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B NCÁRI
UO CANDIDATO
PROFISS
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NOÇÕES BANCÁ
GERAIS DETO RIO

FICHA TÉCNICA

1
FICHA TÉCNICA

COORDENAÇÃO
Aurélio Rocha

TEXTO BASE
Jorge Nascimento

ADAPTAÇÃO A MOÇAMBIQUE
Núcleo Pedagógico

CONCEPÇÃO E COMPOSIÇÃO GRÁFICA


IFB

ADAPTAÇÃO A MOÇAMBIQUE
IFBM - Núcleo Pedagógico

EDIÇÃO ESPECIAL – 1ª TIRAGEM (100 Exemplares)


Outubro 2009

©IFB
Reservados todos os direitos ao IFBM/IFB/ISGB, de acordo com a legislação em
vigor.Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer forma ou
qualquer processo, sem autorização prévia e escrita do IFBM/IFB.
2
INDICE

I. GARANTIAS DO CRÉDITO
BANCÁRIO ....................................................................... 1 AS GARANTIAS
PESSOAIS ............................................................................................... 2 A) Relações
Obrigacionais ..................................................................................................... 4 B)
Garantia Geral das Obrigações e Garantias Especiais...............................................
5
C) Garantias
Pessoais ............................................................................................................ 15

II. GARANTIAS DAS OBRIGAÇÕES - GARANTIAS REAIS ................................


27
A) Garantias Sujeitas/não Sujeitas a Registo ..............................................................
29
B) A Hipoteca ........................................................................................................................
30 C) O
Penhor .............................................................................................................................
41
D) Consignação de Rendimentos .........................................................................................
51

III.OPERAÇÕES BANCÁRIAS ...........................................................................................


52
A) Operações Bancárias - Noções ....................................................................................
52 B) Contratos
Bancários ...................................................................................................... 54
C) Créditos em Mora e em Contencioso ...........................................................................
63

IV. CLIENTES BANCÁRIOS: PESSOAIS SINGULARES .........................................


73

0
A) Personalidade e Capacidade Jurídicas .......................................................................
73 B) Menoridade: Um Caso de Incapacidade
Jurídica ..................................................... 78 C) Interdição: Outra Situação de
Incapacidade Jurídica .......................................... 86
D) Inabilitacão: um Estado de Incapacidade Atenuada ..............................................
89

V. O SIGILO BANCÁRIO ..................................................................................................


92
A) O Sigilo Profissional - Caracterização .......................................................................
92 B) Objecto do Sigilo
Bancário ........................................................................................... 95 C) Dispensa de
Sigilo Bancário .......................................................................................... 97 D) Buscas e
Apreensões em Estabelecimentos Bancários ......................................... 102
E) Sanções decorrentes da Violação do Sigilo Bancário.............................................
105

I.GARANTIAS DO CRÉDITO BANCÁRIO

Nos mais diversos domínios da vida social, estabelecem-se relações


obrigacionais em que diferentes partes, efectuando acordos, se
comprometem entre si.
Escusado seria lembrar que, no seu dia-a-dia de bancário, as relações
obrigacionais Banco-Cliente estão quase sempre subjacentes às mais
diversas operações.

Assim, por exemplo, o banco, numa operação de depósitos à ordem, fica


obrigado perante o cliente a restituir-lhe as importâncias depositadas

1
e, ao contrário, numa operação de crédito, é o cliente que se obriga a
entregar ao banco a importância em dívida.

De entre as relações obrigacionais, as de natureza credilícia, assumem


grande importância no contexto da actividade bancária, mas
comportam riscos que a banca procura naturalmente minimizar.

Importa, assim, conhecer a protecção que o Direito oferece aos


credores, razão por que procuraremos nesta Unidade abordar as
garantias do crédito - a garantia geral e as garantias reais e pessoais
dentro das especiais.

Objectivo
No final desta Unidade, você deverá estar apto a:
Apreender o sentido das relações jurídicas obrigacionais no
contexto das quais se inserem as de crédito;
Reconhecer a garantia geral das obrigações;
Identificar as garantias pessoais e descrever
os contornos das suas modalidades mais importantes;
Reconhecer as garantias reais e analisar três dos seus tipos
principais: penhor, hipoteca e consignação de rendimentos.

AS GARANTIAS PESSOAIS
Introdução
As operações de crédito têm constituído um dos aspectos centrais da
vocação da Banca e do seu papel na economia do país. Através delas, os
bancos realizam lucro e cumprem uma das suas razões de existir. Como
é sabido, estas operações implicam um determinado grau de risco, face
ao qual os bancos, que assumem a posição de cedentes de fundos,
deverão tomar as necessárias preocupações.
Desta forma, em termos de rendibilidade, tornar-se-ão mais eficazes
se conseguirem atenuar os riscos inerentes à concessão de crédito.

2
É neste âmbito que surgem, na actividade bancária e noutros domínios,
as garantias das obrigações como meio necessário para que os bancos
vejam garantidos os seus créditos.
As garantias de que os bancos dispõem decorrem, por um lado, de
figuras jurídicas que a Lei tipifica, designadamente no Código Civil; por
outro, são uma consequência lógica da sua posição de agentes de
crédito.
Ao longo desta Sessão, terá oportunidade de analisar e enquadrar as
garantias, em geral, e, ainda, de abordar as garantias pessoais, em
particular.
Assim, nesta Sessão, abordar-se-ão os seguintes tópicos:

A) Relações Obrigacionais
Obrigações e Relações Obrigacionais
B) Garantia Geral das Obrigações e Garantias Especiais
Garantias das Obrigações
Garantia Geral
Garantias Especiais: Reais e Pessoais
C) Garantias Pessoais
A Fiança
Garantia Bancária Autónoma
O Aval
O Seguro

Objectivo

No final desta Sessão, você deverá ser capaz de:


Analisar a garantia geral das obrigações no contexto das
relações jurídicas obrigacionais;
Apreender o significado das garantias especiais c identificar a
respectiva tipologia;
Reconhecer e discriminar as características jurídicas
preponderauics das garantias pessoais mais importantes.

3
A) Relações Obrigacionais
Obrigações e Relações Obrigacionais

Todos os dias se estabelecem entre pessoas singulares e/ou colectivas


relações sociais tuteladas pelo Direito, relativas aos mais variados aspectos
da vida em sociedade.
Na actividade bancária, são muitas e diversificadas as relações jurídicas
que, também diariamente, se estabelecem entre as instituições financeiras
e os seus clientes: são, no fundo, as operações bancárias.
Na verdade, tais relações jurídicas geram obrigações para os sujeitos
intervenientes, estabelecendo-se, afinal, uma relação de poder/dever
recíproca.

4
Obrigação: é um vínculo por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com a
outra à realização de uma prestação*.

*Art° 397 do Deste modo, a obrigação traduz um vínculo jurídico que se estabelece
Código Civil
entre dois sujeitos:
Um deles deve realizar determinado comportamento (realização de uma
prestação) ou abster-se de o realizar;
O outro tem o direito de lhe exigir que o realize ou que dele se
abstenha.
Num empréstimo bancário, o cliente fica com a obrigação
(eventualmente, entre outras) de reembolsar o banco segundo a
modalidade acordada, e o banco ficou com o direito de lhe exigir o
reembolso; este, por sua vez, ficou com a obrigação de lhe emprestar o
dinheiro estipulado no contrato.

Numa relação jurídica obrigacional de crédito, designa-se por devedor


o sujeito passivo e por credor o sujeito activo. A prestação é o
comportamento ou conduta a que o primeiro fica obrigado ou adstrito e
que o segundo pode exigir.

O estabelecimento de relações jurídicas obrigacionais é frequente no


dia-a-dia; por exemplo:

Quando uma sociedade, como o banco "X", estabeleceu um


contrato de trabalho com um empregado, ambos, banco e
empregado, ficaram .com obrigações recíprocas;
Idêntica representação de obrigações recíprocas decorre de urn
depósito ou desconto, como. acontece em múltiplas operações
bancárias.

B) Garantia Geral das Obrigações e Garantias Especiais

Garantias das Obrigações

Como elementos do crédito bancário, temos, entre outros:

5
O risco - convindo que seja atenuado ou minimizado até onde for
possível;
A confiança - susceptível de ser abalada ou traída pelo devedor.

Na verdade, já o sabemos, os bancos estão orientados para a


realização de múltiplas e diversas operações de crédito, em diferentes
áreas da economia e envolvendo agentes económicos de variada
natureza. Tais operações visam a produção de lucros e compete aos
bancos tomar as devidas precauções tendentes a assegurá-los.

Assim, é natural que os bancos, ao conceder crédito, tentem garantir


com o máximo de segurança o ressarcimento desse crédito,
acautelando-se contra uma possível insuficiência patrimonial dos
devedores.
De resto, não se pode esquecer que a proveniência mais frequente dos
capitais objecto de crédito são as operações passivas e o depósito em
particular, pelos quais os bancos respondem.

É, com efeito, no contexto de uma ...


Política global de concessão de crédito;
Prevenção dos riscos daí decorrentes;
Atitude de confiança; as garantias do crédito
bancário têm de ser analisadas.

Mas os bancos apenas concedem crédito mediante a prestação de


garantias especiais?
Claro que não!
A primeira garantia - e, por vezes, a mais relevante - é a que decorre
do juízo de idoneidade creditícia do cliente e da sua situação
patrimonial, à qual se associa o tipo de negócio a que se destina.

Assim, é curcial que o banco pondere cuidadosamente:


A credibilidade, honestidade e solvabilidade do cliente nos
planos comercial e pessoal, assentes no seu passado idóneo e nas
suas qualidades de gestão;

6
O universo patrimonial do cliente, que constitui sempre uma
referência importante para quem concede crédito e quer avaliar
com rigor o nível que aquele merece;
A transacção a que se destina, a fim de adequar o crédito às
condições pessoais do cliente, à natureza do crédito solicitado e
ao negócio que visa cobrir.

Garantia Geral

Ao Banco Moçambicano Nova Cidade05/07/95


C/N.4369

Assunto: Concessão da Empréstimo.

A nossa empresa tem estado, nos últimos tempos, empenhada em modernizar e alargar o
alcance do seu mercado, tendo em vista, muito especialmente, a
possibilidade de concorrer, com eficácia, nos países da Comunidade Europeia.

Temos, então, no nosso plano estratégico a médio prazo, dois objectivos essenciais:

7
Renovar, por completo, a maquinaria da cadeia de montagem;
Aumentar a nossa frota de distribuição.

Neste sentido, e no seguimento das conversas mantidas com V. Exas. , vimos solicitar
a concessão de um empréstimo de 300 000 contos, por cinco anos. Julgamos poder
começar a liquidar o referido empréstimo no fim do primeiro ano, em condições a
definir, tal como foi anteriormente discutido.

Como havíamos informado V. Exas., poderemos dar como garantia a nossa fábrica com

todas as instalações a ela inerentes, através da constituição de uma hipoteca sobre a

mesma, bem como, se necessário, um lote de 20 000 acções da Missbela, SARL, que a
Luztrónica tem depositado no vosso banco à nossa ordem.

Em anexo, juntamos a documentação que julgamos suficiente, para uma análise mais
aprofundada do investimento que pretendemos efectuar, nomeadamente o estudo de
viabilidade económica que realizámos em conjunto com a Trajectórias, Lda.

Ficamos à vossa disposição para qualquer outro esclarecimento complementar e


entretanto, subscrevemo-nos com os no ssos melhores cumprimentos.
Luztrónica, Lda.,

O Gerente
António Lopes Souto (António Lopes Souto)

Foi este o pedido de empréstimo recebido no balcão do Banco


Moçambicano, em Nova Cidade.

Depois de consultarem as fichas de informação e de responsabilidades da


Luztrônica, Lda. bem como os Balanços dos três últimos anos. o Sr.
Loureiro e o Sr. Andrade, respectivamente gerente e subgerente daquele
balcão,

8
elaboraram um relatório que enviaram ao Director da Região.
O parecer patente neste relatório foi favorável, já que a Luztrônica, Lda.,
de acordo com a informação analisada, parece ter credibilidade no
mercado e uma situação financeira equilibrada.

Findo o processo de decisão, a Luztrônica, Lda.recebe do Banco


Moçambicano a confirmação da concessão dó, empréstimo de 300 000
000,00 MT.

Exmos. Senhores

Luztrónica Lda.
Estrada do Sol, 33
8000 Nova cidade
C/N. 4369 05/07/95 A-456 26/07/96

Assunto: Empréstimo
da Esc. 300 000 000,00 MT N° 67298/500/2

Em satisfação do solicitado por V. Exas.e, na sequência das conversações


anteriores, vimos comunicar que nos propomos conceder o empréstimo supra,
nas seguintes condições:

1.FINALIDADE

A importância do crédito de
stina- se ao investimento referido, em anexo à
Vossa solicitação sm referência. Em satisfação do solicitado por V. Exas,
e
na sequência das conversações havidas, vimos comunicar que nos propomos
conceder o empréstimo supra, nas seguintes condições:

…/…

…/…

7. GARANTIAS

Garantias Reais consituidas por:

Hipoteca da fábrica, quanto a parte da divida, isto é, 200 000 contos;

Um penhor de 20 000 acções da Sociedade Missbela, S.A.


depositadas no dossier dessa empresa junto do nosso banco, quanto ao montante
de 40 000 contos;
Garantia Pessoal: quanto à restante parte da divida, isto é, 60 000 contos,
será titulada por duas livranças, de 30 000 contos cada, com vencimentos para
um ano e um ano e meio, após a emissão das mesmas. Estas livranças deverão
ser avalizadas por todos os sócios e respectivos cônjuges. 8

Como pode constatar, o Banco Moçambicano actua preventivamente no


sentido de atenuar o risco que advinha com tal operação de crédito.

E se o banco não exigisse qualquer garantia especial para conceder


crédito - ou seja, confiando apenas na idoneidade e património do
cliente -, que tipo de garantia possuiria?

Ao banco restaria a chamada "Garantia Geral das Obrigações", que


assenta no património do credor e que encontra fundamento legal no
Código Civil:
Código Civil
Art.° 601.°

Pelo cumprimento da obrigação respondem todos os bens do devedor susceptíveis


* A penhora é uma de penhora* sem prejuízo dos regimes especialmente estabelecidos em
fase do processo de consequência da separação de patrimónios.
execução do devedor.
Esta etapa consiste Ou seja, pelo cumprimento da obrigação responde a generalidade - não
na apreensão, pelo
rigorosamente todos, porque algumas limitações são impostas por lei* -
tribunal, dos bens
considerados dos bens mobiliários e imobiliários do devedor, quer os que este possua à
necessários para
data da concessão do crédito, quer os que adquiriu posteriormente.
cobrir a dívida ou
indemnização. Desta
forma, esses bens Sendo o património garantia geral pelas dívidas contraídas, pode o
são retirados da credor, em caso de falta de cumprimento, exigir judicialmente a
disponibilidade do
devedor e afectados satisfação do crédito e executar o património do devedor a fim de,
aos fins próprios da através dele, se ressarcir da dívida.
execução.

* Exemplos dessas
Elimitações
se ossãobens
os que integram o património do devedor não forem suficientes para
vencimentos, que completa satisfação dos débitos?
'apenas podem ser
penhorados em
parte. Não havendo credores preferenciais têm todos os credores o
direito de ser pagos proporcionalmente pelo valor dos bens do devedor objecto da
execução.
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Caso haja credores preferenciais estabelece-se uma
hierarquia dos preferentes e dos comuns, que serve de base ao
pagamento das dívidas reconhecidas judicialmente.

Encontrando-se em perigo a garantia geral das obrigações, tendo


em Vista a sua conservação, os credores podem utilizar três vias
para conservar a Garantia Geral das obrigações:

Arguir a nulidade de negócios feitos pelo devedor, com base em vícios da


declaração negociai - simulação, por exemplo -, de que resultou a
* O arresto é uma
providência depreciação do património do devedor;
Requerer
cautelarem geral judicialmente a
aplicável a não
comerciantes, em
natureza pessoal, desde que verificados certos requisitos legais (é a
que se pede ao chamada impugnação pauliana);
tribunal para
proceder a uma
Pedir judicialmente o arresto* dos bens do devedor tendo em
apreensão vista evitar o seu desaparecimento.
antecipada dos bens
do devedor a fim
de evitar a sua Mas, nesta matéria, a actuação dos bancos opera
perda. fundamentalmente no plano preventivo.

Como?

Exigindo garantias suplementares face à referida garantia geral das


obrigações, de modo a reforçá-la.

Na verdade, o credor pode...


Perante o facto da garantia geral do devedor se lhe afigurar
insuficiente ou pouco interessante;
Face ao valor avultado e/ou natureza da
operação-subjacente;
Quando as informações acerca da capacidade e idoneidade pessoal
e comercial do cliente não recomendam com segurança a
concessão de crédito;

... exigir a prestação de garantias que, de forma especial, aumentam as


possiblidades do crédito ser cumprido no vencimento.

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São as garantias especiais das obrigações.

Garantias Especiais: Pessoais e Reais


As garantias especiais têm, simultaneamente como função essencial:
Reforçar a garantia geral que acabámos
de referir;
Conferir (de algum modo) uma posição privilegiada ao credor que
as exije.

Como pode observar, o Banco Moçambicano, além do direito, em caso


de incumprimento, de se fazer pagar através do património da
Luztrónica, ou seja, a chamada garantia geral das obrigações, adquire,
através da hipoteca da fábrica e penhor de acções, uma posição
privilegiada em relação à generalidade dos restantes credores.

Além disso, ao exigir o aval dos sócios, o banco acrescenta, como


garantia, o património pessoal de terceiros à sociedade os avalistas.
Desta forma, caso recorra a tribunal, tem acesso a dois (ou mais)
patrimónios o do devedor e o de todos os avalistas.

As garantias especiais podem teoricamente ser constituídas por


* Contratos de iniciativa dos bancos ou dos clientes. Na prática, é óbvio que são os
adesão: são aqueles bancos a tomar a iniciativa exigindo a sua prestação, muitas vezes
em que um dos
contraentes, não
através de autênticos contratos de adesão*.
tendo a menor
participação na Também aqui os vários tipos de garantias podem ser alvo de diferentes
preparação das
classificações em função de critérios diversos. Há, todavia, uma
respectivas cláusulas,
se limita a aceitar o classificação clássica que as cataloga como pessoais ou reais.
texto que o outro
contraente oferece,
em massa, ao público Observe o quadro seguinte.
interessado. Esta
matéria é abordada
Garantia Geral
com maior detalhe na
Fiança
sessão 8.
Pessoais Aval
GARANTIAS Garantia bancária

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Etc.
Garantias Especiais

Penhor
Hipoteca
Reais Consignação de
rendimentos Etc.
Estes dois tipos de garantias especiais poder-se-ão distinguir de
acordo com os seguintes critérios:

* Garante é ASPECTOS A GARANTIA REAL GARANTIA PESSOAL


a pessoa que DISTINGUIR
presta a
garantia
especial.

Garante* O próprio devedor Um terceiro.


ou um terceiro.

Bens afectos à Um bem concreto e Património pessoal e geral sem


Garantia determinado. especificação de qualquer bem em
concreto.
Exemplos Hipoteca, Penhor, Aval, Fiança, etc.
etc.

