordo das partes
relativamente à avaliação dos instrumentos financeiros e dos créditos
dados em garantia. O beneficiário fica ainda obrigado a restituir a
diferença entre o objeto da garantia e as obrigações garantidas, tendo
de restituir o excedente. Em terceiro lugar, diz o n.º 3 impõe-se uma
avaliação quer da obrigação garantida, quer do objeto da garantia, para
não prejudicar o autor da garantia através de um valor do objeto muito
superior ao da obrigação garantida. Assim, o que se legitima aqui é um
pacto marciano, a possibilidade de apropriação, mas mediante a
realização de uma avaliação independente feita no momento do não
cumprimento, através dos critérios comerciais razoáveis.
No art. 17.º, a lei vem prever uma exceção forte àquilo que vimos
para a constituição da maior parte das garantias, designadamente das
garantias reais, que dá a possibilidade de resolução incondicional pelo
administrador da insolvência de garantias constituídas nos 6 meses
anteriores ao início do processo de insolvência (art. 121.º CIRE). Aqui
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Diz o art. 19.º LULL que o portador pode exercer todos os direitos
emergentes da letra, mas o endosso feito por ele só vale como endosso a título
de procuração. Pretende-se desde logo o assentimento de que a letra ou a
livrança podem ser dadas como garantia. Depois, a indicação de que, quando
alguém com legitimidade para tal endossa a letra em garantia, o credor
garantido tem a possibilidade de exercer relativamente a ela todos os poderes,
nomeadamente o poder de a alienar, apresentar a letra a pagamento, proceder
ao protesto, etc. todas as prerrogativas que caberiam ao titular da letra podem
ser exercidas pelo credor penhoratício. Pergunta-se: mas e se o credor
apresenta a letra a pagamento antes do incumprimento da obrigação? Nesse
caso, passamos a ter um penhor irregular, uma vez que a quantia em dinheiro
não pode ser objeto de penhor, a única coisa que surge aqui é um devedor por
parte do credor de não utilizar aquele montante para outros efeitos que não
sejam garantir o cumprimento da obrigação e no momento em que há
cumprimento, transferir esses montantes para o respetivo credor. A quantia em
dinheiro ou as coisas fungíveis só podem ser objeto de penhor considerado ele
de forma ampla, considerado ele penhor irregular, mas há aqui uma espécie de
um contrato de garantia que é apenas oponível às partes e uma espécie de
negócio fiduciário, porque o devedor acaba por ficar numa posição de poder vir
a ser prejudicado cumprindo e não lhe sendo transferido o respetivo montante.
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Este dinheiro recebido passa a fazer parte do património do credor e por isso é
que se diz aqui que há um negócio fiduciário.
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9. O penhor rotativo.
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Este penhor irregular tem por objeto dinheiro (relembre-se que o objeto
do penhor tem de ser coisas corpóreas infungíveis ou determinados direitos,
não podendo ter por objeto dinheiro ou coisas fungíveis). Ora, não pode haver
um penhor regular de uma quantia em dinheiro, portanto sempre que tem como
objeto quantia em dinheiro ou coisas fungíveis, é um penhor irregular. É
irregular desde logo porque as coisas fungíveis ou esse dinheiro, a sua
titularidade transfere-se para a esfera jurídica do credor penhoratício. A
titularidade dos bens mantem-se no devedor ou autor do penhor e quando
temos transferência da titularidade dos bens já não estamos propriamente
perante um penhor, pois se são coisas substituíveis, aquando da substituição a
titularidade dele transfere-se para o credor, não podendo ser um penhor
regular. Esta figura é no art. 1851.º do Codice Civile italiano. No fundo, temos
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a) Noção e caraterização.
