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Comunicação e Política
POLÍTICA
INTRODUÇÃO
Portanto, o que foi vivido nas póleis da sociedade Apenas homens adultos e livres eram considerados cidadãos, a democracia a
grega clássica é importante não pelo que aconteceu, considerados cidadãos (filhos de mães atenienses com estrangeiros não contav
mas por ter sido considerado um evento muito
emblemático e repetido por muitas sociedades ao A participação dos cidadãos nos assuntos públicos e nos cargos políticos exis
longo da história. Podemos afirmar que a ideia de como era o caso de Atenas nos tempos da antiguidade clássica.
Ocidente passa pela admiração e reinvenção daquilo
que aconteceu na Grécia. Leve essa informação com É importante destacarmos estas três características da
você para fazer todo o trajeto histórico sobre política. democracia grega para compreendermos o quanto ela
se distingue das atuais democracias:
Era restritiva quanto ao direito de cidadania, que era concedido apenas a hom
Era restrita ao pequeno território de uma cidade (ao contrário das democracia
Figura 4. O Parthenon, na
Acrópole de Atenas
Figura 9. Festa do Chá de Tratava-se de uma lógica de representação restritiva, pois apenas homens bran
Boston, de autor desconhecido por estipular critérios que restringem o nível de participação política das popu
Tais taxações – entre outras – eram consideradas
Os votos eram por distritos e não por pessoa. A lógica de que cada pessoa cor
abusivas para os colonos da América do Norte, que
viam isso como uma situação injusta por não terem
seus interesses representados no Parlamento A lógica do voto censitário não permitia que negros e mulheres votassem. Ele
britânico. Daí o slogan da Revolução Americana ter
Ao longo dos séculos, a representação e o direito ao
sido “No taxation without representation” – ou seja,
voto nos EUA foram ampliados em um longo
tratava-se inicialmente de uma exigência por
processo de conflitos e pressões por grupos diferentes
representação no Parlamento britânico em função das
da sociedade civil. Mas foi apenas em 1965 que
taxações serem vistas como ilegítimas na ausência de
o direito ao voto universal (aberto a todos e sem
uma representação colonial.
nenhuma restrição) foi adotado nos Estados Unidos.
Mas sempre existiu essa grande massa de leitores? Essa necessidade de circulação de notícias estava
associada inicialmente à demanda de informação dos
grupos de comerciantes e investidores do comércio
ultramarino surgida em meados do século XVII. De
acordo com Brigs e Burke (2006), nos primeiros
jornais desse gênero – surgidos em Amsterdã –, já
havia críticas à Igreja e ao governo.
Atenção
Não existem leitores somente físicos. O espaço das
praças de comércio era o local da reunião de muitos
leitores de “ouvido”, leitores que multiplicavam a
troca dos conhecimentos e, ainda que multiplicassem
as informações a partir da força de um senso comum
recorrente, faziam a cultura letrada circular. O termo
Fonte: em inglês – clássico entre os estudiosos de
Dayna More/Shutterstock. comunicação – fundamenta-se na tradição das cartas
medievais. Cartas que uma vez recebidas eram lidas
A resposta a essa pergunta é um absoluto não! de forma pública. Então, quando a prensa, os jornais,
os livretos começam a circular, não é possível
Durante a maior parte da história, apenas uma imaginar a multiplicação automática de letrados, mas
minúscula parcela de pessoas dominava a técnica de sim uma multiplicação efetiva de leitores – em todas
ler e escrever: somente uma limitada aristocracia as suas formas.
governante e seus funcionários (escribas, secretários
etc.) era alfabetizada. A maior parte das pessoas era
A ESFERA LITERÁRIA
iletrada e ignorava qualquer forma de conhecimento
formal como compreendemos atualmente.
O surgimento de gêneros literários novos como o
romance de sentimentos (como A Nova Heloísa, de
Essa situação só começou a se modificar no século
Jean-Jacques Rousseau) e o romance de formação
XVI e com o advento do protestantismo no século
(como Os anos de aprendizado do Jovem Wilhelm
XVII. Ainda assim, as tipografias, recém-inventadas
Meister, de Johann Wolfgang Goethe), de ampla
por Gutenberg, imprimiam sobretudo Bíblias – não
circulação no século XVIII entre a população letrada,
jornais, livros e revistas. E mesmo com essa restrição,
estimulou novas formas de identificação entre os
a Reforma Protestante foi um poderoso agente
leitores.
alfabetizador: como acreditavam que todos os
homens eram dotados de uma luz natural e, por isso,
capazes de acessar a palavra divina dos Testamentos,
tratou-se de alfabetizar as massas conforme o
protestantismo se disseminava.