Garactias reais

As garantias reais consitem, essencialmente, em possibilitar ao credor, beneficiado


por elas, o direito de se fazer pagar, pelo valor de determinados bens,
preferentemente à generalidade dos demais credores.

Desta forma, caso a Luztrónica, Lda. não cumpra com a sua obrigação,
o Banco Moçambicano poderá, recorrendo ao tribunal, fazer-se pagar
pelo valor da fábrica ou das acções, respectivamente dadas como
hipoteca e penhor.

Garantias pessoais
O Banco Moçambicano exigiu, como garantia, quanto às
livranças a subscrever, o aval dos sócios e respectivos
cônjuges, isto é, quanto a parte do empréstimo - 60 000

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contos - o banco reivindicou, para maior segurança da operação, uma garantia
pessoal.

A garantia pessoal caracteriza-se por, através dela, o garante, - uma pessoa


diferente do devedor e do credor, ou seja, um terceiro – afectar todo o seu
AVALISTAS
património pessoal à satisfação da dívida principal assumida pelo devedor.
FIADORES

Dito de outra forma, e retomando a relação obrigacional que temos


vindo a exemplificar, ao património da Luztrónica, Lda. - devedor -, que
constitui a garantia geral do credor, juntou-se o património de

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terceiros - na pessoa dos próprios sócios*, o qual passará, também, a
assegurar a satisfação do crédito.
Assim, exigindo garantias pessoais, o credor aumenta a probabilidade
de ver garantidos os seus créditos, já que se poderá fazer pagar, em
caso de incumprimento, não só pelo património do devedor, mas
também pelo(s) do(s) terceiro(s) quepresta(m) o aval ou a fiança.
Resumindo:

O Banco Moçambicano e a Luztrónica, Lda. estabeleceram entre si uma relação


obrigacional em que, a troco de uma concessão de credito, a empresa -
* Cujo património, devedor - se comprometeu a uma determinada prestação estipulada pelo
como já viu quando
credor, a fim de liquidar a sua dívida.
estudou as
sociedades em
geral, e as Assim, caso a Luztrónica, Lda. não cumpra a sua obrigação, o Banco
sociedades por Moçambicano poder-se-ía fazer pagar, quanto a parte da dívida, 240 000
quotas em
particular, se contos, pelo valor dos bens dados como garantia real, sobre os quais tem,
distingue do da em princípio, um direito de preferência relativamente a outros credores.
sociedade.
Por outro lado, quanto à restante p arte da dívida, poder-se-ía fazer
pagar pelo património dos avalistas que prestaram a garantia pessoal,
para além do do devedor.
Supondo que a Luztrónica estava em dívida para com outros credores e que
o valor dos bens hipotecados e empenhados não se revelava suficiente, o
Banco Moçambicano teria de concorrer com os outros credores,
relativamente aos restantes bens que compõem o património da sociedade
e que foram, automaticamente, dados como garantia geral.

Sistematizando:
Património pessoal e
GARANTIA GERAL geral do devedor
- Luztrónica, Lda.

Fiança
Património pessoal e geral
GARANTIA PESSOA L
do terceiros
Aval - Sócios.

Hipoteca
Bens concretos e
GARANTIA REAL
13 determinados
Penhor - Fábrica e acções.

Quanto às garantias pessoais, repete-se, temos o aval e ainda a fiança


e a garantia bancária autónoma, designadamente.
Quanto às garantias reais, temos, entre outras, o penhor e a
hipoteca que são as mais frequentes.
As garantias pessoais são, todas elas, de origem contratual. Com
efeito, tanto a fiança, como o aval, como as garantias bancárias são
fruto de um acordo de vontades.
Outro tanto não observamos nas garantias reais.
De facto, algumas destas - seguramente, a maior parte - nascem de
contratos, mas outras podem ser de proveniência legal e ainda outras
podem resultar de uma sentença judicial.

Portanto, sistematizando:
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C) Garantias Pessoais

A Fiança
Sofia Antunes, depois de ter assinado o contrato de promessa de compra e
venda de um andar, dirige-se a um balcão do Banco Moçambicano a fim de
se informar sobre as condições e os impressos necessários para o pedido
de concessão de empréstimo.
Atendendo a que, no último ano, ainda não usufruía de quaisquer
rendimentos e que o crédito a conceder se enquadrava num dos regimes
especiais - crédito jovem -, foi-lhe sugerido que arranjasse um fiador para
que, assim, o processo se tomasse mais favorável.
Sofia colocou, então, a questão aos pais., Bernardo e Joana Antunes. que
imediatamente se ofereceram para serem seus fiadores.

Neste caso, estabeleceu-se a seguinte relação:

17
Contrato de
empréstimo
DEVEDORES CREDOR

Prestação
Banco
Sofia Antunes
Moçambicano

Contrato de
hipoteca

FIADORES

Bernardo e Joana
Antunes

Este tipo de situação facilitou, tal como fora comunicado a Sofia


Antunes, o processo de decisão, já que o risco que o banco poderia
correr com este empréstimo se encontra suficientemente atenuado. O
Banco Moçambicano detém a garantia pessoal que é prestada pelos
fiadores.

Quando Joaquim Manuel quis arrendar um andar para habitação, teve de


arranjar, por exigência do senhorio, um fiador, Belmiro Amorim, que
prestou a sua fiança no próprio contrato de arrendamento.

Tal como na situação anterior, a prestação de fiança surge no sentido


de facilitar o estabelecimento de ura contrato obrigacional.
No entanto, no primeiro caso, estamos perante uma fiança comercial,
porque surge no âmbito de um acto de comércio (uma operação
bancária),.ao contrário do que acontece na situação do Sr. Belmiro
Amorim, dado que se trata de uma fiança civil.
Vejamos agora, um pouco mais detalhadamente, como se caracteriza
esta garantia pessoal.

Fiança – sua noção

Fiança: é uma garantia em que uma pessoa diferente do devedor (fiador)


expressamente assegura, pessoa e acessoriamente, através do seu património geral,
a satisfação de um direito de crédito que o credor tem sobre o devedor principal.
Trata-se de uma figura cujos contornos podemos encontrar no Código
Civil, que a define do seguinte modo:

Art° 627

"O fiador garante a satisfa ção do direito de cr édito, ficando pessoalmente


obrigado perante o credor";
"A obrigação do fiador a acessória da que recai sobre o principal devedor".

Termo de Fian ça

(Responsabilidades genéricas)
(1)

constitui(em)-se como fiador(es) de todas e quaisquer obrigações contraídas e/ou a


contrair por (2)____________________________________________

perante o BANCO MOÇAMBICANO.

Declaram-se os fiadores solid ários entre si, sobre cada um e qualquer deles
recaindo . a responsabilidade por todas as obrigações do afiançado.(3)

Local e Data
16
assinaturas (4)

Através do termo de fiança ilustrado, pode observar que os Srs.


Bernardo e Joana Antunes se comprometem a garantir ao Banco
Moçambicano, com o seu património pessoal, o direito de crédito que
este detém sobre Sofia Antunes.

No entanto, só fará sentido esta garantia se o principal devedor -


Sofia - não cumprir com a prestação a que ficou adstrita.
O fiador também pode, ele próprio, ser afiançado - é a subfiança, cuja
disciplina jurídica se aproxima em grande parte da fiança.
O fiador, para além de dever ter capacidade jurídica para se obrigar
através da fiança, deve ter bens suficientes para garantir a obrigação
principal.

19
Mas o juízo de valor acerca da capacidade patrimonial do fiador cabe
ao credor, que não é obrigado a aceitar quem não reúne património
bastante para assegurar o cumprimento da obrigação.
De resto, o credor tem mesmo a faculdade de exigir o reforço da
fiança, se se verificarem alterações na situação patrimonial que ponha
em risco a sua solvabilidade.
O devedor pode ser garantido pela mesma dívida por vários fiadores:
Isoladamente cada fiador garante o cumprimento da
obrigação pela totalidade;
Conjuntamente cada um responde proporcionalmente pela sua
quota, podendo invocar o benefício da divisão.

Principais caracter ísticas da Fian ça

É uma garantia pessoal, ou seja, o fiador, ao garantir a satisfa ção do direito de


cr édito, fic a pessoalmente obrigado perante o credor;

A obriga ção do fiador é acess ória da que recai sobre o principal devedor.

Fiança como garantia pessoal

Ao prestar a fiança, o fiador assegura e compromete, em princípio, a


totalidade do seu património pessoal à satisfação do crédito, tal como
se fosse o devedor principal.

Assim, em caso de incumprimento, o credor dispõe da possibilidade de


accionar dois patrimónios em vez de apenas um – o do devedor.

Património do devedor princiapl

Credor
Património do(s) fiador(es)

Fiança como garantia acessória

Enquanto garantia, a fiança é acessória em relação à obrigação


principal, o que significa que quer a sua natureza, quer os requisitos
formais a que deverá obedecer, quer a sua extinção, "dependem" da
obrigação garantida.

Quanto à natureza
A fiança será comercial ou civil, consoante a natureza da obrigação a
que serve de garantia.
Como vimos atrás, no primeiro caso exemplificado, estamos perante
uma fiança comercial e, no segundo, uma fiança civil, porque decorrem,
respectivamente, de acto comercial e acto civil.

Quanto aos requisitos formais


A fiança obedecerá à forma que for exigida para a obrigação principal.
* Como poderá ver na
Sessão seguinte (tópico Deste modo, para que a fiança que os pais de Sofia Antunes pretendem
A), a escritura pública prestar se torne válida, é necessário que isso fique expressamente
é uma exigência formal
a que o contrato de declarado em escritura pública*, dado que os bens envolvidos são
empréstimo, com imóveis. No entanto, em geral,- como é o caso do arrendamento, a fiança
fiança
concomitantemente ao pode ser validamente prestada através de um mero documento
de hipoteca particular. E a fiança não será válida se o não for a obrigação principal.
dum imóvel,
deverá
21
obedecer.
Quanto aos requisitos formais
A fiança tem o mesmo conteúdo da obrigação garantida e cobre as
consequências legais e contratuais da mora do devedor.
Por outro lado, não pode exceder a dívida principal - caso a exceda,
reduz-se aos termos da dívida afiançada - nem pode ser contraída em
condições mas onerosas.

Quanto à extinção
Como parece óbvio, não faria sentido a fiança prosseguir, mesmo depois
de extinta a obrigação garantida.
Assim, a extinção desta garantia é determinada pela extinção da
obrigação principal.

Se Sofia amortizar a totalidade da sua divida, deixa de fazer sentido que


os seus fiadores respondam pela satisfação dos créditos, entre tanto já
satisfeitos, de que o Banco Moçambicano dispunha.

Direitos e deveres do fiador


Sendo a fiança uma garantia pessoal, o credor poderá, indiferentemente,
* De acordo ver o seu crédito satisfeito através do património do devedor ou do
como art.° 638
do Código Civil:
fiador.
é lícita ainda a
Além deste dever, assistem ao fiador alguns direitos, dos quais interessa
recusa, não
obstante a salientar o direito ao benefício da prévia excussão.
excussão de
todos os bens do Benefício da prévia excussão é o direito do fiador* de recusar o pagamento
devedor, se o enquanto o credor não tiver esgotado todos os bens do devedor principal no
fiador provar
cumprimento da obrigação sem obter a satisfação do seu crédito.
que o crédito
não foi satisfeito
por culpa do
credor. Assim sendo, só após a verificação concreta de que o património do
devedor não é de todo suficiente para satisfazer o crédito é que o
fiador responde directa e pessoalmente através do seu património.
No entanto, este direito está vedado às obrigações de natureza
comercial:

Assume o fiador, nestes casos, a função de principal pagador.


22
Código Comercial

Art°. 101°.

Todo o fiador de obrigações mercantis, ainda que não seja comerciante, será solidário com o
respectivo afiançado.
FIANÇA

E isto porque, nos termos da lei, a fiança civil - e só esta - está


CIVIL COMERCIAL
sujeita ao princípio da subsidariedade relativamente à dívida
principal, característica justamente representada pelo referido
Princípio Princípio
da de benefício da prévia excussão.
subsidarie Solidarie
dade dade Desta forma, dos exemplos que começámos por referir, só o fiador
(benefício Belmiro Amorim podia usufruir deste direito, pois a fiança que
da prévia
prestou não é de natureza comercial.

Garantia Bancária Autónoma

CÂMARA MUNICIPAL DE NOVA CIDADE Construção dum


mercado

Pelo prazo de trinta dias, a contar do imediato ao da publicação do respectivo


anúncio no "Boletim da República"- Para a empreitada de construção do mercado
da Beira conforme condições patentes na Secção de Expediente dos Serviços
Técnicos do Município.
Base de licitação .............................................. 52 770 000,00 MT

Depósito provisório ...............................................1 320 000,00


MT

Alvará exigido: 1 Categoria e da classe que cubra o valor da proposta


apresentada. O acto público do concurso terá lugar pelas 15 horas da primeira
reunião que se seguir ao termo do prazo fixado para a entrega das propostas,
esclarecendo-se que as mesmas se efectuam às quartas-feiras de quinze em
quinze dias 10-10-1996

Depois de ter visto este anúncio, o empreiteiro José Maria Lima decide
concorrer. Estudou as condições, verificou o caderno de encargos e
elaborou a proposta, cuja idoneidade irá ser avaliada pela Câmara que
tentará seleccionar o concorrente que mais (ou melhores) garantias
oferecer, no sentido de cumprir com a obrigação que venha a assumir.
À proposta apresentada, José Lima juntou o seguinte documento:

23
Garantia Bancária n/n° 19717, perante a CÂMARA MUNICIPAL DE NOVA
CIDADE ————— O BANCO MOÇAMBICANO, Filial da BEIRA,
constitui-se pelo presente documento, garante e principal pagador de JOSÉ
LIMA, LDA, com escritórios na Avenida do Mar, 14, BEIRA, adjudicatária
da empreitada de "construção do mercado de abastecimento", no que
respeita à importância de 12 500 000,00 MT (DOZE MILHÕES E
QUINHENTOS MIL METICAIS), correspondentes à subscrição do valor
definitivo de 5% (cinco por cento) sobre o montante da citada empreitada,
responsabilizando- se pela entrega de quaisquer quantias que se tornem
necessárias, à primeira solicitação, se a adjudicatária for considerada em
falta de cumprimento do seu contrato pelo dono da obra.

A importância total desta garantia é, pois, de 12 500 000,00 MT


(DOZE MILHÕES E QUINHENTOS MIL METICAIS).

Maputo, 20 de Novembro de 1996.


BANCO MOÇAMBICANO

Ao apresentar este documento, o Sr. José Maria Lima confirma, perante a


Câmara Municipal de Nova Cidade, que o seu compromisso será garantido
por uma instituição de crédito. Ou seja, o Banco Moçambicano presta-se a
ser o garante da obrigação que, eventualmente, o Sr. José Maria Lima
venha a ter para com a Câmara.

Temos, assim, um caso particular de garantia bancária.


Garantias Bancária Autónoma – existe quando o cliente (ordenador), pede ao seu
banco (garante) para garantir o cumprimento das obrigações que assume perante um
terceiro (beneficiário).

A cláusula‖on first demand‖ou ―à primeira interpelação ou solicitação‖significa


que o banco assume a obrigação de pagar logo que o beneficiário lhe exija o
pagamento.
O banco não pode opor ao beneficiário quaisquer excepções, sejam
estas derivadas da sua relação com o cliente, sejam resultantes das
relações entre o cliente e o beneficiário. Este, por sua vez, não tem de
fazer prova do seu crédito para o ver satisfeito.
Esta cláusula não é, contudo, absoluta. Encontra-se limitada pelos
princípios da boa-fé. Existindo patente má fé do beneficiário ao
reclamar o cumprimento da obrigação garantida, o banco pode obstar

24
ao pagamento (por exemplo, se existir um documento de quitação válido
e assinado pelo beneficiário).
Estas garantias não têm, assim, natureza acessória em relação à
obrigação garantida, como acontece com a fiança.
Como o próprio nome indica, estas garantias são autónomas face à
dívida principal. Caracterizam-se pela sua independência e abstracção
relativamente ao negócio que lhes deu causa.

Este tipo de garantias é cada vez mais frequente no comércio jurídico


actual. A internacionalização da economia, o desconhecimento da
solvabilidade das entidades com quem se contrata e os elevados custos
de contencioso, acentuam este fenómeno, particularmente nos
contratos internacionais de empreitada, de cooperação industrial, etc.
A figura da garantia bancária autónoma surge ao abrigo da liberdade
* Cód. Civil,
contratual*, não se encontrando regulamentada no nosso ordenamento
art.° 405°
jurídico.

A garantia bancária enquanto operação de crédito

Embora não implicando uma saída imediata de fundos do banco, a


garantia bancária é uma operação de crédito, do chamado crédito por
assinatura.
Enquanto operação de crédito, é especialmente interessante para os
clientes, que se socorrem, assim, duma forma de crédito indirecto a
baixos custos.
Hoje em dia, as garantias bancárias utilizam-se em quase todos os
sectores da vida económica, conhecendo um impacto e incremento
especiais no que se refere às operações de comércio internacional.
Sendo uma operação de crédito, tem inerente uma série de riscos para
os quais é necessária uma atitude preventiva que envolve:

Por um lado, uma análise cuidadosa da situação financeira do


cliente e da finalidade a que se destina a garantia a prestar pelo
banco;

25
Por outro lado, a necessidade que os bancos têm de exigir aos
clientes contra-garantias:
Garantia pessoal (por exemplo, livranças subscritas com aval);
Garantia real;
Depósito bancário cativo;
Etc.

O Aval
Caracterização
Aparece-nos associado a alguns títulos de crédito.
* Lei Uniforme
Tendo com a fiança muitos pontos comuns, há quem o considere como uma
Relativa às
Letras e fiança comercial aposta nas letras, livranças e cheques.
Livranças art°
30°. Ao aval se refere a LULL*:

―O pagamento de uma letra (ou livrança) pode ser, no todo ou em parte, garantido
por aval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra ‖.

Aparece igualmente consagrado na Lei Uniforme relativa ao cheque


(LUC)*.
―O pagamento dum cheque pode ser garantido, no todo ou em parte do seu valor, por
um aval‖.

No entanto, os regimes jurídicos a que estão sujeitos são distintos,


sendo regulamentados por diferentes fontes:

No entanto, os regimes jurídicos a que estão sujeitos são distintos,


sendo regulamentados por diferentes fontes:

Garantia Fonte Jurídica

Fiança Código Comercial e Código Civil

Aval Leis Uniformes das Letras e Livranças e dos


Cheque

26
Através do aval, respondem de forma solidária pelas obrigações
emergentes do título:

Os subscritores do mesmo (devedores


principais);
A pessoa ou pessoas (singulares ou colectivas) que prestam o
aval não há aqui qualquer benefício de excussão prévia.

O val deve indicar a pessoa a quem se dá;


Na falta desda indicação considera
-se prestado:

Ao sacador Na letra
No cheque

Ao subscritor na livrança

Em paralelo ao aval cambiado - de que falámos até aqui -, foi criado o


aval prestado pelo Estado, cuja natureza jurídica é muito controversa
e que pode ser prestado em certas condições e para fins específicos:
celebração de contratos, emissão de declarações de aval pela Direcção
Geral do Tesouro, etc.

