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INTRODUÇÃO

O tema em que nos propomos desenvolver reflecte-se numa abordagem jurídico-


cientifico engendrado no ramo do Direito Privado, isto é, Direito Processual
administrativo (Contencioso administrativo) cujo objecto é o Recurso Contencioso de
Anulação do Regulamento Administrativo, traduzindo-se nos mecanismos a que os
particulares podem recorrer para obter a mais eficaz tutela dos seus direitos e interesses
afectados pelos regulamentos administrativos ilegais.
Ora, tanto que teremos o cuidado de trazer minuciosamente aspectos imprescindíveis no
estudo sobre Anulação do Regulamento Administrativo, tais como: direitos que incluem
no o direito de acesso aos tribunais e o princípio da tutela jurisdicional efectiva, sistema
de impugnação dos regulamentos, o sistema angolano de impugnação de regulamentos,
caracterização do recurso contencioso, natureza do recurso contencioso de anulação,
pressupostos processuais do recurso, fases da tramitação dentre outro.

Problemática
O que está na base do recurso contencioso de anulação do regulamento?
Quais os regulamentos passiveis de sindicância pelo contencioso administrativo?

Hipótese
Estas, bem como as demais indagações a volta deste estudo serão compreendidas nos
seguintes: o direito de acesso aos tribunais e o princípio da tutela jurisdicional efectiva, o
contencioso dos regulamentos administrativos e a tramitação processual administrativa.

Objectivo
Gerais
 Analisar recurso contencioso de anulação do regulamento administrativo
Específicos
 Conhecer a natureza do recurso contencioso de anulação do regulamento;
 Compreender os vários elementos processuais do recurso anulação do
regulamento administrativo;
 Conhecer a tramitação deste recurso.

1
Delimitação do estudo
Sendo vasto o campo de estudo sobre o recurso contencioso de anulação, limitamo-nos
em debruçar apenas sobre o recurso contencioso de anulação do regulamento
administrativo, sua natureza, pressupostos processuais, bem como sua tramitação.

Plano sumário
O trabalho analisado está composto por três capítulos, onde no I Capítulo, abordamos
sobre o direito de acesso aos tribunais e o princípio da tutela jurisdicional efectiva;
No II Capítulo, abordamos sobre o contencioso dos regulamentos administrativos;
No III Capítulo, sobre a tramitação processual administrativa.

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ABREVIATURAS
CRA – Constituição da Republica de Angola
CPC – Código do Processo Civil
RPCA – Regulamento do Processo Contencioso Administrativo
LIAA – Lei de Impugnação dos Actos Administrativo
NPAA – Normas do Procedimento da Actividade Administrativa
MP – Ministério Público

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CAPÍTULO I. O DIREITO DE ACESSO AOS TRIBUNAIS E O
PRINCÍPIO DA TUTELA JURISDICIONAL EFECTIVA

1.1. Conteúdo do Direito


Entender-se que o direito de acesso aos tribunais deslinda-se, sobretudo, a partir do art.
29º da Constituição da República Angolana.
Assim, primeiro que tudo, e antes de avançarmos para a apresentação dessas dimensões
garantísticas – ou «subdireitos» ou «subprincípios» – que o âmbito normativo daquele
preceito de conteúdo tão rico encerra, cumpre sublinhar que o direito de acesso ao direito
e aos tribunais decorre imediatamente da ideia de Estado de Direito e é tido como direito
fundamental, beneficiando do regime qualificado de protecção dos direitos, liberdades e
garantias, não obstante a margem de densificação do preceito que é dada ao legislador
ordinário.
Assim, a partir desse acervo jurisprudencial, podemos considerar que o direito de acesso
aos tribunais em Angola, a que se refere o art. 29º da Lei Fundamental, inclui, desde logo,
a) O direito de acção e de acesso a tribunais – sendo estes tidos como órgãos
independentes e imparciais;
b) O direito a um processo;
c) O direito a obter uma decisão de mérito sobre a causa;
d) O direito à plena execução dessa decisão;
e) O direito a obter a tutela jurisdicional efectiva através de processos
temporalmente adequados, mormente quando em causa está a protecção de direitos,
liberdades e garantias;
f) O direito a obter providências cautelares que se mostrem adequadas a
salvaguardar a plena execução das sentenças.

1.1.1. Processo Equitativo


Finalmente, o direito de acesso aos tribunais deve realizar se em processo equitativo, nos
termos do nº 4 do art. 29º da CRA. E, no que respeita especialmente ao processo
equitativo, ele integra:
a) O direito à igualdade de armas ou direito à igualdade de posições no processo,
com proibição de tratamento discriminatório ou arbitrário;
b) O direito de defesa e o direito ao contraditório, no sentido de existir efectiva
possibilidade de cada uma das partes invocar as razões de facto e de direito,
oferecer provas, controlar as provas da outra parte e pronunciar-se sobre o valor e
resultado dessas provas;

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c) O direito a prazos razoáveis de acção e recurso, o que pressupõe o direito à decisão
em prazo razoável, o que nos leva a dizer que o processo para ser justo deve apresentar
igualmente uma duração razoável, que atenda à duração compatível com a qualidade da
instância e a efectividade da decisão final.

