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學 ANÁLISE FUNCIONAL

DO COMPORTAMENTO VERBAL

NOS CRIMES DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL :

PERÍCIA PSICOLÓGICA

NO INÍCIO DA PERSECUÇÃO PENAL

VIVIANE TELES
LORISMARIO SIMONASSI
Análise Funcional do Comportamento Verbal
nos Crimes de Estupro de Vulnerável:
Perícia Psicológica no Início da Persecução
Penal
1ª edição | ISBN 978-85-65721-25-7

Viviane Teles

Lorismario Ernesto Simonassi

www.walden4.com.br

Editora do Instituto Walden4

2021
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ISBN

ISBN : 978-85-65721-25-7
CBL

9 788565721257
Ficha catolográfica
Sobre os autores

Viviane Teles

Lorismario Ernesto Simonassi


Dedico este trabalho a todas as crianças que
mercê dos infortúnios da vida, necessitem do
auxílio do perito psicólogo em uma delegacia.
"Ciência é a disposição para aceitar fatos, mesmo
quando eles se opõem aos desejos." (Skinner,
1953, p.12)
RESUMO

Frente á demanda judiciária cada vez mais exigente e com base no fazer do psicólogo
em instituições, este trabalho apresenta instrumental e um modelo de estrutura
pericial psicológica, utilizado por um perito psicólogo em uma Delegacia
Especializada no Atendimento á Criança e Adolescente, neste caso a Delegacia de
Proteção á Criança e ao Adolescente - DPCA de Goiânia. A Psicóloga nesta Delegacia
Especializada tem a função de atuar como perito ad hoc, em perícia psicológica com
crianças, supostamente violentadas sexualmente, nos inquéritos policiais tipificados
no Artigo 213, parágrafo 1º e 217-A do Código Penal Brasileiro. Destacamos a palavra
supostamente, por ser o inquérito policial o investigador da ocorrência ou não
ocorrência de tal delito. A perícia psicológica faz parte do conjunto probatório na
investigação destes crimes junto á equipe policial gerenciada pela delegada (o) de
polícia, que busca autoria e materialidade. São crimes em que não há qualquer tipo de
comprovação do delito penal, a não ser os indícios psicológicos e os relatos verbais
dos envolvidos no evento. Este trabalho visa apresentar a sistematização metodoló
gico-científica, que originou o Projeto Contacto, que vai desde o recebimento da
solicitação de perícia psicológica, até a elaboração e entrega do laudo psicológico para
a polícia judiciária, neste caso a solicitante da perícia. O modelo do instrumental
psicológico tem sua fundamentação filosófico-conceitual no Behaviorismo Radical,
com área de intervenção e aplicação do conhecimento produzido pela Análise do
Comportamento, por meio da Análise Funcional do Comportamento Verbal, que
aporta: os instrumentos, a análise dos dados e a elaboração do laudo pericial.
Realizou-se o levantamento bibliográfico envolvendo as palavras chaves: violência
sexual contra crianças, perícia psicológica judicial e correspondência verbal. Com base
neste levantamento não foi encontrado nenhum trabalho que envolvesse a análise
funcional do comportamento verbal aplicada à perícia psicológica na fase pré
processual, em crianças supostamente vítima de violência sexual, que é a temática
desta tese.

PALAVRAS CHAVES: estupro, estupro de vulnerável, perícia psicológica, persecução


penal, Behaviorismo Radical, análise funcional, comportamento verbal.
ABSTRACT

Faced with the increasingly demanding judicial demand and based on the work of the
psychologist in institutions, this work presents instrumental and a model of psycho
logical expert structure, used by an expert psychologist in a Police Station Specialized
in Care for the Child and Adolescent, in this case the Police Station Protection of Chil
dren and Adolescents - DPCA de Goiânia. The Psychologist in this Specialized Police
Department has the function of acting as ad hoc expert in psychological expertise with
children allegedly sexually assaulted in the police investigations typified in Article
213, paragraph 1 and 217-A of the Brazilian Penal Code. We emphasize the word sup
posedly, because the police investigation is the investigator of the occurrence or non
occurrence of such crime. The psychological expertise is part of the probative set in
the investigation of these crimes together with the police team managed by the police
officer, who seeks authorship and materiality. They are crimes in which there is no
evidence of any criminal offense other than the psychological indications and verbal
reports of those involved in the event. This work aims to present the methodological
scientific systematization, which originated the Contact Project, from the receipt of the
request for psychological expertise, to the drafting and delivery of the psychological
report to the judicial police, in this case the applicant for the expertise. The model of
the psychological instrumental has its philosophical-conceptual basis in Radical Be
haviorism, with an area of intervention and application of the knowledge produced
by Behavior Analysis, through the Functional Analysis of Verbal Behavior, which con
tributes: the instruments, data analysis and preparation of the expert report. A biblio
graphic survey was carried out involving the key words: sexual violence against chil
dren, judicial psychological expertise and verbal correspondence. Based on this sur
vey, no work was found that involved the functional analysis of verbal behavior ap
plied to psychological expertise in the pre-procedural phase, in children supposedly
victim of sexual violence, which is the theme of this thesis.

KEY WORDS: Rape, rape of vulnerable, psychological expertise, criminal prosecution,


Radical Behaviorism, functional analysis, verbal behavior.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APA – American Psychological Association

MFAC - Método Funcional de Análise Criminológica

LAACV/POL - Laboratório de Análise Aplicada do Comportamento Verbal – Policial

MFP - Modelo Funcional de Psicodiagnóstico

DPCA – Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente

BO – Boletim de Ocorrência

CBCA – Análise de Conteúdos Baseada em Critérios

CLADEM - Comité de América Latina y el Caribe para la Defensa de los Derechos de


las Mujeres

CEPAJ – Centro de Estudo, Pesquisa e Extensão Aldeia Juvenil

CREAS - Centros de Referência Especializados de Assistência Social

CFP – Consellho Federal de Psicologia

CP – Código Penal

CPP– Código de Processo Penal

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

ICS- Interação de Conteúdo Sexual

IP – Inquérito Policial

OEA – Organização dos Estados Americanos

ONU – Organização das Nações Unidas

SEDH - Secretaria de Estado e Direitos Humanos

SGDCA - Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente

SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNICEF – Fundos das Nações Unidas para a Infância


VIVA - Vigilância de Violências e Acidentes

PEACE – Planejar, Engajar, Acessar o livre relato, Cerrar, Expandir.


SUMÁRIO

Intróito........................................................................................................... 1

I Panorama do Trabalho ............................................................................ 2

1 As Delimitações do Trabalho ....................................................................................... 2

1.1 Campo de Atuação ..................................................................................................... 2

1.2 Os Limites da Atuação ...............................................................................................2

1.3 A classificação da perícia nesta tese .........................................................................4

1.4 Prospecção.................................................................................................................... 5

2 Os Problemas encontrados ......................................................................................... 33

2.1 Os indícios..................................................................................................................33

2.2 A vítima hipossuficiente ..........................................................................................35

2.3 O acesso aos dados que irão compor a perícia .....................................................38

3 As Contribuições do Projeto Contacto ......................................................................40

3.1 A estruturação da perícia psicológica no Projeto Contacto ................................45

3.2 A relevância da entrevista com a comunicante ....................................................46

3.3 Os indicadores extraídos dos relatos ..................................................................... 47

3.4 O que foi utilizado para a análise dos dados ........................................................48

3.5 Organização para a análise dos dados................................................................... 51

3.6 O que se espera do Projeto Contacto......................................................................53

II O Fato Investigado: Conceitos e Identificação................................ 58

1 Complexidade e repulsa a temática ..........................................................................58


2. A interação de conteúdo sexual, como sinônimo de violência sexual, na abrangência

dos conceitos legais.........................................................................................................59

3. A variabilidade dos conceitos teóricos a respeito do evento: interação de conteúdo

sexual ................................................................................................................................ 66

4 O desconhecido número da ocorrência do ‘abuso sexual’ nos órgãos competentes

73

III Marcos sócios-legais ........................................................................... 77

1 Marcos Internacionais ................................................................................................. 77

2 Nacionais .......................................................................................................................80

IV O Sistema de Segurança Pública Brasileiro na Defesa Infanto

Juvenil ......................................................................................................... 87

1 A política de segurança pública no Brasil ................................................................87

2 O Sistema único de segurança pública - SUSP ........................................................89

3 Origem do sistema de segurança do Brasil ..............................................................91

4 Policia civil no Brasil.................................................................................................... 97

V Investigação Criminal nos Crimes Contra a Dignidade Sexual de

Infantes...................................................................................................... 102

1 Delegacia de proteção a criança e ao adolescente, como sistema de defesa .....102

2 O fluxo do inquérito policial nos crimes de estupro de vulnerável ...................104

2.1 A história-acusatória na persecução penal ............................................................................ 104

2.2 O inquérito policial................................................................................................................. 124

2.3 Notícia do fato tido como criminoso ..................................................................................... 127

2.4 As provas nos crimes de estupro de vulnerável .................................................................... 133


VI Do Antigo á Psicologia Jurídica e Perícia Psicológica ............... 145

1 Pré concepções da psicologia atual ......................................................................... 145

2 Psicologia no mundo .................................................................................................151

3 A etimologia da psicologia ....................................................................................... 155

4 O lugar da psicologia no cenário científico ............................................................163

5 A psicologia enquanto disciplina ............................................................................175

6. O desenvolvimento da psicologia enquanto ciência............................................183

7. O desenvolvimento da profissão psicólogo ..........................................................187

8. Psicologia no Brasil...................................................................................................200

9. Psicologia Jurídica.....................................................................................................208

9.1 A busca pelo fato genuíno, por meio das entrevistas – uma história da psicologia no mundo

forense. ........................................................................................................................................ 211

9.2 Estruturação profissional da psicologia forense .................................................................... 234

VII A Tecnologia desenvolvida ........................................................... 239

1O Projeto Contacto .....................................................................................................245

2 A base filosófico-teórica no Projeto Contacto ........................................................246

3 Desenvolvimento de uma perícia psicológica com a Análise do Comportamento,

para a polícia judiciária - Projeto Contacto ...............................................................247

4 A perícia que resulta no laudo psicológico na DPCA de Goiânia - Projeto Contacto

254

5 As etapas da perícia psicológica, no Projeto Contacto .........................................263

5.1 Etapa 1 – Planejamento e preparação ................................................................................... 264

5.2 Etapa 2 - Engajamento e Explicação ...................................................................................... 268

5.3 Etapa 3 - Acessar o relato livre............................................................................................... 269


5.4 Etapa 4 - Cerrar (fechar)......................................................................................................... 272

5.5 Etapa 5 - Expansão ................................................................................................................. 272

5.6 Etapa 6 - Elaboração do laudo psicológico pericial................................................................ 274

6 Instrumentos e técnicas no Projeto Contacto ......................................................... 275

6.1 Entrevista Contingenciada Investigativa - ECI ........................................................................ 275

6.2 Técnica - Hora jogo Diagnóstica ............................................................................................. 281

6.3 Teste – Teste Projetivo Rorschach ......................................................................................... 281

7 As análises extraídas dos episódios verbais..........................................................283

7.1 Núcleo avaliativo, análise funcional....................................................................................... 283

7.2 Análise funcional do contexto................................................................................................ 288

7.3 Comportamento verbal dos envolvidos................................................................................. 292

7.4 Os indicadores e suas características..................................................................................... 297

7.5 Distinguir e extrair o comportamento verbal que se apresenta ........................................... 300

7.6 Análise Idiográfica Projetiva................................................................................................... 318

7.7
8 Relatório analíticoforneceida pela análise dos tactos ......................................................... 318
Clareza diagnóstica

......................................................................................................325

9 Resultado da Análise dos Indicadores - RAI ......................................................... 328

Método....................................................................................................... 335

Participantes .................................................................................................................. 335

Material...........................................................................................................................335

Procedimento.................................................................................................................335

Memorial descritivo, o caminho percorrido na teoria e na prática .......................337

O início ......................................................................................................................................... 337

Mudanças no contexto nacional da psicologia brasileira, que impactavam na prática da pesquisadora

..................................................................................................................................................... 341
A pesquisadora como perita do juiz, a partir do ano de 2008..................................................... 349

Um olhar para as falsas comunicações........................................................................................ 352

Responder a uma demanda judicial, por meio da avaliação psicológica infantil ........................ 365

Uma avaliação psicológica diagnóstica........................................................................................ 374

Apresentação do laudo psicológico em conformidade ás peculiaridades do contexto forense . 384

A busca de levantar dados - Entrevista Contingenciada.............................................................. 387

O dado considerado ‘informação’ em perícias criminais............................................................. 390

Etapas distintas: levantar, analisar e apresentar dados .............................................................. 393

A entrevista como base de um sistema de dados na perícia psicológica .................................... 400

A perícia psicológica criminal, responde a solicitantes distintos na persecução penal............... 406

O projeto de doutorado ............................................................................................................... 413

O entrevistador profissional em contextos criminais .................................................................. 416

Entrevistas com infantes em contexto judicial ............................................................................ 420

Uma análise para além do que se fala ......................................................................................... 424

Estruturação e temáticas das entrevistas.................................................................................... 430

A organização bibliográfica e dos dados para o embasamento instrumental............................. 432

O perito psicólogo judicial, no contexto da polícia judiciária ...................................................... 436

O instrumental inicial deste trabalho .......................................................................................... 442

A Entrevista Contingenciada, que extrai o comportamento verbal ............................................ 447

A estrutura das Entrevistas Contingenciadas no Projeto Contacto ............................................. 458

A construção da análise dos dados: da Entrevista Contingenciada e indicadores ao Relatório das

Análises ........................................................................................................................................ 460

Justificativa.....................................................................................................................465

Resultado: PARTE I ................................................................................ 470

Resultado: PARTE II .............................................................................. 504


1 Logística Pericial – material sigiloso ................................................ 505

2 Entrevistas Contingenciadas com os envolvidos – material sigiloso

..................................................................................................................... 505

2.1 Entrevista Contingenciada Comunicante – material sigiloso ...........................505

2.2 Entrevista Contingenciada Suspeito – material sigiloso ...................................505

3 Laudo Pericial Utilizado ..................................................................... 505

4 Roteiro Analítico .................................................................................. 506

A ANÁLISE ELEVA O STATUS DA FALA, À COMPORTAMENTO VERBAL, O QUE


EXIGE CONCEITUAÇÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SKINNERIANA 506
Unidade de Análise ......................................................................................................506

Operante Verbal ............................................................................................................ 506

Tacto................................................................................................................................ 506

Análise do Relato quanto a Estrutura e Conteúdo...................................................519

1. Indicadores Gerais do Fato quanto a Condição e Conteúdo .......................................... 519

Modus Operandi: ...................................................................................................................... 532


2. Indicadores Gerais do Relato quanto a Estrutura ............................................................ 535
Análise de Contexto por meio de Temáticas de Vulnerabilidade ................................................ 538

5 Resultado da Análise dos Indicadores – RAI................................. 551

RAI – Resultado da Análise dos Indicadores........................................................................ 551


1.2 Apropriação da
1 Características Gerais do Relato (Matsumoto et. al., 2011) .............................................. 551
experiência...............................................................................................
553
3. Manejo da informação – quais os componentes da comunicação estão presentes quando:
..................................................................................................................................................... 557
1.3 Precisão ................................................................................................................................. 561
2. Conteúdo Específico ............................................................................................................. 563
2.1 Evidências ........................................................................................................................... 563
4 Campos de Vulnerabilidade................................................................................................. 567
4.1 Vulnerabilidade quanto ao arranjo-familiar ................................................................... 567
4.2 Vulnerabilidade quanto ao estilo parental ...................................................................... 567
4.3 Vulnerabilidade afetivo-materno...................................................................................... 567
4.4 Vulnerabilidade comunicacional ...................................................................................... 568
4.5 Vulnerabilidade sócio-familiar.......................................................................................... 568
4.6 Vulnerabilidade quanto a qualidade da coesão familiar............................................... 569
4.7 Vulnerabilidade espaço-vivencial..................................................................................... 569
4.8 Vulnerabilidade quanto a saúde familiar........................................................................ 570
4.9 Vulnerabilidade financeiro-familiar................................................................................. 571
4.10 Vulnerabilidade comportamental................................................................................... 571
4.11 Vulnerabilidade quanto ao vinculo com o suspeito..................................................... 571
4.12 Vulnerabilidade quanto a classificação quanto a escolha exclusiva para a ofensa do
suspeito....................................................................................................................................... 571
4.13 Vulnerabilidade quanto a idade ..................................................................................... 572
4.14 Vulnerabilidade territorial (Territorialidade) ............................................................... 572
4.15 Contexto Negligencial ...................................................................................................... 572
5.1 Detalhes característicos da ofensa .................................................................................... 573
6 Grooming ................................................................................................................................ 578
7 Modus Operandi .................................................................................................................... 580
8 Quantidade de Interações ..................................................................................................... 583
9 Ciclo da Interação Sexual ...................................................................................................... 584

Referência Bibliográfica ........................................................................ 589


Intróito

A presente tese é fruto de estudos, observações e pesquisas desenvolvidas na trajetória


da cientista, enquanto perita psicóloga, desde 2008. Resultou daí o Projeto Contacto,
cujo propósito é apresentar um procedimento padrão que estabeleça critérios para:
logística, referencial teórico, instrumental, técnicas, análise de dados,
desenvolvimento pericial e a feitura de laudos cujas vítimas são crianças e ou
adolescentes, dos crimes de estupro de vulnerável.

Teve como observatório principal, o Departamento de Psicologia da Delegacia de


Proteção a Criança e ao Adolescente de Goiânia – DPCA, e como campo de prospecção
científica os inquéritos policiais alí instaurados. Desses procedimentos investigativos
surgiram os questionamentos para o desenvolvimento e conclusão deste estudo
sistematizado.

De chamar a atenção as inúmeras engrenagens que movimentam a máquina do


inquérito policial, cujo primeiro impulso ocorre com a notícia do fato criminoso ou
contravencional. Daí em diante, ganham movimentos a Portaria, ordens de serviços,
diligências, requisições, ofícios, oitivas, interrogatórios, perícias, apreensões de
pessoas ou coisas, buscas, conduções de pessoas, acareações, reconstituições e
finalmente Relatório subscrito pela autoridade que preside o inquérito.

Após toda esta coleta de dados ou vestígios, em sendo o caso, o Departamento de


Psicologia da especializada é acionado. Após promover minuciosa análise do
conteúdo investigativo posto à sua disposição, a Unidade Científica define a estratégia
para o desenvolvimento da perícia que lhe competirá fazer.

Para que esta tese alcançasse desenvolvimento e rompesse a linha de chegada, foi
necessário diariamente mergulhar no profundo e revolto oceano dos comportamentos
ocultos das intituladas vítimas ou buscar decifrar o comportamento dos indignados
autores.

Assim nasceu o ideário do Projeto Contacto, cuja semente, lançada no terreno fértil do
campo da colheita indiciária, propulsora esta de provável denúncia, eventual
arquivamento do inquérito, ou futuro pedido de absolvição, quando na fase da
persecução penal ou instrução dos autos.

1
Teles & Simonassi (2021)

I Panorama do Trabalho

1 As Delimitações do Trabalho
Com a finalidade de elevar a qualidade da análise de relatos obtidos em situações que
envolve o crime de estupro de vulnerável, este trabalho desenvolveu um sistema
avaliativo, que realiza a análise funcional do comportamento verbal (Skinner, 1957)
na perícia psicológica infantil forense, no contexto da polícia judiciária, fundamentada
no Behaviorismo Radical. Para que fosse alcançado a fase analítica, foi necessário
desenvolver um instrumento para levantamento de dados, a entrevista. Esta
entrevista, foi denominada: Entrevista Contingenciada, pois tem na sua base
originária, a Contingência Tríplice Skinneriana.

1.1 Campo de Atuação


Esta tese tem desenvolvimento no campo de atuação do Inquérito Policial. O seu
objetivo é extrair dos indícios, as provas que irão subsidiar eventual persecução penal.

1.2 Os Limites da Atuação


As perícias são realizadas no âmbito da psicologia jurídica em crianças supostamente
violentadas sexualmente por adultos. Alertamos para o dado ‘supostamente’, pois o
objetivo da perícia psicológica na polícia judiciária, é responder exatamente sobre a
ocorrência ou não da interação de conteúdo sexual entre um adulto e uma criança e
sob quais condições esta ocorreu.

Ao receber a solicitação para a realização da perícia psicológica, a pesquisadora passa


a integrar o limbo, o verdadeiro desconhecido. Visto que os dados que compõe o
inquérito policial ainda são rústicos, resultado de uma investigação do ponto de vista
psicológico-científico, leigos. Somente após ser solicitada, visto que não é informada,
dado que neste momento chegam ao conhecimento da pesquisadora, relatos
desprovidos de cunho técnico-psicológico. Digo informada, pois mesmo o
investigador dizendo que houve violência sexual, a pesquisadora recebe a solicitação
para o esclarecimento daquilo que ele considera um fato aparente. O que ocorre é a
solicitação para definir o fato. A ocorrência policial é o sentido amplo, e o fato é o
resultado da ocorrência que chega ao conhecimento da polícia judiciária, visto que, ao
investigar a ocorrência se depara com o fato, aquilo que ocorreu com a vítima.

São informações muitas vezes estraídas de depoimentos leigos, sob a ótica de uma
investigação até este momento, não-científica. Em que no máximo que houve foi o
Exame de Corpo de Delito, que não faz nenhuma incursão ao campo psicológico,
sendo um exame de cunho meterial. Algumas vezes complementado com respostas

2
Teles & Simonassi (2021)

dadas pela intitulada vítima, e em alguns casos, por quem a acompanha: comunicante,
avó, tia, professora, vizinhos, conselho tutelar.

Esta tese tendo como campo a investigação criminal na fase do inquérito considerará
a vítima, dos crimes de estupro e dos crimes de estupro de vulnerável do Código
Penal, com vistas a atender a faixa etária infanto-juvenil, em que temos a criança até
12 anos incompleto e os adolescentes de 12 a 18 anos incompletos.

Desta forma o instrumental da tese irá atender, ao quesito vulnerável, em relação


somente a faixa etária. A faixa etária que atende ao Artigo 217-a do Código Penal, são
vítimas as pessoas até 13 anos incompletos e doAartigo 213 do Código Penal, as
pessoas acima desta faixa etária até 17 anos incompletos.

Somente ao final da perícia psicológica é que se poderá incluir se o personagem


encaminhado está na condição de:

a) vítima;

b) autor;

c) vítima e autor, nos casos em que o menor de idade são obrigados sob coação ou
ameaça a desempenhar os papéis de agente ativo e passivo e;

d) algoz de si próprio pela própria prática de auto-mutilação.

Exetuadas as primeiras e última figuras, as demais condutas são passíveis de integrar


a interpretação expressa no Artigo 103 do ECA: “Considera-se ato infracional a
conduta descrita como crime ou contravenção penal”.

Importante analisar os limites de idade fixados para os destinatários do coneito de


vulnerabilidade expressos no Artigo 217-A do Código Penal e esta mesma
conceituação etária no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.

O Código Penal, por óbvio, estabelece a vulnerabilidade do menor vítima em 14 anos,


considerados também aí o enfermo e o doente mental desprovido de entendimento
para a prática do ato de natureza sexual ou mostra-se incapaz de oferecer resistência
quando dele é destinatário.

Contudo, ao contrário do Código Penal que adotou apenas um grupo, em termos de


idade, o ECA, traz em seu Artigo 2º, dois grupos de vulneráveis divididos em duas
faixas etárias a saber:

a) até os 12 anos incompletos, o ente pessoa é definido como criança;

b) dos 12 aos 18 anos incompletos, a pessoa é definida como adolescente.

3
Teles & Simonassi (2021)

Para a criança autora de ato infracional, aplicam-se as seguintes medidas de proteção


dos artigos 101i e 105ii do ECA. Sem que ela esteja passível de qualquer contrapartida
que se defina como punição.

Todavia, ao adolescente, cuja idade vai dos 14 anos até aos 18 anos incompletos, a
medida a ser aplicada é definida como sócio-educativa e se traduz em advertência,
reparação de dano, prestação de serviço, liberdade assistida, interdição em
semiliberdade e internação em estabelecimento educacional.

Como se vê, a diferenciação de idade, ou o que se convencionou chamar de primeira


e segunda infâncias, impõe uma contrapartida de caráter pessoal ao 2º infante,
obrigando-o ao desempenho dessas tarefas, ou restrições de natureza individual.

1.3 A classificação da perícia nesta tese


Trata-se de uma perícia não médica, direta, no ramo jurídico criminal, com a
finalidade interpretativa e retrospectiva.

Segundo Junior Reis e Castro (2013) a perícia pode ser considerada uma diligência na
qual busca encontrar a veracidade através da análise dos vestígios deixados por uma
infração (Costa Filho, 2012). As perícias podem ser classificadas, quanto a (Del Campo,
2005):

a) Matéria – que se dividem em médica e não médica;

b) Modo de realização – diretas e indiretas. As diretas são realizadas pessoalmente


pelo perito sobre o objeto a ser analisado (Costa Filho, 2012). As indiretas, fazem uso
de um raciocínio dedutivo (Aranha, 2006), realizados sobre documentos ou outros
elementos que fazem referência ao objeto a ser examinado (Costa Filho, 2012);

c) Ramo jurídico relacionado - cível, criminal e trabalhista (Del Campo, 2005);

d) Finalidade – por retratação ou percipiendi, interpretativas ou deduciendi ou então


opinativas (Del Campo, 2005). A perícia de retratação é a mais comum e tem o objetivo
de narrar de forma detalhada tudo o que foi observado no local. A perícia
interpretativa é aquela em que o perito, após analisar os elementos encontrados lança
sua conclusão técnica acerca dos fatos por ele analisados. E a perícia opinativa é aquela
na qual os peritos fazem seus pareceres acerca de determinado assunto (Del Campo,
2005);

e) Modo de realização das perícias - retrospectivas e prospectivas. A retrospectiva, os


exames são realizados no presente mais relacionados com fatos ocorridos no passado,
e na segunda os exames também são realizados no presente, porém, os efeitos
ocorrerão no futuro.

4
Teles & Simonassi (2021)

Junior Reis e Castro (2013), destacam que as perícias são muito importantes na esfera
criminal, sendo de fundamental importância para que se possa reconstruir a maneira
como se deram os fatos. Busca-se a veracidade dos fatos, em que se objetiva a
elucidação do crime para que assim, o juiz, como destinatário das provas, possa julgar
de forma justa: “a perícia é um meio instrumental, técnico-opinativo e alicerçador da
sentença” (Aranha, 2006). Na persecução criminal, o Estado deve remontar o fato
criminoso a fim de aplicar o dispositivo legal ao caso concreto, na busca da verdade
real, visto que o processo penal vigora o princípio da verdade real, em que se funda a
ação ou a defesa (Oliveira e Barros, 2013).

Para se realizar a perícia é necessário que o delito praticado tenha deixado vestígios,
como determina o artigo 158, do Código de Processo Penal, sendo no caso da perícia
psicológica, os vestígios se encontram no campo psicológico da criança, mais
especificamente no comportamento verbal e não verbal. O artigo 158 do CPP, dispõe
que, o exame é indispensável, não sendo suprido nem mesmo pela confissão do
acusado, haja vista que o mesmo poderá confessar algo que não fez para beneficiar
outro que tenha praticado o ato criminoso. O artigo 159, do Código de Processo Penal,
divide as perícias em corpo de delito e outras perícias e consta que o dever da
elaboração do laudo pericial, recai sobre a descrição dos fatos analisados de forma
minuciosa, e de acordo com a Lei 11.690/2008, apenas um perito pode conduzir as
avaliações e assinar os laudos definitivos.

1.4 Prospecção

Projeto Contacto, que se originou do campo da pesquisa deste doutoramento a Tese


apresenta a procedimentação da perícia psicológica infanto-juvenil na Análise do
Comportamento Verbal Skinneriano, na investigação de crimes sexuais em desfavor
de crianças e adolescentes. A pesquisa se desenvolve desde o ano de 2008 e a partir de
2014, no contexto da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia,
por meio do Departamento de Psicologia desta especializada.

O Projeto Contacto, inova mundialmente ao superar a limitação verbal de crianças de


tenra idade.

E inicia marco histórico para a Análise do Comportamento ao apresentar o ‘Modelo


Funcional de Psicodiagnóstico’, em contexto forense.

Inova ao apresentar o ‘Modelo Funcional de Análise Criminológica ’nos crimes


sexuais em desfavor de crianças e adolescentes, ao desenvolver um Procedimento
Operacional Padrão, que fundamenta o fluxo metodológico-conceitual da perícia
psicológica infanto-juvenil no início da persecução penal, no Sistema de Segurança
Pública: desde a solicitação da autoridade policial até a apresentação do Laudo
Psicológico no Inquérito Policial.

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Teles & Simonassi (2021)

O Projeto Contacto estrutura metodologicamente e instrumentalmente, um


Departamento de Psicologia, em uma delegacia de polícia.

Apresenta à literatura da Análise do Comportamento, o 1º Laboratório de Análise


Aplicada do Comportamento Verbal, inserido em contexto de Delegacia de Polícia, e
cientificamente titulado por: Laboratório de Análise Aplicada do Comportamento
Verbal – LAACV – POL.

No LAACV-POL, se desenvolve a perícia psicológica infanto-juvenil nos crimes em


desfavor de crianças e adolescentes, fundamentada na Análise do Comportamento,
em que se inova junto a Avaliação Psicológica, com o diagnóstico verbal literatura
mundial da disciplina da criminologia, com o: Modelo Funcional de Análise
Criminológica – MFAC. E marco desbravador para a Análise do Comportamento, ao
apresentar, testar e replicar o Modelo Funcional de Psicodiagnóstico, em contexto
forense. Apresenta o Método Contacto, de capacitação e formação para profissionais
e sociedade em geral, por desenvolver didática adequada à contextos complexos com
temáticas de segregação e vulnerabilidade.

A procedimentação de um Departamento de Psicologia, nos moldes de um


Laboratório Aplicado, em que se desenvolve e aplica o Modelo Funcional de Análise
Criminológica, advém deste Doutoramento, que inova ao promover a replicação
procedimental e metodológica de um departamento de perícia psicológica em
contextos de Delegacias da Criança e do Adolescente, bem como a apresentação do
‘Modelo Funcional de Análise Criminológica ’na investigação dos crimes do Artigo
213, § 1º e 217-A do CPB, por meio de um Procedimento Operacional Padrão.

O trabalho desenvolvido se desenvolve por avaliação psicológica, de crianças e


adolescentes e entrevista e testagem em comunicantes e suspeitos, assim como a
realização da perícia psicológica na criança considerada vítima, é determinado na Lei
13. 431/17:

CAPÍTULO IV

DA SEGURANÇA PÚBLICA

Art. 22. “Os órgãos policiais envolvidos envidarão esforços investigativos


para que o depoimento especial não seja o único meio de prova para o
julgamento do réu”

E regulamentado pelo Decreto Lei 9.603/18:

Art. 13. “Autoridade policial procederá ao registro da ocorrência policial e


realizará a perícia”;

§ 6º” A perícia médica ou psicológica primará pela intervenção profissional


mínima”.

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Teles & Simonassi (2021)

E viabilizado na Lei 13431-17, fundamentada no seguinte Artigo:

CAPÍTULO IV

DA SEGURANÇA PÚBLICA

Art. 20. O poder público poderá criar delegacias especializadas no


atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência.

§ 1o Na elaboração de suas propostas orçamentárias, as unidades da


Federação alocarão recursos para manutenção de equipes multidisciplinares
destinadas a assessorar as delegacias especializadas.

Junto aos autos, o laudo psicológico, se apresenta por meio da metodologia técnico
científica do Projeto Contacto, e expõe a real condição da criança no inquérito policial,
no seio familiar e comunitário. Extrai com clareza os fatos e fundamenta o diagnóstico
infantil com a devida urgência necessária, bem como, os campos de vulnerabilidade,
a real condição do contexto familiar apresentado.

O trabalho desenvolvido pelo Projeto Contacto, não está restrito ao diagnóstico e


prognóstico, mas estende-se para o instrumento técnico devido, titulado:
‘Encaminhamentos’, que no Projeto Contacto, se procedimenta sob duas condições: a)
emergenciais e urgentes de forma eficaz, da criança e seu núcleo familiar, junto à rede
intersetorial do Sistema de Garantia de Direitos, e; b) diagnóstico e prognóstico, que
se apresenta, no Laudo Psicológico, após realização e resultados da perícia
psicológica. Possibilita assim, minimizar os impactos na maturação psico-emocional
diante do quadro clínico encontrado e salvaguardar direitos de todos os envolvidos.
Nem prevaricação, nem exorbitância.

O Projeto Contacto, salvaguarda o direito do 'Melhor Interesse da Criança' de crianças


vítimas de crimes sexuais da Primeira e Primeiríssima Infância, na Proteção Integral
de seus Direitos no acesso ao Sistema de Justiça, ao superar a: a) dificuldade de
comunicação do adulto com a criança para acesso a dados relevantes; b) dificuldade
de entendimento das crianças em relação as perguntas feitas e; c) comunicação verbal
limitada da criança. O Projeto Contacto supera a barreira da fragilidade da
comunicação entre os agentes protetores e as crianças, ao apresentar dados seguros
por meio da perícia psicológica infantil, no contexto de delegacia, que eleva a segura
nça investigativa dos inquéritos policiais em que comparecem crianças vítimas de
violência sexual, com a promoção da Integralidade de Direitos e a Responsabilização
adequada a todos os envolvidos.

O Projeto Contacto se apresenta para responder à pergunta: Como garantir proteção


integral a crianças e adolescentes, em especial às crianças da Primeira e Primeiríssima
Infância, vítimas de violência sexual?

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Teles & Simonassi (2021)

Objetiva elevar a segurança e resolutividade dos inquéritos policiais, em que


comparecem crianças de até 6 anos, vítimas de crimes sexuais. Esta faixa etária,
necessita deintervenção adequada, por ser próprio de sua condição apresentar:
repertório verbal escasso, limitações ao realizar associações de sequência temporal,
baixo ou nenhum nexo causal em relação aos fatos: de suas próprias vidas, pessoas e
acontecimentos. O Projeto Contacto, se apresenta como a única tecnologia científica
psicológica no cenário mundial em contexto de departamentos policiais,
instrumentalmente estruturado para superar as limitações da hipocomunicação
verbal desta faixa etária.

Comunicações de crimes sexuais concernentes a esta faixa etária é cronicamente


insuficiente de provas, com elevada falta de dados na apresentação da real condição
em que o crime ocorreu, e seus impactos. O Projeto Contacto considera limitado o
atendimento do Sistema de Justiça, frente a natureza hipocomunicacional destas víti
mas, que gera: baixa resolutividade, baixa ou nenhuma responsabilização,
acompanhamentos e terapêuticas inexistentes e inadequadas, diagnóstico psicológico
inexistente. O desamparo a estas vítimas se concretiza, pois, parte da terapêutica e
responsabilização adequada, depende da identificação de: como o crime ocorreu,
quem é o suspeito, duração e tipo de violência. Assim, aausência de atendimento e
diagnóstico adequado, gera a impossibilidade da Garantia de Direitos a estas crianças,
no Sistema de Justiça.

O Projeto Contacto ao desenvolver o ‘Método Funcional de Análise Criminológica –


MFAC’, realiza o diagnóstico verbal, por meio da análise do Comportamento Verbal
(Skinner, 1957), ao identificar o operante verbal (Skinner, 1957), na ‘fala ’dos
figurantes do Inquérito Policial. Refina instrumental da perícia psicológica infantil e
supera o maior problema junto às equipes policiais, e agentes promotores de direitos,
na resolução de crimes sexuais infantis, que é a limitação quanto a: a) atingir qualidade
de comunicação com a criança; b) identificar indícios seguros; c) superar com técnica
adequada a limitação da capacidade de comunicação das crianças ao recontar cenas
de crimes sexuais e; d) suplantar a dificuldade de policiais se comunicarem
eficazmente com crianças vítimas em investigações de crimes sexuais.

Foi desenvolvido um procedimento operacional padrão - POP, que apresenta: fluxo


de procedimentos, instrumentos, análise dos dados, elaboração do laudo pericial,
Encaminhamentos ao subsistema de garantia de direitos e apresentação e análise de
indicadores que respondem a quesitos referentes a materialidade e autoria criminal.
Explicamos que a perícia psicológica, como meio de prova, no início da persecução
penal, não substitui e não concorre com a prova testemunhal do Depoimento Especial,
e sim atuam complementarmente.

O Projeto Contacto, leva em consideração a Constituição Federativa do Brasil, as leis


brasileiras, tratados internacionais e a garantia da integralidade de direitos da pessoa

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Teles & Simonassi (2021)

humana. E pode contribuir para o aperfeiçoamento da justiça, com redução de erros


na etapa investigativa relacionados aos crimes sexuais em desfavor de crianças e
adolescentes, quanto a: responsabilização e ao diagnóstico de figuração da criança de:
vítima e não-vítima.

Além do diagnóstico eficaz, a maior contribuição do Projeto Contacto está na Garantia


da Escuta Qualificada junto às crianças que se encontram em violação de direitos, na
primeira porta de entrada da criança ao Sistema de Justiça, nas delegacias de direitos.
O Projeto Contacto com sua estrutura metodológica de intervenção e análise, atende
a Lei 13431-17, Artigo 14, § 1º, ítem I: ‘abrangência e integralidade, devendo comportar
avaliação e atenção de todas as necessidades da vítima decorrentes da ofensa sofrida’,
e comparece com a clareza dos fatos em relação a figuração da criança e ou do
adolescente nos autos, e junto ao contexto sócio-familiar.

A perícia psicológica realizada em contextos de crimes em desfavor de crianças e


adolescentes, deve resguardar a Condição Peculiar de Pessoa em Desenvolvimento,
ao dispensar cautela no sentido de certificar: SE, a criança se encontra de acordo com
a condição apresentada pelo comunicante e SE, a que a criança se encontra envolta em
outras condições de riscos: físicos, psicológicos e negligenciais. Deste modo, a
investigação necessita atuar com prudência, e legitimidade investigativa a respeito de
qualquer violação que se possa identificar.

O Projeto Contacto, ao sopesar contextos (Skinner, 1969) e interações (Skinner, 1969)


da criança e adolescente que figuram como vítima no inquérito policial, busca-se
confirmar: a) a condição apresentada por terceiros e; b) a condição que a
criança/adolescente se encontram, ao se aprofundar as investigações. Em que se pese,
sua Condição Peculiar de Pessoa em Desenvolvimento, ao se comprovar condição
diversa da apresentada pelo comunicante, e caso se identifique a auto-sugestão, esta
se configura alheia a vontade da vítima considerada vulnerável. O Projeto Contacto
objetiva diagnósticos eficazes, com a finalidade de evitar tratamentos e
encaminhamentos terapêuticos inadequados. Segundo Lidchi (2004) a informação que
resulta da avaliação da criança e da sua família é essencial no caso de ausência de
evidências, pois aponta tanto para uma intervenção protetora primária, como para a
melhor intervenção terapêutica a se seguir.

O Projeto Contacto ao realizar o diagnóstico verbal (Skinner, 1957) apresenta 4


condições a serem diagnosticadas: a) pessoas descrevem fatos que ocorreram; b)
pessoas descrevem parte dos fatos que ocorreram; c) pessoas descrevem arranjos,
semelhantes a fatos que ocorreram e; d) pessoas descrevem fatos que não ocorreram.

Diante destas condições, o Projeto Contacto aponta que o perito psicólogo deve
considerar 5 contextos (Skinner, 1957): a) Pessoas podem relatar situações que
existiram; b) Pessoas podem relatar situações que não existiram; c) Pessoas podem

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Teles & Simonassi (2021)

relatar situações que não existiram e acrescer-lhe detalhes que existiram; d) Pessoas
podem relatar situações que existiram e acrescer-lhe detalhes que não existiram; e)
Pessoas podem relatar situações que existiram e retirar detalhes que existiram;

Desta forma, o diagnóstico pericial, seja qual perícia for, tem a obrigação de
comparecer com a clareza dos fatos, em que se apresenta os resultados, em documento
com características específicas, titulado: ‘Laudo Pericial’, previsto no Artigo, 473, do
Código de Processo Civil. Assim, no inquérito, frente ao ‘falar’, ainda se tem fatos, e
no Projeto Contacto ao elevar o tratamento da ‘fala’, para o status de Comportamento
Verbal (Skinner, 1939), pode-se destacar os indícios. A partir do momento que o
Projeto Contacto realiza a análise funcional de comportamentos verbais e não mais de
meros relatos, possibilita com o tratamento técnico-científico de ‘falas’, assim,
caracterizar e apresentar o conjunto fático, por meio de indicadores conceituais que
extraem elementos das ‘falas’.

Analisar ‘falas’, sem indicadores e instrumentos se configura um método considerado


frágil e ineficaz. A ‘palavra da vítima ’em consonância com o conjunto probatório
apresentado, também se assenta em sua maioria, em ‘falas’. O contexto investigativo
destes crimes se agrava, pois, as vítimas, são crianças, em condição peculiar de
desenvolvimento e plena fase de desenvolvimento comunicacional. E frente a
condição de: ‘crianças que relatam fatos’, faz-se indispensável o discernimento e a
distinção entre: ‘falas ’que se remetem ao fato e ‘falas ’influenciadas por situações e
terceiros. A grande contribuição do Projeto Contacto, foi o desenvolvimento de
indicadores, que estabelecem critérios para caracterizar uma ‘fala ’como: a)
sugestionável, e; b) não sugestionável.

O Projeto Contacto ao realizar o diagnóstico infantil, corrobora aos dados dos autos,
e correlaciona o diagnóstico verbal (Skinner, 1957) do: comunicante, responsável legal
e suspeito. Para isso, desenvolveu o instrumental ‘Entrevista Contingenciada’, que
contempla contexto e temática, em relação a real condição da criança, no Inquérito
Policial e a real condição da criança no seio sócio-familiar. A Entrevista
Contingenciada, acompanha testagem, observações clínicas e análise de documentos,
com o objetivo de se extrair daquilo que se investiga, o diagnóstico mais próximo da
real condição da criança. O Projeto Contacto, objetiva a partir dos resultados
identificados no diagnóstico psicológico infantil, e no diagnóstico verbal dos
envolvidos, superar as limitações do baixo repertório verbal de crianças até 6 anos de
idade. O diagnóstico psíquico e verbal tem a finalidade de elevar a segurança do
inquérito policial quanto a garantia de direitos infantis e responsabilização adequada,
sem prevaricação e ou exorbitância. Com isso promove o fortalecimento de vínculos
familiares, em apoio à criança, que só podem ocorrer eficazmente, com: diagnóstico
criterioso, o Encaminhamento e tratamento adequado. As ações orientativas do
Encaminhamento, no Projeto Contacto, comparecem no documento: laudo
psicológico e são efetivadas de acordo com: o Plano Nacional de Promoção e Defesa

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Teles & Simonassi (2021)

do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivênica Familiar e Comunitária e; a Lei


13431-17, Artigo 14, §1º, ítem IV: ‘planejamento coordenado do atendimento e do
acompanhamento, respeitadas as especificidades da vítima ou testemunha e de suas
famílias’.

Crianças e adolescentes, pela especial condição que o desenvolvimento cronológico


impõem, exigem atenção constante ao princípio constitucional da Condição Peculiar
de Pessoas em Desenvolvimento, pois, se encontram em formação sob os aspectos:
físico, emocional e intelectual (Varalda, 2008). Por sua vez, requer proteção quanto a
inviolabilidade da sua integridade e são detentores de direitos especiais, uma vez que,
não reconhecem por completo seus direitos e se encontram impossibilitados de lutar
por sua implementação.

O Projeto Contacto destaca a etapa: Encaminhamento como mais relevante de todo o


atendimento clínico para a criança, visto que, por meio de ofícios, aciona o sistema de
co-responsabilidade do: Estado, sociedade e família, previsto, na Constituição Federal
do Brasil de 1988, no artigo 227 e Art. 4º do ECA. O Projeto Contacto ao realizar o
‘Encaminhamento ’da criança/adolescente e sua familia, para a terapêutica mais
adequada junto aos os intersetores dos sistemas de: Assistência social, Saúde,
Educação e ou Justiça, solicita-se, via ofício da autoridade policial, o monitoramento
e acompanhamento do Conselho Tutelar, como forma de garantir que a criança receba
a terapêutica sugerida. O ‘Encaminhamento ’realizado aos subsistemas de garantia de
direitos, fortalece prioritariamente, a proteção integral de crianças e adolescentes,
dada a sua condição temporária, de, por si só, não estarem aptos a fazer valer seus
próprios direitos (Varalda, 2008).

Assim, pesa particular cautela, quando em Inquéritos Policiais, comparecem crianças


e adolescentes, identificadas na condição: vítimas. A finalidade investigativa, dos
crimes que correspondem ao Art. 217-A, do CP, ao buscar por materialidade do fato e
prova da existência do crime, responde em última análise, se existe ou não existe o
personagem, vítima. Desta forma, ao identificar no final das investigações, se criança
ou adolescente, figura como: vítima ou não-vítima, exige estabilidade entre todos os
sistemas envolvidos, em prol da criança ou adolescente. O Projeto Contacto identifica
dados psíquicos e verbais dos envolvidos no inquérito e apura com segurança
investigativa os crimes sexuais em desfavor de crianças e adolescentes. Pois,
permanecer em dados precários, os direitos humanos das vítimas da criminalidade
não podem ser salvaguardados, ausenta-se de uma correta responsabilização, as
pessoas envolvidas não podem ser completamente reabilitadas, e a investigação
provavelmente será desconsiderada.

O protocolo da Entrevista Contingenciada do Projeto Contacto, identifica por meio de


indicadores dados relevantes, para fundamentar o diagnóstico da real condição da
criança. E os objetivos específicos se referem ao levantamento de dados apropriados

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Teles & Simonassi (2021)

aos requisitos dos operadores jurídicos, tais como: juízes, promotores e autoridades
policiais. Desta forma, o Projeto Contacto responde por meio de indicadores,
preferencialmente às perguntas: a) O crime ocorreu?; b) Como ele ocorreu?; c) A
pessoa identificada como suspeito, é a mesma pessoa citada nos autos?; d) Foi
identificado outro suspeito?; e) Foi identificado cúmplices?; f) Quais as pistas
criminais encontrada na atuação do suspeito?; g) Como se dá o modus operandi do
suspeito?; h) Quais os indícios psico-comportamentais encontrados na vítima?; i) Foi
identificado sugestionabilidade na comunicação de crime?; j) Foi identificado a
sugestionabilidade de terceiros e ou a influência de contextos no comportamento
verbal da vítima?.

O Projeto Contacto ao apresentar à investigação policial, o laudo psicológico da


criança considerada vítima, objetiva: a) eliminar diagnósticos errôneos; b) promover
o encaminhamento e tratamento adequado; c) responsabilização adequada; d) elevar
a segurança nos indiciamentos criminais; e) identificação de comunicações de crimes
sugestionadas; f) redução do tempo investigativo; g) elevar a resolutividade
investigativa.

No diagnóstico psicológico infantil do Projeto Contacto realiza-se a Análise Funcional


do Comportamento Verbal Skinneriano, por meio de mais de 100 indicadores
analíticos, em que, equipara-se e corrobora-se, diagnóstico psíquico infantil, ao
diagnóstico verbal intra e entre os personagens: responsável legal, comunicante e
suspeito. Os dados são corroborados entre: os autos e os dados destacados das sessões
periciais.

O Projeto Contacto analisa o comportamento verbal e não-verbal dos envolvidos, e


promove a correlação, entre o que a criança expressa e o fato investigado. Junto ao
comunicante é feito as entrevistas iniciais, com a finalidade de identificar dados do
crime e motivações em relação a comunicação do crime, e junto a responsável legal,
busca-se, em virtude da hipersuficiência informacional, dados relativos ao contexto
(Skinner, 1957) e condições da criança. O Projeto Contacto reconhece o responsável
legal, como uma presença indireta em relação ao Inquérito Policial, mas direta em
relação a responsabilidades e direcionamentos dos Encaminhamentos a serem
realizados. Tal metodologia evita a sobrecarga de perguntas e intervenções
desnecessárias junto à criança. Avaliação psicológica com entrevistas e técnicas
seguem com a criança e, por último, caso concorde em comparecer, com o suspeito.
Junto ao suspeito a análise verbal, visa destacar informações divergentes e
convergentes em relação ao fato investigado.

O levantamento de dados junto ao responsável legal, tem a finalidade de analisar a


segurança intra e extra-familiar concernente a garantia da integralidade bio-psico
sócio-afetiva da criança e ou adolescente, com vistas ao fortalecimento dos vínculos
familiares. De acordo com o Artigo 226 da Constituição Federal, Título VIII, Da Ordem

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Teles & Simonassi (2021)

Social, Capítulo VII, Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso, §


8º - ‘O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações’. No
Projeto Contacto, a avaliação psicológica forense é: “orientada para a produção de
investigações psicológicas e para a comunicação de seus resultados, assim como a
realização de avaliações e valorações psicológicas, para sua aplicação no contexto
legal” (Ibañez e Ávila, 1989).

O Projeto Contacto desenvolve a avaliação psicológica infantil como um processo


amplo, complexo e dinâmico, que envolve a integração de informações provenientes
de diversas fontes, dentre elas: testes, entrevistas, observações e análise de
documentos (CFP, 2007). E se estabelece como um processo técnico-científico que
promove o levantamento de informações, a coleta e análise de dados a respeito das
condições e características de uma pessoa em relação a um fato e ou pessoa. Heger
(1996) explica que, frente a grande variedade de formas de apresentação dos
comportamentos sexuais, muitas vezes inaparente fisicamente, a avaliação psicológica
torna-se a investigação mais eficaz.

Assim, caso se constate a figura: vítima, no Inquérito Policial, esta deverá receber
encaminhamento adequado e promoção ao seu bem-estar e integralidade, por meio
de frentes terapêutica multidisciplinares, em especial, que apoie o contexto familiar
com: assistência social e psicológica, e garantia de acesso primordial a saúde, lazer e
educação. De acordo com o parágrafo único do artigo 4º do ECA, a garantia de
prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância
pública. A garantia de direitos a crianças e adolescentes que figuram como vítima em
inquéritos policiais, só pode ser institucionalizado, frente ao diagnóstico preciso.
Desta forma, a depender do diagnóstico, na etapa: ‘Encaminhamento’, apresenta-se a
terapêutica mais adequada à criança e sua família, de forma que seja acompanhada e
assistida junto aos sistemas de monitoramento e proteção, de: baixa, média ou alta
complexidade.

Desta forma, a perícia psicológica, faz parte do conjunto probatório promovido pela
autoridade policial, e fundamenta com maior segurança o Relatório Policial e
apresenta com propriedade técnico-científica, a figuração da criança e ou adolescente
no Inquérito Policial.

Contextos policiais que investigam crianças que figuram como vítimas, exige do
psicólogo, dentre outros posicionamentos, nitidez no documento Laudo Psicológico,
no que tange a: diagnóstico e Encaminhamento. Desta forma, ao se identificar e
diagnosticar a condição da criança, como vítima, tem-se a finalidade de providências
eficazes, protetivas e promotoras de bem-estar da criança. Que coaduna-se com a Lei
13.431-17, Art. 14, que explica: ‘As políticas implementadas nos sistemas de justiça,

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Teles & Simonassi (2021)

segurança pública, assistência social, educação e saúde deverão adotar ações


articuladas, coordenadas e efetivas voltadas ao acolhimento e ao atendimento integral
às vítimas de violência’.

De acordo com a Constituição Federal Art. 227 e Estatuto da Criança e do Adolescente,


Art. 4º, que previu um sistema de co-responsabilidade do Estado, sociedade e família
no acatamento da doutrina da proteção integral da criança e do adolescente. Com o
intuito de atingir estes fins, a avaliação psicológica, desenvolvida pelo Projeto
Contacto, apresenta a análise do comportamento verbal e não verbal dos envolvidos:
comunicante, suposta vítima e suspeito, ligados diretamente ao contexto do Inquérito
Policial. Após avaliação, apresenta-se a figuração da criança no Inquérito Policial, se
vítima ou não-vítima, em relação ao fato que se investiga e a análise da constituição e
dinâmica familiar, que comparece com a obrigatoriedade de apresentar a qualidade
da condição de integralidade da criança na convivência familiar e comunitária. O
direito à convivência familiar e comunitária é tão importante quanto o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito e à liberdade. A nossa constituição diz que a “família é a base
da sociedade” (CF art. 226) e que compete a ela, ao Estado, à sociedade em geral e às
comunidades “assegurar à criança e ao adolescente o exercício de seus direitos
fundamentais” (CF art. 227).

Assim, o fluxo metológico-conceitual do Projeto Contacto, ao considerar a celeuma do


inquérito policial, visa promover direitos e integralidade às crianças em contextos
segregativos. O Projeto Contacto ao desenvolver entrevistas psicológicas sensíveis,
que superam a dificuldade de identificação dos vestígios físicos, impacta em elevada
eficácia investigativa. Deste modo, o Projeto Contacto, contribui por meio da Análise
Funcional do Comportamento Verbal Skinneriano, a ampliação da qualidade
diagnóstica e responsabilização adequada na resolutividade dos crimes de estupro de
vulnerável no Sistema de Justiça Brasileiro.

O Projeto Contacto inova por ser um procedimento científico, que considera a perícia
psicológica infantil como método de investigação especial, que eleva a segurança de
inquéritos policiais na investigação de crimes sexuais infantis quanto a
responsabilização eficaz e identificação segura quanto a condição de vítima e não
vítima junto aos autos. A metodologia do Projeto Contacto, com o diagnóstico
psicológico infantil e o diagnóstico verbal dos envolvidos no inquérito, eleva a segu
rança dos dados do inquérito policial, ao subsidiar eventual persecução penal. A
metodologia avaliativa inova ao desenvolver diagnóstico verbal, fundamentado na
Análise Funcional do Comportamento Verbal Skinneriano, com os 3 principais
personagens do inquérito policial: comunicante, suposta vítima e suspeito. Em que, a
ausência dos personagens: comunicante e suspeito, não interferem no sucesso
diagnóstico da avaliação psicológica realizada com a suposta vítima.

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Teles & Simonassi (2021)

O Projeto Contacto, possui fluxo metodológico fundamentado na Lei 13431-17 e


Decreto Lei 9603-18, e inova na etapa: Encaminhamento, que é realizada em dois
momentos. A primeira fase da etapa: Encaminhamento, ocorre frente a necessidade
do reconhecimento emergencial de campos de vulnerabilidade vivenciados pela
criança, identificados no primeiro momento de atendimento, junto ao responsável
legal. Por meio da entrevista: ‘Levantamento de Contexto’, identifica-se os campos de
vulnerabilidade que podem influenciar no potencial de qualidade e bem-estar infantil.
Nesta primeira entrevista busca-se os aspectos de fragilidade nos campos de
vulnerabilidade quanto ao: arranjo-familiar, estilo parental, etapa de
desenvolvimento, afetivo-materno, comunicacional, sócio familiar, financeiro
familiar, qualidade de coesão familiar, apoio familiar, espaço-vivencial, apoio sócio
assistencial, saúde, educação, nível negligencial, grau de dependência no vínculo com
o suspeito. Ao identificar os campos críticos de vulnerabilidade realiza-se os
Encaminhamentos de característica emergencial, com vistas a garantir intervenção
precoce, mínima e urgente (Decreto Lei 9603-18, art. 2º, ítem V). Realiza-se, via ofício,
Encaminhamento aos subsistemas correspondentes e respectivamente, ofício ao órgão
do Conselho Tutelar com a solicitação de apoio e monitoramento junto a família, com
a finalidade de que a criança se apoie nas relações sustentadoras dos vínculos sócio
assistenciais, que atenda as demandas já fragilizadas e potencializadas pela entrada
da criança na esfera criminal em seu desfavor.

A segunda fase do Encaminhamento ocorre por meio do Laudo Psicológico, que


poderá ter a determinação da justiça no cumprimento das terapêuticas mais
adequadas, de acordo com o diagnóstico identificado.

A perícia psicológica do Projeto Contacto é realizada no contexto policial, junto ao


andamento do inquérito e acompanhado de outras diligências. O que potencializa o
conjunto probatório, por identificar a materialidade de natureza psico
comportamental em crianças que figuram como vítimas no inquérito policial. A
perícia psicológica do Projeto Contacto afere cientificidade aos relatos in natura
destacados da avaliação psicológica e do inquérito policial, por dois motivos: pela
avaliação psicológica ser uma metodologia científica e por realizar a análise funcional
skinneriana do comportamento verbal.

Nos crimes de estupro de vulnerável, em que crianças são consideradas supostas


vítimas, existe uma dificuldade inerente para caracterizar com elementos físicos a
tipicidade dos fatos: ato libidinoso e conjunção carnal. Tal dificuldade se eleva,
quando no conjunto probatório encontram-se características como: prova da
materialidade inconclusiva ou insuficientes para sustentar condenação, conjunção
carnal negativa, hímem dubitativo, versões contraditórias da vítima, versões
divergentes entre depoimentos e negativa veemente do réu.

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Teles & Simonassi (2021)

Ao receber a solicitação para a realização da perícia psicológica, a psicóloga ainda


integra o limbo, o verdadeiro desconhecido. Visto que os dados que compõe o
inquérito policial ainda são rústicos, resultado de uma investigação do ponto de vista
psicológico-científico, leigos. Somente após ser solicitada, visto que não é informada,
dado que neste momento chegam ao conhecimento da psicóloga, relatos desprovidos
de cunho técnico-psicológico. Digo informada, pois mesmo o investigador dizendo
que houve violência sexual, a psicóloga recebe a solicitação para o esclarecimento
daquilo que ele considera um fato aparente. O que ocorre é a solicitação para definir
o fato. A ocorrência policial é o sentido amplo, e o fato é o resultado da ocorrência que
chega ao conhecimento da polícia judiciária, visto que, ao investigar a ocorrência se
depara com o fato, aquilo que ocorreu com a vítima.

São informações muitas vezes extraídas de depoimentos leigos, sob a ótica de uma
investigação até este momento, não-científica. Em que no máximo que houve foi o
Exame de Corpo de Delito ‘de conjunção carnal’, que não faz nenhuma incursão ao
campo psicológico, sendo um exame de cunho material, físico. Algumas vezes
complementado com respostas dadas pela intitulada vítima, e em alguns casos, por
quem a acompanha: comunicante, avó, tia, professora, vizinhos, conselho tutelar.

O Projeto Contacto eleva a qualidade investigativa nestes contextos criminosos, pois,


sem provas sólidas, os direitos humanos das vítimas da criminalidade não podem ser
salvaguardados, a pessoa suspeita não pode ser responsabilizada, não se pode
resguardar direitos do suspeito quando imputado a este falsas acusações, as pessoas
envolvidas não podem ser completamente reabilitadas e a investigação
provavelmente será desconsiderada.

Para alcançar o diagnóstico exato e realizar encaminhamentos eficazes dos principais


personagens do inquérito: suposta vítima e suspeito, o Projeto Contacto, identifica por
meio do seu instrumental as seguintes situações: a) Pessoas podem relatar situações
que existiram; b) Pessoas podem relatar situações que não existiram; c) Pessoas podem
relatar situações que não existiram e acrescer-lhe detalhes que existiram; d) Pessoas
podem relatar situações que existiram e acrescer-lhe detalhes que não existiram; e)
Pessoas podem relatar situações que existiram e retirar detalhes que existiram.

Desta forma, o diagnóstico das situações acima especificadas, só é possível pelo


desenvolvimento de indicadores que caracterizam dois extremos da realidade
investigativa: a ocorrência do crime investigado e a não-ocorrência de tal evento. Ao
identificar a ocorrência do crime investigado, tem-se materialidade e autoria, e por
sua vez: vítima e suspeito. Quando o diagnóstico expressa a não-ocorrência do fato
investigado não se identifica os personagens: vítima e suspeito. O Projeto Contacto ao
desenvolver seus indicadores contemplou a identificação das nuances motivacionais
da comunicação de crimes sexuais em desfavor de crianças e caracteriza por meio do

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Teles & Simonassi (2021)

diagnóstico verbal, um conjunto de fatores e influências internas e ou externas, que


determinaram a conduta do comunicante.

O Projeto Contacto ao analisar os relatos in natura, sob o crivo conceitual da análise


funcional skinneriana do comportamento verbal, eleva estes discursos ao status de
comportamento verbal, tornando-os passíveis de medição. A organização operacional
pericial se baseia no modelo PEACE, e instrumentos utilizados e estruturação do
laudo, de acordo com Resoluções do Conselho Federal de Psicologia.

A perícia psicológica do Projeto Contacto tem na sua logística procedimental o Modelo


PEACE (Shepherd, 1991) que é um acrônimo projetado, por uma equipe de
investigadores, no Reino Unido. O desenvolvimento do fluxo pericial do Projeto
Contacto, desde a solicitação até a entrega do laudo, desenvolveu-se a partir das 5
etapas do PEACE (Shepherd, 1991), sendo que em cada fase possui também subetapas:
Planning and Preparation (Planejamento e Preparação), Engage and Explain
(Engajamento e Explanação), Acoount (Relato), Closure (Fechamento) and Evaluation
(Avaliação). O Projeto Contacto estabelece o manejo de conversação, sobre boas
práticas em entrevista como o Protocolo NICHD (National Institute of Child Health
and Human Development; Lamb, Hershkovitz, Orbach, & Esplin, 2008) e conceitos de
Entrevista Ética (Shepherd, 1991), que enfatiza respeito e igualdade de tratamento
para todos os envolvidos, de base não-acusatória. Constitui-se da escuta Não-Punitiva
de Skinner (1957) que se fundamenta em uma atitude compassiva, que objetiva um
contexto pacífico para todos os envolvidos no campo pericial, em que fica claro para
os entrevistados, que responda as perguntas somente se puderem fazê-lo de livre
vontade.

Possui na base analítica dos dados, a análise do comportamento verbal, do Programa


de Análise Funcional do Comportamento Verbal, apresentado por Skinner (1957), em
Verbal Behavior, em que se realiza o diagnóstico verbal. No Laudo Psicológico do
Projeto Contacto, os dados analisados, são apresentados em tópicos descritivos. Estes
tópicos descritivos, são os indicadores caracterizados pelos dados do evento:
‘interação de conteúdo sexual com uma criança’. Os indicadores têm a função de
distinguir, sob quais condições o evento investigado ocorreu e quem são os
envolvidos. Assim, a descrição dos indicadores apresenta o desenho comportamental
e ambiental do fato. Em que, na análise do ambiente se identifica as motivações, e na
análise do comportamento, o diagnóstico de crianças: vítimas ou não-vítimas.

A exibição analítica e descritiva dos indicadores, no documento laudo psicológico,


considera que todos os relatos possuem qualidade verbal. E que, a qualidade verbal
quando submetida ao crivo dos indicadores desenvolvido pelo Projeto Contacto, pode
distinguir: relatos que correspondem ao fato investigado e relatos que se distanciam
dos fatos investigados. A avaliação psicológica do Projeto Contacto foi cientificamente
desenvolvida, com metodologia conceitual rigorosa para atingir a real condição da

17
Teles & Simonassi (2021)

criança e o diagnóstico verbal dos principais personagens: comunicante, suposta


vítima e suspeito.

O Projeto Contacto desenvolveu metodologicamente: a) fluxo da solicitação; b)


autorizações para realização de perícia; c) entrevistas altamente planificadas; d)
sequência das pessoas a serem ouvidas; e) extração dos caracterizadores dos
indicadores, a partir dos relatos verbais identificados nas entrevistas e nos autos; f)
análise funcional do comportamento verbal; g) e a apresentação do laudo psicológico
pericial, que atende as demandas da legislação penal, e da garantia de direitos do
Estatuto da Criança e do Adolescente. Com isso, constitui-se um ambiente pericial,
metodologicamente organizado, com instrumentos adequados para o levantamento e
análise dos dados, e fundamentação teórica com base na análise do comportamento
verbal skinneriana.

A perícia psicológica do Projeto Contacto, acredita que em cada personagem do


inquérito: comunicante, suposta vítima e suspeito, se encontra um conjunto
informacional que ao serem correlacionados intra e entre personagens, expressa
contextos coerentes em relação a ocorrência ou não-ocorrência da interação sexual
investigada. Existe um limite informacional em cada personagem, que se
complementam entre si, ao serem reunidos pelo inquérito policial.

O Projeto Contacto opta por iniciar a perícia psicológica com o responsável legal, por
este ser o mais apto a apresentar as condições ambientais habituais e não-habituais da
suposta vítima. O levantamento de dados junto ao comunicante do fato, ocorre por
meio de entrevistas, pois se caracteriza como o personagem que possui maior
hipersuficiência verbal-informacional do contexto e condições da suposta vítima em
relação ao fato investigado e por apresentar a coerência motivacional para a
comunicação do crime. O comunicante é o personagem mais apto a fornecer a rotina
ambiental que a criança experienciava, antes e depois do momento ‘Revelação’, ou
momento ‘Constatação ’que por sua vez, originou a comunicação do crime. As
entrevistas junto ao comunicante explora o ambiente em que a criança estava inserida
até a comunicação do crime. Ocorre, por meio da entrevista ‘Levantamento de
Contexto para a Comunicação de Crime ’e identifica os pontos frágeis em que a
criança se encontrava à época do fato, ao extrair dos relatos, características dos
‘Campos de Vulnerabilidade ’que favoreceram a atuação do suspeito. Nestas
entrevistas extrai-se dos relatos, as informações relevantes em relação: ao fato, a
criança e ao suspeito. Os indicadores analíticos distinguem a partir dos relatos, a
caracterização dos campos de fragilidade para a atuação do suspeito, e dos elementos
que promovem a segurança da criança. E desta forma, estas informações se amoldam
e configuram o cenário ambiental em que o crime ocorreu e a atuação de cada
personagem em relação ao crime investigado. Pois, se o suspeito esteve em interação
sexual com a criança, esta interação ocorreu em algum momento do campo habitual e

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Teles & Simonassi (2021)

não-habitual desta, que se encontrava em um ambiente com características de


segurança ou de periculosidade.

O Projeto Contacto ao analisar a ‘fala’, não avalia a emissão de meros relatos a respeito
de alguém ou de um fato. O que se realiza é a análise funcional skinneriana do do
relato in natura e o decompõe em comportamento verbal, em que se extrai operantes
verbais e distingue, por meio da correspondência intra e entre verbal, a coerência
comportamental frente ao que se relata. A análise de cunho científico elimina a
prevaricação e a exorbitância ou excesso.

Provas técnicas como exames de DNA e exames de conjunção carnal, encontram


importantes conclusões para estes crimes, porém, não descrevem a sequência do crime
e não contam a história inteira.

O Projeto Contacto ao explorar contextos e condições ambientais com os


comunicantes, preserva a criança de exaustivas entrevistas, ao considerar a natureza
informacional hipossuficiente da criança e seu entendimento limitante quanto ao
contexto totalitário do fato, tido como criminoso. Assim, ao se exaurir com o
comunicante e o responsável legal, as informações necessárias e relevantes, em
aproximadamente 4 sessões, realiza-se na sequência, no máximo três sessões com a
criança e caso o suspeito compareça, realiza-se com este, até 3 sessões.

Desde a implantação do Projeto Contacto, em 2014, a presença dos suspeitos no


contexto pericial, tem-se dado com frequência elevada. Suspeitos, tal como os outros
personagens, são convidados a participar da perícia psicológica. Ao aceitarem
participar assinam o termo ‘Autorização para Realização de Perícia Psicológica’, em
que se discrimina por escrito e verbalmente, que podem desistir a qualquer momento.
Caso não aceitem, assinam o termo ‘Desistência de Perícia Psicológica’. Suspeitos ao
avaliarem sua participação na perícia psicológica, expressam o momento pericial do
Projeto Contacto como um espaço importante em que podem expor seus sentimentos
e necessidades de maneira clara e objetiva, um espaço que consideram serem ouvidos
com respeito e como momento de auto-conhecimento. Os suspeitos que se submetem
a avaliação psicológica diagnóstica, possuem tal como a criança o diagnóstico de seu
campo psíquico-comportamental e sugestão terapêutica discriminado no termo:
Encaminhamento. Os encaminhamentos são apontados no documento laudo
psicológico, em que se aciona as esferas da saúde, educação e assistência social, com
o objetivo do tratamento mais adequado, a partir do diagnóstico formatado.

Somente ao final da perícia psicológica é que se poderá incluir se o personagem


encaminhado está na condição de: a) vítima; b) autor; c) vítima e autor, nos casos em
que o menor de idade são obrigados sob coação ou ameaça a desempenhar os papéis
de agente ativo e passivo; d) algoz de si próprio pela própria prática de auto

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Teles & Simonassi (2021)

mutilação; e) vítima de violência psicológica, por se encontrar sob manipulação de


pessoas e ou contextos;

O Projeto Contacto propõe a perícia psicológica diagnóstica na fase investigativa, em


que, ao realizar a avaliação psicológica se obtém com a análise funcional do
comportamento verbal (Skinner, 1939) a caracterização dos indicadores que
apresentam, materialidade e autoria nos crimes tipificados no artigo 213 - §1º e 217-A
do Código Penal Brasileiro. O diagnóstico verbal do Projeto Contacto, é considerado
científico e realizado por meio da técnica behaviorista de correspondências (Skinner,
1939) intra e entre verbais, que distingue pontos de convergências e divergências entre
o que se relata e o fato investigado. Assim, os indicadores desenvolvidos pelo Projeto
Contacto, ao serem qualificados, é possível apresentar o desenho comportamental de
condutas que caracterizam situações de: ato libidinoso, conjunção carnal e
sugestionabilidade na comunicação de crime. Os elementos que caracterizam os
indicadores são extraídos dos relatos dos entrevistados, que são decompostos pela
análise funcional do comportamento verbal. Cada elemento comportamental pode
caracterizar mais de um indicador e o foco das análises são relações e não respostas
isolada. Daí a importância de se trabalhar com o conceito skinneriano de
comportamento, em que se valoriza a análise das relações comportamento-ambiente,
sendo o objeto comportamental a ser periciado, a qualidade das relações. Esta
orientação conceitual foca a análise do perito na qualidade das interações
apresentadas pelos entrevistados, seja entre pessoas, seja entre pessoas e o ambiente,
em que o ambiente pode ser os próprios pensamentos do entrevistado. Desta forma,
na etapa analítica dos relatos verbais em que se identifica os elementos que
caracterizam os indicadores, a análise se concentra na qualidade dos relacionamentos
interpessoais dos personagens do inquérito. O que favorece identificar a qualidade
dos vínculos psico-afetivos entre os personagens.

Por meio da tese de doutoramento da autora, com estudos desenvolvidos desde 2008,
não se identificou na literatura brasileira e internacional, qualquer instrumento
científico que realiza o tratamento científico de ‘falas’, nos contextos de inquéritos
policiais, que investigam crimes sexuais em desfavor de crianças. O Projeto Contacto,
tem como propósito apresentar um procedimento metodologicamente organizado e
planejado com critérios de: a) logística; b) referencial teórico; c) instrumental; d)
técnicas; e) levantamento e análise de dados; f) desenvolvimento pericial e; g) a feitura
de laudos psicológicos cujas vítimas são crianças e ou adolescentes, dos crimes de
estupro de vulnerável. Desta forma, o Projeto Contacto atua com extrema eficácia ao
realizar o diagnóstico verbal das pessoas envolvidas no contexto criminal, em especial
nos crimes em que os vestígios psico-comportamentais, se encontram em relatos.

O observatório e atuação principal do desenvolvimento do Projeto Contacto, é o


Departamento de Psicologia da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de
Goiânia – DPCA, e como campo de prospecção científica, os inquéritos policiais alí

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Teles & Simonassi (2021)

instaurados. Destacamos que o estilo comunicacional e a análise funcional do


comportamento verbal (Skinner, 1957) utilizada no âmbito do Projeto Contacto pode
ser realizada também por: juízes, promotores e profissionais da área policial, basta a
estes um treinamento. Porém, a perícia psicológica corresponde somente ao
profissional psicólogo. Pois, a perícia psicológica é elaborada com a finalidade de se
obter uma visão fidedigna, diferenciada e rica da personalidade (Hammer, 1926), por
meio do comportamento (verbal, que pode ser gestual) dos envolvidos, expressos em
seus relatos verbais e testagem, com o objetivo de elucidação dos fatos que se
encontram privados aos indivíduos.

A solicitação de perícia psicológica é motivada frente a necessidade investigativa de


esclarecer fatos relacionados ao IP – Inquérito Policial, e ao que mais identificar, a
respeito de:

a) Características da dinâmica comportamental do comunicante, na comunicação do


crime;

b) Características da dinâmica comportamental do comunicante, em relação ao co


nhecimento do fato investigado;

c) Características da dinâmica comportamental do representante legal, em relação ao


conhecimento do fato investigado;

d) Característica da dinâmica comportamental do suspeito, em relação ao fato in


vestigado;

e) Características da qualidade das interações interpessoais e intrapessoal da crian-ça,


em relação ao fato investigado;

f) Característica da dinâmica interacional da criança em relação ao fato e pessoas


envolvidas diretamente e indiretamente;

g) Características do comportamento verbal dos envolvidos diretamente e indireta


mente com o fato investigado.

A perícia psicológica, é reconhecida como diligência investigativa, e no momento de


sua realização, investigações ainda estão em decurso. Destaca-se que nenhum
resultado diligencial pode se antecipar ao terceiro momento do inquérito policial, o
oferecimento do Relatório da autoridade policial. Salvo quando o resultado diligencial
comparecer aos autos. Somente a autoridade policial ao apresentar o Relatório,
sinaliza o término da investigação e ou aguarda outras possíveis diligências advindas
da persecução penal.

Na Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente, em Goiânia, na investigação de


crimes, em que crianças e adolescentes figuram como vítima, são consideras conforme

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Teles & Simonassi (2021)

o artigo 6º do ECA da Lei 8.069/90, que especifica ‘condição peculiar da criança e do


adolescente como pessoas em desenvolvimento’. Face a complexidade de tal condição,
recorre-se ao método de investigação especial, que figura neste caso, a perícia
psicológica, pautado na avaliação psicológica, com a finalidade de comparecer a
clareza dos fatos em relação a figuração da criança/adolescente nos autos.

Estima-se diagnóstico psicológico infantil em que se apresente a real condição da


criança, no Inquérito Policial. E a real condição da criança no seio familiar, frente aos
resultados do que se foi analisado, com a finalidade de fortalecimento de vínculos
familiares, em apoio a criança. Desta forma objetiva-se encaminhamentos adequados,
de acordo com o Plano Nacional de Promoção e Defesa do Direito de Crianças e
Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitáriaiii.

Crianças e adolescentes, pela especial condição desenvolvimental cronológica, exigem


atenção constante ao princípioiv constitucional da Condição Peculiar de Pessoas em
Desenvolvimento, pois, se encontram em formação sob os aspectos: físico, emocional
e intelectual (Varalda, 2008). Por sua vez, requer proteção quanto a inviolabilidade da
sua integridade e são detentores de direitos especiais, pois, não reconhecem por
completo seus direitos e se encontram impossibilitados de lutar por sua
implementação.

Assim, pesa particular cautela, quando em Inquéritos Policiais, comparecem crianças


e adolescentes, identificadas na condição: vítimas. A finalidade investigativa, dos
crimes que correspondem ao Art. 217-A, do CP, ao buscar por materialidade do fato e
prova da existência do crime, responde em última análise, se existe ou não existe o
personagem, vítima. O Estatuto da Criança e do Adolescente, Art. 4º, previu um
sistema de corresponsabilidade do Estado, sociedade e família no acatamento da
doutrina da proteção integral da criança e do adolescente (Varalda, 2008). Desta
forma, ao identificar no final das investigações, se criança/adolescente, figura como:
‘vítima ’ou ‘não-vítima’, promove direito a todos os sistemas envolvidos, em especial
a própria criança/adolescente.

O Artigo 3º da Convenção sobre os Direitos da Criança, § 1º, estabelece que: ‘Todas as


decisões relativas a crianças, adoptadas por instituições públicas ou privadas de
protecção social, por tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos,
terão primacialmente em conta o interesse superior da criança’. O sistema de
corresponsabilidade, considerado, na Constituição Federal de 1988, no artigo 227 e
Art. 4º do ECA, fortalece prioritariamente, a proteção integral de crianças e
adolescentes, dada a sua condição temporária, de, por si só, não estarem aptos a fazer
valer seus próprios direitos (Varalda, 2008). Bem como, no artigo 88v do ECA, com a
nova redação da Lei 13257-16 – que dispõe sobre as políticas públicas para a primeira
infância, que exige atuação profissional qualificada, em que se inclua conhecimentos

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Teles & Simonassi (2021)

sobre direitos da criança e sobre desenvolvimento infantil no favorecimento à


intersetorialidade no atendimento da criança e do adolescente.

O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, Lei nº. 8.069/1990, estipula o período


temporal do ser criança e adolescente, compreendido no Artigo 2º, em
que: ‘Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade’. E expressa a
condição peculiar da criança e do adolescente, no seu Artigo 6º, que dispõe: ‘Na
interpretação desta lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as
exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição
peculiar da criança e do adolescente como pessoa em desenvolvimento ’(Brasil, 1990).
Nos crimes de estupro de vulnerável, Art. 217-Avi do CPB, a vítima é menor de 14
(quatorze) anos. Portanto, podem ser vítimas tanto crianças quanto adolescentes, que
se enquadram legalmente na Condição Peculiar de Pessoa em Desenvolvimento.
Frente a esta condição, a investigação dispensa cautela no sentido de certificar: SE, a
criança se encontra de acordo com a condição apresentada pelo comunicante e SE, a
que a criança se encontra envolta em outras condições de risco: físico, psicológicos e
negligenciais.

De acordo com o Art. 5º, § 3º, CPP, Lei 3.689, nos crimes de ação pública, a notícia do
crime, pode ser oferecida por qualquer pessoa do povo e, por sua vez, chegar ao
conhecimento da autoridade policial de formas diversas. Assim, as investigações se
deparam com as peculiaridades, de: criança/adolescente vítima, ser sujeito
vulnerável, por se encontrar em plena fase de desenvolvimento bio-psico-sócio-
afetivo-cognitivo e; com a diversidade de diferentes meios e pessoas comunicarem
este tipo penal. Deste modo, a investigação necessita atuar com prudência, e
legitimidade investigativa, a respeito de qualquer outra violação que se possa
identificar.

Desta forma, ao sopesar contextos (Skinner, 2007) e interações (Skinner, 2007) do


personagem vítima que comparece no inquérito policial, busca-se confirmar:

a) a condição apresentada por terceiros e;

b) a condição que se encontra, ao se aprofundar as investigações.

Em que se pese, ao se comprovar condição diversa da apresentada pelo comunicante,


caso se identifique a autossugestão, esta se configura alheia a vontade da vítima
considerada vulnerável (217-A), face a sua Condição Peculiar de Pessoa em
Desenvolvimento. Sendo assim, especial análise é dispensada aos contextos e
interações da vítima, junto ao representante legal, com a finalidade de especificar sua
real condição, a fim de se evitar diagnósticos errôneos, que por sua vez, podem
desencadear tratamentos e acompanhamentos inadequados. Segundo Lidchi (2004) a

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Teles & Simonassi (2021)

informação que resulta da avaliação da criança e da sua família é essencial no caso de


ausência de evidências, pois aponta tanto para uma intervenção protetora primária –
focalizada sobre a proteção – como a intervenção terapêutica a se seguir.

A avaliação psicológica é um processo amplo que envolve a integração de informações


provenientes de diversas fontes, dentre elas: testes, entrevistas, observações e análise
de documentos (CFP, 2007). Trata-se de um processo técnico-científico que promove
o levantamento de informações, a coleta e análise de dados a respeito das condições e
características de uma pessoa em relação a um fato e ou pessoa.

A avaliação psicológica em contexto policial, necessita de uma exemplar entrevista


com os principais envolvidos diretamente ao inquérito policial (Lanning, 2010) tais
como: comunicante, suposta vítima e suspeito, acompanhado de testagem,
observações e análise de documentos, que extraia daquilo que se investiga, a real
condição da criança. Faz-se necessário, exemplar entrevista junto ao representante
legal da criança, e se necessário, testagem, observações e análise de documentos, com
a finalidade de analisar a segurança intra e extrafamiliar concernente a garantia da
integralidade bio-psico-sócio-afetiva da criança e ou adolescente e fortalecimento de
vínculos familiares. De acordo com o Artigo 226 da Constituição Federal, Título VIII,
Da Ordem Social, Capítulo VII, Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e
do Idoso, § 8º - ‘O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos
que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
relações’.

Então, a avaliação psicológica forense é: “orientada para a produção de investigações


psicológicas e para a comunicação de seus resultados, assim como a realização de
avaliações e valorações psicológicas, para sua aplicação no contexto legal” (Ibañez e
Ávila, 1989).

A avaliação psicológica ao ser solicitada pela autoridade policial, anseia em apresentar


da real condição da criança/adolescente e esclarecer se a criança figura como: vítima
ou não-vítima, no Inquérito Policial em questão.

A avaliação psicológica, no início da persecução penal, utiliza-se dos dados de:


entrevistas, testagem, observações , outras diligências, expedições, ofícios e
documentos apresentados aos autos, Termos de Declarações, Termos de Depoimentos
e Interrogatório. Destacamos que a análise de dados pode ocorrer de maneira indireta,
conforme previsão do CPP art. 172 - parágrafo único ‘ –Avaliação por meio indireto
pode ocorrer via elementos apresentados aos autos, seja, por meio dos termos de
declarações, depoimentos e interrogatório, seja, por meio de documentos e outras
diligências’.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Art. 4º e o Art. 227 da Constituição Federal


(CF) de 1988, previu um sistema de corresponsabilidade do Estado, sociedade e

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Teles & Simonassi (2021)

família no acatamento da doutrina da proteção integral da criança e do adolescente


(Varalda, 2008). Desta forma, faz-se necessário analisar os contextos da criança
relacionados a: intrafamili-ar, extrafamiliar, escolar, interação intrapessoal, interação
interpessoal, contextos adstritos ao fato, contextos e eventos habituais e não-habituais.
Com vistas, a estabelecer uma inter-venção de corresponsabilidade com características
protetivas. Assim, atende ao Artigo 3º da Convenção sobre os Direitos da Criança, §
1º, estabelece que: ‘Todas as decisões relativas a crianças, adoptadas por instituições
públicas ou privadas de protecção social, por tribunais, autoridades administrativas
ou órgãos legislativos, terão primacialmente em conta o inte-resse superior da
criança’. Desta forma, ao considerar a Condição Peculiar de Pessoa em
Desenvolvimento, da criança, faz-se necessário realizar entrevistas com objetivos
esclare-cedores junto ao representante legal. Considera-se o representante legal
hipersuficiente em dados informativos dos contextos: intrafamiliar, extrafamiliar,
sócio-comunitário da criança, habituais, não-habituais e da condição da criança pré e
pós-fato investigado. Ou seja, o re-presentante legal é considerado o mais apto a
apresentar o maior número de informação a respeito da real condição da criança no
contexto sócio-familar, interdependente (Skinner, 1969) a análise de tais contextos.

A criança/adolescente, tratando-se de ofendido incapaz civilmente, Art. 3º e 4º do


Código Civil, surge a necessidade da atuação de um terceiro, comunicante do fato.
Infor-mamos que junto ao comunicante do fato, entrevistas com características
clarificadoras e investigativas são realizadas com a finalidade de identificar e analisar,
condições e contex-tos (Skinner, 2007) em relação a comunicação do crime. O que pode
resultar em diagnósti-co do comportamento verbal (Skinner, 1957), em relação a
elementos do fato investigado. Caso se identifique necessário, testagem também pode
ser um recurso utilizado afim de identificar características conativas e cognitivas de
quem comunica o crime, com a finali-dade de corroborar aos dados identificados na
entrevista. Desta forma, serão utilizados e apresentados dados deste personagem no
laudo psicológico, levantados e analisados por meio de: entrevistas, testagem,
observações , outras diligências, expedições, ofícios e do-cumentos dos autos, Termos
de Declarações, Termos de Depoimentos e Interrogatório. Sempre na relação: criança
x fato investigado.

Junto ao representante legal da criança, entrevistas para a análise do desempenho e


dinâmica relacional no contexto vivenciado pela criança, são realizadas com a
finalidade de identificar e analisar: condições e contextos (Skinner, 2007) da criança
no ambiente intrafamiliar, extrafamiliar, sócio-comunitário habituais, não-habituais;
condições e contextos (Skinner, 2007) da criança em relação ao pré e pós-fato
investigado; condições e contextos (Skinner, 2007) da criança em relação ao suspeito;
condições e contextos (Skinner, 2007) em relação ao comunicante e genitora. O que
pode resultar em diagnóstico do comportamento verbal do representante legal
(Skinner, 1957), da condição e contexto da criança em relação a elementos e figurantes
do fato investigado. Caso se identifique necessário, testagem também pode ser um

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Teles & Simonassi (2021)

recurso utilizado afim de identificar características: conativas, cognitivas e afetivas a


respeito da dinâmica interacional do representante legal na relação direta com a
criança, com a finalidade de potencializar dados identificados da entrevista
anamnética e do conhecimento e providências do representante legal a respeito do
fato investigado. Desta forma, serão utilizados e apresentados dados deste
personagem no laudo psicológico, levantados e analisados por meio de: entrevistas,
testagem, observações , outras diligências, expedições, ofícios e documentos dos
autos, Termos de Declarações, Termos de Depoimentos e Interrogatório. Sempre na
relação: criança x fato investigado.

Realiza-se junto a genitora/cuidadora, entrevistas com características anamnética


com a finalidade de identificar "fenômenos essencialmente contextualizados", que
exigem o reconhecimento de quem, para que, quando e para quem são feitos (Beato
Filho, 1994). Bem como, de apreender e analisar, condições e contextos (Skinner, 2007)
em relação a comunicação do crime. Fraga (2016) explica que a anamnese, ou
entrevista inicial, se fundamenta na coleta de dados da história de vida do paciente
(Cunha, 2000). A anamnese pressupõe uma reconstrução global de aspectos da vida
do cliente, que visa conhecer como o problema atual se enquadra e ganha significação.
Assim, a anamnese deve ser realizada de acordo com os objetivos do que se investiga,
bem como da idade de quem se avalia. Segundo Carrasco e Potter (2005), as entrevistas
de anamnese podem ser realizadas com o próprio cliente ou com pessoas que
puderem trazer mais informações sobre sua história de vida. Carrasco e Potter (2005)
informa que, todas as entrevistas podem ser consideradas de anamnese, pois os dados
referentes à história de vida do cliente são coletados desde a entrevista inicial até a
entrevista de devolução, que neste caso ocorre por meio do laudo psicológico
apresentado aos autos. Além disso, destacam que as informações não devem
restringir-se apenas ao processo evolutivo do cliente, é preciso contextualizá-lo em
seu sistema familiar, bem como investigar para além deste sistema, por exemplo,
considerando o contexto social, cultural e econômico em que ele está inserido (in
Fraga, 2016). A anamnese é um instrumento crucial do diagnóstico psicológico, pois
através dela pode-se obter informações relativas à história de vida do paciente, assim
como dados sobre afetos, normas, preconceitos, expectativas, padrões familiares, pro
blemas psiquiátricos pregressos (Ramos, 2011). A análise destes elementos, pode
resultar em diagnóstico do comportamento verbal (Skinner, 1957), em relação a
elementos do fato investigado. Caso se identifique necessário, testagem junto a
genitora/cuidadora também pode ser um recurso utilizado. A entrevista anamnética
junto a genitora/cuidadora pode ser fonte de dados a respeito de identificar
características de quem comunicou o crime, com a finalidade de corroborar aos dados
identificados na entrevista junto ao personagem ‘comunicante’. Desta forma, serão
utilizados e apresentados dados da personagem genitora/cuidadora no laudo
psicológico, levantados e analisados por meio de: entrevistas, testagem, observações ,
outras diligências, expedições, ofícios e documentos dos autos, Termos de

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Teles & Simonassi (2021)

Declarações, Termos de Depoimentos e Interrogatório. Sempre na relação: criança x


fato investigado.

Explicamos que, quando no personagem comunicante, também se faz presente o


representante legal e a genitora/cuidadora da suposta vítima, os procedimentos
supracitados, junto ao comunicante, representante legal e genitora, são justapostos e
realizados.

Dados do personagem suspeito, também pode ser apresentado ao documento


titulado: Laudo Psicológico. Junto a este poderá ser realizado entrevistas
esclarecedoras com a finalidade de identificar e analisar: condições e contextos
(Skinner, 2007) em relação ao fato. O que pode resultar em diagnóstico do
comportamento verbal (Skinner, 1957), deste personagem, em relação a elementos do
fato investigado. Caso se identifique necessário, testagem também pode ser um
recurso utilizado afim de identificar características: conativas, cognitivas e afetivas em
relação aos elementos do fato investigado, com a finalidade de corroborar aos dados
identificados na entrevista e do conhecimento do suspeito a respeito dos outros
figurantes e do fato investigado. Quando o suspeito estabelece relações bioafetiva e
afetiva – de proximidade familiar com a criança, sua dinâmica interacional e condição
(Skinner, 2007) em relação a criança, também pode ser analisado. Desta forma, serão
utilizados e apresentados dados deste personagem no laudo psicológico, levantados
e analisados por meio de: entrevistas, testagem, observações , outras diligências,
expedições, ofícios e documentos apresentados aos autos, Termos de Declarações,
Termos de Depoimentos e Interrogatório. Sempre na relação: criança x fato
investigado.

Explicamos que, dados do Inquérito Policial, observações , análise do comportamento


verbal (Skinner, 1957) e de elementos e dados produzidos por meio de testagem, a
respeito dos personagens: representante legal, comunicante, e suspeito podem
comparecer ao laudo psicológico em questão, com a finalidade de esclarecimento da
real condição e figuração da criança em relação ao fato investigado.

Tem-se o objetivo de atender a solicitação da autoridade policial, embasado pela Lei


12830/13 e Lei 13431/17 e Decreto Lei 9603-18, e apresentar análise dos dados
relevantes, para maiores esclarecimentos dos fatos, com a finalidade de responder SE
a criança esteve exposta a Interação de Conteúdo Sexual.

A solicitação desta perícia, no início da persecução penal, ocorre com base na Lei
13.431/17, Capítulo IV, Da Segurança Pública, Art. 22 que dispõe que ‘ –os órgãos
policiais envolvidos, envidarão esforços investigativos para que o depoimento
especial não seja o único meio de prova para o julgamento do réu’.

Face a determinação do Decreto Lei 9603-18, Capítulo II, Disposições Gerais, Seção I,
Do Sistema de Garantia de Direitos - Art. 13 - A autoridade policial procederá ao

27
Teles & Simonassi (2021)

registro da ocorrência policial e realizará a perícia; § 6º A perícia médica ou psicológica


primará pela intervenção profissional mínima. Bem como, Lei 12.830/13, que dispõe
sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia, em específico no
Art. 2º, § 2º, que diz: “durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a
requisição de perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração
dos fatos”.

A Procedimentação da Perícia Psicológica do Projeto Contacto se estrutura nos


seguintes fundamentos:

A perícia psicológica na DPCA, é solicitada, para responder as demandas do início da


persecução penal e elaborada para descrever a natureza originária de contextos
considerados delituosos, que envolvem crianças e adolescentes, com o objetivo de
apresentar a real condição da criança aos autos. Em resposta a Lei 13431-17vii, deve
apresentar quanto a abrangência e integralidade, características de dados que
apresentem campos de vulnerabilidade da criança/adolescente.

Em justificativa ao Art. 6, §5º, da Resolução CFP 06/19, explicamos que o documento


laudo psicológico, ao ser apresentado aos autos pode apresentar descrição literalviii
das entrevistas. A prática ‘descritiva literal ’das entrevistas, pode comparecer, em
função do referencial teórico da Análise Funcional do Comportamento Verbal
(Skinner, 1957) utilizado pela autora. A Análise Funcional do Comportamento Verbal
(Skinner, 1957), utiliza-se de descrição literal da narrativa, com a finalidade de
apresentar a análise da narrativa apresentada.

O psicólogo ad hoc na DPCA faz parte da equipe policial, que investiga crimes dos
quais crianças são consideradas vítimas. O psicólogo por meio da avaliação
psicológica, corresponde as demandas investigativas da polícia judiciária, com a
finalidade de apresentar o psicodiagnóstico infanto-juvenil e fornecer elementos
críticos aos autos.

Destaca-se que o objetivo da perícia psicológica, de acordo com solicitação da polícia


judiciária, é descrever e apresentar a condição e atuação psico-comportamental dos
indivíduos que se encontram em uma situação de contexto investigativo criminal. Os
pleitos do inquérito policial têm em sua natureza a busca de autoria e materialidade
dos crimes, por meio de ações diligenciais, que em sua última necessidade se refere ao
esclarecimento da ocorrência ou não de um delito.

De chamar a atenção as inúmeras engrenagens que movimentam a máquina do


inquérito policial, cujo primeiro impulso ocorre com a notícia do fato criminoso ou
contravencional. Daí em diante, ganham movimentos a Portaria, ordens de serviços,
diligências, requisições, ofícios, oitivas, interrogatórios, perícias, apreensões de
pessoas ou coisas, buscas, conduções de pessoas, acareações, reconstituições e
finalmente Relatório subscrito pela autoridade que preside o inquérito.

28
Teles & Simonassi (2021)

Após toda esta coleta de dados ou vestígios, em sendo o caso, o Departamento de


Psicologia da especializada é acionado. Após promover minuciosa análise do
conteúdo investigativo posto à sua disposição, a Unidade Científica define a estratégia
para o desenvolvimento da perícia que lhe competirá fazer. A perícia psicológica na
polícia judiciária, assume características diagnósticas, com a finalidade de apresentar
a condição da criança/adolescente frente: aos dados apresentados aos autos e aos
dados diagnosticado no contexto pericial psicológico. Os dados dos autos e os dados
da perícia psicológica, se confluem e apresentam resultados integrativos, em que se
sobressai um terceiro resultado corroborativo, quanto a ocorrência ou não-ocorrência
da interação de conteúdo sexual entre um adulto e uma criança, e sob quais condições
esta ocorreu.

Ao receber a solicitação para a realização da perícia psicológica, os dados que compõe


o inquérito policial ainda são rústicos, resultado de uma investigação do ponto de
vista psicológico-científico, leigos. Somente após ser solicitada, visto que não é
informada, dado que neste momento chegam ao conhecimento da psicóloga, relatos
desprovidos de cunho técnico-psicológico. Digo informada, pois mesmo o
investigador dizendo que houve violência sexual, a pesquisadora recebe a solicitação
para o esclarecimento daquilo que ele considera um fato aparente. O que ocorre é a
solicitação para definir o fato. A ocorrência policial é o sentido amplo, e o fato é o
resultado da ocorrência que chega ao conhecimento da polícia judiciária, visto que, ao
investigar a ocorrência se depara com o fato, aquilo que ocorreu com a vítima.

São informações muitas vezes extraídas de depoimentos leigos, sob a ótica de uma
investigação até este momento, não-científica. Em que no máximo que houve foi o
Exame de Corpo de Delito, que não faz nenhuma incursão ao campo psicológico,
sendo um exame de cunho material. Algumas vezes complementado com respostas
dadas pela intitulada vítima, e em alguns casos, por quem a acompanha: mãe, avó, tia,
professora, vizinhos, conselho tutelar.

O psicólogo que atua no início da persecução penal, se distingue dos peritos que
atuam do âmbito forense da esfera cível e dos psicólogos clínicos. A distinção ocorre
quanto ao solicitante e finalidade avaliativa em relação a qual rogativa a avaliação
responderá. Se distingue em especial quanto ao enquadre do psicólogo clínico, pois
neste caso, não existe a solicitação de um terceiro institucional, o sujeito se apresenta
espontaneamente.

Diante da presença do terceiro institucional, que apresenta involuntariamente o


sujeito á situação pericial, a perícia psicológica está adstrita a três condições
inseparáveis, sendo estas:

1. Em relação ao seu objeto: trata-se de uma questão pertinente que


a avaliação trata de investigar, uma questão a responder, um

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Teles & Simonassi (2021)

problema a resolver (Maloney e Ward apud Grisso, 1986; Cunha,


J. A., 2000, in Conselho Regional de Psicologia, CRPSP, 2010).
Portanto toda a técnica implica, necessariamente, em uma posição
ética em relação ao sujeito-objeto, quem vai ser avaliado e ao
demandante dela (Conselho Regional de Psicologia, CRPSP,
2010);

2. Em relação ao objetivo: está vinculado a solicitação que é feita ao


psicólogo (CRP SP, 2010) em relação a questão-problema do
contexto judiciário. Esta questão-problema é a solicitação para
uma atuação: diagnóstica, investigativa e interventiva. O
psicólogo atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais, da
família, da criança e do adolescente e Justiça do Trabalho
(Resolução nº 13/2007), bem como no Ministério Público e áreas
da Segurança Pública, em Delegacias e Sistema Prisional. Então a
solicitação advém das esferas supracitadas, para responder e
auxiliar as particularidades de cada ação;

3. E quanto ao demandante, quem solicita: no caso da DPCA – De


legacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, o inquérito
policial é regido pelo Delegado de Polícia, que faz a solicitação de
perícia psicológica para compor o inquérito policial, e auxiliar na
busca de autoria e circunstâncias de realização de um fato
delituoso. Então, a perícia psicológica na DPCA de Goiânia, atua
na esfera dos crimes contra a dignidade sexual de crianças e
adolescentes, em integração operacional com o Ministério Público
Criminal e a Vara Criminal.

Destacamos que, o demandante ao solicitar uma perícia-psicológica, a realiza com o


objetivo de auxiliá-lo junto a questões técnicas (CRP SP, 2010). Observa-se que o
perito-psicólogo por atuar no campo da avaliação psicológica, em contextos que
envolve o sistema de segurança pública e forense, tem a função de examinar as pessoas
envolvidas no litígio e apresentar de maneira esclarecedora sobre o que foi
questionado (CRP SP, 2010).

Assim, o psicólogo que atua na DPCA, ao ser solicitado pelo delegado de polícia, na
fase investigativa de crimes, esclarecerá a solicitação a respeito do comportamento e
âmbito psicológico dos envolvidos, em relação a materialidade e autoria criminosa. E
em fase processual, seja nos juizados especiais, seja na esfera familiar, seja na criminal,
poderá ser nomeado por juízes, e atender, neste caso, conforme a demanda destes
solicitantes.

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Teles & Simonassi (2021)

Explicamos que a avaliação psicológica, de crianças que figuram como vítima, na fase
pré-processual, contempla realizar o diagnóstico psico-sócio-afetivo-comportamental
da criança e caracterização do seu bem-estar e segurança familiar, com vistas para o
melhor encaminhamento terapêutico. O encaminhamento mais adequado a criança e
sua família deve ocorrer, sob qualquer resultado, visto que, contextos diagnósticos
revelam campos de vulnerabilidades a serem reabilitados, e por sua vez, vínculos
protetivos são reestabelecidos ou fortalecidos. Caso o diagnóstico evidencie que a
criança tenha vivenciado contexto de violência sexual os dados avaliativos devem
apresentar como a criança se encontra em termos psico-sócio-afetivos, e o quanto foi
afetada pelo crime, com vistas a terapêuticas urgentes, mais adequada ao seu sistema
psicológico e familiar.

A perícia psicológica, no domínio da polícia judiciária, DPCA de Goiânia, é realizada


para acessar o campo titulado psicológico, por meio das análises contingenciais do
comportamento verbal e não-verbal (Skinner, 1957). Desta forma, se extrai indicadores
que expressam: aspectos, conteúdos e elementos comportamentais, dos presentes às
sessões periciais, consideradas avaliativas e diagnósticas. Os dados das sessões
periciais, confluem com os dados dos autos, que resultam em terceiros dados, que se
corroboram entre si, com vistas para apontar, a ocorrência ou não ocorrência do fato
investigado.

Destacamos que as sessões são compostas de técnicas e instrumentos, com a finalidade


do êxito diagnóstico. O que se busca são as condições e elementos comportamentais
relevantes, para responder a solicitação e obter a finalização do laudo psicológico. As
sessões são estruturadas e planejadas de acordo com: idade, complexidade da
demanda a ser investigada, figuração do personagem no inquérito e desempenho do
personagem no inquérito.

Explicamos que a Técnica de Observação é uma constante em todo o desenvolvimento


da perícia psicológica, desde a solicitação, até a entrega do documento Laudo
Psicológico. Roizenblatt (1985) explica que, a Observação como técnica auxiliar no
diagnóstico, permite ao psicólogo o delineamento de um perfil psicológico do
indivíduo, através de uma coleta sistematizada de dados, desde os níveis mais
objetivos do comportamento expresso, até níveis mais subjetivos, que envolvem os
aspectos implícitos de um comportamento aparente. Assim, se apropriar daquilo que
não está aparente, requer a descrição (Skinner, 1957) de categorias comportamentais,
o que objetiva a análise. Portanto, na medida que determinados comportamentos
surgem, estes podem ser agrupados e ordenados em termos da função psicológica a
que se referem (Roizenblatt, 1985). A técnica da Observação, permite recolher dados
no momento em que estão a acontecer, sem criar situações artificiais. A exemplo das
emoções, em que durante a entrevista, é possível que se monitorem as emoções e como
estas são manifestadas, por exemplo, no tom da voz, em flexões verbais ou expressões
faciais (Lidchi, 2004).

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Teles & Simonassi (2021)

No âmbito da Análise do Comportamento, a observação permite identificar padrões


de comportamentos verbais e não verbais (Skinner, 1957), em especial por meio da
análise funcional das variáveis independentes e a observação de seus efeitos sobre as
variáveis dependentes. Segundo Barahona (1989) a Técnica de Observação, testa
hipóteses que dirigem o ‘observar ’de maneira ordenada. Em toda observação de
caráter clínico, com vistas a um exame em relação aquilo que se investiga, não há
fenômenos inesperados, a iludir ou a eliminar, mas tão só fenômenos cujo valor deve
ser controlado e explicado, se necessário, recorrendo-se a novas observações (Ba
rahona, 1989). Técnicas de Observação Indireta, a exemplo, se utiliza de recolher a
história pessoal ou anamnética, junto aos pais, por meio do instrumento Entrevista,
em que se busca informações sobre a criança e sobre o problema que esta apresenta
(Barahona, 1989).

A técnica de Observação, é um procedimento exploratório, heurístico e sequencial,


exercido num contexto relacional, que visa dirimir dúvidas e incertezas relativas ao
que se aparenta. Para isso, recorre-se, portanto, a várias técnicas de observação ou
estratégias de atuação, que são os instrumentos, que permite dinamizar a interação
relacional no setting pericial, enriquecendo-o, de modo a que os objetivos de
compreender a situação sejam atingidos (Barahona, 1989). O objetivo é esclarecer
aquilo que se pretende saber a mais. As questões a que se procura dar resposta geram
hipóteses e respectivos ajustamentos de métodos, ou escolha de técnicas necessárias
para as confirmar ou infirmar, e a Observação é uma delas. A Observação é
sistemática, e implica em uma atitude interrogativa de estar alerta e aberto para todo
e qualquer fato que possa ser significativo. Segundo Roizenblatt (1985) os esquemas
de análise funcionam como facilitadores avaliativos de aspectos particulares do
comportamento, que permitem, uma vez obtidos, a recomposição do todo. Essa
recomposição não consiste numa mera síntese dos comportamentos observados, mas
sim no estabelecimento de uma inter-relação entre os vários esquemas analíticos.

A observação é guiada por princípios, responde a objetivos e opera uma escolha


dos/nos fenômenos quando da coleta de dados (Pedinielli e Fernandez, 2015). A
observação direta do comportamento amplia o conhecimento e a compreensão da
complexidade do desenvolvimento do que se observa, integra os dados observados e
as referências teóricas (Boursier, 2009).

Utiliza-se na base de levantamento e interpretação dos dados periciais, o


Behaviorismo Radical de Skinner (1976), por meio da Análise do Comportamento, em
que se realiza a investigação sistemática do comportamento.

Esta base pericial investigativa, considera o comportamento, que é a relação entre es


tímulos antecedentes e consequentes a uma resposta. E se desenvolve de maneira
processual, pois trata da relação organismo-ambiente, sem a prioridade de existência
de um dos elementos sobre o outro (Matos, 1995). Então trata-se de uma investigação

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Teles & Simonassi (2021)

sistemática do comportamento (Matos, 1995), por meio da Análise


Experimental/Funcional do Comportamento (Matos, 1995).

A investigação do fato, volta-se para a análise da descriçãoix da interdependência


funcional entre o comportamento e o ambiente, isto é, relações entre descrições de
ações dos organismos e descrições das condições em que essas ações se dão, sempre na
busca de relações funcionais que expressem sequências regulares e interdependente
entre eventos (Matos, 1995).

Esclarecemos que o Behaviorismo Radical é radical em dois sentidos: por negar


radicalmente a existência de algo que escapa ao mundo físico e por radicalmente aceitar,
todos os fenômenos comportamentais (Matos, 1995). E com base neste princípio o
Analista do comportamento, por estar sempre à procura de relações funcionais entre
eventos, se utiliza da ferramenta conceitual, contingência tríplice para estabelecer e
explicar essas relações.

A contingência é uma descrição de relações entre eventos, um conceito que expressa a


condição de, como determinados comportamentos surgiram e se mantém, sendo um
poderoso instrumento de análise (Todorov, 1985). Esta é a fórmula que a análise do
comportamento se utiliza para estudar e entender como certos comportamentos foram
formados e como eles se mantêm.

Para realizar este estudo, faz-se a Análise Funcional do Comportamento no ambiente,


em que: as consequências seletivas – que ocorrem após o comportamento e modifica
a probabilidade de ocorrerem comportamentos da mesma classe; e o contexto – que
estabelece a ocasião para o comportamento ser afetado por suas consequências. Sendo
que, o contexto ocorreria antes do comportamento e que por sua vez afetaria a
probabilidade deste (Matos, 1995). Estas duas classes conceituais possíveis de
interações – antecedentes e consequentes – são denominadas ‘contingências ’(Matos,
1995). Com isso, relações funcionais são estabelecidas na medida em que se registra
mudanças na probabilidade de ocorrência dos comportamentos que buscamos
entender em relação as mudanças, quer nas consequências, quer nos contextos, quer
em ambos (Matos, 1995).

2 Os Problemas encontrados

2.1 Os indícios
Dispõe o art. 239, do Código de Processo Penal: "Considera-se indícios a circunstância
conhecida e provada que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se
a existência de outra ou outras circunstâncias". Tem-se, portanto, que indício é cir
cunstância ou fato conhecidos, que autorizam algum tipo de conclusão sobre um outro
fato ou circunstância desconhecida, mas com as quais possuam algum tipo de relação

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Teles & Simonassi (2021)

(Freitas, 2010). A prova indiciária, ainda que indireta, tem a mesma força probante
que qualquer outro meio de prova direta, como a testemunhal ou a documental.

Freitas (2010) ressalta que a prova indiciária consiste em meio de prova, ou seja, versa
em "argumentos e argüições lógico-jurídicos aptos à demonstração lícita da existência
de elementos suscetíveis de sensibilização ou compreensão, concernentes a ato, fato,
coisa, pessoa" (Leal, 2010). Capez (1998), destaca que, indício é "toda circunstância
conhecida e provada, a partir da qual, mediante raciocínio lógico, pelo método
indutivo, obtém-se a conclusão sobre um outro fato. A indução parte do particular e
chega ao geral."

Entende Maria Tereza Rocha de Assis Moura que "indício é todo rastro, vestígio, sinal
e, em geral, todo fato conhecido, devidamente provado e suscetível de conduzir ao
conhecimento de fato desconhecido, a ele relacionado, por meio de operação de racio
cínio" (Moura, 2009).

Segundo Gomes (2002), as provas produzidas na fase policial, normalmente, não


valem em juízo. Exceções são as provas documentais e as periciais, provas cautelares,
e atende o Código de Processo Penal - Decreto Lei nº 3.689 de 03 de Outubro de 1941:

“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada
pela Lei nº 11.690, de 2008)”

Os indícios, para autorizarem a aplicação de uma pena, devem ultrapassar o limite da


dúvida razoável. Na dúvida, o juiz tomado do Princípio da Presunção da Inocência,
in dubio pro reo, tem que absolver. Para efeito de se indiciar um suspeito ou de iniciar
um processo, a prova indiciária menos contundente pode ser suficiente. De qualquer
modo, algumas observações são relevantes (Gomes, 2002):

“a) Toda investigação criminal afeta direitos humanos fundamentais


sumamente relevantes (honra, intimidade, privacidade, imagem, reputação e,
eventualmente, a própria liberdade). Logo, está vedada, inclusive no
inquérito, qualquer tipo de arbitrariedade. Nem sequer o indiciamento pode
ser abusivo;

b) Também a ação penal não pode ser iniciada sem a presença de um mínimo
de seriedade probatória (sobre a autoria, assim como sobre a existência do
crime). Isso se chama us boni iurisjusta causa (que é requisito genérico de toda
ação penal). Cabe ao juiz rejeitar a peça acusatória liminarmente quando

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Teles & Simonassi (2021)

oferecida sem base probatória suficiente. Até porque, ninguém pode estar
sujeito a uma acusação temerária.

c) Que o processo possa ter início com provas indiciárias mais ou menos
verossímeis não há dúvida, de qualquer forma, na prática, todo processo que
começa assim, normalmente, resulta em nada. Uma das maiores fontes de
impunidade no nosso país reside justamente nas investigações criminais mal
elaboradas, pouco profundas, apressadas e inconvincentes.”

Gomes (2002) alerta, que embora possa o processo ter início com provas puramente
indiciárias, quanto mais precárias tais provas, maior a chance de absolvição, o que se
espera da autoridade policial e de toda investigação, é a apuração da verdade, nem
mais, nem menos. Nem prevaricação, nem exorbitância ou excesso.

Holmberg (2004) destaca que a informação na investigação de um crime, deve


descrever:

a) o que e quando ocorreu um crime;

b) como o crime foi realizado e;

c) por que o crime foi perpetrado.

Sem essas informações, os direitos humanos das vítimas da criminalidade não podem
ser salvaguardados, a pessoa suspeita não pode ser processada, as pessoas envolvidas
não podem ser completamente reabilitadas, e a investigação provavelmente será
desconsiderada.

2.2 A vítima hipossuficiente


As vítimas são o destaque de todo este trabalho, a pesquisadora ao realizar a busca
genuína e cuidadosa dos fatos no desenvolvimento da perícia psicológica infantil
forense, o faz em conformidade ao artigo 227 da Constituição Brasileira de 1988, que
esclarece:

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.”

Muller (2011) esclarece que, a Doutrina da Proteção Integral contrapõe a Doutrina da


Situação Irregular então vigente instituída pelo Código de Menores de 1979, “... onde
a criança era vista como problema social, um risco à estabilidade, às vezes até uma
ameaça à ordem social... a infância era um mero objeto de intervenção do Estado

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Teles & Simonassi (2021)

regulador da propriedade...”. Muller, (2011) expõe que, a doutrina da situação


irregular não atingia a totalidade de crianças e adolescentes, mas somente destinava
se àqueles que representavam um obstáculo à ordem e que recebiam todos do Estado
a mesma resposta assistencialista, repressiva e institucionalizante (Custódio;
Veronese, 2009), as crianças vítimas não eram contempladas.

Desta forma, Muller (2011) elucida que, criança e adolescente são sujeitos de direitos
e não simplesmente objetos de intervenção no mundo adulto, portadores não só de uma
proteção jurídica comum que é reconhecida para todas as pessoas, mas detém ainda
uma “supraproteção ou proteção complementar de seus direitos.” (Brunõl, 2001,
p.92). A proteção é dirigida ao conjunto de todas as crianças e adolescentes, não
cabendo exceção. O artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente esclarece a
proteção complementar instaurada pela Doutrina de Proteção Integral, ao afirmar que
`a criança e ao adolescente são garantidos todos os direitos fundamentais inerentes a
pessoa humana, bem como são sujeitos a proteção integral (Muller, 2011).

“Art.3° A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.

Segundo Muller (2011) a lei ordinária nº 8.069/90, no parágrafo único do artigo 4º,
detalhou a garantia da prioridade absoluta como sendo: a) primazia de receber
proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos
serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução
das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Outra base de sustentação da nova doutrina, adota um regime especial de


salvaguarda, em que está posto, a compreensão de que crianças e adolescentes se
encontra em peculiar condição de pessoas humanas em desenvolvimento (Muller,
2011). E que, encontram-se em situação especial e de maior vulnerabilidade, pois
ainda não desenvolveram completamente sua personalidade, com vistas a lhes
permite construir suas potencialidades humanas em plenitude (Muller, 2011). Em
conformidade, destaca Cury (2008):

“Deve-se entender a proteção integral como o conjunto de direitos que são


próprios apenas dos cidadãos imaturos; estes direitos, diferentemente
daqueles fundamentais reconhecidos a todos os cidadãos, concretizam-se em
pretensões nem tanto em relação a um comportamento negativo (abster-se da
violação daqueles direitos) quanto a um comportamento positivo por parte
da autoridade pública e dos outros cidadãos, de regra dos adultos
encarregados de assegurar esta proteção especial. Em força da proteção

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Teles & Simonassi (2021)

integral, crianças e adolescentes têm o direito de que os adultos façam coisas


em favor deles (Cury, 2008, p. 36).”

Frente ao desafio dos crimes de estupro de vulnerável contra crianças, a ciência da


psicologia se encontra em melhor condição de acessar de maneira ético-científico a
ocorrência de um crime por meio do comportamento verbal de uma criança.

Os profissionais que desenvolvem perícia com infantes nestas condições, sabem que
necessitam de uma avaliação psicológica para finalizar seu trabalho. O que não ocorre
em um único momento, e nem exclusivamente com a criança, visto suas condições
hipossuficientes e limitantes quanto ao contexto totalitário do fato tido como
criminoso. Diante desta condição, temos no comunicante da notícia-crime, o mais apto
a trazer as motivações constatadas, que gerou a busca pela autoridade competente.
Acreditamos que não se investiga pessoas, se investiga fatos, ocorrências e indícios,
nestas pessoas. Técnicas que advém de pesquisas como o ‘Depoimento Especial ãos ,x’
relevantes, porém tal procedimento, possui um número reduzido, ou quase nada de
técnincas e instrumentos científicos com capacidade analítica deste momento com a
criança. Trata-se sim, de uma excelente ocasião, para que o magistrado possa se
utilizar de mais de um sistema de provas:

“O livre convencimento do juiz é princípio inseparável da própria atividade


judicante, que a de ser muito mais formada pela ética do que pela estética.
Deve ele ser extraído dos fatos e circunstâncias constantes dos autos, mesmo
quando não alegados pelas partes. Todavia, ao assim dispor, não está se
pretendendo afinar livre convencimento com simples e mero arbítrio; porque
a convicção resultante da pesquisa e do exame detalhado nos autos há de vir
suficientemente motivada. (Ac. Unânime da 7a Câm. Do 1o TACivSP na apel.
326.981, rel. Juiz Luiz Carlos Azevedo; JTACivSP, 89/93).”

O ‘Princípio do Livre Convencimento ’fornece maior flexibilidade aos julgadores, e


evita, situações manifestamente injustas pela adoção cega do sistema da prova legal,
sem, recair no excessivo arbítrio. Não há hierarquia entre as provas. Nenhuma prova
tem maior ou menor prestígio. O juiz formará sua convicção a partir delas.

O ‘Depoimento Especial ’tem expressiva relevância, também na observância ao


‘Princípio da Identidade Física do Juiz’, pois, o magistrado deve ser o mesmo, do início
ao fim da instrução oral. A reforma processual penal de 2008 instituiu, no § 2º do artigo
399 do Código de Processo Penal: “o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a
sentença”, cuja regra está ligada à garantia do juiz natural (artigo 5º, incisos LIII e
XXXVII, da Constituição Federal).

Outra condição que explora a Íntima Convicção, decorre das decisões proferidas pelo
Tribunal do Júri, em que a convicção dos jurados, representam exceção à
obrigatoriedade de fundamentação dos provimentos judiciais (art. 93, IX, da

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Teles & Simonassi (2021)

Constituição Federal) contemplada pela própria Carta Política, que assegura o sigilo
das votações aos integrantes do Conselho de Sentença (art. 5º, XXXVIII, b, da
Constituição Federal). Na opinião de Stamford (2000, p. 101): “a segurança não está
nas fontes, na estrutura normativa, nas condições de validade da norma jurídica, mas
antes, nos modelos, no conteúdo material das fontes, no procedimento, no plano de
eficácia”.

2.3 O acesso aos dados que irão compor a perícia


Frente a necessidade exigente, de acessar as informações relevantes, um script de uma
entrevista pode determinar se uma entrevista falhará ou terá sucesso. Pois, será a
partir deste script, e especialmente a administração da sequência das temáticas e
perguntas, que se terá os dados, que retratará a importância de todas as informações
coletadas (Holmberg, 2004).

Segundo Holmberg (2004) as provas técnicas como exames de DNA, encontram


importantes conclusões para os crimes, porém tais provas não descrevem a sequência
do crime, não contam a história inteira. E muitas vezes nos casos de estrupo de
vulnerável, faltam evidências técnicas. Nestas circunstâncias, o conteúdo das
entrevistas com vítimas de crimes, testemunhas e suspeitos torna-se muito
importante. Com o objetivo de descrever: o ato criminoso, as conseqüências do crime
e a intenção do perpetrador. A investigação criminal necessita de descrições precisas
da vítima do crime, possíveis testemunhas oculares e do suspeito da infração. Neste
caso, a pessoa mais apta da investigação a fornecer as informações mais eficazes e
genuína, é a vítima. Visto que, se ocorre a descrição do crime pelo suspeito, este
forneceu uma confissão. O tratamento da Confissão está previsto no Código de
Processo Penal, Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941: Da Confissão, Capítulo
IV, Art. 197 a 200:

“CAPÍTULO IV

DA CONFISSÃO

Art. 197. O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os


outros elementos de prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la
com as demais provas do processo, verificando se entre ela e estas, existe
compatibilidade ou concordância.

Art. 198. O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá


constituir elemento para a formação do convencimento do juiz.

Art. 199. A confissão, quando feita fora do interrogatório, será tomada por
termo nos autos, observado o disposto no art. 195.

38
Teles & Simonassi (2021)

Art. 200. A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do livre


convencimento do juiz, fundado no exame das provas em conjunto.”

Entrevistas e interrogatórios certamente têm aspectos semelhantes entre si. Ambos são
formas simples de obter informações, envolvem “conversas de propósito", e ambos
têm o mesmo propósito e resultado (Aubry e Caputo, 1972), a resolução de um crime.
No entanto, existem diferenças distintas entre os dois. Um interrogatório é
essencialmente uma entrevista, porém no caso do interrogatório, são utilizadas táticas
interrogativas, que são: confronto direto, desenvolvimento de temas, lidar com
resistência, questões alternativas e detalhes de desenvolvimento (Blair, 2009). O
objetivo básico é obter e proteger informações e fazem isso fazendo com que o
entrevistador faça perguntas e use uma conversa direcional (Aubry & Caputo, 1972).
De acordo com Hamilton (2005), os interrogatórios têm um objetivo de comunicação,
as partes envolvidas discutem um tópico de interesse do interrogador. Enquanto os
interrogatórios e as entrevistas usam a comunicação estratégica, é importante
entender como entrevistas e interrogatórios são semelhantes e como eles são
diferentes. Embora uma entrevista geralmente possa ser determinada com sucesso se
a informação necessária for adquirida, um interrogatório é considerado bem-sucedido
se o suspeito confessa o crime ou forneça mais detalhes sobre o crime em si (Heuback,
2010).

Uma entrevista é um diálogo não-acusatório usado para desenvolver informações


relevantes para um caso e um interrogatório é um monólogo acusatório, dominado
pelo interrogador, que é usado para obter a confissão de um indivíduo suspeito de
cometer um crime (Blair, 2005). Os entrevistadores não se apressam e operam de
forma eficiente, são baseados em uma entrevista extensa, planejada, em que se acabará
por obter as melhores informações de todos os envolvidos (Inbau, 1999).

Os entrevistadores confiam em táticas informativas que permitirão ao entrevistado


fornecer informações pertinentes em um diálogo dirigido (Heuback, 2010). O que se
tem atualmente no campo da investigação criminal, são entrevistados persuasivos no
sentido de se beneficiar, em relação àquilo que se comunica, frente ao entrevistado,
que se pauta em ética e se preocupa em fornecer um ambiente de bem-estar para os
entrevistados. Entrevistadores no âmbito criminal, devem receber respostas de
perguntas abertas sem qualquer tipo de julgamento, reação ou interrupção. Ao
permitir que os entrevistados relatem suas informações sem interrupção, os
entrevistadores cumprem o propósito básico de uma entrevista para obter
informações, em que, em situação de ordem legal, é fundamental que o entrevistador
permita que o entrevistado forneça a informação, mas não as guie e não revele
nenhuma informação desnecessária sobre o crime (Heuback, 2010). Pessoas tendem a
revelar informações inadvertidamente quando é fornecido um momento para o fórum
aberto para a ‘conversa’, e assim pode se reconhecer, a motivação por traz da
informação trazida (Heuback, 2010). Assim, a evidência encontrada por cientistas

39
Teles & Simonassi (2021)

forenses tem o poder de resolver uma grande maioria dos casos criminais, mesmo
antes que essa evidência seja apresentada no tribunal. Nas entrevistas o entrevistador
sempre estará em desvantagem por não ter acesso a motivação e ao conjunto de
informações de quem as detém. Para isso, é necessário a análise de condições e
informações de todos os envolvidos, em que, ao se constituírem formam um quadro
favorável ao entrevistador, por ter acesso ao conjunto de informações, que também
comparecem em documentos e não somente em um único envolvido. Portanto a falha
de um, pode ser exposta pelo outro e vice-versa, em que, o comportamento de um,
expõe o comportamento do outro ao se analisar a contingência, a relação de
interdependência deve estar presente, já que, comunicante-suposta vítima-suspeito
fazem parte do mesmo evento: interação de conteúdo sexual de um adulto com uma
criança.

Leme, V. B. R., Bolsoni-Silva, A. T., & Carrara, K. (2009) explicam que instrumentos
como entrevistas, que investigam, através dos relatos (Goldiamond, 1974/2002;
Kanfer & Saslow, 1976; Meyer, 1997; Sturmey, 1996), (Carrara, 2008) se configuram
como um recurso respaldado e podem ser utilizados em conjunto com outras formas
de coleta de dados. O uso de tal estratégia de pesquisa, de associar instrumentos que
coletam dados a partir do relato verbal e técnicas de observação, parece ampliar a
confiabilidade dos registros.

Segundo Leme, Bolsoni-Silva, e Carrara (2009), os instrumentos que se baseiam no


comportamento verbal, são importantes, pois: (a) amparam na descrição de
contingências que fazem parte da história do indivíduo, que auxiliam no
entendimento do comportamento presente e (b) permitem trabalhar com um conjunto
extenso de variáveis de uma única vez, que podem ajudar na delimitação de
comportamentos futuros que poderão, então, ser observados e manipulados com mais
amplo controle metodológico (Carrara, 2008). Os instrumentos como entrevistas e ou
protocolos, não podem ser confundidos como ecletismo instrumental, pois estes
instrumentos que transitam na Análise Aplicada do Comportamento, possuem sua
fundamentação teórico-epistemológico, e neste caso nos pressupostos do
Behaviorismo Radical (Carrara, 2008).

3 As Contribuições do Projeto Contacto

Skinner (1957) propõe a análise funcional do comportamento verbal, que pode ser
considerada uma Tecnologia de Pontaxi, na avaliação ‘daquilo que se fala’. Malerbi e
Matos (1992) informam que, Skinner adotou a análise funcional como ferramenta para
a compreensão da linguagem (abordagem operante) dentro de uma perspectiva
funcional, em que palavras não são objetos manipuláveis e sim comportamentos
emitidos em circunstâncias particulares. A abordagem funcional examina as condições
nas quais o comportamento verbal ocorre e as suas consequências. Assim, para as condições

40
Teles & Simonassi (2021)

nas quais ocorre, temos os estímulos verbais ou não verbais- e nas consequências que ele
produz – consequências verbais ou não verbais (Malerbi e Matos, 1992).

Vieira & de Souza Britto, alertam:

“Outro ponto importante da obra de Skinner é sua explicação sobre o fato de


as palavras e as frases não comunicarem idéias. A visão tradicional coloca que
as pessoas possuem uma idéia em sua mente e, para expressá-las, escolhem
palavras como se estas fossem ferramentas (Medeiros, 2004; Baum, 2006).
Skinner (1957) explica que o falante pode até pensar no que irá falar, mas este
pensar é apenas outra resposta operante e que não representa a ‘causa’ das
palavras ou frases. É importante atentarmos ao fato de que o comportamento
verbal é o efeito de múltiplas causas: diversas variáveis se combinam para
ampliar seu controle funcional e novas formas de comportamento surgem
dessas recombinações. Como já foi dito, o estudo skinneriano do
comportamento verbal é apresentado como um exercício de interpretação
referenciado em formulações sobre o comportamento. Para a ciência do
comportamento, interpretar significa especificar hipoteticamente variáveis
ambientais funcionalmente relacionadas com a emissão do comportamento
verbal (Passos, 2003). De acordo com Skinner (1969) “uma das tarefas da
análise experimental é descobrir todas as variáveis das quais a probabilidade
de resposta é função” (p. 231) E esta não é uma tarefa fácil. Esta prática
distingue a análise experimental do comportamento das demais abordagens
existentes. Skinner (1957) explica que “Em todo comportamento verbal sob
controle de estímulo há três acontecimentos importantes a serem
considerados: um estímulo, uma resposta e um reforço” (p. 107) Passos (2003)
argumenta que as variáveis independentes que controlam o comportamento
verbal podem ser encontradas pela análise funcional deste comportamento.
Estas variáveis devem ser passíveis de observação e manipulação, o que
possibilita a verificação da relação de controle do comportamento verbal e,
também, aquisição de repertório deste comportamento.”

Para um funcionalista, os fenômenos sempre ocorrem em variadas relações de


interdependência, uns em relação aos outros e assim a tarefa é descrever estas
interdependências (Matos, 1999). Nesse sentido Matos (1999) destaca que:

“O comportamento é dito controlado quando ele está (isto é, quando nós


assim somos capazes de descrevê-lo) funcionalmente relacionado a variáveis
ambientais (isto é, a eventos físicos e sociais, dentre os quais estão eventos
encobertos e outros comportamentos do próprio organismo). Causa é
sinônimo de função, que é sinônimo de controle, que é sinônimo de descrição
de relações funcionais”.

41
Teles & Simonassi (2021)

Destacamos que, a Análise do Comportamento é constituída por um conjunto de


princípios descritivo-explicativos derivados de experimentos de laboratório e de
campo que pretende descrever, principalmente, as condições sob as quais os
comportamentos são instalados, como se mantêm ou como se alteram (Carrara, 2008).

Matos (1999) destaca que o modelo de causalidade é um modelo de seleção pelas


consequências, comportamentos evoluem (se modificam) porque têm uma função de
utilidade na luta pela sobrevivência e reprodução do indivíduo. Assim, um
comportamento estranho jamais é dito ‘patológico’, pelo analista comportamental,
pois, se ele ocorre é porque de alguma maneira ele é funcional, tem um valor de
sobrevivência e reprodução. Matos (1999) destaca que um comportamento ‘estranho ’
não é considerado como manifestação de um algum processo, a exemplo, o psicótico,
é sim, um conjunto de respostas que permitem o acesso, pelo indivíduo, a
consequências importantes para ele, como consequências sensoriais, ou como a
evitação de eventos desagradáveis. Desta forma, Matos (1999) informa, que:

“A investigação das variáveis das quais o comportamento é função, distingue


a prática do analista do comportamento de outras práticas em psicologia,
práticas estas que preferem uma descrição estrutural do comportamento
(estudo da composição e organização de elementos de uma ação) versus o
estudo da função desse comportamento (utilidade biológica dessa ação). É
importante apontar que as análises funcionais e estruturais são
complementares, não é o caso de excluir uma ou outra, mas, em Psicologia a
análise funcional é fundamental. Comportamento não há um agente iniciador,
nem mesmo o ambiente é iniciador, de vez que o analista comportamental
estuda relações (insisto e repito) relações funcionais. O organismo, o
indivíduo não é um agente, mas tão somente, como diz Skinner (1989), o palco
das interações. Não há um agente iniciador, uma causa única, mas muitas e
diferentes variáveis atuando em conjunto. Na verdade, nem sequer podemos
falar em várias causas ou múltipla causação, tudo o que encontramos ao
investigar um fenômeno são relações entre eventos ou entre variáveis. Por
outro lado, estas relações são válidas apenas dentro de determinadas
condições, isto é, as leis científicas não são universais; encontrar o contexto
dentro do qual elas são válidas é outra tarefa do cientista.”

Segundo Matos (1999): “Uma análise funcional leva em conta aspectos do ambiente e
a função que o comportamento tem naquele ambiente”, e apresenta como fazê-lo:

“1) A identificação do comportamento de interesse envolve sua observação


bem como relatos de outras pessoas (pais, professores, outros pesquisadores
etc. a depender da situação onde trabalho).

2) A identificação e descrição do efeito comportamental supõem sua


especificação, por exemplo, a especificação da frequência com que ocorre.

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Teles & Simonassi (2021)

3) A busca de uma relação ordenada entre variáveis ambientais e variáveis


comportamentais relacionadas (relevantes, instrumentais) com esse efeito
supõe: (a) a descrição da situação antecedente e da situação subsequente ao
comportamento de interesse; (b) a identificação da situação subsequente deve
distinguir quais eventos nessa situação são consequências; (c) a identificação
da situação antecedente deve distinguir quais eventos nessa situação são de
fato condições. Estas identificações, b e c, podem exigir, e frequentemente
exigem, repetidas observações.

4) A natureza das relações de consequenciação deve ser descrita dentro de um


quadro mais amplo (deve ser colocada dentro de um referencial conceitual)
pelas vantagens óbvias que isso representa em termos de ‘empréstimos’
possibilitados: trata-se de reforço positivo ou negativo? de punição? de fuga?
de esquiva? A classificação dessas relações em quadros mais amplos permitirá
a previsão de ocorrência semelhantes, permitirá o uso de procedimentos de
análise já testados, permitirá a comparação com análises anteriores. Do
mesmo modo é necessário identificar se as condições antecedentes envolvem
apenas eventos físicos ou também comportamentos, e nesse caso se apenas da
própria pessoa ou de outras pessoas.

5) E finalmente a análise funcional supõe um teste das previsões. Isso pode


representar uma intervenção clínica, educacional, institucional ou uma
investigação em laboratório.”

O relato verbal também permite a obtenção de dados sobre a história de


aprendizagem do indivíduo e de múltiplos comportamentos, que permite levantar
hipóteses que consideram, mais amplamente, os níveis de seleção propostos por
Skinner (1981). Leme, V. B. R., Bolsoni-Silva, A. T., & Carrara, K. (2009), informam que
Carrara (2008) atribui três especificidades de atuação à Análise do Comportamento, a
saber: (a) Análise Experimental do Comportamento que prioriza na dimensão da
pesquisa, o delineamento de sujeito único e condições que maximizam o controle de
variáveis; (b) Análise Conceitual do Comportamento que contempla investigações
teóricas, filosóficas e epistemológico-metodológicas; (c) Análise Aplicada do
Comportamento que seria o campo de intervenção planejada dos analistas do
comportamento.

Conforme explica Moreira, Todorov e Nalini (2006), que em 1938, Skinner distinguiu
comportamento operante de comportamento respondente. Operantes, ao serem
emitidos, são aqueles comportamentos diferenciados e mantidos pelas consequências
ambientais que produzem, e respondentes, ao contrário, são aqueles comportamentos
produzidos por estimulação precedente específica, numa relação de determinação
direta e invariante, em que, ao ocorrer uma estimulação, o comportamento ocorrerá
necessariamente. Estes autores (Moreira, Todorov e Nalini, 2006) destacam que, na
reconceituação de Skinner, em 1953, o operante é entendido como um conjunto de
respostas ou classe de respostas funcionalmente semelhantes. Sendo que, o critério

43
Teles & Simonassi (2021)

para aferir a semelhança funcional do conjunto de respostas ou da classe operante é o


tipo de conseqüência ambiental produzido por cada resposta quando emitida, assim,
a topografia da resposta, deixa de ser relevante. Todorov (2002), acrescenta que, no
operante o que interessa é a relação, o comportamento resultante é um detalhe, O
importante é conhecer as contingências que produzem esse comportamento.

A partir do modelo de seleção por consequências de Skinner (1953/1989), a análise


funcional se associa a uma noção selecionista, disso decorre que se prioriza o
reconhecimento de múltiplas determinações das consequências do comportamento
nos diferentes níveis: filogenético, ontogenético e cultural, em que, o efeito de tais
consequências resulta na probabilidade de emissões futuras de comportamentos
pertencentes à mesma classe (Micheletto, 2000; Neno, 2003). Conforme Skinner (1971)
explica:

“Em suma, então, o comportamento humano é o produto conjunto de a)


contingências de sobrevivência responsáveis pela seleção natural das
espécies, e b) contingências de reforçamento responsáveis pelos repertórios
adquiridos por seus membros, incluindo c) contingências especiais mantidas
por um ambiente cultural evoluído. (Em última análise, obviamente, tudo isso
é uma questão de seleção natural, uma vez que o condicionamento operante
é um processo evoluído, do qual as práticas culturais são aplicações
especiais).”

Segundo Leme, Bolsoni-Silva e Carrara (2009), para Skinner (1978/1957), o


comportamento verbal é da mesma natureza físico-funcional que qualquer outro
comportamento aberto ou encoberto, sendo complexo e multideterminado (Skinner,
1981). Assim, as contingencias que são de fato responsáveis pelo que fazemos e
sentimos, encontram-se no passado (Souza e Castilho, 2015) já ocorreu, e o passado
não pode ser mudado, por isso é forte, toda a experiência está localizada no passado,
(Krishnamurti, 2013).

Conforme Skinner (1995) o analista do comportamento trabalha com as contingências


de reforçamento em que as coisas são vistas, e por meio das contingências verbais sob
as quais podem ser descritas. O comportamento verbal requer outro comportamento,
e a análise de Skinner, baseia-se neste fato. Ele distingue duas grandes classes de
fenômenos comportamentais: o comportamento tendo efeitos determinados pelas
consequências de seu contato direto com o mundo imediato e comportamento com
efeitos com esse mundo, mediado pelo comportamento dos outros (Michael, 1992; in
Framework I; Verbal Behavior, 1957/1992). O comportamento, tanto não verbal
quanto verbal, é moldado e mantido por mundos físicos e biológicos, mas além desses
domínios dos fenômenos, um mundo social forma e mantém o comportamento (Mi
chael, 1992; in Framework I; Verbal Behavior, 1957/1992).

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Teles & Simonassi (2021)

Uma definição de comportamento verbal como comportamento reforçado através da


mediação de outras pessoas precisa de certos refinamentos. Além disso, não diz muito
sobre o comportamento do ouvinte, embora, houvesse pouco comportamento verbal,
para considerar se alguém ainda não tivesse adquirido resposta especial aos padrões
de energia gerados pelo falante (Skinner, 1957/1978; p. 16, 17). Essa omissão pode ser
justificada, pelo comportamento do ouvinte ao mediar as consequências do
comportamento do falante, que não é necessariamente verbal em qualquer sentido
especial. Na verdade, não pode ser distinto do comportamento em geral, e uma
descrição adequada do comportamento verbal precisa abranger apenas o
comportamento do ouvinte, necessários para explicar o comportamento do falante
(Skinner, 1957/1978; p. 16, 17). Os comportamentos do falante e do ouvinte tomados
juntos, compõem o que pode ser chamado de episódio verbal total. Não há nada em
tal episódio que seja mais do que o comportamento combinado de dois ou mais
indivíduos. Nada "emerge" na unidade social. O falante pode ser estudado enquanto
assumindo um ouvinte e o ouvinte, assumindo um falante. As narrativas separadas
que resultam, esgotam o episódio em que ambos participam (Skinner, 1957/1978; p.
16, 17).

3.1 A estruturação da perícia psicológica no Projeto Contacto


Busca-se inovar, por meio da estruturação, logística e análise dos dados pericial, que
ocorre desde o recebimento da solicitação advindo da autoridade policial para
realização de perícia, até a entrega do laudo psicológico. Para isso, foi desenvolvido
um procedimento operacional, em que se prima: fluxo da solicitação, autorizações,
Entrevistas Contingenciadas Estruturadas, sequência das pessoas a serem ouvidas,
levantamento de indicadores por meio dos relatos verbais nas entrevistas, análise
funcional do comportamento verbal, e a apresentação do laudo psicológico pericial,
que atende as demandas da legislação penal e da garantia de direitos do Estatuto da
Criança e do Adolescente. Com isso, objetiva criar um ambiente pericial,
metodologicamente organizado, com instrumentos para levantamento e análise dos
dados, e fundamentação teórica com base na análise do comportamento verbal. A
organização operacional pericial se baseia no modelo PEACE, e estruturação do laudo
de acordo com a Resolução do CFP nº 07/2003.

O Modelo PEACE (1992) é um método de organização para a realização da entrevista,


que reflete uma técnica avançada da pesquisa psicológica moderna (Starr, 2013), em
que se considera a entrevista como uma gestão da conversação. No caso deste trabalho
o Modelo PEACE, não só irá organizar a atividade da Entrevista Contingenciada,
como será utilizado como um Modelo Organizacional de todo o processo pericial. O
método foi colocado em atividade em 1990 (Baldwin, 1992) e amplamente utilizado
no Reino Unido, Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália. O Modelo PEACE tem a sua
origem na técnica Conversation Management, desenvolvida por Eric Shepherd em 1983,
que adota na sua estrutura, ferramentas que lidam com o manejo psicológico do

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Teles & Simonassi (2021)

entrevistado, como o rapport e a preparação do entrevistado. PEACE é um acrônimo


que foi desenhado, por uma equipe de investigadores, no Reino Unido, para auxiliar
entrevistadores. Tem na sua base o conceito de Entrevista Ética (Shepherd, 1991),
cunhado por Shepherd, que enfatiza respeito e igualdade de tratamento para todos os
envolvidos e de base não-acusatória. Embora tenha sido criado para entrevistas
relacionadas à investigação de crimes, acredita-se que sua estrutura básica possa ser
aplicada a qualquer tipo de entrevista que busca obter informações precisas e
detalhadas sobre algum fato, pois a gestão PEACE foi desenvolvida a partir de
técnicas como: manejo de conversação, pesquisa sobre boas práticas em entrevista e a
técnica de entrevista cognitiva (Milne e Bull, 1999).

3.2 A relevância da entrevista com a comunicante

A entrevista em contexto policial é, portanto, uma ferramenta importante por reunir


descrições daqueles que têm qualquer conhecimento do ato criminoso. Uma boa
entrevista de propriedade policial é conduzida de acordo com o sistema legal, que
governa o objetivo da entrevista. Desta forma, as penalidades legais podem
influenciar por diversos fatores em quem relata um crime, que por sua vez, pode se
ver beneficiado, de acordo com o que se fala (Yuille, Marxsen & Cooper, 1999).

Destacamos que não existe na literatura a condução de entrevistas com os


comunicantes dos crimes, o que neste trabalho, proporcionalmente seguirá os mesmos
princípios éticos e de rapport. Desta forma, nos crimes cometidos contra infantes,
quem comunica, também deve fazer parte do roll de investigados. Por dois princípios
especiais:

1) pelo comunicante participar algo que diz respeito a um terceiro muito particular,
infante; e

2) por existir a probabilidade da criança, não ser identificada como vítima na investi
gação criminal, pela simples razão do fato não ter ocorrido.

Tão importante quanto a recolha de provas físicas de uma cena de crime, as entrevistas
com vítimas e testemunhas podem ser cruciais para a resolução bem-sucedida de um
crime, com o objetivo do êxito no julgamento do infrator. Vítimas/testemunhas são
geralmente percebidas para fornecer as pistas centrais nas investigações criminais
deste tipo de crime. Os entrevistadores freqüentemente têm poucas ou nenhuma
informação nos crimes de estupro de vulnerável, no início de sua investigação.

Portanto, a principal fonte de informações e evidências para um entrevistador,


geralmente são vítimas e testemunhas, no caso do estupro de vulnerável, a
comunicante é a mais relevante, seguido da vítima. A comunicante assume o papel
central no fornecimento de informações, visto que, esta é a que comunica o crime, se
recobre de ser hipersuficiente de informações e que nesta também se encontra as

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Teles & Simonassi (2021)

motivações para tal. Como resultado, a informação obtida a partir da entrevista de


vítimas e testemunhas/comunicante muitas vezes constitui a pedra angular para este
tipo de investigação.

As vítimas, testemunhas/comunicante também têm o dever de fornecer informações


sobre o que sabem sobre um crime. O objetivo da entrevista em situações delituosas,
não deve se pautar em um processo culpado-presumido.

Desta forma, é realizado inicialmente com a comunicante, o momento cadastral: com


o levantamento dos dados cadastrais da criança e com a assinatura de: Autorização
para Realização de Perícia Psicológica Judicial, Normativas Fundamentais para a
Realização da Perícia Psicológica e Autorização para Uso de Dados de
Criança/Adolescente e Adulto. Posteriormente inicia-se as etapas das Entrevistas
Contingenciadas com: ‘História de Vida’, ‘Levantamento de Contexto Crítico’,
‘Entrevista Estruturada para Levantamento de Contexto’.

3.3 Os indicadores extraídos dos relatos


Os indicadores possuem uma conceituação. Esta conceituação por sua vez, possuem
características que identificam situações ou comportamentos relacionados á
configuração de uma interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança.
Esta caracterização se refere, a situação, ao comportamento e ao consequente, correlata
a esta interação. O que se busca, são dados, das características do fato, de quem se fala,
do que se fala e o que se fala de acordo com o desempenho/ação dos envolvidos
destacadas no Inquérito Policial que tipifica o crime – Estupro de Vulnerável.

Trata de uma análise a respeito do que as pessoas envolvidas fazem sob as


circunstâncias da ocorrência da ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma
criança’. Nenhum dado/característica é analisado isoladamente, como um único
indicador. Realiza-se a análise combinatória com e entre os indicadores, por meio das
características destacadas do relato, com a finalidade de obter o conhecimento amplo
de um determinado fato.

Assim, um dado informacional pode ser analisado sob vários indicadores, em que, ao
realizar a combinação, efetiva-se o agrupamento de determinados indicadores, que
resulta na composição de um fato. Esta composição ao ser agrupada, se encontra sob
certas condições, sendo que estas condições ao serem analisadas, resulta: ou em um
simples arranjo de informações ou na composição de um delito. Desta forma, não
basta comunicar um crime, ele realmente deve ter ocorrido para que seja confirmado
como um delito. Analisar um crime de estupro de vulnerável se distancia muito da
perícia psicossocial da guarda de filhos, visto que, no crime, busca-se a existência do
fato criminoso, e isto é muito preciso: ou ocorreu ou não ocorreu. O que facilita em
alto grau o trabalho do perito.

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Teles & Simonassi (2021)

3.4 O que foi utilizado para a análise dos dados


Neste trabalho não foi utilizado o termo correspondência, por não existir na literatura
a correspondência dizer-dizer, por isso, optou-se pelo termo sugerido pelo Professor
Doutor Lorismario Simonassi, correspondente intra e entre relatos. Que seriam as
contingências correspondentes intra e entre relatos dos periciados. O que se apresenta
na literatura em termos de correspondências são: correspondência entre fazer/dizer e
dizer/fazer um conjunto muito grande de experimentos que demonstram a
correspondência ou a não correspondência ((Beckert, 2005) (Herruzo & Luciano, 1994)
(Catania, 1998/1999; Herruzo & Luciano, 1994; Risley & Hart, 1968; Sherman, 1964)
(Beckert, 2005). Ribeiro (1989) trouxe novidades, pois se preocupou em medir a
correspondência antes dela ser treinada e constatou que 99% dos participantes de sua
pesquisa já possuíam, em seu repertório, o comportamento de correspondência na
linha de base, o que foi um avanço em relação aos estudos anteriores, Brodsky (1967)
encontrou resultados semelhantes anteriormente, porém sem fazer a discussão
proposta por Ribeiro (1989). Estudos mais atuais também corroboram os dados de
Ribeiro (1989), porém, limitaram-se a descrever o fenômeno da correspondência e
concluíram que esta pode surgir naturalmente, sem necessidade de treino (Baer &
Detrich, 1990; Dihle, Bjolseth & Helseth, 2006; Guimarães, 2002; Hughes, Oliveto &
Terry, 1996; Pergher, 2002; Sadi, 2002). Estes estudos de correspondência apontam um
grande avanço para o contexto de perícia judicial, por se buscar a autodescrição
comportamental, por meio da análise funcional do comportamento verbal.

Os estudos de correspondência têm sido concentrados nas classes de dizer/fazer e


fazer/dizer (Amorim, 2001; Baer & Detrich, 1990; Baer, Detrich & Weninger, 1988;
Beckert, 2000; 2001, 2002; 2004; Brodsky, 1967; Catania, Mathews & Shimoff, 1982;
Deacon & Konarski, 1987; Herruzo & Luciano, 1994; Israel, 1978; Israel & O’Leary
1973; Karlan & Rusch, 1982; Lattal & Doepke, 2001; Lima, 2004; Lovaas, 1961;
Paniagua, 1989; Paniagua & Baer, 1982; Ribeiro, 1989; Ricci, L. S. V. & Pereira, M. E.
M. 2006; Risley & Hart, 1968; Rogers-Warren, A. & Baer, D. M. 1976; Sherman,1964;
Stokes, J. V., Cameron, M. J., Dorsey, M. F. & Fleming, E. 2004; Tracey, D. A., Briddell,
D. W. & Wilson, G. T. 1974; Torgrud & Holborn 1990; Williams J. A. & Stokes, T. F.
1982). Segundo Herruzo e Luciano (1994) a correspondência entre o comportamento
verbal e não verbal consiste na coerência ou coincidência entre o que o sujeito diz que
vai fazer e o que ele faz (correspondência dizer-fazer) ou entre o que ele fez e
posteriormente diz que fez (correspondência fazer-dizer). Ambos os tipos de relações
entre classes de operantes (dizer-fazer/fazer-dizer) acontecem numa grande
diversidade de interações sociais. Estudos têm indicado que mudança no
comportamento verbal de um indivíduo pode facilitar a mudança no comportamento
não verbal correspondente (Catania, Mathews & Shimoff, 1982; Beckert, 2004). Lattal
e Doepke (2001) sugerem que correspondência é uma relação entre duas respostas
ocorrendo em dois tempos diferentes, e como um resultado, será construído certo tipo

48
Teles & Simonassi (2021)

de discriminação condicional atrasada. Então, com relação à correspondência


dizer/dizer não encontramos trabalhos publicados.

Por isso, utilizou-se o termo: ‘correspondentes entre e intra relatos ’para buscar inferir
se os relatos emitidos pelos envolvidos, são ou não são correspondentes entre si e em
relação ao fato. De acordo com as contingências encontradas nos relatos intra e entre
verbais de cada indivíduo. Os correspondentes são analisados: entre pessoas e entre a
própria pessoa, dos relatos que se referem ao episódio de interação de conteúdo sexual
de um adulto com uma criança, registrados sob a forma de notícia-crime na delegacia
de polícia.

A análise funcional do comportamento verbal não assumirá a restrição ‘experimental’,


pois a manipulação de variáveis, não seria possível. Conforme Skinner (1953/1965),
existe amplas possibilidades de pesquisa empírica fora dos limites do laboratório,
como as observações sistemáticas do comportamento em ambiente natural na busca
de regularidades, sem a manipulação de variáveis (de Carvalho Neto, 2002).

A preocupação neste trabalho é com a identificação de relações ambiente


comportamento decorrentes da história ambiental dos indivíduos (Neno, 2003) e os
controles exercidos sobre a ação verbal. Assim a análise funcional do comportamento,
neste trabalho, será desta forma entendida:

“No sistema skinneriano, uma explicação da categoria de comportamento


mais importante, o comportamento operante, será encontrada na avaliação
das contingências de reforçamento predominantes. Uma contingência
especifica a interrelação entre uma condição antecedente, uma resposta e uma
conseqüência alcançada pela resposta. A relação funcional que existe é a
relação entre a resposta e sua conseqüência, indicada pela condição
antecedente; juntas [as condições antecedentes e conseqüentes] constituem a
variável independente e a resposta em questão, a variável dependente. A
variável dependente é tipicamente tratada em termos de probabilidade da
taxa de resposta. Diz-se que o controle é exercido sobre a probabilidade de
resposta pelo conjunto de interrelações chamado contingência (Moore, 1984,
p.87)”.

Conforme Neno (2003) é sobre o homem, que operam os três conjuntos de variáveis
ambientais (filogenéticas, ontogenéticas e culturais), sendo que nesta conjunção ocorre
uma variada gama de repertórios comportamentais. Neno (2003) destaca que na
ciência skinneriana, a busca de relações funcionais estará sempre associada ao
reconhecimento da multideterminação do fenômeno comportamental, sendo assim:

“Os analistas do comportamento procuram relações causais na interação entre


comportamento (a pessoa ou outro organismo) e aspectos de seu ambiente.
Esta ênfase não nega contribuições de aspectos genéticos, biológicos,
bioquímicos, neurológicos e outros do organismo. Ela simplesmente

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Teles & Simonassi (2021)

identifica os tipos de relações causais buscadas pela ciência comportamental


skinneriana; ela é a direção na qual os analistas do comportamento procuram
as relações que explicam seus objetos de estudos (Chiesa, 1994, pp.114-115)”.

Destacamos que nesta pesquisa, a análise do relato verbal será feita por meio da
identificação dos operantes verbais, nomeados por tactos, que devem ser emitidos em
relação ao fato registrado nesta delegacia, que deve corresponder a: interação de
conteúdo sexual de um adulto com uma criança.

A perícia psicológica em contexto de delegacia, além de extenuante por ser rigorosa,


necessita de um elevado nível de organização e planejamento. Visto que, na
experiência da pesquisadora que atua com perícia psicológica desde 2008, evidenciou
se também episódios verbais (Simonassi, L. E. & Cameschi, C. E. (2003). Skinner. B. F.
(1978) emitidos pelo comunicante a respeito de fatos não ocorridos (Amendola, M. F.,
2009).

Catania (1999), define comportamento verbal como qualquer comportamento que


envolva palavras: falada, escrita, gestual. Envolve tanto o comportamento do ouvinte,
modelado por seus efeitos sobre o comportamento do falante, como o comportamento
do falante, modelado por seus efeitos sobre o comportamento do ouvinte. Ao se
estudar o comportamento verbal como, comportamento cuja principal função é a de
modificar o comportamento de outra pessoa, eliminam-se conceitos tais como ‘produ
ção de mensagens’, “transmissão de informações”, “falar algo”, que não ajudam na
compreensão do comportamento verbal e apenas aumentam as variáveis a serem
consideradas.

Nesta perspectiva este estudo, objetiva realizar a análise funcional da emissão de re


latos, que são correspondentes ou não, ao crime de estupro de vulnerável. Ou seja,
analisar o relato de pessoas que podem também emitir tactos distorcidos, em relação
a este evento.

Com isso, propõe-se uma intervenção para diagnosticar o nível de correspondentes


entre o comportamento verbal e o comportamento não verbal, o fato. Pois segundo
Baum (1999), altera conteúdo, altera comportamento, e mais do que isso, altera
contingências. Busca-se, identificar, a identificação dos tactos referentes ao que se
pericia. Para atingir este objetivo, será utilizado a análise funcional do comportamento
verbal e análise documental.

O material a ser trabalhado será os relatos verbais, analisados sob o enfoque teórico
da análise do comportamento, do Behaviorismo Radical. O tratamento dos dados será
realizado nos relatos verbais, em que se busca os operantes verbais. O objetivo é
localizar tactos e correspondentes verbais intra e entre envolvidos, em relação a
descrições de interações sexuais entre adultos e crianças descrita na literatura, bem

50
Teles & Simonassi (2021)

como, em relação a documentos apresentados. Acrescidos da análise de


correspondentes intra e entre verbais, em relação a estrutura e conteúdo do fato.

3.5 Organização para a análise dos dados

Desta forma, houve necessidade de se desenvolver um Relatório Analítico, para


realizar todas as inter-relações possíveis das informações, visto que, nenhuma
informação isolada é analisável. O principal problema do psicólogo em contexto
policial, é que, não só existe uma enorme quantidade de informações disponíveis, mas
a relevância da informação é muitas vezes: desconhecida, incompleta e imprecisa.
Para superar esta falta, é necessário não só um excelente script de entrevista, mas uma
eficiente análise de dados, em que, o que não foi dito também é analisável. Ou seja,
frente a oportunidade de se dizer algo, não foi dito. Por isso, uma base de análise em
que se inter-relaciona informações e a corrobora entre métodos, torna-se
indispensável. Esta base de análise deve: suportar uma grande quantidade de dados
e após a avaliação das informações, destacar o resultado. Desta forma, a estruturação
para a análise dos dados desta pesquisa, foi inspirada em dois programas de análise:

1) No sistema de Steller e Köhnken (1989) que adotaram um método que originou um

conjunto de 19 critérios, o CBCA. Adams (2002) afirma que, na análise de narrativas

orais infantis em contexto forense, tem-se no Criteria-Based Content Analysis - CBCA,

Análise de Conteúdo Baseada em Critérios, o mais estruturado dos métodos de análise

de narrativa já revisado. Amado, Arce e Farina (2015) esclarece que o CBCA, faz parte

da SVA - Análise de Validade da Declaração, em que o propósito do SVA é uma

avaliação da credibilidade do conteúdo da declaração e não fazer uma avaliação sobre

a credibilidade da própria pessoa (Steller e Köhnken, 1989);

2) No Programa de Análise Funcional do Comportamento Verbal, apresentado por

Skinner (1957), em Verbal Behavior.

Tal análise se faz necessária, em função de ser um crime anunciado por terceiro em
relação a um infante, que está em situação impotente e hipossuficiente ao adulto,
quanto a: necessidade real de ser investigado, esclarecimento do ocorrido, descrição
sequencial de como ocorreu o crime e repertório verbal insuficiente em relação a um
delito sexual.

Então, por meio de um instrumental analítico do relato, aplica-se a análise cientifica


de comportamentos verbais nos crimes sexuais: “palavras não são objetos

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Teles & Simonassi (2021)

manipuláveis e sim comportamentos emitidos em circunstâncias particulares”


(Malerbi e Matos, 1992). Com a finalidade de aumentar a cientificidade na análise de
relatos verbais e dirimir o maior número de dúvidas a respeito de um fato criminoso,
no âmbito judicial. Busca-se descrever (Skinner, 1957) os comportamentos verbais e
não verbais dos envolvidos em contextos sexuais criminosos com crianças, de forma
que: o relato dessa história é o produto verbal das condições e consequências - não
definem essa resposta verbal, mas são importantes para a sua manutenção - nas quais
o comportamento não verbal ocorreu (evento), que por sua vez, o comportamento não
verbal assume características de estímulo discriminativo que antecede a ocorrência do
produto verbal em questão, em que necessariamente o relato deverá estar sob controle
do fato ocorrido. Este é o princípio da descrição do comportamento verbal analisado.
Desta forma, por meio desta análise, o laudo pericial irá apresentar diagnóstico
preciso, quanto a quais condições o infante se encontra nestes cenários.

Este estudo tem como premissa, analisar o relato dos envolvidos, que provavelmente
apresentarão eventos que deverão condizer ao crime de estupro de vulnerável,
caracterizado de acordo com o Código Penal Brasileiro, artigo 217-A e 213, parágrafo
1º, em que, para o perito, nestas legislações, o que se altera é basicamente a idade da
vítima. Para isso, necessariamente ocorrerá uma narrativa do que ocorreu no ambiente
natural-background em que estavam presentes uma díade adulto-criança, em que um
adulto se interagiu sexualmente com uma criança.

A narrativa de uma provável interação de conteúdo sexual entre o adulto-suspeito e


a criança-suposta vítima, será realizada pela comunicante e pela suposta vítima, sendo
que, caso ocorra a descrição pelo adulto-suspeito, esta terá características da confissão
de um crime. Borloti (2007) esclarece que Skinner (1957) chamou de tact - tato, uma
das categorias do comportamento verbal do orador que “faz contato com” o mundo
físico.

Skinner (1957) definiu o tatear como um operante verbal no qual uma resposta é
evocada, por um evento ou objeto. Assim, a relação funcional é expressa na afirmação
de que a presença deste evento ou objeto aumenta a probabilidade de ocorrência
daquele operante verbal (Borloti, 2007). Deve-se ressaltar, como o fez Capovilla (1957),
que para Skinner (1967) o estímulo que antecede o tatear – seja ele um objeto ou um
evento, uma propriedade de objeto ou de um evento, ou uma relação entre objetos ou
entre eventos – e que determina a probabilidade de ocorrência daquele
comportamento é de natureza não verbal (Borloti, 2007). Destacamos que no caso
deste trabalho o tacto será o operante verbal primordial a ser analisado, visto que, ao
se comunicar um crime à delegacia, o ‘assunto ’deve caracterizar o evento criminoso
comunicado.
Assim, é função do perito psicólogo realizar as possíveis combinações xii dos
indicadores (de Almeida & Ferreira, 2010), não só em relação a quantas ordenações

52
Teles & Simonassi (2021)

são possíveis de serem realizadas com os indicadores, mas especialmente que tipo de
ordenação se faz com os dados obtidos por meio dos relatos dos envolvidos, bem
como o que produziu este relato.

3.6 O que se espera do Projeto Contacto

O material de trabalho do perito psicólogo engajado no Projeto Contacto, são os brutos


relatos das pessoas envolvidas nos contextos criminosos, em que há a suspeita de
violência sexual infantil. Com o objetivo de atuação profissional-ética, o Projeto tem o
intuito de:

1) propor instrumental para levantamento e análise de dados na investigação pericial;

2) apresentar os teores minimamentes necessário ao laudo psicológico judicial; em que


compareça conteúdos que possam ser considerados indicadores analisáveis;

3) apresentar um laudo psicológico com fundamentação teórica, metodologia e análise


de dados sob um único princípio, do Behaviorismo Radical de Burrhus Frederic Skin
ner (1904 – 1990).

Para isso, a perícia judicial realizará sessões periciais individuais. As sessões são
estruturadas com entrevistas e aplicação do Teste Rorschach para adultos e crianças
superior a 5 anos de idade, e com crianças menores de 12 anos acresce-se a Hora Jogo
Diagnóstica. Os instrumentos e técnicas organizados de acordo com a temática
pericial, tem o objetivo de periciar o comportamento de cada indivíduo envolvido de
maneira direta ou indireta no contexto da suposta violência sexual infantil noticiada:

“Estamos interessados, então, nas causas do comportamento humano.


Queremos saber por que os homens se comportam da maneira como o fazem.
Qualquer condição ou evento que tenha algum efeito demonstrável sobre o
comportamento deve ser considerado. Descobrindo e analisando estas causas
poderemos prever o comportamento. (Skinner, 1953). ”

No Behaviorismo Radical, não existe o ‘retraçar uma sequência causal ’até se chegar a
uma causa, não se utiliza um refinamento em que se atribui “cada aspecto do
comportamento de um organismo físico a um aspecto da “mente” ou de outra
“personalidade” interior (Skinner, 1953)”. Não se utiliza de um sistema dualístico de
explicação, tal como: “O homem interior deseja uma ação, o exterior executa. O interior
perde o apetite, o exterior para de comer. O Homem interior quer, o exterior consegue.
O interior tem o impulso ao qual o exterior obedece. (Skinner, 1953)”. Skinner (1977)
em seu artigo ‘Why I am not a Cognitivist Psychology?’, alerta que: “Se os processos
cognitivos são simplesmente modelados sobre as contingências ambientais, o fato de
serem atribuídos ao espaço dentro da pele, não os aproxima de uma conta fisiológica”.

53
Teles & Simonassi (2021)

Skinner (1953) alega que:

“O hábito de buscar dentro do organismo uma explicação do comportamento


tende a obscurecer as variáveis que estão ao alcance de uma análise científica.
Estas variáveis estão fora do organismo, em seu ambiente imediato, e em sua
história ambiental. Estas variáveis independentes são de várias espécies e suas
relações com o comportamento são quase sempre sutis e complexas, mas não
se pode esperar uma explicação adequada do comportamento sem analisá
las. (Skinner, 1953).”

Conforme afirma Skinner (1953), ‘o que queremos é avaliar a probabilidade ’de


ocorrência de uma interação sexual de um adulto com uma criança. Tal ocorrência
pode variar desde a certeza de ocorrência, até a certeza de não ocorrência. E este
trabalho apresenta a considerável dificuldade de como analisar esta probabilidade:
‘No momento estamos interessados em saber como a probabilidade pode ser
aumentada ou diminuída. (Skinner, 1953)”.

O Projeto Contacto não se fundamenta na discussão circular da hermenêutica pela


totalidade interpretativa do Ser, tal como relata Stein (2010): “A hermenêutica
filosófica nos ensina que o ser não pode ser compreendido em sua totalidade, não
podendo assim, haver uma pretensão de totalidade da interpretação”. Mas sim,
conforme alerta Costa (2008), para não deixarmos a aplicação de lado:

“Desde meados do século XX, as reflexões da hermenêutica filosófica


acentuaram a existência de uma co-relação circular entre interpretação e
aplicação, de tal forma que a prioridade lógica tem sido substituída pela idéia
de que existe uma complementaridade circular entre interpretação abstrata e
aplicação concreta, pois essas duas atividades fazem parte de um mesmo
processo de compreensão. Nesse ponto, fica especialmente caracterizada a
distinção entre a linearidade dos discursos científicos e a circularidade dos
discursos hermenêuticos”

Desta forma, a solicitação psicológica pericial que o Projeto Contacto está inserido,
responde a uma pergunta jurídica criminal, e que, por estar localizada no início da
persecução penal, sintoniza-se de acordo com o Artigo 4º do CPP, que contempla que:
a finalidade mediata do inquérito é a de fornecer subsídios para a promoção da ação
penal e a imediata é a apuração das infrações penais e da sua autoria. Assim, a
solicitação pericial no início da persecução penal é regida pela Lei 12.830/13, que
dispõe: “durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de
perícia, informações, documentos e dados que interessem à apuração dos fatos”.
De tal modo, a Visão Operantexiii (Skinner, 1953) do Psicólogo Behaviorista Radical do
Projeto Contacto, que atua no contexto policial criminal, nos crimes de estupro de
vulnerável, por meio da avaliação psicológica, busca, sob quais dimensões/condições

54
Teles & Simonassi (2021)

o comportamento verbal e não-verbal dos periciados estão relacionados de maneira


interdependente ao fato investigado.

“A análise experimental do comportamento busca relações funcionais entre


variáveis, controlando condições experimentais (variáveis de contexto -
Staddon, 1973), manipulando variáveis independentes (mudanças no
ambiente) e observando os efeitos em variáveis dependentes (mudanças no
comportamento)... A análise experimental do comportamento utiliza-se de
contingências e de relações funcionais como instrumentos para o estudo de
interações organismo-ambiente. O experimentador manipula contingências
em busca de relações funcionais e das condições (variáveis de contexto) nas
quais podem ser observadas. Um sistema de relações funcionais constituirá
uma teoria útil se vier acompanhado de especificações de onde, no ambiente
externo, as variáveis independentes e as variáveis de contexto devem ser
encontradas. Interações organismo-ambiente ocorrem sempre no tempo.
Nosso objeto de estudo não é uma coisa, mas um processo... Quando uma
nova contingência entra em vigor, seus efeitos dependerão dos processos de
interação que estão ocorrendo (Todorov, 2007)”

O que observamos enquanto comportamento, nos diz muito sobre as circunstâncias


que explicam sua força de ocorrência. Os comportamentos a serem analisados estão
contemplados tanto no inquérito, quanto no contexto pericial, por meio de métodos
padronizados de entrevista e teste (Skinner, 1953). Skinner (1953) afirma que: “Os
eventos que afetam um organismo devem ser passíveis de descrição na linguagem da
ciência física”. Desta forma, entendemos a descrição como:

“Não há sentido em uma descrição de comportamento sem referência ao


ambiente, como não há sentido, para a psicologia, em uma descrição do
ambiente apenas. Os conceitos de comportamento e ambiente, e de resposta e
estímulo, são interdependentes. Um não pode ser definido sem referência ao
outro (Todorov, 1981).”

A exemplo, no livro de Skinner (1953) Ciência e Comportamento Humano, o autor


exemplifica a temática de nosso interesse, e apresenta como um “impulso” é
identificado com a probabilidade de resposta, e não com a probabilidade devida à
privação:

“Um indivíduo cujo comportamento sexual não é conspícuo em um dado


momento pode ser despertado por conversas excitantes, fotografias, ações,
etc. Não é correto dizer que seu impulso sexual foi assim aumentado. O
comportamento sexual teve sua probabilidade aumentada, mas, pela
apresentação de estímulos apropriados para o comportamento e não pela
privação. (Skinner, 1953, p. 226)”

E esclarece:

55
Teles & Simonassi (2021)

“A objeção aos estados interiores não é a de que eles não existem, mas as de
que não são relevantes para uma análise funcional. Não é possível dar conta
de nenhum sistema enquanto permanecemos inteiramente dentro dele;
finalmente será preciso buscar forças que operam sobre o organismo agindo
de fora... Não é lícito presumir que o comportamento tenha propriedades
particulares que requeiram métodos únicos ou uma espécie particular de
conhecimento. Muitas vezes argumenta-se que um ato não é tão importante
quanto um intento que está por trás dele, ou que somente pode ser descrito
em termos do que “significa” para o indivíduo que se comporta ou para
outros que possam ser afetados por ele. Se afirmações deste tipo tiverem de
ser úteis para propósitos científicos, deverão estar baseadas em eventos
observáveis, e é exclusivamente em tais eventos que se deve confinar uma
análise funcional. Skinner (1953)”

A perícia psicológica no Projeto Contacto, se caracteriza por contexto temático único:


‘Interação de Conteúdo Sexual de um adulto com uma criança’, necessariamente o
comportamento verbal dos envolvidos tanto nos autos, quanto nas sessões periciais,
se dá em relação a este fato investigado, porém:

“Todo comportamento verbal continuado é multiplamente determinado.


Quando alguém começa a falar ou a escrever, cria um conjunto elaborado de
estímulos que alteram a probabilidade de outras respostas em seu repertório.
É impossível resistir a essas fontes suplementares da força... Deste modo
qualquer amostra contínua de comportamento verbal estabelece fortes
predisposições emocionais entre as respostas ainda por vir. (Skinner (1953)”

Desta forma no contexto pericial metodologicamente organizado e estruturado, tornar


possível uma observação direta (Skinner, 1953) do comportamento. O esclarecimento
dos fatos, ocorre na medida que analisamos a descrição (Skinner, 1953) do
comportamento verbal dos envolvidos, em relação a constituição do fato investigado.
Para isso, avaliamos como as variáveis interagem na contingência analisada (Skinner,
1953).

“Na análise do comportamento, o termo contingência é empregado para se


referir a regras que especificam relações entre eventos ambientais ou entre
comportamento e eventos ambientais (Schwartz & Gamzu, 1977; Skinner,
1967; Weingarten & Mechner, 1966). O enunciado de uma contingência é feito
em forma de afirmações do tipo "se, então". A cláusula "se" pode especificar
algum aspecto do comportamento (Weingarten & Mechner, 1966) ou do
ambiente (Schwartz & Gamzu, 1977) e a cláusula "então" especifica o evento
ambiental conseqüente. Assim como relações funcionais são instrumentos na
busca de princípios mais gerais, contingências são utilizadas pelo psicólogo
experimental na procura de relações funcionais. As contingências são as
definições de variáveis independentes na análise experimental do
comportamento. Weingarten e Mechner (1966) distinguem contingências
56
Teles & Simonassi (2021)

enquanto definições de variáveis independentes, de proposições empíricas


associadas às contingências. (Todorov, 2007) ”

Todorov (2007) destaca Catania (1996, p. 4-5): “È importante lembrar que a classe
operante é definida por todos os três termos da contingência tríplice. (...) classes
operantes são criadas por contingências comuns, não por consequências comuns.
Classes operantes são definidas funcionalmente, não topograficamente”. Desta forma,
é por este desenho funcional do comportamento verbal que o perito psicólogo do
Projeto Contacto se interessa.

57
II O Fato Investigado: Conceitos e Identificação

O fato investigado será sempre o evento: Interação de Conteúdo Sexual – ICS, de uma
díade adulto-criança e a busca é identificar a ocorrência ou não deste evento.

1 Complexidade e repulsa a temática


Embora a definição de abuso sexual pareça óbvia, trata-se de um tema muito
controverso, por envolver questões relativas àquilo que é considerado normal na
sexualidade humana (Vioudres Inoue & Ristum, 2008). Segundo Faleiros e Campos
(2000), violência sexual e abuso sexual, não são sinônimos e são epistemologicamente
distintos. De acordo com Ferreira (2002), na ‘escala de inadmissibilidade ’como tam
bém aponta Furniss (1993), “um pouquinho de violência é aceitável, um pouquinho
de sexo não é”. Ferreira (2002), cita Flores (1998), que adverte que o abuso sexual
contra crianças produz sentimentos de raiva e desprezo, e motiva, quando abusadores
sexuais, são descobertos, agressões, linchamentos e quando encarcerados, violentados
sexualmente.

Dantas (2016), informa que comunicar um crime de estupro de vulnerável é grave e


pode ter efeitos irreversíveis nas famílias, já que o Código Civil, Lei 10406/02,
determina em seu Capítulo V - Do Poder Familiar, Seção III - Da Suspensão e Extinção
do Poder Familiar, Art. 1.638, Inciso III, que será destituído do poder familiar o pai ou
a comunicante que praticar com o filho atos contrários à moral e aos bons costumes:

“Artigo 1638 da Lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a comunicante
que:

I - castigar imoderadamente o filho;

II - deixar o filho em abandono;

III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;

IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.”

Esclarece Dantas (2016), que por sua vez, o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei
nº 8.069/90, estabelece as medidas e trâmite da ação que visa referida destituição, e
prevê no Livro II - Parte Especial, Capítulo III - Dos Procedimentos, Título VI - Do
Acesso à Justiça, Seção II - Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar, em seu Art.
157, que:

“ECA - Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990

58
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.

Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o


Ministério Público, decretar a suspensão do pátrio poder, poder familiar,
liminar ou incidentalmente, até o julgamento definitivo da causa, ficando a
criança ou adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de
responsabilidade.”

Assim, no Brasil, o mero indício de abuso sexual, no âmbito familiar, por si só, já basta
para que o juiz ordene o afastamento do genitor suspeito, com vistas a preservar a
integridade psíquica e física do infante (Dantas, 2016).

2. A interação de conteúdo sexual, como sinônimo de violência sexual, na


abrangência dos conceitos legais
A investigação da violência constitui-se em um tema de difícil abordagem pelas
formas convencionais de conhecimento, devido à carga de ideologia, variedade
conceitual, preconceito e senso comum que a acompanha (Minayo & Souza, 1998). As
definições de violência, podem aparecer de forma didática para a compreensão do
problema (Pires & Miyazaki, 2005) e está classificada pela Organização Mundial da
Saúde no grupo de causas externas de morbidade e de mortalidade (Capítulo XX da
CID10), como violência intencional, em específico, as agressões (Códigos X85 a Y09 da
CID10), (Martins, 2010).

Contudo, não são raras as vezes que a violência é confundida e tomada como
sinônimo da criminalidade. Quando isto ocorre, vincula-se ao sistema penal, sendo
que no Brasil, inclui-se aqui, a polícia, o ministério público, o poder judiciário e o
sistema penitenciário.

Wu Rukang (in Drapkin, 1982) afirma que ‘entre dois e seis mil anos atrás, os homens
matavam-se entre si’, visto que neste período, ‘matar’, era um elemento importante
para a sobrevivência de cada um, e que este comportamento não tem todas as
implicações da expressão ‘crime’, da qual o ‘assassinato’, era tão somente uma de suas
muitas formas. Assim, a ‘administração da justiça’, era pautada na esfera pessoal
(Drapkin, 1982) em que, já fazia parte do roll das violências intencionais, porém não
era considerado crime passível de punição.

Há diversas tentativas de conceituar violência e ocorre por meio das definições das
áreas: policial, psicológica, médica, antropológica, sociológica ou legal, em que, são
distintas. Acrescenta-se ainda o fato de que a violência ocorre no interior da cultura,
só devendo ser definida com base em seus parâmetros específicos e legais (Ferreira,
2002). Decorre de tudo isso, a existência de várias definições que apresentam
diferenças importantes entre si. Além disso, deve notar-se que a agressão, no âmbito

59
da violência sexual de crianças, não é a norma nesta população (Day, 1994; Murray et
al, 2001; O'Callaghan, 1998).

A Política Nacional Brasileira (Brasil, 2001), trata o assunto violência, também como
problema de saúde pública (Brasil, 2001; Hobbs, Hanks e Wynne, 1999; Minayo, 1994;
Silva e Silva, 2003), com ações normatizadoras para a identificação e condução
protocolar do problema, tais como: Política Nacional de Redução da
Morbimortalidade por Acidentes e Violências - PNRMAV (Portaria nº 737/2001);
Notificação de violências contra crianças e adolescentes na rede do SUS (Portaria nº
1968/2001); Rede Nacional de Prevenção de Violências, Promoção da Saúde e Cultura
de Paz (Portaria 936/2004); Política Nacional de Promoção da Saúde (Portaria nº
687/2006); Lei nº 10.778, de 24 de novembro de 2003, que estabelece a notificação
compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a mulher que for
atendida em serviços de saúde públicos ou privados; Decreto nº 7.958, de 13 de março
de 2013, que estabelece diretrizes para o atendimento às vítimas de violência sexual
pelos profissionais de segurança pública e da rede de atendimento do SUS; Lei nº
12.845, de 1º de agosto de 2013, que dispõe sobre o atendimento obrigatório e integral
de pessoas em situação de violência sexual no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS); Portaria nº 485/GM/MS, de 1º de abril de 2014, que redefine o funcionamento
do serviço de Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual no âmbito do
Sistema Único de Saúde e Portaria nº 2.415, de 7 de novembro de 2014, que inclui o
procedimento Atendimento Multiprofissional para Atenção Integral às Pessoas em
Situação de Violência Sexual no SUS.

Em relação a notificação da violência no território nacional, esta segue um protocolo


próprio na área da saúde, nomeado de: Ficha De Notificação/ Investigação Individual
Violência Doméstica, Sexual E/Ou Outras Violências Interpessoais (Anexo IV). Tal
protocolo contempla e destaca em sua abertura:

“Definição de caso: Considera-se violência como o uso intencional de força


física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa,
ou contra um grupo ou uma comunidade que resulte ou tenha possibilidade
de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento
ou privação

Atenção: Em casos de suspeita ou confirmação de violência contra crianças e


adolescentes, a notificação deve ser obrigatória e dirigida aos Conselhos
Tutelares e autoridades competentes (Delegacias de Proteção da Criança e do
Adolescente e Ministério Público da localidade), de acordo com o art. 13 da
Lei no 8.069/1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente. Esta ficha atende
ao Decreto-Lei no 5.099 de 03/06/2004, que regulamenta a Lei no
10.778/2003, que institui o serviço de notificação compulsória de violência
contra a mulher, e o artigo 19 da Lei no 10.741/2003 que prevê que os casos

60
de suspeita ou confirmação de maus tratos contra idoso são de notificação
obrigatória.”

O reconhecimento da violência como questão de saúde pública, fortalece o


monitoramento e encoraja outros setores a participar, tal como ocorreu na educação,
em que a notificação se tornou compulsória (Brasil, 2003), com a implantação do
Estatuto da Criança e do Adolescente (1989), porém ainda sem modelo de protocolo.

Desta forma, destacamos, que o conceito pode variar, até mesmo de acordo com o
âmbito de atuação em relação a violência, como pode ser visto na Lei das Vítimas
Sexuais, de 2013, com apenas 4 artigos, que visa a agilidade no atendimento ás vítimas.
Que por sua vez, com o intuito de cumprir sua finalidade, o conceito de violência
sexual é definido, no artigo 2º, como: “qualquer forma de atividade sexual não
consentida”.

“Lei nº 12.845, de 1º de Agosto de 2013 – (Lei das Vítimas Sexuais)

Dispõe sobre o atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de


violência sexual.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o Os hospitais devem oferecer às vítimas de violência sexual


atendimento emergencial, integral e multidisciplinar, visando ao controle e ao
tratamento dos agravos físicos e psíquicos decorrentes de violência sexual, e
encaminhamento, se for o caso, aos serviços de assistência social.

Art. 2o Considera-se violência sexual, para os efeitos desta Lei, qualquer


forma de atividade sexual não consentida.

Art. 3o O atendimento imediato, obrigatório em todos os hospitais integrantes


da rede do SUS, compreende os seguintes serviços:

I - diagnóstico e tratamento das lesões físicas no aparelho genital e nas demais


áreas afetadas;

II - amparo médico, psicológico e social imediatos;

III - facilitação do registro da ocorrência e encaminhamento ao órgão de


medicina legal e às delegacias especializadas com informações que possam
ser úteis à identificação do agressor e à comprovação da violência sexual;

IV - profilaxia da gravidez;

V - profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis - DST;

61
VI - coleta de material para realização do exame de HIV para posterior
acompanhamento e terapia;

VII - fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e sobre


todos os serviços sanitários disponíveis.

§ 1o Os serviços de que trata esta Lei são prestados de forma gratuita aos que
deles necessitarem.

§ 2o No tratamento das lesões, caberá ao médico preservar materiais que


possam ser coletados no exame médico legal.

§ 3o Cabe ao órgão de medicina legal o exame de DNA para identificação do


agressor.

Art. 4o Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias de sua
publicação oficial. (grifo meu)”

A restrição conceitual pode trazer problemas quanto a atuação profissional, no que


tange ao foro de ação. Haja vista, que, no artigo 217-A do Código Penal, que discorre
sobre o estupro de vulnerável, esclarece que existem condutas que, apesar de
consentidas, também configuram violência sexual, tal como descreve Castro (2016):
“O sujeito passivo é a vítima, do sexo masculino ou feminino, menor de 14 (quatorze)
anos, ou quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tenha o necessário
discernimento para a prática do ato, ou, ainda, quem, por qualquer motivo, não possa
opor resistência”.

Destacamos que a Lei Maria da Penha – 11. 340/06, também distingue-se de maneira
conceitual da Lei nº 12.845 – Lei das Vítimas Sexuais, no que tange a violência sexual,
e também por ter a finalidade última de coibir a prática da agressão contra a mulher.
Desta forma, caracteriza as diferentes formas violência, tais como:

“Lei nº 11.340 de 07 de agosto de 2006 – Lei Maria da Penha

Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher,


nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal
e a Lei de Execução Penal ; e dá outras providências.

Capítulo II

Das Formas de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher

62
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause


dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a


presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou
a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure


retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure


calúnia, difamação ou injúria.”

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 2007), Lei nº 8.069 de 13 de julho de


1990, mesmo sendo um marco legal supremo na área infanto-juvenil, com a
oportunidade de caracterizar o que vem a ser violência sexual infanto-juvenil, tal
como previu a Lei Maria da Penha, quando destaca no Art. 7º, inciso IV, ‘violência
sexual’, não o faz. Tal caracterização junto ao texto do Estatuto da Criança e do
Adolescente, promoveria maior visibilidade do que vem a ser crimes sexuais
cometidos contra crianças. Visto que, no Estatuto da Criança e do Adolescente, a
nomenclatura para estes crimes se difere também do Código Penal - Decreto Lei nº
2.848 de 07 de dezembro de 1940.

Desta forma no Código Penal Brasileiro, temos os artigos, no Título VI – Dos Crimes
contra a Dignidade Sexual, no Capítulo I – Dos Crimes contra a Liberdade Sexual e no
Capítulo II – Dos Crimes Sexuais contra Vulnerável. Sendo que, no Capítulo I, temos:
Estupro Art. 213; Violação sexual mediante fraude Art. 215; Assédio sexual Art. 216

63
A. E no Capítulo II: Estupro de vulnerável Art. 217; Corrupção de menores Art. 218;
Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente Art. 218-A;
Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou
adolescente ou de vulnerável Art. 218-B.

Já no ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069, Livro II - Parte Especial,


no Título II - Das Medidas De Proteção, Capítulo II - Das Medidas Específicas De
Proteção, temos os Art. 101, em que comparece somente a nomenclatura, desprovido
de caracterização, o termo ‘violência ou abuso sexual’. Ainda no Estatuto da Criança
e do Adolescente, Livro II - Parte Especial, no Título IV - Das Medidas Pertinentes aos
Pais ou Responsável, temos também, somente o termo, ‘abuso sexual’. E na Convenção
sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em
20 de novembro de 1989 e promulgado no Brasil, pelo Decreto nº 99.710, de 21 de
novembro de 1990, em que se destaca no artigo 19 e artigo 34, termo semelhante ao do
ECA, ‘abuso sexual’:

“Artigo 19

1.Os Estados Partes adotarão todas as medidas legislativas, administrativas,


sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as
formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus
tratos ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a
custódia dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa
responsável por ela.” (grifo meu)

“Artigo 34

Os Estados Partes comprometem-se a proteger a criança contra todas as


formas de exploração e abuso sexual. Nesse sentido, os Estados Partes
tomarão, em especial, todas as medidas de caráter nacional, bilateral e
multilateral que sejam necessárias para impedir:

a) o incentivo ou a coação para que uma criança dedique-se a qualquer


atividade sexual ilegal;

b) a exploração da criança na prostituição ou outras práticas sexuais ilegais;

c) a exploração da criança em espetáculos ou materiais pornográficos.” (grifo


meu)

Ainda no que tange a discrepância terminológica e conceitual, no Decreto nº 99.710,


de 21 de novembro de 1990, supracitado, temos no Art. 19, somente a terminologia
‘abuso sexual’. Já no Art. 34, além de termos somente a terminologia ‘abuso sexual’,
ainda se refere a condição díspare, a de exploração sexual.

64
Assim, o que se configura, na contemplação legal da área da infância, é que o
legislador não fixou a conduta típica do crime, ‘ato libidinoso ’e ‘abuso sexual’, e deixa
ao encargo da doutrina e jurisprudência tal função (Greuel & Carls, 2010), o que
amplia investigação contextual, para apontar as condições de ocorrência.

Desta forma no Brasil, a tipificação para os crimes de violência sexual contra crianças
e adolescentes vai de encontro com a Lei n.º 12.015/2009 do Código Penal Brasileiro
(in Vade mecum, 2013), de acordo com o artigo 217-A, que se refere aos crimes de
Estupro de Vulnerável:

“Art. 217-A - Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com


alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência”.

O crime estupro de vulnerável é hediondo em todas as suas formas (Lei 8.072/90,


art. 1o, VI) e em razão disso, a pena será cumprida inicialmente em regime fechado.
Segundo Castro (2016):

“Trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa,
homem ou mulher. O sujeito passivo é a vítima, do sexo masculino ou
feminino, menor de 14 (quatorze) anos, ou quem, por enfermidade ou
deficiência mental, não tenha o necessário discernimento para a prática do
ato, ou, ainda, quem, por qualquer motivo, não possa opor resistência. O
Objeto jurídico é a dignidade sexual do vulnerável, e não a liberdade sexual,
afinal, neste crime, não se discute se a vítima consentiu ou não com o ato
sexual. Objeto material é a pessoa vulnerável, a vítima. A vítima não é só a
criança, neste tópico, exige-se cuidado, pois é comum afirmar que o crime de
estupro de vulnerável consiste em violência sexual contra crianças, o que não
é verdade, afinal, segundo o ECA (art. 2o), criança é quem ainda não tem 12
(doze) anos completos. No estupro de vulnerável, a vítima é menor de 14
(quatorze) anos. Portanto, podem ser vítimas tanto crianças quanto
adolescentes. Ademais, frise-se que a vítima pode ser tanto do sexo masculino
quanto feminino. Os Núcleos do tipo, o crime pode se dar pela conjunção
carnal (cópula vagínica) ou pela prática de ato libidinoso diverso, não sendo
exigido o emprego de violência ou grave ameaça. A Lei 12.015/09 unificou os
crimes de estupro (art. 213) e de atentado violento ao pudor (art. 214), e a
mesma fórmula foi adotada no art. 217-A, ao tratar do estupro de vulnerável.
A Palavra da vítima: "nos crimes contra a liberdade sexual, a palavra da vítima
é importante elemento de convicção, na medida em que esses crimes são
cometidos, frequentemente, em lugares ermos, sem testemunhas e, por

65
muitas vezes, não deixam quaisquer vestígios, devendo, todavia, guardar
consonância com as demais provas coligidas nos autos (AgRg no REsp
1346774/SC, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze, J. 18/12/2012)".

De tal modo, a legislação brasileira contempla a área da infância com a


responsabilização penal para os crimes praticados de acordo com o Art. 217-A Estupro
de Vulnerável, do Código Penal. Porém, o Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei
nº 8.069/1990, que é reconhecido internacionalmente como um dos mais avançados
Diplomas Legais dedicados à garantia dos direitos da população infanto-juvenil
(Digiácomo & Digiácomo, 2013), é falho na promoção da agilidade para proteger
crianças que sofrem violências. Visto que, faz uma previsão, no Art. 88 do ECA, sobre
as diretrizes da política de atendimento somente para as crianças e adolescentes que
cometem o ato infracional:

“Artigo 88 – São diretrizes da política de atendimento: V - Integração


operacional dos órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria,
Conselho Tutelar e encarregados da execução das políticas sociais básicas e
de assistência social, preferencialmente em um mesmo loca, para efeito de
agilização do atendimento inicial a adolescente a que se atribua autoria de ato
infracional.”

Sendo assim, frente a ampla terminologia legal, que podem contemplar finalidades e
caracterizações diferenciadas, este trabalho irá nomear todo e qualquer contato de
conteúdo sexual, como: Interação de Conteúdo Sexual – ICS, com a finalidade não
conceitual e sim descritiva.

Descreveremos por meio de itens caracterizadores, tal interação, que pode ocorrer
entre um adulto com uma criança. Estes caracterizadores serão identificados, descritos
e analisados no desenvolvimento do contexto pericial.

A perícia psicológica ocorrerá a posterior instauração de Inquérito Policial, com a


tipificação do crime 217-A do Código Penal Brasileiro, em que a perícia psicológica
faz parte do roll de diligências requeridas pelo delegado responsável do caso.
Destacamos que a perícia psicológica só inicia após cumpridas todas as diligências
solicitadas em Inquérito Policial, sendo esta, a última a ser cumprida. Informamos que
como qualquer outra diligência, caso surja algum fato inovador, novas providências
são solicitadas pelo Delegado da equipe.

3. A variabilidade dos conceitos teóricos a respeito do evento: interação de


conteúdo sexual

Segundo Ferreira (2002) nas últimas décadas, muitas publicações sobre violência
sexual contra a criança e o adolescente discutem os conceitos e sua aplicabilidade,
porém sem um consenso. O resultado é a enorme variação conceitual, o que pode ser

66
justificado pela grande variabilidade de interações de que este fenômeno se constitui,
que pode variar, quanto a intensidade psico-físico-emocional, que podem ir de
interações extremamente sutis até as mais agressivas. Com isso, não se pode esperar
uma conceituação única diante de um evento que é multideterminado e
consequentemente multi manifestado. Desta forma, o que iremos encontrar, são as
várias definições encontradas na literatura, para as interações que se constituem de
conteúdo sexual.

Viodres & Ristum (2008) informam que Knutson (1995), considera esta variabilidade
conceitual como uma ‘imprecisão terminológica’, o que revela a falta de uma rigorosa
e clara conceituação (Faleiros & Campos, 2000). Com isso, para um evento
multideterminado, de multi manifestação, temos multiprofissionais envolvidos, o que
gera dificuldade no trabalho interdisciplinar. Desta forma, como esclarece o médico
ginecologista Drezett (2004), a diversidade conceitual, resulta na dificuldade em
atender adequadamente aos aspectos médico, jurídico, psicológico e ético que tais
crimes envolvem.

Assim, autores podem fazer a distinção de violência e abuso, conforme Amazarray e


Koller (1998) e Drezett (2004), não somente pela diferença de idade, mas pelo uso de
poder, autoridade ou força empregada pelo agressor. Determinados autores tratam a
temática com os conceitos-chaves, ora por ‘abuso’, ora por ‘violência’. Desta forma
apresentaremos alguns destes agentes, seguido de seus conceitos. Santos (2007), a
exemplo, traz em seu glossário de termos, as diferenciações entre ‘abuso ’e ‘violência’:

“Abuso sexual: Ato ou jogo sexual envolvendo crianças e/ou adolescentes e


adultos ou adolescentes mais velhos, tendo por finalidade estimular
sexualmente a vítima ou utilizá-la para obter estimulação sexual para si
mesmo ou outros. O termo abuso vem de “uso indevido” ou do abuso de
alguma posição de poder.

Abuso sexual com contato físico: Atos físicogenitais envolvendo crianças


e/ou adolescentes e adultos ou adolescentes mais velhos, que incluam carícias
nos órgãos genitais, tentativas de relações sexuais, masturbação, sexo oral,
penetração vaginal e/ou anal. Exemplos: incesto, estupro, pornografia.

Abuso sexual em instituições de atendimento: abuso sexual que ocorre dentro


das instituições encarregadas de atender/acolher crianças e/ou adolescentes.

Abuso sexual extrafamiliar: abuso sexual que ocorre fora do âmbito familiar.

Abuso sexual intrafamiliar: relação de caráter sexual envolvendo adultos


e/ou adolescentes mais velhos e crianças e/ou adolescentes, quando existe
um laço familiar ou relação de responsabilidade entre os envolvidos;
INCESTO;

67
Abuso sexual sem contato físico: Ato ou jogo sexual envolvendo crianças e/ou
adolescentes e adultos ou adolescentes mais velhos, sem a ocorrência de
contato físico. Pode se dar na forma de assédio sexual; abuso sexual verbal;
telefonemas obscenos, exibicionismo, voyerismo e pornografia (fotografar ou
filmar crianças e/ ou adolescentes desnudos; Exposição de fotos/imagens
através da Internet).

Abuso sexual verbal: utilizado para despertar interesse das crianças e /ou
adolescentes ou para assustá-las; telefonemas obscenos nos quais ofensas de
natureza sexual são ditas e /ou são feitos convites explícitos de contato sexual
as crianças e /ou adolescentes;

Abuso sexual: Ato ou jogo sexual envolvendo crianças e/ou adolescentes e


adultos ou adolescentes mais velhos, tendo por finalidade estimular
sexualmente a vítima ou utilizá-la para obter estimulação sexual para si
mesmo ou outros.

Violência Doméstica: É um tipo de violência que envolve atores ligados por


uma relação de intimidade (pais, filhos, tios, avós etc.); pode ser caracterizada
pela violência física, sexual ou psicológica, através de atos de coerção,
intimidações, isolamento, abuso, sedução e ou ameaças.

Violência Física: Caracteriza-se pelo uso da força física de forma intencional e


não acidental, praticada por uma pessoa em condições superiores (idade,
força, posição social ou econômica, inteligência, autoridade), com o objetivo
de ferir, danificar ou destruir alguém, deixando ou não marcas evidentes.

Violência Infanto-juvenil: violência praticada por adultos e/ou adolescentes


mais velhos contra crianças e/ou adolescentes, caracterizada pela existência
de uma relação assimétrica de poder em que se confrontam atores-forças com
pesos-poderes desiguais em termos 4 de conhecimento, força, autoridade,
experiência, maturidade, estratégias e recursos.

Violência Intrafamiliar: É um conceito que se assemelha à violência


doméstica, porém se diferencia pelo fato de, necessariamente, os envolvidos
serem de um grupo familiar.

Violência Psicológica: São todas as formas de depreciação e constrangimento


emocional; pode se manifestar nas relações sociais através da rejeição,
discriminação, desrespeito, punição exagerada, ameaças, culpabilização ou
de forma sutil.

Violência sexual infanto-juvenil: Ato de força, quer seja moral, física,


psicológica ou moral, praticado contra criança e adolescente pelo violentador
que detém sobre eles poder de autoridade, dominação, coerção e coação, para
satisfação unilateral de seus desejos (prazer sexual) e/ou para tirar vantagens
(lucro).”

68
Junior & Junior (2014), apresenta alguns conceitos, tais como:

“...um ato não precisa ser necessariamente violento. O ato sexual, embora não
violento, quando praticado contra criança ou adolescente, pode provocar
tanto danos físicos, verificáveis, quanto danos realísticos à integridade
psíquica e moral, não verificáveis por meio de exame físico, que serão tão
maiores quando mais tenra a idade da criança/adolescente envolvida na
prática, e merecerão valoração jurídico-penal igualmente proporcional
(Bretan, 2012, p. 104).

O envolvimento da criança em atividade sexual do qual ele/ela é incapaz de


dar consentimento informado, ou para a qual a criança não tem preparo, em
termos de desenvolvimento para dar consentimento, ou que viola as leis ou
os tabus sociais de uma sociedade. O abuso sexual de uma criança é
evidenciado por uma atividade entre uma criança e um adulto, ou entre uma
criança e um adolescente que, por idade ou desenvolvimento, está em relação
de responsabilidade, confiança ou poder (Williams et al (2010, p. 7 apud
Bretan, 2012, p.105).

O abuso sexual é descrito como toda a situação em que uma criança ou


adolescente é usado para gratificação sexual de pessoas mais velhas. O uso do
poder, pela assimetria entre abusador e abusado, é o que mais caracteriza esta
situação (Santos; Neumann; Ippolito, 2004, p. 36).

Qualquer relação de caráter sexual entre um adulto e uma criança ou


adolescente ou entre um adolescente e uma criança, quando existe um laço
familiar (direto ou não) ou relação de responsabilidade. (Cohen, 1993;
Abrapia, 2002 Apud Santos; Neumann; Ippolito, 2004, p. 37).

A ênfase é na assimetria de poder (pela diferença de idade, experiência,


posição social etc.) e/ou no dano psicológico. Pode ser por força, promessas,
ameaça, coação, manipulação emocional, enganos, pressão etc. O que é
fundamental na definição do “abuso” é que o consentimento sexual da criança
não é considerado válido, de modo que ela é sempre vista como “objeto” de
satisfação da lascívia alheia e nunca como “sujeito” em uma relação sexual
com adultos ou, dependendo do caso, mesmo com uma outra criança ou
adolescente mais velhos (Lowenkron, 2010, p. 16).

Junior & Junior, ainda apresenta a conceituação de ‘abuso sexual on line” :

“A produção, distribuição, download ou visualização de material de abuso


(imagens em vídeo ou estáticas), também conhecida como pornografia
infantil; solicitação online de crianças e jovens para autoprodução de material
de abuso de crianças, para engajá-los em chats sexuais ou outras atividades
sexuais online, ou para arranjar um encontro offline com o propósito de
atividade sexual, também conhecido como aliciamento; qualquer facilitação

69
de qualquer uma das atividades acima. (Innocenti Research Centre, do UNICEF,
2011, p. 30, tradução nossa).

Jogo sexual imposto por um adulto a uma criança ou a um adolescente via


internet (por meio das ferramentas de bate-papo, como chats, e-mails e sites
de relacionamento) e que envolvem nudez e masturbação diante de webcams,
veiculação de fotos eróticas ou pornográficas, exibição dos genitais, uso de
linguagem sexual, aliciamento para fins sexuais, entre outras práticas
abusivas. Pode resultar em convites marcando encontros secretos com vistas
ao abuso ou à exploração sexual. (Internacional Childhood Brasil, 2013).”

De acordo com a definição do Ministério da Saúde (2002), o abuso sexual consiste em:

“... todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual cujo


agressor está em estágio de desenvolvimento psicossexual mais adiantado
que a criança ou adolescente. Tem por intenção estimulá-la sexualmente ou
utilizá-la para obter satisfação sexual. Apresenta-se sob a forma de práticas
eróticas e sexuais impostas à criança e ao adolescente pela violência física,
ameaças ou indução de sua vontade. Esse fenômeno violento pode variar
desde atos em que não se produz o contato sexual (voyerismo, exibicionismo,
produção de fotos), até diferentes tipos de ações que incluem contato sexual
sem ou com penetração. Engloba ainda a situação de exploração sexual
visando lucros como é o caso da prostituição e da pornografia (Ministério da
Saúde, 2002, p.13).”

Ainda outros conceitos:

“… abuso sexual consiste no uso de uma criança para fins de gratificação


sexual de um adulto ou adolescente cinco anos mais velho, criança imatura
em seu desenvolvimento e incapaz de compreender o que se passa, a ponto
de poder dar o seu consentimento informado. O consentimento informado
está vinculado à capacidade ou à incapacidade do indivíduo para tomar
decisões de forma voluntária, correspondendo – direta ou indiretamente - ao
grau de desenvolvimento psicológico e moral da pessoa. A autonomia ocorre
quando o indivíduo reconhece as regras, que são mutuamente consentidas, as
respeita e tem a noção de que podem ser alteradas (Furniss, 1993, p. 10).”

“Abuso sexual é todo relacionamento interpessoal no qual a sexualidade é


veiculada sem o consentimento válido de uma das pessoas envolvidas.
Quando se verifica a presença de violência física, o reconhecimento do abuso
pode ser mais claro, pela objetividade dos fatos que indicam que o abusador
fez uso de força para vencer a resistência imposta pela vítima (Faiman, 2004).”

“Todo ato ou jogo sexual, relação heterossexual ou homossexual, entre um ou


mais adultos e uma criança menor de 18 anos, tendo por finalidade estimular
sexualmente a criança menor ou utilizá-la para obter uma estimulação sexual
sobre sua pessoa ou de outra pessoa. (Azevedo e Guerra, 1989, p. 42).”

70
“Abuso sexual infantil é o envolvimento de uma criança em atividade sexual
que ele ou ela não compreende completamente, é incapaz de consentir, ou
para a qual, em função de seu desenvolvimento, a criança não está preparada
e não pode consentir, ou que viole as leis ou tabus da sociedade. O abuso
sexual infantil é evidenciado por estas atividades entre uma criança e um
adulto ou outra criança, que, em razão da idade ou do desenvolvimento, está
em uma relação de responsabilidade, confiança ou poder (World Health
Organization - WHO, 1999, p. 7).”

“... o abuso sexual supõe uma disfunção em três níveis: o poder exercido pelo
grande (forte) sobre o pequeno (fraco); a confiança que o pequeno
(dependente) tem no grande (protetor); e o uso delinqüente da sexualidade,
ou seja, o atentado ao direito que todo indivíduo tem de propriedade sobre
seu corpo (Gabel, 1997, p. 5).

“O abuso sexual compreende todo ato ou jogo sexual, de relação


heterossexual ou homossexual, no qual o agressor esteja em estágio de
desenvolvimento psicossexual mais adiantado do que a vítima, tendo como
finalidade estimulá-la sexualmente e/ou para obter estimulação sexual,
através de práticas impostas às crianças e adolescentes pela violência física
ameaças ou indução de sua vontade (Rezende, 2011, p. 5).”

“Esta forma de violência pode ser definida como qualquer contato ou


interação entre uma criança ou adolescente e alguém em estágio psicossexual
mais avançado do desenvolvimento, na qual a criança ou adolescente estiver
sendo usado para estimulação sexual do perpetrador (Habigzang, 2005, p.
341).”

“O abuso sexual infantil é um problema que envolve questões legais de


proteção à criança e punição do agressor, e também terapêuticas de atenção à
saúde física e mental da criança, tendo em vista as consequências psicológicas
decorrentes da situação de abuso. Tais consequências estão diretamente
relacionadas a fatores como: idade da criança e duração do abuso; condições
em que ocorre, envolvendo violência ou ameaças; grau de relacionamento
com o abusador; e ausência de figuras parentais protetoras (Baierl, 2004 apud
Oliosi; Mendonça; Boldrine, 2010, p. 25).”

Forward e Buck (in Cohen, 1993, 17-18), diferenciam a violência sexual em duas visões:

“a) Legal: relação sexual entre indivíduos com um grau próximo de


parentesco e que está proibida por algum código religioso ou civil.

b) Psicológica: qualquer contato abertamente sexual entre pessoas que tenham


um grau de parentesco, por consanguinidade ou por afinidade, ou que
acreditam tê-lo. Esta definição incluiria padrasto, madrasta, sogro, sogra,
meios-irmãos, avós por afinidade e até amantes que moram junto com o pai

71
ou comunicante, caso eles assumam o papel de pais (Forward e Buck; in
Cohen, 1993, 17-18).”

Viodres & Ristum (2008) informam que a violência sexual pode ainda comportar as
sub-categorias: doméstica, intra-familiar e extra-familiar e destacam: a violência
doméstica é exercida na esfera privada, dentro da residência da vítima; os agressores
não são necessariamente familiares, mas que vivem na mesma casa. A violência sexual
intra-familiar acontece dentro da família, é perpetrada por agressor que possui uma
relação de parentesco ou vínculo familiar com a vítima e algum poder sobre ela, tanto
do ponto de vista hierárquico (pai, comunicante, padrasto e tios) como do ponto de
vista afetivo (primos e irmãos), e que vive ou não sob o mesmo teto da vítima (Araújo,
2002), ou seja, quando existe um laço familiar (direto ou não) ou relação de
responsabilidade (Cohen, 1993; ABRAPIA, 2002 apud Santos; Neumann; Ippolito,
2004, p. 37). Azevedo e Guerra (1988, p. 32 apud Bretan, 2012, p. 105) conceituam o
abuso sexual intrafamiliar como: Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou
responsáveis contra crianças e/ou adolescentes que – sendo capaz de causar dano
físico, sexual e/ou psicológico à criança. As sub-categorias doméstica e intra-familiar
não são necessariamente excludentes e podem ocorrer, a exemplo, por um avô contra
seu neto, pode ser classificada como violência doméstica intra-familiar, por habitarem
em um mesmo espaço físico e por possuírem laços familiares (Viodres & Ristum,
2008).

Já a violência sexual extra-familiar ocorre fora do âmbito familiar, podendo ser


cometida por conhecidos, como vizinhos e colegas, ou por desconhecidos (Viodres &
Ristum, 2008). O abuso sexual extrafamiliar ocorre fora do âmbito familiar. Contudo,
na maioria das vezes, o abusador tem proximidade com a sua vítima e angariou a sua
confiança: vizinhos ou amigos da família, educadores, responsáveis por atividades de
lazer, médicos, psicólogos e líderes religiosos. Eventualmente o abusador pode ser
uma pessoa totalmente desconhecida da vítima, como nos casos de estupros em locais
públicos (Santos; Neumann; Ippolito, 2004, p. 37).

Desta forma, legalmente, ao contemplar a área da infância, o legislador brasileiro, opta


por citar o termo ‘abuso sexual’, encontrado nos Art. 19 e 34, na Convenção sobre os
Direitos da Criança Adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 20 de
novembro de 1989 e promulgado no Brasil, pelo Decreto nº 99.710, de 21 de novembro
de 1990. E no ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, cita-se ‘abuso sexual ’nos
artigos 101 § 2º e artigo 130. Já no Código Penal Brasileiro, encontra-se o termo ‘ato
libidinoso ’e ‘conjunção carnal’, no Título VI – Dos crimes contra a dignidade sexual,
Capítulo II – Dos crimes sexuais contra vulnerável, no Art. 217-A Estupro de
vulnerável e Art. 218-A Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou
adolescente.

72
Ferreira (2002) ainda destaca que as definições de ‘abuso sexual ’de crianças tendem a
focalizar dois aspectos: nos adultos que interagem sexualmente com crianças e assim
os estudos destacam as desordens mentais destes sujeitos, e na descrição da natureza
da interação sexual de adultos com crianças.

Já que este trabalho teve em sua base orientativa também o estudo da tese de Ferreira
(2002), a pesquisadora iniciou a busca por indicadores pela descrição das três
dimensões que apontam a natureza do ‘abuso sexual’, apresentado por Ferreira (2002),
segundo a descrição de Conte (1993) que descreve a ‘natureza do abuso sob três
dimensões’:

“a diferença de idade (de 5 anos ou mais entre a criança e o agressor), o


comportamento sexual específico (fotografia, exibicionismo, voyerismo,
beijos, felação e penetração de vagina, ânus ou boca com órgãos sexuais ou
objetos) e a intenção sexual (na qual a intenção do comportamento é a
gratificação do adulto).”

Segundo Ferreira (2002) das três dimensões, a última é a que mais apresenta
dificuldades em sua determinação e para Heger (1996) a grande variedade de formas
de apresentação dos comportamentos sexuais, muitas vezes inaparente fisicamente é
o que dificulta a identificação, em especial para a área médica e no nosso caso, policial.
Ferreira (2002) destaca Finkelhor & Hotaling (1984), (apud Amazarray & Koller, 1998)
que na caracterização do ‘abuso sexual’, apontam: elementos de coerção, o tipo de
comportamento envolvido e a diferença de idade. Quanto a diferença de idade entre
a vítima e o agressor, os autores, consideram significativa quando: cinco anos ou mais,
se esta tiver menos de 12 anos e 10 anos ou mais quando a vítima tiver entre 13 e 16
anos. Ferreira (2002) ainda destaca que o Ministério da Justiça do Brasil e UNICEF
(1996), recomenda que planos e política pública sejam feitos com base em diagnósticos
quali-quantitativos do problema.

4 O desconhecido número da ocorrência do ‘abuso sexual ’nos órgãos


competentes

Em seu trabalho sobre a evolução da reprodução humana, Roger Short (1979: 197)
argumenta que:

"Somos a única espécie de mamíferos em que não há o fenômeno do estro, que


é o período durante o qual a fêmea instintivamente recebe o sexo masculino.
Ao invés do estro, a fêmea da espécie humana é potencialmente receptiva em
todos os momentos, desde a adolescência até a velhice. Parece igualmente
provável que nós somos as únicas espécies de primatas em que a gratificação
do ato sexual se vê aumentada pelo orgasmo feminino".

73
Mudanças deste tipo e outras por sua vez, social, política e afetiva, permitiu o
surgimento de erotismo, especificamente histórico, dado pela experiência humana e
não determinado pela biologia (Roger Short, 1979). Cosmides e Tobby (1999)
informam que a filogenética aponta para a existência de ‘competências naturais’, e
essas competências naturais são adaptações produzidas pela seleção natural e pela
seleção sexual de uma interação genes/fatores ambientais que produzem uma série
predisposições comportamentais, com a finalidade específica de resolver problemas
quanto a sobrevivência e reprodução de uma espécie, como: o forrageio (busca por
alimentos), seleção de parceiro reprodutivo, evitação do incesto e hierarquia (Bastos e
Rocha, 2007). O Código Civil Brasileiro Lei n 10.406, de 10 de janeiro de 2002,
regulamenta de acordo com a relação de parentesco, em que considera a
consanguinidade, a celebração do casamento civil. Para tal ato, é essencial a
verificação da existência ou não de impedimentos matrimoniais, que proíbem a sua
celebração, causando a invalidade (nulidade absoluta) do casamento que foi realizado
sem a sua verificação (Cavalcanti, 2005), conforme o artigo 1521 do Código Civil
Brasileiro/2002, que determina o seguinte:

“Art. 1521. Não podem casar:

I. Os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil.

II. Os afins em linha reta.

III. O adotante com quem foi o cônjuge do adotado e o adotado com quem o
foi do adotante.

IV. Os irmãos, unilaterais ou bilaterais e demais colaterais, até o terceiro grau


inclusive.

V. O adotado com o filho do adotante.

VI. As pessoas casadas.

VII. O cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de


homicídio contra o seu consorte.”

Em relação ao Inciso I, os ascendentes com os descendentes, se enquadra a proibição


da relação entre pais e filhos, netos e avós etc., tanto no parentesco consangüíneo como
no parentesco pela adoção, parentesco civil e quanto ao Inciso II, os afins são aqueles
parentes que recebemos pelo evento casamento ou união estável. Ou seja, são os
parentes do cônjuge ou companheiro que passam a ser considerados como parentes
por afinidade do outro cônjuge ou companheiro (Cavalcanti, 2005).

Já a base comum para a definição de sexo é a reprodução. E a partir deste critério, se


classifica os indivíduos de acordo com características particularmente referente aos
órgãos genitais, sendo: vulva-vagina e pênis-testículos, e em feminino e masculino.

74
Considera-se também que o sexo envolve uma série de atributos sociais, econômicos,
jurídicos e políticos, que pré-determina as formas sexuais em relação ao
comportamento, atitudes, sentimentos, percepções, intelecto, emoções, força física,
preferências, hábitos e práticas eróticas, e assim por diante. E por meio das práticas
sexuais aceitas em uma determinada comunidade social podemos acessar o que é uma
qualidade moral e como é reconhecida (Roger Short, 1979), conforme explica Michael
(1992, Forewords I; in Verbal Behavior 1957, 1992):

“Os seres humanos estão predispostos a se comportar sexualmente, sistemas


nervosos, suas glândulas, suas estruturas anatômicas, tudo fornece os
fundamentos necessários para tal comportamento. Mas a forma particular em
que ocorre, e se ocorre, e quando ocorre, é outra questão, e requer uma análise
mais do que a física, a fisiologia ou a genética pode fornecer. Especular que
nosso cérebro pode gerar um infinito número de ações sexuais com algumas
regras, não vai muito longe, não vai explicar o comportamento de uma esposa
em direção a outros maridos, ou o estilo ménage à trois ou determinada pessoa
nunca casar-se. Os rituais do namoro e as formas elaboradas de aquisição e
conquista mútua obtêm seu significado e suas maneiras apenas dentro de uma
comunidade social.”

Segundo Gabel (1997, p.12), “a abordagem que uma sociedade faz dos abusos sexuais
está necessariamente ligada às mudanças nas relações entre os interesses do Estado,
da família e da criança em particular, e ao papel atribuído à criança numa sociedade
determinada”. Tal situação foi observada, paulatinamente, na passagem da sociedade
medieval à moderna, nesta há uma percepção diferente da criança, surgindo o dever
de cuidar e protegê-la contra os abusos antes cometidos com naturalidade e, com esta
nova visão, houve, conseqüentemente, uma transformação na legislação do Estado
para assegurar este novo pensamento. A definição do que possa ser uma prática
abusiva passa sempre por uma negociação entre a cultura, a ciência e os movimentos
da sociedade (Deslandes, 1994). Os maus-tratos contra a criança e adolescente podem
ser praticados pela omissão, pela supressão ou pela transgressão dos seus direitos,
definidos por convenções legais ou normas culturais.

Existe uma dificuldade de se apontar com maior precisão a frequência do ‘abuso se


xual’, uma vez que a maior parte dos casos não se notifica no momento da ocorrência
ou se notifica em vários contextos como: saúde, escolar, Rede de Proteção, policial e
jurídico, sem a integração das notificações. Ainda assim, estudos em vários países
indicam que o abuso sexual é um problema internacional (Ferreira, 2002). Com isso,
Ferreira (2002) destaca Finkelhor (1994) que informa que, as frequências, são maiores
do que as sugeridas pela quantidade de casos notificados. Ferreira (2002) acrescenta,
conforme Berkowitz et al (1994) que a Associação Médica Americana recomenda que
os médicos chamem atenção dos pais para a obrigatoriedade da notificação e que estes
profissionais se mantenham neutros em suas atitudes e não estabeleça opiniões
pessoais sobre a situação apresentada, pois a literatura norte-americana afirma a

75
obrigatoriedade da notificação dos casos de abuso sexual infantil por parte dos
profissionais de saúde às agências de proteção do estado. Apesar ainda de comumente
ocorrer a subnotificação, ou seja, a não notificação, sendo esta tanto uma questão tanto
nacional, quanto internacional (Souza, Assis e Alzuguir, 2002).

Sendo assim, não apresentaremos dados estatísticos quanto a incidência de violência


sexual contra crianças e adolescentes, mesmo que a literatura apresente vários
estudiosos e instituições para o assunto, tais como: Hampton & Newberger, 1985;
Zavaschi et al, 1991; Santos, 1992; CLAVES, 1993; Tilden et al, 1994; Assis & Souza,
1995; Assis, 1995; Sánchez, 1997; Swanston et al, 1997; Ernst et al apud Flores, 1998;
Flores, 1998; CRAMI, 1997; ABRAPIA, 1999. Neste caso concordaremos com Ferreira
(2002), que existe uma dificuldade em comparar e generalizar estudos entre e intra
países, pois as definições utilizadas são diferentes, os dados são obtidos e analisados
de modo diverso, e as amostras têm características diferentes. Ainda como fator
acentuado de divergência, a legislação e o sistema penal se diferencia de maneira
muito particular.

76
III Marcos sócios-legais

1 Marcos Internacionais
Os tratados internacionais surgem com o objetivo de estabelecer relações pacíficas
entre partes signatárias. O primeiro registro desta modalidade foi o Tratado Egípcio
Hitita, usualmente designado por Tratado de Kadesh ou Tratado de Qadesh, foi um
tratado de paz celebrado entre o faraó egípcio Ramsés II e o rei Hitita Hatusil III ca.
Em 1 259 a.C. (Bryce, 1999; Klengel, 2002).

O início da efetivação, das organizações internacionais, nos moldes modernos,


ocorreu com uma série de tratados, que inaugurou o moderno Sistema Internacional,
considerados como "sistema de Estados" ou "Governo do Mundo". Estes tratados
foram nomeados ‘Paz de Vestfália ’(ou de Vestefália, ou ainda Westfália), também
conhecida como os Tratados de Münster e Osnabrück (cidades da atual Alemanha),
designa uma série de tratados que encerraram a Guerra dos Trinta Anos e também
reconheceram oficialmente as Províncias Unidas e a Confederação Suíça. O Tratado
Hispano-Holandês, que pôs fim à Guerra dos Oitenta Anos, foi assinado no dia 30 de
janeiro de 1648 (em Münster). Já o tratado de Vestfália, assinado em 24 de outubro de
1648 em Osnabrück, entre Fernando III, Sacro Imperador Romano-Germânico, os
demais príncipes alecomunicantes, França e Suécia, puseram fim ao conflito entre
estas duas últimas potências e o Sacro Império. O Tratado dos Pirinéus (1659), que
encerrou a guerra entre França e Espanha, também costuma ser considerado parte da
Paz de Vestfália (Pedro Nobre, 2014).

A idéia de garantir direitos e proteção a crianças e adolescentes, como sujeitos que


possuem uma previsão legal e normatizadora, é uma condição moderna. Os
documentos internacionais de proteção nesta área são relevantes a partir da história
específica da criança Mary Ellen Wilson, em 1874, de 8 anos, que morava em Nova
York e sofria maus tratos por seus pais adotivos (Barry, 1999). Tal fato foi identificado
por uma assistente social, Etta Wheeler, que atendia a vítimas de pobreza e por Henry
Berg, um dos fundadores da ASPCA - Sociedade Americana para a Prevenção da
Crueldade Contra os Animais (Barry, 1999).

Tal manobra fez-se necessária, pois, nem mesmo a Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão de 1789, que foi inspirada na Declaração de Virginia, da independência
americana de 1776, e que serviu de preâmbulo também à primeira Constituição da
Revolução Francesa, adotada em 1791, não apresentaram pontos específicos para a
criança, ainda que proclamasse a igualdade (Embaixada da França no Brasil, 2016).
Com isso, por não haver entidades específicas que defendessem os direitos das
crianças, Mary Ellen foi protegida pela Sociedade Norte Americana para Prevenir a

77
Crueldade contra os Animais, com base no pressuposto que, crianças, também faziam
parte do reino animal (Barry, 1999).

O século XIX (de 1801 a 1900) foi um período histórico marcado pelo colapso dos
impérios da Espanha, China, França, Sacro Império Romano-Germânico e Mogol. O
século também testemunhou o crescimento da influência dos
impérios Britânico, Russo, Alemão, Japonês, e dos Estados Unidos. O século XIX
presenciou fortes conflitos militares, mas também avanços científicos e de exploração.
O desenvolvimento da medicina se relaciona diretamente com a migração,
superlotação das cidades e as precárias condições de vida da classe trabalhadora
própria da Revolução Industrial. A sua consequência foi a proliferação das doenças
infecciosas (sífilis, tuberculose) ou relacionadas com a má alimentação (pelagra,
raquitismo, escorbuto).

Em 1882, Heinrich Hermann Robert Koch um medico, patologista e bacteriologista


alemão, que descobriu o bacilo da tuberculose, ou Bacilo de Koch. Em 1885 Koch foi
nomeado Professor de Higiene da Universidade de Berlim e diretor do recém
formado Instituto de Higiene desta Universidade. Após a descoberta de Koch, em que
apontava cientificamente que a verdadeira causa das doenças estava relacionado
a microorganismos a higiene passa a ser uma questão social. O movimento da
medicina higienista (Alcaide Gonzalez, 1999) vem como uma necessidade de manter
determinadas condições de salubridade nas cidades, como forma de controlar
epidemias, frente ao crescimento populacional e a pobreza (Candido, 1999).

Em 1919 O Tratado de Versalhes, marca as negociações de paz entre as potências


europeias, em que se encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial, porém visto
pela Alemanha como impositivo. Deste tratado, surge a Liga das Nações, em que a
OIT – Organização Internacional do Trabalho, foi instituída como uma de suas
principais agências e que o Brasil também foi signatário.

Em 1919, Eglantyne Jebb, com o auxílio de sua irmã Dorothy Buxton funda o ‘Save the
Children’, em Londres, organização não governamental, voltada para amenizar o
impacto do pós Primeira Guerra Mundial e Revolução Russa, na vida das crianças,
com o objetivo de alimentá-las. Tal iniciativa vem da lentidão do governo na
Inglaterra, em tomar providências ágeis em relação ao acesso a comida pelas crianças.
Englantyne Jebb, estudou história em Oxford e em 1906, estudou ciências sociais em
Cambridge, no qual se aproxima de uma instituição de caridade de nome Charity Or
ganisation Society e publica o livro: ‘Um breve estudo das questões sociais’, sem muita
repercussão. Em 1920, com o apoio do ‘Comitê Internacional da Cruz Vermelha –
CICR’, o ‘Save the Children Fund ’se estrutura e funda o ‘Save the Children Inernacional
Union’, com a denominação francesa de ‘Union Internationale de Secours aux Enfants -
UISE’. A expectativa de Englantyne era de criar um fórum internacional reconhecido
mundialmente, similar a Cruz Vermelha. A UISE, estabeleceu sede em Genebra e

78
estabeleceu laços estreitos pessoais e de trabalho com a Cruz Vermelha, ao ponto de
constituir uma tradição de que o presidente da Cruz Vermelha, fizesse parte do
Comitê de Honra da UISE. Com vasta representatividade e atuação a ‘Save the Children
Fund ’britânica, pertencente a UISE, apresentou em 1922 a ‘Carta a Infância’, com um
enunciado de quatro princípios gerais e vinte e oito clausulas, sendo que alguns destes
princípios gerais podem ser reconhecidos na Declaração de Genebra, em que
destacaram como inspiradora Englantyne. A Declaração de Genebra foi considerada
a primeira ‘Carta de Direitos das Crianças’, Save the Children.

Em 1924, a Liga das Nações adota a Carta de Eglantyne sobre os direitos das crianças
1924 - A Sociedade das Nações adota a Declaração dos Direitos da Criança de Genebra,
que determinava sobre a necessidade de proporcionar à criança uma proteção
especial. Pela primeira vez, uma entidade internacional tomou posição definida ao
recomendar aos Estados filiados cuidados legislativos próprios, destinados a
beneficiar especialmente a população infantojuvenil. Em 1927, ocorre o IV Congresso
Panamericano da criança, onde dez países (Argentina, Bolívia, Brasil, Cuba, Chile,
Equador, Estados Unidos, Peru, Uruguai e Venezuela) subscrevem a ata de fundação
do Instituto Interamericano Del Niño, Instituto Interamericano da Criança - IIN, que
atualmente encontra-se vinculado à Organização dos Estados Americanos – OEA, e
estendido à adolescência, cujo organismo destina-se a promoção do bem-estar da
infância e da maternidade na região (Droux Joelle, 2011).

Em 1924 e em 1952, ocorreram duas reuniões em Genebra e em Viena, com o desígnio


de garantir a proteção e cuidados às crianças. A Organização das Nações Unidas -
ONU, (fundada em 1945), aprovou em 1959, a Declaração dos Direitos da Criança,
com dez princípios básicos que garantem a proteção da criança, sendo este um
significativo avanço legal na área da infância. (Ferrari & Vecina, 2002).

A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Convenção sobre os Direitos da


Criança – Carta Magna para as crianças de todo o mundo – em 20 de novembro de
1989, e, no ano seguinte, o documento foi oficializado como lei internacional. A
Convenção sobre os Direitos da Criança é o instrumento de direitos humanos mais
aceito na história universal. Foi ratificado por 196 países, somente os Estados Unidos
não ratificaram a Convenção, mas sinalizaram sua intenção de ratificar a Convenção
ao assinar formalmente o documento (Cantwell, 1992).

O projeto original da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança foi


formalmente apresentado no começo de 1978, pelo governo polonês, à Comissão de
Direitos Humanos da ONU, em homenagem a Janusz Korczak (Cantwell, 1992).
Korczak (1878- 1942), pseudônimo de Henryk Goldshmid, judeu polonês, médico
pediatra, criou em 1912, em Varsóvia, uma instituição, Lar de Crianças da Rua
Krochalna, na qual acolhia crianças pobres judias (Rosenberg & Mariano, 2013). A
previsão era que a Convenção fosse aprovada ao final de 1979, como um marco do

79
Ano Internacional da Criança, que já havia mobilizado a sociedade internacional em
prol de uma agenda para a infância (Mariano, 2010).

O que se tem como resolução de grande impacto mundial na temática específica


infanto-juvenil, foram as discussões ocorridas na Organização Internacional do
Trabalho – OIT, com destaque para a Convenção nº 138, de 1973, que estabelece a
idade mínima para o trabalho e a Convenção nº 182, de 1999, que relata sobre as piores
formas de trabalho infantil e inclui a: utilização, o recrutamento ou a oferta de crianças
para a prostituição, a produção de pornografia ou atuações pornográficas. A OIT,
desde 1946, é uma das agências especializadas da ONU – Organização das Nações
Unidas, com sede em Genebra. Destaca-se a promulgação destas Convenções, no
Brasil, por meio do Decreto 3.597, de fevereiro de 2000, que promulga a Convenção
182 e a Recomendação 190 da OIT, sobre a proibição das Piores Formas de Trabalho
Infantil e a Ação imediata para sua eliminação. E pelo Decreto 4.134, de 28 de junho
de 2002, que promulga a Convenção 138 e a Recomendação 146, da OIT, sobre idade
mínima de admissão no emprego (Dolinger, 2003).

2 Nacionais
No Brasil em 1891, no governo do Marechal Deodoro da Fonseca, houve o Decreto nº
1.313 – que estipulava em 12 anos a idade mínima para se trabalhar. No início do
século XX, liderado por trabalhadores urbanos, o Comitê de Defesa Proletária foi
criado durante a greve geral de 1917, e que reivindicava, entre outras coisas, a
proibição do trabalho de menores de 14 anos e a abolição do trabalho noturno de
mulheres e de menores de 18 anos.

Em 1920 realizou-se o 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, impulsionando


a criação de uma agenda sistematizada sobre a proteção social, e passou a ser debatida
pela sociedade a regulamentação da assistência e proteção aos “menores abandona
dos” e “delinquentes”, culminando com a promulgação do Código de Menores em
1927 (Rizzini & Rizzini, 2004)

Em 1923, o Estado centraliza poderes no Juízo Privativo de Menores, tendo Mello


Mattos como o primeiro Juiz de Menores da América Latina, em auxilio ao juiz criam
o Abrigo de Menores (art. 62) e o Conselho de Assistência e Proteção aos Menores (art.
91) (Ministério Público do Rio Grande do Sul, 2016). No ano de 1927, foi promulgado
o primeiro documento legal para a população menor de 18 anos: o Código de
Menores, que ficou popularmente conhecido como Código Mello Mattos, por meio do
Decreto nº 17.943-A de 12 de outubro de 1927, consolidava as leis de assistência e
proteção aos menores pelo presidente Washington Luiz P. de Sousa. O Código de
Menores visava estabelecer diretrizes claras para o trato da infância e juventude
excluídas, regulamentando questões como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, de
linqüência e liberdade vigiada (Ministério Público do Rio Grande do Sul,2016).

80
Em 1940, Myra y López, foi convidado por Helena Antipoff, para organizar e
supervisionar o Serviço de Orientação Profissional da Secretaria de Educação do
Estado de Minas Gerais, sendo ainda contratado para organizar, junto com Antipoffxiv,
o Departamento Nacional da Criança - DNCr. O Departamento Nacional da Criança
era responsável pela coordenação, em âmbito federal, das atividades voltadas à
maternidade, infância e juventude, no contexto do Ministério da Educação e Saúde.
Sua criação, em 1940, está vinculada à preocupação do governo do Estado Novo com
a educação e assistência à criança e à juventude, como forma de garantir o futuro da
nação (Degani-Carneiro & Jacó-Vilela, 2012). Em 1942, no período do Estado Novo, do
Presidente Vargas, foi criado o Serviço de Assistência ao Menor - SAM. Tratava-se de
um órgão do Ministério da Justiça e que funcionava como um equivalente do sistema
Penitenciário para a população menor de idade. Sua orientação era correcional
repressiva (Ministério Público do Rio Grande do Sul, 2016). O Governo Vargas é
deposto em 1945 e uma nova constituição é promulgada em 1946, a quarta
Constituição do país, no governo de Eurico Gaspar Dutra. De caráter liberal, esta
constituição simbolizou a volta das instituições democráticas. Restabeleceu a
independência entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, acabou também
com a censura e a pena de morte (Boris, 1994).

Em 1967, houve a elaboração de uma nova Constituição, e neste período foi criado por
lei, a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - FUNABEM, pela Lei 4.513 de
1/12/64, no governo militar de Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. Em
1979, no governo do General Ernesto Geisel, institui-se o Código de Menores de 79
(Lei 6697 de 10/10/79) (Boris, 1994).

A Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor tinha como objetivo formular e


implantar a Política Nacional do Bem-Estar do Menor, e herdou do SAM prédio e
pessoal e, com isso, toda a sua cultura organizacional. A FUNABEM propunha-se a
ser a grande instituição de assistência à infância, cuja linha de ação tinha na internação,
tanto dos abandonados e carentes como dos infratores, seu principal foco (Ministério
Público do Rio Grande do Sul,2016).

O Código de Menores de 1979 constituiu-se em uma revisão do Código de Menores


de 27, não rompendo, no entanto, com sua linha principal de assistencialismo e
repressão junto à população infanto-juvenil. Esta lei introduziu o conceito de "menor
em situação irregular", que reunia o conjunto de meninos e meninas que estavam
dentro do que alguns autores denominam infância em "perigo" e infância "perigosa".
Esta população era colocada como objeto potencial da administração da Justiça de
Menores, em que o juiz tinha amplos poderes sobre quais as melhores medidas
aplicaria (Rizzini & Rizzini, 2004).

Em 1950, foi instalado o primeiro escritório do United Nations Children s Fund, Fundo
das Nações Unidas para a Infância - UNICEF no Brasil, em João Pessoa, na Paraíba. O

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primeiro projeto realizado no Brasil destinou-se às iniciativas de proteção à saúde da
criança e da gestante em alguns estados do nordeste do país (Rizzini & Rizzini, 2004).

Em 1964, Lei 4513, cria a Fundação Nacional do Menor, no governo Castello Branco,
e em 1965, por meio da Lei 4884 de 9 de dezembro, institui-se a primeira verba
especifica para a área da infância, que concede a Fundação Nacional do Bem-Estar do
Menor a autorização de credito especial para atender a fundação.

O Código de Menores de 1979, Lei Federal nº 6.697, de 10 de outubro de 1979, durou


de 1979 até 1990 e teve o seu fim, inicialmente com a promulgação da atual
Constituição Federal em 1988, que estabelece em seu artigo 227:

“(...) é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e o


adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-la a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão”.

O ECA internalizou uma série de normativas internacionais, tais como: Declaração


dos Direitos da Criança (Resolução 1.386 da ONU - 20 de novembro de 1959); Regras
mínimas das Nações Unidas para administração da Justiça da Infância e da Juventude
- Regras de Beijing (Resolução 40/33 - ONU - 29 de novembro de 1985); e as Diretrizes
das Nações Unidas para prevenção da Delinqüência Juvenil.

O Estatuto se divide em dois livros: o primeiro trata da proteção dos direitos


fundamentais da pessoa em desenvolvimento e o segundo trata dos órgãos e
procedimentos protetivos. Encontram-se os procedimentos de adoção (Livro I,
capítulo V), a aplicação de medidas sócio-educativas (Livro II, capítulo II), do
Conselho Tutelar (Livro II, capítulo V), e também dos crimes cometidos contra
crianças e adolescentes.

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, foi uma conquista significativa tanto


para toda a sociedade como para a criança e o adolescente brasileiros, colocando-os
não somente como objeto de intervenção do Estado, mas como sujeito de direito,
independente do contexto sócio-cultural em que estão inseridos.

E com base nessas premissas e dos direitos da criança e do adolescente previstos na


Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente de 1989, na
Constituição Federal (1988) e no Estatuto da Criança e do Adolescente –ECA (1990)
têm a sua viabilização assegurada por um Sistema de Garantia, que se encontra
apoiado em três eixos: Promoção, Controle e Defesa. Um Programa de Defesa dos
Direitos da Criança e do Adolescente justifica a sua intervenção quando os direitos de
crianças e adolescentes são ameaçados ou violados, pela insuficiência de programas e

82
serviços por omissão da sociedade ou do Estado e pela omissão, abuso ou conduta
inadequada dos pais ou responsáveis e visa coibir a violação de direitos da criança e
do adolescente.

No eixo de controle, destacamos com relevância a implantação do Ministério da


Saúde, em 2006, do sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), com a
finalidade de obter dados e divulgar as informações sobre violências e acidentes, o
que permite conhecer a magnitude desses graves problemas, no âmbito da saúde. O
sistema VIVA foi estruturado em dois componentes: 1) vigilância contínua de
violência doméstica, sexual e/outras violências interpessoais e autoprovocadas
(VIVA contínuo), implantada em serviços de referência para as violências; e 2)
vigilância sentinela de violências e acidentes em emergências hospitalares (VIVA
sentinela). A vigilância epidemiológica de violências e acidentes vem complementar
as análises epidemiológicas já realizadas com os dados dos sistemas de mortalidade e
de morbidade hospitalar (Brasil, 2009). Devido às suas especificidades no que se refere
ao caráter compulsório das notificações de violências contra crianças, adolescentes,
mulheres e pessoas idosas, e no sentido de viabilizar a articulação e integração com a
rede de atenção e proteção social às vítimas das violências, a coleta de dados se torna
universal e contínua e passa a integrar o Sistema de Informação de Agravos de
Notificação - SINAN, permitindo sua consolidação em todo o território brasileiro.
Deste modo, a partir de 2009, o componente de vigilância contínua do sistema VIVA
foi incorporado ao SINAN Net, adequando-se às suas normas especificas, no que diz
respeito à padronização de coleta e envio de dados (Brasil, 2009).

A notificação da violência: doméstica, física, sexual, psicológica e


negligência/abandono é obrigatória em todos os estabelecimentos de saúde do Brasil.
Os dados do VIVA, implantado em 2006, são coletados por meio da ficha individual,
um protocolo, que é registrado no Sistema de Informação de Agravos de Notificação
- SINAN. Desde janeiro de 2011, todos os casos de violência contra a criança ou
adolescente passaram a fazer parte da relação de doenças e agravos.

No eixo promoção, o programa Sentinela foi implantado no país em 2001, com a


implantação do SUAS no Brasil, o atendimento anteriormente ofertado pelo Programa
Sentinela foi incorporado ao Serviço de Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à
Exploração Sexual contra Criança e Adolescentes ofertado pelos Centros de Referência
Especializados de Assistência Social – CREAS, no âmbito da Proteção Social Especial
de Média Complexidade. Por meio da Resolução Nº 109, de 11/11/2009 - Tipificação
Nacional de Serviços Socioassistenciais a atenção ofertada pelo Serviço de
Enfrentamento à Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual foi incorporada ao escopo
de competências do PAEFI - Serviço de Proteção Social Especial a Indivíduos e
Famílias, ofertado obrigatoriamente pelo CREAS, que é o serviço de apoio, orientação
e acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação de
ameaça ou violação de direitos.

83
O Sistema de Defesa, é nomeado como Sistema de Garantia de Direitos da Criança e
do Adolescente – SGDCA e é composto por diversos órgãos: Conselhos Tutelares,
Conselhos de Direitos, Defensorias Públicas, Delegacia de Proteção, Varas da Infância
e Adolescência, Juizados da Infância e Centros de Defesa. A implantação destes órgãos
depende diretamente da iniciativa local municipal ou estadual. Os Conselhos de
Direitos surgem com base no Princípio da Democracia Participativa, previsto
na Constituição Federal de 1988. O artigo 88, inciso II, do ECA, dispõe sobre a criação
de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente,
como órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a
participação popular paritária por meio de organizações representativas, segundo leis
federal, estaduais e municipais.

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA, é a


instância máxima de formulação, deliberação e controle das políticas públicas para a
infância e a adolescência na esfera federal foi criado pela Lei n. 8.242, de 12 de outubro
de 1991 e é o órgão responsável por tornar efetivo os direitos, princípios e diretrizes
contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990,
conta, em sua composição, com 28 conselheiros, sendo 14 representantes do Governo
Federal, indicados pelos ministros e 14 representantes de entidades da sociedade civil
organizada de âmbito nacional e de atendimento dos direitos da criança e do
adolescente, eleitos a cada dois anos.

Cabe ao CONANDA incentivar a criação de órgãos conforme previsto na legislação


vigente. Os Conselhos Tutelares, por exemplo, devem estar presentes em todos os
municípios da Federação, de maneira descentralizada e dinâmica, mas de difícil
monitoramento e avaliação. Em 2001, havia 3.009 Conselhos Tutelares no País, o
número foi obtido em função de uma pesquisa realizada por uma entidade parceira.
Em 2002, não foi possível realizar o mesmo levantamento, mas foram apoiados os
Conselhos Tutelares de onze estados para implementação do Sistema Integrado de
Informações para Infância e Adolescência - SIPIA.

O Programa de Defesa tem parcerias históricas, principalmente no âmbito da


sociedade civil organizada e alguns organismos internacionais, que têm buscado atuar
de forma mais enfática na mobilização social e na maior visibilidade da legislação
aplicada à área. São entidades como: Movimento Nacional de Meninos e Meninas de
Rua, Fórum Nacional pelos Direitos da Criança e do Adolescente, Fórum Nacional de
Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, Associação Nacional dos Centros de
Defesa, Associação Nacional dos Conselhos Tutelares, Conselho Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente, IPEA, UNICEF, USAID, UNIFEM e Organização
Internacional do Trabalho. Elas têm contribuído técnica e financeiramente para a
implementação de diversas ações. Como preconizado pela legislação, a criança é
responsabilidade do Estado e da Sociedade. Não há como atuar de forma isolada nesta
questão sob pena de não se promover os avanços necessários. O Público-alvo é

84
composto por: Conselheiros de Direitos, Conselheiros Tutelares, Defensores Públicos,
Delegados de Polícia, Representantes de Centros de Defesa, Policiais, seguranças de
escolas, Lideranças comunitárias, Educadores e Representantes de Organizações Não
Governamentais na linha da defesa de direitos.

A criação da Secretaria de Estado e Direitos Humanos - SEDH (1999) possibilitou o


engajamento efetivo do Governo Federal em ações voltadas para a proteção e
promoção de direitos humanos. Nas ações mais eficazes da SEDH, temos o Disque
100, que é um serviço de utilidade pública da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República (SDH/PR), foi lançado em 2003 e é vinculado à Ouvidoria
Nacional de Direitos Humanos, que recebe demandas relativas a violações de Direitos
Humanos. Mantido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
(SDH), o serviço também presta orientações e faz indicações de órgãos públicos e de
entidades de atendimento próximas aos cidadãos. O Disque Direitos Humanos
funciona 24 horas, em todo o Brasil, por meio de ligações gratuitas. O comunicante
não precisa necessariamente se identificar e as denúncias recebidas são analisadas e
encaminhadas aos órgãos de proteção, defesa e responsabilização em direitos
humanos, no prazo máximo de 24 horas, respeitando as competências e as atribuições
específicas, porém priorizando qual órgão intervirá de forma imediata no
rompimento do ciclo de violência e proteção da vítima.

O Disque 100 é o melhor meio de os cidadãos do país poderem denunciar ou procurar


orientações em casos de violência, abusos ou exploração sexual e negligência
envolvendo crianças e adolescentes. A maioria das metas do Plano Nacional de
Direitos Humanos xv – PNDH, foi sendo incorporada aos instrumentos de
planejamento e orçamento do país e se converteram em programas e ações específicas
para os quais foram destinados recursos orçamentários nas Leis Orçamentárias
Anuais e para os quais há previsão orçamentária até o ano de 2003, conforme
determina o Plano Plurianual 2000-2003. Esses instrumentos de gestão pública
refletem, portanto, a opção estratégica do Governo Federal de apoiar programas
voltados para a proteção e promoção dos direitos humanos. A SEDH, em 2002, foi
responsável pela implementação de 76 ações distribuídas em 8 Programas previstos
no Plano Plurianual - PPA.

O Plano Plurianual – PPA, no Brasil, está previsto no artigo 165 da Constituição


Federal, regulamentado pelo Decreto 2829, de 29 de outubro de 1998 e faz parte do
Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. O Programa obteve um êxito
relativo, decorridos três anos de ênfase na implantação das unidades de defesa, até
2003. Dentre estas ações, a criação de delegacias estaduais especializadas, núcleos
especializados de atendimento a crianças e adolescentes no âmbito das defensorias
públicas e rede nacional de proteção jurídico-social a crianças e adolescentes
vitimados.

85
No período de 2000 a 2002, foi apoiada a criação de dezessete unidades de Delegacias
de Proteção, 23 Núcleos Estaduais de Atendimento no âmbito das Defensorias
Públicas e mais de duzentos municipais e dezessete Centros de Defesa. Mas somente
em 2004 foi criada a primeira delegacia especializada, a empresa Itaipu viabilizou
junto à Secretaria de Segurança Pública do Paraná a instalação na cidade do Núcleo
de Proteção às Crianças e aos Adolescentes Vítimas de Crimes (Nucria). O Nucria é a
primeira delegacia especializada na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes
do Brasil. A Itaipu cedeu por comodato e reformou um imóvel na “Vila A” para
instalá-la. A empresa doou, ainda, três automóveis. O Nucria está em atividade desde
dezembro de 2004. Com brinquedos e material escolar disponíveis para as crianças, o
ambiente em nada lembra o de uma delegacia. A partir de 2004 surgiram as demais
delegacias especializadas no atendimento e proteção à criança xvi , com
aproximadamente 35 delegacias no território nacional.

No Estado de Goiás temos a Delegacia de Polícia de Investigação de Atos Infracionais


– DEPAI Goiânia, que investiga as infrações cometidas por crianças e adolescentes e a
Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente - DPCA de Goiânia. A DPCA,
iniciou suas atividades por meio do decreto nº 6118 de 08 de abril de 2005, que revoga
o decreto em que deixa de ser nomeada como DICC- Delegacia Especializada em
Investigações de Crimes contra a Criança e ao Adolescente, constante da alínea “h” do
anexo único do decreto 6.034, de 16 de novembro de 2004. Em 2010 a criação da DPCA
de Aparecida de Goiânia e em 2013, com o projeto da Governadoria, nº 4.396/13, e
por meio da Lei nº 18.052, de 24 de junho de 2013, o Governador Marconi Perillo, cria
no art. 4º, 7 (sete) Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente - DPCA -,
conforme especificação: Anápolis, Luziânia, Aguas Lindas de Goiás, Caldas Novas,
Ceres, Itaberaí, Porangatu.

A DPCA, de Goiânia, iniciou suas atividades como Delegacia de Investigação de


Crimes Contra a Criança - DICC, em 2004 e como DPCA, em 2005 e funcionou até o
mês de agosto do ano de 2013 no complexo das delegacias especializadas, no Bairro
Cidade Jardim, em Goiânia. No dia 06 de novembro de 2013, a DPCA Goiânia, por
meio do empenho da Delegada Titular Renata Vieira, mudou-se para o Bairro Jardim
América, com excelente estrutura tanto para o público, quanto para os servidores. A
mudança de localidade somente foi possível pela parceria entre Ministério Público do
Trabalho e a Policia Civil.

86
IV O Sistema de Segurança Pública Brasileiro na
Defesa Infanto-Juvenil

1 A política de segurança pública no Brasil


No Brasil considera-se a segurança pública um processo articulado e interdependente,
enquanto a política de segurança pública, a maneira de estabelecer estratégias de
controle social e enfrentamento da violência e da criminalidade, de forma a
compreender as ferramentas para a punição (Adorno, 1996; Bengochea et al., 2004;
Sapori, 2007). O Sistema de Segurança Pública brasileira, é composto dos seguintes
órgãos: - Polícias Ostensivas (Preventivas); - Polícias Investigativas; - Ministério
Público; - Poder Judiciário; e - Órgãos Recuperatórios, como: Penitenciárias, Casas de
Detenção e Casas de Acolhimento (Carvalho e Silva, 2011).

Na jurisdição brasileira, a Polícia Administrativa possui maior discricionariedade, já


que atua independentemente de autorização judicial, visando a impedir a realização
de crimes. E a Polícia Judiciária tem sua atuação regida, entre outros dispositivos
legais, pelo Código de Processo Penal, predominando o seu caráter repressivo, pois
sua principal função é punir os infratores das leis penais. De acordo com seu próprio
nome, a Polícia Judiciária atua em auxílio à Justiça, apurando as infrações criminais e
as respectivas autorias (Batista, 2012).

O modelo de segurança pública brasileiro é incomparável e complexo, com o objetivo


de preservar a ordem pública, sendo uma de caráter ostensivo (Polícias Militares) e
outra, reconhecida como polícia judiciária, que se detém a apuração das infrações
penais (Polícias Civis), além da Polícia Federal, caracterizada pelo ciclo completo de
polícia, com funções de polícia ostensiva (administrativa) e polícia judiciária (Batista,
2012).

Segundo Carvalho & Silva (2011), a segurança pública é considerada uma demanda
social que necessita de estruturas estatais e demais organizações da sociedade para
ser efetivada. Às instituições ou órgãos estatais, incumbidos de adotar ações voltadas
para garantir a segurança da sociedade, denomina-se sistema de segurança pública,
tendo como eixo político estratégico a política de segurança pública, ou seja, o
conjunto de ações delineadas em planos e programas e implementados como forma
de garantir a segurança individual e coletiva. Como grande linha ação temos o
delineamento do Plano Nacional de Segurança Pública - PNSP, implementado a partir
do ano 2000, e do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania -
PRONASCI, estruturado em 2007, e ainda em execução, ambos de iniciativa do
Governo Federal (Carvalho & Silva, 2011). Nas políticas sociais, a complexidade da
política de segurança pública envolve diversas instâncias governamentais e os três
poderes da república. Cabe ao Poder Executivo o planejamento e a gestão de políticas

87
de segurança pública que visem à prevenção e à repressão da criminalidade e da
violência e à execução penal; ao Poder Judiciário cabe assegurar a tramitação
processual e a aplicação da legislação vigente; e compete ao Poder Legislativo
estabelecer ordenamentos jurídicos, imprescindíveis ao funcionamento adequado do
sistema de justiça criminal (Carvalho & Silva, 2011).

“A segurança pública é um processo sistêmico e otimizado que envolve um


conjunto de ações públicas e comunitárias, visando assegurar a proteção do
indivíduo e da coletividade e a ampliação da justiça da punição, recuperação
e tratamento dos que violam a lei, garantindo direitos e cidadania a todos. Um
processo sistêmico porque envolve, num mesmo cenário, um conjunto de
conhecimentos e ferramentas de competência dos poderes constituídos e ao
alcance da comunidade organizada, interagindo e compartilhando visão,
compromissos e objetivos comuns; e otimizado porque depende de decisões
rápidas e de resultados imediatos (Bengochea et al., 2004, p. 120)”.

O governo Fernando Henrique Cardoso, tendo em vista os desdobramentos da


Conferência Mundial de Direitos Humanos, ocorrida em Viena, em 1993, cria, em
1996, o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH, aperfeiçoando-o em 2000,
com a instituição do II Programa Nacional de Direitos Humanos, após a IV conferência
Nacional de Direitos Humanos, ocorrida em 1999. Demonstrando disposição em
reorganizar o arranjo e a gestão da segurança pública, o Governo Federal, cria, em
1995, no âmbito do Ministério da Justiça, a Secretaria de Planejamento de Ações
Nacionais de Segurança Pública - SEPLANSEG, transformando-a, no ano de 1998, em
Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP, tendo como perspectiva atuar de
forma articulada com os estados da federação para a implementação da política
nacional de segurança pública. A instituição da SENASP, como órgão executivo,
significou a estruturação de mecanismos de gestão capazes de modificar o arranjo
institucional da Política de segurança pública no Brasil: avanços, limites e desafios da
segurança pública no âmbito governamental federal. Surgiu, então, o Plano Nacional
de Segurança Pública - PNSP, voltado para o enfrentamento da violência no país,
especialmente em áreas com elevados índices de criminalidade, tendo como objetivo
aperfeiçoar as ações dos órgãos de segurança pública (Carvalho & Silva, 2011).

“O Plano Nacional de Segurança Pública de 2000 é considerado a primeira


política nacional e democrática de segurança focada no estímulo à inovação
tecnológica; alude ao aperfeiçoamento do sistema de segurança pública
através da integração de políticas de segurança, sociais e ações comunitárias,
com a qual se pretende a definição de uma nova segurança pública e,
sobretudo, uma novidade em democracia (Lopes, 2009, p. 29).”

Tanto o Plano Nacional de Segurança Pública - PNSP do governo Fernando Henrique


Cardoso, quanto a política de segurança pública empreendida pelo primeiro governo
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tiveram os resultados esperados. Assim,

88
a partir do ano 2007, já no segundo mandato do presidente Lula, foi apresentado um
novo programa na área da segurança pública, o PRONASCI – Programa Nacional de
Segurança Pública com Cidadania.

A política de segurança pública implantada pelo governo Lula surgiu em 2001, a partir
da elaboração, por parte da ONG Instituto da Cidadania, do Projeto de Segurança
Pública para o Brasil, que serviu de base para o programa de governo durante a
disputa eleitoral em 2002. A ideia primordial era reformar as instituições da segurança
pública e implantar o Sistema Único de Segurança Pública – SUSP, para atuar de forma
articulada, por meio de políticas preventivas, principalmente voltadas para a
juventude (Lopes, 2009, p. 75).

O Ministério da Justiça destaca como órgãos executivos da segurança pública as


instituições policiais inseridas no artigo 144 da Constituição Federal (Brasil, 2002). Não
define constitucionalmente a existência de uma instituição policial civil como órgão
incumbido de gerir o sistema prisional, o que acaba colocando este Sistema, à margem
do contexto da segurança pública, implicando assim, na fragmentação da política. O
Relatório de Gestão da Secretaria Nacional de Segurança Pública - SENASP (Brasil,
2006, online), exercício 2006, referente ao período de 2003 a 2006, comprova esta
realidade ao relacionar as ações para reestruturar e integrar as diversas organizações
programadas na implantação do SUSP.

Buscando a integração nas ações, voltadas para a segurança pública, praticadas pelo
Estado brasileiro a partir do ano 2007, o Governo Federal instituiu o Programa
Nacional de Segurança Pública com Cidadania - PRONASCI, em parceria com estados
da federação, combinando essas ações com políticas sociais para a prevenção, controle
e repressão à criminalidade, principalmente em áreas metropolitanas com altos índi
ces de violência. Nessa perspectiva, estabeleceram-se metas e investimentos que
apontam avanços na constituição da política pública de reestruturação do sistema de
segurança no seu todo, incluindo-se aí a esfera prisional, redefinindo as estratégias de
ação e gestão.

“No âmbito do PRONASCI, surge o conceito de segurança cidadã, o qual [...]


parte da natureza multicausal da violência e, nesse sentido, defende a atuação
tanto no espectro do controle como na esfera da prevenção, por meio de
políticas públicas integradas no âmbito local. Dessa forma, uma política
pública de Segurança Cidadã envolve várias dimensões, reconhecendo a
multicausalidade da violência e a heterogeneidade de suas manifestações
(Freire, 2009, p. 105-106)”.

2 O Sistema único de segurança pública - SUSP


Por meio do Projeto de Lei 1937/2007, que disciplina a organização e o funcionamento
dos órgãos responsáveis pela segurança pública, nos termos do Parágrafo 7º do art.

89
144 da Constituição, busca-se instituir o Sistema único de Segurança Pública – SUSP,
que dispõe sobre a segurança cidadã. Em 2012, a PL 1937/2007, foi transformada na
PL 3734/12 e que atualmente em novembro de 2016, se encontra na Comissão de
Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado - CSPCCO, desde a data do dia
18 de maio de 2016.

O Governo Federal, no período de Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do Ministério
da Justiça, iniciou em 2003 uma nova etapa na história da segurança pública brasileira,
que foi a implantação do Sistema Único de Segurança Pública – SUSP, como principal
ação da Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP/MJ, que se consolidou
como um órgão central no planejamento e execução das ações de segurança pública
em todo o Brasil - SENASP (2003, 2004, 2005).

Como órgão de âmbito nacional, a SENASP, criada em 1998, tem por finalidade
assessorar o Ministro de Estado na definição e implementação da política nacional de
segurança pública e, em todo o território nacional, acompanhar as atividades dos
órgãos responsáveis pela segurança pública, por meio das seguintes ações: apoiar a
modernização do aparelho policial do País; ampliar o Sistema Nacional de
Informações de Justiça e Segurança Pública - INFOSEG; efetivar o intercâmbio de ex
periências técnicas e operacionais entre os serviços policiais; estimular a capacitação
dos profissionais da área de segurança pública; e realizar estudos e pesquisas e
consolidar estatísticas nacionais de crimes. Apesar de não ter a função de executar
ações operacionais no controle da violência e criminalidade, a SENASP é responsável
por promover a qualificação, padronização e integração das ações executadas pelas
organizações de segurança pública de todo o país, em um contexto caracterizado pela
autonomia destas organizações (SENASP, 2003, 2004, 2005).

Os gestores das organizações de segurança pública em todas as Unidades da


Federação passaram a se reunir regularmente para planejar e executar ações por meio
dos Gabinetes de Gestão Integrada. A gestão das ações de segurança pública no país
passou a contar com o apoio de uma série histórica de informações estatísticas
coletadas pelo Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Crimi
nal – SINESPJC. Buscou-se padronizar os processos de capacitação dos policiais em
todos os Estados brasileiros, que tem como um dos principais eixos, a valorização dos
Direitos Humanos e a implantação da Matriz Curricular Nacional.

Esse processo de padronização e qualificação nacional dos equipamentos e


procedimentos na área de segurança pública, é inspirado na Força Nacional de
Segurança Pública, criada pelo Decreto 5289/2004, em que se considera os Arts. 144 e
241 da Constituição Federal, e o princípio de solidariedade federativa que orienta o
desenvolvimento das atividades do sistema único de segurança pública. Em uma
situação de emergência, a Força Nacional é uma resposta eficaz para problemas na
área de segurança pública no território nacional (SENASP, 2003, 2004, 2005).

90
A filosofia do SUSP, tem na base o conceito de segurança cidadã, que é a transição de
uma cultura da guerra para uma cultura da paz, em que, afirmar que o cidadão é o
destinatário dos serviços de segurança pública e significa reconhecer que compete à
polícia trabalhar pelo estabelecimento das relações pacíficas entre os cidadãos,
respeitar as diferenças de gênero, classe, idade, pensamento, crenças e etnia e criar
ações de proteção aos direitos dos diferentes. Com isso, não se pretende a abdicação
da força, mas seu uso - quando necessário - de forma técnica, racional e ética (SENASP,
2003, 2004, 2005).

Nesse contexto, as polícias deixam de praticar ações isoladas que identificam o


cidadão como potencial inimigo, e admiti que, em um ambiente democrático, a
segurança pública só pode operar articulada com as comunidades organizadas. O
sentido da segurança cidadã se traduz pela parceria dos órgãos de segurança com as
comunidades, na análise, planejamento e controle das intervenções. Atribui-se, assim,
um papel fundamental à cidadania, no funcionamento das organizações de segurança
pública que passam a atuar com o cumprimento de metas, a lisura administrativa e,
principalmente, a justiça na aplicação das medidas punitivas contra atos de abuso de
poder e de violência cometidos por servidores da segurança (SENASP, 2003, 2004,
2005).

Pautada no Programa de Segurança Pública para o Brasil, a SENASP estipulou que a


implantação do Sistema Único de Segurança Pública seria realizada pela dedicação às
ações convergentes em sete eixos estratégicos: gestão do conhecimento; reorganização
institucional; formação e valorização profissional; prevenção; estruturação da perícia;
controle externo e participação social; e programas de redução da violência (SENASP,
2003, 2004, 2005).

3 Origem do sistema de segurança do Brasil

A origem do nosso sistema de segurança, se remete à França medieval, em que a


instituição policial assumia status militar, nomeada, Gendarmerie Nationale. Também
conhecida como Gendarmaria, advém das necessidades de ordem pública do Rei
Francês João II, “o Bom”, que durante a Guerra dos Cem anos de 1337 a 1453 (Ferreira
e dos Reis, 2012), tinha sérios problemas com desertores que abandonavam seus
postos e saqueavam terras. Com a missão de patrulhamento foi criado a força hipo
móvel, a cavalaria, em que conduziam os saqueadores aos Marechais-de-França, Ma
réchaux, encarregados de fazer cumprir a lei e a disciplina militar. Em razão desta
subordinação esta força recebe o nome de Maréchaussée (Ferreira e dos Reis, 2012). Em
janeiro de 1536, por meio do Édito de Paris, o Rei Francisco I concede à Maréchaussée
atribuições para intervenções junto a crimes praticados também por civis e
gradualmente a Maréchaussée, perde característica exclusiva de Polícia do Exército
Francês e tornar-se uma força policial de manutenção da ordem pública (Ferreira e
dos Reis, 2012; Emsley, 2002, 2011). Em decorrência da Revolução Francesa, no ano de

91
1791, a Maréchaussée é transformada em Gendarmerie Nationale, reconhecida como
força policial encarregada de trazer os criminosos às mãos da Justiça Real (Ferreira e
dos Reis, 2012; Emsley, 2002, 2011).

Em 1667, o Rei Luis XIV, já havia criado na cidade de Paris, o cargo de ‘Tenente de
Polícia de Paris ’(Monet, 2001; Emsley, 2002) estabelecendo assim o outro ‘pilar’, com
status civil, do que é hoje o Sistema Francês de Polícia. O ‘tenente de polícia’, se
reportava diretamente ao rei e não ao legislativo, e além de zelar pela Segurança Pú
blica, também se responsabilizava pelas medidas de Administração, mais específico,
pela Intendência da Cidade de Paris e responsável pela parte de Polícia Política
(Monet, 2001). Assim como a Gendarmerie Nationale, a ideia do ‘Tenente de Polícia ’
será adotada por outros países europeus (Monet, 2001), como exemplos a Rússia, a
Áustria e a Prússia, no século XVIII. E segundo Emsley (2002), este descreve que este
modelo, vira regra entre os Reinos Absolutistas xvii europeus do século XVIII,
Inglaterra, França, Espanha, Portugal e Rússia.

Mesmo repelido pelos ingleses, por instituírem, desde 1829, o Sistema Inglês de
Polícia, com a fundação da Metropolitan Police, o Sistema Francês de Polícia se
difunde e embora rechaçado pelos Ingleses, é adotado em diversos países europeus e
em algumas das suas colônias, principalmente na África. Entre países da Europa que
até hoje empregam este sistema, além da própria França, podemos citar
principalmente Holanda, Espanha, Itália e Portugal (Monet, 2001), assim como o Japão
(Rico, 1983a).

A Gendarmerie Nationale compôs a Guarda Imperial de Napoleão Bonaparte e a partir


do final do Século XVIII e durante o Século XIX, vários países instituiram suas
Gendarmerias, tais como: Arma dei Carabiniéri (Piemonte/Itália), Koniklijke
Maréchaussée (Holanda) e Guardia Civil (Espanha), Guarda Real da Polícia de Portugal
(1801), Marechaussée dos Países Baixos (1814), Zhandarmov do Império Russo (1836),
Gendarmerie do Império Austro-Húngaro (1848) e Jandarmeria Romania (Romenia) são
exemplos do século XIX. Trupele de Carabinieri (Moldávia), Jandarma (Sérvia) e Gen
darmeria (Polônia), Gendarmaria Real do Canadá, foram criadas no século XX. A que
se saiba a última Gendarmaria criada foi a da Jordânia, em 2008 (Ferreira e dos Reis,
2012; Emsley, 2002, 2011).

A Gendarmerie Nationale é considerada um dos membros fundadores da


EUROGENDFOR, uma espécie de ‘Força Nacional ’da Comunidade Europeia,
composta por forças das gendarmarias da Espanha, França, Itália, Países Baixos,
Portugal e Roménia. Cada país pode usar o termo ‘gendarmaria’, nos cantões da Suíça
de língua francesa, as polícias civis uniformizadas são designadas ‘gendarmarias ’
apesar de não ter as características clássicas de gendarmarias. No Chile, o título ‘gen
darmaria ’designa a guarda prisional, enquanto que a verdadeira força de

92
gendarmaria chilena é designada ‘carabineiros’. Na Alemanha, o termo “gendarma
ria” era usado como título da força de polícia militar do exército, porém sem funções
de policiamento civil, que são inerentes a uma verdadeira gendarmaria (Emsley, 2002,
2011).

Uma Gendarmaria ou Gendarmeria, em francês: gendarmerie, é uma força militar,


encarregada da realização de funções de polícia no âmbito da população civil. Os seus
membros são designados Gendarmes. Tal como as polícias com membros civis, as
Gendarmarias desempenham funções policiais no âmbito da população civil,
incluindo as tarefas de manutenção da ordem pública, de combate ao terrorismo e de
fiscalização do trânsito rodoviário. Nos países onde existem tanto gendarmarias como
polícias civis, as responsabilidades policiais de ambas as corporações são
frequentemente repartidas com base em critérios territoriais ou funcionais (Emsley,
2002, 2011).

Em Portugal o sistema Francês começa a se estabelecer no século XVIII, sendo que, na


França, o sistema de polícia começa com a criação do componente de status Militar,
seguido pelo de status Civil e em Portugal ocorre de maneira oposta e a primeira
instituição criada é a Intendência da Polícia da Corte em 1760, a partir das Reformas
Pombalinas. As reformas Pombalinas, se refere as decisões de Sebastião José de
Carvalho e Melo - conde de Oeiras e futuro‘ Marquês de Pombal’, que ocupou o cargo
de primeiro-ministro e iniciou uma nova fase da história do Brasil (Ferreira e dos Reis,
2012; Emsley, 2002, 2011).

O primeiro corpo de agentes da polícia portuguesa, foi criado por Dom Fernando I,
em seu reinado de 1367 a 1383, em setembro 1383. Os chamados Quadrilheiros, com
um efetivo de 20 elementos, foram recrutados à força, entre os homens mais fortes
fisicamente, para servir de Lisboa. Estes homens estavam sujeitos ao conselho da
cidade por três anos, e obrigados a jurar lealdade e exibir em suas casas, uma vara
sempre a porta, o que representa um símbolo de sua autoridade para prender e
criminosos e levá-los diretamente para os‘ Corregedores’ (magistrados). No pós
Terremoto de 1755, com o objetivo de manter a ordem pública, foi criado Resoluções
e Leis, numa filosofia de que alguns que se aproveitavam da desolação e anarquia
reinante, necessitavam de regras limitantes. Neste contexto, Sebastião José de
Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, em 1760, viu-se na imperiosa necessidade de
criar um organismo que centralizasse todas as leis já publicadas, assim, pela Lei de 25
e Junho de 1760, é criada a Intendência da Polícia da Corte e do Reino. É criado o lugar
de Intendente-Geral da Polícia da Corte e do Reino, com ilimitada jurisdição, em
matéria de Polícia, sobre todos os ministros criminais e civis que a ele recorressem e
que dele recebessem ordens. Com este Decreto ficava o Intendente, em matéria de
segurança pública, com mais poderes que o próprio Governo. Foi primeiro
Intendente-Geral o Desembargador Inácio Ferreira Souto. É a partir deste momento
que o termo ‘Polícia ’se vulgariza, pois, até então o Quadrilheiro era denominado

93
como Sizudo, Morcego ou Noturno, por exercer a sua atividade apenas de noite
(Ferreira e dos Reis, 2012; Emsley, 2002, 2011).

Em 1780, a Intendência teve a sua jurisdição reforçada e ampliada passando a


funcionar como órgão de vigilância complementar do aparelho de Justiça, semelhante
a polícia francesa, que possuía uma extensa rede de informações. Suas inúmeras
funções advinham do conceito de polícia como síntese de ordem e de bem-estar no
moderno Estado centralizado.

Pelo Decreto de 18 de janeiro de 1780 a Rainha D. Maria I, nomeia o antigo Juiz do


Crime do Bairro do Castelo de S. Jorge, Dr. Diogo Inácio de Pina Manique, Intendente
Geral da Polícia da Corte e do Reino. Formado em Direito pela Universidade de
Coimbra, estabelece-se onipotente no cargo. Pina Manique, começou por expurgar dos
próprios serviços policiais os que cobertavam os criminosos. Assim, Pina Manique,
faz com que a Intendência alcance todas as suas potencialidades de atuação face ao
crime e à manutenção da tranquilidade pública (Ferreira e dos Reis, 2012; Emsley,
2002, 2011).

Em 10 de dezembro de 1801, por sugestão do Intendente da Polícia da Corte, Dom


Diogo Inácio de Pina Manique, é criada pelo Príncipe Regente D. João, a Guarda Real
da Polícia de Lisboa, com base no modelo da Gendarmerie Nationale. Em ofício ao
Ministério do Reino, em 1793, Pina Manique destacava a necessidade de ‘dar princípio
com os guardas da polícia’, por meio da formação de “um corpo de Guette e
Marochocé (sic), para auxiliar as diligências da justiça” (in Cotta, 2009), inspirada na
Maréchaussée (cavalaria responsável por manter a ordem pública) e nos Les Guett
(vigias) franceses (Cotta, 2009). A Guarda Real da Polícia foi institucionalizada para
além da “segurança e tranqüilidade da cidade de Lisboa”, mas para que, “a mesma
ordem da polícia receba uma nova consolidação” (Cotta, 2009).

De 1801 a 1808, a Guarda Real, foi comandada pelo Coronel Jean-Victor, Conde de
Novion, emigrado francês que havia entrado para o exército português. Em termos
hierárquicos, a Guarda da Polícia estava subordinada ao General das Armas, para
assuntos de natureza militar, e ao Intendente da Polícia, para a execução das ordens e
requisições relativas à polícia (Cotta, 2009).

No período de 1808 a 1821 esteve à frente da Intendência o Desembargador carioca


Paulo Fernandes Viana, que anteriormente ocupara outros cargos tanto em Portugal
quanto no Brasil, tendo sido, inclusive, Ouvidor Geral do Crime. Vianna se dedicou
ao processo de urbanização e saneamento da cidade do Rio de Janeiro, “tornando-a
mais sadia” (Cotta, 2009).

Em 1806, fugindo da invasão do Exército francês, em função da recusa portuguesa


em aderir ao Bloqueio Continental decretado por Napoleão em relação à Inglaterra, a Corte
Portuguesa segue para o Brasil e se instala na cidade do Rio de Janeiro. Com a

94
transferência da administração do Reino Português para esta cidade, a consequência
lógica disto foi a replicação, na cidade do Rio de Janeiro, das instituições da
administração governamental lusitana (Bayley, 2006; Ferreira e dos Reis, 2012). Entre
as instituições concebidas em decorrência da transferência, ocorre a criação da
Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil (1808) e a da Divisão
Militar da Guarda Real da Polícia (1809), sendo esta a primeira implantação do
Sistema Francês de Polícia na América (Bayley, 2006; Ferreira e dos Reis, 2012). Com
isso, a Intendência Geral da Polícia e da Corte, assumia da mesma forma e jurisdição
o modelo de Portugal, que pretendia organizar espaços e disciplinar os costumes
conforme o paradigma da ‘civilização ’europeia. Assim a polícia assume o papel de
‘agente civilizador’, responsável pela difusão de valores e códigos de comportamentos
sociais (Silva, 1986).

Até o início do século XIX não havia em Portugal, tampouco no Brasil, uma força pú
blica separada da esfera judicial e das instituições bélicas. Tal modelo seria
inaugurado inicialmente pela França revolucionária. Em Portugal, polícia e ordem
chegavam a se confundir e no início do século XIX, os portugueses entendiam a polícia
como governo e boa administração do Estado, da segurança dos cidadãos, da
salubridade e subsistência. Portanto, a polícia estava atrelada à idéia de limpeza, ilu
minação e à vigilância (Bluteau, 1712, in Cotta, 2009).

Ainda no século XIX, o entendimento do que era polícia, não se limitava, a ideia de
repressão e controle social, mas também como a mantenedora da ordem estabelecida,
o que permaneceu como fio condutor para as ações das instituições responsáveis pela
polícia no Brasil. Com ações que buscavam unir ordem e civilização (Bluteau, 1712, in
Cotta, 2009).

No período de 1820, no plano administrativo, o Intendente Viana organizou a


Secretaria de Polícia e propôs três tipos de oficiais. Sendo um responsável pelos
prédios e espaços de divertimentos públicos, com a função de expedir alvarás e
licenças e controle da mendicância. O segundo tipo de oficial, controlava os
transportes, estalagens, cadeias e iluminação pública. E o terceiro tipo de oficial se
ocupava da expedição e controle de passaportes e dos escravos. Como a Intendência
de Polícia possuía uma característica estritamente administrativa, necessitava assim
de uma força de intervenção para cumprir as ordens do Intendente. O que foi
providenciado pelo Príncipe Regente, a criação da ‘Divisão Militar’, composta pela
companhia de infantaria e cavalaria. Diante da reformulação da tropa, o Conde de
Linhares, elaborou o regulamento para a Guarda da Polícia, com 24 artigos (Malerba,
2000).

Esta experiência vai funcionar de forma contínua até 1831, período que o Imperador
D. Pedro I abdica em favor do seu filho D Pedro II e inicia-se a Regência, e a Guarda
Imperial da Polícia foi extinta em 17 de julho de 1831 e o patrulhamento da cidade do

95
Rio de Janeiro, foi realizado pelo Batalhão Sagrado: uma unidade composta por
militares do Exército Imperial, por aproximadamente 3 meses (Filho, 1939). Buscando
resolver tal situação, os dirigentes da regência autorizaram a criação de um novo
organismo armado para assegurar a estabilidade política do país (Holloway, 1997). Os
regimentos eram formados nos municípios e eram submetidos ao juiz de paz,
presidente de Província e o ministro da Justiça (Ferreira e dos Reis, 2012).

Em 1832, um Ofício da justiça nomeou, um Comandante Superior da Guarda Nacional


por meio do Ministro da Justiça e secretário do Estado, Diogo Antônio Feijó, do Corpo
de Guardas Municipais Permanentes, com a autorização para a expansão deste
modelo para todas as províncias do Império do Brasil (Filho, 1939). Esta legislação faz
com que o modelo seja adotado em todo território Brasileiro (Ferreira e dos Reis, 2012).

A principal diferença entre a Guarda Imperial da Polícia e o Corpo de Guardas


Municipais Permanentes, era a subordinação: Enquanto que a Guarda Imperial era
subordinada primeiro ao Conselheiro de assuntos militares (na pasta de que fora
criado) e depois ao Intendente Geral de Polícia, de quem recebia as ordens de prisão
a serem cumpridas, o ‘Corpo de Permanentes ’era subordinado ao Ministro da Justiça.
Porém, com a promulgação do novo código de Processo Criminal, a Intendência Geral
de Polícia sofre mudanças: é extinta e em seu lugar emerge a Chefatura de Polícia,
com a consequente substituição da figura do Intendente Geral de Polícia pela do Chefe
de Polícia. Apesar das mudanças ocorridas na década de 1830, vemos que a Regência
apesar de fatos, não descarta o modelo Francês (Filho e Lima, 1939). Como o próprio
Holloway (1997) menciona:

“... as forças policiais que emergiram da transição institucional de 1831/32


não foram apenas criações partidárias dos liberais moderados, refletindo sua
superioridade sobre os radicais (exaltados) e os restauradores que queriam a
volta de D. Pedro I ao trono brasileiro. Foram uma resposta mais geral às
necessidades de controle social que o hiato institucional revelou e
exacerbou...”.

Apesar de fazer parte da nossa estrutura administrativa estatal há mais de 200 anos,
podemos dizer que o sistema Francês de Polícia é um emérito desconhecido no nosso
país. Isto faz com que a Segurança Pública no Brasil sofra intervenções, numa
tentativa de direcioná-la para o que por desconhecimento parece ser o caminho
adequado (Ferreira e dos Reis, 2012).

Se os britânicos têm um dom com a proximidade á comunidade, os franceses têm um


caminho com tumultos e distúrbios civis. O Sistema Francês, empregado em outros
países do mundo e que o mesmo é baseado na existência de duas Polícias, uma delas
sempre de Status Militar, o que transmite nesta última a sua característica principal:

96
A existência de uma instituição policial com característica Militar, como parte deste
sistema.

A historiografia do policiamento é estudada de maneira escassa, e ainda ocorre por


duas razões: pelo interesse intrínseco das entidades policiais e pela divulgação das
ações policiais sobre a sociedade na qual eventos ocorrem (Lawday, 2001). A confiança
pública também está relacionada aos métodos policiais, pois, assim como são suas
culturas, os conceitos que governam as forças policiais também se diferem. Diferentes
como são suas culturas, Conceitos opostos que governam as formas como suas forças
policiais são criadas (Lawday, 2001). Só de entender a origem do nosso sistema de
Polícia, já modifica o enfoque dado ao mesmo, e podemos perceber esta dualidade das
forças policiais (Lawday,2001).

Os policiólogos são unânimes em afirmar que não existe um modelo ideal de polícia.
Os modelos existentes variam consideravelmente, podendo-se admitir como
macromodelos os de tipo europeu continental e o anglo-saxônico. Os estudos
destacam duas diferenças básicas, uma sendo o modelo britânico, que tem na sua base,
a proteção contra o crime e o modelo francês, que atua na ordem. Se os britânicos têm
um dom com a proximidade á comunidade, os franceses têm um caminho com
tumultos e distúrbios civis. Para a polícia francesa, qualquer pensamento de combinar
gendarmes e polícia nacional para o bem da Economia em uma única força, é anulada
pelo pensamento maior de que a ordem não pode ser deixada ao acaso. A Grã
Bretanha tem 52 forças separadas, a exemplo, os constabularies (unidades do exército
militar), que inclue a Polícia Metropolitana de Londres, sendo que o Ministério do
Interior lidera a imigração e os passaportes, a política de drogas, a política de
criminalidade e a luta contra o terrorismo e trabalha para garantir um policiamento
visível, responsivo e responsável no Reino Unido e o Home Office, que é um
departamento ministerial, apoiado por 26 agências e órgãos públicos, que tem
permanecido na linha de frente deste esforço desde 1782(Lawday, 2001).

O valor de qualquer modelo policial é perseguir a confiança pública, e aqui o 'Bobby'


(policia britânica) pode ter uma vantagem sobre o ‘Flic ’(palavra francesa para policia).
No que tange a tradição do policiamento local, a Grã-Bretanha colocou o policial em
um contato mais próximo com a comunidade. Estes ainda estão relativamente
principiantes no recrutamento de mulheres para a polícia, porém representam mais
de 16% da polícia na Grã-Bretanha Contra 10% na França. Embora nem a polícia
francesa nem a polícia britânica é classificada satisfatoriamente em termos de salário
(Lawday, 2001).

4 Policia civil no Brasil


Dom João após desembarcar no Rio de Janeiro, cria a Intendência Geral de Polícia da
Corte e Estado do Brasil, por meio do alvará de 5 de abril de 1808, e posteriormente o

97
cargo de Intendente Geral de Polícia, por alvará de 10 de maio de 1808. No Brasil,
entre 1808 até 1827 as funções policiais e judiciárias eram acumuladas e exercidas por
meio de uma única autoridade, o Desembargador Paulo Fernandes Viana,
reconhecido como o primeiro intendente de polícia. Neste momento colonial as
atividades policiais eram pautadas no princípio da repressão, com a presença de mais
sentenças do que de lei, ou seja, um caráter essencialmente punitivo (Edmundo, 1951).

Diante da tentativa de desvincular a alçada Judiciária, das atividades de Polícia, em


outubro de 1827, surgiu o juiz de paz, por meio de uma lei, em que este era um
representante eleito, que não tinha treinamento, nem pagamento, e que atuaria em
assuntos de pouca importância e com sua não vinculação com o Imperador (Lopes,
2011). A Lei de 29 de novembro de 1832, intitulada Código Criminal de Primeira
Instância, aumentou a competência do juiz, ainda eleito, no que se referia às atividades
processuais da justiça e posteriormente sofreu alteração pela Lei nº 261, de 3 de
dezembro de 1841, que foi regulada pelo decreto nº 120, de 31 de dezembro de 1842
(Mirabete, 2000), em que a Justiça Criminal se identificava com a Justiça Repressiva, e
assumia todas as funções de coerção: o Promotor, a Polícia e os Juízes.

O Sistema de Justiça criminal do Império, era composto pela jurisdição de primeira


instância e era estabelecido de acordo com a divisão do território em “Districtos de
Paz, Termos e Comarcas” (Arts. 1º, 2º e 3º) (Leão, 2013). A composição da
Administração da Justiça Criminal, se dava pelo juiz de paz, um escrivão, inspetores,
que variava de acordo com o tamanho do districto e pelos Oficiais de Justiça (Art. 4º).
Já os Termos eram compostos por um Conselho de Jurados, um Juiz Municipal, um
Promotor Público, um Escrivão das execuções e também Oficias de Justiça. Tanto os
Termos quanto os districtos eram subdivisões administrativas da Comarca, a qual teria
de um a três Juízes de Direito, e variava de acordo com a densidade demográfica,
sendo que entre estes se designaria o Chefe da Polícia (Art. 6º) (Leão, 2013).

Em 1841, a Intendência Geral de Polícia foi extinta, criando-se o cargo de Chefe de


Polícia, ocupado até 1844 por Euzébio de Queiroz Coutinho Matoso Câmara. A lei de
03 de dezembro de 1841 proporcionou uma mudança radical, com a criação, em cada
província e também na Corte, de uma Chefatura de Polícia, em que o Chefe de Polícia
passou a ser auxiliado por delegados e subdelegados de Polícia e era escolhido por
desembargadores e juízes de direito, sendo todos amomíveis e obrigados a aceitar (Lei
nº261, de 3 de dezembro de 1841) (Governo do Estado de São Paulo, 2015).

Em 31 de janeiro de 1842, o regulamento nº 120, que tratou da exexução da parte


policial e criminal da Lei nº 261 de 3 de dezembro de 1841 definiu as funções da polícia
administrativa e judiciária, colocando-as sob a chefia do Ministro da Justiça. Em 20 de
setembro de 1871, pela Lei n.º 2033, regulamentada pelo Decreto n.º 4824, de 22 de
novembro do mesmo ano, foi reformado o sistema adotado pela Lei n.º 261 de 3 de
dezembro de 1841, que tratou da reforma do Código do Processo Criminal,

98
separando-se Justiça e Polícia de uma mesma organização trazendo inovações que
continuam até hoje, como o inquérito policial, criado no mesmo ano, de 1841, tal como:

“Secção III

Do inquerito policial

Art. 38. Os Chefes, Delegados e Subdelegados de Policia, logo que por


qualquer meio lhes chegue a noticia de se ter praticado algum crime
commum, procederão em seus districtos ás diligencias necessarias para
verificação da existencia do mesmo crime, descobrimento de todas as suas
circumstancias e dos delinquentes.

Art. 39. As diligencias a que se refere o artigo antecedente comprehendem:

1º O corpo de delicto directo.

2º Exames e buscas para apprehensão de instrumentos e documentos.

3º Inquirição de testemunhas que houverem presenciado o facto criminoso ou


tenham razão de sabel-o.

4º Perguntas ao réo e ao offendido.

Em geral tudo o que fôr util para esclarecimento do facto e das suas
circumstancias.”

E no Decreto nº 4824, de 22 de novembro de 1871, ficou determinado no capitulo I,


que trata das autoridades e substituições, em seu art. 9º, que: “Chefes de Polícia seriam
nomeados d'entre os magistrados, doutores e bacharéis em direito que tiverem quatro
anos de pratica do fôro ou de administração, não sendo obrigatória a aceitação do
cargo” (Decreto nº 4824, de 22 de novembro de 1871).

No Decreto nº 1 de 15 de novembro de 1889, que proclamou provisoriamente e


decretou como forma de governo da Nação Brasileira a República Federativa, e
estabeleceu as normas pelas quais se devem reger os Estados Federais, dentre seus 11
artigos, dedica dois artigos para a Segurança Pública, sendo estes:

“Art. 5º - Os Governos dos Estados federados adotarão com urgência todas as


providências necessárias para a manutenção da ordem e da segurança
pública, defesa e garantia da liberdade e dos direitos dos cidadãos quer
nacionais quer estrangeiros.

Art. 8º - A força pública regular, representada pelas três armas do Exército e


pela Armada nacional, de que existam guarnições ou contingentes nas

99
diversas Províncias, continuará subordinada e exclusivamente dependente de
Governo Provisório da República, podendo os Governos locais, pelos meios
ao seu alcance, decretar a organização de uma guarda cívica destinada ao
policiamento do território de cada um dos novos Estados”.

Especificamente para o serviço policial, identifica-se três decretos importantes para o


desenvolvimento da atuação policial no Brasil. O Decreto nº 1.631, de 3 de janeiro de
1907, que autorizava o Presidente da República a reformar o serviço policial do
Distrito Federal, que tinha em seu artigo primeiro, que a polícia do Distrito Federal,
seria administrativa e judiciaria, e ficaria subordinada a superintendência geral do
Ministro da Justiça e Negócios Interiores e sob a direção de um chefe de polícia.
Destaca-se neste decreto no artigo 1º e §2º, que os delegados auxiliares e de distritos,
estavam subordinados ao Chefe de Polícia, sendo que no §4º, especificava, que para
cada delegado de distrito, o chefe de polícia nomearia três suplentes. E ainda no artigo
2º, §5º deste decreto a determinação clara referente a incompatibilidade absoluta entre
os cargos de polícia e os de magistratura.

Proveniente deste decreto de 1907, outro que se dedicou exclusivamente a polícia, foi
o Decreto n° 22.332 de 10 de janeiro de 1933 que reajustou o serviço policial do Distrito
Federal, com vistas a reorganização judiciaria, com destaque para os órgãos e cargos
administrativo da agora nomeada: ‘Policia Civil do Distrito Federal’. Neste decreto foi
criada a primeira especializada, tal como especificado no artigo 18, com o objetivo de
entrever e coibir comportamentos políticos divergentes, considerados capazes de
comprometer "a ordem e a segurança pública (Aragão, 2012):

“Art. 18. A Delegacia Especial de Segurança Política e Social, criada por esta
lei, será independente da polícia administrativa e judiciaria, e terá as
atribuições que lhe forem dadas em regulamento especial ficando diretamente
subordinada ao chefe de Polícia”.

No dia 28 de março de 1944, por meio do Decreto-Lei nº 6.378, transformou a Polícia


Civil do Distrito Federal em Departamento Federal de Segurança Pública (D.F.S.P.),
diretamente subordinado ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores, sendo que os
estados passariam a ter a cooperação da DFSP:

“Art. 2º O D.F.S.P. terá a seu cargo, no Distrito Federal, os serviços de polícia


e segurança pública e, no território nacional, os de polícia marítima, aérea e
segurança de fronteiras.

Parágrafo único. Na execução dos serviços de polícia e segurança pública o


D.F.S.P. prestará cooperação aos serviços de polícia estaduais, especialmente
quando interessada a segurança do Estado e a estrutura das instituições”.

Em 1964, o golpe militar que pôs fim à “experiência democrática” dos anos 1950,
estabeleceu um regime burocrático-autoritário, conduzido por militares e civis, que

100
iria se estender até 1985. O regime militar restringiu a participação política e ampliou
o poder das Forças Armadas. Essa nova ordem política era justificada a partir da noção
de inimigo interno inscrita na Doutrina de Segurança Nacional, desenvolvida pela
Escola Superior de Guerra do Exército brasileiro (Carvalho, 2007).

A exemplo da Era Vargas, o aparato policial foi utilizado para conter a oposição polí
tica. Para tal, usou e abusou da repressão, da tortura e das prisões. A violência policial
foi o instrumento utilizado contra a dissidência política. Entretanto, diferentemente
do que ocorreu na ditadura de Vargas, não foram apenas as Polícias que praticaram a
repressão política, mas também as Forças Armadas que, nesse período, detiveram o
monopólio da coerção político-ideológica (Costa, 2004).

Em 1985 chega ao fim a Ditadura Militar, passando-se a respirar uma expectativa de


dias melhores. Em 1987 é instaurada a Assembleia Nacional Constituinte, que
culminou com a Constituição Federal do Brasil de 1988, a qual trouxe inovações
importantes na seara da Segurança Pública se comparada ao padrão tradicional de
Segurança Pública incorporado à Segurança Nacional da época de exceção.

As inovações constitucionais, na seara da Segurança Pública, foram significativas, há


uma tentativa legal de mudança do paradigma reativo para uma ação policial pró
ativa (preventiva), bem como ocorreu a inserção do princípio da gestão participativa
na resolução dos problemas da violência e da criminalidade, conforme se pode
vislumbrar pela redação do Artigo 144 da Constituição Federal (BRASIL, 2010): “A
segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio
[...]”. A ordem constitucional a partir de 1988 elegeu entre seus objetivos fundamentais
a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, o desenvolvimento nacional, a
erradicação da pobreza, a redução das desigualdades sociais e o respeito à dignidade
da pessoa humana. No modelo democrático, a Segurança Pública é via de acesso à
cidadania plena, ao garantir o respeito à dignidade da pessoa humana e aos próprios
Direitos Humanos (Carvalho, 2007; Soares, 2006).

101
V Investigação Criminal nos Crimes Contra a
Dignidade Sexual de Infantes

1 Delegacia de proteção a criança e ao adolescente, como sistema de defesa

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no seu Art. 24, que explica:
Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre,
especificamente no XVI, em que traz o texto: organização, garantias, direitos e deveres
das polícias civis.

Com isso, em 1993, a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, por meio
do autor, Deputado Luiz Carlos Hauly e do relator, Deputado Antônio Carlos
Pannunzio, institui a Lei Orgânica Nacional das Polícias Civis, por meio do Projeto de
Lei nº 4371 de 1993. Foi apensado ao Projeto de Lei nº 3274 de 2000, que surgiu pela
necessidade de regulamentação da Constituição Federal nos termos do artigo 24. O
Projeto de Lei nº 3.274, de 2000, institui a Lei Orgânica da Polícia Civil, composta de 5
capítulos, além das disposições finais, que tratavam: das funções, dos princípios, da
organização, das carreiras policiais civis e do regime disciplinar. Diante da evolução
da regulamentação, houve o Projeto de Lei nº 1.949, de 2007, que institui a Lei Geral
da Polícia Civil, com 5 capítulos, em que conta: dos princípios e das competências, da
organização e do funcionamento dos servidores da polícia civil, do regime disciplinar
e das disposições finais.

Em Goiás, a estrutura e organização da Policia Civil se dá em conformidade com a Lei


Estadual nº 16.901, de 26 de janeiro de 2010 e Lei nº 16.897 de 26 de janeiro de 2010:

“Lei nº 16.901, de 26 de janeiro de 2010.

Dispõe sobre a Lei Orgânica da Polícia Civil do Estado de Goiás e dá outras


providências.

CAPÍTULO III

DOS SERVIDORES DA POLÍCIA CIVIL

Seção I
Do Quadro de Pessoal Efetivo

Art. 48. O quadro básico de pessoal efetivo da Polícia Civil é integrado pelos
seguintes cargos, como essenciais para o seu funcionamento:

I – Delegado de Polícia;

II – Escrivão de Polícia;

102
III– Agente de Polícia.

IV – Papiloscopista Policial;

§ 1º O cargo de Delegado de Polícia, de nível superior, é privativo de bacharel


em Direito.

§ 2º Os cargos de Escrivão de Polícia, Agente de Polícia e Papiloscopista


Policial, de nível superior, são de natureza técnico-policial.”

“Lei nº 16.897, de 26 de janeiro de 2010.

Dispõe sobre a criação de classes e níveis de subsídios nas carreiras e cargos


que especifica e dá outras providências.

Art. 1º Ficam criadas as classes e os níveis de subsídios a elas


correspondentes nas carreiras de Perito Criminal, Médico Legista,
Odontolegista, Auxiliar de Autópsia, Auxiliar de Laboratório Criminal,
Desenhista Criminalístico, Fotógrafo Criminalístico e Papiloscopista Policial,
integrantes do quadro de pessoal da Superintendência de Polícia Técnico
Científica, da Secretaria da Segurança Pública, nos termos dos Anexos I e III
desta Lei.”

Na área da infância, no Estado de Goiás, temos especificamente o Decreto nº 4.974, de


19 de novembro de 1998, do governador Naphtali Alves de Souza, que cria, na
Diretoria-Geral da Polícia Civil, a Delegacia Especializada em Investigações de Crimes
Contra a Criança e o Adolescente – DICC, que atende as demandas do Estatuto da
Criança e do Adolescente. Posteriormente, por meio do Decreto 6.034, de 16 de
novembro de 2004, que dispõe sobre a extinção, criação e alteração de denominações
das Delegacias de Polícia, sendo que neste decreto, no anexo único, alínea ‘h’, a
Delegacia Especializada em Investigações de Crimes contra a Criança e o Adolescente
- DICC, de Goiânia, deixa de ser por assim denominada e passa a ser distinta como:
Delegacia Especializada em Investigações de Crimes Contra a Criança e o Adolescente
– DPCA. No ano de 2005, ainda nestas questões de denominação, por meio do Decreto
nº 6.118, de 08 de abril, dá nova denominação à Delegacias de Polícias que dispõe
sobre a competência e o funcionamento das Delegacias de Polícia recém-criadas e dá
outras providências, no artigo 1º informa:

“Art. 1o A Delegacia Especializada em Investigações de Crimes contra a


Criança e o Adolescente - DICC, de Goiânia, constante da alínea “h” do Anexo
Único do Decreto no 6.034, de 16 de novembro de 2004, passa a denominar-se
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente - DPCA, de Goiânia”.

103
No comprometimento para abrigar a sede desta especializada, em 2004, houve o
empenho do Promotor de Justiça Saulo de Castro Bezerra, na época Coordenador do
Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público de Goiás,
junto ao Delegado Abdul Sebba, que na oportunidade forneceu um dos anexos do
conjunto de Especializadas da cidade de Goiânia.

Em 2010 ocorre a criação da DPCA de Aparecida de Goiânia e em 2013, com o projeto


da Governadoria, nº 4.396/13, e por meio da Lei nº 18.052, de 24 de junho de 2013, o
Governador Marconi Perillo, cria no art. 4º, 7 (sete) Delegacias de Proteção à Criança
e ao Adolescente - DPCA, conforme especificação: Anápolis, Luziânia, Aguas Lindas
de Goiás, Caldas Novas, Ceres, Itaberaí, Porangatu.

O Governo Federal, com o objetivo de enfrentamento a violência sexual, desde o início


da década de 80 vem implantando políticas públicas em prol da defesa dos direitos
fundamentais da criança e do adolescente, os quais foram consolidados através da
promulgação da Constituição Federal/88 e do Estatuto da Criança e do
Adolescente/90. O objetivo é o de oferecer um conjunto de procedimentos técnicos
especializados para atendimento e proteção imediata às crianças e aos adolescentes
vítimas de crimes, como o estupro de vulnerável e a exploração sexual, bem como a
seus familiares, proporcionando-lhes condições para o fortalecimento da autoestima,
superação da situação de violação de direitos e reparação da violência vivida.

No âmbito nacional, verifica-se um avanço no que se refere à prevenção e repressão


aos crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes com a Lei 10.764, de 12
de novembro de 2003 que altera a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, trazendo a previsão geral de penas mais
severas para os delitos dos art. 240 a 243 do ECA, inclusive para quem age no exercício
de cargo ou função ou ainda, com a intenção de obter vantagem patrimonial. Estes
artigos inovam ao tipificar como conduta criminosa a atividade fotográfica ou
qualquer meio visual que divulgue ou contenha cena pornográfica, de sexo explícito
ou vexatória envolvendo crianças ou adolescentes ou a exposição da imagem da
criança de forma pejorativa na rede mundial de computadores (Internet), ou quem
auxilia, garante, facilita, assegura os meios ou serviços e o acesso a tais imagens na
rede mundial de computadores.

2 O fluxo do inquérito policial nos crimes de estupro de vulnerável


2.1 A história-acusatória na persecução penal

Um documento-laudo realizado em fase pré-processual, irá impactar em toda a


persecução penal e não somente in locus. No Título II, do Código de Processo Penal
temos o nascedouro, ‘Do Inquérito Policial’, que se localiza no seio da Polícia Judiciária
e faz parte dos órgãos que envolvem a Persecução Penal:

104
a) Policia Judiciária, responsável pela realização da investigação preliminar por meio
de inquérito policial. Instaurado o Inquérito Policial, não poderá a autoridade policial
arquivá-lo, Art. 17 do Código de Processo Penal – CPP. Deverá ser encaminhado ao
órgão da ação que é seu destinatário. Nesta segunda fase da persecução penal, se o
Ministério Público concluir pela inexistência do delito pedirá seu arquivamento
(Garcia, 1978), ficando o Inquérito Policial, sujeito ao disposto do Art. 28 do Código
de Processo Penal:

“CPP - Decreto Lei nº 3.689 de 03 de Outubro de 1941

Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,


requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de
informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas,
fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este
oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para
oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o
juiz obrigado a atender.”

b) Ministério Público, a quem se atribui com exclusividade a titularidade da ação pe


nal pública, conforme artigo 129, inciso I da Constituição Federal. A ação penal será
promovida ou pelo ofendido ou por quem tenha qualidade para representá-lo ou
sucedê-lo (Garcia, 1978);

c) Poder Judiciário, em que por meio de seus juízes e tribunais, são competentes para
processar e julgar as causas penais.

Sendo três os órgãos da persecução penal, suas etapas são duas:

a) Fase Pré-Processual ou Investigação Criminal, é considerada o início da persecução


penal, que tem como função primária apurar as infrações penais e a sua autoria, feito
principalmente por meio do inquérito policial. O inquérito Policial – IP, é um
procedimento administrativo com característica inquisitiva que irá servir para
posterior ação penal formulada pelo Ministério Público por meio da denúncia (de
Souza Filho, 2001):

“A investigação criminal, portanto, é o conjunto de atividades e diligências


tomadas com o objetivo de esclarecer fatos ou situações de direito relativos a
supostos ilícitos criminais. Tal entendimento, com esta amplitude acaba por
abarcar a própria instrução em juízo como uma espécie de investigação
criminal, uma vez que é a busca da verdade processual acerca de um ilícito
(Gomes; Scliar, 2010).”

b) Fase Processual - Processo Penal, é o conjunto de atividades e formas, mediante as


quais os órgãos competentes, preestabelecidos na lei, em que se observa certos
requisitos, promovem e julgam a aplicação da lei penal em cada caso concreto (de

105
Souza Filho, 2001). É iniciado, via de regra, pelo Ministério Público, com o
oferecimento da denúncia, tem seu desdobramento: defesa, instrução e alegações
finais e a decisão: em que se condena ou absolve o réu. Mirabete (2006) esclarece que
a finalidade mediata do processo penal confunde-se com a do Direito Penal, ou seja, é
a proteção da sociedade, a paz social, a defesa dos interesses jurídicos, a convivência
harmônica das pessoas no território na nação (Mirabete, 2006). O fim direto, imediato,
é conseguir, mediante a intervenção do juiz, a realização da pretensão punitiva do
Estado derivada da prática de uma infração penal, a realização do direito penal
objetivo. Para solucionar com exatidão o litígio penal, o juiz, no processo, deve apurar
a verdade nos autos a fim de aplicar, com justiça, a lei penal (Mirabete, 2006). Nesta
segunda etapa pode ocorrer a Execução Penal, em que acontece, somente se houver
condenação na segunda etapa, executando-se a pena imposta indefinitiva, conforme
dispõe a lei das execuções penais, Lei 7.210/84.

O ordenamento vai em busca de legitimidade e validade e ordeiramente, em


determinadas circunstâncias, os princípios são mais importantes que as próprias
normas. Com efeito, nos dias de hoje, uma norma ou uma interpretação jurídica que
não encontra respaldo nos princípios, com certeza estará fadada à invalidade ou ao
desprezo.

As partes, no processo penal, são vinculadas por tal forma à verdade real, que cabe ao
juiz, e não a elas, definir, segundo sua convicção, os termos da questão, como
deveriam postular-se, e os meios de prova, como haveriam de produzir-se. Essa
incumbência reflete o poder-dever inquisitivo de o juiz decidir: a) segundo as
alegações das partes, apenas e tão só quando o que elas postulam se revela conforme
a verdade real, ou quando posto por ele de conformidade com a verdade real; b,) e
com fundamento nas provas produzidas pelas partes. 'apenas e tão só quando
conformes às exigências de demonstração dessa mesma verdade real, ou quando
postas por ele de conformidade com tais exigências. A doutrina dá o nome de
Princípio da Verdade Real à regra em razão da qual o juiz vela pela conformidade da
postulação das partes com a verdade real, a ele revelada pelos resultados da instrução
criminal (Almeida, 1957).

A narração do fato, que, nas denúncias e nas comunicações, o denunciante ou


querelante deve empreender, não vincula o magistrado às circunstâncias narradas,
senão na medida em que estas se ajustam às do fato real objetivo. A tarefa de ajustar
os termos da postulação acusatória aos termos da verdade real incumbe ao
magistrado, no sistema do direito processual brasileiro, não apenas antes de proferir
a sentença penal, nem tão só durante a instrução definitiva, mas também ao receber a
inicial. A verdade real ainda é aquela que implicitamente constitui a matéria da
acusação, e não a descrição imperfeita ou incompleta da denúncia ou queixa
(Almeida, 1957).

106
Segundo Almeida (1957), sob o aspecto meramente inquisitivo, tal ajustamento, de
regra, sendo supérfluo, é implícito, visto como a ação penal se instaura, então, não por
causa da descrição histórica do fato, contida na inicial, mas por causa do fato, em sua
objetividade exterior e anterior à inicial, que esta historicamente descreve. Sob o
aspecto acusatório, entretanto, sendo função da descrição histórica feita na inicial,
aquele ajustamento deve ser explicito quanto às circunstâncias essenciais elementares
da definição jurídica da verdade real e, ainda, quanto às circunstâncias concernentes
a pressupostos processuais e condições da ação, competência, legitimidade de parte,
não estar extinta a punibilidade por prescrição ou por decadência.

Almeida (1957) discorre, que caso ocorra desajuste, o poder-dever de o juiz zelar pela
identidade do fato, o fato acusado há de ser sempre o fato ocorrido, investe-o na
prerrogativa, que exerce de ofício, de denegar recebimento à inicial desajustada,
aplicando assim a sanção processual de inadmissibilidade ao ato eivado da nulidade
prevista pelo artigo 569 do Código de Processo Penal “ –As omissões da denúncia ou
da queixa, da representação, ou, nos processos das contravenções penais, da portaria
ou do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas a todo o tempo, antes da
sentença final”. Essa prerrogativa — que reflete a obrigação do juiz: "prover à
regularidade do processo e manter a ordem no curso dos respectivos atos" (art. 251 do
Código de Processo Penal) — acompanha o magistrado durante toda a instrução
criminal; e, quando, ao ter de proferir a sentença penal, ainda não tenha percebido o
desajuste e só então venha a verificá-lo, está obrigado a exercê-la nos termos: dos
aludidos artigos 383 do Código de Processo Penal, que contempla que: “O juiz, sem
modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
definição jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais
grave (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008) e Art. 384: “Encerrada a instrução
probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em conseqüência de
prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida
na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação
pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente (Redação dada
pela Lei nº 11.719, de 2008) e Artigo 385: “Nos crimes de ação pública, o juiz poderá
proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha opinado pela
absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada”.

Entretanto, convém destacar que se o desajuste entre as circunstâncias descritas pela


acusação e as circunstâncias objetivamente ocorridas carecer de relevância jurídica
penal ou processual penal, ou melhor, quando a imperfeição ou a incompleição da
denúncia ou da queixa não incidir sobre circunstância elementar da definição jurídica
do fato como crime (definição jurídica genérica), segundo sua espécie ou tipo
(definição jurídica específica), nem sobre circunstâncias, como as de tempo e de lugar,
por exemplo, determinadoras da competência, bem como do termo inicial do prazo
de prescrição ou de decadência, o desajuste, sendo assim juridicamente irrelevante,

107
não impede o recebimento da denúncia ou queixa, imperfeita ou incompleta por mero
acidente e não por essência (Almeida, 1957).
Nenhum processo penal pode se iniciar sem que o acusado tenha liminar
conhecimento "do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias", fato esse que
constitui o conteúdo da acusação. E nenhuma prova de acusação pode ser produzida
sem que dela se dê prévio conhecimento ao acusado, não só para que participe de sua
produção, mas também para que possa opor contraprovas de defesa. E na aplicação
prática do princípio constitucional da plenitude de defesa e da contrariedade na
instrução criminal manifesta-se, que: ninguém pode ser chamado a defender-se de
imputação indeterminada; ou, noutros termos, nenhuma acusação pode ter por objeto
Jato indeterminado. A denúncia ou a queixa não podem, incidir em omissão de cir
cunstâncias de fato, ao menos essenciais, sob sanção de nulidade: é o que se depreende
dos Arts. 569 e 384 do Código de Processo Penal. Tai dispositivos exprimem, em
termos de norma positiva, a manifesta sujeição de nosso processo penal ao princípio
do contraditório, embora, ao mesmo tempo, ao princípio inquisitivo. O acusador
postula a acusação, determinando, desde logo, na inicial, "o fato e suas circunstâncias",
para que, tendo conhecimento dessa exposição liminar, possa o acusado defender-se
com conhecimento de causa (Almeida, 1957).

O reconhecimento e o estabelecimento de uma verdade jurídica e tal fim se alcança


por meio das provas que se produzem e se valoram segundo as normas prescritas em
lei. Norberto Avena, acentua que: “A afirmação de que a verdade real é a meta do
processo criminal significa dizer quer o juiz deve impulsioná-lo com o objetivo de
aproximar-se ao máximo da verdade plena, apurando os fatos até onde for possível
elucidá-los, para que, ao final, possa proferir sentença que se sustente em elementos
concretos, e não em ficções ou presunções (Almeida, 1957).

Deste modo, os princípios podem ser gerais, informando todo o sistema jurídico, e
específicos, conferindo firmamento a um determinado ramo da ciência jurídica
(Pacheco, 2007).

O processo há de ser o devido, ou seja, o adequado à espécie, o apto a tutelar o


interesse discutido em juízo e resolver com justiça o conflito. Tendo ele que obedecer
a prescrição legal, e principalmente necessitando atender a Constituição.

Teixeira (2011) destaca que os princípios penais constitucionais, são elementos


basilares do Direito Penal, classificados em explícitos e implícitos e que limitam o ius
puniendi (o direito de punir):

a) Princípios penais constitucionais explícitos:

- Princípio da reserva legal ou da legalidade

108
- Princípio da dignidade

- Princípio da igualdade

- Princípio da anterioridade da lei penal

- Princípio da irretroatividade da lei penal prejudicial

- Princípio da responsabilidade pessoal

- Princípio da humanidade

- Princípio da individualização da pena.

b) Princípios penais constitucionais implícitos:

- Princípio da taxatividade

- Princípio da materialização do fato

- Princípio da exclusiva proteção de bens-jurídicos

- Princípio da intervenção mínima

- Princípio da insignificância

- Princípio da adequação social

- Princípio da ofensividade

- Princípio da responsabilidade subjetiva

- Princípio da culpabilidade

- Princípio da proporcionalidade

- Princípio da vedação da dupla punição pelo mesmo fato.

O direito processual penal também não foge a essa regra geral. Por se tratar de uma
ciência, têm princípios que lhe dão suporte, sejam de ordem constitucional ou
infraconstitucional, que informam todos os ramos do processo, ou sejam, específicos
do direito processual penal (Pacheco, 2007), tais como:

a) princípio do devido processo legal;

b) princípio da inocência;

c) princípio do juiz natural;

109
d) princípio da legalidade da prisão;

e) princípio da publicidade;

f) princípio da verdade real;

g) princípio do livre convencimento;

h) princípio da oficialidade;

i) princípio da disponibilidade;

j) princípio da oportunidade;

k) princípio da indisponibilidade;

l) princípio da legalidade

O Devido Processo Legal é uma garantia constitucional estabelecida no artigo 5, inciso


LVI, da Constituição Federal, para que seja válida a prova no curso da ação penal. O
devido processo legal, due process of law, é um princípio legal proveniente do direito
anglo-saxão, sendo um sistema diferente das tradições romano-germanas, no qual
algum ato praticado por autoridade, para ser considerado válido, eficaz e completo,
deve seguir todas as etapas previstas em lei (Costa, 2011). É um princípio originado
na primeira constituição, a Magna Carta, de 1215, sendo um documento que restringia
os poderes dos monarcas ingleses, especialmente o do Rei João da Inglaterra, que o
assinou, impedindo assim o exercício do poder absoluto. Apesar de João e os barões
terem concordado com a Magna Carta em 1215, nenhum dos lados cumpriu as
exigências do acordo. Uma guerra civil começou pouco depois, com os barões
receberam ajuda de Luís VIII de França. Logo o confronto chegou em um impasse.
João morreu de disenteria em 1216 enquanto fazia campanha no leste da Inglaterra;
os apoiadores de seu filho Henrique III conseguiram derrotar Luís e os barões rebeldes
no ano seguinte.

Costa (2001) afirma, que o Princípio do Devido Processo Legal relaciona-se com o
princípio da legalidade e com a legitimidade, conforme Cintra (2001, p. 131), o devido
processo legal é o “processo devidamente estruturado” mediante o qual se faz
presente a legitimidade da jurisdição, entendida jurisdição como poder, função e
atividade e esclarece:

“O devido processo legal processual (“procedural due process”) é o princípio


empregado no sentido estrito, referindo-se tanto ao processo judicial quanto
ao processo administrativo, assegurando-se ao litigante vários direitos no
âmbito do processo, a exemplo dos direitos: à citação, à comunicação eficiente
acerca dos fundamentos da instauração do processo do qual é uma das partes,

110
à ampla defesa, à defesa oral, à apresentação de provas na defesa de seus
interesses, a ter um defensor legalmente habilitado (advogado), ao
contraditório, à contra-argumentação face às provas arroladas pela outra
parte (inclusive quando se tratar de prova testemunhal), a juiz natural, a
julgamento público mediante provas lícitas, à imparcialidade do juiz, a uma
sentença fundamentada, ao duplo grau de jurisdição e à coisa julgada. É
precisamente nesse aspecto processual que se faz uso, no Brasil, da expressão
“devido processo legal” e se insere o contraditório, que, de forma conjunta
com o direito de ação, a ampla defesa e a igualdade de todos perante a lei,
enfeixa o acesso à justiça.(Costa, 2001)”

O artigo 5º LXIII, da Constituição Federal 1988, também ressalva, que ninguém é


obrigado a fazer prova contra si, e garante o direito ao silêncio e a não auto
incriminação. O silêncio não poderá acarretar repercussão positiva na apuração da
responsabilidade penal, nem poderá acautelar presunção de veracidade dos fatos
sobre os quais o acusado calou-se. O imputado não pode ser obrigado a produzir
prova contra si mesmo (Pacheco, 2007). O Princípio da Presunção de Inocência é um
dos princípios basilares do Estado de Direito. E como garantia processual penal, visa
à tutela da liberdade pessoal, e expressa a necessidade de o Estado comprovar a
culpabilidade do indivíduo, que é de forma constitucional presumido inocente, sob
pena de retrocedermos ao estado de total arbítrio estatal (Ferrari, 2012). O Direito é
dinâmico, evolui conforme as necessidades sociais, mas jamais pode renegar os
direitos inerentes à personalidade do homem, autor e possuidor da proteção oriunda
do ordenamento jurídico (Ferrari, 2012).

O artigo 5º, XXXVII e Art. 5°, LIII, remete ao Princípio do Juiz Natural, que é um dos
mais relevantes que temos em nosso ordenamento jurídico, está consagrado na nossa
Constituição Federal de 1988, como um dos Direitos e Garantias Fundamentais: "Art.
5°, XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;" e "Art. 5°, LIII - ninguém será
processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;" . Se íntegra a
cláusula do devido processo legal, e esse devido processo legal é na justiça penal
aquela que se desenvolve mediante contraditório pleno (art. 5°, LV) com todos os
recursos essenciais à defesa plena (art. 5°, LV), sem abuso de poder (art. 5°, LXVIII) e
perante autoridade competente para processar e julgar (art. 5°, LIII) (Nogueira, 2003).
De duas maneiras deve ser entendida e interpretada a expressão constitucional
"autoridade competente": a) é a determinação indeclinável de que somente poderá
processar e sentenciar a autoridade investida de jurisdição; b) a expressão ''autoridade
competente'' equivale às de juiz natural, ou juiz legal (Marques, 2000). Sendo a
imparcialidade, não mais um atributo do juiz, mas visto como pressuposto para sua
existência (Grinover, 1984).

No marco constitucional do artigo 5º, XXXIX da Constituição, contempla-se o


Princípio da Legalidade que segue uma tradição legislativa que vem sendo afirmada
desde a Constituição do Império (1824, art. 179, § 11) e das Cartas Políticas

111
republicanas [ (1891, art. 72, § 15); (1934, art. 113, §§ 26 e 27); (1937, art. 122, § 13); (1946,
art. 141, § 29); (1967, art. 150, § 16); (1969, art. 153, § 16)]:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal;

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;”

E a norma penal acompanha o texto, em seu Art. 1º do Código Penal: “Não há crime
sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”, que se
apresenta como uma forma do Direito Penal atuar dentro das normas positivadas.

Os incisos do art. 5º da Constituição Federal asseguram a liberdade de locomoção


dentro do território nacional (inciso XV), dispõe a cerca da personalização da pena
(inciso XLV), cuidam do Princípio do Contraditório e da Princípio da Ampla Defesa,
assim como da Presunção da Inocência (inciso LV e LVII, respectivamente), e, de
modo mais taxativa, o inciso LXI - da nossa Lei Maior - que constitui que “Ninguém
será preso senão em flagrante delito, ou por ordem escrita e fundamentada da
autoridade competente...”; o inciso LXV, traz que “a prisão ilegal será imediatamente
relaxada pela autoridade judiciária; o inciso LXVI, estabelece que ninguém será levado
à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem o
pagamento de fiança; o inciso LXVII, afirma que não haverá prisão civil por dívida,
exceto a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel; o inciso LXVIII, prescreve que conceder-se-à
habeas corpus sempre que alguém sofrer ou julgar-se ameaçado de sofrer violência ou
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; e também
prescreve o inciso LXXV, que o Estado indenizará toda a pessoa condenada por erro
judiciário, bem como aquela que ficar presa além do tempo fixado na sentença
(Pacheco, 2007).

Tais incisos constitucionais tratam do Princípio da Legalidade da Prisão, a


Constituição Federal de 1988 demonstra grande preocupação com as prisões,
tutelando a liberdade contra elas em várias oportunidades, direta e indiretamente,
impondo limitações e procedimentos a serem observados para firmar a regularidade
da prisão, meios e casos de soltura do preso, alguns direitos do detento, e medidas
para sanar e questionar a prisão (Pacheco, 2007).

Flores (2015) apresenta que, ao seguir a Convenção Europeia para a Salvaguarda dos
Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais de 1950, o Princípio da

112
Publicidade dos atos processuais foi elevado à categoria de direito fundamental pela
Constituição de 1988, Art. 5º, LX, ao expressar que: “a lei só poderá restringir a
publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social
o exigirem”. Igualmente, a Constituição comina com a nulidade do julgamento, caso
não respeitado o princípio fundamental da publicidade do processo:

Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a
estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no
sigilo não prejudique o interesse público à informação (CF, art. 93, IX, com redação
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004);

Este princípio trata de direito fundamental que visa permitir o controle da opinião
pública sobre os serviços da justiça, máxime sobre o poder de que foi investido o juiz.
Desta forma, há uma íntima relação entre os princípios da publicidade e da motivação
das decisões judiciais, na medida em que a publicidade torna efetiva a participação no
controle das decisões judiciais; trata-se de verdadeiro instrumento de eficácia da
garantia da motivação das decisões judiciais (Toaldo, 2012). Todo processo é público,
exceto aqueles que tramitarem em segredo de justiça, como requisito de democracia e
de segurança das partes. A finalidade é garantir a transparência da justiça, a
imparcialidade e a responsabilidade do juiz. Assegura-se assim, a possibilidade de
qualquer indivíduo, verificar os autos de um processo e de estar presente em
audiência, revela-se como um instrumento de fiscalização dos trabalhos dos
operadores do Direito (Pacheco, 2007).

Pacheco (2007) alerta que, o que não estiver dentro do processo equipara-se a
inexistência. E, nesse caso o processo é o universo em que deverá se ater o juiz, para
impedir julgamentos parciais. A sentença não é um ato de fé, mas a exteriorização da
livre convicção formada pelo juiz em face de provas apresentadas nos autos, em que
sua atuação se funda no Princípio do Livre Convencimento, consagrado no art. 157 do
Código de Processo Penal.

A diretriz da oficialidade funda-se no interesse público de defesa social, pelo Princípio


da Oficialidade segundo o qual, uma vez iniciado, o processo deve ser impulsionado
pelo juiz, independentemente da vontade das partes. art. 5º da Lei Maior (CF/88),
compreende-se que a segurança também é um direito individual, competindo ao
Estado provê-la e assegurá-la por meio de seus órgãos. Devendo serem criados por lei
órgãos oficiais de persecução criminal, para investigar os delitos e realizar o
processamento dos crimes, no sistema acusatório. A Declaração Francesa datada de
1789 já especificava que: "A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de
uma força pública; esta força é, pois, instituída para fruição por todos, e não para
utilidade particular daqueles a quem é confiada" (ver art. 12).

113
As exceções ao princípio da oficialidade estão previstas no art. 30 do Código de
Processo Penal, em relação a ação penal privada; e no art. 29 do mesmo código, para
a ação penal privada subsidiária da pública. Porém, existe outra aparente exceção à
oficialidade da ação penal, a qual, trata da ação penal popular, instituída pelo art. 14,
da Lei nº 1.079/50, que cuida dos impropriamente denominados "crimes" de
responsabilidade do Presidente da República. A punição está restrita à perda do cargo
com a inabilitação para a função pública, na forma do art. 52, parágrafo único, da
Constituição Federal, c/c o art. 2º, da Lei nº. 1079/50. A corrente doutrinária
minoritária transmite a idéia de que a "denúncia" de que trata a Lei n. 1.079/50
(principalmente a prevista no art. 14) é simplesmente uma noticia criminis
postulatória, pois a verdadeira acusação contra o Presidente da República, nos
denominados crimes de responsabilidade ficaria a cargo da Câmara dos Deputados,
a qual conforme o art. 51, inciso I, da Constituição Federal, seria a autoridade
competente. (Pacheco, 2007)

Como exclusividade das ações privadas, o Princípio da Disponibilidade, significa


dizer, que o titular da ação penal pode utilizar-se dos institutos da renúncia, da
desistência, pode, inclusive, após proferida a sentença condenatória, o titular da ação
perdoar o réu, desde que a sentença não tenha transitado em julgado. (Pacheco, 2007).

O Princípio da Oportunidade, o ofendido ou seu representante legal pode analisar e


decidir se irá impetrar ou não a ação. Salienta-se, que o princípio da oportunidade
somente será valido ante ação penal privada. O Estado, diante destes crimes concede
ao particular, ou seja, ao ofendido ou ao seu representante legal, o direito de invocar
a prestação jurisdicional. Porém, se o ofendido não quiser processar o seu injuriador,
ninguém poderá obrigá-lo a fazer. A autoridade policial não pode, por exemplo, dar
lhe voz de prisão e leva-lo à delegacia para lavratura de auto de prisão em flagrante,
sem o consentimento do ofendido.

O Princípio da Indisponibilidade refere-se não só ao agente, mas também aos


partícipes. Partindo-se de que a atuação do Ministério Público no processo penal é
dupla, com dominus litis e, simultaneamente, com custos legis. E, por estas razões, o
representante do Ministério Público além de ser acusador, tem legitimidade e, em
determinados casos, o dever de recorrer em favor do Réu, requerendo-lhe benefícios,
etc. Por isso, o Ministério Público não se enquadra como “parte” na relação formada
no processo penal, estabelecendo-se meramente como órgão encarregado de expor os
fatos delituosos e representar o interesse social na sua apuração.

Prado (2010) relata que, a força normativa dos princípios penais constitucionais da
seguinte forma:

“Os princípios penais constituem o núcleo essencial da matéria penal,


alicerçando o edifício conceitual do delito – suas categorias teoréticas –,
limitando o poder punitivo do Estado, salvaguardando as liberdades e os

114
direitos fundamentais do indivíduo, orientando a política legislativa criminal,
oferecendo pautas de interpretação e de aplicação da lei penal conforme a
Constituição e as exigências próprias de um Estado democrático e social de
Direito. Em síntese: servem de fundamento e de limite à responsabilidade
penal”. (Prado, Curso de Direito Penal, 2010)

De acordo com Gomes (2006), os princípios constitucionais penais:

“Acham-se ancorados no princípio-síntese do Estado Constitucional e


Democrático de Direito, que é o da dignidade humana. A força imperativa do
princípio da dignidade humana (CF, art. 1.º, III) é incontestável. Nenhuma
ordem jurídica pode contrariá-lo. A dignidade humana, sem sombra de
dúvida, é a base ou o alicerce de todos os demais princípios constitucionais
penais. Qualquer violação a outro princípio afeta igualmente o da dignidade
da pessoa humana. O homem (o ser humano) não é coisa, não é só cidadão, é
antes de tudo, pessoa (dotada de direitos, sobretudo perante o poder punitivo
do Estado)”. (Gomes, Direito Penal, 2006)

Elege a instituição do Estado Democrático, o qual se destina “a assegurar o exercício


dos direitos sociais e individuais”, assim como o bem-estar, o desenvolvimento, a
igualdade e a justiça social, bem como, seguindo a tendência do constitucionalismo
contemporâneo, incorporou, expressamente, ao seu texto, o Princípio Da Dignidade
da Pessoa Humana (art. 1º, inc. III) – como valor supremo –, definindo-o como
fundamento da República, de modo a servir como verdadeiro e seguro critério para
solução de conflitos (Kumagai e Marta,2010). Ao afirmar a dignidade da pessoa
humana como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1°, III), a
lei maior, prevê o Princípio da Humanidade das Sanções (penas e medidas de
segurança) não admite as penas de morte, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados,
de banimento e quaisquer outras de natureza cruel (art. 5°, XLVII).

Decorrente dos textos supracitados está previsto entendimento, o Princípio de


Anterioridade da Lei, ou seja, a lei penal só pode retroagir se for para beneficiar o réu,
caso contrário, não pode ser aplicada a fatos anteriores (Dotti, 2005).

Para que a lei penal possa desempenhar função pedagógica e motivar o


comportamento humano, deve ser facilmente acessível a todos, não só aos juristas.
Exige-se, portanto, uma lei certa que diz respeito com a clareza dos tipos de ilícito,
restringindo-se a elaboração dos tipos abertos que acarretam insegurança jurídica. Um
dos corolários lógicos do princípio da anterioridade da lei penal é o Princípio da
Taxatividade da Norma Incriminadora ou da Determinação, decorrente do Princípio
da Legalidade, nullum crimen nulla poena sine lege stricta (Dotti, 2005). A doutrina
esclarece que enquanto o Princípio da Anterioridade da Lei Penal se vincula às fontes
do Direito Penal, o Princípio da Taxatividade preside a formulação técnica da lei penal
e indica o dever imposto ao legislador de proceder, quando redige a norma, de

115
maneira precisa na determinação dos tipos legais, para se saber, taxativamente, o que
é penalmente ilícito e o que é penalmente admitido, o que necessita que a lei seja
escrita (Dotti, 2005). Princípio da irretroatividade da lei mais severa, ou seja, consta na
Constituição Federal a proibição da retroatividade da lei penal para prejudicar o
agente, conforme reza o artigo 5º inciso XL da Carta Magna, in verbis, “a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. Uma das conseqüências naturais do princípio
ora em exame é o da proibição de leis com efeito retroativo (Dotti, 2005). O Princípio
da Aplicação da Lei mais Favorável pressupõe a existência de dois outros princípios
que são lhes são indissociáveis: a) a irretroatividade da lei mais grave; b) a
retroatividade da lei mais favorável. A apuração de maior benignidade pode ser feita
através do critério de combinação de leis, para se extrair de cada uma delas a parte
mais benéfica (Dotti, 2005).

O Direito Penal, deve conferir proteção aos bens mais relevantes e necessários à
manutenção pacifica da sociedade. O direito penal deve interferir o menos possível na
vida em sociedade, devendo ser vindicado somente quando os demais ramos do
direito não forem suficientes para proteger os bens de maior importância. Roberti
(2001) assevera: “a fragmentariedade e a subsidiariedade são duas características do
Direito Penal que decorrem do Princípio da Intervenção Mínima e que, de igual sorte,
também são erigidos à categoria de princípios”. Assim, com o Princípio da
Intervenção Mínima, o Direito Penal, somente deve intervir quando as demais
soluções, extrapenais, não solucionarem, a contento, o conflito posto à apreciação
(Amaral, 2013), ou seja, o Estado somente deve recorrer à pena criminal quando não
houver, no ordenamento positivo, meios adequados para prevenir e reprimir o ilícito.
Este princípio, é recepcionado pela Constituição através do § 2º do art. 5º: "Os direitos
e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e
dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte". O princípio tem a sua raiz no art. 8º da Declaração
Dos Direitos do Homem e do Cidadão (Paris, 1789), ao proclamar que a lei deve
estabelecer "penas estrita e evidentemente necessárias" (Dotti, 2005). O art. 2° do CP
indica expressamente o fato (humano) como requisito do crime e pressuposto da pena,
do mesmo modo, ora com referência à ação ou omissão ora com a menção da palavra
fato ou de uma situação que o identifique (Dotti, 2005). Pode-se concluir, de acordo
com o Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos, Lesividade ou Ofensividade
que, fora do fato não há crime e sem a conduta não existe pena. Não basta que a
conduta seja imoral ou pecaminosa, ela deve ofender um bem jurídico, provocando
uma lesão efetiva ou um perigo concreto ao bem.

O Princípio da Culpabilidade ou Princípio da Responsabilidade Subjetiva não se


encontra expresso na Constituição Federal da República, mas pode ser extraído a
partir do texto constitucional, principalmente do princípio da dignidade da pessoa
humana constitui um dos pilares sobre os quais assenta toda uma estrutura do sistema
de Direito Penal que distingue entre sujeitos imputáveis (capazes de culpa) e

116
inimputáveis (incapazes de culpa), que são os menores de 18 anos e os portadores de
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (Dotti, 2005). É
preciso que exista dolo ou culpa na conduta do agente para que este seja penalmente
responsabilizado. Só haverá responsabilidade penal se o agente for imputável, que
possui consciência da ilicitude. É expressamente declarado no art. 19 do CP: “Pelo
resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado ao menos culposamente”. Dotti (2005) explica que a culpabilidade é indicada
como primeiro dado indispensável para a fixação judicial da pena “conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime” (CP art. 59). No sistema
penal brasileiro a culpa é o fundamento para a escolha da natureza, quantidade e
substituição da pena enquanto que a periculosidade é a base para a aplicação da
medida de segurança (Dotti, 2005).

O Princípio da Proporcionalidade da Pena deve traduzir o interesse da sociedade em


impor uma medida penal “necessária e suficiente para reprovação e prevenção do
crime” (CP art. 59) e garantir ao condenado o direito em não sofrer uma punição que
exceda o limite do mal causado pelo ilícito (Dotti, 2005). A proporcionalidade procura
a justa medida da retribuição que constitui a idéia central do Direito Penal. Um
exemplo rotineiro da natureza retributiva da pena se contém na regra do art. 121, § 5.º
do CP, em que se prevê o perdão judicial, na hipótese de homicídio culposo, “se as
conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária” (Dotti, 2005). O Princípio da Responsabilidade Pessoal
do Agente, ou Princípio da Intranscendência, ou Princípio da Individualização da
Pena, è declarado pela Constituição no Art. 5°, XLVI, que é regulado pela legislação
ordinária, do Código Penal, Art. 59:

“CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940

Art. 59- O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social,


à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; (Redação dada pela Lei nº 7.209,


de 11.7.1984)

II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; (Redação


dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; (Incluído


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie


de pena, se cabível. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”

117
E Código de Processo Penal Art. 387, I e II:

“Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: (Vide Lei nº 11.719, de


2008)

I - mencionará as circunstâncias agravantes ou atenuantes definidas no


Código Penal, e cuja existência reconhecer;

II - mencionará as outras circunstâncias apuradas e tudo o mais que deva ser


levado em conta na aplicação da pena, de acordo com o disposto nos arts. 59
e 60 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal;
(Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).”

O ilícito penal é fruto da conduta humana, individualmente considerada, mesmo


quando o evento típico é produzido em concurso, eventual ou necessário, de duas ou
mais pessoas. A sanção penal não pode ser aplicada ou executada contra quem não
seja o autor ou partícipe do fato punível. Este dogma, de longa maturação histórica e
jurídica, tem a sua declaração formal no art. 5°, XLV da Constituição (Dotti, 2005).

O Princípio da Insignificância ou Bagatela, analisa se se houve uma mínima


ofensividade, se houve periculosidade social da ação, se há reprovabilidade relevante
no comportamento, tal como relata o Ministro Celso de Melo:

“O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com os


postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em
matéria penal - tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade
penal, examinada na perspectiva de seu caráter material. Doutrina. Tal
postulado - que considera necessária, na aferição do relevo material da
tipicidade penal, a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima
ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma periculosidade social da
ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e (d) a
inexpressividade da lesão jurídica provocada - apoiou-se, em seu processo de
formulação teórica, no reconhecimento de que o caráter subsidiário do
sistema penal reclama e impõe, em função dos próprios objetivos por ele
visados, a intervenção mínima do Poder Público. O POSTULADO DA
INSIGNIFICÂNCIA E A FUNÇÃO DO DIREITO PENAL: "DE MINIMIS,
NON CURAT PRAETOR". - O sistema jurídico há de considerar a
relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de
direitos do indivíduo somente se justificam quando estritamente necessárias
à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que
lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores
penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado
de significativa lesividade. O direito penal não se deve ocupar de condutas
que produzam resultado, cujo desvalor - por não importar em lesão

118
significativa a bens jurídicos relevantes - não represente, por isso mesmo,
prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade
da própria ordem social. (HC 84412 / SP Rel: Min. CELSO DE MELLO- DJ 19
11-04).”

Marques (2014) explica que o delito é o produto de várias circunstâncias fáticas, que
não podem ser divididas em partes, e apresenta:

"O crime é, certamente, um todo unitário e indivisível. Ou o agente comete o


delito (fato típico, ilícito e culpável) ou o fato por ele praticado será
considerado um indiferente penal. O estudo estratificado ou analítico
permite-nos, com clareza, verificar a existência ou não da infração penal; daí
a sua importância (Greco, 2009).”

Segundo Rodrigues (2012), o direito penal não deve tutelar somente a vítima; tutela
também o delinqüente. A pena, nesse sentido, não tem como função prevenir somente
delitos, mas também punições injustas. A concepção do funcionalismo penal, que
destacou a importância da Teoria da Imputação Objetiva, desenvolvida por Roxin e
Jakobs, tem como premissa básica o seguinte: o direito em geral e o direito penal em
particular, é instrumento que se destina a garantir a funcionalidade e a eficácia do
sistema social e dos seus subsistemas. Produto de uma concepção funcionalista
extrema ou radical, a ação aparece na obra de Jakobs (1997. p.156) como parte da teoria
da imputação (conduta do agente/infração à norma/culpabilidade), que, por sua vez,
deriva da função da pena. Estabelece quem deve ser punido para a estabilidade
normativa: o agente é punido porque agiu de modo contrário à norma e
cupavelmente.

Rodrigues (2012) destaca que Roxin (2002), busca demonstrar que, a Teoria da
Imputação Objetiva faz relega o tipo subjetivo e a finalidade a uma posição secundária
e recoloca o tipo objetivo no centro das atenções. Este tipo objetivo não pode, se
esgotar na mera causação de um resultado, é necessário algo mais para fazer desta
causação uma causação objetivamente típica. E este algo a mais se compõe,
fundamentalmente em duas idéias: a criação de um risco juridicamente desaprovado
e a realização deste risco no resultado e que este resultado esteja no âmbito de proteção
da norma (Rodrigues, 2012).

Explica Roxin (1997, pp. 214-215) que o sistema penal, interpretado dedutivamente e
mediante critérios abstratos, pode violentar a matéria jurídica e perde a discussão dos
problemas concretos. Para Roxin: “o injusto penal pressupõe uma lesão ou colocação
em perigo do bem jurídico, e a teoria da imputação objetiva estabelece detalhes, a
partir de dito fundamento, o âmbito do jurídico penalmente proibido, mediante a
ponderação dos interesses pela proteção e pela liberdade” (Roxin, 2006, p. 45). Deste
modo, ‘o sistema aparece agora como instrumento adequado para a solução dos

119
conflitos concretos porque é aplicado conforme seus fins axiológicos ’(Gomes, 2005, p.
133).

Conforme à visão finalística, a conduta típica, é constituída pelos pressupostos: a)


conduta dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva; b) resultado; c) nexo de
causalidade entre conduta e o resultado; d) tipicidade formal e conglobantexviii (Greco,
2009). A ilicitude, se configura a partir da relação da conduta do agente com o
ordenamento jurídico. Desta forma, a ação será lícita se estiver protegida uma das
causas previstas no artigo 23 do Código Penal (Marques, 2004) a saber:

“Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”

Segundo Marques (2004), na ausência de umas dessas condições, não será afastada à
ilicitude da conduta criminosa. Assim, o que se passa a analisar é a culpabilidade,
conforme Greco (2009,p.146):

“É o juízo de reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente.


São elementos integrantes da culpabilidade, de acordo com a concepção
finalista por nós assumida: 1) imputabilidade, 2) potencial consciência da
ilicitude do fato, 3) exigibilidade de conduta diversa".

Marques (2004) apresenta Zaffaroni (1999, p.146) apud Greco (2009, p.146), que
esclarece:

"O delito é uma conduta humana individualizada mediante um dispositivo


legal (tipo) que revela sua proibição (típica), que por não estar permitida por
nenhum preceito jurídico (causa de justificação) é contrária ao ordenamento
jurídico (antijurídica) e que, por ser exigível do autor que atuasse de outra
maneira nessa circunstância, lhe é reprovável (culpável)".

Mirabete (2006) informa que no Código Penal vigente não está expresso o conceito de
crime, como continha nas legislações passadas, ficando a cargo dos doutrinadores o
definirem e conceituarem.

As leis editadas após a Constituição Federal de 1988 carregam um comprometimento


diferenciado, não só na sua estrutura legislativa como também nas tutelas anunciadas.
As proteções são as mais variadas dentro da esfera dos direitos fundamentais e
resume a isonomia que deve prevalecer no Estado Democrático de Direito (Junior,
2010).

120
A recente Lei nº 12.015/2009, que alterou o Título VI da Parte Especial do Código
Penal, inseriu nova nomenclatura aos crimes sexuais. Agora são crimes cometidos
contra a dignidade sexual e, coerente com sua missão, criou no Capítulo II os crimes
sexuais contra vulnerável e no artigo 217-A, estupro de vulnerável (Junior, 2010).

O legislador penal alerta que a vulnerabilidade ocorre em três situações distintas: a)


quando se tratar de vítima de estupro com menos de 14 anos; b) quem, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato; c) quem, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência (Junior, 2010).
Pierangeli (2005) destaca a respeito da fixação da faixa etária de menor de 14 anos:

“A nossa lei penal, portanto, aceitou a tese da completa insciência do menor


em fatos sexuais, que o impossibilita de considerar os efeitos por ele
produzidos. Abaixo, pois, desse limite, presume-se que o menor não possa
consentir validamente, e nada valendo ao agente sua aquiescência.”

O outro quadro de vulnerabilidade é com relação à vítima que seja portadora de


enfermidade ou deficiência mental e desprovida de discernimento para a prática do
ato. Na lei anterior, exigia-se o conhecimento do agente da doença ou debilidade da
vítima, na atual, não (Junior, 2010). A outra causa contida no mesmo parágrafo é
abrangente e indeterminada. A indeterminação é proposital. Exclui-se do rol do
menor de 14 anos, do enfermo ou do deficiente mental e qualquer que seja a causa que
impeça a vítima de oferecer resistência irá transformá-la em vulnerável. Deverá
corresponder a uma situação de total impedimento de resistência, em virtude de
enfermidade, desmaio, sono mórbido, estado etílico, uso de entorpecentes ou outras
decorrentes (Junior, 2010).

Junior (2010) com vistas a acelerada biotecnologia na reprodução humana assistida, a


ocorrência do estupro científico. Trata-se de uma situação de fraude empregada pelo
marido no caso de inseminação artificial homóloga. O marido faz ver que o sêmen
utilizado era o seu, quando, na realidade, era de terceiro. A mulher, de boa-fé,
consente no procedimento, mas desconhece que o embrião foi formado com esperma
de terceira pessoa. Nesta hipótese, salienta Diniz (2006), responsável pela introdução
do tema na literatura jurídica brasileira:

“Denunciada a farsa, ter-se-á injúria grave e poderia a mulher, forçada à maternidade


pela inseminação artificial, homóloga ou não, alegar estupro científico, para pleitear o
aborto legal.”

Segundo o ECA, é considerado criança o cidadão que tem até 12 anos incompletos.
Aqueles com idade entre 12 e 18 anos são adolescentes:

“Título I

Das Disposições Preliminares

121
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade.”

A vista do artigo explicamos, que:

a)
desenvolvimento criança:
considera-se físico e psicológico,
Individuoadquire conceito para sua personalidade;
em odesenvolvimento, onde começa o

b) a pessoa até doze anos de idade incompletos: de 0(zero) á 11(onze) anos, 11(onze)
meses e 29 (vinte e nove) dias, ou seja, um dia antes de completar 12 anos;

c) adolescente: individuo em formação, onde é visível o desenvolvimento físico e


psicológico, fase de transição da infância para fase adulta e;

d) aquela entre doze e dezoito anos de idade: de 12(doze) á 17(dezessete) anos,


11(onze) meses e 29 (vinte e nove)dias, ou seja, um dia antes de completar 18 anos.

O parágrafo único, do artigo 2º, da Lei nº 8.069/1990, estabelece que o Estatuto da


Criança e do Adolescente, nos casos expressos em lei, é aplicável às pessoas entre
dezoito e vinte e um anos. Também há entendimento jurisprudencial no sentido de
que o atingimento da maioridade não impede o cumprimento de medida
socioeducativa imposta a adolescente em razão do cometimento de ato infracional
quando de sua menoridade civil.

Esta tese tendo como campo a investigação criminal na fase do inquérito considerará
a vítima, dos crimes de estupro e dos crimes de estupro de vulnerável do Código
Penal. Faz-se necessário atender ambas as tipificações, visto que, criança e adolescente
descrita no artigo 2º, do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, Lei nº 8.069, de
13 de julho de 1990, considera: criança a pessoa até 12 anos e adolescente com idade
entre 12 e 18 anos incompleto. Na tipificação penal, dos crimes do Código Penal dos
artigos 213 e 217-A, quanto a faixa etária infanto-juvenil, temos tanto de criança, 0 a
12 anos, quanto aos adolescentes de 12 a 18 anos incompletos.

Desta forma o instrumental da tese irá atender, ao quesito vulnerável, em relação


somente a faixa etária. De acordo com a faixa etária, quanto ao que é considerado
vulnerável ou não, são os artigos: 217-a do Código Penal, em que são vítimas as
pessoas que se encontram na faixa etária até 13 anos incompletos e o artigo 213 do
Código Penal, as pessoas acima desta faixa etária até 17 anos incompletos.

Na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente – DPCA de Goiânia, são


investigados suspeitos, maiores de 18 anos de idade. Visto que, crianças e adolescentes
que cometem ato infracional, com crime análogo ao estupro de vulnerável, são

122
atendidos pela DEPAI – Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais,
estabelecido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990:

“Título 3

Título III - Da Prática de Ato Infracional

Capítulo 1

Capítulo I Disposições Gerais

Art. 103 - Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou


contravenção penal.

Art. 104 - São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos


às medidas previstas nesta Lei.

Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do
adolescente à data do fato.

Art. 105 - Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas


previstas no art. 101.”

Correspondem as crianças a aplicação das medidas do Artigo 101, Capítulo II das


Medidas Específicas de Proteção e aos adolescentes, além do Artigo 101 do ECA,
também as específicas do Capítulo 4, Capítulo IV - Das medidas sócio-educativas.

O ECA também regulamenta casos excepcionais de jovens que receberam medidas


que se esgotarão até depois dos 18 anos, como no caso do prolongamento da medida
de internação e no caso de assistência judicial. E estabelece vários direitos específicos,
bem como regras especiais para o jovem infrator.

Pois bem, quando o objeto de estudo é a relação sexual consensual entre adolescentes
menores de 14 e maiores de 12 anos, é de suma importância atentarmos para o que diz
o art. 103 do ECA: “Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como
crime ou contravenção penal.”

Partindo da teoria tripartida do crime, onde este é um fato típico, antijurídico e


culpável, a criança ou o adolescente podem vir a cometer crime, mas não preenchem
o requisito da culpabilidade (imputabilidade). Dessa forma, não podem ser
penalmente responsabilizados como se adultos fossem, pois a imputabilidade penal
inicia-se aos 18 anos, ficando o adolescente que comete infração penal sujeito à
aplicação de medida socioeducativa.

123
Assim, a conduta delituosa da criança e do adolescente é denominada tecnicamente
de ato infracional, abrangendo tanto o crime quanto a contravenção penal (infrações
penais).

Ressalta-se, oportunamente, que aos menores de 12 anos são aplicadas as medidas


protetivas do art. 101 do ECA e não as medidas socioeducativas do mesmo estatuto.

Quanto a batalha de interpretações sobre a vulnerabilidade do art. 217-A parece não


ter fim, ainda que o STF e STJ já posicionaram-se, firmemente, em favor da
vulnerabilidade absoluta, conforme vemos abaixo:

“STF:O bem jurídico tutelado no crime de estupro contra menor de 14


(quatorze) anos é imaturidade psicológica, por isso que sendo a presunção de
violência absoluta não pode ser elidida pela compleição física da vítima nem
por sua anterior experiência em sexo. Precedentes: HC 93.263, Rel. Min.
CÁRMEN LÚCIA, 1ª Turma, DJe de 14/04/08, RHC 79.788, Rel. Min.
NELSON JOBIM, 2ª Turma, DJ de 17/08/01 e HC 101.456, Rel. Min. Eros
Grau, DJe de 30/04/10)”;

2.2 O inquérito policial

O inquérito Policial é um procedimento administrativo, de natureza inquisitiva – in


vestigatória que visa constituir elementos a fim de instruir um processo. É produzido
pela Polícia Civil, normalmente logo em seguida ao fato criminoso. Como regra, pode
se afirmar que o valor dos elementos coligidos no curso do Inquérito Policial somente
serve para fundamentar medidas de natureza endoprocedimental e, no momento da
admissão da acusação, para justificar o processo ou seu arquivamento (Dias &
Joaquim, 2013).

O inquérito policial possui procedimentos, sendo estes: 1ª fase: Instauração; 2º fase:


Desenvolvimento/evolução e 3ª fase: Conclusão. Sendo que na primeira fase temos,
as peças procedimentais: 1ª peça: Portaria; 2ª peça: APFD (quando auto de prisão em
flagrante delito); 3ª peça: Requisição do juiz/MP/ministro da justiça e 4ª peça:
Requerimento da vítima. A peça de encerramento do Inquérito, chama-se relatório,
em que a autoridade policial, apresenta a síntese das principais diligências realizadas
no curso do inquérito ao titular da ação penal. Com isso, cabe ao delegado o
indiciamento ou não, que é a individualização do investigado/suspeito, sendo que a
autoridade policial goza de autotutela, ou seja, da capacidade de rever os próprios
atos. Com o encerramento do inquérito policial, este é encaminhado para o Ministério
Público que pode: oferecer denúncia, requisitar novas diligências e especificá-las,
defender o argumento de que não tem atribuição para atuar e pedir arquivamento,
sendo atos judiciais, mas não jurisdicionais (Duarte, 2013).

Nucci (2011) explana que: “A investigação do crime inicia-se, como regra, na delegacia
de polícia, instaurando-se o inquérito policial, de natureza inquisitiva e trâmite nos

124
moldes do sistema inquisitivo. Nesse procedimento administrativo colhem-se provas
a serem utilizadas posteriormente no contraditório judicial, com força probatória
definitiva”.

O inquérito policial possui características específicas, tais como: procedimento


inquisitivo, discricionariedade, procedimento sigiloso, procedimento escrito,
indisponível e dispensável (Duarte, 2013).

Quanto ao procedimento inquisitivo, destaca-se que a concentração das ações se


encontra na responsabilidade de uma única pessoa, o delegado de polícia. Na
discricionariedade, se dá pelos limites de atuação do delegado que desempenhará
suas ações de acordo com sua conveniência e oportunidade. A materialização dessa
discricionariedade se dá, por exemplo, no indeferimento de alguns requerimentos,
pois de acordo com o ordenamento jurídico, não cabe ao delegado indeferir a
realização do exame de corpo de delito. Nesta característica ainda se destaca as
requisições de diligências que podem ser solicitadas tanto pelo juiz, quanto pelo
Ministério Público.

O sigilo é intrínseco ao inquérito policial, por isso o procedimento sigiloso, é uma


característica natural do Inquérito Policial - IP, pelas finalidades de eficiência das
investigações e por resguardar imagem do investigado. Tal característica se diferente
da ação penal, pois não se faz necessário a declaração de sigilo no inquérito IP. Porém
de acordo com o Estatuto da OAB, lei 8.906/94, art. 7º, XIV. O advogado tem o direito
de consultar os autos dos IP, ainda que sem procuração para tal, porém não tem acesso
a algumas diligências. Quanto a característica de ‘Procedimento escrito’, as
informações orais devem ser reduzidas a termo, seja digitado, seja, de acordo com a
lei 11.900/09 que autoriza a documentação e captação de elementos informativos
produzidos por meio de som e imagem. No que tange a característica ‘Indisponível’,
não cabe a autoridade policial arquivar o inquérito policial, este por sua vez pode
sugerir o arquivamento, enquanto, que o Ministério Público pede o arquivamento.

Assim, por vigorar o sistema presidencialista para o trâmite do inquérito policial, tal
ato, cabe ao magistrado. Porém o delegado pode não instaurar o inquérito, por
atipicidade material, não ocorrência do fato e se estiverem presentes causas de
extinção de punibilidade, como no caso da prescrição (Duarte, 2013).

De acordo com a característica ‘dispensável’, o artigo 12 do Código de Processo Penal,


que diz: O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir
de base a uma ou outra. E ainda no art. 46, §1º do Código de Processo Penal:

“Art. 46 - O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será


de 5 (cinco) dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público
receber os autos do inquérito policial, e de 15 (quinze) dias, se o réu estiver
solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à

125
autoridade policial (Art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão do
Ministério Público receber novamente os autos.

§ 1º - Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para


o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças
de informações ou a representação”.

Segundo Duarte (2013) destaca, que as informações colhidas durante a fase do


inquérito policial não podem fundamentar sentença penal condenatória, trata-se de
valor relativo, pois tem fins para fundamentar a ação, com exceção a:

a) Provas cautelares: produzidas durante o IP podem fundamentar uma condenação,


desde que sejam autorizadas mediante urgência e necessidade e devem ser
submetidas a um contraditório diferido ou postergado.

b) Provas irrepetíveis: são provas de fácil perecimento, indícios de crimes que deixam
vestígios (crimes não transeuntes). Deverão ser submetidas ao contraditório diferido.

c) Provas antecipadas: São produzidas em incidente de provas antecipadas (não ca


rece de contraditório diferido).

A importância do inquérito policial se materializa do ponto de vista de uma garantia


contra opiniões antecipadas, quando ainda não há exata visão do conjunto de todas as
circunstâncias de determinado fato, daí a denominação de instituto pré-processual
(Duarte, 2013).

Recordando sobre sistemas processuais, suas modalidades são: inquisitivo, acusatório


e misto. O inquisitivo possui funções concentradas nas mãos de uma pessoa. O juiz
exerce todas as funções dentro do processo. No acusatório puro, as funções são muito
bem definidas. O juiz não busca provas. O Brasil adota o sistema acusatório não
ortodoxo. No sistema misto: existe uma fase investigatória, presidida por autoridade
policial e uma fase judicial, presidida pelo juiz inquisidor.

No caso dos crimes sexuais, como o exame de corpo de delito, principalmente, tais
provas não poderão ser refeitas, haja vista que pereceram com o tempo. Daí a
importância de um Inquérito feito corretamente, pois tal meio probatório é de suma
importância na comprovação do fato criminoso e sua autoria, sendo que, uma vez não
adotados todos os meios legais, a prova pode ser anulada e o processo fica carente de
comprovação (Dias & Joaquim, 2013). O delegado, deverá analisar as provas e firmar
sua convicção, assim como o magistrado na hora de sentenciar, e uma análise errada
dos fatos, ou até mesmo uma prova falsa (como por exemplo, a vítima estar
mentindo), pode acarretar uma prisão incorreta de difícil reparação, sob a ótica dos
danos que o preso sofrerá (Dias & Joaquim, 2013).

126
2.3 Notícia do fato tido como criminoso

A Lei nº 12.015, de 07 de agosto de 2009, gerou mudanças intensas no Título VI da


Parte Especial do Código Penal, na Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) e na
Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) (Alves, 2009).

Os crimes contra a dignidade sexual são aqueles crimes previstos nos capítulos I e II
do Título VI da Parte Especial do Código Penal. O capítulo I trata dos crimes contra a
liberdade sexual, que envolve os crimes de estupro (artigo 213), violência sexual
mediante fraude (artigo 215) e assédio sexual (artigo 216-A). Já o capítulo II especifica
os crimes contra vulnerável, que rege sobre os crimes de estupro de vulnerável
(artigos 217-A e 218), satisfação de lascívia mediante presença de criança ou
adolescente (artigo 218-A) e favorecimento da prostituição ou outra forma de
exploração sexual de vulnerável (artigo 218-B). Nestes casos entende-se por
vulnerável o menor de 14 (catorze) anos de idade (artigos 217-A, 218 e 218-A) ou o
menor de 18 (dezoito) anos submetido, induzido ou atraído à prostituição ou aquele
que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para
a prática do ato (artigo 218-B) (Alves, 2009).

Lei nº 12.015/09, no artigo 225, caput, do Código Penal, o parágrafo único deste
dispositivo legal dispõe ser a ação penal pública incondicionada se a vítima for menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável. Como regra geral, a ação penal pública
condicionada à representação do ofendido para os agora chamados crimes contra a
dignidade sexual, vertente da dignidade humana insculpida no artigo 1º, inciso III, da
Constituição Federal (Alves, 2009).

Nos crimes de ação pública o artigo 5º do Código de Processo Penal, aponta que o
inquérito policial será iniciado:

“ I- de ofício;

II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou


a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:

a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;

b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de


convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de
impossibilidade de o fazer;

c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência.

§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito


caberá recurso para o chefe de Polícia.

127
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de
infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito,
comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.”

A comunicação que alguém faz à autoridade pública da infração penal, praticada por
ela ou outrem, é o instrumento processual utilizado para comunicar uma infração
penal à autoridade competente. Neste caso não se pode confundir a notícia criminal
com a denúncia, que é o instrumento inicial da ação penal e quem a oferece, neste caso
é o Ministério Público. Então a notícia não instaura uma ação penal, mas apenas o
inquérito policial. A notitia criminis é a fase preliminar do Inquérito policial. Conforme
leciona o professor Fernando Capez, dá-se o nome de notitia criminis (notícia do crime)
ao conhecimento espontâneo ou provocado, por parte da autoridade policial, de um
fato aparentemente criminoso. É com base nesse conhecimento que a autoridade dá
início às investigações. No Código de Processo Penal, no artigo 24, a denúncia, é uma
peça acusatória iniciadora da ação penal, consistente em uma exposição por escrito
de fatos que constituem, em tese, ilícito penal, com a manifestação expressa da
vontade de que se aplique a lei penal a quem é presumivelmente seu autor e a
indicação de provas em que se alicerça a pretensão punitiva. A denúncia é a peça
acusatória inaugural da ação penal pública condicionada e incondicionada.

O comunicante pode noticiar algum fato tido como criminoso, na delegacia, sendo que
no Estado de Goiás, tal fato acontece por meio do documento RAI – Registro de
Atendimento Integrado, que é uma Plataforma de Sistemas Integrados - PSI, que é
composta pelos programas Registro de Atendimento Integrado - RAI, Sistema
Geográfico de Informação - GisGestão, Mapeamento de Operações Policiais
Integradas - MOPI, Mapeamento de Ações Sociais Integradas - MASI e o Aplicativo
de Integração entre Polícia e Cidadão - I9X. O RAI, que é a base da plataforma PSI -
Plataforma de Sistemas Integrados, é o principal instrumento utilizado pelas forças de
segurança no curso inicial de qualquer tratativa de evento: a ocorrência ou notificação
de crime (Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).

O RAI foi desenvolvido e lançado pelo Governo do Estado de Goiás, em 06 de abril


de 2016, para que as instituições que compõem o Centro Integrado de Inteligência,
Comando e Controle - CIICC possam utilizá-lo, ou, caso possuam sistemas próprios,
que esses interajam com o novo programa enviando e recebendo dados de maneira
automática e em tempo real. Com o programa as forças policiais em todo o Estado,
tem-se um retrato em tempo real de todos os crimes praticados em Goiás, pois o RAI
reúne, no mesmo local, registros de atendimentos e ocorrências (Secretaria de
Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).

O RAI em sua fase inicial, é integrado pela Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de
Bombeiros Militar e a Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC). Na etapa

128
seguinte, a Superintendência Executiva de Administração Penitenciária (SEAP)
também será inserida no sistema. Com o RAI, não há mais a necessidade de se fazer
diferentes registros para o mesmo caso, o que ocorre é a unificação das fontes de
informações e a diminuição das subnotificações, o que fortalece a capacidade
investigativa das forças policiais. Ações como o acompanhamento por meio de
registro único dentro do setor de segurança e o rastreamento do evento pela fase de
inquérito, judiciário, e, posteriormente, da execução penal, auxilia nas políticas
públicas e retroalimentação do sistema de informações a ser acessado por todos os
agentes de segurança.

O RAI, é composto pelo Sistema Geográfico de Informação - GisGestão, que é um soft


ware de análise criminal e geoprocessamento que disponibiliza em tempo real todas
as análises dos crimes considerados de alta prioridade e os convertidos em metas de
redução pela Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciaria, para a
elaboração das estratégias policiais e planejamento de emprego operacional e
investigativo. O sistema disponibiliza, locais, dias da semana e horários de maior
incidência dos crimes, mapas de manchas criminais até o nível de rua, bem como o
modus operandi, perfil da vítima e autor e demais dinâmicas de ocorrências dos
crimes. Em porte desse mapa, as forças de segurança analisam, planejam e
implementam ações mais efetivas no combate à criminalidade, em que se converte
dados em estratégia (Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).

Após a análise dos dados de manchas criminais em todas as regiões do Estado, entra
em ação o sistema de Mapeamento de Operações Integradas - MOPI, responsável pelo
planejamento e monitoramento de todas as ações e/ou operações integradas dentro
das 36 Áreas Integradas de Segurança Pública – AISP, do Estado de Goiás. Seu
objetivo é otimizar todas as estratégias para que sejam atingidas as metas de redução
de criminalidade e aumento de proatividade das forças policiais (Secretaria de
Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).

Assim, os comandantes das polícias Militar e Civil de cada região vão traçar estraté
gias para combater a criminalidade. O aplicativo registra o plano de operação definido
por cada força policial e permite o acompanhamento das informações. Esta é a
resposta prática contra o crime, de forma integrada e organizada (Secretaria de
Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).

Por fim, o Mapeamento de Ações Sociais Integradas - MASI é um sistema que objetiva
a pacificação, por meio da redução de crimes contra pessoas e ao patrimônio, bem
como a inibição ao tráfico de drogas. Com ele, ações transversais são planejadas,
controladas e executadas pelo programa, criando uma rede ativa entre Estado,
municípios, União, setor público-privado e organismos internacionais.

129
Com a criação do aplicativo de Integração entre Polícia e Cidadão (I9X), a Segurança
Pública de Goiás ganha importantes avanços tecnológicos para o usuário que precisar
abrir ocorrências de roubo, homicídio, incêndio, agressão, acidente pessoal, atitude
suspeita, violência doméstica, acidente com vítima e outros, inclusive com envio de
fotos, vídeos e mensagens de voz. Por ele, também será possível acompanhar o
deslocamento de viaturas e o cidadão conversar com o atendente via chat e poderá
inclusive, realizar novas denúncias. A inovação na prestação desses serviços pela
Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária visa o aperfeiçoamento
da segurança no Estado e está inserida no processo de modernização da estrutura
administrativa estadual (Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).

Os usuários têm acesso aos serviços dos telefones 190 (Polícia Militar), 193 (Corpo de
Bombeiros) e 197 (Polícia Civil). Para abrir uma ocorrência, deve selecionar o ícone
que melhor se aproxima à situação. Imediatamente o sistema gera a ocorrência, dando
início à conversa com o usuário, além de avisar a unidade competente. O atendente
informa as providências e o solicitante terá a prerrogativa de acompanhar o
deslocamento e a chegada da viatura.

Para fazer o download do aplicativo, o usuário precisa ter apenas um aparelho


smartphone com sistema operacional Android ou IOS, dispor de pacote de internet
ativo e preencher os dados para habilitação durante o primeiro acesso. O cadastro
pode ser feito com a conta do Facebook ou diretamente no aparelho celular, bastando
informar nome, sexo, e-mail, telefone e data de nascimento. Quanto maior a
velocidade de navegação, melhor será a transmissão de dados, como: imagens, áudios
e vídeos (Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).

Nos casos de crimes contra crianças e adolescentes, a comunicação do fato poderá ser
realizada no Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos - SDH, que é um número
que abrange todo o território nacional. Via telefone, podem ocorrer de maneira
anônima ou com identificação e recebem o mesmo tratamento investigativo.

Em resumo, as comunicações de fatos tido como criminosos, chegam a delegacia, com


origem do: Disque 100, RAI, Ministério Público, Conselho Tutelar, via telefone da
própria delegacia e presencial. As notícias crime realizadas pelo Disque 100 e no
Ministério Público, são enviadas pelos promotores criminais, para a delegacia, para
investigação e de acordo com a verificação, ocorre a instauração de inquérito, sendo
que todas as notícias crime são verificadas e geram relatório de Ordem de Missão
Policial – OMP, por parte dos agentes de polícia, regido pelo delegado, e assim
remetidas ao órgão de origem, que neste caso é o Ministério Público (Secretaria de
Segurança Pública do Estado de Goiás, 2016).

No caso das notícias crime realizadas pelo Conselho Tutelar, o Conselheiroxix deverá
avaliar a necessidade do registro policial e, por entender que assim é quando se trata

130
de infração administrativa ou penal (Art. 194 do ECA), deverá solicitar aos pais ou
responsável a realização de tal procedimento, marcando o retorno dos mesmos ao
Conselho Tutelar para a comprovação do registro. Considerando a violação grave, o
conselheiro deverá solicitar o retorno dos pais/responsável ao CT em 24 horas, caso
contrário, no período de 15 e 20 dias. Não retomando os pais ou responsável e/ou
descumprindo a determinação do Conselho Tutelar, haverá de ser aplicada a medida
de Advertência (Art. 129, VII do ECA) ou a representação junto à autoridade
judiciária, conforme caso (Art.136, III, b). Vale dizer que o Conselho Tutelar não é um
órgão de segurança pública, não lhe cabendo a realização de investigações policiais
quanto a supostas práticas de crimes contra crianças e adolescentes, que devem ficar
a cargo da polícia judiciária (polícia civil) e Ministério Público (valendo observar o
disposto no art. 136, inciso IV, do ECA). o Conselho Tutelar não deve fazer sob
nenhuma circunstância investigação de uma suspeita de crime e, inclusive,
"interrogar" o acusado, o que, nada impede, no entanto, que promova a articulação de
ações (Cf. Art. 86, do ECA) junto à polícia judiciária, de modo a colaborar, jamais
substituir, junto a autoridade policial. Seja na busca de uma intervenção imediata de
profissionais das áreas da psicologia e/ou assistência social para realização da oitiva
da vítima e seus familiares, seja para aplicar-lhes as medidas de proteção previstas
nos Arts. 101 e 129, do ECA que se fizerem necessárias.

Sempre que o Conselho Tutelar receber a notícia da prática, em tese, de crime contra
criança ou adolescente, deve levar o caso imediatamente ao Ministério Público (cf. art.
136, inciso IV, do ECA), sem prejuízo de se prontificar a aplicar, desde logo, medidas
de proteção à criança ou adolescente vítima, bem como realizar um trabalho de
orientação aos seus pais ou responsável. A avaliação acerca da efetiva caracterização
ou não do crime cabe ao Ministério Público, após a devida investigação do fato pela
autoridade policial. A propósito, o Conselho Tutelar não é órgão de segurança pú
blica, e não lhe cabe a realização do trabalho de investigação policial, substituindo o
papel da polícia judiciária - polícia civil. O que pode fazer é se prontificar a auxiliar a
autoridade policial no acionamento de determinados serviços municipais que podem
intervir desde logo, como psicólogos e assistentes sociais com atuação junto aos
Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS, Centro de
Refêrencia de Assistência Social - CRAS, Centro de Atenção Psicossocial - CAPs e
outros serviços públicos municipais. Tal intervenção, tanto do Conselho Tutelar
quanto dos referidos profissionais e autoridades que devem intervir no caso, no
entanto, deve invariavelmente ocorrer sob a coordenação da autoridade policial ou do
Ministério Público, inclusive para evitar prejuízos na coleta de provas.

Vale lembrar que, em casos semelhantes, é preciso proceder com extrema cautela,
diligência e profissionalismo, de modo a, de um lado, responsabilizar o(s) agente(s) e,
de outro, proteger a(s) vítima(s). O próprio Conselho Tutelar pode (deve), se
necessário por intermédio do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente de Goiânia - CMDCA local, estabelecer um "fluxo" ou "protocolo" de

131
atendimento interinstitucional, de modo que sejam claramente definidas as
providências a serem tomadas quando da notícia de casos de violência contra crianças
e adolescentes, assim como as responsabilidades de cada um, de modo que o fato seja
rapidamente apurado e a vítima receba o atendimento que se fizer necessário por
quem de direito. Em qualquer caso, é preciso ficar claro que todos os órgãos, serviços
e autoridades co-responsáveis pelo atendimento do caso devem agir em regime de
colaboração. É preciso, em suma, materializar a tão falada "rede de proteção à criança
e ao adolescente", através da articulação de ações e da integração operacional entre os
órgãos co-responsáveis.

No entanto, ocorrendo descaso ao zelo da criança e ao adolescente caberá ao Conselho


Tutelar agir de modo interventivo imputando as responsabilidades de quem há
detém. Portanto, não adotar a sua posição é irresponsabilidade tendo como resposta
as medidas tomadas pelo Conselho Tutelar estabelecidas no artigo 136, III, “a”, “b”, IV,
V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII e § único do Estatuto da Criança e do Adolescente,
conforme segue abaixo:

“Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:

I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105,


aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII;

II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas


previstas no art. 129, I a VII;

III - promover a execução de suas decisões, podendo para tanto:

a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,


previdência, trabalho e segurança;

b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento


injustificado de suas deliberações.

IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração


administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente;

V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência;

VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as


previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional;

VII - expedir notificações;

VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente


quando necessário;

132
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta
orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança
e do adolescente;

X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos


previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal;

XI - representar ao Ministério Público, para efeito das ações de perda ou


suspensão do pátrio poder.

XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou


suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de
manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos profissionais, ações


de divulgação e treinamento para o reconhecimento de sintomas de maus
tratos em crianças e adolescentes. (Incluído pela Lei nº 13.046, de 2014)

Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar


entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará
incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os
motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o
apoio e a promoção social da família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência”.

2.4 As provas nos crimes de estupro de vulnerável

De maneira geral e didática, no processo penal, prova é todo elemento pelo qual se
procura mostrar a existência e a veracidade de um fato, com a finalidade de influenciar
no convencimento do julgador. Os elementos de prova, são todos os fatos ou
circunstâncias em que reside a convicção do juiz, como, depoimento de testemunha;
resultado de perícia; conteúdo de documento. Já o meio de prova, são os instrumentos
ou atividades pelos quais os elementos de prova são introduzidos no processo, tais
como: testemunha, documento, perícia. A fonte de prova, são pessoas ou coisas das
quais possa se conseguir a prova. Com o objetivo de conseguir provas materiais, temos
o procedimento que é a investigação da prova, como: busca e apreensão; interceptação
telefônica. E por fim o objeto de prova: fatos principais ou secundários que reclamem
uma apreciação judicial e exijam uma comprovação (Brasil, 2012).

A expressão “indício” tem um significado específico, um significado próprio, que não


significa prova fraca, leve, superficial, não cabal (Jardim, 2017). Indício é o fato
provado, que permite, mediante inferência, concluir pela ocorrência de outro fato, ou
uma prova indireta: “fato secundário, conhecido e provado”. O indício referido apenas
no art. 239 do Código de Processo Penal, como é sabido, no sistema do livre
convencimento motivado, não deve o legislador preestabelecer como o juiz, no futuro,

133
deverá valorar este ou aquele fato, ou seja, dizer da eficácia deste ou daquele meio de
prova. O nível de convencimento dos indícios estaria ligado a dois aspectos: a) a
certeza dos fatos indicativos, vale dizer, dos indícios: b) a natureza da “premissa
maior”. É de fácil compreensão que mais convicção nos fornece a premissa maior que
decorra da razão ou do conhecimento científico. As regras da experiência são mais
vulneráveis, não nos outorgam tanta certeza. Pois o indício, como fato conhecido e
provado, não nos leva a presumir o factum probandum, mas sim pode nos levar à
certeza de sua existência. A exemplo, um juiz não julgaria presumindo a autoria do
latrocínio, mas sim convicto dela.

Segundo Jardim (2017) os indícios, por mais fortes e contundentes que sejam, não são
hábeis a provar a própria “existência” do crime – que alguns chamam de
materialidade. Nem a confissão, neste particular, supre o exame de corpo de delito
(direto ou indireto). Caso os vestígios do crime tenham desaparecido, a prova
testemunhal poderá suprir a inexistência da perícia. Isto se depreende da parte final
do nosso artigo 239, que se refere à demonstração de “existência de outra ou outras
Circunstâncias”, que não é o fato principal, mas fatos que o cercam e que outras regras
do Código de Processo Penal autorizam esta interpretação sistemática, como se pode
depreender dos artigos 158 e 167.

Conforme Pitombo (2013), o valor probatório do indício não se vincula a quantidade


ou qualidade do indício, (Moura, 1994) mas na possibilidade de, na ausência de prova
direta, o juiz por meio de processo lógico de natureza indutivo-dedutiva, em “cuja
base está o fato conhecido, este como causa ou efeito de outro fato, indica-o, é lhe
elemento indiciário, ou simplesmente, indício” (Tucci, 1978). Ele pode lastrear a acu
sação, porém, de modo isolado, nunca poderá dar suporte à sentença condenatória,
conforme explica Moura (1994):

“Vários indícios graves, precisos e concordantes, analisados em conjunto,


podem levar à certeza processual do fato indicado, quando se unirem e se
consolidarem sob forte nexo lógico. Para tanto, faz-se indispensável que a
conclusão se apresente precisa e segura, vale dizer, que apareça como
resultado lógico imediato, e não como o final de dispendiosa cadeia de
argumentos, cuja complicação estará indicando, precisamente, o contrário. A
necessidade moral ou física da conclusão, obtida mediante o exame do
conjunto de todos os indícios, constitui, por assim dizer, o verdadeiro
fundamento do valor probatório dos indícios”.(Moura, 1994)

Segundo Pitombo (2013), a prova se relaciona com a possibilidade ou impossibilidade


de reconstrução e demonstração do fato imputado em juízo, sendo a prova elemento
indispensável (Rosa, 1942) ao processo e à decisão judicial. A problemática na análise
dos indícios, em parte, decorre do tratamento legislativo deles. O CPP os insere no
capítulo da prova e estabelece “considera-se indício a circunstância conhecida e

134
provada, que tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência
de outra ou outras circunstâncias” (art. 239).

Brasil (2012) apresenta, os sistemas de apreciação da prova, tais como:

a) prova legal ou tarifado: as provas têm valor preestabelecido. Aparece em nosso


ordenamento como exceção, no art. 158 do CPP;

b) íntima convicção permite ao magistrado valorar a prova de acordo com as suas


concepções, sem a necessidade de motivação. A forma de valoração utilizada pela ín
tima convicção viola o dito quod non est in actis non est in mundo, que tem como
significado: “O que não está nos autos, não está no mundo jurídico”, tal sistema, trata
de uma exceção no Processo Penal brasileiro e vigora em nosso ordenamento, como
exceção, no julgamento pelo Tribunal do Júri;

c) livre convencimento motivado do juiz ou persuasão racional: é o sistema adotado


como regra pelo nosso Direito, conforme art. 155, caput, do Código de Processo Penal,
conjugado com o art. 93, IX, da Constituição da República:

“Art. 93, IX, da CF: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão
públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo
a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à
intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação.”

“Art. 155, caput, do CPP: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação
da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”

A Lei n. 11.719/08 incluiu no Direito criminal o princípio da identidade física do juiz.


A novidade está expressa no § 2º do artigo 399 do Código de Processo Penal, que
dispõe: O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. O princípio
comporta exceções. A esta regra deve-se aplicar, por analogia, o artigo 132 do Código
de Processo Civil:

“Art. 132. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide,
salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo,
promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a sentença, se


entender necessário, poderá mandar repetir as provas já produzidas.”

Por este princípio, o juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença (art. 399,
§2º, CPP). Este comando tem por função proporcionar o contato direto entre o julgador

135
e o acusado, de modo a auxiliá-lo na formação de seu convencimento. Antes de sua
introdução não havia objeção para que a oitiva de testemunhas e do acusado fosse
feita por um magistrado e a sentença fosse prolatada por outro, prejudicando o réu na
maioria das vezes.

Tourinho (1999) resume que, o objetivo ou finalidade da prova é formar a convicção


do Juiz sobre os elementos necessários para a decisão da causa:

“Para julgar o litígio, precisa o Juiz ficar conhecendo a existência do fato sobre
o qual versa a lide. Pois bem: a finalidade da prova é tornar aquele fato
conhecido do Juiz, convencendo-o da sua existência. As partes, com as provas
produzidas, procuram convencer o Juiz de que os fatos existiram, ou não, ou,
então, de que ocorreram desta ou daquela forma. (Tourinho, 1999)”

A prova da materialidade é a questão de fundo a justificar a inquirição da criança,


independentemente de sua idade, nos feitos que envolvem a violência sexual, em
especial, o estupro Art. 213 do Código Penal.

Inquirir a criança, nos feitos criminais, não tem por finalidade saber como ela está se
sentindo ou mesmo propiciar a aplicação de medida de proteção do Art. 101 do ECA,
em que pese “a assistência ao paciente vítima de abuso sexual” tenha sido objeto “de
importantes estudos quanto aos seus aspectos clínicos e de saúde mental”. A
inquirição da criança, como já se afirmou, busca trazer aos autos a prova da
materialidade, em especial, nos casos em que a violência não deixou vestígios físicos.

Entende-se por materialidade “o conjunto de elementos objetivos que materializam ou


caracterizam um crime ou uma contravenção, um ilícito penal”. Em outras palavras,
“é o oposto da inexistência do fato”, sendo que o processo penal “coloca ênfase em
provar quem perpetrou o evento (MacMurray, 1988), uma eventualidade que pode
ser impossível, dependendo do tipo de abuso e do desenvolvimento da criança”.

O termo "prova" tem origem no latim "probatio", e significa: ensaiar, verificar,


examinar, reconhecer por experiência, aprovar, estar satisfeito com algo, persuadir
alguém a alguma coisa ou demonstrar (Nucci, 2008, p. 338). As provas em Processo
Penal possuem princípios norteadores específicos, dentre os quais relevante destaque
se dá para a busca da verdade real, restrita pelos limites concedidos pelo respeito ao
indivíduo que se encontra por trás da prova (seja a vítima ou o acusado). O princípio
da verdade real (art. 156, caput e incisos, do CPP), por sua vez, concede ao magistrado
a liberdade de ordenar a produção antecipada de provas, as quais considere urgentes
e relevantes, bem como determinar a realização de diligências, objetivando dirimir
dúvidas que ainda possam existir. Logo, conforme ensinamento de Nucci (2007, p. 97),
"o magistrado deve buscar provas, tanto quanto as partes, não se contentando com o
que lhe é apresentado, simplesmente".

136
Segundo Tourinho Filho (2007, p. 469): "provar é, antes de mais nada, estabelecer a
existência da verdade; e as provas são os meios pelos quais se procura estabelecê-la.
Provar é, enfim, demonstrar a certeza do que se diz ou se alega. Entendem-se também
por prova, de ordinário, os elementos produzidos pelas partes e pelo próprio juiz
visando a estabelecer, dentro do processo, a verdade sobre certos fatos". Nesse
sentido, visa demonstrar que um fato ocorreu e de que forma ocorreu (Aranha, 2006,
p. 5).

A comprovação da materialidade dos crimes que envolvem violência sexual, sob o


prisma médico-legal, consiste na realização de prova pericial na vítima, onde o perito
irá buscar evidências da prática de conjunção carnal ou de algum ato libidinoso
diverso da conjunção carnal, tais como lesões próximas da genitália da vítima, pre
sença de esperma, ruptura do hímen e eventuais lesões corporais que possam sugerir
a prática delituosa (Prado, 1972; Almeida Jr. & Costa Jr., 1985; Croece e Croece Jr.,
1995; Maranhão, 1995; Galvão, 1996; França, 1999). A perícia usualmente utilizada nos
crimes sexuais, realizadas por médicos-legistas, por meio do exame de corpo de delito,
podem comprovar materialidade, mas não a autoria. Para comprovação dos crimes
sexuais, a lei define que sempre que a infração deixar vestígios será indispensável o
exame de corpo delito. Porém, não é necessário que haja conjunção carnal para
caracterização do crime, torna-se difícil a possibilidade de constatação no corpo de
delito devido à ausência de sinais físicos para o exame pericial, bem como o dilema da
prova, pois o laudo não pode provar se a relação sexual foi consentida ou não (Dias &
Joaquim, 2013).

De acordo com o Código de Processo Penal, existe a previsão de realização de outras


perícias, em que, conforme Capítulo II – Do Exame do Corpo de Delito, e das Perícias
em Geral, art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por
perito oficial, portador de diploma de curso superior, sendo esta redação dada pela
Lei nº 11.690, de 2008. No art. 160 do CPP Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941:
Art. 160, os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o
que examinarem, e responderão aos quesitos formulados - Redação dada pela Lei nº
8.862, de 28.3.1994.

Quanto à inquirição da vítima, reza o Artigo 201, do CPP: “sempre que possível, o
ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja
ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo suas
declarações. Se, intimado para este fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o
ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade”.

A perícia, definida como o “conjunto de procedimentos técnicos que tenha como


finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da Justiça”, deve ser realizada por
Perito, “técnico incumbido pela autoridade de esclarecer fato da causa, auxiliando na
formulação de convencimento do juiz”. O perito na área da infância “precisa ser capaz

137
de reunir e articular conhecimentos teóricos e práticos sobre desenvolvimento infantil,
psiquiatria clínica e saúde mental da criança e do adolescente, da família, avaliação
psicológica e psiquiátrica, ética forense, legislação, entre outros”. A perícia apenas
será realizada naquilo que for importante para a conclusão do processo, uma vez que
é inadmissível como objeto de prova aquilo reconhecido como inócuo para a ação (Es
tefam, 2008).

A perícia, levada a efeito por psicólogos e/ou psiquiatras, especialistas na infância e


adolescência, no lugar da inquirição judicial da criança, nos crimes que envolve
violência sexual, com ou sem vestígios físicos, mostra-se alternativa que melhor
atende ao superior interesse da criança, permitindo ao perito psicólogo realizar a
avaliação psicológica com o objetivo de averiguar o campo psíquico do investigado,
que também pode ser a comunicante e o suspeito (Nucci, 2008).

A perícia no âmbito da polícia judiciária, será realizada por meio de uma requisição
oficial. Os seus resultados serão apresentados por meio de um parecer objetivo, por
meio de um laudo técnico, com exposição minuciosa dos elementos avaliados e
investigados, e com fundamentação das conclusões apresentadas (Brandimiller, 1996).
Segundo Brandimiller (1996:32):

“… um documento ou uma testemunha são fontes de prova; a juntada do


documento nos autos do processo ou o depoimento de testemunha perante o
juízo são meios de prova. A perícia é um meio (especial) de prova, que pode
se valer das diferentes fontes de prova, inclusive documentos e pessoas”.

A perícia sendo considerada um meio especial de prova, deverá ser realizada por
escrito (Tourinho Filho, 2011) e considerada desvinculada do juiz: “O juiz não ficará
adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte (Art. 182 do
Código de Processo Penal)”. Com isso, o juiz fica livre para apreciar e avaliar a perícia,
sendo considerado o ‘perito dos peritos ’(Badaró, 2008). Nucci (2009) relata que a pe
rícia se efetiva com a elaboração do laudo, sendo “o ápice do trabalho de verificação,
exame e análise feito pelo perito, devendo ser fundamentado e apresentar as
conclusões lógicas e compatíveis com o desenvolvimento da motivação”. O laudo
deverá apresentar a análise do exposto, com linguagem clara e objetiva, para que seja
compreensível a qualquer parte com interesse no processo. Então, sem se distanciar
do texto técnico, cabe ao perito, explanar o significado de cada termo, para que o laudo
se torne entendível e útil.

Ensina Nucci (2009) que a tutela penal na esfera sexual possui maior preocupação com
relação aos indivíduos sem a capacidade de externar o seu pleno consentimento. Esta
condição pertence aos indivíduos que pela faixa etária (menor que 14 anos) ou por
suas condições físicas e mentais, não possuem o entendimento pleno de determinados
atos que sofrem, sem a oportunidade de se opor, ou impor qualquer espécie de
resistência, quando sobre a questão do consentimento (Bittencourt, 2012). Frente a esta

138
limitação imposta pela idade, ou limitação física e mental, o que ocorre com as crianças
e pessoas com necessidades especiais, é o emprego da coação física e coação
psicológica, para a realização de um ato sexual, que está além de sua compreensão.

Em relação ao crime de estupro de vulnerável, existe uma grande dificuldade de


comprovar a conduta criminosa pela fragilidade do conjunto probatório, comumente
sem comprovação no exame de corpo de delito, em que, geralmente resta para a
polícia judiciária, os relatos verbais dos envolvidos. É extremamente difícil a prova de
delitos contra vulneráveis em especial nos casos onde o crime ocorre no isolamento
da parelha vítima-agressor, o que pesa ao juiz a responsabilidade de analisar esta
prova juntamente com as outras provas corroboradas nos autos de ação penal, para
então proferir uma decisão de acordo com a sua convicção sobre os fatos que narram
o crime (Culpi, 2010).

Um problema que produz enorme controvérsia refere-se com a dificuldade de se


produzir provas nos crimes sexuais cometidos contra as crianças, pois os esforços do
sistema inquisitivo dirigem-se quase que totalmente para a resolução do crime por
meio da investigação, e assim fica-se frente-a-frente com a questão relacionada aos
depoimentos de crianças e adolescentes. Com isso, despontam variados problemas,
muitas vezes inexistem vestígios robustos do crime de estupro, mas ocorrendo, deve
se realizar o exame de corpo de delito, que sempre deverá ser realizado mesmo em
virtude da confissão do acusado (Ferreira, 2010). Por isso, há uma tendência
jurisprudencial em aceitar diversos outros meios de prova, então, a inexistência do
exame de corpo de delito por si só, não serve para anular o processo, quando
a condenação tiver o devido suporte em outros elementos de prova, principalmente a
testemunhal (Capez, 2007). Por outro lado, como um complemento ao valor
probatório da prova pericial ou em sua ausência, que surge a controversa questão
sobre a credibilidade ou não do testemunho realizado por menor de idade, vítima de
estupro de vulnerável, ocorrendo posicionamentos doutrinários antagônicos e até o
momento impacificáveis.

Há corrente doutrinária que considera inadmissível a possibilidade que o depoimento


de um menor possibilite a condenação criminal, em virtude da imaturidade
psicológica da criança e do adolescente, suscetíveis a influências de terceiros.
Contudo, há doutrinadores que consideram essencial o depoimento da criança e que
uma vez repleto de coerência, plausividade e verossimilaridade, bem de acordo com
o caso criminal, pode se tornar o fundamento probatório processual. No direito penal
nacional, são poucas as iniciativas que valorizam a criança como sujeito de direitos,
após anos de edição do Estatuto da Criança e do Adolescente. Conforme Nakatani
(2012):

“Quanto aos meios de prova, são admitidas no processo penal todas as provas
lícitas. Por ser um crime que pode deixar vestígios, é necessário o exame de

139
corpo de delito, realizado por perito que elaborará laudo, o qual, por sua vez,
não vincula o juiz e pode ser contestado por outros elementos probatórios.
Não existindo vestígios, o que é comum nos casos de abuso sexual
intrafamiliar, a prova de materialidade e autoria será efetuada por outros
meios, como depoimentos e declarações, compondo o exame de corpo de
delito indireto”.

O exame de corpo de delito possui a função de comprovar a realização de ato sexual,


bem como as eventuais lesões físicas surgidas pelo autor quando de um estupro e que
é essencial para confirmar se este ato não foi consentido. A fragilidade do exame de
corpo de delito ocorre porque a maioria das vítimas sexuais registra queixa da
violência após as 48hs tão essenciais para a sua realização. Muitas vezes, os resultados
apurados pela da perícia podem ser inconclusivos e virtude do fato de que os sinais
de agressões físicas encontram dissociados, segundo peritos e pelos agentes jurídicos,
dos indícios de violência sexual. Assim, apesar das lesões serem atestadas e
confirmadas pelos peritos e caracterizadas como lesões corporais graves, o réu pode
ser condenado por lesão corporal, mas por outro lado, absolvido do crime de estupro,
uma vez que são delitos diferentes. Nos casos em que as vítimas, crianças ou
adolescentes, eram virgens antes da ocorrência estupro, o exame de conjunção carnal
não detecta a ocorrência de um ato sexual em virtude do conhecido “hímen
complacente”. Há casos em que muitas vezes, o próprio exame de corpo de delito
pode se transformar em uma espécie de “contra-prova” nas denúncias de estupro,
livrando o acusado por não poder comprovar o ato sexual (Coulouris, 2010).

Segundo Souza (2009) visando ser realizada a perícia torna-se importante que o crime
tenha deixado vestígios, e que tenham condições de ser analisados pelos especialistas.
Nos crimes sexuais, em especial no estupro, sempre são realizados exames de corpo
de delito, sendo que os elementos mais comuns presentes nos laudos são:

a) Se há vestígios de atos libidinosos ou de conjunção carnal que no caso de estupro,


para verificar se ocorreu ou não ruptura do hímen, caracterizando o defloramento da
vítima, sendo assim, um forte indício do ato sexual, se foi recente e se na cavidade
vaginal haver resíduos sêmen;

b) Ao persistirem elementos que confirmem o emprego de violência, e se positivo,


qual foi o elemento empregado pela existência de lesões, escoriações, ao perito
confirmar o uso de violência na prática do delito.

c) Se a violência acarretou para a vítima, na incapacidade para as ocupações habituais


por mais de 1 mês, ou perigo de vida, ou incapacidade permanente de membro,
sentido ou função, ou para o trabalho, ou doença incurável, ou perda ou inutilização
de membro, sentido ou função, ou deformação permanente, ou ainda aborto.

140
Entretanto, para a prova do crime de estupro, exige-se a realização de exame pericial
que comprove, no caso de violência, lesões corporais. Caso tenha ocorrido uma
violência moral, está poderá ser observada através de outras provas, como
testemunhas dos gritos ou choro da vítima. Assim, para tanto são essenciais
investigações do sujeito passivo, baseados principalmente no depoimento pessoal e
na perícia médica (Souza, 2009). O advento da Lei 11.690/08, que alterou o art. 159 do
Código de Processo Penal, com vigência a partir de 9/6/08, consolidou o
entendimento de que "O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados
por perito oficial, portador de diploma de curso superior".

Segundo Nucci (2010) há grandes controvérsias doutrinárias com relação ao valor do


depoimento da vítima de estupro. Entre parte dos doutrinadores que a defendem
como um legítimo meio de prova, a vítima acaba por se transformar na principal
testemunha do crime delito, que contudo, pelo seu envolvimento emocional, pairam
dúvidas com relação a sua imparcialidade nas informações prestadas. Mas há outros
doutrinadores que consideram que o testemunho da vítima pode ser tomado apenas
como informação, uma vez que está repleta de impressões pessoais. As declarações da
vítima representam meio de prova, similar ao interrogatório do suspeito, ao se dirigir
ao juiz, e desta forma deveria dar um valor menor ao testemunho da vítima, pois ela
é pessoa mais afetada pelo crime, uma vez que algum interesse ou bem seu foi violado,
e no caso seu corpo e sua dignidade (Nucci, 2010).

Deve-se considerar o fato de não ser possível colher as declarações desta, seja porque
ela se calou, sofreu ameaças e ou ainda por tratar-se de criança de tenra idade ou
deficiente mental (as vítimas de estupro de vulnerável). Vulneráveis são facilmente
manipuláveis por terceiros interessados que podem sugestionar a criança a fazer
declarações de fatos que não ocorreram. E ainda pode-se encontrar a inabilidade de
interrogadores policiais para questionar esse tipo de pessoa (Dias & Joaquim, 2013).
Assim, “a aceitação isolada da palavra da vitima, pode ser tão perigosa, em função da
certeza exigida para a condenação, quanto uma confissão do réu”(Nucci, 2010, p. 915);
e, na dúvida, absolve-se. Lopes (1994 apud Nucci, 2013) conclui, portanto, que:

“A palavra isolada da vítima, sem testemunhas a confirmá-la, pode dar


margem à condenação do réu, desde que seja consistente, firme e harmônica
com as demais circunstâncias colhidas ao longo da instrução, sendo
impossível aceitá-la quando do contrário. (Lopes, 1994, p. 118 apud Nucci,
2013, p. 466)”.

Nucci (2013), informa que outro aspecto importante a ser considerado é que
exposições pormenorizadas do fato criminoso nem sempre são fruto da verdade, uma
vez que o ofendido tem a capacidade de inventar muitas circunstâncias criando dados
inexistentes.

141
O suspeito também é ouvido, por meio do interrogatório, e pode invocar seu direito
de permanecer calado, pois de acordo com o preceito constitucional, ninguém é
obrigado a produzir provas contra si; e mesmo confessando, ainda caberá à acusação
comprovar sua autoria (Dias & Joaquim, 2013). Assim, Nucci (2013), afirma: “a
confissão é meio de prova direto, mas precisa ser confrontada com outras provas e por
elas confirmada”. O Código de Processo Penal definiu em seu artigo 197, a
necessidade de haver confronto entre esta e as demais provas: O valor da confissão se
aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de prova, e para sua
apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verificando
se entre ela e estas existem compatibilidade e concordância. (Brasil, 1940). Deve-se
considerar como confissão, apenas o ato voluntário, produzido sem qualquer tipo de
vício, e pessoal, feito pelo próprio acusado, sendo que caberá ao magistrado avaliar
sua validade.

Ensina Capez (2007) que o depoimento infantil está plenamente incorporado e aceito
como prova. Entretanto, argumenta que o menor de 14 anos de idade, de acordo com
o art. 208 do Código de Processo Penal não será tomado o compromisso, sendo que
possui um valor probatório um tanto relativo, em virtude de uma série de elementos,
que reduzem a credibilidade da criança e do adolescente, como a imaturidade moral
e psicológica, e a forte influência e outras pessoas, em especial, as mais relevantes e
mais próximas. A inquirição da criança visa também, propiciar a aplicação de medidas
de proteção elencadas no Estatuto da Criança e do Adolescente. A prova da
materialidade se torna o elemento para justificar a inquirição, nos casos de violência
sexual, principalmente nos casos em que foi impossível detectar a existência de
vestígios (Nakatani, 2012) e desta forma deve ser observado atentamente se foi
instruída ou manipulada por algum adulto (Tourinho Filho, 2011), para assim não
cometer erros judiciários (Nucci, 2008) e construir um juízo de plena certeza.

Após a entrada em vigor da referida Lei 12.015, de 07 de agosto de 2009, o crime de


estupro, além da conjunção carnal, coito anal, o sexo oral, ou até mesmo o beijo lascivo,
passou a abranger outras condutas, como estupro mediante fraude – artigo 215 CP,
que não se caracteriza mediante a violência, mas sim por meio da enganação, sendo
assim, rara a possibilidade de exame de corpo de delito, que permanece frágil a
comprovação, porém equiparado a pena ainda maior, a do estupro (Dias & Joaquim,
2013). A prova do crime de estupro de vulnerável é de difícil obtenção e segue os
mesmos aspectos da prova do estupro previsto no artigo 213 do Código Penal. Todas
as provas têm a mesma valoração e caberá ao magistrado analisar as provas obtidas,
e chegar a uma conclusão. Assim contemplou o legislador quando da publicação do
Código de Processo Penal e sua Exposição de Motivos (Brasil, 1940) “Todas as provas
são relativas; nenhuma delas terá ex vi legis, valor decisivo, ou necessariamente maior
prestígio que a outra” (Dias & Joaquim, 2013).

142
Nesse contexto se encaixa o problema das provas, tendo em vista que, por sua
natureza, estes delitos são de difícil comprovação, ainda que classificados como
crimes materiais (Dias & Joaquim, 2013). Além do mais, as provas devem ser
produzidas já na fase do Inquérito Policial, tendo em vista a rapidez com que elas
perecem, sendo que muitas não poderão ser refeitas por não mais existirem vestígios,
tendo em vista o tempo decorrido (Dias & Joaquim, 2013). A perícia psicológica, neste
caso seria um forte aliado para a investigação destes crimes e o dilema da prova
pudesse ser atenuado. Segundo França (1998):

“A finalidade da perícia é produzir a prova, e a prova não é outra coisa senão


o elemento demonstrativo do fato. Assim, tem ela a faculdade de contribuir
com a revelação da existência ou da não existência de um fato contrário ao
direito, dando ao magistrado a oportunidade de se aperceber da verdade e de
formar sua convicção (França, 1998).”

Esse meio probatório, nos casos de crimes sexuais, talvez seja o mais eficaz para se
atingir a verdade, conforme alerta Granjeiro e Costa (2008):

“Nós sabemos que a prova nesses crimes de violência, normalmente é feita


com base na palavra de quem sofreu a violência, até porque esse crime ocorre
na clandestinidade, às escuras, longe dos olhos de alguém que tenha
capacidade de repetir aquilo que aconteceu ou de visualizar ou confirmar o
que a vítima sofreu, nós queremos verificar se o fato foi informado ou
formado”.

Enfim, pode o ofendido não inventar propriamente nem o crime nem o criminoso,
mas mentir só na forma, na medida ou nas consequências do crime, para fazer
aumentar proporcionalmente a reparação a que tem direito (Dias & Joaquim, 2013). A
finalidade da perícia psicológica é, portanto, vista como um instrumento para analisar
o subconsciente das partes a através de laudos, exteriorizar a possível verdade (Dias
& Joaquim, 2013). Silva (2003) afirma que: O poder judiciário entende que o parecer
fornecido pelo psicólogo deva funcionar como um operador da verdade, que irá
apenas constar tais fatos e quais argumento são verdadeiros e quais evidências servem
realmente como provas. Todavia, isso pode limitar a atuação psicológica, na medida
em que se o relatório não contiver a informação de que o juiz necessita, este poderá
dispensá-lo (Dias & Joaquim, 2013). Neste caso, o problema reside no fato de o laudo
psicossocial normalmente tem sido requerido quando o processo já está em
andamento; esse é um dos equívocos que o Judiciário comete (Dias & Joaquim, 2013).
Granjeiro e Costa (2008) acreditam que: O ideal seria que as vítimas, especialmente
crianças, comparecessem à delegacia no prazo de 24 horas para que, antes mesmo de
o delegado tomar o depoimento dela, possa um psicólogo ouvir o relato da criança e
já emitir um relatório prévio. (Granjeiro e Costa, 2008). Com estas medidas, talvez o

143
dilema quanto à prova pudesse ser atenuado. É o que ocorre na Delegacia de Proteção
a Criança e ao Adolescente de Goiânia, não ainda no prazo supracitado.

144
VI Do Antigo á Psicologia Jurídica e Perícia
Psicológica

“A psicologia avançou muito mais como prática, do que como ciência. Ela teve início
como ciência.”, Crítica de Skinner a psicologia cognitiva, na Convenção da APA, em
Boston, 1990, oito dias antes de seu falecimento. Pouco depois foi publicado seu
discurso: “Can Psychology be a Science of the Mind?”. Durante a qualificação da tese de
doutorado de Skinner, Boring, como um dos avaliadores, por ser o coordenador do
departamento de psicologia de Harvard, se retirou da banca examinadora de Skinner,
e classificou a tese como uma história do reflexo seletiva e tendenciosa, tal fato não os
tornaram opositores. Porém, segundo Coleman (1985), a oposição de Boring em
relação ao Behaviorismo, era declarada no departamento de psicologia de Harvard.
Boring exigiu alterações de modo que o conceito de reflexo fosse utilizado de forma
menos pretenciosa, porém Skinner não acatou nenhuma das cinco páginas de revisão
crítica de Boring (Cruz, 2013). Na carta de recomendação, para o pós-dooutorado de
Skinner escrita por Boring, para comissão avaliadora do National Research Council Fel
lowship, este exaltou as aptidões teóricas de Skinner e alegou ser um estudante original
e capaz de grandes realizações científicas. Na correspondência, Boring, entretanto,
alertou sobre o que pensava ser o único, mas sério defeito de Skinner: seu desejo de
fundar uma ciência do comportamento (Cruz, 2013). Na banca de defesa de doutorado
de Skinner, o teórico da personalidade, Gordon Allport, questionou-lhe sobre, quais
eram as deficiências do Behaviorismo, Skinner respondeu: Nenhuma! (Goodwin,
2005).

1 Pré concepções da psicologia atual


Optar por qualquer recorte já se trata de um desafio, e de uma árdua tarefa, nosso
compromisso em historicizar a psicologia é de apresentar os principais
desencadeadores históricos até a aplicabilidade da Psicologia Jurídica no cenário da
própria Psicologia. A busca foi mais exaustiva por se tratar de artigos e livros
estrangeiros, por estes estarem mais próximos das informações in locus e elevar assim
o grau de fidedignidade. A preocupação em historicizar parte do princípio de que
sabemos onde estamos, por sabermos de onde estamos vindo e com isso, apresentar o
que ainda não foi oferecido em termos de Psicologia Aplicada, em especial por meio
do Behaviorismo Radical.

Como podemos constatar, outras culturas desenvolviam perguntas e estudos acerca


do homem e do mundo, antes mesmo dos filósofos gregos, a diferença é que os gregos
desenvolveram um alfabetoxx mais completo e de mais fácil entendimento, com isso
mais facilmente reconhecido. Desta forma, as primeiras obras que o mundo conseguiu
ler e que utilizavam os princípios sobre psicologia foi escrito por Aristóteles em 350
aC, chamado DeAnima - On the Alma - que se refere à alma, sem conotações religiosas,

145
mas sim como: "a coisa que Anima - o que torna os animais vivos, torna-os, mover ",
e é traduzido "alma". Aristóteles criticou as teorias anteriores de que ‘DeAnima ’estava
misturada em todo o universo e dividiu a ‘alma ’em: nutritivo, o apetitivo, sensorial,
movimento e o poder do pensamento. Depois enumerou as cinco impressões
sensoriais: visão, audição, cheiro, gosto e toque. Aristóteles prosseguiu a analisar o
seguinte: perceber vs pensar, imaginação, opinião e crença e o intelecto como
faculdade da mente. DeAnima foi um grande primeiro passo em como se vê a
psicologia hoje.

Moodley, Gielen & Wu (2013) relata que a cura de doenças mentais e emocionais tem
uma longa história desde o Egito Antigo. A percepção dos antigos conceitos e
tratamentos de saúde mental pôde ser obtida a partir dos famosos papiros Ebers, Ed
win Smith Surgical e Kahun (Nasser, 1987; Okasha & Okasha, 2000), que foram
nomeados a partir dos egiptólogos que os descobriram. Estes documentos, que datam
de pelo menos 1600-1900 a.c., contêm descrições físicas do cérebro, bem como
referências à mente e consciência. A descrição de doenças mentais como histeria,
condições psicossomáticas, melancolia, transtorno do pensamento, demência e
intoxicação alcoólica foram capturadas dos papiros e das paredes dos templos
(Nasser, 1987; Okasha, 2005). Os egípcios acreditavam que toda personalidade tinha
uma parte que era a "soma" do eu real ou interior (Nasser, 1987). O Pir-ankh ou ‘Casa
da Vida ’era usado como uma espécie de retiro, em que doentes se isolavam para a
cura, em meio ao silêncio e pouca luz e já desenvolvido antes dos templos terapêuticos
dos gregos (Nasser, 1987). Nestes espaços já se usava os alucinógenos, como parte da
cura e do conhecimento dos egípcios (Nasser, 1987). Nasser (1987) relata que,
quando um egípcio experimentava perguntas de auto-dúvida e análise, ele ia para o
seu sacerdote, que não eram os ministros habituais que encontramos hoje, que ouvem
confissões e oferecem orações. Eram médicos multifacetados, filósofos, astrônomos,
matemáticos, artesãos e intérpretes de sonhos, e estes davam conselhos com uma
ampla base de conhecimento. Assim, por 3.000 a.c., suas filosofias já estavam
firmemente estabelecidas e os egípcios reconheciam uma ordem divina, que foi
estabelecida ao mesmo tempo da criação e esta ordem é manifestada na natureza e na
normalidade dos fenômenos. E na sociedade se manifesta como justiça e na vida do
indivíduo se manifesta como a virtude da verdade (Nasser, 1987).

Os rudimentos da teoria da consciência podem ser rastreados até a civilização do Vale


do Indo, Ásia – atual Paquistão (6000 a 1500 a.C.), a partir de artefatos que foram
obtidos em escavações de um homem sentado em Padmasana, que se trata de uma
posição sentada para a prática da meditação, considerada, Postura de Lótus. Já os
Vedas, que são as quatro obras, compostas em um idioma chamado Sânscrito védico
datam de cerca de 1500 aC, em que nos escritos Upanishads – um dos apêndices dos
Vedas, que datam de 600 aC, descrevem a filosofia Vedanta e fornecem a base teórica
da Jnana Yoga, que são de relevância mais direta para a Psicologia. O Bhagavat Guitáxxi,
um texto religioso, que é a essência do conhecimento védico na Índia, fornece a

146
quintessência, que é a parte mais pura de todo um modo de vida indiano, o Dharma,
que é a filosofia e descreve os quatro yogas: Karma, Bhakthi, Raja e Jnana. Vários livros
vieram sobre a relevância psicológica de Guitá. A teoria de Meta-motivação de Maslow
é muito semelhante ao conceito de Karma Nishkama descrito no Guitá. O Ashtanga Yoga,
de Patanjali é uma apresentação muito sistemática do Raja Yoga. Tanto Bhagavat Guitá
quanto a Ashtanga Yoga devem ter sido escritos em torno do século IV a.C., assim como
os escritos em sânscritos de Adi Sankara, filosofo consolidador da doutrina da Advaita
Vedanta, que já datam do século VIII a.C. Em Bhagavat Guitá, se encontra uma
discussão lúcida sobre os diferentes aspectos da personalidade como o self (atman), o
sentido (manas) da mente (indriyas) e a inteligência (budhi). A psicologia indiana
antiga também enfatiza o controle da mente (manas) e dos sentidos (indriyas). Este
sistema é chamado Yoga System e também foi incorporado no que é chamado
Abhidhamma, em Pali, língua de Gautama Budha (536-438 b.c.). Em sânscrito, é
chamado Abhidharma (Singh, 1991). A literatura indiana sobre aspectos da consciência
é vasta, os estados mentais foram analisados, classificados e diferenciados em
detalhes. A relação psicossomática era bem conhecida e relevante, a exemplo, a
primeira estrofe invocatória de Ashtangahridaya - o texto principal em Ayurveda, escrito
no século IV a.D., descreve como as emoções e os desejos conduzem às doenças físicas
e mentais (Ebeling, 1996).

Já a ciência grega do século V ac., estava interessada no homem em suas atividades


interiores, em suas ideações e volições e estava sob o conceito geral: todas as ideias
são “dadas” pela alma. Quanto ao surgimento da filosofia, Casoretti (2010) relata que
possui um claro período e local de nascimento, tendo surgido entre o final do século
VII a.C. e o início do século VI a.C. nas colônias gregas da Ásia Menor, principalmente
as colônias que formavam a Jônia. Casoretti (2010) apoia que na Grécia entre os séculos
IX e VI a.C. ocorre o crescimento da polis, a cidade-estado, em que o forte
desenvolvimento do comércio e o contato com povos estrangeiros transformaram a
forma de pensar da sociedade grega. Com isso, a visão mítica dos fenômenos foi se
modificando, e os arquétipos divinos e heróicos se tornaram obsoletos e irrelevantes,
a não ser quando eram protegidos diretamente pelo culto religioso.

Segundo Casoretti (2010) uma nova forma de enxergar o mundo surge, sem que os
mitos e a religião fossem completamente abandonados (Kirk; Raven; Schofield, p.70).
Assim no século VI a.C. as primeiras manifestações filosóficas alcançariam seu apogeu
durante o período da Grécia clássica, de forma especial com Platão, no século IV a.C..

Heródoto, historiador grego, visita o Egito durante a ocupação persa do século V aC


e identificou o desenvolvimento de especializações que podem ter cirurgiões in
cluídos (Sullivan, 1996). Os gregos da Ásia Menor estavam bem próximos aos egípcios
e tanto no comércio, quanto nas artes e nas técnicas, receberam influências orientais
(Casoretti, 2010). Lembramos que os egípcios já produziam conhecimentos e técnicas
importantes no campo da medicina, dentre as técnicas eram apresentadas a sutura e a

147
cauterização que data de cerca de 1500 a.C., entre as dinastias 16 e 17 do Segundo
Período Intermediário no Antigo Egito (Sullivan, 1996). Os egiptologistas Georg
Moritz Ebers (alemão), em 1873 e Edwin Smith (americano), em 1890, descobriram
estes antigos papiros médicos egípcios (Sullivan, 1996). Trata-se de uma obra única
entre os quatro principais papiros relativos à medicina que se tem conhecimento
(Sullivan, 1996). Eles enfatizaram a importância de avaliar o estado de consciência e
memória em todos os exames de rotina (Nasser, 1987).

Depois que Esparta derrotou Atenas na Guerra do Peloponeso (431-404 a.c.), as


cidades-estado gregas começaram a colapsar. Neste contexto de pós-guerra, Sócrates,
Platão e Aristóteles floresceram, porém já existia um abismo entre a filosofia e
promissora psicologia (Hergenhahn, 2000).

Pouco depois da morte de Aristóteles, em 322 a.c., os romanos invadiram o território


grego e a situação instável, passou a ser incerta. Com isso, neste momento de grandes
conflitos pessoais, as filosofias abstratas, começou a ser substituída por uma filosofia
mais do dia-a-dia, e as perguntas principais passaram a ser: ‘Como é viver melhor? ’
(Hergenhahn, 2000). E o que emergiu em resposta a este tipo de pergunta foi a filosofia
dos Céticos (Pyrrho of Elis; a.c. 365–275 b.c.), Cinicos (Antisthenes; c.a. 445–365 b.c.),
Epicuristas (Epicurus of Samos; c.a. 341–270 b.c.), Estóicos (Zeno of Citium; c.a. 333–262
b.c.) e Cristãos (Jesus c.a. 4 b.c. – a.d. - after death - 30) (Hergenhahn, 2000).

Tanto o ceticismo quanto o cinismo criticavam outras filosofias, e afirmavam que as


anteriores eram completamente falsas ou irrelevantes para as necessidades humanas.
Desta forma o Ceticismo promoveu a suspensão da crença em algo e o Cinismo um
recuo da sociedade, pois prescrevia a felicidade de uma vida simples e natural por
meio do completo desprezo por comodidades, riquezas, apegos, convenções sociais e
pudores (Hergenhahn, 2000).

O período romano durou de aproximadamente 30 b.c. até a.d. 400. Desta forma, no
auge de sua influência, o Império Romano incluiu desde o Próximo Oriente até as
Ilhas Britânicas. Com isso, a expansão do Império Romano e seu posterior colapso,
trouxe as influências das religiões da Índia e Pérsia, como o Vedantismo indiano e o
Zoroastrismo, bem como, os cultos da Magna Mater (Grande Comunicante), Isis e
Mithras (Angus, 1975) (Cornford, 1957).

No Cristianismo, o primeiro a reivindicar e pregar que Jesus de Nazaré era o Messias,


foi São Paulo (a.c. 10-64 a.d.) que era um cidadão romano, cuja educação envolveu
tanto a religião Hebraica, como a filosofia Grega. Este estudioso, colocou a alma ou
espírito (aqui já considerando alma como espírito) na posição mais elevada entre as
faculdades humanas, o corpo no mais baixo e a mente em uma posição intermediária.
O homem agora estava dividido em três partes: corpo, mente e espírito. Os seres
humanos, então, são entendidos como apanhados numa luta eterna entre pecados,

148
impulsos corporais e a lei de Deus. A lei, como algo que pode ser entendido e aceito,
e um desejo pode existir em concordância com isto, mas muitas vezes as paixões da
matéria (do corpo) em conflito com a lei, vence a luta. Então o que se sabia era que:
‘Saber o que é moral, não garante um comportamento moral’(Hergenhahn, 2000).

Com o advento do Império Constantino, no ano de 313 a.D. Constantine assinou o


Edito de Milão e tornou o Cristianismo na religião do Império Romano, por ter tido
uma visão antes de sua grande batalha, que visualizou a cruz cristão acompanhado
das palavras: ‘por este sinal conquistamos’. Com isso, Constantino atribuiu sua vitória
ao Deus dos cristãos e atribuiu ao Edito de Milão, uma drástica redução de turbulên
cias sociais e aumento significativo de seu poder (Hergenhahn, 2000).

Com o cristianismo aceito como religião, Santo Agostinho (354-430) validou a


experiência interna, por meio da introspecção para conhecer a Deus, através das
Escrituras e escreveu extensivamente sobre o livre arbítrio humano. Assim, Descartes
usou a mesma técnica para chegar a sua famosa conclusão: "Eu penso,
conseqüentemente eu sou.". Desta forma, somente pelo exame de suas experiências
internas e não a sensorial (experiência externa) é confiável, sendo esta forma para
Agostinho a segunda maneira de conhecer a Deus, pela introspecção, sendo a primeira
pelas escrituras (Hergenhahn, 2000).

Entre os anos 400-1000 a.d., que se referem a Dark Ages – Idade das Trevas, eram
escuras apenas para o mundo ocidental, pois durante este período, no oriente, Islã era
uma força poderosa no mundo. Maomé nasceu em Meca em 570 a.d., e por receber
uma revelação de Deus instruindo-o a pregar, este nomeou sua religião de Islã, que
significa rendição a Deus, e seus seguidores foram chamados de muçulmanos, e os
ensinamentos, contidos no Alcorão. O Islã se espalhou com incrível velocidade, e
dentro de 30 anos de da morte de Mahomet em 632 a.d. os muçulmanos conquistaram
a Arábia, Síria, Egito, Pérsia, Sicília e Espanha. Cem anos após a morte de Mahomet,
a expansão do Império Muçulmano trouxe o contato com antigas obras como os
escritos de Aristóteles e o com o Neoplatonismo (experiências transcendentais eram
consideradas mais significativas que a experiência humana), pois os Árabes utilizaram
desta sabedoria e fizeram grandes avanços na medicina, ciências e matemática. A
exemplo, o filósofo Árabe Avicenna, (nome em Árabe - Ibn Sina; 980–1037), leu Meta
physics de Aristóteles (Goodman, 1992) e escreveu livros incluindo medicina,
matemática, lógica e metafísica, Teologia Mulçumana, astronomia, política e
linguística. A propósito, seu livro de medicina The Canon, foi utilizado nas
Universidades Européias por mais de cinco séculos (S. Smith, 1983). Como médico,
Avicenna utilizou uma vasta gama de tratamento, a exemplo, como parte do
tratamento de pacientes melancólicos, realizou leitura e utilizou música como parte
da terapêutica.

149
Averroës (nome árabe, Ibn Rushd; 1126-1198) discordou de Avicena, de que a
inteligência humana é organizada em uma hierarquia, sendo que apenas o nível mais
alto permite aos seres humanos terem contato com Deus. De acordo com Averroës,
todas as experiências humanas refletem a influência de Deus. Maimonides (original -
Ben Maimon, 1135-1204), era um judeu nascido em Córdova, Espanha, na época em
que judeus e árabes islâmicos viviam em harmonia (Hergenhahn, 2000).

Maimônides, além de ser uma pessoa bíblica, era um médico que, antecipou a
preocupação moderna com os transtornos psicossomáticos, e apresentou a relação
entre vida ética e saúde mental (Alexander & Selesnick, 1966). No livro, ‘Na
compreensão da procura da f ’é(Deane, 1962), St. Anselm (1033-1109) argumentou que
a percepção e a razão podem e deve complementar a fé cristã. St. Anselm acenou para
que, se podemos pensar que Deus existe, a existência do diabo pode ser ‘provado’,
aplicando-se a mesma lógica no sentido inverso. São Anselmo foi um dos primeiros
teólogos cristãos que tentou usar a lógica para apoiar a crença religiosa. Peter Abelard
(1079-1142) marca a mudança de Aristóteles como filósofo da filosofia ocidental. Além
de traduzir os escritos de Aristóteles, Abelard introduziu um método de estudo que
caracterizavam o período escolástico – Scholasticism (Hergenhahn, 2000).

Em seu livro Sicet Non, às vezes traduzido como, For and Against, e ás vezes como Sim
e Não, Abelard elaborou o método da dialética. Para os "nominalistas", o que os outros
chamam de universais, são nada mais do que convenientes rótulos verbais que resume
experiências semelhantes. O debate foi profundo, porque ambas as filosofias de Platão
e Aristóteles aceitavam o Realismo. Nominalismo foi muito mais em concordância
com a filosofia empírica do que foi com o racionalismo. Durante o tempo de Agostinho
para e incluindo Aquino, a Escolástica consistiu em demonstrar a validade do dogma
da igreja. Novas informações somente eram aceitas se demonstrassem
compatibilidade com o dogma da igreja, caso não fosse possível, a informação era
rejeitada. Pois, a "verdade" tinha sido encontrada e não havia necessidade de novas
buscas. Embora os escolásticos fossem destacados acadêmicos e minuciosos lógicos,
eles demonstravam pouco valor a filosofia ou a psicologia. Estes estavam mais
interessados em manter o status quo, ao invés de revelar qualquer informação.
Certamente havia pouca preocupação com a natureza física, com exceção dos aspectos
que poderiam ser utilizados para provar a existência de Deus ou para mostrar algo
sobre a natureza de Deus. Tal como os principais filósofos gregos, dos quais
advinham, os escolásticos buscavam as verdades e os princípios universais que
estavam além do mundo da aparência. Para os Pitagoristas, era as relações numéricas;
Para Platão, era as formas puras ou idéias; Para Aristóteles, era o intelecto, que dava
a categoria á essência. E para os Escolásticos, era Deus. Todos assumiam que havia
uma verdade superior àquela que poderia ser experimentada através dos sentidos
(Hergenhahn, 2000).

150
William de Occam (1290-1350), um monge franciscano britânico, aceitou a divisão de
fé e razão de São Tomás de Aquino (1225-1274) e acreditava que não há suposições
desnecessárias e que as explicações devem sempre ser mantidas como parcimoniosas,
ou o mais simples quanto possível. Abelard (1709-1142) ofereceu uma solução para o
problema do realismo, que acreditava que a essência, o universo abstrato existia e os
eventos empíricos era somente uma manifestação universal versus nominalismo, que
acreditava que, o que era considerado universal, era somente conceitos verbais ou
hábitos mentais usados para expressar as classes de experiências, em que "universais"
não são senão conceitos no qual organizamos nossas experiências e Occam tinha uma
conclusão semelhante ao aplicar sua "navalha", de que a existência da essência era
desnecessária. Pois, podemos simplesmente supor que, a natureza é, como nós
mesmos. Para Occam, a experiência sensorial fornecia informações sobre aquele
período de existência do mundo. Assim, a filosofia de Occam marca o fim da
Escolástica (Hergenhahn, 2000).

Durante os séculos XIV e XV, a filosofia ainda servia á religião, tal como a tudo e todos.
Desta forma, o que existia eram duas classes de pessoas, as crentes e não-crentes. No
período anterior à Renascença, anomalias da Doutrina Cristã apareciam em toda a
parte e ficou claro que a autoridade da igreja estava em declínio. Assim, aqueles que
tentaram sintetizar o discurso filosofal de Aristóteles com a religião cristã, foram
chamados Escolásticos. No auge do cristianismo primitivo, prevalecia um clima social
amplamente negativo, com a presença de superstição e medo e a perseguição de não
crentes, discriminação contra as mulheres, e tratamento dos doentes mentais.
Qualquer ação ou pensamento que não estava de acordo com o dogma da igreja era
um pecado. Um mínimo de quantidade de atividade sexual foi demarcado para que
os seres humanos pudessem se reproduzir e qualquer coisa além disso era
considerado um pecado hediondo. A igreja tinha poder, e qualquer divergência era
tratada com aspereza. Claramente, o espírito dos tempos não era propício para o livre
pensamento e questionamento (Hergenhahn, 2000).

2 Psicologia no mundo
Desta forma, a psicologia está presente deste os tempos mais remotos, tal como
constatamos acima, mas isso não representa que o passado da psicologia evoluiu para
o seu presente, ou que a psicologia atual, represente uma melhor psicologia. De fato,
depois de tentar rastrear as origens de uma idéia ou conceito em psicologia, ficamos
com a impressão de que nada é inteiramente novo. Raramente, se alguma vez, é um
único indivíduo responsável unicamente por uma idéia ou um conceito (Hergenhahn,
2000).

Giele (2006) destaca que desde o final do século XIX, a psicologia científica pode ser
considerada uma ciência internacional, a exemplo, no "Primeiro Congresso
Internacional de Psicologia " em Paris, França, no ano de 1889, em que participaram

151
203 psicólogos e outras pessoas interessadas de 20 países. A lembrar, o pai da
psicologia experimental, Wilhelm Wundt (1832-1920) supervisionou cerca de 190
doutorandos de pelo menos 10 países na Universidade de Leipzig, Alemanha
(Lamberti, 1995), que posteriormente retornaram a seus países de origem. No entanto,
a psicologia permanece uma ciência, no campo da prática, eminentemente europeia e
norte-americana até a Segunda Guerra Mundial, com alguns avanços científicos, em
locais como Buenos Aires (Argentina), Tóquio (Japão) e Calcutá (Índia) (Giele, 2006).

Após a Segunda Guerra Mundial, a psicologia americana cresceu em força e


rapidamente assumiu o status de única "superpotência científica" no campo. Porém,
com características firmemente monocultural e centralizadora, e ignorava os
acontecimentos científicos que ocorriam mesmo em países como a Áustria e a
Alemanha, berço da Psicologia. Giele (2006) destaca que este desenvolvimento está
apoiado na economia, força militar, meios de comunicação de massa e no domínio do
inglês como linguagem de comunicação entre a maioria dos psicólogos internacionais,
que se desarticulou com sucesso de outras línguas, como alemão, francês e russo.

Até o final de 1950 nos Estados Unidos, psicólogos ensinaram e praticaram, mais do
que em todos os outros países combinados (Hogan & Vaccaro, 2007; Rosenzweig,
1984). Porém, nas últimas décadas, esta situação começou a mudar, ainda que não se
tenha estimativas precisas do número de psicólogos que ensinam, pesquisam e
praticam em todo o mundo, é provável que seja mais de um milhão (Stevens & Gielen,
2007). De acordo com os números do Censo Americano, 277.000 psicólogos estavam
empregados nos Estados Unidos no início do novo milênio (U. Census Bureau, 2003).

O número de psicólogos na Europa, a incluir Rússia e a Europa Oriental, está muito


acima de 300.000 (Tikkanen, 2005) e desta forma, no final do século 19 e início do
século XX, o que se tem novamente, são dois centros globais de psicologia: Europa e
Estados Unidos. Com uma estimativa de que o número de psicólogos europeus esteja
crescendo mais rápido do que o número de psicólogos americanos. Além disso, a
Federação Europeia de Associações de Psicólogos (EFPA), que representa associações
de psicologia em 31 países europeus, tem apoiado a institucionalização de programas
de formação universitária e licenciamento profissional comparáveis em todos os seus
Estados membros. Este processo contínuo tem unificado e fortalecido psicólogos
europeus no contexto global e conseqüentemente, o predomínio único e marcante da
psicologia americana tem se dissipado, embora o American Psychological Association –
APA, continuará a ser a associação nacional de psicologia mais influente nos próximos
anos (Giele, 2006).