Aval bancário
Como aval especificamente prestado pelos bancos sobre letras
sacadas, aceites ou endossadas pelos seus clientes, temos ainda o aval
bancário.

Aval Bancário: Trata-se de uma operação em que um banco, como qualquer outra
pessoa singular ou colectiva, presta o seu aval em letras sacadas, aceites ou
endossadas pelos seus clientes, bem como em livranças, garantindo assim o bom
pagamento.

27
O aval bancário é sobretudo utilizado no comércio internacional,
conferindo ao banco avalista o direito a receber, como remuneração,
uma comissão de aval.

Aval do Estado
Uma última referência para a figura dos avales do Estado.

Avales do Estado: são prestados por instituições de direito público e estão sujeitos
a regulamentação própria.

Podem ser concedidos Avales do Estado:

Pela intervenção directa em contratos;


Pela emissão de declarações de aval,
autenticadas com o selo branco da Direcção Nacional do
Tesouro;
Pela assinatura de títulos representativos das operações de
crédito avalizadas.

O aval do Estado distingue-se da figura geral do aval, essencialmente,


por:

Se tratar de uma obrigação de direito público, sujeita a


autorização especial;
O Estado não se responsabilizar objectivamente pelo pagamento
da obrigação que avaliza, mas apenas pelas entidades a favor de
quem prestou o aval;
O Estado ficar a deter privilégios creditórios sobre os bens da
empresa que avaliza.

O Seguro
Contrato de seguro é o acordo nos termos do qual o segurador garante o segurado
contra os danos por este causados e pelos quais seja responsável, ficando obrigado a,
em sequência, pagar as indemnizações devidas por tais danos.

Qual o seu interesse? Que papel desempenha na actividade bancária


em matéria de garantias de crédito?
28
Os seguros exercem aqui uma função fundamentalmente de
contragarantias, ou seja, de garantias das garantias exigidas pelos
bancos.

São, com efeito, muito frequentes nas garantias reais,


designadamente, nos penhores e nas hipotecas.

No fundo, sendo certo que as garantias reais incidem sobre bens


concretos, através dos quais o credor, em caso de falta de
cumprimento, se pode fazer pagar preferentemente face aos demais, o
papel do seguro é justamente defender o valor desses bens, recebendo
o credor uma indemnização no caso do seu desaparecimento,
deterioração, morte do proprietário, etc.
E, na medida em que a realização dessa responsabilidade se faz à custa
do património pessoal e geral da seguradora, o seguro aparece aqui
como uma contra-garantia de carácter pessoal.

29
II. GARANTIAS DAS OBRIGAÇÕES - GARANTIAS REAIS
Introdução

Já vimos na Sessão anterior que as operações de crédito são,


normalmente, apoiadas por garantias que atenuam os riscos de
incumprimento, por parte dos clientes, das obrigações estabelecidas
entre eles e o banco. Desta forma, os bancos, em particular, e os
credores, em geral, adquirem um suporte económico-jurídico para a
concessão de crédito.

Já abordámos, dentro desta temática, as garantias pesssoais que


comprometem, em princípio, o património geral dos garantes.

Nesta Sessão, iremos aprofundar as disposições jurídicas inerentes às


garantias reais, que têm como consequência, a afectação de bens
concretos à satisfação dos direitos de crédito.

Dado o interesse de que se revestem para a actividade bancária, a


hipoteca e o penhor merecerão o maior destaque.
Encontrará, nesta Sessão, os seguintes tópicos:
A) Garantias Sujeitas / Não Sujeitas a Registo
B) A Hipoteca
Caracterização da Hipoteca
Espécies de Hipotecas
Contrato - Principal Fonte de Constituição
da Hipoteca
Objecto da Hipoteca
Relação entre o Credor e o Dono da Coisa
Extinção da Hipoteca
C) O Penhor
Caracterização do Penhor
30
Espécies de Penhor
Contrato de Penhor
Direitos do Credor Pignoratício Extinção
do Penhor
D) Consignação de Rendimento
Objectivo
final desta Sessão, você deverá estar apto a:
Reconhecer e discriminar as características jurídicas
preponderantes das garantias reais, nomeadamente da hipoteca
e do penhor;
Avaliar as implicações, relativamente à satisfação dos créditos,
das garantias reais.

31
A) Garantias Sujeitas/não Sujeitas a Registo

Garantias Sujeitas a Registo


De entre as garantias reais, algumas há que, pela
natureza dos bens envolvidos, estão sujeitas a registo
público.
De entre as garantias reais sujeitas a registo,
salientamos:
A hipoteca - a mais importante;
A consignação de rendimentos - muito pouco utilizada na
prática.

Para além dos imóveis e certos direitos a eles inerentes - que são
susceptíveis de hipoteca e registáveis -, a lei entende dever rodear
também certos móveis de um regime de publicidade através de registo,
a fim de lhes conferir maior segurança jurídica no seu comércio: são os
móveis sujeitos a registo ou equiparados, para certos efeitos, aos
imóveis.

Por exemplo, é o que acontece com os navios, que podem ser objecto de
hipoteca, registada na Conservatória do Registo Comercial competente. O
mesmo se passa com as aeronaves e os veículos, também elas susceptíveis de
serem hipotecadas e registáveis.

Garantias não Sujeitas a Registo


As restantes garantias reais, cuja figura central é
indiscutivelmente o penhor, não estão sujeitas a quaisquer
formalidades em matéria de registo.
32
Na verdade, a publicidade - e a produção dos correpondentes efeitos – do
penhor deriva, em regra, da tradição do bem dele objecto, ou de
documento que confira a sua exclusiva disponibilidade.

Refira-se, porém, que o penhor está sujeito, na actividade bancária, a


um regime legal que lhe confere uma posição mais favorável. Trata-se
de um aspecto que mais detalhadamente desenvolveremos quando, mais
adiante, falarmos do penhor.

B) A Hipoteca
Quando um banco concede um empréstimo, sobretudo se for de um
montante elevado e liquidável a médio ou longo prazo, exige,
frequentemente, a hipoteca de um bem cujo valor possa cobrir a dívida
em causa.

Desta forma, o banco reduz o risco inerente à concessão do crédito,


precavendo-se do ponto de vista económico e jurídico.
Vejamos, então, alguns dos aspectos mais relevantes que decorrem das
características deste tipo de garantia real.

Caracterização da Hipoteca
De entre as características da hipoteca, comecemos por considerar as
seguintes:
Sendo uma garantia, a hipoteca é um direito acessório, uma vez
que acompanha sempre a obrigação garantida.
Consequentemente, é um direito distinto do crédito a que está
adstrito, mas subordina-se-lhe funcionalmente enquanto se
destina a assegurar a sua finalidade.

A sua "sobrevivência" estará, pois, dependente da obrigação em


questão, extinguindo-se com a extinção desta.

Sendo uma garantia real, implica a afectação de uma coisa ou


bem (por exemplo, um prédio) à garantia de pagamento de uma
dívida. Dizendo de outra forma, caso o devedor não cumpra, o
credor tem direito a ser pago pelo valor do bem hipotecado.
Acrescente-se, por outro lado, que, caso o devedor venda o bem,
33
a garantia segue-o, pelo que, quem o comprar, o adquire com o
ónus - a hipoteca sobre ele incidente - e, mais tarde ou mais
cedo, terá de se haver com o credor hipotecário.

A hipoteca atribui ao credor um direito de preferência sobre os


credores que não gozem de privilégio especial ou de prioridade
de registo.

O bem hipotecado não sai da posse do seu proprietário.

Quanto à natureza, o bem hipotecado tem de ser sempre uma


coisa concreta, que seja imóvel (ou direitos a ele inerentes) ou
equiparada (móvel sujeito a registo).

Quanto à propriedade ou titularidade, o bem que é afectado à


garantia tanto pode ser do devedor, como de um terceiro.

Temos, assim, duas situações possíveis, sendo a primeira a mais


frequente:
Mafalda Campos adquire um imóvel que foi dado em garantia como
primeira hipoteca ao Banco Moçambicano, em concomitância com o
empréstimo contraído. Estabeleceu assim a seguinte relação
obrigactonal:

Contrato de
empréstimo
DEVEDOR CREDOR
Prest ação

Banco
Mafalda Moçambique
Contrato de
hipoteca

José Maria Lisboa solicita ao Banco Moderno um empréstimo para


um empreendimento que pretende realizar. O banco exige, no
entanto, a hipoteca de um bem.

34
Atendendo a que José Maria não era titular, até ao momento, de nenhum
bem imóvel ou equiparado, o seu padrinho, Salvador Mendonça, oferece-se
para dar como hipoteca um pequeno terreno que possuía em Vale Belo.

Assim, estabeleceram-se as seguintes relações obrigacionais:

* Pode
verificarse, aqui,
algum contrato
que, todavia, não
diz respeito ao
banco

Resumindo:

* Art.° 686°, A hipoteca é uma garantia real que confere ao credor o direito de ser pago pelo
n° 1, do
valor de certas coisas imóveis, ou equiparadas, pertencentes ao devedor ou a
Çódigo Civil.
terceiro, com preferência sobre os demais credores que não gozam de privilégio
especial ou de prioridade de registo*.

Espécies de Hipoteca
Na lei, estão previstos diferentes tipos de hipoteca, sendo os mais
frequentes na actividade bancária, os que resultam da vontade das
partes, ou seja, os que se constituem por contrato - hipotecas
convencionais.

O Código Civil reconhece três espécies de hipotecas

Legais
HIPOTECAS Judiciais
Voluntárias

35
* Art° HIPOTECAS CARACTERÍSTICAS GERAIS
710° n° 1
do Código Legais Decorrem imediatamente da lei, sem
Civil
dependência da vontade das partes; Podem
constituir-se desde que exista a obrigação a
que servem de garantia; Constituem-se por
registo.
Judiciais Decorrem e constituem-se através duma
sentença de condenação do devedor, que
fica obrigado à realização de uma
prestação em dinheiro ou outra coisa
fungível*;
Voluntárias Decorrem da declaração unilateral;

Constituídas por actos unilateral Constituem-se por escritura pública


ou por testamento (quando a garantia incide
Constituídas por contrato sobre bens deixados a herdeiros);
(hipotecas convencionais) Decorrem do contrato celebrado
entre o credor e quem tiver
legitimidade para constituir garantia sobre os
respectivos bens (devedor ou terceiros).

Contrato - Principal Fonte de Constituição de Hipoteca


Já aqui foi referido que as hipotecas convencionais são a espécie mais
frequente de garantir o cumprimento de obrigações jurídicas,
nomeadamente, nas concessões de crédito.
Vejamos, agora, alguns dos requisitos inerentes ao contrato de
hipoteca, respeitantes a dois aspectos:

Sujeitos do contrato
de hipoteca;
Formalidades exigidas.

Sujeitos do contrato de hipoteca

Num contrato de hipoteca, participam como sujeitos:


O credor da obrigação garantida;
O devedor ou um terceiro
Contrato d e hipoteca

Credor prestação
Devedor
33

Contrato de empréstimo

No entanto, num contrato de hipoteca existem determinadas


condições que deverão ser respeitadas:

Para poder hipotecar, devedores ou terceiros deverão possuir


legitimidade para tal, o que significa terem capacidade para
alienar os respectivos bens. Consequentemente, a hipoteca só
poderá ser constituída pelo proprietário ou titular dos bens e,
ainda, por qualquer pessoa a quem a lei atribua poderes de
disposição.
Num casal, a constituição de hipoteca sobre bens imóveis,
próprios ou comuns, carece de consentimento de ambos os
cônjuges, salvo se, entre eles, vigorar o regime de separação de
bens.

Formalidades exigidas
Existem dois tipos de requisitos formais que devem ser cumpridos
para que o contrato de hipoteca se torne válido e eficaz.

37
TIPOS DE QUAIS S ÃO?
REQUISITOS FORMAIS
Escritura pública quando se trata deóveis
im
Requisitos de Validade
Documento particular quando a hipoteca
incida sobre bensóveis
m sujeitos a registo

Requisitos de Efic
ácia Registo

Deverão constar de escritura pública ou de documento particular os


seguintes actos, respeitantes ao contrato de hipoteca:

Constituição;
Modificações;
Renúncia.

DÉCIMO CARTÓRIO NOTARIAL DE NOVA CIDADE

Eu, abaixo assinado, Ajudante do 10° Cartório Notarial de Nova Cidade.

CERTIFICO

UM—Que a fotocópia apensa a esta certidão esfá conforme o original.

DOIS - Que foi extraída neste cartório da escritura lavrada de folhasenta,


oit a
oitenta e duas, do livro DUZENTOS E VINTE E UM- B, de escrituras diversas
deste cartório e documento complementar elaborado nos termos do número dois, do
artigo setenta e oito, do Código do Notariado.

…/…

…/…
CONTRATO DE COMPRA E VENDA COM HIPOTECA

No dia 7 de Setembro de mil novec entos e noventa e dois, perante mim, Moisés
Santos Mateus, notário do Décimo Cartório Notarial de Maputo, compareceram
como outorgantes:

…/…

Extracto de uma fotocópia autenticada de uma escritura constitutiva de um contrato de


hipoteca, associado a um contrato de compra e venda.

Acresce que a hipoteca está sujeita a uma formalidade decisiva para os


credores hipotecários:
O registo.

Na verdade, tal acto é uma condição "sine qua non" para a hipoteca ser
eficaz, não só perante terceiros, mas mesmo em relação às próprias
partes.

38
É o que nos diz o Código Civil:

Código Civil

Art° 687°
"A hipoteca deve ser registada sob pena de não produzir efeitos mesmo em
relação às partes".

Ou seja, o acto constitutivo da hipoteca é válido desde que praticado


pela forma legalmente exigida, mas, se não for registado, é ineficaz
perante quaisquer pessoas.

O registo, no entanto, pode ser feito a todo o tempo, produzindo


efeitos depois da data do registo definitivo.

Conferindo a hipoteca um direito preferencial ao credor hipotecário


em situação de concurso de credores e caso um bem seja onerado com
várias hipotecas, como se hierarquiza tal direito se todas as
hipotecas constituídas tiverem sido registadas?
A hierarquização é feita tendo como base a prioridade do registo.
Logo, a ordem de preferência entre os diversos credores hipotecários
estabelece-se segundo a ordem cronológica dos registos, mesmo que
essa ordem não corresponda na realidade à da constituição das
garantias expressa na data das escrituras, ou dos documentos
particulares que as formalizem.

É que o direito inscrito em primeiro lugar prevalece sobre os que lhe


seguirem relativamente aos mesmos bens, por ordem da data dos
registos.

O registo da hipoteca deve, para ser acolhido, reunir os dois


seguintes requisitos:

O fundamento da hipoteca;
O montante máximo do crédito
assegurado e o montante dos seus acessórios.

39
Objectivo da Hipoteca

ALEI IMPÕE: A LEI PROÍBE:

Que a hipoteca incida sobre um bem Hipotecas gerais que incidam sobre a
concreto e específico do devedor globalidade dos bens do devedor
ou de terceiros*.
Que a hipoteca tenha como objecto
os bens imóveis e alguns direitos a
eles inerentes e ainda alguns móveis
* Art° 716° que, por lei, estão sujeitos a
do Código Civil registo.
De entre os objectos passíveis de hipoteca, destacam-se, no domínio da
constituição de garantias do crédito bancário, as hipotecas que incidam
sobre:

Prédios rústicos e urbanos;


Partes autónomas de um prédio -
andares em propriedade horizontal;
Coisas móveis equiparadas às imóveis ou sujeitos a registo, como,
por exemplo, navios de grande calado, automóveis, aviões.

Assim:

PODEM SER OBJECTO DE HIPOTECA:

Coisa Móveis Coisas Imóveis ou direitos a


sujeitas a registo elas inerentes
– equiparadas a
imóveis

Automóveis Prédios rústicos


Navio de Prédio surbanos e fracções
grande calado) autónomas de prédios em
Aeronaves propriedade horizontal
Direito de superfície
Usufruto (de imóveis ou
movies sujeitos a registo)

40
Coisas imóveis: são a terra e as coisas a ela ligadas materialmente com carácter de
permanência, incluindo as águas e os direitos sobre imóveis.

Coisas móveis: tudo o que não se integra nos imóveis, nomeadamente, os corpóreas
que são susceptíveis de deslocação de um lugar para o outro, quer se movam por si ou
não.

Prédios rústicos: uma parte delimitada do solo e as construções nele existente que
não tenham autonomia económica.

Prédios urbanos: qualquer edificío incorporado no solo com os terrenos que lhe
sirviam de logradouro.

Direito de superficíe: direito de ter a propriedade de edifícios ou plantações feitos


em terrenos alheio com autorização ou consentimento do proprietário deste.

Usufruto (de imóveis ou móveis sujeitos a registo): direito de gozar


temporariamente e plenamente uma coisa ou direito alheio, sem alterar a sua forma
ou substância – o proprietário da coisa diz-se proprietário de raiz ou no proprietário.

Relação entre o Credor e o Dono da Coisa


A hipoteca sujeita directa e imediatamente os bens sobre os quais
recai, ao cumprimento da obrigação a que serve de garantia,
independentemente do dono da coisa do direito hipotecado.
Constitui, por isso, um direito real do credor.

Assim, caso o devedor não cumpra a obrigação garantida pela hipoteca


de um determinado bem, o credor tem de instaurar o processo de
execução, que constitui o único meio para tornar efectivo o seu direito,
requerendo, em posição privilegiada, a venda do mesmo bem.

41
Devedor Credor

Incumprimento Processo de execução

Penhora do bem

Registo da penhora

venda

Até * Art° 700°


se efectuar a penhora do bem hipotecado, a sua administração continua a
do Código Civil pertencer ao respectivo dono. Depois, a administração passará para o
e 843° do
Código do depositário judicial - um terceiro, em regra*.
Processo Civil.
O dono dos bens hipotecados não fica inibido de os hipotecar de novo desde
que o novo credor aceite tal situação; neste caso, extinta uma das hipotecas, ficam os bens
a garantir, na sua totalidade, as restantes dívidas.
Por sua vez, o credor tem o direito de exigir a substituição ou o
reforço dá hipoteca, no caso de a garantia se tornar insuficiente para a
segurança da obrigação.

Extinção da Hipoteca

*Art° 730° CAUSAS DA EXTINÇÃO DA HIPOTECA*


do Código
Extinção da obrigação garantida;
Civil.
Prescrição a favor de terceiro adquirente do prédio;
Renúncia do credor;
Perecimento da coisa hipotecada quando for total, porque, se for parcial, a
hipoteca mantém-se em relação à parte existente (de reduzido interesse
prático).

Extinção da obrigação garantida


Sendo a hipoteca um direito acessório, não pode subsistir, como é
óbvio, sem a obrigação principal, pelo que a extinção da obrigação
garantida produz a extinção da hipoteca.
Assim, o credor hipotecário, quando estiver extinta a obrigação
principal, procede ao chamado termo de cancelamento de hipoteca,
feito por documento particular, autenticado notarialmente.
42
…/…

DECLARAÇÃO

Fabridoce - Doces Regionais, Lda., sociedade comercial por quotas com sede na Estrada da Via
Sul 124-A em Nova Cidade, legalmente representada pelos sócios-gerentes DANIEL DE
MATOS e FERNANDO ANTUNES PINHEIRO, declara autorizar o cancelamento total da
inscrição hipotecária n° 25873 a fls. 181 V° do Livro C-52 da 3ª Conservatória do Registo
Predial da Nova Cidade que recai sobre a fracção autónoma designada pela letra "H-3" e que
corresponde ao 7° andar-A (frente) do prédio urbano sito na Rua Alfredo Freitas, n°s 8, 8-A,
8-C e 8-D e Rua Gregório Só n° 4, freguesia de S. Maurício, em Nova Cidade, descrito sob o n°
28463 a fls. 82 do livro B-01 da referida Conservatória.

…/…

TERMO DE AUTENTICAÇÃO

No dia dezasseis de Dezembro de Primeiro Cartório Notarial de Nova Cidade pemil novec …/…
rante mim, Lucinda Alcides Azevedo,entos e noventa e um, no Vigésimo

Terceira Ajudante, compareceram como outorgantes:

os quais, para fins de autenticação, me apresentaram o pre.sente documento que


declararam haver lido e assinado e que o mesmo exprime a vontade da sociedade sua
representada.
Extracto de um documento particular para …/… fins de cancelamento de hipoteca

Extrato de um documento particular para ffins de cancelamento de hipoteca

Prescrição a favor de terceiro adquirente do prédio

A Prescrição:consiste na faculdade de uma parte se opor a que outra exerça um


direito se este não estiver exercido durante o prazo fixado pela lei.

Este prazo é, em geral de:

Vinte anos, sobre o


registo de aquisição e;
Cinco anos sobre o vencimento da obrigação.

Se ultrapassado este prazo, a prescrição pode ser invocada a favor de


um terceiro que tenha adquirido um prédio hipotecado, constituindo,
assim, causa directa da extinção da obrigação estabelecida.

43
Renúncia do credor

Nada obsta a que o credor renuncie aos seus direitos de crédito,


designadamente os que decorrem da garantia real fornecida pelo
devedor. Neste caso, dá-se a extinção da hipoteca que havia sido
contraída.

REQUISITOS DA RENÚNCIA

Ser "expressa"

Ser sujeita aos requisitos formais escritura pública

ou; exigidos para a constituição da hipoteca:


documento particular escrito.

Como nota final, refira-se que, após a extinção da hipoteca, deverá


promover-se o cancelamento do registo da mesma, na respectiva
Conservatória do Registo Predial.

C) O Penhor

O penhor é uma garantia muito frequente nos créditos concedidos


pelas instituições de crédito.
O motivo residirá em algumas vantagens proporcionadas pela fortuna
mobiliária, cujos elementos são passíveis de ser empenhados. Estes
bens caracterizam-se, em geral, pela sua fácil circulação e/ou
alienação, o que permite responder à sempre desejada liquidez das
operações de crédito bancário.

Para além disso, constitui factor de peso para a sua intensiva utilização
a variedade de bens que dela podem ser susceptíveis, aliada à
facilidade de adaptação que oferece aos múltiplos negócios carecidos
de crédito.

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Caracterização do Penhor
O penhor, enquanto garantia real, partilha com a hipoteca algumas
características, designadamente:
É um direito acessório do crédito, cuja finalidade visa
assegurar;
Atribu i ao credor um direito de preferência;
Implica a afectação de um bem, pertencente ao devedor ou a

terceiros, à garantia de pagamento duma dívida. No entanto, apresenta

características que, desde logo, o distinguem da


Bens dados em

permanece não
m na posse permanece
do m na p osse
devedor do devedor

penhorhipoteca, entre
outras:

O bem afectado terá de ser:


- uma coisa móvel;
- créditos; não susceptíveis
de hipoteca;
- outros direitos.

Dependendo da sua natureza comercial ou civil, os objectos


Penhor Penhor Civil Comercial dados em
penhor permanecem ou não na posse do devedor.

* Art° 666, n° 1,
do Código Civil.

O penhor é uma garantia real que ―cofere ao credor o direito à satisfação do seu
crédito e dos juros, se os houver, com preferência sobre os demais credores, pelo
valor de certa coisa móvel, ou pelo valor de créditos ou outros direitos não
susceptíveis de hopoteca, pertencentes ao devedor ou a terceiros*.

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Trata-se, como se vê, de uma garantia real, que se caracteriza pela
afectação ao cumprimento de uma obrigação de uma coisa do devedor
ou de terceiro, .que pode ser relativa a bens móveis, créditos ou outros
direitos não susceptíveis de hipoteca.

Que coisa?
Tudo aquilo que tenha valor, não seja passível de hipoteca e o credor
aceite em garantia. Mas alguns bens são alvos privilegiados desta
garantia, como, por exemplo:

Mercadorias várias - gado, vinho,


cereais, maquinaria, etc;
Títulos de crédito;
Pedras e metais preciosos;

Depósitos em dinheiro;
Quotas de sociedades; Etc.

Como se vê, trata-se de coisas que, na generalidade, são susceptíveis


de fácil e simples alienação, facilitando assim a necessária liquidez
das operações de crédito bancário.

Este facto, associado à grande proliferação das coisas móveis - muito


mais vincada, por razões óbvias, do que a das imóveis - torna o penhor
difundido.

O penhor, como se infere do preceito legal transcrito, atribui ao


credor um direito de preferência sobre os demais credores, pelo
valor dos bens empenhados.

Espécies de Penhor
O penhor pode ser classificado de acordo com dois critérios:
Regime jurídico que determine a sua regulamentação;
Objecto sobre o qual incide.

Desta forma, podem considerar-se as seguintes espécies de penhor:

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Penhor civil;
Penhor comercial;
Penhor de coisas;
Penhor de direitos

PENHOR

Objectivo Natureza

Coisas Civil
Direitos Comercial

ESPÉCIE DE
PENHOR DEFINIÇÃO EXEMPLO

Penhor civil Procede de acto não Empréstimos


comercial caucionados nas casas
Quanto ao regime
de penhor
jurídico
Penhor comercial É aquele cuja dívida que O penhor dado em
(ou mercantil) se cauciona procede de garantia de créditos
acto bancários

Penhor de Incide sobre bens Penhor de


coisas corpóreos mercadorias
Quanto ao
objectivo Penhor de direitos Tem como objecto bens Penhor sobre
incíbr- Títulos de crédito

incorpóreos
Quanto ao regime jurídico
* Art°
O 666° e regime geral do penhor consta do Código Civil*.
seguintes

No entanto, como já deve ter apreendido, a regulamentação do penhor


bancário caberá ao Direito Comercial, na medida em que é dado como garantia em créditos
bancários, ou seja, em operações comerciais.

É, aliás, o Código Comercial que contém disposições relativas ao penhor


de títulos de crédito, já que o Código Civil se refere, apenas e
genericamente, ao penhor de direitos.

* Art° 680° do Quanto ao objecto


Código Civil.

47
A Lei* prescreve algumas limitações, nomeadamente no que se refere ao
* Estão excluídos os
penhor de direitos. Só poderão ser objecto de penhor os direitos que:
móveis que sejam
equiparados a Tenham por objecto coisas móveis* e
imóveis, já que estes
Sejam susceptíveis de transmissão.
são susceptíveis de
hipoteca;
logo.não são
passíveis de penhor.

Contrato de Penhor
Tal como já foi referido em relação à hipoteca, também o penhor se
reveste do estatuto de garantia convencional, uma vez que a sua
constituição é feita mediante a celebração de um contrato.

Vejamos, então, os requisitos que dizem respeito a:


Sujeitos do
contrato de penhor;
Formalidades de constituição exigidas.

Sujeitos do contrato de penhor


À semelhança da hipoteca, o contrato de penhor é celebrado entre o
credor da obrigação garantida e o devedor .ou terceiro.

Contrato de penhor

Contrato de empréstimo
Credor Devedor Terceiro

Como condição, impõe-se que o devedor ou terceiro possuam:


LEGITIMIDADE OU PODER PARA ALIENAR OS BENS:
Ser o titular ou proprietário dos bens ou;
Ter poderes de disposição sobre os bens a empenhar.

Formalidades de constituição exigidas

Existem diferentes requisitos de constituição, conforme a espécie de


penhor que estiver em questão. Desta forma, iremos considerar:

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Penhor mercantil de P
e coisas; Penhor de n
hor civil de coisas; Penhor direitos.
de coisas:

Penhor civil de coisas


A Srª D. Catarina Sousa, num momento de grande dificuldade financeira,
decide obter um empréstimo, caucionado com um cordão de ouro que tinha
adquirido quando jovem. Dirigiu-se, então, a uma casa de penhores, onde,
depois de o Sr. Matos Leal ter avaliado o cordão, o entrega recebendo, por
sua vez, a título de empréstimo com um dado vencimento, o dinheiro de que
necessitava.

Para que este contrato se tornasse válido foi necessário que a Srª D.
Catarina Sousa entregasse a coisa empenhada.

Neste caso, pode dizer-se que:


No penhor civil de coisas, a entrega da coisa empenhada ao credor
ou a terceiro é uma formalidade necessária para a constituição do
contrato do penhor.

Esta posse da coisa empenhada pelo credor tem como objectivo dar
publicidade ao penhor, sem a qual terceiros podem ser injustamente
prejudicados. Para além disso, a entrega serve de segurança ao credor,
que se defende contra o extravio do penhor, tornando mais sólido o seu
crédito.
Se a Srª D. Catarina Sousa não pagar no vencimento, a casa de
penhores pode, verificados certos requisitos, proceder à venda em
leilão do cordão de ouro.

Se, no entanto, pagar no vencimento, ou antes, o capital mutuado e os


juros, a Srª D. Catarina resgatará o seu cordão.
No campo do Direito Civil, o penhor civil não tem uma aplicação prática
tão grande como outras garantias, designadamente a hipoteca. Na área
comercial, contudo, assume grande relevância, sendo muitas as
modalidades de penhor objecto de regulamentação especial.

Penhor mercantil de coisas

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O Sr. António Roma, agricultor em Vila Nova, decidira, há dois anos,
alargar a sua actividade aproveitando as potencialidades do terreno que
possuía. Começou, então, a dedicar-se à criação de minhocas para a
produção de húmus. No entanto, devido a alguns imprevistos, o Sr. António
Jica com certas dificuldades em solver as suas dívidas imediatas.
Dirigiu-se, então, ao Banco Moçambicano, afim de solicitar um
financiamento a curtoprazo. O banco concede o empréstimo e, como
garantia, exige o penhor de dez leiras de minhocas do Sr. António.

Como é de prever, neste caso a constituição do contrato de penhor não


implica a entrega dos bens empenhados ao credor, não só por motivos
de ordem prática e logística (um banco não tem propriamente
estruturas físicas capazes de armazenar este tipo de bens
empenhados), mas também porque se trata de bens imprescindíveis
para que o devedor prossiga com a sua actividade.

São exemplos de contratos de penhor nestas situações:


O crédito caucionado pelo penhor de matérias-primas ou de
produtos à espera de venda, em que as necessidades de
armazenamento e transporte desses produtos torna inviável ou
muito difícil a sua entrega ao credor;
O penhor que incida sobre os próprios instrumentos de produção,
pois a entrega destes impossibilitaria o devedor de continuar a
sua actividade, o que se tornaria inconveniente para o credor.

Assim, de um modo geral, o princípio que vigora estabelece que:

Decreto-Lei n° 29833, de 17 de Agosto de 1939

Art° 1°

O penhor que for constituído em garantia de créditos de estabelecimentos bancários


autorizados produzirá os seus efeitos, quer entre as partes, quer em relação a terceiros,
sem necessidade de o dono do objecto empenhado fazer entrega dele ao credor ou a
outrem."
Mas se o credor não tiver na sua posse os bens caucionado"s, não
correrão os seus direitos o risco de não virem a ser garantidos?

Mantendo-se as letras de minhocas na posse do Sr. António Roma, não


correria o Banco Moçambicano o risco de este vender parte delas ou, de
50
alguma outra forma, reduzir o seu valor real, impedindo que o credor
pudesse garantir os seus créditos através daquele bem?
Supondo que o Sr. António se deixa "tentar" por aquele tipo de actos,
ficará sujeito a sanções penais. Porquê?

Porque, de acordo com o que está legalmente previsto, estando perante


o penhor na actividade bancária e ficando o objecto empenhado em
poder do dono, este será considerado possuidor em nome alheio
sendo-lhe impostas as penas de furto, se cometer os seguintes actos:

Alienar;
Modificar;
Destruir;
Desencaminhar o objecto sem
autorização escrita do credor;
Empenhar novamente o bem sem que, no novo contrato, se mencione a
* Direito garantido existência do penhor ou penhores anteriores, sobre os quais recai a
pelo penhor, que
consiste em ser o prioridade cronológica.
credor pago através
da coisa empenhada
para ressarcimento
do valor do crédito.
É que o penhor utilizado na actividade bancária aparece-nos
O credor enquadrado por um regime especial, segundo o qual se permite:
pignoratício, embora
não sendo o A dispensa da entrega da coisa empenhada nos penhores para
proprietário dos
garantia de crédito concedido por estabelecimentos bancários
bens, tem
legitimidade para, autorizados.
em caso de
incumprimento, os Para obviar à entrega material do bem sem prejudicar a desejável
vender.
segurança jurídica dos direitos do credor, estabeleceu-se uma forma
de garantia dos seus direitos através da aplicação de sanções penais.

Desta forma, a sanção penal* surge como um instrumento legal ao


serviço do interesse do credor pignoratício, visando garantir os seus
direitos, uma vez que não existe entrega material ou simbólica da coisa
empenhada

Quando se trata de um objecto pertencente a uma pessoa colectiva, as


penas de furto, face aos mesmos actos, aplicar-se-ão àqueles que
estiverem incumbidos da administração.

51
No entanto, apesar de o penhor mercantil de coisas não depender, para
a sua validade, de nenhuma forma especial, está prevista na lei a
possibilidade de o contrato de penhor constar de documento autêntico
ou documento autenticado, conforme as obrigações subjacentes sejam
formalizadas.

* Este tipo deDocumentos autêntico*: é o documento, com as formalidades legais, por autoridades
document é,públicas, nos limites da sua competência, ou por notário ou outro oficial, dentro do
no entanto,
círculo de actividade que lhe é atribuído*. Um exemplo: escritura pública.
mais frequente
nos contraltos
de hipoteca do
que nos de
penhor.
Documento autenticado: é o documento particular confirmado pelas partes perante
* Art° 363°,
n°3, do Código notário, nos termos prescritos nas leis notariais*.
Civil.

…/…

CONTRATO DE PENHOR MERCANTIL

Para garantir ao BANCO o integral pagamento de todas e quaisquer dívidas e


responsabilidades que a CLIENTE tenha ou venha a ter perante aquele, até ao limite, em
capital, de SETE MIL SETECENTOS E CINQUENTA CONTOS, dos juros contados à taxa
de 21,25% ao ano, e correspondentes encargos fiscais e das despesas judiciais e
extrajudiciais de cobrança, nomeadamente as contas de honorários de advogado e
solicitador que o BANCO haja de fazer para reaver o seu crédito, a CLIENTE.constitui a
favor do BANCO, penhor mercantil sobre o equipamento a seguir indicado, que se encontra
instalado na sede da mesma, acima referida:

…/…
…/…
TERMO DE AUTENTICAÇÃO

Verifiquei a identidade dos signatários por conhecimento pessoal e que, para fim
de autenticação, me apresentaram o presente documento, que declararam haver
lido e assinado e que ele exprime a vontade dos seus representados.

…/…

Extracto de um contrato de penhor mercantil formalizado por documento


particular

Penhor de direitos

O Dr. Martins Castro, economista da Munditerras, SARL, ao contrair um


empréstimo por um ano junto do Banco Moderno, oferece como caução o
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penhor de 200 acções ao portador da Miroma, SARL. O banco, no entanto,
exigiu ainda que as acções fiçassem depositadas na sua Casa Forte de
Títulos.

A Marimar Lda., por sua vez, em concomitância com um contrato de


empréstimo estabelecido com o Banco Moçambicano, cauciona como penhor
a quota de .150 contos que detém na Lima & Pereira, Lda. Este contrato de
penhor foi celebrado por escritura pública e posteriormente registado na
Conservatória do Registo Comercial.

Estes dois exemplos ilustram a constituição de dois penhores .de


direitos. Estamos perante direitos, que têm por objecto coisas móveis
e são susceptíveis de transmissão, como no-lo impõe a lei.

No caso do Sr. Dr. Martins Castro, o comportamento do Banco


Moderno revela que o regime do penhor de títulos ao portador se
aproxima do regime do penhor de coisas. O banco adoptou a medida que
lhe proporcionava maior segurança, já que, sendo as acções títulos
facilmente transmissíveis, o depósito no banco garantia, à partida, que
esses bens não seriam alienados.

O caso da Marimar, Lda. ilustra uma regra importante na constituição


do penhor de direitos, ou seja:

*Art° 681°, "A constituição do penhor de direitos está sujeita à forma de publicidade exigida para a
n° 1, do transmissão dos direitos empenhados*."
Código Civil.

Daí que o penhor da quota que a Marimar possui tenha sido submetido
aos requisitos a que obedeceria a transmissão duma quota noutras
situações, isto é, através de escritura pública.

Direitos do Credor Pignoratício

53
Segundo o n° 3 do art°
216° do Código Civil: O CREDOR TEM O DIREITO DE:
Benfeitorias necessárias:
"As que têm por fim Verificar, sempre que queira, o estado do bem empenhado;
evitar a perda,
Ser indemnizado das benfeitorias necessárias e de levantar as úteis* caso seja possível,
destruição ou
ou, em alternativa, ser indemnizado;
deterioração da coisa".
Benfeitorias úteis: "As Exigir a substituição ou reforço do penhor, ou o cumprimento imediato da obrigação se a
que não sendo coisa empenhada perecer ou se tornar insuficiente para segurança da dívida*;
indispensáveis para a sua Reclamar judicialmente a venda antecipada do bem empenhado com base em justo receio
conservação, lhe
aumentam, todavia, o
de que este se perca ou se deteriore;
valor". Execução do penhorse, vencida a obrigação, o devedor não cumprir, adquirindo o credor o
direito de se pagar pelo produto da venda judicial*, podendo ser feita extrajudicialmente
Assim, se um agricultor se as partes o tiverem convencionado.
desse como penhor as
vacas que possui e estas
morressem, o credor
poderia exigir outro As partes podem ainda convencionar que o bem empenhado seja
penhor — por exemplo,
de alfaias agrícolas -
adjudicado ao credor pelo valor que, após pedido nesse sentido, o tribunal
ou, caso o devedor se fixar - é a adjudicação do penhor.
recusasse a prestar
outras garantias, exigir
de imediato o pagamento
da dívida.

Trata-se de um processo
especial previsto e
regulado no Código de
Processo Civil, " a venda
de penhor mercantil".

Extinção do Penhor

CAUSAS DE EXTINÇÃO DO PENHOR


Restituição da coisa empenhada ou de documento que confira a exclusiva disponibilidade
quando a entrega do documento tenha substituído a coisa empenhada;
Extinção da obrigação a que serve de garantia, dada a acessoriedade de que esta se
reveste;
Perecimento da coisa empenhada; Renúncia
do credor.

D) Consignação de Rendimentos
O Sr. Joaquim Guedes pretende obter um financiamento do Banco Moderno
para o que dá, como garantia do empréstimo, os rendimentos de um imóvel
que ele tem arrendado e que, desta forma, ficarão consignados ao
cumprimento da obrigação.

Estamos, assim, perante um outro tipo de garantia real, a consignação


de rendimentos, que consiste basicamente no seguinte:

Consignação de rendimentos: consiste na atribuição ao credor, como garantia no


cumprimento de certa obrigação, dos rendimentos de certos bens imóveis ou móveis
sujeitos a registo.

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Principais características da consignação de rendimentos
A consignação de rendimentos pode assumir mais do que uma
modalidade, designadamente:
- cumprimento da obrigação;
- cumprimento da obrigação e respectivos juros;
Faz-se, ou por um número limitado de anos, que no caso de
imóveis não pode exceder os 15 anos, ou até ao pagamento
integral da dívida garantida;
Só tem legitimidade p ara constituir a consignação quem puder
dispor dos rendimentos consignados.
Em regra:
- Consta de escritura pública, se se tratar de rendimentos de
imóveis.
- Consta de documento particular, se se tratar de
rendimentos de móveis.
Está sujeita a registo na Conservatória do Registo Predial, no
caso de rendimentos de imóveis, ou noutras entidades, no caso
de rendimentos de móveis.

III) Operações Bancárias


Operações Bancárias - Noção
O José Cossa e a Isabel estão a participar na Sessão de Apoio do curso de
Direito Bancário.
O advogado Rogério Alves é o técnico que está a apoiar a Sessão.
Rogério Alves, para diagnosticar eventuais dúvidas que os participantes
pudessem ter, apresentou-lhes o exercício seguinte:

1. Quais das operações seguintes são operações bancárias?


A. Um contrato de arrendamento de um prédio realizado pelo Banco
Moçambicano para residência de um gerente.
B. Uma concessão de crédito, através de empréstimo, do Banco
Moçambicano à empresa Ftnancer, SARL.
55
C. A compra de uma nova central telefónica para o Banco Moçambicano.
D. O pagamento efectuado pelo Banco Moçambicano, em numerário, a
um artista plástico pela escultura construída para a sua sede.

A Isabel e o José Cossa seleccionaram a alínea B do exercício.

Vejamos se eles escolheram a opção correcta.


Como você sabe, no dia-a-dia das instituições de crédito são
efectuadas numerosas e variadas operações bancárias.
Daí que não seja fácil encontrar uma definição que permita conjugar
todas as operações.

No entanto, se estiver recordado da Sessão 1, terá presente que, no


Código Comercial, as operações bancárias surgem como operações
comerciais.

Operações bancárias: são todas as operações de bancos tendentes à realização de


lucros sobre numerário, fundos públicos ou títulos negociávies e, em especial, as de
c6ambio, empréstimos, descontos, cobranças, aberturad de crédito, emissão e
circulação de notas ou títulos fiduciários pagáveis à vista ou ao portador.

De um modo geral, podemos considerar como operação bancária:

―Toda a operação de carácter económico que é efectuada por uma instituição de


crédito no exercício da actividade bancária, segundo técnicas específicas ‖.

Neste momento, já estamos em condições de avaliar a escolha da


Isabel e do José Novais. Com efeito, eles seleccionaram a opção
correcta; só a alínea B do exercício corresponde a uma operação
bancária:
"Concessão de crédito, através de empréstimo, do Banco Moçambicano à
empresa Financer, SARL"

De entre as operações apresentadas no exercício, esta é a única que


corresponde a uma operação efectuada por instituições de crédito, que
são sociedades comerciais, com vista à obtenção de lucro (neste caso,
sobre numerário) no exercício da sua actividade, que é a actividade
bancária.

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Todas as outras alíneas representam operações que o Banco
Moçambicano efectuou, mas no âmbito da sua gestão empresarial.

Portanto, qualquer definição terá sempre de reflectir as


particularidades e o enquadramento das operações bancárias.

B) CONTRATOS BANCÁRIOS

Falta contratos bancarios

57
Na verdade, quando um cliente movimenta uma conta, desconta uma
letra ou uma livrança ou recebe dum banco um crédito em
contacorrente, ambos actuam no âmbito de cláusulas de contratos
bancários.

Como definir, então, contratos bancários?

Contratos bancários: quaisquer acordos, protegidos pelo Direito, estabelecidos entre


uma instituição de crédito e um cliente, tendentes à prática de uma operação
bancária a cujo conteúdo ou objectivop ambos ficam vinculados.

A actividade bancária desenvolve-se essencialmente sob a égide da


* C. Civil,
artigo 405°. liberdade contratual.* Muitos dos seus contratos não estão tipificados

58
na lei. Significa isto que, dentro dos limites da lei, as partes podem celebrar contratos
diferentes dos previstos nos códigos ou em legislação avulsa, fixando livremente as suas
cláusulas.

Podem também celebrar contratos onde reunam cláusulas típicas de


vários negócios previstos na lei, designados contratos mistos.

Como exemplo de um contrato tipificado na lei, encontramos o contrato


de empréstimo (contrato de mútuo).

Contrato de empréstimo bancário: contrato pelo qual um banco entrega fundos,


normalmente por tempo determinado, a um cliente, ficando fundos, normalmente por
tempo determinado, a um cliente, ficando este obrigadi a restituir outro tanto e a
pagar os juros convencionados.

Deste contrato resultam obrigações e os correlativos direitos para


ambas as partes. No que respeita às primeiras, o banco fica obrigado a
entregar efectivamente ao cliente o dinheiro concedido; por seu lado o
cliente obriga-se a restituir o capital, a pagar os juros e demais
encargos convencionados.

O * Artigo 1142° contrato de empréstimo tem a natureza de um contrato de mútuo, que se


e seguintes.
encontra tipificado no Código Civil*

Mútuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra dinheiro ou outra coisa
fungível, ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade.

Já o contrato de desconto bancário é apontado por muitos autores


como um contrato misto.
Desconto é um contrato pelo qual o titular de um crédito (o descontário) o cee a um
banco (descontador), que dele fica sendo titular e cobra no seu vencimento,
recebendo em troca, antecipadamente, o respectivo valor, deduzido do
correspondente juro e outras despesas.

Assim verificamos que existem elementos típicos de dois negócios


* Previsto no
artigo 1142° previstos na lei:
do Cód. Civil.
Por um lado,
* Previsto no existe um contrato de mútuo remunerado (do banco ao cliente);*
art.° 840° de
Cód. Civil, que
consiste,
basicamente, 59
na entrega de
uma coisa em
pagamento de
outra.
Por outro, e como contrapartida, verifica-se uma dação* para solver o contrato de
mútuo, em que o cliente entrega os títulos a fim de o banco, através deles (e apenas se
forem pagos), considerar satisfeito o crédito.

Estes contratos são meramente exemplificativos. Muitos outros há,


com que certamente lida no seu dia a dia, e que, consoante as suas
características, poderão ser qualificados de diferentes formas.

Lembre-se que estas qualificações não são pacíficas entre os juristas,


havendo uma crescente tendência para se autonomizar a grande
maioria dos contratos bancários.

Isto porque efectivamente os contratos bancários apresentam


características e novidades jurídicas em relação a outros contratos
que surgem fora do quadro da actividade bancária.

Vejamos as características dos contratos bancários:


Encontram-se massificados ou generalizados. Este facto
verifica-se porque os contratos são o principal suporte jurídico
das operações bancárias, que, como você sabe, são numerosas;

São muito marcados tecnicamente, exigência ditada pela


rapidez com que as operações são efectuadas (possuem
circuitos, impressos e procedimentos específicos);
As formalidades contratuais estão simplificadas.
Talvez você já tenha constatado que a realização de contratos
fora do âmbito da actividade bancária, normalmente, exige o
cumprimento de formalidades de vária natureza como escritura
pública, autenticação e reconhecimento notarial, etc.
Estes procedimentos não são necessários para os contratos
bancários. Como você sabe, a abertura de uma conta (contrato
de depósito), o desconto de papel comercial (contrato de
desconto), são simplesmente materializados em impressos
próprios, sem quaisquer forrmalismos legais.
A dimensão das empresas bancárias tende a ser grande, sendo
elevado o número de operações que cada instituição executa.

60
Formação dos Contratos
A propósito da generalidade dos contratos, referimos que é necessária
a existência de um acordo de vontades, de conteúdos ou sentidos
diferentes, mas convergentes, que visam a produção de determinados
efeitos.

Assim, na formação de um contrato, as partes deverão negociar, seleccionar e estipular as


cláusulas às quais se irão vincular, obedecendo aos ditames da boa fé.*
* Art.°
227° do
Código Civil
Neste processo assumem particular importância a proposta e a aceitação
do contrato

FORMAÇÃO DO CONTRATO

Proposta Aceitação

Na actividade bancária encontramos numerosas campanhas


publicitárias e operações de marketing onde os bancos difundem os
seus produtos e serviços. Estas não constituem verdadeiras propostas
contratuais mas meros convites dirigidos á clientes ou potenciais
clientes para que visitem os balcões, a fim de conhecerem aqueles
serviços e produtos.
O que é necessário para que exista um verdadeira proposta
contratual?

É necessário que o banco dê a conhecer as condições concretas


do negócio que se propõe realizar com o cliente, a fim de evitar
que este decida com base em pressupostos que não são reais,
originando erros e vícios de vontade (que são causa de
anulabilidade dos contratos).

Estas propostas são geralmente apresentadas ao cliente através de


impressos que contêm os direitos e obrigações às quais as partes se
vinculam. Constituem um modelo de contrato, num sistema de
cláusulas padronizado, sistema ou modelo esse que não é susceptível de
negociação. São as chamadas cláusulas contratuais gerais (ou
contratos de adesão ou estandardizados) em que com o acordo do
cliente fica concluído o negócio.

61
Este sistema constitui a resposta jurídica à massificação económica,
racionalizando e normalizando o fornecimento de bens ou serviços.

Apesar dos "contratos de adesão" terem vantagens apreciáveis neste domínio, envolvem,
contudo, riscos apreciáveis para o consumidor, que se limita a aderir ao figurino proposto,
muitas vezes redigido com terminologia técnica, expresso em caracteres de difícil leitura
e, não raras vezes, de forma ardilosa*.
Trata-se de um
A terreno fértilpara fim de proteger os clientes, que são em regra a parte mais inexperiente
a evocação de falta
e vícios da vontade
na contratação, o legislador regulamentou este tipo de contratos,
contratual. proibindo determinado tipo de cláusulas e obrigando o proponente a
respeitar determinadas formalidades.

Assim, as cláusulas contratuais gerais deverão ser comunicadas na


integra aos aderentes, prestando-lhes todos os esclarecimentos
necessários à compreensão do conteúdo do contrato a que se irão
obrigar.

Interpretação dos Contratos


Veja o seguinte exemplo:
A entidade patronal dirige-se ao empregado e diz:
"— Desaparece daqui, vai-te embora!"

Estaremos perante um despedimento ou apenas face a um mero


desabafo da entidade patronal. Pretenderá esta despedir o
trabalhador ou, apenas, que este saia da sua presença?

Trata-se de uma declaração oral susceptível de ser interpretada de


diversas formas, tendo cada uma delas diferentes efeitos jurídicos,
com consequências muito diversas.
Como se pode ver, surgem, assim, muitas vezes dúvidas quanto à
qualificação ou interpretação das declarações de vontade num
determinado contrato.
Há, então, que proceder a uma actividade interpretativa que consiste,
basicamente, na fixação do sentido e alcance prevalecentes, das
expressões utilizadas pelas partes.
Assim, podem equacionar-se duas regras de interpretação:
A OBJECTIVISTA: A SUBJECTIVISTA:

62
Consagra que devem prevalecer o Defende que devem prevalecer o
alcance e o sentido objectivados no alcance e o sentido correspondentes à
*Art.°
texto contratual; vontade efectiva do declarante.
236°.
A solução legal é fundamentalmente objectivista, traçando as regras
interpretativas gerais no Código Civil*, vejamos quais são:

O n.° 1 dispõe:

Que a declaração negociai vale comOu


o seja, no caso acima referido, seria necessário
apurar se qualquer outra pessoa normal, colocada

declaratárionasnormal
circunstâncias do trabalhador (declaratário)
sentido que um
entenderia
colocado na posição do declaratário em a declaração da entidade patronal
(declarante) como tratando-se de um
concreto, possa deduzir do comportamento
despedimento ou não. Isto envolve, naturalmente,
do declarante o apuramento das circunstâncias em que a
declaração foi feita (após uma discussão ou não
etc...).
O n.° 2:

Abre uma porta à tese


subjectivista,
Exemplificando: se no caso acima referido, o
trabalhador soubesse que a entidade patronal o
estipulando que a não pretendia efectivamente despedir (por
declaração negociai vale qualquer forma ou meio), a declaração desta
com o sentido real do valeria de acordo com a sua vontade real.
declarante se este

sentido for do
conhecimento do
declaratário.

O Código Civil estabelece, ainda, regras específicas para outros casos,


acentuando-se a tese objectivista nos negócios para os quais a lei exija
forma especial.

Integração dos Contratos


Pode acontecer que as partes, não prevejam determinadas situações
que, dadas as circunstâncias especificas do contrato, deveriam ter sido

63
regulamentadas. A actividadeintegrativa consiste, precisamente, na
colmatação de lacunas existentes no contrato.

Esta actividade deverá ser feita, na falta de disposição especial, de harmonia com a
vontade que as partes teriam ti do se tivessem previsto o ponto omisso, ou de acordo com
os *Art.° 239° do ditames da boa fé*.
Código Civil

Execucão dos Contratos


Uma vez celebrado o contrato e sendo ele válido e eficaz, torna-se
obrigatório para as partes. Este aspecto consubstancia-se no princípio
da força vinculativa dos contratos, o qual se desdobra em dois outros:

PRINCÍPIO DA FORÇA VINCULATIVA DOS CONTRATOS

Princípio da Pontualidade Princípio da Estabilidade

Significa que o contrato deve ser Significa que as cláusulas contratuais


executado ponto por ponto, ou seja, são intangíveis e irretratáveis, não
em todas as suas cláusulas e não podendo as partes desobrigarem-se
apenas no prazo estipulado; das estipulações a que se vincularam,
excepto por:
Acordo;
Providência legislativa ou;
Intervenção judicial.

Mais, uma vez nos aparece, também nesta fase de desenvolvimento do vinculo
*C.C.,
contratual, o princípio da boa fé que, naturalmente, deve presidir à boa
art.°76
2° execução dos contratos.*
Estes princípios são fundamentais para a segurança do comércio jurídico.

Termo dos Contratos


Os vínculos obrigacionais podem extinguir-se por diversas formas,
designadamente por acordo das partes, pelo termo do prazo etc.
Na actividade bancária, o cumprimento do contrato representa a forma
mais usual e importante de satisfação do direito do credor. É, pois,
esta forma de extinção das obrigações que abordaremos com maior
detalhe.

64
Quando um cliente estabelece um contrato de empréstimo com um
banco, obrigam-se, ambas as partes, ao seu cumprimento pontual.
E quando é que podemos dizer que o contrato se encontra pontualmente
cumprido?

No caso específico das operações activas das instituições de crédito


(v.g. empréstimo,abertura de crédito, desconto), o contrato encontrase
pontualmente cumprido após o reembolso do capital emprestado e a
realização da prestação de juros e comissões nos termos
estipulados. São particularmente importantes o lugar e prazo do
cumprimento.

Lugar do cumprimento

O cumprimento pontual da obrigação obedece, cm princípio, à regra


geral estabelecida de que o lugar do cumprimento é determinado pelo
domicílio do devedor.
No entanto, no âmbito da actividade bancária, a regra vigente é
inversa já que, sendo a prestação de natureza pecuniária, o lugar de
cumprimento será o domicílio do credor.
Pode ainda ocorrer que, de acordo com o estabelecido entre as partes,
o lugar não seja nem o domicílio do credor nem o do devedor (por
exemplo, nas letras domiciliadas, em que se estipula que o lugar do
cumprimento seja o balcão de um banco).

65
Prazo do cumprimento
A lei moçambicana impõe que, nas operações de concessão de
crédito, seja sempre obrigatória a fixação do respectivo
vencimento.
O prazo de vencimento pode ser prorrogado desde que as partes,
designadamente o banco, acordem nesse sentido.
A prorrogação é muito usual nalguns títulos de crédito - letras e
livranças, sobretudo - através da figura da reforma (como já viu na
disciplina de Operações Bancárias Gerais).

Prova de cumprimento

A fim de provar o cumprimento da prestação,


quem cumpre a obrigação (o devedor) tem o
direito de exigir quitação ("recibo") daquele
a quem a prestação é feita (o credor).
Além disso, uma vez extinta a dívida, o
devedor tem o direito de exigir a restituição
do título da obrigação se ele estiver na posse do credor.

C) Créditos em Mora e em Contencioso

Já vimos a figura do cumprimento da obrigação.

Vejamos, agora, as situações de incumprimento e as medidas a adoptar


quando ocorra tal situação.

Incumprimento da Obrigação: Caracterização


O incumprimento ocorre quando, chegada a data de vencimento e não
tendo sido acordada qualquer prorrogação, o devedor não satisfaz os
direitos de crédito do seu credor, passando, assim, a estar numa
situação de mora.

A mora do devedor verifica-se quando este não efectua, no tempo devido, a


prestação a que estava vinculado.
66
Como facilmente se pode prever, a falta de cumprimento da obrigação
acarreta prejuízos para o credor, pelo que o devedor em mora incorre
em responsabilidade civil, ficando, assim, obrigado a indemnizar o
credor pêlos danos causados.

Na actividade bancária, esta indemnização corresponde aos juros


moratórios, isto é, juros a contar do dia de entrada em mora.

Convém referir que, embora em termos de contabilidade bancária, os


créditos em mora sejam contrapostos aos créditos em contencioso
(constituindo, no seu conjunto, o chamado crédito mal parado), a
situação técnico-jurídica em que o devedor se encontra é, em ambos os
casos, de mora.

* Existe uma
multiplicidade
Cobrança Judicial: Acções Declarativas e Executivas
de acções
Quando os clientes dos bancos não cumprem as suas obrigações c se
especiais, que
não serão esgotaram todas as possibilidades de negociação extrajudicial, não resta aos
analisadas bancos outra possibilidade senão a de intentar uma acção judicial. Estamos
aqui.
perante o último recurso.

As acções judiciais comuns* podem ser de natureza:

Declarativa; Executiva.

Acções de natureza declarativa

Em princípio, estas acções têm menos interesse para os bancos, pois


são mais morosas e menos directamente actuantes do que as
executivas.
Nestas acções, a finalidade da actuação judicial não se dirige a actos
de apreensão de bens, como ocorre na acção executiva com a penhora
dos bens.

* Uma boa parte dasAs acções declarativas* têm como finalidade obter do tribunal a declaração de um
acções judiciais emdireito ou o reconhecimento da sua inexistência, pondo, assim, fim a uma questão
matéria de direito
duvidosa.
de família e direito
de sucessões tem

67
natureza declarativa.

Para afirmar a justiça da sua pretensão, a pessoa dirige-se ao tribunal


e pede que este, depois de analisar as provas, declare quem é o titular
do direito e condene o outro a pagar-lhe a dívida, a entregar-lhe a
coisa que está na sua posse, a praticar ou a abster-se de praticar certo
acto, etc.

Por vezes, os bancos intentam estas acções para tentarem pôr termo a
actos fraudulentos de desvio de bens do património dos seus clientes.
São exemplo destes actos:
Vendas simuladas entre pais e filhos;
Vendas de devedores a terceiros feitas com o fim de impedir a satisfação futura do
* Em face deste credor*;
acto, o banco
"Pôr os bens em nome de terceiros‖, utilizando outras vias.
poderia tentar mover
uma acção de
impugnação pauliana
Apesar de ser possível a um banco intentar uma acção declarativa cm
(incluída nas acções
declarativas), que se face destes actos, isso torna-se difícil, pois nem sempre se consegue
destina a revogar, provar que os intervenientes agiram de má-fé, ou seja, com
por decisão judicial,
a eficácia de actos conhecimento do prejuízo que causavam ao credor.
que envolvam a
diminuição da Relativamente a este aspecto, há, por vezes, possibilidade de evitar
garantia patrimonial
que o banco venha a ser prejudicado por parte dos seus clientes
do credor.
através de actos deste tipo. No entanto, essa possibilidade dependerá
de uma atitude atenta e de colaboração entre os balcões e os
contenciosos dos bancos.

Por exemplo, não será assim tão pouco usual, nos meios pequenos,
constar que certo devedor está a passar os seus bens para o nome dos
seus filhos ou de sobrinhos. Se o contencioso for avisado
atempadamente da situação e se se conseguirem testemunhas e
documentos respeitantes a esses actos, tornar-se-á possível actuar
com prontidão para defesa dos créditos.

Mas teremos oportunidade de falar da colaboração necessária entre


balcão e contencioso.

Acções executivas
Para os bancos, é sempre preferível poder recorrer a medidas judiciais
de natureza executiva, visto que a possibilidade tíe recuperação dos

68
seus créditos é maior e mais rápida, procedendo-se à apreensão dos
bens dos devedores.

Nas acções executivas, não se pede uma declaraçãp juridicional de reconhecimento


ou inexistência de um direito, mas sim a sua realização através duma actuação
coerciva sobre o executado. Ou seja, nelas o seu actor requer as provid6encias
adequadas à reparação efectiva do direito violado – providências exercutivas.

As acções executivas só podem ser intentadas se o autor possuir um


documento dotado de eficácia executiva, o título executivo. Ou seja,
o credor tem de provar a existência do direito de crédito cuja
realização efectiva solicita, mediante a apresentação de um documento
a que a lei atribui força executiva.

Título executivo: É um documento que, incorporando um acto judicial, negocial ou


administrativo, constitui ou declara um direito a uma prestação. Tem força bastante
para, através de uma acção executiva, levar o tribunal a praticar gravosos contra o
* Os documentos património do devedor.
que constituem
títulos
executivos, estão
enumerados no
Código de
Processo Civil por
forma taxativa.

DOCUMENTOS QUE CONSTITUEM TÍTULO EXECUTIVO

Sentenças condenatórias constituídas por decisões judiciais que impõem a alguém uma
prestação, desde que tenham já transitado em julgado, isto é, sejam insusceptíveis de
recurso ordinário;
Documentos exarados ou autenticados por notários, sempre que provem a existência de
uma obrigação;
Letras, livranças, cheques, extractos de factura;
Outros documentos particulares assinados pelo devedor, como vales, facturas
conferidas, documentos confessórios de dívida, etc., das quais conste a obrigação de
pagamento de quantias determinadas e se tal assinatura estiver reconhecida
notarialmente de forma simples ou presencial, em função do montante dos títulos;
Outros títulos a que, por lei especial, seja atribuída eficácia execu

* No entanto, há No que diz respeito às letras e livranças, a lei confere-lhe eficácia


que respeitar os
executiva*, sem necessidade de qualquer reconhecimento notarial de
prazos legais de
apresentação a assinaturas.
pagamento e
actuação judicial,
pois, caso
69
contrário, deixam
de ter força
executiva.
Este facto justifica que, nos contratos celebrados pêlos bancos (aberturas de crédito,
contas correntes caucionadas, pré-
financiamentos à exportação, etc.), seja, frequentemente, exigido que
os clientes mutuários entreguem, para caução, livranças em branco,
com autorização de preenchimento. Estas livranças valem, assim, como
títulos executivos que permitem o acesso imediato à acção executiva.

O processo de execução
FASES MAIS IMPORTANTES DO PROCESSO DE EXECUÇÃO

PENHORA DE BENS DO DEVEDOR;


VENDA EXECUTIVA DOS MESMOS
BENS
Antes da penhora dos bens, é necessário que o tribunal tome
conhecimento dos bens penhoráveis do devedor. Esta relação de bens
deveria ser indicada pelo próprio devedor; no entanto, na prática tal
não se verifica, sendo o credor quem, normalmente, a apresenta.

Penhora de bens do devedor


Através da penhora, os bens são, por ordem do tribunal,
apreendidos ao devedor.

Assim, após nomeação à penhora dos bens do executado, são estes por
despacho do juiz penhorados e assim retirados da posse e livre
disposição do devedor (executado), ficando adstritos à pretensão
executiva, ou seja, à satisfação do credor (exequente).
Quando os créditos objecto de execução têm garantia real (por
exemplo, hipoteca e penhor), a penhora começará pêlos bens dados em
garantia.
Só poderão ser penhorados outros, caso os bens objecto de garantia se
revelem insuficientes para pagar ao credor.

Quando são penhorados em execução bens sobre que recaíam garantias


reais constituídas a favor de terceiro, esses credores privilegiados são
chamados ao processo para reclamarem os seus créditos.
Através da penhora, os bens são apreendidos ao seu proprietário, de
acordo com os seguintes critérios:

70
Móveis Removidos para depósito do tribunal

Entregues a um fiel depositário

Imóveis Entregues a um depositário que,


caso os imóveis estejam
arrendados, passará a receber
rendas

Venda executiva dos bens


A venda executiva é feita por várias formas, sendo a mais frequente a
que é efectuada em hasta pública, através de licitações apresentadas
por interessados no próprio tribunal.

VENDA
EXECUTIVA

For a do Tribunal No Próprio Tribunal

Exemplo: Exemplo:
Vendas em estabelecimentos Arremata çã o em hasta
de leil ões pública
Venda por negocia çã o Venda, atrav és de pro -
particular postas em carta fechada

Para além da penhora e da venda executiva (as fases mais marcantes da


acção executiva) refiram-se ainda os seguintes momentos processuais:

71
OPOSIÇÃO DO EXECUTADO À EXECUÇÃO CONVOCAÇÃO DOS CREDORES E
ATRAVÉS DE EMBARGOS VERIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS
O executado pode deduzir embargos em sua Face à reclamação de terceiros, tem de
defesa com base em certos pressupostos haver uma sentença judicial de graduação de
taxativamente enumerados na lei: créditos destinada a indicar a ordem por que
Não ser o título exequível; será distribuído o produto de venda dos bens
Tratar-se de parte ilegítima;
penhorados entre os diferentes credores:
Falsidade do documento, etc..
exequente e credores reclamantes.
O pagamento da dívida exequenda pode ser feito a todo o tempo:
Através de dinheiro;
Pela adjudicação
dos bens
penhorados; Pela
consignação dos seus rendimentos; Pelo
produto da respectiva venda.

Os Contenciosos Bancários

Assessoria Esta função


compreende:
jurídica/contencio
Os procedimentos
judiciais;

A coordenação das
As funções de activid ades de re -
Staffe de Apoio cuperação do
Técnico crédito;

Os estudos e pare -
ceres de natureza
jurídica, etc.

As atribuições dos órgãos de contencioso podem agrupar-se em dois


tiposde actividades, que estão, naturalmente, interligadas:

72
ecuperação dos créditos (cobrança judicial e
extrajudicial); revenção do risco

Estes dois grupos de atribuições podem distinguir-se, em termos


temporais, tendo em conta a fase do processo de concessão de crédito.
Assim:

Quanto à prevenção do risco


Os contenciosos podem actuar no momento de negociação dos
financiamentos, ajudando, numa atitude preventiva, a clarificar os
aspectos jurídicos importantes que serão determinantes, no futuro,
para o êxito do cumprimento das dívidas dos clientes.

Esta actuação de prevenção do risco pode consistir, basicamente, em:

ESCLARECER E CHAMAR A ATENÇÃO PARA:

O correcto preenchimento dos títulos cambiários;


A obtenção da identificação completa dos intervenientes nas operações;
O registo das informações patrimoniais dos mesmos intervenientes;
A válida e eficaz constituição de garantias reais;
A honorabilidade ou respeitabilidade dos clientes;
As pistas com evidente significado (por exemplo, uma penhora ou uma acção
judicial contra o cliente); Etc.

Todos estes aspectos são fundamentais para a segurança jurídica dos


contratos de financiamento, pois, se respeitados, a protecção legal dos
bancos, enquanto credores, fica melhor assegurada.

Podemos dizer que a actuação preventiva dos órgãos de contencioso diz


respeito, de certa forma, a uma fiscalização do cumprimento dos
princípios legais que assegurarão, em caso de cobrança judicial, que o
banco possa recuperar, o mais rapidamente possível, os seus créditos.

Quanto à recuperação dos créditos


Cabe aos contenciosos coordenar a cobrança judicial ou extrajudicial
dos créditos.

73
Assim, será atribuição destes órgãos "tomar o leme" nas acções
executivas .e/ou declarativas, que atrás abordámos, e noutras que o
banco empreenda.

Contencioso versus balcões


Enquanto unidade orgânica, um banco funciona como um todo, pelo que a
eficácia da sua actividade dependerá da articulação conseguida entre
as suas subunidades.

No entanto, a departamentalização e, mais concretamente, o facto de


as diversas subunidades levarem a cabo diferentes funções, conduz,
por vezes, a certos "desencontros".

Assim, por exemplo, num balcão, o contacto directo com o cliente, a


necessidade de actuar rapidamente cria, por vezes, perante aquilo que
é considerado mais importante, uma atitude diferente daquela que está
patente nos órgãos de contencioso, onde a ênfase é posta no rigor e
na necessidade de reflexão e de análise de questões jurídicas.

Como é previsível, se forem ultrapassadas algumas falhas que às vezes


se verificam e se se conseguir uma colaboração interdepartamental, a
eficácia da cobrança dos créditos bancários torna-se mais efectiva.

74
A colaboração dos balcões

BALCÕES - FUNÇÃO IMPORTANTE NA PREVENÇÃO DO RISCO:

COMO

1° Mantendo actualizados as fichas de informações e de responsabilidades dos


clientes;
2° Estando atentos à evolução patrimonial dos clientes, mesmo que os créditos ainda
não estejam vencidos.

PORQUÊ?

Porque os balcões poderão recolher mais facilmente informações acerca:


Da identificação de acções pendentes contra o cliente no tribunal da localidade;
Da determinação da residência ou paradeiro dos executados;

Dos bens susceptíveis de penhora;

Porque, quando for necessário apresentar testemunhas em acção contra o cliente, é sempre
preferível o tribunal ouvir os trabalhadores que contactaram o cliente e não os dos
serviços de retaguarda;
Porque, devido a contactos locais, é normalmente mais fácil e rápido um gerente de balcão
obter uma certidão das Finanças ou de uma Conservatória, ou uma fotocópia autenticada
notarialmente, etc.
Resumindo e concluindo:
Só o esforço, colaboração e co-responsabilização entre as diferentes
funções, tornará possível a eficácia na actuação a favor do banco.

75
Esforços conjuntos versus forças em oposição

IV) CLIENTES BANCÁRIOS: PESSOAIS SINGULARES


A) Personalidade e Capacidade Jurídicas
Personalidade Jurídica - Noção
Observe as seguintes fichas de assinatura:

76
Todos estes titulares, independentemente da idade ou do tipo de
pessoa (singular ou colectiva) são sujeitos jurídicos ou pessoas
jurídicas.

O Direito define pessoa jurídica como:

77
Pessoa jurídica:é todo o ente que tem aptidão para ser sujeito de direitos e
obrigações, ou seja, tem aptidão para ter um centro de imputação de deveres e
poderes jurídicos.

Mas esta aptidão para ser sujeito de direitos e de obrigações não é


mais do que a personalidade jurídica.
Personalidade jurídica: é a susceptibilidade de ser sujeito de direitos e de
obrigações.

Temos vindo a designar por pessoa jurídica tanto o bebé como o Banco
Moçambicano e a Cooperativa "Terra do Sol", visto que todos eles
possuem personalidade jurídica. Mas há dois tipos de pessoas
jurídicas: Pessoas singulares; Pessoas colectivas.

Pessoas singulares: são os seres humanos que apresentam individualidade física e


psíquica.

Um recém-nascido tem personalidade jurídica, mas um feto não tem,


porque se considera que o feto é o último estado da vida intra-uterina.

Pessoas colectivas: são entes não humanos, organizações de pessoas ou bens que têm
em vista a realização de certos interesses (exemplo: fundações, sociedades,
associações, etc).

Exemplificando:
Pessoas singulares Pessoas colectivas

Luís Sousa Pedro Cooperativa "Terra do Sol"


O bebé (Eva de 11 meses) Banco Moçambicano, SARL
Manuel Vieira Silva

Em conclusão, toda e qualquer pessoa (singular ou colectiva) possui


personalidade jurídica. Por isso mesmo, está apta para intervir em

operações bancárias, por exemplo, para abrir uma conta.

Vamos reflectir agora apenas nas pessoas singulares. Na Sessão


seguinte, apreciaremos as pessoas colectivas.

78
Aquisição da Personalidade Jurídica
Segundo o Código Civil Português, as pessoas adquirem personalidade
jurídica:
―... no momento do nascimento completo e com vida ...‖*
* Artigo 66 do
Código Civil.

De acordo com o Direito Moçambicano, os requisitos para atribuição


de personalidade são:

O nascimento - este ocorre logo que o ente se desliga do útero


materno;
A manifestação de vida - esta existe se após a separação da
mãe o ser apresenta: respiração, pulsação do coração, etc.

Deste modo,

Se um ser nasce e manifesta sinais de vida, independentemente


da sua duração (um segundo ou cem anos), adquire logo
personalidade jurídica;
Se um ser nasce e não manifesta sinais de vida (nado. morto),
não adquire essa qualidade.

Cessação da Personalidade Jurídica


Já sabemos que, para o Direito português, a personalidade jurídica é
adquirida no momento em que o ser humano nasce e manifesta sinais de
vida.
Não é agora difícil antecipar que a personalidade jurídica cessará com
a morte.

* A morte de Sendo certo que a morte física coincide com a morte jurídica, o Direito,
uma pessoa é todavia, só aceita a morte quando ela é devidamente comprovada*.
comprovada
A pela certidão personalidade jurídica cessa com a morte; no entanto, isto não quer dizer
de óbito.
que se extingam todos os direitos e os deveres de que o sujeito era titular.
Na verdade, com a morte de uma pessoa singular, transmitem-se para
os herdeiros não só os direitos patrimoniais de que seja detentor, mas
79
também as obrigações da mesma natureza (um eventual empréstimo
bancário pendente, por exemplo).

Em conclusão: com a morte cessa a personalidade jurídica, mas os


direitos e obrigações de carácter patrimonial de que o indíviduo era
titular mantêm-se e transmitem-se aos herdeiros.

Capacidade Jurídica - Noção


Neste momento, já sabe que a personalidade jurídica torna as pessoas
potencialmente aptas para serem agentes bancários.

Mas será que toda e qualquer pessoa o pode ser efectivamente?

Tentemos encontrar a resposta nas seguintes situações:


Um menor, por ter personalidade jurídica, pode ser titular de uma
conta bancária, mas não a pode movimentar.
Tem personalidade jurídica, mas encontra-se limitado
temporariamente na sua capacidade de exercício de direitos e
de obrigações.
Uma pessoa colectiva, embora tenha personalidade jurídica, só tem capacidade para
estabelecer as relações jurídicas necessárias à conveniente
*Argito 160° do realização dos seus fins*.
Código Civil

Sabemos agora que a resposta à pergunta anterior é negativa.

Para a justificarmos, necessitamos de ultrapassar o conceito de


personalidade jurídica. Este é meramente qualitativo na medida em que
qualifica todo e qualquer indivíduo como idóneo para ser titular de
direitos e obrigações e nada nos diz sobre a quantidade de direitos e
obrigações a que uma pessoa pode estar vinculada - esta ideia
quantitativa insere-se na noção de capacidade jurídica.

A capacidade de Embora se possam considerar, relativamente à capacidade jurídica dois


gozo determina
ou, se quisermos, planos distintos - capacidade de exercício e capacidade de. gozo* -, vamos
estabelece e
precisa a quan-
concentrar-nos apenas no primeiro porque é especialmente aquele que tem
tidade de direitos interesse para os objectivos deste curso.
e obrigações de
que uma pessoa
pode ser tituar. Concentremo-nos, então, nesse conceito.

80
A capacidade de exercício diz respeito, pois, à actuação dos sujeitos
no plano jurídico concreto, isto é, à possibilidade de as pessoas
praticarem por si próprias actos jurídicos válidos, podendo exercer os
seus direitos e obrigações sem autorização de outrem. Por isso, um
menor tem a sua capacidade jurídica mais limitada do que uma pessoa
maior.

Analisaremos alguns casos de pessoas:

Menores;

Inabilitadas; Interditas.

Estas, possuem aptidão para serem titulares de direitos e de


obrigações (têm personalidade jurídica), não estão em condições
objectivas para os exercerem pessoal e livremente (apresentam
incapacidade jurídica de exercício).

No domínio da actividade bancária, a questão da capacidade ou


incapacidade jurídica é habitualmente colocada sobretudo ao nível da
movimentação e da abertura de contas. Isto acontece porque a conta é,
normalmente, o primeiro contrato que se estabelece com o banco,
sendo por isso mesmo o ponto de partida para outros tipos de relações
bancárias. Mas o problema pode pôr-se relativamente a quaisquer tipos
de relações jurídicas bancárias.

B) Menoridade: Um Caso de Incapacidade Jurídica


A Incapacidade de Exercício do Menor
Hoje a Isabel está a atender ao balcão do Banco Moçambicano.
Observe as fichas de assinaturas das contas que ela acabou de abrir.

81
E-lhe fácil constatar que:

82
A ficha B diz respeito a uma conta de
menores e;
A ficha A pertence a uma pessoa na posse plena da sua capacidade
jurídica de exercício.

Com efeito, na ficha B, para além do nome do menor (titular da conta),


surge também o nome e a assinatura dos seus representantes legais.

Analisemos o motivo jurídico deste facto.


