Você está na página 1de 11

Capítulo 9

"'--
Variedades I:
democracia em escalas diferentes

Existem diferentes variedades de democracia? Se existem,


quais são elas? As palavras democracia e democrático são espa-
lhadas por aí sem qualquer discriminação, e, com isso, é tentador
adotar as idéias de Humpty Dumpty, em Alice através do espelho:

- Quando uso uma palavra, ela quer dizer exatamente o que


eu quiser - disse Humpty Dumpty em tom bastante zombeteiro.
- Nada mais, nada menos.
- O caso é saber se você pode mesmo fazer as palavras significa-
rem tantas coisas diferentes ... - disse Alice.
- O caso é saber quem é que manda - disse Hümpty Dumpty.
- Só isso!

Em todo caso, as palavras importam, sim ...

Se aceitarmos o ponto de vista de Alice: qualquer UI1i',>pode


chamar de democracia qualquer governo - até mesmo um g<?verno
despótico. Isso acontece com freqüência maior do que você imagi-
naria. Líderes autoritários, às vezes, dizem que seu regime é um
tipo "especial" de democracia, superior aos outros. Por exemplo,
Vladimir Ilitch Lenin afirmou:

Alice 110 país das maravilhas, obra clássica de Lewis Carral. (N, do E.)
Sobre a democracia 117
116 Robert A. Dahl

A democracia do proletário é um milhão de vezes mais demo- dários, métodos de votação e afins? Examinaremos algumas
crática do que qualquer democracia burguesa; o governo sovié- dessas variações nos próximos dois capítulos.
tico é um milhão de vezes mais democrático do que a mais • O fato de serem necessárias as instituições da democracia poliár-
democrática república burguesa. I quica não implica que sejam suficientes para a democracia.
Sim, um sistema político dotado dessas instituições correspon-
Uma visão do homem que foi o arquiteto mais importante na cons- derá de modo mais ou menos satisfatório aos critérios demo-
trução dos alicerces do regime totalitário que regeu a União Sovié- cráticos descritos no Capítulo 4. Não será possível que outras
tica por mais de sessenta anos. instituições, além dessas, permitam que um país atinja um ou
Ficções como essa também foram inventadas por líderes e mais desses critérios mais plenamente?
propagandistas de "democracias do povo" altamente autoritárias
criadas na Europa Central e do Leste, em países que caíram sob
domínio soviético durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Democracia: grega x moderna
No entanto, por que deveríamos aceitar covardemente as de-
clarações dos déspotas de que são democratas? Uma serpente ve- Se as instituições políticas requeridas para a democracia têm
nenosa não se torna uma pomba porque seu dono diz que é. Não de incluir representantes eleitos, o que diremos dos gregos, os pri-
importa o que afirmem líderes e propagandistas, um país será uma meiros a aplicar a palavra democracia ao governo de suas cidades-
democracia apenas se possuir todas as instituições políticas neces- estado? Se - como Lenin, Mussolini e outros antidemocratas do
sárias à democracia. século XX - concluíssemos que os gregos utilizaram mal essa pa-
Isso significaria que os critérios democráticos só poderão ser lavra, não estaríamos levando a nossa perspectiva do presente um
correspondidos por meio de todo o conjunto de instituições políti- tanto longe, ao ponto de um absurdo anacrônico? Afinal de contas,
cas da democracia poliárquica no último capítulo? Não necessa- foram os gregos que inventaram e usaram a palavra democracia.
riamente. Negar que Atenas fosse uma democracia seria como afirmar que os
irmãos Wright não inventaram o avião porque a máquina deles se
• As instituições da democracia poliárquica são necessárias para parecia pouquíssimo com os nossos aviões de hoje.
a democratização do governo do estado num sistema em gran- Com o devido respeito ao uso do passado, talvez possamos
de escala, especificamente um país. Contudo, elas poderiam ser aprender algo sobre a democracia das pessoas que não apenas nos
desnecessárias ou completamente inadequadas para a dernocra- deram a palavra, mas também nos proporcionaram exemplos con-
cia em unidades em escala menor (ou maior?) ou em menores cretos de seu significado. Quando examinamos Atenas, o melhor
associações independentes do estado, que ajudam a constituir a exemplo conhecido da democracia grega, logo observamos duas
sociedade civil. (Falarei mais sobre isso daqui a pouco.) importantes diferenças em relação à versão atual. Por razões que já
• No capítulo anterior, as instituições da democracia poliárquica exploramos, hoje a maioria dos democratas insistiria que um siste-
foram descritas em linhas gerais; mas os países democráticos ma democrático aceitável deve satisfazer a um critério democrático
não podem variar muitíssimo e em aspectos bastante impor- inaceitável para os gregos: a inclusão. Também acrescentamos uma
tantes de suas instituições políticas - tais como sistemas parti- instituição política que os gregos não apenas consideravam desne-
cessária para suas democracias, mas perfeitamente indesejável: a
Lenin, The Proletarian Revolution aud the Renegade Kautsky (novembro de eleição de representantes com autoridade para legislar. Poderíamos
1918), citado em Jens A. Christophersen, Tlte Meauing or "Democracy' as dizer que o sistema político inventado pelos gregos era uma demo-
Used Í1/ European Ideologiesfrotn lhe Frencli to lhe Russian Revolution, Oslo, cracia primária, uma democracia de assembléia ou uma democracia
Universitetsvorlaget, 1966, p. 260.
118
Robert A. Dahl
Sobre a democracia 119