Mais uma vez, devemos notar a maturação de longos Eles se consideravam homens de letras e são vistos
processos históricos que se reproduzem na construção por muitos como os primórdios do intelectual público
dessa esfera literária. Era comum, nas cortes e depois moderno, no sentido de serem os primeiros
nas ruas, a reunião para ouvir os contadores de intelectuais independentes de patronos e por terem
história. São famosos na literatura das tabernas e sido agentes engajados em promover um debate
guardavam de cabeça as histórias rimadas e as amplo sobre os assuntos públicos referente aos
multiplicavam. O mundo dos séculos XVIII e XIX regimes sob os quais viviam. Difundiram suas ideias
era cada vez mais urbano, mais cheio de gente e na França e fora dela para homens e mulheres, apesar
informação, porém, as heranças ficaram. Agora eram de terem pouca intenção de atingir o povo.
os leitores públicos, os leitores de jornais, os jovens
e tropeçadores leitores. No Brasil, livros famosos
saíam em capítulos em séries de jornal; na França,
alguns livretos muito picantes – como o de Marquês
Figura 18. A Liberdade guiando o povo, por Eugène
Delacroix
Fig
ura 17. François-Marie Arouet de Voltaire, por Já os acontecimentos políticos ganhariam destaque
Nicolas de Largillière com os eventos efervescentes da Revolução Francesa:
pelo menos 250 jornais foram fundados nos últimos
As monarquias e os governos da época impunham seis meses do ano de 1789 na França. O ambiente
uma forte censura aos escritos filosóficos (esta era político tumultuado do fim do século XVIII e da
menor na Inglaterra porque, após o período maior parte do século XIX (marcado por guerras,
revolucionário de 1640 a 1688, criou-se um ambiente revoluções e movimentos populares de todo tipo) não
de maior tolerância e ampliação dos debates acerca somente estimulou os jornais a tratar os
dos assuntos de governo em função da criação do acontecimentos políticos, mas também uma cultura
Parlamento), uma vez que estes eram considerados de panfletos de associações e movimentos sociais dos
subversivos, ou seja, afetavam a ordem estabelecida mais diversos: operários, sufragistas (defensores da
por promoverem a agitação e o descontentamento. ampliação do direito de voto) etc.
Esse fator fez com que a discussão sobre esses Todos esses fatores foram fundamentais para
escritos e ideias permanecesse fora dos ambientes emergência do que chamamos de esfera pública.
formais, tornando extremamente importante a cultura Apesar de seu desenvolvimento ter sido iniciado em
oral dos cafés, clubes, associações e salões (encontros ambientes informais (cafés, salões, clubes e
organizados por senhoras aristocráticas para associações) em função da censura dos governos
promover debates com intelectuais). Além disso, a monárquicos da época, o período de revoluções
censura estimulava uma circulação extremamente (Revolução Inglesa, Revolução Americana,
importante de correspondência privada entre Revolução Francesa e as Revoluções de 1830 e 1848)
intelectuais de diferentes nações da Europa, o que foi foi transformando a realidade política mais
um poderoso fator de circulação das ideias políticas centralizada, fechada e aristocrática em formas
da época. políticas, republicanas e democráticas mais abertas.
Assim, houve a ampliação da esfera de debates,
opinião e discussão sobre os assuntos políticos,
OS PRIMEIROS JORNAIS sociais e culturais, formando, portanto, as bases da
esfera pública moderna.
Muitos dos primeiros jornais, mais parecidos com o
que chamamos por esse nome atualmente, surgiram Os debates que eram reservados apenas às discussões
no século XVIII e eram derivados dessa efervescente orais em ambientes informais ampliaram sua
cultura dos cafés, salões e clubes surgida em meados circulação por meio de jornais, revistas e periódicos
do século XVII. A princípio, não eram grandes de todos os tipos, podendo ser acessados por um
veículos de discussões políticas diretas, tratavam de grande público e discutidos nos mais diversos
manifestações artísticas (peças de teatro, literatura), espaços sociais. Essa esfera, abstrata por ser
publicavam contos, retratavam acontecimentos da discursiva (independente do meio pela qual se
vida cotidiana europeia, curiosidades etc. propaga) e se situando no espaço onde discussões e
debates ocorrem (formais ou informais), é o que
chamamos de esfera pública – sendo que a sua
O conteúdo dessas manifestações pode parecer um formação teve uma imensa influência e importância
tanto trivial, contudo, seus editores demandavam de para o desenvolvimento das democracias como as
seus leitores uma ampla participação: pedindo que conhecemos atualmente.
cartas com opiniões sobre todos esses assuntos
fossem enviadas, sendo a maioria publicada. Isso
estimulava uma cultura de troca de opiniões, um No século XIX, a esfera pública se opõe à esfera
ambiente cultural de debate diversificado e fazia com íntima, espaço da intimidade e da privacidade, ou
que os jornais tivessem uma função de fóruns de seja, a dimensão das relações íntimas, da família, dos
discussão. sentimentos pessoais. Por muitas décadas tratava-se
de duas esferas distintas e rigidamente separadas.
