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Insolvência e Recuperação de Empresas

INSOLVÊNCIA
3º ANO

2018/2019
Insolvência e Recuperação de Empresas

OS ARTIGOS QUE A SEGUIR VÃO INDICDOS PERTENCEM


TODOS AO CÓDIGO DA INSOLVÊNCIA E DA RECUPERAÇÃO
DE EMPRESAS, SALVO INDICAÇÃO EM CONTRÁRIO.
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MASSA INSOLVENTE
E
CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS
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Com a apreensão geral dos bens do devedor –


providência ordenada na sentença de declaração de
insolvência – formar-se a chamada
MASSA INSOLVENTE

Destina-se a uma finalidade, que é a


satisfação dos credores depois de pagas as suas
próprias dívidas.
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MASSA INSOLVENTE

É um património de afetação especial – pois acha-se


afeto a certos encargos – e um património separado
– o devedor não deixa de ser o seu titular embora
tenha os seus poderes limitados.
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MASSA INSOLVENTE
O seu conceito é-nos dado pelo art. 46/1 e 2…

A massa abrange a totalidade do património do


insolvente suscetível de penhora, bem como os bens
relativamente impenhoráveis que sejam
voluntariamente apresentados pelo insolvente.

Assim, imperativamente excluídos da massa só estão


os bens do insolvente que sejam absolutamente
impenhoráveis.
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FUNÇÕES DA MASSA INSOLVENTE

1rª função – é a satisfação das suas próprias dívidas –


art. 51/1.

2dª função – cumprimento das obrigações do


insolvente para com os credores – art. 172.
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CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS

Opera como critério para delimitar a intervenção dos


credores no processo de insolvência, especialmente para
determinar o modo de repartição do produto da liquidação
da massa insolvente na fase de pagamento aos credores.
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Antes do mais, importa elucidar que os créditos se


acham divididos em duas grandes categorias – art. 46/1.

 Créditos sobre a massa insolvente (ou dívidas da MI)


 Créditos sobre a insolvência (ou dívidas da insolvência)

E, em consonância com tal, entre os credores da massa


insolvente ( art. 47/1) e os credores da insolvência ( art.
51/2).
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Os créditos sobre a insolvência acham-se definidos


no art. 47/1, como os créditos de natureza
patrimonial sobre o insolvente ou garantidos por
bens integrantes da massa insolvente cujo
fundamento seja anterior à data da declaração de
insolvência …
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Créditos sobre a MI - não existe propriamente uma


definição destes.

Para o efeito devemos considerar o estatuído no art.


51/1, que apresenta uma enumeração, embora
exemplificativa, de dívidas da massa insolvente, mas
permite compreende que tipo de dívidas merece, ao
legislador, a qualificação como dívida da MI.
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Assim, a sua classificação como dívidas da MI decorre da


existência de um nexo causal entre as dívidas e o
processo de insolvência, ou seja todas as dívidas da MI
são consequência do próprio processo de insolvência.

Ex: dívidas resultantes da custas processuais; dívidas


resultantes da atividade dos órgãos da insolvência.
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Ainda, podemos dizer que esta classificação assume um


carácter excepcional – e assim é, também, em função do
tratamento privilegiado que lhes é dispensado.

O pagamento destas dívidas tem prioridade sobre


o pagamento das dívidas da insolvência – art. 46.
Pois, antes do pagamento dos
créditos sobre a insolvência, deduz-se da massa insolvente os
bens ou direitos necessários, ao pagamento dos créditos
sobre a massa - art. 172/1.
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Classes de créditos sobre a insolvência
Correspondem aos créditos que se constituíram antes da data
da DI ( art. 47), são créditos cujo fundamento já existe.

Encontram divididos nas seguintes classes:


 créditos garantidos

 créditos privilegiados
 créditos subordinados
 créditos comuns
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CRÉDITOS GARANTIDOS – art. 47/4, al. a)

São aqueles que beneficiam de garantias reais, incluindo privilégios


creditórios especiais.