de câmara de vereadores. Decididamente, eles não criaram a dI'


mocracia representativa como hoje a entendemos.2 sentação tinham um argumento ainda mais essencial. Numa pequena
unidade política, como uma cidadezinha, a democracia de assem-
hléia proporciona aos cidadãos boas oportunidades de se envolverem
Democracia de assem bJéia x democracia representativa 110 processo de governar a si mesmos que um governo representativo

numa grande unidade simplesmente não conseguiria proporcionar.


Acostumados como estarnos a aceitar a legitimidade da demo Leve em conta um dos critérios ideais para a democracia des-
cracia representativa, talvez tenhamos alguma dificuldade para en critos no Capítulo 4: oportunidades para realmente participar nas
tender por que os gregos se sentiam tão apegados à democracia de decisões. Numa pequena unidade governada por seus cidadãos reu-
assembléia. Não obstante, até bem pouco tempo, a maioria dos ou nidos em uma assembléia popular, os participantes podem discutir e
tros defensores da democracia pensava como eles até 1762, quando debater as questões consideradas importantes; depois de ouvir os
foi publicado O contrato social, de Jean-Jacques Rousseau. Talve prós e os contras, podem tomar suas decisões, votar diretamente
até depois de Rousseau, os antifederalistas nos Estados Unidos, sobre os assuntos em pauta à sua frente e assim não terão de dele-
que se opunham à nova Constituição norte-americana porque acre- gar uma série de decisões cruciais a representantes que poderiam
ditavam que, sob um governo federal, seriam incapazes de se go- muito bem ser influenciados por seus próprios fins e interesses em
vernar. Até hoje, os cidadãos de cantões na Suíça e de cidadezinhas lugar dos que teriam seus constituintes.
do estado de Vermont, nos Estados Unidos, preservam ciumenta- Dadas essas claras vantagens, por que a antiga compreensão
mente suas assembléias populares. Os estudantes norte-americanos da democracia foi alterada para abrigar uma instituição política
nos anos 1960 e 1970 exigiam furiosamente que a "democracia não-democrática em sua origem?
participativa" substituísse os sistemas representativos _ e muitos
outros, que em nossos dias continuam a enfatizar as virtudes do
governo democrático por meio de assembléias de cidadãos. A representação já existia
Os defensores da democracia de assembléia que conhecem sua
história estão conscientes de que a representação, como artifício Como sempre, a história nos responde em parte. Nos países
democrático, tem um passado sombrio. Como vimos no Capítulo 2, em que já existia o costume de eleger representantes, os reforma-
o governo representativo não se originou como prática democráti- dores democráticos viram uma deslumbrante oportunidade. Não
ca, mas como artifício pelo qual os governantes não-democráticos viam nenhuma necessidade de rejeitar o sistema representativo,
(principalmente, os monarcas) poderiam enfiar as mãos em valio- apesar de sua duvidosa origem e do sufrágio restrito e exclusivo
sos rendimentos e outros recursos que desejavam, especialmente em que estava baseado. Eles acreditavam que, ampliando a base
para fazer as guerras. Em sua origem, a representação não era de- eleitoral, a legislatura ou o Parlamento poderiam ser transformados
mocrática: era uma instituição não-democrática, mais tarde enxer- em um corpo mais verdadeiramente representativo que atenderia
tada na teoria e na prática democrática. aos objetivos democráticos. Alguns viam na representação uma
alteração profunda e deslumbrante nas perspectivas para a demo-
Além de sua muito bem fundamentada suspeita dessa institui-
ção desprovida de credenciais democráticas, os críticos da repre- cracia. Um pensador francês do século XVIlJ, Destutt de Tracy,
cujas críticas a Montesquieu, seu predecessor, influenciaram imen-
2
onforrne já mencionei no Capítulo 2, os gregos não consideravam "democráti-
samente a Thomas Jefferson, observou triunfante:
cos" os rudimentares governos representativos formados por algumas cidades
objetivando a defesa comum que, de qualquer maneira, era relevante para o A representação ou governo representativo pode ser considerada
desenvolvimento de governos representativos posteriores. uma invenção inovadora, desconhecida na época de Montesquieu
121
Sobre a democracia
120 Robert A. Dahl