1.2. Derivações do Direito de Acesso aos Tribunais e à Tutela Efectiva


Pois bem, por força do Princípio da Tutela Jurisdicional efectiva deve hoje entender-se
de modo diverso o elenco dos mecanismos processuais previstos na legislação
ordinária em Angola. É certo que se sustentava, tradicionalmente, a ideia de que os
particulares não poderiam utilizar os meios processuais não previstos na lei (princípio da
tipicidade dos meios processuais).
Hoje, o entendimento vai, pois, no sentido da sua admissibilidade, por força do princípio
do acesso aos tribunais e do princípio da tutela jurisdicional efectiva, previsto na
Constituição Angolana. Neste sentido e por força de tais princípios, importa chamar aqui
o art. 2º do CPC, que determina que a todo direito violado deve corresponder uma acção
para o fazer valer em juízo, bem como as providências necessárias para acautelar o efeito
útil dessa acção. Isto quer dizer que, por força do direito de acesso aos tribunais e de
princípio da tutela jurisdicional efectiva, se admite que o particular possa utilizar outros
meios processuais não previstos na legislação processual administrativa, desde que tais
acções respeitem as finalidades que estão na base da tipicidade das formas processuais
que são a segurança, a eficiência e a certeza jurídicas, a ordem e a justiça.
Como já notámos, o direito de acesso aos tribunais e à tutela jurisdicional efectiva tem
assento na Constituição Angolana, como já mencionámos, no art. 29º, e também os art.
ex. 195º, 200º, nº 1, 174º, nº 2, e art. 198º, nº 2, têm implícitos o princípio da tutela
jurisdicional associado ao princípio da justiciabilidade ou da accionabilidade da
actividade administrativa lesiva dos particulares.
Parece indiscutível a relevância deste princípio na maximização das garantias ordinárias
e na determinação dos momentos normativos que determinam a protecção judicial
efectiva dos cidadãos perante os entes públicos.
Tudo apurado, importa dizer que o sistema angolano integra garantias administrativas e
jurisdicionais, sendo certo que quanto a estas devem as mesmas ser compreendidas à luz
do art. 29º da CRA. Neste prisma, sequencialmente, temos primeiro o direito de acesso
ao direito e aos tribunais, sendo certo que, em conformidade, a todo o direito ou interesse
legalmente protegido deve corresponder uma acção com vista à tutela adequada junto dos
tribunais e, depois, o direito à tutela jurisdicional efectiva, isto é, o direito de obter uma
decisão judicial em prazo razoável e mediante processo equitativo. E, finalmente, o direito
à efectividade das sentenças proferidas, o que reclama a necessária possibilidade de
solicitar a adopção de qualquer providência cautelar contra a Administração Pública, de
modo a garantir pela utilidade das mesmas.
Fundamental é evidenciar, no entanto, que a tutela jurisdicional efectiva em matéria
administrativa não se refere apenas aos direitos dos cidadãos, como também respeita à
protecção dos interesses públicos e dos valores comunitários, designadamente daqueles

5
valores e bens constitucionalmente protegidos, como a saúde, o ambiente, o urbanismo,
o ordenamento do território, a qualidade de vida, o património cultural e os bens do
domínio público.
Finalmente, importa referir que, no âmbito das relações jurídicas administrativas, este
princípio é particularmente exigente também no que respeita ao momento da execução
das sentenças desfavoráveis à autoridade administrativa.

1.3. Os Meios Processuais: Elenco Aberto


Sendo que, contencioso administrativo refere-se ao conjunto de normas jurídicas
reguladoras da intervenção dos Tribunais face a litígios existentes entre a Administração
Pública e os particulares e que s contencioso administrativo refere-se ao conjunto de
normas jurídicas reguladoras da intervenção dos Tribunais face a litígios existentes entre
a Administração Pública e os particulares e que são solucionadas por aplicação de normas
do Direito Administrativo e por uma jurisdição própria.
O contencioso administrativo angolano continua a basear-se na ideia do recurso
contencioso de anulação como contencioso regra, como meio processual principal, e,
além desses, admite também as acções que correspondem a um contencioso de plena
jurisdição. Depois vamos encontrar os meios acessórios, incluindo o processo de
suspensão da eficácia de actos administrativos, e os recursos jurisdicionais.
Assim, em Angola encontramos os seguintes processos declaratórios:
I. Meios principais declaratórios:
a) Recurso contencioso de anulação;
b) Acções contenciosas
II. Meios acessórios declaratórios

1.3.1. Meios Declaratórios Principais:

a) O Recurso Contencioso de Anulação


Este meio processual está previsto e disciplinado nos art. 1º, 6º e seguintes. Da LIAA, e
também nos art. 35º, al. a), e 39º e seguintes do RPCA.
De um modo geral, o recurso contencioso de anulação pode desdobrar-se numa dupla
configuração: recurso contencioso de anulação de actos administrativos e recurso
contencioso de anulação de regulamentos administrativos. Contudo, quando se emprega
a expressão «recurso contencioso de anulação» isso é sinónimo, quase imediato, de
recurso contencioso de anulação de actos administrativos.
Os actos administrativos são os actos jurídicos das entidades públicas mais atacados
judicialmente e postos em crise nos tribunais. A sua principal função é sindicar os actos

6
praticados pela Administração (facere) ou as omissões ou os actos tácitos (non facere),
em conformidade com o art. 63º das NPAA1.

b) As Acções Contenciosas
No contencioso administrativo angolano também se integra um conjunto de acções
processuais, a saber: Acções relativas a contratos administrativos (ou acções derivadas de
contratos administrativos)
Este meio principal serve para dirimir litígios emergentes de contratos administrativos,
tais como, os litígios relativos à interpretação, validade e execução do contrato, e está
previsto e disciplinado nos artigos 2º, nº 1, e 3º da LIAA, e também nos artigos 35º, al.
b), e 69º e seguintes RPCA.