Atualmente, poderíamos dizer que as fronteiras entre como em um fórum para o debate público. Esse
elas se tornaram muito mais difusas. Além disso, com período inicial de desenvolvimento da esfera pública
a multiplicação de novas mídias para além do texto é chamado por Habermas de esfera pública
impresso em função da multiplicação de novas burguesa.
tecnologias comunicacionais no século XX (primeiro
o rádio, depois a televisão, e no final do século XX a
internet), pode-se dizer que emergiram novas arenas Entretanto, em sua perspectiva, essa promessa inicial
constituintes da esfera pública. de desenvolvimento da esfera pública não se
cumpriu: a emergência da mídia comercial, com uma
linguagem de massa e baseada no entretenimento,
teria feito a esfera pública definhar gradualmente.
Figura
20. Jürgen Habermas em 2007
Figu Comentário
ra 21. Richard Sennett em 2010
Parabéns! A alternativa "C" está correta.
Isso se daria em função do fenômeno midiático da
excessiva publicidade ao redor das grandes
personalidades, o que afetaria a vida pública no
sentido de as características pessoais e sentimentais
dos homens públicos (sua vida privada, honestidade e
sinceridade) terem ganhado mais importância do que Como crítico da modernidade, Habermas afirma que
características fundamentais em outros períodos, o mundo é construído a partir dos discursos. O
como o comprometimento público, a dedicação aos conceito de discurso de Habermas é considerado um
assuntos políticos etc. prenúncio da pós-modernidade, que de alguma forma
desconstrói as verdades do mundo burguês. Para tal,
ele recupera a história da formação da burguesia e sua
Resumindo mudança de perspectiva social, que tem com pedra
Vamos recuperar o nosso debate: fundamental a criação da esfera pública.
Comentário
Parabéns! A alternativa "C" está correta. que um sistema seja considerado democrático sob as
condições delimitadas, todos os cidadãos devem ter
oportunidades plenas de:
Assim, lideranças militares podem também, se não NOVAS MÍDIAS, NOVOS ATORES: A ESFERA
são devidamente doutrinadas pelo profissionalismo
militar na crença e no dever de proteger o governo ao PÚBLICA CONTEMPORÂNEA
qual devem se submeter, ameaçar a estabilidade de
uma poliarquia plena. Cientistas sociais sérios não costumam fazer muitas
previsões quando se defrontam com fenômenos
novos ou se encontram em meio a processos em
curso: é sabido que é mais fácil compreender
rigidamente processos que se estabilizaram ou ciclos
de mudança que já terminaram.
Comentário Comentário
Parabéns! A alternativa "B" está correta. Parabéns! A alternativa "D" está correta.
O debate atual sobre a tecnologia e os sistemas Ainda que o conceito de poliarquia pareça abstrato,
políticos passa pela necessidade de entender que ele aumenta a responsabilidade ampla social, tirando
vivemos um momento de reinvenções de práticas, os focos de determinação do Estado. Nessas
sem que saibamos claramente para onde estamos respostas, nós percebemos a mudança da dinâmica
indo. No entanto, é certo que os modelos tradicionais das relações de poder relativizando a ação do Estado.
perderam seu sentido. Então, a resposta certa passa Quando grupos que têm o monopólio da força passam
pela desestruturação de modelos tradicionais. Esse a estar subordinados a um poder eleito pelo coletivo,
novo padrão, que emerge quando as velhas formas há um alívio desse poder, mas só isso não basta. Para
perderam o sentido, gera uma ambivalência por a poliarquia ser eficiente, ela precisa de uma ação
permitir a luta de grupos que viviam sob controle de educacional, plural, marcada pelo compromisso
forças e que veem eco para se unirem e lutarem e a público. A formação do militar ao defender a
ascensão de forças e práticas de negação do outro, democracia e não a sua própria força ou território.
pregando inclusive sua destruição, e da mesma forma
encontrando ecos e parcerias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS