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DO COMPORTAMENTO VERBAL
PERÍCIA PSICOLÓGICA
VIVIANE TELES
LORISMARIO SIMONASSI
Análise Funcional do Comportamento Verbal
nos Crimes de Estupro de Vulnerável:
Perícia Psicológica no Início da Persecução
Penal
1ª edição | ISBN 978-85-65721-25-7
Viviane Teles
www.walden4.com.br
2021
Editora do Instituto Walden4
A Editora do Instituto Walden4 tem como objetivo divulgar conhecimento produzido
sobre a Análise do Comportamento (ciência e profissão). No intuito de democratizar
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ISBN
ISBN : 978-85-65721-25-7
CBL
9 788565721257
Ficha catolográfica
Sobre os autores
Viviane Teles
Frente á demanda judiciária cada vez mais exigente e com base no fazer do psicólogo
em instituições, este trabalho apresenta instrumental e um modelo de estrutura
pericial psicológica, utilizado por um perito psicólogo em uma Delegacia
Especializada no Atendimento á Criança e Adolescente, neste caso a Delegacia de
Proteção á Criança e ao Adolescente - DPCA de Goiânia. A Psicóloga nesta Delegacia
Especializada tem a função de atuar como perito ad hoc, em perícia psicológica com
crianças, supostamente violentadas sexualmente, nos inquéritos policiais tipificados
no Artigo 213, parágrafo 1º e 217-A do Código Penal Brasileiro. Destacamos a palavra
supostamente, por ser o inquérito policial o investigador da ocorrência ou não
ocorrência de tal delito. A perícia psicológica faz parte do conjunto probatório na
investigação destes crimes junto á equipe policial gerenciada pela delegada (o) de
polícia, que busca autoria e materialidade. São crimes em que não há qualquer tipo de
comprovação do delito penal, a não ser os indícios psicológicos e os relatos verbais
dos envolvidos no evento. Este trabalho visa apresentar a sistematização metodoló
gico-científica, que originou o Projeto Contacto, que vai desde o recebimento da
solicitação de perícia psicológica, até a elaboração e entrega do laudo psicológico para
a polícia judiciária, neste caso a solicitante da perícia. O modelo do instrumental
psicológico tem sua fundamentação filosófico-conceitual no Behaviorismo Radical,
com área de intervenção e aplicação do conhecimento produzido pela Análise do
Comportamento, por meio da Análise Funcional do Comportamento Verbal, que
aporta: os instrumentos, a análise dos dados e a elaboração do laudo pericial.
Realizou-se o levantamento bibliográfico envolvendo as palavras chaves: violência
sexual contra crianças, perícia psicológica judicial e correspondência verbal. Com base
neste levantamento não foi encontrado nenhum trabalho que envolvesse a análise
funcional do comportamento verbal aplicada à perícia psicológica na fase pré
processual, em crianças supostamente vítima de violência sexual, que é a temática
desta tese.
Faced with the increasingly demanding judicial demand and based on the work of the
psychologist in institutions, this work presents instrumental and a model of psycho
logical expert structure, used by an expert psychologist in a Police Station Specialized
in Care for the Child and Adolescent, in this case the Police Station Protection of Chil
dren and Adolescents - DPCA de Goiânia. The Psychologist in this Specialized Police
Department has the function of acting as ad hoc expert in psychological expertise with
children allegedly sexually assaulted in the police investigations typified in Article
213, paragraph 1 and 217-A of the Brazilian Penal Code. We emphasize the word sup
posedly, because the police investigation is the investigator of the occurrence or non
occurrence of such crime. The psychological expertise is part of the probative set in
the investigation of these crimes together with the police team managed by the police
officer, who seeks authorship and materiality. They are crimes in which there is no
evidence of any criminal offense other than the psychological indications and verbal
reports of those involved in the event. This work aims to present the methodological
scientific systematization, which originated the Contact Project, from the receipt of the
request for psychological expertise, to the drafting and delivery of the psychological
report to the judicial police, in this case the applicant for the expertise. The model of
the psychological instrumental has its philosophical-conceptual basis in Radical Be
haviorism, with an area of intervention and application of the knowledge produced
by Behavior Analysis, through the Functional Analysis of Verbal Behavior, which con
tributes: the instruments, data analysis and preparation of the expert report. A biblio
graphic survey was carried out involving the key words: sexual violence against chil
dren, judicial psychological expertise and verbal correspondence. Based on this sur
vey, no work was found that involved the functional analysis of verbal behavior ap
plied to psychological expertise in the pre-procedural phase, in children supposedly
victim of sexual violence, which is the theme of this thesis.
BO – Boletim de Ocorrência
CP – Código Penal
IP – Inquérito Policial
Intróito........................................................................................................... 1
1.4 Prospecção.................................................................................................................... 5
2.1 Os indícios..................................................................................................................33
sexual ................................................................................................................................ 66
73
2 Nacionais .......................................................................................................................80
Juvenil ......................................................................................................... 87
Infantes...................................................................................................... 102
8. Psicologia no Brasil...................................................................................................200
9. Psicologia Jurídica.....................................................................................................208
9.1 A busca pelo fato genuíno, por meio das entrevistas – uma história da psicologia no mundo
254
7.7
8 Relatório analíticoforneceida pela análise dos tactos ......................................................... 318
Clareza diagnóstica
......................................................................................................325
Método....................................................................................................... 335
Material...........................................................................................................................335
Procedimento.................................................................................................................335
..................................................................................................................................................... 341
A pesquisadora como perita do juiz, a partir do ano de 2008..................................................... 349
Responder a uma demanda judicial, por meio da avaliação psicológica infantil ........................ 365
Justificativa.....................................................................................................................465
..................................................................................................................... 505
Tacto................................................................................................................................ 506
Para que esta tese alcançasse desenvolvimento e rompesse a linha de chegada, foi
necessário diariamente mergulhar no profundo e revolto oceano dos comportamentos
ocultos das intituladas vítimas ou buscar decifrar o comportamento dos indignados
autores.
Assim nasceu o ideário do Projeto Contacto, cuja semente, lançada no terreno fértil do
campo da colheita indiciária, propulsora esta de provável denúncia, eventual
arquivamento do inquérito, ou futuro pedido de absolvição, quando na fase da
persecução penal ou instrução dos autos.
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Teles & Simonassi (2021)
I Panorama do Trabalho
1 As Delimitações do Trabalho
Com a finalidade de elevar a qualidade da análise de relatos obtidos em situações que
envolve o crime de estupro de vulnerável, este trabalho desenvolveu um sistema
avaliativo, que realiza a análise funcional do comportamento verbal (Skinner, 1957)
na perícia psicológica infantil forense, no contexto da polícia judiciária, fundamentada
no Behaviorismo Radical. Para que fosse alcançado a fase analítica, foi necessário
desenvolver um instrumento para levantamento de dados, a entrevista. Esta
entrevista, foi denominada: Entrevista Contingenciada, pois tem na sua base
originária, a Contingência Tríplice Skinneriana.
São informações muitas vezes estraídas de depoimentos leigos, sob a ótica de uma
investigação até este momento, não-científica. Em que no máximo que houve foi o
Exame de Corpo de Delito, que não faz nenhuma incursão ao campo psicológico,
sendo um exame de cunho meterial. Algumas vezes complementado com respostas
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dadas pela intitulada vítima, e em alguns casos, por quem a acompanha: comunicante,
avó, tia, professora, vizinhos, conselho tutelar.
Esta tese tendo como campo a investigação criminal na fase do inquérito considerará
a vítima, dos crimes de estupro e dos crimes de estupro de vulnerável do Código
Penal, com vistas a atender a faixa etária infanto-juvenil, em que temos a criança até
12 anos incompleto e os adolescentes de 12 a 18 anos incompletos.
a) vítima;
b) autor;
c) vítima e autor, nos casos em que o menor de idade são obrigados sob coação ou
ameaça a desempenhar os papéis de agente ativo e passivo e;
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Todavia, ao adolescente, cuja idade vai dos 14 anos até aos 18 anos incompletos, a
medida a ser aplicada é definida como sócio-educativa e se traduz em advertência,
reparação de dano, prestação de serviço, liberdade assistida, interdição em
semiliberdade e internação em estabelecimento educacional.
Segundo Junior Reis e Castro (2013) a perícia pode ser considerada uma diligência na
qual busca encontrar a veracidade através da análise dos vestígios deixados por uma
infração (Costa Filho, 2012). As perícias podem ser classificadas, quanto a (Del Campo,
2005):
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Junior Reis e Castro (2013), destacam que as perícias são muito importantes na esfera
criminal, sendo de fundamental importância para que se possa reconstruir a maneira
como se deram os fatos. Busca-se a veracidade dos fatos, em que se objetiva a
elucidação do crime para que assim, o juiz, como destinatário das provas, possa julgar
de forma justa: “a perícia é um meio instrumental, técnico-opinativo e alicerçador da
sentença” (Aranha, 2006). Na persecução criminal, o Estado deve remontar o fato
criminoso a fim de aplicar o dispositivo legal ao caso concreto, na busca da verdade
real, visto que o processo penal vigora o princípio da verdade real, em que se funda a
ação ou a defesa (Oliveira e Barros, 2013).
Para se realizar a perícia é necessário que o delito praticado tenha deixado vestígios,
como determina o artigo 158, do Código de Processo Penal, sendo no caso da perícia
psicológica, os vestígios se encontram no campo psicológico da criança, mais
especificamente no comportamento verbal e não verbal. O artigo 158 do CPP, dispõe
que, o exame é indispensável, não sendo suprido nem mesmo pela confissão do
acusado, haja vista que o mesmo poderá confessar algo que não fez para beneficiar
outro que tenha praticado o ato criminoso. O artigo 159, do Código de Processo Penal,
divide as perícias em corpo de delito e outras perícias e consta que o dever da
elaboração do laudo pericial, recai sobre a descrição dos fatos analisados de forma
minuciosa, e de acordo com a Lei 11.690/2008, apenas um perito pode conduzir as
avaliações e assinar os laudos definitivos.
1.4 Prospecção
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CAPÍTULO IV
DA SEGURANÇA PÚBLICA
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CAPÍTULO IV
DA SEGURANÇA PÚBLICA
Junto aos autos, o laudo psicológico, se apresenta por meio da metodologia técnico
científica do Projeto Contacto, e expõe a real condição da criança no inquérito policial,
no seio familiar e comunitário. Extrai com clareza os fatos e fundamenta o diagnóstico
infantil com a devida urgência necessária, bem como, os campos de vulnerabilidade,
a real condição do contexto familiar apresentado.
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Diante destas condições, o Projeto Contacto aponta que o perito psicólogo deve
considerar 5 contextos (Skinner, 1957): a) Pessoas podem relatar situações que
existiram; b) Pessoas podem relatar situações que não existiram; c) Pessoas podem
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relatar situações que não existiram e acrescer-lhe detalhes que existiram; d) Pessoas
podem relatar situações que existiram e acrescer-lhe detalhes que não existiram; e)
Pessoas podem relatar situações que existiram e retirar detalhes que existiram;
Desta forma, o diagnóstico pericial, seja qual perícia for, tem a obrigação de
comparecer com a clareza dos fatos, em que se apresenta os resultados, em documento
com características específicas, titulado: ‘Laudo Pericial’, previsto no Artigo, 473, do
Código de Processo Civil. Assim, no inquérito, frente ao ‘falar’, ainda se tem fatos, e
no Projeto Contacto ao elevar o tratamento da ‘fala’, para o status de Comportamento
Verbal (Skinner, 1939), pode-se destacar os indícios. A partir do momento que o
Projeto Contacto realiza a análise funcional de comportamentos verbais e não mais de
meros relatos, possibilita com o tratamento técnico-científico de ‘falas’, assim,
caracterizar e apresentar o conjunto fático, por meio de indicadores conceituais que
extraem elementos das ‘falas’.
O Projeto Contacto ao realizar o diagnóstico infantil, corrobora aos dados dos autos,
e correlaciona o diagnóstico verbal (Skinner, 1957) do: comunicante, responsável legal
e suspeito. Para isso, desenvolveu o instrumental ‘Entrevista Contingenciada’, que
contempla contexto e temática, em relação a real condição da criança, no Inquérito
Policial e a real condição da criança no seio sócio-familiar. A Entrevista
Contingenciada, acompanha testagem, observações clínicas e análise de documentos,
com o objetivo de se extrair daquilo que se investiga, o diagnóstico mais próximo da
real condição da criança. O Projeto Contacto, objetiva a partir dos resultados
identificados no diagnóstico psicológico infantil, e no diagnóstico verbal dos
envolvidos, superar as limitações do baixo repertório verbal de crianças até 6 anos de
idade. O diagnóstico psíquico e verbal tem a finalidade de elevar a segurança do
inquérito policial quanto a garantia de direitos infantis e responsabilização adequada,
sem prevaricação e ou exorbitância. Com isso promove o fortalecimento de vínculos
familiares, em apoio à criança, que só podem ocorrer eficazmente, com: diagnóstico
criterioso, o Encaminhamento e tratamento adequado. As ações orientativas do
Encaminhamento, no Projeto Contacto, comparecem no documento: laudo
psicológico e são efetivadas de acordo com: o Plano Nacional de Promoção e Defesa
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aos requisitos dos operadores jurídicos, tais como: juízes, promotores e autoridades
policiais. Desta forma, o Projeto Contacto responde por meio de indicadores,
preferencialmente às perguntas: a) O crime ocorreu?; b) Como ele ocorreu?; c) A
pessoa identificada como suspeito, é a mesma pessoa citada nos autos?; d) Foi
identificado outro suspeito?; e) Foi identificado cúmplices?; f) Quais as pistas
criminais encontrada na atuação do suspeito?; g) Como se dá o modus operandi do
suspeito?; h) Quais os indícios psico-comportamentais encontrados na vítima?; i) Foi
identificado sugestionabilidade na comunicação de crime?; j) Foi identificado a
sugestionabilidade de terceiros e ou a influência de contextos no comportamento
verbal da vítima?.
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Assim, caso se constate a figura: vítima, no Inquérito Policial, esta deverá receber
encaminhamento adequado e promoção ao seu bem-estar e integralidade, por meio
de frentes terapêutica multidisciplinares, em especial, que apoie o contexto familiar
com: assistência social e psicológica, e garantia de acesso primordial a saúde, lazer e
educação. De acordo com o parágrafo único do artigo 4º do ECA, a garantia de
prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância
pública. A garantia de direitos a crianças e adolescentes que figuram como vítima em
inquéritos policiais, só pode ser institucionalizado, frente ao diagnóstico preciso.
Desta forma, a depender do diagnóstico, na etapa: ‘Encaminhamento’, apresenta-se a
terapêutica mais adequada à criança e sua família, de forma que seja acompanhada e
assistida junto aos sistemas de monitoramento e proteção, de: baixa, média ou alta
complexidade.
Desta forma, a perícia psicológica, faz parte do conjunto probatório promovido pela
autoridade policial, e fundamenta com maior segurança o Relatório Policial e
apresenta com propriedade técnico-científica, a figuração da criança e ou adolescente
no Inquérito Policial.
Contextos policiais que investigam crianças que figuram como vítimas, exige do
psicólogo, dentre outros posicionamentos, nitidez no documento Laudo Psicológico,
no que tange a: diagnóstico e Encaminhamento. Desta forma, ao se identificar e
diagnosticar a condição da criança, como vítima, tem-se a finalidade de providências
eficazes, protetivas e promotoras de bem-estar da criança. Que coaduna-se com a Lei
13.431-17, Art. 14, que explica: ‘As políticas implementadas nos sistemas de justiça,
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O Projeto Contacto inova por ser um procedimento científico, que considera a perícia
psicológica infantil como método de investigação especial, que eleva a segurança de
inquéritos policiais na investigação de crimes sexuais infantis quanto a
responsabilização eficaz e identificação segura quanto a condição de vítima e não
vítima junto aos autos. A metodologia do Projeto Contacto, com o diagnóstico
psicológico infantil e o diagnóstico verbal dos envolvidos no inquérito, eleva a segu
rança dos dados do inquérito policial, ao subsidiar eventual persecução penal. A
metodologia avaliativa inova ao desenvolver diagnóstico verbal, fundamentado na
Análise Funcional do Comportamento Verbal Skinneriano, com os 3 principais
personagens do inquérito policial: comunicante, suposta vítima e suspeito. Em que, a
ausência dos personagens: comunicante e suspeito, não interferem no sucesso
diagnóstico da avaliação psicológica realizada com a suposta vítima.
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São informações muitas vezes extraídas de depoimentos leigos, sob a ótica de uma
investigação até este momento, não-científica. Em que no máximo que houve foi o
Exame de Corpo de Delito ‘de conjunção carnal’, que não faz nenhuma incursão ao
campo psicológico, sendo um exame de cunho material, físico. Algumas vezes
complementado com respostas dadas pela intitulada vítima, e em alguns casos, por
quem a acompanha: comunicante, avó, tia, professora, vizinhos, conselho tutelar.
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O Projeto Contacto opta por iniciar a perícia psicológica com o responsável legal, por
este ser o mais apto a apresentar as condições ambientais habituais e não-habituais da
suposta vítima. O levantamento de dados junto ao comunicante do fato, ocorre por
meio de entrevistas, pois se caracteriza como o personagem que possui maior
hipersuficiência verbal-informacional do contexto e condições da suposta vítima em
relação ao fato investigado e por apresentar a coerência motivacional para a
comunicação do crime. O comunicante é o personagem mais apto a fornecer a rotina
ambiental que a criança experienciava, antes e depois do momento ‘Revelação’, ou
momento ‘Constatação ’que por sua vez, originou a comunicação do crime. As
entrevistas junto ao comunicante explora o ambiente em que a criança estava inserida
até a comunicação do crime. Ocorre, por meio da entrevista ‘Levantamento de
Contexto para a Comunicação de Crime ’e identifica os pontos frágeis em que a
criança se encontrava à época do fato, ao extrair dos relatos, características dos
‘Campos de Vulnerabilidade ’que favoreceram a atuação do suspeito. Nestas
entrevistas extrai-se dos relatos, as informações relevantes em relação: ao fato, a
criança e ao suspeito. Os indicadores analíticos distinguem a partir dos relatos, a
caracterização dos campos de fragilidade para a atuação do suspeito, e dos elementos
que promovem a segurança da criança. E desta forma, estas informações se amoldam
e configuram o cenário ambiental em que o crime ocorreu e a atuação de cada
personagem em relação ao crime investigado. Pois, se o suspeito esteve em interação
sexual com a criança, esta interação ocorreu em algum momento do campo habitual e
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O Projeto Contacto ao analisar a ‘fala’, não avalia a emissão de meros relatos a respeito
de alguém ou de um fato. O que se realiza é a análise funcional skinneriana do do
relato in natura e o decompõe em comportamento verbal, em que se extrai operantes
verbais e distingue, por meio da correspondência intra e entre verbal, a coerência
comportamental frente ao que se relata. A análise de cunho científico elimina a
prevaricação e a exorbitância ou excesso.
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Por meio da tese de doutoramento da autora, com estudos desenvolvidos desde 2008,
não se identificou na literatura brasileira e internacional, qualquer instrumento
científico que realiza o tratamento científico de ‘falas’, nos contextos de inquéritos
policiais, que investigam crimes sexuais em desfavor de crianças. O Projeto Contacto,
tem como propósito apresentar um procedimento metodologicamente organizado e
planejado com critérios de: a) logística; b) referencial teórico; c) instrumental; d)
técnicas; e) levantamento e análise de dados; f) desenvolvimento pericial e; g) a feitura
de laudos psicológicos cujas vítimas são crianças e ou adolescentes, dos crimes de
estupro de vulnerável. Desta forma, o Projeto Contacto atua com extrema eficácia ao
realizar o diagnóstico verbal das pessoas envolvidas no contexto criminal, em especial
nos crimes em que os vestígios psico-comportamentais, se encontram em relatos.
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De acordo com o Art. 5º, § 3º, CPP, Lei 3.689, nos crimes de ação pública, a notícia do
crime, pode ser oferecida por qualquer pessoa do povo e, por sua vez, chegar ao
conhecimento da autoridade policial de formas diversas. Assim, as investigações se
deparam com as peculiaridades, de: criança/adolescente vítima, ser sujeito
vulnerável, por se encontrar em plena fase de desenvolvimento bio-psico-sócio-
afetivo-cognitivo e; com a diversidade de diferentes meios e pessoas comunicarem
este tipo penal. Deste modo, a investigação necessita atuar com prudência, e
legitimidade investigativa, a respeito de qualquer outra violação que se possa
identificar.
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A solicitação desta perícia, no início da persecução penal, ocorre com base na Lei
13.431/17, Capítulo IV, Da Segurança Pública, Art. 22 que dispõe que ‘ –os órgãos
policiais envolvidos, envidarão esforços investigativos para que o depoimento
especial não seja o único meio de prova para o julgamento do réu’.
Face a determinação do Decreto Lei 9603-18, Capítulo II, Disposições Gerais, Seção I,
Do Sistema de Garantia de Direitos - Art. 13 - A autoridade policial procederá ao
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O psicólogo ad hoc na DPCA faz parte da equipe policial, que investiga crimes dos
quais crianças são consideradas vítimas. O psicólogo por meio da avaliação
psicológica, corresponde as demandas investigativas da polícia judiciária, com a
finalidade de apresentar o psicodiagnóstico infanto-juvenil e fornecer elementos
críticos aos autos.
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São informações muitas vezes extraídas de depoimentos leigos, sob a ótica de uma
investigação até este momento, não-científica. Em que no máximo que houve foi o
Exame de Corpo de Delito, que não faz nenhuma incursão ao campo psicológico,
sendo um exame de cunho material. Algumas vezes complementado com respostas
dadas pela intitulada vítima, e em alguns casos, por quem a acompanha: mãe, avó, tia,
professora, vizinhos, conselho tutelar.
O psicólogo que atua no início da persecução penal, se distingue dos peritos que
atuam do âmbito forense da esfera cível e dos psicólogos clínicos. A distinção ocorre
quanto ao solicitante e finalidade avaliativa em relação a qual rogativa a avaliação
responderá. Se distingue em especial quanto ao enquadre do psicólogo clínico, pois
neste caso, não existe a solicitação de um terceiro institucional, o sujeito se apresenta
espontaneamente.
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Assim, o psicólogo que atua na DPCA, ao ser solicitado pelo delegado de polícia, na
fase investigativa de crimes, esclarecerá a solicitação a respeito do comportamento e
âmbito psicológico dos envolvidos, em relação a materialidade e autoria criminosa. E
em fase processual, seja nos juizados especiais, seja na esfera familiar, seja na criminal,
poderá ser nomeado por juízes, e atender, neste caso, conforme a demanda destes
solicitantes.
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Explicamos que a avaliação psicológica, de crianças que figuram como vítima, na fase
pré-processual, contempla realizar o diagnóstico psico-sócio-afetivo-comportamental
da criança e caracterização do seu bem-estar e segurança familiar, com vistas para o
melhor encaminhamento terapêutico. O encaminhamento mais adequado a criança e
sua família deve ocorrer, sob qualquer resultado, visto que, contextos diagnósticos
revelam campos de vulnerabilidades a serem reabilitados, e por sua vez, vínculos
protetivos são reestabelecidos ou fortalecidos. Caso o diagnóstico evidencie que a
criança tenha vivenciado contexto de violência sexual os dados avaliativos devem
apresentar como a criança se encontra em termos psico-sócio-afetivos, e o quanto foi
afetada pelo crime, com vistas a terapêuticas urgentes, mais adequada ao seu sistema
psicológico e familiar.
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2 Os Problemas encontrados
2.1 Os indícios
Dispõe o art. 239, do Código de Processo Penal: "Considera-se indícios a circunstância
conhecida e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se
a existência de outra ou outras circunstâncias". Tem-se, portanto, que indício é cir
cunstância ou fato conhecidos, que autorizam algum tipo de conclusão sobre um outro
fato ou circunstância desconhecida, mas com as quais possuam algum tipo de relação
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(Freitas, 2010). A prova indiciária, ainda que indireta, tem a mesma força probante
que qualquer outro meio de prova direta, como a testemunhal ou a documental.
Freitas (2010) ressalta que a prova indiciária consiste em meio de prova, ou seja, versa
em "argumentos e argüições lógico-jurídicos aptos à demonstração lícita da existência
de elementos suscetíveis de sensibilização ou compreensão, concernentes a ato, fato,
coisa, pessoa" (Leal, 2010). Capez (1998), destaca que, indício é "toda circunstância
conhecida e provada, a partir da qual, mediante raciocínio lógico, pelo método
indutivo, obtém-se a conclusão sobre um outro fato. A indução parte do particular e
chega ao geral."
Entende Maria Tereza Rocha de Assis Moura que "indício é todo rastro, vestígio, sinal
e, em geral, todo fato conhecido, devidamente provado e suscetível de conduzir ao
conhecimento de fato desconhecido, a ele relacionado, por meio de operação de racio
cínio" (Moura, 2009).
“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada
pela Lei nº 11.690, de 2008)”
b) Também a ação penal não pode ser iniciada sem a presença de um mínimo
de seriedade probatória (sobre a autoria, assim como sobre a existência do
crime). Isso se chama us boni iurisjusta causa (que é requisito genérico de toda
ação penal). Cabe ao juiz rejeitar a peça acusatória liminarmente quando
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oferecida sem base probatória suficiente. Até porque, ninguém pode estar
sujeito a uma acusação temerária.
c) Que o processo possa ter início com provas indiciárias mais ou menos
verossímeis não há dúvida, de qualquer forma, na prática, todo processo que
começa assim, normalmente, resulta em nada. Uma das maiores fontes de
impunidade no nosso país reside justamente nas investigações criminais mal
elaboradas, pouco profundas, apressadas e inconvincentes.”
Gomes (2002) alerta, que embora possa o processo ter início com provas puramente
indiciárias, quanto mais precárias tais provas, maior a chance de absolvição, o que se
espera da autoridade policial e de toda investigação, é a apuração da verdade, nem
mais, nem menos. Nem prevaricação, nem exorbitância ou excesso.
Sem essas informações, os direitos humanos das vítimas da criminalidade não podem
ser salvaguardados, a pessoa suspeita não pode ser processada, as pessoas envolvidas
não podem ser completamente reabilitadas, e a investigação provavelmente será
desconsiderada.
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Desta forma, Muller (2011) elucida que, criança e adolescente são sujeitos de direitos
e não simplesmente objetos de intervenção no mundo adulto, portadores não só de uma
proteção jurídica comum que é reconhecida para todas as pessoas, mas detém ainda
uma “supraproteção ou proteção complementar de seus direitos.” (Brunõl, 2001,
p.92). A proteção é dirigida ao conjunto de todas as crianças e adolescentes, não
cabendo exceção. O artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente esclarece a
proteção complementar instaurada pela Doutrina de Proteção Integral, ao afirmar que
`a criança e ao adolescente são garantidos todos os direitos fundamentais inerentes a
pessoa humana, bem como são sujeitos a proteção integral (Muller, 2011).
Segundo Muller (2011) a lei ordinária nº 8.069/90, no parágrafo único do artigo 4º,
detalhou a garantia da prioridade absoluta como sendo: a) primazia de receber
proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos
serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução
das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
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Os profissionais que desenvolvem perícia com infantes nestas condições, sabem que
necessitam de uma avaliação psicológica para finalizar seu trabalho. O que não ocorre
em um único momento, e nem exclusivamente com a criança, visto suas condições
hipossuficientes e limitantes quanto ao contexto totalitário do fato tido como
criminoso. Diante desta condição, temos no comunicante da notícia-crime, o mais apto
a trazer as motivações constatadas, que gerou a busca pela autoridade competente.
Acreditamos que não se investiga pessoas, se investiga fatos, ocorrências e indícios,
nestas pessoas. Técnicas que advém de pesquisas como o ‘Depoimento Especial ãos ,x’
relevantes, porém tal procedimento, possui um número reduzido, ou quase nada de
técnincas e instrumentos científicos com capacidade analítica deste momento com a
criança. Trata-se sim, de uma excelente ocasião, para que o magistrado possa se
utilizar de mais de um sistema de provas:
Outra condição que explora a Íntima Convicção, decorre das decisões proferidas pelo
Tribunal do Júri, em que a convicção dos jurados, representam exceção à
obrigatoriedade de fundamentação dos provimentos judiciais (art. 93, IX, da
37
Teles & Simonassi (2021)
Constituição Federal) contemplada pela própria Carta Política, que assegura o sigilo
das votações aos integrantes do Conselho de Sentença (art. 5º, XXXVIII, b, da
Constituição Federal). Na opinião de Stamford (2000, p. 101): “a segurança não está
nas fontes, na estrutura normativa, nas condições de validade da norma jurídica, mas
antes, nos modelos, no conteúdo material das fontes, no procedimento, no plano de
eficácia”.
“CAPÍTULO IV
DA CONFISSÃO
Art. 199. A confissão, quando feita fora do interrogatório, será tomada por
termo nos autos, observado o disposto no art. 195.
38
Teles & Simonassi (2021)
Entrevistas e interrogatórios certamente têm aspectos semelhantes entre si. Ambos são
formas simples de obter informações, envolvem “conversas de propósito", e ambos
têm o mesmo propósito e resultado (Aubry e Caputo, 1972), a resolução de um crime.
No entanto, existem diferenças distintas entre os dois. Um interrogatório é
essencialmente uma entrevista, porém no caso do interrogatório, são utilizadas táticas
interrogativas, que são: confronto direto, desenvolvimento de temas, lidar com
resistência, questões alternativas e detalhes de desenvolvimento (Blair, 2009). O
objetivo básico é obter e proteger informações e fazem isso fazendo com que o
entrevistador faça perguntas e use uma conversa direcional (Aubry & Caputo, 1972).
De acordo com Hamilton (2005), os interrogatórios têm um objetivo de comunicação,
as partes envolvidas discutem um tópico de interesse do interrogador. Enquanto os
interrogatórios e as entrevistas usam a comunicação estratégica, é importante
entender como entrevistas e interrogatórios são semelhantes e como eles são
diferentes. Embora uma entrevista geralmente possa ser determinada com sucesso se
a informação necessária for adquirida, um interrogatório é considerado bem-sucedido
se o suspeito confessa o crime ou forneça mais detalhes sobre o crime em si (Heuback,
2010).
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Teles & Simonassi (2021)
forenses tem o poder de resolver uma grande maioria dos casos criminais, mesmo
antes que essa evidência seja apresentada no tribunal. Nas entrevistas o entrevistador
sempre estará em desvantagem por não ter acesso a motivação e ao conjunto de
informações de quem as detém. Para isso, é necessário a análise de condições e
informações de todos os envolvidos, em que, ao se constituírem formam um quadro
favorável ao entrevistador, por ter acesso ao conjunto de informações, que também
comparecem em documentos e não somente em um único envolvido. Portanto a falha
de um, pode ser exposta pelo outro e vice-versa, em que, o comportamento de um,
expõe o comportamento do outro ao se analisar a contingência, a relação de
interdependência deve estar presente, já que, comunicante-suposta vítima-suspeito
fazem parte do mesmo evento: interação de conteúdo sexual de um adulto com uma
criança.
Leme, V. B. R., Bolsoni-Silva, A. T., & Carrara, K. (2009) explicam que instrumentos
como entrevistas, que investigam, através dos relatos (Goldiamond, 1974/2002;
Kanfer & Saslow, 1976; Meyer, 1997; Sturmey, 1996), (Carrara, 2008) se configuram
como um recurso respaldado e podem ser utilizados em conjunto com outras formas
de coleta de dados. O uso de tal estratégia de pesquisa, de associar instrumentos que
coletam dados a partir do relato verbal e técnicas de observação, parece ampliar a
confiabilidade dos registros.
Skinner (1957) propõe a análise funcional do comportamento verbal, que pode ser
considerada uma Tecnologia de Pontaxi, na avaliação ‘daquilo que se fala’. Malerbi e
Matos (1992) informam que, Skinner adotou a análise funcional como ferramenta para
a compreensão da linguagem (abordagem operante) dentro de uma perspectiva
funcional, em que palavras não são objetos manipuláveis e sim comportamentos
emitidos em circunstâncias particulares. A abordagem funcional examina as condições
nas quais o comportamento verbal ocorre e as suas consequências. Assim, para as condições
40
Teles & Simonassi (2021)
nas quais ocorre, temos os estímulos verbais ou não verbais- e nas consequências que ele
produz – consequências verbais ou não verbais (Malerbi e Matos, 1992).
41
Teles & Simonassi (2021)
Segundo Matos (1999): “Uma análise funcional leva em conta aspectos do ambiente e
a função que o comportamento tem naquele ambiente”, e apresenta como fazê-lo:
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Teles & Simonassi (2021)
Conforme explica Moreira, Todorov e Nalini (2006), que em 1938, Skinner distinguiu
comportamento operante de comportamento respondente. Operantes, ao serem
emitidos, são aqueles comportamentos diferenciados e mantidos pelas consequências
ambientais que produzem, e respondentes, ao contrário, são aqueles comportamentos
produzidos por estimulação precedente específica, numa relação de determinação
direta e invariante, em que, ao ocorrer uma estimulação, o comportamento ocorrerá
necessariamente. Estes autores (Moreira, Todorov e Nalini, 2006) destacam que, na
reconceituação de Skinner, em 1953, o operante é entendido como um conjunto de
respostas ou classe de respostas funcionalmente semelhantes. Sendo que, o critério
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Teles & Simonassi (2021)
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Teles & Simonassi (2021)
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Teles & Simonassi (2021)
1) pelo comunicante participar algo que diz respeito a um terceiro muito particular,
infante; e
2) por existir a probabilidade da criança, não ser identificada como vítima na investi
gação criminal, pela simples razão do fato não ter ocorrido.
Tão importante quanto a recolha de provas físicas de uma cena de crime, as entrevistas
com vítimas e testemunhas podem ser cruciais para a resolução bem-sucedida de um
crime, com o objetivo do êxito no julgamento do infrator. Vítimas/testemunhas são
geralmente percebidas para fornecer as pistas centrais nas investigações criminais
deste tipo de crime. Os entrevistadores freqüentemente têm poucas ou nenhuma
informação nos crimes de estupro de vulnerável, no início de sua investigação.
46
Teles & Simonassi (2021)
Assim, um dado informacional pode ser analisado sob vários indicadores, em que, ao
realizar a combinação, efetiva-se o agrupamento de determinados indicadores, que
resulta na composição de um fato. Esta composição ao ser agrupada, se encontra sob
certas condições, sendo que estas condições ao serem analisadas, resulta: ou em um
simples arranjo de informações ou na composição de um delito. Desta forma, não
basta comunicar um crime, ele realmente deve ter ocorrido para que seja confirmado
como um delito. Analisar um crime de estupro de vulnerável se distancia muito da
perícia psicossocial da guarda de filhos, visto que, no crime, busca-se a existência do
fato criminoso, e isto é muito preciso: ou ocorreu ou não ocorreu. O que facilita em
alto grau o trabalho do perito.
47
Teles & Simonassi (2021)
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Teles & Simonassi (2021)
Por isso, utilizou-se o termo: ‘correspondentes entre e intra relatos ’para buscar inferir
se os relatos emitidos pelos envolvidos, são ou não são correspondentes entre si e em
relação ao fato. De acordo com as contingências encontradas nos relatos intra e entre
verbais de cada indivíduo. Os correspondentes são analisados: entre pessoas e entre a
própria pessoa, dos relatos que se referem ao episódio de interação de conteúdo sexual
de um adulto com uma criança, registrados sob a forma de notícia-crime na delegacia
de polícia.
Conforme Neno (2003) é sobre o homem, que operam os três conjuntos de variáveis
ambientais (filogenéticas, ontogenéticas e culturais), sendo que nesta conjunção ocorre
uma variada gama de repertórios comportamentais. Neno (2003) destaca que na
ciência skinneriana, a busca de relações funcionais estará sempre associada ao
reconhecimento da multideterminação do fenômeno comportamental, sendo assim:
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Teles & Simonassi (2021)
Destacamos que nesta pesquisa, a análise do relato verbal será feita por meio da
identificação dos operantes verbais, nomeados por tactos, que devem ser emitidos em
relação ao fato registrado nesta delegacia, que deve corresponder a: interação de
conteúdo sexual de um adulto com uma criança.
O material a ser trabalhado será os relatos verbais, analisados sob o enfoque teórico
da análise do comportamento, do Behaviorismo Radical. O tratamento dos dados será
realizado nos relatos verbais, em que se busca os operantes verbais. O objetivo é
localizar tactos e correspondentes verbais intra e entre envolvidos, em relação a
descrições de interações sexuais entre adultos e crianças descrita na literatura, bem
50
Teles & Simonassi (2021)
de narrativa já revisado. Amado, Arce e Farina (2015) esclarece que o CBCA, faz parte
Tal análise se faz necessária, em função de ser um crime anunciado por terceiro em
relação a um infante, que está em situação impotente e hipossuficiente ao adulto,
quanto a: necessidade real de ser investigado, esclarecimento do ocorrido, descrição
sequencial de como ocorreu o crime e repertório verbal insuficiente em relação a um
delito sexual.
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Teles & Simonassi (2021)
Este estudo tem como premissa, analisar o relato dos envolvidos, que provavelmente
apresentarão eventos que deverão condizer ao crime de estupro de vulnerável,
caracterizado de acordo com o Código Penal Brasileiro, artigo 217-A e 213, parágrafo
1º, em que, para o perito, nestas legislações, o que se altera é basicamente a idade da
vítima. Para isso, necessariamente ocorrerá uma narrativa do que ocorreu no ambiente
natural-background em que estavam presentes uma díade adulto-criança, em que um
adulto se interagiu sexualmente com uma criança.
Skinner (1957) definiu o tatear como um operante verbal no qual uma resposta é
evocada, por um evento ou objeto. Assim, a relação funcional é expressa na afirmação
de que a presença deste evento ou objeto aumenta a probabilidade de ocorrência
daquele operante verbal (Borloti, 2007). Deve-se ressaltar, como o fez Capovilla (1957),
que para Skinner (1967) o estímulo que antecede o tatear – seja ele um objeto ou um
evento, uma propriedade de objeto ou de um evento, ou uma relação entre objetos ou
entre eventos – e que determina a probabilidade de ocorrência daquele
comportamento é de natureza não verbal (Borloti, 2007). Destacamos que no caso
deste trabalho o tacto será o operante verbal primordial a ser analisado, visto que, ao
se comunicar um crime à delegacia, o ‘assunto ’deve caracterizar o evento criminoso
comunicado.
Assim, é função do perito psicólogo realizar as possíveis combinações xii dos
indicadores (de Almeida & Ferreira, 2010), não só em relação a quantas ordenações
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Teles & Simonassi (2021)
são possíveis de serem realizadas com os indicadores, mas especialmente que tipo de
ordenação se faz com os dados obtidos por meio dos relatos dos envolvidos, bem
como o que produziu este relato.
Para isso, a perícia judicial realizará sessões periciais individuais. As sessões são
estruturadas com entrevistas e aplicação do Teste Rorschach para adultos e crianças
superior a 5 anos de idade, e com crianças menores de 12 anos acresce-se a Hora Jogo
Diagnóstica. Os instrumentos e técnicas organizados de acordo com a temática
pericial, tem o objetivo de periciar o comportamento de cada indivíduo envolvido de
maneira direta ou indireta no contexto da suposta violência sexual infantil noticiada:
No Behaviorismo Radical, não existe o ‘retraçar uma sequência causal ’até se chegar a
uma causa, não se utiliza um refinamento em que se atribui “cada aspecto do
comportamento de um organismo físico a um aspecto da “mente” ou de outra
“personalidade” interior (Skinner, 1953)”. Não se utiliza de um sistema dualístico de
explicação, tal como: “O homem interior deseja uma ação, o exterior executa. O interior
perde o apetite, o exterior para de comer. O Homem interior quer, o exterior consegue.
O interior tem o impulso ao qual o exterior obedece. (Skinner, 1953)”. Skinner (1977)
em seu artigo ‘Why I am not a Cognitivist Psychology?’, alerta que: “Se os processos
cognitivos são simplesmente modelados sobre as contingências ambientais, o fato de
serem atribuídos ao espaço dentro da pele, não os aproxima de uma conta fisiológica”.
53
Teles & Simonassi (2021)
Desta forma, a solicitação psicológica pericial que o Projeto Contacto está inserido,
responde a uma pergunta jurídica criminal, e que, por estar localizada no início da
persecução penal, sintoniza-se de acordo com o Artigo 4º do CPP, que contempla que:
a finalidade mediata do inquérito é a de fornecer subsídios para a promoção da ação
penal e a imediata é a apuração das infrações penais e da sua autoria. Assim, a
solicitação pericial no início da persecução penal é regida pela Lei 12.830/13, que
dispõe: “durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de
perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos”.
De tal modo, a Visão Operantexiii (Skinner, 1953) do Psicólogo Behaviorista Radical do
Projeto Contacto, que atua no contexto policial criminal, nos crimes de estupro de
vulnerável, por meio da avaliação psicológica, busca, sob quais dimensões/condições
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Teles & Simonassi (2021)
E esclarece:
55
Teles & Simonassi (2021)
“A objeção aos estados interiores não é a de que eles não existem, mas as de
que não são relevantes para uma análise funcional. Não é possível dar conta
de nenhum sistema enquanto permanecemos inteiramente dentro dele;
finalmente será preciso buscar forças que operam sobre o organismo agindo
de fora... Não é lícito presumir que o comportamento tenha propriedades
particulares que requeiram métodos únicos ou uma espécie particular de
conhecimento. Muitas vezes argumenta-se que um ato não é tão importante
quanto um intento que está por trás dele, ou que somente pode ser descrito
em termos do que “significa” para o indivíduo que se comporta ou para
outros que possam ser afetados por ele. Se afirmações deste tipo tiverem de
ser úteis para propósitos científicos, deverão estar baseadas em eventos
observáveis, e é exclusivamente em tais eventos que se deve confinar uma
análise funcional. Skinner (1953)”
Todorov (2007) destaca Catania (1996, p. 4-5): “È importante lembrar que a classe
operante é definida por todos os três termos da contingência tríplice. (...) classes
operantes são criadas por contingências comuns, não por consequências comuns.
Classes operantes são definidas funcionalmente, não topograficamente”. Desta forma,
é por este desenho funcional do comportamento verbal que o perito psicólogo do
Projeto Contacto se interessa.
57
II O Fato Investigado: Conceitos e Identificação
O fato investigado será sempre o evento: Interação de Conteúdo Sexual – ICS, de uma
díade adulto-criança e a busca é identificar a ocorrência ou não deste evento.
Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a comunicante
que:
Esclarece Dantas (2016), que por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei
nº 8.069/90, estabelece as medidas e trâmite da ação que visa referida destituição, e
prevê no Livro II - Parte Especial, Capítulo III - Dos Procedimentos, Título VI - Do
Acesso à Justiça, Seção II - Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar, em seu Art.
157, que:
58
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.
Assim, no Brasil, o mero indício de abuso sexual, no âmbito familiar, por si só, já basta
para que o juiz ordene o afastamento do genitor suspeito, com vistas a preservar a
integridade psíquica e física do infante (Dantas, 2016).
Contudo, não são raras as vezes que a violência é confundida e tomada como
sinônimo da criminalidade. Quando isto ocorre, vincula-se ao sistema penal, sendo
que no Brasil, inclui-se aqui, a polícia, o ministério público, o poder judiciário e o
sistema penitenciário.
Wu Rukang (in Drapkin, 1982) afirma que ‘entre dois e seis mil anos atrás, os homens
matavam-se entre si’, visto que neste período, ‘matar’, era um elemento importante
para a sobrevivência de cada um, e que este comportamento não tem todas as
implicações da expressão ‘crime’, da qual o ‘assassinato’, era tão somente uma de suas
muitas formas. Assim, a ‘administração da justiça’, era pautada na esfera pessoal
(Drapkin, 1982) em que, já fazia parte do roll das violências intencionais, porém não
era considerado crime passível de punição.
Há diversas tentativas de conceituar violência e ocorre por meio das definições das
áreas: policial, psicológica, médica, antropológica, sociológica ou legal, em que, são
distintas. Acrescenta-se ainda o fato de que a violência ocorre no interior da cultura,
só devendo ser definida com base em seus parâmetros específicos e legais (Ferreira,
2002). Decorre de tudo isso, a existência de várias definições que apresentam
diferenças importantes entre si. Além disso, deve notar-se que a agressão, no âmbito
59
da violência sexual de crianças, não é a norma nesta população (Day, 1994; Murray et
al, 2001; O'Callaghan, 1998).
A Política Nacional Brasileira (Brasil, 2001), trata o assunto violência, também como
problema de saúde pública (Brasil, 2001; Hobbs, Hanks e Wynne, 1999; Minayo, 1994;
Silva e Silva, 2003), com ações normatizadoras para a identificação e condução
protocolar do problema, tais como: Política Nacional de Redução da
Morbimortalidade por Acidentes e Violências - PNRMAV (Portaria nº 737/2001);
Notificação de violências contra crianças e adolescentes na rede do SUS (Portaria nº
1968/2001); Rede Nacional de Prevenção de Violências, Promoção da Saúde e Cultura
de Paz (Portaria 936/2004); Política Nacional de Promoção da Saúde (Portaria nº
687/2006); Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003, que estabelece a notificação
compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for
atendida em serviços de saúde públicos ou privados; Decreto nº 7.958, de 13 de março
de 2013, que estabelece diretrizes para o atendimento às vítimas de violência sexual
pelos profissionais de segurança pública e da rede de atendimento do SUS; Lei nº
12.845, de 1º de agosto de 2013, que dispõe sobre o atendimento obrigatório e integral
de pessoas em situação de violência sexual no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS); Portaria nº 485/GM/MS, de 1º de abril de 2014, que redefine o funcionamento
do serviço de Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual no âmbito do
Sistema Único de Saúde e Portaria nº 2.415, de 7 de novembro de 2014, que inclui o
procedimento Atendimento Multiprofissional para Atenção Integral às Pessoas em
Situação de Violência Sexual no SUS.
60
de suspeita ou confirmação de maus tratos contra idoso são de notificação
obrigatória.”
Desta forma, destacamos, que o conceito pode variar, até mesmo de acordo com o
âmbito de atuação em relação a violência, como pode ser visto na Lei das Vítimas
Sexuais, de 2013, com apenas 4 artigos, que visa a agilidade no atendimento ás vítimas.
Que por sua vez, com o intuito de cumprir sua finalidade, o conceito de violência
sexual é definido, no artigo 2º, como: “qualquer forma de atividade sexual não
consentida”.
IV - profilaxia da gravidez;
61
VI - coleta de material para realização do exame de HIV para posterior
acompanhamento e terapia;
§ 1o Os serviços de que trata esta Lei são prestados de forma gratuita aos que
deles necessitarem.
Art. 4o Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias de sua
publicação oficial. (grifo meu)”
Destacamos que a Lei Maria da Penha – 11. 340/06, também distingue-se de maneira
conceitual da Lei nº 12.845 – Lei das Vítimas Sexuais, no que tange a violência sexual,
e também por ter a finalidade última de coibir a prática da agressão contra a mulher.
Desta forma, caracteriza as diferentes formas violência, tais como:
Capítulo II
62
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
Desta forma no Código Penal Brasileiro, temos os artigos, no Título VI – Dos Crimes
contra a Dignidade Sexual, no Capítulo I – Dos Crimes contra a Liberdade Sexual e no
Capítulo II – Dos Crimes Sexuais contra Vulnerável. Sendo que, no Capítulo I, temos:
Estupro Art. 213; Violação sexual mediante fraude Art. 215; Assédio sexual Art. 216
63
A. E no Capítulo II: Estupro de vulnerável Art. 217; Corrupção de menores Art. 218;
Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente Art. 218-A;
Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável Art. 218-B.
“Artigo 19
“Artigo 34
64
Assim, o que se configura, na contemplação legal da área da infância, é que o
legislador não fixou a conduta típica do crime, ‘ato libidinoso ’e ‘abuso sexual’, e deixa
ao encargo da doutrina e jurisprudência tal função (Greuel & Carls, 2010), o que
amplia investigação contextual, para apontar as condições de ocorrência.
Desta forma no Brasil, a tipificação para os crimes de violência sexual contra crianças
e adolescentes vai de encontro com a Lei n.º 12.015/2009 do Código Penal Brasileiro
(in Vade mecum, 2013), de acordo com o artigo 217-A, que se refere aos crimes de
Estupro de Vulnerável:
“Art. 217-A - Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:
“Trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa,
homem ou mulher. O sujeito passivo é a vítima, do sexo masculino ou
feminino, menor de 14 (quatorze) anos, ou quem, por enfermidade ou
deficiência mental, não tenha o necessário discernimento para a prática do
ato, ou, ainda, quem, por qualquer motivo, não possa opor resistência. O
Objeto jurídico é a dignidade sexual do vulnerável, e não a liberdade sexual,
afinal, neste crime, não se discute se a vítima consentiu ou não com o ato
sexual. Objeto material é a pessoa vulnerável, a vítima. A vítima não é só a
criança, neste tópico, exige-se cuidado, pois é comum afirmar que o crime de
estupro de vulnerável consiste em violência sexual contra crianças, o que não
é verdade, afinal, segundo o ECA (art. 2o), criança é quem ainda não tem 12
(doze) anos completos. No estupro de vulnerável, a vítima é menor de 14
(quatorze) anos. Portanto, podem ser vítimas tanto crianças quanto
adolescentes. Ademais, frise-se que a vítima pode ser tanto do sexo masculino
quanto feminino. Os Núcleos do tipo, o crime pode se dar pela conjunção
carnal (cópula vagínica) ou pela prática de ato libidinoso diverso, não sendo
exigido o emprego de violência ou grave ameaça. A Lei 12.015/09 unificou os
crimes de estupro (art. 213) e de atentado violento ao pudor (art. 214), e a
mesma fórmula foi adotada no art. 217-A, ao tratar do estupro de vulnerável.
A Palavra da vítima: "nos crimes contra a liberdade sexual, a palavra da vítima
é importante elemento de convicção, na medida em que esses crimes são
cometidos, frequentemente, em lugares ermos, sem testemunhas e, por
65
muitas vezes, não deixam quaisquer vestígios, devendo, todavia, guardar
consonância com as demais provas coligidas nos autos (AgRg no REsp
1346774/SC, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, J. 18/12/2012)".
Sendo assim, frente a ampla terminologia legal, que podem contemplar finalidades e
caracterizações diferenciadas, este trabalho irá nomear todo e qualquer contato de
conteúdo sexual, como: Interação de Conteúdo Sexual – ICS, com a finalidade não
conceitual e sim descritiva.
Descreveremos por meio de itens caracterizadores, tal interação, que pode ocorrer
entre um adulto com uma criança. Estes caracterizadores serão identificados, descritos
e analisados no desenvolvimento do contexto pericial.
Segundo Ferreira (2002) nas últimas décadas, muitas publicações sobre violência
sexual contra a criança e o adolescente discutem os conceitos e sua aplicabilidade,
porém sem um consenso. O resultado é a enorme variação conceitual, o que pode ser
66
justificado pela grande variabilidade de interações de que este fenômeno se constitui,
que pode variar, quanto a intensidade psico-físico-emocional, que podem ir de
interações extremamente sutis até as mais agressivas. Com isso, não se pode esperar
uma conceituação única diante de um evento que é multideterminado e
consequentemente multi manifestado. Desta forma, o que iremos encontrar, são as
várias definições encontradas na literatura, para as interações que se constituem de
conteúdo sexual.
Viodres & Ristum (2008) informam que Knutson (1995), considera esta variabilidade
conceitual como uma ‘imprecisão terminológica’, o que revela a falta de uma rigorosa
e clara conceituação (Faleiros & Campos, 2000). Com isso, para um evento
multideterminado, de multi manifestação, temos multiprofissionais envolvidos, o que
gera dificuldade no trabalho interdisciplinar. Desta forma, como esclarece o médico
ginecologista Drezett (2004), a diversidade conceitual, resulta na dificuldade em
atender adequadamente aos aspectos médico, jurídico, psicológico e ético que tais
crimes envolvem.
Abuso sexual extrafamiliar: abuso sexual que ocorre fora do âmbito familiar.
67
Abuso sexual sem contato físico: Ato ou jogo sexual envolvendo crianças e/ou
adolescentes e adultos ou adolescentes mais velhos, sem a ocorrência de
contato físico. Pode se dar na forma de assédio sexual; abuso sexual verbal;
telefonemas obscenos, exibicionismo, voyerismo e pornografia (fotografar ou
filmar crianças e/ ou adolescentes desnudos; Exposição de fotos/imagens
através da Internet).
Abuso sexual verbal: utilizado para despertar interesse das crianças e /ou
adolescentes ou para assustá-las; telefonemas obscenos nos quais ofensas de
natureza sexual são ditas e /ou são feitos convites explícitos de contato sexual
as crianças e /ou adolescentes;
68
Junior & Junior (2014), apresenta alguns conceitos, tais como:
“...um ato não precisa ser necessariamente violento. O ato sexual, embora não
violento, quando praticado contra criança ou adolescente, pode provocar
tanto danos físicos, verificáveis, quanto danos realísticos à integridade
psíquica e moral, não verificáveis por meio de exame físico, que serão tão
maiores quando mais tenra a idade da criança/adolescente envolvida na
prática, e merecerão valoração jurídico-penal igualmente proporcional
(Bretan, 2012, p. 104).
69
de qualquer uma das atividades acima. (Innocenti Research Centre, do UNICEF,
2011, p. 30, tradução nossa).
De acordo com a definição do Ministério da Saúde (2002), o abuso sexual consiste em:
70
“Abuso sexual infantil é o envolvimento de uma criança em atividade sexual
que ele ou ela não compreende completamente, é incapaz de consentir, ou
para a qual, em função de seu desenvolvimento, a criança não está preparada
e não pode consentir, ou que viole as leis ou tabus da sociedade. O abuso
sexual infantil é evidenciado por estas atividades entre uma criança e um
adulto ou outra criança, que, em razão da idade ou do desenvolvimento, está
em uma relação de responsabilidade, confiança ou poder (World Health
Organization - WHO, 1999, p. 7).”
“... o abuso sexual supõe uma disfunção em três níveis: o poder exercido pelo
grande (forte) sobre o pequeno (fraco); a confiança que o pequeno
(dependente) tem no grande (protetor); e o uso delinqüente da sexualidade,
ou seja, o atentado ao direito que todo indivíduo tem de propriedade sobre
seu corpo (Gabel, 1997, p. 5).
Forward e Buck (in Cohen, 1993, 17-18), diferenciam a violência sexual em duas visões:
71
ou comunicante, caso eles assumam o papel de pais (Forward e Buck; in
Cohen, 1993, 17-18).”
Viodres & Ristum (2008) informam que a violência sexual pode ainda comportar as
sub-categorias: doméstica, intra-familiar e extra-familiar e destacam: a violência
doméstica é exercida na esfera privada, dentro da residência da vítima; os agressores
não são necessariamente familiares, mas que vivem na mesma casa. A violência sexual
intra-familiar acontece dentro da família, é perpetrada por agressor que possui uma
relação de parentesco ou vínculo familiar com a vítima e algum poder sobre ela, tanto
do ponto de vista hierárquico (pai, comunicante, padrasto e tios) como do ponto de
vista afetivo (primos e irmãos), e que vive ou não sob o mesmo teto da vítima (Araújo,
2002), ou seja, quando existe um laço familiar (direto ou não) ou relação de
responsabilidade (Cohen, 1993; ABRAPIA, 2002 apud Santos; Neumann; Ippolito,
2004, p. 37). Azevedo e Guerra (1988, p. 32 apud Bretan, 2012, p. 105) conceituam o
abuso sexual intrafamiliar como: Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou
responsáveis contra crianças e/ou adolescentes que – sendo capaz de causar dano
físico, sexual e/ou psicológico à criança. As sub-categorias doméstica e intra-familiar
não são necessariamente excludentes e podem ocorrer, a exemplo, por um avô contra
seu neto, pode ser classificada como violência doméstica intra-familiar, por habitarem
em um mesmo espaço físico e por possuírem laços familiares (Viodres & Ristum,
2008).
72
Ferreira (2002) ainda destaca que as definições de ‘abuso sexual ’de crianças tendem a
focalizar dois aspectos: nos adultos que interagem sexualmente com crianças e assim
os estudos destacam as desordens mentais destes sujeitos, e na descrição da natureza
da interação sexual de adultos com crianças.
Já que este trabalho teve em sua base orientativa também o estudo da tese de Ferreira
(2002), a pesquisadora iniciou a busca por indicadores pela descrição das três
dimensões que apontam a natureza do ‘abuso sexual’, apresentado por Ferreira (2002),
segundo a descrição de Conte (1993) que descreve a ‘natureza do abuso sob três
dimensões’:
Segundo Ferreira (2002) das três dimensões, a última é a que mais apresenta
dificuldades em sua determinação e para Heger (1996) a grande variedade de formas
de apresentação dos comportamentos sexuais, muitas vezes inaparente fisicamente é
o que dificulta a identificação, em especial para a área médica e no nosso caso, policial.
Ferreira (2002) destaca Finkelhor & Hotaling (1984), (apud Amazarray & Koller, 1998)
que na caracterização do ‘abuso sexual’, apontam: elementos de coerção, o tipo de
comportamento envolvido e a diferença de idade. Quanto a diferença de idade entre
a vítima e o agressor, os autores, consideram significativa quando: cinco anos ou mais,
se esta tiver menos de 12 anos e 10 anos ou mais quando a vítima tiver entre 13 e 16
anos. Ferreira (2002) ainda destaca que o Ministério da Justiça do Brasil e UNICEF
(1996), recomenda que planos e política pública sejam feitos com base em diagnósticos
quali-quantitativos do problema.
Em seu trabalho sobre a evolução da reprodução humana, Roger Short (1979: 197)
argumenta que:
73
Mudanças deste tipo e outras por sua vez, social, política e afetiva, permitiu o
surgimento de erotismo, especificamente histórico, dado pela experiência humana e
não determinado pela biologia (Roger Short, 1979). Cosmides e Tobby (1999)
informam que a filogenética aponta para a existência de ‘competências naturais’, e
essas competências naturais são adaptações produzidas pela seleção natural e pela
seleção sexual de uma interação genes/fatores ambientais que produzem uma série
predisposições comportamentais, com a finalidade específica de resolver problemas
quanto a sobrevivência e reprodução de uma espécie, como: o forrageio (busca por
alimentos), seleção de parceiro reprodutivo, evitação do incesto e hierarquia (Bastos e
Rocha, 2007). O Código Civil Brasileiro Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
regulamenta de acordo com a relação de parentesco, em que considera a
consanguinidade, a celebração do casamento civil. Para tal ato, é essencial a
verificação da existência ou não de impedimentos matrimoniais, que proíbem a sua
celebração, causando a invalidade (nulidade absoluta) do casamento que foi realizado
sem a sua verificação (Cavalcanti, 2005), conforme o artigo 1521 do Código Civil
Brasileiro/2002, que determina o seguinte:
III. O adotante com quem foi o cônjuge do adotado e o adotado com quem o
foi do adotante.
74
Considera-se também que o sexo envolve uma série de atributos sociais, econômicos,
jurídicos e políticos, que pré-determina as formas sexuais em relação ao
comportamento, atitudes, sentimentos, percepções, intelecto, emoções, força física,
preferências, hábitos e práticas eróticas, e assim por diante. E por meio das práticas
sexuais aceitas em uma determinada comunidade social podemos acessar o que é uma
qualidade moral e como é reconhecida (Roger Short, 1979), conforme explica Michael
(1992, Forewords I; in Verbal Behavior 1957, 1992):
Segundo Gabel (1997, p.12), “a abordagem que uma sociedade faz dos abusos sexuais
está necessariamente ligada às mudanças nas relações entre os interesses do Estado,
da família e da criança em particular, e ao papel atribuído à criança numa sociedade
determinada”. Tal situação foi observada, paulatinamente, na passagem da sociedade
medieval à moderna, nesta há uma percepção diferente da criança, surgindo o dever
de cuidar e protegê-la contra os abusos antes cometidos com naturalidade e, com esta
nova visão, houve, conseqüentemente, uma transformação na legislação do Estado
para assegurar este novo pensamento. A definição do que possa ser uma prática
abusiva passa sempre por uma negociação entre a cultura, a ciência e os movimentos
da sociedade (Deslandes, 1994). Os maus-tratos contra a criança e adolescente podem
ser praticados pela omissão, pela supressão ou pela transgressão dos seus direitos,
definidos por convenções legais ou normas culturais.
75
obrigatoriedade da notificação dos casos de abuso sexual infantil por parte dos
profissionais de saúde às agências de proteção do estado. Apesar ainda de comumente
ocorrer a subnotificação, ou seja, a não notificação, sendo esta tanto uma questão tanto
nacional, quanto internacional (Souza, Assis e Alzuguir, 2002).
76
III Marcos sócios-legais
1 Marcos Internacionais
Os tratados internacionais surgem com o objetivo de estabelecer relações pacíficas
entre partes signatárias. O primeiro registro desta modalidade foi o Tratado Egípcio
Hitita, usualmente designado por Tratado de Kadesh ou Tratado de Qadesh, foi um
tratado de paz celebrado entre o faraó egípcio Ramsés II e o rei Hitita Hatusil III ca.
Em 1 259 a.C. (Bryce, 1999; Klengel, 2002).
Tal manobra fez-se necessária, pois, nem mesmo a Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão de 1789, que foi inspirada na Declaração de Virginia, da independência
americana de 1776, e que serviu de preâmbulo também à primeira Constituição da
Revolução Francesa, adotada em 1791, não apresentaram pontos específicos para a
criança, ainda que proclamasse a igualdade (Embaixada da França no Brasil, 2016).
Com isso, por não haver entidades específicas que defendessem os direitos das
crianças, Mary Ellen foi protegida pela Sociedade Norte Americana para Prevenir a
77
Crueldade contra os Animais, com base no pressuposto que, crianças, também faziam
parte do reino animal (Barry, 1999).
O século XIX (de 1801 a 1900) foi um período histórico marcado pelo colapso dos
impérios da Espanha, China, França, Sacro Império Romano-Germânico e Mogol. O
século também testemunhou o crescimento da influência dos
impérios Britânico, Russo, Alemão, Japonês, e dos Estados Unidos. O século XIX
presenciou fortes conflitos militares, mas também avanços científicos e de exploração.
O desenvolvimento da medicina se relaciona diretamente com a migração,
superlotação das cidades e as precárias condições de vida da classe trabalhadora
própria da Revolução Industrial. A sua consequência foi a proliferação das doenças
infecciosas (sífilis, tuberculose) ou relacionadas com a má alimentação (pelagra,
raquitismo, escorbuto).
Em 1919, Eglantyne Jebb, com o auxílio de sua irmã Dorothy Buxton funda o ‘Save the
Children’, em Londres, organização não governamental, voltada para amenizar o
impacto do pós Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa, na vida das crianças,
com o objetivo de alimentá-las. Tal iniciativa vem da lentidão do governo na
Inglaterra, em tomar providências ágeis em relação ao acesso a comida pelas crianças.
Englantyne Jebb, estudou história em Oxford e em 1906, estudou ciências sociais em
Cambridge, no qual se aproxima de uma instituição de caridade de nome Charity Or
ganisation Society e publica o livro: ‘Um breve estudo das questões sociais’, sem muita
repercussão. Em 1920, com o apoio do ‘Comitê Internacional da Cruz Vermelha –
CICR’, o ‘Save the Children Fund ’se estrutura e funda o ‘Save the Children Inernacional
Union’, com a denominação francesa de ‘Union Internationale de Secours aux Enfants -
UISE’. A expectativa de Englantyne era de criar um fórum internacional reconhecido
mundialmente, similar a Cruz Vermelha. A UISE, estabeleceu sede em Genebra e
78
estabeleceu laços estreitos pessoais e de trabalho com a Cruz Vermelha, ao ponto de
constituir uma tradição de que o presidente da Cruz Vermelha, fizesse parte do
Comitê de Honra da UISE. Com vasta representatividade e atuação a ‘Save the Children
Fund ’britânica, pertencente a UISE, apresentou em 1922 a ‘Carta a Infância’, com um
enunciado de quatro princípios gerais e vinte e oito clausulas, sendo que alguns destes
princípios gerais podem ser reconhecidos na Declaração de Genebra, em que
destacaram como inspiradora Englantyne. A Declaração de Genebra foi considerada
a primeira ‘Carta de Direitos das Crianças’, Save the Children.
Em 1924, a Liga das Nações adota a Carta de Eglantyne sobre os direitos das crianças
1924 - A Sociedade das Nações adota a Declaração dos Direitos da Criança de Genebra,
que determinava sobre a necessidade de proporcionar à criança uma proteção
especial. Pela primeira vez, uma entidade internacional tomou posição definida ao
recomendar aos Estados filiados cuidados legislativos próprios, destinados a
beneficiar especialmente a população infantojuvenil. Em 1927, ocorre o IV Congresso
Panamericano da criança, onde dez países (Argentina, Bolívia, Brasil, Cuba, Chile,
Equador, Estados Unidos, Peru, Uruguai e Venezuela) subscrevem a ata de fundação
do Instituto Interamericano Del Niño, Instituto Interamericano da Criança - IIN, que
atualmente encontra-se vinculado à Organização dos Estados Americanos – OEA, e
estendido à adolescência, cujo organismo destina-se a promoção do bem-estar da
infância e da maternidade na região (Droux Joelle, 2011).
79
Ano Internacional da Criança, que já havia mobilizado a sociedade internacional em
prol de uma agenda para a infância (Mariano, 2010).
2 Nacionais
No Brasil em 1891, no governo do Marechal Deodoro da Fonseca, houve o Decreto nº
1.313 – que estipulava em 12 anos a idade mínima para se trabalhar. No início do
século XX, liderado por trabalhadores urbanos, o Comitê de Defesa Proletária foi
criado durante a greve geral de 1917, e que reivindicava, entre outras coisas, a
proibição do trabalho de menores de 14 anos e a abolição do trabalho noturno de
mulheres e de menores de 18 anos.
80
Em 1940, Myra y López, foi convidado por Helena Antipoff, para organizar e
supervisionar o Serviço de Orientação Profissional da Secretaria de Educação do
Estado de Minas Gerais, sendo ainda contratado para organizar, junto com Antipoffxiv,
o Departamento Nacional da Criança - DNCr. O Departamento Nacional da Criança
era responsável pela coordenação, em âmbito federal, das atividades voltadas à
maternidade, infância e juventude, no contexto do Ministério da Educação e Saúde.
Sua criação, em 1940, está vinculada à preocupação do governo do Estado Novo com
a educação e assistência à criança e à juventude, como forma de garantir o futuro da
nação (Degani-Carneiro & Jacó-Vilela, 2012). Em 1942, no período do Estado Novo, do
Presidente Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor - SAM. Tratava-se de
um órgão do Ministério da Justiça e que funcionava como um equivalente do sistema
Penitenciário para a população menor de idade. Sua orientação era correcional
repressiva (Ministério Público do Rio Grande do Sul, 2016). O Governo Vargas é
deposto em 1945 e uma nova constituição é promulgada em 1946, a quarta
Constituição do país, no governo de Eurico Gaspar Dutra. De caráter liberal, esta
constituição simbolizou a volta das instituições democráticas. Restabeleceu a
independência entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, acabou também
com a censura e a pena de morte (Boris, 1994).
Em 1967, houve a elaboração de uma nova Constituição, e neste período foi criado por
lei, a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - FUNABEM, pela Lei 4.513 de
1/12/64, no governo militar de Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Em
1979, no governo do General Ernesto Geisel, institui-se o Código de Menores de 79
(Lei 6697 de 10/10/79) (Boris, 1994).
Em 1950, foi instalado o primeiro escritório do United Nations Children s Fund, Fundo
das Nações Unidas para a Infância - UNICEF no Brasil, em João Pessoa, na Paraíba. O
81
primeiro projeto realizado no Brasil destinou-se às iniciativas de proteção à saúde da
criança e da gestante em alguns estados do nordeste do país (Rizzini & Rizzini, 2004).
Em 1964, Lei 4513, cria a Fundação Nacional do Menor, no governo Castello Branco,
e em 1965, por meio da Lei 4884 de 9 de dezembro, institui-se a primeira verba
especifica para a área da infância, que concede a Fundação Nacional do Bem-Estar do
Menor a autorização de credito especial para atender a fundação.
82
serviços por omissão da sociedade ou do Estado e pela omissão, abuso ou conduta
inadequada dos pais ou responsáveis e visa coibir a violação de direitos da criança e
do adolescente.
83
O Sistema de Defesa, é nomeado como Sistema de Garantia de Direitos da Criança e
do Adolescente – SGDCA e é composto por diversos órgãos: Conselhos Tutelares,
Conselhos de Direitos, Defensorias Públicas, Delegacia de Proteção, Varas da Infância
e Adolescência, Juizados da Infância e Centros de Defesa. A implantação destes órgãos
depende diretamente da iniciativa local municipal ou estadual. Os Conselhos de
Direitos surgem com base no Princípio da Democracia Participativa, previsto
na Constituição Federal de 1988. O artigo 88, inciso II, do ECA, dispõe sobre a criação
de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente,
como órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a
participação popular paritária por meio de organizações representativas, segundo leis
federal, estaduais e municipais.
84
composto por: Conselheiros de Direitos, Conselheiros Tutelares, Defensores Públicos,
Delegados de Polícia, Representantes de Centros de Defesa, Policiais, seguranças de
escolas, Lideranças comunitárias, Educadores e Representantes de Organizações Não
Governamentais na linha da defesa de direitos.
85
No período de 2000 a 2002, foi apoiada a criação de dezessete unidades de Delegacias
de Proteção, 23 Núcleos Estaduais de Atendimento no âmbito das Defensorias
Públicas e mais de duzentos municipais e dezessete Centros de Defesa. Mas somente
em 2004 foi criada a primeira delegacia especializada, a empresa Itaipu viabilizou
junto à Secretaria de Segurança Pública do Paraná a instalação na cidade do Núcleo
de Proteção às Crianças e aos Adolescentes Vítimas de Crimes (Nucria). O Nucria é a
primeira delegacia especializada na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes
do Brasil. A Itaipu cedeu por comodato e reformou um imóvel na “Vila A” para
instalá-la. A empresa doou, ainda, três automóveis. O Nucria está em atividade desde
dezembro de 2004. Com brinquedos e material escolar disponíveis para as crianças, o
ambiente em nada lembra o de uma delegacia. A partir de 2004 surgiram as demais
delegacias especializadas no atendimento e proteção à criança xvi , com
aproximadamente 35 delegacias no território nacional.
86
IV O Sistema de Segurança Pública Brasileiro na
Defesa Infanto-Juvenil
Segundo Carvalho & Silva (2011), a segurança pública é considerada uma demanda
social que necessita de estruturas estatais e demais organizações da sociedade para
ser efetivada. Às instituições ou órgãos estatais, incumbidos de adotar ações voltadas
para garantir a segurança da sociedade, denomina-se sistema de segurança pública,
tendo como eixo político estratégico a política de segurança pública, ou seja, o
conjunto de ações delineadas em planos e programas e implementados como forma
de garantir a segurança individual e coletiva. Como grande linha ação temos o
delineamento do Plano Nacional de Segurança Pública - PNSP, implementado a partir
do ano 2000, e do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania -
PRONASCI, estruturado em 2007, e ainda em execução, ambos de iniciativa do
Governo Federal (Carvalho & Silva, 2011). Nas políticas sociais, a complexidade da
política de segurança pública envolve diversas instâncias governamentais e os três
poderes da república. Cabe ao Poder Executivo o planejamento e a gestão de políticas
87
de segurança pública que visem à prevenção e à repressão da criminalidade e da
violência e à execução penal; ao Poder Judiciário cabe assegurar a tramitação
processual e a aplicação da legislação vigente; e compete ao Poder Legislativo
estabelecer ordenamentos jurídicos, imprescindíveis ao funcionamento adequado do
sistema de justiça criminal (Carvalho & Silva, 2011).
88
a partir do ano 2007, já no segundo mandato do presidente Lula, foi apresentado um
novo programa na área da segurança pública, o PRONASCI – Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania.
A política de segurança pública implantada pelo governo Lula surgiu em 2001, a partir
da elaboração, por parte da ONG Instituto da Cidadania, do Projeto de Segurança
Pública para o Brasil, que serviu de base para o programa de governo durante a
disputa eleitoral em 2002. A ideia primordial era reformar as instituições da segurança
pública e implantar o Sistema Único de Segurança Pública – SUSP, para atuar de forma
articulada, por meio de políticas preventivas, principalmente voltadas para a
juventude (Lopes, 2009, p. 75).
Buscando a integração nas ações, voltadas para a segurança pública, praticadas pelo
Estado brasileiro a partir do ano 2007, o Governo Federal instituiu o Programa
Nacional de Segurança Pública com Cidadania - PRONASCI, em parceria com estados
da federação, combinando essas ações com políticas sociais para a prevenção, controle
e repressão à criminalidade, principalmente em áreas metropolitanas com altos índi
ces de violência. Nessa perspectiva, estabeleceram-se metas e investimentos que
apontam avanços na constituição da política pública de reestruturação do sistema de
segurança no seu todo, incluindo-se aí a esfera prisional, redefinindo as estratégias de
ação e gestão.
89
144 da Constituição, busca-se instituir o Sistema único de Segurança Pública – SUSP,
que dispõe sobre a segurança cidadã. Em 2012, a PL 1937/2007, foi transformada na
PL 3734/12 e que atualmente em novembro de 2016, se encontra na Comissão de
Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado - CSPCCO, desde a data do dia
18 de maio de 2016.
O Governo Federal, no período de Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do Ministério
da Justiça, iniciou em 2003 uma nova etapa na história da segurança pública brasileira,
que foi a implantação do Sistema Único de Segurança Pública – SUSP, como principal
ação da Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP/MJ, que se consolidou
como um órgão central no planejamento e execução das ações de segurança pública
em todo o Brasil - SENASP (2003, 2004, 2005).
Como órgão de âmbito nacional, a SENASP, criada em 1998, tem por finalidade
assessorar o Ministro de Estado na definição e implementação da política nacional de
segurança pública e, em todo o território nacional, acompanhar as atividades dos
órgãos responsáveis pela segurança pública, por meio das seguintes ações: apoiar a
modernização do aparelho policial do País; ampliar o Sistema Nacional de
Informações de Justiça e Segurança Pública - INFOSEG; efetivar o intercâmbio de ex
periências técnicas e operacionais entre os serviços policiais; estimular a capacitação
dos profissionais da área de segurança pública; e realizar estudos e pesquisas e
consolidar estatísticas nacionais de crimes. Apesar de não ter a função de executar
ações operacionais no controle da violência e criminalidade, a SENASP é responsável
por promover a qualificação, padronização e integração das ações executadas pelas
organizações de segurança pública de todo o país, em um contexto caracterizado pela
autonomia destas organizações (SENASP, 2003, 2004, 2005).
90
A filosofia do SUSP, tem na base o conceito de segurança cidadã, que é a transição de
uma cultura da guerra para uma cultura da paz, em que, afirmar que o cidadão é o
destinatário dos serviços de segurança pública e significa reconhecer que compete à
polícia trabalhar pelo estabelecimento das relações pacíficas entre os cidadãos,
respeitar as diferenças de gênero, classe, idade, pensamento, crenças e etnia e criar
ações de proteção aos direitos dos diferentes. Com isso, não se pretende a abdicação
da força, mas seu uso - quando necessário - de forma técnica, racional e ética (SENASP,
2003, 2004, 2005).
91
1791, a Maréchaussée é transformada em Gendarmerie Nationale, reconhecida como
força policial encarregada de trazer os criminosos às mãos da Justiça Real (Ferreira e
dos Reis, 2012; Emsley, 2002, 2011).
Em 1667, o Rei Luis XIV, já havia criado na cidade de Paris, o cargo de ‘Tenente de
Polícia de Paris ’(Monet, 2001; Emsley, 2002) estabelecendo assim o outro ‘pilar’, com
status civil, do que é hoje o Sistema Francês de Polícia. O ‘tenente de polícia’, se
reportava diretamente ao rei e não ao legislativo, e além de zelar pela Segurança Pú
blica, também se responsabilizava pelas medidas de Administração, mais específico,
pela Intendência da Cidade de Paris e responsável pela parte de Polícia Política
(Monet, 2001). Assim como a Gendarmerie Nationale, a ideia do ‘Tenente de Polícia ’
será adotada por outros países europeus (Monet, 2001), como exemplos a Rússia, a
Áustria e a Prússia, no século XVIII. E segundo Emsley (2002), este descreve que este
modelo, vira regra entre os Reinos Absolutistas xvii europeus do século XVIII,
Inglaterra, França, Espanha, Portugal e Rússia.
Mesmo repelido pelos ingleses, por instituírem, desde 1829, o Sistema Inglês de
Polícia, com a fundação da Metropolitan Police, o Sistema Francês de Polícia se
difunde e embora rechaçado pelos Ingleses, é adotado em diversos países europeus e
em algumas das suas colônias, principalmente na África. Entre países da Europa que
até hoje empregam este sistema, além da própria França, podemos citar
principalmente Holanda, Espanha, Itália e Portugal (Monet, 2001), assim como o Japão
(Rico, 1983a).
92
gendarmaria chilena é designada ‘carabineiros’. Na Alemanha, o termo “gendarma
ria” era usado como título da força de polícia militar do exército, porém sem funções
de policiamento civil, que são inerentes a uma verdadeira gendarmaria (Emsley, 2002,
2011).
O primeiro corpo de agentes da polícia portuguesa, foi criado por Dom Fernando I,
em seu reinado de 1367 a 1383, em setembro 1383. Os chamados Quadrilheiros, com
um efetivo de 20 elementos, foram recrutados à força, entre os homens mais fortes
fisicamente, para servir de Lisboa. Estes homens estavam sujeitos ao conselho da
cidade por três anos, e obrigados a jurar lealdade e exibir em suas casas, uma vara
sempre a porta, o que representa um símbolo de sua autoridade para prender e
criminosos e levá-los diretamente para os‘ Corregedores’ (magistrados). No pós
Terremoto de 1755, com o objetivo de manter a ordem pública, foi criado Resoluções
e Leis, numa filosofia de que alguns que se aproveitavam da desolação e anarquia
reinante, necessitavam de regras limitantes. Neste contexto, Sebastião José de
Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, em 1760, viu-se na imperiosa necessidade de
criar um organismo que centralizasse todas as leis já publicadas, assim, pela Lei de 25
e Junho de 1760, é criada a Intendência da Polícia da Corte e do Reino. É criado o lugar
de Intendente-Geral da Polícia da Corte e do Reino, com ilimitada jurisdição, em
matéria de Polícia, sobre todos os ministros criminais e civis que a ele recorressem e
que dele recebessem ordens. Com este Decreto ficava o Intendente, em matéria de
segurança pública, com mais poderes que o próprio Governo. Foi primeiro
Intendente-Geral o Desembargador Inácio Ferreira Souto. É a partir deste momento
que o termo ‘Polícia ’se vulgariza, pois, até então o Quadrilheiro era denominado
93
como Sizudo, Morcego ou Noturno, por exercer a sua atividade apenas de noite
(Ferreira e dos Reis, 2012; Emsley, 2002, 2011).
De 1801 a 1808, a Guarda Real, foi comandada pelo Coronel Jean-Victor, Conde de
Novion, emigrado francês que havia entrado para o exército português. Em termos
hierárquicos, a Guarda da Polícia estava subordinada ao General das Armas, para
assuntos de natureza militar, e ao Intendente da Polícia, para a execução das ordens e
requisições relativas à polícia (Cotta, 2009).
94
transferência da administração do Reino Português para esta cidade, a consequência
lógica disto foi a replicação, na cidade do Rio de Janeiro, das instituições da
administração governamental lusitana (Bayley, 2006; Ferreira e dos Reis, 2012). Entre
as instituições concebidas em decorrência da transferência, ocorre a criação da
Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil (1808) e a da Divisão
Militar da Guarda Real da Polícia (1809), sendo esta a primeira implantação do
Sistema Francês de Polícia na América (Bayley, 2006; Ferreira e dos Reis, 2012). Com
isso, a Intendência Geral da Polícia e da Corte, assumia da mesma forma e jurisdição
o modelo de Portugal, que pretendia organizar espaços e disciplinar os costumes
conforme o paradigma da ‘civilização ’europeia. Assim a polícia assume o papel de
‘agente civilizador’, responsável pela difusão de valores e códigos de comportamentos
sociais (Silva, 1986).
Até o início do século XIX não havia em Portugal, tampouco no Brasil, uma força pú
blica separada da esfera judicial e das instituições bélicas. Tal modelo seria
inaugurado inicialmente pela França revolucionária. Em Portugal, polícia e ordem
chegavam a se confundir e no início do século XIX, os portugueses entendiam a polícia
como governo e boa administração do Estado, da segurança dos cidadãos, da
salubridade e subsistência. Portanto, a polícia estava atrelada à idéia de limpeza, ilu
minação e à vigilância (Bluteau, 1712, in Cotta, 2009).
Ainda no século XIX, o entendimento do que era polícia, não se limitava, a ideia de
repressão e controle social, mas também como a mantenedora da ordem estabelecida,
o que permaneceu como fio condutor para as ações das instituições responsáveis pela
polícia no Brasil. Com ações que buscavam unir ordem e civilização (Bluteau, 1712, in
Cotta, 2009).
Esta experiência vai funcionar de forma contínua até 1831, período que o Imperador
D. Pedro I abdica em favor do seu filho D Pedro II e inicia-se a Regência, e a Guarda
Imperial da Polícia foi extinta em 17 de julho de 1831 e o patrulhamento da cidade do
95
Rio de Janeiro, foi realizado pelo Batalhão Sagrado: uma unidade composta por
militares do Exército Imperial, por aproximadamente 3 meses (Filho, 1939). Buscando
resolver tal situação, os dirigentes da regência autorizaram a criação de um novo
organismo armado para assegurar a estabilidade política do país (Holloway, 1997). Os
regimentos eram formados nos municípios e eram submetidos ao juiz de paz,
presidente de Província e o ministro da Justiça (Ferreira e dos Reis, 2012).
Apesar de fazer parte da nossa estrutura administrativa estatal há mais de 200 anos,
podemos dizer que o sistema Francês de Polícia é um emérito desconhecido no nosso
país. Isto faz com que a Segurança Pública no Brasil sofra intervenções, numa
tentativa de direcioná-la para o que por desconhecimento parece ser o caminho
adequado (Ferreira e dos Reis, 2012).
96
A existência de uma instituição policial com característica Militar, como parte deste
sistema.
Os policiólogos são unânimes em afirmar que não existe um modelo ideal de polícia.
Os modelos existentes variam consideravelmente, podendo-se admitir como
macromodelos os de tipo europeu continental e o anglo-saxônico. Os estudos
destacam duas diferenças básicas, uma sendo o modelo britânico, que tem na sua base,
a proteção contra o crime e o modelo francês, que atua na ordem. Se os britânicos têm
um dom com a proximidade á comunidade, os franceses têm um caminho com
tumultos e distúrbios civis. Para a polícia francesa, qualquer pensamento de combinar
gendarmes e polícia nacional para o bem da Economia em uma única força, é anulada
pelo pensamento maior de que a ordem não pode ser deixada ao acaso. A Grã
Bretanha tem 52 forças separadas, a exemplo, os constabularies (unidades do exército
militar), que inclue a Polícia Metropolitana de Londres, sendo que o Ministério do
Interior lidera a imigração e os passaportes, a política de drogas, a política de
criminalidade e a luta contra o terrorismo e trabalha para garantir um policiamento
visível, responsivo e responsável no Reino Unido e o Home Office, que é um
departamento ministerial, apoiado por 26 agências e órgãos públicos, que tem
permanecido na linha de frente deste esforço desde 1782(Lawday, 2001).
97
cargo de Intendente Geral de Polícia, por alvará de 10 de maio de 1808. No Brasil,
entre 1808 até 1827 as funções policiais e judiciárias eram acumuladas e exercidas por
meio de uma única autoridade, o Desembargador Paulo Fernandes Viana,
reconhecido como o primeiro intendente de polícia. Neste momento colonial as
atividades policiais eram pautadas no princípio da repressão, com a presença de mais
sentenças do que de lei, ou seja, um caráter essencialmente punitivo (Edmundo, 1951).
98
separando-se Justiça e Polícia de uma mesma organização trazendo inovações que
continuam até hoje, como o inquérito policial, criado no mesmo ano, de 1841, tal como:
“Secção III
Do inquerito policial
Em geral tudo o que fôr util para esclarecimento do facto e das suas
circumstancias.”
99
diversas Províncias, continuará subordinada e exclusivamente dependente de
Governo Provisório da República, podendo os Governos locais, pelos meios
ao seu alcance, decretar a organização de uma guarda cívica destinada ao
policiamento do território de cada um dos novos Estados”.
Proveniente deste decreto de 1907, outro que se dedicou exclusivamente a polícia, foi
o Decreto n° 22.332 de 10 de janeiro de 1933 que reajustou o serviço policial do Distrito
Federal, com vistas a reorganização judiciaria, com destaque para os órgãos e cargos
administrativo da agora nomeada: ‘Policia Civil do Distrito Federal’. Neste decreto foi
criada a primeira especializada, tal como especificado no artigo 18, com o objetivo de
entrever e coibir comportamentos políticos divergentes, considerados capazes de
comprometer "a ordem e a segurança pública (Aragão, 2012):
“Art. 18. A Delegacia Especial de Segurança Política e Social, criada por esta
lei, será independente da polícia administrativa e judiciaria, e terá as
atribuições que lhe forem dadas em regulamento especial ficando diretamente
subordinada ao chefe de Polícia”.
Em 1964, o golpe militar que pôs fim à “experiência democrática” dos anos 1950,
estabeleceu um regime burocrático-autoritário, conduzido por militares e civis, que
100
iria se estender até 1985. O regime militar restringiu a participação política e ampliou
o poder das Forças Armadas. Essa nova ordem política era justificada a partir da noção
de inimigo interno inscrita na Doutrina de Segurança Nacional, desenvolvida pela
Escola Superior de Guerra do Exército brasileiro (Carvalho, 2007).
A exemplo da Era Vargas, o aparato policial foi utilizado para conter a oposição polí
tica. Para tal, usou e abusou da repressão, da tortura e das prisões. A violência policial
foi o instrumento utilizado contra a dissidência política. Entretanto, diferentemente
do que ocorreu na ditadura de Vargas, não foram apenas as Polícias que praticaram a
repressão política, mas também as Forças Armadas que, nesse período, detiveram o
monopólio da coerção político-ideológica (Costa, 2004).
101
V Investigação Criminal nos Crimes Contra a
Dignidade Sexual de Infantes
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no seu Art. 24, que explica:
Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre,
especificamente no XVI, em que traz o texto: organização, garantias, direitos e deveres
das polícias civis.
Com isso, em 1993, a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, por meio
do autor, Deputado Luiz Carlos Hauly e do relator, Deputado Antônio Carlos
Pannunzio, institui a Lei Orgânica Nacional das Polícias Civis, por meio do Projeto de
Lei nº 4371 de 1993. Foi apensado ao Projeto de Lei nº 3274 de 2000, que surgiu pela
necessidade de regulamentação da Constituição Federal nos termos do artigo 24. O
Projeto de Lei nº 3.274, de 2000, institui a Lei Orgânica da Polícia Civil, composta de 5
capítulos, além das disposições finais, que tratavam: das funções, dos princípios, da
organização, das carreiras policiais civis e do regime disciplinar. Diante da evolução
da regulamentação, houve o Projeto de Lei nº 1.949, de 2007, que institui a Lei Geral
da Polícia Civil, com 5 capítulos, em que conta: dos princípios e das competências, da
organização e do funcionamento dos servidores da polícia civil, do regime disciplinar
e das disposições finais.
CAPÍTULO III
Seção I
Do Quadro de Pessoal Efetivo
Art. 48. O quadro básico de pessoal efetivo da Polícia Civil é integrado pelos
seguintes cargos, como essenciais para o seu funcionamento:
I – Delegado de Polícia;
II – Escrivão de Polícia;
102
III– Agente de Polícia.
IV – Papiloscopista Policial;
103
No comprometimento para abrigar a sede desta especializada, em 2004, houve o
empenho do Promotor de Justiça Saulo de Castro Bezerra, na época Coordenador do
Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público de Goiás,
junto ao Delegado Abdul Sebba, que na oportunidade forneceu um dos anexos do
conjunto de Especializadas da cidade de Goiânia.
104
a) Policia Judiciária, responsável pela realização da investigação preliminar por meio
de inquérito policial. Instaurado o Inquérito Policial, não poderá a autoridade policial
arquivá-lo, Art. 17 do Código de Processo Penal – CPP. Deverá ser encaminhado ao
órgão da ação que é seu destinatário. Nesta segunda fase da persecução penal, se o
Ministério Público concluir pela inexistência do delito pedirá seu arquivamento
(Garcia, 1978), ficando o Inquérito Policial, sujeito ao disposto do Art. 28 do Código
de Processo Penal:
c) Poder Judiciário, em que por meio de seus juízes e tribunais, são competentes para
processar e julgar as causas penais.
105
Souza Filho, 2001). É iniciado, via de regra, pelo Ministério Público, com o
oferecimento da denúncia, tem seu desdobramento: defesa, instrução e alegações
finais e a decisão: em que se condena ou absolve o réu. Mirabete (2006) esclarece que
a finalidade mediata do processo penal confunde-se com a do Direito Penal, ou seja, é
a proteção da sociedade, a paz social, a defesa dos interesses jurídicos, a convivência
harmônica das pessoas no território na nação (Mirabete, 2006). O fim direto, imediato,
é conseguir, mediante a intervenção do juiz, a realização da pretensão punitiva do
Estado derivada da prática de uma infração penal, a realização do direito penal
objetivo. Para solucionar com exatidão o litígio penal, o juiz, no processo, deve apurar
a verdade nos autos a fim de aplicar, com justiça, a lei penal (Mirabete, 2006). Nesta
segunda etapa pode ocorrer a Execução Penal, em que acontece, somente se houver
condenação na segunda etapa, executando-se a pena imposta indefinitiva, conforme
dispõe a lei das execuções penais, Lei 7.210/84.
As partes, no processo penal, são vinculadas por tal forma à verdade real, que cabe ao
juiz, e não a elas, definir, segundo sua convicção, os termos da questão, como
deveriam postular-se, e os meios de prova, como haveriam de produzir-se. Essa
incumbência reflete o poder-dever inquisitivo de o juiz decidir: a) segundo as
alegações das partes, apenas e tão só quando o que elas postulam se revela conforme
a verdade real, ou quando posto por ele de conformidade com a verdade real; b,) e
com fundamento nas provas produzidas pelas partes. 'apenas e tão só quando
conformes às exigências de demonstração dessa mesma verdade real, ou quando
postas por ele de conformidade com tais exigências. A doutrina dá o nome de
Princípio da Verdade Real à regra em razão da qual o juiz vela pela conformidade da
postulação das partes com a verdade real, a ele revelada pelos resultados da instrução
criminal (Almeida, 1957).
106
Segundo Almeida (1957), sob o aspecto meramente inquisitivo, tal ajustamento, de
regra, sendo supérfluo, é implícito, visto como a ação penal se instaura, então, não por
causa da descrição histórica do fato, contida na inicial, mas por causa do fato, em sua
objetividade exterior e anterior à inicial, que esta historicamente descreve. Sob o
aspecto acusatório, entretanto, sendo função da descrição histórica feita na inicial,
aquele ajustamento deve ser explicito quanto às circunstâncias essenciais elementares
da definição jurídica da verdade real e, ainda, quanto às circunstâncias concernentes
a pressupostos processuais e condições da ação, competência, legitimidade de parte,
não estar extinta a punibilidade por prescrição ou por decadência.
Almeida (1957) discorre, que caso ocorra desajuste, o poder-dever de o juiz zelar pela
identidade do fato, o fato acusado há de ser sempre o fato ocorrido, investe-o na
prerrogativa, que exerce de ofício, de denegar recebimento à inicial desajustada,
aplicando assim a sanção processual de inadmissibilidade ao ato eivado da nulidade
prevista pelo artigo 569 do Código de Processo Penal “ –As omissões da denúncia ou
da queixa, da representação, ou, nos processos das contravenções penais, da portaria
ou do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas a todo o tempo, antes da
sentença final”. Essa prerrogativa — que reflete a obrigação do juiz: "prover à
regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos" (art. 251 do
Código de Processo Penal) — acompanha o magistrado durante toda a instrução
criminal; e, quando, ao ter de proferir a sentença penal, ainda não tenha percebido o
desajuste e só então venha a verificá-lo, está obrigado a exercê-la nos termos: dos
aludidos artigos 383 do Código de Processo Penal, que contempla que: “O juiz, sem
modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais
grave (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008) e Art. 384: “Encerrada a instrução
probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em conseqüência de
prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida
na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação
pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente (Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008) e Artigo 385: “Nos crimes de ação pública, o juiz poderá
proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela
absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada”.
107
não impede o recebimento da denúncia ou queixa, imperfeita ou incompleta por mero
acidente e não por essência (Almeida, 1957).
Nenhum processo penal pode se iniciar sem que o acusado tenha liminar
conhecimento "do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias", fato esse que
constitui o conteúdo da acusação. E nenhuma prova de acusação pode ser produzida
sem que dela se dê prévio conhecimento ao acusado, não só para que participe de sua
produção, mas também para que possa opor contraprovas de defesa. E na aplicação
prática do princípio constitucional da plenitude de defesa e da contrariedade na
instrução criminal manifesta-se, que: ninguém pode ser chamado a defender-se de
imputação indeterminada; ou, noutros termos, nenhuma acusação pode ter por objeto
Jato indeterminado. A denúncia ou a queixa não podem, incidir em omissão de cir
cunstâncias de fato, ao menos essenciais, sob sanção de nulidade: é o que se depreende
dos Arts. 569 e 384 do Código de Processo Penal. Tai dispositivos exprimem, em
termos de norma positiva, a manifesta sujeição de nosso processo penal ao princípio
do contraditório, embora, ao mesmo tempo, ao princípio inquisitivo. O acusador
postula a acusação, determinando, desde logo, na inicial, "o fato e suas circunstâncias",
para que, tendo conhecimento dessa exposição liminar, possa o acusado defender-se
com conhecimento de causa (Almeida, 1957).
Deste modo, os princípios podem ser gerais, informando todo o sistema jurídico, e
específicos, conferindo firmamento a um determinado ramo da ciência jurídica
(Pacheco, 2007).
108
- Princípio da dignidade
- Princípio da igualdade
- Princípio da humanidade
- Princípio da taxatividade
- Princípio da insignificância
- Princípio da ofensividade
- Princípio da culpabilidade
- Princípio da proporcionalidade
O direito processual penal também não foge a essa regra geral. Por se tratar de uma
ciência, têm princípios que lhe dão suporte, sejam de ordem constitucional ou
infraconstitucional, que informam todos os ramos do processo, ou sejam, específicos
do direito processual penal (Pacheco, 2007), tais como:
b) princípio da inocência;
109
d) princípio da legalidade da prisão;
e) princípio da publicidade;
h) princípio da oficialidade;
i) princípio da disponibilidade;
j) princípio da oportunidade;
k) princípio da indisponibilidade;
l) princípio da legalidade
Costa (2001) afirma, que o Princípio do Devido Processo Legal relaciona-se com o
princípio da legalidade e com a legitimidade, conforme Cintra (2001, p. 131), o devido
processo legal é o “processo devidamente estruturado” mediante o qual se faz
presente a legitimidade da jurisdição, entendida jurisdição como poder, função e
atividade e esclarece:
110
à ampla defesa, à defesa oral, à apresentação de provas na defesa de seus
interesses, a ter um defensor legalmente habilitado (advogado), ao
contraditório, à contra-argumentação face às provas arroladas pela outra
parte (inclusive quando se tratar de prova testemunhal), a juiz natural, a
julgamento público mediante provas lícitas, à imparcialidade do juiz, a uma
sentença fundamentada, ao duplo grau de jurisdição e à coisa julgada. É
precisamente nesse aspecto processual que se faz uso, no Brasil, da expressão
“devido processo legal” e se insere o contraditório, que, de forma conjunta
com o direito de ação, a ampla defesa e a igualdade de todos perante a lei,
enfeixa o acesso à justiça.(Costa, 2001)”
O artigo 5º, XXXVII e Art. 5°, LIII, remete ao Princípio do Juiz Natural, que é um dos
mais relevantes que temos em nosso ordenamento jurídico, está consagrado na nossa
Constituição Federal de 1988, como um dos Direitos e Garantias Fundamentais: "Art.
5°, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;" e "Art. 5°, LIII - ninguém será
processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;" . Se íntegra a
cláusula do devido processo legal, e esse devido processo legal é na justiça penal
aquela que se desenvolve mediante contraditório pleno (art. 5°, LV) com todos os
recursos essenciais à defesa plena (art. 5°, LV), sem abuso de poder (art. 5°, LXVIII) e
perante autoridade competente para processar e julgar (art. 5°, LIII) (Nogueira, 2003).
De duas maneiras deve ser entendida e interpretada a expressão constitucional
"autoridade competente": a) é a determinação indeclinável de que somente poderá
processar e sentenciar a autoridade investida de jurisdição; b) a expressão ''autoridade
competente'' equivale às de juiz natural, ou juiz legal (Marques, 2000). Sendo a
imparcialidade, não mais um atributo do juiz, mas visto como pressuposto para sua
existência (Grinover, 1984).
111
republicanas [ (1891, art. 72, § 15); (1934, art. 113, §§ 26 e 27); (1937, art. 122, § 13); (1946,
art. 141, § 29); (1967, art. 150, § 16); (1969, art. 153, § 16)]:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;
E a norma penal acompanha o texto, em seu Art. 1º do Código Penal: “Não há crime
sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”, que se
apresenta como uma forma do Direito Penal atuar dentro das normas positivadas.
Flores (2015) apresenta que, ao seguir a Convenção Europeia para a Salvaguarda dos
Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais de 1950, o Princípio da
112
Publicidade dos atos processuais foi elevado à categoria de direito fundamental pela
Constituição de 1988, Art. 5º, LX, ao expressar que: “a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social
o exigirem”. Igualmente, a Constituição comina com a nulidade do julgamento, caso
não respeitado o princípio fundamental da publicidade do processo:
Este princípio trata de direito fundamental que visa permitir o controle da opinião
pública sobre os serviços da justiça, máxime sobre o poder de que foi investido o juiz.
Desta forma, há uma íntima relação entre os princípios da publicidade e da motivação
das decisões judiciais, na medida em que a publicidade torna efetiva a participação no
controle das decisões judiciais; trata-se de verdadeiro instrumento de eficácia da
garantia da motivação das decisões judiciais (Toaldo, 2012). Todo processo é público,
exceto aqueles que tramitarem em segredo de justiça, como requisito de democracia e
de segurança das partes. A finalidade é garantir a transparência da justiça, a
imparcialidade e a responsabilidade do juiz. Assegura-se assim, a possibilidade de
qualquer indivíduo, verificar os autos de um processo e de estar presente em
audiência, revela-se como um instrumento de fiscalização dos trabalhos dos
operadores do Direito (Pacheco, 2007).
Pacheco (2007) alerta que, o que não estiver dentro do processo equipara-se a
inexistência. E, nesse caso o processo é o universo em que deverá se ater o juiz, para
impedir julgamentos parciais. A sentença não é um ato de fé, mas a exteriorização da
livre convicção formada pelo juiz em face de provas apresentadas nos autos, em que
sua atuação se funda no Princípio do Livre Convencimento, consagrado no art. 157 do
Código de Processo Penal.