com freqüência para exercitar sua soberania numa assembléia. Os


... A democracia representativa ... é a democracia viável por
muito tempo e sobre um território de grande extensão.' cidadãos de seu país são por demais numerosoS para se reunirem
numa assembléia e, além disso, estão espalhados por um território
Em 1820, James Stuart Mill descreveu o "sistema de repre- grande demais para todos se reunirem sem tremendas dificuldades.
sentação" como "a grandiosa descoberta dos tempos modernos"." O que você deveria fazer?
Invenção inovadora, grandiosa descoberta: essas palavras nos ajudam Talvez hoje e cada vez mais no futuro seja possível resolver o
a apreender um pouco da emoção que sentiram os reforrnadores problema territorial com o emprego dos meios de comunicação
democráticos ao desvendar o pensamento democrático tradicional e eletrônicos; assim, os cidadãos disseminados por uma área muito
perceberam que seria possível criar uma nova espécie de democra- grande se "encontrarão" para discutir variadas questões e para vo-
cia, enxertando a prática medieval da representação na árvore da tar. Contudo, uma coisa é possibilitar "reuniões" eletrônicas e outra
democracia antiga. muito diferente é resolver o problema apresentado por números
Eles estavam certos. Em essência, o processo de ampliação le- imensos de cidadãos. Além de certo limite, a tentativa de fazer com
vou a um governo representativo baseado em um demos inclusivo, que todos se reúnam e se envolvam em discussão frutífera, mesmo
ajudando a atingir a concepção moderna da democracia. por meios eletrônicos, torna-se um disparate.
Dadas as vantagens relativas da representação, por que os re- Que tamanho é grande demais para uma democracia de assem-
formadores democráticos não a rejeitaram completamente e opta- bléia? Que tamanho é pequeno demais? Segundo estimativas recentes
ram pela democracia direta sob a forma, por exemplo, de uma de estudiosos, nas cidades-estado gregas, o corpo de cidadãos adultos
assembléia do povo no estilo dos gregos? Esta possibilidade tem do sexo masculino tipicamente chegava a um número que variava
alguns defensores, mas em geral os defensores da democracia, de dois mil a dez mil - este seria mais ou menos o número correto
como os formadores da Constituição dos Estados Unidos, concluí- para uma boa polis (ou uma cidade-estado autogovernada) na visão
ram que a unidade política que desejavam democratizar era grande de alguns teóricos políticos gregos. Não obstante. em Atenas o
demais para uma democracia de assembléia. corpo dos cidadãos era bem maior do que isto, possivelmente em
torno de sessenta mil no período áureo da democracia ateniense,
em 450 a.c. "Atenas simplesmente tinha um número exagerado de
Mais uma vez: tamanho e democracia cidadãos para a polis funcionar devidamente", escreveu um es-
tudioso. Um século mais tarde, como resultado de emigração, de
O tamanho tem importância. O número de pessoas numa uni- mortes pelas guerras e doenças e de maiores restrições à cidadania,
dade política e a extensão de seu território têm conseqüências para este número talvez tenha sido reduzido à metade, o que ainda era
a forma da democracia. Imagine, por um momento, que você é um demais para reunir em sua assembléia mais do que 5
uma pequena
reformado r democrático num país com um governo não-democrático fração dos homens dotados de cidadania ateniense.
que quer democratizar. Você não quer que o seu país se dilua em Um pouquinho de aritmética revelará daqui a pouco as inexo-
dezenas ou até centenas de miniestados, mesmo que cada um ráveis conseqüências do tempo e dos números. Imagine que iniciemos
deles fosse pequeno o bastante para que seus cidadãos se reúnam
5 A citação e as estimativas dos números de cidadãos atenienses são de Morgens

Destutt de Tracy, A Commentary and Review 01 Montesquieus Spirit of Laws,


Herman Hansen, The Alhenian Democrocv in lhe Age ar
Demoslilel1es: Sll"lIcl1fre.
PrincipIes, and Idealogy, traduzido para o inglês por J. A. Crook. Oxford.
Filadélfia, William Duane, 1811, p. 19, citado em Adrienne Koch, The Philosophy
Blackwell, 1991, p. 53-54. As estimativas para outras cidades são de John V.
of Thomas Jefferson, Chicago, 1964, p. 152, 157.
Fine, The Ancient Greeks: A Crilical H;sIOIJI, Cambridge, Belknap Press of
itado em George H. Sabine, A History 01 I'olitical Theory, 3. ed., Nova York,
Ilolt, Rinehart and Winston, 1961, p. 695. Harvard University Press, 1983.
122
Robert A. Dahl
Sobre a democracia 123

