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O poder Administrativo está certamente sujeito a um conjunto de regras e princípios que deverão ser
respeitados, nomeadamente o princípio da imparcialidade presente no artigo 9º do Código do Procedimento
Administrativo e artigo 266º da Constituição da República Portuguesa.
O artigo 9º do CPA é muito preciso quando indica que “A administração Pública deve tratar de forma
imparcial aqueles que com ela entrem em relação, designadamente considerando com objetividade todos e
apenas os interesses relevantes no contexto decisório e adotando as soluções organizatórias e
procedimentos indispensáveis à preservação da isenção administrativa e à confiança nessa isenção”.
Tal como indica o Senhor Professor Diogo Freitas do Amaral, estar sujeito ao princípio da
imparcialidade é não tomar o partido de nenhuma das partes, caso estas se encontrem em contenda.
O Senhor Professor continua indicando que “Se há duas partes em contenda e vem um terceiro
procurar separá-las, ou dizer quem tem razão, esse terceiro para ter autoridade e ser respeitado pelos
contendores, tem de ser imparcial – o que significa que tem de estar numa posição fora e acima das partes.”
Assim sendo a Administração Pública deve tomar decisões com base em critérios próprios,
adequados ao cumprimento das suas funções específicas no quadro da atividade legal do Estado. Quer isto
dizer que não serão permitidos critérios influenciados ou distorcidos por outros interesses pessoais e
alheios à função.
Sendo mais claro, a Administração Pública deve deixar de lado todas as suas convicções políticas,
interesses dos funcionários, ou mesmo interesses políticos concretos do Governo.
Também a Senhora Professora Maria Teresa de Melo Ribeiro indica que, a imparcialidade
administrativa caracteriza-se como “uma conduta objetiva, desinteressada, isenta, neutra e independente
que tem por base critérios lógico-racionais”.
O princípio da imparcialidade apresenta duas vertentes: uma positiva e uma negativa.
Na vertente negativa a imparcialidade representa a ideia de que os titulares de órgãos e agentes
administrativos estão impedidos de intervir em procedimentos, atos ou contratos cujo teor diga respeito a
questões do seu interesse pessoal ou dos seus familiares, ou de pessoas com quem tenham relações
económicas próximas;
Na vertente positiva a imparcialidade surge também como o dever, por parte da Administração, de
ponderar todos os interesses públicos secundários e os interesses privados equacionáveis para o efeito de
certa decisão antes da sua adoção.
Afirmamos assim que a administração é parcial na prossecução do interesse público, mas imparcial na
ponderação dos interesses públicos e privados.
Assim sendo, a objetividade, a neutralidade e a transparência são alguns corolários do princípio da
imparcialidade.
Tendo em conta estes objetivos, o legislador procede a uma enumeração/identificação de situações
passíveis de serem reconhecidas como sintoma de que não houve uma correta e equilibrada ponderação dos
interesses envolvidos na decisão, nos artigos 69ºss.
De acordo com o artigo 69º/1 a) os titulares de órgãos da Administração Pública e os respetivos
agentes, bem como quaisquer outras entidades que, independentemente da sua natureza, se encontrem no
exercício de poderes públicos, não podem intervir em procedimento administrativo ou em ato ou contrato
de direito público ou privado da Administração Pública quando nele tenham interesse, por si, como
representantes ou como gestores de negócios de outra pessoa.
O Ministro das Finanças, enquanto membro do Governo, interveio assim no procedimento cujo teor diz
respeito a pessoas com quem tem relações económicas próximas, como é o caso de pertencer ao quadro da
instituição.
Relativamente à invocação, por parte da Administração, do artigo 69º/2 a) não nos parece sustentável
definir a atuação por parte de um órgão singular decisório (despacho) como um mero ato de expediente,
designadamente um ato certificativo.
Esta, sendo uma fase da preparação da decisão, e mesmo da própria decisão, logo, fundamental,
pondera todos os elementos e prepara a decisão, e neste sentido encaminhou no sentido favorável todo o
procedimento. O professor Gomes Canotilho considera que devemos procurar alcançar uma imparcialidade
procedimental, sendo que não só o desfecho como o procedimento devem ser transparentes e com
adequado tratamento na obtenção da informação, transmitindo uma equidistância aplicada objetivamente.
