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No que toca ao estado atual das coisas, julgamos ser mais adequado autonomizar a
questão do modelo organizativo.
Modelos organizativos
A constituição põe o acento tónico na garantia dos direitos dos administrados, limitando a
própria garantia do recurso de anulação aos titulares dessas posições jurídicas subjetivas, tal
não deve ser interpretado como imposição constitucional de um modelo estritamente
subjetivista de justiça administrativa. A constituição quis estabelecer as garantias dos
administrados, mas não pretendeu impor um modelo processual determinado. A concretização
desse modelo compete ao legislador, o Art. 268º CRP não estabelece um regulamento global da
justiça administrativa, define, apenas, garantias dos administrados.
Em 2000/2001 houve uma reforma que veio a introduzir o Estatuto dos Tribunais
Administrativos e Fiscais (ETAF) e do CPTA, esta reforma alterou o modelo de justiça
administrativa num sentido subjetivista, embora mantendo traços objetivistas, alguns dos
aspetos mais relevantes desta reforma foram:
São, ainda assim, visíveis os momentos objetivistas do regime, seja no que respeita à
legitimidade ativa, seja quanto à previsão de litígios inter-administrativos-
Revisão de 2015
A revisão do CPTA e do ETAF em 2015 não trouxe alterações ao modelo desenhado em 2002, a
não ser quanto ao desaparecimento da distinção entre a ação administrativa comum e a ação
administrativa especial, passando todos os processos principais não-urgentes a tramitarem sob
uma única forma de ação, que corresponde, no essencial, ao da anterior ação administrativa
especial. Houve ainda modificações significativas que visaram aperfeiçoar processualmente o
modelo.
Mini-reforma de 2019/2020
Em 2019, houve modificações do regime da jurisdição administrativa e fiscal que alterou o CPPT
e o CPTA.
As principais alterações ao ETAF tiveram lugar em matéria de organização territorial da
administração e gestão dos tribunais de primeira instância e, por outro lado, na previsão da
especialização dos tribunais administrativos de círculo.
No que respeita ao regime processual, as alterações incidiram, em especial, sob o
processo tributário.
Quanto ao processo administrativo, temos algumas mudanças, como a regra da
aplicação retrospetiva do CPTA a todos os processos pendentes, a obrigatoriedade da
tramitação eletrónica nos processos...
O domínio substancial da justiça administrativa
O critério de delimitação
Esta noção de relação jurídica administrativa abrange a generalidade das relações jurídicas
externas ou intersubjetivas de caráter administrativo, seja as que se estabeleçam entre os
particulares e os entes administrativos, sejas as que ocorram entre sujeitos administrativos.
O conceito de relação jurídica administrativa pode ser tomado em diversos sentidos, pode ser
entendido, num sentido subjetivo qualquer relação jurídica em que intervenha a Administração,
designadamente uma pessoa coletiva pública, independentemente da veste em que atua. Mas
também pode entender-se, em termos predominantemente objetivos, como as relações
jurídicas em que intervenham entes públicos, mas desde que sejam reguladas pelo Direito
Administrativo. Há ainda outro entendimento, que faz corresponder o caráter administrativo da
relação ao âmbito substancial da própria função administrativa, ou seja, abrange as relações
jurídicas que correspondam ao exercício da função administrativa, entendida em sentido
material.
