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Direito Administrativo III

Regente (aulas teóricas): Dr. Jorge Alves Correia

Bibliografia:
Licínio Lopes Martins/ Jorge Alves Correia, “Justiça Administrativa – textos e casos práticos
resolvidos”, Gestlegal, 2018. (www.gestlegal.pt)
Licínio Lopes Martins/Jorge Alves Correia, “Coletânea de Legislação de Direito Processual
Administrativo”, Gestlegal, 2018.
J. C. Vieira de Andrade - “Justiça Administrativa (lições)”, Almedina.

Avaliação: repartida – inscrições até 03 de outubro – frequências dia 07 de novembro (terça-


feira às 18:15h) e dia 12 de dezembro (quarta-feira às 14:15h).

1. Introdução
O Direito Administrativo III é o direito processual administrativo.
O direito substantivo regula as relações jurídico-administrativas, entre a AP e cidadãos,
atribuindo direitos e impondo deveres jurídicos (CPA). O direito processual (adjetivo) regula as
formas ou processos jurisdicionais destinados à efetivação do direito substantivo, sendo que a lei
atribui aos tribunais (órgãos jurisdicionais) a resolução dessas questões/matérias (ETAF e CPTA). A
eficácia do direito substantivo carece de um processo, do direito processual ou adjetivo.
Como se impugna um ato administrativo? Administrativamente, através da reclamação e do
recurso hierárquico. Estamos ainda no direito administrativo quando a reação é ainda administrativa
– impugnação administrativa. Passamos para a impugnação judicial quando esta se faz perante os
tribunais, órgãos judiciais. É desta que trata a cadeira de Administrativo III. O objeto da cadeira é
classicamente o “contencioso administrativo”, a justiça administrativa.

1.1. Noção e âmbito da justiça administrativa


A justiça administrativa entendida como sistema de mecanismos e de formas ou processos
(não confundir com procedimentos) destinados à resolução judicial de controvérsias nascidas de
relações jurídico-administrativas (em que a parte autoria é, na maioria das vezes, um particular
interessado, titular de direitos subjetivos e interesses legalmente protegidos e a ré é a AP), atribuídas
por lei à ordem jurídica administrativa, para serem julgadas segundo um processo administrativo
específico.
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Em primeiro lugar, a justiça administrativa é uma garantia dos particulares contra as
atuações ilegítimas da AP que ofendam os seus direitos. Esse é o domínio típico da justiça
administrativa: tanto por força da sua importância histórica (está na origem do contencioso
administrativo em França), como por força da sua importância prática (numa esmagadora
percentagem, os processos são iniciados por particulares).
No entanto, a justiça administrativa vai hoje muito além disto, porque existem litígios
judiciais onde os particulares estão ausentes: existem litígios que surgem nas relações entre entes
administrativos (interadministrativos – entre diferentes pessoas coletivas públicas, como o Estado
contra um município ou um município contra uma empresa pública); litígios interorgânicos, isto é,
entre órgãos da mesma pessoa coletiva; e até litígios intraorgânicos, isto é, que ocorrem dentro de
um mesmo órgão (quando estão em causa direitos dos membros de órgãos colegiais).

1.2. As dimensões da Justiça Administrativa


A justiça administrativa pertence ao domínio da função judicial, o que vai exigir uma
linguagem técnica própria porque em causa estão questões de direito para serem julgadas num
processo contencioso. Isto vai implicar analisar três dimensões específicas da justiça administrativa:
• A dimensão substancial: quais são os litígios que lhe cabe resolver?
• A dimensão funcional: sendo o poder administrativo um poder constitucional e havendo
uma garantia de separação de poderes, como se caracteriza essa função judicial (e quais
os seus limites)?
• A dimensão orgânico-processual: que tipo de tribunais e de processo? Os tribunais
administrativos e fiscais são obrigatórios, o que não significa que os tribunais judiciais
não possam conhecer questões administrativas.

Finalmente, a justiça administrativa implica a existência de um serviço público de justiça: e


aí vamos estudar o direito judiciário administrativo (organização dos tribunais ou organização
judiciária).

1.3. Modelo português de justiça administrativa


Na história do contencioso administrativo podemos distinguir dois modelos básicos de
organização, se tomarmos como critério os sujeitos a quem foi sendo atribuída a competência para
decidir: órgãos da administração ativa ou tribunais.
O modelo administrativista, chamado de 'administrador-juiz' é aquele em que a decisão final
dos litígios administrativos compete aos órgãos superiores da Administração ativa (“julgar a

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Administração ainda é administrar”). Foi o modelo liberal, típico dos primórdios do sistema de
administração executiva, fortemente centralizado no governo e em que o contencioso administrativo
era visto como instrumento de realização do interesse público, na época concebido como interesse
do Estado, estranho aos interesses individuais que compunham as relações sociais. O modelo
baseava-se em conceções de separação dos poderes que postulavam o caráter livre da atividade
executiva estadual, revelando uma desconfiança perante o poder judicial.
O modelo judicialista é aquele em que a decisão das questões jurídicas administrativas cabe
a tribunais integrados numa ordem judicial, de acordo com o princípio de que “julgar a
Administração é verdadeiramente julgar”, quer se trate de tribunais comuns ou de tribunais
especializados em razão da matéria. É este o modelo atual, que parte do princípio de que toda a
atividade administrativa, mesmo nos momentos discricionários, está subordinada ao Direito e que
atribui aos tribunais a competência para conhecer todos os litígios emergentes de relações jurídicas
administrativas interpessoais. Este modelo é instituído pela própria CRP.
Então, isso significa a negação do modelo administrativista. Segundo este modelo, que
vigorou no período liberal, designado de “administrador-juiz”, a decisão final sobre litígios
administrativos compete a órgãos superiores da própria AP (“julgar a AP é ainda administrar”).
Restará saber se quem julga são os tribunais comuns (judiciais) ou os tribunais
especializados em razão da matéria, configurando uma ordem judicial autónoma (onde surgem os
tribunais administrativos e fiscais).

A garantia de um contencioso administrativo integralmente jurisdicionalizado é, portanto,


um dado indiscutível na nossa CRP. Foi com a revisão constitucional de 1982 que se verificou uma
verdadeira expansão do âmbito do contencioso administrativo, por força do alargamento do seu
âmbito. A revisão de 1982 induziu algumas alterações profundas na legislação processual: primeiro
com a publicação do ETAF em 1984, depois com a LPTA em 1985.
A CRP consagra a existência, na ordem jurídica portuguesa, de uma dualidade de
jurisdições. Existem, na nossa ordem jurídica, duas ordens de tribunais: os tribunais judiciais, cujo
órgão de cúpula é o Supremo Tribunal de Justiça; e os tribunais administrativos e fiscais, cujo órgão
de cúpula é o Supremo Tribunal Administrativo.
Foi a revisão constitucional de 1989 que tornou constitucionalmente obrigatória a existência
de TA's e definiu a jurisdição administrativa como jurisdição comum em matéria administrativa (art
212º/3).
Além disso, a revisão de 1989 foi historicamente um marco inicial de uma nova fase de
evolução do modelo processual de Justiça Administrativa que culminaria com a grande reforma
legislativa de 2002.
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A magistratura administrativa autogoverna-se através do Conselho Superior dos TAF (art
217º/2 CRP), órgão de gestão e disciplina dos juízes da jurisdição administrativa e fiscal
(competências: art 74º/2 ETAF). Os conselhos superiores são órgãos de cúpula de governo do poder
judicial, garantem a independência dos juízes, fazem a gestão dos Tribunais, gestão das carreiras
(nomeação, promoção e transferência dos juízes), apreciação de infrações disciplinares, são garantes
da celeridade (ponderação do binómio qualidade e celeridade das decisões).

1.4. Breve Referência às recentes reformas legais do modelo de JA


O modelo que estudamos tem origem na grande reforma de 2002. Essa reforma contemplou
um novo ETAF, aprovado pela Lei nº 13/2002 e, um novo CPTA, aprovado pela Lei 15/2002, que
entraram em vigor no dia 1 de janeiro de 2004 e se mantêm até hoje, não obstante várias alterações.

No contexto específico dos sistemas de administração executiva, confrontam-se dois


modelos de justiça administrativa, um modelo objetivista (francês) e um modelo subjetivista
(alemão). A comparação baseia-se em dois critérios distintivos fundamentais: por um lado, a função
do contencioso – visa-se, em primeira linha, a defesa da legalidade e o interesse público? Ou a
tutela de 'direitos' dos particulares? - e, por outro lado, no que respeita à impugnação de decisões
administrativas, o objeto do processo – é um processo feito a atos, em que está em causa verificar a
legitimidade do exercício do poder administrativo? Ou julga-se a alegada lesão das posições
jurídicas subjetivas do administrado?
Para o objetivismo, o contencioso visa a defesa da legalidade e do interesse público; para o
subjetivismo, o contencioso visa a garantia dos direitos e interesses legalmente protegidos dos
cidadãos.
O nosso modelo é um modelo misto. Por um lado, a nossa CRP coloca o acento tónico na
garantia dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e na tutela jurisdicional
efetiva. Também a reforma de 2002 estabeleceu o processo como um processo de partes e alargou
os poderes de cognição e de decisão do juiz.
No entanto, são visíveis momentos objetivistas: v.g., a legitimidade para impugnar atos
administrativos não é só dos interessados, porque também se estende a associações e a todos os
membros da comunidade nas 'ações populares'; nas matérias de condenação à prática de atos
administrativos, de contratos e de impugnação de normas, tem legitimidade o Ministério Público na
chamada 'ação pública'; o juiz tem conhecimento oficioso de ilegalidades do ato administrativo
impugnado para além dos vícios invocados pelas partes.

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1.5. Quem é o Ministério Público no nosso sistema de JA?
O Ministério Público, que dispõe de um Estatuto próprio, forma um corpo de magistrados
responsáveis e hierarquicamente subordinados (art 219º, nº 4 da CRP), com autonomia
relativamente ao Governo e à magistratura judicial, cuja gestão e disciplina cabe à Procuradoria
Geral da República, presidida pelo Procurador-Geral da República e inclui o Conselho Superior do
Ministério Público (art 219º, nº 2, 4 e 5 e 220º da CRP). É assim um “órgão constitucional da
administração da justiça”, dotado de independência perante o Ministério da Justiça, mas não é um
órgão de soberania, nem se confunde com os órgãos do poder judicial, já que não tem competência
para a prática de atos materialmente jurisdicionais.
De acordo com o art 219º, nº 1 da CRP e do art 51º do ETAF cabem ao Ministério Público
(além do exercício da ação penal e de outras que aqui não interessam) diversas funções relevantes
no âmbito das relações jurídicas administrativas: defender a legalidade, fiscalizar a
constitucionalidade dos atos normativos, representar o Estado e outros entes públicos, bem como
determinadas pessoas indicadas por lei (ausentes e incapazes), defender grandes interesses coletivos
e difusos, patrocinar os trabalhadores e suas famílias na defesa dos seus direitos sociais.
No âmbito da justiça administrativa portuguesa, o Ministério Público goza de significativos
poderes processuais para o cumprimento das suas variadas funções, poderes que o tornam uma
figura ímpar relativamente às instituições congéneres dos outros países europeus.
Com estrutura vertical, o MP organiza-se hierarquicamente, do topo para a base, nos
seguintes termos:
– Procurador-Geral da República, com poder de direção sobre os demais magistrados
(nomeado pelo Presidente da República sobre proposta da Assembleia);
– Vice-Procurador-Geral da República;
– Procuradores-Gerais-Adjuntos.
Os procuradores-gerais-adjuntos poderão exercer, também, as funções de procuradores-
gerais-distritais. A procuradoria-geral distrital é o órgão do MP, junto do respetivo Tribunal da
Relação, ao qual compete dirigir, coordenar e supervisionar a atividade do MP num certo distrito
judicial – são 4: Lisboa, Porto, Coimbra e Évora.
Nos tribunais centrais administrativos, o MP é representado por procuradores-gerais-
adjuntos coordenadores, que são equiparados a procuradores-gerais distritais.
– Procuradores da República e procuradores-adjuntos encontram-se na base da pirâmide
hierárquica.

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Muitas vezes, os procuradores do MP têm gabinete no espaço físico dos próprios tribunais –
art 52º do ETAF.
Por norma mais conotado com o exercício das suas atribuições na área penal, o MP atua em
áreas bem diversas, sendo uma delas a área administrativa e fiscal. Portanto, o MP é um órgão
constitucional que participa na administração da justiça em defesa da legalidade. Como?
1. Pode ser autor em processos administrativos, quando propõe ações no exercício da
chamada ação pública. Tem, assim, funções de parte principal, quando, por exemplo,
propõe ações em defesa da legalidade, de DF's, impugna decisões administrativas ou
normas regulamentares. Enquanto titular da ação pública, é-lhe concedida expressamente
a iniciativa processual, designadamente:
i. Legitimidade ativa para impugnar atos administrativos (art 55º, nº 1, b) do CPTA) e
normas (art 73º, nº 3 e 4), bem como pedir a condenação à prática de atos devidos (art
68º, nº 1, b)), a condenação à emissão de normas (art 77º), pedidos relativos à validade e
à execução dos contratos (art 77º-A, nº 1, b) e nº 3, c)), a legitimidade para pedir a
execução das respetivas sentenças (art 164º, nº 1 e 176º, nº 1) e demais poderes próprios
do autor da ação;
ii. Legitimidade ativa para a defesa de valores e bens comunitários, numa ‘ação popular
pública’ (art 9º do CPTA);
iii. Legitimidade para pedir intimações para informações, consultas e passagem de certidões
(art 104º, nº 2);
iv. Legitimidade própria para recorrer de decisões jurisdicionais, em defesa da legalidade
(art 141º e 73º, nº 4 do CPTA), para requerer a revisão de sentenças (art 155º, nº 1), para
interpor recursos para a uniformização de jurisprudência (art 152º, nº 1) e para requerer
a resolução de conflitos de jurisdição e de competência (art 135º).
2. Pode ser representante do Estado, fazendo o papel de seu advogado, por exemplo,
em certas ações administrativas que sejam propostas contra este, como as ações que
tenham por objeto relações contratuais e de responsabilidade civil extracontratual.
Trata-se aqui de funções de patrocínio. Cabe-lhe a representação do Estado nas ações
administrativas em que este seja parte, nos termos do Estatuto do MP, do Código de
Processo Civil (art 24º) e do ETAF (art 51º).
3. Em sede de recurso, tem o poder de intervir em processos em que não é parte (85º);
tem legitimidade para interpor recursos ordinários de decisões ilegais, recursos para
a uniformização de jurisprudência e de recursos de revisão (art. 141º/1, 152º/2 e 155º
CPTA).

Como é evidente, a diversidade de funções cometidas ao Ministério Público é suscetível de


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causar problemas e embaraços, quer na medida em que ele tenha de desempenhar no mesmo
processo funções incompatíveis, quer na medida em que atribui à instituição um papel dúplice,
como parte processual, em que ora surge do lado do Estado, defendendo-o contra as ações do
particular, ora aparece contra a Administração, ao lado do administrado, ou em vez dele. Para
simplificar, o Ministério Público deve ser visto como um defensor da legalidade.

A justiça administrativa conheceu uma certa desmaterialização dos processos nos tribunais.
O Ministério da Justiça criou o Sistema de Informação dos Tribunais Administrativos e Fiscais
(SITAF): é um portal para os mandatários e demais representantes em juízo – permite a consulta dos
processos, acesso aos ficheiros áudio das audiências, pagamentos da taxa de justiça e envio das
peças processuais.
Não confundir com o CITIUS, que engloba aplicações informáticas para os magistrados
judicias e do MP, funcionários judiciais e mandatários judiciais. São plataformas essenciais para
advogados e juízes.

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2. Âmbito da Justiça Administrativa
O que vamos estudar? O problema da delimitação da jurisdição administrativa ou da
competência em razão da jurisdição.
O âmbito da jurisdição administrativa começa por tomar como referencial as normas e os
princípios da “Constituição Administrativa”, dependendo, num segundo nível, do recorte orgânico
que é dado pela lei (o ETAF) a essa jurisdição.

Como é que a CRP delimita o âmbito da justiça administrativa?


A CRP utiliza um critério substancial (art 212º, nº 3 da CRP): “compete aos tribunais
administrativos e fiscais o julgamento das ações e recursos contenciosos que tenham por objeto
dirimir os litígios emergentes das relações jurídicas administrativas”.
A consideração da dimensão positiva revela-se na medida em que a justiça administrativa
tem, por determinação constitucional, uma matéria própria: integra os processos “que tenham por
objeto dirimir os litígios emergentes de relações jurídicas administrativas”. Esta noção para efeitos
de delimitação do âmbito material da jurisdição administrativa, deve abranger a generalidade das
relações jurídicas externas ou intersubjetivas, seja as que se estabelecem entre os particulares e os
entes administrativos, seja as que ocorram entre os próprios sujeitos administrativos.
Relações jurídicas administrativas serão, segundo o critério estatutário, relações em que,
pelo menos, um dos sujeitos é uma entidade pública ou uma entidade privada no exercício de
poderes públicos ou de funções materialmente administrativas.
Excluem-se, assim, em princípio, do âmbito substancial da justiça administrativa as questões
administrativas de puro direito privado, isto é, as decorrentes da atividade de direito privado da
Administração – quer seja a que corresponde ao mero exercício da sua capacidade privada
(negócios auxiliares, administração do património), quer se trate de atividades funcionalmente
administrativas, quando ou na medida em que se desenvolvam através de instrumentos jurídicos
privados (fornecimento de bens e de serviços, gestão privada de estabelecimentos públicos).
Sabendo que o direito administrativo aparece frequentemente associado à utilização de
entidades e de meios de direito privado pela Administração, dando lugar na prática a uma aplicação
miscigenada do direito público e do direito privado, poderá considerar-se substancialmente incluído
na justiça administrativa o conhecimento de certos aspetos de direito público desenvolvidos ao
abrigo do direito privado – como acontecerá no contencioso relativo à formação de contratos de
direito privado celebrados pela AP, quando ela siga um procedimento “pré-contratual” de direito
público.

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Ora, isto é um critério material ou substantivo que serve de ponto cardeal. Todavia, o âmbito
da JA não se determina simplesmente no plano substancial, exigindo um recorte orgânico. Isto
obriga a agregar os temas do domínio substancial e do domínio orgânico da JA. Segundo um
critério orgânico, a JA compreende exclusivamente a resolução de questões de direito
administrativo que sejam atribuídas à ordem judicial dos tribunais administrativos.
Assim, a JA compreende exclusivamente a resolução das questões de direito administrativo
que sejam atribuídas à ordem judicial dos tribunais administrativos.
Então são os tribunais administrativos são os órgãos “eleitos” para julgar todas as questões
de direito administrativo? A resposta implica saber se a nossa CRP consagra, no art 212º, nº 3, uma
reserva material absoluta de jurisdição em favor dos Tribunais Administrativos, isto é, saber duas
coisas:
– se SÓ os TA's poderão julgar as questões de Direito administrativo;
– se os TA's SÓ poderão julgar questões de Direito administrativo.
A resposta é duplamente negativa.

Quanto à primeira questão, a CRP institui a JA de acordo com um modelo típico ou um


âmbito-regra que deve ser respeitado pelo legislador ordinário no seu núcleo essencial. Por
exemplo, seria inconstitucional uma reforma que retirasse aos TA's o controlo de ilegalidade de
AA's. Portanto, está proibida a desfiguração do núcleo essencial da JA, mas não está vedado ao
legislador atribuir a outros tribunais (aos tribunais comuns), aqui e ali, o julgamento de questões de
direito administrativo.
Esta conclusão resulta de uma interpretação conforme à Constituição, pois é a própria CRP
que atribui a outros tribunais o julgamento de questões emergentes de relações administrativas – cfr
os art 214º (o julgamento de questões relacionadas com a legalidade financeira dos entes públicos
cabe ao Tribunal de Contas) e 223º, nº 2, al. c) (a impugnação de AA praticados pela Comissão
Nacional de Eleições ou outros órgãos da AP eleitoral cabe ao TC).
Em suma, a interpretação mais razoável do art 212º, nº 3 é o de que este visa apenas
consagrar os TA's como “tribunais comuns em matéria administrativa” – e é a lei ordinária que deve
concretizar exemplificativamente esse âmbito, em termos positivos e negativos. O art 4º do ETAF é
o que concretiza este âmbito.

Quanto à segunda questão: inversamente, o critério substancial presente na CRP não impede
o alargamento da competência jurisdicional dos TA à resolução de questões de direito privado,
quando a resolução global do litígio o justifique e a lei assim o expressamente o determine.

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A primeira questão que se coloca é, pois, a da interpretação do art 212º, nº 3 da CRP para saber se aí se
consagra uma reserva material absoluta de jurisdição atribuída aos tribunais administrativos, no duplo sentido de que,
por um lado, os tribunais administrativos só poderão julgar questões de direito administrativo, e de que, por outro lado,
só eles poderão julgar tais questões.
Quanto ao primeiro aspeto, a jurisprudência do Tribunal Constitucional, devem ser consideradas
inconstitucionais as leis que confiram aos TA competência para o conhecimento de questões que não sejam emergentes
de relações jurídicas administrativas. O preceito constitucional deve ser entidade como uma regra definidora de um
modelo típico, suscetível de adaptações ou de desvios em casos especiais, desde que não fique prejudicado o núcleo
caracterizador do modelo. É uma cláusula geral, sem com isso pretender necessariamente estabelecer uma reserva
material absoluta. Deve ser entendida como uma garantia institucional, da qual deriva, para o legislador ordinário, a
obrigação de respeitar o núcleo essencial da organização material das jurisdições. Mas só isso. Não fica proibida a
atribuição pontual a outros tribunais do julgamento de questões substancialmente administrativas, admitindo-se a
razoabilidade dessas 'remissões' orgânicas naquelas situações de fronteira em que há dúvidas de qualificação ou zonas
de intersecção entre as matérias administrativas e as restantes.
A interpretação mais razoável do preceito constitucional parece ser a de que visa apenas consagrar os tribunais
administrativos como os tribunais comuns em matéria administrativa. A própria CRP atribui a outros tribunais o
julgamento de questões emergentes de relações jurídico-administrativas:
– desde logo, são atribuídas pela CRP à jurisdição constitucional, por exemplo, determinadas competências
relativas a matéria administrativa, seja no que toca a questões eleitorais, seja no que concerne à
fiscalização abstrata da constitucionalidade das normas administrativas – 223º/2 c) da CRP, 8º do LTC;
281º a), c) e d) CRP, 72º/2 CPTA.
– Também não cabe na justiça administrativa a resolução de questões da legalidade financeira da atuação
administrativa – 214º CRP.

Os temas do domínio substancial e do domínio orgânico da JA remetem, ao fim e ao cabo,


para o tema da competência em razão da jurisdição. O art 1º/1 do ETAF dispõe que os TA são “os
órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo, nos litígios
compreendidos pelo âmbito de jurisdição previsto no art 4º deste Estatuto”.
Assim, tais matérias são reguladas pelo art 4º do ETAF, o qual só se compreende através de
análise de situações típicas aí abrangidas.
É o que iremos fazer. Mas, antes disso, é fundamental compreender a estrutura do art 4º do
ETAF. Qual é o alcance da norma?
– primeiro, vale a lei especial sempre que o legislador entende pronunciar-se
expressamente no sentido de atribuir a apreciação de certos litígios aos TA's ou aos
tribunais judiciais;
– segundo, na ausência de determinação expressa em lei especial, valem os critérios
definidos no art 4º do ETAF.

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Em 2015, o art 1º do ETAF passou a remeter a definição do âmbito da jurisdição administrativa para o art 4º. O
preceito determina a competência da jurisdição administrativa através da enumeração, seja dos litígios nela incluídos,
seja dos litígios dela excluídos, circunstância que permite eliminar algumas dúvidas e determinar com mais exatidão o
âmbito da jurisdição. Subsistem problemas quanto à definição desse âmbito porque a enumeração não é taxativa, porque
se utilizam conceitos que carecem de precisão e porque há legislação especial sobre a matéria, que confere
expressamente a competência para o julgamento de questões de direito administrativo a tribunais não administrativos.

O legislador entendeu determinar a competência da jurisdição administrativa por recurso a


enumerações. O art 4º enuncia listas de matérias cuja apreciação pertence aos TA – nº 1 e 2 – ou
está excluída – nº 3 e 4. De um modo geral, pode dizer-se que pertence ao âmbito da jurisdição
administrativa a apreciação de todos os litígios que versem sobre matéria jurídico-administrativa e
cuja apreciação não seja expressamente atribuída por norma especial à competência dos tribunais
judiciais.

«1. Compete aos tribunais da jurisdição administrativa e fiscal a apreciação de litígios que
tenham por objeto questões relativas a:

a) Tutela de direitos fundamentais e outros direitos e interesses legalmente protegidos, no


âmbito de relações jurídicas administrativas e fiscais.»
A tutela de direitos fundamentais cabe aos TA's, mas somente no âmbito de relações
jurídicas administrativas. Isto significa que abrange situações em que esses direitos se vejam
envolvidos pela aplicação de normas de direito administrativo. Nestes termos, o próprio CPTA
consagra dois processos urgentes principais (art 109º e sgs): a intimação para a proteção de direitos,
liberdades e garantias e a intimação para prestação de informações, consulta de processo ou
passagem de certidões – art 104º e sgs.