Sendo assim, a psicologia permanece predominantemente norte-americana e europeia


e ainda tem sido bem-sucedida também em alguns países da América do Sul, como
Argentina e Brasil, e cada vez mais visível em alguns países asiáticos. Em termos
quantitativo, no ano de 2003, Buenos Aires estimava 32.976 psicólogos, que se

152
constitui o maior número de psicólogos em qualquer cidade do mundo, sendo que
Nova York não é exceção (Klappenbach, 2004). No mesmo ano, mais de 140 mil
psicólogos estavam licenciados no Brasil, embora apenas 900 deles com doutorado
(Hutz, McCarthy, & Gomes, 2004). Assim, o Brasil pode reivindicar a posição de
possuir mais psicólogos do que qualquer país europeu. E em todo o mundo, ocupa o
segundo lugar depois dos Estados Unidos (Hutz, McCarthy, & Gomes, 2004).

Porém, por causa da base científica e acadêmica considerada fraca, a psicologia ainda
permanece relativamente anêmica no Brasil, como pode ser visto, em relação a
quantidade de psicólogos com doutorado. Com isso, seu impacto mundial até agora
permaneceu limitado. Ainda na América do Sul, a psicologia argentina permaneceu
em grande parte possuidores dos paradigmas psicanalíticos considerados com um
valor científico limitado. Logo, o grande número de psicólogos sul-americanos não
corresponde à frente modesta que assumem no cenário internacional até o momento
- 2006. Isto ocorre, porque o impacto mundial dos psicólogos de um determinado país
ou região, depende do seu envolvimento em instituições acadêmicas orientadas para
a investigação e produtividade na pesquisa, bem como pela sua capacidade de
publicar em inglês, nas principais revistas profissionais americanas e internacionais.

A psicologia se torna cada vez mais bem-sucedida em países do Sudeste Asiático,


como Japão, China, Filipinas, Cingapura, Coréia do Sul e Taiwan. Embora o número
de psicólogos no Japão (20.000), China (10.000) e Taiwan esteja bem aquém do número
de psicólogos no Brasil e na Argentina. Psicólogos japoneses e chineses têm
ultrapassado os sul americanos em termos de produtividade científica rigorosa e o
crescimento científico da China tem sido muito bem reconhecido nos ambientes
internacionais. A propósito em 2004, o Quadrennial International Congress of Psycholo
gists de Pequim, compreendeu um público com mais de 6.000 psicólogos de todo o
mundo, com grande organização e excelência científica. Além disso, o governo chinês
declarou a psicologia como uma das 18 disciplinas científicas que vão receber apoio
especial nos próximos anos do século XXI (Zhang & Xu, 2006).

A psicologia ainda permanece em grande parte invisível nas áreas rurais, que possui
contextos coletivos familiares e fortes sistemas de crenças, em que raramente são
expostos a práticas e ou teorias psicológicas, além de sofrer fortes pressões de fatores
políticos e culturais, que desempenham um papel importante em qualquer ciência
(Singh, 1991).

Singh (1991), esclarece que regimes de extrema esquerda também tendem a limitar,
censurar ou suprimir a disciplina psicologia na academia. A exemplo, durante a
"Revolução Cultural" da China (1966-1976), a psicologia foi declarada pseudo-ciência
reacionária, "burguesa", ideológica e foi abolida completamente (Hsieh-Shih, 1995) e
ressurgiu quando iniciou-se uma economia de mercado semi-capitalista (Zhang & Xu,
2006). Outro exemplo, no governo de Joseph Stalin da União Soviética (1928-1953), a

153
psicologia ficou sujeita a um rígido controle ideológico do Estado e como disciplina
ficou limitada em termos de importância e alcance. Na Rússia atual, a psicologia é
ensinada em mais de 100 universidades. Em geral, instituições democráticas liberais e
sistemas de crenças culturais tendem a apoiar e difundir a psicologia como uma
disciplina, já regimes e ideologias totalitários de esquerda, tendem a restringir a
psicologia a uma profissão e a uma forma de "estar no mundo".

Consequentemente, psicólogos em países emergentes como: China, Egito, Índia,


Indonésia, Irã, México e Turquia são mais propensos a ter a pratica psicológica em
áreas urbanas, independentemente das diferenças culturais entre esses países. Em
contraste, é interessante notar, no contexto dessa discussão da psicologia global que
psicólogos de alguns países em desenvolvimento, como China e Hong Kong, Índia,
Coreia, Taiwan e Turquia sofrem um impacto global maior em suas práticas. Já a
psicologia árabe até agora não foi tão efetivamente apresentada à comunidade
internacional, como em outras regiões do mundo como: China, Índia, Brasil, África do
Sul, México e Coréia do Sul. Sendo que visivelmente ativa em termos de publicação
de pesquisas internacionais, se encontra a China à frente destes outros países. Além
disso, a publicação de pesquisa de psicólogos no mundo árabe pode ser considerada
comparável em freqüência (N = 798) em relação respectivamente a Índia (835) e Brasil
(812) (Gielen, 2006). O que se tem ainda é que o campo da psicologia é dominado pelos
livros e psicólogos americanos, e em menor grau, é influenciado por psicólogos
britânicos e russos (Singh, 1991).

Embora a psicologia nos países árabes tenha se desenvolvido tão bem, porém tem
ficado a desejar em relação a outras economias, políticas e cultura emergentes do
mundo, especialmente na Ásia Oriental e na América Latina. Com base nas
informações fornecidas por Ahmed (1998), Ahmed e Gielen (1998, in prep.), Sánchez
Sosa e Riveros (2007), conclui-se que uma quantidade considerável de atividade
psicológica científica está ocorrendo no mundo, embora existam grandes variações de
uma nação para outra. Psicólogos associadas a instituições localizadas no Egito,
Jordânia, Líbano, Iraque, vários países produtores do Golfo, e Marrocos estão entre os
líderes em tais empreendimentos. Poucas atividades psicológicas, no entanto, estão
ocorrendo em algumas outras nações árabes tais como Comores, Djibuti, Mauritânia
e Somália. A União Internacional de Ciências Psicológicas (IUPsyS) inclui a psicologia
agora 70 países em todos os continentes habitados. Isso significa, entre outras coisas,
que a psicologia tem prosperado em vários graus em muitos países não-ocidentais em
desenvolvimento tais como: Brasil, China, Índia, Irã, Japão, Indonésia, México,
Filipinas e Turquia. Dentro muitos dos países mais pobres da África e do mundo
islâmico, entretanto, a psicologia mantém um perfil muito baixo, em parte porque é
freqüentemente visto como uma espécie de luxo face às demandas mais urgentes de
sobrevivência econômica, de miséria e ameaças de desintegração política e guerra civil
(Gielen, 2006).

154
3 A etimologia da psicologia
Nem Platão por meio da Academiaxxii, nem qualquer outro filósofo antigo utilizou as
palavras 'Ontologia' e 'Psicologia'. Nas obras de Aristóteles, são usadas expressões
como: De Anima e Metafísica (Aristóteles, De anima, 402a5); (Aristóteles, Met., III, 3,
998b7 e também Met., IV, 1, 1003a20), utilizadas para apontar duas ciências diferentes.
Porém Aristóteles não atribuiu um nome determinado a qualquer um deles. No
entanto, é Aristóteles quem finalmente identifica e aponta o problema do
status/condição e do objeto de estudo da 'Ontologia' e da 'Psicologia' (Lamanna,
2010).

Tanto o desdobramento epistemológico quanto a técnica translatio studiorum,


promoveram o desenvolvimento da ‘Ontologia ’e da ‘Psicologia’. Diferentes tradições
derivaram da interpretação das obras de Aristóteles, que ofereciam diferentes
soluções em relação às duas ciências. A translatio studiorum dos textos de Aristóteles,
tornou-se a salvação de uma doutrina epistemológica e disciplinar, por meio da
contribuição de Al-Kindi, que foi realizado na Escola de Edessa e em árabe, no século
IX Dc, no tribunal de Bagdá e, posteriormente, em hebraico e latim. Al-Kindi (800 -870
Dc) foi o primeiro a produzir textos em árabe seguindo a tradição do pensamento
filosófico grego, sendo, portanto, visto como o primeiro filósofo da falsafaxxiii (Verza,
2015). Ele também foi uma figura importante na promoção e transmissão das
traduções de textos filosóficos gregos para o árabe por meio do que foi chamado seu
"círculo". A translatio studiorum tem sido produzido, desde a idade de Theophrastus
e Alexander de Afrodisia, e promovido versões diferentes da ciência do ser e da
ciência da alma.

Sob o ponto de vista terminológico, pode-se dizer que as diferentes soluções para uma
visão epistemológica e disciplinar resultaram-se, ao longo dos séculos, de diferentes
soluções terminológicas para indicar cada uma das duas ciências. Em relação à
ontologia, os termos prima filosofia (primeira filosofia), scientia universalis (ciência uni
versal), metafísica (metafísica), e ontosofia foram usados. Já em relação à psicologia, os
termos scientia de anima e scientia animastica (ciência da alma). Porém, diferentes
transmissões derivaram da interpretação das obras de Aristóteles, que ofereceram
destaque diferenciado para ambas as ciências, seja pela translatio studiorum, seja pela
terminologia. Por meio da translatio studiorum - que designa, no contexto da história
do pensamento, um vasto processo de transferência de saberes, de uma época para
outra e de um lugar para outro, entre impérios do Oriente Médio e do Ocidente e entre
diferentes culturas e religiões – os textos Aristotélicos sofreram formas diferenciadas
de interferência. O início da cultura protestante, a epistemologia e disciplinariedade
do translatio studiorum, foi o principal condutor à independência da ciência da alma,
que atinge um de seus momentos mais importantes de síntese (Lamanna, 2010).

155
Certamente Aristóteles possui uma influência importante para o desenvolvimento das
duas ciências, que mais tarde intitularam-se ontologia e psicologia, que deixaram de
ser doutrinas, em relação a temática e status que ocupavam sob o ponto de vista
epistemológicoxxiv (Castañon, 2007). No interino das obras de Aristóteles, 'De Anima'
tem a tarefa de introduzir epistemologicamente trabalhos fisiológicos e naturais. Com
isso, Aristóteles ao descrever a alma por meio de suas funções e faculdades, no terceiro
livro de 'De Anima', ampliou e apresentou uma faculdade pertencente apenas ao
humano, e desconhecido para os outros animais, o intelecto (Lamanna, 2010).

Ao contrário das almas vegetativas e sensíveis, que não poderiam ser independentes
do corpo que lhe dava: vida, movimento e sensibilidade, a alma racional (intelecto) é
χωριστές (separada do corpo). De acordo com Aristóteles, o intelecto é separado de
qualquer órgão do corpo, enquanto que para Platão (Timaeus, 71d-e), ao contrário,
este configurou o centro da alma racional dentro do encéfalo (Menn, 2010).

No entanto, segundo Aristóteles, o que é χωριστές - separado do corpo não é


investigado pela física, mas pela metafísica, ou pela matemática após a abstração da
matéria. Desta forma, na fronteira entre física e metafísica, em 'De Anima', Aristóteles
afirmou: "Se qualquer função ou afeição da alma é particular a ela, esta pode ser
separada do corpo [...] "(Aristóteles, De anima, I, 1, 403ª 10-12, engl. Transl. P. 15). Com
isso, a partir das obras de Aristóteles, uma longa tradição de debates surgiu, e com a
evolução da temática, passou a existir interpretações sobre a colocação disciplinar de
uma futura disciplina intermediária, neste caso a psicologia. Deve-se acrescentar
também que no trabalho fisiológico ‘De Partibus Animalium’, escrito após ‘De Anima’,
Aristóteles afirma novamente: "Em vista do que acabamos de dizer, pode-se perguntar
se é a ocupação da Ciência Natural tratar da Alma em sua totalidade ou de somente
alguma parte dela" (Aristóteles, De Partibus Animalium, I, 1, 641a34-35, engl. Transl. P.
71) (Menn, 2010).

No livro VI da Metafísica, outras indicações sobre psicologia podem ser encontradas


no exemplo do snub nariz, um nariz côncavo. Em oposto a essência da concavidade,
um nariz arrebitado está necessariamente ligado a matéria sensível, isto é, é a carne
que a torna realmente côncava. Assim sendo, se a matemática vai lidar com a essência
da concavidade, a física vai lidar com o nariz côncavo, devido à sua pertença
intrínseca à matéria. Por analogia, Aristóteles afirma que: "[...] é da competência do
físico estudar até alguns aspectos mais da alma, na medida em que não é
independente da matéria" (Aristóteles, Metaphysica, VI, 1, 1026a5-6, inglês, página
295).

No entanto, se o físico investiga as almas que dependem da matéria e não estão


separados (vegetativo, sensível), mais uma vez Aristóteles não diz quem, e qual
disciplina, tem a tarefa de investigar a alma separada da matéria. Voltando ao
exemplo do nariz côncavo, em 'De Anima', Aristóteles conclui que: "Novamente, entre

156
objetos abstratos "retos " é como snub-nosed, devido a estar combinado com extensão;
porém é essência, se "retas" e "retidão" não são semelhantes, é algo diferente; a isso
vamos chamar, dualidade. Por esse motivo, julgamos por outra faculdade, ou pela
mesma faculdade em uma relação diferente. E falando no geral, como objetos são se
paráveis de sua matéria assim são faculdades igualmente correspondentes na mente
"(Aristóteles, De anima, III, 4, 429b18-22, inglês transl. P. 167-169).

Lamanna (2010) explica, que, o que parece ser apresentado por Aristóteles é a hipótese
de uma analogia entre a essência e a separação do intelecto e o que vem a ser, o ser
matemático - mathematical beings. Desta forma a partir das obras de Aristóteles, uma
longa tradição de debates fez surgir interpretações e consequentemente a colocação
disciplinar de uma nova matéria (subject) tinha campo fértil para surgir, a psicologia.
Desta forma, estas temáticas deixaram de ser simples doutrinas, e seu tema e status se
tornaram questões de debate sob o ponto de vista epistemológico. Ao contrário da
ontologia, que estava firmemente dentro da metafísica, existia uma incerteza quanto
ao lugar da Psicologia dentro das ciências, mesmo nos tempos antigos.

Lamana (2010) destaca que, a complexidade das questões encontradas nos trabalhos
de Aristóteles fornece diferentes soluções entre os Comentadores ao longo dos
séculos, que podem ser divididos em pelo menos três grupos: I) Aqueles que atribuem
o tratamento da alma em parte à física e em parte à metafísica - Averroes e Tomás de
Aquino; II) Aqueles que atribuem o tratamento à alma apenas à física – Alexandre de
Aphrodisia e Pietro Pomponazzi; ou à metafísica - Plotinus, Augustine e
Neoplatonismo. Consolidando o estudo da alma na metafísica, temos: Guillaume
d'Auvergne, ou Guillaume de Paris (1190-1249); III) Aqueles que atribuem o
conhecimento da alma nem à física nem a metafísica, mas para uma terceira ciência, a
meio caminho entre os dois campos, temos: Paul J.J.M. Bakker, Temmistius, pseudo
Simplicius (ou provavelmente Prisciano). Este terceiro grupo inclui uma série
heterogênea de autores que - como Paul J.J.M. Bakker destacou notavelmente a partir
de Themistius e pseudo-Simplicius (ou provavelmente Prisciano) até chegar a
Augustino Nifo e Marco Antonio Genua na idade moderna, e, simetricamente,
considerar a alma como ens - uma unidade de medida igual a metade de um em e
aproximadamente a largura média de caracteres tipográficos, usada especialmente
para estimar a quantidade total de espaço que um texto exigiria, uma scientia de anima
como scientia media entre Física e Metafísica.

Em 'De anima', o objetivo de Aristóteles era entender o que seria a vida animal, o que
são seres vivos. "Animal" não se trata de um bruto (beast), mas um corpo com uma
alma, que tem vivacidade, conduta. Sem alma, não haveria animal e, portanto, não
haveria vida animal. Lamanna (2010) explica que para Aristóteles, a alma não era
peculiar somente ao gênero humano, como alguns Platonistas acreditavam, mas
pertencente a todos os seres vivos. Com isso, se a alma é o "princípio da vida animal"
(Aristóteles, De anima, I, 1, 402a6, ingl. Transl. P. 9) e "a forma de um corpo natural"

157
(Aristóteles, De Anima, II, 1, 412a20-21, ingl. Transl. P. 69), para este fim, a alma é
inevitavelmente o limite para o corpo ao qual dá vida. Ademais, as afetividades da
alma, como: raiva, amor, medo, fúria, na realidade procederiam da relação com o
corpo.

Lamanna (2010) afirma que, de acordo com Aristóteles, o assunto da física é o


movimento do corpo, por sua vez, não separado da matéria (corpo). Precisamente por
esta razão Aristóteles não tinha dúvida quando atribuiu o estudo da alma à física:
"Isso faz com que a ocupação do filósofo natural seja a de investigar a alma, seja no
geral, ou no aspecto específico." (Aristóteles, De Anima, I, 1, 403a28-29, Engl. Transl.
P. 17). A escolha de dar à ciência da alma um terceiro e status autônomo quando
comparado a física e a metafísica forneceu campo fértil para uma série de tentativas
de se atribuir um novo nome à uma nova ciência. A maioria das tentativas ocorreram,
a partir da segunda metade do século XV. Lamanna (2010) informa que, Agostino Nifo
e Marco Antonio Genua atuaram com o objetivo de emancipar a 'futura matéria
psicologia' da física e da metafísica e tratá-la como ciência independente, e também
bem como, contribuíram para dar-lhe um nome definitivo pelo qual a nova disciplina
poderia ser chamada.

Ao contrário do genérico γνωσις της ψνχης – gnosis da alma, de Aristóteles e do termo


latino "scientia de anima", Agostino Nifoxxv (1473 – 1538 or 1545), filósofo italiano em
sua primeira Collectanea de Anima (1498), fala de demonstrationes animasticarum (de
monstrações animásticas), baseando-se explicitamente nas posições de Simpliciusxxvi,
relacionado ao assunto e status de uma ciência, na qual foi definida como 'scientia
media et mathematica'. Ou seja, tal como a matemática, a 'scientia de anima' estudaria
uma "substância intermediária" com a finalidade de separar formas sencientes, que são
formas ligadas a capacidade de sentir ou perceber através dos sentidos. Além disso,
como na matemática, a 'scientia de anima' teria um grau maior de certeza entre as outras
ciências (Mahoney, 2000). Com isso Marcantonio Genuaxxvii (1491–1563) vai um passo
além de Nifo. Suas reflexões sobre a alma são fortemente influenciadas pela obra de
Pietro Pomponazzixxviii (1462 – 1525), embora suas opiniões sejam diametralmente
opostas. Genua é completamente contra as conclusões Pomponazzi, que negou a
legitimidade de uma ciência metafísica da alma, como também negou a imaterialidade
da alma, e atribuiu este estudo exclusivamente à física (Mahoney, 2000). Pelo
contrário, Genua se baseia nas teorias Averroistas da singularidade do intelecto
humano e sugere, que o lugar do intelecto humano, se encontra no meio do caminho,
entre uma substância natural e uma forma imaterial. Portanto,
xxix
uma ciência autônoma
e separada se fazia necessário para estudar o 'ens medium'. Genua superou as
incertezas de Nifo, embora ele se baseasse em suas escolhas lexicais e moedas para
nomear 'scientia animastica', ou seja, para a ciência do meio da alma humana (Menn,
2010).

158
Lamanna (2010) alerta, que embora os termos 'ontologia' e 'psicologia' tenham uma
etimologia grega, nenhum destes aparecem nas obras conhecidas de qualquer filósofo
antigo ou medieval, porém aparecem entre o final do século XVI e o início do século
XVII e podem ser encontrados em trabalhos publicados na Europa Central, com
destaque para seu uso mais bem-sucedido na Reforma e cultura Protestante. O
vocábulo foi inventado durante o tempo da Reforma e a partir de então a ciência
‘Psicologia ’conheceu uma grande difusão entre os filósofos, bem como nas disputas
por cátedras universitárias.

De acordo com Kruno Krsticxxx (1964), trata-se de uma descoberta confirmada por
Josef M. Brozekxxxi (1999), em que, o termo 'psicologia' foi primeiramente encontrado
na obra do humanista xxxii Marko Marulić (1450-1524). Trata-se da mais antiga
referência literáriaxxxiii conhecida á psicologia, se deu em 1520, pelo croata Marko
Marulić (1450-1524), poeta e renascentista, que publicou em latim Psichiologia de
ratione animae humanae. A destacar que Psique e Logos, são palavras gregas, que não
apareceram juntas, até que Marko Marulić, as unisse no título de seu tratado (Lezcano
& Ramón, 2009). Desta forma reconhece-se, que a origem da palavra psicologia, nasce
em um ambiente teológico, por ser um autor católico e de influências da ordem
franciscana (Lezcano & Ramón, 2007). Porém, o termo começou a ser utilizado com
sucesso e amplamente apenas cerca de cinquenta anos mais tarde, na cultura europeia
central e na Reforma Schulphilosophiexxxiv (Burnett, 2004). Kruno Krstic (1964) in
forma que mais de 45 anos após a descoberta do termo de Marulić, nenhuma pesquisa
foi capaz de relatar qualquer influência que o termo 'psicologia' tenha tido no contexto
do conhecimento europeu (Lamanna, 2010).

Lamanna (2010) adverte que se tratava de um momento-chave sob o ponto de vista


cultural, para o surgimento de uma nova ciência, a psicologia, pois Melanchthon
ajudar a reabilitar o tratado de ‘De anima de Aristóteles nas academias protestantes e
ajuda a divulgar uma tradição de investigação sobre a 'Ciência da Alma’. Philipp
Melanchthonxxxv (1497 – 1560) astrólogo e astrônomo alemão, que acompanhou e
rompeu com Luteroxxxvi, publicou trabalhos em teologia, em que em seu tratado “Co
mentarius de anima” de 1540, se refere a um compendio de textos aristotélicos e de todas
as disciplinas sobre a alma, em que apresentava o ser humano como um ser social. A
teologia que Philipp Melanchthon desenvolveu em seus primeiros anos em
Wittenberg continha objetivos antropológicos sobre os limites dos poderes do
intelecto humano e da vontade. Tratou-se de um relato da natureza humana que
poderia ajudar a explicar como esperar que os seres humanos se comportassem em
circunstâncias diferentes. São trabalhos que não passam de retórica baseada na fé que
se vê em outros escritos de Melanchthon (Peterson, 2009), porém Melanchthon se
dissocia de Lutero, por este haver declarado, em sua 'Heidelbeger Disputation' (1518)
e mais tarde em suas 'Annotationes in Ecclesiam' (1532), que a imortalidade da alma
era um artigo exclusivo da fé, em que anula-se assim os esforços para investigar a
natureza da alma humana por meio da razão natural e da filosofia aristotélica. De

159
acordo com Lutero, a filosofia de Aristóteles é uma filosofia da imanência, e esta
invalida a doutrina da alma. Pensar sobre a alma e atribuí-la a forma do corpo significa
amarrar a alma à matéria permanentemente, e levá-la para a corrupção e mortalidade.
A reprovação de Lutero começa por Aristóteles e inclue toda a tradição aristotélica e
platônica, bem como a possibilidade de se saber algo sobre a alma e sua natureza, ao
usar apenas razão. Por meio de Melanchthon, foi possível começar a discutir a alma
em um grau além (Melanchthon, 1540, p.8).

Entre 1520 e 1570, nas instituições reformadas na Europa Centralxxxvii, houve uma
redução considerável no ensino curricular e nas cadeiras da metafísica. Isto foi
certamente devido à ação simultânea de pelo menos três fatores: a) uma forte opção
anti-metafísica que dominava a cultura luterana durante todo o século XVI; b) uma
atmosfera de instabilidade a nível teológico devido à propagação de movimentos
reformados e conflitos entre eles; c) e a difusão, em universidades e escolas de
filosofias tais como o Ramismo xxxviii , cheias de opiniões anti-escolásticas e
antimetafísicas (Lamanna, 2010).

Os seguidores de Ramus, os chamados Ramistas, promoveram projetos para reformar


disciplinas e currículos cujo objetivo seria cumprir o plano de reforma de Ramus, de
acordo com alguns princípios orientadores: a) uma redefinição abrangente de
disciplinas e campos disciplinares; b) utilização de quadros esquemáticos
(diagramáticos) para facilitar a aprendizagem e o ensino dos conteúdos; c) uma
reintrodução da lógica como ciência geral e arquitetônica, em detrimento da
metafísica (Lamanna, 2010). Em relação ao contexto calvinista, deve-se ressaltar que,
nos estágios iniciais da disseminação deste movimento (1560-1590), o trabalho do
calvinistaxxxix Pierre de la Ramée teve uma forte influência e impulsionou um período
de grande fervor cultural em academias reformadas e ginásios, semelhante ao que o
Melanchtonismo havia feito no campo do Luteranismo.

Não é por acaso que o termo psicologia aparece na Schulphilosophie pela primeira vez
em algumas obras de um seguidor de Ramus, Johannes Thomas Freig (Lat. Freigius,
1543-1583). Freig era um calvinista e biógrafo de Ramus, bem como professor de lógica
e retórica em Freiburg e Basileia. Em seu trabalho, Trium artium logicarum (1568), Freig
propõe uma divisão disciplinar segundo a qual a scientia de anima foi incluída no
campo da filosofia junto com a medicina e a história dos animais (Lamanna, 2010).
Seis anos mais tarde, na primeira edição de sua obra Questiones (1574), Freig dá uma
nova e interessante distribuição disciplinar, e confirma a ciência da alma entre as
ciências físicas, em particular, entre os que tratavam das qualidades dos corpos
complexos. Em sua obra, ele chama a ciência da alma de ‘psicologia’.

O uso do termo ‘psicologia ’neste trabalho de 1574, foi descoberto por Lamanna (2010),
em setembro de 2009, é, portanto, a primeira ocorrência do termo na filosofia alemã
um ano antes do uso do neologismo por Freig, em seu trabalho: Catalogus locorum

160
communium (1575). Até o momento, a primeira ocorrência do termo na Alemanha foi
atribuída por William Hamilton (1882, volume I, página 136, nota alfa) e Lapointe
(1972, página 332-333) para o trabalho Catalogus locorum communium (1575), de Freig.
Porém, na primeira edição de eu trabalho de 1574, ainda intitulado Questiones, Freig
se pergunta sobre quantos e quais são os sujeitos pertencentes ao campo da física. E
sua resposta é: se a física é a ciência que estuda qualidades, portanto todas as
disciplinas cujo objeto de estudo são diferentes qualidades de formas, estas serão
disciplinas físicas. E segue uma classificação das disciplinas da física que apresenta a
‘Psicologia ’como: 'Psicologia e história dos animais lidam com a composição de
corpos que são perfeitos'. No entanto, Freig dá um passo em frente, comparado a seus
trabalhos anteriores. O termo é na verdade uma paleonímia (uso de uma palavra pré
existente em um novo contexto), que está de acordo com a tendência do século XVI e
do século XVII de criar o Graecismos (imitação do idioma grego) para nomear e
renomear alguns campos disciplinares. No trabalho de Freig, a paleonímia aparece
como uma translação léxica (dicionário) através da transliteração (traduzir ao pé da
letra) do semantema (parte de um vocábulo que expressa um conceito, uma ideia de
caráter unicamente lexical, como uma substância, qualidade, processo, modalidade da
ação ou da qualidade) grego para o latim. Em seu trabalho posterior Quaestiones
Physicae (1579), Freig dedica um livro inteiro (nº XXVII) à psicologia e confirma a
denominação do latim de Psychologiato, que indica a ciência que estuda a alma dos
seres vivos. A alma, por sua vez, foi definida como "principium vitae in corpore
naturali ". Além disso, Freig acrescenta a descrição de três espécies da alma: naturais,
sensíveis e inteligentes, com suas respectivas faculdades, funções e localizações
anatômicas. A psicologia Freig, em seu trabalho Quaestiones Physicae (1579) trata das
várias espécies da alma presente nos corpos dos seres vivos. E acompanha, ao separar
inteligência como um ser imaterial, que são excluídas do campo da ciência. Desde que
Freig inclui psicologia em seu trabalho Quaestiones Physicae, o autor, portanto,
confirma que seu campo disciplinar se enquadra na física. A um passo da autonomia
disciplinar, da Psicologia, como termo e como ciência foi feita cerca de dez anos após
a publicação do trabalho de Freig, no contexto do Calvinismo (Lamanna, 2010).

Rudolf Göcke (1547-1628), publicou um tratado, em Marburg, em 1590, intitulado "


“ΨΥΧΟΛΟΓΙΑ: hoc est de hominis perfectione, animo, et imprimis ortu humus". Este
trabalho, na medida em que é conhecido hoje, é de fato o primeiro livro impresso,
preservado, que contém a palavra "psicologia" em sua forma grega e escrito em letras
gregas - ΨΥΧΟΛΟΓΙΑ. Rudolf Göcke – Goclenius, foi professor de física, matemática,
lógica e ética na universidade de Marburg, em Lahn, na Alemanha. Por sua atitude
filosófica, ele pertenceu aos chamados "semi-ramistas", ou seja, o grupo dos
aristotélicos que estavam a meio caminho entre aqueles que defendiam a interpretação
dialética da aprendizagem Aristotélica, e aqueles que defendiam sua exposição
quanto ao averroísmoxl (Krstic, 1964). O trabalho: ΨΥΧΟΛΟΓΙΑ - Hoc est de hominis
perfectione, animo e in primis ortu hujus' foi publicado em duas outras edições (1594

161
e 1597), e foi composto de um volume de uma coletânea de contribuições e partes das
obras de alguns autores teólogos, filósofos, juristas e médicos - que pertenciam
principalmente as áreas reformadas. Goclenius editou todo o trabalho, e acrescentou
contribuições ao escrever uma epístola dedicatória. Nestas contribuições incluiu ao
livro um assunto que tratou da questão relativa à origem da alma humana, sua criação
- ou, se necessário, sua geração da matéria, e suas relações com o corpo. E entre as
contribuições, existe as de Hermann Vultejus (1555-1634), professor de direito na
Universidade de Marburg desde 1581 e Johann Ludwig Havenreuter, outro autor
incluído no livro.

Em 1590 o luterano Johann Ludwig Havenreuter (1548-1618), um filósofo e médico,


que ensinou em Tübingen e Estrasburgo e era famoso por ser o tradutor da ‘Opera
logica (1578) de Zabarellaxli, na Alemanha, apresentou um debate em Estrasburgo,
cujo título incluiu o neologismo ΨΥΧΟΛΟΓΙΑ, em que, Havenreuter provavelmente
concordou com Goclenius ao escolher nomear a ciência da alma usando o neologismo
grego ΨΥΧΟΛΟΓΙΑ e incentivou a difusão do termo entre os seus alunos.
Havenreuter presidiu, em 1590 o debate intitulado: ΨΥΧΟΛΟΓΙΑ sive philosophica de
animo συζητησις, ex-livro tribus Aristotelis περι ψυχης (a alma) excerpta, em que o autor do
debate foi seu aluno, Gallus Rhormann Teccensis, que apresentou em sua exposição
não só apresentou o termo ‘psicologia’, como diferenciou do termo ‘a alma ’(Lamanna,
2010).

Com relação ao ΨΥΧΟΛΟΓΙΑ de Goclenius, ele adicionou a edição 1597 algumas


passagens de Exoterces exercitationes de subtilitate' (1557) de Giulio Cesare Scaligero, e
outros textos de Girolamo Savonarola sobre 'Anima intellectiva' como uma realidade
inventada, e um compendio - intitulado 'De origine animorum' - do 'De natura Dei'
(1577) do teólogo Girolamo Zanchi (1516-1590) da escola teológica do reformado Peter
Lombard (1096 - 1160) bispo frânces. De acordo com Goclenius, o objetivo do trabalho
era promover uma espécie de status quaestionis sobre a ciência da alma humana, com
especial atenção aos resultados alcançados na cultura protestante. Goclenius dá o
nome 'ΨΥΧΟΛΟΓΙΑ' à ciência da alma transliterando em grego a palavra do latim
usada por Freig. Ao contrário de Freig, que chamou a psychologia, como a ciência da
alma e suas funções, de acordo com Goclenius, o termo psychologia foi uma ciência
que investigava apenas a alma humana. No entanto, embora Goclenius estreita o
campo da matéria/disciplina da psicologia, ele não assumiu outra posição disciplinar
para isto. Assim, da mesma forma que Freig, Goclenius inclui a Psicologia no campo
da investigação da física.

O calvinista Clemens Timpler (1563 / 4-1624), que durante a década de 1580 estudou
na Universidade de Pádua, em que provavelmente assistiu as lições de um
renascentista italiano aristotélico, Giacomo Zabarella (1533 – 1589), no ano de 1604,
Timpler publicou um trabalho intitulado Empsychologia (Lamanna, 2010). Otto
Casmann (1562-1607), um aluno calvinista e bem-sucedido de Goclenius em Marburg,

162
publicou uma obra intitulada Psychologia Anthropologicain em 1594. Com
reconhecimento a Otto Casmann, a psicologia se tornou, junto com a somatologia
(tratado do corpo humano - termo léxico - faz parte dos estudos da medicina), uma
das duas variedades da antropologia, que era uma ciência física. Em 1596, Goclenius
escreveu um prefácio ao trabalho de Rudolph Snellius (1546-1613) que inclui um
capítulo intitulado "Psychologia". Portanto, a escola de Goclenius revela-se um
momento-chave na disseminação do termo e da ciência que chamamos atualmente de
psicologia. Em Marburg, entre o final do século XVI e início do século XVII, a ciência
da alma teve grande peso acadêmico, e também graças ao nome específico que foi
dado, no qual foi especificamente "psychology".

A reforma do conhecimento é justificada em uma crítica à Escolástica, considerada


estéril por não apresentar nenhum resultado prático para a vida do homem. Com isso,
os renascentistas irão incidir com novos paradigmas, em um contexto histórico de
predominância da visão escolástica, cujos métodos e perspectivas eram teológicos,
metafísicos e dedutivos. Neste contexto, em que os princípios da física e da lógica
aristotélica dominavam as bases científicas, os renascentistas apresentaram um novo
método com a proposta de superar e substituir o de Aristóteles. Estes métodos
estavam pautados numa nova maneira de conceber a realidade, em especial a do
homem, que passa a ser o centro e, portanto, tudo passa a ser pensado sob a ótica da
condição humana, como um ser racional e como instrumento de sua emancipação
espiritual e material. Bacon acreditava que a ciência deveria restabelecer o imperium
hominis (império do homem) sobre as coisas e que a filosofia não é apenas a ciência
das coisas divinas e humanas, é também algo prático: ‘ Saber é poder . A mentalidade
científica somente será alcançada através do expurgo de uma série de preconceitos
por Bacon chamados ídolosxlii. O conhecimento, o saber, é apenas um meio vigoroso e
seguro de conquistar poder sobre a natureza.

Conforme foi exposto, neste momento histórico da ciência, aproximadamente entre


1550 e 1650, em que a psicologia buscava nascer ainda etimologicamente, duas
grandes linhas de pensamento se destacavam na busca de espaço por meio do
embasamento científico, por sua vez, ou se era Aristotélicoxliii (384 – 322 Dc), ou Anti
aristotélico.

4 O lugar da psicologia no cenário científico


O método científico é inseparável da ciência, por sua vez, os primeiros exemplos de
seu uso foram encontrados em manuscritos do Egito Antigo. Aristóteles desenvolveu
a ainda mais através da introdução de um método indutivo-dedutivo e por meio dos
seus escritos promoveu uma discussão metodológica e conceitual. Em que, temos na
Indução, um fazer, uma regra geral a partir de um conjunto de observações e a
Dedução, que se prevê observações com base em uma regra geral. No entanto, ele
ignorou a indução como método de investigação científica. O método científico

163
moderno surgiu na Idade Média - primeiro com pensadores árabes como Abu Ali al
Hasan ibn al-Haytham (latinizado, Alhazen – 965 dc a 1040), físico e matemático
árabe, considerado pioneiro da ópticaxliv e Abū ʿAlī al-Ḥusayn ibn ʿAbd Allāh ibn
Sīnāxlv (latinizado, Avicena, 980 – 1037) e mais tarde com pensadores europeus como
Robert Grosseteste xlvi (1168 - 1253), Roger Bacon xlvii (1214 - 1294) e Richard
Swinesheadxlviii (1340 – 1354), por meio de Universidadesxlix britânicas como Oxford e
Cambridge que já tinham uma longa tradição de ciência empírica, para entender a
natureza.

As experiências desses cientistas medievais fizeram importantes contribuições, sendo


Francis Bacon um grande promotor destas temáticas e seu trabalho reconhecido como
parte de uma ampla revolução cultural acelerada pela ascensão da imprensa no século
XV. A palavra ciência vem da raiz latina scientia, que significa conhecimento.

Neste debate crescente e frutífero, Francis Bacon (1561 — 1626) filósofo inglês, nasce
em Londres, no ano de 1561, período da Renascimentol, em uma sociedade que já
demonstrava uma aliança entre a filosofia e a ciência, e em uma Inglaterra que já
apontava a ascendência do capitalismo burguês, (Japiassu, 1995). O pensamento
filosófico de Bacon representa a tentativa de realizar aquilo que ele mesmo chamou
de Instauratio magma Scientiarum (Grande instauração das ciências), com base nesta
obra que teria 6 partes, apenas duas são concluídas, De dignitude et Augmentis
Scientiarum (Da dignidade e do crescimento das ciências) e a segunda parte adveio três
anos antes da primeira publicação em 1620, que confrontava o Órganumli produzido
por Aristóteles, chamado por Bacon de Novum Órganum ou indicação verdadeira
acerca da interpretação da natureza (Japiassu, 1995). No Novum Órganum, Bacon
propõe o método indutivolii com o objetivo de substituir o método aristotélico
dedutivoliii tradicional. Desta forma, Bacon se opõe a interpretação de Aristótelesliv,
que tem ênfase no silogismo lv e dialética lvi e na mistura de filosofia natural e
divindade (Ribeiro, Reis, Santos, sem data).

Batista (2010) destaca que, por volta de 1620 ainda se encontrava a postura dogmática
medievallvii, que se mantinha graças à predominância da escolásticalviii, para a qual a
teologialix subordinaria a si mesma todos os demais ramos do saber: a filosofia, as
ciências e as artes. Este momento advém da idade média, considerada a ‘idade das
trevas’, uma vez que nela o conhecimento humano ficou, sob a tradição escolástica
medieval judaico-cristã. A peste negra, entre 1347 e 1350, matou cerca de um terço dos
europeus, concomitante a controvérsia, a heresia e o cisma ocidentallx dentro da Igreja
Católica acompanhado dos conflitos interestaduais, as lutas civis e as revoltas
camponesas que ocorreram nos reinos. Os desenvolvimentos culturais e tecnológicos
transformaram a sociedade europeia, concluindo o fim da Idade Média com a devassa
de milhares de vidas humanas, que confirmava, a ocorrência de uma alta imprecisão
dos sentidos humanos e, consequentemente um forte viés da mente humana para
julgar corretamente qualquer coisa. Trata-se de um momento de transição e começo

164
do início do período moderno, em que os povos medievais acreditavam então que a
doença surgia de um desequilíbrio dos quatro humores do corpo: colérico,
melancólico, fleumático e sanguíneo e a ausência de Deus, ao passo que os povos
começaram a olhar através dos Microscópiolxi e a ciência moderna apontava que,
alguns tipos de doenças se espalhavam por organismos minúsculo (Batista, 2010).

A filosofia baconianalxii e a importância desse método para o desenvolvimento do


progresso do conhecimento técnico e científico da sociedade moderna, é inegável.
Bacon propõe que o avanço da ciência ocorra na realização de grandes e cuidadosos
números de experiências. Essas experiências deveriam ser realizadas de forma
sistematizadas, com a finalidade de abstrair os conhecimentos, e por meio desses
conhecimentos propor novas experimentações para comprovar uma determinada
natureza das formas e dos fenômenos naturais (Rossi, 1989). Bacon procurou um
processo de eliminação que objetivava separar os fenômenos que buscava conhecer
dos que não faziam parte dele. O procedimento de eliminação não envolvia apenas a
observação e a análise dos fluxos naturais dos fenômenos, mas também a execução de
várias experiências no meio natural. Bacon (2007) orientou oito meios de observação,
que são: união, variação, prolongação, transferência, inversão, compulsão, mudança
de condições e a repetição. Assim toda pesquisa experimental coerente, bem
delimitada deveria se apoiar em três tábuas de investigação, além dos recursos
auxiliares do entendimento da forma. As três tábuas constituem o núcleo central da
indução baconiana: presença (recolhimento e coleta de fatos), ausência (classificar
dados) e graus ou comparação (comparação das experiências que foram codificadas
que possibilite uma interpretação).

A Royal Societylxiii, foi fundada em 1660, para promover a nova filosofia experimental
da época, em que incorporou os princípios de Sir Francis Bacon e promoveu seus
princípios de observação exata e medição de experiências em seu periódico, Philosoph
ical Transactions, geralmente creditado como sendo o primeiro periódico científico
(Ganer, 2015). A revolução contemporânea estava posta, em função da consequência
do desenvolvimento do conhecimento científico. Na Inglaterra do século XVII, o
desenvolvimento do conhecimento científico estava representado na obra e nos
escritos de Francis Bacon, Robert Boyle lxiv (1627 — 1691), Edmond Halley lxv
(1656 1742) Isaac Newton lxvi (1643 — 1727) e John Locke (1632–1704), todos

companheiros da Royal Society, um corpo que evitou a discussão da religião e da
política e concentrou-se mais na promoção da "Aprendizagem Experimental Físico
Matemática" (Aldrich, 1999).

Desta forma, os modelos científicos advindos do alto escalão da hierarquia eclesiástica


começaram a perder notoriedade diante dos novos métodos de pesquisas feitas pelos
cientistas renascentistas, dentre os quais se destacam: Nicolau Copérnico (1473-1543)
e Galileu Galileilxvii (1564-1642), os quais defendiam o heliocentrismolxviii e combatiam
o geocentrismolxix (Batista, 2010).

165
No desenvolver da história da ciência, os cientistas medievais contribuíram para a
ampliação cumulativa do conhecimento, sendo alguns momentos, marcos
irrevogáveis para a Revolução Científicalxx do século XVI, tais como, a publicação das
obras De revolutionibus orbium coelestium - "Das revoluções das esferas celestes",
por Nicolau Copérnicolxxi e De Humani Corporis Fabrica - "Da Organização do Corpo
Humano", por Andreas Vesalius (1514 — 1564) que, foi um médico belga, considerado
o “pai da anatomia moderna”. Andreas Vesalius foi o autor da publicação De Humani
Corporis Fabrica, em 1543, trata-se de uma espécie de atlas do corpo humano
amplamente ilustrado, dividida em sete partes – ossos (Livro 1), músculos (Livro 2),
sistema circulatório (Livro 3), sistema nervoso (Livro 4), abdômen (Livro 5), coração e
pulmões (Livro 6) e cérebro (Livro 7).

Por sua vez, a publicação do ‘Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo - Diálogo
sobre os Dois Principais Sistemas do Mundo, em 1632, por Galileu Gali
lei (1564—1642) físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano.e o enunciado
das Leis de Kepler lxxii , por Johannes Kepler lxxiii (1571 — 1630), impulsionaram
decisivamente a revolução científica. Desta forma a ciência moderna surge,
quando se torna mais importante observar e experimentar, ao contrário da visão
antiga que partia de princípios estabelecidos e dogmáticoslxxiv. Foi um processo de
transição que transformou profundamente a visão científica do século XVII, ou seja, o
rompimento com a ciência antiga, finita e geocêntrica de Ptolomeu, sec.II, inspirado
em Aristóteles, com uma teoria que vigorava há quase vinte séculos e era maneira pela
qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e ao mundo. A nova ciência propõe
o modelo heliocêntrico de Copérnico, que atingia a concepção medieval cristã de que
o homem é ser supremo da criação divina e que por isso a terra é o centro do universo,
e um universo infinito de Giordano Brunolxxv (Baracat, 2009). A ciência por sua vez,
passa a valorizar a observaçãolxxvi e o método experimental. O século XVII viu nascer
o método experimental e a possibilidade de explicação mecânica e matemática do
Universo, a partir desses questionamentos, duas novas perspectivas para o saber
surgiram, às vezes complementares, às vezes antagônica, como o racionalismolxxvii e o
empirismolxxviii.

Desta forma, a contemplação teórica foi substituída por uma concepção que
valorizava a função prática do pensamento. O desenvolvimento do comércio, troca de
dinheiro, educação secularizada lxxix , comunidades, cidades, levou a uma nova
deferência do conhecimento em sua perspectiva social e histórica (Houghton, 1941,
48). Um conhecimento imparcial da natureza era necessário para que esta fosse
praticamente dominada, e isso se tornou o ponto central dos intelectuais. As novas
tendências surgiam em oposição ao sistema feudal, em especial do religioso e sua
visão teológica do mundo. O desenvolvimento de um conhecimento preciso da
natureza tinha sido profundamente limitado, não somente pelas idéias teocêntricas,
tal como a noção de que os seres humanos são essencialmente incapazes de

166
compreender o mundo, mas também por alguns obstáculos artificiais que impediam
isso.

Os escritos de Bacon desempenharam um papel central no programa escolar dos


reformadores ingleses (Whitney, 1986). Por consequência, a crítica a religião foi
ampliada para uma crítica ao Estado quando, por um lado, os interesses do grupo
dirigente neste estado haviam coincidido em alguns aspectos com do clero e, por
outro, a hierarquia social e a constituição havia sido sancionadas pela religião
(Whitney, 1986). Um Estado que tinha sido fundado na religião era obrigado a
considerar qualquer crítica ao clero e à religião como a si próprio e, portanto,
transformou seus instrumentos de poder para sua defesa (Whitney, 1986, 106). A
separação entre teologia e filosofia trouxe para Francis Bacon certas conseqüências
sobre a relação entre a Igreja da Inglaterra e o Estado Inglês. Embora tivesse
considerado a unidade da fé religiosa tão útil e desejável para o Estado, recusou toda
a compulsão em matéria de escrúpulo, por duas razões. Em primeiro lugar, ao longo
da História, as paixões e Partidos específicos foram facilmente inflamados pela
compulsão religiosa. E segundo, a coerção tinha reduzido a importância concedida ao
requinte científico e à precisão (Mannheim, 1985, 48). A busca por esse conhecimento
exato, junto com o surgimento da ciência, era a luta contra todos os fatores que
estavam impedindo seu desenvolvimento, da mesma forma, a concepção da ciência
era acompanhada por uma crítica aos métodos anteriores de adquirir o conhecimento.

O método empírico de Francis Bacon, acompanhado de Thomas Hobbes (1588 – 1679)


influenciou toda uma geração de filósofos no Reino Unido a partir do século XVII. O
que ocorre na prospecção científica é que, ao passo que René Descar
teslxxx (1596 – 1650), desenvolvia suas idéias racionalistas na Europa, John Locke (1632
– 1704) e David Hume (1711 – 1776) ampliavam o empirismo britânico. Em 1637,
Descartes publica o "Discurso sobre o método" (1637) e no ano de 1643, publica "Os
Princípios da Filosofia", onde resume seus princípios filosóficos que formariam
"ciência". John Locke por sua vez, publicou em 1690, An Essay Concerning Human Un
derstanding e Dois Tratados sobre o Governo e tem como tema o pensamento e
conhecimento humano.

Talvez o efeito mais profundo que Descartes teve sobre a epistemologia e a metafísica
modernas iniciais surgiu de sua idéia de examinar o conhecedor como um meio de
determinar o alcance e as possibilidades do conhecimento humano. Filósofos
subseqüentes que não eram seguidores de Descartes também adotaram a estratégia
de investigar o conhecedor. As obras epistemológicas de John Locke (1632 – 1704),
George Berkeley (1685 – 1753), David Hume (1711 – 1776), Thomas Reid (1710 – 1796)
e Immanuel Kant (1724 – 1804) perseguiram esta investigação. Esses autores chegaram
a conclusões diferentes do que tinha Descartes sobre a capacidade da mente humana,
em conhecer as coisas como elas são em si mesmas. David Hume (1711 – 1776) e
Immanuel Kant (1724 – 1804), especialmente o fizeram através do tipo de investigação

167
que o próprio Descartes tinha feito proeminente: a investigação das capacidades
cognitivas do conhecedor (Hatfield, 2016).

Desta forma, a ação de conhecer apresenta-se como a capacidade para interpretar e


responder àquilo que ocorre com o agente do conhecimento, com os outros, e com o
entorno. Para isso, fazia-se cada vez mais necessário desenvolver o pensamento crítico
para a análise das relações entre ontologia (o que é), epistemologia (como se justifica)
e ética (para que serve), em uma dada teoria (Gomes, 2007).

Com isso, o cenário intelectual do século XVII, intitulado Filosofia Clássica Moderna,
rejeitaram as autoridades do passado - especialmente Aristóteles e seus pares.
Descartes, que fundou a tradição racionalista, e Sir Francis Bacon (1561-1626),
considerado o criador do empirismo moderno procuravam novos métodos para
alcançar o conhecimento científico e uma concepção clara da realidade. Thomas
Hobbes (1588 – 1679) por sua vez desafiou a relação entre ciência e religião, e as
limitações naturais do poder político. Hobbes ficou fascinado pelo problema da
percepção sensorial e aplicou a física mecânica de Galileu (1564-1642) para uma
explicação do conhecimento humano. Ele acreditava que a origem de todo
pensamento é a sensação, que consiste em imagens mentais produzidas pela pressão
do movimento de objetos externos. Assim Hobbes antecipou pensamento posterior ao
explicar diferenças entre o objeto externo e a imagem interna. E acreditava que essas
imagens sensoriais são estendidas pelo poder da memória e da imaginação e que
compreensão e razão, que distinguem os homens de outros animais, são um produto
da nossa capacidade de usar a fala.

Thomas Hobbes (1588 – 1679) foi um matemático, teórico político e filósofo inglês,
nascido na Era Isabelinalxxxi e por volta de 1620, Hobbes trabalhou por algum tempo
como assistente de Francis Bacon e na França, conheceu os matemáticos René
Descartes (1596-1650) e Pierre Gassendilxxxii (1592-1655) (Rovaris, 2007). Em 1640 ele
escreveu uma série de argumentos das 'Meditações' de Descartes. Desta forma,
conhecia tanto Bacon, quanto Descartes e o ponto de partida da filosofia de Thomas
Hobbes (1588 – 1679) se dá com a física, pois acreditava que a filosofia é a ciência dos
corpos, ou seja, tudo possui existência material, e, os corpos se dividiriam em corpos
naturais (filosofia natural) e corpos artificiais (filosofia política) (Duncan, 2017).
Dickens (1989) informa que Hobbes, foi influenciado pela Reforma Anglicanalxxxiii, a
favor da explicação mecanicista do universo (que predominava na época), escreveu
Elements of Philosophylxxxiv ao lado de Leviathanlxxxv (1651) uma oposição à teleoló
gica defendida por Aristóteles e a escolástica e com a crença em Deus:

“O primeiro autor da linguagem foi o próprio Deus, que ensinou a Adão a


maneira de designar aquelas criaturas que colocava à sua vista, pois as
Escrituras nada mais dizem a este respeito. Mas isto foi suficiente para levá
lo a acrescentar mais nomes, à medida que a experiência e o convívio com as
criaturas lhe forneciam ocasião para isso, e para ligá-los gradualmente de

168
modo a fazer-se compreender. E assim com o passar do tempo pôde ser
encontrada toda aquela linguagem para a qual ele descobriu uma utilidade,
embora não fosse tão abundante como aquela de que necessita o orador ou o
filósofo”. (Leviatã, Primeira Parte, Do Homem, Capítulo IV, Da linguagem)

Dentre as principais características do empirismo de Thomas Hobbess, estão o materi


alismo - concepção de que tudo possui existência material, e desprezou, portanto, a
existência de seres imateriais e o mecanicismo - concepção em que os fenômenos são
explicados por causas mecânicas, ou seja, força e movimento. No período de sua obra
Leviathan (1651), em Elements of Philosophy, no livro De Corpore (1655), Hobbes estava
convencido de que os seres humanos, incluindo suas mentes, eram inteiramente
materiais. Mais tarde, ele chegou a pensar também, que Deus era uma espécie de ser
material (Gorham 2013, Springborg 2012). A partir, destas ideias inerciais e
antiteológicas, Gert (1967) explica que, Hobbes consiste principalmente nas tentativas
de definir ou analisar vários conceitos como: esperança, medo e deliberação. E de
acordo com Hobbes, a introspecção seria o método mais apropriado para chegar a
essas análises e acreditava que: "Todo aquele que olha para si mesmo e considera o
que faz, quando pensa, opina, raciocina, espera, teme, etc. e em consequência deste
fundamento; ele deste modo, lê e sabe, quais são os pensamentos e paixões de todos
os outros homens em ocasiões semelhantes". Gert (1967) acrescenta que Hobbes
mantinha uma visão pessimista da natureza do ser humano, mas não egoísta.

A publicação do De Corpore - Elements of philosophy concerning body, em 1655 resultou


em uma polêmica com os principais membros da Royal Society, que criticaram suas
contribuições para a matemática bem como as posições ateístas defendidas por
Hobbes. Na Inglaterra, o "anti-Hobbismo" atingiu um pico em 1666 quando seus livros
foram queimados em, Oxford. Por outro lado, filósofos empiristas posteriores, em
particular Locke e Hume, desenvolveram vários temas hobbesianos. Na verdade, bem
se poderia falar de Hobbes, e não de Locke, como o primeiro dos empiristas britânicos
(Duncan, 2017).

Hobbes, afirma que não existe homens no mundo que não sejam dotados de natureza
desejante, pois, esta é a força propulsora que empurra ao homem em direção a uma
determinada coisa, objeto, bem que pode lhe proporcionar prazer (Lopes, 2012). Nesse
sentido Hobbes (1983) escreve:

“Existem duas espécies de prazer, dos quais um parece afetar o órgão


corpóreo da sensação, e que eu chamo de sensual (sensual). O seu papel
principal é fazer com que através dele sejamos incitados a perpetuar nossa
espécie, e o secundário é aquele pelo qual o homem é incitado à carne, para a
preservação da sua pessoa individual. A outra espécie de deleite não é
particular a nenhuma parte do corpo, e recebe o nome de deleite da mente,
aquele deleite a que denominamos alegria. (p. 50).”

169
Hobbes infere que o homem tem direito a tudo que lhe agrada, no entanto, acima de
tudo, tem direito a todas as coisas que julgar necessário para preservação de sua vida.
“Todo homem tem por natureza direito a todas as coisas, ou seja, a fazer qualquer
coisa que lhe apraz e a quem lhe apraz, a possuir, a utilizar e usufruir todas as coisas
que quiser e puder” (Ibid., p. 92). Fundamentado na observação Hobbes percebe que
quando da fundação do Estado, o estado natural humano não é eliminado. Isso quer
dizer que o homem no estado de natureza em Hobbes se encontra, também presente,
mesmo após a fundação do Estado civil (Lopes, 2012).

Hobbes (1588 – 1679) viveu a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), embora os maiores
impactos ocorreram no território do Sacro Império Romano, foi uma boa ilustração de
um poder soberano fraco. A devastação da Europa Central neste momento
proporcionou um peso empírico para toda busca por um poder soberano forte. Desta
forma, para Hobbes tomar uma visão abstrata da natureza humana era tão difícil como
em 1947, para alguém que tinha visto notícias dos campos Nazistas (Clarke, 1995). O
método de Hobbes no Leviathan é definir os princípios da ação humana, progredir,
consequentemente, para um relato da motivação humana e então para uma teoria de
como a sociedade humana se organiza (Clarke, 1995). Uma característica essencial
desta cadeia de análise é que Hobbes tem uma concepção atomística da sociedade
humana, baseada em seu estudo da física, em que rejeita o organicismo, Hobbes
avança com a visão de que os seres humanos são impelidos pelos efeitos mecânicos
de nossos sentidos, que não são meramentes ações reflexas (Clarke, 1995). Hobbes
considera que os seres humanos usam sua vontade para guiar suas ações pelas
situações nas quais são prejudiciais e benéficas. Hobbes usa os termos appetite e
aversão para descrever os impulsos conflitantes e faz uma série de proposições sobre
o appetite humano, em que considera alguns appetites inatos, como o desejo de comida,
sendo a maioria derivado da experiência. E acredita que os appetites de uma certa
maneira mudam ao longo do tempo, contudo as pessoas cessam de viver se elas
cessam de ter appetites em que não existe necessariamente uma uniformidade do
appetite entre as pessoas. Isso significa que existe sim um improvável acordo entre
todos sobre qual nível de riquezas, poder e dieta é mais adequado para a satisfação
do appetite de cada indivíduo. Isto tem sérias conseqüências para Igualitarismo, se al
guém se lembra de que Hobbes é um atomista em relação a estrutura social, ou seja,
tal uniformidade se estabelece sob imposições (Clarke, 1995). O poder de uma pessoa
distingue entre poder natural (talentos) e poder instrumental (instrumentos para a
aquisição ou conservação de energia, e. dinheiro). Contudo, Hobbes apresenta a noção
de que o poder é medido em relação aos outros. Assim como os appetites podem ter
diferentes forças em diferentes pessoas, de modo que o desejo de poder pode ser
também desigual. Hobbes afirma então que o poder não é meramente a capacidade
de satisfazer appetites futuros, mas essa capacidade em excesso, em relação aos outros.
Esta afirmação sobre a necessidade do poder de uma pessoa competir com os poderes
dos outros é um elo vital no argumento de Hobbes: se poder competitivo é um

170
componente necessário da natureza humana, então dado que o acordo universal em
uma escala larga de metas desejáveis é impossível, o conflito deve ser inevitável se
não houver restrições aos appetites humanos. Existe, portanto, uma escolha necessária
a ser feita entre liberdade e segurança. Bertrand de Jouvenel (1903 – 1987), cientista
político e economista, pioneiro frânces da ecologia política, descreveu as duas
posições como "Securitário" e "Libertário" (Clarke, 1995).

Segundo Silva (2009) Hobbes passa da explicação da filosofia da natureza à explicação


da natureza humana. Hobbes, no Leviatãlxxxvi, uniu ciência e filosofia numa mesma
definição, já que: “ciência, isto é, [o] conhecimento das conseqüências; é também
chamada de filosofia” (Leviathan, 2003, p.74). O conhecimento dos efeitos e das
aparências apontado no ‘De Corpore percorre o mesmo caminho metodológico que a
afirmação contida nos ‘Elements of Law’, que diz que, a ciência é evidência da verdade.
A concepção de raciocínio ou razão como cálculo corrobora com o objetivo de Hobbes,
que é elevar a filosofia ao patamar que as ciências ditas “matemáticas” atingiram.
Quando o homem realiza o cálculo (raciocínio) dessas aparências de modo a adquirir
conhecimento de suas causas ou de seus efeitos, pode se chamar esse conhecimento
que foi alcançado, de Filosofia (De Corpore, 1966, p.12), porém nenhum estudo
científico a respeito do comportamento humano tinha sido realizado.

Desta forma, a evolução teórica das concepções de Hobbes, que avança, da explicação
da filosofia da natureza à explicação da natureza humana, a psicologia moderna tem
em 1690 por meio do filósofo britânico John Locke, o primeiro documento com
potencial temático para o assunto, psicologia: Um Ensaio sobre o Entendimento Humano
(1689). Locke acreditava que as idéias não são inatas, sendo a experiência, a única fonte
do conhecimento. Para ele, a mente humana, no início, é um “papel em branco” que
aos poucos é preenchido pelos dados da experiência e destaca que é na experiência
interior, na reflexão, que a mente percebe suas próprias operações, e que também é
fonte de idéias – como o pensamento, raciocínio, dúvida - embora estas não se refiram
às coisas exteriores e sim a essas atividades interiores e completa, quando faz distinção
entre: idéia simples e complexa (Abrão, 2004).

John Locke (1632 – 1704) foi um importante filósofo britânico, considerado um dos
líderes do empirismo e um dos ideólogos mais expressivos do liberalismolxxxvii e do
iluminismolxxxviii, formou-se em medicina em Oxford e foi médico e mentor do Lord
Ashleylxxxix de Shaftesbury, o líder dos Whigs, partido que representava os liberais no
Parlamento. Locke viveu em uma Inglaterra permeada por guerras civis, revoluções
políticas e execuções de reis, isto é, marcada pelo conflito entre a Coroa, defensora do
absolutismoxc, e o Parlamento, defensor do liberalismo (Vilela, 2014). Locke utilizou
se da divisão tripartite estóicaxci com base no conhecimento da: filosofia natural, ética
e lógica e com ênfase na importância dos sentidos para a aquisição do conhecimento
sensível do mundo natural. Locke refutou a noção de Descartes sobre as idéias inatas
e apresenta no Essay, no início do segundo livro: Of Ideas , o desenvolvimento do

171
empirismo (Vilela, 2014). De acordo com Locke, ao nascer, a mente do ser humano, é
uma tabula rasa e acreditava que não há idéias inatas e acrescentou que todas as idéias
se originavam na mente, por meio da experiência, através da sensação ou reflexão
sobre o entendimento/idéia obtido na sensação (Uzgalis, 2016). Como resultado deste
ponto de partida, o conhecimento seria rastreável às idéias dadas na experiência, com
isso, em vez de se chegar a certas conclusões a partir do raciocínio dedutivo, os
empiristas buscariam suas conclusões por meio do raciocínio indutivo. O livro, An Es
say Concerning Human Understanding (1689) foi um marco na análise abrangente e
detalhada dos mecanismos do pensamento humano. Uma análise que Locke
acreditava ter o potencial de lançar nova luz sobre o pensamento social e religioso, em
que o autor tentou utilizar seu modelo para explicar muitos dilemas filosóficos, tal
como a relação entre o mundo material, a subjetividade e o divino (Uzgalis, 2016).
Segundo Driver (2014), foi a natureza do modelo de cognição que Locke desenvolveu,
que levou John Stuart Mill xcii (1806 — 1873), utilitarista xciii inglês, a chamá-lo de
"fundador incontestável da filosofia analítica da mente". Muitos pensadores britânicos
posteriores, discordariam de Locke, mas poucos foram capazes de se abster de
construir seus próprios modelos cognitivos como justificativas para suas filosofias
sociais, estéticas ou religiosas diante do peso da influência deste Ensaio Lockeano:

"Meu propósito, portanto, é inquirir sobre: a origem, a certeza e extensão do


conhecimento humano, e também os fundamentos e graus de crença, opinião
e concordância. Não me envolverei com os aspectos biológicos da mente. Por
exemplo, não vou lutar com a questão sobre, quais alterações de nossos corpos
levam a ter sensação Através de nossos órgãos-do-sentido ou de nossas ideias,
ou nossos entendimentos. Desafiante e divertido como estas questões, podem
ser, passar por elas, porque estas não são relevantes para o meu projeto. Tudo
o que precisamos para os meus propósitos é considerar a capacidade humana
de pensar. Meu tempo vai ficar bem gasto se, por esse método simples e
concreto, eu puder explicar como nossos entendimentos chegam a ter essas
noções das coisas que nós temos e poder estabelecer maneiras de medir como
certamente podemos saber das coisas, e de avaliar os fundamentos que temos
para nossas opiniões. Embora nossas opiniões sejam diversas, diferentes e,
muitas vezes, completamente contraditórias, as expressamos com grande
segurança e confiança. Alguém observando opiniões humanas do exterior -
vendo como elas conflitam uma com as outras, e, contudo, quão
carinhosamente são abraçadas e como obstinadamente elas são mantidas -
pode-se ter razão para suspeitar de que ou não há qualquer coisa como a
verdade ou que a humanidade não está preparada para conhecê-la. Então,
valerá a pena descobrir onde a linha cai, entre opinião e conhecimento, e
aprender mais sobre a "opinião" do lado da linha. O que eu quero saber é isto:
Quando estamos preocupados com algo sobre o qual temos um certo
conhecimento, quais regras ou padrões nos orientam para o quão confiante
nos permitimos que nossas opiniões estejam certas? Aqui está o método que
eu seguirei ao tentar responder essa pergunta. Em primeiro lugar, investigarei

172
a origem dessas ideias ou noções - chame-as como quiser - que um homem
observa e está consciente de ter em sua mente. Como o entendimento vem
equipado disto? Em segundo lugar, vou tentar mostrar que conhecimento, o
entendimento tem pela forma destas ideias - o quanto disso existe, o quanto
isso é seguro, e o quanto auto evidente é. Vou também perguntar um pouco
da natureza e dos fundamentos da fé ou da opinião - isto é, da aceitação de
algo como verdadeiro quando não sabemos ao certo que é verdade. " (In, An
Essay Concerning Human Understanding, Book I: Innate Notions - John Locke)

Uzgalis (2016) esclarece que o terceiro livro de Essay trata de palavras, e foi uma
contribuição pioneira para a filosofia da linguagem. Locke é um nominalista
consistente, pois para ele a linguagem é uma convenção arbitrária e as palavras são
coisas que "não representam senão as idéias na mente do homem que as tem" e explica:

“Antes de seguir em frente, eu devo aqui, no início, pedir desculpa pela


freqüência com que você vai me encontrar a palavra 'Idéia' neste livro. Parece
ser a melhor palavra para apoiar tudo aquilo que seja alvo do entendimento
quando um homem pensa; Eu o usei para expressar o que quer que seja
'aparição', 'noção', 'espécie', ou o que quer que seja que a mente possa ser
empregada no pensar; E eu não pude evitar freqüentemente usá-lo. Ninguém,
eu presumo, negará que existe idéias na mente dos homens; Todo mundo está
consciente delas em si mesmo, e as palavras e ações dos homens
correspondem neles o que estão nos outros. Primeiro, então: Como eles
voltam para dentro da mente?” (In, An Essay Concerning Human Understanding,
Book I: Innate Notions, Chapter iv: Further points about innate principles, specula
tive and practical- John Locke)

John Locke acreditava que cada entendimento do homem pode ser confirmado por
outras mentes, na medida em que compartilham as mesmas convenções linguísticas,
embora um dos abusos singulares da linguagem resulte do fato de que aprendemos
nomes ou palavras antes de entender seu uso (Uzgalis, 2016).

“Cada passo que a mente leva em seu progresso em direção ao conhecimento


faz alguma descoberta, que não é apenas nova, mas também o melhor, pelo
menos pelo naquele momento.” (In, An Essay Concerning Human Understanding,
Epistle to the Reader - John Locke)

Locke sustentou que o homem é um animal e assim é individuado como outros seres
vivos. Assim, "homem" refere-se a um corpo vivo de uma forma particular. Locke
estava ciente de que a definição de homem não estava resolvida, e que existia uma
variedade de definições concorrentes. Ele defende sua própria definição, que
envolveu distinguir entre "homem" e "pessoa" e utilizou uma variedade de
experiências de pensamento e deduções inaceitáveis pelas definições concorrentes e
utilizou termos como: ‘self’, ‘personality ’e ‘consciousness’, para a explicação de
‘pessoa’ (Uzgalis, 2016):

173
“Person, as I take it, is the name for this self. Where-ever a man finds, what he
calls himself, there I think another may say is the same Person…This person
ality extends it self beyond present Existence to what is past, only by con
sciousness, whereby it becomes concerned and accountable, owns and im
putes to it self past Actions, just upon the same ground, and for the same rea
son, that it does the present…And therefore whatever past Actions it cannot
reconcile or appropriate to that present self by consciousness, it can no more
be concerned in, than if they had never been done.” (In, An Essay Concerning
Human Understanding, II.xxvii.26)

Os conceitos que surgiram na busca de apresentar o que ocorria antes de observar a


expressão humana, tem seu auge nas idéias do britânico John Locke (1632 – 1704) e
nas impressões de David Hume (1711 – 1776). David Hume (1711 – 1776), um escosês
que nasceu em Edimburgo, um dos países do Reino Unido, por volta de 1745, defendia
a opinião de que não existe idéia inata e que todas as idéias são cópias de impressões.
Em que as ideias simples derivam diretamente das impressões e as ideias complexas
são combinações de ideias simples, em 1739-1740, publica Um Tratado sobre a Natureza
Humana e em 1748 publica Enquiry Concerning Human Understanding, Ensaio Sobre o
Entendimento Humano (Nigel, 2001). Hume (1711 – 1776) publicou A Treatise of Hu
man Nature (1739-1740), e enfatizou a noção de Locke sobre a composição de idéias
simples em idéias complexas, em que desenvolveu e tornou mais explícita a noção de
associação.

David Hume (1711 – 1776) aboliu a mente como uma substância e disse que é uma
qualidade secundária tal como a matéria e informou que mente é observável apenas
através da percepção (Nigel, 2001). Mais importante ainda, é a distinção que Hume
fez entre dois tipos de conteúdos mentais: impressões e idéias. Impressões são os
elementos básicos da vida mental e acreditava que todas as nossas idéias ou
percepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas, e
explica que, ao analisarmos nossos pensamentos ou idéias, por mais compostos ou
sublimes que sejam, sempre verificamos que se reduzem a idéias tão simples como
eram as cópias de sensações precedentes (Hume, 1748). As impressões são parentes
de sensação e percepção. As idéias são as experiências mentais que temos na ausência
de qualquer elemento estimulante, o equivalente moderno, seira a imagem (Hume,
1748).

Hume não definiu estes dois conceitos em termos psicológicos ou em referência a


qualquer objeto externo estimulante, estes conteúdos mentais diferem não em termos
de sua fonte ou ponto de origem, mas em termos de sua força relativa e vivacidade.
As impressões são fortes e vivas, enquanto as idéias são cópias fracas de impressões.
Segundo Hume, os princípios que regem as associações de ideias dividem-se em três:
a semelhança, que faz com que ao observarmos um objeto, que nos represente outro;
a contiguidade gera a comparação entre objetos idênticos e por sua vez, a causa e efeito
leva-nos a relacionar os antecedentes e sucedentes de um determinado objeto. Seu

174
trabalho enquadra-se nas categorias do empirismo e do associativismo. Ele acreditava
que, assim como os astrônomos determinam as leis do universo através do qual os
planetas funcionam, também é possível determinar as leis dos universos mentais
(Mskingum, 1997).

David Hume (1711 a 1776) tornou-se um dos nomes mais importantes do século XVIII,
dividindo com o inglês John Locke (1632 a 1704) a defesa da experiência, como única
fonte possível à elaboração racional. Ambos, empiristas que foram, postulavam que
toda ideia é sempre posterior à experiência sensível. Ou seja, o conhecimento parte
das sensações e vai gradativamente gerando as ideias até o controle a razão.

Desta form, a os três pensadores britânicos, Thomas Hobbes, John Locke e David
Hume, ampliam o empirismo e apontam prósperos estudos a respeito do
conhecimento humano. Hobbes admitia o conhecimento que sucedia à sensação, já,
tanto Locke como Hume destacavam que o nosso conhecimento era permeado pelos
limites da experiência. Para Locke, tanto as ideias complexas como as abstratas
originam-se das ideias simples, procedentes da sensação. Hume, por sua vez, admitia
as impressões simples, isto é, aquelas que derivam imediatamente da experiência.
Conquanto Hume admita a existência de ideias complexas, desde que acompanhada
de três fatores: semelhança, a contiguidade no espaço e no tempo e causa-efeito, e
ralata que as ideias complexas se originam, de associações ou conexões entre ideias
simples que, por sua vez, procedem das impressões simples, oriundas da experiência.
Enquanto Locke só diz que a nossa racionalidade não é apta para conhecer as
substâncias e essências das coisas, Hume, afirma que não há substância ou essência,
mas apenas feixes de impressões que, por meio de um processo meramente racional e
impulsionados pelo hábito e pela crença, transformamos, em substância e essência
(Campos, 2011).

5 A psicologia enquanto disciplina


Araújo (2010) relata que, o avanço de uma linguagem psicológica só se estabelece com
Christian Wolffxciv (1679-1754), filosofo alemão, que situou um extenso vocabulário
psicológico e desenvolveu o primeiro programa sistemático de investigação
psicológica, com destaque entre as demais disciplinas da filosofia, em que enfatizou
temáticas como: relação corpo-alma; relações entre sensação e intelecção, a natureza
da causalidade, a existência de Deus e a natureza do homem e do mundo,
imortalidade e a liberdade da alma (Araújo, 2010).

As duas obras fundamentais de Wolff são: Pensamentos Racionais Acerca de Deus, do


Mundo, da Alma Humana, Assim Como de Todas as Coisas em Geral – mais conhecida
como: Metafísica Alemã (1720/1983) – e o Discurso Preliminar Sobre a Filosofia em Geral
(1728/2006) (Araújo, 2010). O pensamento psicológico de Wolff, desenvolveu um dos
principais conteúdos iniciais da psicologia, tais como: a noção de faculdades da alma

175
e, em termos contemporâneos, a mente; bem como, a possibilidade de uma
psicometria e a introspecção como método de investigação psicológica (Araújo, 2010).
Wolff se destaca com relevância, no século XVIII, o pensador que reuniu e avaliou sob
um critério único o que considerava serem as mais significativas teorias explicativas
para a relação corpo-alma (Araújo, 2010). Desta forma Araújo (2010) destaca:

“A noção wolffiana de psicologia deriva naturalmente de sua definição de


filosofia: “A filosofia é a ciência dos possíveis na medida em que podem ser”
(Wolff, 1728/2006, p. 19). Assim, “na medida em que a psicologia é aquela
parte da filosofia que trata da alma, ela é a ciência das coisas que são possíveis
através da alma humana” (p. 39). Está demarcado, nesta definição geral, o
campo de investigação da disciplina psicológica (Araújo, 2010).”

E nos escritos de Araújo (2010), este cita Wolff (1728/2006):

“Esses princípios tão importantes [da psicologia] devem ser derivados da


experiência (§ 34) e, assim como na física experimental (§ 110), devem ser
arranjados em seqüência, de maneira que a razão de princípios subseqüentes
possa ser descoberta em princípios anteriores. Por essa razão, nós criamos
uma parte da filosofia, chamada de psicologia empírica, na qual a experiência
estabelece os princípios a partir dos quais a razão pode ser dada para as coisas
que podem ocorrer através da alma humana. Assim, eu defino a psicologia
empírica como a ciência que estabelece através da experiência os princípios a
partir dos quais a razão é dada para aquelas coisas que ocorrem na alma
humana (p. 64).”

Com uma visão complementar, em termos metodológicos, Wolf (1728/2006; in


Araújo, 2010), destaca:

“Para distinguir a psicologia empírica daquela parte da filosofia que nós


definimos acima (§ 58) sob o nome de psicologia, vamos agora designar a
última como psicologia racional. (...) Na psicologia racional, nós derivamos a
priori de um conceito único de alma humana todas as coisas que são
observadas a posteriori como pertencentes à alma e todas as coisas que são
deduzidas dessas observações (Wolff, 1728/2006, p. 65).”

A crítica de Kant à noção de alma como objeto de conhecimento, tem como objetivo
exatamente a destruição da psicologia racional de Wolff (Kant, 1781/1995), essa crítica
de Kant teve uma influência decisiva na constituição de vários projetos de uma
psicologia científica ao longo do século XIX, que tinham como idéia norteadora a
rejeição da psicologia racional e o aperfeiçoamento da psicologia empírica (e.g.,
Wundt, 1862). O projeto wundtiano é, de fato, um exemplo privilegiado dos traços
deixados na psicologia por Wolff e Kant (Araujo, 2010). Nesta perspectiva logo após
Wolff, Tetensxcv (1736–1807) também adota o método introspectivo como guia para a
investigação psicológica (Tetens, 1777), com isso, tem-se nas duras críticas de Kant

176
(1786/1996) e Comte (1835/1968), o esforço dos teóricos da chamada ‘psicologia
científica’, a tentativa de salvar a sua aplicabilidade à pesquisa psicológica, corrigindo
a e reforçando sua confiabilidade (e.g., Wundt, 1888; ver também Titchener, 1912).

Anterior a revoada Kantiana contra a psicologia, Étienne Bonnot de Condillac, filósofo


francês e economista, funda o sensismo, que considerava que o valor das coisas era
determinado pela utilidade. Em 1754, publica: Tratado sobre as sensações, e sustenta
que as sensações são as únicas fontes de conhecimento. Propagou ativamente e
desenvolveu a filosofia experimental de Locke – idéias não são inatas - na França pré
revolucionária, que posteriormente foi levada para a Alemanha e como tal, lutou de
maneira consequente contra toda metafisica e todos os sistemas idealistas do século
XVIII. Demonstrou que os franceses repeliam a metafisica e publicou uma refutação
dos sistemas de Descartes, Spinoza, Leibnitz e Malebranche. Em sua obra: Ensaio
sobre a origem dos conhecimentos humanos, 1746, desenvolveu o pensamento de Locke.
Na obra demonstrou que não só a alma, mas também os sentidos e não apenas a arte
de fazer ideias, mas também a arte das sensações materiais constituem produtos da
experiencia e do habito. E assim publicou: Traité des systèmes, 1749 e Traité des
sensations, 1754. E acreditava que todo o progresso do homem depende, pois, da
educação e das circunstancias ambientais.

Condillac era amigo de Rousseau (1712-1778) considerado um dos principais filósofos


do iluminismo, sendo sua obra, inspiração para a Revolução Francesa (1789). Em meio
a proposta da época de resgate do homem por si mesmo e de seu autoconhecimento,
ou seja, por meio da introspecção (Medeiros, 2004), Rousseau acreditava que a razão
fazia o homem sair de si mesmo, e que os sentimentos faziam com que ele conhecesse
a sua interioridade, a sua essência e a sua consciência natural. E nessa interioridade é
que a natureza se revelava, pois, ela está dentro de nós como um essencial senso vital.
Rousseau destacava que o homem é naturalmente bom, para evitarmos que ele se
torne mau e possibilitarmos o desenvolvimento das suas potencialidades naturais
temos que usar a educação. A educação para Rousseau é um processo gradativo e tem
que se adequar às necessidades do desenvolvimento humano de cada indivíduo
(Marconato, 2016). Para ele, as instituições educativas corrompiam o homem e
tiravam-lhe a liberdade e que para a criação de um novo homem e de uma nova
sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a natureza, em busca dos
princípios mais profundos da nossa humanidade e que a única instituição natural é a
Família. A obra de Rousseau na Escola do Direito Natural se destaca considerando a
natureza humana como a grande fonte do Direito (Medeiros, 2004).

Nas escolas francesas, somente a filosofia ecléticaxcvi (Da Silva, 2010) é que veio a
suplantar Condillac (Paim, 1999). O sensualismo de Condillac é absolutamente
destituído de base materialista, na busca da substância psíquica, que está na base da
sensação simples que garante a unidade da consciência. Esta idéia, é um modelo para

177
toda a psicologia associacionista do século XIX, quando joga com os “átomos psíqui
cos”. Dentre os filósofos, temos os associacionistas: Thomas Hobbes (1588–1679), Da
vid Hartley (1705–1757), E´tienne Bonnot de Condillac (1715–1780), James Mill (1773–
1836), Thomas Brown (1778–1820), John Stuart Mill (1806–1873), Alexander Bain
(1818–1903), Herbert Spencer (1820–1903), John Locke (1632–1704), George Berkeley
(1685–1753), e David Hume (1711–1776). Estes baseavam-se no método introspectivo
e na investigação fenomenológica da sequência das idéias que revela os princípios
psicológicos que podem estar na base da idéia mais recente. A maioria desses filósofos
também trabalharam com a natureza da maquinaria fisiológica que fazia possíveis
associações. Todos invocavam princípios associativos, não necessariamente sob esta
nomeação, mas pela maneira com o qual o conteúdo do complexo mental poderia ser
produzido a partir de outros mais simples (Tonneau, 2012).

Paim (1991) destaca que Maine de Biran (1766-1824) filósofo frânces afirmou, que, as
sensações provenientes do interior de nosso organismo não apresentam nenhum
caráter privilegiado em relação às sensações externas e acreditava que a exploração
do fenômeno da consciência, requer um método próprio (Umbelino, 2010).

Já Immanuel Kant (1724-1804), filósofo prussiano, que ia contra os idealistas dialéticos


alecomunicantes representados por Hegel xcvii (1770-1831) negou a validade de
qualquer Psicologia racional porque, segundo ele, os processos mentais racionais,
devem ser ativados pelo conteúdo mental derivado da experiência e se refere à
filosofia de Locke como "fisiológica" (Weiner & Freedheim, 2003). Kant, se livrou da
divisão dualista de Descartes (filósofo frânces, 1596-1650), avançou, mas apresentou
uma dualística semelhante quando descreve que o encontro do homem com a
realidade ocorre por meio da articulação da intuição e dos conceitos. Sendo que intuições
e conceitos são um tipo de "representação" - Vorstellung - uma palavra genérica
utilizada por Kant para itens mentais. E que cada uma dessa "representação" está
associada a um poder ou "faculdade" mental. E argumentou que, o estudo da mente
deve se restringir a questões apropriadas a uma psicologia empírica (Leary, 1978).

Porém, Kant afirmou que uma psicologia empírica de conteúdo mental não poderia
tornar-se uma ciência natural adequada, pois os eventos mentais não podiam ser
quantificados, medidos ou pesados. E assim, seus dados não são capazes de serem
descritos matematicamente nem sujeitos a manipulação experimental (Rosen, 1998).

Finalmente, Kant afirmou, que o método de observar a mente - introspecção - distorce


os eventos observados, observando-os. E sugeriu que a psicologia aprimoraria seu
status como uma ciência empírica, ao adotar os métodos da antropologia para
observar as atividades dos seres humanos em ambientes realistas e por meio das
observações objetivas de eventos públicos. E evitaria desta forma, as limitações de
uma psicologia empírica baseada apenas na observação interna de eventos privados
(Leary, 1978). Kant, ao sugerir que uma ciência da psicologia não era possível,

178
estimulou estensivos contra-argumentos na busca de fazer da psicologia, uma
disciplina científica comparada às ciências naturais, desta forma restou a outros
estabelecer métodos e condições científicas, de uma experiência em psicologia (Weiner
& Freedheim, 2003).

Jakob Friederich Fries (1773-1843), filósofo alemão pós-kantiano da Universidade de


Leipzig, alertou que o status de introspecção, não é mais problemático do que observar
fenômenos externos e acreditava que: “Se a introspecção não era confiável, também
não era mais incerta do que qualquer outro tipo de observação” (Weiner & Freedheim,
2003). Ao mesmo tempo, Johann Friederich Herbart xcviii (1776-1841), filósofo e
pedagogista alemão, da Universidade de Jena, contra o Idealismo Alemãoxcix, foi
sucessor de Johann Heinrich Pestalozzic educador suíço, ofereceu um sistema de
psicologia que que poderia ser tanto empírico quanto matemático (Weiner &
Freedheim, 2003). Johann Friederich Herbart explicou, que, se a psicologia precisava
ser matemática para ser uma verdadeira ciência, os números poderiam ser atribuídos
a eventos mentais de diferentes intensidades e uma descrição matemática da relação
entre eles poderia ser formulado. Herbart relatou que, poderia atribuir números e
descrever experiências de diferentes intensidades, mas ele não conseguiu medir
realmente as intensidades subjetivas de acordo com um padrão objetivo (Hilgenheger,
2010).

A metafísica de Herbart compreende, especialmente, uma psicologia minuciosamente


elaborada, que se tornou um marco na história desta disciplina. Herbart foi o primeiro
a utilizar com uma lógica implacável os métodos do cálculo infinitesimal moderno
para resolver problemas da pesquisa filosófica. Segundo ele, a psicologia tem suas
raízes na experiência, na metafísica e nas matemáticas. Sua ambição foi renovar, na
psicologia, a proeza que Isaac Newton havia realizado na física. Embora a
investigação psicológica empírica do século XIX não o tenha acompanhado, sua
psicologia exerceu uma influência inegável na psicologia empírica de Wilhelm
Wundt. No início de 1809, foi chamado à Universidade de Königsberg para tornar- -
se o segundo sucessor de Immanuel Kant. Königsberg queria um filósofo de alto nível
científico que fosse, também, um especialista da pedagogia. Foi nesse espírito que o
rei da Prússia, Friedrich Wilhelm III, aprovou a nomeação de Herbart para Königsberg
(Hilgenheger, 2010).
Johann Herbartci (1776 - 1841) desenvolveu um modelo pedagógico que ressaltava
processos psicológicos, em que enfatizou o processo mental ativo de apercepção,
pedagogia e "escolas de prática" que influenciaram as escolas normais americanas
(Dunkel, 1969). Uma escola normal oferecia dois a três anos de preparação
fundamental do professor, sem nenhuma educação de artes liberais (Dunkel, 1969).

Se na Alemanha tínhamos Herbart, sucessor de Kant na Universidade de Königsberg


e prospector do terreno para Wundt, na Grã-Bretanha, Alexander Bain (1818-1903),

179
um filósofo escocês, escreveu: The Senses and the Intelect (1855), The Emotions and the
Will (1859) e ainda Manual of Rhetoric (1870), apresentou uma ciência mental que
integrou o associativismo filosófico e a neurologia. Anterior a Alexander Bain, o
filósofo escocês e matemático, Dugald Stewart (1753 – 1828), da Universidade de
Edinburgh, que em 1771, passou um ano em Glasgow, ouvindo os ensinamentos de
Thomas Reis, no ano de 1822, apresenta uma importante obra Philosophy of the Human
Mind. Recebeu influencias de James Mill (1773 – 1836), historiador e filósofo escocês,
em que, em Londres foi editor do Literary Journal (1803-1806), um periódico que tinha
por objetivo informar sobre os principais campos de conhecimento humano e também
do St James's Chronicle, uma revista do mesmo grupo.

Locke, Hobbes, Berkeley e Hume são comumente referenciados como empiristas


britânicos e principalmente interessados com o status epistemológico da doutrina
associacionista britânica (Crampton, 1978). Porém é somente com a publicação de
James Mill, Analysis of the Human Mind (1829) que a escola Associacionista britânica se
torna mais psicológica em caráter, especialmente na Universidade de Cambridge
(Crampton, 1978). Crampton (1978) detalha que Cambridge uma universidade
pública na Inglaterra, fundada em 1209, destacou-se em suas primeiras publicações
relevantes para a ciência, Principia Mathematica de Isaac Newton, em 1687 e em 1831,
Charles Darwin e o professor John Stevens Henslow, trabalharam na jornada
naturalística do Beagle, na América do Sul. A escola associacionista britânica
culminou-se no trabalho de Alexander Bain (1818 - 1903), ele foi um dos primeiros
pensadores, certamente na Grã-Bretanha e provavelmente no mundo, a dedicar a
maioria de seus esforços acadêmicos para o que agora entendemos como psicologia
(Crampton, 1978).. Seu primeiro livro The Senses and the Intelect (1855), e o segundo The
Emotions and the Will (1859), se destacaram em função do extenso conhecimento em
fisiologia e anatomia de Alexander Bain, que aproveitou os diversos
desenvolvimentos em fisiologia, filosofia mental, neurologia e doença mental e tentou
tecê-los numa disciplina coerente. Em The Senses and the Intelect (1855) temos uma
minuciosa consideração da estrutura e funções do cérebro, medula espinhal, sistema
motor e os órgãos do sistema interno e externo e sentidos. Em que destacou nesses
órgãos as funções puramente anatômica e puramente psicológica e as colocou lado a
lado. Tal feito tinha sido tentado anos antes pelo alemão Johann Friederich Herbart
(1776 - 1841), que se distraiu com a pedagogia, mas Bain teve a vantagem de avanços
consideráveis por seu extenso conhecimento em fisiologia e apresentou, "provas” de
que o cérebro é o principal órgão da mente (Crampton, 1978).. As principais fontes
fisiológicas de Bain, foram: Jones Quain (1796 – 1865) anatomista e fisiologista da
Universidade de Londres, autor de Elements of Descriptive and Practical Anatomy - for
the use of Students (1828) e Elements of Anatomy (1828); Willian Benjamin Carpenter (1813
– 1855), físico inglês, zoologista e fisiologista, publicou: Principles of Human Physiology
(1842) e Principles of Mental Physiology (1874) em que escreveu a respeito de

180
sentimentos em relação as pessoas, estado mental e graus de consciência (Crampton,
1978).

Alexander Bain (1818 - 1903) acreditava que a psicologia enquanto ciência, deveria
recorrer à observação e à experimentação como métodos de investigação e como as
outras ciências deveria procurar formular leis objetivas. Bain, privilegiou a observação
naturalista de pessoas e animais nos seus contextos de vida, estudou o sistema
nervoso, a memória e os hábitos. Foi Alexander Bain que, pela primeira vez, utilizou
a expressão: "aprendizagem por tentativa e erro". Em 1876 funda a primeira revista
dedicada a disciplina psicologia: Mind, que ainda hoje se publica (Porto, 2003).

No entanto, na América, as universidades continuaram a antiga tradição de filosofia


mental baseada na filosofia do senso comum escocês de Thomas Reid (1710 – 1796),
fundador da Escola Escocesa do Senso Comum, Criou o "Wise Club", uma associação
literária-filosófica e escreveu: An Inquiry into the Human Mind on the Principles of Common
Sense (1764) Essays on the Intelectuals Powers of Man (1788) Essays on the Active Powers of
Man (1788) (Stewart, 1792/1813) (Pich, 2012). Pich (2012) informa que a contar pelo
testemunho de Max Fisch, Reid, junto com Berkeley, Kant e Bain, era discutido com
frequência no grupo de Charles S. Peirce, William James e Nicholas St. John Green,
que fundaram o “Metaphysical Club” – onde o próprio pragmatismo nasceu (Fisch,
1954). Em 1752, foi nomeado professor regente no King's College, da Universidade de
Aberdeen e nesse período, lecionou disciplinas como matemática, física, psicologia,
filosofia da mente, história natural e filosofia moral. Neste período a sociedade
contava com um grupo seleto de filósofos e eruditos, motivados por uma leitura
rigorosa e crítica dos filósofos Berkeley, Locke, Butler e Hume (Pich, 2012).

Na América era comum cursos, como palestras, de psicologia muitas vezes serem
ministrados aos decanos pelo presidente da faculdade, que era tipicamente um
ministro (Davis, 1936). Um exemplo local foi na Illinois Wesleyan University, em que seu
segundo presidente, Oliver Munsell (1857-1873), ensinou o curso e publicou um texto
de psicologia em 1871 (Illinois State University).

Eduard Friederich Beneke (1798-1854), filósofo alemão, argumentou que era


prematuro aplicar a matemática às relações entre os eventos mentais e que a psicologia
poderia se tornar uma disciplina experimental por meio de testes: "Resultados
empíricos e hipóteses teóricas sob controle condições e com a variação sistemática das
variáveis " (Leary, 1978, página 119). No inverno de 1820, Beneke começou como
professor ‘Privatdozentcii , abreviado PD, e em seu discurso inaugural na Universidade
de Berlim, com o tema: De verts philosophies initiis, ele debateu de maneira notável o
"movimento pioneiro", que ele contemplava, a psicologia (Brandt, 1895).
Anteriormente ao seu discurso inaugural Beneke, já havia expressado seu novo ponto
de vista filosófico em dois pequenos trabalhos: Outlines of the Theory of Knowledge, Jena,
1820 e Empirical Psychology as the Basis of all Knowlege, Berlim, 1820. Porém na sua

181
obra Physik der Sitten, 1822, criticou a ética idealista a e teoria da liberdade, o que lhe
valeu a proibição de dar os seus cursos (Brandt, 1895).

O nascimento da psicologia científica foi a união da antiga psicologia filosófica com o


novo espírito experimental das ciências naturais, em particular da fisiologia
experimental e das universidades alemãs possibilitarem as condições necessárias para
este encontro (Hearnshaw, 1987; traduzido por Passuello e Amazarray, 2007).
Hearnshaw (1987; traduzido por Passuello e Amazarray, 2007) explica que: “como
resultado da fragmentação da nação alemã em numerosos reinos, ducados, bispados
e cidades autônomas, bem como da falta de um governo central efetivo antes de 1870,
havia muito mais universidades na Alemanha do que em qualquer outro país
europeu”. Desta forma, na ausência de um Estado ou de uma Igreja unificados, as
universidades tornaram-se um condutor primordial da cultura nacional (Hearnshaw,
1987; traduzido por Passuello e Amazarray, 2007), assim:

“Com o desenvolvimento da faculdade de filosofia no século XVIII (1701 -


1800), a fim de complementar as tradicionais faculdades de teologia, direito e
medicina, surgiu a idéia da ampla e enciclopédica “Wissenschaft”, abrangendo
todo o conhecimento, humanístico e científico. A Universidade de Göttingen,
fundada em 1734, foi a incorporação da “Wissenschaft, assim como do
importante ideal de “Lehrfreiheit” - a liberdade dos professores universitários
de dirigirem suas aulas e suas pesquisas sem interferência ou
constrangimento, e a liberdade do aluno de estudar o que fosse de seu
interesse e escolher os professores de sua preferência, em qualquer
universidade, onde receberia a melhor instrução. Esse elemento de liberdade
foi um fator importantíssimo para o surgimento de novas disciplinas como a
psicologia. Foi, entretanto, a fundação da Universidade de Berlin, em 1810,
por Wilhelm von Humboldt que realmente consolidou o modelo da
universidade moderna. Isso coincidiu com a reforma da educação primária e
secundária por Baron von Stein, com a abolição da servidão e do sistema de
castas, bem como com a extensiva modernização do Estado Prussiano, após
sua humilhante derrota para Napoleão na batalha de Jena em 1806.”
(Hearnshaw, 1987; traduzido por Passuello e Amazarray, 2007).

Em 1805, Franz Joseph Gall e Johann Kaspar Spurzheim, motivados pela crescente
instisfação do governo austríaco com a doutrina de Gall, deixam a Austria. Gall
estudou medicina em Viena, e se tornou um renomado neuroanatomista e fisiologista
alemão. Por volta de 1800 Franz Joseph Gall desenvolveu a frenologia - uma teoria
que reivindica ser capaz de determinar o caráter, características da personalidade, e
grau de criminalidade pela forma da cabeça, com base na forma externa do crânio.
Johann Gaspar Spurzheim foi um médico alemão e o mais importante discípulo de
Franz Joseph Gall, e foi o responsável por disseminar a frenologiaciii no Reino Unido
e nos Estados Unidos (Canguilhem, 2006). Em 1809, Gall e Spurzheim publicam um
livro que faz a descrição anatômica do cérebro: Recherches sur le Systèm Nerveux e em

182
1810, Gall publica o primeiro volume de Anatomie et Physionomie du Systèm Nerveux. O
cérebro, passou a ser entendido como um "sistema de sistemas", e é apresentado como
o único suporte físico do quadro das faculdades, em oposição à ideologia sensualistaciv
(Canguilhem, 2006).

Por volta de 1880, textos da psicologia alemã de Wundt tinha a pretensão de superar
Kant (Lopes, 2011), e nos Estados Unidos estavam sendo publicados textos por autores
norte-americanos, tais como: o funcionalista William James (1890), médico americano
e John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano. John Dewey entre os anos de
1882 e 1884, realizou o seu doutorado em Filosofia, na Universidade Johns Hopkins, e
defendeu uma tese sobre a psicologia do filósofo alemão Immanuel Kant (Piletti,
2014). Porém, desenvolveu um interesse intelectual que combinava ainda o estudo da
biologia e da teoria da evolução de Darwin com a filosofia de Hegel, tais estudos
contribuíram para que elaborasse o seu primeiro livro em 1887, intitulado: Psicologia.
Os laboratórios e departamentos de psicologia estavam se estabelecendo também na
América e um notável, foi criado na recém-criada Universidade de Chicago, que
contratou John Dewey em 1894 para dirigir o Departamento de Filosofia, Psicologia e
Pedagogia (Barone, 1996). Assim, de 1890 a 1940, a psicologia se estabeleceu em todas
as grandes Universidades americanas - os centros de pesquisa psicológica. A primeira
clínica psicológica iniciou-se na Universidade da Pensilvânia por Lightner Witmer,
comumente conhecido como o pai do método clínico em psicologia. A clínica atendia
principalmente crianças em idade escolar e Margaret Maguire, professora de uma
escola pública, apresentou uma criança com problemas de soletramento para o
primeiro caso da clínica em 1896. A maioria dos casos, de acordo com Witmer (1907),
eram crianças 'mentalmente ou moralmente retardado', ou comportamentalmente
desordenado.

Ainda neste movimento mundial, especificamente para a psicologia, o Wilhelm


Wundt, filósofo e médico alemão, é considerado o fundador da psicologia científica,
no ano de 1879, quando inaugurou o Laboratório de Psicologia Experimental na
Universidade de Leipzigcv, na Alemanha, a importância desse laboratório não reside
exatamente no fato de ele ter sido o primeiro em seu gênero - pois realmente não o foi,
visto que o próprio Wundt já tinha fundado em Heidelberg um laboratório para
realizar seus experimentos psicológicos (Wundt, 1920), mas sim no fato de ele ter se
transformado no primeiro centro internacional de formação de psicólogos (Araújo,
2009). Com isso, o perfil do psicólogo experimental constituiu uma das primeiras
formas de identidade na formação dos novos psicólogos. A psicologia surgiu como
uma disciplina específica na Alemanha na segunda metade do século XIX, e atribui
se a Wundt o título de fundador da psicologia como ciência experimental.

6. O desenvolvimento da psicologia enquanto ciência

183
O desenvolvimento da psicologia se dá especialmente pela institucionalização do que
seria a profissão psicólogo, tal evolução ocorre com o marco da fundação da APA –
American Psychological Association, fundada em 1892 com 31 membros em que
expandiu rapidamente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Atualmente em
2017, a APA tem mais de 115.700 membros e 54 divisões em subcampos de psicologia
(APA, 2017).

A representação britânica e alemã foi importante para o fortalecimento da psicologia


enquanto ciência e posteriormente enquanto profissão. Edward Bradford Titchener
(1867-1927), psicólogo britânico, estudou em Leipzig, Alemanha e foi o principal
intérprete do pensamento de Wundt nos Estados Unidos da América, e mantinha
como principal meta da psicologia o estudo da experiência imediata por meio da
análise de seus elementos mais simples, da descoberta de suas combinações e da
conexão com suas condições fisiológicas. Em que, a experiência imediata de um
indivíduo em um dado momento compreende o que ele entende por consciência
(Rosas, 2010). Titchener fundou o estruturalismo, e embora tenha sido colaborador
de Wundt em Leipzig, ele construiu sua própria concepção de psicologia, que em
muitos aspectos se distanciou do pensamento wundtiano, pois o método de intros
pecção sistemática de Oswald Külpe tinha uma proposta muito forte em Edward
Bradford Titchener da Universidade de Cornell. A divergência fundamental está na
própria concepção de objeto e método da psicologia. Para Titchener, a psicologia é
fundamentalmente o estudo da consciência por meio da introspecção, como uma
forma de observação, porém para o interior de si. E tudo o que não puder ser
relacionado com os elementos estruturais da consciência não deve ser considerado
assunto da psicologia (Araújo, 2005). Titchener caracterizou os processos mentais
como tendo: qualidade, intensidade, duração, clareza e extensão e que todos os
elementos devem existir na consciência. Por isso, o hábito, a ação, o instinto e qualquer
mecanismo freudiano receberam de Titchener tratamento marginal, ou nenhum. Suas
principais publicações foram: Elementary Psychology, 4 volumes (1901-1905); A Text
Book of Psychology (1910) e Systematic Psychology: Prolegomena (1929). Titchener
interessou-se pela Psicologia Wundtiana enquanto estudava filosofia e fisiologia na
Universidade de Oxford, traduziu a terceira edição do livro de Wundt Gründzüge der
Physiologischen Psychologiee para o inglês, 'Principais Características da Psicologia
Fisiológica' e mesmo com esta empreitada, não conseguiu encontrar um parceiro na
Inglaterra com quem estudar a nova ciência, desta forma retornou para Leipzig para
completar seu doutorado com Wundt em 1892, pois as universidades inglesas não
eram receptivas à nova psicologia. Assim, Titchener aceitou uma cátedra na
Universidade de Cornell, onde permaneceu até sua morte em 1927. Titchener
apresentou-se como o representante de Wundt na América do Norte, mas (Leahey,
1981; Danziger, 1990) a visão de Titchener a respeito da mente foi influenciada pela
filosofia inglesa de JohnLocke que estudou em Oxford. Os filósofos britânicos
consideravam a mente como receptora da estimulação, o conteúdo mental era o que

184
entrava na mente por meio dos sentidos. Ele depreciava a "psicologia funcional" por
considerar uma abordagem que se preocupava com a "mente em uso" da descartada
psicologia filosófica mais antiga.

John Dewey (1859-1952), presidente do Departamento de Filosofia da Universidade


de Chicago, no qual a psicologia e pedagogia eram submissa, fortaleceu o novo
método de laboratório experimental, por entender que a psicologia estaria livre da
improdutiva filosofia mental advinda da antiga teologia e filosofia. E desta forma
abriu um caminho para uma psicologia útil que ajudaria a resolver problemas de
asilos, salas de aula e outros assuntos práticos (Dewey, 1884), assim, Dewey facilitou
o estabelecimento de um laboratório na Universidade de Michigan antes de se mudar
para Chicago.

Neste contexto James Rowland Angell – fundador do funcionalismo - (1869-1949)


estudou psicologia na Universidade de Michigan com John Dewey (1859 – 1952), na
Universidade de Harvard com William James (1842–1910) e Josiah Royce (1855 –
1916), e nas Universidades de Berlim e Halle. Após um ano como um instrutor na
universidade de Minnesota em Minneapolis, James Rowland Angell, foi solicitado por
John Dewey para ser professor assistente da psicologia na universidade nova de
Chicago (1894). Em 1890 leu a publicação de William James Principles of Psychology
(1890), e depois de receber seu mestrado em Harvard em 1892, sob a orientação de
Willian James, buscou seu doutorado na Alemanha, porém, não trabalhou em Leipzig
com Wundt. Leipzig tinha sido a meca para muitos outros estudantes americanos,
como: G. Stanley Hall, James McKeen Cattell, e o primo de Angell, Frank Angell.
Contudo, foi a Berlim estudar com Ebbinghaus e Paulsen (Capshew,1992).

Em 1881 Freud, médico, nascido em Freiberg, Mähren, na época pertencente


ao Império Austríaco, qualifica-se como o doutor em medicina e começa a trabalhar
na clínica psiquiátrica de Theodor Meynert, psiquiatra austríaco, em 1883. Em 1885
transforma-se em um ‘Docent Confidencial ’na universidade de Viena, onde ensina
neuropatologia (Breuer, J. & Freud, 1980). Recebe uma bolsa itinerante que lhe permite
estudar os efeitos de doenças nervosas como a histeria, sob a orientação de Jean
Martin Charcot na Salpetriere, em Paris. Em 1886 Sigmund Freud, retorna de sua
estada com Charcot e abre uma clínica particular especializada em doenças nervosas.
Ele também é diretor da seção neurológica do Instituto Max Kassowitz para Doenças
Infantis e continua o trabalho sobre anatomia cerebral (Breuer, J. & Freud, 1980).

Segundo Freud (1895) a psicanálise é um método terapêutico utilizado para tratar os


distúrbios psíquicos a partir da investigação do inconsciente. Para desenvolvê-la
fundamenta-se na teoria de Breuer (1895), no pensamento filosófico de Platão (428/27
- 347 a.C.) e de Arthur Schopenhauer (1788 -1860) e na sua própria experiência
profissional (Breuer, J. & Freud, 1980). A teoria possui um corpo doutrinário de
conhecimentos, como: a estrutura tripartite da mente – id-ego-superego, as suas

185
funções, os tipos de personalidade, a teoria do inconsciente, o método terapêutico da
catarse e toda a filosofia pessimista da natureza humana. Sendo que, os dilemas são
processos subconscientes que permitem a mente encontrar uma solução para os
conflitos ao nível da consciência (Breuer, J. & Freud, 1980).

Breuer (1842-1925), médico e fisiologista austríaco foi considerado um dos melhores


médicos e cientistas de Viena, e ele era médico de muito dos professores da faculdade
de medicina, assim como de Sigmund Freud e do primeiro ministro da Hungria. Em
1880, Breuer remonta o seu tratamento à Bertha Pappenheim, conhecida pelo
pseudônimo Anna O., com o método da catarse, ou terapia da conversa. Ele foi eleito
para a Viennese Academy of Science - Academia Viena de Ciência em 1894 pela
nominação dos três dos mais distintos membros: o médico, físico e filosofo austríaco
Ernst Mach (1838 – 1916) e os fisiologista alemão Ewald Hering (1834 – 1918) e o
fisiologista austríaco Sigmund Exner (1846–1926). Em 1894 Breuer foi apontado como
Membro Correspondente da Academia Imperial de Ciências. Em 1893 Breuer e Freud
somaram suas explorações num texto "Sobre o mecanismo Psíquico dos Fenômenos
Histéricos", e em 1895 “surge” uma nova forma de psicoterapia em “Estudos Sobre
Histeria” (Josef Breuer, 2003).

Em 1889, Willian James (1842 – 1910), médico e filósofo americano, foi nomeado
professor de psicologia em Harvard e nesta mesma data foi convidado a presidir à
abertura Sessão do Congresso Internacional de Psicologia, em Paris. Em 1890 publicou
Principles of Psychology. James definiu a psicologia como "a ciência da vida mental,
ambos os seus fenômenos e suas condições "(James, 1890, vol. I, p.1). Esses fenômenos
incluíam sentimentos, desejos, cognições, hábitos, memórias, raciocínio e decisões.
James os estudou através da análise introspectiva informal de sua própria experiência
consciente. James se opôs à abordagem de Wundt-Titchener para o estudo da
consciência e esboçou suas objeções em um artigo contundente e convincente
intitulado: Some Omissions of Introspective Psychology (James, 1884). O funcionalismo,
foi uma escola precoce de psicologia, que se concentrou nos atos e funções da mente
e não em seus conteúdos internos, e era acatado por autores como: John Dewey, cujo
artigo de 1896 "The Reflex Arc Concept in Psychology" promoveu o funcionalismo (Cap
shew,1992).

E desta forma, William James (1842 – 1910), em Harvard e John Dewey (1859 – 1952),
nas Universidades de Michigan, Minesota e Chicago, se afastam completamente da
matriz germânica e implantam a psicologia nos Estados Unidos com identidade
própria. William James viu nos primeiros resultados de experimentos em psicofísica
e fisiologia sensorial o início da ciência na medição de fenômenos que os filósofos
mentais só descreviam (Capshew,1992).

O americano Granville Stanley Hallcvi (1844-1924), com o título de primeiro doutorado


em psicologia nos Estados Unidos, concedido pela Harvard Medical School em 1878 e

186
em 1882 começou como professor de psicologia e pedagogia na Johns Hopkins Univer
sity seu laboratório foi reconhecido como o primeiro laboratório psicológico nos
Estados Unidos (Capshew,1992). Em 1893, 20 laboratórios psicológicos operavam nos
Estados Unidos, quase o dobro do que na Europa (Nichols, 1893, como citado por
Capshew, 1992) e em 1904, haviam 49 laboratórios de psicologia em faculdades e
universidades na América (Benjamin, 2000, Camfield, 1973), assim a psicologia se
tornou parte integrante no currículo de graduações em 8 universidades (Miner, 1904).

Desta forma, psicólogos argumentavam a favor da nova ciência e por uma carreira
profisssional tanto ao público em geral, quanto aos curadores e conselhos que
administravam as instituições acadêmicas (Leary, 1987). Então, a articulação não se
referia somente aos cursos de psicologia e laboratórios iniciados, mas também a
criação de periódicos, que foi iniciado com o American Journal of Psychology em 1887,
fundado por Granville Stanley Hall (1844-1924) a fim de publicizar os resultados das
investigações laboratoriais.

No ano de fundação da APA - Associação Americana de Psicologia, em 1892, Stanley


Hall foi o primeiro presidente, a entidade forneceu reuniões anuais para a divulgação
dos relatórios das investigações e para que os psicólogos pudessem promover a nova
profissão. Os programas de pós-graduação em universidades produziram mais de
cem doutorados entre 1892 e 1904 e entre 1898 e 1903, a psicologia ficou em quarto
lugar depois de química, zoologia e física no número de doutorados na América
(Camfield, 1973). E em 1889, quando a Universidade de Clark foi inaugurada Hall
começou como o presidente, e remanesceu lá até sua morte em 1924 e pode ser
facilmente reconhecido como o fundador da psicologia organizada em termos de
ciência e profissão, o pai do movimento de estudo infantil e um líder nacional de re
forma educacional.

7. O desenvolvimento da profissão psicólogo


Os experimentos dos laboratórios refletiam o início do campo de estudos de:
psicofísica, capacidades sensoriais, sensibilidade, memória, atenção e movimento
voluntario (tempo de reação), que foram enfatizados em manuais escritos para os
cursos nos laboratórios, a exemplo por: Judd, 1907, Langfeld & Allport, 1916; Sanford,
1897; Seashore, 1909; Titchener,1901-1905. Contudo, cada vez mais os tópicos
representados por esses laboratórios se extendiam além da linha de Wundt, desta
forma grande parte do desenvolvimento da psicologia consistiu na ampliação do
leque de processos psicológicos que foram sendo investigados dentro e fora do âmbito
dos laboratórios, ao mesmo tempo que se constituia o debate a cerca da definição do
campo e métodos mais úteis para o desenvolvimento da nova ciência.

Nos experimentos com os quais a psicologia iniciou, por meio dos estudos de Ernest
Heinrich Weber (1795 -1878) sobre a sensibilidade táctica, da pesquisa de Gustav

187
Theodor Fechner (1801 – 1887) com a psicofísica e do estudo da memória com
Hermann Ebbinghaus (1850 – 1909), o que se tinha, era que, um único indivíduo que
se aplicava como experimentador era também o observador. Posteriormente, em
pesquisas subsequentes no âmbito da psicofísica e memória, os papéis de
experimentador e observador já se separaravam, com o objetivo de eliminação ou
controle de possíveis vieses (Dehue, 1997, 2000). Ao separar o papel do
experimentador do observador, pôde-se interpolar "catch-trials" (alarmes falsos),
quando estímulos não eram apresentados e assim randomizar a apresentação de
estimulos, o que se tornaram práticas comuns na pesquisa da psicofísica e assim
adaptados a outros experimentos considerados psicológicos (Dehue, 1997).

Além disso, à medida que a pesquisa psicológica se expandia para incluir experiências
que avaliavam as respostas de crianças e animais, por exigir pouca ou nenhuma
introspecção, a autoridade tornou-se cada vez mais centrada no experimentador e nos
participantes, que tornaram-se "sujeitos" em vez de "observadores". Os primeiros
relatórios publicados geraram resmas de dados detalhados, por vezes apresentados
aos leitores por meio de tabelas de dados em uma única página (Smith, Best, Cylke, &
Stubbs, 2000, página 260). Desta forma, os dados resumidos foram apresentados não
apenas em tabelas, mas na forma gráfica e os gráficos passaram a ser uma forma
comum de resumo de dados em relatos científicos no virar do século, a exemplo, a
curva de esquecimento de Ebbinghaus (1885) e a curva de aprendizagem de
Thorndike (1898) como dois exemplos influentes de representação gráfica. Além disso,
os gráficos ajudaram a preparar o caminho para o desenvolvimento de análises de
correlação e regressãocvii (Smith Et al., 2000).

A comparação dos resultados dos grupos de controle e experimentais levou à


utilização de procedimentos estatísticos, na busca relevante de quaisquer diferenças
que pudessem ser obtidas. As estatísticas inferenciais eram desconhecidas até o século
XX, e em 1908, o Teste "t" Student foi utilizado para comparar duas pontuações
médias. Os testes de análise de variância foram concebidos na década de 20 (Smith et
al., 2000), porém não fizeram parte da concepção de pesquisas psicológicas até 1930
(Rucci & Tweney, 1980). A metodologia de pesquisa e os padrões para análise de
resultados de experimentos de acordo com o status de psicologia como uma ciência
ficou refletida na padronização dos relatos dos experimentos, bem como na definição
do experimento.

Em 1929, a American Psychological Association – APA, publicou o modelo para relatos


de pesquisas empíricas em uma folha e meia (Bently et al., 1929) e em 1983 na
American Psychological Association Publication Manual (3ª edição), continha cerca
de 200 páginas de regras para a preparação de um manuscrito (Bazerman, 1987) e na
quinta edição atual do manual (2001) cerca de 439 páginas. Inicialmente, os relatórios
enfatizavam os resultados experimentais quantitativos e o quanto poderiam ajudar no

188
entendimento de problemas filosóficos ou simplesmente deixar que os dados
complexos falassem por si só (Bazerman, 1987).

A psicologia experimental da América do Norte se assemelhava mais às práticas de


pesquisa do alemão Georg Elias MüIIer (1850 – 1934) do que as de Wilhelm Wundt
(1832–1920), em relação a gama de tópicos abordados no laboratório e nos aparatos
que foram empregues. Georg Elias MüIIer (1850-1934) estudou história e filosofia na
Universidade de Leipzig, em seguida, mudou-se para Berlim em 1869, em 1873
graduou-se com um trabalho sobre a memória sensorial, e em 1876 ele completou a
sua formação com uma tese de pós-doutorado na psicofísica, Zur Grundlegung der
Psychophysik, 'Sobre os fundamentos da psicofísica', publicado em 1878. Em 1881 ele
conseguiu a cadeira de filosofia na Universidade de Göttingen, onde permaneceu até
sua aposentadoria em 1921. Em Göttingen, no ano de 1887, fundou o Instituto de
Psicologia, que se tornou um centro pioneiro no contexto da psicologia experimental,
com alunos de vários países entre outros: Alfred Binet, Erich Rudolf Jaensch, Adolf
Jost, David Katz, Oswald Kroh, Oswald Külpe, Lillian J. Martin, Eleanor McGamble,
Alfons Pilzecker, Géza Révész, Edgar Rubin e Friedrich Schumann. Müller também
foi um dos fundadores, em 1904, da Gesellschaft für Psychologie experimentelle,
'Sociedade de Psicologia Experimental', que manteve a liderança até 1927.

À medida que o século avançava, a psicologia, que havia evoluido dos departamentos
universitários de Filosofia, se estruturava em departamentos independentes, mas
ainda refletia as idéias dos filósofos mentais e também recebia a influência da teoria
da evolução de Darwin de 1859. Desta forma a filosofia mental tentou descrever como
a mente trabalhava, como seus processos cognitivos e conativos produziam ações
volitivas. E os psicólogos americanos, imbuídos do espírito da teoria evolucionária,
centravam-se na utilidade da mente e da consciência, na adaptação das espécies e no
meio ambiente dos indivíduos.

James McKeen Cattell (1860 – 1944), já considerado um psicólogo americano interes


sado nas diferenças individuais, publicou um importante artigo intitulado Mental Tests
and Measurements em 1890, estudou com Granville Stanley Hall (1844 – 1924), um
psicólogo americano pioneiro, orientando de Wundt, na Johns Hopkins University.
James McKeen Cattell (1860–1944) antes de concluir seu PhD com Wundt, tinha
interesse na variação individual, que foi etiquetado por Wundt, como: "Ganz
Amerikanisch", ou, "Todos Americanos" (Boring, 1950). Em Leipzig, foi dirigido por
Wundt, e foi o primeiro americano a publicar uma tese, intitulada: ‘Investigação
Psicométrica’. Cattell, antes de retornar para os Estados Unidos, foi influenciado por
seu breve trabalho com Francis Galton (1822 – 1911) na Inglaterra e contribuiu
fortemente para o fortalecimento da psicologia americana entre 1890 e início de 1900.

James McKeen Cattell (1860 – 1944) foi o primeiro professor de psicologia nos Estados
Unidos na Universidade da Pensilvânia e estabeleceu um laboratório na Universidade

189
de Columbia, em que descreveu o trabalho de medição de seu laboratório em seu
artigo de 1890, Mental tests and measurements, na revista Mind, onde o termo ‘testes
mentais ’foi usado pela primeira vez (que inclui um apêndice de Galton). O
laboratório de Cattell, era um laboratório adaptado para atividades oriundas tanto de
Leipzig quanto de Londres, do laboratório de Francis Galton (1822 – 1911). O
laboratório de Cattell, tinha como objetivo identificar e medir diferenças no tempo de
reação, na sensibilidade sensorial, na estimativa de tempo e extensão de memória,
tendo os alunos da graduação como sujeitos (Sokal, 1987, Tuddenham, 1962). Assim
como Galton, Cattell teorizou que, as tarefas como tempo de reação, acuidade
sensorial, memória e os intervalos de apreensão revelariam as habilidades intelectuais
de um indivíduo.

No ano de 1859 a teoria da evolução de Darwin, saiu do mundo britânico e levantou


questões sobre a utilidade adaptativa da consciência, a relação da ancestralidade
humana com a existência dos instintos nos seres humanos, e se os animais exibiam
capacidades intelectuais e consciência na adaptação a ambientes modificados ou em
ambientes diferentes. Cattell questionava que, se capacidades de aprendizagem e
consciência dependiam da complexidade do sistema nervoso, então: "Se existe uma
Anatomia Comparativa há também uma Psicologia Comparada"(Chadbourne, 1872,
p.22).

A contribuição para a psicologia britânica ocorre por quatro de seus fundadores a


partir de 1877, sendo: James Ward, W.H.R. Rivers, C.S. Myers e Sir Frederic Bartlett
entre todos, o principal responsável, pelo crescimento precoce e florescimento da
Psicologia em Cambridge. James Ward (1843 – 1925), filosofo inglês, em 1875, realizou
uma dissertação intitulada "A relação da fisiologia com a psicologia", em 1877 não teve
permissão para criar um laboratório psicológico, o que ocorreria 2 anos a frente de
Wundt e Willian James. A partir de 1880 James Ward afastou-se da fisiologia para a
psicologia e seu artigo Psychology para a nona edição da Enciclopedia Britanica foi
extremamente influente, por criticar a psicologia associacionistacviii. William Halse
Rivers Rivers (1864 – 1922), foi um antropólogo e psiquiatra inglês, que ficou
conhecido por seu trabalho com transtorno de estresse pós-traumático de soldados
durante a Primeira Guerra Mundial e o primeiro psicólogo experimental britânico.
Charles Samuel Myers (1873 – 1946), físico inglês foi representativo na psicologia
britânica por vislumbrar e co-fundar a British Psychological Society (1906), que foi
fundada em 1901, na University College London, com o nome de Psychological Society. A
British Psychological Society (1906) após receber uma carta real em 1965, tornou-se a
detentora do Registro de Psicólogos, que era o meio pelo qual a Sociedade regulava a
prática profissional da psicologia. A regulamentação incluia a concessão de
certificados de exercício e a condução de processos disciplinares. O registo deixou de
existir quando iniciou a regulamentação estatutária dos psicólogos em 2009,
regulamentada pelo Health and Care Professions Council – HCPC, que é um
regulamentador estatutário de 16 profissões de saúde no Reino Unido. Charles

190
Samuel Myers (1873 – 1946) foi um pioneiro no campo da psicologia industrial e
ocupacional, e em 1921 criou o Institute of Industrial Psychology. Sir Frederic Bartlet
(1886 – 1969) foi o primeiro professor de psicologia experimental da Universidade de
Cambridge, de 1931 até sua aposentadoria, em 1951. Ward, Myers e Rivers iniciaram
o British Journal of Psychology em 1904, em que propagaram o uso de métodos
psicológicos na medicina psiquiátrica.

Crampton (1978) informa que a psicologia britânica tem sua primeira


representatividade com o livro Elements of Psychology no ano de 1853 de John Daniel
Morrell (1816-1891), um educador britânico, bem como a publicação do filósofo
Herbert Spencer (1820–1903), In the Principles of Psychology de 1855, em que relata que
a mente só poderia ser entendida a partir da explicação de como a mente evoluiu. Por
sua vez também em 1855, Alexander Bain (1818 – 1903), filósofo escocês, publica The
Senses and the Intellect. No ano de 1876, David Ferrier (1843 – 1928), um neurologista
britânico, que utilizou pela primeira vez o termo á‘rea de Broca’, publicou The Func
tions of the Brain. Ainda em 1876 Alexander Bain (1818 – 1903), evolui em seu trabalho
e juntamente com George Croom Robertson (1842 – 1892), filosofo escocês, realizam a
primeira edição de Mind, uma revista trimestral de psicologia e filosofia. No ano de
1875, James Ward (1843-1925) apresentou sua dissertação na Trinity College, em
Cambridge, intitulado "A Relação da Fisiologia com a Psicologia: um Ensaio", sendo
que a maior parte deste trabalho aparece em Mind no ano de 1876, intitulado "Uma
Tentativa de Interpretar a Lei de Fechner", em que James Ward apresenta exatamente
as consequências para a fisiologia, filosofia e psicologia a respeito da famosa obra de
Fechner. Porém os experimentos de Fechner, só tinham sido apresentados na Grã
Bretanha uma vez antes em inglês, em 1874, por James Sully, em Sensation and Intui
tion, em que por todo trabalho se encontra referências a Johann Friedrich Herbart
(1776-1841) pedagogista alemão, Alfred Wilhelm Volkmann (1801 – 1877) anatomista
e filosofo alemão, Franz Brentano (1838 – 1917) filosofo alemão e Wilhelm Wundt
(1832 – 1912) fisiologista alemão, espalhados liberalmente por todo o texto. A
propósito Cramptom (1978) esclarece que autores como Hegel e Kant, neste momento
científico, estava a mais de 50 anos para obter reconhecimento na Grã-Bretanha. No
ano de 1918, James Ward, como professor de filosofia mental, escreveu o prefácio de
Psychological Principles, e em 1919 publica este livro pela editora The Cambridge Psy
chological Library (Crampton, 1978).

A precisão na medição se fazia muito presente e com Francis Galton (1822-1911),


matemático e estatístico inglês, primo de Darwin, não foi diferente (Black, 2003).
Francis Galton em 1884, na International Health Exhibition, em Londres, apresentou o
Anthropometic Laboratory, pois seu interesse pela hereditariedade, o levou a
antropometria, com a medição das características humanas. Para isso, Galton
acreditava que a investigação estatística de dados só era confiável quando se tratava
de grandes tamanhos de amostra. Então com uma quantidade considerável de dados,
concebeu as primeiras medições científicas mentais em que deu origem a psicometria.

191
Galton desenvolveu diversas técnicas para estudos diferenciais, como: o método bio
gráfico, o método histórico familiar, a prova de associação de palavras e imagens, o
estudo de gêmeos, e a comparação de raças, suas idéias foram divulgadas em seus
livros Hereditary Genius de 1869 e Inquiries Into Human Faculty de 1883 (Anastasi, 1988;
Hilgard, 1987; Hothersall, 1884, in Gomes, 2004).
Por sua vez na América, Edward Lee Thorndike cix (1874 – 1949) se formou na
Universidade Wesleyan, em Connecticut, no ano de 1895, realizou seu mestrado no
âmbito do comportamento animal com William James, na Universidade de Harvard
(1895-97), em que desenvolveu a famosa formulação ‘S-R’, e com James McKeen
Cattell na Universidade de Columbia, em 1898, defendeu seu Ph.D: Animal Intelligence:
An Experimental Study of the Associative Processes in Animals (Dewsbury, 1998; Thorn
dike, 1936).
Ao passo que na Alemanha, Edward Bradford Titchenercx (1867-1927), em 1890 foi
para o laboratório de Wundt e recebeu seu Ph. D. em 1892. Tichener, voltou para
o Reino Unido e tentou divulgar a nova psicologia, mas esta não foi aceita pelos
demais filósofos da época. Isso o levou aos Estados Unidos onde alunos de todo o país
vinham ouvir e estudar sua nova psicologia. Titchener, alterou o sistema de Wundt, e
propôs uma nova abordagem que designou Estruturalismo, porém afirmou que estas
idéias era a psicologia postulada por Wundt, contudo, os dois sistemas são diferentes
e o rótulo de Estruturalismo só pode ser aplicado à concepção de Titchener.

Em março de 1907, o americano, James Rowland Angell, escreve o artigo: The


Province of Functional Psychology e contrastou o estruturalismo de Titchener, 1898, e
o funcionalismo promovido por Willian James (1842–1910). Em seus estudos alertou
que não existe, portanto, uma linha divisória entre ciência "pura" e "aplicada" e a tarefa
da ciência pura é fornecer uma compreensão básica da natureza do homem e do seu
ambiente, e a da ciência aplicada é dirigir essa compreensão para o controle do
ambiente. (Angell, 1911, 47).

A proposta para que a psicologia rejeitasse sua definição tradicional como a ciência
da mente e da consciência, e redefini-la como uma ciência do comportamento partiu
de John B. Watsoncxi (1913). Os laboratórios de animais eram poucos, e em 1909,
apenas seis laboratórios estavam ativamente envolvidos neste tipo de pesquisa
(O'Donnell, 1985). Watson tinha se desencantado com a linguagem de consciência e
mente, bem como pelos métodos de introspecção, e estava cada vez mais interessado
com o status da pesquisa animal em psicologia. Watson escreveu ao psicólogo
comparativo Robert Mearns Yerkes em 1910, e expressou:

"Eu sou um fisiologista e vou longe para dizer que eu irei remodelar a
psicologia como temos agora a (humana) e reconstruir nossa atitude em
relação a toda a matéria da consciência. Eu não acredito que o psicólogo esteja

192
estudando a consciência mais do que nós estamos" (Watson, 1910, citado em
J. A. Mills, 1998, página 60).

Titchener acusou Watson de transformar a psicologia em uma tecnologia, em vez de


uma ciência (Samelson, 1981). Porém, a visão de Watson de ciência estava vinculada
a confiabilidade das observações públicas e replicáveis, e por sua vez invalidava a
introspecção como um método científico. Watson argumentou que os relatórios
verbais a um estímulo, em um experimento psicofísico, como: "Eu vejo o vermelho",
era comportamental da mesma maneira que um animal poderia ser treinado para
discriminar a cor vermelha de outras cores (Watson, 1919).

J. B. Watson em 1916, propôs que o reflexo motor condicionado poderia ser aplicado
a animais e seres humanos e assim formar um padrão de construção do
comportamento. Assim como Titchener, Watson acreditava que a ciência procedia da
análise, mas ao invés de buscar os elementos da mente, Watson procurou os elementos
do comportamento. O reflexocxii condicionado foi a unidade elementar a partir da qual
Watson propôs construir uma ciência do comportamento.

Por sua vez a pesquisa do russo Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) sobre a fisiologia
da digestão lhe valeu um Nobel em 1904 e envolveu um método de "alimentação
simulada" em que uma fístula, ou tubo, no esôfago impedia que a alimentação
colocada na boca do cão chegasse ao estômago e um segundo tubo inserido no
estômago foi usado para coletar sucos gástricos. No desenvolvimento destas
experiências, Pavlov notou que as secreções gástricas do cão, ocorriam não apenas em
resposta a comida na boca, mas também simplesmente pelo animal visualizar a
comida ou ao assistente responsável por alimentá-lo, para esta situação, Pavlov
nomeou de "secreção psicológica". Com isso, pelo uso da fístula que poderia coletar
secreções salivares para os estudos sobre a digestão, um estudante de Pavlov, Stefan
Vul'fson observou que não somente as glândulas salivares respondiam a diferentes
substâncias colocadas na boca, como por exemplo, areia, comida molhada, comida
seca, e que, ao contrário de outros órgãos digestivos, e que apresentava uma resposta
idêntica quando o cão apenas tinha a visão da substância (Boakes, 1984; Todes, 1997).
Vul'fson e Pavlov utilizaram termos mentalísticos para descrever a reação das
glândulas salivares em resposta à visão dos alimentos e relatavam que os cães
"julgavam", "resolviam" ou "escolhiam" suas respostas (Todes, 1997, página 950). Pa
vlov alterou o termo: "secreção psicológica", para "reflexo psíquico", e posteriormente
para "reflexo condicionado", após os resutlatos dos experimentos de Tolochinov que
demonstraram, por meio da regularidade experimental que, o que Pavlov se referia
ao" reflexo psíquico", este se referia por "reflexo a distância" (Todes, 1997, p. 951). A
partir de 1891, Pavlov ocupou o cargo na Divisão do Instituto Imperial de Medicina
Experimental em São Petersburgo (Todes, 2002) e partir dos primeiros experimentos
de Sechenov, a respeito da inibição dos reflexos espinhais, o trabalho no laboratório
de Pavlov focou no estabelecimento (condicionamento) e remoção (extinção) de

193
reflexos em relação a uma variedade de estímulos e seu controle por meio da atividade
inibitória e excitatória no cérebro.

Outros investigadores que estavam mais atentos as questões relativas a adaptação dos
organismos aos ambientes se interessaram mais à aquisição de novos comportamentos
do que na remoção de comportamentos estabelecidos (Boakes, 1984) e John Broadus
Watson cxiii (1878 – 1958) tentou demonstrar como pesquisas sobre reflexos

condicionados poderiam revelar as origens de padrões comportamentais. Desta forma


se interessou pelo campo da psicologia comparada e pelo estudo com animais. Ele
estudou todos os aspectos do comportamento das aves, como: imprinting, homing, aca
salamento, hábitos de aninhar, alimentação e criação de chick-rearing (pintinhos), seus
extensos estudos, realizados ao longo de quatro anos, foram alguns dos primeiros
exemplos do que mais tarde seria chamado de "etologia", e seus registros abrangentes
do comportamento das aves foram alguns dos primeiros exemplos de "etograma", que
é um registro abrangente do comportamento natural de um organismo.

Em 1913 na Universidade de Colômbia, Watson realizou uma conferência intitulada,


Psychology as the Behaviorist Views It e explicou:

“O ser humano e o animal deveriam ser colocados tão próximos quanto


possível sob as mesmas condições experimentais. Em vez de alimentar ou
punir o sujeito humano, deveríamos pedir-lhe para que respondesse
ajustando um segundo aparato até que o padrão e o controle não ofereçam
nenhuma base para uma resposta diferencial” (Watson, 2008).

Anterior a este discurso, o campo da psicologia estava em desacordo quanto a


natureza da consciência e os métodos para estudá-la. Muitas perguntas foram
levantadas e poucas respostas foram dadas até que Watson alegou que o problema
era o uso de métodos arcaicos e assuntos inadequados e eliminou a consciência e a
introspecção para fora do cenário. Em vez disso, ele propôs a idéia de uma psicologia
objetiva de comportamento chamada "behaviorismo", e via a psicologia como o estudo
das ações das pessoas com a capacidade de prever e controlar essas ações. E em outro
texto, Watson coloca sua posição de modo mais sintético: “Toda a psicologia exceto o
behaviorismo é dualista” (1924/1925, p.04) (Strapasson, 2012). A denominação mais
comum para o behaviorismo de Watson na história do behaviorismo é “Behaviorismo
Clássico”, no Brasil, mais conhecido como “Behaviorismo Metodológico” (Strapasson,
2012). Em 1915 foi presidente da American Psychological Association - APA e em 1924
escreveu Behaviorism e em 1928 The Psychological Care of Infant and Child.

A partir destes resultados, uma resposta à análise introspectiva da consciência


defendida por Titchener e a análise comportamental de J. B. Watson veio na forma de
uma abordagem da psicologia que surgiu na Alemanha quase na mesma época em
que o behaviorismo tinha surgido nos Estados Unidos. O termo guestaltcxiv, traduzido
como "todo" ou "forma global", se referia a uma individualidade que se organizava

194
que era diferente de afirmar que esta seria a soma de suas partes constituintes. O termo
foi inicialmente apresentado por Christian von Ehrenfels (1859-1932), filósofo
austríaco, em 1890, na Universidade de Graz, que assinalou que uma música tocada
em duas teclas diferentes é reconhecida como tal, mesmo que as notas em cada caso
sejam diferentes e sugeriu que as combinações dos elementos produziam uma
"gestaltqualität", ou uma "qualidade-do-todo", que constituia por sua vez um novo
elemento de consciência. O uso do termo pelo trio: Kurt Koffka (1886-1940), Wolfgang
Köhler (1887-1967) e Max Werteimer (1880-1943), não se referia a um elemento novo,
mas à uma organização natural da experiência consciente.

Porém abandonar a mente como assunto da psicologia, recebeu maior atenção com a
finalidade de garantir que as normas científicas fossem atendidas nos procedimentos
de coleta e tratamento de dados tanto nas pesquisas laboratoriais ou fora deles. Com
isso, estas características foram mais identificadas nas ‘teorias neo-behavioristascxv ’de
aprendizagem e comportamento que foram o foco de grande parte da psicologia
laboratorial de 1930 a 1960.

Os neo-behavioristas moldaram o que é conhecido como a "Era de Ouro da Teoria da


Aprendizagem" e de 1930 a 1950 adotaram algumas idéias da lógica positivista e do
operacionismo, embora cada um deles formulassem sua própria visão de behavior
ismo (J. A. Mills, 1998; Smith, 1986), tais como: Edward Chace Tolman (1886–1959) e
Edwin Ray Guthriecxvi (1886 – 1959). Guthrie afirmou que cada movimento produz
estímulos e os estímulos então se tornam condicionados. Cada movimento serve como
um estímulo para muitos órgãos dos sentidos, nos músculos, tendões e articulações e
que os estímulos que agiam no momento da resposta tornavam-se condicionadores
da resposta. Assim, os estímulos produzidos pelo movimento tornavam-se
condicionadores da sucessão de movimentos e por sua vez, os movimentos
formavamm uma série, referida como um hábito. E relata, que, nossos movimentos
são freqüentemente classificados como formas de condicionamento ou associação e
alguns comportamentos que envolvem a repetição de movimentos, de modo que o
condicionamento pode ocorrer muito depois do estímulo original. (E. R. Guthrie,
1935/1960, p.3).

Conwy Lloyd Morgan (1852 – 1936), foi um psicólogo britânico, sua abordagem
experimental para a psicologia animal ajudou a estabelecer a psicologia como uma
ciência experimental. Morgan empreendeu o método comparativo e o defendeu:

“Uma característica distinta da psicologia moderna é o emprego do método


comparativo. Enquanto o psicólogo se restringir ao estudo introspectivo do
funcionamento de sua própria consciência, suas conclusões apoiam-se numa
base que, por mais segura que possa parecer a si mesma, parece ser limitada
pelas inevitáveis restrições de sua própria individualidade. Quando ele
compara e correlaciona seus próprios resultados com os de outros
observadores introspectivos, torna-se agora um psicólogo comparativo e, ao

195
ampliar sua base, torna suas conclusões mais abrangentes. Uma outra etapa
do método comparativo é alcançada quando ele tenta correlacionar os
resultados da psicologia introspectiva com as conclusões alcançadas pelo
estudo fisiológico dos processos nervosos que são concomitantes dos estados
psíquicos. Na hipótese do monismo cxvii, ele está assim comparando dois
aspectos completamente diferentes dos mesmos acontecimentos naturais e na
hipótese do dualismocxviii, duas ocorrências completamente diferentes, que, no
entanto, são invariavelmente associadas. Em qualquer caso, ao proceder a
essa comparação, ele vincula seu assunto à ciência da biologia de uma
maneira que se revelou eminentemente útil para seu próprio ramo de estudo.
Agora, a tônica da biologia moderna é a evolução; E na hipótese do monismo
científico aqui adotado, embora não necessariamente no do dualismo
empírico, não estamos apenas logicamente justificados em estender nossa
psicologia comparativa de modo a incluir dentro de seu âmbito o campo da
psicologia zoológica, mas estamos logicamente obrigados a considerar a
evolução psicológica como estritamente coordenada com a evolução
biológica. (Morgan, 1903)”

Morgan é lembrado por sua declaração que ficou conhecida como "Cânone de
Morgan", que afirmava que os processos psicológicos mais elevados não devem ser
utilizados para explicar o comportamento, sem evidências independentes do uso dos
processos elevados em outras ocasiões, que por sua vez podem ser explicados por
processos mais baixo na escala evolutiva. Ou seja, em nenhum caso pode-se
interpretar uma ação como o resultado de uma faculdade psíquica superior, já que ela
pode ser interpretada como o resultado do exercício de um, que fica mais baixo na
escala psicológica. Sob seu Cânone, o comportamento animal deveria ser explicado da
maneira mais simples possível, ao invés de explicar o comportamento como a
implicação processos mentais mais elevados, pois Morgan acreditava que este poderia
ser explicado pelo aprendizado de ‘tentativa e erro’. E exemplifica, com a maneira
hábil em que seu terrier Tony abria o portão do jardim, facilmente incompreendido
como um ato perspicaz por alguém que presenciava o comportamento final. Lloyd
Morgan, entretanto, tinha observado e gravado a série de aproximações pelas quais o
cão gradualmente aprendeu a resposta e pôde demonstrar que não era necessário in
sight para explicá-la. Dentre suas publicações, estão: Animal Behaviour (1900), The In
terpretation Of Nature (1906), Eugenics and Environment (1919), The Animal Mind (1930).

Em contraste com as abordagens moleculares, Edward Chace Tolman (1886-1959)


ofereceu uma teoria molar da psicologia da aprendizagemcxix. Psicólogo americano,
estudou no Massachusetts Institute of Technology - MIT, e obteve seu doutorado, em 1915,
na Universidade de Harvard. Considerava as intenções e objetivos do sujeito na
explicação de um comportamento. Recusava a ideia de que a aprendizagem resultava
apenas de tentativas e erros ou era aleatória, mas sim, que a aprendizagem era
intencional, dirigida para objetivos - daí designada por behaviorismo intencional.
Dentre suas obras pode-se destacar: Purposive behavior in animals and men, publicada

196
em 1932 e Drives toward War. Tolman (1886-1959) descreveu um conjunto de variáveis
que afetavam o comportamento, alguns observáveis e outras dedutíveis pelo
psicólogo a partir de dados observáveis (variáveis intervenientes). Tolman era um
behaviorista, mas era um behaviorista propositivo (McDougall, 1925a, p.278) e
considerava que um "tipo apropriado" de behaviorismo não era "o mero 'Twitchism'
muscular da variação Watsoniana" (McDougall 1925a, p.37), mas era suficientemente
amplo para cobrir "tudo o que era válido nos resultados da psicologia introspectiva
mais antiga" (McDougall 1922, página 47). Tolman opinava que, a variedade
watsoniana de behaviorismo era, "um relato em termos de contração muscular e
secreção das glândulas" e "como tal, não seria o behaviorismo, senão uma mera
fisiologia". Assim, Tolman (1922) sugeriu uma nova fórmula de behaviorismo que
"permitiria um tratamento mais pronto e adequado dos problemas de motivação,
propósito, tendência determinante e outros do tipo". Ele definiu o propósito, como
sendo simplesmente a persistência no comportamento e arriscou:

“Comportamento ... é mais do que, e diferente, da soma de suas partes


fisiológicas. O comportamento, como tal, é um fenômeno "emergente" que
possui propriedades descritivas e definidoras próprias. E designaremos este
último como a definição molar do comportamento. (Tolman, 1932, página 7).”

Tolman, em 1922, acreditava que Guthrie e Watson, descrevia o comportamento


aprendido por meio dos eventos de estímulo e respostas, em contraste, propôs uma
teoria que interpretava o comportamento em termos de "causa, propósito e tendência
determinante" (Tolman, 1922, página 53). Para Tolman, eventos cognitivos aconteciam
entre os estímulos antecedentes e suas consequências comportamentais.

Clark Leonard Hullcxx (1884-1952), psicólogo americano, propôs uma teoria lógico
dedutiva do comportamento, em que o tratamento teórico da psicologia de Hull
consistia em um conjunto de postulados, em que suas afirmações matemáticas
permitiria previsões quantitativas sobre o comportamento, com o objetivo de
desenvolver a psicologia como uma ciência natural, demonstrando que os fenômenos
comportamentais obedeciam a leis universais e quantitativas e que pudessem ser
apresentadas por equações comparáveis às leis físicas (Hull, 1950, p.221). Hull,
Inspirado em Pavlov e Watson desenvolveu as concepções behavioristas clássicas
intervindo variáveis intermédias entre o estímulo e a resposta. Hull considerava que
no processo de aprendizagem a variável intermediária seria a motivação. A sua
concepção poderia ser expressa pela fórmula: Potencial de Reação = (Força do hábito
x Impulso x Motivação) - Inibição. A aprendizagem seria assim um processo
resultante de uma cadeia de condicionamentos em que o reforço e a motivação,
(encarado como a redução das necessidades) desempenham um papel fundamental,
desta forma acreditava que não poderia haver aprendizagem sem motivação.

197
Em 1952 o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM, foi publicado
pelo American Psychiatric Association, que marcou o começo da classificação moderna
de doenças mentais.

Burrhus Frederick Skinner (1904-1990) questionou se teorias de aprendizagem eram


necessárias em vista dos testes teóricos infrutíferos (Skinner, 1950). Em vez disso,
defendeu uma descrição puramente empírica do comportamento, evitando qualquer
variável hipotética ou interveniente não observável em sua descrição do
comportamento, sendo esta uma posição que tinha estabelecido em sua primeira
publicação principal (Skinner, 1938). Sua manipulação da contingência entre um
comportamento operante (emitido) e um reforço constituíram seu programa de
pesquisa, realizado na câmara operante-condicionante mais popularmente conhecido
como Skinner Box, realizou primeiramente trabalhos com ratos e mais tarde pombos
como seus sujeitos experimentais. Skinner mediu respostas cumulativas sobre o
tempo decorrido como uma função dos esquemas de reforço (Ferster & Skinner, 1957).
Interveio variáveis, como drives (acionador) ou motivação, que foram definidas
operacionalmente em termos de número de horas de privação ou percentual de
alimentação livre em relação ao peso corporal. Os relatos dos experimentos de Skinner
e seus seguidores, foram realizados com poucos animais, mas um grande número de
respostas, e receberam rejeição de editores cujos a definição de um experimento exigia
um projeto de pesquisa comparando grupos experimentais e de controle com um teste
estatístico de significância da diferença entre eles. O resultado foi a fundação do Jornal
de Análise Experimental do Comportamento em 1958 (Krantz, 1972). De acordo com
as publicações de Skinner de 1930 a 2004, totalizam 295 produções, dentre a mais
relevante para este trabalho se encontra Verbal Behavior (1957) (Andery, M. A.,
Micheletto, N., & Sério, T. M., 2004). Skinner (1974) explica que o Behaviorismo, não é
a ciência do comportamento humano e sim a filosofia desta ciência e que existe
diferentes tipos de ciência comportamental e alerta que o primeiro behaviorista
explícito foi John Watson, quando em 1913 escreveu um manifesto Psychology as the
Behaviorist Views It. Em seu livro About Behviorism (1974), Skinner destaca que:

“O comportamento de organismos individuais é estudado em ambientes


cuidadosamente controlados, sendo a relação entre comportamento e
ambiente então formuladas, infelizmente, fora do grupo dos especialistas,
muito puco se conhece acerca dessa análise (Skinner, 1974)

Skinner (1974) afirma que: “O Behaviorismo não é a ciência do comportamento


humano, mas, sim, a filosofia dessa ciência” e acrescenta:

“Os maiores problemas enfrentados hoje pelo mundo só poderão ser


resolvidos se melhorarmos nossa compreensão do comportamento humano.
As concepções tradicionais têm estado em cena há séculos e creio ser justo
dizer que se revelaram inadequadas.”

198
Segundo Skinner (1974), em ‘Sobre o Behaviorismo’, destaca algumas falácias
disseminadas, por despeito ao Behaviorismo Radical, e alerta que a ciência é, em si
mesma, mal compreendida:

“1. O Behaviorismo ignora a consciência, os sentimentos e os estados mentais.

2. Negligencia os dons inatos e argumenta que todo comportamento é


adquirido durante a vida do indivíduo.

3. Apresenta o comportamento simplesmente como um conjunto de respostas


a estímulos, descrevendo a pessoa como um autômato, um robô, um fantoche
ou uma máquina.

4. Não tenta explicar os processos cognitivos.

5. Não considera as intenções ou os propósitos.

6. Não consegue explicar as realizações criativas - na Arte, por exemplo, ou


na Música, na Literatura, na Ciência ou na Matemática.

7. Não atribui qualquer papel ao eu ou à consciência do eu.

8. É necessariamente superficial e não consegue lidar com as profundezas da


mente ou da personalidade.

9. Limita-se à previsão e ao controle do comportamento e não apreende o ser,


ou a natureza essencial do homem.

10. Trabalha com animais, particularmente com ratos brancos, mas não com
pessoas, e sua visão do comportamento humano atém-se, por isso, àqueles
traços que os seres humanos e os animais têm em comum.

11. Seus resultados, obtidos nas condições controladas de um laboratório, não


podem ser reproduzidos na vida diária, e aquilo que ele tem a dizer acerca do
comportamento humano no mundo mais amplo torna-se, por isso, uma
metaciência não-comprovada.

12. Ele é supersimplista e ingênuo e seus fatos são ou triviais ou já bem


conhecidos.

13. Cultua os métodos da Ciência mas não é científico; limita-se a emular as


Ciências.

14. Suas realizações tecnológicas poderiam ter sido obtidas pelo uso do senso
comum.

15. Se suas alegações são válidas, devem aplicar-se ao próprio cientista


behaviorista e, assim sendo, este diz apenas aquilo que foi condicionado a
dizer e que não pode ser verdadeiro.

199
16. Desumaniza o homem; é redutor e destrói o homem enquanto homem.

17. Só se interessa pelos princípios gerais e por isso negligencia a unicidade


do individual.

18. É necessariamente antidemocrático porque a relação entre o


experimentador e o sujeito é de manipulação e seus resultados podem, por
essa razão, ser usados pelos ditadores e não pelos homens de boa vontade.

19. Encara as idéias abstratas, tais como moralidade ou justiça, como ficções.

20. É indiferente ao calor e à riqueza da vida humana, e é incompatível com a


criação e o gozo da arte, da música, da literatura e com o amor ao próximo.”

Após a segunda guerra mundial o interesse pelo desenvolvimento cognitivo


revitalizou a psicologia infantil ao passar do foco no desenvolvimento sensório-motor
para um foco no pensamento, na formação de conceitos e na compreensão do mundo
pela criança. As teorias de Jean Piaget (1896-1980) que descrevem o desenvolvimento
da linguagem e da cognição na infância apareceu na década de 1920 e 1930 na Europa
(por exemplo, Piaget, 1929), mas teve um impacto nos Estados Unidos apenas décadas
mais tarde (Flavell, 1963). A pesquisa experimental que explorou o desenvolvimento
cognitivo e social em crianças passou a dominar o campo do desenvolvimento
psicológico, não mais simplesmente a psicologia infantil, mas cobrir a vida útil. Esta
mudança de ênfase no estudo desenvolvimento humano acompanhou as mudanças
na pesquisa em animais. Os psicólogos pareciam estar menos conscientemente
preocupados com o status da psicologia como ciência e mais preocupado com o tipo
de ciência a psicologia deveria ser.

Os primeiros psicólogos americanos, como William James (1842-1910), G. Stanley


Hall, e James McKeen Cattell, reconheceram claramente as potenciais contribuições
da psicologia por meio da pesquisa aplicada como um meio para alcançar desde a
aplicação, até o papel do psicólogo trabalhador fora da universidade. No início do
século 20 (1901-2000), as empresas americanas estavam revolucionando a América e
também sendo transformada pela evolução da sociedade americana. Com isso, a:
"formação de grandes impérios industriais vieram novos problemas de gestão e um
problema crescente com a eficiência" (Napoli, 1981, P. 28). Como a ‘eficiência ’tornou
se a palavra de ordem dos novos negócios americanos, por meio da 'Psicologia dos
Negócios', os psicólogos assumiriam os desafios de aumentar a produtividade,
melhorar a seleção de pessoal, fornecer análises de trabalho e melhorar a disposição
de ânimo dos trabalhadores. Mais tarde chamada de 'Psicologia Industrial' na década
de 1920, e depois 'Psicologia Organizacional Industrial', em 1960, que se originaram
dos estudos publicitários de Gale em 1895.

8. Psicologia no Brasil

200
No Brasil, Massimi (1990), informa que as primeiras contribuições para o estudo da
Psicologia, em nosso país, são oferecidas por médicos, decorrentes de suas teses de
doutoramento, provimento de cátedra e verificação de títulos, sobretudo no Rio de
Janeiro e Bahia e posteriormente foi acrescida a contribuição dos educadores, no
campo da higiene mental: “A influência da medicina na criação e no desenvolvimento
da psicologia científica brasileira registra-se também relativametne as áreas específi
cas da psicologia forense e criminal (...) e da psicologia social” (Massimi, 1990, p.69).
Em 1851, Francisco Tavares da Cunha escreve o primeiro ensaio sistemático de
Psicofisiologia, no Brasil, com o tema: Psicofisiologia acerca do Homem e em 1864,
Ernesto Carneiro Ribeiro, destacou a necessidade da pesquisa psicológica para a
formação do médico, com a tese: Relação da Medicina com as Ciências Filosóficas:
Legitimidade da Psicologia e em 1897, a obra: Epilepsia e Crime, lança o médico Júlio
Afrânio Peixoto (Soares, 2010), nacional e internacionalmente.

O que já ocorria no mundo nesta temática, era que em 1793 o médico Philipe Pinel,
liberava pacientes mentais do confinamento no primeiro movimento maciço para um
tratamento mais humano dos doentes mentais. Pinel considerava as doenças mentais
como resultado ou de tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária,
ou ainda originadas de acidentes físicos, desprezando a crendice entre o povo e
mesmo entre os médicos de que fossem resultado de possessão demoníaca (Cobra,
2003). Em 1808 Franz Gall, médico alemão, escreveu sobre a frenologia, que é a idéia
de que a forma do crânio de uma pessoa e a colocação de colisões na cabeça podem
revelar traços de personalidade. Ernst Heinrich Weber, um matemático alemão, em
1834, publicou sua teoria de percepção de "apenas percepção perceptível", conhecida
como lei de Weber. Phineas Gage, um operário americano, em 1848, foi estudado por
sofrer danos cerebrais quando um poste de ferro perfura seu cérebro. Sua
personalidade foi mudada, mas seu intelecto permaneceu intacto sugerindo que uma
área do cérebro desempenha um papel na personalidade. Em 1859, Charles Darwin,
naturalista britânico publicou: A Origem das Espécies, e detalhou sua visão da
evolução das espécies e expandiu a teoria da "Sobrevivência do mais apto". O médico
francês, Paul Broca, em 1861, descobriu uma área no lobo frontal esquerdo que
desempenha um papel fundamental no desenvolvimento da linguagem. Em 1869,
Francis Galton, antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês,
influenciado pela "Origem das Espécies" de Charles Darwin, publica "Gênio
Hereditário" e argumenta que as habilidades intelectuais são de natureza biológica.
Em 1878, G. Stanley Hall, filósofo e teólogo, nesta data obteve o seu doutoramento,
sob a orientação de Willian James, pela Universidade de Harvard, tornando-se o
primeiro doutorado em psicologia do país, sendo também o primeiro a presidir a
American Psychological Association - APA, fundada em 1892, juntamente com 26
membros, na Universidade de Clark.

Desta forma, a psicologia comparece no Brasil, tal como no mundo, como objeto de
estudo e de ensino no âmbito de diversas áreas teóricas, como: filosofia, direito,

201
medicina, pedagogia e teologia moral. As primeiras faculdades de Direito surgidas no
Brasil foram institucionalizadas pela aprovação do projeto de 31 de agosto de 1826 –
convertido em lei em 11 de agosto de 1827. Desta forma, São Paulo e Olinda foram as
localidades escolhidas para abrigar esta nova vanguarda no ensino, devido
principalmente à situação geográfica – uma para atender o sul e outra para suprir as
necessidades dos habitantes do norte do Brasil (Naspolini, 2008). Posteriormente em
1828, surgiu o curso superior de Direito no Rio de Janeiro, com base no Regulamento
de 1825, do Visconde de Cachoeira, o curso durava cinco anos e era precedido de um
ciclo preparatório, chamado "Curso Anexo" (Massimi, 1992). No seio destas
disciplinas, uma grande ênfase é dada ao conhecimento do comportamento humano
e de suas causas naturais, como fundamento das ciências jurídicas (Massimi, 1992).

Avellar Brotero (1798-1873), um dos mais antigos professores da Faculdade de São


Paulo e seguidor da doutrina sensista, alerta que os princípios de Direito Natural, que
é a base essencial da Legislação, jamais podem ser aprendidos com aproveitamento e
utilidade sem que: ‘primeiro se tenha uma leve noção do que é o animal homem ’
(Massimi, 1992). Assim, entende-se o interesse pelo comportamento humano não
somente no campo teórico, mas relacionado à prática do Direito, como destaca Avellar
Brotero, que baseia a desigualdade moral e jurídica entre os homens na desigualdade
da organização sensorial. E publica em 1853, um artigo em revista produzida por
alunos e professores a temática da relação entre o desenvolvimento da consciência
infantil e a imputabilidade criminal (Guanabara,1853).

O ato adicional de 12 de agosto de 1834, conferiu ás Assembléias Legislativas


Provinciais, que as Províncias tinham o dever de criar estabelecimentos próprios para
promovê-la. Diante disso, para formar professores para essa “instrução pública”, as
primeiras escolas normais brasileiras foram estabelecidas por iniciativa das
Províncias, como é o caso do Rio de Janeiro, em 1835, de Minas Gerais, em 1840, e da
Bahia, que teve sua primeira escola normal instalada em 1841. Em 1846 a criação da
Escola Normal em São Paulo, visava a formação de um corpo docente mais
competente e especializado, visto que, os professores de escola primária eram
pouquíssimos e enfrentavam problemas acerca dos métodos educativos, tal como
expressa uma carta redigida em 1836 pelos dois únicos professores primários
existentes na cidade na época, Bento José Pereira e Carlos José da Silva Telles. Na carta
os professores solicitavam aos membros da Assembléia Legislativa da Província de
São Paulo, a permissão para usar castigos físicos nas escolas, porque os meninos são
inacessíveis a outros tipos de estímulos, por exemplo "a esses estímulos de honra e
emulação, que muitos belos em teoria, nos deixam ver na prática os mais tristes
resultados" (citado em Bauab, 1972, p. 29).

A Escola Normal foi extinta em 1866, e retomou suas atividades somente em 1875. A
reabertura surgiu com a proposta de um plano de desenvolvimento do nível
intelectual da população, como destacou o discurso inaugural do Presidente da

202
Província de São Paulo, J. Theodoro Xavier de Mattos."(A Escola) será, pois, um centro
de luz viva da sciencia, irradiando-se por toda a província e penetrando por todas as
camadas populares"(citado em Rodrigues, 1930, p. 78). Desta forma, a causa principal
desse progresso seria o aperfeiçoamento do método de ensino: "Para tão esplendida
victoria contribuirá efficazmente o methodo do ensino, primeira força da instrução
particular e pública."(1930.p.79). O presidente Xavier de Mattos entendia que, para
realizar tal objetivo, seria preciso buscar, experiência de outras nações mais evoluídas,
com modelos a serem aplicados à realidade brasileira (Massini, 1992).

A criação da Escola Americana, em 1870, por obra dos presbiterianos, constitui um


marco na história intelectual paulista, assinalando o começo da penetração, da cultura
protestante norte-americana. Nos anos sucessivos (1873-74), foram anexados a ela um
Curso Superior Normal e uma Faculdade de Filosofia, cuja organização inspirava-se
nos moldes da Scientific School do Delaware College.

A situação começa a mudar com o objetivo de formar um corpo docente competente


e adequado às necessidades do sistema educacional brasileiro com metodologia
científica de ensino, inspirada nos modelos europeus e norte-americanos (Lisboa &
Barbosa, 2009). Inicia-se a era normalista, que, segundo Cabral (2004, p. 49), precedeu
a era universitária no ensino da Psicologia (Lisboa & Barbosa, 2009). E a partir da
Reforma Benjamin Constant, de 1890, amplia-se a incorporação de disciplinas de
Psicologia à grade curricular das escolas normais, com fundamento na Psicologia
experimental recém-surgida (Massimi, 1990). Assim, em 1893, a Escola Normal de São
Paulo, estabelece um marco em que a disciplina ‘Psicologia ’torna-se obrigatória, o
que ocorre em nível nacional somente em 1928.

O projeto da lei de 1892 introduz no ensino da Escola Normal de São Paulo as cadeiras
de "Psychologia" e "Lógica", no quarto ano de curso. O programa de "Psychologia"
realizado no ano de 1893, compreende o estudo do conceito geral de Psicologia,
aplicada à Pedagogia e à Moral; da atividade e do movimento; das faculdades
intelectuais e morais; e da vontade. Em 1912, a cadeira de Pedagogia passou a
compreender três disciplinas: Psicologia, Pedagogia e Metodologia.

Estes ensaios respondem muito ao período que o contexto brasileiro passa, sendo o
momento que surgem as primeiras instituições psiquiátricas. Assim, foi inaugurado o
Hospício Dom Pedro II, em 05 de dezembro de 1852, na cidade do Rio de Janeiro, mais
tarde denominado Hospício Nacional de Alienados (Costa, 1980; Uchôa, 1981), que
representava o modelo psiquiátrico europeu, como o espaço socialmente legitimado
para a loucura (Figueiredo, 1988). Sem perder de vista, a legislação sobre assistência
psiquiátrica e direitos das pessoas com transtornos mentais, inicia-se com o decreto
imperial de 18 de julho de 1841, que funda a psiquiatria institucional e estatal no país,
e vai até o Decreto nº 24.559, de 3 de julho de 1934, com 16 decretos referentes a tais
pessoas, neste período (Delgado, 1992).

203
No Brasil, após a Proclamação da República, em 1889, instaurou a republicana
federativa presidencialista do governo no Brasil, e derrubou a monarquia
constitucional parlamentarista do Império do Brasil, que colocou fim a soberania de
Dom Pedro II, com a abollição da escravatura, pela Lei Áurea de 1888, havia um fluxo
considerável de imigrantes para o país e por si só, a urbanização descontrolada que
causava sérios problemas sociais e sanitários (Moreira, Silva e Neto, 2005). Do período
de 1894 a 1930, temos o período da Primeira República. República Velha ou Republica
das Oligarquias, predominavam interesses ligados a oligarquia latifundiária, com
destaque para os cafeicultores, em que, a crise de 1929, com a quebra da bolsa de Nova
York, atingiu em cheio a oligarquia cafeeira paulista. Em 1930, temos a revolução de
1930, acarretada pela substituição, classe dominante oligárquica, para uma nova elite,
de origem positivista, reformadora e modernizante personificada por Getúlio Vargas
que propunha, uma política de desenvolvimento a longo prazo, baseada num projeto
nacionalista, com vistas para a expansão industrial. A revolução constitucionalista
de 1932, foi a expressão da oligarquia cafeeira que se inquieta e que não obteve o apoio
do operariado de São Paulo e dos sindicatos, pois os mesmos foram duramente
reprimidos pelo governo de São Paulo chefiado pelo ex-interventor Pedro de Toledo.
Foi a primeira grande revolta contra o governo de Getúlio Vargas e o último grande
conflito armado ocorrido no Brasil. Tinha por objetivo a derrubada do Governo
Provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova constituição para o Brasil.
As eleições de 1933 transcorreram em clima democrático, com a criação da Justiça
Eleitoral, com voto secreto e adoção do voto feminino. Em 1934, o país elabora a
Constituição, que institui leis trabalhista, devolve as oligarquias regionais grande
parte dos privilégios, suprimidos pela revolução de 1930 e não criava obstáculos as
medidas nacionalistas. de 1934. Em 1937 foi proclamado o Estado Novo ou Terceira
República Brasileira, que deu início a um período de oito anos de regime ditatorial,
até 1945, fundado por Getúlio Vargas. Neste período em 1939, inicia-se a Segunda
Guerra Mundial e em 1945, Getúlio Vargas foi deposto, por um movimento militar
liderado por generais que compunham seu próprio ministério e que pôs fim ao Estado
Novo. Da Silva Bortoloti & Vinicius da Cunha (2013), informam que foi criado nos
Estados Unidos em 1907, nesse contexto, o movimento de higiene mental surgiu com
a criação da Liga Brasileira de Higiene Mental, fundada no Rio de Janeiro, em 1923,
pelo psiquiatra Gustavo Riedel, a Liga tinha como objetivo primordial a melhoria na
assistência aos doentes mentais, através da modernização do atendimento
psiquiátrico (Costa, 2007), muitos de seus membros pioneiros da psicanálise (Russo,
2002) e em menos de um ano a Liga foi reconhecida como de utilidade pública e
passou a receber subsídios do governo federal (Wanderbroock Jr.; Boarini, 2008). A
LBHM - Liga Brasileira de Higiene Mental, então, passou a investir em programas de
higiene mental a serem implantados nos domínios privado, escolar, profissional e
social. A capital paulista, por exemplo, teve crescimento populacional de,
aproximadamente, 269% entre 1890 e 1900 (Rocha, 2003) e a vida das populações
urbanas menos abastadas era permeada por males como doenças e ociosidade e o

204
poder público procurava responder às demandas que surgiam à medida que a cidade
se constituía como objeto de atenção de médicos e engenheiros (Da Silva Bortoloti &
Vinicius da Cunha, 2013).

Soares (2010), relata que a partir da primeira década de 1900, as teses, ensaios e
atividades dos médicos, saídos das Faculdades, do Rio e Bahia, proporcionam um
caráter científico mais preciso e um interesse maior em busca de um assunto
Psicológico mais definido, começam também a surgir os Laboratórios de Psicologia,
em hospitais e Clínicas Psiquiátricas e assim o uso de métodos e técnicas de Psicologia
de maior objetividade e confiabilidade.

Centofani (1982), informa que em 1897, Medeiros e Albuquerque criou, o


‘Pedagogium’, um laboratório de Psicologia Pedagógica, mas que foi combatido por
"inovações fantásticas", das quais nada sobrou (Claparède, 1927). Também no Rio de
Janeiro, Maurício de Medeiros instalou e dirigiu um pequeno laboratório de
Psicologia Experimental na Clinica Psiquiátrica do Hospício Nacional (Cabral, 1950;
Lourenço Filho, 1955; Pessotti, 1975) e Manuel Bonfim dirigiu um Laboratório de
Psicologia Experimental na Escola Normal do Rio (Cabral, 1950).

Em 1899, Juliano Moreira, professor catedrático na Faculdade de Medicina de


Salvador, foi o primeiro brasileiro a citar, em conferência, artigos científicos de
Freudcxxi, quando ainda a prática clínica profissional da Psicanálise não havia sido bem
estabelecida em Viena, por se enquadrar no período de isolamento de Freud (1898
1902) (Mallmann, 2014; Torquato, 2014; Francischelli, 2010). O professor baiano,
considerado o fundador da disciplina psiquiátrica no Brasil, Juliano Moreira, entre
1900 e 1902, quando morava na Europa para tratar de uma tuberculose, viajou por
vários países, afim de conhecer os tratamentos e as instituições psiquiátricas. Quando
em 1903, retornou ao Brasil e instalou-se no Rio de Janeiro, se tornou o diretor do
Hospital Nacional dos Alienados (Salim, 2010) e nessa instituição, transformou as
obras de Freud em teorias de interesse acadêmico, bem como em objeto de teses de
Doutorado nas Faculdades de Medicina (Lisboa & Barbosa, 2009). Em 1914, Juliano
Moreira, apresenta no Rio de Janeiro, na Sociedade Brasileira de Psiquiatria,
Neurologia e Medicina Legal, um trabalho sobre a psicanálise esforçando-se, a partir
de então, a estimular seus alunos e seguidores ao estudo e aplicação da psicanálise em
seus consultórios (Oliveira, 2006). Em 1920, o debate acerca das ideias freudianas na
capital paulista se iniciou a partir da publicação do livro: A Doutrina Pansexualista de
Freud, do médico Franco da Rocha, principal expoente da psiquiatria local,
idealizador e fundador do Hospital Psiquiátrico do Juqueri. Pressionado pelo
ambiente médico da época - que já dava notícia da crítica freudiana em relação ao
termo “pansexualista”, Franco da Rocha (1930) aboliu a expressão do título do
trabalho (Salim, 2010). Do ano de 1926 a 1929, Juliano Moreira foi presidente da
Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal e que em 1929
passou a presidente honorário e reconhecido mundialmente (Salim, 2010).

205
Em 1914, é criado um Laboratório de Psicologia, na Escola Normal e Secundária de
São Paulo com fins Pedagógicos, que esteve sob a orientação e direção de um italiano
chamado Ugo Pizzoli (Cabral, 1950; Lourenço Filho, 1955; Pessotti, 1955; Soares, 1979).

Em Belo Horizonte, em 1929, e criado um Laboratório de Psicologia destinado a


estudos Pedagógicos, na Escola de Aperfeiçoamento, sob a breve orientação de Th.
Simon, e posteriormente durante muitos anos, dirigido por Helena Antipoff (Cabral,
1950; Lourenço Filho, 1955; Pessotti, 1975; Soares, 1979). E de todos o mais marcante
foi o Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas, criado em 1924, em Engenho
de Dentro, Rio de Janeiro, coordenado por Waclaw Radecki (Guimarães, 1928; Cabral,
1950; Lourenço Filho, 1955; Soares, 1979; Seminério, 1973).

Em 1907 o destaque vai para a tese de Maurício Campos Medeiros, médico e jornalista,
e em 1955 tomou posse na cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras, defendida, no
Rio de Janeiro, intitulada: Métodos em Psicologia. Em 1911 com destaque para a história
da psicologia no Brasil, Plínio Olinto, médico psiquiatra, defende, a tese com o título:
Associação de Idéias. Sendo este criador, no Instituto de Educação, do Laboratório
para Cursos de Psicologia Geral e Clínica (Soares, 2010).

Sganderla, Ana Paola, & Carvalho, Diana Carvalho de (2008) informam que Lourenço
Filho, iniciou sua carreira como professor de Pedagogia e Psicologia na Escola Normal
de Piracicaba em 1920, e lecionou em um colégio particular mantido por uma
fundação norte-americana, em que se relacionou com livros de psicologia educacional
dos Estados Unidos e assim, realiza uma série de pesquisas com o emprego de testes,
cujos primeiros resultados publica, em 1921, na Revista de Educação da Escola Normal
de Piracicaba (SP), em artigo intitulado "Estudo da atenção escolar" (Campos; Assis e
Lourenço, 2002). Em 1925 retorna a São Paulo e assume a cátedra de Psicologia e
Pedagogia na Escola Normal da Praça ocupada por Sampaio Dória, responsável pela
reforma do ensino público paulista em 1920, e pioneiro na tentativa de inovar métodos
de ensino e de racionalizar procedimentos administrativos. Lourenço Filho reativou o
Laboratório de Psicologia Experimental da Escola Normal da Praça. Com isso, o
laboratório passou a utilizar testes de desenvolvimento mental; inquéritos sobre jogos,
influência de leituras e do cinema; pesquisas sobre aprendizagem e uma investigação
profunda a respeito da maturidade necessária à aprendizagem da leitura e da escrita
que irá culminar na publicação dos Testes ABC (Lourenço Filho, 1994). Os testes,
agora mais práticos e econômicos, instrumentavam professores à testagem psicológica
de seus alunos, facultando-lhes a prática da psicometria (Centofanti, 2006). No ano de
1938, Lourenço Filho assume o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais, vinculado ao Ministério da Educação, originalmente denominado,
Instituto Nacional de Pedagogia, que permaneceu no cargo até 1946 e como professor
de Psicologia até 1957, quando se aposentou na cátedra de Psicologia Educacional da
Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (Sganderla, Ana Paola, &
Carvalho, Diana Carvalho de, 2008).

206
Lourenço Filho como um reconhecido educador e pioneiro da construção da relação
entre psicologia e educação no Brasil, convida Noemy da Silveira Rudolfercxxii em 1931
para chefiar o Serviço de Psicologia Aplicada da Diretoria Geral do Ensino do Estado
de São Paulo e, em 1932, para assumir a Cátedra de Psicologia Educacional e o
Laboratório de Psicologia Educacional, ambos pertencentes então à Escola Normal
Caetano de Campos. O laboratório subdividia-se em quatro seções principais:
Medidas mentais, Medida do trabalho escolar, Orientação e Estatística (Sganderla,
Ana Paola, & Carvalho, Diana Carvalho de, 2008).

Gil (1985) informa que na década de 1930, o sistema social brasileiro ainda era
dominado pelo modelo do latifúndio rural, que posteriormente cederia espaço ao
desenvolvimento de um sistema moderno de produção industrial, adotado como a
nova realidade do Estado brasileiro em processo de formação, tanto pelo setor
público, quanto pelo privado. Com isso advém a necessidade do princípio da
organização racional do trabalho, cuja atenção se voltaria para a escolha e o
treinamento técnico dos profissionais. Desta forma, os primeiros estudos em
psicologia do trabalho ocorreram em São Paulo, o principal polo industrial que
sobrevivera à grande crise mundial de 1929 e ao impacto político da Revolução
Constitucionalista de 1932. Em 1931 Roberto Mange foi um dos idealizadores do
Instituto de Organização Racional do Trabalho (IDORT), (cf. Langenbach, 1982, p. 27;
Rosas & Silva, 1997, p. 12). Roberto Mange exerceu um papel decisivo na vinda de
Mira y López ao Brasil (cf. Rosas & Silva, 1997, p. 14), visto que a mão de obra
especializada ainda vinha essencialmente de fora do país, e isso gerava alguns
problemas para o Estado brasileiro. Em 1934, com o engenheiro suiço Roberto Mange
professor da Escola Politécnica e da Escola de Sociologia e Política de São Paulo,
realizou-se o primeiro curso de psicotécnica brasileiro, para a organização do trabalho,
que voltou-se para a seleção e a orientação de aprendizes da rede ferroviária paulista.
Com isso, o engenheiro estabeleceu uma série de modificações no processo de seleção
e profissionalização em São Paulo. De acordo com Langenbach (1982), esses mesmos
problemas, permitiriam o surgimento de um novo profissional especializado em
escolher adequadamente a força de trabalho, tendo para isso como parâmetro
fundamental o exame das aptidões e do caráter, assim como a ação sobre o seu
treinamento. Em 1942 surge o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI);
o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), de 1946; a Fundação Getú
lio Vargas (FGV), de 1944; e o próprio ISOP, de 1947.

Mais à frente, em 1937, a Escola Normal do Rio de Janeiro é transformada por Anísio
Teixeira, no Instituto Nacional de Pedagogia, cuja direção inicial ficou a cargo de
Lourenço Filho (Antunes, 2003). Anísio Spínola Teixeira entre os anos 1920 e 1960,
priorizou suas concepções acerca da Psicologia, como uma ciência que impactou
significativamente nas propostas e práticas do movimento de renovação educacional
brasileiro (Bortoloti, 2012). Nesse local, são realizados “cursos de especialização e
aperfeiçoamento para diretores e orientadores de ensino”, nos quais figuram

207
disciplinas de Psicologia (Lourenço Filho, 2004, p. 87). Segundo Pfromm Netto (2004,
p. 160) “muitos daqueles que se dedicaram posteriormente à pesquisa e ao ensino
universitário de Psicologia formaram-se nas escolas normais e nelas iniciaram suas
carreiras” (Lisboa & Barbosa).

Em 1935 Noemy da Silveira Rudolfer é nomeada professora de Psicologia do Instituto


Caetano de Campos, incorporado à Universidade de São Paulo. Em 1938 presidiu o ‘I
Congresso Paulista de Psicologia, Neurologia, Psiquiatria, Endocrinologia, Medicina
Legal e Criminologia’, realizado em São Paulo, o primeiro congresso do gênero no
Brasil e marco da psicologia jurídica brasileira.

Gil (1985) cita que em 1944, com a criação da Fundação Getúlio Vargas, se constitui
um exemplo da preocupação com a preparação de técnicos habilitados para o
tratamento dos problemas administrativos e sociais. Em 1945, Mira y López chega ao
Brasil, e em 1947 é criado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional - ISOP, que
passa a desenvolver importantes pesquisas e cursos na área de psicologia aplicada ao
trabalho, que teve como diretor Emilio Mira y Lopes, cargo que ocupou de 1947 até
sua morte. Emilio Mira y Lopes, nasceu em Santiago de Cuba, Cuba, em 1896, era um
sociólogo, médico psiquiatra e professor de psicologia forense, experimental e infantil,
elaborou o Psicodiagnóstico Miocimético - PMK, que primeiramente levou para a
Medicina e posteriormente para a Psicologia. Quando chegou ao Brasil, Mira Y Lopes
já havia publicado seu reconhecido trabalho: ‘Manual de Psicologia Jurídica ’de 1932,
e em 1935, ‘Manual de Psiquiatria’. Foi um dos grandes incentivadores e participante
ativo das lutas pela regulamentação da profissão e pela formação acadêmica regular
do psicólogo no Brasil. Em 1944, com a matéria acadêmica de Psicologia mais
estruturada, teve início a publicação do Boletim de Psicologia (Soares, 2010).

Na Universidade de São Paulo, em 1953, é proposta a criação do primeiro curso de


formação de psicólogos, o qual será efetivamente implantado em 1957. E em 1962,
graças à Lei Federal número 4.119, é regulamentada a formação do psicólogo e o seu
exercício profissional, com atuação mais contundente nas áreas: clínica, industrial,
escolar e magistério, sendo que o currículo definido para os cursos de formação de
psicólogos volta-se fundamentalmente para a área clínica (Lisboa, 2009).

9. Psicologia Jurídica
Se no Brasil, temos os primórdios da psicologia jurídica no ano de 1938, por meio de
Noemy da Silveira Rudolfer, que presidiu o ‘I Congresso Paulista de Psicologia, Neurologia,
Psiquiatria, Endocrinologia, Medicina Legal e Criminologia’, realizado em São Paulo.
Na América a aplicação da psicologia à arena jurídica ocorreu até mesmo quando a
psicologia se desenvolvia como uma disciplina acadêmica universitária. E em sua
história da psicologia forense, Bartol e Bartol (1999) observam que várias figuras
eminentes, como J. McKeen Cattell (1895), Alfred Binet (1905) e William Stern (1910),

208
conduziam estudos a respeito da precisão da memória, e traçavam um paralelo com a
precisão do testemunho ocular da vida real. Mesmo Sigmund Freud mostrou interesse
na psicologia jurídica, publicando em 1906 um artigo intitulado "Psicanálise e a
verificação da verdade nos tribunais de justiça".

O fornecimento de depoimentos de especialistas, em situações forense, a respeito de


processos judiciais pode ser rastreado nos primórdios da psicologia experimental em,
Wilhelm Wundt e seus alunos. No ano de 1896, o Barão Albert von Schrenck-Notzing
(1862-1929), um psiquiatra alemão que treinou com Wundt, forneceu provas em um
julgamento que envolveu o assassinato de três mulheres. Com base em sua pesquisa
sobre a sugestão, o Barão argumentou que as testemunhas poderiam estar sofrendo
com o que ele chamou de "falsificação de memória retroativa" e com isso, confundido
o que vivenciaram, com os relatos que haviam lido nos jornais (Bartol & Bartol, 1987).
Pela primeira vez, mas certamente não o último, a Corte rejeitou sua prova e
considerou o réu culpado. Subseqüentemente, Schrenck - Notzing abandonou os
depoimentos como perito para se dedicar a pesquisa psíquica, embora o fenômeno a
que chamou a atenção é conhecido atualmente como "a desinformação pós-evento"
(Loftus, 2005).

Outro aluno de Wundt, o americano James M. Cattell (1860-1944) foi um dos primeiros
a demonstrar a falta de confiabilidade da memória para eventos do passado recente e
a ligação tênue entre a confiança e a precisão das testemunhas (Cattell, 1896). As
descobertas de Cattell estimularam o interesse do psicólogo francês Alfred Binet
(1857-1911), que conduziu uma série de investigações sistemáticas sobre a
sugestibilidade em crianças, que resumiu em sua monografia La Suggestibilité (1900).
Binet demonstrou o impacto das principais questões sobre a resposta das crianças e
foi o primeiro a distinguir entre respostas falsas, baseadas puramente em pressões
sociais e mudanças cognitivas na memória subjacente das crianças. Embora
qualificado como advogado, Binet nunca foi autorizado a testemunhar nos tribunais
franceses. Por sua vez, o psicólogo belga Julian Varendonck (1879-1924) testemunhou
sobre as descobertas de sua própria pesquisa sobre a sugestibilidade das crianças em
um julgamento por homicídio em 1911, onde as provas das crianças eram críticas para
o caso da acusação. Em contraste com a abordagem de Binet, a pesquisa de
Varendonck estava entrelaçada a sugestibilidade social e cognitiva, mas contribuiu
para que o réu fosse considerado não culpado (Davies, 2003). A Alemanha também
abraçou a nova Psychologie der Aussage (a psicologia dos relatos verbais) liderada
por William Stern (1871-1938), que criou a primeira revista científica dedicada à
pesquisa do testemunho (Lamiell, 2010). Existe uma forte relação entre a psicologia e
a lei na Alemanha e a partir de 1955, a Suprema Corte exigiu que os psicólogos
realizassem uma avaliação preliminar de todos os denunciantes de abuso de crianças
em casos contestados, incluindo uma análise do conteúdo do testemunho, com a
finalidade de apresentar provas sobre as suas conclusões ao tribunal (Vrij, 2008).

209
Lionel R. C. Haward (1920-98) pode ser aclamado como a primeira figura importante
na psicologia forense britânica e vislumbrou um potencial para a psicologia para
informar processos judiciais. Ele publicou temas da psicologia forense na década de
1950 - muito antes da Sociedade Britânica de Psicologia constituir a Psicologia
Criminológica e Jurídica, que pertence a Divisão Psicologia Forense. No ano de 1981
escreveu o clássico texto Forensic Psychology - Psicologia Forense e atuou como perito
em muitos casos, incluindo o vergonhoso julgamento dos anos 1960 da revista
subterrânea Oz (Brigham, 1999).

Nos Estados Unidos, outro aluno de Wundt, Hugo Münsterberg (1863-1916) escreveu
o primeiro livro publicado em inglês sobre psicologia e direito, intitulado "On the
Witness Stand" (Münsterberg, 1908). Além da exatidão da testemunha ocular, o livro
discutiu o papel da psicologia na detecção do engano, em busca das falsas confissões;
o impacto das principais questões em tribunal e o desenvolvimento de procedimentos
de entrevista eficazes para as testemunhas (Hale, 1980). No ano de 1917 William
Marston, um aluno de Hugo Münsterberg, percebeu que havia uma correlação entre
mentir e pressão arterial, que levou ao desenvolvimento do detector de polígrafo
(Hale, 1980).

Na América do Norte, a psicologia estava fazendo grandes avanços no sistema de


justiça penal. Mas não há dúvida de que a figura mais influente foi o psicólogo alemão
Hugo Münsterberg (1863-1916), que foi estudante de doutorado de Willhelm Wundt,
em que recebeu o título de doutor em Psicologia da Universidade de Leipzig, em 1885,
e diploma em Medicina, em 1887 (Brigham, 1999).

Münsterberg conheceu William James em Harvard em 1889, local em que foi


apresentar um post em 1897 (Spillmann & Spillmann, 1993) e em 1892 Willian James
convidou-o para Harvard por um período de três anos como uma cadeira do
laboratório de psicologia e se tornou o supervisor dos estudantes de pós-graduação
de psicologia (Brigham, 1999). Em 1910-11 ele foi nomeado professor de intercâmbio
de Harvard para a Universidade de Berlim, porém retornou a Harvard como um
professor da psicologia experimental e diretor do laboratório psicológico (Brigham,
1999). Suas publicações mais expressivas foram, Beiträge zur experimentellen
Psychologie (4 volumes) (1889-1892), em 1899 Psychology and Life, no ano de 1900 Grun
dzüge der Psychologie e em 1908 o mais controverso On the Witness Stand, A Detecção do
Crime, reconhecido por ele, como no campo da Psicologia Aplicada, em que discute
os diversos fatores psicológicos que podem mudar o resultado de um julgamento e
apontou o caminho para meios racionais e científicos pela aplicação da psicologia
experimental à administração da lei. E no prefácio deste livro esclarece que o primeiro
laboratório Alemão fora de Leipzig foi fundado por ele, em Freiburg, 20 anos depois
(Munsterberg, 1908). Münsterberg escreveu em muitas áreas da psicologia, (Hale,
1980), porém sua principal contribuição para o inexperiente campo da disciplina da
psicologia forense, é encontrado em seu livro, publicado em 1908, On the Witness Stand.

210
Nesta publicação Münsterberg avançou sob o ponto de vista de que a psicologia
poderia ser amplamente aplicada e assim melhorar o discernimento dos tribunais em
questões e procedimentos psicológicos (Munsterberg, 1908). Por meio de uma coleção
de seus ensaios, ele discutiu como psicologia poderia ajudar com questões envolvendo
testemunhas oculares, detecção de crime, confissões falsas, sugestibilidade,
hipnotismo e até mesmo a prevenção da criminalidade. Infelizmente, Munsterberg
apresentou suas idéias de uma maneira que levou à crítica pesada de advogados
(Bartol & Bartol, 2006). Aluno de doutorado de Wilhelm Wundt, em Leipzig, o alemão
Munsterberg com grande influencia na base dos textos americanos foi considerado
por muitos como o pai da Psicologia Aplicada (Bartol & Bartol, 2006).

Após a publicação do controverso livro de Munsterberg, a psicologia forense na


América do Norte, gradualmente alcançou um bom status semelhante ao que ocorria
na Europa, não apenas em teorias, que se encontravam em ritmo acelerado, mas
também o embasamento destas teorias em pesquisas realizadas por psicólogos norte
americanos. Ao passo que estas pesquisas eram aplicadas em uma ampla gama de
configurações da justiça penal americana. Por exemplo, como Bartol & Bartol (2004),
os psicólogos forenses foram fundamentais para o estabelecimento da primeira clínica
para delinquentes juvenis em 1909. Os psicólogos começaram em 1917, e 1919 a
primeira investigação forense, com o intuito de conduzir avaliações de pré-julga
mento, montado em uma agência de polícia dos EUA. Após esses eventos, os
psicólogos nos Estados Unidos começaram a ser mais envolvidos no sistema judicial.

9.1 A busca pelo fato genuíno, por meio das entrevistas – uma história da psicologia no

mundo forense.

Dale, Loftus, & Rathbun, (1978) afirmam que uma questão de interesse para
psicólogos, advogados, investigadores da polícia, e outros, é: como, por meio do
testemunho de uma pessoa de algum evento incomum, pode se acessar, informações
completas e precisas a partir desse testemunho. Assim, uma pessoa ao relatar um
evento breve, como um crime, é susceptível de fornecer uma descrição desse evento,
nem muito completa nem muito precisa (Dale, Loftus, & Rathbun, 1978).
Especificamente quando uma testemunha é uma criança, em que historicamente foi
considerada como particularmente imprecisa, altamente sugestionável e básica não
confiável (Varendonck, 1911). Amado, Arce, Farina e Vilariño (2016). No entanto, ao
analisar os métodos utilizados pelos tribunais para determinar a credibilidade, Rozell
(1985) destaca que o foco tem sido a criança (credibilidade) em vez da alegação
(veracidade). Esta afirmação de Rozell (1985) alerta que na veracidade se encontra a
ausência ou presença de três elementos: a intenção na falsidade do assunto, a crença
do remetente nesta falsidade e sua intenção de enganar o receptor (Kail, 1989). Assim,
quanto mais desses elementos presentes em uma declaração mais provável a

211
informação ser falsa, sendo o elemento que mais se destaca, ser a crença do remetente
na informação falsa, seguida pela intenção para enganar (Ruby e Brigham, 1994).

Em 1893 James Cattell realizou a primeira pesquisa no campo da psicologia forense, a


respeito do testemunho e concluiu que a demonstração de confiança nem sempre é
igual à estar correto. Em 1896, Albert von Schrenck-Notzing médico psiquiatra,
afirmou que a cobertura midiática pré-julgamento de casos judiciais pode influenciar
nos testemunhos. Von Schrenk Notzing estudou a respeito da "falsificação
retrospectiva da memória", sendo um dos primeiros a realizar experimentos sobre o
problema da confiabilidade da memória que ainda ecoa no debate atual sobre "falsas
memórias". Por sua vez, em 1900, Binet publicou um livro sobre "sugestionabilidade"
e sugere a criação de uma ciência ‘Psycho-judicial’. Whipple (1909) afirmou que "o
fator, mais do que qualquer outro, responsável pelos pobres relatos das crianças, é a
sugestionabilidade excessiva, especialmente nos anos anteriores à puberdade". Talvez
a evidência mais dramática de maculação do testemunho infantil, seja o trabalho de
Varendock (1911, revista Whipple, 1913). Varendonck foi um dos primeiros psicólogos
a ser usado na sala do tribunal como perito em testemunho, em que, na Bélgica,
Varendonck (1911) na sua participação em um julgamento, afirmou que, o testemunho
das crianças nunca deve ser admitido em tribunais (Dale, Loftus, & Rathbun, 1978).
Ruby & Brigham (1994) informam que antes da década de 1970, além de psicólogos,
autoridades legais e estudiosos, eram céticos quanto à credibilidade das crianças, o
sistema jurídico era relutante em reconhecer as alegações de abuso sexual de crianças
como credíveis em tudo. Wigmore (1940) em seu seminário Treatise on Evidence,
insistiu que todas as alegações de abuso sexual poderiam ser assumidos como falso,
em que utilizou a literatura científica predominante de seu tempo para apoiar esta
afirmação. Wigmore confiava fortemente nas idéias de Freud sobre a fantasia sexual
das jovens para com seus pais como base para quaisquer alegações que pudessem
formular. Ruby & Brigham (1994) alegam que a natureza cética dos escritos de
Wigmore (1940) fortaleceu precedências para jurisprudência subseqüente em relação
a admissibilidade das provas testemunhais encontradas nos tribunais americanos
(Bienen, 1983). Ruby & Brigham (1994) informam que, o Supremo Tribunal de Oregon
em State v. Yates (1965) disse que o tribunal inferior deveria ter instruído o júri da
periculosidade de condenar um réu com base apenas em um testemunho não
corroborado da criança-vítima (Bienen, 1983). Os tribunais norte-americanos tiveram
nos anos 70, restrições quanto ao testemunho de vítimas de abuso sexual e muitas
vezes encontraram razões para descrer ou mesmo desacreditar nas alegações (Bienen,
1983).

Ruby & Brigham (1994) explicam que freqüentemente, as alegações feitas pela suposta
vítima, trata-se de um testemunho, que é a única evidência, sobre a qual a acusação se
baseia (Coolbear, 1991, Yuille, 1988, Undeutsch, 1989). Para investigar em que medida
as crianças nessas situações devem ser creditadas, muitos pesquisadores e autoridades
profissionais tem estudado aspectos do testemunho infantil, tais como: suscetibilidade

212
a sugestões, precisão de memória e comportamento de indicadores de trauma sexual.
No entanto, esses esforços de pesquisa têm sido criticados em termos de sua
incapacidade de acessar a veracidade dos relatos (Raskin & Esplin, 1991). De acordo
com Yuille (1988), pesquisadores da década de 1970 realizaram uma avalanche de
investigação empírica sistemática sobre a credibilidade de testemunhos, que
apresentaram como resultado um aumento na confiança das alegações infantis.
Posterior a estes estudos, Coolbear (1991) esclarece que a maioria dos profissionais
geralmente aceitam que: crianças não mente sobre alegações de abuso sexual. Faller
(1984) esclarece que raramente crianças fazem histórias em que foram sexualmente
molestadas. Coolbear (1991) completou tal afirmação e argumentou que, de fato,
existem sim, fatores que predispõe o aparecimento de alegações falsas, tais como:
disputas de custódia, incitação de raiva em relação a um pai e o método de entrevista
de familiares. Assim, a aceitação acrítica da alegação de uma criança sob essas
circunstâncias, pode ser um problema sério (Faller, 1984). De acordo com Quinn
(1988), as estimativas de alegações falsas relatadas em muitos estudos têm variado
amplamente, variando de tão baixo quanto 3% a até 75%. Coleman e Clancy (1990)
afirmam que, embora os especialistas podem discordar quanto à prevalência de falsas
acusações, estes estão ocorrem a um ritmo muito superior ao que a nossa sociedade
pode proporcionar. Coleman e Clancy e (1990) acreditam que a necessidade da
manutenção de não discutir as alegações falsas, passam por uma aliança de trabalho
entre como irá se aplicar a lei e as Agências de saúde mental e Bem-estar. Coleman e
Clancy (1990) alegam que uma aplicação objetiva de relatos pode ser contaminada
pela infusão de uma abordagem terapêutica e de promoção do bem-estar e saúde que
podem encorajar alegações falsas, trata-se de uma tendência para creditar uma maior
confiança nas Agências de acolhimento. Ruby & Brigham (1994) esclarecem que por
outro lado, os tribunais norte-americanos lidam com a questão da credibilidade das
vítimas infantis e de como métodos podem ser usados para avaliar estes relatos. Em
relação a este conflito, entre, admitir deficientemente um testemunho infantil e a
necessidade de um testemunho seguro e fidedigno, Rozell (1985) afirma que os
tribunais "devem resolver este conflito através do deferimento de sólidos princípios e
dados comportamentais". Rozell (1985) enfatizou que se faz importante confiar em
métodos científicos para estabelecer esta credibilidade.

Porém, o que Ceci e Bruck (1993) alegam, é que, de fato, o que existe na temática de
credibilidade de relatos, é uma falta de sofisticação metodológica e elevadas
contradições teóricas, em que por um lado as crianças são descritas como altamente
resistente á sugestão, como não suscetíveis a mentir, sendo tão confiável quanto um
adulto sobre atos perpretados em seus próprios corpos (Berliner, 1985, Goodman,
Rudy, Bottoms & Aman, 1990; Jones & McGraw, 1987). Por outro lado, as crianças são
descritas por terem dificuldade em distinguir realidade, da fantasia, como sendo
suscetível ao treinamento ou instrução de figuras de autoridade ou muito próximas,

213
e portanto, como potencialmente menos confiável do que os adultos (Feher, 1988,
Gardner, 1989, Schuman,1986; Underwager & Wakefield, 1990).

Segundo Ceci e Bruck (1993), ao ponderar as controvérsias, deve-se considerar a


maneira que as pesquisas refletem suas culturas, campos legais e referências
psicológicas, antes de aferir a competência das crianças. Ceci e Bruck (1993)
argumentam que, embora haja controvérsia, a reorientação é que o debate deve apurar
em que condições as crianças são ou não mais sugestionáveis. Deve-se considerar
aspectos que envolve a precisão de recordar eventos durante longos períodos de
tempo a destacar que centenas de estudos examinaram o grau de codificação,
armazenagem e recuperação de diferentes tipos de informação. Ceci e Bruck (1993)
destacam que a maioria dos estudos examinaram recordação de objetos e eventos
periféricos, ao contrário de ações, o que impacta fortemente nos resultados, sendo
importante concluir que as habilidades de reconto melhoram com a idade (Kail, 1989,
Ornstein, 1978, Schneider & Pressley, 1989), sendo que esta melhoria esta associada,
ao quanto os materiais e procedimentos fazem sentido para as crianças (Flavell, 1985)
ou se o objeto a ser lembrado é significativo, ou se a ação ou o evento, é pessoalmente
significativo (Cutts & Ceci, 1988, Fivush & Hamond, 1990; Jones, Swift, & Johnson,
1988; Perris, Myers, & Clifton, 1990). Ceci e Bruck (1993) alegam que sendo o reconto
de eventos relacionados à ação, são considerados altamente confiáveis, mesmo em
crianças em idade pré-escolar (Davies, Tarrant, & Flin, 1989; Jones et al., 1988),
particularmente quando estas são as participantes do evento (Rudy e Goodman, 1991).

Pinard (2007) informa que os experimentos contemporâneos de testemunhos infantis


envolvem a realização de um evento, tal como uma presentação real, em que
participam, seja como atores ou como observadores. Em que não estão avaliando suas
memórias através de entrevistas/sondagem imediatamente depois e ou depois de um
atraso pré-determinado. Mas sim, busca atender aos requisitos do sistema jurídico,
questionando com base em algumas dimensões: a) o que ocorreu; b) as pessoas
presentes, c) o tempo, d) a localização precisa da ação. Tal interrogação tem
geralmente (Batterman-Faunce & Goodman, 1993): a) relato livre - com a recuperação
da informação obtida a partir de uma questão em aberto, tal como: "O que aconteceu,
me diga? "; b) questões específicas neutras, que se destinam a ser detalhado
informações fornecidas de maneira livre, por exemplo: "Você disse que o homem
estava vestindo um casaco, que cor era?"; c) questões específicas positivamente,
questões principais cuja formulação é orientada apenas para exemplo: "Diga, o
homem está vestindo um casaco preto?", quando na verdade utiliza um verde; d)
tarefa de reconhecimento visual (Pinard, 2007).

Pré-escolares recordam-se tanto quanto os adultos, quando a tarefa não enfatiza re


cordação de algo verbal (Nurcombe, 1986) e respostas de questões específicas, bem
como não há interferência da idade na recordação livre (Ceci, Ross, & Toglia, 1987,
Cole & Loftus, 1987, Jones et al., 1988; List, 1986, Saywitz, 1987). Crianças de 3 anos de

214
idade reconhecem desenhos familiares tanto quanto uma de 12 anos de idade (Ceci et
al., 1987). Kail (1989) alega que a memória de reconhecimento de pré-escolares pode
ser notavelmente precisa (Kail, 1989).

Gudjonsson (1986), Powers, Andriks, & Loftus (1979) alertam que a


sugestionabilidade a um relato, ocorre "na medida em que os indivíduos vem a aceitar
e posteriormente incorporar informações pós-evento em suas recordações de memória
". Ceci e Bruck (1993) afirmam que, a sugestionabilidade resulta da provisão de
Informações posterior a um acontecimento em vez de o preceder, por isso é possível
aceitar informações e ainda ser plenamente consciente de sua divergência do evento
original, como no caso da "confabulação", apresentado por pacientes com lesão cere
bral (Johnson, 1991), a aquiescência ás exigências sociais ou à mentira (Ceci e Bruck,
1993). Assim, estas formas de transporte e ou acréscimo de informação, não envolvem
a alteração da memória, e a sugestão pode resultar do fornecimento de informações
anterior ou poterior a um evento, e que a sugestão pode resultar de fatores sociais e
cognitivos, como o pensamento. Desta forma, frente a uma visão mais ampla de
sugestibilidade é consistente afirmar a existência de sutis sugestões ou questões
expressas, bem como subornos, ameaças e outras formas de indução (Ceci e Bruck,
1993). Pois até o fato de insistir com uma atmosfera de que: "Está tudo bem dizer ...
Você vai se sentir melhor uma vez que você diz", ou divulgar que o suspeito é "uma
pessoa má que a tenha ferido", é uma atmosfera de acusação e pode sugerir questões.
Goodman et al. (1991) afirmam que o tom emocional de uma entrevista feita por pais
influencia a recordação dos filhos, bem como, quando as crianças são feitas a mesma
pergunta mais do que uma vez, estas muitas vezes mudam suas respostas
presumivelmente porque interpretam a pergunta repetida como: "Eu não devo ter
dado a resposta correta da primeira vez, devo tentar fornecer novas informações".
Dentro desse quadro, pode-se examinar o quanto as crianças refletem a influência
cultural e de pessoas, e se apresentam influenciadas pela vontade dos adultos. Aceitar
o testemunho das crianças, é aceitar a natureza de qualquer interrogatório que induza
as crianças a fazerem certas declarações ou acusações (Ceci e Bruck, 1993). O mesmo
vale dizer nos testemunhos de adultos que são sugestionáveis, ou que suas memórias
são sempre confiáveis, ou que seus testemunhos são altamente precisos (Belli, 1989,
Gudjonsson, 1986, Lindsay, 1990, Loftus, 1979). Essas declarações são claramente
falsas. Fatores podem influenciar em testemunho de todas as idades, mas podem
exercer uma influência desproporcionada em crianças (Ceci e Bruck, 1993). Hutz
(2014) alerta que nem tudo o que é contrário à realidade, sem fundamento ou inexato
é necessariamente uma mentira, pois para sê-lo depende da intenção. É possível o
relato de algo no qual se percebeu de forma errônea, sem o saber – que não condiz
com a realidade, ainda assim, é considerado um relato falso, porém não mentiroso.
Hutz (2014) esclarece que a mentira, a enganação - deception é “uma tentativa, bem ou
malsucedida, sem aviso prévio, de criar no outro uma crença que o próprio
comunicador considera ser irreal” (Vrij, 2000, citado por Memon, Vrij & Bull, 2003).

215
Priest (2000) em sua teoria da correspondência da verdade, informa que a verdade é
aquilo que corresponde à realidade, a fatos brutos, Ferreira (2010) e Houaiss & Villar
(2009) também têm em comum os seguintes conceitos sobre o verdadeiro: aquilo em
que há verdade, que exprime a verdade; real, exato; autêntico, genuíno; a verdade, a
realidade; o mais conveniente; o dever. Hutz (2014) destaca que Ortiz (2012), em
relação à produção do laudo pericial psicológico, como prova judicial, o que se está
expondo não é a “Verdade”, mas a atribuição de um sentido ao problema apresentado
no processo, em que, a busca da veracidade nos depoimentos é uma marca importante
da psicologia e da psiquiatria penais. É um trabalho que leva ora a inquirir, ora a
examinar, sem que se esqueça da própria disciplina – a Psicologia – para que seja
produzida a prova pericial contundente.

Atualmente o que se tem no âmbito forense na detecção de fraude, são instrumentos,


utilizados por multiprofissionais, na busca de validar como verdadeiros ou falsos, os
testemunhos. Uma das maiores autoridades em DOD - Detection of Deception, Aldert
Vrij (1994, 1995, 1997, 1998, 2000), alerta que a maioria dos profissionais não têm o
conhecimento adequado para a avaliação forense de abuso sexual infantil (Köhnken,
Manzanero, & Scott, 2015). Adams (2002) informa que pesquisadores com baixo
contato com os episódios investigados, freqüentemente influenciaram as respostas
dos entrevistados e Alison, Fossi e Bramley (1998) observou que muitas narrativas
fornecidas pelas vítimas de estupro são na verdade um produto do processo de
entrevistas. Harvey, Turnquist e Agostinelli (1988) e Parker e Brown (2000) advertiram
entrevistadores a cuidadosamente se utilizar de técnicas de questionamento, numa
tentativa de evitar distorções ou contaminar respostas.

Adams (2002) alerta que os métodos que surgiram para a identificação do DOD – De
tection of Deception, são três: fisiológica, não-verbal e verbal. Cada categoria utiliza
técnicas diferentes na tentativa de discriminar entre veracidade e fraude. Na detecção
fisiológica de fraude, um equipamento especializado monitora mudanças físicas
causada pelo aumento do estresse. O polígrafo, o medidor fisiológico mais
amplamente utilizado, monitora mudanças na pressão arterial, respiração e resposta
eletrodérmico (Iacono, 2000). A pupilografia, considerada uma abordagem fisiológica,
examina as mudanças no tamanho das pupilas, a análise no estresse da voz, por meio
de microtremulos subaudíveis, a eletromiografia que mede as atividades elétricas
dentro das fibras musculares e eletroencefalograma que monitora mudanças na
atividade elétrica do cérebro (Farwell e Richardson, 1993; Stern, Ray & Quigley, 2001).
Cutrow, Parks, Lucas e Thomas (1972), relataram um estudo em que os índices fisio
lógicos: Resposta galvânica à pele palmar(P-GSR); Resposta galvânica de pele volar
(V-GSR); Volume de pulso do dedo (FPV); Frequência cardíaca (FC); Amplitude
respiratória (BA); Tempo de Ciclo da Respiração (BCT); Taxa de intermitência do olho
(EBR); Latência de intermitência de olhos (EEL) e Latência de Voz(VL), em que os
resultados refletiram que o P-GSR - Resposta galvânica à pele palmar, foi classificado
como o melhor indicador de fraude. Todos estes métodos de componentes

216
fisiológicos, exigem equipamentos especializados e treinamento, por sua vez não são
universalmente disponíveis para profissionais em geral (Adams, 2002). Tal como o
examinador de polígrafo, que delineia uma de linha de base do comportamento de
um indivíduo e para quaisquer desvios em relação à linha de base durante a discussão
de tópicos pertinentes ao que e investiga, (Inbau, Reid, Buckley & Jayne, 2001; Horvath
et al., 1994) é considerado incidente crítico por revelar aumento do estresse resultante
da fraude. Nos métodos com enfoque no comportamento, os não-verbais,
Rosenberg (2005) discorreu sobre o Sistema de Codificação de Movimentos Faciais -
Facial Action Coding System – FACS, segundo Hutz (2014) estudado por Paul Ekman
e Wallace Friesen desde o início dos anos 70. Trata-se de um sistema anatômico que
descreve todos os movimentos faciais visualmente discerníveis, de uma base de 44
unidades de expressões únicas, assim como posições e movimentos de cabeça e de
olhos, e que a autora classificou como “evento”, que é um agrupamento de
movimentos faciais, que formam uma expressão facial ou um conjunto de expressões
faciais. Podem ser interpretadas como específicas de determinadas emoções. Esse
sistema é utilizado para discernir as expressões e movimentos feitos durante uma fala,
e pode ser utilizado para comparar o conteúdo do discurso com a emoção expressa. A
lógica do sistema é que a falta de coerência entre um e outro pode estar evidenciando
um comportamento mentiroso (Rosenberg, 2005).

Em ambos os métodos não-verbais e fisiológicos, de detecção do engano, a chave é


identificar o que causou as alterações (Adams, 2002). De Paulo et al. em revisão,
analisou os resultados de 119 estudos de decepção/fraude, incluindo1.332 estimativas
de 161 pistas diferentes de fraude. Deste estudo revisional, das oito pistas mais
confiáveis na DOD - Detection of Deception, somente dois eram sinais não-verbais -
dilatação pupilar (uma sugestão cinésica) e voz (interpretação paralinguistica). Os
restantes seis sinais mais confiáveis foram sinais verbais: baixo imediatismo, baixo
detalhes, menos plausibilidade, mais incerteza, narrativas mais negativas e mais
repetição. Embora pistas não-verbais sejam valiosas na detecção de fraude, pistas
verbais podem ser ainda mais precisas na discriminação entre veracidade e
decepção/fraude. Watson (1981) alerta, que pistas não-verbais parecem reduzir a
precisão na detecção de fraude, por confundir os observadores, mais do que uma
cuidadosa avaliação de pistas verbais. Hutz (2014) alerta que segundo Memon, Vrij e
Bull (2003), os pesquisadores psicólogos Aldert Vrij e Ray Bull realizaram,
separadamente, revisões da literatura sobre indicadores não-verbais para a fraude e
acessaram mais de 100 estudos. Nesta revisão constaram que não existe uma resposta
não-verbal específica que denuncie a fraude e ainda não existe um padrão de
comportamento não-verbal que, isoladamente, aponte o depoimento mentiroso com
exatidão (Biland, Py, Allione, Demarchi, & Abric, 2008; Bull et al., 2009; Rovinsk e
Cruz, 2009).

Adams (2002) destaca que métodos verbais de DOD - Detecção de Decepção/Fraude,


é realizada por meio de análise das palavras de um indivíduo, seja oral ou escrita.

217
Hutz (2014) alerta que o enfoque pode ocorrer por conteúdo, que considera que o
relato verdadeiro e o relato não verdadeiro têm qualidades próprias e são
identificáveis por meio do seu conteúdo, como o Reality Monitoring (RM: Virj et al.,
2008), idealizado por Johnson e seus colaboradores nos Estados Unidos (Jonhson e
Raye, 1981; Schooler et al., 1986, 1988; Johnson et al., 1988, 1993; Johnson e Suengas,
1989; Suengas 1991) (Masip, Sporer, Garrido e Herrero, 2005). O método RM, já
validado em contexto de declarações de testemunhas, é conceitualmente semelhante
ao SVA (Schooler et al., 1986), uma vez que, em ambos, a idéia subjacente é que, os
relatos se constituirá de certas características que diferenciarão entre os testemunhos
que o indivíduo esteve envolvido, e os relatos em que não houve participação (Masip,
Sporer, Garrido e Herrero, 2005). A semelhança ao método SVA - Statement Validity
Assessment, condiz em particular ao CBCA, que considera que os relatos baseados em
memórias genuínas incluem mais detalhes espaciais, temporais e perceptivos,
enquanto relatos baseados em invenção apresentam mais detalhes relacionados com
processos cognitivos (Masip, Sporer, Garrido e Herrero, 2005).

Métodos verbais usados para discriminar entre veracidade e decepção no discurso,


(Kaster, 1999, Rabon, 1996, Rudacille, 1994, Sapir, 1987), na análise das declarações,
são variados, como a técnica SCAN - Análise de Conteúdo Científico, de Sapir (Sapir,
1987; Lesce, 1990, Driscoll, 1994, Adams, 1996, Smith, 2001) e Wiener e Mehrabian
(1968) e não-imediatismo verbal (ver também Kuiken, 1981, Buller et al., 1996). O livro
de Arne Trankell (1972), Confiabilidade de Evidência: Métodos para Analisar e
Avaliar Testemunhos, publicado pela primeira vez em sueco, línguas nórdicas (1968)
e depois em alemão (1971), foi traduzido para o inglês em 1972 e é considerado um
destaque neste campo. Este livro descreve métodos para analisar e avaliar
depoimentos de testemunhas E introduziu ao mundo de língua inglesa o trabalho de
Udo Undeutsch da Alemanha Ocidental. Dr. Undeutsch desenvolveu Statement
Reality Analysis (SRA), um método para avaliar a credibilidade das declarações de
vítima alegada. A Hipótese de Undeutsch afirma que as declarações baseadas em
experiências reais diferem em estrutura, qualidade e conteúdo das que são um
produto de fabricação (Rogers, 1990).