Sendo esta uma questão importante que não é definida pelo legislador, será mais prudente
partir do entendimento do conceito de relação jurídica administrativa, no sentido estrito
tradicional, com exclusão das relações de direito privado em que intervém a administração. Ou
seja, a terminação passa pela distinção entre direito privado e direito público, que é aquela em
que um dos sujeitos é uma entidade público ou particular no exercício de poder público com
vista à realização de um interesse público legalmente definido. Importa lembrar que, no que
toca às situações em que intervenham órgãos ou entidades que não integram a administração
em sentido organizatório, pelo Art. 212º nº3 CRP, as questões relativas a qualquer atividade
pública em matéria administrativa, mesmo que proveniente de entidades não administrativas
integram substancialmente a justiça administrativa. Sendo certo ainda que o CPA adotou uma
definição substancial de ato administrativo (Art. 148º CPA)
No contexto da justiça administrativa, vamos ver aqui o caso das relações administrativas
interpessoais ou intersubjetivas, dado que, por razões de delimitação funcional, os tribunais
administrativos, salvo quando previsto na lei, só podem conhecer litígios entre partes ligadas
por uma relação jurídica externa. As relações externas não são apenas as que se estabelecem
entre a Administração e os particulares, abrangendo igualmente as relações jurídicas entre
pessoas coletivas públicas. Deve ter-se em conta que a diversificação funcional dentro de
pessoas coletivas públicas mais complexas leva a que as decisões tomadas por alguns órgãos
possam comprometer o exercício da competência por outros órgãos, facto que justifica a
impugnabilidade de atos ou a condenação à prática de ato devido nas relações entre ´órgãos da
mesma pessoa coletiva (Art. 51º nº2 b), 55º e 68º nº1 d)).
Para efeito de exclusão do âmbito da justiça administrativa, são de considerar relações jurídicas
administrativas internas ou intrapessoais:
Posições de vantagem
A fronteira a estabelecer com nitidez deve ser a que delimita, de um lado, as posições jurídicas
substantivas (direitos e interesses legalmente protegidos) e, do outro lado, os interesses simples
ou de facto
Posições de desvantagem
a) Sujeições: Posições jurídicas passivas dos particulares, que surgem nas relações jurídicas
administrativas em correspondência com direitos potestativos da administração, mas
que são sobretudo características enquanto posições correspetivas de poderes jurídico-
públicos gerais ou especiais.
b) Deveres: Incluem as obrigações dos particulares decorrentes da lei, de regulamento de
ato ou de contrato administrativo, mas também os meros deveres. Estes deverem têm
de resultar ou de se fundar na lei ou, no caso das obrigações, de contrato
c) Ónus: Posição mista, existem sempre que o titular de um poder ou faculdade tem a
necessidade prática de adotar um certo comportamento, caso pretenda assegurar a
produção de um efeito jurídico favorável ou não perder um efeito útil já produzido.
a) A administração pública dispõe de poderes públicos de índole geral que são poderes-
deveres ou poderes funcionais, porque visam sempre a prossecução de interesses
público.
b) A administração é ainda titular de direitos e deveres públicos concretos, muitas vezes
decorrentes do exercício dos seus poderes.
c) Nas relações interadministrativas, os entes públicos podem surgir em posição de
dominância-dependência mais ou menos intensa, hipóteses em que essas relações se
podem aproximar das que ligam a Administração aos particulares
d) Os órgãos ou os entes públicos são também titulares de posições jurídicas
procedimentais ou processuais.
Esta perspetiva funcional vai contribuir para a delimitação material do âmbito da justiça
administrativa, relativamente a outros instrumentos ou formas de composição de litígios, seja
quanto ao respetivo objeto, seja quanto aos meios de resolução
Deve começar por referir-se, como delimitação material negativa, a exclusão da justiça
administrativa das questões relativas a atos internos da administração ou a litígios que relevam
exclusivamente da organização ou das relações administrativas internas.
Além disso, a delimitação da justiça administrativa pelo caráter jurisdicional da função exercida,
leva a que não possa hoje incluir a resolução de questões administrativas, quando esta se
realize através de meios administrativos de impugnação. Embora o recurso hierárquico, com um
procedimento mais ou menos jurisdicionalizado, primeiro, e a intervenção de autoridades
administrativas independentes depois tenham constituído as formas típicas do contencioso
administrativo tradicional, hoje elas estão fora do âmbito próprio da justiça administrativa.
Estes meios complementam a garantia dos particulares de acesso ao tribunal e, quando a lei
expressamente o determine, a sua utilização pode mesmo constituir um pressuposto processual
da ação judicial.