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b) Requisitos constitutivos.
c) Casos particulares:
Uma das questões discutida tem a ver com a existência de direito de retenção
a favor do empreiteiro como garantia do crédito resultante da execução da respetiva
obra. Saber se o empreiteiro pode ou não reter a respetiva obra antes de lhe ser pago
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Este direito de retenção incide sobre imóvel e, como tal, é oponível ao credor
hipotecário, prevalecendo sobre a hipoteca ainda que a hipoteca seja anteriormente
constituída. Isto levou a que se gerasse alguns conflitos. Este artigo 759.º foi levado à
apreciação do TC porque haveria aqui a afetação, de forma desproporcionada, do
princípio da confiança do credor hipotecário, porque este, no momento em que
concede crédito e constitui, para defesa do seu crédito, uma hipoteca sobre
determinado imóvel, não tem a perspetiva de sobre esse imóvel vir a incidir um direito
de retenção que prevaleça sobre essa hipoteca. E repare-se que o direito de retenção
é uma garantia oculta, legal, não sujeita a registo, e ainda por cima posterior à
hipoteca. Autores entendiam que consistiria esta prevalência sobre a hipoteca um
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atentado à confiança do credor hipotecário, atentado que vai muito para além daquilo
que a própria lei fundamental prevê.
Esta questão foi ainda mais discutida estando em causa a questão de saber se
mantinha o direito de retenção em caso de insolvência e se a garantia prevalece sobre
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a hipoteca. No CIRE, a questão coloca-se desta forma: não estamos a falar daqueles
contratos em que já houve incumprimento por parte
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Este não foi, no entanto, o entendimento do AUJ 4/2014. Nesta sede, entende
o tribunal que o art. 102.º e 104.º não podem ser aplicados ao contrato promessa
sinalizado com direito de retenção com traditio rei. Nesta matéria, haveria uma lacuna,
a lei insolvencial não determinaria o montante indemnizatório. Haveria aí uma lacuna,
que só seria suscetível de ser preenchida com recurso ao art. 442.º, mas havia um
problema: o administrador da insolvência não celebra o contrato definitivo e esse
incumprimento não lhe é imputável, ou não é imputável pelo menos ao promitente
vendedor, em primeiro lugar porque a decisão não é dele e o administrador de
insolvência exerce um direito potestativo, uma possibilidade que a lei lhe confere. A lei
fala de uma imputabilidade reflexa: apesar de não se poder dizer que o incumprimento
é imputável ao promitente-vendedor, reflexamente isso acontece porque ele é que se
colocou em situação insolvencial, aplicando-se o art. 442.º assim, teria o promitente
comprador direito de retenção e, tendo direito de retenção, esse direito prevalecia
sobre o direito do credor hipotecário.
Veio o AUJ n.º 4/2019 optar pela noção restrita: só é consumidor quem
pretende adquirir o imóvel objeto de retenção para fins privados ou familiares.
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Tanto o AUJ 4/2004, como o 4/2019, como o 3/2021 têm imensos votos de
vencido, cada um deles com uma argumentação diversa de não concordância.
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a) Noção e caraterização.
São também uma garantia legal, decorrendo não da vontade das partes, mas
da própria lei. São previstos pela lei a partir do art. 733.º e ss. São garantias legais
atribuídas a determinados credores em razão do respetivo crédito. Em terceiro lugar, o
grande problema destes privilégios é a circunstância de serem garantias ocultas,
porque quer incidam sobre móveis ou imoveis, não são sujeitos a qualquer tipo de
publicidade para além daquela que é a existência da dívida. E são oponíveis a
terceiros que tenham adquirido o direito anteriormente, opondo-se até à hipoteca ainda
que anteriormente constituída. Pode haver uma espécie de atentado ou
comprometimento da própria confiança do credor das outras garantias, que acaba por
ver estes privilégios prevalecer em detrimento das respetivas garantias quando não
tinha como contar com elas.
b) Espécies:
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Depois, o art. 739.º. a al. b), que fala sobre dívidas de foros, assim
como os privilégios sobre rendas de prédios urbanos, são normas que se
devem ter como caducadas, ou seja, a solução que representam encontram-se
revogadas porque deixou de se admitir a enfiteuse como um direito real e,
portanto, estas dividas de foros deixaram de existir. Não faz assim sentido esta
al. b) do art. 739.º, assim como o art. 740.º (os créditos por dívidas de foro
relativas ao ano corrente na ata da penhora, etc.
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(1) Em primeiro lugar temos, desde logo, aquele que vemos já existir no
mobiliário, que garante as despesas de justiça.