1.3.2. Meios Acessórios Declaratórios: Processos Cautelares


Quanto aos Processos cautelares, são estes instrumentos acessórios que acautelam a
efectividade das sentenças proferidas nos processos principais e que resolvem algumas
das situações de urgência – cujo pressuposto é o periculum in mora, id est o prejuízo ou
«dano marginal» que resulta da demora do processo principal, juntamente com o fumus
boni iuris, scilicet a aparência de bom direito do requerente, apreciável segundo a
probabilidade de este vir a ter sucesso no processo principal, que justifica a adopção de
providências cautelares2.
Finalmente, integram o naipe de mecanismos processuais os recursos jurisdicionais
contra sentenças e acórdãos em processos jurídico-administrativos. Os recursos
jurisdicionais são meios processuais destinados a permitir às partes recorrer de decisões
produzidas nos processos administrativos. Os recursos jurisdicionais distinguem-se
claramente dos recursos contenciosos de anulação de actos administrativos ou de
Regulamentos porque este apontam para a eliminação da ordem jurídica de actos ou
regulamentos administrativos produzidos pela Administração e aqueles têm como objecto
sentenças ou acórdãos.
Nos recursos contenciosos de anulação de actos ou regulamentos impugna-se, na
circunstância, um acto administrativo(individual e concreto) ou regulamento
administrativo (acto normativo geral e abstracto). Mas no recurso jurisdicional impugna-
se uma decisão jurisdicional, id est, sentença, despacho de um juiz ou acórdão de um
tribunal colectivo (Cfr., pois, art. 79º e ss do RPCA).

1
O acto administrativo tem a sua mais alta expressão e importância no Direito Administrativo angolano
quando, definitivo e executório, sobretudo porque ele constitui o pressuposto da garantia de recurso
contencioso.

2
Ela caracteriza-se por ser urgente, acautelando o efeito útil de um mal (preventivo), subordinada a um
processo, durando apenas enquanto não é proferida a decisão final, desviando-se ao princípio do
contraditório. Ela também, pode ser antecipatória ou conservatória, prevista nos termos do n. 5 do art.
29° da CRA e 381° e ss do CPC.

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CAPÍTULO II. O CONTENCIOSO DOS REGULAMENTOS
ADMINISTRATIVOS

2.1. Perspectiva Geral


Para prosseguir interesse público, a Administração Pública pratica actos como poder, que
definem genericamente em que sentido vai aplicar a lei. Para dizer falamos dos actos
administrativos, em sentido lato, englobamos também os actos administrativos
propriamente ditos e os regulamentos administrativos3.
Os regulamentos, em sentido restrito são normas jurídicas emanadas por uma autoridade
administrativa no desempenho ou exercício do poder regulamentar4, ou seja, comandos
de autoridade emitidos unilateralmente por órgãos do Governo (executivo) ou pela
Administração, são gerais e abstratos e visam a regulamentação das relações gerais do
poder do Estado, tendo carácter de lei material.
Os regulamentos administrativos são de natureza geral, uma vez que se dirigem a uma
pluralidade indeterminada de pessoas, mesmo se no momento da sua emissão apenas são
atingidas determinadas pessoas, e abstracta porque regulam um número indeterminado de
casos.

2.2. Sistema de Impugnação dos Regulamentos


Tal como os actos administrativos são susceptíveis de lesar as posições jurídicas
substantivas dos particulares, os regulamentos administrativos, constantemente
elaborados pela Administração, enfermam de ilegalidade se violarem a lei que define a
competência para a sua emissão e execução.
Neste sentido, a lei prevê mecanismos a que os particulares podem recorrer para obter a
mais eficaz tutela dos seus direitos e interesses afectados pelos regulamentos ilegais.
Seguindo Freitas do Amaral, podemos encontrar três sistemas possíveis de tutela: sistema
da não impugnação dos regulamentos; sistema da impugnação directa; e sistema de não
aplicação.
a) Sistema da não impugnação dos regulamentos
Trata-se de um sistema típico de uma Administração Pública do Estado absoluto, em que
os direitos às pessoas não são reconhecidos.
Caracteriza-se pela ausência de garantias dos particulares na tutela dos seus direitos e
interesses legítimos.
Se o poder executivo decretava regulamentos ilegais, os particulares não podiam fazer
outra coisa senão cumpri-los.

3
Este poder que a Administração pública tem para fazer regulamentos, chamamos de poder
regulamentar ou faculdade regulamentária.
4
SAPLINHA, Alfredo Longo, Notas vestibulares, ano letivo 2018.