com uma unidade minúscula, um comitê de apenas dez PCS.'.II,I


por exemplo. Acreditamos que seria razoável permitir a cada me'll/II respeito das assembléias populares. O característico é que poucas
pelo menos dez minutos para discutir a questão em pauta. Assim, 1" .ssoas falem na maior parte do tempo. Os outros se contêm por
cisaremos ele mais ou menos uma hora e quarenta minutos pall' lguma razão: porque o que teriam a dizer já foi devidamente ex-
nossa reunião, O que certamente não é nenhum tempo exorbillllll osto por alguém, porque já tomaram sua decisão, porque têm
para a reunião dos membros desse comitê. Contudo, imagine qlll I medo de falar em público, sentem-se mal, não têm nenhum interesse
assunto é muito complicado, exigindo cerca de meia hora de CIII/'I Iflo urgente no assunto discutido, não conhecem muito bem a questão
membro do comitê. Será preciso planejar uma reunião de cil/' I assim por diante ... Portanto, enquanto alguns discutem, o resto
llOras ou, talvez, duas reuniões - uma quantidade de tempo ai"e/"
aceitável. escuta (ou não), e quando chega na hora de votar, vota (ou não).
Além do mais, podem ocorrer muitas discussões e investiga-
Um comitê bastante grande ainda seria uma pequena assei"
ções por outros cantos. Muitas das horas necessárias na Tabela 1
bléía ele cidadãos. Imagine agora, por exemplo, uma aleleia de tlu
zentas pessoas, das quais cem adultos, todos os quais assistem II podem ser na verdade usadas na discussão de questões públicas em
reuniões das assembléias. Cada um deles tem o direito ele falar P<lI inúmeros cenários informais. Assim, não devemos ler a Tabela 1
de maneira muito simplória. Apesar de todas as restrições razoá-
TABELA 1. O 0110preço da dell/ocracia parlicipaliva veis, a democracia de assembléia tem alguns problemas sérios:
Número
de pessoas Total do lel11po exigido se cada pesssoa tem • As oportunidades para a participação rapidamente diminuem
10l11inUlos 30 minulos com o tamanho do corpo dos cidadãos.
minulos
10 horas dias de R horas llIinulos horas dias de 8 horas
20
100
2 300 5
• Embora muito mais gente possa participar escutando os que
200
50 falam, o número máximo de participantes numa única reunião
500 3 600 10 ,
500 8 I 1.500 25 3
1.000
5.000 com probabilidade de se expressar pela oratória é muito peque-
10.000 83 10 15.000 250 31
5.000
50.000 167 2' 30.000 500 63 no - bem menos do que uma centena.
10.000 100.000 833 104 150.000 2.500 3 13 • Esses membros com plena participação se tornam os represen-
1.667 208 300.000 5.000 625
tantes dos outros, exceto no voto. (Esta exceção é importante;
dez minutos. Esse modesto total exigiria dois dias de oito horas de voltarei a ela daqui a pouco.)
reunião - o que não é impossível, mas com toda a certeza não é • Assim, mesmo numa unidade governada pela democracia ele
nada fácil de conseguir! Por enquanto, mantenhamos o nosso pres- assembléia, é provável existir uma espécie de sistema defacto,
suposto de apenas dez minutos para a participação de cada cidadão. • Nada garante que os membros dotados do direito de plena par-
Conforme aumentam os números, mais absurda se torna a situação. ticipação sejam representativos do resto.
Numa "polts ideal" de dez mil cidadãos com plenos direitos, o • Para proporcionar um sistema satisfatório para selecionar re-
tempo requerido ultrapassa em muito quaisquer limites toleráveis. presentantes, é razoável que os cidadãos prefiram eleger seus
Os dez minutos concedidos a cada cidadão exigiriam mais de du- representantes em eleições livres e justas.
entos dias de oito horas de trabalho! A concessiío de meia hora a
cada um exigiria quase dois anos de reuniões COllS/<lntes
(Tabela I)!
Naturalmente, pressupor que todos os cidadiíos queiram falar é
absurdo, como sabe qualquer um que tenha um vago conhecimento
125
124 Robert A. Dahl Sobre a democracia