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Para evitar tratar de forma diferente aquilo que é igual, tendo em conta
que o que se pretende é proteger a condição de especial debilidade do
trabalhador, para proteger esse crédito acabou por se lhe dar um privilégio
especial. Apesar de se entender que é necessária esta conexão de o crédito do
trabalhador resultar do seu contrato de trabalho e haver uma conexão com o
exercício da atividade por parte da empresa. Também não é sobre todos os
prédios pertencentes à entidade patronal, sob pena de estarmos a transformá-
lo num privilégio geral. São os prédios afetados ao exercício da atividade que é
exercida pelo trabalhador.
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não incide apenas sobre o edifício onde o trabalhador exerce atividade, mas
sim tem que estar sobre os edifícios da entidade patronal.
(6) Os créditos fiscais, que resultam de IRS e de IRC, art. 111.º CIRS
e art. 116.º CIRC.
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Foi também colocado este acórdão do STJ no material de apoio.
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Já quanto aos privilégios imobiliários, diz o art. 751º que “os privilégios
imobiliários especiais são oponíveis a terceiros que adquiram o prédio ou um
direito real sobre ele e preferem à consignação de rendimentos, à hipoteca ou
ao direito de retenção, ainda que estas garantias sejam anteriores”. Isto
significa que, desde logo, se existe um privilégio imobiliário incidente sobre um
determinado bem imóvel, esse privilégio opõe-se desde logo a quem venha a
adquirir um direito real sobre a coisa (imaginando que um terceiro vem a
adquirir a coisa, o privilégio prevalece sobre o terceiro, podendo o credor com
garantia real executar o bem no património do terceiro, aliená-lo e pagar-se
com preferência aos restantes credores).
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Este artigo 751.º, na redação que tem hoje, resulta de uma alteração
que foi feita em 2003 e o legislador refere-se expressamente e tão só aos
privilégios creditórios imobiliários especiais, porque na versão originaria referia-
se genericamente aos privilégios imobiliários, quer gerais, quer especiais. Claro
que o legislador não contava com os imobiliários gerais, pois vem dizer que
todos os imobiliários são especiais. Mas vimos que depois foram criados
privilégios imobiliários gerais em legislação extravagante. E naturalmente
perguntava-se: esses criados em legislação extravagante, que são também
gerais, prevalecem ou não sobre garantias anteriormente constituídas? Havia
posições que diziam que sim, na medida em que a lei não distinguia. O
Tribunal Constitucional, precisamente atendendo ao caráter oculto destas
garantias que não estão sujeitas a registo e que violavam a confiança dos
respetivos credores e prejudicava, em última análise, o próprio comércio
jurídico e as possibilidades de financiamento, acabou por considerar que,
alargando esta norma a todos os privilégios, sendo eles gerais ou especiais,
seria inconstitucional e desprotegeria a confiança do credor. Por isso, o
legislador teve naturalmente o impulso de alterar esta regra, tendo estabelecido
expressamente que o art. 751.º só se aplica aos privilégios imobiliários
especiais. Portanto, os privilégios imobiliários gerais que existem não
prevalecem sobre as garantias anteriormente constituídas, tendo de se lhes
aplicar a regra que aplicamos aos mobiliários e dizer que, em regra, não são
oponíveis a terceiros. Trata-se do Ac. do TC 362/2002 e do Ac. TC 363/2002,
que se referem a esta questão do art. 751.º, considerando-o inconstitucional se
aplicável também aos privilégios imobiliários gerais.
Quanto à extinção dos privilégios, aquilo que a lei faz é dizer que eles
se extinguem pelas mesmas razões por que se extingue a hipoteca, remetendo
para o art. 730.º da hipoteca, e também faz depois no art. 753.º uma remissão
genérica para as regras da hipoteca.
e) Regime Executivo.
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pagos com preferência aos credores comuns. Aqui, o que a lei diz é que não permite
ao credor com privilégio creditório geral reclamar nestas situações, pretendendo
proteger o exequente, dando-lhe algum incentivo para requerer a execução, na
medida em que muitas vezes não se sabe se ou quando existem estes privilégios.
Note-se que esta ressalva não se aplica aos privilégios creditórios dos trabalhadores,
podendo eles reclamar.
f) Regime Insolvencial.
Quanto aos privilégios que se mantêm, vimos que se forem gerais, entendemos
que são créditos privilegiados, não sendo verdadeiras garantias reais. Se forem
especiais, são verdadeiras garantias reais. Esta distinção tem importância também
para a posterior graduação dos créditos garantidos (art. 174.º CIRE) e privilegiados
(art. 175.º CIRE) na insolvência. Mesmo se houver um privilégio imobiliário e uma
hipoteca, prevalece o privilégio imobiliário sobre a hipoteca, só estando fora aqueles
que se extinguem.
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a) Noção e caraterização.
Vem regulada nos artigos 656.º e ss. deixamo-la para o fim das garantias pois
também há uma remissão para o regime da hipoteca.
Por esta razão, há quem diga que pode não ser uma verdadeira garantia real,
aproximando-se mais da datio pro solvendo, forma de extinção das obrigações
prevista no art. 840.º CC, que diz que se o devedor efetuar uma prestação diferente da
devida para que o credor obtenha mais facilmente, pela realização do valor dela, a
satisfação do seu crédito, este só se extingue quando for satisfeito e na medida
respetiva. Repare-se: o devedor aqui entrega os rendimentos como forma de o credor
ir satisfazendo o seu crédito. Temos assim uma figura aproximada. Esta datio pro
solvendo é diferente da dação em cumprimento, em que o devedor, por acordo com o
credor, entrega coisa diferente da devida e fica exonerado. Na datio pro solvendo não
se entrega uma coisa e extingue-se a dívida, mas sim entrega-se uma coisa para que
com ela o credor possa satisfazer mais facilmente o seu crédito, por isso extingue-se
na medida em que for satisfazendo o seu direito. Podemos estabelecer um paralelo e
dizer que não estamos aqui perante uma verdadeira garantia real, mas sim perante
uma dação pro solvendo. Mas é errado. Dizer isso: se tem um funcionamento e
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eficácia diferente, no entanto, enquanto garantia real tem os mesmos predicados que
as outras garantias reais: a preferência e a sequela, sendo este direito oponível a
terceiros. Ao contrário da dação em função do cumprimento, que tem simples efeitos
obrigacionais, não sendo oponível a qualquer terceiro que venha a adquirir direitos
sobre a coisa. Assim, apesar das semelhanças, devemos considerá-la verdadeira
garantia real.
b) A legitimidade.
Esta consignação é as mais das vezes voluntária, por contrato ou ato unilateral,
nomeadamente através de testamento, podendo ser também judicial. Há aqui um caso
de consignação judicial no âmbito da execução, art. 803.º CPC, que se traduz em que
entre o momento da penhora e o da venda judicial, o exequente pode requerer ao
tribunal que em vez da venda judicial lhe sejam consignados os rendimentos de
determinada coisa. O tribunal pode, obedecendo a determinados requisitos, considerar
essa mesma consignação. Diz o art. 803.º que enquanto os bens penhorados não
forem vendidos ou adjudicados, o exequente pode requerer ao agente de execução
que lhe sejam consignados os rendimentos dos imoveis ou de móveis sujeitos a
registo em pagamento do seu crédito. Tem de ser ouvido o executado, sendo a
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c) O objeto.
d) A forma.
e) A publicidade.
f) Espécies.
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Depois os bens podem passar para o poder do credor, que fica na parte
aplicável equiparado ao locatário, sem prejuízo da faculdade de, por seu turno, os
locar. Se o bem é entregue ao credor garantido, ele fica na posição de locatário, e ou
ele próprio usa a sua atividade de imóvel, ou dá-o em locação, recebendo o valor da
respetiva renda, mas em qualquer das hipóteses goza dos rendimentos da respetiva
coisa. Neste caso tem, obviamente, que prestar contas ao concedente acerca dos
rendimentos concedidos.
Em qualquer destas hipóteses, aquele que ficar com o poder dos bens deve
prestar as respetivas contas quer ao concedente, quer ao credor.
Se esses bens, diz o art. 663.º, ficarem em poder do credor, este credor tem
determinadas obrigações: deve administrá-los como um proprietário diligente e pagar
as contribuições e demais encargos das coisas, um pouco à semelhança daquilo que
vimos no penhor. Só pode livrar-se dessas obrigações renunciando à respetiva
garantia.
g) O prazo.
h) Modalidades.
j) Extinção.
Quanto à extinção, mais uma vez a remissão para o regime da hipoteca, com
exceção da questão da prescrição. Há ainda uma remissão genérica quanto aos
privilégios creditórios no art. 665.º para o regime da hipoteca.