8
b) Sistema da impugnação directa
Consiste na impugnação directa de regulamentos administrativos ilegais, nos mesmos
termos que se impugna os actos administrativos. Este sistema tem a vantagem de
assegurar a garantia de respeito pelas posições jurídicas substantivas dos particulares que
os regulamentos ilegais possam eventualmente violar. Entretanto, tem a desvantagem de
sobrecarregar os tribunais de trabalhos se os particulares decidirem interpor o recurso
contencioso de todos os regulamentos ilegais, pelo que prejudica o funcionamento da
Administração que se vê envolvida em contencioso.

c) Sistema de não aplicação


Não se admite o recurso directo do regulamento para o tribunal administrativo. Isto é, os
regulamentos administrativos ilegais não são impugnáveis directamente perante o
tribunal. Com efeito, se o tribunal considerar que o regulamento é ilegal, este não o anula.
Apenas não o aplica, por via da anulação do acto administrativo que aplicou um
regulamento ilegal.
Assim, anular o acto concreto que aplica o regulamento administrativo ilegal significa
não aplicar o regulamento ou ignorà-lo puro e simplesmente. Deste modo, enquanto
sobreviver o acto administrativo que aplica o regulamento administrativo ilegal, ele estará
inquinado à partida, por força do respectivo regulamento64.
Ao anulá-lo, indirectamente não se está a aplicar o regulamento ilegal. Entretanto, embora
este sistema apresente a vantagem de não sobrecarregar muito os tribunais
administrativos, tem a desvantagem de não tutelar de forma eficaz os particulares, quando
os próprios regulamentos constituem per se a fonte de prejuízo directo e imediato para os
particulares, seus destinatários.

2.3. Sistema Angolano De Impugnação De Regulamentos5


Pode dizer-se que o legislador ordinário angolano nada prevê sobre a questão da
impugnabilidade dos regulamentos administrativos ilegais, termos em que suscita
perguntar se eles existirem, podem ser impugnáveis65. A doutrina maioritária, como
Carlos Feijó, perfilha a tese de que em Angola há lugar à impugnação directa dos
regulamentos administrativos ilegais, em homenagem ao princípio da tutela jurisdicional
efectiva.
Por outro lado, tal solução pode resultar na própria CRA, nos termos dos art. 226º e 227º,
relativamente à violação por actos da Administração Pública que violem os princípios e
normas consagradas na CRA. Neste contexto, o art. 230º, nº 1 e nº 2, al. e), também
vem materializar esta ideia, se tomarmos em conta a queixa ao Provedor de Justiça,
enquanto defensor dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e a possibilidade de
este poder suscitar a questão da ilegalidade da norma regulamentar.

5
FONSECA, Isabel Celeste M.; AFONSO, Osvaldo da Gama, Direito Processual Administrativo Angolano,
Edições ALMEDINA,S.A. 2013

9
De qualquer modo, em geral, eles também podem ser suscitados e afastados por via do
recurso de anulação do acto administrativo que os aplica, em vez de serem impugnados
directamente. Tal é o sistema de não impugnação.

2.4. Caracterização do Recurso Contencioso


2.4.1. Natureza do Recurso Contencioso de Anulação
Neste recurso, não está em causa um julgamento da autoridade administrativa de que
emanou o regulamento, ou a pessoa colectiva que nele está adjacente, mas sim a
legalidade do regulamento em si6, não o comportamento das pessoas. Reexamina-se o
processo gracioso e a sua decisão à luz dos preceitos legais aplicáveis, afim de emitir não
uma absolvição ou condenação do pedido, mas sim, um juízo de confirmação ou de
anulação meramente declaratório. Ora, é de consistirá o pedido na anulação ou declaração
da nulidade ou da inexistência do regulamento e a sentença destinar-se-á a existência de
invalidades ou inexistência do regulamento, culminando na destruição dos seus efeitos
jurídicos por intermédio da sua anulação, ou da declaração de nulidade ou inexistência,
em função do vício que enferma.

2.4.2. Remissão ao Recurso Contencioso de Anulação do Acto


Administrativo
O legislador ordinário angolano nada prevê sobre a questão da impugnabilidade dos
regulamentos administrativos ilegais o seu processo. Ora, quanto a esta questão
processual bem como a tramitação processual do recurso contencioso de anulação do
regulamento, remetemos, mutatis mutandis, do recurso contencioso de anulação do acto
administrativo7.

2.4.3. Objecto do Recurso


O seu objecto do recurso contencioso de anulação de regulamento administrativo vem
regulado nos dispostos dos artigos arts. 8º conjugado com o artigo 40º do RPCAA.

2.4.4. Fundamento do Recurso Contencioso


Sendo o recurso contencioso um recurso de anulação, o seu fundamento só pode ser a
ilegalidade do regulamento recorrido, sendo que é o reconhecimento dessa ilegalidade
que acarretará, como sanção, a anulação ou a declaração de nulidade do regulamento.

2.4.5. Os Elementos do Recurso Contencioso de Anulação

6
Dando relevância particular ao acto regulamentar que é o cerne deste trabalho
7
Neste sentido cfr. FEIJÓ, Carlos, POULSON, Lazarino, A Justiça Administrativa (Lições), Luanda: Casa das
Ideias, 2008, p. 192 e ss

10
No que respeita aos elementos essenciais de qualquer causa, apraz destacar os seguintes:
a) As partes
b) O pedido
c) A causa de pedir
d) O Objecto (mediato)
e) O tribunal
Destes elementos importa distinguir os elementos subjectivos dos elementos objectivos.