Para o Direito, a idade é determinante da capacidade de exercício das
pessoas. Juridicamente, exige-se que os sujeitos apresentem uma
certa maturidade física e psíquica para poderem estabelecer relações
jurídicas.

Deste modo:

*Artigo 123°
do Código Civil.

―Salvo disposição em contrário, os menores carecem de capacidade para o exercício


de direitos.‖*

*Artigo 122° "São menores as pessoas de um e outro sexo enquanto não perfizerem vinte e um
do Código Civil.
anos de idade. "*
Por não terem capacidade de exercício de direitos, os menores não
podem, por si só, pessoal e livremente, exercer os direitos e deveres
decorrentes das relações jurídicas de que são titulares.
Estão, deste modo, numa situação de incapacidade genérica.
Esta situação, obviamente, tem consequências práticas para as
actividades bancárias dos menores.
Com efeito, os menores não emancipados não podem em regra, por si
só, abrir contas e movimentá-las. Estes actos jurídicos devem ser
realizados pelos seus representantes legais. A eles compete a
administração do património do menor.

Maioridade
A incapacidade do menor cessa, em regra, com a sua passagem ao
estado maior, isto é, quando o sujeito fizer 21 anos. A partir desta
83
idade, ele adquire plena capacidade de exercício de direitos ficando
habilitado a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens.
A ficha de assinaturas anterior (ficha A) ilustra esta situação de
capacidade plena de exercício dos indivíduos maiores.

Emancipação
Já sabemos que os menores não emancipados não podem em regra, por
si só, exercer os seus direitos e obrigações; e o que acontece no caso
do indivíduo ser menor, mas emancipado?
Será que ele poderia ter uma ficha de assinaturas idêntica à ficha A?

Analisemos, então, a situação do menor emancipado.


EMANCIPAÇÃO

Motivos Requisitos/Características Consequêncicias

CASAMENTO 1. Capacidade para contrair casamento - 1. Emancipação plena.


idade núbil
2. Aquisição de plena capacidade
16 anos — sexo masculino
de exercício de direitos.
14 anos — sexo feminino
2. Autorização para casar (dos pais, tutor
ou tribunal).

CONCESSÃO 1.18 anos 1. Emancipação plena, ou


DOS 2. Acordo do menor 2. Emancipação restrita
PROGENITORES 3. Realizada pelo pai ou pela mãe quando
exerça plenamente o poder paternal
4. Revogável

CONCESSÃO Processa-se nos mesmos termos da emancipação 1. Emancipação plena, ou


DO CONSELHO por concessão dos progenitores, na: 2. Emancipação restrita
DE FAMÍLIA alta dos pais, ou
pais inibidos do poder paternal
DECISÃO DO 1. 18 anos 1. Emancipação plena, ou
TRIBUNAL DE 2. Revogável 2. Emancipação restrita
MENORES

Agora, já estamos em condições de responder à pergunta anterior:

A ficha A poderia ser uma ficha de assinaturas de um menor


emancipado.

84
O menor emancipado, por ter plena capacidade de exercício de
direitos, está habilitado a dispor da sua pessoa e dos seus bens como o
estão os indivíduos maiores.

E, se não houve autorização para o casamento:

Motivo Requisitos Consequências


- Tem 16 anos (sexo - Casamento válido.
masculino) ou 1 4 anos
(sexo feminino) mas:
- O menor fica
- Não houve emancipado mas:
Houve casamento autorização dos pais, do
- Continua a ser
tutor ou do tribunal.
incapaz no que diz respeito
à administração de parte
dos seus bens.

A ficha de assinaturas B também poderia pertencer ao menor do caso


anterior. Vejamos porquê.

Na situação anterior, o menor é emancipado, mas encontra-se limitado


na capacidade de exercício dos seus direitos patrimoniais. A
administração dos bens que ele leva para o casamento ou que recebe
por doação ou por herança continua a ser realizada pelos seus
representantes legais. Contudo, o menor pode dispor dos bens
necessários para a sobrevivência do casal.

Para além desta excepção à regra que define que a emancipação atribui
ao menor plena capacidade de exercício - decorrente, como vimos, da
falta de autorização para casamento de menores - está ainda prevista
a possibilidade da emancipação restrita.

EMANCIPAÇÃO RESTRITA

85
Âmbito Conteúdo/Requisitos Consequências

Emancipação Pode respeitar O emancipado continua a


por apenas acertos ser menor quanto aos
concessão. actos ou restantes actos.
categorias de actos.
Emancipação por
decisão do tribunal. Sujeito a registo.

Excepções à Incapacidade de Exercício do Menor


A incapacidade de exercício do menor, sendo geral, não é absoluta.
Quer isto dizer que existem casos em que a lei, excepcionalmente,
considera o menor capaz.
Vejamos três desses casos:
Os actos de administração ou disposição dos bens que o menor
haja adquirido por seu trabalho ou indústria, vivendo sobre si
com permissão dos pais ou pelas armas, letras ou profissão
liberal, vivendo ou não em companhia dos pais;
Os negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor
estando ao alcance da sua capacidade natural só impliquem
despesas, ou disposições de bens, de pequena importância;
Os negócios jurídicos relativos à profissão, arte ou ofício que o
menor tenha sido autorizado a exercer, ou praticados
no .exercício dessa profissão, arte ou ofício.

Negócios jurídicos decorrentes da vida do menor

Segundo a lei, o menor pode dispor de "bens de pequena importância"


se estes bens:

Se ajustarem à capacidade natural do


menor;
Envolverem despesas ou bens de pequena importância.

Actos de administração ou disposição de bens adquiridos pelo seu


trabalho

Legalmente, a idade mínima de admissão para prestar trabalho é de 15


anos.*

A celebração dos respectivos contratos de trabalho com menores em


idade escolar para efeitos de formação e capacitação profissional

86
carece de autorização prévia dos seus representantes legais e do
Ministério de Educação.

Deste modo, um menor com 15 anos trabalhador, pode:


Abrir conta;
Realizar operações bancárias.

No entanto é necessário que o faça no âmbito de actos de disposição ou


administração, quer dos rendimentos do seu trabalho, quer dos bens
adquiridos com esses rendimentos.
Em síntese:

MENOR TRABALHADOR
Requisitos Conteúdo Consequências
18 anos Pode exercer qualquer trabalho Podem administrar e
Não carece de qualquer como se de maior se tratasse dispor dos rendimentos autorização
do seu trabalho ou dos
bens adquiridos com
esses rendimentos
15 anos Não pode efectuar Podem administrar e
Autorização dos trabalho nocturno a menos dispor dos rendimentos representantes legais
que seja indispensável para do seu trabalho ou dos
Carece também da a sua formação profissional bens adquiridos com autorização do Não
pode executar tarefas esses rendimentos Ministério da Educação insalubres,
perigosas ou
se o menor for que requeiram grande
esestudante forço físico
Período de trabalho não
superior a 38 horas
semanais e 7 horas diárias

Representação Legal dos Menores


A incapacidade genérica do menor é ultrapassada e o menor
movimenta-se no mundo do Direito através da representação legal.
Esta é, normalmente, desempenhada pêlos pais ou por quem os
substitua.

Assim, como meio principal para ultrapassar a incapacidade dos


menores temos o poder paternal. A tutela surge-nos como um meio
subsidiário deste poder.

87
Poder paternal: diz a lei que complete aos pais, no interesse dos filhos, zelar pela
segurança e saúde destes, prover ao seu sustento, dirigir a sua educação,
representá-los e administrar os seus bens.

A essência do poder paternal está, portanto, na aplicação


poderes/deveres de representação e administração.
Vejamos agora quem pode ter a sua titularidade.

REPRESENTANTES LEGAIS DO MENOR


Condições de Movimentação
Situação Titularidade do Poder Paternal
de Conta Bancária
Os progenitores são - Pertence a ambos os pais - Preferencialmente
casados assinatura dos dois
progenitores;
- Assinatura de
um
progenitor
Matrimónio dissolvido por - Pertence ao cônjuge sobrevivo. Assinatura do
morte de um dos cônjuges cônjuge sobrevivo.
Divórcio - Pertence a ambos os progenitores; - Assinatura do progenitor a
- É exercido pelo progenitor a quem quem o menor está confiado
for judicialmente confiado o menor.
Os progenitores não são - Pertence a ambos, se - Assinatura de um dos
casados viverem maritalmente; progenitores;
- Pertence ao progenitor a — Assinatura do progenitor a
quem o menor está confiado se não quem o menor está
viverem maritalmente. confiado
Vejamos agora em que consiste a tutela, que, como já sabemos, é um
meio subsidiário do poder paternal, isto é, funciona quando o poder
paternal não Dode ser exercido.

TUTELA
Motivo Direito e Obrigações do Tutor
- Morte dos pais; Tem direitos de representação e de - Pais
desconhecidos; administração idênticos aos dos pais.
- Progenitores inibidos do exercício do poder paternal.

Quando os motivos referidos estão presentes, o tribunal de menores


instaura a tutela.

88
C) Interdição: Outra Situação de Incapacidade Jurídica

Interdição - Caracterização

No balcão do Banco Moçambicano, a Isabel segue atentamente a conversa


entre o gerente Sr. Loureiro e a Sra. D. Margarida. Falam sobre um
assunto de que trata a Sessão de Direito Bancário que ela tem vindo a
estudar.

Sra. D. Margarida:

Sr. Loureiro, eu pretendo saber se é possível vedar ao meu pai a


possibilidade de efectuar levantamentos em dinheiro de todas as
contas que ele tem aqui no banco apenas em seu nome. Como o
senhor sabe, ele tem 80 anos e sofre de perturbações psíquicas.
Imagine que agora pretende comprar um automóvel de desporto!!!

Sr. Loureiro:

Sra. D. Margarida, eu compreendo a sua preocupação, mas de


momento o banco não pode impedir o seu pai de movimentar as
contas de que é titular.
Apesar da idade avançada, a lei considera-o, salvo prova em
contrário, um indivíduo na plena posse da sua capacidade de
exercício. Logo, ele pode pôr e dispor à vontade da sua pessoa e
bens. É necessário, para o impedir de movimentar as contas, que a
senhora requeira ao tribunal uma sentença de interdição ou de
inabilitação, de acordo com a gravidade que seja atribuída ao estado
mental do seu pai.

Vejamos, então, em que consiste a interdição.

Interdição: É uma situação de incapacidade jurídica que se aplica a indivíduos


maiores. Decorre de uma sentença do tribunal e pode verificar-se quando os
individuos se mostrem inca
pazes de gorvernar a sua pessoa e os seus bens.

Artigo 138°*
89

(Pessoas Sujeitas a Interdição)


* Do CódigoCivil.
―1. Podem ser interditos do erxerc;icio dos seus direitos
pessoas e bens. INTERDIÇÃO
* Representante
do Estado junto
2. (…)‖ Causas Consequências

dos tribunais. Anomalias psíquicas; O indivíduo fica incapacitado para o


Intervém em exercício de direitos sobre: A sua
Surdez-mudezou;
alguns processos,
Cegueira. pessoa e,
tendo uma palavra
importante a O seu património.
dizer na defesa
dos interesses do
Causas e Consequências da Interdição
Estado

A partir destequadro, podemos concluir que um indivíduo interdito não pode dispor
livremente:

Da sua pessoa - contrair matrimónio, exercer o poder paternal, etc;


Do seu património - estabelecer contratos de compra e venda,
hipotecar bens, em suma, administrá-lo.

Neste momento, já temos justificação para as palavras do Sr.


Loureiro:

"... requeira ao tribunal uma sentença de interdição..."

visto um indivíduo interdito, por estar incapacitado para gerir o seu


* Embora, como
já sabe, possa património, não poder por si só abrir* e movimentar uma conta bancária.
ser o único
titular (dado que
possui
Consulte o quadro acima reproduzido e reveja os fundamentos e as
personalidade consequências da interdição.
jurídica).

Note, contudo, que, para o dia-a-dia da actividade bancária, a interdição


de * Esta pode ser um indivíduo deverá ser comprovada por uma certidão de nascimento*
pedida por
qualquer pessoa
onde aquela incapacidade deve estar averbada ou por uma certidão da
na sentença de interdição.
Conservatória do

E Registo Civil. quem pode requerer a interdição de uma pessoa?


A interdição pode ser requerida por:
O conjugue do interdito;
Qualquer parente próximo (pais,
filhos);
O Delegado do Ministério Público* (nas situações em que os
indivíduos não tenham parentes próximos ou estes permaneçam
indiferentes à situação

Suprimento Legal da Incapacidade do Interdito


Tal como os menores, os interditos têm um representante legal, o
tutor. Este tem o dever geral de representar o interdito. Por isso, age
90
em seu nome e exerce os seus direitos e obrigações. Compete também
ao tutor zelar pela saúde do interdito.
O tutor do interdito é nomeado pelo tribunal no momento da sentença
de interdição. Este é escolhido segundo uma escala hierárquica de
parentesco, em cujos patamares surgem: o conjugue do interdito, os
pais, os filhos, etc.

Sintetizando, os interditos:
Podem ser titulares de contas
bancárias;
Não podem abrir nem movimentar contas bancárias sem a
intervenção do tutor.

Mas será que a incapacidade dos interditos ó definitiva?

Apesar de ser sentenciada pelo tribunal esta incapacidade, pode não


ser definitiva pois se as causas que a originaram cessarem, ela pode
ser levantada.
No entanto, o levantamento da interdição necessita de ser requerido
c sentenciado pelo tribunal.

D) Inabilitacão: um Estado de Incapacidade Atenuada

Inabilitação - Caracterização

A inabilitação é uma situação de incapacidade fundamentada em


razões de menor gravidade do que a interdição.
91
Artigo 152°*

(Pessoas sujeitas a inabilitação)

"Podem ser inabilitados os indivíduos cuja anomalia


psíquica, surdez-mudez ou cegueira embora de
carácter permanente, não seja de modo grave que
justifique a sua interdição assim como aqueles que, pela
sua habitual prodigalidade ou pelo abuso de bebidas
alcoólicas ou de estupefacientes, se mostrem incapazes
de reger convenientemente o seu património."

Inabilitação: É uma situação de incapacidade jurídica que se aplica aos indivíduos


maiores. Decorre de uma sentença do tribunal e pode ser aplicada aos indivíduos que
se mostrem incapazes de governar o seu património.

O regime .de inabilitação surge, assim, para fazer face, quer a


situações, comuns à interdição, quer a outras situações, mas todas elas
com menor gravidade do que a interdição.

Neste momento, a frase do senhor Loureiro:

"... requeira ao tribunal uma sentença de interdição ou de tnábilitação, de


acordo com a gravidade que seja atribuída ao estado do seu pai."

está totalmente justificada.

Causas e Consequências da Inabilitação

INABILITAÇÃO

Causas Consequências

Deficiências
Físicas : Cegueira;
Surdez-mudez.
Anomalias Psíquicas, Incapacidade para exercer,
Certos Hábitos convenientemente, direitos
e obrigações sobre o"seu
92
de património.
Vida:
Prodigalidade;
Alcoolismo;
Toxicomània.

A partir do quadro anterior, é fácil antecipar que um indivíduo


inabilitado poderá dispor livremente da sua pessoa (por exemplo,
contrair matrimónio) mas, no que diz respeito à gestão do seu
património, apresenta restrições.

Deste modo, um indivíduo inabilitado, por estar incapacitado para


exercer normalmente direitos e obrigações sobre o seu património,
poderá ter restrições na abertura e movimentação de contas
bancárias.

E quem pode requerer a inabilitação de uma pessoa?

Tal como a interdição, a inabilitação pode ser requerida* por:

Cônju ge do inabilitado;
Qualq *Art. 156° e uer parente próximo (pais, filhos); O
140° do
Código Civil. Ministério Público.

Meios Legais para Suprir a Incapacidade do Inabilitado


A lei determina que os inabilitados devem ter alguém que os possa
assistir nos seus actos para salvaguardar as consequências da
incapacidade de gerirem normalmente o seu património.
O curador é a pessoa encarregada de assistir o inabilitado na
administração dos seus bens. Deve autorizar o inabilitado a agir,
corresponsabilizando-se e assumindo os seus direitos e obrigações nos
actos de gestão do património que a sentença judicial especificar.
Deste modo, o inabilitado pode, se a sentença o permitir, exercer
alguns actos de gestão do seu património; no entanto, em relação a
actos especificados na sentença (como, por exemplo, vender, comprar
ou hipotecar património, etc.), o inabilitado necessita da assistência do
seu curador.
Constatamos que, diferentemente do tutor, o curador não se substitui
ao inabilitado, mas autoriza-o e supervisiona a sua actuação em alguns
actos de gestão especificados na sentença.
93
Como acabamos de ver, o âmbito da inabilitação é variável. Torna-se
então imprescindível, para a prática de actividades bancárias com
inabilitados, a consulta da sua sentença judicial.

Só na posse da sentença, os bancos (ou outros interessados) podem


conhecer a medida da incapacidade do inabilitado e a natureza da
forma de suprimento legal nela definida.

Deste modo, para abrir uma conta a um inabilitado, é importante


consultar a sua sentença e observar se ele pode abri-la e movimentá-la
por si próprio ou se necessita da autorização e/ou assinatura do
curador.

Em síntese:
INTERDIÇÃO INABILITAÇÃO
Incapacidade de exerc ício de direitos Incapacidade de exerc ício de direitos
relativos à pessoa e ao patrim ónio do relativos apenas ao patrim ónio do
indivíduo; indivíduo;
Suprimento legal da incapacidade: Suprimento legal de incapacidade:
Tutor Curador

V) O Sigilo Bancário
A) O Sigilo Profissional - Caracterização
Certamente ficaria admirado e até indignado se, ao entrar no café ou
em qualquer outro lugar público, ouvisse o médico ou qualquer
profissional de saúde do posto clínico que habitualmente frequenta,
comentar a sua ficha médica. A sua indignação seria igual se soubesse
que determinado advogado ou psicólogo comentava socialmente os
casos dos clientes.

Pois é, se isso acontecesse, pode ter a certeza de que a sua indignação


não se circunscreveria apenas a uma atitude pessoal; ela encontraria
eco a nível social e a nível jurídico.

Isso acontecia porque qualquer dos profissionais atrás referidos


estava a infringir o dever do sigilo profissional.

Sigilo profissional: dever especial a que estão sujeitas determi9nadas pessoas e que
as vincula a nÃo tirar proveito próprio, ou em benefício de terceiros, de
conhecimentos ou informações a que tiverem acesso exclusivamente em virtude do
exercício da sua profissÃo.

94
É do conhecimento comum estarem todos os profissionais, seja de que
ramo de actividade for, sujeitos a determinadas normas de conduta,
quer de carácter deontológico*, quer de carácter estritamente
profissional.

Com efeito, o sigilo profissional configura-se como um dos mais


relevantes deveres impostos pela ética e deontologia dessas
profissões.
* A deontologia
tem como objecto Aliás, são do conhecimento comum as limitações impostas pelo segredo
um conjunto de
normas que regulam profissional que impendem sobre muitas profissões e actividades, como as
o comportamento desempenhadas por médicos, jornalistas, sacerdotes, advogados, etc.,
ético exigido no
desempenho de impedindo-os de divulgar factos ou informações de que têm conhecimento,
determinada
justamente pelo exercício de tais actividades.
profissão.

Sigilo bancário: embora dotado de um regime jurídico específico, nÃo deixa de


constituir o segredo profissional próprio daactividade bancária, por via do qual
impende sobre as instituições de crédito e todos os que nelas trabalham uma
obrigação geral de sigilo relativamente a factos e elementos respeitantes às relações
com a clientela.

Consiste, afinal, na discrição a que estão obrigadas as instituições


bancárias, seus órgãos e trabalhadores, quanto às informações e
factos de natureza pessoal e económica/bancária relativos aos seus
clientes, exclusivamente colhidos no exercício das respectivas
actividades.
Insere-se no direito à privacidade e à inviolabilidade da vida
particular de cada pessoa, singular ou colectiva - no caso, de ordem
económica -como um prolongamento da personalidade jurídica de que
são dotadas.
Ao não cumprimento do dever de sigilo profissional é atribuído o
carácter de conduta criminosa.
O Código Penal define como crime a violação do segredo profissional
e estabelece a sanção aplicável.

Por outro lado, a lei prevê que a violação do sigilo profissional possa
acarretar para o seu autor, para além de sanções estritamente penais,

95
o dever de indemnização material pelos prejuízos causados com a sua
conduta.

Código Civil

Artigo 483°

n°1 - "Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou
qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a
indemnizar o lesado pêlos danos resultantes da violação".

Portanto, se não sabia, agora já sabe; se encontrar um médico,


advogado, etc. a divulgar informações que a si dizem respeito, se
quiser, poderá não se limitar apenas à indignação!

A Finalidade do Sigilo Bancário


O sigilo bancário é, antes de mais, um tipo de segredo profissional que
diz respeito especificamente à actividade das instituições de crédito e
dos seus agentes.
Pode dizer-se que o segredo bancário tem essencialmente por fim:
Garantir o direito à discrição e à privacidade das pessoas que
recorrem aos serviços das instituições de crédito;
Criar condições para que os clientes tenham confiança, saibam
que as relações que estabelecem com as instituições de crédito
não serão levadas à praça pública e por isso mesmo não receiem
depositar as suas poupanças e solicitar crédito;
Proteger as instituições de crédito contra ingerências externas,
de modo a que possam desenvolver uma gestão normal dos seus
negócios.

Em síntese, o sigilo bancário visa:


Por um lado, proteger os interesses
dos clientes e;
Por outro lado, proteger as instituições de crédito,
consequentemente o próprio sistema bancário e, indirectamente,
a economia global país.

96
B) Objecto do Sigilo Bancário
O Sigilo Bancário - Noção

Nas relações com os clientes, os administradores e os empregados das instituições de crédito


devem proceder com diligência, neutralidade, lealdade e discrição e respeito consciencioso dos
interesses que lhes estão confiados

E é neste dever geral de proceder com discrição no relacionamento


com os seus clientes que situamos a obrigação de respeitar o segredo

SIGILO BANCÁRIO -SUJEITOS

Os membros dos órgãos de administração e de fiscalização;


* Pessoas que
prestam serviços Empregados;
ou actividades à Mandatários;
Banca por conta Comitidos*
e sob direcção Quaisquer pessoas que prestem serviços a título permanente ou ocasionai, a
desta mediante instituições de crédito.
uma certa
compensação.
profissional na actividade bancária, mais adiante regulamentado.

Quem deverá estar sujeito ao sigilo bancário?

Estarão sujeitos ao sigilo bancário os titulares de quaisquer órgãos das


instituições de crédito e todos os restantes trabalhadores,
independentemente da sua posição hierárquica.

O dever do segredo não cessa com o termo das funções ou serviços.

97
O que é considerado infracção?

A divulgação de matérias sujeitas ao sigilo bancário, adquiridas


exclusivamente em virtude do exercício da profissão,
independentemente do prejuízo que possam ou não causar aos bancos e
aos clientes é considerada infracção.

As Matérias e os Sujeitos Objecto do Sigilo Bancário


De um modo geral, a matéria do sigilo bancário diz respeito a duas

ALGUMAS DAS PRINCIPAIS MATÉRIAS SUJEITAS AO


SIGILO BANCÁRIO
Os nomes dos clientes;
* Note-se que
este quadro é As contas de depósito e seus movimentos;
meramente Os factos ou dados da vida das instituições de crédito sujeitos a
exemplificatívo,
pelo que não
segredo* Outras operações bancárias
representa categorias gerais de informações:
todas as
matérias
sujeitas a sigilo. Informações sobre as relações bancárias estabelecidas
entre
as instituições de crédito e os seus clientes;
Informações sobre factos particulares das próprias instituições de
crédito.

Com efeito, não poderão ser revelados, entre outros elementos, quem é cliente, as contas,
os saldos, os movimentos e as operações dos clientes das instituições de crédito.

98
C) Dispensa de Sigilo Bancário

Caracterização

Imagine a seguinte situação:

Um ofício da Polícia pede informações sobre o saldo e os movimentos de


uma conta cujo titular é um cliente do seu banco, arguido num processo de
emissão de cheques sem provisão.

Se o seu banco satisfizesse a pretensão da Polícia, estaria a infringir o


dever do sigilo bancário?
Encontrará resposta para esta questão mais adiante, quando da análise
das situações em que se tem previsto, noutros ordenamentos jurídicos,
a dispensa de sigilo bancário.

Dispensa do Dever de Sigilo quanto a Factos da Vida das


Instituições de Crédito
Em que termos se processa a dispensa do dever de segredo no que toca
a elementos ou factos relativos à vida interna das instituições de
crédito?
Parece ser pacífico que tal dispensa deve ser concedida pelos órgãos
de administração na qualidade de detentores da competência para
gerir e representar as instituições.

99
Dispensa voluntária do Dever de Sigilo pelo Próprio Cliente
Tratando-se de um direito de que qualquer cliente de instituições de
crédito pode dispor livremente, a autorização deste para que possam
ser revelados factos ou elementos sujeitos a sigilo faz naturalmente
cessar a obrigação de guardar segredo.

Na verdade é o cliente que tem legitimidade para dispensar qualquer


sujeito passivo do dever de sigilo quanto a elementos atinentes às suas
relações com uma instituição de crédito, dispensa que, evidentemente,
deve ser prestada por escrito.
Fora dos casos referidos, os factos e elementos sujeitos ao dever de
sigilo só podem ser revelados em determinadas situações.
Compatibilizar os valores que são defendidos pelo sigilo bancário com
os que são inerentes à importante função de administrar e aplicar a
justiça, designadamente no plano jurídico-criminal, eis um dos aspectos
delicados do nosso regime jurídico do sigilo bancário.

Torna-se assim necessário saber quando existe o dever de colaborar


com a justiça ou a obrigação de preservar o sigilo bancário.
Esta questão coloca-se na generalidade a nível da colaboração com
Tribunais Criminais e/ou Autoridades de Investigação e com outras
Autoridades Judiciais (Tribunais Cíveis, de Família etc.).

Dispensa do Dever de Sigilo nas Relações com Tribunais


Criminais e/ou Autoridades de Investigação
Um trabalhador bancário pode, em princípio, recusar-se a depor sobre
factos ou elementos protegidos pelo sigilo bancário.
No caso de haver fundadas dúvidas sobre a legitimidade da escusa e
feitas as necessárias averiguações, se a autoridade judiciária - sendo o
juiz - concluir que a recusa é ilegítima, ordena a prestação do
depoimento ou da informação; tratando-se do Ministério Público - que
não tem competência para proferir tal ordem - requererá ao juiz que
ordene a prestação de elementos em causa.

Nestes casos não há, em rigor, quebra de sigilo bancário, porque o


agente é dele dispensado.

100
Na verdade a violação do segredo profissional é da competência,
consoante os casos, do tribunal superior àquele onde a questão foi
suscitada, ou do plenário das secções criminais do Supremo Tribunal da
Justiça.

Note que, ao invés do que se passa com o sigilo profissional, que tem,
como acabámos de ver, carácter relativo, o segredo religioso não pode
ser quebrado.
Note também que, em todos estes casos a decisão da autoridade
judicial deve ser tomada ao que parece, depois de ouvidos os
organismos representativos da classe ou classes profissionais em jogo.
Esta interpretação, contudo não é desprovida de dúvidas.

Dispensa do Dever de Sigilo nas Relações Com Outras


Autoridades Judiciais
Dispõe o Código de Processo Civil:

Código de Processo Civil

Artigo 519°

1. Todas as pessoas, sejam ou não partes em causa, têm o dever de


prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade, respondendo ao
que lhes for perguntado, submetendo-se às inspecções necessárias,
facultando o que for requisitado e praticando os actos que forem
determinados.

2. Aqueles que recusem aço laboração devida são condenados


emmulta, sem prejuízo dos meios coercivos que forem possíveis; Se o
recusante for parte, o Tribunal apreciará livremente o valor da recusa
para efeitos probatórios.
3. A recusa é, porém, legítima se a obediência importar violação
da intimidade da vida privada e familiar, da dignidade humana ou do sigilo
profissional, ou ainda se causar grave dano àhonra e consideração da
própria pessoa, de um seu ascendente, descendente, irmão ou cônjuge, ou
grave prejuízo de natureza patrimonial a alguma dessas pessoas.
Assim, em matéria cível, dá-se acolhimento à recusa na prestação de
esclarecimentos, fundada no sigilo bancário, que só encontra dispensa
na autorização do cliente transmitida às instituições de crédito.
101
Dispensa do Dever de Sigilo nas Relações com o Banco de
Moçambique
Determina a lei que os factos e elementos cobertos pelo dever de
segredo podem ser revelados ao Banco de Moçambique no âmbito das
suas atribuições.
Mas, acrescenta desde logo que, as pessoas que nela exerçam ou
tenham exercido funções ou prestado serviços, ficam sujeitas a dever
de segredo sobre factos cujo conhecimento lhes tenha advindo
exclusivamente de tais prestações.
Não poderão divulgar nem utilizar as informações obtidas, salvo se o
interessado, para tal, transmitir o seu consentimento ao Banco de
Moçambique ou a dispensa estiver coberta pelas disposições da lei
penal e de processo penal a que atrás aludimos.

Lei n.° 1/92, de Art. 73°*


3 de Janeiro, que
define a 1. Considera-se de natureza confidencial e a coberto de sigilo bancário tudo quanto diga
natureza, osrespeito a depósitos, operações de crédito, garantias, relações com, o exterior, ou quaisquer
objectivos e asoutras operações efectuados no Banco, só podendo extrair-se certidões ou prestar-se
funções do Bancoinformações nos seguintes casos:
de Moçambique.
a) a pedido do titular das referidas operações;
b) mediante despacho do juiz de direito depois de previamente ouvido, por ofício, o
Governador do banco.

2. Constitui ainda matéria coberta pelo sigilo bancário informações sobre medidas de
política monetária e segurança do Banco, as quais só poderão ser prestadas exclusivamente
pelo Governador do Banco.

Outras Situações de Dispensa do Sigilo Bancário


Fundados e dispersos por alguns diplomas legais, encontramos vários
casos em que a prestação de elementos em princípio sujeitos a
discrição, relativos a clientes bancários, não constitui violação do
segredo bancário, desde que fornecidos a determinadas pessoas.
Que casos e a quem esses elementos podem ser prestados?
Apresentemos alguns:

102
A A QUEM PODEM
LEI DIZ SER PRESTADOS
SITUAÇÕES
OS ELEMENTOS?

Menor "É menor quem não tiver completado 21 anos de Representante legal (pais
idade." ou tutor)

Interdito "Podem ser interditos do exercício dos seus Representante legal


direitos todos aqueles que por anomalia (tutor)
psíquica, surdez-mudez ou cegueira, se mostrem
* N° 1 do
art.138° do incapazes de governar suas pessoas e bens."*
Código Civil.
Inabilitado "Podem ser inabilitados os indivíduos cuja Assistente (curador)
anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira,
embora de carácter permanente, não seja de
tal modo grave que justifique a sua interdição,
assim como aqueles que, pela sua habitual
*Art.152° do prodigalidade ou pelo abuso de bebidas
Código Civil. alcoólicas ou de estupefacientes, se mostrem
incapazes de reger convenientemente o seu
património."*

D) Buscas e Apreensões em Estabelecimentos Bancários


As buscas e apreensões em estabelecimentos bancários têm
implicações em sede de sigilo bancário. Mais uma vez, vamos fazer
referência a uma matéria não regulamentada em Moçambique, deixando
aqui algumas pistas para reflexão.

Buscas
A regra geral nesta matéria é a de que as buscas
só podem ser autorizadas ou ordenadas por
despacho da autoridade judiciária competente,
devendo esta, sempre que possível, presidir à
diligência.

Antes de se proceder à busca:

Deverá ser entregue, a quem tiver a


disponibilidade do lugar em que a diligência se
realiza, cópia do despacho que a determina, fazendo-se menção
de que pode assistir à diligência e fazer-se acompanhar ou

103
substituir por pessoa da sua confiança e que se apresente sem
delonga.

Excepções ao regime acima enunciado:

Muitas vezes, o êxito da diligência prende-se com a rapidez com


que é executada. Em determinados casos, não se tomando
medidas imediatas, poderão desaparecer determinados objectos
que podem constituir importantes meios de prova do crime que
se procura desvendar, prejudicando, assim, a realização da
justiça.

Em nome da eficácia, admite-se que os órgãos da polícia criminal


possam actuar fora do sistema geral de autorização pelas
autoridades judiciárias competentes, nos casos:

De terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada,


quando haja fundados indícios da prática iminente de um crime
que ponha em grave risco a vida ou a integridade de qualquer
pessoa;

Em que os visados consintam, desde que o consentimento fique,


por qualquer forma, documentado;
Aquando da detenção em flagrante por crime a que corresponda
pena de prisão;
De revista de suspeitos em caso de fuga iminente e a buscas no
lugar em que eles se encontrarem, salvo tratándo-se de busca
domiciliária.

Estas diligências carecem, sob pena de nulidade, de comunicação às


autoridades judiciárias competentes e consequente validação.

Apreensões
A par do regime previsto nesta matéria para os escritórios de
advogados e consultórios médicos, as apreensões em estabelecimentos
bancários mereceram, também, tratamento especial.
Procurou-se um sistema de equilíbrio entre os interesses em jogo, ou
seja, a protecção do sigilo bancário e as premências da investigação
criminal.

104
Assim, no que respeita à apreensão:

Competência Objecto da apreensão Requisitos

Autoridade Títulos; Fundadas razões para crer


Judiciária Valores; que eles estão relacionados
Quantias; com um crime e se revelarão
Quaisquer outros objectos de grande interesse para a
(juiz ou depositados em bancos ou descoberta da verdade ou
Ministério outras instituições de crédito, para a prova.
Público) mesmo que em cofres
individuais e mesmo que não
pertençam ao arguido ou não
estejam depositados em seu
nome.

No que respeita ao exame:

Competência Objecto do exame Requisitos


x - >xv :- x - :- x - x x - :-
Juiz Correspond ência e qualquer Os exames ter ão em vista os
documenta çã o banc árias, objectos a apreender nos
bem como os bens objecto da termos referidos no quadro
apreens ão. anterior.

O exame é feito pessoalmente pelo juiz, coadjuvado, quando


necessário, pelos órgão depolícia criminal epor técnicos qualificados,
que ficam ligados pelo dever de sigilo a tudo aquilo de que tiverem
tomado conhecimento e não tiver interesse para a prova.
A quebra deste dever pode constituir violação de segredo profissional.
A infracção destas regras constitui irregularidade processual, podendo
determinar a invalidade do acto a que se refere.

105
E) Sanções decorrentes da Violação do Sigilo Bancário
As consequências da violação do sigilo bancário podem ser equacionadas
em três planos, tantos quantos os níveis jurídicos feridos por tal
conduta:

Criminal;
Disciplinar; Civil.

Plano Criminal
Já antes assinalámos que a violação do sigilo bancário pode ser
considerada crime. Com efeito, quem violar o segredo profissional
incorre na pena de prisão até seis meses e multa.

Plano Disciplinar
A violação do dever de sigilo bancário importa ainda, em regra, a instauração dum processo
disciplinar ao seu autor, pois que, com tal conduta, infringe a Lei do
* Lei n.° 8/85, de
14 de Dezembro.
Trabalho*

106
«Artigo 101
(Infracção disciplinar )

1. ...
2. ...
3. Constitui nomeadamente infracção disciplinar.
a)...
i) A quebra do sigilo profissional ou do segredo da produção ou dos serviços.»

De resto, dada a gravidade que normalmente é associada a tal conduta,


a instauração de um procedimento disciplinar por tal motivo visa, na
maior parte dos casos, o despedimento com justa causa, uma vez que se
considera que tal prática torna impossível a subsistência da relação de
trabalho.

Plano Civil
Os autores de violação do segredo bancário poderão ainda vir a ser
condenados no pagamento de uma indemnização cível, por danos
patrimoniais ou morais, ao lesado. Indemnização que poderá coexistir
com a responsabilidade criminal atrás referida.

Trata-se da aplicação do chamado princípio geral da responsabilidade


civil por factos ilícitos, previsto no Código Civil e que já aqui citámos:

Código Civil

Art° 483°

1. Aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou
qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios, fica obrigado a
indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação.

Podemos, assim, resumir as consequências pelo seguinte quadro:

107
San ções Conte údo das San ções
De natureza criminal Pris ão at é sei s meses e multa
correspondente.

De natureza disciplinar Processo disciplinar, podendo ser


aplicadas san çõ es ( incluindo o
despedimento com justa causa).
De natureza c ivil Pagamento de indemni za ções a
quem venha a ser lesado.

INSTITUTO DE FORMAÇÃO BANCÁRIA


DE MOÇAMBIQUE
(IFBM)

O Instituto de Formação Bancária de Moçambique (IFBM) é


uma instituição que tem por objecto a formação
técnicoprofissional através da organização, gestão e
realização de cursos, seminários, estágios e outras
actividades afins. O seu principal objectivo é apoiar a
qualificação técnica da população bancária. No entanto, o
IFBM estende a sua acção no domínio da formação
financeira a instituições e empresas de outros sectores e a
todos os que o procuram a título individual.
108
Desde a sua criação em 1994 (Diploma Ministerial Nº 76/94
de 25 de Maio), o IFBM contribuiu para a formação e
aperfeiçoamento de centenas de quadros da banca, um sector
dinâmico e muito competitivo da economia moçambicana, e
de outras empresas e instituições.

A acção do IFBM abrange vários níveis da formação


técnicoprofissional, oferecendo já um conjunto de propostas
de formação diversificada, procurando dessa forma
responder às necessidades dos bancos e dos outros sectores
da actividade económica.

Além da clássica formação em sala de aula, com cursos de


curta e média duração, o IFBM privilegia as metodologias
modernas de formação, nomeadamente a Auto-Formação e o
Ensino à Distância (Diploma Ministerial Nº 156/96 de 18 de
Dezembro), levando deste modo a formação a todo o
território nacional. Na verdade, aposta-se sobretudo no
indivíduo como agente da sua própria formação, e
igualmente responsável pelo sucesso relativamente aos
objectivos propostos pela instituição.

109

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