113
As exceções ao princípio da oficialidade estão previstas no art. 30 do Código de
Processo Penal, em relação a ação penal privada; e no art. 29 do mesmo código, para
a ação penal privada subsidiária da pública. Porém, existe outra aparente exceção à
oficialidade da ação penal, a qual, trata da ação penal popular, instituída pelo art. 14,
da Lei nº 1.079/50, que cuida dos impropriamente denominados "crimes" de
responsabilidade do Presidente da República. A punição está restrita à perda do cargo
com a inabilitação para a função pública, na forma do art. 52, parágrafo único, da
Constituição Federal, c/c o art. 2º, da Lei nº. 1079/50. A corrente doutrinária
minoritária transmite a idéia de que a "denúncia" de que trata a Lei n. 1.079/50
(principalmente a prevista no art. 14) é simplesmente uma noticia criminis
postulatória, pois a verdadeira acusação contra o Presidente da República, nos
denominados crimes de responsabilidade ficaria a cargo da Câmara dos Deputados,
a qual conforme o art. 51, inciso I, da Constituição Federal, seria a autoridade
competente. (Pacheco, 2007)
Prado (2010) relata que, a força normativa dos princípios penais constitucionais da
seguinte forma:
114
direitos fundamentais do indivíduo, orientando a política legislativa criminal,
oferecendo pautas de interpretação e de aplicação da lei penal conforme a
Constituição e as exigências próprias de um Estado democrático e social de
Direito. Em síntese: servem de fundamento e de limite à responsabilidade
penal”. (Prado, Curso de Direito Penal, 2010)
115
maneira precisa na determinação dos tipos legais, para se saber, taxativamente, o que
é penalmente ilícito e o que é penalmente admitido, o que necessita que a lei seja
escrita (Dotti, 2005). Princípio da irretroatividade da lei mais severa, ou seja, consta na
Constituição Federal a proibição da retroatividade da lei penal para prejudicar o
agente, conforme reza o artigo 5º inciso XL da Carta Magna, in verbis, “a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Uma das conseqüências naturais do princípio
ora em exame é o da proibição de leis com efeito retroativo (Dotti, 2005). O Princípio
da Aplicação da Lei mais Favorável pressupõe a existência de dois outros princípios
que são lhes são indissociáveis: a) a irretroatividade da lei mais grave; b) a
retroatividade da lei mais favorável. A apuração de maior benignidade pode ser feita
através do critério de combinação de leis, para se extrair de cada uma delas a parte
mais benéfica (Dotti, 2005).
O Direito Penal, deve conferir proteção aos bens mais relevantes e necessários à
manutenção pacifica da sociedade. O direito penal deve interferir o menos possível na
vida em sociedade, devendo ser vindicado somente quando os demais ramos do
direito não forem suficientes para proteger os bens de maior importância. Roberti
(2001) assevera: “a fragmentariedade e a subsidiariedade são duas características do
Direito Penal que decorrem do Princípio da Intervenção Mínima e que, de igual sorte,
também são erigidos à categoria de princípios”. Assim, com o Princípio da
Intervenção Mínima, o Direito Penal, somente deve intervir quando as demais
soluções, extrapenais, não solucionarem, a contento, o conflito posto à apreciação
(Amaral, 2013), ou seja, o Estado somente deve recorrer à pena criminal quando não
houver, no ordenamento positivo, meios adequados para prevenir e reprimir o ilícito.
Este princípio, é recepcionado pela Constituição através do § 2º do art. 5º: "Os direitos
e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte". O princípio tem a sua raiz no art. 8º da Declaração
Dos Direitos do Homem e do Cidadão (Paris, 1789), ao proclamar que a lei deve
estabelecer "penas estrita e evidentemente necessárias" (Dotti, 2005). O art. 2° do CP
indica expressamente o fato (humano) como requisito do crime e pressuposto da pena,
do mesmo modo, ora com referência à ação ou omissão ora com a menção da palavra
fato ou de uma situação que o identifique (Dotti, 2005). Pode-se concluir, de acordo
com o Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos, Lesividade ou Ofensividade
que, fora do fato não há crime e sem a conduta não existe pena. Não basta que a
conduta seja imoral ou pecaminosa, ela deve ofender um bem jurídico, provocando
uma lesão efetiva ou um perigo concreto ao bem.
116
inimputáveis (incapazes de culpa), que são os menores de 18 anos e os portadores de
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (Dotti, 2005). É
preciso que exista dolo ou culpa na conduta do agente para que este seja penalmente
responsabilizado. Só haverá responsabilidade penal se o agente for imputável, que
possui consciência da ilicitude. É expressamente declarado no art. 19 do CP: “Pelo
resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado ao menos culposamente”. Dotti (2005) explica que a culpabilidade é indicada
como primeiro dado indispensável para a fixação judicial da pena “conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime” (CP art. 59). No sistema
penal brasileiro a culpa é o fundamento para a escolha da natureza, quantidade e
substituição da pena enquanto que a periculosidade é a base para a aplicação da
medida de segurança (Dotti, 2005).
117
E Código de Processo Penal Art. 387, I e II:
118
significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo,
prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade
da própria ordem social. (HC 84412 / SP Rel: Min. CELSO DE MELLO- DJ 19
11-04).”
Marques (2014) explica que o delito é o produto de várias circunstâncias fáticas, que
não podem ser divididas em partes, e apresenta:
Segundo Rodrigues (2012), o direito penal não deve tutelar somente a vítima; tutela
também o delinqüente. A pena, nesse sentido, não tem como função prevenir somente
delitos, mas também punições injustas. A concepção do funcionalismo penal, que
destacou a importância da Teoria da Imputação Objetiva, desenvolvida por Roxin e
Jakobs, tem como premissa básica o seguinte: o direito em geral e o direito penal em
particular, é instrumento que se destina a garantir a funcionalidade e a eficácia do
sistema social e dos seus subsistemas. Produto de uma concepção funcionalista
extrema ou radical, a ação aparece na obra de Jakobs (1997. p.156) como parte da teoria
da imputação (conduta do agente/infração à norma/culpabilidade), que, por sua vez,
deriva da função da pena. Estabelece quem deve ser punido para a estabilidade
normativa: o agente é punido porque agiu de modo contrário à norma e
cupavelmente.
Rodrigues (2012) destaca que Roxin (2002), busca demonstrar que, a Teoria da
Imputação Objetiva faz relega o tipo subjetivo e a finalidade a uma posição secundária
e recoloca o tipo objetivo no centro das atenções. Este tipo objetivo não pode, se
esgotar na mera causação de um resultado, é necessário algo mais para fazer desta
causação uma causação objetivamente típica. E este algo a mais se compõe,
fundamentalmente em duas idéias: a criação de um risco juridicamente desaprovado
e a realização deste risco no resultado e que este resultado esteja no âmbito de proteção
da norma (Rodrigues, 2012).
Explica Roxin (1997, pp. 214-215) que o sistema penal, interpretado dedutivamente e
mediante critérios abstratos, pode violentar a matéria jurídica e perde a discussão dos
problemas concretos. Para Roxin: “o injusto penal pressupõe uma lesão ou colocação
em perigo do bem jurídico, e a teoria da imputação objetiva estabelece detalhes, a
partir de dito fundamento, o âmbito do jurídico penalmente proibido, mediante a
ponderação dos interesses pela proteção e pela liberdade” (Roxin, 2006, p. 45). Deste
modo, ‘o sistema aparece agora como instrumento adequado para a solução dos
119
conflitos concretos porque é aplicado conforme seus fins axiológicos ’(Gomes, 2005, p.
133).
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
Segundo Marques (2004), na ausência de umas dessas condições, não será afastada à
ilicitude da conduta criminosa. Assim, o que se passa a analisar é a culpabilidade,
conforme Greco (2009,p.146):
Marques (2004) apresenta Zaffaroni (1999, p.146) apud Greco (2009, p.146), que
esclarece:
Mirabete (2006) informa que no Código Penal vigente não está expresso o conceito de
crime, como continha nas legislações passadas, ficando a cargo dos doutrinadores o
definirem e conceituarem.
120
A recente Lei nº 12.015/2009, que alterou o Título VI da Parte Especial do Código
Penal, inseriu nova nomenclatura aos crimes sexuais. Agora são crimes cometidos
contra a dignidade sexual e, coerente com sua missão, criou no Capítulo II os crimes
sexuais contra vulnerável e no artigo 217-A, estupro de vulnerável (Junior, 2010).
Segundo o ECA, é considerado criança o cidadão que tem até 12 anos incompletos.
Aqueles com idade entre 12 e 18 anos são adolescentes:
“Título I
121
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.”
a)
desenvolvimento criança:
considera-se físico e psicológico,
Individuoadquire conceito para sua personalidade;
em odesenvolvimento, onde começa o
b) a pessoa até doze anos de idade incompletos: de 0(zero) á 11(onze) anos, 11(onze)
meses e 29 (vinte e nove) dias, ou seja, um dia antes de completar 12 anos;
Esta tese tendo como campo a investigação criminal na fase do inquérito considerará
a vítima, dos crimes de estupro e dos crimes de estupro de vulnerável do Código
Penal. Faz-se necessário atender ambas as tipificações, visto que, criança e adolescente
descrita no artigo 2º, do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, Lei nº 8.069, de
13 de julho de 1990, considera: criança a pessoa até 12 anos e adolescente com idade
entre 12 e 18 anos incompleto. Na tipificação penal, dos crimes do Código Penal dos
artigos 213 e 217-A, quanto a faixa etária infanto-juvenil, temos tanto de criança, 0 a
12 anos, quanto aos adolescentes de 12 a 18 anos incompletos.
122
atendidos pela DEPAI – Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais,
estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990:
“Título 3
Capítulo 1
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do
adolescente à data do fato.
Pois bem, quando o objeto de estudo é a relação sexual consensual entre adolescentes
menores de 14 e maiores de 12 anos, é de suma importância atentarmos para o que diz
o art. 103 do ECA: “Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como
crime ou contravenção penal.”
123
Assim, a conduta delituosa da criança e do adolescente é denominada tecnicamente
de ato infracional, abrangendo tanto o crime quanto a contravenção penal (infrações
penais).
Nucci (2011) explana que: “A investigação do crime inicia-se, como regra, na delegacia
de polícia, instaurando-se o inquérito policial, de natureza inquisitiva e trâmite nos
124
moldes do sistema inquisitivo. Nesse procedimento administrativo colhem-se provas
a serem utilizadas posteriormente no contraditório judicial, com força probatória
definitiva”.
Assim, por vigorar o sistema presidencialista para o trâmite do inquérito policial, tal
ato, cabe ao magistrado. Porém o delegado pode não instaurar o inquérito, por
atipicidade material, não ocorrência do fato e se estiverem presentes causas de
extinção de punibilidade, como no caso da prescrição (Duarte, 2013).
125
autoridade policial (Art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do
Ministério Público receber novamente os autos.
b) Provas irrepetíveis: são provas de fácil perecimento, indícios de crimes que deixam
vestígios (crimes não transeuntes). Deverão ser submetidas ao contraditório diferido.
No caso dos crimes sexuais, como o exame de corpo de delito, principalmente, tais
provas não poderão ser refeitas, haja vista que pereceram com o tempo. Daí a
importância de um Inquérito feito corretamente, pois tal meio probatório é de suma
importância na comprovação do fato criminoso e sua autoria, sendo que, uma vez não
adotados todos os meios legais, a prova pode ser anulada e o processo fica carente de
comprovação (Dias & Joaquim, 2013). O delegado, deverá analisar as provas e firmar
sua convicção, assim como o magistrado na hora de sentenciar, e uma análise errada
dos fatos, ou até mesmo uma prova falsa (como por exemplo, a vítima estar
mentindo), pode acarretar uma prisão incorreta de difícil reparação, sob a ótica dos
danos que o preso sofrerá (Dias & Joaquim, 2013).
126
2.3 Notícia do fato tido como criminoso
Os crimes contra a dignidade sexual são aqueles crimes previstos nos capítulos I e II
do Título VI da Parte Especial do Código Penal. O capítulo I trata dos crimes contra a
liberdade sexual, que envolve os crimes de estupro (artigo 213), violência sexual
mediante fraude (artigo 215) e assédio sexual (artigo 216-A). Já o capítulo II especifica
os crimes contra vulnerável, que rege sobre os crimes de estupro de vulnerável
(artigos 217-A e 218), satisfação de lascívia mediante presença de criança ou
adolescente (artigo 218-A) e favorecimento da prostituição ou outra forma de
exploração sexual de vulnerável (artigo 218-B). Nestes casos entende-se por
vulnerável o menor de 14 (catorze) anos de idade (artigos 217-A, 218 e 218-A) ou o
menor de 18 (dezoito) anos submetido, induzido ou atraído à prostituição ou aquele
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato (artigo 218-B) (Alves, 2009).
Lei nº 12.015/09, no artigo 225, caput, do Código Penal, o parágrafo único deste
dispositivo legal dispõe ser a ação penal pública incondicionada se a vítima for menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. Como regra geral, a ação penal pública
condicionada à representação do ofendido para os agora chamados crimes contra a
dignidade sexual, vertente da dignidade humana insculpida no artigo 1º, inciso III, da
Constituição Federal (Alves, 2009).
Nos crimes de ação pública o artigo 5º do Código de Processo Penal, aponta que o
inquérito policial será iniciado:
“ I- de ofício;
127
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de
infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito,
comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.”
A comunicação que alguém faz à autoridade pública da infração penal, praticada por
ela ou outrem, é o instrumento processual utilizado para comunicar uma infração
penal à autoridade competente. Neste caso não se pode confundir a notícia criminal
com a denúncia, que é o instrumento inicial da ação penal e quem a oferece, neste caso
é o Ministério Público. Então a notícia não instaura uma ação penal, mas apenas o
inquérito policial. A notitia criminis é a fase preliminar do Inquérito policial. Conforme
leciona o professor Fernando Capez, dá-se o nome de notitia criminis (notícia do crime)
ao conhecimento espontâneo ou provocado, por parte da autoridade policial, de um
fato aparentemente criminoso. É com base nesse conhecimento que a autoridade dá
início às investigações. No Código de Processo Penal, no artigo 24, a denúncia, é uma
peça acusatória iniciadora da ação penal, consistente em uma exposição por escrito
de fatos que constituem, em tese, ilícito penal, com a manifestação expressa da
vontade de que se aplique a lei penal a quem é presumivelmente seu autor e a
indicação de provas em que se alicerça a pretensão punitiva. A denúncia é a peça
acusatória inaugural da ação penal pública condicionada e incondicionada.
O comunicante pode noticiar algum fato tido como criminoso, na delegacia, sendo que
no Estado de Goiás, tal fato acontece por meio do documento RAI – Registro de
Atendimento Integrado, que é uma Plataforma de Sistemas Integrados - PSI, que é
composta pelos programas Registro de Atendimento Integrado - RAI, Sistema
Geográfico de Informação - GisGestão, Mapeamento de Operações Policiais
Integradas - MOPI, Mapeamento de Ações Sociais Integradas - MASI e o Aplicativo
de Integração entre Polícia e Cidadão - I9X. O RAI, que é a base da plataforma PSI -
Plataforma de Sistemas Integrados, é o principal instrumento utilizado pelas forças de
segurança no curso inicial de qualquer tratativa de evento: a ocorrência ou notificação
de crime (Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).
O RAI em sua fase inicial, é integrado pela Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de
Bombeiros Militar e a Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC). Na etapa
128
seguinte, a Superintendência Executiva de Administração Penitenciária (SEAP)
também será inserida no sistema. Com o RAI, não há mais a necessidade de se fazer
diferentes registros para o mesmo caso, o que ocorre é a unificação das fontes de
informações e a diminuição das subnotificações, o que fortalece a capacidade
investigativa das forças policiais. Ações como o acompanhamento por meio de
registro único dentro do setor de segurança e o rastreamento do evento pela fase de
inquérito, judiciário, e, posteriormente, da execução penal, auxilia nas políticas
públicas e retroalimentação do sistema de informações a ser acessado por todos os
agentes de segurança.
Após a análise dos dados de manchas criminais em todas as regiões do Estado, entra
em ação o sistema de Mapeamento de Operações Integradas - MOPI, responsável pelo
planejamento e monitoramento de todas as ações e/ou operações integradas dentro
das 36 Áreas Integradas de Segurança Pública – AISP, do Estado de Goiás. Seu
objetivo é otimizar todas as estratégias para que sejam atingidas as metas de redução
de criminalidade e aumento de proatividade das forças policiais (Secretaria de
Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).
Assim, os comandantes das polícias Militar e Civil de cada região vão traçar estraté
gias para combater a criminalidade. O aplicativo registra o plano de operação definido
por cada força policial e permite o acompanhamento das informações. Esta é a
resposta prática contra o crime, de forma integrada e organizada (Secretaria de
Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).
Por fim, o Mapeamento de Ações Sociais Integradas - MASI é um sistema que objetiva
a pacificação, por meio da redução de crimes contra pessoas e ao patrimônio, bem
como a inibição ao tráfico de drogas. Com ele, ações transversais são planejadas,
controladas e executadas pelo programa, criando uma rede ativa entre Estado,
municípios, União, setor público-privado e organismos internacionais.
129
Com a criação do aplicativo de Integração entre Polícia e Cidadão (I9X), a Segurança
Pública de Goiás ganha importantes avanços tecnológicos para o usuário que precisar
abrir ocorrências de roubo, homicídio, incêndio, agressão, acidente pessoal, atitude
suspeita, violência doméstica, acidente com vítima e outros, inclusive com envio de
fotos, vídeos e mensagens de voz. Por ele, também será possível acompanhar o
deslocamento de viaturas e o cidadão conversar com o atendente via chat e poderá
inclusive, realizar novas denúncias. A inovação na prestação desses serviços pela
Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária visa o aperfeiçoamento
da segurança no Estado e está inserida no processo de modernização da estrutura
administrativa estadual (Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).
Os usuários têm acesso aos serviços dos telefones 190 (Polícia Militar), 193 (Corpo de
Bombeiros) e 197 (Polícia Civil). Para abrir uma ocorrência, deve selecionar o ícone
que melhor se aproxima à situação. Imediatamente o sistema gera a ocorrência, dando
início à conversa com o usuário, além de avisar a unidade competente. O atendente
informa as providências e o solicitante terá a prerrogativa de acompanhar o
deslocamento e a chegada da viatura.
Nos casos de crimes contra crianças e adolescentes, a comunicação do fato poderá ser
realizada no Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos - SDH, que é um número
que abrange todo o território nacional. Via telefone, podem ocorrer de maneira
anônima ou com identificação e recebem o mesmo tratamento investigativo.
No caso das notícias crime realizadas pelo Conselho Tutelar, o Conselheiroxix deverá
avaliar a necessidade do registro policial e, por entender que assim é quando se trata
130
de infração administrativa ou penal (Art. 194 do ECA), deverá solicitar aos pais ou
responsável a realização de tal procedimento, marcando o retorno dos mesmos ao
Conselho Tutelar para a comprovação do registro. Considerando a violação grave, o
conselheiro deverá solicitar o retorno dos pais/responsável ao CT em 24 horas, caso
contrário, no período de 15 e 20 dias. Não retomando os pais ou responsável e/ou
descumprindo a determinação do Conselho Tutelar, haverá de ser aplicada a medida
de Advertência (Art. 129, VII do ECA) ou a representação junto à autoridade
judiciária, conforme caso (Art.136, III, b). Vale dizer que o Conselho Tutelar não é um
órgão de segurança pública, não lhe cabendo a realização de investigações policiais
quanto a supostas práticas de crimes contra crianças e adolescentes, que devem ficar
a cargo da polícia judiciária (polícia civil) e Ministério Público (valendo observar o
disposto no art. 136, inciso IV, do ECA). o Conselho Tutelar não deve fazer sob
nenhuma circunstância investigação de uma suspeita de crime e, inclusive,
"interrogar" o acusado, o que, nada impede, no entanto, que promova a articulação de
ações (Cf. Art. 86, do ECA) junto à polícia judiciária, de modo a colaborar, jamais
substituir, junto a autoridade policial. Seja na busca de uma intervenção imediata de
profissionais das áreas da psicologia e/ou assistência social para realização da oitiva
da vítima e seus familiares, seja para aplicar-lhes as medidas de proteção previstas
nos Arts. 101 e 129, do ECA que se fizerem necessárias.
Sempre que o Conselho Tutelar receber a notícia da prática, em tese, de crime contra
criança ou adolescente, deve levar o caso imediatamente ao Ministério Público (cf. art.
136, inciso IV, do ECA), sem prejuízo de se prontificar a aplicar, desde logo, medidas
de proteção à criança ou adolescente vítima, bem como realizar um trabalho de
orientação aos seus pais ou responsável. A avaliação acerca da efetiva caracterização
ou não do crime cabe ao Ministério Público, após a devida investigação do fato pela
autoridade policial. A propósito, o Conselho Tutelar não é órgão de segurança pú
blica, e não lhe cabe a realização do trabalho de investigação policial, substituindo o
papel da polícia judiciária - polícia civil. O que pode fazer é se prontificar a auxiliar a
autoridade policial no acionamento de determinados serviços municipais que podem
intervir desde logo, como psicólogos e assistentes sociais com atuação junto aos
Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS, Centro de
Refêrencia de Assistência Social - CRAS, Centro de Atenção Psicossocial - CAPs e
outros serviços públicos municipais. Tal intervenção, tanto do Conselho Tutelar
quanto dos referidos profissionais e autoridades que devem intervir no caso, no
entanto, deve invariavelmente ocorrer sob a coordenação da autoridade policial ou do
Ministério Público, inclusive para evitar prejuízos na coleta de provas.
Vale lembrar que, em casos semelhantes, é preciso proceder com extrema cautela,
diligência e profissionalismo, de modo a, de um lado, responsabilizar o(s) agente(s) e,
de outro, proteger a(s) vítima(s). O próprio Conselho Tutelar pode (deve), se
necessário por intermédio do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente de Goiânia - CMDCA local, estabelecer um "fluxo" ou "protocolo" de
131
atendimento interinstitucional, de modo que sejam claramente definidas as
providências a serem tomadas quando da notícia de casos de violência contra crianças
e adolescentes, assim como as responsabilidades de cada um, de modo que o fato seja
rapidamente apurado e a vítima receba o atendimento que se fizer necessário por
quem de direito. Em qualquer caso, é preciso ficar claro que todos os órgãos, serviços
e autoridades co-responsáveis pelo atendimento do caso devem agir em regime de
colaboração. É preciso, em suma, materializar a tão falada "rede de proteção à criança
e ao adolescente", através da articulação de ações e da integração operacional entre os
órgãos co-responsáveis.
132
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança
e do adolescente;
De maneira geral e didática, no processo penal, prova é todo elemento pelo qual se
procura mostrar a existência e a veracidade de um fato, com a finalidade de influenciar
no convencimento do julgador. Os elementos de prova, são todos os fatos ou
circunstâncias em que reside a convicção do juiz, como, depoimento de testemunha;
resultado de perícia; conteúdo de documento. Já o meio de prova, são os instrumentos
ou atividades pelos quais os elementos de prova são introduzidos no processo, tais
como: testemunha, documento, perícia. A fonte de prova, são pessoas ou coisas das
quais possa se conseguir a prova. Com o objetivo de conseguir provas materiais, temos
o procedimento que é a investigação da prova, como: busca e apreensão; interceptação
telefônica. E por fim o objeto de prova: fatos principais ou secundários que reclamem
uma apreciação judicial e exijam uma comprovação (Brasil, 2012).
133
deverá valorar este ou aquele fato, ou seja, dizer da eficácia deste ou daquele meio de
prova. O nível de convencimento dos indícios estaria ligado a dois aspectos: a) a
certeza dos fatos indicativos, vale dizer, dos indícios: b) a natureza da “premissa
maior”. É de fácil compreensão que mais convicção nos fornece a premissa maior que
decorra da razão ou do conhecimento científico. As regras da experiência são mais
vulneráveis, não nos outorgam tanta certeza. Pois o indício, como fato conhecido e
provado, não nos leva a presumir o factum probandum, mas sim pode nos levar à
certeza de sua existência. A exemplo, um juiz não julgaria presumindo a autoria do
latrocínio, mas sim convicto dela.
Segundo Jardim (2017) os indícios, por mais fortes e contundentes que sejam, não são
hábeis a provar a própria “existência” do crime – que alguns chamam de
materialidade. Nem a confissão, neste particular, supre o exame de corpo de delito
(direto ou indireto). Caso os vestígios do crime tenham desaparecido, a prova
testemunhal poderá suprir a inexistência da perícia. Isto se depreende da parte final
do nosso artigo 239, que se refere à demonstração de “existência de outra ou outras
Circunstâncias”, que não é o fato principal, mas fatos que o cercam e que outras regras
do Código de Processo Penal autorizam esta interpretação sistemática, como se pode
depreender dos artigos 158 e 167.
134
provada, que tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência
de outra ou outras circunstâncias” (art. 239).
“Art. 93, IX, da CF: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo
a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação.”
“Art. 155, caput, do CPP: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação
da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”
“Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide,
salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo,
promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor.
Por este princípio, o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença (art. 399,
§2º, CPP). Este comando tem por função proporcionar o contato direto entre o julgador
135
e o acusado, de modo a auxiliá-lo na formação de seu convencimento. Antes de sua
introdução não havia objeção para que a oitiva de testemunhas e do acusado fosse
feita por um magistrado e a sentença fosse prolatada por outro, prejudicando o réu na
maioria das vezes.
“Para julgar o litígio, precisa o Juiz ficar conhecendo a existência do fato sobre
o qual versa a lide. Pois bem: a finalidade da prova é tornar aquele fato
conhecido do Juiz, convencendo-o da sua existência. As partes, com as provas
produzidas, procuram convencer o Juiz de que os fatos existiram, ou não, ou,
então, de que ocorreram desta ou daquela forma. (Tourinho, 1999)”
Inquirir a criança, nos feitos criminais, não tem por finalidade saber como ela está se
sentindo ou mesmo propiciar a aplicação de medida de proteção do Art. 101 do ECA,
em que pese “a assistência ao paciente vítima de abuso sexual” tenha sido objeto “de
importantes estudos quanto aos seus aspectos clínicos e de saúde mental”. A
inquirição da criança, como já se afirmou, busca trazer aos autos a prova da
materialidade, em especial, nos casos em que a violência não deixou vestígios físicos.
136
Segundo Tourinho Filho (2007, p. 469): "provar é, antes de mais nada, estabelecer a
existência da verdade; e as provas são os meios pelos quais se procura estabelecê-la.
Provar é, enfim, demonstrar a certeza do que se diz ou se alega. Entendem-se também
por prova, de ordinário, os elementos produzidos pelas partes e pelo próprio juiz
visando a estabelecer, dentro do processo, a verdade sobre certos fatos". Nesse
sentido, visa demonstrar que um fato ocorreu e de que forma ocorreu (Aranha, 2006,
p. 5).
Quanto à inquirição da vítima, reza o Artigo 201, do CPP: “sempre que possível, o
ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja
ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo suas
declarações. Se, intimado para este fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o
ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade”.
137
de reunir e articular conhecimentos teóricos e práticos sobre desenvolvimento infantil,
psiquiatria clínica e saúde mental da criança e do adolescente, da família, avaliação
psicológica e psiquiátrica, ética forense, legislação, entre outros”. A perícia apenas
será realizada naquilo que for importante para a conclusão do processo, uma vez que
é inadmissível como objeto de prova aquilo reconhecido como inócuo para a ação (Es
tefam, 2008).
A perícia no âmbito da polícia judiciária, será realizada por meio de uma requisição
oficial. Os seus resultados serão apresentados por meio de um parecer objetivo, por
meio de um laudo técnico, com exposição minuciosa dos elementos avaliados e
investigados, e com fundamentação das conclusões apresentadas (Brandimiller, 1996).
Segundo Brandimiller (1996:32):
A perícia sendo considerada um meio especial de prova, deverá ser realizada por
escrito (Tourinho Filho, 2011) e considerada desvinculada do juiz: “O juiz não ficará
adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte (Art. 182 do
Código de Processo Penal)”. Com isso, o juiz fica livre para apreciar e avaliar a perícia,
sendo considerado o ‘perito dos peritos ’(Badaró, 2008). Nucci (2009) relata que a pe
rícia se efetiva com a elaboração do laudo, sendo “o ápice do trabalho de verificação,
exame e análise feito pelo perito, devendo ser fundamentado e apresentar as
conclusões lógicas e compatíveis com o desenvolvimento da motivação”. O laudo
deverá apresentar a análise do exposto, com linguagem clara e objetiva, para que seja
compreensível a qualquer parte com interesse no processo. Então, sem se distanciar
do texto técnico, cabe ao perito, explanar o significado de cada termo, para que o laudo
se torne entendível e útil.
Ensina Nucci (2009) que a tutela penal na esfera sexual possui maior preocupação com
relação aos indivíduos sem a capacidade de externar o seu pleno consentimento. Esta
condição pertence aos indivíduos que pela faixa etária (menor que 14 anos) ou por
suas condições físicas e mentais, não possuem o entendimento pleno de determinados
atos que sofrem, sem a oportunidade de se opor, ou impor qualquer espécie de
resistência, quando sobre a questão do consentimento (Bittencourt, 2012). Frente a esta
138
limitação imposta pela idade, ou limitação física e mental, o que ocorre com as crianças
e pessoas com necessidades especiais, é o emprego da coação física e coação
psicológica, para a realização de um ato sexual, que está além de sua compreensão.
“Quanto aos meios de prova, são admitidas no processo penal todas as provas
lícitas. Por ser um crime que pode deixar vestígios, é necessário o exame de
139
corpo de delito, realizado por perito que elaborará laudo, o qual, por sua vez,
não vincula o juiz e pode ser contestado por outros elementos probatórios.
Não existindo vestígios, o que é comum nos casos de abuso sexual
intrafamiliar, a prova de materialidade e autoria será efetuada por outros
meios, como depoimentos e declarações, compondo o exame de corpo de
delito indireto”.
Segundo Souza (2009) visando ser realizada a perícia torna-se importante que o crime
tenha deixado vestígios, e que tenham condições de ser analisados pelos especialistas.
Nos crimes sexuais, em especial no estupro, sempre são realizados exames de corpo
de delito, sendo que os elementos mais comuns presentes nos laudos são:
140
Entretanto, para a prova do crime de estupro, exige-se a realização de exame pericial
que comprove, no caso de violência, lesões corporais. Caso tenha ocorrido uma
violência moral, está poderá ser observada através de outras provas, como
testemunhas dos gritos ou choro da vítima. Assim, para tanto são essenciais
investigações do sujeito passivo, baseados principalmente no depoimento pessoal e
na perícia médica (Souza, 2009). O advento da Lei 11.690/08, que alterou o art. 159 do
Código de Processo Penal, com vigência a partir de 9/6/08, consolidou o
entendimento de que "O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados
por perito oficial, portador de diploma de curso superior".
Deve-se considerar o fato de não ser possível colher as declarações desta, seja porque
ela se calou, sofreu ameaças e ou ainda por tratar-se de criança de tenra idade ou
deficiente mental (as vítimas de estupro de vulnerável). Vulneráveis são facilmente
manipuláveis por terceiros interessados que podem sugestionar a criança a fazer
declarações de fatos que não ocorreram. E ainda pode-se encontrar a inabilidade de
interrogadores policiais para questionar esse tipo de pessoa (Dias & Joaquim, 2013).
Assim, “a aceitação isolada da palavra da vitima, pode ser tão perigosa, em função da
certeza exigida para a condenação, quanto uma confissão do réu”(Nucci, 2010, p. 915);
e, na dúvida, absolve-se. Lopes (1994 apud Nucci, 2013) conclui, portanto, que:
Nucci (2013), informa que outro aspecto importante a ser considerado é que
exposições pormenorizadas do fato criminoso nem sempre são fruto da verdade, uma
vez que o ofendido tem a capacidade de inventar muitas circunstâncias criando dados
inexistentes.
141
O suspeito também é ouvido, por meio do interrogatório, e pode invocar seu direito
de permanecer calado, pois de acordo com o preceito constitucional, ninguém é
obrigado a produzir provas contra si; e mesmo confessando, ainda caberá à acusação
comprovar sua autoria (Dias & Joaquim, 2013). Assim, Nucci (2013), afirma: “a
confissão é meio de prova direto, mas precisa ser confrontada com outras provas e por
elas confirmada”. O Código de Processo Penal definiu em seu artigo 197, a
necessidade de haver confronto entre esta e as demais provas: O valor da confissão se
aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e para sua
apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando
se entre ela e estas existem compatibilidade e concordância. (Brasil, 1940). Deve-se
considerar como confissão, apenas o ato voluntário, produzido sem qualquer tipo de
vício, e pessoal, feito pelo próprio acusado, sendo que caberá ao magistrado avaliar
sua validade.
Ensina Capez (2007) que o depoimento infantil está plenamente incorporado e aceito
como prova. Entretanto, argumenta que o menor de 14 anos de idade, de acordo com
o art. 208 do Código de Processo Penal não será tomado o compromisso, sendo que
possui um valor probatório um tanto relativo, em virtude de uma série de elementos,
que reduzem a credibilidade da criança e do adolescente, como a imaturidade moral
e psicológica, e a forte influência e outras pessoas, em especial, as mais relevantes e
mais próximas. A inquirição da criança visa também, propiciar a aplicação de medidas
de proteção elencadas no Estatuto da Criança e do Adolescente. A prova da
materialidade se torna o elemento para justificar a inquirição, nos casos de violência
sexual, principalmente nos casos em que foi impossível detectar a existência de
vestígios (Nakatani, 2012) e desta forma deve ser observado atentamente se foi
instruída ou manipulada por algum adulto (Tourinho Filho, 2011), para assim não
cometer erros judiciários (Nucci, 2008) e construir um juízo de plena certeza.
142
Nesse contexto se encaixa o problema das provas, tendo em vista que, por sua
natureza, estes delitos são de difícil comprovação, ainda que classificados como
crimes materiais (Dias & Joaquim, 2013). Além do mais, as provas devem ser
produzidas já na fase do Inquérito Policial, tendo em vista a rapidez com que elas
perecem, sendo que muitas não poderão ser refeitas por não mais existirem vestígios,
tendo em vista o tempo decorrido (Dias & Joaquim, 2013). A perícia psicológica, neste
caso seria um forte aliado para a investigação destes crimes e o dilema da prova
pudesse ser atenuado. Segundo França (1998):
Esse meio probatório, nos casos de crimes sexuais, talvez seja o mais eficaz para se
atingir a verdade, conforme alerta Granjeiro e Costa (2008):
Enfim, pode o ofendido não inventar propriamente nem o crime nem o criminoso,
mas mentir só na forma, na medida ou nas consequências do crime, para fazer
aumentar proporcionalmente a reparação a que tem direito (Dias & Joaquim, 2013). A
finalidade da perícia psicológica é, portanto, vista como um instrumento para analisar
o subconsciente das partes a através de laudos, exteriorizar a possível verdade (Dias
& Joaquim, 2013). Silva (2003) afirma que: O poder judiciário entende que o parecer
fornecido pelo psicólogo deva funcionar como um operador da verdade, que irá
apenas constar tais fatos e quais argumento são verdadeiros e quais evidências servem
realmente como provas. Todavia, isso pode limitar a atuação psicológica, na medida
em que se o relatório não contiver a informação de que o juiz necessita, este poderá
dispensá-lo (Dias & Joaquim, 2013). Neste caso, o problema reside no fato de o laudo
psicossocial normalmente tem sido requerido quando o processo já está em
andamento; esse é um dos equívocos que o Judiciário comete (Dias & Joaquim, 2013).
Granjeiro e Costa (2008) acreditam que: O ideal seria que as vítimas, especialmente
crianças, comparecessem à delegacia no prazo de 24 horas para que, antes mesmo de
o delegado tomar o depoimento dela, possa um psicólogo ouvir o relato da criança e
já emitir um relatório prévio. (Granjeiro e Costa, 2008). Com estas medidas, talvez o
143
dilema quanto à prova pudesse ser atenuado. É o que ocorre na Delegacia de Proteção
a Criança e ao Adolescente de Goiânia, não ainda no prazo supracitado.
144
VI Do Antigo á Psicologia Jurídica e Perícia
Psicológica
“A psicologia avançou muito mais como prática, do que como ciência. Ela teve início
como ciência.”, Crítica de Skinner a psicologia cognitiva, na Convenção da APA, em
Boston, 1990, oito dias antes de seu falecimento. Pouco depois foi publicado seu
discurso: “Can Psychology be a Science of the Mind?”. Durante a qualificação da tese de
doutorado de Skinner, Boring, como um dos avaliadores, por ser o coordenador do
departamento de psicologia de Harvard, se retirou da banca examinadora de Skinner,
e classificou a tese como uma história do reflexo seletiva e tendenciosa, tal fato não os
tornaram opositores. Porém, segundo Coleman (1985), a oposição de Boring em
relação ao Behaviorismo, era declarada no departamento de psicologia de Harvard.
Boring exigiu alterações de modo que o conceito de reflexo fosse utilizado de forma
menos pretenciosa, porém Skinner não acatou nenhuma das cinco páginas de revisão
crítica de Boring (Cruz, 2013). Na carta de recomendação, para o pós-dooutorado de
Skinner escrita por Boring, para comissão avaliadora do National Research Council Fel
lowship, este exaltou as aptidões teóricas de Skinner e alegou ser um estudante original
e capaz de grandes realizações científicas. Na correspondência, Boring, entretanto,
alertou sobre o que pensava ser o único, mas sério defeito de Skinner: seu desejo de
fundar uma ciência do comportamento (Cruz, 2013). Na banca de defesa de doutorado
de Skinner, o teórico da personalidade, Gordon Allport, questionou-lhe sobre, quais
eram as deficiências do Behaviorismo, Skinner respondeu: Nenhuma! (Goodwin,
2005).
145
mas sim como: "a coisa que Anima - o que torna os animais vivos, torna-os, mover ",
e é traduzido "alma". Aristóteles criticou as teorias anteriores de que ‘DeAnima ’estava
misturada em todo o universo e dividiu a ‘alma ’em: nutritivo, o apetitivo, sensorial,
movimento e o poder do pensamento. Depois enumerou as cinco impressões
sensoriais: visão, audição, cheiro, gosto e toque. Aristóteles prosseguiu a analisar o
seguinte: perceber vs pensar, imaginação, opinião e crença e o intelecto como
faculdade da mente. DeAnima foi um grande primeiro passo em como se vê a
psicologia hoje.
Moodley, Gielen & Wu (2013) relata que a cura de doenças mentais e emocionais tem
uma longa história desde o Egito Antigo. A percepção dos antigos conceitos e
tratamentos de saúde mental pôde ser obtida a partir dos famosos papiros Ebers, Ed
win Smith Surgical e Kahun (Nasser, 1987; Okasha & Okasha, 2000), que foram
nomeados a partir dos egiptólogos que os descobriram. Estes documentos, que datam
de pelo menos 1600-1900 a.c., contêm descrições físicas do cérebro, bem como
referências à mente e consciência. A descrição de doenças mentais como histeria,
condições psicossomáticas, melancolia, transtorno do pensamento, demência e
intoxicação alcoólica foram capturadas dos papiros e das paredes dos templos
(Nasser, 1987; Okasha, 2005). Os egípcios acreditavam que toda personalidade tinha
uma parte que era a "soma" do eu real ou interior (Nasser, 1987). O Pir-ankh ou ‘Casa
da Vida ’era usado como uma espécie de retiro, em que doentes se isolavam para a
cura, em meio ao silêncio e pouca luz e já desenvolvido antes dos templos terapêuticos
dos gregos (Nasser, 1987). Nestes espaços já se usava os alucinógenos, como parte da
cura e do conhecimento dos egípcios (Nasser, 1987). Nasser (1987) relata que,
quando um egípcio experimentava perguntas de auto-dúvida e análise, ele ia para o
seu sacerdote, que não eram os ministros habituais que encontramos hoje, que ouvem
confissões e oferecem orações. Eram médicos multifacetados, filósofos, astrônomos,
matemáticos, artesãos e intérpretes de sonhos, e estes davam conselhos com uma
ampla base de conhecimento. Assim, por 3.000 a.c., suas filosofias já estavam
firmemente estabelecidas e os egípcios reconheciam uma ordem divina, que foi
estabelecida ao mesmo tempo da criação e esta ordem é manifestada na natureza e na
normalidade dos fenômenos. E na sociedade se manifesta como justiça e na vida do
indivíduo se manifesta como a virtude da verdade (Nasser, 1987).
146
quintessência, que é a parte mais pura de todo um modo de vida indiano, o Dharma,
que é a filosofia e descreve os quatro yogas: Karma, Bhakthi, Raja e Jnana. Vários livros
vieram sobre a relevância psicológica de Guitá. A teoria de Meta-motivação de Maslow
é muito semelhante ao conceito de Karma Nishkama descrito no Guitá. O Ashtanga Yoga,
de Patanjali é uma apresentação muito sistemática do Raja Yoga. Tanto Bhagavat Guitá
quanto a Ashtanga Yoga devem ter sido escritos em torno do século IV a.C., assim como
os escritos em sânscritos de Adi Sankara, filosofo consolidador da doutrina da Advaita
Vedanta, que já datam do século VIII a.C. Em Bhagavat Guitá, se encontra uma
discussão lúcida sobre os diferentes aspectos da personalidade como o self (atman), o
sentido (manas) da mente (indriyas) e a inteligência (budhi). A psicologia indiana
antiga também enfatiza o controle da mente (manas) e dos sentidos (indriyas). Este
sistema é chamado Yoga System e também foi incorporado no que é chamado
Abhidhamma, em Pali, língua de Gautama Budha (536-438 b.c.). Em sânscrito, é
chamado Abhidharma (Singh, 1991). A literatura indiana sobre aspectos da consciência
é vasta, os estados mentais foram analisados, classificados e diferenciados em
detalhes. A relação psicossomática era bem conhecida e relevante, a exemplo, a
primeira estrofe invocatória de Ashtangahridaya - o texto principal em Ayurveda, escrito
no século IV a.D., descreve como as emoções e os desejos conduzem às doenças físicas
e mentais (Ebeling, 1996).
Segundo Casoretti (2010) uma nova forma de enxergar o mundo surge, sem que os
mitos e a religião fossem completamente abandonados (Kirk; Raven; Schofield, p.70).
Assim no século VI a.C. as primeiras manifestações filosóficas alcançariam seu apogeu
durante o período da Grécia clássica, de forma especial com Platão, no século IV a.C..
147
cauterização que data de cerca de 1500 a.C., entre as dinastias 16 e 17 do Segundo
Período Intermediário no Antigo Egito (Sullivan, 1996). Os egiptologistas Georg
Moritz Ebers (alemão), em 1873 e Edwin Smith (americano), em 1890, descobriram
estes antigos papiros médicos egípcios (Sullivan, 1996). Trata-se de uma obra única
entre os quatro principais papiros relativos à medicina que se tem conhecimento
(Sullivan, 1996). Eles enfatizaram a importância de avaliar o estado de consciência e
memória em todos os exames de rotina (Nasser, 1987).
O período romano durou de aproximadamente 30 b.c. até a.d. 400. Desta forma, no
auge de sua influência, o Império Romano incluiu desde o Próximo Oriente até as
Ilhas Britânicas. Com isso, a expansão do Império Romano e seu posterior colapso,
trouxe as influências das religiões da Índia e Pérsia, como o Vedantismo indiano e o
Zoroastrismo, bem como, os cultos da Magna Mater (Grande Comunicante), Isis e
Mithras (Angus, 1975) (Cornford, 1957).
148
impulsos corporais e a lei de Deus. A lei, como algo que pode ser entendido e aceito,
e um desejo pode existir em concordância com isto, mas muitas vezes as paixões da
matéria (do corpo) em conflito com a lei, vence a luta. Então o que se sabia era que:
‘Saber o que é moral, não garante um comportamento moral’(Hergenhahn, 2000).
Entre os anos 400-1000 a.d., que se referem a Dark Ages – Idade das Trevas, eram
escuras apenas para o mundo ocidental, pois durante este período, no oriente, Islã era
uma força poderosa no mundo. Maomé nasceu em Meca em 570 a.d., e por receber
uma revelação de Deus instruindo-o a pregar, este nomeou sua religião de Islã, que
significa rendição a Deus, e seus seguidores foram chamados de muçulmanos, e os
ensinamentos, contidos no Alcorão. O Islã se espalhou com incrível velocidade, e
dentro de 30 anos de da morte de Mahomet em 632 a.d. os muçulmanos conquistaram
a Arábia, Síria, Egito, Pérsia, Sicília e Espanha. Cem anos após a morte de Mahomet,
a expansão do Império Muçulmano trouxe o contato com antigas obras como os
escritos de Aristóteles e o com o Neoplatonismo (experiências transcendentais eram
consideradas mais significativas que a experiência humana), pois os Árabes utilizaram
desta sabedoria e fizeram grandes avanços na medicina, ciências e matemática. A
exemplo, o filósofo Árabe Avicenna, (nome em Árabe - Ibn Sina; 980–1037), leu Meta
physics de Aristóteles (Goodman, 1992) e escreveu livros incluindo medicina,
matemática, lógica e metafísica, Teologia Mulçumana, astronomia, política e
linguística. A propósito, seu livro de medicina The Canon, foi utilizado nas
Universidades Européias por mais de cinco séculos (S. Smith, 1983). Como médico,
Avicenna utilizou uma vasta gama de tratamento, a exemplo, como parte do
tratamento de pacientes melancólicos, realizou leitura e utilizou música como parte
da terapêutica.
149
Averroës (nome árabe, Ibn Rushd; 1126-1198) discordou de Avicena, de que a
inteligência humana é organizada em uma hierarquia, sendo que apenas o nível mais
alto permite aos seres humanos terem contato com Deus. De acordo com Averroës,
todas as experiências humanas refletem a influência de Deus. Maimonides (original -
Ben Maimon, 1135-1204), era um judeu nascido em Córdova, Espanha, na época em
que judeus e árabes islâmicos viviam em harmonia (Hergenhahn, 2000).
Maimônides, além de ser uma pessoa bíblica, era um médico que, antecipou a
preocupação moderna com os transtornos psicossomáticos, e apresentou a relação
entre vida ética e saúde mental (Alexander & Selesnick, 1966). No livro, ‘Na
compreensão da procura da f ’é(Deane, 1962), St. Anselm (1033-1109) argumentou que
a percepção e a razão podem e deve complementar a fé cristã. St. Anselm acenou para
que, se podemos pensar que Deus existe, a existência do diabo pode ser ‘provado’,
aplicando-se a mesma lógica no sentido inverso. São Anselmo foi um dos primeiros
teólogos cristãos que tentou usar a lógica para apoiar a crença religiosa. Peter Abelard
(1079-1142) marca a mudança de Aristóteles como filósofo da filosofia ocidental. Além
de traduzir os escritos de Aristóteles, Abelard introduziu um método de estudo que
caracterizavam o período escolástico – Scholasticism (Hergenhahn, 2000).
Em seu livro Sicet Non, às vezes traduzido como, For and Against, e ás vezes como Sim
e Não, Abelard elaborou o método da dialética. Para os "nominalistas", o que os outros
chamam de universais, são nada mais do que convenientes rótulos verbais que resume
experiências semelhantes. O debate foi profundo, porque ambas as filosofias de Platão
e Aristóteles aceitavam o Realismo. Nominalismo foi muito mais em concordância
com a filosofia empírica do que foi com o racionalismo. Durante o tempo de Agostinho
para e incluindo Aquino, a Escolástica consistiu em demonstrar a validade do dogma
da igreja. Novas informações somente eram aceitas se demonstrassem
compatibilidade com o dogma da igreja, caso não fosse possível, a informação era
rejeitada. Pois, a "verdade" tinha sido encontrada e não havia necessidade de novas
buscas. Embora os escolásticos fossem destacados acadêmicos e minuciosos lógicos,
eles demonstravam pouco valor a filosofia ou a psicologia. Estes estavam mais
interessados em manter o status quo, ao invés de revelar qualquer informação.
Certamente havia pouca preocupação com a natureza física, com exceção dos aspectos
que poderiam ser utilizados para provar a existência de Deus ou para mostrar algo
sobre a natureza de Deus. Tal como os principais filósofos gregos, dos quais
advinham, os escolásticos buscavam as verdades e os princípios universais que
estavam além do mundo da aparência. Para os Pitagoristas, era as relações numéricas;
Para Platão, era as formas puras ou idéias; Para Aristóteles, era o intelecto, que dava
a categoria á essência. E para os Escolásticos, era Deus. Todos assumiam que havia
uma verdade superior àquela que poderia ser experimentada através dos sentidos
(Hergenhahn, 2000).
150
William de Occam (1290-1350), um monge franciscano britânico, aceitou a divisão de
fé e razão de São Tomás de Aquino (1225-1274) e acreditava que não há suposições
desnecessárias e que as explicações devem sempre ser mantidas como parcimoniosas,
ou o mais simples quanto possível. Abelard (1709-1142) ofereceu uma solução para o
problema do realismo, que acreditava que a essência, o universo abstrato existia e os
eventos empíricos era somente uma manifestação universal versus nominalismo, que
acreditava que, o que era considerado universal, era somente conceitos verbais ou
hábitos mentais usados para expressar as classes de experiências, em que "universais"
não são senão conceitos no qual organizamos nossas experiências e Occam tinha uma
conclusão semelhante ao aplicar sua "navalha", de que a existência da essência era
desnecessária. Pois, podemos simplesmente supor que, a natureza é, como nós
mesmos. Para Occam, a experiência sensorial fornecia informações sobre aquele
período de existência do mundo. Assim, a filosofia de Occam marca o fim da
Escolástica (Hergenhahn, 2000).
Durante os séculos XIV e XV, a filosofia ainda servia á religião, tal como a tudo e todos.
Desta forma, o que existia eram duas classes de pessoas, as crentes e não-crentes. No
período anterior à Renascença, anomalias da Doutrina Cristã apareciam em toda a
parte e ficou claro que a autoridade da igreja estava em declínio. Assim, aqueles que
tentaram sintetizar o discurso filosofal de Aristóteles com a religião cristã, foram
chamados Escolásticos. No auge do cristianismo primitivo, prevalecia um clima social
amplamente negativo, com a presença de superstição e medo e a perseguição de não
crentes, discriminação contra as mulheres, e tratamento dos doentes mentais.
Qualquer ação ou pensamento que não estava de acordo com o dogma da igreja era
um pecado. Um mínimo de quantidade de atividade sexual foi demarcado para que
os seres humanos pudessem se reproduzir e qualquer coisa além disso era
considerado um pecado hediondo. A igreja tinha poder, e qualquer divergência era
tratada com aspereza. Claramente, o espírito dos tempos não era propício para o livre
pensamento e questionamento (Hergenhahn, 2000).
2 Psicologia no mundo
Desta forma, a psicologia está presente deste os tempos mais remotos, tal como
constatamos acima, mas isso não representa que o passado da psicologia evoluiu para
o seu presente, ou que a psicologia atual, represente uma melhor psicologia. De fato,
depois de tentar rastrear as origens de uma idéia ou conceito em psicologia, ficamos
com a impressão de que nada é inteiramente novo. Raramente, se alguma vez, é um
único indivíduo responsável unicamente por uma idéia ou um conceito (Hergenhahn,
2000).
Giele (2006) destaca que desde o final do século XIX, a psicologia científica pode ser
considerada uma ciência internacional, a exemplo, no "Primeiro Congresso
Internacional de Psicologia " em Paris, França, no ano de 1889, em que participaram
151
203 psicólogos e outras pessoas interessadas de 20 países. A lembrar, o pai da
psicologia experimental, Wilhelm Wundt (1832-1920) supervisionou cerca de 190
doutorandos de pelo menos 10 países na Universidade de Leipzig, Alemanha
(Lamberti, 1995), que posteriormente retornaram a seus países de origem. No entanto,
a psicologia permanece uma ciência, no campo da prática, eminentemente europeia e
norte-americana até a Segunda Guerra Mundial, com alguns avanços científicos, em
locais como Buenos Aires (Argentina), Tóquio (Japão) e Calcutá (Índia) (Giele, 2006).
Até o final de 1950 nos Estados Unidos, psicólogos ensinaram e praticaram, mais do
que em todos os outros países combinados (Hogan & Vaccaro, 2007; Rosenzweig,
1984). Porém, nas últimas décadas, esta situação começou a mudar, ainda que não se
tenha estimativas precisas do número de psicólogos que ensinam, pesquisam e
praticam em todo o mundo, é provável que seja mais de um milhão (Stevens & Gielen,
2007). De acordo com os números do Censo Americano, 277.000 psicólogos estavam
empregados nos Estados Unidos no início do novo milênio (U. Census Bureau, 2003).
152
constitui o maior número de psicólogos em qualquer cidade do mundo, sendo que
Nova York não é exceção (Klappenbach, 2004). No mesmo ano, mais de 140 mil
psicólogos estavam licenciados no Brasil, embora apenas 900 deles com doutorado
(Hutz, McCarthy, & Gomes, 2004). Assim, o Brasil pode reivindicar a posição de
possuir mais psicólogos do que qualquer país europeu. E em todo o mundo, ocupa o
segundo lugar depois dos Estados Unidos (Hutz, McCarthy, & Gomes, 2004).
Porém, por causa da base científica e acadêmica considerada fraca, a psicologia ainda
permanece relativamente anêmica no Brasil, como pode ser visto, em relação a
quantidade de psicólogos com doutorado. Com isso, seu impacto mundial até agora
permaneceu limitado. Ainda na América do Sul, a psicologia argentina permaneceu
em grande parte possuidores dos paradigmas psicanalíticos considerados com um
valor científico limitado. Logo, o grande número de psicólogos sul-americanos não
corresponde à frente modesta que assumem no cenário internacional até o momento
- 2006. Isto ocorre, porque o impacto mundial dos psicólogos de um determinado país
ou região, depende do seu envolvimento em instituições acadêmicas orientadas para
a investigação e produtividade na pesquisa, bem como pela sua capacidade de
publicar em inglês, nas principais revistas profissionais americanas e internacionais.
A psicologia ainda permanece em grande parte invisível nas áreas rurais, que possui
contextos coletivos familiares e fortes sistemas de crenças, em que raramente são
expostos a práticas e ou teorias psicológicas, além de sofrer fortes pressões de fatores
políticos e culturais, que desempenham um papel importante em qualquer ciência
(Singh, 1991).
Singh (1991), esclarece que regimes de extrema esquerda também tendem a limitar,
censurar ou suprimir a disciplina psicologia na academia. A exemplo, durante a
"Revolução Cultural" da China (1966-1976), a psicologia foi declarada pseudo-ciência
reacionária, "burguesa", ideológica e foi abolida completamente (Hsieh-Shih, 1995) e
ressurgiu quando iniciou-se uma economia de mercado semi-capitalista (Zhang & Xu,
2006). Outro exemplo, no governo de Joseph Stalin da União Soviética (1928-1953), a
153
psicologia ficou sujeita a um rígido controle ideológico do Estado e como disciplina
ficou limitada em termos de importância e alcance. Na Rússia atual, a psicologia é
ensinada em mais de 100 universidades. Em geral, instituições democráticas liberais e
sistemas de crenças culturais tendem a apoiar e difundir a psicologia como uma
disciplina, já regimes e ideologias totalitários de esquerda, tendem a restringir a
psicologia a uma profissão e a uma forma de "estar no mundo".
Embora a psicologia nos países árabes tenha se desenvolvido tão bem, porém tem
ficado a desejar em relação a outras economias, políticas e cultura emergentes do
mundo, especialmente na Ásia Oriental e na América Latina. Com base nas
informações fornecidas por Ahmed (1998), Ahmed e Gielen (1998, in prep.), Sánchez
Sosa e Riveros (2007), conclui-se que uma quantidade considerável de atividade
psicológica científica está ocorrendo no mundo, embora existam grandes variações de
uma nação para outra. Psicólogos associadas a instituições localizadas no Egito,
Jordânia, Líbano, Iraque, vários países produtores do Golfo, e Marrocos estão entre os
líderes em tais empreendimentos. Poucas atividades psicológicas, no entanto, estão
ocorrendo em algumas outras nações árabes tais como Comores, Djibuti, Mauritânia
e Somália. A União Internacional de Ciências Psicológicas (IUPsyS) inclui a psicologia
agora 70 países em todos os continentes habitados. Isso significa, entre outras coisas,
que a psicologia tem prosperado em vários graus em muitos países não-ocidentais em
desenvolvimento tais como: Brasil, China, Índia, Irã, Japão, Indonésia, México,
Filipinas e Turquia. Dentro muitos dos países mais pobres da África e do mundo
islâmico, entretanto, a psicologia mantém um perfil muito baixo, em parte porque é
freqüentemente visto como uma espécie de luxo face às demandas mais urgentes de
sobrevivência econômica, de miséria e ameaças de desintegração política e guerra civil
(Gielen, 2006).
154
3 A etimologia da psicologia
Nem Platão por meio da Academiaxxii, nem qualquer outro filósofo antigo utilizou as
palavras 'Ontologia' e 'Psicologia'. Nas obras de Aristóteles, são usadas expressões
como: De Anima e Metafísica (Aristóteles, De anima, 402a5); (Aristóteles, Met., III, 3,
998b7 e também Met., IV, 1, 1003a20), utilizadas para apontar duas ciências diferentes.
Porém Aristóteles não atribuiu um nome determinado a qualquer um deles. No
entanto, é Aristóteles quem finalmente identifica e aponta o problema do
status/condição e do objeto de estudo da 'Ontologia' e da 'Psicologia' (Lamanna,
2010).
Sob o ponto de vista terminológico, pode-se dizer que as diferentes soluções para uma
visão epistemológica e disciplinar resultaram-se, ao longo dos séculos, de diferentes
soluções terminológicas para indicar cada uma das duas ciências. Em relação à
ontologia, os termos prima filosofia (primeira filosofia), scientia universalis (ciência uni
versal), metafísica (metafísica), e ontosofia foram usados. Já em relação à psicologia, os
termos scientia de anima e scientia animastica (ciência da alma). Porém, diferentes
transmissões derivaram da interpretação das obras de Aristóteles, que ofereceram
destaque diferenciado para ambas as ciências, seja pela translatio studiorum, seja pela
terminologia. Por meio da translatio studiorum - que designa, no contexto da história
do pensamento, um vasto processo de transferência de saberes, de uma época para
outra e de um lugar para outro, entre impérios do Oriente Médio e do Ocidente e entre
diferentes culturas e religiões – os textos Aristotélicos sofreram formas diferenciadas
de interferência. O início da cultura protestante, a epistemologia e disciplinariedade
do translatio studiorum, foi o principal condutor à independência da ciência da alma,
que atinge um de seus momentos mais importantes de síntese (Lamanna, 2010).
155
Certamente Aristóteles possui uma influência importante para o desenvolvimento das
duas ciências, que mais tarde intitularam-se ontologia e psicologia, que deixaram de
ser doutrinas, em relação a temática e status que ocupavam sob o ponto de vista
epistemológicoxxiv (Castañon, 2007). No interino das obras de Aristóteles, 'De Anima'
tem a tarefa de introduzir epistemologicamente trabalhos fisiológicos e naturais. Com
isso, Aristóteles ao descrever a alma por meio de suas funções e faculdades, no terceiro
livro de 'De Anima', ampliou e apresentou uma faculdade pertencente apenas ao
humano, e desconhecido para os outros animais, o intelecto (Lamanna, 2010).
Ao contrário das almas vegetativas e sensíveis, que não poderiam ser independentes
do corpo que lhe dava: vida, movimento e sensibilidade, a alma racional (intelecto) é
χωριστές (separada do corpo). De acordo com Aristóteles, o intelecto é separado de
qualquer órgão do corpo, enquanto que para Platão (Timaeus, 71d-e), ao contrário,
este configurou o centro da alma racional dentro do encéfalo (Menn, 2010).
156
objetos abstratos "retos " é como snub-nosed, devido a estar combinado com extensão;
porém é essência, se "retas" e "retidão" não são semelhantes, é algo diferente; a isso
vamos chamar, dualidade. Por esse motivo, julgamos por outra faculdade, ou pela
mesma faculdade em uma relação diferente. E falando no geral, como objetos são se
paráveis de sua matéria assim são faculdades igualmente correspondentes na mente
"(Aristóteles, De anima, III, 4, 429b18-22, inglês transl. P. 167-169).
Lamanna (2010) explica, que, o que parece ser apresentado por Aristóteles é a hipótese
de uma analogia entre a essência e a separação do intelecto e o que vem a ser, o ser
matemático - mathematical beings. Desta forma a partir das obras de Aristóteles, uma
longa tradição de debates fez surgir interpretações e consequentemente a colocação
disciplinar de uma nova matéria (subject) tinha campo fértil para surgir, a psicologia.
Desta forma, estas temáticas deixaram de ser simples doutrinas, e seu tema e status se
tornaram questões de debate sob o ponto de vista epistemológico. Ao contrário da
ontologia, que estava firmemente dentro da metafísica, existia uma incerteza quanto
ao lugar da Psicologia dentro das ciências, mesmo nos tempos antigos.
Lamana (2010) destaca que, a complexidade das questões encontradas nos trabalhos
de Aristóteles fornece diferentes soluções entre os Comentadores ao longo dos
séculos, que podem ser divididos em pelo menos três grupos: I) Aqueles que atribuem
o tratamento da alma em parte à física e em parte à metafísica - Averroes e Tomás de
Aquino; II) Aqueles que atribuem o tratamento à alma apenas à física – Alexandre de
Aphrodisia e Pietro Pomponazzi; ou à metafísica - Plotinus, Augustine e
Neoplatonismo. Consolidando o estudo da alma na metafísica, temos: Guillaume
d'Auvergne, ou Guillaume de Paris (1190-1249); III) Aqueles que atribuem o
conhecimento da alma nem à física nem a metafísica, mas para uma terceira ciência, a
meio caminho entre os dois campos, temos: Paul J.J.M. Bakker, Temmistius, pseudo
Simplicius (ou provavelmente Prisciano). Este terceiro grupo inclui uma série
heterogênea de autores que - como Paul J.J.M. Bakker destacou notavelmente a partir
de Themistius e pseudo-Simplicius (ou provavelmente Prisciano) até chegar a
Augustino Nifo e Marco Antonio Genua na idade moderna, e, simetricamente,
considerar a alma como ens - uma unidade de medida igual a metade de um em e
aproximadamente a largura média de caracteres tipográficos, usada especialmente
para estimar a quantidade total de espaço que um texto exigiria, uma scientia de anima
como scientia media entre Física e Metafísica.
Em 'De anima', o objetivo de Aristóteles era entender o que seria a vida animal, o que
são seres vivos. "Animal" não se trata de um bruto (beast), mas um corpo com uma
alma, que tem vivacidade, conduta. Sem alma, não haveria animal e, portanto, não
haveria vida animal. Lamanna (2010) explica que para Aristóteles, a alma não era
peculiar somente ao gênero humano, como alguns Platonistas acreditavam, mas
pertencente a todos os seres vivos. Com isso, se a alma é o "princípio da vida animal"
(Aristóteles, De anima, I, 1, 402a6, ingl. Transl. P. 9) e "a forma de um corpo natural"
157
(Aristóteles, De Anima, II, 1, 412a20-21, ingl. Transl. P. 69), para este fim, a alma é
inevitavelmente o limite para o corpo ao qual dá vida. Ademais, as afetividades da
alma, como: raiva, amor, medo, fúria, na realidade procederiam da relação com o
corpo.
158
Lamanna (2010) alerta, que embora os termos 'ontologia' e 'psicologia' tenham uma
etimologia grega, nenhum destes aparecem nas obras conhecidas de qualquer filósofo
antigo ou medieval, porém aparecem entre o final do século XVI e o início do século
XVII e podem ser encontrados em trabalhos publicados na Europa Central, com
destaque para seu uso mais bem-sucedido na Reforma e cultura Protestante. O
vocábulo foi inventado durante o tempo da Reforma e a partir de então a ciência
‘Psicologia ’conheceu uma grande difusão entre os filósofos, bem como nas disputas
por cátedras universitárias.
De acordo com Kruno Krsticxxx (1964), trata-se de uma descoberta confirmada por
Josef M. Brozekxxxi (1999), em que, o termo 'psicologia' foi primeiramente encontrado
na obra do humanista xxxii Marko Marulić (1450-1524). Trata-se da mais antiga
referência literáriaxxxiii conhecida á psicologia, se deu em 1520, pelo croata Marko
Marulić (1450-1524), poeta e renascentista, que publicou em latim Psichiologia de
ratione animae humanae. A destacar que Psique e Logos, são palavras gregas, que não
apareceram juntas, até que Marko Marulić, as unisse no título de seu tratado (Lezcano
& Ramón, 2009). Desta forma reconhece-se, que a origem da palavra psicologia, nasce
em um ambiente teológico, por ser um autor católico e de influências da ordem
franciscana (Lezcano & Ramón, 2007). Porém, o termo começou a ser utilizado com
sucesso e amplamente apenas cerca de cinquenta anos mais tarde, na cultura europeia
central e na Reforma Schulphilosophiexxxiv (Burnett, 2004). Kruno Krstic (1964) in
forma que mais de 45 anos após a descoberta do termo de Marulić, nenhuma pesquisa
foi capaz de relatar qualquer influência que o termo 'psicologia' tenha tido no contexto
do conhecimento europeu (Lamanna, 2010).
159
acordo com Lutero, a filosofia de Aristóteles é uma filosofia da imanência, e esta
invalida a doutrina da alma. Pensar sobre a alma e atribuí-la a forma do corpo significa
amarrar a alma à matéria permanentemente, e levá-la para a corrupção e mortalidade.
A reprovação de Lutero começa por Aristóteles e inclue toda a tradição aristotélica e
platônica, bem como a possibilidade de se saber algo sobre a alma e sua natureza, ao
usar apenas razão. Por meio de Melanchthon, foi possível começar a discutir a alma
em um grau além (Melanchthon, 1540, p.8).
Entre 1520 e 1570, nas instituições reformadas na Europa Centralxxxvii, houve uma
redução considerável no ensino curricular e nas cadeiras da metafísica. Isto foi
certamente devido à ação simultânea de pelo menos três fatores: a) uma forte opção
anti-metafísica que dominava a cultura luterana durante todo o século XVI; b) uma
atmosfera de instabilidade a nível teológico devido à propagação de movimentos
reformados e conflitos entre eles; c) e a difusão, em universidades e escolas de
filosofias tais como o Ramismo xxxviii , cheias de opiniões anti-escolásticas e
antimetafísicas (Lamanna, 2010).
Não é por acaso que o termo psicologia aparece na Schulphilosophie pela primeira vez
em algumas obras de um seguidor de Ramus, Johannes Thomas Freig (Lat. Freigius,
1543-1583). Freig era um calvinista e biógrafo de Ramus, bem como professor de lógica
e retórica em Freiburg e Basileia. Em seu trabalho, Trium artium logicarum (1568), Freig
propõe uma divisão disciplinar segundo a qual a scientia de anima foi incluída no
campo da filosofia junto com a medicina e a história dos animais (Lamanna, 2010).
Seis anos mais tarde, na primeira edição de sua obra Questiones (1574), Freig dá uma
nova e interessante distribuição disciplinar, e confirma a ciência da alma entre as
ciências físicas, em particular, entre os que tratavam das qualidades dos corpos
complexos. Em sua obra, ele chama a ciência da alma de ‘psicologia’.
O uso do termo ‘psicologia ’neste trabalho de 1574, foi descoberto por Lamanna (2010),
em setembro de 2009, é, portanto, a primeira ocorrência do termo na filosofia alemã
um ano antes do uso do neologismo por Freig, em seu trabalho: Catalogus locorum
160
communium (1575). Até o momento, a primeira ocorrência do termo na Alemanha foi
atribuída por William Hamilton (1882, volume I, página 136, nota alfa) e Lapointe
(1972, página 332-333) para o trabalho Catalogus locorum communium (1575), de Freig.
Porém, na primeira edição de eu trabalho de 1574, ainda intitulado Questiones, Freig
se pergunta sobre quantos e quais são os sujeitos pertencentes ao campo da física. E
sua resposta é: se a física é a ciência que estuda qualidades, portanto todas as
disciplinas cujo objeto de estudo são diferentes qualidades de formas, estas serão
disciplinas físicas. E segue uma classificação das disciplinas da física que apresenta a
‘Psicologia ’como: 'Psicologia e história dos animais lidam com a composição de
corpos que são perfeitos'. No entanto, Freig dá um passo em frente, comparado a seus
trabalhos anteriores. O termo é na verdade uma paleonímia (uso de uma palavra pré
existente em um novo contexto), que está de acordo com a tendência do século XVI e
do século XVII de criar o Graecismos (imitação do idioma grego) para nomear e
renomear alguns campos disciplinares. No trabalho de Freig, a paleonímia aparece
como uma translação léxica (dicionário) através da transliteração (traduzir ao pé da
letra) do semantema (parte de um vocábulo que expressa um conceito, uma ideia de
caráter unicamente lexical, como uma substância, qualidade, processo, modalidade da
ação ou da qualidade) grego para o latim. Em seu trabalho posterior Quaestiones
Physicae (1579), Freig dedica um livro inteiro (nº XXVII) à psicologia e confirma a
denominação do latim de Psychologiato, que indica a ciência que estuda a alma dos
seres vivos. A alma, por sua vez, foi definida como "principium vitae in corpore
naturali ". Além disso, Freig acrescenta a descrição de três espécies da alma: naturais,
sensíveis e inteligentes, com suas respectivas faculdades, funções e localizações
anatômicas. A psicologia Freig, em seu trabalho Quaestiones Physicae (1579) trata das
várias espécies da alma presente nos corpos dos seres vivos. E acompanha, ao separar
inteligência como um ser imaterial, que são excluídas do campo da ciência. Desde que
Freig inclui psicologia em seu trabalho Quaestiones Physicae, o autor, portanto,
confirma que seu campo disciplinar se enquadra na física. A um passo da autonomia
disciplinar, da Psicologia, como termo e como ciência foi feita cerca de dez anos após
a publicação do trabalho de Freig, no contexto do Calvinismo (Lamanna, 2010).
161
e 1597), e foi composto de um volume de uma coletânea de contribuições e partes das
obras de alguns autores teólogos, filósofos, juristas e médicos - que pertenciam
principalmente as áreas reformadas. Goclenius editou todo o trabalho, e acrescentou
contribuições ao escrever uma epístola dedicatória. Nestas contribuições incluiu ao
livro um assunto que tratou da questão relativa à origem da alma humana, sua criação
- ou, se necessário, sua geração da matéria, e suas relações com o corpo. E entre as
contribuições, existe as de Hermann Vultejus (1555-1634), professor de direito na
Universidade de Marburg desde 1581 e Johann Ludwig Havenreuter, outro autor
incluído no livro.
O calvinista Clemens Timpler (1563 / 4-1624), que durante a década de 1580 estudou
na Universidade de Pádua, em que provavelmente assistiu as lições de um
renascentista italiano aristotélico, Giacomo Zabarella (1533 – 1589), no ano de 1604,
Timpler publicou um trabalho intitulado Empsychologia (Lamanna, 2010). Otto
Casmann (1562-1607), um aluno calvinista e bem-sucedido de Goclenius em Marburg,
162
publicou uma obra intitulada Psychologia Anthropologicain em 1594. Com
reconhecimento a Otto Casmann, a psicologia se tornou, junto com a somatologia
(tratado do corpo humano - termo léxico - faz parte dos estudos da medicina), uma
das duas variedades da antropologia, que era uma ciência física. Em 1596, Goclenius
escreveu um prefácio ao trabalho de Rudolph Snellius (1546-1613) que inclui um
capítulo intitulado "Psychologia". Portanto, a escola de Goclenius revela-se um
momento-chave na disseminação do termo e da ciência que chamamos atualmente de
psicologia. Em Marburg, entre o final do século XVI e início do século XVII, a ciência
da alma teve grande peso acadêmico, e também graças ao nome específico que foi
dado, no qual foi especificamente "psychology".
163
moderno surgiu na Idade Média - primeiro com pensadores árabes como Abu Ali al
Hasan ibn al-Haytham (latinizado, Alhazen – 965 dc a 1040), físico e matemático
árabe, considerado pioneiro da ópticaxliv e Abū ʿAlī al-Ḥusayn ibn ʿAbd Allāh ibn
Sīnāxlv (latinizado, Avicena, 980 – 1037) e mais tarde com pensadores europeus como
Robert Grosseteste xlvi (1168 - 1253), Roger Bacon xlvii (1214 - 1294) e Richard
Swinesheadxlviii (1340 – 1354), por meio de Universidadesxlix britânicas como Oxford e
Cambridge que já tinham uma longa tradição de ciência empírica, para entender a
natureza.
Neste debate crescente e frutífero, Francis Bacon (1561 — 1626) filósofo inglês, nasce
em Londres, no ano de 1561, período da Renascimentol, em uma sociedade que já
demonstrava uma aliança entre a filosofia e a ciência, e em uma Inglaterra que já
apontava a ascendência do capitalismo burguês, (Japiassu, 1995). O pensamento
filosófico de Bacon representa a tentativa de realizar aquilo que ele mesmo chamou
de Instauratio magma Scientiarum (Grande instauração das ciências), com base nesta
obra que teria 6 partes, apenas duas são concluídas, De dignitude et Augmentis
Scientiarum (Da dignidade e do crescimento das ciências) e a segunda parte adveio três
anos antes da primeira publicação em 1620, que confrontava o Órganumli produzido
por Aristóteles, chamado por Bacon de Novum Órganum ou indicação verdadeira
acerca da interpretação da natureza (Japiassu, 1995). No Novum Órganum, Bacon
propõe o método indutivolii com o objetivo de substituir o método aristotélico
dedutivoliii tradicional. Desta forma, Bacon se opõe a interpretação de Aristótelesliv,
que tem ênfase no silogismo lv e dialética lvi e na mistura de filosofia natural e
divindade (Ribeiro, Reis, Santos, sem data).
Batista (2010) destaca que, por volta de 1620 ainda se encontrava a postura dogmática
medievallvii, que se mantinha graças à predominância da escolásticalviii, para a qual a
teologialix subordinaria a si mesma todos os demais ramos do saber: a filosofia, as
ciências e as artes. Este momento advém da idade média, considerada a ‘idade das
trevas’, uma vez que nela o conhecimento humano ficou, sob a tradição escolástica
medieval judaico-cristã. A peste negra, entre 1347 e 1350, matou cerca de um terço dos
europeus, concomitante a controvérsia, a heresia e o cisma ocidentallx dentro da Igreja
Católica acompanhado dos conflitos interestaduais, as lutas civis e as revoltas
camponesas que ocorreram nos reinos. Os desenvolvimentos culturais e tecnológicos
transformaram a sociedade europeia, concluindo o fim da Idade Média com a devassa
de milhares de vidas humanas, que confirmava, a ocorrência de uma alta imprecisão
dos sentidos humanos e, consequentemente um forte viés da mente humana para
julgar corretamente qualquer coisa. Trata-se de um momento de transição e começo
164
do início do período moderno, em que os povos medievais acreditavam então que a
doença surgia de um desequilíbrio dos quatro humores do corpo: colérico,
melancólico, fleumático e sanguíneo e a ausência de Deus, ao passo que os povos
começaram a olhar através dos Microscópiolxi e a ciência moderna apontava que,
alguns tipos de doenças se espalhavam por organismos minúsculo (Batista, 2010).
A Royal Societylxiii, foi fundada em 1660, para promover a nova filosofia experimental
da época, em que incorporou os princípios de Sir Francis Bacon e promoveu seus
princípios de observação exata e medição de experiências em seu periódico, Philosoph
ical Transactions, geralmente creditado como sendo o primeiro periódico científico
(Ganer, 2015). A revolução contemporânea estava posta, em função da consequência
do desenvolvimento do conhecimento científico. Na Inglaterra do século XVII, o
desenvolvimento do conhecimento científico estava representado na obra e nos
escritos de Francis Bacon, Robert Boyle lxiv (1627 — 1691), Edmond Halley lxv
(1656 1742) Isaac Newton lxvi (1643 — 1727) e John Locke (1632–1704), todos
—
companheiros da Royal Society, um corpo que evitou a discussão da religião e da
política e concentrou-se mais na promoção da "Aprendizagem Experimental Físico
Matemática" (Aldrich, 1999).
165
No desenvolver da história da ciência, os cientistas medievais contribuíram para a
ampliação cumulativa do conhecimento, sendo alguns momentos, marcos
irrevogáveis para a Revolução Científicalxx do século XVI, tais como, a publicação das
obras De revolutionibus orbium coelestium - "Das revoluções das esferas celestes",
por Nicolau Copérnicolxxi e De Humani Corporis Fabrica - "Da Organização do Corpo
Humano", por Andreas Vesalius (1514 — 1564) que, foi um médico belga, considerado
o “pai da anatomia moderna”. Andreas Vesalius foi o autor da publicação De Humani
Corporis Fabrica, em 1543, trata-se de uma espécie de atlas do corpo humano
amplamente ilustrado, dividida em sete partes – ossos (Livro 1), músculos (Livro 2),
sistema circulatório (Livro 3), sistema nervoso (Livro 4), abdômen (Livro 5), coração e
pulmões (Livro 6) e cérebro (Livro 7).
Por sua vez, a publicação do ‘Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo - Diálogo
sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo, em 1632, por Galileu Gali
lei (1564—1642) físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano.e o enunciado
das Leis de Kepler lxxii , por Johannes Kepler lxxiii (1571 — 1630), impulsionaram
decisivamente a revolução científica. Desta forma a ciência moderna surge,
quando se torna mais importante observar e experimentar, ao contrário da visão
antiga que partia de princípios estabelecidos e dogmáticoslxxiv. Foi um processo de
transição que transformou profundamente a visão científica do século XVII, ou seja, o
rompimento com a ciência antiga, finita e geocêntrica de Ptolomeu, sec.II, inspirado
em Aristóteles, com uma teoria que vigorava há quase vinte séculos e era maneira pela
qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo. A nova ciência propõe
o modelo heliocêntrico de Copérnico, que atingia a concepção medieval cristã de que
o homem é ser supremo da criação divina e que por isso a terra é o centro do universo,
e um universo infinito de Giordano Brunolxxv (Baracat, 2009). A ciência por sua vez,
passa a valorizar a observaçãolxxvi e o método experimental. O século XVII viu nascer
o método experimental e a possibilidade de explicação mecânica e matemática do
Universo, a partir desses questionamentos, duas novas perspectivas para o saber
surgiram, às vezes complementares, às vezes antagônica, como o racionalismolxxvii e o
empirismolxxviii.
Desta forma, a contemplação teórica foi substituída por uma concepção que
valorizava a função prática do pensamento. O desenvolvimento do comércio, troca de
dinheiro, educação secularizada lxxix , comunidades, cidades, levou a uma nova
deferência do conhecimento em sua perspectiva social e histórica (Houghton, 1941,
48). Um conhecimento imparcial da natureza era necessário para que esta fosse
praticamente dominada, e isso se tornou o ponto central dos intelectuais. As novas
tendências surgiam em oposição ao sistema feudal, em especial do religioso e sua
visão teológica do mundo. O desenvolvimento de um conhecimento preciso da
natureza tinha sido profundamente limitado, não somente pelas idéias teocêntricas,
tal como a noção de que os seres humanos são essencialmente incapazes de
166
compreender o mundo, mas também por alguns obstáculos artificiais que impediam
isso.
Talvez o efeito mais profundo que Descartes teve sobre a epistemologia e a metafísica
modernas iniciais surgiu de sua idéia de examinar o conhecedor como um meio de
determinar o alcance e as possibilidades do conhecimento humano. Filósofos
subseqüentes que não eram seguidores de Descartes também adotaram a estratégia
de investigar o conhecedor. As obras epistemológicas de John Locke (1632 – 1704),
George Berkeley (1685 – 1753), David Hume (1711 – 1776), Thomas Reid (1710 – 1796)
e Immanuel Kant (1724 – 1804) perseguiram esta investigação. Esses autores chegaram
a conclusões diferentes do que tinha Descartes sobre a capacidade da mente humana,
em conhecer as coisas como elas são em si mesmas. David Hume (1711 – 1776) e
Immanuel Kant (1724 – 1804), especialmente o fizeram através do tipo de investigação
167
que o próprio Descartes tinha feito proeminente: a investigação das capacidades
cognitivas do conhecedor (Hatfield, 2016).
Com isso, o cenário intelectual do século XVII, intitulado Filosofia Clássica Moderna,
rejeitaram as autoridades do passado - especialmente Aristóteles e seus pares.
Descartes, que fundou a tradição racionalista, e Sir Francis Bacon (1561-1626),
considerado o criador do empirismo moderno procuravam novos métodos para
alcançar o conhecimento científico e uma concepção clara da realidade. Thomas
Hobbes (1588 – 1679) por sua vez desafiou a relação entre ciência e religião, e as
limitações naturais do poder político. Hobbes ficou fascinado pelo problema da
percepção sensorial e aplicou a física mecânica de Galileu (1564-1642) para uma
explicação do conhecimento humano. Ele acreditava que a origem de todo
pensamento é a sensação, que consiste em imagens mentais produzidas pela pressão
do movimento de objetos externos. Assim Hobbes antecipou pensamento posterior ao
explicar diferenças entre o objeto externo e a imagem interna. E acreditava que essas
imagens sensoriais são estendidas pelo poder da memória e da imaginação e que
compreensão e razão, que distinguem os homens de outros animais, são um produto
da nossa capacidade de usar a fala.
Thomas Hobbes (1588 – 1679) foi um matemático, teórico político e filósofo inglês,
nascido na Era Isabelinalxxxi e por volta de 1620, Hobbes trabalhou por algum tempo
como assistente de Francis Bacon e na França, conheceu os matemáticos René
Descartes (1596-1650) e Pierre Gassendilxxxii (1592-1655) (Rovaris, 2007). Em 1640 ele
escreveu uma série de argumentos das 'Meditações' de Descartes. Desta forma,
conhecia tanto Bacon, quanto Descartes e o ponto de partida da filosofia de Thomas
Hobbes (1588 – 1679) se dá com a física, pois acreditava que a filosofia é a ciência dos
corpos, ou seja, tudo possui existência material, e, os corpos se dividiriam em corpos
naturais (filosofia natural) e corpos artificiais (filosofia política) (Duncan, 2017).
Dickens (1989) informa que Hobbes, foi influenciado pela Reforma Anglicanalxxxiii, a
favor da explicação mecanicista do universo (que predominava na época), escreveu
Elements of Philosophylxxxiv ao lado de Leviathanlxxxv (1651) uma oposição à teleoló
gica defendida por Aristóteles e a escolástica e com a crença em Deus:
168
modo a fazer-se compreender. E assim com o passar do tempo pôde ser
encontrada toda aquela linguagem para a qual ele descobriu uma utilidade,
embora não fosse tão abundante como aquela de que necessita o orador ou o
filósofo”. (Leviatã, Primeira Parte, Do Homem, Capítulo IV, Da linguagem)
Hobbes, afirma que não existe homens no mundo que não sejam dotados de natureza
desejante, pois, esta é a força propulsora que empurra ao homem em direção a uma
determinada coisa, objeto, bem que pode lhe proporcionar prazer (Lopes, 2012). Nesse
sentido Hobbes (1983) escreve:
169
Hobbes infere que o homem tem direito a tudo que lhe agrada, no entanto, acima de
tudo, tem direito a todas as coisas que julgar necessário para preservação de sua vida.
“Todo homem tem por natureza direito a todas as coisas, ou seja, a fazer qualquer
coisa que lhe apraz e a quem lhe apraz, a possuir, a utilizar e usufruir todas as coisas
que quiser e puder” (Ibid., p. 92). Fundamentado na observação Hobbes percebe que
quando da fundação do Estado, o estado natural humano não é eliminado. Isso quer
dizer que o homem no estado de natureza em Hobbes se encontra, também presente,
mesmo após a fundação do Estado civil (Lopes, 2012).
Hobbes (1588 – 1679) viveu a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), embora os maiores
impactos ocorreram no território do Sacro Império Romano, foi uma boa ilustração de
um poder soberano fraco. A devastação da Europa Central neste momento
proporcionou um peso empírico para toda busca por um poder soberano forte. Desta
forma, para Hobbes tomar uma visão abstrata da natureza humana era tão difícil como
em 1947, para alguém que tinha visto notícias dos campos Nazistas (Clarke, 1995). O
método de Hobbes no Leviathan é definir os princípios da ação humana, progredir,
consequentemente, para um relato da motivação humana e então para uma teoria de
como a sociedade humana se organiza (Clarke, 1995). Uma característica essencial
desta cadeia de análise é que Hobbes tem uma concepção atomística da sociedade
humana, baseada em seu estudo da física, em que rejeita o organicismo, Hobbes
avança com a visão de que os seres humanos são impelidos pelos efeitos mecânicos
de nossos sentidos, que não são meramentes ações reflexas (Clarke, 1995). Hobbes
considera que os seres humanos usam sua vontade para guiar suas ações pelas
situações nas quais são prejudiciais e benéficas. Hobbes usa os termos appetite e
aversão para descrever os impulsos conflitantes e faz uma série de proposições sobre
o appetite humano, em que considera alguns appetites inatos, como o desejo de comida,
sendo a maioria derivado da experiência. E acredita que os appetites de uma certa
maneira mudam ao longo do tempo, contudo as pessoas cessam de viver se elas
cessam de ter appetites em que não existe necessariamente uma uniformidade do
appetite entre as pessoas. Isso significa que existe sim um improvável acordo entre
todos sobre qual nível de riquezas, poder e dieta é mais adequado para a satisfação
do appetite de cada indivíduo. Isto tem sérias conseqüências para Igualitarismo, se al
guém se lembra de que Hobbes é um atomista em relação a estrutura social, ou seja,
tal uniformidade se estabelece sob imposições (Clarke, 1995). O poder de uma pessoa
distingue entre poder natural (talentos) e poder instrumental (instrumentos para a
aquisição ou conservação de energia, e. dinheiro). Contudo, Hobbes apresenta a noção
de que o poder é medido em relação aos outros. Assim como os appetites podem ter
diferentes forças em diferentes pessoas, de modo que o desejo de poder pode ser
também desigual. Hobbes afirma então que o poder não é meramente a capacidade
de satisfazer appetites futuros, mas essa capacidade em excesso, em relação aos outros.
Esta afirmação sobre a necessidade do poder de uma pessoa competir com os poderes
dos outros é um elo vital no argumento de Hobbes: se poder competitivo é um
170
componente necessário da natureza humana, então dado que o acordo universal em
uma escala larga de metas desejáveis é impossível, o conflito deve ser inevitável se
não houver restrições aos appetites humanos. Existe, portanto, uma escolha necessária
a ser feita entre liberdade e segurança. Bertrand de Jouvenel (1903 – 1987), cientista
político e economista, pioneiro frânces da ecologia política, descreveu as duas
posições como "Securitário" e "Libertário" (Clarke, 1995).
Desta forma, a evolução teórica das concepções de Hobbes, que avança, da explicação
da filosofia da natureza à explicação da natureza humana, a psicologia moderna tem
em 1690 por meio do filósofo britânico John Locke, o primeiro documento com
potencial temático para o assunto, psicologia: Um Ensaio sobre o Entendimento Humano
(1689). Locke acreditava que as idéias não são inatas, sendo a experiência, a única fonte
do conhecimento. Para ele, a mente humana, no início, é um “papel em branco” que
aos poucos é preenchido pelos dados da experiência e destaca que é na experiência
interior, na reflexão, que a mente percebe suas próprias operações, e que também é
fonte de idéias – como o pensamento, raciocínio, dúvida - embora estas não se refiram
às coisas exteriores e sim a essas atividades interiores e completa, quando faz distinção
entre: idéia simples e complexa (Abrão, 2004).
John Locke (1632 – 1704) foi um importante filósofo britânico, considerado um dos
líderes do empirismo e um dos ideólogos mais expressivos do liberalismolxxxvii e do
iluminismolxxxviii, formou-se em medicina em Oxford e foi médico e mentor do Lord
Ashleylxxxix de Shaftesbury, o líder dos Whigs, partido que representava os liberais no
Parlamento. Locke viveu em uma Inglaterra permeada por guerras civis, revoluções
políticas e execuções de reis, isto é, marcada pelo conflito entre a Coroa, defensora do
absolutismoxc, e o Parlamento, defensor do liberalismo (Vilela, 2014). Locke utilizou
se da divisão tripartite estóicaxci com base no conhecimento da: filosofia natural, ética
e lógica e com ênfase na importância dos sentidos para a aquisição do conhecimento
sensível do mundo natural. Locke refutou a noção de Descartes sobre as idéias inatas
e apresenta no Essay, no início do segundo livro: Of Ideas , o desenvolvimento do
171
empirismo (Vilela, 2014). De acordo com Locke, ao nascer, a mente do ser humano, é
uma tabula rasa e acreditava que não há idéias inatas e acrescentou que todas as idéias
se originavam na mente, por meio da experiência, através da sensação ou reflexão
sobre o entendimento/idéia obtido na sensação (Uzgalis, 2016). Como resultado deste
ponto de partida, o conhecimento seria rastreável às idéias dadas na experiência, com
isso, em vez de se chegar a certas conclusões a partir do raciocínio dedutivo, os
empiristas buscariam suas conclusões por meio do raciocínio indutivo. O livro, An Es
say Concerning Human Understanding (1689) foi um marco na análise abrangente e
detalhada dos mecanismos do pensamento humano. Uma análise que Locke
acreditava ter o potencial de lançar nova luz sobre o pensamento social e religioso, em
que o autor tentou utilizar seu modelo para explicar muitos dilemas filosóficos, tal
como a relação entre o mundo material, a subjetividade e o divino (Uzgalis, 2016).
Segundo Driver (2014), foi a natureza do modelo de cognição que Locke desenvolveu,
que levou John Stuart Mill xcii (1806 — 1873), utilitarista xciii inglês, a chamá-lo de
"fundador incontestável da filosofia analítica da mente". Muitos pensadores britânicos
posteriores, discordariam de Locke, mas poucos foram capazes de se abster de
construir seus próprios modelos cognitivos como justificativas para suas filosofias
sociais, estéticas ou religiosas diante do peso da influência deste Ensaio Lockeano:
172
a origem dessas ideias ou noções - chame-as como quiser - que um homem
observa e está consciente de ter em sua mente. Como o entendimento vem
equipado disto? Em segundo lugar, vou tentar mostrar que conhecimento, o
entendimento tem pela forma destas ideias - o quanto disso existe, o quanto
isso é seguro, e o quanto auto evidente é. Vou também perguntar um pouco
da natureza e dos fundamentos da fé ou da opinião - isto é, da aceitação de
algo como verdadeiro quando não sabemos ao certo que é verdade. " (In, An
Essay Concerning Human Understanding, Book I: Innate Notions - John Locke)
Uzgalis (2016) esclarece que o terceiro livro de Essay trata de palavras, e foi uma
contribuição pioneira para a filosofia da linguagem. Locke é um nominalista
consistente, pois para ele a linguagem é uma convenção arbitrária e as palavras são
coisas que "não representam senão as idéias na mente do homem que as tem" e explica:
John Locke acreditava que cada entendimento do homem pode ser confirmado por
outras mentes, na medida em que compartilham as mesmas convenções linguísticas,
embora um dos abusos singulares da linguagem resulte do fato de que aprendemos
nomes ou palavras antes de entender seu uso (Uzgalis, 2016).
Locke sustentou que o homem é um animal e assim é individuado como outros seres
vivos. Assim, "homem" refere-se a um corpo vivo de uma forma particular. Locke
estava ciente de que a definição de homem não estava resolvida, e que existia uma
variedade de definições concorrentes. Ele defende sua própria definição, que
envolveu distinguir entre "homem" e "pessoa" e utilizou uma variedade de
experiências de pensamento e deduções inaceitáveis pelas definições concorrentes e
utilizou termos como: ‘self’, ‘personality ’e ‘consciousness’, para a explicação de
‘pessoa’ (Uzgalis, 2016):
173
“Person, as I take it, is the name for this self. Where-ever a man finds, what he
calls himself, there I think another may say is the same Person…This person
ality extends it self beyond present Existence to what is past, only by con
sciousness, whereby it becomes concerned and accountable, owns and im
putes to it self past Actions, just upon the same ground, and for the same rea
son, that it does the present…And therefore whatever past Actions it cannot
reconcile or appropriate to that present self by consciousness, it can no more
be concerned in, than if they had never been done.” (In, An Essay Concerning
Human Understanding, II.xxvii.26)
David Hume (1711 – 1776) aboliu a mente como uma substância e disse que é uma
qualidade secundária tal como a matéria e informou que mente é observável apenas
através da percepção (Nigel, 2001). Mais importante ainda, é a distinção que Hume
fez entre dois tipos de conteúdos mentais: impressões e idéias. Impressões são os
elementos básicos da vida mental e acreditava que todas as nossas idéias ou
percepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas, e
explica que, ao analisarmos nossos pensamentos ou idéias, por mais compostos ou
sublimes que sejam, sempre verificamos que se reduzem a idéias tão simples como
eram as cópias de sensações precedentes (Hume, 1748). As impressões são parentes
de sensação e percepção. As idéias são as experiências mentais que temos na ausência
de qualquer elemento estimulante, o equivalente moderno, seira a imagem (Hume,
1748).
174
trabalho enquadra-se nas categorias do empirismo e do associativismo. Ele acreditava
que, assim como os astrônomos determinam as leis do universo através do qual os
planetas funcionam, também é possível determinar as leis dos universos mentais
(Mskingum, 1997).
David Hume (1711 a 1776) tornou-se um dos nomes mais importantes do século XVIII,
dividindo com o inglês John Locke (1632 a 1704) a defesa da experiência, como única
fonte possível à elaboração racional. Ambos, empiristas que foram, postulavam que
toda ideia é sempre posterior à experiência sensível. Ou seja, o conhecimento parte
das sensações e vai gradativamente gerando as ideias até o controle a razão.
Desta form, a os três pensadores britânicos, Thomas Hobbes, John Locke e David
Hume, ampliam o empirismo e apontam prósperos estudos a respeito do
conhecimento humano. Hobbes admitia o conhecimento que sucedia à sensação, já,
tanto Locke como Hume destacavam que o nosso conhecimento era permeado pelos
limites da experiência. Para Locke, tanto as ideias complexas como as abstratas
originam-se das ideias simples, procedentes da sensação. Hume, por sua vez, admitia
as impressões simples, isto é, aquelas que derivam imediatamente da experiência.
Conquanto Hume admita a existência de ideias complexas, desde que acompanhada
de três fatores: semelhança, a contiguidade no espaço e no tempo e causa-efeito, e
ralata que as ideias complexas se originam, de associações ou conexões entre ideias
simples que, por sua vez, procedem das impressões simples, oriundas da experiência.
Enquanto Locke só diz que a nossa racionalidade não é apta para conhecer as
substâncias e essências das coisas, Hume, afirma que não há substância ou essência,
mas apenas feixes de impressões que, por meio de um processo meramente racional e
impulsionados pelo hábito e pela crença, transformamos, em substância e essência
(Campos, 2011).
175
e, em termos contemporâneos, a mente; bem como, a possibilidade de uma
psicometria e a introspecção como método de investigação psicológica (Araújo, 2010).
Wolff se destaca com relevância, no século XVIII, o pensador que reuniu e avaliou sob
um critério único o que considerava serem as mais significativas teorias explicativas
para a relação corpo-alma (Araújo, 2010). Desta forma Araújo (2010) destaca:
A crítica de Kant à noção de alma como objeto de conhecimento, tem como objetivo
exatamente a destruição da psicologia racional de Wolff (Kant, 1781/1995), essa crítica
de Kant teve uma influência decisiva na constituição de vários projetos de uma
psicologia científica ao longo do século XIX, que tinham como idéia norteadora a
rejeição da psicologia racional e o aperfeiçoamento da psicologia empírica (e.g.,
Wundt, 1862). O projeto wundtiano é, de fato, um exemplo privilegiado dos traços
deixados na psicologia por Wolff e Kant (Araujo, 2010). Nesta perspectiva logo após
Wolff, Tetensxcv (1736–1807) também adota o método introspectivo como guia para a
investigação psicológica (Tetens, 1777), com isso, tem-se nas duras críticas de Kant
176
(1786/1996) e Comte (1835/1968), o esforço dos teóricos da chamada ‘psicologia
científica’, a tentativa de salvar a sua aplicabilidade à pesquisa psicológica, corrigindo
a e reforçando sua confiabilidade (e.g., Wundt, 1888; ver também Titchener, 1912).
Nas escolas francesas, somente a filosofia ecléticaxcvi (Da Silva, 2010) é que veio a
suplantar Condillac (Paim, 1999). O sensualismo de Condillac é absolutamente
destituído de base materialista, na busca da substância psíquica, que está na base da
sensação simples que garante a unidade da consciência. Esta idéia, é um modelo para
177
toda a psicologia associacionista do século XIX, quando joga com os “átomos psíqui
cos”. Dentre os filósofos, temos os associacionistas: Thomas Hobbes (1588–1679), Da
vid Hartley (1705–1757), E´tienne Bonnot de Condillac (1715–1780), James Mill (1773–
1836), Thomas Brown (1778–1820), John Stuart Mill (1806–1873), Alexander Bain
(1818–1903), Herbert Spencer (1820–1903), John Locke (1632–1704), George Berkeley
(1685–1753), e David Hume (1711–1776). Estes baseavam-se no método introspectivo
e na investigação fenomenológica da sequência das idéias que revela os princípios
psicológicos que podem estar na base da idéia mais recente. A maioria desses filósofos
também trabalharam com a natureza da maquinaria fisiológica que fazia possíveis
associações. Todos invocavam princípios associativos, não necessariamente sob esta
nomeação, mas pela maneira com o qual o conteúdo do complexo mental poderia ser
produzido a partir de outros mais simples (Tonneau, 2012).
Paim (1991) destaca que Maine de Biran (1766-1824) filósofo frânces afirmou, que, as
sensações provenientes do interior de nosso organismo não apresentam nenhum
caráter privilegiado em relação às sensações externas e acreditava que a exploração
do fenômeno da consciência, requer um método próprio (Umbelino, 2010).
Porém, Kant afirmou que uma psicologia empírica de conteúdo mental não poderia
tornar-se uma ciência natural adequada, pois os eventos mentais não podiam ser
quantificados, medidos ou pesados. E assim, seus dados não são capazes de serem
descritos matematicamente nem sujeitos a manipulação experimental (Rosen, 1998).
178
estimulou estensivos contra-argumentos na busca de fazer da psicologia, uma
disciplina científica comparada às ciências naturais, desta forma restou a outros
estabelecer métodos e condições científicas, de uma experiência em psicologia (Weiner
& Freedheim, 2003).
179
um filósofo escocês, escreveu: The Senses and the Intelect (1855), The Emotions and the
Will (1859) e ainda Manual of Rhetoric (1870), apresentou uma ciência mental que
integrou o associativismo filosófico e a neurologia. Anterior a Alexander Bain, o
filósofo escocês e matemático, Dugald Stewart (1753 – 1828), da Universidade de
Edinburgh, que em 1771, passou um ano em Glasgow, ouvindo os ensinamentos de
Thomas Reis, no ano de 1822, apresenta uma importante obra Philosophy of the Human
Mind. Recebeu influencias de James Mill (1773 – 1836), historiador e filósofo escocês,
em que, em Londres foi editor do Literary Journal (1803-1806), um periódico que tinha
por objetivo informar sobre os principais campos de conhecimento humano e também
do St James's Chronicle, uma revista do mesmo grupo.
180
sentimentos em relação as pessoas, estado mental e graus de consciência (Crampton,
1978).
Alexander Bain (1818 - 1903) acreditava que a psicologia enquanto ciência, deveria
recorrer à observação e à experimentação como métodos de investigação e como as
outras ciências deveria procurar formular leis objetivas. Bain, privilegiou a observação
naturalista de pessoas e animais nos seus contextos de vida, estudou o sistema
nervoso, a memória e os hábitos. Foi Alexander Bain que, pela primeira vez, utilizou
a expressão: "aprendizagem por tentativa e erro". Em 1876 funda a primeira revista
dedicada a disciplina psicologia: Mind, que ainda hoje se publica (Porto, 2003).
Na América era comum cursos, como palestras, de psicologia muitas vezes serem
ministrados aos decanos pelo presidente da faculdade, que era tipicamente um
ministro (Davis, 1936). Um exemplo local foi na Illinois Wesleyan University, em que seu
segundo presidente, Oliver Munsell (1857-1873), ensinou o curso e publicou um texto
de psicologia em 1871 (Illinois State University).
181
obra Physik der Sitten, 1822, criticou a ética idealista a e teoria da liberdade, o que lhe
valeu a proibição de dar os seus cursos (Brandt, 1895).
Em 1805, Franz Joseph Gall e Johann Kaspar Spurzheim, motivados pela crescente
instisfação do governo austríaco com a doutrina de Gall, deixam a Austria. Gall
estudou medicina em Viena, e se tornou um renomado neuroanatomista e fisiologista
alemão. Por volta de 1800 Franz Joseph Gall desenvolveu a frenologia - uma teoria
que reivindica ser capaz de determinar o caráter, características da personalidade, e
grau de criminalidade pela forma da cabeça, com base na forma externa do crânio.
Johann Gaspar Spurzheim foi um médico alemão e o mais importante discípulo de
Franz Joseph Gall, e foi o responsável por disseminar a frenologiaciii no Reino Unido
e nos Estados Unidos (Canguilhem, 2006). Em 1809, Gall e Spurzheim publicam um
livro que faz a descrição anatômica do cérebro: Recherches sur le Systèm Nerveux e em
182
1810, Gall publica o primeiro volume de Anatomie et Physionomie du Systèm Nerveux. O
cérebro, passou a ser entendido como um "sistema de sistemas", e é apresentado como
o único suporte físico do quadro das faculdades, em oposição à ideologia sensualistaciv
(Canguilhem, 2006).
Por volta de 1880, textos da psicologia alemã de Wundt tinha a pretensão de superar
Kant (Lopes, 2011), e nos Estados Unidos estavam sendo publicados textos por autores
norte-americanos, tais como: o funcionalista William James (1890), médico americano
e John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano. John Dewey entre os anos de
1882 e 1884, realizou o seu doutorado em Filosofia, na Universidade Johns Hopkins, e
defendeu uma tese sobre a psicologia do filósofo alemão Immanuel Kant (Piletti,
2014). Porém, desenvolveu um interesse intelectual que combinava ainda o estudo da
biologia e da teoria da evolução de Darwin com a filosofia de Hegel, tais estudos
contribuíram para que elaborasse o seu primeiro livro em 1887, intitulado: Psicologia.
Os laboratórios e departamentos de psicologia estavam se estabelecendo também na
América e um notável, foi criado na recém-criada Universidade de Chicago, que
contratou John Dewey em 1894 para dirigir o Departamento de Filosofia, Psicologia e
Pedagogia (Barone, 1996). Assim, de 1890 a 1940, a psicologia se estabeleceu em todas
as grandes Universidades americanas - os centros de pesquisa psicológica. A primeira
clínica psicológica iniciou-se na Universidade da Pensilvânia por Lightner Witmer,
comumente conhecido como o pai do método clínico em psicologia. A clínica atendia
principalmente crianças em idade escolar e Margaret Maguire, professora de uma
escola pública, apresentou uma criança com problemas de soletramento para o
primeiro caso da clínica em 1896. A maioria dos casos, de acordo com Witmer (1907),
eram crianças 'mentalmente ou moralmente retardado', ou comportamentalmente
desordenado.
183
O desenvolvimento da psicologia se dá especialmente pela institucionalização do que
seria a profissão psicólogo, tal evolução ocorre com o marco da fundação da APA –
American Psychological Association, fundada em 1892 com 31 membros em que
expandiu rapidamente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Atualmente em
2017, a APA tem mais de 115.700 membros e 54 divisões em subcampos de psicologia
(APA, 2017).
184
entrava na mente por meio dos sentidos. Ele depreciava a "psicologia funcional" por
considerar uma abordagem que se preocupava com a "mente em uso" da descartada
psicologia filosófica mais antiga.
185
funções, os tipos de personalidade, a teoria do inconsciente, o método terapêutico da
catarse e toda a filosofia pessimista da natureza humana. Sendo que, os dilemas são
processos subconscientes que permitem a mente encontrar uma solução para os
conflitos ao nível da consciência (Breuer, J. & Freud, 1980).
Em 1889, Willian James (1842 – 1910), médico e filósofo americano, foi nomeado
professor de psicologia em Harvard e nesta mesma data foi convidado a presidir à
abertura Sessão do Congresso Internacional de Psicologia, em Paris. Em 1890 publicou
Principles of Psychology. James definiu a psicologia como "a ciência da vida mental,
ambos os seus fenômenos e suas condições "(James, 1890, vol. I, p.1). Esses fenômenos
incluíam sentimentos, desejos, cognições, hábitos, memórias, raciocínio e decisões.
James os estudou através da análise introspectiva informal de sua própria experiência
consciente. James se opôs à abordagem de Wundt-Titchener para o estudo da
consciência e esboçou suas objeções em um artigo contundente e convincente
intitulado: Some Omissions of Introspective Psychology (James, 1884). O funcionalismo,
foi uma escola precoce de psicologia, que se concentrou nos atos e funções da mente
e não em seus conteúdos internos, e era acatado por autores como: John Dewey, cujo
artigo de 1896 "The Reflex Arc Concept in Psychology" promoveu o funcionalismo (Cap
shew,1992).
E desta forma, William James (1842 – 1910), em Harvard e John Dewey (1859 – 1952),
nas Universidades de Michigan, Minesota e Chicago, se afastam completamente da
matriz germânica e implantam a psicologia nos Estados Unidos com identidade
própria. William James viu nos primeiros resultados de experimentos em psicofísica
e fisiologia sensorial o início da ciência na medição de fenômenos que os filósofos
mentais só descreviam (Capshew,1992).
186
em 1882 começou como professor de psicologia e pedagogia na Johns Hopkins Univer
sity seu laboratório foi reconhecido como o primeiro laboratório psicológico nos
Estados Unidos (Capshew,1992). Em 1893, 20 laboratórios psicológicos operavam nos
Estados Unidos, quase o dobro do que na Europa (Nichols, 1893, como citado por
Capshew, 1992) e em 1904, haviam 49 laboratórios de psicologia em faculdades e
universidades na América (Benjamin, 2000, Camfield, 1973), assim a psicologia se
tornou parte integrante no currículo de graduações em 8 universidades (Miner, 1904).
Desta forma, psicólogos argumentavam a favor da nova ciência e por uma carreira
profisssional tanto ao público em geral, quanto aos curadores e conselhos que
administravam as instituições acadêmicas (Leary, 1987). Então, a articulação não se
referia somente aos cursos de psicologia e laboratórios iniciados, mas também a
criação de periódicos, que foi iniciado com o American Journal of Psychology em 1887,
fundado por Granville Stanley Hall (1844-1924) a fim de publicizar os resultados das
investigações laboratoriais.
Nos experimentos com os quais a psicologia iniciou, por meio dos estudos de Ernest
Heinrich Weber (1795 -1878) sobre a sensibilidade táctica, da pesquisa de Gustav
187
Theodor Fechner (1801 – 1887) com a psicofísica e do estudo da memória com
Hermann Ebbinghaus (1850 – 1909), o que se tinha, era que, um único indivíduo que
se aplicava como experimentador era também o observador. Posteriormente, em
pesquisas subsequentes no âmbito da psicofísica e memória, os papéis de
experimentador e observador já se separaravam, com o objetivo de eliminação ou
controle de possíveis vieses (Dehue, 1997, 2000). Ao separar o papel do
experimentador do observador, pôde-se interpolar "catch-trials" (alarmes falsos),
quando estímulos não eram apresentados e assim randomizar a apresentação de
estimulos, o que se tornaram práticas comuns na pesquisa da psicofísica e assim
adaptados a outros experimentos considerados psicológicos (Dehue, 1997).
Além disso, à medida que a pesquisa psicológica se expandia para incluir experiências
que avaliavam as respostas de crianças e animais, por exigir pouca ou nenhuma
introspecção, a autoridade tornou-se cada vez mais centrada no experimentador e nos
participantes, que tornaram-se "sujeitos" em vez de "observadores". Os primeiros
relatórios publicados geraram resmas de dados detalhados, por vezes apresentados
aos leitores por meio de tabelas de dados em uma única página (Smith, Best, Cylke, &
Stubbs, 2000, página 260). Desta forma, os dados resumidos foram apresentados não
apenas em tabelas, mas na forma gráfica e os gráficos passaram a ser uma forma
comum de resumo de dados em relatos científicos no virar do século, a exemplo, a
curva de esquecimento de Ebbinghaus (1885) e a curva de aprendizagem de
Thorndike (1898) como dois exemplos influentes de representação gráfica. Além disso,
os gráficos ajudaram a preparar o caminho para o desenvolvimento de análises de
correlação e regressãocvii (Smith Et al., 2000).
188
entendimento de problemas filosóficos ou simplesmente deixar que os dados
complexos falassem por si só (Bazerman, 1987).
À medida que o século avançava, a psicologia, que havia evoluido dos departamentos
universitários de Filosofia, se estruturava em departamentos independentes, mas
ainda refletia as idéias dos filósofos mentais e também recebia a influência da teoria
da evolução de Darwin de 1859. Desta forma a filosofia mental tentou descrever como
a mente trabalhava, como seus processos cognitivos e conativos produziam ações
volitivas. E os psicólogos americanos, imbuídos do espírito da teoria evolucionária,
centravam-se na utilidade da mente e da consciência, na adaptação das espécies e no
meio ambiente dos indivíduos.
James McKeen Cattell (1860 – 1944) foi o primeiro professor de psicologia nos Estados
Unidos na Universidade da Pensilvânia e estabeleceu um laboratório na Universidade
189
de Columbia, em que descreveu o trabalho de medição de seu laboratório em seu
artigo de 1890, Mental tests and measurements, na revista Mind, onde o termo ‘testes
mentais ’foi usado pela primeira vez (que inclui um apêndice de Galton). O
laboratório de Cattell, era um laboratório adaptado para atividades oriundas tanto de
Leipzig quanto de Londres, do laboratório de Francis Galton (1822 – 1911). O
laboratório de Cattell, tinha como objetivo identificar e medir diferenças no tempo de
reação, na sensibilidade sensorial, na estimativa de tempo e extensão de memória,
tendo os alunos da graduação como sujeitos (Sokal, 1987, Tuddenham, 1962). Assim
como Galton, Cattell teorizou que, as tarefas como tempo de reação, acuidade
sensorial, memória e os intervalos de apreensão revelariam as habilidades intelectuais
de um indivíduo.
190
Samuel Myers (1873 – 1946) foi um pioneiro no campo da psicologia industrial e
ocupacional, e em 1921 criou o Institute of Industrial Psychology. Sir Frederic Bartlet
(1886 – 1969) foi o primeiro professor de psicologia experimental da Universidade de
Cambridge, de 1931 até sua aposentadoria, em 1951. Ward, Myers e Rivers iniciaram
o British Journal of Psychology em 1904, em que propagaram o uso de métodos
psicológicos na medicina psiquiátrica.
191
Galton desenvolveu diversas técnicas para estudos diferenciais, como: o método bio
gráfico, o método histórico familiar, a prova de associação de palavras e imagens, o
estudo de gêmeos, e a comparação de raças, suas idéias foram divulgadas em seus
livros Hereditary Genius de 1869 e Inquiries Into Human Faculty de 1883 (Anastasi, 1988;
Hilgard, 1987; Hothersall, 1884, in Gomes, 2004).
Por sua vez na América, Edward Lee Thorndike cix (1874 – 1949) se formou na
Universidade Wesleyan, em Connecticut, no ano de 1895, realizou seu mestrado no
âmbito do comportamento animal com William James, na Universidade de Harvard
(1895-97), em que desenvolveu a famosa formulação ‘S-R’, e com James McKeen
Cattell na Universidade de Columbia, em 1898, defendeu seu Ph.D: Animal Intelligence:
An Experimental Study of the Associative Processes in Animals (Dewsbury, 1998; Thorn
dike, 1936).
Ao passo que na Alemanha, Edward Bradford Titchenercx (1867-1927), em 1890 foi
para o laboratório de Wundt e recebeu seu Ph. D. em 1892. Tichener, voltou para
o Reino Unido e tentou divulgar a nova psicologia, mas esta não foi aceita pelos
demais filósofos da época. Isso o levou aos Estados Unidos onde alunos de todo o país
vinham ouvir e estudar sua nova psicologia. Titchener, alterou o sistema de Wundt, e
propôs uma nova abordagem que designou Estruturalismo, porém afirmou que estas
idéias era a psicologia postulada por Wundt, contudo, os dois sistemas são diferentes
e o rótulo de Estruturalismo só pode ser aplicado à concepção de Titchener.
A proposta para que a psicologia rejeitasse sua definição tradicional como a ciência
da mente e da consciência, e redefini-la como uma ciência do comportamento partiu
de John B. Watsoncxi (1913). Os laboratórios de animais eram poucos, e em 1909,
apenas seis laboratórios estavam ativamente envolvidos neste tipo de pesquisa
(O'Donnell, 1985). Watson tinha se desencantado com a linguagem de consciência e
mente, bem como pelos métodos de introspecção, e estava cada vez mais interessado
com o status da pesquisa animal em psicologia. Watson escreveu ao psicólogo
comparativo Robert Mearns Yerkes em 1910, e expressou:
"Eu sou um fisiologista e vou longe para dizer que eu irei remodelar a
psicologia como temos agora a (humana) e reconstruir nossa atitude em
relação a toda a matéria da consciência. Eu não acredito que o psicólogo esteja
192
estudando a consciência mais do que nós estamos" (Watson, 1910, citado em
J. A. Mills, 1998, página 60).
J. B. Watson em 1916, propôs que o reflexo motor condicionado poderia ser aplicado
a animais e seres humanos e assim formar um padrão de construção do
comportamento. Assim como Titchener, Watson acreditava que a ciência procedia da
análise, mas ao invés de buscar os elementos da mente, Watson procurou os elementos
do comportamento. O reflexocxii condicionado foi a unidade elementar a partir da qual
Watson propôs construir uma ciência do comportamento.
Por sua vez a pesquisa do russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) sobre a fisiologia
da digestão lhe valeu um Nobel em 1904 e envolveu um método de "alimentação
simulada" em que uma fístula, ou tubo, no esôfago impedia que a alimentação
colocada na boca do cão chegasse ao estômago e um segundo tubo inserido no
estômago foi usado para coletar sucos gástricos. No desenvolvimento destas
experiências, Pavlov notou que as secreções gástricas do cão, ocorriam não apenas em
resposta a comida na boca, mas também simplesmente pelo animal visualizar a
comida ou ao assistente responsável por alimentá-lo, para esta situação, Pavlov
nomeou de "secreção psicológica". Com isso, pelo uso da fístula que poderia coletar
secreções salivares para os estudos sobre a digestão, um estudante de Pavlov, Stefan
Vul'fson observou que não somente as glândulas salivares respondiam a diferentes
substâncias colocadas na boca, como por exemplo, areia, comida molhada, comida
seca, e que, ao contrário de outros órgãos digestivos, e que apresentava uma resposta
idêntica quando o cão apenas tinha a visão da substância (Boakes, 1984; Todes, 1997).
Vul'fson e Pavlov utilizaram termos mentalísticos para descrever a reação das
glândulas salivares em resposta à visão dos alimentos e relatavam que os cães
"julgavam", "resolviam" ou "escolhiam" suas respostas (Todes, 1997, página 950). Pa
vlov alterou o termo: "secreção psicológica", para "reflexo psíquico", e posteriormente
para "reflexo condicionado", após os resutlatos dos experimentos de Tolochinov que
demonstraram, por meio da regularidade experimental que, o que Pavlov se referia
ao" reflexo psíquico", este se referia por "reflexo a distância" (Todes, 1997, p. 951). A
partir de 1891, Pavlov ocupou o cargo na Divisão do Instituto Imperial de Medicina
Experimental em São Petersburgo (Todes, 2002) e partir dos primeiros experimentos
de Sechenov, a respeito da inibição dos reflexos espinhais, o trabalho no laboratório
de Pavlov focou no estabelecimento (condicionamento) e remoção (extinção) de
193
reflexos em relação a uma variedade de estímulos e seu controle por meio da atividade
inibitória e excitatória no cérebro.
Outros investigadores que estavam mais atentos as questões relativas a adaptação dos
organismos aos ambientes se interessaram mais à aquisição de novos comportamentos
do que na remoção de comportamentos estabelecidos (Boakes, 1984) e John Broadus
Watson cxiii (1878 – 1958) tentou demonstrar como pesquisas sobre reflexos
194
que era diferente de afirmar que esta seria a soma de suas partes constituintes. O termo
foi inicialmente apresentado por Christian von Ehrenfels (1859-1932), filósofo
austríaco, em 1890, na Universidade de Graz, que assinalou que uma música tocada
em duas teclas diferentes é reconhecida como tal, mesmo que as notas em cada caso
sejam diferentes e sugeriu que as combinações dos elementos produziam uma
"gestaltqualität", ou uma "qualidade-do-todo", que constituia por sua vez um novo
elemento de consciência. O uso do termo pelo trio: Kurt Koffka (1886-1940), Wolfgang
Köhler (1887-1967) e Max Werteimer (1880-1943), não se referia a um elemento novo,
mas à uma organização natural da experiência consciente.
Porém abandonar a mente como assunto da psicologia, recebeu maior atenção com a
finalidade de garantir que as normas científicas fossem atendidas nos procedimentos
de coleta e tratamento de dados tanto nas pesquisas laboratoriais ou fora deles. Com
isso, estas características foram mais identificadas nas ‘teorias neo-behavioristascxv ’de
aprendizagem e comportamento que foram o foco de grande parte da psicologia
laboratorial de 1930 a 1960.
Conwy Lloyd Morgan (1852 – 1936), foi um psicólogo britânico, sua abordagem
experimental para a psicologia animal ajudou a estabelecer a psicologia como uma
ciência experimental. Morgan empreendeu o método comparativo e o defendeu:
195
ampliar sua base, torna suas conclusões mais abrangentes. Uma outra etapa
do método comparativo é alcançada quando ele tenta correlacionar os
resultados da psicologia introspectiva com as conclusões alcançadas pelo
estudo fisiológico dos processos nervosos que são concomitantes dos estados
psíquicos. Na hipótese do monismo cxvii, ele está assim comparando dois
aspectos completamente diferentes dos mesmos acontecimentos naturais e na
hipótese do dualismocxviii, duas ocorrências completamente diferentes, que, no
entanto, são invariavelmente associadas. Em qualquer caso, ao proceder a
essa comparação, ele vincula seu assunto à ciência da biologia de uma
maneira que se revelou eminentemente útil para seu próprio ramo de estudo.
Agora, a tônica da biologia moderna é a evolução; E na hipótese do monismo
científico aqui adotado, embora não necessariamente no do dualismo
empírico, não estamos apenas logicamente justificados em estender nossa
psicologia comparativa de modo a incluir dentro de seu âmbito o campo da
psicologia zoológica, mas estamos logicamente obrigados a considerar a
evolução psicológica como estritamente coordenada com a evolução
biológica. (Morgan, 1903)”
Morgan é lembrado por sua declaração que ficou conhecida como "Cânone de
Morgan", que afirmava que os processos psicológicos mais elevados não devem ser
utilizados para explicar o comportamento, sem evidências independentes do uso dos
processos elevados em outras ocasiões, que por sua vez podem ser explicados por
processos mais baixo na escala evolutiva. Ou seja, em nenhum caso pode-se
interpretar uma ação como o resultado de uma faculdade psíquica superior, já que ela
pode ser interpretada como o resultado do exercício de um, que fica mais baixo na
escala psicológica. Sob seu Cânone, o comportamento animal deveria ser explicado da
maneira mais simples possível, ao invés de explicar o comportamento como a
implicação processos mentais mais elevados, pois Morgan acreditava que este poderia
ser explicado pelo aprendizado de ‘tentativa e erro’. E exemplifica, com a maneira
hábil em que seu terrier Tony abria o portão do jardim, facilmente incompreendido
como um ato perspicaz por alguém que presenciava o comportamento final. Lloyd
Morgan, entretanto, tinha observado e gravado a série de aproximações pelas quais o
cão gradualmente aprendeu a resposta e pôde demonstrar que não era necessário in
sight para explicá-la. Dentre suas publicações, estão: Animal Behaviour (1900), The In
terpretation Of Nature (1906), Eugenics and Environment (1919), The Animal Mind (1930).
196
em 1932 e Drives toward War. Tolman (1886-1959) descreveu um conjunto de variáveis
que afetavam o comportamento, alguns observáveis e outras dedutíveis pelo
psicólogo a partir de dados observáveis (variáveis intervenientes). Tolman era um
behaviorista, mas era um behaviorista propositivo (McDougall, 1925a, p.278) e
considerava que um "tipo apropriado" de behaviorismo não era "o mero 'Twitchism'
muscular da variação Watsoniana" (McDougall 1925a, p.37), mas era suficientemente
amplo para cobrir "tudo o que era válido nos resultados da psicologia introspectiva
mais antiga" (McDougall 1922, página 47). Tolman opinava que, a variedade
watsoniana de behaviorismo era, "um relato em termos de contração muscular e
secreção das glândulas" e "como tal, não seria o behaviorismo, senão uma mera
fisiologia". Assim, Tolman (1922) sugeriu uma nova fórmula de behaviorismo que
"permitiria um tratamento mais pronto e adequado dos problemas de motivação,
propósito, tendência determinante e outros do tipo". Ele definiu o propósito, como
sendo simplesmente a persistência no comportamento e arriscou:
Clark Leonard Hullcxx (1884-1952), psicólogo americano, propôs uma teoria lógico
dedutiva do comportamento, em que o tratamento teórico da psicologia de Hull
consistia em um conjunto de postulados, em que suas afirmações matemáticas
permitiria previsões quantitativas sobre o comportamento, com o objetivo de
desenvolver a psicologia como uma ciência natural, demonstrando que os fenômenos
comportamentais obedeciam a leis universais e quantitativas e que pudessem ser
apresentadas por equações comparáveis às leis físicas (Hull, 1950, p.221). Hull,
Inspirado em Pavlov e Watson desenvolveu as concepções behavioristas clássicas
intervindo variáveis intermédias entre o estímulo e a resposta. Hull considerava que
no processo de aprendizagem a variável intermediária seria a motivação. A sua
concepção poderia ser expressa pela fórmula: Potencial de Reação = (Força do hábito
x Impulso x Motivação) - Inibição. A aprendizagem seria assim um processo
resultante de uma cadeia de condicionamentos em que o reforço e a motivação,
(encarado como a redução das necessidades) desempenham um papel fundamental,
desta forma acreditava que não poderia haver aprendizagem sem motivação.
197
Em 1952 o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM, foi publicado
pelo American Psychiatric Association, que marcou o começo da classificação moderna
de doenças mentais.
198
Segundo Skinner (1974), em ‘Sobre o Behaviorismo’, destaca algumas falácias
disseminadas, por despeito ao Behaviorismo Radical, e alerta que a ciência é, em si
mesma, mal compreendida:
10. Trabalha com animais, particularmente com ratos brancos, mas não com
pessoas, e sua visão do comportamento humano atém-se, por isso, àqueles
traços que os seres humanos e os animais têm em comum.
14. Suas realizações tecnológicas poderiam ter sido obtidas pelo uso do senso
comum.
199
16. Desumaniza o homem; é redutor e destrói o homem enquanto homem.
19. Encara as idéias abstratas, tais como moralidade ou justiça, como ficções.
8. Psicologia no Brasil
200
No Brasil, Massimi (1990), informa que as primeiras contribuições para o estudo da
Psicologia, em nosso país, são oferecidas por médicos, decorrentes de suas teses de
doutoramento, provimento de cátedra e verificação de títulos, sobretudo no Rio de
Janeiro e Bahia e posteriormente foi acrescida a contribuição dos educadores, no
campo da higiene mental: “A influência da medicina na criação e no desenvolvimento
da psicologia científica brasileira registra-se também relativametne as áreas específi
cas da psicologia forense e criminal (...) e da psicologia social” (Massimi, 1990, p.69).
Em 1851, Francisco Tavares da Cunha escreve o primeiro ensaio sistemático de
Psicofisiologia, no Brasil, com o tema: Psicofisiologia acerca do Homem e em 1864,
Ernesto Carneiro Ribeiro, destacou a necessidade da pesquisa psicológica para a
formação do médico, com a tese: Relação da Medicina com as Ciências Filosóficas:
Legitimidade da Psicologia e em 1897, a obra: Epilepsia e Crime, lança o médico Júlio
Afrânio Peixoto (Soares, 2010), nacional e internacionalmente.
O que já ocorria no mundo nesta temática, era que em 1793 o médico Philipe Pinel,
liberava pacientes mentais do confinamento no primeiro movimento maciço para um
tratamento mais humano dos doentes mentais. Pinel considerava as doenças mentais
como resultado ou de tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária,
ou ainda originadas de acidentes físicos, desprezando a crendice entre o povo e
mesmo entre os médicos de que fossem resultado de possessão demoníaca (Cobra,
2003). Em 1808 Franz Gall, médico alemão, escreveu sobre a frenologia, que é a idéia
de que a forma do crânio de uma pessoa e a colocação de colisões na cabeça podem
revelar traços de personalidade. Ernst Heinrich Weber, um matemático alemão, em
1834, publicou sua teoria de percepção de "apenas percepção perceptível", conhecida
como lei de Weber. Phineas Gage, um operário americano, em 1848, foi estudado por
sofrer danos cerebrais quando um poste de ferro perfura seu cérebro. Sua
personalidade foi mudada, mas seu intelecto permaneceu intacto sugerindo que uma
área do cérebro desempenha um papel na personalidade. Em 1859, Charles Darwin,
naturalista britânico publicou: A Origem das Espécies, e detalhou sua visão da
evolução das espécies e expandiu a teoria da "Sobrevivência do mais apto". O médico
francês, Paul Broca, em 1861, descobriu uma área no lobo frontal esquerdo que
desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da linguagem. Em 1869,
Francis Galton, antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês,
influenciado pela "Origem das Espécies" de Charles Darwin, publica "Gênio
Hereditário" e argumenta que as habilidades intelectuais são de natureza biológica.
Em 1878, G. Stanley Hall, filósofo e teólogo, nesta data obteve o seu doutoramento,
sob a orientação de Willian James, pela Universidade de Harvard, tornando-se o
primeiro doutorado em psicologia do país, sendo também o primeiro a presidir a
American Psychological Association - APA, fundada em 1892, juntamente com 26
membros, na Universidade de Clark.
Desta forma, a psicologia comparece no Brasil, tal como no mundo, como objeto de
estudo e de ensino no âmbito de diversas áreas teóricas, como: filosofia, direito,
201
medicina, pedagogia e teologia moral. As primeiras faculdades de Direito surgidas no
Brasil foram institucionalizadas pela aprovação do projeto de 31 de agosto de 1826 –
convertido em lei em 11 de agosto de 1827. Desta forma, São Paulo e Olinda foram as
localidades escolhidas para abrigar esta nova vanguarda no ensino, devido
principalmente à situação geográfica – uma para atender o sul e outra para suprir as
necessidades dos habitantes do norte do Brasil (Naspolini, 2008). Posteriormente em
1828, surgiu o curso superior de Direito no Rio de Janeiro, com base no Regulamento
de 1825, do Visconde de Cachoeira, o curso durava cinco anos e era precedido de um
ciclo preparatório, chamado "Curso Anexo" (Massimi, 1992). No seio destas
disciplinas, uma grande ênfase é dada ao conhecimento do comportamento humano
e de suas causas naturais, como fundamento das ciências jurídicas (Massimi, 1992).
A Escola Normal foi extinta em 1866, e retomou suas atividades somente em 1875. A
reabertura surgiu com a proposta de um plano de desenvolvimento do nível
intelectual da população, como destacou o discurso inaugural do Presidente da
202
Província de São Paulo, J. Theodoro Xavier de Mattos."(A Escola) será, pois, um centro
de luz viva da sciencia, irradiando-se por toda a província e penetrando por todas as
camadas populares"(citado em Rodrigues, 1930, p. 78). Desta forma, a causa principal
desse progresso seria o aperfeiçoamento do método de ensino: "Para tão esplendida
victoria contribuirá efficazmente o methodo do ensino, primeira força da instrução
particular e pública."(1930.p.79). O presidente Xavier de Mattos entendia que, para
realizar tal objetivo, seria preciso buscar, experiência de outras nações mais evoluídas,
com modelos a serem aplicados à realidade brasileira (Massini, 1992).
O projeto da lei de 1892 introduz no ensino da Escola Normal de São Paulo as cadeiras
de "Psychologia" e "Lógica", no quarto ano de curso. O programa de "Psychologia"
realizado no ano de 1893, compreende o estudo do conceito geral de Psicologia,
aplicada à Pedagogia e à Moral; da atividade e do movimento; das faculdades
intelectuais e morais; e da vontade. Em 1912, a cadeira de Pedagogia passou a
compreender três disciplinas: Psicologia, Pedagogia e Metodologia.
Estes ensaios respondem muito ao período que o contexto brasileiro passa, sendo o
momento que surgem as primeiras instituições psiquiátricas. Assim, foi inaugurado o
Hospício Dom Pedro II, em 05 de dezembro de 1852, na cidade do Rio de Janeiro, mais
tarde denominado Hospício Nacional de Alienados (Costa, 1980; Uchôa, 1981), que
representava o modelo psiquiátrico europeu, como o espaço socialmente legitimado
para a loucura (Figueiredo, 1988). Sem perder de vista, a legislação sobre assistência
psiquiátrica e direitos das pessoas com transtornos mentais, inicia-se com o decreto
imperial de 18 de julho de 1841, que funda a psiquiatria institucional e estatal no país,
e vai até o Decreto nº 24.559, de 3 de julho de 1934, com 16 decretos referentes a tais
pessoas, neste período (Delgado, 1992).
203
No Brasil, após a Proclamação da República, em 1889, instaurou a republicana
federativa presidencialista do governo no Brasil, e derrubou a monarquia
constitucional parlamentarista do Império do Brasil, que colocou fim a soberania de
Dom Pedro II, com a abollição da escravatura, pela Lei Áurea de 1888, havia um fluxo
considerável de imigrantes para o país e por si só, a urbanização descontrolada que
causava sérios problemas sociais e sanitários (Moreira, Silva e Neto, 2005). Do período
de 1894 a 1930, temos o período da Primeira República. República Velha ou Republica
das Oligarquias, predominavam interesses ligados a oligarquia latifundiária, com
destaque para os cafeicultores, em que, a crise de 1929, com a quebra da bolsa de Nova
York, atingiu em cheio a oligarquia cafeeira paulista. Em 1930, temos a revolução de
1930, acarretada pela substituição, classe dominante oligárquica, para uma nova elite,
de origem positivista, reformadora e modernizante personificada por Getúlio Vargas
que propunha, uma política de desenvolvimento a longo prazo, baseada num projeto
nacionalista, com vistas para a expansão industrial. A revolução constitucionalista
de 1932, foi a expressão da oligarquia cafeeira que se inquieta e que não obteve o apoio
do operariado de São Paulo e dos sindicatos, pois os mesmos foram duramente
reprimidos pelo governo de São Paulo chefiado pelo ex-interventor Pedro de Toledo.
Foi a primeira grande revolta contra o governo de Getúlio Vargas e o último grande
conflito armado ocorrido no Brasil. Tinha por objetivo a derrubada do Governo
Provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova constituição para o Brasil.
As eleições de 1933 transcorreram em clima democrático, com a criação da Justiça
Eleitoral, com voto secreto e adoção do voto feminino. Em 1934, o país elabora a
Constituição, que institui leis trabalhista, devolve as oligarquias regionais grande
parte dos privilégios, suprimidos pela revolução de 1930 e não criava obstáculos as
medidas nacionalistas. de 1934. Em 1937 foi proclamado o Estado Novo ou Terceira
República Brasileira, que deu início a um período de oito anos de regime ditatorial,
até 1945, fundado por Getúlio Vargas. Neste período em 1939, inicia-se a Segunda
Guerra Mundial e em 1945, Getúlio Vargas foi deposto, por um movimento militar
liderado por generais que compunham seu próprio ministério e que pôs fim ao Estado
Novo. Da Silva Bortoloti & Vinicius da Cunha (2013), informam que foi criado nos
Estados Unidos em 1907, nesse contexto, o movimento de higiene mental surgiu com
a criação da Liga Brasileira de Higiene Mental, fundada no Rio de Janeiro, em 1923,
pelo psiquiatra Gustavo Riedel, a Liga tinha como objetivo primordial a melhoria na
assistência aos doentes mentais, através da modernização do atendimento
psiquiátrico (Costa, 2007), muitos de seus membros pioneiros da psicanálise (Russo,
2002) e em menos de um ano a Liga foi reconhecida como de utilidade pública e
passou a receber subsídios do governo federal (Wanderbroock Jr.; Boarini, 2008). A
LBHM - Liga Brasileira de Higiene Mental, então, passou a investir em programas de
higiene mental a serem implantados nos domínios privado, escolar, profissional e
social. A capital paulista, por exemplo, teve crescimento populacional de,
aproximadamente, 269% entre 1890 e 1900 (Rocha, 2003) e a vida das populações
urbanas menos abastadas era permeada por males como doenças e ociosidade e o
204
poder público procurava responder às demandas que surgiam à medida que a cidade
se constituía como objeto de atenção de médicos e engenheiros (Da Silva Bortoloti &
Vinicius da Cunha, 2013).
Soares (2010), relata que a partir da primeira década de 1900, as teses, ensaios e
atividades dos médicos, saídos das Faculdades, do Rio e Bahia, proporcionam um
caráter científico mais preciso e um interesse maior em busca de um assunto
Psicológico mais definido, começam também a surgir os Laboratórios de Psicologia,
em hospitais e Clínicas Psiquiátricas e assim o uso de métodos e técnicas de Psicologia
de maior objetividade e confiabilidade.
205
Em 1914, é criado um Laboratório de Psicologia, na Escola Normal e Secundária de
São Paulo com fins Pedagógicos, que esteve sob a orientação e direção de um italiano
chamado Ugo Pizzoli (Cabral, 1950; Lourenço Filho, 1955; Pessotti, 1955; Soares, 1979).
Em 1907 o destaque vai para a tese de Maurício Campos Medeiros, médico e jornalista,
e em 1955 tomou posse na cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras, defendida, no
Rio de Janeiro, intitulada: Métodos em Psicologia. Em 1911 com destaque para a história
da psicologia no Brasil, Plínio Olinto, médico psiquiatra, defende, a tese com o título:
Associação de Idéias. Sendo este criador, no Instituto de Educação, do Laboratório
para Cursos de Psicologia Geral e Clínica (Soares, 2010).
Sganderla, Ana Paola, & Carvalho, Diana Carvalho de (2008) informam que Lourenço
Filho, iniciou sua carreira como professor de Pedagogia e Psicologia na Escola Normal
de Piracicaba em 1920, e lecionou em um colégio particular mantido por uma
fundação norte-americana, em que se relacionou com livros de psicologia educacional
dos Estados Unidos e assim, realiza uma série de pesquisas com o emprego de testes,
cujos primeiros resultados publica, em 1921, na Revista de Educação da Escola Normal
de Piracicaba (SP), em artigo intitulado "Estudo da atenção escolar" (Campos; Assis e
Lourenço, 2002). Em 1925 retorna a São Paulo e assume a cátedra de Psicologia e
Pedagogia na Escola Normal da Praça ocupada por Sampaio Dória, responsável pela
reforma do ensino público paulista em 1920, e pioneiro na tentativa de inovar métodos
de ensino e de racionalizar procedimentos administrativos. Lourenço Filho reativou o
Laboratório de Psicologia Experimental da Escola Normal da Praça. Com isso, o
laboratório passou a utilizar testes de desenvolvimento mental; inquéritos sobre jogos,
influência de leituras e do cinema; pesquisas sobre aprendizagem e uma investigação
profunda a respeito da maturidade necessária à aprendizagem da leitura e da escrita
que irá culminar na publicação dos Testes ABC (Lourenço Filho, 1994). Os testes,
agora mais práticos e econômicos, instrumentavam professores à testagem psicológica
de seus alunos, facultando-lhes a prática da psicometria (Centofanti, 2006). No ano de
1938, Lourenço Filho assume o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais, vinculado ao Ministério da Educação, originalmente denominado,
Instituto Nacional de Pedagogia, que permaneceu no cargo até 1946 e como professor
de Psicologia até 1957, quando se aposentou na cátedra de Psicologia Educacional da
Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (Sganderla, Ana Paola, &
Carvalho, Diana Carvalho de, 2008).
206
Lourenço Filho como um reconhecido educador e pioneiro da construção da relação
entre psicologia e educação no Brasil, convida Noemy da Silveira Rudolfercxxii em 1931
para chefiar o Serviço de Psicologia Aplicada da Diretoria Geral do Ensino do Estado
de São Paulo e, em 1932, para assumir a Cátedra de Psicologia Educacional e o
Laboratório de Psicologia Educacional, ambos pertencentes então à Escola Normal
Caetano de Campos. O laboratório subdividia-se em quatro seções principais:
Medidas mentais, Medida do trabalho escolar, Orientação e Estatística (Sganderla,
Ana Paola, & Carvalho, Diana Carvalho de, 2008).
Gil (1985) informa que na década de 1930, o sistema social brasileiro ainda era
dominado pelo modelo do latifúndio rural, que posteriormente cederia espaço ao
desenvolvimento de um sistema moderno de produção industrial, adotado como a
nova realidade do Estado brasileiro em processo de formação, tanto pelo setor
público, quanto pelo privado. Com isso advém a necessidade do princípio da
organização racional do trabalho, cuja atenção se voltaria para a escolha e o
treinamento técnico dos profissionais. Desta forma, os primeiros estudos em
psicologia do trabalho ocorreram em São Paulo, o principal polo industrial que
sobrevivera à grande crise mundial de 1929 e ao impacto político da Revolução
Constitucionalista de 1932. Em 1931 Roberto Mange foi um dos idealizadores do
Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT), (cf. Langenbach, 1982, p. 27;
Rosas & Silva, 1997, p. 12). Roberto Mange exerceu um papel decisivo na vinda de
Mira y López ao Brasil (cf. Rosas & Silva, 1997, p. 14), visto que a mão de obra
especializada ainda vinha essencialmente de fora do país, e isso gerava alguns
problemas para o Estado brasileiro. Em 1934, com o engenheiro suiço Roberto Mange
professor da Escola Politécnica e da Escola de Sociologia e Política de São Paulo,
realizou-se o primeiro curso de psicotécnica brasileiro, para a organização do trabalho,
que voltou-se para a seleção e a orientação de aprendizes da rede ferroviária paulista.
Com isso, o engenheiro estabeleceu uma série de modificações no processo de seleção
e profissionalização em São Paulo. De acordo com Langenbach (1982), esses mesmos
problemas, permitiriam o surgimento de um novo profissional especializado em
escolher adequadamente a força de trabalho, tendo para isso como parâmetro
fundamental o exame das aptidões e do caráter, assim como a ação sobre o seu
treinamento. Em 1942 surge o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI);
o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), de 1946; a Fundação Getú
lio Vargas (FGV), de 1944; e o próprio ISOP, de 1947.
Mais à frente, em 1937, a Escola Normal do Rio de Janeiro é transformada por Anísio
Teixeira, no Instituto Nacional de Pedagogia, cuja direção inicial ficou a cargo de
Lourenço Filho (Antunes, 2003). Anísio Spínola Teixeira entre os anos 1920 e 1960,
priorizou suas concepções acerca da Psicologia, como uma ciência que impactou
significativamente nas propostas e práticas do movimento de renovação educacional
brasileiro (Bortoloti, 2012). Nesse local, são realizados “cursos de especialização e
aperfeiçoamento para diretores e orientadores de ensino”, nos quais figuram
207
disciplinas de Psicologia (Lourenço Filho, 2004, p. 87). Segundo Pfromm Netto (2004,
p. 160) “muitos daqueles que se dedicaram posteriormente à pesquisa e ao ensino
universitário de Psicologia formaram-se nas escolas normais e nelas iniciaram suas
carreiras” (Lisboa & Barbosa).
Gil (1985) cita que em 1944, com a criação da Fundação Getúlio Vargas, se constitui
um exemplo da preocupação com a preparação de técnicos habilitados para o
tratamento dos problemas administrativos e sociais. Em 1945, Mira y López chega ao
Brasil, e em 1947 é criado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional - ISOP, que
passa a desenvolver importantes pesquisas e cursos na área de psicologia aplicada ao
trabalho, que teve como diretor Emilio Mira y Lopes, cargo que ocupou de 1947 até
sua morte. Emilio Mira y Lopes, nasceu em Santiago de Cuba, Cuba, em 1896, era um
sociólogo, médico psiquiatra e professor de psicologia forense, experimental e infantil,
elaborou o Psicodiagnóstico Miocimético - PMK, que primeiramente levou para a
Medicina e posteriormente para a Psicologia. Quando chegou ao Brasil, Mira Y Lopes
já havia publicado seu reconhecido trabalho: ‘Manual de Psicologia Jurídica ’de 1932,
e em 1935, ‘Manual de Psiquiatria’. Foi um dos grandes incentivadores e participante
ativo das lutas pela regulamentação da profissão e pela formação acadêmica regular
do psicólogo no Brasil. Em 1944, com a matéria acadêmica de Psicologia mais
estruturada, teve início a publicação do Boletim de Psicologia (Soares, 2010).
9. Psicologia Jurídica
Se no Brasil, temos os primórdios da psicologia jurídica no ano de 1938, por meio de
Noemy da Silveira Rudolfer, que presidiu o ‘I Congresso Paulista de Psicologia, Neurologia,
Psiquiatria, Endocrinologia, Medicina Legal e Criminologia’, realizado em São Paulo.
Na América a aplicação da psicologia à arena jurídica ocorreu até mesmo quando a
psicologia se desenvolvia como uma disciplina acadêmica universitária. E em sua
história da psicologia forense, Bartol e Bartol (1999) observam que várias figuras
eminentes, como J. McKeen Cattell (1895), Alfred Binet (1905) e William Stern (1910),
208
conduziam estudos a respeito da precisão da memória, e traçavam um paralelo com a
precisão do testemunho ocular da vida real. Mesmo Sigmund Freud mostrou interesse
na psicologia jurídica, publicando em 1906 um artigo intitulado "Psicanálise e a
verificação da verdade nos tribunais de justiça".
Outro aluno de Wundt, o americano James M. Cattell (1860-1944) foi um dos primeiros
a demonstrar a falta de confiabilidade da memória para eventos do passado recente e
a ligação tênue entre a confiança e a precisão das testemunhas (Cattell, 1896). As
descobertas de Cattell estimularam o interesse do psicólogo francês Alfred Binet
(1857-1911), que conduziu uma série de investigações sistemáticas sobre a
sugestibilidade em crianças, que resumiu em sua monografia La Suggestibilité (1900).
Binet demonstrou o impacto das principais questões sobre a resposta das crianças e
foi o primeiro a distinguir entre respostas falsas, baseadas puramente em pressões
sociais e mudanças cognitivas na memória subjacente das crianças. Embora
qualificado como advogado, Binet nunca foi autorizado a testemunhar nos tribunais
franceses. Por sua vez, o psicólogo belga Julian Varendonck (1879-1924) testemunhou
sobre as descobertas de sua própria pesquisa sobre a sugestibilidade das crianças em
um julgamento por homicídio em 1911, onde as provas das crianças eram críticas para
o caso da acusação. Em contraste com a abordagem de Binet, a pesquisa de
Varendonck estava entrelaçada a sugestibilidade social e cognitiva, mas contribuiu
para que o réu fosse considerado não culpado (Davies, 2003). A Alemanha também
abraçou a nova Psychologie der Aussage (a psicologia dos relatos verbais) liderada
por William Stern (1871-1938), que criou a primeira revista científica dedicada à
pesquisa do testemunho (Lamiell, 2010). Existe uma forte relação entre a psicologia e
a lei na Alemanha e a partir de 1955, a Suprema Corte exigiu que os psicólogos
realizassem uma avaliação preliminar de todos os denunciantes de abuso de crianças
em casos contestados, incluindo uma análise do conteúdo do testemunho, com a
finalidade de apresentar provas sobre as suas conclusões ao tribunal (Vrij, 2008).
209
Lionel R. C. Haward (1920-98) pode ser aclamado como a primeira figura importante
na psicologia forense britânica e vislumbrou um potencial para a psicologia para
informar processos judiciais. Ele publicou temas da psicologia forense na década de
1950 - muito antes da Sociedade Britânica de Psicologia constituir a Psicologia
Criminológica e Jurídica, que pertence a Divisão Psicologia Forense. No ano de 1981
escreveu o clássico texto Forensic Psychology - Psicologia Forense e atuou como perito
em muitos casos, incluindo o vergonhoso julgamento dos anos 1960 da revista
subterrânea Oz (Brigham, 1999).
Nos Estados Unidos, outro aluno de Wundt, Hugo Münsterberg (1863-1916) escreveu
o primeiro livro publicado em inglês sobre psicologia e direito, intitulado "On the
Witness Stand" (Münsterberg, 1908). Além da exatidão da testemunha ocular, o livro
discutiu o papel da psicologia na detecção do engano, em busca das falsas confissões;
o impacto das principais questões em tribunal e o desenvolvimento de procedimentos
de entrevista eficazes para as testemunhas (Hale, 1980). No ano de 1917 William
Marston, um aluno de Hugo Münsterberg, percebeu que havia uma correlação entre
mentir e pressão arterial, que levou ao desenvolvimento do detector de polígrafo
(Hale, 1980).
210
Nesta publicação Münsterberg avançou sob o ponto de vista de que a psicologia
poderia ser amplamente aplicada e assim melhorar o discernimento dos tribunais em
questões e procedimentos psicológicos (Munsterberg, 1908). Por meio de uma coleção
de seus ensaios, ele discutiu como psicologia poderia ajudar com questões envolvendo
testemunhas oculares, detecção de crime, confissões falsas, sugestibilidade,
hipnotismo e até mesmo a prevenção da criminalidade. Infelizmente, Munsterberg
apresentou suas idéias de uma maneira que levou à crítica pesada de advogados
(Bartol & Bartol, 2006). Aluno de doutorado de Wilhelm Wundt, em Leipzig, o alemão
Munsterberg com grande influencia na base dos textos americanos foi considerado
por muitos como o pai da Psicologia Aplicada (Bartol & Bartol, 2006).
9.1 A busca pelo fato genuíno, por meio das entrevistas – uma história da psicologia no
mundo forense.
Dale, Loftus, & Rathbun, (1978) afirmam que uma questão de interesse para
psicólogos, advogados, investigadores da polícia, e outros, é: como, por meio do
testemunho de uma pessoa de algum evento incomum, pode se acessar, informações
completas e precisas a partir desse testemunho. Assim, uma pessoa ao relatar um
evento breve, como um crime, é susceptível de fornecer uma descrição desse evento,
nem muito completa nem muito precisa (Dale, Loftus, & Rathbun, 1978).
Especificamente quando uma testemunha é uma criança, em que historicamente foi
considerada como particularmente imprecisa, altamente sugestionável e básica não
confiável (Varendonck, 1911). Amado, Arce, Farina e Vilariño (2016). No entanto, ao
analisar os métodos utilizados pelos tribunais para determinar a credibilidade, Rozell
(1985) destaca que o foco tem sido a criança (credibilidade) em vez da alegação
(veracidade). Esta afirmação de Rozell (1985) alerta que na veracidade se encontra a
ausência ou presença de três elementos: a intenção na falsidade do assunto, a crença
do remetente nesta falsidade e sua intenção de enganar o receptor (Kail, 1989). Assim,
quanto mais desses elementos presentes em uma declaração mais provável a
211
informação ser falsa, sendo o elemento que mais se destaca, ser a crença do remetente
na informação falsa, seguida pela intenção para enganar (Ruby e Brigham, 1994).
Ruby & Brigham (1994) explicam que freqüentemente, as alegações feitas pela suposta
vítima, trata-se de um testemunho, que é a única evidência, sobre a qual a acusação se
baseia (Coolbear, 1991, Yuille, 1988, Undeutsch, 1989). Para investigar em que medida
as crianças nessas situações devem ser creditadas, muitos pesquisadores e autoridades
profissionais tem estudado aspectos do testemunho infantil, tais como: suscetibilidade
212
a sugestões, precisão de memória e comportamento de indicadores de trauma sexual.
No entanto, esses esforços de pesquisa têm sido criticados em termos de sua
incapacidade de acessar a veracidade dos relatos (Raskin & Esplin, 1991). De acordo
com Yuille (1988), pesquisadores da década de 1970 realizaram uma avalanche de
investigação empírica sistemática sobre a credibilidade de testemunhos, que
apresentaram como resultado um aumento na confiança das alegações infantis.
Posterior a estes estudos, Coolbear (1991) esclarece que a maioria dos profissionais
geralmente aceitam que: crianças não mente sobre alegações de abuso sexual. Faller
(1984) esclarece que raramente crianças fazem histórias em que foram sexualmente
molestadas. Coolbear (1991) completou tal afirmação e argumentou que, de fato,
existem sim, fatores que predispõe o aparecimento de alegações falsas, tais como:
disputas de custódia, incitação de raiva em relação a um pai e o método de entrevista
de familiares. Assim, a aceitação acrítica da alegação de uma criança sob essas
circunstâncias, pode ser um problema sério (Faller, 1984). De acordo com Quinn
(1988), as estimativas de alegações falsas relatadas em muitos estudos têm variado
amplamente, variando de tão baixo quanto 3% a até 75%. Coleman e Clancy (1990)
afirmam que, embora os especialistas podem discordar quanto à prevalência de falsas
acusações, estes estão ocorrem a um ritmo muito superior ao que a nossa sociedade
pode proporcionar. Coleman e Clancy e (1990) acreditam que a necessidade da
manutenção de não discutir as alegações falsas, passam por uma aliança de trabalho
entre como irá se aplicar a lei e as Agências de saúde mental e Bem-estar. Coleman e
Clancy (1990) alegam que uma aplicação objetiva de relatos pode ser contaminada
pela infusão de uma abordagem terapêutica e de promoção do bem-estar e saúde que
podem encorajar alegações falsas, trata-se de uma tendência para creditar uma maior
confiança nas Agências de acolhimento. Ruby & Brigham (1994) esclarecem que por
outro lado, os tribunais norte-americanos lidam com a questão da credibilidade das
vítimas infantis e de como métodos podem ser usados para avaliar estes relatos. Em
relação a este conflito, entre, admitir deficientemente um testemunho infantil e a
necessidade de um testemunho seguro e fidedigno, Rozell (1985) afirma que os
tribunais "devem resolver este conflito através do deferimento de sólidos princípios e
dados comportamentais". Rozell (1985) enfatizou que se faz importante confiar em
métodos científicos para estabelecer esta credibilidade.
Porém, o que Ceci e Bruck (1993) alegam, é que, de fato, o que existe na temática de
credibilidade de relatos, é uma falta de sofisticação metodológica e elevadas
contradições teóricas, em que por um lado as crianças são descritas como altamente
resistente á sugestão, como não suscetíveis a mentir, sendo tão confiável quanto um
adulto sobre atos perpretados em seus próprios corpos (Berliner, 1985, Goodman,
Rudy, Bottoms & Aman, 1990; Jones & McGraw, 1987). Por outro lado, as crianças são
descritas por terem dificuldade em distinguir realidade, da fantasia, como sendo
suscetível ao treinamento ou instrução de figuras de autoridade ou muito próximas,
213
e portanto, como potencialmente menos confiável do que os adultos (Feher, 1988,
Gardner, 1989, Schuman,1986; Underwager & Wakefield, 1990).
214
idade reconhecem desenhos familiares tanto quanto uma de 12 anos de idade (Ceci et
al., 1987). Kail (1989) alega que a memória de reconhecimento de pré-escolares pode
ser notavelmente precisa (Kail, 1989).
215
Priest (2000) em sua teoria da correspondência da verdade, informa que a verdade é
aquilo que corresponde à realidade, a fatos brutos, Ferreira (2010) e Houaiss & Villar
(2009) também têm em comum os seguintes conceitos sobre o verdadeiro: aquilo em
que há verdade, que exprime a verdade; real, exato; autêntico, genuíno; a verdade, a
realidade; o mais conveniente; o dever. Hutz (2014) destaca que Ortiz (2012), em
relação à produção do laudo pericial psicológico, como prova judicial, o que se está
expondo não é a “Verdade”, mas a atribuição de um sentido ao problema apresentado
no processo, em que, a busca da veracidade nos depoimentos é uma marca importante
da psicologia e da psiquiatria penais. É um trabalho que leva ora a inquirir, ora a
examinar, sem que se esqueça da própria disciplina – a Psicologia – para que seja
produzida a prova pericial contundente.
Adams (2002) alerta que os métodos que surgiram para a identificação do DOD – De
tection of Deception, são três: fisiológica, não-verbal e verbal. Cada categoria utiliza
técnicas diferentes na tentativa de discriminar entre veracidade e fraude. Na detecção
fisiológica de fraude, um equipamento especializado monitora mudanças físicas
causada pelo aumento do estresse. O polígrafo, o medidor fisiológico mais
amplamente utilizado, monitora mudanças na pressão arterial, respiração e resposta
eletrodérmico (Iacono, 2000). A pupilografia, considerada uma abordagem fisiológica,
examina as mudanças no tamanho das pupilas, a análise no estresse da voz, por meio
de microtremulos subaudíveis, a eletromiografia que mede as atividades elétricas
dentro das fibras musculares e eletroencefalograma que monitora mudanças na
atividade elétrica do cérebro (Farwell e Richardson, 1993; Stern, Ray & Quigley, 2001).
Cutrow, Parks, Lucas e Thomas (1972), relataram um estudo em que os índices fisio
lógicos: Resposta galvânica à pele palmar(P-GSR); Resposta galvânica de pele volar
(V-GSR); Volume de pulso do dedo (FPV); Frequência cardíaca (FC); Amplitude
respiratória (BA); Tempo de Ciclo da Respiração (BCT); Taxa de intermitência do olho
(EBR); Latência de intermitência de olhos (EEL) e Latência de Voz(VL), em que os
resultados refletiram que o P-GSR - Resposta galvânica à pele palmar, foi classificado
como o melhor indicador de fraude. Todos estes métodos de componentes
216
fisiológicos, exigem equipamentos especializados e treinamento, por sua vez não são
universalmente disponíveis para profissionais em geral (Adams, 2002). Tal como o
examinador de polígrafo, que delineia uma de linha de base do comportamento de
um indivíduo e para quaisquer desvios em relação à linha de base durante a discussão
de tópicos pertinentes ao que e investiga, (Inbau, Reid, Buckley & Jayne, 2001; Horvath
et al., 1994) é considerado incidente crítico por revelar aumento do estresse resultante
da fraude. Nos métodos com enfoque no comportamento, os não-verbais,
Rosenberg (2005) discorreu sobre o Sistema de Codificação de Movimentos Faciais -
Facial Action Coding System – FACS, segundo Hutz (2014) estudado por Paul Ekman
e Wallace Friesen desde o início dos anos 70. Trata-se de um sistema anatômico que
descreve todos os movimentos faciais visualmente discerníveis, de uma base de 44
unidades de expressões únicas, assim como posições e movimentos de cabeça e de
olhos, e que a autora classificou como “evento”, que é um agrupamento de
movimentos faciais, que formam uma expressão facial ou um conjunto de expressões
faciais. Podem ser interpretadas como específicas de determinadas emoções. Esse
sistema é utilizado para discernir as expressões e movimentos feitos durante uma fala,
e pode ser utilizado para comparar o conteúdo do discurso com a emoção expressa. A
lógica do sistema é que a falta de coerência entre um e outro pode estar evidenciando
um comportamento mentiroso (Rosenberg, 2005).
217
Hutz (2014) alerta que o enfoque pode ocorrer por conteúdo, que considera que o
relato verdadeiro e o relato não verdadeiro têm qualidades próprias e são
identificáveis por meio do seu conteúdo, como o Reality Monitoring (RM: Virj et al.,
2008), idealizado por Johnson e seus colaboradores nos Estados Unidos (Jonhson e
Raye, 1981; Schooler et al., 1986, 1988; Johnson et al., 1988, 1993; Johnson e Suengas,
1989; Suengas 1991) (Masip, Sporer, Garrido e Herrero, 2005). O método RM, já
validado em contexto de declarações de testemunhas, é conceitualmente semelhante
ao SVA (Schooler et al., 1986), uma vez que, em ambos, a idéia subjacente é que, os
relatos se constituirá de certas características que diferenciarão entre os testemunhos
que o indivíduo esteve envolvido, e os relatos em que não houve participação (Masip,
Sporer, Garrido e Herrero, 2005). A semelhança ao método SVA - Statement Validity
Assessment, condiz em particular ao CBCA, que considera que os relatos baseados em
memórias genuínas incluem mais detalhes espaciais, temporais e perceptivos,
enquanto relatos baseados em invenção apresentam mais detalhes relacionados com
processos cognitivos (Masip, Sporer, Garrido e Herrero, 2005).
Entre todos esses procedimentos verbais, aqueles que são mais conhecidos e que têm
dado a maior parte da investigação empírica são a SVA/CBCA e a abordagem RM.
Destacamos que o SVA - Statement Validity Assessment (Köhnken e Steller, 1988 ; Steller
e Köhnken, 1989) inclui a Análise de Conteúdo Baseado em Critérios CBCA - Criteria
Based Content Analysis (Steller & Koehnken, 1989; Undeutsch, 1989) e se subdivide em:
SVA – Parte I: Entrevista Cognitiva, SVA – Parte II: Criteria-Based Content Analysis
(CBCA) SVA – Parte III: Lista de Controle da Validade. Hutz (2014) informa que a
Verificação da Credibilidade do Testemunho – VCT, que tem como meta a busca de
traços de veracidade e/ou de falsidade nos fatos narrados, se utiliza de instrumentos
e técnicas utilizados pelas forças policiais do mundo inteiro para verificar a
credibilidade do testemunho. Segundo Blandón-Gitlin, Pezdek, Lindsay e Hagen
218
(2009), uma das técnicas mais utilizadas é o Statement Validity Assessment - SVA -
Avaliação da Validade do Testemunho, elaborada para detectar veracidade nos casos
de abuso sexual contra crianças e adolescentes, mas que também vem sendo utilizado,
com sucesso, com adultos em diversas circunstâncias, no âmbito forense (Hutz, 2014).
Vrij e Granhag (2012) esclarece que pesquisadores devem fornecer técnicas com o
objetivo de produzir evidências que serão sustentadas em tribunais. Vrij e Granhag
(2012) alertam que a busca não é por destacar a verdade e a fraude, mas em como
maximizar o valor da prova para que os juristas saiam da margem da dúvida perante
o nível de provas que ainda se apresenta em tribunais criminais e afirmam que existe
uma necessidade de preencher a lacuna entre pesquisa tradicional sobre a mentira e
as decisões judiciais (Hutz, 2014).
Rogers (1990) alega que desde a década de 1960, na Europa, existem metodologias
utilizadas para avaliar a credibilidade das declarações das vítimas e das testemunhas,
e por sua vez, reconhecidos pelos tribunais. As primeiras publicações fora da Europa
não foram escritas para a américa, mas sim por Arne Trankell da Suécia, que publicou
livros sobre o que foi chamado de "psicologia testemunha". Nos Estados Unidos, os
métodos de DOD se concentraram exclusivamente nos métodos de detecção
fisiológica, também aceitos em tribunais, a exemplo de MacNitt, R.D., que publicou
no Journal of Criminal Law and Criminology, In Defense of the Electrodermal Response and
Cardiac Amplitude' em 1942. O livro de Trankell, Reliability of Evidence: Methods for An
alyzing and Assessing Witness Statements - Confiabilidade de Evidência: Métodos para
Analisar e Avaliar Testemunhos, publicado pela primeira vez em sueco (1968) e
depois em alemão (1971), e em 1972 traduzido para o inglês. Trata-se de um livro que
descreve métodos para analisar e avaliar depoimentos de testemunhas e que foi
introduziu ao mundo de língua inglesa por Udo Undeutsch da Alemanha Ocidental.
Undeutsch (1917 - 2013), psicólogo alemão, formado na Universidade de Jena,
desenvolveu o Statement Reality Analysis - SRA, um método para avaliar a credibilidade
das declarações de suposta vítima. A Análise de Validade da Declaração (SVA) é uma
conseqüência dos métodos usados na Europa desde a década de 1960, para avaliar a
credibilidade de supostas vítimas de abuso sexual. Udo Undeutsch (1982) é creditado
como o pai de Statement Reality Analysis (SRA), o antecessor da SVA (1989). A Hipótese
de Undeutsch afirma que as declarações baseadas em experiências reais diferem em
estrutura, qualidade e conteúdo das que são um produto de fabricação. Rogers (1990)
informa que o Udo Undeutsch colaborou com Trankell e traduziu seu trabalho do
sueco para o alemão em 1971. Enquanto as técnicas de análise de testemunhos de
Undeutsch tinham se originado nas décadas de 1930 e 1940, e suas publicações
realmente precederam a obra de Trankell (Trankell, 1957, 1958, 1959, 1961, 1963,
Undeutsch, 1954, 1956, 1965, 1967), naquela época nenhuma das duas abordagens era
amplamente conhecida fora da Europa. Em 1977, o psicólogo alemão, Herbold,
publicou um artigo no Polygraph, Journal of American Polygraph Association, 'The
Influence of Delayed Responses Upon Voice Stress as Measured by the PSE', em que
219
descreveu alguns dos critérios de conteúdo criados por Udo Undeutsch para
diferenciar declarações de vítimas confiáveis de não confiáveis.
Rogers (1990) explica que o artigo forneceu a aplicação destes critérios em exemplos
reais, como o caso de uma declaração de criança-vítima feminina em que alegou
molestação por seu pai, medido pela análise do estresse da voz, por método fisiológico
seguido de uma declaração de reconto, ambas as análises, demonstraram que a
recontação era falsa. De acordo com Herbold: "tais comparações (de declarações)
mostraram que o testemunho preciso tem uma fisionomia bastante distinta, que
permite ao investigador especialista distinguir entre os dois tipos de testemunho e até
mesmo dizer quais partes específicas do testemunho de uma pessoa são verdadeiras
e quais não são.". Aqui o foco estava na declaração, e não na reputação da pessoa. Em
1953, no Décimo nono Congresso da Associação Psicológica Alemã em Colônia,
Undeutsch afirmou que: "não é a veracidade da pessoa relatora, mas a veracidade da
afirmação que importa, e para isso existem certos critérios definidos e descritivos
relativamente exatos que formam uma Ferramenta-chave para a determinação da
veracidade das afirmações" (Undeutsch, 1954, op. Cit., Undeutsch, 1982, p.42). A partir
da década de 1980 que o Dr. Undeutsch começou a publicar em inglês (Undeutsch,
1982, 1984, 1989). Ele também começou a ensinar seus métodos nos Estados Unidos e
realizou vários workshops por vários anos, incluindo na Universidade de Utah em
1985, bem como apresentações na Association for Behavior Analysis - Associação para
Análise do Comportamento (c.f., Undeutsch, 1986, 1987).
Adams (2002) esclarece que no início da década de 1950, quando o psicólogo alemão
Udo Undeutsch (1967) desenvolveu uma técnica de análise de narrativas infantis de
alegações contestadas, a respeito de abuso sexual de crianças e elaborou critérios de
realidade para ajudar na avaliação das afirmações. Steller e Köhnken (1989) adotaram
estes critérios e originou um conjunto de 19 critérios, o CBCA. Adams (2002) afirma
que, na análise de narrativas orais infantis em contexto forense, tem-se no Criteria
Based Content Analysis - CBCA, Análise de Conteúdo Baseada em Critérios, o mais
estruturado dos métodos de análise de narrativa já revisado. De acordo com as
hipóteses de Undeutsch, afirmações que recontam eventos experienciados, diferem
tanto na estrutura quanto no conteúdo de declarações provenientes da imaginação.
Em sua pesquisa com declarações de crianças, Undeutsch descobriu que "os eventos
reais não se emaranham no ar sem tempo e lugar, mas tem pontos de ancoragem
temporais e espaciais ... " (Traduzido por Sporer, 1997, p. 393). Rogers (1990) esclarece
que a pesquisa de Undeutsch revelou que os indivíduos que recontam eventos
experienciados, incluem conteúdos específicos, não encontrados em recontos
fabricados. Uma decisão crucial do tribunal alemão impulsionou o desenvolvimento
da Hipótese de Undeutsch e em 1954, o Supremo Tribunal da República Federal da
Alemanha reconheceu a tamanha complexidade de testemunhos infantis e buscou
orientação para determinar a credibilidade das declarações das crianças. Undeutsch
analisou a narrativa de uma vítima, em um caso de abuso infantil e apresentou suas
220
conclusões ao Supremo Tribunal, e demonstrou que um exame estruturado de uma
verificação de uma afirmação poderia ajudar a determinar se a declaração era
verdadeira. Como resultado da apresentação de Undeutsch, a Suprema Corte ordenou
que os testemunhos de peritos a respeito da veracidade de narrativas das vítimas
seriam apresentados em todos os casos de abuso de criança contestados, sem provas
corroborantes (Undeutsch, 1989).
Gelfand & Raskin (1988) alegam que muitos guias profissionais populares para
avaliação de abuso de crianças são baseados em erudição inadequada e métodos não
confiáveis, e afirmam que as conseqüências dessa popularização são surpreendentes,
em que, oito por cento ou mais dos casos investigados nos EUA a cada ano podem ser
fictícios, levando a 8000 ou mais ações legais graves e falsas acusações. Raskin & Yuille
(1988) afirmam que nos anos de 1980, as taxas de alegações fictícias parecem ter
aumentado (Rogers, 1990). Hutz (2014) informa que Vrij (2004) aponta que
profissionais dedicados a detectar mentiras alcançam uma acurácia média de 55%, o
que é um índice muito próximo do alcançado por leigos (57%). Dentre as razões para
essa ineficácia, tanto dos profissionais, como dos leigos, Vrij (2004) cita: 1) ausência de
indicadores únicos da mentira; 2) diferenças muito tênues entre relatos verdadeiros e
fraudes; 3) preconcepções a respeito do entrevistado; 4) preconcepções equivocadas a
respeito de indicadores de fraude; 5) ênfase excessiva somente em indicadores não
verbais; 6) desconsideração de diferenças individuais no sujeito em diferentes
situações; 7) desconsideração de diferenças individuais das pessoas que analisam os
relatos; e 8) técnicas de entrevistas diferentes. Porter, Woodworth e Birt (2000) também
apontaram para o baixo índice de detecção de relatos mentirosos e verdadeiros, mas
mostraram que, com treinamento e prática, esse índice pode aumentar de maneira
significativa.
Amado, Arce e Farina (2015) esclarece que o CBCA, faz parte da SVA, consiste em três
etapas mutuamente dependentes: 1) aplicação de entrevista estruturada, ou seja, a
entrevista que possibilita uma narrativa livre; 2) análise do conteúdo da entrevista,
por meio dos critérios da CBCA; e 3) a integração dos resultados obtidos no CBCA
utilizando a Lista de Validade, de forma que as informações obtidas na entrevista é
combinada a outros dados do caso (Horowitz, 1991). A entrevista estruturada
(planejada) envolve um formato narrativo que, ao contrário de outros tipos de
entrevista, como entrevistas padrão, interrogativas ou escolhas fechadas, que facilita
o surgimento de critérios (Vrij, 2005). Além disso, esse tipo de entrevista gera mais
informações (Memon, Meissner & Fraser, 2010), que cumpre a exigência de que a
análise de conteúdo dos critérios da CBCA seja realizada com material suficiente
(Köhnken, 2004, Steller, 1989).
221
presente, 1 - presente ou 0 - ausente nas declarações. Outros autores como, Lamb,
Sternberg, Esplin,Hershkowitz, Orbach e Hovav (1997), estes propõe a pontuação bi
nária, 1 ou 0, se o critério está presente ou ausente no relato. O avaliador deve analisar
as informações relatadas de acordo com o critério de conteúdo, em função de avaliar
se a informação dita pode se apoiar como um testemunho, tal como apresenta Steller
e Köhnken (1989):
Características Gerais
Estrutura Lógica
Produção não-estruturada
Quantidade de detalhes
Conteúdo Específico
4. Adequação contextual
6. Reprodução de conversas
Peculiaridades do Conteúdo
8. Detalhes incomuns
9. Detalhes supérfulos
222
14. Correções espontâneas
17. Auto-depreciação
Raskin e Esplin (1991) sugerem que há cinco hipóteses a serem verificada pelo
avaliador: a) A declaração é válida, mas a criança tem substituído a identidade do
criminoso por uma pessoa diferente; b) A declaração é válida, mas a criança foi
influenciada ou produziu informações adicionais que não são verdadeiras; c) A
criança foi pressionada por um terceiro para formular uma versão falsa dos
acontecimentos; d) Por interesses pessoais ou para favorecer a terceiros a criança
apresentou uma declaração falsa; 3) Como resultado de problemas psicológicos,
produziu uma situação.
223
temporais, sobre a ordem do tempo dos eventos, por exemplo, "Primeiro ele ligou o
gravador de vídeo e depois a TV!", e detalhes sobre a duração dos eventos (Vrj,
Akehurst, Soukara e Bull, 2004). Por sua vez recontos imaginados, são derivados
exclusivamente de operações cognitivas, tais como pensamentos e raciocínios: "Penso
que estava muito frio aquela noite!" (Johnson, Hashtroudi, & Lindsay, 1993; Johnson
& Raye, 1981, 1998). Poder-se-ia argumentar que se compara então, "eventos
experientes" com "eventos imaginários", que por sua vez irão refletir a fraude.
224
exemplo, informações perceptivas - espaciais e temporais, enquanto fatos não
genuínos devem conter mais referências a operações cognitivas (Johnson & Raye,
1981; Masip et al., 2005), o que se pensa a respeito de.
Uma das principais limitações da CBCA é que até agora ele ainda não houve definição
conceitual que classifique a declaração como credível ou não credível, até por que
envolve a análise de cada situação, sua análise é qualitativa e fundamentada em uma
conclusão narrativa. Alonso-Quecuty (1999) sugere que o peso de cada critério deve
ser atribuído de acordo com diversos fatores tais como o número de entrevistas
anteriores pela qual a criança passou, complexidade do incidente, a idade da criança
e a passagem do tempo em relação ao incidente.
Amado, Arce e Farina (2015) informam que a lista de critérios da CBCA (Steller &
Köhnken, 1989) consiste em 19 critérios estruturados em torno de cinco grandes
categorias: características gerais, conteúdos específicos, peculiaridades dos conteúdos,
conteúdos relacionados à motivação e elementos específicos de agressão. A presença
de cada critério reforça a hipótese de que o reconto é baseado em experiência pessoal
225
genuína Köhnken (1989, 1996, 1999, 2002), sendo que esses critérios de realidade não
constituem um sistema categorial metódico (Bardin, 1977; Weick, 1985), e que em
complemento à Hipótese de Undeutsch, Steller & Köhnken (1989) propuseram que
tanto fatores cognitivos, quanto motivacionais, influenciam os escores CBCA. Embora
essa lista de verificação tenha sido inicialmente desenvolvida como um sistema
abrangente de critérios de credibilidade fundamentados na hipótese de Undeutsch, os
autores Raskin, Esplin e Horowtiz (1991) ressaltaram que apenas os 14 primeiros
critérios estão relacionados com a hipótese de Undeutsch e os 5 critérios restantes não
estão associados ao conceito de memória de eventos reais. Essa reclassificação se so
brepõe, embora não inteiramente, ao modelo teórico proposto por Köhnken (1996),
que agrupa essas categorias principais em dois fatores principais: cognitivo (critérios
1 a 13) e motivacional (critérios 14 a 18). O fator cognitivo inclui habilidades cognitivas
e verbais e implica que uma declaração auto-experiente contém critérios CBCA de 1 a
13. O fator motivacional, no entanto, depende da capacidade do indivíduo para evitar
parecer enganoso e maneiras de gerir uma auto-impressão positiva de um testemunho
honesto. Assim, o fator motivacional abrange os critérios 14 a 18, que são critérios de
estereótipo contrário a verdade, mas que realmente aparecem em declarações
verdadeiras. Assim, esses critérios têm sido sugeridos como úteis para avaliar a
hipótese da fabricação (parcial) de afirmações (Köhnken, 1996, 2004). A esclarecer,
apresentamos conceitualmente os critérios a seguir, tradução do livro: Evaluación
Pericial Psicológica de Credibilidad de Testimonio - Documento de Trabajo Interins
titucional 2008. Santiago de Chile. Gobierno de Chile – Servicio Nacional de Menores,
por: Baldrati (2016)
Características Gerais
226
Estrutura lógica: Este critério se baseia em avaliar a coerência contextual, consistência lógica e
homogeneidade espaço temporal. Determina-se sua presença quando a narração feita pela criança tem
sentido global, quer dizer apresenta uma lógica e coerência interna, denotando um fio condutor
durante todo o relato, sendo suas partes não contraditórias entre si, se não que combinam em una
totalidade, a qual resulta compreensível.
Elaboração não estruturada (produção espontânea): Este critério se baseia em no fato de que um
relato baseado em uma experiência real possui componentes desestruturados, com pouca linearidade
e com digressões/erros cronológicos, contanto que a aparente desorganização mantenha ao longo do
discurso uma coerência. Tal critério se presenta quando a narração se encontra dispersa, desde o
princípio até o final, não obstante, mantendo um eixo temporal coerente.
Presença de detalhes: De acordo com a literatura especializada, este critério se cumpre ante a
abundância de detalhes, por quanto, os relatos baseados em percepções (estímulos externos),
geralmente apresentam maior quantidade de detalhes, apontando para a credibilidade da narração,
devido a que os relatos inventados dificilmente poderiam manifestar-se com muitos detalhes. Sem
dúvida, um aspecto a destacar se refere a que a presença de determinados detalhes adquirirem maior
valoração que outros, especialmente os de origem sensorial (visual, auditivo, táctil, entre outros), os
quais outorgam maior credibilidade, quando não se apresentam de maneira abundante.
Conteúdo Específico
Adequação contextual: Este critério se cumpre quando o evento que a criança relata, contém
informação condizente com as coordenadas espaço-temporal em que o evento ocorreu, de acordo com
a capacidade cognitiva desta criança. Desta maneira, o acontecimento abusivo não é um evento isolado
na vida da criança, sendo que deve se ajustar dentro do cotidiano quanto a horários, atividades,
espaços, hábitos e relações com o seu entorno, entre outros.
Descrição de interações: Este critério está presente quando na narração se faz referência a ações e
reações entre a vítima e o agressor, ou também com terceiras pessoas, as quais constituem uma cadeia
mutuamente dependente que podem ser reproduzidas pela criança. Cabe mencionar que este critério
possui a seguinte característica: deve se dar uma ação, reação e outra reação em resposta a esta última.
Reprodução de conversações: Este critério diz respeito a uma interação verbal específica, em que a
criança utiliza a mesma linguagem e modo empregado pelos interlocutores, configurando um diálogo
no qual se explicitem os interlocutores. Independente da extensão da mesma, que pode estar
determinada pelo tipo de relação o abuso delineou.
Complicações inesperadas durante o incidente: Este critério tem relação com a menção espontânea
por parte da pressuposta vítima, de situações imprevistas que complicam ou detém o curso ou
finalização da agressão descrita. Neste sentido, no transcurso do evento abusivo existe a possibilidade
que se apresentem certas situações que compliquem ou detenham o curso ou finalização mediante
situações imprevistas, tais como uma distração do agressor, una chamada telefônica, entre outros. Por
tanto, este critério se cumpre se na declaração aparecem detalhes relativos a situações imprevistas que
surgiram no transcurso do evento descrito.
Peculiaridades do Conteúdo
227
Detalhes inabituais: Este critério se refere a presença de detalhes pouco comuns de se encontrar ou
acontecer, salvo em uma situação de agressão sexual, a que se considerar muito sobre a capacidade de
invenção da criança, particularmente no caso de crianças muito novas. Quer dizer, se refere a menção
de aspectos concretos mencionados pela criança avaliada, em relação ao agressor, espaço físico ou a
situação em si e faz referência a, por exemplo, a objetos que podem ser surpreendentes ou estranhos,
mas não irreais.
Detalhes supérfulos: Este critério se refere a menção de detalhes recordados pela criança que não
fazem parte do curso dos acontecimentos abusivos, o não se relacionam diretamente com este, que
são periféricos e pouco relevantes para apoiar a acusação. Tanto que ao mentir geralmente não se
inventam detalhes irrelevantes que no contribuam para afirmar o evento, por a irrelevância e grau de
dificuldade que implica para a memória este exercício.
Incompreensão de detalhes relatados com precisão: Este critério se refere à narração de detalhes que
pela experiência da criança, e seus escassos conhecimentos sexuais, não lhe permitem compreender,
não obstante, só um adulto seria capaz de entender de maneira certeira. Cabe destacar neste ponto, a
particular percepção da criança durante a “vivencia”, e especial ênfase deve ser colocada pelo avaliador
diante de uma possível motivação por parte da criança em fazer valer este critério, adquirindo ainda
maior valor em relação a crianças muito pequenas justo por sua pouca capacidade cognitiva para
compreensão de tais eventos.
Alusão ao estado mental subjetivo da criança: Este critério diz respeito a descrições espontâneas que
a criança faz a cerca de suas emoções, temores ou pensamentos, experimentados por ele durante o
episódio abusivo; assim como possíveis mudanças de estados emocionais experimentados durante o
transcurso do evento.
Atribuições ao estado mental do agressor: Categoria que faz referência as verbalizações que a criança
efetua a respeito dos pensamentos, sentimentos ou motivos que o menor atribui ao agressor durante
ou acerca do episódio abusivo.
228
Correções espontâneas: Este critério se refere as correções que a criança realiza de maneira
espontânea em seu relato, que sugere um relato flexível e que contradiz com um relato fictício, no qual
se apresentaria provavelmente rígido e mecanizado, por quanto, uma pessoa que mente, geralmente
não corrigiria seu testemunho nem mesmo para melhora-lo.
Admissão de falta de memória: Este critério se manifesta nos seguimentos do relato em que a criança
reconhece a incapacidade de evocar todos os aspectos que havia percebido, através de verbalizações
que expressam essa dificuldade. Isto acontece livremente, no lugar de aferrar-se de maneira persistente
a um discurso aprendido, como ocorre em relatos não baseados em percepções externas. Por tanto, se
uma criança confessa não recordar algum dato, apontaria mais a credibilidade da declaração que a
outra hipótese.
Levantar dúvida sobre o próprio testemunho: Critério que refere a abordagem da possibilidade da
existência de imprecisões sobre aspectos do seu próprio testemunho, constituem um índice de
credibilidade, por quanto se considera esperado que una pessoa que apresenta um relato fictício não
vacilaria acerca do que está querendo afirmar.
Detalhes característicos da ofensa: Este critério se refere a discriminação por parte do avaliador acerca
de se o testemunho corresponde aos dados criminológicos e as dinâmicas psicológicas acerca deste tipo
de delito particular; ou se mais bem corresponde ao estereotipo social que se conhece com respeito a
uma situação de abuso.
Quadros 2 - Conceitos do Critério Baseado na Análise de Conteúdo - CBCA (Steller e Kohnken, 1989)
229
Köhnken, 1989): a) Características psicológicas; b) Características da entrevista;.c)
Motivação para fazer falsas acusações; d) Aspectos relacionados a investigação, tal
como apresentado e traduzido por Baldrati (2016), adaptado de Raskin e Esplin (1991):
Motivação para falsas alegações: Quando no relato são percebidos motivos como desavenças, disputa
de guarda, indução por um adulto, ou outros.
Quadros 3 - Lista de Controle - Validity Checklist - SVA (Steller & Köhnken, 1989)
230
de conteúdo. Os sistemas categóricos de análise de conteúdo são atualmente a técnica
mais sistematicamente utilizada pelos tribunais. Assim, os tribunais de países como a
Alemanha, a Suécia, a Holanda e vários Estados nos EUA admitem esses sistemas
categóricos como evidências científicas (Steller & Böhm, 2006; Vrij, 2008). Na Espanha,
onde também são admitidos como provas legalmente admissíveis e amplamente
utilizados pelos tribunais, uma análise de julgamentos legais mostrou que quando um
relatório psicológico forense baseado em um sistema categórico de análise de
conteúdo, como o Statement Validity Analysis, SVA em que se confirma a credibilidade
de um depoimento, a taxa de condenação foi de 93,3%, mas quando não o fez, a taxa
de absolvição foi de 100%. Por outro lado, em outros países, como o Reino Unido, os
EUA e o Canadá, essas listas, como única verificação não são admitidas como
evidência legalmente válida (Novo & Seijo, 2010).
Köhnken, Manzanero, & Scott (2015) informam que o SVA – Statement validity as
sessment, não se trata de um teste ou um protocolo, mas sim um método de geração
de falsificação de hipótese sobre a origem de uma declaração, sendo esta verdadeira
ou falsa. Godoy e Higueras, (2005) esclarecem que, uma vez aplicado o critério da
CBCA e a Lista de Validade, o resultado final da análise nos permite classificar
qualitativamente a declaração de acordo com cinco categorias (Alonso-Quecuty, 1999,
Steller, 1989): Credível - Provavelmente credível – Indeterminado - Provavelmente
incredível e Incredível.
231
Em resumo, a aplicação de SVA começa com uma análise dos dados contidos no
registro forense, tal como: idade, habilidades cognitivas, o relacionamento com o réu,
o acto em questão - tipo de evento, exclusivo ou episódio repetido, declarações
anteriores - quantas vezes questionada a testemunha, o que apontou, quais as técnicas
de entrevista foram usados e qualquer outra informação relevante do evento - tempo
entre o evento e a queixa, a coerência entre o tempo a declaração e outras evidências,
a ocorrência de outros elementos relevantes. Depois de recolher estes dados, com o
acesso aos registros forenses e depois de realizar uma entrevista planejada sobre o fato
em questão, finalmente, estes dados serão avaliados pela integração das categorias na
Lista de Validade, constituída das: características psicológicas da criança, característi
cas da entrevista, aspectos motivacionais que informam sobre a possibilidade de se
fornecer uma declaração falsa e perguntas correlacionadas a investigação (Köhnken,
Manzanero, & Scott, 2015).
Para se alcançar todos estes dados, é necessário quase que exclusivamente a entrevisa
investigativa forensa, Poole & Lamb (1998) sugerem diretrizes, em entrevistas infantis
vítimas de violência sexual, sobre o comportamento, conduta e comunicação do
entrevistador: a) evitar usar uniformes ou ter armas visíveis durante a entrevista; b)
transmitir e manter um ambiente descontraído e amigável; c) não expressar surpresa,
desgosto, descrença ou outros sentimentos em relação às descrições do abuso; d) evite
tocar a criança; e) não utilize pausas para o banheiro ou bebidas como reforços para a
cooperação durante a entrevista; e) nunca faça comentários como: "Vamos terminar
estas perguntas e então eu vou te pegar algo para você beber!"; f) respeite o espaço
pessoal da criança; g) não olhe fixadamente para a criança, por reprovação ou para
solicitação; h) não sente-se desconfortavelmente muito próximo; i) não sugerir
sentimentos ou respostas à criança, não diga por exemplo: "Eu sei o quão difícil isso
deve ser pra você!"; j) não faça promessas, por exemplo, não diga: "Tudo vai ficar bem!
" ou " Você nunca vai ter que falar sobre isso novamente!"; k) reconhecer e conduzir
os sentimentos da criança, caso esta fique com medo, envergonhada, triste, mas evite
comentários sobre sentimentos, emita comentários como: "Eu converso com crianças
sobre esse tipo de coisas o tempo todo!", pode ser útil, l) a sala de entrevistas deve ser
organizad e livre de ruídos e suprimentos, como balas, doces; m) não faça comentários
como: "Boa menina!" ou "Somos amigos, não somos?", ou "Você é muito inteligente!",
tais incentivos podem ser interpretados como reforçando a criança, por esta falar sobre
problemas de abuso. Incentivos não deve ser a base para que a criança diga questões
específicas. O momento do encorajamento deve ocorrer no início da entrevista, no
momento do rapport e no fim da entrevista, depois que a conversação mudou para
tópicos neutros e agradecimentos; n) não use as palavras "fingir" ou "imaginar" ou
outras palavras, que sugerem fantasia ou jogo; o) evite fazer perguntas sobre o motivo
pelo qual a criança se comportou de determinada maneira, crianças pequenas têm
dificuldade em perguntas desse tipo e pode acreditar que você está culpando-os pela
situação; p) evite corrigir o comportamento da criança desnecessariamente durante a
232
entrevista. Pode ser útil direcionar a atenção da criança com explicações significativas,
por exemplo, "eu tive um pequeno problema em ouví-lo, me ajuda muito se você me
olha quando você está falando para que eu possa ouvi-lo!", mas de qualquer forma,
evite a correção de comportamentos nervosos ou evitativos que não estejam evitando
o andamento da entrevista; q) solicitar a criança para repetir o comentário se tiver
dificuldade de entender o que a criança disse. Use frases como: "Eu não ouvi, você
pode dizer novamente?", ao invés de tentar adivinhar, por exemplo: "Você disse:
[palavra ou frase fornecida pelo entrevistador]?". Crianças pequenas freqüentemente
acompanham a interpretação das palavras de um adulto; r) seja tolerante com as
pausas na conversa. É apropriado desviar o olhar e dar tempo à criança para continuar
conversando; s) é útil dar um tempo para a próxima pergunta; t) evite dar presentes à
criança.
233
9.2 Estruturação profissional da psicologia forense
A atuação dos psicólogos brasileiros na área jurídica tem seu início em 1960, junto a
adultos criminosos e adolescentes infratores (Rovinski, 2002). A ação do psicólogo
dentro do sistema jurídico brasileiro se deu de maneira oficial em São Paulo no ano
de 1985, no primeiro concurso para psicólogo (Shine, 1998), visto que a promulgação
da Lei de Execução Penal – LEP (Lei Federal nº 7210/84) entrou em vigor em 1984,
sendo posteriormente revogada em partes, em 2003. A Lei de Execução Penal
estabeleceu na sua forma originária três avaliações técnicas elaboradas por uma
equipe interdisciplinar das áreas da Psicologia, Psiquiatria, Assistência Social e
Segurança Pública, sendo as avaliações: exames criminológico, de personalidade e dos
pareceres das Comissões Técnicas de Classificação (Neves, 2010). Posteriormente tais
avaliações foram revogadas na edição da Lei n. 10792, de 1º de dezembro de 2003,
Arts. 6º e 112, em que passou a exigir somente o atestado de boa conduta carcerária,
que seria concedido pelo diretor do estabelecimento prisional (Neves, 2010).
Desta forma, o Conselho Regional de Psicologia 9ª Região (2015), por meio da Comissão
Permanente de Orientação e Fiscalização (COF), informa que a formação do psicólogo o
habilita a atuar em qualquer uma das áreas da psicologia, descritas na Resolução CFP 13/2007,
sendo elas: Psicologia Escolar/Educacional; Psicologia Organizacional e do Trabalho;
Psicologia de Trânsito; Psicologia Jurídica; Psicologia do Esporte; Psicologia Clínica;
Psicologia Hospitalar; Psicopedagogia; Psicomotricidade; Psicologia Social; Neuropsicologia.
E assim, ressalta que, a Formação de Psicólogo nas Entidades de Ensino Superior
garante a atuação em qualquer área da psicologia. Deste modo, a Comissão Permanente
de Orientação e Fiscalização (COF), do CRP-09, esclarece que, em instituições, o que deli
mita a área de atuação deste profissional, é o contrato de trabalho. Se o contrato
especifica a função do psicólogo como clínica ou organizacional, será este contrato que
determinará a forma de atuação do profissional. No tocante a este tema, a Comissão
Permanente de Orientação e Fiscalização - COF ressalta o seguinte artigo do Código de
Ética Profissional – CEPP (Resolução CFP n.º 10/2005):
234
“Art. 3º – O psicólogo, para ingressar, associar-se ou permanecer em uma
organização, considerará a missão, a filosofia, as políticas, as normas e as
práticas nela vigentes e sua compatibilidade com os princípios e regras deste
Código.
235
abandonados ou infratores; elabora petições sempre que solicitar alguma
providência ou haja necessidade de comunicar se com o juiz durante a
execução de perícias, para serem juntadas aos processos; realiza avaliação das
características das personalidade, através de triagem psicológica, avaliação de
periculosidade e outros exames psicológicos no sistema penitenciário, para os
casos de pedidos de benefícios, tais como transferência para estabelecimento
semi-aberto, livramento condicional e/ou outros semelhantes. Assessora a
administração penal na formulação de políticas penais e no treinamento de
pessoal para aplica-las. Realiza pesquisa visando à construção e ampliação do
conhecimento psicológico aplicado ao campo do direito. Realiza orientação
psicológica a casais antes da entrada nupcial da petição, assim como das
audiências de conciliação. Realiza atendimento a crianças envolvidas em
situações que chegam às instituições de direito, visando à preservação de sua
saúde mental. Auxilia juizados na avaliação e assistência psicológica de
menores e seus familiares, bem como assessorá-los no encaminhamento a
terapia psicológicas quando necessário. Presta atendimento e orientação a
detentos e seus familiares visando à preservação da saúde. Acompanha
detentos em liberdade condicional, na internação em hospital penitenciário,
bem como atuar no apoio psicológico à sua família. Desenvolve estudos e
pesquisas na área criminal, constituindo ou adaptando o instrumentos de
investigação psicológica.” (grifo meu)
A lei 4.112 de 27 de agosto de 1962, que dispõe sobre a profissão de psicólogo, afirma
que no exercício profissional, entre outras atribuições, cabe ao psicólogo: "Realizar
236
perícias e emitir pareceres sobre a matéria de psicologia" (Art. 4º, n° 6). Por sua vez, o
nosso Código de Ética Profissional estabelece, em seus artigos de 18 a 22, os limites
que norteiam a relação do psicólogo com a Justiça. Portanto, esta é uma área de
atuação legítima do psicólogo. E segundo Meirelles (1986) cabe ao psicólogo
desenvolver o estudo da personalidade dos litigantes e demais envolvidos nos litígios
judiciais e caso as ilações periciais sejam baseadas em psicodiagnósticos, cabe-lhe
também concluir o laudo.
237
são inaugurados, o do Rio de Janeiro em 1921, e, em 1924, os do Rio Grande do Sul e
Minas Gerais. O crescente número de doentes mentais criminosos era motivo de
preocupação, pois em 1926 encontravam-se internados, no Hospital do Juquery, 165
pacientes em tais condições, sendo 95 brasileiros e 70 estrangeiros. Então, em 1927,
Alcântara Machado, professor de medicina legal, no dia 13 de dezembro, patrocina o
projeto de lei criando o Manicômio Judiciário do Estado de São Paulo. Em 1934, os
primeiros 150 pacientes foram removidos do Hospital do Juquery (Sérgio, 2003).
A fase inicial da Psicologia jurídica foi bastante marcada por um ideário positivista,
importante da época, que privilegia o método científico empregado pelas ciências
naturais. (Jacó-Vilela, 1999; Foucault, 1996). Essa aproximação da Psicologia com o
direito se deu no início do século XIX, na época denominada “Psicologia do
testemunho”. Nessa denominação estava implícito seu objetivo que era examinar,
através da técnica experimental, a fidedignidade do relato dos sujeitos envolvidos nos
processos judiciais. Como relata Brito (1993), pretendia-se verificar se havia alguma
relação entre os processos internos e a veracidade de um relato. O método a ser
utilizado por eles era a aplicação de testes. Nota-se, portanto que a função do
Psicólogo nesta área era basicamente voltada à perícia, exame criminológico e parecer,
baseados no psicodiagnóstico (entrevistas e testes). Myra y Lopes, em 1945, foi
defensor da cientificidade da Psicologia na aplicação de seu saber e de seus
instrumentos junto às instituições jurídicas, e escreveu o “manual de Psicologia
Jurídica”, que teve grande repercussão no ensino e na prática profissional do
Psicólogo, até recentemente. Nota-se que até agora a prática do Psicólogo está
intimamente ligada a realizações de perícia.
238
VII A Tecnologia desenvolvida
1º - comunicante;
2º suposta vítima;
3º suspeito.
239
Após as etapas de entrevistas é aplicado na comunicante e no suspeito o Teste
Rorschach, e com as crianças, é aplicado o Teste Rorschach e Hora Jogo Diagnóstica.
No caso das crianças, somente aquelas com idade superior a 5 anos será submetida ao
Teste Projetivo Rorschach. Os Testes TAT e CAT-A e H, serão ainda implementados a
este instrumental, por sugestão de Skinner, em Comportamento Verbal (1957).
240
Informamos que todas as perguntas da Entrevista Contingenciada Estruturada são
compostas da contingência tríplice acima descrita, visto que, as perguntas são
sequenciadas para identificar campos de vulnerabilidade, que ao se arranjarem
apresenta a fragilidade contextual que a criança estava inserida.
a) entre sujeitos;
b) intra sujeitos, ou seja, aquilo que pode ser constatado entre o que se fala e o que se
observa no locus (próprio indivíduo de quem se fala);
241
Os relatos serão analisados como comportamento verbal, e não como ‘Análise de
Discurso’, que tem objetivo interpretativo e linguístico.
Explicamos que, a narrativa da comunicante é a primeira a ser analisada, por ser ela a
propositora da ação, e por sua vez, analisar os motivos, ou seja, sob quais variáveis a
comunicante está sob controle para realizar a notícia-crime.
242
Desta forma, após a assinatura de termos e autorização pericial, é realizado a Entre
vista Contingenciada Aberta: ‘História de Vida’, e posteriormente nesta sequência as
entrevistas estruturadas: ‘Levantamento de Contexto Crítico’; ‘Entrevista Estruturada
para Levantamento de Contexto’; Entrevista Semi-estruturada, nomeada de Entrevista
Clarificadora composta de perguntas clarificadoras e perguntas transitórias; e
Entrevista Aberta, com perguntas abertas e perguntas de caráter investigativo.e na
sequência a aplicação do Teste Rorschach.
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Ao final da sessão a criança realiza a ‘Hora Jogo Diagnóstica’, sendo este momento
também avaliativo, em que o infante reconhece que estar a ‘brincar’, sendo esta técnica
altamente relevante para a finalidade de diagnóstico. Na terceira sessão com a criança,
caso esta tenha acima de 5 anos, realiza-se o Teste Rorschach.
243
Para facilitar a análise funcional do comportamento verbal, foi desenvolvido um
‘Roteiro de Análise’, que contém Indicadores Analíticos com a finalidade de organizar
os dados e elaborar o laudo pericial. O Roteiro Analítico é composto pelas seções:
Após o tratamento dos dados de acordo com o Roteiro Analítico, utiliza-se o Resultado
da Análise dos Indicadores, que se trata de um roteiro que contém as informações téc
nicas (análise do comportamento) da análise dos indicadores, porém descrita de
maneira acessível ao leigo. Sendo esta acessibilidade gráfica, a que comparecerá ao
laudo. Portanto, não mais se aceitará laudos periciais que “apenas respondam
quesitos”, mas com métodos e respostas conclusivas, que sejam aprofundadas a
matéria técnica específica discutida, e que os mesmos sejam apresentados com um real
valor probante. Esta necessidade de adaptação da informação para a acessibilidade
leiga, faz-se necessário de acordo com a Resolução 07/2003 do Conselho Federal de
Psicologia, que institui a elaboração de documentos psicológicos, e a Lei nº 13.105, de
16 de março de 2015, ou seja, o novo Código de Processo Civil sobre os aspectos da
perícia judicial:
244
§ 3o Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos
podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo
informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de
terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com
planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos
necessários ao esclarecimento do objeto da perícia.”
Desta forma, a análise segue o modelo de tríplice contingência, em que sempre haverá
uma relação entre resposta e conseqüência e entre resposta e antecedente (Hübner,
2006). Complementar a esta avaliação realiza-se também a análise dos ‘relatos
correspondentes ’e ‘relatos não-correspondentes’, para isso, busca-se a semelhança
nas contingências intra e entre relatos, dos relatos colhidos: no momento pericial, no
inquérito policial e nos documentos apresentados ao inquérito.
1O Projeto Contacto
245
d) elaborar roteiro de Entrevistas Contingenciadas das pessoas envolvidas na busca
de conteúdos correspondentes, por meio da análise funcional do comportamento
verbal;
f) realizar análise dos dados periciais com base fundamental no Behaviorismo Radical;
Com isso objetiva criar: uma metodologia pericial, instrumentos, formatação do laudo
e interpretação dos dados e relatos verbais com base na análise do comportamento.
Em que se contempla melhorar a funcionalidade dos dados coletados em perícias
psicológicas, aumentar a fidedignidade pericial psicológica para o âmbito judicial e
em especial reduzir o tempo da perícia psicológica prioritariamente quando se
envolve criança.
Este estudo tem como premissa de que, os envolvidos relatarão o que aconteceu no
ambiente natural entre as díades vítima-acusado, em um contexto de suposta
violência sexual entre estas díades.
246
A base pericial investigativa, considera o comportamento, que é a relação entre estí
mulos antecedentes e consequentes a uma resposta e se desenvolve de maneira
processual, pois trata da relação organismo-ambiente, sem a prioridade de existência
de um dos elementos sobre o outro (Matos, 1995). Então trata-se de uma investigação
sistemática do comportamento (Matos, 1995), por meio da Análise
Experimental/Funcional do Comportamento (Matos, 1995).
247
entre doutoramento e implantação do projeto, que exigiu da pesquisadora-psicóloga
grandes adaptações e desenvolvimento metodológico em uma construção prática
teórica.
O projeto tem como objetivo desenvolver ações e pesquisas de cunho científico para a
promoção de pericias psicológicas mais eficazes e que proporcione as vítimas de
violência sexual, profissionais cada vez mais especializados na oitiva e elaboração de
pareceres. Tem como principal necessidade, aperfeiçoar a sistemática de atendimento
a crianças e adolescentes vítimas do crime de estupro de vulnerável, de modo a
permitir a rápida e eficiente apuração das comunicações de crime recebidas, com a
subseqüente responsabilização dos agentes e adequada proteção às vítimas, dando
assim efetividade ao disposto no art. 227, caput e § 4º, da Constituição Federal.
Destacamos que para cada inquérito policial com solicitação de perícia psicológica,
realiza-se, uma estimativa de 11 sessões, conforme apresentamos nesta sequência:
5) Rorschach com a criança (acima de 5 anos – na época era autorizado pelo SATEPSI)
(1 sessão);
248
6) Entrevistas Contingenciadas com o suspeito, caso compareça (2 a 3 sessões);
Barros Filho (2011) informa que o Código de Processo Penal (1941) destaca a função
de filtro que o inquérito policial assume, e observa-se na exposição de motivos do
próprio Código de Processo Penal, A CONSERVAÇÃO, AO DO INQUÉRITO POLI
CIAL Tópico IV, razões suficientes para considerar imprescindível o inquérito
policial:
-
249
Não raro, é preciso voltar atrás, refazer tudo, para que a investigação se
oriente no rumo certo, até então despercebido. Por que, então, abolir-se o
inquérito preliminar ou instrução provisória, expondo-se a justiça criminal
aos azares do detetivismo, às marchas e contramarchas de uma instrução
imediata e única? Pode ser mais expedito o sistema de unidade de instrução,
mas o nosso sistema tradicional, com o inquérito preparatório, assegura uma
justiça menos aleatória, mais prudente e serena. (grifei)”
Para se garantir direitos, é preciso garantir isonomia, Gomes (2008) informa que, a
isonomia é a expressão de um processo justo no sentido de proporcionar ao sujeito
atingido pela acusação estatal, as mesmas oportunidades de expor e ver analisados
seus argumentos e suas teses Ferrajoli (1997) destaca que a igualdade processual
manifesta-se na:
250
aplicados dentro de um contexto delineado pelo princípio da igualdade, afinal, de
que vale a oportunidade de ter "ciência bilateral dos atos e termos processuais e
possibilidade de contrariá-los" se a acusação está muito melhor aparelhada para
produzi-los e a defesa não possui o instrumental adequado para contrariar a
imputação?
“Titulo II
Do Inquérito Policial
IV - ouvir o ofendido;
251
Art. 14. O ofendido ou seu representante legal, e o indiciado poderão
requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da
autoridade.”
Nesta linha de raciocínio, Luiz Flávio Borges D'Urso (2008) entende que o inquérito
policial é indispensável, pois:
E conclui:
Então para cada inquérito policial, ocorre a diligência expedida pelo delegado
responsável pelo caso, para: Realização de Perícia Psicológica. Na DPCA, ocorre uma
estimativa de 14 sessões, em que se encaminha perícia psicológica para o psicólogo no
mínimo de 2 casos por semana, o que resulta em 8 solicitações por mês. Assim, com 8
solicitações por mês para o psicólogo, este deverá realizar uma média de 112
atendimentos para finalizar os 8 casos, isto sem quantificar as horas/relógio que se
dedicará a elaboração do laudo psicológico, pois sem o documento ‘laudo
psicológico’, os atendimentos ficam improcedentes.
252
ausência é completamente aceitável, visto que a solicitação pericial não parte do
comunicante, mas sim da autoridade policial. Outro motivador que bloqueia a vinda
dos periciados é a própria evolução do inquérito policial, em que, os comunicantes ao
se deparar com resultados que conflitam a seus desejos particulares se desmotivam em
serem colaborativos perante o fluxo do inquérito.
Nos demais estados, nas capitais como: Palmas, Natal, Goiânia e Distrito Federal,
psicólogos atuam sem quadro de carreira.
253
Para esta realidade, a tarefa investigativa se torna altamente extenuante, especializada
e com necessidades multiprofissional, no caso da DPCA de Goiânia, o psicólogo é um
dos integrantes-chave na equipe investigativa. Seja na coleta de provas relativas à
autoria e materialidade da infração – que é o objetivo do inquérito polícia - que nem
sempre deixa marcas físicas, seja para potencializar o relato infantil muitas vezes
limitado em função da idade, ou, seja para esclarecer relatos confusos e contraditórios.
Para isso, o psicólogo trabalha junto com a equipe investigativa, que permite ampliar
o trabalho investigativo, para uma adequada apuração dos fatos e a busca de
responsabilização do agente, por meio do conteúdo do laudo psicológico. Então, é
fundamental que os órgãos de investigação policial observem cautelas redobradas em
suas abordagens, bem como articulem ações com profissionais de outras áreas, de
modo que a oitiva da criança ou adolescentes vítimas de violência, assim como a
realização dos exames periciais, quando necessários, sejam efetuadas de maneira
diferenciada e reservada, procurando-se preservar ao máximo a integridade psíquica
e emocional daqueles, em observância ao disposto nos arts. 17 e 18, da Lei nº 8.069/90,
que considera: que crianças e adolescentes têm, dentre outros, “o direito à
inviolabilidade de sua integridade física, moral e psíquica, devendo ser tratados com respeito
e dignidade, bem como colocados a salvo de qualquer tratamento violento, vexatório ou
constrangedor” (cf. arts. 5º, 17, 18 e 53, inciso II, todos da Lei nº 8.069/90).
Com as inovações trazidas pela Lei nº 12.010, introduziu-se no artigo 100 do Estatuto
da Criança e do Adolescente, em 2009, o inciso XII, que torna obrigatória a
participação da criança e do adolescente em todos os atos, com o direito de serem
ouvidos em separado pela autoridade judiciária, sendo suas opiniões devidamente
consideradas. E atualmente em 2017 a Lei nº 13.431, de 4 de Abril de 2017, que entrará
em vigor um ano após sua publicação, que estabelece o sistema de garantia de direitos
da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei no 8.069,
de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Com o intento de elevar
as condições jurídicas para a responsabilização do agente, e proteção de crianças e
adolescentes, a produção antecipada de provas – prevista no artigo 156, I, do CPP, Lei
11.690 de 2008, que pode ser realizada antes mesmo do oferecimento de uma ação
penal, como faculta o dispositivo – constitui o instrumento hábil e amplamente
relevante para esse desiderato.
254
O psicólogo no uso de suas atribuições legais e regimentais, que lhe são conferidas
pela Lei nº 4119, de 27 de agosto de 1962, que dispõe sobre os cursos de formação em
psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo, bem como, de acordo com a
resolução CFP n.º 7/2003, que institui o Manual de Elaboração de Documentos
Escritos, habilita o psicólogo, a produzir documentos escritos, e que devem se basear
exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas
de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram como métodos e técnicas
psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações de informações a respeito
da pessoa ou grupo atendido. Esses instrumentais técnicos devem obedecer às
condições mínimas requeridas de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que
se propõem a investigar (CFP n.º 7/2003).
CAPÍTULO I
REALIZAÇÃO DA PERÍCIA
255
Art. 2º - O psicólogo assistente técnico não deve estar presente durante a
realização dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do
psicólogo perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e
qualidade do serviço realizado. Parágrafo Único - A relação entre os
profissionais deve se pautar no respeito e colaboração, cada qual exercendo
suas competências, podendo o assistente técnico formular quesitos ao
psicólogo perito.
Art. 4º - A realização da perícia exige espaço físico apropriado que zele pela
privacidade do atendido, bem como pela qualidade dos recursos técnicos
utilizados.
CAPÍTULO II
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
256
fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a
sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos,
técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e
analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com
a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o
indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a
formulação da demanda até a conclusão do processo de avaliação psicológica.
(CFP Nº 07/2003)”
257
Desta forma destacamos que o documento apresentado a autoridade policial,
solicitante da perícia psicológica, se faz em forma de relatório/laudo psicológico,
conforme especificação da Resolução CFP Nº 07/2003:
3 – RELATÓRIO PSICOLÓGICO
3.2. Estrutura
1.Identificação
2.Descrição da demanda
3. Procedimento
4. Análise
5. Conclusão
3.2.1. Identificação
258
É a parte superior do primeiro tópico do documento com a finalidade
deidentificar:
3.2.3. Procedimento
3.2.4. Análise
259
Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o
instrumental técnico utilizado, bem como princípios éticos e as questões
relativas ao sigilo das informações. Somente deve ser relatado o que for
necessário para o esclarecimento do encaminhamento, como disposto no
Código de Ética Profissional do Psicólogo.
O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem sustentação em
fatos e/ou teorias, devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se
referir a dados de natureza subjetiva, expressando-se de maneira clara e exata.
3.2.4. Conclusão
1. Identificação
2. Exposição de motivos
260
3. Técnicas:
3.1.1. Instrumentos:
4. Análise de indicadores:
5. Dados analisados:
7. Conclusão.
261
Destaca-se que a condição da perícia psicológica é realizar a avaliação psicológica, que
é uma das atividades exclusivas do psicólogo tal como dispõe o § 1º do Art. 13 da lei
brasileira 4.119/62, e se diferencia da avaliação do psicólogo clínico, em especial,
quanto ao enquadre clínico, pois neste caso, não existe a solicitação de um terceiro
institucional, o sujeito se apresenta expontaneamente.
a) Em relação ao seu objeto: trata-se de uma questão pertinente que a avaliação trata
de investigar, uma questão a responder, um problema a resolver (Maloney e Ward
apud Grisso, 1986; Cunha, J. A., 2000, in Conselho Regional de Psicologia, CRPSP,
2010). Portanto toda a técnica implica, necessariamente em: uma posição ética em
relação ao sujeito-objeto, quem vai ser avaliado e ao demandante dela (Conselho
Regional de Psicologia, CRPSP, 2010);
262
a) Diagnóstica – quando a finalidade é explorar e desenvolver a questão-problema,
em que já se conhece a origem do conflito, como nas varas de família e juizados
especiais;
O Modelo PEACE (1992) é um método de entrevista que reflete uma técnica avançada
da pesquisa psicológica moderna (Starr, 2013), em que se considera a entrevista como
uma gestão da conversação, o método foi colocado em atividade em 1990 (Baldwin,
1992) e amplamente utilizado no Reino Unido, Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália.
O Modelo PEACE tem a sua origem na técnica Conversation Management, desenvolvida
263
por Eric Shepherd em 1983, que adota na sua estrutura, ferramentas de base
psicológica. PEACE é um acrônimo que foi desenhado, por uma equipe de
investigadores, no Reino Unido, para auxiliar entrevistadores. Tem na sua base o
conceito de Entrevista Ética (Shepherd, 1991), cunhado por Shepherd, que enfatiza
respeito e igualdade de tratamento para todos os envolvidos e de base não-acusatório.
Embora tenha sido criado para entrevistas relacionadas à investigação de crimes,
acredita-se que sua estrutura básica possa ser aplicada a qualquer tipo de entrevista
que busca obter informações precisas e detalhadas sobre algum fato, pois a gestão
PEACE foi desenvolvida a partir de técnicas como: manejo de conversação, pesquisa
sobre boas práticas em entrevista e a técnica de entrevista cognitiva (Milne e Bull,
1999).
A primeira etapa se refere ao momento de preparação pericial para cada caso, esta
fase pericial, vai desde o recebimento da solicitação pericial, até a preparação do
material a ser utilizado na perícia em questão:
264
inconformidades. A primeira inconformidade seria em relação a especialidade e
expertise do perito, ou seja, o perito deve verificar se a solicitação realizada naquele
momento pela autoridade pode ser atendida tecnicamente pelo profissional psicólogo.
A segunda inconformidade se dá pela característica da solicitação, visto que, algumas
solicitações não fazem parte do objeto de estudo da psicologia. Para isso, faz-se
necessário o estudo e a seleção do caso, para a realização ou não de perícia, que passa
pelos seguintes critérios, quando:
testemunhas;
3) Caracterização do caso:
4) Logística pericial:
Diante da solicitação pericial entregue ao psicólogo, o escrivão solicita data para início
de perícia e comunica a família da criança. Por meio da ficha intitulada Estruturação
do caso, preenchida sob os relatos do escrivão/delegado, o psicólogo se organiza para:
ambientação da sala, material lúdico (brinquedos, lápis, papel, canetinha, lápis de cor)
de acordo com a idade para a técnica Hora Jogo Diagnóstica, seleção das entrevistas e
material para testagem quando necessário. Realiza-se busca na literatura de acordo
com a demanda de cada caso, em consonância com: comunicante, grau de parentesco,
idade (vítima e agressor), gênero, suposto agressor na condição de intra ou
265
extrafamiliar, dinâmica familiar da vítima, dinâmica do suposto agressor em relação
a vítima, dinâmica da interação sexual. No caso deste estudo, interação de conteúdo
sexual, será considerada toda interação que contém características sexuais sejam elas:
verbais, apresentação de figuras, fotos, vídeos, bem como o contato por meio da visão, ou
de qualquer parte do corpo de duas ou mais pessoas envolvidas em demanda judicial
específica, em um contexto de contéudo e característica sexual.
5) Cadastramento:
a) Ficha Cadastral;
d) Declaração de comparecimento;
266
entrevistados forneceram itens mais corretos (do video que assistiram), e não houve
aumento de informações incorretas na condição de rapport. A abordagem neutra no
Collins et al. (2002) foi considerada congruente a condição de supressão de informação
dos estudos de Butler, Egloff, Wilhelm, Smith, Ericson e Gross (2003).
267
comunicante é um parâmetro importante para se apurar o contexto vivenciado pela
criança desde a época do fato investigado até a presente data. Neste levantamento
busca-se identificar o nível de informação por parte do cuidador/comunicante a
respeito de:
268
Este setting pericial, constitui-se de um ambiente com regras pré-determinadas, em
que os papéis são especificados, estabelecendo uma assimetria. Possui a segurança de
um local em que o silêncio permeará todas as sessões, com um ambiente seguro e
regras técnicas bem fundamentadas para a manutenção da neutralidade da perícia.
Trata-se de um local altamente sistematizado para o desenvolvimento pericial, com
todo o material individualizado e previamente estruturado para a criança, de acordo
com a etapa de desenvolvimento, características da criança e demanda do solicitante,
com etapas a seguir:
1) Apresentação:
2) Registro:
3) Regra básica:
Dizer a criança e aos envolvidos que estes poderão: falar o que quiser, caso não
entenda algo a qualquer momento poderá pedir esclarecimentos e quando não quiser
responder algo, diga que não responderá.
269
investigação de fatos conflitivos e ou delituosos. A avaliação BARS (Clarke, C. e Mine,
R., 1999) – Behaviourally Anchored Rating Scale, é uma composição rigorosa para avaliar
e assegurar o planejamento de entrevistas que contenham questões, metas e objetivos
definidos.
270
Os instrumentais citados não são utilizados no seu interino e sim como uma referência
em relação ao conjunto temático a ser explorado. Com isso, a partir da base temática
e seus desdobramentos que permeiam os contextos de violências, foi elaborado as
entrevistas abertas, semi-estruturadas e estruturadas, utilizadas no Projeto Contacto.
b) idade;
d) tipificação criminal;
f) campos de vulnerabilidade;
Desta forma para o acesso ao relato livre da criança e dos demais atuantes no
inquérito, como: cuidadora, comunicante, testemunha (se necessário) e suspeito
apontamos a seguinte sequência:
i. Entrevista aberta;
271
c) Entrevista Contingenciada Investigativa com o suspeito, caso compareça,
por meio de:
i. Entrevista aberta;
Na expansão, frente aos dados levantados, faz-se análise dos dados, por meio do
relatório analítico: Indicadores Analíticos. Assim, realiza-se a análise
combinatóriacxxviii, não só em relação a quantas ordenações são possíveis de serem
realizadas com os indicadores, mas especialmente que tipo de ordenação se faz com
os dados obtidos por meio dos relatos dos envolvidos. Os indicadores são conceitos
que caracterizam o relato, de acordo com a configuração legal do crime de estupro de
vulnerável. Esta caracterização se refere as: características do fato, a quem se fala, do
que se fala e o que se fala em relação ao desempenho/ação da pessoa no inquérito.
Nenhum dado é analisado isoladamente, realiza-se a análise combinatória, com a
finalidade de obter o significado amplo de um determinado fato. Assim, ao realizar a
combinação, efetiva-se o agrupamento de determinados indicadores, que resulta na
composição de um fato. Esta composição ao ser agrupada, se encontra sob certas
condições, sendo que estas condições ao serem analisadas, resulta em um simples
arranjo de informações ou na composição de um delito. Desta forma, não basta
comunicar um crime, ele realmente deve ter ocorrido, para que seja confirmado como
um delito. Analisar um crime de estupro de vulnerável se distancia muito da perícia
psicossocial da guarda de filhos, visto que, no crime, busca-se a ocorrência do fato
criminoso, e isto é muito preciso. O que facilita em alto grau o trabalho do perito.
272
funcional do comportamento verbal. Para isso é realizado a seguinte análise
organizacional:
1) Levantamento dos dados – Será realizado o levantamento dos dados por meio das
entrevistas e testagem.
1989; Steller & Boychuk, 1992; Steller & Koehnken, 1989), que faz parte de um
Declarações (Sporer, 1997; Ruby & Brigham, 1997); EASI–5 – Entrevista de Abuso
Sexual Infantil (Juárez, 2002), GEA-5 – Guia para Avaliação do Testemunho de Abuso
assessorado por Debra Poole, no Guia de Poole & Lamb (1998) e Análise funcional do
comportamento verbal.
serem realizadas com os indicadores, mas especialmente que tipo de ordenação se faz
relação ao fato;
273
4) Análise de Relato – comportamento intra e entre verbal dos atuantes, e em
periciado;
relação ao fato;
demanda do fato;
274
Na globalidade pericial da DPCA, respeita-se os quatro elementos essenciais que
configuram o campo da Avaliação Psicológica, com a finalidade de execução do
Laudo Psicológico, tais como: Objeto - fenômenos ou processos psicológicos; Objetivo
visado - diagnosticar, compreender, avaliar a ocorrência de determinadas condutas;
Campo Teórico - sistema conceitual e Método – forma como foi elaborado as etapas
periciais. Sendo que, estes são os fatores que oportunizam o acesso ao que se pretende
explorar (Cunha, Jurema Alcides e cols., 1993) no comportamento privado e público
do indivíduo, por meio dos instrumentos utilizados nas técnicas: Entrevista, Hora jogo
diagnóstica e Teste Rorschach (1927).
275
Princípio 1 - O objetivo da entrevista de investigação é a obtenção de informações
precisas, completas e que passe por análises aprofundadas, para que possam por sua
investigativas.
Principio 2 - Agir com equidade, por meio de uma entrevista planejada e com objetivos
com toda a investigação. Para isso, utiliza-se um planejamento claro, que possa
Principio 4 - As entrevistas devem conter uma ampla gama de questões a fim de obter
material que possa ajudar a elucidar uma solicitação investigativa com informações
não é o mesmo que provar um argumento. Isto significa que os entrevistadores possuem
uma ampla gama de questões, que apontem para o esclarecimento do fato demandado.
antecipada no contexto do fato, caso não ocorra e mesmo sob esta ocorrência, a
276
comunicantes, vítimas e suspeitos, só se obtém por entrevistas planejadas e com
objetivos concernentes ao fato demandado. Caso não ocorra, já é o dado a ser analisado.
o fato. Trata de uma atitude cuidadosa do entrevistador de não finalizar a entrevista por
Com isso o periciado, ao conferir que está sendo assistido na resolutividade de sua
demanda conflituosa, sente-se gratificado, ao ponto de elaborar também seus quesitos
ao perito. Pois, mesmo diante de exaustivos questionamentos, que é a condição para
o levantamento de informações detalhadas, este empenha-se de maneira cooperativa.
277
Então, a Entrevista Investigativa por ter na sua condição a proposição elucidativa de
conflitos e delitos, tem também no entrevistado a proposição colaborativa para que,
especialmente por meio de suas informações, obtenha-se o sucesso investigativo.
278
b) A segunda premissa refere-se à confiança interpessoal necessária
para que haja cedência à sugestão, ou seja, o entrevistado deve
acreditar que não há intenções do entrevistador, que estas são
legítimas e que não existem “armadilhas” no questionamento. Ou
seja, o que será dito, será relevante. Neste caso, destacamos a
proximidade afetiva relevante.
279
afirmou que, as pessoas com maior necessidade de se apresentarem como socialmente
aceites seriam mais suscetíveis.
Vários autores têm defendido que a repetição de perguntas sugestivas gera maior
sugestionabilidade principalmente entre as crianças mais novas, uma vez que estas
intuem que se o entrevistador está a repetir as questões é porque ainda não de-ram a
resposta certa (Moston, 1987).
Uma das conclusões essenciais e com forte evidência científica é que, de fato, as
entrevistas sugestivas aumentam o grau de sugestionabilidade das crianças (Cunha,
2010). Não menos importante será o fato de que, não só se verificam relatos distorcidos
e erros, como estas distorções e erros se referem tanto a eventos neutros e a detalhes
periféricos, como também a episódios significativos e a informações centrais, muitas
vezes envolvendo o próprio corpo (Bruck e Ceci, 2004; Peterson e Bell, 1996; Tobey e
Goodman, 1992).
280
se obter maior impacto na distorção dos relatos quando estão simultaneamente
presentes a tendência confirmatória do viés do entrevistador e de várias técnicas
sugestivas (Bruck e Ceci, 2004). Pois uma criança entrevistada por alguém que tenta
confirmar as suas crenças prévias, que é alvo de avaliações repetidas e que é alvo de
muitas técnicas sugestivas em simultâneo, cederá mais facilmente à sugestão (Bruck e
Ceci, 2004).
Neste momento a observação e análise do perito, tem atenção para a emergência vocal
e comportamentos não-verbais, correspondente à estímulos generalizados, que pode
ser mencionada ou operacionalizada, devido à sua própria força relativa, por
apresentar uma grande variedade de amostras arbitrárias de fala e comportamentos
não verbais (Skinner, 1936). Para a Hora Jogo Diagnóstica, Aberastury (1982) sugere:
massa de modelar, lápis, papel, desenho livre (Trinca, 1987), boneca e carrinho,
colocados em uma caixa sobre uma mesa, a disposição da criança. Arzeno (1995)
também sugere brinquedos como: xícaras, pires, índios, soldados, animais domésticos
e selvagens. Chazaud (1977) propõe que o material oferecido à criança seja o menos
estruturado possível, o mais indiferente, pois ressalta que, quanto mais impreciso for
o material, mais pessoal (“projeção”) e menos intencional ou banalizado será o
“propósito do jogo”, o brincar, (Winnicott, 1971) o que facilita o acesso mais real ao
que se busca. Sandler (1990) afirma que trata-se de um momento em que a criança
pode relatar situações vividas para expressar o que a ela aconteceu, servindo-se de
brinquedos ou explicando verbalmente experiências da escola ou de casa.
Com isso alguns aspectos são observados na Hora Jogo, em adequação com a idade
da criança: Linguagem, se o repertório vocal é rico e amplo ou reduzido, pronuncia
incorreta de determinadas sílabas ou ainda enfatizado e erotizado, estilo de linguagem
do repertório verbal, pausas verbais. Coordenação Motora, se mostra equilíbrio e
desenvoltura em sua locomoção no manejo do brinquedo. Atenção, se consegue se
concentrar ao escolher uma determinada atividade ou muda constantemente de
interesses. Modulação do Afeto, o tipo de vínculo que estabelece com o perito, frente
as perguntas, em situação de testagem e em momento lúdico. Apresentação do conflito:
Como define a situação problema? Demonstra angústia? Como resolve? Interrompe
de forma abrupta? Responde às perguntas? Traz o tema para a centralidade? Traz
temáticas complementares ao fato? Em momento lúdico e espontâneo, a criança
apresenta tactos em relação ao fato periciado?
281
atingem o objetivo investigativo de maneira muito eficiente (Santoantonio & Antunez,
2010; Villemor-Amaral, 2008)
282
ocorrer somente após um período considerável de tempo, como por exemplo, quando
temos dificuldade em recordar um nome. Por outro lado, pode ser tão forte que seja
evocado em praticamente qualquer ocasião, como quando mencionamos o nome de
uma pessoa favorita em todas as oportunidades. Uma ciência do comportamento
verbal deve lidar com as condições de latência da fala, sendo isso significativo ou não,
em um teste de organização pessoal do indivíduo (Skinner, 1936).
Este trabalho de experimental de Skinner de 1936, ‘The verbal summator and a method
for the study of latent speech Verbal para material e osçavan grandes forneceu ,cxxxi’
Behavior. Skinner (1936) afimava que uma formulação mais rigorosa está disponível
na terminologia do reflexo, e seria praticamente inacessível encontrar nas discussões
dos estudiosos da linguagem um material útil. Os estudos acessados por Skinner, no
artigo: ‘The verbal summator and a method for the study of latent speech’ foram:
4. Fletcher, H. (1929). Speech and hearing. New York: Van Nostrand. Pp. xd-331.
283
O conjunto A, chama-se domínio, e o conjunto B, contra-domínio, da função,
representado por f. Para cada x ∈ A, o único elemento y ∈ B associado a x, denomina
se imagem de x pela função fou o valor assumido pela função f no ponto x.
F: A →B,
em que, o domínio de f , representado por D(f), a imagem de x pela função f, por f(x) e
o conjunto {y = f ( x ), x ∈A }, chamado de conjunto imagem da função f, por Im(f). Uma
função f de A em B também pode ser indicada por��→ ��ou f: A → ��,em que, x ↦y=
f (x).
284
qual um único valor de y fica determinado diz-se que y é função da variável indepen
dente x" (Boyer, 1974). A função é assim representada: y=F(x). Estabelece-se nesta
noção de função uma relação entre variáveis dependente e independente, em que os
pontos ou valores das variáveis não podem mover-se de forma independente uns dos
outros (Boyer, 1974).
Micheletto (2000) informa que Skinner, em 1931, apresenta uma função matemática
para o reflexo: R = f (S,A), onde R é a resposta, S o estímulo e A é uma nova variável
que introduz na função para abordar as terceiras variáveis - drive, condicionamento,
emoção - responsáveis pela variabilidade do comportamento. Skinner afirma, em
1953, que a relação funcional "diz que eventos tendem a ocorrer ao mesmo tempo em
uma certa ordem..." (p. 23). Entretanto, ao se referir à análise do comportamento, em
1989, Skinner afirma:
285
embora original do ponto de vista epistemológico, Skinner admite, a adesão a
princípios do operacionismo do físico Percy Williams Bridgman e do positivismo de
Ernst Mach, físico e filósofo austríaco. Quanto ao operacionismo, Skinner, em suas
últimas obras, aponta limitações e indique a necessidade de uma análise funcional do
comportamento verbal do cientista Bridgman. (Skinner, 1931/1961, in Tourinho,
1999):
Leme, Bolsoni-Silva e Carrara (2009), explica que, a partir de 1950, alguns estudos
(Goldiamond, 1974/2002; Kanfer & Saslow, 1976; Marçal, 2005; Mace, 1994; Meyer,
1997; Sturmey, 1996; Tourinho, 1995) realizaram uma investigação conceitual a
respeito da análise funcional, com a finalidade clínica e fora do laboratório. Sturmey
(1996) explica que na análise funcional comportamental descritiva, não há manipula
ção direta das variáveis, mas pode ocorrer a análise das contingências, de
reforçamento ou punição, que mantêm os comportamentos e a operacionalização dos
comportamentos-alvo que devem ser descritos e agrupados em classes de respostas,
ou seja, comportamentos que possuem a mesma função (in Leme, Bolsoni-Silva, e
Carrara, 2009).
Meyer, 1997; Moroz e cols., 2005; Simonassi e cols., 2001 e Tourinho, 1995, concordam
que o contexto social traz muita complexidade à descrição e à análise do
comportamento verbal. Para Skinner (1945), ainda que os eventos públicos e privados
tenham a mesma natureza, dos fenômenos físicos, não há acesso direto para o privado,
a não ser pelo que as pessoas dizem que pensam (in Leme, Bolsoni-Silva, e Carrara,
2009), dizem (escrevem, gesticulam, expressam facialmente, vocalizam) que sentem e
ou dizem que fazem. Porém, esses relatos podem ser imprecisos e, por vezes,
incoerentes em relação ao que realmente ocorre no cotidiano das pessoas (Leme,
Bolsoni-Silva, e Carrara, 2009).
Esta sim, é a nossa investigação, buscar a coerência dos relatos verbais em relação
àquilo que ocorre em interações de conteúdo sexual de um adulto com uma criança
quando as comunicantes realizam a noticia crime na delegacia.
286
Mesmo que, instrumentos, como questionários e entrevistas, que investigam, por
meio dos relatos, as ações, os pensamentos e os sentimentos das pessoas, estes têm
suas limitações na descrição das contingências reais (Leme, Bolsoni-Silva, e Carrara,
2009). Carrara (2008; in Leme, Bolsoni-Silva, e Carrara, 2009) adverte que estes
instrumentos não devem ser descartados na coleta de dados dos relatos, mas
principalmente associados com um procedimento de observação do comportamento,
que constitui evidente prioridade metodológica do Behaviorismo Radical.
Déficits comportamentais podem ser definidos como uma classe de respostas que
deixa de ocorrer com suficiente frequência, com intensidade adequada e da maneira
apropriada ou sob condições socialmente previstas. Já os excessos comportamentais
são considerados enquanto classe de respostas que ocorre em excesso na frequência,
intensidade e duração, ou sob condições em que a frequência aceita é próxima de zero.
Por fim, as reservas comportamentais são uma classe de respostas não problemáticas,
ou seja, são respostas socialmente esperadas que podem ser usadas para o
desenvolvimento de novos repertórios no indivíduo. Em seguida, são averiguadas
para cada uma das variáveis as situações em que elas ocorrem, as consequências e as
possíveis mudanças que ocorreriam na vida do indivíduo, caso a terapia tivesse ou
não sucessos. Autores procuram investigar, além dos comportamentos-problema, a
motivação do cliente, o comportamento de autocontrole, os relacionamentos sociais e
o ambiente sócio-físico-cultural (Kanfer e Saslow, 1976).
287
equação (o estímulo). A noção de causação aqui implicada é do tipo mecânica e será
abandonada por Skinner à medida que o modelo de seleção por conseqüências vai
sendo admitido como modelo causal apropriado para a interpretação do fenômeno
comportamental (cf. Micheletto, 1995). A análise estará voltada para o reconhecimento
da múltipla e complexa rede de determinações de instâncias de comportamento,
representada pela ação em diferentes níveis (filogênese, ontogênese e cultura) das
conseqüências do comportamento sobre a probabilidade de respostas futuras da
mesma classe. O princípio selecionista apresenta-se como um princípio explicativo
derivado da investigação do comportamento operante. Chiesa (1992) informa que, a
seleção como modelo causal não é uma suposição; ela é empiricamente validada em
experimentos de condicionamento operante, que demonstram a modelagem e
manutenção de comportamentos complexos por contingências complexas. Na ciência
skinneriana, a busca de relações funcionais estará sempre associada ao
reconhecimento da multideterminação do fenômeno comportamental e à seleção de
um recorte específico, o das relações do organismo como um todo (Neno, 2003).
Desta forma, esta pesquisa seguirá este princípio, associar os instrumentos: Entrevista
Contingenciada, Teste Rorschach e Hora Jogo Diagnóstica, que coletam dados a partir
do relato verbal e técnicas de observação, para ampliar assim, segundo Carrara (2008;
in Leme, Bolsoni-Silva, e Carrara, 2009), a confiabilidade dos registros. Os indicadores,
são os conceitos compostos de características, que realizam o desenho do fato. Os
indicadores, são extraídos destes relatos, mais especificamente do operante verbal,
tacto, correspondente ao evento: interação de conteúdo sexual de um adulto com uma
criança.
288
vimos, um efeito sobre o meio, o que por sua vez tem um efeito de retorno sobre o
organismo (comportamento operante). A descrição de um exemplo de
comportamento não requer a descrição das variáveis relacionadas ou de uma relação
funcional. O termo operante, por outro lado, está ligado com a previsão e controle de
um tipo de comportamento. Um operante especifíca pelo menos uma relação com uma
variável (Skinner, 1978 - pg. 36 e 37).
Assim, existe um modus operandi (Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter, 1999), por que
a natureza do fato determina um padrão operandi, em que o desempenho do ofensor é
moldado à natureza da especificidade que uma ‘interação de conteúdo sexual ’exige.
Esta natureza é binária, ocorre ou não ocorre.
Então, para a análise de contexto e análise do modus operandi (Lanning (1991, 2001),
Salfati e Canter, 1999) do suspeito, faz-se a identificação de características, que
estabelecem uma relação funcional entre si, em que se delineia uma linha de base que
está na própria história de vida dos indivíduos e que aponta para uma probabilidade
de contexto que eleva ou não a ocorrência do fato investigado. Em Todorov, J. C. (1991)
uma contingência estabelece uma relação entre eventos ambientais ou entre
comportamento e eventos ambientais na forma condicional “se..., então...”. Na análise
experimental do comportamento o pesquisador dispõe contingências e as altera como
sua principal variável independente. Ao registrar seu efeito sobre o comportamento
observado, o pesquisador busca relações funcionais (cf., Todorov, 1989). As
contingências mais simples especificam relações entre estímulos (contingências SS) ou
entre respostas e estímulos (contingências RS). Nas contingências o experimentador
controla a apresentação de estímulos; nas contingências apenas especifica que, se e
quando uma resposta ocorrer, um estímulo será apresentado. “Se uma resposta R
ocorrer na presença de um estímulo S2, então um estímulo S1 será apresentado”.
Todorov, J. C. (1991), explica que contingências tríplices, como o nome indica,
envolvem três termos, dos quais dois referem-se a estímulos e o terceiro à resposta. O
enunciado da contingência implica na inexistência da contingência quando S2 não está
presente: na ausência de S2, a resposta nunca será seguida por apresentações do
estímulo S1 a exposição continuada a esse tipo de contingência resulta no controle de
ocorrências da resposta pela presença do estímulo S2 (ver Todorov, 1985). Todorov, J.
C. (1991) alerta que as regras especificadas pelo experimentador na forma de
contingências podem ser, e frequentemente o são, extremamente complexas. Neste
289
caso Todorov, J. C. (1991) adverte que as contingências são utilizadas pelo pesquisador
na busca de relações funcionais e que essas relações funcionais são procuradas dentro
de um contexto teórico determinado (Todorov, 1989). Assim, a maior ou menor
complexidade de uma contingência será ditada pelo problema específico estudado
pelo pesquisador.
Tal como explicitado no modelo de tríplice contingência, sempre haverá uma relação
entre resposta e conseqüência e entre resposta e antecedente (Hübner, 2006).
Destacamos que, com base nestas contingências é realizado a análise funcional do
comportamento verbal.
290
desempenho dos organismos (Matos, 1999b), ou seja, estudar o comportar-se dentro
de contextos.
O modus operandi cxxxiii de ofensores sexuais, Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter
(1999). ;
rotina esperada;
Adolfi, 1984) para a ocorrência da interação de conteúdo sexual entre um adulto e uma
criança/adolescente;
291
e) O efeito (Baum, 1999) da interação de conteúdo sexual na criança, na
f) Análise das fases esperada na interação de conteúdo sexual, pré e pós fato,
A ‘compreensão ’do comportamento verbal deve ser avaliada pela extensão com que
se pode prever casos específicos e, também, produzir ou controlar tal comportamento
quando se altera as condições sob as quais ocorreram (Skinner, 1957/1992). Com isso
o comportamento verbal, como um operante, deve ser analisado enquanto relação, e
a contingência tríplice é um recurso de análise para se estudar esta relação, que é a
interdependência entre eventos. A contingência tríplice, aponta a relação de
dependência existente entre os termos:
qual uma dada resposta produzirá conseqüências reforçadoras e na ausência da qual não
b) a resposta;
Skinner faz uma distinção entre operante e resposta (cf. Skinner, 1969; 1957/1992;
1989) e afirma, que “um operante é uma classe, da qual uma resposta é um caso ou
membro” (Skinner, 1969, p.131). Sustenta também que o que se reforça, no sentido de
fortalecer, é o operante, com a probabilidade de que respostas similares ocorram no
futuro. Com isso o que temos é que, Respostas não são nunca exatamente iguais, mas
292
mudanças ordenadas aparecem se contarmos apenas aquelas instâncias que tem uma
propriedade definidora, como no nosso caso de análise, a interação de conteúdo sexual.
Segundo Skinner (1935/1961b): “Deve haver propriedades definidoras tanto do lado
do estímulo quanto da reposta; caso contrário, nossas classes não terão referência
necessária aos aspectos reais do comportamento” (p. 355, itálico adicionado).
Um operante é uma classe de respostas, não uma instância, mas é também uma
probabilidade (Skinner, 1989, p.36). Esta distinção é importante porque Skinner toma
o operante verbal como unidade de análise para o comportamento verbal (Skinner,
1957/1992). Assim sendo, o foco de suas análises serão relações e não respostas
isoladas. Com isso Skinner alerta: “Os eventos que afetam um organismo devem ser
passíveis de descrição na linguagem da ciência física” (1953/1965, p. 36); e “Uma
análise experimental descreve o estímulo na linguagem da física” (1966b, p. 215). En
tão ao tratarmos de classes de eventos comportamentais não transgredimos o
relacionismo e nem deixamos de lado as propriedades físicas que os tornam “reais”.
A questão é relativamente simples: quando descrevemos uma contingência
utilizamos a linguagem fisicalista substancial para caracterizar os termos envolvidos.
Então não basta observar a forma (topografia) da resposta, mas também a função da
mesma: duas respostas podem ter uma topografia similar mas estar sob controle de
variáveis diferentes, não podendo ser consideradas membros de um mesmo operante.
Para Skinner, o comportamento verbal tem tantas “propriedades dinâmicas e
topográficas que um tratamento especial é justificado e, na verdade, exigido”
(1957/1992, p.2).
293
ocorrem (assim como também, provavelmente, outras formas de comportamento,
que, no entanto, ocorrem também em outros ambientes, ao contrário do verbal).
Esta relação é por sua vez controlada por um contexto social mais amplo, no qual se
insere uma parte da história passada dos dois atores, a qual é compartilhada por
ambos (e onde têm papel importante os operantes discriminativos verbais). Estas
verbalizações, atuando agora como discriminativos para o ouvinte, afetam o
comportamento deste. Estes efeitos sobre o comportamento do ouvinte atuam
seletivamente sobre aquela classe de operante verbais do emitente, modificando-a.
Como se depreende desta análise, não existem elementos topográficos na definição do
comportamento verbal, ele é interação pura.
Outro esclarecimento importante é que, para Skinner, “falante” refere-se àquele que
se engaja em, ou que executa, um comportamento verbal; sendo assim, o termo não
está limitado a vocalizações (como se poderia interpretar pela expressão “falante”). Do
mesmo modo, “ouvinte” não se refere apenas àquele que responde aos estímulos
auditivos emitidos por um falante, mas àquele que responde a qualquer outra
topografia empregada pelo falante, como a escrita ou a gestual. O ouvinte pode ser
especialmente treinado para reagir ao comportamento do falante (Skinner,
1957/1992).
294
A perícia psicológica forense desenvolvida em departamentos policiais é de extrema
importância nos casos de suposta violência sexual que envolve crianças e
adolescentes. Tais investigações, presididas pelo delegado de polícia cxxxiv, com a
participação de agentes, escrivães e o corpo técnico requisitado pelo mesmo, se
configuram de uma equipe multiprofissional, em que, ao atuarem nestes casos,
essencialmente se constituirá em uma composição assimétrica, adulto-criança.
Esta composição, se dará, seja pelos adultos profissionais que atuam na investigação,
seja pelo adulto que representa a criança, na pessoa do comunicante, seja pelo adulto
que supostamente se envolveu em interação de conteúdo sexual com a criança. Com
isso frente a estas composições em que claramente a criança é a parte hipossuficiente
quanto ao entendimento amplo do que está acontecendo, o profissional psicólogo
possui a ação mais técnica frente ao campo psíquico da criança e para assim, acessar
cuidadosamente a ocorrência o não do fato denunciado. Pois, se algo ocorreu, é na
criança que se encontrará a sua experiência vivida em relação ao fato investigado.
Este tratamento especial aos relatos, vai além da análise de falas, faz-se a análise de
contingências dos comportamentos verbais, por meio da análise funcional, com a
possibilidade de obter informações de forma ordenada. Busca-se informações
correspondentes ou não, quanto a descrição dos fatos, o que aponta para
correspondentes verbais, ou manejo das informações em relação ao fato periciado. Em
última análise, procura-se a identificação da qualidade verbal, que retrata a coerência
e lógica verbal, em relação ao que é falado, corroborado a todos os dados identificados
no inquérito policial e situação pericial.
295
Na perícia psicológica, nos casos de suposta violência sexual de um adulto em
detrimento de uma criança, considera-se principalmente a qualidade do repertório
verbal emitido pela suposta vítima (crianças), em que considera-se a qualidade da
emissão verbal em detrimento da quantidade. Sendo que, a qualidade verbal é aquilo
que mais aproxima o relato do sujeito à existência do fato relatado, e que pode ser
constatado principalmente por meio da sequência das perguntas do perito, que no ato
de perguntar evoca como resultado do indivíduo, a resposta, que é a combinação entre
o comportamento vivenciado pelo indivíduo e o evento periciado.
Então, quando o perito realiza a pergunta, este analisa os correspondentes entre e intra
verbais, que aponta a coerência comportamental da pessoa frente as perguntas e os
testes padronizados (estímulos). A análise feita do comportamento verbal, ocorre com
o diagnóstico/avaliação dos relatos verbais que especificam e apontam:
Com isso, a perícia, que em seu fim é a análise do comportamento verbal em relação
ao não verbal, se posta frente a algumas condições, tais como:
a) delineamento de contexto;
b) coerência sintomatológica;
f) centralidade temática;
g) sequenciação lógica
296
l) relatos com correspondentes elevados, em relação a sequência das perguntas.
Esta avaliação e análise de relatos tem inspiração no SVA – Statement Validity Analysis
(Hershkowitz, Fisher, et al., 2007), que é um método de enfoque em indicadores que
analisam, por meio de critérios conceituais, o comportamento dos envolvidos em
relação a ocorrência ou não de situações. Estes critérios se compõem de conteúdos e
características, que ao se combinarem e complementarem, apontam para um episódio
de interação sexual.
297
Cada indicador implica em verificar esssencialmente, se o comportamento verbal dos
envolvidos correspondem as reações emocionais, comportamentais e fisiológicas da
criança, que são similares às reações de crianças com histórico de violência sexual
comprovado (Duarte & Arboleda, 2004). Tal afirmativa se aplica também a
cuidadora/ comunicante e suspeito, que possuem reações muito particulares e
sensíveis quando envolvidos em contextos de violência sexual. Tal como, o modus ope
randi do suspeito e a coerência comportamental da cuidadora em relação ao choque
frente a revelação da criança.
As temáticas não variam de acordo com o periciado, mas sim de acordo com
indicadores que compõem eventos de: ‘Interação de Conteúdo Sexual de um adulto
com uma criança’. No caso dos dados apresentados pelos periciados, estes são
analisados sob um spectrum de variabilidade, que correspondem ou não as
características do evento investigado. Ou seja, existe uma previsibilidade
comportamental frente a cada temática, e que ao extrapolar tal previsibilidade no spec
trum, está posto então, outra condição. Então com isso, passa para comportamentos
que se compõem de outras características, e que por sua vez, alteram sua definição.
Estes indicadores são combinados e complementares entre si, e têm como função
identificar o diagnóstico descritivo da situação conflituosa com maior precisão. Para
elevar a precisão diagnóstica, corrobora-se os dados identificados à composição
teórica e a técnicas psicológicas periciais, tais como: entrevistas e testes. Trata-se
especificamente de uma investigação e análise detalhada a respeito da suspeita de
interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança, por meio da análise
funcional do comportamento verbal.
298
Hora Jogo Diagnóstica, características da etapa do desenvolvimento e referencial
teórico correspondente a crianças expostas a interação de conteúdo sexual.
Esclarecemos que para cada indicador existe os subitens que o compõe e o caracteriza.
Conforme especificaremos, será apresentado o panorama geral do que se é avaliado.
299
comportamento operante discriminado, assim como reage a qualquer característica de
seu meio (Skinner, 1978, p. 207).
b) Testagem;
d) Critérios teóricos.
Para a realização da perícia, utiliza-se mais de uma técnica de avaliação, para oferecer
o benefício de uma amostragem ampla e variada da interação do indivíduo consigo
mesmo, e do indivíduo com o ambiente, sendo este ambiente também, o perito e o
próprio indivíduo.
300
b) a interação em si, o momento em que a díade ofensor-vítima se interage com
características sexuais, que pode ocorrer, desde comandos, olhar do ofensor,
apresentação de vídeos, áudios, fotos, até a conjunção carnal;
Para cada etapa existe, o comportar-se dentro de contextos (Matos, 1999), que são
contingências específicas analisadas por meio do operante verbal tacto. Skinner (1938),
esclarece que:
Matos (1999) elucida que “mundo externo”, é aquilo que não é a própria ação e que
ambiente, dentro ou fora da pele, é externo à ação, não ao organismo. É o conjunto de
condições e ou circunstâncias que afetam o comportar-se (Smith, 1983).
Comportamento é interação, interação é entre Organismo e Ambiente,
comportamento não “mantém” uma relação de interação (Matos, 1999).
O que o behaviorista estuda são classes de eventos, o “abrir” por exemplo, ocorre
dentro de um conjunto de circunstâncias, como um evento interativo. E para
conceituar “abrir”, o pesquisador analisa o contexto para identificar as consequências
do ato e assim conceituá-lo. O behaviorista radical, define como classe, exatamente
pela natureza da mudança que produzem, por aquilo que caracteriza o seu término, e
o seu fim, este efeito é final, no sentido de último, isto é, aquilo que encerra ou define
o encerramento da ação, não no sentido de fim a ser atingido (Matos, 1999).
301
representam interações Organismo-Ambiente; e (b) são categorias funcionais de
análise.
302
topografia de resposta que não consiste simplesmente na emissão de uma
forma acabada e bem definida de resposta. O resultado é a variabilidade da
forma da resposta em função da sua força, e podemos falar dessa
variabilidade também em termos de classes. A variabilidade de respostas
consiste, portanto, no distanciamento topográfico da resposta com relação à
especificação da classe original e correspondente aproximação, em termos da
sua topografia, de outras classes de respostas concebíveis em um mesmo
repertório.”
Segundo Ferreira e De Rose (2010), respostas fortes são aquelas com alta probabilidade
de ocorrência e respostas fracas, com baixa probabilidade de ocorrência (Skinner,
1953b/1965, p. 65, 71, 77). Ferreira e De Rose (2010) expicam que para Skinner (1953),
a definição de força se refere ao efeito das variáveis independentes sobre a
probabilidade de resposta, que é simplesmente a inferência do status de uma
determinada relação funcional, realizada em uma terminologia fisicalista a partir de
eventos observáveis. Em que nada tem a ver com magnitiude da resposta ou
intensidade de estímulos. E afirmam que, segundo Skinner (1953) por conta de todas
as contingências que envolvem as ações de um determinado organismo, há uma
complexidade de respostas disponíveis em seu repertório, cada qual com sua força
correspondente.
Ferreira & De Rose (2010), explicam que no geral, há classes de respostas operantes
mais fortes do que outras em um dado momento de existência do organismo. E
acrescentam conforme Skinner (1950), que na medida em que um organismo pode
apresentar simultaneamente apenas um número limitado de respostas, temos que, em
sua concepção a força de respostas é necessariamente uma noção a respeito da
relatividade de uma resposta com relação a outras no mesmo repertório, no que
concerne ao combate pelas suas respectivas ocorrências.
303
e simultânea em todo o repertório do organismo é inconcebível. Além disso,
para Skinner o fortalecimento de uma resposta é sempre dependente do
enfraquecimento concomitante de pelo menos outra resposta, e vice-versa.
Podemos, pelo menos metaforicamente, falar de uma precisa rede de
influências fortalecedoras e enfraquecedoras” (Ferreira e De Rose, 2010).
O comportamento é fluido, é uma atividade contínua e coerente, embora ele possa ser
analisado em partes, é necessário que se reconheça sua natureza contínua (Skinner,
1953). E o fato do repertório estar constantemente em interação com o ambiente, é
natural que a força de uma resposta esteja sempre em plena mudança (Ferreira e De
Rose, 2010).
304
comportamento. É preciso, portanto, encontrar uma maneira de restituir o
fluxo comportamental (Lopes, 2008)”
305
Dessa forma, eventos, estados e processos, podem ser considerados como diferentes
níveis de análise da dinâmica da relação de coordenação sensório-motora do
organismo com o ambiente, sendo a relação de interdependência o que caracteriza o
comportamento (Lopes, 2008).
Ferreira e De Rose (2010), conforme Skinner (1957, p. 82, p. 227; 1953b/1965, p. 205),
retratam o estímulo discriminativo, outro importante tipo de variável independente
do comportamento operante, que modifica a probabilidade de ocorrência de formas
de respostas e, portanto, as forças das respostas, atuam como fonte de forças.
Ferreira e De Rose (2010) relatam que é raro Skinner tratar dos estímulos
discriminativos como fontes de controle enfraquecedor. O uso skinneriano mais
comum é o de estímulo discriminativo como fortalecedor de respostas, ao invés de
enfraquecedor. É por isso que adotaremos, efetivamente, o uso skinneriano do termo
‘estímulo discriminativo’, referindo-nos ao primeiro termo da contingência,
unicamente como fortalecedor.
306
discriminativo fortalece as respostas pertencentes à classe, e tem essa função por
compartilhar propriedades, com a classe de estímulos que mantém uma relação
funcional com a classe de respostas.
307
Outra variável relevante junto ao estímulo discriminativo, são as variáveis que
modificam a força de grupo de respostas: a emoção e a motivação (Skinner, 1938/1991,
pp. 408-409; 1953a). Estas variáveis alteram simultaneamente a probabilidade de
ocorrência de diferentes classes operantes que correspondem, ao mesmo tipo de
conseqüências reforçadoras (Skinner, 1953b/1965, p. 143; 1957, p. 32, pp. 212-218). A
motivação e a emoção, simplesmente alteram o potencial fortalecedor do grupo de
estímulos discriminativos a elas relacionadas (Ferreira e De Rose, 2010). Por sua vez,
as variáveis motivacionais (emoção e motivação), já se fazem presentes pelo tipo de
determinação que desempenha o estímulo reforçador para o repertório do indivíduo
como um todo, em termos de grupos, e não de classes, de respostas, (Skinner,
1938/1991, p. 408; 1953b/1965, p. 68) sendo decisivas no fortalecimento de uma
resposta.
E para isso, o perito deve se ater aos tactos emitidos pelo periciado. Para Skinner
(1957), o tacto é um operante verbal em que, o primeiro termo da contingência
operante, o estímulo discriminativo, é não verbal. Assim, são os estímulos discrimina
tivos não-verbais que devem comparecem nos relatos, que apontam para o perito qual
o estimulo discriminativo que fortaleceu a probabilidade de ocorrência da resposta
‘comunicação do crime’.
É desta forma que o perito extrai os tactos para a análise do que se pericia, quando se
identifica nos relatos: o conteúdo (comportamento não verbal) dos estímulos
discriminativos que estabelece a relação de interdependência, com as formas de
respostas também apresentadas nos relatos. As respostas (ações) devem guardar uma
relação de interdependência com os estímulos discriminativos nos relatos. O sentido
das respostas (ações) se encontra em identificar qual foi o estimulo discrimintativo
dentro dos tactos descritos, que resultou na ‘comunicação do crime’. O locus de ação
da contingência é, efetivamente, a força da resposta (Skinner, 1947/1999, p. 354; 1987,
p. 27), que foi selecionada.
308
operante coloca-se, assim, a disposição dos efeitos do estímulo reforçador (Ferreira e
De Rose, 2010). O estímulo reforçador estabelece a força de uma relação, e o estímulo
discriminativo a desencadeia, fortalecendo imediatamente a resposta (Skinner,
1938/1991, p. 228). Distinguir o papel de cada um desses termos nas relações presentes
na contingência de reforçamento é essencial.
Santos e Andery (2012) explicam que comportamento intraverbal foi definido por
Skinner (1957), como um operante verbal no qual a resposta está sob controle de estí
mulo discriminativo verbal sem correspondência ponto a ponto entre estímulo e
resposta. O comportamento intraverbal, se caracterizam por contingências envolvidas
no comportamento do falante em que as respostas do falante são controladas por
estímulos verbais, e as relações entre estímulo antecedente verbal e resposta não
seriam de correspondência ponto-a-ponto. Correspondência ponto-a-ponto, são
relações nas quais partes específicas (e delimitáveis) do estímulo verbal controlariam
a forma (a topografia) de partes específicas (e identificáveis) da resposta verbal. Desta
forma, quando a resposta verbal não tem topografia que guarda correspondência
ponto-a-ponto com o estímulo que a evoca, é chamado de comportamento intraverbal.
309
Borloti (2004) alerta que, uma classe funcional de operantes é definida pela observação
do que os operantes fazem e não apenas pela descrição de sua composição ou
aparência (Baum, 1999). Esse uso de termos é válido também para os operantes
verbais: classes de ações (eventos ou propriedades de eventos) verbais que produzem
os mesmos efeitos sobre o ouvinte (Borloti (2004). Esta é a necessidade de discriminar
propriedades específicas nos relatos, por meio do comportamento verbal, em relação
a: seu estímulo discriminativo antecedente, sua audiência e dos estímulos reforçado
res providos por ela (Borloti, 2004). É preciso levar em conta o comportamento do
falante e do ouvinte, o efeito do repertório verbal no ouvinte e os diversos aspectos do
ambiente específico (físico e social) com os quais o comportamento mantém conexão
(Barros, 2003). Barros (2003) alerta que, ao analisarmos repertórios verbais, é preciso
levar ao extremo a idéia de que eles não têm uma topografia a ser levada em conta na
sua definição e que o importante é o efeito que produzem no ouvinte e,
conseqüentemente, no ambiente social e no ambiente físico. Barros (2003) esclarece:
Segundo Catania (1998) essas unidades funcionais sempre envolvem palavras, e seus
determinantes devem ser buscados nas interações ou relações verbais entre falantes,
ouvintes e contextos do ambiente físico e social. Por exemplo, o termo tacto captura o
papel do estímulo discriminativo no controle da resposta verbal, não tateamos
indiscriminadamente, tateamos algumas coisas apenas em algumas circunstâncias
(Catania,1998).
310
‘criança ficar sozinha ’e ‘suspeito abusar da criança’ é um intraverbal da comunicante
por aproximar estas duas situações. Ou seja, a relação entre um estímulo e uma
resposta é arbitrária; não há nenhuma correspondência sistemática entre eles e
qualquer dado estímulo verbal pode ocasionar uma variedade de respostas diferentes.
Assim, as respostas verbais que surgem, já é a seleção da fonte de força do repertório
do falante, o que ocasiona certas respostas verbais e não outras. Sendo que, estas que
surgem, se encontram com a probabilidade relativamente alta no repertório verbal do
falante.
311
em termos de suas relações com o inferior. A noção de um eu interior constitui
um esforço para representar o fato de que, quando o comportamento é
composto dessa forma, o sistema superior parece guiar ou alterar o inferior.
Mas o sistema de controle também é em si mesmo comportamento. O falante
pode saber o que está dizendo no sentido de que conhece qualquer parte ou
traço do ambiente. Parte do seu conhecimento (o 'conhecido') serve como variável
no controle das outras partes ('conhecendo'). Tais 'atitudes propositivas', como a
asserção, a negação, a quantificação, o plano obtido por meio da revisão, da
rejeição ou da emissão de respostas, a geração de certa quantidade de compor
tamento verbal apenas enquanto tal e as manipulações altamente complexas
do pensamento verbal, todas elas, (...), podem ser analisadas em termos de
comportamento, que é evocado por outro com-portamento do falante e atua
sobre ele (Skinner, 1957, grifo meu).”
Como ocorre com os mandos e tatos, os controles sobre os autoclíticos podem ser sutis
gerando classificações que parecem ambíguas (Borloti, 2004). Em situação pericial
temos também os falantes que querem se passar por ouvintes, que não checam se ouvinte
está ouvindo, mas demonstram estar sob controle de ‘manipular o perito’. E desempenham
com frequência, frente as perguntas periciais, nas suas respostas verbais: não sei,
esqueci e ‘ficar em silêncio’, o que neste caso descreve o estado de força forte para a
emissão de operantes verbais, visto que o falante tem conhecimento do que se fala
naquele contexto. Ao passo que, outra relação de controle semelhante, e que pode
indicar fraqueza em relação ao estado de força dos operantes verbais, são as unidades,
nos exemplos de Skinner (1957):
“Julgo, Calculo, Creio, Imagino e Suponho, todas indicam que a resposta que
se seguirá baseia-se numa estimulação insuficiente ou foi pobremente
condicionada. Não posso dizer, Hesito dizer, Desejo acrescentar sugerem
outras fontes de fraqueza. Proponho, Sugiro, Suponho revelam a natureza
experimental da resposta que se segue (p. 315).”
Porém no caso de ambientes periciais, estas unidades podem apresentar estado de força
de emissão forte de operantes verbais, em que diante de estímulos discriminativos
não-verbais a serem tateados, ou unidades verbais a serem combinados em cadeias
intraverbais convincentes, este exibe tais unidades, para se esquivar dos tactos que
tem para emitir.
Isto parece indicar que o que está sendo dito, é dito pelo falante, para antecipar o
comportamento do ouvinte ou indicar que o que está sendo dito seja aceito pelo
ouvinte ou pelas pessoas em geral (Borloti, 2004). Pois, ao variar entonações, o falante
pode efetuar a distorção desejada:
312
modificado por variáveis de audiência e por conseqüências, mas essas
variáveis não definem o tatear [...] mas toda vez que o ambiente ocasiona o
que dizemos, o controle de estímulo desempenha um papel em nosso
comportamento verbal (Catania, 1998).”
Segundo Barros (2003) com exceção do mando, que é reforçado especificamente pelo
objeto ou acontecimento especificado no mando (“Traga água” é reforçado pela água
trazida por alguém), todos os demais são mantidos por reforço generalizado. Mandos
explícitos incluem pedidos, ordens e conselhos (Borloti, 2004). Nos mandos disfarçados,
aparentemente a resposta verbal é um tacto; mas o efeito que pode ter sobre o ouvinte
é de um mando. O reforço específico ou não generalizado inclui a obtenção de um
objeto, por exemplo, mas inclui também outros efeitos sobre o ouvinte, tais como: a
compreensão, a crença, a informação e a emoção (Borloti, 2004). Caso seja este o
objetivo do falante sobre o perito, temos uma condição específica do falante, em que
o periciado precisa convencer uma informação ao perito e não apenas informar a
respeito de um estímulo não-verbal: ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com
uma criança’. Esta visão contextualística informa que a classificação efetiva de um
operante verbal deve observar as circunstâncias sob as quais ele é emitido.
O significado, ou a função da palavra, está nas circunstâncias atuais que controlam a
resposta (Barros, 2003).
Segundo Catania (1998), a extensão do tato ocorre quando novas palavras são
formadas pela combinação de outras já existentes. Os vocabulários mudam com as
mudanças ambientais que são importantes para os falantes, a questão é que o tatear
não é definido por partes da fala nem por outras categorias lingüísticas; tatear é um
tipo de comportamento (Catania, 1998). O falante possui tatos privados que não pode
313
revelar em situação pericial, e assim passa a emitir tactos extensos, o que se
configuram de contingências que não estabelecem relações de interdependência entre
o estímulo discriminativo que este apresenta e a resposta ‘comunicar crime’, visto que
este está sob controle do estímulo reforçador ‘punir suspeito’.
Ou seja, o tacto, entra em contato com o mundo físico e é controlado por estímulo
discriminativo não verbal e sua conseqüência é um reforço generalizado. Avalia-se o
comportamento verbal que se refere a eventos, ou seja, a comportamentos não
verbais. As pessoas necessariamente devem emitir tactos a respeito do
comportamento não-verbal
314
têm como finalidade, fornecer condições para a análise funcional do comportamento
verbal. Por sua vez, se realiza a análise dos correspondentes verbais intra e entre
sujeitos, na situação pericial, em relação aos depoimentos e documentos no inquérito
policial. Conforme Todorov, J. C., & Henriques, M. B. (2015):
315
primeira não mais se fala do comportamento humano em termos de agência, pois não
mais é necessário falar em forças internas ou externas que causam uma ação; ação é
uma propriedade do organismo vivo. Do mesmo modo, o reflexo não explica como
uma causa/causa uma reação; simplesmente descreve que mudanças ocorrem num e
noutro lado da relação funcional (Matos, 1999).
Vejamos quais são os passos para chegarmos a essa transformação (Matos, 1999):
especificação, por exemplo, a especificação da freqüência com que este efeito ocorre,
identificação da situação subseqüente deve distinguir quais eventos nessa situação são
especialmente pela coerência intra e entre verbal, corroboradas por meio das análises
316
5) A produção controlada desses efeitos predizíveis (demonstração da
Outra vantagem de análises funcionais é que elas podem ser realizadas a longo prazo,
isto é, entre eventos que estão separados por um intervalo de tempo entre si. Uma
determinada variável ambiental pode não estar presente no momento em que ocorreu
uma mudança comportamental e mesmo assim estar relacionada com esta mudança.
Análises funcionais, por não estarem fundamentadas em aspectos estruturais,
permitem uma explicação histórica, e protegem o analista do comportamento de
conceitos mediacionistas como memória, informação, trauma, decodificação,
complexos (Matos, 1999).
Segundo Matos (1999) uma análise funcional nada mais é do que uma análise das
contingências responsáveis por um comportamento ou por mudanças nesse
comportamento, sejam eles comportamentos aceitáveis ou problemáticos. Uma
análise funcional, sendo uma análise das contingências responsáveis por um
comportamento, basicamente busca responder à seguinte questão: "Qual a função
deste comportamento para aquela pessoa?", ou, posto de outro modo, "Qual é a
relação funcional entre esse comportamento e seus efeitos?". Evidentemente esta
mesma pergunta pode ser feita, mutatis mutantis, quando o comportamento de
interesse não ocorre: "Qual é a função da omissão deste comportamento?", ou, de
novo, "Qual é a relação funcional entre esse comportamento e seus efeitos?"
317
7.6 Análise Idiográfica Projetiva
Esta análise tem olhos para: como e o que a pessoa irá tatear do fato, ou seja, o que ela
apresentará de tactos, em relação ao evento: interação de conteúdo sexual de um
adulto com uma criança. Por meio do relato, destaca-se as características, que
correspondem a indicadores específicos. Estes relatos são extraídos dos estímulos
suplementares (estímulo generalizado padronizados, testes) e dos estímulos
discriminativos presentes nas perguntas das Entrevistas Contingenciadas. Este é o
objeto comportamental a ser periciado.
318
O que precisa ser explicado é o episódio vocal em sua totalidade. Isto pode ser feito
arrolando os acontecimentos relevantes do comportamento, tanto do ouvinte como do
falante, em sua ordem temporal própria. Um tacto pode ser definido como um
operante verbal, no qual uma resposta de certa forma é evocada (ou pelo menos
reforçada) por um objeto particular ou um acontecimento ou propriedade de objeto
ou acontecimento (Skinner, 1904, 1978, pg. 108). Os estímulos suplementares, são es
tímulos que apresentamos a fonte de forças já existentes quando, por exemplo, é im
portante que alguém lembre o nome ou um fato, ou que alguém fale no momento
apropriado, ou “desabafe”. Não importa a razão pela qual o comportamento não é
suficientemente forte para ser emitido sem suplementação. O que pode ocorrer é que
a resposta pode ter sido condicionada pobremente, ou controlada por estímulos
usualmente fracos, ou relacionada com estados de privação ou de estimulação
aversiva moderados ou fracos, ou deslocada por outro comportamento, em resultado
de uma punição anterior, ou ainda confundida por outras variáveis correntes. Às
vezes o problema/solução consiste apenas em tornar vocal um comportamento que
antes era subvocal; mas frequentemente trata-se evocar um comportamento que de
outra forma não seria emitido, mesmo subvocalmente. Ou seja, não podemos
simplesmente mandar o comportamento requerido, ou porque não sabemos em que
ele consiste ou porque ele não seria eficaz se fosse referido inteiramente a tal variável
(Skinner, 1904, 1978, pg. 305).
319
No caso da perícia psicológica em contexto de delegacia, a análise do que se fala e de
quem fala, assume a particularidade do objeto a ser periciado, pois não basta dizer
que algo ocorreu, o fato necessariamente precisa ter ocorrido.
Para esta análise, exige-se a precisão da clareza diagnóstica, seja para responder
adequadamente a questão-problema, seja para promover a responsabilização e a
intervenção terapêutica correta aos envolvidos. A alta efetividade terapêutica vai
depender em grande proporção, da clareza da conclusãocxxxvii da avaliação realizada
(Rossi, 2016), com dados suficientemente relevantes para apresentar o evento
questionado. Rossi (2016) relata que o Código de Processo Civil ao dispor sobre a
estruturação do laudo pericial, o artigo 473, Lei nº 13.105/2015,exige que o perito
judicial apresente: a) a exposição do objeto da perícia – trata-se de uma explanação
clara do perito sobre os elementos que integram o objeto da perícia, inclusive
destacando as principais questões a serem esclarecidas pelo trabalho pericial; b) a
análise técnica ou científica realizada – o perito deve relatar detalhadamente e através
de linguagem simples como desenvolveu o trabalho técnico ou científico, de modo a
permitir que o juiz, as partes e o Ministério Público compreendam todos os
fundamentos que o levaram a uma determinada conclusão; c) a indicação do método
utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos
especialistas da área do conhecimento da qual se originou – além de relatar a “análise
técnica ou científica realizada”, deve o perito indicar e esclarecer qual método utilizou
para alcançar suas conclusões, comprovando que tal metodologia é a
predominantemente aceita pelos especialistas dessa área do saber; d) respostas
conclusivas a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do
Ministério Público – no laudo o perito tem o dever de apresentar “respostas
conclusivas” a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo Ministério
Público (Rossi, 2016).
Rossi (2016) esclarece que o perito somente não deverá responder aos quesitos
impertinentes indeferidos pelo magistrado e não terá o dever de apresentar, no laudo,
respostas aos quesitos suplementares formulados pelas partes durante o trabalho
pericial, em que pode optar por respondê-los apenas na audiência de instrução e
julgamento (art. 469, CPC). Rossi (2016) destaca que o artigo 473, IV, do Código de
Processo Civil/2015 é expresso ao cobrar do perito respostas conclusivas, não se
admitindo que quesitos sejam respondidos sem a devida fundamentação, como
ocorre, por exemplo, quando o expert se limita a responder apenas “sim”, “não” ou
“prejudicado”. Em todas as etapas do laudo, inclusive ao responder quesitos, “o perito
deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples e com coerência lógica,
indicando como alcançou suas conclusões” (art. 473, §1º, CPC) (Rossi, 2016).
Rossi (2016) ainda esclarece que vários fatores podem acarretar a insuficiência do
trabalho pericial e respectivo laudo, como, a ausência de respostas a quesitos, a falta
de fundamentação, e o não esclarecimento das principais questões que envolvem o
320
objeto da perícia. Para que a perícia atinja sua finalidade de aparesentar aos autos do
processo todos os esclarecimentos necessários à compreensão da matéria, e assim
viabilizar a valoração de uma respectiva prova, todas as regras que disciplinam a
forma do ato devem ser escrupulosamente observadas, sob pena do trabalho pericial
e respectivo laudo serem considerados insuficientes e lacônicos, acarretando a
invalidade (Rossi, 2016).
Sendo assim, para primar pela clareza diagnóstica, é necessário publicizar de maneira
relevante o que está encoberto na fala, pois algumas comunicações de crimes, são
acompanhadas por componentes fatídicos, como:
a) Falsas denúncias - com a incitação de fatos que não ocorreram. Este termo será
utilizado conforme literatura, para explicitar a denúncia que é falsa, ou seja, o
comunicante tem o conhecimento de que aquilo que comunica, não ocorreu (Grace,
Lloyd e Smith, 1992).
b) Proteger fatos que ocorreram – com a camuflagem dos fatos que ocorreram;
Destacamos que incitar, criar ou camuflar fatos, em especial no que tange a crianças e
adolescentes tem uma previsão e apenação legal, com base no Estatuto da Criança e
do Adolescente Lei Nº 8.069, De 13 De Julho De 1990 ao infringir os artigos:
“Título I
Título II
Capítulo II
321
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas
leis.
II - opinião e expressão;
a) humilhe; ou
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.
322
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;
V - advertência.
Título III
Da Prevenção
Capítulo I
Disposições Gerais
Título IV
Título VII
Capítulo I
Dos Crimes
Seção II
Frente a tais probabilidades, a clareza diagnóstica faz-se essencial, pois existem dados
significativos que apontam para uma ocorrência mais corriqueira do que se concebe,
quanto as ‘falsas denúncias’. Por exemplo, como apontam os dados dos autores, Grace,
323
Lloyd e Smith (1992), que pesquisaram 348 casos de estupro, nos departamentos de
polícia da Inglaterra e Gales, no Reino Unido, em que 8,3% foram constatados como
falsa denúncia. Ainda na Grã-Bretanha, Harris e Grace (1999) na análise de 483 casos,
encontraram a estatística para falsa denúncia, na proporção de 10,9%. Um dos maiores
estudos em departamentos policiais, ocorreu na polícia britânica e foi idealizado por
Kelly, Lovett, & Regan (2005), com 2.643 casos de agressão sexual, em que 8% eram
relatórios falsos. Heenan & Murray (2006) constataram que, de 812 denúncias
analisadas, 2,1% foram falsas.
Matos (1991) informa que uma outra forma de tato extrapolado é aquele em que
combinam-se tatos isolados, como por exemplo, na expressão ‘máquina de escrever’.
Os procedimentos de aquisição de tatos extrapolados relacionam-se aos de aquisição
de conceitos e, portanto, aos de formação de classes de equivalência (abstração é um
tato controlado por uma propriedade específica presente em vários objetos ou
eventos, isto é, a uma propriedade ou dimensão do objeto enquanto isolada do objeto)
(Matos, 1991). Tatos são particularmente importantes porque representam uma
proeminente via de acesso a estados internos do emitente, explica Matos (1991):
324
acompanharam eventos similares na história passada do emitente 1, e, neste
caso, a aquisição é mais precisa. Finalmente, se o emitente 1 já possui algum
repertório verbal, ele pode, através do processo de generalização, apresentar
tatos extrapolados (“que dor aguda”, “está queimando”)”.
8 Relatório analíticocxxxviii
b) no contexto pericial;
325
e) correspondentes entre si;
Etapa 3 – pós-interação.
O Relatório Analítico, localiza onde ocorrerá a extração dos dados, tais como:
e) Construção hipotética.
a) Clareza diagnóstica;
326
b.1) Resultado do tacto quanto a identificação da situação verbal.
e) Manejo da informação;
f) Sugestionabilidade;
a.5) Grooming;
327
4. Análise de contexto por meio de temáticas de vulnerabilidade - será realizado a
análise temática que comparece nas: Entrevistas Contingenciadas, Teste Rorschach, o
Teste CAT ou TAT (quando forem implantados) e Hora Jogo Diagnóstica:
b) Entrevistas Contingenciadas;
i) Dinâmica interacional;
v) Ambiente crítico.
328
c) Ocorrência da Interação de Conteúdo Sexual;
e) Grooming;
f) Modus Operandi.
b) Descrição de interações;
e) Esboço;
f) Adequação contextual;
g) Reprodução de conversação;
3. Apropriação da experiência:
b) Sugestionabilidade;
c) Manejo da informação.
4. Precisão:
c) Assiduidade;
329
e) Precisão quanto a descrição do relato;
5. Consistência:
b) Descrição e contextualização;
6. Conteúdo específico:
a) Detalhes inusitados;
b) Detalhes supérfluos;
f) Atitudes inusitadas;
7. Evidências:
c) Evidências médicas;
d) Desenhos, redação;
330
e) Estímulo generalizado;
a) Inclinação da ofensa;
b) Exclusividade da atração;
c) Conduta da ação;
d) Idade da criança;
f) Grau de violência;
j) Grau de exposição;
o) Auto desaprovação;
p) Perdão ao suspeito.
9. Campos de vulnerabilidade:
c) Vulnerabilidade afetivo-materno;
d) Vulnerabilidade comunicacional;
e) Vulnerabilidade sócio-familiar;
331
g) Vulnerabilidade espaço-vivencial;
i) Vulnerabilidade financeiro-familiar;
j) Vulnerabilidade comportamental;
o) Contexto Negligencial;
d) Ameaça ou recompensa.
11. Grooming
a) Identificação e alvejamento;
b) Recrutamento;
c) Favoritismo;
d) Teste da resistência;
e) Manutenção;
a) Posição de confiança;
c) Escolha da vítima;
332
d) Intersecção entre as atividades do suspeito e a rotina da vítima;
e) Estilo de aproximação;
f) Conduta da ação;
a) Episódio único;
b) Episódio acidental;
a) Pré-interação;
b) Interação e ou envolvimento;
c) Pós- interação;
a) Revelação;
b) Veracidade;
c) Notícia-crime;
e) Repressão;
f) Restauração.
333
334
Método
Participantes
Os participantes desta pesquisa, são os integrantes dos inquéritos tipificados no
Código Penal Brasileiro, de acordo com o Artigo 213, estupro e estupro de vulnerável,
Artigo 217-A, na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia, em
que as díades suspeito-suposta vítima, se configuram adulto-criança.
A equipe da DPCA é composta somente por policiais civis, constituído por delegado,
agente de polícia e escrivão de polícia. As equipes são distribuídas por delegada titular
e adjunta. Cada delegada é responsável por um cartório e conta com uma equipe de
escrivão e agente de polícia. O departamento de psicologia é composto por duas
psicólogas, que fazem parte do quadro da polícia civil como escrivã de polícia e atuam
na DPCA, como psicólogas ad hoc, nomeadas pela delegada titular, ambas atuam nas
duas equipes.
Material
Ficha de identificação e autorização para perícia psicológica, Ficha de Estruturação do
caso, Ficha de autorização para uso de dados, Roteiros das Entrevistas
Contingenciadas Estruturadas, Relatório Analítico, Resultado da Análise dos
Indicadores, Teste Rorschach (1980), Folha de localização do Teste Rorschach,
canetinhas coloridas para a localização dos estímulos generalizados do Rorschach e
tablet com câmera de filmar.
Procedimento
A pesquisadora irá apresentar a instrumentalização pericial, originário desta tese, em
que se apresenta referencial teórico, instrumentos para coleta e análise de dados, bem
como o produto da instrumentalização: o laudo pericial. As perícias psicológicas que
335
tem em seu campo de atuação os Inquéritos Policiais, correspondem a fase pré
processual penal e foram realizadas no contexto da polícia judiciária.
No decorrer da perícia psicológica, caso surja algum fato ou pessoa relevante que não
conste no inquérito, a psicóloga informa ao presidente do inquérito (delegado) e este
solicita diligências se julgar necessário.
a) crianças até 13 anos, 11meses e 29 dias, para a análise dos crimes de estupro de
vulnerável, Artigo 217-A do Código Penal e;
O psicólogo entra em contato com a família para se apresentar como perito psicológico
do caso e para o primeiro contato com os integrantes do fato. Este contato tem o intuito
de buscar as seguintes informações: quantos componentes da família coabitam no
mesmo espaço, quem coabitam no mesmo espaço, a idade das pessoas que coabitam
juntas, o grau de parentesco entre elas, a idade da vítima e do suspeito e quem realizou
a denúncia. A idade da vítima tem atenção especial da pesquisadora, para que esta
possa destacar qual etapa do desenvolvimento a criança se encontra e quais as
336
características generalizadas esperadas para esta idade. O primeiro contato é realizado
geralmente por telefone e torna-se importante para que o perito possa propor uma
pré-agenda aos envolvidos.
Cada sessão com adulto tem aproximadamente uma hora e meia; com crianças até 6
anos, 45 minutos; com crianças de 7 a 9 anos, uma hora de duração e crianças acima
de nove anos, no máximo 1 hora e meia.
O início
337
apresenta um caráter descritivo – analítico, investigativo e de sínteses cada
vez mais provisórias e reflexivas. O diário consiste em uma fonte inesgotável
de construção e reconstrução do conhecimento profissional e do agir de
registros quantitativos e qualitativos [...]. (Lewgoy, Arruda, 2004, p123-124)
No ano de 2006 a pesquisadora iniciou suas atividades como psicóloga clínica com
crianças vítimas de violência sexual no Centro de Estudos Pesquisa e Extensão Aldeia
Juvenil - CEPAJ/PUC GO, um renomado programa de extensão da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, que atuou nesta temática até o ano de 2014.
A ideia ‘Projeto Aldeia Juvenil’, surgiu ainda em 1981 com uma pesquisa-laboratório,
dentro da disciplina de Psicologia do Desenvolvimento III, no Departamento de
Psicologia, sob a orientação do Prof. Dr. Rodolfo Petrelli, que investigava o
comportamento da juventude de Goiânia, com relação a drogadição. Desde sua
fundação, em 17 de maio de 1983, o CEPAJ desenvolve metodologias de atendimento
psicossocial (individual e grupal) para crianças, adolescentes e famílias em situação
de vulnerabilidade social e ações sócio-educativas, com vistas à prevenção da
violência contra crianças e adolescentes, por meio de palestras, articulação junto aos
movimentos sociais/populares, bem como intervenção nas escolas e instituições da
região e atendimento psico-sócio-educativo.
338
psicossocial à crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual’. O estudo tinha como
objetivos e justificativas, identificar, sistematizar e analisar o processo de atendimento
psicossocial realizado pelas equipes de atendimento do CEPAJ, NECASA/UFG – Nú
cleo de Estudos e Coordenação de Ações para a Saúde do Adolescente – Universidade
Federal de Goiás e CAPSi – Centro de Atenção Psicossocial Infantil Água Viva, às
vítimas de abuso sexual e seus familiares. Tratava-se de uma pesquisa qualitativa com
base na teoria sócio-histórica, em que os métodos qualitativos foram amplamente
utilizados.
No caso do CEPAJ, que tinha como princípio, não atender somente a criança e sim a
família, realizava a avaliação psicológica, com enfoque na dinâmica relacional, junto
ao núcleo familiar da criança encaminhada. As solicitações das avaliações tinham uma
situação semelhante, a de que, não existia uma comprovação diagnosticada pelo
exame de corpo de delito realizado pelo Instituto Médico Legal e as díades envolvidas
eram pai-filha (o). Estes casos chegavam ao CEPAJ, já transcorridos de 2 há 3 anos da
data do fato.
339
com um custo elevadíssimo pela mesma razão. Assim, a atividade de avaliação
psicológica no CEPAJ, envolvia multiprofissionais e múltiplas atividades de
atendimento.
Araújo (2007) revela que a prática da avaliação psicológica têm sido objetos de
inúmeros estudos (Jacquemin, 1995; Custódio, 1995; Andriola, 1996; gomes, 2000;
Alves; Alchiere; Marques, 2001, 2002; Alchiere; Bandeira, 2002; Noronha et al. 2003;
Affonso, 2005), e que mesmo sob perspectivas distintas, estes autores apresentam a
mesma preocupação:
d) a integração ensino-aprendizagem e;
340
Mudanças no contexto nacional da psicologia brasileira, que impactavam na prática da
pesquisadora
Affonso (2005; in Araujo, 2007) comenta que, após a Resolução CFP nº 02/2003, do
Conselho Federal de Psicologia, que define e regulamenta o uso, a elaboração e a
comercialização de testes psicológicos, docentes e profissionais tiveram que rever suas
estratégias de diagnóstico e avaliação psicológica.
“Lei nº 4.119/62
Agosto/1962
Dezembro/2000
Dezembro/2000
de veículos automotores.
CFP nº 003/2007)
Dezembro de 2000
341
de Federal de Psicologia.
CFP n° 002/2003)
Novembro/2001
comercialização e uso.
Dezembro/2001
Abril/2002
Dezembro/2002
342
Resolução CFP n° 017/2002 (revogada pela Resolução
CFP n° 007/2003)
Dezembro/2002
psicológicas.
Março/2003
Junho/2003
17/2002.
Fevereiro de 2007
343
e expansão. As demandas de intervenção e atuação da psicologia, especialmente no
âmbito clínico, como apontam Féres-Carneiro e Lo Bianco (2005), resultou também
numa enorme expansão de abordagens teóricas – psicanalíticas, fenomenológico
existenciais, cognitivas, comportamentais, sistêmicas e corporais. Com vistas para o
desenvolvimento de novas modalidades de intervenção – grupal, familiar,
comunitária; e na atuação em outros settings – instituições públicas e privadas,
hospitais, unidades de saúde (Araujo, 2007).
344
mundo foram atraídos para a Wundt's Laboratory e, após retornarem,
fundavam laboratórios em seus próprios países (Anastasi, 1937).”
A partir deste feito, em 1882, Galton inventou inúmeros testes e medidas em seu
famoso Laboratório Antropométrico em Londres, estes testes tentavam medir
principalmente a discriminação sensitiva e capacidades motoras do indivíduo
(Sheeffer, 1968). Posteriormente, em 1890, com o norte-americano James McKeen
Cattell, aluno de Wundt, nasce o termo ‘teste mental’, no artigo intitulado ‘Medições e
testes mentais ’(Sheeffer, 1968). Edward L. Thorndike, participante do movimento
eugênico americano (Tucker, 1994), havia lido ‘The Fight for our National Intelligence ’
(1937) e ficou tão impressionado que ofereceu a Cattell um cargo na Columbia Univer
sity Teachers College (Allen, 2010).
Willian Stern foi influenciado pelo trabalho de Binet nos seus estudos de inteligência
em crianças. Como resultado, Stern revisou os principais achados no campo e
desenvolveu a idéia de expressar os resultados do teste de inteligência na forma de
um único número, o Quociente de Inteligência – QI (Bartol & Bartol, 2005).
Aqui é válido lembrar que, conforme informa Bartol & Bartol (2005) a primeira
pesquisa em psicologia forense que explorou a psicologia do testemunho, foi realizada
por James McKeen Cattell, que conduziu esses estudos em 1893 na Universidade de
Columbia. E em 1901, William Stern colaborou com um criminologista em uma
experiência que demonstrou o nível de imprecisão em relatos de testemunhas oculares
(Bartol & Bartol, 2005). Com isso em 1903, Stern, na Alemanha, estabeleceu um
periódico dedicado à psicologia da Testemunho Betrage zur Psychollogie der Aussage
(Bartol & Bartol, 2005). Lembramos ainda que somente em 2001, a APA - American Psy
chological Association reconheceu a psicologia forense como uma especialidade (Bartol
& Bartol, 2005).
345
Posterior a esta fase, o primeiro teste de personalidade, foi criado em 1917, quando foi
necessário recrutar americanos para a 1ª Guerra Mundial, em que Robert Woodworth,
tinha o objetivo de identificar aspectos como: moral, ansiedades e medos (Formiga &
Melo, 2000). Em 1920, Allport e Allport adotaram uma abordagem multidimensional
para avaliar a personalidade.
Câmara (2007) destaca que a psiquiatria moderna surgiu com um salto qualitativo, se
distanciando da psicometria, marcada pela introdução definitiva do método clínico
por Emil Kraepelin (1856-1926). Kraepelin inaugurou o método clínico na psiquiatria,
descartando a abordagem então baseada no sintoma e nas especulações morais. Ele
seguiu a orientação proposta pelos fundadores da psicopatologia, Karl Kahlbaum
(1828-1899) e Ewald Hecker (1843-1909), e a partir daí fez observações longitudinais
e quantitativas (Noll, 2004a e 2004b). E assim, transformou a psiquiatria em uma
especialidade médica. Conforme Eysenck et al. (1972), Kraepelin fundou além da psi
quiatria científica moderna, a psicofarmacologia e a genética psiquiátrica (Câmara,
2007).
Kraepelin que trabalhou como assistente de Wundt, interessou em usar métodos psi
cométricos, e introduziu os testes na psiquiatria. As obras dele e do seu aluno
Aschaffenburg (1896) prepararam o caminho para os Diagnostische Assoziationsstudien
- Estudos Diagnósticos de Associação, de Carl Gustav Jung (1906, 1910) - o criador da
Psicologia Analítica, estudos estes em que Bleuler (1906) também participou.
346
Bleuer era ir além das constelações sintomatológicas regulares estabelecidas por
Kraepelin, e sim apresentar o fundamento psicopatológico daquela afecção, que teria
sua unidade apesar das diferentes formas de apresentação. A particularidade do
método de Bleuer consistia na aplicação dos testes de associação desenvolvidos por
Jung, em pacientes com diagnóstico de demência precoce, de modo a evidenciar os
elementos primários da base psicopatológica daquelas psicoses (Pereira, 2000). O
resultado foi uma verdadeira revolução na doutrina kraepeliniana, que findou em
superá-la até no aspecto terminológico. Kraepelin também era criticado por ter
deixado completamente de lado a análise psicológica na constituição da categoria de
demência precoce, o que na França, desde Esquirol, fazia parte integrante de qualquer
abordagem dos fenômenos psicóticos (Pereira, 2000).
Conforme Cunha (2003) tudo indica que a tradição médica, associada à psicologia
clínica, teria efeitos marcantes na formação da identidade profissional do psicólogo
clínico atual e afirma que o termo Psicodiagnóstico, foi utilizado pela primeira vez por
Hermann Rorschach quando em 1921 publicou seu teste de manchas de tinta, por
meio do livro de mesmo nome Psychodiagnostik.
347
psicanalítico, médico e o compreensivo. Com mais especificidade, esses modelos se
distinguem em duas categorias: os que fazem a abordagem do cliente pela via da
explicação - tendência objetiva, com ênfase nos eventos do passado, visão
determinista, e que busca identificar causas do comportamento e os que fazem a
abordagem pela via da compreensão, numa tendência mais existencial, com ênfase na
vivência atual do cliente, que busca identificar o sentido e o significado da experiência
vivida.
348
psicólogo clínico. O primeiro tende a valorizar os aspectos técnicos da testagem,
enquanto, no psicodiagnóstico, há a utilização de testes e de outras estratégias, para
avaliar um sujeito de forma sistemática, científica, orientada para a resolução de
problemas (Cunha, 2003).
Este era o cenário de transição, que a pesquisadora estava inserida ao iniciar sua
atuação no CEPAJ, pois esta advinha de uma grade curricular psicométrica da
academia da década de 90 e da prática como psicóloga com as crianças superdotadas
do ano de 2000. De 2002 a 2004, com mestrado em psicologia evolucionista com área
de atuação na psicologia do desenvolvimento, já sua formação na esfera
fenomenológica e humanística se deu pelo exercício da docência na PUC GO.
349
identificação dos conflitos nodais da personalidade, consideração de uma
complexa interação dinâmica de variáveis) apresenta marcada diferença com
ela, uma vez que intervenções terapêuticas não fazem parte do seu processo.
Nesse sentido, a sessão destinada à devolução dos resultados tem um intuito
principalmente informativo, embora nela possam sobrevir, de maneira
involuntária, efeitos terapêuticos. Essas ocorrências levaram profissionais e
pesquisadores a se interessarem pelos mecanismos terapêuticos presentes na
avaliação psicológica, surgindo investigações sobre sua potencialização e
viabilidade de atualização. Nasceu assim o Psicodiagnóstico Interventivo (ou
Avaliação Terapêutica), cuja principal característica é a realização de
intervenções (assinalamentos, interpretações, holding) durante as entrevistas
e aplicações de técnicas projetivas”.
350
comunicante da criança era de característica clínica em que se levantava informações
também junto aos vários contextos da criança, especialmente escola e familiares. Aqui
destacamos a idéia de Tsu (1984), de que as entrevistas não assumem a característica
pura de levantar informações, mas sim do psicólogo ter no contexto relacional com o
cliente, o uso da situação relacional com finalidade de captação de fenômenos
psíquicos, sendo que esta relação se atualiza no decorrer do encontro. Tsu (1984)
completa que tal situação só é possível em virtude do setting terapêutico, possuir o
enquadramento, que trata a questão contratual com o cliente, por meio de cláusulas
com horário, local, duração e papéis. Assim trabalhar nesta “zona intermediária” entre
o privado e o público, que significa mobilizar o psiquismo do entrevistado em mais
de um nível. Tal feito só é possível quando se fixa o enquadramento, e assim, todo e
qualquer movimento relacional pode ser observado, o que não seria possível em um
universo que fosse, ele mesmo, inteiramente móvel (Tsu, 1984), tal como se configura
nas relações do dia-a-dia.
Junto a criança era realizado também sessões terapêuticas, com características clínicas
e intervenções de cunho terapêutico, por dois motivos: a) por ser característica do
CEPAJ atendimento terapêutico multiprofissional e b) por necessidade do psicólogo
quando este atuava com a finalidade de ‘psicodiagnóstico forense’. Então, o que se
tinha no Centro eram finalidades diferentes com metodologias semelhantes, porém
diante do grande arcabouço de profissionais e das múltiplas atividades que a criança
era exposta, os resultados eram positivos. Contudo, diante da excelência do Centro, a
estrutura proposta era inviável de ser aplicada pelo poder público, visto que possuía
um custo elevadíssimo diante da expertise dos multiprofissionais envolvidos na tarefa
do ‘psicodiagnóstico clínico forense’, bem como da quantidade de profissionais
necessária para um relatório psicológico final, nomeado como ‘laudo psicológico’.
351
Existe um campo minado para o psicólogo na avaliação psicológica forense, em
especial quando as perícias são desfavoráveis em relação a comunicação de crime que
a comunicante, insite em resultados favoráveis a sua pessoa, e não à criança. São
comunicantes que tentam impor sobre a perícia um resultado desejado e atuam de
maneira a macular não só o psicólogo, como também o resultado do seu trabalho: o
laudo psicológico (Furniss, 1993). São comunicantes, que se aparelham de advogados
e assistentes técnicos psicólogos que menoscabam o psicólogo perito, não somente nos
autos, mas também junto ao Conselho Regional de Psicologia, e na ação penal, com a
abertura de processos administrativos.
352
falsas denúncias, e, por conta disto, esta temática não pode ser direcionada para o foco
principal (Berlinerblau, 2004). Guazzelli (2007) esclarece, que quando a violência
ocorre com as crianças, pode ser por meio do abuso sexual infantil, da negligência,
dos maus-tratos e da violência psicológica, como a ‘falsa denúncia’.
Berlinerblau (2004) enfatiza que além de tirar o foco do problema mais importante, a
reação Backlash traria ainda o malefício de irradiar uma descrença às denúncias
verdadeiras. Assim, o Backlash na área das denúncias de abuso sexual teria como
consequência:
Virginia Berlinerblau (2004), destaca ser inadequado a palavra “falsa”, e explica que,
a denúncia também pode ser equivocada, mas não seria necessariamente, o resultado
de uma intenção maliciosa do genitor guardião: “Ainda que o termo ‘falso ’pode
definir enganoso e mentiroso, no contexto legal, falso ou fictício, significa errôneo e
pode haver muitas razões para isso” (Berlinerblau, 2004).
353
aux moerus, que já fora assim recebido por Moussaieff Masson, que destaca em 1984
(Greeley, 2012):
“Nesse livro, e nas suas seis edições posteriores (a última em 1878), Tardieu
chamou atenção para a freqüência dos atentados ao pudor contra crianças,
especialmente meninas pequenas. Nesse livro, e nas suas seis edições
posteriores (a última em 1878), Tardieu chamou atenção para a freqüência dos
atentados ao pudor contra crianças, especialmente meninas pequenas. As
estatísticas que fornece são assustadoras: na página 62 da última edição,
Tardieu dá os números relativos a 1858-1869 na França. Ao todo, houve 11.576
casos de pessoas acusadas de estupro ou tentativa durante esse tempo.
Dessas, 9.125 foram acusadas de estupro ou tentativa de estupro de crianças.
Tardieu assinala que quase todas as vítimas eram meninas. Por crianças ele
entende as com menos de dezesseis anos de idade, embora, na grande maioria
dos casos que ele descreve, as vítimas tenham entre quatro e doze anos de
idade. O livro, na verdade, é sobre abuso sexual de crianças.” (Masson: 1984:
24)
Greeley (2012) informa, que o pediatra John Caffey (1895 – 1978) reintroduziu o estudo
de abuso infantil, porém mais voltado para o abuso físico, em 1946, com o artigo
intitulado: Multiple fractures in the long bones of infants suffering from chronic subdural
hematoma, quando ele descreveu 6 crianças com hematomas subdurais em que ele
identificou fraturas ósseas longas de uma "obscura" origem traumática. Fredrick
Silverman, um assessor de Caffey, trabalhou juntamente com C. Henry Kempe et al.
em 1962 (Kempe CH, Silverman FN, Steele BF, Droegemueller W e Silver HK, 1962)
para o quadro "A Síndrome da Criança Maltratada". Eles propuseram um crescente
de resultados desde o trivial ao fatal e observaram que essas lesões foram
historicamente "trauma não reconhecido", mas eram na realidade de "grave abuso
físico” (Greeley, 2012).
No início do século XIX, a medicina legal francesa e europeia ainda não dispunha de
conhecimentos experimentais suficientes para decidir-se com segurança a respeito de
ruptura do hímen ou do ‘defloramento’, em perícias de atentados ao pudor contra
meninas de tenra idade e com um número importante de médicos que questionavam
354
a existência de tal membrana (Greeley, 2012). Desta forma o diagnóstico médico legal
de ruptura de hímen, era impreciso e duvidoso. Dentre os clássicos, Tardieu destaca
Vigné, que descreveu em seu clássico, De la medicine légale, de 1805, “convenhamos
que nada seja mais incerto que os sinais de virgindade (Tardieu, 1995). Tal exposição,
apresenta a confusão do tema moral, com medicina, a confundir ‘virgindade’,
condição moral ou psicológica, com hímen e defloramento, ocorrências anatômicas
plenamente verificáveis nas perícias médicas (Greeley, 2012). O que ocorria, era a
constatação de outros indícios físicos, em que se deixava à margem as alterações da
membrana hímen (Greeley, 2012).
Conte (1994) informa que somente em 1987, The American Professional Society on the
Abuse of Children, foi fundada como a primeira sociedade profissional interdisciplinar
na américa focada exclusivamente no abuso infantil e no ano de 1992, Journal of Child
Sexual Abuse o primeiro periódico exclusivo na temática. A publicação de cinco livros
significativos de 1978 a 1984, tiveram um impacto positivo por estimular o interesse
profissional de documentar a prevalência do abuso sexual infantil e seus efeitos, que
promoveram uma explosão na pesquisa e bolsas de estudo nas áreas da saúde, saúde
mental e profissionais jurídicos, sendo estes:
a) Butler, S. (1978). Conspiracy of silence: The trauma of incest. San Francisco: New Glide
Publications.
b) Burgess, A.W., Groth, A.N., Holmstrom, L.L., and Sgroi, S.M. (1978). Sexual assault
of children and adolescents. Lexington, MA: D.C. Heath.
d) Rush, F. (1980). The best kept secret: Sexual abuse of children. Englewood Cliffs, NJ:
Prentice-Hall.
e) Russell, D.E.H. (1984). Sexual exploitation: Rape, child sexual abuse, sexual harassment.
Beverly Hills, CA: Sage.
Porém em 1994, Myers publica The backlash: child protection under fire e define a
existência de uma corrente como "o coro crescente de críticas dirigidas contra
profissionais que trabalham para proteger as crianças" e acrescenta que, o fenômeno
de Backlash mais comum, são as declarações societais e de críticos, que
categoricamente afirmam que crianças não podem relatar com precisão suas
experiências, mesmo diante de evidências que, quando entrevistadas
apropriadamente podem fornecer depoimentos bastante precisos (Myers, 1994).
Segundo Conte (1994) situação similar ocorre quando profissionais sugerem que
adultos em terapia podem ser facilmente manipulados, em suas experiências infantis,
o que é considerado ilegítimo. Meyers (1994) destaca que o fenômeno Backlash
caracteriza-se por posicionamentos fundados em falta de dados e quase que total
355
rejeição a estudos e pesquisas de apoio. Myers (1994) afirma que no geral, o Backlash
consiste em posições extremadas, alimentadas por: fortes emoções generalizadas,
sobre crianças, sexo e vitimização; blindagem social sobre o assunto abuso sexual
infantil e as falhas do sistema de proteção a criança, em que aproximadamente
cinquenta por cento do Backlash é uma ‘ferida auto-infligida’, desenvolvida pelos
próprios profissionais que atuam no sistema de proteção a criança.
Conte (1994) destaca que a crítica deve ser encorajada e acompanhada do continuo
melhoramento de profissionais a respeito do abuso sexual infantil. No campo
profissional do abuso sexual infantil, tanto o conhecimento da pesquisa acumulada
quanto a sabedoria adquirida com a experiência clínica mudaram dramaticamente na
última década, em relação ao que já foi aceito como verdadeiro. Acreditava-se no
passado que "comportamentos" eram "provas" da ocorrência do abuso sexual, como
por exemplo, pesadelos, medos e comportamentos infantilizados para a idade.
Atualmente "comportamentos como prova" não se encaixa no diagnóstico de abuso
sexual infantil (Conte, 1994).
356
Lanning (1996) destaca que apesar de serem opiniões profundamente opostas, a Witch
hunt e Backlash são muito semelhantes e compartilham das mesmas características, tais
como:
357
artigo que o representa. Eles não conseguem verificar informações mais
aprofundadas e não resistem ao utilizarem de rumores, mitos e lenda. Assim,
apesar de suas conhecidas imprecisões, artigos de jornal e tablóide de
televisão ou programas de revistas de notícias são freqüentemente usados
como fontes primárias de informação. Raramente, qualquer dos lados buscar
uma pesquisa completa, fundamentada e original. Eles generalizam de alguns
casos para todos os casos e por sua vez, o incomum e atípico parece então,
comuns e típicos. Estas distorções são agora rápidas e amplamente difundidas
para crentes ansiosos por fax, e-mail, a Internet e outros serviços de
computador on-line.
8) Uso seletivo do Sistema de Justiça Criminal - cada lado decide quando uma
investigação, condenação ou absolvição tem significado. Usam e citam
decisões judiciais somente quando se adequa a seus propósitos, comumente
citam decisões judiciais como prova de sua posição apenas se alguém que eles
acreditam que é culpado é condenado. Se alguém que eles acreditam ser
inocente, for condenado, então a decisão judicial é irrelevante, ignorada ou
atacada. Se a condenação for revogada em apelação, a decisão judicial é
novamente elogiada e citada. Eles também decidem por si mesmos quais
ordens judiciais devem ser obedecidas e quais crianças devem ser escondidas
no "underground" por sofrerem violação das ordens judiciais.
358
acreditam que suas opiniões serão exibidas e apoiadas. Em seu zelo de
manipular a mídia, eles esquecem que a mídia muitas vezes os manipula. Os
meios de comunicação freqüentemente flutuam entre a Witch hunt ou as
histórias de Backlash, dependendo de como o vento está soprando.
Atualmente, histórias de Backlash parecem ter a vantagem. Mas isso também
vai mudar. Muitas das mídias também parecem gravitar em direção
emocional em vez de respostas profissionais ao cobrir essas questões.
10) Auto-engano - ambos os lados acreditam que não fazem nada acima do
outro lado e estes fazem tudo. "Nós" somos objetivos e certos, "Eles" são
tortuosos e errados. Ambos os lados acusam ao outro de fazerem estas trocas,
mas estão indignados caso alguém os acuse da mesma forma. Eles citam
exemplos de exagero e preconceito do outro lado, mas ignoram e negam que
façam o mesmo. Se um ataque pessoal injusto e distorcido pela mídia é
apoiado e repetido ou condenado e protestado é determinado exclusivamente
por quem está sendo atacado. Sem perceber, ambos os lados acreditam,
ouvem e vêem o que eles querem acreditar, ouvir e ver. (Lanning, 1996)
Lanning (1996) afirma que, por sua vez o grupo considerado ‘profissionais ’deve
superar os extremos e fugirem da necessidade de influenciar opiniões, com o exagero
ou deturpação de um problema, pois os fatos documentados por si só, são
suficientemente ruins e não precisam de ornamentação. Os profissionais devem definir
claramente os seus termos e consistentemente utilizá-los, para isso devem utilizar-se
de definições operacionais para terminologias como por exemplo, 'abuso sexual' e
citar pesquisas aprofundadas. Em que se prese como objetivo, a credibilidade, pois a
perda desta, com o uso da informação enganosa ou extremista, é devastadora, afinal
nenhum pesquisador sério, quer ser ouvido para brilhar, a realidade já se revela. Não
se pode precisamente dizer o que ‘ éprofissionalismo’, contudo, a maioria concorda
com algumas características que se aproximam de integridade e do que seria
‘profissionalismo’, tais como:
“1) Lidar com questões, não com personalidades - profissionais entendem que
os indivíduos que discordar deles não são necessariamente maus.
Reconhecem e admitem o mérito e as opiniões divergentes dos outros. Como
as opiniões não são únicas, os profissionais minimizam o foco nos indivíduos
e maximizam a discussão de questões. A exemplo, o uso dos termos Witch
Hunt e Backlash é depreciativo e deve ser reduzido ao mínimo. Os profissionais
entendem que os extremistas ficam presos às suas distorções e exageros, e sua
credibilidade está em cheque, sendo esta uma boa razão de não seguir sua
liderança.
359
profissional, racional e objetiva: como as questões afetam as crianças abusadas
e o que deve ser feito. Muitas vezes, essas perspectivas se sobrepõem ou são
aplicadas em combinação. As perspectivas pessoais e políticas tendem a
dominar questões emocionais como abuso sexual, são uma realidade e nunca
desaparecerão e de fato, muitas coisas positivas podem e foram alcançadas
através delas. No entanto, é minha opinião que as crianças abusadas
necessitam de mais pessoas que abordem as suas necessidades sob seus
pontos de vista e menos sob as perspectivas pessoais e políticas.Isto levanta a
complexa e difícil questão de saber se indivíduos com fortes agendas pessoais
podem até ser profissionais. Enquanto muitos podem ir além de suas próprias
vitimizações, necessidades individuais ou práticas, outros podem estar se
iludindo e alegar ter feito isso.
360
falsas. O problema é o desafio, especialmente para a aplicação da lei, é
determinar o que é oque. E isso só pode ser feito por meio de investigação e
profissionais objetivos. Pois, para acreditar totalmente ou desacreditar
totalmente, é sempre mais fácil do que reconhecer a complexidade de uma
situação. Uma maneira de desarmar os ataques extremistas é admitir
ocasionalmente que em alguns casos os erros foram feitos.
361
profissional e objetiva e negativamente, tem lançado uma sombra sobre a validade e
realidade do abuso sexual de crianças e tem influenciado alguns para evitar investigar
corretamente casos de destaque.
Grande parte dos danos causados pelo Backlash é realmente auto-infligido pelos
partidários do Witch Hunt e por alguns bem-intencionados defensores de crianças
(Lanning, 1996). Os erros de ambos os lados compõem alegações infundadas que
influenciam emocionalmente a opinião pública. Por outro lado, o debate inflado sobre
a validade das alegações infantis, obscurecem fatos de que: as crianças podem ser
testemunhas confiáveis e de que também há parafilias estranhas e sádicos sexuais
cruéis. Mesmo que, por meio das averiguações verbais, aparentemente, apenas uma
parte do que as vítimas alegam é concreto, tais dados examinados e analisados
corretamente podem constituir um quadro de uma atividade criminosa significativa
(Lanning, 1996). Qualquer comportamento criminoso que compareça
sistematicamente e em muitos casos, deve ser reconhecido com alto valor preditivo e
preventivo com a finalidade legal (Lanning, 2010). A questão duvidosa não se
encontra na criança, mas na ausência de técnicas eficientes de entrevista. E por isso,
os profissionais que lidam com o abuso sexual de crianças devem cuidadosamente
estar atentos a questões de Backlash e não apenas "atacar os mensageiros" (Lanning,
1996). Os profissionais também devem corrigir os danos causados pela Wich Hunt, por
excesso de argumentos em relação aos danos causados as crianças, em processo
investigativo. Por isso, a melhor maneira de neutralizar a influência de ambos os
extremos, Backlash e Wich Hunt, em que ao final prejudica somente a criança, não é
tornar-se defensivo ou replicar suas táticas, mas sim reconhecer a existência de ambos
enquanto simplesmente executa seu trabalho de uma maneira profissional (Lanning,
1996). Atuar com profissionalismo não é negar que podemos ter e expressar crenças e
opiniões, no entanto, deve-se considerar cuidadosamente e avaliar a base destas, pois
estas crianças merecem uma intervenção verdadeiramente profissional (Lanning,
1996). Conte (1994) alerta, que essa evolução no conhecimento e sensibilização está em
curso. Uma das áreas de debates atuais diz respeito a recordação por adultos a respeito
de incidentes de abuso sexual quando criança, nomeada "Síndrome da falsa memória",
como um exemplo de Backlash. As descrições desta 'síndrome' foram divulgadas por
públicos e partidários, por meio da mídia e imprensa popular, considerados como
'inéditos' e 'não publicados'. São dados considerados não revisados e sem apoio de
pesquisa. A noção básica é que os adultos entram na psicoterapia sem lembranças de
infância e que terapeutas despreparados e tendenciosos, até por serem sobreviventes
de seus próprios abusos, procedam por sugestão, manipulação, hipnose e
contaminação do cliente por memórias, por exposição de outras "vítimas de abuso
infantil", o abuso na infância. Esta síndrome, desenvolveu até livros, como: The Cour
age to Heal, que tornou-se uma ‘defesa popular ’contra danos pessoais, que resultam
em ações judiciais, em que um adulto demanda por danos resultantes de abuso.
362
Conte (1994) informa que o público comum é bombardeado com informações
imprecisas e semi-precisas, muitas vezes sem real análise ou refutação, na temática
'abuso infantil', apesar de receber atenção pública e preocupação, mais do que em
qualquer momento anterior da história. Um grande número de profissionais de
segmentos público e da sociedade civil organizada, têm elevado o entendimento a
respeito do abuso de criança. Embora essa conscientização nem sempre se baseie em
conhecimento e muito mais em preconceitos pessoais e culturais e o consenso seja
difícil de alcançar, tal equilibrio seria importante para construir uma agenda para a
pesquisa, política e intervenções. Esforços para diluir a importância do abuso sexual
infantil com outros problemas da infância devem ser resistidos, por ser inadequado
comparar sofrimento de crianças, quando estas experienciam diferentes tipos de
problemas (Conte, 1994). É ainda menos apropriado por sugerir a priorização de
sofrimentos, ao propor que um tipo de problema é mais merecedor de atenção do que
outro.Os problemas da infância são complexos.O que é necessário é uma vasta gama
de respostas e uma gama igualmente ampla de profissionais e disciplinas para os
problemas da infância. E talvez o mais crítico a curto prazo, é que, os profissionais da
área do abuso sexual infantil, devem assegurar que, o que se faz e o que se sabe, é
baseado em comprovação e trabalho de pesquisa (Conte, 1994). A ciência é uma tarefa
exigente e consegue separar o que vem a ser um declínio, e o que vem a ser um dado,
e para isso, merece uma intervenção profissional que certifique que, o conhecimento
seja testado com base em princípios bem estabelecidos, e por sua vez, demonstrado.
Por isso, o que se espera dos profissionais que influenciam o destino destas crianças é
que estes atuem com base no bem-estar destas (Conte, 1994).
363
embaraço e culpa sentidos pelas vítimas, dificultam seus relatos; d) os infratores são
capazes de explorar numerosas vítimas durante um longo período de tempo. Desta
forma, os programas de prevenção irrealistas se tornam ineficazes em relação a estas
possibilidades quando surgem, além da cultura, estratificação social, fatores
contextuais, políticos e legais, que afetam a demonstração das causas, conseqüências,
prevenção e tratamento de abuso e negligência de crianças (Greely, 2012).
364
comunicantes também realizam falsas denúncias. Desta forma, com o intuito de
aprofundar no campo da vitimização, com o conhecimento do efeito Backlash e Wicth
Hunt, a pesquisadora optou pela profundidade teórica de uma pesquisa de
doutoramento. Assim, no ano de 2008, cursou matérias no doutorado de psicologia da
PUC GO. E mesmo no ambiente acadêmico de pesquisa, a pesquisadora lidava com
embates ideológicos acalorados, pois o que se expressava era que: constatar uma não
violência, ainda era aceito, mas constatar que uma comunicante poderia ‘criar ’tal fato,
era inaceitável.
365
como na atividade motora, da fala, do pensamento, no humor como depressão vs.
euforia, em outros afetos como embotamento vs. agitação.
Assim, ao destacar os dados indicativos, estes eram corroborados, aos dados comparáveis
da Entrevista Contingenciada, tais como:
b) Informações oferecidas por comunicantes, que não eram confirmados pela criança;
Assim, os dados indicativos eram corroborados aos dados comparáveis, que por sua vez,
os resultados eram corroborados aos dados analisados da testagem. Desta forma, o
resultado dos dados se submetiam a fundamentação teórica correspondente, que
desencadeava o diagnóstico. Deste modo, o diagnóstico, respondia a duas questões,
tais como:
366
causas, e restrita aos efeitos estressantes dos mesmos. Assim se a sua intensidade for
desproporcional às possíveis causas e/ou tal alteração persistir além da vigência
normal deve ser considerada a possibilidade de outras variações, bem como suas
repetições (Cunha, 2003).
Desta forma, a pesquisadora informa que, uma alteração comportamental pode ser a
expressão de que algo ocorreu a criança, assim o psicólogo ao diagnosticar e constatar
uma alteração, deve perseguir seu desencadeador. Amendola (2009) destaca que nesse
sentido, Rouyer (1997), Koller (2000) e Sanderson (2005) priorizam o contexto no qual
o abuso sexual teria ocorrido como um dos principais fatores a ser considerado, e
Sanderson (2005, p. 202), relata que é fundamental que o profissional contextualize a
situação, a família e seu mundo social.
Amendola (2009) exprime a opinião de Arzeno (1995) e Yehia (2002), que apontam,
que, os conhecimentos teóricos, técnicos e os da própria experiência de trabalho ou de
vida jamais substituem a história das pessoas envolvidas, sendo “apenas um outro
ponto de vista” que merece ser analisado (Yehia, 2002, p.119).
367
ação prematura, capaz de gerar duas possíveis consequências: uma acusação
de abuso sexual sem fundamentação adequada ou sem determinar seu valor
factual, provocando um processo investigativo precário e a “prevenção de
crime promotora-de-crime” (p.191), ou seja, uma acusação infundada de
abuso sexual, seja pela leitura equivocada dos sinais da criança, seja pela
falsidade da denúncia declarada pelo responsável (guardião, geralmente, a
comunicante).”
Constatar ou não uma violência sofrida por uma criança, em avaliação psicológica é
extremamente especial, visto que a maioria dos casos não existe uma comprovação
física, para isso o trabalho do psicólogo, se pauta em uma avaliação psicológica
metodologicamente métrica. E ainda, conforme Schaefer, Rossetto, & Kristensen
(2012) frisam, que em contexto forense, o psicólogo analisa e destaca também os
aspectos psicológicos das pessoas envolvidas, ocultos por trás das relações
processuais. Por sua vez, o principal objetivo da perícia psicológica é auxiliar o juiz na
tomada de uma decisão, com o objetivo de garantir os direitos e o bem-estar da criança
e/ou adolescente (Silva, 2003). Tal como destaca Cunha (2003), o psicólogo irá realizar
a avaliação psicológica por meio de:
368
todos os dados significativos para os objetivos do exame, conforme o nível de
inferência previsto, com os dados da história e características das
circunstâncias atuais de vida do examinando; l) comunicar resultados
(entrevista devolutiva, relatório, laudo, parecer e outros informes), propondo
soluções, se for o caso, em benefício do examinando; m) encerrar o processo
(Cunha, 2003).”
Embora existam primorosos trabalhos e estudos no Brasil, Amendola (2009) relata que
estes não exploram, suficientemente, a perspectiva das falsas denúncias de abuso
sexual. Diante de produção teórica escassa, o que existe na prática é uma mobilização
na Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, no Brasil, por meio de
Organizações Não-Governamentais (ONG’s) e associações de pais, a fim de alertar
para a problemática das falsas alegações de abuso sexual promovidas entre ex
cônjuges. Gonçalves (2003) alerta que é preciso cuidado ao se analisar todo e qualquer
comportamento que, hipoteticamente, possa ser considerado violento, pois, tanto as
expansões do conceito de violência sexual quanto a sua contração podem ser
percebidas a partir do valor moral que os compõem.
369
Haugaard; Repucci, 1988; Flores, 1998; Junqueira, 1998; Gonçalves, 1999, 2003;
Faleiros; Campos, 2000; Sanderson, 2005). Nesse sentido, Rouyer (1997), Koller (2000)
e Sanderson (2005), citado em Amendola (2009), destacam, o contexto no qual o possível
abuso sexual teria ocorrido, como um dos principais fatores a ser considerado. Na
opinião de Sanderson (2005, p. 202), é fundamental que o profissional contextualize a
situação, e analise não só a individualidade da criança, mas também sua família e seu
mundo social, assim investigar com reserva, sinais e sintomas, observados na criança
é fundamental, a fim de evitar julgamentos precipitados para o diagnóstico da
ocorrência de abuso, “uma vez que um diagnóstico errado ou prematuro pode causar
trauma desnecessário tanto na criança quanto na família” (Amendola, 2009).
Autores como: Logo, De Young (1986), Haugaard e Repucci (1988), Gardner (1991),
Green (1993), Ceci e Bruck (2002) e Sanderson (2005); in Amendola (2009), destacam,
que não há um padrão de comportamento e sintomas específicos que ocorram em
crianças abusadas, tampouco existem indicadores que, seguramente, revelem que
comportamentos sexualizados e traços de personalidade específicos, que possam ser
considerados decorrentes de traumas ocasionados pelo abuso sexual. Ao passo que,
tais sintomas e comportamentos podem ser desencadeados por diferentes tensores na
vida de uma criança, ou mesmo de comportamentos esperados para crianças de
determinadas faixas etárias. A exemplo, identificar comportamentos sexualizados em
crianças em idade pré-escolar, como: masturbação, exibicionismo ou ferimentos nos
genitais, não implica, necessariamente, a ocorrência de abuso sexual; tampouco a
manifestação de sintomas ligados à depressão, como: tristeza, insônia, apatia e
retraimento social (Amendola, 2009).
Nas situações em que pais são separados, Wallerstein e Kelly (1998), ressaltam que
crianças podem apresentar reações físicas ou as têm exacerbadas com a proximidade
do horário de visita, gerado pelo ambiente ansiógeno por rever o genitor não
guardião, que tendem a desaparecer por ocasião da interação entre ambos. Outras,
por sua vez, reagem com hostilidade, recusando-se a ir com o genitor, reflexo da
acirrada rivalidade e/ou agressividade presente na relação entre os ex-cônjuges, que,
não raro, podem disputar a atenção da criança por meio de sedução ou ameaças
(Amendola, 2009).
370
Bernardir (2003), informa que o psicólogo judiciário usa sempre a avaliação
psicológica como primeiro e principal instrumento para analisar os vários e distintos
casos que chegam à Justiça e destaca:
371
A avaliação psicológica com finalidades forense, é composta por peculiaridades e
conforme Cunha (2003) relata, a questão básica com que se defronta o psicólogo é que,
mesmo em posse de um encaminhamento, visto que o solicitante necessite de
subsídios para basear uma decisão para resolver um problema, muitas vezes este, não
expressa claramente, por meio de perguntas, quais respostas levantar e faz um
encaminhamento vago para uma: “avaliação psicológica”. Em decorrência, uma das
falhas comuns do psicólogo forense é a de acolher o encaminhamento vago, sem a
busca de qual resposta percorrer. Por sua vez, realiza um psicodiagnóstico, cujos
resultados não são pertinentes, ou se distanciam das necessidades da fonte de
solicitação. Assim, Cunha (2003) ressalva que é responsabilidade do psicólogo
determinar e esclarecer o que dele se espera, no seu desempenho (Cunha, 2003).
372
1984). Mesmo em situações que pais exibem claramente, para o profissional, o
comprometimento de toda a dinâmica familiar, estes apresentam frequentemente a
queixa focalizada sobre uma suposta “criança-problema” (Tsu, 1984). Então, assim
como no psicodiagnóstico infantil, a avaliação psicológica com crianças que se
encontram na condição de vítima, exige que o profissional psicólogo sobreponha a
individualidade infantil e esteja atento a todo o contexto relacional que a criança está
inserida, em especial na família (Tsu, 1984).
Então, quanto aos cuidadores, no âmbito da relação instrumental (Tsu, 1984) com o
profissional, este deverá ser psicologicamente conhecido em sua dinâmica interna,
visto que este também é o mensageiro da queixa. Ou seja, o mensageiro da queixa, é
reconhecido como a pessoa responsável pela criança, e que se relaciona
profundamente com esta (Tsu, 1984. Assim, deve ser conhecido a partir de seus dados
da realidade exterior, e de sua própria realidade psíquica (Tsu, 1984), seja pela
maneira da dinâmica de relacionamento com o profissional, seja pela maneira de como
apresenta a criança no funcionamento da estrutura familiar (Tsu, 1984). Assim, os pais
não são meros informantes de dados (Tsu, 1984), e sim fazem parte do
desenvolvimento avaliativo tanto quanto a criança, mesmo que o foco seja o campo
psíquico infantil. Pois, o psicólogo infantil está interessado em investigar o que ocorre
no contexto relacional da criança, que pode estar lhe causando algum tipo de
sofrimento psíquico (Tsu, 1984).
Desta forma, mais frequentemente, cuidadores, apresentam suas crianças sob três
tipos de sintomas: somáticos, psicológicos e caracterológicos (Tsu, 1984). Em
concordância com Tsu (1984) um sintoma na criança pode ser ‘interpretado ’pelos pais
como de origem distinta, a enurese a exemplo, pode ser considera como um sintoma
de ‘doença ’física, ou pode ser vista como expressão de um problema emocional, ou
por decorrência de falhas caracterológicas que se vinculam por meio de ‘julgamentos ’
do tipo: ‘ela é muito mimada por causa do pai’. Desta forma podemos apontar acerca
do quanto é complexo assumir que uma criança necessita da intervenção de um
psicólogo.
Com isso, as etapas que vão, desde considerar um fato na criança como problemático,
até a busca do atendimento, demonstram o quanto pode ser discutível e até mesmo
distorcido a visão do grupo familiar (Tsu, 1984). Tal dinâmica é passível de análise e
entendimento, visto que a criança está tão inserida no grupo familiar como qualquer
outro integrante e pode como a parte mais vulnerável, expressar por meio dos seus
comportamentos, dificuldades que não são só suas, mas de todo o grupo familiar (Tsu,
1984). Porém, defensivamente, a família, tende quase sempre, a considerar o
comportamento infantil como expressão da interioridade da criança.
Igualmente, é sobre esta ‘fala ’fornecida por familiares e responsáveis, que o psicólogo
forense deve desenvolver seu trabalho pericial, até que chegue ao campo psíquico da
373
criança e assim corroborar o que foi apresentado pelos familiares em relação ao que
foi apresentado pela criança. Deste modo, a avaliação do psicólogo será realizada de
acordo com o que foi exposto pelos avaliados e por sua vez, reconhecido pelo
profissional, que podem se configurar como: completamente divergente,
completamente congruente ou com semelhanças, sendo estas classificações passíveis
de uma profunda análise em relação a características muito particulares.
Assim, para realizar essa leitura crítica e complexa, da dinâmica familiar, o psicólogo
tem condições profissionais-metodológicas de se colocar em um ponto privilegiado
de observação clínica, que lhe permite ver a criança considerada com um ‘problema’,
inserida na dinâmica familiar com maior nitidez, do que conseguida pelos membros
familiares (Tsu, 1984). Sendo assim, por meio da avaliação psicológica aplica-se uma
variedade de abordagens e recursos que se encontram disposição do psicólogo
(Cunha, 2003).
Cunha (2003) destaca que numa avaliação é possível usar métodos mais
individualizados ou qualitativos ou, ainda, métodos psicométricos, em que o manejo
se fundamenta em comparações de normas de grupos. A tais métodos, pode-se
acrescentar a entrevista, que tem precedência histórica sobre os demais (Goldstein &
Hersen, 1990), bem como a observação e análise sistemática de comportamentos, da
linha comportamental (Cunha, 2003). Observa-se que o psicólogo não costuma seguir
uma orientação puramente nomotética ou ideográfica (Cunha, 2003), e
metodologicamente pode assumir instrumentos tanto psicométricos, quanto
projetivos, a depender do nível de complexidade que pretende atingir.
374
Paulo Teles, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, 2010-2012, e
atuante na Câmara Criminal do TJ- GO á época.
Quanto ao psicodiagnóstico compreensivo, este engloba uma análise por meio dos
instrumentos: entrevistas, observações, testes psicológicos e exames complementares,
que busca a apresentação de uma composição psicológica globalizada com uma
síntese dinâmica e estrutural da vida psíquica, que se considera aspectos intra
psíquicos, interfamiliares e forças sócio-culturais (Trinca, 1984).
Crime doloso
375
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi
lo;
Crime culposo
II - o desconhecimento da lei;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento,
reparado o dano;
376
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
a) situação anômala para a criança, por ser o contexto sexual lascivo, incompatível
para sua etapa de desenvolvimento;
d) contexto impositivo.
“PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
377
A completar, a atitude do perito, de ausentar-se da responsabilidade de informar o
diagnóstico relevante para o fato, fica sob pena de infringir o Decreto-lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940, Código Penal:
“CAPÍTULO III
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:
Sendo assim, a pesquisadora identificava por meio da anamnese, que ainda não se
configurava como uma Entrevista Contingenciada Estruturada, a averiguação do
impacto do fato, na dinâmica familiar, por meio dos relatos. E por sua vez, as
características identificadas e originadas da dinâmica familiar, era corroborado ao
resultado de instrumentos padronizados, tal como testes projetivos e outros dados da
anamnese, a exemplo:
Esta averiguação, se dava pela busca de possíveis contextos negligenciais, que poderiam
ter contribuído para a vulnerabilização do ambiente da criança, e assim ter cooperado
para a ocorrência do episódio investigado. Tal averiguação buscava responder ao
artigo 227 da Constituição Federal, artigo 5º e 70 do ECA, e artigo 133, 135 e 136 do
Código Penal, porém não existia perguntas elaboradas em relação a estas
características legais. Ou seja, eram temáticas contempladas, todavia, sem analogias
sofisticadas e planejadas:
378
“Constituição Federal:
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono. Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos.
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção
ou disciplina. Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano, ou multa.”
379
A perícia não vincula o juiz, que tanto pode aceitá-la, integral ou
parcialmente, como rejeitá-la" (STF, RE 92.614-3/PR, 2ª Turma, rel. Min. Djacy
Falcão, DJ de 12/09/80)”.
E artigo 10º da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Artigo X: Todo ser
humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte
de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres
ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele” (Cavalli, 2016).
380
juiz passivo, neutro, que se limitasse a valorar as provas que as partes produzem.
Enquanto a legislação anterior falava em “apreciar livremente a prova”, a legislação
atual estabelece incumbir ao juiz “apreciar a prova”. O desaparecimento do termo
“livremente” estabelece que a valoração da prova não pode ser feita pelo juiz de forma
discricionária. Então, ao proferir a decisão, incumbe ao juiz, apresentar uma valoração
discursiva da prova, com o objetivo de justificar seu convencimento acerca da
veracidade das alegações, e indicar os motivos pelos quais acolhe ou rejeita cada
elemento do conjunto probatório (Penteado, 2016).
Atualmente no ano de 2017, com o desenrolar da Operação Lava Jato, conduzida pelo
Juiz de 1ª Instância Federal de Curitiba, Sérgio Mouro, que desmantelou um modelo
de corrupção que havia se entranhado no Estado brasileiro, como base de sustentação
de um poder político, provocou uma inquietação pelos mesmos políticos
investigados, de que juiz deveria responder por ‘abuso de autoridade ’(Mendes F. e
Knopfelmacher M., 2016). E apresentaram uma proposta que foi incluída no
substitutivo ao Projeto de Lei 4.850, de 2016 e que pretende criar o chamado “crime de
hermenêutica “ para punir juízes. Ao pretender incluir na Lei 1.079, de 10 de abril de
1950, o artigo 39 – 11 a tipificação, como crime de responsabilidade, a conduta do
magistrado que: “condenar pessoa física ou jurídica sem os elementos essenciais à con
denação, assim reconhecida por decisão judicial colegiada de segunda instância” o
Parlamento questiona a independência judicial. Conseguinte, se a atuação
jurisdicional, baseada no livre convencimento motivado, vier a ser punida e não puder
ser exercida com liberdade e independência, o Judiciário deixa de exercer o papel que
a Constituição Federal lhe destinou. No Brasil, existe todo o sistema recursal próprio
para a reversão de decisões judiciais tidas por injustas, por meio da segunda instância
até o Supremo Tribunal Federal e também há os órgãos de controle interno, as
Corregedorias e externos, o Conselho Nacional de Justiça do Poder Judiciário (Mendes
F. e Knopfelmacher M., 2016).
Importante ressaltar, no entanto, que ainda que o juiz não esteja adstrito ao trabalho
pericial, deve declinar o motivo de não acatar o laudo. E se esta for a decisão do juiz
diante do laudo, cabe o entendimento de, não se compreende um laudo, como válido,
se não for motivado, se não for claro, objetivo e que, em suma, não procure esclarecer
aquilo que determinou a realização da prova pericial (Dantas, 2015).
381
“Capítulo XII, Das provas
Art. 371.
Art. 473.
382
Seção X – Das provas periciais
Art. 479.
Dantas (2015), alerta que, ainda que tenha quesitos, numa parte geral ou introdutória
do laudo, deve ser feito todo o levantamento de considerações que pondere
pertinentes e úteis, para, no momento de responder aos quesitos, de modo conciso, o
perito possa reportar-se àquela parte que embasa o seu trabalho e o seu laudo. Do
contrário, a perícia de nada vale. A sentença proferida com base, unicamente, em
laudo falho ou inútil não pode subsistir (Dantas, 2015).
Art. 465
Frente as necessidades legais, o profissional perito, seja ele qual for, demanda atender
a essas exigências e a psicologia não pode se furtar a isso. Então, já com vistas ao
doutoramento, em 2013, seria necessário que a pesquisadora superasse a
complexidade técnica da perícia psicológica infantil forense, com a finalidade de
sistematizar o instrumental pericial, desde o recebimento da solicitação até a entrega
do documento a justiça.
383
Apresentação do laudo psicológico em conformidade ás peculiaridades do contexto
forense
Após a pesquisa avaliativa junto ao judiciário, referente áquilo que seria importante
comparecer ao laudo psicológico, ficou explícito um problema muito maior. Um
problema técnico, no desenvolvimento da ‘avaliação psicológica para contexto
forense’. Assim, a ausência técnica, de um manejo adequado da quantidade de
informações colhidas nas entrevistas, em detrimento ás informações que eram
aproveitadas e ou eram levantadas e apresentadas para dirimir as dúvidas dos juízes.
384
continuar assumindo a configuração da avaliação psicológica, amparada pela
Resolução CFP nº 007/2003, que institui o manual de elaboração de documentos
escritos pelo psicólogo e pela Resolução do CFP nº 008/2010, que dispõe sobre a
atuação do psicólogo como perito e assistente técnico do Poder Judiciário. Por sua vez,
o laudo psicológico ao contemplar demandas da esfera jurídica, não busca “provar” o
crime estupro de vulnerável, mas sim, caso tenha ocorrido, levantar as características
e os impactos na dinâmica relacional que tal evento proporcionou, e que também
possuem características legais:
Em 2010, a solicitação pericial para a pesquisadora era requerida pelo juiz, o que
manifestava que que o inquérito não se consubstanciava de informações e ou de um
conjunto probatório robusto e suficiente para a responsabilização. Ao passo que,
apontava para uma possível responsabilização visto que, havia superado três etapas
anteriores: primeiramente a do inquérito policial mediante indiciamento, que é o ato
pelo qual a Autoridade Policial, no curso do inquérito policial, aponta determinado
385
suspeito como autor de uma infração; o oferecimento de denuncia pelo Ministério
Público e o deferimento do juiz. Deste modo, esta peneira institucional apontava para
o perito do juiz, que tal caso requeria diagnóstico mais detalhado e depurado, na busca
de elevada resolutilidade quanto a ocorrência ou não da tipificação criminal em
questão, artigo 217-A do Código Penal Brasileiro. Assim, outro ponto cruciforme, era
responder aos quesitos, por meio de sua avaliação psicológica, frente a um quadro
ainda insuficiente para o juiz.
Com isso, o que podia ser verificado em situação pericial, era que, as temáticas que
necessitavam ser exploradas e respondidas para a demanda judicial, não eram as
temáticas que compareciam nos relatos dos periciandos. A cosntatação era que, em
situação de relato espontâneo as temáticas necessárias para a avaliação, análise e
evolução da perícia ficavam prejudicadas pela baixa relevância das informações. Pois,
em perícia psicológica forense ocorre um excesso de relatos e uma elevada quantidade
de informações que extrapolam a centralidade da temática pericial. O que se configura
extremamente relevante, porém, esta constatação só pôde ser assegurada em 2015,
diante da evolução teórica e instrumental.
Em situação pericial forense, periciandos comparecem com relatos que possuem uma
motivação particular para apresentar ao profissional psicólogo, em que estes
386
periciandos podem expor relatos especialmente por favorecê-los, com informações
que perturbam os fatos autênticos.
O próximo passo foi destacar qual temática compareceria com mais frequência, por
espontaneidade do pericando. O que se constatou, foram temáticas aleatórias e sem
relevância para a resolução das questões legais.
O que era desafiador não era uma remodelagem do instrumental utilizado, mas sim
inovar com um recurso que reunisse e organizasse os dados, na medida em que se
realizasse a perícia, uma análise ‘a tempo e a hora’.
Por sua vez, o que ocorreria ao instrumental utilizado seria sua completa
reconfiguração, tal como a um Software Aplicativocxli que na medida que se atualiza,
proporciona ao usuário dados mais sincronizados, a sincronização de dados é uma
forma complexa de organização. A pesquisadora tinha o objetivo de se assemelhar a
um Launcher inteligente, que são aplicativos com o objetivo de analisar não só dos
dados e sincroniza-los. Mas também, analisar o comportamento do usuário e alguns
elementos externos, como localização e horário, para reorganizarem a tela inicial do
Android, com o objetivo de se antecipar ao que o usuário necessita.
Este levantamento de dados por meio de uma entrevista era de extrema importância,
visto que, uma quantidade elevada de informações trazidas pelos periciandos eram
pouco relevantes para o desfecho do diagnóstico. E para obter informações com
relevância legal, necessitava-se de perguntas e habilidades de entrevistas específicas
do perito que proporcionassem nos periciandos as respostas relativas as perguntas,
mesmo que não a respondessem. Pois, desta forma o perito saberia o que não foi
respondido.
387
dados, um trabalho estenuantemente lento. O que se tinha, era que os dados
fornecidos pelo periciado, que eram espontâneos e carcterizados por um elevado
número de informações ‘aparentemente relevante’, eram menos significativos para o
contexto judicial. E que para atingir dados com relevância legal, exigia do perito,
perguntas precisas.
388
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a
criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;
Deste modo, analisar indicadores só seria possível com o levantamento de dados e por
sua vez, dados só seriam destacados, por duas vias: testagem e entrevista. Para isso,
as perguntas e sua sequência era a matéria prima necessária para o levantamento das
informações relevantes. Sendo que a entrevista contemplaria:
a) classificação da temática;
389
a) seriam identificados;
Por sua vez, o perito psicólogo ao analisar os dados, se depara com a maneira de
expressar estes dados, que são os resultados dos dados analisados. A análise destes
dados ao se integrarem, se constituem em novas informações, que é o resultado que
comparece ao laudo. Que são informações diagnósticas que contemplam a intersecção
da ciência jurídica e da ciência psicológica. Em que, em uma se considera a
especialidade do perito, que é psicólogo, e outra a demanda jurídica.
Então o desafio da pesquisadora, era: Como levantar os dados dos relatos de maneira
que estes já comparecessem aos apontamentos do perito por classes temáticas e com
asequência hierárquica do fato?
O que a pesquisadora possuía era uma constatação técnica, a respeito do que era
informado pela comunicante, a respeito dos comportamentos da criança e que poderia
ser comparado à teoria do desenvolvimento. Desta forma, a pesquisadora realizava a
análise dos relatos maternos em relação ao que era observado na situação pericial e
corroborado de acordo com a teoria da etapa do desenvolvimento infantil.
O que se buscava no relato era uma característica (em 2015, considerada: indicador)
que deveria estar de acordo com a etapa de desenvolvimento infantil conforme teoria
desenvolvimentista, bem como, o que se observava na criança nas sessões periciais.
390
A informação em si já existe antes que obtenhamos conhecimento sobre ela, daí a sua
condição própria, em que, qualquer particularidade que não seja da sua condição
genuína, a descaracteriza. O que altera a sua natureza é a transmissão dela por meio
de algum sinal que pode chegar por qualquer um dos cinco sentidos humanos: visão,
audição, paladar, tato ou olfato. A informação se torna física no momento em que é
expressada, transmitida e organizada. Mesmo que não seja pela melhor forma de
organização, qualquer sentido utilizado na emissão e/ou recepção da transmissão da
informação precisa de critérios para se tornar algo concreto, que realmente exista. O
papel do comunicador é atribuir valor à informação e isso não faz parte da natureza
da informação. Desta forma, se entenda por natureza da informação qualquer
conjunto de características particulares que determinem elementos materiais ou
imateriais, como, fatos, objetos ou seres, todos com uma condição própria e
organizada. A informação, é o princípio de “algo” que realmente existe e, mais do que
isso, que possui essência própria, não sendo, portanto, nenhum tipo de derivação, mas
sim a origem. Ainda pode ser entendida como detentora de um cerne físico,
organizado e singular.
Existem duas intuições básicas ou máximas que qualquer proposta de medição deve
observar: a) A informação é extensa - o texto mais extenso contém potencialmente
mais informações. Assim, quando temos duas estruturas A e B que são mutuamente
independentes, então a informação total na combinação deve ser a soma de ambas as
informações em A e B: 1 (A e B) = 1 (A) + 1 (B); b) A informação reduz a incerteza - A
informação cresce com a redução da incerteza que ela cria.
391
informações. As possibilidades de aplicação são abundantes. Por meio do datamining,
que é a pratica de examinar um grande conjunto de dados organizados e gerar novas
informações e o tratamentos de conjuntos de dados extremamente grandes, parece ser
uma condição essencial para quase todas as disciplinas empíricas no século XXI
(Adriaans, 2013).
392
e a reflexão sobre a informação impacta também em uma vasta gama de disciplinas
filosóficas que variam da lógica (Floridi, 1999) à ética (Dretske 1981; van Benthem en
van Rooij 2003; van Benthem 2006) e da estética (Schmidhuber 1997a, Adriaans 2008)
à ontologia (Zuse, 1969, Wheeler, 1990, Schmidhuber, 1997b, Wolfram, 2002, Hutter,
2010).
De Almeida (2004) informa que, a Avaliação Psicológica pode ser realizada por meio
de várias técnicas que o psicólogo tem a sua disposição, como: a Entrevista, a
Observação e os Testes. A Entrevista Psicológica como um instrumento indispensável
e poderoso que o psicólogo possui no processo de Avaliação Psicológica e entendida
como aquela na qual se buscam objetivos psicológicos de investigação, diagnóstico ou
393
terapia (De Almeida, 2004). Mesmo que a entrevista psicológica seja usada com a
finalidade explícita de se fazer algum tipo de avaliação de aspectos psicológicos da
personalidade, a observação participante, como diz Sullivan (1970), ou a observação
da interação, ou a observação do campo, segundo Bleger (1998), é o ponto básico e
principal dessa técnica (De Almeida, 2004). Conforme Tavares (2002, in De Almeida,
2004), as diversas técnicas de entrevista têm o objetivo de avaliar para fazer algum
tipo de recomendação, seja diagnóstica ou terapêutica. De acordo com Bleger (1998,
in De Almeida, 2004) na consideração da entrevista psicológica como técnica, esta
possui procedimentos e regras empíricas próprias:
De Almeida (2004) informa, que para Silveira (2001) os referenciais teóricos oriundos
da Psicanálise, Gestalt ou Behaviorismo, influenciam tanto a técnica da entrevista
quanto a sua análise, ou seja:
394
científico com resultados confiáveis. Entretanto, a entrevista, utilizada
isoladamente, não substitui outros procedimentos de investigação da
personalidade, mas completa os dados obtidos por outros instrumentos (p.
100).”
Por sua vez, a técnica utilizada neste trabalho para acessar informação, é a entrevista,
e conseguinte a isso, elaborar as perguntas da entrevista que acessarão as informações
que se busca.
Destacamos que em 2010, os dados eram levantados, tanto pela testagem, quanto pela
entrevista não estruturada. Assim, para a análise dos dados, utilizava-se como
parâmetro os dados obtidos na entrevista, que eram corroborados a testagem. A
pesquisadora não possuia perguntas específicas de natureza diagnóstica, com o
objetivo de identificar eventos específicos.
Conforme Skinner (1974), a pergunta, pede uma informação que pode ser pública, mas
que, no momento está fora do alcance de quem pergunta. Tal como ocorre na interação
de conteúdo sexual, que é pública, mas está fora do alcance de quem pergunta. Certo
de que, ao se relatar algo, se relata comportamento. Por sua vez, tal como o sentir, não
se pode negligenciar tal fonte de informação, só por ser a própria pessoa, a única capaz
de estabelecer contato com o mundo interior (Skinner, 1974). Segundo Skinner (1974),
este esclarece:
“Respondemos ao nosso próprio corpo com três sistemas nervosos, dois dos
quais estão particularmente relacionados com traços internos. O chamado
sistema interoceptivo, transmite a estimulação de órgãos como a bexiga e o
aparelho digestivo, as glândulas e seus canais, e os vasos sanguíneos. É de
fundamental importância para a economia interna do organismo. O chamado
sistema proprioceptivo transmite a estimulação dos músculos, articulações e
tendões do esqueleto e e outros órgãos envolvidos na manutenção da postura
e na execução de movimentos. Usamos o verbo ‘sentir’ para descrever nosso
contato com esses dois tipos de estimulação. Um terceiro sistema nervoso, o
exteroceptivo, está basicamente envolvido no ver, ouvir, degustar, cheirar e
sentir as coisas do mundo que nos cerca, mas desempenha papel importante
na observação de nosso próprio corpo.”
395
comumente se refere a uma condição pública. Skinner (1974) alerta que uma criança
ao sofrer um corte, pode responder apenas ao acontecimento privado e dizer ‘Dói’, e
a comunidade verbal utilizar da informação pública. A criança pode aprender a
descrever um estímulo privado com uma precisão que depende apenas do grau de
concordância entre os acontecimentos públicos e privados. Desta forma o corte, que é
um evento público, pode ser correlacionado de maneira fidedigna com os estímulos
privados gerados por ele (Skinner, 1974, p. 24). Matos (1995) esclarece: “com relação a
verbos que denotam funções emocionais ou perceptuais a linguagem me impede de
interagir com o ambiente; no máximo ou interajo com a dor, com a alegria, com minha
memória, com o conteúdo dos meus pensamentos, com minhas idéias, cognições”.
Skinner (1974) destaca que:
396
princípios básicos sem conhecer as particularidades de um problema prático não nos
coloca mais perto da solução, do que conhecer os pormenores sem conhecer os
princípios básicos”. Reconhecer esta dinâmica com tendência a um ciclo irresolutível
é identificar ‘o que ’e ‘como ’os problemas podem ser solucionados, ambos
simultaneamente.
397
comportamento verbal, mas sim, que complexizavam, por elevavar o número de va
riáveis a serem consideradas (Simonassi & Cameschi, 2003):
“Além disso, uma análise mais cuidadosa revela que nada é transmitido de
uma pessoa para outra durante os episódios de interações verbais, pois se elas
não compartilham repertórios comuns será menos provável que a interação
seja longa (Skinner, 1969/1980). E quando as interações se estendem, tendo
em vista as distinções nas funções como falante e ouvinte, o que podemos
observar são as pessoas agindo de modos diferentes em função dos estímulos
produzidos pelo comportamento verbal ou não-verbal das pessoas com quem
interagem, mesmo se os comportamentos verbais do ouvinte forem privados.
Portanto, uma explicação completa deveria identificar tanto os antecedentes
das respostas privadas e, idealmente, como as contingências conseqüentes
estabeleceram a influência das respostas privadas sobre o comportamento
público (Hayes e Brownstein, 1986). Entretanto, é preciso que fique claro que
a análise skinneriana do comportamento verbal é funcional e nunca estrutural
(Simonassi & Cameschi, 2003).”
398
se o examinador se restringe a tal objetivo, sua tarefa seria caracterizada mais
como a de um psicometrista do que a de um psicólogo clínico. Todavia, o
psicólogo clínico, que não perde a referência da pessoa do examinando,
dificilmente iria se restringir a tal objetivo, porque analisaria escores dos
subtestes (se tivesse usado um instrumento WIS), bem como diferenças inter
e intratestes, que são suscetíveis de interpretação. Então, teria condições de
identificar forças e fraquezas no funcionamento intelectual. No caso, o
objetivo do exame seria de descrição. Mas, se se detivesse a examinar certos
erros e desvios, poderia levantar pistas que servissem de base para hipóteses
sobre a presença de déficits cognitivos. O objetivo ainda seria o de descrição,
mas o processo seria mais complexo”.
A tarefa de expressar por meio da redação, uma análise, pode ser considerada uma
tarefa das mais complexas, que depende de todo o trabalho realizado anteriormente e
que exige do perito organização e sistematização no levantamento, análise e
apresentação dos dados.
399
1 – PRINCÍPIOS TÉCNICOS DA LINGUAGEM ESCRITA
A análise dos dados deve ser técnica, e pela formação inicialmente desenvolvimentista
da pesquisadora, a psicologia do desenvolvimento era um campo confortável e de
400
vasto entendimento, o que a deixava segura em relação ao diagnóstico clínico da
criança. Desta forma, desde o início das atividades periciais da pesquisadora, esta
estabelecia uma relação comparativa entre os relatos maternos a respeito dos
comportamentos da criança e a fase de desenvolvimento que o infante se encontrava.
Porém, sem perguntas e contextos específicos, o que se tinha era um roll de
informações necessárias a serem apuradas após todas as sessões da avaliação
psicológica. Ou seja, para a pesquisadora alcançar as informações necessárias, esta
precisava das perguntas consideradas diagnósticas para o alcance preciso das
informações.
401
devido preparo para conduzí-la, estará fracassado, pois seus resultados não terão
nenhuma ou quase nenhuma validação e pouco acrescentarão à qualquer trabalho de
característica técnico-científico. E acrescenta que de nada vale uma aplicação criteriosa
e perfeita da técnica se o registro das respostas for falho sem precisão ou pouco
acrescentar (Brito & Junior, 2012). Gil (1999) alerta que o único modo de reproduzir
com precisão as respostas é registrá-las durante a entrevista, mediante anotações e/ou
com o uso de gravador.
Brito & Junior (2012) destaca que para Gil (1999), a preparação de um roteiro de
entrevista é fundamental para as entrevistas estruturadas. Baker (1988, p.182) apud Gil,
(1999) trata de algumas regras gerais referentes à elaboração do roteiro:
Gil (1999; in Brito & Junior, 2012) acredita que o entrevistado deve sentir-se
absolutamente livre de qualquer coerção, intimidação ou pressão, este é o princípio
para a elaboração das perguntas, que resguarde a dignidade de qualquer entrevistado.
Habigzang, Koller, Stroeher, Hatzenberger, Cunha & Ramos (2008) os profissionais
devem realizar a entrevista com serenidade, cordialidade e empatia, adequação
verbal, em ambiente confortável e que mantenha a privacidade do entrevistado e o
mais importante, evitar perguntas repetidas, uma vez que o entrevistado pode
entender que não respondeu adequadamente e modificar a resposta. Morete (2015)
explica que na Psicologia, um dos procedimentos mais utilizados para avaliação de
abuso sexual é a entrevista (Pelisoli, 2013), assim, a utilização de estratégias de
entrevista investigadas empiricamente, padronizadas em protocolos ou não, tende a
evitar descrições direcionadas, vitimização secundária da criança, repercute em maior
segurança para os acusados de crimes dessa natureza, reduz a probabilidade de
indução do relato e favorecem a elucidação das circunstâncias constantes da denúncia.
Habigzang, Koller, Stroeher, Hatzenberger, Cunha & Ramos (2008) acrescentam que:
402
“O ato de entrevistar uma criança ou adolescente, visando o relato e
diagnóstico acurado sobre a experiência sexualmente abusiva, é complexo. É
necessária uma postura ética dos entrevistadores associada ao conhecimento
prévio da dinâmica desta forma de violência...Questões contextuais,
históricas, emocionais e sociais sobre o abuso precisam ser avaliadas, bem
como sua função de risco e proteção...A avaliação de indicadores diante de
uma suspeita ou diagnóstico para subsequente denúncia de abuso sexual não
é tarefa simples, é bastante raro que agressores admitam ter cometido o abuso,
exigindo que os profissionais determinem, portanto se houve ou não o
abuso.”
Esclarecemos que no caso desta pesquisa, não ocorria pré-teste ou teste piloto com a
entrevista, visto que realizar pericia psicológica forense é o fazer da pesquisadora,
enquanto psicóloga. Por sua vez, a maneira da pesquisadora reavaliar as questões se
dava conforme Duarte (2002), que aponta a necessidade de o pesquisador avaliar a
aplicação das questões, ao ouvir as gravações realizadas nas entrevistas. Conforme a
autora esse é um tipo de aprendizado que somente é adquirido por meio da repetição
e da autocorreção. Gil (1999) corrobora com a ideia da importância de testar cada
instrumento, com o intuito de: “(a) desenvolver os procedimentos de aplicação; (b)
testar o vocabulário empregado nas questões; e (c) assegurar-se de que as questões ou
as observações a serem feitas possibilitem medir as variáveis que se pretende medir”
(p. 132).
Lidchi (2004) destaca que subsequente a entrevista, a informação obtida tem que ser
analisada e avaliada, para que se possa compreender a situação da criança e decidir
se é preciso ou não fazer outras entrevistas, em que a informação da entrevista será
utilizada para tomar decisões importantes até a respeito de intervenções legais para
garantir a segurança da criança e o seu bem-estar. Lidchi (2004) sugere, em analogia
ao SVAcxlii – Statement Valid Assessment (Steller e Kohnken, 1989) a análise de alguns
aspectos da entrevista que poderá auxiliar o profissional na avaliação da qualidade
do relato:
403
não-apropriados para sua etapa de desenvolvimento; Técnicas das
entrevistas prévias: os entrevistadores devem procurar saber quem
entrevistou o menor para saber se as técnicas de entrevista poderiam ter
influenciado o conteúdo da história; Mentir: normalmente são os
adolescentes que possuem as habilidades cognitivas necessárias para
inventar uma história de abuso sexual. É mais difícil para uma criança
construir e manter uma história falsa de abuso. Se o(a) profissional suspeita
de que um menor não está falando a verdade, deve recolher informação sobre
o seu contexto para saber se ele tem algum motivo para mentir, fingir ou
disfarçar, algum medo ou ameaça. Divórcio e separação são exemplo de
situações que se relacionam a tais comportamentos; Emoções: durante a
entrevista é importante que se monitorem as emoções e como estas são
manifestadas, por exemplo, no tom da voz, em comportamentos ou
expressões faciais. Os profissionais que estão entrevistando têm que se
perguntar se as emoções apresentadas são as de uma criança ou de um
adolescente que está contando uma experiência de abuso sexual, como, por
exemplo, raiva, ansiedade, medo ou tristeza; Lógica da história: os(as)
entrevistadores(as), desejavelmente dois, prestarão atenção se a história tem
uma progressão lógica ou não. É dizer que o relato do menor vai do início até
o fim. É preciso haver distinção entre uma progressão lógica, que dá sentido
à história, e uma mudança de tema num esforço de lembrar totalmente a
história. Ou seja, tem que se perguntar: “A história faz sentido ou não?”;
Abuso sexual acontece dentro do contexto da vida diária da criança: se a
história puder ser en tendida como fazendo parte do cotidiano do menor –
por exemplo, acontece quando o mandam fazer uma ligação na casa de um
vizinho, porque a família não tem telefone fixo em casa –, existe uma
indicação de que ele está falando de fatos que aconteceram na sua vida;
Detalhes específicos: se a história tiver muitos detalhes específicos, como
descrições de onde aconteceu o ato e das roupas do abusador e detalhes
explícitos de atos sexuais, é mais provável que o menor não esteja mentindo.
Outro sinal importante que pode comprovar que o menor está contando a
verdade é o fato de ele poder descrever como se sentia ou o que pensava
durante os episódios de abuso sexual; Reprodução de algumas conversas
palavra por palavra: um sinal importante de que o menor está sendo
verdadeiro é quando ele pode reproduzir seções de diálogos que teve com o
abusador.”
404
psicopedagógica e solução de problemas de ajustamento, o psicólogo se torna o
profissional mais apto para tal atividade. A Lei 4119/1962, que regulamenta a
profissão de psicólogo, bem como o texto que a regulamenta Decreto nº 53.464/1964,
amplia as funções privativas mencionadas na nota anterior, E agrega as seguintes
atribuições ao texto: 2) dirigir serviços de Psicologia 3) ensinar Psicologia nos vários
níveis de ensino, 4) supervisionar profissionais e alunos, 5) assessorar tecnicamente e
6) realizar perícias e emitir pareceres (Brasil, 1964).
Desta forma, o que se fazia necessário era por meio do levantamento de dados,
destacar os dados necessários e relevantes, aliados a uma possibilidade de análise e
apresentação dos dados, com finalidade diagnóstica, para o comportamento que se
encontrava privado na criança:
a) comportamentos esperados;
405
b) repertório verbal esperado;
Neste ponto, a pesquisadora dedicava praticamente uma sessão para que a genitora,
que também tinha a função de comunicante, pudesse descrever o mais fidedigno
possível o momento em que a criança revelou o episódio de interação de conteúdo
sexual, tal como:
Neste momento em 2010, a pesquisadora estava ciente dos tópicos a serem destacados,
porém não possuía as perguntas a serem feitas de maneira sistematizada, para
levantar os dados. O que ocorria, era que, na medida que a entrevista acontecia, a
pesquisadora ia em busca das informações do entrevistado. Assim, a pesquisadora,
com o objetivo de levantar estes dados, os questionavam, porém sem uma sequência
específica, mas sim, de acordo com a temática trazida pela genitora. Desta forma, os
dados quando surgiam, eram examinados, porém a pesquisadora era absorvida pela
elevada quantidade de informações que acompanhavam estes dados, e que ocorriam,
exatamente por não se ter um instrumento de entrevista estruturado. De qualquer
forma a análise era realizada, de maneira lenta, pois era necessário retomar os
rascunhos das entrevistas e extrair os dados relevantes. O resultado era exitoso, porém
extenuante e vagaroso, desta forma, o dado mais relevante que se encontrava era que:
grande parte dos relatos não condiziam com a etapa de desenvolvimento que as
crianças se encontravam, e não condiziam com características principalmente quanto
ao repertório comportamental, correspondente à idade.
406
partes e documentos probabotórios. A seguir destacaremos as etapas da persecução
penal desde a polícia judiciária, ministério público e finalização no judiciário.
A Lei 12.830/2013, no seu artigo 2º, § 6º, explica que trata o indiciamento, quando um
ato do Delegado de Polícia; deve ser, necessariamente, precedido de um despacho
fundamentado em que deverão ser apontadas as razões jurídicas do convencimento
da Autoridade Policial, indicando-se a autoria, a materialidade e suas circunstâncias.
407
Sempre que a lei penal não dispuser de forma específica sobre a ação penal, ela caberá
ao Ministério Público. Quando o crime é de ação penal públicacxliii, cabe ao Ministério
Público examinar a investigação criminal. Se houver indícios da ocorrência do crime
e de sua autoria, deve iniciar a ação penal, por meio de uma petição chamada denúncia
(Saraiva, 2013). O recebimento da denúncia, a partir da Lei nº 11.719/08, se dá na fase
do art. 396. O art. 395 prevê as causas de rejeição da denúncia e o art. 396, ao prever o
momento de recebimento da denúncia, demonstra claramente que nessa fase o juiz
poderá rejeitá-la se presentes as hipóteses do artigo anterior. Sendo assim, se o
julgador recebe a inicial, na sistemática da Lei 11.719/08, oferecida a denúncia e
conclusos os autos ao juiz, ou este a rejeita por motivos processuais (art. 395), ou a
recebe. Com isso, conclui-se que o procedimento trazido pela Lei nº 11.719/08 segue
as seguintes etapas: oferecimento da denúncia; recebimento da denúncia já no
despacho inicial; designação de audiência de instrução e julgamento e determinação
de citação do réu para apresentação de defesa e comparecimento ao ato designado;
eventual análise, antes da realização da audiência, e em caráter prejudicial, de pedido
de absolvição sumária veiculado pela defesa; audiência de instrução e julgamento. Em
resumo, após o advento da Lei nº 1.719/08, o juiz, ao tomar contato com a denúncia,
exercerá o juízo de recebimento ou rejeição, observando as hipóteses do art. 395 e, no
primeiro caso, determinará a citação do réu para apresentar defesa e comparecer à
audiência de instrução, também designada no despacho inicial. Por essa sistemática,
antes da audiência, poderá o juiz, caso a defesa assim o requeira, absolver
sumariamente o réu se presente alguma das hipóteses do art. 397 do Código de
Processo Penal (exceto o inciso IV, que ensejará mera extinção de punibilidade).
Neste ponto destaco que os casos que advinham do judiciário para a pesquisadora, já
tinham passado por crivos da legislação e seguiam por se constituir de alguma prova
relevante, o que de certa forma facilita o trabalho do perito psicólogo, que atua na
esfera criminal, como perito nomeado pelo juiz. Ao contrário do perito psicólogo, que
se encontra na polícia judiciária, pois nesta instância todos os casos que chegam, ainda
passarão pelo crivo, do princípio básico da materialidade e autoria, conforme descrito
no Decreto-Lei nº 3.689/41 - Título II – Do Inquérito Policial, Art. 4º: “A polícia
judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas
circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria”.
408
persiste a trepidação moral causada pelo crime ou antes que seja possível uma
exata visão de conjunto dos fatos, nas suas circunstâncias objetivas e
subjetivas”.
“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”
409
do tempo, a exemplo, busca e apreensão, interceptação telefônica. Entende-se por
prova não repetível aquela que não pode mais ser reproduzida em juízo, em virtude
do desaparecimento da fonte probatória, a exemplo, desaparecimento de vestígios do
crime (Barros Filho, 2011). Com a tendência de proporcionar ao investigado a
oportunidade de participar da produção dos elementos de convicção no inquérito
policial, o art. 27, do Projeto de Lei nº 156/2009, (reforma do Código de Processo
Penal), que tramita no Senado Federal, adequando o instituto à nova ordem jurídica
constitucional, estabelece:
Tendo em vista o princípio consagrado no inciso XXXV, do art. 5º, da CF, que
estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”, o inquérito policial concluído será encaminhado obrigatoriamente ao Poder
Judiciário. Desta forma, o arquivamento do inquérito, só pode ser determinado pelo
juiz mediante pedido fundamentado do representante do Ministério Público (Barros
Filho, 2011).
410
Porém, a grande complexidade e dificuldade que se apresentava era que as
informações chegavam de acordo com o relato, pois a pesquisadora só possuía uma
entrevista de anamnese o que não contemplava uma entrevista, nem mesmo semi
estruturada, a respeito da temática: interação de conteúdo sexual de um adulto com
uma criança.
411
sabíamos que se tratava de uma amostra muito restritiva, pois, entendíamos que, por
ser uma solicitação do juiz, já havia passado por dois crivos, o da: polícia judiciária e
ministério público. E por ser o CEPAJ, um Centro de excelência, talvez, os juízes
remetessem somente os casos que se constituíam de uma grande probabilidade de
não-ocorrência e ao mesmo tempo de grande dúvida. E assim, nos expediam apenas
para certificar um diagnóstico já esperado por suas convicções de solicitante.
412
O projeto de doutorado
Então, o que a pesquisadora possuía era uma experiência sempre com vistas ao
melhoramento e qualidade de serviços prestados, e muitas questões a respeito dos
dados que surgiam.
No que tange a temática de falsas alegações a pesquisadora já não estava sozinha, pois,
tal hipótese era levantada em outra esfera judicial, nas varas de famílias. Tal fato se
apresentou para a justiça brasileira com um ônus tão relevante que em 2010, criou-se
a Lei de Alienação Parental – 12.318, que trata de um conjunto de alegações
difamatórias que um dos genitores e ou parentes próximos (avós) imputa ao outro
genitor. E que, alertamos que, para estes casos o que temos também, são puramente
relatos verbais.
413
profissional, em determinando nível, por outro profissional em seu próprio
nível...Por exemplo, provar um caso de abuso sexual da criança em nível legal
no tribunal jamais será tarefa, habilidade ou responsabilidade das pessoas que
trabalham com saúde mental ou com proteção a criança... O abuso sexual da
criança é um problema maior do que o esforço, as capacidades e as
responsabilidades que uma única profissão consegue abranger. Ele é uma
questão verdadeiramente multiprofissional e multissistêmica. Nas
intervenções multidisciplinares no abuso sexual da criança, a confusão dos
níveis de raciocínio em diferentes domínios conduz a desqualificações
pessoais inadequadas e pouco profissionais dos colegas. Isso não acontece
apenas quando profissionais de fora da área legal entram no terreno das
cortes legais. Isso vale para qualquer conflito, entre qualquer combinação de
profissionais da rede, em que um profissional vê sua linha de raciocínio, que
é baseada em sua própria perícia profissional, sendo julgada em um nível
diferente de um domínio profissional diferente. Ao fazer isso não estamos
apenas sendo injustos uns com os outros, também deixamos de compreender
a tarefa verdadeiramente multidisciplinar... (p.108)”
A retomada do tema tendo como objeto de estudo a perícia psicológica, se deu por ser
uma prática exclusiva á psicologia, que não necessitaria se estender a outros órgãos e
profissionais, e especialmente pelo conteúdo motivacional para a pesquisadora. Nota
se que, as sessões ainda eram tidas como psicoterapêutica e de análise comparativa
entre os relatos maternos e os relatos da criança. E desta forma, com base nos relatos,
se realizaria o estudo da correspondência dizer/dizer. A correspondência dizer/dizer
não comparece na literatura, o que já era de conhecimento da pesquisadora, porém
precisávamos nomear a técnica de alguma forma, tal como constava no projeto
apresentado a FAPEG, com o intuito de pleitear bolsa de estudo:
414
“Os relatos que passarão por análise e intervenção, serão os relatos de
comunicantes que realizaram a denúncia quer contra os pais das crianças,
quer contra os padrastos que se relacionam maritalmente com estas mulheres.
Este estudo tem como premissa de que as comunicantes relatarão o que
aconteceu no ambiente natural entre as díades pais-filhas (os) e ou padrasto
enteadas (os), em um contexto de suposta violência sexual entre estas díades.
Será um estudo de correspondência verbal dizer/dizer e que visa descrever a
correspondência de episódios verbais para verificar se o fenômeno de
correspondência ocorre entre o relato materno comparado ao dela mesma e
quando comparado ao relato de outras pessoas envolvidas, em que buscar-se-
a a relação com o fato ocorrido. Com isso, poderemos descrever em que
condições o fenômeno ocorre, quando há a correspondência (Projeto de
Doutorado apresentado a FAPEG, 2013)”.
415
observação de atos e comportamentos que são violações das regras sociais, para a qual
molestadores de criança podem ser cobrados e crianças devem ser protegidas.
Com vistas para a responsabilização, deve-se olhar para a lei para se identificar
conforme os elementos estatutários do crime. Pois uma atividade sexual que
proporciona gratificação, é considerada complexa para a detecção, visto que, alguns
ofensores se satisfazem com foreplay - carícias como objetivo final e para outros
ofensores tal atividade é somente o início. A exemplo, a característica ‘ser violento ’
pode ser utilizada como um modus operandi, ou como parte da satisfação sexual, ou
seja, pode ser parte da gratificação sexual, ou uma gratificação total como o sadismo,
ou até mesmo uma progressão de seu comportamento sexual.
Qualquer ofensor sexual pode ser um agressor, pode tornar-se violento, em especial
para evitar a descoberta ou sua identificação. Podem desenvolver uma progressão
comportamental que consistem em atuar sem violência e progredir para atitudes
violentas, bem como, atuar com vítimas adultas que consentem, para vítimas adultas
que não consentem, porém para todo o comportamento existe a seleção antecipada
deste.
Os entrevistadores não devem reagir sobre alegações relatadas, para evitar erros
embaraçosos, devem por sua vez, desenvolver entrevistas investigativas altamente
planejadas e fundamentadas no crime a ser investigado, com o objetivo de caracterizá
416
lo ao máximo, sendo a superficialidade inquisitiva o primeiro passo para o fracasso
da responsabilização. A entrevista superficial e pouco planejada, pode expressar
características de um entrevistador confuso e emocional, com pouco controle sobre
seus julgamentos a respeito dos agressores e das vítimas.
Desta forma um entrevistador que está emocionalmente envolvido por suas crenças e
ideologias, eleva a probabilidade de cometer erros, por estar tendencioso a causa. Para
ser um entrevistador eficaz, o planejamento evita o distanciamento das perguntas que
vão esclarecer o que ocorreu, e afasta o medo e a fragilidade do entrevistador de ouvir
determinadas respostas. Não se deve ter uma concepção estereotipada do que seja
uma vítima e um ofensor, mas sim um profundo trabalho de entrevistar, pois muitos
entrevistadores querem ser rápidos com o fraco argumento de não-vitimizar, por
estarem emocionalmente incapacitados, ou por estarem submersos a seus conteúdos
ideológicos ou pouco treinados para esta etapa da entrevista, que diz respeito a
identificação da ofensa sexual. Esta inaptidão pode prejudicar o resgate de
informações legalmente relevantes para a composição de um fato, por isso, a
compreensão aguda e o reconhecimento dos comportamentos criminosos, permite
que os investigadores funcionem a um nível muito mais elevado de profissionalismo.
Porém, os agentes legais, são os responsáveis pela detecção da ofensa criminosa, com
vistas a desenvolver competências para o processo de entrevistas. Se o objetivo
principal de uma entrevista com uma criança é obter informações de investigação,
levantar características que tipifiquem legalmente o fato, é o objetivo e deve constar
constantemente no planejamento da entrevista. Este envolvimento pode variar desde
a realização efetiva da entrevista, até o monitoramento cuidadoso de todo o processo
investigatório, com a busca de deficiências e atualização a respeito dos ditos legais,
sem abdicar o controle sobre a entrevista de investigação. Se, por boas razões, uma
417
entrevista de investigação é conduzida por um médico, assistente social ou psicólogo
forense, responder a demanda legal, ainda deve ser o norteador.
418
ou relatos imprecisos e queixas não específicas. A indicação de que, o comportamento
de alguém com acesso a crianças segundo as aparências se encaixam em algum padrão
duvidoso, justificaria que quantidade de investigação sobre a criança? A genuína
compilação, e não produção de coleção de pornografia infantil apontam para a
possibilidade de se identificar um molestador de crianças? Qual a diferença de se
entrevistar vítimas intrafamiliar e extrafamiliares em potencial? Quantas entrevistas
são adequadas realizar? A respostas a essas perguntas não são tão simples como
muitos pensam e tais questões devem ser realizadas juntos as equipes que constituem
a investigação jurídica.
419
investigativa e pode se tornar o alvo de uma grande quantidade de escrutínio
altamente subjetivo. Com isso, pode se perder o foco do que se investiga e transpor o
foco excessivo para o entrevistador e em como a entrevista foi realizada, o que pode
produzir uma especulação em torno da atuação do entrevistador. Com isso, qualquer
que seja a circunstância da entrevista, ela deve ocorrer por entrevistador treinado e
experiente, pois a sugestionabilidade é um problema potencial nos casos de
vitimização.
Do ano de 2012 para 2013, a pesquisadora teve acesso ao ebook: Stein, L., Pergher, G.
K., & Feix, L. D. F. (2009). Desafios da oitiva de crianças e adolescentes: Técnica de
entrevista investigativa. Brasília, DF: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República. Trata-se de um livro de relevância ímpar, para quem atua na
área de oitiva infantil, em contexto judicial, é desenvolvido sob o viés cognitivista e
apresenta o Modelo PEACE de entrevista. PEACE (1992), é um acrônimo, o qual
representa Planning and Preparation (Planejamento e Preparação), Engage and Explain
(Engajamento e Explanação), Acoount (Relato), Closure (Fechamento) and Evaluation
(Avaliação). Trata-se de um método de entrevista que reflete uma técnica avançada da
pesquisa psicológica moderna (Starr, 2013), em que se considera a entrevista como
uma gestão da conversação, o método foi colocado em atividade em 1990 (Baldwin,
1992) e amplamente utilizado no Reino Unido, Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália.
420
conceito de Entrevista Ética (Shepherd, 1991), cunhado por Shepherd, que enfatiza
respeito e igualdade de tratamento para todos os envolvidos, de base não-acusatória.
Embora tenha sido criado para entrevistas relacionadas à investigação de crimes,
acredita-se que sua estrutura básica possa ser aplicada a qualquer tipo de entrevista
que busca obter informações precisas e detalhadas sobre algum fato, pois a gestão
PEACE foi desenvolvida a partir de outras técnicas como manejo de conversação,
pesquisa sobre boas práticas em entrevista e a técnica de entrevista cognitiva (Milne e
Bull, 1999).
1) Anderson, J., Ellefson, J., Lashley, J., Miller, A. L., Olinger, S., Russell, A., Stauffer,
J., & Weigman, J. (2010). The cornerhouse forensic interview protocol: RATAC. T. M.
terviewing course. Home Office: UK, Research Award Scheme, Report No. PRSA 149.
421
3) Hershkowitz, I., Fisher, S., Lamb, M. E., & Horowitz, D. (2007). Improving credi
bility assessment in child sexual abuse allegations: the role of the NICHD investigative
4) Kohnken, G. (2004). Statement validity analysis and the “detection of the truth.” In
5) Lamb, M. E., & Fauchier, A. (2001). The effects of question type on self-contradic
15(5), 483-491.
7) Milne, R. (1999). The cognitive interview: Recent research. Edited Issue of Psychol
9) Toth, P. (2011). Comparing the NICHD and RATAC child forensic interview ap
10) Vrij, A. (2005). Criteria-based content analysis: A qualitative review of the first 37
11) Raskin, D. C., & Esplin, P. W. (1991). Statement validity assessment: Interview
12) Schollum, Mary; New Zealand Police and New Zealand Police Staff (2005). In
422
Com o objetivo de desenvolver a metodologia para realizar a análise do relato, o
levantamento das temáticas deveria ser uma etapa superada, porém não era o que
ocorria. Visto que, ainda não sabíamos qual era o estímulo discriminativo e o
comportamento-alvo, da contingência a ser analisada. E que esta contingencia seria a
mesma para todos os envolvidos. O que foi descoberto somente em 2015.
Consequentemente as perguntas também deveriam ser as mesmas, pois a temática
deveria ser comum a todos, já que um tipo de análise seria dos ‘relatos correspondentes
intra e entre verbais’. Posto que, o fato era um só: ‘interação de conteúdo sexual de um
adulto com uma criança’.
Em março de 2013, para realizar a análise dos relatos, buscamos a tese: ‘Causação do
comportamento humano: acesso à história passada como determinante na explicação
do comportamento humano ’(Simonassi, Pires, Bergholz e Santos, 1984). Após este
texto base, e das orientações no doutoramento, a pesquisadora possuía tópicos
investigativos mais estruturantes para o estudo na tese, conforme solicitou Simonassi,
tais como: a) comparar intra e entre relatos; b) excluir o mentalismo por negligenciar
a contingência de eventos; c) explicações mentalistas surgem quando se desconhece
‘causas reais ’e d) não se deve recorrer para dentro do organismo, para explicar o
comportamento, de acordo com Skinner (1953), quando ele afirma:
Com base no texto supracitado (Simonassi, Pires, Bergholz e Santos, 1984) e com o
levantamento dos tópicos, por orientação de Simonassi, uma boa medida para
investigar desde a ocorrência do fato até a notícia -crime na delegacia, seria a descrição
cronológica dos fatos, começo-meio-fim e quais as condições de aquisição e
manutenção dos comportamentos para realizar a notícia -crime.
Outro texto base, de abril de 2013, foi: ‘Procedimento alternativo para produção de
correspondência ’(Simonassi, Pinto e Tiso, 2011), em que destacam:
No artigo supracitado Simonassi, Pinto e Tiso (2011), alertam que “estudos sobre
correspondência entre classes de operantes dependentes, são escassos na literatura” e
explicam:
423
“De acordo com Simonassi (2001) os comportamentos de 'dizer' e 'fazer' são
operantes interrelacionados, ou seja, esses comportamentos devem ser
analisados como classes de operantes que permitem integrações com classes
de estímulos. Essa integração pode ser feita com base nas variáveis
controladoras, que demonstraram ser tão acessíveis quanto as variáveis que
controlam comportamentos publicamente observáveis (Simonassi, Tourinho
& Silva, 2001), sendo que a dicotomia entre comportamento público e privado
é uma questão de acessibilidade, como foi demonstrado empiricamente por
esses autores” (grifo meu).
Em abril de 2013, nas aulas do Professor Doutor Cristiano Coelho, na PUC GO, em
metodologia científica, foi destacado os preceitos para se ter uma boa base
metodológica para a investigação, e isso passou a ser a preocupação da pesquisadora.
E assim algumas perguntas passaram a acompanhar a pesquisadora, do tipo: ‘Como
ocorre o tratamento dos dados (preparação, análise e interpretação)’?; ‘Como realizar
o registro, o controle e o acompanhamento dos dados?’; ‘Como auditar os dados com
frequência?’; ‘Como verificar possíveis erros, omissões e imperfeições dos dados?’;
‘Será um instrumento ou um método de coleta?’; ‘Como realizar a integração:
problema (teoria), método e análise (resultado)?’; ‘O que pode influenciar meus
dados?’; ‘Uma entrevista pode virar uma escala?; ‘A entrevista consegue realizar que
tipo de observação no comportamento verbal?; ‘Por que uma comunicante criaria uma
história, relacionada a sexualidade de uma criança?’; ‘Baixo score na qualidade da vida
sexual aumenta a probabilidade de comunicantes realizarem falsa denúncia?’; ‘Baixo
score na qualidade da vida conjugal aumenta a probabilidade de comunicantes
realizarem falsa denúncia?’; ‘Como está a vida sexual da comunicante?’; ‘A falsa
denúncia oculta o que ocorreu, ou apresenta o que não ocorreu?’; ‘Como o
comportamento colaborativo de um comunicante pode dissipar na perícia?’; ‘Como se
instala o comportamento reivindicativo de um comunicante, durante a perícia?’;
‘Como é observado um comportamento reivindicativo de um comunicante, durante a
perícia?’.
Em abril de 2013, por meio da leitura da tese: ‘Dizer e fazer: correspondência verbal
de comunicantes e filhos em uma situação de exame médico’, Wechsler, (2008), alertou
a pesquisadora, para uma situação, de que: as respostas dos periciados, frente as
perguntas periciais, deveriam se referir a tactos e ao comportamento-alvo, desta
forma:
424
“Os tatos são operantes verbais informativos que só ocorrem na presença de
determinados estímulos discriminativos (Baum, 2005/2006). Skinner (1957/
1978) definiu um tato como “...um operante verbal, no qual uma resposta de
certa forma é evocada (ou pelo menos reforçada) por um objeto particular ou
um acontecimento ou uma propriedade de objeto ou acontecimento. O
principal efeito do tato é a determinação da topografia do comportamento e o
esclarecimento do controle de estímulo (Skinner, 1957/1978)” (p. 108).
(Wechsler, & Amaral, 2010)”.
Outro trabalho que orientou a pesquisadora, para a análise dos relatos, foi a
dissertação: ‘Efeitos de contingências aversivas sobre o comportamento de mentir:
Sinais e detecção’, de Nicolau Chaud, 2008. O trabalho reforçou a orientação do
professor Simonassi, de que não estaríamos em busca da ‘verdade ’ou da ‘mentira’,
mas sim de tactos, mesmo os distorcidos, seriam analisados a partir do que era
considerado tacto no contexto investigado:
425
E já em 2013, descartamos a idéia de trabalhar como conceito de correspondência e
sim, conforme destaca De Castro Quinta (2008):
426
especificam um tipo de conseqüência universal da mentira: enganar, induzir
em erro ou, nas palavras de Smith, “fornecer aos outros informações falsas ou
privá-los de informações verdadeiras” (2006, p. 5). Este é um tipo de
conseqüência geralmente mais complexa, e não necessariamente vai
acompanhar as conseqüências do primeiro tipo (específicas à situação). A falta
deste segundo elemento pode, inclusive, desconfigurar aquilo que chamamos
de mentira.”
Assim, começava a ficar claro para a pesquisadora que, por meio das categorias
formais de comportamento verbal, as perguntas deveriam gerar tactos. E que
independente de qual operante verbal fosse emitido, estes deveriam ser analisado. Por
sua vez, se ouvesse um crime a ser apresentados, os tactos seriam facilmente gerados
pelas perguntas, que se constituíam de uma contingência. A organização da entrevista
passou pelo crivo de: quais seriam estas perguntas, quais temáticas e principalmente
qual o tipo e sequência das perguntas em relação as temáticas. Quanto aos tactos,
Wechsler, & Amaral (2010) informa:
“Os tatos são classificados em dois tipos: puros ou impuros. Um tato puro ou
objetivo é estabelecido por um reforço generalizado, sendo a resposta
determinada por um traço específico do estímulo; mas como um reforço
generalizado é raro, é provável que nunca haja uma objetividade pura
(Skinner, 1957/1978). Por depender de condições momentâneas de privação
do falante, o reforço não generalizado enfraquece o controle pelo estímulo
discriminativo, dando funções de mando para o tato, ou seja, o tato torna-se
“impuro” (de Rose, 1994).”.
Ainda destacamos que, o perito ao analisar relatos deverá buscar ‘relatos fidedignos
aos fatos’, sendo que, distinguir os relatos fidedignos e não-fidedignos será a
especialidade do perito analista do comportamento, pois somente quem relata, ‘sabe ’
o que ‘optou ’por relatar. Para o perito é importante que este identifique tactos,
emitidos frente a perguntas específicas a respeito de um fato específico. Este
profissional, não estará frente ao periciado com o objetivo de lhe reforçar ou não, e
sim de analisar todo tipo de tacto ‘esperado ’para cada pergunta, caso não ocorra, o
operante verbal deverá ser passível de análise.
“Um tacto típico geralmente define uma instância do que pode ser chamado
de “contar a verdade”. “O elevador chegou” será um tacto se estiver sob
controle desta condição do ambiente físico (a chegada do elevador), e será
razoável considerar que nestas circunstâncias a pessoa que emitiu tal resposta
estava dizendo a verdade. Tactos assim são estabelecidos e mantidos por uma
comunidade verbal, que reforça a precisão da correspondência entre o
comportamento do falante e o mundo físico, por se beneficiar do contato
estabelecido com as variáveis que operam na produção da resposta. (De
Castro Quinta, 2008)”
427
A busca da pesquisadora também não era por relatos autodescritivos, pois a perícia
não tem o objetivo de tornar alguém ‘consciente ’de seu comportamento (de Rose,
1999), mas sim de emitir tactos, descrever um fato. Apesar de que, na medida que este
relata algo que realizou, vai se tornando mais ‘cônscio ’em relação aquilo que ocorreu
e fez:
Desta forma, o que surge nas sessões periciais, é que na medida que comunicantes
desenvolvem o relato auto-descritivo e necessitam de se auto-corrigirem, examinam a
própria desconexão entre: a razão dos relatos que emitem e a conclusão dos fatos. Ou
seja, a pessoa tem um feedback direto e imediato, de suas próprias respostas, na
medida que as perguntas evoluem em relação ao fato, com isso, a pessoa tende a
reajustar seu próprio comportamento. O que se torna uma estratégia para a
manutenção de eventos que não ocorreram, pouco eficaz no ambiente pericial, por
este ser extremamente padronizado. Assim, automaticamente o comportamento do
periciado que era de carácter colaborativo, dentre outras características, passa a ser
reivindicativo e questionador em relação ao trabalho investigativo, e desta forma, foge
da temática dos fatos e tende a emitir mandoscxliv. O que se torna uma rica fonte de
análise.
Dentre outras necessidades, a imersão foi total em Verbal Behavior (Skinner, 1957),
mais precisamente nos tópicos referentes a: análise funcional do comportamento
verbal, tactos e estímulos suplementares. Para isso, a pesquisadora buscava mais do
que uma entrevista estruturada, a pesquisadora buscava uma sequência de perguntas
que não se alterasse em relação aos indagados, visto que, o fato era único a todos os
investigados: interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança.
428
perguntas periciais, deveria necessariamente seguir este princípio. Então, seria
previsível a variabilidade das respostas, mas dentro das características que
configuram esta interação, ou seja, de acordo com a descrição referente a contingência
a ser estabelecida. Pois, existem características comportamentais específicas e
esperadas de todos os envolvidos, quando nos referimos a ‘interação de conteúdo
sexual de um adulto com uma criança’. Visto que, por meio do comportamento verbal
podemos identificar o que as pessoas selecionaram deste ambiente e o que elas fizeram
sob as circunstâncias deste fato. Assim sendo, quando identificamos extremos, dá-se
início a desconfiguração do evento investigado, e assim, passa a ser caracterizado
como outro fato e por sua vez, constituído de outra contingência.
Destacamos que, por meio da sequência invariável das perguntas, teríamos por meio
das respostas a formação de uma representação holográfica do fato: ‘interação de
conteúdo sexual de um adulto com uma criança’. Sendo que, ao se constatar a
representação holográfica do fato, se encontraria a constituição da ‘interação de
conteúdo sexual de um adulto com uma criança’. Caso esta representação não se
constituísse por meio das respostas ás questões, não teríamos informações suficientes
a respeito do fato investigado, portanto, não teríamos a fidedignidade do fato.
‘Aluno: - Por que você pergunta tantos detalhes até a pessoa falar que veio registrar o
BO (boletim de ocorrência)?
429
Pesquisadora: - Por que de tudo que ela fala, o registro do BO é o único fato que pode
430
Salazar e Vasconcelos, 2002); PANAS – Aspectos positivos e negativos
(Giacomoni e Hutz, 1997), construção de narrativa (Saywitz & Goodman,
1996), Inventário de toques (Hewitt, 1998), Sexken – ID (adaptado) (McCabe,
1999) e PWI – ID (Pinto & Nobre 2011), Protocolo de Avaliação de risco de
abuso sexual infantil (Faller, K.C., 1993).” (in parecer psicológico da perita
Viviane Teles, 2015)
O que ocorreu neste estudo foi como uma Dessensibilização Sistemáticacxlv (Pereira,
2012) em relação ao modelo e estrutura pericial desde o ano de 2008. O que ocorreu
foi uma atualização de modelo e estrutura pericial já utilizado pela pesquisadora, e
que se davam como upgrades, até culminar na última versão, em 2017 e que
possivelmente seguirá se atualizando. Esta atualização/upgrades se davam, em
pequenos passos por exposição/aproximação, na medida que se realizava a análise
dos resultados das EntrevistaS Contingenciadas para a elaboração do laudo. Pois, o
que pesquisadora utilizaava em termos de instrumental metodológico, já era muito
bem aceito pelo judiciário goiano, desde 2008. E a proposta em relação ao
instrumental, era seguir, no sentido de facilitar a coleta de dados do psicólogo, diante
da quantidade extraordinária de informações que surgem no contexto pericial.
431
A dessensibilização ocorria referente ao instrumental pericial, quanto a: referencial
teórico, metodologia de análise e técnicas. Aconteceu gradualmente em 8 anos, em
que se aliava resultados da prática á teoria e vice-versa, constituindo assim a
retroalimentação tanto da prática, quanto da teoria. Para a pesquisadora, os resultados
positivos eram certificados na medida que Ministério Público fazia referência ao laudo
da pesquisadora em seus pareceres e juízes se referiam ao laudo e descreviam trechos
do laudo da pesquisadora em suas sentenças.
432
Dra. Daniella Zanini, que, na apresentação a temática representada era a respeito da
perícia psicológica, porém a busca teórica era conceitual e referente a ‘violência sexual
infanto-juvenil’.
Com isso, o objeto de estudo da pesquisa alterou. Então, poderíamos inovar quanto
ao instrumental da perícia psicológica, apresentar metodologicamente um ciclo
completo pericial, que iria desde a análise da realização da notícia -crime, até a entrega
do documento/laudo pericial ao solicitante.
Assim, a partir das considerações da Professora Dra. Daniella Zanini, iniciou um novo
levantamento bibliográfico envolvendo as palavras chaves: violência sexual contra
crianças, perícia psicológica judicial e correspondência verbal. Com base neste
levantamento não foi encontrado nenhum trabalho que envolvesse perícia psicológica
judicial e análise do comportamento. Outro dado que chamou atenção no
levantamento bibliográfico, foi que, por se tratar de um crime que envolve o
comportamento sexual, também não foi encontrado inquéritos e ou entrevistas que
elencassem os comportamentos sexuais envolvidos no contexto.
Desta forma, a palavra-chave passou a ser: perícia psicológica, no qual foi realizado a
busca no Portal de Periódicos CAPES, que destacou 125 artigos. Com o intuito de
refinar a pesquisa a palavra-chave passou a ser: “perícia psicológica”, colocada entre
aspas, que destacou 23 artigos, sendo que somente 5 tem afinidade com a temática, a
destacar:
433
Souto Schaefer; Silvana Rossetto; Christian Haag Kristensen Psicologia:
Teoria e Pesquisa, 01 June 2012, Vol.28(2), pp.227-234
434
Schaefer, Luiziana Souto Kristensen (2014). Indicadores psicológicos e
comportamentais na perícia de crianças com suspeita de abuso sexual.
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Destacamos que a tese da Gava (2012), já vinha sendo trabalhada pela pesquisadora,
visto que Gava (2012) trabalhou com estudo empírico de laudos com a finalidade de
investigar sintomas e quadros psicopatológicos identificados em crianças e
adolescentes e as técnicas utilizadas e percepções dos peritos psicólogos, acerca da
prática investigativa nos casos de suspeita de abuso sexual. Assim não citamos a tese
de Sonia Liane Rovinski Reichert (2003), autora muito mencionada no âmbito da
psicologia jurídica, por seu trabalho investigar o dano psíquico em mulheres vítima
de violência doméstica e abuso sexual, tal como: Rovinski, Sonia Liane (2003). Estudo
comparativo do dano psíquico en mulheres vítimas de violência doméstica e de abuso sexual. /
Estudio comparativo del daño psíquico en mujeres víctimas de violencia doméstica y de abuso
sexual. Diretor: Gómez Fernández, Domingo Esteban; Luengo Martín, M. Ángeles
(Codirector). Teses doutorais. Univ. Santiago de Compostela. Dep. Psicología Clínica
y Psicobiología. Desta forma, de Rovinski, citamos somente artigos, que traz uma
contribuição relevante para a psicologia jurídica no Brasil.
Para isso, foi realizado a transcrição dos vídeos e efetivado o levantamento das
temáticas que surgiram durante os relatos. Assim, buscou-se a ocorrência de palavras
semelhantes e verbalização de palavras usuais entre a díade investigada, em relação
ao evento ‘interação de conteúdo sexual’. Não foi nada fácil! Mesmo com a experiência
de realizar etogramacxlvii pela pesquisadora, os relatos eram muito extensos e além da
extensão, os conteúdos destes se relacionavam com várias temáticas ao mesmo tempo,
com relatos verbais semelhantes, porém com temáticas diferentes e relatos verbais
diferentes para temáticas semelhantes.
435
realiza perícias psicológicas nos casos de suspeita de abuso sexual infanto-juvenil,
destaca vivência semelhante:
Talvez todas essas dúvidas possam ser resumidas da seguinte forma: o que,
na minha avaliação, afinal, me permitiria chegar a uma ou a outra conclusão?
Mas essa questão, essencialmente prática, era muito discrepante em relação
ao que eu havia aprendido, na teoria, sobre perícia. (Gava, 2012)”.
436
Social de Serviço, surgiu a idéia do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e
Políticas Públicas – CREPOP. Por sua vez, o nosso Código de Ética Profissional
estabelece, em seus artigos de 18 a 22, os limites que norteiam a relação do psicólogo
com a Justiça. Portanto, esta é uma área de atuação legítima do psicólogo. Cabe a ele
desenvolver o estudo da personalidade dos litigantes e demais envolvidos nos litígios
judiciais e caso as ilações periciais sejam baseadas em psicodiagnósticos, cabe-lhe
também concluir o laudo (Meirelles, 1986).
Nestes primeiros anos do século XXI, a psicologia forense continua a ser um ramo da
Psicologia Aplicada, tendo sido reconhecido pela APA - American Psychological Asso
ciation como uma especialidade em 2001 e recertificado em 2008. Mesmo antes disso,
em 1991, as Diretrizes dos Especialistas Psicólogos Forenses, a seguir denominado
Comitê de Diretrizes Éticas para Psicólogos Forenses foram adotadas pela American
Psychology-Law Society, que é a Divisão 41 da APA. Estas Diretrizes foram
recentemente revisadas e renomeadas Diretrizes Especializadas para Psicologia
Forense (APA, 2013), e aceito pelo Conselho de Representantes da APA.
Curiosamente, embora a Psicologia Forense foi inicialmente vista como
primariamente de natureza clínica - por fornecer avaliações aos tribunais - o seu âm
bito alargou-se para a prática da psicologia, uma vez que fornece conhecimentos
especializados à lei em um amplo contexto (APA, 2013, Comité, 1991) (Weiner and
Randy, 2014).
437
Toda atividade policial, por mais simples que seja, é precedida de um planejamento
que que considera o grau de dificuldade da atividade a ser executada, trata-se do
Planejamento Operacional, que prevê: o início e o término da investigação; a
composição da equipe e as técnicas que serão aplicadas, em que se considera, o grau
de complexidade da missão a ser desenvolvida (Júnior, 2012). Neste caso, na DPCA
de Goiânia, todos os crimes relacionados ao 217-A, Estupro de Vulnerável, do Código
Penal Brasileiro, passam por perícia psicológica, desta forma existe a previsão por
parte do delegado, do trabalho do psicólogo integrado à equipe. Assim, a equipe na
DPCA de Goiânia é constituída de: delegado, escrivão, agente e psicólogo.
Lapa (2012), destaca que somente em Santa Catarina existe por legislação, Lei
Complementar nº 453 de 2009, a atuação do psicólogo específico na Polícia Civil, com
o cargo de: Psicólogo Policial Civíl. Em que, nestes termos é considerado pelo Art. 3º
- Considera-se Agentes da Autoridade Policial: I - os Agentes de Polícia; II - os
Escrivães de Polícia; e III - os Psicólogos Policiais. Desta forma, destacamos suas
atividades conforme legislação:
438
8. Atuar na área do desenvolvimento de recursos humanos, assessorando os
órgãos deliberativos na identificação das necessidades de seu pessoal, bem
como na definição de estratégias e aperfeiçoamento das atividades funcionais;
439
Lapa (2012) informa que, a partir de agosto de 2009, mesmo com a regulamentação
legal das atribuições do psicólogo policial em Santa Catarina, tal inserção ainda é
desconhecida tanto por policiais, quanto pelos próprios psicólogos. Uma vez que, em
espaços que tais práticas estejam sendo construídas, há muitas dimensões descobertas
e algumas interseccionais, cujas práticas podem ficar vinculadas prioritariamente a
uma das áreas da psicologia, como é o caso da Psicologia Clínica. (Bock, Furtado e
Teixeira, 2002; in Lapa, 2009).
Por meio da Resolução nº13/2007, do CFP, que dispõe sobre normas e procedimentos
do registro de profissional especialista em psicologia, destaca o ‘Psicólogo Especialista
em Psicologia Jurídica’, que prevê a atuação do psicólogo, somente em contexto
judicial e destaca: ‘Desenvolve estudos e pesquisas na área criminal, constituindo ou
adaptando os instrumentos de investigação psicológica’.
Leal (2008) informa, que as atuações da Psicologia Forense estão relacionadas a uma
situação do Foro que o psicólogo atua, e corresponde a toda a prática psicológica a
mando e a serviço da justiça. Desta forma, o psicólogo exerce a função pericial, sendo
que suas práticas estão sob subordinação imediata à: autoridade judiciária, o juiz;
autoridade policial, do delegado de polícia, que se encontra no contexto da segurança
pública e condição extrajudicial; autoridade do Ministério Público, promotor de
justiça, que está no contexto do poder executivo, e com atuação direta na intersecção
com o poder judiciário. Dar o sentido da palavra inserção requer anteriormente definir
atribuição, assim, necessariamente quando se fala de inserção, estar-se-á alocado a
alguém em algum lugar com o objetivo de ser responsável por ações. Assim, de acordo
com Bueno (1981), atribuir, significa imputar e conferir faculdade inerente a um cargo,
com direito e deveres, pertencente a alguém. Desta forma a psicologia possui uma
ampla inserção no campo jurídico, com atuação de finalidade diversa.
440
No exercício da atividade de Investigação Policial, principalmente no que concerne à
Polícia Judiciária, podemos observar que vários princípios, garantias e direitos são
estabelecidos pela Legislação Brasileira e que deverão ser observados pelos
profissionais desta área. Desta forma, faz-se necessário conhecimentos básicos sobre
Direito Constitucional, Penal e Processual Penal (Júnior, 2012). A contemplar, estes
atores da polícia judiciária têm suas ações fundamentadas em princípios, tais como:
a) Dignidade da pessoa humana, que é considerado fundamento estabelecido na
CF/88, no art. 1º, inciso III e aplica-se a todas as pessoas físicas indistintamente,
estando assegurados todos os direitos e garantias inerentes a sua condição. b)
Princípio da não culpabilidade, art. 5º, inciso LVII, da CF/88 prevê que ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Este
princípio deve ser observado pelo Investigador Policial, pois o investigado é sujeito
de direitos. Observar este princípio significa impedir que um inocente seja punido ou
que um culpado fique sem a penalidade cabível.
O Estado deve provar que o cidadão cometeu o crime e não o cidadão provar que é
inocente (Júnior, 2012). O ônus da prova cabe ao Estado, valendo ressaltar que a
presunção de não culpabilidade é relativa, ou seja, cabe prova em contrário que deve
ser trazida pela Polícia. c) Direitos e garantias fundamentais do investigado, art. 5º
caput da CF/88 prevê que todos são iguais perante a lei, indistintamente, sendo
garantida, aos brasileiros e estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Desta forma, estabelece
que homens e mulheres sejam iguais em direitos e obrigações e que ninguém será
submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante (Júnior, 2012).
441
- O que, especificamente, poderia me fazer concluir pela probabilidade do
abuso? O relato da criança? A constatação de trauma psíquico? A
compatibilidade entre o relato do responsável e o da criança?
Talvez todas essas dúvidas possam ser resumidas da seguinte forma: o que,
na minha avaliação, afinal, me permitiria chegar a uma ou a outra conclusão?
Mas essa questão, essencialmente prática, era muito discrepante em relação
ao que eu havia aprendido, na teoria, sobre perícia. (Gava, 2012)”.
1. “Órgão requisitante;
442
11. Qual o intervalo entre as consultas;
443
Na segunda sessão ocorreria a entrevista semi-estruturada, em que nos primeiros 20
minutos com a comunicante, esta responderia à pergunta considerada a mais
importante desta entrevista:
“Como você ficou depois da suposta violência sofrida por sua filha(o);
(Projeto de Doutorado apresentado a FAPEG)”.
7. tempo de duração,
8. inicio do abuso,
A terceira sessão seria realizada com o suspeito, e que teria a mesma estrutura em
relação as perguntas realizadas com a comunicante da criança.
444
A quarta sessão ocorreria a entrevista que iria versar sobre a vida do casal, nos
aspectos: emocionais, afetivos, relacionais, volitivos e sexuais. Esta quarta sessão
ocorreria primeiramente com o suspeito e posteriormente com o comunicante.
A sexta sessão seria a História de Vidacxlviii (Beartoux, 1980), entrevista aberta com a
comunicante a respeito da história de vida da criança.
A oitava sessão seria entrevista aberta, com uma única pergunta: ‘Como você pode
relatar o que está acontencendo com sua família neste momento?’. Esta pergunta seria
feita com a finalidade de buscar palavras temáticas afins – realizada primeiro com a
comunicante.
E na décima sessão realizar a mesma pergunta para a criança e caso tivesse idade
mínima, aplicar o Teste Rorschach na criança.
445
“CAPÍTULO II
Desta forma, a pesquisadora, optou pela estrutura e alguns conceitos do método SVA,
para a organização da análise dos dados levantados na entrevista. O que difere
amplamente é que, a pesquisadora optou por analisar o comportamento verbal
(Skinner, 1957), em detrimento de uma análise linguística dos relatos implicada em
processos cognitivos. Mas sim de um relato considerado comportamento.
446
O que estava a ocorrer, a partir de 2014 como perita ad hoc na polícia judiciária era
uma depuração e evolução analítica dos dados destacados na Entrevista
Contingenciada, tanto em termos de fundamentação teórica, quanto em termos de
sistematização dos dados.
O que ocorreu entre 2015 e 2017 foi a utilização de uma análise sistematizada dos
relatos, considerados – comportamento verbal, e por sua vez, a análise do
comportamento verbal, por meio do método SVA (1989). Desta forma, o objetivo da
pesquisadora era a busca do diagnóstico pericial, por meio da avaliação psicológica,
com fundamentação teórica no behaviorismo radical, e foi o que ocorreu.
Para isso, a entrevista, deveria ser a técnica, que assumiria o eixo vertebral da perícia,
composta de questões diagnósticas, a fim de que, as respostas a essas questões,
pudessem ser analisadas e corroboradas com as demais técnicas.
Assim, a entrevista deveria ser capaz de levantar dados suficientes para uma análise
do comportamento verbal dos envolvidos e ser capaz de destacar relatos que
pudessem ser ‘comparados ’intra e entre verbalmente, com os relatos anteriores já
oferecidos, tanto no Boletim de Ocorrência, quanto no inquérito. E por sua vez,
correlatados a documentos apresentados ao Inquérito, como Exame de Corpo de
Delito, outros relatórios médicos, educacionais, psicológicos dentre outros.
447
Nos referimos a uma Tríplice Contingência, como uma relação de interdependência en
tre estímulos e respostas, estas respostas no comportamento operante (Sd– R – Sr+), na
qual um estímulo consequente a uma classe de respostas altera a probabilidade de
emissão desta mesma classe de respostas no futuro em uma situação semelhante.
(Sd – R – Sr+)
Entrevista
Contingenciada
Assim sendo, a análise do relato, seria pelo operante verbal – tacto, que descreveria a
Tríplice Contingência acima descrita. Por sua vez, a Entrevista Contingenciada que é
orientada pela Tríplice Contingência - ���� − ��− ����+seria representada pela
contingência: ��������������çã����������������ú����������������
− ��
�������������������������������������������
����������������−����������
��������������çã�� que, por sua
− ������������������������������çã��
��������������������
Segundo Simonassi, Tourinho & Silva (2001) a alternativa para investigar eventos
privados encontrada pelos analistas do comportamento, “tem sido utilizar o relato
verbal como fonte de informação”. Com isso, é papel do perito, levantar informações
relevantes, por meio das perguntas a serem feitas na perícia. E no caso do analista do
comportamento, a escolha da Contingência a ser analisada irá apontar quais
informações serão destacadas.
448
analisadas, constituem um contexto esperado, a: ‘interação de conteúdo sexual de um
adulto com uma criança’, que faz parte da contingência investigada.
Desta forma, o repertório verbal ao serem publicizados (Simonassi, Tourinho & Silva,
2001) fornece ao perito psicólogo a possibilidade de analisar o relato verbal como fonte
de informação. E a Entrevista Contingenciada assume como um instrumento
relevante, em que por meio das perguntas feita pelo perito, conforme Simonassi,
Tourinho & Silva (2001), este pode ter acesso aos comportamentos verbais encobertos.
Desta forma, as informações expressas por meio dos relatos, na situação pericial,
devem surgir como operantes verbais – tacto. Sendo estes tactos referente a
deumadultocomumacriança − Rdequei��a−crime
contingência: Sinteraçãodeconteúdose��ual realização − Sresponsabilização . Por sua vez,
dosuspeito
qualquer tacto emitido que não se refira a contingência supracitada, é considerada
outro evento, sob controle de outro fato.
449
Vargas (2007) informa que o comportamento verbal não é definível apenas por um
tipo de atributo, porém por uma característica importante, a mediacional. O
comportamento verbal, que se compõe da verbalização da linguagem pelo falante, se
desenvolve por meio do contato com o comportamento de outros. Este
comportamento por sua vez, se desenvolveu através do seu contato com o seu mundo
social, biológico e físico, em que a cultura é considerada uma grande elaboração de
relações comportamentais. Skinner (1957) explica que: “o comportamento altera o
meio através de ações mecânicas e suas propriedades ou dimensões se relacionam
frequentemente de uma forma simples com os efeitos produzidos”. E completa Leme,
Bolsoni-Silva & Carrara (2009):
Os sons em si, são facilmente descritíveis em termos físicos, mas o som da voz ao
solicitar ‘Um copo de água!’, faz com que o copo de água, só chegue ao falante como
consequência de uma série complexa de acontecimentos que incluem o
comportamento do ouvinte (Skinner, 1957). Desta forma, o comportamento do
ouvinte, ao servir de mediador para as consequências do comportamento do falante,
não é necessariamente verbal por qualquer sentido especial, não se pode distinguí-lo
do comportamento em geral, mas, mais eficazmente, uma subdivisão chamada verbal.
E uma descrição adequada do comportamento verbal é que este precisa garantir
apenas aqueles aspectos do comportamento do ouvinte, necessário para esclarecer o
comportamento do falante (Skinner, 1957).
450
Segundo Skinner (1957) uma vez situado um repertório do comportamento verbal,
com a descrição, pode-se avançar para o estágio explicativo e questionar, que
condições são relevantes para a ocorrência de determinado comportamento, quais são
as variáveis das quais ele é função?. Após identificar tais fatores, pode-se avançar para
a explicação do episódio verbal, ao destacar as características dinâmicas do
comportamento verbal ao considerar respectivamente o comportamento do ouvinte,
relacionado ao comportamento do falante (Skinner, 1957). Assim, um repertório
verbal, deve ser considerado como uma alocução (falação) de operantes verbais, que
descreve o comportamento verbal potencial de um falante (Skinner, 1957). Por sua vez
Skinner (1957) esclarece que a distinção entre ‘operante verbal ’e ‘palavra’, pode ser
comparada à ‘repertório verbal ’e ‘vocabulário’, de tal modo, o que se considera não é
que certas formas específicas de comportamento verbal são observadas, mas que elas
são observadas em circunstâncias específicas (Skinner, 1957, p. 38).
Todorov (2012) relata que diferentes tipos de interação definem diferentes classes de
comportamento, dependendo da relação funcional entre comportamento e ambiente.
Comportamento é a variável dependente, é função de variáveis externas, por sua vez
se o comportamento é mantido por suas consequências, ele é parte da interação, não é a
interação. Comportamento é processo, não é coisa, comportamento tem início, meio e
fim, é sempre a variável dependente, independentemente da topografia ou do tipo de
relação com o ambiente que definem essa variável dependente (e.g., respondentes e
afins, operantes, padrões fixos de resposta, etc.), por sua vez, as variáveis
independentes são variações no ambiente que afetam a ocorrência desses
comportamentos, seja como antecedentes (no respondente e afins) ou consequentes
(no operante e afins). De tal modo, não há operante que não seja discriminado, e a
451
contingência tríplice é o instrumento para identificar o comportamento operante. A
contingência é um instrumento conceitual (Todorov, 2006, 2012) e não é o
comportamento, a contingência identifica um comportamento operante quando
variações nas consequências que esse comportamento produz alteram, por exemplo,
o poder de controle que sobre ele tem o estímulo discriminativo (Todorov, 2012).
Todorov (2012) alerta que, se estuda interações entre comportamento e ambiente para
identificar operantes, e que comportamento não é só operante, comportamento é mais
que operante. Analistas do comportamento tendem a ver operantes por toda parte,
como se comportamento fosse sinônimo de operante. Há mais tipos de
comportamentos além de operante e respondente e que as contingências definem
o objeto de estudo como a interação entre estrutura do ambiente e estrutura do
comportamento, mas comportamento não é o nome da interação. Lopes Jr. & Matos
(2012) declaram que a contingência tríplice, é uma unidade de análise, na investigação
científica das interações entre organismo e ambiente. O conceito de contingência trí
plice consolidou-se num instrumento básico para o estudo das interações entre
organismo e ambiente, em que a unidade analítica de três termos descreve as relações
entre contingências de dois termos - resposta-conseqüência, e o ambiente (Sidman,
1986; in Lopes Jr. & Matos, 2012).
Skinner (1957) explana que esta habilidade do falante pode variar amplamente, em
parte pela medida em que ele funciona como seu próprio ouvinte e acrescenta: “O
falante hábil aprende a modificar o comportamento fraco e a manipular variáveis que
gerarão e reforçarão novas respostas em seu repertório”. Skinner (1957, p.29) afirma
que podemos ver significado ou objetivo no comportamento, mas o significado, não é
propriedade do comportamento como tal, mas das condições sob as quais o
comportamento ocorre. De maneira técnica, os significados devem ser buscados entre
as variáveis independentes numa explicação funcional e não como propriedades da
variável dependente (Skinner, 1957): “quando alguém diz que pode perceber o
452
significado de uma resposta, ele quer dizer que pode inferir algumas das variáveis das
quais a resposta é função” (Skinner, 1957).
“Tudo indica que crianças do gênero humano são feitas de forma a apresentar
alta probabilidade de imitar sons de fala que ouvem de pessoas significativas.
A partir dessa predisposição programada geneticamente do reforço dado por
essas pessoas na qualidade de ouvintes, o comportamento verbal é adquirido
e modelado. (Baum, 1999)”
Uma situação antecedente é do tipo estímulo discriminativo, com isso, tal situação é
não-verbal ou verbal, em que, os comportamentos não-verbais operam diretamente
sobre o ambiente, produzindo consequências (Borloti, 2004). Por sua vez, os
comportamentos verbais que também alteram o ambiente e são modificados por essa
alteração, agem indiretamente sobre o ambiente físico já que seu principal efeito é
sobre um ouvinte (Borloti, 2004). Segundo Borloti (2004), as conseqüências
contingentes dos operantes verbais não mantêm relações mecânicas diretas com os
mesmos, pois o operante verbal age indiretamente (Borloti, 2004).
453
“Como exemplos de comportamento verbal temos os seguintes operantes:
falar, escrever, gesticular, datilografar, compor com tipos, usar códigos (como
Morse, ou a linguagem das flores, etc.) ou expressões faciais. Como exemplos
de comportamentos não-verbais temos tanto não-operantes (roncar, chiar,
produzir sons em situação de cansaço, stress, dor, enfado, como Anagh, Fuuu,
Chiii, Oh) como operantes. Entre estes últimos temos respostas abertas
(controlar, assobiar, garatujar) e encobertas (visualizar, imaginar) que, por
acompanharem freqüentemente a emissão de verbais denominados pensar,
são confundidas com essa classe. Quando o comportamento (verbal ou não
verbal) de um emitente é controlado por comportamentos sociais que incluem
respostas verbais especificadoras de contingências (por exemplo, instruções,
conselhos, ordens, etc.), falamos de comportamento controlado por regras. O
comportamento controlado por regras, e portanto por respostas verbais (do
outro ou do eu), não é considerado por Skinner como um caso de
comportamento verbal, embora o comportamento daquele que emite as
regras o seja. (Matos, 1991)”
454
instaladoras e mantenedoras dos operantes verbais, estabelecidas pela comunidade
verbal para poder instalar os repertórios verbais de falantes e ouvintes para a
compreensão dos diferentes tipos de operantes verbais. Passos (2003) destaca
que, a considerar os três tipos de seleção por consequência, a aquisição de linguagem
se refere à busca de determinantes do comportamento na exterioridade, pela ação do
ambiente sobre o organismo e pelo exame das contingências de reforçamento
"planejadas" pela comunidade verbal, daí a importância do papel do ouvinte. O
ouvinte atua como um estímulo discriminativo na presença do qual verbalizações
ocorrem (Matos, 1991):
“Esta relação é por sua vez controlada por um contexto social mais amplo, um
quadro autoclítico, no qual se insere uma parte da história passada dos dois
atores, a qual é compartilhada por ambos (e onde têm papel importante os
operantes discriminativos verbais). Estas verbalizações, atuando agora como
discriminativos para o ouvinte, afetam o comportamento deste. Estes efeitos
sobre o comportamento do ouvinte atuam seletivamente sobre aquela classe
de operante verbais do emitente, modificando-a. (Matos, 1991)”
Borloti (2004), esclarece que Catania (1998; retomando Skinner, 1957), afirma que as
unidades funcionais sempre envolvem “palavras”, sejam elas faladas, escritas,
gestualizadas, cantadas ou tocadas (música); e seus determinantes devem ser
buscados nas interações ou relações verbais entre falantes, ouvintes e contexto do
ambiente físico e social. A partir da análise dessas interações, é possível classificar as
relações verbais elementares - mando, tato, intraverbal, textual, ecóico e transcritivo -
sobre as quais atuam os processos autoclíticos (Borloti, 2004). Ao se analisar as
relações que podem se estabelecer entre as condições antecedentes, as conseqüências
e as respostas verbais, Skinner identifica e descreve oito categorias de comportamento
verbal e os classifica (Matos, 1991):
455
4. Tatear (tact) objeto/evento motora social (aprovação) identidade funcional
interno/externo (palavras) SD R
R SR
(intraverbal)
7.Intraverbalizar associações
cadeias/ conjuntos de vocal/motora
verbais social (aprovação) controle contextual
(palavras) alia (emissão extensa)
emitente sequência/ temas
Rv (Rv/SR)
Rv Rv
Matos (1991) destaca que Skinner utiliza em cada categoria, critérios funcionais,
estruturais, e ou mistos, com características multidimensionais, em que, os
discriminativos envolvem tanto palavras escritas ou faladas, objetos ou eventos,
quanto pessoas. Por sua vez, os conseqüentes também sempre envolvem a ação de
pessoas e mudanças, próximas ou remotas, ocasionadas no ambiente por essa ação
(Matos, 1991). Matos (1991) informa que: “quanto mais sofisticado o emitente, mais
complexo seu repertório comportamental, mais remotas podem ser essas mudanças”.
Hanley, Iwata, & McCord, 2003; Haynes & O´Brien, 1990; Matos, 1999, afirmam que o
analista do comportamento deve buscar descrever as relações funcionais entre o
comportamento e o ambiente, por sua vez as análises funcionais são idiográficas e
procuram compreender estas relações entre ambiente e comportamento de um único
indivíduo (Leme, V. B. R., Bolsoni-Silva, A. T., & Carrara, K., 2009). Fazer uma análise
funcional é identificar o valor de sobrevivência de determinado comportamento
(Matos, 1999), em que se descarta investigações nomotéticas (Vandenberghe, 2004).
456
dados. Conforme Leme, Bolsoni-Silva & Carrara (2009) destacam que, na análise
comportamental descritiva, não há manipulação direta das variáveis, mas sim a
operacionalização dos comportamentos-alvo que devem ser descritos e agrupados em
classes de respostas (mesma função), por sua vez, deve-se realizar uma análise das
contingências (de reforçamento e/ou punição) que mantêm os comportamentos.
Leme, Bolsoni-Silva & Carrara (2009) esclarecem que esse tipo de análise, mais
adequado a um contexto clínico, não possibilita testar as hipóteses, uma vez que
apresenta uma natureza correlacional, porém, permitiria avaliar um extenso número
de comportamentos que posteriormente podem ser testados experimentalmente
(Sturmey, 1996).
5. Análise dos operantes verbais, sob o critério SVA, por sua vez adaptado.
457
polícia judiciária e o nomeou por ‘Contacto’, por ser o núcleo principal da análise
pericial utilizada pela pesquisadora, o operante verbal – tacto.
Informamos que grande parte desta pesquisa foi a dedicação quanto a elaboração da
Entrevista Contingenciada, visto que, a entrevista é o meio pelo qual o perito tem
acesso a 90% dos dados a serem analisados. Desta forma, as respostas ás perguntas da
entrevista, é a medida a ser avaliada.
458
uma criança ’até a chegada da comunicante á delegacia que desfechou com a
comunicação da notícia-crime.
459
Por meio da Entrevista Aberta, o perito oportuniza ao entrevistado a possibilidade
deste oferecer todas as informações necessárias e relevantes para o esclarecimento do
fato investigado, nesta entrevista, identifica-se quanto o entrevistado se mantém na
centralidade temática, que é um indicador que se constitui de relato deficitário –
relatos que se distanciam da temática investigada, relatos declinados – relatos que se
compõe de temáticas que diz respeito a quem relata, emoção desvirtuada – expressão
de emoção que não corresponde ao que se relata, vindicação – reivindica que se realize
determinadas situações na perícia e impaciência em responder - quando se recusa a
responder, ou contesta o perito.
460
1. Pessoas podem relatar situações que existiram;
existiram.
Este trabalho não trata o relato no campo da ‘Análise de Discurso ’(Michel Pêcheux,
Michel Arrivé, Jacqueline RevuzAuthier, Laurent Danon-Boileu, Jean-Claude Milner),
seja na linguística, ou na constituição do discurso como objeto de interpretação. Neste
trabalho realizamos a Análise Funcional do Comportamento Verbal, do teórico Burrhus
Frederic Skinner (1904-1990).
Para chegar a análise, o primeiro passo foi a organização da entrevista, com o objetivo
de organizar os dados a serem coletados. A teoria utilizada para a elaboração da
entrevista, destacou a temática de vários instrumentos (entrevistas e protocolos) que
investigam os contextos de ‘violência infantil’.
O próximo passo foi a necessidade de extrair dos relatos advindos das entrevistas, a
informação a ser investigada. Para isso, a pesquisadora necessitou classificar os
relatos, e utilizou os conceitos de operantes verbais, orientada por Verbal Behavior de
Skinner (1957). Desta forma o tratamento realizado no relato é a identificação dos
operantes verbais no comportamento verbal (gestos, vocal, escrita) dos entrevistados,
que por sua vez também necessitavam de análise. Assim, ao analisar comportamento
verbal, temos os operantes verbais que irá descrever o fato ‘interação de conteúdo
sexual de um adulto com uma criança’. Neste caso, precisamos de um comportamento
verbal que descreva um comportamento não verbal, o tacto.
461
Deste modo, a pesquisadora seguiu para a qualificação do conteúdo dos tactos, que é
a caracterização dos conteúdos do fato investigado. O que deu origem aos indicadores,
foi destacado tanto das teorias de ‘violência sexual infantil’, quanto das teorias de
ofensores sexuais, visto que, estas apresentam as etapas do modus operandi dos
suspeitos e o resultado destas ações. Frente aos critérios destacados da literatura a
pesquisadora se ocupou de especificar as características mais relevantes para a
distinção do crime de Estupro, em especial quando ocorre com crianças. Os
indicadores relacionados a contéudos do fato investigado, são extraídos dos conceitos
apresentados na literatura, que ao se decomporem, dão origem as características que
compõem os conceitos, e passam a ser passíveis de análise.
Os indicadores têm uma atenção especial com as fases: pré-interação – interação – pós
interação, bem como para o momento em que se descobre o crime ocorrido com a
criança, com destaque para o momento da revelação e pós-revelação.
Para a elaboração dos indicadores, a pesquisadora destacou os conceitos de: modus ope
randi, grooming e decision-making por expressar a dinâmica interacional do fato
investigado, a ofensa sexual, que é demonstrada principalmente nas teorias a respeito
de ofensores sexuais que apresentam características, a verificar:
a) Salter, A. (2003). Predators, Pedophiles, Rapists, and Other Sex Offenders: Who
They Are, How They Operate, and How We Can Protect Ourselves and Our Children.
New York: Basic Books.
b) Craven, S., Brown, S. & Gilchrist, E. (2006). Sexual Grooming of Children: Review
of the Literature and Theoretical Considerations. Journal of Sexual Aggression, 12,
287-99. c) Finkelhor. D. ( 1984). Child sexual abuse: New theory ande research.
New York: The Free Press.
d) McAlinden, A.-M. (2006). 'Setting 'Em Up': Personal, Familial and Institutional
Grooming in the Sexual Abuse of Children. Social & Legal Studies, 15, 339-62.
e) Walters, Glenn D. and Thomas W. White Wilson, G. (1989) Heredity and crime: Bad
genes or bad research? Criminology 27:455-485.
f) Ward, T., & Keenan, T. (1999). Child molesters’ implicit theories. Journal of Inter
personal Violence, 14, 821–838.
g) Mihailides, S. P., Devilly, G. J., & Ward, T. (2004). Meaning and motivational sys
tems in sexual offenders’ cognitive distortions. Manuscript in preparation.
h) Ward, T., & Keenan, T. (1999). Child molesters’ implicit theories. Journal of Inter
personal Violence, 14, 821–838.
462
i) Ward, T. and Hudson. S. M. ( 1998). The constmction and development of theory in
the sexual offending area: A meta-theoretical framework. Sexual Abuse: A Journal of
Research and Treatment. 10. 47-63.
j) Ward, T., Hudson. S. M. and Marshall, W. L. (1996). Attachment style in sex offend
ers: A Preliminary study. Journal of Sex Research. 33, 17-26.
k) Black, M. S., Pettwau, C. (2001). Profile of ODRC Offenders Assessed At the Sex
Offender Risk Reduction Center. Office of Policy Bureau of Research. Department of
Rehabilitation and Correction.
l) Maxfield MG, Widom CS. (1996). The cycle of violence. Revisited 6 years later. Arch
Pediatr Adolesc Med.;150(4):390-5.
m) Ward, T., Beech, A. (2006). An integrated theory of sexual offending. Agression and
Violent Behavior 11, 44-63.
n) Cattell, R. B., & Kline, P. (1977). The scientific analysis of personality and motiva
tion. New York, NY: Academic Books.
o) Cossins, A. (2000). Masculinities, sexualities and child sexual abuse. The Hague,
Netherlands7 Kluwer Law International.
p) Hall, G. C. N., & Hirschman, R. (1992). Sexual aggression against children: A con
ceptual perspective of etiology.Criminal Justice and Behavior, 19, 8 – 23.
q) Leitenberg, H., & Henning, K. (1995). Sexual fantasy. Psychological Bulletin, 117,
469–496.
r) Luria, A. (1966). Higher cortical functions in man. New York, NY: Basic Books.
v) Steiner, F. (2002). Human ecology: Following nature’s lead. Washington, DC: Island
Press.
463
x) Young, J. E., Klosko, M. E., & Weishaar, M. E. (2003). Schema therapy: A practi
tioner’s guide. New York: Guilford.
Por exemplo, diante da informação fornecida por uma criança: “Ele me levou para o
quarto!”. Esta pode se decompor nas seguintes características:
464
Explicamos, que desde o levantamento dos dados á apresentação do resultado ao
laudo temos as etapas:
Justificativa
465
Para que o Centro continuasse como referência na elaboração de laudos periciais, a
pesquisadora investiu na elaboração de um psicodiagnóstico baseado no
psicodiagnóstico interventivo de Walter Trinca (1998) e iniciou a sistematização da
perícia psicológica no CEPAJ. Neste processo de desenvolvimento da perícia
psicológica no Centro, priorizou-se os quatro elementos essenciais que configuram o
campo da Avaliação Psicológica, tais como: Objeto - fenômenos ou processos
psicológicos; Objetivo visado - diagnosticar, compreender, avaliar a ocorrência de
determinadas condutas; Campo Teórico - sistema conceitual e Método. Sendo estas as
formas de acesso ao que se pretende explorar (Cunha, Jurema Alcides e cols., 1993).
466
supervisão direta do Desembargador Paulo Teles, todos os laudos do CEPAJ, a partir
de 2010 até 2013, segue em concordância com o tópico: Conclusão, por solicitação da
Resolução do CFP 07/2003 de se realizar a ‘narração conclusiva’. E posteriormente em
2015, segue também determinação legal de acordo com o Novo Código de Processo
Civil, Lei 13.105/2015, que determina:
O judiciário brasileiro não está imune às falsas alegações, a partir de 2006 com o voto
da Desembargadora da 7ª Câmara Cível, Maria Berenice Dias, do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul, na apelação 70015224140, TJRS, de 12 de julho de 2006, ao
analisar um caso de pedido de destituição de poder familiar pela comunicante em face
do pai, a desembargadora alega que não havia evidências suficientes de prova de
abuso sexual, como estava sendo alegado. E manteve as visitas do pai para com a
criança, com serviço especializado de acompanhamento. Neste voto histórico para o
judiciário brasileiro a desembargadora menciona a ocorrência a Alienação Parental e
a falsa alegação de incesto, conforme descrito abaixo (Buosi, 2012):
467
“...neste jogo de manipulações todas as armas são válidas para levar o
descrédito do genitor, inclusive assertiva de ter sido o filho, vítima de incesto”
468
c) Apresentar a operacionalização e instrumentalização da perícia psicológica infantil
jurídico-criminal, em que a criança é a vítima. Seja, por ter sofrido o crime de
estupro de vulnerável, seja por ter sido apresentada como vítima pela comuni
cante, em um crime que não ocorreu;
469
Resultado: PARTE I
470
k) realiza o diagnóstico verbal, por meio da extração de operante verbais. Eleva a ‘fala’,
ao status de Comportamento Verbal e assim, realiza o diagnóstico verbal. Se tacto, o
crime ocorreu, se intraverbal, não teremos a figuração de vítima e suspeito, para o
crime comunicado.
471
Faz-se necessário concurso público para o psicólogo com atuação em delegacia, tal
como ocorreu em Santa Catarina, no ano de 2009, em que este poderá assumir todo o
ônus da legislação sobre a atuação enquanto funcionário público, o que lhe garantirá
também neutralidade na atuação em relação a sua função, próprio da sua condição de
servidor público, tal como, o médico legista e papilocopista.
A Tese, destaca que a previsão legal para a coibição dos crimes de estupro de vulne
rável, não se encontra no Estatuto da Criança e do Adolescente e sim no Código Penal
Brasileiro. Desta forma, os operadores do direito que responsabilizam adultos e
472
garantem direitos de proteção às crianças, se encontram: no Sistema de Segurança Pú
blica, por meio das delegacias de proteção à criança; na esfera executiva, por meio dos
Promotores Criminais e no judiciário, com os Juízes da esfera criminal.
473
vulnerável, a atenção redobra sobre o comunicante. Pois, em crimes desta natureza,
quando se envolve criança como vulnerável, temos uma suposta vítima com
características legais de hipossuficiência quanto a idade, sem condição autônoma para
realizar sua própria ‘comunicação de crime’. Esta por sua vez, necessita que um adulto
o faça. Por estas características essênciais, este órgão imparcial e oficial está muito
próximo da atividade criminosa, sendo de imprescindível controle jurisdicional, que
impede, que acusações infundadas desemboquem em um processo (Sanini Neto,
2012). A fase de investigação se dá em um órgão oficial do estado, imparcial e
desvinculado do processo posterior, pois só assim é assegurado os direitos e garantias
do investigado. A atividade policial, consegue reunir elementos que justifiquem a
propositura da ação penal, trata-se de um ente absolutamente imparcial e que não
possui ligação direta com o processo (Sanini Neto, 2012). O Inquérito Policial constitui
uma garantia ao investigado, impedindo que uma pessoa inocente seja submetida a
um processo desnecessário, pautado em acusações infundadas (Sanini Neto, 2012).
Ademais, este procedimento investigativo garante que a máquina do Poder Judiciário
não seja acionada inutilmente, o que evita o dispêndio de recursos humanos e
financeiros por parte do Estado.
474
Sendo assim, o perito psicólogo que realiza a avaliação psicológica e faz parte da
equipe investigativa em contexto de delegacia, lida com notícias-crimes que
comunicam a existência de um crime, ou se encontram no roll de denúncias
infundadas. Este contexto paradigmático confere a equipe da polícia judiciária a
necessidade de expertise e tecnologia, para discriminar ambas as situações. Esta
condição indeterminada, confere ao perito psicólogo da fase pré-processual um
especialista em diagnóstico, em função da elevada situação de ambas as realidades.
Apontamos que tal preparo só é possível, diante da essência apuratória, desta fase
pré-processual, conforme explica Castro (2015):
Nos crimes de estupro de vulnerável, que na sua maioria não existe o vestígio físico, a
prova de sua existência, se encontra especialmente no campo psíquico-comportamento
encoberto e público dos envolvidos, sendo este campo, a expertise do psicólogo analista do
comportamento.
475
Por meio da avaliação psicológica, que é uma metodologia-técnico científica, o
trabalho do psicólogo criminal se destaca, pois o psicólogo tem condições científicas
de apresentar o impacto do delito na criança, ao responder: os vestígios psicológicos
desta interação e suas implicações. Conforme o Conselho Federal de Psicologia,
declara:
476
criança de 5 anos, se encontrava com nova namorada e nas férias o novo casal havia
programado viagem com a criança;
b) Tia que comunicou delito de que a comunicante havia cometido o crime de estupro
de vulnerável em detrimento da filha de 9 anos, por esta lhe dever dívida de aluguel;
477
adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz
para acompanhamento das visitas.
Nos incisos do Artigo 2º a lei apresentam alguns exemplos de condutas que podem
caracterizar o ato, tais como:
478
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;
479
Vale dizer, que o artigo 6º da Lei 12.318/2010, não tipificou a prática de alienação
parental como crime, pois as medidas tomadas pelo juiz não implicam em
responsabilização penal, com aplicação de sanção penal, seja ela pena: privativa,
restritiva ou prisão simples ou medida de segurança (Pavan, 2011).
Vale destacar que a doutrina mais atenta já repudia essa última alegação, de
mecanismos extrasjudiciais de solução de conflito. Pois, dos Meios Extrajudiciais de
Solução de Conflitosclii – MESC, a mediação teria justamente o escopo de respeitar o
‘Princípio da Intervenção Mínima’, bem como a desjudicialização do atendimento,
causando menores impactos aos envolvidos (Pavan, 2011). Quanto a penalização para
quem comete Alienação Parental e quem comete o crime de Estupro de Vulnerável,
são insofismáveis a fim de fazer valer as medidas protetivas disciplinadas nos artigos
4º e 6º da Lei 12.318/2010, referente a Alienação Parental:
480
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
c) finalidade pericial;
d) esferas legais; e
481
¬ Indicação das respostas à situação que motivou o processo de avaliação e
comunicação cuidadosa dos resultados, com atenção aos procedimentos
éticos implícitos e considerando as eventuais limitações da avaliação. Nesse
processo, os procedimentos variam de acordo com o contexto e propósito da
avaliação.”
Posto isto, a averiguação penal, não trata o crime sexual por meio de mediação para
resolução da lide, mas sim com investigação detalhada e extenuante, por se constituir
de fase pré-processual.
Em casos específicos, estes pais acusados, exercerem sua ampla defesa. E realizam por
meio de representante legal, a apresentação da ‘prova emprestada ’aos processos nas
varas de família. Esta ‘prova emprestada’, se refere ao laudo psicológico realizado na
Delegacia, acompanhado de parecer Ministerial que cita partes do laudo psicológico
referente às averiguações do contexto criminal, bem como, a sentença do juiz, que
geralmente é de arquivamento destes inquéritos:
482
juntamente com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
desenvolvimento da Pesquisa Nacional de Vitimização (2013). Esclarecemos que o
Forum Nacional de Segurança Pública, publica o Anuário Brasileiro de Segurança Pú
blica, que compila e analisa dados de registros policiais sobre criminalidade,
informações sobre o sistema prisional e gastos com segurança pública, entre outros
recortes introduzidos a cada edição. Além dos dados, o Anuário traz textos analíticos
com reflexões acerca da conjuntura atual de Segurança Pública no país. A produção
estatística da Senasp é geralmente realizada das seguintes maneiras:
Sobre a frequência com que as ofensas ocorreram no ano que antecedeu o estudo,
50,5% dizem que elas aconteceram por uma única vez, enquanto 19,1% respondem
duas vezes. Outros 10% citam três vezes, 3,2% quatro e 12,1% cinco vezes. Segundo
2,5% as ofensas sexuais aconteceram muitas vezes no período acima. As maiores
médias de frequência anual encontram-se no Centro-Oeste (3,1) e Norte (2,9) do país.
Tanto no Sudeste quanto no Sul, esse número corresponde a 2,5 e no Nordeste ele é
de 2,6. As leituras por estados e capitais são prejudicadas em função do número
reduzido de casos para análise segura.
483
chefes ou patrões (2%), professores (1,2%), parentes (1,1%) e namorados (0,8%). Os
pais aparecem em seguida com 0,6%.
Childhood (2017) informa que o Brasil apresenta uma forte carência de dados sobre a
violência sexual de crianças e adolescentes, com fatores de vulnerabilidade que
incidem diretamente sobre o problema, aumentando os casos de violação de direitos.
Em 2014, o Disque-Denúncia, registrou 91.342 denúncias de violações de direitos de
crianças e adolescentes e esclarece que o número de ‘denúncias ’não corresponde ao
número de casos de fato constatados. Semelhante a 2013, dos 13 tipos de violações
registradas pelo Disque-Denúncia em 2014, a violência sexual ocupa o 4º lugar, com
26% (Childhood, 2017)
Neves, Castro, Hayeck, & Cury (2010) informam que de acordo com dados da
UNICEF (2005), os principais abusadores são pessoas do sexo masculino, sobretudo
484
pais, padrinhos, avós, irmãos, tios. Bontempo, Bosseti, César & Leal (1995) que pes
quisam sobre abuso incestuoso apontou que 71,1% dos agressores eram pais
biológicos das vítimas e 11,5% eram padrastos, perfazendo um total de 82,6% (Saffioti,
1995).
Também na literatura mundial a figura do pai biológico é aquela que mais vitimiza
sexualmente as crianças (97% dos casos), enquanto as estimativas de agressoras
sexuais ficam entre 1% a 3% (Bontempo, Bosseti, César & Leal, 1995). Tais autores,
concluem que grande parte do abuso sexual sofrido pela criança acontece
preponderantemente no contexto intrafamiliar, sendo perpetrado por abusadores
familiares.
A discussão quanto a impunidade, agrupa dois tipos de dados: quando a vítima não
leva o crime ao conhecimento das autoridades e aos ínfimos números de ‘denuncias ’
que terminam em condenações (CLADEM, 2016). O Conselho Federal de Psicologia,
por meio do relatório do CFP (2009), intitulado: ‘Serviço de Proteção Social a Crianças
e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias:
referências para a atuação do psicólogo’, se posiciona frente a impunidade. Propõe a
necessidade do fortalecimento do sistema de defesa e responsabilização e ressalta a
importância da sólida instrumentação teórica, metodológica e técnica dos
profissionais. Com a finalidade de que estejam aptos a observar, interpretar e
compreender constantemente as situações novas que se apresentam no cotidiano
deste tipo de trabalho (Neves, Castro, Hayeck, & Cury, 2010)
485
Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
Degradantes do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos –PIDCP e o Pacto
Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais -PIDESC. Estas
Convenções apontam para os países signatários que cumpram com o mandato para
transferir à esfera doméstica os princípios do Estatuto de Roma, que obriga os Estados
a estabelecer padrões consistentes em seus regulamentos, que dentre estes cita:
Os dados apresentados são referentes aos laudos psicológicos, que foram juntados aos
autos, em que a perícia psicológica fez parte do roll de diligências solicitadas pela
delegada responsável pelo inquérito policial.
Destacamos que nos quadros a seguir, os casos em que as crianças tinham acima de
13 anos e 11 meses, também compareceram. Pois, tanto a operacionalização, análise e
feitura de laudo, a pesquisadora segue os mesmos procedimentos para os crimes de
Estupro de Vulnerável e para os crimes de Estupro, pois ambos envolvem criança ou
adolescente.
Informamos que os números a seguir, não são o foco deste trabalho, porém
comparecem para ilustrar o impacto, da instrumentalização pericial psicológica, na
prática científica tecnológica, a que esta Tese se propõe.
486
da violência sexual infantil. O resultado expressa dados minoritários, frente a ausência
analítica de tais números, nos artigos científicos brasileiros.
A comunicação de um fato à autoridade competente, de boa fé, para que seja apurado
eventual ilícito penal, não implica, por si só, responsabilidade indenizatória do
comunicante. Mesmo que a investigação resulte em Processo Criminal, cuja
punibilidade venha a ser extinta ou absolvidos os acusados. Destacamos que a
investigação nestes crimes, se utiliza em grande proporção das informações da
comunicante, por acreditar que esta possui, além da vítima, dados valiosos em relação
à:
“LIVRO I
DAS PESSOAS
TÍTULO I
CAPÍTULO I
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE
487
Figura 1- Graus de parentalidade conforme Código Civil - Lei 10406/02
“CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as
outras na relação de ascendentes e descendentes.
488
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau,
as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra.
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade.
CAPÍTULO II
Da Filiação
Os graus partindo do indivíduo, de acordo com Código Civil/15, Art. 330 e Art. 1.591
Código Civil/02, afirmam que: “são parentes, em linha reta, as pessoas que estão umas
para com as outras na relação de ascendentes e descendentes”. E concernente ao
Código Civil/2015, Artigo 331 e Art. 1.592 Código Civil/02: “são parentes em linha
colateral, ou transversal, até o 4º grau, as pessoas que provêm de um só tronco, sem
descenderem umas das outras. Parentesco, é a relação que vincula entre si as pessoas
que descendem do mesmo tronco ancestral, que pode ser: biológico ou consangüíneo.
489
Neste trabalho, na análise dos dados da parelha suspeito-vítima, será considerado:
a) relação de parentesco;
b) consanguinidade;
Por inovação, afinidade não é parentesco e sim o vínculo que liga uma pessoa aos
parentes do seu cônjuge ou, por inovação do novo Código; do companheiro; os afins
de cada cônjuge ou companheiro não são afins entre si; no segundo casamento, os
afins do primeiro não se tornam afins do cônjuge
A afinidade por sua vez, traz uma inovação ao incluir o companheiro Lei nº 10.406 de
10 de Janeiro de 2002:
“ SUBTÍTULO II
Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade.
490
Número de Encaminhados: avaliação Comunicantes que assinaram Casos periciados
solicitações neuropsicológica e o Termo de Recusa Pericial
delegacias de origem
n % n % n %
90
10 11,11% 19 21,11% 61 67,77%
No que tange ao resultado dos casos periciados para ocorrência ou não ocorrência da
Interação de Conteúdo Sexual, temos:
n % n % n %
61
3 4,91% 31 50,81% 27 44,26%
Quadros 5 - Casos periciados e o resultado quanto a ocorrência ou não de Interação de Conteúdo Sexual
61
1 Irmã 1,63
491
1 Avó Paterna 1,63
Quadros 6 - Comunicantes dos crimes, quanto a: relações, vínculos e proximidade, em relação a vítima
27 Meninas 21 Meninas
61 3 Meninas
4 Meninos 6 Meninos
Quadros 7 - Quanto a incidência de ocorrência da Interação de Conteúdo Sexual, por gênero das crianças
Destacamos que dos 61 casos periciados, dos 31 que Houve Interação de Conteúdo
Sexual, 27 foram meninas, assim referente a estes números, 87,09%, são do sexo
feminino. Nestes 31 casos, os que tiveram consanguinidade e relação de parentesco de
1º grau, na parelha suspeito-vítima, em que o pai foi o ofensor, o maior número esteve
presente em 2 crianças do sexo masculino e 1 criança do sexo feminino. No caso das 2
crianças do sexo masculino, as genitoras não se constituiram nem como ex-cônjuges. E no caso
da criança do sexo feminino os genitores foram ex-cônjuges.
Resultado pericial de
61 laudos
Quantidade Parelha comunicante-suspeito
1 Comunicante-porteiro da escola
492
Houve Interação 31 3 Genitora-pai
1 Comunicante-amigo da comunicante
1 Comunicante-namorado da comunicante
1 Comunicante-amigo da igreja
1 Comunicante-dois vizinhos
1 Comunicante-vizinho
1 Comunicante-pai adotivo
1 Pai-amigo da comunicante
493
1 Tia materna-pai de uma amiga da escola
1 Dique 100-padrasto
1 Conselho Tutelar-vizinho
1 Comunicante-amigo do pai
1 Comunicante-tia paterna
1 Comunicante-vizinho
1 Comunicante-namorado da comunicante
3 Pai-padrasto
1 Avó paterna-pai
1 Avó materna-pai
1 Disque 100-pai
494
Em amarelo, dos 61 casos periciados, temos 8 suspeitos externo á convivência familiar
consanguínea comunicante-filha (o)/criança, sendo que, a proximidade suspeito
vítima se dá por: territorialidade, proximidade geográfica, sem proximidade doméstica
e externo á família. O destaque para estes números, é que: em 8 destes casos, 5 houve
a Interação de Conteúdo Sexual.
INCONCLUSIVOS
495
HOUVE INTERAÇÃO DE CONTEÚDO SEXUAL
Masculino - os genitores
nem chegaram a se
6 relacionar
Feminino - os genitores
são ex-cônjuge
10
11 Masculino
9 Feminino
16 Feminino
496
1 Comunicante-vizinho 11 Masculino
3 Feminino
4 Feminino
4 Feminino
5 Feminino
497
1a 9m Feminino
3 Feminino
5 Feminino
6 Masculino
3 Feminino
5 Feminino
3 Feminino
7 Masculino
1 Comunicante-vizinho 15 Feminino
3 Pai-padrasto 16 Feminino
9 Feminino
6 Feminino
498
1 Conselho Tutelar -pai 16 Feminino
Quadros 9 - Incidência da ocorrência ou não da Interação de Contéudo Sexual, quanto ao: gênero, idade, parelha
comunicante-suspeito e consanguinidade
Apontamos que, das 16 comunicações de crime de comunicantes contra os pais das crianças
consideradas vítimas, destacamos que nestas 13 comunicações que não ocorreram a interação
de conteúdo, em 11 casos (84,61%) a idade das crianças periciadas são as mais tenras, abaixo
de 6 anos. E quanto ao gênero, 90,90% do sexo feminino:
1 1a 9m Feminino
1 3 Masculino
Comunicante-pai (ex-conjuge)
4 3 Feminino
2 4 Feminino
3 5 Feminino
1 6 Masculino
1 7 Masculino
Quadros 10 - Genitoras-comunicantes contra os genitores das supostas vítimas, em que não houve a ocorrência da Interação
de Conteúdo Sexual
499
a genitora foi comunicante, 17 (80,95%) dos acusados não possuíam nem relação de
consanguinidade nem vínculo por afinidade:
3 Comunicante-pai 3 Masculino
6 Masculino
10 Feminino
11 Masculino
9 Feminino
16 Feminino
500
1 Comunicante-dois vizinhos 16 Feminino
1 Comunicante-vizinho 11 Masculino
Quanto a laudos e inquéritos finalizados, dos 61 casos, temos 20 suspeitos eram pais
das supostas vítimas, 32,78%. Destas 20 acusações em que o genitor foi acusado de
crime de estupro de vulnerável, 16 acusações, em 80% a comunicante era a comunicante
da criança. Destas 16 acusações, 3, resultaram em interação de conteúdo sexual, sendo
as vítimas: 2 meninos e 1 menina. Os outros 13 casos, não resultaram em interação de
conteúdo sexual, ou seja, não foi confirmado a Interação de Conteúdo Sexual via
perícia psicológica, que foi corroborado pelo relatório do delegado de não
indiciamento.
Por sua vez, destes 13 casos, 5 casos até o momento (2016) foram arquivados, visto que
não foi solicitado outras diligências pelo Ministério Público. Nestes casos, os
Promotores alegaram fato atípico, com o deferimento para o arquivamento do Juiz.
Nestes 5 casos, no Parecer Ministerial, dentre outras justificativas em relação ao
conjunto probatório, partes do laudo psicológico da pesquisadora foi citado.
Destacamos que os 12 casos, em que não foi constatado o crime de estupro de
vulnerável, se referem ao ano de 2014, 2015 e até fevereiro de 2016.
501
Para finalizar, esclarecemos que não existe pesquisas e tratamento de dados feito pelos
atores das políticas públicas, nem da rede de proteção a criança e ao adolescente, no
contexto da polícia judiciária, ou seja, no nascedouro das investigações de violação de
direitos contra crianças, na esfera criminal. O que existe, são dados do Disque 100,
revelado pelo próprio órgão, a respeito das ‘denúncias ’encaminhadas por este órgão
nacional, via Ministério Público á Delegacia da criança de Goiânia. Com base dos
dados da pesquisadora supracitados, 3 casos se referem ao Disque 100. Os casos do
Disque 100 que chegam a Delegacia, via Ministério Público, são primeiramente
investigados pela equipe principal, delegado-agente de polícia e se em decorrência da
investigação, tenham procedência se constituem como Inquérito Policial.
Em última análise, o Brasil não possui um dado integrado que possa apresentar a
realidade do fenômeno violência sexual infantil, visto que exigiria um
acompanhamento a longo prazo dos casos. Este acompanhamento deveria ocorrer
desde a comunicação do crime até a sentença do juiz, tanto para os casos em que houve
o indiciamento, quanto para os casos em que não ocorreramo indiciamento. Assim,
deveríamos ter o número de quantos inquéritos foram instaurados nos crimes 217-A
e quantos destes:
a) foram indiciados;
Pois, pode acontecer de alguns ou todos os indícios, serem tomados como prova ou
serem desprezados, ficando a ação penal desprovida de prova. Ou então algum
indício pode ser parcialmente valorado, mas apresentando-se como prova
insuficiente.
502
Ministério Público e deferida ação penal pelo juiz. Assim, tal análise não favoreceria
a interpretação de todo o fenômeno criminal. Da mesma forma, ao se contabilizar os
crimes pelas notícias-crime, não se considera o quanto destes inquéritos policiais ou
deram origem a denúncias, ou foram arquivados pelo judiciário, seja por falta de
provas, seja, por configurarem fato atípico.
503
Resultado: PARTE II
A segunda parte dos resultados será apartada do restante do trabalho, visto que, não
poderá ser publicizada, com o intuito de preservar o instrumento desenvolvido, com
a precaução necessária para que não seja utilizado por terceiros externos á área:
psicólogo perito com atuação na fase pré-processual e conhecimento dos princípios
do Behaviorismo Radical, e Análise Funcional do Comportamento Verbal.
1. Logística pericial;
3. Relatório Analítico;
5. Laudo pericial.
504
1 Logística Pericial – material sigiloso
505
4 Roteiro Analítico
SKINNERIANA
Unidade de Análise
A ANÁLISE DEVE SEMPRE SER ORIENTADA:
Operante Verbal
A visão contextualística informa que a classificação efetiva de um operante verbal
deve observar as circunstâncias sob as quais ele é emitido. O significado, ou a função
da palavra, está nas circunstâncias atuais que controlam a resposta e na história do
falante de exposição a contingências semelhantes. Um primeiro aspecto dessas
circunstâncias são as situações antecedentes ao comportamento verbal. Para entendê
las, considere os seguintes exemplos de relações verbais elementares e as
circunstâncias nas quais foram emitidas. Uma vez observada a emissão do operante
verbal - pergunte se as condições antecedentes são do tipo operação estabelecedora
(de privação ou estimulação aversiva) (Michael, 1988) ou estímulo discriminativo.
Tacto
1. Clareza diagnóstica – A clareza diagnóstica aponta com nitidez o resultado da
análise dos relatos por meio do operante verbal tacto, a respeito do fato investigado.
506
e um reforço. Eles são interdependentes: o estímulo, agindo antes da emissão da
resposta, cria ocasião para que a resposta provavelmente seja reforçada. Sob tal
dependência, mediante um processo de discriminação operante, o estímulo (interação
de conteúdo sexual - meu) torna-se a ocasião em que a resposta provavelmente será
emitida.” (Skinner, 1957, p. 107).
Para esta confirmação de tacto, deve ser identificado as variáveis externas, das quais
o comportamento é função, chamada de análise causal ou funcional. Tentamos prever
e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa ‘variável
dependente’ - o efeito para o qual procuramos a causa/função (meu). Nossas
‘variáveis independentes’ – a causa/função (meu) do comportamento – são as
condições externas das quais o comportamento é função. Relações entre as duas – as
‘relações de causa e efeito (Se, Então – meu), no comportamento, são as leis de uma
ciência (Skinner, 1979, 2007; p. 38). Sob tal dependência mediante um processo de
discriminação operante, o estímulo torna-se a ocasião em que a resposta
provavelmente será emitida (Skinner, 1957, p. 107). Para isso, teremos as perguntas
das entrevistas para que o perito possa inferir como ocorreu tal discriminação, que se
trata da resposta do ouvinte (perito com suas perguntas) ao tacto do falante
(entrevistado) (Skinner, 1957; p.113).
(CR - CO) contingência de reforço são mais consistentes (Skinner, 1957, p. 147);
507
(CR - CO) o ‘uso das palavras’ (perguntas periciais, meu) a qual parece libertar (meu
grifo) a palavra do comportamento do ouvinte ou falante (neste caso falante), de forma
que ela (as palavras, meu) possa estar em relação de referência com um objeto ou
situação (meu) (Skinner, 1957, p. 113);
(CR - CO) responde às perguntas periciais, mais como estímulo discriminativo do que
como reforço (Skinner, 1957; p. 184). Visto que se as perguntas periciais (estímulos
discriminativos), ou o próprio perito (enquanto auditório) reforçarem algum tipo de
comportamento verbal, o falante pode logo mais confinar-se a tipos reforçados por
causa de discriminações anteriores;
(CR - CO) repertório vocabular não correspondente para determinada faixa etária;
(CR - CO) dados intra verbais não correspondente que comparecem no inquérito;
(CR - CO) dados entre verbais não correspondentes que comparecem no inquérito;
508
meio físico, o mundo das coisas e acontecimentos a respeito dos quais um falante ‘fala’
(Skinner, 1957, p. 107).
I - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que existiram – tacto, em que o
entrevistado está sob controle do fato (interação de conteúdo sexual de um adulto com
uma criança) e quando a função do auditório é a de selecionar assunto. Plano, ordem
e composição ‘deliberada’, podem ser analisados mais eficazmente (Skinner, 1957; p.
375), quando um sistema de respostas se organiza ao redor de um dado estímulo
(Skinner, 2007; p. 312).
II - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que não existiram – identificação do
tacto distorcido. O controle do estímulo de um tacto tende especialmente a ser
distorcido quando a resposta é emitida esquivando-se ou fugindo de consequências
aversivas (tal como, responder as perguntas periciais). Uma pessoa que distorce,
comporta-se verbalmente de acordo com contingências de reforço estabelecidas por ela
mesma (no caso de distorcer tactos na perícia psicológica), o estado de coisas (o fato
investigado) que, de outro modo, serviria para controla-la pode ter pouca influência
sobre seu comportamento.
III - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que não existiram e acrescer-lhe
detalhes que existiram – tacto distorcido. Podem ocorrer mudanças nas privações
subjacentes a um reforço generalizado (Skinner, 1957; p. 182). O falante pode estar
afetado por variáveis emocionais que, em outra situação, mostram-se bastante
irrelevante ou relevante (meu) para seu comportamento verbal. Além dessas
condições momentâneas, o controle de estímulos pode ser distorcido por certas
consequências especiais, proporcionadas por um ouvinte em particular (escrivão,
perito, delegado, juízo) ou por ouvintes em geral sob determinadas circunstâncias
(Skinner, 1957; p. 182). Quando a relação de controle é assim distorcida ou deformada,
chamamos a resposta de:
IV - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que existiram e acrescer-lhe detalhes que
não existiram. A mera emissão de uma resposta, não importa quão dinâmica ela seja,
não serve como substituto para a asserção. Neste caso as variáveis relevantes não estão
presentes no fato periciado, o que ocasiona incompatibilidade as respostas periciais,
pois o meio do qual o comportamento é função não se refere ao caso, e sim as
condições do falante, desta forma não há razão para se esperar consistência no
509
comportamento (Skinner, 2007; p. 313). São dois sistemas de respostas apropriados a
diferente conjunto de circunstâncias (Skinner, 2007; p. 313), um em que o entrevistado
está sob controle do fato e outro que está sendo reforçado pelo efeito de seu relato ao
perito, ambos comparecem.
V - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que existiram e retirar detalhes que
existiram;
II - (CR - CO) Ocultar fatos que ocorreram – existe a ocorrência do fato a ser
investigado, porém, eventos podem ser protegidos, quando se oculta dados em favor
de si mesmo. A identificação de eventos ocultados ocorre ao analisar a comparação
dos dados, na junção Identificação da Situação Verbal relacionado a Dados do Inquérito
Policial – Indicadores quanto a ocorrência de fatos.
III - (CR - CO) Desvirtuar fatos – a fatos que ocorreram, acrescenta a fabricação de
fatos que não ocorreram, acrescentar detalhes ou eventos ocorre para agravar a
situação. A identificação de detalhes ou eventos agravados, ocorre ao analisar a
comparação dos dados, na junção Identificação da Situação Verbal relacionado a Dados
do Inquérito Policial – Indicadores quanto a ocorrência de fatos.
Sinteraçãodeconteúdose��ual
deumadultocomumacriança
510
como única fonte de força, em que um tacto sob controle deste estímulo particular e
que adquire efeito especial sobre o ouvinte (perito) será emitido com muito mais
probabilidade (Skinner, 1957; p. 275).
Ao passo que, quando o falante (entrevistado) passa a ‘descrever cenas que nunca
vira’ ou ‘relatar histórias’, pode estar controlado pelas contingências de reforço, que
ele mesmo pode suprir como seu próprio ouvinte (Skinner, 1957; p. 185).
O tacto distorcido é temporariamente mais eficaz porque atua sobre uma tendência
maior do ouvinte (perito) em responder de modo mais apropriado (Skinner, 1957; p.
189). O que é esperado pelo falante (entrevistado). O controle de estímulo de um tacto
tende especialmente a ser distorcido, quando a resposta é emitida, esquivando-se ou
fugindo de consequências aversivas (Skinner, 1957; p. 189) que pode ser reconhecido
pelo perito, nas respostas do entrevistado, com: respostas deficitárias (responde em
partes as perguntas periciais), respostas declinadas (não respondem as perguntas
periciais – ‘não sei!’), emoção desvirtuada ( a maneira mais apropriada de gerar uma
emoção é frente a um estímulo apropriado, neste caso inapropriado; Skinner, 1957; p.
190) em que o falante pode exagerar, ‘extrapolar o tacto’ por responder a reforço
generalizado e não por estímulo discriminativo, o fato (interação de conteúdo sexual
de um adulto com uma criança).
I - (CR - CO) Alta ocorrência de esquiva – não responde às perguntas periciais, por
estar sob controle de uma temática ‘subjetiva’ que não seja o fato investigado;
511
IV- (CR - CO) Respostas declinadas - não respondem as perguntas periciais – ‘não
sei!’;
512
O tacto contrasta claramente com as relações de controle do mando onde os resultados
mais eficientes são obtidos quando se rompe qualquer conexão com o estímulo
anterior, deixando assim a privação ou a estimulação aversiva no controle da resposta
(Skinner, 1957; p. 108,109).Visto que o mando, é reforçado especificamente pelo objeto
ou acontecimento especificado no próprio mando, todos os demais são mantidos por
reforço generalizado (Borloti Elizeu, 2004). Um mando é uma resposta verbal que
especifica o seu reforçador (Catania, 1998, p. 419) e esta relação específica entre a
resposta e o seu reforçador é dependente de operações estabelecedoras relevantes, de
privação ou de estimulação aversiva (Skinner, 1957, p. 35-36). Somente uma análise
funcional de antecedentes e conseqüentes poderá explicitar a função das palavras
(Borloti Elizeu, 2004). A análise da função de outras variáveis do contexto também
poderá explicitar o controle único ou múltiplo sobre um operante verbal que parece
um mando.
No tacto por sua vez, estabelecemos uma relação excepcional com um estímulo
discriminativo (Skinner, 1957; p. 108,109).
I - (CR - CO) Entrevistados emitem mando, quando o esperado são tactos, pelo
simples fato, que o entrevistado deve responder a um conjunto do meio físico, o
mundo das coisas e acontecimentos, em que o comportamento verbal está sob controle
de tais estímulos (Skinner, 1957, p. 107), neste caso, responder a interação de conteúdo
sexual de um adulto com uma criança.
III - (CR – CO) O entrevistado fica sob controle do auditório (quando o perito é
considerado pelo entrevistado) que será um estímulo discriminativo na presença do
qual o comportamento verbal é caracteristicamente reforçado e em cuja presença ele
á caracteristicamente reforçado e em cuja presença ele é caracteristicamente forte
(Skinner, 1957, p. 209). Visto que, no tacto, estabelecemos uma relação excepcional
com um estímulo discriminativo (Skinner, 1957; p. 108,109)
513
distorção do controle de estímulos. Ou em um grau menor, o falante simplesmente
‘alonga, exagera os fatos’, ele superestima o tamanho de algo/situação, ou minimiza
algo/situação (Skinner, 1957, p. 184, grifo meu)
514
a criança apresenta um ouvinte específico que frequentemente realiza uma ação
específica em relação ao que é dito (Skinner, 1957, p. 187).
Desta forma por meio das perguntas periciais em que ao se identificar contextos
específicos neutros, a criança relata como foi questionada. Quando a criança apresenta
o cenário em que se encontrava, quando em contexto neutro foi questionada em
relação ao fato Interação de Conteúdo Sexual – ICS, pelo adulto responsável, trata-se
da Sugestionabilidade. Quando o adulto responsável questiona (mando), perguntas
de um fato tão específico, em contexto não correspondente ao fato (Skinner, 1957, p.
187), o falante está mais interessado em ‘deixar que o ouvinte se informe acerca de
alguma coisa’ (Skinner, 1957, p. 187). Isto é, a força de seu comportamento é
determinada principalmente pelo comportamento que o ouvinte exibirá em relação a
um certo estado de coisas (Skinner, 1957, p. 187), neste caso ao questionamento, O
QUE se fala ao perguntar. Afinal de contas, uma grande variedade de efeitos especiais
sobre ouvintes especiais pode ter o mesmo resultado que um reforço generalizado
sustentado, e o controle exercido pela situação usual de estímulo pode ser mantido
(Skinner, 1957, p. 187). Mas o efeito especial tende mais a colocar o comportamento
sob o controle de variáveis especiais (Skinner, 1957, p. 187). Neste caso, deve-se
distinguir a ‘mesma palavra’, ‘a mesma forma de resposta’, em diferentes tipos de
operantes (Skinner, 1957, p. 227), precisamos aceitar o fato que o mando ‘mamãe beija’
e o tacto ‘mamãe beija’ envolvem relações funcionais distintas, que só podem ser
explicadas descobrindo-se as variáveis relevantes (Skinner, 1957, p. 227), em que as
variáveis de controle do tacto, são não-verbais, e do mando, verbais.
515
precedidos por mandos que especificam a ação que colocará determinado estímulo sob
controle (Skinner, 1957, p. 187, 188)
I - Quanto a forma:
(CR - CO) Relato que comparece manejo da informação - presença de tacto distorcido
e cedência da criança quanto a informação repassada e ou construída por meio do
estilo de questionamento que constrói o tacto distorcido – será identificado com base
documental apresentados ao inquérito e por meio de intra e entre verbais dos
envolvidos nos Termos do Inquérito Policial, em que se busca identificar a qualidade
verbal, quando não há presença de manejo da informação, nem de
sugestionabilidade), que aponta a clareza diagnóstica;
(CR - CO) Rejeitar uma resposta reduz a estimulação aversiva condicionada gerada
por ela e é reforçada por isso (Skinner, 1957, p. 444). O comportamento restritivo,
comum em auto-ouvintes, deve ser classificado como fuga ou evitação (Skinner, 1957,
p. 444, 446):
(CR - CO) Reaver uma resposta – constitui uma forma de fuga. Nós não apenas
‘reavemos’ uma resposta passível de punição, ou a seguramos na ‘ponta da língua’,
como também suportamos uma reação de medo ou culpa. Mas a emoção (quer ela seja
‘sentida’ ou não) não é essencial á rejeição, ela é muito lenta para produzir uma
correção subvocal instantânea. (Ela pode alterar a força da resposta punida pelo fato
de entrar em conflito com variáveis motivadoras ou emocionais de que a resposta é
função); (Skinner, 1957, p. 446)
516
(CR - CO) Quantidade de acréscimo de temas de interesse próprio. Tapar a boca com
a mão para prevenir uma resposta aberta é claramente uma evitação, assim como o
fato de se dizer algo em seu lugar; (Skinner, 1957, p. 446)
(CR – CO) A emissão de resposta – (Skinner, 1978 – pg. 38,39) – Se a resposta é emitida,
o operante provavelmente é resistente. A emissão de uma resposta constitui uma
medida de tudo ou nada. Ela nos permite inferir a força (aquilo que se mantém pelo
condicionamento e resistência) apenas em termos da adequação das condições em que
ocorre a emissão. Todavia, a emissão é um sinal melhor de força se as circunstâncias
são pouco comuns:
(CR – CO) lapso verbal – a resposta que se introduz ou que deforma o comportamento,
não é apropriada para a situação imediata, mas apesar disso surge como
especialmente forte; (Skinner, 1978 – pg. 39)
(CR – CO) relação (CR – CO) alta (CR – CO) baixa; entre a emoção e probabilidade de
uma emissão comportamental específica, em contexto específico, neste caso correlato
ao fato apresentado; (Skinner, 1978 – pg. 39)
(CR – CO) Autocorreção – se a correção deve ocorrer, o falante terá de reagir como um
ouvinte do seu próprio comportamento (Skinner, 1978 – pg. 459). Desta forma, quando
o fato ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança’, não o controla –
é mais comum que o falante esteja respondendo a seu próprio comportamento do que
517
às variáveis que o controlam. A relação de controle com as variáveis de controle pode
ser tênue ou obscura, ou ainda não-percebida, por que a punição recebida foi (pode
ser, meu) contingente. (Skinner, 1978 – pg. 462)
(CR - CO) baixa – o tempo de latência alto entre a pergunta e a resposta. Ocorre em
detrimento das circunstâncias controladoras, que não se refere ao fato analisado.
Hesitação revela pouca força. Uma demora na resposta nos leva a suspeitar que algo
está possivelmente errado nas circunstâncias controladoras. A fraqueza pode dever
se a um comportamento competitivo. (Skinner, 1978, pg. 40);
(CR - CO) alta – o tempo de latência baixo, ou inexistente entre a pergunta pericial e a
resposta. Ocorre em detrimento das circunstâncias controladoras, que não se refere ao
fato analisado. Uma resposta pronta/ rápida indica que o falante estava ‘fortemente
inclinado a dá-la’. (Skinner, 1978, pg. 40);
(CR – CO) repetição – uma indicação de força é a repetição imediata de uma resposta.
Energia da resposta e repetição podem combinar-se. A repetição é aparentemente
responsável por uma classe de expressões que envolvem uma ênfase especial
(Skinner, 1978, pg. 42).
IV – Quanto a evidência de força em relação a alta frequência– (Skinner, 1978, pg. 44).
518
(CR – CO) Frequência alta (Skinner, 1978, pg. 44) – Em qual tema se concentra a
centralidade temática do indivíduo. Para isso, consideramos a maneira pela qual,
diversas variáveis do fato, por estarem combinadas, são emitidas, por serem
suficientemente fortes, por representarem um determinado fato. Com isso,
identificamos o quanto é significativo, a inclinação do falante para falar sobre
determinado assunto (Skinner, 1978, pg. 44).
(CR – CO) Probabilidade e exemplo isolado – por meio das relações funcionais do
comportamento verbal, busca-se a força de uma única resposta: ‘emitir a respeito da
interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança’ e sob quais condições
ela ocorreu (Skinner, 1978, pg. 273).
V - (CR – CO) No relato há presença das fases da interação sexual, no que tange a:
coerência (sintomatologia), peculiaridade particular do contexto (isolamento) e
manutenção do ciclo violento (ameaça);
519
uma atitude muito complexa para a criança, que pode ser expressa de várias maneiras, sendo
estas:
( ) Imediata - assim que acontece a violência sexual, a criança revela para alguém, seja
em casa ou na escola. É a situação mais rara de se encontrar, visto que a criança leva
um tempo para assimilar o ocorrido e tomar providências em relação á sua segurança.
Tal atitude é mais rara de ocorrer, pois geralmente são pessoas próximas e de
confiança da família e ou parentes do convívio da criança, que realizaram tal ato,
dificultando mais ainda o entendimento da criança em relação ao que está
acontecendo.
( ) Revelação seletiva - em que a criança escolhe a pessoa para quem irá revelar, geralmente
para uma amiga, prima, tia.
( ) ocorre também após um terceiro presenciar e narrar o fato, e com isso a vítima
revela;
520
revelar. Este comportamento da criança causa espanto, em função da revelação do fato
surpresa e inesperado.
521
( ) o suspeito diz que vai tirar a comunicante de casa;
( ) Detalhes supérfulos – neste critério existe a menção de detalhes recordado, que não
se relaciona diretamente com a interação sexual, pouco relevantes para apoiar a
acusação e que em função da sua irrelevância implica em um exercício em relação a
contato e rotina - familiaridade. Ex.: “ele fazia doce”, “ele gostava de bola”.
522
pensamentos, experimentado por ela durante o episódio abusivo. Assim como a
mudança destes estados durante o transcurso do evento;
( ) Complicações inesperadas durante a interação – situações que faz com que o suspeito
interrompa sua ação, detalhes relativos a situações imprevistas.
( ) Evidências – este tópico se refere a comprovações além de relatos verbais, que são
raras, visto que, a maioria da violência sexual em desfavor de crianças, não deixam
vestígios. Geralmente ocorre em um ambiente externo ao familiar, como escola,
creche, com associação que a criança faz com alguma cena, desenho, filme e conversas
fora da temática sexual.
( ) desejo – motivação
( ) tensão
523
( ) saciação do pensamento
( ) Superação das inibições internas, quanto as punições sociais, para interagir sexualmente
com uma criança; (Finkelhor, 1984)
( ) Superação das inibições externas, algo no ambiente, como figuras protetivas que impeça
o êxito da interação sexual, desde o engajar- gratificação do desejo – desengajar; (Finkelhor,
1984)
524
( ) o ofensor decide cometer o ato e espera para ter as melhores condições para realizar,
pois a ofensa é o resultado de um conjunto de pensamentos que é colocado em ação
(Yochelson e Samenow, 1976)
IV - Ocorrência da ICS –
(CR - CO) Ocorreu - relato que descreve o modus operandi - Para analisar a condição
da ocorrência de uma interação sexual adulto-criança/adolescente, distingue-se
características na condição própria deste fato, que são reconhecidas como instâncias
inseparáveis e que estas são condições si ne qua non para a ocorrência de tal fato. O
modus operandi (Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter, 1999) é uma maneira de agir,
os procedimentos implementados pelo ofensor possuem um padrão pré-estabelecido,
sendo que qualquer instância que falte, a ofensa não ocorrerá. Assim, existe um modus
operandi, por que a natureza do fato determina um padrão operandi, em que o
desempenho do ofensor é moldado a natureza da especificidade que uma ‘interação
de conteúdo sexual’ exige. Esta natureza é binária, ocorre ou não ocorre. (Lecler,
Proulx, e Beauregard, 2006, in press), (Kaufman, K. L., Hilliker, D. R., Lathrop, P.,
Daleiden, E. L. e Rudy, L., 1996), (Kaufman, K. L., Holmberg, J. K., Orts, K. A.,
McCrady, F. E., Rotzien, A. L., Daleiden, E. L. et al., 1998), (Kaufman, K. L., McCrady,
F. E., Holmberg, J. K., Rotzien, A. L., Orts, K. A., Hilliker, D. R. et al. (1997, outubro),
(Kaufman, K. L., Mosher, H., Carter, M. e Estes, L., 2006)- de ofensores sexuais -
conceituados como:
( ) ‘sex offender’
( ) ‘only sex offender’, que possuem atuações super específicas com crianças;
525
( ) Possuem preferencia por alvos do sexo masculino; (Willian-Taylor, 2012)
( ) Regressed (Taxonomia de Groth, 1979)- Interage com adultos também – que tipo de
relacionamento estabelece;
( ) é casado ______________;
Inclinações: (González, E., Martínez, V., Leyton, C., & Bardi, A., 2004)
( ) conseguem mantê-las sob seu locus de controle por muito tempo, mesmo sem
intertê-las;
526
( ) se passa por familiar e amigável;
527
( ) Forçar uma criança a se envolver em contato sexual com animais.
( ) Forçar as crianças a ver as atividades sexuais dos outros. Por exemplo: a) Os pais
ou outros envolvendo crianças na observação do coito. b) Apresentar ( ) pornografia
por video e ou virtual
Detalhes característicos da ofensa – este critério se refere aos dados que comparecem no
relato da criança, que se enquadram com dados criminológicos e dinâmicas
psicológicas acerca deste delito. Trata-se de um estereótipo social para manejar a
situação de abuso, que se vale de tais características da vítima:
( ) objetivo único de saciar desejos sexuais, esta necessidade de saciação sexual por
parte de suspeito se evidencia, visto que sua forma de ação pode estar ao primeiro
toque, vinculado as genitálias da criança;
528
( ) Contexto habitual; os lugares que a criança frequenta no seu dia-a-dia; local,
horário e responsável;
( ) Contexto não habitual (Mota, 2008) dos envolvidos; local, horário, frequência
temporal e responsável;
( ) Contexto específico (Fernandez, 1991; Krom, 2000), (Capelatto, 1999; Adolfi, 1984)
para a ocorrência da interação de conteúdo sexual entre um adulto e uma
criança/adolescente; local, horário, frequência temporal, motivo (por que foi para este
contexto) e responsável;
529
Geralmente não há o teor da ameaça e se compõe de algumas características, tais
como:
( ) já inicia a interação tocando nas genitálias da vítima, pois de acordo com sua
estratégia não terá outro momento com a mesma
( ) solicita que a vítima realize sexo oral, em função do tempo escasso e da necessidade
de se satisfazer na interação
Grooming:
530
( ) Atua com crianças vulneráveis – infratores possuem uma habilidade precisa e
planejada em identificar e explorar as vulnerabilidades disposicionais (particulares) e
ambientais das crianças-alvo. Infratores têm preferência pelas mais jovens, pois
apostam altamente na vulnerabilidade comunicacional, como baixa quantidade de
repertório verbal, dificuldade na dicção, elaboração de frases deficitárias, deficitárias
em conteúdos verbais, com baixa quantidade de conceitos;
531
( ) Manutenção: (Kate, 2009) – com frequência assegura-se do ‘acerto’ que fizeram,
solicita cooperação e promete recompensas. Relata que esta ‘ensinando algo’ e que tal
prática significa ‘cuidado e amor’. Informa que tais atos não vão prejudicar a criança.
Transmite a criança a ilusão de que ela ‘é livre para escolher’ e assim passa para a
criança a sensação de que foi consentido. Para isso utiliza de suborno, ameaça e
punição.
Modus Operandi:
Conexão vítima-suspeito
Conduta da ação
( ) Estratégia para levar a vítima para o local escolhido (Beauregard et al. 2007b) -
método de abordagem, coerção e medo ou sedução e barganha
532
amplamente em função da configuração contextual e as pistas situacionais acionará a
atuação (Amir, 1971), pois o ofensor já está precipitadamente engajado na situação. O
ambiente circundante é determinante para o ataque (Salter, 2003; Craven et al. 2006)
( ) Idade do suspeito
533
3. Condições facilitadoras de atuação
( ) a criança consegue relatar O QUE, COMO e ONDE o suspeito fez com ela;
534
( ) COMO e QUAIS partes do seu corpo o suspeito teve contato;
( ) COMO e QUAIS partes do corpo do suspeito a criança teve contato e ou foi exposta
para a criança.
(CR - CO) Estrutura lógica – existe um entendimento quanto ao começo, meio e fim da
interação;
(CR - CO) Descrição de interações – quando no relato existe uma referência as ações e
reações da vítima e do suspeito. AÇÃO – REAÇÃO – OUTRA REAÇÃO EM
RESPOSTA A ESTA ULTIMA – Ex.: ‘foi para o banheiro por que o suspeito mandou’,
‘colocou a roupa sozinha por que o suspeito mandou’, ‘voltou para o local em que
estava’, ‘suspeito mandou a criança dormir’. Quando se identifica esta estrutura,
aponta para a qualidade da narrativa em que reduz uma probabilidade de
Sugestionabilidade:
535
(CR - CO) Despiste - Caso a pessoa comece a inserir temáticas de sua preferência,
realiza uma dispersão temática frente as perguntas ou acrescenta temas de sua
preferência, como uma esquiva ás resposta. Que pode ser descrito de duas formas:
(CR - CO) temática de despiste – trata-se do episódio em que a pessoa traz temáticas
que não são complementares ao fato e ou a inserção de outra história ou padrão
comportamental, há uma descontextualização do fato, uma dissociação.
(CR - CO) temática de esquiva – frente a pergunta do perito a pessoa relata temática
não correspondente à pergunta – pergunta-se algo, relata-se outra resposta de padrão
temático diferente, que altera e desconfigura a centralidade da pergunta, ex.: “Você
foi ao médico? Sempre ele (suspeito) estava em casa nessa hora!”
(CR - CO) Força de uma única resposta frente ao estímulo suplementar – frente a
pergunta aberta principal – o relato a respeito da temática da interação sexual surge
de maneira espontânea e e tempo de latência curto, se identifica o fato. Pode identificar
relato acompanhado de um tom de voz envergonhado e de uma expressão física
retraída, de baixo tônus muscular e baixa movimentação corpórea, o que expressa a
emoção de ‘vergonha’ da criança. Em crianças de tenra idade (até 5 anos)
encontraremos o relato acompanhado de tom de voz espontâneo, um relato claro, de
movimentação e expressão física, mais próximo do natural da idade da criança, até
por que o entendimento que se tem a respeito do que foi feito a ela é significado pela
criança de uma maneira muito parcial, ainda não se tem o entendimento da
complexidade do todo. Geralmente em contextos que o fato ocorreu, pessoas recebem
bem as perguntas e quando o fato não ocorreu, pessoas podem expressa um
sentimento e atitude negativa em relação as perguntas.
(CR - CO) Elaboração não-linear contextualizada – saltos de uma situação para outra,
porém dentro da mesma temática, mas que ao final tem uma lógica. O que não ocorre
com fraudes, visto que o enganador tem um discurso pronto e rígido.
(CR - CO) Conservação e origem da informação – existe a ação em relatar, eo que condiz
com um relato não-sugestionável, clareza do fato (cena do crime – dia, hora, local,
conteúdo, contexto, consequentes, condicionadores), boa forma ao relatar, sem
esquiva e bom tempo de latência em responder as perguntas, conserva a centralidade
temática contingenciada - de QUEM foi, ONDE foi, QUANDO e A QUE HORAS foi e
COMO foi, sendo que estas informações devem possuir características de
536
interdependência e alta correlação ao contexto da contingência que se investiga,
desenvolve comportamentos não habituais e diferenciados da realidade da criança.
(CR - CO) há uma alteração essencial no relato, uma variação temática que não tem
como o perito se localizar quanto ao fato relevante, as informações disponibilizadas
em relatos abertos fogem da essência da temática;
(CR - CO) apresenta novas informações, visitas não agendadas, com uma necessidade
de SUPER-informar o perito com informações periféricas e bem particulares a pessoa
e não ao fato;
(CR - CO) existe uma fidelidade verbal relacionados a PRE e POS eventos, a pessoa
até responde a pergunta do perito, mas insiste em voltar ás temáticas periféricas de
sua preferência;
(CR - CO) super-exposição da criança para que a mesma relate o ocorrido, com
exigência e imposição para que a criança relate.
537
(CR - CO) Fidelidade à constância – existe um relato primário constante, que não varia,
vivência quanto a descrição do relato, descrições sensoperceptivas (Echeburúa e
Subijana, 2008);
(CR - CO) Dominância temática na estrutura do relato – este tópico avalia quanto do
tempo verbal do indivíduo é dispensado a partir do fato e não das circunstâncias.
Identifica a sobrecarga cognitiva (elaboração) em relatar o fato, com forte motivação
de parecer estar correto.
( ) Correções espontâneas – correções espontânea a seu relato, que diz respeito a um relato
flexível.
Será realizado a análise temática que comparece nas: Entrevistas Contingenciadas, Teste
Rorschach, o Teste CAT ou TAT (quando forem implantados) e Hora Jogo Diagnóstica.
1. A Investigação Temática será realizada especialmente pelo Teste Rorschach, o Teste CAT ou
TAT, e Hora Jogo Diagnóstica. A utilidade clínica de uma investigação temática
depende da extensão da ‘inconsciência’ do sujeito acerca da ação das variáveis
colaterais. Quando o sujeito ‘precisa assumir a responsabilidade pelo que diz’, ele
tende a corrigir seu comportamento e frustra o objetivo do teste (Skinner, 1978; p.319).
538
Quando a fonte pessoal do comportamento não pode ser dissimulada com facilidade,
como no Teste Rorschach, o material temático é minimizado na ‘contagem’, em favor
de outros aspectos do comportamento, desta forma quando a verdadeira natureza da
somatória verbal é revelada, o teste muda do ponto de vista do significado clínico
(Skinner, 1978; p.320). Assim, podemos analisar se o indivíduo, emite tactos genuínos
ou se utilizará do processo de correção gerado por uma possível punição, interpretado
pelo próprio falante, o que aumenta muito a adequação do comportamento verbal a
todas as circunstâncias de uma situação, incluindo-se o auditório (Skinner, 1978;
p.445). Aqui, o que se busca é que em situação pericial, há uma vantagem considerável
para o falante, que seu comportamento verbal seja emitido com ‘deliberação’ (Skinner,
1978; p.445), visto que o máximo de contribuição que o falante fornecer ao perito
ressoa como uma vantagem particular e de sucesso para sua própria perícia. O que
usualmente acontece é que uma resposta incompatível desloca uma resposta punida,
sendo o efeito claro da punição o de proporcionar o reforço de formas incompatíveis
de resposta (Skinner, 1978; p.454). Esse princípio é as vezes usado para explicar a força
do comportamento verbal para o qual não há outra explicação: o comportamento é
forte porque desloca resposta puníveis (Skinner, 1978; p.454), ou seja, o indivíduo fala
excessivamente de um assunto para não falar de outro. Desta forma, se a correção
ocorrer o falante terá de reagir como um ouvinte a seu próprio comportamento, caso
não consiga fazê-lo, não poderá corrigir (Skinner, 1978; p.459) e se o faz, as variáveis
de controle (Skinner, 1978; p.462) estão encobertas e não no fato investigado, visto que
o falante, está excessivamente atento ao que se fala, ou seja, ‘preciso estar atento ao
que falo’:
539
óbvia que o falante é sensível à possibilidade de consequências aversivas (Skinner,
1978; p.453);
(CR – CO - SUSP) o lapso – lapsus linguae, erro que altera o sentido que se pretendia
dar à frase (Skinner, 1978; p.453);
(CR – CO - SUSP) resposta que o indivíduo ‘sabe que está errada’ é emitida com
entonação forçada ou descolorida, ou com baixa modulação, comum em crianças,
especialmente quando tais respostas são devidas a óbvias fontes fragmentárias de
força (Skinner, 1978; p.454);
(CR – CO - SUSP) ‘não falar’, como evitação á punição, e pela vantagem em calar-se
(Skinner, 1978; p.455);
(CR – CO - SUSP) estímulos, como fontes adicionais de força, como estimulação aos
tactos (Skinner, 1978; p.318, 319), no Teste de Apercepção Temática – TAT (2003), Teste
de Apercepção Infantil - Figuras de Animais - CAT-A (2010) e Teste de Apercepção
Infantil (CAT-H) - Figuras Humanas (2015), em que, o simples fato de serem
temáticos, sugerem que virão a exercer um controle relativamente poderoso (Skinner,
1978; p. 319). Comparados com a Investigação Formal, em que podemos produzir um
comportamento verbal por meio de qualquer variável que reforce o comportamento,
independentemente da forma, ou por meio de qualquer variável combinada com
variáveis puramente formais (Skinner, 1978; p. 317). As variáveis colaterais, todavia,
ainda possuem um alcance relativamente amplo (Skinner, 1978; p. 317).
540
sentido de que muitas dessas respostas representam extensões metafóricas ou
nominativas dos tactos. O material é pois, relevante no que toca às tendências do
sujeito em ‘ver’ padrões de determinada forma (Skinner, 1978; p. 319).
O que pode acontecer, é que a resposta pode ter sido – por meio da sugestionabilidade
e manejo da informação - condicionada pobremente ou controlada por estímulos
usualmente fracos ou relacionada com estados de privação ou de estimulação aversiva
moderados ou fracos, ou deslocada por outro comportamento, em resultado de uma
punição anterior, ou ainda confundida por outras variáveis correntes (Skinner, 1957;
p. 305).
As vezes o problema consiste em tornar vocal – por meio das perguntas periciais - um
comportamento que antes era subvocal; trata-se também de evocar um
comportamento que de outra forma não seria emitido, mesmo subvocalmente – por
se tratar de uma rotina tão própria do indivíduo, que este não considera relevante, ao
contrário do que significa para a perícia. Não podemos simplesmente mandar o
comportamento requerido, ou porque não sabemos em que ele consiste ou porque ele
não seria eficaz se fosse devido inteiramente a tal variável. (Skinner, 1957; p. 305)
Desta maneira na Estimulação Suplementar, que faz parte das variáveis múltiplas,
trabalharemos com as variáveis e as relações de controle, para recorrermos a análise
da forma. Assim, criaremos ocasião para emergir o tacto. Não se trata de provocar
uma resposta, mas de evocar um comportamento verbal a respeito de uma temática
específica (Skinner, 1957; p. 303, 304). Assim sendo, utilizaremos o controle prático e
as deixas formais, em que no controle prático acrescentaremos uma variável
suplementar a fontes de força já existentes, e nas deixas formais será empregado
reforços formais aliados a reforços temáticos, por meio das perguntas das entrevistas
e do Teste Rorschach (Skinner, 1957; p. 304, 305).
541
As Entrevistas Contingenciadas aparecem para o perito como uma tarefa de evocar
determinada resposta, em determinado ouvinte, em determinado momento. Assim,
perguntas semelhantes são feitas em temáticas diferentes, com a finalidade de
introduzir outras variáveis, ou seja, características de outros operantes que tenham a
mesma forma de resposta. Para isso, temos a seguinte chave:
Esta contingência foi usada como orientativa para a construção de todas as perguntas
das Entrevistas Contingenciadas e para todos os ouvintes: comunicante, suposta
vítima e suspeito.
Acrescentaremos, por meio das perguntas, uma variável suplementar a fontes de força
já existentes por ser importante, que alguém lembre um nome, um fato, uma data, ou
que fale no momento apropriado, ou ‘desabafe’ (Skinner, 1957; p. 304, 305). Não
importa a razão pela qual o comportamento não é suficientemente forte para ser
emitido sem suplementação. (Skinner, 1957; p. 304, 305)
542
As deixas formais, ocorrerão sob a forma de ‘anúncios’ temáticos (Skinner, 1957; p.
308), por meio de perguntas suplementares, em que será utilizado sugestões ecoicas,
tais como: ‘Repita como ele falou,ele falou...?!’
Outra maneira, será solicitado ao sujeito que praticamente complete a resposta para
uma pergunta e algumas vezes por meio de múltiplas escolhas pré-determinadas (ver
entrevista).
I. Dinâmica Interacional –
543
( ) do indivíduo com a vizinhança.
( ) a comunicante possui baixo suporte social, em situações difíceis, não possui apoio
para superação
544
I ( )Vulnerabilidade sócio-familiar
( ) a casa é desorganizada
545
( ) a criança tem uma doença crônica que necessita de cuidados especiais, o que a
impede muitas vezes de se comunicar de maneira eficiente;
II ( )Vulnerabilidade financeiro-familiar
( ) Familiar:
( ) Escolar:
( ) dificuldade escolar;
546
( ) dificuldade de relacionamento com amigos escolares;
( ) Saúde:
( ) Outros espaços:
( ) criança fica na rua sozinho por mais de 4 horas somente na companhia dos amigos
547
III ( ) Grave contexto familiar – neste tópico temos a reunião de características que
deixa a criança em uma situação de extrema fragilidade em relação a sua segurança,
tais como:
I ( ) Vulnerabilidade Comunicacional
família em que existe muitos conflitos, emburramentos, as pessoas ficam sem se falar,
punição. E ou excesso de carinho que se transfere na forma de superproteção com a
criança:
548
( ) muito dependente dos adultos
( ) gosta do suspeito
( ) perdoa o suspeito
Inclinações:
( ) Extrafamiliar
( ) Intrafamiliar.
549
( ) Regressed (Taxonomia de Groth)- Interage com adultos também
( ) Violação, penetração
( ) IDADE DO SUSPEITO
( ) IDADE DA CRIANÇA
550
5 Resultado da Análise dos Indicadores – RAI
“O que se leva em consideração aqui não é apenas que certas formas específicas de
comportamentos verbal são observadas, mas que elas são observadas em
circunstâncias específicas. Estas circunstâncias controladoras (contexto pericial)
acrescentam um caráter dinâmico ao ‘repertório’ que falta ao ‘vocabulário’.”
e) Grooming;
f) Modus Operandi.
551
1.1 Coerência comportamental frente ao fato
a) Estrutura lógica em relação ao fato periciado – neste tópico analisa-se por meio da
contingência tríplice, em que Sd, é o contexto de interação de conteúdo sexual
apresentado, R, é o momento da revelação e Cr, é o comportamento relacionado a
pós-denuncia.
f) Adequação contextual;
552
1.2 Apropriação da experiência
553
parte de uma cadeia, composta pelos elos comportamento, emoção e evento externo
anterior.
Dessa forma, a emoção, mesmo sendo um comportamento privado (um evento que
pode ser observado apenas por aquele que se comporta), deve ser levada em conta e
estudada com base nos mesmos princípios dos comportamentos públicos, observando
a tríplice contingência: que expressa as relações entre o organismo e seu ambiente, ou
seja, a ocasião, a resposta e suas conseqüências.
Skinner (1974) relaciona a emoção como sendo uma alteração na predisposição à ação
e esclarece: “Os nomes das assim chamadas emoções servem para classificar o
comportamento em relação a várias circunstâncias que afetam sua probabilidade (p.
178)”.
Ao perito deve estar perceptível sem esforços, que existe uma boa forma ao relatar,
em que se pese, o relato implicará ao perito um entendimento do fato, com as claras
motivações de esclarecer e relatar o ocorrido, em que pode ser identificável:
554
i. conservação da centralidade temática de quem foi, onde foi, quando e a que horas
foi e como foi, sendo que estas informações aparecem juntas, como um pacote
informacional;
iii.a criança (geralmente tenra idade, até 5 anos) verbaliza de maneira espontânea o
ocorrido, na escola (em situação dirigida, brincadeira, tarefas, redação).
ii. há uma alteração essencial no relato, uma variação temática que não tem como o
perito se localizar quanto ao fato relevante, as informações disponibilizadas em
relatos abertos fogem da essência da temática;
viii. existe uma fidelidade verbal relacionados a PRE e POS eventos, e temáticas
periféricas;
555
A sugestionabilidade pode apontar para: a) Falsas comunicações - relato de fatos que
não ocorreram; b) Proteger fatos que ocorreram – com a camuflagem dos fatos que
ocorreram; c) Desvirtuar fatos – com a criação de fatos;
A conseqüência social ocorre aqui, não porque estamos diante de uma situação
didática, digamos assim, mas porque principalmente o ouvinte se beneficia pelo tatear
do emitente (Matos, 1991). Isto é, o ouvinte reforça o emitente não apenas devido a
um pacto social, mas principalmente porque lhe convêm que o emitente continue a
prestar informações sobre o ambiente. Ex. diante de um animal o emitente diz o nome
deste animal; diante da água que cai, diz que chove; diante de determinadas
sensações, diz dor; diante de um buraco no chão diz dor ou perigo (Matos, 1991).
Especial atenção deve ser dada ao tato extrapolado (extended tact). Trata-se de um
tatear generalizado diante de estímulos multidimensionais, onde o emitente pode
responder ao todo como uma parte, ou a uma parte como um todo. A metáfora, a
símile, e a sinedoque correspondem a esses casos (ex.: diante do contorno de um olho
dizer olho, diante de um veleiro deslocando-se com facilidade dizer que corta as
águas). Uma outra forma de tato extrapolado é aquele em que combinam-se tatos
isolados, como por exemplo, na expressão máquina de escrever (Matos, 1991).
556
encobertos. Quando eventos públicos atuais ocorrem, os quais estiveram associados a
eventos privados na história passada do emitente 1 ( a criança cai; no passado,
quando a comunicante caiu ela sentiu dor), este pode usar o mesmo tato
empregado na ocasião (nenê tem dodói), que passará, com sua repetição, a ser
empregado pelo emitente 2, quando nas mesmas situações (a criança cai, “sinto
dor”). Na mesma situação, o emitente 2 pode apresentar respostas colaterais (colocar
a mão sobre o joelho, mancar) que também acompanharam eventos similares na
história passada do emitente 1, e, neste caso, a aquisição é mais precisa. Finalmente,
se o emitente 1 já possui algum repertório verbal, ele pode, através do processo de
generalização, apresentar tatos extrapolados (“que dor aguda”, “está queimando”)
(Matos, 1991).
quando:
ii. Relata o fato; se mantém na centralidade temática no: início – meio – fim do relato;
557
comunicante: acesso precário a informação e profissionais qualificados, situação
financeira desestruturante ou habilidade pessoal ineficiente frente a tal situação e o
‘deslocamento de prioridades’ do posicionamento com a tomada de decisões eficazes,
sempre em relação a característica da revelação. Aqui deve estar atento ao contexto
em que a Revelação acontece, sendo este o principal indicador.
Comunicantes que se encontram em ambiente com autonomia para atuar, não residem com
o suspeito, não dependem financeiramente do suspeito, se configura em um contexto
propicio para a comunicação de crime.
Frente a tais condições, o que temos é que, a revelação da criança deverá produzir na
comunicante, o efeito (Baum, 2002) de: busca eficaz para a interrupção da violência
sexual e busca imediata das autoridades competentes a época do Comportamento
Revelar.
558
situação bastante estressante, com consequências importantes para quem é
sugestionável.
559
com frequência e acompanhados de um tom insistente, pode levar as crianças a
confirmar e a produzir informações falsas (Goodman, Wilson, Hazan, e Reed, 1989,
citado por Bruck et al., 1997).
Vários autores têm defendido que a repetição de perguntas sugestivas gera maior
sugestionabilidade principalmente entre as crianças mais novas, uma vez que estas
intuem que se o entrevistador está a repetir as questões é porque ainda não de-ram a
resposta certa (Moston, 1987).
Uma das conclusões essenciais e com forte evidência científica é que, de fato, as
entrevistas sugestivas aumentam o grau de sugestionabilidade das crianças (Cunha,
2010). Não menos importante será o fato de que, não só se verificam relatos distorcidos
e erros, como estas distorções e erros se referem tanto a eventos neutros e a detalhes
periféricos, como também a episódios significativos e a informações centrais, muitas
560
vezes envolvendo o próprio corpo (Bruck e Ceci, 2004; Peterson e Bell, 1996; Tobey e
Goodman, 1992).
1.3 Precisão
561
v. Não se identifica comportamentos declinantes;
vi. Não se identifica fuga-esquiva, frente as perguntas periciais (em especial tempo de
latência);
Consistência:
Este tópico avalia quanto do tempo verbal do individuo, este dispensa ao que é
relevante (o incidente) e ao que é secundário (outras temáticas). Sendo que o tempo
que ele dispensa a um determinado assunto demonstra a importância daquele tópico
para a pessoa. Sendo que o tópico relevante seja o de maior consistência ao ser
relatado, de acordo com tais características:
iv. Relatos não-espontâneos - com ênfase no PRE e POS ou ênfase no PRE; relatos
não-espontâneos são mais esquematizados e menos significativos, exige esforço e
manutenção cognitiva em temáticas que julga relevante para si (Johnson y Raye,
1981); Em relatos não-autobiográficos existe uma sobrecarga cognitiva e longos
períodos de latência em relação ao que lhe foi perguntado (Virj, 2000), com relatos
562
aparentemente bem estruturados, com boa sequência lógica o que existe é uma
competência verbal – Lamb, Sternberg y Esplin, 1984), e que não estão
relacionados a nenhum sintoma emocional e de preocupação quanto a
resolutividade. Estão relacionados a motivação de parecer o único correto;
2. Conteúdo Específico
iv. Alusão ao estado mental subjetivo da criança – relato que comparece sensações e a
mudança destes estados durante o transcurso do evento;
2.1 Evidências
563
Em Conteúdos Específicos, temos o tópico: Evidências, que se refere a
‘correspondentes’ intra e entre verbais da criança, relação interacional do indivíduo,
em sessão pericial e correspondência entre o Comportamento Revelar e a
Comunicação de crime, acompanhado das seguintes características:
564
Aaaa) Coito vaginal ou anal com o pénis.
d) Forçar as crianças a ver as atividades sexuais dos outros. Por exemplo: a) Os pais
ou outros envolvendo crianças na observação do coito. b) Apresentar pornografia
por video e ou virtual
vi. O grau de violência: uso de força ou ameaça utilizado pelo perpetrador resulta em
conseqüências mais negativas tanto a curto como a longo prazo, sendo uma forte
estratégia para manter o silêncio da criança e garantir a continuidade de atuação
do suspeito;
565
ficou exposta ao controle do suspeito (semanas, meses, anos) e o impacto desta
exposição no comportamento da criança que a impediram de revelar;
xiv. Apontar dúvida sobre seu próprio testemunho - identificar se é por falta de
apoio ou se é pela ausência do fato;
xv. Auto desaprovação - se culpa pelo que aconteceu (Kate, 2009) – pois de alguma
forma sente-se cumplice da ação por não compreender o power-play (o jogo
poderoso) a época do fato. A criança se atuodesaprova, por ficar com a sensação
de que poderia ter atuado de maneira diferente, ou revelado com antecedência. O
que não seria possível, pois só consegue elaborar uma atuação diferenciada no
momento atual, por especialmente escutar diferentes opiniões a respeito do
ocorrido e auto-analisar o fato. Esta escuta mediada pelo ambiente, diferentes
ouvintes, lhe proporciona a falsa impressão de que tudo poderia ter sido diferente.
566
xvi. Perdão ao suspeito - ocorre em função do vínculo muito próximo ou por sentir
pena.
4 Campos de Vulnerabilidade
ii. família numerosa, facilita a atuação do suspeito, pois não tem uma atenção mais
concentrada do responsável;
i. estilo parental democrático - Alto nível de regras e limites e alta atenção e amor
centralizado na criança
ii. estilo parental autoritário - Alto nível de regras e limites e baixa atenção e amor
centralizado na criança
iii. estilo parental permissivo - Baixo nível de regras e limites e alta atenção e amor
centralizado na criança
iv.estilo parental negligente - Baixo nível de regras e limites e baixa atenção e amor
centralizado na criança;
567
distância afetiva materna (frieza e rigidez afetiva) e incredulidade materna (Lamour,
1997), bem como o estilo parental autoritário ou rejeitador e negligente, favorece a
proximidade e o estabelecimento de vínculo de um terceiro que vem com a
“promessa” de cuidar e principalmente ser atencioso com a criança. Neste tópico
deve-se redobrar a atenção quando o comunicante é a genitora e apresenta
comportamentos depressivos, que precisa de apoio, e Encaminhamento adequado:
v. a comunicante possui baixo suporte social, em situações difíceis, não possui apoio
para superação
568
i. criança fica muito tempo sem a presença materna
iii. fica muito tempo sem a supervisão higiênica realizada pela comunicante
Neste tópico podemos destacar itens que apresentam fragilidade quanto a base
estrutural de coesão entre os adultos da casa, tais como:
iii.conjugalidade hostil
569
Neste tópico os espaços vivenciados pela criança apresenta fatores de baixa proteção
e alta exposição a fatores de risco, tais como:
Neste tópico destaca-se a fragilidade familiar quanto a saúde, o que desfoca muita
atenção em relação a segurança da criança, pois a doença torna-se o fator primordial
de preocupação ou motivo de afastamento dos cuidadores em relação a criança,
podendo ter as seguintes características:
i. a criança tem uma doença crônica que necessita de cuidados especiais, o que a
impede muitas vezes de se comunicar de maneira eficiente;
ii. cuidadores possuem doença crônica o que os impedem de dedicar mais tempo e
atenção a criança. A doença prioriza o foco em demandas mais pessoais;
570
x. na família da vitima, a criança fica em segundo plano, por haver doentes crônicos?
ii. muito tímida, fala baixo, brinca muito sozinha, mais reservada
suspeito
i. é casado;
571
vi.relacionamentos desenvolvidos com violência física;
i. idade do suspeito
ii. criança fica na rua sozinho por mais de 4 horas somente na companhia dos amigos
572
v. família tem dificuldades emocionais
3) Grave contexto familiar - Neste tópico temos a reunião de características que deixa
a criança em uma situação de extrema fragilidade em relação a sua segurança, tais
como:
5 Composição do fato
573
Detalhe Característico da Ofensa, é uma das 4 características que compõe o indicador,
Tipologia. Trata-se de um critério que se enquadram a dados criminológicos e dinâmicas
psicológicas, referente ao delito sexual contra crianças. São características que se compõem
de: ‘Detalhes Característico da Ofensa’, que faz parte do indicador ‘Composição do Fato’.
1) Classificação da ofensa do suspeito por: González, E., Martínez, V., Leyton, C., &
Bardi, A. (2004)
1.1) Inclinações:
iii. conseguem mantê-las sob seu locus de controle por muito tempo, mesmo sem
intertê-las;
vii. por se passar por muito amigável, não assume o risco de levantar suspeita;
574
iv. não corre o risco de levantar suspeita;
i. Homoafetivo
ii. Heteroafetivo
iii. Ambos
575
vi. Caricias: tocar ou acariciando os órgãos genitais de outra; inclusive forçando
ou masturbar para qualquer contato sexual, menor penetração.
xii. Forçar as crianças a ver as atividades sexuais dos outros. Por exemplo: a) Os
pais ou outros envolvendo crianças na observação do coito. b) Apresentar
pornografia por video e ou virtual
ii. Superação das inibições internas, quanto as punições sociais, para interagir
sexualmente com uma criança;
iii. Superação das inibições externas, algo no ambiente, como figuras protetivas que
impeça o êxito da interação sexual, desde o engajar- gratificação do desejo –
desengajar;
576
v. (Thornhill e Palmer, 2000) comportamento ofensivo de violação – acredita que esta
forma de acesso a relações sexuais possui mais vantagens do que se utilizasse outro
tipo de comportamento. Porém ocorrerá mediante coniç~eos que favoreçam esta
estratégia;
vii.(Yochelson e Samenow, 1976) – cada ofensor vê a si próprio como uma pessoa boa,
condena algumas ofensas, mas não o que cometeu, esta imagem é reforçada por
opiniões de outrem;
xii. (Yochelson e Samenow, 1976) o ofensor decide cometer o ato e espera para ter as
melhores condições para realizar, pois a ofensa é o resultado de um conjunto de
pensamentos que é colocado em ação
Realiza-se o levantamento do estilo público, por meio das características e análise dos
contéudos do comportamento verbal da vítima (relato, projeções em testes e gestos),
em que se identifica um relato que não se trata de um estereótipo social para manejar
a situação de abuso, mas sim, de fatos, que se enquadram nos critérios:
577
iii. Objetivo único de saciar desejos sexuais, sendo que esta necessidade de saciação
sexual por parte de suspeito se evidencia, visto que sua forma de ação está
totalmente (ou ao primeiro toque) vinculado as genitálias da criança.
6 Grooming
Este tópico, possui uma característica, que é altamente relevante para o engajamento
do suspeito na interação ofensiva com uma criança, trata-se da ‘Dissensibilização
Sistemática da Vítima’. Tal propriedade é o desenho estratégico elaborado pelo
suspeito para a aproximação da vítima, que inicia com um tipo de contato escolhido
ao melhor molde da criança e move-se para contato sexual (Berliner & Conte, 1990;
Christiansen & Blake, 1990).
Esta propriedade é o grooming (Craven e Gilchrist, 2006), que é constituído por etapas
preparatórias, que envolvem três elementos fundamentais: o acesso á criança,
assegurar o cumprimento da criança na ação e a manutenção do sigilo para evitar
divulgação, com a finalidade de exitar completamente na ação delituosa. Destaca-se
neste processo de preparação a traição da confiança como pessoa representativa, este
é o esteio deste processo (Mc Alinden, 2012), que pode ser identificado na
retrospectiva contextual. Retrospectiva Contextual – retrospectivamente a pessoa
identifica comportamentos anteriormente negligenciados (condição si ne qua non –
anteriormente negligenciado) (Mc Alinden, 2012).
O‘grooming’ (Mc Alinden, 2012, Budin & Johnson, 1989; Burgess & Holmstrom, 1980;
Conte, Lobo, & Smith, 1989; Elliott, Browne, & Kilcoyne, 1995) precede a interação de
conteúdo sexual e ajuda o acesso, o ganho do ofensor ao ofendido, e estabelece uma
578
relação baseada em sigilo para que o crime, se passe por menos provável e não seja
descoberto.
As etapas do grooming (Mc Alinden, 2012, Budin & Johnson, 1989; Burgess &
Holmstrom, 1980; Conte, Lobo, & Smith, 1989; Elliott, Browne, & Kilcoyne, 1995), é
combinada em um arranjo que, ao ser relatado, as características são de fácil
identificação:
579
c) Favoritismo - utiliza-se do favoritismo e muitas vezes promove a alienação dos
irmãos, modela a criança como seu ‘confidente’ e partilha segredos especiais
com declarações do tipo: ‘nosso amor é especial’. Tal situação promove um
clima de sigilo e aliena a criança de figuras protetivas (Kate, 2009)
7 Modus Operandi
580
Este passo-a-passo ocorre em um continuum, que vai desde o momento em que o
suspeito escolhe se engajar na ação, reconhecido como decision-making (Cornish e
Clarke, 1987; Johnson e Payne, 1986; Cornish e Clarke, 2002) até o post-offense
(resultado pós-crime), que trata do desengajar da ação. Esta decisão é considerada
dinâmica, pois o suspeito vai optar por se enganjar na interação de conteúdo sexual
ao levar em consideração a complexidade ambiental no momento de sua ação.
Infratores são, portanto, reconhecidos como tomadores de decisão, cujas escolhas são
dirigidas por: valores particulares, custos e a probabilidade de obter os resultados
desejados. A perspectiva da ‘Escolha Racional’ é particularmente relevante, uma vez
que: "oferece apenas uma imagem tão fluida e dinâmica - em que se vê a ofensiva
como mais orientada para o presente e situacionalmente influenciada" (Cornish e
Clarke, 2001, p.32).
Fatores situacionais, tais como a resistência da vítima são vistos como tendo um papel
importante, e assume destaque no planejamento do crime, pois influencia as decisões
do agressor e, consequentemente, a interação ofensor-vítima que se segue quando um
crime é cometido (Tedeschi e Felson, 1994). A propósito, Elliott, Browne e Kilcoyne
(1995) constatou que 39% dos agressores sexuais em sua amostra disseram que
utilizaram ameaças ou violência para superar a resistência da criança, quando
necessário. Os agressores veem o crime como um processo dinâmico e influenciado
por fatores situacionais, e em suas auto-avaliações apreendem que podem melhorar a
sua tomada de decisão por meio da experiência e passam a incrementar suas
estratégias para cometer crimes.
581
Ao utilizar a abordagem da escolha racional, (Cornish e Clarke, 1986; Clarke e
Cornish, 2001) os autores Proulx et al. (1995) e Beauregard et al. (2007b) analisaram as
decisões e comportamentos de agressores sexuais contra crianças, e descobriram que
o agressor tem que fazer uma série de escolhas antes da ofensa sexual a uma criança,
tais como:
582
A escolha do campo de ataque, que é o tipo de área onde criminosos atacam as
vítimas (Beauregard et al. 2007b).
h) Estratégia para levar a vítima para o local escolhido (Beauregard et al. 2007b), trata
se do método de abordagem, por meio de coerção, por medo ou sedução e
barganha. O ofensor é influenciado por fatores situacionais, tais como, ao escolher
um campo de ataque público e uma vítima estranha, as características podem estar
relacionados com o uso da coerção para a obtenção de contato sexual. (Beauregard
et al. 2007b).
8 Quantidade de Interações
583
O indicador ‘Quantidade de Interações’, se refere a descrição na qual a criança relata
e ou esboça, a quantidade de interações e a forma de atuação do suspeito, que podem
ser identificados como:
Neste tópico ‘Ciclo da Interação Sexual’, busca identificar nos relatos a descrição das
etapas que envolvem a dinâmica da interação sexual de um adulto com uma criança,
sempre na relação tempo-espaço, sendo os caracterizadores deste tópico:
Dinâmica da interação; relata todas as fases de interação sexual, tais como: quem é o
suspeito, o que o suspeito fez, onde (espaço físico), como ele fez e quais parte do seu
corpo da criança ele teve contato. Este indicador aponta características que ocorrem
nos crimes de violência sexual em detrimento de uma criança. Pode ocorrer o
envolvimento por ciclo: proximidade - isolamento – ameaça ou recompensa –
proximidade – isolamento.
584
Outros especialistas apontam que, para considerar o abuso sexual, o ofensor teria de
ser mais velho que a criança , com uma diferença cinco anos quando este for inferior
a doze e dez anos se for superior a essa idade ( Finkelhor, 1979; Lopez, 1995).No
entanto , é evidente que as diferenças quantitativas de idade não são suficientes para
Para entender a dinâmica do abuso sexual em si.
10 Proposições Motivadoras
585
criança no momento da revelação, descrição do comportamento da comunicante
no momento da revelação, descrição do comportamento da comunicante e da
criança pós revelação. Trata-se de uma atitude muito complexa para a criança, que
pode ser expressa de várias maneiras, tais como:
Revelação imediata - assim que acontece a violência sexual, a criança revela para
alguém, seja em casa ou na escola. É a situação mais rara de se encontrar.
Revelação seletiva - em que a criança escolhe a pessoa para quem irá revelar,
geralmente para uma amiga, prima, tia.
586
iii.desejo (emoção + necessidade) extremo de correção psíquica da criança frente a tal
fato.
587
588
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654
i
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar,
dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da
criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - abrigo em entidade;
VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
VIII - colocação em família substituta.
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação
em família substituta, não implicando privação de liberdade.
§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis
como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família
substituta, não implicando privação de liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é
de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou
de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao
responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de
acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela
autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos; (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência; (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando à reintegração
familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária
competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e
princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 5o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou
responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e fundamentada
determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta
supervisão da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do
responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família
655
de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e
estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
institucional fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo
de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem,
após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social, será
enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências
tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política
municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destituição do poder familiar, ou destituição de
tutela ou guarda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de
destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou outras
providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo informações
atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional sob sua
responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as
providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, aos quais incumbe
deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e adolescentes
afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de acolhimento. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ii Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101.
iii
Resolução Conjunta nº 1, de dezembro de 2006 - Artigo 1º. Aprovar o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, em reunião conjunta, realizada no dia 13 de dezembro de 2006. Artigo 2º. O
CNAS e o CONANDA deverão adotar medidas, no âmbito de suas competências, para divulgação e efetivação do Plano Nacional de Promoção,
Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária.
iv Serve de parâmetro para aplicação, interpretação e integração não apenas dos direitos fundamentais e das demais normas constitucionais,
mas de todo o ordenamento jurídico” (Sarlet, 2002, p. 85).
v Na Lei 8069-90, em: Parte Especial, Título I, Da Política de Atendimento, Capítulo I, Disposições Gerais, Art. 88. São diretrizes da política de
atendimento:
VIII - especialização e formação continuada dos profissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à primeira infância, incluindo os
conhecimentos sobre direitos da criança e sobre desenvolvimento infantil; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e do adolescente que favoreça a intersetorialidade no
atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimento integral; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre prevenção da violência. (Incluído pela Lei nº 13.257, de
2016)
vi Art. 217A
do Código Penal - Decreto Lei 2848/40 - Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
vii Art. 14. As
políticas implementadas nos sistemas de justiça, segurança pública, assistência social, educação e saúde deverão adotar ações
articuladas, coordenadas e efetivas voltadas ao acolhimento e ao atendimento integral às vítimas de violência.
§ 1o As ações de que trata o caput observarão as seguintes diretrizes:
I- abrangência e integralidade, devendo comportar avaliação e atenção de todas as necessidades da vítima decorrentes da ofensa
sofrida;
viii
CAPÍTULO II
DISPOSIÇÕES ESPECIAIS
SEÇÃO I
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS NA ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS PSICOLÓGICOS
Documento Psicológico
Princípios da Linguagem Técnica – Art. 6º, § 5º - Os documentos psicológicos não devem apresentar descrições literais dos atendimentos
realizados, salvo quando tais descrições se justifiquem tecnicamente.
656
ix
O termo descrição, refere-se a um termo conceitual da teoria Skineriana, no qual realiza-se a análise funcional do comportamento verbal
em que se utiliza para esta análise, o instrumento conceitual: contingência tríplice (Skinner, 1969).
x “Em meados de 2003, uma garota de sete anos contou em detalhes, na Vara de Infância e
Juventude de Porto Alegre, os abusos sexuais que sofreu dentro de sua própria casa. A
obtenção do relato completo da criança, que possibilitou a condenação do padrasto abusador,
tinha um significado ainda maior para quem ouviu o depoimento, o juiz José Antônio Daltoé
Cezar, atualmente desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS). Era
uma das primeiras vezes no país em que a escuta da criança era feita por meio de depoimento
especial, uma técnica humanizada para oitiva de menores vítimas de violência e abuso sexual.
O depoimento especial, que passou a ser obrigatório com a Lei n. 13.431, sancionada no último
dia 4 de abril, vem sendo adotado amplamente pelos juízes com base na Recomendação n. 33,
de 2010, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na avaliação do conselheiro Lelio Bentes, o
CNJ tem dedicado especial atenção ao tratamento das garantias constitucionais de crianças e
adolescentes. “Na função de órgão central e de governança, tem a atribuição de definir
políticas públicas de aprimoramento, implementação e sistematização dos incrementos em
prol de um sistema jurídico prioritário, ágil e eficiente de proteção à infância e à juventude”,
aponta o conselheiro no voto que culminou na criação do Fórum Nacional da Infância e da
Juventude (Foninj). A técnica que começou em Porto Alegre foi inspirada em um modelo
pioneiro da Inglaterra, em que a conversa com as crianças é realizada pela polícia, e, antes de
chegar ao Brasil, já estava presente em diversos países como Espanha, Argentina, Chile e
Estados Unidos, sendo que, neste último, a entrevista é feita por Organizações Não
Governamentais (ONGs). Segundo dados preliminares levantados pela assessoria de
comunicação do CNJ em julho do ano passado, ao menos 23 Tribunais de Justiça (85%) contam
com espaços adaptados para entrevistas reservadas com as crianças – as chamadas salas de
depoimento especial – cuja conversa é transmitida ao vivo para a sala de audiência. Em 2004,
um ano após ter sido introduzida no país, mais dez comarcas do Rio Grande do Sul ganharam
salas de audiência e, atualmente, 42 varas contam com o espaço – até o fim do ano serão 70 das
164 comarcas do Estado. Outro avanço é que a metodologia do depoimento especial
atualmente é uma matéria exigida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrados (Enfam) para o vitaliciamento de juízes, que ocorre dois anos após ingressarem
na magistratura por meio de concurso público. Somente no Distrito Federal foram atendidos,
ano passado, 691 menores em situação de violência sexual pela Secretaria Psicossocial do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), responsável por realizar o
depoimento especial das crianças. A equipe do tribunal se desloca diariamente entre os 16
fóruns do Distrito Federal que contam com salas de depoimento especial e realizam até oito
entrevistas com crianças por dia. “O método usado protege a criança, propiciando um
ambiente mais seguro e menos hostil, ao mesmo tempo que permite um depoimento mais
fidedigno por meio da técnica adequada”, diz Raquel Guimarães, Supervisora do Serviço de
Assessoramento aos Juízos Criminais (Serav) do TJDFT. O depoimento especial – nomeado
anteriormente “depoimento sem dano“ –, consiste na aplicação de uma metodologia
diferenciada de escuta de crianças e adolescentes na Justiça, em um ambiente reservado e que
seja mais adequado ao seu universo. Na prática, servidores da Justiça são capacitados para
conversar com crianças em um ambiente lúdico, procurando ganhar a sua confiança e não
interromper a sua narrativa, permitindo o chamado relato livre. A conversa é gravada e
assistida ao vivo na sala de audiência pelo juiz e demais partes do processo, como
procuradores e advogados da defesa, por exemplo. A criança tem ciência de que está sendo
gravada, informação que é transmitida de acordo com a sua capacidade de compreensão. O
depoimento especial não se resume, porém, a um espaço físico amigável, mas representa nova
postura da autoridade judiciária, que complementa a sua função com a participação de uma
equipe de psicólogos, assistentes sociais e profissionais de outras áreas capacitados em
técnicas de entrevista forense. Isso porque o depoimento tradicional costuma gerar grande
657
desconforto e estresse em crianças que precisam repetir inúmeras vezes os fatos ocorridos, nas
várias fases da investigação. Outro fator relevante é que o depoimento especial aumenta a
fidedignidade dos relatos dos depoentes. Pesquisas demonstram que se questionada de forma
inadequada, crianças e adolescentes – assim como adultos – podem relatar situações que não
ocorreram ao se sentirem constrangidas ou mesmo ter falsas memórias implantadas. Por esta
razão, é fundamental que os entrevistadores sejam altamente qualificados na técnica. Para o
depoimento especial devem ser seguidos alguns passos que a ciência demonstrou eficazes
para proteger o depoente e garantir a fidedignidade do relato. Existem variações, mas o eixo
central aponta que a vítima deve ser incentivada a rememorar o fato, sem ser interrompida.
As eventuais perguntas do juiz, promotor ou advogado são repassadas por telefone ao
entrevistador, para que este adeque os questionamentos aos padrões de perguntas que
pesquisas indicam como produtoras de respostas fidedignas e que preservam a criança ou
adolescente de violência emocional. A grande maioria dos tribunais utiliza-se da
videoconferência para os depoimentos especiais, onde câmeras de filmagem transmitem em
tempo real a imagem da criança ou adolescente para a sala de audiências. Há alguns tribunais
que empregam uma divisória de vidro entre a sala de audiência e a sala de depoimento com
uma película que impossibilita a criança ou adolescente visualizar os profissionais do Direito
e o réu presentes do lado oposto. Em ambos os casos, o magistrado, por meio de telefone ou
de microfone, pode fazer perguntas ao profissional que está com a criança, no momento em
que o protocolo utilizado permitir. (CNJ, 2017)
xi Tecnologia de Ponta, se refere àquilo que há de mais avançado numa determinada época. Tecnologia de ponta é
entendida como o mais recente desenvolvimento tecnológico decorrente de áreas que envolvem atividades
inovativas.
xii
Calcular o número de maneiras que certos arranjos podem ser formados é o princípio da combinatória.
Considerando S um conjunto com n elementos. As combinações de k elementos de S são subconjuntos
de S tendo k elementos, onde a ordem em que são listados os elementos não são relevantes (de Almeida & Ferreira,
2010).
xiii “Em
"Contingencies of reinforcement" de 1969 Skinner destaca o papel das contingências de reforço na
definição de operante: Um operante é uma classe, da qual uma resposta é uma instância ou membro. ... É sempre
uma resposta à qual um reforço é contingente, mas é contingente às propriedades que definem a pertinência a um
operante. Assim, um conjunto de contingências define um operante (Skinner, 1969, p. 131), (Todorov, 2007).”
xiv
Helena Antipoff estagiou no Laboratório de Psicologia da Universidade de Paris, entre 1909 e 1912, onde
iniciou sua formação científica, tendo participado dos ensaios de padronização dos testes de nível mental de
crianças então elaborados por Alfred Binet e Théodule Simon. Entre 1912 e 1916, em Genebra, freqüentou
o Institut des Sciences de l'Education Jean-Jacques Rousseau, onde obteve o diploma de psicóloga, com
especialização em Psicologia da Educação. Sob a orientação de Edouard Claparède, Helena Antipoff fez parte do
primeiro grupo de professoras da Maison des Petits, escola experimental anexa ao Institut Rousseau, onde os
novos métodos educativos preconizados pela equipe do Instituto seriam elaborados e testados, resultando na
proposta da Escola Ativa, segundo a qual as atividades educativas deveriam acompanhar o movimento dos
interesses do educando (Hameline, 1996) Antipoff veio para o Brasil em 1929, a convite do governo do Estado de
Minas Gerais, para participar da implantação da reforma de ensino conhecida como Reforma Francisco Campos
Mário Casassanta. A Reforma, uma das mais importantes iniciativas de apropriação do movimento da Escola Nova
ocorridas no Brasil, previa a implantação de uma Escola de Aperfeiçoamento de Professores, dedicada à graduação
de normalistas que viriam a assumir a efetiva transformação do ensino fundamental na rede de escolas primárias
que foi rapidamente ampliada. No projeto da Escola, uma grande ênfase foi dada ao ensino da psicologia, então
considerada, entre as ciências da educação, como a mais fundamental. Na opinião de Édouard Claparède, o estudo
da psicologia é que permitiria conhecer a matéria-prima da educação, isto é, o estudante. E foi justamente Helena
Antipoff, aluna e assistente de Claparède no Instituto Jean-Jacques Rousseau, em Genebra, que veio a ser
convidada a implantar o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento, e a iniciar o estudo e a pesquisa
em psicologia da educação no âmbito da Reforma (Campos, 2003).
xv
O PNDH – Programa Nacional de Direitos Humanos, foi instituído pelo Decreto 1904, de 13 de maio de 1996,
no governo Fernando Henrique Cardoso. é composto, de Objetivos Estratégicos com ações programáticas que
aponta o objetivo, a responsabilidade da execução e parceiros,. O Programa Nacional de Direitos Humanos, foi
uma recomendação da Conferência Mundial de Direitos Humanos, de Viena em 1993, em que o Brasil presidiu o
658
comitê de redação. O PNDH, contribuiu para ampliar a participação do Brasil nos sistemas internacional e
interamericano de proteção dos direitos humanos, fortaleceu a política de adesão a tratados internacionais, sua
ratificação e implementação, por meio da adoção de 'soluções amistosas' para casos de violação submetidos à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, além da aceitação da competência contenciosa da Corte
Interamericana de Direitos Humanos - CIDH, que representa garantia adicional a todas as pessoas sujeitas à
jurisdição brasileira da proteção de seus direitos, tais como os consagrados na Convenção Americana sobre
Direitos Humanos, quando as instâncias nacionais não se mostrarem capazes de garanti-los e de assegurar a
realização da justiça. Além dessas medidas, os resultados da elaboração e implementação do PNDH – Programa
Nacional de Direitos Humanos, podem ser medidos pela ampliação do espaço público de debate sobre questões
afetas à proteção e promoção dos direitos humanos, notadamente da criança e do adolescente, fez com que se
desenvolvessem as seguintes ações: implantação de delegacias de defesa, criação de defensoria pública,
capacitação e promoção de eventos.
xvi Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente – Rio Branco - Acre
Delegacia Especializada em crimes contra a Mulher e em Proteção à Criança e ao Adolescente – Cruzeiro do Sul
– acre
Delegacia Especializada de Assistência e Proteção à Criança e ao Adolescente - DEAPCA-AM - Manaus
Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Crianças e Adolescentes DERCCA-AP macapa
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente - Divisão de Atendimento ao Adolescente DATA-PA, Belem
Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-RO, Porto Velho
Delegacia de Defesa da Infância e Juventude de Roraima DDIJ-RR, Boa Vista
Delegacia Estadual de Proteção à Criança e ao Adolescente e ao Idoso - DPCIA-TO,Palmas
Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Crianças e Adolescentes DERCCA-AL, Maceio
Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente DERCCA-BA, Salvador
Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente –CE, Fortaleza
Delegacia da Criança e do Adolescente DCA – CE, Fortaleza
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-MA,São Luís
Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Infância e Juventude – PB,João Pessoa
Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente DPCA – PE, Recife
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA – PI, Teresina
Delegacia Especializada em Defesa da Criança e do Adolescente DCA-RN, Natal
Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-SE, Aracaju
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-DF, Brasilia
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-GO, Goiânia
Delegacia Especializada do Adolescente DEA-MT, Cuiabá
Delegacia da Infância e da Juventude DEIJ-MT, Campo Grande
Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-MS,Várzea Grande
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-ES Vitória
Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente DOPCAD-MG Belo Horizonte
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-MG Belo Horizonte
1ª Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA-RJ) Rio de Janeiro
2ª Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-RJ, Niterói
Delegacia do Adolescente PR - Curitiba
1ª Delegacia para Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima DPCAV-RS, Porto Alegre
Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente e à Mulher – SC, Florianopolis
xvii
O absolutismo foi um sistema político-administrativo que vigorou nos países europeus, no período do Antigo
Regime (entre os séculos XVI ao XVIII).
xviii
Greco (2008) relata que:
659
Desta forma, seria incoerente e contraditório, que dentro de um mesmo ordenamento jurídico existisse
uma norma que autoriza um comportamento, enquanto outra norma, dentro do mesmo
sistema, proíbe formalmente o mesmo comportamento por ela admitido.
xix Os
requisitos para se tornar um conselheiro tutelar são estabelecidos primeiramente pela lei federal 8069/90 -
ECA, artigo 133 requisitos essenciais que serão combinados com a legislação municipal para que o candidato
preencha todos os requisitos estabelecidos até chegar ao pleito. Será obrigatório que o candidato siga todas as
etapas dos editais de seus municípios, visando aquisição do cargo mediante aprovação em todos os itens
estabelecidos nos respectivos editais. Com o intuito de cumprir as diretrizes estabelecidas no artigo 227 da
Constituição Brasileira de 1988, foi criado o Conselho Tutelar – órgão permanente e autônomo, não jurisdicional,
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes em seu artigo
131 da Lei Federal 8069/90. O Conselho Tutelar exerce, sem dúvida, uma política de atendimento voltada à criança
e ao adolescente, para fins específicos, em face de sua natureza, de sua função equiparada a de um servidor público,
mas não vinculado ao regime estatutário ou celetista. As leis municipais estabelecerão os direitos sociais dos
conselheiros a exemplo de férias, licenças - maternidade e paternidade, enfim, direitos assegurados com fulcro na
Constituição Federal de 1988. O Conselho Tutelar tornou-se uma das primeiras instituições da democracia
representativa, ou seja, um órgão garantista da exigibilidade dos direitos assegurados nas normas internacionais,
na Constituição e nas leis voltadas à população infanto-juvenil. O Conselho Tutelar, é por excelência, o órgão que
vai representar a sociedade, uma vez que seus membros são por ela escolhidos para atribuições relevantes perante
todos os membros da sociedade, mas principalmente para as crianças e adolescentes. O artigo 131 do Estatuto da
Criança e do Adolescente traz na sua essência que o Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não
jurisdicional, encarregado pela sociedade por zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,
definidos nesta lei.
xx
A escrita foi inventada na Suméria, um país que existia onde hoje estão o Irã e o Iraque, numa região chamada
Mesopotâmia, que quer dizer entre rios: os rios Tigre e o Eufrates, há cerca de cinco mil anos. Há também a
informação de que possivelmente na China, na América Central e no Egito também foi elaborado um sistema de
escrita, mesmo sem saber o que ocorria na Suméria. Todos os sistemas que apareceram depois vieram de um desses
quatro primeiros – da Suméria, da China, da América Central e do Egito (Filho, 2011). O alfabeto grego foi adotado
no século VIII a.c., sendo que a grande diferença foi o acréscimo dos sons vocálicos, até então não utilizado, assim
o alfabeto passou a ter 24 letras entre vogais e consoantes (Cagliari, 2009). Os semitas, das grandes civilizações
estavam satisfeitos com seus sistemas de escrita, o alfabeto semítico. De um lado, no nordeste da África,
predominava o sistema egípcio, e do outro, na Mesopotâmia, o sistema cuneiforme e entre estes polos civilizatórios
estavam os grandes comerciantes do Mediterrâneo, sem compromisso com a escrita. E entre os silabários
cuneiformes da Mesopotâmia e a escrita egípcia da África, optaram pela egípcia com uma forma gráfica mais
atraente para ser escrita e lida, útil sobretudo nas necessidades do dia-a-dia (Cagliari, 2009). Assim surgiu uma
escrita com característica egípcia para o Oriente Médio, desta forma uniram a vantagem gráfica dos egípcios ás
vantagens funcionais da escrita cuneiforme que, já havia adotado o silabário com poucos caracteres, reconhecidas
como proto-sinaíticas, datadas de 1500 a.c.. Desta forma, no outro extremo do Oriente Médio, ao redor do
Mediterrâneo, os fenícios tinham na escrita um instrumento importante de sua atividade comercial, já estabelecida
no século XIII a.C., e se fixou numa forma definitiva, com 22 letras apenas. A escrita fenícia está na origem de
muitas outras escritas, como a árabe, a hebraica, a aramaica, a tamúdica, a púnica (de Cartago) e, sobretudo, a
escrita grega, da qual se derivou a latina, origem do alfabeto que hoje usamos. A escrita fenícia era usada apenas
de maneira esporádica, e manteve sua natureza pictográfica por meio milênio, até ser adotada para uso
administrativo em Canaã. Os primeiros estados canaanitas a fazer um uso extensivo do alfabeto foram as cidades
estado fenícias, e por este motivo os estágios tardios da escrita canaanita são chamados de alfabeto fenício. Estas
cidades da Fenícia eram estados marítimos, centros de uma vasta rede de comércio e rapidamente, o alfabeto
fenício se espalhou por todo o Mediterrâneo. Duas variantes do alfabeto fenício tiveram grande impacto na história
da escrita: o alfabeto aramaico e o alfabeto grego. Evidências históricas apontam que o alfabeto grego deriva de
uma variante do alfabeto semítico (hebraico), introduzido na Grécia por mercadores fenícios. Observa-se que o
alfabeto fenício não necessita de observar as vogais, ao contrário da língua grega e outras da família indo-europeia,
como o latim. Por volta do século VIII a.c., os gregos acrescentaram ao sistema mais sons vocálicos e o
alfabeto passou a ter 24 letras, entre vogais e consoantes. Cagliari (2009), informa que segundo Heródoto, um
fenício chamado Cadmos, que viveu de 1350 a 1209 a.C., instalou-se na Boécia, onde fundou Tebas e começou a
escrever grego com 16 caracteres fenícios. Conta-se também que, durante a guerra de Tróia, surgiram quatro novas
letras, introduzidas por Palamedes. O alfabeto grego teria sido completado pelo poeta Simônides de Ceos (556
468 a.C.) com mais quatro letras. Cagliari (2009) também destaca que não se sabe até onde isto é história.
660
xxi
O Bagavad-Guitá é a essência do conhecimento védico da Índia e um dos maiores clássicos
de filosofia e espiritualidade do mundo, datado do século IV A.C.. A filosofia perene do Bagavad-Guitá tem
intrigado a mente de quase todos os grandes pensadores da humanidade, e tem influenciado de maneira decisiva
inúmeros movimentos espiritualistas. Relata o diálogo de Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, que é a
verdade absoluta e inconcebível com seu discípulo guerreiro em pleno campo de batalha. Arjuna representa o
papel de uma alma confusa sobre seu dever, e recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna, que o instrui na
ciência da auto-realização. No desenrolar da conversa são colocados pontos importantes da filosofia divina, que
incluía já na época elementos do Bramanismo e do Sankhya. A obra é uma das principais escrituras sagradas da
cultura da Índia, e compõe a principal obra da religião Vaishnava, que envolve várias ramificações de fé em Vishnu
ou Krishna, dentre as quais o popularmente conhecido movimento para consciencia de Sri Krishna, que a difundiu,
a partir de 1965, no ocidente, por Bhaktivedanta Swami Srila Prabhupada.
xxii
Platão e sua‘ Academia – ’escola de filosofia de Platão (387 Ac), com preferência à ciência, a episteme
- conhecimento metodologicamente construído em oposição às opiniões individuais, como fundamento
da realidade. Na filosofia grega, especialmente no platonismo, trata-se do conhecimento verdadeiro, de
natureza científica, em oposição à opinião infundada ou irrefletida. Apesar do aviso de que, quem não
conhecesse Geometria ali não deveria entrar, Aristóteles (mesmo sendo um não-matemático) decidiu
se pela academia platônica e nela permaneceu vinte anos, até a morte de Platão. Com este fato, Espeu
sipo, sobrinho de Platão, assumiu a direção da Academia e começou a proporcionar ao estudo
acadêmico da filosofia um viés matemático, considerado inadequado por Aristóteles (384 – 322 Dc).
xxiii
Falsafa é simplesmente a tradução literal do grego para o árabe da palavra filosofia e se refere àque
les pensadores que discutiam e debatiam os pressupostos gregos da filosofia, tal como as questões da
alma.
xxivEpistemologia pode ser definida etimologicamente como discurso racional (logos) da ciência
(episteme). A palavra grega episteme pode ser traduzida por conhecimento estabelecido, conhecimento
seguro. A palavra grega logos, dona de várias acepções, pode ser aqui traduzida por “teoria racional”
(Castañon, 2007).
xxv
Agostino Nifo, seguiu e modificou suas idéias a respeito de Averroes, de nome natural, Ibn Rushd,
assim latinizado como Averroes, que escreveu sobre lógica, filosofia
aristotélica e islâmica, teologia, matemática e as ciências
medievais de medicina ,astronomia, física e mecânica celeste. Ibn Rushd nasceu em Córdoba, Al Anda
lus (atual Espanha), e morreu em Marrakesh, no atual Marrocos. Ibn Rushd foi um defensor da filosofia
aristotélica contra teólogos Ash'ari liderados por Al-Ghazali. Embora altamente considerado como um
estudioso jurídico da escola de Maliki de lei islâmica, idéias filosóficas de Ibn Rushd foram
considerados controversos em Ash'arite círculos muçulmanos. Enquanto al-Ghazali acreditava que
qualquer ato individual de um fenômeno natural ocorreu somente porque Deus quis que isso
acontecesse, Ibn Rushd insistiu que fenômenos seguiam leis naturais que Deus criou. Ibn Rushd teve
um impacto maior sobre a Europa cristã, as traduções para o latim do trabalho de Ibn Rushd
conduziram à popularização de Aristóteles. Em 1495 Agostino Nifo, produziu uma edição das obras de
Averroes. Na grande controvérsia com os alexandrinos, ele se opôs à teoria de Pietro Pomponazzi, de
que a alma racional está inseparavelmente ligada à parte material do indivíduo e, portanto, que a morte
do corpo carrega consigo a morte da alma. Ele insistiu que a alma individual, como parte do intelecto
absoluto, é indestrutível, e na morte do corpo é fundido na unidade eterna.
xxviSimplício da Cilícia (490 – 560 Dc), foi um dos últimos membros da escola neoplatônica, considerado
um dos melhores Comentaristas (intérprete) de Aristóteles. A escola tinha sua sede em Atenas. Tornou
se o centro dos últimos esforços para manter a religião helenística contra as invasões
do cristianismo. Simplicius estava entre os filósofos pagãos perseguidos pelo Imperador Justiniano no
ano de 528. Simplício, como neoplatônico, tentou mostrar que Aristóteles concordava com Platão.
Simplicius comenta a respeito de Physics I, em que Aristóteles destaca que, para ter conhecimento
científico de qualquer domínio das coisas (neste trabalho seu principal interesse era em coisas naturais)
661
temos que conhecer seus princípios e causas e elementos. E acrescenta que estes, não são imediatamente
dados a nós: temos de começar com coisas que são "mais conhecíveis para nós", ou mais conhecíveis à
sensação, e proceder até que possamos compreender as coisas anteriores que são "mais conhecíveis pela
natureza (constituição) ", ou mais inteligível. Isto é um padrão muito aristoteliano. Assim, segundo o
relato de Simplicius, não é simplesmente, como Physics I, sugere, que começamos com uma
compreensão grosseira do 'universal' e chegamos a um conhecimento preciso do 'particular'.
Preferencialmente Simplicius acredita que devemos passar por três etapas para um conhecimento do
que é mais cognoscível em si, porém menos conhecível para nós: primeiro uma compreensão grosseira
de um universal, depois uma compreensão dos particulares, e depois uma compreensão mais precisa
do universal, subordinado a compreensão dos particulares, mas de algum modo "sintetizando as
diferenças" de uma só vez. Desta forma, Simplicius acredita que, ao prosseguimos de uma grosseira
compreensão de "animal" - uma classificação mediana dos indivíduos que vimos – para uma
compreensão de cada um dos tipos particulares de animal, e daí para uma compreensão do genus
(subdivisão do grupo subfamília) animal que nos permite captar todas as possíveis diferenças e espécies
que surgem da δύναμις – força/determinação do genus. Existe uma progressão semelhante no
entendimento de um nome: primeiro associamos o nome com uma imagem, depois determinamos o
conceito, que permite uma definição, isto é, pela enumeração de uma série de marcas da coisa e então
compreendemos a essência na simples junção que une estas muitas marcas. Aqui Simplicius alerta que
Aristóteles pensa que uma definição científica deve ser de tal maneira que seja de uma única coisa, e
então a compreensão da essência, envolverá compreender por que as diferentes coisas mencionadas na
definição estão unidos uns aos outros. Algo semelhante acontece ao 'agarrar o todo'. A exemplo, um
certo tipo de animal, primeiro apreendemos rudimentarmente o animal como um todo, então
compreendemos cada uma das partes funcionais do animal - cada uma das partes das quais o distingui
de outros tipos de animais, e serão mencionados na definição científica do todo desta espécie - e então
colocamos nosso conhecimento das partes junto a compreensão científica do todo, consistindo essas
partes necessariamente unidas uma a outra. A posição aristotélica, em Metafísica Z12, é que o genus
deve estar em potencialidade em todas as diferenças e de uma só vez e, portanto, não pode existir
separadamente, pois o que é separado e eterno e imutável não tem potencialidade para contrários. A
resposta do padrão neoplatônico, em Ammonius In Isagogen 103,9-104,31, é que o genus existe
paradigmaticamente antes de suas espécies e indivíduos, que contém versões paradigmáticas de todas
as suas diferenças na atualidade. O que existe neles em potencial é somente o sentido de ativar a força
para produzi-los nas espécies e indivíduos que causalmente dependem dela (ver Plotino V, 3,15),
(Menn, 2010).
xxvii
Marcantonio Genua foi um filósofo aristotélico renascentista que ensinou na Universidade de
Pádua . Foi professor e tio do grande filósofo renascentista Giacomo Zabarella.
xxviiiPietro Pomponazzi sustentava que a imortalidade da alma não pode ser demonstrada
racionalmente e para defender sua tese separa as verdades da fé das verdades da razão. Todos os
fenômenos têm causas naturais, mesmo os que parecem sobrenaturais e extraordinários, mesmo os que
as pessoas consideram milagre somente porque não tem a capacidade de encontrar a causa. Se Deus
criou o universo colocando nele leis físicas exatas e imutáveis, seria paradoxal que esse mesmo Deus
criasse eventos sobrenaturais, como os milagres, que fossem contra essas leis. http://www.filoso
fia.com.br/historia_show.php?id=59
xxix
Trata-se de uma unidade de medida igual a metade de um em e aproximadamente a largura média
de caracteres tipográficos, usada especialmente para estimar a quantidade total de espaço que um texto
exigirá
xxx Depois disso, em 1926, Kruno Krstic participou do estudo da filosofia com psicologia, língua italiana
e literatura na Faculdade de Filosofia, em Zagreb, capital da Croácia, se formou em 1930 e, em seguida,
na mesma universidade em 1934 se formou na francês e latim com a literatura. Krstic recebeu seu
PhD em 1937, na tese de Psicologia: Um polimorfismo assunto prometedor da psicologia. Ele continuou seus
662
estudos, em duas ocasiões, no Instituto Fonetskome em Paris, na Sorbonne e no College de France em
filosofia, psicologia e lingüística.
xxxi Josef Brožek (1913–2004) nasceu em 1913, na cidade de Melnik, na Boêmia, atual República Tcheca.
Em junho de 1937, tornou-se PhD pela Charles University, em Praga, na Tchecoslováquia, com uma tese
sobre “Memória: suas medidas e sua estrutura”. Atuou como psicólogo nesse país, na área da orientação
vocacional e da psicologia industrial, nos anos de 1938 e 1939. Em 1939, devido aos inícios da Segunda
Guerra Mundial, emigrou para os Estados Unidos e naturalizou-se americano em 1945. Continuou sua
atividade de pesquisador e assumiu diversos cargos universitários na Europa e EUA, desde 1936, entre
eles, a partir de 1941, como pesquisador no Laboratório de Higiene Fisiológica, onde desenvolveu
pesquisas sobre os efeitos da desnutrição no comportamento humano, e no campo da psicologia do
trabalho; e no M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology), em 1980-1981. A partir de 1958, foi nomeado
professor de Psicologia e Pesquisador da Lehigh University, em Bethlehem, Pennsylvania, nos Estados
Unidos. Em 1965, participou da criação da Divisão 26 da American Psychological Association, dedicada à
História da Psicologia, e da organização do periódico Journal of the History of the Behavioral Sciences, que
se tornou um dos principais veículos de difusão da pesquisa científica na área. A primeira visita ao
Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, a convite do Professor Antonio Gomes Penna, organizador do Primeiro
Seminário Latino-Americano de História da Psicologia (1988). Na ocasião, Brožek fez também uma
breve visita a São Paulo, a convite da Professora Maria do Carmo Guedes, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. A segunda visita ocorreu em 1996, quando esteve em Ribeirão Preto (SP), a
convite da Professora Marina Massimi, para lecionar curso de História da Psicologia para pós
graduandos e pesquisadores, e em Teresópolis (RJ), onde participou com muito interesse, no âmbito do
Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em
Psicologia, da reunião em que ocorreu a consolidação de nosso grupo de trabalho em História da
Psicologia. Este grupo reúne pesquisadores brasileiros na área, e permanece ativo até hoje. (Massimi,
M. & Campos, R.H.F. (2004). Josef Brožek: história e memória (1913-2004).
xxxiiO Renascimento não pode ser separado do humanismo, movimento amplo (séculos XIV a XVI) pelo
qual o homem torna-se o centro das preocupações intelectuais. O termo humanista designava,
inicialmente, um grupo de pessoas que, mesmo antes do século XV, dedicava-se à reformulação dos
estudos ministrados nas universidades. O objetivo era dar nova orientação ao ensino universitário
através dos estudos humanísticos, que abrangiam matérias como filosofia, história, poesia e eloqüência.
Nesses estudos, considerava-se como elemento indispensável o conhecimento do grego e do latim, uma
vez que utilizavam, permanentemente, textos da Antiguidade Clássica. Os pensadores e intelectuais
humanistas geralmente são confundidos com antirreligiosos, porém o que se buscava era uma relação
com Deus e com o mundo natural. A investigação humana seria privilegiada, o homem racionalizaria
por meio dos seus pensamentos a investigação dos diversos fenômenos naturais, sociais, culturais e
míticos. Com o Humanismo, o homem passou a ser visto como imagem e semelhança do seu criador
Deus, tornando-se a medida de todas as coisas. Os humanistas romperam com o Teocentrismo (a ideia
de que Deus era o centro de todo o universo e de toda a vida humana) e passou a prevalecer a ideia do
Antropocentrismo (o homem no centro do universo e da vida humana). O Humanismo levou a reformas
nos ensinos das universidades europeias e ocorreu uma valorização das ciências humanas, hoje, e
privilegiou o ensino e o estudo da Poesia, Filosofia e História. Os humanistas pretendiam introduzir
métodos críticos na leitura e interpretação de obras e desejavam reconstruir os textos originais para
corrigir erros, omissões e modificações realizadas pelos monges copistas medievais. No século XV com
a criação da prensa, por Johann Gutemberg, o invento revolucionou a produção de livros, que não
precisaram ser mais manuscritos por copistas, tal invenção propiciou uma maior difusão do
conhecimento. O Humanismo, como visto, foi a base teórica e filosófica do movimento renascentista,
influenciando o Renascimento artístico, cultural e científico.
663
páginas escritas em latim, o processo que se iniciou cerca de 1445 e que terá terminado em 1455
Gutenberg ainda imprimiu outras obras enquanto trabalhava na impressão da Bíblia, como a “Carta de
Indulgência” (1451).
xxxiv Nos
últimos vinte anos, a investigação da teologia dos séculos XVI e XVII levou a uma reavaliação
da escolástica protestante e sua relação com a Reforma. Anteriormente historiadores da doutrina
consideravam o escolasticismo protestante como excessivamente racionalista à custa do biblicismo da
Reforma, e fortemente dependente da filosofia aristotélica, e organizada em torno de uma doutrina
central tais como predestinação. O consenso atual é que o escolasticismo protestante refletiu a profunda
familiaridade dos teólogos ortodoxos com o compromisso com o texto bíblico, que os fizeram se
apropriar de Aristóteles, e que tal apropriação foi mais eclética que servil. E que a idéia de um dogma
central que se organiza toda a teologia é mais uma criação do século XIX, do que uma realidade do
século XVI, que enfatizam que o escolasticismo protestante era a base de um método de ensino que
estava intimamente ligado as conferências universitárias, como uma 'forma' de abordar os tópicos
teológicos a partir de um locus organizado. O retorno da dialética à teologia é mais surpreendente por
que a primeira geração de reformadores havia se divorciado tanto da dialética, quanto da teologia, como
um método para determinar a verdade das proposições, e assim, a lógica desempenhou um papel na
teologia especulativa da idade média posterior. Bíblicos humanistas rejeitaram o uso da lógica, assim
como fizeram com a teologia especulativa, pois no geral acreditavam que a tarefa do teólogo deveria
ser a análise filológica do texto bíblico. No prefácio à sua edição do Novo Testamento grego, Erasmus
argumentou que a teologia deveria ser enraizada na exegese (explicação crítica que tem por objetivo
esclarecer ou interpretar minuciosamente um texto ou uma palavra, particularmente em um texto
religioso). Os reformadores seguiram seu exemplo e seu vigor, para produzir comentários bíblicos, ao
invés de obras de teologia sistemática, desta forma, suas ferramentas eram as de filologia e retórica,
mais do que a dialética (Burnett, 2004). A lógica medieval era um ramo técnico altamente especializado
da filosofia, preocupado com a precisão lingüística, em particular com o significado dos termos e a
validade das proposições. Como tal, foi desprezado pelos humanistas como a especulação vazia sem
qualquer valor prático, por ser praticada por homens que eram culpados do que era visto como o pecado
final, o uso de latim bárbaro. Por volta do início do século XV, a dialética tinha retrocedido muito atrás
da gramática e da Retórica nas reformas educacionais dos humanistas italianos. No entanto, a lógica era
muito importante para a argumentação persuasiva para os humanistas ignorá-la completamente. Desta
forma, Lorenzo Valla foi o primeiro a sugerir como os princípios da dialética poderiam ser adaptados
ao uso dos humanistas, combinando-os com os princípios retóricos tomados de Cícero e Quintiliano.
Com isso, foi o holandês humanista Rudolf Agricola, que forneceu aos humanistas uma forma aceitável
de dialética. Em sua invenção dialética, Agricola enfatizou a eloquência latina, ao invés da precisão
terminológica e a organização dos argumentos, ao invés da demonstração científica da verdade. De fato,
Agricola obscureceu a distinção aristotélica entre a lógica ou demonstração científica, que era a base das
proposições verdadeiras, e dialética, que por sua vez era a base das proposições prováveis. Desta forma,
Agricola ensinou que os argumentos poderiam ser melhor analisados examinando-os de acordo com
categorias padronizadas. Agricola sustentou que a primeira parte de uma argumentação deveria ser a
busca e o uso de tópicos, ou invenções e posteriormente o julgamento ou os princípios formais de
argumentação, que viria depois de ter "encontrado" o conteúdo a ser discutido. Agricola não só forneceu
listas de tais tópicos mas também deu exemplos de como a invenção tópica poderia ser usada para gerar
argumentos e analisar textos. Ao contrário da lógica medieval, a combinação de retórica e dialética
mostrou-se eminentemente prática. Chamado, alternativamente, "Lugar Lógico"," Dialética Tópica "ou"
Dialética Retórica ", esta reinterpretação humanista da Dialética foi entusiasticamente endossado por
Erasmus e tomou rapidamente a Europa do Norte. A primeira edição da obra de Agricola: 'Inventione
Dialética' foi publicada em 1515, trinta anos após a publicação de sua morte, e havia quase vinte
reimpressões antes da edição final que surgiu em 1539. Dentro de uma geração, a dialética passou de
ser disseminado pelos humanistas como um inútil desperdício de tempo para ser defendido como uma
ferramenta metodológica básica que poderia ser usada para a análise de textos de qualquer disciplina.
Demorou outra geração, no entanto, para esta nova dialética obter um lugar de destaque no currículo
das universidades alemãs. A próxima etapa no desenvolvimento da dialética coincidiu com o declínio
664
dramático e recuperação lenta das universidades alemãs. E antes de se preocuparem com assuntos
curriculares, as universidades primeiro teriam que sobreviver à crise educacional trazida pela Reforma.
Matrículas universitárias, que já estavam em declínio na Alemanha durante a década de 1510,
despencou acentuadamente durante a década de 1520. Somente Universitäten Wittenberg escapou
deste colapso drástico, e mesmo esta passou por alguns anos difíceis antes das Reformas estatutárias
finais, em meados de 1530. A própria Universitäten Wittenberg serviu de modelo à medida que novas
escolas foram estabelecidas e universidades mais antigas reformadas nas próximas décadas. O pequeno
número de estudantes universitários que matricularam nos anos seguintes após a Reforma, encontrou
um currículo em um estado de continua mudança. E com isso as décadas de 1530 e 1540 revelaram-se
um tempo de experimentação, e os estatutos do currículo foram introduzidos e depois aperfeiçoados
para prioridades educacionais do humanismo e da teologia evangélica. O padrão componente do
currículo medieval, principalmente as palestras sobre Metafísica, foram eliminadas, e as universidades
criaram cadeiras para a instrução na língua grega e para as disciplinas humanistas de poesia e retórica
(Burnett, 2004).
xxxv Por influência de seu avô Johann Reuchlin, um cabalista respeitado, e um dos religiosos
representantes do humanismo alemão foi aceito na Universidade de Heidelberg aos doze anos de idade.
Terminou ali seus estudos em 1511, como bacharel em artes e passou à Universidade de Tübingen, em
filosofia, onde foi aceito em 1514 com 17 anos. Seu avô também o recomendou ao príncipe
eleitor Frederico III da Saxônia para a recém-fundada Universidade de Wittenberg, em que em sua aula
inaugural, no ano de 1518, intitulou-se "Reforma da Instrução dos Jovens". Foi aluno de teologia de
Lutero, em 1519. Johann Reuchlin (1455 – 1522) nasceu em Pforzheim, onde seu pai foi um oficial de
um Mosteiro Dominicano. Tornou-se professor em Heidelberg e, por fim, tido como pai dos estudos
hebreus modernos. Já no ano de 1506, publica sua primeira gramática da língua hebraica e em 1523 já
estava na primeira cadeira de grego estabelecida em Viena.
xxxvi
Martinho Lutero (1483—1546), foi um monge agostiniano e professor de teologia germânico que
tornou-se uma das figuras centrais da Reforma Protestante. Atuou fortemente contra diversos dogmas
do catolicismo romano, contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser
adquirido pelo comércio das indulgências, que é o perdão fora dos sacramentos, total ou parcial. Essa
discordância inicial resultou na publicação de suas famosas 95 Teses em 1517, em um contexto de
conflito aberto contra o vendedor de indulgências Johann Tetzel. Johann Tetzel, (1465 - 1519) foi um
alemão católico romano, frade dominicano e pregador. Além disso, foi um grande Inquisidor de Heresia
na Polônia, e mais tarde tornou-se o Grande Comissário para indulgências na Alemanha. Tetzel ficou
conhecido pela concessão de indulgências em troca de dinheiro, o que permite a remissão de pena
temporal em relação ao pecado e a culpa do que foi perdoado, uma posição fortemente contestada por
Martinho Lutero. Porém, a recusa de Lutero em retratar-se de seus escritos, a pedido do Papa Leão X
em 1520 e a pedido do imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521, que foi uma reunião de cúpula
oficial , governamental e religiosa, chefiada pelo imperador Carlos V que ocorreu na cidade de Worms,
na Alemanha, entre os dias 28 de Janeiro e 25 de Maio de 1521. Nesta reunião, apesar de outros assuntos
terem sido discutidos, a Dieta de Worms ficou conhecida pelas decisões que dizem respeito a Martinho
Lutero e os efeitos subsequentes na Reforma Protestante. Lutero foi convocado à Dieta para desmentir
suas 95 teses, no entanto ele as defendeu e pediu a reforma da Igreja Católica. Com isso, frente ao seu
enfrentamento, sua atitude resultou em sua excomunhão da Igreja Romana e em sua condenação como
um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico. As controvérsias geradas por seus
escritos levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo, e o seu "Sermão sobre o Sacramento
Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades", ampliou o significado da
Eucaristia para incluir também o perdão dos pecados e ao fortalecimento da fé naqueles que a recebem.
Além disso, ele ainda apoiava a realização de um concílio a fim de restituir a comunhão. A disputa
havida em Leipzig, em 1519, fez com que Lutero travasse contato com os humanistas, especialmente
Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã, que por sua vez também influenciara ao nobre Franz von
Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur que queriam manter Lutero sob sua proteção,
convidando-o para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na Saxônia, em
665
virtude da proscrição papal. Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres
alecomunicantes, Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã" (agosto de 1520), onde
recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus, mas
abandonada pelo Papa e pelo clero (Neves, 2014)
xxxvii A Europa central é o conjunto dos países da Europa com a maior parte do seu território ligado
às cordilheiras dos Alpes (são um dos grandes sistemas de cordilheiras da Europa, estendendo-se
da Áustria e Eslovênia, a leste, através do norte da Itália, Suíça - Alpes suíços, Liechtenstein e sul
da Alemanha, até ao sudeste da França e Mónaco), incluindo as suas extensões para os Bálcãs e
os Cárpatos. Estes países ou os seus antepassados estiveram historicamente na situação de serem
alternadamente invadidos e, por vezes, administrados por países da Europa ocidental (notavelmente
o Sacro Império Romano-Germânico), pela Rússia, pela Polônia-Lituânia e até pelo Império Bizantino.
xxxviii
Pierre de la Ramée, ou Petrus Ramus (1515 - 1572), retórico, humanista e lógico francês, criador
da escola anti- aristotélica de pensamento, nomeada assim por Ramismo. Independente, adogmático e
hipercritico, protestou energicamente contra excessiva escolástica de algumas universidades, em que
Aristóteles era o único modelo e a base de toda a investigação filosófica. Rejeitou firmemente o
aristotelismo e o reconheceu como um trabalho de pura higiene. E preconizou por uma lógica livre e
dinâmica. Como humanista sofreu a influência de Lorenzo Valla e Rodolfo Agrícola e buscava uma
lógica “viva" como oposição à silogística, a argumentação lógica perfeita aristotélica. Os discípulos de
Petrus Ramus, incluindo os espanhóis foram Francisco Sanchez de las Brozas (1523-1600) e Pedro Nunez
Vela (1522-1602), que desenvolveu uma lógica e síntese dialética no lugar do aristotelismo dos
escolásticos, que também foi introduzido entre os Platônicos de Cambridge.
um
xxxixteólogo
Joãocristão francês.
Calvino 10 teve
Calvino
(Noyon, deumajulho de 1509muito
influência grande 27
— Genebra, durante 1564)
maio deProtestante,
de a Reforma foi
que continua até hoje. Portanto, a forma de protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecida por
alguns pelo nome calvinismo, embora o próprio Calvino tivesse repudiado contundentemente este
apelido. Esta variante do protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de
origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.
Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da
Igreja católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento
protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das
perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra
tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje
uma figura central da história da cidade e da Suíça[1]. No movimento reformista, Lutero não concordou
com o "estilo" de reforma de João Calvino. Martinho Lutero queria reformar a Igreja Católica, enquanto
João Calvino acreditava que a Igreja estava tão degenerada que não havia como reformá-la. Calvino se
propunha a organizar uma nova Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns costumes), seria
idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, mas afastou-se desse objetivo, fundando, então,
o protestantismo, que não seguia tradições, mas apenas a doutrina registrada na Bíblia, e cujos usos e
costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no "Livro de
Concórdia", e não muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a época.
Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Calvino
terá sido para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã - uma figura
quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que
Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana. Calvinistas
romperam com a Igreja Católica Romana, mas diferiam dos luteranos na doutrina sobre a presença real
de Cristo na Eucaristia , Princípio regulador do culto , e o uso da lei de Deus para os crentes , entre
outras coisas.[4][5] O termo calvinismo pode ser enganoso, pois a tradição religiosa que por ele é
identificada como bastante diversificada, com uma vasta gama de influências, em vez de um único
fundador. O movimento foi chamado pela primeira vez calvinismo pelos luteranos que se opunham a
ele, e muitos dentro da tradição preferem usar o termo Reformado para o descrever. Em 1555, são
666
erguidas as primeiras igrejas calvinistas em França, nomeadamente
em Paris, Meaux, Angers, Poitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgiram as comunidades
de Orleães, Rouen, La Rochelle, Toulouse, Rennes e Lyon (Witte, 1996).
xl
Doutrina do médico e pensador árabe Averroes, com uma interpretação pessoal do aristotelismo, que
se mostrou hostil à ortodoxia católica ao afirmar a finitude da alma humana individual, sendo por isto
duramente combatido pela filosofia escolástica e duas vezes condenado pela Igreja (1240 e 1513). O
"Averroísmo", "aristotelianismo radical" e "aristotelianismo heterodoxo" são rótulos dos séculos XIX e
XX para um movimento do final do século XIII entre os filósofos parisienses cujas opiniões não eram
facilmente conciliáveis com a doutrina cristã.
xli
Zabarella era um aristotélico ortodoxo que procurava defender o status científico da filosofia natural
teórica contra as pressões que emanavam das disciplinas práticas, isto é: da arte, da medicina e da
anatomia. Ele desenvolveu o método regressus, que os Aristotélicos do Renascimento consideravam o
método apropriado para a obtenção de conhecimento nas ciências teóricas. Na virada do século XVII,
os escritos de Zabarella foram reimpressos na Alemanha, onde sua filosofia teve um seguimento
notável, especialmente entre os autores protestantes aristotélicos (Burnett, 2004). As publicações de
Zabarella refletem seu ensinamento na tradição aristotélica. A primeira de suas publicações foi a
coleção: 'Opera logica', que apareceu em Veneza em 1578. A segunda obra publicada por Zabarella,
'Tabula logicae', saiu dois anos mais tarde e seu comentário sobre a 'Análise Posterior de Aristótele's
apareceu em 1582. A 'doctrinae ordine apologia', que apareceu em 1584, foi uma resposta a Francesco
Piccolomini que criticara as idéias de Zabarella sobre a lógica. A primeira das obras de Zabarella em
filosofia natural, 'De naturalis scientiae constitutione', saiu em 1586. Sua introdução ao campo da
filosofia natural, estava ligada ao seu opus principal: 'De rebus naturalibu's, cuja primeira edição foi
publicada postumamente em 1590, que continha 30 tratados diferentes sobre filosofia natural
aristotélica e Zabarella escreveu a introdução do livro apenas algumas semanas antes de sua morte. Os
dois filhos de Zabarella editaram seus dois comentários incompletos sobre os textos de Aristóteles, que
também foram publicados postumamente: o comentário sobre a Física (1601) eo comentário sobre On
the Soul (1605) (Mikkeli 1992, p.19).
xlii No catálogo de Bacon os ídolos podem ser de quatro espécies, a saber: a) Ídolos da tribo (Idola tribus):
equívocos causados pelas limitações da própria espécie humana, sendo-lhe, pois, inerentes, ou seja,
trata-se de uma propensão natural ao erro. b) Ídolos da caverna (Idola specus): erros provocados pelas
limitações intrínsecas do próprio indivíduo humano. c) Ídolos do fórum ou do mercado (Idola fori):
uma vez que os seres humanos são seres que interagem, assim, enganos decorrentes dos contatos ou
das relações que travam entre si tornam-se, logo, inevitáveis, porquanto as imperfeições e o mau uso da
linguagem, instrumento dessa sua interação, desviam-nos do acesso à verdade. d) Ídolos do teatro
(Idola theatri): ilusões despertadas pelas teorias ou doutrinas filosóficas e/ou científicas, as quais geram
autoridade para si próprias e, consequentemente, conduzem à submissão; como não estão isentas de
erros, provocam uma falsa compreensão da realidade, levando a uma encenação da verdade, ao invés
de revelarem a própria verdade, tornando-se, pois, pura e simplesmente invenções.
xliiiA Escola peripatética foi um círculo filosófico da Grécia Antiga que basicamente seguia os
ensinamentos de Aristóteles, fundada em 336 Dc., quando Aristóteles abriu a primeira escola filosófica
no Liceu em Atenas, que durou até o século IV. As obras de Aristóteles começaram a ser discutida
abertamente em um momento em que o método de Aristóteles permeava toda a teologia, estes tratados
foram suficientes para causar a proibição de heterodoxias (quaisquer opiniões ou doutrinas que
discordem de uma posição oficial ou ortodoxa) nas Condenações de 1210-1277 (Schmolders, 1859). As
Condenações na Universidade medieval de Paris foram promulgadas para restringir ensinamentos
considerados heréticos, ímpios. Estes incluíram um número de ensinos teológicos medievais, mas o
mais importante foram os Tratados Físicos de Aristóteles. As investigações desses ensinamentos foram
conduzidas pelos Bispos de Paris. Na primeira delas, em Paris, no ano de 1210, foi declarado que: "nem
os livros de Aristóteles sobre filosofia natural ou seus comentários, devem ser lidos em Paris, em público
667
ou em segredo, e isso nós proibimos sob pena de excomunhão.". No entanto, apesar das tentativas de
restringir o ensino de Aristóteles em 1270, a proibição da filosofia natural de Aristóteles foi ineficaz
(Rubenstein, 2004). Willem van Moerbeke, no latim: Gulielmus de Moerbecum (1215–1286), um tradutor
medieval, empreendeu uma tradução completa das obras de Aristóteles, foi o primeiro a traduzir:
Política (1260) do grego para o latim. Albertus Magnus (1200–1280) foi um dos primeiros entre os
estudiosos medievais a aplicar a filosofia de Aristóteles ao pensamento cristão. Era conhecido também
como Alberto, o Grande, era um filósofo, escritor e teólogo católico que venerado como santo. Ele
produziu paráfrases da maioria das obras de Aristóteles que estavam disponíveis. Ele leu, interpretou
e sistematizou todas as obras de Aristóteles, recolhidas a partir das traduções latinas e as notas dos
comentaristas árabes, em conformidade com a doutrina da Igreja. Seus esforços resultaram na formação
de uma recepção cristã de Aristóteles na Europa Ocidental. Tomás Aquino (1225–1274), o pupilo de
Albertus Magnus, escreveu uma dúzia de comentários sobre as obras de Aristóteles e foi enfaticamente
aristotélico, ele adotou a análise de Aristóteles aos objetos físicos, sua visão de lugar, tempo e
movimento, sua prova de força motriz, sua cosmologia, seu relato sobre a percepção sensorial e o
conhecimento intelectual e até mesmo partes de sua filosofia moral. A escola filosófica que surgiu como
um legado da obra de Tomás de Aquino ficou conhecida como tomismo e foi especialmente influente
entre os dominicanos e depois, os jesuítas (Furley, 2003). O movimento intelectual voltava seus
interesses para as obras filosóficas, literárias e científicas da Antiguidade Clássica de Grécia e Roma, com o
objetivo de adaptá-las ao novo contexto histórico. O retorno às obras dos pensadores clássicos teve início
com a Filosofia Escolástica, sendo seu principal representante São Tomás de Aquino (1225-1274), filósofo e
teólogo da Igreja Católica. São Tomás acreditava que a razão, o intelecto humano, não devia ser temida
– e considerava a razão como um outro caminho para Deus. A Escolástica adaptou os ensinamentos do
filósofo grego Aristóteles à religião. As ideias do filósofo foram utilizadas para esclarecer e explicar os
ensinamentos da religião por meio de conceitos e princípios lógicos.
xliv Alhazen, desenvolveu 92 trabalhos dos quais 55 sobreviveram, sendo os principais temas a Óptica, onde se
inclui uma teoria da luz e uma teoria da visão, a Astronomia e a Matemática, incluindo Geometria e teoria de
números. Escreveu um trabalho de 7 volumes sobre Óptica sendo este considerado a sua maior contribuição e
tendo sido traduzido para latim com o título “Opticae Thesaurus Alhazeni” (tesouro de Óptica de Alhazen) em
1270. Traduziu um rigoroso método experimental desenvolvido por ele, sendo por muitos historiadores
considerado o pioneiro do método cientifico moderno. No ‘Livro I’ deixou claro que a sua investigação era baseada
na evidência experimental e não em teorias abstratas.
xlv Seus
textos mais famosos são O Livro da Cura e O Cânone da Medicina, também conhecido como Cânone de
Avicena. Seus discípulos o cognominavam de Cheikh el-Rais – “príncipe dos sábios” – o terceiro grande mestre
depois de Aristóteles e Al-Farabi. É considerado um dos principais médicos de todos os tempos. Criou um
extenso corpus literário durante a época geralmente conhecida como "Era de Ouro do Islão", na qual traduções de
textos greco-romanos, persas e indianos foram extensivamente estudados. Textos greco-romanos
médio, neoplatônicos e aristotélicos da escola de Al-Kindi, um dos maiores filósofos do mundo árabe, (latinizado,
Alkindus, 801 – 873) foram comentados, editados e foram substancialmente desenvolvidos pelos intelectuais
islâmicos, que também evoluíram a partir de sistemas matemáticos, astronômicos, de álgebra, trigonometria e
medicina hindus e persas. Al-Kindi - Abu Yusuf Ya'qub ibn Ishaq al-Kindi, foi dos primeiros que fizeram a
tradução para árabe da obra de Aristóteles, de quem recebeu profunda influência ao formular a sua própria obra
filosófica. Os seus trabalhos tiveram posteriormente um grande impacto de Averroes (1126 – 1198), médico,
filósofo mulçumano andaluz, tradutor dos textos de Aristóteles. Elaborou uma teoria das Categorias, que é o texto
que abre não apenas o Organon — o conjunto de textos lógicos de Aristóteles — como também o Corpus
aristotelicum. O objetivo de Aristóteles nesta obra é classificar e analisar dez tipos de predicados ou gêneros do
ser (κατηγορια significa justamente predicado), isto é, quais são as dez categorias que todo objeto no mundo pode
ser classificado. As categorias são: substância (οὐσία, substantia), quantidade (ποσόν, quantitas), qualidade
(ποιόν, qualitas), relação (πρός τι, relatio), lugar (ποῦ, ubi), tempo (ποτέ, quando), estado (κεῖσθαι, situs), hábito
(ἔχειν, habere), ação (ποιεῖν, actio) e paixão (πάσχειν, passio). Algumas vezes, as categorias são também
chamadas de classes. Avicena, recebeu a influência que unia-se a um profundo conhecimento das matemáticas,
da medicina, da geometria e outras disciplinas científicas. Isso, juntamente com a sua defesa do livre arbítrio entre
os seus contemporâneos, levou-o a considerar a necessidade de criar uma doutrina filosófica capaz de agrupar os
distintos conhecimentos humanos.
668
xlvi
Roberto Grosseteste, inglês de 1168 a 1253, foi a figura central do importante movimento intelectual
da primeira metade do século XIII na Inglaterra. Foi apelidado de Grosseteste pela sua extraordinária
capacidade intelectual (Grosse = grande + teste = cabeça). Grosseteste, o fundador da escola Franciscana
de Oxford, foi o primeiro escolástico a entender plenamente a visão Aristotélica do caminho duplo para
o pensamento científico: generalizar de observações particulares para uma lei universal; e depois fazer
o caminho inverso: de leis universais para a previsão de situações particulares. Grosseteste chamou isso
de método da resolução e composição. Seu conhecimento dos textos de Aristóteles o estimulou a especular
e escrever sobre a metodologia da pesquisa científica. Para ele, a ciência começava com a experiência dos
fenômenos pelos homens, e a sua finalidade seria encontrar as causas para esses fenômenos. Pelo seu
método, o primeiro passo era tentar descobrir as possíveis causas para os fenômenos vividos - os agentes
causais -, o próximo passo seria separar o agente causal em seus princípios componentes. Depois, com base
numa hipótese, o fenômeno observado deveria ser reconstruído a partir de seus princípios. Finalmente
a própria hipótese deveria ser testada e validada, ou não, pela observação.
Esse procedimento continha a base essencial de toda a ciência experimental, sendo precursor do método
científico. Esses pontos de vista são muito importantes, especialmente quando levamos em conta a
grande influência que Grosseteste tinha por ser professor. Tinha grande interesse no mundo natural e
escreveu textos sobre som, astronomia, geometria e, especialmente, óptica. Primeiro estudioso europeu
a dominar as línguas grega e hebraica, desta forma deu ênfase à matemática como ferramenta para
estudar a natureza e defendia que experimentos deveriam ser usados para verificar as teorias a respeito
da mesma. Sua influência foi bastante significativa numa época em que o novo conhecimento
da ciência e da filosofia gregas estava tendo um efeito profundo na filosofia cristã. Influenciado por Au
relius Augustinus (354-430) – Santo Agostinho - Grosseteste acreditava que a luz exerce importante
papel na criação e sustentou, que Deus produziu o mundo ao criar primeiro a matéria a partir da qual
emanou um ponto de luz, a primeira forma corpórea de energia, uma de cujas manifestações é a luz
visível. Também foi relevante o seu trabalho experimental, especialmente seus experimentos com
espelhos e lentes. Seu mais renomado discípulo, foi Roger Bacon, (1214 - 1294), inglês do Reino Unido,
também conhecido como Doctor Mirabilis, ou Doutor Admirável, em latim. Foi um padre
e filósofo inglês que enfatizou o empirismo e o uso da matemática no estudo da natureza. Estudou nas
universidades de Oxford e Paris. As pesquisas de ambos possibilitaram o início da confecção
de óculos e futuramente seriam importantes no desenvolvimento de instrumentos como o telescópio e
o microscópio.
xlviiRoger Bacon, (1214 - 1294), inglês do Reino Unido, também conhecido como Doctor Mirabilis, ou Doutor
Admirável, em latim. Foi um padre e filósofo inglês que enfatizou o empirismo e o uso da matemática no estudo
da natureza. Estudou nas universidades de Oxford e Paris. As pesquisas de ambos possibilitaram o início da
confecção de óculos e futuramente seriam importantes no desenvolvimento de instrumentos como o telescópio e
o microscópio.
Richard Swineshead xlviii (1340 – 1354), autor do ‘Livro dos Cálculos’, um conjunto de 16 tratados que lhe
valeram o apelido de "O Calculador". Foi um dos mais proeminentes dos chamados Oxford Calculators da Colégio
de de Merton, e seguramente um membro ativo de 1344 a 1355. Os Oxford Calculators foi um grupo de pensadores
do século XIV, que faziam abordagens lógico-matemáticas a certos problemas. Em que promoveram o uso do
empirismo para entender a natureza.
xlix
A palavra universidade é derivada do latim: universitas magistrorum et scholarium , que significa
aproximadamente "comunidade de professores e estudiosos". O termo foi cunhado pela Universidade italiana de
Bolonha, Itália, datada de 1808, considerada a mais antiga universidade do mundo. Uma universidade no sentido
de um instituto de ensino superior, concedendo diplomas, tendo a palavra universidade (latina : universitas )
cunhada em sua fundação. Recebeu, em 1158, do Imperador Frederick I Barbarossa a " Authentica habita ",
que estabeleceu as regras, direitos e privilégios das universidades. A Universidade de Oxford é considerada mais
antiga universidade do mundo de língua inglesa e alega ter sido fundada entre 1096 e 1167. A Universidade de
Cambridge, foi fundada por estudiosos que saem de Oxford após uma disputa causada pela execução de dois
estudiosos em 1209. Sua Carta Real foi concedida pelo rei Henry III em em 1231. A origem de
muitas universidades medievais pode ser rastreada para trás às escolas cristãs da catedral ou às escolas monastic.
As primeiras evidências de uma escola episcopal européia são aquelas estabelecidas na Espanha visigótica no II
Concílio de Toledo em 527. Estas escolas precoces, com foco em um aprendizado religioso sob um bispo erudito,
669
foram identificadas em outras partes da Espanha e em cerca de vinte cidades da Gália (França) durante os séculos
VI e VII. Durante e depois da missão de Santo Agostinho para o sul da Inglaterra, escolas catedrais e novas
dioceses foram criadas, tais como: Canterbury 597, Rochester 604 e York 627. Este grupo de escolas forma
as escolas mais antigas em funcionamento contínuo. Carlos Magno (742—814), primeiro imperador dos
romanos, de 800 a 814 dc, que expandiu o Reino Franco e conquistou o Reino Itálico, reconheceu a importância
da educação para o clero e, em menor grau, para a nobreza, propôs-se restaurar esta tradição em declínio mediante
a emissão de vários decretos e exigiu que a educação fosse prestada em mosteiros e catedrais. Ele próprio era
analfabeto e assinava por insígnia. Em 789, o Admonitio Generalis de Carlos Magno exigiiu que fossem
estabelecidas escolas em cada mosteiro e bispado. Documentos subseqüentes, como a carta De litteris colendis ,
exigiam que os bispos selecionassem como professores homens que tivessem "a vontade, a capacidade de
aprender e o desejo de instruir os outros" e um decreto do Conselho de Frankfurt (794) recomendou que os bispos
se comprometessem a instrução de seu clero. Posteriormente, as escolas de catedral surgiram em grandes cidades
como Chartres, Orleans, Paris, Laon, Reims ou Rouen na França e Utrecht, Liege, Colónia, Metz, Speyer,
Würzburg, Bamberg, Magdeburg, Hildesheim ou Freising na Alemanha. Seguindo a tradição anterior, essas
escolas da catedral ensinavam principalmente futuros clérigos e administravam alfabetização para as mais
elaboradas cortes do Renascimento do século XII . Henry I, da Inglaterra, ele próprio um dos primeiros exemplos
de um rei alfabetizados, estava intimamente ligada à escola da catedral de Laon. Outras instituições de ensino
superior , como as da antiga Grécia , da antiga Pérsia , da antiga Roma , do Bizâncio , da antiga China , da antiga
Índia e do mundo islâmico , não estão incluídas nesta lista devido às suas diferenças culturais, históricas,
estruturais e jurídicas Medieval da qual a universidade moderna evoluiu. A Academia Platônica (às vezes referida
como a Universidade de Atenas), fundada em 387 aC em Atenas, Grécia, pelo filósofo Platão, durou 916 anos (até
AD 529) com interrupções. Ele foi emulado durante o Renascimento pela Academia Platônica Florentina, cujos
membros se viram seguindo a tradição de Platão. Por volta de 335 aC, em sucessão a Platão, Aristóteles fundou
a escola peripatética, os estudantes dos quais se reuniram no Lyceum em Atenas. A escola cessou em 86 aC
durante a fome, cerco e saque de Atenas por Sulla, general romano. Durante o período helenístico ,
o Museion em Alexandria (que incluiu a biblioteca de Alexandria ) transformou- se o instituto principal da
pesquisa para a ciência e a tecnologia de que muitas inovações grego surgiram. O engenheiro Ctesibius ( fl 285
222 aC) pode ter sido sua primeira cabeça. Foi suprimido e queimado entre 216 e 272 dC, ea biblioteca foi
destruída entre 272 e 391. A reputação dessas instituições gregas era tal que pelo menos quatro termos educacionais
modernos centrais derivam deles: a academia, o liceu, o ginásio e o museu.
lO Renascimento, também conhecido como Renascença ou Renascentismo, de 1348 a 1648, foi
liPara Aristóteles, a lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) para o correto pensar
(Cabral,2016). O objeto da lógica é o silogismo. Silogismo nada mais é do que um argumento constituído
de proposições das quais se infere (extrai) uma conclusão. Assim, não se trata de conferir valor de
verdade ou falsidade às proposições (frases ou premissas dadas) nem à conclusão, mas apenas de
observar a forma como foi constituído. É um raciocínio mediado que fornece o conhecimento de uma
coisa a partir de outras coisas, buscando, pois, sua causa (Cabral,2016). Em si mesmas, as proposições
ou frases declarativas sobre a realidade, como juízo, devem seguir apenas três regras fundamentais. 1
Princípio de Identidade: A é A; 2- Princípio de não contradição: é impossível A é A e não-A ao mesmo
tempo; 3- Princípio do terceiro excluído: A é x ou não-x, não há terceira possibilidade. Dessa forma, o
670
valor de verdade ou falsidade é conferido às proposições, pois são imediatamente evidenciados. No
entanto, a lógica trabalha com argumentos.
lii Silva
(2008) explica que, na segunda parte de sua obra Novum Organum, Francis Bacon estabeleceu a
sua ‘Instauração ’e aplica que: após o homem de ciência ou filósofo natural ter limpado os empecilhos
de sua mente e ter entendido as fragilidades do método de antecipação da natureza, ele agora está apto
e preparado para seguir o caminho pela via da interpretação da natureza, “que recolhe os axiomas dos
dados dos sentidos e particulares, ascendendo contínua e gradualmente até alcançar, em último lugar,
os princípios de máxima generalidade”. Bacha (2002) afirma que a metodologia de Bacon buscava
substituir o método aplicado por silogismos - cuja principal fraqueza lógica consistia em partir de
particulares empíricos para primeiros princípios (axiomas), que formam as premissas para o raciocínio
dedutivo – por um novo método científico, no qual os axiomas deveriam estar no fim do processo. Sua
metodologia se desenvolve a partir de uma generalidade crescente e destina um lugar especial para a
História Natural, por meio da avaliação sistemática dos fenômenos naturais”. (Bacha, 2002, p.35).
liii
O estágio dedutivo aristotélico parte dos princípios explicativos (generalizações), obtidas por meio
da indução (enumerativa e abdutiva), e esses princípios servem como premissas para que se deduzam
outras afirmações a respeito dos fatos. Aristóteles sugeriu que a ciência tem uma certa estrutura
explicativa, baseada nos níveis de generalidade de suas proposições, que se concatenam dedutivamente.
No nível mais alto acham-se os princípios de identidade, não contradição e terceiro excluído, aplicáveis
a todos os argumentos dedutivos. No nível seguinte se encontram os princípios e definições da ciência
particular em questão. E mais abaixo, estão os outros enunciados da ciência em questão. Qualquer
explicação, para Aristóteles, deve envolver os quatro aspectos da causação mencionados anteriormente,
a saber, a causa formal, a causa material, a causa eficiente e a causa final. Destaca-se aqui sua insistência
na causa final, o que equivale a uma explicação teleológica (é o estudo filosófico dos fins, do propósito,
objetivo ou finalidade). A causa final do processo de camuflagem de um camaleão é escapar de seus
predadores. A causa final do movimento do fogo é atingir seu “lugar natural”, que se encontra para
cima de nós. Aristóteles criticava os atomistas por sua tentativa de explicar a mudança em termos
apenas de causas materiais e eficientes. Ele criticava a ênfase dos pitagóricos com a matemática dizendo
que eles teriam uma preocupação exclusiva com as causas formais.
livSua doutrina do hilemorfismo defendia que todas as coisas consistem de matéria (hile) e forma
(morfe). Por “matéria” entende-se um substrato (matéria prima) que só existe potencialmente; sua
existência em ato pressupõe também uma forma. A física aristotélica rejeitava a “quantificação das
qualidades” empreendida pelos atomistas e por Platão. Partiu de dois pares de qualidades opostas:
quente/frio, seco/úmido. Os corpos simples que compõem todas as substâncias são feitos de opostos:
terra = frio e seco; água = frio e úmido; ar = quente e úmido; fogo = quente e seco. Os elementos
tenderiam a se ordenar em torno do centro do mundo, cada qual em seu “lugar natural”. Se um elemento
é removido de seu lugar natural, seu “movimento natural” é retornar de maneira retilínea: terra e água
tendem a descer, ar e fogo tendem a subir
lvSilogismo é um modelo de raciocínio baseado na ideia da dedução, composto por duas premissas que
geram uma conclusão. O chamado silogismo aristotélico é formado por três principais características:
mediado, dedutivo e necessário. O silogismo seria mediado devido a necessidade de se usar o raciocínio
para se chegar à conclusão real. Seria dedutivo pelo fato de se partir de preposições universais para se
chegar a uma conclusão específica. E, por fim, seria necessário por estabelecer uma conexão entre todas
as premissas. A exemplo: "Todos os homens são mortais; os gregos são homens; logo, os gregos são
mortais". A origem do método dedutivo é atribuída aos antigos gregos, com o silogismo do
filósofo Aristóteles, sendo mais tarde desenvolvido por Descartes, Spinoza e Leibniz.
lviNo aristotelismo, raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está
fundamentado em ideias apenas prováveis, e por esta razão traz em seu âmago a possibilidade de ser
refutado. Aristóteles define dialética no início de seus escritos, em: ‘Tópicos’, quando delimita o escopo
671
da pesquisa: “o propósito é encontrar um método a partir do qual possamos raciocinar sobre todos os
problemas que se no proponha, a partir de coisas plausíveis [opiniões geralmente aceitas (éndoxa), e
graças ao qual, se nós mesmos sustentamos um enunciado, não digamos nada que lhe seja contrário”
(Tóp. I 1, 100 a 18-21). Com isso, a dialética trata de um método segundo o qual se possa investigar algo
partindo de opiniões geralmente aceitas; tais opiniões, contudo, devem ser de domínio comum de quem
as aceita ao iniciar uma investigação, são as opiniões dos mais famosos, eminentes, reconhecidos, ou
dos sábios, a respeito de algo que se pretenda explorar. A seguir Aristóteles distingue três usos possíveis
da dialética. Um referente ao exercício pessoal, isto é, do indivíduo consigo mesmo que busca se
preparar educando e treinando sua mente através de raciocínios. Outro que se refere ao debate em
público, em virtude de discussões de ordem política, onde há defesa de um determinado
posicionamento, tendo outrem como adversário e possivelmente um público como árbitro, cuja
finalidade pode ser judiciária e/ou política. Por fim, há um uso relativo à ciência, a qual para Aristóteles
é sinônimo de filosofia, contudo, aqui segue Berti que o denomina uso relativo às “ciências filosóficas”.
A importância desse terceiro uso está no desenvolvimento das aporias (literalmente, beco sem saída)
em ambas as direções, ou seja, distinguindo o verdadeiro do falso (Tóp. I 1, 101 a 34-36).
lviiÉ um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império
Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna. A Idade Média é o período
intermédio da divisão clássica da História ocidental em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e
Idade Moderna, sendo frequentemente dividido em Alta e Baixa Idade Média. A data consensual para
o início da Idade Média é 476, e que representa o ano em que é deposto o último imperador romano do
Ocidente. No contexto europeu, considera-se normalmente o fim da Idade Média no ano 1500, embora
não haja um consenso universal alargado sobre a data. A depender do contexto, podem ser
considerados como eventos de transição a primeira viagem de Cristóvão
Colombo às Américas em 1492, a conquista de Constantinopla pelos Turcos em 1453, ou a Reforma
Protestante em 1517.
lixDiscurso racional acerca de Deus e do universo espiritual, bem como de suas relações com o universo
material e humano. Tradicionalmente, há duas espécies de teologia quais sejam: a teologia natural ou
racional, também conhecida como teodicéia, que estuda a problemática de Deus puramente no plano
da razão natural ou humana; a teologia revelada, que aborda a problemática da divindade a partir da
ótica da revelação sobrenatural (razão divina) feita por Deus à humanidade (Batista, 2010).
lx
O Grande Cisma foi o evento que causou a ruptura da Igreja Católica, separando-a em duas: Igreja
Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, a partir do ano 1054, quando os
líderes da Igreja de Constantinopla e da Igreja de Roma excomungaram-se mutuamente. O
Grande Cisma do Ocidente, ou Cisma Papal ou simplesmente Grande Cisma foi uma crise religiosa que
ocorreu na Igreja Católica de 1378 a 1417.
lxi
A invenção do microscópio pode ser considerada o marco inicial da Biologia Celular. Foram os
holandeses Hans Janssen e Zacharias Janssen, fabricantes de óculos, que inventaram o microscópio no
672
final do século XVI. As observações realizadas por eles, demonstraram que a montagem de duas lentes
em um cilindro, possuía a capacidade de aumentar o tamanho das imagens, permitindo dessa forma
que objetos pequenos, invisíveis a olho nu, fossem observados de forma detalhada. Entretanto, Hans e
Zacharias Janssen não utilizaram sua invenção para fins científicos. Foi o também holandês Antonie
von Leeuwenhoek, que viveu entre os anos de 1632 e 1723 na cidade holandesa de Delft, quem primeiro
registrou suas observações utilizando microscópios. Utilizando um microscópio de fabricação própria,
Leeuwenhoek foi o primeiro a observar e descrever as fibras musculares, espermatozóides e bactérias.
Leeuwenhoek relatou todas as suas experiências para Robert Hook, membro da Royal Society of
London. Como falava somente Dutch (holandês), Robert Hooke traduziu os seus trabalhos, que
posteriormente foram publicados pela entidade. Acerca de suas observações com o microscópio,
Leeuwenhoek descreveu originalmente a seguinte frase: “Não há prazer maior, quando meu olhar
encontra milhares de criaturas vivas em apenas uma gota de água”. Entretanto, a “descoberta” da célula
é atribuída a Robert Hooke. Em 1665 Hooke publicou seu livro intitulado Micrographie contendo
observações microscópicas e telescópicas e algumas observações originais em Biologia (Batista, 20100.
lxii
O político inglês nomeado Sir Francis Bacon desenvolveu um método para que os filósofos
buscassem em pesar a veracidade do conhecimento. O pensador propõe, desvencilhar-se da metafísica
escolástica e voltar-se para os eventos da natureza. A proposta baconiana alerta que o conhecimento só
é possível se, original e fundamentalmente, estabelecer uma história experimental da natureza, “pois o
conhecimento é como uma pirâmide, onde a história é a base; assim, na filosofia natural, a base é a
história natural” (ADV, iii, p. 356). No ideal baconiano de ciência, os conhecimentos especulativo e
prático estão unidos; assim, a história natural não é uma simples descrição da natureza, mas uma
história ativa em que as operações e técnicas humanas incidirão sobre a natureza, dominando-a e
transformando-a em proveito do bem-estar da maioria. O homem, minister et interpres da natureza,
deverá ser capaz, a partir da historia experimental da natureza, de coletar fatos suficientes para
transformar a natureza e, portanto, criar novas naturezas. “Engendrar e introduzir nova natureza ou
novas naturezas (naturas) em um corpo dado, tal é a obra e o fito do poder humano” (NO, i, ii). E o
filósofo continua: “e a obra e o fito da ciência humana é descobrir a forma de uma natureza dada ou a
sua verdadeira diferença ou natureza naturante ou fonte de emanação”. Nesse sentido, Bacon, aderiu
aos ideais alquímicos, e acreditou que a tarefa e o objetivo do poder humano é induzir em um
determinado corpo uma nova natureza (cf. Rossi, 2006, pp. 102-9) (Zaterca, 2012).
lxiii
Filosofia natural ou filosofia da natureza, philosophia naturalis era o estudo filosófico da natureza e do
universo físico que era dominante antes do desenvolvimento da ciência moderna. É considerado o precursor da
ciência natural, do mundo antigo, em que começou por Aristóteles, até o século XIX, o termo "filosofia natural"
era o termo comum usado para descrever a prática de estudar a natureza. Foi no século XIX que o conceito de
"ciência" recebeu sua forma moderna com novos títulos emergentes como "biologia" e "biólogo", "física" e "físico"
entre outros campos técnicos e títulos. Após uma palestra de Sir Christopher Wren, (1632 – 1723) foi um londrino
projetista e astrônomo, que fundou a Royal Society no Gresham College, em Londres, em 28 de novembro de
1660 e rei Carlos II se torna patrono. Em1663 a sociedade é referida como "a Sociedade Real de Londres para
Melhorar o Conhecimento Natural". As transações filosóficas da sociedade real começam a publicação sob a
orientação editorial de Henry Oldenburg, secretário da sociedade real. Esta revista é ainda hoje, a mais antiga
revista científica em publicação contínua no mundo e estabeleceu os conceitos de prioridade científica e revisão
pelos pares. Em 1665 a Royal Society publica a Micrographia de Robert Hooke e em 1687 a Sociedade Real
publica Principia Mathematica de Isaac Newton (Social Society, 2010).
lxiv
Foi um filósofo natural, químico e físico irlandês que se destacou pelos seus trabalhos no âmbito
da física e da química. Foi um cientista importante e influente em sua época, uma de suas mais
importantes descobertas foi a chamada Lei de Boyle-Mariotte, onde ele dizia que o volume de um gás
varia de acordo com a pressão de forma inversamente proporcional, e as propriedades do ar e do vácuo,
ele também acreditava que o calor era um movimento mecânico que estava relacionado com a agitação
de moléculas. Boyle teve influência para a Física, em especial no campo da Mecânica quântica. Ele
acreditava que o comportamento das substâncias poderia ser explicado pelo movimento dos átomos
através de uma espécie de mecânica. Na área das ciências médicas, Boyle sempre esteve interessado no
sangue, realizou investigações com a ajuda de outros pesquisadores de Oxford, onde estava interessado
673
na natureza do sangue e os efeitos de determinadas substâncias no sangue. Em 1684 lançou o
livro Memoirs for the Natural History of Humane Blood, onde ele inclui dados de suas investigações como
cores, gostos, odores e inflamabilidade do sangue e as diferenças entre o sangue humano e animal.
lxv
Nasceu em Greenwich (1656 — 1742) foi um astrônomo e matemático britânico, observador da ór
bita e decifrou o tempo do cometa Halley, em 1696. Astrônomo Real Britânico e professor da Cátedra
Savilian de geometria na Universidade de Oxford, Halley produziu em 1678 um mapa do céu
meridional. Mostrou em 1716 como a distância entre a Terra e o Sol poderia ser calculada a partir dos
trânsitos (passagens por uma linha de referência) de Mercúrio e Vênus, e descobriu o movimento
próprio das estrelas em 1718. Descobriu também a relação entre a pressão barométrica e a altura acima
do nível do mar, mapeou o campo magnético superficial da Terra, predisse de forma precisa as
trajetórias dos eclipses solares e apresentou pela primeira vez uma justificativa racional para a
existência da aurora boreal. Foi amigo de Isaac Newton, e ajudou-o a publicar suas três leis da mecânica
(Brasil Escola, 2012).
lxvi
Isaac Newton (1643 — 1727) foi um cientista inglês, mais reconhecido como físico e matemático,
embora tenha sido também astrônomo, alquimista, filósofo natural e teólogo. Sua obra, Princípios
Matemáticos da Filosofia Natural é considerada uma das mais influentes na história da ciência.
Publicada em 1687, esta obra descreve a lei da gravitação universal e as três leis de Newton, que
fundamentaram a mecânica clássica (Newton, 2002).
lxvii Segundo Batista (2010) O seu pensamento e, principalmente, a sua atividade científica, granjearam
lhe renome tanto como teórico e metodólogo da física quanto como um dos principais responsáveis pela
revolução científica moderna, pois os seus trabalhos (teóricos e experimentais) trouxeram contribuições
muito significativas para o aprimoramento do conhecimento científico natural. Padovani e Castagnola
(1978) oferecem uma síntese da concepção galileana de ciência: Segundo Galileu, a ciência é indutiva
(deve fundamentar-se sobre a experiência, para conhecer e dominar a própria experiência); fenomenal
(procura as leis dos fenômenos, e não as leis das essências das coisas); matemática (as leis científicas dos
fenômenos são leis matemáticas: físico-matemática). O procedimento metódico particular para construir
a ciência, descobrir as leis dos fenômenos, consta de três momentos: observação, hipótese,
experimentação (Padovani & Castagnola, 1978, p. 285; grifos dos autores).
lxviiiTeoriaque defende a tese de que o sol ocupa o centro do sistema solar, do grego, hélios - sol; foi
proposta, pela primeira vez, salvo melhor juízo, pelo astrônomo grego Aristarco de Samos (310 -230
a.C.); contudo, tal teoria foi rejeitada pela maioria da comunidade intelectual de então e só seria
reafirmada alguns séculos mais tarde, com os trabalhos de Copérnico e de Galilei (Batista, 2010).
lxix
Teoria que defende a tese de que a Terra, do grego - gaia ou geia, donde o composto geo, ocupa o
centro do universo, como uma esfera imóvel. É o modelo cosmológico mais antigo, cuja formulação
definitiva deve-se aos trabalhos do astrônomo e matemático grego Cláudio Ptolomeu (83 -161 d.C)
(Batista, 2010).
lxx
Revolução Científica foi o período que começou no século XVI e prolongou-se até o século XVIII. A partir
desse período, a Ciência, que até então estava atrelada à Teologia, separa-se desta e passa a ser
um conhecimento mais estruturado e prático. As causas principais da revolução podem ser resumidas
em: Renascimento cultural e científico, a imprensa, a Reforma Protestante e
o hermetismo. Hermetismo ou hermeticismo é o estudo e prática da filosofia oculta e da magia associados a
escritos atribuídos a Hermes Trismegisto, "Hermes Três-Vezes-Grande", uma deidade sincrética que combina
aspectos do deus grego Hermes e do deus egípcioThoth. Os escritos mais importantes atribuídos a Hermes são
a Tábua de Esmeralda e os textos do Corpus Hermeticum. Estas crenças tiveram influência na sabedoria
oculta europeia, desde a Renascença, quando foram reavivadas por figuras como Giordano Bruno e Marsilio
Ficino. A magia hermética passou por um renascimento no século XIX na Europa Ocidental, onde foi praticada
por nomes como os envolvidos na Ordem Hermética do Amanhecer Dourado e Eliphas Levi. Ordens herméticas
que ficaram consagradas ao longo dos séculos foram a Ordem dos Cavaleiros Templários, a Maçonaria e a Ordem
674
Rosacruz.A Ordem Hermética da Aurora Dourada é uma ordem nova comparada com as anteriores,ela surgiu na
década de 1880. A expressão "revolução científica" foi criada por Alexandre Koyré, 1892 — Paris, 28 de
abril de 1964) foi um filósofo francês de origem russa que escreveu sobre história e filosofia da ciência em 1939.
lxxi
Nicolau Copérnico (1473—1543) foi um astrônomo e matemático polonês que desenvolveu a teoria
heliocêntrica do Sistema Solar. Foi também cónego da Igreja Católica, governador e
administrador, jurista, astrônomo e médico. Quando Copérnico publicou sua principal teoria (heliocentrismo)
Martinho Lutero em 1517 já havia publicado 95 teses da Reforma Luterana. A teoria de Copérnico do modelo
heliocêntrico, foi publicada em seu livro, De revolutionibus orbium coelestium ("Da revolução de esferas
celestes"), durante o ano de sua morte, 1543 Essa visão geocêntrica tradicional foi abalada por Copérnico em 1537,
quando este começou a divulgar um modelo cosmológico em que os corpos celestes giravam ao redor do Sol, e
não da Terra. O movimento da Terra era negado pelos partidários de Aristóteles e Ptolomeu. O cardeal
São Roberto Belarmino presidiu o tribunal que proibiu a teoria copernicana, pois a teoria do Heliocentrismo, que
colocou o Sol como o centro do Sistema Solar, contrariava a então vigente Teoria Geocêntrica (que considerava
a Terra como o centro).
lxxii No
século 16, o astrônomo polonês Nicolaus Copernicus (1473 — 1543) trocou a visão tradicional do
movimento planetário centrado na Terra por um em que o Sol está no centro e os planetas giram em torno deste
em órbitas circulares. Embora o modelo de Copérnico estivesse muito próximo de predizer o movimento planetário
corretamente, existiam discrepâncias. Isto ficou particularmente evidente para o planeta Marte, cuja órbita havia
sido medida com grande precisão pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546— 1601) que foi
um astrônomo dinamarquês e tinha um observatório chamado Uranienborg (construído
entre 1576 e 1580 pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe por ordem de Frederico II e destruído em 1601) na
ilha de Ven, no Öresund, entre a Dinamarca e a Suécia. Tycho esteve ao serviço de Frederico II da Dinamarca e
mais tarde do imperador Rodolfo II da Germânia, tendo sido um dos representantes mais prestigiosos
da ciência nova - a ciência renascentista, em contraponto, a síntese da tradição bíblica e da ciência de Aristóteles
na Idade Média. Continuou o trabalho iniciado por Copérnico, e estudou detalhadamente as fases da lua e
compilou muitos dados que serviriam mais tarde a Johannes Kepler para descobrir uma harmonia celestial
existente no movimento dos planetas, padrão esse conhecido como leis de Kepler.
A correção para Copérnico, foi resolvido pelo matemático alemão Johannes Kepler, que descobriu que as órbitas
planetárias não eram círculos, mas elipses. Kepler descreveu o movimento planetário por três leis, tais como: 1a
Lei: Cada planeta revolve em torno do Sol em uma órbita elíptica, com o Sol ocupando um dos focos da elipse; 2a
Lei: A linha reta que une o Sol ao planeta varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais; 3a Lei: Os quadrados
dos períodos orbitais dos planetas são proporcionais aos cubos dos semi-eixos maiores das órbitas (P2=ka3).
As leis de Kepler não se aplicam somente aos planetas orbitando o Sol, mas a todos os casos em que um corpo
celestial orbita um outro sob a influência da gravitação -- luas orbitando planetas, satélites artificiais orbitando a
Terra ou outros corpos do sistema solar, e mesmo estrelas orbitando outras estrelas.
lxxiii
Johannes Kepler (1571 - 1630) foi um astrônomo e matemático alemão. Considerado figura-chave
da revolução científica do século XVII, é todavia célebre por ter formulado as três leis fundamentais da mecânica
celeste, denominadas por Leis de Kepler, tendo estas sido codificadas por astrônomos posteriores com base nas
suas obras Astronomia Nova (1609), que apresenta as duas primeiras leis do movimento planetário e em Epitome
Astronomiae Copernicanae (1617–21), a primeira versão impressa da terceira lei do movimento planetário
e Harmonices Mundi, (1619), que apresenta a terceira lei, em. Essas obras também forneceram uma das bases para
a teoria da gravitação universal de Isaac Newton (1643 - 1727), que foi um cientista inglês, mais reconhecido
como físico e matemático, e também astrônomo, alquimista, filósofo natural e teólogo..
lxxiv A diferença entre religião e racionalismo é bem clara, embora a religião tenha começado todas as suas
doutrinas como uma atividade racional, se baseou nos dogmas, os dogmas são inabaláveis e imutáveis, as teorias
são testáveis e mutáveis. Na verdade, a própria definição de uma teoria é que ela está sempre aberta à correção
com a aquisição de novos conhecimentos. Caso Copérnico(1473 —1543), Kepler (1571 — 1630) e
Galileu (1564 — 1642), como cristãos devotados que eram, tivessem aceitado, que era o sol que girava em torno
da terra, assim nenhum progresso na astronomia teria iniciado àquele momento. Confirmado pela teoria de
Copérnico que foi a Terra que se movia em torno do sol e não vice-versa, Galileu aperfeiçoou a perspectiva racional
e ilustrou o uso dos diferentes métodos que poderia ser adotado com sucesso, tal como: o método de observação
para aprender sobre os movimentos planetários, fez uso da experiência pessoal que foi adquirindo em sua busca
pelo conhecimento e conduziu experimentos para se chegar a uma verdade. Galileo (1564—1642) sem dúvida
tinha a vantagem de ter Copérnico e Kepler como seus predecessores, mas é nele que o método científico atingiu
sua melhor forma, pois anteriormente, a ciência tinha-se ligado ao que era então Filosofia, e com Galileu a ciência
começou a ter condução própria, com método próprio, em que buscava melhorar a vida do homem na terra, e que
não colocou sua fé em " Razão Pura".
675
lxxv
Giordano Bruno (1548 — 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor frade dominicano italiano condenado à
morte na fogueira pela Inquisição romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo
Ofício) com a acusação de heresia ao defender erros teológicos. Giordano Bruno foi o grande defensor da ideia
de infinito , defesa realizada em seu livro ‘Acerca do Infinito, o Universo e os Mundos’ (1584), era um hilozoísta,
que consideravam que toda a realidade, inclusive a inerte, era dotada de sensibilidade e, portanto, animada por um
princípio ativo. O Hilozoísta foi uma doutrina da escola jônica grega do séculos VII - VI a.C., pertencente ao grupo
de filósofos chamados pré-socráticos (Baracat, 2009). E considerado também um panpsiquista, em que tudo tem
uma natureza psíquica, uma alma, é um termo que designa uma concepção da matéria e, por extensão, de toda
acomo:
natureza.
Paracelsus
O ,Bernardino
pan-psiquismoTelesio
tinha
, Giordano Bruno , Helmont
representantes entre eosTommaso
pensadores
Campanella, e na obra Nova
do Renascimento, tais
universis de philosophia (1591), do autor renascentista Franciscus Patricius - Francesco Patrizi (1529 - 1597 ) foi
um filósofo italiano orientação platônica e em seu livro Nova universis de philosophia (1591), de orientação pré
socrática.
lxxvi
A exemplo, Edward Jenner ( 1749 — 1823) foi um naturalista e médica britânica que clinicava em Berkeley,
filho de um vigário anglicano e em 1789 Jenner observou que as vacas tinham as tetas feridas iguais às provocadas
pela varíola no corpo de humanos. Os animais tinham uma versão mais leve da doença, a varíola bovina. Em 1796,
A vacinação como meio de combater várias doenças foi o produto de um homem que aplicou a sua razão a um
facto que normalmente teria sido ignorado por outras pessoas. Alertado por uma ordenhadora Sarah Nelmes, de
que não contrairia a varíola humana por ter adquirido a varíola bovina, Jenner extraiu pus da mão de Sarah e
inoculou em uma criança saudável, James Phipps, de oito anos, e o menino contraiu a doença de forma branda e
logo ficou curado. Posteriormente inoculou a varíola humana no mesmo menino e James não contraiu a doença.
A partir de sua conclusão de que uma pessoa que sofreu de uma doença mais leve, tornaria-se imune a uma doença
mais grave de tipo semelhante. No ano seguinte, Edward Jenner (1749 — 1823) relatou seu experimento à Royal
Society - a Academia de Ciências do Reino Unido -, mas as provas que ele apresentou foram consideradas
insuficientes. Ele realizou então novas inoculações em outras crianças, inclusive em seu próprio filho. Em 1798,
seu trabalho foi reconhecido e publicado: An Inquiry into the Causes and Effects of the Variolae Vaccinae, a
Disease Known by the Name of Cow Pox. No entanto, seus críticoso ridicularizaram e foi denunciando como
repulsivo o processo de infectar gente com material colhido de animais doentes. Mas as vantagens da vacinação,
porém, logo se tornaram tão evidentes tornando imune à varíola humana, uma das doenças epidêmicas mais
mortais da humanidade. Dr. Jenner demoliu assim a superstição de que a varíola foi a visitação da maldição de
Deus sobre a humanidade.
lxxvii
O racionalismo e o empirismo constituem novos paradigmas da filosofia, a razão é a organização e ordenação
de idéias, para assim poder sistematizá-las, passa a ser considerada uma atividade intelectual de conhecimento da
realidade natural, possui um ideal de clareza, de ordenação, rigor e precisão dos pensamentos e das palavras. A
razão, em sua origem, é a capacidade intelectual de pensar e exprimir-se correta e claramente, de modo a organizar
e ordenar a realidade, os seres, os fatos e as idéias. Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez
com que ela fosse considerada oposta a quatro outras atitudes mentais, tais como: ao conhecimento ilusório, às
emoções, aos sentimentos, às paixões, à crença religiosa, em que a verdade nos é fundada pela fé por meio de uma
revelação divina. A Filosofia Moderna foi o período em que mais se confiou nos poderes da razão para conhecer
e conquistar a realidade e o homem – por isso foi chamado de Grande Racionalismo Clássico. O marco dessa
forma de pensamento é René Descarte (1596 – 1650), “Penso, logo existo”, matemático e filósofo, inventor da
geometria analítica e o método escolhido é o matemático, por ser o exemplo de conhecimento integral racional,
autor do Discurso do Método de 1637, de características dualistas e mecanicistas.
O racionalismo considera que o homem tem idéias inatas, ou seja, que não são derivadas da experiência, mas se
encontram no indivíduo desde seu nascimento e desconfia das percepções sensoriais. Enquanto a ciência cristã e
antiga constituía um corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, não admitindo erros, mudanças
ou crítica, a ciência moderna e racional vai propor formular leis e princípios que expliquem o funcionamento da
realidade. O pensamento racional ao introduzir a dúvida no processo do pensamento, introduz a crítica como parte
do desenvolvimento do conhecimento científico. São esses princípios da ciência moderna que encontramos hoje.
Principais pensadores: René Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662), Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646
1716), Friedrich Hegel (1770-1831).
lxxviii
O Empirismo defende que o conhecimento humano provém da nossa percepção do mundo externo e da nossa
capacidade mental, valorizando a experiência sensível e concreta como fonte do conhecimento e da investigação.
Segundo os empiristas, o conhecimento da razão, da verdade e das idéias racionais é importante, mas desde que
estejam ligados à experiência, pois as idéias são adquiridas ao longo da vida e mediante o exercício da experiência
sensorial e da reflexão. O método empirista baseia-se na formulação de hipóteses, na observação, na verificação
676
de hipóteses com base nos experimentos. O empirismo provoca uma revolução para a ciência. A partir da
valorização da experiência, o conhecimento científico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a
querer dominá-la, buscando resultados práticos. E tem como principais filósofos: Francis Bacon (1561 – 1626),
John Locke (1632 – 1704), David Hume (1711 – 1776), Thomas Hobbes (1588 - 1679) e John Stuart Mill (1806
– 1873).
Francis Bacon (1561 – 1626), nasceu na Inglaterra criou o lema: “Saber é poder”, pois compreende que o
desenvolvimento da pesquisa experimental aumenta o poder dos homens sobre a natureza. John Locke, médico
inglês, dizia que o mente humana é uma tábula rasa, um papel em branco sem nenhuma idéia previamente escrita
e que todas as idéias são adquiridas ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão.
Defendeu que a experiência é a fonte das idéias. Desenvolveu uma corrente denominada Tabula Rasa, onde
afirmou que as pessoas desconhecem tudo, mas que através de tentativas e erros aprendem e conquistam
experiência. O racionalismo e o empirismo são pensamentos distintos, embora exista um elemento em comum: a
preocupação com o entendimento humano.
lxxix
A secularização é um processo através do qual a religião perde a sua influência sobre as variadas esferas da
vida social. Essa perda de influência repercute-se na diminuição do número de membros das religiões e de suas
práticas, na perda do prestígio das igrejas e organizações religiosas, na influência na sociedade, na cultura, na
diminuição das riquezas das instituições religiosas, e, por fim, na desvalorização das crenças e dos valores a elas
associados.
lxxx Em
suma, o método de René Descartes exigia: (1) aceitar como "verdade" apenas idéias claras e
distintas que não podiam ser duvidosas, (2) quebrar um problema em partes, (3) deduzir uma conclusão
a partir de outra e (4) conduzir uma Síntese sistemática de todas as coisas. Descartes baseou toda sua
abordagem filosófica na ciência sobre esse método dedutivo de raciocínio e destacava que a mente e o
corpo são distintos - "dualismo mente-corpo", em que a natureza da mente, uma coisa pensante, não
estendida, é completamente diferente da do corpo, coisa estendida, não pensante e, portanto, é possível
para um que exista sem o outro. Descartes considera a origem do conhecimento na existência de três
tipos de substâncias: a substância pensante (res cogitans): cujo atributo essencial é o pensamento;
a substância extensa (res extensas), cujo atributo essencial é a extensão; a substância divina (res divina),
cujo atributo essencial é a perfeição, a qual se identifica, com vários atributos de Deus: omnipotência,
omnisciência, suma vontade. O ser humano por sua vez constitui, uma unidade de duas substâncias: a
unidade da alma res cogitans, e do corpo res extensas. Os elementos fundamentais da noção de substância
em Descartes completa e incompleta, sendo completa a alma e o corpo e incompleta as substâncias que
não podem existir por si só, ou seja, são chamadas incompletas por estar relacionadas com outra
substância, da qual são partes integrantes. Em Descartes, res cogitans ('coisa pensante') é o sujeito pen
sante, que encontra obstáculo numa res extensa ('coisa extensa'), que é o corpo, a realidade deste mesmo
ou a matéria. A característica essencial ou atributo dos corpos é a extensão, quer dizer, o estar no espaço,
com suas modificações ou modos - a quantidade de movimento, a forma e o movimento. Como
consequência disso, os corpos se submetem à quantidade de movimento, a qual ele chamava de força
do movimento e podem ser explicados em termos mecanicistas. Já os seres humanos não são pura
extensão, puro corpo, pois possuem mentes, enquanto os animais são, para Descartes, pura extensão,
puro corpo, como máquinas, e podem, segundo o filósofo, ser explicados em termos mecanicistas
(Marques, 1993).
Descartes destaca à res cogitans e não à res divina e é justamente esta ruptura que faz de Descartes o
primeiro filósofo moderno, que apresenta, que a verdade inquestionável, indubitável, não é a da
existência de Deus, como foi repetidamente mantido ao longo de todo o pensamento medieval, mas a
da existência do cogito. Assim, é a partir da res cogitans que Descartes se propõe a demonstrar
a existência de Deus. Para isso, Descartes afirma que o processo para a descoberta de uma verdade
inicial é a dúvida, e que toda afirmação só pode ser conhecida através da experiência e que
empiricamente, pode ser posta em dúvida. O método cartesiano se caracteriza pela a recusa de todo o
tipo de afirmações que podemos, por algum motivo, ter dúvida. Ou seja, se algum cético pode
questionar a veracidade de uma certa afirmação que aceitamos, então essa afirmação deve ser recusada.
O primeiro passo é duvidar dos sentidos, que são fonte de engano; o segundo momento da dúvida é a
incerteza a respeito dos estados de sono e de vigília, pois tudo que experimentamos acordados podemos
experimentar também quando dormimos, no sonho e como terceiro passo do processo, Descartes pensa
a possibilidade que o Deus, que é todo-poderoso, possa ter lhe enganado a respeito de tudo que trazia
677
como certeza. Sendo assim, para resguardar a bondade de Deus (e porque ele vai precisar de Deus no
seu sistema como garantia das ideias inatas e como aquele que vai dar certeza do mundo sensível),
Descartes apresenta o quarto argumento: ele cria um gênio maligno poderoso que possa ter lhe
enganado, já que Deus, sendo bom, não podia fazer isso. Após passar pelas várias fases da dúvida que
são os sentidos, sono ou vigília, Deus enganador e o gênio maligno, Descartes inaugura a base de todo
seu pensamento filosófico e antropológico, o cogito. É preciso compreender que o cogito, na verdade,
constitui a substância pensante e por substância, entende-se, aquilo que existe por si. Trata-se de uma
compreensão próxima da escolástica, mas em Descartes, o homem é antes de tudo, pensamento e não
ser da natureza. A dimensão metafísica é a explicação da substância essencial. Portanto, o homem é res
cogitans, por isso é mais fácil ter conhecimento do próprio eu pensante que do corpo, o cogito é a pedra
fundamental de todo o conhecimento (Marques, 1993).
É importante notar que, para Descartes, "distinção real" é um termo técnico que denota a distinção entre
duas ou mais substâncias (ver Princípios, parte I, seção 60). Uma substância é algo que não requer
qualquer outra criatura para existir - ela pode existir apenas com a ajuda da concordância de Deus -
enquanto, um modo é uma qualidade ou afeição dessa substância (ver Princípios Parte I, seção 5).
Conseqüentemente, um modo requer uma substância para existir e não apenas a concordância de Deus.
Sendo em forma de esfera é um modo de uma substância estendida. Por exemplo, uma esfera requer
um objeto estendido em três dimensões para existir: uma esfera não expandida não pode ser concebida
sem contradição. Mas uma substância pode ser entendida como existindo sozinha sem exigir que
nenhuma outra criatura exista. Por exemplo, uma pedra pode existir por si só. Ou seja, sua existência
não depende da existência de mentes ou outros corpos; e, uma pedra pode existir sem ser qualquer
tamanho ou forma particular. Isto indica para Descartes que Deus, se quisesse, poderia criar um mundo
constituído por esta pedra por si só, mostrando ainda que é uma substância "realmente distinta" de
tudo, menos de Deus. Portanto, a tese de que a mente e o corpo são realmente distintos significa apenas
que cada um poderia existir por si só, sem qualquer outra criatura, incluindo um ao outro, se Deus
escolheu fazê-lo. No entanto, isso não significa que essas substâncias existem separadamente e se eles
realmente existem separadas é outra questão (Hoffman, 2002).
lxxxi
A Era Isabelina foi considerada a idade de ouro na história inglesa, marcada pelo reinado da Rainha Elizabeth
I (1558-1603). Foi marcado pelo triunfo naval sobre os espanhóis e passava por um bom momento econômico,
mais expansiva e mais otimista. Esta "idade de ouro" representou o apogeu do Renascimento Inglês e viu o
florescimento da poesia, música e literatura, como o de Willian Shakespeare.
lxxxii Pierre
Gassendi (1592-1655), obteve aos dezesseis anos uma cadeira de retórica em Digne-les-
Bains, instituto que faz parte da Aix-Marseille Université. Em 1617, recém ordenado padre, obteve uma
cadeira de filosofia na Aix-Marseille Université, França. Em 1623 foi nomeado prepósito da Catedral de
Digne e pôde dedicar-se aos estudos científicos. Viajou para Flandres e Holanda (1628/31), mas morou
sobretudo em Paris, onde em 1645 foi nomeado professor de matemática no Colégio Real de Paris. Nos
textos de Gassendi, na maioria das vezes, a estrutura se dá da seguinte forma: ele apresenta o problema
que vai tratar, cita filósofos que concordam com o que vai defender e depois alguns com quem vai
debater. Sua base é o epicurismo, que é o sistema filosófico que prega a procura dos prazeres moderados
para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com a ausência de sofrimento corporal
pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. Já quando os desejos são
exacerbados podem ser fonte de perturbações constantes, dificultando o encontro da felicidade que é
manter a saúde do corpo e a serenidade do espírito, ensinado por Epicuro de Samos, filósofo ateni
ense do século IV a.C. As afirmações centrais do atomismo de Pierre Gassendi (1592-1655) são
encontradas em Epicuro (341-270 a.C.) e Lucrécio (99 – 55 a.C): a de que existem dois tipos de coisas
extensas – átomos (os elementos constituintes básicos da matéria) e vazio. Também professa que a
matéria não pode ser fisicamente dividida para além de um componente mínimo que não possui partes
(átomos), e que tudo é composto de uma combinação de vazio e do elemento básico da matéria, isto é,
do átomo. O atomismo de Gassendi defende que toda ação do mundo ocorre pelo contato de um corpo
com outro. No que diz respeito ao seu empirismo, a evidência de seu atomismo é obtida indiretamente
como produto de dados sensórios, i. e., a partir da observação. Gassendi defende que tal meio de obter
conhecimento a partir da evidência disponível é garantido pela inferência baseada nos sinais, um sinal
678
é qualquer coisa que designe algo ou dê a entender algo que seja diferente de si mesmo, ou seja, é algo
que leva ao conhecimento de alguma outra coisa, sendo suficiente para dizer que o atomismo é
justificável empiricamente. Gassendi foi um atomista que adotou a teoria de Leucipo (500 a.C.),
Demócrito (460-370 a.c) e Epicuro (341-270 a.C.), que são as suas principais fontes para o atomismo.
Apesar dos três serem considerados os percussores do atomismo, é a Epicuro que Gassendi mais se
reporta, tendo, inclusive, publicado uma biografia a seu respeito intitulada De vita et moribus Epicuri
(1647). Epicuro de Samos (341-270 a.C.) teve uma obra tão influente que fez com que diversos e
numerosos centros epicuristas fossem construídos no Egito, mais precisamente em Jônia. Epicuro
propõe que os dados percebidos são evidência para a existência de corpos, assim como seus
movimentos e transformação e que devido a isso é possível aceitar que os corpos são compostos de
átomos e cita “Que os corpos existem é óbvio para os sentidos de todos. Devemos também fazer
inferências sobre coisas escondidas de nossos sentidos, como notei anteriormente, somente a partir dos
sinais que nossos sentidos podem detectar, e é dessa forma que inferimos o vazio” (LAÉRCIO,
Diógenes. Vida e doutrina dos filósofos ilustres, Livro X, 39-40). Epicuro afirma que as pessoas deveriam
levar vidas que enriqueçam sua felicidade e suas amizades e esta é uma lição moral direta do caráter
material da alma, que se encerra na mortalidade: o consolo está na vida presente. E aqueles que dizem
que a alma é incorpórea estão errados Epicuro faz uma distinção entre o prazer passageiro e prazer
estável. O primeiro seria a alegria, a felicidade, o segundo seria a total ausência de dor. É um crítico da
noção de substância, em Syntagma Philosophicum (1658), na parte concernente à física, Gassendi
garante que são os átomos os componentes (principium) materiais das coisas ou a forma primária e
universal da matéria. Outra vantagem que a teoria atômica apresenta, segundo Gassendi, é que ela
explica a fonte e a origem mais íntimas do movimento. Outras teorias não conseguem explicar tal coisa,
muito menos a teoria da forma. A noção de forma, segundo Gassendi, é considerada pelos teóricos como
capaz de conter o princípio de todo movimento e atividade através de uma entidade que ela possui,
além de manter-se diferente da matéria. Acusa ainda os defensores da forma de considerar a matéria
totalmente inerte e livre de qualquer poder ativo ou motor. A filosofia autêntica, para Gassendi, era o
conhecimento hipotético e experimental, por sua natureza relativa, histórica e progressiva. Os
princípios metafísicos não são importantes para a ciência física. O mundo metafísico, contudo, não é
negado pelo filósofo - este apenas separa-se do mundo físico (Rovaris, 2007).
lxxxiii
A Reforma Inglesa (ou Reforma anglicana) foi uma série de eventos ocorridos no século XVI através dos
quais a Igreja da Inglaterra rompeu com a autoridade do Papa e a Igreja Romana. Está associada com o processo
mais amplo da Reforma Protestante, um movimento político-religioso que afetou as práticas da fé cristã em todo
o continente europeu. Muitos fatores contribuíram para esse processo, como o declínio do feudalismo e a ascensão
do nacionalismo, o advento do Direto comum, a invenção da prensa móvel por Gutenberg e o consequente
aumento do número de Bíblias disponíveis, a difusão de conhecimento e novas idéias entre acadêmicos, as classes
média e alta e os leitores em geral. Entretanto, a Reforma Inglesa — que também abrangeu o País de Gales e
a Irlanda — foi em grande parte impulsionada por mudanças na política do governo inglês, às quais a opinião
pública foi gradativamente se acostumando.
Tendo como base o desejo do rei Henrique VIII em anular seu casamento com Catarina de Aragão (ne
gado pelo Papa Clemente em 1527), a Reforma Inglesa começou mais como uma disputa política do que
teológica. As diferenças políticas entre Roma e a Inglaterra permitiram que os atritos teológicos já
existentes se tornassem ainda maiores. Até o rompimento com Roma era o Papa e os concílios gerais da
Igreja que decidiam a doutrina. A Igreja da Inglaterra era governada pelo código de direito
canônico com jurisdição final em Roma. As contribuições à Igreja eram pagas diretamente a Roma e o
Papa tinha a palavra final na nomeação dos bispos.
O rompimento com a Igreja de Roma entrou em efeito através de uma série de atos do Parlamento
aprovados entre 1532 e 1534, dentre os quais o Ato da Supremacia, que declarava o rei Henrique VIII
como "Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra na Terra".[2] Maria I renunciou a este título em 1553,
quando restaurou a jurisdição papal; mais tarde, em 1559, Elizabeth I reafirmou a supremacia real sobre
a Igreja ao adotar o título de "Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra".[2] A autoridade final em
679
disputas doutrinais e legais agora pertencia ao monarca e o papado foi privado da arrecadação da Igreja
e da palavra final na nomeação dos bispos (Dickens, 1989).
lxxxivDe Cive (1642) foi o primeiro livro publicado de Hobbes de filosofia política, este trabalho centra-se mais
estreitamente sobre o político: suas três seções principais são intituladas "Liberdade", "Império" e "Religião". No
entanto, De Cive foi concebido como parte de um trabalho maior, os Elements of Philosophy. Esse trabalho era
composto por três partes: De Corpore (1655), De Homine (1658) e De Cive. De Corpore, abrange questões de
lógica, linguagem, método, metafísica, matemática e física. De Homine, entretanto, centra-se em questões de
fisiologia e óptica.
lxxxv Na primeira
parte, ‘Do Homem’, de seu livro Leviathan - Leviatã ou matéria, Forma e Poder de um
Estado Eclesiástico e Civil (1651), em oposição a Aristóteles em que o homem é um indivíduo politikon,
para polis, já em Hobbes o homem busca seu interesse particular, firma pactos políticos tendo em vista
seu próprio benefício. (Lopes, 2012). Assim, o conceito de homem está dentro de uma perspectiva
mecânica de natureza (exterior) e não teleológica (interior) como em Aristóteles, em que o sentido é o
originário de todo tipo de pensamento:
E continua:
De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros devem
render o suficiente da sua liberdade natural, de forma que a autoridade possa assegurar a paz interna e
a defesa comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembleia (que pode, até mesmo, ser
composta de todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser o Leviathan (1651), uma autoridade
680
inquestionável. A teoria política do Leviatã mantém, no essencial, as ideias de suas duas obras
anteriores, Os elementos da lei e Do cidadão (em que tratou a questão das relações entre Igreja e Estado).
lxxxvii
A Filosofia Política de John Locke tornou-se, desde sua época, conhecida como Liberalismo – a
crença nos princípios da liberdade e da igualdade. As revoluções na América do Norte e na França, no final
do século XVIII, tinham como base os ideais liberais. A Declaração de Independência e a Constituição
norte-americana, via Thomas Jefferson, um dos seguidores de Locke, com ênfase na proteção da vida,
liberdade e propriedade”, podem ser diretamente identificados na sua filosofia daquele filho de puritanos
que apoiaram a causa parlamentarista na Guerra Civil inglesa, eclodida em 1642 com uma série de
conflitos gerados pelo temor que Carlos I tentasse introduzir o Absolutismo na Inglaterra.( O Livro da
Política. São Paulo; Globo, 2013). Em 1661, Luís XIV deu início ao seu reinado absolutista na França,
expresso na frase “L’État c est moi”. Em 1689, a Declaração de Direitos inglesa assegurou os direitos do
Parlamento e eleições livres de interferência da realeza. No Século XVIII, revoluções com participações
populares levaram à criação de Repúblicas baseadas nos Princípios Liberais, progressistas naquela época.
Foi o primeiro a articular a respeito dos Princípios Liberais de Governo, e expressava, que o propósito
do governo era: a) preservar os direitos dos cidadãos à vida, à liberdade, e à propriedade; b) buscar o
bem público, e; c) punir quem violasse os direitos dos outros. Desta forma, para Locke, legislar seria, a
função suprema do governo. Locke se opunha, ao governo absolutista ao contrário de Thomas Hobbes (1588
1679), que acreditava ser necessário um soberano absoluto para salvar o povo de seu brutal “estado de
natureza”.
lxxxviii
Alguns eruditos medievais argumentavam que os reis tinham o direito de governar dado por Deus (Igreja),
enquanto outros proclamavam que a nobreza tinha um direito de nascença para governar. Pensadores iluministas
começaram a desafiar essas doutrinas. Mas se o poder de governar não foi dado pela “vontade divina” ou por
nascimento, então eram necessárias outras fontes de legitimidade.
lxxxix
Anthony Ashley Cooper (1621-1683), e nomeado Lord Ashley de 1661 a 1672, era um político proeminente
da Inglaterra durante o interregno Inglês e durante o reinado de Charles II. Fundador do partido Whig
(corresponde à do antigo nome do Partido Liberal Britânico), é lembrado como um patrono de John
Locke. O interregno Inglês começou em janeiro de 1649 com o regicídio (homicídio culposo de um
monarca) de Charles I da Inglaterra e terminou em 1660 com a restauração ao poder de Carlos II de Inglaterra . Na
verdade, esta época pode ser dividida em quatro períodos: 1649 - 1653: Primeiro período da Commonwealth da
Inglaterra; 1653 - 1658: O Protetorado sob o comando de Oliver Cromwell; 1658 - 1659: O Protetorado sob o
comando de Richard Cromwell; 1659 – 1660: Segundo periodo da Commonwealth da Inglaterra.
xc
O Absolutismo na Inglaterra teve início após a guerra das Duas Rosas. Essa guerra foi uma luta entre duas
famílias nobres – os Lancaster e os York -, apoiadas por grupos rivais da nobreza. A guerra terminou com a
ascensão de Henrique Tudor, apoiado pela burguesia. Henrique Tudor sobe ao trono da Inglaterra sob o nome de
Henrique VII iniciando assim a dinastia Tudor (1485-1603), restaurou a autoridade real e implantou o absolutismo
na Inglaterra. A Rosa de Tudor, uniu ambos emblemas, a Rosa Vermelha dos Lancaster e a Rosa Branca dos York,
criada assim no término da guerra civil. Henrique VII (Henrique Tudor), casou-se com Isabel de York, com isso
a dinastia Tudor passou a ser representada pela sobreposição das duas rosas, o que indicava o fim do confronto.
Henrique VIII, segundo rei da dinastia, governou até 1547 e conseguiu impor sua autoridade aos nobres, com o
auxílio da burguesia. Fundador do anglicanismo, seu rompimento com a Igreja católica permitiu-lhe assumir o
controle das propriedades eclesiásticas na Inglaterra. A rainha Elizabeth I, que reinou de 1558 a 1603, conseguiu
aumentar ainda mais o poder real. Completou a obra de Henrique VIII, seu pai, consolidando a Igreja anglicana e
perseguindo os adeptos de outras religiões. Foi durante seu reinado que teve início a colonização inglesa na
América do Norte (Salomão, 2006). A monarquia inglesa, desde o século XIII, apresentava uma característica
peculiar: a existência de um Parlamento. Isto representava uma certa limitação do poder real. Esse quadro começa
a mudar com a Guerra dos Cem Anos: a monarquia inglesa passa a contar com o apoio da nobreza e se fortalece
o longo de todo o período da guerra. Entretanto, com o final da guerra e a derrota inglesa, o processo se inverte:
há uma desvalorização da monarquia e o enfraquecimento do Exército, tendo como plano de fundo uma crise
econômica. Esses elementos influenciaram uma disputa dos setores descontentes da nobreza pelo poder real. Essa
reação deu origem à Guerra das Duas Rosas (1455-1485), que durante trinta anos dilacerou o território inglês.
Guerra dos Cem Anos foi uma série de conflitos travados de 1337 a 1453 pela Casa Plantageneta,( sobrenome de
um conjunto de monarcas ingleses) governantes do Reino da Inglaterra, contra a Casa de Valois, (é o ramo da
dinastia capetiana que reinou na França entre 1328 e 1589.) governantes do Reino da França, sobre a sucessão do
trono francês. Cada lado atraiu seus aliados e pode ser considerado um dos conflitos mais evidente da Idade Média,
681
em que cinco gerações de reis de duas dinastias rivais lutaram pelo trono do maior reino da Europa Ocidental. A
"Europa Ocidental" era utilizado para designar as partes da Europa que tinham raízes católicas ou protestantes, ou
seja, as áreas ocupadas por Andorra, Alemanha, Áustria, Bélgica, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia,
Espanha, Finlândia, França, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Letónia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo,
Malta, Mónaco, Noruega, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, San Marino, Suécia,
Suíça e Vaticano. Já a Guerra das Rosas foi resultado dos problemas sociais e financeiros decorrentes da Guerra
dos Cem Anos, combinados com o reinado considerado fraco de Henrique VI, que perdeu muitas das terras
francesas conquistadas por seu pai e foi severamente questionado pela nobreza. A Guerra das Rosas ou Guerra das
Duas Rosas foi uma série de lutas dinásticas pelo trono da Inglaterra, ocorridas ao longo de trinta anos (entre 1455
e 1485) de forma intermitente, durante os reinados de Henrique VI, Eduardo IV e Ricardo III. Em campos opostos
encontravam-se as casas de York e de Lencastre (ou Lancaster), ambas originárias da dinastia Plantageneta e
descendentes de Eduardo III, rei da Inglaterra entre 1327 e 1377 (Salomão, 2006)
xci Zeno de Citium (335-263 aC), o fundador do estoicismo, estava muito interessado na natureza da alma. Ele e
seu protegido Cleanthes (331-232 aC) enfatizaram a natureza ativa da mente, identificando-a como um fogo
interno ou calor vital. De acordo Chrysippus (C. 280-207 aC), a alma humana consiste em uma substância
semelhante a uma respiração chamada pneuma. O estoicismo foi uma das filosofias mais importantes e duradouras
a emergir do mundo grego e romano. Os estóicos são bem conhecidos por suas primeiras contribuições à filosofia
moral. Os estóicos construíram uma das mais avançadas e filosóficamente interessantes teorias da mente no mundo
clássico. Como na ciência cognitiva contemporânea, os estóicos rejeitaram a idéia de que a mente é uma entidade
incorpórea. Em vez disso, eles argumentaram que a mente (ou alma) deve ser algo corpóreo e algo que obedessece
às leis da física. Além disso, eles sustentavam que todos os estados mentais e atos eram estados da alma corpórea.
Acreditava-se que a alma (um conceito mais amplo do que o conceito moderno da mente) era uma respiração
quente e ardente que infundia o corpo físico. Como uma substância altamente sensível, pneuma (espítirto vital, ou
força criativa da pessoa) que impregna o corpo, estabelecendo um mecanismo capaz de detectar informações
sensoriais e transmitir a informação para a porção central comandante da alma, no peito. A informação é então
processada e experimentada. Os estóicos analisavam as atividades da mente não apenas em um nível físico, mas
também em um nível lógico. A experiência cognitiva foi avaliada em termos de sua estrutura proposicional, pois
o pensamento e a linguagem estariam intimamente ligados em criaturas (ser vivente) racionais. A doutrina estóica
da apresentação perceptual e cognitiva (phantasia) ofereceu uma maneira de analisar coerentemente o conteúdo
mental e os objetivos intencionais. Como resultado de seu trabalho em filosofia da mente, os estóicos
desenvolveram uma rica epistemologia e uma poderosa filosofia de ação. Finalmente, os estóicos negaram a visão
de Platão e de Aristóteles de que a alma possui faculdades racionais e irracionais. Em vez disso, eles argumentaram
que a alma é unificada e que todas as faculdades são racionais concluindo que as paixões são o resultado não de
uma distinta faculdade irracional, mas de erros de julgamento. Os estóicos também fizeram uma distinção entre
princípios [arqui] e elementos [stoicheia]. Os elementos básicos são terra, água, ar e fogo. Terra e água são
elementos pesados, passivos, dominados pelo princípio passivo. O ar e o fogo, por outro lado, são ativos e
intimamente ligados à sensciência e à inteligência. Os estóicos sustentavam que a alma é nutrida das exalações
dos elementos passivos. Os corpos biológicos distinguem-se dos corpos não biológicos pela presença de um tipo
específico de atividade associada à presença dos elementos ativos no corpo. Pneuma era a ferramenta teórica
central da física estóica e da psicologia estóica. Em contraste com os atomistas, os estóicos defendiam uma teoria
do contínuo que negava a existência do vazio no cosmos. O cosmos era visto como um contínuo único de
substância carregada de pneuma. A diferença qualitativa entre substâncias individuais, como entre uma rocha e
um poço de água, é determinada pelo grau do movimento tensional do pneuma que permeia a substância. A Stóica
Scala Naturae é uma hierarquia dos poderes na natureza baseada na atividade e organização do pneuma. Pneuma
no seu nível mais baixo de organização e concentração produz uma simples coesão na matéria em que ela habita,
mantém unidos corpos individuais unificados. Este estado de coesão e coerência chama-se hexis [estado coesivo].
Os corpos se mantêm unidos por causa de um fluxo interno de pneuma que começa no centro do objeto estendendo
se à superfície e fluindo de volta sobre si mesmo produzindo uma tensão de um movimento de dois sentidos.
Assim, mesmo o objeto mais estável possui movimento interno de acordo com os estóicos. Madeira e pedras são
exemplo de coisas que possuem hexis. Quando o pneuma em um corpo é organizado com um maior grau de
atividade, há phusis ou natureza orgânica. As coisas que têm phusis crescem e se reproduzem, mas não mostram
sinais de poder cognitivo. O pneuma que produz phusis também fornece a estabilidade ou coesão de hexis. Os
estóicos sustentavam que cada poder sobre esta scala naturae subordina o poder abaixo dele. As plantas são
exemplos óbvios de organismos que têm hexis e phusis, mas não alma. O nível seguinte dessa hierarquia de
atividade pneumática é a alma [psuchê]. As marcas características deste nível de organização são a presença de
impulso e percepção. Os animais não-racionais têm hexis [estado coesivo], phusis [natureza orgânica] e psuchê
[alma]. Somente os seres humanos e os deuses possuem o nível mais alto de atividade pneumática, razão [logos].
A razão foi definida como uma coleção de concepções e preconceitos; É especialmente caracterizado pelo uso da
682
linguagem. De fato, a diferença entre como os animais pensam e como os humanos pensam parece ser que o
pensamento humano é linguístico, o pensamento humano parece seguir uma estrutura sintática e proposicional na
maneira da linguagem. Os estóicos consideravam o pensamento em animais racionais como uma forma de discurso
interno. A hierarquia estóica de pneuma não deve ser confundida com a teoria de Aristóteles da hierarquia da alma
para a qual há alguma semelhança. Enquanto a Stóica scala naturae explica substâncias orgânicas e inorgânicas, a
hierarquia de Aristóteles é limitada a organismos biológicos. A teoria de Aristóteles também se baseia em uma
idéia muito diferente de alma.
xcii John Stuart Mill, foi um filósofo e economista britânico nascido na Inglaterra, e um dos
pensadores liberais mais influentes do século XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a teoria ética
proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy Bentham. Destacam-se seus trabalhos nos campos
da filosofia política, ética, economia política e lógica. Ele combatia a visão mecanicista de seu pai, James
Mill, ou seja, a visão da mente passiva que reage mediante o estímulo externo. Para John Stuart Mill, a
mente exercia um papel ativo na associação de ideias. Stuart Mill desenvolveu, em seu livro A System of
Logic, os cinco métodos de indução que viriam a ser conhecidos como Os Métodos de Mill. Em 1822, ao
regressar a Inglaterra, Mill, lê o Tratado de Legislação de Jeremy Bentham, sendo um livro base na sua
formação enquanto filósofo, quer como continuador que foi, quer como reformador do utilitarismo que
tentou ser (Driver, 2014).
xciii
Alguns dos primeiros pensadores utilitários, foram os utilitaristas "teológicos", como Richard Cumberland
(1631-1718) e John Gay (1699-1745). Eles acreditavam que a promoção da felicidade humana nos incumbia desde
que fosse aprovada por Deus. O Utilitarismo é uma teoria em ética normativa que apresenta a ação útil como a
melhor ação, a ação correta. O termo foi utilizado pela primeira vez na carta de Jeremy Bentham para George
Wilson em 1781 e posto em uso corrente na filosofia por John Stuart Mill na obra Utilitarismo, de 1861. Até a
criação do termo "consequencialismo", por Anscombe em 1958, o termo "utilitarismo" era utilizado para se referir
a todas as teorias que buscavam sua justificação nas consequências das ações, em contraponto àquelas que buscam
sua justificação em máximas absolutas. Após a adoção do termo consequencialismo, como uma categoria, o termo
"utilitarismo" passou a designar apenas a teoria mais próxima daquela defendida por Bentham e Mill, a
maximização da promoção da felicidade. Uma das mais relevantes criticas ao utilitarismo foi aquela levada a cabo
pelo filósofo alemão Immanuel Kant, ao formular seu conceito de Imperativo Categórico, de acordo com Kant, a
maximização do bem para os envolvidos, premissa básica do utilitarismo no que concerne a ação moral em
sociedade, é irrelevante do ponto de vista daqueles indivíduos que preocupam-se com a maximização do bem, ou
do resultado positivo de suas ações, apenas para si mesmos, sem importar-se com as demais pessoas.
xciv
Nascido em janeiro de 1679, em Breslau, hoje pertencente à Polônia, um país da Europa Central que
tem fronteiras comuns com a Alemanha. Wolff iniciou seu conhecimento em torno das controvérsias
teológicas típicas do período posterior à Reforma. Sua insatisfação em relação as incertezas teológicas o
fez se interessar pela certeza matemática, o que acabou levando-o a se matricular na Universidade de
Jena, em 1699. Em Jena, estudou filosofia natural e matemática, e seguiu posteriormente para Leipzig,
onde defendeu, em 1702, uma dissertação sobre a aplicação do método matemático aos problemas da
filosofia prática ‘Philosophia practica universalis mathematica methodo conscripta’, tornando-se, assim,
um Privatdozent - grau mais baixo da carreira docente nas universidades alemãs - em matemática
(Araújo, 2010).
xcv Johannes Nikolaus Tetens (1736 – 1807) foi um matemático e atuário alemão. Seus trabalhos, fortemente
influenciados por David Hume (1711 – 1776), resultaram em avanço em várias áreas do conhecimento. Após ler
o trabalho de Hume – Tratado da Natureza Humana, popularizou este conhecimento na língua alemã. A abordagem
empírica de Hume em relação á filosofia coloca-o juntamente com John Locke, Francis Bacon e Thomas
Hobbes, como um empirista britânico. Em seu: Tratado da natureza humana (1739), Hume esforçou-se para criar
uma ciência naturalistica total do homem, que examinasse a base psicológica da natureza humana. Contra
os filosófos racionalistas , Hume sustentou que a paixão, em vez da razão, governa o comportamento humano e
argumentou contra a existência de idéias inatas , ao afirmar que todo conhecimento humano é, em última instância,
fundado apenas na experiência.
xcvi Em Da Silva (2010):
683
transmissão dos conhecimentos, preocupação registrada na Encyclópedie,
editada por d’Alembert e Diderot, no ano de 1751. Na obra considerada síntese
do pensamento ilustrado, o verbete “Méthode” era definido como “a ordem
que se segue para achar a verdade, ou para ensiná-la (...); a maneira de chegar
à meta pela via mais conveniente”, sendo, portanto, “essencial a todas as
ciências, sobretudo à filosofia”. E aqui, aliada à ênfase numa epistemologia
empirista, no caráter experimentalista e prático da elaboração do
conhecimento, a metodologia de ensino preconizada pelos literatos franceses
aparecia eivada de profundo ecletismo, concebido como “método” capaz de
produzir um saber consistente a partir de verdades diversas, submetidas ao
crivo da razão e da crítica. É o próprio Diderot, autor do verbete “Eclétisme”
da Encyclopédie, quem assim o define:
xcvii
O mais notável filosofo idealista da Alemanha. Célebre, sobretudo, pelo método dialético que concebeu sob
forma idealista, mas justa no fundo. Hegel é um idealista objetivo: a seu ver, a razão absoluta representada, na
história, a ideia absoluta, é o principio primário e a única realidade que “se exterioriza” de maneira imediata na
natureza, para voltar a si mesma dessa transformação (Anderssein in sich) sob a forma de espírito. A ideia em si é
o demiurgo (criador) da natureza e da história: o pensamento absoluto revela assim as leis do mundo como um vir
a-ser; a realidade reflete as etapas do desenvolvimento dialético-lógico. Nesse sentido, o sistema hegeliano é
caracterizado como um panlogismo. O pensamento é considerado por ele como o elemento exclusivo; o ser real
não passa de predicado. A ideia absoluta está na base de toda a história da humanidade, mas não é, em sua
existência anterior ao universo, outra coisa senão o Deus pessoal do cristianismo num envolucro abstrato e
místico. Marx e Engels, ao fundarem sua doutrina filosófica — o materialismo dialético — tiveram que reelaborar
toda a dialética hegeliana, reestruturando-a por completo. Apresentando as características fundamentais de seu
método dialético, Marx e Engels fazem repetidas referencias a Hegel como o filosofo que formulou os princípios
fundamentais da dialética. https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/h/hegel.htm
xcviii
O perfil do educador e pensador pedagógico Johann Friederich Herbart pode, também, ser delineado a partir
de um ponto central marcante, a ideia de instrução educativa. Entre 1794 e 1797, foi aluno do filósofo Johann
Gottlieb Fichte (1762-1814) na Universidade de Jena e permanece fiel ao rigor intelectual de seu mestre. As
principais obras filosóficas de Herbart são: Hauptpunkte der Metaphysik [Elementos essenciais da metafísica]
(1806); Allgemeine Praktische Philosophie [Filosofia prática geral] (1808); Psychologie als Wissenschaft:
neugegründet auf Erfahrung, Metaphysik und Mathematik [A psicologia como ciência, novamente fundada na
experiência, na metafísica e nas matemáticas] (1824-1825) e Allgemeine Metaphysik nebst den Anfängen der
Philosophischen Naturlehre [Metafísica geral com os primeiros elementos de uma filosofia das ciências da
natureza] (1828-1829). Em sua metafísica, Herbart retoma a doutrina das mônadas de Gottfried Willhelm Leibniz.
Levando em consideração os problemas levantados por Immanuel Kant na Crítica da razão pura, Herbart busca
em suas deduções metafísicas apreender o real pelos conceitos. Herbart faz distinção entre educação (Erziehung,
em latim educatio) e instrução (Unterricht, em latim instructio). A educação se preocupa em formar o caráter e
aprimorar o ser humano. A instrução veicula uma representação do mundo, transmite conhecimentos novos,
aperfeiçoa aptidões preexistentes e faz despontar capacidades úteis. A reforma pedagógica de Herbart revoluciona
a relação entre educação e instrução. Nasce, assim, um novo paradigma do pensamento e da ação pedagógicas. Os
meios educativos e, em particular, a instrução, são o objeto da parte psicológica. Aí, os textos de referência são
684
um escrito de juventude intitulado Sobre a representação estética do mundo como objeto principal da educação e
as Cartas sobre a aplicação da psicologia na pedagogia, escritos em 1832, mas publicado após sua morte. A reforma
educacional prussiana foi conduzida vigorosamente em 1809 e 1810 por Wilhelm von Humboldt. Esperava-se de
Herbart em Königsberg uma contribuição significativa à formação de mestres, o que era uma necessidade urgente.
Em Königsberg, Herbart instalou um instituto didático, considerado uma escola experimental. Herbart havia
igualmente pensado na organização do sistema educativo inteiro. Ele é um defensor obstinado de uma estrutura
vertical com três pilares: o liceu (ginásio), a escola primária superior (chamada também de escola principal) e a
escola elementar (também chamada pequena escola). Os três pilares contribuem à unidade de um sistema unificado
porque em cada um dos três ramos se pratica a instrução educativa. A virtude, fim da educação, garante a unidade
do sistema escolar (Hilgenheger, 2010).
xcix
O pensamento pós-kantiano, pode ser datado entre 1780 e 1850, e situado principalmente nas universidades
de Jena e Berlim, na Alemanha, e ficou conhecido como idealismo alemão. Em comum, além do fato de
trabalharem sobre a obra de Kant, esses filósofos tentaram construir um sistema ideal de pensamento que
explicasse todas as coisas do mundo. Os primeiros idealistas alecomunicantes eram, em sua essência, kantianos, e
buscavam resolver impasses na filosofia kantiana e que ao fim Hegel, Fichte e Schelling, construíram filosofias
originais.
c Após
a leitura do Emílio, de Rousseau, Pestalozzi, fundador da nova escola primária foi influenciado pelo
movimento naturalista e tornou-se um revolucionário, juntando-se aos que criticavam a situação política do país.
Na Universidade de Zurique associa-se ao poeta Lavater num grupo de reformistas. Gastou parte de sua juventude
nas lutas políticas mas, em 1781, com a morte do amigo e político Bluntschli, abandonou o partido para dedicar
se à causa da educação. A invasão francesa da Suíça em 1798 revelou-lhe um caráter verdadeiramente heróico.
Muitas crianças vagavam no Cantão de Unterwalden, às margens do Lago de Lucerna, sem pais, casa, comida ou
abrigo. Pestalozzi reuniu muitos deles num convento abandonado, e gastou suas energias educando-os. Durante o
inverno cuidava delas pessoalmente com extremada devoção mas, em junho de 1799, o edifício foi requisitado
pelo invasor francês para instalar ali um hospital, e seus esforços foram perdidos.
Nesta mesma época, Fröbel sucessor de Pestalozzi, também se destaca, além de sua filosofia pedagógica é o
fundador do " jardim de infância ", que difere das "instituições de assistência à infância" então existentes através
do conceito educacional. Isto foi associado com a expansão da gama de tarefas de cuidados para a tríade de:
formação, educação e cuidado. Em 1826 ele fez sua obra-prima literária A Menschenerziehung fora e fundou o
seminário: ‘As famílias monoparentais’. Perseguiu 1828/1829 para planejar uma escola pública de ensino em
Helba (hoje um bairro de Meiningen), o chamado: Plano de Helba, que, no entanto, não se concretizou. Em 9 de
junho de 1851, ele se casou com seu ex-aluno Louise Levin. A ideia Froebel do jardim de infância pegou; mas a
propagação na Alemanha foi prejudicada por este Ministério da Prússia da Cultura 1851 a creche "ateu e
demagógica" banido por supostas "tendências destrutivas no campo da religião e política", como e em 1860
readmitido. Froebel, fundou em Castelo Marienthal em 1850 a primeira escola para babás e, assim, criou uma nova
profissão e uma das primeiras instalações de formação profissional para as mulheres na Alemanha. 1908 e 1911,
a formação de professores de jardim de infância pela legislação estadual foi reconhecida na Alemanha. Ele fez
1.857 em Gotha os primeiros educadores de infância, pois anteriormente queria abordar educadores
exclusivamente do sexo masculino.
ci Embora o termo Herbarnismo derive de forma transparente do nome do filósofo e educador alemão Johann
Friedrich Herbart e a favor do idealismo alemão. O Herbarnismo, foi um movimento vagamente conectado com
as idéias de Herbart, que não foi uma prática organizada até 25 anos após sua morte em 1841. Herbarnismo, possui
cinco idéias-chave que compõem seu conceito de maturação individual foram Liberdade Interna, Perfeição,
Benevolência, Justiça e Equidade ou Recompensa e desenvolvido a partir da filosofia de Herbart,(Dunkel, 1969
(3) [2] e dividido em duas escolas de pensamento. No primeiro, Tuiskon Ziller de Leipzig expandiu a filosofia de
Herbart de "unificação de estudos", especialmente em torno de uma única disciplina (chamada "correlação" e
"concentração", respectivamente). No segundo, Karl Stoy de Jena abriu uma escola prática no estilo da escola
de Herbart Königsberg . Um estudante de Ziller e Stoy, Wilhelm Rein , conduziu mais tarde a escola de Jena e
projetou um currículo de escola primária alemão que a escola usou. Esta escola tornou-se: "o centro da teoria e
prática herbartiana e atraiu estudantes de pedagogia de fora da Alemanha, incluindo os Estados Unidos" (Dunkel,
1969). Entre a década de 1890 e início do século XX, o herbartianismo foi influente em escolas normais e
universidades como eles trabalharam para uma ciência da educação. Os aderentes do Herbartianism fundaram a
‘Sociedade Nacional de Herbart’ em 1895 (Dunkel, 1969 (2) "estudar e investigar e discutir problemas importantes
da instrução". Dunkel (1969, 2) relata que entre os proeminentes desta sociedade estavam Charles De Garmo (seu
primeiro presidente), Charles Alexander McMurry , e Frank Morton McMurry , todos autores sobre métodos na
educação. A Sociedade Nacional de Herbart também reconheceu obras influenciadas pelo herbarnismo, como duas
obras de John Dewey, dentro de um anuário. A Sociedade Nacional de Herbart, removeu Herbart de seu nome em
685
1902
cii e transformou-se mais tarde na ‘Sociedade Nacional para o Estudo da Educação’(Dunkel, 1969).
É um título acadêmico conferido em algumas universidades européias, especialmente em países de língua
alemã , a alguém que possui certas qualificações que denotam a habilidade de ensinar (venia legendi) um assunto
designado em nível universitário. No seu uso atual, o título indica que o titular tem permissão para ensinar e
examinar de forma independente, sem ser um professor . O título não está necessariamente ligado a uma posição
assalariada, mas pode implicar uma obrigação nominal de ensinar.
ciii
A frenologia é uma cranioscospia baseada na correspondência entre o conteúdo e o continente, entre a
configuração dos hemisférios e a forma do crânio (Canguilhem, 2006).
civ Doutrina baseada no empirismo de Francis Bacon e na teoria da tabula rasa de Locke e Thomasius (quod non
est in sensibus, non est in intelectu), que tem na França, o principal cultor, Condillac, para quem todos os nossos
conhecimentos vêm das sensações. Uma ideologia intermediária entre os enciclopedistas e os liberais moderados
da Restauração.
cv
“Desde o início, a universidade alemã foi organizada em torno de quatro faculdades: de um lado, as chamadas
faculdades superiores (teologia, medicina e direito), cujo objetivo central era formar profissionais em suas áreas
respectivas; de outro, a faculdade inferior (filosofia), que também incluía as artes e as ciências naturais e tinha
como meta principal servir de preparação para as demais faculdades. Entretanto, com a fundação da Universidade
de Berlim, em 1809 - que se deu no seio de amplas reformas educacionais na Prússia -, surge uma concepção
renovada de universidade, que servirá de modelo para todas as instituições alemãs de ensino superior durante todo
o século XIX e início do XX, exercendo uma profunda influência na vida intelectual e cultural da Alemanha. Em
primeiro lugar, a Faculdade Filosófica (Philosophische Fakultät) deixa de ser um mero apêndice das faculdades
superiores e passa a ser o próprio coração da nova universidade, baseada no ideal de uma formação humanista
integral (Bildung). Além disso, trata-se de garantir não só o famoso princípio da liberdade de ensino (Lehrfreiheit),
mas, sobretudo, o de vinculá-lo à pesquisa científica, criando uma indissociabilidade entre ensino e pesquisa e
uma identidade entre o professor e o pesquisador (Ringer, 2000). Com isso, as universidades alemãs deram um
salto na frente das demais, tornando-se as instituições de ensino superior mais respeitadas do século XIX e atraindo
para suas fileiras estudantes de todo o mundo. É nesse contexto de amplas reformas na educação superior alemã
que se dá a primeira institucionalização da psicologia, muito antes da existência do Laboratório de Wundt. Em
1824, o governo prussiano, após já ter decretado que a Faculdade Filosófica seria responsável também pela
formação de um profissional - o professor das escolas estatais (Gymnasium) - e instituído como requisito
obrigatório um exame estatal, incluiu entre as disciplinas obrigatórias para este último a "psicologia", pensada
como fundamento para a ação pedagógica dos novos professores ginasiais. A idéia era a de que eles deveriam ter
um conhecimento elementar dos fatores psicológicos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem (Gundlach,
2004). Isso significa que, pelo menos no caso alemão, foi pela via do ensino que a psicologia alcançou
primeiramente sua institucionalização universitária, sem que houvesse aí qualquer vínculo necessário com a
realização de pesquisas empíricas. (Araújo, 2009)”
cvi
Hall, se formou na Williams College em 1867 e se matriculou no Union Theological Seminary em Nova York
no mesmo ano, enquanto se preparava para o ministério, estudou teologia e filosofia na Alemanha e completou
seu treinamento em 1870. De 1872 a 1876, Hall ensinou literatura e filosofia no Antioch College, em Ohio, em
seguida, empreendeu pesquisa com Henry Pickering Bowditch, físico e fisiologista, na Harvard Medical School e
em 1878 foi premiado com o primeiro PhD em psicologia nos Estados Unidos. Inspirado pelos princípios de
psicologia fisiológica de Wilhelm Wundt, o americano G. Stanley Hall (1844-1924) em seus estudos de doutorado
na Universidade de Harvard conheceu William James, que atuava como professor adjunto que acabara de ensinar
a primeira classe de psicologia do país. Porém, depois que Hall se formou em seu doutorado, não havia empregos
acadêmicos disponíveis em psicologia, então ele foi para a Europa para estudar na Universidade de Berlim e passou
um breve tempo no laboratório de Wundt, em Leipzig no ano de 1879.
cvii Na
tentativa de avaliar o grau de relação entre características físicas e mentais entre si, Francis Galton (1822
1911) que foi um antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês utilizou gráficos de dispersão em
que um conjunto de pontuações foi organizado em função de outro conjunto, tais como as medidas de altura e peso
de um grupo de indivíduos. A partir dessas parcelas gráficas a linha de regressão evoluiu, cuja inclinação refletia
o grau de relação entre duas variáveis e, nas mãos de Karl Pearson (1857-1936), Eugenicista e matemático
britânico nascido em Londres, fundador da estatística moderna inaugurou e editou em parceria com Walter Frank
Raphael Weldon (1860-1906) e Francis Galton (1822-1911) desenvolveu-se a técnica matemática de correlação
de variáveis e a medição do grau de sua relação pelo coeficiente de correlação (Fancher, 1996). O desenvolvimento
desses métodos estatísticos tornou-se relevante para o acesso as avaliações das diferenças individuais e para a
utilização de testes em psicologia. Outros procedimentos estatísticos foram utilizados para avaliar comparações
entre diferentes grupos de indivíduos. As pesquisas de Galton, por exemplo, sobre a eficácia da oração: "Se aqueles
que rezam atingem seus objetos mais freqüentemente do que aqueles que não oram, mas que vivem em todos os
686
outros aspectos sob condições semelhantes" (Galton, 1872, p. Dehue, 2000). A exemplo, grupos de controle foram
empregados em pesquisa para avaliar os efeitos da transferência de treinamento, ou a influência da prática em uma
tarefa sobre o desempenho de outra e, apesar dos argumentos sobre, se os participantes deveriam ser atribuídos a
um grupo experimental ou a um grupo controle aleatorio ou por indivíduos escolhidos, desta forma o uso de grupos
de controle em experimentos psicológicos tornaram-se parte integral dos projetos de pesquisa (Dehue, 1997).
A ênfase nos testes de hipótese e análises estatísticas de comparações entre grupo controle e grupo de desempenho
experimental posteriormente dominaram o projeto experimental e as instruções aos autores para a preparação dos
manuscritos refletiu o sucesso da definição de Woodworth a respeito do que se constituia uma experiência em
psicologia. O crescimento no alcance do objeto de investigação experimental e nos métodos empregados no estudo
da psicologia refletiram na definição de James McKeen Cattell a respeito sobre qual seria o assunto pertinente a
psicologia, qual seria sua matéria, ou a respeito de qualquer outra coisa que um psicólogo poderia se interessar
(Cattell, 1947a).
cviii
A tradição do associativismo britânico é iniciado com John Locke, na quarta edição do Ensaio Sobre o
Entendimento Humano em 1700 (cf.Flugel 1933, Warren 1921, Boring, 1950). Em que, os rivais honrosos de John
Locke incluem Aristóteles e Hobbes (Nature 1684, Leviathan 1651). Nos 150 anos seguidos a Locke, filósofos
como Hume, Berkeley, Hartley, os dois Mills e, finalmente, Bain trabalharam dentro da tradição do associativismo
britânico, em que a escola tinha dois pressupostos fundamentais. O primeiro foi o famoso conceito de "tabula rasa"
da mente proposta por - Locke, no qual a entrada é sensorial e a segunda, em que afirmaram que toda experiência
surge de maneira legítima partir de idéias primitivas brutas e dados dos sentidos. Locke, Hobbes, Berkeley e Hume
são frequentemente referidos como empiristas britânicos principalmente em relação ao status epistemológico da
doutrina. Com isso, somente com a Análise da Mente Humana de James Mill (1829) a escola se torna mais
psicológica em caráter. John Stuart Mill, que era um amigo próximo de Bain, continuou o trabalho de seu pai. Ele
diferiu, entretanto, em um aspecto importante, a saber, que a mera introspecção não poderia quebrar experiências
complexas inteiras em simples elementos constitutivos. Algum tipo de "transformação" ocorreu em experiências
complexas análogas a um processo irreversível de reação química. Tal visão, é claro, é algo de um precursor das
idéias dos Gestaltistas.
cix Nos seus estudos em Harvard realizou uma investigação do comportamento das galinhas, até os protestos de
sua senhora, que o forçou a mover seus experimentos com galinhas para o porão da casa de William James
(Dewsbury, 1998; Thorndike, 1936). Thorndike, posteriormente, pegou suas duas "galinhas mais instruídas" para
estudar a herança de aquisição de traços na Universidade de Columbia com James McKeen Cattell. O tópico não
se provou muito satisfatório, e Thorndike preferiu examinar o desempenho dos gatos e cães pequenas caixas de
enigma, "puzzzle boxes". A escolha das caixas de enigma foi influenciado pelo trabalho de Romanes e Morgan,
que tinham descrito a respeito de cães e gatos que 'aprendiam' a abrir portões de jardim, por meio da 'tentativa e
erro' (Morgan, 1900). As caixas de Thorndike foram concebidas para permitir a observação das tentativas de
escapar da caixa para alcançar a comida (Burnham, 1972). Várias caixas exigiam a manipulação de alavancas, e a
combinação de puxões como respostas para escapar (Chance, 1999, Galef, 1998). Thorndike gravou e representou
graficamente o tempo para escapar da caixa em função do número de ensaios. Assim, ele interpretou o declínio
gradual da curva que descreve como: tempo necessário para escapar da caixa, que foi revelada por um gráfico que
demonstrou que a aprendizagem prosseguiu gradualmente, por meio de respostas que resultaram no 'escape da
caixa de enigma' e concluiu que as respostas pareciam ser selecionadas a partir de movimentos aleatórios, porém,
de forma análoga ao processo de seleção evolutiva. Thorndike insistiu que as respostas eram dadas diretamente
em resposta à situação de estímulo, sem a mediação das idéias. Assim, o vínculo entre resposta e situação era
reforçada se a resposta fosse seguida por um resultado satisfatório ou era enfraquecido se fosse seguido por uma
consequência insatisfatória. Esta declaração de Thorndike, foi constituida como a "lei do efeito" de Thorndike. E
afirmou que os laços entre a situação e a resposta se tornavam fortalecidos pelo treino e enfraquecido pelo desuso,
reconhecido assim a "Lei do exercício" (Thorndike, 1913). Thorndike afirmou que estas duas leis, juntamente com
a "prontidão" do animal em responder na situação, era responsável pela maior parte da aprendizagem animal
(Thorndike, 1913). E em seus primeiros trabalhos em Psicologia, Thorndike enfatizou uma descontinuidade entre
animais e humanos e por volta de 1911, ele inverteu sua posição para enfatizar a universalidade da Lei do Efeito
e outras leis da aprendizagem (Bruce, 1997).
cx
Titchener orientou a primeira mulher a obter doutorado em psicologia, na Universidade de Cornell, Margaret
Floy Washburn, tinha se candidatado a estudar psicologia Com James McKeen Cattell em Columbia, mas
Columbia, assim como Harvard e a Universidade Johns Hopkins, não permitiam o acesso de mulheres. Margaret
Floy Washburn foi a primeira mulher a obter um doutorado em psicologia americana (1894) e a segunda mulher,
depois de Mary Whiton Calkins, para atuar como presidente da APA. Ironicamente, Calkins obteve seu doutorado
em Harvard em 1894, mas os curadores universitários se recusaram a conceder-lhe o grau. Desta forma, Cattell,
encorajou Washburn a se candidatar em Cornell, onde terminou o seu doutorado em 1894. O relatório de sua
687
dissertação relata sobre os efeitos das imagens visuais na sensibilidade tátil, e foi um dos poucos estudos
publicados em 'Philosophische Wundt Studien' que não tinha sido concluído em Leipzig.
cxi
Watson chegou à Universidade de Chicago em 1900 para iniciar o trabalho de pós-graduação após um curso
de Filosofia e psicologia da Universidade Furman (Harris, 1999; O'Donnell, 1985). H. H. Donaldson, que mudou
se da Universidade de Chicago para a Universidade de Clark, levou com ele seu programa de pesquisa que
investigava a relação entre o desenvolvimento do sistema nervoso do rato e seu comportamento. Para sua
dissertação, Watson escolheu investigar os correlatos neurológicos dos problemas que o rato branco resolvia e
realizou experimentos adicionais com ratos para determinar quais as modalidades sensoriais necessárias para um
rato aprender um labirinto ao eliminar sistematicamente uma modalidade de cada vez. Ele removeu os olhos,
membrana timpânica, bulbos olfativos e bigodes e anestesiou os pés dos ratos e descobriu que os animais pareciam
usar um feedback cinestésico para alcançar o objetivo da caixa (Carr & Watson, 1908; Goodwin, 1999; J. B.
Watson, 1907). O primeiro relatório de Watson sobre essas experiências na reunião anual da APA realizada em
dezembro de 1906, ocorreu em conjunto com a Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS)
(Dewsbury,1990).
Em uma série de palestras ministradas na Universidade de Columbia, em dezembro de 1912, Watson propôs uma
psicologia do comportamento: "Psicologia como um behaviorista a via ... puramente como um ramo experimental
da ciência natural. O objetivo teórico é a previsão e o cibtrole do comportamento. A introspecção não faz parte
essencial desses métodos, nem o valor científico de seus dados depende da prontidão com as quais eles se prestam
à interpretação em termos de consciência" (Watson, 1913, p.158). Embora este tenha sido chamado "Manifesto
Behaviorista" não produziu uma revolução na área (Leahey, 1992; Samelson, 1981), mas ajudou a elevar o status
da pesquisa básica animal e colocar uma maior ênfase na explicação do comportamento do que na mente,
especialmente no que tange a pesquisa sobre animais (Watson, 1914). A noção de Watson de que o objetivo da
psicologia era prever e controlar o comportamento incorporou a visão da psicologia como uma ferramenta de
controle social e, por consequência, sua aplicação à educação, indústria e outras áreas da psicologia aplicada (por
exemplo, Buckley, 1982).
cxii
O estudo dos reflexos tem uma longa história dentro da fisiologia (Boakes, 1984, Fearing, 1930) e a
Lei Bell-Magendie (Boakes, 1984; Goodwin, 1999) sugeriu uma distinção entre os nervos sensitivo e
motor no nível da medula espinhal, que preparou o terreno para uma compreensão da ação e assim,
estimulou pesquisas sobre a natureza e a velocidade da condução do impulso nervoso que, por
consequência levou aos estudos do tempo de reação de Johannes Peter Müller (1801 – 1858) que foi um
biólogo, fisiologista e anatomista alemão, que estudou dentre outros, a ação nervosa e os mecanismos
dos sentidos. E declarou que o tipo de sensação, após a estimulação de um nervo sensorial, não depende
do modo em que a estimulação foi realizada, mas sobre a natureza do órgão do sentido que sofre tal
estimulação.
O fisiologista russo Ivan Mikhailovich Sechenov (1829-1905) demonstrou que os processos cerebrais
podem afetar a ação reflexiva ao estimular certas áreas do cérebro com cristais de sal que diminui a
intensidade do movimento reflexivo da perna de uma rã (Boakes, 1984; Koshtoyants, 1965). Sechenov
(1863-1965) argumentou que a causa dos acontecimentos psíquicos ou psicológicos está no meio
ambiente e que a estimulação sensorial externa produz todos os nossos atos, consciente e inconsciente,
e que tal evento ocorre, por meio do somatório da atividade excitatória e inibitória no cérebro. Sechenov
sugeriu que a ciência da psicologia baseada em relatos introspectivos de seres humanos é muito
complexa e muito sujeita a: "as sugestões enganosas da voz de nossa consciência... somente a fisiologia
detém a chave para a análise científica dos fenômenos psíquicos" (Sechenov, 1973 citado em Leahey,
2001, página 216, ver também, Boakes, 1984). Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) foi capaz de
fundamentar as afirmações teóricas de Sechenov (Koshtoyants, 1965).
cxiii
Após a morte de seu pai, Watson passou por um período de rebeldia e em 1895 Watson conheceu Gordon
Moore, um professor de filosofia e clérigo que se tornou seu mentor. Em 1900 com a ajuda de Gordon Moore,
para estudar filosofia e ao estudar filosofia com John Dewey, Watson afirmou não entender o seu ensino, e ele
logo procurou um caminho diferente na academia. Considerou trabalhar na fisiologia com cérebro do cão com o
biólogo radical, Jacques Loeb, mas escolheu mais tarde o psicólogo James Rowland Angell e o fisiologista Henry
Donaldson como seus conselheiros. Seus professores foram altamente influentes em seu desenvolvimento do
behaviorismo, uma abordagem descritiva e objetiva para a análise do comportamento. Em 1903 Watson graduou
se com um Ph.D. em psicologia, e permaneceu na Universidade de Chicago por vários anos fazendo pesquisa sobre
a relação entre a entrada sensorial e aprendizagem e comportamento de pássaros. Em 1907, aos 29 anos, sua
688
reputação como um dos melhores pesquisadores em comportamento animal lhe rendeu um cargo na Universidade
Johns Hopkins como professor de psicologia.
Frente ao avanço de suas idéias, Watson em sua experiência mais famosa, realizada juntamente com a
estudante de pós-graduação Rosalie Rayner, com quem se casou, o pesquisador condicionou as
respostas emocionais em uma criança de 11 meses, "Albert B.", em que, ao golpear uma barra de aço
com um martelo, Watson e Rayner foram capazes de provocar o choro na criança e subsequentemente
emparelhavam com a apresentação de um rato branco, ao qual Albert já tinha reagido sem medo. Desta
forma, frente ao barulho da barra, Albert mostrou medo ao rato. Assim eles relataram que
condicionaram Albert, ao medo do rato e, além disso, o medo generalizado a um coelho, a um cão, a
um casaco de peles e uma máscara de Papai Noel (J. B. Watson & Rayner, 1920; Ver Harris, 1979). O
estudo foi mais uma demonstração dramática do que uma experiência cuidadosamente controlada,
mas, no entanto, exemplificou a visão de Watson para identificar a origem e desenvolvimento de
comportamentos e forneceu uma introdução ao estudo do crescimento e desenvolvimento das crianças
(Mateer, 1918).
cxiv
Os gestaltistas propuseram que a introspecção apropriada à psicologia era uma descrição da experiência, uma
introspecção ingênua que descrevia a experiência sem qualquer tentativa de submetê-lo à análise. Os fenômenos
perceptivos e a experiência consciente não eram os únicos domínios da teoria gestáltica; A pesquisa de Köhler
sobre chimpanzés (Köhler, 1926) sugeriu que a aprendizagem ocorria não por meio de ensaios, mas por um insight
que resultava de uma reorganização perceptual de uma nova maneira de ver o problema a ser resolvido. A Teoria
de Campo e as Leis de Organização foram propostas para muitos fenômenos (por exemplo, Ellis, 1950), não só
pela percepção, resolução de problemas e aprendizagem, mas também pelo comportamento social (Asch, 1955),
o desenvolvimento da criança (Koffka, 1927) e o pensamento (Wertheimer, 1959), que serviam para impelir o
desenho das pesquisas para testar as teorias nestas áreas.
cxv
Os estudantes de psicologia E. G. Boring e S. S. Stevens (1906-1973), em Harvard propuseram que a
psicologia adotasse um operacionismo rigoroso (Stevens, 1935a, 1935b, 1939), em que, somente os
termos que pudessem ser definidos operacionalmente fossem cientificamente significativos e que, para
tal feito, somente uma psicologia comportamental satisfaria este critério (Leahey, 2001, J. A. Mills, 1998,
Smith, 1986). Com isso, a ênfase nas definições operacionais influenciou a linguagem da psicologia
(Mandler & Kessen, 1959) e as teorias de comportamento que evoluíram no contexto do operacionismo
e de seu antepassado filosófico e positivismo lógico, limitou a ciência aos fenômenos observáveis. Para
a psicologia, definir por exemplo, ‘fome’, significava, especificar em termos de horas de privação de
alimentos ou uma medida do nível de açúcar no sangue, ou a quantidade de tempo gasto comendo,
desta forma, cada um destes indicadores observáveis poderiam ser um indicador da hipótese motiva
cional não observável da fome.
cxvi
Matemático e filósofo americano, em 1945, presidente da American Psychological Associantion - APA,
passou a maior parte de sua carreira na Universidade de Washington, onde se tornou professor titular e, em seguida,
professor emérito em psicologia. Guthrie é mais conhecido por sua teoria de que todo o aprendizado era baseado
em uma associação estímulo-resposta e afirmava: "Uma combinação de estímulos que acompanhou um
movimento tenderá em sua recorrência ser seguido por esse movimento", Lei da Contiguidade. Essas teorias
focavam em sujeitos animais e modelos de aprendizagem e comportamento e sua linguagem teórica foi
influenciada por uma ciência filosófica do momento. Ainda com a preocupação em relação ao status científico da
psicologia, tal situação atraiu psicólogos para uma abordagem à ciência defendida em Harvard, pelo físico P. W.
Bridgman (1927), que fez um estudo para a definição de fenômenos não observáveis, como gravidade ou elementos
físicos hipotéticos como um elétron, a exemplo, de que seus efeitos sobre os acontecimentos observáveis pudessem
ser medidos (Leahey, 2001, Smith, 1986). A teoria da aprendizagem de Guthrie era enganosamente simples, de
que a aprendizagem ocorria pelo desenvolvimento de associações entre estímulos e respostas e que estas
associações são formadas pela contiguidade: "Uma combinação de estímulos no qual foi acompanhado por um
movimento, o seu retorno tende a ser seguido por esse movimento" (p.23). Guthrie rejeitou as leis do efeito e do
uso de Thorndike, e alegou em vez disso, que a natureza aparentemente gradual da aprendizagem era o resultado
de uma série de situações de um único ensaio de movimentos, de pequenas respostas musculares, em vez de atos
que foram aprendidos em resposta a estímulos. O papel das consequências da resposta, se satisfatório ou
insatisfatório, era mudar a situação do estímulo, e não para reforçar uma ligação inobservável entre estímulo e
resposta. A teoria da aprendizagem de Guthrie era enganosamente simples, de que a aprendizagem ocorria pelo
689
desenvolvimento de associações entre estímulos e respostas e que estas associações são formadas pela
contiguidade: "Uma combinação de estímulos no qual foi acompanhado por um movimento, o seu retorno tende a
ser seguido por esse movimento" (p.23). Guthrie rejeitou as leis do efeito e do uso de Thorndike, e alegou em vez
disso, que a natureza aparentemente gradual da aprendizagem era o resultado de uma série de situações de um
único ensaio de movimentos, de pequenas respostas musculares, em vez de atos que foram aprendidos em resposta
a estímulos. O papel das consequências da resposta, se satisfatório ou insatisfatório, era mudar a situação do
estímulo, e não para reforçar uma ligação inobservável entre estímulo e resposta.
cxvii
O monismo é a posição da filosofia da mente que mantém que a mente e o corpo não tem uma distinção
ontológica.
cxviii O dualismo remonta a Platão e Aristóteles, mas é formulado mais precisamente por René Descartes no século
XVII. Vários dualistas argumentaram que a mente é independente de qualquer substância existente, e alguns
dualistas sustemtam que é a mente é um grupo de propriedades independentes que emerge do cérebro, sendo uma
substância
cxix cerebral, mas não pode ser a ele reduzido.
A aprendizagem e o desempenho não eram considerados sinônimos (Innis, 1999; Kimble, 1985; Tolman &
Honzik, 1930), em que a realização era o comportamento observável, enquanto o aprendizado era o estado
hipotético que explicava a mudança de comportamento. Tolman descreveu a ação de variáveis intervenientes sobre
a relação funcional entre as variáveis independentes e dependentes, ou seja, entre os estímulos ambientais e o
estado fisiológico do organismo de um lado e o comportamento manifestado do outro (Tolman, 1932, p.2, ver
também Innis, 1999; Kimble, 1985). As intervenções mais importantes de variáveis, foram as cognitivas, definidas
como perpectivas sobre a relação entre sinais, estímulos e significados, recompensas ou finalidade dos objetos (J.
A. Mills, 1998, Smith, 1986). Tolman formulou a hipótese de formação de "mapas cognitivos" ou representações
do ambiente em ratos, que aprendiam em um labirinto. Esses mapas cognitivos poderiam ser empiricamente
demonstrados em experimentos com labirinto em que, por exemplo, o bloqueio de uma via previamente utilizada
para uma meta resultaria em ratos escolhendo o caminho mais curto para alcançar o objetivo (Tolman, Ritchie, &
Kalish, 1946).
cxx
Mesmo séculos depois de Kant, Hull esforçava-se por demonstrar que a psicologia poderia de fato se tornar
uma ciência como as ciências físicas. Por exemplo, Hull (1934a, 1934b) propunha que a posição de palavras em
uma lista influenciava na aprendizagem, em que os erros ocorrem mais frequentemente no meio de uma lista de
palavras, e exemplifica, a mesma lei geral que descreve o padrão de erros cometidos pelos ratos ao aprendrem em
um labirinto complexo, ou seja, mais erros ocorrem no centro do labirinto do que no início e no fim. O programa
de pesquisa de Hull foi dirigido à descoberta de tais leis e à formulação das equações que as descreviam. Sua teoria
do comportamento formulou variáveis teóricas em termos operacionais, as definiu por equações e previu resultados
experimentais. As diferenças entre as teorias de Hull e Tolman pareciam ser menos substantivas e mais uma
preferência por uma terminologia particular e a hipotetização de variáveis intervenientes (Kendler, 1952).
cxxi No ano de 1886, Freud abriu seu primeiro e único consultório no endereço: Berggasse n.º 19, em Viena e até
1902, ele foi o único analista (Malmann, 2014). Em 1902 Wilhelm Steckel, psiquiatra austríaco e estudante da
Universidade de Viena, considerado um dos primeiros seguidores de Freud, sugeriu as reuniões a Freud, que deu
origem aos encontros ‘psycho-analytic society’, as quartas-feiras na casa de Freud. Em 1902 Freud, juntamente
com Alfred Adler, Rudolf Reiter, Max Kahane e Wilhelm Steckel, iniciou as reuniões da ‘Sociedade Psico
analítica’ das quartas-feiras. Esse foi o primeiro círculo da história do movimento psicanalítico (Mallmann, 2014).
Segundo Mallmann (2014), participavam destas reuniões, médicos, filósofos, artistas, educadores, em que o orador
do dia era sorteado e depois se seguiam as discussões. Em 1907, Freud não via em todos o mesmo interesse e
enviou uma circular a todos os membros em que propôs encerrar as reuniões das quartas-feiras. Com o grupo
reorganizado em 1908, com o nome de Wiener Psychoanalytische Vereinigung, Sociedade Psicanalítica de Viena
A partir daí, só alguns falavam, e os alunos escutavam (Mallmann, 2014). Em 1909, Sigmund Freud desembarca
na América do Norte na companhia de seus colegas médicos Sándor Ferenczi, Jung, Abraham Brill e Ernest Jones.
Convidado por Stuart Hall, então reitor da Clark University (Worcester), Freud se dirige aos EUA para proferir
palestras introdutórias sobre a psicanálise naquela universidade (Torquato, 2014). Em 1909, Freud e Jung foram
aos Estados Unidos difundir sua teoria junto ao povo e aos intelectuais (Gay, 1989). Francischelli (2010) informa,
que em 1910, no congresso de Nurenberg, por iniciativa de Freud e Ferenczi, criou-se a International
Psychoanalytical Association - IPA, órgão agregador e normatizador de todos os grupos existentes. O primeiro
presidente foi Jung, ideia de Freud com a intenção de expandir a psicanálise fora da Áustria e tirá-la do círculo
judaico: "No congresso de Nuremberg, de 1910, se organizou, com proposta de Sándor Ferenczi uma "Associação
Psicanalítica Internacional", composta por grupos locais e dirigida por um presidente. (…) Como primeiro
presidente fiz eleger a C. G. Jung, um passo bem infeliz, como depois se veria" (Freud, 1979ª, p. 47). De l910 a
1936 a IPA conservou seu nome em alemão: Internationale Psychoanalitische Vereinugung - IPV, porém, como
690
na década de 1930 havia grande migração para a Inglaterra e Estados Unidos, alterou-se o nome para o inglês:
International Psychoanalitical Association (Mallmann, 2014). No início da Primeira Guerra Mundial (1914–1918)
a Psicanálise já se expandia pela Índia e pela América do Sul e, a partir dos anos 1920, os temas freudianos
tornaram-se mais e mais frequentes entre os praticantes das ciências médicas, especialmente os psiquiatras, o que
angariou legitimidade científica à nova teoria, bem como à sua prática clínica (da Silva Bortoloti & Vinicius da
Cunha, 2013).
cxxii Em 1927, realiza cursos de formação no Teachers College da Columbia University e em 1936 defende sua
tese de cátedra, A evolução da psicologia educacional através de um histórico da psicologia moderna. Em 1938
publica um livro cuja primeira edição tem o mesmo título de sua tese. No prefácio, a autora esclarece que teve a
intenção de fazer uma revisão da história da Psicologia, incluindo a evolução da Psicologia Educacional, dada a
escassa bibliografia existente no período. Considerava também que as inúmeras perspectivas existentes poderiam
confundir o aluno de Psicologia. Em l960, na segunda edição, o título é modificado para Introdução à psicologia
educacional. A grande modificação introduzida é o capítulo final, onde inclui cinco modernas teorias de
aprendizagem: teoria dos estímulos, de E.R.Guthrie; teoria do condicionamento, de Clark Hull; teoria de campo,
de Kurt Lewin; teoria organísmica da aprendizagem, de Wheeler; teoria da aprendizagem com um propósito e o
comportamento molar de Tolman.
cxxiii A correlação, identifica as respostas descritivas das condições internas ao usar as condições públicas
cxxv - Rapport é um conceito do ramo da psicologia que significa uma técnica usada para criar uma ligação de
sintonia e empatia com outra pessoa. Esta palavra tem origem no termo em francês rapporter que significa "trazer
de volta". O rapport ocorre quando existe uma sensação de sincronização entre duas ou mais pessoas, porque elas
se relacionam de forma agradável. A nível teórico, o rapport inclui três componentes comportamentais: atenção
mútua, positividade mútua e coordenação. Para este momento pericial em delegacia, no momento do rapport, para
que frente as perguntas neutras do rapport possa se identificar o estilo de linguagem do falante.
cxxvi
Constitui-se de um ambiente com regras pré-determinadas, em que os papéis são especificados, estabelecendo
uma assimetria. Possui a segurança de um local em que o silêncio permeará todas as sessões, com um ambiente
seguro e regras técnicas bem fundamentadas para a manutenção da neutralidade da perícia. Trata-se de um local
altamente sistematizado para o desenvolvimento pericial, com todo o material individualizado e previamente
estruturado para a criança, de acordo com a etapa de desenvolvimento, características da criança e demanda do
solicitante.
cxxvii Em data de 12 de janeiro de 2016 foi publicada a Lei 13.245/2016, que altera o artigo 7º, do Estatuto da
Ordem dos Advogados do Brasil (Lei 8.906/94). Neste artigo 7º, foi modificado o inciso XIV. Além disso, foram
acrescentados os incisos XXI, §§ 10, 11 e 12.
Em síntese, estas são as principais alterações:
– a vista pode se dar em autos findos ou em andamento. Além do mais, estes não precisam estar
disponíveis em cartório. Quando até mesmo estiverem conclusos ao delegado de polícia, a vista será
franqueada;
– o acesso do advogado é garantido até mesmo se houver diligência em andamento, sem que esteja
documentada nos autos, exceto quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou
da finalidade das diligências;
691
– é permitida a extração de cópias, em meio físico ou digital. Desta forma, o advogado pode se valer de
aparelhos que saquem foto para copiar os autos, com por exemplo um smartphone. Também são
permitidos apontamentos sobre o que consta nos autos da investigação criminal;
– se o acesso aos autos não for assegurado, no todo ou em parte, ou ainda quando forem retiradas peças
já encartadas anteriormente aos autos, com o intuito de prejudicar o direito de defesa, o funcionário
público com atribuição para tanto será responsabilizado, no plano administrativo e no aspecto penal,
por abuso de autoridade;
– foi vetada pela Presidenta da República a possibilidade do advogado requisitar diligências. Porém,
estas podem ser requeridas, com fundamento legal no artigo 5º, inciso XXXIV, “a”, da Constituição
Federal e no artigo 14, do Código de Processo Penal (Knippel, 2016).
cxxviiiCalcular o número de maneiras que certos arranjos podem ser formados é o princípio da combinatória.
Considerando S um conjunto com n elementos. As combinações de k elementos de S são subconjuntos
de S tendo k elementos, onde a ordem em que são listados os elementos não são relevantes.
cxxix Em consonância com o Behaviorismo Radical, Skinner definiu comportamento verbal, como: um
comportamento operante, reforçado pela mediação de um ouvinte e específico à uma comunidade verbal. Como
comportamento verbal, este é afetado pelo ambiente da mesma forma que qualquer outro comportamento, ou seja,
ocorre em um contexto específico. Sendo que a análise do comportamento operante requer a compreensão de
alguns conceitos: comportamento, antecedente, resposta e conseqüência. Comportamento: é a relação entre
estímulos e respostas, precisamos descrever o que a pessoa faz e alguma relação entre este fazer e o ambiente.
Antecedente: É alguma propriedade do ambiente que sinaliza uma oportunidade para a resposta ser emitida.
Resposta: É o que uma pessoa faz, como olhar para a bola, mirar o gol, sentir a adrenalina, chutar, gritar, etc.
Quando analisamos uma resposta, nem sempre é necessário descrever sua relação com os estímulos do ambiente.
Nestes casos, o mais importante é verificar se a resposta foi ou não emitida e qual a Conseqüência, que é uma
modificação no ambiente efetivamente produzida pela resposta.
cxxx O entendimento do papel do efeito, separado do papel da consequência na definição de operante é antigo.
692
condicionamento inicial, possuímos reflexos imitativos. Pois, certos tipos de estímulos (e o princípio não é
aplicável a todos) evoca frequentemente respostas com formas semelhantes. A maioria das crianças passam por
um estágio no qual uma grande parte do comportamento vocal é dessa natureza. A criança repete um grupo de
fala-sons exatamente como ela repete o som de um automóvel ou de um gato - "Sem saber o que está dizendo".
Ao ensinar uma criança a falar, fornecemos um reforço especial para respostas puramente imitativas, mas não deve
ser negligenciado que, no discurso do adulto, há também um considerável Reforço diferencial em favor da mera
imitação.
Portanto, se me pergunte: "Qual é a relação entre X e Y?", Posso começar com a resposta A relação entre X e Y. .
., O que pode ser amplamente, se não totalmente, imitativo. Talvez não consiga continuar, mas pelo menos isso
foi reforçado pelo seu valor em 'estagnar'. O primeiro princípio subjacente ao somador verbal, então, é que a
apresentação de um estímulo vocal tende a evocar uma resposta assemelhando-se a isso. 2) O segundo princípio é
o da soma. Duas respostas com a mesma forma, se somam; E, se cada um for subliminar em força, a soma pode
resultar na evocação de uma resposta.
No somador verbal, utilizamos uma extensão deste princípio - respostas semelhantes, mas não idênticas, também
somam, presumivelmente em proporção a suas semelhanças. Combinando estes dois princípios, podemos resumir
a ação do somador verbal, ao dizer que ele evoca respostas verbais latentes através do somatório, com respostas
imitativas ás amostras 'esqueléticas' de fala.
Mas o resultado não nos diz nada sobre a força relativa, porque nenhuma outra resposta recebe reforço somático
da parábola. Por outro lado, um único som diferenciado combinaria todas as respostas igualmente, mas isso teria
pouca ou nenhuma ação sumativa. Na concepção das amostras-esqueleto, temos que encontrar um ponto ótimo
entre os extremos de: completa diferenciação e completa falta disso. Um conjunto de amostras, construído de
acordo com as considerações que se seguem, provou estar perto desse ponto.
Uma primeira consideração necessária é a de propriedades temporais e intensivas, que não podem ser dispensadas.
Respostas verbais (pelo menos em inglês) têm comprimentos de extensão e são silábicos.
E as amostras devem se assemelhar a estas propriedades. O intervalo sumativo de uma amostra é restringida pelo
seu comprimento, porque ela irá resumir apenas com respostas que tenham aproximadamente o mesmo
comprimento, mas misturando juntas amostras de três, quatro e cinco sílabas, é possível que se obtenha respostas
cobrindo uma ampla gama (veja abaixo). Em inglês também devemos lidar com o acento, já que as sílabas não são
igualmente acentuadas.
O conjunto atual contém duas sílabas acentuadas em cada amostra e tem, portanto, dezenove padrões de acentos
diferentes, da seguinte forma (aqui só temos o exemplo):
_____ ______ V V _______ _____ V
_____ V _____ _______ V ______ V
Os padrões temporais e intensivos apresentam um ligeiro poder somativo próprio, sem diferenciação do tom -
'pitch'. Experimentei experiências com um zumbador e um comutador movido a motor que o fez repetir
combinações de dois a seis batimentos cronometrados em qualquer tempo desejado. Se repetido um grande número
de vezes, um padrão disso, classifica, ocasionalmente evoca uma resposta verbal com propriedades semelhantes.
Mas a eficiência somária é muito baixa, e o material geralmente é limitado aos bits de fala associados a ritmos
especiais - fragmentos de Jingles, marcha de músicas, e assim por diante.
Em um conjunto eficiente de amostras, o padrão temporal e intensivo deve ser transmitida por sons de fala. Todos
os sons de um idioma podem ser usada, mas um grupo menor de elementos é desejável. Temos vários motivos
para omitir as consoantes. A justaposição de uma consoante e uma vogal produz um padrão altamente diferenciado
e a amplitude de aplicabilidade é rigorosamente restrita. Mas as vogais não podem ser omitidas, pois, as consoantes
não podem ficar sem elas. E se uma escolha deve ser feita, as vogais também devem ser preferidas porque elas são
silábicas, o que é uma propriedade importante em relação ao tipo de elementos requeridos. Outro ponto é que, em
circunstâncias normais, as consoantes são as primeiras a perder durante uma redução de intensidade. Daí a sua
omissão deliberada sacrificará o mínimo possível do realismo ou verisimilitude das amostras.
Os sons da vogal permanecem como elementos disponíveis. Há cerca de dezenas deles no inglês americano, mas
uma redução adicional é possível. Embora, na prática, as vogais simples sejam usadas como se entidades discretas,
elas são vistas como sendo meramente adjacentes e variam em um continuum quando expressado em termos de
composição-do-tom (pitch-composition). O tom dominante da vogal final é, no entanto, susceptível de dar algum
carácter entonacional.
cxxxii A análise de relações funcionais representa um modelo de interpretação e investigação dos fenômenos
naturais que estará presente no projeto skinneriano de constituição da psicologia como ciência do comportamento.
Originalmente, o conceito foi empregado por Skinner com o sentido atribuído pelo físico Ernst Mach (1838-1916):
identificação de relações ordenadas entre eventos da natureza. Na proposição do reflexo como unidade básica de
análise de uma ciência comportamental, descrição e explicação científicas foram interpretadas como coincidindo
693
com a especificação de relações ordenadas entre (classes de) estímulos e respostas, portanto requerendo a análise
funcional (cf. Skinner, 1931/1961a).
A análise funcional promove a identificação de relações de dependência entre eventos, ou de regularidades na
relação entre variáveis dependentes e independentes (Chiesa, 1994, p.133), mas com respeito às quais o uso dos
conceitos de causa e efeito não seria mais apropriado, uma vez que implicaria suposições (metafísicas) além do
alcance de uma ciência (cf. Skinner, 1953/1965).
A descrição de relações ordenadas entre eventos encontra um modo de expressão na matemática. O reflexo, por
exemplo, pode ser expresso pela equação R = f (S), onde R é a resposta e S o estímulo (cf. Skinner, 1931/1961a).
A relação especificada por aquela equação é uma relação funcional no sentido de que o primeiro termo (a resposta)
é abordado enquanto função do (causado pelo) segundo termo da equação (o estímulo). A noção de causação aqui
implicada é do tipo mecânica e será abandonada por Skinner à medida que o modelo de seleção por conseqüências
vai sendo admitido como modelo causal apropriado para a interpretação do fenômeno comportamental (cf.
Micheletto, 1995). No sistema skinneriano, uma explicação da categoria de comportamento mais importante, o
comportamento operante, será encontrada na avaliação das contingências de reforçamento predominantes. Uma
contingência especifica a interrelação entre uma condição antecedente, uma resposta e uma conseqüência
alcançada pela resposta. A relação funcional que existe é a relação entre a resposta e sua conseqüência, indicada
pela condição antecedente; juntas [as condições antecedentes e conseqüentes] constituem a variável independente
e a resposta em questão, a variável dependente. A variável dependente é tipicamente tratada em termos de
probabilidade da taxa de resposta. Diz-se que o controle é exercido sobre a probabilidade de resposta pelo conjunto
de interrelações chamado contingência (Moore, 1984, p.87).
Hawkins (1986) também destaca o caráter idiográfico da intervenção baseada na análise funcional. Diz ele que as
funções que se descobrirão em um caso individual serão únicas, individuais, ou idiográficas (p.371). De forma
semelhante, no interior de um mesmo caso, dada a complexidade das redes de determinação de instâncias de
comportamento, a pluralidade de análises funcionais é possível. O número de análises funcionais alternativas para
casos clínicos é infinita e mesmo o número de análises funcionais precisas (efetivas) para um caso particular é
provavelmente muito grande (p.373).
cxxxiii Para analisar a condição da ocorrência de uma interação sexual adulto-criança/adolescente, distingue-se
características na condição própria deste fato, que são reconhecidas como instâncias inseparáveis e que estas são
condições si ne qua non para a ocorrência de tal fato. O modus operandi (Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter,
1999) é uma maneira de agir, os procedimentos implementados pelo ofensor possuem um padrão pré-estabelecido,
sendo que qualquer instância que falte, a ofensa não ocorrerá. Assim, existe um modus operandi, por que a natureza
do fato determina um padrão operandi, em que o desempenho do ofensor é moldado a natureza da especificidade
que uma ‘interação de conteúdo sexual’ exige. Esta natureza é binária, ocorre ou não ocorre.
cxxxiv Lei nº 12.830, de 20 de junho de 2013:
694
13.105/2015. Nas causas em que a matéria envolvida exigir conhecimentos técnicos ou científicos próprios de
determinadas áreas do saber, o magistrado será assistido por perito ou órgão, cuja nomeação observará o cadastro
de inscritos mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado (art. 156, §1º, CPC), sendo que esse cadastro deve
ser feito de acordo com o exigido pelo artigo 156, em seus §§ 2º e 3º. Reforçando o dever de diligência exigido
pelo artigo 157, o Código de Processo Civil, no seu artigo 466, estabelece que mesmo dispensado de assinar um
termo de compromisso o perito – assim como o órgão técnico ou científico – tem o dever de cumprir
escrupulosamente seu encargo. Caso, por dolo ou culpa, o perito acabe prestando informações inverídicas, será
responsabilizado pelos prejuízos que causar à parte, ficando ainda inabilitado para atuar em outras perícias por um
prazo de dois a cinco anos, sem prejuízo de outras sanções. Caberá ao juiz comunicar tal fato ao respectivo órgão
de classe, para que sejam adotadas as medidas cabíveis (art. 158. CPC). Dito de outra forma, para a
responsabilização do perito ou órgão não é necessária a demonstração da intenção de prejudicar uma das partes,
bastando ficar caracterizada a culpa pela imprudência, negligência ou imperícia. Prestigiando a segurança, e
minimizando os riscos de prejuízos às partes e ao resultado útil do processo, a Lei nº 13.105/2015 é incisiva ao
dispor que para o cargo de perito só pode ser nomeado o profissional que for especializado na área de conhecimento
do objeto da perícia. Com efeito, o artigo 465 do Código de Processo Civil é expresso quando impõe ao juiz o
dever de nomear apenas “perito especializado no objeto da perícia”. Ciente de sua nomeação, o expert deverá, em
cinco dias, apresentar seu currículo com comprovação de especialização quanto ao objeto da perícia (art. 465, §2º,
II, CPC), devendo ser substituído se “faltar-lhe conhecimento técnico ou científico” (art. 468, I, CPC). Ao nomear
o perito, o juiz fixará o prazo para a entrega do respectivo laudo, determinando a cientificação do expert e a
intimação das partes. Intimadas da nomeação do perito, as partes poderão, no prazo de 15 (quinze) dias, indicar
assistente técnico, apresentar quesitos, e, se for o caso, arguir impedimento ou suspeição. O perito, por sua vez,
ciente de sua nomeação, e entendendo não ser o caso de se escusar (arts. 157 e 467, CPC), deverá, no prazo de 05
(cinco) dias, apresentar: a) proposta de honorários; b) currículo, com comprovação de especialização; e, c) dados
profissionais de contato, especialmente o e-mail para o qual serão endereçadas as intimações pessoais. Cumpridas
estas exigências pelo perito, as partes serão devidamente intimadas a se manifestarem, oportunidade em que
poderão pleitear a redução dos honorários periciais propostos quando se mostrarem excessivos, bem como,
requerer a substituição do perito por faltar-lhe conhecimento técnico ou científico no objeto da perícia, o que só
poderá ser constatado após tomarem conhecimento de seu currículo (art. 465, §2º, II, CPC). Vale lembrar que, tal
como citado anteriormente, “é dever do próprio perito escusar-se, de ofício, do encargo que lhe foi atribuído, na
hipótese em que seu conhecimento técnico não seja suficiente para realizar o trabalho pericial de forma completa
e confiável”, não sendo “possível exigir das partes que sempre saibam, de antemão, quais são exatamente as
qualificações técnicas e o alcance dos conhecimentos do perito nomeado.” (REsp nº 957.347/DF). Nos casos em
que o objeto da perícia versar sobre a autenticidade ou a falsidade de documentos, ou tiver natureza médico-legal,
o perito será nomeado preferencialmente entre os técnicos dos estabelecimentos oficiais especializados (art. 478,
CPC). Com total zelo e diligência (art. 157, CPC) o perito – ou órgão – cumprirá escrupulosamente o encargo que
lhe foi cometido (art. 466, CPC), devendo concluir seus trabalhos dentro do prazo fixado pelo juiz, incluída sua
eventual prorrogação (art. 476, CPC). Não é demais lembrar que, além de outras sanções, o perito judicial poderá
ser responsabilizado pelos prejuízos que vier a causar às partes na hipótese de prestar informações inverídicas por
culpa ou dolo (art. 158, CPC). As partes serão intimadas do local e da data de início da perícia, que serão fixados
pelo juiz ou indicados pelo perito, incumbindo a este o dever de comunicar, com antecedência mínima de 05
(cinco) dias, todas as diligências e exames que tiver que realizar, garantindo aos assistentes técnicos total acesso
e acompanhamento dos trabalhos periciais. Aos peritos e assistentes técnicos é facultada a utilização “de todos
os meios necessários” para o desempenho de suas funções, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando
documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo
com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto
da perícia (art. 473, §3º, CPC). O perito não pode ultrapassar os limites de seu encargo, sendo vedada a
apresentação de opiniões pessoais que excedam ao que é travejado pelo exame técnico ou científico do objeto da
perícia (art. 473, §2º, CPC). O laudo deverá ser entregue no prazo fixado pelo juiz, com pelo menos 20 (vinte) dias
de antecedência à data da audiência de instrução e julgamento (art. 477, CPC). Havendo justo motivo, o perito
poderá requerer ao juiz, uma única vez, a prorrogação do prazo para entrega do laudo, o que não excederá a metade
do prazo originariamente assinado (art. 476, CPC). Em pesquisa jurisprudencial é possível observar que, não é
raro alguns peritos deixarem de responder quesitos. Em muitos casos, mas não todos, esse vício pode ser sanado
com a mera intimação do expert para complementação do laudo. Contudo, há situações em que as respostas
intempestivas dependerão, indispensavelmente, da realização de nova perícia. Um dos principais objetivos que
norteiam o trabalho pericial é encontrar “respostas conclusivas” para os quesitos formulados pelas partes, pelo juiz
e pelo Ministério Público. Naturalmente, ao iniciar seus trabalhos o expert se debruça sobre o objeto da perícia
almejando responder tudo que lhe foi indagado. Ora, uma vez que já foram concluídas as diligências do perito e
ele deixou de responder os quesitos, pressupõe-se que durante o exame pericial não dedicou a devida atenção à
695
obtenção das respostas esperadas e necessárias, de modo que a mera apresentação intempestiva das mesmas poderá
ser prejudicial às partes, bem como comprometer a segurança e o resultado útil do processo. Com efeito,
dependendo do caso, não se pode admitir que o laudo insuficiente ou lacônico, por ausência de manifestação
quanto aos quesitos, possa ser apenas complementado com respostas tardias, as quais certamente não decorrerão
do atento e diligente exame do objeto da perícia (art. 480, CPC). Confira-se, in verbis: “Perícia insubsistente,
persistindo dúvidas a respeito de existência ou não de lesão incapacitante para o trabalho. Quesitos das partes não
respondidos. Conversão do julgamento em diligência para a vinda de documentos e realização de nova
perícia.”[27].No julgamento do caso acima citado, o Desembargador Relator bem destacou o dever dos peritos
responderem os quesitos, in verbis: “(...).Diante desse quadro, submetido a perícia judicial, o expert nomeado, sem
se aprofundar na análise dos exames realizados e também sem trazer resposta aos quesitos apresentados, concluiu,
em resumo, que a existência da exposição ao ruído a que o examinando se submetia, ‘não vem modificar o
diagnóstico da disacusia que apresenta, uma presbiacusia, patologia auditiva degenerativa que não está relacionada
com a exposição ao ruído e portanto, não podendo ser tecido o nexo causai’, como pretende o autor e assim, ‘nada
há a indenizar do ponto de vista acidentário’ no âmbito da perícia realizada (fls.72/75). Ora, a perícia realizada é
insubsistente para se firmar com base nela um juízo de certeza ou dele aproximante, não tendo, também, feito
qualquer referência ou comentários aos quesitos apresentados, o que chega a ser inaceitável, pois o perito deve
sempre responder os quesitos, não sendo, também, de boa feitura, em vez de respondê-los, apenas se reportar ao
laudo pericial. Dessa forma, nova perícia deve ser realizada, nomeando-se novo perito judicial para tal, o qual
deverá trazer aos autos uma análise melhor sobre os problemas auditivos do autor, respondendo inclusive os
quesitos pertinentes dentre aqueles excessivos trazidos pelas partes (fls.7/9 e 51/53), bem como estabelecer a data
provável da eclosão das supostas moléstias auditivas. (...)”.A Lei nº 13.105/2015 – “Novo Código de Processo
Civil” – trouxe inúmeras inovações no âmbito da produção de prova pericial, e ao incorporar vários entendimentos
jurisprudenciais adotados na vigência o código revogado, enriqueceu a legislação e afastou a possibilidade de
discussões muitas vezes infundadas, e que tinham como origem a falta de um regramento mais minucioso.
cxxxviii Informamos que o Relatório Analítico, se encontra apartado na Parte II, desta tese, visto que trata-se de um
material sigiloso, e o uso de terceiros não apto, pode causar distorções quanto ao entendimento do material.
cxxxix Informamos que o Resultado da Análise dos Indicadores, se encontra na Parte II deste trabalho, visto que,
trata-se de um material sigiloso, e o uso de terceiros não apto, pode causar distorções quanto ao entendimento do
material.
cxl
A partir da definição do termo Backlash enquanto “reação contrária”, a jornalista e feminista Susan Faludi
publicou o clássico “Backlash: o contra-ataque na guerra não declarada contra as mulheres” em 1991, nos EUA e
destaca a importância de conhecer e aprimorar o termo Backlash, como mais uma ferramenta para compreender a
realidade, e assim identificar manobras desonestas que tentam culpar o feminismo ou as próprias mulheres e seus
avanços pelos problemas enfrentados atualmente. Faludi (1991) explica que Backlash foi o título de um filme de
1947 em Hollywood, em que um homem culpa sua esposa por um assassinato que ele próprio cometeu. O que
Susan fez foi nomear o fenômeno da reação antifeminista que tentou mandar as mulheres americanas de volta para
o fogão na década de 80, mas muito além disso, desta forma ela apontou para a possibilidade de se reconhecer a
mesma situação em qualquer outro lugar do mundo, tornando o Backlash parte do vocabulário de militantes e
pensadoras. Backlash é o conjunto de reações (discursos, ideologias, teorias, mídia) ao feminismo, com propósito
anti-feminista, apresentado na cultura. Faludi (1991) externa que a agenda do feminismo é básica, e solicita que,
as mulheres não sejam forçadas a "escolher" entre a justiça pública e felicidade privada. Pede que as mulheres
sejam livres para se definirem de ter sua identidade definida, por elas mesmas ao invés de serem definidas pela
cultura ou pelos homens. E completa que, essas idéias ainda são idéias incendiárias e aponta que as mulheres
americanas têm um caminho a percorrer antes de entrarem na prometida Terra da Igualdade. O anti-feminismo,
traduzido em teoria pós-moderna, são os ataques ao feminismo desde dentro dele, sob nome e feminismo. A idéia
de Backlash, conforme Faludi (1991) é identificar tudo que é ataques ao feminismo e esforços em conter os
avanços das mulheres (Faludi, 1991).
cxli
Software aplicativo (aplicativo ou aplicação) é um programa de computador que tem por objetivo ajudar o seu
usuário a desempenhar uma tarefa específica, em geral ligada a processamento de dados.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Software_aplicativo
cxlii
Sua origem é na Alemanha, datado de 1954, por meio do psicólogo forense alemão Udo Undeutsch e mais
tarde sistematizado por Steller e Kohnken (1989).
cxliii Como a quase totalidade dos crimes é de ação penal pública, nesses casos, a investigação criminal é
essencialmente destinada ao Ministério Público, pois é ele que deverá fazer a análise das provas e decidir se há
elementos suficientes para iniciar a ação penal. Esse exame da investigação criminal é o que se costuma denominar
pela expressão latina “opinio delicti”, isto é, a opinião acerca da ocorrência do delito (Saraiva, 2013).
696
cxliv “O mando: É o operante verbal pelo qual a comunidade verbal é capaz de dar ordens (
Fale baixo!), fazer pedidos (- Você me emprestaria um livro?), identificar reforços necessitados
pelas pessoas (- Quer que ligue o ar refrigerado?), fazer perguntas, dar conselhos e avisos,
pedir a atenção de alguém, etc. O repertório de mandos é construído em situações em que,
caracteristicamente, um operante verbal emitido sob privação ou estimulação aversiva foi
seguido de uma mesma conseqüência reforçadora. Somos reforçados por um ouvinte que nos
apresenta um copo com água quando emitimos - Água, por favor (sob controle de privação de
água) ou que faz silêncio quando pedimos - Faça menos barulho... (sob controle do estímulo
aversivo -barulho). A emissão de mandos pelo falante é reforçada por uma determinada e
específica conseqüência proporcionada pelo ouvinte, diretamente relacionada às condições de
privação ou de estimulação aversiva que afetam o falante. (Passos, 2003)”.
cxlv“Moreira e Medeiros (2007) explicam que, com base na generalização respondente, tal técnica
consiste em dividir o procedimento de extinção em pequenos passos, ou seja, consiste em expor o
indivíduo gradativamente a estímulos que eliciam respostas de menor magnitude até o estímulo
condicionado original.
De acordo com Knapp e Caminha (2003) e Negrão (2011), a dessensibilização sistemática foi
desenvolvida originariamente por Wolpe em 1958 e diz respeito a um conjunto de técnicas de
exposição/apromimação à experiência traumática, envolvendo três etapas básicas: treinamento do cliente
ao relaxamento físico, estabelecimento de uma hierarquia de ansiedade em relação ao estímulo fóbico e
contracondicionamento do relaxamento como uma resposta ao estímulo temido, iniciando-se com o
elemento mais baixo na hierarquia de ansiedade até chegar ao ponto mais alto dessa hierarquia
previamente estabelecida na segunda etapa.
Moreira e Medeiros (p. 41, 2007) discorrem acerca do assunto explicando que para utilizá-la na prática
clínica é necessário primeiramente “construir uma escala crescente da intensidade do estímulo
(hierarquia de ansiedade)”, ou seja, descobrir quais são os estímulos relacionados ao objeto fóbico que
causam no indivíduo maior ou menor medo. Em seguida, treina-se o cliente em uma resposta que é
antagonista à ansiedade (relaxamento muscular progressivo) e solicita-se ao mesmo que imagine uma
série de situações que provoquem ansiedade enquanto está profundamente relaxado (Remor, 2000)”. (in
Pereira, 2012)
cxlvi
SCIRUSS era uma ferramenta livre na Web que permite a localização de informação científica, académica,
multidisciplinar num único ponto de pesquisa. O motor de pesquisa SCIRUS permite efetuar pesquisa
simples ou avançada, sendo que esta última opção permite a pesquisa por título da revista ou artigo, autor, palavra
chave, ISSN, afiliação, parte do URL, etc. podendo também combinar termos e definir limites quanto ao tipo de
documento, data, fontes, formatos e áreas do conhecimento. Após a pesquisa, na lista de resultados tem a
possibilidade de refinar a sua pesquisa (menu lateral esquerdo) e de selecionar conteúdos para enviar por e-mail,
exportar para um gestor de referências bibliográficas ou guardar (menu superior).
Scirus, era uma base de dados de resumos e citações que abrangia a produção de investigação científica a nível
mundial. Scirus foi assumido e operado por Elsevier. Em 2013, um anúncio apareceu, na página inicial Scirus,
anunciando a aposentadoria locais em 2014:
"Estamos tristes de dizer adeus. Scirus está pronto para se aposentar no início de 2014. Para garantir uma transição
suave, estamos informando agora para que você tenha tempo suficiente para encontrar uma solução de pesquisa
alternativa para o conteúdo específico da ciência... Obrigado por ser um usuário dedicado de Scirus.”
(https://en.wikipedia.org/wiki/Scirus)
cxlvii
Um dos métodos de registro da etologia, o etograma, ocorre por meio do: ad llibitum, focal sampling, scan
sampling e behaviour sampling. E quanto aos tipos de medida, pode ser utilizado a: Latência e a unidade de tempo,
que mede por exemplo, quanto tempo demorou começar o evento esperado?; Frequência, que mede o número de
eventos na unidade de tempo, a exemplo: Quantas vezes o comportamento esperado aconteceu?; e a Duração, que
é uma unidade de tempo, tal como: Quanto tempo o evento discreto durou? Quanto tempo gastou durante toda a
sessão de observação?. A Etologia é a ciência das relações comparadas do comportamento animal e tem no
comportamento o produto e instrumento do processo de evolução, por meio, da seleção natural. Assim, o
697
comportamento é produto da evolução filogenética, pois tem função adaptativa (afeta o sucesso reprodutivo). As
quatro perguntas básicas da etologia, são: como o comportamento se desenvolve ao longo da vida do indivíduo?
(ontogênese)? Qual é a causa? (fatores causais próximos); Como se desenvolveu no decorrer da história
evolucionária? (filogênese) e qual o motivo pelo qual teria sido selecionado naturalmente? (causa final). São
conhecidas como os quatro “por quês” de Tinbergen. Que põe ênfase na observação e na descrição detalhada do
comportamento, na situação mais natural possível. E desta experiência da Etologia, tinha uma pergunta que
acompanha estes estudos do comportamento, que é: ‘Estudar comportamento mesmo você não veja diretamente
os animais? O que os rastros deixados pelos animais podem nos informar?’. Esta é sempre uma boa pergunta para
iniciar uma investigação. Porém, quais rastros investigar?. Sim, este campo é altamente investigativo.
cxlviii
A História de Vida é uma das modalidades de estudo em abordagem qualitativa, traduzido de historie (em
francês) e de story e history (em inglês) e que alcança significados distintos (Bertaux, 1980). A pesquisadora
focava na distinção realizada pelo sociólogo americano Denzin, em 1970, que informava, que life story, seria o
relato de vida contado por quem a vivenciou, em que o pesquisador não confirma a autenticidade dos fatos. E a
técnica life history (ou estudo de caso clínico), compreende o estudo aprofundado da vida de um indivíduo ou
grupos de indivíduos e que inclui, além da própria narrativa de vida, todos os documentos que possam ser
consultados, como dossiês médico e jurídico, testes psicológicos, testemunhos de parentes, entrevistas com pessoas
que conhecem o sujeito, ou situações em estudo (Bertaux, 1980).
A pesquisadora optava pelo Life History, em que fazia da interação com a comunicante, um momento de buscar
dados informativos mais exatos a respeito da ocorrência ou não da violência sexual de sua criança.
cxlix Lorenz
(1965) o padrão fixo é o núcleo da ação instintiva e corresponde ao acionamento de um mecanismo
construído filogeneticamente.
cl
Ordenamento jurídico é como se chama à disposição hierárquica das normas jurídicas (regras e princípios),
dentro de um sistema normativo. Por este sistema, pode-se compreender que cada dispositivo normativo possui
uma norma da qual deriva e à qual está subordinada, cumprindo à Constituição o papel de preponderância - ou
seja - o ápice, ao qual todas as demais leis devem ser compatíveis material e formalmente. Um conjunto
hierarquizado de normas jurídicas (regras e princípios) que disciplinam coercitivamente as condutas humanas,
com a finalidade de buscar harmonia e a paz social. O legislador busca por meio da criação de normas jurídicas
proteger os interesses juridicamente relevantes.
cli Primeira Fase da persecução penal, ocorre a investigação criminal: meio comum para colheita de informações
através do procedimento chamado de Inquérito Policial, com base no art. 4º CPP. Segunda Fase: O processo penal
(Ação Penal) - CP Título VII (Da Ação Penal) O Estado tem o interesse de manter as relações jurídicas e o cidadão
a salvo de determinadas posturas consideradas como ilícitos penais, realizando assim a repressão ao crime no
interesse da sociedade. Esta atividade do Estado consiste na persecutio criminis.
De fato, ao Estado incumbe não somente a soberania externa, mas também a soberania interna, gerando a segurança
que se espera das pessoas e bens, com a devida repressão à criminalidade. Tal repressão se dá com a persecutio
criminis ou perseguição do crime, afim de que seja apurada a autoria do ilícito penal com a aplicação da devida
sanção estatal, gerando-se segurança à sociedade.
A persecução penal se divide em duas fases: a investigação criminal e o processo penal.
A investigação criminal é o procedimento administrativo preliminar realizado pela Polícia Judiciária que tem a
finalidade de se apurar fatos criminosos, colhendo elementos sobre a materialidade do crime e indícios de sua
autoria. A este procedimento se dá o nome de inquérito policial.
A segunda fase se dá perante um órgão judicial e tem caráter jurisdicional. É iniciado, via de regra, pelo Ministério
Público, com o oferecimento da denúncia, tem seu desdobramento (em apertado resumo: defesa, instrução e
alegações finais) e a decisão (condenando ou absolvendo o réu).
Cumpre informar, que parte da doutrina entende que a persecução penal seria formada por três fases: investigatória,
processual e executória (execução da pena).
clii Higino (2015) destaca que a sociedade encontra-se em constantes transformações, sendo deste modo necessário
buscar meios que se adequem e tratem os conflitos de acordo com a atualidade que vivemos. Para Cahali (2012,
p.38), “dentre os meios extrajudiciais de solução de conflitos (Mesc), os mais usuais e conhecidos são: conciliação,
mediação e arbitragem”.
Segundo Higino (2015), a mediação consiste na atividade de facilitar a comunicação entre as partes para
proporcionar que estas próprias possam, visualizando melhor os meandros da situação controvertida, protagonizar
uma solução consensual. A proposta da técnica é proporcionar um outro ângulo de análise aos envolvidos: em vez
de continuarem as partes enfocando suas posições, a mediação propicia que elas voltem sua atenção para os
verdadeiros interesses envolvidos (Tartuce, 2008, p. 208).
Conforme alerta Higino (2015), a autora relata que este método alternativo tem por finalidade atingir a definição
de justiça para todos os conflitantes que sozinhos e voluntariamente devem propor uma forma para dar fim ao
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conflito. Desta forma, deve-se destacar que os litigantes cheguem a uma convenção sem a necessidade do
mediador, pois o que se busca é a realização dos interesses para as partes envolvidas, o mediador não julga, não
intervém nas decisões, o que faz é a “terapia do vínculo conflitivo” (Buitoni, 2010, p.13 apud Cahali, 2013, p.41).
cliii
A Responsabilidade Civil surge do descumprimento de uma obrigação do direito privado, uma obrigação
existente entre duas pessoas, um direito de natureza pessoal, seja ela contratual ou extracontratual e dela decorre
o dever de indenizar caso haja culpa, em razão do caráter lesivo para uma das partes desse descumprimento. Em
observância ao fator culpa, o agente deverá responder por perdas e danos, além de responder pela onerosidade para
o reequilíbrio da relação em valor apurado indevidamente. A Responsabilidade Penal é mais gravosa que a
Responsabilidade Civil, pois incide sobre normas de direito público que regulam bens jurídicos indisponíveis
como, por exemplo, a vida, a liberdade e a integridade física. O ilícito penal tem natureza mais gravosa que o
ilícito civil, e nessa ordem segue também a natureza de suas responsabilidades decorrentes. Portanto, toda
Responsabilidade Penal decorre da transgressão de uma norma pública (tipo penal incriminador), caracterizando
crime ou contravenção penal. No caso da Responsabilidade Penal, ainda em contraponto com a Responsabilidade
Civil, em regra não haverá reparação em virtude da impossibilidade de regresso ao status quo, mas sim aplicação
de uma pena pessoal e intransferível ao transgressor da norma que poderá ser substituída ou convertida em medida
de segurança, caso estejam presentes os requisitos. Em se tratando de Responsabilidade Penal o objetivo é duplo:
reparação da ordem social e punição do agente.
cliv
Destacamos que o Art. 213, § 1º, do Código Penal - Decreto Lei 2848/40, a idade distingue a pena e na pesquisa
da cientista não condiz a nenhuma distinção particular:
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