2.4.5.1.Elementos subjectivos: São os sujeitos e as partes


Em sentido amplo, os sujeitos são as pessoas entre as quais se estabelecem relações
jurídicas processuais. Em sentido estrito e técnico (o que mais nos interessa), os sujeitos
são apenas aqueles participantes no processo, a quem compete direitos e deveres
processuais autónomos, isto é, podendo através das suas próprias decisões determinar,
dentro de certos limites, a concreta tramitação do processo. Dos quais destacamos: O Juiz
(titular da jurisdição), o Ministério Público, o recorrente (ou o demandante) e o recorrido
(ou o demandado)
As partes processuais
As partes processuais são sujeitos processuais que discutem a causa e têm a faculdade de
formular pretensão, como também de impugnar e contradizer as formulações pela outra
parte. Ou seja, são aqueles sujeitos que discutem a causa e esperam do juiz uma decisão
ou apreciação dela. Assim, as partes processuais são: o recorrente (ou demandante); e o
recorrido (demandado)
a) Recorrente: é quem interpõe o recurso contencioso. (art. 2º e 3º do RPCA). É
ele que impugna um acto administrativo (tanto pode ser pessoa física como jurídica), por:
b) O MP quando o regulamento administrativo impugnado viole a Lei
Constitucional ou for manifestamente ilegal.
c) Recorrido: é aquele contra o qual o recurso é interposto, e sendo demandado
tem, por este facto, interesse na manutenção do regulamento recorrido. A sua pretensão é
contra a procedência do recurso (artigo 4º do DL nº 4-A/96, de 5 de Abril).

2.4.5.2. Elementos Objectivos


Em sentido amplo temos, importa destacar, o pedido e a causa de pedir. Em sentido estrito
temos o regulamento administrativo (ou objecto mediato). Objecto do recurso
contencioso de anulação é a invalidade do regulamento administrativo (art. 8º do RPCA).
Ou seja, por outras palavras, o objecto do recurso contencioso de anulação do
regulamento administrativo abrange:

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 Os Regulamentos do Governo, seja ele, Decreto-Regulamentar, Resolução do
conselho de Ministros, Portarias, Despachos Normativos8 ou Despachos Simples;
 Das Regiões Autónomas, sejam eles, Decretos-Regionais, Decreto
Regulamentares Regionais;
 Das Autarquias Locais, sejam eles posturas ou Regulamentos Policiais;
 Bem como os dos Institutos Públicos e as Associações Publicas, a estes não existe
uma forma especial9.

2.5. Pressupostos Processuais do Recurso


Os pressupostos processuais são as exigências legais de interposição do recurso. Se
faltarem, o tribunal recusa conhecer o fundo da causa e emitir uma decisão de mérito44.

2.5.1. Tipos de Pressupostos Processuais


a) Pressupostos processuais positivos: aqueles cuja verificação obriga o juiz a
conhecer o mérito da causa (a substância da causa).
b) Pressupostos processuais negativos: são aqueles cuja verificação obriga o
juiz a não conhecer tal mérito.
c) Pressupostos processuais absolutos (ou de ordem pública) são os de
conhecimento oficioso.
d) Pressupostos processuais relativos: dependem, às vezes, da invocação das
partes, sem a qual podem ser supridos ou mostrar-se irrelevantes.
Pressupostos processuais relativos ao tribunal (a), às partes (b) ou ao Processo (c)

2.5.1.1. Pressupostos processuais relativos ao tribunal


Dizem respeito à competência do tribunal, isto é, é necessário haver um tribunal
competente. Condição do exercício da função jurisdicional10
A incompetência do tribunal dá lugar à rejeição do recurso. É um pressuposto processual
de ordem pública, logo é de conhecimento oficioso. Ainda que as partes não o invoquem,
o próprio tribunal pode suscitá-lo, por dever do ofício.
Na lei angolana, a questão da competência coloca-se ao nível da competência material
ou em razão da matéria (art. 17º e 18º da LIAA). Implica dizer que, em Angola para se
apreciar a invalidade do acto do poder administrativo, a a competência é aferida à luz dos
artigos atrás aludidos.

8
Cfr. art. 137° da CRA
9
Estes também, desde que eivados de ilegalidade são susceptíveis de sindicância contenciosa, sob força
do art. 174° da CRA.
10
Cfr. Art. 27º, da Lei 2/15, de 2 de Fevereiro conjugado com 63º e 64º ambos do CPC.

12
Nos termos do art. 19º do RPCA, a questão da competência material pode ser suscitada
a todo o tempo, oficiosamente pelo tribunal ou a requerimento do Ministério Público ou
das partes (cfr. também o art. 20º do mesmo Diploma). Entretanto, vale a pena também
ler o art. 66º do Código do Processo Civil, nos termos do qual «as causas que não sejam
atribuídas por lei a alguma jurisdição especial são da competência do tribunal comum».
De acordo com o artigo 67º do mesmo código (CPC), o tribunal comum é o civil, no que
respeita à competência em razão da hierarquia (cfr. Art. 29º da Lei 2/15, com os 17º
18º, ambos do LIAA).
Quanto à competência em razão do território, conjugando o art. 31º 32º, ambos da Lei
n. 2/15, com os art. 17º e 18º da LIAA, podemos dizer que o Tribunal Supremo tem
jurisdição sobre todo o território nacional Angolano. Em relação aos Tribunais de
Comarca, estes têm jurisdição no território da respectiva província e, surgem os Tribunais
da Relação com jurisdição sobre determinada Região. Cfr. art. 17º e 18º da Lei nº 2/94,
de 14 de Janeiro, com o art. 8º da Lei nº 18/88, de 31 de Dezembro.
Relativamente à competência em razão do valor da causa, esta deve ser aferida nos
termos do art. 15º do RPCA, em conjugação com o art. 26º, n. 1, in fine da Lei 2/15, de 2
de fevereiro e os art.s 68º e 69º do CPC, que determina a alçada do tribunal.