Os limites democráticos do governo representativo A lei do tempo e dos números: quanto mais cidadãos uma uni-
dade democrática contém. menos esses cidadãos podem participar
Aparentemente, a vantagem está com a representação. Será? diretamente das decisões do govemo e mais eles têm de delegar a
A ironia dessa combinação de tempo. e números é ser uma faca de outros essa autoridade.
dois gumes: ela revela num instante um enorme defeito. dernocráti-
co na governo representativa. Voltando à Tabela 1 e aos nossos
exercícios de aritmética: imagine que agara calculamos a tempo Um dilema básico da democracia
necessária para cada cidadão. ter um rapidíssimo encontro cam seu
Há um dilema fundamental da democracia espreitando nos
representante. A Tabela 1 proporciona um argumenta devastador
bastidores deste cenário. Se nosso objetivo é estabelecer um sistema
contra as possibilidades de participação. na governo representativo.
de governo democrático que proporcione o máximo de oportunidades
Imaginemos que um representante eleito separe dez minutos de seu
para os cidadãos participarem das decisões políticas, evidentemente a
tempo para discutir com cada cidadão adulto as questões de seu
democracia de assembléia num sistema político de pequena escala
distrito. Não levaremos em conta o tempo de viagem e outros pro-
está com a vantagem. Contudo, se nossa meta é estabelecer um
blemas pragmáticas. Façamos de canta que na distrito vivem dez
sistema democrático de governo que proporcione o maior terreno
mil cidadãos adultos - a maior número mostrado na Tabela 1. Quod
possível para tratar eficazmente dos problemas de maior importân-
era! detnonstrandum (cama queríamo.s demonstrar): o represen-
cia para os cidadãos, então, em geral, a vantagem estará numa uni-
tante teria de passar mais da metade dos dias da ano só para se
dade de tal tamanho que será precisa um sistema representativo.
encontrar com seus constituintes! Nos Estados Unidos, os repre-
Este é o dilema da participação da cidadão versus a eficácia do
sentantes do Congresso são eleitos em distritos que em média con-
têm mais de 400 mil cidadãos adultos! Um membro do Parlamento sistema:
norte-americano que desejasse dedicar apenas dez minutos para Quanto menor a unidade democrática, maior seu potencial para
cada cidadão em seu distrito não teria tempo para mais nada em a participação do cidadão e menor a necessidade de que os ci-
sua vida ... Se o deputado (ou deputada) quisesse passar oito horas dadãos deleguem as decisões do governo a representantes.
por dia nessa tarefa, todos os dias do ano, precisaria de mais de Quanto maior a unidade, maior sua capacidade para tratar de
vinte anos ou dez mandatos de dois anos - mais tempo do que a problemas importantes para seus cidadãos e maior a necessida-
maioria dos representantes costuma permanecer na Congresso! de dos cidadãos delegarem as decisões a representantes.
Democracia de assembléia ou democracia representativa?
Democracia em pequena escala ou democracia em grande escala? Não vejo como podemos fugir desse dilema. Em todo caso,
Qual a melhor? Qual a mais democrática? Cada uma delas tem ainda que não possamos fugir dele, podemos enfrentá-Ia.
seus defensores apaixonados. Exatamente como acabamos de ver,
há um bom argumento para as vantagens de cada uma delas. Con-
tudo, nossos exercícios aritméticos bastante artificiais e até absur- o negócio às vezes é ser pequeno
dos revelaram os limites insuperáveis da participação cívica -
Como acontece com todas as outras atividades dos seres hu-
limites esses que se aplicam aos dois tipos com uma indiferença
manos, os sistemas políticos não realizam necessariamente suas
cruel. Nenhum dos dois pode fugir dos limites inexoráveis impos-
possibilidades. O título de um livra apreende a essência desse tipo.
tos pela interação do tempo exigido para um ato de participação e
do número de cidadãos autorizados a participar.
126 Robert A. Dahl Sobre a democracia 127

de perspectiva: O negócio é ser pequeno" Indiscutivelmente, em Aparentemente, as assembléias populares não são exatamente
teoria é possível que sistemas políticos muito pequenos obtenham modelos da democracia participativa - mas esta não é toda a histó-
um elevado índice de participação do cidadão a que os sistemas ria. Quando sabem que as questões a tratar são comuns ou indiscu-
grandes jamais podem corresponder. No entanto, muitas vezes. tal- tíveis, os cidadãos preferem ficar em casa - e por que não? No
vez em geral, eles não conseguem realizar seu potencial. entanto, as questões polêmicas os levam à rua. Minha cidadezinha
As assembléias populares em algumas cidades menores da em Connecticut abandonou em grande parte sua tradicional assem-
Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, são um bom exemplo dos bléia popular, mas ainda me lembro de questões em que os cida-
limites e das possibilidades. Embora a maioria das assembléias po- dãos se dividiam seriamente e apareciam em tal número que
pulares tradicionais da Nova Inglaterra tenha sido substituída 110 apinhavam o auditório da high-school; para os que não haviam
todo ou em parte por um corpo legislativo de representantes elei- conseguido entrar na primeira, era preciso marcar uma segunda
tos, elas ainda estão vivas e muito bem em Vermont, um estado reunião, que se mostrava igualmente apinhada. Como ainda hoje
principalmente rural. acontece em Vennont, as discussões nas assembléias populares não
Um observador solidário e participante que estudou as assem- são dominadas pelas pessoas instruídas e ricas. As fortes convic-
bléias populares em Vermont descobriu que entre 1970 e 1994 fo- ções e a determinação para tomar a palavra absolutamente não são
ram realizadas 1.215 dessas reuniões em 210 cidadezinhas do tipo monopolizadas por um único grupo socioeconômico.
de Vermont com menos de 4.500 moradores. Dos livros de registro Com todas as suas limitações, a democracia de assembléia tem
de 1.129 dessas assembléias, ele chegou à seguinte conclusão: muito a seu favor.