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l) O regime insolvencial.
Quanto ao regime insolvencial nada se diz, mas o que se tem admitido é que
se cessa na execução individual, também cessará em caso de execução coletiva,
portanto nesse sentido a consignação de rendimentos cessa também perante o início
do processo de insolvência, e por isso justifica a fragilidade desta garantia e também
que o respetivo credor recorra em regra a outras garantias e não queira estar sujeito a
esta fragilidade da consignação de rendimentos.
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18. A Penhora
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executivo e depois recorrer à ação executiva que vem então regulada no CPC nos
arts. 735.º e ss.
Quanto aos efeitos e à função da penhora, desde logo esta tem uma função de
individualizar os bens que estão sujeitos a execução. Através da ação executiva, o
credor exequente pretende que certos bens sejam alienados para que com o seu
produto possa satisfazer o seu direito no caso de incumprimento por parte do devedor,
e a penhora tem desde logo a função de individualizar, dentro do património do
devedor, os bens que respondem por aquela dívida. É a partir desse momento que a
penhora passa a incidir sobre bens determinados, sendo que antes o credor
exequente via o sei direito ser garantido com todo o património do devedor, passando
agora, depois da penhora, a ter a garantia a incidir sobre determinados bens, tendo
esta função individualizadora. Por isso é que se diz que a penhora tem uma função de
garantia, porque ela confere ao credor exequente o direito de ser pago com
preferência a todos os restantes credores que não tenha garantia real anterior sobre o
mesmo bem, sobre o valor desses mesmos bens. Assim, no plano substantivo tem os
mesmos atributos dos direitos reais, conferindo-lhe a prevalência sobre os restantes
credores, da mesma forma que a partir da apreensão essa passa a ser oponível a
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todos os que vierem a adquirir determinados direitos sobre os bens penhorados. Por
exemplo, no caso dos bens móveis não sujeitos a registo, a apreensão material dá
publicidade e impede a transferência da respetiva coisa, passa a ser oponível a quem
vier a adquirir direitos sobre ela. No caso do registo de bens imoveis, fica lá a penhora
regista e quantio a quem venha a adquirir direitos sobre o imóvel, a penhora é-lhe
oponível. Não é que exista uma situação prática de total indisponibilidade, a
indisponibilidade aqui significa uma indisponibilidade material no caso dos bens
móveis e, no caso dos imoveis, apesar de o proprietário poder continuar a aliená-los,
os direitos que venham a existir são inoponíveis.
Tem assim uma função de individualização dos bens, uma função de garantia e
uma função conservatória.
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verdadeira garantia real, mas de uma figura com efeitos similares às garantias reais,
que por um lado confere prevalência ao respetivo credor exequente, mas que cessa
em caso de insolvência, portanto, a ser uma garantia real, seria uma garantia
imperfeita. Além disso, o próprio mecanismo de funcionamento dela é diferente do
mecanismo que vimos para as restantes garantias gerais, ou seja, inverte os termos:
nas restantes garantias reais, a garantia existe, há incumprimento e recorre-se à
execução; aqui, recorre-se à execução, há penhora e a garantia passa a existir. Tem
assim este cunho processual, mas em termos de efeitos substantivos produz efeitos
similares.
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a) Noção e caracterização.
20
NOTA do ano precedente: As matérias questionáveis em sede de exame escrito ou oral
abrangem apenas os conteúdos até ao momento sumariados. Excluem-se, não sendo por isso objeto de
avaliação, os conteúdos abaixo referenciados (19, 20 e 21).
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19.2. A locação-venda.
Esta venda a retro vem regulada no Código Civil, nos arts. 927.º e ss. podemos
perguntar: então, mas se há transferência da propriedade, não há possibilidade de
haver violação da proibição do pacto promissório? Para já, a ideia é a de quem fica
com a possibilidade de resolver a venda, apesar de a propriedade se transferir para o
???, a possibilidade de resolver o contrato é do comprador, resolvendo e readquirindo
novamente a propriedade. A lei, para evitar a usura, vem dizer que a transferência da
propriedade não pode fazer-se por valor superior ao preço pago na compra e venda.
Se ele pagar o valor recebido, e só o valor recebido, pode resolver o contrato.
(…)
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(…)
19.5. O reporte.
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