2.5.1.2. Pressupostos processuais relativos às partes


Pressupostos processuais relativos às partes são a personalidade judiciária (art. 5º do
CPC), a personalidade dos órgãos da administração é adquirida de acordo o dispostos nos
art. 1º, 12º, 15º, 16º e 17º n. 1, todos do LIAA, nos termos das quais possuem
personalidade jurídica, o Estado, todos os titulares máximo de órgãos da Administração
Pública, membros do Governo, Governadores Provinciais, Administradores Municipais,
Presidentes do Conselho de Administração das EP, Directores Gerais dos IP, bastonários
de ordens profissionais etc.
A capacidade judiciária (art. 9º do CPC), sendo certo que, para os particulares, o CPC
requer que tenham a capacidade de exercício. No que concerne às entidades públicas, esta
é aferida em função da competência do órgão que representar a pessoa colectiva.
O patrocínio judiciário (art. 41º, al. i), do CPCAA) no contencioso administrativo, é
obrigatório, ao contrário do Processo Civil em que nem sempre é obrigatório (art. 32º e
60º do CPC), impondo a constituição obrigatória de patrocínio. E, em regra, quem exerce
o patrocínio judiciário são os advogados. Esse direito é constitucionalmente assegurado
nos termos dos art.s 29º, n. 2 e 195º, ambos da CRA.
Legitimidade das partes
Esta, diz respeito às pessoas ou sujeitos que devem intervir no processo.
A legitimidade pode ser activa (recorrente) e passiva (recorrido) art. 3º e 4º do RPCAA.
Assim, para além do que já avançámos antes, importa reiterar que, nos termos da al. c)
do art. 3º, o RCPA permite a acção popular, quando está em causa tutelar interesses
difusos o colectivos. E, de acordo com a al. d) do art. 3º deste Decreto-Lei, se for um
contrato administrativo, o MP pode intervir sempre, desde que o acto se manifeste
13
inconstitucional ou manifestamente ilegal. Esta posição é assim até porque o MP é
defensor da legalidade democrática. Nos termos do art. 39º do RPCA, a promoção é
alternativa (entre o Particular e o MP).

2.5.1.3. Pressupostos relativos ao processo


Recorribilidade do Regulamento
Voltando ao assunto do objecto, renovamos a ideia de que, nos termos desta norma, só os
regulamentos administrativos, feridos de ilegalidade ou lesivos de direitos adquiridos,
podem ser impugnados judicialmente. Logo, fora isso, não são recorríveis.
Tempestividade do recurso
No que respeita à tempestividade ou oportunidade do recurso, sendo certo que este é um
pressuposto que diz respeito aos prazos (art. 13º, nº 2, da LIAA), importa lembrar que o
recurso contencioso pode ser interposto no prazo de 60 dias a partir da data da notificação
do mesmo (art. 14º da LIAA). Este prazo diz respeito aos actos anuláveis.
Quanto aos actos nulos, estes podem ser impugnáveis a todo o tempo. Contagem dos
prazos: entende-se que o prazo do artigo 13º tem natureza substantiva. O momento da
contagem é a partir da publicação do acto e a partir da sua notificação. As regras da
contagem dos prazos estão previstas nos art. 38º a 42º das NPA.
Posto isto, sublinha-se que, perante um recurso interposto junto do tribunal, este começa
por analisar o seguinte: se o Tribunal competente, a questão da legitimidade, a
recorribilidade, e também a questão da oportunidade do recurso, isto é, se o mesmo é
tempestivo ou não.

2.5.1.4. Pressupostos processuais inominados


Pressupostos processuais inominados: são aqueles que se não forem observados
obstam a que o juiz conheça o mérito (a questão de fundo, a questão substantiva) da causa.
Neste contexto, vamos encontrar os seguintes pressupostos processuais inominados:

Aptidão da petição inicial


Aptidão da petição inicial no contencioso administrativo é aferida pela conjugação dos
art.s 41º do RPCA com o 193º do CPC. O que, quer dizer que a petição inicial deve conter
os requisitos aí previstos, tais como a inteligibilidade da indicação do pedido ou da causa
de pedir; apresentar em termos claro de modo a que não impeça a compreensão do que o
autor pretende, havendo nexo entre o pedido e a causa de pedir).

14
Quanto aos efeitos da ineptidão da petição inicial:
E se faltar algum dos requisitos, isto é, determinados elementos na petição inicial nos
termos do art. 41º não relevantes para o indeferimento, juiz convida o autor de modo a
suprir determinada irregularidade.11 Caso contrário a consequência é estabelecida no art.
474º, nº 1, al. a), do CPC.

Cumprimento das obrigações fiscais:


Há um dever geral de pagamentode impostos e taxas que impende sobre todos cidadãos
e que representa uma das principais obrigações dos cidadãos perante o Estado nos termos
do art. 88º, da CRA.
No contencioso administrativo devemos ter em conta o disposto nos art.125º, 126º e 127º,
conjugados com o art. 132º todos do RPCA.

Litispendência12:
Este pressuposto negativo conduz à rejeição do recurso no qual a autoridade
administrativa foi citado posteriormente, porém, no caso em que a citação tenha tido lugar
no mesmo dia, deverá ser rejeitado aquele que entrou mais tarde. A rejeição destina se
com que o tribunal seja colocado na alternativa de se contradizer ou de reproduzir uma
decisão anterior, nos termos do n. 2, do art. 497º, do CPC.
Verificando a litispendência, o requerimento inicial é inepto, cabendo indeferimento
liminar conforme estabelece a al. a) do art. 474º do CPC

11
cfr. art. 43º do RPCA conjugado com o 477º, nº 1, do CPC
12
Ela é uma excepção dilatória nos termos da al. g) do art. 494º do CPC

15
CAPÍTULO III. TRAMITAÇÃO PROCESSUAL
ADMINISTRATIVA13
Todo processo, requer uma sequência legalmente ordenada de actos e formalidades
tendentes a formação da decisão da decisão judicial e à respectiva execução.

3.1. Fase Da Dedução Do Requerimento Inicial


O requerimento inicial é a peça escrita com que o recorrente inicia e delimita o recurso,
indicando as razões de facto e de direito que, em sua opinião devem conduzir a declaração
de invalidade, nulidade, inexistência ou anulação do acto administrativo pelo tribunal.
O recurso é interposto pelo demandante (cfr. art.s 3º n. 1, primeira parte e o art. 264º, n.
1, ambos do CPC) com o requerimento inicial junto do tribunal competente, como
estabelece o art. 41º do RPCA. O artigo citado enumera alguns requisitos que, ao não
serem observado o juiz ou relator concedem um prazo ao demandante para que esta venha
a completar ou corrigir o requerimento inicial conforme estatui o art. 43º do RPCA.
Decorrido o prazo estabelecido para a correção do requerimento, observa-se a
consequência disposta no art. 44º do RPCA. Na esteira de Carlos Feijó e Lazarino
Poulson14, no contencioso administrativo nem sempre há articulado, e, não é obrigatório
articulação da peça tal como se verifica no Processo Civil.
Depois de o requerimento inicial dar entrada no tribunal e ser registado no livro de porta,
cabendo a posterior a distribuição (cfr. Art. 209º do CPC), o processo será autuado afim
de averiguar imperfeições da peça.
Porém, exige-se pagamentos de preparo nos termos do art. 136º n. 2 do RPCA, pois se
não for pago o recurso é considerado deserto, como estabelece o art. 222º n. 1 do CPC,
pago os preparos, o juiz ou relator emana despacho ou acordão preliminar de admissão
ou rejeição do recurso interposto observando os dispostos no artigo 45º do RPCA. Mas
se o processo for admitido, faz se a requisição do procedimento administrativo, nos
termos a que dispõem o n. 1 do art. 46º do RPCA. A posterior, é notificado o recorrente
para que no prazo de 5 dias deduzir reclamação caso considere haver insuficiência nas
peças, nos termos do art. 48º do RPCA.

3.2. Fase Da Contestação


Em homenagem ao princípio do contraditório, impõem-se que tanto a autoridade
recorrida bem como os contra-interessado, se os houver sejam notificados acerca da acção
que ocorre contra eles, como dispõem o art. 47º do RPCA. A resposta deve observar os
requisitos (materiais e formais) estatuído no art. 49 da norma atrás referida. Porém, ao
contraditório que sucede no processo civil, (cfr. Art. 484º n. 1 do CPC) a falta de
contestação não implica a confissão dos facto.

13
AMBRÓSIO, Hemenegildo da Costa, Notas vestibulares, ano letivo 2020/2021. P, 33 e ss
14
Cfr. FEIJÓ, Carlos, op.cit, p. 106

16
Outra diferença que nota se relativamente ao Processo Civil (cfr. Art. 274º do CPC) o
recurso contencioso de anulação não se admite pedidos reconvencionais nos termos do
art. 50º do RPCA, pois, o que está em causa é o interesse público, o regulamento
administrativo ilegal que tem de ser expurgado da ordem jurídica. Porém, a autoridade
recorrida, quando notificado poderá ter umas das seguintes razões:
a) Responder sustentando a validade do regulamento;
b) Responder, limitando ao oferecer os merecimentos dos autos;
c) Não responder, não dando como revelia o regulamento nos termos do art. 49º n. 2
do RPCA.

3.3. Fase da Produção das Provas


Nesta fase pretende se a recolha e a produção das provas que visão demostrar a veracidade
dos factos deduzidos nos articulados, fornecendo-se ao juiz os dados indispensáveis para
apreciação da validade ou ilegalidade do regulamento administrativo a que se recorre.
As regras quanto a esta fase são estabelecidas nos art.s. 51º e 52º, ambos do RPCA.

3.4. Fase Das Alegações Finais


Corresponde na fase em que os sujeitos processuais poderão alegar as razões de facto e
de direito tendentes a consolidar as suas pretensões nos termos a que dispões o art. 56º do
RPC.