As garantias reais - conferem ao credor garantido “o direito de se fazer pagar, de


preferência a qualquer outro credor, pelo valor ou pelos rendimentos de certos
bens próprios do devedor ou de 3rº, ainda que esses bens venham a ser
posteriormente transferidos.”

Privilégio creditório - é a faculdade que a lei, em atenção à causa do crédito,


concede a certos credores, independentemente do registo, de serem pagos com
preferência a outros.

São graduados e pagos primeiro que os créditos privilegiados e logo a seguir às


dívidas da massa insolvente.
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CRÉDITOS GARANTIDOS – art. 47/4, al. a)

Entre os quais se encontram os que beneficiem de consignação


de rendimentos (art. 656 CC), de penhor (art. 666 CC), de
hipoteca (art. 686 CC), de privilégio especial (art. 738 ss CC.), de
direito de retenção (art. 754 CC).
Impõe-se, contido, mencionar a exclusão constante do
art. art. 140/3, que refere que apenhora e hipoteca
judicial não atribuem ao respetivo crédito natureza de
crédito garantido para efeitos do PI, na medida em que
a preferência atribuída pelas mesmas não é tida em
conta no processo.
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CRÉDITOS PRIVILEGIADOS - art. 47/4, al. a)

São os que estão garantidos por privilégios


creditórios gerais (mobiliários ou imobiliários), isto é,
que incidem sobre a generalidade dos bens do
devedor.

São pagos em 3º lugar, sendo pagos em 1.º lugar as dívidas


da MI e em 2º lugar os créditos garantidos.
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Privilégios creditórios (PC) estão previstos no art. 733
ss. CC, existem duas espécies:

 Os privilégios creditórios mobiliários


 Os privilégios creditórios imobiliários

PC mobiliários - podem ser gerais ou especiais – art.


735/2 CC
PC imobiliários - são tendencialmente especiais – art.
735/3 CC
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Quanto aos PC mobiliários gerais, a maioria acha-se prevista


no CC.:

 privilégio para garantia dos créditos fiscais do Estado e das


autarquias locais - art. 736 CC;
 privilégio do credor por despesas do funeral - art.737, al.a) CC;
 o privilégio do credor por despesas com doenças do devedor
ou dos seus alimentandos, relativas aos últimos 6 meses - art.
737, al. b) CC;
 …
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Importa, ainda, mencionar o privilégio do credor


requerente, o art. 98 concede um privilégio
mobiliário geral no montante de 500 UC ( €
51.000,00) ao credor que requereu a insolvência do
devedor - assim, o seu crédito ( se não subordinado)
adquire a categoria de crédito privilegiado até esse
montante.
É um incentivo a esses credores a solicitarem a
declaração de insolvência.
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CRÉDITOS SUBORDINADOS – art. 47/4, al. b)

São graduados depois de todos os restantes créditos sobre a insolvência e,


evidentemente, também depois dos créditos sobre a massa.

Por isso, o pagamento destes créditos só tem lugar depois do pagamento


dos créditos garantidos, privilegiados e comuns – art. 48 e 177/1.

São assim, pagos em último lugar.


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CATEGORIAS DE CRÉDITOS SUBORDINADOS – ALÍNEAS DO ART. 48

al. a) - os que forem detidos por pessoa especialmente


relacionadas com o devedor, quando a relação especial
existia no momento da aquisição do crédito.

Para combater eventuais fraudes, são considerados


igualmente créditos subordinados os que tenham sido
transmitidos a outrem por aquelas pessoas especialmente
relacionadas com o devedor se a transmissão se deu nos
dois anos anteriores ao início do PI.
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art. 49 - esclarece quem são as pessoas especialmente
relacionadas com o devedor.

Aí encontramos pessoas que estariam em condições de


poder conhecer melhor a situação em que se
encontrava o devedor, ou de eventualmente terem
podido influenciar a sua atuação.

Esta solução funda-se na suspeição que estes créditos


suscitam, pretendendo-se o combate ao eventual
aproveitamento, por parte do devedor, de relações de
parentesco para praticar atos prejudiciais aos credores.
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al. b) - os juros em causa dizem respeito a créditos


não subordinados constituídos antes da DI:
os juros considerados créditos subordinados é que se
constituíram depois da DI.

O mesmo, aliás, pode dizer quanto aos juros de


créditos subordinados constituídos após a DI (al. f)-
os juros referidos constituíram-se depois da DI, não
os créditos subordinados em causa.
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al. d) - são classificados como créditos subordinados


os que têm por objeto prestações do devedor a título
gratuito.

É fácil de compreender a razão de ser do regime, as


prestações do devedor a título gratuito não
beneficiarão em regra, a MI.
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al e) - considera créditos subordinados os créditos sobre a


insolvência que resultem da resolução em beneficio da MI para
o terceiro de má fé.

A resolução tem efeitos retroativos e deve ser reconstituída “a


situação que existiria se o ato não tivesse sido praticado ou
omitido” - 126/1.

Contudo, a restituição do que foi prestado pode não ser


possível.
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O art. 126/5, prevê casos em que a restituição do


valor correspondente constitui dívida da massa ou da
insolvência; do que resulta que nem todos os
créditos que resultam da resolução em beneficio da
MI são créditos sobre a insolvência.
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al. e) - tem em vista as situações em que o terceiro


está de má fé. E nem sempre a resolução em
beneficio da massa pressupõe essa má fé.

Mas, ainda que a resolução seja possível sem


necessidade de prova de ma fé, pode justificar-se a
alegação e prova da má fé justamente para que os
créditos que sejam consequências da resolução em
beneficio da massa sejam considerados subordinados.
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al. g) - classifica como subordinados os créditos por


suprimentos.

Com efeito, não seria justo que o pagamento desses


suprimentos fosse realizado antes de outros créditos.
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A enumeração do art. 48 é taxativa ou meramente


exemplificativa?

Carvalho Fernandes e João Labareda defendem a sua


natureza taxativa.
art. 47/4, b), diz que são considerados créditos
subordinados os enumerados no artigo seguinte.
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A ordem da enumeração é relevante, dado que o art.


177/1, manda respeitar nos pagamentos a ordem
segundo a qual esses créditos são indicados no art.
48, na proporção dos respetivos montantes, quanto
aos que constem da mesma alínea, se a massa for
insuficiente para o seu pagamento integral.
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A qualificação de um crédito como subordinado tem consequências:

• art. 66/1 … “e a escolha dos restantes assegurar a adequada


representação das várias classes de credores, com exceção dos credores
subordinados.” Isto é, esta classe de créditos não encontra representação
nos membros da comissão de credores que o juiz nomeie.

• os créditos subordinados não conferem direito de voto, só assim


não sucedendo quando a deliberação da assembleia de credores incida
sobre a aprovação do PLI (art. 73/3, 212/2, b); para o PER - art. 17-F/3),
com limitações do art. 212/2, b).

• se for aprovado um PLI de que nada conste sobre os créditos


subordinados, estes consideram-se objeto de perdão total (art. 197, b).
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Ordem do pagamento

1. as dívidas da MI
2. os créditos garantidos
3. os créditos privilegiados
4. os créditos comuns
5. créditos subordinados
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Os credores da I., incluindo o Ministério Público e o


requerente da mesma, devem apresentar ao AI o
requerimento a solicitar a verificação dos seus
créditos – art. 128.

Este processo denomina-se reclamação e tem por


objeto todos os créditos sobre a insolvência,
independentemente da sua natureza e fundamento.
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Na pendência do PI os credores da insolvência só


podem exercer os seus direitos em conformidade
com o disposto no CIRE - art 90.
Proc. de execução universal do devedor insolvente

Os créditos sobre a insolvência só podem ser pagos


se “estiverem verificados por sentença transitada em
julgado” – art. 173.

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