No que se refere a várias matérias administrativas, o Art. 187º CPTA prevê ainda, e parece
promover a possibilidade de os ministérios, através de portaria, se vincularem à jurisdição dos
centros de arbitragem permanentes para a resolução de pequenos litígios, legalmente
suscetíveis de arbitragem, estabelecendo o respetivo “tipo” e “valor máximo”
Seja qual for a sua génese, os tribunais arbitrais constituem, nos termos do Art. 209º nº2 CRP,
categorias reconhecidas de tribunais, que exercem a função jurisdicional.
Dentro do domínio material definido pelas relações jurídicas administrativas públicas, a ordem
judicial administrativa vai julgar os litígios entre os interessados, dando-lhes uma solução de
caráter jurisdicional.
No entanto, essa atividade exercida pelos tribunais administrativos sofre limitações funcionais
específicas, na medida em que se apresenta como uma atuação que envolve um juízo sobre a
legitimidade do exercício de um outro poder público: O poder administrativo (Executivo).
De facto, do princípio da divisão dos poderes, na dimensão que separa o poder judicial
dos outros poderes públicos, há-de resultar alguma limitação para a justiça administrativa, visto
que o juiz não pode ignorar, nem substituir-se à competência e à autoridade própria das
decisões jurídico-públicas da administração.
Ainda que este limite tenha vigorado no nosso ordenamento durante muito tempo, hoje é
completamente ultrapassado
Outro limite que foi ultrapassado, sendo ainda assim certo que, o juiz não pode determinar
aquilo que a administração há-de fazer num caso concreto, e muito menos substituir-se a ela,
quando esteja em causa o conteúdo discricionário de um ato de autoridade, devendo limitar-se
a uma condenação genérica ou diretiva. Do mesmo modo, o juiz tem de respeitar a força de
caso decidido de ato administrativo, quando este, ainda que inválido, se tenha tornado
inimpugnável pela queda do prazo de impugnação, embora possa conhecer incidentalmente
essa eventual ilegalidade do ato, quando a lei o permite, em regra para efetivação da
responsabilidade civil da administração.
A primeira questão que se coloca é a da interpretação do art. 232 nº3 CRP, para saber se aí se
consagra uma reserva material absoluta de jurisdição atribuída aos tribunais administrativos, no
duplo sentido de que, por um lado, os tribunais administrativos só poderão julgar questões de
direito administrativo e de que, por outro lado, só eles poderão julgar tais questões.
A jurisprudência do TC parecia apontar para uma reserva negativa em que estes tribunais
especiais só poderiam julgar as questões que lhe fossem constitucionalmente atribuídas, nesta
linha, deveriam ser consideradas inconstitucionais as leis que conferissem aos tribunais
administrativos competência para o conhecimento de questões que não fossem emergentes de
relações jurídicas administrativas.
No entanto, a doutrina desenvolveu-se para admitir a atribuição legal aos tribunais
administrativos da resolução de litígios referentes à atividade da administração, ainda que
respeitassem a relações ou incluíssem aspetos do direito privado.
Essa possibilidade tornava-se tanto mais aceitável quanto mais se verificava uma crescente
utilização de mecanismos de direito privado pela Administração no exercício da função
administrativa. Foi neste sentido que a reforma de 2002 optou por atribuir aos tribunais
administrativos a resolução de alguns litígios não incluídos no Art. 212º nº3 CRP.
Quanto ao segundo aspeto da questão, a doutrina dividiu-se, sendo que o STA e o TC assumiram
a posição que não lê o preceito constitucional como um imperativo estrito, contendo uma
proibição absoluta, mas como uma regra definidora de um modelo típico, suscetível de
adaptações ou desvios em casos especiais, desde que não fique prejudicado o núcleo
caracterizador do modelo
O ETAF reafirma no nº1 a cláusula da CRP, desde 2015 o preceito remete a definição do âmbito
da jurisdição administrativa para o Art. 4º que inclui a alínea o) do nº1. Nesta matéria, o ETAF
entra por uma enumeração positiva, onde elenca questões que fazem parte deste âmbito da
justiça administrativa e uma enumeração negativa, onde elenca questões que não fazem parte.