3.5. Fase da Vista Final ao MP e do Julgamentos


Feitas as alegações ou fim do respectivos prazos, vão os autos com vista ao MP para que
aprecie os eventuais vícios que possam enfermar o processo e pronunciar-se pelo
provimento ou pela negação do provimento do recurso contencioso, conforme estatui art.
54º do RPCA.
Depois disso, o processo é concluso ao juiz relator que depois de apreciar a falta de
qualquer irregularidade, elabora um projecto de acordo e o recurso é considerado
preparado para julgamento e inscrito na tabela das secção de julgamento.
Segue-se logo o julgamento e a consequente sentença nos termos a que dispõem os art.s
55º e 56º, ambos do RPCA.
O conteúdo da decisão vem previsto no art. 57º, exigindo se a publicidade do conteúdo
da decisão nos termos dos art. 58º, e por fim é ordenada a desanexação do procedimento
administrativo, como dispõem art. 59º, todos do RPCA15

3.6. Valor da Sentença no Recurso Contencioso


Um processo inicia-se com um requerimento e termina com uma sentença que é o acto
final do processo.

15
Idem, p 105 a 108

17
Os tribunais administrativos, resolvem as questões submetidas juridicamente ao seu
julgamento por meio de sentença nos termos do art. 156º n. 2 do CPC ou acordão.
Esgotado ou dispensado pelos interessados os meios ordinários de recurso, a sentença
adquire o valor de caso julgado, isto é, torna certos factos ou direitos verificados no
processo conferindo-lhes força de verdade legal. A sentença ou acordão constitui ponto
culminante de toda marcha processual.
Logo, tendo em conta a decisão de fundo ou mérito sobre a causa principal que pode ser
emitida pelo juiz administrativo na decisão final, cabendo-lhe identificar duas situações:
1ª Se o tribunal não concordar negando o provimento ao recurso, nesse caso
teremos uma sentença confirmativa.
2ª Se ao contrário o tribunal condenar com a causa de pedir, concedendo o
provimento ao pedido do particular, a sentença poderá ser de quatro tipos:

a) Sentença declarativa ou de simples apreciação disposto no art. 4º n. 2, al. a) do


CPC, estas caracterizam-se pela não implicação, por si, alteração da relação
jurídicas substantivas. Ex. sentença de anulação de um caso nulo ou inexiste.

b) Sentença constitutiva, estatuída nos termos do art. 4º n. 2, al. c), elas caracterizam
se por determinarem alteração da relação jurídica das partes, anulando actos cuja
manutenção é ilegal. Este tipo de sentença, não necessita nenhuma execução dada
a sua força de caso julgado formal que dá o efeito constitutivo. Ex. a decisão sobre
o recurso contencioso de anulação.

c) Sentença condenatória, quando pressupõem o dever de prestar um facto (facer ou


non facer), de uma coisa ou de uma quantia que pressupõem o respectivo direito
do demandante nos termos a que estabelece o art. 4º n. 2, al. b) do CPC

d) Sentença substitutiva, quando produzem os efeitos de um regulamento


administrativo devido ou estritamente vinculado, não emitido ou recusado. Porém,
na apreciação pelo juiz de situações de omissão da administração que lesa direitos
e interesses legalmente protegidos dos particulares.

18
3.5.1. Efeitos da Sentença de Anulação do Regulamento Administrativo
A sentença tem dois efeitos principais, efeitos processuais a que corresponde ao caso
julgado, devendo ser compreendido nos mesmos termos a que corresponde no processo
Civil nos termos do art. 672º do CPC (caso16 julgado material, caso julgado formal) e os
efeitos substantivos.

16
Nos termos do art. 497º, n. 1 do CPC, a sentença faz caso julgado quando a decisão nela obtida se
torna imutável.

19
CONCLUSÃO
Por tanto, contencioso administrativo é o conjunto de normas jurídicas que regulam a
intervenção dos Tribunais face a litígios existentes entre a Administração Pública e os
particulares e que são solucionadas por aplicação de normas do Direito Administrativo e
por uma jurisdição própria.
O recurso contencioso de anulação dos regulamentos administrativo é um dos meios
principais declaratórios ao lado do recurso contencioso de anulação dos actos a
administrativos bem como da acções contenciosas engendrado num sistema de
impugnação directa de regulamentos administrativos ilegais sob força do direito de acesso
ao direito e aos tribunais, decorrendo imediatamente da ideia de Estado de Direito e tido
como direito fundamental, nos termos do art. 29º do CRA

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Legislações Utilizadas
 Constituição da Republica de Angola de 2010
 Código do Processo Civil
 Lei n. 2/94, de 14 de Janeiro
(Lei de Impugnação dos Actos Administrativo)
 Decreto-Lei n. 4-A/96, de 5 de Abril
(Regulamento do Processo Contencioso Administrativo)
 Decreto-Lei n. 16-A/95, de 15 de Dezembro
(Normas do Procedimento da Actividade Administrativa)

Doutrinas Utilizadas
 FONSECA, Isabel Celeste M.; AFONSO, Osvaldo da Gama, Direito Processual
Administrativo Angolano, Edições ALMEDINA,S.A. 2013
 FEIJÓ, Carlos, POULSON, Lazarino, A Justiça Administrativa (Lições),
Luanda: Casa das Ideias, 2008
 SAPLINHA, Alfredo Longo, Notas vestibulares, ano letivo 2018.
 AMBRÓSIO, Hemenegildo da Costa, Notas vestibulares, ano letivo 2020/2021

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