Entre todos esses procedimentos verbais, aqueles que são mais conhecidos e que têm
dado a maior parte da investigação empírica são a SVA/CBCA e a abordagem RM.
Destacamos que o SVA - Statement Validity Assessment (Köhnken e Steller, 1988 ; Steller
e Köhnken, 1989) inclui a Análise de Conteúdo Baseado em Critérios CBCA - Criteria
Based Content Analysis (Steller & Koehnken, 1989; Undeutsch, 1989) e se subdivide em:
SVA – Parte I: Entrevista Cognitiva, SVA – Parte II: Criteria-Based Content Analysis
(CBCA) SVA – Parte III: Lista de Controle da Validade. Hutz (2014) informa que a
Verificação da Credibilidade do Testemunho – VCT, que tem como meta a busca de
traços de veracidade e/ou de falsidade nos fatos narrados, se utiliza de instrumentos
e técnicas utilizados pelas forças policiais do mundo inteiro para verificar a
credibilidade do testemunho. Segundo Blandón-Gitlin, Pezdek, Lindsay e Hagen

218
(2009), uma das técnicas mais utilizadas é o Statement Validity Assessment - SVA -
Avaliação da Validade do Testemunho, elaborada para detectar veracidade nos casos
de abuso sexual contra crianças e adolescentes, mas que também vem sendo utilizado,
com sucesso, com adultos em diversas circunstâncias, no âmbito forense (Hutz, 2014).
Vrij e Granhag (2012) esclarece que pesquisadores devem fornecer técnicas com o
objetivo de produzir evidências que serão sustentadas em tribunais. Vrij e Granhag
(2012) alertam que a busca não é por destacar a verdade e a fraude, mas em como
maximizar o valor da prova para que os juristas saiam da margem da dúvida perante
o nível de provas que ainda se apresenta em tribunais criminais e afirmam que existe
uma necessidade de preencher a lacuna entre pesquisa tradicional sobre a mentira e
as decisões judiciais (Hutz, 2014).

Rogers (1990) alega que desde a década de 1960, na Europa, existem metodologias
utilizadas para avaliar a credibilidade das declarações das vítimas e das testemunhas,
e por sua vez, reconhecidos pelos tribunais. As primeiras publicações fora da Europa
não foram escritas para a américa, mas sim por Arne Trankell da Suécia, que publicou
livros sobre o que foi chamado de "psicologia testemunha". Nos Estados Unidos, os
métodos de DOD se concentraram exclusivamente nos métodos de detecção
fisiológica, também aceitos em tribunais, a exemplo de MacNitt, R.D., que publicou
no Journal of Criminal Law and Criminology, In Defense of the Electrodermal Response and
Cardiac Amplitude' em 1942. O livro de Trankell, Reliability of Evidence: Methods for An
alyzing and Assessing Witness Statements - Confiabilidade de Evidência: Métodos para
Analisar e Avaliar Testemunhos, publicado pela primeira vez em sueco (1968) e
depois em alemão (1971), e em 1972 traduzido para o inglês. Trata-se de um livro que
descreve métodos para analisar e avaliar depoimentos de testemunhas e que foi
introduziu ao mundo de língua inglesa por Udo Undeutsch da Alemanha Ocidental.
Undeutsch (1917 - 2013), psicólogo alemão, formado na Universidade de Jena,
desenvolveu o Statement Reality Analysis - SRA, um método para avaliar a credibilidade
das declarações de suposta vítima. A Análise de Validade da Declaração (SVA) é uma
conseqüência dos métodos usados na Europa desde a década de 1960, para avaliar a
credibilidade de supostas vítimas de abuso sexual. Udo Undeutsch (1982) é creditado
como o pai de Statement Reality Analysis (SRA), o antecessor da SVA (1989). A Hipótese
de Undeutsch afirma que as declarações baseadas em experiências reais diferem em
estrutura, qualidade e conteúdo das que são um produto de fabricação. Rogers (1990)
informa que o Udo Undeutsch colaborou com Trankell e traduziu seu trabalho do
sueco para o alemão em 1971. Enquanto as técnicas de análise de testemunhos de
Undeutsch tinham se originado nas décadas de 1930 e 1940, e suas publicações
realmente precederam a obra de Trankell (Trankell, 1957, 1958, 1959, 1961, 1963,
Undeutsch, 1954, 1956, 1965, 1967), naquela época nenhuma das duas abordagens era
amplamente conhecida fora da Europa. Em 1977, o psicólogo alemão, Herbold,
publicou um artigo no Polygraph, Journal of American Polygraph Association, 'The
Influence of Delayed Responses Upon Voice Stress as Measured by the PSE', em que

219
descreveu alguns dos critérios de conteúdo criados por Udo Undeutsch para
diferenciar declarações de vítimas confiáveis de não confiáveis.

Rogers (1990) explica que o artigo forneceu a aplicação destes critérios em exemplos
reais, como o caso de uma declaração de criança-vítima feminina em que alegou
molestação por seu pai, medido pela análise do estresse da voz, por método fisiológico
seguido de uma declaração de reconto, ambas as análises, demonstraram que a
recontação era falsa. De acordo com Herbold: "tais comparações (de declarações)
mostraram que o testemunho preciso tem uma fisionomia bastante distinta, que
permite ao investigador especialista distinguir entre os dois tipos de testemunho e até
mesmo dizer quais partes específicas do testemunho de uma pessoa são verdadeiras
e quais não são.". Aqui o foco estava na declaração, e não na reputação da pessoa. Em
1953, no Décimo nono Congresso da Associação Psicológica Alemã em Colônia,
Undeutsch afirmou que: "não é a veracidade da pessoa relatora, mas a veracidade da
afirmação que importa, e para isso existem certos critérios definidos e descritivos
relativamente exatos que formam uma Ferramenta-chave para a determinação da
veracidade das afirmações" (Undeutsch, 1954, op. Cit., Undeutsch, 1982, p.42). A partir
da década de 1980 que o Dr. Undeutsch começou a publicar em inglês (Undeutsch,
1982, 1984, 1989). Ele também começou a ensinar seus métodos nos Estados Unidos e
realizou vários workshops por vários anos, incluindo na Universidade de Utah em
1985, bem como apresentações na Association for Behavior Analysis - Associação para
Análise do Comportamento (c.f., Undeutsch, 1986, 1987).

Adams (2002) esclarece que no início da década de 1950, quando o psicólogo alemão
Udo Undeutsch (1967) desenvolveu uma técnica de análise de narrativas infantis de
alegações contestadas, a respeito de abuso sexual de crianças e elaborou critérios de
realidade para ajudar na avaliação das afirmações. Steller e Köhnken (1989) adotaram
estes critérios e originou um conjunto de 19 critérios, o CBCA. Adams (2002) afirma
que, na análise de narrativas orais infantis em contexto forense, tem-se no Criteria
Based Content Analysis - CBCA, Análise de Conteúdo Baseada em Critérios, o mais
estruturado dos métodos de análise de narrativa já revisado. De acordo com as
hipóteses de Undeutsch, afirmações que recontam eventos experienciados, diferem
tanto na estrutura quanto no conteúdo de declarações provenientes da imaginação.
Em sua pesquisa com declarações de crianças, Undeutsch descobriu que "os eventos
reais não se emaranham no ar sem tempo e lugar, mas tem pontos de ancoragem
temporais e espaciais ... " (Traduzido por Sporer, 1997, p. 393). Rogers (1990) esclarece
que a pesquisa de Undeutsch revelou que os indivíduos que recontam eventos
experienciados, incluem conteúdos específicos, não encontrados em recontos
fabricados. Uma decisão crucial do tribunal alemão impulsionou o desenvolvimento
da Hipótese de Undeutsch e em 1954, o Supremo Tribunal da República Federal da
Alemanha reconheceu a tamanha complexidade de testemunhos infantis e buscou
orientação para determinar a credibilidade das declarações das crianças. Undeutsch
analisou a narrativa de uma vítima, em um caso de abuso infantil e apresentou suas

220
conclusões ao Supremo Tribunal, e demonstrou que um exame estruturado de uma
verificação de uma afirmação poderia ajudar a determinar se a declaração era
verdadeira. Como resultado da apresentação de Undeutsch, a Suprema Corte ordenou
que os testemunhos de peritos a respeito da veracidade de narrativas das vítimas
seriam apresentados em todos os casos de abuso de criança contestados, sem provas
corroborantes (Undeutsch, 1989).

Gelfand & Raskin (1988) alegam que muitos guias profissionais populares para
avaliação de abuso de crianças são baseados em erudição inadequada e métodos não
confiáveis, e afirmam que as conseqüências dessa popularização são surpreendentes,
em que, oito por cento ou mais dos casos investigados nos EUA a cada ano podem ser
fictícios, levando a 8000 ou mais ações legais graves e falsas acusações. Raskin & Yuille
(1988) afirmam que nos anos de 1980, as taxas de alegações fictícias parecem ter
aumentado (Rogers, 1990). Hutz (2014) informa que Vrij (2004) aponta que
profissionais dedicados a detectar mentiras alcançam uma acurácia média de 55%, o
que é um índice muito próximo do alcançado por leigos (57%). Dentre as razões para
essa ineficácia, tanto dos profissionais, como dos leigos, Vrij (2004) cita: 1) ausência de
indicadores únicos da mentira; 2) diferenças muito tênues entre relatos verdadeiros e
fraudes; 3) preconcepções a respeito do entrevistado; 4) preconcepções equivocadas a
respeito de indicadores de fraude; 5) ênfase excessiva somente em indicadores não
verbais; 6) desconsideração de diferenças individuais no sujeito em diferentes
situações; 7) desconsideração de diferenças individuais das pessoas que analisam os
relatos; e 8) técnicas de entrevistas diferentes. Porter, Woodworth e Birt (2000) também
apontaram para o baixo índice de detecção de relatos mentirosos e verdadeiros, mas
mostraram que, com treinamento e prática, esse índice pode aumentar de maneira
significativa.

Amado, Arce e Farina (2015) esclarece que o CBCA, faz parte da SVA, consiste em três
etapas mutuamente dependentes: 1) aplicação de entrevista estruturada, ou seja, a
entrevista que possibilita uma narrativa livre; 2) análise do conteúdo da entrevista,
por meio dos critérios da CBCA; e 3) a integração dos resultados obtidos no CBCA
utilizando a Lista de Validade, de forma que as informações obtidas na entrevista é
combinada a outros dados do caso (Horowitz, 1991). A entrevista estruturada
(planejada) envolve um formato narrativo que, ao contrário de outros tipos de
entrevista, como entrevistas padrão, interrogativas ou escolhas fechadas, que facilita
o surgimento de critérios (Vrij, 2005). Além disso, esse tipo de entrevista gera mais
informações (Memon, Meissner & Fraser, 2010), que cumpre a exigência de que a
análise de conteúdo dos critérios da CBCA seja realizada com material suficiente
(Köhnken, 2004, Steller, 1989).

Godoy-Cervera, & Higueras (2005), esclarece que, após realização da entrevista, a


análise é realizada por meio dos 19 critérios CBCA, em que pontua-se cada um dos
critérios. Por indicação de Steller (1989), atribui-se 2, 1 ou 0, sendo 2 -fortemente

221
presente, 1 - presente ou 0 - ausente nas declarações. Outros autores como, Lamb,
Sternberg, Esplin,Hershkowitz, Orbach e Hovav (1997), estes propõe a pontuação bi
nária, 1 ou 0, se o critério está presente ou ausente no relato. O avaliador deve analisar
as informações relatadas de acordo com o critério de conteúdo, em função de avaliar
se a informação dita pode se apoiar como um testemunho, tal como apresenta Steller
e Köhnken (1989):

CRITÉRIO BASEADO NA ANÁLISE DE CONTEÚDO – CBCA

MODIFICADO POR STELLER E KÖHNKEN (1989)

Características Gerais

Estrutura Lógica

Produção não-estruturada

Quantidade de detalhes

Conteúdo Específico

4. Adequação contextual

5. Descrição das interações

6. Reprodução de conversas

7. Complicações inesperadas durante o incidente

Peculiaridades do Conteúdo

8. Detalhes incomuns

9. Detalhes supérfulos

10. Se reporta precisamente a detalhes mal-compreendidos

11. Relaciona associações externas

12. Alusões ao estado mental subjetivo

13. Atribuição ao estado mental do suspeito

Conteúdo Relacionado à Motivação

222
14. Correções espontâneas

15. Admitir falta de memória

16. Levantar dúvidas sobre seu próprio testemunho

17. Auto-depreciação

18. Perdão ao acusado

Elementos Específicos da Ofensa

19. Detalhes específicos da ofensa

Quadros 1 - Critério Baseado na Análise de Conteúdo - CBCA (Steller e Kohnken, 1989)

Raskin e Esplin (1991) sugerem que há cinco hipóteses a serem verificada pelo
avaliador: a) A declaração é válida, mas a criança tem substituído a identidade do
criminoso por uma pessoa diferente; b) A declaração é válida, mas a criança foi
influenciada ou produziu informações adicionais que não são verdadeiras; c) A
criança foi pressionada por um terceiro para formular uma versão falsa dos
acontecimentos; d) Por interesses pessoais ou para favorecer a terceiros a criança
apresentou uma declaração falsa; 3) Como resultado de problemas psicológicos,
produziu uma situação.

É importante ressaltar que o propósito do SVA é uma avaliação da credibilidade do


conteúdo da declaração e não fazer uma avaliação sobre a credibilidade da própria
pessoa (Steller e Köhnken, 1989). Apesar de que, pessoas verídicas não se preocuparão
tanto com o gerenciamento de impressões, ao passo que enganadores, estão mais
fortemente interessados em tentar fazer com que acreditem em si estão
cuidadosamente preocupados com a impressão de pessoas verdadeiras que estão
empenhados a passar (Köhnken, 1999). Em razão disto, a lista da CBCA inclui vários
critérios chamados de "contrário ao estereótipo", termo adaptado de Ruby & Brigham
(1998): "correções espontâneas", "admitir falta de memória "," levantando dúvidas
sobre o próprio testemunho " (Vrj, Akehurst, Soukara e Bull, 2004). Como resultado,
da afirmação de que, uma pessoa verdadeira é mais provável que contenha
informação que é inconsistente com os estereótipos de exatidão que as pessoas têm
sobre um relato verdadeiro. Relatos de experiências reais são obtidos através de
processos perceptivos e, portanto, se constituir da própria informação perceptual:
detalhes do olfato, gosto ou toque, detalhes visuais e detalhes auditivos (Vrj,
Akehurst, Soukara e Bull, 2004). Bem como de informação contextual: detalhes
espaciais sobre onde o evento ocorreu, sobre como os objetos e as pessoas estavam
situados em relação uns aos outros, a exemplo, "Ele estava atrás de mim!" e detalhes

223
temporais, sobre a ordem do tempo dos eventos, por exemplo, "Primeiro ele ligou o
gravador de vídeo e depois a TV!", e detalhes sobre a duração dos eventos (Vrj,
Akehurst, Soukara e Bull, 2004). Por sua vez recontos imaginados, são derivados
exclusivamente de operações cognitivas, tais como pensamentos e raciocínios: "Penso
que estava muito frio aquela noite!" (Johnson, Hashtroudi, & Lindsay, 1993; Johnson
& Raye, 1981, 1998). Poder-se-ia argumentar que se compara então, "eventos
experientes" com "eventos imaginários", que por sua vez irão refletir a fraude.

Pessoas que estão socialmente inquietas sentem desconforto na presença de outros


(Buss, 1980) e seus relatos podem, portanto, conter menos qualidade, menos critérios
CBCA, do que os participantes que se sentem mais confortáveis nas interações sociais
(Vrj, Akehurst, Soukara e Bull, 2004). Por sua vez, pessoas que são socialmente hábeis
(Jackson, 1978) são experientes em manipular verbalmente outras pessoas. Como
resultado, suas declarações podem conter mais critérios CBCA do que as declarações
daqueles que são menos manipuladores. Finalmente, as pessoas diferem na amplitude
em que naturalmente se engajam na gestão de impressões. Aqueles que se engajam no
auto-monitoramento (Snyder, 1987) estão particularmente preocupados em
apresentar uma impressão favorável aos outros, e tendem a ajustar seu
comportamento não-verbal e verbal para produzir o efeito desejado nos outros (Vrj,
Akehurst, Soukara e Bull, 2004). Vrj, Akehurst, Soukara e Bull (2004) alertam que
competências sociais do entrevistado, no entanto, não figuram na Lista de Validade –
SVA e são geralmente negligenciados. Vrij et al. (2002) sugerem que as habilidades
sociais precisam ser incorporadas na lista de verificação de validade, como uma
categoria de análise. Kleinberg, Nahari, Arntz, & Verschuere, esclarecem que, a partir
da perspectiva cognitiva sobre a detecção de decepção, enganadores têm de lidar com
uma situação mais desafiadora por serem entrevistados como um falador-de-
verdades. Enquanto um falante autência pode simplesmente recontar um evento, um
enganador terá estratégias para convencer o entrevistador de uma história falsa (Vrij
et al., 2010). Ao fazê-lo, o enganador tem de manter uma história fabricada, com
características plausíveis, e assim, busca evitar cuidadosamente quaisquer
inconsistências ou elementos não-crível. Entrevistadores precisam aumentar as
diferenças do carregamento (característica) cognitivo entre enganadores e autênticos,
especialmente por meio do uso de técnicas de entrevista. Por sua vez, utilizar a análise
do conteúdo verbal como um indicador de fraude tem suas raizes na Hipótese de
Undeutsch (1967, 1982), quando este afirma que relatos autênticos diferem de
alegações falsas quanto a qualidade e conteúdo, porque a origem da qual a afirmação
é produzida é diferente (ver Fornaciari & Poesio, 2013). Johnson e Raye (1981, Masip,
Sporer, Garrido, & Herrero, 2005) especificou ainda que a fonte do relato determina
como um evento lembrado é recontado. Fatos genuínos são obtidos por meio das
experiências sensoriais, enquanto fatos não genuínos são construídos por meio de
operações cognitivas. Portanto, as narrativas desses fatos devem diferir, de modo que
as descrições de fatos genuínos sejam mais ricas em experiências sensoriais, a

224
exemplo, informações perceptivas - espaciais e temporais, enquanto fatos não
genuínos devem conter mais referências a operações cognitivas (Johnson & Raye,
1981; Masip et al., 2005), o que se pensa a respeito de.

Os achados meta-analíticos (Vrij et al., 2015) apoiaram a detecção de fraude cognitiva


baseada no carregamento das informações. As entrevistas que aplicaram pelo menos
uma das três técnicas tiveram uma precisão de detecção geral média de 71%, em
comparação com 56% sem técnicas de entrevistas de carregamento de informação
cognitiva. A maior precisão foi encontrada para entrevistas onde os participantes
foram encorajados a fornecer muitas informações. Ao utilizar estas três técnicas, o que
surge, é especialmente as sugestões verbais enganosas.

Vrij et al. (2015) forneceu uma visão meta-analítica da detecção da base-cognitiva de


fraudadores, identificando três técnicas-chave, em entrevistas planejadas, que podem
ser usadas para aumentar as diferenças entre relatos verdadeiros e falsos. Primeiro, a
imposição de carga cognitiva adicional significa criar uma situação de entrevista que
é cognitivamente mais difícil para o mentiroso do que para o narrador de verdade,
por exemplo, solicitar relatos de eventos em ordem inversa, (Evans, Meissner, Michael
e Brandon, 2013). Da mesma forma, a administração de uma tarefa adicional,
simultânea a entrevista, a exemplo, desenhar (Vrij et al., 2015), por exigir atenção em
ambos os recursos cognitivos em ação, o que dificulta o relato coerente para um
enganador. Em segundo lugar, fazer perguntas inesperadas (Warmelink, Vrij, Mann,
Leal, & Poletiek, 2011), por entender que enganadores se preparam para relatar e
impressionar o entrevistador, a exemplo, um enganador pode se preparar para
perguntas como "Onde você esteve ontem?". Mas eles podem não estar igualmente
preparados para responder a perguntas como "O que ambos faziam no momento?”. E
terceiro, solicitar dos entrevistados informações detalhadas, pois na medida que se
fornece detalhes, estes necessariamente devem ser coerentes e plausível ao relato
como um todo (Nahari, Vrij & Fisher, 2014a).

Uma das principais limitações da CBCA é que até agora ele ainda não houve definição
conceitual que classifique a declaração como credível ou não credível, até por que
envolve a análise de cada situação, sua análise é qualitativa e fundamentada em uma
conclusão narrativa. Alonso-Quecuty (1999) sugere que o peso de cada critério deve
ser atribuído de acordo com diversos fatores tais como o número de entrevistas
anteriores pela qual a criança passou, complexidade do incidente, a idade da criança
e a passagem do tempo em relação ao incidente.

Amado, Arce e Farina (2015) informam que a lista de critérios da CBCA (Steller &
Köhnken, 1989) consiste em 19 critérios estruturados em torno de cinco grandes
categorias: características gerais, conteúdos específicos, peculiaridades dos conteúdos,
conteúdos relacionados à motivação e elementos específicos de agressão. A presença
de cada critério reforça a hipótese de que o reconto é baseado em experiência pessoal

225
genuína Köhnken (1989, 1996, 1999, 2002), sendo que esses critérios de realidade não
constituem um sistema categorial metódico (Bardin, 1977; Weick, 1985), e que em
complemento à Hipótese de Undeutsch, Steller & Köhnken (1989) propuseram que
tanto fatores cognitivos, quanto motivacionais, influenciam os escores CBCA. Embora
essa lista de verificação tenha sido inicialmente desenvolvida como um sistema
abrangente de critérios de credibilidade fundamentados na hipótese de Undeutsch, os
autores Raskin, Esplin e Horowtiz (1991) ressaltaram que apenas os 14 primeiros
critérios estão relacionados com a hipótese de Undeutsch e os 5 critérios restantes não
estão associados ao conceito de memória de eventos reais. Essa reclassificação se so
brepõe, embora não inteiramente, ao modelo teórico proposto por Köhnken (1996),
que agrupa essas categorias principais em dois fatores principais: cognitivo (critérios
1 a 13) e motivacional (critérios 14 a 18). O fator cognitivo inclui habilidades cognitivas
e verbais e implica que uma declaração auto-experiente contém critérios CBCA de 1 a
13. O fator motivacional, no entanto, depende da capacidade do indivíduo para evitar
parecer enganoso e maneiras de gerir uma auto-impressão positiva de um testemunho
honesto. Assim, o fator motivacional abrange os critérios 14 a 18, que são critérios de
estereótipo contrário a verdade, mas que realmente aparecem em declarações
verdadeiras. Assim, esses critérios têm sido sugeridos como úteis para avaliar a
hipótese da fabricação (parcial) de afirmações (Köhnken, 1996, 2004). A esclarecer,
apresentamos conceitualmente os critérios a seguir, tradução do livro: Evaluación
Pericial Psicológica de Credibilidad de Testimonio - Documento de Trabajo Interins
titucional 2008. Santiago de Chile. Gobierno de Chile – Servicio Nacional de Menores,
por: Baldrati (2016)

CRITÉRIO BASEADO NA ANÁLISE DE CONTEÚDO – CBCA

MODIFICADO POR STELLER E KÖHNKEN (1989)

Características Gerais

226
Estrutura lógica: Este critério se baseia em avaliar a coerência contextual, consistência lógica e
homogeneidade espaço temporal. Determina-se sua presença quando a narração feita pela criança tem
sentido global, quer dizer apresenta uma lógica e coerência interna, denotando um fio condutor
durante todo o relato, sendo suas partes não contraditórias entre si, se não que combinam em una
totalidade, a qual resulta compreensível.

Elaboração não estruturada (produção espontânea): Este critério se baseia em no fato de que um
relato baseado em uma experiência real possui componentes desestruturados, com pouca linearidade
e com digressões/erros cronológicos, contanto que a aparente desorganização mantenha ao longo do
discurso uma coerência. Tal critério se presenta quando a narração se encontra dispersa, desde o
princípio até o final, não obstante, mantendo um eixo temporal coerente.

Presença de detalhes: De acordo com a literatura especializada, este critério se cumpre ante a
abundância de detalhes, por quanto, os relatos baseados em percepções (estímulos externos),
geralmente apresentam maior quantidade de detalhes, apontando para a credibilidade da narração,
devido a que os relatos inventados dificilmente poderiam manifestar-se com muitos detalhes. Sem
dúvida, um aspecto a destacar se refere a que a presença de determinados detalhes adquirirem maior
valoração que outros, especialmente os de origem sensorial (visual, auditivo, táctil, entre outros), os
quais outorgam maior credibilidade, quando não se apresentam de maneira abundante.

Conteúdo Específico

Adequação contextual: Este critério se cumpre quando o evento que a criança relata, contém
informação condizente com as coordenadas espaço-temporal em que o evento ocorreu, de acordo com
a capacidade cognitiva desta criança. Desta maneira, o acontecimento abusivo não é um evento isolado
na vida da criança, sendo que deve se ajustar dentro do cotidiano quanto a horários, atividades,
espaços, hábitos e relações com o seu entorno, entre outros.

Descrição de interações: Este critério está presente quando na narração se faz referência a ações e
reações entre a vítima e o agressor, ou também com terceiras pessoas, as quais constituem uma cadeia
mutuamente dependente que podem ser reproduzidas pela criança. Cabe mencionar que este critério
possui a seguinte característica: deve se dar uma ação, reação e outra reação em resposta a esta última.

Reprodução de conversações: Este critério diz respeito a uma interação verbal específica, em que a
criança utiliza a mesma linguagem e modo empregado pelos interlocutores, configurando um diálogo
no qual se explicitem os interlocutores. Independente da extensão da mesma, que pode estar
determinada pelo tipo de relação o abuso delineou.

Complicações inesperadas durante o incidente: Este critério tem relação com a menção espontânea
por parte da pressuposta vítima, de situações imprevistas que complicam ou detém o curso ou
finalização da agressão descrita. Neste sentido, no transcurso do evento abusivo existe a possibilidade
que se apresentem certas situações que compliquem ou detenham o curso ou finalização mediante
situações imprevistas, tais como uma distração do agressor, una chamada telefônica, entre outros. Por
tanto, este critério se cumpre se na declaração aparecem detalhes relativos a situações imprevistas que
surgiram no transcurso do evento descrito.

Peculiaridades do Conteúdo

227
Detalhes inabituais: Este critério se refere a presença de detalhes pouco comuns de se encontrar ou
acontecer, salvo em uma situação de agressão sexual, a que se considerar muito sobre a capacidade de
invenção da criança, particularmente no caso de crianças muito novas. Quer dizer, se refere a menção
de aspectos concretos mencionados pela criança avaliada, em relação ao agressor, espaço físico ou a
situação em si e faz referência a, por exemplo, a objetos que podem ser surpreendentes ou estranhos,
mas não irreais.

Detalhes supérfulos: Este critério se refere a menção de detalhes recordados pela criança que não
fazem parte do curso dos acontecimentos abusivos, o não se relacionam diretamente com este, que
são periféricos e pouco relevantes para apoiar a acusação. Tanto que ao mentir geralmente não se
inventam detalhes irrelevantes que no contribuam para afirmar o evento, por a irrelevância e grau de
dificuldade que implica para a memória este exercício.

Incompreensão de detalhes relatados com precisão: Este critério se refere à narração de detalhes que
pela experiência da criança, e seus escassos conhecimentos sexuais, não lhe permitem compreender,
não obstante, só um adulto seria capaz de entender de maneira certeira. Cabe destacar neste ponto, a
particular percepção da criança durante a “vivencia”, e especial ênfase deve ser colocada pelo avaliador
diante de uma possível motivação por parte da criança em fazer valer este critério, adquirindo ainda
maior valor em relação a crianças muito pequenas justo por sua pouca capacidade cognitiva para
compreensão de tais eventos.

Associações externas relacionadas: Corresponde a verbalizações em que a criança faz referência a


situações externas ao evento abusivo em si, no entanto vinculadas com este; por exemplo,
conversações prévias com o agressor que sejam de conotação sexual. Cabe destacar que a associação
é externa ao evento, no entanto está relacionada a este por seu conteúdo.

Alusão ao estado mental subjetivo da criança: Este critério diz respeito a descrições espontâneas que
a criança faz a cerca de suas emoções, temores ou pensamentos, experimentados por ele durante o
episódio abusivo; assim como possíveis mudanças de estados emocionais experimentados durante o
transcurso do evento.

Atribuições ao estado mental do agressor: Categoria que faz referência as verbalizações que a criança
efetua a respeito dos pensamentos, sentimentos ou motivos que o menor atribui ao agressor durante
ou acerca do episódio abusivo.

Conteúdo Relacionado à Motivação

228
Correções espontâneas: Este critério se refere as correções que a criança realiza de maneira
espontânea em seu relato, que sugere um relato flexível e que contradiz com um relato fictício, no qual
se apresentaria provavelmente rígido e mecanizado, por quanto, uma pessoa que mente, geralmente
não corrigiria seu testemunho nem mesmo para melhora-lo.

Admissão de falta de memória: Este critério se manifesta nos seguimentos do relato em que a criança
reconhece a incapacidade de evocar todos os aspectos que havia percebido, através de verbalizações
que expressam essa dificuldade. Isto acontece livremente, no lugar de aferrar-se de maneira persistente
a um discurso aprendido, como ocorre em relatos não baseados em percepções externas. Por tanto, se
uma criança confessa não recordar algum dato, apontaria mais a credibilidade da declaração que a
outra hipótese.

Levantar dúvida sobre o próprio testemunho: Critério que refere a abordagem da possibilidade da
existência de imprecisões sobre aspectos do seu próprio testemunho, constituem um índice de
credibilidade, por quanto se considera esperado que una pessoa que apresenta um relato fictício não
vacilaria acerca do que está querendo afirmar.

Autodesvalorização: Este critério se refere a incorporação de elementos auto incriminativos ou


desfavoráveis a si mesmo, sendo este um indicio de credibilidade, sendo produto de racionalização
infantil ou da ambivalência para com a figura agressora, geralmente as vítimas de abuso sexual se
referem a si mesmas com algum grau de responsabilidade pelo evento acontecido, sinalizando frases
tais como por exemplo: “não devia ter aceitado ir com ele” ou “se eu tivesse escutado.”.

Desculpabilização do agressor: Este critério se cumpre quando se apresentam na narração da criança,


um sentido de perdão, desculpas ou justificação al agressor. Este critério se considera muito
compreensível, primordialmente na dinâmica de abuso sexual intrafamiliar, em que o agressor é uma
figura significativa para a criança, pois de maneira ambivalente se poderia esperar preservar o vínculo
apesar do sucedido.

Elementos Específicos da Ofensa

Detalhes característicos da ofensa: Este critério se refere a discriminação por parte do avaliador acerca
de se o testemunho corresponde aos dados criminológicos e as dinâmicas psicológicas acerca deste tipo
de delito particular; ou se mais bem corresponde ao estereotipo social que se conhece com respeito a
uma situação de abuso.

Quadros 2 - Conceitos do Critério Baseado na Análise de Conteúdo - CBCA (Steller e Kohnken, 1989)

Os critérios CBCA são medidos em duas escalas de resposta, presença versus


ausência, bem como o grau de presença. A unidade de análise é a declaração completa
para a primeira categoria principal, características gerais, e para as contagens de
freqüência restantes. Presume-se que a presença de critérios de realidade seja
indicativa de reconto baseada em eventos da vida real, mas a ausência de critérios não
implica em recall e baseia-se em descrições fabricadas. Além disso, a memória fictícia
pode conter critérios de realidade. Assim, a avaliação se apoia sobre um
discernimento do avaliador em posse de todas as informações documentais (Köhnken,
2004), que é semi-objetivo. Desta forma tanto a entrevista, quando os resultados
obtidos por meio da análise de conteúdos, são contextualizados na Lista de Controle
- Validity Checklist, composta de quatro categorias informacionais (Steller &

229
Köhnken, 1989): a) Características psicológicas; b) Características da entrevista;.c)
Motivação para fazer falsas acusações; d) Aspectos relacionados a investigação, tal
como apresentado e traduzido por Baldrati (2016), adaptado de Raskin e Esplin (1991):

Checklist SVA - Análise de Validade da Declaração

Características da entrevista: considerada adequada, se obtém o relato espontâneo, sem intrusão de


elementos sugestivos ou contagiantes ao discurso; Em que há manutenção de uma postura o mais
neutra possivel,e utilizando preferencialmente perguntas do tipo abertas.

Motivação para falsas alegações: Quando no relato são percebidos motivos como desavenças, disputa
de guarda, indução por um adulto, ou outros.

Correspondência com a investigação: considerado positivo quando os dados de investigação coletados


até então corroboram com o discurso, ou com os achados médicos e policiais se o processo possui, ou
ainda coerência com relatos anteriores.

Características psicológicas: diz respeito a capacidade de comunicação, linguagem adequada a faixa


etária e cultural da suposta vítima; E seu potencial de sugestionabilidade, definida como a facilidade em
aceitar e incorporar em seu discurso, informações fornecidas após o evento, como se tratasse de
recordação ou memória.

Quadros 3 - Lista de Controle - Validity Checklist - SVA (Steller & Köhnken, 1989)

No entanto, por ser um sistema de avaliação objetiva e qualitativo, existe uma


variedade quanto a apresentação do resultado, em função da variabilidade: teórica,
legal e cultural (Arntzen, 1983; Zaparniuk, Yuille, & Taylor, 1995; Amado, Arce e
Fariña, 2015).

Amado, Arce e Fariña (2015) informam que a aplicação de critérios derivados da


hipótese de Undeutsch à avaliação forense da credibilidade de um testemunho, se
refere mais precisamente, a veracidade de um testemunho dado, que a credibilidade,
que é um conceito jurídico definido pela decisão dos juízes e dos tribunais. Por sua
vez, deve se pautar mais no preenchimento de normas legais, do que como uma prova
científica a ser admitida como tal em tribunais. Visto que, tal afirmação não descarta
a cientificidade técnica dos peritos, a exemplo, nos Estados Unidos existem normas
que regem a admissão de peritos em tribunais, estabelecidas pela Suprema Corte dos
Estados Unidos, a partir do caso emblemático em Daubert v. Merrell Dow
Pharmaceuticals (1993) e são as seguintes: 1) a hipótese científica é testável ?; 2) a
proposição foi testada ?; 3) existe uma taxa de erro conhecida ?; 4) a hipótese e / ou
técnica foi submetida a revisão e publicação por pares; e 5) é a teoria sobre a qual a
hipótese e / ou técnica se baseia geralmente aceita entre a comunidade científica
apropriada?. Alternativamente, foram propostas numerosas técnicas científicas e
pseudocientíficas como indicadores não-verbais de decepção, indicadores
paraverbalistas de engano, indicadores fisiológicos e sistemas categóricos de análise

230
de conteúdo. Os sistemas categóricos de análise de conteúdo são atualmente a técnica
mais sistematicamente utilizada pelos tribunais. Assim, os tribunais de países como a
Alemanha, a Suécia, a Holanda e vários Estados nos EUA admitem esses sistemas
categóricos como evidências científicas (Steller & Böhm, 2006; Vrij, 2008). Na Espanha,
onde também são admitidos como provas legalmente admissíveis e amplamente
utilizados pelos tribunais, uma análise de julgamentos legais mostrou que quando um
relatório psicológico forense baseado em um sistema categórico de análise de
conteúdo, como o Statement Validity Analysis, SVA em que se confirma a credibilidade
de um depoimento, a taxa de condenação foi de 93,3%, mas quando não o fez, a taxa
de absolvição foi de 100%. Por outro lado, em outros países, como o Reino Unido, os
EUA e o Canadá, essas listas, como única verificação não são admitidas como
evidência legalmente válida (Novo & Seijo, 2010).

Amado, Arce, Farina e Vilariño (2016) afirmam que a credibilidade de um testemunho,


principalmente da vítima e em particular, em relação a crimes cometidos em privado,
como as ofensas sexuais, é o elemento-chave, para a determinação de sentenças
judiciais (Novo & Seijo, 2010) e alerta que tal critério, o privado, compõe cerca de 85%
dos casos em todo o mundo (Hans & Vidmar,1986). Embora um conjunto de
ferramentas para avaliar a credibilidade foram concebidos e testados (Vrij, 2008),
como o Critério-Baseado em Análise de Conteúdos - CBCA (Steller & Köhnken, 1989)
que permanece como uma técnica, amplamente aceita entre a comunidade científica
(Amado, Arce, & Fariña, 2015), e principalmente admissível como prova válida nos
tribunais de diversos países (Steller & Böhm, 2006, Vrij, 2008), como: Alemanha, Nova
Zelândia e Suiça. Apesar da técnica ter sido inicialmente projetada para ser aplicada
ao testemunho de vítimas de abuso sexual de crianças, sua aplicação tem sido
estendida a adultos, testemunhas, infratores e outros tipos de casos por Institutos de
Psicologia Forense (Arce & Fariña, 2012). A meta-análise de Amado et al. (2016)
apontaram que a técnica subjacente a Hipótese de Undeutsch (Undeutsch, 1967) que
afirma que as memórias de eventos auto-experimentados diferem quanto ao conteúdo
e qualidade em relação as memórias de recontos fabricados ou fictícios. Anterior aos
estudos de Amado et al. (2015), estudos empíricos já havia contrastado a validade da
Hipótese de Undeutsch (1967) em populações adultas e em contextos diferentes do
abuso sexual infantil (Vrij, 2005, 2008; Berliner & Conte, 1993).

Köhnken, Manzanero, & Scott (2015) informam que o SVA – Statement validity as
sessment, não se trata de um teste ou um protocolo, mas sim um método de geração
de falsificação de hipótese sobre a origem de uma declaração, sendo esta verdadeira
ou falsa. Godoy e Higueras, (2005) esclarecem que, uma vez aplicado o critério da
CBCA e a Lista de Validade, o resultado final da análise nos permite classificar
qualitativamente a declaração de acordo com cinco categorias (Alonso-Quecuty, 1999,
Steller, 1989): Credível - Provavelmente credível – Indeterminado - Provavelmente
incredível e Incredível.

231
Em resumo, a aplicação de SVA começa com uma análise dos dados contidos no
registro forense, tal como: idade, habilidades cognitivas, o relacionamento com o réu,
o acto em questão - tipo de evento, exclusivo ou episódio repetido, declarações
anteriores - quantas vezes questionada a testemunha, o que apontou, quais as técnicas
de entrevista foram usados e qualquer outra informação relevante do evento - tempo
entre o evento e a queixa, a coerência entre o tempo a declaração e outras evidências,
a ocorrência de outros elementos relevantes. Depois de recolher estes dados, com o
acesso aos registros forenses e depois de realizar uma entrevista planejada sobre o fato
em questão, finalmente, estes dados serão avaliados pela integração das categorias na
Lista de Validade, constituída das: características psicológicas da criança, característi
cas da entrevista, aspectos motivacionais que informam sobre a possibilidade de se
fornecer uma declaração falsa e perguntas correlacionadas a investigação (Köhnken,
Manzanero, & Scott, 2015).

Para se alcançar todos estes dados, é necessário quase que exclusivamente a entrevisa
investigativa forensa, Poole & Lamb (1998) sugerem diretrizes, em entrevistas infantis
vítimas de violência sexual, sobre o comportamento, conduta e comunicação do
entrevistador: a) evitar usar uniformes ou ter armas visíveis durante a entrevista; b)
transmitir e manter um ambiente descontraído e amigável; c) não expressar surpresa,
desgosto, descrença ou outros sentimentos em relação às descrições do abuso; d) evite
tocar a criança; e) não utilize pausas para o banheiro ou bebidas como reforços para a
cooperação durante a entrevista; e) nunca faça comentários como: "Vamos terminar
estas perguntas e então eu vou te pegar algo para você beber!"; f) respeite o espaço
pessoal da criança; g) não olhe fixadamente para a criança, por reprovação ou para
solicitação; h) não sente-se desconfortavelmente muito próximo; i) não sugerir
sentimentos ou respostas à criança, não diga por exemplo: "Eu sei o quão difícil isso
deve ser pra você!"; j) não faça promessas, por exemplo, não diga: "Tudo vai ficar bem!
" ou " Você nunca vai ter que falar sobre isso novamente!"; k) reconhecer e conduzir
os sentimentos da criança, caso esta fique com medo, envergonhada, triste, mas evite
comentários sobre sentimentos, emita comentários como: "Eu converso com crianças
sobre esse tipo de coisas o tempo todo!", pode ser útil, l) a sala de entrevistas deve ser
organizad e livre de ruídos e suprimentos, como balas, doces; m) não faça comentários
como: "Boa menina!" ou "Somos amigos, não somos?", ou "Você é muito inteligente!",
tais incentivos podem ser interpretados como reforçando a criança, por esta falar sobre
problemas de abuso. Incentivos não deve ser a base para que a criança diga questões
específicas. O momento do encorajamento deve ocorrer no início da entrevista, no
momento do rapport e no fim da entrevista, depois que a conversação mudou para
tópicos neutros e agradecimentos; n) não use as palavras "fingir" ou "imaginar" ou
outras palavras, que sugerem fantasia ou jogo; o) evite fazer perguntas sobre o motivo
pelo qual a criança se comportou de determinada maneira, crianças pequenas têm
dificuldade em perguntas desse tipo e pode acreditar que você está culpando-os pela
situação; p) evite corrigir o comportamento da criança desnecessariamente durante a

232
entrevista. Pode ser útil direcionar a atenção da criança com explicações significativas,
por exemplo, "eu tive um pequeno problema em ouví-lo, me ajuda muito se você me
olha quando você está falando para que eu possa ouvi-lo!", mas de qualquer forma,
evite a correção de comportamentos nervosos ou evitativos que não estejam evitando
o andamento da entrevista; q) solicitar a criança para repetir o comentário se tiver
dificuldade de entender o que a criança disse. Use frases como: "Eu não ouvi, você
pode dizer novamente?", ao invés de tentar adivinhar, por exemplo: "Você disse:
[palavra ou frase fornecida pelo entrevistador]?". Crianças pequenas freqüentemente
acompanham a interpretação das palavras de um adulto; r) seja tolerante com as
pausas na conversa. É apropriado desviar o olhar e dar tempo à criança para continuar
conversando; s) é útil dar um tempo para a próxima pergunta; t) evite dar presentes à
criança.

A entrevista forense faz parte de qualquer investigação, e no caso de perícias


psicológicas, a entrevista é a técnica mais utilizada para levantamento de dados. Toda
entrevista forense se constitui de duas características principais: a) testar hipóteses e
b) ter uma abordagem centrada na criança. Referente a primeira característica, a
técnica de entrevistas forenses, funcionam como testes de hipóteses e não hipótese
confirmação (Ceci & Bruck, 1995). A hipótese-confirmação fica sob o crivo de uma
avaliação que se compõe de um conjunto de outros instrumentais. No momento da
entrevista, entrevistadores se preparam para gerar um conjunto de esclarecimentos
alternativos sobre a origem e o significado das alegações. Durante uma entrevista, os
entrevistadores tentam excluir explicações alternativas para as alegações. A exemplo,
quando as crianças usam termos que sugerem toque sexual, entrevistadores precisam
avaliar o entendimento das crianças sobre esses termos e explorar se tocar poderia ter
ocorrido no contexto de cuidados de rotina ou tratamento médico. Quando as crianças
relatam detalhes que parecem inconsistentes, os entrevistadores necessitam esclarecer
os eventos podem ter acontecido que se concluem na narrativa, e por isso, cabe
explorar se as crianças estão descrevendo um único evento, mais de um evento, ou se
estão descrevendo um evento com palavras de maneira automatizada. Antes de fechar
uma entrevista, os entrevistadores devem estar seguros de que as ações alegadas não
estão sujeitas a interpretações múltiplas e que as alegações perpetradas são claramente
identificadas naquele perpetrador. A segunda característica da entrevista forense, é
que estas estão fundadas na criança e por isso, entrevistadores devem dirigir o fluxo
da entrevista por uma série de etapas bem caracterizadas, em que as crianças devem
apontar tanto vocabulário, quanto especificar contéudo, tanto quanto possível (Poole
& Lamb, 1998). Entrevistadores devem evitar sugerir eventos que não tenham sido
mencionados pelas crianças, toda interpretação, corresponde a uma interpretação de
adultos, a exemplo, qualificar situações como: "Isso deve ter sido assustador!" (Poole
& Lamb, 1998).

233
9.2 Estruturação profissional da psicologia forense

Em termos de estruturação profissional da psicologia forense, em 1978, o Conselho


Americano de Psicologia Forense começou a certificação profissional de diplomados
em psicologia forense. Em 1991 a Academia Americana de Psicologia Forense e Amer
ican Psychology Law Society publicaram as 'Diretrizes de Especialidade para Psicólogos
Forenses'. E finalmente, e talvez o mais importante evento para a psicologia forense
americana e mundial, em 2001 a American Psychological Association – APA, reconhece
formalmente a psicologia forense como uma disciplina de especialidade.

A atuação dos psicólogos brasileiros na área jurídica tem seu início em 1960, junto a
adultos criminosos e adolescentes infratores (Rovinski, 2002). A ação do psicólogo
dentro do sistema jurídico brasileiro se deu de maneira oficial em São Paulo no ano
de 1985, no primeiro concurso para psicólogo (Shine, 1998), visto que a promulgação
da Lei de Execução Penal – LEP (Lei Federal nº 7210/84) entrou em vigor em 1984,
sendo posteriormente revogada em partes, em 2003. A Lei de Execução Penal
estabeleceu na sua forma originária três avaliações técnicas elaboradas por uma
equipe interdisciplinar das áreas da Psicologia, Psiquiatria, Assistência Social e
Segurança Pública, sendo as avaliações: exames criminológico, de personalidade e dos
pareceres das Comissões Técnicas de Classificação (Neves, 2010). Posteriormente tais
avaliações foram revogadas na edição da Lei n. 10792, de 1º de dezembro de 2003,
Arts. 6º e 112, em que passou a exigir somente o atestado de boa conduta carcerária,
que seria concedido pelo diretor do estabelecimento prisional (Neves, 2010).

No âmbito da psicologia, o Conselho Federal de Psicologia, no ano de 2007, estabelece


a Resolução nº 13 / 2007, que revoga as Resoluções CFP nº 14/2000, 02/2001, 03/2002,
05/2003, 02/2004, 033/2005, 04/2005, 08/2005, 13/2005, 14/2005 e institui a Consolidação das
Resoluções relativas ao Título Profissional de Especialista em Psicologia e dispõe sobre
normas e procedimentos para seu registro.

Desta forma, o Conselho Regional de Psicologia 9ª Região (2015), por meio da Comissão
Permanente de Orientação e Fiscalização (COF), informa que a formação do psicólogo o
habilita a atuar em qualquer uma das áreas da psicologia, descritas na Resolução CFP 13/2007,
sendo elas: Psicologia Escolar/Educacional; Psicologia Organizacional e do Trabalho;
Psicologia de Trânsito; Psicologia Jurídica; Psicologia do Esporte; Psicologia Clínica;
Psicologia Hospitalar; Psicopedagogia; Psicomotricidade; Psicologia Social; Neuropsicologia.
E assim, ressalta que, a Formação de Psicólogo nas Entidades de Ensino Superior
garante a atuação em qualquer área da psicologia. Deste modo, a Comissão Permanente
de Orientação e Fiscalização (COF), do CRP-09, esclarece que, em instituições, o que deli
mita a área de atuação deste profissional, é o contrato de trabalho. Se o contrato
especifica a função do psicólogo como clínica ou organizacional, será este contrato que
determinará a forma de atuação do profissional. No tocante a este tema, a Comissão
Permanente de Orientação e Fiscalização - COF ressalta o seguinte artigo do Código de
Ética Profissional – CEPP (Resolução CFP n.º 10/2005):

234
“Art. 3º – O psicólogo, para ingressar, associar-se ou permanecer em uma
organização, considerará a missão, a filosofia, as políticas, as normas e as
práticas nela vigentes e sua compatibilidade com os princípios e regras deste
Código.

Parágrafo único: Existindo incompatibilidade, cabe ao psicólogo recusar-se a


prestar serviços e, se pertinente, apresentar denúncia ao órgão competente.”

O destaque ás áreas de atuação do psicólogo, ainda é citado no Catálago Brasileiro De


Ocupações Do Ministério Do Trabalho – CBO, que descreve as atribuições
profissionais do Psicólogo no Brasil, nos seguintes campos: 0-74.15: Psicólogo do
Trabalho; 0-74.25: Psicólogo educacional; 0-74.35: Psicólogo clínico; 0-74.45: Psicólogo de
trânsito; 0-74.50: Psicólogo jurídico; 0-74.55: Psicólogo de esporte; 0-74.60: Psicólogo social;
0-74.90: Outros psicólogos (CRP, 2015). Cada área de atuação do psicólogo possui sua
especificidade, de acordo com o local em que o mesmo exerce sua profissão, para isso,
existe uma descrição de atividades específica para o psicólogo que trabalha em uma
escola, ou em uma empresa, ou no consultório clínico, ou na assistência social. Desta
forma, dentre as especialidades, destacamos a Psicologia Jurídica, conforme
especificação do Conselho Federal de Psicologia (2005):

“Atua no âmbito da Justiça, colaborando no planejamento e execução de


políticas de cidadania, direitos humanos e prevenção da violência, centrando
sua atuação na orientação do dado psicológico repassado não só para os
juristas como também aos indivíduos que carecem de tal intervenção, para
possibilitar a avaliação das características de personalidade e fornecer
subsídios ao processo judicial, além de contribuir para a formulação, revisão
e interpretação das leis: Avalia as condições intelectuais e emocionais de
crianças, adolescentes e adultos em conexão com processos jurídicos, seja por
deficiência mental e insanidade, testamentos contestados, aceitação em lares
adotivos, posse e guarda de crianças, aplicando métodos e técnicas
psicológicas e/ou de psicometria, para determinar a responsabilidade legal
por atos criminosos; atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais,
Justiça do Trabalho, da família, da criança e do adolescente, elaborando
laudos, pareceres e perícias, para serem anexados aos processos, a fim de
realizar atendimento e orientação a crianças, adolescentes, detentos e seus
familiares ; orienta a administração e os colegiados do sistema penitenciário
sob o ponto de vista psicológico, usando métodos e técnicas adequados, para
estabelecer tarefas educativas e profissionais que os internos possam exercer
nos estabelecimentos penais; realiza atendimento psicológico a indivíduos
que buscam a Vara de Família, fazendo diagnósticos e usando terapêuticas
próprias, para organizar e resolver questões levantadas; participa de
audiência, prestando informações, para esclarecer aspectos técnicos em
psicologia a leigos ou leitores do trabalho pericial psicológico; atua em
pesquisas e programas sócio-educativos e de prevenção à violência,
construindo ou adaptando instrumentos de investigação psicológica, para
atender às necessidades de crianças e adolescentes em situação de risco,

235
abandonados ou infratores; elabora petições sempre que solicitar alguma
providência ou haja necessidade de comunicar se com o juiz durante a
execução de perícias, para serem juntadas aos processos; realiza avaliação das
características das personalidade, através de triagem psicológica, avaliação de
periculosidade e outros exames psicológicos no sistema penitenciário, para os
casos de pedidos de benefícios, tais como transferência para estabelecimento
semi-aberto, livramento condicional e/ou outros semelhantes. Assessora a
administração penal na formulação de políticas penais e no treinamento de
pessoal para aplica-las. Realiza pesquisa visando à construção e ampliação do
conhecimento psicológico aplicado ao campo do direito. Realiza orientação
psicológica a casais antes da entrada nupcial da petição, assim como das
audiências de conciliação. Realiza atendimento a crianças envolvidas em
situações que chegam às instituições de direito, visando à preservação de sua
saúde mental. Auxilia juizados na avaliação e assistência psicológica de
menores e seus familiares, bem como assessorá-los no encaminhamento a
terapia psicológicas quando necessário. Presta atendimento e orientação a
detentos e seus familiares visando à preservação da saúde. Acompanha
detentos em liberdade condicional, na internação em hospital penitenciário,
bem como atuar no apoio psicológico à sua família. Desenvolve estudos e
pesquisas na área criminal, constituindo ou adaptando o instrumentos de
investigação psicológica.” (grifo meu)

Com isso, frente as novas demandas profissionais e discussões ocorridas no I Forum


Nacional de Avaliação Psicológica, em dezembro de 2000 no Brasil, o Conselho
Federal de Psicologia, em sua Resolução CFP 17/02, de 19 de dezembro de 2002,
institui o Manual de Elaboração de Documentos, que são documentos produzidos por
psicólogos decorrentes de avaliações psicológicas. Posteriormente, na busca de elevar
a qualidade dos documentos escritos advindos da avaliação psicológica, o Conselho
Federal de Psicologia, revoga a normativa CFP 17/2002 e institui a Resolução CFP
007/03, de 14 de junho de 2003 (CFP, 2005). Então, com uma relação interdisciplinar
cada vez mais intensa do psicólogo com o estado, e frente a avalanche progressiva de
políticas públicas no Brasil, nas décadas de 1980 e 1990 e no esforço permanente de
identificar a prática dos psicólogos no interior das políticas públicas, o Conselho
Federal de Psicologia, no período de 2003 a 2005, criou o Programa Banco Social de
Serviço, que apresenta à sociedade e para o Estado práticas disponíveis na profissão
psicólogo. Após os resultados do Programa Banco Social de Serviço, surgiu a idéia do
Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas – CREPOP, em que
por meio dos debates ocorridos no V Congresso Nacional de Psicologia, em 2004, da
representatividade dos Conselhos de Psicologia e do Fórum Nacional de Entidades
Nacionais da Psicologia, buscaram uma nova identidade profissional, associada a
prestação de serviços a indivíduos, grupos e instituições.

A lei 4.112 de 27 de agosto de 1962, que dispõe sobre a profissão de psicólogo, afirma
que no exercício profissional, entre outras atribuições, cabe ao psicólogo: "Realizar

236
perícias e emitir pareceres sobre a matéria de psicologia" (Art. 4º, n° 6). Por sua vez, o
nosso Código de Ética Profissional estabelece, em seus artigos de 18 a 22, os limites
que norteiam a relação do psicólogo com a Justiça. Portanto, esta é uma área de
atuação legítima do psicólogo. E segundo Meirelles (1986) cabe ao psicólogo
desenvolver o estudo da personalidade dos litigantes e demais envolvidos nos litígios
judiciais e caso as ilações periciais sejam baseadas em psicodiagnósticos, cabe-lhe
também concluir o laudo.

De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2005), a psicologia utiliza o termo


Psicologia Jurídica. Como explica Gomide (2011), em relação ao uso do termo
Psicologia Forense ou Psicologia Jurídica, a diferença é uma questão regional, e em
alguns países latino-americanos usam-se os dois termos, entretanto, nos países de
língua inglesa, assim como nas principais publicações científicas da área, o termo mais
utilizado é Psicologia Forense - Forensic Psychology.

A American Psychological Association – APA, refere-se à Psicologia Forense como uma


área que aplica os princípios da psicologia ao direito e ao estudo da interação entre as
duas ciências (Quintero & Lopez, 2010). Os primeiros relatos de atividades de
psicólogos em Tribunais foram relacionados à área criminal. Em 1970, a Psicologia
Forense passa a ser reconhecida pela APA como a 41ª Divisão da Psicologia, sendo
denominada Psicologia, Lei e Sociedade (Gomide, 2011).

Segundo Gomide (2011), a Psicologia Jurídica é uma atividade relativamente nova no


Brasil, visto que teve sua implantação nos Tribunais dos Estados entre as décadas de
1970 e 1990 (Rovinski, 2009) e apenas em 2001 foi criada a Especialização em Psicologia
Jurídica pela Resolução 02/01, aprovada pelo Conselho Federal de Psicologia
(Gomide, 2011), este ramo da Psicologia tem apresentado importante evolução. Os
psicólogos forenses, de acordo com a descrição da APA, são convocados para resolver
problemas e questões que surgem judicial e extrajudicialmente, sendo que tais
questões são divididas em duas categorias principais: civil (pessoas envolvidas em
litígios civis, como a guarda de crianças) e criminal (pessoas envolvidas em processos
criminais e delinquência, como a sanidade no momento do crime e a competência para
julgamento).

Voltando a atenção para o Brasil, já no início do império, em 1835, a lei 04 de Junho


cita os que são juridicamente inimputáveis: os menores de 14 anos e os alienados. O
professor Francisco Franco da Rocha, vindo do Rio de Janeiro, assume, em 1897, o
serviço de assistência aos psicopatas do Estado de São Paulo e, nesta ocasião,
encontravam-se recolhidos no hospital da Várzea, na capital de São Paulo, quinze
doentes mentais criminosos. No ano seguinte é inaugurado o maior e mais importante
hospital psiquiátrico brasileiro, modelo para o país e para a América Latina: o Juquery.
Publica, em 1904, suas vivências e experiências em um tratado que denomina “Esboço
da Psiquiatria Forense” (Sérgio, 2003). Os então denominados manicômios Judiciários

237
são inaugurados, o do Rio de Janeiro em 1921, e, em 1924, os do Rio Grande do Sul e
Minas Gerais. O crescente número de doentes mentais criminosos era motivo de
preocupação, pois em 1926 encontravam-se internados, no Hospital do Juquery, 165
pacientes em tais condições, sendo 95 brasileiros e 70 estrangeiros. Então, em 1927,
Alcântara Machado, professor de medicina legal, no dia 13 de dezembro, patrocina o
projeto de lei criando o Manicômio Judiciário do Estado de São Paulo. Em 1934, os
primeiros 150 pacientes foram removidos do Hospital do Juquery (Sérgio, 2003).

A fase inicial da Psicologia jurídica foi bastante marcada por um ideário positivista,
importante da época, que privilegia o método científico empregado pelas ciências
naturais. (Jacó-Vilela, 1999; Foucault, 1996). Essa aproximação da Psicologia com o
direito se deu no início do século XIX, na época denominada “Psicologia do
testemunho”. Nessa denominação estava implícito seu objetivo que era examinar,
através da técnica experimental, a fidedignidade do relato dos sujeitos envolvidos nos
processos judiciais. Como relata Brito (1993), pretendia-se verificar se havia alguma
relação entre os processos internos e a veracidade de um relato. O método a ser
utilizado por eles era a aplicação de testes. Nota-se, portanto que a função do
Psicólogo nesta área era basicamente voltada à perícia, exame criminológico e parecer,
baseados no psicodiagnóstico (entrevistas e testes). Myra y Lopes, em 1945, foi
defensor da cientificidade da Psicologia na aplicação de seu saber e de seus
instrumentos junto às instituições jurídicas, e escreveu o “manual de Psicologia
Jurídica”, que teve grande repercussão no ensino e na prática profissional do
Psicólogo, até recentemente. Nota-se que até agora a prática do Psicólogo está
intimamente ligada a realizações de perícia.

A perícia psicológica jurídica no Brasil, teve início regulamentado, com o concurso


para psicólogo jurídico em São Paulo, no ano de 1985 (Altoé, 2001). Com o avanço e
destaque de profissionais psicólogos na área jurídica, bem como o surgimento do
Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas - CREPOP em 2006, e
a criação da especialidade Psicólogo Jurídico por meio da resolução CFP – 13/2007,
que já seguiu a sistematização para a elaboração do laudo psicológico, que consta na
resolução CFP- 007/2003 do Conselho Federal de Psicologia. Destacamos que a
resolução da criação da especialidade Psicólogo Jurídico é posterior à Resolução da
sistematização para a elaboração do laudo psicológico, o que deixa campos frágeis
para a atuação do psicólogo forense.

Neste caso a resolução CFP- 007/2003, orienta a elaboração do laudo/parecer, mas


não padroniza os instrumentos e a metodologia utilizada no psicodiagnóstico e ou
perícia, visto que tal procedimento se diferenciará de acordo com a demanda de cada
caso e o referencial teórico do profissional psicólogo.

238
VII A Tecnologia desenvolvida

O trabalho em questão, apresenta uma tecnologia instrumental e analítica, com base


no Behaviorismo Radical. Contempla melhorar especialmente a funcionalidade
pericial, em relação a: levantar, organizar e analisar os dados coletados, em que se
tenha como produto, o documento-laudo. O trabalho do psicólogo que resulta no
laudo, faz parte das investigações dos inquéritos policiais, que investigam os crimes
de estupro contra crianças e adolescentes.

Neste trabalho, os envolvidos analisados, serão nomeados por:

a) comunicante, quem oferece a notícia-crime sobre o fato a ser investigado;

b) suposta vítima, quem a comunicante informa ser a criança ou adolescente que


provavelmente sofreu o crime de estupro;

c) suspeito, aquele que provavelmente é o autor do crime de estupro, sendo este


geralmente informado pela comunicante.

As Entrevistas Contingenciadas Periciais são realizadas individualmente e na


seguinte ordem:

1º - comunicante;

2º suposta vítima;

3º suspeito.

Destacamos que, com cada envolvido é realizado a sequência instrumental, desta


forma:

1) Comunicante - História de Vida, Levantamento de Contexto Crítico, ‘Entrevista


Estruturada para Levantamento de Contexto’, Entrevista Semi-estruturada, nomeada
de Entrevista Clarificadora composta de perguntas clarificadoras e perguntas
transitórias e Entrevista Aberta, com perguntas abertas e perguntas de caráter
investigativo;

2) Suposta-vítima - ‘Entrevista Estruturada para Levantamento de Contexto ’e


Entrevista Aberta, com perguntas abertas e perguntas de caráter investigativo;

3) Suspeito - ‘Entrevista Estruturada para Levantamento de Contexto’, Entrevista


Semi-estruturada, nomeada de Entrevista Clarificadora composta de perguntas
clarificadoras e perguntas transitórias e Entrevista Aberta, com perguntas abertas e
perguntas de caráter investigativo.

239
Após as etapas de entrevistas é aplicado na comunicante e no suspeito o Teste
Rorschach, e com as crianças, é aplicado o Teste Rorschach e Hora Jogo Diagnóstica.
No caso das crianças, somente aquelas com idade superior a 5 anos será submetida ao
Teste Projetivo Rorschach. Os Testes TAT e CAT-A e H, serão ainda implementados a
este instrumental, por sugestão de Skinner, em Comportamento Verbal (1957).

Após a assinatura dos termos, realiza-se com a comunicante, o levantamento da ‘His


tória de Vida’, em que o perito trabalha com a contingência:

Scondicionadoresnoambiente − Sestimulodiscriminati��o− R realização − Sresponsabilização


��i��encialdacriança −quedesencadeouR dequei��a−crime dosuspeito
queapontam
desencadeadorespara:

Ao se localizar as condições no ambiente vivencial da criança que apontam os


possíveis discriminadores para a realização de notícia-crime, ocorre na sequência, a
Entrevista Contingenciada Estruturada: ‘Levantamento de Contexto Crítico ’com a
finalidade de verificar as condições para a ocorrência da realização da notícia-crime na
delegacia. Este feito é cuidadosamente averiguado e poderá ocorrer em duas sessões,
pois será averiguado: o conjunto formado pelas condições presentes nos momentos
imediatamente anterior, e subseqüente à ocorrência da resposta, sendo a resposta, a
notícia-crime. Para esta análise, faz-se a análise funcional do comportamento verbal
da comunicante, por meio desta contingência de 4 termos:

Sinteraçãodeconteúdose��ual− Sestimulodiscriminati��o− R realização − Sresponsabilização


deumadultocomumacriança Re��elação decomunicação−crime dosuspeito
−quedesencadeouR

Em que: o termo Sc, se refere ao contexto em que ocorreu a interação de conteúdo


sexual; Sd, ao estimulo discriminativo, que necessariamente deve ser a Revelação da
criança - que desencadeou R; R, a resposta ao estimulo discriminativo ou em relação
ao contexto, que se refere a notícia-crime; e Cr, que se refere ao consequente, que é a
identificação do reforçador em relação a R.

Após realização das entrevistas: ‘História de Vida ’e ‘Levantamento de Contexto


Crítico’, é realizado a ‘Entrevista Estruturada para Levantamento de Contexto’, em
que, as perguntas são constituídas da contingência tríplice:

Sinteraçãodeconteúdose��ual− R realização − Sresponsabilização


deumadultocomumacriança decomunicação−crime dosuspeito

Assim, por meio das Entrevistas Contingenciadas, busca-se identificar, duas


condições: a) quais foram as condições ambientais necessárias, que elevaram a
probabilidade de ocorrência das interações sexuais e, b) qual estimulo discriminativo
foi necessário ocorrer para que a comunicante noticiasse o crime para a polícia.

240
Informamos que todas as perguntas da Entrevista Contingenciada Estruturada são
compostas da contingência tríplice acima descrita, visto que, as perguntas são
sequenciadas para identificar campos de vulnerabilidade, que ao se arranjarem
apresenta a fragilidade contextual que a criança estava inserida.

Por meio das respostas da comunicante analisa-se no ambiente, as dinâmicas


interacionais e relacionais. Sendo que, as dinâmicas interacionais se refere a dinâmica
do indivíduo com ele mesmo e com o fato, e a dinâmica relacional do indivíduo com:
os outros (amigos), com os pais, com a família, com a escola, com a vizinhança.

Averigua-se as características que compõem os indicadores que apontam para campos


de vulnerabilidade, sendo estes: a) no ambiente de desenvolvimento da criança –
vulnerabilidade quanto ao arranjo familiar, quanto ao estilo parental, quanto ao
afetivo-materno; b) no ambiente vivenciado pela criança – vulnerabilidade sócio
familiar, quanto a qualidade da coesão familiar; c) no ambiente ansiógeno –
vulnerabilidade quanto a saúde familiar, financeiro-familiar, espaço-vivencial; d) am
biente negligencial – negligência ambiental, afetiva, grave contexto familiar; e)
ambiente crítico – vulnerabilidade comunicacional, comportamental, territorial,
quanto ao vínculo com o suspeito, quanto a classificação da ofensa do suspeito, quanto
a idade.

Dentro dos campos de vulnerabilidade, verifica-se, a exemplo: etapa de


desenvolvimento da criança em comparação com os relatos maternos, como os pais
da criança se conheceram, qual era a situação emocional e financeira do casal na época
que se conheceram, por que se casaram, se houve planejamento para ter a criança, qual
era a situação do casal (financeira e emocional) quando a criança nasceu, como era a
dinâmica relacional do casal quando a criança nasceu e como foi cuidar da criança. Na
terceira sessão com a comunicante, realiza-se: Entrevista Semi-estruturada, nomeada
de Entrevista Clarificadora composta de perguntas clarificadoras e perguntas
transitórias e Entrevista Aberta, com perguntas abertas e perguntas de caráter
investigativo.

A entrevista: ‘Entrevista Estruturada para Levantamento de Contexto ’e ‘Entrevista


Aberta’, é realizada também com a criança, para que tenhamos condições de averiguar
o quanto os relatos – comunicante x criança - são correlatoscxxiii, sob 4 aspectos:

a) entre sujeitos;

b) intra sujeitos, ou seja, aquilo que pode ser constatado entre o que se fala e o que se
observa no locus (próprio indivíduo de quem se fala);

c) de acordo com a teoria;

d) e nos documentos adstritos aos autos.

241
Os relatos serão analisados como comportamento verbal, e não como ‘Análise de
Discurso’, que tem objetivo interpretativo e linguístico.

Explicamos, que a análise dos dados e apresentação do resultado no laudo se compõe


de:

a) Levantamento de dados por meio da: Declarações, Depoimentos e Documentos


apresentados aos Autos, Entrevista Contingenciada, Hora Jogo Diagnóstica e Teste
Rorschach;

b) Análise funcional do comportamento verbal: em que se identifica operantes verbais e


suas funções;

c) Análise dos indicadores: características do conteúdo do comportamento verbal.

d) Roteiro Analítico, realiza a identificação dos indicadores que estão organizados


sistematicamente em um relatório analítico, intitulado: Indicadores Analíticos, que se
compõe de: Dados do Inquérito Policial; Unidade de Análise – operante verbal;
Análise do Relato quanto a Estrutura e Conteúdo; Análise de Contexto por meio de
Temáticas de Vulnerabilidade;

e) Resultado da Análise dos Indicadores - RAI, é a formatação dos resultados para a


apresentação ao laudo, que exige uma adequação do repertório verbal aos não
técnicos/leigos que solicitam o documento, tais como: delegados, promotores e em
última análise o juiz. Trata-se de uma exigência legal, de acordo com o novo Código
de Processo Civil - Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, no artigo 473, “§ 1o No laudo,
o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples e com coerência
lógica, indicando como alcançou suas conclusões. (grifo meu)” e Resolução 07/2003
do Conselho Federal de Psicologia, em: I – Princípio Técnico da Linguagem escrita -
“.... Deve ter uma ordenação que possibilite a compreensão por quem o lê, o que é
fornecido pela estrutura, composição de parágrafos ou frases, além da correção
gramatical. (grifo meu)”. Após o tratamento dos dados de acordo com o ‘Roteiro de
Análise’, utiliza-se o ‘Resultado da Análise dos Indicadores ’em que se apresenta o
resultado técnico de maneira acessível ao leigo. Sendo esta acessibilidade gráfica, a
que comparecerá ao laudo.

O que se distingue entre a realização da entrevista do adulto e da criança, é a


adequação do vocabulário e das perguntas quanto a idade e maturidade cognitiva da
criança, sendo que o núcleo investigativo da pergunta e da contingência tríplice acima
descrita se mantém.

Explicamos que, a narrativa da comunicante é a primeira a ser analisada, por ser ela a
propositora da ação, e por sua vez, analisar os motivos, ou seja, sob quais variáveis a
comunicante está sob controle para realizar a notícia-crime.

242
Desta forma, após a assinatura de termos e autorização pericial, é realizado a Entre
vista Contingenciada Aberta: ‘História de Vida’, e posteriormente nesta sequência as
entrevistas estruturadas: ‘Levantamento de Contexto Crítico’; ‘Entrevista Estruturada
para Levantamento de Contexto’; Entrevista Semi-estruturada, nomeada de Entrevista
Clarificadora composta de perguntas clarificadoras e perguntas transitórias; e
Entrevista Aberta, com perguntas abertas e perguntas de caráter investigativo.e na
sequência a aplicação do Teste Rorschach.

Após as sessões com a comunicante, realiza-se as Entrevistas Contingenciadas com a


criança, que inicia-se com o Rapport e ‘Hora Jogo Diagnóstica’, para que se possa
identificar o estilo vocal da criança, e possíveis movimentos verbais (vocal e gestual),
que se repetem. O Rapport é realizado no momento em que a criança ‘brinca ’na ‘Hora
Jogo Diagnóstica ’em que são feitas perguntas da ‘Entrevista Estruturada para
Levantamento de Contexto’, consideradas neutras. Na segunda sessão, em que a
criança está mais ambientada ao contexto pericial, dá-se continuidade a ‘Entrevista
Estruturada para Levantamento de Contexto ’e realiza-se a ‘Entrevista Aberta’, que é
totalmente orientada pela contingência:

��������������çã����������������ú����������������
− ��������������������
− ����ó��−����������������
������������çã�� ������������çã��
�������������������������������������������

Ao final da sessão a criança realiza a ‘Hora Jogo Diagnóstica’, sendo este momento
também avaliativo, em que o infante reconhece que estar a ‘brincar’, sendo esta técnica
altamente relevante para a finalidade de diagnóstico. Na terceira sessão com a criança,
caso esta tenha acima de 5 anos, realiza-se o Teste Rorschach.

O terceiro a ser atendido na sequência da escuta pericial, é o suspeito, caso este


compareça. Com o suspeito é realizado: ‘Entrevista Estruturada para Levantamento
de Contexto’; Entrevista Semi-estruturada, nomeada de Entrevista Clarificadora
composta de perguntas clarificadoras e perguntas transitórias; e Entrevista Aberta,
com perguntas abertas e perguntas de caráter investigativo.e na sequência a aplicação
do Teste Rorschach.

Trata-se de um estudo, de análise funcional do comportamento verbal, em que, para


esta análise, como informa Skinner (1904/1978; pag. 25), a responsabilidade é a
resposta a: “quais condições são relevantes para a ocorrência do comportamento –
quais são as variáveis das quais ele é função?”. Skinner (1904/1978; pag.25, 26),
informa que: “uma vez identificado tais fatores, podemos explicar as características
dinâmicas do comportamento verbal dentro de um quadro apropriado ao
comportamento humano como um todo”.

243
Para facilitar a análise funcional do comportamento verbal, foi desenvolvido um
‘Roteiro de Análise’, que contém Indicadores Analíticos com a finalidade de organizar
os dados e elaborar o laudo pericial. O Roteiro Analítico é composto pelas seções:

a) Correspondentes nos Dados do Inquérito Policial – análise de dados


correspondentes para construção hipotética;

b) Unidade de Análise – análise do operante verbal tacto;

c) Análise do Relato quanto a Estrutura e Conteúdo;

d) Análise de Contexto por meio de Temáticas de Vulnerabilidade.

Após o tratamento dos dados de acordo com o Roteiro Analítico, utiliza-se o Resultado
da Análise dos Indicadores, que se trata de um roteiro que contém as informações téc
nicas (análise do comportamento) da análise dos indicadores, porém descrita de
maneira acessível ao leigo. Sendo esta acessibilidade gráfica, a que comparecerá ao
laudo. Portanto, não mais se aceitará laudos periciais que “apenas respondam
quesitos”, mas com métodos e respostas conclusivas, que sejam aprofundadas a
matéria técnica específica discutida, e que os mesmos sejam apresentados com um real
valor probante. Esta necessidade de adaptação da informação para a acessibilidade
leiga, faz-se necessário de acordo com a Resolução 07/2003 do Conselho Federal de
Psicologia, que institui a elaboração de documentos psicológicos, e a Lei nº 13.105, de
16 de março de 2015, ou seja, o novo Código de Processo Civil sobre os aspectos da
perícia judicial:

“Art. 473. O laudo pericial deverá conter:

I – a exposição do objeto da perícia;

II – a análise técnica ou científica realizada pelo perito;

III – a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser


predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da
qual se originou;

IV – resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas


partes e pelo órgão do Ministério Público.

§ 1o No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem


simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões.

§ 2o É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como


emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do objeto
da perícia.

244
§ 3o Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos
podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo
informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de
terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com
planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos
necessários ao esclarecimento do objeto da perícia.”

Neste trabalho, as Entrevistas Contingenciadas assumem a função de auxiliar na


identificação das múltiplas fontes de controle sobre a resposta verbal - noticiar crime
a polícia - que explica sob qual controle a produtividade do comportamento verbal
(Barros, 2003) que surge no contexto pericial, ocorreu.

Desta forma, a análise segue o modelo de tríplice contingência, em que sempre haverá
uma relação entre resposta e conseqüência e entre resposta e antecedente (Hübner,
2006). Complementar a esta avaliação realiza-se também a análise dos ‘relatos
correspondentes ’e ‘relatos não-correspondentes’, para isso, busca-se a semelhança
nas contingências intra e entre relatos, dos relatos colhidos: no momento pericial, no
inquérito policial e nos documentos apresentados ao inquérito.

1O Projeto Contacto

O Projeto Contacto, tem na sua base, o desenvolvimento de uma Tese de Doutorado,


na área da Psicologia, pela doutoranda Viviane Teles Ribeiro Pina e seu orientador
Professor Doutor Lorismario Simonassi. O Projeto visa apresentar a sistematização
metodológico-científica, bem como, instrumental, análise e elaboração do laudo
pericial no campo da persecução penal, em que se busca a qualidade e controle da
perícia psicológica, com vistas para a neutralidade pericial, que tem como referencial
teórico o Behaviorismo Radical, no campo da análise do comportamento.

O Projeto intenta realizar perícias no âmbito da psicologia judiciária, na esfera penal


em contexto administrativo, com os atores que compõe o inquérito policial referente
ao crime tipificado pelo artigo 217-A, do Código Penal Brasileiro e busca desenvolver
instrumental e realizar a análise funcional do comportamento verbal, que fazem parte
de 100 % da perícia psicológica judicial.

Este trabalho busca inovar ao desenvolver o instrumental metodológico da perícia


psicológica em contexto administrativo judiciário (delegacias) por meio de:

a) entrevistas estruturadas, consideradas Entrevistas Contingenciadas;

b) testes a serem utilizados;

c) a seleção e sequência das pessoas a serem ouvidas;

245
d) elaborar roteiro de Entrevistas Contingenciadas das pessoas envolvidas na busca
de conteúdos correspondentes, por meio da análise funcional do comportamento
verbal;

e) composição dos dados do Teste Rorschach, a outros dados documentais e da


Entrevista Contingenciada;

f) realizar análise dos dados periciais com base fundamental no Behaviorismo Radical;

g) apresentar conteúdo a ser contemplado no laudo pericial.

Com isso objetiva criar: uma metodologia pericial, instrumentos, formatação do laudo
e interpretação dos dados e relatos verbais com base na análise do comportamento.
Em que se contempla melhorar a funcionalidade dos dados coletados em perícias
psicológicas, aumentar a fidedignidade pericial psicológica para o âmbito judicial e
em especial reduzir o tempo da perícia psicológica prioritariamente quando se
envolve criança.

Este estudo tem como premissa de que, os envolvidos relatarão o que aconteceu no
ambiente natural entre as díades vítima-acusado, em um contexto de suposta
violência sexual entre estas díades.

Os dados periciais terão no seu núcleo de análise o comportamento verbal, desta


forma, visa analisar a descrição do relato e verificar se o fenômeno de ‘conteúdos
correspondentes ’ocorrem nos relatos verbais, quando comparado ao da própria
pessoa e ao relato de outras pessoas envolvidas, com o objetivo de relacionar o relato
verbal ao fato ocorrido, por meio da análise funcional, do operante verbal, tacto. Com
isso, poderemos descrever em que condições o fato ocorre ou não e quando há ou não
o correspondente verbal em relação ao fato, caracterizado pelos ‘Indicadores
Analíticos’, que se trata de um instrumental. Esta análise é realizada por meio dos
indicadores que caracterizam os relatos fornecidos tanto ao inquérito policial, quanto
ao contexto pericial.

2 A base filosófico-teórica no Projeto Contacto


Destacamos que as etapas periciais são compostas de técnicas e instrumentos
(Resolução do CFP N 007 – 2003), com a finalidade do êxito pericial, que neste caso é
a busca de informações relevantes e suficientes para responder a solicitação e obter a
finalização do laudo.

Utiliza-se na base de interpretação de dados pericial, a fundamentação teórica do


Behaviorismo Radical de Skinner (1976), por meio da Análise do Comportamento, em
que se realiza a investigação sistemática do comportamento verbal.

246
A base pericial investigativa, considera o comportamento, que é a relação entre estí
mulos antecedentes e consequentes a uma resposta e se desenvolve de maneira
processual, pois trata da relação organismo-ambiente, sem a prioridade de existência
de um dos elementos sobre o outro (Matos, 1995). Então trata-se de uma investigação
sistemática do comportamento (Matos, 1995), por meio da Análise
Experimental/Funcional do Comportamento (Matos, 1995).

A investigação do fato, volta-se para a descrição da interdependência funcional entre


o comportamento e o ambiente, isto é, relações entre descrições de ações dos
organismos e descrições das condições em que essas ações se dão, sempre na busca de
relações funcionais que expressem sequências regulares entre eventos (Matos, 1995).

Esclarecemos que o Behaviorismo Radical é radical em dois sentidos: por negar


radicalmente a existência de algo que escapa ao mundo físico e por radicalmente aceitar,
todos os fenômenos comportamentais (Matos, 1995). E com base neste princípio o
Analista do comportamento, por estar sempre à procura de relações funcionais entre
eventos, se utiliza de uma ferramenta para estabelecer e explicar essas relações, sendo
esta ferramenta a Análise Funcional, que é feita por meio da contingência tríplice.

A contingência é uma descrição de relações entre eventos, um conceito que expressa


a condição de, como determinados comportamentos surgiram e se mantém, sendo um
poderoso instrumento de análise (Todorov, 1985). Esta é a fórmula que a análise do
comportamento se utiliza para estudar e entender como certos comportamentos foram
formados e como eles se mantêm.

Para realizar este estudo e análise, faz-se a análise de interdependencia entre o


Comportamento e o Ambiente: as consequências seletivas – que ocorrem após o
comportamento e modifica a probabilidade de ocorrerem comportamentos da mesma
classe; e o contexto – que estabelece a ocasião para o comportamento ser afetado por
suas consequências. Sendo que, o contexto ocorreria antes do comportamento e que
por sua vez afetaria a probabilidade deste (Matos, 1995). Estas duas classes conceituais
possíveis de interações – antecedentes e consequentes – são denominadas ‘contingên
cias ’(Matos, 1995). Com isso relações funcionais são estabelecidas na medida em que
registra-se mudanças na probabilidade de ocorrência dos comportamentos que
buscamos entender em relação as mudanças, quer nas consequências, quer nos
contextos, quer em ambos (Matos, 1995).

3 Desenvolvimento de uma perícia psicológica com a Análise do


Comportamento, para a polícia judiciária - Projeto Contacto
O Projeto Contacto se desenvolve na DPCA de Goiânia, desde fevereiro de 2014, em
que na época se encontrava como delegada titular a Bela. Renata Vieira, que permitiu
a implementação do Projeto na especializada e a Bela. Paula Meotti, que permitiu a
continuidade. Destacamos o verbo ‘permitir’, visto que a psicóloga se desdobrava

247
entre doutoramento e implantação do projeto, que exigiu da pesquisadora-psicóloga
grandes adaptações e desenvolvimento metodológico em uma construção prática
teórica.

O projeto tem como objetivo desenvolver ações e pesquisas de cunho científico para a
promoção de pericias psicológicas mais eficazes e que proporcione as vítimas de
violência sexual, profissionais cada vez mais especializados na oitiva e elaboração de
pareceres. Tem como principal necessidade, aperfeiçoar a sistemática de atendimento
a crianças e adolescentes vítimas do crime de estupro de vulnerável, de modo a
permitir a rápida e eficiente apuração das comunicações de crime recebidas, com a
subseqüente responsabilização dos agentes e adequada proteção às vítimas, dando
assim efetividade ao disposto no art. 227, caput e § 4º, da Constituição Federal.

O Projeto Contacto, ao ser desenvolvido em uma delegacia, sendo único no Brasil,


busca a inovação e a proposta de vanguarda por força do disposto no art. 144, inciso
IV c/c §4º, da Constituição Federal, a apuração de crimes praticados contra crianças e
adolescentes é de responsabilidade da polícia judiciária, sem prejuízo da possibilidade
de instauração, pelo Ministério Público, de procedimento próprio, destinado à coleta
dos elementos necessários ao desempenho de suas atribuições.

Ao implementar o projeto, no contexto da polícia judiciária, antes de se primar a


qualidade, o profissional deverá se preocupar com a quantidade, visto que, em uma
capital como Goiânia, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE, a população estimada para Goiânia em 2016, é de 1.448.639 de
pessoas, dentre esta quantidade, aproximadamente 355.000 são crianças entre 0 e 14
anos de idade.

O fluxo de procedimentos instaurados na DPCA, para os crimes de estupro, no ano


de 2014 e 2015 foram repectivamente: 37 e 27 inquéritos. Para os crimes de estupro de
vulnerável, no mesmo período os números registraram: 211 e 181 inquéritos policiais.

Destacamos que para cada inquérito policial com solicitação de perícia psicológica,
realiza-se, uma estimativa de 11 sessões, conforme apresentamos nesta sequência:

1) Entrevistas Contingenciadas com a comunicante/responsável (3 a 4 sessões);

2) Rorschach com a comunicante /responsável (1 sessão);

3) Hora Jogo Diagnóstica com a criança (1 sessão);

4) Entrevistas Contingenciadas com a criança (2 sessões);

5) Rorschach com a criança (acima de 5 anos – na época era autorizado pelo SATEPSI)
(1 sessão);

248
6) Entrevistas Contingenciadas com o suspeito, caso compareça (2 a 3 sessões);

7) Rorschach com o suspeito (1 sessão);

O cuidado de abranger ambas as partes envolvidas na lide, ocorre em função da


investigação ser uma atividade de busca da verdade, acerca de determinado fato, é o
esforço para conhecimento de determinada coisa que está oculta (Gomes, 2008). De
acordo com o Dicionário Houaiss (2001), investigação é: "o conjunto de atividades e
diligências tomadas com o objetivo de esclarecer fatos ou situações de direito" e
segundo Gomes (2008), este destaca:

“A investigação criminal, portanto, é o conjunto de atividades e diligências


tomadas com o objetivo de esclarecer fatos ou situações de direito relativos a
supostos ilícitos criminais. Tal entendimento, com esta amplitude acaba por
abarcar a própria instrução em juízo como uma espécie de investigação
criminal, uma vez que é a busca da verdade processual (Suannes, 1999), acerca
de um ilícito. É neste sentido que se afirma que a persecução criminal é
formada pela fase processual e pela fase pré-processual em que a investigação
é a atividade cujo objetivo é o de verificar, sumariamente, através de um juízo
de probabilidade, se há elementos mínimos a garantir que não seja leviana a
instauração de processo criminal. Assim, a investigação preliminar cumpre a
"função de filtro processual contra acusações infundadas (Lopes Jr., 2003)",
embora a sua própria existência já "configure um atentado ao chamado status
dignitatis do investigado" (Choukr, 2001) , e daí decorrem duas conclusões:
a primeira é que a investigação prévia através do inquérito policial (Santos,
no prelo) é uma garantia constitucional do cidadão em face da intervenção
do Estado na sua esfera privada (Mirabette, 2000), porque ela atua como
salvaguarda do jus libertatis e do status dignitatis; a segunda é que a
investigação prévia não é somente fase anterior do processo penal, porque
mesmo quando não há processo a investigação terá cumprido um papel na
ordem jurídica. (grifo meu)”

Barros Filho (2011) informa que o Código de Processo Penal (1941) destaca a função
de filtro que o inquérito policial assume, e observa-se na exposição de motivos do
próprio Código de Processo Penal, A CONSERVAÇÃO, AO DO INQUÉRITO POLI
CIAL Tópico IV, razões suficientes para considerar imprescindível o inquérito
policial:
-

“... há em favor do inquérito policial, como instrução provisória antecedendo


à propositura da ação penal, um argumento dificilmente contestável: é ele
uma garantia contra apressados e errôneos juízos, formados quando ainda
persiste a trepidação moral causada pelo crime ou antes que seja possível uma
exata visão de conjunto dos fatos, nas suas circunstâncias objetivas e
subjetivas. Por mais perspicaz e circunspeta, a autoridade que dirige a
investigação inicial, quando ainda perdura o alarma provocado pelo crime,
está sujeita a equívocos ou falsos juízos a priori, ou a sugestões tendenciosas.

249
Não raro, é preciso voltar atrás, refazer tudo, para que a investigação se
oriente no rumo certo, até então despercebido. Por que, então, abolir-se o
inquérito preliminar ou instrução provisória, expondo-se a justiça criminal
aos azares do detetivismo, às marchas e contramarchas de uma instrução
imediata e única? Pode ser mais expedito o sistema de unidade de instrução,
mas o nosso sistema tradicional, com o inquérito preparatório, assegura uma
justiça menos aleatória, mais prudente e serena. (grifei)”

Barros Filho (2011) enfatiza que os direitos e garantias individuais, os direitos à


intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas são violados quando o
integrante do Ministério Público, com suposto fundamento no art. 27 e § 5º, do art. 39,
do Código de Processo Penal, dispensa o inquérito policial e oferece a denúncia com
base apenas nas informações sobre o fato e autoria, muitas vezes infundadas, contidas
em representação formulada por pessoa do povo. Desta forma, em virtude dos danos
que a instauração precipitada da ação penal acarreta, de acordo com a nova ordem
constitucional, precisam ser confirmadas pela Polícia Judiciária, antes de serem
utilizadas pelo órgão da acusação (Barros Filho, 2011).

Além disso, a atividade investigativa tem como pressuposto a escolha da estratégia


da investigação por quem a conduz, cuja decorrência é a escolha dos meios, formas,
fins e oportunidades adequadas de desencadear as diligências investigativas ou
deixar de realizá-las (Gomes, 2008). A investigação criminal, realizada pela Polícia
Judiciária, se apresenta como um instrumento de defesa dos direitos e garantias
individuais, adota-se nesta obra a posição jurídica de que o inquérito policial é
necessário, como uma ferramenta de efetivação dos direitos estabelecidos pelo devido
processo legal (Barros Filho, 2011). O inquérito policial concretiza os direitos do due
process of law, pois impede que a ação penal seja desencadeada, de forma instigada e
desnecessária, comprometendo indevidamente a credibilidade das pessoas. Com
efeito, depois da promulgação da chamada “Constituição cidadã”, não se admite
nenhuma acusação desprovida de elementos de convicção.

Para se garantir direitos, é preciso garantir isonomia, Gomes (2008) informa que, a
isonomia é a expressão de um processo justo no sentido de proporcionar ao sujeito
atingido pela acusação estatal, as mesmas oportunidades de expor e ver analisados
seus argumentos e suas teses Ferrajoli (1997) destaca que a igualdade processual
manifesta-se na:

"Igualdade de armas no processo para as partes, ou a par conditio, na


exigência de que se assegure às partes equilíbrio de forças; no processo penal,
igualdade entre Ministério Público e acusado".

Gomes (2008) alerta que, a isonomia tem a prerrogativa de seu caráter de


generalidade de ser uma espécie de princípio que informa todos os outros, em que
os princípios do contraditório e da ampla defesa só existem efetivamente se

250
aplicados dentro de um contexto delineado pelo princípio da igualdade, afinal, de
que vale a oportunidade de ter "ciência bilateral dos atos e termos processuais e
possibilidade de contrariá-los" se a acusação está muito melhor aparelhada para
produzi-los e a defesa não possui o instrumental adequado para contrariar a
imputação?

A doutrina, Fernandes (1999) distingue a igualdade em dois aspectos: igualdade


formal (igualdade perante a lei) e igualdade material (igualdade na lei). A igualdade
formal presa para que as pessoas recebam o mesmo tratamento estatal,
desconsideradas as suas diferenças, isto é, todos seriam iguais perante a lei, que não
discrimina, não distingue uns em relação a outros. Na igualdade material, esta
determina que o Estado deve considerar as diferenças entre as pessoas e procurar
reduzí-las, uma vez diante da lei, esta tem de considerar as diferenças existentes para
realizar a isonomia, a exemplo dos artigos do Código de Processo Penal (1941),
Decreto Lei, nº 3689, outubro de 1941 - Titulo II, Do Inquerito Policial, os destacados:

“Titulo II

Do Inquérito Policial

Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a


autoridade policial deverá

IV - ouvir o ofendido;

V- ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do


disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo
ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito


e a quaisquer outras perícias;

VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico,


se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista


individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de
ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos
que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.

X - colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades


e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável
pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído pela Lei nº
13.257, de 2016)

251
Art. 14. O ofendido ou seu representante legal, e o indiciado poderão
requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não, a juízo da
autoridade.”

Desta forma, a participação do suspeito na perícia psicológica, ocorre como maneira


de garantir direito (Barros Filho, 2011) a todos os envolvidos, na busca de apresentar
as reais condições em que o delito ocorreu.

Nesta linha de raciocínio, Luiz Flávio Borges D'Urso (2008) entende que o inquérito
policial é indispensável, pois:

“Fico a meditar sobre a origem do inquérito policial, sua utilidade e


conveniência e invariavelmente concluo por sua indispensabilidade como
supedâneo a enfeixar as provas que são produzidas durante esta importante
fase, que é preliminar ao processo criminal, aliás, talvez a fase que justifique
o próprio processo.”

E conclui:

“Assim, nos poucos casos em que o inquérito policial foi dispensado,


observamos um descrédito na polícia e na Justiça, aumentando a sensação de
impunidade, tão alardeada no país.”

O procedimento administrativo policial, por meio do Inquérito é que dá o suporte às


provas produzidas e mais, por ele se revela indispensável à credibilidade da Justiça
(Barros Filho, 2011).

Então para cada inquérito policial, ocorre a diligência expedida pelo delegado
responsável pelo caso, para: Realização de Perícia Psicológica. Na DPCA, ocorre uma
estimativa de 14 sessões, em que se encaminha perícia psicológica para o psicólogo no
mínimo de 2 casos por semana, o que resulta em 8 solicitações por mês. Assim, com 8
solicitações por mês para o psicólogo, este deverá realizar uma média de 112
atendimentos para finalizar os 8 casos, isto sem quantificar as horas/relógio que se
dedicará a elaboração do laudo psicológico, pois sem o documento ‘laudo
psicológico’, os atendimentos ficam improcedentes.

Informamos que diariamente, em 6 horas trabalhadas, o psicólogo consegue realizar


2 atendimentos, com sessões de aproximadamente 1 hora e 30 minutos. Assim sendo,
diante dos 21 dias úteis trabalhados por mês, o psicólogo realiza 63 atendimentos, lhe
resta 49 atendimentos para fechar o total de 112 atendimentos para 8 solicitações por
mês. Como destacamos, trata-se de uma conta que não fecha. Ainda atentamos que,
para que o psicólogo consiga realizar o feito de 3 atendimentos por dia, ao ser pré
agendado com o periciado, este não poderá faltar em hipótese alguma. Porém, não é
a realidade que se apresenta, sendo a não assiduidade às sessões periciais o maior
impedidor do fluxo pericial contínuo e a finalidade em tempo mais reduzido. Tal

252
ausência é completamente aceitável, visto que a solicitação pericial não parte do
comunicante, mas sim da autoridade policial. Outro motivador que bloqueia a vinda
dos periciados é a própria evolução do inquérito policial, em que, os comunicantes ao
se deparar com resultados que conflitam a seus desejos particulares se desmotivam em
serem colaborativos perante o fluxo do inquérito.

Informamos que os psicólogos atuantes na Secretaria de Segurança Pública do Estado


de Goiás, possuem vínculo por meio de concurso público para os cargos que compõem
a estrutura da Secretaria de Segurança Pública e Superintendência de Polícia Técnico
Científica, em que não se contempla o cargo de psicólogo, conforme a Lei Estadual nº
16.901, de 26 de janeiro de 2010 e Lei nº 16.897 de 26 de janeiro de 2010.

Destacamos que os profissionais psicólogos existentes no quadro da Polícia Civil e


Polícia Técnico Científica do Estado de Goiás, possuem respeitosa e corajosa ação
junto ao: NIAB – Núcleo Integrado de Atencão Biopsicossocial ao Policial Civil,
Instituto Médico Legal e DPCA de Goiânia.

Nesta esfera destacamos o pioneiro trabalho do perito psicólogo Leonardo Ferreira


Faria, que se encontra doutamente na Superintendência de Polícia Técnico-Científica,
da Secretaria da Segurança Pública, em que realiza perícias psicológicas, ao qual
possui o vínculo como servidor público efetivo na categoria: auxiliar de autópsia
desde o ano 2000.

O esclarecimento neste tópico se torna relevante na medida em que, enquanto


categoria profissional-psicólogo possamos buscar e ocupar espaço no Sistema de
Segurança Pública do país, por meio de concurso público.

A realidade brasileira neste âmbito, é a inexistência de quadro específico de


psicólogos, não somente na Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, como
também nos demais 23 estados da Federação e Distrito Federal. Tal situação se
diferencia somente no Estado do Rio Grande do Sul, no Instituto Geral de Perícias,
desde 2008, em Santa Catarina, que possui Psicólogos Policiais no quadro da Policia
Civil desde 2010 e no Espirito Santo, desde 2014.

Nos demais estados, nas capitais como: Palmas, Natal, Goiânia e Distrito Federal,
psicólogos atuam sem quadro de carreira.

Na Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente de Goiânia, a equipe de


apuração de crimes contra crianças e adolescentes, delegado, escrivão e agente de
polícia, em especial quando envolvem violência sexual em suas mais variadas
modalidades, considera o crime de estupro de vulnerável, o mais complexo. Visto que,
o que se tem na sua maioria são relatos e exames de corpo de delito com o resultado:
‘sem vestígios’.

253
Para esta realidade, a tarefa investigativa se torna altamente extenuante, especializada
e com necessidades multiprofissional, no caso da DPCA de Goiânia, o psicólogo é um
dos integrantes-chave na equipe investigativa. Seja na coleta de provas relativas à
autoria e materialidade da infração – que é o objetivo do inquérito polícia - que nem
sempre deixa marcas físicas, seja para potencializar o relato infantil muitas vezes
limitado em função da idade, ou, seja para esclarecer relatos confusos e contraditórios.
Para isso, o psicólogo trabalha junto com a equipe investigativa, que permite ampliar
o trabalho investigativo, para uma adequada apuração dos fatos e a busca de
responsabilização do agente, por meio do conteúdo do laudo psicológico. Então, é
fundamental que os órgãos de investigação policial observem cautelas redobradas em
suas abordagens, bem como articulem ações com profissionais de outras áreas, de
modo que a oitiva da criança ou adolescentes vítimas de violência, assim como a
realização dos exames periciais, quando necessários, sejam efetuadas de maneira
diferenciada e reservada, procurando-se preservar ao máximo a integridade psíquica
e emocional daqueles, em observância ao disposto nos arts. 17 e 18, da Lei nº 8.069/90,
que considera: que crianças e adolescentes têm, dentre outros, “o direito à
inviolabilidade de sua integridade física, moral e psíquica, devendo ser tratados com respeito
e dignidade, bem como colocados a salvo de qualquer tratamento violento, vexatório ou
constrangedor” (cf. arts. 5º, 17, 18 e 53, inciso II, todos da Lei nº 8.069/90).

Com as inovações trazidas pela Lei nº 12.010, introduziu-se no artigo 100 do Estatuto
da Criança e do Adolescente, em 2009, o inciso XII, que torna obrigatória a
participação da criança e do adolescente em todos os atos, com o direito de serem
ouvidos em separado pela autoridade judiciária, sendo suas opiniões devidamente
consideradas. E atualmente em 2017 a Lei nº 13.431, de 4 de Abril de 2017, que entrará
em vigor um ano após sua publicação, que estabelece o sistema de garantia de direitos
da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei no 8.069,
de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Com o intento de elevar
as condições jurídicas para a responsabilização do agente, e proteção de crianças e
adolescentes, a produção antecipada de provas – prevista no artigo 156, I, do CPP, Lei
11.690 de 2008, que pode ser realizada antes mesmo do oferecimento de uma ação
penal, como faculta o dispositivo – constitui o instrumento hábil e amplamente
relevante para esse desiderato.

4 A perícia que resulta no laudo psicológico na DPCA de Goiânia - Projeto


Contacto

254
O psicólogo no uso de suas atribuições legais e regimentais, que lhe são conferidas
pela Lei nº 4119, de 27 de agosto de 1962, que dispõe sobre os cursos de formação em
psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo, bem como, de acordo com a
resolução CFP n.º 7/2003, que institui o Manual de Elaboração de Documentos
Escritos, habilita o psicólogo, a produzir documentos escritos, e que devem se basear
exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas
de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram como métodos e técnicas
psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações de informações a respeito
da pessoa ou grupo atendido. Esses instrumentais técnicos devem obedecer às
condições mínimas requeridas de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que
se propõem a investigar (CFP n.º 7/2003).

Em adequação a Resolução CFP Nº 008/2010, que dispõe sobre a atuação do psicólogo


como perito e assistente técnico no Poder Judiciário, o psicólogo em atividade na
persecução penal se vale da mesma Resolução para o desempenho de suas atividades,
a destacar:

“ ... CONSIDERANDO que, quando a prova do fato depender de


conhecimento técnico ou científico, o juiz será assistido por perito, por ele
nomeado;

...CONSIDERANDO que o psicólogo perito é profissional designado para


assessorar a Justiça no limite de suas atribuições e, portanto, deve exercer tal
função com isenção em relação às partes envolvidas e comprometimento ético
para emitir posicionamento de sua competência teórico-técnica, a qual
subsidiará a decisão judicial...

...CONSIDERANDO que a utilização de quaisquer meios de registro e


observação da prática psicológica obedecerá às normas do Código de Ética do
psicólogo e à legislação profissional vigente, devendo o periciando ou
beneficiário, desde o início, ser informado;

CONSIDERANDO que os psicólogos peritos e assistentes técnicos deverão


fundamentar sua intervenção em referencial teórico, técnico e metodológico
respaldados na ciência Psicológica, na ética e na legislação profissional,
garantindo como princípio fundamental o bem-estar de todos os sujeitos
envolvidos...

CAPÍTULO I

REALIZAÇÃO DA PERÍCIA

Art. 1º - O Psicólogo Perito e o psicólogo assistente técnico devem evitar


qualquer tipo de interferência durante a avaliação que possa prejudicar o
princípio da autonomia teórico-técnica e ético-profissional, e que possa
constranger o periciando durante o atendimento.

255
Art. 2º - O psicólogo assistente técnico não deve estar presente durante a
realização dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do
psicólogo perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e
qualidade do serviço realizado. Parágrafo Único - A relação entre os
profissionais deve se pautar no respeito e colaboração, cada qual exercendo
suas competências, podendo o assistente técnico formular quesitos ao
psicólogo perito.

Art. 3º - Conforme a especificidade de cada situação, o trabalho pericial


poderá contemplar observações, entrevistas, visitas domiciliares e
institucionais, aplicação de testes psicológicos, utilização de recursos lúdicos
e outros instrumentos, métodos e técnicas reconhecidas pelo Conselho
Federal de Psicologia.

Art. 4º - A realização da perícia exige espaço físico apropriado que zele pela
privacidade do atendido, bem como pela qualidade dos recursos técnicos
utilizados.

Art. 5º - O psicólogo perito poderá atuar em equipe multiprofissional desde


que preserve sua especificidade e limite de intervenção, não se subordinando
técnica e profissionalmente a outras áreas.

CAPÍTULO II

PRODUÇÃO E ANÁLISE DE DOCUMENTOS

Art. 6º - Os documentos produzidos por psicólogos que atuam na Justiça


devem manter o rigor técnico e ético exigido na Resolução CFP nº 07/2003,
que institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pelo
psicólogo, decorrentes da avaliação psicológica.

Art. 7º - Em seu relatório, o psicólogo perito apresentará indicativos


pertinentes à sua investigação que possam diretamente subsidiar o Juiz na
solicitação realizada, reconhecendo os limites legais de sua atuação
profissional, sem adentrar nas decisões, que são exclusivas às atribuições dos
magistrados. (CFP Nº 008/2010)”

Quando no Art 6º da Resolução do CFP Nº 008/2010, discorre sobre documentos


produzido decorrentes da avaliação psicológica, destacamos definição deste processo
técnico-científico segundo Resolução do CFP Nº 07/2003:

“MANUAL DE ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS DECORRENTES DE


AVALIAÇÕES PSICOLÓGICAS

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico de


coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos

256
fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a
sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos,
técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e
analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com
a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o
indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a
formulação da demanda até a conclusão do processo de avaliação psicológica.
(CFP Nº 07/2003)”

Bem como a observância dos princípios norteadores na elaboração de documento na


mesma Resolução CFP Nº 07/2003, tal como:

“I - PRINCÍPIOS NORTEADORES NA ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS

2 – PRINCÍPIOS ÉTICOS E TÉCNICOS

2.2. Princípios Técnicos

O processo de avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste


procedimento (as questões de ordem psicológica) têm determinações
históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas, elementos
constitutivos no processo de subjetivação. O DOCUMENTO, portanto, deve
considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto
de estudo.

Os psicólogos, ao produzirem documentos escritos, devem se basear


exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações,
dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram como
métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e
interpretações de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos, bem
como sobre outros materiais e grupo atendidos e sobre outros materiais e
documentos produzidos anteriormente e pertinentes à matéria em questão.
Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições mínimas
requeridas de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que se propõem
a investigar.

A linguagem nos documentos deve ser precisa, clara, inteligível e concisa, ou


seja, deve-se restringir pontualmente às informações que se fizerem
necessárias, recusando qualquer tipo de consideração que não tenha relação
com a finalidade do documento específico.

Deve-se rubricar as laudas, desde a primeira até a penúltima, considerando


que a última estará assinada, em toda e qualquer modalidade de documento.
(Resolução CFP Nº 07/2003)”

257
Desta forma destacamos que o documento apresentado a autoridade policial,
solicitante da perícia psicológica, se faz em forma de relatório/laudo psicológico,
conforme especificação da Resolução CFP Nº 07/2003:

“III - CONCEITO / FINALIDADE / ESTRUTURA

3 – RELATÓRIO PSICOLÓGICO

3.1. Conceito e finalidade do relatório ou laudo psicológico

O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de


situações e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas,
sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica.
Como todo DOCUMENTO, deve ser subsidiado em dados colhidos e
analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes
psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal),
consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo
psicólogo.

A finalidade do relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e


conclusões gerados pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o
encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do
caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário,
solicitação de acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente
as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição.

3.2. Estrutura

O relatório psicológico é uma peça de natureza e valor científicos, devendo


conter narrativa detalhada e didática, com clareza, precisão e harmonia,
tornando-se acessível e compreensível ao destinatário. Os termos técnicos
devem, portanto, estar acompanhados das explicações e/ou conceituação
retiradas dos fundamentos teórico-filosóficos que os sustentam.

O relatório psicológico deve conter, no mínimo, 5 (cinco) itens: identificação,


descrição da demanda, procedimento, análise e conclusão.

1.Identificação

2.Descrição da demanda

3. Procedimento

4. Análise

5. Conclusão

3.2.1. Identificação

258
É a parte superior do primeiro tópico do documento com a finalidade
deidentificar:

O autor/relator – quem elabora;

O interessado – quem solicita;

O assunto/finalidade – qual a razão/finalidade.

No identificador AUTOR/RELATOR, deverá ser colocado o(s) nome(s) do(s)


psicólogo(s) que realizará(ão) a avaliação, com a(s) respectiva(s)
inscrição(ões) no Conselho Regional.

No identificador INTERESSADO, o psicólogo indicará o nome do autor do


pedido (se a solicitação foi da Justiça, se foi de empresas, entidades ou do
cliente).

No identificador ASSUNTO, o psicólogo indicará a razão, o motivo do pedido


(se para acompanhamento psicológico, prorrogação de prazo para
acompanhamento ou outras razões pertinentes a uma avaliação psicológica).

3.2.2. Descrição da demanda

Esta parte é destinada à narração das informações referentes à problemática


apresentada e dos motivos, razões e expectativas que produziram o pedido
do documento. Nesta parte, deve-se apresentar a análise que se faz da
demanda de forma a justificar o procedimento adotado.

3.2.3. Procedimento

A descrição do procedimento apresentará os recursos e instrumentos técnicos


utilizados para coletar as informações (número de encontros, pessoas ouvidas
etc) à luz do referencial teórico-filosófico que os embasa. O procedimento
adotado deve ser pertinente para avaliar a complexidade do que está sendo
demandado.

3.2.4. Análise

É a parte do documento na qual o psicólogo faz uma exposição descritiva de


forma metódica, objetiva e fiel dos dados colhidos e das situações vividas
relacionados à demanda em sua complexidade. Como apresentado nos
princípios técnicos, “O processo de avaliação psicológica deve considerar que
os objetos deste procedimento (as questões de ordem psicológica) têm
determinações históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as
mesmaselementos constitutivos no processo de subjetivação. O
DOCUMENTO, portanto, deve considerar a natureza dinâmica, não
definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo”.

259
Nessa exposição, deve-se respeitar a fundamentação teórica que sustenta o
instrumental técnico utilizado, bem como princípios éticos e as questões
relativas ao sigilo das informações. Somente deve ser relatado o que for
necessário para o esclarecimento do encaminhamento, como disposto no
Código de Ética Profissional do Psicólogo.

O psicólogo, ainda nesta parte, não deve fazer afirmações sem sustentação em
fatos e/ou teorias, devendo ter linguagem precisa, especialmente quando se
referir a dados de natureza subjetiva, expressando-se de maneira clara e exata.

3.2.4. Conclusão

Na conclusão do documento, o psicólogo vai expor o resultado e/ou


considerações a respeito de sua investigação a partir das referências que
subsidiaram o trabalho. As considerações geradas pelo processo de avaliação
psicológica devem transmitir ao solicitante a análise da demanda em sua
complexidade e do processo de avaliação psicológica como um todo.

Vale ressaltar a importância de sugestões e projetos de trabalho que


contemplem a complexidade das variáveis envolvidas durante todo o
processo.

Após a narração conclusiva, o documento é encerrado, com indicação do local,


data de emissão, assinatura do psicólogo e o seu número de inscrição no
CRP.” (Resolução CFP N.º 007/2003)

A DPCA de Goiânia desenvolve relatório/laudo psicológico com a característica


tridirecional, em que o psicólogo responsável pelo parecer é concursado da DPCA,
nomeado pela Delegada Titular, como perito ad hoc, e segue as determinações do
Código de Ética do Psicólogo - 2005 e Resolução do CFP N 007 – 2003. Entende-se por
ser tridirecional, pois, tanto o psicólogo é nomeado para a realização da perícia,
quanto o periciado é encaminhado para a perícia psicológica, sendo o solicitante a
autoridade policial.

O relatório/laudo da DPCA de Goiânia, por meio do Projeto Contacto, pauta nas


normativas do Conselho Federal de Psicologia, mais especificamente, na Resolução
007/2003 e Resolução CFP Nº 008/2010. Destacamos que o relatório/laudo da DPCA
é composto de 7 (sete) itens, sendo 4 itens – identificação, exposição de motivos, dados
analisados (análise), e conclusão - exigidos pela resolução (CFP – 007/03). E com a
finalidade de adequação de demanda, à esta estrutura é acrescido 3 subitens: técnica,
análise de indicadores e sugestão terapêutica, sendo esta a composição:

1. Identificação

2. Exposição de motivos

260
3. Técnicas:

3.1. Etapas periciais;

3.1.1. Instrumentos:

3.1.2. Entrevista Contingenciada;

3.1.3. Hora Jogo Diagnóstica;

3.1.4. Teste Rorschach;

4. Análise de indicadores:

4.1. Correspondentes nos dados do Inquérito Policial – Dados para construção


hipotética;

4.2. Unidade de análise – operante verbal - tacto;

4.3. Análise do relato quanto a estrutura e conteúdo;

4.4. Análise de contextos por meio de temáticas de vulnerabilidade;

5. Dados analisados:

5.1. Contexto da criança;

5.2. Análise verbal;

5.3. Análise idiográfica projetiva;

5.4. Percepções clínicas.

6. Sugestão terapêutica para a criança e ou sua família

7. Conclusão.

Na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia - DPCA, a perícia


psicológica é amplamente utilizada, na esfera da persecução penal e é elaborada para
responder e descrever a natureza originária dos contextos delituosos. Com isso, o
perito-psicólogo irá corresponder à demanda jurisdicional, e responder de acordo
com a natureza da solicitação, que poderá ter caráter: Diagnóstico, Investigativo e
Terapêutico. A perícia psicológica comparece nos campos judiciários para auxiliar na
resolução de situações conflituosas e ou delituosas e atende a uma demanda única e
exclusivamente institucional.

261
Destaca-se que a condição da perícia psicológica é realizar a avaliação psicológica, que
é uma das atividades exclusivas do psicólogo tal como dispõe o § 1º do Art. 13 da lei
brasileira 4.119/62, e se diferencia da avaliação do psicólogo clínico, em especial,
quanto ao enquadre clínico, pois neste caso, não existe a solicitação de um terceiro
institucional, o sujeito se apresenta expontaneamente.

Diante da presença do terceiro institucional, que apresenta involuntariamente o


sujeito á situação pericial, a perícia psicológica está adstrita a três condições
inseparáveis, sendo estas:

a) Em relação ao seu objeto: trata-se de uma questão pertinente que a avaliação trata
de investigar, uma questão a responder, um problema a resolver (Maloney e Ward
apud Grisso, 1986; Cunha, J. A., 2000, in Conselho Regional de Psicologia, CRPSP,
2010). Portanto toda a técnica implica, necessariamente em: uma posição ética em
relação ao sujeito-objeto, quem vai ser avaliado e ao demandante dela (Conselho
Regional de Psicologia, CRPSP, 2010);

b) Em relação ao objetivo: está vinculado a solicitação que é feita ao psicólogo (CRP


SP, 2010) em relação a questão-problema do contexto judiciário. Esta questão
problema é a solicitação para uma atuação: diagnóstica, investigativa e ou
interventiva. O psicólogo atua como perito judicial nas varas cíveis, criminais, da
família, da criança e do adolescente e Justiça do Trabalho (Resolução nº 13/2007), bem
como no Ministério Público e áreas da Segurança Pública, em Delegacias e Sistema
Prisional. Então a solicitação advém das esferas supracitadas, para responder e
auxiliar as particularidades de cada ação;

c) E quanto ao demandante, quem solicita: no caso da DPCA – Delegacia de Proteção


à Criança e ao Adolescente, o inquérito policial é regido pelo Delegado de Polícia, que
faz a solicitação de perícia psicológica para compor o inquérito policial, e auxiliar na
busca de autoria e circunstâncias de realização de um fato delituoso. Então, a perícia
psicológica na DPCA de Goiânia, atua na esfera dos crimes contra a dignidade sexual
de crianças e adolescentes, em integração operacional com o Ministério Público
Criminal e a Vara Criminal.

Destacamos que, o demandante ao solicitar uma perícia-psicológica, a realiza com o


objetivo de auxiliá-lo junto a questões técnicas (CRP SP, 2010). Observa-se que o
perito-psicólogo por atuar no campo da avaliação psicológica, em contextos que
envolve o sistema de segurança pública e forense, tem a função de examinar as pessoas
envolvidas no litígio e apresentar de maneira esclarecedora sobre o que foi
questionado (CRP SP, 2010). Com isso, de acordo com a solicitação do demandante, a
perícia psicológica pode assumir características de natureza (CRP SP, 2010):

262
a) Diagnóstica – quando a finalidade é explorar e desenvolver a questão-problema,
em que já se conhece a origem do conflito, como nas varas de família e juizados
especiais;

b) Investigativa – destaca um diagnóstico que responde a uma questão conflitiva e ou


delituosa, tais como em solicitações no âmbito da polícia judiciária, sistema prisional
e varas criminais;

c) Terapêutica – que diante de um diagnóstico apresentado, o demandante opta por


encaminhar para a intervenção terapêutica com o propósito de dirimir conflitos
diagnosticados (CRP SP, 2010).

Com isso, a atuação do perito, fica reservada à solicitação do requisitante, que


divergirá quanto a finalidade avaliativa. Pois o psicólogo ao ser solicitado por
autoridades da fase investigativa de crimes, a exemplo do perito na polícia judiciária,
esclarecerá a solicitação por meio do âmbito psicológico dos envolvidos. E em fase
processual, seja nos juizados especiais, seja na esfera familiar, seja na criminal, poderá
ser nomeado por juízes, e atender, neste caso, conforme a demanda do solicitante.

A perícia psicológica, no domínio da polícia judiciária, é realizada para acessar o


campo psicológico dos presentes à perícia, por meio da avaliação psicológica
(Resolução do CFP N 007 – 2003), com vistas para apontar a ocorrência ou não do fato
periciado. Esclarecemos que para todos os envolvidos, de maneira protocolar: criança,
responsável/comunicante e suspeitocxxiv, faz-se o convite para que participe de tal
procedimento, sendo que, não está previsto a obrigatoriedade do aceite. Caso
concorde, este assinará o termo de concordância pericial.

5 As etapas da perícia psicológica, no Projeto Contacto

A perícia psicológica na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente - DPCA de


Goiânia, é caracterizada como uma perícia estruturada, que atende a uma demanda
investigativa a respeito de um fato típico. Pois, de acordo com o CPP art. 4 e 12, a
finalidade do Inquérito Policial - IP é a apuração da existência de infração penal e
respectiva autoria. O IP busca a verdade real dos fatos, tipicidade do fato, existência
de causas excludentes de antijuridicidade e a culpabilidade do autor de delito. O
desenvolvimento pericial respeita etapas pré-estabelecidas: que vai desde a solicitação
pericial até a entrega do parecer, sendo que esta estrutura tem na sua base o Modelo
PEACE.

O Modelo PEACE (1992) é um método de entrevista que reflete uma técnica avançada
da pesquisa psicológica moderna (Starr, 2013), em que se considera a entrevista como
uma gestão da conversação, o método foi colocado em atividade em 1990 (Baldwin,
1992) e amplamente utilizado no Reino Unido, Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália.
O Modelo PEACE tem a sua origem na técnica Conversation Management, desenvolvida

263
por Eric Shepherd em 1983, que adota na sua estrutura, ferramentas de base
psicológica. PEACE é um acrônimo que foi desenhado, por uma equipe de
investigadores, no Reino Unido, para auxiliar entrevistadores. Tem na sua base o
conceito de Entrevista Ética (Shepherd, 1991), cunhado por Shepherd, que enfatiza
respeito e igualdade de tratamento para todos os envolvidos e de base não-acusatório.
Embora tenha sido criado para entrevistas relacionadas à investigação de crimes,
acredita-se que sua estrutura básica possa ser aplicada a qualquer tipo de entrevista
que busca obter informações precisas e detalhadas sobre algum fato, pois a gestão
PEACE foi desenvolvida a partir de técnicas como: manejo de conversação, pesquisa
sobre boas práticas em entrevista e a técnica de entrevista cognitiva (Milne e Bull,
1999).

PEACE (1992), é um acrônimo, o qual representa Planning and Preparation


(Planejamento e Preparação), Engage and Explain (Engajamento e Explanação), Acoount
(Relato), Closure (Fechamento) and Evaluation (Avaliação) (Shepherd, 1991).

A técnica da perícia psicológica na sua totalidade segue as 5 etapas do PEACE, sendo


que em cada fase possui também subetapas, que obedece ao acrônimo intitulado:
PEACE (Shepherd, 1991). Com o objetivo de chegar a análise dos dados, realiza-se as
etapas periciais.

5.1 Etapa 1 – Planejamento e preparação

A primeira etapa se refere ao momento de preparação pericial para cada caso, esta
fase pericial, vai desde o recebimento da solicitação pericial, até a preparação do
material a ser utilizado na perícia em questão:

1) Recebimento da solicitação pericial:

A solicitação pericial é encaminhada para o Departamento de Psicologia da DPCA –


Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia, somente por demanda
interna, ou seja, não existe o atendimento de solicitações externas a DPCA, por se
tratar de um departamento que faz parte da equipe de investigação da polícia desta
especializada. As solicitações para a realização de perícia psicológica encaminhadas
ao departamento de psicologia da DPCA, são os casos em que, os inquéritos policiais
são tipificados criminalmente pelo Art. 217-A, do Código Penal Brasileiro, nomeados
‘estupro de vulnerável’.

2) Identificação da necessidade pericial:

Após o recebimento da solicitação, por meio de requerimento da autoridade policial,


o psicólogo realiza estudo, por meio do Inquérito Policial, com a finalidade de
formalizar o requerimento. O estudo é realizado para suprir duas possíveis

264
inconformidades. A primeira inconformidade seria em relação a especialidade e
expertise do perito, ou seja, o perito deve verificar se a solicitação realizada naquele
momento pela autoridade pode ser atendida tecnicamente pelo profissional psicólogo.
A segunda inconformidade se dá pela característica da solicitação, visto que, algumas
solicitações não fazem parte do objeto de estudo da psicologia. Para isso, faz-se
necessário o estudo e a seleção do caso, para a realização ou não de perícia, que passa
pelos seguintes critérios, quando:

a) Delegado e escrivão ao colherem depoimento nos casos de suposta violência

sexual necessitam de informações mais detalhadas a respeito do ocorrido;

b) Criança de tenra idade, até 6 anos;

c) Divergência significativa no relato da vítima;

d) Divergência significativa entre o relato da vítima, comunicante e das

testemunhas;

e) Divergência significativa no relato entre comunicante e vítima;

3) Caracterização do caso:

Para a solicitação de perícia, o cartório encaminha para o perito-psicólogo ad hoc a


demanda pericial, por meio de requerimento. O psicólogo junto ao delegado e
escrivão busca a explanação do caso e frente aos relatos preenche a ficha intitulada:
Estruturação do caso. O psicólogo agenda data para que o escrivão comunique o
responsável pela vítima, em que este solicita comparecimento da
cuidadora/responsável para iniciar perícia psicológica. Caso o responsável não seja
encontrado, intima-se documentalmente, pela autoridade competente. Caso o
responsável seja encontrado e não compareça a 3 agendamentos o caso é devolvido ao
cartório de origem, por meio do documento: Declaração de Não Comparecimento.

4) Logística pericial:

Diante da solicitação pericial entregue ao psicólogo, o escrivão solicita data para início
de perícia e comunica a família da criança. Por meio da ficha intitulada Estruturação
do caso, preenchida sob os relatos do escrivão/delegado, o psicólogo se organiza para:
ambientação da sala, material lúdico (brinquedos, lápis, papel, canetinha, lápis de cor)
de acordo com a idade para a técnica Hora Jogo Diagnóstica, seleção das entrevistas e
material para testagem quando necessário. Realiza-se busca na literatura de acordo
com a demanda de cada caso, em consonância com: comunicante, grau de parentesco,
idade (vítima e agressor), gênero, suposto agressor na condição de intra ou

265
extrafamiliar, dinâmica familiar da vítima, dinâmica do suposto agressor em relação
a vítima, dinâmica da interação sexual. No caso deste estudo, interação de conteúdo
sexual, será considerada toda interação que contém características sexuais sejam elas:
verbais, apresentação de figuras, fotos, vídeos, bem como o contato por meio da visão, ou
de qualquer parte do corpo de duas ou mais pessoas envolvidas em demanda judicial
específica, em um contexto de contéudo e característica sexual.

5) Cadastramento:

O cadastramento inicia-se na data agendada para o início da perícia, momento em que


o psicólogo realiza coleta de dados de identificação para preenchimento das seguintes
fichas:

a) Ficha Cadastral;

b) Autorização para realização de perícia psicológica judicial;

c) Normativas Fundamentais para a Realização da Perícia Psicológica;

d) Declaração de comparecimento;

e) Encaminhamento ao CREAS e ou CAPSi (se necessário); e

f) Autorização para uso de dados com finalidade de pesquisa e estatística.

No momento do cadastramento solicita-se, com data pré-agendada, somente a


presença do responsável e ou comunicante, para os momentos de Entrevista
Contingenciada, intitulados: ‘Levantamento de Contexto’, ‘Entrevista Estruturada
para Levantamento de Contexto’, ‘Entrevista Aberta’, Entrevista Clarificadora’,
Entrevista Suplementar’. Estas são as entrevistas de caracter investigativo, intituladas:
‘Entrevistas Investigativas’, que podem ser: aberta, semi-estruturada e estruturada.
6) 1º Rapportcxxv e entrevistas periciais:

Ridgeway (2000) argumentou que o rapport deve existir inerentemente, em qualquer


processo de comunicação que compreenda parâmetros éticos. Collins, Lincoln e Frank
(2002) investigaram os resultados de três condições da atitude do entrevistador:
rapport, abrupta e neutra. Na condição de rapport, o entrevistador apresenta uma
condição mais suave e descontraída e utiliza o nome do entrevistado. Na condição
abrupta, o entrevistador fala de maneira ininterrupta, interrompe o entrevistado,
utiliza um tom mais severo, não se refere ao entrevistado pelo nome e apresenta uma
postura corporal rígida e indiferente. A abordagem neutra implica que o entrevistador
deve ser tão neutro quanto puder em todos os aspectos comportamentais. Os
resultados mostraram que os participantes reconheceram claramente a abordagem de
relacionamento rapport e em comparação com as abordagens abruptas e neutras, os

266
entrevistados forneceram itens mais corretos (do video que assistiram), e não houve
aumento de informações incorretas na condição de rapport. A abordagem neutra no
Collins et al. (2002) foi considerada congruente a condição de supressão de informação
dos estudos de Butler, Egloff, Wilhelm, Smith, Ericson e Gross (2003).

Os componentes do rapport, como, atenção, positividade e coordenação, possui um


peso relativo no desenvolvimento de uma entrevista profissional. Hendrick (1990)
destaca que a atenção envolve sentimentos de interesse e foco mútuos, a positividade
compreende sentimentos de bem-estar, e a coordenação envolve equilíbrio e harmonia
no ambiente. Assim, Hendrick (1990) enfatizou que a perspectiva do informante
responde à maneira como este interage no ambiente. Tickle-Degnen e Rosenthal (1990)
declararam, que o rapport é um fenômeno interacional intrínseco de bem-estar
mútuos. Frente a um rapport, os entrevistados fornecem informações mais corretas do
que sem rapport, e na última condição, os entrevistados reagem com aversão e
demostram relutância em criar um bom vínculo na entrevista investigativa (LeDoux
& Hazelwood, 1985; Sear & Stephenson, 1997; Stephenson & Moston, 1994). A
propósito, independente do entrevistado colaborativo ou relutante, a entrevista deve
se pautar na condição de rapport.

No 1º dia da sessão pericial, o psicólogo realiza o enquadramento, o enquadre é a


descrição para o periciando, de como a perícia será realizada para isso, o responsável
e ou comunicante assina o documento intitulado ‘Normativas Fundamentais para a
Realização da Perícia Psicológica’. Caso concorde, realiza assinatura das autorizações
periciais e dá-se início as atividades periciais. As entrevistas ocorreram em settingcxxvi
pericial semelhante ao da criança e ao comunicante será detalhado a forma de Registro,
o motivo do registro e o consentimento do comunicante para o registro. Ao
responsável/comunicante é apresentado a Regra Básica, em que ao periciando fica
claro que ela poderá: falar o que quiser, caso não entenda algo a qualquer momento
poderá pedir esclarecimentos e quando não quiser responder algo, diga que não re
sponderá.

Após assinaturas da autorização de perícia, faz-se as Entrevistas Contingenciadas com


a finalidade de levantar dados contextuais e discriminadores com o
comunicante/cuidador, que poderá se estender por quatro sessões ou mais.

Tal como Simonassi e Cameshi (2003), neste trabalho, na análise do comportamento


verbal busca-se identificar tanto os antecedentes das respostas privadas e, idealmente,
como as contingências conseqüentes estabeleceram a influência das respostas
privadas sobre o comportamento público (Hayes e Brownstein, 1986). Pois diferentes
variáveis afetam o comportamento do comunicante, enquanto falante e ouvinte, então
as ações deste comunicante expressam funções diferentes que dependem de condições
presentes e passadas diferentes, em vez de dependerem de estarem localizadas
estruturalmente na mesma pessoa (Simonassi e Cameshi, 2003). Por isso, o relato do

267
comunicante é um parâmetro importante para se apurar o contexto vivenciado pela
criança desde a época do fato investigado até a presente data. Neste levantamento
busca-se identificar o nível de informação por parte do cuidador/comunicante a
respeito de:

a) Eventos em relação ao fato denunciado;

b) Descrição do desenvolver comportamental dos envolvidos em relação ao fato;

c) Comportamentos não verbais e verbais dos envolvidos pré-revelação;

d) Comportamentos não verbais e verbais dos envolvidos entre a revelação da criança e

a denúncia dos fatos;

e) Levantamento de temáticas relacionadas ao fato periciado.

Após as sessões com a comunicante, realiza-se as Entrevistas Contingenciadas com a


criança, que inicia-se com o Rapport e ‘Hora Jogo Diagnóstica’, para que se possa
identificar o estilo vocal da criança, e possíveis movimentos verbais (vocal e gestual),
que se repetem. O Rapport é realizado no momento em que a criança ‘brinca ’na ‘Hora
Jogo Diagnóstica ’em que são feitas perguntas contingenciadas da ‘Entrevista
Estruturada para Levantamento de Contexto’, consideradas neutras. Na segunda
sessão, em que a criança está mais ambientada ao contexto pericial, dá-se continuidade
a ‘Entrevista Estruturada para Levantamento de Contexto ’e realiza-se a ‘Entrevista
Aberta’. Ao final da sessão a criança realiza a ‘Hora Jogo Diagnóstica’, sendo este
momento também avaliativo, em que o infante reconhece que estar a ‘brincar’, sendo
esta técnica altamente relevante para a finalidade de diagnóstico. Na terceira sessão
com a criança, caso esta tenha acima de 5 anos, realiza-se o Teste Rorschach.

O terceiro a ser atendido na sequência da escuta pericial, é o suspeito, caso este


compareça. Com o suspeito é realizado: ‘Entrevista Estruturada para Levantamento
de Contexto’; Entrevista Semi-estruturada, nomeada de Entrevista Clarificadora
composta de perguntas clarificadoras e perguntas transitórias; e Entrevista Aberta,
com perguntas abertas e perguntas de caráter investigativo.e na sequência a aplicação
do Teste Rorschach.

5.2 Etapa 2 - Engajamento e Explicação

Nesta etapa o psicólogo estabelece o primeiro contato com a criança. Após


levantamento de dados a respeito do caso, com o preenchimento das fichas periciais
e levantamento de contexto junto ao comunicante/responsável, em data e local pré
agendado o perito estabelece o primeiro contato com a criança em que à convida para
uma sala prontamente ambientada para recebê-la.

268
Este setting pericial, constitui-se de um ambiente com regras pré-determinadas, em
que os papéis são especificados, estabelecendo uma assimetria. Possui a segurança de
um local em que o silêncio permeará todas as sessões, com um ambiente seguro e
regras técnicas bem fundamentadas para a manutenção da neutralidade da perícia.
Trata-se de um local altamente sistematizado para o desenvolvimento pericial, com
todo o material individualizado e previamente estruturado para a criança, de acordo
com a etapa de desenvolvimento, características da criança e demanda do solicitante,
com etapas a seguir:

1) Apresentação:

O psicólogo se apresenta a criança na presença do responsável e seguem para a sala


pericial. Diante das crianças que se recusam a seguir sem a presença do responsável,
é acordado que será realizado uma atividade com a criança na presença do
responsável e posteriormente a criança ficará somente com o psicólogo.

No momento em que está somente o psicólogo e a criança aplica-se da técnica Rapport.


Neste vínculo inicial esta técnica é o período de ambientação tanto da criança no
setting pericial, quanto da dupla perito-criança.

E neste momento frente as perguntas neutras do rapport, já previstos na Entrevista


Contingenciadas Estruturada, o perito identifica: o estilo de linguagem do falante,
vocabulário específico, extensão verbal e desenvoltura da criança frente as perguntas.

2) Registro:

À criança e a todos os envolvidos será detalhado a forma de registro, o motivo do


registro e o consentimento para o registro.

3) Regra básica:

Dizer a criança e aos envolvidos que estes poderão: falar o que quiser, caso não
entenda algo a qualquer momento poderá pedir esclarecimentos e quando não quiser
responder algo, diga que não responderá.

5.3 Etapa 3 - Acessar o relato livre

Nesta etapa é realizado as Entrevistas Contingenciadas: estruturada, semi-estruturada


e aberta, que tem como base estrutural a Entrevista Investigativa (Milne R., e Bull, R.,
1999), caracterizada por proporcionar o levantamento de informações relevantes e
coerentes a respeito de um fato. A Entrevista Investigativa, possui em seu
delineamento estrutural de avaliação, a consistente BARS (Clarke, C. e Mine, R., 1999)
– Behaviourally Anchored Rating Scale (Escala Comportamentalmente Ancorada na
Avaliação). Esta potente ferramenta aponta a sequência de indicadores relevantes e a
estrutura das perguntas para o levantamento de informações necessárias para a

269
investigação de fatos conflitivos e ou delituosos. A avaliação BARS (Clarke, C. e Mine,
R., 1999) – Behaviourally Anchored Rating Scale, é uma composição rigorosa para avaliar
e assegurar o planejamento de entrevistas que contenham questões, metas e objetivos
definidos.

Investigações de qualidade exigem entrevistas de qualidade, sendo que cada


entrevista é única e potencialmente gera o máximo de informações inteligentes que
possam ter sido negligenciadas por entrevistadores com baixo nível de planejamento.

Com o objetivo de organizar teoricamente a técnica da entrevista, e planejar o


instrumental investigativo, utilizou-se estruturalmente entrevistas e protocolos
amplamente empregados, tais como: The Metropolitan Toronto Special Committee on
Child Abuse (1995), traduzida para o Português e adaptada por Kristensen (1996),
Entrevista Neuropsiquiátrica internacional MINI para crianças e adolescentes
(Sheehan, Shytle, Milo & Janavs, Lecrubier 2009), letras P e Q, traduzido por
Hohendorff, Habigzanga & Koller a partir da versão postuguesa de Portugal
(Guerreiro, Navarro, Mendes & Sampaio, 2009), Victims and witnesses, and Using Special
Measures (Home Office, 2011), Entrevista Cognitiva (EC; Fisher & Geiselman, 1992),
Protocolo de entrevista forense da Corner House - RATAC (Finding Words; Anderson et
al., 2010 -“Rapport, Anatomy Identification, Touch Inquiry, Abuse Scenario, and Clo
sure”, em livre tradução o termo “RATAC” significa: Rapport, Identificação Ana
tômica, Questionamento sobre Toques, Cenário do Abuso e Fechamento); e o
Protocolo NICHD (National Institute of Child Health and Human Development; Lamb,
Hershkovitz, Orbach, & Esplin, 2008), SexKen- ID (McCabe, 1999): PWI – ID -Versão
Portuguesa de Joana Pinto e Pedro Nobre (2011); NCAC - Modelo de Avaliação
Forense Estendida (Carnes, 2000); Avaliative Investigative Interview BARS (Clarkec &
Milne, 2001), PSOC – Parent Sense of Competence Scale (Gibaud W. J. & Wandesrsman,
L. P. 1978), Competências Maternas Percebidas (Nunes & Lemos, 2010b), FACES III -
Escala de Avaliação da Coesão e Adaptação Familiar (Nunes & Lemos, 2010c), Roda
da Vida (Collela, F., (2014), QUESI Questionário Sobre Traumas na Infância (QUESI:
Grassi-Oliveira, Stein & Pezzi, 2006) é um instrumento de auto-relato retrospectivo,
baseado no Childhood Trauma Questionnaire (Bernstein & cols. 2003),– questionário
sobre traumas da infância; Escala de Bem –estar subjetivo- EBES (Trócolli, Salazar e
Vasconcelos, 2002); PANAS – Aspectos positivos e negativos (Giacomoni e Hutz,
1997), construção de narrativa (Saywitz & Goodman, 1996), Inventário de toques (He
witt, 1998), Sexken – ID (adaptado) (McCabe, 1999) e PWI – ID (Pinto & Nobre 2011),
Protocolo de Avaliação de risco de abuso sexual infantil (Faller, K.C., 1993).

Os inventários e protocolos supracitados compõe a base estrutural das entrevistas.


Esta base estrutural se assenta no pressuposto de que todos estes inventários e
protocolos possuem um roll de informações com uma sequência-lógica, que podem
ser explorados frente a contextos de interações sexuais de um adulto com uma criança,
sendo esta a temática central para o levantamento de dados.

270
Os instrumentais citados não são utilizados no seu interino e sim como uma referência
em relação ao conjunto temático a ser explorado. Com isso, a partir da base temática
e seus desdobramentos que permeiam os contextos de violências, foi elaborado as
entrevistas abertas, semi-estruturadas e estruturadas, utilizadas no Projeto Contacto.

Frente ao roll temático organizado, as Entrevistas Contingenciadas então, foram


elaboradas de acordo com:

a) particularidades do desenvolvimento infantil;

b) idade;

c) o papel dos envolvidos no inquérito policial;

d) tipificação criminal;

e) condição intra ou extra familiar;

f) campos de vulnerabilidade;

g) modus operandi de suspeitos que atuam nos crimes de estupro de vulnerável;

h) composição do fato – estupro de vulnerável.

Desta forma para o acesso ao relato livre da criança e dos demais atuantes no
inquérito, como: cuidadora, comunicante, testemunha (se necessário) e suspeito
apontamos a seguinte sequência:

a) Entrevista Contingenciada Investigativa com a cuidadora, comunicante,

representante legal, por meio de:

i. Entrevista aberta;

ii. Entrevista semi-estruturada;

iii. Entrevista estruturada;

b) Entrevista com a criança;

i. Aplicação da Entrevista Contingenciada Investigativa (aberta, semi

estruturada e estruturada): que é adaptada de acordo com demanda do

fato e idade da criança;

ii. Hora jogo diagnóstica com a criança;

271
c) Entrevista Contingenciada Investigativa com o suspeito, caso compareça,
por meio de:

i. Entrevista aberta;

ii. Entrevista semi-estruturada;

iii. Entrevista estruturada.

d) Aplicação do Teste Rorschach, possui padronização própria e ocorre em

sessão específica de acordo com demanda e idade dos atuantes no inquérito;

5.4 Etapa 4 - Cerrar (fechar)

A cada sessão prepara a criança, o cuidador, comunicante e ou suspeito, para finalizar


o encontro pericial, faz-se um resumo do encontro e confirma o próximo encontro,
caso ocorra. Ao final da perícia reafirma o que já foi consentido pelo periciado na
assinatura dos termos, em que, o resultado será anexado ao inquérito policial e que o
interessado poderá ter acesso, por meio de representante legalcxxvii.

5.5 Etapa 5 - Expansão

Na expansão, frente aos dados levantados, faz-se análise dos dados, por meio do
relatório analítico: Indicadores Analíticos. Assim, realiza-se a análise
combinatóriacxxviii, não só em relação a quantas ordenações são possíveis de serem
realizadas com os indicadores, mas especialmente que tipo de ordenação se faz com
os dados obtidos por meio dos relatos dos envolvidos. Os indicadores são conceitos
que caracterizam o relato, de acordo com a configuração legal do crime de estupro de
vulnerável. Esta caracterização se refere as: características do fato, a quem se fala, do
que se fala e o que se fala em relação ao desempenho/ação da pessoa no inquérito.
Nenhum dado é analisado isoladamente, realiza-se a análise combinatória, com a
finalidade de obter o significado amplo de um determinado fato. Assim, ao realizar a
combinação, efetiva-se o agrupamento de determinados indicadores, que resulta na
composição de um fato. Esta composição ao ser agrupada, se encontra sob certas
condições, sendo que estas condições ao serem analisadas, resulta em um simples
arranjo de informações ou na composição de um delito. Desta forma, não basta
comunicar um crime, ele realmente deve ter ocorrido, para que seja confirmado como
um delito. Analisar um crime de estupro de vulnerável se distancia muito da perícia
psicossocial da guarda de filhos, visto que, no crime, busca-se a ocorrência do fato
criminoso, e isto é muito preciso. O que facilita em alto grau o trabalho do perito.

Os indicadores têm na sua base o SVA – Statement Validity Analysis (Hershkowitz,


Fisher, et al., 2007), e o programa contido em Verbal Behavior de Skinner (1957), com
base no referencial teórico da Análise do Comportamento, por meio da análise

272
funcional do comportamento verbal. Para isso é realizado a seguinte análise
organizacional:

1) Levantamento dos dados – Será realizado o levantamento dos dados por meio das

entrevistas e testagem.

2) Organização dos indicadores – os indicadores foram organizados sequencialmente

em relação a estrutura do fato – interação de conteúdo sexual de um adulto com uma

criança e conforme: o CBCA (Análise de Conteúdo Baseado em Critérios, Steller,

1989; Steller & Boychuk, 1992; Steller & Koehnken, 1989), que faz parte de um

procedimento muito mais geral, denominado SVA – Avaliação da Validade das

Declarações (Sporer, 1997; Ruby & Brigham, 1997); EASI–5 – Entrevista de Abuso

Sexual Infantil (Juárez, 2002), GEA-5 – Guia para Avaliação do Testemunho de Abuso

Sexual Infanto-Juvenil (Juárez, 2002), EATI – Entrevista de Avaliação do Testemunho

Infantil (Juárez, 2006) o Protocolo de Entrevista Forense de Michigan-FIA (1998),

assessorado por Debra Poole, no Guia de Poole & Lamb (1998) e Análise funcional do

comportamento verbal.

3) Análise combinatória - não só em relação a quantas ordenações são possíveis de

serem realizadas com os indicadores, mas especialmente que tipo de ordenação se faz

com os dados obtidos por meio dos relatos dos envolvidos.

Na análise-organizacional destes indicadores contempla-se 5 grandes áreas a respeito


da situação de suposta interação sexual, sendo elas:

1) Indicadores Relevantes na Entrevista de Levantamento de Contexto - em

relação ao fato;

2) Indicadores Relevantes na Entrevista aberta – em relação a Interação de

Conteúdo Sexual - ICS;

3) Indicadores Relevantes na Entrevista Estruturada - Contexto Específico e

suas implicações na ocorrência do fato;

273
4) Análise de Relato – comportamento intra e entre verbal dos atuantes, e em

relação aos dados que comparecem no inquérito policial em relação ao fato

periciado;

5) Análise de Contéudo Específico – revelação, denuncia, comportamento em

relação a revelação e denuncia e pós-denuncia, em relação ao fato periciado:

a) Análise do comportamento verbal da criança, de seu cuidador,

comunicante e do suspeito (caso compareça) na interação com o perito;


b) Análise de contingências por meio do comportamento verbalcxxix em

relação ao fato;

c) Análise de correspondentes intra e entre verbal, suas consequências e

efeitocxxx, corroborado ao fato;

d) Análise de contingências relacionadas a interação de conteúdo sexual,

por meio da Hora Jogo Diagnóstica;

e) Análise do comportamento verbal no Teste Rorschach, ao que tange a

demanda do fato;

f) Análise de documentos e oitivas apresentadas ao inquérito, em relação

a correspondentes intra e entre verbais, por meio do comportamento

verbal dos envolvidos;

5.6 Etapa 6 - Elaboração do laudo psicológico pericial

Para a elaboração do laudo (CFP Nº 007/2003) utiliza-se todos dados e indicadores


em relação as análises supracitadas, ‘sendo que apresenta-se ao documento a
organização e análise das informações necessárias e relevantes (CRP SP, 2010), neste
caso, para os esclarecimentos da investigação policial’. Frente a condição de uma fase
exclusivamente investigativa, extra judicial e com o envolvimento de outros
profissionais, nos pautamos de acordo com o CFP nº 017/2012 “ –Art. 6º – O
psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos, compartilhará so
mente informações relevantes para qualificar os serviços prestados, resguardando o
caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as
receber, de preservar o sigilo”.

274
Na globalidade pericial da DPCA, respeita-se os quatro elementos essenciais que
configuram o campo da Avaliação Psicológica, com a finalidade de execução do
Laudo Psicológico, tais como: Objeto - fenômenos ou processos psicológicos; Objetivo
visado - diagnosticar, compreender, avaliar a ocorrência de determinadas condutas;
Campo Teórico - sistema conceitual e Método – forma como foi elaborado as etapas
periciais. Sendo que, estes são os fatores que oportunizam o acesso ao que se pretende
explorar (Cunha, Jurema Alcides e cols., 1993) no comportamento privado e público
do indivíduo, por meio dos instrumentos utilizados nas técnicas: Entrevista, Hora jogo
diagnóstica e Teste Rorschach (1927).

6 Instrumentos e técnicas no Projeto Contacto


6.1 Entrevista Contingenciada Investigativa - ECI

O foco da Entrevista Contingenciada Investigativa – ECI, está centrado nos


mecanismos de recuperação e levantamento das informações a respeito do fato, sendo
que as técnicas de rememoração não estão relacionadas com buscar no depósito da
memória, mas sim em aumentar a probabilidade de respostas (Skinner, 1957) em
relação ao fato investigado.

No momento da entrevista (Bleger, 1980; 1998), o entrevistador não tem acesso a


informações de como se deu o fato. O relato do entrevistado é a fonte de informação
para reconstituição do fato passado. Segundo Pinho et al. (2006), a estratégia de
entrevista deve ser no sentido de guiar o indivíduo na recuperação de informações
que possam ter relevância para a questão legal, facilitando a comunicação destas
informações ao entrevistador (Rovinski, 2007).

Baseia-se em um método previamente planejado do "que" e "como" fazer ao longo da


entrevista (Shepherd, 1991), esse método prevê todas as questões básicas que deverão
ser colocadas aos entrevistados de forma padronizada e sistemática. As vantagens
deste instrumento, são a melhor comparação dos resultados (Horvath, Jayne, Buckley,
1994) entre os entrevistados, quando se faz a mesma pergunta, para uma posterior
análise de correspondência, entre e intra verbais. Com isso, se busca primordialmente
as contingências nos operantes verbais, relacionadas ao fato – interação de conteúdo
sexual, que possui sua própria constituição para ocorrer.

Para acompanhar o diagnóstico detalhado diante doo instrumento teórico nomeado,


Contingência Tríplice, da análise do comportamento, que tem a finalidade de detectar
indicadores que apontem para a correspondência verbal, o instrumental de entrevistas
utilizado na DPCA Goiânia, tem na sua base estrutural, os 7 Princípios da Entrevista
Investigativa, desenvolvida pelo Ministério do Interior Britânico em 1992 (Bull, R.,
2000) para uso da Inglaterra e País de Gales e têm resistido ao teste do tempo, em que
foram adotados por outras jurisdições ocidentais. (Home Office, 1992) e (Bull, R.,
2000):

275
Princípio 1 - O objetivo da entrevista de investigação é a obtenção de informações

precisas, completas e que passe por análises aprofundadas, para que possam por sua

qualidade, corroborar dados e apontar se necessário, para outras hipóteses

investigativas.

Principio 2 - Agir com equidade, por meio de uma entrevista planejada e com objetivos

precisos em relação ao fato.

Principio 3 - A entrevista de investigação deve ser abordada com uma postura

investigativa, em que os detalhes são o roll de informações mais precisos a se obter,

com o objetivo principal de detectar informação a respeito de um fato em conformidade

com toda a investigação. Para isso, utiliza-se um planejamento claro, que possa

corroborar ou refutar a informações já apresentadas.

Principio 4 - As entrevistas devem conter uma ampla gama de questões a fim de obter

material que possa ajudar a elucidar uma solicitação investigativa com informações

suficientes e relevantes. As questões devem possuir uma centralidade temática em

correspondência ao fato investigado. Então, conduzir uma entrevista de investigação

não é o mesmo que provar um argumento. Isto significa que os entrevistadores possuem

uma ampla gama de questões, que apontem para o esclarecimento do fato demandado.

Principio 5 - Os investigadores devem reconhecer o impacto positivo de uma admissão

antecipada no contexto do fato, caso não ocorra e mesmo sob esta ocorrência, a

inteligência policial, deverá dar continuidade ao levantamento de informações valiosas

e precisas em relação ao fato demandado. Pois, informações devem ser analisadas de

maneira aprofundada e correlacionadas entre si.

Principio 6 - As perguntas na entrevista não têm a função do questionamento, por serem

persistentes e consistentes a temática, mas sim pelo dever e obrigação de se obter

informações coerentes e precisas. Um relato completo e coeso de testemunhas,

276
comunicantes, vítimas e suspeitos, só se obtém por entrevistas planejadas e com

objetivos concernentes ao fato demandado. Caso não ocorra, já é o dado a ser analisado.

Principio 7 - Mesmo quando entrevistados exercem o direito ao silêncio, os

entrevistadores têm a responsabilidade de perguntar o roll de questões elaboradas para

o fato. Trata de uma atitude cuidadosa do entrevistador de não finalizar a entrevista por

demandas pessoais, mas sim de esgotar todo o conteúdo investigativo e dar

oportunidade ao entrevistado de esclarecer algum ponto que achar necessário.

O rigor no planejamento das entrevistas investigativas considera que pessoas, por


razão ou formas diferentes poderão realizar relatos que divergem da ocorrência dos
fatos. As divergências podem ocorrer, seja por características disposicionais, que
advêm de predicados pessoais, seja por característica situacional em que o indivíduo
de maneira declinada dispõe os fatores contextuais a respeito do fato, por isolamento,
minimização/maximização, ou por ambos (Schollum, M. e New Zeland Police, 2005).

As Entrevistas Investigativas são utilizadas em situações conflituosas, que podem


apresentar elevado nível de discordância e dúvidas, bem como para averiguar e
clarificar fatos que envolvem atitudes delituosas (Schollum, M. e New Zeland Police,
2005).

As etapas da entrevista investigativa PEACE (Schollum, M. e New Zeland Police,


2005) asseguram que as informações coletadas em uma entrevista sejam precisas,
relevantes e completas, com o objetivo de apresentar claramente ao entrevistado, o
desenho do cenário que está sendo explorado (Schollum, M. e New Zeland Police,
2005).

A Entrevista Contingenciada Investigativa – ECI, está em conformidade com a


entrevista investigativa comunicativa com uma abordagem humanitária (Holmberg,
U. 2004), e é realizada para promover o bem-estar fisiológico e psicológico do
indivíduo envolvido na ação jurídica (Wexler, 1996b). A abordagem humanitária
favorece o bem-estar aos implicados em situação jurídica, exatamente por que o
indivíduo que recebe a ação investigativa presencia que, as informações solicitadas
são relevantes, completas e precisas (Bull, R., 2000) para o esclarecimento do fato.

Com isso o periciado, ao conferir que está sendo assistido na resolutividade de sua
demanda conflituosa, sente-se gratificado, ao ponto de elaborar também seus quesitos
ao perito. Pois, mesmo diante de exaustivos questionamentos, que é a condição para
o levantamento de informações detalhadas, este empenha-se de maneira cooperativa.

277
Então, a Entrevista Investigativa por ter na sua condição a proposição elucidativa de
conflitos e delitos, tem também no entrevistado a proposição colaborativa para que,
especialmente por meio de suas informações, obtenha-se o sucesso investigativo.

Todavia, frente ao desenvolvimento pericial e da Entrevista Contingenciada


Investigativa por meio do roll de questões e da testagem, que acontece em mais de 3
sessões para cada periciado, as proposições motivadoras do entrevistado podem
modular em um spectrum que vai de colaborativo para reivindicativo.

Tal modulação tende a ocorrer, especificamente quando o periciado se depara com


suas motivações particulares declinadas, frente a relevância e estrutura da coerência
investigativa. Com isso, necessariamente ocorre a modulação de conteúdo intra e
entre verbal do periciado, bem como questionamentos e informações que se afastam
da centralidade temática em questão.

Dessa forma, a importância de assegurar o encerramento adequado a cada etapa da


Entrevista Investigativa (Clarke, C., & Milne, R., 2001), trata-se de uma técnica de
extremo valor, para se obter a corroboração de dados e constatar a continuidade lógica
das informações por meio da coesão verbal. Pois, mesmo que, tal característica não
compareça, este já é o dado coerente a ser analisado.

Por meio da Entrevista Contingenciada Investigativa, busca-se evitar a


Sugestionabilidade Interrogativa. Gudjonsson e Clark a partir da década de 80
definiram a Sugestionabilidade Interrogativa – SI, como: “o grau em que, num
contexto de interação social próxima, um sujeito aceita mensagens comunicadas por
outrem durante um questionamento/interrogatório, alterando, em função disso, as
suas respostas” (Gudjonsson & Clark, 1986, p. 84), em que, com isso altera-se em
algum nível o relato em relação a um fato. O que ocorre, é que perguntas sugestivas
podem afetar os relatos verbais e agregar um componente forte de incerteza
relacionado com a capacidade de processamento de informação do indivíduo em que
envolve, geralmente, uma situação bastante estressante, com consequências
importantes para quem é sugestionável.

O modelo de Gudjonsson e Clark comporta, deste modo, segundo Gudjonsson (2003),


três premissas fundamentais:

a) A primeira diz respeito ao fato de a SI depender das estratégias


de coping (conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para
adaptarem-se a circunstâncias adversas ou estressantes) que as
pessoas conseguem gerar e implementar quando confrontadas
com a incerteza e a expectativa da resposta. Frente ao tato extenso,
a criança cede, por ausência de repertório e do entendimento a
respeito do repertório emitido.

278
b) A segunda premissa refere-se à confiança interpessoal necessária
para que haja cedência à sugestão, ou seja, o entrevistado deve
acreditar que não há intenções do entrevistador, que estas são
legítimas e que não existem “armadilhas” no questionamento. Ou
seja, o que será dito, será relevante. Neste caso, destacamos a
proximidade afetiva relevante.

c) Por fim, a terceira premissa está relacionada com as expetativas


de sucesso. Muitas vezes as pessoas estão relutantes em dizer
“não sei”, pois são sensíveis ao esquema de reforçamento criado
para as melhores respostas, e assim respondem de maneira
satisfatória, por meio de tato extensos, uma vez que é
experimentado pela parelha, a melhor resposta à questão e que é
expectável ao ouvinte. Esta expectativa de “sucesso”, leva a que o
entrevistado não assuma que não saiba responder, por que
“acredita que é esperado que saiba” a informação em causa e que
responda a todas as perguntas. Estas expectativas de “sucesso”
levam a que os entrevistados não assumam que não saibam
responder e acabam por responder de encontro com a sugestão
apresentada.

A susceptibilidade à sugestão evidenciada por crianças parece depender da sua


percepção do grau de credibilidade e de autoridade do entrevistador. É sabido que as
crianças, e principalmente as mais novas, têm uma tendência para confiar em figuras
adultas ou de autoridade muito próxima, mostrando-se geralmente colaborativas e
tentando corresponder às suas expectativas em situações de interação social (Ceci,
Ross, e Toglia, 1987).

Durante uma entrevista é inevitável o uso de linguagem não-verbal pelo entrevistador


e, consequentemente, que as suas perguntas tenham entoações e conotações
emocionais. O tom emocional das perguntas é rapidamente percebido pelas crianças
que tendem a moldar-se e a agir de acordo com o que percepcionam ser esperado
(Ceci e Bruck, 1999). Por outro lado, o uso de reforços verbais compensatórios, por
pessoas significativas do seu convívio, tais como: “vai se sentir melhor se disser”, “não
tenha medo de dizer” ou “você é muito corajoso (a) se contar”, quando introduzidos
com frequência e acompanhados de um tom insistente, pode levar as crianças a
confirmar e a produzir informações falsas (Goodman, Wilson, Hazan, e Reed, 1989,
citado por Bruck et al., 1997).

O impacto da tonalidade emocional do entrevistador e da entrevista no grau de


aceitação da sugestão durante um questionário parecem, de fato, ser determinantes
(Gudjonsson e Clark, 1986). Relativamente à desejabilidade social, Gudjonsson (2003),

279
afirmou que, as pessoas com maior necessidade de se apresentarem como socialmente
aceites seriam mais suscetíveis.

Vários autores têm defendido que a repetição de perguntas sugestivas gera maior
sugestionabilidade principalmente entre as crianças mais novas, uma vez que estas
intuem que se o entrevistador está a repetir as questões é porque ainda não de-ram a
resposta certa (Moston, 1987).

Destacamos que, quando questionadas por um entrevistador neutro, as crianças


tendem a fornecer mais informações corretas (Thompson et al.,1997), pois estão sob as
seguintes neutralidades do contexto pericial:

a) Perguntas abertas e neutras;

b) Entendimento e aceitação das respostas;

c) Não existe a expectativa para uma resposta;

d) Não existe o contexto que se intua a cedência a sugestão;

e) Não existe a expectativa de sucesso;

f) Não existe a proximidade afetiva da figura de autoridade;

g) Não se utiliza a entonação e a conotação emocional;

h) Não existe o reforço verbal compensatório;

i) Não existe o tom insistente e repetitivo;

j) Não existe técnicas sugestivas e sim testagem padronizada;

k) Não existe o viés do entrevistador com a expectativa de respostas.

Uma das conclusões essenciais e com forte evidência científica é que, de fato, as
entrevistas sugestivas aumentam o grau de sugestionabilidade das crianças (Cunha,
2010). Não menos importante será o fato de que, não só se verificam relatos distorcidos
e erros, como estas distorções e erros se referem tanto a eventos neutros e a detalhes
periféricos, como também a episódios significativos e a informações centrais, muitas
vezes envolvendo o próprio corpo (Bruck e Ceci, 2004; Peterson e Bell, 1996; Tobey e
Goodman, 1992).

Estes dados têm importantes implicações na avaliação de relatos de crianças vítimas


de maus-tratos físicos e abuso sexual. Uma outra constatação importante é o fato de

280
se obter maior impacto na distorção dos relatos quando estão simultaneamente
presentes a tendência confirmatória do viés do entrevistador e de várias técnicas
sugestivas (Bruck e Ceci, 2004). Pois uma criança entrevistada por alguém que tenta
confirmar as suas crenças prévias, que é alvo de avaliações repetidas e que é alvo de
muitas técnicas sugestivas em simultâneo, cederá mais facilmente à sugestão (Bruck e
Ceci, 2004).

6.2 Técnica - Hora jogo Diagnóstica

Neste momento a observação e análise do perito, tem atenção para a emergência vocal
e comportamentos não-verbais, correspondente à estímulos generalizados, que pode
ser mencionada ou operacionalizada, devido à sua própria força relativa, por
apresentar uma grande variedade de amostras arbitrárias de fala e comportamentos
não verbais (Skinner, 1936). Para a Hora Jogo Diagnóstica, Aberastury (1982) sugere:
massa de modelar, lápis, papel, desenho livre (Trinca, 1987), boneca e carrinho,
colocados em uma caixa sobre uma mesa, a disposição da criança. Arzeno (1995)
também sugere brinquedos como: xícaras, pires, índios, soldados, animais domésticos
e selvagens. Chazaud (1977) propõe que o material oferecido à criança seja o menos
estruturado possível, o mais indiferente, pois ressalta que, quanto mais impreciso for
o material, mais pessoal (“projeção”) e menos intencional ou banalizado será o
“propósito do jogo”, o brincar, (Winnicott, 1971) o que facilita o acesso mais real ao
que se busca. Sandler (1990) afirma que trata-se de um momento em que a criança
pode relatar situações vividas para expressar o que a ela aconteceu, servindo-se de
brinquedos ou explicando verbalmente experiências da escola ou de casa.

Com isso alguns aspectos são observados na Hora Jogo, em adequação com a idade
da criança: Linguagem, se o repertório vocal é rico e amplo ou reduzido, pronuncia
incorreta de determinadas sílabas ou ainda enfatizado e erotizado, estilo de linguagem
do repertório verbal, pausas verbais. Coordenação Motora, se mostra equilíbrio e
desenvoltura em sua locomoção no manejo do brinquedo. Atenção, se consegue se
concentrar ao escolher uma determinada atividade ou muda constantemente de
interesses. Modulação do Afeto, o tipo de vínculo que estabelece com o perito, frente
as perguntas, em situação de testagem e em momento lúdico. Apresentação do conflito:
Como define a situação problema? Demonstra angústia? Como resolve? Interrompe
de forma abrupta? Responde às perguntas? Traz o tema para a centralidade? Traz
temáticas complementares ao fato? Em momento lúdico e espontâneo, a criança
apresenta tactos em relação ao fato periciado?

6.3 Teste – Teste Projetivo Rorschach

As avaliações por meio de métodos como o Teste Projetivo Rorschach, também


chamados de autoexpressão, visam buscar mais do que se pode evidenciar pelo
autorrelato, ou por sintomas. Busca emitir também diagnósticos nosográficos
(definição de patologias), com a suplementação das entrevistas estruturadas, que

281
atingem o objetivo investigativo de maneira muito eficiente (Santoantonio & Antunez,
2010; Villemor-Amaral, 2008)

Entre os métodos de investigação psicológica, o Rorschach destaca-se como um dos


instrumentos de melhor eficiência para esse contexto, por ser altamente padronizado.
Além de suas propriedades psicométricas que evidenciam a consistência de sua
validade e confiabilidade, quando bem administrado, é uma ferramenta valiosa que
incrementa a prática forense. Aliado aos seus escores e proporções, oferece a
oportunidade de observar o comportamento em resposta a um estímulo novo e
complexo. É interessante observar que, ao interpretar formas fortuitas, as imagens
evocadas pelas crianças vitimizadas podem estar testemunhando seu dano corporal e
psíquico, como já observado. Com isso o Rorschach acrescenta ainda uma dimensão
adicional às entrevistas face á face e aos componentes essenciais das avaliações foren
ses. (Scortegagna, S. A., & Villemor-Amaral, A. E., 2012).

Skinner em 1936, desenvolveu um instrumento, o Verbal Summator, que ele se referiu


a um “Dispositivo de Repetição”, reconhecido pela Skinner Foundation como: “Skin
ner’s audio projective test”. Verbal Summator, é um áudio repetitivo apresentado muito
suavemente. Os participantes ouviam os enunciados até acharem que entendiam o
que se dizia. Seus comentários foram então escritos. Como um análogo auditivo, ao
teste de tinta de Rorschach, as respostas dos participantes refletem suas próprias
preocupações e interesses, já que os sons não tinham significado algum (Ward, 2013).
O Summator Verbal é um dispositivo para repetir amostras arbitrárias de falas (vogais),
obtidas pela permuta e combinação de certos sons elementares. Um dos seus usos é
comparável ao da mancha de tinta (Rorschach) e testes de livre associação de palavras,
de Jung, sendo esta de cunho introspectivo. A amostra de falas não representa
qualquer padrão convencional no comportamento de falas, e sim funciona como uma
espécie de mancha de tinta verbal. Quando repetido um número suficiente de vezes
(o número correspondente ao tempo de exposição da mancha), o sujeito dá uma
resposta verbal semelhante ao que ouviu. Por exemplo, algumas repetições da
amostra 'ah-uh-uh-00-uh' pode evocar a resposta 'overlooking'. Esta não é a única
resposta correspondente à amostra, e uma vez que não é evocado por nenhum
estímulo que atua no momento, a emergência vocal, pode ser mencionada, devido à
sua própria força relativa. Por apresentar uma grande variedade de amostras
'esqueléticas' (amostras arbitrárias de fala), um pesquisador é capaz de obter uma lista
das respostas especialmente fortes, a respeito dos assuntos de seu sujeito. Este é
essencialmente o que é feito em testes de mancha-de-tinta e de associação livre
(Skinner, 1936). Segundo Skinner (1936), além do seu uso como teste, o Summator é
valioso no estudo de outros aspectos da compreensão verbal. Quando dizemos que
um homem utiliza um certo número de expressões - quando nos referimos ao seu
"vocabulário" - não dizemos nada sobre a importância relativa de cada expressão no
comportamento dele. Um "vocabulário" não existe em um estado uniforme de força.
Uma resposta verbal pode ser fraca ao ser evocada por seu estímulo apropriado, e

282
ocorrer somente após um período considerável de tempo, como por exemplo, quando
temos dificuldade em recordar um nome. Por outro lado, pode ser tão forte que seja
evocado em praticamente qualquer ocasião, como quando mencionamos o nome de
uma pessoa favorita em todas as oportunidades. Uma ciência do comportamento
verbal deve lidar com as condições de latência da fala, sendo isso significativo ou não,
em um teste de organização pessoal do indivíduo (Skinner, 1936).

Este trabalho de experimental de Skinner de 1936, ‘The verbal summator and a method
for the study of latent speech Verbal para material e osçavan grandes forneceu ,cxxxi’
Behavior. Skinner (1936) afimava que uma formulação mais rigorosa está disponível
na terminologia do reflexo, e seria praticamente inacessível encontrar nas discussões
dos estudiosos da linguagem um material útil. Os estudos acessados por Skinner, no
artigo: ‘The verbal summator and a method for the study of latent speech’ foram:

1. Paoet, R. (1930). Human speech. London: Kegan Paul. Pp. 360.

2. Zipp, G. K. (1935). The psycho-biology of language. Boston: Houghton, Miftiin.

3. Skinner, B. F. (1936). A failure to obtain disinhibition. J. Gen. Piychol. 14, 127-135.

4. Fletcher, H. (1929). Speech and hearing. New York: Van Nostrand. Pp. xd-331.

7 As análises extraídas dos episódios verbais


7.1 Núcleo avaliativo, análise funcional cxxxii

Skinner (1953/1970) comenta: "A ciência é, antes de tudo, um conjunto de atitudes"


(p. 15) e estas podem ser resumidas nas três seguintes: a) a ênfase nos fatos, nos dados,
no empírico - o que deveria levar à rejeição da autoridade e dos desejos do
pesquisador quando estes interferem no contato com a natureza; b) a honestidade
intelectual - ressaltada também por Bridgman (que Skinner cita neste ponto); c) e o
afastamento de conclusões prematuras. Skinner (1953/1970) cita o abandono do
conceito de "relação de causa e efeito" em favor ao de "relação funcional". Para ele, a
ciência estudaria mudanças nas variáveis independentes e dependentes e os novos
termos, não sugerem como uma causa produz um efeito (Skinner, 1953/1970).

Magarinus (2013) explica que matematicamente, se temos dois conjuntos Ae Be


podemos estabelecer uma “ligação” dos elementos de A com os elementos de B,
dizemos assim, que temos uma “relação” de A em B, em que, esta “relação” de A em
B, é representada por f, que é uma correspondência entre A e B. Então SE, e somente
SE, cada elemento de A corresponde um e um só elemento de B, então f é uma função
de A para B.

Dados os conjuntos A e B, não vazios, uma função f de A em B é um conjunto de


instruções, que diz como associar a cada elemento, x EA, a um único elemento, y E B.

283
O conjunto A, chama-se domínio, e o conjunto B, contra-domínio, da função,
representado por f. Para cada x ∈ A, o único elemento y ∈ B associado a x, denomina
se imagem de x pela função fou o valor assumido pela função f no ponto x.

Assim, podemos apresentar a função f de A em B por:

F: A →B,

em que, o domínio de f , representado por D(f), a imagem de x pela função f, por f(x) e
o conjunto {y = f ( x ), x ∈A }, chamado de conjunto imagem da função f, por Im(f). Uma
função f de A em B também pode ser indicada por��→ ��ou f: A → ��,em que, x ↦y=
f (x).

As letras x e y que aparecem na expressão y = f(x), são denominadas variáveis. O valor


numérico da variável y, em geral, é determinado pelo valor de x. Por esta razão, muitas
vezes, y é chamado de variável dependente e x variável independente.

Em geral, se trabalha com funções f: A → B, onde A e B são conjuntos numéricos e a


regra x↦ f(x) a exprime o valor f(x) por meio de uma expressão que envolve x. No
entanto, a regra que nos ensina a obter f(x), dado x, é inteiramente arbitrária, desde
que cumpra as seguintes condições: a) Se A é o domínio de fentão podemos obter f(x),
qualquer que seja x ∈A . b) A cada x ∈A, a regra f(x) deve fazer corresponder um único
f(x) em B.

Para se definir uma função são necessários o domínio, o contra-domínio e a lei de


formação y = f(x). No entanto, é muito comum utilizar apenas a lei de formação para
representar f. Neste caso deve-se considerar o domínio e o contra-domínio de f como
os mais amplos possíveis dentro do universo que se está trabalhando. Este trata-se de
um tipo especial de relação que faz corresponder a cada elemento de A um único
elemento de B. Tal relação é chamada função.

As leis que descrevem fenômenos da natureza, em que geralmente o valor de uma


grandeza depende do valor de uma segunda, são funções entre conjuntos e são de
grande importância nas Ciências. O conceito de função, embora não tenha sido
associado a fenômenos naturais e a noção de variação é um dos aspectos essenciais ao
desenvolvimento desse conceito. Pelo contrário, as motivações para a sua origem
surgiram entre os gregos, que já apresentavam um “instinto de funcionalidade” para
explicarem fenômenos da Astronomia. (Youschkevitch, 1976). E foi a partir de Newton
(1642-1727) e Leibniz (1646-1716), com seus estudos sobre movimentos e “taxas de
mudanças” de quantidades variando continuamente, que as primeiras elaborações
formais para esse conceito surgiram. A noção de função matemática, naquele
momento, pode ser assim descrita: "se uma variável y está relacionada a uma variável
x de tal modo que, sempre que é dado um valor para x existe uma regra segundo a

284
qual um único valor de y fica determinado diz-se que y é função da variável indepen
dente x" (Boyer, 1974). A função é assim representada: y=F(x). Estabelece-se nesta
noção de função uma relação entre variáveis dependente e independente, em que os
pontos ou valores das variáveis não podem mover-se de forma independente uns dos
outros (Boyer, 1974).

Micheletto (2000) informa que Skinner, em 1931, apresenta uma função matemática
para o reflexo: R = f (S,A), onde R é a resposta, S o estímulo e A é uma nova variável
que introduz na função para abordar as terceiras variáveis - drive, condicionamento,
emoção - responsáveis pela variabilidade do comportamento. Skinner afirma, em
1953, que a relação funcional "diz que eventos tendem a ocorrer ao mesmo tempo em
uma certa ordem..." (p. 23). Entretanto, ao se referir à análise do comportamento, em
1989, Skinner afirma:

"Como a análise do comportamento tem demonstrado, o comportamento é


modelado e mantido pelas conseqüências, mas só pelas conseqüências que se
encontram no passado. Nós fazemos o que fazemos por causa do que
aconteceu e não por causa do que acontecerá. Infelizmente, o que aconteceu
deixa poucos traços observáveis..." (P- 15).

Conforme De Carvalho (2002), descreve, em 1913, J. B. Watson (Watson, 1913/1965)


publica o artigo “Psychology As The Behaviorist Views It”, em que anuncia o rompimento
com a forma de fazer Psicologia até o momento. Watson, apontou a divergência em
relação ao objeto a ser adotado, em que substituía “consciência” por “comportamento
dos organismos” e assim, abandonou a “introspecção” e adotou a experimentação com
processos interativos diretamente observáveis entre um organismo e seu ambiente, na
busca de uma tecnologia psicológica, voltada para a previsão e o controle do
comportamento. Pressupostos como: dualismo e imaterialismo, mesmo que implícito,
da mente era substituído por uma concepção naturalista, monista
materialista/fisicalista, objetivista e evolucionista dos eventos psicológicos, os
comportamentais. Watson chamou essa nova Psicologia de “Behaviorismo” (Marx e
Hillix, 1963/1 Heidbreder, 1933/1975). Sob o rótulo de “Behaviorismo”, Watson
empreendeu atividades muito diversas. A chamada, escola behaviorista posterior a
Watson, “neobehaviorista”, com autores como Hull, Tolman, Lashley, Spencer,
Guthrie, Boring e Stevens, também manteve uma grande diversidade de atividades
sob o mesmo guarda-chuva terminológico. Dessa forma, a palavra “Behaviorismo”
poderia designar uma filosofia, um método, uma explicação, uma técnica, um tipo de
intervenção e até uma posição política (De Carvalho, 2002).

De Carvalho (2002) apresenta, que na década de 30 Skinner durante seu doutoramento


iniciou seus trabalhos em Psicologia em duas frentes: conceitual e metodológica.
Segundo Tourinho (1999), uma frente com a construção de um sistema explicativo
original para a Psicologia com a realização da pesquisa histórica do conceito de
reflexo, a fim de possibilitar a identificação de suas bases empírico-experimentais,

285
embora original do ponto de vista epistemológico, Skinner admite, a adesão a
princípios do operacionismo do físico Percy Williams Bridgman e do positivismo de
Ernst Mach, físico e filósofo austríaco. Quanto ao operacionismo, Skinner, em suas
últimas obras, aponta limitações e indique a necessidade de uma análise funcional do
comportamento verbal do cientista Bridgman. (Skinner, 1931/1961, in Tourinho,
1999):

“O interesse skinneriano pela história do conceito de reflexo revela um duplo


reconhecimento: primeiro, de que o trabalho de elaboração conceitual
constitui requisito para a instauração de um campo de pesquisas, delimitando
uma interpretação particular para a problemática com a qual se pretende lidar
e os modos apropriados de investigá-la; segundo, de que estaria operando
com um conceito elaborado em domínios teóricos diversos, cuja compreensão
era requisito para a formulação de uma nova abordagem (Tourinho, 1999)”.

Skinner também adotou recursos metodológicos e técnicos na linha de pesquisa


experimental em laboratório (Skinner, 1938/1966), pois a proposição de um novo
programa exigia decisões de ordem "epistemológica" relativas às noções de
conhecimento e linguagem científica com as quais trabalhar.

Leme, Bolsoni-Silva e Carrara (2009), explica que, a partir de 1950, alguns estudos
(Goldiamond, 1974/2002; Kanfer & Saslow, 1976; Marçal, 2005; Mace, 1994; Meyer,
1997; Sturmey, 1996; Tourinho, 1995) realizaram uma investigação conceitual a
respeito da análise funcional, com a finalidade clínica e fora do laboratório. Sturmey
(1996) explica que na análise funcional comportamental descritiva, não há manipula
ção direta das variáveis, mas pode ocorrer a análise das contingências, de
reforçamento ou punição, que mantêm os comportamentos e a operacionalização dos
comportamentos-alvo que devem ser descritos e agrupados em classes de respostas,
ou seja, comportamentos que possuem a mesma função (in Leme, Bolsoni-Silva, e
Carrara, 2009).

Meyer, 1997; Moroz e cols., 2005; Simonassi e cols., 2001 e Tourinho, 1995, concordam
que o contexto social traz muita complexidade à descrição e à análise do
comportamento verbal. Para Skinner (1945), ainda que os eventos públicos e privados
tenham a mesma natureza, dos fenômenos físicos, não há acesso direto para o privado,
a não ser pelo que as pessoas dizem que pensam (in Leme, Bolsoni-Silva, e Carrara,
2009), dizem (escrevem, gesticulam, expressam facialmente, vocalizam) que sentem e
ou dizem que fazem. Porém, esses relatos podem ser imprecisos e, por vezes,
incoerentes em relação ao que realmente ocorre no cotidiano das pessoas (Leme,
Bolsoni-Silva, e Carrara, 2009).

Esta sim, é a nossa investigação, buscar a coerência dos relatos verbais em relação
àquilo que ocorre em interações de conteúdo sexual de um adulto com uma criança
quando as comunicantes realizam a noticia crime na delegacia.

286
Mesmo que, instrumentos, como questionários e entrevistas, que investigam, por
meio dos relatos, as ações, os pensamentos e os sentimentos das pessoas, estes têm
suas limitações na descrição das contingências reais (Leme, Bolsoni-Silva, e Carrara,
2009). Carrara (2008; in Leme, Bolsoni-Silva, e Carrara, 2009) adverte que estes
instrumentos não devem ser descartados na coleta de dados dos relatos, mas
principalmente associados com um procedimento de observação do comportamento,
que constitui evidente prioridade metodológica do Behaviorismo Radical.

A dificuldade de registrar relatos a serem analisados, não restringiu a vários autores


da Análise do Comportamento, como: Goldiamond, 1974/2002; Kanfer & Saslow,
1976; Meyer, 1997; Sturmey, 1996, que utilizam o relato em suas investigações, o que
traz respaldo ao uso desse tipo de recurso na coleta de dados (Leme, Bolsoni-Silva, e
Carrara, 2009).

Kanfer e Saslow (1976) elaboraram um roteiro, na análise funcional do


comportamento para realizar um diagnóstico comportamental em que se considera
primeiramente, a análise da situação-problema e posteriormente a organização do
comportamento em categorias de: déficits, excessos e reservas comportamentais. Uma
vez que não há disponibilidade de tabelas de freqüência objetivas para referência, os
itens do comportamento podem ser encarados como excessos ou déficits (Kanfer e
Saslow, 1976).

Déficits comportamentais podem ser definidos como uma classe de respostas que
deixa de ocorrer com suficiente frequência, com intensidade adequada e da maneira
apropriada ou sob condições socialmente previstas. Já os excessos comportamentais
são considerados enquanto classe de respostas que ocorre em excesso na frequência,
intensidade e duração, ou sob condições em que a frequência aceita é próxima de zero.
Por fim, as reservas comportamentais são uma classe de respostas não problemáticas,
ou seja, são respostas socialmente esperadas que podem ser usadas para o
desenvolvimento de novos repertórios no indivíduo. Em seguida, são averiguadas
para cada uma das variáveis as situações em que elas ocorrem, as consequências e as
possíveis mudanças que ocorreriam na vida do indivíduo, caso a terapia tivesse ou
não sucessos. Autores procuram investigar, além dos comportamentos-problema, a
motivação do cliente, o comportamento de autocontrole, os relacionamentos sociais e
o ambiente sócio-físico-cultural (Kanfer e Saslow, 1976).

A análise funcional promove a identificação de relações de dependência entre eventos,


ou de regularidades na relação entre variáveis dependentes e independentes (Chiesa,
1994, p.133). A descrição de relações ordenadas entre eventos encontra um modo de
expressão na matemática. O reflexo, por exemplo, pode ser expresso pela equação R
= f (S), onde R é a resposta e S o estímulo (cf. Skinner, 1931/1961a). A relação
especificada por aquela equação é uma relação funcional no sentido de que o primeiro
termo (a resposta) é abordado enquanto função do (causado pelo) segundo termo da

287
equação (o estímulo). A noção de causação aqui implicada é do tipo mecânica e será
abandonada por Skinner à medida que o modelo de seleção por conseqüências vai
sendo admitido como modelo causal apropriado para a interpretação do fenômeno
comportamental (cf. Micheletto, 1995). A análise estará voltada para o reconhecimento
da múltipla e complexa rede de determinações de instâncias de comportamento,
representada pela ação em diferentes níveis (filogênese, ontogênese e cultura) das
conseqüências do comportamento sobre a probabilidade de respostas futuras da
mesma classe. O princípio selecionista apresenta-se como um princípio explicativo
derivado da investigação do comportamento operante. Chiesa (1992) informa que, a
seleção como modelo causal não é uma suposição; ela é empiricamente validada em
experimentos de condicionamento operante, que demonstram a modelagem e
manutenção de comportamentos complexos por contingências complexas. Na ciência
skinneriana, a busca de relações funcionais estará sempre associada ao
reconhecimento da multideterminação do fenômeno comportamental e à seleção de
um recorte específico, o das relações do organismo como um todo (Neno, 2003).

Desta forma, esta pesquisa seguirá este princípio, associar os instrumentos: Entrevista
Contingenciada, Teste Rorschach e Hora Jogo Diagnóstica, que coletam dados a partir
do relato verbal e técnicas de observação, para ampliar assim, segundo Carrara (2008;
in Leme, Bolsoni-Silva, e Carrara, 2009), a confiabilidade dos registros. Os indicadores,
são os conceitos compostos de características, que realizam o desenho do fato. Os
indicadores, são extraídos destes relatos, mais especificamente do operante verbal,
tacto, correspondente ao evento: interação de conteúdo sexual de um adulto com uma
criança.

7.2 Análise funcional do contexto

Para o levantamento analítico do contexto pericial, considera-se todo o roll


investigativo com: depoimentos, testemunhos, diligências e documentos
apresentados ao inquérito policial e o relato verbal da situação pericial.

Com isso, os dados levantados, são confrontados com o diagnóstico do


comportamento correspondente intra e entre verbal em todo o contexto da perícia. E
assim, por meio do relato verbal (De Rose, 1999) é realizado uma análise funcional do
comportamento verbal (gesto, escrita, vocal) a respeito do contexto e da interação da
parelha suposta vítima-suspeito, e o efeito (impacto) desta interação na suposta vítima
e na cuidadora/comunicante. Bem como a interação nos dados correspondentes:
comunicante-vítima e comunicante-suspeito e cuidadora/comunicante-vítima e
cuidadora/comunicante-suspeito. Qualquer movimento capaz de afetar outro
organismo pode ser verbal. O comportamento vocal, não-vocal, audível não-vocal
(bater palmas), linguagem escrita, linguagem por sinais, e os gestos são verbais,
mesmo que não constitua uma linguagem organizada (Skinner, 1978 – pg. 29). Sendo
que os tipos de comportamentos que estamos usualmente interessados, têm, como

288
vimos, um efeito sobre o meio, o que por sua vez tem um efeito de retorno sobre o
organismo (comportamento operante). A descrição de um exemplo de
comportamento não requer a descrição das variáveis relacionadas ou de uma relação
funcional. O termo operante, por outro lado, está ligado com a previsão e controle de
um tipo de comportamento. Um operante especifíca pelo menos uma relação com uma
variável (Skinner, 1978 - pg. 36 e 37).

Para analisar a ocorrência de uma interação sexual adulto-criança/adolescente,


distingue-se as características próprias deste fato, que são reconhecidas como
instâncias inseparáveis com condições si ne qua non para a ocorrência de tal evento. O
modus operandi (Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter, 1999) é uma maneira de agir e
os procedimentos implementados por ofensores possuem um padrão pré-estabelecido
para o evento – Interação de Conteúdo Sexual – de um adulto com uma criança. Então,
qualquer instância que falte, a ofensa tem a probabilidade de não ocorrência.

Assim, existe um modus operandi (Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter, 1999), por que
a natureza do fato determina um padrão operandi, em que o desempenho do ofensor é
moldado à natureza da especificidade que uma ‘interação de conteúdo sexual ’exige.
Esta natureza é binária, ocorre ou não ocorre.

Então, para a análise de contexto e análise do modus operandi (Lanning (1991, 2001),
Salfati e Canter, 1999) do suspeito, faz-se a identificação de características, que
estabelecem uma relação funcional entre si, em que se delineia uma linha de base que
está na própria história de vida dos indivíduos e que aponta para uma probabilidade
de contexto que eleva ou não a ocorrência do fato investigado. Em Todorov, J. C. (1991)
uma contingência estabelece uma relação entre eventos ambientais ou entre
comportamento e eventos ambientais na forma condicional “se..., então...”. Na análise
experimental do comportamento o pesquisador dispõe contingências e as altera como
sua principal variável independente. Ao registrar seu efeito sobre o comportamento
observado, o pesquisador busca relações funcionais (cf., Todorov, 1989). As
contingências mais simples especificam relações entre estímulos (contingências SS) ou
entre respostas e estímulos (contingências RS). Nas contingências o experimentador
controla a apresentação de estímulos; nas contingências apenas especifica que, se e
quando uma resposta ocorrer, um estímulo será apresentado. “Se uma resposta R
ocorrer na presença de um estímulo S2, então um estímulo S1 será apresentado”.
Todorov, J. C. (1991), explica que contingências tríplices, como o nome indica,
envolvem três termos, dos quais dois referem-se a estímulos e o terceiro à resposta. O
enunciado da contingência implica na inexistência da contingência quando S2 não está
presente: na ausência de S2, a resposta nunca será seguida por apresentações do
estímulo S1 a exposição continuada a esse tipo de contingência resulta no controle de
ocorrências da resposta pela presença do estímulo S2 (ver Todorov, 1985). Todorov, J.
C. (1991) alerta que as regras especificadas pelo experimentador na forma de
contingências podem ser, e frequentemente o são, extremamente complexas. Neste

289
caso Todorov, J. C. (1991) adverte que as contingências são utilizadas pelo pesquisador
na busca de relações funcionais e que essas relações funcionais são procuradas dentro
de um contexto teórico determinado (Todorov, 1989). Assim, a maior ou menor
complexidade de uma contingência será ditada pelo problema específico estudado
pelo pesquisador.

Tal como explicitado no modelo de tríplice contingência, sempre haverá uma relação
entre resposta e conseqüência e entre resposta e antecedente (Hübner, 2006).
Destacamos que, com base nestas contingências é realizado a análise funcional do
comportamento verbal.

Esta linha de base é constituída por Comportamentos, que é, uma classe de


eventos/ações definidas pelo seu efeito comum no ambiente. Skinner (1938), diz:
“Comportamento é apenas parte da atividade total de um organismo...”, e prossegue: “... é
aquela parte do funcionamento de um organismo envolvido em agir sobre ou em interação
com o mundo externo”. E finaliza:

“Por comportamento então, eu me refiro simplesmente ao movimento de um


organismo, ou de suas partes, num quadro de referência fornecido pelo
próprio organismo, ou por vários objetos ou campos de força externos. É
conveniente falar disto como a ação do organismo sobre o mundo externo, e
é freqüentemente desejável lidar com um efeito mais do que com o
movimento em si mesmo ...” (B. F. Skinner, The Behavior of Organisms, 1938,
página 6).

Em especial, o que caracteriza o comportamento, sobretudo o comportamento


operante, particularmente de interesse para Skinner, é a sensibilidade desse
comportamento aos efeitos que produz no ambiente. Portanto, por necessidade,
comportamento: a) representam interações Organismo-Ambiente e b) são categorias
funcionais de análise (Matos, 1999b). Para enfatizar que o conceito de comportamento
só se completa com referência a seu fim, Lee (1988), define comportamento como uma
unidade meio-fim, isto é, uma unidade movimento-efeito. Esta unidade meio-fim é a
nossa conhecida contingência “se ... então ...”, onde “se” é o movimento e “então”, é o
efeito (Matos, 1999b). Para este termo, “movimento”, é usado quando alguém se refere
a uma série de atividades organizadas em relação a um objetivo, isto é, as atividades
funcionais para um determinado fim, e portanto, para um efeito (Matos, 1999b).

A respeito de comportamento, Skinner (1969, p.97), recorre a seguinte afirmativa, de


que: “... a interação entre organismo e ambiente (é) representada pelo conceito de
contingências...”. Se “comportamento” é uma categoria fundamental de análise, se é um
termo teórico e uma concepção do behaviorista radical, então, “contingência” é a
operação empírica equivalente usada pelo analista de comportamento. A prática do
analista de comportamento é estudar contingências em seu efeito cumulativo sobre o

290
desempenho dos organismos (Matos, 1999b), ou seja, estudar o comportar-se dentro
de contextos.

O ambiente é definido como eventos do universo capazes de afetar o organismo.


Skinner (1953/1965) aponta que parte desse universo está sob a pele do organismo
(isto é, condições anátomo-fisiológicas podem constituir o ambiente de um
organismo), mas destaca dois aspectos: a) um conjunto de eventos do universo torna
se ambiente quando se faz diferenciado para o organismo, a partir da interação deste
com contingências de reforçamento que lhe são externas; b) do ambiente, é dito que
afeta o organismo e não partes do organismo (Tourinho, Zagury, Teixeira, & Maciel,
2000).

Para o behaviorista radical, “ambiente” é o conjunto de condições ou circunstâncias


que afetam o comportar-se, não importando se estas condições estão dentro ou fora
da pele (Smith, 1983). É importante entender que, para Skinner, o ambiente é externo
à ação, não ao organismo. É exatamente para evitar essas ambigüidades que Lee (1988)
propõe a substituição da expressão “ambiente” por “contexto” (Matos, 1999b).

Para realizarmos o estudo deste comportar-se dentro de contextos, temos alguns


passos a serem seguidos quando da realização de uma análise funcional de um
determinado comportamento de interesse (Malott, Whaley & Malott, 1997). Para isso,
identifica-se comportamentos a serem analisados, com suas condições antecedentes e
seus consequentes. Desta forma, esta análise será realizada, na perícia psicológica, em
que será considerado as seguintes características da interação conteúdo sexual a serem
avaliadas:

O modus operandi cxxxiii de ofensores sexuais, Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter
(1999). ;

a) Contexto habitual – contexto que comumente se encontram, dentro de uma

rotina esperada;

b) Contexto não habitual (Mota, 2008) dos envolvidos – contexto que se

encontram esporadicamente, em situações fora da rotina esperada;

c) Contexto específico (Fernandez, 1991; Krom, 2000), (Capelatto, 1999;

Adolfi, 1984) para a ocorrência da interação de conteúdo sexual entre um adulto e uma

criança/adolescente;

d) Características da Interação de conteúdo sexual desigual da parelha adulto

criança/adolescente (Carnes, 2000; Sharma, 2004);

291
e) O efeito (Baum, 1999) da interação de conteúdo sexual na criança, na

cuidadora e na comunicante, corroborado a expectativa teórica e a constituição da

Interação de Conteúdo Sexual;

f) Análise das fases esperada na interação de conteúdo sexual, pré e pós fato,

em relação a interação apresentada;

g) O momento de revelação da criança.

7.3 Comportamento verbal dos envolvidos

Skinner (1957/1992) aborda o comportamento verbal como um operante e, por


conseguinte, sujeito aos mesmos princípios comportamentais que outros operantes,
com os mesmos objetivos que uma ciência do comportamento: previsão e controle, em
que situação pericial é altamente controlada com a finalidade de uma intervenção neu
tra.

A ‘compreensão ’do comportamento verbal deve ser avaliada pela extensão com que
se pode prever casos específicos e, também, produzir ou controlar tal comportamento
quando se altera as condições sob as quais ocorreram (Skinner, 1957/1992). Com isso
o comportamento verbal, como um operante, deve ser analisado enquanto relação, e
a contingência tríplice é um recurso de análise para se estudar esta relação, que é a
interdependência entre eventos. A contingência tríplice, aponta a relação de
dependência existente entre os termos:

a) um evento antecedente (estímulo discriminativo) que sinaliza a ocasião na

qual uma dada resposta produzirá conseqüências reforçadoras e na ausência da qual não

produzirá estas conseqüências;

b) a resposta;

c) uma alteração no ambiente (conseqüência) produzida pela resposta e que

altera sua probabilidade de ocorrência futura (Todorov, 1985) do comportamento.

Skinner faz uma distinção entre operante e resposta (cf. Skinner, 1969; 1957/1992;
1989) e afirma, que “um operante é uma classe, da qual uma resposta é um caso ou
membro” (Skinner, 1969, p.131). Sustenta também que o que se reforça, no sentido de
fortalecer, é o operante, com a probabilidade de que respostas similares ocorram no
futuro. Com isso o que temos é que, Respostas não são nunca exatamente iguais, mas

292
mudanças ordenadas aparecem se contarmos apenas aquelas instâncias que tem uma
propriedade definidora, como no nosso caso de análise, a interação de conteúdo sexual.
Segundo Skinner (1935/1961b): “Deve haver propriedades definidoras tanto do lado
do estímulo quanto da reposta; caso contrário, nossas classes não terão referência
necessária aos aspectos reais do comportamento” (p. 355, itálico adicionado).

Um operante é uma classe de respostas, não uma instância, mas é também uma
probabilidade (Skinner, 1989, p.36). Esta distinção é importante porque Skinner toma
o operante verbal como unidade de análise para o comportamento verbal (Skinner,
1957/1992). Assim sendo, o foco de suas análises serão relações e não respostas
isoladas. Com isso Skinner alerta: “Os eventos que afetam um organismo devem ser
passíveis de descrição na linguagem da ciência física” (1953/1965, p. 36); e “Uma
análise experimental descreve o estímulo na linguagem da física” (1966b, p. 215). En
tão ao tratarmos de classes de eventos comportamentais não transgredimos o
relacionismo e nem deixamos de lado as propriedades físicas que os tornam “reais”.
A questão é relativamente simples: quando descrevemos uma contingência
utilizamos a linguagem fisicalista substancial para caracterizar os termos envolvidos.

A noção de classes comportamentais é importante porque, ao mesmo tempo em que


permite que os conceitos da ciência do comportamento sejam descritos pelas suas
propriedades físicas, também mantém a natureza relacional do processo. Isto é, ela
estabelece um ponto de equilíbrio entre discurso substancial e discurso relacional que
é imprescindível para a ciência do comportamento. Embora descrevamos um estímulo
discriminativo pela sua propriedade física não é a propriedade que o torna estímulo
discriminativo, mas sim as contingências das quais ele faz parte.

Então não basta observar a forma (topografia) da resposta, mas também a função da
mesma: duas respostas podem ter uma topografia similar mas estar sob controle de
variáveis diferentes, não podendo ser consideradas membros de um mesmo operante.
Para Skinner, o comportamento verbal tem tantas “propriedades dinâmicas e
topográficas que um tratamento especial é justificado e, na verdade, exigido”
(1957/1992, p.2).

Este “tratamento especial” está relacionado com a própria definição do que é


comportamento verbal, que de acordo com Skinner (1957/1992), o comportamento
verbal é o comportamento de um falante individual, cujas conseqüências são
mediadas por um ouvinte.

O comportamento verbal é essencialmente definido pelo efeito sobre o


comportamento do outro e, portanto, pelo seu caráter relacional (no caso, uma relação
social). Pode-se dizer que o comportamento verbal é basicamente uma relação entre o
ambiente social, representado pelo outro, o ouvinte, e um organismo vivo, o emitente.
O ouvinte atua como um estímulo discriminativo na presença do qual verbalizações

293
ocorrem (assim como também, provavelmente, outras formas de comportamento,
que, no entanto, ocorrem também em outros ambientes, ao contrário do verbal).

Esta relação é por sua vez controlada por um contexto social mais amplo, no qual se
insere uma parte da história passada dos dois atores, a qual é compartilhada por
ambos (e onde têm papel importante os operantes discriminativos verbais). Estas
verbalizações, atuando agora como discriminativos para o ouvinte, afetam o
comportamento deste. Estes efeitos sobre o comportamento do ouvinte atuam
seletivamente sobre aquela classe de operante verbais do emitente, modificando-a.
Como se depreende desta análise, não existem elementos topográficos na definição do
comportamento verbal, ele é interação pura.

Assim, a diferença entre o não-verbal e o verbal é que o primeiro produz mudanças


no ambiente físico diretamente e, no segundo caso (o verbal), o comportamento
produz alterações no ambiente físico apenas de forma indireta, através da mediação
de ouvintes (atuando, portanto, diretamente sobre os ouvintes).

Skinner elege o comportamento de um falante individual como foco de sua análise.


Sugere tal delimitação na medida em que o comportamento do ouvinte não é
necessariamente verbal. Pela definição skinneriana, qualquer comportamento que
produza alterações no ambiente físico de forma mediada é um comportamento verbal,
incluem-se aí não apenas vocalizações, mas também gestos, expressões faciais ou a
escrita.

Skinner (1957/1992) assume o comportamento verbal-vocal como um protótipo do


comportamento verbal, dando assim uma atenção especial a esta topografia e explica:

“O comportamento verbal-vocal é a forma mais comum [de comportamento


verbal], lidaremos com ele como representativo. Onde for necessário ou de
utilidade, problemas paralelos em outras formas podem ser considerados”
(p.14).

Outro esclarecimento importante é que, para Skinner, “falante” refere-se àquele que
se engaja em, ou que executa, um comportamento verbal; sendo assim, o termo não
está limitado a vocalizações (como se poderia interpretar pela expressão “falante”). Do
mesmo modo, “ouvinte” não se refere apenas àquele que responde aos estímulos
auditivos emitidos por um falante, mas àquele que responde a qualquer outra
topografia empregada pelo falante, como a escrita ou a gestual. O ouvinte pode ser
especialmente treinado para reagir ao comportamento do falante (Skinner,
1957/1992).

Assim, o episódio verbal, constituído pelo falante-ouvinte, será analisado, e a atuação


do perito no Projeto Contacto estará localizado na análise dos episódios verbais dos
envolvidos.

294
A perícia psicológica forense desenvolvida em departamentos policiais é de extrema
importância nos casos de suposta violência sexual que envolve crianças e
adolescentes. Tais investigações, presididas pelo delegado de polícia cxxxiv, com a
participação de agentes, escrivães e o corpo técnico requisitado pelo mesmo, se
configuram de uma equipe multiprofissional, em que, ao atuarem nestes casos,
essencialmente se constituirá em uma composição assimétrica, adulto-criança.

Esta composição, se dará, seja pelos adultos profissionais que atuam na investigação,
seja pelo adulto que representa a criança, na pessoa do comunicante, seja pelo adulto
que supostamente se envolveu em interação de conteúdo sexual com a criança. Com
isso frente a estas composições em que claramente a criança é a parte hipossuficiente
quanto ao entendimento amplo do que está acontecendo, o profissional psicólogo
possui a ação mais técnica frente ao campo psíquico da criança e para assim, acessar
cuidadosamente a ocorrência o não do fato denunciado. Pois, se algo ocorreu, é na
criança que se encontrará a sua experiência vivida em relação ao fato investigado.

Então, o psicólogo analista do comportamento, por meio da avaliação psicológica com


um instrumento-metodológico-científico, atua com um instrumental cuidadoso e
detalhista, com o objetivo de acessar o campo psíquico, por meio do comportamento
verbal. Assim, se imerge analiticamente de maneira profunda com a sequência das
perguntas e da testagem, não só no relato da vítima, mas especialmente na proposição
motivadora (indicador) de quem realizou a notícia-crime e quando possível na
expressão interacional do suspeito.

Este tratamento especial aos relatos, vai além da análise de falas, faz-se a análise de
contingências dos comportamentos verbais, por meio da análise funcional, com a
possibilidade de obter informações de forma ordenada. Busca-se informações
correspondentes ou não, quanto a descrição dos fatos, o que aponta para
correspondentes verbais, ou manejo das informações em relação ao fato periciado. Em
última análise, procura-se a identificação da qualidade verbal, que retrata a coerência
e lógica verbal, em relação ao que é falado, corroborado a todos os dados identificados
no inquérito policial e situação pericial.

Com a análise do comportamento verbal dos envolvidos, objetiva-se apresentar o fato,


tal como ele ocorreu, bem como o estado psicológico dos envolvidos em relação ao
fato. Esclarecemos que as pessoas ao relatarem algo não verbalizam os fatos de forma
ordenada, na sequência com que aconteceu, faz parte da tarefa do perito, ordená-los.
Nesta tarefa de ordenação do fato, o perito, por meio do levantamento e análise de
indicadores, terá elementos suficientes para apontar a ocorrência ou não do fato,
corroborado ao levantamento de contexto, testagem específica e correspondência intra
e entre verbal.

295
Na perícia psicológica, nos casos de suposta violência sexual de um adulto em
detrimento de uma criança, considera-se principalmente a qualidade do repertório
verbal emitido pela suposta vítima (crianças), em que considera-se a qualidade da
emissão verbal em detrimento da quantidade. Sendo que, a qualidade verbal é aquilo
que mais aproxima o relato do sujeito à existência do fato relatado, e que pode ser
constatado principalmente por meio da sequência das perguntas do perito, que no ato
de perguntar evoca como resultado do indivíduo, a resposta, que é a combinação entre
o comportamento vivenciado pelo indivíduo e o evento periciado.

Então, quando o perito realiza a pergunta, este analisa os correspondentes entre e intra
verbais, que aponta a coerência comportamental da pessoa frente as perguntas e os
testes padronizados (estímulos). A análise feita do comportamento verbal, ocorre com
o diagnóstico/avaliação dos relatos verbais que especificam e apontam:

a) o grau de envolvimento dos envolvidos;

b) qualidade dos vínculos dos envolvidos;

c) tipo/espécie da participação dos envolvidos no fato periciado;

d) qualidade da participação destas pessoas no fato periciado. Neste momento é


analisado a intensidade e exclusividade comportamental em relação ao fato.

Com isso, a perícia, que em seu fim é a análise do comportamento verbal em relação
ao não verbal, se posta frente a algumas condições, tais como:

a) delineamento de contexto;

b) coerência sintomatológica;

c) comportamento eficaz esperado frente a revelação da criança;

d) emoção esperada frente ao choque de uma interação sexual adulto-criança;

e) grau de parentesco, comportamentos adequados esperados entre parentes;

f) centralidade temática;

g) sequenciação lógica

h) relatos correspondentes entre o auto-relato e auto-observação;

i) reação frente aos estímulos suplementares;

j) relatos com componentes de fuga;

k) relatos com componentes de esquiva:

296
l) relatos com correspondentes elevados, em relação a sequência das perguntas.

Diante destas condições o perito considera as seguintes situações, que:

a) Pessoas podem relatar situações que existiram;

b) Pessoas podem relatar situações que não existiram;

c) Pessoas podem relatar situações que não existiram e acrescer-lhe


detalhes que existiram;

d) Pessoas podem relatar situações que existiram e acrescer-lhe detalhes


que não existiram.

e) Pessoas podem relatar situações que existiram e retirar detalhes que


existiram;

Em relação as possibilidades supracitadas a perícia psicológica em contexto


investigativo, busca analisar e ordenar os relatos verbais, de forma que estes materiais
verbais não-lineares, ao serem ordenados, tornam-se lineares e cronológicos com uma
forte coesão entre si. Então a autoridade requisitante ao ler o laudo, já encontrará, o
trabalho do perito realizado com a linearidade dos fatos em relação as pessoas
envolvidas, sendo expresso no laudo a análise que condiz a demanda periciada e o
que esta análise significa em relação a ocorrência ou não do fato.

Neste material verbal ordenado busca-se os correspondentes intra e entre verbais, na


especificidade das contingências, frente a intensidade e exclusividade do fato. Para isso,
realiza-se a análise do operante verbal tacto, em relação a descrição do
comportamento não-verbal intra e entre sujeitos, bem como, as descrições que
comparecem no inquérito policial. A esta análise identifica-se: esquivas, alterações de
conteúdo e aquilo que se apresenta comum à todas as falas dos envolvidos frente aos
estímulos apresentados (perguntas e testes). Com isso a perícia psicológica busca
discriminar o que aconteceu, daquilo que não existiu em uma situação jurídica, a
respeito de um fato, que até o momento da notícia-crime trata-se de uma suposição.

7.4 Os indicadores e suas características

Esta avaliação e análise de relatos tem inspiração no SVA – Statement Validity Analysis
(Hershkowitz, Fisher, et al., 2007), que é um método de enfoque em indicadores que
analisam, por meio de critérios conceituais, o comportamento dos envolvidos em
relação a ocorrência ou não de situações. Estes critérios se compõem de conteúdos e
características, que ao se combinarem e complementarem, apontam para um episódio
de interação sexual.

297
Cada indicador implica em verificar esssencialmente, se o comportamento verbal dos
envolvidos correspondem as reações emocionais, comportamentais e fisiológicas da
criança, que são similares às reações de crianças com histórico de violência sexual
comprovado (Duarte & Arboleda, 2004). Tal afirmativa se aplica também a
cuidadora/ comunicante e suspeito, que possuem reações muito particulares e
sensíveis quando envolvidos em contextos de violência sexual. Tal como, o modus ope
randi do suspeito e a coerência comportamental da cuidadora em relação ao choque
frente a revelação da criança.

Destacamos que os indicadores caracterizam os dados dos relatos, independente da


ocorrência ou não do fato, visto que os indicadores irão analisar exatamente tal
situação binária: ocorrência ou não. Os indicadores, são conceitos, que possuem
características específicas, em temáticas que apresentam uma condição particular para
sua ocorrência.

As temáticas não variam de acordo com o periciado, mas sim de acordo com
indicadores que compõem eventos de: ‘Interação de Conteúdo Sexual de um adulto
com uma criança’. No caso dos dados apresentados pelos periciados, estes são
analisados sob um spectrum de variabilidade, que correspondem ou não as
características do evento investigado. Ou seja, existe uma previsibilidade
comportamental frente a cada temática, e que ao extrapolar tal previsibilidade no spec
trum, está posto então, outra condição. Então com isso, passa para comportamentos
que se compõem de outras características, e que por sua vez, alteram sua definição.

Caso se identifique esta modulação comportamental frente a temática investigada, o


comportamento assume a condição daquilo que não está se investigando nas
temáticas. Então trata-se de um comportamento atípico para o fato, e totalmente
passível de análise. Tal como, as reações da comunicante/cuidadora, que podem ser
caracterizadas no indicador proposições motivadoras, para a comunicação do crime e
ou o indicador modus operandi do suspeito.

Estes indicadores são combinados e complementares entre si, e têm como função
identificar o diagnóstico descritivo da situação conflituosa com maior precisão. Para
elevar a precisão diagnóstica, corrobora-se os dados identificados à composição
teórica e a técnicas psicológicas periciais, tais como: entrevistas e testes. Trata-se
especificamente de uma investigação e análise detalhada a respeito da suspeita de
interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança, por meio da análise
funcional do comportamento verbal.

Para isso, é realizado a análise funcional de indicadores do relato verbal dos


envolvidos a respeito do fato investigado, que apontam para fatores de alta ou baixa
correspondência dos seus relatos em relação a confirmação da ocorrência da interação
sexual. Para esta análise, os indicadores apontam para características específicas e
combinadas, identificadas no comportamento verbal do periciado, corroborados a

298
Hora Jogo Diagnóstica, características da etapa do desenvolvimento e referencial
teórico correspondente a crianças expostas a interação de conteúdo sexual.
Esclarecemos que para cada indicador existe os subitens que o compõe e o caracteriza.
Conforme especificaremos, será apresentado o panorama geral do que se é avaliado.

O perito psicólogo do Projeto Contacto, irá analisar o comportamento verbal de quem


relata o fato. Estes relatos se compõem de características que necessariamente, devem
descrever a uma interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança. Esta
descrição, é entendida como a descrição do comportamento operante, em que se
envolve pelo menos duas relações: a relação entre a resposta – R e suas consequências;
e a relação entre a resposta – R e os estímulos que o antecedem e que estavam
presentes na ocasião. Desta forma, os eventos que afetam o organismo devem ser
passíveis de descrição. O analista do comportamento deve ser capaz de extrair esta
descrição a partir do relato do periciado. Assim, por meio da análise do relato que
apresenta ao perito a descrição do fato investigado, possui as propriedades de um
modus operandicxxxv específico.

Com vistas ao comparecimento ou não das características de cada fator investigado,


existe a probabilidade de que uma resposta verbal de determinada forma, venha a
ocorrer num dado momento, de acordo com as perguntas periciais e isso constitui o
dado básico a ser analisado. Esta é a variável dependente numa análise funcional, a
probabilidade de ocorrência de uma dada resposta, frente a uma dada pergunta. Neste
caso, as respostas frente a sequência das perguntas é o indicador mais valioso para a
análise das características dos operantes verbais.

Então na perícia psicológica, o que irá identificar a qualidade das informações


consideradas relevantes, será, para além da estratégia pericial desenhada de acordo
com cada demanda, a habilidade do perito enquanto menos falante e mais ouvinte,
que se engaja em uma audiência (ouvinte-falante). O falante é o organismo que se
engaja num comportamento verbal ou que o executa. É também um lugar no qual
certo número de variáveis se reúnem numa única confluência para produzir um
acontecimento também único. O falante pode “saber o que está dizendo” no sentido
de que “conhece” qualquer parte ou traço do ambiente. Parte de seu conhecimento (o
“conhecido”) serve como variável no controle das outras partes (“conhecendo”). O
comportamento do ouvinte se assemelha ao comportamento do falante,
particularmente quando o ouvinte “entende” o que se diz (Skinner, 1978, pg. 15 e 26)
e assim responde ou não, de forma correspondente a pergunta.

Nesta habilidade destaca-se: a atenção ininterrupta do perito, a contingência a ser


analisada, o planejamento da entrevista, os comportamentos do ouvinte/falante nos
episódios verbais. Desta forma, a análise não é essencialmente vocal, pois o ouvinte
reage ao estímulo verbal seja com reflexos condicionados, seja com um

299
comportamento operante discriminado, assim como reage a qualquer característica de
seu meio (Skinner, 1978, p. 207).

A força do diagnóstico se pauta em identificar a qualidade das informações


apresentadas pelos participantes no contexto pericial, e para isso, realiza-se a análise
funcional do comportamento verbal com o objetivo de identificar o componente
‘manejo da informação’, quando se analisa correspondentes intra e entre verbais.
Então, o perito de posse de todas estas composições, corrobora estes dados com:

a) Contingências efetivas da notícia-crime, em relação a tipicidade de interações


sexuais entre um adulto e uma criança/adolescente;

b) Testagem;

c) Documentos apresentados aos autos e

d) Critérios teóricos.

Ou seja, ao realizar as composições dos indicadores, caracteriza-se os dados


encontrados nos relatos, por meio da análise funcional do comportamento verbal,
sendo que, a medida a ser aferida nos correspondentes intra e entre verbais é a
qualidade verbal dos participantes.

7.5 Distinguir e extrair o comportamento verbal que se apresenta

Para a realização da perícia, utiliza-se mais de uma técnica de avaliação, para oferecer
o benefício de uma amostragem ampla e variada da interação do indivíduo consigo
mesmo, e do indivíduo com o ambiente, sendo este ambiente também, o perito e o
próprio indivíduo.

No caso da perícia psicológica, com demanda delituosa, é importante localizar os


comportamentos problemáticos, que resultam em crimes. Os comportamentos
considerados problemáticos frente a legislação vigente no Brasil, devem ser
externados sob a forma de comportamentos públicos. Sendo que estas ações crimino
sas, é parte do indivíduo se comportando, a lembrar que este tomou decisões para
agir, o que também é comportar-se. O que nos resta fazer é a descrição cxxxvi da
engenharia comportamental do indivíduo, de todo o episódio criminoso: antes,
durante e depois, em que temos:

a) pré-interação - o momento de preparação para a atuação do suspeito, pode durar


meses, ou dias, ou ser uma situação oportunística. Neste momento já temos uma
atuação do agressor em relação a criança, e ou em relação as situações que envolve a
criança, a exemplo, nos momentos em que ambos passam a compartilhar atividades
em comum; ou, dão início a atividades atípicas, junto a rotina da criança;

300
b) a interação em si, o momento em que a díade ofensor-vítima se interage com
características sexuais, que pode ocorrer, desde comandos, olhar do ofensor,
apresentação de vídeos, áudios, fotos, até a conjunção carnal;

c) pós-interação, o momento em que a díade se desfaz da interação, momento em que


ocorre o desengajar da ação em que a vítima não se encontra mais sob o locus de
controle físico do agressor, e ela então é liberada. O fato da vítima ser liberada é o
momento mais crítico para o agressor, pois a partir daí: crianças falam, andam por
diversos lugares e interagem com diversas pessoas em multitarefas e multisituações.
O desengajar da ação apresenta muitas características, especialmente, o que ambos,
pós-interação, farão isoladamente. Ameaças ou recompensas ocorrem geralmente
neste momento.

Para cada etapa existe, o comportar-se dentro de contextos (Matos, 1999), que são
contingências específicas analisadas por meio do operante verbal tacto. Skinner (1938),
esclarece que:

“Por comportamento então, eu me refiro simplesmente ao movimento de um


organismo, ou de suas partes, num quadro de referência fornecido pelo
organismo ele próprio, ou por vários objetos ou campos de força externos. É
conveniente falar disto como a ação do organismo sobre o mundo externo, e
é freqüentemente desejável lidar com um efeito mais do que com o
movimento em si mesmo ...”

Matos (1999) elucida que “mundo externo”, é aquilo que não é a própria ação e que
ambiente, dentro ou fora da pele, é externo à ação, não ao organismo. É o conjunto de
condições e ou circunstâncias que afetam o comportar-se (Smith, 1983).
Comportamento é interação, interação é entre Organismo e Ambiente,
comportamento não “mantém” uma relação de interação (Matos, 1999).

O que o behaviorista estuda são classes de eventos, o “abrir” por exemplo, ocorre
dentro de um conjunto de circunstâncias, como um evento interativo. E para
conceituar “abrir”, o pesquisador analisa o contexto para identificar as consequências
do ato e assim conceituá-lo. O behaviorista radical, define como classe, exatamente
pela natureza da mudança que produzem, por aquilo que caracteriza o seu término, e
o seu fim, este efeito é final, no sentido de último, isto é, aquilo que encerra ou define
o encerramento da ação, não no sentido de fim a ser atingido (Matos, 1999).

De acordo com Skinner, o comportamento do organismo não corresponde a uma


sucessão de momentos em que começa, ou para de responder (Ferreira & De Rose,
2010). O que existe é um ‘não-responder a’, que reside no fato de competir com o
comportamento de interesse. Comportamento, pois, é uma classe de eventos/ações
definidos pelo seu efeito comum no ambiente. Portanto, por necessidade: (a)

301
representam interações Organismo-Ambiente; e (b) são categorias funcionais de
análise.

O comportamento verbal não se difere desta análise, e é o comportamento do ouvinte


que dá contexto para o comportamento do falante (Matos, 1999).

Por isso que, o evento ‘Revelação’ é de máxima relevância na análise do


comportamento verbal: ‘revelar’, que necessariamente deve ser um tacto, e ou gestos,
que também é verbal, expresso pela criança. Ou seja, qualquer comportamento de
conteúdo sexual, expresso pela criança, em algum nível de expressabilidade
comportamental. Visto que, o ouvinte da criança é quem dá o contexto para o
comportamento ‘revelar ’do falante (criança), aqui temos um episódio verbal. E é a
partir deste comportamento de ‘revelar ’que se toma conhecimento do crime de
estupro com crianças, a não ser que alguém tenha presenciado, aí temos uma
testemunha ocular, ou que haja uma constatação física fática. Porém todas estas
condições estão correlacionadas ao comportamento verbal que se apresenta.

Desta forma, o evento ‘Revelação ’ocorre dentro de um conjunto de circunstâncias, sob


certas condições. Sendo o organismo, o local, o ponto de confluência desses
movimentos-e-efeitos, ele também é parte das contingências (Matos, 1999). Aqui,
ocorre a investigação da probabilidade ou tendência dos organismos agirem de
determinada forma, em determinadas situações, ou seja, a força de resposta. E assim
temos a relatividade de uma resposta com relação a outras no mesmo repertório, em
que, um organismo pode apresentar simultaneamente apenas um número limitado de
respostas (Ferreira & De Rose, 2010):

“Skinner reconhece que algumas respostas são realmente incompatíveis e as


suas respectivas forças interferem umas com as outras substancialmente, o
que pode levar à anulação de ambas ou à emissão da resposta mais forte
(Skinner, 1953b/1965, 1957, p. 24), ou até mesmo a uma combinação de
fragmentos de ambas. Outras respostas são quase independentes umas das
outras, o que faz com que as suas forças sejam igualmente independentes
umas das outras. Mas o fato de se referirem a um mesmo organismo e de
utilizarem, conseqüentemente, um mesmo sistema efetor para execução, faz
com que duas respostas quaisquer tenham as suas forças sempre relativas
uma em relação à outra. Mesmo respostas que podem ser emitidas
simultaneamente interagem, devido à relação, ainda que mínima, de força
existente entre elas [...] Por outro lado, conforme a concepção skinneriana,
duas respostas que são competitivas, no sentido de se excluírem mutuamente
nas suas respectivas execuções, e que também apresentam topografias muito
diferentes, não podem se somar algebricamente. A soma das suas forças leva,
então, à emissão da resposta prepotente – a que possui maior força. É
esperado, também, que a emissão de tal resposta tenha a sua topografia
alterada pela força da resposta concorrente (Skinner, 1953b/1965, pp. 220
221). Há, de acordo com a proposição skinneriana, uma relação entre força e

302
topografia de resposta que não consiste simplesmente na emissão de uma
forma acabada e bem definida de resposta. O resultado é a variabilidade da
forma da resposta em função da sua força, e podemos falar dessa
variabilidade também em termos de classes. A variabilidade de respostas
consiste, portanto, no distanciamento topográfico da resposta com relação à
especificação da classe original e correspondente aproximação, em termos da
sua topografia, de outras classes de respostas concebíveis em um mesmo
repertório.”

Segundo Ferreira e De Rose (2010), respostas fortes são aquelas com alta probabilidade
de ocorrência e respostas fracas, com baixa probabilidade de ocorrência (Skinner,
1953b/1965, p. 65, 71, 77). Ferreira e De Rose (2010) expicam que para Skinner (1953),
a definição de força se refere ao efeito das variáveis independentes sobre a
probabilidade de resposta, que é simplesmente a inferência do status de uma
determinada relação funcional, realizada em uma terminologia fisicalista a partir de
eventos observáveis. Em que nada tem a ver com magnitiude da resposta ou
intensidade de estímulos. E afirmam que, segundo Skinner (1953) por conta de todas
as contingências que envolvem as ações de um determinado organismo, há uma
complexidade de respostas disponíveis em seu repertório, cada qual com sua força
correspondente.

Ferreira & De Rose (2010), explicam que no geral, há classes de respostas operantes
mais fortes do que outras em um dado momento de existência do organismo. E
acrescentam conforme Skinner (1950), que na medida em que um organismo pode
apresentar simultaneamente apenas um número limitado de respostas, temos que, em
sua concepção a força de respostas é necessariamente uma noção a respeito da
relatividade de uma resposta com relação a outras no mesmo repertório, no que
concerne ao combate pelas suas respectivas ocorrências.

As variáveis que determinam as forças, são os determinantes dos denominados


processos comportamentais, que envolvem eventos aos quais as respostas estão
funcionalmente relacionadas. E além das variáveis independentes, dos estímulos
discriminativos e dos estímulos reforçadores, temos também as operações
motivacionais e emocionais (Ferreira e De Rose, 2010).

Os processos comportamentais podem tomar apenas uma de duas possíveis direções,


fortalecemos uma resposta se a tornamos mais provável e, do contrário, a
enfraquecemos se a tornamos menos provável (Ferreira e De Rose, 2010):

“Nunca uma variável independente pode alterar igualmente a força de todas


as respostas de um determinado repertório, pois o fortalecimento define-se
justamente pela distinção que produz entre as probabilidades de uma parte
do repertório com relação ao restante (Skinner, 1938/1991, p. 227; 1987, p. 85,
p. 94). Sendo assim, segundo a proposição skinneriana, uma alteração idêntica

303
e simultânea em todo o repertório do organismo é inconcebível. Além disso,
para Skinner o fortalecimento de uma resposta é sempre dependente do
enfraquecimento concomitante de pelo menos outra resposta, e vice-versa.
Podemos, pelo menos metaforicamente, falar de uma precisa rede de
influências fortalecedoras e enfraquecedoras” (Ferreira e De Rose, 2010).

Ferreira e De Rose (2010) alertam que o enfraquecimento da resposta apóia-se


justamente na probabilidade positiva, que é o fortalecimento de outra resposta. Em
um sentido estrito, o processo como um todo se define apenas pelas relações de
fortalecimento envolvidas (Skinner, 1953/1965). Skinner (1953/1965) propõe
“acrescer” ou “retirar” probabilidades, e é por meio desse artifício terminológico que
Skinner trata da interpretação de casos que envolvem uma diversidade de fontes de
probabilidade, denominando-as de fontes de força. O que ocorre é a gradação de uma
resposta em termos da sua ocorrência (Ferreira e De Rose, 2010). O que se tem, é a
combinação de diversas variáveis e suas respectivas contribuições para o
fortalecimento de uma única resposta (Skinner, 1930).

O comportamento é fluido, é uma atividade contínua e coerente, embora ele possa ser
analisado em partes, é necessário que se reconheça sua natureza contínua (Skinner,
1953). E o fato do repertório estar constantemente em interação com o ambiente, é
natural que a força de uma resposta esteja sempre em plena mudança (Ferreira e De
Rose, 2010).

Comportamento não é uma resposta, ou seja, o operante é diferente de resposta, o


conceito de operante está ligado aos objetivos de previsão e controle, definidos pela
ciência skinneriana (Skinner, 1953, 1957, 1969). Operante são classes de respostas:
“nosso dado básico não é a ocorrência de uma dada resposta enquanto tal, mas a
probabilidade de que ela ocorrerá em um dado momento” (Skinner, 1957). Assim,
segundo
aquilo que
Skinner
uma pessoa capaz de fazer,
(1974), éo repertório de comportamento
dado certas circunstâncias,
de um indivíduoporou
sua
grupo,
vez, é

muito próximo a ligação de operante com probabilidade.

Então, os elementos do fluxo comportamental são analisados sob alguns recortes:

a) um episódio comportamental, é entendido como uma relação entre eventos


comportamentais (respostas) e eventos ambientais (estímulos) (Lopes, 2008), E por ser
um recorte, é necessário mais análise:

“Em uma definição de comportamento não basta considerar a relação entre


eventos comportamentais e ambientais. Isso porque um episódio
comportamental é apenas um recorte do fluxo comportamental. Além disso,
não basta ligar diferentes episódios comportamentais, à la associacionismo,
pois isso nos distanciaria tanto do relacionismo, quanto da natureza fluida do

304
comportamento. É preciso, portanto, encontrar uma maneira de restituir o
fluxo comportamental (Lopes, 2008)”

b) o estado comportamental surge no contexto da descrição dos operantes, ou


probabilidades presentes em um repertório, e é abstraído da ocorrência de eventos
comportamentais, que se encontra nas regularidades do responder (Lopes, 2008):

“Um estado comportamental descreve tanto uma regularidade no responder,


quanto uma tendência de ocorrência de episódios comportamentais (a
emissão de eventos comportamentais relacionados a eventos ambientais
específicos). Dessa maneira, o estado comportamental embora se relacione
com os eventos comportamentais, em momento algum se confunde com eles.
(Confundir estado com evento equivale a dizer que a probabilidade de
emissão de uma resposta é a própria resposta) (Lopes, 2008).”

c) os processos comportamentais, falam de contingências, os eventos que participam


de um comportamento se organizam na forma estímulo-resposta-conseqüência
(Lopes, 2008). Segundo Lopes (2008), as contingências, ou processos
comportamentais, são uma espécie de ponte entre eventos e estados comportamentais,
e que podemos partir de eventos para construir estados. O que se altera é a probabi
lidade de ocorrência de novas respostas; não de quaisquer respostas, mas de respostas
que guardam alguma semelhança com a primeira resposta (Skinner, 1953, 1957, 1969).
Skinner (1968), explica que esses processos comportamentais não são
comportamentos, mas mudanças no comportamento:

“Deve-se notar que há, principalmente, três tipos de eventos


comportamentais que definem o comportamento operante: as variáveis
independentes; estímulos discriminativos e reforçadores; e as variáveis
dependentes, respostas do organismo. Segundo Skinner (1953/1965, p. 109),
tais eventos comportamentais: estímulos discriminativos, respostas e
estímulos reforçadores, compõem a denominada "contingência de três
termos" e definem o comportamento operante. A contingência de três termos
é, portanto, uma relação complexa entre eventos. Concebe-se o
comportamento operante, portanto, pela relação entre eventos, estímulos e
respostas. Ainda, os eventos são, sob a perspectiva skinneriana, tomados
como elementos de classes, principalmente estímulos discriminativos e
respostas (Skinner, 1953/1965, p. 65, 302). Skinner enfatiza o estímulo
discriminativo e a resposta, no que se refere à concepção de classes
comportamentais do operante, devido à possibilidade de maior detalhamento
e, subseqüentemente, possibilidade de previsão e controle de ocorrências
singulares do comportamento com base nos dois primeiros termos da
contingência (Skinner, 1957, p. 28).”

305
Dessa forma, eventos, estados e processos, podem ser considerados como diferentes
níveis de análise da dinâmica da relação de coordenação sensório-motora do
organismo com o ambiente, sendo a relação de interdependência o que caracteriza o
comportamento (Lopes, 2008).

Ferreira e De Rose (2010) esclarecem que segundo a perspectiva skinneriana, a expli


cação psicológica envolve a identificação de regularidades no comportamento dos
organismos e a descrição de processos e eventos comportamentais (Skinner,
1953/1965, pp. 45-224).

Ferreira & De Rose (2010) argumentam que processos e eventos comportamentais, se


diferenciam e que podem ser considerados:

a) processos comportamentais, no caso do operante: o reforçamento, a extinção e o


controle discriminativo. São termos que definem a modificação, a criação e a
manutenção do comportamento ou, simplesmente, a modificação na probabilidade de
ocorrência de respostas operantes.

b) evento comportamental pode-se enumerar: respostas, estímulos reforçadores,


discriminativos e aversivos.

Ferreira e De Rose (2010), conforme Skinner (1957, p. 82, p. 227; 1953b/1965, p. 205),
retratam o estímulo discriminativo, outro importante tipo de variável independente
do comportamento operante, que modifica a probabilidade de ocorrência de formas
de respostas e, portanto, as forças das respostas, atuam como fonte de forças.

O estímulo discriminativo, quando atua como propriedades definidoras de


determinada classe, fortalece os membros da classe de respostas funcionalmente
relacionada (Skinner, 1938/1991, p. 197; 1957, p. 82, p. 115). O estímulo discriminativo
também enfraquece formas de respostas, na medida em que fortalece formas de
respostas competitivas (Skinner, 1953b/1965, p. 189, p. 222; 1974/1976, p. 69; 1979, p.
195, p. 321).

Ferreira e De Rose (2010) relatam que é raro Skinner tratar dos estímulos
discriminativos como fontes de controle enfraquecedor. O uso skinneriano mais
comum é o de estímulo discriminativo como fortalecedor de respostas, ao invés de
enfraquecedor. É por isso que adotaremos, efetivamente, o uso skinneriano do termo
‘estímulo discriminativo’, referindo-nos ao primeiro termo da contingência,
unicamente como fortalecedor.

Segundo Ferreira e De Rose (2010) o conjunto de estímulos discriminativos constitui


a fonte imediata de fortalecimento da resposta, embora outras variáveis
independentes atuem no fortalecimento da resposta, o estímulo discriminativo
diferencia-se pelo grau de especificidade na sua relação com a resposta. O estímulo

306
discriminativo fortalece as respostas pertencentes à classe, e tem essa função por
compartilhar propriedades, com a classe de estímulos que mantém uma relação
funcional com a classe de respostas.

Ferreira e De Rose (2010), esclarecem que os dois tipos de variáveis independentes,


tanto o estimulo discriminativo quanto o reforçador, fortalecem a forma da resposta.
O reforçador desempenha dois papéis: o de alterar e o de manter uma relação
comportamental (Ferster & Skinner, 1957/1997, p. 01; Skinner, 1957, p. 01; 1979, p. 97;
1987, p. 87). Ambos modificam a combinação, acrescentando ou retirando elementos,
entre propriedades correlacionadas de estímulos e respostas e, também, mantém
correlações já existentes (Ferreira e De Rose, 2010). O reforçamento, estabelece
(potencializa) fontes de força (estímulos discriminativos) e mantém as fontes de força
já existentes (Skinner, 1932c, pp. 275-276; 1935b/1999, p. 527; 1957, p 30). Em uma
palavra, diz-se da criação e da manutenção do operante por meio do reforçamento
(Ferreira e De Rose, 2010).

O estímulo reforçador, seguindo-se à resposta, afeta a força de ocorrências


comportamentais futuras, de classes operantes às quais pertence a ocorrência seguida
do evento reforçador (Skinner, 1953b/1965, p. 64-65). Por outro lado, o estímulo
discriminativo antecede a resposta, e funciona aumentando a probabilidade de
ocorrência dessa resposta no presente (Ferreira e De Rose, 2010). É nesse sentido que
o estímulo discriminativo fortalece a ocorrência comportamental (Ferreira e De Rose,
2010).

E é nesse sentido que o estímulo discriminativo ‘interação de conteúdo sexual de um


adulto com uma criança’ é mais relevante do que, o que poderá vir a ser um reforçador
para este estímulo discriminativo. Ele fortalece a probabilidade da ocorrência
comportamental ‘realizar comunicação de crime’, o que é fortalecido é uma
determinada forma de resposta. O estímulo discriminativo‘interação de conteúdo
sexual de um adulto com uma criança’, opera sobre respostas, tal como explica
Ferreira e De Rose (2010):

“Se o fortalecimento corresponde ao aumento da probabilidade de uma forma


de resposta, temos que o fortalecimento pode ter como objeto a forma da
resposta, envolvendo cada uma das respostas, individualmente, enquanto o
reforçamento, por outro lado, pode ter como objeto, apenas, o
comportamento. É reforçada a relação entre as classes de estímulos e de
respostas, e não a ocorrência de uma das respostas de uma classe operante.
Por sua vez, é fortalecida uma determinada forma de resposta e, portanto, um
dos membros da referida classe de respostas, e, simultaneamente, todos os
outros membros da classe operante. Outra forma de explicitar essa distinção
skinneriana é dizer que reforçar é fortalecer uma relação, ao passo que fortalecer
é aumentar a probabilidade de ocorrência (Ferreira e De Rose, 2010, grifo meu).

307
Outra variável relevante junto ao estímulo discriminativo, são as variáveis que
modificam a força de grupo de respostas: a emoção e a motivação (Skinner, 1938/1991,
pp. 408-409; 1953a). Estas variáveis alteram simultaneamente a probabilidade de
ocorrência de diferentes classes operantes que correspondem, ao mesmo tipo de
conseqüências reforçadoras (Skinner, 1953b/1965, p. 143; 1957, p. 32, pp. 212-218). A
motivação e a emoção, simplesmente alteram o potencial fortalecedor do grupo de
estímulos discriminativos a elas relacionadas (Ferreira e De Rose, 2010). Por sua vez,
as variáveis motivacionais (emoção e motivação), já se fazem presentes pelo tipo de
determinação que desempenha o estímulo reforçador para o repertório do indivíduo
como um todo, em termos de grupos, e não de classes, de respostas, (Skinner,
1938/1991, p. 408; 1953b/1965, p. 68) sendo decisivas no fortalecimento de uma
resposta.

No caso da resposta: ‘comunicação do crime’, as variáveis motivacionais e estímulos


discriminativos fornecem ao perito, o desenho da contingência a ser analisada no
relato. Ou seja, o estímulo discriminativo ‘interação de conteúdo sexual de um adulto
com uma criança’, identificado no relato, deverá diferenciar-se pelo grau de
especificidade dos eventos comportamentais que juntos alvejaram na classe de respostas:
‘comunicação do crime’.

E para isso, o perito deve se ater aos tactos emitidos pelo periciado. Para Skinner
(1957), o tacto é um operante verbal em que, o primeiro termo da contingência
operante, o estímulo discriminativo, é não verbal. Assim, são os estímulos discrimina
tivos não-verbais que devem comparecem nos relatos, que apontam para o perito qual
o estimulo discriminativo que fortaleceu a probabilidade de ocorrência da resposta
‘comunicação do crime’.

Neste caso, nos tactos periciados, o estímulo discriminativo: ‘interação de conteúdo


sexual de um adulto com uma criança’ é o que deve fortalecer a ocorrência
comportamental: ‘comunicação do crime’.

É desta forma que o perito extrai os tactos para a análise do que se pericia, quando se
identifica nos relatos: o conteúdo (comportamento não verbal) dos estímulos
discriminativos que estabelece a relação de interdependência, com as formas de
respostas também apresentadas nos relatos. As respostas (ações) devem guardar uma
relação de interdependência com os estímulos discriminativos nos relatos. O sentido
das respostas (ações) se encontra em identificar qual foi o estimulo discrimintativo
dentro dos tactos descritos, que resultou na ‘comunicação do crime’. O locus de ação
da contingência é, efetivamente, a força da resposta (Skinner, 1947/1999, p. 354; 1987,
p. 27), que foi selecionada.

Os estímulos discriminativos, aliados às operações motivacionais e emocionais,


fortalecem a resposta e, suficientemente fortalecida, a resposta ocorre, e a relação

308
operante coloca-se, assim, a disposição dos efeitos do estímulo reforçador (Ferreira e
De Rose, 2010). O estímulo reforçador estabelece a força de uma relação, e o estímulo
discriminativo a desencadeia, fortalecendo imediatamente a resposta (Skinner,
1938/1991, p. 228). Distinguir o papel de cada um desses termos nas relações presentes
na contingência de reforçamento é essencial.

Ao fazer esta distinção do papel do estímulo discriminativo e reforçador, o que se


identifica em situação pericial é que: quando o estímulo discriminativo não-verbal é a
‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança ’que desencadeia a
forma de resposta ‘comunicar o crime’, identificamos fracamente o estímulo reforçador
‘punir o suspeito’. Visto que é de conhecimento das comunicantes, que trata-se de uma
condição futura, que pode ou não acontecer, uma situação a longo prazo e indefinida.
Mas, quando o estímulo reforçador ‘punir o suspeito’ é fortemente identificado, o que
temos então, é um estímulo discriminativo não-verbal ‘punir o suspeito’. Assim,
identificamos fracamente, no que deveria ser um tacto, o estímulo discriminativo não
verbal ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança’. Desta forma,
não estamos a extrair tactos e sim intraverbais. Relações intraverbais são comuns e
estão presentes nas interações sociais cotidianas, como, por exemplo: “Como vai
você?” E a resposta verbal “Bem, obrigado!”.

Santos e Andery (2012) explicam que comportamento intraverbal foi definido por
Skinner (1957), como um operante verbal no qual a resposta está sob controle de estí
mulo discriminativo verbal sem correspondência ponto a ponto entre estímulo e
resposta. O comportamento intraverbal, se caracterizam por contingências envolvidas
no comportamento do falante em que as respostas do falante são controladas por
estímulos verbais, e as relações entre estímulo antecedente verbal e resposta não
seriam de correspondência ponto-a-ponto. Correspondência ponto-a-ponto, são
relações nas quais partes específicas (e delimitáveis) do estímulo verbal controlariam
a forma (a topografia) de partes específicas (e identificáveis) da resposta verbal. Desta
forma, quando a resposta verbal não tem topografia que guarda correspondência
ponto-a-ponto com o estímulo que a evoca, é chamado de comportamento intraverbal.

Na situação pericial, na medida que o perito faz perguntas da Entrevista


Contingenciada na busca do tacto, em que o estímulo discriminativo não-verbal é
‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança’, o periciado que não
está sob controle deste discriminativo, passa a identificar nas perguntas estímulos não
verbais da notícia ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança’. O
que ocorre é que o entrevistado não está sob controle do estímulo discriminativo não
verbal ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança ’e assim as
perguntas deixam de se referir a um estímulo discriminativo não-verbal e passam a
atuar como um contexto verbal. Assim, o que deveria ser um estímulo não verbal,
passa a ser um estímulo verbal, para uma resposta verbal, e o intraverbal é emitido.

309
Borloti (2004) alerta que, uma classe funcional de operantes é definida pela observação
do que os operantes fazem e não apenas pela descrição de sua composição ou
aparência (Baum, 1999). Esse uso de termos é válido também para os operantes
verbais: classes de ações (eventos ou propriedades de eventos) verbais que produzem
os mesmos efeitos sobre o ouvinte (Borloti (2004). Esta é a necessidade de discriminar
propriedades específicas nos relatos, por meio do comportamento verbal, em relação
a: seu estímulo discriminativo antecedente, sua audiência e dos estímulos reforçado
res providos por ela (Borloti, 2004). É preciso levar em conta o comportamento do
falante e do ouvinte, o efeito do repertório verbal no ouvinte e os diversos aspectos do
ambiente específico (físico e social) com os quais o comportamento mantém conexão
(Barros, 2003). Barros (2003) alerta que, ao analisarmos repertórios verbais, é preciso
levar ao extremo a idéia de que eles não têm uma topografia a ser levada em conta na
sua definição e que o importante é o efeito que produzem no ouvinte e,
conseqüentemente, no ambiente social e no ambiente físico. Barros (2003) esclarece:

“Os comportamentos verbais também alteram o ambiente e são modificados


por essa alteração; porém de um modo diferente. As conseqüências
contingentes dos operantes verbais não mantêm relações mecânicas diretas com
os mesmos. O operante verbal age indiretamente sobre o ambiente físico já que
seu principal efeito é sobre um ouvinte: pedir que tragam um objeto produz,
como primeiro efeito, ondas sonoras no ar, mas o principal efeito a obtenção
do (ou o contato com o) objeto só é obtido pela mediação de uma outra pessoa.
Essa pessoa precisa ser especialmente treinada para reforçar o
comportamento verbal do falante pelo contato com o objeto, ouvindo (ou
lendo) e compreendendo (Skinner, 1957; Parrot, 1984).”

Segundo Catania (1998) essas unidades funcionais sempre envolvem palavras, e seus
determinantes devem ser buscados nas interações ou relações verbais entre falantes,
ouvintes e contextos do ambiente físico e social. Por exemplo, o termo tacto captura o
papel do estímulo discriminativo no controle da resposta verbal, não tateamos
indiscriminadamente, tateamos algumas coisas apenas em algumas circunstâncias
(Catania,1998).

No comportamento intraverbal, um estímulo verbal estabelece a ocasião para outra


resposta verbal. De acordo com Matos (1991), o controle do comportamento
intraverbal pelo antecedente é complexo e pode envolver elementos múltiplos; ou
associações quando o controle é pelo tema, situação ou assunto. Intraverbalizar
consiste em conectar elementos verbais de modo correspondente às conexões que a
cultura particular ou o mundo físico fazem entre os elementos verbais e não-verbais
(Barros, 2003).

Em situação pericial, comunicantes que assumem o papel de falante e emitem


intraverbais, estabelecem muitas conexões entre tactos, tais como: “Ele ficou sozinho
com a criança, aí ele abusou dela!”. O estabelecimento de conexão entre os tactos

310
‘criança ficar sozinha ’e ‘suspeito abusar da criança’ é um intraverbal da comunicante
por aproximar estas duas situações. Ou seja, a relação entre um estímulo e uma
resposta é arbitrária; não há nenhuma correspondência sistemática entre eles e
qualquer dado estímulo verbal pode ocasionar uma variedade de respostas diferentes.
Assim, as respostas verbais que surgem, já é a seleção da fonte de força do repertório
do falante, o que ocasiona certas respostas verbais e não outras. Sendo que, estas que
surgem, se encontram com a probabilidade relativamente alta no repertório verbal do
falante.

Nestes casos, muitos intraverbais veem acompanhados de comportamentos


autoclíticos, pois, depende da ocorrência de outros comportamentos verbais do
próprio emitente sobre os quais os autoclíticos atuarão. Matos (1991) resume a
peculiaridade do comportamento autoclítico como o falar sobre o falar. Portanto, o
comportamento autoclítico consiste de unidades de comportamento verbal que:
comentam, qualificam, enfatizam, ordenam, coordenam e alteram a função de outros
comportamentos verbais. Os gestos e a entonação, que se usa ao falar, podem alterar
a função dos tactos e mandos emitidos. Em tom de ironia (autoclítico) o tacto: “Ele é
tão inocente!!”, pode ter o efeito de uma crítica dura (Borloti, 2004).

Desta forma, em situação pericial, quando um estimulo discriminativo não-verbal,


assume característica de estímulo verbal, necessariamente o que seria ouvinte, passa a ser
falante. E o que passamos a ter, são respostas cada vez mais próximas de tactos
extrapolados e ou mandos disfarçados, temos assim os operantes verbais disfarçados.

É muito comum em situação pericial, quando a comunicante assume o papel de


falante, e esta checa se o perito a está ouvindo: “Você me entendeu?”. Temos que a
comunicante enquanto falante está sob o controle de um reforço específico a ser
provido pelo ouvinte, como por exemplo, a espera do perito assentir: “Eu entendo o
que você está falando!”. Ou, quando o falante está sob controle de controlar o ouvinte
(perito), aí temos o autoclítico (Borloti, 2004). Os autoclíticos são respostas verbais,
vocais ou motoras, controladas pelo próprio comportamento verbal (antecedente,
simultâneo ou concorrente) do emitente e as quais articulam, organizam ou
modificam as respostas verbais que as controlam (Borloti, 2004). A ocorrência de
comportamentos autoclíticos, depende da ocorrência de outros comportamentos
verbais do próprio emitente sobre os quais os autoclíticos atuarão (Borloti, 2004). Os
autoclíticos assumem o papel de coordenar e de relacionar os operantes básicos,
modificando os efeitos desses operantes básicos sobre o ouvinte, em que o que o
repertório verbalizador e conseqüenciador são emitidos por um mesmo
organismo (Skinner, 1957):

“Parte do comportamento de um organismo torna-se, por sua vez, uma das


variáveis que controla a outra parte. Há pelo menos dois sistemas de
respostas, um baseado no outro. O nível superior só pode ser compreendido

311
em termos de suas relações com o inferior. A noção de um eu interior constitui
um esforço para representar o fato de que, quando o comportamento é
composto dessa forma, o sistema superior parece guiar ou alterar o inferior.
Mas o sistema de controle também é em si mesmo comportamento. O falante
pode saber o que está dizendo no sentido de que conhece qualquer parte ou
traço do ambiente. Parte do seu conhecimento (o 'conhecido') serve como variável
no controle das outras partes ('conhecendo'). Tais 'atitudes propositivas', como a
asserção, a negação, a quantificação, o plano obtido por meio da revisão, da
rejeição ou da emissão de respostas, a geração de certa quantidade de compor
tamento verbal apenas enquanto tal e as manipulações altamente complexas
do pensamento verbal, todas elas, (...), podem ser analisadas em termos de
comportamento, que é evocado por outro com-portamento do falante e atua
sobre ele (Skinner, 1957, grifo meu).”

Como ocorre com os mandos e tatos, os controles sobre os autoclíticos podem ser sutis
gerando classificações que parecem ambíguas (Borloti, 2004). Em situação pericial
temos também os falantes que querem se passar por ouvintes, que não checam se ouvinte
está ouvindo, mas demonstram estar sob controle de ‘manipular o perito’. E desempenham
com frequência, frente as perguntas periciais, nas suas respostas verbais: não sei,
esqueci e ‘ficar em silêncio’, o que neste caso descreve o estado de força forte para a
emissão de operantes verbais, visto que o falante tem conhecimento do que se fala
naquele contexto. Ao passo que, outra relação de controle semelhante, e que pode
indicar fraqueza em relação ao estado de força dos operantes verbais, são as unidades,
nos exemplos de Skinner (1957):

“Julgo, Calculo, Creio, Imagino e Suponho, todas indicam que a resposta que
se seguirá baseia-se numa estimulação insuficiente ou foi pobremente
condicionada. Não posso dizer, Hesito dizer, Desejo acrescentar sugerem
outras fontes de fraqueza. Proponho, Sugiro, Suponho revelam a natureza
experimental da resposta que se segue (p. 315).”

Porém no caso de ambientes periciais, estas unidades podem apresentar estado de força
de emissão forte de operantes verbais, em que diante de estímulos discriminativos
não-verbais a serem tateados, ou unidades verbais a serem combinados em cadeias
intraverbais convincentes, este exibe tais unidades, para se esquivar dos tactos que
tem para emitir.

Isto parece indicar que o que está sendo dito, é dito pelo falante, para antecipar o
comportamento do ouvinte ou indicar que o que está sendo dito seja aceito pelo
ouvinte ou pelas pessoas em geral (Borloti, 2004). Pois, ao variar entonações, o falante
pode efetuar a distorção desejada:

“Não precisamos checar se alguém está ouvindo para decidirmos se estamos


tateando algo. As audiências são importantes para a criação e manutenção de
tatos, mas elas não são critérios para a relação de tato. O tatear pode ser

312
modificado por variáveis de audiência e por conseqüências, mas essas
variáveis não definem o tatear [...] mas toda vez que o ambiente ocasiona o
que dizemos, o controle de estímulo desempenha um papel em nosso
comportamento verbal (Catania, 1998).”

Segundo Barros (2003) com exceção do mando, que é reforçado especificamente pelo
objeto ou acontecimento especificado no mando (“Traga água” é reforçado pela água
trazida por alguém), todos os demais são mantidos por reforço generalizado. Mandos
explícitos incluem pedidos, ordens e conselhos (Borloti, 2004). Nos mandos disfarçados,
aparentemente a resposta verbal é um tacto; mas o efeito que pode ter sobre o ouvinte
é de um mando. O reforço específico ou não generalizado inclui a obtenção de um
objeto, por exemplo, mas inclui também outros efeitos sobre o ouvinte, tais como: a
compreensão, a crença, a informação e a emoção (Borloti, 2004). Caso seja este o
objetivo do falante sobre o perito, temos uma condição específica do falante, em que
o periciado precisa convencer uma informação ao perito e não apenas informar a
respeito de um estímulo não-verbal: ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com
uma criança’. Esta visão contextualística informa que a classificação efetiva de um
operante verbal deve observar as circunstâncias sob as quais ele é emitido.
O significado, ou a função da palavra, está nas circunstâncias atuais que controlam a
resposta (Barros, 2003).

Segundo Bortoli (2004) o comportamento verbal faz contato com os eventos do


ambiente, por isso, para se distinguir o operante verbal tacto, existe a necessidade da
presença do estímulo, o que torna o tacto diferente do nomear ou do fazer referência;
e é a presença do objeto que torna possível a relação de tacto. Assim, um objeto ausente
pode ser nomeado, mas não tateado (Catania, 1998, p. 427) isto porque a ausência do
estímulo controle da relação de tacto impede que a relação seja estabelecida (Skinner,
1957, p. 105):

“As relações de tato em si mesmas são apenas uma parte do comportamento


verbal, mas, por meio delas, o comportamento verbal entra em contato com o
ambiente. Sem essas relações, não haveria nada sobre o que pudéssemos falar.
A questão da verdade é comportamental. Um pouco do que chamamos de
verdade depende de como a comunidade verbal mantém as correspondências
entre o comportamento verbal e o ambiente. Aqueles que mentem, fazem-no
porque as conseqüências de mentir diferem daquelas de dizer a verdade, mas
mentir pode ser eficaz somente dentro de comunidades verbais em que essas
correspondências são razoavelmente fidedignas (Catania, 1998).”

Segundo Catania (1998), a extensão do tato ocorre quando novas palavras são
formadas pela combinação de outras já existentes. Os vocabulários mudam com as
mudanças ambientais que são importantes para os falantes, a questão é que o tatear
não é definido por partes da fala nem por outras categorias lingüísticas; tatear é um
tipo de comportamento (Catania, 1998). O falante possui tatos privados que não pode

313
revelar em situação pericial, e assim passa a emitir tactos extensos, o que se
configuram de contingências que não estabelecem relações de interdependência entre
o estímulo discriminativo que este apresenta e a resposta ‘comunicar crime’, visto que
este está sob controle do estímulo reforçador ‘punir suspeito’.

Em outras palavras, no contexto pericial, ao se privar o ouvinte de ser um falante, ou


seja, ao privá-lo, por meio das perguntas das entrevistas, dos estímulos necessários de
emitir aquilo que deseja, que se encontra sob controle de repertórios verbais privados,
mudamos a importância dos estímulos para quem fala e identificamos o momento em
que o ouvinte passa a ser falante frente aos estímulos (perguntas periciais) específicos.
Os estímulos (perguntas das entrevistas) tomam- se mais ou menos reforçadores ou
mais ou menos aversivos, na medida em que as perguntas não correspondem áquilo
que levou o entrevistado à perícia. Ou seja, se este está sob controle de um estímulo
discriminativo não-verbal ou do estímulo reforçador ‘punir o suspeito’. As mudanças
na importância dos estímulos que ocorrem com as operações estabelecedoras, são
discutidas em termos de impulso ou motivação (Bolles, 1975, in Catania, 1998). A força
de resposta, fraca ou forte, também pode ser medida pela unidade de tempo ‘latência’.
Em que se mede que, quanto mais o periciado atrasa a resposta para determinadas
perguntas e ou ao respondê-las traz outro núcleo temático, mais força tem a resposta
em relação ao que deve “ficar encoberto”. Assim, a velocidade de responder com
precisão se afasta, de acordo com que o perito não identifica a resposta relativa ao
núcleo temático da pergunta, ou seja, da contingência que governa a pergunta. Polson
e cols. (1997) discutiram seus resultados em termos de fluência (na aprendizagem),
como um bom objetivo, e definiram a combinação de precisão e velocidade o que
caracterizaria como um desempenho competente, a medida de freqüência de
respostas precisas, por unidade de tempo.

E assim o perito pode se orientar pela pergunta: “Qual a história prévia de


reforçamento responsável pelo estado de força dessa resposta?”. É por isso que
Skinner afirma que o ambiente determina a força da resposta por meio das
contingências de reforçamento, de relações de fortalecimento diretas (estímulos
discriminativos, operações motivacionais e emocionais) e indiretas (estímulos refo
rçadores). As contingências de reforçamento são, nesse sentido precisas em relação as
“propriedades” do ambiente que se revelam na sua interação com o organismo.

Ou seja, o tacto, entra em contato com o mundo físico e é controlado por estímulo
discriminativo não verbal e sua conseqüência é um reforço generalizado. Avalia-se o
comportamento verbal que se refere a eventos, ou seja, a comportamentos não
verbais. As pessoas necessariamente devem emitir tactos a respeito do
comportamento não-verbal

Para isso as técnicas de Entrevista Contingenciada, Teste Rorschach (Weiner, 2000) e


Hora Jogo Diagnóstica, são entendidos também como complementares. As técnicas

314
têm como finalidade, fornecer condições para a análise funcional do comportamento
verbal. Por sua vez, se realiza a análise dos correspondentes verbais intra e entre
sujeitos, na situação pericial, em relação aos depoimentos e documentos no inquérito
policial. Conforme Todorov, J. C., & Henriques, M. B. (2015):

“O comportamento não se relaciona com os efeitos, ele produz efeitos; ambos


se relacionam com o ambiente. Comportamento é a atuação do organismo no
ambiente, pode ser ação de um neurônio motor liberando neurotransmissores
para os receptores de um neurônio sensorial (ambiente pode ser interno ou
externo ao organismo - ver Todorov, 1989/2007). É ato, via de mão única, não
é interação - interação quer dizer via de mão dupla, e isso é contingência. O
que o organismo faz e os efeitos daquilo que foi feito são inseparáveis. Não
estamos falando de duas coisas, mas de uma. De forma diferente, nem todo
comportamento (atividade, atuação, desempenho, com seus efeitos) produz
consequências. A atuação sempre produzirá efeitos, às vezes o efeito
produzido não é o arranjado pelo ambiente para ser mantida uma relação
condicional, às vezes até é o efeito, mas a contingência não está mais presente
ou é intermitente. Aqui comportamento e ambiente são dois eventos e não
um.”

Segundo Todorov, J. C., & Henriques, M. B. (2015) o comportamento não é utilizado


na literatura como relação, mas como parte da relação, e a propriedade comumente
utilizada para a localização do comportamento é o seu efeito. A descrição do
comportamento e sua localização (no tempo e/ ou espaço) é que irão auxiliar o
analista do comportamento na compreensão do objeto de estudo (i.e., relações
condicionais). As relações funcionais são evocadas quando a tentativa é de explicar
comportamento, por meio da descrição.

Como funcionalista o analista de comportamento substitui a noção de 'causa' pela de


'função', e a ‘explicação ’pela ‘descrição’. Para um estudioso da natureza não há nada
mais do que o estudo da dependência dos fenômenos, uns em relação aos outros. Os
fenômenos sempre ocorrem em variadas relações de interdependência de uns em
relação aos outros e assim a tarefa do estudioso funcionalista é descrever estas
interdependências. Causas e efeitos são simplesmente mudanças, correlacionadas, em
duas classes de fenômenos (Matos, 1999).

Fazer uma análise funcional é identificar um conjunto de respostas que permitem o


acesso, pelo indivíduo, ás consequências importantes para ele: consequências
sensoriais, consequências sociais, consequências como bens tangíveis, ou
consequências como a evitação de eventos desagradáveis (Matos, 1999).

No modelo da análise do comportamento, uma causa, é substituída por uma mudança


na variável (ou variáveis) independente(s), e um efeito, é substituído por uma
mudança na variável (ou variáveis) dependente(s), sendo que isso se constitui na
relação funcional. A diferença entre análise funcional e análise causal é que na

315
primeira não mais se fala do comportamento humano em termos de agência, pois não
mais é necessário falar em forças internas ou externas que causam uma ação; ação é
uma propriedade do organismo vivo. Do mesmo modo, o reflexo não explica como
uma causa/causa uma reação; simplesmente descreve que mudanças ocorrem num e
noutro lado da relação funcional (Matos, 1999).

Vejamos quais são os passos para chegarmos a essa transformação (Matos, 1999):

1) A identificação e a descrição do efeito comportamental - A identificação do

comportamento de interesse envolve sua observação bem como relatos de outras


pessoas (pais, professores, avós, amigos, outros atores). A identificação do efeito

comportamental será sempre frente a interação de conteúdo sexual.

2) A identificação e descrição do efeito comportamental supõem sua

especificação, por exemplo, a especificação da freqüência com que este efeito ocorre,

bem como, o quanto este efeito é esperado.

3) A busca de uma relação ordenada entre variáveis ambientais e variáveis

comportamentais relacionadas (i.e., relevantes) a esse efeito (descrever as condições

em que ocorrem os comportamentos mencionados em 1; descrever as variações nessas

condições e possíveis variações nos comportamentos): (a) a descrição da situação

antecedente e da situação subseqüente ao comportamento de interesse; (b) a

identificação da situação subseqüente deve distinguir quais eventos nessa situação são

conseqüências; (c) a identificação da situação antecedente deve distinguir quais eventos

nessa situação são de fato condições.

4) A formulação de predições confiáveis baseadas nas descrições dessas

relações (inferências ou suposições que serão postas a prova, como estímulos

discriminativos ou como estímulos reforçadores e estímulos aversivos), são efetuadas

especialmente pela coerência intra e entre verbal, corroboradas por meio das análises

documentais, Entrevista Contingenciada, testes e hora jogo diagnóstica.

316
5) A produção controlada desses efeitos predizíveis (demonstração da

confiabilidade das inferências e/ou aplicação do conhecimento).

Uma análise funcional leva em consideração aspectos do ambiente e a função que o


comportamento tem naquele ambiente. Uma análise funcional nada mais é pois, do
que uma 'explicação' de um evento pela descrição de suas relações com outros
eventos. 'Explicamos' as mudanças que ocorrem com o comportamento da criança
descrevendo como essas mudanças ocorrem ou não, a depender de certas condições
do ambiente, tais como: a presença ou não de adultos, a intervenção ou não destes,
condições denominadas 'eventos antecedentes' e 'eventos conseqüentes'.

Uma análise funcional completa (observação- suposição- verificação) produz uma


definição funcional (a definição de reforçamento, por exemplo, 'aumento na
probabilidade de ocorrência de um comportamento que é seguido de certas
conseqüências'). Uma definição funcional supõe uma análise funcional, mas não é essa
análise (Matos, 1999).

Outra vantagem de análises funcionais é que elas podem ser realizadas a longo prazo,
isto é, entre eventos que estão separados por um intervalo de tempo entre si. Uma
determinada variável ambiental pode não estar presente no momento em que ocorreu
uma mudança comportamental e mesmo assim estar relacionada com esta mudança.
Análises funcionais, por não estarem fundamentadas em aspectos estruturais,
permitem uma explicação histórica, e protegem o analista do comportamento de
conceitos mediacionistas como memória, informação, trauma, decodificação,
complexos (Matos, 1999).

Segundo Matos (1999) uma análise funcional nada mais é do que uma análise das
contingências responsáveis por um comportamento ou por mudanças nesse
comportamento, sejam eles comportamentos aceitáveis ou problemáticos. Uma
análise funcional, sendo uma análise das contingências responsáveis por um
comportamento, basicamente busca responder à seguinte questão: "Qual a função
deste comportamento para aquela pessoa?", ou, posto de outro modo, "Qual é a
relação funcional entre esse comportamento e seus efeitos?". Evidentemente esta
mesma pergunta pode ser feita, mutatis mutantis, quando o comportamento de
interesse não ocorre: "Qual é a função da omissão deste comportamento?", ou, de
novo, "Qual é a relação funcional entre esse comportamento e seus efeitos?"

Então a perícia psicológica é elaborada com a finalidade de se obter uma visão


fidedigna, diferenciada e rica da personalidade (Hammer, 1926), por meio do
comportamento (verbal, que pode ser gestual) dos envolvidos, expressos em seus
relatos verbais e testagem, com o objetivo de elucidação dos fatos que encontram-se
privados aos indivíduos.

317
7.6 Análise Idiográfica Projetiva

Para esta análise, corroborado a análise do comportamento verbal, é utilizado o Teste


Rorschach, elaborado por Herman Rorschach em 1921. O autor partiu da constatação
de que, quanto menos padronizado e realista for um evento ou objeto, maior será a
mobilização dos recursos subjetivos do observador para interpretá-lo. Para esta
interpretação, o conhecimento, percepções, modalidade da atenção, sentimentos e os
recursos motores do indivíduo irão intervir na criação dos significados (Coelho, 2006).
Para Aronow & cols. (1995), o próprio Rorschach se direcionou, como é corroborado
pela sua conferência publicada postumamente, para uma perspectiva idiográfica
projetiva. Defendem, assim, a importância da "análise de conteúdo e das verbalizações
que a acompanham como forma de penetrar no mundo singular de cada indivíduo,
particularmente em relação ao seu autoconceito" (p.215-216). A perspectiva
idiográfica estaria orientada para o que o indivíduo percebe; focalizaria, então, os
aspectos inconscientes do funcionamento mental, destacando-se aí a projeção, em seu
sentido defensivo, como determinante das respostas aos testes projetivos. Em outras
palavras, projeção é a operação em que o sujeito expulsa de si e localiza no outro,
pessoa ou coisa, qualidades, sentimentos, desejos, e mesmo ‘objetos’, que ele desdenha
ou recusa de si (Chabert, 2004).

Para o analista do comportamento, Skinner (1978) contempla, que no Teste Rorschach,


as ‘manchas de tinta’ colorida ou em branco e preto, são selecionadas precisamente
por que não evocam respostas padronizadas que possuam alguma consistência. O
resultado do Teste Rorschach não da ênfase ao ‘conteúdo’ do comportamento gerado;
todavia, ilustra o uso da causação múltipla na investigação do comportamento verbal.
A eficácia de padrões visuais vagos na evocação de respostas que, sintaticamente,
nomeiam ou descrevem a configuração ou os traços de tais padrões, só pode ser
explicada em termos de fontes colaterais de força. Grande parte desses resultados
pode ser atribuída aos próprios estímulos visuais, no sentido de que muitas dessas
respostas representam extensões metafóricas ou nominativas dos tactos. O material é
pois, relevante no que toca às tendências do sujeito em ‘ver’ padrões de determinada
forma (Skinner, 1978; p. 319).

7.7 Clareza diagnóstica forneceida pela análise dos tactos

Esta análise tem olhos para: como e o que a pessoa irá tatear do fato, ou seja, o que ela
apresentará de tactos, em relação ao evento: interação de conteúdo sexual de um
adulto com uma criança. Por meio do relato, destaca-se as características, que
correspondem a indicadores específicos. Estes relatos são extraídos dos estímulos
suplementares (estímulo generalizado padronizados, testes) e dos estímulos
discriminativos presentes nas perguntas das Entrevistas Contingenciadas. Este é o
objeto comportamental a ser periciado.

318
O que precisa ser explicado é o episódio vocal em sua totalidade. Isto pode ser feito
arrolando os acontecimentos relevantes do comportamento, tanto do ouvinte como do
falante, em sua ordem temporal própria. Um tacto pode ser definido como um
operante verbal, no qual uma resposta de certa forma é evocada (ou pelo menos
reforçada) por um objeto particular ou um acontecimento ou propriedade de objeto
ou acontecimento (Skinner, 1904, 1978, pg. 108). Os estímulos suplementares, são es
tímulos que apresentamos a fonte de forças já existentes quando, por exemplo, é im
portante que alguém lembre o nome ou um fato, ou que alguém fale no momento
apropriado, ou “desabafe”. Não importa a razão pela qual o comportamento não é
suficientemente forte para ser emitido sem suplementação. O que pode ocorrer é que
a resposta pode ter sido condicionada pobremente, ou controlada por estímulos
usualmente fracos, ou relacionada com estados de privação ou de estimulação
aversiva moderados ou fracos, ou deslocada por outro comportamento, em resultado
de uma punição anterior, ou ainda confundida por outras variáveis correntes. Às
vezes o problema/solução consiste apenas em tornar vocal um comportamento que
antes era subvocal; mas frequentemente trata-se evocar um comportamento que de
outra forma não seria emitido, mesmo subvocalmente. Ou seja, não podemos
simplesmente mandar o comportamento requerido, ou porque não sabemos em que
ele consiste ou porque ele não seria eficaz se fosse referido inteiramente a tal variável
(Skinner, 1904, 1978, pg. 305).

Com vistas ao objeto comportamental, que é a configuração de todo o comportamento


verbal do indivíduo, nas complexas situações periciais, busca-se corroborar: a
composição do tato emitido correlacionado as respostas nos testes e Entrevistas
Contingenciadas, em referência ao estilo do fato investigado. Então, por meio das
características dos indicadores, quantifica-se e analisa-se os conteúdos corroborados
presentes no comportamento verbal do indivíduo e quais tatos têm uma alta ou baixa
relação ao fato periciado.

O que se espera prioritariamente é que, caso a interação sexual tenha ocorrido, os


envolvidos ao responderem ás perguntas e testes, tenham uma alta probabilidade de
se manterem na centralidade temática dos contextos de ICS – Interação de Conteúdo
Sexual. Pois, o que ocorre é: quando uma pessoa, passa por uma experiência
suficientemente forte, não há necessidade de se recorrer a memória, o fato está lá, ela
o viveu, sendo assim, o que se expressa é o comportamento dominante e não o
recessivo (Darwin, 1871).

Na perícia, o contrário também é analisado e quantificado, por meio do diagnóstico


das contingências verbais frente a cada estímulo, tal como os testes e perguntas das
Entrevistas Contingenciadas. Pois, faz parte do oposto do espectro de quem narra um
fato que ocorreu, alguém narrar algo que não ocorreu. Então, o indivíduo ao se engajar
no comportamento verbal e narrar algo que não aconteceu, revela também um
comportamento a ser identificado e que externa características muito particulares.

319
No caso da perícia psicológica em contexto de delegacia, a análise do que se fala e de
quem fala, assume a particularidade do objeto a ser periciado, pois não basta dizer
que algo ocorreu, o fato necessariamente precisa ter ocorrido.

Para esta análise, exige-se a precisão da clareza diagnóstica, seja para responder
adequadamente a questão-problema, seja para promover a responsabilização e a
intervenção terapêutica correta aos envolvidos. A alta efetividade terapêutica vai
depender em grande proporção, da clareza da conclusãocxxxvii da avaliação realizada
(Rossi, 2016), com dados suficientemente relevantes para apresentar o evento
questionado. Rossi (2016) relata que o Código de Processo Civil ao dispor sobre a
estruturação do laudo pericial, o artigo 473, Lei nº 13.105/2015,exige que o perito
judicial apresente: a) a exposição do objeto da perícia – trata-se de uma explanação
clara do perito sobre os elementos que integram o objeto da perícia, inclusive
destacando as principais questões a serem esclarecidas pelo trabalho pericial; b) a
análise técnica ou científica realizada – o perito deve relatar detalhadamente e através
de linguagem simples como desenvolveu o trabalho técnico ou científico, de modo a
permitir que o juiz, as partes e o Ministério Público compreendam todos os
fundamentos que o levaram a uma determinada conclusão; c) a indicação do método
utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos
especialistas da área do conhecimento da qual se originou – além de relatar a “análise
técnica ou científica realizada”, deve o perito indicar e esclarecer qual método utilizou
para alcançar suas conclusões, comprovando que tal metodologia é a
predominantemente aceita pelos especialistas dessa área do saber; d) respostas
conclusivas a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do
Ministério Público – no laudo o perito tem o dever de apresentar “respostas
conclusivas” a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo Ministério
Público (Rossi, 2016).

Rossi (2016) esclarece que o perito somente não deverá responder aos quesitos
impertinentes indeferidos pelo magistrado e não terá o dever de apresentar, no laudo,
respostas aos quesitos suplementares formulados pelas partes durante o trabalho
pericial, em que pode optar por respondê-los apenas na audiência de instrução e
julgamento (art. 469, CPC). Rossi (2016) destaca que o artigo 473, IV, do Código de
Processo Civil/2015 é expresso ao cobrar do perito respostas conclusivas, não se
admitindo que quesitos sejam respondidos sem a devida fundamentação, como
ocorre, por exemplo, quando o expert se limita a responder apenas “sim”, “não” ou
“prejudicado”. Em todas as etapas do laudo, inclusive ao responder quesitos, “o perito
deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples e com coerência lógica,
indicando como alcançou suas conclusões” (art. 473, §1º, CPC) (Rossi, 2016).

Rossi (2016) ainda esclarece que vários fatores podem acarretar a insuficiência do
trabalho pericial e respectivo laudo, como, a ausência de respostas a quesitos, a falta
de fundamentação, e o não esclarecimento das principais questões que envolvem o

320
objeto da perícia. Para que a perícia atinja sua finalidade de aparesentar aos autos do
processo todos os esclarecimentos necessários à compreensão da matéria, e assim
viabilizar a valoração de uma respectiva prova, todas as regras que disciplinam a
forma do ato devem ser escrupulosamente observadas, sob pena do trabalho pericial
e respectivo laudo serem considerados insuficientes e lacônicos, acarretando a
invalidade (Rossi, 2016).

Sendo assim, para primar pela clareza diagnóstica, é necessário publicizar de maneira
relevante o que está encoberto na fala, pois algumas comunicações de crimes, são
acompanhadas por componentes fatídicos, como:

a) Falsas denúncias - com a incitação de fatos que não ocorreram. Este termo será
utilizado conforme literatura, para explicitar a denúncia que é falsa, ou seja, o
comunicante tem o conhecimento de que aquilo que comunica, não ocorreu (Grace,
Lloyd e Smith, 1992).

b) Proteger fatos que ocorreram – com a camuflagem dos fatos que ocorreram;

c) Desvirtuar fatos – com a criação de fatos;

Destacamos que incitar, criar ou camuflar fatos, em especial no que tange a crianças e
adolescentes tem uma previsão e apenação legal, com base no Estatuto da Criança e
do Adolescente Lei Nº 8.069, De 13 De Julho De 1990 ao infringir os artigos:

“Título I

Das Disposições Preliminares

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais.

Título II

Dos Direitos Fundamentais

Capítulo II

Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

321
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas
leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

II - opinião e expressão;

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,


psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da
imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos
espaços e objetos pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente,


pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante,
vexatório ou constrangedor.

Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados


sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como
formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos
pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes
públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa
encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los.

Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:

II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em


relação à criança ou ao adolescente que:

a) humilhe; ou

b) ameace gravemente; ou

c) ridicularize.

Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os


agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa
encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou
protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante
como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto
estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes
medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso:

I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;

II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico;

III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação;

322
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado;

V - advertência.

Título III

Da Prevenção

Capítulo I

Disposições Gerais

Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos


direitos da criança e do adolescente.

Título IV

Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável

Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual


impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá
determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia
comum.

Título VII

Dos Crimes e Das Infrações Administrativas

Capítulo I

Dos Crimes

Seção II

Dos Crimes em Espécie

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou


vigilância a vexame ou a constrangimento:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo


explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação
de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual:

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.”

Frente a tais probabilidades, a clareza diagnóstica faz-se essencial, pois existem dados
significativos que apontam para uma ocorrência mais corriqueira do que se concebe,
quanto as ‘falsas denúncias’. Por exemplo, como apontam os dados dos autores, Grace,

323
Lloyd e Smith (1992), que pesquisaram 348 casos de estupro, nos departamentos de
polícia da Inglaterra e Gales, no Reino Unido, em que 8,3% foram constatados como
falsa denúncia. Ainda na Grã-Bretanha, Harris e Grace (1999) na análise de 483 casos,
encontraram a estatística para falsa denúncia, na proporção de 10,9%. Um dos maiores
estudos em departamentos policiais, ocorreu na polícia britânica e foi idealizado por
Kelly, Lovett, & Regan (2005), com 2.643 casos de agressão sexual, em que 8% eram
relatórios falsos. Heenan & Murray (2006) constataram que, de 812 denúncias
analisadas, 2,1% foram falsas.

Analisar tactos, no comportamento verbal, é trabalhar com a previsão de que pessoas


podem falsear fatos e ainda sustentá-los. Quando se identifica a probabilidade de
falsear fatos em contexto pericial, é dispensada atenção especial ao comportamento
verbal dos adultos envolvidos. Avaliar esta situação, requer utilizar o correspondente
entre verbal, para se averiguar, o quanto da fala do adulto, compõe o comportamento
vocal da criança. E para a análise por meio de indicadores, utilizamos, dentre outros,
os indicadores de sugestionabilidade e cedência, que possuem na sua base conceitual,
o tacto extrapolado.

Com base na probabilidade de ocorrência de que, em uma fala, informações podem


ser sonegadas e ou acrescentadas, especial atenção é dado ao tratamento do extended
tact - tacto extrapolado.

Segundo Matos (1991), trata-se de um tatear generalizado diante de estímulos


multidimensionais, onde o emitente pode responder ao todo como uma parte, ou a
uma parte como um todo. Então Matos (1991) afirma que: a metáfora, a símile, e a
sinédoque correspondem a esses casos, tais como: diante do contorno de um olho
dizer olho.

Matos (1991) informa que uma outra forma de tato extrapolado é aquele em que
combinam-se tatos isolados, como por exemplo, na expressão ‘máquina de escrever’.
Os procedimentos de aquisição de tatos extrapolados relacionam-se aos de aquisição
de conceitos e, portanto, aos de formação de classes de equivalência (abstração é um
tato controlado por uma propriedade específica presente em vários objetos ou
eventos, isto é, a uma propriedade ou dimensão do objeto enquanto isolada do objeto)
(Matos, 1991). Tatos são particularmente importantes porque representam uma
proeminente via de acesso a estados internos do emitente, explica Matos (1991):

“Quando eventos públicos atuais ocorrem, os quais estiveram associados a


eventos privados na história passada do emitente 1 ( a criança cai; no passado,
quando a comunicante caiu ela sentiu dor), este pode usar o mesmo tato
empregado na ocasião (nenê tem dodói), que passará, com sua repetição, a ser
empregado pelo emitente 2, quando nas mesmas situações (a criança cai,
“sinto dor”). Na mesma situação, o emitente 2 pode apresentar respostas
colaterais (colocar a mão sobre o joelho, mancar, etc.) que também

324
acompanharam eventos similares na história passada do emitente 1, e, neste
caso, a aquisição é mais precisa. Finalmente, se o emitente 1 já possui algum
repertório verbal, ele pode, através do processo de generalização, apresentar
tatos extrapolados (“que dor aguda”, “está queimando”)”.

Com isso, frente as duas possibilidades de ocorrência de relatos, em que: a) pessoas


descrevem fatos que ocorreram e; b) pessoas descrevem arranjos, semelhantes a fatos
que ocorreram, o diagnóstico pericial tem a obrigação de comparecer com a clareza
dos fatos.

Este diagnóstico é pautado na avaliação psicológica, que é um processo técnico


científico que promove o levantamento de informações e a coleta de dados a respeito
de uma pessoa em relação a um fato. A avaliação psicológica em contexto policial,
apresenta uma exemplar Entrevista Contingenciada Investigativa - ECI,
acompanhado de testagem que acompanhe o que se investiga.

Então, a avaliação psicológica forense é: “orientada para a produção de investigações


psicológicas e para a comunicação de seus resultados, assim como a realização de
avaliações e valorações psicológicas, para sua aplicação no contexto legal” (Ibañez e
Ávila, 1989).

8 Relatório analíticocxxxviii

O Relatório Analítico, caracteriza os dados identificados em cada caso criminoso que


se realiza a perícia psicológica, no caso deste trabalho, avalia-se dados referente ao
artigo 217-A do Código Penal Brasileiro, estupro de vulnerável. Assim, as análises dos
indicadores apontam características de ocorrência ou não do fato. Segundo Skinner
(1978):

“O que se leva em consideração aqui não é apenas que certas formas


específicas de comportamentos verbal são observadas, mas que elas são
observadas em circunstâncias específicas. Estas circunstâncias controladoras
(contexto pericial) acrescentam um caráter dinâmico ao ‘repertório’ que falta
ao ‘vocabulário’.”

Os indicadores se compõe de características destacados dos dados contidos nos


relatos:

a) constantes das declarações acostadas aos autos;

b) no contexto pericial;

c) destacados das testagens;

d) em relação ao papel da pessoa no inquérito;

325
e) correspondentes entre si;

f) correspondentes intra verbalmente.

No Relatório Analítico encontramos todas as características para se comunicar um


crime e como se dá a ocorrência deste. Esclarecemos que o evento: interação de
conteúdo sexual de um adulto com uma criança, é um fenômeno complexo que se
compõe de várias características dentro de cada etapa. Cada etapa é composta daquilo
que ocorreu e de sua consequência:

Etapa 1 – contexto em que ocorreu a interação investigada;

Etapa 2 – a interação em si;

Etapa 3 – pós-interação.

O Relatório Analítico, localiza onde ocorrerá a extração dos dados, tais como:

1. Dados do Inquérito Policial – os dados obtidos apontam para a


construção hipotética a respeito da ocorrência ou não do estupro de
vulnerável, por meio do:

a) Levantamento de dados para construção da hipótese;

b) Levantamento de documentos oficiais;

c) Apresentação de documentos extra-oficiais;

d) Datas dos documentos e suas relações;

e) Construção hipotética.

2. Unidade de análise – Operante Verbal – Tacto - A visão contextualística informa


que a classificação efetiva de um operante verbal deve observar as circunstâncias sob
as quais ele é emitido. O significado, ou a função da palavra, está nas circunstâncias
atuais que controlam a resposta e na história do falante de exposição a contingências
semelhantes. Um primeiro aspecto dessas circunstâncias são as situações antecedentes
ao comportamento verbal. Para entendê-las, considere os seguintes exemplos de
relações verbais elementares e as circunstâncias nas quais foram emitidas. Uma vez
observada a emissão do operante verbal - pergunte se as condições antecedentes são
do tipo operação estabelecedora (de privação ou estimulação aversiva) (Michael, 1988)
ou estímulo discriminativo. Desta forma, utiliza-se os seguintes indicadores:

a) Clareza diagnóstica;

b) Identificação da situação verbal;

326
b.1) Resultado do tacto quanto a identificação da situação verbal.

c) Esquiva frente as perguntas periciais;

d) Identificação de reivindicação e insatisfação verbal em situação pericial;

e) Manejo da informação;

f) Sugestionabilidade;

g) Análise geral para identificação genuína do comportamento verbal;

3. Análise do Relato quanto a Estrutura e Conteúdo – trata-se de avaliar as


características gerais do relato, quanto a característica de coerência comportamental
frente ao fato, que são relacionados a fatos de interação de conteúdo sexual. Neste
tópico, são indicadores que buscam no relato as unidades comportamentais, com
características específicas, principalmente em adequação a idade cronológica da
criança, bem como, em composição e correlativa ao seu nível de maturação cognitiva
e fase de desenvolvimento. Atender as características quanto a ocorrência do fato
neste tópico, aponta para uma alta coerência dos dados do relato em relação as
características de episódios de interação sexual e consequentemente de elevada
credibilidade.

a) Indicadores gerais do fato quanto a condição e conteúdo:

a.1) Peculiaridade quanto ao fato;

a.2) Estilo de comportamento privado do suspeito;

a.3) Ocorrência da Interação de Conteúdo Sexual;

a.4) Condições para a composição do fato;

a.5) Grooming;

a.6) Modus Operandi.

b) Indicadores gerais do relato quanto a estrutura:

b.1) Coesão do relato;

b.2) Consistência da estrutura do relato quanto ao conteúdo do fato;

b.3) Consistência quanto a estrutura do relato;

b.4) Estrutura do relato quanto a aceitaçãoo do próprio relato.

327
4. Análise de contexto por meio de temáticas de vulnerabilidade - será realizado a
análise temática que comparece nas: Entrevistas Contingenciadas, Teste Rorschach, o
Teste CAT ou TAT (quando forem implantados) e Hora Jogo Diagnóstica:

a) A Investigação Temática será realizada especialmente pelo Teste Rorschach, o Teste


CAT ou TAT, e Hora Jogo Diagnóstica;

b) Entrevistas Contingenciadas;

b.1) Aspectos discricionais bio-psico-sócio-afetivo – que comparecem nas


Entrevistas Contingenciadas corroborados ao conteúdo que comparecem nas
pranchas do Teste Rorschach (á época 2014-2017 autorizado com crianças a partir de
5 anos - SATEPSI), que neste caso será utilizado a análise padronizada de acordo com
Rorschach Clínico (2007) de Lucia Maria Sálvia Coelho:

i) Dinâmica interacional;

ii) Dinâmica relacional;

b.2) Indicadores que facilitam a ocorrência da interação:

i) No ambiente de desenvolvimento da criança;

ii) No ambiente vivenciado pela criança;

iii) No ambiente ansiógeno;

iv) Ambiente negligencial;

v) Ambiente crítico.

9 Resultado da Análise dos Indicadorescxxxix - RAI

O objetivo é apresentar o quanto se identificou a coerência e qualidade


comportamental verbal, correspondente ao comportamento não-verbal.
Principalmente em adequação a idade cronológica da criança, bem como, correlativa
ao seu nível de maturação cognitiva e fase de desenvolvimento. O Resultado da
Análise, é o que comparece no laudo, e é o fruto da análise e combinação dos
indicadores destacados do Relatório Analítico. Assim, comparecem ao documento
laudo os seguintes tópicos:

1. Características Gerais do Relato (Matsumoto et. al., 2011):

a) Peculiaridade quanto ao fato;

b) Estilo de comportamento privado do suspeito;

328
c) Ocorrência da Interação de Conteúdo Sexual;

d) Condições para a composição do fato;

e) Grooming;

f) Modus Operandi.

2. Coerência comportamental frente ao fato:

a) Estrutura lógica em relação ao fato periciado;

b) Descrição de interações;

c) Manutenção da centralidade temática em relação ao fato;

d) Elaboração não-linear, porém contextualizada em relação ao fato;

e) Esboço;

f) Adequação contextual;

g) Reprodução de conversação;

h) Força de uma única resposta frente ao estímulo suplementar;

i) Expressão gestual espontânea;

j) Linguagem correspondente e adequada.

3. Apropriação da experiência:

a) Conservação e origem da informação;

b) Sugestionabilidade;

c) Manejo da informação.

4. Precisão:

a) Coerência sintomatológica entre o relato do comportamento verbal e


não verbal;

b) Disponibilidade em comparecer aos encontros periciais;

c) Assiduidade;

d) Preservação e baixa exposição da criança;

329
e) Precisão quanto a descrição do relato;

f) Precisão quanto a estrutura do relato;

5. Consistência:

a) Detalhes suscitados quanto a pessoa, objeto e ação - pessoa, objeto (interação


sexual) e ação com detalhes do que ocorria ao redor (situação espacial); (3 categorias
de Juille e Cutshall, 1986);

b) Descrição e contextualização;

c) Destaque verbal do incidente;

d) Relatos que apresentam fraude;

e) Destaques gerados a partir das circunstâncias;

6. Conteúdo específico:

a) Detalhes inusitados;

b) Detalhes supérfluos;

c) Incompreensão de detalhes, porém relatados com precisão;

d) Alusão ao estado mental subjetivo da criança;

e) Alusão aos comportamentos do suspeito em relação a família e vítima;

f) Atitudes inusitadas;

g) Complicações inesperadas durante a interação;

h) Associações externas relacionadas;

i) Atribuições ao estado mental do suspeito;

7. Evidências:

a) Alta correlação intra e entre relatos;

b) Alta correlação entre os relatos das testemunhas;

c) Evidências médicas;

d) Desenhos, redação;

330
e) Estímulo generalizado;

8. Característica particular do relato:

a) Inclinação da ofensa;

b) Exclusividade da atração;

c) Conduta da ação;

d) Idade da criança;

e) Locus de controle do suspeito;

f) Grau de violência;

g) Exposição ao controle do suspeito;

h) Dinâmica da díade suspeito-criança;

i) A ausência de figuras parentais;

j) Grau de exposição;

k) Facilidade de acesso do suspeito á criança;

l) Grau de segredo e ameaça;

m) Admissão de falta de memória;

n) Apontar dúvida sobre seu próprio testemunho;

o) Auto desaprovação;

p) Perdão ao suspeito.

9. Campos de vulnerabilidade:

a) Vulnerabilidade quanto ao arranjo-familiar;

b) Vulnerabilidade quanto ao estilo parental;

c) Vulnerabilidade afetivo-materno;

d) Vulnerabilidade comunicacional;

e) Vulnerabilidade sócio-familiar;

f) Vulnerabilidade quanto a qualidade da coesão familiar;

331
g) Vulnerabilidade espaço-vivencial;

h) Vulnerabilidade quanto a saúde familiar;

i) Vulnerabilidade financeiro-familiar;

j) Vulnerabilidade comportamental;

k) Vulnerabilidade quanto ao vinculo com o suspeito;

l) Vulnerabilidade quanto a classificação quanto a escolha exclusiva para a ofensa do


suspeito;

m) Vulnerabilidade quanto a idade;

n) Vulnerabilidade territorial (Territorialidade);

o) Contexto Negligencial;

10. Composição do fato:

a) Detalhes característicos da ofensa;

b) Detalhes característicos a interação;

c) Característica protocolar para a ocorrência do evento;

d) Ameaça ou recompensa.

11. Grooming

a) Identificação e alvejamento;

b) Recrutamento;

c) Favoritismo;

d) Teste da resistência;

e) Manutenção;

12. Modus Operandi:

a) Posição de confiança;

b) Tipo de exclusividade da atração sexual;

c) Escolha da vítima;

332
d) Intersecção entre as atividades do suspeito e a rotina da vítima;

e) Estilo de aproximação;

f) Conduta da ação;

g) Escolha de campo de atuação;

h) Estratégia para levar a vítima para o local escolhido;

i) Etapas para chegar a ofensa (decision-making);

j) Escolha do momento do ataque;

k) Estratégia do tipo de interação;

l) Estratégia para liberar a vítima do local.

13. Quantidade de Interações:

a) Episódio único;

b) Episódio acidental;

c) Episódio recorrente ou crônico;

14. Ciclo da interação sexual:

a) Pré-interação;

b) Interação e ou envolvimento;

c) Pós- interação;

15. Proposição motivadora:

a) Revelação;

b) Veracidade;

c) Notícia-crime;

d) Tempo entre a revelação e a notícia-crime;

e) Repressão;

f) Restauração.

333
334
Método

Participantes
Os participantes desta pesquisa, são os integrantes dos inquéritos tipificados no
Código Penal Brasileiro, de acordo com o Artigo 213, estupro e estupro de vulnerável,
Artigo 217-A, na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia, em
que as díades suspeito-suposta vítima, se configuram adulto-criança.

O local de coleta de dados ocorreu na Delegacia de Proteção da Criança e do


Adolescente – DPCA de Goiânia, que atua no Sistema de Direitos de crianças e
adolescentes para uma vida saudável em sua família e em sua comunidade. A DPCA
de Goiânia, é o local em que a pesquisadora desempenha suas funções laborais como
psicóloga ad hoc, visto que, é funcionária no regime estatutário do quadro da polícia
civil do Estado de Goiás, como escrivã de polícia.

A DPCA atua na proteção e garantia de direitos de crianças e adolescentes e tem como


principal atividade a repressão aos crimes contra crianças e adolescente, bem como a
responsabilização dos violadores de direitos de crianças e adolescentes, na busca de
autoria e materialidade dos crimes ali comunicados.

A equipe da DPCA é composta somente por policiais civis, constituído por delegado,
agente de polícia e escrivão de polícia. As equipes são distribuídas por delegada titular
e adjunta. Cada delegada é responsável por um cartório e conta com uma equipe de
escrivão e agente de polícia. O departamento de psicologia é composto por duas
psicólogas, que fazem parte do quadro da polícia civil como escrivã de polícia e atuam
na DPCA, como psicólogas ad hoc, nomeadas pela delegada titular, ambas atuam nas
duas equipes.

Material
Ficha de identificação e autorização para perícia psicológica, Ficha de Estruturação do
caso, Ficha de autorização para uso de dados, Roteiros das Entrevistas
Contingenciadas Estruturadas, Relatório Analítico, Resultado da Análise dos
Indicadores, Teste Rorschach (1980), Folha de localização do Teste Rorschach,
canetinhas coloridas para a localização dos estímulos generalizados do Rorschach e
tablet com câmera de filmar.

Procedimento
A pesquisadora irá apresentar a instrumentalização pericial, originário desta tese, em
que se apresenta referencial teórico, instrumentos para coleta e análise de dados, bem
como o produto da instrumentalização: o laudo pericial. As perícias psicológicas que

335
tem em seu campo de atuação os Inquéritos Policiais, correspondem a fase pré
processual penal e foram realizadas no contexto da polícia judiciária.

No decorrer da avaliação psicológica, no momento da Entrevista Contingenciada,


ocorre o levantamento de informações por meio da técnica entrevista. Em posse destes
dados a pesquisadora realiza a análise dos relatos verbais das pessoas envolvidas, tais
como: comunicante, suposta vítima e suspeito.

Os relatos das pessoas envolvidas indiretamente, são analisados no próprio inquérito


policial, bem como, os documentos apresentados pelos envolvidos, outras pericias e
diligências que compõem o Inquérito Policial. As pessoas indiretas ao inquérito
policial, são pessoas citadas pela suposta vítima ou suspeito, tais como: pessoas a
quem foi revelado o fato investigado, psicólogos e outros profissionais que atendem
a criança e ou companheiras dos suspeitos, consideradas testemunhas.

No decorrer da perícia psicológica, caso surja algum fato ou pessoa relevante que não
conste no inquérito, a psicóloga informa ao presidente do inquérito (delegado) e este
solicita diligências se julgar necessário.

O critério de inclusão das vítimas para a realização pericial, é a seguinte:

a) crianças até 13 anos, 11meses e 29 dias, para a análise dos crimes de estupro de
vulnerável, Artigo 217-A do Código Penal e;

b) adolescentes de 14 anos a 17 anos, 11 meses e 29 dias para a análise dos crimes de


estupro, Artigo 213 do mesmo Código.

Para a realização da perícia psicológica, a psicóloga é nomeada como perito psicólogo


ad hoc, pelo delegado responsável do caso. Ao ser nomeado, recebe do escrivão o
documento ‘Requerimento’, para que o psicólogo tome conhecimento de sua
nomeação e entre em contato com a família para informar a respeito desta etapa
pericial.

Após a finalização de todas as oitivas, o psicólogo tem em mãos o inquérito policial, e


por meio deste, o psicológo realiza a estruturação do caso, em que se desenha a melhor
estratégia pericial, bem como o estudo das peculiaridades de cada caso. Após este
estudo e estratégia pericial delineada, marca-se a primeira sessão com a comunicante.

O psicólogo entra em contato com a família para se apresentar como perito psicológico
do caso e para o primeiro contato com os integrantes do fato. Este contato tem o intuito
de buscar as seguintes informações: quantos componentes da família coabitam no
mesmo espaço, quem coabitam no mesmo espaço, a idade das pessoas que coabitam
juntas, o grau de parentesco entre elas, a idade da vítima e do suspeito e quem realizou
a denúncia. A idade da vítima tem atenção especial da pesquisadora, para que esta
possa destacar qual etapa do desenvolvimento a criança se encontra e quais as

336
características generalizadas esperadas para esta idade. O primeiro contato é realizado
geralmente por telefone e torna-se importante para que o perito possa propor uma
pré-agenda aos envolvidos.

Para esta pesquisa a ordem de escuta pericial se inicia primordialmente pela


cuidadora da criança, a segunda escuta será com a suposta vítima a e a última escuta
com o suspeito. Caso a cuidadora não seja a comunicante, a comunicante será ouvida
posterior a cuidadora. Será uma média de 5 sessões com a cuidadora, 2 sessões com a
suposta vítima e 3 sessões com o suspeito.

Cada sessão com adulto tem aproximadamente uma hora e meia; com crianças até 6
anos, 45 minutos; com crianças de 7 a 9 anos, uma hora de duração e crianças acima
de nove anos, no máximo 1 hora e meia.

O tempo de duração da perícia, em que se realiza as sessões com os principais


envolvidos é de aproximadamente 3 mês entre o contato inicial e a finalização das
sessões. A confecção do laudo pericial, faz parte da última etapa em que já se realizou
as sessões periciais e análise dos dados. A entrega do laudo pericial para a autoridade
requisitante, segue a ordem de chegada das solicitações ao departamento. E nem
sempre as solicitações que chegam primeiro, terminam primeiro, visto que, temos um
limitador que dificulta muito o andamento pericial, que são as faltas dos periciados.
Ou seja, ocorre a falta e não ocorre a remarcação por parte do periciado. A
reconfirmação de agenda demanda muito tempo do perito, pois há uma elevada
quantidade de alteração de número de telefones e na maioria dos casos é necessário
fazer a intimação via agente de polícia, o que requer uma agenda a longo prazo para
a entrega da intimação e vinda do intimado, aproximadamente um mês adiante na
agenda.

Memorial descritivo, o caminho percorrido na teoria e na prática

O início

A trajetória a seguir só foi possível em virtude da pesquisadora desenvolver o ‘Diário


de Campo ’desde o início de sua prática como psicóloga clínica no CEPAJ, pois se
tratava de um campo completamente novo e tal prática ia de encontro com o rigoroso
molde dos campos extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, na
época, 2006, ainda UCG GO – Universidade Católica de Goiás. Ou seja, uma unidade
acadêmica, com profissionais de campo, que se relacionam com professores
acadêmicos e estagiários.

[...] O diário de campo consiste em um instrumento capaz de possibilitar o


exercício acadêmico na busca da identidade profissional à medida que através
de aproximações sucessivas e críticas, pode-se realizar uma reflexão da ação
profissional cotidiana, revendo seus limites e desafios. É um documento que

337
apresenta um caráter descritivo – analítico, investigativo e de sínteses cada
vez mais provisórias e reflexivas. O diário consiste em uma fonte inesgotável
de construção e reconstrução do conhecimento profissional e do agir de
registros quantitativos e qualitativos [...]. (Lewgoy, Arruda, 2004, p123-124)

[...] O diário de campo consiste no registro completo e preciso das observações


dos fatos concretos, acontecimentos, relações verificadas, experiências
pessoais do profissional/investigador, suas reflexões e comentários. O diário
de campo facilita criar o hábito de observar, descrever e refletir com atenção
os acontecimentos do dia de trabalho, por essa condição ele é considerado um
dos principais instrumentos científicos de observação e registro e ainda, uma
importante fonte de informação para uma equipe de trabalho. Os fatos devem
ser registrados no diário o quanto antes após o observado para garantir a
fidedignidade do que se observa [...] (Falkembach, 1987).

Ainda enquanto estudante de psicologia da Universidade Católica de Goiás UCG-GO,


realizou estágio de conclusão do curso de psicologia, no Programa Aprender a Pensar,
programa de extensão da PUC GO, na temática da superdotação com crianças, no
período de 1996 a 1997. De 1998 a 2006, atuou como psicóloga-pesquisadora no
Aprender a Pensar e entre 2002 e 2004 realizou mestrado, na PUC GO, com o Dr.
Dwain Santee, em psicologia evolucionista, com a dissertação: “A relação entre: Su
perdotado, Inteligência Maquiavélica e Consciência Moral”.

No ano de 2006 a pesquisadora iniciou suas atividades como psicóloga clínica com
crianças vítimas de violência sexual no Centro de Estudos Pesquisa e Extensão Aldeia
Juvenil - CEPAJ/PUC GO, um renomado programa de extensão da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, que atuou nesta temática até o ano de 2014.

A ideia ‘Projeto Aldeia Juvenil’, surgiu ainda em 1981 com uma pesquisa-laboratório,
dentro da disciplina de Psicologia do Desenvolvimento III, no Departamento de
Psicologia, sob a orientação do Prof. Dr. Rodolfo Petrelli, que investigava o
comportamento da juventude de Goiânia, com relação a drogadição. Desde sua
fundação, em 17 de maio de 1983, o CEPAJ desenvolve metodologias de atendimento
psicossocial (individual e grupal) para crianças, adolescentes e famílias em situação
de vulnerabilidade social e ações sócio-educativas, com vistas à prevenção da
violência contra crianças e adolescentes, por meio de palestras, articulação junto aos
movimentos sociais/populares, bem como intervenção nas escolas e instituições da
região e atendimento psico-sócio-educativo.

A pesquisadora iniciou suas atividades no campo da pesquisa da temática ‘violência


sexual infanto-juvenil’, quando atuou em uma pesquisa da FAPEG em 2008, em que a
pesquisadora participou e trabalhou com o ‘Modelo de Triangulação de Método ’(Mi
nayo, 2005), como método para avaliação de dados, coordenada pela Prof. Dra. Sônia
Margarida, da PUC GO. Esta pesquisa foi inscrita no Fundo de Amparo a Pesquisa do
Estado de Goiás - FAPEG, com o título:‘ Investigação sobre o processo de atendimento

338
psicossocial à crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual’. O estudo tinha como
objetivos e justificativas, identificar, sistematizar e analisar o processo de atendimento
psicossocial realizado pelas equipes de atendimento do CEPAJ, NECASA/UFG – Nú
cleo de Estudos e Coordenação de Ações para a Saúde do Adolescente – Universidade
Federal de Goiás e CAPSi – Centro de Atenção Psicossocial Infantil Água Viva, às
vítimas de abuso sexual e seus familiares. Tratava-se de uma pesquisa qualitativa com
base na teoria sócio-histórica, em que os métodos qualitativos foram amplamente
utilizados.

A idéia de estruturação pericial, iniciou-se com um grande questionamento da


pesquisadora, quando aprofundou na temática de ‘Crianças Vítimas de Violência Se
xual’, entre 2008 e 2013 no Centro de Estudo Pesquisa e Extensão Aldeia Juvenil –
CEPAJ/ PUC GOIÁS. Momento em que participava da pesquisa supracitada e atendia
as crianças que passariam por uma avaliação psicológica, e ou atendimento
terapêutico pela equipe multiprofissional no Centro. Desta forma, a pesquisadora
passou a atuar em uma das atividades específicas do CEPAJ, como psicóloga
pesquisadora, na realização do ‘psicodiagnóstico forense ’nos casos de crianças víti
mas de violência sexual.

As solicitações para o acompanhamento destas crianças, advinham do: Ministério


Público, Juizado da Infância e pelos Juízes das Varas Criminais de todo o Estado de
Goiás. Assim, estas instituições oficiavam judicialmente o CEPAJ para que os
psicólogos do Centro, nomeados enquanto peritos não-oficiais, realizassem a
avaliação psicológica, com vistas a responder quesitos e dentre estes quesitos, um que
se destacava: ‘A criança sofreu violência sexual?’.

No caso do CEPAJ, que tinha como princípio, não atender somente a criança e sim a
família, realizava a avaliação psicológica, com enfoque na dinâmica relacional, junto
ao núcleo familiar da criança encaminhada. As solicitações das avaliações tinham uma
situação semelhante, a de que, não existia uma comprovação diagnosticada pelo
exame de corpo de delito realizado pelo Instituto Médico Legal e as díades envolvidas
eram pai-filha (o). Estes casos chegavam ao CEPAJ, já transcorridos de 2 há 3 anos da
data do fato.

A avaliação psicológica com crianças vítimas de violência sexual no CEPAJ, partia do


princípio terapêutico de atendimento psico-sócio-familiar, que tinha como base, o
artigo 227 da Constituição, que todo direito da criança e do adolescente deve ser
considerado "dever da família, da sociedade e do Estado". A família, sendo
considerada o primeiro círculo de proteção da descendência da criança era um dos
princípios terapêuticos fundamentais do CEPAJ. Para atender este princípio, a família
era o núcleo central do atendimento, e apontar políticas públicas com foco nesta
proposta, era um dos objetivos extensionista do CEPAJ. Este possuía uma estrutura
altamente complexa pela quantidade de profissionais especializados envolvidos e

339
com um custo elevadíssimo pela mesma razão. Assim, a atividade de avaliação
psicológica no CEPAJ, envolvia multiprofissionais e múltiplas atividades de
atendimento.

No CEPAJ realizava-se uma média de 16 sessões, em que integrantes familiares eram


atendidos: individualmente, em dupla e no grupo familiar e para além das 16 sessões,
ainda as atividades que a criança e sua família participavam. Ressalta-se que a sessão
com o foco na ocorrência ou não da violência sexual era realizada individualmente.

O livro de Walter Trinca, ‘Diagnóstico Psicológico: prática clínica e colaboradores’, era


uma referência base para a pesquisadora, que naquele momento teórico, mesmo após
mestrado em psicologia evolucionista, necessitava de um conceito teórico clínico a
respeito da temática ‘psicodiagnóstico infantil’. Visto que a pesquisadora advinha da
área escolar, com pesquisa em superdotação infantil.

Teoricamente, a avaliação psicológica se faz, com a escolha das estratégias e dos


instrumentos empregados de acordo com o referencial teórico, o objetivo e a
finalidade, conforme informa Ocampo et.a al. (2005), Arzeno (2003) e Trinca (1984a),
tal como cita (Tsu, 1984):

“Fazer um psicodiagnóstico infantil é uma tarefa altamente complexa que


demanda o delineamento de um modelo específico de trabalho que difere do
psicodiagnóstico de adultos e dos processos psicoterapêutico e psicanalítico.”

Araújo (2007) revela que a prática da avaliação psicológica têm sido objetos de
inúmeros estudos (Jacquemin, 1995; Custódio, 1995; Andriola, 1996; gomes, 2000;
Alves; Alchiere; Marques, 2001, 2002; Alchiere; Bandeira, 2002; Noronha et al. 2003;
Affonso, 2005), e que mesmo sob perspectivas distintas, estes autores apresentam a
mesma preocupação:

a) a qualidade da formação em avaliação psicológica;

b) o conteúdo das disciplinas;

c) o uso e a validação dos testes psicológicos;

d) a integração ensino-aprendizagem e;

e) aplicação do complexo teórico-metodológico à prática profissional.

Araújo (2007) completa que o incomodo em relação a formação em avaliação


psicológica recebeu crescentes críticas dirigidas aos testes psicológicos, entre elas, a
falta de respaldo científico e o mau uso e elaboração de laudos psicológicos, com
jargões psicológicos sem fundamentação teórica (Patto, 1998).

340
Mudanças no contexto nacional da psicologia brasileira, que impactavam na prática da

pesquisadora

Affonso (2005; in Araujo, 2007) comenta que, após a Resolução CFP nº 02/2003, do
Conselho Federal de Psicologia, que define e regulamenta o uso, a elaboração e a
comercialização de testes psicológicos, docentes e profissionais tiveram que rever suas
estratégias de diagnóstico e avaliação psicológica.

Houve uma redução de oferta acadêmica das disciplinas de testes psicológicos e


técnicas projetivas e, também, alteraram o seu conteúdo para dar maior ênfase às téc
nicas de entrevistas e a outras áreas como a Psicologia Hospitalar e a Psicologia
Jurídica.

Conforme se apresenta na ‘Cartilha sobre Avaliação Psicológica ’do Conselho Federal


de Psicologia de junho de 2007, a área de avaliação psicológica no Brasil passava por
momentos decisivos, com desgastes e avanços de novo contexto, novas regras e novas
exigências, tal como demonstra as resoluções abaixo:

“Lei nº 4.119/62

Agosto/1962

Dispõe sobre os cursos de formação em Psicologia e regulamenta a profissão


de psicólogo.

Resolução CFP n° 011/2000

Dezembro/2000

Resolução CFP n° 012/2000

Dezembro/2000

Institui o Manual para Avaliação Psicológica de

candidatos à Carteira Nacional de Habilitação e condutores

de veículos automotores.

Resolução CFP nº 018/2000 (revogada pela Resolução

CFP nº 003/2007)

Dezembro de 2000

Institui a Consolidação das Resoluções do Conselho

341
de Federal de Psicologia.

Resolução CFP n° 025/2001 (revogada pela Resolução

CFP n° 002/2003)

Novembro/2001

Define teste psicológico como método de avaliação

privativo do psicólogo e regulamenta sua elaboração,

comercialização e uso.

Resolução CFP n° 30/2001 (revogada pela Resolu

ção CFP n° 017/2002)

Dezembro/2001

Institui o Manual de Elaboração de Documentos, produzidos

pelo psicólogo, decorrentes de avaliações psicológicas.

Resolução CFP n° 001/2002

Abril/2002

Regulamenta a avaliação psicológica em concurso

público e processos seletivos da mesma natureza.

Resolução CFP n° 016/2002

Dezembro/2002

Dispõe acerca do trabalho do psicólogo na avalia

ção psicológica de candidatos à Carteira Nacional de

Habilitação e condutores de veículos automotores.

342
Resolução CFP n° 017/2002 (revogada pela Resolução

CFP n° 007/2003)

Dezembro/2002

Institui o Manual de Elaboração de Documentos,

produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliações

psicológicas.

Resolução CFP n° 002/2003

Março/2003

Define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização

de testes psicológicos e revoga a Resolução CFP n° 025/2001.

Resolução CFP n° 007/2003

Junho/2003

Institui o Manual de Elaboração de Documentos

Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de

avaliação psicológica, e revoga a Resolução CFP nº

17/2002.

Resolução CFP nº 03/2007

Fevereiro de 2007

Institui a Consolidação das Resoluções do Conselho

Federal de Psicologia. (Cartilha sobre Avaliação Psicológica, 2007).”

Como se apresenta acima, no Brasil, a sistematização do desenvolvimento das práticas


de diagnóstico e avaliação psicológica passavam por profundas revisões, atualizações

343
e expansão. As demandas de intervenção e atuação da psicologia, especialmente no
âmbito clínico, como apontam Féres-Carneiro e Lo Bianco (2005), resultou também
numa enorme expansão de abordagens teóricas – psicanalíticas, fenomenológico
existenciais, cognitivas, comportamentais, sistêmicas e corporais. Com vistas para o
desenvolvimento de novas modalidades de intervenção – grupal, familiar,
comunitária; e na atuação em outros settings – instituições públicas e privadas,
hospitais, unidades de saúde (Araujo, 2007).

Tal movimentação atingia o “fazer” do psicólogo e com o CEPAJ e seus profissionais


não foi diferente. No período de 2008 a 2010 o Centro passava por uma revisão teórico
metodológica, que exigiu atualização interna e respostas as demandas externas, bem
como a chegada de novos profissionais como a fonoaudiologia em 2010,
supervisionado pela Prof. Ms. Tânia Ribas e os neuropsicólogos em 2011, coordenado
pela Prof. Dra. Sandra Barbosa.

A inovação das resoluções do Conselho Federal de Psicologia, consolidadas somente


em 2007, trouxe para o psicólogo uma atuação altamente regulamentada e ao mesmo
tempo libertária em relação aos modelos binários, psicométricos ou de
psicodiagnósticos, que a avaliação psicológica brasileira estava inserida até 2007.

Mader (1996), informa que no século XIX, ocorreu o desenvolvimento e expansão da


Psicometria: "avaliação quantitativa dos traços e atributos psicológicos de um
indivíduo" (J.Sattler,1992). No campo da Psicometria, os ingleses preocupavam-se
com a análise estatística, os franceses com a experimentação clínica, os
alecomunicantes enfocaram mais os estudos das psicopatologias e funções cognitivas
mais complexas (Mader,1996). Já os americanos procuraram implementar as idéias de
Binet, com escalas e métodos estatísticos para trabalhar com os dados obtidos. Os
objetivos variavam, desde os estudos sobre hereditariedade do britânico Francis
Galton, das diferenças individuais do americano Willian Cattell e do nível intelectual
do francês Alfred Binet (Mader,1996).

Anastasi (1937) informa, que:

“Durante a segunda metade do século XIX, psicólogos começaram a se


aventurar para longe de suas poltronas e entraram no laboratório. A maior
parte dos testes experimentais psicológicos eram de fisiologistas cujos
experimentos tinham um tom psicológico. Como um resultado, tanto os
pontos de vista, como os métodos de fisiologia foram freqüentemente
direcionados para a ciência infantil da psicologia. Em 1879, Wilhelm Wundt
estabeleceu o primeiro laboratório de psicologia experimental em Leipzig.
Experimentos de natureza psicológica foram anteriormente trabalhados por
Weber, Fechner, Helmholtz e outros, mas o laboratório de Wundt foi o
primeiro a ser exclusivamente para a psicologia e oferecer facilidades para
estudantes nos métodos da nova ciência. Estudantes de muitas partes do

344
mundo foram atraídos para a Wundt's Laboratory e, após retornarem,
fundavam laboratórios em seus próprios países (Anastasi, 1937).”

O modelo psicométrico na psicologia manteve a preocupação de avaliar com


objetividade e neutralidade. Antes mesmo do Laboratório de Wundt, em 1879, o inglês
Francis Galton em 1869, por influência dos estudos de seu primo Darwin, escreveu
Hereditary Genius, em que trabalhava, por meio da história familiar, os graus de
semelhança entre parentes, no que tangia a herança de talentos específicos em vários
campos de trabalho (Anastasi, 1937).

A partir deste feito, em 1882, Galton inventou inúmeros testes e medidas em seu
famoso Laboratório Antropométrico em Londres, estes testes tentavam medir
principalmente a discriminação sensitiva e capacidades motoras do indivíduo
(Sheeffer, 1968). Posteriormente, em 1890, com o norte-americano James McKeen
Cattell, aluno de Wundt, nasce o termo ‘teste mental’, no artigo intitulado ‘Medições e
testes mentais ’(Sheeffer, 1968). Edward L. Thorndike, participante do movimento
eugênico americano (Tucker, 1994), havia lido ‘The Fight for our National Intelligence ’
(1937) e ficou tão impressionado que ofereceu a Cattell um cargo na Columbia Univer
sity Teachers College (Allen, 2010).

Em 1891, Binet começou a trabalhar no Laboratório de Psicologia Experimental da


Sorbonne e foi nomeado diretor em 1894, ano em que co-fundou L'Annee Psychologique,
uma importante revista de psicologia (White, 2000). Ao dirigir o Laboratório,
Theodore Simon se candidatou ao doutoramento sob a supervisão de Binet. Em 1904,
a La Société Libre pour l'Étude Psychologique de l'Enfant, foi convidado pelo governo
francês, com a tarefa de nomear uma comissão sobre a educação de crianças, para
identificar os alunos que necessitavam de educação alternativa. E a partir deste grupo,
Binet, realizou estudos para o desenvolvimento de sua escala mental (White, 2000).

Willian Stern foi influenciado pelo trabalho de Binet nos seus estudos de inteligência
em crianças. Como resultado, Stern revisou os principais achados no campo e
desenvolveu a idéia de expressar os resultados do teste de inteligência na forma de
um único número, o Quociente de Inteligência – QI (Bartol & Bartol, 2005).

Aqui é válido lembrar que, conforme informa Bartol & Bartol (2005) a primeira
pesquisa em psicologia forense que explorou a psicologia do testemunho, foi realizada
por James McKeen Cattell, que conduziu esses estudos em 1893 na Universidade de
Columbia. E em 1901, William Stern colaborou com um criminologista em uma
experiência que demonstrou o nível de imprecisão em relatos de testemunhas oculares
(Bartol & Bartol, 2005). Com isso em 1903, Stern, na Alemanha, estabeleceu um
periódico dedicado à psicologia da Testemunho Betrage zur Psychollogie der Aussage
(Bartol & Bartol, 2005). Lembramos ainda que somente em 2001, a APA - American Psy
chological Association reconheceu a psicologia forense como uma especialidade (Bartol
& Bartol, 2005).

345
Posterior a esta fase, o primeiro teste de personalidade, foi criado em 1917, quando foi
necessário recrutar americanos para a 1ª Guerra Mundial, em que Robert Woodworth,
tinha o objetivo de identificar aspectos como: moral, ansiedades e medos (Formiga &
Melo, 2000). Em 1920, Allport e Allport adotaram uma abordagem multidimensional
para avaliar a personalidade.

Câmara (2007) destaca que a psiquiatria moderna surgiu com um salto qualitativo, se
distanciando da psicometria, marcada pela introdução definitiva do método clínico
por Emil Kraepelin (1856-1926). Kraepelin inaugurou o método clínico na psiquiatria,
descartando a abordagem então baseada no sintoma e nas especulações morais. Ele
seguiu a orientação proposta pelos fundadores da psicopatologia, Karl Kahlbaum
(1828-1899) e Ewald Hecker (1843-1909), e a partir daí fez observações longitudinais
e quantitativas (Noll, 2004a e 2004b). E assim, transformou a psiquiatria em uma
especialidade médica. Conforme Eysenck et al. (1972), Kraepelin fundou além da psi
quiatria científica moderna, a psicofarmacologia e a genética psiquiátrica (Câmara,
2007).

Pereira (2000) informa que Kraepelin – psiquiatra alemão, privilegiou o curso e


resultado da doença e defendia que as doenças psiquiátricas são principalmente
causadas por desordens genéticas e biológicas e Bleuler - psiquiatra suíço, privilegiou
os sintomas. Aqui destacamos que Francis Galton (1879/80) foi o primeiro a construir
uma lista de palavras de associação, posterior aos experimentos de Ebbinghaus e
Wundt (Merten, 1992).

Kraepelin que trabalhou como assistente de Wundt, interessou em usar métodos psi
cométricos, e introduziu os testes na psiquiatria. As obras dele e do seu aluno
Aschaffenburg (1896) prepararam o caminho para os Diagnostische Assoziationsstudien
- Estudos Diagnósticos de Associação, de Carl Gustav Jung (1906, 1910) - o criador da
Psicologia Analítica, estudos estes em que Bleuler (1906) também participou.

Estes estudos de associação de palavras e ou idéias, influenciaram posteriormente


Skinner, em 1936, com seu Verbal Summator é um aparato para a repetição de amostras
arbitrárias de fala (vogais) obtido pela permutação e combinação de certos elementos
fala-sons.

Em 1902, Jung era assistente-chefe em Burghölzli, onde se encontrava a clínica psi


quiátrica da Universidade de Zurique, em que Eugen Bleuler era diretor (Jung, 2011).
Jung era o principal assistente de Bleuler, e era o líder do movimento de aproximação
da psiquiatria à psicanálise. Bleuer ao ler ‘A interpretação dos sonhos ’de Freud e com
base em alguns princípios lá expostos, desenvolveu alguns testes de associação de
idéias, de modo a demonstrar experimentalmente a existência de elementos
recalcados, organizados sob a forma de “complexos afetivos” (Pereira, 2000), sendo
que a “teoria dos complexos” foi formulada por Jung (Jung, 2011). O propósito de

346
Bleuer era ir além das constelações sintomatológicas regulares estabelecidas por
Kraepelin, e sim apresentar o fundamento psicopatológico daquela afecção, que teria
sua unidade apesar das diferentes formas de apresentação. A particularidade do
método de Bleuer consistia na aplicação dos testes de associação desenvolvidos por
Jung, em pacientes com diagnóstico de demência precoce, de modo a evidenciar os
elementos primários da base psicopatológica daquelas psicoses (Pereira, 2000). O
resultado foi uma verdadeira revolução na doutrina kraepeliniana, que findou em
superá-la até no aspecto terminológico. Kraepelin também era criticado por ter
deixado completamente de lado a análise psicológica na constituição da categoria de
demência precoce, o que na França, desde Esquirol, fazia parte integrante de qualquer
abordagem dos fenômenos psicóticos (Pereira, 2000).

Outro psiquiatra influente foi Hermann Rorschach, em seu livro Psychodiagnostik, tí


tulo original da obra publicada pela primeira vez em 1921, apresentou um método
que utiliza manchas de tinta, para entender, por meio da análise da percepção, a
organização subjacente dos indivíduos (Freitas, 2005). A propósito, em 1935, Henry
Murray e Christiana Morgan publicaram o Teste de Apercepção Temática (TAT)
(Formiga & Melo, 2000), que se caracteriza por cenas padronizadas apresentadas aos
indivíduos que, a partir delas, devem contar histórias sobre o que veem nas imagens.
Assim, por meio das histórias são reveladas as características desse indivíduo (Freitas,
2005). Aqui, destacamos que tanto o Teste TAT, quanto o Psicodiagnóstico Rorschach
é citado por Skinner em Verbal Behavior (1957, p. 319, 320). O TAT, é destacado por
Skinner (1957), como: “O simples fato de serem temáticos, sugere que virão a exercer
um controle relativamente poderoso”. E o Psicodiagnóstico Rorschach, Skinner (1957)
afirma: “O termo visualizar sugere uma noção relacionada de arranjo da estimulação
visual para si mesmo” e completa: “Uma pessoa pode envolver-se num
comportamento verbal ‘consigo mesma ’porque o falante pode ser seu próprio
ouvinte”.

Conforme Cunha (2003) tudo indica que a tradição médica, associada à psicologia
clínica, teria efeitos marcantes na formação da identidade profissional do psicólogo
clínico atual e afirma que o termo Psicodiagnóstico, foi utilizado pela primeira vez por
Hermann Rorschach quando em 1921 publicou seu teste de manchas de tinta, por
meio do livro de mesmo nome Psychodiagnostik.

Assim, Poelman (2012) informa sob esta passagem de um modelo puramente


psicométrico para o psicodiagnóstico, sendo o modelo psicométrico o de aferir e medir
traços das características humanas, segundo o qual as diferenças individuais são de
natureza quantitativa e podem, portanto, ser objeto de medição. Tal modelo enfatiza
a aplicação e avaliação por meio de testes psicológicos, com a finalidade de subsidiar
e oferecer mais solidez à apreciação clínica, seja do próprio psicólogo ou de outro
profissional. Poelman (2012) destaca que partir das contribuições da psicanálise e das
teorias humanistas em psicologia, foram surgindo outros modelos, como:

347
psicanalítico, médico e o compreensivo. Com mais especificidade, esses modelos se
distinguem em duas categorias: os que fazem a abordagem do cliente pela via da
explicação - tendência objetiva, com ênfase nos eventos do passado, visão
determinista, e que busca identificar causas do comportamento e os que fazem a
abordagem pela via da compreensão, numa tendência mais existencial, com ênfase na
vivência atual do cliente, que busca identificar o sentido e o significado da experiência
vivida.

Poelman (2012), retrata a diferenciação pouco clara entre avaliação psicológica e


psicodiagnóstico, talvez por não haver diferenciações significativas e explica que,
psicodiagnóstico constitui uma das formas que adota a avaliação psicológica. Então
quando a avaliação se realiza no contexto da clínica, recebe o nome de
psicodiagnóstico (Cunha, 2003) e em outros contextos avaliativos, como os
institucionais, nomeia-se de avaliação psicológica. O processo de psicodiagnóstico
segue, de modo geral, as orientações de Cunha (2003):

“Psicodiagnóstico é uma avaliação psicológica, feita com propósitos clínicos


e, portanto, não abrange todos os modelos de avaliação psicológica de
diferenças individuais. É um processo que visa a identificar forças e fraquezas
no funcionamento psicológico, com um foco na existência ou não de
psicopatologia. Isso não significa que a classificação psiquiátrica seja um
objetivo precípuo do psicodiagnóstico, mas sim que, para medir forças e
fraquezas no funcionamento psicológico, devem ser considerados como
parâmetros os limites da variabilidade normal (Yager & Gitlin, 1999). É esta
abordagem que confere a perspectiva clínica a esse tipo de avaliação de
diferenças individuais”.

Cunha (2003) adverte que o psicodiagnóstico derivou da psicologia clínica,


introduzida por Lighter Witmer, em 1896, porém criticado por Bleuler por abandonar
os aspectos psicológicos na psiquiatria (Pereira, 2002). Ainda assim McReynolds
(1987) explana:

“Witmer é conhecido por suas grandes contribuições para o campo da


Psicologia Clínica e pela aplicação do conhecimento da Psicologia para ajudar
outras pessoas – especialmente crianças. Ele fundou o primeiro laboratório de
Psicologia Clínica dos Estados Unidos, na Universidade da Pensilvânia, e foi
o primeiro profissional a usar o termo “psicologia clínica”. Ele auxiliou muitas
crianças a superar o que ele chamava de “defeitos” em seu laboratório
(McReynolds, 1987)”.

Se a contribuição da psicometria foi e é essencialmente importante para garantir a


cientificidade dos instrumentos do psicólogo, torna-se importante, conforme salienta
Groth-Marnat (1999), estabelecer a diferença que existe entre o psicometrista e o

348
psicólogo clínico. O primeiro tende a valorizar os aspectos técnicos da testagem,
enquanto, no psicodiagnóstico, há a utilização de testes e de outras estratégias, para
avaliar um sujeito de forma sistemática, científica, orientada para a resolução de
problemas (Cunha, 2003).

Para se diferenciar da psicometria, outras práticas de diagnóstico que se identificavam


com a Psicanálise e a Fenomenologia, se constituíram dentro do chamado modelo
psicológico de avaliação, que deram origem ao Psicodiagnóstico e a outros
procedimentos de avaliação, como as entrevistas diagnósticas, e técnicas de
investigação da personalidade com ou sem o uso de testes, por meio de protocolos e
inventários (Araujo, 2007).

O psicodiagnóstico inaugurou uma nova visão da avaliação psicológica, diferente da


realizada pelos “testólogos” da Psicometria. Ao adotar uma perspectiva clínica, mais
identificada com a teoria psicanalítica ou fenomenológica, o psicodiagnóstico
distanciou-se da precisão pela neutralidade e a objetividade e passou a enfatizar a
importância da subjetividade e dos aspectos transferenciais e contra-transferenciais
presentes na relação (Araujo, 2007). E assim, o uso dos testes passou a ser
complementado com outros procedimentos clínicos, com o objetivo de integrar os
dados levantados nos testes á história clínica, com o objetivo de ampliar a
compreensão global da personalidade.

No Brasil, o modelo de psicodiagnóstico, desenvolvido por Ocampo et al. (2005) e


Arzeno (2003), tem norteado o trabalho de grande parte dos profissionais da área.
Além dele, os modelos: compreensivo (Trinca, 1984a, 1984b) e fenomenológico
(Ancona-Lopez, 1995; Cupertino, 1995; Yehia, 1995) também são bastante utilizados.
O psicodiagnóstico proposto por Cunha (2000) é outra referência, não incluída no
recorte aqui feito, mas igualmente importante no contexto brasileiro (Araújo, 2007).

A pesquisadora como perita do juiz, a partir do ano de 2008

Este era o cenário de transição, que a pesquisadora estava inserida ao iniciar sua
atuação no CEPAJ, pois esta advinha de uma grade curricular psicométrica da
academia da década de 90 e da prática como psicóloga com as crianças superdotadas
do ano de 2000. De 2002 a 2004, com mestrado em psicologia evolucionista com área
de atuação na psicologia do desenvolvimento, já sua formação na esfera
fenomenológica e humanística se deu pelo exercício da docência na PUC GO.

Assim no CEPAJ, a partir de 2006 desenvolve a práxis da Psicologia Clínica, conforme


Barbieri (2010) informa, que:

“O diagnóstico é um passo anterior à psicoterapia, tendo como objetivo


investigar os recursos e dificuldades do indivíduo e indicar a intervenção
apropriada. Embora tenha pontos de contato com a psicoterapia (e.g.,

349
identificação dos conflitos nodais da personalidade, consideração de uma
complexa interação dinâmica de variáveis) apresenta marcada diferença com
ela, uma vez que intervenções terapêuticas não fazem parte do seu processo.
Nesse sentido, a sessão destinada à devolução dos resultados tem um intuito
principalmente informativo, embora nela possam sobrevir, de maneira
involuntária, efeitos terapêuticos. Essas ocorrências levaram profissionais e
pesquisadores a se interessarem pelos mecanismos terapêuticos presentes na
avaliação psicológica, surgindo investigações sobre sua potencialização e
viabilidade de atualização. Nasceu assim o Psicodiagnóstico Interventivo (ou
Avaliação Terapêutica), cuja principal característica é a realização de
intervenções (assinalamentos, interpretações, holding) durante as entrevistas
e aplicações de técnicas projetivas”.

No período anterior a 2008, o trabalho de perícia psicológica era realizado pelo


professor Dr. Rodolfo Petrelli, sendo que este deixou seu legado na justiça goiana e
fez do CEPAJ, uma referência nesta área intitulada ‘psicodiagnóstico forense’. É
considerado pioneiro no Brasil, na apresentação do Teste Rorschach como um
instrumento psicodiagnóstico, no diagnóstico com finalidade jurídica. E no período
de 2008, quando a pesquisadora assume esta atividade no CEPAJ, também o faz sob
as complexas mudanças supracitadas e com a entrada em um campo totalmente novo
para a mesma.

Para além da solicitação do ‘psicodiagnóstico forense’, o Centro também recebia


solicitações de atendimento de crianças violentadas sexualmente, que eram
encaminhadas por juízes para serem atendidas psicoterapeuticamente. Ao findar dos
atendimentos clínicos era encaminhado um relatório do atendimento psicológico ao
juiz, e neste relatório deveria conter a evolução terapêutica da criança e
especificamente da criança na família.

O‘psicodiagnóstico forense ’no CEPAJ, iniciava-se pela genitora em função do Centro


apresentar a esta as atividades terapêuticas e possibilidades de encaminhamentos e
acompanhamento sócio-comunitário que o CEPAJ oferecia as famílias que se
encontravam em situação de vulnerabilidade. Os casos já chegavam com um relatório
psicológico, mas que, para o juiz era insuficiente para embasar sua decisão em relação
a ocorrência ou não do fato.

O que ocorria na experiência da psicóloga-pesquisadora, era que, o desenvolvimento


da metodologia intitulada ‘psicodiagnóstico forense’, se fazia por meio de uma
avaliação psicológica cuidadosa, com a realização da anamnese clínica, aplicação do
Teste Projetivo Rorschach, Teste HTP (House, Tree, Person), visitas domiciliares,
visitas a profissionais que atenderam a criança, entrevista com vizinhos e familiares e
não ocorria o estudo documental do processo judicial. A realização da anmnese era
realizada com a comunicante da criança, sendo esta a comunicante ou não, bem como
a aplicação do Teste Rorschach. O conteúdo informativo levantado junto a

350
comunicante da criança era de característica clínica em que se levantava informações
também junto aos vários contextos da criança, especialmente escola e familiares. Aqui
destacamos a idéia de Tsu (1984), de que as entrevistas não assumem a característica
pura de levantar informações, mas sim do psicólogo ter no contexto relacional com o
cliente, o uso da situação relacional com finalidade de captação de fenômenos
psíquicos, sendo que esta relação se atualiza no decorrer do encontro. Tsu (1984)
completa que tal situação só é possível em virtude do setting terapêutico, possuir o
enquadramento, que trata a questão contratual com o cliente, por meio de cláusulas
com horário, local, duração e papéis. Assim trabalhar nesta “zona intermediária” entre
o privado e o público, que significa mobilizar o psiquismo do entrevistado em mais
de um nível. Tal feito só é possível quando se fixa o enquadramento, e assim, todo e
qualquer movimento relacional pode ser observado, o que não seria possível em um
universo que fosse, ele mesmo, inteiramente móvel (Tsu, 1984), tal como se configura
nas relações do dia-a-dia.

Junto a criança era realizado também sessões terapêuticas, com características clínicas
e intervenções de cunho terapêutico, por dois motivos: a) por ser característica do
CEPAJ atendimento terapêutico multiprofissional e b) por necessidade do psicólogo
quando este atuava com a finalidade de ‘psicodiagnóstico forense’. Então, o que se
tinha no Centro eram finalidades diferentes com metodologias semelhantes, porém
diante do grande arcabouço de profissionais e das múltiplas atividades que a criança
era exposta, os resultados eram positivos. Contudo, diante da excelência do Centro, a
estrutura proposta era inviável de ser aplicada pelo poder público, visto que possuía
um custo elevadíssimo diante da expertise dos multiprofissionais envolvidos na tarefa
do ‘psicodiagnóstico clínico forense’, bem como da quantidade de profissionais
necessária para um relatório psicológico final, nomeado como ‘laudo psicológico’.

Então no contexto do CEPAJ, em que a criança passava por atendimento


multiprofissional, com: assistente social, pedagoga, fonoaudióloga e neuropsicóloga,
o psicólogo-perito, tinha uma gama de informações técnicas de outros profissionais.
Assim, junto ao relatório técnico destes atendimentos, realizava-se a avaliação
psicológica, com entrevistas clínicas, testagem, visitas domiciliares e escolares e
atendimento psicoterapêutico com a criança. Para isso, o perito após
aproximadamente 8 meses, realizava o relatório psicológico para a justiça, em que
apresentava como a criança evoluiu psico-socio-emocionalmente e como evoluiu a
dinâmica familiar.

Os resultados eram sempre muito positivos, pois se tratava de equipe altamente


especializada, constituída de mestres e doutores, e o Centro em si, tinha um
reconhecimento nacional de excelência no atendimento relativo ao público infanto
juvenil em situação de vulnerabilidade, seja ela qual for.

351
Existe um campo minado para o psicólogo na avaliação psicológica forense, em
especial quando as perícias são desfavoráveis em relação a comunicação de crime que
a comunicante, insite em resultados favoráveis a sua pessoa, e não à criança. São
comunicantes que tentam impor sobre a perícia um resultado desejado e atuam de
maneira a macular não só o psicólogo, como também o resultado do seu trabalho: o
laudo psicológico (Furniss, 1993). São comunicantes, que se aparelham de advogados
e assistentes técnicos psicólogos que menoscabam o psicólogo perito, não somente nos
autos, mas também junto ao Conselho Regional de Psicologia, e na ação penal, com a
abertura de processos administrativos.

Assim, conforme Amendola (2009), complexiza:

“Se à comunicante, naturalmente, predisposta a cuidar da criança, cabe a


verdade em relação à denúncia de abuso sexual, logo, ao pai, que nega a
autoria deste abuso, resta a mentira... Tal lógica remete à ancoragem
sociohistórica em que a comunicante é vista, com base nos dispositivos
higiênicos fundadores da família nuclear moderna e na tradição cultural do
instinto materno – produto do discurso psicanalítico em ascensão nos séculos
XIX e XX – como a responsável pelo desenvolvimento e proteção dos filhos,
enquanto o pai é visto como figura que exerce autoridade, estabelecendo uma
relação periférica e intermitente com os mesmos. A partir da difusão desses
preceitos, a mulher ganhou autonomia para exercer seu papel de comunicante
e guardiã sem ser questionada, perpassando a idéia de mulher auto-suficiente
nos cuidados com os filhos, portanto, incapaz de prejudicar os mesmos.”

Este questionamento, acrescido a leitura do artigo “A falsa denúncia de abuso sexual”


da advogada Mônica Guazzelli de 2007, levou a pesquisadora a não descartar a
hipótese de que comunicantes poderiam realizar falsas comunicações, com o extremo
cuidado de não se expressar como uma Backlasher ou como uma Witch Hunter.

Um olhar para as falsas comunicações

A atenção a esta temática foi redobrada pela pesquisadora, quando se debate a


possibilidade de comunicantes promoverem falsas denúncias, conforme explica
Guazzelli (2007), a presença de abuso sexual infantil intrafamiliar, não pode ser
deslocado para as falsas denúncias, e nem fazer uma “caça às bruxas” aos abusadores.
Em conformidade com o destaque de Berlinerblau (2004), a respeito do Backlashcxl
(Faludi, 1991) em que relata que, na Argentina, a divulgação de uma “epidemia” de
falsas denúncias também é vista como uma reação contrária à investigação do assunto.
Guazzelli (2007) destaca que Berlinerblau (2004), trabalha o fenômeno Backlash, como
uma “poderosa reação adversa frente a um movimento social-político”. Segundo
Virginia Berlinerblau (2004), médica especialista em psiquiatria infantil e medicina
legal, ao lado do principal problema da presença de abuso sexual intrafamiliar e da
defesa das crianças abusadas, surge este problema secundário, que é a constatação das

352
falsas denúncias, e, por conta disto, esta temática não pode ser direcionada para o foco
principal (Berlinerblau, 2004). Guazzelli (2007) esclarece, que quando a violência
ocorre com as crianças, pode ser por meio do abuso sexual infantil, da negligência,
dos maus-tratos e da violência psicológica, como a ‘falsa denúncia’.

Berlinerblau (2004) enfatiza que além de tirar o foco do problema mais importante, a
reação Backlash traria ainda o malefício de irradiar uma descrença às denúncias
verdadeiras. Assim, o Backlash na área das denúncias de abuso sexual teria como
consequência:

"Invalidar as denúncias, converter em suspeitos infundados todo denunciante


de maus tratos, diluir as fronteiras que separam as vítimas de seus algozes,
confundir a questão, incorporando-os aos poucos casos de violência contra
meninos exercidas por mulheres. Em suma, tentamos reverter o senso de
comportamento abusivo, atribuindo-o a quem queixa ou protege, em que se
fortalece a violência vigente e condena a perpetuidade da violência a cada
criança que está sofrendo. Uma vez também, que se pretende levar a
impotência aos profissionais que se colocam isolados com a pesada carga de
sustentar a proteção a vítimas, com baixo ou inadequado apoio institucional"
(Berlinerblau, 2004).

Virginia Berlinerblau (2004), destaca ser inadequado a palavra “falsa”, e explica que,
a denúncia também pode ser equivocada, mas não seria necessariamente, o resultado
de uma intenção maliciosa do genitor guardião: “Ainda que o termo ‘falso ’pode
definir enganoso e mentiroso, no contexto legal, falso ou fictício, significa errôneo e
pode haver muitas razões para isso” (Berlinerblau, 2004).

Conte (1994) destaca que o desenvolvimento histórico da conscientização sobre o


abuso sexual infantil e a contra-reação que esta sensibilização muitas vezes ocorreu,
desencadeou posições extremadas, e que muitas vezes ocorre por falta de dados e
quase que total rejeição aos conhecimentos novos a respeito do tema. E solicita a todos
os profissionais que atuam na área do abuso sexual infantil, que promovam ações com
base em investigação sólida e direcionado a elevar a qualidade de vida das crianças.

A exemplo, Conte (1994) destaca o trabalho pioneiro na temática, de Auguste


Ambroise Tardieu (1818 – 1879), médico e cientista forense, que desde 1857, ‘Estudo
médico-legal sobre os atentados aos costumes ’- Étude médico-légale sur les attentats aux
moerus, e em 1860, com ‘Estudo médico legal sobre os maustratos e sevícias exercidos
sobre as crianças ’- Étude médico-légale sur les sévices et mauvais traitements exercés sur
les enfants, em que descreveu mortes de crianças relacionadas a "atos de crueldade e
maus-tratos, dos quais as crianças são vítimas de seus pais, seus mestres de escola e
de todos os que exercem sobre essas crianças algum grau de autoridade. Porém, o
maior sucesso de circulação entre todos eles coube a Étude Médico légale sur les attentats
aux moerus, reeditado em 1995, por Jerôme Millon, simplesmente como Les Attentats

353
aux moerus, que já fora assim recebido por Moussaieff Masson, que destaca em 1984
(Greeley, 2012):

“Nesse livro, e nas suas seis edições posteriores (a última em 1878), Tardieu
chamou atenção para a freqüência dos atentados ao pudor contra crianças,
especialmente meninas pequenas. Nesse livro, e nas suas seis edições
posteriores (a última em 1878), Tardieu chamou atenção para a freqüência dos
atentados ao pudor contra crianças, especialmente meninas pequenas. As
estatísticas que fornece são assustadoras: na página 62 da última edição,
Tardieu dá os números relativos a 1858-1869 na França. Ao todo, houve 11.576
casos de pessoas acusadas de estupro ou tentativa durante esse tempo.
Dessas, 9.125 foram acusadas de estupro ou tentativa de estupro de crianças.
Tardieu assinala que quase todas as vítimas eram meninas. Por crianças ele
entende as com menos de dezesseis anos de idade, embora, na grande maioria
dos casos que ele descreve, as vítimas tenham entre quatro e doze anos de
idade. O livro, na verdade, é sobre abuso sexual de crianças.” (Masson: 1984:
24)

Greeley (2012) informa, que o pediatra John Caffey (1895 – 1978) reintroduziu o estudo
de abuso infantil, porém mais voltado para o abuso físico, em 1946, com o artigo
intitulado: Multiple fractures in the long bones of infants suffering from chronic subdural
hematoma, quando ele descreveu 6 crianças com hematomas subdurais em que ele
identificou fraturas ósseas longas de uma "obscura" origem traumática. Fredrick
Silverman, um assessor de Caffey, trabalhou juntamente com C. Henry Kempe et al.
em 1962 (Kempe CH, Silverman FN, Steele BF, Droegemueller W e Silver HK, 1962)
para o quadro "A Síndrome da Criança Maltratada". Eles propuseram um crescente
de resultados desde o trivial ao fatal e observaram que essas lesões foram
historicamente "trauma não reconhecido", mas eram na realidade de "grave abuso
físico” (Greeley, 2012).

Greeley (2012) informa, que preocupação de Tardieu com a situação de crianças


maltratadas, e a reação que seus esforços geraram, replica um ciclo histórico de
reconhecimento e supressão do abuso sexual infantil. Este parece estar a funcionar
novamente hoje, à medida que mais e mais críticos duvidam sobre as alegações de
abuso sexual infantil e atacam o sistema que responde a ele, este pode ser considerado
o Blacklash atual (Conte, 1994). Apesar de Tardieu ser renomado e respeitado, e
dedicar uma parte significativa da sua carreira a tentar alertar médicos e a sociedade
para a realidade de vítimas infantis, não possuia apoio da comunidade médica (Gree
ley, 2012).

No início do século XIX, a medicina legal francesa e europeia ainda não dispunha de
conhecimentos experimentais suficientes para decidir-se com segurança a respeito de
ruptura do hímen ou do ‘defloramento’, em perícias de atentados ao pudor contra
meninas de tenra idade e com um número importante de médicos que questionavam

354
a existência de tal membrana (Greeley, 2012). Desta forma o diagnóstico médico legal
de ruptura de hímen, era impreciso e duvidoso. Dentre os clássicos, Tardieu destaca
Vigné, que descreveu em seu clássico, De la medicine légale, de 1805, “convenhamos
que nada seja mais incerto que os sinais de virgindade (Tardieu, 1995). Tal exposição,
apresenta a confusão do tema moral, com medicina, a confundir ‘virgindade’,
condição moral ou psicológica, com hímen e defloramento, ocorrências anatômicas
plenamente verificáveis nas perícias médicas (Greeley, 2012). O que ocorria, era a
constatação de outros indícios físicos, em que se deixava à margem as alterações da
membrana hímen (Greeley, 2012).

Conte (1994) informa que somente em 1987, The American Professional Society on the
Abuse of Children, foi fundada como a primeira sociedade profissional interdisciplinar
na américa focada exclusivamente no abuso infantil e no ano de 1992, Journal of Child
Sexual Abuse o primeiro periódico exclusivo na temática. A publicação de cinco livros
significativos de 1978 a 1984, tiveram um impacto positivo por estimular o interesse
profissional de documentar a prevalência do abuso sexual infantil e seus efeitos, que
promoveram uma explosão na pesquisa e bolsas de estudo nas áreas da saúde, saúde
mental e profissionais jurídicos, sendo estes:

a) Butler, S. (1978). Conspiracy of silence: The trauma of incest. San Francisco: New Glide
Publications.

b) Burgess, A.W., Groth, A.N., Holmstrom, L.L., and Sgroi, S.M. (1978). Sexual assault
of children and adolescents. Lexington, MA: D.C. Heath.

c) Finkelhor, D. (1979). Sexually victimized children. New York: Free Press.

d) Rush, F. (1980). The best kept secret: Sexual abuse of children. Englewood Cliffs, NJ:
Prentice-Hall.

e) Russell, D.E.H. (1984). Sexual exploitation: Rape, child sexual abuse, sexual harassment.
Beverly Hills, CA: Sage.

Porém em 1994, Myers publica The backlash: child protection under fire e define a
existência de uma corrente como "o coro crescente de críticas dirigidas contra
profissionais que trabalham para proteger as crianças" e acrescenta que, o fenômeno
de Backlash mais comum, são as declarações societais e de críticos, que
categoricamente afirmam que crianças não podem relatar com precisão suas
experiências, mesmo diante de evidências que, quando entrevistadas
apropriadamente podem fornecer depoimentos bastante precisos (Myers, 1994).
Segundo Conte (1994) situação similar ocorre quando profissionais sugerem que
adultos em terapia podem ser facilmente manipulados, em suas experiências infantis,
o que é considerado ilegítimo. Meyers (1994) destaca que o fenômeno Backlash
caracteriza-se por posicionamentos fundados em falta de dados e quase que total

355
rejeição a estudos e pesquisas de apoio. Myers (1994) afirma que no geral, o Backlash
consiste em posições extremadas, alimentadas por: fortes emoções generalizadas,
sobre crianças, sexo e vitimização; blindagem social sobre o assunto abuso sexual
infantil e as falhas do sistema de proteção a criança, em que aproximadamente
cinquenta por cento do Backlash é uma ‘ferida auto-infligida’, desenvolvida pelos
próprios profissionais que atuam no sistema de proteção a criança.

A reação exagerada ocorre, ao incluírem, a exemplo, ‘que crianças nunca mentem’,


bem como, a incapacidade destes profissionais de aprenderem com a crítica e a
tendência de deixar a defesa a criança a frente do conhecimento e como um padrão
utilizarem pobres técnicas de entrevistas em detrimento ao lema de “salvar” crianças,
a exemplo, diferentemente, na década de 1970, houve uma moção popular de que, um
grande número de crianças fantasiava o contato sexual com adultos (Conte, 1994).

Conte (1994) destaca que a crítica deve ser encorajada e acompanhada do continuo
melhoramento de profissionais a respeito do abuso sexual infantil. No campo
profissional do abuso sexual infantil, tanto o conhecimento da pesquisa acumulada
quanto a sabedoria adquirida com a experiência clínica mudaram dramaticamente na
última década, em relação ao que já foi aceito como verdadeiro. Acreditava-se no
passado que "comportamentos" eram "provas" da ocorrência do abuso sexual, como
por exemplo, pesadelos, medos e comportamentos infantilizados para a idade.
Atualmente "comportamentos como prova" não se encaixa no diagnóstico de abuso
sexual infantil (Conte, 1994).

A temática, crianças vítimas, ainda é uma questão altamente emocional, em que,


tópicos complexos polarizam-se em campos controversos. Desta forma, encontra-se
extremos que afirmam, “que vítimas não mentem”, em que defensores deste
paradigma, entendem que qualquer protesto e opinião contrária trata-se de uma
poderosa ‘reação ’liderada por adeptos e ou molestadores de crianças (Lanning, 1996).
Assim especificamente na temática abuso sexual infantil, a Witch Hunt - 'caça às bruxas'
caracteriza-se pela tendência de exagerar o abuso sexual infantil, enfatizar crenças a
respeito de crianças, e criticar o sistema de justiça criminal por necessitar investigar
ou por absolvições. Com base nesta tendência, quando o abuso sexual de crianças é
alegado em alguma esfera, eles assumem que isso aconteceu e tentam prová-lo. O
Backlash ‘ –folga’, já é cracterizado pela tendência de minimizar o abuso sexual infantil,
enfatizar as alegações falsas, e criticar o sistema de justiça criminal por agredir os
investigados ou por condenações. Por sua vez, quando o abuso sexual de crianças é
alegado, estes partidários assumem que não aconteceu e tentam refutá-lo. Lanning
(1996) destaca que, ao descrever as características de: Witch hunt e Backlash, cada
extremo é apresentado como uma caricatura de si mesmo e acrescenta que, para fugir
dos opostos, o profissionalismo, consiste na melhor intervenção.

356
Lanning (1996) destaca que apesar de serem opiniões profundamente opostas, a Witch
hunt e Backlash são muito semelhantes e compartilham das mesmas características, tais
como:

“1) Etiquetagem cruzada - cada lado marca e define a natureza e as


características do outro e nenhum dos lados, entretanto, utilizam esse rótulo
para se identificar. Ninguém na Witch hunt, acredita que ele ou ela estão
participando de uma caça às bruxas, e ninguém na Backlash acreditam que
participam de uma 'reação a". O que ocorre é que cada lado nega
veementemente e ambos os lados são rápidos em usar os rótulos depreciativos
da 'caça às bruxas' ou da 'reação a' para se referir ao outro lado, mas
ressentem-se do uso desses termos contra eles. O mais importante, é que cada
lado tem grande prazer em depreciar e criticar o outro.

2) Polarização - cada lado tende a tomar uma abordagem de tudo ou nada


para questões complexas. Ou se está com eles ou contra eles. O diálogo com o
outro lado, considerado inimigo, constitui culpa por associação e traição.
Cada lado difunde material escrito e reúne indivíduos de crenças
semelhantes. Quando alguém do outro lado é convidado a participar, é
principalmente como um sinal de ser ridicularizado por suas visões
"absurdas". Ambos os lados atacam qualquer um que parece tomar uma
posição no meio.

3) Ataque o mensageiro - cada lado focaliza seus ataques e críticas sobre a


pessoa, mais do que sobre a substância da mensagem. É fácil reivindicar (e
difícil para a grupos para provar o contrário) que a exemplo, a Witch hunt é
composta de fanáticos com agendas pessoais, antifamília com um plano do
governo mundial ou que a reação é composta de pedófilos tentando esconder
sua atividade. Uma maneira de atacar e denegrir o mensageiro, é
simplesmente rotulá-lo ou como parte da 'caça às bruxas' ou no grupo
backlash.

4) Apelo à emoção - cada lado depende fortemente da emoção crua e


freqüentemente traz vítimas, adultos sobreviventes adultos e pais falsamente
acusados para descrever em detalhes tragédias pessoais. No debate público
entre emoção e razão, a emoção quase sempre ganha, independentemente da
inteligência e da educação. E apesar do bom senso, pelo contrário, os adultos
tendem a acreditar no que querem ou, naquilo que precisam acreditar. Por
isso, quanto maior a necessidade, maior a tendência. Até por que, muitas
questões, não são mais emocionais do que a vitimização sexual de crianças.

5) Distorção dos fatos - cada lado convenientemente deixa de definir sua


terminologia, ou inconsistentemente utiliza termos que define. A exemplo,
quando números são necessários, uma criança, se encaixa a qualquer idade
sob 18 anos. E quando o impacto é necessário, uma criança, se encaixa sob
menor de 12 anos de idade. Ambos os lados freqüentemente citam
informações fora do contexto e seletivamente citam apenas a parte de um

357
artigo que o representa. Eles não conseguem verificar informações mais
aprofundadas e não resistem ao utilizarem de rumores, mitos e lenda. Assim,
apesar de suas conhecidas imprecisões, artigos de jornal e tablóide de
televisão ou programas de revistas de notícias são freqüentemente usados
como fontes primárias de informação. Raramente, qualquer dos lados buscar
uma pesquisa completa, fundamentada e original. Eles generalizam de alguns
casos para todos os casos e por sua vez, o incomum e atípico parece então,
comuns e típicos. Estas distorções são agora rápidas e amplamente difundidas
para crentes ansiosos por fax, e-mail, a Internet e outros serviços de
computador on-line.

6) Teorias da conspiração - ambos os lados parecem precisar acreditar que o


outro lado é parte de uma organização nacional ou internacional, bem
disciplinada, com uma organização que implementa cuidadosamente um
plano-mestre e estratégico. Qualquer reunião ou contato de três ou mais
pessoas com opiniões semelhantes são vistas como prova dessa conspiração.
Eles acreditam que seu lado simplesmente se encontra, treina, e dissemina
informações, enquanto o outro lado conspira, fazem lavagem cerebral e
dissemina informação. Para alguns, esta conspiração incorpora a noção de que
eles são alvos especiais de perseguição pelo outro lado. Eles acham difícil
entender que cada lado, e cada grupo, no seu núcleo, sofre da mesma
desorganização, divergências e desentendimentos. Pois é difícil provar o
negativo, é essencialmente impossível refutar estas teorias. E apenas quando
se é acusado de fazer parte de uma conspiração que sabemos que, não existe
como provar que os acusadores estão errados. No entanto, podemos prová-lo
apenas para nós mesmos.

7) Reivindicação de conhecimento especial - aqueles de cada lado de alguma


forma sabem com absoluta certeza os fatos de qualquer caso. Eles sabem
coisas que a investigação, a acusação e os tribunais não podem determinar
com certeza. Eles sabem infalivelmente quem é culpado e quem é inocente.
Eles estão certos disso apesar do fato de que a maioria do que eles "sabem"
veio de 'falas comuns', rumores ou contos da mídia.

8) Uso seletivo do Sistema de Justiça Criminal - cada lado decide quando uma
investigação, condenação ou absolvição tem significado. Usam e citam
decisões judiciais somente quando se adequa a seus propósitos, comumente
citam decisões judiciais como prova de sua posição apenas se alguém que eles
acreditam que é culpado é condenado. Se alguém que eles acreditam ser
inocente, for condenado, então a decisão judicial é irrelevante, ignorada ou
atacada. Se a condenação for revogada em apelação, a decisão judicial é
novamente elogiada e citada. Eles também decidem por si mesmos quais
ordens judiciais devem ser obedecidas e quais crianças devem ser escondidas
no "underground" por sofrerem violação das ordens judiciais.

9) Manipulação de e pelos meios - ambos os lados tentam agressivamente


influenciar a mídia. Eles irão cooperar com qualquer nível da mídia se eles

358
acreditam que suas opiniões serão exibidas e apoiadas. Em seu zelo de
manipular a mídia, eles esquecem que a mídia muitas vezes os manipula. Os
meios de comunicação freqüentemente flutuam entre a Witch hunt ou as
histórias de Backlash, dependendo de como o vento está soprando.
Atualmente, histórias de Backlash parecem ter a vantagem. Mas isso também
vai mudar. Muitas das mídias também parecem gravitar em direção
emocional em vez de respostas profissionais ao cobrir essas questões.

10) Auto-engano - ambos os lados acreditam que não fazem nada acima do
outro lado e estes fazem tudo. "Nós" somos objetivos e certos, "Eles" são
tortuosos e errados. Ambos os lados acusam ao outro de fazerem estas trocas,
mas estão indignados caso alguém os acuse da mesma forma. Eles citam
exemplos de exagero e preconceito do outro lado, mas ignoram e negam que
façam o mesmo. Se um ataque pessoal injusto e distorcido pela mídia é
apoiado e repetido ou condenado e protestado é determinado exclusivamente
por quem está sendo atacado. Sem perceber, ambos os lados acreditam,
ouvem e vêem o que eles querem acreditar, ouvir e ver. (Lanning, 1996)

Lanning (1996) afirma que, por sua vez o grupo considerado ‘profissionais ’deve
superar os extremos e fugirem da necessidade de influenciar opiniões, com o exagero
ou deturpação de um problema, pois os fatos documentados por si só, são
suficientemente ruins e não precisam de ornamentação. Os profissionais devem definir
claramente os seus termos e consistentemente utilizá-los, para isso devem utilizar-se
de definições operacionais para terminologias como por exemplo, 'abuso sexual' e
citar pesquisas aprofundadas. Em que se prese como objetivo, a credibilidade, pois a
perda desta, com o uso da informação enganosa ou extremista, é devastadora, afinal
nenhum pesquisador sério, quer ser ouvido para brilhar, a realidade já se revela. Não
se pode precisamente dizer o que ‘ éprofissionalismo’, contudo, a maioria concorda
com algumas características que se aproximam de integridade e do que seria
‘profissionalismo’, tais como:

“1) Lidar com questões, não com personalidades - profissionais entendem que
os indivíduos que discordar deles não são necessariamente maus.
Reconhecem e admitem o mérito e as opiniões divergentes dos outros. Como
as opiniões não são únicas, os profissionais minimizam o foco nos indivíduos
e maximizam a discussão de questões. A exemplo, o uso dos termos Witch
Hunt e Backlash é depreciativo e deve ser reduzido ao mínimo. Os profissionais
entendem que os extremistas ficam presos às suas distorções e exageros, e sua
credibilidade está em cheque, sendo esta uma boa razão de não seguir sua
liderança.

2) Avaliar agendas ocultas - podemos examinar um problema complexo,


como a vitimização de crianças por três grandes perspectivas: pessoal, política
e profissional. A perspectiva pessoal engloba o emocional: como os problemas
afetam nossas necessidades individuais, a perspectiva política abrange a
prática: como as questões afetam a nosso status e poder e a perspectiva

359
profissional, racional e objetiva: como as questões afetam as crianças abusadas
e o que deve ser feito. Muitas vezes, essas perspectivas se sobrepõem ou são
aplicadas em combinação. As perspectivas pessoais e políticas tendem a
dominar questões emocionais como abuso sexual, são uma realidade e nunca
desaparecerão e de fato, muitas coisas positivas podem e foram alcançadas
através delas. No entanto, é minha opinião que as crianças abusadas
necessitam de mais pessoas que abordem as suas necessidades sob seus
pontos de vista e menos sob as perspectivas pessoais e políticas.Isto levanta a
complexa e difícil questão de saber se indivíduos com fortes agendas pessoais
podem até ser profissionais. Enquanto muitos podem ir além de suas próprias
vitimizações, necessidades individuais ou práticas, outros podem estar se
iludindo e alegar ter feito isso.

3) Esforce-se para a objetividade - objetividade é mais crítica para


profissionais da lei. Mas ainda assim, os profissionais precisam manter uma
mente aberta e tentar controlar as emoções. A idealização das crianças,
comum nas conferências de abuso infantil, estimula o emocionalismo. Os
filhos não são anjos inocentes do céu, são seres humanos com necessidades
humanas e falhas e profissionais lidando com abuso de crianças não são os
anjos da guarda dos filhos da América. Estes são dedicados, trabalhando
indivíduos e tentando fazer um trabalho importante. Este desejo de idealizar
crianças leva à questão de saber se os investigadores e os procuradores que se
identificam como "defensores de crianças" ou como buscadores de fatos
objetivos. Desta forma, como profissionais, não podemos assumir que alguém
é culpado apenas porque uma alegação é feita. Não podemos assumir que
alguém é inocente apenas porque ele ou ela é um "pilar da comunidade "ou
porque a pessoa que faz a alegação é uma criança pequena ou um adolescente
disfuncional. Os profissionais da justiça criminal devem identificar ou
desenvolver critérios justos e avaliar a exactidão das alegações de abuso
sexual, para a apresentação de acusações contra o acusado. Qualquer
explicação alternativa precisa ser considerada e explorada e não acreditar
cegamente em tudo, apesar as vezes de falta de evidência lógica, não
simplesmente ignorar o que parece impossível e improvável e nem aceitar o
que parece totalmente possível, este é o comportamento profissional. Nem
mesmo evitar casos por serem complexos, difíceis ou "bizarros" também não
é aceitável.

4) Considere o meio termo - as questões mais complexas têm espaço para


opinião. Realidade é muitas vezes algum lugar entre os dois extremos. A
maioria das pessoas concorda que, só porque um detalhe na história de uma
vítima acaba por ser preciso não significa que cada detalhe é preciso. Mas
muitas pessoas parecem acreditar que se você pode refutar uma parte da
alegação da vítima, então toda a alegação é falsa. Há um meio termo, um
continuum de atividade possível. Algumas das vítimas podem ser
verdadeiras e precisa, algumas podem ser desconectas ou distorcidas,
algumas podem ser simbólicas, e algumass podem ser "contaminadas" ou

360
falsas. O problema é o desafio, especialmente para a aplicação da lei, é
determinar o que é oque. E isso só pode ser feito por meio de investigação e
profissionais objetivos. Pois, para acreditar totalmente ou desacreditar
totalmente, é sempre mais fácil do que reconhecer a complexidade de uma
situação. Uma maneira de desarmar os ataques extremistas é admitir
ocasionalmente que em alguns casos os erros foram feitos.

5) Critique-se primeiro - esta pode ser a responsabilidade mais profissional. É


mais fácil admitir os erros dos outros, especialmente quando se admite o seu
próprio, tal atitude o coloca em um processo. Os profissionais devem gastar
mais tempo pensando sobre o que eles próprios estão fazendo e menos tempo
se preocupando com o que os extremistas estão fazendo. Precisamos nos
certificar que nossa própria casa está em ordem e nossa informação é precisa
e confiável antes de criticar os outros. A forma mais eficaz de neutralizar a
influência da Witch Hunt e Backlash não é atacá-los, mas sim fazer o seu
trabalho de forma competente, objetiva e profissional.

6) Esforçar-se para melhorar o conhecimento e habilidades - os profissionais


reconhecem a necessidade de crescer e melhorar seus conhecimentos e
habilidades. Estes lêem uma variedade de livros e artigos, incluindo os que
apresentam pontos de vista alternativos ou diferentes. Participaram em
seminários e conferências, com a mente aberta a uma diversidade de
pensamentos e idéias. Eles mantêm um diálogo honesto com os responsáveis
por opiniões diferentes, pois aqueles que ouvem apenas opiniões que
concordam, dificilmente crescem profissionalmente. Os profissionais tentam
manter-se atualizados nas últimas pesquisas em seus campos. Eles se
vinculam a organizações como a The American Professional Society on the Abuse
of Children – APSAC, como o próprio nome indica, a APSAC é um modelo de
padrões profissionais e de comportamento.

7) Avaliar e usar a informação corretamente - profissionais não usam artigos


de jornais populares e ou programas de televisão como sua principal fonte de
informações e resultados de pesquisas. Sabe-se que muitos dos detalhes
relatados em jornais e televisão não são precisos. No entanto, tendemos a
assumir detalhes de casos reportados como precisos, especialmente se esses
detalhes acontecerem de acordo com nossas opiniões e crenças. Os
profissionais devem verificar fontes originais de informação e pesquisar
adequadamente a referência. A exemplo, embora citado uma e outra vez, o
Federal Bureau of Investigation - FBI não se expressou, nem tem dados para
apoiar a afirmação de que uma em cada quatro mulheres são abusadas
sexualmente quando crianças. Isso pode ou não ser preciso, mas o FBI não é a
fonte dessa estatística.” (Lanning, 1996)

Lanning (1996) informa, que o fenômeno Backlash - proporcionou um impacto


positivo e negativo nas investigações de casos de abuso sexual de crianças. De maneira
positiva, lembrou a justiça criminal da necessidade de realizar o seu trabalho de forma

361
profissional e objetiva e negativamente, tem lançado uma sombra sobre a validade e
realidade do abuso sexual de crianças e tem influenciado alguns para evitar investigar
corretamente casos de destaque.

Grande parte dos danos causados pelo Backlash é realmente auto-infligido pelos
partidários do Witch Hunt e por alguns bem-intencionados defensores de crianças
(Lanning, 1996). Os erros de ambos os lados compõem alegações infundadas que
influenciam emocionalmente a opinião pública. Por outro lado, o debate inflado sobre
a validade das alegações infantis, obscurecem fatos de que: as crianças podem ser
testemunhas confiáveis e de que também há parafilias estranhas e sádicos sexuais
cruéis. Mesmo que, por meio das averiguações verbais, aparentemente, apenas uma
parte do que as vítimas alegam é concreto, tais dados examinados e analisados
corretamente podem constituir um quadro de uma atividade criminosa significativa
(Lanning, 1996). Qualquer comportamento criminoso que compareça
sistematicamente e em muitos casos, deve ser reconhecido com alto valor preditivo e
preventivo com a finalidade legal (Lanning, 2010). A questão duvidosa não se
encontra na criança, mas na ausência de técnicas eficientes de entrevista. E por isso,
os profissionais que lidam com o abuso sexual de crianças devem cuidadosamente
estar atentos a questões de Backlash e não apenas "atacar os mensageiros" (Lanning,
1996). Os profissionais também devem corrigir os danos causados pela Wich Hunt, por
excesso de argumentos em relação aos danos causados as crianças, em processo
investigativo. Por isso, a melhor maneira de neutralizar a influência de ambos os
extremos, Backlash e Wich Hunt, em que ao final prejudica somente a criança, não é
tornar-se defensivo ou replicar suas táticas, mas sim reconhecer a existência de ambos
enquanto simplesmente executa seu trabalho de uma maneira profissional (Lanning,
1996). Atuar com profissionalismo não é negar que podemos ter e expressar crenças e
opiniões, no entanto, deve-se considerar cuidadosamente e avaliar a base destas, pois
estas crianças merecem uma intervenção verdadeiramente profissional (Lanning,
1996). Conte (1994) alerta, que essa evolução no conhecimento e sensibilização está em
curso. Uma das áreas de debates atuais diz respeito a recordação por adultos a respeito
de incidentes de abuso sexual quando criança, nomeada "Síndrome da falsa memória",
como um exemplo de Backlash. As descrições desta 'síndrome' foram divulgadas por
públicos e partidários, por meio da mídia e imprensa popular, considerados como
'inéditos' e 'não publicados'. São dados considerados não revisados e sem apoio de
pesquisa. A noção básica é que os adultos entram na psicoterapia sem lembranças de
infância e que terapeutas despreparados e tendenciosos, até por serem sobreviventes
de seus próprios abusos, procedam por sugestão, manipulação, hipnose e
contaminação do cliente por memórias, por exposição de outras "vítimas de abuso
infantil", o abuso na infância. Esta síndrome, desenvolveu até livros, como: The Cour
age to Heal, que tornou-se uma ‘defesa popular ’contra danos pessoais, que resultam
em ações judiciais, em que um adulto demanda por danos resultantes de abuso.

362
Conte (1994) informa que o público comum é bombardeado com informações
imprecisas e semi-precisas, muitas vezes sem real análise ou refutação, na temática
'abuso infantil', apesar de receber atenção pública e preocupação, mais do que em
qualquer momento anterior da história. Um grande número de profissionais de
segmentos público e da sociedade civil organizada, têm elevado o entendimento a
respeito do abuso de criança. Embora essa conscientização nem sempre se baseie em
conhecimento e muito mais em preconceitos pessoais e culturais e o consenso seja
difícil de alcançar, tal equilibrio seria importante para construir uma agenda para a
pesquisa, política e intervenções. Esforços para diluir a importância do abuso sexual
infantil com outros problemas da infância devem ser resistidos, por ser inadequado
comparar sofrimento de crianças, quando estas experienciam diferentes tipos de
problemas (Conte, 1994). É ainda menos apropriado por sugerir a priorização de
sofrimentos, ao propor que um tipo de problema é mais merecedor de atenção do que
outro.Os problemas da infância são complexos.O que é necessário é uma vasta gama
de respostas e uma gama igualmente ampla de profissionais e disciplinas para os
problemas da infância. E talvez o mais crítico a curto prazo, é que, os profissionais da
área do abuso sexual infantil, devem assegurar que, o que se faz e o que se sabe, é
baseado em comprovação e trabalho de pesquisa (Conte, 1994). A ciência é uma tarefa
exigente e consegue separar o que vem a ser um declínio, e o que vem a ser um dado,
e para isso, merece uma intervenção profissional que certifique que, o conhecimento
seja testado com base em princípios bem estabelecidos, e por sua vez, demonstrado.
Por isso, o que se espera dos profissionais que influenciam o destino destas crianças é
que estes atuem com base no bem-estar destas (Conte, 1994).

As pessoas leigas e as organizações desinformadas raramente fazem o esforço para


avaliar tal comportamento na totalidade e no contexto do comportamento passado.
Ao avaliar a importância e relevância do comportamento do infrator e as alegações
das crianças, os intervenientes devem sempre considerar tanto a atividade, como as
suas possíveis motivações. Ter uma conceitualização e compreensão mais ampla do
que poderia constituir um comportamento sexual também deve melhorar a
capacidade dos profissionais para questionar e estabelecer limites adequados e seguro
para a interação com as crianças, evitando por completo a tendenciosidade (Conte,
1994). Da mesma forma que o médico e o psicológico são os profissionais encarregados
pela adequação do melhor tratamento para a criança maltratada ou negligenciada, os
investigadores legais, são os responsáveis pela investigação de tais crimes. Desta
forma, assim como os policiais precisam se preocupar com sua investigação,
terapeutas e médicos precisam se preocupar com suas técnicas de tratamento que
podem dificultar a investigação (Lanning, 2010).

A falta de entendimento e compreensão social da objetividade do conhecimento de


molestação e exploração de crianças muitas vezes resulta em: a) as vítimas não
revelam nem mesmo negam a sua vitimização; b) as comunicações de vítimas são
incompletas, imprecisas e distorcidas quando acontecem; c) graus de vergonha,

363
embaraço e culpa sentidos pelas vítimas, dificultam seus relatos; d) os infratores são
capazes de explorar numerosas vítimas durante um longo período de tempo. Desta
forma, os programas de prevenção irrealistas se tornam ineficazes em relação a estas
possibilidades quando surgem, além da cultura, estratificação social, fatores
contextuais, políticos e legais, que afetam a demonstração das causas, conseqüências,
prevenção e tratamento de abuso e negligência de crianças (Greely, 2012).

Vargas (2012) relata que no informativo nº 647, publicado em novembro de 2011, a


Suprema Corte brasileira, no voto do relator Min. Luiz Fux, no julgamento da ADC
29/DF, da ADC 30/DF e da ADI 4578/DF, fez uso do termo, ainda pouco difundido
no constitucionalismo pátrio: Backlash. O Backlash é um tema debatido no Direito
Constitucional norte-americano para se referir à oposição da sociedade às decisões da
Suprema Corte dos Estados Unidos em questões controvertidas e polêmicas. Lima
(2015) ressalta, que o efeito Backlash do ativismo judicial, é uma espécie de efeito
colateral das decisões judiciais em questões polêmicas, decorrente de uma reação do
poder político contra a capacidade do poder jurídico de controlá-lo. O efeito Backlash
pode gerar dúvidas sobre os reais benefícios da jurisdição constitucional na luta pela
implementação de direitos fundamentais (Klarman, 2011). Ou seja, mesmo aqueles
que advogam teses liberais devem ter consciência dos riscos decorrentes da imposição
forçada de uma solução pró-direitos fundamentais na via judicial. A questão que
surge a partir daí é a seguinte: será que o mero risco de uma reação política conserva
dora, por si só, é motivo suficiente para justificar o abandono da arena judicial como
espaço de luta para a implementação de direitos? No voto do relator, Min. Luiz Fux,
o Backlash foi citado como fundamento para que esse julgador justificasse o seu
posicionamento de flexibilizar o princípio constitucional do estado de inocência para
fins eleitorais, em face das cobranças da sociedade civil. Vargas (2012) explica que esse
tipo de adequação ao sentimento popular é muito controvertido no
constitucionalismo estadunidense. Há quem sustente que a resistência popular às in
terpretações judiciais à Constituição é uma ameaça à própria supremacia
constitucional (Vargas, 2012).

Assim, a pesquisadora se fundamentou de aportes teóricos científicos, para não


sucumbir especialmente a um possível efeito Blacklash.. Conte (1994) destaca a
respeito da vitimização de crianças, em que podem ser submetidas aos mais cruéis
abusos, duras privações, suplícios, torturas frente às quais a própria imaginação recua,
em que adultos usam-lhes os corpos e os órgãos sexuais, e até encurtando-lhes a vida.
Mais incrível ainda: os seus algozes podem ser aquelas mesmas pessoas que os
trouxeram à luz do mundo. Eis um problema face ao qual toda consciência humana e
lúcida vai à indignação (Tardieu: 1860: 362).

Assim, em 2008, a pesquisadora redobra sua atenção por se encontrar em um ambiente


teórico com uma tendência muito carregada de proteção a figura materna e em um
campo teórico, com pouca possibilidade de debate a respeito da hipótese de que

364
comunicantes também realizam falsas denúncias. Desta forma, com o intuito de
aprofundar no campo da vitimização, com o conhecimento do efeito Backlash e Wicth
Hunt, a pesquisadora optou pela profundidade teórica de uma pesquisa de
doutoramento. Assim, no ano de 2008, cursou matérias no doutorado de psicologia da
PUC GO. E mesmo no ambiente acadêmico de pesquisa, a pesquisadora lidava com
embates ideológicos acalorados, pois o que se expressava era que: constatar uma não
violência, ainda era aceito, mas constatar que uma comunicante poderia ‘criar ’tal fato,
era inaceitável.

Cercada de cuidados para um olhar não declinado, o que se averiguava na prática da


pesquisadora era que, em um número expressivo de casos atendido pela mesma, a
violência sexual não tinha ocorrido. Visto que, em avaliação psicológica, o evento
‘violência sexual’, não comparecia, nem de maneira isolada, nem corroborada no
conjunto de dados da avaliação psicológica, nem tão pouco como temática terapêutica
da criança. Neste momento inicial, enquanto nomeada como perita do juiz no ano de
2008, a pesquisadora foi amplamente alertada pelo Desembargador Paulo Teles, que
destacava, que as solicitações periciais dos juízes, advinham de autos originados da
abertura do inquérito na delegacia e constituídos de uma linha hipotética criminal.
Em que, houve um caminho percorrido por estes autos, primeiramente pelo delegado
indiciar o autor, segundo, pelo promotor oferecer denúncia e terceiro pelo juiz acatar
denúncia oferecida pelo Ministério Público. Porém, ainda assim necessitava de
maiores esclarecimentos ao juiz.

Responder a uma demanda judicial, por meio da avaliação psicológica infantil

Conforme Cunha (2003), cabe, pois, ao psicólogo examinar as circunstâncias que


precederam a consulta, avaliar as maneiras de perceber o problema e delimitá-lo,
atribuindo a sinais e sintomas sua significação adequada. Esta não é uma tarefa fácil e
Cunha (2003) descreve:

“Um problema é identificado quando são reconhecidas alterações ou


mudanças nos padrões de comportamento comum, que podem ser percebidas
como sendo de natureza quantitativa ou qualitativa. Se, como observam
Kaplan e Sadock (1999b), a maioria das manifestações de transtornos
psiquiátricos representa variações de diferentes graus de um continuum entre
saúde mental e psicopatologia, então, na maior parte das vezes, as mudanças
percebidas são de natureza quantitativa.”

Diagnosticar uma queixa na psicologia é buscar responder se existe a ocorrência


daquilo que outros estão identificando como um ‘problema’. Conforme Cunha (2003)
busca-se alterações no padrão comportamental que podem ser constatadas pela
presença de um exagero ou diminuição de um padrão de comportamento usual, dito
normal. Cunha (2003), completa, que, podem ser observadas em várias dimensões,

365
como na atividade motora, da fala, do pensamento, no humor como depressão vs.
euforia, em outros afetos como embotamento vs. agitação.

A pesquisadora desde o início de suas atividades periciais, em 2008, levantava dados


indicativos específicos como:

a) Etapa de desenvolvimento que a criança se encontrava a época do fato;

b) Quem (parentalidade ou proximidade em relação a criança) relatava a respeito do


fato investigado;

c) Quais eram as características vulneráveis do ambiente intra e extra familiar da


criança;

d) Parentalidade do suspeito com a criança;

e) Violência intra ou extra familiar.

Assim, ao destacar os dados indicativos, estes eram corroborados, aos dados comparáveis
da Entrevista Contingenciada, tais como:

a) Informações fornecidas do fato investigado, que alteravam quanto a conteúdo,


durante as entrevistas;

b) Informações oferecidas por comunicantes, que não eram confirmados pela criança;

c) Informações fornecidas por comunicantes não correlacionavam a etapa de


desenvolvimento da criança.

Assim, os dados indicativos eram corroborados aos dados comparáveis, que por sua vez,
os resultados eram corroborados aos dados analisados da testagem. Desta forma, o
resultado dos dados se submetiam a fundamentação teórica correspondente, que
desencadeava o diagnóstico. Deste modo, o diagnóstico, respondia a duas questões,
tais como:

a) Houve a ocorrência ou não do fato investigado; e

b) Quais as características psico-sócio-afetivas da criança, tinham relação com o fato.

Portanto, a segunda hipótese só poderia ser respondida efetivamente, se a primeira


hipótese fosse confirmada. Destacamos que, todas as providências tanto legais, quanto
de encaminhamento e tratamento para todos os envolvidos, são feitas com base no
resultado-diagnóstico, que necessariamente deve comparecer ao laudo.

Cunha (2003) informa que alterações na dinâmica comportamental surge como


resposta a determinados eventos da vida, e a perturbação é proporcional às supostas

366
causas, e restrita aos efeitos estressantes dos mesmos. Assim se a sua intensidade for
desproporcional às possíveis causas e/ou tal alteração persistir além da vigência
normal deve ser considerada a possibilidade de outras variações, bem como suas
repetições (Cunha, 2003).

Desta forma, a pesquisadora informa que, uma alteração comportamental pode ser a
expressão de que algo ocorreu a criança, assim o psicólogo ao diagnosticar e constatar
uma alteração, deve perseguir seu desencadeador. Amendola (2009) destaca que nesse
sentido, Rouyer (1997), Koller (2000) e Sanderson (2005) priorizam o contexto no qual
o abuso sexual teria ocorrido como um dos principais fatores a ser considerado, e
Sanderson (2005, p. 202), relata que é fundamental que o profissional contextualize a
situação, a família e seu mundo social.

Amendola (2009) exprime a opinião de Arzeno (1995) e Yehia (2002), que apontam,
que, os conhecimentos teóricos, técnicos e os da própria experiência de trabalho ou de
vida jamais substituem a história das pessoas envolvidas, sendo “apenas um outro
ponto de vista” que merece ser analisado (Yehia, 2002, p.119).

Realizar avaliação psicológica de crianças vítimas de violência sexual, é


primordialmente analisar contexto, e para isso, a análise do comportamento, proposto
por Skinner, se destaca. Pois, um fato ocorreu a esta criança, neste caso, a interação de
conteúdo sexual do adulto com ela, a destacar uma interação atípica para sua rotina
infantil. Então, seguramente se tal fato ocorreu, ele estará na criança, especialmente
em seu comportamento verbal (Skinner, 1957) e não somente em sua ‘fala’, conforme
alerta Gardner (1991), em Amendola (2009):

“Gardner (1991) é contumaz ao afirmar que os profissionais, que buscam na


palavra da criança a verdade factual para a comprovação de um abuso sexual,
negligenciam o fato de que os filhos são influenciados pelos genitores,
especialmente, pelo genitor guardião (comunicante) quem, geralmente, é o
responsável pela acusação e intenção de afastamento de pais e filhos. O autor
explica que, no caso de haver litígio, o genitor guardião seria capaz de
programar os filhos para acreditar em uma história de maus-tratos e violência.
Critica, ainda, o processo utilizado por esses profissionais na avaliação de
crianças menores de 5 anos quanto ao entendimento sobre os conceitos de
verdade e mentira, dada a falta de respaldo científico e metodológico.”

Assim, para diagnosticar a ocorrência ou não-ocorrência, de tal fato, no campo


psíquico da criança, face a todo contexto crítico na busca da melhor metodologia,
Amendola (2009), ainda destaca a cautela solicitada por Furniss (2002, p.167), em que
sugere:

“A despeito de todos os cuidados observados pelos psicólogos e demais


profissionais, houvesse uma tendência deste a simpatizar com as crianças,
imediatamente, após a denúncia de abuso sexual pelas comunicantes. Uma

367
ação prematura, capaz de gerar duas possíveis consequências: uma acusação
de abuso sexual sem fundamentação adequada ou sem determinar seu valor
factual, provocando um processo investigativo precário e a “prevenção de
crime promotora-de-crime” (p.191), ou seja, uma acusação infundada de
abuso sexual, seja pela leitura equivocada dos sinais da criança, seja pela
falsidade da denúncia declarada pelo responsável (guardião, geralmente, a
comunicante).”

Constatar ou não uma violência sofrida por uma criança, em avaliação psicológica é
extremamente especial, visto que a maioria dos casos não existe uma comprovação
física, para isso o trabalho do psicólogo, se pauta em uma avaliação psicológica
metodologicamente métrica. E ainda, conforme Schaefer, Rossetto, & Kristensen
(2012) frisam, que em contexto forense, o psicólogo analisa e destaca também os
aspectos psicológicos das pessoas envolvidas, ocultos por trás das relações
processuais. Por sua vez, o principal objetivo da perícia psicológica é auxiliar o juiz na
tomada de uma decisão, com o objetivo de garantir os direitos e o bem-estar da criança
e/ou adolescente (Silva, 2003). Tal como destaca Cunha (2003), o psicólogo irá realizar
a avaliação psicológica por meio de:

“a) levantamento de perguntas relacionadas com os motivos da consulta e


definição das hipóteses iniciais e dos objetivos do exame; b) planejamento,
seleção e utilização de instrumentos de exame psicológico; c) levantamento
quantitativo e qualitativo dos dados; d) integração de dados e informações e
formulação de inferências pela integração dos dados, tendo como pontos de
referência as hipóteses iniciais e os objetivos do exame; e) comunicação de
resultados, orientação sobre o caso e encerramento do processo.”

E em relação a metodologia, Cunha (2003) alerta, que os comportamentos específicos


do psicólogo, que, embora possam variar na sua especificidade e na sua seriação,
podem ser destacados conforme os objetivos do psicodiagnóstico:

“a) determinar motivos do encaminhamento, queixas e outros problemas


iniciais; b) levantar dados de natureza psicológica, social, médica, profissional
e/ou escolar, sobre o sujeito e pessoas significativas, solicitando
eventualmente informações de fontes complementares; c) colher dados sobre
a história clínica e história pessoal, procurando reconhecer denominadores
comuns com a situação atual, do ponto de vista psicopatológico e dinâmico;
d) realizar o exame do estado mental do paciente (exame subjetivo),
eventualmente complementado por outras fontes (exame objetivo); e)
levantar hipóteses iniciais e definir os objetivos do exame; f) estabelecer um
plano de avaliação; g) estabelecer um contrato de trabalho com o sujeito ou
responsável; h) administrar testes e outros instrumentos psicológicos; i)
levantar dados quantitativos e qualitativos; j) selecionar, organizar e integrar

368
todos os dados significativos para os objetivos do exame, conforme o nível de
inferência previsto, com os dados da história e características das
circunstâncias atuais de vida do examinando; l) comunicar resultados
(entrevista devolutiva, relatório, laudo, parecer e outros informes), propondo
soluções, se for o caso, em benefício do examinando; m) encerrar o processo
(Cunha, 2003).”

Embora existam primorosos trabalhos e estudos no Brasil, Amendola (2009) relata que
estes não exploram, suficientemente, a perspectiva das falsas denúncias de abuso
sexual. Diante de produção teórica escassa, o que existe na prática é uma mobilização
na Europa, nos Estados Unidos e, mais recentemente, no Brasil, por meio de
Organizações Não-Governamentais (ONG’s) e associações de pais, a fim de alertar
para a problemática das falsas alegações de abuso sexual promovidas entre ex
cônjuges. Gonçalves (2003) alerta que é preciso cuidado ao se analisar todo e qualquer
comportamento que, hipoteticamente, possa ser considerado violento, pois, tanto as
expansões do conceito de violência sexual quanto a sua contração podem ser
percebidas a partir do valor moral que os compõem.

Amendola (2009) problematiza o contexto de falsas comunicações de crime, ao se


permitir questionar se um beijo dado na boca de uma criança por sua genitora seria
um comportamento desviante, patológico, um abuso ou uma demonstração de amor
(Amendola, 2009). Válido também o é, aplicar este questionamento ao beijo dado pelo
pai (Amendola, 2009).

Assim, a pesquisadora questionava que, ao levantar a probabilidade de um


comunicante realizar uma falsa denúncia de estupro de vulnerável, a respeito de seu
ente, pode-se também levantar hipóteses de que: comunicantes, ao alegar a respeito
de algo que não ocorreu a suas crianças, torna esta detecção extremamente sensível,
para a identificação do perito. Porém, a avaliação psicológica, pode se tornar sensível
ao ponto de detectar tal feito, basta ser planejada.

Frente a possibilidade de falsa comunicação de crime, ficava o questionamento da


pesquisadora: ‘Logo, se estas crianças não eram vítima de violência sexual, neste caso
eram vítimas de que?’. Assim, é primordial que seja passível de análise, identificar a
motivação e as circunstâncias da comunicação-crime. Amendola (2009) acrescenta, que
falsas alegações, abrangem a fabricação intencional, a crença equivocada de que a
criança foi abusada e/ou erro de interpretação ou distorção na averiguação dos sinais
e análise do contexto histórico-familiar. Tal identificação, perpassa, necessariamente,
pelo trabalho do psicólogo (Amendola, 2009).

A análise de qualquer comportamento da criança deve estar associado ao seu


contexto, conforme alerta de Amendola (2009) e essa concepção, também é
compartilhada por outros autores, que compreende que a violência sexual deve ser
analisada no contexto em que está inserida (Finkelhor, 1979; Garbarino; Gilliam, 1981;

369
Haugaard; Repucci, 1988; Flores, 1998; Junqueira, 1998; Gonçalves, 1999, 2003;
Faleiros; Campos, 2000; Sanderson, 2005). Nesse sentido, Rouyer (1997), Koller (2000)
e Sanderson (2005), citado em Amendola (2009), destacam, o contexto no qual o possível
abuso sexual teria ocorrido, como um dos principais fatores a ser considerado. Na
opinião de Sanderson (2005, p. 202), é fundamental que o profissional contextualize a
situação, e analise não só a individualidade da criança, mas também sua família e seu
mundo social, assim investigar com reserva, sinais e sintomas, observados na criança
é fundamental, a fim de evitar julgamentos precipitados para o diagnóstico da
ocorrência de abuso, “uma vez que um diagnóstico errado ou prematuro pode causar
trauma desnecessário tanto na criança quanto na família” (Amendola, 2009).

Autores como: Logo, De Young (1986), Haugaard e Repucci (1988), Gardner (1991),
Green (1993), Ceci e Bruck (2002) e Sanderson (2005); in Amendola (2009), destacam,
que não há um padrão de comportamento e sintomas específicos que ocorram em
crianças abusadas, tampouco existem indicadores que, seguramente, revelem que
comportamentos sexualizados e traços de personalidade específicos, que possam ser
considerados decorrentes de traumas ocasionados pelo abuso sexual. Ao passo que,
tais sintomas e comportamentos podem ser desencadeados por diferentes tensores na
vida de uma criança, ou mesmo de comportamentos esperados para crianças de
determinadas faixas etárias. A exemplo, identificar comportamentos sexualizados em
crianças em idade pré-escolar, como: masturbação, exibicionismo ou ferimentos nos
genitais, não implica, necessariamente, a ocorrência de abuso sexual; tampouco a
manifestação de sintomas ligados à depressão, como: tristeza, insônia, apatia e
retraimento social (Amendola, 2009).

Nas situações em que pais são separados, Wallerstein e Kelly (1998), ressaltam que
crianças podem apresentar reações físicas ou as têm exacerbadas com a proximidade
do horário de visita, gerado pelo ambiente ansiógeno por rever o genitor não
guardião, que tendem a desaparecer por ocasião da interação entre ambos. Outras,
por sua vez, reagem com hostilidade, recusando-se a ir com o genitor, reflexo da
acirrada rivalidade e/ou agressividade presente na relação entre os ex-cônjuges, que,
não raro, podem disputar a atenção da criança por meio de sedução ou ameaças
(Amendola, 2009).

Dessa forma, a pesquisadora atentou-se a análise sintomatológica, que deve ser


considerada com tal zelo, com a finalidade de eliminar erros diagnóstico, visto que a
descrição destes sintomas é feito na sua maioria por pessoas próximas à criança.
Assim, a sintomatologia apresentada por esses cuidadores a respeito das crianças deve
ser observada e corroborada em concomitância a um repertório de fatores, tais como:
comportamento da criança e o contexto social e familiar em que vivem e etapa do
desenvolvimento (Amendola, 2009).

370
Bernardir (2003), informa que o psicólogo judiciário usa sempre a avaliação
psicológica como primeiro e principal instrumento para analisar os vários e distintos
casos que chegam à Justiça e destaca:

“Nas Varas Cíveis, este profissional atua em casos como os de interdição e


danos psíquicos. Nas Varas Criminais, em situações de vitimização de
crianças tratando do ponto de vista das famílias e dos indivíduos abusadores.
As entrevistas e a utilização de técnicas de exame e investigação são fixadas
de acordo com a natureza e gravidade do caso. A elaboração do laudo e/ou
relatório pericial, com a apresentação de um parecer indicativo e/ou
conclusivo sobre a matéria examinada é a maior diferenciação quanto a forma
de documentar o trabalho psicológico no processo. O laudo pericial encerra o
trabalho do perito nos autos e oferece ao juiz elementos do ponto de vista
psicológico, para que ele possa decidir o processo com novas bases de
conhecimento além do Direito. A avaliação psicológica faz, portanto, parte
dos elementos que vão embasar uma perícia que é assumida por um psicólogo
judiciário por indicação do juiz. O perito, explica Dayse César, é um expert
nomeado pelo magistrado para fazer um laudo e um parecer sobre o caso. No
parecer, o perito sugere, faz indicações e encaminhamentos. O laudo
conclusivo do ponto de vista psicológico leva em conta as avaliações
realizadas, seus diagnósticos e indicações que municiarão o magistrado na
tomada de posição. Dayse atenta para o cuidado na elaboração do laudo que
deve estar bem fundamentado e claro. O CFP tem resolução que indica
manual para elaboração de documentos a partir de avaliação psicológica
(Resolução CFP nº. 007/03). "O laudo terá desdobramentos no futuro da
vítima e das pessoas envolvidas no caso e poderá ser contestado pelos
advogados", acrescenta. "A clareza desta peça jurídica é importante, ainda,
para dar identidade à criança que tem direito a conhecer sua origem", diz. "O
psicólogo judiciário deve, portanto, evitar os termos técnicos em um laudo
que servirá tanto para o juiz quanto para que as pessoas envolvidas no
processo entendam o significado das conclusões do psicólogo", finaliza.”

Chegar a estas conclusões se funda em uma avaliação psicológica sistematizada,


planejada e analisada, que cabe somente ao profissional psicólogo, conforme descrita
pelo Conselho Federal de Psicologia, na Resolução nº007/2003, como:

“A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico de


coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos
fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a
sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos,
técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e
analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com
a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o
indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a
formulação da demanda até a conclusão do processo de avaliação
psicológica” (CFP, Resolução 07/2003).

371
A avaliação psicológica com finalidades forense, é composta por peculiaridades e
conforme Cunha (2003) relata, a questão básica com que se defronta o psicólogo é que,
mesmo em posse de um encaminhamento, visto que o solicitante necessite de
subsídios para basear uma decisão para resolver um problema, muitas vezes este, não
expressa claramente, por meio de perguntas, quais respostas levantar e faz um
encaminhamento vago para uma: “avaliação psicológica”. Em decorrência, uma das
falhas comuns do psicólogo forense é a de acolher o encaminhamento vago, sem a
busca de qual resposta percorrer. Por sua vez, realiza um psicodiagnóstico, cujos
resultados não são pertinentes, ou se distanciam das necessidades da fonte de
solicitação. Assim, Cunha (2003) ressalva que é responsabilidade do psicólogo
determinar e esclarecer o que dele se espera, no seu desempenho (Cunha, 2003).

Com isso, na medida que a pesquisadora recebia as solicitações do judiciário, para


avaliação psicológica, acompanhada de todas as exigências forenses, ficava
configurado cada vez mais forte, a seguinte situação: Como o psicólogo, por meio de
técnicas e testes, e por ser o único profissional com habilidade de investigar o campo
psicológico, poderia realizar uma perícia psicológica de maneira mais sistematizada?

A intersecção com a esfera forense exige um profissional super atualizado em relação


a legislação, em relação a tipificação do crime estudado e também em relação a todos
os profissionais atuantes no processo penal. Conforme destaca Tsu (1984), o psicólogo
se relaciona com a ‘dinâmica de relacionamento entre as interioridades’, este é um
profissional que atende a uma rede relacional de pessoas e instituições, por meio da
avaliação psicológica.

Assim, a pesquisadora acredita que, a atuação do psicólogo se dá pelo acesso ao


campo psíquico dos envolvidos, por meio da avaliação psicológica, para assim ‘tornar
visível’, toda a complexidade comportamental do indivíduo e a maneira como ele atua
e se relaciona no mundo. Com atenção para aquilo que é público, sendo isto, somente
‘parte ’do que se ‘enxerga ’do campo psíquico da pessoa.

No caso de avaliação psicológica infantil no âmbito forense, na esfera criminal,


referente aos crimes de estrupo de vulnerável. A pesquisadora, destaca a natureza
particular de comunicação de notícia -crime para estes casos, em que um terceiro
comunica a ocorrência de algo de outrem, de maneira que, este outrem é uma criança.
Trata-se de uma situação muito particular, em que, a avaliação psicológica, além se
ser solicitada por um terceiro institucional, avalia um indivíduo infantil, que também,
um terceiro comunicou um fato a seu respeito. Sendo este fato de cunho criminoso,
que afronta sua dignidade humana, no contexto sexual.

Situação semelhante, em relação a solicitação e apresentação da queixa, ocorre no


psicodiagnóstico infantil, em que pais buscam o serviço do psicólogo e já apresentam
uma definição prévia de quem é a criança, no sentido de portador do problema (Tsu,

372
1984). Mesmo em situações que pais exibem claramente, para o profissional, o
comprometimento de toda a dinâmica familiar, estes apresentam frequentemente a
queixa focalizada sobre uma suposta “criança-problema” (Tsu, 1984). Então, assim
como no psicodiagnóstico infantil, a avaliação psicológica com crianças que se
encontram na condição de vítima, exige que o profissional psicólogo sobreponha a
individualidade infantil e esteja atento a todo o contexto relacional que a criança está
inserida, em especial na família (Tsu, 1984).

Então, quanto aos cuidadores, no âmbito da relação instrumental (Tsu, 1984) com o
profissional, este deverá ser psicologicamente conhecido em sua dinâmica interna,
visto que este também é o mensageiro da queixa. Ou seja, o mensageiro da queixa, é
reconhecido como a pessoa responsável pela criança, e que se relaciona
profundamente com esta (Tsu, 1984. Assim, deve ser conhecido a partir de seus dados
da realidade exterior, e de sua própria realidade psíquica (Tsu, 1984), seja pela
maneira da dinâmica de relacionamento com o profissional, seja pela maneira de como
apresenta a criança no funcionamento da estrutura familiar (Tsu, 1984). Assim, os pais
não são meros informantes de dados (Tsu, 1984), e sim fazem parte do
desenvolvimento avaliativo tanto quanto a criança, mesmo que o foco seja o campo
psíquico infantil. Pois, o psicólogo infantil está interessado em investigar o que ocorre
no contexto relacional da criança, que pode estar lhe causando algum tipo de
sofrimento psíquico (Tsu, 1984).

Desta forma, mais frequentemente, cuidadores, apresentam suas crianças sob três
tipos de sintomas: somáticos, psicológicos e caracterológicos (Tsu, 1984). Em
concordância com Tsu (1984) um sintoma na criança pode ser ‘interpretado ’pelos pais
como de origem distinta, a enurese a exemplo, pode ser considera como um sintoma
de ‘doença ’física, ou pode ser vista como expressão de um problema emocional, ou
por decorrência de falhas caracterológicas que se vinculam por meio de ‘julgamentos ’
do tipo: ‘ela é muito mimada por causa do pai’. Desta forma podemos apontar acerca
do quanto é complexo assumir que uma criança necessita da intervenção de um
psicólogo.

Com isso, as etapas que vão, desde considerar um fato na criança como problemático,
até a busca do atendimento, demonstram o quanto pode ser discutível e até mesmo
distorcido a visão do grupo familiar (Tsu, 1984). Tal dinâmica é passível de análise e
entendimento, visto que a criança está tão inserida no grupo familiar como qualquer
outro integrante e pode como a parte mais vulnerável, expressar por meio dos seus
comportamentos, dificuldades que não são só suas, mas de todo o grupo familiar (Tsu,
1984). Porém, defensivamente, a família, tende quase sempre, a considerar o
comportamento infantil como expressão da interioridade da criança.

Igualmente, é sobre esta ‘fala ’fornecida por familiares e responsáveis, que o psicólogo
forense deve desenvolver seu trabalho pericial, até que chegue ao campo psíquico da

373
criança e assim corroborar o que foi apresentado pelos familiares em relação ao que
foi apresentado pela criança. Deste modo, a avaliação do psicólogo será realizada de
acordo com o que foi exposto pelos avaliados e por sua vez, reconhecido pelo
profissional, que podem se configurar como: completamente divergente,
completamente congruente ou com semelhanças, sendo estas classificações passíveis
de uma profunda análise em relação a características muito particulares.

Assim, para realizar essa leitura crítica e complexa, da dinâmica familiar, o psicólogo
tem condições profissionais-metodológicas de se colocar em um ponto privilegiado
de observação clínica, que lhe permite ver a criança considerada com um ‘problema’,
inserida na dinâmica familiar com maior nitidez, do que conseguida pelos membros
familiares (Tsu, 1984). Sendo assim, por meio da avaliação psicológica aplica-se uma
variedade de abordagens e recursos que se encontram disposição do psicólogo
(Cunha, 2003).

Cunha (2003) destaca que numa avaliação é possível usar métodos mais
individualizados ou qualitativos ou, ainda, métodos psicométricos, em que o manejo
se fundamenta em comparações de normas de grupos. A tais métodos, pode-se
acrescentar a entrevista, que tem precedência histórica sobre os demais (Goldstein &
Hersen, 1990), bem como a observação e análise sistemática de comportamentos, da
linha comportamental (Cunha, 2003). Observa-se que o psicólogo não costuma seguir
uma orientação puramente nomotética ou ideográfica (Cunha, 2003), e
metodologicamente pode assumir instrumentos tanto psicométricos, quanto
projetivos, a depender do nível de complexidade que pretende atingir.

Para isso, conforme Tsu (1984) afirma, que independente da instrumentação


avaliativa, a atitude técnica mais adequada do psicólogo, no âmbito da avaliação in
fantil, é que este profissional, não deve responder um diagnóstico a partir da
configuração emocional e cognitiva que aflora dos indivíduos, e sim validar esta
configuração dentre todos os comportamentos que surgiram no contexto relacional,
de todos os envolvidos no psicodiagnóstico infantil. Assim sendo, o rigor científico
exige que o psicólogo se transporte dentro do nível epistemológico de sua
fundamentação teoria e se movimente de acordo com seu aporte técnico de análise, na
qual se expressa a relação profissional-cliente (Tsu, 1984). O que não se difere do
campo da avaliação psicológica na esfera forense, em que, somente por meio deste
modo relacional ajustado, o psicólogo poderá acessar todas as manifestações
relevantes do indivíduo, mesmo que este relute em apresentar.

Uma avaliação psicológica diagnóstica

Assim, no final de 2009, a pesquisadora, optou pela avaliação psicológica


compreensiva, de acordo com a Normativa CFP 07/2003, que institui a elaboração de
documentos psicológicos, em concordância com a demanda jurídica e Códigos Penais,
Processuais Penais e Processuais Civis. Bem como, orientada pelo Desembargador

374
Paulo Teles, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, 2010-2012, e
atuante na Câmara Criminal do TJ- GO á época.

Quanto ao psicodiagnóstico compreensivo, este engloba uma análise por meio dos
instrumentos: entrevistas, observações, testes psicológicos e exames complementares,
que busca a apresentação de uma composição psicológica globalizada com uma
síntese dinâmica e estrutural da vida psíquica, que se considera aspectos intra
psíquicos, interfamiliares e forças sócio-culturais (Trinca, 1984).

A seguiu as orientações do Desembargador Paulo Teles e de Cunha (2007) que alerta


que, o psicólogo institucional deve determinar e esclarecer o que dele se espera, no
caso individual. Para atingir o objetivo quanto ao esclarecimento, do que juízes
esperavam do resultado da atuação da pesquisadora, enquanto perita psicóloga, esta
desenvolveu um instrumento avaliativo, com vistas a elevar a qualidade dos laudos.
Assim, quando se enviava os laudos aos juízes, remetia-se juntamente um
questionário avaliativo a respeito da: formatação e conteúdo dos laudos, que por sua
vez era respondido e devolvido para a psicóloga. Considerada esta, uma estratégia de
aproximação, que lhe permitia adequar os dados do profissional, às necessidades das
fontes de encaminhamento (Cunha, 2003).

O Desembargador Paulo Teles orientava que, o laudo deveria ser conclusivo em


relação a ocorrência ou não do fato. Por ser esta a função do perito nomeado, a de
fornecer dados técnicos a respeito da lide, por meio de uma descrição detalhada do
ocorrido. Orientava também que, por mais que fosse uma avaliação psicológica, que
envolvia a participação de outros, além da criança, a aferição da ocorrência ou não do
fato, deveria ser observada especialmente na vítima, por ser esta a parte que recebe o
dano direto do ofensor. E por sua vez, constatada esta ocorrência, a dinâmica deste
episódio, deve ser destacada no laudo, para auxiliar no conjunto probatório a respeito
de um crime, neste caso, o de estupro de vulnerável. Logo, características de como
ocorreu o crime e a atuação do ofensor, deve ser destacado, por ser esta a natureza da
investigação. Pois, se existe uma vítima, existe o modus operandi do ofensor. E por sua
vez, caso o fato não seja constatado, existe a o modus operandi do falso alegador, o que,
mesmo sendo mais complexo, é passível de ser analisado. Assim, a avaliação
psicológica irá apontar o a dinâmica relacional dos envolvidos que motivou tal fato se
encontrar na justiça. Frente ao destaque destas possibilidades o Desembargador Paulo
Teles, apontava a necessidade de contemplar o Código Penal Brasileiro, conforme
podemos destacar o artigo 18 – dolo e culpa, artigo 59 – fixação da pena e artigo 65
atenuantes penais, tais como:

“Art. 18 - Diz-se o crime:

Crime doloso

375
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi
lo;

Crime culposo

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,


negligência ou imperícia.

Art. 59 - Fixação da pena

Art. 59- O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social,


à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:

I- as penas aplicáveis dentre as cominadas;

II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;

III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;

IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie


de pena, se cabível.Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém
pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70


(setenta) anos, na data da sentença;

II - o desconhecimento da lei;

III- ter o agente:

a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;

b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento,
reparado o dano;

c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de


ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção,
provocada por ato injusto da vítima;

376
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;

e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o


provocou.”

Desse modo, a averiguação do impacto do fato na criança, que se dá por meio da


avaliação psicológica, em que, os itens supracitados detalham o fato, necessariamente
precisa ser investigado. Por sua vez, a entrevista obrigatoriamente precisa levantar
tais dados, visto que a averiguação ocorre na busca de um fato em que uma criança é
vítima. Desta forma, o detalhamento do fato criminoso deve ser destacado no laudo,
visto que se trata do resultado de uma dinâmica relacional de um adulto com uma
criança, em um contexto sexual. Em que, esta dinâmica relacional se apresenta de
maneira muito exclusiva por 4 especificidades:

a) situação anômala para a criança, por ser o contexto sexual lascivo, incompatível
para sua etapa de desenvolvimento;

b) interação assimétrica quanto a idade;

c) discrepância quanto a motivação da interação;

d) contexto impositivo.

Desta forma, em função do elevado grau de exclusividade da interação, tal situação é


facilmente externada pela criança, e por essa característica pode ser completamente
identificável na avaliação psicológica infantil, por meio da análise do comportamento
psico-fisico-emocional da criança, bem como por meio do seu verbal.

Assim, por meio da avaliação psicológica, em especial, da análise do campo psíquico


da criança, a pesquisadora, como perita nomeada pela justiça tinha a obrigatoriedade
de descrever o evento investigado, de acordo com o Código de Ética do Psicólogo
(2005):

“PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade,


da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos
valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida


das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer
formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.”

377
A completar, a atitude do perito, de ausentar-se da responsabilidade de informar o
diagnóstico relevante para o fato, fica sob pena de infringir o Decreto-lei nº 2.848, de
7 de dezembro de 1940, Código Penal:

“CAPÍTULO III

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

Falso testemunho ou falsa perícia

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha,
perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou
administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado


mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a
produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta.

§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que


ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.”

Sendo assim, a pesquisadora identificava por meio da anamnese, que ainda não se
configurava como uma Entrevista Contingenciada Estruturada, a averiguação do
impacto do fato, na dinâmica familiar, por meio dos relatos. E por sua vez, as
características identificadas e originadas da dinâmica familiar, era corroborado ao
resultado de instrumentos padronizados, tal como testes projetivos e outros dados da
anamnese, a exemplo:

a) o quanto a comunicante se afeiçoou a criança no momento do nascimento;

b) quanto tempo a comunicante amamentou e por quê;

c) o quanto se considera paciente com a criança;

d) como descreve a relação da criança com o pai, professores e colegas.

Esta averiguação, se dava pela busca de possíveis contextos negligenciais, que poderiam
ter contribuído para a vulnerabilização do ambiente da criança, e assim ter cooperado
para a ocorrência do episódio investigado. Tal averiguação buscava responder ao
artigo 227 da Constituição Federal, artigo 5º e 70 do ECA, e artigo 133, 135 e 136 do
Código Penal, porém não existia perguntas elaboradas em relação a estas
características legais. Ou seja, eram temáticas contempladas, todavia, sem analogias
sofisticadas e planejadas:

378
“Constituição Federal:

Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá
los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

O que diz o ECA:

Art. 5º - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais.

Art. 70 - É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos


direitos da criança e do adolescente.

O que diz o Código Penal:

Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos
resultantes do abandono. Pena: detenção, de 6 meses a 3 anos.

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível, à criança


abandonada ou extraviada (...); ou não pedir, nesses casos, o socorro da
autoridade pública. Pena: detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção
ou disciplina. Pena - detenção, de 2 meses a 1 ano, ou multa.”

O Desembargador Paulo Teles orientava, ainda em 2009, frente ao antigo Código de


Processo Civil/73 e embasado em jurisprudência que:

"PROVA PERICIAL - LAUDO MAL FUNDAMENTADO - NÃO


ADSTRIÇÃO DO JUIZ. Não podendo o Juiz formar convicção em torno das
conclusões do laudo, por falta de fundamentação, aplica-se ao caso o art. 436
do CPC, coletando nessa peça e em outras dos autos todos os elementos
informativos que permitam chegar a uma solução satisfatória" (ADCOAS 14,
ano XI, p. 213).

379
A perícia não vincula o juiz, que tanto pode aceitá-la, integral ou
parcialmente, como rejeitá-la" (STF, RE 92.614-3/PR, 2ª Turma, rel. Min. Djacy
Falcão, DJ de 12/09/80)”.

Em conjunção a proposição legal, o laudo conclusivo, não significa apontar decisão


para o juiz e sim responder de maneira técnica, por meio de uma avaliação psicológica
diagnóstica, o que somente um profissional com expertise, tem habilidade. Por
conseguinte, peritos que trabalham na esfera judicial, são balizados pelo princípio do
livre convencimento do juiz.

Cavalli (2016) informa que, historicamente, o princípio do livre convencimento do juiz


surgiu após a Revolução Francesa de 1789, e que por necessidade de maior segurança
e transparência das decisões, foi-se estabelecendo regras para avaliação das provas.
No Brasil, o princípio em questão edificou-se com base no CPC de 1939, em seu artigo
118, que estabelecia: “na apreciação da prova, o juiz formará livremente o seu
convencimento, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que
não alegados pela parte. Mas, quando a lei considerar determinada forma como da
substância do ato, o juiz não admitirá a prova por outro meio”. Posteriormente no art.
131 do CPC Lei 5869/73, e no art. 93, e estabelecia ainda, em seu artigo 366 uma
exceção a regra geral, informando que quando a lei exigir que o ato seja realizado por
instrumento público, nenhuma outra prova, por mais especial que fosse, poderia
suprir a falta deste instrumento. Bem como, no Art. 93 - Lei complementar, de
iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios:

“IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e


fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar
a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”

E artigo 10º da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Artigo X: Todo ser
humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte
de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres
ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele” (Cavalli, 2016).

E com a entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil no mês de março de


2016, o Código de Processo Civil de 2015 altera essa sistemática e a expressão que
tratava do ‘livre convencimento’, foi retirada, pois no novo modelo processual, o
modelo cooperativo adotado pelo CPC/15 (art. 6º), o juiz e as partes atuam juntos, de
forma co-participativa, na construção em contraditório do resultado do processo.
Penteado (2016) destaca que a finalidade é que todos atuem para um mesmo fim
comum: um processo justo. Desta forma, não seria compatível com este modelo um

380
juiz passivo, neutro, que se limitasse a valorar as provas que as partes produzem.
Enquanto a legislação anterior falava em “apreciar livremente a prova”, a legislação
atual estabelece incumbir ao juiz “apreciar a prova”. O desaparecimento do termo
“livremente” estabelece que a valoração da prova não pode ser feita pelo juiz de forma
discricionária. Então, ao proferir a decisão, incumbe ao juiz, apresentar uma valoração
discursiva da prova, com o objetivo de justificar seu convencimento acerca da
veracidade das alegações, e indicar os motivos pelos quais acolhe ou rejeita cada
elemento do conjunto probatório (Penteado, 2016).

Atualmente no ano de 2017, com o desenrolar da Operação Lava Jato, conduzida pelo
Juiz de 1ª Instância Federal de Curitiba, Sérgio Mouro, que desmantelou um modelo
de corrupção que havia se entranhado no Estado brasileiro, como base de sustentação
de um poder político, provocou uma inquietação pelos mesmos políticos
investigados, de que juiz deveria responder por ‘abuso de autoridade ’(Mendes F. e
Knopfelmacher M., 2016). E apresentaram uma proposta que foi incluída no
substitutivo ao Projeto de Lei 4.850, de 2016 e que pretende criar o chamado “crime de
hermenêutica “ para punir juízes. Ao pretender incluir na Lei 1.079, de 10 de abril de
1950, o artigo 39 – 11 a tipificação, como crime de responsabilidade, a conduta do
magistrado que: “condenar pessoa física ou jurídica sem os elementos essenciais à con
denação, assim reconhecida por decisão judicial colegiada de segunda instância” o
Parlamento questiona a independência judicial. Conseguinte, se a atuação
jurisdicional, baseada no livre convencimento motivado, vier a ser punida e não puder
ser exercida com liberdade e independência, o Judiciário deixa de exercer o papel que
a Constituição Federal lhe destinou. No Brasil, existe todo o sistema recursal próprio
para a reversão de decisões judiciais tidas por injustas, por meio da segunda instância
até o Supremo Tribunal Federal e também há os órgãos de controle interno, as
Corregedorias e externos, o Conselho Nacional de Justiça do Poder Judiciário (Mendes
F. e Knopfelmacher M., 2016).

A orientação do Desembargador deixava sempre muito claro para a pesquisadora, o


papel do psicólogo no contexto forense, o de auxiliar do juiz. Pois, se o juiz estivesse
adstrito ao laudo, o perito, estaria, na matéria pericial, na posição de juiz, e este
subordinado, pois, ao perito. O juiz é o destinatário direto da prova, e as partes e
outros interessados são os destinatários indiretos (Penteado, 2016).

Importante ressaltar, no entanto, que ainda que o juiz não esteja adstrito ao trabalho
pericial, deve declinar o motivo de não acatar o laudo. E se esta for a decisão do juiz
diante do laudo, cabe o entendimento de, não se compreende um laudo, como válido,
se não for motivado, se não for claro, objetivo e que, em suma, não procure esclarecer
aquilo que determinou a realização da prova pericial (Dantas, 2015).

E em 2015 com o advento da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015, do novo Código


de Processo Civil a pesquisadora se orientava também com base na legislação:

381
“Capítulo XII, Das provas

Seção I – Disposições Gerais

Art. 371.

O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito


que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu
convencimento.”

“Capítulo XII, Das provas

Seção X – Das provas periciais

Art. 473.

O laudo pericial deverá conter:

I - a exposição do objeto da perícia;

II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito;

III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser


predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da
qual se originou;

IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas


partes e pelo órgão do Ministério Público.

§ 1º No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem


simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões.

§ 2º É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como


emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do objeto
da perícia.

§ 3º Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos


podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo
informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de
terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com
planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos
necessários ao esclarecimento do objeto da perícia.”

Capítulo XII, Das provas

382
Seção X – Das provas periciais

Art. 479.

O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371,


indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de
considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo
perito.”

E assim o Desembargador Paulo Teles enfatizava constantemente na trajetória


profissional da pesquisadora, de que, laudo sem motivação e sem fundamentação, não
se apresenta para embasar sentença judicial, ainda que se trate de laudo de perito, isto
é, do perito do juiz. As respostas aos quesitos formulados hão de ser completas e
oferecerem as razões porque o perito chegou a elas (Melina, 2015).

Dantas (2015), alerta que, ainda que tenha quesitos, numa parte geral ou introdutória
do laudo, deve ser feito todo o levantamento de considerações que pondere
pertinentes e úteis, para, no momento de responder aos quesitos, de modo conciso, o
perito possa reportar-se àquela parte que embasa o seu trabalho e o seu laudo. Do
contrário, a perícia de nada vale. A sentença proferida com base, unicamente, em
laudo falho ou inútil não pode subsistir (Dantas, 2015).

Ainda para reforçar a necessidade de conclusividade e objetividade, o artigo 465 do


Código de Processo Civil de 2015 impera que:

“Capítulo XII, Das provas

Seção X – Das provas periciais

Art. 465

§ 5º Quando a perícia for inconclusiva ou deficiente, o juiz poderá reduzir a


remuneração inicialmente arbitrada para o trabalho.”

Frente as necessidades legais, o profissional perito, seja ele qual for, demanda atender
a essas exigências e a psicologia não pode se furtar a isso. Então, já com vistas ao
doutoramento, em 2013, seria necessário que a pesquisadora superasse a
complexidade técnica da perícia psicológica infantil forense, com a finalidade de
sistematizar o instrumental pericial, desde o recebimento da solicitação até a entrega
do documento a justiça.

Então a pesquisadora, em 2010, criou no CEPAJ um fluxo para o recebimento dos


casos, desde o recebimento da solicitação até o arquivamento dos laudos, sendo que
o documento encaminhado para os juízes seria somente o laudo psicológico, sem o
anexo de todas as atividades que a criança estava inserida no Centro, e que
acompanhava a avaliação psicológica, até esta data.

383
Apresentação do laudo psicológico em conformidade ás peculiaridades do contexto

forense

A pesquisadora no ano de 2010 e 2011 já realizava a avaliação psicológica, com um


laudo psicológico de conteúdo pertinente as demandas do judiciário, conclusivo em
relação ao a ocorrência ou não do fato, com anamnese detalhada e altamente
descritivo. A testagem era realizada com testes projetivos como: o Teste HTP e o Teste
Projetivo Rorschach, como uma avaliação que destacava o estado psico-emocional da
criança. No laudo era detalhado uma parte para fundamentação teórica e as
percepções clínicas do profissional, com destaque para as visitas domiciliares, visitas
a profissionais que atenderam a criança, entrevista com vizinhos e familiares, porém
ainda não ocorria o estudo documental do processo judicial.

Após a pesquisa avaliativa junto ao judiciário, referente áquilo que seria importante
comparecer ao laudo psicológico, ficou explícito um problema muito maior. Um
problema técnico, no desenvolvimento da ‘avaliação psicológica para contexto
forense’. Assim, a ausência técnica, de um manejo adequado da quantidade de
informações colhidas nas entrevistas, em detrimento ás informações que eram
aproveitadas e ou eram levantadas e apresentadas para dirimir as dúvidas dos juízes.

Além do problema técnico supracitado, o Desembargador Paulo Teles, destacava a


necessidade de se contemplar os artigos 18 - do crime doloso ou culposo; 59 –
aplicação da pena com referência a conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da
vítima, e 65 – circunstâncias atenuantes, do Código Penal, ficou evidente por parte dos
8 juízes entrevistados da esfera criminal. Então, para que fosse respondido tais
características seria necessário ‘perguntas ’para levantar estes dados.

A pesquisadora já possuía um panomarama de temáticas relevantes para a


aplicabilidade na perícia psicológica, porém, havia outras prioridades a serem
sistematizadas, e que necessariamente deveria ocorrer prioritariamente, por questões
operacionais para a realização da praxis, como a exemplo, o tipo de entrevista e o tipo
de perguntas a serem utilizadas, fundamentadas em referência teórico correlato. Tal
operacionalização é extremamente vasta, pois para realizar tal feito, exige-se um
conhecimento de todo o panomarama teórico não só da linha conceitual que se
adotará na avaliação psicológica, bem como, as teorias do fenômeno da violência
sexual infanto-juvenil, ambos aportes complexos. Além de se estabelecer
tecnicamente, na linha tênue entre as demandas da psicologia e as demandas jurídicas.

Desta forma, na intersecção do contexto jurídico, com a ciência psicologia, o perito


necessariamente deve estar atento ao que a pesquisadora considera a mais cruciforme,
áquilo que o laudo representa, sem que uma representação não desconfigure a outra.
Na esfera jurídica, o laudo tem peso de ‘prova ’e na esfera da psicologia deve

384
continuar assumindo a configuração da avaliação psicológica, amparada pela
Resolução CFP nº 007/2003, que institui o manual de elaboração de documentos
escritos pelo psicólogo e pela Resolução do CFP nº 008/2010, que dispõe sobre a
atuação do psicólogo como perito e assistente técnico do Poder Judiciário. Por sua vez,
o laudo psicológico ao contemplar demandas da esfera jurídica, não busca “provar” o
crime estupro de vulnerável, mas sim, caso tenha ocorrido, levantar as características
e os impactos na dinâmica relacional que tal evento proporcionou, e que também
possuem características legais:

“A perícia psicológica é aquela realizada por psicólogos com o intuito de


responder a um questionamento jurídico (Arantes, 2005; Cesca, 2004;
Rovinski, 2007). Além de possuir conhecimentos técnicos e teóricos
específicos sobre a sua área de atuação, o psicólogo deve estar a par da
terminologia e da legislação vigente, estabelecendo objetivos de avaliação e
construindo procedimentos que sejam legalmente relevantes, orientando seu
trabalho aos propósitos judiciais (Brandão, 2005; Rodrigues, 2004; Rovinski,
2007). (Schaefer, Rossetto & Kristensen, 2012).”

O que se faz necessário nesta intersecção, é a realização de um trabalho, por meio de


um instrumental planejado e estrurado em adequação as obrigações e deveres dos
psicólogos, em relação as necessidades legais da justiça, para que o resultado da
atividade profissional não seja desprezado por este segundo. Com isso, cabe ao
profissional psicólogo, reconhecer a distinção da matéria e a semelhança da
finalidade, que para a justiça é a supressão da dúvida da ocorrência ou não do fato,
como o fato ocorreu, autoria do crime, personalidade e motivação do autor, e para a
psicologia a identificação da violência sexual infantil. Desta forma destaca Cunha
(2003):

“É, pois, responsabilidade do clínico manter canais de comunicação com os


diferentes tipos de contextos profissionais para os quais trabalha,
familiarizando-se com a variabilidade de problemas com que se defrontam e
conhecendo as diversas decisões que os mesmos pressupõem. Mais do que
isso: deve determinar e esclarecer o que dele se espera, no caso individual.
Esta é uma estratégia de aproximação, que lhe permitirá adequar seus dados
às necessidades das fontes de encaminhamento, de forma que seus resultados
tenham o impacto que merecem e o psicodiagnóstico receba o crédito a que
faz jus.”

Em 2010, a solicitação pericial para a pesquisadora era requerida pelo juiz, o que
manifestava que que o inquérito não se consubstanciava de informações e ou de um
conjunto probatório robusto e suficiente para a responsabilização. Ao passo que,
apontava para uma possível responsabilização visto que, havia superado três etapas
anteriores: primeiramente a do inquérito policial mediante indiciamento, que é o ato
pelo qual a Autoridade Policial, no curso do inquérito policial, aponta determinado

385
suspeito como autor de uma infração; o oferecimento de denuncia pelo Ministério
Público e o deferimento do juiz. Deste modo, esta peneira institucional apontava para
o perito do juiz, que tal caso requeria diagnóstico mais detalhado e depurado, na busca
de elevada resolutilidade quanto a ocorrência ou não da tipificação criminal em
questão, artigo 217-A do Código Penal Brasileiro. Assim, outro ponto cruciforme, era
responder aos quesitos, por meio de sua avaliação psicológica, frente a um quadro
ainda insuficiente para o juiz.

A solicitação para perícia, chegava a pesquisadora, após 4 a 6 anos, em que já havia se


estabelecido um padrão verbal, com características peculiares dos envolvidos, que se
configurou, seja pela quantidade de questionamentos ao longo do inquérito e processo
penal, seja pelas diversas orientações fornecidas por familiares, terceiros, profissionais
e ou advogados.

O que ocorria era uma contaminação do repertório verbal que seguramente


distanciava do repertório verbal constituído no início, quando os comunicantes
buscaram por órgãos legais, como a autoridade policial. Com isso, a análise do relato
espontâneo ficava prejudicada, visto que, as temáticas destacadas pelos periciandos,
já se apresentavam maculadas pelas interferências: do seu próprio comportamento de
pensar ao longo do tempo, de estar inserido em demanda judicial e por receber
orientações profissionais e de terceiros, especialmente familiares.

Assim, diante desta possibilidade a pesquisadora necessitava de um instrumental


pericial resistente a tais interferências. E para isso necessitaria de uma entrevista
ampla e estruturada o suficiente que pudesse contemplar e levantar características e
situações ligadas diretamente ao fato, bem como, características e situações ligadas
indiretamente. E que, ao se constituírem pudesse expressar o possível e propício
contexto para a ocorrência da interação de conteúdo sexual de um adulto com uma
criança, bem como o comportamento público e privado dos envolvidos. Ainda aqui,
estava acrescido toda a problemática da possibilidade de ‘falsa alegação’.

Com isso, o que podia ser verificado em situação pericial, era que, as temáticas que
necessitavam ser exploradas e respondidas para a demanda judicial, não eram as
temáticas que compareciam nos relatos dos periciandos. A cosntatação era que, em
situação de relato espontâneo as temáticas necessárias para a avaliação, análise e
evolução da perícia ficavam prejudicadas pela baixa relevância das informações. Pois,
em perícia psicológica forense ocorre um excesso de relatos e uma elevada quantidade
de informações que extrapolam a centralidade da temática pericial. O que se configura
extremamente relevante, porém, esta constatação só pôde ser assegurada em 2015,
diante da evolução teórica e instrumental.

Em situação pericial forense, periciandos comparecem com relatos que possuem uma
motivação particular para apresentar ao profissional psicólogo, em que estes

386
periciandos podem expor relatos especialmente por favorecê-los, com informações
que perturbam os fatos autênticos.

Faz-se necessário uma entrevista com fundamentação teórica aprofundada, com


perguntas e sequência que suporte vieses pessoais e análise pertinente a
fundamentação teórica proposta. Que proporcionará ao perito uma possibilidade de
discriminação do relato, com vistas a precisão diagnóstica e consequentemente ao
sucesso pericial, que responda a solicitação judicial.

A pesquisadora ao diagnosticar nos relatos o distanciamento da centralidade temática


do fato investigado, realizava o questionamento: Por qual motivo você está relatando
tal episódio? E assim, a pesquisadora começou a dispensar atenção para a resposta
dos periciados-comunicante. Destaco que, os casos remetidos ao CEPAJ e atendidos
pela pesquisadora de 2008 a 2013 foram todas perícias entre a parelha pai-filha.

O próximo passo foi destacar qual temática compareceria com mais frequência, por
espontaneidade do pericando. O que se constatou, foram temáticas aleatórias e sem
relevância para a resolução das questões legais.

A busca de levantar dados - Entrevista Contingenciada

O que era desafiador não era uma remodelagem do instrumental utilizado, mas sim
inovar com um recurso que reunisse e organizasse os dados, na medida em que se
realizasse a perícia, uma análise ‘a tempo e a hora’.

Por sua vez, o que ocorreria ao instrumental utilizado seria sua completa
reconfiguração, tal como a um Software Aplicativocxli que na medida que se atualiza,
proporciona ao usuário dados mais sincronizados, a sincronização de dados é uma
forma complexa de organização. A pesquisadora tinha o objetivo de se assemelhar a
um Launcher inteligente, que são aplicativos com o objetivo de analisar não só dos
dados e sincroniza-los. Mas também, analisar o comportamento do usuário e alguns
elementos externos, como localização e horário, para reorganizarem a tela inicial do
Android, com o objetivo de se antecipar ao que o usuário necessita.

Este levantamento de dados por meio de uma entrevista era de extrema importância,
visto que, uma quantidade elevada de informações trazidas pelos periciandos eram
pouco relevantes para o desfecho do diagnóstico. E para obter informações com
relevância legal, necessitava-se de perguntas e habilidades de entrevistas específicas
do perito que proporcionassem nos periciandos as respostas relativas as perguntas,
mesmo que não a respondessem. Pois, desta forma o perito saberia o que não foi
respondido.

Inicialmente, em 2010, as sequências das perguntas eram de baixa sincronicidade, o


que continuava exigindo do perito elevado tratamento compilativo-analítico dos

387
dados, um trabalho estenuantemente lento. O que se tinha, era que os dados
fornecidos pelo periciado, que eram espontâneos e carcterizados por um elevado
número de informações ‘aparentemente relevante’, eram menos significativos para o
contexto judicial. E que para atingir dados com relevância legal, exigia do perito,
perguntas precisas.

A pesquisadora constatou que para realizar perguntas com elevada sincronicidade


para a compilação das informações e de ótima sequência lógica, necessitaria classificar
as temáticas por prioridades, e por interesse da demanda pericial. Para isso, a
primordial característica a ser considerada, seria o conforto do periciando frente as
perguntas, o que poderia acarretar para a entrevista, com um início de entrevista com
perguntas mais neutras em relação ao fato periciado e ainda com a capacidade de
extrair indicadores em relação ao que se investiga.

Para isso, não só a entrevista deveria se dessensibilizar em um continnum da temática


mais neutra, para a temática investigada. E desta forma, o próprio periciando se
dessensibilizaria para o assunto por ele evitado: a interação de conteúdo sexual de um
adulto com uma criança. Por sua vez, separar a entrevista por temáticas,
interrelacionar os dados, e análisá-los, não ocorreu de pronto.

Nesta etapa do estudo a pesquisadora considerava também características relacionais


do indicador legal a Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, que dispõe sobre a alienação
parental e altera o art. 236 da Lei nº 8.069 - ECA, de 13 de julho de 1990. Com destaque
especial para o Artigo 2º, a pesquisadora buscava uma padronagem (que futuramente,
em 2015 seria a contingência) para analisar os indicadores: ‘interferência na formação
psicológica da criança ou do adolescente ’e ‘promovida ou induzida por um dos genitores’,
caracterizados pelos tópicos de I a VII, a seguir:

“Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação


psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua
autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.

Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos


atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício


da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

388
V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a
criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra


avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a


dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avós.”

Deste modo, analisar indicadores só seria possível com o levantamento de dados e por
sua vez, dados só seriam destacados, por duas vias: testagem e entrevista. Para isso,
as perguntas e sua sequência era a matéria prima necessária para o levantamento das
informações relevantes. Sendo que a entrevista contemplaria:

a) classificação da temática;

b) relevância da temática em relação a ocorrência ou não do fato investigado;

c) potencial para combinação com outros dados;

d) análise em relação ao fato investigado;

e) corroboração das informações com a testagem;

f) corroboração das informações com comportamentos observados nas testagens


verbais;

g) corroboração das informações com a teoria de desenvolvimento infantil.

A pesquisadora ainda constatava que após o tratamento dos relatos, comparecia ao


laudo, uma média de 20% destes dados. Sendo que os outros 80% não são descartados,
mas sim comparecem como composição aos dados relevantes, o que fornece subsidio
de análise para o perito combinar e corroborar indicadores, conforme explica Cunha
(2003):

“Selecionada e administrada uma bateria de testes, obtêm-se dados que


devem ser interrelacionados com as informações da história clínica, da
história pessoal ou com outras, a partir do elenco das hipóteses iniciais, para
permitir uma seleção e uma integração, norteada pelos objetivos do
psicodiagnóstico, que determinam o nível de inferências que deve ser
alcançado. Tais resultados são comunicados a quem de direito, podendo
oferecer subsídios para decisões ou recomendações.”

Desta forma, os dados:

389
a) seriam identificados;

b) classificados por temática;

c) analisados por meio dos indicadores;

d) e o resultado apresentado ao laudo.

Por sua vez, o perito psicólogo ao analisar os dados, se depara com a maneira de
expressar estes dados, que são os resultados dos dados analisados. A análise destes
dados ao se integrarem, se constituem em novas informações, que é o resultado que
comparece ao laudo. Que são informações diagnósticas que contemplam a intersecção
da ciência jurídica e da ciência psicológica. Em que, em uma se considera a
especialidade do perito, que é psicólogo, e outra a demanda jurídica.

Então o desafio da pesquisadora, era: Como levantar os dados dos relatos de maneira
que estes já comparecessem aos apontamentos do perito por classes temáticas e com
asequência hierárquica do fato?

O que a pesquisadora possuía era uma constatação técnica, a respeito do que era
informado pela comunicante, a respeito dos comportamentos da criança e que poderia
ser comparado à teoria do desenvolvimento. Desta forma, a pesquisadora realizava a
análise dos relatos maternos em relação ao que era observado na situação pericial e
corroborado de acordo com a teoria da etapa do desenvolvimento infantil.

O que se buscava no relato era uma característica (em 2015, considerada: indicador)
que deveria estar de acordo com a etapa de desenvolvimento infantil conforme teoria
desenvolvimentista, bem como, o que se observava na criança nas sessões periciais.

Então, para se afirmar: ‘elevada ou baixa fidedignidade do relato’, a pesquisadora


analisava: relato materno em relação ao comportamento da criança X comportamento
da criança observado pelo perito X analise do comportamento da criança em testagem
X análise do comportamento da criança em relação a teoria do desenvolvimento
infantil.

Os dados para serem analisados, necessitam de uma fundamentação teórica e um


modelo analítico, e foi isso que a pesquisadora perseguiu. A fundamentação teoria do
Behaviorismo Radical, com a Análise Funcional do Comportamento Verbal.

O dado considerado ‘informação’ em perícias criminais

Esta análise, diz respeito ao conteúdo da informação fornecida, a estrutura do relato e


ao comportamento verbal. A informação, condiz ao dado que será tratado e analisado,
que se refere a natureza desta informação, o quanto ela pode se alterar e distanciar do
seu formato inicial ou genuíno.

390
A informação em si já existe antes que obtenhamos conhecimento sobre ela, daí a sua
condição própria, em que, qualquer particularidade que não seja da sua condição
genuína, a descaracteriza. O que altera a sua natureza é a transmissão dela por meio
de algum sinal que pode chegar por qualquer um dos cinco sentidos humanos: visão,
audição, paladar, tato ou olfato. A informação se torna física no momento em que é
expressada, transmitida e organizada. Mesmo que não seja pela melhor forma de
organização, qualquer sentido utilizado na emissão e/ou recepção da transmissão da
informação precisa de critérios para se tornar algo concreto, que realmente exista. O
papel do comunicador é atribuir valor à informação e isso não faz parte da natureza
da informação. Desta forma, se entenda por natureza da informação qualquer
conjunto de características particulares que determinem elementos materiais ou
imateriais, como, fatos, objetos ou seres, todos com uma condição própria e
organizada. A informação, é o princípio de “algo” que realmente existe e, mais do que
isso, que possui essência própria, não sendo, portanto, nenhum tipo de derivação, mas
sim a origem. Ainda pode ser entendida como detentora de um cerne físico,
organizado e singular.

A partir do século XIV o termo "informação" surgiu em várias línguas europeias em


desenvolvimento no sentido geral de "educação" e "investigação". O dicionário histó
rico francês por Godefroy (1881) dá a ação o anterior, instrução, enquete, ciência,
talento como significados adiantados da "informação". O termo também foi usado
explicitamente para investigações legais (Dictionnaire du Moyen Français (1330-1500)
2010). Por causa desse uso coloquial, o termo "informação" perde gradualmente sua
associação com o conceito de "forma" e aparece cada vez menos num sentido formal
nos textos filosóficos (Adriaans, 2013). Existem várias maneiras de medir a quantidade
de informações armazenadas em um portador de informação x. Seja 1 (x) uma função
de informação indeterminada que atribui um valor escalar a x medindo a sua
'informação'.

Existem duas intuições básicas ou máximas que qualquer proposta de medição deve
observar: a) A informação é extensa - o texto mais extenso contém potencialmente
mais informações. Assim, quando temos duas estruturas A e B que são mutuamente
independentes, então a informação total na combinação deve ser a soma de ambas as
informações em A e B: 1 (A e B) = 1 (A) + 1 (B); b) A informação reduz a incerteza - A
informação cresce com a redução da incerteza que ela cria.

Quando estamos absolutamente certos a respeito de um estado de coisas, não


podemos receber mais novas informações sobre o assunto. Isto sugere uma associação
entre informação e probabilidade. Estruturas improváveis contêm mais informações. Se
medimos a probabilidade de um evento em termos de um número real entre 0 e 1,
então quando P (A) = 1, ou seja, é absolutamente certo que A ocorrerá, devemos ter
que 1(A) = 0, ou seja, a ocorrência de A não contém nenhuma informação (Adriaans,
2013). A primeira ação de um cientista antes de poder formular uma teoria é coletar

391
informações. As possibilidades de aplicação são abundantes. Por meio do datamining,
que é a pratica de examinar um grande conjunto de dados organizados e gerar novas
informações e o tratamentos de conjuntos de dados extremamente grandes, parece ser
uma condição essencial para quase todas as disciplinas empíricas no século XXI
(Adriaans, 2013).

A palavra informação possui raízes latinas (informatio). Antes de explorarmos essa


linha de pensamento, devemos examinar seu verbete no The Oxford English Dictionary
(1989). Devemos considerar dois contextos básicos nos quais informação é usada;
como, o ato de moldar a mente, e o ato de comunicar conhecimento. Essas duas
atividades são, obviamente, intimamente relacionadas. Mas, como e quando,
informação e forma se relacionaram? Baseado nos estudos de Seiffert (1968) e Schnelle
(1976), Capurro (1978) explora as origens gregas da palavra latina informatio assim
como seu subseqüente desenvolvimento. Seu conhecimento crítico-histórico
proporciona um melhor entendimento dos conceitos de informação, no período
Helenístico assim como na Idade Média e nos tempos modernos (Capurro & Hjorland,
2007).

Em psicologia, o conceito de informação tem tido um papel central na chamada


revolução cognitiva que aconteceu a partir de 1956, também chamada de paradigma
de processamento de informação em psicologia. Esse desenvolvimento deu origem a
novo campo interdisciplinar, chamado psicologia cognitiva, em que Gärdenfors (1999)
revisa o desenvolvimento desse campo. Ao invés dos desapontamentos com a teoria
da informação (ver Quastler, 1956; Rapoport, 1956), a tendência dominante em
psicologia teve um tipo de funcionalismo no qual processos cognitivos humanos são
vistos como análogos a computadores de processamento de informação. Não há muita
discussão explícita sobre o conceito de informação em psicologia. Algumas exceções
são Golu (1981), Hamlyn (1977), Harary & Batell (1978), Harrah (1958), Miller, (1953),
Miller (1988), Noerretranders (1998), Peterfreund & Schwartz (1971), Rapoport (1953)
e Rogers (2000). A tendência tem sido reducionista no sentido que seres humanos são
vistos como extratores de informação das propriedades físicas e químicas de estímulos
sensoriais. Tais reducionismos ficam em contraste com compreensões mais herméticas
e históricas nos quais percepção é também informada por fatores culturais, e
informação não é definida ou processada de acordo com mecanismos do cérebro, mas
por critérios e mecanismos historicamente desenvolvidos (Capurro & Hjorland, 2007).

Com emersão da teoria empirista do conhecimento, na filosofia moderna, o


desenvolvimento de várias teorias matemáticas da informação no século XX e a
ascendência da tecnologia da informação, fez com que o conceito de "informação"
conquistasse um lugar central nas ciências e na sociedade. Esse interesse também
levou ao surgimento de um ramo que se distanciou da filosofia e que analisa a
informação em todas as suas formas (Adriaans e van Benthem 2008a, b, Lenski, 2010;
Floridi 2002, 2011). A informação tornou-se uma categoria central também na ciência

392
e a reflexão sobre a informação impacta também em uma vasta gama de disciplinas
filosóficas que variam da lógica (Floridi, 1999) à ética (Dretske 1981; van Benthem en
van Rooij 2003; van Benthem 2006) e da estética (Schmidhuber 1997a, Adriaans 2008)
à ontologia (Zuse, 1969, Wheeler, 1990, Schmidhuber, 1997b, Wolfram, 2002, Hutter,
2010).

O termo "informação" na fala coloquial é atualmente predominantemente usado como


um substantivo abstrato usado para denotar qualquer quantidade de dados, código
ou texto que é armazenado, enviado, recebido ou manipulado em qualquer meio. A
história detalhada tanto do termo "informação" quanto dos vários conceitos que a
acompanham, é complexa (Seiffert 1968, Schnelle 1976, Capurro, 1978, Capurro e
Hjørland, 2003). O significado exato do termo "informação" varia em diferentes
tradições filosóficas e seu uso coloquial varia geograficamente e em diferentes
contextos pragmáticos. Embora a análise da noção de informação tenha sido um tema
extenso da filosofia ocidental, a análise explícita da informação como conceito
filosófico é recente e remonta à segunda metade do século XX. Historicamente, o
estudo do conceito de informação pode ser entendido como um esforço para tornar
mensuráveis as propriedades extensivas do conhecimento humano (Adriaans, 2013).

Para Floridi (2004), a informação na perspectiva filosófica possui uma natureza


indefinida e por sua vez, sob esta perspectiva, a natureza da informação não recebe
um tratamento conclusivo (De Siqueira, 2008). Destacamos, que não nos referimos a
representação da informação, que foi, e é, objeto de discussão da filosofia (De Siqueira,
2008), nos referimos, a tratar a informação como realidade, a colocá-la de modo
independente de um sujeito que a observe e interprete, para isso utilizamos a técnica:

“Segundo a doutrina antiga, a essência de algo é aquilo que algo é.


Perguntamos pela técnica quando perguntamos pelo modo como ela é o que
é. Todo o mundo conhece os dois enunciados que contestam a nossa pergunta.
O primeiro diz: a técnica é um meio para um fim. O outro da técnica se
complementam. Porque definir fins e criar e usar meios para eles é um fazer
humano. Ao que é a técnica pertence o fabricar e usar artefatos, aparatos e
máquinas; pertence isto mesmo que se há elaborado e se há usado, pertencem
as necessidades e os fins a que servem. O todo destes dispositivos é a técnica,
ela mesma é uma instalação, dito em latim: um instrumentum.” (Martin
Heidegger, 1994)

Etapas distintas: levantar, analisar e apresentar dados

De Almeida (2004) informa que, a Avaliação Psicológica pode ser realizada por meio
de várias técnicas que o psicólogo tem a sua disposição, como: a Entrevista, a
Observação e os Testes. A Entrevista Psicológica como um instrumento indispensável
e poderoso que o psicólogo possui no processo de Avaliação Psicológica e entendida
como aquela na qual se buscam objetivos psicológicos de investigação, diagnóstico ou

393
terapia (De Almeida, 2004). Mesmo que a entrevista psicológica seja usada com a
finalidade explícita de se fazer algum tipo de avaliação de aspectos psicológicos da
personalidade, a observação participante, como diz Sullivan (1970), ou a observação
da interação, ou a observação do campo, segundo Bleger (1998), é o ponto básico e
principal dessa técnica (De Almeida, 2004). Conforme Tavares (2002, in De Almeida,
2004), as diversas técnicas de entrevista têm o objetivo de avaliar para fazer algum
tipo de recomendação, seja diagnóstica ou terapêutica. De acordo com Bleger (1998,
in De Almeida, 2004) na consideração da entrevista psicológica como técnica, esta
possui procedimentos e regras empíricas próprias:

“Com os quais não só se amplia e se verifica como também, ao mesmo tempo,


se aplica o conhecimento científico. Essa dupla face da técnica tem especial
gravitação no caso da entrevista porque, entre outras razões, identifica ou faz
coexistir no psicólogo as funções de investigador e de profissional, já que a
técnica é o ponto de interação entre a ciência e as necessidades práticas; é
assim que a entrevista alcança a aplicação de conhecimentos científicos e, ao
mesmo tempo, obtém ou possibilita levar a vida diária do ser humano ao nível
do conhecimento e da elaboração científica. E tudo isso em um processo
ininterrupto de interação (p. 1).”

O registro realizado pelo entrevistador do relato do cliente: quer seja o relato


razoavelmente espontâneo obtido na entrevista, ou o conjunto das respostas a
determinados estímulos que constituem o aparato instrumental próprio da profissão
psicólogo, é o material básico que fundamenta a compreensão do “caso” (Augras,
2002, p. 82, in De Almeida, 2004). De Almeida apresenta Tavares (2002), que ressalta,
que as técnicas de entrevistas favorecem a manifestação das particularidades do
sujeito, permitindo assim ao profissional:

“Acesso amplo e profundo ao outro, a seu modo de se estruturar e de se


relacionar, mais do que qualquer outro método de coleta de informações. Por
exemplo, a entrevista é a técnica de avaliação que pode mais facilmente se
adaptar às variações individuais e de contexto, para atender às necessidades
colocadas por uma grande diversidade de situações clínicas e para tornar
explícitas particularidades que escapam a outros procedimentos. Por meio
dela, pode-se testar limites, confrontar, contrapor e buscar esclarecimentos,
exemplos e contextos para as respostas do sujeito. Esta adaptabilidade coloca
a entrevista clínica em um lugar de destaque inigualável entre as técnicas de
avaliação (p. 75).”

De Almeida (2004) informa, que para Silveira (2001) os referenciais teóricos oriundos
da Psicanálise, Gestalt ou Behaviorismo, influenciam tanto a técnica da entrevista
quanto a sua análise, ou seja:

“A fundamentação teórica do psicólogo permite realizar a entrevista em


condições metodológicas mais restritas, convertendo-a em instrumento

394
científico com resultados confiáveis. Entretanto, a entrevista, utilizada
isoladamente, não substitui outros procedimentos de investigação da
personalidade, mas completa os dados obtidos por outros instrumentos (p.
100).”

Por sua vez, a técnica utilizada neste trabalho para acessar informação, é a entrevista,
e conseguinte a isso, elaborar as perguntas da entrevista que acessarão as informações
que se busca.

Destacamos que em 2010, os dados eram levantados, tanto pela testagem, quanto pela
entrevista não estruturada. Assim, para a análise dos dados, utilizava-se como
parâmetro os dados obtidos na entrevista, que eram corroborados a testagem. A
pesquisadora não possuia perguntas específicas de natureza diagnóstica, com o
objetivo de identificar eventos específicos.

Conforme Skinner (1974), a pergunta, pede uma informação que pode ser pública, mas
que, no momento está fora do alcance de quem pergunta. Tal como ocorre na interação
de conteúdo sexual, que é pública, mas está fora do alcance de quem pergunta. Certo
de que, ao se relatar algo, se relata comportamento. Por sua vez, tal como o sentir, não
se pode negligenciar tal fonte de informação, só por ser a própria pessoa, a única capaz
de estabelecer contato com o mundo interior (Skinner, 1974). Segundo Skinner (1974),
este esclarece:

“Respondemos ao nosso próprio corpo com três sistemas nervosos, dois dos
quais estão particularmente relacionados com traços internos. O chamado
sistema interoceptivo, transmite a estimulação de órgãos como a bexiga e o
aparelho digestivo, as glândulas e seus canais, e os vasos sanguíneos. É de
fundamental importância para a economia interna do organismo. O chamado
sistema proprioceptivo transmite a estimulação dos músculos, articulações e
tendões do esqueleto e e outros órgãos envolvidos na manutenção da postura
e na execução de movimentos. Usamos o verbo ‘sentir’ para descrever nosso
contato com esses dois tipos de estimulação. Um terceiro sistema nervoso, o
exteroceptivo, está basicamente envolvido no ver, ouvir, degustar, cheirar e
sentir as coisas do mundo que nos cerca, mas desempenha papel importante
na observação de nosso próprio corpo.”

Skinner (1974) acrescenta que os três sistemas nervosos evoluíram filogeneticamente


por desempenharem importantes funções biológicas, porém com o comportamento
verbal ativou outras funções, em que, as pessoas ao fazerem perguntas umas às outras,
exige uma forma diferente de resposta ao corpo. Segundo Skinner (1974), perguntas
como: “o que foi que você fez ontem?”, suscitam por sua vez, respostas que são úteis
para a previsão e preparação e também proporciona informação acerca de um mundo
situado fora do alcance de outras pessoas (Skinner, 1974). E esclarece que o fato do
indivíduo possuir um contato tão íntimo com seu próprio corpo, não lhe confere a
capacidade de descrever os estados de seu próprio corpo, tal como, o sentir, a resposta

395
comumente se refere a uma condição pública. Skinner (1974) alerta que uma criança
ao sofrer um corte, pode responder apenas ao acontecimento privado e dizer ‘Dói’, e
a comunidade verbal utilizar da informação pública. A criança pode aprender a
descrever um estímulo privado com uma precisão que depende apenas do grau de
concordância entre os acontecimentos públicos e privados. Desta forma o corte, que é
um evento público, pode ser correlacionado de maneira fidedigna com os estímulos
privados gerados por ele (Skinner, 1974, p. 24). Matos (1995) esclarece: “com relação a
verbos que denotam funções emocionais ou perceptuais a linguagem me impede de
interagir com o ambiente; no máximo ou interajo com a dor, com a alegria, com minha
memória, com o conteúdo dos meus pensamentos, com minhas idéias, cognições”.
Skinner (1974) destaca que:

“Os termos que se referem a estados emotivos ou motivadores mostram


alguma conexão com as circunstâncias externas responsáveis por eles. Por
exemplo, sentimo-nos tristes [sad], no sentido original de fartos, saciados
[sated], ou excitados [excited] no sentido de provocados, instigados, mas estas
expressões talvez sejam apenas metáforas. Não no sentimos tensos no sentido
literal de estar sendo distendidos, ou deprimidos no sentido literal de
vergados sob um peso, podemos ter adquirido tais palavras em circunstâncias
qua não têm conexão alguma com comportamento ou sentimentos. Quase
todos os termos que descrevem emoções e que fazem referência direta a
condições estimuladoras foram originariamente metáforas (p. 25, 26)”.

Em 2010, a entrevista, fornecia uma base informacional relevante, porém de baixa


objetividade diagnóstica, pois ainda não se tratava da Entrevista Contingenciada.
Assim nos primórdios deste trabalho era indispensável várias sessões para se chegar
a análise de um dado. Pois, o dado diagnóstico relevante, encontrava-se emaranhado
em meio a outras informações que o ocultava. E a pesquisadora realizava uma
correlação entre: relato materno em relação ao comportamento da criança X
comportamento da criança observado pelo perito X analise do comportamento da
criança em testagem X análise do comportamento da criança em relação a teoria do
desenvolvimento infantil.

Destacamos que, com o desenvolver de uma entrevista diagnóstica a pesquisadora


buscou a análise funcional do comportamento verbal, com destaque para a análise de
relatos acerca da estimulação privada, como exemplifica Skinner (1974): “tendemos
particularmente a suspeitar de relatos acerca da estimulação privada, especialmente
quanto a descrição tem outras consequências – como, por exemplo, quando a pessoa
finge de doente para faltar ao trabalho. (Skinner, 1974, p. 26)”. A partir da idealização
de uma Entrevista Diagnóstica, observou-se que, a entrevista deveria ser o
meio/caminho para chegar ao diagnóstico e não o instrumento em si.

Como defende Skinner (1974): “Infelizmente, compreender os princípios envolvidos


na solução do problema não significa ter-lhe a solução”. E continua: “Conhecer os

396
princípios básicos sem conhecer as particularidades de um problema prático não nos
coloca mais perto da solução, do que conhecer os pormenores sem conhecer os
princípios básicos”. Reconhecer esta dinâmica com tendência a um ciclo irresolutível
é identificar ‘o que ’e ‘como ’os problemas podem ser solucionados, ambos
simultaneamente.

O maior desafio para a pesquisadora era estabelecer a relação de diferentes temáticas:


família, dinâmica familiar, campos de vulnerabilidade, relacionamentos intra e inter
pessoal, situações e relações conflituosas, ao fato periciado.

A pesquisadora tinha a idéia de constituir a estruturação da perícia psicológica como


um software, e em 2015, e sob orientação do professor Lorismario Simonassi,
apresentou a idéia e o modelo de entrevista ao Professor Doutor Weber Martins, que
acatou a possibilidade.

Frente ao elevado nível de complexidade informacional em uma perícia psicológica


forense, a pesquisadora assemelhou a organização pericial ao Sistema de Informação
– S.I: conceituam: “Sistema de Informação (S.I.) é um sistema que cria um ambiente
integrado e consistente, capaz de fornecer as informações necessárias a todos os
usuários” (Spinola e Pessôa, 1998). Esta é uma abordagem sistêmica e gerencial da
informação, cujo objetivo é integrar as diferentes etapas e setores, que permite atender
tanto necessidades globais, quanto específicas da mesma (Martins, Pablo Luiz; Melo,
Bruna Martins; Queiroz, Danilo Lemos; Souza, Mariana Silva; Borges, Rodrigo de
Oliveira, 2012).

A pesquisadora vislumbrava um levantamento e tratamento de dados adequados, não


só em relação a complexidade informacional, mas especialmente pela relevância de
tais dados, que ao serem tratados, resultaria no documento, laudo psicológico, no au
xilio à justiça. Por sua vez, a analogia pericial a um software, não era simplificar tal
processo, mas sim sistematizá-lo criteriosamente. Tal como o conceito de Laudon e
Laudon (2004), que informa, que um sistema de informação é como um conjunto de
elementos que interagem e coletam, processam, guardam e difundem informações
que servem como base para a tomada de decisão, e explica:

“Um sistema de informação pode ser definido como um conjunto de


componentes inter-relacionados que coleta (ou recupera), processa, armazena
e distribui informações destinadas a apoiar a tomada de decisões, a
coordenação e o controle de uma organização. Além de dar suporte à tomada
de decisões, à coordenação e ao controle, esses sistemas também auxiliam os
gerentes e trabalhadores a analisar problemas, visualizar assuntos complexos
e criar novos produtos. (Laudon e Laudon, 2004, p. 7)”

Desde o ano de 2008, a pesquisadora não buscava algo como “transmissão de


informação” ou “produção de mensagens”, que não ajudavam na compreensão do

397
comportamento verbal, mas sim, que complexizavam, por elevavar o número de va
riáveis a serem consideradas (Simonassi & Cameschi, 2003):

“Além disso, uma análise mais cuidadosa revela que nada é transmitido de
uma pessoa para outra durante os episódios de interações verbais, pois se elas
não compartilham repertórios comuns será menos provável que a interação
seja longa (Skinner, 1969/1980). E quando as interações se estendem, tendo
em vista as distinções nas funções como falante e ouvinte, o que podemos
observar são as pessoas agindo de modos diferentes em função dos estímulos
produzidos pelo comportamento verbal ou não-verbal das pessoas com quem
interagem, mesmo se os comportamentos verbais do ouvinte forem privados.
Portanto, uma explicação completa deveria identificar tanto os antecedentes
das respostas privadas e, idealmente, como as contingências conseqüentes
estabeleceram a influência das respostas privadas sobre o comportamento
público (Hayes e Brownstein, 1986). Entretanto, é preciso que fique claro que
a análise skinneriana do comportamento verbal é funcional e nunca estrutural
(Simonassi & Cameschi, 2003).”

O progresso operacional da análise dos dados, buscava na comparação das narrativas,


a coerência dos relatos, o que se constituiu posteriormente em uma análise de ‘relatos
correspondentes intra e entre verbais’. Porém, o progresso teórico estava a frente do
progresso operacional, e a pesquisadora reconhecia que a comparação, como medida
de análise, não representava a medida mais apropriada. Mas que poderia fazer parte
de um indicador que se constituísse de tal característica, conforme explica Hayes e
Brownstein (1986; in Simonassi & Cameschi, 2003): “Uma explicação completa deveria
identificar tanto os antecedentes das respostas privadas e, idealmente, como as
contingências conseqüentes estabeleceram a influência das respostas privadas sobre o
comportamento público (Hayes e Brownstein, 1986).”

Para isso, abandonar a comparação de relatos e identificar operantes verbais e seus


conteúdos, fazia parte de acompanhar operacionalmente a evolução teórica do
trabalho. A comparação de relatos foi extensamente utilizada como medida de análise,
e não como característica de um indicador. Os atendimentos se davam em muitas
sessões, em especial com a comunicante da criança e muitos desses relatos mudavam
espontaneamente quanto a estrutura e conteúdo. Por ser a análise skinneriana do
comportamento verbal funcional e nunca estrutural (Simonassi & Cameschi, 2003), a
pesquisadora ao analisar dados dos relatos realizava a busca de ‘relatos com
correspondentes intra e entre verbais’, que ocupou o lugar da comparação.

No tratamento dos dados da avaliação psicológica, a teoria embasa a análise,


conforme destaca Cunha (2003):

“O examinando é submetido a testes, adequados a sua idade e nível de


escolaridade. São levantados escores, consultadas tabelas, e os resultados são
fornecidos em dados quantitativos, classificados sumariamente. Estritamente,

398
se o examinador se restringe a tal objetivo, sua tarefa seria caracterizada mais
como a de um psicometrista do que a de um psicólogo clínico. Todavia, o
psicólogo clínico, que não perde a referência da pessoa do examinando,
dificilmente iria se restringir a tal objetivo, porque analisaria escores dos
subtestes (se tivesse usado um instrumento WIS), bem como diferenças inter
e intratestes, que são suscetíveis de interpretação. Então, teria condições de
identificar forças e fraquezas no funcionamento intelectual. No caso, o
objetivo do exame seria de descrição. Mas, se se detivesse a examinar certos
erros e desvios, poderia levantar pistas que servissem de base para hipóteses
sobre a presença de déficits cognitivos. O objetivo ainda seria o de descrição,
mas o processo seria mais complexo”.

Por ter poucos indicadores analíticos em contexto de anamnese, a pesquisadora


levantava dados junto a familiares e profissionais, por meio de visitas domiciliares e
institucionais. Neste tópico alerto que, as entrevistas com vizinhos era uma fonte
riquíssima de informações, principalmente em relação ao trato que a genitora tinha
com a criança e nas relações interpessoais que a genitora estabelecia junto aos próprios
vizinhos e outras pessoas. Por estes ver, ou ouvir dizer.

A atividade de levantar dados, analisar e apresentar os resultados, são tarefas distintas


e envolve técnicas também distintas. Ao passo que, organizar os dados já analisados
para comparecer ao laudo, exige do perito outra habilidade, a de expressar a análise,
por meio de uma redação compreensível e que atenda às necessidades do solicitante
último, neste caso o juiz.

Assim, diante da demanda exigente do judiciário, o Conselho Federal de Psicologia


atende por meio da Resolução CFP nº 008/2010, que dispõe sobre a atuação do
psicólogo perito e assistente técnico no Poder Judiciário e alerta: “CONSIDERANDO
que, quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz
será assistido por perito, por ele nomeado”.

A tarefa de expressar por meio da redação, uma análise, pode ser considerada uma
tarefa das mais complexas, que depende de todo o trabalho realizado anteriormente e
que exige do perito organização e sistematização no levantamento, análise e
apresentação dos dados.

Redigir é uma habilidade, exige treino para simplificar a complexização da análise


sem perder o núcleo informativo, aquele, que não só auxiliará o juiz, mas que ao ser
lido, traga todas as impressões leigas, para o campo técnico-científico. Para isso a
Resolução CFP n.º 007/2003, que Institui o Manual de Elaboração de Documentos
Escritos produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica e revoga a
Resolução CFP º 17/2002, esclarece:

“I - PRINCÍPIOS NORTEADORES NA ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS

399
1 – PRINCÍPIOS TÉCNICOS DA LINGUAGEM ESCRITA

O documento deve, na linguagem escrita, apresentar uma redação bem


estruturada e definida, expressando o que se quer comunicar. Deve ter uma
ordenação que possibilite a compreensão por quem o lê, o que é fornecido
pela estrutura, composição de parágrafos ou frases, além da correção
gramatical.

O emprego de frases e termos deve ser compatível com as expressões próprias


da linguagem profissional, garantindo a precisão da comunicação, evitando a
diversidade de significações da linguagem popular, considerando a quem o
documento será destinado.

A comunicação deve ainda apresentar como qualidades: a clareza, a concisão


e a harmonia. A clareza se traduz, na estrutura frasal, pela seqüência ou
ordenamento adequado dos conteúdos, pela explicitação da natureza e
função de cada parte na construção do todo. A concisão se verifica no
emprego da linguagem adequada, da palavra exata e necessária. Essa
“economia verbal” requer do psicólogo a atenção para o equilíbrio que evite
uma redação lacônica ou o exagero de uma redação prolixa. Finalmente, a
harmonia se traduz na correlação adequada das frases, no aspecto sonoro e
na ausência de cacofonias.”

Desta forma, o maior desafio da pesquisadora era compor um instrumental


sistematizado, para a análise dos dados, da avaliação psicológica, com a finalidade de
diagnosticar os dados relevantes e por sua vez, comparecer ao laudo psicológico o que
fosse proeminente:

“O processo de avaliação é complexo e exige um conjunto diferenciado de


técnicas de entrevistas e de instrumentos e procedimentos de avaliação, como,
por exemplo, além da entrevista, os instrumentos projetivos ou cognitivos, as
técnicas de observação, etc. A importância de enfatizar a entrevista como
parte de um processo é de poder vislumbrar o seu papel e o seu contexto ao
lado de uma grande quantidade possível de procedimentos em psicologia. A
entrevista clínica é um procedimento poderoso e, pelas suas características, é
o único capaz de adaptar-se à diversidade de situações clínicas relevantes e
de fazer explicitar particularidades que escapam a outros procedimentos,
principalmente aos padronizados. A entrevista é a única técnica capaz de
testar os limites de aparentes contradições e de tornar explícitas características
indicadas pelos instrumentos padronizados, dando a eles validade clínica
(Tavares, 1998), por isso, a necessidade de dar destaque à entrevista clínica no
âmbito da avaliação psicológica. (Cunha, 2003)”.

A entrevista como base de um sistema de dados na perícia psicológica

A análise dos dados deve ser técnica, e pela formação inicialmente desenvolvimentista
da pesquisadora, a psicologia do desenvolvimento era um campo confortável e de

400
vasto entendimento, o que a deixava segura em relação ao diagnóstico clínico da
criança. Desta forma, desde o início das atividades periciais da pesquisadora, esta
estabelecia uma relação comparativa entre os relatos maternos a respeito dos
comportamentos da criança e a fase de desenvolvimento que o infante se encontrava.
Porém, sem perguntas e contextos específicos, o que se tinha era um roll de
informações necessárias a serem apuradas após todas as sessões da avaliação
psicológica. Ou seja, para a pesquisadora alcançar as informações necessárias, esta
precisava das perguntas consideradas diagnósticas para o alcance preciso das
informações.

Ao considerar o grau de flexibilidade de uma entrevista, estas podem ser classificadas


como estruturadas (padronizadas), que poderá conter perguntas abertas e fechadas e
não-estruturadas (não-padronizadas). Entrevistas não-estruturadas, apresentam
modalidades, tais como: por pautas, focalizada e não-dirigida, tal como esclarece
Antonio Carlos Gil (1999; in de Brito & Junior, 2012):

“As entrevistas podem ser classificadas em: informais, focalizadas,


por pautas e formalizadas.

O tipo de entrevista informal é o menos estruturado possível e só se


distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta
de dados. É recomendado nos estudos exploratórios, que visam a abordar
realidades pouco conhecidas pelo pesquisador, ou então oferecer visão
aproximativa do problema pesquisado.

A entrevista focalizada é tão livre quanto a anterior; todavia, enfoca um


tema bem específico, quando, ao entrevistado, é permitido falar livremente
sobre o assunto, mas com o esforço do entrevistador para retomar o mesmo
foco quando ele começa a desviar-se. É bastante empregado em situações
experimentais, com o objetivo de explorar a fundo alguma experiência vivida
em condições precisas. Também é bastante utilizada com grupos de pessoas
que passaram por uma experiência específica, como assistir a um filme,
presenciar um acidente etc.

O tipo de entrevista por pautas apresenta certo grau de estruturação, já


que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador vai
explorando ao longo de seu curso. As pautas devem ser ordenadas e guardar
certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o
entrevistado falar livremente, à medida que reporta às pautas assinaladas.”

O objetivo da pesquisadora era pela Entrevista estruturada, ou formalizada, que se


desenvolve a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação
permanecem invariáveis e no caso deste trabalho sem a padronização das respostas,
visto a busca era por perguntas de objetivo investigativo-diagnóstico. Brito & Junior
(2012) afirma que, o pesquisador que se aventurar a utilizar uma entrevista sem o

401
devido preparo para conduzí-la, estará fracassado, pois seus resultados não terão
nenhuma ou quase nenhuma validação e pouco acrescentarão à qualquer trabalho de
característica técnico-científico. E acrescenta que de nada vale uma aplicação criteriosa
e perfeita da técnica se o registro das respostas for falho sem precisão ou pouco
acrescentar (Brito & Junior, 2012). Gil (1999) alerta que o único modo de reproduzir
com precisão as respostas é registrá-las durante a entrevista, mediante anotações e/ou
com o uso de gravador.

Brito & Junior (2012) destaca que para Gil (1999), a preparação de um roteiro de
entrevista é fundamental para as entrevistas estruturadas. Baker (1988, p.182) apud Gil,
(1999) trata de algumas regras gerais referentes à elaboração do roteiro:

“a) As instruções para o entrevistador devem ser elaboradas com


clareza;

b) As questões devem ser elaboradas de forma a possibilitar que sua


leitura pelo entrevistador e entendimento pelo entrevistado ocorram sem
maiores dificuldades.

c) Questões potencialmente ameaçadoras devem ser elaboradas de


forma a permitir que o entrevistado responda sem constrangimentos.

d) Questões abertas devem ser evitadas. Quando são elaboradas


questões deste tipo, o entrevistador deve anotar as respostas.

e) As questões devem ser ordenadas de maneira a favorecer o rápido


engajamento do respondente na entrevista, bem como a manutenção do seu
interesse”.

Gil (1999; in Brito & Junior, 2012) acredita que o entrevistado deve sentir-se
absolutamente livre de qualquer coerção, intimidação ou pressão, este é o princípio
para a elaboração das perguntas, que resguarde a dignidade de qualquer entrevistado.
Habigzang, Koller, Stroeher, Hatzenberger, Cunha & Ramos (2008) os profissionais
devem realizar a entrevista com serenidade, cordialidade e empatia, adequação
verbal, em ambiente confortável e que mantenha a privacidade do entrevistado e o
mais importante, evitar perguntas repetidas, uma vez que o entrevistado pode
entender que não respondeu adequadamente e modificar a resposta. Morete (2015)
explica que na Psicologia, um dos procedimentos mais utilizados para avaliação de
abuso sexual é a entrevista (Pelisoli, 2013), assim, a utilização de estratégias de
entrevista investigadas empiricamente, padronizadas em protocolos ou não, tende a
evitar descrições direcionadas, vitimização secundária da criança, repercute em maior
segurança para os acusados de crimes dessa natureza, reduz a probabilidade de
indução do relato e favorecem a elucidação das circunstâncias constantes da denúncia.
Habigzang, Koller, Stroeher, Hatzenberger, Cunha & Ramos (2008) acrescentam que:

402
“O ato de entrevistar uma criança ou adolescente, visando o relato e
diagnóstico acurado sobre a experiência sexualmente abusiva, é complexo. É
necessária uma postura ética dos entrevistadores associada ao conhecimento
prévio da dinâmica desta forma de violência...Questões contextuais,
históricas, emocionais e sociais sobre o abuso precisam ser avaliadas, bem
como sua função de risco e proteção...A avaliação de indicadores diante de
uma suspeita ou diagnóstico para subsequente denúncia de abuso sexual não
é tarefa simples, é bastante raro que agressores admitam ter cometido o abuso,
exigindo que os profissionais determinem, portanto se houve ou não o
abuso.”

Ruggiero (2012) afirma que, para qualquer instrumento de pesquisa utilizado em um


estudo há necessidade de um pré-teste ou teste piloto, com vistas a verificar se ele
apresenta os elementos: fidedignidade – obter os mesmos resultados, independente de
quem o aplica; validade – analisar se todos os dados recolhidos são necessários à
pesquisa ou se nenhum dado importante tenha ficado de fora durante a coleta;
operatividade – verificar se o vocabulário apresenta-se acessível e se está claro o
significado de cada questão (Marconi e Lakatos, 2003).

Esclarecemos que no caso desta pesquisa, não ocorria pré-teste ou teste piloto com a
entrevista, visto que realizar pericia psicológica forense é o fazer da pesquisadora,
enquanto psicóloga. Por sua vez, a maneira da pesquisadora reavaliar as questões se
dava conforme Duarte (2002), que aponta a necessidade de o pesquisador avaliar a
aplicação das questões, ao ouvir as gravações realizadas nas entrevistas. Conforme a
autora esse é um tipo de aprendizado que somente é adquirido por meio da repetição
e da autocorreção. Gil (1999) corrobora com a ideia da importância de testar cada
instrumento, com o intuito de: “(a) desenvolver os procedimentos de aplicação; (b)
testar o vocabulário empregado nas questões; e (c) assegurar-se de que as questões ou
as observações a serem feitas possibilitem medir as variáveis que se pretende medir”
(p. 132).

Lidchi (2004) destaca que subsequente a entrevista, a informação obtida tem que ser
analisada e avaliada, para que se possa compreender a situação da criança e decidir
se é preciso ou não fazer outras entrevistas, em que a informação da entrevista será
utilizada para tomar decisões importantes até a respeito de intervenções legais para
garantir a segurança da criança e o seu bem-estar. Lidchi (2004) sugere, em analogia
ao SVAcxlii – Statement Valid Assessment (Steller e Kohnken, 1989) a análise de alguns
aspectos da entrevista que poderá auxiliar o profissional na avaliação da qualidade
do relato:

“Linguagem utilizada pelo menor: o uso de vocabulário ou descrições não


característicos de uma criança ou de um adolescente da sua idade, ou com o
seu nível de desenvolvimento – se foi mais explícito do que o normal – indica
a possibilidade de o menor ter sido exposto a informação e/ou atos sexuais

403
não-apropriados para sua etapa de desenvolvimento; Técnicas das
entrevistas prévias: os entrevistadores devem procurar saber quem
entrevistou o menor para saber se as técnicas de entrevista poderiam ter
influenciado o conteúdo da história; Mentir: normalmente são os
adolescentes que possuem as habilidades cognitivas necessárias para
inventar uma história de abuso sexual. É mais difícil para uma criança
construir e manter uma história falsa de abuso. Se o(a) profissional suspeita
de que um menor não está falando a verdade, deve recolher informação sobre
o seu contexto para saber se ele tem algum motivo para mentir, fingir ou
disfarçar, algum medo ou ameaça. Divórcio e separação são exemplo de
situações que se relacionam a tais comportamentos; Emoções: durante a
entrevista é importante que se monitorem as emoções e como estas são
manifestadas, por exemplo, no tom da voz, em comportamentos ou
expressões faciais. Os profissionais que estão entrevistando têm que se
perguntar se as emoções apresentadas são as de uma criança ou de um
adolescente que está contando uma experiência de abuso sexual, como, por
exemplo, raiva, ansiedade, medo ou tristeza; Lógica da história: os(as)
entrevistadores(as), desejavelmente dois, prestarão atenção se a história tem
uma progressão lógica ou não. É dizer que o relato do menor vai do início até
o fim. É preciso haver distinção entre uma progressão lógica, que dá sentido
à história, e uma mudança de tema num esforço de lembrar totalmente a
história. Ou seja, tem que se perguntar: “A história faz sentido ou não?”;
Abuso sexual acontece dentro do contexto da vida diária da criança: se a
história puder ser en tendida como fazendo parte do cotidiano do menor –
por exemplo, acontece quando o mandam fazer uma ligação na casa de um
vizinho, porque a família não tem telefone fixo em casa –, existe uma
indicação de que ele está falando de fatos que aconteceram na sua vida;
Detalhes específicos: se a história tiver muitos detalhes específicos, como
descrições de onde aconteceu o ato e das roupas do abusador e detalhes
explícitos de atos sexuais, é mais provável que o menor não esteja mentindo.
Outro sinal importante que pode comprovar que o menor está contando a
verdade é o fato de ele poder descrever como se sentia ou o que pensava
durante os episódios de abuso sexual; Reprodução de algumas conversas
palavra por palavra: um sinal importante de que o menor está sendo
verdadeiro é quando ele pode reproduzir seções de diálogos que teve com o
abusador.”

Segundo Lidchi (2004) a informação que resulta da avaliação da criança e da sua


família é essencial no caso de ausência de evidências, pois aponta tanto para uma
intervenção protetora primária – focalizada sobre a proteção – como a intervenção
terapêutica a seguir.

Desta forma, por meio de informações relevantes e necessárias, destacadas


principalmente pela entrevista, e conforme a Lei 4119/62, Art. 13 §1º, que caracteriza
que o psicólogo poderá utilizar métodos e técnicas psicológicas com os seguintes
objetivos: diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional, orientação

404
psicopedagógica e solução de problemas de ajustamento, o psicólogo se torna o
profissional mais apto para tal atividade. A Lei 4119/1962, que regulamenta a
profissão de psicólogo, bem como o texto que a regulamenta Decreto nº 53.464/1964,
amplia as funções privativas mencionadas na nota anterior, E agrega as seguintes
atribuições ao texto: 2) dirigir serviços de Psicologia 3) ensinar Psicologia nos vários
níveis de ensino, 4) supervisionar profissionais e alunos, 5) assessorar tecnicamente e
6) realizar perícias e emitir pareceres (Brasil, 1964).

No caso da atribuição, realizar perícia psicológica, este trabalho atende o escolpo


acima e tem a finalidade de investigação do crime de estupro de vulnerável, e neste
caso os métodos e técnicas psicológicas, tal como entrevistas e teste, finalizam para o
diagnóstico psicológico, o que não se difere da regulamentação supracitada.

Desta forma, o que se fazia necessário era por meio do levantamento de dados,
destacar os dados necessários e relevantes, aliados a uma possibilidade de análise e
apresentação dos dados, com finalidade diagnóstica, para o comportamento que se
encontrava privado na criança:

“Por técnica entendemos uma série de procedimentos que possibilitam


investigar os temas em questão. A investigação possibilita alcançar os
objetivos primordiais da entrevista, que são descrever e avaliar, o que
pressupõe o levantamento de informações, a partir das quais se torna possível
relacionar eventos e experiências, fazer inferências, estabelecer conclusões e
tomar decisões. Essa investigação se dá dentro de domínios específicos da
psicologia clínica e leva em consideração conceitos e conhecimentos amplos e
profundos nessas áreas. Esses domínios incluem, por exemplo, a psicologia
do desenvolvimento, a psicopatologia, a psicodinâmica, as teorias sistêmicas.
Aspectos específicos em cada uma dessas áreas podem ser priorizados como,
por exemplo, o desenvolvimento psicossexual, sinais e sintomas
psicopatológicos, conflitos de identidade, relação conjugal, etc. Afirmamos
ainda que a entrevista é parte de um processo. (Cunha, 2003)”.

Por isso, a pesquisadora, se apoiava no domínio da sua formação stricto sensu de


mestrado em psicologia evolucionista, com subárea, psicologia do desenvolvimento.
Assim realizava uma análise anamnética precisa, no momento em que a genitora
relatava como e ou de que maneira a criança revelou a violência sexual. Neste
momento desenvolvia perguntas pertinentes a esta temática, o que lhe fornecia uma
ampla gama de dados para análise. Esta foi a primeira avaliação desenvolvida pela
pesquisadora, em que se fazia a correlação entre: o que se falava e o que estava
previsto encontrar em termos de comportamentos esperados para a etapa do
desenvolvimento da criança mencionada. Com isso, em relação a etapa do
desenvolvimento, analisava-se:

a) comportamentos esperados;

405
b) repertório verbal esperado;

c) redes de pensamentos possíveis;

d) características físicas, como dentição e altura e

e) habilidades motoras esperadas.

Neste ponto, a pesquisadora dedicava praticamente uma sessão para que a genitora,
que também tinha a função de comunicante, pudesse descrever o mais fidedigno
possível o momento em que a criança revelou o episódio de interação de conteúdo
sexual, tal como:

a) o que acontecia no momento que a criança revelou;

b) em qual atividade a criança estava engajada no momento da revelação;

c) a revelação foi espontânea ou questionada;

d) como a criança revelou;

e) o que a criança falou.

Neste momento em 2010, a pesquisadora estava ciente dos tópicos a serem destacados,
porém não possuía as perguntas a serem feitas de maneira sistematizada, para
levantar os dados. O que ocorria, era que, na medida que a entrevista acontecia, a
pesquisadora ia em busca das informações do entrevistado. Assim, a pesquisadora,
com o objetivo de levantar estes dados, os questionavam, porém sem uma sequência
específica, mas sim, de acordo com a temática trazida pela genitora. Desta forma, os
dados quando surgiam, eram examinados, porém a pesquisadora era absorvida pela
elevada quantidade de informações que acompanhavam estes dados, e que ocorriam,
exatamente por não se ter um instrumento de entrevista estruturado. De qualquer
forma a análise era realizada, de maneira lenta, pois era necessário retomar os
rascunhos das entrevistas e extrair os dados relevantes. O resultado era exitoso, porém
extenuante e vagaroso, desta forma, o dado mais relevante que se encontrava era que:
grande parte dos relatos não condiziam com a etapa de desenvolvimento que as
crianças se encontravam, e não condiziam com características principalmente quanto
ao repertório comportamental, correspondente à idade.

A perícia psicológica criminal, responde a solicitantes distintos na persecução penal

Novamente destaco que, as perícias encaminhadas para o CEPAJ, já tinham


provavelmente passado, pelo crivo de três etapas: indiciamento, denúncia,
recebimento da denúncia. Sendo assim, quando chegava ao CEPAJ, o caso já tinha
passado por várias instâncias e se constituía formatado por vastas discussões entre as

406
partes e documentos probabotórios. A seguir destacaremos as etapas da persecução
penal desde a polícia judiciária, ministério público e finalização no judiciário.

No que tange ao indiciamento da Polícia Judiciária, as características do Inquérito


Policial, são: oficiosidade, oficialidade, sigilosidade, indisponibilidade e, por fim, ser
ele procedimento escrito, destacado no Art. 9º CPP – Decreto-Lei nº 3.689/41: “Todas
as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou
datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade”. Com a célere evolução
tecnológica de nossa sociedade, não teria como tal princípio e, por arrasto, o termo
“escrito ou datilografadas”, manterem-se intactos, e avança a exemplo, de acordo com
a Lei nº 13.431 de 4 de abril de 2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos
da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera a Lei nº8690/90
– ECA, em que no Título III – Da Escuta Especializada e do Depoimento Especial,
Artigo 8º: Depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou adolescente
vítima ou testemunha de violência perante autoridade policial ou judiciária. Em que
no Artigo 12: “O depoimento especial será colhido conforme o seguinte
procedimento”: - “VI – depoimento especial será gravado em áudio e vídeo”.

A Lei 12.830/2013, no seu artigo 2º, § 6º, explica que trata o indiciamento, quando um
ato do Delegado de Polícia; deve ser, necessariamente, precedido de um despacho
fundamentado em que deverão ser apontadas as razões jurídicas do convencimento
da Autoridade Policial, indicando-se a autoria, a materialidade e suas circunstâncias.

O inquérito policial não é realizado com o único propósito de colher elementos de


convicção, para o Ministério Público formular a denúncia e desencadear a ação penal.
Didaticamente, a finalidade do inquérito policial divide-se em: finalidade principal:
elucidação das circunstâncias e autoria do delito para a aplicação da lei penal e a
proteção dos direitos fundamentais da pessoa investigada; e finalidade secundária:
produzir subsídios para a propositura da ação penal pelo representante do Ministério
Público ou pelo ofendido, bem como para embasar a defesa do suposto autor do crime
(Barros Filho, 2011). O indiciamento indica que o indiciado provavelmente será
submetido à fase processual da persecução penal.

A Constituição brasileira atribui ao Ministério Público a titularidade da persecução


penal (artigo 129, inciso I), quando lhe determina que promova a ação penal pública.
Isso significa que o Ministério Público é o responsável por supervisionar a
investigação criminal e por promover a ação penal, quando couber (Saraiva, 2013). A
Persecução penal é o conjunto de atos que busca investigar um fato possivelmente
criminoso e, se houver elementos suficientes de prova, propor a ação penal para que
os responsáveis sejam punidos, de acordo com a lei. A ação penal é de iniciativa
pública (ou seja, do Ministério Público) quando a lei penal não determinar que seja de
outra forma. Essa é a regra geral, tanto no Código Penal quanto em outras leis que
definem crimes.

407
Sempre que a lei penal não dispuser de forma específica sobre a ação penal, ela caberá
ao Ministério Público. Quando o crime é de ação penal públicacxliii, cabe ao Ministério
Público examinar a investigação criminal. Se houver indícios da ocorrência do crime
e de sua autoria, deve iniciar a ação penal, por meio de uma petição chamada denúncia
(Saraiva, 2013). O recebimento da denúncia, a partir da Lei nº 11.719/08, se dá na fase
do art. 396. O art. 395 prevê as causas de rejeição da denúncia e o art. 396, ao prever o
momento de recebimento da denúncia, demonstra claramente que nessa fase o juiz
poderá rejeitá-la se presentes as hipóteses do artigo anterior. Sendo assim, se o
julgador recebe a inicial, na sistemática da Lei 11.719/08, oferecida a denúncia e
conclusos os autos ao juiz, ou este a rejeita por motivos processuais (art. 395), ou a
recebe. Com isso, conclui-se que o procedimento trazido pela Lei nº 11.719/08 segue
as seguintes etapas: oferecimento da denúncia; recebimento da denúncia já no
despacho inicial; designação de audiência de instrução e julgamento e determinação
de citação do réu para apresentação de defesa e comparecimento ao ato designado;
eventual análise, antes da realização da audiência, e em caráter prejudicial, de pedido
de absolvição sumária veiculado pela defesa; audiência de instrução e julgamento. Em
resumo, após o advento da Lei nº 1.719/08, o juiz, ao tomar contato com a denúncia,
exercerá o juízo de recebimento ou rejeição, observando as hipóteses do art. 395 e, no
primeiro caso, determinará a citação do réu para apresentar defesa e comparecer à
audiência de instrução, também designada no despacho inicial. Por essa sistemática,
antes da audiência, poderá o juiz, caso a defesa assim o requeira, absolver
sumariamente o réu se presente alguma das hipóteses do art. 397 do Código de
Processo Penal (exceto o inciso IV, que ensejará mera extinção de punibilidade).

Neste ponto destaco que os casos que advinham do judiciário para a pesquisadora, já
tinham passado por crivos da legislação e seguiam por se constituir de alguma prova
relevante, o que de certa forma facilita o trabalho do perito psicólogo, que atua na
esfera criminal, como perito nomeado pelo juiz. Ao contrário do perito psicólogo, que
se encontra na polícia judiciária, pois nesta instância todos os casos que chegam, ainda
passarão pelo crivo, do princípio básico da materialidade e autoria, conforme descrito
no Decreto-Lei nº 3.689/41 - Título II – Do Inquérito Policial, Art. 4º: “A polícia
judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas
circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria”.

Ao destacarmos a fase de inquérito policial, explicamos que o solicitante da perícia


psicológica é a autoridade policial, delegado de polícia, e por ser o momento temporal
mais próximo ao fato. A Polícia Civil, apesar de vinculada ao Poder Executivo,
assumiu o papel de órgão auxiliar da justiça criminal. O próprio Código de Processo
Penal expõe razões suficientes para considerar imprescindível o inquérito policial:

“... há em favor do inquérito policial, como instrução provisória antecedendo


à propositura da ação penal, um argumento dificilmente contestável: é ele
uma garantia contra apressados e errôneos juízos, formados quando ainda

408
persiste a trepidação moral causada pelo crime ou antes que seja possível uma
exata visão de conjunto dos fatos, nas suas circunstâncias objetivas e
subjetivas”.

O delegado de polícia se transformou em um operador do direito, que domina a


ciência da investigação criminal, com a responsabilidade de conciliar a segurança pú
blica e a proteção da dignidade humana, no exercício da relevante atribuição de
repressão criminal. Por sua vez, a investigação criminal, realizada pela Polícia
Judiciária, se tornou uma garantia do cidadão contra imputações levianas e incitadas
em juízo, sem comprometer a sua finalidade precípua de elucidar as circunstâncias e
a autoria dos delitos, a investigação criminal visa à busca da verdade real do fato
criminoso (Barros Filho, 2011).

Esta fase investigativa é extremamente vantajosa, por ser a mais próxima da


ocorrência do fato e por ser o ambiente institucionalmente legal para responsabilizar,
por meio da investigação e diagnóstico preciso, para a constatação legítima se criança
foi vitimizada sexualmente. Pois nesta etapa institucional, a equipe estruturada para
a investigação é multiprofissional, com atividades que se convergem para uma única
finalidade, autoria e materialidade.

As atividades no inquérito policial, trata-se de um conjunto de diligências


investigatórias voltadas à elucidação das infrações penais, que vão desde o exame de
corpo de delito , perícia em objetos a atuação em campo dos agentes de polícia,
diligências comandadas pelo delegado, oitiva do trio comunicante-suposta vítima
suspeito, oitiva de personagens secundários e relevantes tal como as testemunhas,
solicitação de documentos, busca e apreensão de objetos ou responsáveis e se
necessário interceptação telefônica, até a realização da pericia psicológica. Neste
sentido, recentemente, a Lei nº 11.690, de 09 de junho de 2008, alterou a redação do
art. 155, do Código de Processo Penal, e estabeleceu que o juiz não poderá
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação criminal, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas
(Barros Filho, 2011):

“Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova
produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão
exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.”

A alteração legislativa valorizou o inquérito policial, e possibilitou que o material


colhido durante a fase inquisitiva seja levado em consideração pelo magistrado na
formação de sua convicção. O novo texto do caput do art. 155, do CPP, atribui valor
às provas cautelares, não repetíveis e antecipadas, coligidas no inquérito, e concede às
partes o direito ao contraditório, na fase judicial. As provas cautelares são aquelas que
precisam ser produzidas porque podem perecer, ser alteradas ou destruídas em razão

409
do tempo, a exemplo, busca e apreensão, interceptação telefônica. Entende-se por
prova não repetível aquela que não pode mais ser reproduzida em juízo, em virtude
do desaparecimento da fonte probatória, a exemplo, desaparecimento de vestígios do
crime (Barros Filho, 2011). Com a tendência de proporcionar ao investigado a
oportunidade de participar da produção dos elementos de convicção no inquérito
policial, o art. 27, do Projeto de Lei nº 156/2009, (reforma do Código de Processo
Penal), que tramita no Senado Federal, adequando o instituto à nova ordem jurídica
constitucional, estabelece:

“Art. 27. A vítima, ou seu representante legal, e o investigado poderão


requerer à autoridade policial a realização de qualquer diligência, que será
efetuada, quando reconhecida a sua necessidade.

§ 1º. Se indeferido o requerimento de que trata o caput deste artigo, o


interessado poderá representar à autoridade policial superior ou ao
Ministério Público.”

O relatório final é a conclusão do inquérito e deve constar uma classificação jurídica


do crime, bem como a análise dos elementos de convicção produzidos no inquérito
policial, o que não necessariamente, se deva concluir pela apuração da autoria e
materialidade de um crime. Diante do apurado, com fundamento no Princípio da
Verdade Real, o delegado de polícia, entre outras hipóteses, poderá concluir pela:
inexistência do fato, inocência do investigado e existência de uma causa excludente
de antijuridicidade e culpabilidade. Por sua vez, o relatório poderá ser: terminativo -
quando conclusivo, requisitório - quando, além de conclusivo, a autoridade policial
representa pela decretação da prisão preventiva ou provisória e complementar -
quando atende diligências requisitadas pelo representante do Ministério Público
(Barros Filho, 2011).

Tendo em vista o princípio consagrado no inciso XXXV, do art. 5º, da CF, que
estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a
direito”, o inquérito policial concluído será encaminhado obrigatoriamente ao Poder
Judiciário. Desta forma, o arquivamento do inquérito, só pode ser determinado pelo
juiz mediante pedido fundamentado do representante do Ministério Público (Barros
Filho, 2011).

É importante salientar que o relatório final não é apenas um resumo do apurado ou


uma espécie de índice remissivo do que se encontra juntado aos autos. O relatório
demonstra o domínio que o delegado de polícia tem na ciência da investigação
criminal e na área do direito, circunstância que justifica a inserção da atividade
exercida pelas autoridades policiais no roll das carreiras jurídicas. Pelos motivos
expostos, esses elementos de convicção sofrem antecipação do momento de sua
realização.

410
Porém, a grande complexidade e dificuldade que se apresentava era que as
informações chegavam de acordo com o relato, pois a pesquisadora só possuía uma
entrevista de anamnese o que não contemplava uma entrevista, nem mesmo semi
estruturada, a respeito da temática: interação de conteúdo sexual de um adulto com
uma criança.

A pesquisadora reconhece que estava sob o controle da crença: ‘cada-caso-era-um-


caso ’e acreditava que para estas situações não cabia algo pré-formatado, o que se
configurou em uma falácia. Por sua vez, não se compelia a elaborar entrevista semi
estruturada e estruturada, e sim coletava informações de acordo com o desenvolver
das sessões, em que por sua vez, as perguntas eram realizadas na medida que as
dúvidas surgiam, com a finalidade de contemplar os tópicos supracitados em relação
a etapa do desenvolvimento e momento da revelação. Desta forma, não ocorria a
análise dos relatos que não tinham pertinência com a temática ou dos relatos que não
possuíam uma sequência lógica. Tal dado precioso, não tinha destaque na análise,
diferentemente do que já ocorria no final de 2014, com a análise de características
referente ao indicador: centralidade temática.

Sendo assim, destacar os dados relevantes por meio da entrevista, e elaborar as


perguntas para detectar estes dados, era o desafio. Deste modo, elaborar uma
entrevista que, por meio não só das perguntas, mas principalmente do arranjo da
sequência das perguntas pudesse ordenar as informações. E assim, na medida que as
respostas surgissem frente as perguntas do perito, os dados que surgissem seriam
avaliados, independente do que o entrevistado desejasse apresentar. Ou seja, a
entrevista e sua análise deveria ser a blindagem contra fraudes, e melhor, identificar
a fraude.

O que a pesquisadora já reconhecia em 2010, era que, o que se dizia no contexto


pericial, vinha constituído de características diversas e que surgia também sob
condições diversa ao fato periciado. Para os relatos a pesquisadora sempre considerou
a avaliação psicológica o melhor lugar para aferir a evolução das ‘falas’, pois: o que se
diz, pode não ser o que se faz; e o que se pensa, também não é, necessariamente, o que
se fala. Portanto, relatos devem receber o tratamento adequado, e neste caso o
comportamento verbal de Skinner, por meio das contingências, tem a melhor
aplicabilidade analítica.

A pesquisadora, do ano de 2006 a 2011, já havia atendido 18 casos enviados pelo


judiciário de todo o Estado de Goiás, a lembrar, de características semelhantes, tais
como: já estavam em juízo no mínimo há 2 anos, advinham da esfera criminal, o
processo já era composto de outros laudos psicológicos e a violência sexual não tinha
sido constatada pelo IML. Neste contexto, 17 díades eram de pai-filha e uma pai-filho.
De todos os 18 casos, 1 foi constatado interação de conteúdo sexual na díade pai-filha,
e 1 na díade pai-filho e 16 não foram constatados interação de conteúdo sexual. Porém,

411
sabíamos que se tratava de uma amostra muito restritiva, pois, entendíamos que, por
ser uma solicitação do juiz, já havia passado por dois crivos, o da: polícia judiciária e
ministério público. E por ser o CEPAJ, um Centro de excelência, talvez, os juízes
remetessem somente os casos que se constituíam de uma grande probabilidade de
não-ocorrência e ao mesmo tempo de grande dúvida. E assim, nos expediam apenas
para certificar um diagnóstico já esperado por suas convicções de solicitante.

Aqui destacamos, que independente do solicitante e ou dos quesitos a serem


respondidos, um princípio da pesquisadora, que desde 2008 realiza a perícia
psicológica em contexto de violência sexual infanto-juvenil, é que: ‘a produção do
laudo, como um feito documental, possa ser lida e acessada a qualquer tempo,
especialmente pela criança. E que este laudo a represente, e que ela possa se
reconhecer naquilo que foi descrito a seu respeito’. Este é o princípio que rege a
pesquisadora.

Sabemos, que as ‘falas’, no contexto de violência sexual infanto-juvenil, podem surgir


das mais variadas formas, como alguns exemplos: a) crianças e comunicantes
relatarem o que não ocorreu; b) criança e comunicante relatarem o que ocorreu; c)
comunicante relatar o que ocorreu e a criança relatar o contrário; d) criança relatar o
que ocorreu e a comunicante relatar o contrário; e) suspeito negar; f) suspeito
confessar. Brockhausen (2011), alega, com base em Furniss (1993), que a existência de
falsas alegações de abuso infantil pode ser feita por adultos ou, ainda, e crianças
podem ser sugestionadas, a exemplo, destaca Furniss (1993):

“A experiência clínica mostra que as crianças que fazem alegações de abuso


sexual na família geralmente não mentem, mas falam a verdade. No entanto,
há três grupos de crianças nos quais precisamos ter cuidados quando
avaliamos alegações de abuso sexual. As alegações de (1) crianças mais velhas
em lares de crianças, (2) de adolescentes em famílias recentemente
construídas e (3) de crianças em famílias com separação e divórcio precisam
ser tratadas com cuidado. (...) O diagnóstico, nesses casos pode então colocar
problemas e dificuldades especiais. (...) As crianças em famílias de separação
e divórcio são o terceiro grupo em que a alegação de abuso sexual é utilizada
pelas comunicantes para obter o cuidado e controle sobre as crianças, ou para
privar o pai do acesso aos filhos nas famílias separadas”.

Furniss (1993) exemplificou e caracterizou essas, dentre outras formas de


comunicação e as nomeou como: admissão, assunção, negação, reconhecimento e
crença. E especificou que, a forma de comunicação se diferencia quando comparecem
no campo legal e quando é investigado no campo psicológico, diferenças muitas vezes
diametricamente opostas.

412
O projeto de doutorado

Em 2011 o CEPAJ passou por reforma arquitetônica e em 2012 na retomada dos


atendimentos o número de técnicos, professores e alunos estava muito reduzido. As
atividades passaram por reformulações extensionistas por demanda da própria
universidade e o campo da avaliação psicológica forense, se enfraqueceu pela
reformulação teórico-metodológico. Assim, o último caso atendido pela pesquisadora
no CEPAJ, e último também do próprio Centro, foi o primeiro a ser analisado
conforme o doutoramento, com referencial teórico na análise do comportamento, que
ocorreu em outubro de 2013. O CEPAJ, que se localizava no Bairro Chácara Santa Rita,
no Campus II da PUC GO, em maio de 2014, passou a integrar um outro programa de
extensão, o CECOM - Centro de Educação Comunitária de Meninas e Meninos, no
Setor Santos Dumont, e lá assumiu o status de projeto.

Então, o que a pesquisadora possuía era uma experiência sempre com vistas ao
melhoramento e qualidade de serviços prestados, e muitas questões a respeito dos
dados que surgiam.

Para isso, vislumbrou a Análise do Comportamento, com o professor Lorismário


Simonassi, primeiro por afinidade e também por entender ser este um dos analistas
do comportamento mais completo e experiente no Brasil, com referencial teórico
citado mundialmente. Neste momento, a dedicação ao estudo do comportamento
verbal, Verbal Behavior, de Skinner, era a leitura necessária e também a mais complexa.
Portanto, a pesquisadora entendia que a orientação do Professor Doutor Lorismario
Simonassi era definidora para desenvolver suas questões no doutorado.

No que tange a temática de falsas alegações a pesquisadora já não estava sozinha, pois,
tal hipótese era levantada em outra esfera judicial, nas varas de famílias. Tal fato se
apresentou para a justiça brasileira com um ônus tão relevante que em 2010, criou-se
a Lei de Alienação Parental – 12.318, que trata de um conjunto de alegações
difamatórias que um dos genitores e ou parentes próximos (avós) imputa ao outro
genitor. E que, alertamos que, para estes casos o que temos também, são puramente
relatos verbais.

Atuar no âmbito da violência implica em, operar em um campo multiprofissional e


com multiagências (Furniss, 1993), como: de proteção (saúde, educação e assistência
social) agências de controle (conselho tutelar), defesa (polícia), executivo (ministério
público) e de justiça. E conforme Furniss (1993) alerta, as críticas de outros
profissionais, ao trabalho do perito, parece ser uma prática:

“No abuso sexual da criança, o processo básico de diminuir a competência


profissional uns dos outros, baseia-se na confusão dos diferentes níveis de
responsabilidades e domínios profissionais. A confusão nos níveis de
raciocínio, muitas vezes, leva ao repúdio inadequado dos argumentos de um

413
profissional, em determinando nível, por outro profissional em seu próprio
nível...Por exemplo, provar um caso de abuso sexual da criança em nível legal
no tribunal jamais será tarefa, habilidade ou responsabilidade das pessoas que
trabalham com saúde mental ou com proteção a criança... O abuso sexual da
criança é um problema maior do que o esforço, as capacidades e as
responsabilidades que uma única profissão consegue abranger. Ele é uma
questão verdadeiramente multiprofissional e multissistêmica. Nas
intervenções multidisciplinares no abuso sexual da criança, a confusão dos
níveis de raciocínio em diferentes domínios conduz a desqualificações
pessoais inadequadas e pouco profissionais dos colegas. Isso não acontece
apenas quando profissionais de fora da área legal entram no terreno das
cortes legais. Isso vale para qualquer conflito, entre qualquer combinação de
profissionais da rede, em que um profissional vê sua linha de raciocínio, que
é baseada em sua própria perícia profissional, sendo julgada em um nível
diferente de um domínio profissional diferente. Ao fazer isso não estamos
apenas sendo injustos uns com os outros, também deixamos de compreender
a tarefa verdadeiramente multidisciplinar... (p.108)”

Em janeiro de 2013 inicia o doutoramento na área da Análise do Comportamento, sob


orientação do Professor Doutor Lorismario Ernesto Simonassi e diante do projeto
apresentado: ‘O repertório verbal do juiz interfere no depoimento da criança’,
orientador e orientanda, retomam a temática: ‘relatos em perícia judicial ’e seguem
com o projeto: “A análise e intervenção em relatos de comunicantes no contexto de
perícia judicial”, com a seguinte descrição:

“A análise e intervenção em relatos de comunicantes no contexto de perícia


judicial ocorrerão nos atendimentos aos casos em que há a suspeita de
violência sexual intrafamiliar com relação aos seus filhos. A perícia judicial é
caracterizada por sessões psicoterapêuticas que acontecem com famílias que
estão em situação de demanda judicial, por terem realizado a denúncia de que
intrafamiliarmente estaria ocorrendo violência sexual entre díades pai-filha
(o) e ou padrasto-enteada (o) (Projeto de Doutorado apresentado a FAPEG,
2013)”

A retomada do tema tendo como objeto de estudo a perícia psicológica, se deu por ser
uma prática exclusiva á psicologia, que não necessitaria se estender a outros órgãos e
profissionais, e especialmente pelo conteúdo motivacional para a pesquisadora. Nota
se que, as sessões ainda eram tidas como psicoterapêutica e de análise comparativa
entre os relatos maternos e os relatos da criança. E desta forma, com base nos relatos,
se realizaria o estudo da correspondência dizer/dizer. A correspondência dizer/dizer
não comparece na literatura, o que já era de conhecimento da pesquisadora, porém
precisávamos nomear a técnica de alguma forma, tal como constava no projeto
apresentado a FAPEG, com o intuito de pleitear bolsa de estudo:

414
“Os relatos que passarão por análise e intervenção, serão os relatos de
comunicantes que realizaram a denúncia quer contra os pais das crianças,
quer contra os padrastos que se relacionam maritalmente com estas mulheres.
Este estudo tem como premissa de que as comunicantes relatarão o que
aconteceu no ambiente natural entre as díades pais-filhas (os) e ou padrasto
enteadas (os), em um contexto de suposta violência sexual entre estas díades.
Será um estudo de correspondência verbal dizer/dizer e que visa descrever a
correspondência de episódios verbais para verificar se o fenômeno de
correspondência ocorre entre o relato materno comparado ao dela mesma e
quando comparado ao relato de outras pessoas envolvidas, em que buscar-se-
a a relação com o fato ocorrido. Com isso, poderemos descrever em que
condições o fenômeno ocorre, quando há a correspondência (Projeto de
Doutorado apresentado a FAPEG, 2013)”.

Neste momento inicial o orientador da pesquisa Professor Doutor Lorismário


Simonassi, alertou que não tínhamos quantidade de casos suficiente para afirmações
quanto ás falsas alegações, e que a ausência da leitura documental do processo
judicial, deixava o perito sem o acesso a muitas informações relevantes a respeito
especificamente do fato: interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança.
Então, frente a insuficiência de quantidade de casos e insuficiência de informações
documentais referente aquilo que se periciava, buscamos a quantidade.

Em outubro de 2013 sob orientação do Professor Lorismário Simonassi, com título da


pesquisa: ‘A análise e intervenção em relatos de comunicantes no contexto de perícia
judicial ’e atendimento ao último caso da pesquisadora no CEPAJ, orientador e
orientanda resolveram tirar todas as perguntas pré-estabelecidas nas entrevistas e
optaram por realizar uma única pergunta, que ainda permanece: ‘O que aconteceu
para você estar aqui?’. Com esta pergunta a perita deveria emitir em 90% de suas
intervenções, somente: Hummmmm!; Humhum!; O que mais?!. E qualquer pergunta
deveria estar relacionado somente ao fato ‘interação de conteúdo sexual de um adulto
com uma criança’.

Realizou-se sessões a respeito de um caso em que a violência sexual já possuía um


laudo psicológico de que havia ocorrido. As sessões exigiram atenção redobrada da
pesquisadora, com o objetivo de se obter o maior número possível de informações sem
interferência de perguntas, para assim destacar quais assuntos e informações surgiam
de maneira dominante. Desta forma, esta foi a primeira sessão gravada em vídeo e
totalmente transcrita, sugerida por Sônia Rovinsk, em seminário no Tribunal de
Justiça do Estado de Goiás (2010).

E neste momento em 2013 a pesquisadora já tinha acesso ao trabalho de Lanning


(2010) que descreve o ideal de ser um entrevistador. Lanning (2010) acredita que o
ambiente regulador que aplica a lei, são os responsáveis e habilitados pela detecção e

415
observação de atos e comportamentos que são violações das regras sociais, para a qual
molestadores de criança podem ser cobrados e crianças devem ser protegidas.

O entrevistador profissional em contextos criminais

Enquanto os rótulos psiquiátricos ficam muito aquém de ser útil para os


investigadores, as tipologias penais oferecem uma constituição para os investigadores
que os proporcionam orientações na prática da proteção da criança não apenas
rotulando vítimas e ofensores, mas identificando com vistas ao tratamento correto
(Lanning, 2010). Pois, a capacidade de reconhecer o comportamento de molestadores,
por meio dos relatos das crianças, antes mesmo de sua prisão ou identificação é a
principal arma para a atuação adequada do investigador nos casos de abuso ou
exploração sexual.

Entrevistadores de crimes, devem acessar com eficácia as informações de como e


porque, molestadores interagem sexualmente com crianças, estes profissionais ficarão
em uma posição muito melhor para detectar, identificar e proporcionar a verdadeira
responsabilização por quem comete estes crimes, pois todo comportamento criminoso
é observável, mas para isso temos que identificar o que está previsto legalmente.

Desta forma, com a identificação correta, a investigação pode proporcionar ao sistema


de justiça, a caracterização necessária para obter a condenação, e para a etapa
interventiva o atendimento e tratamento adequado para aquilo que realmente
aconteceu, para os envolvidos. Os estereótipos devem ser evitados.

Com vistas para a responsabilização, deve-se olhar para a lei para se identificar
conforme os elementos estatutários do crime. Pois uma atividade sexual que
proporciona gratificação, é considerada complexa para a detecção, visto que, alguns
ofensores se satisfazem com foreplay - carícias como objetivo final e para outros
ofensores tal atividade é somente o início. A exemplo, a característica ‘ser violento ’
pode ser utilizada como um modus operandi, ou como parte da satisfação sexual, ou
seja, pode ser parte da gratificação sexual, ou uma gratificação total como o sadismo,
ou até mesmo uma progressão de seu comportamento sexual.

Qualquer ofensor sexual pode ser um agressor, pode tornar-se violento, em especial
para evitar a descoberta ou sua identificação. Podem desenvolver uma progressão
comportamental que consistem em atuar sem violência e progredir para atitudes
violentas, bem como, atuar com vítimas adultas que consentem, para vítimas adultas
que não consentem, porém para todo o comportamento existe a seleção antecipada
deste.

Os entrevistadores não devem reagir sobre alegações relatadas, para evitar erros
embaraçosos, devem por sua vez, desenvolver entrevistas investigativas altamente
planejadas e fundamentadas no crime a ser investigado, com o objetivo de caracterizá

416
lo ao máximo, sendo a superficialidade inquisitiva o primeiro passo para o fracasso
da responsabilização. A entrevista superficial e pouco planejada, pode expressar
características de um entrevistador confuso e emocional, com pouco controle sobre
seus julgamentos a respeito dos agressores e das vítimas.

Desta forma um entrevistador que está emocionalmente envolvido por suas crenças e
ideologias, eleva a probabilidade de cometer erros, por estar tendencioso a causa. Para
ser um entrevistador eficaz, o planejamento evita o distanciamento das perguntas que
vão esclarecer o que ocorreu, e afasta o medo e a fragilidade do entrevistador de ouvir
determinadas respostas. Não se deve ter uma concepção estereotipada do que seja
uma vítima e um ofensor, mas sim um profundo trabalho de entrevistar, pois muitos
entrevistadores querem ser rápidos com o fraco argumento de não-vitimizar, por
estarem emocionalmente incapacitados, ou por estarem submersos a seus conteúdos
ideológicos ou pouco treinados para esta etapa da entrevista, que diz respeito a
identificação da ofensa sexual. Esta inaptidão pode prejudicar o resgate de
informações legalmente relevantes para a composição de um fato, por isso, a
compreensão aguda e o reconhecimento dos comportamentos criminosos, permite
que os investigadores funcionem a um nível muito mais elevado de profissionalismo.

Identificar um crime sexual, envolve uma entrevista com estratégias de investigação


documental, investigação e revisão das alegações, e evoluir nas três etapas da
entrevista: acessar dados, analisar e corroborar, sendo que estas três fases podem
ocorrer nesta sequência, simultaneamente ou intermitentemente.

A fase de acessar os dados legalmente importantes é o momento de se obter o sucesso


ou o fracasso investigativo, pois o entrevistado pode se destacar e conduzir a
entrevista. Muitas vezes o que ocorre, são entrevistadores que já possuem a habilidade
de entrevistar se sentirem seguros por suas ideiologias e se sentirem ‘aptos ’a
investigarem. Para alguns partidários, a investigação criminal da vitimização sexual
de crianças deveria evoluir para entrevistas recém-adquiridas, próprias de suas
ideologias, para que as crianças se comuniquem e então se acreditar em tudo o que
dizem. Para outros, tal atividade, tornou-se permitir, que qualquer profissional
vinculado a temática possa entrevistar e depois aceitar cegamente as opiniões e
avaliações do entrevistador.

Porém, os agentes legais, são os responsáveis pela detecção da ofensa criminosa, com
vistas a desenvolver competências para o processo de entrevistas. Se o objetivo
principal de uma entrevista com uma criança é obter informações de investigação,
levantar características que tipifiquem legalmente o fato, é o objetivo e deve constar
constantemente no planejamento da entrevista. Este envolvimento pode variar desde
a realização efetiva da entrevista, até o monitoramento cuidadoso de todo o processo
investigatório, com a busca de deficiências e atualização a respeito dos ditos legais,
sem abdicar o controle sobre a entrevista de investigação. Se, por boas razões, uma

417
entrevista de investigação é conduzida por um médico, assistente social ou psicólogo
forense, responder a demanda legal, ainda deve ser o norteador.

Antes de utilizar a entrevista o entrevistador deve estar apto a determinar em qual


etapa do continnum entre: a Revelação e os Relatórios, a criança se encontra. Essa
determinação é essencial para o desenvolvimento de uma abordagem, que possa
maximizar informações que estão sob uma defensiva ou que são minimizados por
alegações orientadas, sugestiondas ou repetitivas. O processo de Revelação é
estabelecido como um continuum porque pode haver muitas variações, combinações e
mudanças, em especial quando é relatado por um terceiro o que foi dito por vítimas
infantis. No continnum da Revelação estão as crianças-vítimas que realizaram tal relato
de maneira voluntária, que geralmente são as crianças mais fáceis de entrevistar, que
são as crianças que tomou a decisão de revelar e a criança a fez pelo menos uma vez
sob determinada situação, neste caso é importante determinar o período de tempo
entre as ofensas e a revelação. A criança tomou a decisão de revelar e a criança o fez
pelo menos uma vez. É, naturalmente, importante determinar o período de tempo
entre a ofensa e a divulgação.

Em outro ponto ao longo do continuum estão as crianças que voluntariamente


decidiram divulgar, mas parece ter feito apenas relatos incompletos ou parciais. Para
isso, detectar, se o que ocorre é realmente um enfraquecimento da motivação de rela
tar, se está sob alguma orientação, se é uma minimização, se existe uma rejeição total
em relatar ou rejeição em relatar partes da vitimização, ou diagnosticar que realmente
algumas crianças não revelam, por não terem detalhes mais horríveis ainda por
revelar. Mais adiante, no contínuo, estão as crianças cuja vitimização sexual foi
descoberta em vez de revelado, a exemplo, pornografia infantil recuperada ou
evidência médica. Esta pode ser a situação em casos em que a pornografia infantil ou
registros são descobertos. Essas entrevistas podem ser mais difíceis porque essas
crianças não optaram por divulgar e pode não estar pronto para divulgar. Eles
também podem ser mais fáceis, entretanto, porque o investigador tem conhecimento
com algum grau de certeza que a criança foi vítima, por meio das constatações
médicas ou de registro. A entrevista agora pode se concentrar mais em determinar
detalhes adicionais. Na extremidade distante do continuum estão as crianças cuja
vitimização sexual é somente uma suspeita, que não houve nenhuma constatação,
estas podem ser as entrevistas mais difíceis, complexas e sensíveis.

Investigador deve pesar a exemplo, uma possível relutância compreensível de uma


criança para falar sobre a vitimização, contra a possibilidade da criança não ter sido
vítima. A necessidade de proteção a criança deve ser equilibrada com a preocupação
de prejudicar a reputação de um suspeito inocente e o interrogatório sugestivo. Esta,
é muitas vezes a situação nos casos de conhecimento-exploração, por se ter somente
uma suspeita. Isto leva à complexa questão do que buscar, e que tipo de investigação
pode ser conduzida por se identificar a existência de uma não revelação das vítimas,

418
ou relatos imprecisos e queixas não específicas. A indicação de que, o comportamento
de alguém com acesso a crianças segundo as aparências se encaixam em algum padrão
duvidoso, justificaria que quantidade de investigação sobre a criança? A genuína
compilação, e não produção de coleção de pornografia infantil apontam para a
possibilidade de se identificar um molestador de crianças? Qual a diferença de se
entrevistar vítimas intrafamiliar e extrafamiliares em potencial? Quantas entrevistas
são adequadas realizar? A respostas a essas perguntas não são tão simples como
muitos pensam e tais questões devem ser realizadas juntos as equipes que constituem
a investigação jurídica.

Estabelecer os papéis e o esclarecimento das etapas é a primeira tarefa do


entrevistador, com qualquer idade, adulto ou criança. As perguntas abertas encorajam
respostas narrativas e prepara a entrevista para o momento que o entrevistador
necessitar de respostas que exija maior confiabilidade entre a dupla.

Parte do desenvolvimento deste relacionamento, que se chama Rapport, com as


vítimas de molestação, é comunicar que estas não estão em uma situação enganosa e
a finalidade da entrevista, pois muitas crianças, por razões diversas, poderão negar
sua vitimização, outras podem exagerar, alegar ameaças, força e até mesmo situações
que não ocorreram para crimes mais socialmente aceitáveis. Embora os princípios de
entrevista aplicam-se a qualquer idade, pode ser muito mais difícil com uma criança
mais velha do que com uma criança mais nova. Outra tarefa que exige técnica especí
fica é o esclarecimento quanto as terminologias para as várias partes do corpo e
atividades sexuais. Se esta clarificação não se estabelecer, muitos mal-entendidos
podem ocorrer.

Da mesma forma, é igualmente importante descobrir exatamente o que a vítima quer


dizer com os termos que ele ou ela utilizam para a atividade sexual e partes do corpo
que se engajaram na atividade a ser investigada. Aqui destacasse uma ocorrência
extremamente difícil e delicada de se investigar, quando a vítima se constrange em
relação a situação que ela própria reconhece, como o estigma quanto a sua
homossexualidade, a vitimização eleva e esta, pode negar ou deturpar completamente
a atividade sexual. O investigador deve aceitar o fato de que, mesmo que uma vítima
revele, a informação pode ser incompleta e minimizada, quanto ao envolvimento e
responsabilidade e, em alguns casos, exagerando ou negando os atos do infrator. A
metodologia de reunir o apanhado de dados significativo, é outro ponto que exige
atenção, e a gravação de imagem das entrevistas mostra-se uma solução eficaz para o
esclarecimento de muitas situações que merecem atenção, tais como: a confirmação
exata do que foi solicitado e respondido, o impacto visual da resposta, o
reconhecimento da capacidade de correção de quem relata. As desvantagens incluem,
os conflitos gerados por advogados e outros técnicos, possíveis interpretações
enviesadas e confrontos por quem se diz 'especialista' e uma avaliação equivocada por
quem não planejou a entrevista e esclareceu pontos relevantes junto a equipe

419
investigativa e pode se tornar o alvo de uma grande quantidade de escrutínio
altamente subjetivo. Com isso, pode se perder o foco do que se investiga e transpor o
foco excessivo para o entrevistador e em como a entrevista foi realizada, o que pode
produzir uma especulação em torno da atuação do entrevistador. Com isso, qualquer
que seja a circunstância da entrevista, ela deve ocorrer por entrevistador treinado e
experiente, pois a sugestionabilidade é um problema potencial nos casos de
vitimização.

Na etapa de elaboração da entrevista, ao estipular as Regras Gerais e os Cuidados


necessários de cada caso, as entrevistas de investigação devem sempre ser conduzidas
com a Hipótese, de que, existem várias hipóteses ou explicações para o que está sendo
descrito, alegado ou suspeito. As entrevistas de investigação devem enfatizar as
perguntas que se espera obter narrativa relatos de eventos. Toda a interação
investigativa com as vítimas deve ser cuidadosamente e completamente
documentada. A entrevista de uma suposta ou potencial vítima infantil como parte
da investigação de um crime, deve ocorrer sempre com a justificativa legal, sem
atender as necessidades dos responsáveis e sim com vistas de atenção incondicional a
criança, pois as crianças raramente recebem toda a atenção necessária ao fornecerem
informações. Destacamos que neste momento, a pesquisadora necessitava de ter o
conhecimento da temática que surgia nos relatos, e somente a partir do levantamento
de temas, apartar, a relevância e realizar a hierarquização dos temas, esta busca era
por contextos.

Entrevistas com infantes em contexto judicial

Do ano de 2012 para 2013, a pesquisadora teve acesso ao ebook: Stein, L., Pergher, G.
K., & Feix, L. D. F. (2009). Desafios da oitiva de crianças e adolescentes: Técnica de
entrevista investigativa. Brasília, DF: Secretaria Especial dos Direitos Humanos da
Presidência da República. Trata-se de um livro de relevância ímpar, para quem atua na
área de oitiva infantil, em contexto judicial, é desenvolvido sob o viés cognitivista e
apresenta o Modelo PEACE de entrevista. PEACE (1992), é um acrônimo, o qual
representa Planning and Preparation (Planejamento e Preparação), Engage and Explain
(Engajamento e Explanação), Acoount (Relato), Closure (Fechamento) and Evaluation
(Avaliação). Trata-se de um método de entrevista que reflete uma técnica avançada da
pesquisa psicológica moderna (Starr, 2013), em que se considera a entrevista como
uma gestão da conversação, o método foi colocado em atividade em 1990 (Baldwin,
1992) e amplamente utilizado no Reino Unido, Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália.

O Modelo PEACE tem na sua origem na técnica Conversation Management,


desenvolvida por Eric Shepherd em 1983, que adota na sua estrutura, ferramentas de
base psicológica. PEACE é um acrônimo que foi desenhado, por uma equipe de
investigadores, no Reino Unido, para auxiliar entrevistadores. Tem na sua base o

420
conceito de Entrevista Ética (Shepherd, 1991), cunhado por Shepherd, que enfatiza
respeito e igualdade de tratamento para todos os envolvidos, de base não-acusatória.
Embora tenha sido criado para entrevistas relacionadas à investigação de crimes,
acredita-se que sua estrutura básica possa ser aplicada a qualquer tipo de entrevista
que busca obter informações precisas e detalhadas sobre algum fato, pois a gestão
PEACE foi desenvolvida a partir de outras técnicas como manejo de conversação,
pesquisa sobre boas práticas em entrevista e a técnica de entrevista cognitiva (Milne e
Bull, 1999).

O livro‘ Desafios da oitiva de crianças e adolescentes: Técnica de entrevista


investigativa’ faz parte do ‘Curso de Capacitação em técnicas de entrevista
investigativa - Projeto Culturas e Práticas não revitimizantes: reflexão e socialização
de Metodologias alternativas para inquirir Crianças e adolescentes em Processos
Judiciais’. E está inserido no Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Se
xual contra Crianças e Adolescentes, promovido pela, Subsecretaria de Promoção dos
Direitos da Criança e do Adolescente, Secretaria Especial de Direitos Humanos da
Presidência da República, que desenvolve um conjunto de ações visando o
enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes.

Esta é uma das principais iniciativas o fomento à formulação de políticas de


humanização do processo de participação de crianças e adolescentes nos Sistemas de
Segurança e Justiça) em parceria com a Childhood Brasil (Stein, Pergher & Feix, 2009).
A World Childhood Foundation foi criada pela S. M. Rainha Silvia da Suécia, com o
objetivo de promover e defender os direitos da infância em todo o mundo e escolheu
o Brasil como primeiro beneficiário de sua fundação, que também possui escritórios
na Alemanha, Estados Unidos e Suécia. A Childhood Brasil (www.wcf.org.br) foi
fundada em 1999, com sede em São Paulo e tem foco na proteção da infância contra o
abuso e a exploração sexual (Stein, Pergher & Feix, 2009).

No final de 2013, a pesquisadora já tinha ciência das entrevistas mais utilizadas na


área, tais como:

1) Anderson, J., Ellefson, J., Lashley, J., Miller, A. L., Olinger, S., Russell, A., Stauffer,

J., & Weigman, J. (2010). The cornerhouse forensic interview protocol: RATAC. T. M.

Cooley Journal of Practical and Clinical Law, 12, 193-328.

2) Clarke, C. & Milne, R. (2001). National evaluation of the PEACE investigative in

terviewing course. Home Office: UK, Research Award Scheme, Report No. PRSA 149.

(retrieved from http:/ www.homeoffice.gov.uk/peace_interviewcourse.pdf)

421
3) Hershkowitz, I., Fisher, S., Lamb, M. E., & Horowitz, D. (2007). Improving credi

bility assessment in child sexual abuse allegations: the role of the NICHD investigative

interview protocol. Child Abuse & Neglect,31, 99-110.

4) Kohnken, G. (2004). Statement validity analysis and the “detection of the truth.” In

P. A. Granhag & L. A. Stromwall (Eds.), Deception detection in forensic contexts (pp.

41-63). Cambridge, UK: Cambridge University Press.

5) Lamb, M. E., & Fauchier, A. (2001). The effects of question type on self-contradic

tions by children in the course of forensic interviews. Applied Cognitive Psychology,

15(5), 483-491.

6) Milne, R. & Bull, R. (1999). ‘Investigative I nterviewing: Psychology and Practice.’

Wiley: West Sussex.

7) Milne, R. (1999). The cognitive interview: Recent research. Edited Issue of Psychol

ogy, Crime and Law, 5 ( 1 and 2).

8) Poole, D. A., & Lamb, M. E. (1998). Investigative interviews of children: A guide

for helping professionals. Washington: American Psychological Association.

9) Toth, P. (2011). Comparing the NICHD and RATAC child forensic interview ap

proaches: do the differences matter? APSAC Advisor, 20(1), 15-20.

10) Vrij, A. (2005). Criteria-based content analysis: A qualitative review of the first 37

studies. Psychology, Public Policy, and Law, 11, 3-41.

11) Raskin, D. C., & Esplin, P. W. (1991). Statement validity assessment: Interview

procedures and content analysis of children’s statements of sexual abuse. Behavioral

Assessment, 13, 265-291.

12) Schollum, Mary; New Zealand Police and New Zealand Police Staff (2005). In

vestigative Interviewing: The Literature Review of investigative interviewing. Office

of the Commissioner of Police.

422
Com o objetivo de desenvolver a metodologia para realizar a análise do relato, o
levantamento das temáticas deveria ser uma etapa superada, porém não era o que
ocorria. Visto que, ainda não sabíamos qual era o estímulo discriminativo e o
comportamento-alvo, da contingência a ser analisada. E que esta contingencia seria a
mesma para todos os envolvidos. O que foi descoberto somente em 2015.
Consequentemente as perguntas também deveriam ser as mesmas, pois a temática
deveria ser comum a todos, já que um tipo de análise seria dos ‘relatos correspondentes
intra e entre verbais’. Posto que, o fato era um só: ‘interação de conteúdo sexual de um
adulto com uma criança’.

Em março de 2013, para realizar a análise dos relatos, buscamos a tese: ‘Causação do
comportamento humano: acesso à história passada como determinante na explicação
do comportamento humano ’(Simonassi, Pires, Bergholz e Santos, 1984). Após este
texto base, e das orientações no doutoramento, a pesquisadora possuía tópicos
investigativos mais estruturantes para o estudo na tese, conforme solicitou Simonassi,
tais como: a) comparar intra e entre relatos; b) excluir o mentalismo por negligenciar
a contingência de eventos; c) explicações mentalistas surgem quando se desconhece
‘causas reais ’e d) não se deve recorrer para dentro do organismo, para explicar o
comportamento, de acordo com Skinner (1953), quando ele afirma:

"O hábito de buscar dentro do organismo uma explicação do comportamento


tende a obscurecer as variáveis que estão ao alcance de uma análise científica.
Estas variáveis estão fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua
história ambiental." (p. 26)

Com base no texto supracitado (Simonassi, Pires, Bergholz e Santos, 1984) e com o
levantamento dos tópicos, por orientação de Simonassi, uma boa medida para
investigar desde a ocorrência do fato até a notícia -crime na delegacia, seria a descrição
cronológica dos fatos, começo-meio-fim e quais as condições de aquisição e
manutenção dos comportamentos para realizar a notícia -crime.

Outro texto base, de abril de 2013, foi: ‘Procedimento alternativo para produção de
correspondência ’(Simonassi, Pinto e Tiso, 2011), em que destacam:

“Há na literatura estudos que sugerem que o "dizer" e o "fazer" seriam


comportamentos funcionalmente independentes (Karlan & Rusch, 1982;
Deacon & Konarski, 1987; Baer, Detrich & Weninger, 1988; Beckert, 2002;
Luciano, Holmes & Holmes, 2002).”

No artigo supracitado Simonassi, Pinto e Tiso (2011), alertam que “estudos sobre
correspondência entre classes de operantes dependentes, são escassos na literatura” e
explicam:

423
“De acordo com Simonassi (2001) os comportamentos de 'dizer' e 'fazer' são
operantes interrelacionados, ou seja, esses comportamentos devem ser
analisados como classes de operantes que permitem integrações com classes
de estímulos. Essa integração pode ser feita com base nas variáveis
controladoras, que demonstraram ser tão acessíveis quanto as variáveis que
controlam comportamentos publicamente observáveis (Simonassi, Tourinho
& Silva, 2001), sendo que a dicotomia entre comportamento público e privado
é uma questão de acessibilidade, como foi demonstrado empiricamente por
esses autores” (grifo meu).

Então, em situação pericial, para a pesquisadora acessar os comportamentos


considerados importantes na perícia, tais como: revelação (criança) e comunicação
crime (comunicante), deveria fazê-lo por meio de perguntas, do tipo: COMO e O QUE.
Assim, conforme orientação do professor Lorismario Simonassi: ‘Perguntas periciais
deveriam funcionar como estímulos discriminativos’.

Em abril de 2013, nas aulas do Professor Doutor Cristiano Coelho, na PUC GO, em
metodologia científica, foi destacado os preceitos para se ter uma boa base
metodológica para a investigação, e isso passou a ser a preocupação da pesquisadora.
E assim algumas perguntas passaram a acompanhar a pesquisadora, do tipo: ‘Como
ocorre o tratamento dos dados (preparação, análise e interpretação)’?; ‘Como realizar
o registro, o controle e o acompanhamento dos dados?’; ‘Como auditar os dados com
frequência?’; ‘Como verificar possíveis erros, omissões e imperfeições dos dados?’;
‘Será um instrumento ou um método de coleta?’; ‘Como realizar a integração:
problema (teoria), método e análise (resultado)?’; ‘O que pode influenciar meus
dados?’; ‘Uma entrevista pode virar uma escala?; ‘A entrevista consegue realizar que
tipo de observação no comportamento verbal?; ‘Por que uma comunicante criaria uma
história, relacionada a sexualidade de uma criança?’; ‘Baixo score na qualidade da vida
sexual aumenta a probabilidade de comunicantes realizarem falsa denúncia?’; ‘Baixo
score na qualidade da vida conjugal aumenta a probabilidade de comunicantes
realizarem falsa denúncia?’; ‘Como está a vida sexual da comunicante?’; ‘A falsa
denúncia oculta o que ocorreu, ou apresenta o que não ocorreu?’; ‘Como o
comportamento colaborativo de um comunicante pode dissipar na perícia?’; ‘Como se
instala o comportamento reivindicativo de um comunicante, durante a perícia?’;
‘Como é observado um comportamento reivindicativo de um comunicante, durante a
perícia?’.

Uma análise para além do que se fala

Em abril de 2013, por meio da leitura da tese: ‘Dizer e fazer: correspondência verbal
de comunicantes e filhos em uma situação de exame médico’, Wechsler, (2008), alertou
a pesquisadora, para uma situação, de que: as respostas dos periciados, frente as
perguntas periciais, deveriam se referir a tactos e ao comportamento-alvo, desta
forma:

424
“Os tatos são operantes verbais informativos que só ocorrem na presença de
determinados estímulos discriminativos (Baum, 2005/2006). Skinner (1957/
1978) definiu um tato como “...um operante verbal, no qual uma resposta de
certa forma é evocada (ou pelo menos reforçada) por um objeto particular ou
um acontecimento ou uma propriedade de objeto ou acontecimento. O
principal efeito do tato é a determinação da topografia do comportamento e o
esclarecimento do controle de estímulo (Skinner, 1957/1978)” (p. 108).
(Wechsler, & Amaral, 2010)”.

A autora Wechsler (2008) desenvolveu discussão a respeito de eventos “verdade” e


“mentira”, e a respeito da distinção dos operantes verbais mando e tato, na situação
de exame médico envolvendo comunicantes e filhos. A tese foi relevante, pois com
esta leitura de personagens semelhantes à da pesquisadora, ficou expressamente
definido, que a busca não seria por uma “verdade” ou “mentira” frente aos relatos
maternos, mas sim, a identificação de tatos frente ao comportamento-alvo. Porém,
ainda sem definir, como realizar a análise dos tatos e quais seriam os
comportamentos-alvos, tal como explica Wechsler, (2008):

“O comportamento verbal, segundo Matos (1999), é prototípico do


comportamento operante. Assim, ele é regido pelas mesmas leis que regem o
comportamento não verbal, sendo estabelecido e mantido pela tríplice
contingência (de Rose, 1994)... Tatos são operantes verbais informativos que
só ocorrem na presença de determinados estímulos discriminativos (Baum,
2005/2006). Nos tatos, a resposta é verbal e o estímulo controlador é um
estímulo não-verbal (Hübner, 1999). Desta forma, Skinner (1957/1978) definiu
um tato como sendo: “...um operante verbal, no qual uma resposta de certa
forma é evocada (ou pelo menos reforçada) por um objeto particular ou um
acontecimento ou uma propriedade de objeto ou acontecimento (p. 108)”.

Outro trabalho que orientou a pesquisadora, para a análise dos relatos, foi a
dissertação: ‘Efeitos de contingências aversivas sobre o comportamento de mentir:
Sinais e detecção’, de Nicolau Chaud, 2008. O trabalho reforçou a orientação do
professor Simonassi, de que não estaríamos em busca da ‘verdade ’ou da ‘mentira’,
mas sim de tactos, mesmo os distorcidos, seriam analisados a partir do que era
considerado tacto no contexto investigado:

“Talvez a primeira tentativa de tratar o comportamento de mentir a partir do


referencial teórico-conceitual da Análise do Comportamento tenha sido feita
por Skinner (1957/1992) em sua obra Comportamento Verbal, na qual afirma
que quando “uma resposta é emitida sob circunstâncias que normalmente
controlam uma resposta incompatível” (p. 149), nós a chamamos de mentira,
categorizando assim este tipo de operante verbal como um tacto distorcido.
(de Castro Quinta, 2008)”.

425
E já em 2013, descartamos a idéia de trabalhar como conceito de correspondência e
sim, conforme destaca De Castro Quinta (2008):

“Outro problema em tomar a não-correspondência isoladamente como


mentira é que ela não inclui o componente intencional. Falas não
correspondentes podem ocorrer em circunstâncias diversas, como em ironias,
performances de atores, piadas, etc., sem que haja a intenção de enganar o
ouvinte. (grifo meu)”.

Desta forma, utilizar o termo ‘não-correspondente ’de De Castro Quinta (2008), se


apresentou mais favorável, pois a pesquisadora, investigava em algum nível, seja da
pessoa que realizava a notícia-crime, seja da suposta vítima, seja do suspeito, a
possibilidade de informações falsas ou privação de informações verdadeiras, sempre em
relação ao contexto, de forma que se diferencia do conceito de mentira, conforme
explica De Castro Quinta (2008):

“A partir do momento que a Análise do Comportamento entende a


intencionalidade de forma funcional, ou seja, em termos das conseqüências
do comportamento intencional (Baum, 1999), este tipo de trabalho pode
fornecer evidências indiretas sobre o controle do comportamento que poderia
ser chamado de mentiroso... Existem outras interpretações possíveis para o
que pode ser chamado de “intencionalidade” da mentira na Análise do
Comportamento, que não através das conseqüências diretas deste operante
verbal. Assim como Sato & Sugiyama (1994), Ribeiro (1989) admite que
algumas instâncias do mentir se constituem como comportamentos
governados por regras (o que se assemelha à noção de mentira como opção
consciente). Enquanto que os primeiros autores definem tais regras de forma
genérica, como especificadoras das consequências reforçadoras do mentir em
uma dada situação, Ribeiro (1989) afirma que contar a verdade e mentir
podem ser controlados por regras parentais e/ou sociais, e que tais
comportamentos envolvem o controle adicional de contingências éticas. Por
definição, as abordagens que tratam a mentira de forma funcionalista (como
a Análise do Comportamento) vão explicá-la em termos de
conseqüências/resultados prováveis. Tais consequências são usualmente
descritas em instâncias específicas; uma criança pode mentir que escovou os
dentes para evitar a repreensão da comunicante, e um candidato a uma vaga
de emprego pode adicionar itens ao seu currículo para aumentar suas chances
de passar pela entrevista. Por este lado, as conseqüências da mentira podem
ser reforçadoras tanto positiva quanto negativamente (Pergher & Sadi, 2003),
e variam de uma mentira à outra. Mais do que isso, esta conseqüência
específica da mentira só a diferencia da verdade na sua relação com o contexto
na qual ocorre. Por exemplo, a criança que mente para a comunicante sobre a
tarefa feita obtém os mesmos reforçadores que a criança que conta a verdade
ao dizer a mesma coisa, embora estejam se comportando em contextos
diferentes no que diz respeito às condições antecedentes à emissão. Por outro
lado, as abordagens que tratam da mentira sob uma perspectiva intencional

426
especificam um tipo de conseqüência universal da mentira: enganar, induzir
em erro ou, nas palavras de Smith, “fornecer aos outros informações falsas ou
privá-los de informações verdadeiras” (2006, p. 5). Este é um tipo de
conseqüência geralmente mais complexa, e não necessariamente vai
acompanhar as conseqüências do primeiro tipo (específicas à situação). A falta
deste segundo elemento pode, inclusive, desconfigurar aquilo que chamamos
de mentira.”

Assim, começava a ficar claro para a pesquisadora que, por meio das categorias
formais de comportamento verbal, as perguntas deveriam gerar tactos. E que
independente de qual operante verbal fosse emitido, estes deveriam ser analisado. Por
sua vez, se ouvesse um crime a ser apresentados, os tactos seriam facilmente gerados
pelas perguntas, que se constituíam de uma contingência. A organização da entrevista
passou pelo crivo de: quais seriam estas perguntas, quais temáticas e principalmente
qual o tipo e sequência das perguntas em relação as temáticas. Quanto aos tactos,
Wechsler, & Amaral (2010) informa:

“Os tatos são classificados em dois tipos: puros ou impuros. Um tato puro ou
objetivo é estabelecido por um reforço generalizado, sendo a resposta
determinada por um traço específico do estímulo; mas como um reforço
generalizado é raro, é provável que nunca haja uma objetividade pura
(Skinner, 1957/1978). Por depender de condições momentâneas de privação
do falante, o reforço não generalizado enfraquece o controle pelo estímulo
discriminativo, dando funções de mando para o tato, ou seja, o tato torna-se
“impuro” (de Rose, 1994).”.

Ainda destacamos que, o perito ao analisar relatos deverá buscar ‘relatos fidedignos
aos fatos’, sendo que, distinguir os relatos fidedignos e não-fidedignos será a
especialidade do perito analista do comportamento, pois somente quem relata, ‘sabe ’
o que ‘optou ’por relatar. Para o perito é importante que este identifique tactos,
emitidos frente a perguntas específicas a respeito de um fato específico. Este
profissional, não estará frente ao periciado com o objetivo de lhe reforçar ou não, e
sim de analisar todo tipo de tacto ‘esperado ’para cada pergunta, caso não ocorra, o
operante verbal deverá ser passível de análise.

“Um tacto típico geralmente define uma instância do que pode ser chamado
de “contar a verdade”. “O elevador chegou” será um tacto se estiver sob
controle desta condição do ambiente físico (a chegada do elevador), e será
razoável considerar que nestas circunstâncias a pessoa que emitiu tal resposta
estava dizendo a verdade. Tactos assim são estabelecidos e mantidos por uma
comunidade verbal, que reforça a precisão da correspondência entre o
comportamento do falante e o mundo físico, por se beneficiar do contato
estabelecido com as variáveis que operam na produção da resposta. (De
Castro Quinta, 2008)”

427
A busca da pesquisadora também não era por relatos autodescritivos, pois a perícia
não tem o objetivo de tornar alguém ‘consciente ’de seu comportamento (de Rose,
1999), mas sim de emitir tactos, descrever um fato. Apesar de que, na medida que este
relata algo que realizou, vai se tornando mais ‘cônscio ’em relação aquilo que ocorreu
e fez:

“O comportamento autodescritivo é um comportamento verbal com


propriedades de tato, em que o falante se torna “consciente” de seu
comportamento (de Rose, 1999). Para Baum (2005/2006), “se as pessoas são
capazes de falar sobre seu comportamento, são consideradas conscientes e
conscientes do seu comportamento” (p. 67). (Wechsler, & Amaral, 2010)”.

Desta forma, o que surge nas sessões periciais, é que na medida que comunicantes
desenvolvem o relato auto-descritivo e necessitam de se auto-corrigirem, examinam a
própria desconexão entre: a razão dos relatos que emitem e a conclusão dos fatos. Ou
seja, a pessoa tem um feedback direto e imediato, de suas próprias respostas, na
medida que as perguntas evoluem em relação ao fato, com isso, a pessoa tende a
reajustar seu próprio comportamento. O que se torna uma estratégia para a
manutenção de eventos que não ocorreram, pouco eficaz no ambiente pericial, por
este ser extremamente padronizado. Assim, automaticamente o comportamento do
periciado que era de carácter colaborativo, dentre outras características, passa a ser
reivindicativo e questionador em relação ao trabalho investigativo, e desta forma, foge
da temática dos fatos e tende a emitir mandoscxliv. O que se torna uma rica fonte de
análise.

Dentre outras necessidades, a imersão foi total em Verbal Behavior (Skinner, 1957),
mais precisamente nos tópicos referentes a: análise funcional do comportamento
verbal, tactos e estímulos suplementares. Para isso, a pesquisadora buscava mais do
que uma entrevista estruturada, a pesquisadora buscava uma sequência de perguntas
que não se alterasse em relação aos indagados, visto que, o fato era único a todos os
investigados: interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança.

Este modelo investigativo, teria na base da sua constituição, a entrevista. A entrevista


se apresentaria com uma estrutura invariável, ou seja, tal como um ‘protocolo ’e
seguiria a proposta do Protocolo de BodyTalk e do BreakThrough, do BodyTalk System,
(Veltheim, 2013) no qual, a base do protocolo é uma sequência invariável. No caso do
BodyTalk System, (Veltheim, 2013) o objeto investigado é o ser humano e a variabilidade
ocorre de acordo com as características particulares de cada pessoa, ou seja, a técnica
não varia de acordo com a demanda.

Desta forma, as entrevistas se estruturariam com uma sequência invariável de


perguntas, em que a variabilidade das respostas ocorreria quanto ao conteúdo, haja
vista que, o evento investigado é um só: ‘interação de conteúdo sexual de um adulto
com uma criança’. Por sua vez, a contingência a ser constituída na elaboração das

428
perguntas periciais, deveria necessariamente seguir este princípio. Então, seria
previsível a variabilidade das respostas, mas dentro das características que
configuram esta interação, ou seja, de acordo com a descrição referente a contingência
a ser estabelecida. Pois, existem características comportamentais específicas e
esperadas de todos os envolvidos, quando nos referimos a ‘interação de conteúdo
sexual de um adulto com uma criança’. Visto que, por meio do comportamento verbal
podemos identificar o que as pessoas selecionaram deste ambiente e o que elas fizeram
sob as circunstâncias deste fato. Assim sendo, quando identificamos extremos, dá-se
início a desconfiguração do evento investigado, e assim, passa a ser caracterizado
como outro fato e por sua vez, constituído de outra contingência.

Destacamos que, por meio da sequência invariável das perguntas, teríamos por meio
das respostas a formação de uma representação holográfica do fato: ‘interação de
conteúdo sexual de um adulto com uma criança’. Sendo que, ao se constatar a
representação holográfica do fato, se encontraria a constituição da ‘interação de
conteúdo sexual de um adulto com uma criança’. Caso esta representação não se
constituísse por meio das respostas ás questões, não teríamos informações suficientes
a respeito do fato investigado, portanto, não teríamos a fidedignidade do fato.

Assim, as respostas dadas pelos investigados se compõem das características que


compõem os indicadores, que por sua vez, formam os pressupostos de como se dá
uma ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança’. De tal modo,
quanto mais os relatos são compostos de indicadores, relacionados ao fato, mais se
aproximam do evento investigado. Pois, identificar a ocorrência da ‘interação de
conteúdo sexual de um adulto com uma criança’, só será possível quando: a resposta
comportamental da comunicante, da suposta vítima e do suspeito forem
correspondentes as respostas esperadas para cada pergunta. Do contrário estas
respostas se apresentam desconfiguradas em relação ao fato, não se contingenciam e
ainda são totalmente passíveis de análise, sendo este um dado também considerado
importante. Informamos que a constituição do evento: ‘interação de conteúdo sexual
de um adulto com uma criança’, se dá, desde o contexto anterior ao fato - revelação da
criança, até a realização da notícia-crime.

A ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança’ é relativamente fácil


de ser investigado, visto que, trata-se de uma interação totalmente assimétrica e com
características muito particulares a todos os envolvidos, o que facilita sua
caracterização. A descrição destes 4 últimos parágrafos só foi possível em 2016,
momento em que por meio de estudo de caso, um aluno da pesquisa questionou:

‘Aluno: - Por que você pergunta tantos detalhes até a pessoa falar que veio registrar o

BO (boletim de ocorrência)?

429
Pesquisadora: - Por que de tudo que ela fala, o registro do BO é o único fato que pode

ser comprovado documentalmente.’

Desta forma, o Estímulo Discriminativo necessariamente deve ser a ‘interação de


conteúdo sexual de um adulto com uma criança’, para o registro do Boletim de
Ocorrência - BO. Caso não se identifique a ‘interação de conteúdo sexual do adulto
com a criança’, outra condição será o discriminativo para o registro do Boletim de
Ocorrência – BO. Ou seja, a comunicante registraria por Reforço e não por
Discriminativo. E assim, a pessoa precisaria identificar: ‘momento propício para
realizar notícia-crime’, sendo este o estímulo discriminativo desencadeador para a
emissão da resposta ‘registrar notícia-crime’. Investigar o estímulo discriminativo e os
desencadeadores é o trabalho do perito.

Estruturação e temáticas das entrevistas

De volta a 2013, com base na tese de estudo da pesquisadora: “O atendimento a


crianças vítimas de abuso sexual: avaliação de um serviço público”, da autora: Ana
Lúcia Ferreira e orientadora: Edinilsa Ramos de Souza, e de outros ‘protocolos ’e
‘inventários ’a pesquisadora utilizou destes instrumentos para elaborar perguntas a
serem utilizadas nas sessões periciais, tais como:

“The Metropolitan Toronto Special Committee on Child Abuse (1995),


traduzida para o Português e adaptada por Kristensen (1996), Entrevista
Neuropsiquiátrica internacional MINI para crianças e adolescentes (Sheehan,
Shytle, Milo & Janavs, Lecrubier 2009), letras P e Q, traduzido por
Hohendorff, Habigzanga & Koller a partir da versão postuguesa de Portugal
(Guerreiro, Navarro, Mendes & Sampaio, 2009), Victims and witnesses, and
Using Special Measures (Home Office, 2011), Entrevista Cognitiva (EC; Fisher &
Geiselman, 1992), Protocolo de entrevista forense da Corner House - RATAC
(Finding Words; Anderson et al., 2010 -“Rapport, Anatomy Identification,
Touch Inquiry, Abuse Scenario, and Closure”, em livre tradução o termo
“RATAC” significa: Rapport, Identificação Anatômica, Questionamento sobre
Toques, Cenário do Abuso e Fechamento); e o Protocolo NICHD (National
Institute of Child Health and Human Development; Lamb, Hershkovitz, Orbach, &
Esplin, 2008), SexKen- ID (McCabe, 1999): PWI – ID -Versão Portuguesa de
Joana Pinto e Pedro Nobre (2011); NCAC - Modelo de Avaliação Forense
Estendida (Carnes, 2000); Avaliative Investigative Interview BARS (Clarkec &
Milne, 2001), PSOC – Parent Sense of Competence Scale (Gibaud W. J. &
Wandesrsman, L. P. 1978), Competências Maternas Percebidas (Nunes &
Lemos, 2010b), FACES III - Escala de Avaliação da Coesão e Adaptação
Familiar (Nunes & Lemos, 2010c), Roda da Vida (Collela, F., (2014), QUESI
Questionário Sobre Traumas na Infância (QUESI: Grassi-Oliveira, Stein &
Pezzi, 2006) é um instrumento de auto-relato retrospectivo, baseado
no Childhood Trauma Questionnaire (Bernstein & cols. 2003),– questionário
sobre traumas da infância; Escala de Bem –estar subjetivo- EBES (Trócolli,

430
Salazar e Vasconcelos, 2002); PANAS – Aspectos positivos e negativos
(Giacomoni e Hutz, 1997), construção de narrativa (Saywitz & Goodman,
1996), Inventário de toques (Hewitt, 1998), Sexken – ID (adaptado) (McCabe,
1999) e PWI – ID (Pinto & Nobre 2011), Protocolo de Avaliação de risco de
abuso sexual infantil (Faller, K.C., 1993).” (in parecer psicológico da perita
Viviane Teles, 2015)

Somente no final de 2014, os inventários e protocolos supracitados compõe a base


estrutural da Entrevista Contingenciada Investigativa - ECI. Esta base estrutural se
assenta no pressuposto de que todos estes inventários e protocolos se constituem de
um roll de informações com temáticas e sequência-lógica que exploram os contextos
de violência sexual infanto-juvenil. Destacamos que a adaptação ocorreria em relação
á: sequência das perguntas, sequência das temáticas e quanto ao objeto de
investigação ‘interações de conteúdos sexuais de um adulto com uma criança’, com
foco no contexto relacional desta díade.

O que ocorreu neste estudo foi como uma Dessensibilização Sistemáticacxlv (Pereira,
2012) em relação ao modelo e estrutura pericial desde o ano de 2008. O que ocorreu
foi uma atualização de modelo e estrutura pericial já utilizado pela pesquisadora, e
que se davam como upgrades, até culminar na última versão, em 2017 e que
possivelmente seguirá se atualizando. Esta atualização/upgrades se davam, em
pequenos passos por exposição/aproximação, na medida que se realizava a análise
dos resultados das EntrevistaS Contingenciadas para a elaboração do laudo. Pois, o
que pesquisadora utilizaava em termos de instrumental metodológico, já era muito
bem aceito pelo judiciário goiano, desde 2008. E a proposta em relação ao
instrumental, era seguir, no sentido de facilitar a coleta de dados do psicólogo, diante
da quantidade extraordinária de informações que surgem no contexto pericial.

Diante da construção e recepção sempre positiva do judiciário e do ministério público,


na esfera criminal, sem nenhuma advertência, e sim com os laudos sendo acatados
seja parcialmente, seja totalmente, a atuação da pesquisadora se mostrava com um
bom desempenho.

Acreditamos que a atualização instrumental continuará na medida que novas análises


dos dados surgirem, por: quantidade de aplicações, prática, resultados obtidos,
referencial teórico atualizado e utilização por outros profissionais.

As atualizações das EntrevistaS Contingenciadas tinham a função de refinar o


instrumental de acordo como o referencial teórico condizente a temática e a teoria da
análise funcional do comportamento (Skinner, 1957), em que, além da relevância das
perguntas, buscava-se também desenvolver a sequência optima. Esta sequência era
muito importante, visto que facilitaria para o perito a análise das contingências, de
acordo com a sequência lógica do contexto de: ‘interações de conteúdos sexuais de um
adulto com uma criança’.

431
A dessensibilização ocorria referente ao instrumental pericial, quanto a: referencial
teórico, metodologia de análise e técnicas. Aconteceu gradualmente em 8 anos, em
que se aliava resultados da prática á teoria e vice-versa, constituindo assim a
retroalimentação tanto da prática, quanto da teoria. Para a pesquisadora, os resultados
positivos eram certificados na medida que Ministério Público fazia referência ao laudo
da pesquisadora em seus pareceres e juízes se referiam ao laudo e descreviam trechos
do laudo da pesquisadora em suas sentenças.

Do período de 2008 a 2012, as respostas dadas pelos investigados, eram analisadas


ainda sob duas condições: a) análise dos relatos que poderiam ser comparados ou não
a etapa de desenvolvimento referente a criança periciada e b) quando ocorriam
variações nos relatos quanto a: conteúdo e origem das atitudes desencadeadoras do
comunicante, no momento da revelação e para comunicar o crime.

A organização bibliográfica e dos dados para o embasamento instrumental

Em agosto de 2013, a pesquisadora cursou em seu doutoramento a disciplina:


Planejamento de pesquisa em psicologia, com a professora Dra. Daniela Zanini, em
que foi solicitado como avaliação para a disciplina, o levantamento bibliográfico com
fichamento referente ao tema pesquisado, e posteriormente a apresentação de projeto
de pesquisa com vistas a contemplar o fichamento realizado.

Com as atividades de pesquisa referentes a disciplina em curso, e por orientação da


Dra. Daniela Zanini, a pesquisadora lançou as palavras-chave: “violência sexual
contra criança”. Foi encontrado 9.970 artigos, somente na base de dados SCIRUScxlvi,
no portal de pesquisa da BVS A Biblioteca Virtual em Saúde - Psicologia Brasil ou
simplesmente (BVS-Psi Brasil) é referência na América Latina e brasileira em
informação científica e para estas palavras-chave selecionou 1776 artigos, aqui
incluindo 346 artigos da LILACS, sendo este considerado o mais importante e
abrangente índice da literatura científica e técnica da América Latina e Caribe.
Observou-se na bibliografia levantada, nacional e estrangeira, por meio do
Resumo/Abstract, que os artigos não se referiam a “perícia psicológica judicial em
crianças vítimas de violência sexual”. São trabalhos que envolvem caracterização de
populações, práticas de intervenção, processos psicológicos, consequências da
violência sexual, revisão da literatura e principalmente, conceitos e discussão teórica.
Desta forma, a literatura apresenta uma quantidade relevante de estudos
aprofundados que envolve a temática: ‘violência sexual contra crianças’, como o objeto
de estudo central.

Até 2013/2, a pesquisadora se aprofundava nos referenciais teóricos que discutiam:


as generalizações da violência sexual contra crianças, perfil psicológico e médico de
crianças violentadas, perfil de agressor. Quanto ao perfil de comunicantes que
cometiam as falsas alegações, não foi encontrado nada a respeito. Com isso, com base
na apresentação da pesquisadora na disciplina do doutoramento, esta foi alertada pela

432
Dra. Daniella Zanini, que, na apresentação a temática representada era a respeito da
perícia psicológica, porém a busca teórica era conceitual e referente a ‘violência sexual
infanto-juvenil’.

Concomitantemente, junto as direções do seu orientador, a pesquisadora eliminou a


base conceitual de ‘violência sexual infanto-juvenil ’da qual estava absorvida, também
na sua prática de trabalho e voltou-se teoricamente para um novo objeto a ser
sistematizado: ‘A perícia psicológica judicial em crianças suspeita de violência sexual’.
Ou seja, um objeto, que foi contemplado em única página por Furniss (1993, pag. 108),
um autor que tenha talvez o maior compendio escrito em um livro a respeito da
temática violência sexual infanto-juvenil.

Com isso, o objeto de estudo da pesquisa alterou. Então, poderíamos inovar quanto
ao instrumental da perícia psicológica, apresentar metodologicamente um ciclo
completo pericial, que iria desde a análise da realização da notícia -crime, até a entrega
do documento/laudo pericial ao solicitante.

Assim, a partir das considerações da Professora Dra. Daniella Zanini, iniciou um novo
levantamento bibliográfico envolvendo as palavras chaves: violência sexual contra
crianças, perícia psicológica judicial e correspondência verbal. Com base neste
levantamento não foi encontrado nenhum trabalho que envolvesse perícia psicológica
judicial e análise do comportamento. Outro dado que chamou atenção no
levantamento bibliográfico, foi que, por se tratar de um crime que envolve o
comportamento sexual, também não foi encontrado inquéritos e ou entrevistas que
elencassem os comportamentos sexuais envolvidos no contexto.

Desta forma, a palavra-chave passou a ser: perícia psicológica, no qual foi realizado a
busca no Portal de Periódicos CAPES, que destacou 125 artigos. Com o intuito de
refinar a pesquisa a palavra-chave passou a ser: “perícia psicológica”, colocada entre
aspas, que destacou 23 artigos, sendo que somente 5 tem afinidade com a temática, a
destacar:

“Ortiz, M. C. (1986). A perícia psicológica. Psicologia: Ciência e Profissão, 01


January, Vol.6(1), pp.26-30. Directory of Open Access Journals (DOAJ)

Rovinski, S. L. R. (2006). Avaliação psicológica na área forense: demandas


atuais na defesa dos Direitos Humanos. Revista da Sociedade de Psicologia
do Rio Grande do Sul, 5(1), 33-41.

Rovinski, S. L. R. (2011). A avaliação psicológica no contexto jurídico. In,


Conselho Federal de Psicologia. Ano da Avaliação Psicológica – Textos
geradores. Conselho Federal de Psicologia, Brasília.

Perícia psicológica no abuso sexual de crianças e adolescentes Forensic


psychological examination in child and adolescent sexual abuse. Luiziana

433
Souto Schaefer; Silvana Rossetto; Christian Haag Kristensen Psicologia:
Teoria e Pesquisa, 01 June 2012, Vol.28(2), pp.227-234

A perícia psicológica em casos de suspeita de abuso sexual infanto-juvenil.


Lages Gava, Lara; Pelisoli, Cátula; Dell'Aglio, Débora. Avaliaçao Psicológica:
Interamerican Journal of Psychological Assessment, 2013, Vol.12(2), pp.137
145”

Posteriormente em 2016, após formatação da entrevista avançada, no Portal de


Periódicos CAPES e Banco de Teses da CAPES, foi realizado nova busca com palavras
chave: “perícia psicológica de crianças violência sexual”, e foram encontrados:

“Shine, S. K. (2009). Andando no fio da navalha: riscos e armadilhas na


confecção de laudos psicológicos para a justiça. (Doctoral dissertation,
Universidade de São Paulo).

Peixoto, C. (2011). Avaliação da credibilidade de alegações de abuso sexual


de crianças: Uma perspectiva psicológica forense (Doctoral dissertation, Tese
de Doutoramento apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade do Porto).

Pacheco, R. C. (2012). Entrevista forense com crianças abusadas: contributos


para a adaptação do protocolo do NICHD ao contexto português (Doctoral
dissertation).

Gava, L. L. (2012). Perícia psicológica no contexto criminal em casos de


suspeita de abuso sexual infanto-juvenil. Tese de Doutorado, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.

da Luz Pelisoli, C. (2013). Psicologia e as relações com a justiça: práticas,


conhecimento e tomada de decisão em situações de abuso sexual (Doctoral
dissertation, Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Peixoto, C. E., Ribeiro, C., & Magalhães, T. (2013). Entrevista forense de


crianças alegadamente vítimas de abuso. Agressões sexuais: Intervenção
pericial integrada, 75-102.

Schaefer, L. S. (2014). Indicadores psicológicos e comportamentais na perícia


de crianças com suspeita de abuso sexual. Tese (Doutorado em Psicologia) -
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Pelisoli, Cátula da Luz, & Dell'Aglio, Débora Dalbosco. (2015). Práticas de


profissionais de Psicologia em situações de abuso sexual. Arquivos Brasileiros
de Psicologia, 67(1), 51-67. Recuperado em 26 de janeiro de 2016, de
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809
52672015000100005&lng=pt&tlng=pt.

434
Schaefer, Luiziana Souto Kristensen (2014). Indicadores psicológicos e
comportamentais na perícia de crianças com suspeita de abuso sexual.
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

Morete, v. s. (2015). Técnicas de entrevista em casos de suspeita de abuso


sexual infantojuvenil. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de
Londrina, Londrina.

Oshima, E. B. D. F. D. (2016). Montando o quebra-cabeça: análise de laudos


elaborados por psicólogos do judiciário nos casos de abuso sexual
intrafamiliar. Mestrado em Psicologia, Universidade Tuiuti do Paraná,
Curitiba.”

Destacamos que a tese da Gava (2012), já vinha sendo trabalhada pela pesquisadora,
visto que Gava (2012) trabalhou com estudo empírico de laudos com a finalidade de
investigar sintomas e quadros psicopatológicos identificados em crianças e
adolescentes e as técnicas utilizadas e percepções dos peritos psicólogos, acerca da
prática investigativa nos casos de suspeita de abuso sexual. Assim não citamos a tese
de Sonia Liane Rovinski Reichert (2003), autora muito mencionada no âmbito da
psicologia jurídica, por seu trabalho investigar o dano psíquico em mulheres vítima
de violência doméstica e abuso sexual, tal como: Rovinski, Sonia Liane (2003). Estudo
comparativo do dano psíquico en mulheres vítimas de violência doméstica e de abuso sexual. /
Estudio comparativo del daño psíquico en mujeres víctimas de violencia doméstica y de abuso
sexual. Diretor: Gómez Fernández, Domingo Esteban; Luengo Martín, M. Ángeles
(Codirector). Teses doutorais. Univ. Santiago de Compostela. Dep. Psicología Clínica
y Psicobiología. Desta forma, de Rovinski, citamos somente artigos, que traz uma
contribuição relevante para a psicologia jurídica no Brasil.

Assim, após a primeira perícia psicológica, realizada sob as perspectivas do


doutoramento, em outubro de 2013, a pesquisadora, posteriormente, realizou a
transcrição dos vídeos de todos os entrevistados, tais como: comunicante, criança
periciada, irmão da criança, suspeito e psicóloga que atendeu a criança no CREAS –
Centro de Referência Especializado de Asssistência Social.

Para isso, foi realizado a transcrição dos vídeos e efetivado o levantamento das
temáticas que surgiram durante os relatos. Assim, buscou-se a ocorrência de palavras
semelhantes e verbalização de palavras usuais entre a díade investigada, em relação
ao evento ‘interação de conteúdo sexual’. Não foi nada fácil! Mesmo com a experiência
de realizar etogramacxlvii pela pesquisadora, os relatos eram muito extensos e além da
extensão, os conteúdos destes se relacionavam com várias temáticas ao mesmo tempo,
com relatos verbais semelhantes, porém com temáticas diferentes e relatos verbais
diferentes para temáticas semelhantes.

Gava (2012), psicóloga do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, no


Departamento Médico-Legal de Porto Alegre, cargo de Perito Criminal desde 2009,

435
realiza perícias psicológicas nos casos de suspeita de abuso sexual infanto-juvenil,
destaca vivência semelhante:

“Na minha prática profissional, em busca dessa conclusão ou posicionamento


confiável, seguia basicamente os seguintes procedimentos: leitura e análise
dos documentos disponíveis, entrevistas com a criança ou o adolescente
supostamente vítima, entrevista com o responsável. A partir das entrevistas,
realizava avaliações do estado mental e sintomatológica da suposta vítima,
além disso, avaliação da credibilidade do relato fornecido. Após esses
procedimentos, buscava analisar e integrar os dados obtidos, de modo a
entender meu posicionamento e formular a conclusão. Muitas vezes, contudo,
o posicionamento pericial não era claro para mim mesma. Eu me via diante
de uma série de dados coletados na avaliação, mas sem conseguir integrá-los
de modo que pudesse chegar confiavelmente, a uma ou outra conclusão:

- O que, especificamente, poderia me fazer concluir pela probabilidade do


abuso? O relato da criança? A constatação de trauma psíquico? A
compatibilidade entre o relato do responsável e o da criança?

- O que, especificamente, não me permitiria concluir pela mesma


probabilidade? Um contexto com possíveis motivos para uma falsa denúncia?
A ausência de relato da situação abusiva por parte da criança? A
incompatibilidade entre o relato fornecido na perícia e o descrito nos autos?
A incompatibilidade entre o relato e resposta emocional frequentemente
observada em vítimas de abuso?

Talvez todas essas dúvidas possam ser resumidas da seguinte forma: o que,
na minha avaliação, afinal, me permitiria chegar a uma ou a outra conclusão?
Mas essa questão, essencialmente prática, era muito discrepante em relação
ao que eu havia aprendido, na teoria, sobre perícia. (Gava, 2012)”.

O perito psicólogo judicial, no contexto da polícia judiciária

No ano de 2014, a pesquisadora passou a atuar como perita ad hoc, na DPCA de


Goiânia. A pesquisadora assumiu a função no departamento de psicologia desta
instituição, por ser psicóloga nesta temática de perícia infanto-juvenil e por ser escrivã
de polícia concursada.

Os problemas em relação a metodologia da perícia psicológica em delegacia, é


inovador e não existe previsão desta atuação específica junto ao CRP, e nem junto ao
banco de profissão do CFP - Conselho Federal de Psicologia. O que se tem referência,
é somente ao perito do juiz.

O Banco de Profissão do CFP, foi criado no período de 2003 a 2005, nomeado


Programa Banco Social de Serviço (2012), que apresenta à sociedade e aos Estados
práticas disponíveis na profissão psicólogo. Após os resultados do Programa Banco

436
Social de Serviço, surgiu a idéia do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e
Políticas Públicas – CREPOP. Por sua vez, o nosso Código de Ética Profissional
estabelece, em seus artigos de 18 a 22, os limites que norteiam a relação do psicólogo
com a Justiça. Portanto, esta é uma área de atuação legítima do psicólogo. Cabe a ele
desenvolver o estudo da personalidade dos litigantes e demais envolvidos nos litígios
judiciais e caso as ilações periciais sejam baseadas em psicodiagnósticos, cabe-lhe
também concluir o laudo (Meirelles, 1986).

Nestes primeiros anos do século XXI, a psicologia forense continua a ser um ramo da
Psicologia Aplicada, tendo sido reconhecido pela APA - American Psychological Asso
ciation como uma especialidade em 2001 e recertificado em 2008. Mesmo antes disso,
em 1991, as Diretrizes dos Especialistas Psicólogos Forenses, a seguir denominado
Comitê de Diretrizes Éticas para Psicólogos Forenses foram adotadas pela American
Psychology-Law Society, que é a Divisão 41 da APA. Estas Diretrizes foram
recentemente revisadas e renomeadas Diretrizes Especializadas para Psicologia
Forense (APA, 2013), e aceito pelo Conselho de Representantes da APA.
Curiosamente, embora a Psicologia Forense foi inicialmente vista como
primariamente de natureza clínica - por fornecer avaliações aos tribunais - o seu âm
bito alargou-se para a prática da psicologia, uma vez que fornece conhecimentos
especializados à lei em um amplo contexto (APA, 2013, Comité, 1991) (Weiner and
Randy, 2014).

A APA – American Psychological Association (APA, 2013), faz uma distinção do


psicólogo forense, e de acordo com a descrição podem ser convocados para resolver
problemas e questões que surgem judicial e extrajudicialmente, sendo que tais
questões são divididas em duas categorias principais: civil (pessoas envolvidas em
litígios civis, como a guarda de crianças) e criminal (pessoas envolvidas em processos
criminais e delinquência, como a sanidade no momento do crime e a competência para
julgamento). A previsão do psicólogo que atua judicialmente e extrajudicialmente é
relevante na medida em que seus desempenhos são completamente distintos, tanto
no que tange a finalidade do laudo pericial, quanto a jurisdição de ação.

A Investigação Criminal, que ocorre em condição extrajudicial, visa apurar as


infrações penais e sua autoria, materialidade e circunstâncias, e busca elementos de
convicção que permita ao Ministério Público oferecer a denúncia (Júnior, 2012). A
Investigação Policial é um conjunto de procedimentos sistematizados, de natureza
interdisciplinar, que busca elementos de convicção que auxiliem na produção de
provas da infração penal, com o objetivo de identificar autoria, a materialidade e as
circunstâncias em que ocorreu. Desta forma, o resultado da investigação policial, em
última instância, é remetido ao Poder Judiciário para que sejam realizados os
procedimentos legais (Júnior, 2012).

437
Toda atividade policial, por mais simples que seja, é precedida de um planejamento
que que considera o grau de dificuldade da atividade a ser executada, trata-se do
Planejamento Operacional, que prevê: o início e o término da investigação; a
composição da equipe e as técnicas que serão aplicadas, em que se considera, o grau
de complexidade da missão a ser desenvolvida (Júnior, 2012). Neste caso, na DPCA
de Goiânia, todos os crimes relacionados ao 217-A, Estupro de Vulnerável, do Código
Penal Brasileiro, passam por perícia psicológica, desta forma existe a previsão por
parte do delegado, do trabalho do psicólogo integrado à equipe. Assim, a equipe na
DPCA de Goiânia é constituída de: delegado, escrivão, agente e psicólogo.

Lapa (2012), destaca que somente em Santa Catarina existe por legislação, Lei
Complementar nº 453 de 2009, a atuação do psicólogo específico na Polícia Civil, com
o cargo de: Psicólogo Policial Civíl. Em que, nestes termos é considerado pelo Art. 3º
- Considera-se Agentes da Autoridade Policial: I - os Agentes de Polícia; II - os
Escrivães de Polícia; e III - os Psicólogos Policiais. Desta forma, destacamos suas
atividades conforme legislação:

1. “Prestar atendimento em psicoterapia aos policiais envolvidos com


alcoolismo e drogas, ou em qualquer outra necessidade de natureza
emocional e/ou funcional e, quando necessário, providenciar o
encaminhamento a profissionais e instituições congêneres, bem como orientar
seus familiares;

2. Proporcionar meios de superação no trato dos problemas de


relacionamento, inadequação funcional e motivação dos servidores que
atuam na área de segurança pública;

3. Realizar, por solicitação de órgãos das Secretarias de Estado da Segurança


Pública e Defesa do Cidadão e da Administração, avaliações psicológicas dos
servidores que prestam serviços na área de segurança pública, em especial,
nos casos de desajuste funcional ou qualquer outro problema de ordem
comportamental;

4. Conduzir viaturas, acompanhar os policiais em locais de infração, nos quais


haver partes emocionalmente alteradas;

5. Participar de operações, principalmente em situações críticas, que seja


necessário o gerenciamento de crise;

6. Manifestar-se, quando solicitado, nos casos de concessão de auxílio-saúde,


readaptação, aproveitamento, exoneração e demissão dos policiais civis
ocupantes de cargos de provimento efetivo;

7. Propor meios de avaliação e acompanhamento do desempenho de policiais


civis;

438
8. Atuar na área do desenvolvimento de recursos humanos, assessorando os
órgãos deliberativos na identificação das necessidades de seu pessoal, bem
como na definição de estratégias e aperfeiçoamento das atividades funcionais;

9. Apresentar programas de capacitação e aperfeiçoamento a partir das


necessidades funcionais e motivacionais identificadas no pessoal, planejando,
realizando e avaliando cursos e outras atividades de cunho profissional;

10. Desenvolver estudos e pesquisas objetivando ampliar o conhecimento


sobre o comportamento humano que possam contribuir com os objetivos
gerais da Polícia Civil e da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa
do Cidadão;

11. Planejar e executar avaliações psicológicas, bem como elaborar e emitir os


respectivos laudos psicológicos, especialmente, nos processos seletivos para
provimento de cargos no âmbito da Polícia Civil e para concessão da licença
para porte de arma para o policial civil aposentado;

12. Emitir laudos psicológicos nos casos de suicídio, de personalidade de


criminosos e adolescentes infratores, quando solicitado pela autoridade
policial;

13. Proceder, quando solicitado por autoridade policial ou judiciária ou por


membros do Ministério Público, apoio psicológico e perícias na sua área
profissional como avaliações, pareceres e laudos psicológicos;

14. Integrar comissões e participar de atividades juntamente com outras


entidades em assuntos de interesse da segurança pública;

15. Prestar, quando solicitado pela autoridade competente, atendimento


psicológico à criança, ao adolescente, à mulher, e/ou ao homem envolvidos
em infração criminal (na condição de vítima ou infrator) e, quando necessário,
providenciar o encaminhamento aos órgãos competentes;

16. Participar,quando solicitado pela autoridade competente, no


planejamento e execução de campanhas educativas referentes à violência,
prevenção e combate a drogas, trânsito, e outros assuntos atinentes à
segurança pública;

17. Exercer atividades administrativas de interesse policial civil ou de


segurança pública; e

18. Exercer demais atribuições inerentes ao cargo ocupado, previstas em lei


ou regulamento. (Lei Complementar nº 453 de 2009).”

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Lapa (2012) informa que, a partir de agosto de 2009, mesmo com a regulamentação
legal das atribuições do psicólogo policial em Santa Catarina, tal inserção ainda é
desconhecida tanto por policiais, quanto pelos próprios psicólogos. Uma vez que, em
espaços que tais práticas estejam sendo construídas, há muitas dimensões descobertas
e algumas interseccionais, cujas práticas podem ficar vinculadas prioritariamente a
uma das áreas da psicologia, como é o caso da Psicologia Clínica. (Bock, Furtado e
Teixeira, 2002; in Lapa, 2009).

Por meio da Resolução nº13/2007, do CFP, que dispõe sobre normas e procedimentos
do registro de profissional especialista em psicologia, destaca o ‘Psicólogo Especialista
em Psicologia Jurídica’, que prevê a atuação do psicólogo, somente em contexto
judicial e destaca: ‘Desenvolve estudos e pesquisas na área criminal, constituindo ou
adaptando os instrumentos de investigação psicológica’.

O que ocorre na psicologia jurídica é uma grande variação de nomenclaturas,


referente a esta especialidade, que tem a função de distinguir a atuação do psicólogo
nas diversas áreas de intersecção entre a psicologia e a ciência jurídica, tais como:
Psicologia Forense, Psicologia Judiciária, Psicologia Policial e Psicologia Investigativa.

Leal (2008) informa, que as atuações da Psicologia Forense estão relacionadas a uma
situação do Foro que o psicólogo atua, e corresponde a toda a prática psicológica a
mando e a serviço da justiça. Desta forma, o psicólogo exerce a função pericial, sendo
que suas práticas estão sob subordinação imediata à: autoridade judiciária, o juiz;
autoridade policial, do delegado de polícia, que se encontra no contexto da segurança
pública e condição extrajudicial; autoridade do Ministério Público, promotor de
justiça, que está no contexto do poder executivo, e com atuação direta na intersecção
com o poder judiciário. Dar o sentido da palavra inserção requer anteriormente definir
atribuição, assim, necessariamente quando se fala de inserção, estar-se-á alocado a
alguém em algum lugar com o objetivo de ser responsável por ações. Assim, de acordo
com Bueno (1981), atribuir, significa imputar e conferir faculdade inerente a um cargo,
com direito e deveres, pertencente a alguém. Desta forma a psicologia possui uma
ampla inserção no campo jurídico, com atuação de finalidade diversa.

A página do Conselho Federal de Psicologia, em 2016, já apresenta cursos, pelo


Instituto Paulista de Estudos Bioéticos e Jurídicos –IPEBJ, São Paulo, com a ampliação
da atuação do psicólogo jurídico, em áreas como: Psicologia Investigativa - Criminal
Profiling, Psicologia Penitenciária, Psicologia Policial. Por meio, de formação Latu
Sensu em Psicologia Jurídica – Forense e Latu Sensu em Psicologia Investigativa -
Criminal Profiling, ambos com início em 2015 e término em 2017. Destacamos que as
duas formações não contemplam a atuação do Psicólogo, com a perícia psicológica,
em delegacia especializada nos crimes contra crianças.

440
No exercício da atividade de Investigação Policial, principalmente no que concerne à
Polícia Judiciária, podemos observar que vários princípios, garantias e direitos são
estabelecidos pela Legislação Brasileira e que deverão ser observados pelos
profissionais desta área. Desta forma, faz-se necessário conhecimentos básicos sobre
Direito Constitucional, Penal e Processual Penal (Júnior, 2012). A contemplar, estes
atores da polícia judiciária têm suas ações fundamentadas em princípios, tais como:
a) Dignidade da pessoa humana, que é considerado fundamento estabelecido na
CF/88, no art. 1º, inciso III e aplica-se a todas as pessoas físicas indistintamente,
estando assegurados todos os direitos e garantias inerentes a sua condição. b)
Princípio da não culpabilidade, art. 5º, inciso LVII, da CF/88 prevê que ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Este
princípio deve ser observado pelo Investigador Policial, pois o investigado é sujeito
de direitos. Observar este princípio significa impedir que um inocente seja punido ou
que um culpado fique sem a penalidade cabível.

O Estado deve provar que o cidadão cometeu o crime e não o cidadão provar que é
inocente (Júnior, 2012). O ônus da prova cabe ao Estado, valendo ressaltar que a
presunção de não culpabilidade é relativa, ou seja, cabe prova em contrário que deve
ser trazida pela Polícia. c) Direitos e garantias fundamentais do investigado, art. 5º
caput da CF/88 prevê que todos são iguais perante a lei, indistintamente, sendo
garantida, aos brasileiros e estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Desta forma, estabelece
que homens e mulheres sejam iguais em direitos e obrigações e que ninguém será
submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante (Júnior, 2012).

Gava (2012), psicóloga do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, no


Departamento Médico-Legal de Porto Alegre, cargo de Perito Criminal desde 2009,
realiza perícias psicológicas nos casos de suspeita de abuso sexual infanto-juvenil e
cita:

“Na minha prática profissional, em busca dessa conclusão ou posicionamento


confiável, seguia basicamente os seguintes procedimentos: leitura e análise
dos documentos disponíveis, entrevistas com a criança ou o adolescente
supostamente vítima, entrevista com o responsável. A partir das entrevistas,
realizava avaliações do estado mental e sintomatológica da suposta vítima,
além disso, avaliação da credibilidade do relato fornecido. Após esses
procedimentos, buscava analisar e integrar os dados obtidos, de modo a
entender meu posicionamento e formular a conclusão. Muitas vezes, contudo,
o posicionamento pericial não era claro para mim mesma. Eu me via diante
de uma série de dados coletados na avaliação, mas sem conseguir integrá-los
de modo que pudesse chegar confiavelmente, a uma ou outra conclusão:

441
- O que, especificamente, poderia me fazer concluir pela probabilidade do
abuso? O relato da criança? A constatação de trauma psíquico? A
compatibilidade entre o relato do responsável e o da criança?

- O que, especificamente, não me permitiria concluir pela mesma


probabilidade? Um contexto com possíveis motivos para uma falsa denúncia?
A ausência de relato da situação abusiva por parte da criança? A
incompatibilidade entre o relato fornecido na perícia e o descrito nos autos?
A incompatibilidade entre o relato e resposta emocional frequentemente
observada em vítimas de abuso?

Talvez todas essas dúvidas possam ser resumidas da seguinte forma: o que,
na minha avaliação, afinal, me permitiria chegar a uma ou a outra conclusão?
Mas essa questão, essencialmente prática, era muito discrepante em relação
ao que eu havia aprendido, na teoria, sobre perícia. (Gava, 2012)”.

O instrumental inicial deste trabalho

Em fevereiro de 2014, a pesquisadora, no contexto da polícia judiciária desenvolveu o


primeiro modelo de Entrevista Contingenciada Investigativa - ECI, porém a estrutura
pericial ainda estava semelhante ao que a pesquisadora desenvolvia no CEPAJ. Foi
necessário dessensibilizar gradualmente, para não se afastar bruscamente do modelo
já utilizado que funcionava como linha de base, mas também para reponder a
solicitação da esfera policial. A seguir, descreveremos o passo a passo:

O preenchimento do protocolo ocorreria na primeira sessão. Então a primeira


proposta de perguntas do protocolo, assim ficou:

1. “Órgão requisitante;

2. Número do ofício do órgão requisitante;

3. Especificar o que está na solicitação de laudo;

4. Idade da criança na primeira suspeita, em anos e meses;

5. Houve consulta ambulatorial da criança no momento da suspeita;

6. Tempo ocorrido entre a suspeita e a ida ao ambulatório médico;

7. Tempo total de acompanhamento ambulatorial;

8. Onde ocorreu esta consulta;

9. Quantos médicos acompanharam a criança;

10. Quais as especialidades médicas acompanharam a criança;

442
11. Qual o intervalo entre as consultas;

12. As consultas tinham um tempo regular;

13. Quais os familiares envolvidos no atendimento da criança;

14. Resultados do atendimento;

15. Características do abuso sexual;

16. Reincidência da violência sexual;

17. O caso foi notificado;

18. Quem notificou

19. Onde notificou;

20. Critérios utilizados para a confirmação da suspeita;

21. Houve agressão física;

22. Como os contatos ocorriam;

23. Número de episódios do abuso;

24. Houve alterações físicas no corpo da criança e quais;

25. Houve alterações comportamentais/emocionais e quais;

26. Houve a realização de exames complementares;

27. Quais as informações adicionais registradas nos prontuários (por


exemplo: percepções dos responsáveis/cuidadores principais, das
crianças ou dos profissionais; dificuldades em geral, dos familiares
ou do serviço, enfrentadas no decorrer do acompanhamento dos
casos) (Projeto de Doutorado apresentado a FAPEG)”.

De acordo com as informações obtidas, a pesquisadora, iria propor a vinda de outras


pessoas envolvidas e seria aplicado o mesmo protocolo, tais como avós e tias,
considerados no caso desta pesquisa como cuidadores complementares, mas que não
coabitam na mesma casa que a criança. Com o preenchimento deste protocolo por
outras pessoas envolvidas daríamos início à tentativa de buscar relatos correspondentes
entre verbais, ou seja, de pessoas diferentes. E tentar inferir fidedignidade dos relatos
da comunicante com relação ao fato. Os dados seriam armazenados em banco próprio,
construído especificamente para a pesquisa, por meio do programa Epi-Info, versão
6.02.

443
Na segunda sessão ocorreria a entrevista semi-estruturada, em que nos primeiros 20
minutos com a comunicante, esta responderia à pergunta considerada a mais
importante desta entrevista:

“Como você ficou depois da suposta violência sofrida por sua filha(o);
(Projeto de Doutorado apresentado a FAPEG)”.

Na continuidade, a sequência das perguntas:

1. “você é a principal cuidadora da criança;

2. que outros adultos ajudam a cuidar dela;

3. quem são as pessoas que moram com a criança;

4. como estão as avaliações escolares da criança comparadas aos anos


anteriores;

5. descreva comportamentos positivos da sua criança; descreva


comportamentos negativos;

6. o que você sabe sobre a violência sofrida por sua criança,

7. tempo de duração,

8. inicio do abuso,

9. medidas protetivas utilizadas;

10. a criança tem dificuldades para dormir,

11. adoece com qual freqüência,

12. como se relaciona na escola,

13. como se relaciona com outros irmãos,

14. como se relaciona em família,

15. prefere ficar na companhia de quem na família,

16. prefere pessoas fora do ambiente familiar, quem;

17. o que a criança gosta de fazer quando está em casa (Projeto de


Doutorado apresentado a FAPEG).”

A terceira sessão seria realizada com o suspeito, e que teria a mesma estrutura em
relação as perguntas realizadas com a comunicante da criança.

444
A quarta sessão ocorreria a entrevista que iria versar sobre a vida do casal, nos
aspectos: emocionais, afetivos, relacionais, volitivos e sexuais. Esta quarta sessão
ocorreria primeiramente com o suspeito e posteriormente com o comunicante.

A quinta sessão correria com a comunicante da criança e teria a mesma estrutura em


relação as perguntas realizadas com o suspeito.

A sexta sessão seria a História de Vidacxlviii (Beartoux, 1980), entrevista aberta com a
comunicante a respeito da história de vida da criança.

A sétima sessão seria a respeito de como ocorreu o encontro amoroso da comunicante


e o suspeito a fim de estruturar cronologicamente os fatos, bem como analisar o
contexto afetivo entre estes envolvidos e principalmente aferir se há relatos
correspondentes.

A oitava sessão seria entrevista aberta, com uma única pergunta: ‘Como você pode
relatar o que está acontencendo com sua família neste momento?’. Esta pergunta seria
feita com a finalidade de buscar palavras temáticas afins – realizada primeiro com a
comunicante.

Na nona sessão, a mesma pergunta para o suspeito.

E na décima sessão realizar a mesma pergunta para a criança e caso tivesse idade
mínima, aplicar o Teste Rorschach na criança.

Na décima segunda sessão seria aplicado o Teste Rorschach no suspeito.

Na décima terceira a aplicação do Teste Rorschach com comunicante.

E na décima quarta sessão seria realizado a entrevista devolutiva, que na polícia


judiciária não mais se aplicava. Em 1991, Cunha, Freitas e Raymundo (apud Nunes, In:
Cunha, 1993), elaboraram algumas recomendações sobre a entrevista de devolução,
tais como: após a interpretação dos dados, o entrevistador vai comunicar-lhe em que
consiste o psicodiagnóstico, e indicar a terapêutica que julga mais adequada; o
entrevistador retoma os motivos da consulta, e a maneira como o processo de
avaliação foi conduzido; a devolução inicia com os aspectos menos comprometidos
do paciente, ou seja, menos mobilizadores de ansiedade e finaliza dando-se ênfase ao
potencial do entrevistado; deve-se evitar o uso de jargão técnico (expressões própria
da ciência circulante entre os profissionais da área, em outras palavras “gíria
profissional”), e iniciar por sintoma ligado diretamente à queixa principal; a entrevista
de devolução deve encerrar com a indicação terapêutica. Sendo este o modelo que era
seguido pela pesquisadora e que posteriormente não mais o realizou, por acatar a
Resolução CFP nº 017/2012, que dispõe sobre a atuação do psicólogo como Perito nos
diversos contextos:

445
“CAPÍTULO II

PRODUÇÃO A ANÁLISE DE DOCUMENTOS

Art.10 – A devolutiva do processo de avaliação deve direcionar-se para os


resultados dos instrumentos e técnicas utilizados.”

Em agosto 2014, com perícias já realizadas no contexto da DPCA - Goiânia, a


pesquisadora avançou na composição teórica da perícia, em relação a análise dos
dados da entrevista, em: “Como realizar de maneira sistemática, a análise do número
expressivo de informações advindas do contexto pericial?”.

A pesquisadora iniciou a adaptação do SVA – Sistema de Análise de Validez, para


iniciar a elaboração dos indicadores. Medina, Soriano e Negre (2014) informam que
SVA, é uma "ferramenta verbal de avaliação de realidade", originado na Suécia (1963)
e Alemanha, como um método para identificar a credibilidade dos testemunhos
infantis em casos de abuso sexual.

O tema ‘credibilidade das crianças em casos de abuso sexual’ é antiga e crítica,


especialmente quando não há testemunhas corroborativas ou evidência física
(Newman, 2007). E por sua vez, considerada polêmica por existir a possiblidade de
cedência da criança ao questionamento e relatos de terceiros envolvidos (Newman,
2007). A ferramenta SVA consiste em 3 etapas: entrevista, analise das alegações junto
ao critério CBCA e a contextualização da análise dos critérios, junto à Lista de Controle
- Validity Checklist (Newman, 2007). Grande parte da análise SVA está preocupada com
a capacidade da Análise de Conteúdo Baseada em Critérios (CBCA), que corresponde
a uma das 3 etapas do SVA, que busca discriminar por meio dos relatos, as alegações
falsas, das autênticas.

Mesmo antes de Trankell (1957) ter proposto a análise de declarações de testemunhas


como uma forma de avaliar a veracidade do relato da testemunha, Undeutsch já havia
começado a desenvolver um método, cuja principal base era que, as experiências
baseadas em fatos ocorridos e as experiências baseadas em 'invention', se diferem
(Undeutsch, 1967). Dos estudos de Undeutsch (1967) originou-se a Análise de
Realidade de Demonstrações - SRA e Análise de Demonstrações Baseadas em
Critérios - CBSA, que são amplamente semelhantes ao SVA e CBCA. Embora SVA,
começou com casos de abuso de crianças, desde então, foi adaptado para uso em todos
os tipos de investigação criminal e civil (Newman, 2007).

Desta forma, a pesquisadora, optou pela estrutura e alguns conceitos do método SVA,
para a organização da análise dos dados levantados na entrevista. O que difere
amplamente é que, a pesquisadora optou por analisar o comportamento verbal
(Skinner, 1957), em detrimento de uma análise linguística dos relatos implicada em
processos cognitivos. Mas sim de um relato considerado comportamento.

446
O que estava a ocorrer, a partir de 2014 como perita ad hoc na polícia judiciária era
uma depuração e evolução analítica dos dados destacados na Entrevista
Contingenciada, tanto em termos de fundamentação teórica, quanto em termos de
sistematização dos dados.

No contexto da polícia judiciária, a pesquisadora respondia a solicitações e


necessidades diferentes, em que se busca, autoria e materialidade. Porém, o fazer
pericial, por meio da avaliação psicológica, correspondia ao da prática já adquirida.

O que ocorreu entre 2015 e 2017 foi a utilização de uma análise sistematizada dos
relatos, considerados – comportamento verbal, e por sua vez, a análise do
comportamento verbal, por meio do método SVA (1989). Desta forma, o objetivo da
pesquisadora era a busca do diagnóstico pericial, por meio da avaliação psicológica,
com fundamentação teórica no behaviorismo radical, e foi o que ocorreu.

A partir de agosto de 2014, com a clareza metodológica mais apurada, em relação a


análise dos dados dos relatos, começou assim, a busca pela: contingência-alvo para a
elaboração da Entrevista Contingenciada, depuração dos critérios CBCA e
estruturação do laudo. Sendo assim, com a fundamentação teórica na análise do
comportamento, a elaboração da Entrevista Contingenciada deveria ser construída
com a finalidade do ouvinte (entrevistado), emitir tactos (entrevistado) ao ser falante.
Que por sua vez, estes tactos ao serem emitidos, seriam analisados por meio dos
indicadores, dos Critérios CBCA.

A Entrevista Contingenciada, que extrai o comportamento verbal

Para isso, a entrevista, deveria ser a técnica, que assumiria o eixo vertebral da perícia,
composta de questões diagnósticas, a fim de que, as respostas a essas questões,
pudessem ser analisadas e corroboradas com as demais técnicas.

Assim, a entrevista deveria ser capaz de levantar dados suficientes para uma análise
do comportamento verbal dos envolvidos e ser capaz de destacar relatos que
pudessem ser ‘comparados ’intra e entre verbalmente, com os relatos anteriores já
oferecidos, tanto no Boletim de Ocorrência, quanto no inquérito. E por sua vez,
correlatados a documentos apresentados ao Inquérito, como Exame de Corpo de
Delito, outros relatórios médicos, educacionais, psicológicos dentre outros.

Com isso, na elaboração das Entrevistas Contingenciadas: estruturada, aberta e semi


estruturada, considerou-se o fato investigado, Artigo 217-A, do Código Penal
Brasileiro - Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos.

Assim sendo, o que orientou a elaboração da Entrevista Contingenciada, não foi


somente o fato a ser investigado, foi uma contingência tríplice deste fato.

447
Nos referimos a uma Tríplice Contingência, como uma relação de interdependência en
tre estímulos e respostas, estas respostas no comportamento operante (Sd– R – Sr+), na
qual um estímulo consequente a uma classe de respostas altera a probabilidade de
emissão desta mesma classe de respostas no futuro em uma situação semelhante.

A Tríplice Contingência é uma ferramenta que permite ao analista do comportamento


averiguar sobre como determinados comportamentos estão relacionados, passível de
ser descrita, pela Análise Funcional. É a formula usada pela Análise do
Comportamento para estudar e entender como estes comportamentos se relacionam
com os estímulos que os antecedem e com os estímulos que a eles se seguem.

Portanto, a composição da Tríplice Contingência que orientaria as perguntas da


Entrevista Contingenciada seria: no Antecedente: a ‘interação de conteúdo sexual de
um adulto com uma criança’, a Resposta: comunicação de notícia-crime na delegacia
e Consequente: responsabilização do suspeito.

(Sd – R – Sr+)

Entrevista
Contingenciada

Assim sendo, a análise do relato, seria pelo operante verbal – tacto, que descreveria a
Tríplice Contingência acima descrita. Por sua vez, a Entrevista Contingenciada que é
orientada pela Tríplice Contingência - ���� − ��− ����+seria representada pela
contingência: ��������������çã����������������ú����������������
− ��
�������������������������������������������
����������������−����������
��������������çã�� que, por sua
− ������������������������������çã��
��������������������

vez o tacto emitido em contexto pericial deveria descrever.

Segundo Simonassi, Tourinho & Silva (2001) a alternativa para investigar eventos
privados encontrada pelos analistas do comportamento, “tem sido utilizar o relato
verbal como fonte de informação”. Com isso, é papel do perito, levantar informações
relevantes, por meio das perguntas a serem feitas na perícia. E no caso do analista do
comportamento, a escolha da Contingência a ser analisada irá apontar quais
informações serão destacadas.

Estas perguntas são apresentadas pelo perito, em relação a contextos e temáticas


específicas, conforme a contingência a ser investigada. As respostas, ao serem

448
analisadas, constituem um contexto esperado, a: ‘interação de conteúdo sexual de um
adulto com uma criança’, que faz parte da contingência investigada.

Desta forma, o repertório verbal ao serem publicizados (Simonassi, Tourinho & Silva,
2001) fornece ao perito psicólogo a possibilidade de analisar o relato verbal como fonte
de informação. E a Entrevista Contingenciada assume como um instrumento
relevante, em que por meio das perguntas feita pelo perito, conforme Simonassi,
Tourinho & Silva (2001), este pode ter acesso aos comportamentos verbais encobertos.

Os comportamentos verbais ao serem analisados, comparecem ao laudo


aproximadamente 20% do que foi levantado, não por informações serem descartadas,
mas por serem analisadas por indicadores que expressam o resultado pericial, e por
sua vez o feitio do laudo.

Assim, os dados na perícia psicológica, passa por etapas diferenciadas, como:


identificação dos dados, levantamento dos dados, análise dos dados, organização dos
dados, tratamento dos dados, resultado e elaboração do laudo. Para chegar a etapa
final, elaboração do laudo, a pesquisadora considerou estabelecer um sistema
avaliativo, que possui etapas, que vai desde a solicitação da perícia até a entrega do
laudo, já descrito em Projeto Contacto.

A pesquisadora considera um Sistema Avaliativo por: levantar dados, organizar,


armazenar, analisar e integrar com informações necessárias e relevantes. Que
consegue alcançar a extensividade das informações, porém compõe o laudo
psicológico de maneira objetiva e transparente. O diagnóstico é técnico e científico,
por ser sistemático e não subjetivo, ou seja, não passa pelo crivo pessoal do perito.

Desta forma, as informações expressas por meio dos relatos, na situação pericial,
devem surgir como operantes verbais – tacto. Sendo estes tactos referente a
deumadultocomumacriança − Rdequei��a−crime
contingência: Sinteraçãodeconteúdose��ual realização − Sresponsabilização . Por sua vez,
dosuspeito
qualquer tacto emitido que não se refira a contingência supracitada, é considerada
outro evento, sob controle de outro fato.

Analisar comportamento verbal, é a evolução da ‘Análise de Discurso’, conforme


Leme, Bolsoni-Silva & Carrara (2009) explicam:

“A Análise do Comportamento é constituída por um conjunto de princípios


descritivo-explicativos derivados de experimentos de laboratório e de campo
que pretende descrever, principalmente, as condições sob as quais os
comportamentos são instalados, como se mantêm ou como se alteram
(Carrara, 2008). Para realizar essa tarefa, a análise funcional é um recurso
instrumental importante na compreensão das interações entre o organismo e
o ambiente, por meio do comportamento. (Leme, Bolsoni-Silva & Carrara,
2009)”

449
Vargas (2007) informa que o comportamento verbal não é definível apenas por um
tipo de atributo, porém por uma característica importante, a mediacional. O
comportamento verbal, que se compõe da verbalização da linguagem pelo falante, se
desenvolve por meio do contato com o comportamento de outros. Este
comportamento por sua vez, se desenvolveu através do seu contato com o seu mundo
social, biológico e físico, em que a cultura é considerada uma grande elaboração de
relações comportamentais. Skinner (1957) explica que: “o comportamento altera o
meio através de ações mecânicas e suas propriedades ou dimensões se relacionam
frequentemente de uma forma simples com os efeitos produzidos”. E completa Leme,
Bolsoni-Silva & Carrara (2009):

“Andery e cols. (2001) informam que Skinner (1978/1957) surpreendeu com


o livro Comportamento verbal, no qual propôs a possibilidade de uma análise
funcional do comportamento verbal. As autoras destacaram que Skinner,
nessa publicação, procedeu a uma discussão epistemológica que sugeria que
o primeiro passo para a realização da análise funcional do comportamento
verbal fosse sua descrição (topografia) e, num segundo momento, seria
necessário realizar a sua explicação, isto é, explicitar quais seriam as variáveis
das quais o comportamento verbal é função. Adicionalmente, em Ciência e
comportamento humano, Skinner usou alguns conceitos obtidos com as
pesquisas da Análise Experimental do Comportamento para discutir cultura,
comportamento social e agências controladoras, tais como, religião, família e
educação.

Os questionamentos de Skinner sobre conceitos complexos, como o de


cultura, são sistematizados teoricamente quando o autor propõe o modelo de
seleção por consequências (Skinner, 1981). Nesse texto, Skinner propõe um
princípio explicativo para o comportamento operante, rejeita a visão
mecanicista de causalidade e vincula a análise funcional a uma noção
selecionista. Com efeito, a análise funcional parte do pressuposto de que o
comportamento humano é complexo e multideterminado, participando,
concomitantemente, a ação de três instâncias: a filogênese, a ontogênese e a
cultura. (Leme, Bolsoni-Silva & Carrara, 2009)”

Os sons em si, são facilmente descritíveis em termos físicos, mas o som da voz ao
solicitar ‘Um copo de água!’, faz com que o copo de água, só chegue ao falante como
consequência de uma série complexa de acontecimentos que incluem o
comportamento do ouvinte (Skinner, 1957). Desta forma, o comportamento do
ouvinte, ao servir de mediador para as consequências do comportamento do falante,
não é necessariamente verbal por qualquer sentido especial, não se pode distinguí-lo
do comportamento em geral, mas, mais eficazmente, uma subdivisão chamada verbal.
E uma descrição adequada do comportamento verbal é que este precisa garantir
apenas aqueles aspectos do comportamento do ouvinte, necessário para esclarecer o
comportamento do falante (Skinner, 1957).

450
Segundo Skinner (1957) uma vez situado um repertório do comportamento verbal,
com a descrição, pode-se avançar para o estágio explicativo e questionar, que
condições são relevantes para a ocorrência de determinado comportamento, quais são
as variáveis das quais ele é função?. Após identificar tais fatores, pode-se avançar para
a explicação do episódio verbal, ao destacar as características dinâmicas do
comportamento verbal ao considerar respectivamente o comportamento do ouvinte,
relacionado ao comportamento do falante (Skinner, 1957). Assim, um repertório
verbal, deve ser considerado como uma alocução (falação) de operantes verbais, que
descreve o comportamento verbal potencial de um falante (Skinner, 1957). Por sua vez
Skinner (1957) esclarece que a distinção entre ‘operante verbal ’e ‘palavra’, pode ser
comparada à ‘repertório verbal ’e ‘vocabulário’, de tal modo, o que se considera não é
que certas formas específicas de comportamento verbal são observadas, mas que elas
são observadas em circunstâncias específicas (Skinner, 1957, p. 38).

Um problema sempre presente na unidade de análise do comportamento verbal é a


dimensão da unidade, a busca é identificar o operante verbal. Pois o comportamento
que interessa ao analista do comportamento, é o que tem um efeito sobre o meio, o
qual por sua vez, tem um efeito de retorno sobre o organismo, qualquer unidade de
tal comportamento é chamada de operante (Skinner, 1957, p.36). O termo ’operante ’
requer a descrição das variáveis relacionadas ou de uma relação funcional, está ligado
com a previsão e o controle de um tipo de comportamento (Skinner, 1957). Um
operante especifica pelo menos uma relação com uma variável – um efeito que o
comportamento caracteristicamente tem sobre o meio. O operante verbal é
exclusivamente uma unidade de comportamento do falante individual. De tal modo
Todorov (2012) destaca:

“Para a análise do comportamento, o que interessa é a interação. Isso não quer


dizer que comportamento é a interação. No livro Comportamento Verbal,
Skinner (1957) faz claramente a distinção entre os usos de comportamento
(significado mais geral), resposta (instância) e operante (especificação de
relação funcional).”

Todorov (2012) relata que diferentes tipos de interação definem diferentes classes de
comportamento, dependendo da relação funcional entre comportamento e ambiente.
Comportamento é a variável dependente, é função de variáveis externas, por sua vez
se o comportamento é mantido por suas consequências, ele é parte da interação, não é a
interação. Comportamento é processo, não é coisa, comportamento tem início, meio e
fim, é sempre a variável dependente, independentemente da topografia ou do tipo de
relação com o ambiente que definem essa variável dependente (e.g., respondentes e
afins, operantes, padrões fixos de resposta, etc.), por sua vez, as variáveis
independentes são variações no ambiente que afetam a ocorrência desses
comportamentos, seja como antecedentes (no respondente e afins) ou consequentes
(no operante e afins). De tal modo, não há operante que não seja discriminado, e a

451
contingência tríplice é o instrumento para identificar o comportamento operante. A
contingência é um instrumento conceitual (Todorov, 2006, 2012) e não é o
comportamento, a contingência identifica um comportamento operante quando
variações nas consequências que esse comportamento produz alteram, por exemplo,
o poder de controle que sobre ele tem o estímulo discriminativo (Todorov, 2012).
Todorov (2012) alerta que, se estuda interações entre comportamento e ambiente para
identificar operantes, e que comportamento não é só operante, comportamento é mais
que operante. Analistas do comportamento tendem a ver operantes por toda parte,
como se comportamento fosse sinônimo de operante. Há mais tipos de
comportamentos além de operante e respondente e que as contingências definem
o objeto de estudo como a interação entre estrutura do ambiente e estrutura do
comportamento, mas comportamento não é o nome da interação. Lopes Jr. & Matos
(2012) declaram que a contingência tríplice, é uma unidade de análise, na investigação
científica das interações entre organismo e ambiente. O conceito de contingência trí
plice consolidou-se num instrumento básico para o estudo das interações entre
organismo e ambiente, em que a unidade analítica de três termos descreve as relações
entre contingências de dois termos - resposta-conseqüência, e o ambiente (Sidman,
1986; in Lopes Jr. & Matos, 2012).

Skinner (1957) esclarece que o comportamento verbal é o resultado de múltiplas


causas, em que variáveis separadas combinam-se para ampliar seu controle funcional
e por sua vez novas formas de comportamentos surgem da recombinação de antigos
fragmentos, que exercem influencia sobre o ouvinte, que exige análise. A destacar que
um falante, é também um ouvinte, este pode reagir a seu próprio comportamento,
pois parte do que um falante diz, está sob controle de outros fragmentos de seu
comportamento verbal. Tal interação ocorre, quando o falante, qualifica, ordena ou
elabora seu comportamento no momento em que ele é produzido. Desta forma, a mera
emissão de respostas, é incompleta quando o comportamento é composto, neste caso
(Skinner, 1957). Quando o falante também é um ouvinte, o comportamento do ouvinte
se assemelha ao comportamento do falante, quando o ouvinte ‘entende ’o que se diz.
Falante e ouvinte sendo únicos, podem se engajar em uma atividade descrita como
‘pensamento’, em que o falante pode manipular seu comportamento, revê-lo, rejeitá
lo ou emití-lo de maneira modificada (Skinner, 1957).

Skinner (1957) explana que esta habilidade do falante pode variar amplamente, em
parte pela medida em que ele funciona como seu próprio ouvinte e acrescenta: “O
falante hábil aprende a modificar o comportamento fraco e a manipular variáveis que
gerarão e reforçarão novas respostas em seu repertório”. Skinner (1957, p.29) afirma
que podemos ver significado ou objetivo no comportamento, mas o significado, não é
propriedade do comportamento como tal, mas das condições sob as quais o
comportamento ocorre. De maneira técnica, os significados devem ser buscados entre
as variáveis independentes numa explicação funcional e não como propriedades da
variável dependente (Skinner, 1957): “quando alguém diz que pode perceber o

452
significado de uma resposta, ele quer dizer que pode inferir algumas das variáveis das
quais a resposta é função” (Skinner, 1957).

Baum (1999) explica que a perspectiva comportamental redefine a palavra


comunicação, a exemplo, quando um padrão fixo de açãocxlix gera estímulos auditivos
e visuais que afetam o comportamento dos outros, como na defesa, na agressão e na
corte, pode ser considerado como comunicação, assim, padrões fixos de ação depende
apenas de estímulos-sinais. Ao passo que comportamento verbal, como qualquer
outro comportamento operante, tende a ocorrer apenas no contexto em que tem
probabilidade de ser reforçado, neste caso por um ouvinte (Baum, 1999). Segundo
Baum (1999) tal como qualquer outro comportamento operante, o comportamento
verbal exige apenas reforço intermitente para ser mantido, é extremamente persistente
e modelado ao longo do tempo por aproximações sucessivas. A relação das
circunstâncias com a probabilidade do comportamento verbal é uma relação de
controle de estímulo e dentre os estímulos discriminativos mais importantes que
modulam o comportamento verbal, estão os estímulos auditivos e visuais produzidos
pela pessoa que está no papel de falante, e explica:

“Tudo indica que crianças do gênero humano são feitas de forma a apresentar
alta probabilidade de imitar sons de fala que ouvem de pessoas significativas.
A partir dessa predisposição programada geneticamente do reforço dado por
essas pessoas na qualidade de ouvintes, o comportamento verbal é adquirido
e modelado. (Baum, 1999)”

Baum (1999) esclarece que todas as atividades operantes ocorrem dentro de um


contexto, por isso as atividades verbais não podem ser definidas apenas em termos de
suas consequências, o contexto também precisa ser especificado. Vargas (2007) afirma
que no comportamento verbal, o seu eixo é o operante, em que o controle posterior do
operante eliminou a necessidade de uma ação iniciadora. O tacto, por exemplo, obtém
seu efeito por meio de reforço generalizado providenciado para eventos antecedentes
conjuntamente com operantes linguais. Leme, V. B. R., Bolsoni-Silva, A. T., & Carrara,
K. (2009) informam que o contexto social expõe complexidade à descrição e à análise
do comportamento verbal, bem como os comportamentos privados e sociais de forma
geral (Meyer, 1997; Moroz e cols., 2005; Simonassi e cols., 2001, Tourinho, 1995).

Uma situação antecedente é do tipo estímulo discriminativo, com isso, tal situação é
não-verbal ou verbal, em que, os comportamentos não-verbais operam diretamente
sobre o ambiente, produzindo consequências (Borloti, 2004). Por sua vez, os
comportamentos verbais que também alteram o ambiente e são modificados por essa
alteração, agem indiretamente sobre o ambiente físico já que seu principal efeito é
sobre um ouvinte (Borloti, 2004). Segundo Borloti (2004), as conseqüências
contingentes dos operantes verbais não mantêm relações mecânicas diretas com os
mesmos, pois o operante verbal age indiretamente (Borloti, 2004).

453
“Como exemplos de comportamento verbal temos os seguintes operantes:
falar, escrever, gesticular, datilografar, compor com tipos, usar códigos (como
Morse, ou a linguagem das flores, etc.) ou expressões faciais. Como exemplos
de comportamentos não-verbais temos tanto não-operantes (roncar, chiar,
produzir sons em situação de cansaço, stress, dor, enfado, como Anagh, Fuuu,
Chiii, Oh) como operantes. Entre estes últimos temos respostas abertas
(controlar, assobiar, garatujar) e encobertas (visualizar, imaginar) que, por
acompanharem freqüentemente a emissão de verbais denominados pensar,
são confundidas com essa classe. Quando o comportamento (verbal ou não
verbal) de um emitente é controlado por comportamentos sociais que incluem
respostas verbais especificadoras de contingências (por exemplo, instruções,
conselhos, ordens, etc.), falamos de comportamento controlado por regras. O
comportamento controlado por regras, e portanto por respostas verbais (do
outro ou do eu), não é considerado por Skinner como um caso de
comportamento verbal, embora o comportamento daquele que emite as
regras o seja. (Matos, 1991)”

Desta forma, a atenção de um analista de comportamento está no repertório


verbalizador e conseqüenciador (Vargas, 1991) e no como a interação entre esses
repertórios configura as práticas verbais entre eles (Borloti, 2004). Passos (2003)
destaca que uma comunidade verbal instala repertórios verbais a partir dos processos
de reforçamento, discriminação, generalização, diferenciação, formação de classe,
controle condicional, transferência de função (Matos, 1999). Passos (2003) explica que
os operantes verbais são o resultado do entrelaçamento dos três tipos de contingências
envolvidas nos três tipos de seleção por consequências, tais como: a seleção natural
atua no nível filogenético e explica a evolução das espécies, o condicionamento
operante atua no nível ontogenético e descreve o surgimento de novos operantes e
suas freqüências relativas no repertório comportamental do organismo e a seleção das
práticas culturais, que atua no nível do funcionamento dos grupos sociais (Passos,
2003):

“No plano da seleção natural, a evolução na espécie humana de uma


inervação especial da musculatura vocal, junto com um comportamento vocal
inicial – o balbucio da criança – não fortemente sob controle de estímulos
eliciadores (Skinner, 1981/1984), fornece o material comportamental. No
plano do condicionamento operante, este se dá sobre este material
comportamental, pela modelagem e fortalecimento de operantes verbais nos
falantes e ouvintes através do reforçamento. No plano da seleção das práticas
culturais, a comunidade verbal seleciona os operantes verbais que devem ser
instalados por condicionamento operante em função da utilidade desses
operantes para a própria comunidade verbal. (Passos, 2003)”

O nível filogenético fornece o material comportamental verbal em estado bruto ou


potencial e é comum a todos os tipos de operantes verbais, já o segundo nível o on
togenético e o terceiro, o nível cultural, são responsáveis pelas contingências

454
instaladoras e mantenedoras dos operantes verbais, estabelecidas pela comunidade
verbal para poder instalar os repertórios verbais de falantes e ouvintes para a
compreensão dos diferentes tipos de operantes verbais. Passos (2003) destaca
que, a considerar os três tipos de seleção por consequência, a aquisição de linguagem
se refere à busca de determinantes do comportamento na exterioridade, pela ação do
ambiente sobre o organismo e pelo exame das contingências de reforçamento
"planejadas" pela comunidade verbal, daí a importância do papel do ouvinte. O
ouvinte atua como um estímulo discriminativo na presença do qual verbalizações
ocorrem (Matos, 1991):

“Esta relação é por sua vez controlada por um contexto social mais amplo, um
quadro autoclítico, no qual se insere uma parte da história passada dos dois
atores, a qual é compartilhada por ambos (e onde têm papel importante os
operantes discriminativos verbais). Estas verbalizações, atuando agora como
discriminativos para o ouvinte, afetam o comportamento deste. Estes efeitos
sobre o comportamento do ouvinte atuam seletivamente sobre aquela classe
de operante verbais do emitente, modificando-a. (Matos, 1991)”

Borloti (2004), esclarece que Catania (1998; retomando Skinner, 1957), afirma que as
unidades funcionais sempre envolvem “palavras”, sejam elas faladas, escritas,
gestualizadas, cantadas ou tocadas (música); e seus determinantes devem ser
buscados nas interações ou relações verbais entre falantes, ouvintes e contexto do
ambiente físico e social. A partir da análise dessas interações, é possível classificar as
relações verbais elementares - mando, tato, intraverbal, textual, ecóico e transcritivo -
sobre as quais atuam os processos autoclíticos (Borloti, 2004). Ao se analisar as
relações que podem se estabelecer entre as condições antecedentes, as conseqüências
e as respostas verbais, Skinner identifica e descreve oito categorias de comportamento
verbal e os classifica (Matos, 1991):

Categoria SD/ Fonte R SR Relação SR

1. Ecoar (echoic) auditivo (palavras) vocal (palavras) social (aprovação) identidade


emitente/outro estrutural (acústica)
SD R

2. Copiar (copy) Visual (palavras) Motora Social (aprovação) identidade


emitente/outroq (palavras) estrutural (funcional
gráfica) SD R

3. Tomar ditado auditivo (palavras) motora social (aprovação) identidade funcional


outro (palavras) SD R

455
4. Tatear (tact) objeto/evento motora social (aprovação) identidade funcional
interno/externo (palavras) SD R

5. Mandar (motivação/ emoção)


estados internos vocal/motora social (aprovação) identidade funcional
(palavras)
(mand) alia SD R

R SR

6. Ler (pré) Visual (palavras) Vocal Social (aprovação) identidade funcional


(textual) externo (palavras) SD R

(intraverbal)
7.Intraverbalizar associações
cadeias/ conjuntos de vocal/motora
verbais social (aprovação) controle contextual
(palavras) alia (emissão extensa)
emitente sequência/ temas

8. Rearticular/ auditivo/visual vocal/motora social (aprovação) controlecontextual


organizar encoberta Rv anterior (palavras) alia
(autoclitic) e concorrente (SD/Rv) Rv

Rv (Rv/SR)

Rv Rv

Matos (1991) destaca que Skinner utiliza em cada categoria, critérios funcionais,
estruturais, e ou mistos, com características multidimensionais, em que, os
discriminativos envolvem tanto palavras escritas ou faladas, objetos ou eventos,
quanto pessoas. Por sua vez, os conseqüentes também sempre envolvem a ação de
pessoas e mudanças, próximas ou remotas, ocasionadas no ambiente por essa ação
(Matos, 1991). Matos (1991) informa que: “quanto mais sofisticado o emitente, mais
complexo seu repertório comportamental, mais remotas podem ser essas mudanças”.

Hanley, Iwata, & McCord, 2003; Haynes & O´Brien, 1990; Matos, 1999, afirmam que o
analista do comportamento deve buscar descrever as relações funcionais entre o
comportamento e o ambiente, por sua vez as análises funcionais são idiográficas e
procuram compreender estas relações entre ambiente e comportamento de um único
indivíduo (Leme, V. B. R., Bolsoni-Silva, A. T., & Carrara, K., 2009). Fazer uma análise
funcional é identificar o valor de sobrevivência de determinado comportamento
(Matos, 1999), em que se descarta investigações nomotéticas (Vandenberghe, 2004).

Este trabalho se propõe a análise funcional comportamental descritiva, do operante


verbal - tacto, composto pelo instrumental que proporciona o aparecimento dos

456
dados. Conforme Leme, Bolsoni-Silva & Carrara (2009) destacam que, na análise
comportamental descritiva, não há manipulação direta das variáveis, mas sim a
operacionalização dos comportamentos-alvo que devem ser descritos e agrupados em
classes de respostas (mesma função), por sua vez, deve-se realizar uma análise das
contingências (de reforçamento e/ou punição) que mantêm os comportamentos.
Leme, Bolsoni-Silva & Carrara (2009) esclarecem que esse tipo de análise, mais
adequado a um contexto clínico, não possibilita testar as hipóteses, uma vez que
apresenta uma natureza correlacional, porém, permitiria avaliar um extenso número
de comportamentos que posteriormente podem ser testados experimentalmente
(Sturmey, 1996).

Assim de 2014 a 2017, a perícia psicológica forense no contexto da polícia judiciária,


foi se estabelecendo, de forma que, a análise do tacto, além de se submeter ao crivo da
contingência Sinteraçãodeconteúdose��ual
deumadultocomumacriança − Rdequei��a−crime
realização − Sresponsabilização se
dosuspeito
submeteria também a análise dos indicadores do SVA - Statement Validity Analysis.

Destacamos que a perícia psicológica desenvolvida pela pesquisadora, segue as


exigências do Conselho Federal de Psicologia, referente as resoluções: CFP 03/2007 e
CFP 08/2010, respectivamente alusivas a elaboração de documentos e atuação do
psicólogo como perito e assistente técnico, bem como a referência técnica do CREPOP
– Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas, intitulada: Serviço
de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e
Exploração Sexual e suas Famílias: referências para a atuação do psicólogo (2009), que
normatiza a atuação do psicólogo nesta temática.

Por sua vez a perícia psicológica da pesquisadora, inova sob as questões:

1. Sistematização pericial psicológica no contexto da delegacia judiciária;

2. Fundamentação teórica sob a perspectiva do Behaviorismo Radical;

3. Elaboração da Entrevista Contingenciada referente a contingência:

Sinteraçãodeconteúdose��ual− R realização − Sresponsabilização


deumadultocomumacriança dequei��a−crime dosuspeito

4. Análise funcional dos relatos sob a perspectiva do operante verbal – tacto;

5. Análise dos operantes verbais, sob o critério SVA, por sua vez adaptado.

A perícia psicológica realizada pela pesquisadora, por se caracterizar pelos itens


supracitados, foi intitulado: Projeto Contacto. O Projeto Contacto, se desenvolve na
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Goiânia, pela psicóloga Ms,
Viviane Teles Ribeiro Pina, desde fevereiro de 2014. A pesquisadora se referiu a
‘Projeto’, por ser facilmente implantado em qualquer ambiente forense, em especial na

457
polícia judiciária e o nomeou por ‘Contacto’, por ser o núcleo principal da análise
pericial utilizada pela pesquisadora, o operante verbal – tacto.

A estrutura das Entrevistas Contingenciadas no Projeto Contacto

Informamos que grande parte desta pesquisa foi a dedicação quanto a elaboração da
Entrevista Contingenciada, visto que, a entrevista é o meio pelo qual o perito tem
acesso a 90% dos dados a serem analisados. Desta forma, as respostas ás perguntas da
entrevista, é a medida a ser avaliada.

Destacamos que, para elaborar as Entrevistas Contingenciadas do Projeto Contacto, a


pesquisadora atentou para o detalhe, que: mais importante que as perguntas, são as
sequências destas. E para isso a cientista se utilizou de vários instrumentos que
envolve a temática ‘violência infantil’, tais como: The Metropolitan Toronto Special
Committee on Child Abuse (1995), traduzida para o Português e adaptada por
Kristensen (1996), Entrevista Neuropsiquiátrica internacional MINI para crianças e
adolescentes (Sheehan, Shytle, Milo & Janavs, Lecrubier 2009), letras P e Q, traduzido
por Hohendorff, Habigzanga & Koller a partir da versão postuguesa de Portugal
(Guerreiro, Navarro, Mendes & Sampaio, 2009), Victims and witnesses, and Using Special
Measures (Home Office, 2011), Entrevista Cognitiva (EC; Fisher & Geiselman, 1992),
Protocolo de entrevista forense da Corner House - RATAC (Finding Words; Anderson et
al., 2010 -“Rapport, Anatomy Identification, Touch Inquiry, Abuse Scenario, and Clo
sure”, em livre tradução o termo “RATAC” significa: Rapport, Identificação Ana
tômica, Questionamento sobre Toques, Cenário do Abuso e Fechamento); e o
Protocolo NICHD (National Institute of Child Health and Human Development; Lamb,
Hershkovitz, Orbach, & Esplin, 2008), SexKen- ID (McCabe, 1999): PWI – ID -Versão
Portuguesa de Joana Pinto e Pedro Nobre (2011); NCAC - Modelo de Avaliação Fo
rense Estendida (Carnes, 2000); Investigative Interview BARS (Clarkec & Milne, 2001),
PSOC – Parent Sense of Competence Scale (Gibaud W. J. & Wandesrsman, L. P. 1978),
Competências Maternas Percebidas (Nunes & Lemos, 2010b), FACES III - Escala de
Avaliação da Coesão e Adaptação Familiar (Nunes & Lemos, 2010c), Roda da Vida
(Collela, F., (2014), QUESI Questionário Sobre Traumas na Infância (QUESI: Grassi
Oliveira, Stein & Pezzi, 2006) é um instrumento de auto-relato retrospectivo, baseado
no Childhood Trauma Questionnaire (Bernstein & cols. 2003),– questionário sobre
traumas da infância; Escala de Bem –estar subjetivo- EBES (Trócolli, Salazar e
Vasconcelos, 2002); PANAS – Aspectos positivos e negativos (Giacomoni e Hutz,
1997).

Assim, cada pergunta estava relativa a uma parte da contingência tríplice:


Sinteraçãodeconteúdose��ual
deumadultocomumacriança − R realização − Sresponsabilização . Desta forma, o perito ao
dequei��a−crime dosuspeito
questionar o entrevistado, sabia exatamente a qual parte do evento o entrevistado se
referia de acordo com a contingência-referência. Com a comunicante do fato delituoso,
é explorado todo o contexto do fato ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com

458
uma criança ’até a chegada da comunicante á delegacia que desfechou com a
comunicação da notícia-crime.

O complexo das Entrevistas Contingenciadas, foram cuidadosamente planejados,


para organizar e orientar o perito, por se apresentar como auto-dirigida e auto
explicativa e para proporcionar o máximo de conforto ao entrevistado de maneira que
este não se surpreenda com nenhuma questão, por conseguir acompanhar as
perguntas por grandes áreas temáticas.

As Entrevistas Contingenciadas não se diferem de acordo com o entrevistado, por ser


o fato único. Desta forma, o complexo/conjunto de entrevistas se estruturam por: tipo
de entrevista, característica da entrevista e temática. Quanto ao tipo das Entrevistas
Contingenciadas, estas se dividem em: Entrevista estruturada, Entrevista Aberta e
Semi-estruturada.

A Entrevista Estruturada é composta de: a) Entrevista Reveladora; b) Entrevista para


Levantamento de Contexto; c) Entrevista Clarificadora; d) Entrevista Aberta; e)
Entrevista semi-estruturada. Quanto a característica de cada Entrevista
Contingenciada, a Entrevista Reveladora, busca identificar discriminadores que
levaram a comunicante a realizar notícia-crime. A Entrevista para Levantamento de
Contexto, visa destacar quais os indicadores de vulnerabilidade podem corroborar com
possíveis discriminadores identificados nas Entrevistas Reveladora, Clarificadora,
Aberta e Semi-estruturada. Desta forma, indicadores são correlatos ao comportamento
verbal expresso e se corroboram a discriminadores identificados.

Quanto a temática distribuída pelas Entrevistas Contingenciadas, destacamos que na


Entrevista Reveladora, é explorado sob quais condições se deu a realização da notícia
crime, desde a identificação do fato ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com
uma criança’, até a comunicação do crime á delegacia.

Na Entrevista para Levantamento de Contexto, é explorado os ambientes vivenciados


pela criança, com o objetivo de identificar indicadores de vulnerabilidade nestes
ambientes, pela exploração dos campos de vulnerabilidade, tais como:
vulnerabilidade quanto ao arranjo familiar, ao estilo parental, afetivo-materno, sócio
familiar, qualidade da coesão familiar, espaço-vivencial, saúde familiar, financeiro
familiar, comportamental, vínculo com o suspeito, classificação da ofensa do suspeito,
quanto a idade, territorial, afetiva, grave contexto familiar, fatores de risco nos últimos
6 meses.

Na Entrevista Clarificadora, busca-se identificar sob quais condições a comunicante


realizou a notícia-crime, com a finalidade de destacar indicadores quanto a: proposição
motivadora, coerência sintomatológica, conservação e origem da informação,
credibilidade quanto a descrição do relato, tempo entre a revelação e a notícia-crime.

459
Por meio da Entrevista Aberta, o perito oportuniza ao entrevistado a possibilidade
deste oferecer todas as informações necessárias e relevantes para o esclarecimento do
fato investigado, nesta entrevista, identifica-se quanto o entrevistado se mantém na
centralidade temática, que é um indicador que se constitui de relato deficitário –
relatos que se distanciam da temática investigada, relatos declinados – relatos que se
compõe de temáticas que diz respeito a quem relata, emoção desvirtuada – expressão
de emoção que não corresponde ao que se relata, vindicação – reivindica que se realize
determinadas situações na perícia e impaciência em responder - quando se recusa a
responder, ou contesta o perito.

Na Entrevista Semi-estruturada, busca levantar a descrição do fato ‘interação de


conteúdo sexual de um adulto com uma criança’, para destacar os indicadores de
acordo com as temáticas: nomeação, vinculo e localização da interação, revelação,
notícia-crime, veracidade, repressão e restauração. Nesta descrição destaca-se
características para compor os critérios: contexto específico e análise de conteúdo es
pecífico.

As Entrevistas Contingenciadas se apresentam como auto-dirigida e auto-explicativa,


por se constituir de um fluxo que ao perito basta seguí-lo. E determinados momentos
da entrevista, se respeita o papel de cada ator no contexto do fato periciado.

A construção da análise dos dados: da Entrevista Contingenciada e indicadores ao

Relatório das Análises

Desde 2008 a pesquisadora segue as normativas do Conselho Federal de Psicologia


para elaboração do laudo psicológico, segue também as recomendações para
avaliação psicológica, porém o FAZER e o ANALISAR cabe ao psicólogo. Pois, de
acordo com o Decreto nº 53464, de 21 de janeiro de 1964, que regulamenta a Lei 4119,
de 27 de agosto de 1962, Artigo 4º, são funções do Psicólogo: 1) Utilizar métodos e
técnicas psicológicas com o objetivo de: a) diagnóstico psicológico e; 6) Realizar
perícias e emitir pareceres sobre a matéria de psicologia. E assim, por meio de
instrumentos, métodos e teoria, a perícia psicológica, fornece o diagnóstico
psicológico.

O perito psicólogo no contexto da delegacia se depara com situações muito


particulares. O inquérito policial, promove a investigação criminal. Nesta fase a
polícia trabalha com indícios e não provas. Por enquanto a investigação é
desenvolvida em cima de fatos que ainda não possuem status de provas. Até então as
pessoas envolvidas são vistas meramente como suspeitas, e diante destas condições o
perito deve considerar as seguintes situações:

460
1. Pessoas podem relatar situações que existiram;

2. Pessoas podem relatar situações que não existiram;

3. Pessoas podem relatar situações que não existiram e acrescer-lhe

detalhes que existiram;

4. Pessoas podem relatar situações que existiram e acrescer-lhe detalhes

que não existiram;

5. Pessoas podem relatar situações que existiram e retirar detalhes que

existiram.

Então, para se chegar ao diagnóstico psicológico, nas perícias psicológicas, a


pesquisadora, para construir a base dos procedimentos de análise, se alicerçou em
referencial teórico especializado e nas entrevistas que originam 90% dos dados, a
serem analisados sob a perspectiva do Behaviorismo Radical.

Os procedimentos de análise só puderam surgir após a elaboração de um instrumento


que realizasse o levantamento dos dados, neste caso a Entrevista Contingenciada. E a
entrevista só pôde surgir com o estudo da arte.

Este trabalho não trata o relato no campo da ‘Análise de Discurso ’(Michel Pêcheux,
Michel Arrivé, Jacqueline RevuzAuthier, Laurent Danon-Boileu, Jean-Claude Milner),
seja na linguística, ou na constituição do discurso como objeto de interpretação. Neste
trabalho realizamos a Análise Funcional do Comportamento Verbal, do teórico Burrhus
Frederic Skinner (1904-1990).

Para chegar a análise, o primeiro passo foi a organização da entrevista, com o objetivo
de organizar os dados a serem coletados. A teoria utilizada para a elaboração da
entrevista, destacou a temática de vários instrumentos (entrevistas e protocolos) que
investigam os contextos de ‘violência infantil’.

O próximo passo foi a necessidade de extrair dos relatos advindos das entrevistas, a
informação a ser investigada. Para isso, a pesquisadora necessitou classificar os
relatos, e utilizou os conceitos de operantes verbais, orientada por Verbal Behavior de
Skinner (1957). Desta forma o tratamento realizado no relato é a identificação dos
operantes verbais no comportamento verbal (gestos, vocal, escrita) dos entrevistados,
que por sua vez também necessitavam de análise. Assim, ao analisar comportamento
verbal, temos os operantes verbais que irá descrever o fato ‘interação de conteúdo
sexual de um adulto com uma criança’. Neste caso, precisamos de um comportamento
verbal que descreva um comportamento não verbal, o tacto.

461
Deste modo, a pesquisadora seguiu para a qualificação do conteúdo dos tactos, que é
a caracterização dos conteúdos do fato investigado. O que deu origem aos indicadores,
foi destacado tanto das teorias de ‘violência sexual infantil’, quanto das teorias de
ofensores sexuais, visto que, estas apresentam as etapas do modus operandi dos
suspeitos e o resultado destas ações. Frente aos critérios destacados da literatura a
pesquisadora se ocupou de especificar as características mais relevantes para a
distinção do crime de Estupro, em especial quando ocorre com crianças. Os
indicadores relacionados a contéudos do fato investigado, são extraídos dos conceitos
apresentados na literatura, que ao se decomporem, dão origem as características que
compõem os conceitos, e passam a ser passíveis de análise.

Os indicadores têm uma atenção especial com as fases: pré-interação – interação – pós
interação, bem como para o momento em que se descobre o crime ocorrido com a
criança, com destaque para o momento da revelação e pós-revelação.

Para a elaboração dos indicadores, a pesquisadora destacou os conceitos de: modus ope
randi, grooming e decision-making por expressar a dinâmica interacional do fato
investigado, a ofensa sexual, que é demonstrada principalmente nas teorias a respeito
de ofensores sexuais que apresentam características, a verificar:

a) Salter, A. (2003). Predators, Pedophiles, Rapists, and Other Sex Offenders: Who
They Are, How They Operate, and How We Can Protect Ourselves and Our Children.
New York: Basic Books.

b) Craven, S., Brown, S. & Gilchrist, E. (2006). Sexual Grooming of Children: Review
of the Literature and Theoretical Considerations. Journal of Sexual Aggression, 12,
287-99. c) Finkelhor. D. ( 1984). Child sexual abuse: New theory ande research.
New York: The Free Press.

d) McAlinden, A.-M. (2006). 'Setting 'Em Up': Personal, Familial and Institutional
Grooming in the Sexual Abuse of Children. Social & Legal Studies, 15, 339-62.

e) Walters, Glenn D. and Thomas W. White Wilson, G. (1989) Heredity and crime: Bad
genes or bad research? Criminology 27:455-485.

f) Ward, T., & Keenan, T. (1999). Child molesters’ implicit theories. Journal of Inter
personal Violence, 14, 821–838.

g) Mihailides, S. P., Devilly, G. J., & Ward, T. (2004). Meaning and motivational sys
tems in sexual offenders’ cognitive distortions. Manuscript in preparation.

h) Ward, T., & Keenan, T. (1999). Child molesters’ implicit theories. Journal of Inter
personal Violence, 14, 821–838.

462
i) Ward, T. and Hudson. S. M. ( 1998). The constmction and development of theory in
the sexual offending area: A meta-theoretical framework. Sexual Abuse: A Journal of
Research and Treatment. 10. 47-63.

j) Ward, T., Hudson. S. M. and Marshall, W. L. (1996). Attachment style in sex offend
ers: A Preliminary study. Journal of Sex Research. 33, 17-26.

k) Black, M. S., Pettwau, C. (2001). Profile of ODRC Offenders Assessed At the Sex
Offender Risk Reduction Center. Office of Policy Bureau of Research. Department of
Rehabilitation and Correction.

l) Maxfield MG, Widom CS. (1996). The cycle of violence. Revisited 6 years later. Arch
Pediatr Adolesc Med.;150(4):390-5.

m) Ward, T., Beech, A. (2006). An integrated theory of sexual offending. Agression and
Violent Behavior 11, 44-63.

n) Cattell, R. B., & Kline, P. (1977). The scientific analysis of personality and motiva
tion. New York, NY: Academic Books.

o) Cossins, A. (2000). Masculinities, sexualities and child sexual abuse. The Hague,
Netherlands7 Kluwer Law International.

p) Hall, G. C. N., & Hirschman, R. (1992). Sexual aggression against children: A con
ceptual perspective of etiology.Criminal Justice and Behavior, 19, 8 – 23.

q) Leitenberg, H., & Henning, K. (1995). Sexual fantasy. Psychological Bulletin, 117,
469–496.

r) Luria, A. (1966). Higher cortical functions in man. New York, NY: Basic Books.

s) Marshall, W. L. (1989). Invited essay: Intimacy, loneliness and sexual offenders.Be


havior Research and Therapy, 27, 491 – 503.

t) Marshall, W. L., & Barbaree, H. E. (1990). An integrated theory of the etiology of


sexual offending. In W. L. Marshall, D. R. Laws, & H. E. Barbaree (Eds.), Handbook of
sexual assault: Issues, theories, and treatment of the ofender (pp. 257–275). New York:
Plenum.

u) Matthews, G., & Deary, I. J. (1998). Personality traits. Cambridge, U K: Cambridge


University Press.

v) Steiner, F. (2002). Human ecology: Following nature’s lead. Washington, DC: Island
Press.

463
x) Young, J. E., Klosko, M. E., & Weishaar, M. E. (2003). Schema therapy: A practi
tioner’s guide. New York: Guilford.

z) Herman, J.and Hirschmann, L. (1977). 'Father-Daughter Incest'. Signs: A Journal of


Women in Culture and Society, 2: 735-756.

Deste modo, ao se identificar os operantes verbais e os indicadores, estes eram


analisados. Para isso, foi organizado um ‘Relatório Analítico’, para analisar de
maneira sistemática, tanto os operantes verbais, quanto os indicadores. Por sua vez,
tanto os operantes verbais, quanto os indicadores ao serem combinados entre si,
resultam em outros indicadores, que se desdobram em outras análises. A exemplo, ao
analisar um operante verbal, este expõe um conteúdo, e este conteúdo pode comparecer
em mais de um indicador. E um indicador pode compor mais de um tópico nos
resultados apresentados ao laudo. Assim, ao distinguir nos relatos, os operantes
verbais, se extrai os conteúdos. Estes conteúdos possuem características que aponta o
indicador a ser utilizado.

Por exemplo, diante da informação fornecida por uma criança: “Ele me levou para o
quarto!”. Esta pode se decompor nas seguintes características:

a) operante verbal: tacto

b) quem levou: suspeito

c) localização de ocorrência da interação: iniciou na sala e levou para o quarto

d) utilizou de força: sim, necessária para mobilização

e) ameaça: sim, “ele falou que se eu gritasse ele ia me matar!”

f) que horário: assim que chegou da escola

g) o que tinha dentro do quarto: um sofá e uma televisão

Destacamos que, para realizar a decomposição acima, é necessário o planejamento,


organização e sequência de cada pergunta na Entrevista Contingenciada, que passou
por vários ajustes, visto que, as pessoas ao relatarem algo, não verbalizam os fatos de
forma ordenada, na sequência dos acontecimentos. Assim, perguntas dão origem as
informações, que desembocam nos indicadores, que resultam nos tópicos apresentados
ao laudo.

Os resultados, originados dos indicadores, foram organizados em formas de tópicos para


comparecerem ao laudo, e para isso, foi desenvolvido o “Resultado da Análise dos
Indicadores - RAI”.

464
Explicamos, que desde o levantamento dos dados á apresentação do resultado ao
laudo temos as etapas:

a) Levantamento de dados por meio de: Declarações, Depoimentos e Documentos


apresentados aos Autos, Entrevista Contingenciada, Hora Jogo Diagnóstica e Teste
Rorschach;

b) Análise funcional do comportamento verbal: se identifica as características dos operantes


verbais;

c) Análise dos indicadores: características do conteúdo do comportamento verbal.


d) Roteiro Analítico: identifica os indicadores nos: Dados do Inquérito Policial;
Unidade de Análise – operante verbal; Análise do Relato quanto a Estrutura e
Conteúdo; Análise de Contexto por meio de Temáticas de Vulnerabilidade;

e) Resultado da Análise dos Indicadores - RAI, é a formatação para a apresentação do


resultado ao laudo, que exige uma adequação do repertório verbal aos não
técnicos/leigos que solicitam o documento, tais como: delegados, promotores e em
última análise o juiz.

Justificativa

Desde o ano de 2006, a pesquisadora já se interessava pela temática da violência sexual


por iniciar seu atendimento psicológico clínico á crianças vítimas de violência sexual
no CEPAJ. Em 2006 a pesquisadora por vários momentos acompanhou as crianças que
estavam sob seu atendimento clínico em audiências judiciais e presenciava o quanto
a responsabilização dos autores ficava prejudicada em função das estruturas das
perguntas realizadas para as crianças, que limitava, pelo não-entendimento, a criança
acessar o tacto correspondente ao fato periciado. Ou seja, as crianças que realmente
tinham passado pela experiência da violência sexual não relatavam de forma
satisfatória em audiência, o que lhes tinham ocorrido. Com isso a responsabilização
do agressor também ficava prejudicada pois o mesmo não era punido por ausência de
provas e até mesmo ausência de um laudo psicológico conclusivo.

Ainda em 2006 a pesquisadora inicia novas atividade no CEPAJ e assume a função de


um perito renomado no CEPAJ, e pioneiro no Brasil pelo uso do Psicodiagnóstico
Rorschach, no âmbito forense, o Prof. Rodolfo Petrelli. As solicitações de psicodiag
nóstico em crianças supostamente violentadas sexualmente, chegavam ao Centro já
com a solicitação de aplicação do Teste Rorschach. Isto se dava em função do relevante
teste de personalidade que é o Teste Rorschach, mas também pelo brilhante
desempenho do Prof. Dr. Rodolfo Petrelli, por ser um dos maiores entendedores do
mundo de tal teste.

465
Para que o Centro continuasse como referência na elaboração de laudos periciais, a
pesquisadora investiu na elaboração de um psicodiagnóstico baseado no
psicodiagnóstico interventivo de Walter Trinca (1998) e iniciou a sistematização da
perícia psicológica no CEPAJ. Neste processo de desenvolvimento da perícia
psicológica no Centro, priorizou-se os quatro elementos essenciais que configuram o
campo da Avaliação Psicológica, tais como: Objeto - fenômenos ou processos
psicológicos; Objetivo visado - diagnosticar, compreender, avaliar a ocorrência de
determinadas condutas; Campo Teórico - sistema conceitual e Método. Sendo estas as
formas de acesso ao que se pretende explorar (Cunha, Jurema Alcides e cols., 1993).

A preocupação com esta sistematização vinha da necessidade de manter o nível de


excelência desempenhado pelo Dr. Rodolfo Petrelli, perante o judiciário goiano. Visto
que, em substituição a um expert, o CEPAJ se encontrava com uma perita iniciante.

Especialmente neste momento de reestruturação das atividades periciais no CEPAJ,


no período de 2006 a 2008, a pesquisadora investe em duas situações específicas: na
elaboração do laudo conforme a Resolução do CFP 07/2003 e no conteúdo do laudo
em conformidade com a necessidade do judiciário e ministério público. Bem como, os
cuidados com os detalhes a serem questionado pelos advogados das partes. Para a
formatação deste laudo a pesquisadora realizou entrevistas com juízes, promotores,
advogados e especialmente com o Desembargador Paulo Teles da 1ª Câmara Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, seu pai.

No período de 2008 a 2009 a pesquisadora participa de um núcleo de pesquisa da


FAPEG, coordenada pela Prof. Dra. Sônia Margarida da PUC GO. A pesquisa da
FAPEG, com o título: Investigação sobre o processo de atendimento psicossocial à
crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, tinha como objetivos e justificativas:
identificar, sistematizar e analisar o processo de atendimento psicossocial realizado
pelas equipes de atendimento do CEPAJ e/ou NECASA e/ou CAPSi Água Viva, às
vítimas de abuso sexual e seus familiares. Este período foi um momento de grande
aprofundamento teórico-metodológico na fundamentação sócio-histórica da violência
infanto-juvenil.

No ano de 2010, a pesquisadora potencializa a perícia psicológica no CEPAJ e investe


na elaboração dos laudos sob a supervisão jurídica do Desembargador Paulo Teles. A
pesquisadora busca este conhecimento técnico-científico no judiciário, por acreditar
que a psicologia só poderia dar sua contribuição às crianças em demanda com a
justiça, se e somente se, o perito psicólogo aprofundasse seu conhecimento na
legislação criminal, visto que, se encontrava por atender a uma demanda jurídica
criminal. Para isso, a pesquisadora se empenhou em atender ao conteúdo que se fazia
relevante para o solicitante, neste caso, o judiciário, com a exposição clara a respeito
das características da interação de conteúdo sexual, o campo psíquico dos envolvidos
frente a tal fato e conforme a Resolução 07/2003, a ‘narração conclusiva’. Com a

466
supervisão direta do Desembargador Paulo Teles, todos os laudos do CEPAJ, a partir
de 2010 até 2013, segue em concordância com o tópico: Conclusão, por solicitação da
Resolução do CFP 07/2003 de se realizar a ‘narração conclusiva’. E posteriormente em
2015, segue também determinação legal de acordo com o Novo Código de Processo
Civil, Lei 13.105/2015, que determina:

“Art. 473. O laudo pericial deverá conter:

I - a exposição do objeto da perícia;

II - a análise técnica ou científica realizada pelo perito;

III - a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser


predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da
qual se originou;

IV - resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes


e pelo órgão do Ministério Público.

§ 1o No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem


simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões.

§ 2o É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como


emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do objeto
da perícia.”

Em sua atuação a pesquisadora se deparava com um problema comum, as ‘falsas


alegações’, nas comunicações de estupro de vulnerável, Art. 217-a, do Código Penal
Brasileiro. As pesquisadoras Thoennes, N. e Tjaden, Patricia G. (1990), realizaram a
maior pesquisa a respeito da temática de falsas alegações de violência sexual infantil,
e constataram que em uma amostra de 169 casos, destes, 129 pode se obter uma
determinação da validade da alegação e constatou-se que 50% dos casos foram de
falso abuso, 33% não ocorreram o abuso e 17% dos casos ficaram indeterminados.
Calçada (2008) afirma que um estudo na Universidade de Harvard no ano de 1986,
concluiu-se que 77% das denúncias de abuso sexual durante o período de separação
dos genitores, eram falsas.

O judiciário brasileiro não está imune às falsas alegações, a partir de 2006 com o voto
da Desembargadora da 7ª Câmara Cível, Maria Berenice Dias, do Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul, na apelação 70015224140, TJRS, de 12 de julho de 2006, ao
analisar um caso de pedido de destituição de poder familiar pela comunicante em face
do pai, a desembargadora alega que não havia evidências suficientes de prova de
abuso sexual, como estava sendo alegado. E manteve as visitas do pai para com a
criança, com serviço especializado de acompanhamento. Neste voto histórico para o
judiciário brasileiro a desembargadora menciona a ocorrência a Alienação Parental e
a falsa alegação de incesto, conforme descrito abaixo (Buosi, 2012):

467
“...neste jogo de manipulações todas as armas são válidas para levar o
descrédito do genitor, inclusive assertiva de ter sido o filho, vítima de incesto”

O Poder Judiciário brasileiro baseia sua crença no material, no incontestável, assim, o


depoimento da criança não recebe nenhum tratamento adequado pela maioria do
judiciário brasileiro. Posto que, as limitações do falar da criança, as dificuldades dos
adultos em ouvi-la e de elaborar a pergunta correta, interferem negativamente nas
formas jurídicas de produção da verdade, já que, diante da suspeita da veracidade do
testemunho da criança, a tendência é desqualificar as declarações da criança, ‘In dubio
pro reu’. Desta forma o juiz ao conduzir a oitiva da vítima de abuso sexual infantil da
mesma forma como conduz os demais crimes, não terá acesso ao universo da criança
e provavelmente não encontrará dados para a comprovação do abuso, resultando na
absolvição do denunciado por falta de provas (Dobke, 2001).

“...É urgente que se produzam conhecimentos que possam orientar as práticas


relacionadas ao atendimento das crianças vítimas de abuso sexual e que
tragam uma compreensão mais ampla do fenômeno em nossa sociedade, uma
vez que tais atentados são relativamente freqüentes e a evolução ulterior das
vítimas, no sentido da elaboração da situação traumática, depende também
do ambiente em que se desenrolou a ação judicial (Dobke, 2001).”

No estudo da violência sexual infanto-juvenil com demanda no judiciário, a ciência


da psicologia também encontra limitações, visto que, de acordo com levantamento
bibliográfico realizado pela pesquisadora a psicologia não possui instrumental
pericial adequado ao contexto criminal, especialmente para o contexto da polícia
judiciária. Desta forma, tanto a responsabilização do autor, quanto a proteção da
criança, ficam prejudicados, pois perícias oficiais, em fase de inquérito policial, nesta
temática, são minimamente realizadas. O que existe no Brasil, é o trabalho realizado
por psicólogos no Rio Grande do Sul, desde 2009, porém na polícia técnico científica,
e que não se encontram inseridos no dia-a-dia da delegacia. E em Goiás, com o
pioneirismo do Psicólogo Leonardo Faria, também com atuação na polícia técnico
científica, que disseminou a cultura do psicólogo na elaboração de laudos periciais de
crianças supostamente violentadas sexualmente, ainda na fase de inquérito policial.

Assim, busca-se apresentar a perícia psicológica judicial, com crianças em situação do


artigo 217-A, estupro de vulnerável, com a solicitação de perícia, pela polícia
judiciária. Este trabalho científico se justifica pela inovação por:

a) Apresentar fundamentação teórica que embasa o desenvolvimento da atuação do


psicólogo no contexto da polícia judiciária;

b) Apresentar atuação do psicólogo no ambiente de investigação criminal;

468
c) Apresentar a operacionalização e instrumentalização da perícia psicológica infantil
jurídico-criminal, em que a criança é a vítima. Seja, por ter sofrido o crime de
estupro de vulnerável, seja por ter sido apresentada como vítima pela comuni
cante, em um crime que não ocorreu;

d) Apresentar o trabalho diagnóstico da perícia psicológica, na investigação criminal,


com o objetivo de discriminar a ocorrência e não ocorrência dos crimes de estupro de
vulnerável;

e) Apresentar atuação do psicólogo como parte da equipe multidisciplinar nas


investigações policiais do crime de estupro de vulnerável, por meio da
avaliação psicológica;

f) Apresentar instrumentos necessários para o enquadre da perícia psicológica na po


lícia judiciária;

g) Apresentar logística pericial psicológica, no contexto da investigação criminal com


infantes;

h) Apresentar Entrevista Contingenciada Investigativa para os crimes de estupro de


vulnerável;

i) Apresentar análise de dados de acordo com fundamentação teórica da Análise do


Comportamento;

j) Apresentar análise de dados, com base em indicadores, a respeito do crime: Estupro


de vulnerável;

k) Apresentar elaboração de laudo psicológico no âmbito criminal, em fase pré


processual;

l) Apresentar ao Laudo Psicológico, o diagnóstico verbal, por meio da Análise


Funcional do Comportamento Verbal;

m) Desenvolve o Modelo Funcional de Análise Criminológica – MFAC;

o) Desenvolve o Modelo Funcional de Psicodiagnóstico – MFP;

P) Apresenta o Laboratório de Análise Aplicada do Comportamento Verbal – LAACV


– POL, laboratório científico em contexto de delegacia, na investigação de crimes de
estupro em desfavor de crianças e adolescentes.

469
Resultado: PARTE I

O trabalho apresenta 11 inovações:

a) fundamentação teórica inovadora, no que tange a atuação do psicólogo, como perito


no contexto da polícia judiciária, na esfera criminal;

b) a apresentação do fluxo de uma perícia psicológica infantil em contexto policial;

c) apresentação de instrumental pericial, utilizado pelo perito para sustentar e


esclarecer a real motivação de comunicação do crime de estupro de vulnerável;

d) apresentação da participação dos envolvidos no crime de estupro de vulnerável:


comunicante (aquela que comunica um crime contra um terceiro, criança), criança
(considerada a vítima por quem comunica) e suspeito (considerado o delituoso, por
quem comunica);

e) avaliação psicológica, no contexto da polícia judiciária, como parte da investigação


para a busca da constatação da existência do crime de estupro de vulnerável, artigo
217-A, do Código Penal Brasileiro, por meio da Análise Funcional do Comportamento
Verbal (Skinner, 1957).

f) dados do departamento de psicologia da Delegacia de Proteção da Criança e do


Adolescente de Goiânia.

g) cria o Modelo Funcional de Análise Criminológica – MFAC;

h) estrutura e apresenta à literatura da Análise do Comportamento, o 1º Laboratório


de Análise Aplicada do Comportamento Verbal, inserido em contexto de Delegacia
de Polícia, e cientificamente titulado por: Laboratório de Análise Aplicada do
Comportamento Verbal – LAACV – POL. No LAACV-POL, se desenvolve a perícia
psicológica infanto-juvenil nos crimes em desfavor de crianças e adolescentes,
fundamentada na Análise do Comportamento, em que se inova junto a Avaliação
Psicológica, com o diagnóstico verbal literatura mundial da disciplina da
criminologia, com o: Modelo Funcional de Análise Criminológica – MFAC.

i) procedimenta na Análise do Comportamento, ao apresentar, testar e replicar o


Modelo Funcional de Psicodiagnóstico, em contexto forense.

j) apresenta o Método Contacto, de capacitação e formação para profissionais e


sociedade em geral, por desenvolver didática adequada à contextos complexos com
temáticas de segregação e vulnerabilidade.

470
k) realiza o diagnóstico verbal, por meio da extração de operante verbais. Eleva a ‘fala’,
ao status de Comportamento Verbal e assim, realiza o diagnóstico verbal. Se tacto, o
crime ocorreu, se intraverbal, não teremos a figuração de vítima e suspeito, para o
crime comunicado.

A fundamentação teórica deste estudo, contempla tanto a esfera psicológica, quanto a


esfera legal, que impacta na atuação do psicólogo, que realiza a perícia psicológica
infantil, no contexto da polícia judiciária.

Existe um grande número de produção teórica referente a temática: violência sexual


infanto-juvenil, tanto no contexto nacional, quanto no internacional, alusivo
especialmente aos: marcos legais, produção de políticas públicas e ao impacto de tal
evento nas crianças e em suas famílias.

A Tese, exibe uma fundamentação teórica que apresenta o percurso histórico da


psicologia enquanto ciência e profissão, e a inserção e atuação do psicólogo forense
neste desenvolvimento. Expõe a fragilidade teórica brasileira na temática do psicólogo
criminal e a distância instrumental-tecnológica desta atuação, em relação aos outros
países. Alertamos que, no contexto internacional, também não há a contemplação do
psicólogo criminal, na execução da avaliação psicológica, nos crimes de estupro de
vulnerável. Os Estados Unidos, trabalha com agências não governamentais em que
profissionais atuam de acordo com a carga ideológica de cada setor agencial: primário,
secundário e terciário. O que se apresenta no cenário internacional das investigações
criminais, nos crimes de estupro de vulnerável, em departamentos policiais, são as
Entrevistas Investigativas realizadas pela equipe policial.

A composição teórica desta Tese, explora a legislação que impacta no trabalho do


psicólogo criminal em contexto da polícia judiciária, e a total ausência de discussão
temática do Conselho Federal de Psicologia, referente ao psicólogo no contexto:
policial-investigativo. A tese se impõe teoricamente contra a desnecessária imprecisão
dos profissionais psicólogos ao analisarem contextos criminais, que envolvem
crianças como vítimas. Que, por se encontrarem distantes da bibliografia e legislação
a respeito das condições e características que envolve as práticas investigativas e do
dia-a-dia dos contextos criminais, são análises muitas vezes encobertas ou pelo efeito
Backlash ou pelo efeito Witch Hunt.

Facilmente se encontra profissionais engessados ideologicamente ou emocionalmente


frente a atuação em tais crimes. Possivelmente pela ausência do psicólogo no único
campo de atuação, que proporcionaria um elevado treinamento prático, em função da
quantidade elevada de casos nas delegacias de polícia. Ou pelo simples
distanciamento teórico quanto ao ordenamento jurídico brasileirocl e pelo reduzido
conhecimento das particularidades de um departamento policial.

471
Faz-se necessário concurso público para o psicólogo com atuação em delegacia, tal
como ocorreu em Santa Catarina, no ano de 2009, em que este poderá assumir todo o
ônus da legislação sobre a atuação enquanto funcionário público, o que lhe garantirá
também neutralidade na atuação em relação a sua função, próprio da sua condição de
servidor público, tal como, o médico legista e papilocopista.

No judiciário existe concurso público para o cargo de psicólogo, para atuação em


juntas médicas, programas específicos e na realização de perícia psicológica. No
Ministério Público há a previsão do psicólogo concursado neste órgão, em que, dentre
outras atribuições realiza perícia psicológica. Porém na fase da polícia judiciária, não
há a previsão deste profissional.

O trabalho aponta a predominância da atuação forense do psicólogo brasileiro na


esfera cível como perito do juiz, ou assistente técnico das partes, nas varas de família.
E no âmbito criminal, o psicólogo pode ser encontrado no sistema penitenciário, ou
como perito do juiz, nas varas criminais e em juizados especiais, como no Juizado da
Infância e Juventude. Porém, a atuação do psicólogo forense no ambiente da polícia
judiciária, nos crimes de estupro de vulnerável, é inexistente. Por consequência, não
há produção científica, nem dados a respeito do trabalho do psicólogo neste contexto,
nem fundamentação teórica.

Lapa (2009) em seu trabalho de conclusão de curso de psicologia: Inserção do


profissional de psicologia na polícia judiciária, relata a respeito da profissão psicólogo
na polícia civil, mas não apresenta a atuação deste profissional na Delegacia de crimes
contra as crianças. O trabalho da pesquisadora, nesta temática profissional, inova em
apresentar as possibilidades de atuação do psicólogo, especialmente nos crimes em
que temos a criança como vítima.

A fundamentação teórica aponta o desconhecimento profundo tanto do psicólogo,


quanto dos atores da Rede de proteção à criança e ao adolescente, no que tange ao
fluxo e previsões jurídicas dos delitos em que a criança se encontra como vítima, nos
crimes de estupro de vulnerável. Existe um grande número de trabalhos científicos,
Tratados, documentos nacionais e internacionais, técnicas de oitiva (depoimento sem
dano) e políticas públicas a respeito da temática: violência sexual infanto-juvenil.
Porém, o que condiz a respeito da operacionalização processual desde a origem das
comunicações deste crime, até o fluxo e regras legais que segue ao juiz, é de total
desconhecimento para o psicólogo, visto que não existe citações a respeito desta
atuação por parte nem do Conselho Federal de Psicologia, nem de seus Conselhos
Regionais.

A Tese, destaca que a previsão legal para a coibição dos crimes de estupro de vulne
rável, não se encontra no Estatuto da Criança e do Adolescente e sim no Código Penal
Brasileiro. Desta forma, os operadores do direito que responsabilizam adultos e

472
garantem direitos de proteção às crianças, se encontram: no Sistema de Segurança Pú
blica, por meio das delegacias de proteção à criança; na esfera executiva, por meio dos
Promotores Criminais e no judiciário, com os Juízes da esfera criminal.

Faz-se necessário entender a diferença entre as crianças e ou adolescentes que


cometem ‘Atos Infracionais’, e os ‘Crimes ’contra crianças que também são
investigados por delegacias especializadas da infância. Não são todos os Estados
Brasileiros que possuem delegacias distintas para o tratamento especializado a cada
situação jurídica supracitada. Em Goiânia temos:

a) DEPAI – Delegacia de Polícia de Investigação de Atos Infracionais, que é re


sponsável pela investigação e apreensão de crianças acima de 12 anos, e adolescentes
autores de atos infracionais e;

b) DPCA – Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, é competente para


fiscalizar, investigar e instaurar inquérito e procedimentos policiais nos casos de
infração penal praticada contra crianças e adolescentes, bem como, por crimes em que
as crianças e adolescentes são as vítimas e não autores do delito. Além desta função,
a DPCA também desenvolve estratégias de repressão continuadas em qualquer local,
público ou privado, como forma de interromper o ciclo de impunidades dos
agressores (Site do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás).

A Tese, apresenta a avaliação psicológica infantil no contexto da investigação criminal,


em que o profissional psicólogo possui a expertise, não só teórica, mas especialmente
em relação ao volume imponente de casos na sua prática diária. Este profissional se
diferencia pela atuação, que é inerente ao local de desempenho, por duas condições
principais:

1) Quantidade de casos - que chegam a perícia psicológica ainda indefinidos, em


função da própria condição essencial das notícias-crimes que, antes de serem
submetidas a investigação do Inquérito Policial, ainda se trata de suposição criminal.
Assim, o psicólogo em delegacia se torna um especialista no diagnóstico de identificar
as crianças vítimas da violência sexual. A particularidade deste profissional condiz
com a necessidade de um diagnóstico pericial claro, que se corrobore ao conjunto de
indícios levantados na fase pré-processual. A singularidade da perícia psicológica
nesta fase, ocorre pela natureza da solicitação do delegado de polícia, que tem como
objetivo a robustez do conjunto probatório, na busca de autoria e materialidade para
indiciamento ou não do suspeito. Destacamos que o indiciamento de um suspeito se
dá pelo percurso e evolução da investigação policial e não pelo fato de se realizar a
comunicação de um crime. Comunicar um crime e indiciar, são etapas diferentes de
um mesmo decurso, em que, só se pode indiciar OU não, quando há a comunicação,
com a abertura do inquérito policial. Frente a esta qualidade distintiva fundamental
da fase pré-processual, quando nos deparamos com os crimes de estupro de

473
vulnerável, a atenção redobra sobre o comunicante. Pois, em crimes desta natureza,
quando se envolve criança como vulnerável, temos uma suposta vítima com
características legais de hipossuficiência quanto a idade, sem condição autônoma para
realizar sua própria ‘comunicação de crime’. Esta por sua vez, necessita que um adulto
o faça. Por estas características essênciais, este órgão imparcial e oficial está muito
próximo da atividade criminosa, sendo de imprescindível controle jurisdicional, que
impede, que acusações infundadas desemboquem em um processo (Sanini Neto,
2012). A fase de investigação se dá em um órgão oficial do estado, imparcial e
desvinculado do processo posterior, pois só assim é assegurado os direitos e garantias
do investigado. A atividade policial, consegue reunir elementos que justifiquem a
propositura da ação penal, trata-se de um ente absolutamente imparcial e que não
possui ligação direta com o processo (Sanini Neto, 2012). O Inquérito Policial constitui
uma garantia ao investigado, impedindo que uma pessoa inocente seja submetida a
um processo desnecessário, pautado em acusações infundadas (Sanini Neto, 2012).
Ademais, este procedimento investigativo garante que a máquina do Poder Judiciário
não seja acionada inutilmente, o que evita o dispêndio de recursos humanos e
financeiros por parte do Estado.

2) A atividade inerente ao cargo – a atividade do perito psicólogo no contexto da


Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, tem na essência da sua atuação, a
verificação do impacto do crime vivenciado pela criança. A investigação criminal é
um procedimento preliminar, de caráter administrativo, que busca reunir provas
capazes de formar o juízo do representante ministerial acerca da existência de justa
causa para o início da ação penal. Fatores como carreira profissional, reconhecimento
familiar, boa reputação e honra, são facilmente maculados pela ocorrência de uma
denúncia penal. Sob este prisma, cresce a posição da investigação preliminar ao
processo penal, que tem caráter dualista nitidamente demarcado. De um lado, buscar
indícios suficientes de autoria e materialidade do delito, de outro, impossibilitar, por
questões lógicas, denúncias infundadas seriamente prejudiciais ao cidadão (Ferreira,
2009). Esta condição diferencia extremadamente o perito psicólogo que atua na
primeira fasecli da persecução penal, de qualquer outro psicólogo forense dos demais
contextos processuais. Visto que, as perícias psicológicas realizadas pelo profissional
em contexto policial, se encontram em situação pré-processual, e os contextos
posteriores, já necessariamente passaram pelo crivo da investigação criminal,
conforme explica Mirabete (2005):

“Não é o inquérito ‘processo’, mas procedimento administrativo informativo,


destinado a fornecer ao órgão da acusação o mínimo de elementos necessários
à propositura da ação penal. A investigação procedida pela autoridade
policial não se confunde com a instrução criminal, distinguindo o Código de
Processo Penal o ‘inquérito policial’ [...] da ‘instrução criminal’. Por essa razão
não se aplicam ao inquérito policial os princípios processuais já mencionados
[...] nem mesmo o contraditório.”

474
Sendo assim, o perito psicólogo que realiza a avaliação psicológica e faz parte da
equipe investigativa em contexto de delegacia, lida com notícias-crimes que
comunicam a existência de um crime, ou se encontram no roll de denúncias
infundadas. Este contexto paradigmático confere a equipe da polícia judiciária a
necessidade de expertise e tecnologia, para discriminar ambas as situações. Esta
condição indeterminada, confere ao perito psicólogo da fase pré-processual um
especialista em diagnóstico, em função da elevada situação de ambas as realidades.
Apontamos que tal preparo só é possível, diante da essência apuratória, desta fase
pré-processual, conforme explica Castro (2015):

“Essa garantia do cidadão, no sentido de que não será processado


temerariamente nem punido arbitrariamente, é tão latente que foi expressa na
exposição de motivos do CPP, ao destacar que o inquérito policial traduz uma
salvaguarda contra apressados e errôneos juízos, formados antes que seja
possível uma precisa visão de conjunto dos fatos, nas suas circunstâncias
objetivas e subjetivas. Pertence ao caderno apuratório, e não à fase
intermediária de formulação e recebimento da denúncia (Lopes Júnior, 2003),
o verdadeiro papel de evitar acusações infundadas.”

A prática do psicólogo que atua em delegacia se impõe significativamente quanto as


especificidades e sutilezas que envolve a comunicação destes crimes, em relação aos
profissionais que atuam em casos esporádicos, ou em um número reduzido de
atendimento, a exemplo, em consultórios particulares.

Tanto a elevada quantidade de avaliações psicológicas, realizadas pelo psicólogo em


contexto de delegacia, quanto o aparato da equipe delegado-escrivão-agente que
envolve as ações operacionais-investigativo, tornam a atuação do perito psicólogo,
extremamente eficiente na investigação destes crimes, conforme sugere Lamana
(2010).

A quantidade de casos e o aparelhamento profissional-operacional, auxilia o


psicólogo frente a situação: comunicação de crime X investigação X existência do
crime. Esta é a essência da equipe multidisciplinar-investigativa, em que, cada
profissional com sua especificidade, eleva o status da comunicação de crime, para o de
investigação criminal. Tal situação, implica em não só solucionar um crime com a
finalidade de responsabilização, como apresentar por meio de provas sua existência e
autoria.

Nos crimes de estupro de vulnerável, que na sua maioria não existe o vestígio físico, a
prova de sua existência, se encontra especialmente no campo psíquico-comportamento
encoberto e público dos envolvidos, sendo este campo, a expertise do psicólogo analista do
comportamento.

475
Por meio da avaliação psicológica, que é uma metodologia-técnico científica, o
trabalho do psicólogo criminal se destaca, pois o psicólogo tem condições científicas
de apresentar o impacto do delito na criança, ao responder: os vestígios psicológicos
desta interação e suas implicações. Conforme o Conselho Federal de Psicologia,
declara:

“Compete ao psicólogo analisar criticamente os resultados obtidos, com o


intuito de verificar se realmente forneceram elementos seguros e suficientes
para a tomada de decisão nos vários contextos de atuação do psicólogo.
(Cartilha Avaliação Psicológica, 2013)”

O achado principal da tese, diz respeito ao dia-a-dia não só do perito psicólogo no


contexto da polícia judiciária, mas de toda a equipe frente as motivações das
comunicações dos crimes sexuais que envolvem crianças. Destacamos que na maioria
das ‘denúncias infundadas ’os comunicantes não podem revelar sua motivação, pois
assim, incorreriam no crime de Denunciação Caluniosa, Artigo 339, do Código Penal:

“Art. 339 - Dar causa à instauração de investigação policial, de processo


judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de
improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o
sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028, de 2000)

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato


ou de nome suposto.

§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de


contravenção.”

Nos inquéritos constituídos por ‘denúncias infundadas’, as estórias são conduzidas


por estes comunicantes, como verdadeiras. Porém, com a eficiência na condução da
equipe e no alto desempenho desta, um substanciado conjunto probatório é alca
nçado, por meio de testemunhas, provas e diligências. Dentre estas ações, inclui a
perícia psicológica, que identifica vivenciada pela criança. Nestes inquéritos temos um
perfil característico dos comunicantes: comportamento argumentativo, reivindicativo
e de menosprezo as ações policiais. A exemplo, apresentamos alguns casos em que os
inquéritos seguiram trâmite oficial e foi realizado perícia psicológica em todas as
situações:

a) Comunicante que em situação pericial afirmou que realizou a comunicação do


crime de estupro de vulnerável, para evitar a guarda compartilhada, pois o pai da

476
criança de 5 anos, se encontrava com nova namorada e nas férias o novo casal havia
programado viagem com a criança;

b) Tia que comunicou delito de que a comunicante havia cometido o crime de estupro
de vulnerável em detrimento da filha de 9 anos, por esta lhe dever dívida de aluguel;

c) Comunicante que anunciou crime de estupro de vulnerável do padrasto de criança


de 11 anos, por este sair de casa e levar o botijão de gás da mesma;

d) Comunicante - que solicitou retirar comunicação de crime, visto que, o pai da


criança iria residir no exterior e a criança queria passar férias com o genitor. Em perícia
criança de 5 anos relatava que não havia ocorrido, corroborado a avaliação psicológica
de não ocorrência de tal fato;

e) Comunicante-Avó paterna de criança de 6 anos - por seu filho (genitor da criança)


não mais pagar o valor de R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais) para a mesma cuidar
da neta, esta realizou comunicação de crime de estupro de vulnerável do pai em
relação a filha;

f) Comunicação anônima - genitora em perícia, dizia estar sendo ameaçada de morte


pelo traficante-autor do crime de estupro de vulnerável em detrimento de seu filho de
13 anos e com isso, tanto genitora, quanto criança negavam ocorrido durante
depoimento no inquérito;

g) Genitora comunica crime de estupro de vulnerável do ex-marido contra o filho e


que após 3 meses o casal se reconcilia e genitora comparece ao departamento de
psicologia para assinar Termo de Recusa pericial e justifica denuncia infundada, por:
‘queria destruir a vida dele’.

Destacamos que nas varas de família, juízes perseguem a informação a respeito da


presença de característica de ‘alienação parental’, em processos litigiosos de guarda,
conforme o art. 4º e 5º da Lei nº 12.318/2010:

“Art. 4º Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de


ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou
incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará,
com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias
necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do
adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou
viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.

Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor


garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há
iminente risco de prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do

477
adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz
para acompanhamento das visitas.

Art. 5º Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação


autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica
ou biopsicossocial.

§ 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou


biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista
pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do
relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação
da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou
adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor.

§ 2º A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar


habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico
profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental.

§ 3º O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência


de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do
laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em
justificativa circunstanciada”.

E o que se busca são as ‘características de conduta ’de um dos genitores ou parentes


próximos, que corroboram à prática de Alienção Parental, tal como destacado no
Artigo 2º da Lei nº 12.318/2010:

“Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação


psicológica da criança ou adolescente, promovida ou induzida por um dos
genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a
autoridade, guarda ou vigilância, para que repudie genitor ou que cause
prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”

Nos incisos do Artigo 2º a lei apresentam alguns exemplos de condutas que podem
caracterizar o ato, tais como:

“Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos


atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados
diretamente ou com auxílio de terceiros:

I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício


da paternidade ou maternidade;

II - dificultar o exercício da autoridade parental;

III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor;

478
IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar;

V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a


criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço;

VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra


avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou
adolescente;

VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a


dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com
familiares deste ou com avós.”

Silva (2011) destaca que, no artigo 3º da Lei nº 12.318/2010, a alienação parental é


equiparada ao abuso moral contra a criança/adolescente, pois finda em prejudicar a
convivência social e afetiva desta, com o grupo familiar alienado, pelo
descumprimento dos deveres da guarda parental. Devido à manipulação emocional
do alienador sobre a criança, fragilizando seu psiquismo, Silva (2009) inclui a
alienação parental, dentre as vitimizações psicológicas mais graves (Silva, 2011).
Processos com sentença negando a alienação ou punição, quando a alienação for
existente, poderão ser reabertos ou peticionar novos processos (Silva, 2011). Ressalta
se que o dispositivo prevê, ainda, que outras hipóteses poderão ser declaradas pelo
juiz, ou constatado por perícia, diante da análise do caso em concreto.

A atuação do perito nos casos de Alienação Parental se difere nitidamente, da atuação


do perito psicólogo nos casos do crime de Estupro de Vulnerável. Os psicólogos que
atuam nas varas de família, possuem na especificidade da Lei, a orientação notória
para o que irá investigar, tal como destaca o Artigo 5º, § 1º da Lei 12.318/2010:

“§ 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou


biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista
pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do
relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação
da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou
adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor.”

Destacamos, que todas estas características são passíveis da identificação de


indicadores e ou variáveis, que estão a influenciar as condutas existentes, bem como
o impacto destas interações no comportamento da criança. Pavan (2011) observa, que
o artigo 6º da Lei 12.318/2010 previu apenas medidas protetivas determinadas pelo
juiz após a constatação de atos típicos de alienação parental, conforme a gravidade do
fato, visto que, a perícia psicológica ou multiprofissional, deve destacar o nível de
gravidade de cada caso. Contudo, o dispositivo ressalva a possibilidade de
responsabilização civil ou criminal, além das medidas por ele determinadas.

479
Vale dizer, que o artigo 6º da Lei 12.318/2010, não tipificou a prática de alienação
parental como crime, pois as medidas tomadas pelo juiz não implicam em
responsabilização penal, com aplicação de sanção penal, seja ela pena: privativa,
restritiva ou prisão simples ou medida de segurança (Pavan, 2011).

Contudo, foi vetado sob o fundamento de que o direito a convivência familiar da


criança e do adolescente é direito indisponível, razão pela qual não poderia ser aferida
por mecanismos extrajudiciais de soluções de conflito, bem como sob a alegação de
que encontraria resistência no Princípio da Intervenção Mínima, de acordo com o
Artigo 100, parágrafo único, inciso VII, do Estatuto da Criança e do Adolescente:

“Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades


pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários.

VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida exclusivamente


pelas autoridades e instituições cuja ação seja indispensável à efetiva
promoção dos direitos e à proteção da criança e do adolescente.”

Vale destacar que a doutrina mais atenta já repudia essa última alegação, de
mecanismos extrasjudiciais de solução de conflito. Pois, dos Meios Extrajudiciais de
Solução de Conflitosclii – MESC, a mediação teria justamente o escopo de respeitar o
‘Princípio da Intervenção Mínima’, bem como a desjudicialização do atendimento,
causando menores impactos aos envolvidos (Pavan, 2011). Quanto a penalização para
quem comete Alienação Parental e quem comete o crime de Estupro de Vulnerável,
são insofismáveis a fim de fazer valer as medidas protetivas disciplinadas nos artigos
4º e 6º da Lei 12.318/2010, referente a Alienação Parental:

“Art. 6º Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer


conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor,
em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem
prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla
utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos,
segundo a gravidade do caso:

I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;

II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

III - estipular multa ao alienador;

IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;

V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua


inversão;

480
VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;

VII - declarar a suspensão da autoridade parental.”

Desta forma, fica nítido, o tratamento em relação ao agravamento da punição, em que,


a conduta do Alienador, não é criminalizada. Já a notícia-crime de ‘abuso sexual’,
impõe ao ofensor sexual, a tipificação penal, no crime 217-A do Código Penal
Brasileiro, com reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos, pena mínima cominada ao
crime de estupro de vulnerável é de 8 anos de reclusão (CP, art. 217-A), a ser cumprida
inicialmente em regime fechado (CP, art. 33, § 2ª, “a”).

Em ambas as situações, a investigação pericial, versa de maneira globalmente


diferenciada, no que se refere a:

a) solicitação da demanda pericial;

b) fase da persecuação penal;

c) finalidade pericial;

d) esferas legais; e

e) análise situacional cível e penal.

Porém, ambos os peritos psicólogos, mesmo em esferas diferenciadas, se utilizam do


mesmo recurso, para buscar informações e responder questões sobre o funcionamento
psicológico e suas implicações, do indivíduo-criança, conforme Cartilha sobre
Avaliação Psicológica (CFP, 2007):

“O processo de avaliação psicológica apresenta alguns passos essenciais para


que seja possível alcançar os resultados esperados, a saber:

¬ Levantamento dos objetivos da avaliação e particularidades do indivíduo


ou grupo a ser avaliado. Tal processo permite a escolha dos
instrumentos/estratégias mais adequados para a realização da avaliação
psicológica;

¬ Coleta de informações pelos meios escolhidos (entrevistas, dinâmicas,


observações e testes projetivos e/ou psicométricos, etc). É importante
salientar que a integração dessas informações deve ser suficientemente
amplas para dar conta dos objetivos pretendidos pelo processo de avaliação.
Não é recomendada a utilização de uma só técnica ou um só instrumento para
a avaliação;

¬ Integração das informações e desenvolvimento das hipóteses iniciais.


Diante destas, o psicólogo pode constatar a necessidade de utilizar outros
instrumentos/estratégias de modo a refinar ou elaborar novas hipóteses;

481
¬ Indicação das respostas à situação que motivou o processo de avaliação e
comunicação cuidadosa dos resultados, com atenção aos procedimentos
éticos implícitos e considerando as eventuais limitações da avaliação. Nesse
processo, os procedimentos variam de acordo com o contexto e propósito da
avaliação.”

Assim sendo, diante da distinção quanto a: responsabilidadecliii civil e penal, fase


processual, bem jurídico e punição quanto ao ilícito penal, fica inviabilizado condução
semelhante no que tange as averiguações legais. Pois, em um contexto pericial se
investiga um crime sexual e o outro a conduta do Alienador.

Posto isto, a averiguação penal, não trata o crime sexual por meio de mediação para
resolução da lide, mas sim com investigação detalhada e extenuante, por se constituir
de fase pré-processual.

Em casos específicos, estes pais acusados, exercerem sua ampla defesa. E realizam por
meio de representante legal, a apresentação da ‘prova emprestada ’aos processos nas
varas de família. Esta ‘prova emprestada’, se refere ao laudo psicológico realizado na
Delegacia, acompanhado de parecer Ministerial que cita partes do laudo psicológico
referente às averiguações do contexto criminal, bem como, a sentença do juiz, que
geralmente é de arquivamento destes inquéritos:

“Art. 372. O juiz poderá admitir a utilização de prova produzida em outro


processo, atribuindo-lhe o valor que considerar adequado, observado o
contraditório (CPC, 2015).”

Milhoranza (2015) destaca que o processo civil brasileiro contempla a existência de


provas atípicas, ou seja, provas não elencadas, como tais, no rol do Código de Processo
Civil, dentre as provas atípicas, está a prova emprestada (Talamini, 1998). O art, 372
inova ao prever, expressamente, a possibilidade de admissão da prova emprestada no
processo civil. Em nome da economia processual, da razoável duração do processo e
da unidade da jurisdição, utiliza-se a prova emprestada com o intuito de dar máxima
efetividade às atividades processuais, podendo, então, o juiz admitir as provas
colhidas em outro juízo. Assim, todos os meios legais de prova, bem como os
moralmente legítimos produzidos em determinado processo podem ser trasladados
para outro (Milhoranza, 2015).

Na prática, as provas emprestadas serão trazidas documentalmente de outro


processo, mediante certidão ou cópias autenticadas das folhas em que foram
produzidas na demanda original (Santos, 1983). Esclarecemos que o contrário é
desconhecido, ou seja, comunicantes-comunicantes se valerem dos laudos
psicológicos como ‘prova emprestada, nas varas de família.

Em relação a números, o Ministério da Justiça e Segurança Pública, proporcionou por


meio dos dados das Secretarias Estaduais de Segurança Pública e/ou Defesa Social,

482
juntamente com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
desenvolvimento da Pesquisa Nacional de Vitimização (2013). Esclarecemos que o
Forum Nacional de Segurança Pública, publica o Anuário Brasileiro de Segurança Pú
blica, que compila e analisa dados de registros policiais sobre criminalidade,
informações sobre o sistema prisional e gastos com segurança pública, entre outros
recortes introduzidos a cada edição. Além dos dados, o Anuário traz textos analíticos
com reflexões acerca da conjuntura atual de Segurança Pública no país. A produção
estatística da Senasp é geralmente realizada das seguintes maneiras:

a) Surveys - mediante aplicação de questionários, são produzidas estatísticas baseadas


num público específico;

b) Processos estatísticos usando fontes administrativas - as estatísticas são produzidas


a partir da tabulação de registros administrativos.

Os dados na Pesquisa Nacional de Vitimização (2013) sobre estupro incluem:


"estupro" e "estupro de vulnerável", porém sem a discriminação por idade, e com a
informação de que as pesquisas foram realizadas com sujeitos maiores de 16 anos. A
mais recente pesquisa do gênero, na área da saúde: “Estupro no Brasil: uma
radiografia segundo os dados da Saúde”, produzida pelo IPEA, fala em somente 10%
de casos notificados. Os dados apresentados pelas diferentes esferas ao evidenciarem
os limites de notificação na saúde e nos registros criminais de estupro na esfera legal,
expressam o imenso desafio à prevenção e combate à violência sexual no Brasil.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Vitimização (2013), ao considerar os episódios


do ano anterior ao levantamento, a ocorrência de ofensas sexuais é de 1% entre os
moradores da região Norte, 0,9% entre os do Nordeste, 0,8% tanto no Sudeste quanto
no Sul e 0,5% entre os que vivem no Centro.

Sobre a frequência com que as ofensas ocorreram no ano que antecedeu o estudo,
50,5% dizem que elas aconteceram por uma única vez, enquanto 19,1% respondem
duas vezes. Outros 10% citam três vezes, 3,2% quatro e 12,1% cinco vezes. Segundo
2,5% as ofensas sexuais aconteceram muitas vezes no período acima. As maiores
médias de frequência anual encontram-se no Centro-Oeste (3,1) e Norte (2,9) do país.
Tanto no Sudeste quanto no Sul, esse número corresponde a 2,5 e no Nordeste ele é
de 2,6. As leituras por estados e capitais são prejudicadas em função do número
reduzido de casos para análise segura.

Questionadas sobre a identidade dos agressores, metade (49,3%) das vítimas de


ofensas sexuais diz tratar-se de um desconhecido. Em 8,1%, o agressor era um
conhecido de vista do entrevistado. Um colega do trabalho é a resposta de 5,6% e um
amigo é a de 5,4%. O próprio companheiro ou companheira são citados por 5,1%,
quase o percentual de ex-companheiros ou companheiras (4,3%). Menções a vizinhos
chega 4,2% e ex-namorados 3,2%. Menções a filhos totalizam 2,4%, seguidos dos

483
chefes ou patrões (2%), professores (1,2%), parentes (1,1%) e namorados (0,8%). Os
pais aparecem em seguida com 0,6%.

Entre as vítimas do sexo feminino, muito mais do que entre as do masculino há


reflexos psicológicos. Entre as mulheres, a taxa das que ficam com medo de sair de
casa vai a 31,5% contra 12,4% dos homens. O índice das que ficam com depressão
chega a 29,7% contra 14,8% dos homens e o percentual das que admitem traumas
psicológicos é de 18,2% contra 6,8% dos homens.

Estratificando-se os resultados por dados socioeconômicos e demográficos, as maiores


taxas de notificação encontram-se entre os que pertencem às classes D e E (12,9%),
entre os que têm 35 a 44 anos (12,9%) e entre as mulheres (10,1% contra 1,9% dos
homens).

Dentre os motivos citados para o registro da ocorrência, os mais comuns são a


necessidade de se proteger (45,5%), para evitar que o fato ocorra novamente (38,2%),
a vontade de ver o culpado punido (32,8%), o direito de relatar o caso à polícia (16%),
a impossibilidade de resolver o episódio por meios próprios (12%) e simplesmente
para registrar a ocorrência (11,5%). Não há numero de casos suficiente para leitura
estratificada desses resultados.

Segundo dados do IBGE, de 2010, o Brasil tem cerca de 63 milhões de crianças e


adolescentes, 46% das crianças e adolescentes menores de 14 anos vivem em
domicílios com renda per capta até meio salário mínimo e 132 mil famílias são
chefiadas por crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos.

Em 2014, o Disque-Denúncia Nacional da Secretaria de Direitos Humanos da


Presidência da República (SDH/PR) registrou mais de 91 mil denúncias de violações
de direitos de crianças e adolescentes. E destaca que esses números não representam,
necessariamente, o tamanho do problema, mas traz uma dimensão de como está
fortemente inserido na sociedade (Childhood, 2017). São muitas as variáveis a serem
consideradas, e os números disponíveis dão apenas um perfil geral do problema.

Childhood (2017) informa que o Brasil apresenta uma forte carência de dados sobre a
violência sexual de crianças e adolescentes, com fatores de vulnerabilidade que
incidem diretamente sobre o problema, aumentando os casos de violação de direitos.
Em 2014, o Disque-Denúncia, registrou 91.342 denúncias de violações de direitos de
crianças e adolescentes e esclarece que o número de ‘denúncias ’não corresponde ao
número de casos de fato constatados. Semelhante a 2013, dos 13 tipos de violações
registradas pelo Disque-Denúncia em 2014, a violência sexual ocupa o 4º lugar, com
26% (Childhood, 2017)

Neves, Castro, Hayeck, & Cury (2010) informam que de acordo com dados da
UNICEF (2005), os principais abusadores são pessoas do sexo masculino, sobretudo

484
pais, padrinhos, avós, irmãos, tios. Bontempo, Bosseti, César & Leal (1995) que pes
quisam sobre abuso incestuoso apontou que 71,1% dos agressores eram pais
biológicos das vítimas e 11,5% eram padrastos, perfazendo um total de 82,6% (Saffioti,
1995).

Também na literatura mundial a figura do pai biológico é aquela que mais vitimiza
sexualmente as crianças (97% dos casos), enquanto as estimativas de agressoras
sexuais ficam entre 1% a 3% (Bontempo, Bosseti, César & Leal, 1995). Tais autores,
concluem que grande parte do abuso sexual sofrido pela criança acontece
preponderantemente no contexto intrafamiliar, sendo perpetrado por abusadores
familiares.

A discussão quanto a impunidade, agrupa dois tipos de dados: quando a vítima não
leva o crime ao conhecimento das autoridades e aos ínfimos números de ‘denuncias ’
que terminam em condenações (CLADEM, 2016). O Conselho Federal de Psicologia,
por meio do relatório do CFP (2009), intitulado: ‘Serviço de Proteção Social a Crianças
e Adolescentes Vítimas de Violência, Abuso e Exploração Sexual e suas Famílias:
referências para a atuação do psicólogo’, se posiciona frente a impunidade. Propõe a
necessidade do fortalecimento do sistema de defesa e responsabilização e ressalta a
importância da sólida instrumentação teórica, metodológica e técnica dos
profissionais. Com a finalidade de que estejam aptos a observar, interpretar e
compreender constantemente as situações novas que se apresentam no cotidiano
deste tipo de trabalho (Neves, Castro, Hayeck, & Cury, 2010)

A discrepância de dados em relação ao fenômeno da violência sexual infantil, é notó


ria e merece atenção. Tal realidade é reconhecida como fragilidade na área e discutida
e apontada como meta nas Convenções em que o Brasil é signatário. Na Convenção
CEDAW - Convención para la Eliminación de todas las Formas de Discriminación contra la
Mujer, que contém mandatos para o Estado em relação a questões específicas, aponta
na Recomendação Geral 28, § 10, a necessidade do tratamento e análise de dados
referente ao fenômeno da violência infantil (CLADEM, 2016):

“Criar e melhorar constantemente as suas bases de dados estatísticos e


aprofundar a análise todas as formas de discriminação contra as mulheres em
geral e em particular contra mulheres de certos grupos vulneráveis.
(CEDAW)”

No balanço regional do CLADEM (2016), Comité de América Latina y el Caribe para la


Defensa de los Derechos de las Mujeres – CLADEM, com estatuto consultivo da ONU,
OEA e UNESCO, aponta que o Brasil se encontra entre os países que ratificaram a:
Convenção dos Direitos da Criança; Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres – CEDAW; Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher - Convenção de Belém
do Pará; Convenção Americana sobre Direitos Humanos; Protocolo de San Salvador;

485
Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
Degradantes do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos –PIDCP e o Pacto
Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais -PIDESC. Estas
Convenções apontam para os países signatários que cumpram com o mandato para
transferir à esfera doméstica os princípios do Estatuto de Roma, que obriga os Estados
a estabelecer padrões consistentes em seus regulamentos, que dentre estes cita:

“Adotar todas as medidas legislativas, administrativas, sociais e educacionais


apropriadas para proteger a criança de todas as formas de abuso físico ou
mental, negligência ou tratamento negligente, maus tratos ou exploração,
incluindo abuso sexual. Essas medidas de proteção devem incluir, conforme
adequado, os procedimentos eficazes para o estabelecimento de programas
sociais destinados a assegurar o apoio necessário para a criança e aqueles que
cuidam deles. (Estatuto de Roma)”

Em Goiânia, a DPCA - Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente é a única na


capital. E deste contexto, a cientista apresentará dados referentes as perícias
psicológicas realizadas por esta pesquisadora, visto que, existe a atuação de uma
segunda psicóloga no local.

Os dados apresentados são referentes aos laudos psicológicos, que foram juntados aos
autos, em que a perícia psicológica fez parte do roll de diligências solicitadas pela
delegada responsável pelo inquérito policial.

Explicamos que os resultados dos laudos psicológicos: Houve Interação de Conteúdo


Sexual e que Não Houve Interação de Contéudo Sexual, foram corroborados ao
resultado do inquérito: Houve Indiciamento ou Não Houve Indiciamento do suspeito,
em relação a ocorrência ou não do crime de Estupro de Vulnerável.

Destacamos que nos quadros a seguir, os casos em que as crianças tinham acima de
13 anos e 11 meses, também compareceram. Pois, tanto a operacionalização, análise e
feitura de laudo, a pesquisadora segue os mesmos procedimentos para os crimes de
Estupro de Vulnerável e para os crimes de Estupro, pois ambos envolvem criança ou
adolescente.

Os dados se referem a fase pré-processual, e fazem referência ás comunicações em


relação aos crimes de Estupro de Vulnerável, 217-A e Estupro, 213cliv, § 1º.

Informamos que os números a seguir, não são o foco deste trabalho, porém
comparecem para ilustrar o impacto, da instrumentalização pericial psicológica, na
prática científica tecnológica, a que esta Tese se propõe.

Alertamos que os números alcançados, não se trata de posicionamento estatístico


contrário a nenhuma regra, visto que, não existe regras padronizadas para o fenômeno

486
da violência sexual infantil. O resultado expressa dados minoritários, frente a ausência
analítica de tais números, nos artigos científicos brasileiros.

A comunicação de um fato à autoridade competente, de boa fé, para que seja apurado
eventual ilícito penal, não implica, por si só, responsabilidade indenizatória do
comunicante. Mesmo que a investigação resulte em Processo Criminal, cuja
punibilidade venha a ser extinta ou absolvidos os acusados. Destacamos que a
investigação nestes crimes, se utiliza em grande proporção das informações da
comunicante, por acreditar que esta possui, além da vítima, dados valiosos em relação
à:

a) motivação para a comunicação do crime – busca-se eliminar a variável ‘motivação


subjetiva da comunicação de crime’, ou seja, aquela motivação que não se refere à
ocorrência do crime de estupro de vulnerável, mas sim, a questões pessoais que
originam toda a demanda criminal com objetivos de satisfação particular, com a
finalidade de macular imagem e honra de outrem;

b) conhecimento do fato – subentende-se que o comunicante possui conhecimento


suficiente a respeito do crime a que veio comunicar;

c) representar a vítima na comunicação de um crime - vítimas dos crimes de Estupro


de Vulnárel, são hipossuficientes em autonomia e legalmente pelo Código Civil
Brasileiro Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, quanto a responsabilidade civil:

“LIVRO I

DAS PESSOAS

TÍTULO I

DAS PESSOAS NATURAIS

CAPÍTULO I

DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida


civil os menores de 16 (dezesseis) anos.

Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;”

Será utilizado como medida analítica, se refere as relações de parentesco conforme


Código Civil - Lei 10406/02, em que os graus de parentalidade partem do indivíduo,
conforme ilustração (Geocities):

487
Figura 1- Graus de parentalidade conforme Código Civil - Lei 10406/02

Barbosa (2002) informa que, juridicamente, toda a estruturação do parentesco, parte


basicamente da relação de filiação: consanguínea, adotiva ou oriunda de técnicas de
reprodução assistida, que não poderá receber juridicamente, por força de norma
constitucional, qualquer menção a sua origem, à natureza dessa filiação. Assim, o
registro civil nada poderá se referir à origem do vínculo, proveniente de uma relação
puramente jurídica ou efetivamente genética.

“CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as
outras na relação de ascendentes e descendentes.

488
Art. 1.592. São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau,
as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra.

Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de


consangüinidade ou outra origem.

Art. 1.594. Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de


gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos
parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade.

§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes


e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.

§ 2o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento


ou da união estável.

CAPÍTULO II

Da Filiação

Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção,


terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.”

Os graus partindo do indivíduo, de acordo com Código Civil/15, Art. 330 e Art. 1.591
Código Civil/02, afirmam que: “são parentes, em linha reta, as pessoas que estão umas
para com as outras na relação de ascendentes e descendentes”. E concernente ao
Código Civil/2015, Artigo 331 e Art. 1.592 Código Civil/02: “são parentes em linha
colateral, ou transversal, até o 4º grau, as pessoas que provêm de um só tronco, sem
descenderem umas das outras. Parentesco, é a relação que vincula entre si as pessoas
que descendem do mesmo tronco ancestral, que pode ser: biológico ou consangüíneo.

A ascendência é a linha das gerações anteriores, a linha paterna, se refere ao


parentesco como genitor e com os ascendentes deles, como avôs e bisavós paternos.
Já a linha materna, diz respeito aos pais e avós da comunicante, como avós e bisavós
maternas. Assim, ascendente é aquele do qual se descende, como os pais, os avós, os
bisavós, logo, são descendentes os filhos, os netos, os bisnetos. Marido e mulher não
são parentes e sim cônjuge e a classificação, quanto á origem dos filhos, temos: a) por
estirpe: se tem os mesmos pais, ou, se são filhos de um só deles; b) bilaterais ou
germanos: filhos do mesmo casal; c) irmãos unilaterais: que tem em comum somente
um os genitores, são tidos como meio-irmãos.

489
Neste trabalho, na análise dos dados da parelha suspeito-vítima, será considerado:

a) relação de parentesco;

b) consanguinidade;

c) vínculo por afinidade;

d) se externo ou interno à convivência familiar comunicante-filha(o) e;

e) territorialidade (proximidade) geográfica.

f) suspeitos com característica ‘pai adotivo’, será considerado sem consanguinidade,


desta forma para fins de análise, não estará contemplado na categoria genitor.

Por inovação, afinidade não é parentesco e sim o vínculo que liga uma pessoa aos
parentes do seu cônjuge ou, por inovação do novo Código; do companheiro; os afins
de cada cônjuge ou companheiro não são afins entre si; no segundo casamento, os
afins do primeiro não se tornam afins do cônjuge

A afinidade por sua vez, traz uma inovação ao incluir o companheiro Lei nº 10.406 de
10 de Janeiro de 2002:

“ SUBTÍTULO II

Das Relações de Parentesco

Art. 1.595. Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade.

§ 1o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes


e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.”

Diante dos esclarecimentos, apresentaremos os dados alcançados por meio do


instrumental e logística pericial, desenvolvido na evolução da Tese de Doutorado da
pesquisadora. A perícia psicológica, resulta na elaboração do laudo psicológico, que
corresponde a comunicação científica deste perito, para a esfera criminal da polícia
judiciária.

Foi encaminhado para o Departamento de Psicologia da DPCA, no ano de 2014, 2015,


2016, 90 solicitações periciais para a Psicóloga Viviane Teles. Destas 90 solicitações, 61
originaram laudos psicológicos, em razão da realização da perícia psicológica, tal
como tabela abaixo:

490
Número de Encaminhados: avaliação Comunicantes que assinaram Casos periciados
solicitações neuropsicológica e o Termo de Recusa Pericial
delegacias de origem

n % n % n %

90
10 11,11% 19 21,11% 61 67,77%

Quadros 4 - Números de solicitações e os desdobramentos administrativos

No que tange ao resultado dos casos periciados para ocorrência ou não ocorrência da
Interação de Conteúdo Sexual, temos:

Casos Inconclusivos Houve Interação Não Houve Interação


periciados

n % n % n %

61
3 4,91% 31 50,81% 27 44,26%

Quadros 5 - Casos periciados e o resultado quanto a ocorrência ou não de Interação de Conteúdo Sexual

Os comunicantes do crime a autoridade policial, quanto a: Relações, Vínculos e


Proximidade, em relação a vítima, temos:

Casos Consanguinidade – grau de Vínculo de Afinidade Rede de Proteção e Segurança


periciados parentesco Pública

n Parentesco % n Vínculo % n Instituição %

2 Própria 3,27 0 0 0 1 Polícia 1,63


vítima Militar

41 Genitora 67,21 2 Conselho 3,27


Tutelar

4 Pai 6,55 3 Disque 100 4,91

61
1 Irmã 1,63

4 Avó materna 6,55

491
1 Avó Paterna 1,63

1 Tia Materna 1,63

1 Tio Materno 1,63

Quadros 6 - Comunicantes dos crimes, quanto a: relações, vínculos e proximidade, em relação a vítima

Quanto a incidência de ocorrência da Interação de Conteúdo Sexual, por gênero das


crianças:

Casos Inconclusivos Houve Interação Não Houve Interação


periciados

27 Meninas 21 Meninas

61 3 Meninas
4 Meninos 6 Meninos

Quadros 7 - Quanto a incidência de ocorrência da Interação de Conteúdo Sexual, por gênero das crianças

Destacamos que dos 61 casos periciados, dos 31 que Houve Interação de Conteúdo
Sexual, 27 foram meninas, assim referente a estes números, 87,09%, são do sexo
feminino. Nestes 31 casos, os que tiveram consanguinidade e relação de parentesco de
1º grau, na parelha suspeito-vítima, em que o pai foi o ofensor, o maior número esteve
presente em 2 crianças do sexo masculino e 1 criança do sexo feminino. No caso das 2
crianças do sexo masculino, as genitoras não se constituiram nem como ex-cônjuges. E no caso
da criança do sexo feminino os genitores foram ex-cônjuges.

Nos dados abaixo, temos o resultado pericial, e a relação de proximidade da parelha


vítima-suspeito, quanto a: interno ou externo a convivência familiar genitora-criança,
proximidade territorial, relação de parentesco e vínculo de afinidade, temos:

Resultado pericial de
61 laudos
Quantidade Parelha comunicante-suspeito

Inconclusivos 3 1 Comunicante-padrasto (casados)

1 Comunicante-porteiro da escola

1 Avó materna-avô paterno

492
Houve Interação 31 3 Genitora-pai

1 menina – os genitores são ex-conjuge

2 meninos – os genitores nem chegaram a se relacionar

1 Comunicante-padrasto (casado com a comunicante)

4 Comunicante-tio (casado com a irmã da comunicante)

1 Comunicante- casado com a prima da comunicante

1 Comunicante-namorado da avó materna e primo da criança

1 Comunicante-amigo da comunicante

1 Comunicante-namorado da comunicante

1 Comunicante-amigo da igreja

1 Comunicante- tio, casado com tia da comunicante

1 Comunicante-namorado da madrinha da criança

1 Comunicante-senhor, serviços gerais da creche

1 Comunicante-dois vizinhos

1 Comunicante-vizinho

1 Comunicante-marido da tia paterna

1 Comunicante-senhor que reside com avó de consideração

1 Comunicante-pai adotivo

1 Avó materna-pai (investigação e laudo psicológico apontaram


para o tio materno da criança)

1 Pai-amigo da comunicante

1 Tio materno-tio avô materno

493
1 Tia materna-pai de uma amiga da escola

1 Própria vítima (17a)-padrasto

1 Própria vítima (15a)-ofensor serial

1 Irmã da criança-namorado da avó materna

1 Policial Militar-tio, casado com a irmã da criança

1 Dique 100-padrasto

1 Conselho Tutelar-vizinho

Não Houve 27 13 Comunicante-pai (ex-conjuge)


interação

1 Comunicante-amigo do pai

1 Comunicante-primo paterno de 2º grau da criança

1 Comunicante-tia paterna

1 Comunicante-vizinho

1 Comunicante-namorado da comunicante

3 Pai-padrasto

1 Avó paterna-pai

1 Avó materna-pai

1 Avó materna-irmão (21a), parte de pai da criança

1 Dique 100-professor de futebol

1 Disque 100-pai

1 Conselho Tutelar -pai

Quadros 8 - Resultado pericial, e a relação de proximidade da parelha vítima-suspeito

494
Em amarelo, dos 61 casos periciados, temos 8 suspeitos externo á convivência familiar
consanguínea comunicante-filha (o)/criança, sendo que, a proximidade suspeito
vítima se dá por: territorialidade, proximidade geográfica, sem proximidade doméstica
e externo á família. O destaque para estes números, é que: em 8 destes casos, 5 houve
a Interação de Conteúdo Sexual.

Em verde, dos 61 casos periciados, temos 20 suspeitos, externo á convivência familiar


consanguínea comunicante-filha (o)/criança, sendo que, a proximidade suspeito
vítima se dá por: vínculo de afinidade ou por proximidade doméstica e sem
consanguinidade. O destaque para estes números, é que: em 20 destes casos, 18 houve
a Interação de Conteúdo Sexual.

Em azul, dos 61 casos periciados, temos 8 suspeitos interno á convivência familiar


consanguínea comunicante-filha (o)/criança, sendo que, a proximidade suspeito
vítima se dá por: com vínculos domésticos intra-familiares, sem consanguinidade e com
proximidade doméstica, interno a família, residem com a criança. O destaque, é que:
em 8 destes casos, 4 houve a Interação de Conteúdo Sexual.

Em laranjado, dos 61 casos periciados, temos 4 suspeitos externo á convivência


familiar consanguínea comunicante-filha (o)/criança, sendo que, a proximidade
suspeito-vítima se dá por: vínculos domésticos familiares, com consanguinidade e com
proximidade doméstica, interno a família, não residem com a criança. O destaque, é que:
em 4 destes casos, NENHUM houve a Interação de Conteúdo Sexual.

Em rosa, dos 61 casos periciados, temos 20 suspeitos externo á convivência familiar


consanguínea comunicante-filha (o)/criança, sendo que, a proximidade suspeito
vítima se dá por: consanguinidade, relação de parentesco de 1º grau e não residem com
a criança. O destaque, é que: em 20 destes casos, 4 houve a Interação de Conteúdo
Sexual.

Em relação a incidência da ocorrência ou não da Interação de Contéudo Sexual, quanto ao:


gênero, idade, parelha comunicante-suspeito e consanguinidade, temos:

INCONCLUSIVOS

Qt. Parelha comunicante-suspeito Idade vítima Gênero vítima

1 Comunicante-padrasto (casados) 14 Feminino

1 Comunicante-porteiro da escola 7 Feminino

1 Avó materna-avô paterno 3 Feminino

495
HOUVE INTERAÇÃO DE CONTEÚDO SEXUAL

Qt. Parelha comunicante-suspeito Idade vítima Gênero vítima

3 Comunicante-pai Masculino - os genitores


nem chegaram a se
3 relacionar

Masculino - os genitores
nem chegaram a se
6 relacionar

Feminino - os genitores
são ex-cônjuge
10

1 Comunicante-padrasto (casado com a comunicante) 11 Feminino

4 Comunicante-tio (casado com a irmã da comunicante) 11 Feminino

11 Masculino

9 Feminino

16 Feminino

1 Comunicante-casado com a prima da comunicante 6 Feminino


9

1 Comunicante-namorado da avó materna e primo da criança Feminino

1 Comunicante-amigo da comunicante 5 Feminino

1 Comunicante-namorado da comunicante 14 Feminino

1 Comunicante-amigo da igreja 7 Feminino

1 Comunicante- tio, casado com tia da comunicante 11 Feminino

1 Comunicante-namorado da madrinha da criança 10 Feminino

1 Comunicante-senhor, serviços gerais da creche 3 Feminino

1 Comunicante-dois vizinhos 16 Feminino

496
1 Comunicante-vizinho 11 Masculino

1 Comunicante-marido da tia paterna 12 Feminino

1 Comunicante-senhor que reside com avó de consideração 3 Feminino

1 Comunicante-pai adotivo 14 Feminino

1 Avó materna-pai (investigação e laudo psicológico 3 Feminino


apontaram para o tio materno da criança)

1 Pai-amigo da comunicante 7 Feminino

1 Tio materno-tio avô materno 9 Feminino

1 Tia materna-pai de uma amiga da escola 9 Feminino

1 Própria vítima-padrasto 17 Feminino

1 Própria vítima-ofensor serial 15 Feminino

1 Irmã da criança-namorado da avó materna 7 Feminino

1 Policial Militar-tio, casado com a irmã da criança 11 Feminino

1 Dique 100-padrasto 7 Feminino

1 Conselho Tutelar-vizinho 9 Feminino

NÃO HOUVE INTERAÇÃO DE CONTEÚDO SEXUAL

13 Comunicante-pai (ex-conjuge) 3 Masculino

3 Feminino

4 Feminino

4 Feminino

5 Feminino

497
1a 9m Feminino

3 Feminino

5 Feminino

6 Masculino

3 Feminino

5 Feminino

3 Feminino

7 Masculino

1 Comunicante-amigo do pai 3 Masculino

1 Comunicante-primo paterno de 2º grau da criança 11 Masculino

1 Comunicante-tia paterna 5 Feminino

1 Comunicante-vizinho 15 Feminino

1 Comunicante-namorado da comunicante 8 Feminino

3 Pai-padrasto 16 Feminino

9 Feminino

6 Feminino

1 Avó paterna-pai 10 Feminino

1 Avó materna-pai 15 Feminino

1 Avó materna-irmão (21a), parte de pai da criança 3 Feminino

1 Dique 100-professor de futebol 14 Masculino

1 Disque 100-pai 12 Feminino

498
1 Conselho Tutelar -pai 16 Feminino

Quadros 9 - Incidência da ocorrência ou não da Interação de Contéudo Sexual, quanto ao: gênero, idade, parelha

comunicante-suspeito e consanguinidade

Os números, quanto a ocorrência da interação de conteúdo sexual, em que a díade suspeito


vítima era consanguínea, linha reta ascendente, com relação de parentesco de 1º grau, temos
0,93% dos casos, com esta característica. Sendo 2 díades pai-filho, e 1 díade pai-filha e com
grande variedade na idade das crianças: 2 crianças do sexo masculino, com idade de 3 e 6
anos; e 1 criança do sexo feminino, com idade de 10 anos.

Apontamos que, das 16 comunicações de crime de comunicantes contra os pais das crianças
consideradas vítimas, destacamos que nestas 13 comunicações que não ocorreram a interação
de conteúdo, em 11 casos (84,61%) a idade das crianças periciadas são as mais tenras, abaixo
de 6 anos. E quanto ao gênero, 90,90% do sexo feminino:

NÃO HOUVE INTERAÇÃO DE CONTEÚDO SEXUAL

Comunicante-suspeito N Idade da criança Gênero

1 1a 9m Feminino

1 3 Masculino
Comunicante-pai (ex-conjuge)
4 3 Feminino

2 4 Feminino

3 5 Feminino

1 6 Masculino

1 7 Masculino

Quadros 10 - Genitoras-comunicantes contra os genitores das supostas vítimas, em que não houve a ocorrência da Interação

de Conteúdo Sexual

Ao passo que, das 31 comunicações em que Houve a Interação de Conteúdo Sexual, a


genitora é comunicante em 21 casos (67,74%). Destes 21 casos em que a comunicante
é a genitora, em 18 (85,71%) casos temos as vítimas com idade acima de 6 anos.
Apresentamos que, nos casos em que Houve a Interação de Conteúdo Sexual, em que

499
a genitora foi comunicante, 17 (80,95%) dos acusados não possuíam nem relação de
consanguinidade nem vínculo por afinidade:

HOUVE INTERAÇÃO DE CONTEÚDO SEXUAL

Qt. Parelha comunicante-suspeito Idade vítima Gênero vítima

3 Comunicante-pai 3 Masculino

6 Masculino

10 Feminino

1 Comunicante-pai adotivo 14 Feminino

1 Comunicante-padrasto (casado com a comunicante) 11 Feminino

4 Comunicante-tio (casado com a irmã da comunicante) 11 Feminino

11 Masculino

9 Feminino

16 Feminino

1 Comunicante-marido da tia paterna 12 Feminino

1 Comunicante-casado com a prima da comunicante 6 Feminino

1 Comunicante-namorado da avó materna e primo da criança 9 Feminino

1 Comunicante-amigo da comunicante 5 Feminino

1 Comunicante-namorado da comunicante 14 Feminino

1 Comunicante-amigo da igreja 7 Feminino

1 Comunicante- tio, casado com tia da comunicante 11 Feminino

1 Comunicante-namorado da madrinha da criança 10 Feminino

500
1 Comunicante-dois vizinhos 16 Feminino

1 Comunicante-vizinho 11 Masculino

1 Comunicante-senhor, serviços gerais da creche 3 Feminino

1 Comunicante-senhor que reside com avó de consideração 3 Feminino

Quadros 11 - Genitoras-comunicantes contra suspeitos, em que Houve a Interação de Conteúdo Sexual

Quanto a laudos e inquéritos finalizados, dos 61 casos, temos 20 suspeitos eram pais
das supostas vítimas, 32,78%. Destas 20 acusações em que o genitor foi acusado de
crime de estupro de vulnerável, 16 acusações, em 80% a comunicante era a comunicante
da criança. Destas 16 acusações, 3, resultaram em interação de conteúdo sexual, sendo
as vítimas: 2 meninos e 1 menina. Os outros 13 casos, não resultaram em interação de
conteúdo sexual, ou seja, não foi confirmado a Interação de Conteúdo Sexual via
perícia psicológica, que foi corroborado pelo relatório do delegado de não
indiciamento.

Por sua vez, destes 13 casos, 5 casos até o momento (2016) foram arquivados, visto que
não foi solicitado outras diligências pelo Ministério Público. Nestes casos, os
Promotores alegaram fato atípico, com o deferimento para o arquivamento do Juiz.
Nestes 5 casos, no Parecer Ministerial, dentre outras justificativas em relação ao
conjunto probatório, partes do laudo psicológico da pesquisadora foi citado.
Destacamos que os 12 casos, em que não foi constatado o crime de estupro de
vulnerável, se referem ao ano de 2014, 2015 e até fevereiro de 2016.

Em termos de porcentagem, dos 61 casos, em que 16, (26,2%) foram comunicações de


crime em que comunicante acusou genitor de estuprar filha (o). Por sua vez, de 61
comunicações, constatou-se o crime de estupro de vulnerável na díade pai-filho (a)
em 3 casos, em 4,9%. Desta forma, das 16 comunicações de crime, em que a acusação
de crime foi da genitora em relação ao genitor, em 13 comunicações, ou seja,
81,25%não foi constatado o crime de estupro de vulnerável entre a parelha pai-filha.

Em relação a ‘prova emprestada’, destes 13 casos, em 3 casos os genitores


apresentaram o laudo psicológico como ‘prova emprestada ’para a esfera cível, em
que na sentença do juiz da vara de família citou partes do laudo psicológico da
pesquisadora. Na oportunidade, nestes 3 casos, 3 distintos promotores criminais,
citaram em seu parecer ministerial partes do laudo da pesquisadora. Nos 3 casos
foram solicitados arquivamentos, frente ao conjunto probatório cuidadosamente
gerenciado pelo delegado do caso. Os arquivamentos foram deferidos pelos juizes.

501
Para finalizar, esclarecemos que não existe pesquisas e tratamento de dados feito pelos
atores das políticas públicas, nem da rede de proteção a criança e ao adolescente, no
contexto da polícia judiciária, ou seja, no nascedouro das investigações de violação de
direitos contra crianças, na esfera criminal. O que existe, são dados do Disque 100,
revelado pelo próprio órgão, a respeito das ‘denúncias ’encaminhadas por este órgão
nacional, via Ministério Público á Delegacia da criança de Goiânia. Com base dos
dados da pesquisadora supracitados, 3 casos se referem ao Disque 100. Os casos do
Disque 100 que chegam a Delegacia, via Ministério Público, são primeiramente
investigados pela equipe principal, delegado-agente de polícia e se em decorrência da
investigação, tenham procedência se constituem como Inquérito Policial.

Destacamos que, os dados da polícia judiciária, não retroalimentam o Sistema da Rede


de Proteção á Criança e ao Adolescente e não são analisados dentro das políticas
públicas. Neves, Castro, Hayeck, & Cury (2010) alertam que as políticas públicas,
estão intimamente relacionadas com os direitos humanos, e não se configuram apenas
em leis, normas e programas, mas também na sua construção e no diálogo entre a
população e o governo por ela legitimado.

Em última análise, o Brasil não possui um dado integrado que possa apresentar a
realidade do fenômeno violência sexual infantil, visto que exigiria um
acompanhamento a longo prazo dos casos. Este acompanhamento deveria ocorrer
desde a comunicação do crime até a sentença do juiz, tanto para os casos em que houve
o indiciamento, quanto para os casos em que não ocorreramo indiciamento. Assim,
deveríamos ter o número de quantos inquéritos foram instaurados nos crimes 217-A
e quantos destes:

a) foram indiciados;

b) não foram indiciados;

c) e quantos se tornaram ação penal.

Pois, pode acontecer de alguns ou todos os indícios, serem tomados como prova ou
serem desprezados, ficando a ação penal desprovida de prova. Ou então algum
indício pode ser parcialmente valorado, mas apresentando-se como prova
insuficiente.

Esta proposta de estudo longitudinal apresentaria com legitimidade o quanto se


responsabiliza criminalmente estes delitos, bem como, as características mais
representativas destes crimes, desde a notícia-crime.

Não há estatística da realidade brasileira no que tange a resolução jurisdicional destes


crimes, visto que, qualquer tentativa que se faça neste sentido, se referem somente aos
casos em que: os suspeitos foram indiciados nos Inquéritos, denunciados pelo

502
Ministério Público e deferida ação penal pelo juiz. Assim, tal análise não favoreceria
a interpretação de todo o fenômeno criminal. Da mesma forma, ao se contabilizar os
crimes pelas notícias-crime, não se considera o quanto destes inquéritos policiais ou
deram origem a denúncias, ou foram arquivados pelo judiciário, seja por falta de
provas, seja, por configurarem fato atípico.

Uma informação muito característica deste tratamento de dado simplificado, diz


respeito as estatísticas que destacam o pai como o principal autor destes crimes. Na
DPCA de Goiânia, o que se constata para tal fenômeno, é que: o maior número de
registro dos casos de estupro de vulnerável, são de comunicantes, que registram
ocorrência contra os pais das crianças consideradas vítimas. Porém, de acordo com o
desenvolvimento do inquérito, o maior número de indiciados se dá com suspeitos
externos à família, conforme dados supracitados.

503
Resultado: PARTE II

A segunda parte dos resultados será apartada do restante do trabalho, visto que, não
poderá ser publicizada, com o intuito de preservar o instrumento desenvolvido, com
a precaução necessária para que não seja utilizado por terceiros externos á área:
psicólogo perito com atuação na fase pré-processual e conhecimento dos princípios
do Behaviorismo Radical, e Análise Funcional do Comportamento Verbal.

Trata-se do instrumental desenvolvido com a finalidade de logística pericial,


levantamento e análise dos dados referente a perícia psicológica no contexto da polícia
judiciária, em que se investiga os crimes que envolvem a interação de conteúdo sexual
entre um adulto e uma criança.

Assim, a PARTE II, será apresentada a seguir:

1. Logística pericial;

2. Entrevistas Contingenciadas Investigativas - ECI;

3. Relatório Analítico;

4. Relatório de Análise dos Indicadores;

5. Laudo pericial.

504
1 Logística Pericial – material sigiloso

2 Entrevistas Contingenciadas com os envolvidos –


material sigiloso

2.1 Entrevista Contingenciada Comunicante – material sigiloso

2.2 Entrevista Contingenciada Suspeito – material sigiloso

3 Laudo Pericial Utilizado

505
4 Roteiro Analítico

A ANÁLISE ELEVA O STATUS DA FALA, À COMPORTAMENTO VERBAL, O

QUE EXIGE CONCEITUAÇÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

SKINNERIANA

Unidade de Análise
A ANÁLISE DEVE SEMPRE SER ORIENTADA:

A) PELO CONTEÚDO E CONTEXTO, QUE FOI IDENTIFICADO NA CONTINGÊN


CIA TRÍPLICE QUE DIRECIONA TODA A ENTREVISTA;

B) PELA SEQUÊNCIA DAS PERGUNTAS ELABORADAS PELO CONCEITO DA ES


TIMULAÇÃO SUPLEMENTAR;

C) PELA QUALIDADE E COERÊNCIA DAS RESPOSTAS EM RELAÇÃO A SE


QUÊNCIA DAS PERGUNTAS;

Operante Verbal
A visão contextualística informa que a classificação efetiva de um operante verbal
deve observar as circunstâncias sob as quais ele é emitido. O significado, ou a função
da palavra, está nas circunstâncias atuais que controlam a resposta e na história do
falante de exposição a contingências semelhantes. Um primeiro aspecto dessas
circunstâncias são as situações antecedentes ao comportamento verbal. Para entendê
las, considere os seguintes exemplos de relações verbais elementares e as
circunstâncias nas quais foram emitidas. Uma vez observada a emissão do operante
verbal - pergunte se as condições antecedentes são do tipo operação estabelecedora
(de privação ou estimulação aversiva) (Michael, 1988) ou estímulo discriminativo.

Tacto
1. Clareza diagnóstica – A clareza diagnóstica aponta com nitidez o resultado da
análise dos relatos por meio do operante verbal tacto, a respeito do fato investigado.

I- (CR - CO) O fato comunicado ocorreu;

II - (CR - CO) O fato comunicado ocorreu com restrições ( ) a mais ou ( ) a menos –


esta condição pode apontar intenção de quem comunicou.

2. Identificação do tacto – “Em todo comportamento verbal sob controle de estímulo,


há três acontecimentos importantes a serem considerados: um estímulo, uma resposta

506
e um reforço. Eles são interdependentes: o estímulo, agindo antes da emissão da
resposta, cria ocasião para que a resposta provavelmente seja reforçada. Sob tal
dependência, mediante um processo de discriminação operante, o estímulo (interação
de conteúdo sexual - meu) torna-se a ocasião em que a resposta provavelmente será
emitida.” (Skinner, 1957, p. 107).

O termo tacto traz consigo, certa sugestão mnemônica do comportamento que


estabelece ‘contacto’ com o mundo físico. Um tacto pode ser definido como um
operante verbal, no qual uma resposta de certa forma é evocada (pelo menos
reforçada) por um objeto particular ou um acontecimento ou propriedade de objeto
ou acontecimento (Skinner, 1957, p. 107). Um tacto, a resposta não ‘se refere a’, seu
estímulo. A única relação funcional útil se expressa na afirmação de que a presença de
um dado estímulo aumenta a probabilidade de ocorrência de uma determinada forma
de resposta (Skinner, 1957, p. 108):

Sinteraçãodeconteúdose��ual− R realização − Sresponsabilização


deumadultocomumacriança decomunicação−crime dosuspeito

Para esta confirmação de tacto, deve ser identificado as variáveis externas, das quais
o comportamento é função, chamada de análise causal ou funcional. Tentamos prever
e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa ‘variável
dependente’ - o efeito para o qual procuramos a causa/função (meu). Nossas
‘variáveis independentes’ – a causa/função (meu) do comportamento – são as
condições externas das quais o comportamento é função. Relações entre as duas – as
‘relações de causa e efeito (Se, Então – meu), no comportamento, são as leis de uma
ciência (Skinner, 1979, 2007; p. 38). Sob tal dependência mediante um processo de
discriminação operante, o estímulo torna-se a ocasião em que a resposta
provavelmente será emitida (Skinner, 1957, p. 107). Para isso, teremos as perguntas
das entrevistas para que o perito possa inferir como ocorreu tal discriminação, que se
trata da resposta do ouvinte (perito com suas perguntas) ao tacto do falante
(entrevistado) (Skinner, 1957; p.113).

Porém, uma medida especial de reforço generalizado levou-o a interpretar mal, ou


distorcer (meu) um ponto da escala de medida (Skinner, 1957, p. 184). Quando o
controle de estímulos não é apenas ‘exagerado’, mas ‘inventado’, uma resposta que
tenha recebido uma medida especial de reforço é emitida na ausência de circunstância
sob as quais ela é caracteristicamente reforçada. Numa distorção ainda maior, uma
resposta é emitida em circunstâncias que normalmente controlam uma resposta
incompatível. Chamamos esta resposta de mentira. Aqui chamaremos de tacto
distorcido.

I- (CR - CO) Tacto:

(CR - CO) contingência de reforço são mais consistentes (Skinner, 1957, p. 147);

507
(CR - CO) o ‘uso das palavras’ (perguntas periciais, meu) a qual parece libertar (meu
grifo) a palavra do comportamento do ouvinte ou falante (neste caso falante), de forma
que ela (as palavras, meu) possa estar em relação de referência com um objeto ou
situação (meu) (Skinner, 1957, p. 113);

(CR – CO) a situação pericial é considerada como um reforço generalizado pelo


falante, não apresenta comportamento de esquiva frente as perguntas periciais;

(CR - CO) responde às perguntas periciais, mais como estímulo discriminativo do que
como reforço (Skinner, 1957; p. 184). Visto que se as perguntas periciais (estímulos
discriminativos), ou o próprio perito (enquanto auditório) reforçarem algum tipo de
comportamento verbal, o falante pode logo mais confinar-se a tipos reforçados por
causa de discriminações anteriores;

II - (CR - CO) Tacto distorcido (Skinner, 1957; p. 184), quando se identifica:

(CR - CO) controle de estímulo ‘exagerado’, ou ‘inventado’, o falante ‘alonga, exagera


os fatos’, quando comparado a:

(CR - CO) teoria – ‘modus operandi de ofensores’;

(CR - CO) etapa de desenvolvimento infantil, quanto a:

(CR - CO) comportamentos não correspondentes para determinada faixa etária;

(CR - CO) repertório vocabular não correspondente para determinada faixa etária;

(CR - CO) dados intra verbais não correspondente que comparecem no inquérito;

(CR - CO) dados entre verbais não correspondentes que comparecem no inquérito;

(CR - CO) dados documentais não correspondente a verbais.

3. Identificação da situação verbal - Existem dois tipos importantes de estímulos de


controle que usualmente são não-verbais (Skinner, 1957, p. 107). Quando a função do
auditório é a de selecionar assunto. Os ouvintes diferem na medida em que reforçam
diferentes tipos de operantes verbais, neste caso especificamente o tacto, (Skinner,
1957, p. 212). Dado um único falante com uma história específica e uma situação geral
específica, o auditório determinará não apenas se ocorrerá o comportamento verbal,
mas também que tipo de respostas são dados e ‘aquilo sobre o que se fala’, o que
podemos chamar de conexão temática. Alguns auditórios constituem ocasião para
uma linguagem ‘imaginativa’, altamente metafórica, destinada a obter efeitos
emocionais mais do que a guiar o comportamento prático do ouvinte (Skinner, 1957,
p. 212; 213). E quando outro estímulo de controle é nada menos que o conjunto do

508
meio físico, o mundo das coisas e acontecimentos a respeito dos quais um falante ‘fala’
(Skinner, 1957, p. 107).

I - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que existiram – tacto, em que o
entrevistado está sob controle do fato (interação de conteúdo sexual de um adulto com
uma criança) e quando a função do auditório é a de selecionar assunto. Plano, ordem
e composição ‘deliberada’, podem ser analisados mais eficazmente (Skinner, 1957; p.
375), quando um sistema de respostas se organiza ao redor de um dado estímulo
(Skinner, 2007; p. 312).

II - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que não existiram – identificação do
tacto distorcido. O controle do estímulo de um tacto tende especialmente a ser
distorcido quando a resposta é emitida esquivando-se ou fugindo de consequências
aversivas (tal como, responder as perguntas periciais). Uma pessoa que distorce,
comporta-se verbalmente de acordo com contingências de reforço estabelecidas por ela
mesma (no caso de distorcer tactos na perícia psicológica), o estado de coisas (o fato
investigado) que, de outro modo, serviria para controla-la pode ter pouca influência
sobre seu comportamento.

III - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que não existiram e acrescer-lhe
detalhes que existiram – tacto distorcido. Podem ocorrer mudanças nas privações
subjacentes a um reforço generalizado (Skinner, 1957; p. 182). O falante pode estar
afetado por variáveis emocionais que, em outra situação, mostram-se bastante
irrelevante ou relevante (meu) para seu comportamento verbal. Além dessas
condições momentâneas, o controle de estímulos pode ser distorcido por certas
consequências especiais, proporcionadas por um ouvinte em particular (escrivão,
perito, delegado, juízo) ou por ouvintes em geral sob determinadas circunstâncias
(Skinner, 1957; p. 182). Quando a relação de controle é assim distorcida ou deformada,
chamamos a resposta de:

(CR - CO) ‘subjetiva’;

(CR - CO) ‘preconcebida’;

(CR - CO) ‘tendenciosa’;

(CR - CO) ‘ansiosa’ (Skinner, 1957; p. 182).

IV - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que existiram e acrescer-lhe detalhes que
não existiram. A mera emissão de uma resposta, não importa quão dinâmica ela seja,
não serve como substituto para a asserção. Neste caso as variáveis relevantes não estão
presentes no fato periciado, o que ocasiona incompatibilidade as respostas periciais,
pois o meio do qual o comportamento é função não se refere ao caso, e sim as
condições do falante, desta forma não há razão para se esperar consistência no

509
comportamento (Skinner, 2007; p. 313). São dois sistemas de respostas apropriados a
diferente conjunto de circunstâncias (Skinner, 2007; p. 313), um em que o entrevistado
está sob controle do fato e outro que está sendo reforçado pelo efeito de seu relato ao
perito, ambos comparecem.

V - (CR - CO) Pessoas podem relatar situações que existiram e retirar detalhes que
existiram;

3.1 Resultado do tacto quanto a identificação da situação verbal: é identificado por


meio da junção Identificação da Situação Verbal relacionado a Dados do Inquérito Policial
– Indicadores:

I - (CR - CO) Falsas comunicações-crimes - este termo será utilizado conforme


literatura, para explicitar a queixa crime que é falsa, ou seja, a comunicante tem o
conhecimento de que aquilo que comunica, não ocorreu (Grace, Lloyd e Smith, 1992).
Assim, a incitação de fatos que não ocorreram, é identificada por meio de tactos
distorcidos, identificados na análise da junção dos dados da: Identificação da Situação
Verbal relacionado a Dados do Inquérito Policial – Indicadores

II - (CR - CO) Ocultar fatos que ocorreram – existe a ocorrência do fato a ser
investigado, porém, eventos podem ser protegidos, quando se oculta dados em favor
de si mesmo. A identificação de eventos ocultados ocorre ao analisar a comparação
dos dados, na junção Identificação da Situação Verbal relacionado a Dados do Inquérito
Policial – Indicadores quanto a ocorrência de fatos.

III - (CR - CO) Desvirtuar fatos – a fatos que ocorreram, acrescenta a fabricação de
fatos que não ocorreram, acrescentar detalhes ou eventos ocorre para agravar a
situação. A identificação de detalhes ou eventos agravados, ocorre ao analisar a
comparação dos dados, na junção Identificação da Situação Verbal relacionado a Dados
do Inquérito Policial – Indicadores quanto a ocorrência de fatos.

4. Esquiva frente as perguntas periciais – em relação as perguntas periciais, o perito


enquanto falante, ‘anuncia’, cujo o efeito é ‘deixar o ouvinte tomar conhecimento’, no
sentido de leva-lo a uma ação específica (Skinner, 1957; p. 187) e esperada (meu). Em
que as perguntas - para quem emite tactos e não tactos distorcidos - desencadeia a ação
apropriada a cada pergunta, ou seja, a resposta esperada em relação a temática de
interações sexuais de um adulto com uma criança e por ser neste momento o -
entrevistado, um ouvinte. Falante e ouvinte devem estar de posse do mesmo fato, ao
considerarmos

Sinteraçãodeconteúdose��ual
deumadultocomumacriança

510
como única fonte de força, em que um tacto sob controle deste estímulo particular e
que adquire efeito especial sobre o ouvinte (perito) será emitido com muito mais
probabilidade (Skinner, 1957; p. 275).

Nesta situação, a identificação de tactos distorcidos do falante, pode ser reconhecido


em momentos específicos da situação pericial. Neste caso ocorre, quando o falante
‘superestima’ o fato, e rompe com o controle de estímulo (Skinner, 1957; p. 287), como
na ficção ou na mentira, em que temos que considerar duas fontes de força (Skinner,
1957; p. 287).

Sinteraçãodeconteúdose��ual− R realização − Sresponsabilização


deumadultocomumacriança decomunicação−crime dosuspeito

E por sua vez, o falante (entrevistado), na presença de um auditório particular (o


perito como uma variável) (Skinner, 1957; 275), um amplo grupo de respostas tem
uma força maior na presença de um auditório particular, o falante (entrevistado) deve
emitir uma resposta que é ao mesmo tempo ‘apropriada ao auditório’ e ‘ descritiva do
objeto’(Skinner, 1957; 275).

Ao passo que, quando o falante (entrevistado) passa a ‘descrever cenas que nunca
vira’ ou ‘relatar histórias’, pode estar controlado pelas contingências de reforço, que
ele mesmo pode suprir como seu próprio ouvinte (Skinner, 1957; p. 185).

O tacto distorcido é temporariamente mais eficaz porque atua sobre uma tendência
maior do ouvinte (perito) em responder de modo mais apropriado (Skinner, 1957; p.
189). O que é esperado pelo falante (entrevistado). O controle de estímulo de um tacto
tende especialmente a ser distorcido, quando a resposta é emitida, esquivando-se ou
fugindo de consequências aversivas (Skinner, 1957; p. 189) que pode ser reconhecido
pelo perito, nas respostas do entrevistado, com: respostas deficitárias (responde em
partes as perguntas periciais), respostas declinadas (não respondem as perguntas
periciais – ‘não sei!’), emoção desvirtuada ( a maneira mais apropriada de gerar uma
emoção é frente a um estímulo apropriado, neste caso inapropriado; Skinner, 1957; p.
190) em que o falante pode exagerar, ‘extrapolar o tacto’ por responder a reforço
generalizado e não por estímulo discriminativo, o fato (interação de conteúdo sexual
de um adulto com uma criança).

I - (CR - CO) Alta ocorrência de esquiva – não responde às perguntas periciais, por
estar sob controle de uma temática ‘subjetiva’ que não seja o fato investigado;

II - (CR - CO) Dificuldade de manter-se na centralidade temática - se alonga de tal


modo nos tactos que passa a liberar respostas independentemente de sua
correspondência com ‘os fatos’ (Skinner, 1957; p.186);

III - (CR - CO) Respostas deficitárias - responde em partes as perguntas periciais;

511
IV- (CR - CO) Respostas declinadas - não respondem as perguntas periciais – ‘não
sei!’;

V - (CR - CO) Emoção desvirtuada – gera emoção frente a um estímulo inapropriado


(pergunta), neste caso, não se identifica emparelhamento de estímulos;

VI - (CR - CO) Vindicação e impaciência em responder - passa a emitir mais mandos,


mando permite que o ouvinte infira algo acerca da condição do falante (Skinner, 1957;
110, 111). A pessoa envolvida pelas contingências (necessidade de responder as
perguntas) que a ela, geram sentimentos de insatisfação, emite comportamentos de
contra-controle, de se defender do sistema de contingências (usualmente respostas de
fuga-esquiva, reforçadas negativamente, tais como se desculpar, interromper o
comportamento “inadequado” etc.). E emite comportamentos de contra-controle ao
ponto de tentar modificar o sistema de contingências. Assim, ele se posta de maneira
reivindicativa e: questiona a classificação comportamental ‘de desconforto’ de si
próprio na perícia e questiona a agência controladora, do: ‘porquê de tais perguntas’.
(Guilhardi, 2002)

Guilhardi, H. J. (2002). Análise comportamental do sentimento de culpa. Ciência do comportamento:


conhecer e avançar, 1, 173-200.

5. Identificação de reivindicação e insatisfação verbal em situação pericial – Existem


dois tipos importantes de estímulos de controle que usualmente são não-verbais
(Skinner, 1957, p. 107). Estes dois tipos de estímulos irão diferenciar o falante
(comunicante e suposta vítima) quanto a pureza do tacto emitido, em que um deles o
auditório (perito), controla caracteristicamente um amplo grupo de resposta. Neste
momento podemos identificar mandos, com características de tacto, pelo simples fato
do falante (comunicante), ao relatar um fato, espera certas consequências no ouvinte,
de seu comportamento verbal (Skinner, 1957, p. 55). O ouvinte como parte essencial
da situação na qual o comportamento verbal é observado, é por sua vez um estímulo
de discriminação. Ele é parte de uma ocasião na qual o comportamento verbal é
reforçado e por isso, torna-se parte da situação que controla a força do
comportamento, distinta da ação do ouvinte em reforçar o comportamento. Nessa
medida como ouvinte estimula o falante antes da emissão do comportamento verbal,
podemos falar dele como de um auditório. O auditório (quando o perito é considerado
pelo entrevistado) será um estímulo discriminativo na presença do qual o
comportamento verbal é caracteristicamente reforçado e em cuja presença ele á
caracteristicamente reforçado e em cuja presença ele é caracteristicamente forte
(Skinner, 1957, p. 209). Em que o mando, funciona principalmente para benefício do
falante, em que ao analisar o episódio vocal entre entrevistado e perito, identifica-se
que frente a determinadas perguntas o entrevistado respondeu como a um estímulo
aversivo (Skinner, 1957, p. 57).

512
O tacto contrasta claramente com as relações de controle do mando onde os resultados
mais eficientes são obtidos quando se rompe qualquer conexão com o estímulo
anterior, deixando assim a privação ou a estimulação aversiva no controle da resposta
(Skinner, 1957; p. 108,109).Visto que o mando, é reforçado especificamente pelo objeto
ou acontecimento especificado no próprio mando, todos os demais são mantidos por
reforço generalizado (Borloti Elizeu, 2004). Um mando é uma resposta verbal que
especifica o seu reforçador (Catania, 1998, p. 419) e esta relação específica entre a
resposta e o seu reforçador é dependente de operações estabelecedoras relevantes, de
privação ou de estimulação aversiva (Skinner, 1957, p. 35-36). Somente uma análise
funcional de antecedentes e conseqüentes poderá explicitar a função das palavras
(Borloti Elizeu, 2004). A análise da função de outras variáveis do contexto também
poderá explicitar o controle único ou múltiplo sobre um operante verbal que parece
um mando.

No tacto por sua vez, estabelecemos uma relação excepcional com um estímulo
discriminativo (Skinner, 1957; p. 108,109).

O mando permite que o ouvinte infira algo acerca da condição do falante,


independentemente das circunstâncias externas, enquanto que o tacto permite que o
ouvinte infira algo acerca das circunstâncias, independentemente da condição do
falante (Skinner, 1957; 110, 111). Estas ‘inferências’ precisam ser claramente
representadas pela análise das práticas reforçadoras que mantém atuante o mando e
o tacto (Skinner, 1957; 110, 111).

I - (CR - CO) Entrevistados emitem mando, quando o esperado são tactos, pelo
simples fato, que o entrevistado deve responder a um conjunto do meio físico, o
mundo das coisas e acontecimentos, em que o comportamento verbal está sob controle
de tais estímulos (Skinner, 1957, p. 107), neste caso, responder a interação de conteúdo
sexual de um adulto com uma criança.

II - (CR – CO) Quando o tacto contrasta claramente com as relações de controle do


mando, em que os resultados mais eficientes são obtidos quando se rompe qualquer
conexão com o estímulo anterior, deixando assim a privação ou a estimulação aversiva
no controle da resposta (Skinner, 1957; p. 108,109).

III - (CR – CO) O entrevistado fica sob controle do auditório (quando o perito é
considerado pelo entrevistado) que será um estímulo discriminativo na presença do
qual o comportamento verbal é caracteristicamente reforçado e em cuja presença ele
á caracteristicamente reforçado e em cuja presença ele é caracteristicamente forte
(Skinner, 1957, p. 209). Visto que, no tacto, estabelecemos uma relação excepcional
com um estímulo discriminativo (Skinner, 1957; p. 108,109)

6. Manejo da informação – identifica-se por meio do tacto distorcido. Medidas especiais


de reforço generalizado são mais obviamente eficazes quando levam a uma real

513
distorção do controle de estímulos. Ou em um grau menor, o falante simplesmente
‘alonga, exagera os fatos’, ele superestima o tamanho de algo/situação, ou minimiza
algo/situação (Skinner, 1957, p. 184, grifo meu)

I- (CR - CO) Tacto distorcido (Skinner, 1957) da comunicante – “o controle de estímulo


não é apenas ‘exagerado’, mas ‘inventado’. Uma resposta (grifo meu) que tenha
recebido uma medida especial de reforço é emitida na ausência de circunstâncias sob
as quais ela é caracteristicamente reforçada” (Skinner, 1957, p. 185). Ou seja, “uma
resposta que tenha sido entusiasticamente (ou aceitavelmente, meu) bem recebida
numa ocasião, é repetida em ocasião diferente e inapropriada (em perícia psicológica,
frente ao perito, meu).

II - (CR - CO) Tacto distorcido da comunicante e sugestionabilidade a criança

III - (CR - CO) Tacto distorcido da criança

IV - (CR - CO) Cedência da criança – ocorre quando a criança cede á entrevista do


adulto responsável. Cedência da criança quanto a informação repassada pelo adulto
responsável e ou construída por meio do estilo de questionamento, que por sua vez,
repete o tacto distorcido.

7. Sugestionabilidade – Momento em que o questionador modela o comportamento de


seu sujeito simplesmente dando algum leve ‘sinal de aprovação’ contingente a uma
propriedade selecionada do comportamento (Skinner, 1957, p. 184). Ou quando um
falante pode ser induzido a destacar assuntos particulares mediante a mesma técnica
(Skinner, 1957, p. 184); mas neste caso a aprovação do ouvinte pode atuar como um
estímulo discriminativo mais do que como um reforço. Se o adulto responsável, reforça
alguns tipos de comportamento verbal, e outros não, o falante pode logo mais
confinar-se a tipos reforçados por causa de discriminações anteriores (Skinner, 1957,
p. 184). Neste caso quando um simples sorriso ou meneio de cabeça produzem o efeito
em questão (Skinner, 1957, p. 184). Identificação do tacto ampliado (Skinner, 1957, p.
184), por meio do tacto com características de ‘extensão genérica’, por meio de:

I - ( ) por meio do relato da comunicante, esta apresenta repertório verbal


incompatível a idade cronológica da criança, em relação a etapa do desenvolvimento
infantil;

II - ( ) criança apresenta repertório verbal incompatível a sua idade cronológica, em


relação sua etapa do desenvolvimento infantil, de acordo com o relato da
comunicante;

III - ( ) criança apresenta ‘tacto impuro’, quando é identificado o reforço especial do


comportamento operante do ouvinte (Skinner, 1957, p. 186) (adulto responsável), em que

514
a criança apresenta um ouvinte específico que frequentemente realiza uma ação
específica em relação ao que é dito (Skinner, 1957, p. 187).

IV - ( ) mandos disfarçados são respostas verbais que possuem topografia de tato,


mas que estão sob o controle de reforçadores específicos a serem oferecidos pelo
ouvinte (Skinner, 1957/1978). Possuem a forma de um tato, contudo está sob o
controle de um reforço específico a ser provido pelo ouvinte, neste caso, o adulto
responsável não pode emitir um mando direto, visto que a criança pode divulgar tal
solicitação.

Desta forma por meio das perguntas periciais em que ao se identificar contextos
específicos neutros, a criança relata como foi questionada. Quando a criança apresenta
o cenário em que se encontrava, quando em contexto neutro foi questionada em
relação ao fato Interação de Conteúdo Sexual – ICS, pelo adulto responsável, trata-se
da Sugestionabilidade. Quando o adulto responsável questiona (mando), perguntas
de um fato tão específico, em contexto não correspondente ao fato (Skinner, 1957, p.
187), o falante está mais interessado em ‘deixar que o ouvinte se informe acerca de
alguma coisa’ (Skinner, 1957, p. 187). Isto é, a força de seu comportamento é
determinada principalmente pelo comportamento que o ouvinte exibirá em relação a
um certo estado de coisas (Skinner, 1957, p. 187), neste caso ao questionamento, O
QUE se fala ao perguntar. Afinal de contas, uma grande variedade de efeitos especiais
sobre ouvintes especiais pode ter o mesmo resultado que um reforço generalizado
sustentado, e o controle exercido pela situação usual de estímulo pode ser mantido
(Skinner, 1957, p. 187). Mas o efeito especial tende mais a colocar o comportamento
sob o controle de variáveis especiais (Skinner, 1957, p. 187). Neste caso, deve-se
distinguir a ‘mesma palavra’, ‘a mesma forma de resposta’, em diferentes tipos de
operantes (Skinner, 1957, p. 227), precisamos aceitar o fato que o mando ‘mamãe beija’
e o tacto ‘mamãe beija’ envolvem relações funcionais distintas, que só podem ser
explicadas descobrindo-se as variáveis relevantes (Skinner, 1957, p. 227), em que as
variáveis de controle do tacto, são não-verbais, e do mando, verbais.

Quando analisamos o repertório verbal, ‘a palavra’, como unidade de análise, é mais


apropriada às práticas de comunidade verbal do que o comportamento de cada falante
(criança) (Skinner, 1957, p. 227). Mando disfarçado não mantém ‘falas’.

O que o adulto responsável faz em situação de sugestionabilidade é atuar - como se


age e fala ao questionar (mando disfarçado) com uma forma de comportamento cujo
efeito é o de ‘deixar o ouvinte tomar conhecimento’, no sentido de leva-lo a uma ação
específica, é comumente chamada de ‘anúncio’. O ‘anúncio’ difere da descrição
principalmente por que a forma de ação que o ouvinte dever realizar já está
determinada (Skinner, 1957, p. 187). Um anúncio ‘chama a atenção do ouvinte’ para
um estímulo que, então, possui um efeito próprio. Tactos deste tipo às vezes são

515
precedidos por mandos que especificam a ação que colocará determinado estímulo sob
controle (Skinner, 1957, p. 187, 188)

8. Análise geral para identificação genuína do comportamento verbal – O que se leva em


consideração aqui, não é apenas que certas formas específicas de comportamento
verbal são observadas, mas que elas são observadas em circunstâncias específicas.
Estas circunstâncias controladoras acrescentam um caráter dinâmico ao ‘repertório’
que falta ao ‘vocabulário’ (Skinner, 1957, p. 38).

I - Quanto a forma:

(CR - CO) Relato que comparece manejo da informação - presença de tacto distorcido
e cedência da criança quanto a informação repassada e ou construída por meio do
estilo de questionamento que constrói o tacto distorcido – será identificado com base
documental apresentados ao inquérito e por meio de intra e entre verbais dos
envolvidos nos Termos do Inquérito Policial, em que se busca identificar a qualidade
verbal, quando não há presença de manejo da informação, nem de
sugestionabilidade), que aponta a clareza diagnóstica;

(CR - CO) Quantidade de tactos extensos ou extrapolados identificados,


sugestionabilidade; A extensão genérica é uma ocorrência muito próxima à ocorrência
padrão, o que pode dificultar a distinção entre esses dois tipos de ocorrências do tacto.
A diferença reside entre uma emissão controlada, por exemplo, por uma cadeira
específica, que já controlou emissões anteriores do tacto, ou por qualquer cadeira nova
com a qual o falante se depare dali por diante (Skinner, 1957, p. 91).

(CR - CO) Rejeitar uma resposta reduz a estimulação aversiva condicionada gerada
por ela e é reforçada por isso (Skinner, 1957, p. 444). O comportamento restritivo,
comum em auto-ouvintes, deve ser classificado como fuga ou evitação (Skinner, 1957,
p. 444, 446):

(CR - CO) Reaver uma resposta – constitui uma forma de fuga. Nós não apenas
‘reavemos’ uma resposta passível de punição, ou a seguramos na ‘ponta da língua’,
como também suportamos uma reação de medo ou culpa. Mas a emoção (quer ela seja
‘sentida’ ou não) não é essencial á rejeição, ela é muito lenta para produzir uma
correção subvocal instantânea. (Ela pode alterar a força da resposta punida pelo fato
de entrar em conflito com variáveis motivadoras ou emocionais de que a resposta é
função); (Skinner, 1957, p. 446)

(CR - CO) Temáticas de esquiva – momentos em que frente a perguntas do perito, o


entrevistado responde temáticas não correspondente à pergunta - fuga;

516
(CR - CO) Quantidade de acréscimo de temas de interesse próprio. Tapar a boca com
a mão para prevenir uma resposta aberta é claramente uma evitação, assim como o
fato de se dizer algo em seu lugar; (Skinner, 1957, p. 446)

(CR - CO) Temáticas de despiste – momentos em que o entrevistado traz temáticas


que não são complementares ou relevantes ao fato - evitação;

(CR - CO) Dispersão temática frente as perguntas – tacto extenso;

II – Quanto ao caráter dinâmico/evidência para ocorrência – Se duas ou mais


propriedades do comportamento indicam a mesma coisa elas devem variar juntas,
MAS energia, velocidade e repetição nem sempre satisfazem estas evidências.

(CR – CO) A probabilidade de resposta (Skinner, 1957,p.38) – Algumas partes do


repertório verbal surgem mais provavelmente que outras. Esta probabilidade é um
conceito importante, nosso dado básico não é a ocorrência de uma dada resposta
enquanto tal, mas a probabilidade de que ela venha a ocorrer num certo momento.
Cada operante verbal pode ser concebido como tendo, sob circunstâncias específicas,
uma probabilidade de emissão que pode ser determinada – emissão
convenientemente chamada de sua ‘resistência’ (The Behavior of Organism, 1938,
Skinner). Baseamos a noção de resistência em vários tipos de evidência:

(CR – CO) A emissão de resposta – (Skinner, 1978 – pg. 38,39) – Se a resposta é emitida,
o operante provavelmente é resistente. A emissão de uma resposta constitui uma
medida de tudo ou nada. Ela nos permite inferir a força (aquilo que se mantém pelo
condicionamento e resistência) apenas em termos da adequação das condições em que
ocorre a emissão. Todavia, a emissão é um sinal melhor de força se as circunstâncias
são pouco comuns:

(CR – CO) lapso verbal – a resposta que se introduz ou que deforma o comportamento,
não é apropriada para a situação imediata, mas apesar disso surge como
especialmente forte; (Skinner, 1978 – pg. 39)

(CR – CO) resposta que aparece em circunstâncias ambíguas, difíceis ou não


apropriadas mas não é um lapso, provavelmente é forte pela mesma razão, evidencia
repertórios especialmente fortes; (Skinner, 1978 – pg. 39)

(CR – CO) relação (CR – CO) alta (CR – CO) baixa; entre a emoção e probabilidade de
uma emissão comportamental específica, em contexto específico, neste caso correlato
ao fato apresentado; (Skinner, 1978 – pg. 39)

(CR – CO) Autocorreção – se a correção deve ocorrer, o falante terá de reagir como um
ouvinte do seu próprio comportamento (Skinner, 1978 – pg. 459). Desta forma, quando
o fato ‘interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança’, não o controla –
é mais comum que o falante esteja respondendo a seu próprio comportamento do que

517
às variáveis que o controlam. A relação de controle com as variáveis de controle pode
ser tênue ou obscura, ou ainda não-percebida, por que a punição recebida foi (pode
ser, meu) contingente. (Skinner, 1978 – pg. 462)

III – Quanto a energia:

(CR – CO) O nível de energia (intensidade - entonação) – no relato verbal é preciso


especificar o fato de que, sob certas condições especiais podem confundir a
importância relativa do indicador, mas não na sua direção ou sinal. Energia,
velocidade e repetição são afetadas por condições especiais de reforço (Skinner, 1978
– pg. 42, 43) – O nível de energia sugere que a força está numa escala contínua que vai
de zero até um valor muito alto, e que não deve ser confundida com ‘resistência’, como
sinônimo de probabilidade. Uma palavra energeticamente prolongada, não é apenas
uma resposta forte, mas sugere uma forte tendência em responder, tendência que não
seria dominada por forças competitivas (a exemplo, um ‘nãaaaaaaaoooooooo!’),
podemos inferir o que é de especial importância para o falante, ao emitir tal vocal. A
energia parece variar com a probabilidade de ocorrência do fato, e muitas vezes é
aceita como medida de força (Skinner, 1978 - pg. 39,40). Neste caso, detecta-se
intensidade (pode ser indicador de resistência), o grau de intensidade do nível de
resposta tende a variar com a energia, quanto mais alto a resposta, mais alto o nível
de energia. E o grau de intensidade e entonação adequada. É possível que energia e
probabilidade (e não possibilidade) variem, uma em função da outra, apenas depois
que a energia da resposta tenha sido diferencialmente reforçada (Science and Human
Behavior, p. 95).

(CR - CO) Velocidade verbal:

(CR - CO) baixa – o tempo de latência alto entre a pergunta e a resposta. Ocorre em
detrimento das circunstâncias controladoras, que não se refere ao fato analisado.
Hesitação revela pouca força. Uma demora na resposta nos leva a suspeitar que algo
está possivelmente errado nas circunstâncias controladoras. A fraqueza pode dever
se a um comportamento competitivo. (Skinner, 1978, pg. 40);

(CR - CO) alta – o tempo de latência baixo, ou inexistente entre a pergunta pericial e a
resposta. Ocorre em detrimento das circunstâncias controladoras, que não se refere ao
fato analisado. Uma resposta pronta/ rápida indica que o falante estava ‘fortemente
inclinado a dá-la’. (Skinner, 1978, pg. 40);

(CR – CO) repetição – uma indicação de força é a repetição imediata de uma resposta.
Energia da resposta e repetição podem combinar-se. A repetição é aparentemente
responsável por uma classe de expressões que envolvem uma ênfase especial
(Skinner, 1978, pg. 42).

IV – Quanto a evidência de força em relação a alta frequência– (Skinner, 1978, pg. 44).

518
(CR – CO) Frequência alta (Skinner, 1978, pg. 44) – Em qual tema se concentra a
centralidade temática do indivíduo. Para isso, consideramos a maneira pela qual,
diversas variáveis do fato, por estarem combinadas, são emitidas, por serem
suficientemente fortes, por representarem um determinado fato. Com isso,
identificamos o quanto é significativo, a inclinação do falante para falar sobre
determinado assunto (Skinner, 1978, pg. 44).

(CR – CO) Probabilidade e exemplo isolado – por meio das relações funcionais do
comportamento verbal, busca-se a força de uma única resposta: ‘emitir a respeito da
interação de conteúdo sexual de um adulto com uma criança’ e sob quais condições
ela ocorreu (Skinner, 1978, pg. 273).

Relação entre a magnitude do estímulo e intensidade da resposta - tais como: as


respostas emocionais (magnitude da resposta) frente aos fatos ocorridos (intensidade
do estímulo) e o auto-relato corpóreo (Moreira 2007, pg. 26).

V - (CR – CO) No relato há presença das fases da interação sexual, no que tange a:
coerência (sintomatologia), peculiaridade particular do contexto (isolamento) e
manutenção do ciclo violento (ameaça);

Análise do Relato quanto a Estrutura e Conteúdo


Trata-se de avaliar as características gerais do relato, quanto a característica de coerência
comportamental frente ao fato, que são relacionados a fatos de interação de conteúdo
sexual. Neste tópico, são indicadores que buscam no relato as unidades comportamentais,
com características específicas, principalmente em adequação a idade cronológica da criança,
bem como, em composição e correlativa ao seu nível de maturação cognitiva e fase de
desenvolvimento. Atender as características quanto a ocorrência do fato neste tópico, aponta
para uma alta coerência dos dados do relato em relação as características de episódios de
interação sexual e consequentemente de elevada credibilidade.

1. Indicadores Gerais do Fato quanto a Condição e Conteúdo

I. Condições suficientes para realização de comunicação-crime – trata-se da identificação


de motivações nas etapas de pré e pós interação sexual:

( ) Revelação – refere-se ao momento do relato em que a criança descreve: para quem,


onde, como e por que revelou a violência sofrida. se envolve a situação do segredo (Berliner
& Conte, 1995) ou recompensa, com foco no período que as vítimas levam para revelar a
violência sexual. Para a análise deste tópico estão relacionados a alguns fatores, como: a quem
primeiramente foi revelado, local em que foi revelado, tempo entre o fato e a revelação,
levantamento de possíveis ganhos secundários envolvidos, o que se fazia neste momento, a
idade da vítima, a idade do agressor, o tipo de violência (intrafamiliar ou extrafamiliar), as
conseqüências negativas e a percepção do grau de responsabilidade dos envolvidos frente ao
abuso (Goodman-Brown et al., 2003); Tempo entre a Revelação e a Denúncia - Trata-se de

519
uma atitude muito complexa para a criança, que pode ser expressa de várias maneiras, sendo
estas:

( ) Imediata - assim que acontece a violência sexual, a criança revela para alguém, seja
em casa ou na escola. É a situação mais rara de se encontrar, visto que a criança leva
um tempo para assimilar o ocorrido e tomar providências em relação á sua segurança.
Tal atitude é mais rara de ocorrer, pois geralmente são pessoas próximas e de
confiança da família e ou parentes do convívio da criança, que realizaram tal ato,
dificultando mais ainda o entendimento da criança em relação ao que está
acontecendo.

( ) Espontânea ou comportamental - quando os pais e ou a escola percebem


comportamentos de conteúdo atípico, associados a mudanças comportamentais que
passam a chamar atenção dos pais e ou professores. Este tipo de revelação, é de difícil
detecção, visto que a observação se dá em comportamentos não-verbais, que pos sua
vez exige o conhecimento de contingências de reforçamento, que discrimina contexto
e classe de respostas. Auxilia crianças de tenra idade.

( ) Revelação seletiva - em que a criança escolhe a pessoa para quem irá revelar, geralmente
para uma amiga, prima, tia.

( ) Revelação proposital – a criança se encontra em um contexto pouco propício para a


revelação, quando: a comunicante está muito envolvida emocionalmente com o
suspeito, existe uma relação de conflito entre a criança/adolescente e a família, em
específico o suspeito e ou uma relação muito conflituosa e distante com a
comunicante. Nesta situação decorre até meses entre a ocorrência das interações e a
revelação. Neste caso poderemos encontrar também a situação de ameaça, o que eleva
a credibilidade do relato em não revelar.

( ) Revelação acidental – a criança narra a violência, após a intervenção de um terceiro,


externo a família ou não, a criança narra o episódio de violência sexual, após a
narrativa de um terceiro referente há fatos de violência sexual ou similares. Muito
comum a criança ver no noticiário da televisão e realizar uma correspondência com o
que já experienciou e revelar, tais como:

( ) um terceiro testemunhar sua experiência e por correspondência a criança


correlaciona os fatos e revela. Geralmente ocorre em redações na escola, após uma
reportagem na televisão, filmes;

( ) ocorre também após um terceiro presenciar e narrar o fato, e com isso a vítima
revela;

( ) quando um terceiro (geralmente na escola), está falando de algum contexto


específico e que por algum motivo a criança faz uma correspondência e começa a

520
revelar. Este comportamento da criança causa espanto, em função da revelação do fato
surpresa e inesperado.

( ) Crédito à revelação – este episódio refere-se a quantidade de pessoas que acreditam


na história da vítima, em especial sua comunicante. Quando não há o crédito materno,
a motivação pela qual a comunicante não acredita deverá estar vinculada ao fato e
comportamento da criança, e nunca em relação ao suspeito. Ou seja, a comunicante
não deverá fazer referência ao que o suspeito é capaz ou não de realizar, tipo: “Ele
nunca faria isso!”

( ) Comunicação-crime – este episódio é marcado especialmente por QUEM fez a


comunicação-crime e que envolve especialmente a proposição que levou a entregar o
fato para as autoridades policiais. Toda a comunicação de crime, pode estar implícito
também possíveis ganhos secundários (o que se ganha e o que se perde) nesta ação.
No caso de uma denúncia com alto grau de correlação ao dano, teremos as motivações
internas sempre voltadas para uma busca de justiça em relação ao prejuízo vivido pela
criança, sendo este o fator motivacional (Echeburúa e Subijana, 2008) primário. Em
relação as motivações externas, estas estão voltadas para as percepções ambientais,
neste tópico existe uma preocupação de como ficará a criança, sempre com uma
projeção de futuro, está muito voltada para as percepções vividas com a criança, existe
uma preocupação real com a mesma. Neste tópico deve estar atento quanto ao tempo
de latência entre a revelação e a comunicação-crime.

( ) comunicação interessada – a comunicante fica sabendo do fato e se dirige a


delegacia;

( ) comunicação terceirizada – quando a comunicação é realizado ou motivado por


vizinhos e denúncia anônima. Neste caso deve ficar claro QUAL o motivo que levaria
pessoas a realizar tal denuncia e PORQUE o cuidador da criança não o fez;

( ) comunicação promovida - quando o episódio é realizado pelo sistema de garantia


de direitos, como: OAB, igreja, Disque 100, Conselho Tutelar, MP. Geralmente existe
o apoio da escola para esta ocorrência.

( ) Repressão – trata-se de um episódio que aponta para alta credibilidade da


comunicação-crime, pois o comportamento do suspeito quando ocorre de maneira
desajustada o compromete em função de buscar-se uma motivação para tal atitude,
tais como:

( ) o suspeito liga e faz ameaças;

( ) o suspeito vai a casa da vítima e faz ameaças;

( ) o suspeito vai a casa da vítima e solicita que se retire a comunicação;

521
( ) o suspeito diz que vai tirar a comunicante de casa;

( ) o suspeito foge e continua a fazer ameaças.

( ) Restauração – neste tópico existe uma necessidade de resolutividade do caso


quanto a violência sofrida pela criança e não em relação a punição da pessoa do
suspeito. Com isso quando a demanda encontra-se com este foco, trabalha-se com a
ausência da motivação primária, em que está presente uma situação externa ao fato
para ser resolvida

( ) Pós-denúncia – comportamentos da criança e da família após a denúncia,


comportamento do suspeito em relação a família e a criança, bem como levantamento
de associações e correlações de fatos e comportamentos dos envolvidos (diretos e
indiretos) em relação a interação sexual investigada;

II - Peculiaridade quanto ao fato – quando se identifica conteúdo no relato que são


apresentados pela criança e ou comunicante ao verbalizar o fato, sendo que, estes
conteúdos são aferidos pelo perito ao serem expressadas por quem as relata e que tem
como avaliação final a identificação das peculiaridades da interação sexual que
apontam para o perito a apropriação de indicadores para a ocorrência ou não do fato:

( ) Detalhes inusitados – trata-se do efeito surpresa, inesperado, quando no relato


existe a presença de detalhes pouco comuns e com a menção de aspectos concretos,
em relação a espaço físico específico (carro, banheiro, local de trabalho) e objetos
surpreendentes ou estranhos (armas, capas, perucas) acompanhados de
comportamentos dúbios, que expressam ambivalência comportamental em relação ao
ambiente – generalização em relação a familiaridade.

( ) Detalhes supérfulos – neste critério existe a menção de detalhes recordado, que não
se relaciona diretamente com a interação sexual, pouco relevantes para apoiar a
acusação e que em função da sua irrelevância implica em um exercício em relação a
contato e rotina - familiaridade. Ex.: “ele fazia doce”, “ele gostava de bola”.

( ) Incompreensão de detalhes relatados com precisão – trata-se da narração de detalhes


e que pela experiência da criança ou escassez de conhecimentos sexuais, não se
resultam compreensíveis, e que faz sentido em determinado contexto, da contingência
investigada. Cabe destacar neste ponto, a particular percepção da criança em relação
a “vivência” e a ausência de uma possível “sugestionabilidade”, para fazer se cumprir
tal critério. Adquire maior valoração em função da idade tenra da criança e no que se
refere a idade cognitiva para a incompreensão de tais eventos.

( ) Alusão ao estado mental subjetivo da criança – este critério está em relação a


referência espontânea que a criança faz a respeito de suas emoções, tremores e

522
pensamentos, experimentado por ela durante o episódio abusivo. Assim como a
mudança destes estados durante o transcurso do evento;

( ) Atribuições ao estado mental do suspeito – categoria que faz referência a


verbalização que a criança efetua a respeito dos pensamentos, sentimentos e motivos
atribuídos ao suspeito durante o episódio abusivo;

( ) Alusão aos comportamentos do suspeito em relação a família e vítima – neste relato


está presente como o suspeito ao ser descoberto, ou depois que descobriu estar sendo
acusado, comportou-se. A criança consegue se posicionar frente a gravidade do fato e
fazer uma projeção do que pode acontecer ao suspeito, daí ela atribuir que o suspeito
pode se vingar da família e dela, pois consegue avaliar a dimensão e o peso do
ocorrido. Esta alusão ao comportamento do suspeito deve estar intimamente
vinculado ao tipo de emoção que experimentou em relação ao fato.

( ) Atitudes inusitadas – quando no relato está presente situações em que há uma


atuação mais complexa na interação da parelha – em que o suspeito após o fato
continua a atuar.

( ) Complicações inesperadas durante a interação – situações que faz com que o suspeito
interrompa sua ação, detalhes relativos a situações imprevistas.

( ) Associações externas relacionadas – verbalizações que se referem a situações


externas ao evento abusivo, mas que estão vinculadas ao fato. Conversas prévias,
situações de conotação sexual, promessa de presentes, dinheiro. Cabe destacar que a
associação externa deve estar relacionada ao conteúdo da violência, em que na fala da
criança se identifica a correlação de comportamentos e fatos, dos envolvidos diretos e
indiretos.

( ) Evidências – este tópico se refere a comprovações além de relatos verbais, que são
raras, visto que, a maioria da violência sexual em desfavor de crianças, não deixam
vestígios. Geralmente ocorre em um ambiente externo ao familiar, como escola,
creche, com associação que a criança faz com alguma cena, desenho, filme e conversas
fora da temática sexual.

III - Estilo de Comportamento privado do suspeito:

( ) Ordenação dos comportamentos privados - pré-correntes (necessários e facilitadores)


e os de interesse, por hierarquia (força dos comportamentos) ou por cronologia
(sequência dos comportamentos).

( ) desejo – motivação

( ) tensão

523
( ) saciação do pensamento

( ) Cutoff (Walters e White, 1989) – de acordo com o comportamento privado do individuo,


seu comportamento verbal caracteriza seu comportamento privado (pensamento), em que o
individuo responde ao ambiente como se estivesse realizado CORTES no seu pensamento. Ao
responder perguntas do seu entendimento opta pelo cutoff e responde: NÃO SEI¹.

( ) Violador de regras sociais – de acordo com o reforçamento positivo primário


(intrinsicamente satisfatório), não aceita normas sociais, uma vez que entende que tais regras
não coadunam com o comportamento adotado pelo próprio sujeito:

( ) Motivação para interagir sexualmente com uma criança; (Finkelhor, 1984)

( ) Superação das inibições internas, quanto as punições sociais, para interagir sexualmente
com uma criança; (Finkelhor, 1984)

( ) Superação das inibições externas, algo no ambiente, como figuras protetivas que impeça
o êxito da interação sexual, desde o engajar- gratificação do desejo – desengajar; (Finkelhor,
1984)

( ) Superação da possível resistência da criança contornar qualquer comportamento


complilcaddor e impeditivo de êxito da gratificação sexual;

( ) Comportamento ofensivo de violação – acredita que esta forma de acesso a relações


sexuais possui mais vantagens do que se utilizasse outro tipo de comportamento. Porém
ocorrerá mediante conveniências que favoreçam esta estratégia; (Thornhill e Palmer, 2000)

( ) Possuem estratégias que permitem identificar potenciais vítimas; (Yochelson e Samenow,


1976) – cada ofensor vê a si próprio como uma pessoa boa, condena algumas ofensas, mas
não o que cometeu, esta imagem é reforçada por opiniões de outrem;

( ) A corrosão é um estilo de pensamento, em que o ofensor reconhece que o desejo de


efetuar um determinado ato tenha um elevado valor em detrimento a justificar seu
comportamento, pois está imune a punição (detenção). Na corrosão – o ofensor identifica
que, o risco compensa a recompensa - os ofensores ao se prospectar no futuro,
reconhecem a possibilidade de serem apanhados por seus atos, mas ainda pensam: ‘não vai
ser desta vez!’ (Yochelson e Samenow, 1976). A corrosão é um continuunn gradual e então o
cutoff ocorre quase que imediatamente frente o contexto disponível de sucesso, com espaço
e liberdade para cometer seus atos desejados, dando-lhe a sensação de que seu ato foi
resultante de um impulso, porém:

( ) possuem detalhes claros de suas ofensas (Yochelson e Samenow, 1976);

( ) ofensores utilizam de premeditação, que envolve atenção, avaliação de erros e


planejamento calculado (Yochelson e Samenow, 1976);

524
( ) o ofensor decide cometer o ato e espera para ter as melhores condições para realizar,
pois a ofensa é o resultado de um conjunto de pensamentos que é colocado em ação
(Yochelson e Samenow, 1976)

IV - Ocorrência da ICS –

(CR – CO) Não ocorreu:

( ) Manejo da informação – hiper ou hipossuficiente em informações;

( ) Sugestionabilidade – falsa comunicação-crime – proteção de fatos que ocorreram


– desvirtua fatos.

(CR - CO) Ocorreu - relato que descreve o modus operandi - Para analisar a condição
da ocorrência de uma interação sexual adulto-criança/adolescente, distingue-se
características na condição própria deste fato, que são reconhecidas como instâncias
inseparáveis e que estas são condições si ne qua non para a ocorrência de tal fato. O
modus operandi (Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter, 1999) é uma maneira de agir,
os procedimentos implementados pelo ofensor possuem um padrão pré-estabelecido,
sendo que qualquer instância que falte, a ofensa não ocorrerá. Assim, existe um modus
operandi, por que a natureza do fato determina um padrão operandi, em que o
desempenho do ofensor é moldado a natureza da especificidade que uma ‘interação
de conteúdo sexual’ exige. Esta natureza é binária, ocorre ou não ocorre. (Lecler,
Proulx, e Beauregard, 2006, in press), (Kaufman, K. L., Hilliker, D. R., Lathrop, P.,
Daleiden, E. L. e Rudy, L., 1996), (Kaufman, K. L., Holmberg, J. K., Orts, K. A.,
McCrady, F. E., Rotzien, A. L., Daleiden, E. L. et al., 1998), (Kaufman, K. L., McCrady,
F. E., Holmberg, J. K., Rotzien, A. L., Orts, K. A., Hilliker, D. R. et al. (1997, outubro),
(Kaufman, K. L., Mosher, H., Carter, M. e Estes, L., 2006)- de ofensores sexuais -
conceituados como:

( ) ‘sex offender’

( ) ‘only sex offender’, que possuem atuações super específicas com crianças;

Exclusividade de atração: (Groth, 1979)

( ) Fixated (Taxonomia de Groth, 1979)Interage exclusivamente com criança:


(geralmente pedofilos)

( ) Raramente nutrem matrimônio;

( ) Demonstra interesses semelhantes aos das crianças;

( ) Poucos laços de amizades com pessoas da sua idade;

( ) Preferem estar rodeados de crianças;

525
( ) Possuem preferencia por alvos do sexo masculino; (Willian-Taylor, 2012)

( ) Regressed (Taxonomia de Groth, 1979)- Interage com adultos também – que tipo de
relacionamento estabelece;

( ) relacionamentos exclusivamente: homoafetivos, poliafetivos, heteroafetivos,


uniafetivo; homoafetivo

( ) relacionamentos hetero e homoafetivos;

( ) é casado ______________;

( ) possui relacionamentos estáveis ou que perduram;

( ) emocionalmente dependentes, buscam a esposa como afirmação e suporte; (Barret


e Trepper,

( ) relacionamentos desenvolvidos com violência física;

( ) funcionamento considerado normal quanto a integração profissional e familiar (


Burgess, et. al., 2007).

( ) Possuem relações adequadas e encontros com parceiro(a)s;

Inclinações: (González, E., Martínez, V., Leyton, C., & Bardi, A., 2004)

( ) alta ( ) média ( ) baixa, familiaridade, acessibilidade, adaptabilidade do suspeito


em relação a criança, especialmente a época do fato (discriminativo para o suspeito
interagir sexualmente com uma criança. Na conexão vítima-suspeito, a escolha da
vítima ocorre por familiaridade e disponibilidade.

( ) Extrafamiliar – O abuso sexual ocorre quando agressores extrafamiliares não pertence


a ambiente familiar da criança. O agressor adulto pode ser totalmente desconhecido para a
criança e para a sua família , ou alguém que não pertence ao ambiente da criança, mas é
próximo ( Barudy , 1998) .

( ) se envolvem também com adultos;

( ) costumam ser generosos e muito atentos as necessidades das crianças;

( ) conseguem mantê-las sob seu locus de controle por muito tempo, mesmo sem
intertê-las;

( ) assumem favoritismo e exclusividade com a criança, dispensa tratamento especial;

( ) oferece cumprimentos, favores e presentes especiais;

526
( ) se passa por familiar e amigável;

( ) não corre o risco de levantar suspeita;

( ) no decorrer da convivência pode exercer ameaça a criança;

( ) Seleciona vitimas por proximidade (Holmes& Holmes, 2002)

( ) Geralmente vitimiza crianças do sexo feminino e masculinos por oportunidade;

( ) Intrafamiliar – (endogamicos – casamentos cosanguineos, parentes) a ofensa sexual


ocorre dentro da família, e desenvolve entre um adulto e uma criança que tem sangue
ou papéis de ligação definida estabelecido dentro do sistema familia ( Barudy , 1998)
.

( ) direciona seus desejos sexuais especialmente para as meninas da família;

( ) mantém uma fachada social intocável;

( ) menos integrado socialmente;

( ) não corre o risco de levantar suspeita;

A que tipo de interação expôs a criança - Conduta da ação: (Departamento de Servicios


Sociales y de Salud de Washington, 1988)

( ) Violação: a penetração da vagina, ânus ou da boca, para qualquer propósito, sem


o consentimento da pessoa.

( ) Penetração Digital: inserção de um dedo na vagina ou no ânus.

( ) Exposição: o ato de mostrar órgãos sexuais de forma inadequada, como no


exibicionismo.

( ) Coito vaginal ou anal com o pénis.

( ) Penetração anal ou vaginal com um objeto.

( ) Caricias: tocar ou acariciando os órgãos genitais de outra; inclusive forçando ou


masturbar para qualquer contato sexual, menor penetração.

( ) Oralidade – beija, lambe, morde, beija de lingua

( ) Sodomia: conduta sexual com pessoas do mesmo sexo.

( ) Comentarios obscenos por telefone, aplicativos, desenhos ou outros meios

( ) Contato genital oral.

527
( ) Forçar uma criança a se envolver em contato sexual com animais.

( ) Forçar as crianças a ver as atividades sexuais dos outros. Por exemplo: a) Os pais
ou outros envolvendo crianças na observação do coito. b) Apresentar ( ) pornografia
por video e ou virtual

( ) A exploração sexual: Envolvendo menores em conduta ou atividades que têm a


ver com a produção de pornografia.

( ) Promover a prostituição infantil

V - Condições para a composição do fato - descrição de elementos similares, que ao se


constituírem, resultam em uma dada composição que neste caso é a interação de um adulto
com uma criança com conteúdos sexuais específicos:

Detalhes característicos da ofensa – este critério se refere aos dados que comparecem no
relato da criança, que se enquadram com dados criminológicos e dinâmicas
psicológicas acerca deste delito. Trata-se de um estereótipo social para manejar a
situação de abuso, que se vale de tais características da vítima:

( ) ausência de habilidade cognitivo e física por parte da vítima, para oferecer


resistência e interromper a interação sexual;

( ) presença de constrangimento e coerção por parte do suspeito, com a finalidade de


interagir sexualmente com a criança;

( ) a criança ser submetida a prostituição ou exploração sexual;

( ) objetivo único de saciar desejos sexuais, esta necessidade de saciação sexual por
parte de suspeito se evidencia, visto que sua forma de ação pode estar ao primeiro
toque, vinculado as genitálias da criança;

Característica protocolar para a ocorrência do evento – quando a criança refere-se:

( ) isolamento com o suspeito, mesmo que tenha mais pessoas no ambiente, o


isolamento pode ser parcial, somente partes do corpo, ou total.

( ) ameaça ou recompensa como manutenção da interação – pode adiar somente o


comportamento verbal ‘Revelar’, o comportamento não-verbal ainda continua identificável.

Territorialidade – como e quem realiza o monitoramento e vigília da criança, o quanto


se está presente e atento aos comportamentos da criança – quando percebe que o
comportamento da criança muda? Qual foi a última vez que isso ocorreu? Por qual
motivo? O que alterou no comportamento da criança, como ela ficou? O que você fez?

528
( ) Contexto habitual; os lugares que a criança frequenta no seu dia-a-dia; local,
horário e responsável;

( ) Contexto não habitual (Mota, 2008) dos envolvidos; local, horário, frequência
temporal e responsável;

( ) Contexto incomum vítima-suspeito – TERRITORIALIDADE:

( ) Intersecção entre as atividades do suspeito e a rotina da vítima – em que contexto


ocorre, o que fazem em comum – criança e suspeito (local, horário, frequência
temporal e responsável);

( ) Discriminativo - acessibilidade, familiaridade e disponibilidade e adaptabilidade


- local, horário, frequência temporal e responsável;

( ) Temporalidade – tempo que passam juntos e a qualidade da interação.

( ) Contexto específico (Fernandez, 1991; Krom, 2000), (Capelatto, 1999; Adolfi, 1984)
para a ocorrência da interação de conteúdo sexual entre um adulto e uma
criança/adolescente; local, horário, frequência temporal, motivo (por que foi para este
contexto) e responsável;

( ) Local – os episódios de interação de conteúdo sexual se davam no ... quarto do casal, e


na sala da casa da família;

( ) Quando – as interações ocorriam em qual momento, exige atenção a contextos anterior


e posterior ao fato;

( ) Periodicidade – dias, semanas, meses, eventos especiais;

( ) Quanto – Quantidade de interações – a descrição na qual a criança relata a quantidade


de interações e a forma de atuação do suspeito. Foram interações de conteúdo sexual
recorrentes, durante... por aproximadamente..., ... Em função do excesso de interações a
criança não consegue precisar a quantidade exata;

( ) Episódio único – se refere ao relato em que está presente a descrição da interação


sexual de episódio único, a atuação que se caracteriza pela necessidade imediata de
saciar o desejo do suspeito, como uma característica de aliviar sua tensão sexual. Para
isso, esta ação dar-se-á em um ambiente conhecido da criança, ou inusitado para a
criança e não para o suspeito. Nesta situação o suspeito geralmente é um amigo da
família e ou parente (tio), que não reside com a criança e a vê em momentos muito
específicos, como visitas em finais de semana ou datas comemorativas. Esta talvez seja
uma estratégia que o suspeito opta, para não ser pego e creditar à vítima como
mentirosa, pois no episódio único, não há atenção focada de pessoas e a criança
encontra-se em uma situação de vulnerabilidade quanto a desproteção situacional.

529
Geralmente não há o teor da ameaça e se compõe de algumas características, tais
como:

( ) aproveita do descuido de cuidadores para agir, geralmente existe a presença de


mais adultos no local (adultos conversando na sala, adultos dormindo e as crianças
brincando, reunião familiar com pessoas em um determinado local da casa)

( ) já inicia a interação tocando nas genitálias da vítima, pois de acordo com sua
estratégia não terá outro momento com a mesma

( ) pode ocorrer a masturbação frente a vítima, em função do tempo escasso e da


necessidade de se satisfazer na interação

( ) solicita que a vítima realize sexo oral, em função do tempo escasso e da necessidade
de se satisfazer na interação

( ) Episódio acidental – para identificar este episódio único ou recorrente com


características acidentais, uma situação necessariamente estará presente, como, o
agressor ser externo a família, com algumas característica :

( )o agressor é um desconhecido da família, porém as vezes familiar para a criança,


como, porteiros de escola, faxineiro da creche, garçom de festa;

( ) na recorrência do episódio acidental – o fato necessariamente ocorre em local


rotineiro da criança, como, escola, creche, aulas regulares de ballet, natação;

( ) a cuidadora não apresenta traços de negligência e a criança tem atenção e carinho


em seu lar.

( ) Episódios recorrente com um único suspeito ou suspeitos múltiplos – quando a


criança relata mais de um episódio de interação sexual, com um único suspeito. Sendo
que pode ser comprovado também por comportamentos sexuais, muito peculiares e
nunca externados pela criança. Nestes relatos estão presentes lugares e uma conduta
típica do suspeito, que se repetem. No episódio recorrente o suspeito já conhece a
rotina da vítima e geralmente tem tempo para agir, pois cria as condições adequadas
para a interação sexual. Geralmente ocorre em local familiar da vítima ou do suspeito.
Nesta situação o suspeito geralmente tem a confiança em atuar com a criança. Pode
ser identificado teor de conteúdos de ameaça, em específico sutil, e que podem se
mesclar com recompensas.

Grooming:

Identificação e Alvejamento: (Kate, 2009)

530
( ) Atua com crianças vulneráveis – infratores possuem uma habilidade precisa e
planejada em identificar e explorar as vulnerabilidades disposicionais (particulares) e
ambientais das crianças-alvo. Infratores têm preferência pelas mais jovens, pois
apostam altamente na vulnerabilidade comunicacional, como baixa quantidade de
repertório verbal, dificuldade na dicção, elaboração de frases deficitárias, deficitárias
em conteúdos verbais, com baixa quantidade de conceitos;

Recrutamento: (Kate, 2009)

( ) Confiabilidade – em meio as configurações inter-pessoais e sociais recorre a uma


variedade de técnicas de manipulação e controle, começa com ‘amizade’ e evolui para
a exclusividade (isolamento em contextos específicos), contato físico, que culmina com
o contato sexual (Salter, 2003), tal preparação vale tanto para a criança, quanto para a
família, a manipulação dos familiares com o intuito de estabelecer uma relação de
confiança antes da primeira ofensiva, com o objetivo de se ajustar e se tornar
fisicamente familiar para a criança e sua familia, a fim de obter sucesso (Craven e
Gilchrist, 2006), com forma de normalizar o comportamento sexual inadequado ou
prejudicial na medida em que a vítima nem sequer perceba que tenha sido abusada.
Quando extra-familiar;

( ) Favoritismo - utiliza-se do favoritismo e muitas vezes promove a alienação dos


irmãos, modela a criança como seu ‘confidente’ e partilha segredos especiais com
declarações do tipo: ‘nosso amor é especial’. Tal situação promove um clima de sigilo
e aliena a criança de figuras protetivas (Kate, 2009)

( ) Teste da resistência – durante o processo de envolver a acriança no ato delituoso,


o ofensor avalia se a criança está ‘preparada’ o suficiente para manter-se engajada,
sem protesto e alarde. Utiliza-se de jogos e brincadeiras para tirar o foco de atenção
da criança e assim, por meio de atividades concorrentes à interação sexual, que é a
atividade principal para o ofensor, confunde a criança para a gravidade do que está
acontecendo e assim causa-lhe a confusão em qual atividade está engajada.
Geralmente são brincadeiras que realiza na presença de familiares, e assim, esta passa
a ser a estratégia, caso seja revelado, de que, já reralizava tais atividades com a criança
e que ela deva estar em algum grau de confusão. Realiza toques ‘acidentais’ no corpo
da criança, que se torna o ‘limite de afeto comum’, que confunde a criança ao quanto
ela é susceptível ao toque delituoso, busca a confiança da criança afim de normalizar
o comportamento sexualmente prejudicial. Realiza piadas para distorcer a gravidade
do toque delituoso. No processo de dissensibilização o agressor pode ‘testar’ a
resistência da criança em permanecer engajada no ciclo de violência, há uma
progressão de atos ao longo do tempo e uma verificação dos riscos, esta é a preparação
da criança (Kate, 2009);

531
( ) Manutenção: (Kate, 2009) – com frequência assegura-se do ‘acerto’ que fizeram,
solicita cooperação e promete recompensas. Relata que esta ‘ensinando algo’ e que tal
prática significa ‘cuidado e amor’. Informa que tais atos não vão prejudicar a criança.
Transmite a criança a ilusão de que ela ‘é livre para escolher’ e assim passa para a
criança a sensação de que foi consentido. Para isso utiliza de suborno, ameaça e
punição.

Modus Operandi:

Conexão vítima-suspeito

Figura dominante na responsabilidade da criança – única responsável pela criança, a


comunicante;

Comunicante – o que é em relação ao suspeito – casada?

Suspeito – descrever - único suspeito;

Conduta da ação

( ) Estilo de aproximação – está altamente vinculado ao estilo de atividades do


suspeito (Beauregard et al. 2007b)

( ) Escolha de campo de atuação – público em que geralmente se utiliza a coerção, ou


contexto fechado em que se utiliza mais a sedução, como (Beauregard et al. 2007b)
estratégia para aproximação da vítima, que está altamente interligado a
disponibilidade da vítima e estilo de aproximação e se existe complexidade
(Beauregard et al. 2007b) e analisa o ambiente circundante como um pré-requisito
necessário para ter acesso à criança (Salter, 2003; Craven e Gilchrist, 2006)

( ) Estratégia para levar a vítima para o local escolhido (Beauregard et al. 2007b) -
método de abordagem, coerção e medo ou sedução e barganha

( ) Etapas para chegar a ofensa (decision-making) – desire, ability , reasons, need,


comitment (responsabilidade) analisam a natureza do dano (Mihailides et al., 2004;
Ward e Keenan, 1999), pela quantidade de prova que ficará no local do crime (como a
maioria não realiza a penetração, fica na certeza que não será descoberto), analisa os
riscos como baixos ou irrelevantes e a inclinação em não cometê-los em determinado
momento também é analisado (Felson, 1993), como a exemplo a chegada inesperada
de alguém – comportamentos privados (Simonassi, L. E., Tourinho, E. Z., & Silva, A.
V., 2001) que se tornaram Públicos.

( ) Escolha do momento do ataque – em qual tipo de vulnerabilidade a criança se


encontra, oportunismo premeditado. O ofensor é acionado por algum estimulo
ambiental ou situacional (Rossmo, 2000). Então o momento do ataque pode variar

532
amplamente em função da configuração contextual e as pistas situacionais acionará a
atuação (Amir, 1971), pois o ofensor já está precipitadamente engajado na situação. O
ambiente circundante é determinante para o ataque (Salter, 2003; Craven et al. 2006)

( ) Estratégia do tipo de interação – o tipo de contato escolhido, existe conteúdo de


agressividade?

( ) Estratégia para liberar a vítima do local – em caso de interação com crianças,


geralmente a liberação ocorre com o êxito do desejo sexual satisfeito do suspeito, ou
de acordo com o tipo de reação da vítima

Perfil da limitação comportamental da criança – atuação recorrente pode instalar na


criança características de generalização, tais como: familiaridade, não ter
conhecimento para discernir o que ocorria, a criança ter nas práticas recorrentes de
interação sexual uma dinâmica relacional cotidiana, sentimento de gratidão, criança
submetida a pratica de ameaça, a criança com estrutura de personalidade
extremamente fragilizada por experimentar constantemente o abandono afetivo de
sua cuidadora, ao elevar o repertório verbal e entendimento da dinâmica passa a
relatar o ocorrido. Quanto a particularidade do fato, aponta as características do relato
da criança, que são muito particulares a ela e identificáveis em contextos de interação
sexual precoce, sendo que a idade, o entendimento da criança em relação ao fato e o
grau de envolvimento com o suspeito estão diretamente vinculados:

1. Discrepâncias quanto a dominância vítima-suspeito (Particularidade da ofensa):

( )A idade da criança na ocorrência da interação sexual que facilitaram a atuação do


suspeito;

( ) Idade do suspeito

( ) diferença de idade vítima-suspeito. A diferença de idade entre a pessoa que


cometeu o abuso e a vítima: quanto maior a diferença, maior o locus de controle sobre
o comportamento de submissão da criança;

2. Locus de controle sobre a vítima:

( ) Duração do abuso, mais importante que a quantidade de vezes, neste tópico a


criança expressa o intervalo de tempo em que ficou exposta ao controle do suspeito
(semanas, meses, anos) e o impacto desta exposição no comportamento da criança que
a impediram de revelar;

( ) O grau de violência: uso de força ou ameaça utilizado pelo perpetrador resulta em


consequências mais negativas tanto a curto como a longo prazo, sendo uma forte estratégia
para manter o silêncio da criança e garantir a continuidade de atuação do suspeito;

533
3. Condições facilitadoras de atuação

( ) A importância da dinâmica da relação entre abusador e vítima: quanto maior a


proximidade e intimidade, piores as consequências e maior o locus de controle sobre
o comportamento de submissão da criança (Kendall-Tackett, Williams & Finkelhor,
1993);

( ) A ausência de figuras parentais protetoras e de apoio social no local em que


ocorrem o abuso sexual;

( ) Grau de exposição – o quanto de acessibilidade tem a criança;

( ) Facilidade de acesso do suspeito á criança;

( ) Manutenção do ciclo de violência – o ciclo pode se manter por ameaça, ou


recompensa.

( ) Garantia para perpetração do ciclo de violência - o grau de segredo e de ameaças


contra a criança, que correspondem ao tipo de ameaça e ou gratificações que a criança
recebia do suspeito.

( ) Perdão ao suspeito – quando se apresenta na narração, reações acerca de um


sentido de perdão, desculpas e justificação ao suspeito. O que é muito compreensível,
primordialmente na dinâmica do abuso sexual intrafamiliar, em que o suspeito é uma
figura significativa para a criança. Pois de maneira ambivalente se poderia preservar
o vínculo apesar do ocorrido.

( ) Dinâmica da interação – trata-se de características que ocorrem nos crimes de


violência sexual em detrimento de uma criança. Por ser de conhecimento do suspeito
que é um crime e movido da motivação de continuar a utilizar-se da criança como
forma de suprir seu prazer este delito envolve-se de algumas características
principais, como um ciclo proximidade - isolamento – ameaça ou recompensa –
proximidade - isolamento:

( ) Etapa pré-interação – este critério se refere a maneira como o suspeito envolve a


vítima para garantir além da proximidade sua permanência em um determinado local,
sendo o fator surpresa da ação, uma forma também de mobilizar a vítima. Estas
características estão mais presentes em “Episódios recorrentes” e que busca aumentar
o vínculo afetivo e confiança da criança

( ) Etapa de interação e ou envolvimento – refere-se ao relato da criança em que está


presente as ações de conteúdo sexual em que a ela foi imposto, sempre em uma relação
tempo-espaço:

( ) a criança consegue relatar O QUE, COMO e ONDE o suspeito fez com ela;

534
( ) COMO e QUAIS partes do seu corpo o suspeito teve contato;

( ) COMO e QUAIS partes do corpo do suspeito a criança teve contato e ou foi exposta
para a criança.

( ) Etapa pós-interação – fase do relato em que a criança refere-se ao episódio


imediatamente após a interação. A criança especifica para qual atividade retornou ou
a que ordem seguiu do suspeito, quando percebeu a finalização da interação. Neste
tipo de relato a criança consegue descrever por que o suspeito finalizou o ato.

( ) Utilização de força e ou ameaça – o suspeito utilizava de força para segurar a criança e


dar assim continuidade a interação de conteúdo sexual;

2. Indicadores Gerais do Relato quanto a Estrutura

2.1 Coesão do relato - analisa-se as características estruturais do relato apresentada


pela criança e ou cuidadora ao verbalizar o fato, em que se identifica:

(CR - CO) Estrutura lógica – existe um entendimento quanto ao começo, meio e fim da
interação;

(CR - CO) Adequação contextual – existe um relato coordenado quanto ao espaço e


tempo em relação a etapa cognitiva – O QUE, QUEM, ONDE E QUANDO

(CR - CO) Descrição de interações – quando no relato existe uma referência as ações e
reações da vítima e do suspeito. AÇÃO – REAÇÃO – OUTRA REAÇÃO EM
RESPOSTA A ESTA ULTIMA – Ex.: ‘foi para o banheiro por que o suspeito mandou’,
‘colocou a roupa sozinha por que o suspeito mandou’, ‘voltou para o local em que
estava’, ‘suspeito mandou a criança dormir’. Quando se identifica esta estrutura,
aponta para a qualidade da narrativa em que reduz uma probabilidade de
Sugestionabilidade:

(CR - CO) necessariamente deve estar presente no relato uma lógica-sequencial


temporal, em que uma ação se engaja na outra. Para isso, identifica-se na narrativa 5
componentes: (CR - CO) os participantes, (CR - CO) o ambiente, (CR - CO) as ações
sequênciadas, (CR - CO) conversação, (CR - CO) estados afetivos, (CR - CO)
consequências.

(CR-CO) Reprodução de conversação – quando se relata uma interação verbal


específica, em que a criança utiliza a mesma linguagem empenhada pelo interlocutor,
no momento da interação sexual (geralmente as ameaças e nome dado as genitálias);

(CR - CO) Manutenção da centralidade temática – a criança permanece na centralidade


do fato ao responder, não se distância do tema central, que é a ocorrência da Interação
de Conteúdo Sexual. Esta permanência do relato, eleva a credibilidade do relato.

535
(CR - CO) Despiste - Caso a pessoa comece a inserir temáticas de sua preferência,
realiza uma dispersão temática frente as perguntas ou acrescenta temas de sua
preferência, como uma esquiva ás resposta. Que pode ser descrito de duas formas:

(CR - CO) temática de despiste – trata-se do episódio em que a pessoa traz temáticas
que não são complementares ao fato e ou a inserção de outra história ou padrão
comportamental, há uma descontextualização do fato, uma dissociação.

(CR - CO) temática de esquiva – frente a pergunta do perito a pessoa relata temática
não correspondente à pergunta – pergunta-se algo, relata-se outra resposta de padrão
temático diferente, que altera e desconfigura a centralidade da pergunta, ex.: “Você
foi ao médico? Sempre ele (suspeito) estava em casa nessa hora!”

(CR - CO) Força de uma única resposta frente ao estímulo suplementar – frente a
pergunta aberta principal – o relato a respeito da temática da interação sexual surge
de maneira espontânea e e tempo de latência curto, se identifica o fato. Pode identificar
relato acompanhado de um tom de voz envergonhado e de uma expressão física
retraída, de baixo tônus muscular e baixa movimentação corpórea, o que expressa a
emoção de ‘vergonha’ da criança. Em crianças de tenra idade (até 5 anos)
encontraremos o relato acompanhado de tom de voz espontâneo, um relato claro, de
movimentação e expressão física, mais próximo do natural da idade da criança, até
por que o entendimento que se tem a respeito do que foi feito a ela é significado pela
criança de uma maneira muito parcial, ainda não se tem o entendimento da
complexidade do todo. Geralmente em contextos que o fato ocorreu, pessoas recebem
bem as perguntas e quando o fato não ocorreu, pessoas podem expressa um
sentimento e atitude negativa em relação as perguntas.

(CR - CO) Elaboração não-linear contextualizada – saltos de uma situação para outra,
porém dentro da mesma temática, mas que ao final tem uma lógica. O que não ocorre
com fraudes, visto que o enganador tem um discurso pronto e rígido.

(CR - CO) Expressão gestual espontânea – demonstra gestualmente como aconteceu o


fato de maneira espontânea. Este tópico deve ser avaliado principalmente em relação
ao operante verbal tacto, e ou intraverbal.

(CR - CO) Esboço – expressão do tacto, por meio de Estimulação Suplementar.

(CR - CO) Conservação e origem da informação – existe a ação em relatar, eo que condiz
com um relato não-sugestionável, clareza do fato (cena do crime – dia, hora, local,
conteúdo, contexto, consequentes, condicionadores), boa forma ao relatar, sem
esquiva e bom tempo de latência em responder as perguntas, conserva a centralidade
temática contingenciada - de QUEM foi, ONDE foi, QUANDO e A QUE HORAS foi e
COMO foi, sendo que estas informações devem possuir características de

536
interdependência e alta correlação ao contexto da contingência que se investiga,
desenvolve comportamentos não habituais e diferenciados da realidade da criança.

(CR-CO) Linguagem correspondente – relatos verbais em coerência com a idade,


maturação cognitiva e fase do desenvolvimento

(CR-CO) Sugestionabilidade – é a facilidade com que inferências sutis e pessoais,


motivações e interesses alteram de maneira intencional o relato. Ou seja, existe
claramente um interesse que motiva aquilo que será declarado, sendo que a pessoa ao
relatar, verbaliza em proporções muito maiores assuntos que foge a competência
original de punição do acusado, em relação a ocorrência de um crime sexual, ou seja,
não há uma conservação da centralidade temática. A sugestionabilidade pode ser
reconhecida como EXTERNA (indução, influência externa, pressão, intimidação,
suborno, chantagem e ameaças) e INTERNA (motivações, interesses e expectativas
pessoais), sendo caracterizadas por:

(CR - CO) não há persistência na temática central;

(CR - CO) há uma alteração essencial no relato, uma variação temática que não tem
como o perito se localizar quanto ao fato relevante, as informações disponibilizadas
em relatos abertos fogem da essência da temática;

(CR - CO) apresenta novas informações, visitas não agendadas, com uma necessidade
de SUPER-informar o perito com informações periféricas e bem particulares a pessoa
e não ao fato;

(CR - CO) motivações, interesses e expectativas que não estão claros;

(CR - CO) incorporação de estereóripos de fala, comportamentais e de contexto;

(CR - CO) exagero e ampliação de atos e fatos relatados;

(CR - CO) exagero na incorporação de informações referentes ao PRE e POS evento. A


qualquer oportunidade a pessoa se volta para estas situações sem se referir ao
incidente;

(CR - CO) existe uma constância verbal em PRE e POS eventos;

(CR - CO) existe uma fidelidade verbal relacionados a PRE e POS eventos, a pessoa
até responde a pergunta do perito, mas insiste em voltar ás temáticas periféricas de
sua preferência;

(CR - CO) super-exposição da criança para que a mesma relate o ocorrido, com
exigência e imposição para que a criança relate.

2.2 CONSISTÊNCIA da estrutura do relato quanto ao conteúdo do fato

537
(CR - CO) Fidelidade à constância – existe um relato primário constante, que não varia,
vivência quanto a descrição do relato, descrições sensoperceptivas (Echeburúa e
Subijana, 2008);

(CR - CO) descrições idiossincráticas – expressões que trazem a sensação de


experienciar o fato, porém são distantes do fato investigado

(CR - CO) Coerência sintomatológica – este tópico busca correlacionar o conteúdo


verbal em consonância com a emoção verbal, em que se pese especialmente a
afinidade entre ambos, ou seja, uma correspondência entre aquilo que se fala e aquilo
que se expressa, em especial, apresenta disponibilidade positiva em se apresentar e
relatar.

2.3 Consistência quanto a estrutura do relato - DOD

(CR - CO) Dominância temática na estrutura do relato – este tópico avalia quanto do
tempo verbal do indivíduo é dispensado a partir do fato e não das circunstâncias.
Identifica a sobrecarga cognitiva (elaboração) em relatar o fato, com forte motivação
de parecer estar correto.

2.4 Estrutura do relato quanto a aceitação do próprio relato - não se encontra em


situação de auto-correção (Skinner, 1978; p.444) e emite respostas com ‘deliberação’
(Skinner, 1978; p.445)

( ) Autodesaprovação – este critério se refere a incorporação de elementos


autoincriminativos ou desfavoráveis (assumir a culpa – culpabilizar-se).

( ) Aceitar dúvida sobre o próprio testemunho – aceitação da possibilidade da existência de


imprecisões sobre aspectos do que se fala.

( ) Correções espontâneas – correções espontânea a seu relato, que diz respeito a um relato
flexível.

( ) Admissão de falta de memória – não ocorre em relação ao fato, ou em contexto de auto


correção (Skinner, 1978; p.444) e emite respostas com ‘deliberação’ (Skinner, 1978; p.445).

Análise de Contexto por meio de Temáticas de Vulnerabilidade

Será realizado a análise temática que comparece nas: Entrevistas Contingenciadas, Teste
Rorschach, o Teste CAT ou TAT (quando forem implantados) e Hora Jogo Diagnóstica.

1. A Investigação Temática será realizada especialmente pelo Teste Rorschach, o Teste CAT ou
TAT, e Hora Jogo Diagnóstica. A utilidade clínica de uma investigação temática
depende da extensão da ‘inconsciência’ do sujeito acerca da ação das variáveis
colaterais. Quando o sujeito ‘precisa assumir a responsabilidade pelo que diz’, ele
tende a corrigir seu comportamento e frustra o objetivo do teste (Skinner, 1978; p.319).

538
Quando a fonte pessoal do comportamento não pode ser dissimulada com facilidade,
como no Teste Rorschach, o material temático é minimizado na ‘contagem’, em favor
de outros aspectos do comportamento, desta forma quando a verdadeira natureza da
somatória verbal é revelada, o teste muda do ponto de vista do significado clínico
(Skinner, 1978; p.320). Assim, podemos analisar se o indivíduo, emite tactos genuínos
ou se utilizará do processo de correção gerado por uma possível punição, interpretado
pelo próprio falante, o que aumenta muito a adequação do comportamento verbal a
todas as circunstâncias de uma situação, incluindo-se o auditório (Skinner, 1978;
p.445). Aqui, o que se busca é que em situação pericial, há uma vantagem considerável
para o falante, que seu comportamento verbal seja emitido com ‘deliberação’ (Skinner,
1978; p.445), visto que o máximo de contribuição que o falante fornecer ao perito
ressoa como uma vantagem particular e de sucesso para sua própria perícia. O que
usualmente acontece é que uma resposta incompatível desloca uma resposta punida,
sendo o efeito claro da punição o de proporcionar o reforço de formas incompatíveis
de resposta (Skinner, 1978; p.454). Esse princípio é as vezes usado para explicar a força
do comportamento verbal para o qual não há outra explicação: o comportamento é
forte porque desloca resposta puníveis (Skinner, 1978; p.454), ou seja, o indivíduo fala
excessivamente de um assunto para não falar de outro. Desta forma, se a correção
ocorrer o falante terá de reagir como um ouvinte a seu próprio comportamento, caso
não consiga fazê-lo, não poderá corrigir (Skinner, 1978; p.459) e se o faz, as variáveis
de controle (Skinner, 1978; p.462) estão encobertas e não no fato investigado, visto que
o falante, está excessivamente atento ao que se fala, ou seja, ‘preciso estar atento ao
que falo’:

(CR – CO - SUSP) corrige seu próprio comportamento, com a ‘auto-correção’ (Skinner,


1978; p. 444), ou seja, nós só reavemos um comportamento passível de punição.
‘Reaver uma resposta’, constitui uma forma de fuga (Skinner, 1978; p.446).;

(CR – CO - SUSP) quando comparece o comportamento restritivo, como ‘colocar a


mão na boca’, ‘não repetir quando solicitado’ (Skinner, 1978; p.444);

(CR – CO - SUSP) comportamento murmurado, sussurrado ou hesitante e de baixa


velocidade e energia, ‘falar tão baixo que não se escute’(Skinner, 1978; p.445);

(CR – CO - SUSP) autoclítico na correção (Skinner, 1978; p.452) – uma forma de


correção que envolve um processo óbvio de revisão e recapitulação consiste na
emissão da resposta, embora qualificando-a com um autoclítico, que reduz a ameaça
de punição (Skinner, 1978; p.453). Desta forma, tendo rejeitado uma resposta porque
ofende o ouvinte, o falante a emite se ela for antecedida por autoclíticos do tipo: ‘Se
eu estivesse..., eu poderia dizer...’. Outros autoclíticos expressam a crença do falante,
de que ele receberá um ‘nihil obstat’, tal como: ‘Com o perdão da palavra...’, ‘Me
desculpe, mas...’. A composição de autoclíticos de qualificação mostra de forma tão

539
óbvia que o falante é sensível à possibilidade de consequências aversivas (Skinner,
1978; p.453);

(CR – CO - SUSP) quando o falante utiliza do expediente retórico ‘paralepsis’ (também


paralelizada) é a estratégia retórica (e a falácia lógica) de enfatizar um ponto ao
parecer passar por ele, para Skinner (1978; p.453) consiste na emissão de uma resposta
junto com um autoclítico que afirma que a resposta não está sendo emitida, a exemplo
(Skinner, 1978; p.453): ‘Eu não mencionaria o que ele disse!’;

(CR – CO - SUSP) o lapso – lapsus linguae, erro que altera o sentido que se pretendia
dar à frase (Skinner, 1978; p.453);

(CR – CO - SUSP) resposta imprecisa, ou pouco apropriada, acompanhada de um


autoclítico, uma ‘risada nervosa’, uma ‘risadinha autoclítica’, em que o falante
sinaliza, que o falante sentiu o efeito de uma provável punição de seu verbal, mas que
apesar disso está respondendo (Skinner, 1978; p.454);

(CR – CO - SUSP) resposta que o indivíduo ‘sabe que está errada’ é emitida com
entonação forçada ou descolorida, ou com baixa modulação, comum em crianças,
especialmente quando tais respostas são devidas a óbvias fontes fragmentárias de
força (Skinner, 1978; p.454);

(CR – CO - SUSP) ‘não falar’, como evitação á punição, e pela vantagem em calar-se
(Skinner, 1978; p.455);

(CR – CO - SUSP) estímulos, como fontes adicionais de força, como estimulação aos
tactos (Skinner, 1978; p.318, 319), no Teste de Apercepção Temática – TAT (2003), Teste
de Apercepção Infantil - Figuras de Animais - CAT-A (2010) e Teste de Apercepção
Infantil (CAT-H) - Figuras Humanas (2015), em que, o simples fato de serem
temáticos, sugerem que virão a exercer um controle relativamente poderoso (Skinner,
1978; p. 319). Comparados com a Investigação Formal, em que podemos produzir um
comportamento verbal por meio de qualquer variável que reforce o comportamento,
independentemente da forma, ou por meio de qualquer variável combinada com
variáveis puramente formais (Skinner, 1978; p. 317). As variáveis colaterais, todavia,
ainda possuem um alcance relativamente amplo (Skinner, 1978; p. 317).

(CR – CO - SUSP) No Teste Rorschach, as ‘manchas de tinta’ colorida ou em branco e


preto, são selecionadas precisamente por que não evocam respostas padronizadas que
possuam alguma consistência. O resultado do Teste Rorschach não da ênfase ao
‘conteúdo’ do comportamento gerado; todavia, ilustra o uso da causação múltipla na
investigação do comportamento verbal. A eficácia de padrões visuais vagos na
evocação de respostas que, sintaticamente, nomeiam ou descrevem a configuração ou
os traços de tais padrões, só pode ser explicada em termos de fontes colaterais de força.
Grande parte desses resultados pode ser atribuída aos próprios estímulos visuais, no

540
sentido de que muitas dessas respostas representam extensões metafóricas ou
nominativas dos tactos. O material é pois, relevante no que toca às tendências do
sujeito em ‘ver’ padrões de determinada forma (Skinner, 1978; p. 319).

2. As Entrevistas Contingenciadas têm um peso importante visto que será analisado o


“significado” das respostas verbais dadas aos estímulos verbais (Skinner, 1957; p. 106).
A única relação semântica relevante parece ser a que se estabelece entre a resposta e a
fonte do estímulo verbal no comportamento do falante que o produziu originalmente,
e isto só se relaciona longinquamente com o comportamento do falante atual. Na
explicação do comportamento verbal como um todo, as relações funcionais efetivas
não devem ser negligenciadas por causa de uma preocupação com o sentido. (Skinner,
1957; p. 106)

A contribuição de tais respostas é particularmente importante quando passamos a


examinar o modo como as variáveis se combinam na fala continuada, e o modo como
o efeito do próprio comportamento do falante o leva a compor e a corrigir o que ele
diz, e a manipulá-lo no pensamento verbal. (Skinner, 1957; p. 106).

O que pode acontecer, é que a resposta pode ter sido – por meio da sugestionabilidade
e manejo da informação - condicionada pobremente ou controlada por estímulos
usualmente fracos ou relacionada com estados de privação ou de estimulação aversiva
moderados ou fracos, ou deslocada por outro comportamento, em resultado de uma
punição anterior, ou ainda confundida por outras variáveis correntes (Skinner, 1957;
p. 305).

As vezes o problema consiste em tornar vocal – por meio das perguntas periciais - um
comportamento que antes era subvocal; trata-se também de evocar um
comportamento que de outra forma não seria emitido, mesmo subvocalmente – por
se tratar de uma rotina tão própria do indivíduo, que este não considera relevante, ao
contrário do que significa para a perícia. Não podemos simplesmente mandar o
comportamento requerido, ou porque não sabemos em que ele consiste ou porque ele
não seria eficaz se fosse devido inteiramente a tal variável. (Skinner, 1957; p. 305)

Desta maneira na Estimulação Suplementar, que faz parte das variáveis múltiplas,
trabalharemos com as variáveis e as relações de controle, para recorrermos a análise
da forma. Assim, criaremos ocasião para emergir o tacto. Não se trata de provocar
uma resposta, mas de evocar um comportamento verbal a respeito de uma temática
específica (Skinner, 1957; p. 303, 304). Assim sendo, utilizaremos o controle prático e
as deixas formais, em que no controle prático acrescentaremos uma variável
suplementar a fontes de força já existentes, e nas deixas formais será empregado
reforços formais aliados a reforços temáticos, por meio das perguntas das entrevistas
e do Teste Rorschach (Skinner, 1957; p. 304, 305).

541
As Entrevistas Contingenciadas aparecem para o perito como uma tarefa de evocar
determinada resposta, em determinado ouvinte, em determinado momento. Assim,
perguntas semelhantes são feitas em temáticas diferentes, com a finalidade de
introduzir outras variáveis, ou seja, características de outros operantes que tenham a
mesma forma de resposta. Para isso, temos a seguinte chave:

Sinteraçãodeconteúdose��ual− R realização − Sresponsabilização


deumadultocomumacriança decomunicação−crime dosuspeito

Esta contingência foi usada como orientativa para a construção de todas as perguntas
das Entrevistas Contingenciadas e para todos os ouvintes: comunicante, suposta
vítima e suspeito.

Com vistas, a aumentar ao máximo a probabilidade de resposta (Skinner, 1957; p. 303),


utilizamos as técnicas de controle na estimulação suplementar, que usam a causação
múltipla, e que são aplicáveis sempre que desejamos evocar com alguma força um
comportamento já existente. (Skinner, 1957; p. 304)

Acrescentaremos, por meio das perguntas, uma variável suplementar a fontes de força
já existentes por ser importante, que alguém lembre um nome, um fato, uma data, ou
que fale no momento apropriado, ou ‘desabafe’ (Skinner, 1957; p. 304, 305). Não
importa a razão pela qual o comportamento não é suficientemente forte para ser
emitido sem suplementação. (Skinner, 1957; p. 304, 305)

O processo de evocação suplementar pode ser classificado da seguinte maneira: a)


quando o operador pode identificar a resposta a ser evocada (por exemplo, quando o
sujeito esqueceu uma palavra que o operador conhece) – por se tratar de fatos da sua
própria vida - o estímulo suplementar é uma ‘deixa’ e b) quando o operador não
conhece a resposta, ainda que ela possa ser nitidamente especificada por outras
circunstâncias (por exemplo, quando nem o sujeito nem o operador conhecem uma
palavra que, quando descoberta, permitirá a ambos localizar outra informação), o
suplemento é uma ‘indagação’ (Skinner, 1957; p. 305).

Realizaremos as Entrevistas Contingenciadas, organizadas em agrupamentos


temáticos (Skinner, 1957; p. 313), em que sob condições de privações, determinadas
respostas tão logo sejam emitidas, começam a ocorrer respostas auto-ecóicas e auto
intraverbais (Skinner, 1957; p. 313), o que pode ser positivo em ambas situações de
ocorrência ou não do fato periciado, visto que todas as respostas são analisadas em
relação as perguntas feitas, ou seja, é estabelecido uma conexão intraverbal entre as
perguntas do perito e respostas do periciado (Skinner, 1957; p. 313).

As Entrevistas Contingenciadas são compostas como: estruturada, semi-estruturada e


aberta, por meio de: a) deixas/estimulações [prompt] formais; b) deixas temáticas; c)
investigações [probes] formais e d) investigações temáticas (Skinner, 1957; p. 305).

542
As deixas formais, ocorrerão sob a forma de ‘anúncios’ temáticos (Skinner, 1957; p.
308), por meio de perguntas suplementares, em que será utilizado sugestões ecoicas,
tais como: ‘Repita como ele falou,ele falou...?!’

Outra maneira, será solicitado ao sujeito que praticamente complete a resposta para
uma pergunta e algumas vezes por meio de múltiplas escolhas pré-determinadas (ver
entrevista).

As deixas temáticas contidas nas perguntas, que trabalham os temas em blocos e


engajados em uma sequência lógica em relação ao fato investigado na perícia, sugere
que: “o comportamento, que já existe como alguma força, recebe um suplemento
acidental de materiais temáticos relacionados” (Skinner, 1957; p. 310). Aqui um elo
temático pode ser seguido por um elo formal, ou vice-versa, na qual a sugestão
temática, pode agir como sugestão formal para dar à resposta ‘que está a surgir’ a força
suficiente para emergir (Skinner, 1957; p. 310).

2.1 Aspectos discricionais bio-psico-sócio-afetivo, que comparecem nas entrevistas


corroborados ao conteúdo que comparecem nas pranchas do Teste Rorschach, que
neste caso será utilizado a análise padronizada de acordo com Rorschach Clínico
(2007) de Lucia Maria Sálvia Coelho:

I. Dinâmica Interacional –

( ) do indivíduo com ele mesmo – será avaliados os dados da entrevista e analisados


mais especificamente junto aos resultados da prancha I e V do Teste Rorschach;

( ) do indivíduo em relação ao fato - será avaliados os dados da entrevista e analisados


mais especificamente junto aos resultados da prancha II, VI, VII e X do Teste
Rorschach, .

II. Dinâmica Relacional -

( ) do indivíduo com os outros - será avaliados os dados da entrevista e analisados


mais especificamente junto aos resultados da prancha III e VIII do Teste Rorschach;

( ) do indivíduo com os pais – será avaliados os dados da entrevista e analisados


mais especificamente junto aos resultados da prancha IV e IX do Teste Rorschach;

( ) do indivíduo com o companheiro – será avaliados os dados da entrevista e


analisados mais especificamente junto aos resultados da prancha III, VI, VII e X do
Teste Rorschach;

( ) do indivíduo com o ambiente escolar;

( ) do indivíduo com o ambiente familiar;

543
( ) do indivíduo com a vizinhança.

2.2 Indicadores que facilitam a ocorrência da interação – trata-se de características


comportamentais e ambientais que facilitam a interação do agressor com a vítima e
elevam a probabilidade de ocorrência do fato, sendo que estas características apontam
para campos de vulnerabilidade, sendo estas:

2.2.1 No ambiente de desenvolvimento da criança

I ( ) Vulnerabilidade quanto ao arranjo familiar – quando o arranjo familiar sobrecarrega


um dos genitores

( ) o arranjo familiar é de responsabilidade única de um dos genitores e ou parentes,


geralmente composto por um adulto e uma ou mais criança, a ex.: comunicante e filho

( ) autoritarismo paterno, quando o sustentador financeiro da família utiliza de


agressão e coação aos demais membros em função de sua melhor situação financeira.

II ( ) Vulnerabilidade quanto ao estilo parental

( ) estilo parental democrático

( ) estilo parental autoritário

( ) estilo parental permissivo

( ) estilo parental negligente

III ( ) Vulnerabilidade afetivo-materno – a distância afetiva materna (frieza e rigidez


afetiva), bem como o estilo parental autoritário ou rejeitador e negligente:

( ) a comunicante já foi violentada sexualmente

( ) quando criança a comunicante presenciou violência familiar

( ) quando criança a comunicante foi maltratada fisicamente

( ) baixa vitalidade materna em relação a vida;

( ) a comunicante denomina a si mesma características depressivas, de frustação e


infelicidade;

( ) a comunicante possui baixo suporte social, em situações difíceis, não possui apoio
para superação

2.2.2 No ambiente vivenciado pela criança

544
I ( )Vulnerabilidade sócio-familiar

trata-se das características ambientais familiares que expõe a criança ao isolamento


físico e afetivo, tais como:

( ) criança fica muito tempo sem a presença materna

( ) fica muito tempo sem a supervisão higiênica realizada pela comunicante

( ) fica muito sob cuidado de terceiros (mesmo parentes)

( ) período integral na escola

( ) relações abusivas sofridas pela comunicante (especialmente violência sexual)

( ) rejeição da criança e baixo vínculo ao nascer ( pouco tempo de amamentação).

( ) situações a distanciam do monitoramento e cuidado materno mais próximo

II ( ) Vulnerabilidade quanto a qualidade da coesão familiar – neste tópico podemos


destacar itens que apresentam fragilidade quanto a base estrutural de coesão entre os
adultos da casa, tais como:

( ) os adultos expressam comportamentos ofensivos e críticos

( ) baixa demonstração de afeto

( ) o cônjuge falha ao ter relações sexuais

( ) o cônjuge briga com familiares da esposa

( ) brigas verbais entre o casal

( ) a casa é desorganizada

( ) há proibição de visitar familiares

( ) as pessoas da família mentem para a criança

2.2.3 No ambiente ansiógeno

I ( ) Vulnerabilidade quanto a saúde familiar: neste tópico destaca-se a fragilidade


familiar quanto a saúde, o que desfoca muita atenção em relação a segurança da
criança, pois a doença torna-se o fator primordial de preocupação ou motivo de
afastamento dos cuidadores em relação a criança, podendo ter as seguintes
características:

545
( ) a criança tem uma doença crônica que necessita de cuidados especiais, o que a
impede muitas vezes de se comunicar de maneira eficiente;

( ) cuidadores possuem doença crônica o que os impedem de dedicar mais tempo e


atenção a criança. A doença prioriza o foco em demandas mais pessoais;

( ) cuidadores possuem doença psiquiátrica, que impede e prejudica a atenção e


cuidados integrais em relação a criança;

( ) ingestão de bebida alcoólica pelos cuidadores;

( ) um dos cuidadores são alcoolistas;

( ) uso de drogas por parte dos cuidadores;

( ) um dos cuidadores são drogadício;

( ) internação por parte de um dos cuidadores;

( ) baixa vitalidade e características depressivas materna;

II ( )Vulnerabilidade financeiro-familiar

em que a principal característica deste ítem é a mudança constante de residência e ou


em que há a necessidade de uma ajuda financeira de um terceiro externo a família

( ) a família da vítima passa por dificuldades financeiras?

III ( ) Vulnerabilidade espaço-vivencial- neste tópico os espaços vivenciados pela criança


apresenta fatores de baixa proteção e alta exposição a fatores de risco, tais como:

( ) Familiar:

( ) a casa não acomoda os integrantes familiares em cômodos separados e há uma


tendência para o acumulo de vários integrantes em um mesmo cômodo;

( ) conjugalidade dos pais crítica em um ambiente tenso e agressivo;

( ) a criança divide a mesma cama com um adulto;

( ) Escolar:

( ) a criança sofre bullyng na escola;

( ) falta muito as aulas;

( ) dificuldade escolar;

546
( ) dificuldade de relacionamento com amigos escolares;

( ) dificuldade de relacionamento com professores.

( ) Saúde:

( ) vai com frequência a hospitais;

( ) a criança possui doença grave ou crônica;

( ) Outros espaços:

( ) a criança sai sozinha sem a presença materna;

( ) a criança fica nos vizinhos sem a supervisão materna.

2.2.4 Ambiente Negligencial – ECA

I ( ) Negligência ambiental – este tópico aponta para características no ambiente que


indicam para um comportamento do cuidador de baixa atenção e alto descuido em
relação a proteção da criança;

( ) criança falta as aulas por uma semana inteira

( ) criança fica na rua sozinho por mais de 4 horas somente na companhia dos amigos

( ) o lar é desorganizado e sujo

( ) a criança usa roupas inadequadas para o clima

( ) família tem dificuldades emocionais

( ) entre o casal um pune o outro

( ) família tem dificuldades financeiras extremadas

( ) existe demanda judicial entre o casal

II ( ) Negligencia afetiva - este tópico aponta para os comportamentos da criança, que


são reflexos de insegurança em relação a figura de proteção da comunicante,

( ) a comunicante considera a criança manipuladora

( ) a criança é difícil de educar

( ) criança desobedece os pais e desafia as regras impostas

( ) a criança é CONSIDERADA mentirosa

547
III ( ) Grave contexto familiar – neste tópico temos a reunião de características que
deixa a criança em uma situação de extrema fragilidade em relação a sua segurança,
tais como:

( ) criança é criada sem a comunicante

( ) uso de álcool por algum intra-familiar

( ) uso de droga por algum intra-familiar

( ) medicação psiquiátrica pela comunicante

( ) comportamento criminal pelo pai

2.2.5 Ambiente Crítico

I ( ) Vulnerabilidade Comunicacional

família em que existe muitos conflitos, emburramentos, as pessoas ficam sem se falar,
punição. E ou excesso de carinho que se transfere na forma de superproteção com a
criança:

( ) Criança tem dificuldade de se expressar, quanto ao entendimento do que se fala e


ou quanto ao repertório verbal

( ) comunicante da vítima bate e xinga em excesso a criança

( ) grita com a criança para corrigí-la

( ) bate na criança para corrigí-la

( ) xinga a criança de burra

( ) a criança não obedece a comunicante

( ) super protege a criança

( ) isola a criança do pai. COMO?

II ( ) Vulnerabilidade comportamental – a criança tem um comportamento que facilita


a interação com o adulto e mantém o vínculo sem conflituar, o que pré-determina
longos períodos de proximidade:

( ) comunicativa sem ser birrenta;

( ) muito tímida, fala baixo, brinca muito sozinha, mais reservada

( ) fica intimidada com facilidade

548
( ) muito dependente dos adultos

( ) tenta agradar o adulto para ser aceita

( ) busca constante aprovação do adulto

III ( )Vulnerabilidade territorial

Intersecção entre as atividades do suspeito e a rotina da vítima – em que contexto


específico ocorre TERRITORIALIDADE

( ) Intersecção entre as atividades do suspeito e da criança ( ver modus operandi) – o


que fazem em comum – criança e suspeito (local, horário, frequência temporal e
responsável);

( ) Discriminativo - acessibilidade, familiaridade e disponibilidade e adaptabilidade


- local, horário, frequência temporal e responsável;

( ) Temporalidade – tempo que passam juntos e a qualidade da interação

IV ( ) Vulnerabilidade quanto ao vínculo com o suspeito – a criança já tem a confiança no


adulto e estabelece um vínculo afetivo positivo com o suspeito, a proximidade do
convívio facilita as oportunidades para a interação – pais, padrasto, tio

( ) gosta do suspeito

( ) brinca com o suspeito

( ) perdoa o suspeito

V ( ) Vulnerabilidade quanto a classificação da ofensa do suspeito - González, E.,


Martínez, V., Leyton, C., & Bardi, A. (2004)

( ) alta ( ) média ( ) baixa, familiaridade, acessibilidade, adaptabilidade do suspeito


em relação a criança, especialmente a época do fato (discriminativo para o suspeito
interagir sexualmente com uma criança):

Inclinações:

( ) Extrafamiliar

( ) Intrafamiliar.

Exclusividade de atração: (Groth, 1979)

( ) Fixated (Taxonomia de Groth)Interage exclusivamente com criança: (geralmente


pedofilos)

549
( ) Regressed (Taxonomia de Groth)- Interage com adultos também

A que tipo de interação expôs a criança – Conduta da ação: Departamento de Servicios


Sociales y de Salud de Washington (1988)

( ) Violação, penetração

( ) carícias, oralidade, exposição órgãos genitais...

VI ( ) Vulnerabilidade quanto a idade

A diferença de idade entre a criança e o autor ultrapassava de 20 anos – neste caso


existe uma discrepância clara de intenções e manejo da situação, em que o
entendimento cognitivo e amadurecimento da criança a prejudica e muito na
percepção e na tomada de atitude do que seria melhor para sua segurança e bem-estar,
conseguindo assim colocar fim a interação.

( ) IDADE DO SUSPEITO

( ) IDADE DA CRIANÇA

( ) Diferença de idade entre o suspeito e a criança

550
5 Resultado da Análise dos Indicadores – RAI

A ANÁLISE ELEVA O STATUS DA FALA, À COMPORTAMENTO VERBAL, O QUE


EXIGE CONCEITUAÇÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO SKINNERIANA

A ANÁLISE DEVE SEMPRE SER ORIENTADA:

A) PELO CONTEÚDO E CONTEXTO, QUE FOI IDENTIFICADO NA


CONTINGÊNCIA TRÍPLICE QUE DIRECIONA TODA A ENTREVISTA;

B) PELA SEQUÊNCIA DAS PERGUNTAS ELABORADAS PELO CONCEITO DA


ESTIMULAÇÃO SUPLEMENTAR;

C) PELA QUALIDADE E COERÊNCIA DAS RESPOSTAS EM RELAÇÃO A


SEQUÊNCIA DAS PERGUNTAS;

RAI – Resultado da Análise dos Indicadores

1 Características Gerais do Relato (Matsumoto et. al., 2011)

Em relação ao tópico Características Gerais do Relato analisamos as características do


relato apresentada pela criança e ou cuidadora ao verbalizar o fato, sendo que, estas
características verbais possuem classes conceituais expressas por quem as relata. A
análise das características, tem como avaliação inicial, o tipo e conteúdo da interação
(Virj, 2000) frente as sequências das perguntas feitas pelo perito e como avaliação final
a identificação de: coerência comportamental frente ao fato, apropriação da
experiência e precisão. Assim, as análises dos indicadores apontam características de
ocorrência ou não do fato. Segundo Skinner (1978):

“O que se leva em consideração aqui não é apenas que certas formas específicas de
comportamentos verbal são observadas, mas que elas são observadas em
circunstâncias específicas. Estas circunstâncias controladoras (contexto pericial)
acrescentam um caráter dinâmico ao ‘repertório’ que falta ao ‘vocabulário’.”

a) Peculiaridade quanto ao fato;

b) Estilo de comportamento privado do suspeito;

c) Ocorrência da Interação de Conteúdo Sexual;

d) Condições para a composição do fato;

e) Grooming;

f) Modus Operandi.

551
1.1 Coerência comportamental frente ao fato

Em Características Gerais do Relato, quanto a característica Coerência Comportamental


Frente ao Fato, temos 10 subitens a serem analisados, que são relacionados a fatos de
interação de conteúdo sexual. Em observância a este indicador, busca-se no relato as
unidades comportamentais, com as características abaixo, principalmente em adequação
a sua idade cronológica, bem como correlativa ao seu nível de maturação cognitiva e
fase de desenvolvimento. Atender a estas características aponta para uma alta
coerência do relato em relação as características de episódios de interação sexual e
consequentemente de elevada credibilidade. Tais como:

a) Estrutura lógica em relação ao fato periciado – neste tópico analisa-se por meio da
contingência tríplice, em que Sd, é o contexto de interação de conteúdo sexual
apresentado, R, é o momento da revelação e Cr, é o comportamento relacionado a
pós-denuncia.

b) Descrição de interações - quem, quando, onde;

c) Manutenção da centralidade temática em relação ao fato – o quanto se mantém na


descrição do fato na relação do momento de revelação e denuncia;

d) Elaboração não-linear, porém contextualizada em relação ao fato – neste tópico a


pessoa que relata o fato não se perde frente as perguntas periciais e consegue
descrever o fato de maneira espontânea e conforme solicitação do perito, sem se
despistar do contexto em questão;

e) Esboço – se realizou desenho da cena do crime composto do fato de interação de


conteúdo sexual;

f) Adequação contextual;

g) Reprodução de conversação – consegue reproduzir a conversação no momento da


interação de conteúdo sexual, bem como no momento da revelação;

h) Força de uma única resposta frente ao estímulo suplementar - frente a pergunta


aberta para comunicante e suspeito: o que aconteceu para que você esteja aqui
hoje? E para a vítima, a pergunta aberta: Conte-me uma história do (nome do
suspeito) com você!;

i) Expressão gestual espontânea – se demonstra com gestos a interação de conteúdo


sexual;

j) Linguagem correspondente e adequada – relato verbal correspondente a idade


cronológica, repertório e estilo verbal de quem fala;

552
1.2 Apropriação da experiência

No tópico, Características Gerais do Relato, temos a propriedade intitulada


Apropriação da Experiência, que trata da verbalização de um relato que está o mais
próximo da ocorrência de fatos de interação de conteúdo sexual. A característica
Apropriação da Experiência, será representada, quando no relato autodescritivo do
indivíduo, se encontrar a probabilidade de comportamento futuro do sujeito esperado
em situações de interação de conteúdo sexual. Este fator será analisado quando a
cuidadora/comunicante, constata a elevada probabilidade de ocorrência de interação
de conteúdo sexual.

Neste caso, a propriedade definidora a revelação do contexto de interação de conteúdo


sexual da criança para a comunicante, será a Apropriação da Experiência, ou seja, o contato
do próprio indivíduo com o evento é especial, no sentido de que a estimulação que o
afeta é diferente daquela provida pelo contato que outros podem estabelecer com o
mesmo evento. Neste caso são comunicantes e crianças que frente a estimulação em
questão, tem um "contato especial" (Skinner, 1963/1969, p. 225), um "contato íntimo"
(Skinner, 1974, p. 22), mas isso significa apenas que a forma de estimulação não pode
ser a mesma para outros, frente as mesmas condições, mas que deve ocorrer.

Os estímulos eliciadores de emoção são importantes também pela função diretiva: no


caso positivo, controlará comportamentos de aproximação e se negativos,
comportamentos de fuga ou esquiva (Staats, 1996). Staats (1996) afirma que a emoção
afeta o comportamento. O modo como uma pessoa sente afeta o que ela faz. Assim, a
condição sentida pode adquirir funções estimuladoras e exercer controle
discriminativo sobre os comportamentos subseqüentes. É o que se espera em
episódios especiais e descontínuos da rotina.

Quando um fenômeno comportamental é descrito, a descrição diz respeito a uma


relação na análise de eventos comportamentais privados, de modo semelhante ao que
ocorre com processos comportamentais considerados públicos.

Para isso o comportamento verbal, neste subitem Apropriação da Experiência, será


analisado sob a perspectiva, da consonância verbal (público - em que se inclui a atitude
o que se fala e o que se faz) e emocional (privado - a relação entre o impacto do fato e
a reação comportamental) frente ao grave fato que se revela. Assim, a condição sentida
pode adquirir funções estimuladoras e exercer controle discriminativo sobre os
comportamentos subseqüentes. Staats (1996) aborda a relação íntima entre emoção e
comportamento pelas três funções do estímulo, posto que o estímulo só adquirirá uma
função reforçadora se eliciar uma resposta emocional. Caso não elicie a resposta
emocional ele não adquirirá essa função. Então, "Para cada estado sentido e
denominado de sentimento, há presumivelmente eventos ambientais anteriores dos
quais ele é função (Skinner, 1988/1989b, p. 74)”. Skinner (1974) enfatiza que a emoção
não é causal, ou seja, a emoção não é a origem de um comportamento. A “causa” faria

553
parte de uma cadeia, composta pelos elos comportamento, emoção e evento externo
anterior.

Dessa forma, a emoção, mesmo sendo um comportamento privado (um evento que
pode ser observado apenas por aquele que se comporta), deve ser levada em conta e
estudada com base nos mesmos princípios dos comportamentos públicos, observando
a tríplice contingência: que expressa as relações entre o organismo e seu ambiente, ou
seja, a ocasião, a resposta e suas conseqüências.

Skinner (1974) relaciona a emoção como sendo uma alteração na predisposição à ação
e esclarece: “Os nomes das assim chamadas emoções servem para classificar o
comportamento em relação a várias circunstâncias que afetam sua probabilidade (p.
178)”.

Conclui-se assim, que para a análise do comportamento, a emoção se refere a uma


alteração na predisposição para a ação, e não a um estado do organismo. Ela consiste
nas relações onde há alterações em um amplo conjunto de comportamentos e de
operações ambientais, numa mudança no repertório do indivíduo, incluído aí os
respondentes fisiológicos, como respostas dos músculos e glândulas. É importante
que as emoções sejam analisadas com base nas relações entre organismo e ambiente,
e não apenas com base nas mudanças fisiológicas, tendo sempre em vista sua
constante complexidade.

Frente a tal entendimento conceitual-teórico, o comportamento verbal será analisado,


sob os padrões conceituais do subitem Apropriação da experiência na perspectiva
analítica da consonância verbal (pública) e emocional (privado) frente ao efeito do fato,
sob três composições, sendo estas: Conservação e origem da informação,
sugestionabilidade e manejo da informação. Para isso a consonância verbal será
averiguada sob as características:

1. Conservação e origem da informação – neste indicador analisa-se a classe do


comportamento verbal em que existe a ação em relatar, e não uma reação
motivacional. Então analisa-se o que condiz com um relato não-sugestionável. Não se
analisa ‘falas’ e sim comportamento verbal tacto, o tactear do indivíduo

Para isso, faz-se o levantamento de características de inferências sutis e pessoais e ou


motivações (Chagnon, 2010) e interesses, que altere o conteúdo do relato de tal forma
que haja a transferência da centralidade temática, com um longo período de latência
de resposta em relação a sequência e ao que lhe foi perguntado (Virj, 2000).

Ao perito deve estar perceptível sem esforços, que existe uma boa forma ao relatar,
em que se pese, o relato implicará ao perito um entendimento do fato, com as claras
motivações de esclarecer e relatar o ocorrido, em que pode ser identificável:

554
i. conservação da centralidade temática de quem foi, onde foi, quando e a que horas
foi e como foi, sendo que estas informações aparecem juntas, como um pacote
informacional;

ii. a Revelação vocal, posterior a comportamentos não-verbais, se dá para pessoas


significativas e de confiança da criança;

iii.a criança (geralmente tenra idade, até 5 anos) verbaliza de maneira espontânea o
ocorrido, na escola (em situação dirigida, brincadeira, tarefas, redação).

iv.comportamentos não habituais e diferenciados da realidade da criança.

2. Sugestionabilidade – é a facilidade com que inferências sutis e pessoais, motivações


e interesses alteram de maneira intencional o relato. A sugestionabilidade pode ser
reconhecida como externa (indução, influência externa, pressão, intimidação,
suborno, chantagem e ameaças) e interna (motivações, interesses e expectativas
pessoais), sendo caracterizadas por:

i. não há persistência na temática central;

ii. há uma alteração essencial no relato, uma variação temática que não tem como o
perito se localizar quanto ao fato relevante, as informações disponibilizadas em
relatos abertos fogem da essência da temática;

iii.necessidade de super-informações periféricas;

iv.incorporação de estereóripos de fala, comportamentais e de contexto;

v. exagero e ampliação de atos e fatos;

vi.exagero na incorporação de informações recentes ao PRE e POS evento, sem


referência ao incidente;

vii. existe uma constância verbal em PRE e POS eventos;

viii. existe uma fidelidade verbal relacionados a PRE e POS eventos, e temáticas
periféricas;

ix.identificação do tacto extenso;

x. identificação de intra verbais;

xi.não correspondência verbal e não-verbal;

xii. não correspondência de intra e entre verbais;

555
A sugestionabilidade pode apontar para: a) Falsas comunicações - relato de fatos que
não ocorreram; b) Proteger fatos que ocorreram – com a camuflagem dos fatos que
ocorreram; c) Desvirtuar fatos – com a criação de fatos;

Ao tatear, os discriminativos controlados podem ser objetos, pessoas, acontecimentos,


sensações, lembranças, isto é, mudanças no campo sensorial (visual, auditivo, tátil,
proprioceptivo, interoceptivo) do emitente. A resposta pode ser vocal ou motora
(palavras ditas ou escritas, gestos), e a conseqüência é social, porém sui generis. Supõe
uma identidade funcional entre as características da situação em que ocorre e as
características da resposta; supõe que o ouvinte partilhe desse quadro de
equivalências (Matos, 1991).

A conseqüência social ocorre aqui, não porque estamos diante de uma situação
didática, digamos assim, mas porque principalmente o ouvinte se beneficia pelo tatear
do emitente (Matos, 1991). Isto é, o ouvinte reforça o emitente não apenas devido a
um pacto social, mas principalmente porque lhe convêm que o emitente continue a
prestar informações sobre o ambiente. Ex. diante de um animal o emitente diz o nome
deste animal; diante da água que cai, diz que chove; diante de determinadas
sensações, diz dor; diante de um buraco no chão diz dor ou perigo (Matos, 1991).

O nome da categoria expressa justamente o fato de que o ouvinte é posto em contato


com o evento que controla o comportamento verbal do emitente. Tatos isolados podem
ocorrer diante de estímulos isolados, como o verbal chove diante da água que cai; tatos
aglomerados podem ocorrer diante de estímulos simultâneos, como o verbal,
tempestade diante da água que cai, acompanhada de raios e trovões, ou o verbal
furacão, se o acompanhamento inclui ventos fortes (Matos, 1991).

Especial atenção deve ser dada ao tato extrapolado (extended tact). Trata-se de um
tatear generalizado diante de estímulos multidimensionais, onde o emitente pode
responder ao todo como uma parte, ou a uma parte como um todo. A metáfora, a
símile, e a sinedoque correspondem a esses casos (ex.: diante do contorno de um olho
dizer olho, diante de um veleiro deslocando-se com facilidade dizer que corta as
águas). Uma outra forma de tato extrapolado é aquele em que combinam-se tatos
isolados, como por exemplo, na expressão máquina de escrever (Matos, 1991).

Os procedimentos de aquisição de tatos extrapolados relacionam-se aos de aquisição


de conceitos e portanto, aos de formação de classes de equivalência (abstração é um
tato controlado por uma propriedade específica presente em vários objetos ou
eventos, isto é, a uma propriedade ou dimensão do objeto enquanto isolada do objeto)
(Matos, 1991).

Tatos são particularmente importantes porque representam uma importante via de


acesso a estados internos do emitente, e a Entrevista Contingenciada pericial se
propõe aos procedimentos de aquisição do comportamento de tatear eventos

556
encobertos. Quando eventos públicos atuais ocorrem, os quais estiveram associados a
eventos privados na história passada do emitente 1 ( a criança cai; no passado,
quando a comunicante caiu ela sentiu dor), este pode usar o mesmo tato
empregado na ocasião (nenê tem dodói), que passará, com sua repetição, a ser
empregado pelo emitente 2, quando nas mesmas situações (a criança cai, “sinto
dor”). Na mesma situação, o emitente 2 pode apresentar respostas colaterais (colocar
a mão sobre o joelho, mancar) que também acompanharam eventos similares na
história passada do emitente 1, e, neste caso, a aquisição é mais precisa. Finalmente,
se o emitente 1 já possui algum repertório verbal, ele pode, através do processo de
generalização, apresentar tatos extrapolados (“que dor aguda”, “está queimando”)
(Matos, 1991).

3. Manejo da informação – quais os componentes da comunicação estão presentes

quando:

i. Quem diz que relata o fato;

ii. Relata o fato; se mantém na centralidade temática no: início – meio – fim do relato;

iii. O quanto se altera o relato;

iv. O quanto se distancia do fato;

v. O quanto se relata do fato;

vi. O que se relata do fato;

vii. O que altera no intra-relato;

viii. O que se altera no entre-relato;

Neste tópico está associado sugestionabilidade e cedência, em que busca-se no relato do


comunicante as relações com o relato da vítima, características de inferências sutis e
pessoais e ou motivações (Chagnon, 2010) e interesses, que altere o conteúdo do relato
de tal forma que haja a transferência da centralidade temática de maneira que outros
fatos se tornam mais relevantes que o fato pericial em questão, com um longo período
de latência sem resposta em relação ao que lhe foi perguntado (Virj, 2000), ou
responder o que não lhe foi perguntado, ou responder ‘não sei’, quando se pode
facilmente emitir opinião a respeito do que lhe foi perguntado.

Pode se identificar manejo da informação, quando o relato é caracterizado como o


operante intraverbal (Skinner, 1957) e acompanhado de baixo comportamento de
resolutividade frente ao Comportamento Revelar, e que não se identifica no

557
comunicante: acesso precário a informação e profissionais qualificados, situação
financeira desestruturante ou habilidade pessoal ineficiente frente a tal situação e o
‘deslocamento de prioridades’ do posicionamento com a tomada de decisões eficazes,
sempre em relação a característica da revelação. Aqui deve estar atento ao contexto
em que a Revelação acontece, sendo este o principal indicador.

Comunicantes que se encontram em ambiente com autonomia para atuar, não residem com
o suspeito, não dependem financeiramente do suspeito, se configura em um contexto
propicio para a comunicação de crime.

As atitudes eficazes do comunicante, acrescido de ambiente propicio e facilitador para


a comunicação de crime, apontam para que, na conjunção de tais fatores, promova a
proteção à criança, o que contribuiria para a não perpetuação de uma suposta
violência sexual.

Frente a tais condições, o que temos é que, a revelação da criança deverá produzir na
comunicante, o efeito (Baum, 2002) de: busca eficaz para a interrupção da violência
sexual e busca imediata das autoridades competentes a época do Comportamento
Revelar.

Destacamos que, caso o indicador ‘manejo da informação’, seja identificado, este


comparecerá nas características comportamentais da criança por meio de: testagem,
Entrevista Contingenciada, hora jogo diagnóstica (hora lúdica) e dinâmica relacional
infantil na situação pericial e análise funcional da contingência Sd-R-Cr, sendo R – o
momento da revelação, Sd – o contexto em que foi revelado, desde as mudanças
comportamentais da criança, até o momento da revelação e Cr – características
comportamentais da criança no pós-violência.

Então quando se destaca o indicador ‘manejo da informação’ temos duas condições:

i. Ou a revelação da criança não ocorreu de maneira autêntica. Ou seja, a revelação


da criança não ocorreu conforme o relato do comunicante.

ii. Ou a revelação não ocorreu, porém o comunicante informa que ocorreu.

Gudjonsson e Clark a partir da década de 80 definiram a Sugestionabilidade


Interrogativa – SI, como: “o grau em que, num contexto de interação social próxima,
um sujeito aceita mensagens comunicadas por outrem durante um
questionamento/interrogatório, alterando, em função disso, as suas respostas”
(Gudjonsson & Clark, 1986, p. 84), em que, com isso altera-se em algum nível o relato
em relação a um fato. O que ocorre, é que perguntas sugestivas podem afetar os relatos
verbais e agregar um componente forte de incerteza relacionado com a capacidade de
processamento de informação do indivíduo em que envolve, geralmente, uma

558
situação bastante estressante, com consequências importantes para quem é
sugestionável.

O modelo de Gudjonsson e Clark comporta, deste modo, segundo Gudjonsson (2003),


três premissas fundamentais:

d) A primeira diz respeito ao fato de a SI depender das estratégias de coping


(conjunto das estratégias utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se a
circunstâncias adversas ou estressantes) que as pessoas conseguem gerar e
implementar quando confrontadas com a incerteza e a expectativa da resposta.
Frente ao tato extenso, a criança cede, por ausência de repertório e do
entendimento a respeito do repertório emitido.

e) A segunda premissa refere-se à confiança interpessoal necessária para que haja


cedência à sugestão, ou seja, o entrevistado deve acreditar que não há intenções
do entrevistador, que estas são legítimas e que não existem “armadilhas” no
questionamento. Ou seja, o que será dito, será relevante. Neste caso,
destacamos a proximidade afetiva relevante.

f) Por fim, a terceira premissa está relacionada com as expetativas de sucesso.


Muitas vezes as pessoas estão relutantes em dizer “não sei”, pois são sensíveis
ao esquema de reforçamento criado para as melhores respostas, e assim
respondem de maneira satisfatória, por meio de tato extensos, uma vez que é
experimentado pela parelha, a melhor resposta à questão e que é expectável ao
ouvinte. Esta expectativa de “sucesso”, leva a que o entrevistado não assuma
que não saiba responder, por que “acredita que é esperado que saiba” a
informação em causa e que responda a todas as perguntas. Estas expectativas
de “sucesso” levam a que os entrevistados não assumam que não saibam
responder e acabam por responder de encontro com a sugestão apresentada.

A susceptibilidade à sugestão evidenciada por crianças parece depender da sua


percepção do grau de credibilidade e de autoridade do entrevistador. É sabido que as
crianças, e principalmente as mais novas, têm uma tendência para confiar em figuras
adultas ou de autoridade muito próxima, mostrando-se geralmente colaborativas e
tentando corresponder às suas expectativas em situações de interação social (Ceci,
Ross, e Toglia, 1987).

Durante uma entrevista é inevitável o uso de linguagem não-verbal pelo entrevistador


e, consequentemente, que as suas perguntas tenham entoações e conotações
emocionais. O tom emocional das perguntas é rapidamente percebido pelas crianças
que tendem a moldar-se e a agir de acordo com o que percepcionam ser esperado
(Ceci e Bruck, 1999). Por outro lado, o uso de reforços verbais compensatórios, por
pessoas significativas do seu convívio, tais como: “vai se sentir melhor se disser”, “não
tenha medo de dizer” ou “você é muito corajoso (a) se contar”, quando introduzidos

559
com frequência e acompanhados de um tom insistente, pode levar as crianças a
confirmar e a produzir informações falsas (Goodman, Wilson, Hazan, e Reed, 1989,
citado por Bruck et al., 1997).

O impacto da tonalidade emocional do entrevistador e da entrevista no grau de


aceitação da sugestão durante um questionário parecem, de fato, ser determinantes
(Gudjonsson e Clark, 1986). Relativamente à desejabilidade social, Gudjonsson (2003),
afirmou que, as pessoas com maior necessidade de se apresentarem como socialmente
aceites seriam mais suscetíveis.

Vários autores têm defendido que a repetição de perguntas sugestivas gera maior
sugestionabilidade principalmente entre as crianças mais novas, uma vez que estas
intuem que se o entrevistador está a repetir as questões é porque ainda não de-ram a
resposta certa (Moston, 1987).

Destacamos que, quando questionadas por um entrevistador neutro, as crianças


tendem a fornecer mais informações corretas (Thompson et al.,1997), pois estão sob as
seguintes neutralidades do contexto pericial:

i. Perguntas abertas e neutras;

ii. Entendimento e aceitação das respostas;

iii. Não existe a expectativa para uma resposta;

iv.Não existe o contexto que se intua a cedência a sugestão;

v. Não existe a expectativa de sucesso;

vi.Não existe a proximidade afetiva da figura de autoridade;

vii. Não se utiliza a entonação e a conotação emocional;

viii. Não existe o reforço verbal compensatório;

ix.Não existe o tom insistente e repetitivo;

x. Não existe técnicas sugestivas e sim testagem padronizada;

xi.Não existe o viés do entrevistador com a expectativa de respostas.

Uma das conclusões essenciais e com forte evidência científica é que, de fato, as
entrevistas sugestivas aumentam o grau de sugestionabilidade das crianças (Cunha,
2010). Não menos importante será o fato de que, não só se verificam relatos distorcidos
e erros, como estas distorções e erros se referem tanto a eventos neutros e a detalhes
periféricos, como também a episódios significativos e a informações centrais, muitas

560
vezes envolvendo o próprio corpo (Bruck e Ceci, 2004; Peterson e Bell, 1996; Tobey e
Goodman, 1992).

Estes dados têm importantes implicações na avaliação de relatos de crianças vítimas


de maus-tratos físicos e abuso sexual. Uma outra constatação importante é o fato de
se obter maior impacto na distorção dos relatos quando estão simultaneamente
presentes a tendência confirmatória do viés do entrevistador e de várias técnicas
sugestivas (Bruck e Ceci, 2004). Pois uma criança entrevistada por alguém que tenta
confirmar as suas crenças prévias, que é alvo de avaliações repetidas e que é alvo de
muitas técnicas sugestivas em simultâneo, cederá mais facilmente à sugestão (Bruck e
Ceci, 2004).

1.3 Precisão

Ainda em Características Gerais do Relato, no que tange a Precisão, existe as


características: fidelidade a constância e coerência sintomatológica.

Na propriedade Fidelidade à constância, encontra-se um relato primário constante,


que não varia ao ser relatado pela criança e que pode ser constatados também em suas
projeções nos testes. Existe uma permanência na essência do incidente, quanto a:
atividade que a criança estava engajada no momento do incidente, parte do corpo
tocada e local específico em que ocorreram as interações, horário vinculado a uma
ação – Ex.: era de dia e eu estava indo para a escola, para quem revelou primeiro e por
que.

E em Coerência sintomatológica, busca-se correlacionar o conteúdo verbal em


consonância com a emoção verbal, b em como o estado emocional da criança
(Echeburúa e Subijana, 2008). a criança ao relatar o contexto da violência, demonstra
com gestos e muda o tom de voz (Echeburúa e Subijana, 2008; Matsumoto et. al., 2011).
Ainda no que tange a coerência sintomatológica, a criança apresenta novos
comportamentos em detrimento ao período anterior a revelação. este tópico busca
correlacionar o conteúdo verbal em consonância com a emoção verbal, em que se pese
especialmente a afinidade entre ambos, ou seja, uma correspondência entre aquilo que
se fala e aquilo que se expressa, tais como:

i. existe uma coerência sintomatológica no relato do comportamento verbal e não


verbal;

ii. Disponibilidade em comparecer aos encontros periciais - apresenta


disponibilidade em se apresentar aos encontros periciais;

iii. Assiduidade - sempre que marca a sessão a pessoa comparece;

iv. Não se identifica comportamentos reivindicativos;

561
v. Não se identifica comportamentos declinantes;

vi. Não se identifica fuga-esquiva, frente as perguntas periciais (em especial tempo de
latência);

vii.Adulto protetivo, que se promove a alta exposição de perguntas –


espontaneamente possui informações relevantes para a resolutividade, sem
características de sentir-se punido por responder;

viii. Precisão quanto a descrição do relato – se mantém na centralidade do tema


questionado. Este tópico traz característica quanto ao conteúdo que se apresenta
no relato, descrições sensoperceptivas (Echeburúa e Subijana, 2008) e as descrições
idiossincráticas (muito particulares e não experienciais).

ix. Precisão quanto a estrutura do relato - pois se muda estrutura, necessariamente


muda comportamento (Baum, 2001), desta forma faz-se a análise da quantidade
de distorções do relato. Ou seja, quais conteúdos foram se modificando na
medida que foi relatando para diferentes ouvintes.