... 0 número médio de pessoas que assistia a essas reuniões


quando a contagem era mais alta era de 139. Destas pessoas. em Às vezes o negócio é ser grande
média, 45 participaram pelo menos uma vez ... Em média. 19%..
dos votantes elegíveis de uma dessas cidadezinhas estarão pre- Como já vimos 110 Capítulo 2, os gregos não fugiam ao dile-
sentes numa assembléia popular e 7% dos votantes elegíveis de ma. Eles sabiam perfeitamente que o calcanhar de Aquiles do esta-
uma cidadezinha (37% dos assistentes) tomarão a palavra pelo
do pequeno é sua fragilidade diante de um grande estado. Por mais
menos uma vez ... A grande maioria das pessoas que tomam a
palavra o faz mais de uma vez ... Em méelia, 'uma reunião dura
criativos e corajosos que fossem na preservação de sua independên-
aproximadamente quatro horas '" ele tempo para deliberações. cia, os atenienses não conseguiram evitar a derrota pela superiorida-
É o tempo suficiente para dar a cada um elos presentes dois mi- de das forças de Filipe da Macedônia, em 322 a.c., nem os séculos
nutos e 14 segundos para falar. Naturalmente, como bem menos de dominação estrangeira que seguiram. Quando o estado nacional
das pessoas que assistem tomam a palavra, em média o tempo centralizado começou a emergir, as restantes cidades-estado estavam
de caela falante é de quase exatamente cinco minutos ... Ao condenadas. A última grande cidade-estado república, Veneza, caiu
contrário, como há cerca de quatro vezes mais participantes do sem resistência para as forças de Napoleão Bonaparte em 1797; dali
que participações, em média uma assembléia popular dá apenas em diante, jamais retomou sua independência.
um minuto e vinte segundos para cada participação." Nos últimos séculos, especialmente no século XX, as limitadas
capacidades de unidades pequenas o bastante para se autogovernarem
numa democracia de assembléia apareceram muitas e muitas vezes
r, E. F. Schumacher, Small is Beoutiful: A SI/I(~V 01 EC0110/llics as lf People não apenas em questões militares, mas tratando de outras questões,
Mattered, Londres, B10ng and Briggs, 1.973. como economia, tráfego, transportes, comunicações, movimentos das
Frank M. Bryan, "Direct Dernocracy and Civic Cornpetence", Good Society 5. pessoas e dos bens, da saúde, do planejamento familiar, da agricultura,
1 (outono de 1995), p. 36-44.
129
Sobre a democracia
128 Robert A. Dahl