«b) fiscalização da legalidade das normas e demais atos jurídicas emanados por órgãos da
AP, ao abrigo de disposições de direito administrativo ou fiscal.»
Isto abrange o núcleo duro da jurisdição administrativa. Desde logo, atos administrativos
(individuais e concretos – art 148º CPTA), que podem ser impugnados perante os TA's,
independentemente da sua forma, isto é, mesmo que constem de um diploma legislativo (art 268º/4
CRP e 52º/1 e 2 CPTA). Mas também normas jurídicas administrativas, isto é, regulamentos
administrativos (art 135º CPTA). Isto tem enorme relevância a nível processual: estudaremos, na
ação administrativa, os pedidos relativos a atos e a normas administrativas, bem como providências
cautelares.
O conceito de AP em sentido organizatório levantava problemas de fronteira, mas hoje
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abrange, sem dúvida, todas as entidades, mesmo sob a forma privada, que desempenham atividades
administrativas ou poderes de autoridades (EAP e EPPP). Hoje, todos os AA e RA se encontram
submetidos, por igual, ao mesmo regime substantivo e processual.

«c) fiscalização da legalidade de atos administrativos praticados por quaisquer órgãos do


Estado ou das R.A. não integrados na Administração Pública.»
A mesma ideia aqui se encontra presente. Cabem no Âmbito da JA os atos materialmente
administrativos praticados por órgãos do Estado ou das R. Autónomas não integrados na AP.

«d) fiscalização da legalidade das normas e demais atos jurídicos praticados por quaisquer
entidades, independentemente da sua natureza, no exercício de poderes públicos;»
E outro tanto se pode dizer, mutantis mutandis, relativamente aos direitos materialmente
administrativos praticados por entidades de outra natureza, no exercício de poderes públicos (por
exemplo, os concessionários).

«e) validade de atos pré-contratuais e interpretação, validade e execução de contratos


administrativos ou de quaisquer outros contratos celebrados nos termos da legislação sobre
contratação pública, por pessoas coletivas de direito público ou outras entidades adjudicantes;»
Em primeiro lugar, essa legislação especial é o Código dos Contratos Públicos (2008), que,
ao regular procedimentos pré-contratuais, também abrange contratos de direito privado celebrados
pela AP, bem como alguns contratos celebrados por entidades privadas, que sejam entidades
adjudicantes. Esta alínea e) foi reformulada em 2015 para sujeitar a generalidade dos contratos da
AP à jurisdição administrativa, eliminando algumas diferenciações feitas na versão de 2002, que
eram obscuras. Também, a nível processual, isto tem profunda correspondência com as ações
relativas a contratos.
Em suma, o critério aqui escolhido não é o do contrato administrativo, mas o do contrato
submetido a regras de contratação pública: desde que o contrato esteja submetido a essas regras
(regras procedimentais de formação), todas as questões que dele possam vir a emergir são do
conhecimento dos TA, não dos tribunais judiciais, o que prova que os TA conhecem questões de
direito privado.

«f) responsabilidade civil extracontratual das pessoas coletivas de direito público, incluindo
por danos resultantes do exercício das funções política, legislativa e jurisdicional, sem prejuízo do
disposto na al. a) do nº 4 do presente art;»
Desde logo, nesta matéria há um diploma fundamental a ter em conta: a Lei nº 67/2007 de
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
31/12, que aprova o “regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e demais entidades
públicas” (RRCEE). A al. f) atribui expressamente aos TA o julgamento das questões relativas à
responsabilidade civil extracontratual das pessoas coletivas de direito público, incluindo pelos
danos resultantes do exercício das funções política, legislativa e jurisdicional. Por exemplo, danos
resultantes de um ato legislativo de nacionalização de um banco privado. E na função judicial:
– ações de responsabilidade por danos resultantes do mau funcionamento da administração
da justiça, designadamente por ofensa ao direito a uma decisão em prazo razoável
(normalmente, um atraso superior a 10 anos);
– ações de responsabilidade por erro judiciário (grosseiro, insuportável) cometido pelos
TA (fora a alínea a) do nº 4);
– ações de responsabilidade por danos causados pelos atos de natureza administrativa (do
juiz, do MP e das autoridades policiais) relativos ao inquérito e à instrução criminais e
ao exercício da ação penal, ainda que a impugnação desses atos se faça nos tribunais
judiciais (art 4º, nº 2, c)); é o caso das escutas que não deviam ter sido autorizadas.
Por outro lado, a al f) refere-se à responsabilidade civil de pessoas coletivas públicas, o que
significa que são competentes os TA para apreciar toda e qualquer questão de responsabilidade civil
emergente da conduta de pessoa coletiva pública, seja por atos de gestão pública ou por atos de
gestão privada. No plano substantivo essa distinção releva, mas já não releva no plano processual,
onde há unidade. Mesmo que o regime aplicável seja o previsto no Código Civil (responsabilidades
das pessoas coletivas públicas por atos de gestão privada), são competentes os TA.

«g) responsabilidade civil extracontratual dos titulares de órgãos, funcionários, agentes e


trabalhadores e demais servidores públicos, incluindo ações de regresso;»
Trata-se de responsabilidade civil dos titulares de órgãos, funcionários, agentes,
trabalhadores e demais servidores públicos, onde se incluem trabalhadores em regime contratual de
direito privado (ao abrigo de contrato individual de trabalho), no exercício de funções e por causa
delas. Ou seja, trata-se de atos funcionais, isto é, praticados no exercício de funções ou em conexão
com o exercício de funções administrativas.

«h) responsabilidade civil extracontratual dos demais sujeitos aos quais seja aplicável o
regime específico da responsabilidade do Estado e demais pessoas coletivas de direito público;»
Trata-se de responsabilidade civil de entidades privadas com poderes públicos
(concessionários) emergente de atuações de gestão pública, isto é, de atuações que exprimem o
exercício de prerrogativas de poder público ou se regem por normas de direito público. Essa
responsabilidade por atos de gestão publica das referidas entidades (inclui trabalhadores e
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
dirigentes) está sujeita ao RRCEE (art 1º/5). Logo, é atribuída a competência para julgar tais
questões aos TA. Mas só por atos de gestão pública e não por atos de gestão privada. Este é o único
caso de distinção na lei processual.

«i) condenação à remoção de situações constituídas em via de facto (sem título habilitante),
sem título que as legitime;»
Por serem tidos como 'guardiões naturais' da defesa das liberdades individuais e da
propriedade privada, a tradição em Portugal e em França sempre foi a de confiar aos tribunais
judiciais a competência para a resolução dos litígios entre a AP e os particulares sempre que
estivessem em causa questões relativas às liberdades de cada um, ao estado das pessoas, questões de
propriedade ou de posse. Ora, essa conceção histórica não desapareceu, mas está hoje sujeita a
alguma erosão.
Com a revisão de 2015, o ETAF passou a atribuir à jurisdição administrativa a competência
para dirimir litígios decorrentes de situações de via de facto, isto é, casos em que a AP atua sem
título próprio que a legitime (legal, regulamentar, AA ou contrato). Exemplos?
Por exemplo, ocupa imóveis de propriedade privada sem proceder à respetiva expropriação;
utiliza bens imóveis não abrangidos pela DUP (contíguos) para construção de obras públicas.
Antes de 2015, era necessário o particular propor uma ação de defesa da propriedade e a
competência era reservada aos tribunais judiciais.

«j) “relações jurídicas entre pessoas coletivas de direito público ou entre órgãos públicos,
reguladas por disposições de direito administrativo ou fiscal.»
Não é a situação mais típica, mas hoje também existem litígios judiciais onde os particulares
estão ausentes. Abrange litígios que surgem nas relações entre:
- Entes administrativos/ Litígios interadministrativos (por exemplo, o Estado-Administração
e um Município ou entre dois Municípios);
- Litígios interorgânicos, isto é, entre órgãos da mesma pessoa coletiva (por exemplo, entre a
Câmara Municipal e a Assembleia Municipal de um mesmo município – caso: a Assembleia
Municipal de Chaves considerou que a decisão de abertura de um determinado concurso dependia
de autorização expressa sua e que a Câmara Municipal de Chaves nunca solicitou tal autorização.
Poderia a Assembleia Municipal de Chaves reagir judicialmente? Sim).
- Litígios intraorgânicos, isto é, que ocorrem dentro de um mesmo órgão (quando estão em
causa direitos dos membros de órgãos colegiais (por exemplo, membros do órgão pretendem
impugnar despacho do Presidente).

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


«k) Prevenção, cessação e reparação de violações a valores e bens constitucionalmente
protegidos, em matéria de saúde pública, habitação, educação, ambiente, ordenamento do território,
urbanismo, qualidade de vida, património cultural e bens do Estado, quando cometidas por
entidades públicas;»
Trata-se fundamentalmente de agressões a valores e a bens constitucionalmente protegidos
por força de atuações de gestão pública ou de gestão privada cometidas por entidades públicas
(ações ou omissões). Como veremos, isto está ligado à figura da ‘ação popular’, reconhecida como
‘ação de grupo’, altruísta, para defesa de interesses coletivos, difusos ou comunitários, incluindo
bens públicos e bens protegidos – os art 52º/3 CRP e 9º/2 CPTA impõem uma relativa objetivização
(sistema objetivista) do nosso modelo de JA.
O objetivo da al. k) não é tanto cobrir os AA, mas sobretudo as operações materiais da AP
com vista à prevenção e cessação de violações, o que abrange as ações (‘facere’), as omissões dos
entes públicos (‘non facere’), quando se imponham sobre a AP especiais deveres de vigilância (por
exemplo, omissão de fiscalização da APA, de um município).

«l) Impugnações judiciais de decisões da Administração Pública que apliquem coimas no


âmbito do ilícito de mera ordenação social por violação de normas de direito administrativo em
matéria de urbanismo;»
É indiscutível a natureza administrativa do ilícito de mera ordenação social e das decisões de
aplicação de coimas. A atividade de aplicação de coimas envolve, material e procedimentalmente,
uma genuína relação jurídica administrativa (entre a Administração e o particular-infrator).
Todavia, por força da fraca implantação dos TA’s, a impugnação das decisões de aplicação
de coimas foi reservada aos tribunais judiciais. Na revisão de 2015, deu-se um passo em frente
(solução de meio termo): reconhece-se aos TA’s competência para as impugnações de decisões da
AP que apliquem coimas por violação de normas de direito administrativo em matéria de urbanismo
(de fora, ficam as impugnações de decisões administrativas que apliquem coimas em matéria de
ambiente, património cultural e bens do Estado).

«m) Contencioso eleitoral relativo a órgãos de pessoas coletivas de direito público para que
não seja competente outro tribunal;»
Os tribunais administrativos têm competências em matéria de contencioso eleitoral, através
de processos urgentes. No entanto, é preciso saber o que fica dentro e o que está fora.
- É da competência dos TA’s, seguindo o regime previsto nos art 97º e 98º do CPTA, a
apreciação dos litígios referentes às eleições para os órgãos dos estabelecimentos de ensino superior
públicos (por exemplo, atos eleitorais realizados nos Conselhos Gerais, eleição do Reitor), das
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
escolas e hospitais públicos e, em geral, de todas as entidades públicas administrativas. Cabem aqui
as eleições realizadas nas ordens profissionais (e são, de facto, as que têm dado mais trabalho);
- No mesmo sentido, deve considerar-se incluída na competência dos TA’s a apreciação dos
litígios referentes às eleições para o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais e
para o Conselho Superior do Ministério Público, mas já não do Conselho Superior da Magistratura,
cuja competência é reservada ao Supremo Tribunal de Justiça. Só isto está dentro.
- Estão excluídas, por lei especial, as eleições mais importantes: o contencioso das eleições
relativas ao PR, AR, ALR da Madeira e dos Açores e autarquias locais, tudo da competência do TC
– art 8º, a), c) e d) da LTC.

«n) Execução da satisfação de obrigações ou respeito por limitações decorrentes de atos


administrativos que não possam ser impostos coercivamente pela Administração;»
Esta alínea faz a articulação com o art 176º/1 CPA. Em 2015, o CPA consagrou o princípio
da legalidade da execução coerciva dos atos administrativos, assim se abolindo a regra geral de
autorização de utilização de meios coercivos. A regra agora é a seguinte: a satisfação de obrigações
decorrentes de AA só pode ser imposta coercivamente pela AP nos casos e segundo as formas e
termos expressamente previstos na lei, ou em situações de urgente necessidade pública,
devidamente fundamentada.
Ora, esta nova regra exigiu que no ETAF ficasse claro o seguinte: sempre que estiver em
causa a execução de obrigações decorrentes de atos administrativos que não possam ser impostos
coercivamente pela AP – tendo esta que recorrer aos tribunais – serão competentes para conhecer
essas questões os TA’s.

«o) Relações jurídicas administrativas e fiscais que não digam respeito às matérias previstas
nas alíneas anteriores.»
Adota-se aqui um critério residual, mas omnicompressivo, de delimitação da jurisdição
administrativa. No fundo, a al o) concretiza o critério substancial da JÁ que está no art 212º/3 da
CRP. Por exemplo, cabem aqui litígios referentes à qualificação de bens como pertencentes ao
domínio público (sobretudo imóveis), designadamente a impugnação de atos de qualificação
dominial, que são AA, e as ações relativas a questões de delimitação do domínio público. Também
cabem aqui os litígios relativos à condenação ao pagamento de indemnizações decorrentes da
imposição de sacrifícios por razões de interesse público. Há uma série de decisões tomadas por
órgãos administrativas, que são expropriativas dos direitos dos cidadãos. Não são uma expropriação
em sentido corrente (em que se transfere a propriedade para uma entidade administrativa). São, por
exemplo, regras urbanísticas que proíbem a construção num determinado lote.
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
Esta alínea funciona como um critério subsidiário – não havendo lei especial nem estando
essa matéria prevista nas alíneas anteriores, utiliza-se a alínea o).

«2. Pertence à jurisdição administrativa e fiscal a competência para dirimir os litígios nos
quais devam ser conjuntamente demandadas entidades públicas e particulares entre si ligados por
vínculos jurídicos de solidariedade, designadamente por terem concorrido em conjunto para a
produção dos mesmos danos ou por terem celebrado entre si contrato de seguro de
responsabilidade».
O alargamento da jurisdição administrativa nesta matéria decorre de enormes problemas
práticos no que respeita a acidentes de viação, que, antes de 2015, davam origem a dois processos
distintos: um, nos TA’s, na medida em que está em causa a responsabilidade de uma PCP, e outro
nos tribunais judiciais, para apurar da responsabilidade de privados envolvidos – um problema de
duplicação de processos em matéria de responsabilidade civil (contra uma empresa pública, nos
tribunais comuns, e contra o Estado, na jurisdição administrativa).
A solução para esta anomalia está agora no art 4º/2 do ETAF, que adota uma regra de
competência por conexão ou por atração, em matéria de responsabilidade, atribuindo o julgamento
de todo o litígio à jurisdição administrativa. Atrai para os TA’s situações em que haja concurso.

«3. Está nomeadamente excluída do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal a apreciação


de litígios que tenham por objeto a impugnação de:

a) Atos praticados no exercício da função política e legislativa;»


A exclusão é óbvia, pois não se trata de questões de direito administrativo. São atos
praticados no exercício de outras funções estaduais, estranhos à função administrativa. Por
exemplo, atos auxiliares de direito constitucional, atos diplomáticos, atos de defesa nacional. atos
legislativos. Mas atenção que a responsabilidade civil extracontratual prevista no al f) compete aos
TA’s.

«b) Decisões jurisdicionais proferidas por tribunais não integrados na JA;»


A exclusão é óbvia, já que visa assegurar a separação de jurisdições. Também esta mesma
razão explica a exclusão da al a) do nº 4.

«c) Atos relativos ao inquérito e instrução criminais, ao exercício da ação penal e à execução
das respetivas decisões;»
Trata-se de um preceito subtrativo, que retira à JÁ a competência para conhecer de questões
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
de direito administrativo. Os litígios que tenham por objeto a impugnação dos atos de natureza
administrativa (do juiz, do MP e das autoridades policiais – por exemplo, autorizações para entrada
em domicílio, medidas de controlo, revistas e buscas, apreensão de correspondência) relativos ao
inquérito e à instrução criminais e ao exercício da ação penal.

«4. Estão igualmente excluídas do âmbito da jurisdição administrativa e fiscal:


a) A apreciação das ações de responsabilidade por erro judiciário cometido por tribunais
pertencentes a outras ordens de jurisdição, assim como das correspondentes ações de regresso;»
Sem comentários a acrescentar. Já está explicado em cima.

«b) A apreciação de litígios decorrentes de contratos de trabalho, ainda que uma das partes
seja uma pessoa coletiva de direito público, com exceção dos litígios emergentes do vínculo de
emprego público;»
O que se exclui é a apreciação dos litígios emergentes dos contratos individuais de trabalho
(por termo indeterminado ou a termo) que não constituam uma relação jurídica de emprego público.
Isto porque os litígios emergentes de vínculos de emprego público, em qualquer das suas
modalidades (contrato de trabalho em funções públicas, nomeação ou comissão de serviço), são da
competência dos TA’s.

«c) A apreciação de atos materialmente administrativos praticados pelo Conselho Superior


da Magistratura e seu Presidente;»
Também se trata de um preceito subtrativo, pois são deliberações de um órgão colegial
(político-administrativo): são AA materialmente administrativos. Para além da tradição, são
sobretudo razões de pudor institucional que justificam a exclusão. O julgamento dos recursos dos
atos e deliberações do CSM é atribuído ao STJ – art 168º/1 do Estatuto dos Magistrados Judiciais.

«d) A fiscalização de atos materialmente administrativos praticados pelo Presidente do


Supremo Tribunal de Justiça.»
Idênticas razões constantes da alínea anterior.

Vamos considerar as seguintes hipóteses práticas:


Diga, justificando, se e em que medida estas matérias se encontram submetidas à jurisdição
dos Tribunais Administrativos portugueses:
a) Questões relacionadas com a impugnação de uma licença de construção emitida pela
Câmara Municipal de Coimbra – Sim, alínea b) do nº 1 do art 4º do ETAF.
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
b) Questões relacionadas com a impugnação de uma portaria do Ministro da Economia
– uma portaria é um regulamento administrativo do Governo, emanado por um Ministro – Sim,
alínea b) do nº 1 do art 4º do ETAF.
c) Questões relacionadas com a fiscalização da legalidade financeira e cabimento
orçamental de uma subvenção atribuída por um instituto público – Não, art 214º/1 da CRP (pertence
ao Tribunal de Contas).
d) Questões relacionadas com a apreciação da constitucionalidade de um decreto-lei
sobre o estatuto da carreira dos professores dos ensinos básicos e secundário – Não, art 4º, nº 3, al
a) ETAF. (função legislativa)
e) Questões relacionadas com regulamentos da Brisa Concessão Rodoviária, S.A., sobre
o pagamento de taxas de portagem e atribuição de prémios – Sim, art 4º, nº 1, al d) ETAF.
f) Questões relacionadas com a validade dos atos de exclusão e de adjudicação de
propostas que visam a celebração de um contrato de empreitada de obras públicas – Sim, art 4º, nº
1, al e) ETAF (o contrato de empreitada está sujeito à Parte II do Código dos Contratos Públicos).
g) Questões relacionadas com o incumprimento de um contrato de direito privado
celebrado nos termos da legislação sobre contratação pública pelo Município de Santarém – Sim,
art 4º, nº 1, al e) ETAF.
h) Questões relativas à legalidade de um ‘acordo de concertação social’, visando a
reforma da legislação laboral – Não, art 4º, nº 3, a) ETAF. (é um acordo político)
i) Questões relativas ao ressarcimento de danos sofridos por Tiago num acidente de
automóvel, tendo como fundamento o incumprimento de sinalização de trânsito pelo Município de
Faro – al) f, nº 1, art 4º ETAF.
j) Questões relacionadas com a apreciação de atos relativos ao inquérito e instrução dos
crimes de prevaricação e de tráfego de influências alegadamente cometidos no município Y – art 4º,
nº 3, al c) ETAF.
k) Questões relacionadas com a fiscalização de atos materialmente administrativos
praticados pelo Presidente do STJ e pelo CSM – art 4º, nº 4, al d) ETAF.
l) Questões relacionadas com a apreciação de litígios relativos à eleição do Bastonário
da Ordem dos Advogados – art 4º, nº 1, al m) ETAF.
m) Questões relacionadas com a impugnação de decisões em matéria de
contraordenações urbanísticas – art 4º, nº 1, al l) ETAF.
n) Questões relacionadas com litígios nos quais devam ser conjuntamente demandados
o Ministério da Saúde e uma IPSS, designadamente por terem concorrido em conjunto para a
produção de danos a um utente de serviços de saúde ou por terem celebrado entre si contrato de
seguro de responsabilidade – art 4º, nº 2 ETAF.
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
o) Questões relacionadas com a impugnação por parte da Câmara Municipal de um AA
praticado pelo Presidente da Câmara Municipal que alegadamente compromete as condições (…) –
art 4º, nº 1, al j) ETAF.
p) Questões relacionadas com a impugnação pelo Presidente de um órgão colegial, em
relação a atos praticados pelo respetivo órgão em defesa da legalidade administrativa – Sim, art 4º,
nº 1, b) ETAF e 55º, nº 1, al e) CPTA.
q) Questões relacionadas com pedidos de indemnização por erro judiciário cometido
por um juiz do Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa – art 4º, nº 1, al f) ETAF.

2.1. Os limites funcionais da justiça administrativa


Quais são os poderes de cognição do juiz? Há limites a esse tipo de fiscalização? Os
tribunais têm poderes ilimitados?

O princípio da separação de poderes


A atividade exercida pelos TA’s sofre algumas limitações funcionais, porque envolve um
juízo (uma fiscalização) sobre a legitimidade do exercício de um outro poder público: o poder
administrativo, que possui legitimidade democrática (com a sua fonte no Parlamento, que a atribui
ao Ministro). Por seu turno, a função judicial não tem legitimidade democrática; tem uma
legitimidade diferente, uma legitimidade constitucional. Como se confrontam aqui a função
administrativa e a função judicial?
A função administrativa implica decidir, fazer escolhas (em nome, claro, do interesse
público). Distingue-se claramente da função judicial. Logo, a autoria e a decisão entre agir ou não
agir está do lado da AP. Isso é muito mais exigente porque implica conhecer o contexto, ponderar as
opções e escolher a decisão.
Já a função judicial exige uma apreciação objetiva dos factos e a subsunção destes nas
normas legais. Logo, trata-se apenas de fiscalizar ‘ex post’ a legalidade das decisões da AP. O juiz
elabora um paradigma normativo e submete a decisão a testes de juridicidade (nomeadamente
quanto aos princípios jurídicos).
Ora, nessa apreciação judicial há zonas que o juiz não pode invadir (por força da CRP e da
lei). Dispõe o artigo 3º do CPTA (poderes dos TA’s) que, em homenagem ao princípio da separação
dos poderes, os TA’s não podem julgar da conveniência ou oportunidade da atuação administrativa.
Portanto, exclui-se o mérito da atuação administrativa. Não lhes compete administrar, não podem
invadir o mérito da decisão. Há como que uma reserva de mérito da AP.
Dentro do domínio material definido pelas relações jurídicas administrativas públicas, a ordem judicial
administrativa vai julgar os litígios entre os interessados, dando-lhes uma solução de caráter jurisdicional.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


No entanto, essa atividade exercida pelos tribunais administrativos sofre, em virtude da sua qualidade
substantiva, limitações funcionais específicas, na medida em que se apresenta como uma atuação que envolve um juízo
sobre a legitimidade do exercício de um outro poder público: o poder administrativo.
De facto, do princípio da divisão dos poderes, na dimensão que “separa” o poder judicial dos outros poderes
públicos, há-de resultar alguma limitação para a justiça administrativa, visto que o juiz não pode pura e simplesmente
ignorar nem substituir-se à competência e à autoridade própria das decisões jurídico-públicas da Administração.

Outro limite a observar é a decisão administrativa prévia. Há casos em que a lei estabelece
a necessidade de os interessados obterem uma decisão administrativa prévia ao acesso (ou para ter
acesso) à justiça administrativa. São os casos das chamadas ‘impugnações administrativas
necessárias’. Se, por força da lei substantiva ou processual, a impugnação administrativa for
necessária, então só depois de o particular provocar uma pronúncia administrativa é que poderá
haver uma pronúncia judicial – cfr. o art. 3º do diploma preambular que aprova o CPA, relativo às
impugnações administrativas necessárias.
O último limite diz respeito ao conteúdo da decisão do juiz. Hoje, o entendimento é o da
juridicidade e da justiciabilidade administrativa: os TA’s têm poderes de condenação, de intimação e
de injunção dirigidos às autoridades administrativas. No entanto, tem de haver contenção judicial os
espaços de discricionariedade – espaços de valoração autónoma do poder administrativo. O controlo
judicial tem de ser adequado/atenuado.
Exemplos: o art. 71º CPTA (“poderes de pronúncia do tribunal”) – é o mais relevante e será
objeto de análise cuidada. Com algum alcance semelhante: os art 95º/5 (objeto e limites da
sentença), 168º/2 e 179º/1 (execução de sentenças) do CPTA, bem como o art 313º/3 do CCP
(modificação judicial do contrato administrativo).
Finalmente, ao nível dos limites funcionais, o juiz tem que respeitar a força de caso decidido do
AA, ou seja, a força estabilizadora do ato (o ato inválido, em princípio, o ato anulável, tem um
prazo de três meses para ser impugnado, prazo a partir do qual o particular está vinculado). Ainda
que inválido, um AA pode tornar-se inimpugnável pelo decurso do prazo de impugnação.
A entidade de controlo, enquanto 2º intérprete, sendo um órgão inoficioso e imparcial como o tribunal, apenas
precisa de elaborar o paradigma normativo, até onde este seja determinável na situação concreta, submeter a decisão
sujeita a controlo a testes de juridicidade considerados fundamentais, para detetar o eventual incumprimento dos
princípios que regulam a atividade decisória.
Outro limite relativo ao conteúdo da fiscalização decorre da autocontenção do juiz administrativo perante a reserva
de discricionariedade da Administração. Os tribunais administrativos julgam do cumprimento pela Administração das
normas e princípios jurídicos que a vinculam e não da conveniência ou oportunidade da sua atuação – art 3º CPTA. Os
tribunais julgam questões de legalidade ou de juridicidade relativas à atuação administrativa. Não lhes compete
administrar, pelo que da sua jurisdição se excluem os poderes de decisão que englobam ‘questões de mérito’, isto é, que
impliquem a avaliação da oportunidade e da conveniência da atividade administrativa segundo padrões ou regras de

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


‘boa administração’.

Questão: ainda assim, é impossível um TA conhecer incidentalmente da eventual ilegalidade


de um AA inimpugnável? A regra de ouro é que tem de respeitar a força de caso decidido. Logo, o
tribunal só pode absolver a AP, mesmo que o ato seja ilegal. O juiz não pode conhecer da eventual
ilegalidade do ato inimpugnável para efeitos de anulação ou declaração de nulidade. No entanto,
pode à luz do art 38º, nº 1 do CPTA, conhecer para efeitos de efetivação da responsabilidade civil,
conquanto não tenha decorrido o prazo de prescrição.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


2. Organização da jurisdição administrativa

3.1. A organização em geral


Na CRP, desde 1989, os TA’s constituem uma categoria própria separada dos tribunais
judiciais (art 209º/1/b)), formando uma hierarquia cujo órgão superior é o STA (art 212º/1). São
tribunais de existência obrigatória. Os TA’s funcionam atualmente agregados com os tribunais
tributários em TAF’s.
Existe uma relativa unidade de jurisdição entre a justiça administrativa e a fiscal: o ETAF
refere-se a uma ‘jurisdição administrativa e fiscal’.
O ETAF mantém a opção de constituir, ao nível da 1ª instância, duas categorias distintas de
tribunais – os TA’s de círculo e os tribunais tributários – sujeitas a diferentes Secções dos TCA e do
STA – respetivamente, as do Contencioso Administrativo e as do Contencioso Tributário.
Os tribunais administrativos e fiscais constituem, desde 1989, por decisão constitucional, uma categoria
própria de tribunais, separada dos ditos tribunais judiciais (art 209º, nº 1, al b)), formando uma hierarquia cujo órgão
superior é o Supremo Tribunal Administrativo (art 212º, nº 1).
O ETAF de 2002 mantém, no entanto, a opção de constituir, ao nível da primeira instância, duas categorias
distintas de tribunais – os tribunais administrativos de círculo e os tribunais tributários – sujeitas a diferentes Secções
dos Tribunais Centrais Administrativos (TCA) e do Supremo Tribunal Administrativo (STA) – respetivamente, as do
Contencioso Administrativo e as do Contencioso Tributário – de modo que essas sub-ordens de tribunais são
relativamente autónomas, tendo apenas, no topo da hierarquia, como órgão comum, o Plenário do STA.

No topo da hierarquia, como órgão comum, está o Plenário do STA.

STA com duas secções:


SCA e SCT; e Plenário

TCA com duas secções:


SCA e SCT

TAC e Ttrib

Da pirâmide resulta que existem 3 categorias de TA’s:

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


 Os tribunais administrativos de círculo (TAC), que funcionam em regra como tribunais
de primeira instância;
 Os tribunais centrais administrativos (TCA), que são competentes para decidir os
recursos jurisdicionais interpostos das sentenças dos TAC;
 ….

Regras fundamentais:
 Os TA têm alçada, fixada em função da alçada dos tribunais judiciais (art 6º ETAF), da
qual depende, em princípio, a admissibilidade de recurso das sentenças (art 142º CPTA);
 Cumprida a alçada, a regra é a existência de um duplo grau de jurisdição, admitindo-se,
excecionalmente, o triplo grau (art 24º/2 ETAF e 150º CPTA);
 Tanto os TCA como o STA não são só instâncias de recurso, podendo excecionalmente
funcionar como 1ª instância (art 24º, 37º, 44º do ETAF).

Temos de distinguir, no conjunto dos tribunais administrativos, os tribunais permanentes, que exercem uma
competência de jurisdição compulsória, e os tribunais arbitrais, designadamente os tribunais arbitrais voluntários,
constituídos ad hoc por acordo das partes.

3.2. Os tribunais administrativos

O STA é o órgão superior da hierarquia dos TAF’s, tem sede em Lisboa e jurisdição …
Forma de decisão do STA: os juízes decidem em conferência, sob a forma de Acórdão (art
17º ETAF). Após a discussão, em conferência, o acórdão é ‘tirado’ por maioria e devidamente
fundamentado, podendo ser formulados votos de vencido (votos emitidos por um juiz que discorda
do sentido da decisão) e declarações de voto por parte dos juízes dissidentes (caso em que o juiz
concorda com o sentido da decisão, mas discorda dos seus fundamentos).
Poderes de cognição do STA: regra geral, o STA conhece de matéria de direito (art 12º/3 e 4
ETAF). O plenário e o pleno de cada secção apenas conhecem matéria de direito.
MP: representado pelo PGR, que pode fazer-se substituir por procuradores-gerais-adjuntos
(art 52º a) ETAF).
O Supremo Tribunal Administrativo (STA), Secção do Contencioso Administrativo, funciona em dois níveis:
em formação de três juízes ou em pleno (estado presentes, pelo menos, dois terços dos juízes da secção). Após a
discussão, em conferência, o acórdão é tirado por maioria e devidamente fundamentado, podendo ser formulados e
publicados votos de vencido e declarações de voto por parte dos juízes dissidentes – art 17º ETAF.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


Quanto aos TCA (art 31º e sgs ETAF), existem dois: o TCA do Norte e TCA do Sul. Têm,
respetivamente, sede no Porto e em Lisboa e jurisdição nas respetivas regiões.
Modo de funcionamento: cada TCA tem duas secções: SCA e SCT. A SCA funciona em
formação de 3 juízes, com juiz relator.
Forma de decisão: os juízes decidem em conferência, sob a forma de Acórdão, em termos
semelhantes ao STA (art 35º ETAF).
Poderes de cognição dos TCA: conhecem de matéria de facto e de direito (º 3 do art 31º
ETAF).
MP: representado por procuradores-gerais-adjuntos (art 52º, b) ETAF).
Funcionam em termos semelhantes aos referidos para o STA – art 35º ETAF.

Os Tribunais Administrativos de Círculo (art 39º e sgs ETAF) são uma espécie de tribunais
locais, que funcionam com um juiz singular, salvo os casos de julgamento em formação alargada.
Modo de funcionamento: os TAC funcionam apenas com juiz singular, a cada juiz
competindo a decisão, de facto e de direito, dos processos que lhe sejam distribuídos – art 40º
ETAF.
Forma de decidir: os TAC decidem sob a forma de sentença.
Áreas de jurisdição dos TCA – art 3º do DL nº 325/2003.
Julgamento em formação alargada: casos em que é requerida a intervenção de todos os
juízes do tribunal – art 41º ETAF.
MP: representado por Procuradores da República e Procuradores-Adjuntos.
São tribunais locais, funcionam com juiz singular, cabendo-lhe a decisão de facto e de direito – art 40º CPTA.

Repartição de competências entre TA’s

a. Critério de repartição em razão da matéria


Os TAC têm, em regra, uma competência universal como tribunal de 1ª instância, mantendo-
se apenas algumas situações excecionais, em que o TCA e o STA funcionam como tribunais
primários.
Aos TAC é atribuída uma competência-regra, cabendo-lhes conhecer, em primeira instância,
de todos os processos do âmbito da jurisdição administrativa, com exceção daqueles cuja
competência esteja reservada aos tribunais superiores – art 44º, nº 1 ETAF.

b. Critério da competência em razão da hierarquia


A regra do duplo grau de jurisdição: por regra, das sentenças do TCA só é possível interpor
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
recurso jurisdicional para os TCA – art 37º ETAF.
Embora com a limitação das alçadas, em função do valor do processo, muitas vezes, haverá
o duplo grau de jurisdição, admitindo-se, em casos excecionais, o triplo grau.
Há, no entanto, decisões relativamente às quais é sempre admitido recurso (art 142º, nº 3
CPTA).
Quanto à subida dos recursos para os tribunais superiores, note-se que:
 Os recursos das decisões dos TAC são conhecidos pela Secção do Cont. Admin., salvo
quando há recurso ‘per saltum’ para o STA (art 37º, a) ETAF).
 Os recursos dos acórdãos dos TCA proferidos em 1ª instância são interpostos para a
Secção do CA do STA (art 24º, nº 1/g) e nº 2 ETAF).
 Os recursos dos acórdãos proferidos em 1º grau de jurisdição pela Secção do
Contencioso Administrativo do STA são conhecidos pelo Pleno da Secção – art 25º, nº 1,
al a) ETAF.
 Os recursos das decisões dos tribunais arbitrais são interpostos nos TCA.
Embora com a limitação das alçadas, em função do valor do processo, está assegurado, em princípio, o duplo
grau de jurisdição – admitindo-se mesmo, em determinados casos, o triplo grau – competindo a apreciação das
sentenças proferidas pelo tribunal de primeira instância a um tribunal superior.

A alçada dos TA’s – art 6º ETAF e art 142º CPTA


Regra geral, os TA’s têm alçada – nº 1 do art 6º ETAF. Corresponde à alçada dos tribunais
judiciais.
Quanto ao valor das alçadas em matéria cível, a alçada dos Tribunais da Relação é de
30.000€ e a alçada dos Tribunais de primeira instância é de 5.000€ - art 44º da Lei nº 62/2003.
Importância prática da alçada para a admissibilidade de recurso das decisões em primeiro
grau de jurisdição – art 142º CPTA.

a. Critério de repartição da competência em razão do território:


A questão levanta-se, desde logo, para os TAC e pressupõe a determinação dos locais de
sede e das respetivas áreas de jurisdição, feita por lei especial.
As regras sobre distribuição da competência territorial transitaram do ETAF para o CPTA
(art 16º - 22º), que continua a estabelecer a seguinte regra geral (art 16º): os processos são
intentados no tribunal da área de residência habitual ou sede do autor. Visa-se, assim, favorecer, em
termos de razoabilidade e de comodidade, os particulares a quem cabe, na maior parte dos casos, a
iniciativa processual.
No entanto, há exceções, em função do tipo de processo, da matéria ou do objeto da ação.
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
As ações administrativas relativas às Regiões Autónomas, autarquias locais e demais
entidades por elas instituídas, pessoas coletivas de utilidade pública (como a Ordem dos
Advogados), são propostas no tribunal da área da sede da entidade demandada – art 20º, nº 1.
Processos relacionados com bens imóveis ou direitos a eles inerentes decorrem junto do
tribunal do lugar da situação do bem ou da ocorrência do ato – art 17º CPTA.
As pretensões em matéria de responsabilidade civil extracontratual, incluído ações de
regresso, são deduzidas no tribunal do lugar em que se deu o facto constitutivo da responsabilidade
(art 18º CPTA).
As ações administrativas relativas a contratos são propostas o tribunal do lugar de
cumprimento do cotrato – art 19º CPTA.
As pretensões em matéria de contencioso eleitoral são deduzidas no tribunal da área da sede
do órgão cuja eleição se impugna – art 20º/3 CPTA.
O conhecimento dos pedidos de intimação para prestação de informações, consulta de
documentos e passagem de certidões é da competência do tribunal da área onde deva ter lugar a
prestação pretendida – art 20º/4 e 5 CPTA.
Os demais processos de intimação (…) – art 20º/ 3 e 5 CPTA.
O CPTA estabelece ainda uma regra de salvaguarda, atribuído ao TAC de Lisboa a
competência supletiva, nos casos em que não seja possível determinar o tribunal territorialmente
competente pelos critérios legalmente fixados (art 22º). Quando parte dos autores tenha residência
no estrageiro, permite-se, por analogia com o disposto no art 21º, a escolha pelos autores entre o
TAC de Lisboa e o tribunal da sede dos autores em Portugal.
Finalmente, os pedidos dirigidos à adoção de providências cautelares são julgados pelo
tribunal competente para decidir a causa principal – art 20º, nº 6 do CPTA.
Não se aplicando nenhum dos citados desvios, vale a regra geral: os processos são
intentados no tribunal da área de residência habitual ou da sede do autor. É preciso, por isso,
considerar legislação especial.
Remissão para lei especial da matéria relativa à definição dos locais de sede e das áreas de
jurisdição dos TAC – DL nº 325/2003.

3.4. Referência aos tribunais arbitrais


O art 202º/1 da CRP não consagra um monopólio estadual da função judicial. A expressa
referência, no art 209º/2 da CRP, aos tribunais arbitrais ajuda a dissipar quaisquer dúvidas acerca da
admissibilidade da arbitragem. Ela pode ser: voluntária, quando o tribunal é constituído ad hoc por
acordo das partes; necessária, quando é a própria lei que impõe a arbitragem como forma de
resolução de um litígio (é o que acontece com o Tribunal Arbitral do Desporto para os litígios
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
relacionados com a prática de desporto).
Normas: os art 180º e sgs do CPTA e a Lei da Arbitragem Voluntária.
A arbitragem tem natureza jurisdicional, mas não faz parte do sistema de justiça pública do
Estado. Trata-se de um sistema privado de justiça expressamente reconhecido pelo Estado.
O art. 1º, n.º 1 da LAV trata das matérias que podem ser alvo de arbitragem: qualquer litígio
respeitante a interesses de natureza patrimonial. O nº 3 do art 1º fala dos conceitos de ‘compromisso
arbitral’ e ‘cláusula compromissória’.
O CPTA é fundamental para percebermos as matérias administrativas que podem ser
submetidas aos tribunais arbitrais – art 180º e sgs. A arbitragem pode ser utilizada para resolver
questões de direito administrativo, ou seja, como modo normal de dirimir litígios emergentes de
relações jurídicas administrativas. Pode ser constituído tribunal arbitral para o julgamento de:
 Questões respeitantes a contratos, incluído a anulação ou declaração de nulidade de atos
administrativos relativos à respetiva execução;
 Questões relativas a responsabilidade civil extracontratual, no âmbito das relações
jurídicas administrativas;
 Questões respeitantes à validade de atos administrativos, salvo determinação legal em
contrário;
 Questões respeitantes a relações jurídicas de emprego público;
 A impugnação de atos administrativos relativos à formação de contratos pode ser objeto
de arbitragem, mediante previsão no programa de procedimento do modo de constituição
do tribunal arbitral e do regime processual a aplicar, que, quando esteja em causa a
formação de algum dos contratos previstos no art 100º (atos a fase pré-contratual), deve
ser estabelecido em conformidade com o regime de urgência.

Constituição e funcionamento: o tribunal arbitral é constituído e funciona nos termos da


LAV – art 181º CPTA. Não obstante a admissibilidade das convenções de arbitragem, o essencial
das regras sobre a constituição e o funcionamento dos tribunais arbitrais constam daquela Lei.
Impugnação das decisões arbitrais – art 185º-A CPTA, conjugado com a al b) do art 37º
ETAF. No entanto, pode ser prevista a irrecorribilidade da decisão arbitral – art 39º/4 LAV.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


2. A garantia da tutela jurisdicional efetiva

O direito à tutela jurisdicional efetiva (art 268º/4 da CRP) traduz uma proteção jurídica
individual: o cidadão tem o direito de recorrer a um tribunal para assegurar a defesa dos seus
direitos e interesses legalmente protegidos, o que implica o direito de acesso aos TA’s, o direito a
obter uma decisão em prazo razoável e mediante um processo equitativo e, por fim, o direito à
efetividade das sentenças proferidas.
O art 20º da Constituição garante, em geral, aos cidadãos o direito de acesso ao direito e
aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, bem como os direitos
à informação e consulta jurídica e ao patrocínio jurídico – nº 1 e 2. Estes direitos podem ser
agregados num direito geral à proteção jurídica, que constitui um direito-garantia dos cidadãos. O
núcleo essencial desta garantia é constituído pelo direito à proteção pela via judicial, que possui
dimensões substanciais, que compõem o direito a uma decisão em prazo razoável e mediante um
processo equitativo.
Como concretização deste direito geral à proteção judicial, a Constituição consagra
especificamente no art 268º, nº 4 s sgs, o princípio da tutela judicial da efetiva dos cidadãos perante
a Administração Pública. Este princípio é reafirmado no que respeita ao princípio da justiciabilidade
ou da acionabilidade da atividade administrativa lesiva dos particulares, no art 2º, nº 2 CPTA.
Como está consagrada a tutela jurisdicional efetiva no CPTA?
Para os processos declarativos não-urgentes há uma forma de processo e uma tramitação
unitária. De notar que o processo declarativo nos TA’s rege-se pelo disposto nos títulos II e III do
CPTA, sendo-lhe subsidiariamente aplicável o disposto no Código de Processo Civil.

A cumulação de pedidos, admitida no art 4º do CPTA, representou, em 2002, uma real


transformação no sistema da justiça administrativa, visto que, superando os obstáculos da diferença
de competência ou de trâmite, permite ultrapassar, na maior parte dos casos, as limitações e as
consequências nefastas que podiam apontar-se à rigidez dos meios processuais, designadamente
quanto à obtenção de uma decisão que confira aos particulares uma tutela efetiva e em tempo útil.
Decorrente da revisão de 2015, o art 4º do CPTA mantém o princípio da cumulação de
pedidos, mesmo que, de acordo com o art 5º/1, correspondam a formas de ação administrativa
urgente.
O pedido deve ser entendido como o efeito jurídico que o autor pretende obter através da
causa. Pedido e causa de pedir identificam o objeto da ação. Causa de pedir é o facto jurídico de que
o autor faz derivar o direito que pretende ver tutelado no processo; é o elenco de factos materiais em
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que assenta a pretensão deduzida em juízo.
Um princípio muito importante é o princípio do dispositivo. É ao autor que cabe alegar, na
petição inicial, os factos e as razões de direito que servem de fundamento à ação e integram a causa
de pedir – art 78º, nº 2, al f) do CPTA.
O objeto da ação individualiza-se através da providência judiciária requerida e dos factos
jurídicos que lhe servem de fundamento, sendo esses elementos que definem os limites da decisão e
da autoridade do caso julgado.
Uma importante inovação que o CPTA trouxe traduz-se na consagração do princípio da livre
cumulação de pedidos, que tem em vista assegurar que o autor possa concentrar num mesmo
processo várias pretensões conexas entre si. Artigo 4º/1 CPTA – a título de exemplos, é possível
cumular:
 O pedido de declaração de nulidade de um AA com o pedido de condenação da
Administração ao restabelecimento da situação que existiria caso o ato não tivesse sido
praticado;
 O pedido de condenação da AP à prática de um AA legalmente devido (a emissão de
uma licença de construção) com a condenação da AP à emissão do alvará de licença;
 O pedido de declaração de nulidade de um contrato com o pedido de condenação da
Administração à reparação dos danos causados.
Finalmente, nos termos do art 5º, é possível a cumulação de pedidos nos processos urgentes
(outra forma processual distinta da ação administrativa não urgente).

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


2. A ação administrativa (não urgente)

Nos termos do art 37º, nº 1 do CPTA, seguem a forma da ação administrativa, os processos
que tenham por objeto:
a) litígios relativos à impugnação de atos administrativos;
b) e a condenação à prática de atos administrativos devidos.

Uma breve referência para distinguir bem estes dois pedidos. Como é que a lei processual
olha o contencioso dos AA? Perante uma decisão qualificada com AA, a lei tutela dois tipos de
interesses fundamentais do particular:
 O primeiro é o interesse opositivo do particular. O AA, ao produzir efeitos externos, lesa
o particular (o ato é desfavorável, de conteúdo negativo, impositivo, punitivo ou
ablativo), de tal forma que aquele manifesta um interesse de oposição ou de reação ao
ato no processo contencioso;
 O segundo é o interesse pretensivo, isto é, o particular carece de um determinado AA,
pois pretende obter o efeito jurídico produzido por certo AA (o efeito autorizativo ou
permissivo do ato; o subsídio da AP), de tal forma que o tipo de tutela legal que aí se
coloca é virado para uma ação ou prestação positiva da AP. Aqui a lesão resulta de o ato
não ter sido praticado ou de o ato não satisfazer integralmente o pedido do requerente.
Para concretizar esta dicotomia de interesses, o legislador processual desenhou, na ação
administrativa, dois pedidos diferentes: o pedido de impugnação (ligada a interesses opositivos) e o
pedido de CPAD (condenação à prática de ato devido - ligada a interesses pretensivos).

5.1. Impugnação de Atos administrativos – art 37º/1ª) e 50º a 65º


Objeto – A função da impugnação de AA é a do controlo da invalidade de um AA, pedindo-
se, por isso, a sua anulação ou a declaração de nulidade do ato. Nos termos do art 50º/1 CPTA.

O conceito de AA impugnável começa por pressupor um conceito substancial de AA (art


148º CPTA), que se refere às “decisões que, no exercício de poderes jurídico-administrativos, visem
produzir efeitos jurídicos externos numa situação individual e concreta”, independentemente da
forma sob que são emitidas (isto é, mesmo que contidas em diplomas legislativos ou regulamentares
– essa irrelevância da forma está prevista no art 52º CPTA, estendendo-se no nº 3 aos AA gerais).
Tradicionalmente sempre houve um conceito adjetivo e processual de AA, enquanto ato
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
suscetível de recurso contencioso. Durante muito tempo não havia uma verdadeira coincidência
entre os conceitos substantivo e processual de AA. Porém, depois da reforma de 2015, o conceito
processual de AA tende agora a coincidir com o conceito de ato para efeitos substantivos – art 148º
CPA + 51º CPTA.
Essa aproximação acontece porque o AA abrange toda a decisão que vise produzir efeitos
externos, ainda que não seja o ato final do procedimento.
Tradicionalmente, o AA suscetível de impugnação carecia de ser ‘definitivo’ e ‘executório’,
o que significa que a definitividade e a executoriedade eram pressupostos da impugnação judicial
do ato.
Atualmente, o que se exige é que se trate de um verdadeiro AA, com efeitos externos, ainda
que não ponha termo a um procedimento (não sendo ainda um ato definitivo). Assim, a lesividade
não é mais o critério da impugnabilidade dos atos administrativos (a lesividade encontra-se mais
ligada à legitimidade processual ativa). O critério decisivo é a produção de efeitos jurídicos
externos numa situação individual e concreta – art 51º/1 CPTA.
Ora, porque o conceito de AA impugnável sempre gerou controvérsia, o legislador veio, no
nº 2 do art 51º, esclarecer que são designadamente impugnáveis:

a) As decisões tomadas no âmbito de procedimentos administrativos sobre questões que


não possam ser de novo apreciadas em momento subsequente do mesmo procedimento;
Esta alínea abrange os atos destacáveis do procedimento, isto é, aqueles que sendo inseridos
num procedimento administrativo, produzem efeitos externos autonomamente, sem ser através do
ato principal. São autonomamente impugnáveis, porque produzem eles próprios efeitos externos.
Falar de atos destacáveis exige distinguir os procedimentos simples dos procedimentos complexos.
Os procedimentos simples são aqueles em que o desenvolvimento dos trâmites ocorre no seio da
mesma autoridade administrativa e envolvem a prática de um só ato final com efeitos externos (ex.:
requerimento para obtenção de certidão de licenciatura UC; apreensão de veículo ilegal pela PSP;
abate de um animal doente pelo veterinário municipal). Fruto da necessidade de proteger certos
interesses públicos cada vez mais importantes e porque temos uma Administração Pública que cada
vez mais atua em rede, temos cada vez mais procedimentos complexos. Os procedimentos
complexos são aqueles em que o desenvolvimento dos trâmites envolve diferentes pronúncias de
várias autoridades administrativas, cada uma delas chamada a manifestar-se sobre aspetos
compreendidos no círculo de interesses que tutelam.
Ora, os procedimentos complexos podem ser de dois tipos:
1. “Subprocedimentos”: O subprocedimento é enxertado num procedimento principal,
surgindo, por exemplo, na fase preparatória desse procedimento principal: v.g., um
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parecer é emitido pela CCDR num subprocedimento de um licenciamento para
construção de uma barragem.
2. “Procedimentos complexos escalonados com pré-decisões”: Tomando como referência a
barragem, é necessária agora a declaração de impacto ambiental (D.I.A.), isto é, uma
avaliação impacto ambiental positiva. Ex.: se um projeto privado implica transformações
ambientais na cidade, então é necessária uma avaliação de impacto ambiental positiva.
Ora, este segundo tipo significa que, antes do ato final, há uma série de pré-decisões que,
progressivamente, vão ampliando a situação jurídica do particular requerente, de uma forma
sucessiva e gradual. Dessas pré-decisões vai depender o sentido favorável/desfavorável do ato final
da AP.
Então, os atos destacáveis de que nos fala a alínea a) do nº 2 do art 51º CPTA podem ser de
dois tipos:
1. As pré-decisões são AA praticados em procedimentos faseados, correspondendo
a decisões interlocutórias face ao desenrolar final do procedimento. Podem ser de dois
tipos:
1.1. Ato prévio: é a decisão de uma questão jurídica num momento intermédio
do procedimento sobre certas condições de que depende o sentido do ato final. Eis
o que sucede com a decisão de aprovação do projeto de arquitetura no
licenciamento de obras privadas. Quando possui um conteúdo positivo, essa decisão
antecipada não tem efeito permissivo (o efeito do licenciamento), mas corresponde
à consolidação de uma situação jurídica na esfera do particular. Já quando possui
um conteúdo negativo, essa decisão pode ter um efeito preclusivo da pretensão do
particular, inviabilizando a continuação do procedimento.
1.2. Ato parcial: é a decisão final relativamente a uma parte do objeto do pedido
apresentado pelo particular. Isto vale sobretudo para os licenciamentos. No
licenciamento de uma grande construção, o ato parcial é a declaração de impacto
ambiental. O mesmo se pode dizer da licença parcial para a construção de
estruturas, que permite a realização de escavações. Ao contrário do AA prévio, o ato
parcial tem caráter permissivo, permitindo ao particular realizar atos de execução.
2. São também atos destacáveis os atos excludentes. Trata-se de atos eliminatórios,
como por exemplo, a exclusão de concorrentes em procedimentos concursais.