Embora exista uma relativa unidade de jurisdição entre a justiça administrativa e a fiscal estas
são distinguíveis e, para tal, a jurisprudência tem adotado a “tese ampliativa”, pela qual são
“questões fiscais” para o efeito “todas as questões cuja resolução exija a interpretação de quais
disposições de direito fiscal, desde que se situem no campo da atividade tributária.
Ver também art. 179º CPPT
Garantia da tutela jurisdicional efetiva
O direito de acesso aos tribunais administrativos e o princípio da tutela jurisdicional efetiva
Aqui costumamos destacar, primeiro o direito de acesso ao direito e aos tribunais, depois o
direito a obter uma decisão judicial em prazo razoável e mediante processo equitativo e, por
fim, o direito à efetividade das sentenças proferidas.
O Art. 20º CRP garante o direito de acesso ao direito e aos tribunais, bem como à informação e
consulta jurídica e ao patrocínio judiciário.
Estes direitos podem ser agregados num direito geral à proteção jurídica, que constitui um
direito-garantia dos cidadãos.
O núcleo essencial é constituído pelo direito à proteção pela via judicial, e é ainda reforçado, ao
nível constitucional, pelo Art. 205º CRP
A CRP consagra no Art. 268º nº4 CRP o princípio da tutela judicial efetiva dos cidadãos perante a
AP. Este princípio é reafirmado com o princípio da justiciabilidade ou acionabilidade da
atividade administrativa lesiva dos particulares no Art. 2º nº2 CPTA.
A tutela judicial efetiva há-se de ser assegura numa tripla dimensão, sejam quanto à
disponibilidade de ações ou meios principais adequados, seja no plano cautelas e executiva,
quanto às providências indispensáveis para a garantia da utilidade e efetividade das sentenças.
A tutela judicial efetiva não se refere apenas aos direitos dos cidadãos, mas estende-se à
proteção do interesse público e dos valores coletivos.
A tutela judicial efetiva é garantida pela plena jurisdição do tribunal que lhe permite tomar as
decisões justas e adequadas à proteção dos direitos dos particulares e assegurar a eficácia
dessas decisões.
Formas de processo principal
Ação administrativa
Em 2002 estabeleceu-se uma forma de processo comum e alguns processos especiais, sendo
que estes processos especiais englobavam 3 tipos fundamentais de pedidos: impugnação de
atos, a condenação à prática de ato legalmente devido e a impugnação e a declaração de
ilegalidade da omissão de normas. Em 2015, acabou este regime dualista, passando todos os
processos não-urgente do contencioso administrativo a tramitar sob uma única forma de ação,
a ação administrativa.
Processos urgentes
Art. 97º e ss. Abrangem 3 tipos de ações administrativas urgentes, relativos ao contencioso
eleitoral, procedimentos de massa e ao contencioso pré-contratual e 2 tipos de intimações, para
prestação de informações, consulta de processos ou passagem de certidões e para proteção dos
direitos, liberdade garantias.
Ações administrativas que não sejam reguladas no CPTA, mas constituam objeto de regulação
especial em legislação avulsa:
Ações populares
São espécies qualificadas. A ação popular local é uma espécie qualificada de impugnação,
admissível apenas a este pedido e corresponde ao alargamento da legitimidade impugnatória,
visto que a dimensão comunitária típica da ação popular não se manifesta nos valores ou
interesses defendidos, bastando-se com o vínculo à pertença à autarquia local. A ação popular
social pode tomar qualquer das formas e integrar qualquer dos pedidos previstos no CPTA.
Cumulação de pedidos
É admitida com a maior das aberturas no Art. 4º CPTA, só é admissível quando haja conexão
entre os pedidos: quando seja a mesma causa de pedir ou a procedência do pedido dependa da
apreciação dos mesmos factos ou da aplicação das mesmas normas. O CPTA passou a admitir a
possibilidade de cumular pedidos, mesmo quando aos pedidos cumulados correspondam
diferentes formas de processo ou tribunais de hierarquia distinta.