IIllIto amplos, a participação e o controle popular nem sempre são


do crime, da educação, dos assuntos civis, políticos, dos direitos 1111
I~mosos, e as elites políticas e burocráticas possuem enorme dis-
manos e uma série de outros interesses importantes. rr uimento. Apesar dos limites para o controle popular, as elites
Na ausência de um cataclisma universal que reduzisse drástni
p"líticas nos países democráticos não são déspotas sem controle.
e permanentemente a população do mundo e eliminasse a tecuulu
í unge disso. As eleições periódicas obrigam-nos a manter um olho
gia avançada, é impossível prever um mundo em que desaparcu
11I1 opinião. do povo. Além do mais, quando chegam a decisões, as
ram todas as grandes unidades políticas, inteiramente substitunlu
lites políticas e burocráticas são influenciadas e refreadas umas
por unidades políticas completamente independentes, com populu
1'l'Ias outras. A negociação das elites tem seus próprios pesos e
ções tão pequenas (digamos, no máximo, com menos de cinqücntu
ll\ntrapesos. Os representantes eleitos participam da negociação até
mil pessoas) que seus cidadãos pudessem se governar e preferiria",
11 ponto em que" são um canal através do qual os desejos, os obje-
se governar exclusivamente por um sistema de democracia d,
IIVOSe os valores populares entram nas decisões governamentais.
assembléia. Para piorar tudo, um mundo de unidades pequenas,
I\s elites políticas e burocráticas nos países democráticos são pode-
completamente independentes com toda a certeza seria instável,
rosas, bem mais poderosas do que podem ser os cidadãos comuns -
pois seria preciso que umas poucas unidades se juntassem e SI'
empenhassem em agressão militar, tomando uma unidade pequellil mas elas não são déspotas.
depois da outra, para estar criado um sistema grande demais para II
governo de assembléia. Para democratizar essa nova unidade Organizações internacionais podem ser democráticas?
maior, os reformadores (ou revolucionários) democráticos teriam
de reinventar a democracia representativa. Até aqui nos preocupamos com as possibilidades da democra-
cia em unidades de escala menor do que um país ou nação-estado.
E quanto às unidades de maior escala ou pelo menos uma escala
o lado sombrio: a negociação entre as elites
muito diferente - as organizações internacionais?
No final do século XX, os países democráticos passaram a sentir
Com todas as suas vantagens, o governo representativo tem
cada vez mais as conseqüências da internacionalização - econômica,
um lado sombrio. A maioria dos cidadãos que vivem em países
cultural, social, política, burocrática, militar. O que reserva o futuro
democráticos tem consciência dele, em geral o aceitam como parte para a democracia? Ainda que os governos de países democráticos
do preço a pagar pela representação.
independentes entreguem grande parte de seu poder a algum tipo de
O lado sombrio é o seguinte: sob um governo representativo,
governo internacional, o processo democrático não passará simples-
muitas vezes os cidadãos delegam imensa autoridade arbitrária mente a um nível internacional? Se é assim, conforme são democrati-
para decisões de importância extraordinária. Não delegam autori- zados os emergentes governos internacionais, os valores democráticos
dade apenas a seus representantes eleitos, mas, num trajeto ainda
não enfraquecerão e talvez até se aperfeiçoem.
mais indireto e tortuoso, a autoridade é delegada a administradores, podemos tomar uma analogia da história. Como vimos no
burocratas, funcionários públicos, juízes e, em grau ainda maior, a
Capítulo 2, o locus original da idéia e da prática da democracia foi
organizações internacionais. Há um processo ligado a instituições
a cidade-estado. No entanto, as cidades-estado não poderiam se
da democracia poliárquica que ajuda os cidadãos a exercer influên-
opor à força crescente dos estados nacionais. Ou as cidades-estado
cia sobre a conduta e as decisões de seu governo: a negociação deixariam de existir com identidade própria ou, como aconteceu
entre as elites políticas e burocráticas. com Atenas e Veneza, tornam-se governos locais subordinados ao
A negociação da elite ocorre dentro dos limites impostos pelas governo do país. No século XXI, será que os governos nacionais
instituições e pelos processos democráticos. Em geral, são limites
130 Robert A. Dahl Sobre a democracia 131

não parecerão simplesmente governos locais subordinados a go- teriam de criar instituições políticas que proporcionassem partici-
vernos democráticos internacionais? pação, influência e controle político de eficácia mais ou menos
Afinal de contas, poderíamos dizer, a subordinação de gover- equivalente à existente em países democráticos. Para aproveitar
nos locais menores a um governo nacional não significou o fim da essas oportunidades, os cidadãos teriam de estar mais ou menos
democracia. Ao contrário, a democratização de governos nacionais interessados e informados sobre as decisões políticas das organiza-
não apenas estendeu imensamente os domínios da democracia, mas ções internacionais bem como sobre as decisões do governo de
abriu um importante espaço para os processos democráticos nas seus países. Para os cidadãos estarem informados, as elites da polí-
unidades subordinadas - vilas, cidades, cantões, estados, provín- tica e da comunicação teriam de discutir publicamente as alternati-
cias, regiões, e assim por diante. Assim, nessa visão, a dificuldade vas, de maneira que envolvesse a atenção e as emoções do público.
não está em deter a internacionalização em suas trilhas, o que é Para assegurar o debate público, seria preciso criar um equivalente
impossível. A dificuldade é democratizar as organizações interna- internacional à competição política nacional de partidos e pessoas
cionais. em busca do posto. Os representantes eleitos ou seus equivalentes
Para meu pesar, sou forçado a concluir que essa visão é exage- funcionais (sejam quais forem) teriam de exercer controle sobre
radamente otimista, por mais atraente que seja para qualquer um importantes burocracias internacionais mais ou menos tão bem quanto
que valorize a democracia. Mesmo nos países em que as institui- o fazem os legislativos e os executivos nos países democráticos.
ções e as práticas democráticas existem há muito tempo e estão A maneira como os representantes de um hipotético corpo de
consolidadas, é dificílimo que os cidadãos exerçam um controle cidadãos internacionais seriam distribuídos entre povos de países
eficaz sobre inúmeras questões essenciais nas relações exteriores. diferentes traz mais um problema. Dadas as imensas diferenças na
Esse controle é bem mais difícil em organizações internacionais. magnitude das populações de países diferentes, nenhum sistema de
A União Européia nos oferece um bom exemplo. Ali, estrutu- representação conseguiria dar igual peso ao voto de todos os cida-
ras nominalmente democráticas, como eleições populares e um dãos, evitando que os votos dos países grandes superassem com
parlamento, estão pro forma em seu devido lugar. Não obstante, vantagem os pequenos - assim, todas as soluções aceitáveis para as
virtualmente todos os observadores concordam que permanece um democracias menores negarão a igualdade política entre os mem-
gigantesco "déficit democrático". Decisões importantes são tomadas, bros do demos maior. Como acontece nos Estados Unidos e em
principalmente, por meio de negociações entre as elites políticas e outros sistemas federais, as soluções aceitáveis podem ser costura-
burocráticas. Os limites não são impostos por meio de processos das como uma colcha de retalhos, como a feita para a União Euro-
democráticos, mas, sobretudo, pela concordância obtida pelos ne- péia. Em todo caso, seja qual for a solução conciliatória alcançada,
gociadores, levando em conta as prováveis conseqüências para os ela facilmente poderia se tornar fonte de tensões internas, especial-
mercados nacionais e internacionais. A negociação, a hierarquia e mente na ausência de uma forte identidade comum.
os mercados determinam os resultados. Os processos democráticos A tensão é ainda mais provável porque a maioria das decisões nas
praticamente têm apenas o papel de ratificar esses resultados. democracias nacionais tende a ser considerada prejudicial para os inte-
Se as instituições democráticas são em geral ineficazes no go- resses de algumas pessoas, o mesmo podendo acontecer nas organiza-
verno da União Européia, as perspectivas para a democratização de ções internacionais - como eu já disse. O peso maior de algumas
outros sistemas internacionais parecem ainda mais remotas. Para decisões poderá recair sobre determinados grupos, países ou regiões.
obter um controle popular que esteja em algum ponto próximo ao Para sobreviver a essas tensões, uma cultura política apoiando especí-
controle já existente nos países democráticos, as organizações ficas instituições ajudaria - e talvez fosse necessária. Criar e desen-
internacionais teriam de resolver, da melhor maneira, diversos pro- volver uma cultura política toma tempo, talvez gerações. Além do
blemas que estejam sendo tratados nesses países. Os líderes políticos mais, se as decisões políticas forem amplamente aceitáveis e válidas
133
Sobre a democracia
132 Robert A. Dahl