A única questão que fica por responder é se há diferenças ao nível da impugnação no


capítulo dos atos destacáveis. Há. É a própria lei que o diz. Para tanto é preciso distinguir faculdade
de impugnação de ónus de impugnação dos AA.
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
Se o ato destacável estiver sujeito a um ónus de impugnação autónoma, então o particular
terá de impugnar esse ato num determinado prazo e já não poderá impugnar o ato final com
fundamento em ilegalidades cometidas durante o procedimento.
Se o ato destacável estiver sujeito a uma faculdade de impugnação, então o particular tanto
poderá impugnar esse ato num determinado prazo (em nome de uma ‘defesa antecipada’), como
poderá esperar e impugnar o ato final com fundamento em ilegalidade cometidas durante o
procedimento.
A lei estabelece no nº 3 do art 51º estabelece que os atos destacáveis “só podem ser
impugnados durante a pendência do mesmo, sem prejuízo da faculdade de impugnação do ato final
com fundamento em ilegalidades cometidas durante o procedimento”.
Isto vale para a generalidade das decisões prévias e parciais que vimos. Contudo, o
mencionado regime não é aplicável aos atos de exclusão ou aos atos eliminatórios de um
interessado num procedimento (“salvo quando essas ilegalidades digam respeito a ato que tenha
determinado a exclusão do interessado do procedimento”.
Assim, os atos prévios e os atos parciais estão sujeitos a faculdade de impugnação, enquanto
que os atos excludentes estão sujeitos a ónus de impugnação.

a) “As decisões tomadas em relação a outros órgãos da mesma pessoa coletiva, passíveis de
comprometer as condições do exercício de competências legalmente conferidas aos
segundos para a prossecução de interesses pelos quais esses órgãos sejam diretamente
responsáveis.”
Nos termos da alínea b), atribui-se relevância a certo tipo de atos que se projetam nas
relações administrativas. Admite a impugnabilidade das decisões preliminares, designadamente dos
pareceres vinculantes: deve admitir-se a impugnação da decisão pelo órgão prejudicado, quando
essa decisão alegadamente for ilegal e for vinculativa para esse órgão (isto é, o órgão encontra-se
vinculado a seguir o parecer).

Depois do art 51º do CPTA, temos algumas normas que tratam de atos administrativos
especiais. Regra geral, não são impugnáveis os atos confirmativos, isto é, os atos que se limitem a
reiterar, com os mesmos fundamentos, decisões contidas em AA anteriores – art 53º/1. Razão de ser:
evitar que, através de requerimentos sucessivos, se pudessem permanentemente reabrir litígios (art
13º/2 CPTA); assim como os atos jurídicos de execução de AA, a não ser que tenham um conteúdo
decisório de caráter inovador (53º/3).
Os AA só podem ser impugnados a partir do momento em que produzam efeitos (art 54º/1).
O AA ineficaz não é impugnável, salvo nos casos previstos no nº 2, se já tiver sido desencadeada a
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
sua execução ou se seja muito provável que o ato irá produzir efeitos.

Quanto à impugnação de ato de indeferimento ou de recusa de apreciação de requerimento,


apesar de consubstanciarem AA desfavoráveis impugnáveis, o legislador prefere que o particular
utilize o pedido de CPAD, pois esse pedido confere uma tutela mais intensa ao particular e resolverá
de uma vez só a situação. Por isso, os números 4 e 5 do art 51º CPTA dispõem que “se contra um
ato de indeferimento ou de recusa de apreciação de requerimento não tiver sido deduzido o
adequado pedido de condenação à prática do ato devido, o tribunal convida o autor a substituir a
petição”.

A legitimidade processual está tratada nos art 55º a 57º do CPTA.


A legitimidade é um pressuposto processual, isto é, uma condição cuja verificação é
indispensável à obtenção de uma pronúncia judicial sobre o mérito da causa.
Da legitimidade ativa trata o art 55º, com um alcance claramente objetivista. Temos
fundamentalmente três grandes grupos: ação particular, ação popular e ação pública, porque o tipo
de interesses é diferente em cada grupo.
Na ação particular, tem legitimidade ativa:
 Quem alegue ser titular de um interesse direto e pessoal na demanda, designadamente
por ter sido lesado pelos atos nos seus direitos ou interesses legalmente protegidos –
alínea a);
 Entidades privadas, quanto aos direitos e interesses coletivos que lhes cumpra defender
(ex.: associações sindicais) – “ação de grupo ou ação coletiva”, significando a defesa de
interesses coletivos – alínea c);
 Entidades públicas, atuando em defesa de interesses públicos próprios, no âmbito de
relações interadministrativas – alínea c);
 Órgãos administrativos relativamente a atos praticado por outros órgãos da mesma
PCP, quando esteja em causa a prossecução de interesses pelos quais esses órgãos sejam
diretamente responsáveis – alínea d).

A ação popular prevista no art 55º/1f)), em conjugação com o art 9º/2, refere-se à “ação
popular social”. Não são interesses pessoais, mas interesses difusos, entendidos como interesses da
comunidade globalmente considerada (a saúde, ambiente, património cultural), cuja proteção é
encabeçada pelos autores populares (indivíduos, ONG’s, autarquias). O autor popular age
judicialmente no interesse geral da comunidade a que pertence, sem que tal meio judicial envolva a

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titularidade de qualquer interesse direto e pessoal. A ação popular pode ser individual (tem
legitimidade para a desencadear qualquer cidadão no gozo dos seus direitos civis e políticos); ou
coletiva (têm legitimidade de associações/fundações defensoras de interesses difusos).

A legitimidade para a ação pública inclui o Ministério Público – alínea b) – e os Presidentes


de órgãos colegiais, em relação a atos praticados pelo respetivo órgão, bem como outras
autoridades, em defesa da legalidade administrativa – alínea e).

Da legitimidade passiva trata o art 10º CPTA. Cada ação deve ser proposta contra a outra
parte na relação material controvertida e, quando for caso disso, contra as pessoas ou entidades
titulares de interesses contrapostos aos do autor – nº 1.
A regra geral do art 10º, nº 2 diz-nos que a legitimidade passiva cabe às pessoas coletivas (e
não aos respetivos órgãos). Há, porém, exceções: “salvo nos processos contra o Estado ou aos
Regiões Autónomas que se reportem à ação ou omissão de órgãos integrados nos respetivos
ministérios ou secretarias regionais, em que a parte demandada é o ministério ou ministérios ou a
secretaria ou secretarias regionais” (art 10º/2); “os processos que tenham por objeto atos ou
omissões de entidade administrativa independente, destituída de personalidade jurídica, são
intentados contra o Estado ou a outra pessoa coletiva de direito público que essa entidade pertença”
(10º/3); “nos processos respeitantes a litígios entre órgãos da mesma pessoa coletiva, a ação é
proposta contra o órgão cuja conduta deu origem ao litígio (10º/8).

Os prazos processuais são os períodos de tempo fixados por lei para se produzir um efeito
específico num processo (por exemplo, estão submetidos a este conceito os prazos de instauração da
ação e de contestação).
O art 41º do CPTA estabelece uma regra geral sobre o prazo para propor a ação
administrativa. Contudo, há prazos para se produzir um efeito específico. Devemos atender às
normas dos art 58º e 59º do CPTA, que consagram os prazos para a impugnação de AA. Ao
contrário do que sucede com o pedido de declaração de nulidade, que pode ser apresentado a todo o
tempo, a impugnação do ato anulável continua sujeita a um prazo relativamente curto de
impugnação, cuja queda determina a inimpugnabilidade da decisão e a formação de caso decidido.
Salvo norma em contrário, a impugnação de atos nulos e inexistentes não esta sujeita a prazo, mas a
de atos anuláveis tem:
a) prazo geral para os particulares: três meses para os atos anuláveis e a todo o tempo para
os atos nulos.
b) prazo para o MP: um ano (art 59º/2, al a)), contado a partir da prática do ato ou da
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publicação, se obrigatória – art 59º/6);
c) prazos especiais: podem existir vários em leis especiais. No próprio CPTA, a impugnação
de AA em sede de procedimentos massa e contencioso pré-contratual urgente obedece ao prazo de
um mês – art 99º e 101º.

Regras de contagem dos prazos:


Os prazos de impugnação só começam a correr na data da ocorrência dos factos se, nesse
momento, o ato a impugnar já for eficaz, contando-se o prazo desde o início da produção de efeitos
do ato – art 59º/1.
O prazo para a impugnação pelo destinatário a quem o AA deva ser notificado só corre a
partir da data de notificação ao interessado, ainda que o ato tenha sido objeto de publicação
obrigatória – 59º/2.
Há uma regra de contagem dos prazos que vem do art 279º/b) CCiv, a qual fixa o termo
inicial. Ou seja, na contagem do prazo, não se inclui o dia em que ocorreu a notificação (conta a
partir do dia seguinte). Porém, em 2015, a letra do art 59º/2 parece apontar no sentido negativo.
Conta desde A DATA Da notificação.
Início da contagem do prazo para quaisquer ooutros interessados – art 59º/3 CPTA: também
desde a data da publicação/notificação.
Os prazos de impugnação passaram em 2015 a contar-se nos termos do art 279º CC, de
modo que são contínuos, contando-se os sábados, domingos e feriados, e correm em férias judicias
– 58º/2.
Pergunta: e se o prazo para a prática do ato processual terminar em dia em que os tribunais
estiverem encerrados (feriado, sábado ou domingo)? Esse prazo transfere o seu termo para o 1º dia
útil seguinte.
A utilização de meios de impugnação administrativa facultativos (reclamação ou recurso
hierárquico) suspende o prazo de impugnação judicial do AA (por exemplo, 3 meses), que só
retoma o seu curso com a notificação da decisão proferida sobre a impugnação administrativa ou
com o decurso do respetivo prazo legal (art 59º/4).
Sendo o meio de impugnação administrativa necessária, ela é pressuposto processual da
ação administrativa, de tal forma que o objeto da ação de impugnação, quando haja recurso
necessário, é o indeferimento do recurso ou o decurso dos prazos de decisão do recurso.

A propositura da ação não suspende automaticamente a eficácia do ato impugnado, que


continua a produzir os seus efeitos e a obrigar os respetivos destinatários, sendo suscetível de
execução coativa pela AP (50º/2). Para pedir a suspensão da eficácia, como veremos, será
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
necessário cumular o pedido impugnatório com uma Providência Cautelar.
O único caso em que a impugnação de um AA suspende a eficácia desse ato é quando esteja
em causa o pagamento de uma quantia certa, sem natureza sancionatória, e tenha sido prestada
garantia por qualquer das formas previstas na lei tributária – art 50º/2.
Em face de sentença de provimento (quando o tribunal entende a favor do requerente), a AP
fica constituída no dever de executar a sentença de anulação. A decisão judicial gera uma obrigação
para a AP de reconstituir a situação que existiria se o ato ilegal não tivesse sido praticado, além de
ter de atuar no estrito respeito pelo julgado.

5.2. Pedido de condenação à prática de ato devido – art 66º a 71º


Se o pedido de impugnação pode ser suficiente para reagir contra atos desfavoráveis,
ablativos, a verdade é que ele é muito limitado para reagir contra as omissões e os atos da AP
prestadora e licenciadora da atividade privada (autorizações; concessão de subsídios).
O pedido de CPAD tanto permite a condenação da AP nos casos de omissão de atuação,
como nos casos de emissão de ato de conteúdo negativo ilegal.

Trata-se de um pedido que visa obter a condenação da entidade competente à prática de um


AA, que foi ilegalmente omitido ou recusado. Impõe-se distinguir duas situações – art 66º, nº 1 e
67º.
Se houve recusa, o tribunal vai muito além da anulação desse ato. É que no pedido
impugnatório não se assegura que a AP venha a praticar o ato legal, já que, após a anulação, ela
pode não praticar qualquer ato (o ato pretendido) ou pode praticar novamente um outro ato ilegal.
Se houve omissão da prática do ato requerido: é fundamental que a lei associe à inércia
administrativa o incumprimento do dever de decisão.
Ato devido é o AA que, na perspetiva do autor, deveria ter sido emitido e não foi, quer tenha
havido uma pura omissão, um indeferimento ou uma recusa – e ainda quando tenha sido praticado
um ato que não satisfaça ou não satisfaça integralmente uma pretensão. Por isso, no nº 2 do art 66º,
o legislador refere que “o objeto do processo é a pretensão do interessado e não o ato de
indeferimento”.
O ato devido tanto pode ser um ato estritamente vinculado (um ato de conteúdo devido),
como um ato que alberga momentos discricionários, mas desde que a sua emissão seja legalmente
obrigatória no caso.
O padrão de juridicidade do ato devido é em sentido amplo, podendo abranger: normas
constitucionais, normas de direito europeu, princípios jurídicos e contratos. Desde 2015, são
integrados nesta ação os pedidos de condenação à prática de atos contratualmente devidos – art 37º,
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nº 1, al b).

Pressupostos do pedido de CPAD – art 67º


Em regra, a CPAD pode ser pedida se tiver sido apresentado requerimento que constitua o
órgão competente no dever de decidir – art 13º/1 CPA.
Portanto, perante um requerimento do interessado dirigido ao órgão competente, o CPAD
pode ter como causa uma destas situações:
 Não tenha sido proferida decisão dentro do prazo legalmente estabelecido – art 67º/1/a) –
casos de incumprimento do dever de decisão;
 Tenha sido praticado AA de indeferimento (art 67º/1/b), 1ª parte) – casos de
indeferimento expresso, total e direto, da pretensão requerida pelo interessado; + art. 51º.
 Tenha sido praticado AA de recusa de apreciação do requerimento (art 67º/b), 2ª parte) –
casos em que a AP se recusa a apreciar formalmente o pedido (recusa liminar). + art. 51º.
 Tenha sido praticado AA de conteúdo positivo que não satisfaça integralmente a
pretensão do interessado (art 67º/1/c)) – situação de indeferimento parcial;
 Quando o interessado pretenda obter a substituição de um AA de conteúdo positivo (art
67º/4/b)). Aqui o CPAD pode ser pedido sem ter sido apresentado requerimento (era
outro ato positivo que era pretendido);
 Não tenha sido cumprido o dever de emitir um AA que resultava diretamente da lei (art
67º/4/a)). Aqui, a CPAD pode ser pedida sem ter sido apresentado requerimento (efeito
legal automático/sem requerimento). Este caso refere-se principalmente às renovações
periódicas de subsídios e apoios sociais.

Legitimidade das partes – art 68º


Legitimidade ativa. Pode apresentar o pedido:
a) Quem seja titular de direitos ou interesses legalmente protegidos dirigidos à emissão
desses atos – al. a) – ação particular;
b) Ministério Público, quando o dever de praticar o ato resulte diretamente da lei e esteja
em causa a ofensa de direitos fundamentais, a defesa de interesses públicos
especialmente relevantes ou de qualquer dos valores e bens referidos no nº 2 do art 9º, al
b) – ação pública e popular;
c) Pessoas coletivas públicas e privadas, em relação aos direitos ou interesses que
representam – al. c) – ação particular;
d) Órgãos administrativos, relativamente a condutas de outros órgãos da AP, que

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comprometam as condições do exercício de competências legalmente conferidas aos
primeiros para a prossecução de interesses pelos quais estes órgãos sejam diretamente
responsáveis – al. d) – ação pública. Porque as competências são de ordem pública;
e) Presidentes de órgãos colegiais, relativamente à conduta do respetivo órgão, bem como
outras autoridades, em defesa da legalidade administrativa, nos casos previstos na lei e)
– ação pública;
f) Pessoas e entidades mencionadas no art 9º, nº 2, al. f) – ação popular.

Legitimidade passiva. Para além da entidade responsável pela situação de ilegalidade ou


pela omissão (cfr. o art 10º, nº 2), convém ter em conta a regra especial do art 68º/2: são
obrigatoriamente demandados os contrainteressados a quem a prática do ato pretendido possa
diretamente prejudicar ou que tenham legítimo interesse em que aquele ato não seja praticado.
Por essa razão, há sempre “litisconsórcio necessário passivo” com a entidade demandada,
isto é, há pluralidade de réus, que são demandados conjuntamente.

Prazos – art. 69º CPTA


O prazo de propositura da ação varia em função do tipo de situações em que o pedido é
admitido, isto é, depende de ter havido inércia do órgão ou um indeferimento e não em função dos
autores, mesmo que seja o MP.
Em situações de inércia, o direito de ação caduca no prazo de um ano contado desde o termo
do prazo legal estabelecido para a emissão do ato – art 69º/1. Não havendo normas especiais,
aplica-se o prazo supletivo do CPA de 90 dias úteis (art 128º CPA).
Assim, ao fim de 90 dias, gera-se o incumprimento do dever de decisão e é a partir daí que
começa a correr o prazo de um ano.
Em situações de indeferimento, de recusa de apreciação do requerimento ou de substituição
de um ano de conteúdo positivo, o prazo de propositura de ação é de três meses (art. 69º/2), sendo
aplicável o disposto no nº 3 do art 58º e nos art 59º e 60º.
Contudo, este último prazo não se aplica quando esteja em causa um ato nulo: aí o pedido só
pode ser deduzido no prazo de dois anos, contado da data da notificação do ato de indeferimento, de
recusa de apreciação do requerimento ou do ato de conteúdo positivo que o interessado pretende ver
substituído por outro.
Se o prazo se esgotar, o interessado sempre pode impugnar o ato nulo, que não depende de
prazo.
Nada se diz sobre a ação publica, o que significa que se aplica o prazo de um ano, em caso
de omissão, e o prazo de 3 meses, nos restantes casos.
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Efeitos da sentença e poderes do juiz – art 71º (reflexo dos limites funcionais da JA)
A pronúncia do tribunal em caso de procedência da ação será condenatória relativamente à
pretensão do interessado. Essa condenação implica:
 A eliminação automática da ordem jurídica do ato praticado, se o houver;
 A resolução da questão material apresentada pelo autor, devendo o juiz
estabelecer o prazo em que deve ter lugar a prática do ato e identificar o órgão competente
para o emitir;
 Se a decisão administrativa era devida ou vinculada quanto ao seu conteúdo,
então a condenação será específica (ex.: quando o particular é titular de um direito subjetivo
e preenche os pressupostos objetivos da norma legal, habilitadora de uma certa prestação
administrativa) – zona de segurança ou de certeza;
 Contudo, há limites aos poderes de pronúncia do juiz, que tem de respeitar os
limites funcionais da JA, sempre que existe discricionariedade autêntica – aqui estamos
numa zona sensível.
Quer dizer, quando a emissão do ato envolva valorações próprias da função administrativa
ou a AP tenha que constituir direitos em favor dos particulares, o tribunal não pode determinar o
conteúdo do ato a praticar, mas deve explicitar as vinculações a observar pela AP na emissão do
ato devido.
O CPTA não resolve expressamente os termos em que se processa essa condenação, o que
implica distinguir hipóteses:
 Se houve recusa de apreciação do requerimento, o autor tem de demonstrar que a
apreciação era obrigatória, assim como o ato era devido;
 Se houve um incumprimento do dever de decisão, dificilmente o juiz pode condenar à
AP à emissão de um ato constitutivo de direitos (por exemplo, a emissão da licença),
devendo limitar-se a uma condenação genérica (não há elementos suficientes em sede de
instrução que permitam o controlo da discricionariedade);
 Diferentemente, pode ocorrer a “redução da discricionariedade a zero”. Pressuposto
desta figura é que tenha existido uma decisão de indeferimento ou um deferimento
parcial. Isto porque, se a AP já apreciou o pedido/projeto apresentado pelo autor, então já
há margens ou aspetos da decisão a que a AP se autovinculou (pareceres, audiência
prévia dos interessados, etc.), estando aqui o tribunal em melhor posição para ‘reduzir’
as ‘zonas’ de discricionariedade administrativa e, assim, condenar a AP à emissão de um
ato constitutivo de direitos (a licença).

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


 No caso de incumprimento do dever de decisão, o próprio tribunal pode emitir sentença
que produza os efeitos do ato ilegalmente omitido – art 167º/6.
Muitas vezes, as sentenças dos tribunais podem vir acompanhadas por uma sanção
pecuniária.

5.3. Ações relativas a normas: impugnação de normas administrativas e condenação à


emissão de normas administrativas
Pedidos relativos a normas – art 72º a 77º do CPTA:
1. Impugnação de normas administrativas:
a. Direta:
i. DIFOG;
ii. DIEC.
b. Indireta ou incidental
2. Condenação à emissão de normas administrativas

A impugnação direta de normas – art 72º a 76º CPTA


A título principal, essa impugnação tem por objeto a declaração de ilegalidade de normas
emanadas ao abrigo de disposições de direito administrativo (RA), seja por vícios próprios (art 143º
CPA) ou derivados da invalidade de atos praticados no respetivo procedimento de aprovação – art
97º-101º e 53º-95º CPA.
O conceito de norma regulamentar é aqui tomado em sentido amplo: todas as normas de
direito administrativo com caráter geral e abstrato, que visem a produção de efeitos externos:
portarias ministeriais, resoluções do Conselho de Ministros de caráter normativo; decretos
regulamentares do Governo (regulamentos independentes), posturas municipais, planos
urbanísticos, estatutos de pessoas coletivas públicas (Estatutos da UC), regimentos de órgãos
colegiais.
Como resulta dos art 72º e 73º admitem-se dois tipos de pedidos de impugnação de normas a
título principal: o pedido de declaração de ilegalidade com força obrigatória geral (DIFOG) e o
pedido de declaração de ilegalidade num caso concreto (DIEC).
Em qualquer dos dois casos, a impugnação de normas a título principal pressupõe a sua
imediata operatividade.
Daqui resulta uma distinção básica:
 Normas mediatamente operativas são aquelas que dependem de um AA de aplicação
para produzirem os seus efeitos;

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 Normas imediatamente operativas são aquelas cujos efeitos se projetam diretamente na
esfera jurídica dos particulares. São exemplos as normas que proíbem ou impõem
condutas específicas a cidadãos; que fixem uma taxa turística de dormida; que proíbam a
circulação de carros com matrícula anterior ao ano de 1999 (Lisboa); a norma que fixe o
preço de um determinado bem, documento ou serviço publico.