Determina-se assim que o Senhor Manuel Cordeiro era impedido, de acordo com os artigos 69ºss do
CPA. Logo, tal como indica o artigo 161º/2 e) são nulos os atos praticados com desvio de poder para fins
de interesse privado.
O princípio da igualdade ( artigo 6º CPA / 266º nº2 CRP) consiste, primeiramente, na determinação, se
certas situações devem ou não ser tidas como substancialmente idênticas, e seguidamente, que seja
assegurado o tratamento dessas mesmas situações de forma conexa com a sua semelhança ou
dissemelhança.
Segundo alguma doutrina , como o Senhor Professor Diogo Freitas Do Amaral ou o Senhor Professor
Marcelo Rebelo De Sousa, o princípio da igualdade abrange fundamentalmente, a vertente da proibição de
discriminação e a obrigação de diferenciação. A proibição de discriminação impõe assim a igualdade de
tratamento para situações iguais e a interdição de tratamento igual para situações manifestamente desiguais,
de modo a não dar azo a qualquer discriminação. Implica, portanto, um sentido negativo e um sentido
positivo.
A obrigação de diferenciação parte da ideia de que «a igualdade não é uma igualdade absoluta e cega»
( prof. Freitas do Amaral), ou seja, devem ser introduzidas todas as diferenciações que sejam necessárias,
de modo que possa ser atingida a igualdade substancial.
Existe contudo, outra parte da doutrina, que divide o princípio da igualdade em igualdade como
prevalência da lei, igualdade perante a lei e igualdade através da lei.
A igualdade como prevalência da lei traduz-se na igualdade na aplicação da lei, tendo como
destinatários a Administração Pública e os juízes. A igualdade perante a lei exige uma justificação para o
tratamento desigual das situações, e finalmente, a igualdade através da lei, que tem como objetivo corrigir
os abusos da liberdade individual.
No caso concreto em análise, consideramos que existe uma violação do princípio da igualdade, tendo
em conta que, o Centro de Investigação Verdadeiramente Catita (CIVC) já tinha previamente recebido uma
avultada quantia na ordem dos 5 milhões de euros relativamente ao projeto "Portugal 2020".
Assim sendo, deveria ter sido dada prioridade a projetos que efetivamente nunca receberam
financiamento público nacional.
O princípio da justiça está consagrado nos arts. 266º/2 da CRP e 8º do CPA e, segundo o Professor
Diogo Freitas do Amaral, pode ser definido como o conjunto de valores que impõem ao Estado e a todos os
cidadãos a obrigação de dar a cada um o que lhe é devido em função da dignidade da pessoa humana.»
Este é um princípio considerado doutrinariamente como tendo natureza compósita, como sendo um
princípio aglutinador de subprincípios que encontram tradução autónoma noutros preceitos constitucionais
e legais. A Administração deve procurar alcançar o ideal da equidade do caso concreto, agindo de modo
que a cada qual se lhe dê o que lhe é devido. É, assim, necessário que a Administração Pública tenha em
consideração a maneira como a decisão é efetuada, verificando se foram cumpridos os procedimentos para
a obtenção de uma decisão justa.
Ora, nos termos do art.8º do CPA a Administração deve “rejeitar as soluções manifestamente
desrazoáveis ou incompatíveis com a ideia de Direito, nomeadamente em matéria de interpretação das
normas jurídicas e das valorações próprias do exercício da função administrativa”.
Enquanto parâmetro de controlo da atuação discricionária da Administração, o princípio contém um teor
literal que apresenta, em primeiro lugar, uma orientação positiva de ação, na forma de um comando, para
que sejam rejeitadas decisões administrativas com fundamento numa interpretação jurídica desrazoável das
normas que as legitimam, e, em segundo lugar, um limite de ação, pois deve apenas ser analisada a
razoabilidade da interpretação formulada pela Administração e que fundamenta a decisão.