suas unidades ou de associações independentes numa sociedade


entre os perdedores, provavelmente teria de surgir alguma identidade
civil pluralista. Os princípios democráticos sugerem algumas per-
comum equivalente à existente em países democráticos.
Parece-me altamente improvável que todas essas exigências guntas a fazer sobre o governo de qualquer associação:
essenciais para a democratização de organizações internacionais
• Ao chegar a decisões, o governo da associação garante igual
seiam satisfeitas. E, se as exigências não forem satisfeitas, por que
p.: nsso serão tomadas as decisões internacionais? Creio que por peso ao bem e ao interesse de todas as pessoas ligadas por es-
., ':e negociações entre as elites políticas e burocráticas: superin- sas decisões?
Alguns dos membros da associação estarão mais bem qualifi-
\cntltJ:tes de grandes companhias, ministros, diplomatas, burocratas •
dos governos e de organizações não-governamentais, líderes em- cados do que outros para governar, que pudessem receber auto-
pres.iriais e afins. Embora os processos democráticos de vez em ridade plena e definitiva no governo da associação? Se não,
quando .:onsigam determinar os limites exteriores dentro dos quais será que no governo da associação não deveríamos considerar
as elites realizam suas negociações, chamar de "democráticas" as os membros da associação como iguais políticos?
práticas políticas dos sistemas internacionais seria roubar todo o Se os membros têm igualdade política, o governo da associa-

significado da expressão. ção não corresponde aos critérios democráticos? Se correspon-
de, até que ponto a associação proporciona a seus membros as
oportunidades de participação eficaz, igualdade de voto, obten-
Uma sociedade pluralista vigorosa nos países democráticos ção de um entendimento esclarecido e exercendo controle final
sobre os planos?
É improvável que a democracia passe ao nível internacional,
mas é importante ter sempre em mente que todo país democrático Em quase todas (talvez todas) as organizações por toda parte,
precisa de unidades menores. Num país moderno, essas unidades há algum espaço para alguma democracia. Em quase todos os paí-
são variadíssimas. Até os menores países democráticos exigem go- ses democráticos há bastante espaço para mais democracia.
vernos municipais. Países maiores poderão ter outro tipo de unida-
des: distritos, condados, estados, províncias, regiões, e assim por
diante. Por menor que seja o país na escala mundial, ele precisará
de uma série de associações e organizações independentes - ou
seja, uma sociedade civil pluralista.
A melhor maneira de governar as menores associações de
estado e sociedade - sindicatos, empresas econômicas, grupos ele
interesses especializados, organizações educacionais, e assim por
diante - não admite uma resposta única. O governo democrático
pode não estar justificado em todas as associações; diferenças mar-
cadas na competência podem impor limites legítimos na extensão
a que devem ser satisfeitos os critérios democráticos. Mesmo onde
a democracia está comprovada, nenhuma forma será necessaria-
mente a melhor.
No entanto, nenhum aspecto não-democrático ele qualquer go-
verno deveria passar sem um questionamento - seja elo estado e

Você também pode gostar