Regime jurídico da DIFOG


Os pressupostos/requisitos da sua aplicação estão previstos no art 73º/1. Tem de tratar-se de
uma norma imediatamente operativa.
Quanto à legitimidade ativa, a DIFOG de norma imediatamente operativa pode ser pedida:
por quem seja diretamente prejudicado pela vigência da norma ou possa vir previsivelmente a sê-lo
em momento próximo; pelo MP; pelas pessoas e entidades mencionadas no art 9º/2; pelos
presidentes de órgãos colegiais, em relação a normas emitidas pelos respetivos órgãos.
Hoje, os particulares podem pedir diretamente a DIFOG. No entanto, o pedido de DIFOG
nunca pode fundar-se numa inconstitucionalidade direta da norma regulamentar, por esse constituir
um pedido cujo conhecimento está subtraído à jurisdição administrativa – art 72º/2 - reserva do TC
quanto à fiscalização abstrata da constitucionalidade e da legalidade.
Quanto ao prazo, vale a regra geral que a DIFOG pode ser pedida a todo o tempo (art 74º/1).
Mas há uma exceção. A declaração de ilegalidade com fundamento em ilegalidade formal ou
procedimental da qual não resulte inconstitucionalidade só pode ser pedida no prazo de seis meses,
contado da data da publicação, salvo nos casos de carência absoluta de forma legal ou de preterição
de consulta pública (art 76º/2) – solução anti formalista acolhida no art 144º/2 CPA. O que significa
que vícios formais e procedimentais, que não sejam a audiência dos interessados e a carência
absoluta da forma legal, estão sanados depois de seis meses, por uma questão de segurança jurídica.
A DIFOG de uma norma produz efeitos desde a data da entrada em vigor da norma – art
76º/1. Deste modo, os efeitos da DIFOG produzem-se, em regra, ex tunc, determinando a
repristinação das normas revogadas (que não sejam ilegais ou tenham por outro motivo deixado de
vigorar – art 76º/5).
Exceção: o tribunal pode, no entanto, determinar que os efeitos da decisão se produzam apenas a
partir da data do transito em julgado da sentença (ou seja, ex nunc), quando razões de segurança
jurídica, de equidade ou de interesse público de excecional relevo, devidamente fundamentadas, o
justifiquem – art 76º/2. É a figura da “ressalva de efeitos da decisão de ilegalidade”.
Quanto aos limites aos feitos retroativos da declaração de ilegalidade, impõe-se o respeito
pelo caso julgado e pelo caso decidido administrativo (AA inimpugnável), salvo decisão em
contrário do tribunal e desde que preenchido o pressuposto da parte final do art 76º/4 – se trate de
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
matéria sancionatória e seja mias favorável ao particular.
No caso de ilegalidade superveniente, os efeitos invalidatórios do regulamento só se
produzem a partir da entrada em vigor da (nova) norma legal violada – art 76º/1, parte final.

Regime jurídico da declaração de ilegalidade com efeitos restritos ao caso


concreto (DIEC)
Pressupostos e legitimidade: o pedido de DIEC surge em termos estritamente delimitados
pelo legislador:
 Só pode ser pedida por quem seja diretamente prejudicado ou possa presumivelmente vir
a sê-lo;
 Apenas quando a norma produza os seus efeitos imediatamente, sem depender de um AA
de aplicação;
 Apenas é admissível quando se invoque um dos fundamentos de ilegalidade previstos
no art 281º da CRP (art 73º/2), o que restringe muitíssimo o âmbito de aplicação do pedido. Os
fundamentos são de dois tipos: a inconstitucionalidade (o que significa que temos um TA a
pronunciar-se sobre matéria constitucional) e a ilegalidade reforçada (casos práticos difíceis de
imaginar). Com este pressuposto, o legislador aniquilou o alcance prático da DIEC.
Efeitos. O pedido de DIEC traduz a desaplicação da norma por via principal naquele caso.
Os efeitos operam ex tunc, geralmente com alcance repristinatório e eficácia inter partes (esta
situação não é expressamente referida no art 76º).

A impugnação indireta ou incidental das normas administrativas


A DIEC não se confunde com a impugnação indireta ou incidental das normas
administrativas. Este último pedido está regulado no art 73º/3: “quando os efeitos de uma norma
não se produzam imediatamente, mas só através de um AA de aplicação, o lesado, o MP ou
qualquer das pessoas e entidades do nº 2 do art 9º podem suscitar a questão da ilegalidade da norma
aplicada no âmbito do processo dirigido contra o ato de aplicação a título incidental, pedindo a
desaplicação da norma”.
É um pedido tradicional em Portugal há muitos anos. Fundamentalmente é uma impugnação
de ato. Trata-se de um processo de impugnação de AA que tem em vista a recusa pelo juiz de
aplicação de normas que servem de parâmetro ao AA. Assim, haverá desaplicação da norma por via
incidental ou indireta.

Condenação à emissão de normas

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


O art 77º do CPTA prevê a verificação de uma situação de ilegalidade por omissão de
normas cuja adoção, ao abrigo de disposições de direito administrativo, seja necessária para dar
exequibilidade a atos legislativos carentes de regulamentação.
A figura foi inspirada na fiscalização da inconstitucionalidade por omissão. No processo
administrativo, trata-se da omissão de regulamentos que se prevê que sejam necessários à execução
de preceitos concretos das leis em vigor (ou de direito da União Europeia), nos termos referidos no
art 137º/1 do CPA.
Então como operam as relações entre legislador e a AP? A omissão pode resultar de uma
ordem concreta de regulamentação fixada pelo legislador, acompanhada de um prazo para o efeito.
E se não existir prazo previsto? Conjugar com o art 137º do CPA, “Regulamento devido e a sua
omissão”. O prazo para a emissão do regulamento é, no silêncio da lei, de 90 dias.
A legitimidade cabe ao MP, as demais pessoas e entidades do nº 2 do art 9º, os presidentes
de órgãos colegiais e quem alegue um prejuízo diretamente resultante da situação de omissão – art
77º/1. Têm de invocar um prejuízo direto e atual.
Quando verifique a existência de uma situação de ilegalidade por omissão, o tribunal
condena a entidade competente à emissão do regulamento em falta, fixando prazo para que a
omissão seja suprida – art 77º/2 - podendo impor uma sanção pecuniária compulsória, que se
destina a constranger a AP ao cumprimento devido e na qual foi condenada (art 95º/4). Por essa
razão trata-se de uma verdadeira condenação pelo juiz e não apenas de uma mera comunicação ao
órgão administrativo com poder normativo.

5.4. Processos cautelares


Uma vez que a ação principal será apreciada no decurso de um processo que é mais ou
menos longo – o tempo necessário para a cognição plena e para se julgar bem – a providência
cautelar tem como objetivo assegurar a utilidade da sentença que, a final, venha a ser proferida.
Assim, é preciso assegurar a utilidade da decisão que venha a ser obtida na ação principal.
Logo, a finalidade de um PC é a “prevenção contra a demora” da decisão do processo principal.
Em virtude dessa função própria contra a prevenção e a demora, as PC têm características
próprias:
 Instrumentalidade: dependência estrutural e funcional de uma ação principal, cuja
utilidade visa assegurar;
 Provisoriedade: a decisão da providência cautelar é provisória, porquanto não está em
causa a resolução definitiva do litígio (art 124º/1), não se pronuncia sobre o fundo ou
mérito da ação principal;

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


 Sumaridade: manifesta-se numa cognição sumária pelo juiz da situação de facto e de
direito que lhe é apresentada no requerimento da providência.
Quais as providências cautelares no CPTA?
O art 112º/1 afirma o princípio da universalidade das providências cautelares: admitem-se
providências cautelares de qualquer tipo, desde que sejam adequadas a assegurar a utilidade da
sentença. O nº 2 elenca exemplificativamente algumas PC. É possível cumular PC e é possível pedir
uma PC não especificada no nº 2 do art 112º.
É necessário distinguir entre providências cautelares conservatórias e antecipatórias. As
providências conservatórias são aquelas que visam manter ou preservar a situação de facto
existente, designadamente assegurando ao requerente a manutenção da titularidade ou do exercício
de um direito, que está ameaçado de perder. Exemplos: a suspensão da eficácia de um AA ou de
uma norma – art 112º/2/a) e 128º a 130º.
Providências antecipatórias são as que visam prevenir um dano, obtendo adiantadamente a
disponibilidade de um bem ou o gozo de um benefício a que o particular pretende ter direito, mas
que lhe é negado (nesse sentido, antecipam uma situação que não existia). Exemplos: a admissão
provisória em concursos e exames; a atribuição provisória da disponibilidade de um bem; a
autorização provisória ao interessado para iniciar/prosseguir uma atividade ou adotar uma conduta.

A suspensão da eficácia do ato de AA prevista na alínea a) do nº 2 do art 112º (de onde se


remete para o art 128º) trata-se de uma PC especial de natureza conservatória, através da qual é
requerida a suspensão da eficácia de um AA. O art 50º/2 regula o problema da eficácia do ato
administrativo. A impugnação judicial não suspende a execução do ato, logo a AP, apesar da
impugnação judicial continua habilitada a executar o AA. Por essa razão é que é necessário cumular
com a ação principal com uma providência cautelar. A epígrafe do art 128º tem a consequência da
PC.
Quando seja requerida a suspensão da eficácia de um AA, a autoridade administrativa recebe
o duplicado do requerimento, que é remetido pelo tribunal. A partir daí, a autoridade não pode
iniciar a execução. Há um efeito automático logo quando a providência cautelar é pedida. Daí que
muitos autores critiquem vivamente este regime. Pagando a taxa de justiça, o AA é suspenso.
Muitas vezes, o interesse publico pode reclamar uma execução. Mas o legislador colocou uma
exceção na lei: salvo se nos seguintes 15 dias, a autoridade administrativa fica obrigada a
reconhecer, numa resolução fundamentada, junto do tribunal, que o diferimento (o adiamento) da
execução é gravemente prejudicial para o interesse publico. Imaginando que se trata de uma ordem
de demolição, negativa para o particular e se trata de facto de um perigo para a via publica e para o
interesse publico.
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
A suspensão da eficácia de normas prevista no art 130º tem efeitos gerais (DIFOG) ou
circunscritos ao caso (DIEC). É também uma PC conservatória. É a mesma ideia, mas agora
aplicada às normas.

Critérios de decisão e requisitos substantivos para a concessão de PC (que não se aplicam à


suspensão de AA):
 O requisito da perigosidade (‘periculum in mora’) – havendo um perigo de inutilidade da
ação principal, total ou parcial, resultante do decurso do tempo, o art 120º/1/1ª parte
exige, para a adoção da PC, que “haja fundado receio da constituição de uma situação de
facto consumado ou da produção de prejuízos de difícil reparação”. O juiz deve, assim,
fazer um juízo de prognose, colocando-se na situação futura de uma hipotética sentença
de provimento, para concluir se há ou não razões para recear que tal sentença venha a ser
inútil, por ter, entretanto, gerado uma situação de facto consumado.
 O requisito da juridicidade material (‘fumus boni iuris’) – o juiz tem agora o dever de,
ainda que em termos sumários, avaliar a probabilidade da procedência da ação principal,
isto é, avaliar a existência do direito invocado pelo particular ou da ilegalidade que ele
diz existir. O art 120º//1/2ª parte estabelece o requisito “que seja provada que a pretensão
formulada ou a formular nesse processo venha a ser julgada procedente”. A aparência do
direito permitirá demonstrar a evidência da procedência da ação principal.
 O requisito da proporcionalidade: mesmo que se verifiquem os outros dois requisitos, o
juiz deve recusar a concessão da PC, quando o prejuízo resultante para o requerido (que
será sempre, pelo menos, um prejuízo para o interesse publico) se mostre superior ao
prejuízo que se pretende evitar com a providência – art 120º/2. Note-se que a ideia de
proporcionalidade não se manifesta apenas na decisão de concessão ou não da PC, mas
também no que respeita ao tipo e ao conteúdo da providência cautelar. Assim, o nº 3 do
art 120º.

Art 131º CPTA : decretamento provisório da providência


É a urgência da urgência, um processo pré-cautelar, pois o ‘periculum in mora’ é avaliado
em função da demora da própria providência cautelar requerida. Daí que a decisão do decretamento
provisório possa ser tomada no prazo de 48 horas, para evitar situações de facto consumado, que
também podem ocorrer no âmbito do decurso dos próprios processos cautelares.
O decretamento provisório da PC vale para qualquer tipo de providência (exceto para a

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suspensão da eficácia de AA e de normas).
É adotada sem a prévia observância de contraditório (sem observar a contestação feita pela
parte requerida) e sem que o juiz necessite, para o efeito, de aplicar os critérios previstos no art
120º.
No entanto, o reconhecimento, no caso concreto, de uma situação de especial urgência,
passível de dar causa a uma situação de facto consumado, já implica, pelo menos, uma aparência de
direito.

A prova de dia 7 de novembro (4ªf) inicia-se às 13:30h no auditório e termina às 15h.


Quadro-síntese para o 1º teste:
1. Os processos principais não-urgentes: a ação administrativa:
1.1. impugnação de atos administrativos,
1.2. condenação à prática de AA legalmente devido;
1.3. ações relativas a normas: impugnação de normas administrativas e condenação à
emissão de normas administrativas.
2. Providências cautelares (especialmente a suspensão de AA)

Caso prático 1
O conselho distrital da AO de Coimbra recusou o pedido de inscrição feito por tiago,
licenciado em Direito, residente no Porto, com fundamento de que tal inscrição não podia ser aceite
sem uma avaliação prévia da capacidade do titular da licenciatura para o exercício da atividade
profissional de advogado, uma vez que essa licenciatura não obedecia aos requisitos que aquela
ordem entende como necessários. Tiago quer reagir judicialmente.
Em face da recusa do pedido de inscrição formulado por Manuel, responda às seguintes
questões:
a) Qual o meio processual principal que, no caso, seria apropriado para proteger os
interesses do Tiago?
Está em causa a recusa do pedido de inscrição, um indeferimento expresso – art 67º/1/b)
CPTA – pelo que a tutela jurisdicional efetiva será melhor alcançada através da dedução
de um pedido de condenação à prática do ato legalmente devido (CPAD) – art 66º e sgs
CPTA.
Poderia em alternativa proceder à mera impugnação do ato administrativo, caso
pretendesse apenas a anulação do ato e a sua eliminação do ordenamento jurídico. Nessa
hipótese, Tiago teria que alegar aquele interesse na petição inicial – caso contrario,
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
valeria imediatamente o art 51º/4 CPTA.
b) E poderá ser requerida alguma PC? Qual? Sim. Finalidade e características típicas. O art
112º/1 admite PC de qualquer tipo. No caso sub judice, o autor poderia requerer a
admissão provisoria na OA ou a autorização provisoria para iniciar ou prosseguir uma
atividade ou ambas em cumulação. Em qualquer das hipóteses, sempre estaremos diante
de PC antecipatórias (definir o conceito).
c) E contra quem deve ser proposta a ação? E o MP também poderia propor a ação?
Problema de legitimidade ativa e passiva.
Legitimidade passiva: contra a OA – art 10º/2. Atenção ao art 68º/2 (da citação
obrigatória dos contrainteressados).
Legitimidade ativa: o MP poderia propor a ação por estar em causa um direito
fundamental, em especial um DLG, o art 68º/1/b) CPTA e 47º CRP.
d) Qual o prazo? Definição de prazo. Regra geral do art 41º. Regra especial da CPAD dos
art 58º, 59º e 60º, 69º/2. É correta a invocação da nulidade, designadamente por
cerceamento de um direito fundamental e por não ser atribuição da AO o
reconhecimento de cursos de grau superior (69º/3).
e) Tribunal competente? Critérios de repartição das competências fixados no CPTA e no
ETAF. Qual o tribunal competente para a ação principal? E para a PC?
Quanto à ação principal – critério de repartição em razão da matéria – art 44º/1 ETAF.
Critério de repartição em razão do território – ~regra geral no art 16º CPTA; art 20º/1.
Critério de repartição em razão da hierarquia: art 24º/2 ETAF.
Quanto à providência cautelar: os pedidos dirigidos à adoção de PC são julgados pelo
tribunal competente para julgar a ação principal – art 20º/6.

Caso prático 2
a) Ação administrativa apropriada? Regulamento imediatamente operativo - DIFOG
b) Aconselharia o uso de alguma PC? Suspensão da eficácia de norma.
c) E se fosse mediatamente operativo? Pode-se reagir contra o despacho do secretário de
estado? Diretamente não. Porque tanto a DIFOG como a DIEC implica que o
regulamento seja imediatamente operativa. Mas podia lançar-se mão da impugnação
indireta ou incidental. Pedido de desaplicação da norma. Caracterização.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


(Matéria para a 2ª frequência)

Continuação do ponto 5. A ação administrativa (não urgente)

Como vimos, o contencioso administrativo português não se limita aos AA e às normas


administrativas. Esse era o contencioso tradicional. Atualmente, ele é muito mais extenso do que
isso, abrangendo uma multiplicidade de relações entre a AP, empresas privadas, cidadãos e até
outras entidades administrativas.
Ora, hoje em dia, um dos grandes focos do contencioso administrativo diz respeito a atividade
contratual da AP. Fala-se, cada vez mais, de uma Administração por contrato, do avanço do Estado
Contratante.
Ora, qual é a diferença entre contrato público e contrato administrativo?
O contrato, enquanto negócio jurídico bilateral, que visa produzir efeitos de direito, pode
surgir como um contrato publico ou como um contrato administrativo. E, de facto, em Portugal,
distinguem-se os contratos públicos dos contratos administrativos.
O contrato publico é aquele que tem uma entidade publica como parte no mesmo. A lei (CCP)
distingue, contudo, os contratos públicos de direito privado dos contratos públicos de direito
administrativo. Qual é a diferença?
Apenas o CA tem um regime especial ao nível da sua formação, execução e invalidade. Em
Portugal, o CA é uma figura autónoma, porque a lei confere-lhe um regime próprio ou especial (em
Portugal, há mesmo uma regulamentação extensa e minuciosa sobre o CA – a parte III do CCP).
O CA é uma figura do direito nacional. ela não existe como instituição jurídica no direito
europeu. Existe – sim - no direito europeu um conceito europeu de contrato público, que abrange os
“big five” da contratação publica, como a empreitada de obras públicas, a concessão de obras
públicas, a concessão de serviços públicos, a locação ou aquisição de bens moveis e a aquisição de
serviços.
Logo, por influência do direito europeu, tornou-se necessário distinguir:
a) A parte pré-contratual ou procedimental dos contratos públicos (o que ocorre até à
celebração do contrato);
b) A parte de execução dos contratos públicos (o que ocorre depois da celebração do contrato
e diz respeito à sua interpretação, incumprimento e invalidade).
Como é que tudo isto teve acolhimento na legislação processual?

As ações relativas a contratos podem ser utilizadas para resolução de quaisquer litígios relativos aos contratos
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
sujeitos à jurisdição administrativa, designadamente questões de interpretação, de validade e de execução de contratos
celebrados pela Administração, bem como as relativas ao cumprimento e à responsabilidade contratual pelo
incumprimento (art 37º, nº1, al. l)).

5.1. Pedidos relativos à validade e execução de contratos – art 77º-A e 77º-B


Estão aqui em causa pedidos relativos a questões de interpretação, de validade e de execução
de contratos bem como da responsabilidade contratual daí emergente.

a) Ação relativa à validade, parcial ou total, de contratos


Começamos pela “patologia” do contrato – a invalidade.
A ação pode fundar-se (causa de pedir):
 Na invalidade própria do contrato (das cláusulas contratuais), podendo, neste caso, ser
exclusiva do contrato ou comum ao contrato e a atos do respetivo procedimento adjudicatório – art
77º-A, nº 1, al. e) e g).
 Mas também na invalidade derivada do contrato, isto é, invalidades do contrato unicamente
derivadas da invalidade de atos do procedimento pré-contratual – art 77º-A, nº 1, al. c) e d).

Os pedidos relativos à validade, total ou parcial, de contratos podem ser deduzidos (art 77º-A,
nº 1):
- Pelas partes na relação contratual;
- Pelo Ministério Público;
- Por quem tenha sido prejudicado pelo facto de não ter sido adotado o procedimento pré-
contratual legalmente exigido;
- Por quem tenha impugnado um AA relativo ao respetivo procedimento e alegue que a
invalidade decorre das ilegalidades cometidas no âmbito desse procedimento;
- Por quem, tendo participado no procedimento que precedeu a celebração do contrato, alegue
que o clausulado não corresponde aos termos da adjudicação;
- Por quem alegue que o clausulado do contrato não corresponde aos termos inicialmente
estabelecidos e que justificadamente o tinham levado a não participar no procedimento pré-
contratual, embora preenchesse os requisitos necessários para o efeito;
- Pelas pessoas singulares ou coletivas titulares ou defensoras de direitos subjetivos ou
interesses legalmente protegidos aos quais a execução do contrato cause ou possa causar prejuízos
(basta pensar nos utentes das autoestradas e dos hospitais públicos);
- Pelas pessoas e entidades nos termos do nº 2 do art 9º.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


Portanto, legitimidade ativa muito alargada:
- As partes naturalmente na al. a);
- Ação pública e ação popular incluídas nas als. b) e h);
- Terceiros suscetíveis de serem lesados pela respetiva execução na al. g).
- Ex-candidatos preteridos ou mesmo candidatos potenciais, embora só relativamente a
invalidade derivadas ou relacionadas com a formação do contrato, nas al c), d) e f) com o fim de
assegurar o respeito pelos princípios da concorrência, transparência e igualdade de tratamento.

Quanto à legitimidade passiva, além da regra geral (art 10º CPTA), esta nota especial: há
litisconsórcio passivo necessário entre as partes do contrato, logo o pedido de anulação de um
contrato deve ser proposto contra “as partes do contrato”. Ex.: quem quiser impugnar um contrato de
concessão, vai chamar a entidade pública e a entidade privada.

A legitimidade para deduzir pedidos relativos à invalidade de contratos pertence em primeira linha às partes. A
novidade de 2002 é que deixou de ser limitada às partes, e foi significativamente alargada, para assegurar a proteção de
terceiros, quer relativamente a contratos que tenham implicações com interesses comunitários relevantes, quer
relativamente a contratos celebrados na sequência de procedimentos concursais, quer a contratos com efeitos externos –
art 77º-A, nº 1.
Assim, admite-se, desde logo, a ação pública (al. b)) e a ação popular (al. h)), para defesa da legalidade ou de
interesses comunitários fundamentais.
A estas soma-se a legitimidade dos ex-candidatos preteridos ou mesmo candidatos virtuais, embora só
relativamente a certas invalidades, derivadas ou relacionadas com a formação do contrato (al. c), d) e) e f)), com a
finalidade de assegurar, de forma efetiva, o respeito pelas regras e pelos princípios do procedimento adjudicatório – a
concorrência, a transparência, a imparcialidade e a igualdade de tratamento.
Por fim, admite-se a legitimidade impugnatória dos terceiros suscetíveis de serem lesados pela respetiva
execução (al. g)).
A mesma generosidade se verifica quanto aos pedidos relativos à execução de contratos, em regra, para exigir o
cumprimento de cláusulas contratuais: também se admite a ação publica e a ação popular, bem como uma legitimidade
alargada a terceiros – art 77º-A, nº 3.
Caso a ação seja proposta por terceiro, a legitimidade passiva pode implicar o litisconsórcio necessário entre as
partes do contrato.
O pedido de invalidação do contrato pode fundar-se na invalidade própria das clausulas contratuais (exclusiva do
contrato ou comum a atos do procedimento adjudicatório), como se verifica nas situações previstas nas als. e), f) e g) do
nº 1 do art 77º-A. Mas pode basear-se na existência de uma invalidade do contrato unicamente derivada da invalidade de
atos do procedimento pré-contratual, como acontece nos casos referidos na al. c) e d) do mesmo preceito legal.
Como é regras das ações administrativas (art 41º), os pedidos podem ser apresentados a todo o tempo, mas há
várias regras especiais em matéria de invalidade de contratos, agora constantes do art 77º-B.
Tendo em consideração o tipo contratual, determina-se que a invalidade dos contratos com objeto passível de ato
administrativo (art 1º, nº 3 do CPC e art 127º CPA) só pode ser arguida dentro dos prazos previstos para a impugnação do

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


ato correspondente.
Quanto aos restantes contratos, os pedidos de anulação total ou parcial de contratos, quando estes forem
anuláveis, é de seis meses, contados da celebração do contrato, para as partes, e do respetivo conhecimento, para terceiros
e MP, com a finalidade de lhes assegurar a estabilidade adequada.
O CPTA não prevê que a ação sobre contratos possa ser utilizada quando se pretenda impugnar um ato
administrativo praticado em execução de um contrato: nestas hipóteses, terá de lançar-se mão da impugnação do ato.

a) Pedidos relativos à execução dos contratos


Os pedidos visam exigir o cumprimento das cláusulas contratuais. Aqui inserem-se todas as
questões sobre a execução dos contratos, incluindo a modificação e extinção do contrato e a
responsabilidade civil que deles decorra – por exemplo, incumprimento ou cumprimento defeituoso
das prestações objeto do contrato.
Os pedidos relativos à execução de contratos podem ser deduzidos:
- Pelas partes na relação contratual;
- Pelas pessoas singulares e coletivas portadoras ou defensoras de direitos subjetivos ou
interesses legalmente protegidos em função dos quais as clausulas contratuais tenham sido
estabelecidas;
- Pelo Ministério Público;
- Pelas pessoas e entidades nos termos do nº 2 do art 9º;
- Por quem tenha sido preterido no procedimento que precedeu a celebração do contrato.
Também se admite a ação publica e a popular, a legitimidade de terceiros, quer os
concorrentes preteridos.

A legitimidade passiva depende do tipo de pedido, mas, em geral, a pessoa em relação a


quem é pedida a condenação ao cumprimento das clausulas do contrato.
Regra geral, a ação administrativa pode ser proposta a todo o tempo (art 41º). Mas a lei fixa
um prazo especial para questões de validade (art 77º-B). a invalidade dos contratos com objeto
passível de AA pode ser arguida dentro dos prazos previstos para o ato com o mesmo objeto e
idêntica regulamentação da situação concreta. Logo, conjugar com o art 58º: em regra, 3 meses para
os particulares.
A anulabilidade, total ou parcial, dos demais contratos pode ser arguida no prazo de 6 meses,
contado desde a data da celebração do contrato, em relação às partes, ou do respetivo conhecimento,
quanto a terceiros e ao Ministério Publico.
A anulação de quaisquer contratos por falta e vícios da vontade pode ser sempre pedida no
prazo de seis meses, contado desde a data da cessação do vício.

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Última nota: qual o regime de impugnação dos AA de execução dos contratos (direção,
modificação ou resolução do contrato) (art 307º/2 CCP)? Utiliza-se a ação administrativa de
impugnação de AA quando se pretenda obter a condenação da AP pela prática de um AA relativo à
execução do contrato.

5.2. Ação administrativa sobre a responsabilidade civil extracontratual das PCP (por
ação ou omissão) – art 37º, nº 1, al. k)
Lei nº 67/2007, de 31/12, que aprova o regime da responsabilidade civil extracontratual do
Estado e demais entidades publicas.
O conceito jurídico de responsabilidade traduz sempre a ideia de “sujeição às consequências
de um comportamento”. E, de facto, se o poder do Estado se encontra submetido ao Direito, a ideia
de responsabilizar o Estado pelos seus atos e omissões é essencial.
Assim, a responsabilidade civil extracontratual é a obrigação que recai sobre uma entidade
envolvida numa atividade de natureza publica que causou prejuízos aos particulares (fora de uma
relação contratual).
O Estado responde no âmbito das funções administrativa, político-legislativa e jurisdicional.
Quem tem legitimidade para deduzir pedidos de responsabilidade civil extracontratual?
A legitimidade ativa:
- Legitimidade ativa do lesado (“por ser parte na relação material controvertida”)
- Legitimidade ativa para formular pedidos de indemnização dos lesados no âmbito da ação
popular, quando tenham sido ofendidos determinados valores comunitários – art 9º/2.
Na legitimidade passiva há que atender a regras especiais:
- Legitimidade passiva do Estado quando esteja em causa a responsabilidade civil pelo
exercício da função legislativa ou jurisdicional;
- Legitimidade passiva das PCP nas quais se integrem os órgãos causadores dos atos lesivos
(por ação ou omissão), quando esteja em causa a responsabilidade exclusiva daquelas;
- Legitimidade passiva das PCP e dos titulares dos respetivos órgãos ou agentes quando
exista responsabilidade solidária;
- Legitimidade passiva dos titulares dos órgãos, dos agentes ou dos sujeitos privados
equiparados, quando esteja em causa a responsabilidade própria destes, em especial nas ações de
regresso.

Prazo:
“O direito de indemnização prescreve no prazo de 3 anos, a contar da dará em que o lesado
teve conhecimento do direito que lhe compete, embora com desconhecimento da pessoa do
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
responsável e da extensão integral dos danos, sem prejuízo da prescrição ordinária se tiver
decorrido o respetivo prazo a contar do facto danoso” – art 41º/1/1ª parte do CPTA conjugado com
o art 498º CC.
O art 5º da Lei nº 67/2007 acerca da prescrição: “O direito à indemnização por
responsabilidade civil extracontratual do Estado, das demais PCP e dos titulares dos respetivos
órgãos, funcionários e agentes bem como o direito de regresso prescrevem nos termos do art 498º
CC, sendo-lhes aplicável o disposto no mesmo Código em matéria de suspensão e interrupção da
prescrição.
Há uma relação entre estes 3 artigos, fazendo o regime complexo.

A relevância, neste âmbito, do ato administrativo inimpugnável – a culpa do lesado (art


38º/1) – Nos casos em que a lei substantiva o admita, designadamente no domínio da
responsabilidade civil da Administração por atos administrativos ilegais, o tribunal pode conhecer, a
título incidental, da ilegalidade de um AA que já não possa ser impugnado”. Todavia, como decorre
do nº 2, não se pode com isto tentar obter o efeito que resultaria da anulação do ato inimpugnável.
O art 4º (culpa do lesado) da Lei nº 67/2007: “Quando o comportamento culposo do lesado
tenha concorrido para a produção ou agravamento dos danos causados, designadamente por não ter
utilizado a via processual adequada à eliminação do ato jurídico lesivo, cabe ao tribunal determinar,
com base na gravidade das culpas de ambas as partes e nas consequências que delas tenham
resultado, se a indemnização deve ser totalmente concedida, reduzida ou mesmo excluída”.
A relevância, neste âmbito, da impugnação do AA – art 50º/3 CPTA. “A impugnação de atos
lesivos exprime a intenção, por parte do autor, de exercer o direito à reparação dos danos que tenha
sofrido, para o efeito de interromper a prescrição deste direito, nos termos gerais” (ou seja, nos
termos do art 323º CC). Interrompe-se, por isso, aquele prazo de 3 anos para o pedido
indemnizatório. Em todo caso, o particular pode cumular os pedidos (art 4º): a impugnação do ato e
o pedido indemnizatório.

Os pedidos relativos à responsabilidade civil publica, previstos na al. k) do art 37º do CPTA, têm por objeto as
questões sobre responsabilidade civil extracontratual por danos decorrentes de atos do Estado e dos demais entes
públicos, mas também sobre a responsabilidade dos titulares dos seus órgãos, funcionários e agentes e demais
servidores públicos, bem como a dos sujeitos privados, e respetivos trabalhadores, quando lhes seja aplicável o regime
específico da responsabilidade dos entes públicos.
A legitimidade ativa há-de caber a quem se arrogue um prejuízo efetivo causado pela atividade ou omissão
publica.
Na sequência do art 52º, nº 3 da CRP, há-de admitir-se a legitimidade para apresentação de pedidos de
indemnização dos lesados no âmbito da ação popular, quando tenham sido ofendidos determinados valores

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


comunitários.
Já a legitimidade passiva depende do pedido: pertence ao Estado quando esteja em causa o exercício da função
legislativa ou jurisdicional; cabe às pessoas coletivas de direito publico a que pertençam os órgãos administrativos,
quando esteja em causa a responsabilidade exclusiva delas; às pessoas coletivas e aos titulares dos respetivos órgãos ou
agentes, quando haja responsabilidade solidária; aos titulares dos órgãos ou agentes ou sujeitos privados equiparados,
quando esteja em causa a responsabilidade própria destes.
As ações podem ser propostas a todo o tempo. No entanto, o direito de indemnização, segundo o art 498º do
CC, prescreve no prazo de 3 anos a contar do conhecimento pelo lesado desse seu direito.
No caso de se tratar da responsabilidade por danos resultantes de atos administrativos ilegais, o direito à
indemnização não depende da tempestiva impugnação administrativa (art 38º, nº 1 CPTA), mas a autonomia da ação de
responsabilidade não obsta a que o particular possa ver diminuída ou eliminada a indemnização a que teria direito, por
concorrência de culpas, na medida em que a produção ou agravamento dos danos seja imputável a negligência
processual do particular “por não etr utilizado a via processual adequada à eliminação do ato jurídico lesivo” – art 4º do
RRCEE. Incumbe ao tribunal ponderar no caso concreto a gravidade das culpas de ambas as partes e as respetivas
consequências.
Esta condenação será, em regra, no pagamento de uma indemnização pecuniária, na impossibilidade da
reintegração natural por prestação de facto.

Ação administrativa com pedidos de reconhecimento – alíneas f) e g) do nº 1 do art. 37º


CPTA
Estamos, agora, no nível de uma ação de simples apreciação e não no nível em que temos
vindo a trabalhar, o das ações de condenação. Qual é a diferença?
As ações de simples apreciação destinam-se a obter o reconhecimento judicial da existência
ou inexistência de um direito ou de um facto jurídica. São de rara utilização, mesmo no processo
civil.
Nas ações de condenação, o autor, na sequência do juízo declarativo, pretende que, em sua
consequência, o Tribunal condene o réu à prestação (de uma coisa ou de um facto) ou de uma
conduta (positiva ou negativa).
As ações de simples apreciação têm por único objetivo pôr termo a uma situação de
incerteza, uma incerteza real ou objetiva, de que possa resultar um dano. Exemplo: a ilegítima
afirmação pela AP da existência de uma situação jurídica; a errada afirmação pela AP de uma
obrigação legal.
As ações de simples apreciação abrangem dois pedidos:
a) Pedido de reconhecimento de situações jurídicas subjetivas diretamente decorrentes de
normas jurídico-administrativas ou de atos jurídicos praticados ao abrigo de disposições
de direito administrativo – al. f);
b) Pedido de reconhecimento de qualidades ou do preenchimento de condições – al. g) (ex.:
o tempo de promoção para o funcionário publico).
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
Legitimidade ativa nas ações de reconhecimento: para além da legitimidade nos termos
gerais, nas ações de simples apreciação exige-se a demonstração de um interesse processual ou
interesse em agir, na medida em que estas ações predomina uma necessidade de prevenção e não
uma necessidade de reação.
Logo, os pedidos de simples apreciação só podem ser deduzidos por quem invoque utilidade
ou vantagem imediata, para si, na declaração judicial pretendida – isto resulta do art. 39º, nº 1 do
CPTA.

O art 37º, nº 1, refere nas alíneas f) e g), os pedidos de reconhecimento de situações jurídicas subjetivas,
decorrentes diretamente de normas jurídico-administrativas ou de atos jurídicos nelas fundados, bem como do
reconhecimento de qualidades ou de posições jurídicas, através do preenchimento de condições normativas.
Trata-se, tipicamente, de pedidos de simples apreciação.
A verificação, para além da legitimidade ativa, do interesse processual (ou interesse em agir) é especialmente
relevante nas ações de simples apreciação, pois nelas predomina uma necessidade de prevenção.
Nos termos da lei (art 39º, nº 1), tal interesse implica a invocação de uma utilidade ou vantagem imediata na
declaração judicial pretendida, explicitando-se algumas situações: a existência de uma situação de incerteza; a ilegítima
afirmação pela Administração da existência de uma determinada situação jurídica; o fundado receio de uma conduta
lesiva da Administração, fundada numa avaliação incorreta da situação existente.

Ações administrativas impositivas e ações administrativas inibitórias – al. h) do nº 1 do


art. 37º
Chegamos agora às ações “mandamentais”, ou seja, ações dirigidas à adoção ou abstenção
de comportamentos (pedidos de imposição e de inibição):
a) Ação administrativa de condenação da AP à adoção de um comportamento;
b) Ação administrativa de condenação da AP à abstenção de um comportamento.

Pressupostos:
Estes pedidos, quando formulados contra a AP, pressupõem a existência de atuações ou de
omissões concretas, mas que não envolvam um AA impugnável e, muito menos, normas.
Deve interpretar-se o conceito de comportamento num sentido amplo (operações materiais,
atos jurídicos, atos de execução).
Por exemplo, o pedido de condenação da AP a realizar uma inspeção ou perícia; o pedido de
condenação da AP a desencadear um procedimento de iniciativa publica; o pedido de condenação
da AP a abster-se do abate de sobreiros.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


Está em causa, na al. h) do nº 1 do art 37º, em geral, o pedido de condenação à adoção ou abstenção de
comportamentos, que é dirigida, em princípio, contra a Administração, mas que também pode ser utilizada contra
particulares.
Este pedido, relativamente à Administração, pressupõe a existência de atuações concretas no âmbito do direito
publico que não constituam atos administrativos impugnáveis – devendo entender-se o conceito de comportamentos
num sentido amplo, de modo a englobar, alem dos comportamentos propriamente ditos, as operações materiais e
também os “meros atos jurídicos”.
É de salientar que também aqui se pode pôr o problema da limitação dos poderes condenatórios do juiz nos
casos em que a adoção de atos jurídicos ou comportamentos envolva a formulação de valorações próprias do exercício
da função administrativa, sem que a apreciação do caso concreto permita identificar apenas uma atuação como
legalmente possível. O art 95º do CPTA é também aplicável aos pedidos de imposição e de inibição e não só aos
pedidos impugnatórios.

Ação Administrativa de condenação à não emissão de atos administrativos – al. c) do nº


1 do art. 37º
Para além da tutela de interesses opositivos e pretensivos dos particulares na ação
administrativa, a nossa lei ainda tutela os interesses preventivos dos particulares. A razão principal
foi a de proteger o particular em situações em que há o fundado receio de uma conduta lesiva da AP
através de AA.
Pressuposto: a demonstração do interesse processual do pedido é bastante exigente – nº 2 do
art. 39º.
Isto está pensado para casos em que a AP pretende ingerir na esfera dos direitos do particular
e a prática do AA pode gerar uma situação de facto irreversível. Por exemplo, à luz do CPA, o
particular é notificado para a audiência dos interessados e o projeto de decisão envolve um ato
muito lesivo, mas que o particular reputa como totalmente ilegal.
A especial vocação deste meio processual: a defesa de direitos, liberdades e garantias
(pessoas ou de propriedade).
É claro que este pedido pode interferir no exercício normal da função administrativa – os
limites funcionais da JÁ (cautela do juiz). Porque esta ação impede a AP de praticar um ato
administrativo, faculdade constitucionalmente concedida.
São, porém, raros os casos em que esta ação é proposta.

Especiais duvidas suscita a permissão, inscrita na al. c) do nº 1 do art 37º e que constitui, em 2002, uma
novidade no nosso regime administrativo, de os particulares pedirem a condenação da Administração à não emissão de
um ato administrativo.
Este pedido de tutela preventiva, pela sua disfuncionalidade num sistema de administração executiva, pode
interferir no exercício normal da função administrativa, e, por isso terá de ser de utilização restrita, admissível apenas
em função da inadequação ou da impossibilidade ou deficiência da tutela própria dos particulares através da
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
impugnação do ato que viesse a ser praticado.
O nº 2 do art 39º fala dos termos em que se pode reconhecer interesse processual ao pedido: a condenação à
não emissão de um ato administrativo só pode ser pedida quando seja provável a emissão de atos lesivos de direitos ou
interesses legalmente protegidos e a utilização dessa via se mostre imprescindível.
Caberá à jurisprudência verificar a existência de um efetivo interesse em agir, decorrente da inadequação ou
insuficiência da utilização do meio impugnatório contra o ato que vier a ser praticado. Esse interesse processual existirá
– e o pedido será imprescindível – se a impugnação posterior do ato não assegurar uma tutela efetivas dos direitos do
particular, designadamente por o ato produzir imediatamente uma situação de facto irreversível, ou quando, não tendo
sido iniciado o procedimento, haja motivos sérios para a remoção da situação de incerteza.
Este pedido aparece especialmente vocacionado para a defesa de direitos absolutos, designadamente de
direitos, liberdades e garantias.

Ação administrativa de condenação da AP no cumprimento de deveres de prestar


(pedidos de prestação) – al. j) do nº 1 do art. 37º
Pressupostos: tem de tratar-se do “cumprimento de deveres de prestar que diretamente
decorram de normas jurídico-administrativas e não envolvam a emissão de um ato administrativo
impugnável, ou que tenham sido constituídos por atos jurídicos praticados ao abrigo de disposições
de direito administrativo”.
Ou seja, estão em causa atuações publicas no âmbito de relações jurídico-administrativas em
que a lei, regulamento ou AA anterior confiram diretamente diretos a prestações a particulares.
Os pedidos podem ter por objeto: o pagamento de uma quantia (por exemplo, o
processamento de vencimentos de um funcionário; o pagamento de ajudas de custos; o pagamento e
renovação de subsídios); a entrega de uma coisa (de um medicamento, de um livro); ou a prestação
de um facto.
Trata-se de uma ação vocacionada, em especial, para o cumprimento de deveres
obrigacionais exigíveis no âmbito da AP de prestações (prestações de segurança social, prestações
de cuidados de saúde e de educação).

A ação administrativa também pode ser utilizada para pedir a condenação da Administração no cumprimento
de deveres de prestar, que decorram diretamente de normas administrativas – desde que não envolvam a prática de um
ato administrativo – ou tenham sido constituídos por atos jurídicos, podendo ter como objeto o pagamento de uma
quantia, a entrega de uma coisa ou a prestação de um facto (al. j) do nº 1 do art. 37º).
É um pedido que a lei distingue do pedido geral de condenação na adoção ou abstenção de comportamentos
(referido na al. h), designadamente no que toca a prestações de facto, com base na circunstância de se tratar do
cumprimento de deveres obrigacionais, típicos da administração de prestações, que se desenvolveu sobretudo no
contexto do Estado Social.
Assim, em rigor, a definição de um campo de atuação próprio para este pedido pressupõe a adoção de um
conceito estrito de ato administrativo, como decisão ou ato regulador.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


Ação administrativa de reposição (pedidos de reposição) – al. m) do nº 1 do art. 37º do
CPTA
Este pedido é talvez o mais difícil de explicar na plenitude e não é possível aprofundar
muito, pois cruza conhecimentos de direito das obrigações, reais e direito administrativo especial
(estudado em mestrado). Em todo o caso, podemos avançar que se trata de um pedido de reposição
ou restituição patrimonial decorrente do enriquecimento sem causa administrativo.
Pressupõe que a AP se locupletou (enriqueceu) à custa alheia, o que tanto pode traduzir-se
num aumento do ativo patrimonial, como numa diminuição do passivo (poupança de despesas).
Ora, esse enriquecimento gera a obrigação de a AP restituir/indemnizar quando se prova:
a) A existência de um enriquecimento;
b) Que ele careça de causa justificativa;
c) Que o mesmo tenha sido obtido à custa do empobrecimento daquele que pede a
restituição.

A subsidiariedade do instituto do enriquecimento sem causa (art. 474º do CC) no


contencioso administrativo.
Prazo: o art 482º CC estabelece que o direito à restituição prescreve no prazo de 3 anos,
contando-se a partir da data em que o empobrecido tomou conhecimento da carência de causa do
enriquecimento alheio. Contudo, este mesmo artigo prevê que a prescrição ordinária do art. 309º do
CC prevaleça sobre a prescrição ali prevista. Pelo que o direito a exigir a restituição prescreve no
prazo de vinte anos a contar da data em que ocorra o enriquecimento.

Finalmente, na alínea m) do nº 1 do art. 37º, cabe ainda outro pedido não expressamente
referido no texto da lei. É o pedido de reposição decorrente da imposição de sacrifícios da AP
aos particulares por razões de interesse publico. É tipicamente um pedido indemnizatório. Está
previsto no art. 16º da Lei nº 67/2007. É diferente da responsabilidade civil e do enriquecimento
sem causa. Esta é uma responsabilidade pelo sacrifício. Todos os dias a AP pratica decisões de
autoridade que podem lesar a esfera dos particulares. É o caso, por exemplo, de ser proprietário de
uma grande propriedade e essa propriedade tem licença para construção (o que lhe dá um valor
económico muito elevado). Quid iuris se a Câmara Municipal altera o Plano Municipal e esvazia
esse direito de propriedade, retirando a permissão para construção nesse terreno? Não é uma
expropriação. Mas é algo próximo. Causa danos anormais e especiais. Assim, o Estado tem de
indemnizar o particular em causa.
Este pedido não é expressamente referido no art 37º do CPTA; mas, pelo critério substancial
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de delimitação da JÁ que fizemos (al. o) do art 4º ETAF), deve entender-se que cabe na al. m) do nº
1 do art. 37º do CPTA.

Ação administrativa entre particulares: pedidos de condenação à adoção ou abstenção


de comportamentos por particulares – nº 2 do art. 37º
Trata-se de um processo administrativo especial entre meros particulares, mas no âmbito da
Administração.
Pressupostos do pedido:
a) Apresentação de requerimento prévio dirigido à entidade publica competente para que
esta adote as medidas adequadas;
b) Dentro de um prazo razoável sem que essa entidade adote as medidas adequadas;
c) E desde que não tenha como fundamento um AA impugnável.
Em face da não intervenção da AP, fica o particular legitimado a propor nos TA’s uma ação
impositiva ou inibitória contra aqueles particulares.
Observe-se o reconhecimento da possibilidade de verdadeiros particulares (e não apenas os
concessionários) poderem ser demandados no processo administrativo, no âmbito de relações que
os envolvam com entidades publicas – nº 9 do art. 10º CPTA. Será raro.
Isto porque a AP só poderá fazer uso desta ação contra particulares quando não disponha de
poderes de autoridade para, só por si, impor a adoção de uma conduta a um particular ou impedir
que este a adote. Pelo que não terá interesse processual em agir para propor a ação, por não
necessitar de tutela judicial quando tenha competência para obter o efeito pretendido através da
prática de um AA.

A lei refere expressamente, no art. 37º, nº 2, a possibilidade da utilização da ação administrativa por qualquer
pessoa ou entidade diretamente lesada nos seus direitos e interesses legalmente protegidos, para pedir a condenação à
adoção ou abstenção de comportamento por particulares, nomeadamente concessionários, com fundamento na violação
ou fundado receio de violação de vínculos jurídicos administrativos – quando e desde que a Administração, solicitada a
fazê-lo, não tenha tomado as medidas adequadas.
Este pedido de imposição ou de inibição é tao só um caso especial de processo administrativo principal entre
meros particulares, que, na medida em que está envolvida uma relação jurídico-administrativa, pressupõe o
requerimento prévio dirigido à Administração e, naturalmente, o decurso de um prazo razoável ou prova clara da
omissão administrativa.

Ações interadministrativas (não previstas no art. 37º)


Podem ter como objeto qualquer um dos pedidos até agora mencionados. Abrange litígios
que surgem nas relações entre:

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1. Entes administrativos (por exemplo, entre o Estado-Administração e um Município);
2. Litígios interorgânicos, isto é, entre órgãos da mesma pessoa coletiva publica (por
exemplo, entre a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal).
3. Litígios intraorgânicos, isto é, que ocorrem dentro de um mesmo órgão (quando estão em
causa direitos dos membros de órgãos colegiais – por exemplo: membros do órgão
pretendem impugnar despacho do Presidente).
Regras especiais:
Legitimidade passiva: nos processos respeitantes a litígios entre órgãos da mesma pessoa
coletiva, a ação é proposta contra o órgão cuja conduta deu origem ao litígio (art. 10º/8).
Legitimidade ativa: face ao princípio geral da legitimidade fixado no art. 9º/1, não será
admissível que possam existir ações administrativas entre órgãos da mesma pessoa coletiva, que
têm atribuições comuns, fora dos casos em que a lei expressamente confere aos órgãos
administrativos legitimidade para apresentar pedidos de impugnação ou condenação relativos a
normas ou AA.

Ponto 6. Ação administrativa urgente

Características dos processos principais urgentes:


 Caracterizam-se pela celeridade processual e prioridade relativamente aos processos
principais não urgentes: a natureza dos direitos e dos bens jurídicos em causa pressupõem
uma resolução judicial definitiva do litígio num tempo breve;
 A insuficiência da tutela cautelar para assegurar a utilidade da decisão judicial definitiva
(sentença);
 Os processos urgentes e respetivos incidentes correm em férias, com dispensa de vistos
prévios, e os atos da secretaria são praticados no próprio dia, com precedência sobre
quaisquer outros – nº 2 do art. 36º;

Espécies de processos principais urgentes previstos e disciplinados no CPTA – nº 1 do art. 36º


 Contencioso eleitoral;
 Contencioso dos procedimentos de massa
 Contencioso pré-contratual urgente;
 Intimação para prestação de informações, consulta de documentos ou passagem de
certidões;
 Intimação para defesa de direitos, liberdades e garantias;
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 Processos principais urgentes previstos em leis especiais – nº 4 do art. 36º.

O CPTA dedica um título específico aos processos urgentes, integrando diversos processos, atualmente
agrupados nas categorias de ações administrativas urgentes e de intimações – art 97º e sgs.
A figura legal típica configurada nesse título corresponde à ideia de processos urgentes principais, caracterizados
pela sua celeridade ou prioridade, radicando na convicção de que determinadas questões ou tipos de questões, em
função de determinadas circunstâncias próprias, devem ou têm de obter, quanto ao respetivo mérito, uma resolução
definitiva pela via judicial num tempo curto.
Estas questões não podem demorar a decidir aquele tempo que possa ser considerado normal para a generalidade
dos processos, nem para elas se revela suficiente ou adequada a generalidade dos processos, nem para elas se revela
suficiente ou adequada uma proteção cautelar que regule provisoriamente a situação.
Por isso, a lei configura, logo em abstrato, como processos urgentes determinados processos principais, isto é,
processos que visam a pronúncia de sentenças de mérito, onde a cognição seja tendencialmente plena, mas com uma
tramitação acelerada ou simplificada, tendo em consideração a natureza dos direitos ou dos bens jurídicos protegidos ou
outras circunstâncias próprias das situações ou até das pessoas envolvidas.
Nessa linha de entendimento, o CPTA resolveu autonomizar, em título próprio, como processos principais
urgentes, cinco espécies de processo: as ações relativas a eleições administrativas, a procedimentos massivos e à
formação de determinados contratos, bem como as intimações para prestação de informações e, em determinadas
condições, as intimações para proteção de direitos, liberdades e garantias.
O CPTA também define um regime processual geral para os processos urgentes, aplicável a todos eles. Assim,
além de as fases processuais serem abreviadas e os prazos mais curtos, todos os processos correm em férias judiciais,
sendo os atos de secretaria praticados no próprio dia, com precedência sobre quaisquer outros, são decididos
prioritariamente e os recursos sobem imediatamente.

6.1. Contencioso dos procedimentos de massa – art. 99º


Objeto e âmbito: é um contencioso para AA. Compreende as ações respeitantes à pr+atica ou
omissão de AA no âmbito de procedimentos com mais de 50 particulares, quando se trate de:
 Procedimentos de realização de provas (ex.: provas nacionais de acesso ao ensino superior;
provas nacionais de acesso à formação medica especializada);
 Procedimentos de recrutamento (ex.: procedimento de ingresso na AP);
 Concursos de pessoal (ex.: concursos internos para funcionários da AP, que já possuem
relação jurídica de emprego publico).

O que se pode pedir então é a impugnação de um AA ou a CPAD.


Quanto à legitimidade, claro que têm aplicação a regra geral de legitimidade e as regras
especiais de legitimidade, previstas para a impugnação de AA e para a CPAD.
Prazo para propor a ação: prazo de um mês (que deve ser contado nos termos do art. 58º e 59º
do CPTA) – nº 2 do art 99º.
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Tribunal competente (desvio à regra geral da competência territorial): as ações devem ser
propostas no Tribunal da sede da entidade demandada (e não do domicílio do autor) – nº 2 do art.
99º.
Quando sejam propostas diferentes ações por referência ao mesmo procedimento – há
apensação obrigatória de processos num único Tribunal (concentração), sempre que se preencham
os pressupostos previstos para a coligação e cumulação de pedidos. Então, os processos serão objeto
de apensação obrigatória àquele que tiver sido intentado em 1º lugar, segundo o disposto no art 28º,
nº 4 e art 99º. A razão é a necessidade de obter uniformidade decisória e igualdade de tratamento.

A grande novidade da revisão de 2015 em matéria de processos urgentes é justamente a previsão, no art 99º, de
um novo processo urgente para conhecer de litígios decorrentes da prática ou omissão de atos administrativos no âmbito
de procedimentos massivos em alguns domínios.
Nos termos do nº 1, consideram-se massivos os procedimentos com mais de 50 participantes; e elegem-se três
domínios de aplicação: concursos de pessoal; procedimentos de realização de provas; e procedimentos de recrutamento.
As pretensões deduzíveis são apenas a anulação ou declaração de nulidade de atos administrativos ou a
condenação à prática de atos administrativos.
Todas as ações devem ser propostas no tribunal da sede da entidade demandada e, quando sejam propostas
diferentes ações por referência ao mesmo procedimento, há apensação obrigatória à ação proposta em primeiro lugar,
desde que estejam preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade para a coligação e cumulação de pedidos (nº 2
e 5). O propósito obvio é o da concentração de processos num único processo, para conseguir maior uniformidade
decisória, respeitando o princípio da igualdade de tratamento.
O prazo de propositura destas ações é de um mês e os prazos para a tramitação e decisão do processo são muito
curtos – nº 2, 5 e 6. O propósito evidente é o de conseguir uma decisão célere.

6.2. Contencioso eleitoral (de plena jurisdição)


Porquê a urgência? Porque o princípio democrático exige que os litígios eleitorais não devam
ser apreciados com a demora normal dos processos principais não urgentes (a duração limitada dos
mandatos).
Âmbito: serão todas as eleições? Não. Só o contencioso eleitoral relativo a órgãos de PCP
para que não seja competente outro Tribunal (em especial, o Tribunal Constitucional) – al. m) do nº
1 do art. 4º do ETAF, conjugado com o art 98º CPTA. É da competência dos TA’s a apreciação dos
litígios referentes às eleições para os órgãos dos estabelecimentos de ensino superior públicos
(Conselho Geral, Reitor), das escolas e hospitais públicos e, em geral, de todas as entidades
publicas administrativas. Também são atribuídas as eleições para o CSTAF e para o CSMP (mas já
não para o CSM).
Estão excluídas, por lei especial, as eleições mais importantes: o contencioso das eleições
relativas ao PR, AR, ALR da Madeira e dos Açores e autarquias locais, tudo da competência do TC

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– art. 8º, al. a), c) e d) da LTC.

Legitimidade ativa: nº 1 do art 98º:


a) Quem seja eleitor ou elegível;
b) Pelas pessoas cuja inscrição haja sido omitida nos cadernos ou listas eleitorais (nota: não
se prevê a possibilidade de ação publica, de ação popular ou de ação coletiva).

Prazo para propor a ação: sete dias a contar da ata em que seja possível o conhecimento do
ato ou da omissão: nº 2 do art. 98º.

Regra especial: o efeito preclusivo da inércia: a ausência de reação contra os atos relativos
(naqueles 7 dias) à exclusão, inclusão ou omissão de eleitores nos cadernos eleitorais, e demais atos
com eficácia externa anteriores ao ato eleitoral, assim como de cada ato eleitoral adotado no âmbito
de procedimentos encadeados, impede o interessado de reagir contra as decisões subsequentes (a
eleição em si) com fundamento em ilegalidades de que enfermem os atos anteriormente praticados –
nº 3 do art. 98º. Ao fim de 7 dias encerra-se o assunto. Isto faz com que haja maior pacificação nos
atos eleitorais.

A lei institui este “meio impugnatório”, no art 98º, como ação principal para a resolução acelerada e simplificada
das questões suscitadas por atos eleitorais, em função da sua natureza urgente.
A autonomização desta ação, como meio urgente e principal, sempre se impôs perante o contexto de uma
participação democrática mais intensa no âmbito da organização administrativa. Na verdade, a resolução das questões
eleitorais não se compadece com a demora normal dos processos. Por outro lado, também não seria adequado o recurso
a providências cautelares para assegurar a utilidade das decisões dos tribunais, tendo em consideração a natureza da
atividade em causa, que, em regra, não se satisfaz com a regulação provisória da situação ou, em geral, com
providências de tipo antecipatório.
As eleições a que se referem estas impugnações são aquelas que respeitam a organizações administrativas, desde
que não subtraídas à jurisdição administrativa (artº 4/1/m) ETAF), isto é, aquelas através das quais se designam os
titulares dos órgãos administrativos eletivos de pessoas coletivas publicas, sobretudo no âmbito das administrações
autónomas, mas incluindo também as eleições para órgãos não burocráticos da administração direta ou indireta, por
exemplo, no âmbito das universidades e institutos politécnicos, das escolas e de outros estabelecimentos e serviços
públicos.
Os litígios a resolver por este meio não são apenas os relativos ao ato eleitoral propriamente dito, englobam
ainda as questões do respetivo procedimento.
Em 2015, estabeleceu-se que a ausência de reação contra a exclusão, a omissão, mas também a inclusão de
eleitores ou elegíveis nos cadernos eleitorais e demais atos com eficácia externa anteriores ao ato eleitoral impede o
interessado de impugnar as decisões subsequentes com fundamento nas ilegalidades de que padeçam esses atos.
A iniciativa do processo cabe em exclusivo aos eleitores e elegíveis, incluindo, nos casos de omissão dos

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cadernos ou das listas, as pessoas cuja inscrição foi omitida (art 98º/1).
Na falta de disposição especial, o prazo é de 7 dias, a contar da possibilidade do conhecimento do ato ou omissão
– art 98º/2.
A lei determina – art 98º/1 – que o processo é de “plena jurisdição”, que significa que o processo não se dirige
meramente à anulação ou declaração de nulidade dos atos impugnados e engloba a possibilidade de condenação
imediata das autoridades administrativas, seja para assegurar a inscrição nos cadernos, a aceitação das listas de
candidatos, a exclusão de eleitores ou a recusa de candidaturas, se for caso disso, seja para obrigar à reforma do
procedimento eleitoral.

6.3. Contencioso pré-contratual urgente – art. 100º a 103º-B


Vimos que, hoje em dia, um dos grandes focos do contencioso administrativo diz respeito à
atividade contratual da AP. Fala-se, cada vez, mais de uma AP por contrato.
Ora, por influência do direito europeu, tornou-se necessário distinguir:
a) A parte pré-contratual ou procedimental dos contratos públicos (o que ocorre até à
celebração do contrato);
b) A parte de execução dos contratos públicos (o que ocorre depois da celebração do contrato
e diz respeito à sua interpretação, incumprimento e invalidade).

Vimos que, na ação administrativa não urgente, há pedidos relativos à invalidade e execução
de contratos públicos. No caso da invalidade, a ação pode fundar-se: na invalidade própria do
contrato (das clausulas contratuais), mas também na invalidade derivada do contrato, sito é,
invalidades do contrato unicamente derivadas da invalidade de atos do procedimento pré-contratual
– art. 77º-A, nº 1, al. c) e d).
Ora, no caso da invalidade derivada, este regime pode nem sequer conhecer aplicação
quando se tratar de impugnar AA relativos ao procedimento de formação (a fase a)) de certo tipo de
contratos públicos.
Ou seja, há certos contratos públicos, cuja adjudicação reclama uma apreciação judicial
prioritária e célere.
Por influência do direito europeu, nasce um processo urgente.

Objeto e âmbito: o contencioso pré-contratual compreende as ações de impugnação ou de


condenação à prática de AA relativos à formação dos seguintes contratos (trabalha com interesses
opositivos e pretensivos) – art. 100º/1: empreitada de obras publicas, concessão de obras publicas,
concessão de serviços públicos, aquisição ou locação de bens moveis, aquisição de serviços. São os
big five da contratação publica.
Estamos a falar somente da fase a)): atos relativos à formação do contrato (e não o contrato

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em si mesmo).

Acolheu-se a doutrina do alcance máximo, isto é, adotou-se, para este específico âmbito, de
um conceito amplo de AA. O art 100º/2 abrange a decisão de contratar, de escolha do procedimento,
de hierarquização das propostas, de seleção dos concorrentes, de exclusão de concorrentes, de
exclusão de propostas, de adjudicação, de recusa de contratar, de anulação do procedimento, de
revogação da adjudicação.
Para além de AA, também são incluídos os documentos normativos para efeitos
impugnatórios: o art 103º fala do programa do concurso, do caderno de encargos e de qualquer
outro documento conformador do procedimento de formação de contrato. Os primeiros são duas
peças fundamentais para que as empresas do mercado se possam candidatar. Trata-se, no fundo, de
atos normativos (regulamentos) que conformam os procedimentos.

Legitimidade: as ações podem ser propostas por qualquer pessoa ou entidade com
legitimidade nos termos gerais, isto é, com legitimidade para a impugnação de AA ou para a CPAD
– art. 101º.
Prazo: apenas o prazo de um mês (quer para o vício da anulabilidade, quer para a nulidade),
incluindo para o MP – é aplicável à contagem do prazo o disposto nos art. 58º, 59º e 60º - art. 101º.
É um prazo prescritivo, findo o qual caduca o direito de ação.

Quando a celebração do contrato vier a ter lugar na pendência do processo urgente, é


possível a ampliação do objeto do processo à impugnação do contrato. Desde 2015, é possível
cumular o pedido de invalidade do contrato por violação das regras relativas ao respetivo
procedimento de formação (isto é, das invalidades derivadas, art. 102º/7 conjugado com o art. 283º
do CCP). É um caso excecional. Fora este caso, o procedimento serve apenas para atos de formação
do contrato.

No contencioso pré-contratual há a faculdade de optar ou cumular a impugnação de atos


com a condenação à prática de atos pré-contratuais devidos (por ex., quando haja omissão,
indeferimentos ou recusas ilegais de adjudicar, atos de exclusão de propostas ou de concorrentes).
O ato de adjudicação determina a escolha do parceiro da AP no contrato. Logo, se há
questões de ilegalidade suscitadas judicialmente, o legislador entendeu consagrar uma regra
especial: o efeito suspensivo automático da propositura da ação que tenha por objeto a impugnação
do ato de adjudicação.
Assim, a ação urgente que tenha por objeto o ato de adjudicação faz suspender
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automaticamente os efeitos do ato impugnado, pelo que fica proibida a celebração do contrato (ou a
sua execução, se este já tiver sido celebrado), antes de obtida a decisão judicial em 1ª instância – art
103º-A, nº 1 CPTA.

No entanto, a possibilidade de levantamento do efeito suspensivo, a requerimento da


entidade demandada ou contrainteressados, o que exige a ponderação judicial dos interesses em
presença – nº 2 e 4 do art 103º- A.

E Procedimentos cautelares? Tratando-se de um processo urgente, com suspensão


automática de efeitos no caso de impugnação do ato de adjudicação, não se justificará o recurso a
processos cautelares, mas há todo o interesse em que, dentro do processo, seja requerida a adoção
de medidas provisórias.
São uma espécie de tutela cautelar do contencioso pré-contratual urgente – nº 1 e 3 do art.
103º-B para prevenir o risco de se gerar uma situação de facto consumado, em que já não será
possível “voltar atrás” e celebrar o contrato com o parceiro devido.
Note-se que as providências cautelares relativas à formação de contratos, previstas no art
132º, respeitam apenas a contratos que não estejam sujeitos ao regime da ação urgente. Daí as
medidas provisórias agora indicadas.

A aplicação do regime processual do contencioso pré-contratual urgente à impugnação dos


“documentos conformadores do procedimento” – art. 103º - regras especiais:
Como vimos, a ação urgente abrange também os processos dirigido à declaração de
ilegalidade de disposições (normativas) contidas nos documentos conformadores do procedimento
de formação de contrato – art 103º, nº 1.
O legislador criou um regime dicotómico:
* O programa de concurso, o caderno de encargos que beneficiam do regime da ação
urgente. Não fica excluída a possibilidade de impugnar nos termos gerais do regime de impugnação
de normas (art 103º, nº 4 e art 72º e sgs);
* Já os regulamentos que tenham por objeto conformar mais do que um procedimento de
formação de contratos (regulamentos-quadro) são impugnáveis pela via da ação administrativa nos
termos gerais da impugnação de normas (art 103º, nº 4).

Entre as ações administrativas urgentes inclui-se, desde 2002, o contencioso relativo à formação dos contratos -
um domínio processual especialmente marcado pela influência do direito da UE.
O CPTA deu continuidade ao regime especial instituído pelo DL nº 134/98 de 15 de maio para o contencioso

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de formação dos contratos de empreitada de obras publicas, de concessão de obras publicas, de aquisição de serviços e
de aquisição/locação de bens moveis, em aplicação da “Diretiva-Recursos” (nº 86/655/CEE).
A previsão de um processo autónomo e urgente resulta da necessidade de assegurar simultaneamente duas
ordens de interesses, públicos e privados: por um lado, promover a transparência e a concorrência, através de uma
proteção adequada e em tempo útil aos interesses dos candidatos à celebração de contratos com as entidades publicas;
por outro lado, e sobretudo, garantir o início rápido da execução dos contratos administrativos e a respetiva estabilidade
depois de celebrados, dando proteção adequada aos interesses públicos substanciais em causa e aos interesses dos
contraentes.
A ação deve ser utilizada, desde logo, quando esteja em causa a ilegalidade de quaisquer decisões
administrativas relativas à formação dos referidos contratos, desde que se trate da violação de normas que possam pôr
em causa a validade do ato de adjudicação.
Assim, através deste meio pode ser realizada a impugnação de quaisquer atos administrativos relativos à
formação dos referidos contratos, sendo certo que, para este feito, não são considerados apenas os atos administrativos
em sentido estrito, mas todos os atos praticados por quaisquer entidades adjudicantes (ainda que sejam entidades
privadas) ao abrigo de regras de contratação pública – art 100º, nº 2.
Mas este é igualmente o meio adequado para a impugnação direta de documentos conformadores do
procedimento, que incluem o programa de concurso, o caderno de encargos ou qualquer outro documento conformador
do procedimento pré-contratual, designadamente com fundamento na ilegalidade das especificações técnicas,
económicas ou financeiras deles constantes – art 103º/1.
Já os regulamentos que tenham por objeto conformar mais do que um procedimento de formação de contratos
(os regulamentos-quadro) são impugnáveis pela via da ação administrativa nos termos gerais da impugnação de normas
– art 103º/4.
Caso seja, entretanto, celebrado o contrato, o objeto do processo pode ser ampliado à impugnação do próprio
contrato, embora apenas quanto às invalidades deste que derivem de invalidades do procedimento pré-contratual – uma
situação paralela à da ampliação do processo normal de impugnação de atos.
Com a revisão de 105, tornou-se claro que também se pode obter, neste processo urgente, a condenação à
prática de atos pré-contratuais devidos. Esta condenação pode ser pedida isoladamente ou em cumulação com pedidos
impugnatórios.
Nos termos do art 101º, o prazo para a apresentação do pedido de impugnação é agora de um mês, mesmo que
se invoque a nulidade de atos administrativos pré-contratuais, designadamente da adjudicação. É contado, em regra, a
partir da notificação dos interessados. No caso do MP, é contado a partir do respetivo conhecimento do ato.
É igualmente um mês o prazo para apresentação do pedido de condenação à prática de atos, a contar do ato de
recusa ou do decurso do prazo legal estabelecido para a emissão do ato ilegalmente omitido.
Por sua vez, o pedido de declaração de ilegalidade de documentos conformadores do procedimento pode ser
deduzido durante a pendência do procedimento – art 103º/3 – isto é, pelo menos até à adjudicação.
Quanto à legitimidade, valem em toda a sua amplitude as regras gerais, estabelecidas para a impugnação de
atos ou para a condenação á prática de atos devidos, conforme os pedidos.
Já a legitimidade para impugnar os documentos conformadores é restringida “a quem participe ou tenha
interesse em participar no procedimento em causa” – art 103º/2.
A principal alteração introduzida em 2015 foi, na sequência da nova diretiva europeia, a atribuição de efeito
suspensivo à propositura da ação pré-contratual urgente: a impugnação do ato de adjudicação faz suspender
automaticamente os efeitos do ato impugnado, proibindo, designadamente, a celebração do contrato, ou a respetiva
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execução, se já tiver sido celebrado – art 103º-A/1.
No entanto, a entidade demandada e os contrainteressados podem requerer ao juiz, sem dependência de prazo,
o levantamento do efeito suspensivo, invocando que o diferimento da execução da execução seria “gravemente
prejudicial para o interesse publico” ou “gerador de consequências lesivas claramente desproporcionadas para outros
interesses envolvidos”, havendo lugar à aplicação do critério previsto no nº 2 do art 120º - art. 103º-A/2.
Esta remissão para o preceito aplicável à concessão de providências cautelares há-de ser entendida em termos
adequados, implicando uma adaptação, seja porque são diferentes as formulações dos interesses em presença, seja
porque o preceito cautelar está redigido como limite à concessão da providência requerida (e, em princípio, justificada)
e, no caso de adjudicação, se pede o levantamento de um efeito suspensivo automático.
A remissão é, então, para o critério previsto no art. 120º, que é o da ponderação de interesses: a decisão do juiz
deve efetuar a ponderação de todos os interesses, públicos e privados, em presença, dando preferência à solução que
implique menores danos globais.
O regime legal suscita, no entanto, várias dúvidas, que compete à jurisprudência resolver.
Tratando-se de um processo urgente, com suspensão automática de efeitos no caso da impugnação do ato de
adjudicação, não se justificará, em regra, o recurso a providências cautelares, mas há todo o interesse em que, dentro do
próprio processo, possa ser requerida e tramitada como incidente, a adoção de medidas provisorias, destinadas a
prevenir o risco de se constituir uma situação de facto consumado ou de já não ser possível retomar o procedimento pré-
contratual – é essa uma novidade da revisão de 2015, inscrita no art 103º-B.
A concessão da medida provisória, que tem um alcance cautelar, depende da ponderação dos interesses em
presença, de modo que a medida provisória seja recusada se os danos que resultem da sua adoção forem superiores aos
da sua não adoção.

6.4. Intimação para prestação de informações, consulta de documentos ou


passagem de certidões

O que são intimações? Trata-se de processos urgentes de condenação, que visam a


imposição judicial, dirigida à AP para a doação de comportamentos ou para a prática de AA.
Está em causa a jusfundamentalidade: em geral: DLG, em especial, o direito á informação
administrativa procedimental.

Pressupostos:
 Exigência de um pedido (prévio) apresentado pelo interessado (pedido formulado no
exercício do direito à informação procedimental ou do direito de acesso aos arquivos e
registos administrativos – nº 1 do art. 104º;
 Incumprimento desse pedido pela AP: o órgão administrativo a quem tenha sido dirigido o
pedido não cumpre o dever de notificar ou de informar (omissão do dever de
notificar/informar ou recusa-se expressamente a notificar/informar ou não satisfaz
integralmente o pedido – al. a), b) e c) do nº 2 do art. 105º;

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Legitimidade ativa:
- Legitimidade dos titulares do direito à informação procedimental ou do direito de acesso
aos arquivos e registos administrativos – nº 1 do art. 104º do CPTA, conjugado com o regime do
CPA.;
- Legitimidade conferida a todos os que tenham legitimidade para a impugnação judicial
(incluindo o MP) – nº 2 do art. 104º, conjugado com o nº 2 do art. 60º CPTA.

Legitimidade passiva (nº 2 do art. 10º e nº 1 do art 105º).

Prazo especial: a intimação deve ser requerida no prazo de 20 dias a contar dos factos a que
se referem as al. a), b) e c) do nº 2 do art. 105º.

Efeitos da intimação judicial: efeito interruptivo do prazo de impugnação – art 106º.

Tramitação: deduzido o pedido de intimação, a entidade demandada e os contrainteressados


respondem no prazo de 10 dias. O juiz profere decisão no prazo de cinco dias. A intimação deve ser
cumprida no prazo de 10 dias – art. 107º e 108º. Findo o prazo, o juiz pode determinar a aplicação
de sanções pecuniárias compulsórias, nos termos do art. 169º.

Este é o meio adequado para obter a satisfação de todas as pretensões informativas, quer esteja em causa o
direito à informação procedimental ou o direito de acesso aos arquivos e registos administrativos (art 104º).
Nem sempre se verificará em concreto a tradicional razão de ser da urgência no uso deste meio processual,
podendo estar em causa a obtenção de informações em situações perfeitamente normais, não dependentes de prazo.
Apesar disso, a revisão de 2015 não introduziu alterações.
A intimação pode ser pedida pelos titulares dos direitos de informação ou, na hipótese de utilização para efeitos
de impugnação judicial, por todos os que tenham legitimidade para usar os meios impugnatórios para o exercício da
ação publica – art 104º/2.
A legitimidade passiva parece caber, nos termos gerais, à pessoa coletiva ou ao ministério a que pertence o
órgão em falta (art 10º/2). No entanto, o requerente deverá, sempre que possível, identificar o órgão responsável, para
que o tribunal possa diretamente citá-lo e dirigir-lhe a intimação, sem dependência da organização interna da pessoa
coletiva ou do ministério-
A utilização deste meio pressupõe o incumprimento pela Administração do dever de informar ou de notificar,
valendo, por isso, a exigência do pedido anterior do interessado como pressuposto processual.
O prazo é de 20 dias, a partir da verificação da não satisfação do pedido, da omissão, do indeferimento
expresso ou do deferimento parcial (art 105º).
A tramitação é simples, com a resposta da autoridade no prazo de 1 dias e, em regra, decisão do juiz em cinco
dias, dado que na maior parte dos casos não serão necessárias mais diligências (art 107º). Em caso de provimento, a
decisão é condenatória e o juiz deve fixar um prazo até 10 dias para o cumprimento da intimação, podendo determinar a
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
aplicação de sanções pecuniárias compulsórias, se não houver justificação aceitável para o incumprimento, sem prejuízo
da responsabilidade civil, disciplinar ou penal do órgão ou do titular (108º).

6.4. Intimação para defesa de direitos, liberdades e garantias

Tem os seus pressupostos previstos no art. 109º. Pode ser requerida quando “a célere
emissão de uma decisão de mérito que imponha à Administração a adoção de uma conduta positiva
ou negativa se revele indispensável para assegurar o exercício, em tempo útil, de um direito,
liberdade ou garantia, por não ser possível ou suficiente, nas circunstâncias do caso, o decretamento
provisório de uma providência cautelar”. É necessário, então, que o direito lesado (ou ameaçado)
possa ser qualificado como um direito, liberdade ou garantia ou direito de natureza análoga; e
provar a necessidade de obtenção imediata de uma decisão definitiva (e não meramente cautelar ou
provisória) sobre o litígio).
A intimação também pode ser dirigida contra particulares, designadamente concessionários.
Não está circunscrita à proteção de direitos pessoais, já que inclui também a defesa dos
direitos subjetivos fundamentais análogos aos qualificados pela CRP como tais (Art. 17º).
Abrange decisões desfavoráveis e favoráveis da AP. Por exemplo, uma proibição
administrativa que influi direta e imediatamente sobre o exercício do direito de reunião
constitucionalmente consagrado (art. 45º CRP). A recusa de autorização para uma manifestação.
Este direito compreende a liberdade de se reunir e manifestar, de escolher local, horal, forma e
conteúdo, sem prejuízo da comunicação do trajeto às autoridades administrativas e dos limites
decorrentes do exercício de outros direitos fundamentais (seja por razoes de segurança, de transito
rodoviário ou de ocupação de espaços públicos).
Por exemplo, a proibição da realização de uma manifestação pela PSP exige a urgência de
uma decisão do Tribunal, dado que se torna necessário, em tempo útil, uma deicsão definitiva sobre
o mérito da causa, ou seja, se a manifestação se pode ou não realizar.
Nesse caso, a intimação pode ser requerida com vista a assegurar o exercício, em tempo útil,
de um DLG – art 109º, nº 1.

A legitimidade ativa para esta intimação pertence aos titulares do direito fundamental em
causa. No que toca à legitimidade passiva, pertence à pessoa coletiva ou Ministério, mas aqui deve
também identificar-se a autoridade competente, já que, tendo em consideração a urgência do
processo, deve poder ser diretamente citada e intimada.
No que respeita à tramitação, uma vez distribuído, o processo é concluso ao juiz com a
maior urgência, para despacho liminar, a proferir no prazo máximo de 48 horas, no qual, sendo a

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


petição admitida, é ordenada a citação da outra parte para responder no prazo de sete dias – art.
110º.
O art 111º trata da decisão e dos seus efeitos.

Na sequência do art 20º/5 da CRP, criou-se em 2002 este novo meio, reconhecendo assim a importância de
uma proteção acrescida dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, ampliando mesmo o seu alcance para além da
proteção dos direitos “pessoais” e incluindo os direitos subjetivos fundamentais análogos aos expressamente
qualificados como tal pela Constituição.
Esta proteção acrescida justifica-se, na sua substancia, pela oportunidade, pela consciência do perigo acrescido
da respetiva lesão que, nas sociedades atuais, decorre sobretudo de o seu exercício depender, de modo cada vez mais
intenso, de atuações administrativas, não apenas negativas, mas também positivas.
A utilização desta ação deve, no entanto, por isso mesmo, limitar-se às situações em que esteja em causa direta
e imediatamente o exercício do próprio direito, liberdade ou garantia ou direito análogo.
Pode utilizar-se este meio quando a emissão célere de uma decisão de mérito do processo que imponha à
Administração uma conduta positiva ou negativa seja indispensável para assegurar o exercício em tempo útil de um
DLG (109º).
Exige-se, desde logo, a urgência da decisão para evitar a lesão ou inutilização do direito, sem a qual deverá
haver lugar a uma ação administrativa.
A utilização do meio, por ser uma intimação, pressupõe que o pedido se refira à imposição de uma conduta
positiva ou negativa à Administração.
Por fim, a lei exige ainda que não seja possível ou suficiente o decretamento provisório de uma providência
cautelar. Esta condição parece ser de algum modo pleonástica, pois se é indispensável uma decisão de mérito urgente
para evitar a lesão do direito, então isso exclui automaticamente a admissibilidade de um processo cautelar.
Por outro lado, a lei afirma ainda, por essa via, o caráter excecional ou subsidiário da intimação, confirmando a
remissão para as ações normais da generalidade dos casos em que, estando embora em causa o exercício de um DLG,
não seja indispensável uma decisão de fundo urgente, pois que eventuais perigos de lesão podem ser impedidos no
contexto desses processos de tramitação normal, através de providências cautelares.
A legitimidade para esta intimação pertence naturalmente aos titulares dos DLG, enquanto posições jurídicas
subjetivas, embora se possa admitir a ação popular.
O conteúdo do pedido será a condenação na adoção de uma conduta positiva ou negativa por parte da
Administração, que pode consistir mesmo na prática de um ato administrativo – art 109º/1 e 3.
O pedido de intimação pode ainda ser dirigido contra concessionários ou contra quaisquer particulares, mesmo
que não disponham de poderes públicos, embora obviamente se deva estar perante uma relação jurídica administrativa.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


7.Pressupostos processuais

Pressupostos processuais são os elementos de cuja verificação depende, num determinado


processo, o poder-dever do juiz de se pronunciar sobre o fundo da causa, isto é, de apreciar o mérito
do pedido formulado e de sobre ele proferir uma decisão, concedendo ou indeferindo a providência
requerida.
São os elementos que permitem ao juiz apreciar o mérito do pedido formulado e de sobre ele
proferir uma decisão.
São condições para que o juiz possa decidir de mérito, para que possa compor
definitivamente o litígio.
Na falta absoluta destes PP, está impedido o juiz de decidir de fundo sobre um determinado
litígio (formando-se uma exceção dilatória, de acordo com os art 89º do CPTA e do 576º e 577º do
CPC, que levam à absolvição do réu da instancia.
Há PP positivos, cuja verificação obriga o juiz a conhecer do mérito da causa; e negativos,
aqueles cuja verificação o impede de o fazer. Absolutos e relativos: para estes últimos, em face de
um convite ou despacho de aperfeiçoamento, pode haver sanação. Por exemplo, havendo
cumulação ilegal de pedidos, o juiz notifica o autor ou autores para, no prazo de 10 dias, indicarem
o pedido que pretendem ver apreciado no processo – art 4º, nº 3.

Há PP relativos ao tribunal, às partes ou ao processo em concreto.

É de importância capital em qualquer processo determinar as condições em que os tribunais são obrigados a
apreciar o mérito de uma causa, precisamente porque, sendo autoridades independentes a quem compete administrar a
justiça, dirimindo os litígios que lhes são apresentados, eles não podem abster-se de decidir.
Dizem-se pressupostos processuais os elementos de cuja verificação depende, num determinado processo, o
poder-dever do juiz de se pronunciar sobre o fundo da causa, isto é, de apreciar o mérito do pedido formulado e de
sobre ele proferir uma decisão, concedendo ou indeferindo a providência requerida – art 89º CPTA.
A sua falta (ou a sua observação, no caso de pressupostos negativos) implicaria, em rigor, uma decisão de
rejeição da ação, abstendo-se o juiz, em qualquer momento, de conhecer do pedido. No entanto, a decisão de forma
baseada na falta de pressuposto processual determina a absolvição do reu da instancia ou a remessa do processo para
outro tribunal.
Os pressupostos podem ser gerais ou comuns, se são condições de apreciação em juízo de quaisquer litígios
administrativos, ou pressupostos especiais, se são exclusivos de certos tipos de ações ou meios processuais.
Pode distinguir-se entre pressupostos positivos, cuja verificação obriga o juiz a conhecer do mérito da causa, e
pressupostos negativos, cuja verificação impede tal conhecimento.
Também se pode distinguir entre pressupostos absolutos, de conhecimento oficioso, e os relativos, cuja

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


relevância depende, por vezes, da invocação das partes e cuja falta poderá, em certas circunstâncias, ser sanada ou
mostrar-se irrelevante.
Outra distinção é a que agrupa os pressupostos conforme sejam relativos ao tribunal, às partes ou ao processo.

PP relativos ao tribunal
1. Competência, que se divide em absoluta, quando respeite à jurisdição dos TA’s
portugueses, e relativo, quando se refira à competência interna em razão da matéria, da hierarquia e
do território. A competência absoluta refere-se à questão de saber se a ação pode ser apreciada no
âmbito de jurisdição dos tribunais administrativos nacionais. A competência relativa está preenchida
se o tribunal onde se instaura a ação é competente em razão da matéria, da hierarquia e do território.
Só a incompetência absoluta impede o conhecimento do mérito da causa e pode produzir a
absolvição da instancia, embora seja permitido ao interessado remeter a causa para o
tribunal competente nos 30 dias seguintes, considerando-se que a ação foi proposta na data
em que se propôs a 1ª ação. em caso de incompetência relativa, haverá remessa oficiosa do
processo para o tribunal competente (art. 14º/2 e 3).
Quanto ao momento em que se deve determinar a competência jurisdicional: segundo o
princípio da perpetuação do foro, a competência afere-se no momento da propositura da
ação.

O único pressuposto processual relativo ao tribunal é o da sua competência. Torna-se necessário, porém,
diferenciar a competência absoluta da competência relativa: a primeira refere-se ao âmbito de jurisdição e existe sempre
que a questão seja da competência de tribunais administrativos nacionais; a segunda refere-se à competência dentro da
jurisdição administrativa e existe quando o tribunal em que foi proposta a ação é o tribunal competente em razão da
matéria, da hierarquia e do território.
Só a incompetência absoluta produz os efeitos típicos da falta de um pressuposto processual, isto é, a
absolvição da instancia, embora, mesmo nesse caso, o interessado tenha o direito de requerer a remessa do processo ao
tribunal competente, no prazo de 30 dias.
Em caso de incompetência relativa, porque estão em causa tribunais da mesma espécie ou categoria, a falta de
competência apenas determina a remessa oficiosa do processo para o tribunal competente.
A competência do tribunal é um pressuposto absoluto, o que equivale a dizer que a sua falta é de conhecimento
oficioso, não necessitando de ser alegada. É um pressuposto processual comum.
Quanto ao momento da determinação da competência concreta vale no processo administrativo o princípio da
perpetuação do foro, nos termos do qual a competência se fixa no momento da propositura da causa.

PP relativos às partes
1. Personalidade jurídica, que se define como a suscetibilidade de ser parte no
processo. Consiste na possibilidade de requerer ou de contra si ser requerida, em nome própria,

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


qualquer das providencias previstas na lei. Os critérios de aferição da personalidade judiciária estão
no art. 10º.
A personalidade judiciária é tradicionalmente definida como a suscetibilidade de ser parte no processo e
corresponde, em regra, à personalidade jurídica.

2. Capacidade judiciária, isto é, a suscetibilidade de estar por si em juízo. Releva nos


casos em que se verifiquem limites à capacidade de exercício, nomeadamente nas ações onde
intervenham menores, interditos ou inabilitados. No que se refere às entidades publicas, é
determinada pela competência do órgão. No caso do Estado, a representação é feita pelo MP (art
11º/1).
Afirma-se a capacidade judiciária como a suscetibilidade de uma pessoa estar por si em juízo, um pressuposto
cuja autonomia relativamente à personalidade judiciária decorre, em regra, para os particulares, da existência
de restrições à capacidade de exercício de direitos (por exemplo, dos menores, interditos e inabilitados).
No que se refere às entidades publicas, a capacidade judiciária é determinada pela competência do órgão para
representar a pessoa coletiva, designadamente no que respeita ao poder de iniciativa processual.

3. Patrocínio Judiciário: o princípio geral é o que vale a obrigatoriedade de


constituição de advogado para o uso de poderes processuais (art 11º/1). No entanto, em 2015,
passou a ser possível que a representação por profissional do foro que não seja advogado ou
solicitador, mas apenas licenciado em Direito, desde que cumpra os deveres deontológicos exigido a
qualquer representante.
O princípio geral que vale no processo administrativo é o da obrigatoriedade de constituição de advogado para
o uso de poderes processuais -art 11º/1 CPTA. É obvio que esta obrigatoriedade não se aplica à intervenção do
MP.

4. Legitimidade é uma condição cuja verificação é indispensável à obtenção de uma


pronúncia judicial sobre o mérito da causa. A ativa implica que o interessado seja efetivamente o
titular do direito que invoca. O autor é parte legítima quando alegue ser parte na relação jurídica
material controvertida. A passiva pertencerá à parte que é titular do dever correspondente ao direito
invocado na relação material controvertida, em regra, uma pessoa coletiva publica e também os
contrainteressados, enquanto prejudicados diretos com a procedência do pedido.
Separa-se a legitimidade ativa, que implica a titularidade do direito de ação, da legitimidade passiva, relativa à
entidade contra quem se formula o pedido ou que seja prejudicada pela sua procedência, emboras as
legitimidades tenham entre si uma relação típica de correspondência. Quanto à legitimidade ativa, autor é parte
legítima quando alegue ser parte na relação jurídica controvertida, isto é, em função da titularidade de um
direito ou interesse legalmente protegido. Por outro lado, a legitimidade passiva caberá em princípio à parte
que seja titular do dever na relação material controvertida, em regra, uma pessoa coletiva publica, e também
aos terceiros contrainteressados, enquanto prejudicados diretos com a procedência do pedido.
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
5. Aceitação do ato (art 56º), que consiste na impossibilidade de impugnação judicial
de ato pela parte que anteriormente já o havia aceitado ou com o qual havia concordado. Ex: o
pensionista pediu 100; a Seg. Social deu 75, aplicando penalizações; o pensionista foi notificado da
decisão final; começou a receber 75; gastou os 75 (conformou a sua conduta com os 75); ao fim de
3 meses, decidiu impugnar porque queria 100. Trata-se, portanto, de um PP negativo. Trata-se do
princípio da boa fé, na sua vertente de non venire contra factum proprium. A aceitação do AA
traduz-se numa manifestação de vontade do particular que revele a sua conformação com o
conteúdo do AA ou com os seus efeitos. Há-de tratar-se de uma aceitação expressa ou tácita, mas
posterior à prática do AA. Tratando-se de uma declaração tácita, terá de deduzir-se de factos que,
com toda a probabilidade, revelem a incompatibilidade com a vontade de impugnar – art 217º, nº 1
CC e 56º/2 CPTA. A aceitação do AA constitui uma exceção dilatória que obsta ao conhecimento do
mérito da causa.
Trata-se de um pressuposto negativo especial, nos termos do qual a aceitação de um AA pelo particular
interessado exclui a possibilidade de ele o impugnar judicialmente com fundamento na sua anulabilidade, não
precludindo a impugnação do ato com fundamento em nulidade.
A aceitação pode ser expressa ou tácita, resultando esta da prática espontânea e sem reserva, de facto
incompatível com a vontade de recorrer.
Deve entender-se a aceitação como um mero ato jurídico que tem o efeito de perda do direito, que a lei impõe
em face de uma atitude do particular de conformação com os efeitos desfavoráveis do ato, isto é, de uma
aceitação voluntária do resultado, que se explica por razões de economia processual, associadas sobretudo à
estabilização dos efeitos do ato administrativo, ainda que anulável. Assim, é um pressuposto processual
autónomo, distinto da ilegitimidade e da falta de interesse em agir.

PP relativos ao processo
1. Interesse processual, que traduz a necessidade de usar do processo, de instaurar ou
fazer prosseguir a ação, a fim de por termo a uma situação objetiva de carência em que o litigante se
encontra. Não se confunde com a legitimidade: esta afere-se em relação à parte que é titular da
relação material controvertida, seja um interesse direito ou pessoal; já no interesse processual não se
discute a titularidade do direito, mas sim a necessidade efetiva de tutela judiciária. Trata-se de
obstar à instauração de ações inúteis. No que toca à ação administrativa, este interesse complementa
a legitimidade ativa. No art 39º, o interesse processual insere-se no âmbito das ações declarativas ou
de simples apreciação: o reconhecimento de uma situação jurídica ou de uma qualidade só faz
sentido quando existe o fundado receio (ameaça ou incerteza) de que a AP vá adotar uma conduta
lesiva.
Este pressuposto exige a verificação objetiva de um interesse real e atual, isto é, da utilidade na procedência do
pedido e constitui um pressuposto comum, diretamente decorrente da ideia de económica processual. O
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
interesse processual complementa a legitimidade ativa, na medida em que não basta a titularidade da posição
jurídica substantiva para justificar o recurso aos tribunais a fim de obter a sua apreciação – uma ação destinada
ao reconhecimento de uma situação jurídica subjetiva ou de uma qualidade só faz sentido se houver uma
situação de incerteza, uma ameaça ou o fundado receio de que a Administração adote uma conduta ilegal
lesiva.

2. Tempestividade: é um pressuposto que delimita o prazo fixado pela lei para a


propositura da ação ou para a produção de um específico efeito processual – enunciado em conjunto
com os restantes pressupostos (art. 89º/4/k)).
É um pressuposto típico dos processos que envolvam direta ou implicitamente a impugnação de atos
administrativos com fundamento em na sua anulabilidade, mas vale também noutras ações ou processos,
sempre que a lei fixar um prazo para a respetiva proposição.
Não deve ser confundido com o prazo de prescrição do direito substantivo que se pretende fazer valer em juízo
(como resulta do art 41º CPTA).

3. Interpelação administrativa prévia: quando a AP pratica um ato passível de


impugnação judicial pelos destinatários, esse ato pode não consistir na última palavra da AP, pelo
que casos há em que previamente deve ser realizada uma impugnação administrativa necessária (art
185º/2 CPA). Atualmente, são muito raras.
A lei, por vezes, para defesa de interesses administrativos ou a fim de evitar intervenções desnecessárias dos
tribunais, condiciona o acesso aos tribunais a uma pronúncia administrativa prévia específica ou à
oportunidade de uma tal pronúncia.
A hipótese mais comentada diz respeito à tradicional imposição de uma impugnação administrativa necessária
relativamente a certos atos antes da proposição da respetiva ação judicial, impugnatória ou condenatória.
Trata-se de situações em que o ato, apesar de ser em si um ato impugnável, não constitui a ultima palavra da
Administração, por existir um órgão competente para a decisão que ainda se não pronunciou – 185º/2 CPA.

4. Destaque ainda para a litispendência e o caso julgado, que são de conhecimento


oficioso, e que impedem o conhecimento do mérito da ação quando haja uma repetição de uma
causa com os mesmos elementos essenciais, quando seja formulado um pedido idêntico perante
outro tribunal nacional e sobre o qual este já esteja a pronunciar-se (litispendência) ou já tenha
havido sentença onde se decidiu o caso concreto (caso julgado). Note-se que o caso julgado
pressupõe o transito em julgado da decisão, sendo que a decisão se considera transitada em julgado
logo que não seja suscetível de recurso ordinário ou de reclamação. O caso julgado material abrange
a decisão proferida sobre o fundo ou o mérito da causa (tendo força obrigatória dentro e fora do
processo); o caso julgado formal respeita apenas a uma questão processual concreta que tenha sido
decidida no processo (tendo, por isso, força obrigatória apenas dentro do processo).

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019


Breves notas sobre recursos jurisdicionais
Os recursos desempenham um papel relevante na fiscalização das decisões de 1º grau de
jurisdição, bem como na garantia dos direitos e interesses dos particulares, já que permitem
convocar, para uma eventual revisão da sentença impugnada, um tribunal superior, supostamente
mais habilitado ou de vistas mais largas.
O recurso trata-se de um pedido de reapreciação dirigido a um tribunal diferente daquele que
proferiu a decisão impugnada.
Os recursos estão regulados nos art. 140º a 156º do CPTA.
De notar que o art 140º/3 CPTA determina que os recursos das decisões proferidas pelos
TA’s regem-se pelo disposto na lei processual civil. Logo, não se trata de mera aplicação
subsidiária. Há aplicação direta do CPC.
A CRP apenas consagra o duplo grau de jurisdição obrigatório em matéria penal. Assim, no
contencioso administrativo, não está o legislador ordinário obrigado a assegurar que possa haver
sempre lugar a duas pronúncias judiciais. O art. 142º, em geral, fixa as decisões que admitem
recurso.
Os recursos pressupõem uma relação entre dois tribunais. Qual a relação entre o tribunal que
proferiu a decisão e o tribunal competente para decidir o recurso? Relação entre tribunal a quo (que
proferiu a decisão recorrida) e o tribunal ad quem (competente para conhecer e decidir o recurso).
Quais os efeitos do recurso – art 143º?
 Efeito suspensivo e meramente devolutivo do recurso: esse feito diz respeito à execução
imediata (ou não) da sentença do tribunal a quo. Se for devolutivo, os efeitos dessa
sentença continuam vigentes. Se for suspensivo, a sentença proferida não pode ser
executada, pois o recurso suspende os efeitos da mesma até que seja julgado. A regra do
art 143º é a de que os recursos ordinários têm efeito suspensivo da decisão recorrida. Para
além de outros a que a lei reconheça tal efeito, são meramente devolutivos os recursos
interpostos de intimações para proteção de DLG e decisões respeitantes a processos
cautelares.

No que diz respeito à distinção entre os vários tipos de recurso, o CPTA classifica-os como
ordinários ou extraordinários, sendo ordinários a apelação e a revista e extraordinários o recurso
para uniformização de jurisprudência e revisão.

O recurso de apelação trata-se de um recurso ordinário comum, na grande maioria dos casos,
interposto das decisões dos TAC para os TCA.
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
O recurso de apelação é um recurso que incide sobre o objeto da causa, sobre a matéria de
facto e de direito – art 149º, nº 1.
No caso de o tribunal superior entender que o recurso procede, a decisão recorrida pode ser
substituída por uma nova decisão, permitindo que o tribunal de recurso funcione como um
verdadeiro 2º grau de jurisdição.
Note-se que o art 149º/4 permite a possibilidade de renovação de meios de prova perante o
tribunal de recurso e a realização de novas providências probatórias, abrindo uma fase de produção
de prova em sede de recurso. Esta nova fase possibilita a apreciação de questões por parte do
Tribunal que ainda não tinha chegado a conhecer.
A apelação tem esta enorme vantagem, onde o juiz do tribunal de recurso pode conhecer
tanto de facto como de Direito. Em todos os outros recursos, o juiz apenas conhecer matéria de
Direito.

No caso do recurso de revista, os poderes de apreciação do tribunal de recurso estão


limitados à apreciação de questões de Direito, pelo que o tribunal se limita a aplicar o Direito aos
factos materiais fixados pelos tribunais inferiores.
O CPTA prevê, nos art 150º e 151º, duas modalidades de recurso de revista para o STA:
a) Um recurso de revista de decisões (principais, cautelares, de mérito ou de forma)
proferidas em segundo grau de jurisdição por um Tribunal Central Administrativo (art
150º).
b) Um recurso de revista de decisões proferidas por tribunais de primeira instancia – revista
per saltum para o STA (art 151º).

No primeiro tipo de recurso de revista, o STA assume um papel de supervisão através do


qual pode orientar os tribunais inferiores, definindo o sentido em questões que considere de elevada
relevância jurídica ou social ou passíveis de melhor aplicação do Direito. Pressupõe um triplo grau.
Quanto ao recurso per saltum, este é um recurso de decisões de mérito proferidas pelos
tribunais de 1ª instancia, que é admitido quando apenas sejam suscitadas questões de direito,
relacionadas com a violação da lei substantiva ou processual. O recurso é apenas admitido se
estiverem, cumulativamente, preenchidos dois requisitos: o valor da causa (que tem de ser superior
a 500.000€ ou ser indeterminável – art 151º/1) e o processo não ter como objeto questões
relacionadas com o funcionalismo público ou de segurança social (art 151º/2).

A partir do art 152º fala-se dos recursos extraordinários.


O recurso para a uniformização da jurisprudência é um recurso que se interpõe de decisões
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
já transitadas em julgado. Trata-se de um recurso dirigido ao STA, quando sobre a mesma questão
fundamental de direito, exista contradição:
a) Entre acórdão do TCA e acórdão anteriormente proferido pelo mesmo tribuna ou pelo
STA.
b) Entre dois acórdãos do STA.
Trata-se de garantir a segurança jurídica.
As partes e o MP podem dirigir esse pedido ao STA (o art 152º/1 estabelece um prazo de
interposição do recurso de 30 dias, contado do transito em julgado do acórdão recorrido,
acompanhado de alegação na qual se demonstre a existência de contradição.
Razão de ser: uniformizar a jurisprudência, impedindo o tratamento desigual de casos
substancial iguais. Os acórdãos uniformizadores de jurisprudência são publicados na 1ª série do
Diário da República.

O recurso de revisão de sentença não se trata de um recurso em sentido estrito. É uma


revisão de sentença já transitada em julgada que pode ser pedida ao tribunal que a tenha proferido –
não é pedida a um tribunal diferente (art 154º/1).
No que respeita aos fundamentos, vale o disposto no art 696º do CPC que, para além dos 3
casos já previstos na legislação administrativa (falsidade de documento essencial, documento novo
decisivo ou nulidade da citação) permite às partes e ao MP o pedido de revisão noutras hipóteses,
desde logo quando a decisão “resulta de crime praticado pelo juiz no exercício das suas funções” ou
quando a sentença “seja inconciliável com decisão definitiva de uma instância internacional de
recursos vinculativa para o Estado português” (sobretudo o Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem).

Regras gerais:
Legitimidade para recorrer: o art 141º/1 confere legitimidade para recorrer a quem tenha
ficado vencido na decisão, assim como ao MP, com fundamento na violação de disposições ou
princípios constitucionais ou legais.
O nº 4 do mesmo art acrescenta que pode ainda recorrer das decisões dos tribunais
administrativos quem seja direta e efetivamente prejudicado por elas, ainda que não seja parte na
causa ou seja apenas parte acessória (terceiros prejudicados)
Quanto aos efeitos dos recursos, o art 143º/1 consagra a regra de que os recursos ordinários
têm efeito suspensivo da decisão recorrida, ou seja, a interposição do recurso suspende os efeitos da
sentença durante a pendência do recurso jurisdicional.
Quanto ao regime de interposição de recurso, tramitação e decisão: a interposição dos
Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019
recursos e alegações está prevista no art 144º, do qual se conclui que o recurso é interposto
mediante requerimento dirigido ao tribunal que proferiu a decisão. No requerimento deve ser
incluída a respetiva alegação, enunciados os vícios imputados à decisão e formuladas conclusões.
A parte vencida tem 30 dias para interpor recurso a partir da notificação da decisão recorrida
(art 144º/2), sendo que para os processos urgentes o prazo é reduzido para 15 dias, por aplicação do
art 147º.
Seguidamente, a secretaria do tribunal promove oficiosamente a notificação do(s)
recorrido(s), para apresentação das contra-alegações no prazo de 30 dias. Com base no art 683º/5 do
CPC, o recorrido pode responder à alegação do recorrente através da apresentação de contra-
alegação, na qual pode impugnar a admissibilidade do recurso bem como a legitimidade do
recorrente.
Por último referir que a revisão de 2015 veio clarificar que o requerimento de recurso é
objeto de despacho do juiz do tribunal recorrido (ordenando a respetiva subida) ou não. Será o juiz
do tribunal ad quem que conhecerá ou não do recurso.

Liliana Andrade – 3º ano, 2ª turma – ano letivo 2018/2019

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