Consistência:

Este tópico avalia quanto do tempo verbal do individuo, este dispensa ao que é
relevante (o incidente) e ao que é secundário (outras temáticas). Sendo que o tempo
que ele dispensa a um determinado assunto demonstra a importância daquele tópico
para a pessoa. Sendo que o tópico relevante seja o de maior consistência ao ser
relatado, de acordo com tais características:

i. Detalhes suscitados quanto a pessoa, objeto e ação - os detalhes suscitados são


quanto a: pessoa, objeto (interação sexual) e ação com detalhes do que ocorria ao
redor (situação espacial); (3 categorias de Juille e Cutshall, 1986)

ii. Descrição e contextualização - o relato espontâneo a pessoa descreve e


contextualiza a informação prévia, na mesma proporção das informações do
incidente (detalhes) e as consequências que são as informações posteriores;

iii. Destaque verbal do incidente - o relato espontâneo a pessoa descreve e


contextualiza informações prévias e da o destaque verbal para o incidente
(detalhes temporais, espaciais e de sensopercepção ) (Echeburúa e Subijana, 2008),
sendo as informações posteriores (consequenciais) menos relevantes;

iv. Relatos não-espontâneos - com ênfase no PRE e POS ou ênfase no PRE; relatos
não-espontâneos são mais esquematizados e menos significativos, exige esforço e
manutenção cognitiva em temáticas que julga relevante para si (Johnson y Raye,
1981); Em relatos não-autobiográficos existe uma sobrecarga cognitiva e longos
períodos de latência em relação ao que lhe foi perguntado (Virj, 2000), com relatos

562
aparentemente bem estruturados, com boa sequência lógica o que existe é uma
competência verbal – Lamb, Sternberg y Esplin, 1984), e que não estão
relacionados a nenhum sintoma emocional e de preocupação quanto a
resolutividade. Estão relacionados a motivação de parecer o único correto;

v. Destaques gerados a partir das circunstâncias - em relatos não-biográficos as


informações são geradas a partir das circunstâncias;

2. Conteúdo Específico

Após analisar Conteúdos Gerais dos Relatos, o perito-psicólogo passa a analisar


‘Conteúdo Específico’ ao ser analisado no comportamento verbal identifica conteúdos
no relato que são apresentados pela criança e ou cuidadora ao verbalizar o fato
periciado. Com isso, as características e conteúdos são identificados ao serem
verbalizados por quem e como os relata e que tem como avaliação final a identificação
das particularidades que compõem a interação sexual em questão e que apontam para
a apropriação de indicadores de ocorrência ou não do fato. Este tópico se compõe de
9 características no que tange à Peculiaridade, sendo estas:

i. Detalhes inusitados – detalhe pouco comum e elemento surpresa;

ii. Detalhes supérfulos – o que comparece de específico no engajamento para e


desengajamento da dupla, detalhes irrelevantes com forte conexão ao fato;

iii. Incompreensão de detalhes, porém relatados com precisão – relatos que


apresentam uma relação da “vivência”;

iv. Alusão ao estado mental subjetivo da criança – relato que comparece sensações e a
mudança destes estados durante o transcurso do evento;

v. Alusão aos comportamentos do suspeito em relação a família e vítima – relato que


comparece os comportamentos do suspeito em relação a família;

vi. Atitudes inusitadas – relato que comparece atitudes inusitadas;

vii. Complicações inesperadas durante a interação – relatos que comprometem o


desengajar;

viii. Associações externas relacionadas – relatos que correlacionam


comportamentos e fatos, dos envolvidos diretos e indiretos (familiares que estavam
próximo ao fato, terceiros como porteiros)

ix. Atribuições ao estado mental do suspeito – relatos que comparecem o pensamento


do outro na interação.

2.1 Evidências

563
Em Conteúdos Específicos, temos o tópico: Evidências, que se refere a
‘correspondentes’ intra e entre verbais da criança, relação interacional do indivíduo,
em sessão pericial e correspondência entre o Comportamento Revelar e a
Comunicação de crime, acompanhado das seguintes características:

i.Alta correlação intra e entre relatos – nos autos e documentos extra-oficiais;

ii.Alta correlação entre os relatos das testemunhas;

iii.Evidências médicas – identificado ao ser levado ao médico de rotina;

iv.Resultados da Estimulação Suplementar (Skinner, 1957);

v.Estimulo generalizado – associação ao fato com característica generalizada.

3. Característica particular do relato

Este tópico ao ser analisado corresponde a identificação de característica de acordo


com o relato da criança e de dados certificados na avaliação pericial junto aos
envolvidos. Estas características são muito particulares ao fato periciado e
corroboradas a características esperadas em contextos de interação sexual com
precoces. Para isso, a idade cronológica, o entendimento da criança em relação ao fato,
a verbalização de conteúdos sexuais e o grau de envolvimento com o suspeito estão
diretamente vinculados (Furniss, 1993 e Knutson, 1995) ás particularidade de como a
criança os relata. Este tópico classifica as características da ofensa que se compõe de
16 itens no que tange à Particularidade da Ofensa, sendo estas:

i. Inclinação da ofensa – se a interação ocorre com suspeito integrante do contexto


intrafamiliar ou externo ao contexto, considerado, extrafamiliar;

ii. Exclusividade da atração – neste item faz-se um levantamento dos tipos de


relacionamentos afetivos o suspeito apresenta, tais como: somente criança; adultos
e criança; somente heteroafetiva, somente homoafetiva, ambas;

iii. Conduta da ação - Departamento de Serviços Sociais e de Saúde de Washington


(1988) – como se caracteriza a interação descrita especialmente pela vítima. A
conduta pode ser por:

a) Tipo de violação: a penetração da vagina, ânus ou da boca, para qualquer


propósito, sem o consentimento da pessoa, que pode ocorrer por:

Aa) Penetração Digital: inserção de um dedo na vagina ou no ânus.

Aaa) Exposição: o ato de mostrar órgãos sexuais de forma inadequada, como no


exibicionismo.

564
Aaaa) Coito vaginal ou anal com o pénis.

Aaaaa) Penetração anal ou vaginal com um objeto.

Aaaaaa) Caricias: tocar ou acariciar os órgãos genitais de outra; inclusive forçando ou


masturbar para qualquer contato sexual, menor penetração.

b) Oralidade – beija, lambe, morde, beija de lingua:

a) Sodomia: conduta sexual com pessoas do mesmo sexo.

b) Contato genital oral.

c) Forçar uma criança a se envolver em contato sexual com animais.

d) Forçar as crianças a ver as atividades sexuais dos outros. Por exemplo: a) Os pais
ou outros envolvendo crianças na observação do coito. b) Apresentar pornografia
por video e ou virtual

e) A exploração sexual: Envolvendo menores em conduta ou atividades que têm a


ver com a produção de pornografia.

f) Promover a prostituição infantil:

Ff) Registrar – registrar por meio de fotos ou vídeos o momento da interação e ou


solicitar exposições eróticas para a criança para o registro

Fff) Compartilhar – compartilhar ou armazenar fotos e vídeos que contenham a


presença direta ou indireta de crianças

Ffff) Apresentar - apresentar a criança fotos ou vídeos com cenas eróticas

iv. A idade da criança - na ocorrência da interação sexual com base nos


comportamentos que facilitaram a atuação do suspeito:

v. Locus de controle do suspeito: A diferença de idade entre a pessoa que cometeu o


abuso e a vítima: quanto maior a diferença, maior o locus de controle sobre o
comportamento de submissão da criança;

vi. O grau de violência: uso de força ou ameaça utilizado pelo perpetrador resulta em
conseqüências mais negativas tanto a curto como a longo prazo, sendo uma forte
estratégia para manter o silêncio da criança e garantir a continuidade de atuação
do suspeito;

vii.Exposição ao controle do suspeito - duração do abuso; mais importante que a


quantidade de vezes, neste tópico a criança expressa o intervalo de tempo em que

565
ficou exposta ao controle do suspeito (semanas, meses, anos) e o impacto desta
exposição no comportamento da criança que a impediram de revelar;

viii. Dinâmica da díade suspeito-criança - a importância da dinâmica da relação


entre abusador e vítima: quanto maior a proximidade e intimidade, piores as
consequências e maior o locus de controle sobre o comportamento de submissão
da criança (Kendall-Tackett, Williams & Finkelhor, 1993);

ix. A ausência de figuras parentais - protetoras e de apoio social no local em que


ocorrem a interação de conteúdo sexual;

x. Grau de exposição – o quanto se tem de acesso facilitado a criança no momento da


interação sexual

xi. Facilidade de acesso do suspeito á criança – se refere a territorialidade, que aponta


a intersecção entre as atividades do suspeito e a rotina da vítima, especificamente,
em que contexto ocorre:

a) Intersecção entre as atividades do suspeito e da criança (confirmar com modus


operandi) – o que fazem em comum – criança e suspeito (local, horário, frequência
temporal e responsável pela criança no local);

b) Discriminativo - acessibilidade, familiaridade e disponibilidade e adaptabilidade -


local, horário, frequência temporal e responsável pela criança no loca;

c) Temporalidade – tempo que passam juntos e a qualidade da interação.

xii. O grau de segredo e de ameaças contra a criança, que correspondem ao tipo de


ameaça e ou gratificações que a criança recebia do suspeito - familiaridade, quanto
mais próximo maior o controle;

xiii. Admissão de falta de memória - com o intuito de proteção ou medo do suspeito,


ou por manejo da informação;

xiv. Apontar dúvida sobre seu próprio testemunho - identificar se é por falta de
apoio ou se é pela ausência do fato;

xv. Auto desaprovação - se culpa pelo que aconteceu (Kate, 2009) – pois de alguma
forma sente-se cumplice da ação por não compreender o power-play (o jogo
poderoso) a época do fato. A criança se atuodesaprova, por ficar com a sensação
de que poderia ter atuado de maneira diferente, ou revelado com antecedência. O
que não seria possível, pois só consegue elaborar uma atuação diferenciada no
momento atual, por especialmente escutar diferentes opiniões a respeito do
ocorrido e auto-analisar o fato. Esta escuta mediada pelo ambiente, diferentes
ouvintes, lhe proporciona a falsa impressão de que tudo poderia ter sido diferente.

566
xvi. Perdão ao suspeito - ocorre em função do vínculo muito próximo ou por sentir
pena.

4 Campos de Vulnerabilidade

Neste tópico, busca-se identificar, o quanto se é vulnerável em relação aos indicadores


ambientais nas situações conflituosas e ou dificultosas, e que, ao se tornarem crônicas,
facilitam o acontecimento da interação delituosa. Trata-se da fragilidade
comportamental em relação a vulnerabilidade contextual e que pode favorecer a
interação do agressor com a vítima, em que se eleva a probabilidade de ocorrência do
fato, sendo que estas características apontam para Fatores de vulnerabilidade que
fragilizam a segurança da criança:

4.1 Vulnerabilidade quanto ao arranjo-familiar

i. quando o arranjo familiar é de responsabilidade única de um dos genitores e ou


parentes, geralmente composto por um adulto e uma ou mais criança, a ex.:
comunicante e filho. Este arranjo sobrecarrega o cuidador e pode gerar situações
estressantes junto a criança. Quando a comunicante é a única cuidadora, encoraja
o ofensor a atuar;

ii. família numerosa, facilita a atuação do suspeito, pois não tem uma atenção mais
concentrada do responsável;

iii. autoritarismo paterno, quando o sustentador financeiro da família utiliza de


agressão e coação aos demais membros em função de sua melhor situação
financeira.

4.2 Vulnerabilidade quanto ao estilo parental

i. estilo parental democrático - Alto nível de regras e limites e alta atenção e amor
centralizado na criança

ii. estilo parental autoritário - Alto nível de regras e limites e baixa atenção e amor
centralizado na criança

iii. estilo parental permissivo - Baixo nível de regras e limites e alta atenção e amor
centralizado na criança

iv.estilo parental negligente - Baixo nível de regras e limites e baixa atenção e amor
centralizado na criança;

4.3 Vulnerabilidade afetivo-materno

Existe um bom apego materno, reconhece na genitora figura protetiva (Santos e


Dell'Aglio, 2009; Habigzang e cols., 2005), ou trata-se de uma relação hostil com

567
distância afetiva materna (frieza e rigidez afetiva) e incredulidade materna (Lamour,
1997), bem como o estilo parental autoritário ou rejeitador e negligente, favorece a
proximidade e o estabelecimento de vínculo de um terceiro que vem com a
“promessa” de cuidar e principalmente ser atencioso com a criança. Neste tópico
deve-se redobrar a atenção quando o comunicante é a genitora e apresenta
comportamentos depressivos, que precisa de apoio, e Encaminhamento adequado:

i. a comunicante experienciou contextos de violência

ii. a comunicante presenciou violência familiar

iii. baixa vitalidade materna em relação a vida;

iv.a comunicante denomina a si mesma características depressivas, de frustação e


infelicidade;

v. a comunicante possui baixo suporte social, em situações difíceis, não possui apoio
para superação

4.4 Vulnerabilidade comunicacional

Dificuldade de comunicação da criança, quanto ao entendimento do que se é dito e


quanto aos códigos (linguagem que apresenta fuga e esquiva) utilizados na interação
de conteúdo sexual. Família em que existe muitos conflitos, emburramentos, as
pessoas ficam sem se falar, punição. E ou excesso de carinho que se transfere na forma
de superproteção com a criança:

i. Criança tem dificuldade de se expressar, quanto ao entendimento do que se fala e


ou quanto ao repertório verbal

ii. comunicante da vítima bate e tacha em excesso a criança

iii.grita com a criança para corrigí-la

iv.bate na criança para corrigí-la

v. nomeia a criança de burra

vi.a criança não obedece a comunicante

vii. super protege a criança

4.5 Vulnerabilidade sócio-familiar

Trata-se das características ambientais familiares que expõe a criança ao isolamento


físico e afetivo, tais como:

568
i. criança fica muito tempo sem a presença materna

ii. relação hostil da comunicante com a criança

iii. fica muito tempo sem a supervisão higiênica realizada pela comunicante

iv.fica muito sob cuidado de terceiros (mesmo parentes)

v. período integral na escola

vi.relações abusivas sofridas pela comunicante (especialmente violência sexual)

vii. rejeição da criança e baixo vínculo ao nascer ( pouco tempo de amamentação).

viii. situações a distanciam do monitoramento e cuidado materno mais próximo;

4.6 Vulnerabilidade quanto a qualidade da coesão familiar

Neste tópico podemos destacar itens que apresentam fragilidade quanto a base
estrutural de coesão entre os adultos da casa, tais como:

i. os adultos expressam comportamentos ofensivos e críticos

ii. competição entre o casal

iii.conjugalidade hostil

iv.baixa demonstração de afeto

v. o cônjuge falha ao ter relações sexuais

vi.o cônjuge briga com familiares da esposa

vii. brigas verbais entre o casal

viii. a casa da criança é desorganizada

ix. a casa é desorganizada

x. há proibição de visitar familiares

xi. as pessoas da família mentem para a criança

xii. alguém responde a processo judicial?

4.7 Vulnerabilidade espaço-vivencial

569
Neste tópico os espaços vivenciados pela criança apresenta fatores de baixa proteção
e alta exposição a fatores de risco, tais como:

i. a casa não acomoda os integrantes familiares em cômodos separados e há uma


tendência para o acumulo de vários integrantes em um mesmo cômodo;

ii. a criança divide a mesma cama com um adulto;

iii. a criança sai sozinha sem a presença materna

iv.os adultos cuidadores da criança (vitima) não são atentos a ela

v. a criança fica nos vizinhos sem a supervisão materna

vi.a criança sofre bullyng na escola;

vii. falta muito as aulas

viii. os professores consideram a criança, um aluno...

4.8 Vulnerabilidade quanto a saúde familiar

Neste tópico destaca-se a fragilidade familiar quanto a saúde, o que desfoca muita
atenção em relação a segurança da criança, pois a doença torna-se o fator primordial
de preocupação ou motivo de afastamento dos cuidadores em relação a criança,
podendo ter as seguintes características:

i. a criança tem uma doença crônica que necessita de cuidados especiais, o que a
impede muitas vezes de se comunicar de maneira eficiente;

ii. cuidadores possuem doença crônica o que os impedem de dedicar mais tempo e
atenção a criança. A doença prioriza o foco em demandas mais pessoais;

iii. cuidadores possuem doença psiquiátrica, que impede e prejudica a atenção e


cuidados integrais em relação a criança;

iv.ingestão de bebida alcoólica pelos cuidadores;

v. um dos cuidadores são alcoolistas;

vi.uso de drogas por parte dos cuidadores;

vii. um dos cuidadores são drogadício;

viii. internação por parte de um dos cuidadores;

ix.baixa vitalidade e características depressivas materna;

570
x. na família da vitima, a criança fica em segundo plano, por haver doentes crônicos?

4.9 Vulnerabilidade financeiro-familiar

Em que a principal característica deste ítem é a mudança constante de residência e ou


em que há a necessidade de uma ajuda financeira de um terceiro externo a família:

i. a família da vítima passa por dificuldades financeiras? Como soluciona este


problema?

4.10 Vulnerabilidade comportamental

A criança tem um comportamento que facilita a interação com o adulto e mantém o


vínculo sem conflituar, o que pre-determina longos períodos de proximidade:

i. comunicativa sem ser birrenta;

ii. muito tímida, fala baixo, brinca muito sozinha, mais reservada

iii. fica intimidada com facilidade

iv.muito dependente dos adultos

v. tenta agradar o adulto para ser aceita

vi.busca constante aprovação do adulto;

4.11 Vulnerabilidade quanto ao vinculo com o suspeito

A criança já tem a confiança no adulto e estabelece um vínculo afetivo positivo com o


suspeito, a proximidade do convívio facilita as oportunidades para a interação: por
disponibilidade, familiaridade e adaptabilidade.

4.12 Vulnerabilidade quanto a classificação quanto a escolha exclusiva para a ofensa do

suspeito

i. é casado;

ii. possui relacionamentos estáveis ou que perduram;

iii. relacionamentos exclusivamente: homoafetivos, poliafetivos, heteroafetivos,


uniafetivo;

iv.relacionamentos hetero e homoafetivos;

v. emocionalmente dependentes, buscam a esposa como afirmação e suporte; (Barret


e Trepper,

571
vi.relacionamentos desenvolvidos com violência física;

vii. funcionamento considerado normal quanto a integração profissional e familiar


( Burgess, et. al., 2007)

4.13 Vulnerabilidade quanto a idade

A diferença de idade entre a criança e o autor ultrapassava de 20 anos – neste caso


existe uma discrepância clara de intenções e manejo da situação, em que o
entendimento cognitivo e amadurecimento da criança a prejudica e muito na
percepção e na tomada de atitude do que seria melhor para sua segurança e bem-estar,
conseguindo assim colocar fim a interação.

i. idade do suspeito

ii. idade da criança

iii. diferença de idade entre o suspeito e a criança

4.14 Vulnerabilidade territorial (Territorialidade)

Intersecção entre as atividades do suspeito e a rotina da vítima – em que contexto


específico ocorre a territorialidade:

i. Intersecção entre as atividades do suspeito e da criança ( ver modus operandi)


– o que fazem em comum – criança e suspeito (local, horário, frequência temporal e
responsável);

i. Discriminativo - acessibilidade, familiaridade e disponibilidade e


adaptabilidade - local, horário, frequência temporal e responsável;

ii. Temporalidade – tempo que passam juntos e a qualidade da interação.

4.15 Contexto Negligencial

1) Negligência ambiental - este tópico aponta para características no ambiente que


indicam para um comportamento do cuidador de baixa atenção e alto descuido em
relação a proteção da criança;

i. criança falta as aulas por uma semana inteira

ii. criança fica na rua sozinho por mais de 4 horas somente na companhia dos amigos

iii.o lar é desorganizado e sujo

iv.a criança usa roupas inadequadas para o clima

572
v. família tem dificuldades emocionais

vi.entre o casal um pune o outro

vii. família tem dificuldades financeiras extremadas

viii. existe demanda judicial entre o casal

2) Negligência afetiva - este tópico aponta para os comportamentos da criança, que


são reflexos de sentir-se insegura, mesmo na presença materna:

i. é considerada uma criança que não segue regras

ii. a criança não segue regras na escola

iii.criança desobedece os pais e desafia as regras impostas

iv.a criança recebe pouca afetividade materna

v. Fatores de risco nos últimos 6 meses que elevam o favorecimento de atuação do


suspeito na instalação de conteúdo sexual.

3) Grave contexto familiar - Neste tópico temos a reunião de características que deixa
a criança em uma situação de extrema fragilidade em relação a sua segurança, tais
como:

i. criança é criada sem a genitora

ii. uso de álcool por algum intra-familiar

iii. uso de droga por algum intra-familiar

iv.doença psiquiátrica pelo cuidador

v. comportamento criminal de intrafamiliares

5 Composição do fato

Se refere a Tipologia que trata da descrição de elementos que ao se constituírem,


resultam em uma dada composição, que neste caso é a interação de um adulto com
uma criança com conteúdos sexuais específicos. Esta composição é caracterizada por
4 termos, sendo: detalhe característico da ofensa, detalhes característicos a interação,
característica protocolar para a ocorrência do evento e ameaça ou recompensa.

5.1 Detalhes característicos da ofensa

573
Detalhe Característico da Ofensa, é uma das 4 características que compõe o indicador,
Tipologia. Trata-se de um critério que se enquadram a dados criminológicos e dinâmicas
psicológicas, referente ao delito sexual contra crianças. São características que se compõem
de: ‘Detalhes Característico da Ofensa’, que faz parte do indicador ‘Composição do Fato’.

1) Classificação da ofensa do suspeito por: González, E., Martínez, V., Leyton, C., &
Bardi, A. (2004)

1.1) Inclinações:

a) Extrafamiliar – O abuso sexual ocorre quando agressores extrafamiliares não


pertence ao ambiente familiar da criança. O agressor adulto pode ser totalmente
desconhecido para a criança e para a sua família, ou alguém que não pertence ao
ambiente da criança, mas é próximo ( Barudy , 1998). A característica ‘Inclinções’,
referente a ‘Classificação da Ofensa do Suspeito’, do tipo ‘Extrafamiliar’, se compõe
de alguns caracteres:

i. se envolvem também com adultos;

ii. costumam ser generosos e muito atentos as necessidades das crianças;

iii. conseguem mantê-las sob seu locus de controle por muito tempo, mesmo sem
intertê-las;

iv. assumem favoritismo e exclusividade com a criança, dispensa um tratamento


especial;

v. oferece cumprimentos, favores e presentes especiais;

vi. se passa por familiar e amigável;

vii. por se passar por muito amigável, não assume o risco de levantar suspeita;

viii. no decorrer da convivência pode exercer ameaça a criança;

b) Intrafamiliar – podem ser considerados endogamicos, que se referem a casamentos


consanguíneos, com parentes. E considerados ‘Intrafamiliar’, quando a ofensa sexual
ocorre dentro da família, e desenvolve entre um adulto e uma criança que tem sangue
ou papéis de ligação definida estabelecido dentro do sistema familia (Barudy , 1998),
com alguns caracteres que, quando juntos, merece atenção:

i. direciona seus desejos sexuais especialmente para as meninAs da família;

ii. mantém uma fachada social intocável;

iii. menos integrado socialmente;

574
iv. não corre o risco de levantar suspeita;

1.2) Exclusividade de atração: (Groth, 1979)

a) Fixated (Taxonomia de Groth), são caracerísticas de ofensores que interagem


exclusivamente com criança: (geralmente considerados pedofilos)

i. Raramente nutrem matrimônio;

ii. Demonstra interesses semelhantes aos das crianças;

iii. Poucos laços de amizades com pessoas da sua idade;

iv. Preferem estar rodeados de crianças;

v. Possuem preferência por alvos do sexo masculino; (Willian- Taylor, 2012)

b) Regressed (Taxonomia de Groth)- Interage também com adultos e estabelecem


relacionamentos do tipo;

i. Homoafetivo

ii. Heteroafetivo

iii. Ambos

iv. Possuem relações adequadas e encontros com parceiro(a)s;

v. Geralmente vitimiza crianças do sexo feminino e masculinos por oportunidade;

vi. Seleciona vitimas por proximidade (Holmes& Holmes, 2002)

1.3) Conduta da ação: Departamento de Servicios Sociales y de Salud de


Washington (1988)

i. Violação: a penetração da vagina, ânus ou da boca, para qualquer propósito,


sem o consentimento da pessoa.

ii. Penetração Digital: inserção de um dedo na vagina ou no ânus.

iii. Exposição: o ato de mostrar órgãos sexuais de forma inadequada, como no


exibicionismo.

iv. Coito vaginal ou anal com o pénis.

v. Penetração anal ou vaginal com um objeto.

575
vi. Caricias: tocar ou acariciando os órgãos genitais de outra; inclusive forçando
ou masturbar para qualquer contato sexual, menor penetração.

vii. Oralidade – beija, lambe, morde, beija de lingua

viii. Sodomia: conduta sexual com pessoas do mesmo sexo.

ix. Comentarios obscenos por telefone, aplicativos, desenhos ou outros meios

x. Contato genital oral.

xi. Forçar uma criança a se envolver em contato sexual com animais.

xii. Forçar as crianças a ver as atividades sexuais dos outros. Por exemplo: a) Os
pais ou outros envolvendo crianças na observação do coito. b) Apresentar
pornografia por video e ou virtual

xiii. A exploração sexual: Envolvendo menores em conduta ou atividades que têm


a ver com a produção de pornografia.

xiv. Promover a prostituição infantil.

1.4) Estilo de Comportamento privado do ofensor:

a) Cutoff (Walters e White, 1989) – de acordo com o comportamento privado do


individuo, seu comportamento verbal caracteriza seu comportamento privado
(pensamento), em que o individuo responde ao ambiente como se estivesse realizado
CORTES no seu pensamento. Ao responder perguntas do seu entendimento opta pelo
cutoff e responde: NÃO SEI¹.

b) Violador de regras sociais – de acordo com o reforçamento positivo primário


(intrinsicamente satisfatório), não aceita normas sociais, uma vez que entende que tais
regras não coadunam com o comportamento adotado pelo sujeito;

i. (Finkelhor, 1984) motivação para interagir sexualmente com uma criança;

ii. Superação das inibições internas, quanto as punições sociais, para interagir
sexualmente com uma criança;

iii. Superação das inibições externas, algo no ambiente, como figuras protetivas que
impeça o êxito da interação sexual, desde o engajar- gratificação do desejo –
desengajar;

iv. Superação da possível resistência da criança – contornar qualquer comportamento


complilcaddor e impeditivo de êxito da gratificação sexual;

576
v. (Thornhill e Palmer, 2000) comportamento ofensivo de violação – acredita que esta
forma de acesso a relações sexuais possui mais vantagens do que se utilizasse outro
tipo de comportamento. Porém ocorrerá mediante coniç~eos que favoreçam esta
estratégia;

vi. Possuem estratégias que permitem identificar potenciais vítimas;

vii.(Yochelson e Samenow, 1976) – cada ofensor vê a si próprio como uma pessoa boa,
condena algumas ofensas, mas não o que cometeu, esta imagem é reforçada por
opiniões de outrem;

viii. A corrosão é um estilo de pensamento, em que o ofensor reconhece que o desejo


de efetuar um determinado ato tenha um elevado valor em detrimento a justificar
seu comportamento, pois está imune a punição (detenção)

ix. Na corrosão os ofensores ao e prospectar no futuro, reconhecem a possibilidade de


serem apanhados por seus atos, mas ainda pensam: ‘não vai ser desta vez!’
(Yochelson e Samenow, 1976). A corrosão é um continum gradual e então o cutoff
ocorre quase que imediatamente frente o contexto disponivel de sucesso, com
espaço e liberdade para cometer seus atos desejados, dando-lhe a sensação de que
seu ato foi resultante de um impulso;

x. (Yochelson e Samenow, 1976) possuem detalhes claros de suas ofensas;

xi. (Yochelson e Samenow, 1976) ofensores utilizam de premeditação, que envolve


atenção, avaliação de erros e planejamento calculado.

xii. (Yochelson e Samenow, 1976) o ofensor decide cometer o ato e espera para ter as
melhores condições para realizar, pois a ofensa é o resultado de um conjunto de
pensamentos que é colocado em ação

1.5) Estilo de Comportamento Público do Ofensor:

Realiza-se o levantamento do estilo público, por meio das características e análise dos
contéudos do comportamento verbal da vítima (relato, projeções em testes e gestos),
em que se identifica um relato que não se trata de um estereótipo social para manejar
a situação de abuso, mas sim, de fatos, que se enquadram nos critérios:

i. Ausência de habilidade cognitivo (entendimento do risco) e física por parte da


vítima para oferecer resistência e impedir ou sanar a interação sexual;

ii. Presença de imposição e coerção por parte do suspeito, com a finalidade de


interagir sexualmente com a criança;

577
iii. Objetivo único de saciar desejos sexuais, sendo que esta necessidade de saciação
sexual por parte de suspeito se evidencia, visto que sua forma de ação está
totalmente (ou ao primeiro toque) vinculado as genitálias da criança.

2) Detalhes característicos a interação - o que a criança ou o suspeito fazia que a criança


necessitava de autonomia própria para a correção do fato;

3) Característica protocolar para a ocorrência do evento - o que era necessário e


facilitador para a ocorrência do fato; (isolamento)

4) Ameaça ou recompensa – identificar a forma e em que contexto ocorriam as


ameaças e ou gratificações. Uma das razões que o autor é capaz de explorar a criança
é porque o ofensor detém o poder na relação, com base na idade e experiência,
tamanho e força, e a sua condição de ser adulto. Um agressor pode manipular e usar
essas diferenças para ganhar a confiança da criança, e / ou de criar medo, o que
fornece condições ao agressor para coagir a criança. Note que isto não é comum em
todos os casos de CSA, em muitos cenários, não há confiança em tudo, e sim, apenas
a coerção e medo. Ofensores sexuais admitiram que utilizam técnicas como a
identificação de alguém particular a criança, oferece presentes, e dissensibiliza a
criança para a atuação sexual (Seto, 2008).

6 Grooming

Este tópico, possui uma característica, que é altamente relevante para o engajamento
do suspeito na interação ofensiva com uma criança, trata-se da ‘Dissensibilização
Sistemática da Vítima’. Tal propriedade é o desenho estratégico elaborado pelo
suspeito para a aproximação da vítima, que inicia com um tipo de contato escolhido
ao melhor molde da criança e move-se para contato sexual (Berliner & Conte, 1990;
Christiansen & Blake, 1990).

Esta propriedade é o grooming (Craven e Gilchrist, 2006), que é constituído por etapas
preparatórias, que envolvem três elementos fundamentais: o acesso á criança,
assegurar o cumprimento da criança na ação e a manutenção do sigilo para evitar
divulgação, com a finalidade de exitar completamente na ação delituosa. Destaca-se
neste processo de preparação a traição da confiança como pessoa representativa, este
é o esteio deste processo (Mc Alinden, 2012), que pode ser identificado na
retrospectiva contextual. Retrospectiva Contextual – retrospectivamente a pessoa
identifica comportamentos anteriormente negligenciados (condição si ne qua non –
anteriormente negligenciado) (Mc Alinden, 2012).

O‘grooming’ (Mc Alinden, 2012, Budin & Johnson, 1989; Burgess & Holmstrom, 1980;
Conte, Lobo, & Smith, 1989; Elliott, Browne, & Kilcoyne, 1995) precede a interação de
conteúdo sexual e ajuda o acesso, o ganho do ofensor ao ofendido, e estabelece uma

578
relação baseada em sigilo para que o crime, se passe por menos provável e não seja
descoberto.

As etapas do grooming (Mc Alinden, 2012, Budin & Johnson, 1989; Burgess &
Holmstrom, 1980; Conte, Lobo, & Smith, 1989; Elliott, Browne, & Kilcoyne, 1995), é
combinada em um arranjo que, ao ser relatado, as características são de fácil
identificação:

a) Identificação e Alvejamento: (Kate, 2009)

i. Atua com crianças vulneráveis – infratores possuem uma habilidade precisa e


planejada em identificar e explorar as vulnerabilidades disposicionais
(particulares) e ambientais das crianças-alvo. Infratores têm preferência pelas mais
jovens, pois apostam altamente na vulnerabilidade comunicacional, como baixa
quantidade de repertório verbal, dificuldade na dicção, elaboração de frases
deficitárias, deficitárias em conteúdos verbais, com baixa quantidade de conceitos;

b) Recrutamento: (Kate, 2009)

i. Confiabilidade – Perpetradores de abuso sexual de crianças (CSA) podem ganhar


a confiança de potenciais crianças vítimas e seus cuidadores por metodicamente
"aliciá-los”. Este processo começa com a identificação de potenciais vítimas,
ganhando sua confiança, e quebrando suas defesas. Essas táticas preparação são
muitas vezes dirigidas às vítimas potenciais, bem como aos adultos cuidadores
pais e também a outros profissionais ao serviço da comunidade em geral. Depois
de ganhar o acesso a crianças e jovens, conseguindo essa confiança, o autor inicia
algum tipo de contato que ele / ela encontra sexualmente gratificante. Em meio as
configurações inter-pessoais e sociais recorre a uma variedade de técnicas de
manipulação e controle, começa com ‘amizade’ e evolui para a exclusividade
(isolamento em contextos específicos), contato físico, que culmina com o contato
sexual (Salter, 2003), tal preparação vale tanto para a criança, quanto para a família,
a manipulação dos familiares com o intuito de estabelecer uma relação de confiança
antes da primeira ofensiva, com o objetivo de se ajustar e se tornar fisicamente
familiar para a criança e sua familia, a fim de obter sucesso (Craven e Gilchrist,
2006), com forma de normalizar o comportamento sexual inadequado ou
prejudicial na medida em que a vítima nem sequer perceba que tenha sido abusada.
Quando extra-familiar, estes perpetradores de abuso sexual de crianças são muitas
vezes indivíduos conhecidos para a família; eles podem ser conhecidos, membros
influentes da comunidade, amigos de confiança e até mesmo membros da família.
Às vezes, o agressor é conhecido da família através da associação com uma
organização ou atividade em que a criança ou jovem participa, como a escola, um
clube da comunidade, equipe de esportes, centro de recreação ou acampamento.

579
c) Favoritismo - utiliza-se do favoritismo e muitas vezes promove a alienação dos
irmãos, modela a criança como seu ‘confidente’ e partilha segredos especiais
com declarações do tipo: ‘nosso amor é especial’. Tal situação promove um
clima de sigilo e aliena a criança de figuras protetivas (Kate, 2009)

d) Teste da resistência – durante o processo de envolver a acriança no ato


delituoso, o ofensor avalia se a criança está ‘preparada’ o suficiente para
manter-se engajada, sem protesto e alarde. Utiliza-se de jogos e brincadeiras
para tirar o foco de atenção da criança e assim, por meio de atividades
concorrentes à interação sexual, que é a atividade principal para o ofensor,
confunde a criança para a gravidade do que está acontecendo e assim causa-lhe
a confusão em qual atividade está engajada. Geralmente são brincadeiras que
realiza na presença de familiares, e assim esta, passa a ser a estratégia, caso seja
revelado, de que, já reralizava tais atividades com a criança e que ela deva estar
em algum grau de confusão. Realiza toques ‘acidentais’ no corpo da criança,
que se torna o‘limite de afeto comum’, que confunde a criança ao quanto ela é
susceptível ao toque delituoso, busca a confiança da criança afim de normalizar
o comportamento sexualmente prejudicial;. Realiza piadas para distorcer a
gravidade do toque delituoso. No processo de dissensibilização o agressor
‘testa’ a resistência da criança em permanecer engajada no ciclo de violência,
há uma progressão de atos ao longo do tempo e uma verificação dos riscos, esta
é a preparação da criança (Kate, 2009);

e) Manutenção: (Kate, 2009) – com frequência assegura-se do ‘acerto’ que fizeram,


solicita cooperação e promete recompensas. Relata que esta ‘ensinando algo’ e
que tal prática significa ‘cuidado e amor’. Informa que tais atos não vão
prejudicar a criança. Transmite a criança a ilusão de que ela ‘é livre para
escolher’ e assim passa para a criança a sensação de que foi consentido. Para
isso utiliza de suborno, ameaça e punição.

Apresentar características de grooming, tem implicações clínicas e legais importan


tes, passíveis de identificação pelos profissionais. Por se tratar de um comportamento,
pos-sui uma definição e desenho claro (Mower, 2012).

7 Modus Operandi

Este tópico apresenta por meio do relato da vítima e levantamento de contexto


realizado com a comunicante /cuidadora e o próprio suspeito. Nas Entrevistas
Contingenciadas busca-se identificar dados que comparecem nas características do
modus operandi, (Berliner & Conte, 1990; Budin & Johnson, 1989; Christiansen & Blake,
1990; Conte, Wolf, & Smith, 1989; Lang & Frenzel, 1988) que se compõe de
característica que destacam o passo-a-passo (step-by-step) do roteiro (script)
empreendido pelo suspeito. Os dados obtidos, são sobrepostos aos registros teóricos
da literatura e corroborados ou não ao fato investigado.

580
Este passo-a-passo ocorre em um continuum, que vai desde o momento em que o
suspeito escolhe se engajar na ação, reconhecido como decision-making (Cornish e
Clarke, 1987; Johnson e Payne, 1986; Cornish e Clarke, 2002) até o post-offense
(resultado pós-crime), que trata do desengajar da ação. Esta decisão é considerada
dinâmica, pois o suspeito vai optar por se enganjar na interação de conteúdo sexual
ao levar em consideração a complexidade ambiental no momento de sua ação.

O ofensor ao realizar a análise de escolha em situação de risco, deriva seu


comportamento do ‘Princípio da Lei de Igualação’, que afirma que a distribuição do
comportamento tende a igualar a distribuição de reforços obtidos (Herrnstein, 1961,
1970).

O ponto de partida da perspectiva da escolha racional sobre o comportamento


criminal é que, atos criminais nunca estão sem sentido, mas são propositais (Cornish
e Clarke, 1986; Clarke e Cornish, 2001). Infratores são vistos como indivíduos racionais
que cometem crimes em uma tentativa de satisfazer sua necessidade de recompensas,
seja por: dinheiro, seja na relação sexual, seja por status elevado e ou por sentir
determinadas emoções. Cornish e Clarke (2002) também afirmam que: "a escolha dos
métodos para levar a cabo o crime, e a tomada de decisões dos envolvidos, são
considerados os melhores instrumentos comportamentais a serviço dos objetivos dos
ofensores". Mesmo que a tomada de decisão seja restringida pelo tempo, as
habilidades cognitivas do infrator, bem como a eficácia em avaliar as informações
relevantes (Cornish e Clarke, 1987; Johnson e Payne, 1986), buscam minimizar seus
riscos de apreensão e maximizar seus ganhos.

Infratores são, portanto, reconhecidos como tomadores de decisão, cujas escolhas são
dirigidas por: valores particulares, custos e a probabilidade de obter os resultados
desejados. A perspectiva da ‘Escolha Racional’ é particularmente relevante, uma vez
que: "oferece apenas uma imagem tão fluida e dinâmica - em que se vê a ofensiva
como mais orientada para o presente e situacionalmente influenciada" (Cornish e
Clarke, 2001, p.32).

Fatores situacionais, tais como a resistência da vítima são vistos como tendo um papel
importante, e assume destaque no planejamento do crime, pois influencia as decisões
do agressor e, consequentemente, a interação ofensor-vítima que se segue quando um
crime é cometido (Tedeschi e Felson, 1994). A propósito, Elliott, Browne e Kilcoyne
(1995) constatou que 39% dos agressores sexuais em sua amostra disseram que
utilizaram ameaças ou violência para superar a resistência da criança, quando
necessário. Os agressores veem o crime como um processo dinâmico e influenciado
por fatores situacionais, e em suas auto-avaliações apreendem que podem melhorar a
sua tomada de decisão por meio da experiência e passam a incrementar suas
estratégias para cometer crimes.

581
Ao utilizar a abordagem da escolha racional, (Cornish e Clarke, 1986; Clarke e
Cornish, 2001) os autores Proulx et al. (1995) e Beauregard et al. (2007b) analisaram as
decisões e comportamentos de agressores sexuais contra crianças, e descobriram que
o agressor tem que fazer uma série de escolhas antes da ofensa sexual a uma criança,
tais como:

a) Posição de confiança ((Mc Alinden, 2006) – intra-familiar ou extra-familiar


(conforme especificado à página 155);

b) Tipo de exclusividade da atração sexual – Podem ser: regressed, fixated (Groth,


1979) – Sendo que fixated (Taxonomia de Groth) interage exclusivamente com
criança: (geralmente pedofilos). No caso de tipos Regressed (Taxonomia de Groth)-
Interage com adultos também – podem estabelecer relacionamentos (conforme
especificado à página 155 e 156);

c) Escolha da vítima – por familiaridade e disponibilidade. Sendo que familiaridade


trata-se do quanto a vítima é familiar ao suspeito, o quanto se está próximo em
termos de tempo e frequência. A disponibilidade, se refere a facilidade do suspeito
em atuar.

d) Intersecção entre as atividades do suspeito e a rotina da vítima – em que contexto


ocorre:

i. Intersecção entre as atividades do suspeito e da criança – o que fazem em comum


– criança e suspeito (local, horário, frequência temporal e responsável);

ii. Discriminativo - acessibilidade, familiaridade e disponibilidade e adaptabilidade -


local, horário, frequência temporal e responsável;

iii. Temporalidade – tempo que passam juntos e a qualidade da interação.

e) Estilo de aproximação – está altamente vinculado ao estilo de atividades do


suspeito na interação com a criança;

f) Conduta da ação - Departamento de Servicios Sociales y de Salud de Washington


(1988) – quais foram as características da ação do suspeito na interação de conteúdo
sexual (conforme especificado à página 156);

g) Escolha de campo de atuação – público em que geralmente se utiliza a coerção, ou


contexto fechado em que se utiliza mais a sedução, como (Beauregard et al. 2007b)
estratégia para aproximação da vítima, que está altamente interligado a
disponibilidade da vítima e estilo de aproximação. O ofensor analisa se existe
complexidade (Beauregard et al. 2007b) e o ambiente circundante como um pré
requisito necessário para ter acesso à criança (Salter, 2003; Craven e Gilchrist, 2006).

582
A escolha do campo de ataque, que é o tipo de área onde criminosos atacam as
vítimas (Beauregard et al. 2007b).

h) Estratégia para levar a vítima para o local escolhido (Beauregard et al. 2007b), trata
se do método de abordagem, por meio de coerção, por medo ou sedução e
barganha. O ofensor é influenciado por fatores situacionais, tais como, ao escolher
um campo de ataque público e uma vítima estranha, as características podem estar
relacionados com o uso da coerção para a obtenção de contato sexual. (Beauregard
et al. 2007b).

i) Etapas para chegar a ofensa (decision-making) – desejo (desire), capacidade para


realização (ability), razões (reasons), necessidade (need), compromisso em atuar
(comitment). Frente a estas etapas do comportamento privado para chegar a
realização da ofensa, estes analisam a natureza do dano (Mihailides et al., 2004;
Ward e Keenan, 1999) principalmente pela quantidade de prova que ficará no local
do crime (como a maioria não realiza a penetração, fica na certeza que não será
descoberto). Com isso, analisa os riscos como baixos ou irrelevantes, em que a
inclinação em não os cometer em determinado momento também é analisado
(Felson, 1993), como a exemplo a chegada inesperada de alguém – sendo assim,
temos comportamentos privados (Simonassi, L. E., Tourinho, E. Z., & Silva, A. V.,
2001) que se tornaram públicos.

j) Escolha do momento do ataque – em qual tipo de vulnerabilidade a criança se


encontra, oportunismo premeditado. O ofensor é acionado por algum estimulo
ambiental ou situacional (Rossmo, 2000). Então o momento do ataque pode variar
amplamente em função da configuração contextual e as pistas situacionais
acionará a atuação (Amir, 1971), pois o ofensor já está precipitadamente engajado
na situação. O ambiente circundante é determinante para o ataque (Salter, 2003;
Craven et al. 2006)

k) Estratégia do tipo de interação – se no tipo de contato escolhido, na conduta da


ação, existe conteúdo de agressividade. Ulman e Knigth (1992) relatam que o nível
de violência exibida pelo infrator durante o crime que determina a resistência da
vítima e não o contrário.

l) Estratégia para liberar a vítima do local – em caso de interação com crianças,


geralmente a liberação, o desengajar da ação só ocorre com o êxito do desejo sexual
satisfeito do suspeito, ou de acordo com o tipo de reação da vítima e situações
ambientais inesperadas.

8 Quantidade de Interações

583
O indicador ‘Quantidade de Interações’, se refere a descrição na qual a criança relata
e ou esboça, a quantidade de interações e a forma de atuação do suspeito, que podem
ser identificados como:

a) Episódio único (López-Sánchez, 1994) - que se refere ao relato em que está


presente a descrição da interação sexual de episódio único, a atuação que se
caracteriza pela necessidade imediata de saciar o desejo do suspeito, como uma
característica de aliviar sua tensão sexual. Geralmente não há o teor da ameaça
e nem de recompensa à vítima.

b) Episódio acidental – ocorre em ambientes públicos, tais como supermercados e


salões de festas, em que existe a presença de responsáveis pela criança, porém
o ofensor faz de sua ação um momento de oportunidade, com contato rápido e
lascivo.

c) Episódio recorrente ou crônico (López-Sánchez, 1994) - trata-se de uma


modalidade em que o suspeito já conhece a rotina da vítima e geralmente tem
tempo para agir, pois cria as condições adequadas para a interação sexual.
Geralmente ocorre em um local familiar a ambos. Existe um teor forte de
conteúdos de recompensas, que já pode ter ocorrido anterior ao fato.
Geralmente não há o teor da ameaça e se compõe de algumas características,
tais como: o suspeito aproveita do descuido de cuidadores para agir,
geralmente existe a presença de mais adultos no local (adultos conversando na
sala, adultos dormindo e as crianças brincando, reunião familiar com pessoas
em um determinado local da casa ou da escola), desenvolve estratégia de
acordo com sua escassez de tempo.

9 Ciclo da Interação Sexual

Neste tópico ‘Ciclo da Interação Sexual’, busca identificar nos relatos a descrição das
etapas que envolvem a dinâmica da interação sexual de um adulto com uma criança,
sempre na relação tempo-espaço, sendo os caracterizadores deste tópico:

Dinâmica da interação; relata todas as fases de interação sexual, tais como: quem é o
suspeito, o que o suspeito fez, onde (espaço físico), como ele fez e quais parte do seu
corpo da criança ele teve contato. Este indicador aponta características que ocorrem
nos crimes de violência sexual em detrimento de uma criança. Pode ocorrer o
envolvimento por ciclo: proximidade - isolamento – ameaça ou recompensa –
proximidade – isolamento.

Nesta dinâmica ao se constatar a assimetria de idade (Kempe, 1978; Finkelhor, 1986;


López-Sánchez, 1994) pode se qualificar uma situação como impositiva, sem chances
de atuação da vítima.

584
Outros especialistas apontam que, para considerar o abuso sexual, o ofensor teria de
ser mais velho que a criança , com uma diferença cinco anos quando este for inferior
a doze e dez anos se for superior a essa idade ( Finkelhor, 1979; Lopez, 1995).No
entanto , é evidente que as diferenças quantitativas de idade não são suficientes para
Para entender a dinâmica do abuso sexual em si.

Hartman e Burgess (1989 ) afirmam que a assimetria de idade afeta a definição de


abuso sexual, sendo o contato e interações sexuais entre uma criança e um adulto ou
se entre menores de 14 anos, há uma diferença de cinco anos entre eles , ou se a criança
ou adolescente agressor está em uma posição de poder ou controle sobre a vítima.
Também deve se considerar outras variáveis, tais como abuso de poder, coerção para
fins de interação sexual. Outra característica é o controle de domínio, que é a coerção
para fins sexuais de interação, neste controle de domínio existe uma assimetria de
poder entre a vítima e o agressor. Isto é, a presença de uma pessoa com características
de superioridade em relação ao outro e em que a primeira, tira partido da situação
para satisfazer seus desejos sexuais. Agora, a diferença de energia física para a
mobilização, pode ser estabelecida pela compleição física, habilidades sociais,
inteligência ou outras características se tornando mais impactante quando a criança
sofre de uma deficiência física ou mental. O controle de domínio pode ser identificado
nas etapas:

a) Pré-interação – estratégias utilizadas pelo ofensor para interagir com a criança,


identificadas no modus operandi e estratégias de grooming.

b) Interação e ou envolvimento – neste tópico comparece a conduta de ação do


ofensor.

c) Pós-interação – como ocorre o desengajar da ofensa, bem como a identificação dos


motivos que o ofensor libera a vítima da ação.

10 Proposições Motivadoras

Este indicador, ‘Proposições Motivadoras’, busca identificar as motivações


propulsoras para a realização da denúncia, por meio das etapas de pré e pós interação
sexual, que se referem aos quesitos:

a) Revelação – identifica-se como ocorreu a revelação, por meio da correspondência


intra e entre verbais por parte da criança e da comunicante. Em relação a
comunicante o que necessita se identificar no relato é a necessidade de condução
do caso para sua resolutividade. Os indicadores relevantes são: como ocorreu a
revelação, características da revelação espontânea: quem, o que e onde ocorreu, o
que se fazia e falava no momento da revelação, local em que estavam, atividades
que estavam engajados, o que ocorria antes da revelação, descrição do
comportamento da criança antes da revelação, descrição do comportamento da

585
criança no momento da revelação, descrição do comportamento da comunicante
no momento da revelação, descrição do comportamento da comunicante e da
criança pós revelação. Trata-se de uma atitude muito complexa para a criança, que
pode ser expressa de várias maneiras, tais como:

Revelação imediata - assim que acontece a violência sexual, a criança revela para
alguém, seja em casa ou na escola. É a situação mais rara de se encontrar.

Revelação espontânea ou comportamental - quando os pais e ou a escola identificam


comportamentos de conteúdo específico associados a mudanças comportamentais
que passam a chamar atenção dos pais e ou professores. Este tipo de revelação ocorre
geralmente em crianças de tenra idade.

Revelação seletiva - em que a criança escolhe a pessoa para quem irá revelar,
geralmente para uma amiga, prima, tia.

Revelação proposital – a criança escolhe o momento e contexto, pois pode estar


inserida em ambiente punitivo.

Revelação acidental – a criança narra após a intervenção de um terceiro, externo a


família ou não, a criança narra o episódio de violência sexual, após a narrativa de um
terceiro referente há fatos de violência sexual ou similares. Muito comum a criança
ver no noticiário da televisão e realizar uma correspondência com o que já
experienciou e revelar, tais como: a) um terceiro testemunhar sua experiência e por
correspondência a criança correlaciona os fatos e revela. Geralmente ocorre em
redações na escola, após uma reportagem na televisão, filmes; b) ocorre também após
um terceiro presenciar e narrar o fato, e com isso a vítima revela; c) quando um terceiro
(geralmente na escola), está falando de algum contexto específico e que por algum
motivo a criança faz uma correspondência e começa a revelar. Este comportamento
da criança causa espanto, em função do inusitado. Ocorre por Estimulação
Suplementar, para isso deve ser investigado o tipo e forma da Estimulação, que
decorreu de forma discriminativa para a criança.

b) Comunicação de crime- neste tópico deve-se estar atento quanto ao tempo de


latência entre a revelação e a notícia-crime, sendo que o ideal é a alta correlação do
comportamento da criança, com o momento da revelação e a quantidade de tempo
passado entre a revelação e a comunicação-crime, considerada comunicação
interessada, em que necessariamente encontra-se 3 fatores indissociados, tais como:

i. discurso em que o núcleo temático se atem especificamente ao fato;

ii. emoção sintomatológica coerente ao dano sofrido pela criança entrelaçado ao


comportamento emocional da comunicante;

586
iii.desejo (emoção + necessidade) extremo de correção psíquica da criança frente a tal
fato.

A comunicação do crime pode ser:

Comunicação interessada – a comunicante fica sabendo do fato e se dirige a delegacia,


ou é aconselhada a registrar a ocorrência, desta forma se diferem entre si.

Comunicação secundária – a comunicante ao tomar conhecimento do fato, não


comunica o fato a autoridade competente.

Comunicação terceirizada – quando o episódio é realizado ou motivado por vizinhos


e comunicação anônima. Neste caso deve ficar claro QUAL o motivo que levaria
pessoas a realizar tal comunicação e PORQUE o cuidador não o fez;

Comunicação promovida - quando o episódio é realizado pelo sistema de garantia de


direitos, como: OAB, igreja, Disque 100, Conselho Tutelar, MP. Geralmente existe o
apoio da escola para esta ocorrência.

a) Tempo entre a revelação e comunicação-crime - o que ocorreu no tempo decorrido,


em termos de ações e comportamentos em relação ao fato e a proteção da criança;

b) Repressão - se pós-descoberta da denúncia, o suspeito faz alguma ameaça a família,


ou alguma atitude em especifico;

c) Restauração – neste tópico geralmente não existe uma desconfiança em relação a


pessoa do agressor, por isso existe uma proximidade territorial entre o ofensor e a
criança, assim, não ocorre a necessidade de vigília entre a interação do ofensor e da
criança, por isso a ação ocorre, pois não acontece o monitoramento entre o suspeito
e a vítima.

Estas características são identificadas por meio da retrospectiva contextual, na


Entrevista Contingenciada, ou seja, a busca de indicadores que aponte para a
probabilidade de interação de conteúdo sexual entre ofensor e vítima, com algum fato
ou comportamento da criança que no relato atual faça sentido nas atitudes do passado,
porém, á época do fato não tinha significado por exatamente não se esperar tal atitude
o ofensor.

587
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i
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar,
dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da
criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - abrigo em entidade;
VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
VIII - colocação em família substituta.
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação
em família substituta, não implicando privação de liberdade.
§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis
como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família
substituta, não implicando privação de liberdade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e
das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é
de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou
de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao
responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de
acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela
autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos; (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência; (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando à reintegração
familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária
competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta, observadas as regras e
princípios desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 5o O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 6o Constarão do plano individual, dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
I - os resultados da avaliação interdisciplinar; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável; e (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou
responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e fundamentada
determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família substituta, sob direta
supervisão da autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do
responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a família

655
de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo facilitado e
estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
institucional fará imediata comunicação à autoridade judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo
de 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 9o Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou do adolescente à família de origem,
após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social, será
enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providências
tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política
municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destituição do poder familiar, ou destituição de
tutela ou guarda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de
destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou outras
providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
§ 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo informações
atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional sob sua
responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as
providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, aos quais incumbe
deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e adolescentes
afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de acolhimento. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
ii Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101.
iii
Resolução Conjunta nº 1, de dezembro de 2006 - Artigo 1º. Aprovar o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de
Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, em reunião conjunta, realizada no dia 13 de dezembro de 2006. Artigo 2º. O
CNAS e o CONANDA deverão adotar medidas, no âmbito de suas competências, para divulgação e efetivação do Plano Nacional de Promoção,
Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária.
iv Serve de parâmetro para aplicação, interpretação e integração não apenas dos direitos fundamentais e das demais normas constitucionais,
mas de todo o ordenamento jurídico” (Sarlet, 2002, p. 85).

v Na Lei 8069-90, em: Parte Especial, Título I, Da Política de Atendimento, Capítulo I, Disposições Gerais, Art. 88. São diretrizes da política de
atendimento:

VIII - especialização e formação continuada dos profissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à primeira infância, incluindo os
conhecimentos sobre direitos da criança e sobre desenvolvimento infantil; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

IX - formação profissional com abrangência dos diversos direitos da criança e do adolescente que favoreça a intersetorialidade no
atendimento da criança e do adolescente e seu desenvolvimento integral; (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

X - realização e divulgação de pesquisas sobre desenvolvimento infantil e sobre prevenção da violência. (Incluído pela Lei nº 13.257, de
2016)

vi Art. 217A
do Código Penal - Decreto Lei 2848/40 - Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
vii Art. 14. As
políticas implementadas nos sistemas de justiça, segurança pública, assistência social, educação e saúde deverão adotar ações
articuladas, coordenadas e efetivas voltadas ao acolhimento e ao atendimento integral às vítimas de violência.
§ 1o As ações de que trata o caput observarão as seguintes diretrizes:
I- abrangência e integralidade, devendo comportar avaliação e atenção de todas as necessidades da vítima decorrentes da ofensa
sofrida;
viii
CAPÍTULO II
DISPOSIÇÕES ESPECIAIS
SEÇÃO I
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS NA ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS PSICOLÓGICOS
Documento Psicológico
Princípios da Linguagem Técnica – Art. 6º, § 5º - Os documentos psicológicos não devem apresentar descrições literais dos atendimentos
realizados, salvo quando tais descrições se justifiquem tecnicamente.

656
ix
O termo descrição, refere-se a um termo conceitual da teoria Skineriana, no qual realiza-se a análise funcional do comportamento verbal
em que se utiliza para esta análise, o instrumento conceitual: contingência tríplice (Skinner, 1969).

x “Em meados de 2003, uma garota de sete anos contou em detalhes, na Vara de Infância e
Juventude de Porto Alegre, os abusos sexuais que sofreu dentro de sua própria casa. A
obtenção do relato completo da criança, que possibilitou a condenação do padrasto abusador,
tinha um significado ainda maior para quem ouviu o depoimento, o juiz José Antônio Daltoé
Cezar, atualmente desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS). Era
uma das primeiras vezes no país em que a escuta da criança era feita por meio de depoimento
especial, uma técnica humanizada para oitiva de menores vítimas de violência e abuso sexual.
O depoimento especial, que passou a ser obrigatório com a Lei n. 13.431, sancionada no último
dia 4 de abril, vem sendo adotado amplamente pelos juízes com base na Recomendação n. 33,
de 2010, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na avaliação do conselheiro Lelio Bentes, o
CNJ tem dedicado especial atenção ao tratamento das garantias constitucionais de crianças e
adolescentes. “Na função de órgão central e de governança, tem a atribuição de definir
políticas públicas de aprimoramento, implementação e sistematização dos incrementos em
prol de um sistema jurídico prioritário, ágil e eficiente de proteção à infância e à juventude”,
aponta o conselheiro no voto que culminou na criação do Fórum Nacional da Infância e da
Juventude (Foninj). A técnica que começou em Porto Alegre foi inspirada em um modelo
pioneiro da Inglaterra, em que a conversa com as crianças é realizada pela polícia, e, antes de
chegar ao Brasil, já estava presente em diversos países como Espanha, Argentina, Chile e
Estados Unidos, sendo que, neste último, a entrevista é feita por Organizações Não
Governamentais (ONGs). Segundo dados preliminares levantados pela assessoria de
comunicação do CNJ em julho do ano passado, ao menos 23 Tribunais de Justiça (85%) contam
com espaços adaptados para entrevistas reservadas com as crianças – as chamadas salas de
depoimento especial – cuja conversa é transmitida ao vivo para a sala de audiência. Em 2004,
um ano após ter sido introduzida no país, mais dez comarcas do Rio Grande do Sul ganharam
salas de audiência e, atualmente, 42 varas contam com o espaço – até o fim do ano serão 70 das
164 comarcas do Estado. Outro avanço é que a metodologia do depoimento especial
atualmente é uma matéria exigida pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de
Magistrados (Enfam) para o vitaliciamento de juízes, que ocorre dois anos após ingressarem
na magistratura por meio de concurso público. Somente no Distrito Federal foram atendidos,
ano passado, 691 menores em situação de violência sexual pela Secretaria Psicossocial do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), responsável por realizar o
depoimento especial das crianças. A equipe do tribunal se desloca diariamente entre os 16
fóruns do Distrito Federal que contam com salas de depoimento especial e realizam até oito
entrevistas com crianças por dia. “O método usado protege a criança, propiciando um
ambiente mais seguro e menos hostil, ao mesmo tempo que permite um depoimento mais
fidedigno por meio da técnica adequada”, diz Raquel Guimarães, Supervisora do Serviço de
Assessoramento aos Juízos Criminais (Serav) do TJDFT. O depoimento especial – nomeado
anteriormente “depoimento sem dano“ –, consiste na aplicação de uma metodologia
diferenciada de escuta de crianças e adolescentes na Justiça, em um ambiente reservado e que
seja mais adequado ao seu universo. Na prática, servidores da Justiça são capacitados para
conversar com crianças em um ambiente lúdico, procurando ganhar a sua confiança e não
interromper a sua narrativa, permitindo o chamado relato livre. A conversa é gravada e
assistida ao vivo na sala de audiência pelo juiz e demais partes do processo, como
procuradores e advogados da defesa, por exemplo. A criança tem ciência de que está sendo
gravada, informação que é transmitida de acordo com a sua capacidade de compreensão. O
depoimento especial não se resume, porém, a um espaço físico amigável, mas representa nova
postura da autoridade judiciária, que complementa a sua função com a participação de uma
equipe de psicólogos, assistentes sociais e profissionais de outras áreas capacitados em
técnicas de entrevista forense. Isso porque o depoimento tradicional costuma gerar grande

657
desconforto e estresse em crianças que precisam repetir inúmeras vezes os fatos ocorridos, nas
várias fases da investigação. Outro fator relevante é que o depoimento especial aumenta a
fidedignidade dos relatos dos depoentes. Pesquisas demonstram que se questionada de forma
inadequada, crianças e adolescentes – assim como adultos – podem relatar situações que não
ocorreram ao se sentirem constrangidas ou mesmo ter falsas memórias implantadas. Por esta
razão, é fundamental que os entrevistadores sejam altamente qualificados na técnica. Para o
depoimento especial devem ser seguidos alguns passos que a ciência demonstrou eficazes
para proteger o depoente e garantir a fidedignidade do relato. Existem variações, mas o eixo
central aponta que a vítima deve ser incentivada a rememorar o fato, sem ser interrompida.
As eventuais perguntas do juiz, promotor ou advogado são repassadas por telefone ao
entrevistador, para que este adeque os questionamentos aos padrões de perguntas que
pesquisas indicam como produtoras de respostas fidedignas e que preservam a criança ou
adolescente de violência emocional. A grande maioria dos tribunais utiliza-se da
videoconferência para os depoimentos especiais, onde câmeras de filmagem transmitem em
tempo real a imagem da criança ou adolescente para a sala de audiências. Há alguns tribunais
que empregam uma divisória de vidro entre a sala de audiência e a sala de depoimento com
uma película que impossibilita a criança ou adolescente visualizar os profissionais do Direito
e o réu presentes do lado oposto. Em ambos os casos, o magistrado, por meio de telefone ou
de microfone, pode fazer perguntas ao profissional que está com a criança, no momento em
que o protocolo utilizado permitir. (CNJ, 2017)

xi Tecnologia de Ponta, se refere àquilo que há de mais avançado numa determinada época. Tecnologia de ponta é
entendida como o mais recente desenvolvimento tecnológico decorrente de áreas que envolvem atividades
inovativas.
xii
Calcular o número de maneiras que certos arranjos podem ser formados é o princípio da combinatória.
Considerando S um conjunto com n elementos. As combinações de k elementos de S são subconjuntos
de S tendo k elementos, onde a ordem em que são listados os elementos não são relevantes (de Almeida & Ferreira,
2010).
xiii “Em
"Contingencies of reinforcement" de 1969 Skinner destaca o papel das contingências de reforço na
definição de operante: Um operante é uma classe, da qual uma resposta é uma instância ou membro. ... É sempre
uma resposta à qual um reforço é contingente, mas é contingente às propriedades que definem a pertinência a um
operante. Assim, um conjunto de contingências define um operante (Skinner, 1969, p. 131), (Todorov, 2007).”
xiv
Helena Antipoff estagiou no Laboratório de Psicologia da Universidade de Paris, entre 1909 e 1912, onde
iniciou sua formação científica, tendo participado dos ensaios de padronização dos testes de nível mental de
crianças então elaborados por Alfred Binet e Théodule Simon. Entre 1912 e 1916, em Genebra, freqüentou
o Institut des Sciences de l'Education Jean-Jacques Rousseau, onde obteve o diploma de psicóloga, com
especialização em Psicologia da Educação. Sob a orientação de Edouard Claparède, Helena Antipoff fez parte do
primeiro grupo de professoras da Maison des Petits, escola experimental anexa ao Institut Rousseau, onde os
novos métodos educativos preconizados pela equipe do Instituto seriam elaborados e testados, resultando na
proposta da Escola Ativa, segundo a qual as atividades educativas deveriam acompanhar o movimento dos
interesses do educando (Hameline, 1996) Antipoff veio para o Brasil em 1929, a convite do governo do Estado de
Minas Gerais, para participar da implantação da reforma de ensino conhecida como Reforma Francisco Campos
Mário Casassanta. A Reforma, uma das mais importantes iniciativas de apropriação do movimento da Escola Nova
ocorridas no Brasil, previa a implantação de uma Escola de Aperfeiçoamento de Professores, dedicada à graduação
de normalistas que viriam a assumir a efetiva transformação do ensino fundamental na rede de escolas primárias
que foi rapidamente ampliada. No projeto da Escola, uma grande ênfase foi dada ao ensino da psicologia, então
considerada, entre as ciências da educação, como a mais fundamental. Na opinião de Édouard Claparède, o estudo
da psicologia é que permitiria conhecer a matéria-prima da educação, isto é, o estudante. E foi justamente Helena
Antipoff, aluna e assistente de Claparède no Instituto Jean-Jacques Rousseau, em Genebra, que veio a ser
convidada a implantar o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento, e a iniciar o estudo e a pesquisa
em psicologia da educação no âmbito da Reforma (Campos, 2003).
xv
O PNDH – Programa Nacional de Direitos Humanos, foi instituído pelo Decreto 1904, de 13 de maio de 1996,
no governo Fernando Henrique Cardoso. é composto, de Objetivos Estratégicos com ações programáticas que
aponta o objetivo, a responsabilidade da execução e parceiros,. O Programa Nacional de Direitos Humanos, foi
uma recomendação da Conferência Mundial de Direitos Humanos, de Viena em 1993, em que o Brasil presidiu o

658
comitê de redação. O PNDH, contribuiu para ampliar a participação do Brasil nos sistemas internacional e
interamericano de proteção dos direitos humanos, fortaleceu a política de adesão a tratados internacionais, sua
ratificação e implementação, por meio da adoção de 'soluções amistosas' para casos de violação submetidos à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, além da aceitação da competência contenciosa da Corte
Interamericana de Direitos Humanos - CIDH, que representa garantia adicional a todas as pessoas sujeitas à
jurisdição brasileira da proteção de seus direitos, tais como os consagrados na Convenção Americana sobre
Direitos Humanos, quando as instâncias nacionais não se mostrarem capazes de garanti-los e de assegurar a
realização da justiça. Além dessas medidas, os resultados da elaboração e implementação do PNDH – Programa
Nacional de Direitos Humanos, podem ser medidos pela ampliação do espaço público de debate sobre questões
afetas à proteção e promoção dos direitos humanos, notadamente da criança e do adolescente, fez com que se
desenvolvessem as seguintes ações: implantação de delegacias de defesa, criação de defensoria pública,
capacitação e promoção de eventos.
xvi Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente – Rio Branco - Acre

Delegacia Especializada em crimes contra a Mulher e em Proteção à Criança e ao Adolescente – Cruzeiro do Sul
– acre
Delegacia Especializada de Assistência e Proteção à Criança e ao Adolescente - DEAPCA-AM - Manaus
Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Crianças e Adolescentes DERCCA-AP macapa
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente - Divisão de Atendimento ao Adolescente DATA-PA, Belem
Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-RO, Porto Velho
Delegacia de Defesa da Infância e Juventude de Roraima DDIJ-RR, Boa Vista
Delegacia Estadual de Proteção à Criança e ao Adolescente e ao Idoso - DPCIA-TO,Palmas
Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Crianças e Adolescentes DERCCA-AL, Maceio
Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente DERCCA-BA, Salvador
Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente –CE, Fortaleza
Delegacia da Criança e do Adolescente DCA – CE, Fortaleza
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-MA,São Luís
Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Infância e Juventude – PB,João Pessoa
Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente DPCA – PE, Recife
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA – PI, Teresina
Delegacia Especializada em Defesa da Criança e do Adolescente DCA-RN, Natal
Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-SE, Aracaju
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-DF, Brasilia
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-GO, Goiânia
Delegacia Especializada do Adolescente DEA-MT, Cuiabá
Delegacia da Infância e da Juventude DEIJ-MT, Campo Grande
Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-MS,Várzea Grande
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-ES Vitória
Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente DOPCAD-MG Belo Horizonte
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-MG Belo Horizonte
1ª Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA-RJ) Rio de Janeiro
2ª Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente DPCA-RJ, Niterói
Delegacia do Adolescente PR - Curitiba
1ª Delegacia para Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima DPCAV-RS, Porto Alegre
Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente e à Mulher – SC, Florianopolis
xvii
O absolutismo foi um sistema político-administrativo que vigorou nos países europeus, no período do Antigo
Regime (entre os séculos XVI ao XVIII).
xviii
Greco (2008) relata que:

“A tipicidade conglobante surge quando comprovado, no caso concreto, que


a conduta praticada pelo agente é considerada antinormativa, isto é, contrária
à norma penal, e não imposta ou fomentada por ela, bem como ofensiva a bens
de relevo para o Direito Penal (tipicidade material).”

659
Desta forma, seria incoerente e contraditório, que dentro de um mesmo ordenamento jurídico existisse
uma norma que autoriza um comportamento, enquanto outra norma, dentro do mesmo
sistema, proíbe formalmente o mesmo comportamento por ela admitido.

xix Os
requisitos para se tornar um conselheiro tutelar são estabelecidos primeiramente pela lei federal 8069/90 -
ECA, artigo 133 requisitos essenciais que serão combinados com a legislação municipal para que o candidato
preencha todos os requisitos estabelecidos até chegar ao pleito. Será obrigatório que o candidato siga todas as
etapas dos editais de seus municípios, visando aquisição do cargo mediante aprovação em todos os itens
estabelecidos nos respectivos editais. Com o intuito de cumprir as diretrizes estabelecidas no artigo 227 da
Constituição Brasileira de 1988, foi criado o Conselho Tutelar – órgão permanente e autônomo, não jurisdicional,
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes em seu artigo
131 da Lei Federal 8069/90. O Conselho Tutelar exerce, sem dúvida, uma política de atendimento voltada à criança
e ao adolescente, para fins específicos, em face de sua natureza, de sua função equiparada a de um servidor público,
mas não vinculado ao regime estatutário ou celetista. As leis municipais estabelecerão os direitos sociais dos
conselheiros a exemplo de férias, licenças - maternidade e paternidade, enfim, direitos assegurados com fulcro na
Constituição Federal de 1988. O Conselho Tutelar tornou-se uma das primeiras instituições da democracia
representativa, ou seja, um órgão garantista da exigibilidade dos direitos assegurados nas normas internacionais,
na Constituição e nas leis voltadas à população infanto-juvenil. O Conselho Tutelar, é por excelência, o órgão que
vai representar a sociedade, uma vez que seus membros são por ela escolhidos para atribuições relevantes perante
todos os membros da sociedade, mas principalmente para as crianças e adolescentes. O artigo 131 do Estatuto da
Criança e do Adolescente traz na sua essência que o Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não
jurisdicional, encarregado pela sociedade por zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,
definidos nesta lei.
xx
A escrita foi inventada na Suméria, um país que existia onde hoje estão o Irã e o Iraque, numa região chamada
Mesopotâmia, que quer dizer entre rios: os rios Tigre e o Eufrates, há cerca de cinco mil anos. Há também a
informação de que possivelmente na China, na América Central e no Egito também foi elaborado um sistema de
escrita, mesmo sem saber o que ocorria na Suméria. Todos os sistemas que apareceram depois vieram de um desses
quatro primeiros – da Suméria, da China, da América Central e do Egito (Filho, 2011). O alfabeto grego foi adotado
no século VIII a.c., sendo que a grande diferença foi o acréscimo dos sons vocálicos, até então não utilizado, assim
o alfabeto passou a ter 24 letras entre vogais e consoantes (Cagliari, 2009). Os semitas, das grandes civilizações
estavam satisfeitos com seus sistemas de escrita, o alfabeto semítico. De um lado, no nordeste da África,
predominava o sistema egípcio, e do outro, na Mesopotâmia, o sistema cuneiforme e entre estes polos civilizatórios
estavam os grandes comerciantes do Mediterrâneo, sem compromisso com a escrita. E entre os silabários
cuneiformes da Mesopotâmia e a escrita egípcia da África, optaram pela egípcia com uma forma gráfica mais
atraente para ser escrita e lida, útil sobretudo nas necessidades do dia-a-dia (Cagliari, 2009). Assim surgiu uma
escrita com característica egípcia para o Oriente Médio, desta forma uniram a vantagem gráfica dos egípcios ás
vantagens funcionais da escrita cuneiforme que, já havia adotado o silabário com poucos caracteres, reconhecidas
como proto-sinaíticas, datadas de 1500 a.c.. Desta forma, no outro extremo do Oriente Médio, ao redor do
Mediterrâneo, os fenícios tinham na escrita um instrumento importante de sua atividade comercial, já estabelecida
no século XIII a.C., e se fixou numa forma definitiva, com 22 letras apenas. A escrita fenícia está na origem de
muitas outras escritas, como a árabe, a hebraica, a aramaica, a tamúdica, a púnica (de Cartago) e, sobretudo, a
escrita grega, da qual se derivou a latina, origem do alfabeto que hoje usamos. A escrita fenícia era usada apenas
de maneira esporádica, e manteve sua natureza pictográfica por meio milênio, até ser adotada para uso
administrativo em Canaã. Os primeiros estados canaanitas a fazer um uso extensivo do alfabeto foram as cidades
estado fenícias, e por este motivo os estágios tardios da escrita canaanita são chamados de alfabeto fenício. Estas
cidades da Fenícia eram estados marítimos, centros de uma vasta rede de comércio e rapidamente, o alfabeto
fenício se espalhou por todo o Mediterrâneo. Duas variantes do alfabeto fenício tiveram grande impacto na história
da escrita: o alfabeto aramaico e o alfabeto grego. Evidências históricas apontam que o alfabeto grego deriva de
uma variante do alfabeto semítico (hebraico), introduzido na Grécia por mercadores fenícios. Observa-se que o
alfabeto fenício não necessita de observar as vogais, ao contrário da língua grega e outras da família indo-europeia,
como o latim. Por volta do século VIII a.c., os gregos acrescentaram ao sistema mais sons vocálicos e o
alfabeto passou a ter 24 letras, entre vogais e consoantes. Cagliari (2009), informa que segundo Heródoto, um
fenício chamado Cadmos, que viveu de 1350 a 1209 a.C., instalou-se na Boécia, onde fundou Tebas e começou a
escrever grego com 16 caracteres fenícios. Conta-se também que, durante a guerra de Tróia, surgiram quatro novas
letras, introduzidas por Palamedes. O alfabeto grego teria sido completado pelo poeta Simônides de Ceos (556
468 a.C.) com mais quatro letras. Cagliari (2009) também destaca que não se sabe até onde isto é história.

660
xxi
O Bagavad-Guitá é a essência do conhecimento védico da Índia e um dos maiores clássicos
de filosofia e espiritualidade do mundo, datado do século IV A.C.. A filosofia perene do Bagavad-Guitá tem
intrigado a mente de quase todos os grandes pensadores da humanidade, e tem influenciado de maneira decisiva
inúmeros movimentos espiritualistas. Relata o diálogo de Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, que é a
verdade absoluta e inconcebível com seu discípulo guerreiro em pleno campo de batalha. Arjuna representa o
papel de uma alma confusa sobre seu dever, e recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna, que o instrui na
ciência da auto-realização. No desenrolar da conversa são colocados pontos importantes da filosofia divina, que
incluía já na época elementos do Bramanismo e do Sankhya. A obra é uma das principais escrituras sagradas da
cultura da Índia, e compõe a principal obra da religião Vaishnava, que envolve várias ramificações de fé em Vishnu
ou Krishna, dentre as quais o popularmente conhecido movimento para consciencia de Sri Krishna, que a difundiu,
a partir de 1965, no ocidente, por Bhaktivedanta Swami Srila Prabhupada.
xxii
Platão e sua‘ Academia – ’escola de filosofia de Platão (387 Ac), com preferência à ciência, a episteme
- conhecimento metodologicamente construído em oposição às opiniões individuais, como fundamento
da realidade. Na filosofia grega, especialmente no platonismo, trata-se do conhecimento verdadeiro, de
natureza científica, em oposição à opinião infundada ou irrefletida. Apesar do aviso de que, quem não
conhecesse Geometria ali não deveria entrar, Aristóteles (mesmo sendo um não-matemático) decidiu
se pela academia platônica e nela permaneceu vinte anos, até a morte de Platão. Com este fato, Espeu
sipo, sobrinho de Platão, assumiu a direção da Academia e começou a proporcionar ao estudo
acadêmico da filosofia um viés matemático, considerado inadequado por Aristóteles (384 – 322 Dc).

xxiii
Falsafa é simplesmente a tradução literal do grego para o árabe da palavra filosofia e se refere àque
les pensadores que discutiam e debatiam os pressupostos gregos da filosofia, tal como as questões da
alma.

xxivEpistemologia pode ser definida etimologicamente como discurso racional (logos) da ciência
(episteme). A palavra grega episteme pode ser traduzida por conhecimento estabelecido, conhecimento
seguro. A palavra grega logos, dona de várias acepções, pode ser aqui traduzida por “teoria racional”
(Castañon, 2007).
xxv
Agostino Nifo, seguiu e modificou suas idéias a respeito de Averroes, de nome natural, Ibn Rushd,
assim latinizado como Averroes, que escreveu sobre lógica, filosofia
aristotélica e islâmica, teologia, matemática e as ciências
medievais de medicina ,astronomia, física e mecânica celeste. Ibn Rushd nasceu em Córdoba, Al Anda
lus (atual Espanha), e morreu em Marrakesh, no atual Marrocos. Ibn Rushd foi um defensor da filosofia
aristotélica contra teólogos Ash'ari liderados por Al-Ghazali. Embora altamente considerado como um
estudioso jurídico da escola de Maliki de lei islâmica, idéias filosóficas de Ibn Rushd foram
considerados controversos em Ash'arite círculos muçulmanos. Enquanto al-Ghazali acreditava que
qualquer ato individual de um fenômeno natural ocorreu somente porque Deus quis que isso
acontecesse, Ibn Rushd insistiu que fenômenos seguiam leis naturais que Deus criou. Ibn Rushd teve
um impacto maior sobre a Europa cristã, as traduções para o latim do trabalho de Ibn Rushd
conduziram à popularização de Aristóteles. Em 1495 Agostino Nifo, produziu uma edição das obras de
Averroes. Na grande controvérsia com os alexandrinos, ele se opôs à teoria de Pietro Pomponazzi, de
que a alma racional está inseparavelmente ligada à parte material do indivíduo e, portanto, que a morte
do corpo carrega consigo a morte da alma. Ele insistiu que a alma individual, como parte do intelecto
absoluto, é indestrutível, e na morte do corpo é fundido na unidade eterna.

xxviSimplício da Cilícia (490 – 560 Dc), foi um dos últimos membros da escola neoplatônica, considerado
um dos melhores Comentaristas (intérprete) de Aristóteles. A escola tinha sua sede em Atenas. Tornou
se o centro dos últimos esforços para manter a religião helenística contra as invasões
do cristianismo. Simplicius estava entre os filósofos pagãos perseguidos pelo Imperador Justiniano no
ano de 528. Simplício, como neoplatônico, tentou mostrar que Aristóteles concordava com Platão.
Simplicius comenta a respeito de Physics I, em que Aristóteles destaca que, para ter conhecimento
científico de qualquer domínio das coisas (neste trabalho seu principal interesse era em coisas naturais)

661
temos que conhecer seus princípios e causas e elementos. E acrescenta que estes, não são imediatamente
dados a nós: temos de começar com coisas que são "mais conhecíveis para nós", ou mais conhecíveis à
sensação, e proceder até que possamos compreender as coisas anteriores que são "mais conhecíveis pela
natureza (constituição) ", ou mais inteligível. Isto é um padrão muito aristoteliano. Assim, segundo o
relato de Simplicius, não é simplesmente, como Physics I, sugere, que começamos com uma
compreensão grosseira do 'universal' e chegamos a um conhecimento preciso do 'particular'.
Preferencialmente Simplicius acredita que devemos passar por três etapas para um conhecimento do
que é mais cognoscível em si, porém menos conhecível para nós: primeiro uma compreensão grosseira
de um universal, depois uma compreensão dos particulares, e depois uma compreensão mais precisa
do universal, subordinado a compreensão dos particulares, mas de algum modo "sintetizando as
diferenças" de uma só vez. Desta forma, Simplicius acredita que, ao prosseguimos de uma grosseira
compreensão de "animal" - uma classificação mediana dos indivíduos que vimos – para uma
compreensão de cada um dos tipos particulares de animal, e daí para uma compreensão do genus
(subdivisão do grupo subfamília) animal que nos permite captar todas as possíveis diferenças e espécies
que surgem da δύναμις – força/determinação do genus. Existe uma progressão semelhante no
entendimento de um nome: primeiro associamos o nome com uma imagem, depois determinamos o
conceito, que permite uma definição, isto é, pela enumeração de uma série de marcas da coisa e então
compreendemos a essência na simples junção que une estas muitas marcas. Aqui Simplicius alerta que
Aristóteles pensa que uma definição científica deve ser de tal maneira que seja de uma única coisa, e
então a compreensão da essência, envolverá compreender por que as diferentes coisas mencionadas na
definição estão unidos uns aos outros. Algo semelhante acontece ao 'agarrar o todo'. A exemplo, um
certo tipo de animal, primeiro apreendemos rudimentarmente o animal como um todo, então
compreendemos cada uma das partes funcionais do animal - cada uma das partes das quais o distingui
de outros tipos de animais, e serão mencionados na definição científica do todo desta espécie - e então
colocamos nosso conhecimento das partes junto a compreensão científica do todo, consistindo essas
partes necessariamente unidas uma a outra. A posição aristotélica, em Metafísica Z12, é que o genus
deve estar em potencialidade em todas as diferenças e de uma só vez e, portanto, não pode existir
separadamente, pois o que é separado e eterno e imutável não tem potencialidade para contrários. A
resposta do padrão neoplatônico, em Ammonius In Isagogen 103,9-104,31, é que o genus existe
paradigmaticamente antes de suas espécies e indivíduos, que contém versões paradigmáticas de todas
as suas diferenças na atualidade. O que existe neles em potencial é somente o sentido de ativar a força
para produzi-los nas espécies e indivíduos que causalmente dependem dela (ver Plotino V, 3,15),
(Menn, 2010).

xxvii
Marcantonio Genua foi um filósofo aristotélico renascentista que ensinou na Universidade de
Pádua . Foi professor e tio do grande filósofo renascentista Giacomo Zabarella.

xxviiiPietro Pomponazzi sustentava que a imortalidade da alma não pode ser demonstrada
racionalmente e para defender sua tese separa as verdades da fé das verdades da razão. Todos os
fenômenos têm causas naturais, mesmo os que parecem sobrenaturais e extraordinários, mesmo os que
as pessoas consideram milagre somente porque não tem a capacidade de encontrar a causa. Se Deus
criou o universo colocando nele leis físicas exatas e imutáveis, seria paradoxal que esse mesmo Deus
criasse eventos sobrenaturais, como os milagres, que fossem contra essas leis. http://www.filoso
fia.com.br/historia_show.php?id=59

xxix
Trata-se de uma unidade de medida igual a metade de um em e aproximadamente a largura média
de caracteres tipográficos, usada especialmente para estimar a quantidade total de espaço que um texto
exigirá

xxx Depois disso, em 1926, Kruno Krstic participou do estudo da filosofia com psicologia, língua italiana
e literatura na Faculdade de Filosofia, em Zagreb, capital da Croácia, se formou em 1930 e, em seguida,
na mesma universidade em 1934 se formou na francês e latim com a literatura. Krstic recebeu seu
PhD em 1937, na tese de Psicologia: Um polimorfismo assunto prometedor da psicologia. Ele continuou seus

662
estudos, em duas ocasiões, no Instituto Fonetskome em Paris, na Sorbonne e no College de France em
filosofia, psicologia e lingüística.

xxxi Josef Brožek (1913–2004) nasceu em 1913, na cidade de Melnik, na Boêmia, atual República Tcheca.
Em junho de 1937, tornou-se PhD pela Charles University, em Praga, na Tchecoslováquia, com uma tese
sobre “Memória: suas medidas e sua estrutura”. Atuou como psicólogo nesse país, na área da orientação
vocacional e da psicologia industrial, nos anos de 1938 e 1939. Em 1939, devido aos inícios da Segunda
Guerra Mundial, emigrou para os Estados Unidos e naturalizou-se americano em 1945. Continuou sua
atividade de pesquisador e assumiu diversos cargos universitários na Europa e EUA, desde 1936, entre
eles, a partir de 1941, como pesquisador no Laboratório de Higiene Fisiológica, onde desenvolveu
pesquisas sobre os efeitos da desnutrição no comportamento humano, e no campo da psicologia do
trabalho; e no M.I.T. (Massachusetts Institute of Technology), em 1980-1981. A partir de 1958, foi nomeado
professor de Psicologia e Pesquisador da Lehigh University, em Bethlehem, Pennsylvania, nos Estados
Unidos. Em 1965, participou da criação da Divisão 26 da American Psychological Association, dedicada à
História da Psicologia, e da organização do periódico Journal of the History of the Behavioral Sciences, que
se tornou um dos principais veículos de difusão da pesquisa científica na área. A primeira visita ao
Brasil ocorreu no Rio de Janeiro, a convite do Professor Antonio Gomes Penna, organizador do Primeiro
Seminário Latino-Americano de História da Psicologia (1988). Na ocasião, Brožek fez também uma
breve visita a São Paulo, a convite da Professora Maria do Carmo Guedes, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. A segunda visita ocorreu em 1996, quando esteve em Ribeirão Preto (SP), a
convite da Professora Marina Massimi, para lecionar curso de História da Psicologia para pós
graduandos e pesquisadores, e em Teresópolis (RJ), onde participou com muito interesse, no âmbito do
Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em
Psicologia, da reunião em que ocorreu a consolidação de nosso grupo de trabalho em História da
Psicologia. Este grupo reúne pesquisadores brasileiros na área, e permanece ativo até hoje. (Massimi,
M. & Campos, R.H.F. (2004). Josef Brožek: história e memória (1913-2004).

xxxiiO Renascimento não pode ser separado do humanismo, movimento amplo (séculos XIV a XVI) pelo
qual o homem torna-se o centro das preocupações intelectuais. O termo humanista designava,
inicialmente, um grupo de pessoas que, mesmo antes do século XV, dedicava-se à reformulação dos
estudos ministrados nas universidades. O objetivo era dar nova orientação ao ensino universitário
através dos estudos humanísticos, que abrangiam matérias como filosofia, história, poesia e eloqüência.
Nesses estudos, considerava-se como elemento indispensável o conhecimento do grego e do latim, uma
vez que utilizavam, permanentemente, textos da Antiguidade Clássica. Os pensadores e intelectuais
humanistas geralmente são confundidos com antirreligiosos, porém o que se buscava era uma relação
com Deus e com o mundo natural. A investigação humana seria privilegiada, o homem racionalizaria
por meio dos seus pensamentos a investigação dos diversos fenômenos naturais, sociais, culturais e
míticos. Com o Humanismo, o homem passou a ser visto como imagem e semelhança do seu criador
Deus, tornando-se a medida de todas as coisas. Os humanistas romperam com o Teocentrismo (a ideia
de que Deus era o centro de todo o universo e de toda a vida humana) e passou a prevalecer a ideia do
Antropocentrismo (o homem no centro do universo e da vida humana). O Humanismo levou a reformas
nos ensinos das universidades europeias e ocorreu uma valorização das ciências humanas, hoje, e
privilegiou o ensino e o estudo da Poesia, Filosofia e História. Os humanistas pretendiam introduzir
métodos críticos na leitura e interpretação de obras e desejavam reconstruir os textos originais para
corrigir erros, omissões e modificações realizadas pelos monges copistas medievais. No século XV com
a criação da prensa, por Johann Gutemberg, o invento revolucionou a produção de livros, que não
precisaram ser mais manuscritos por copistas, tal invenção propiciou uma maior difusão do
conhecimento. O Humanismo, como visto, foi a base teórica e filosófica do movimento renascentista,
influenciando o Renascimento artístico, cultural e científico.

xxxiiiJohannes Gutenberg (1398-1468) foi o inventor da máquina de imprensa e gráfico alemão. A


primeira obra que imprimiu em diversas cópias foi a Bíblia. Em Mogúncia, Gutenberg conheceu Johann
Fust, que lhe financiou o projeto de uma oficina de imprensa. Gutenberg, imprimiu a Bíblia em 1282

663
páginas escritas em latim, o processo que se iniciou cerca de 1445 e que terá terminado em 1455
Gutenberg ainda imprimiu outras obras enquanto trabalhava na impressão da Bíblia, como a “Carta de
Indulgência” (1451).
xxxiv Nos
últimos vinte anos, a investigação da teologia dos séculos XVI e XVII levou a uma reavaliação
da escolástica protestante e sua relação com a Reforma. Anteriormente historiadores da doutrina
consideravam o escolasticismo protestante como excessivamente racionalista à custa do biblicismo da
Reforma, e fortemente dependente da filosofia aristotélica, e organizada em torno de uma doutrina
central tais como predestinação. O consenso atual é que o escolasticismo protestante refletiu a profunda
familiaridade dos teólogos ortodoxos com o compromisso com o texto bíblico, que os fizeram se
apropriar de Aristóteles, e que tal apropriação foi mais eclética que servil. E que a idéia de um dogma
central que se organiza toda a teologia é mais uma criação do século XIX, do que uma realidade do
século XVI, que enfatizam que o escolasticismo protestante era a base de um método de ensino que
estava intimamente ligado as conferências universitárias, como uma 'forma' de abordar os tópicos
teológicos a partir de um locus organizado. O retorno da dialética à teologia é mais surpreendente por
que a primeira geração de reformadores havia se divorciado tanto da dialética, quanto da teologia, como
um método para determinar a verdade das proposições, e assim, a lógica desempenhou um papel na
teologia especulativa da idade média posterior. Bíblicos humanistas rejeitaram o uso da lógica, assim
como fizeram com a teologia especulativa, pois no geral acreditavam que a tarefa do teólogo deveria
ser a análise filológica do texto bíblico. No prefácio à sua edição do Novo Testamento grego, Erasmus
argumentou que a teologia deveria ser enraizada na exegese (explicação crítica que tem por objetivo
esclarecer ou interpretar minuciosamente um texto ou uma palavra, particularmente em um texto
religioso). Os reformadores seguiram seu exemplo e seu vigor, para produzir comentários bíblicos, ao
invés de obras de teologia sistemática, desta forma, suas ferramentas eram as de filologia e retórica,
mais do que a dialética (Burnett, 2004). A lógica medieval era um ramo técnico altamente especializado
da filosofia, preocupado com a precisão lingüística, em particular com o significado dos termos e a
validade das proposições. Como tal, foi desprezado pelos humanistas como a especulação vazia sem
qualquer valor prático, por ser praticada por homens que eram culpados do que era visto como o pecado
final, o uso de latim bárbaro. Por volta do início do século XV, a dialética tinha retrocedido muito atrás
da gramática e da Retórica nas reformas educacionais dos humanistas italianos. No entanto, a lógica era
muito importante para a argumentação persuasiva para os humanistas ignorá-la completamente. Desta
forma, Lorenzo Valla foi o primeiro a sugerir como os princípios da dialética poderiam ser adaptados
ao uso dos humanistas, combinando-os com os princípios retóricos tomados de Cícero e Quintiliano.
Com isso, foi o holandês humanista Rudolf Agricola, que forneceu aos humanistas uma forma aceitável
de dialética. Em sua invenção dialética, Agricola enfatizou a eloquência latina, ao invés da precisão
terminológica e a organização dos argumentos, ao invés da demonstração científica da verdade. De fato,
Agricola obscureceu a distinção aristotélica entre a lógica ou demonstração científica, que era a base das
proposições verdadeiras, e dialética, que por sua vez era a base das proposições prováveis. Desta forma,
Agricola ensinou que os argumentos poderiam ser melhor analisados examinando-os de acordo com
categorias padronizadas. Agricola sustentou que a primeira parte de uma argumentação deveria ser a
busca e o uso de tópicos, ou invenções e posteriormente o julgamento ou os princípios formais de
argumentação, que viria depois de ter "encontrado" o conteúdo a ser discutido. Agricola não só forneceu
listas de tais tópicos mas também deu exemplos de como a invenção tópica poderia ser usada para gerar
argumentos e analisar textos. Ao contrário da lógica medieval, a combinação de retórica e dialética
mostrou-se eminentemente prática. Chamado, alternativamente, "Lugar Lógico"," Dialética Tópica "ou"
Dialética Retórica ", esta reinterpretação humanista da Dialética foi entusiasticamente endossado por
Erasmus e tomou rapidamente a Europa do Norte. A primeira edição da obra de Agricola: 'Inventione
Dialética' foi publicada em 1515, trinta anos após a publicação de sua morte, e havia quase vinte
reimpressões antes da edição final que surgiu em 1539. Dentro de uma geração, a dialética passou de
ser disseminado pelos humanistas como um inútil desperdício de tempo para ser defendido como uma
ferramenta metodológica básica que poderia ser usada para a análise de textos de qualquer disciplina.
Demorou outra geração, no entanto, para esta nova dialética obter um lugar de destaque no currículo
das universidades alemãs. A próxima etapa no desenvolvimento da dialética coincidiu com o declínio

664
dramático e recuperação lenta das universidades alemãs. E antes de se preocuparem com assuntos
curriculares, as universidades primeiro teriam que sobreviver à crise educacional trazida pela Reforma.
Matrículas universitárias, que já estavam em declínio na Alemanha durante a década de 1510,
despencou acentuadamente durante a década de 1520. Somente Universitäten Wittenberg escapou
deste colapso drástico, e mesmo esta passou por alguns anos difíceis antes das Reformas estatutárias
finais, em meados de 1530. A própria Universitäten Wittenberg serviu de modelo à medida que novas
escolas foram estabelecidas e universidades mais antigas reformadas nas próximas décadas. O pequeno
número de estudantes universitários que matricularam nos anos seguintes após a Reforma, encontrou
um currículo em um estado de continua mudança. E com isso as décadas de 1530 e 1540 revelaram-se
um tempo de experimentação, e os estatutos do currículo foram introduzidos e depois aperfeiçoados
para prioridades educacionais do humanismo e da teologia evangélica. O padrão componente do
currículo medieval, principalmente as palestras sobre Metafísica, foram eliminadas, e as universidades
criaram cadeiras para a instrução na língua grega e para as disciplinas humanistas de poesia e retórica
(Burnett, 2004).
xxxv Por influência de seu avô Johann Reuchlin, um cabalista respeitado, e um dos religiosos
representantes do humanismo alemão foi aceito na Universidade de Heidelberg aos doze anos de idade.
Terminou ali seus estudos em 1511, como bacharel em artes e passou à Universidade de Tübingen, em
filosofia, onde foi aceito em 1514 com 17 anos. Seu avô também o recomendou ao príncipe
eleitor Frederico III da Saxônia para a recém-fundada Universidade de Wittenberg, em que em sua aula
inaugural, no ano de 1518, intitulou-se "Reforma da Instrução dos Jovens". Foi aluno de teologia de
Lutero, em 1519. Johann Reuchlin (1455 – 1522) nasceu em Pforzheim, onde seu pai foi um oficial de
um Mosteiro Dominicano. Tornou-se professor em Heidelberg e, por fim, tido como pai dos estudos
hebreus modernos. Já no ano de 1506, publica sua primeira gramática da língua hebraica e em 1523 já
estava na primeira cadeira de grego estabelecida em Viena.

xxxvi
Martinho Lutero (1483—1546), foi um monge agostiniano e professor de teologia germânico que
tornou-se uma das figuras centrais da Reforma Protestante. Atuou fortemente contra diversos dogmas
do catolicismo romano, contestando sobretudo a doutrina de que o perdão de Deus poderia ser
adquirido pelo comércio das indulgências, que é o perdão fora dos sacramentos, total ou parcial. Essa
discordância inicial resultou na publicação de suas famosas 95 Teses em 1517, em um contexto de
conflito aberto contra o vendedor de indulgências Johann Tetzel. Johann Tetzel, (1465 - 1519) foi um
alemão católico romano, frade dominicano e pregador. Além disso, foi um grande Inquisidor de Heresia
na Polônia, e mais tarde tornou-se o Grande Comissário para indulgências na Alemanha. Tetzel ficou
conhecido pela concessão de indulgências em troca de dinheiro, o que permite a remissão de pena
temporal em relação ao pecado e a culpa do que foi perdoado, uma posição fortemente contestada por
Martinho Lutero. Porém, a recusa de Lutero em retratar-se de seus escritos, a pedido do Papa Leão X
em 1520 e a pedido do imperador Carlos V na Dieta de Worms em 1521, que foi uma reunião de cúpula
oficial , governamental e religiosa, chefiada pelo imperador Carlos V que ocorreu na cidade de Worms,
na Alemanha, entre os dias 28 de Janeiro e 25 de Maio de 1521. Nesta reunião, apesar de outros assuntos
terem sido discutidos, a Dieta de Worms ficou conhecida pelas decisões que dizem respeito a Martinho
Lutero e os efeitos subsequentes na Reforma Protestante. Lutero foi convocado à Dieta para desmentir
suas 95 teses, no entanto ele as defendeu e pediu a reforma da Igreja Católica. Com isso, frente ao seu
enfrentamento, sua atitude resultou em sua excomunhão da Igreja Romana e em sua condenação como
um fora-da-lei pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico. As controvérsias geradas por seus
escritos levaram Lutero a desenvolver suas doutrinas mais a fundo, e o seu "Sermão sobre o Sacramento
Abençoado do Verdadeiro e Santo Corpo de Cristo, e suas Irmandades", ampliou o significado da
Eucaristia para incluir também o perdão dos pecados e ao fortalecimento da fé naqueles que a recebem.
Além disso, ele ainda apoiava a realização de um concílio a fim de restituir a comunhão. A disputa
havida em Leipzig, em 1519, fez com que Lutero travasse contato com os humanistas, especialmente
Melanchthon, Reuchlin e Erasmo de Roterdã, que por sua vez também influenciara ao nobre Franz von
Sickingen. Von Sickingen e Silvestre de Schauenbur que queriam manter Lutero sob sua proteção,
convidando-o para seus castelos na eventualidade de não ser-lhe seguro permanecer na Saxônia, em

665
virtude da proscrição papal. Sob essas circunstâncias de crise, e confrontando aos nobres
alecomunicantes, Lutero escreveu "À Nobreza Cristã da Nação Alemã" (agosto de 1520), onde
recomendava ao laicado, como um sacerdote espiritual, que fizesse a reforma requerida por Deus, mas
abandonada pelo Papa e pelo clero (Neves, 2014)

xxxvii A Europa central é o conjunto dos países da Europa com a maior parte do seu território ligado
às cordilheiras dos Alpes (são um dos grandes sistemas de cordilheiras da Europa, estendendo-se
da Áustria e Eslovênia, a leste, através do norte da Itália, Suíça - Alpes suíços, Liechtenstein e sul
da Alemanha, até ao sudeste da França e Mónaco), incluindo as suas extensões para os Bálcãs e
os Cárpatos. Estes países ou os seus antepassados estiveram historicamente na situação de serem
alternadamente invadidos e, por vezes, administrados por países da Europa ocidental (notavelmente
o Sacro Império Romano-Germânico), pela Rússia, pela Polônia-Lituânia e até pelo Império Bizantino.
xxxviii
Pierre de la Ramée, ou Petrus Ramus (1515 - 1572), retórico, humanista e lógico francês, criador
da escola anti- aristotélica de pensamento, nomeada assim por Ramismo. Independente, adogmático e
hipercritico, protestou energicamente contra excessiva escolástica de algumas universidades, em que
Aristóteles era o único modelo e a base de toda a investigação filosófica. Rejeitou firmemente o
aristotelismo e o reconheceu como um trabalho de pura higiene. E preconizou por uma lógica livre e
dinâmica. Como humanista sofreu a influência de Lorenzo Valla e Rodolfo Agrícola e buscava uma
lógica “viva" como oposição à silogística, a argumentação lógica perfeita aristotélica. Os discípulos de
Petrus Ramus, incluindo os espanhóis foram Francisco Sanchez de las Brozas (1523-1600) e Pedro Nunez
Vela (1522-1602), que desenvolveu uma lógica e síntese dialética no lugar do aristotelismo dos
escolásticos, que também foi introduzido entre os Platônicos de Cambridge.

um
xxxixteólogo
Joãocristão francês.
Calvino 10 teve
Calvino
(Noyon, deumajulho de 1509muito
influência grande 27
— Genebra, durante 1564)
maio deProtestante,
de a Reforma foi

que continua até hoje. Portanto, a forma de protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecida por
alguns pelo nome calvinismo, embora o próprio Calvino tivesse repudiado contundentemente este
apelido. Esta variante do protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de
origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos.
Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da
Igreja católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento
protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das
perseguições aos huguenotes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra
tornou-se definitivamente num centro do protestantismo europeu e João Calvino permanece até hoje
uma figura central da história da cidade e da Suíça[1]. No movimento reformista, Lutero não concordou
com o "estilo" de reforma de João Calvino. Martinho Lutero queria reformar a Igreja Católica, enquanto
João Calvino acreditava que a Igreja estava tão degenerada que não havia como reformá-la. Calvino se
propunha a organizar uma nova Igreja que, na sua doutrina (e também em alguns costumes), seria
idêntica à Igreja Primitiva. Já Lutero decidiu reformá-la, mas afastou-se desse objetivo, fundando, então,
o protestantismo, que não seguia tradições, mas apenas a doutrina registrada na Bíblia, e cujos usos e
costumes não ficariam presos a convenções ou épocas. A doutrina luterana está explicitada no "Livro de
Concórdia", e não muda, embora os costumes e formas variem de acordo com a localidade e a época.
Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Calvino
terá sido para o povo de língua francesa aquilo que Lutero foi para o povo de língua alemã - uma figura
quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que
Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana. Calvinistas
romperam com a Igreja Católica Romana, mas diferiam dos luteranos na doutrina sobre a presença real
de Cristo na Eucaristia , Princípio regulador do culto , e o uso da lei de Deus para os crentes , entre
outras coisas.[4][5] O termo calvinismo pode ser enganoso, pois a tradição religiosa que por ele é
identificada como bastante diversificada, com uma vasta gama de influências, em vez de um único
fundador. O movimento foi chamado pela primeira vez calvinismo pelos luteranos que se opunham a
ele, e muitos dentro da tradição preferem usar o termo Reformado para o descrever. Em 1555, são

666
erguidas as primeiras igrejas calvinistas em França, nomeadamente
em Paris, Meaux, Angers, Poitiers e Loudun. Nos três anos seguintes surgiram as comunidades
de Orleães, Rouen, La Rochelle, Toulouse, Rennes e Lyon (Witte, 1996).
xl
Doutrina do médico e pensador árabe Averroes, com uma interpretação pessoal do aristotelismo, que
se mostrou hostil à ortodoxia católica ao afirmar a finitude da alma humana individual, sendo por isto
duramente combatido pela filosofia escolástica e duas vezes condenado pela Igreja (1240 e 1513). O
"Averroísmo", "aristotelianismo radical" e "aristotelianismo heterodoxo" são rótulos dos séculos XIX e
XX para um movimento do final do século XIII entre os filósofos parisienses cujas opiniões não eram
facilmente conciliáveis com a doutrina cristã.
xli
Zabarella era um aristotélico ortodoxo que procurava defender o status científico da filosofia natural
teórica contra as pressões que emanavam das disciplinas práticas, isto é: da arte, da medicina e da
anatomia. Ele desenvolveu o método regressus, que os Aristotélicos do Renascimento consideravam o
método apropriado para a obtenção de conhecimento nas ciências teóricas. Na virada do século XVII,
os escritos de Zabarella foram reimpressos na Alemanha, onde sua filosofia teve um seguimento
notável, especialmente entre os autores protestantes aristotélicos (Burnett, 2004). As publicações de
Zabarella refletem seu ensinamento na tradição aristotélica. A primeira de suas publicações foi a
coleção: 'Opera logica', que apareceu em Veneza em 1578. A segunda obra publicada por Zabarella,
'Tabula logicae', saiu dois anos mais tarde e seu comentário sobre a 'Análise Posterior de Aristótele's
apareceu em 1582. A 'doctrinae ordine apologia', que apareceu em 1584, foi uma resposta a Francesco
Piccolomini que criticara as idéias de Zabarella sobre a lógica. A primeira das obras de Zabarella em
filosofia natural, 'De naturalis scientiae constitutione', saiu em 1586. Sua introdução ao campo da
filosofia natural, estava ligada ao seu opus principal: 'De rebus naturalibu's, cuja primeira edição foi
publicada postumamente em 1590, que continha 30 tratados diferentes sobre filosofia natural
aristotélica e Zabarella escreveu a introdução do livro apenas algumas semanas antes de sua morte. Os
dois filhos de Zabarella editaram seus dois comentários incompletos sobre os textos de Aristóteles, que
também foram publicados postumamente: o comentário sobre a Física (1601) eo comentário sobre On
the Soul (1605) (Mikkeli 1992, p.19).
xlii No catálogo de Bacon os ídolos podem ser de quatro espécies, a saber: a) Ídolos da tribo (Idola tribus):
equívocos causados pelas limitações da própria espécie humana, sendo-lhe, pois, inerentes, ou seja,
trata-se de uma propensão natural ao erro. b) Ídolos da caverna (Idola specus): erros provocados pelas
limitações intrínsecas do próprio indivíduo humano. c) Ídolos do fórum ou do mercado (Idola fori):
uma vez que os seres humanos são seres que interagem, assim, enganos decorrentes dos contatos ou
das relações que travam entre si tornam-se, logo, inevitáveis, porquanto as imperfeições e o mau uso da
linguagem, instrumento dessa sua interação, desviam-nos do acesso à verdade. d) Ídolos do teatro
(Idola theatri): ilusões despertadas pelas teorias ou doutrinas filosóficas e/ou científicas, as quais geram
autoridade para si próprias e, consequentemente, conduzem à submissão; como não estão isentas de
erros, provocam uma falsa compreensão da realidade, levando a uma encenação da verdade, ao invés
de revelarem a própria verdade, tornando-se, pois, pura e simplesmente invenções.

xliiiA Escola peripatética foi um círculo filosófico da Grécia Antiga que basicamente seguia os
ensinamentos de Aristóteles, fundada em 336 Dc., quando Aristóteles abriu a primeira escola filosófica
no Liceu em Atenas, que durou até o século IV. As obras de Aristóteles começaram a ser discutida
abertamente em um momento em que o método de Aristóteles permeava toda a teologia, estes tratados
foram suficientes para causar a proibição de heterodoxias (quaisquer opiniões ou doutrinas que
discordem de uma posição oficial ou ortodoxa) nas Condenações de 1210-1277 (Schmolders, 1859). As
Condenações na Universidade medieval de Paris foram promulgadas para restringir ensinamentos
considerados heréticos, ímpios. Estes incluíram um número de ensinos teológicos medievais, mas o
mais importante foram os Tratados Físicos de Aristóteles. As investigações desses ensinamentos foram
conduzidas pelos Bispos de Paris. Na primeira delas, em Paris, no ano de 1210, foi declarado que: "nem
os livros de Aristóteles sobre filosofia natural ou seus comentários, devem ser lidos em Paris, em público

667
ou em segredo, e isso nós proibimos sob pena de excomunhão.". No entanto, apesar das tentativas de
restringir o ensino de Aristóteles em 1270, a proibição da filosofia natural de Aristóteles foi ineficaz
(Rubenstein, 2004). Willem van Moerbeke, no latim: Gulielmus de Moerbecum (1215–1286), um tradutor
medieval, empreendeu uma tradução completa das obras de Aristóteles, foi o primeiro a traduzir:
Política (1260) do grego para o latim. Albertus Magnus (1200–1280) foi um dos primeiros entre os
estudiosos medievais a aplicar a filosofia de Aristóteles ao pensamento cristão. Era conhecido também
como Alberto, o Grande, era um filósofo, escritor e teólogo católico que venerado como santo. Ele
produziu paráfrases da maioria das obras de Aristóteles que estavam disponíveis. Ele leu, interpretou
e sistematizou todas as obras de Aristóteles, recolhidas a partir das traduções latinas e as notas dos
comentaristas árabes, em conformidade com a doutrina da Igreja. Seus esforços resultaram na formação
de uma recepção cristã de Aristóteles na Europa Ocidental. Tomás Aquino (1225–1274), o pupilo de
Albertus Magnus, escreveu uma dúzia de comentários sobre as obras de Aristóteles e foi enfaticamente
aristotélico, ele adotou a análise de Aristóteles aos objetos físicos, sua visão de lugar, tempo e
movimento, sua prova de força motriz, sua cosmologia, seu relato sobre a percepção sensorial e o
conhecimento intelectual e até mesmo partes de sua filosofia moral. A escola filosófica que surgiu como
um legado da obra de Tomás de Aquino ficou conhecida como tomismo e foi especialmente influente
entre os dominicanos e depois, os jesuítas (Furley, 2003). O movimento intelectual voltava seus
interesses para as obras filosóficas, literárias e científicas da Antiguidade Clássica de Grécia e Roma, com o
objetivo de adaptá-las ao novo contexto histórico. O retorno às obras dos pensadores clássicos teve início
com a Filosofia Escolástica, sendo seu principal representante São Tomás de Aquino (1225-1274), filósofo e
teólogo da Igreja Católica. São Tomás acreditava que a razão, o intelecto humano, não devia ser temida
– e considerava a razão como um outro caminho para Deus. A Escolástica adaptou os ensinamentos do
filósofo grego Aristóteles à religião. As ideias do filósofo foram utilizadas para esclarecer e explicar os
ensinamentos da religião por meio de conceitos e princípios lógicos.

xliv Alhazen, desenvolveu 92 trabalhos dos quais 55 sobreviveram, sendo os principais temas a Óptica, onde se
inclui uma teoria da luz e uma teoria da visão, a Astronomia e a Matemática, incluindo Geometria e teoria de
números. Escreveu um trabalho de 7 volumes sobre Óptica sendo este considerado a sua maior contribuição e
tendo sido traduzido para latim com o título “Opticae Thesaurus Alhazeni” (tesouro de Óptica de Alhazen) em
1270. Traduziu um rigoroso método experimental desenvolvido por ele, sendo por muitos historiadores
considerado o pioneiro do método cientifico moderno. No ‘Livro I’ deixou claro que a sua investigação era baseada
na evidência experimental e não em teorias abstratas.
xlv Seus
textos mais famosos são O Livro da Cura e O Cânone da Medicina, também conhecido como Cânone de
Avicena. Seus discípulos o cognominavam de Cheikh el-Rais – “príncipe dos sábios” – o terceiro grande mestre
depois de Aristóteles e Al-Farabi. É considerado um dos principais médicos de todos os tempos. Criou um
extenso corpus literário durante a época geralmente conhecida como "Era de Ouro do Islão", na qual traduções de
textos greco-romanos, persas e indianos foram extensivamente estudados. Textos greco-romanos
médio, neoplatônicos e aristotélicos da escola de Al-Kindi, um dos maiores filósofos do mundo árabe, (latinizado,
Alkindus, 801 – 873) foram comentados, editados e foram substancialmente desenvolvidos pelos intelectuais
islâmicos, que também evoluíram a partir de sistemas matemáticos, astronômicos, de álgebra, trigonometria e
medicina hindus e persas. Al-Kindi - Abu Yusuf Ya'qub ibn Ishaq al-Kindi, foi dos primeiros que fizeram a
tradução para árabe da obra de Aristóteles, de quem recebeu profunda influência ao formular a sua própria obra
filosófica. Os seus trabalhos tiveram posteriormente um grande impacto de Averroes (1126 – 1198), médico,
filósofo mulçumano andaluz, tradutor dos textos de Aristóteles. Elaborou uma teoria das Categorias, que é o texto
que abre não apenas o Organon — o conjunto de textos lógicos de Aristóteles — como também o Corpus
aristotelicum. O objetivo de Aristóteles nesta obra é classificar e analisar dez tipos de predicados ou gêneros do
ser (κατηγορια significa justamente predicado), isto é, quais são as dez categorias que todo objeto no mundo pode
ser classificado. As categorias são: substância (οὐσία, substantia), quantidade (ποσόν, quantitas), qualidade
(ποιόν, qualitas), relação (πρός τι, relatio), lugar (ποῦ, ubi), tempo (ποτέ, quando), estado (κεῖσθαι, situs), hábito
(ἔχειν, habere), ação (ποιεῖν, actio) e paixão (πάσχειν, passio). Algumas vezes, as categorias são também
chamadas de classes. Avicena, recebeu a influência que unia-se a um profundo conhecimento das matemáticas,
da medicina, da geometria e outras disciplinas científicas. Isso, juntamente com a sua defesa do livre arbítrio entre
os seus contemporâneos, levou-o a considerar a necessidade de criar uma doutrina filosófica capaz de agrupar os
distintos conhecimentos humanos.

668
xlvi
Roberto Grosseteste, inglês de 1168 a 1253, foi a figura central do importante movimento intelectual
da primeira metade do século XIII na Inglaterra. Foi apelidado de Grosseteste pela sua extraordinária
capacidade intelectual (Grosse = grande + teste = cabeça). Grosseteste, o fundador da escola Franciscana
de Oxford, foi o primeiro escolástico a entender plenamente a visão Aristotélica do caminho duplo para
o pensamento científico: generalizar de observações particulares para uma lei universal; e depois fazer
o caminho inverso: de leis universais para a previsão de situações particulares. Grosseteste chamou isso
de método da resolução e composição. Seu conhecimento dos textos de Aristóteles o estimulou a especular
e escrever sobre a metodologia da pesquisa científica. Para ele, a ciência começava com a experiência dos
fenômenos pelos homens, e a sua finalidade seria encontrar as causas para esses fenômenos. Pelo seu
método, o primeiro passo era tentar descobrir as possíveis causas para os fenômenos vividos - os agentes
causais -, o próximo passo seria separar o agente causal em seus princípios componentes. Depois, com base
numa hipótese, o fenômeno observado deveria ser reconstruído a partir de seus princípios. Finalmente
a própria hipótese deveria ser testada e validada, ou não, pela observação.

Esse procedimento continha a base essencial de toda a ciência experimental, sendo precursor do método
científico. Esses pontos de vista são muito importantes, especialmente quando levamos em conta a
grande influência que Grosseteste tinha por ser professor. Tinha grande interesse no mundo natural e
escreveu textos sobre som, astronomia, geometria e, especialmente, óptica. Primeiro estudioso europeu
a dominar as línguas grega e hebraica, desta forma deu ênfase à matemática como ferramenta para
estudar a natureza e defendia que experimentos deveriam ser usados para verificar as teorias a respeito
da mesma. Sua influência foi bastante significativa numa época em que o novo conhecimento
da ciência e da filosofia gregas estava tendo um efeito profundo na filosofia cristã. Influenciado por Au
relius Augustinus (354-430) – Santo Agostinho - Grosseteste acreditava que a luz exerce importante
papel na criação e sustentou, que Deus produziu o mundo ao criar primeiro a matéria a partir da qual
emanou um ponto de luz, a primeira forma corpórea de energia, uma de cujas manifestações é a luz
visível. Também foi relevante o seu trabalho experimental, especialmente seus experimentos com
espelhos e lentes. Seu mais renomado discípulo, foi Roger Bacon, (1214 - 1294), inglês do Reino Unido,
também conhecido como Doctor Mirabilis, ou Doutor Admirável, em latim. Foi um padre
e filósofo inglês que enfatizou o empirismo e o uso da matemática no estudo da natureza. Estudou nas
universidades de Oxford e Paris. As pesquisas de ambos possibilitaram o início da confecção
de óculos e futuramente seriam importantes no desenvolvimento de instrumentos como o telescópio e
o microscópio.

xlviiRoger Bacon, (1214 - 1294), inglês do Reino Unido, também conhecido como Doctor Mirabilis, ou Doutor
Admirável, em latim. Foi um padre e filósofo inglês que enfatizou o empirismo e o uso da matemática no estudo
da natureza. Estudou nas universidades de Oxford e Paris. As pesquisas de ambos possibilitaram o início da
confecção de óculos e futuramente seriam importantes no desenvolvimento de instrumentos como o telescópio e
o microscópio.
Richard Swineshead xlviii (1340 – 1354), autor do ‘Livro dos Cálculos’, um conjunto de 16 tratados que lhe
valeram o apelido de "O Calculador". Foi um dos mais proeminentes dos chamados Oxford Calculators da Colégio
de de Merton, e seguramente um membro ativo de 1344 a 1355. Os Oxford Calculators foi um grupo de pensadores
do século XIV, que faziam abordagens lógico-matemáticas a certos problemas. Em que promoveram o uso do
empirismo para entender a natureza.
xlix
A palavra universidade é derivada do latim: universitas magistrorum et scholarium , que significa
aproximadamente "comunidade de professores e estudiosos". O termo foi cunhado pela Universidade italiana de
Bolonha, Itália, datada de 1808, considerada a mais antiga universidade do mundo. Uma universidade no sentido
de um instituto de ensino superior, concedendo diplomas, tendo a palavra universidade (latina : universitas )
cunhada em sua fundação. Recebeu, em 1158, do Imperador Frederick I Barbarossa a " Authentica habita ",
que estabeleceu as regras, direitos e privilégios das universidades. A Universidade de Oxford é considerada mais
antiga universidade do mundo de língua inglesa e alega ter sido fundada entre 1096 e 1167. A Universidade de
Cambridge, foi fundada por estudiosos que saem de Oxford após uma disputa causada pela execução de dois
estudiosos em 1209. Sua Carta Real foi concedida pelo rei Henry III em em 1231. A origem de
muitas universidades medievais pode ser rastreada para trás às escolas cristãs da catedral ou às escolas monastic.
As primeiras evidências de uma escola episcopal européia são aquelas estabelecidas na Espanha visigótica no II
Concílio de Toledo em 527. Estas escolas precoces, com foco em um aprendizado religioso sob um bispo erudito,

669
foram identificadas em outras partes da Espanha e em cerca de vinte cidades da Gália (França) durante os séculos
VI e VII. Durante e depois da missão de Santo Agostinho para o sul da Inglaterra, escolas catedrais e novas
dioceses foram criadas, tais como: Canterbury 597, Rochester 604 e York 627. Este grupo de escolas forma
as escolas mais antigas em funcionamento contínuo. Carlos Magno (742—814), primeiro imperador dos
romanos, de 800 a 814 dc, que expandiu o Reino Franco e conquistou o Reino Itálico, reconheceu a importância
da educação para o clero e, em menor grau, para a nobreza, propôs-se restaurar esta tradição em declínio mediante
a emissão de vários decretos e exigiu que a educação fosse prestada em mosteiros e catedrais. Ele próprio era
analfabeto e assinava por insígnia. Em 789, o Admonitio Generalis de Carlos Magno exigiiu que fossem
estabelecidas escolas em cada mosteiro e bispado. Documentos subseqüentes, como a carta De litteris colendis ,
exigiam que os bispos selecionassem como professores homens que tivessem "a vontade, a capacidade de
aprender e o desejo de instruir os outros" e um decreto do Conselho de Frankfurt (794) recomendou que os bispos
se comprometessem a instrução de seu clero. Posteriormente, as escolas de catedral surgiram em grandes cidades
como Chartres, Orleans, Paris, Laon, Reims ou Rouen na França e Utrecht, Liege, Colónia, Metz, Speyer,
Würzburg, Bamberg, Magdeburg, Hildesheim ou Freising na Alemanha. Seguindo a tradição anterior, essas
escolas da catedral ensinavam principalmente futuros clérigos e administravam alfabetização para as mais
elaboradas cortes do Renascimento do século XII . Henry I, da Inglaterra, ele próprio um dos primeiros exemplos
de um rei alfabetizados, estava intimamente ligada à escola da catedral de Laon. Outras instituições de ensino
superior , como as da antiga Grécia , da antiga Pérsia , da antiga Roma , do Bizâncio , da antiga China , da antiga
Índia e do mundo islâmico , não estão incluídas nesta lista devido às suas diferenças culturais, históricas,
estruturais e jurídicas Medieval da qual a universidade moderna evoluiu. A Academia Platônica (às vezes referida
como a Universidade de Atenas), fundada em 387 aC em Atenas, Grécia, pelo filósofo Platão, durou 916 anos (até
AD 529) com interrupções. Ele foi emulado durante o Renascimento pela Academia Platônica Florentina, cujos
membros se viram seguindo a tradição de Platão. Por volta de 335 aC, em sucessão a Platão, Aristóteles fundou
a escola peripatética, os estudantes dos quais se reuniram no Lyceum em Atenas. A escola cessou em 86 aC
durante a fome, cerco e saque de Atenas por Sulla, general romano. Durante o período helenístico ,
o Museion em Alexandria (que incluiu a biblioteca de Alexandria ) transformou- se o instituto principal da
pesquisa para a ciência e a tecnologia de que muitas inovações grego surgiram. O engenheiro Ctesibius ( fl 285
222 aC) pode ter sido sua primeira cabeça. Foi suprimido e queimado entre 216 e 272 dC, ea biblioteca foi
destruída entre 272 e 391. A reputação dessas instituições gregas era tal que pelo menos quatro termos educacionais
modernos centrais derivam deles: a academia, o liceu, o ginásio e o museu.
lO Renascimento, também conhecido como Renascença ou Renascentismo, de 1348 a 1648, foi

simultaneamente, um período histórico e um movimento cultural (intelectutal e artístico) iniciado em


meados do século XIII, na Europa, tendo como centro de irradiação a Itália e perdurou até meados do
século XVII. Tal movimento de renovação filosófica, científica e artística tinha como propósito maior
retomar e revitalizar os valores da antiguidade clássica greco-latina, tomando-os como ponto de partida
para promover o aprimoramento espiritual e material do homem, agora concebido como o centro do
universo (antropocentrismo), para o qual tudo doravante passaria a ser ordenado; concomitantemente,
o Renascentismo também se serviu da tradição medieval judaico-cristã, travestindo-a segundo os
cânones humanísticos cujas fontes eram buscadas na antiga cultura clássica ocidental. Dois outros
acontecimentos aqui relevantes, coetâneos à Renascença, do ponto de vista econômico, político e social,
na Europa, são: a fundação dos estados nacionais (erguida sobre as bases do absolutismo monárquico
de direito divino) e a formação do sistema capitalista em sua fase comercial (mercantilismo ou
capitalismo comercial de estado, alavancado pela era dos descobrimentos, que, por sua vez, deu
início ao colonialismo europeu nas Américas, na África, na Ásia e na Oceania). (Gustavo Araújo Batista
Francis Bacon: para uma educação científica Revista Teias v. 11• n. 23 • p. 163-184• set./dez. 2010)

liPara Aristóteles, a lógica não é ciência e sim um instrumento (órganon) para o correto pensar
(Cabral,2016). O objeto da lógica é o silogismo. Silogismo nada mais é do que um argumento constituído
de proposições das quais se infere (extrai) uma conclusão. Assim, não se trata de conferir valor de
verdade ou falsidade às proposições (frases ou premissas dadas) nem à conclusão, mas apenas de
observar a forma como foi constituído. É um raciocínio mediado que fornece o conhecimento de uma
coisa a partir de outras coisas, buscando, pois, sua causa (Cabral,2016). Em si mesmas, as proposições
ou frases declarativas sobre a realidade, como juízo, devem seguir apenas três regras fundamentais. 1
Princípio de Identidade: A é A; 2- Princípio de não contradição: é impossível A é A e não-A ao mesmo
tempo; 3- Princípio do terceiro excluído: A é x ou não-x, não há terceira possibilidade. Dessa forma, o

670
valor de verdade ou falsidade é conferido às proposições, pois são imediatamente evidenciados. No
entanto, a lógica trabalha com argumentos.
lii Silva
(2008) explica que, na segunda parte de sua obra Novum Organum, Francis Bacon estabeleceu a
sua ‘Instauração ’e aplica que: após o homem de ciência ou filósofo natural ter limpado os empecilhos
de sua mente e ter entendido as fragilidades do método de antecipação da natureza, ele agora está apto
e preparado para seguir o caminho pela via da interpretação da natureza, “que recolhe os axiomas dos
dados dos sentidos e particulares, ascendendo contínua e gradualmente até alcançar, em último lugar,
os princípios de máxima generalidade”. Bacha (2002) afirma que a metodologia de Bacon buscava
substituir o método aplicado por silogismos - cuja principal fraqueza lógica consistia em partir de
particulares empíricos para primeiros princípios (axiomas), que formam as premissas para o raciocínio
dedutivo – por um novo método científico, no qual os axiomas deveriam estar no fim do processo. Sua
metodologia se desenvolve a partir de uma generalidade crescente e destina um lugar especial para a
História Natural, por meio da avaliação sistemática dos fenômenos naturais”. (Bacha, 2002, p.35).
liii
O estágio dedutivo aristotélico parte dos princípios explicativos (generalizações), obtidas por meio
da indução (enumerativa e abdutiva), e esses princípios servem como premissas para que se deduzam
outras afirmações a respeito dos fatos. Aristóteles sugeriu que a ciência tem uma certa estrutura
explicativa, baseada nos níveis de generalidade de suas proposições, que se concatenam dedutivamente.
No nível mais alto acham-se os princípios de identidade, não contradição e terceiro excluído, aplicáveis
a todos os argumentos dedutivos. No nível seguinte se encontram os princípios e definições da ciência
particular em questão. E mais abaixo, estão os outros enunciados da ciência em questão. Qualquer
explicação, para Aristóteles, deve envolver os quatro aspectos da causação mencionados anteriormente,
a saber, a causa formal, a causa material, a causa eficiente e a causa final. Destaca-se aqui sua insistência
na causa final, o que equivale a uma explicação teleológica (é o estudo filosófico dos fins, do propósito,
objetivo ou finalidade). A causa final do processo de camuflagem de um camaleão é escapar de seus
predadores. A causa final do movimento do fogo é atingir seu “lugar natural”, que se encontra para
cima de nós. Aristóteles criticava os atomistas por sua tentativa de explicar a mudança em termos
apenas de causas materiais e eficientes. Ele criticava a ênfase dos pitagóricos com a matemática dizendo
que eles teriam uma preocupação exclusiva com as causas formais.

livSua doutrina do hilemorfismo defendia que todas as coisas consistem de matéria (hile) e forma
(morfe). Por “matéria” entende-se um substrato (matéria prima) que só existe potencialmente; sua
existência em ato pressupõe também uma forma. A física aristotélica rejeitava a “quantificação das
qualidades” empreendida pelos atomistas e por Platão. Partiu de dois pares de qualidades opostas:
quente/frio, seco/úmido. Os corpos simples que compõem todas as substâncias são feitos de opostos:
terra = frio e seco; água = frio e úmido; ar = quente e úmido; fogo = quente e seco. Os elementos
tenderiam a se ordenar em torno do centro do mundo, cada qual em seu “lugar natural”. Se um elemento
é removido de seu lugar natural, seu “movimento natural” é retornar de maneira retilínea: terra e água
tendem a descer, ar e fogo tendem a subir

lvSilogismo é um modelo de raciocínio baseado na ideia da dedução, composto por duas premissas que
geram uma conclusão. O chamado silogismo aristotélico é formado por três principais características:
mediado, dedutivo e necessário. O silogismo seria mediado devido a necessidade de se usar o raciocínio
para se chegar à conclusão real. Seria dedutivo pelo fato de se partir de preposições universais para se
chegar a uma conclusão específica. E, por fim, seria necessário por estabelecer uma conexão entre todas
as premissas. A exemplo: "Todos os homens são mortais; os gregos são homens; logo, os gregos são
mortais". A origem do método dedutivo é atribuída aos antigos gregos, com o silogismo do
filósofo Aristóteles, sendo mais tarde desenvolvido por Descartes, Spinoza e Leibniz.
lviNo aristotelismo, raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está
fundamentado em ideias apenas prováveis, e por esta razão traz em seu âmago a possibilidade de ser
refutado. Aristóteles define dialética no início de seus escritos, em: ‘Tópicos’, quando delimita o escopo

671
da pesquisa: “o propósito é encontrar um método a partir do qual possamos raciocinar sobre todos os
problemas que se no proponha, a partir de coisas plausíveis [opiniões geralmente aceitas (éndoxa), e
graças ao qual, se nós mesmos sustentamos um enunciado, não digamos nada que lhe seja contrário”
(Tóp. I 1, 100 a 18-21). Com isso, a dialética trata de um método segundo o qual se possa investigar algo
partindo de opiniões geralmente aceitas; tais opiniões, contudo, devem ser de domínio comum de quem
as aceita ao iniciar uma investigação, são as opiniões dos mais famosos, eminentes, reconhecidos, ou
dos sábios, a respeito de algo que se pretenda explorar. A seguir Aristóteles distingue três usos possíveis
da dialética. Um referente ao exercício pessoal, isto é, do indivíduo consigo mesmo que busca se
preparar educando e treinando sua mente através de raciocínios. Outro que se refere ao debate em
público, em virtude de discussões de ordem política, onde há defesa de um determinado
posicionamento, tendo outrem como adversário e possivelmente um público como árbitro, cuja
finalidade pode ser judiciária e/ou política. Por fim, há um uso relativo à ciência, a qual para Aristóteles
é sinônimo de filosofia, contudo, aqui segue Berti que o denomina uso relativo às “ciências filosóficas”.
A importância desse terceiro uso está no desenvolvimento das aporias (literalmente, beco sem saída)
em ambas as direções, ou seja, distinguindo o verdadeiro do falso (Tóp. I 1, 101 a 34-36).

lviiÉ um período da história da Europa entre os séculos V e XV. Inicia-se com a Queda do Império
Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna. A Idade Média é o período
intermédio da divisão clássica da História ocidental em três períodos: a Antiguidade, Idade Média e
Idade Moderna, sendo frequentemente dividido em Alta e Baixa Idade Média. A data consensual para
o início da Idade Média é 476, e que representa o ano em que é deposto o último imperador romano do
Ocidente. No contexto europeu, considera-se normalmente o fim da Idade Média no ano 1500, embora
não haja um consenso universal alargado sobre a data. A depender do contexto, podem ser
considerados como eventos de transição a primeira viagem de Cristóvão
Colombo às Américas em 1492, a conquista de Constantinopla pelos Turcos em 1453, ou a Reforma
Protestante em 1517.

Movimento intelectual de caráter filosófico e teológico, iniciado no seio da cristandade medieval


lviii
europeia e que perdurou hegemonicamente desde o fim da alta idade média até o fim da baixa idade
média. Sua denominação é devida ao fato de ter sido engendrada no interior das primeiras
universidades (escolas). A escolástica nasceu nas escolas monásticas cristãs, sua essência é o esforço que
vai no sentido de debater sobre a possibilidade ou impossibilidade de conciliação entre fé (objeto de
estudo da teologia) e razão (objeto de estudo da filosofia). Colocava uma forte ênfase na dialética para
ampliar o conhecimento por inferência e resolver contradições. Santo Tomás de Aquino (1224/5 -1274)
tem sido considerado o seu principal representante, o qual fez uma síntese entre a filosofia de Aristóteles
(384-322 a.C.) e a religião cristã, produzindo um tipo o pensamento de caráter filosófico e teológico,
conhecido como filosofia aristotélico -tomista. A obra-prima de Tomás de Aquino, Summa Theologica,
é, frequentemente, vista como exemplo maior da escolástica (Batista, 2010).

lixDiscurso racional acerca de Deus e do universo espiritual, bem como de suas relações com o universo
material e humano. Tradicionalmente, há duas espécies de teologia quais sejam: a teologia natural ou
racional, também conhecida como teodicéia, que estuda a problemática de Deus puramente no plano
da razão natural ou humana; a teologia revelada, que aborda a problemática da divindade a partir da
ótica da revelação sobrenatural (razão divina) feita por Deus à humanidade (Batista, 2010).

lx
O Grande Cisma foi o evento que causou a ruptura da Igreja Católica, separando-a em duas: Igreja
Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, a partir do ano 1054, quando os
líderes da Igreja de Constantinopla e da Igreja de Roma excomungaram-se mutuamente. O
Grande Cisma do Ocidente, ou Cisma Papal ou simplesmente Grande Cisma foi uma crise religiosa que
ocorreu na Igreja Católica de 1378 a 1417.
lxi
A invenção do microscópio pode ser considerada o marco inicial da Biologia Celular. Foram os
holandeses Hans Janssen e Zacharias Janssen, fabricantes de óculos, que inventaram o microscópio no

672
final do século XVI. As observações realizadas por eles, demonstraram que a montagem de duas lentes
em um cilindro, possuía a capacidade de aumentar o tamanho das imagens, permitindo dessa forma
que objetos pequenos, invisíveis a olho nu, fossem observados de forma detalhada. Entretanto, Hans e
Zacharias Janssen não utilizaram sua invenção para fins científicos. Foi o também holandês Antonie
von Leeuwenhoek, que viveu entre os anos de 1632 e 1723 na cidade holandesa de Delft, quem primeiro
registrou suas observações utilizando microscópios. Utilizando um microscópio de fabricação própria,
Leeuwenhoek foi o primeiro a observar e descrever as fibras musculares, espermatozóides e bactérias.
Leeuwenhoek relatou todas as suas experiências para Robert Hook, membro da Royal Society of
London. Como falava somente Dutch (holandês), Robert Hooke traduziu os seus trabalhos, que
posteriormente foram publicados pela entidade. Acerca de suas observações com o microscópio,
Leeuwenhoek descreveu originalmente a seguinte frase: “Não há prazer maior, quando meu olhar
encontra milhares de criaturas vivas em apenas uma gota de água”. Entretanto, a “descoberta” da célula
é atribuída a Robert Hooke. Em 1665 Hooke publicou seu livro intitulado Micrographie contendo
observações microscópicas e telescópicas e algumas observações originais em Biologia (Batista, 20100.
lxii
O político inglês nomeado Sir Francis Bacon desenvolveu um método para que os filósofos
buscassem em pesar a veracidade do conhecimento. O pensador propõe, desvencilhar-se da metafísica
escolástica e voltar-se para os eventos da natureza. A proposta baconiana alerta que o conhecimento só
é possível se, original e fundamentalmente, estabelecer uma história experimental da natureza, “pois o
conhecimento é como uma pirâmide, onde a história é a base; assim, na filosofia natural, a base é a
história natural” (ADV, iii, p. 356). No ideal baconiano de ciência, os conhecimentos especulativo e
prático estão unidos; assim, a história natural não é uma simples descrição da natureza, mas uma
história ativa em que as operações e técnicas humanas incidirão sobre a natureza, dominando-a e
transformando-a em proveito do bem-estar da maioria. O homem, minister et interpres da natureza,
deverá ser capaz, a partir da historia experimental da natureza, de coletar fatos suficientes para
transformar a natureza e, portanto, criar novas naturezas. “Engendrar e introduzir nova natureza ou
novas naturezas (naturas) em um corpo dado, tal é a obra e o fito do poder humano” (NO, i, ii). E o
filósofo continua: “e a obra e o fito da ciência humana é descobrir a forma de uma natureza dada ou a
sua verdadeira diferença ou natureza naturante ou fonte de emanação”. Nesse sentido, Bacon, aderiu
aos ideais alquímicos, e acreditou que a tarefa e o objetivo do poder humano é induzir em um
determinado corpo uma nova natureza (cf. Rossi, 2006, pp. 102-9) (Zaterca, 2012).

lxiii
Filosofia natural ou filosofia da natureza, philosophia naturalis era o estudo filosófico da natureza e do
universo físico que era dominante antes do desenvolvimento da ciência moderna. É considerado o precursor da
ciência natural, do mundo antigo, em que começou por Aristóteles, até o século XIX, o termo "filosofia natural"
era o termo comum usado para descrever a prática de estudar a natureza. Foi no século XIX que o conceito de
"ciência" recebeu sua forma moderna com novos títulos emergentes como "biologia" e "biólogo", "física" e "físico"
entre outros campos técnicos e títulos. Após uma palestra de Sir Christopher Wren, (1632 – 1723) foi um londrino
projetista e astrônomo, que fundou a Royal Society no Gresham College, em Londres, em 28 de novembro de
1660 e rei Carlos II se torna patrono. Em1663 a sociedade é referida como "a Sociedade Real de Londres para
Melhorar o Conhecimento Natural". As transações filosóficas da sociedade real começam a publicação sob a
orientação editorial de Henry Oldenburg, secretário da sociedade real. Esta revista é ainda hoje, a mais antiga
revista científica em publicação contínua no mundo e estabeleceu os conceitos de prioridade científica e revisão
pelos pares. Em 1665 a Royal Society publica a Micrographia de Robert Hooke e em 1687 a Sociedade Real
publica Principia Mathematica de Isaac Newton (Social Society, 2010).
lxiv
Foi um filósofo natural, químico e físico irlandês que se destacou pelos seus trabalhos no âmbito
da física e da química. Foi um cientista importante e influente em sua época, uma de suas mais
importantes descobertas foi a chamada Lei de Boyle-Mariotte, onde ele dizia que o volume de um gás
varia de acordo com a pressão de forma inversamente proporcional, e as propriedades do ar e do vácuo,
ele também acreditava que o calor era um movimento mecânico que estava relacionado com a agitação
de moléculas. Boyle teve influência para a Física, em especial no campo da Mecânica quântica. Ele
acreditava que o comportamento das substâncias poderia ser explicado pelo movimento dos átomos
através de uma espécie de mecânica. Na área das ciências médicas, Boyle sempre esteve interessado no
sangue, realizou investigações com a ajuda de outros pesquisadores de Oxford, onde estava interessado

673
na natureza do sangue e os efeitos de determinadas substâncias no sangue. Em 1684 lançou o
livro Memoirs for the Natural History of Humane Blood, onde ele inclui dados de suas investigações como
cores, gostos, odores e inflamabilidade do sangue e as diferenças entre o sangue humano e animal.

lxv
Nasceu em Greenwich (1656 — 1742) foi um astrônomo e matemático britânico, observador da ór
bita e decifrou o tempo do cometa Halley, em 1696. Astrônomo Real Britânico e professor da Cátedra
Savilian de geometria na Universidade de Oxford, Halley produziu em 1678 um mapa do céu
meridional. Mostrou em 1716 como a distância entre a Terra e o Sol poderia ser calculada a partir dos
trânsitos (passagens por uma linha de referência) de Mercúrio e Vênus, e descobriu o movimento
próprio das estrelas em 1718. Descobriu também a relação entre a pressão barométrica e a altura acima
do nível do mar, mapeou o campo magnético superficial da Terra, predisse de forma precisa as
trajetórias dos eclipses solares e apresentou pela primeira vez uma justificativa racional para a
existência da aurora boreal. Foi amigo de Isaac Newton, e ajudou-o a publicar suas três leis da mecânica
(Brasil Escola, 2012).
lxvi
Isaac Newton (1643 — 1727) foi um cientista inglês, mais reconhecido como físico e matemático,
embora tenha sido também astrônomo, alquimista, filósofo natural e teólogo. Sua obra, Princípios
Matemáticos da Filosofia Natural é considerada uma das mais influentes na história da ciência.
Publicada em 1687, esta obra descreve a lei da gravitação universal e as três leis de Newton, que
fundamentaram a mecânica clássica (Newton, 2002).

lxvii Segundo Batista (2010) O seu pensamento e, principalmente, a sua atividade científica, granjearam
lhe renome tanto como teórico e metodólogo da física quanto como um dos principais responsáveis pela
revolução científica moderna, pois os seus trabalhos (teóricos e experimentais) trouxeram contribuições
muito significativas para o aprimoramento do conhecimento científico natural. Padovani e Castagnola
(1978) oferecem uma síntese da concepção galileana de ciência: Segundo Galileu, a ciência é indutiva
(deve fundamentar-se sobre a experiência, para conhecer e dominar a própria experiência); fenomenal
(procura as leis dos fenômenos, e não as leis das essências das coisas); matemática (as leis científicas dos
fenômenos são leis matemáticas: físico-matemática). O procedimento metódico particular para construir
a ciência, descobrir as leis dos fenômenos, consta de três momentos: observação, hipótese,
experimentação (Padovani & Castagnola, 1978, p. 285; grifos dos autores).

lxviiiTeoriaque defende a tese de que o sol ocupa o centro do sistema solar, do grego, hélios - sol; foi
proposta, pela primeira vez, salvo melhor juízo, pelo astrônomo grego Aristarco de Samos (310 -230
a.C.); contudo, tal teoria foi rejeitada pela maioria da comunidade intelectual de então e só seria
reafirmada alguns séculos mais tarde, com os trabalhos de Copérnico e de Galilei (Batista, 2010).
lxix
Teoria que defende a tese de que a Terra, do grego - gaia ou geia, donde o composto geo, ocupa o
centro do universo, como uma esfera imóvel. É o modelo cosmológico mais antigo, cuja formulação
definitiva deve-se aos trabalhos do astrônomo e matemático grego Cláudio Ptolomeu (83 -161 d.C)
(Batista, 2010).
lxx
Revolução Científica foi o período que começou no século XVI e prolongou-se até o século XVIII. A partir
desse período, a Ciência, que até então estava atrelada à Teologia, separa-se desta e passa a ser
um conhecimento mais estruturado e prático. As causas principais da revolução podem ser resumidas
em: Renascimento cultural e científico, a imprensa, a Reforma Protestante e
o hermetismo. Hermetismo ou hermeticismo é o estudo e prática da filosofia oculta e da magia associados a
escritos atribuídos a Hermes Trismegisto, "Hermes Três-Vezes-Grande", uma deidade sincrética que combina
aspectos do deus grego Hermes e do deus egípcioThoth. Os escritos mais importantes atribuídos a Hermes são
a Tábua de Esmeralda e os textos do Corpus Hermeticum. Estas crenças tiveram influência na sabedoria
oculta europeia, desde a Renascença, quando foram reavivadas por figuras como Giordano Bruno e Marsilio
Ficino. A magia hermética passou por um renascimento no século XIX na Europa Ocidental, onde foi praticada
por nomes como os envolvidos na Ordem Hermética do Amanhecer Dourado e Eliphas Levi. Ordens herméticas
que ficaram consagradas ao longo dos séculos foram a Ordem dos Cavaleiros Templários, a Maçonaria e a Ordem

674
Rosacruz.A Ordem Hermética da Aurora Dourada é uma ordem nova comparada com as anteriores,ela surgiu na
década de 1880. A expressão "revolução científica" foi criada por Alexandre Koyré, 1892 — Paris, 28 de
abril de 1964) foi um filósofo francês de origem russa que escreveu sobre história e filosofia da ciência em 1939.
lxxi
Nicolau Copérnico (1473—1543) foi um astrônomo e matemático polonês que desenvolveu a teoria
heliocêntrica do Sistema Solar. Foi também cónego da Igreja Católica, governador e
administrador, jurista, astrônomo e médico. Quando Copérnico publicou sua principal teoria (heliocentrismo)
Martinho Lutero em 1517 já havia publicado 95 teses da Reforma Luterana. A teoria de Copérnico do modelo
heliocêntrico, foi publicada em seu livro, De revolutionibus orbium coelestium ("Da revolução de esferas
celestes"), durante o ano de sua morte, 1543 Essa visão geocêntrica tradicional foi abalada por Copérnico em 1537,
quando este começou a divulgar um modelo cosmológico em que os corpos celestes giravam ao redor do Sol, e
não da Terra. O movimento da Terra era negado pelos partidários de Aristóteles e Ptolomeu. O cardeal
São Roberto Belarmino presidiu o tribunal que proibiu a teoria copernicana, pois a teoria do Heliocentrismo, que
colocou o Sol como o centro do Sistema Solar, contrariava a então vigente Teoria Geocêntrica (que considerava
a Terra como o centro).
lxxii No
século 16, o astrônomo polonês Nicolaus Copernicus (1473 — 1543) trocou a visão tradicional do
movimento planetário centrado na Terra por um em que o Sol está no centro e os planetas giram em torno deste
em órbitas circulares. Embora o modelo de Copérnico estivesse muito próximo de predizer o movimento planetário
corretamente, existiam discrepâncias. Isto ficou particularmente evidente para o planeta Marte, cuja órbita havia
sido medida com grande precisão pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546— 1601) que foi
um astrônomo dinamarquês e tinha um observatório chamado Uranienborg (construído
entre 1576 e 1580 pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe por ordem de Frederico II e destruído em 1601) na
ilha de Ven, no Öresund, entre a Dinamarca e a Suécia. Tycho esteve ao serviço de Frederico II da Dinamarca e
mais tarde do imperador Rodolfo II da Germânia, tendo sido um dos representantes mais prestigiosos
da ciência nova - a ciência renascentista, em contraponto, a síntese da tradição bíblica e da ciência de Aristóteles
na Idade Média. Continuou o trabalho iniciado por Copérnico, e estudou detalhadamente as fases da lua e
compilou muitos dados que serviriam mais tarde a Johannes Kepler para descobrir uma harmonia celestial
existente no movimento dos planetas, padrão esse conhecido como leis de Kepler.
A correção para Copérnico, foi resolvido pelo matemático alemão Johannes Kepler, que descobriu que as órbitas
planetárias não eram círculos, mas elipses. Kepler descreveu o movimento planetário por três leis, tais como: 1a
Lei: Cada planeta revolve em torno do Sol em uma órbita elíptica, com o Sol ocupando um dos focos da elipse; 2a
Lei: A linha reta que une o Sol ao planeta varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais; 3a Lei: Os quadrados
dos períodos orbitais dos planetas são proporcionais aos cubos dos semi-eixos maiores das órbitas (P2=ka3).
As leis de Kepler não se aplicam somente aos planetas orbitando o Sol, mas a todos os casos em que um corpo
celestial orbita um outro sob a influência da gravitação -- luas orbitando planetas, satélites artificiais orbitando a
Terra ou outros corpos do sistema solar, e mesmo estrelas orbitando outras estrelas.
lxxiii
Johannes Kepler (1571 - 1630) foi um astrônomo e matemático alemão. Considerado figura-chave
da revolução científica do século XVII, é todavia célebre por ter formulado as três leis fundamentais da mecânica
celeste, denominadas por Leis de Kepler, tendo estas sido codificadas por astrônomos posteriores com base nas
suas obras Astronomia Nova (1609), que apresenta as duas primeiras leis do movimento planetário e em Epitome
Astronomiae Copernicanae (1617–21), a primeira versão impressa da terceira lei do movimento planetário
e Harmonices Mundi, (1619), que apresenta a terceira lei, em. Essas obras também forneceram uma das bases para
a teoria da gravitação universal de Isaac Newton (1643 - 1727), que foi um cientista inglês, mais reconhecido
como físico e matemático, e também astrônomo, alquimista, filósofo natural e teólogo..
lxxiv A diferença entre religião e racionalismo é bem clara, embora a religião tenha começado todas as suas

doutrinas como uma atividade racional, se baseou nos dogmas, os dogmas são inabaláveis e imutáveis, as teorias
são testáveis e mutáveis. Na verdade, a própria definição de uma teoria é que ela está sempre aberta à correção
com a aquisição de novos conhecimentos. Caso Copérnico(1473 —1543), Kepler (1571 — 1630) e
Galileu (1564 — 1642), como cristãos devotados que eram, tivessem aceitado, que era o sol que girava em torno
da terra, assim nenhum progresso na astronomia teria iniciado àquele momento. Confirmado pela teoria de
Copérnico que foi a Terra que se movia em torno do sol e não vice-versa, Galileu aperfeiçoou a perspectiva racional
e ilustrou o uso dos diferentes métodos que poderia ser adotado com sucesso, tal como: o método de observação
para aprender sobre os movimentos planetários, fez uso da experiência pessoal que foi adquirindo em sua busca
pelo conhecimento e conduziu experimentos para se chegar a uma verdade. Galileo (1564—1642) sem dúvida
tinha a vantagem de ter Copérnico e Kepler como seus predecessores, mas é nele que o método científico atingiu
sua melhor forma, pois anteriormente, a ciência tinha-se ligado ao que era então Filosofia, e com Galileu a ciência
começou a ter condução própria, com método próprio, em que buscava melhorar a vida do homem na terra, e que
não colocou sua fé em " Razão Pura".

675
lxxv
Giordano Bruno (1548 — 1600) foi um teólogo, filósofo, escritor frade dominicano italiano condenado à
morte na fogueira pela Inquisição romana (Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo
Ofício) com a acusação de heresia ao defender erros teológicos. Giordano Bruno foi o grande defensor da ideia
de infinito , defesa realizada em seu livro ‘Acerca do Infinito, o Universo e os Mundos’ (1584), era um hilozoísta,
que consideravam que toda a realidade, inclusive a inerte, era dotada de sensibilidade e, portanto, animada por um
princípio ativo. O Hilozoísta foi uma doutrina da escola jônica grega do séculos VII - VI a.C., pertencente ao grupo
de filósofos chamados pré-socráticos (Baracat, 2009). E considerado também um panpsiquista, em que tudo tem
uma natureza psíquica, uma alma, é um termo que designa uma concepção da matéria e, por extensão, de toda
acomo:
natureza.
Paracelsus
O ,Bernardino
pan-psiquismoTelesio
tinha
, Giordano Bruno , Helmont
representantes entre eosTommaso
pensadores
Campanella, e na obra Nova
do Renascimento, tais

universis de philosophia (1591), do autor renascentista Franciscus Patricius - Francesco Patrizi (1529 - 1597 ) foi
um filósofo italiano orientação platônica e em seu livro Nova universis de philosophia (1591), de orientação pré
socrática.
lxxvi
A exemplo, Edward Jenner ( 1749 — 1823) foi um naturalista e médica britânica que clinicava em Berkeley,
filho de um vigário anglicano e em 1789 Jenner observou que as vacas tinham as tetas feridas iguais às provocadas
pela varíola no corpo de humanos. Os animais tinham uma versão mais leve da doença, a varíola bovina. Em 1796,
A vacinação como meio de combater várias doenças foi o produto de um homem que aplicou a sua razão a um
facto que normalmente teria sido ignorado por outras pessoas. Alertado por uma ordenhadora Sarah Nelmes, de
que não contrairia a varíola humana por ter adquirido a varíola bovina, Jenner extraiu pus da mão de Sarah e
inoculou em uma criança saudável, James Phipps, de oito anos, e o menino contraiu a doença de forma branda e
logo ficou curado. Posteriormente inoculou a varíola humana no mesmo menino e James não contraiu a doença.
A partir de sua conclusão de que uma pessoa que sofreu de uma doença mais leve, tornaria-se imune a uma doença
mais grave de tipo semelhante. No ano seguinte, Edward Jenner (1749 — 1823) relatou seu experimento à Royal
Society - a Academia de Ciências do Reino Unido -, mas as provas que ele apresentou foram consideradas
insuficientes. Ele realizou então novas inoculações em outras crianças, inclusive em seu próprio filho. Em 1798,
seu trabalho foi reconhecido e publicado: An Inquiry into the Causes and Effects of the Variolae Vaccinae, a
Disease Known by the Name of Cow Pox. No entanto, seus críticoso ridicularizaram e foi denunciando como
repulsivo o processo de infectar gente com material colhido de animais doentes. Mas as vantagens da vacinação,
porém, logo se tornaram tão evidentes tornando imune à varíola humana, uma das doenças epidêmicas mais
mortais da humanidade. Dr. Jenner demoliu assim a superstição de que a varíola foi a visitação da maldição de
Deus sobre a humanidade.
lxxvii
O racionalismo e o empirismo constituem novos paradigmas da filosofia, a razão é a organização e ordenação
de idéias, para assim poder sistematizá-las, passa a ser considerada uma atividade intelectual de conhecimento da
realidade natural, possui um ideal de clareza, de ordenação, rigor e precisão dos pensamentos e das palavras. A
razão, em sua origem, é a capacidade intelectual de pensar e exprimir-se correta e claramente, de modo a organizar
e ordenar a realidade, os seres, os fatos e as idéias. Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez
com que ela fosse considerada oposta a quatro outras atitudes mentais, tais como: ao conhecimento ilusório, às
emoções, aos sentimentos, às paixões, à crença religiosa, em que a verdade nos é fundada pela fé por meio de uma
revelação divina. A Filosofia Moderna foi o período em que mais se confiou nos poderes da razão para conhecer
e conquistar a realidade e o homem – por isso foi chamado de Grande Racionalismo Clássico. O marco dessa
forma de pensamento é René Descarte (1596 – 1650), “Penso, logo existo”, matemático e filósofo, inventor da
geometria analítica e o método escolhido é o matemático, por ser o exemplo de conhecimento integral racional,
autor do Discurso do Método de 1637, de características dualistas e mecanicistas.
O racionalismo considera que o homem tem idéias inatas, ou seja, que não são derivadas da experiência, mas se
encontram no indivíduo desde seu nascimento e desconfia das percepções sensoriais. Enquanto a ciência cristã e
antiga constituía um corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, não admitindo erros, mudanças
ou crítica, a ciência moderna e racional vai propor formular leis e princípios que expliquem o funcionamento da
realidade. O pensamento racional ao introduzir a dúvida no processo do pensamento, introduz a crítica como parte
do desenvolvimento do conhecimento científico. São esses princípios da ciência moderna que encontramos hoje.
Principais pensadores: René Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662), Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646
1716), Friedrich Hegel (1770-1831).
lxxviii
O Empirismo defende que o conhecimento humano provém da nossa percepção do mundo externo e da nossa
capacidade mental, valorizando a experiência sensível e concreta como fonte do conhecimento e da investigação.
Segundo os empiristas, o conhecimento da razão, da verdade e das idéias racionais é importante, mas desde que
estejam ligados à experiência, pois as idéias são adquiridas ao longo da vida e mediante o exercício da experiência
sensorial e da reflexão. O método empirista baseia-se na formulação de hipóteses, na observação, na verificação

676
de hipóteses com base nos experimentos. O empirismo provoca uma revolução para a ciência. A partir da
valorização da experiência, o conhecimento científico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a
querer dominá-la, buscando resultados práticos. E tem como principais filósofos: Francis Bacon (1561 – 1626),
John Locke (1632 – 1704), David Hume (1711 – 1776), Thomas Hobbes (1588 - 1679) e John Stuart Mill (1806
– 1873).
Francis Bacon (1561 – 1626), nasceu na Inglaterra criou o lema: “Saber é poder”, pois compreende que o
desenvolvimento da pesquisa experimental aumenta o poder dos homens sobre a natureza. John Locke, médico
inglês, dizia que o mente humana é uma tábula rasa, um papel em branco sem nenhuma idéia previamente escrita
e que todas as idéias são adquiridas ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão.
Defendeu que a experiência é a fonte das idéias. Desenvolveu uma corrente denominada Tabula Rasa, onde
afirmou que as pessoas desconhecem tudo, mas que através de tentativas e erros aprendem e conquistam
experiência. O racionalismo e o empirismo são pensamentos distintos, embora exista um elemento em comum: a
preocupação com o entendimento humano.
lxxix
A secularização é um processo através do qual a religião perde a sua influência sobre as variadas esferas da
vida social. Essa perda de influência repercute-se na diminuição do número de membros das religiões e de suas
práticas, na perda do prestígio das igrejas e organizações religiosas, na influência na sociedade, na cultura, na
diminuição das riquezas das instituições religiosas, e, por fim, na desvalorização das crenças e dos valores a elas
associados.
lxxx Em
suma, o método de René Descartes exigia: (1) aceitar como "verdade" apenas idéias claras e
distintas que não podiam ser duvidosas, (2) quebrar um problema em partes, (3) deduzir uma conclusão
a partir de outra e (4) conduzir uma Síntese sistemática de todas as coisas. Descartes baseou toda sua
abordagem filosófica na ciência sobre esse método dedutivo de raciocínio e destacava que a mente e o
corpo são distintos - "dualismo mente-corpo", em que a natureza da mente, uma coisa pensante, não
estendida, é completamente diferente da do corpo, coisa estendida, não pensante e, portanto, é possível
para um que exista sem o outro. Descartes considera a origem do conhecimento na existência de três
tipos de substâncias: a substância pensante (res cogitans): cujo atributo essencial é o pensamento;
a substância extensa (res extensas), cujo atributo essencial é a extensão; a substância divina (res divina),
cujo atributo essencial é a perfeição, a qual se identifica, com vários atributos de Deus: omnipotência,
omnisciência, suma vontade. O ser humano por sua vez constitui, uma unidade de duas substâncias: a
unidade da alma res cogitans, e do corpo res extensas. Os elementos fundamentais da noção de substância
em Descartes completa e incompleta, sendo completa a alma e o corpo e incompleta as substâncias que
não podem existir por si só, ou seja, são chamadas incompletas por estar relacionadas com outra
substância, da qual são partes integrantes. Em Descartes, res cogitans ('coisa pensante') é o sujeito pen
sante, que encontra obstáculo numa res extensa ('coisa extensa'), que é o corpo, a realidade deste mesmo
ou a matéria. A característica essencial ou atributo dos corpos é a extensão, quer dizer, o estar no espaço,
com suas modificações ou modos - a quantidade de movimento, a forma e o movimento. Como
consequência disso, os corpos se submetem à quantidade de movimento, a qual ele chamava de força
do movimento e podem ser explicados em termos mecanicistas. Já os seres humanos não são pura
extensão, puro corpo, pois possuem mentes, enquanto os animais são, para Descartes, pura extensão,
puro corpo, como máquinas, e podem, segundo o filósofo, ser explicados em termos mecanicistas
(Marques, 1993).

Descartes destaca à res cogitans e não à res divina e é justamente esta ruptura que faz de Descartes o
primeiro filósofo moderno, que apresenta, que a verdade inquestionável, indubitável, não é a da
existência de Deus, como foi repetidamente mantido ao longo de todo o pensamento medieval, mas a
da existência do cogito. Assim, é a partir da res cogitans que Descartes se propõe a demonstrar
a existência de Deus. Para isso, Descartes afirma que o processo para a descoberta de uma verdade
inicial é a dúvida, e que toda afirmação só pode ser conhecida através da experiência e que
empiricamente, pode ser posta em dúvida. O método cartesiano se caracteriza pela a recusa de todo o
tipo de afirmações que podemos, por algum motivo, ter dúvida. Ou seja, se algum cético pode
questionar a veracidade de uma certa afirmação que aceitamos, então essa afirmação deve ser recusada.
O primeiro passo é duvidar dos sentidos, que são fonte de engano; o segundo momento da dúvida é a
incerteza a respeito dos estados de sono e de vigília, pois tudo que experimentamos acordados podemos
experimentar também quando dormimos, no sonho e como terceiro passo do processo, Descartes pensa
a possibilidade que o Deus, que é todo-poderoso, possa ter lhe enganado a respeito de tudo que trazia

677
como certeza. Sendo assim, para resguardar a bondade de Deus (e porque ele vai precisar de Deus no
seu sistema como garantia das ideias inatas e como aquele que vai dar certeza do mundo sensível),
Descartes apresenta o quarto argumento: ele cria um gênio maligno poderoso que possa ter lhe
enganado, já que Deus, sendo bom, não podia fazer isso. Após passar pelas várias fases da dúvida que
são os sentidos, sono ou vigília, Deus enganador e o gênio maligno, Descartes inaugura a base de todo
seu pensamento filosófico e antropológico, o cogito. É preciso compreender que o cogito, na verdade,
constitui a substância pensante e por substância, entende-se, aquilo que existe por si. Trata-se de uma
compreensão próxima da escolástica, mas em Descartes, o homem é antes de tudo, pensamento e não
ser da natureza. A dimensão metafísica é a explicação da substância essencial. Portanto, o homem é res
cogitans, por isso é mais fácil ter conhecimento do próprio eu pensante que do corpo, o cogito é a pedra
fundamental de todo o conhecimento (Marques, 1993).

É importante notar que, para Descartes, "distinção real" é um termo técnico que denota a distinção entre
duas ou mais substâncias (ver Princípios, parte I, seção 60). Uma substância é algo que não requer
qualquer outra criatura para existir - ela pode existir apenas com a ajuda da concordância de Deus -
enquanto, um modo é uma qualidade ou afeição dessa substância (ver Princípios Parte I, seção 5).
Conseqüentemente, um modo requer uma substância para existir e não apenas a concordância de Deus.
Sendo em forma de esfera é um modo de uma substância estendida. Por exemplo, uma esfera requer
um objeto estendido em três dimensões para existir: uma esfera não expandida não pode ser concebida
sem contradição. Mas uma substância pode ser entendida como existindo sozinha sem exigir que
nenhuma outra criatura exista. Por exemplo, uma pedra pode existir por si só. Ou seja, sua existência
não depende da existência de mentes ou outros corpos; e, uma pedra pode existir sem ser qualquer
tamanho ou forma particular. Isto indica para Descartes que Deus, se quisesse, poderia criar um mundo
constituído por esta pedra por si só, mostrando ainda que é uma substância "realmente distinta" de
tudo, menos de Deus. Portanto, a tese de que a mente e o corpo são realmente distintos significa apenas
que cada um poderia existir por si só, sem qualquer outra criatura, incluindo um ao outro, se Deus
escolheu fazê-lo. No entanto, isso não significa que essas substâncias existem separadamente e se eles
realmente existem separadas é outra questão (Hoffman, 2002).

lxxxi
A Era Isabelina foi considerada a idade de ouro na história inglesa, marcada pelo reinado da Rainha Elizabeth
I (1558-1603). Foi marcado pelo triunfo naval sobre os espanhóis e passava por um bom momento econômico,
mais expansiva e mais otimista. Esta "idade de ouro" representou o apogeu do Renascimento Inglês e viu o
florescimento da poesia, música e literatura, como o de Willian Shakespeare.
lxxxii Pierre
Gassendi (1592-1655), obteve aos dezesseis anos uma cadeira de retórica em Digne-les-
Bains, instituto que faz parte da Aix-Marseille Université. Em 1617, recém ordenado padre, obteve uma
cadeira de filosofia na Aix-Marseille Université, França. Em 1623 foi nomeado prepósito da Catedral de
Digne e pôde dedicar-se aos estudos científicos. Viajou para Flandres e Holanda (1628/31), mas morou
sobretudo em Paris, onde em 1645 foi nomeado professor de matemática no Colégio Real de Paris. Nos
textos de Gassendi, na maioria das vezes, a estrutura se dá da seguinte forma: ele apresenta o problema
que vai tratar, cita filósofos que concordam com o que vai defender e depois alguns com quem vai
debater. Sua base é o epicurismo, que é o sistema filosófico que prega a procura dos prazeres moderados
para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com a ausência de sofrimento corporal
pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos. Já quando os desejos são
exacerbados podem ser fonte de perturbações constantes, dificultando o encontro da felicidade que é
manter a saúde do corpo e a serenidade do espírito, ensinado por Epicuro de Samos, filósofo ateni
ense do século IV a.C. As afirmações centrais do atomismo de Pierre Gassendi (1592-1655) são
encontradas em Epicuro (341-270 a.C.) e Lucrécio (99 – 55 a.C): a de que existem dois tipos de coisas
extensas – átomos (os elementos constituintes básicos da matéria) e vazio. Também professa que a
matéria não pode ser fisicamente dividida para além de um componente mínimo que não possui partes
(átomos), e que tudo é composto de uma combinação de vazio e do elemento básico da matéria, isto é,
do átomo. O atomismo de Gassendi defende que toda ação do mundo ocorre pelo contato de um corpo
com outro. No que diz respeito ao seu empirismo, a evidência de seu atomismo é obtida indiretamente
como produto de dados sensórios, i. e., a partir da observação. Gassendi defende que tal meio de obter
conhecimento a partir da evidência disponível é garantido pela inferência baseada nos sinais, um sinal

678
é qualquer coisa que designe algo ou dê a entender algo que seja diferente de si mesmo, ou seja, é algo
que leva ao conhecimento de alguma outra coisa, sendo suficiente para dizer que o atomismo é
justificável empiricamente. Gassendi foi um atomista que adotou a teoria de Leucipo (500 a.C.),
Demócrito (460-370 a.c) e Epicuro (341-270 a.C.), que são as suas principais fontes para o atomismo.
Apesar dos três serem considerados os percussores do atomismo, é a Epicuro que Gassendi mais se
reporta, tendo, inclusive, publicado uma biografia a seu respeito intitulada De vita et moribus Epicuri
(1647). Epicuro de Samos (341-270 a.C.) teve uma obra tão influente que fez com que diversos e
numerosos centros epicuristas fossem construídos no Egito, mais precisamente em Jônia. Epicuro
propõe que os dados percebidos são evidência para a existência de corpos, assim como seus
movimentos e transformação e que devido a isso é possível aceitar que os corpos são compostos de
átomos e cita “Que os corpos existem é óbvio para os sentidos de todos. Devemos também fazer
inferências sobre coisas escondidas de nossos sentidos, como notei anteriormente, somente a partir dos
sinais que nossos sentidos podem detectar, e é dessa forma que inferimos o vazio” (LAÉRCIO,
Diógenes. Vida e doutrina dos filósofos ilustres, Livro X, 39-40). Epicuro afirma que as pessoas deveriam
levar vidas que enriqueçam sua felicidade e suas amizades e esta é uma lição moral direta do caráter
material da alma, que se encerra na mortalidade: o consolo está na vida presente. E aqueles que dizem
que a alma é incorpórea estão errados Epicuro faz uma distinção entre o prazer passageiro e prazer
estável. O primeiro seria a alegria, a felicidade, o segundo seria a total ausência de dor. É um crítico da
noção de substância, em Syntagma Philosophicum (1658), na parte concernente à física, Gassendi
garante que são os átomos os componentes (principium) materiais das coisas ou a forma primária e
universal da matéria. Outra vantagem que a teoria atômica apresenta, segundo Gassendi, é que ela
explica a fonte e a origem mais íntimas do movimento. Outras teorias não conseguem explicar tal coisa,
muito menos a teoria da forma. A noção de forma, segundo Gassendi, é considerada pelos teóricos como
capaz de conter o princípio de todo movimento e atividade através de uma entidade que ela possui,
além de manter-se diferente da matéria. Acusa ainda os defensores da forma de considerar a matéria
totalmente inerte e livre de qualquer poder ativo ou motor. A filosofia autêntica, para Gassendi, era o
conhecimento hipotético e experimental, por sua natureza relativa, histórica e progressiva. Os
princípios metafísicos não são importantes para a ciência física. O mundo metafísico, contudo, não é
negado pelo filósofo - este apenas separa-se do mundo físico (Rovaris, 2007).

lxxxiii
A Reforma Inglesa (ou Reforma anglicana) foi uma série de eventos ocorridos no século XVI através dos
quais a Igreja da Inglaterra rompeu com a autoridade do Papa e a Igreja Romana. Está associada com o processo
mais amplo da Reforma Protestante, um movimento político-religioso que afetou as práticas da fé cristã em todo
o continente europeu. Muitos fatores contribuíram para esse processo, como o declínio do feudalismo e a ascensão
do nacionalismo, o advento do Direto comum, a invenção da prensa móvel por Gutenberg e o consequente
aumento do número de Bíblias disponíveis, a difusão de conhecimento e novas idéias entre acadêmicos, as classes
média e alta e os leitores em geral. Entretanto, a Reforma Inglesa — que também abrangeu o País de Gales e
a Irlanda — foi em grande parte impulsionada por mudanças na política do governo inglês, às quais a opinião
pública foi gradativamente se acostumando.
Tendo como base o desejo do rei Henrique VIII em anular seu casamento com Catarina de Aragão (ne
gado pelo Papa Clemente em 1527), a Reforma Inglesa começou mais como uma disputa política do que
teológica. As diferenças políticas entre Roma e a Inglaterra permitiram que os atritos teológicos já
existentes se tornassem ainda maiores. Até o rompimento com Roma era o Papa e os concílios gerais da
Igreja que decidiam a doutrina. A Igreja da Inglaterra era governada pelo código de direito
canônico com jurisdição final em Roma. As contribuições à Igreja eram pagas diretamente a Roma e o
Papa tinha a palavra final na nomeação dos bispos.

O rompimento com a Igreja de Roma entrou em efeito através de uma série de atos do Parlamento
aprovados entre 1532 e 1534, dentre os quais o Ato da Supremacia, que declarava o rei Henrique VIII
como "Chefe Supremo da Igreja da Inglaterra na Terra".[2] Maria I renunciou a este título em 1553,
quando restaurou a jurisdição papal; mais tarde, em 1559, Elizabeth I reafirmou a supremacia real sobre
a Igreja ao adotar o título de "Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra".[2] A autoridade final em

679
disputas doutrinais e legais agora pertencia ao monarca e o papado foi privado da arrecadação da Igreja
e da palavra final na nomeação dos bispos (Dickens, 1989).

lxxxivDe Cive (1642) foi o primeiro livro publicado de Hobbes de filosofia política, este trabalho centra-se mais
estreitamente sobre o político: suas três seções principais são intituladas "Liberdade", "Império" e "Religião". No
entanto, De Cive foi concebido como parte de um trabalho maior, os Elements of Philosophy. Esse trabalho era
composto por três partes: De Corpore (1655), De Homine (1658) e De Cive. De Corpore, abrange questões de
lógica, linguagem, método, metafísica, matemática e física. De Homine, entretanto, centra-se em questões de
fisiologia e óptica.
lxxxv Na primeira
parte, ‘Do Homem’, de seu livro Leviathan - Leviatã ou matéria, Forma e Poder de um
Estado Eclesiástico e Civil (1651), em oposição a Aristóteles em que o homem é um indivíduo politikon,
para polis, já em Hobbes o homem busca seu interesse particular, firma pactos políticos tendo em vista
seu próprio benefício. (Lopes, 2012). Assim, o conceito de homem está dentro de uma perspectiva
mecânica de natureza (exterior) e não teleológica (interior) como em Aristóteles, em que o sentido é o
originário de todo tipo de pensamento:

“O original de todos eles (pensamento) é o que chamamos de sensação, (pois


não há concepção na mente de um homem que não tem, a princípio,
totalmente ou por partes, sido gerado em cima dos órgãos do sentido). O restante
é derivado desse original. (Leviatã, Primeira Parte, Do Homem, Capítulo I, Da
Sensação, parênteses nosso)

E continua:

“A causa da sensação é o corpo exterior, ou objeto, que pressiona o órgão


próprio de cada sentido, ou de forma imediata, como no gosto e tato, ou de
forma mediata, como na vista, no ouvido, e no cheiro; a qual pressão, pela
mediação dos nervos, e outras cordas e membranas do corpo, prolongada para
dentro em direção ao cérebro e coração, causa ali uma resistência, ou
contrapressão, ou esforço do coração, para se transmitir; cujo esforço, porque
para fora, parece ser de algum modo exterior. E é a esta aparência, ou ilusão,
que os homens chamam sensação” (Leviatã, Primeira Parte, Do Homem,
Capítulo I, Da Sensação)
lxxxvi
Thomas Hobbes defendia a ideia segundo a qual os homens só podem viver em paz se
concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. O Estado não pode estar sujeito às
leis por ele criadas pois isso seria infringir sua soberania. Para ele, a Igreja cristã e o Estado cristão
formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca, que teria o direito de interpretar as Escrituras,
decidir questões religiosas e presidir o culto. Neste sentido, critica a livre interpretação
da Bíblia na Reforma Protestante por, de certa forma, enfraquecer o monarca. Leviatã ou Matéria, Palavra
e Poder de um Governo Eclesiástico e Civil, comumente chamado de Leviatã, é um livro escrito por Thomas
Hobbes e publicado em 1651. Ele é intitulado em referência ao monstro bíblico Leviatã. O livro diz
respeito à estrutura da sociedade e do governo legítimo, e é considerado como um dos exemplos mais
antigos e mais influentes da teoria do contrato social.

De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros devem
render o suficiente da sua liberdade natural, de forma que a autoridade possa assegurar a paz interna e
a defesa comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembleia (que pode, até mesmo, ser
composta de todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser o Leviathan (1651), uma autoridade

680
inquestionável. A teoria política do Leviatã mantém, no essencial, as ideias de suas duas obras
anteriores, Os elementos da lei e Do cidadão (em que tratou a questão das relações entre Igreja e Estado).
lxxxvii
A Filosofia Política de John Locke tornou-se, desde sua época, conhecida como Liberalismo – a
crença nos princípios da liberdade e da igualdade. As revoluções na América do Norte e na França, no final
do século XVIII, tinham como base os ideais liberais. A Declaração de Independência e a Constituição
norte-americana, via Thomas Jefferson, um dos seguidores de Locke, com ênfase na proteção da vida,
liberdade e propriedade”, podem ser diretamente identificados na sua filosofia daquele filho de puritanos
que apoiaram a causa parlamentarista na Guerra Civil inglesa, eclodida em 1642 com uma série de
conflitos gerados pelo temor que Carlos I tentasse introduzir o Absolutismo na Inglaterra.( O Livro da
Política. São Paulo; Globo, 2013). Em 1661, Luís XIV deu início ao seu reinado absolutista na França,
expresso na frase “L’État c est moi”. Em 1689, a Declaração de Direitos inglesa assegurou os direitos do
Parlamento e eleições livres de interferência da realeza. No Século XVIII, revoluções com participações
populares levaram à criação de Repúblicas baseadas nos Princípios Liberais, progressistas naquela época.
Foi o primeiro a articular a respeito dos Princípios Liberais de Governo, e expressava, que o propósito
do governo era: a) preservar os direitos dos cidadãos à vida, à liberdade, e à propriedade; b) buscar o
bem público, e; c) punir quem violasse os direitos dos outros. Desta forma, para Locke, legislar seria, a
função suprema do governo. Locke se opunha, ao governo absolutista ao contrário de Thomas Hobbes (1588
1679), que acreditava ser necessário um soberano absoluto para salvar o povo de seu brutal “estado de
natureza”.

lxxxviii
Alguns eruditos medievais argumentavam que os reis tinham o direito de governar dado por Deus (Igreja),
enquanto outros proclamavam que a nobreza tinha um direito de nascença para governar. Pensadores iluministas
começaram a desafiar essas doutrinas. Mas se o poder de governar não foi dado pela “vontade divina” ou por
nascimento, então eram necessárias outras fontes de legitimidade.
lxxxix
Anthony Ashley Cooper (1621-1683), e nomeado Lord Ashley de 1661 a 1672, era um político proeminente
da Inglaterra durante o interregno Inglês e durante o reinado de Charles II. Fundador do partido Whig
(corresponde à do antigo nome do Partido Liberal Britânico), é lembrado como um patrono de John
Locke. O interregno Inglês começou em janeiro de 1649 com o regicídio (homicídio culposo de um
monarca) de Charles I da Inglaterra e terminou em 1660 com a restauração ao poder de Carlos II de Inglaterra . Na
verdade, esta época pode ser dividida em quatro períodos: 1649 - 1653: Primeiro período da Commonwealth da
Inglaterra; 1653 - 1658: O Protetorado sob o comando de Oliver Cromwell; 1658 - 1659: O Protetorado sob o
comando de Richard Cromwell; 1659 – 1660: Segundo periodo da Commonwealth da Inglaterra.
xc
O Absolutismo na Inglaterra teve início após a guerra das Duas Rosas. Essa guerra foi uma luta entre duas
famílias nobres – os Lancaster e os York -, apoiadas por grupos rivais da nobreza. A guerra terminou com a
ascensão de Henrique Tudor, apoiado pela burguesia. Henrique Tudor sobe ao trono da Inglaterra sob o nome de
Henrique VII iniciando assim a dinastia Tudor (1485-1603), restaurou a autoridade real e implantou o absolutismo
na Inglaterra. A Rosa de Tudor, uniu ambos emblemas, a Rosa Vermelha dos Lancaster e a Rosa Branca dos York,
criada assim no término da guerra civil. Henrique VII (Henrique Tudor), casou-se com Isabel de York, com isso
a dinastia Tudor passou a ser representada pela sobreposição das duas rosas, o que indicava o fim do confronto.
Henrique VIII, segundo rei da dinastia, governou até 1547 e conseguiu impor sua autoridade aos nobres, com o
auxílio da burguesia. Fundador do anglicanismo, seu rompimento com a Igreja católica permitiu-lhe assumir o
controle das propriedades eclesiásticas na Inglaterra. A rainha Elizabeth I, que reinou de 1558 a 1603, conseguiu
aumentar ainda mais o poder real. Completou a obra de Henrique VIII, seu pai, consolidando a Igreja anglicana e
perseguindo os adeptos de outras religiões. Foi durante seu reinado que teve início a colonização inglesa na
América do Norte (Salomão, 2006). A monarquia inglesa, desde o século XIII, apresentava uma característica
peculiar: a existência de um Parlamento. Isto representava uma certa limitação do poder real. Esse quadro começa
a mudar com a Guerra dos Cem Anos: a monarquia inglesa passa a contar com o apoio da nobreza e se fortalece
o longo de todo o período da guerra. Entretanto, com o final da guerra e a derrota inglesa, o processo se inverte:
há uma desvalorização da monarquia e o enfraquecimento do Exército, tendo como plano de fundo uma crise
econômica. Esses elementos influenciaram uma disputa dos setores descontentes da nobreza pelo poder real. Essa
reação deu origem à Guerra das Duas Rosas (1455-1485), que durante trinta anos dilacerou o território inglês.
Guerra dos Cem Anos foi uma série de conflitos travados de 1337 a 1453 pela Casa Plantageneta,( sobrenome de
um conjunto de monarcas ingleses) governantes do Reino da Inglaterra, contra a Casa de Valois, (é o ramo da
dinastia capetiana que reinou na França entre 1328 e 1589.) governantes do Reino da França, sobre a sucessão do
trono francês. Cada lado atraiu seus aliados e pode ser considerado um dos conflitos mais evidente da Idade Média,

681
em que cinco gerações de reis de duas dinastias rivais lutaram pelo trono do maior reino da Europa Ocidental. A
"Europa Ocidental" era utilizado para designar as partes da Europa que tinham raízes católicas ou protestantes, ou
seja, as áreas ocupadas por Andorra, Alemanha, Áustria, Bélgica, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia,
Espanha, Finlândia, França, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Letónia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo,
Malta, Mónaco, Noruega, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, San Marino, Suécia,
Suíça e Vaticano. Já a Guerra das Rosas foi resultado dos problemas sociais e financeiros decorrentes da Guerra
dos Cem Anos, combinados com o reinado considerado fraco de Henrique VI, que perdeu muitas das terras
francesas conquistadas por seu pai e foi severamente questionado pela nobreza. A Guerra das Rosas ou Guerra das
Duas Rosas foi uma série de lutas dinásticas pelo trono da Inglaterra, ocorridas ao longo de trinta anos (entre 1455
e 1485) de forma intermitente, durante os reinados de Henrique VI, Eduardo IV e Ricardo III. Em campos opostos
encontravam-se as casas de York e de Lencastre (ou Lancaster), ambas originárias da dinastia Plantageneta e
descendentes de Eduardo III, rei da Inglaterra entre 1327 e 1377 (Salomão, 2006)
xci Zeno de Citium (335-263 aC), o fundador do estoicismo, estava muito interessado na natureza da alma. Ele e
seu protegido Cleanthes (331-232 aC) enfatizaram a natureza ativa da mente, identificando-a como um fogo
interno ou calor vital. De acordo Chrysippus (C. 280-207 aC), a alma humana consiste em uma substância
semelhante a uma respiração chamada pneuma. O estoicismo foi uma das filosofias mais importantes e duradouras
a emergir do mundo grego e romano. Os estóicos são bem conhecidos por suas primeiras contribuições à filosofia
moral. Os estóicos construíram uma das mais avançadas e filosóficamente interessantes teorias da mente no mundo
clássico. Como na ciência cognitiva contemporânea, os estóicos rejeitaram a idéia de que a mente é uma entidade
incorpórea. Em vez disso, eles argumentaram que a mente (ou alma) deve ser algo corpóreo e algo que obedessece
às leis da física. Além disso, eles sustentavam que todos os estados mentais e atos eram estados da alma corpórea.
Acreditava-se que a alma (um conceito mais amplo do que o conceito moderno da mente) era uma respiração
quente e ardente que infundia o corpo físico. Como uma substância altamente sensível, pneuma (espítirto vital, ou
força criativa da pessoa) que impregna o corpo, estabelecendo um mecanismo capaz de detectar informações
sensoriais e transmitir a informação para a porção central comandante da alma, no peito. A informação é então
processada e experimentada. Os estóicos analisavam as atividades da mente não apenas em um nível físico, mas
também em um nível lógico. A experiência cognitiva foi avaliada em termos de sua estrutura proposicional, pois
o pensamento e a linguagem estariam intimamente ligados em criaturas (ser vivente) racionais. A doutrina estóica
da apresentação perceptual e cognitiva (phantasia) ofereceu uma maneira de analisar coerentemente o conteúdo
mental e os objetivos intencionais. Como resultado de seu trabalho em filosofia da mente, os estóicos
desenvolveram uma rica epistemologia e uma poderosa filosofia de ação. Finalmente, os estóicos negaram a visão
de Platão e de Aristóteles de que a alma possui faculdades racionais e irracionais. Em vez disso, eles argumentaram
que a alma é unificada e que todas as faculdades são racionais concluindo que as paixões são o resultado não de
uma distinta faculdade irracional, mas de erros de julgamento. Os estóicos também fizeram uma distinção entre
princípios [arqui] e elementos [stoicheia]. Os elementos básicos são terra, água, ar e fogo. Terra e água são
elementos pesados, passivos, dominados pelo princípio passivo. O ar e o fogo, por outro lado, são ativos e
intimamente ligados à sensciência e à inteligência. Os estóicos sustentavam que a alma é nutrida das exalações
dos elementos passivos. Os corpos biológicos distinguem-se dos corpos não biológicos pela presença de um tipo
específico de atividade associada à presença dos elementos ativos no corpo. Pneuma era a ferramenta teórica
central da física estóica e da psicologia estóica. Em contraste com os atomistas, os estóicos defendiam uma teoria
do contínuo que negava a existência do vazio no cosmos. O cosmos era visto como um contínuo único de
substância carregada de pneuma. A diferença qualitativa entre substâncias individuais, como entre uma rocha e
um poço de água, é determinada pelo grau do movimento tensional do pneuma que permeia a substância. A Stóica
Scala Naturae é uma hierarquia dos poderes na natureza baseada na atividade e organização do pneuma. Pneuma
no seu nível mais baixo de organização e concentração produz uma simples coesão na matéria em que ela habita,
mantém unidos corpos individuais unificados. Este estado de coesão e coerência chama-se hexis [estado coesivo].
Os corpos se mantêm unidos por causa de um fluxo interno de pneuma que começa no centro do objeto estendendo
se à superfície e fluindo de volta sobre si mesmo produzindo uma tensão de um movimento de dois sentidos.
Assim, mesmo o objeto mais estável possui movimento interno de acordo com os estóicos. Madeira e pedras são
exemplo de coisas que possuem hexis. Quando o pneuma em um corpo é organizado com um maior grau de
atividade, há phusis ou natureza orgânica. As coisas que têm phusis crescem e se reproduzem, mas não mostram
sinais de poder cognitivo. O pneuma que produz phusis também fornece a estabilidade ou coesão de hexis. Os
estóicos sustentavam que cada poder sobre esta scala naturae subordina o poder abaixo dele. As plantas são
exemplos óbvios de organismos que têm hexis e phusis, mas não alma. O nível seguinte dessa hierarquia de
atividade pneumática é a alma [psuchê]. As marcas características deste nível de organização são a presença de
impulso e percepção. Os animais não-racionais têm hexis [estado coesivo], phusis [natureza orgânica] e psuchê
[alma]. Somente os seres humanos e os deuses possuem o nível mais alto de atividade pneumática, razão [logos].
A razão foi definida como uma coleção de concepções e preconceitos; É especialmente caracterizado pelo uso da

682
linguagem. De fato, a diferença entre como os animais pensam e como os humanos pensam parece ser que o
pensamento humano é linguístico, o pensamento humano parece seguir uma estrutura sintática e proposicional na
maneira da linguagem. Os estóicos consideravam o pensamento em animais racionais como uma forma de discurso
interno. A hierarquia estóica de pneuma não deve ser confundida com a teoria de Aristóteles da hierarquia da alma
para a qual há alguma semelhança. Enquanto a Stóica scala naturae explica substâncias orgânicas e inorgânicas, a
hierarquia de Aristóteles é limitada a organismos biológicos. A teoria de Aristóteles também se baseia em uma
idéia muito diferente de alma.
xcii John Stuart Mill, foi um filósofo e economista britânico nascido na Inglaterra, e um dos

pensadores liberais mais influentes do século XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a teoria ética
proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy Bentham. Destacam-se seus trabalhos nos campos
da filosofia política, ética, economia política e lógica. Ele combatia a visão mecanicista de seu pai, James
Mill, ou seja, a visão da mente passiva que reage mediante o estímulo externo. Para John Stuart Mill, a
mente exercia um papel ativo na associação de ideias. Stuart Mill desenvolveu, em seu livro A System of
Logic, os cinco métodos de indução que viriam a ser conhecidos como Os Métodos de Mill. Em 1822, ao
regressar a Inglaterra, Mill, lê o Tratado de Legislação de Jeremy Bentham, sendo um livro base na sua
formação enquanto filósofo, quer como continuador que foi, quer como reformador do utilitarismo que
tentou ser (Driver, 2014).

xciii
Alguns dos primeiros pensadores utilitários, foram os utilitaristas "teológicos", como Richard Cumberland
(1631-1718) e John Gay (1699-1745). Eles acreditavam que a promoção da felicidade humana nos incumbia desde
que fosse aprovada por Deus. O Utilitarismo é uma teoria em ética normativa que apresenta a ação útil como a
melhor ação, a ação correta. O termo foi utilizado pela primeira vez na carta de Jeremy Bentham para George
Wilson em 1781 e posto em uso corrente na filosofia por John Stuart Mill na obra Utilitarismo, de 1861. Até a
criação do termo "consequencialismo", por Anscombe em 1958, o termo "utilitarismo" era utilizado para se referir
a todas as teorias que buscavam sua justificação nas consequências das ações, em contraponto àquelas que buscam
sua justificação em máximas absolutas. Após a adoção do termo consequencialismo, como uma categoria, o termo
"utilitarismo" passou a designar apenas a teoria mais próxima daquela defendida por Bentham e Mill, a
maximização da promoção da felicidade. Uma das mais relevantes criticas ao utilitarismo foi aquela levada a cabo
pelo filósofo alemão Immanuel Kant, ao formular seu conceito de Imperativo Categórico, de acordo com Kant, a
maximização do bem para os envolvidos, premissa básica do utilitarismo no que concerne a ação moral em
sociedade, é irrelevante do ponto de vista daqueles indivíduos que preocupam-se com a maximização do bem, ou
do resultado positivo de suas ações, apenas para si mesmos, sem importar-se com as demais pessoas.
xciv
Nascido em janeiro de 1679, em Breslau, hoje pertencente à Polônia, um país da Europa Central que
tem fronteiras comuns com a Alemanha. Wolff iniciou seu conhecimento em torno das controvérsias
teológicas típicas do período posterior à Reforma. Sua insatisfação em relação as incertezas teológicas o
fez se interessar pela certeza matemática, o que acabou levando-o a se matricular na Universidade de
Jena, em 1699. Em Jena, estudou filosofia natural e matemática, e seguiu posteriormente para Leipzig,
onde defendeu, em 1702, uma dissertação sobre a aplicação do método matemático aos problemas da
filosofia prática ‘Philosophia practica universalis mathematica methodo conscripta’, tornando-se, assim,
um Privatdozent - grau mais baixo da carreira docente nas universidades alemãs - em matemática
(Araújo, 2010).

xcv Johannes Nikolaus Tetens (1736 – 1807) foi um matemático e atuário alemão. Seus trabalhos, fortemente
influenciados por David Hume (1711 – 1776), resultaram em avanço em várias áreas do conhecimento. Após ler
o trabalho de Hume – Tratado da Natureza Humana, popularizou este conhecimento na língua alemã. A abordagem
empírica de Hume em relação á filosofia coloca-o juntamente com John Locke, Francis Bacon e Thomas
Hobbes, como um empirista britânico. Em seu: Tratado da natureza humana (1739), Hume esforçou-se para criar
uma ciência naturalistica total do homem, que examinasse a base psicológica da natureza humana. Contra
os filosófos racionalistas , Hume sustentou que a paixão, em vez da razão, governa o comportamento humano e
argumentou contra a existência de idéias inatas , ao afirmar que todo conhecimento humano é, em última instância,
fundado apenas na experiência.
xcvi Em Da Silva (2010):

“Em relação ao conhecimento, as questões de método tornavam-se essenciais


ao que se tinha por um adequado processo de ordenamento, sistematização e

683
transmissão dos conhecimentos, preocupação registrada na Encyclópedie,
editada por d’Alembert e Diderot, no ano de 1751. Na obra considerada síntese
do pensamento ilustrado, o verbete “Méthode” era definido como “a ordem
que se segue para achar a verdade, ou para ensiná-la (...); a maneira de chegar
à meta pela via mais conveniente”, sendo, portanto, “essencial a todas as
ciências, sobretudo à filosofia”. E aqui, aliada à ênfase numa epistemologia
empirista, no caráter experimentalista e prático da elaboração do
conhecimento, a metodologia de ensino preconizada pelos literatos franceses
aparecia eivada de profundo ecletismo, concebido como “método” capaz de
produzir um saber consistente a partir de verdades diversas, submetidas ao
crivo da razão e da crítica. É o próprio Diderot, autor do verbete “Eclétisme”
da Encyclopédie, quem assim o define:

“O eclético é um filósofo que, calcando aos pés o preconceito, a tradição, a


antiguidade, o consenso universal, a autoridade, numa palavra, tudo o que
subjuga a multidão dos espíritos, ousa pensar por si próprio, regressar aos
mais claros dos princípios gerais, examiná-los, discuti-los, nada admitir senão
perante o testemunho da sua experiência e da sua razão; e a partir de todas as
filosofias que analisou sem qualquer parcialismo ou deferência, fazer para si
próprio uma filosofia particular e doméstica que lhe pertence... (“Ecletismo”,
in Enciclopédia, 1989)”.” (Da Silva, 2010)

xcvii
O mais notável filosofo idealista da Alemanha. Célebre, sobretudo, pelo método dialético que concebeu sob
forma idealista, mas justa no fundo. Hegel é um idealista objetivo: a seu ver, a razão absoluta representada, na
história, a ideia absoluta, é o principio primário e a única realidade que “se exterioriza” de maneira imediata na
natureza, para voltar a si mesma dessa transformação (Anderssein in sich) sob a forma de espírito. A ideia em si é
o demiurgo (criador) da natureza e da história: o pensamento absoluto revela assim as leis do mundo como um vir
a-ser; a realidade reflete as etapas do desenvolvimento dialético-lógico. Nesse sentido, o sistema hegeliano é
caracterizado como um panlogismo. O pensamento é considerado por ele como o elemento exclusivo; o ser real
não passa de predicado. A ideia absoluta está na base de toda a história da humanidade, mas não é, em sua
existência anterior ao universo, outra coisa senão o Deus pessoal do cristianismo num envolucro abstrato e
místico. Marx e Engels, ao fundarem sua doutrina filosófica — o materialismo dialético — tiveram que reelaborar
toda a dialética hegeliana, reestruturando-a por completo. Apresentando as características fundamentais de seu
método dialético, Marx e Engels fazem repetidas referencias a Hegel como o filosofo que formulou os princípios
fundamentais da dialética. https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/h/hegel.htm
xcviii
O perfil do educador e pensador pedagógico Johann Friederich Herbart pode, também, ser delineado a partir
de um ponto central marcante, a ideia de instrução educativa. Entre 1794 e 1797, foi aluno do filósofo Johann
Gottlieb Fichte (1762-1814) na Universidade de Jena e permanece fiel ao rigor intelectual de seu mestre. As
principais obras filosóficas de Herbart são: Hauptpunkte der Metaphysik [Elementos essenciais da metafísica]
(1806); Allgemeine Praktische Philosophie [Filosofia prática geral] (1808); Psychologie als Wissenschaft:
neugegründet auf Erfahrung, Metaphysik und Mathematik [A psicologia como ciência, novamente fundada na
experiência, na metafísica e nas matemáticas] (1824-1825) e Allgemeine Metaphysik nebst den Anfängen der
Philosophischen Naturlehre [Metafísica geral com os primeiros elementos de uma filosofia das ciências da
natureza] (1828-1829). Em sua metafísica, Herbart retoma a doutrina das mônadas de Gottfried Willhelm Leibniz.
Levando em consideração os problemas levantados por Immanuel Kant na Crítica da razão pura, Herbart busca
em suas deduções metafísicas apreender o real pelos conceitos. Herbart faz distinção entre educação (Erziehung,
em latim educatio) e instrução (Unterricht, em latim instructio). A educação se preocupa em formar o caráter e
aprimorar o ser humano. A instrução veicula uma representação do mundo, transmite conhecimentos novos,
aperfeiçoa aptidões preexistentes e faz despontar capacidades úteis. A reforma pedagógica de Herbart revoluciona
a relação entre educação e instrução. Nasce, assim, um novo paradigma do pensamento e da ação pedagógicas. Os
meios educativos e, em particular, a instrução, são o objeto da parte psicológica. Aí, os textos de referência são

684
um escrito de juventude intitulado Sobre a representação estética do mundo como objeto principal da educação e
as Cartas sobre a aplicação da psicologia na pedagogia, escritos em 1832, mas publicado após sua morte. A reforma
educacional prussiana foi conduzida vigorosamente em 1809 e 1810 por Wilhelm von Humboldt. Esperava-se de
Herbart em Königsberg uma contribuição significativa à formação de mestres, o que era uma necessidade urgente.
Em Königsberg, Herbart instalou um instituto didático, considerado uma escola experimental. Herbart havia
igualmente pensado na organização do sistema educativo inteiro. Ele é um defensor obstinado de uma estrutura
vertical com três pilares: o liceu (ginásio), a escola primária superior (chamada também de escola principal) e a
escola elementar (também chamada pequena escola). Os três pilares contribuem à unidade de um sistema unificado
porque em cada um dos três ramos se pratica a instrução educativa. A virtude, fim da educação, garante a unidade
do sistema escolar (Hilgenheger, 2010).
xcix
O pensamento pós-kantiano, pode ser datado entre 1780 e 1850, e situado principalmente nas universidades
de Jena e Berlim, na Alemanha, e ficou conhecido como idealismo alemão. Em comum, além do fato de
trabalharem sobre a obra de Kant, esses filósofos tentaram construir um sistema ideal de pensamento que
explicasse todas as coisas do mundo. Os primeiros idealistas alecomunicantes eram, em sua essência, kantianos, e
buscavam resolver impasses na filosofia kantiana e que ao fim Hegel, Fichte e Schelling, construíram filosofias
originais.
c Após
a leitura do Emílio, de Rousseau, Pestalozzi, fundador da nova escola primária foi influenciado pelo
movimento naturalista e tornou-se um revolucionário, juntando-se aos que criticavam a situação política do país.
Na Universidade de Zurique associa-se ao poeta Lavater num grupo de reformistas. Gastou parte de sua juventude
nas lutas políticas mas, em 1781, com a morte do amigo e político Bluntschli, abandonou o partido para dedicar
se à causa da educação. A invasão francesa da Suíça em 1798 revelou-lhe um caráter verdadeiramente heróico.
Muitas crianças vagavam no Cantão de Unterwalden, às margens do Lago de Lucerna, sem pais, casa, comida ou
abrigo. Pestalozzi reuniu muitos deles num convento abandonado, e gastou suas energias educando-os. Durante o
inverno cuidava delas pessoalmente com extremada devoção mas, em junho de 1799, o edifício foi requisitado
pelo invasor francês para instalar ali um hospital, e seus esforços foram perdidos.
Nesta mesma época, Fröbel sucessor de Pestalozzi, também se destaca, além de sua filosofia pedagógica é o
fundador do " jardim de infância ", que difere das "instituições de assistência à infância" então existentes através
do conceito educacional. Isto foi associado com a expansão da gama de tarefas de cuidados para a tríade de:
formação, educação e cuidado. Em 1826 ele fez sua obra-prima literária A Menschenerziehung fora e fundou o
seminário: ‘As famílias monoparentais’. Perseguiu 1828/1829 para planejar uma escola pública de ensino em
Helba (hoje um bairro de Meiningen), o chamado: Plano de Helba, que, no entanto, não se concretizou. Em 9 de
junho de 1851, ele se casou com seu ex-aluno Louise Levin. A ideia Froebel do jardim de infância pegou; mas a
propagação na Alemanha foi prejudicada por este Ministério da Prússia da Cultura 1851 a creche "ateu e
demagógica" banido por supostas "tendências destrutivas no campo da religião e política", como e em 1860
readmitido. Froebel, fundou em Castelo Marienthal em 1850 a primeira escola para babás e, assim, criou uma nova
profissão e uma das primeiras instalações de formação profissional para as mulheres na Alemanha. 1908 e 1911,
a formação de professores de jardim de infância pela legislação estadual foi reconhecida na Alemanha. Ele fez
1.857 em Gotha os primeiros educadores de infância, pois anteriormente queria abordar educadores
exclusivamente do sexo masculino.
ci Embora o termo Herbarnismo derive de forma transparente do nome do filósofo e educador alemão Johann

Friedrich Herbart e a favor do idealismo alemão. O Herbarnismo, foi um movimento vagamente conectado com
as idéias de Herbart, que não foi uma prática organizada até 25 anos após sua morte em 1841. Herbarnismo, possui
cinco idéias-chave que compõem seu conceito de maturação individual foram Liberdade Interna, Perfeição,
Benevolência, Justiça e Equidade ou Recompensa e desenvolvido a partir da filosofia de Herbart,(Dunkel, 1969
(3) [2] e dividido em duas escolas de pensamento. No primeiro, Tuiskon Ziller de Leipzig expandiu a filosofia de
Herbart de "unificação de estudos", especialmente em torno de uma única disciplina (chamada "correlação" e
"concentração", respectivamente). No segundo, Karl Stoy de Jena abriu uma escola prática no estilo da escola
de Herbart Königsberg . Um estudante de Ziller e Stoy, Wilhelm Rein , conduziu mais tarde a escola de Jena e
projetou um currículo de escola primária alemão que a escola usou. Esta escola tornou-se: "o centro da teoria e
prática herbartiana e atraiu estudantes de pedagogia de fora da Alemanha, incluindo os Estados Unidos" (Dunkel,
1969). Entre a década de 1890 e início do século XX, o herbartianismo foi influente em escolas normais e
universidades como eles trabalharam para uma ciência da educação. Os aderentes do Herbartianism fundaram a
‘Sociedade Nacional de Herbart’ em 1895 (Dunkel, 1969 (2) "estudar e investigar e discutir problemas importantes
da instrução". Dunkel (1969, 2) relata que entre os proeminentes desta sociedade estavam Charles De Garmo (seu
primeiro presidente), Charles Alexander McMurry , e Frank Morton McMurry , todos autores sobre métodos na
educação. A Sociedade Nacional de Herbart também reconheceu obras influenciadas pelo herbarnismo, como duas
obras de John Dewey, dentro de um anuário. A Sociedade Nacional de Herbart, removeu Herbart de seu nome em

685
1902
cii e transformou-se mais tarde na ‘Sociedade Nacional para o Estudo da Educação’(Dunkel, 1969).
É um título acadêmico conferido em algumas universidades européias, especialmente em países de língua
alemã , a alguém que possui certas qualificações que denotam a habilidade de ensinar (venia legendi) um assunto
designado em nível universitário. No seu uso atual, o título indica que o titular tem permissão para ensinar e
examinar de forma independente, sem ser um professor . O título não está necessariamente ligado a uma posição
assalariada, mas pode implicar uma obrigação nominal de ensinar.
ciii
A frenologia é uma cranioscospia baseada na correspondência entre o conteúdo e o continente, entre a
configuração dos hemisférios e a forma do crânio (Canguilhem, 2006).
civ Doutrina baseada no empirismo de Francis Bacon e na teoria da tabula rasa de Locke e Thomasius (quod non
est in sensibus, non est in intelectu), que tem na França, o principal cultor, Condillac, para quem todos os nossos
conhecimentos vêm das sensações. Uma ideologia intermediária entre os enciclopedistas e os liberais moderados
da Restauração.
cv
“Desde o início, a universidade alemã foi organizada em torno de quatro faculdades: de um lado, as chamadas
faculdades superiores (teologia, medicina e direito), cujo objetivo central era formar profissionais em suas áreas
respectivas; de outro, a faculdade inferior (filosofia), que também incluía as artes e as ciências naturais e tinha
como meta principal servir de preparação para as demais faculdades. Entretanto, com a fundação da Universidade
de Berlim, em 1809 - que se deu no seio de amplas reformas educacionais na Prússia -, surge uma concepção
renovada de universidade, que servirá de modelo para todas as instituições alemãs de ensino superior durante todo
o século XIX e início do XX, exercendo uma profunda influência na vida intelectual e cultural da Alemanha. Em
primeiro lugar, a Faculdade Filosófica (Philosophische Fakultät) deixa de ser um mero apêndice das faculdades
superiores e passa a ser o próprio coração da nova universidade, baseada no ideal de uma formação humanista
integral (Bildung). Além disso, trata-se de garantir não só o famoso princípio da liberdade de ensino (Lehrfreiheit),
mas, sobretudo, o de vinculá-lo à pesquisa científica, criando uma indissociabilidade entre ensino e pesquisa e
uma identidade entre o professor e o pesquisador (Ringer, 2000). Com isso, as universidades alemãs deram um
salto na frente das demais, tornando-se as instituições de ensino superior mais respeitadas do século XIX e atraindo
para suas fileiras estudantes de todo o mundo. É nesse contexto de amplas reformas na educação superior alemã
que se dá a primeira institucionalização da psicologia, muito antes da existência do Laboratório de Wundt. Em
1824, o governo prussiano, após já ter decretado que a Faculdade Filosófica seria responsável também pela
formação de um profissional - o professor das escolas estatais (Gymnasium) - e instituído como requisito
obrigatório um exame estatal, incluiu entre as disciplinas obrigatórias para este último a "psicologia", pensada
como fundamento para a ação pedagógica dos novos professores ginasiais. A idéia era a de que eles deveriam ter
um conhecimento elementar dos fatores psicológicos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem (Gundlach,
2004). Isso significa que, pelo menos no caso alemão, foi pela via do ensino que a psicologia alcançou
primeiramente sua institucionalização universitária, sem que houvesse aí qualquer vínculo necessário com a
realização de pesquisas empíricas. (Araújo, 2009)”
cvi
Hall, se formou na Williams College em 1867 e se matriculou no Union Theological Seminary em Nova York
no mesmo ano, enquanto se preparava para o ministério, estudou teologia e filosofia na Alemanha e completou
seu treinamento em 1870. De 1872 a 1876, Hall ensinou literatura e filosofia no Antioch College, em Ohio, em
seguida, empreendeu pesquisa com Henry Pickering Bowditch, físico e fisiologista, na Harvard Medical School e
em 1878 foi premiado com o primeiro PhD em psicologia nos Estados Unidos. Inspirado pelos princípios de
psicologia fisiológica de Wilhelm Wundt, o americano G. Stanley Hall (1844-1924) em seus estudos de doutorado
na Universidade de Harvard conheceu William James, que atuava como professor adjunto que acabara de ensinar
a primeira classe de psicologia do país. Porém, depois que Hall se formou em seu doutorado, não havia empregos
acadêmicos disponíveis em psicologia, então ele foi para a Europa para estudar na Universidade de Berlim e passou
um breve tempo no laboratório de Wundt, em Leipzig no ano de 1879.
cvii Na
tentativa de avaliar o grau de relação entre características físicas e mentais entre si, Francis Galton (1822
1911) que foi um antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês utilizou gráficos de dispersão em
que um conjunto de pontuações foi organizado em função de outro conjunto, tais como as medidas de altura e peso
de um grupo de indivíduos. A partir dessas parcelas gráficas a linha de regressão evoluiu, cuja inclinação refletia
o grau de relação entre duas variáveis e, nas mãos de Karl Pearson (1857-1936), Eugenicista e matemático
britânico nascido em Londres, fundador da estatística moderna inaugurou e editou em parceria com Walter Frank
Raphael Weldon (1860-1906) e Francis Galton (1822-1911) desenvolveu-se a técnica matemática de correlação
de variáveis e a medição do grau de sua relação pelo coeficiente de correlação (Fancher, 1996). O desenvolvimento
desses métodos estatísticos tornou-se relevante para o acesso as avaliações das diferenças individuais e para a
utilização de testes em psicologia. Outros procedimentos estatísticos foram utilizados para avaliar comparações
entre diferentes grupos de indivíduos. As pesquisas de Galton, por exemplo, sobre a eficácia da oração: "Se aqueles
que rezam atingem seus objetos mais freqüentemente do que aqueles que não oram, mas que vivem em todos os

686
outros aspectos sob condições semelhantes" (Galton, 1872, p. Dehue, 2000). A exemplo, grupos de controle foram
empregados em pesquisa para avaliar os efeitos da transferência de treinamento, ou a influência da prática em uma
tarefa sobre o desempenho de outra e, apesar dos argumentos sobre, se os participantes deveriam ser atribuídos a
um grupo experimental ou a um grupo controle aleatorio ou por indivíduos escolhidos, desta forma o uso de grupos
de controle em experimentos psicológicos tornaram-se parte integral dos projetos de pesquisa (Dehue, 1997).
A ênfase nos testes de hipótese e análises estatísticas de comparações entre grupo controle e grupo de desempenho
experimental posteriormente dominaram o projeto experimental e as instruções aos autores para a preparação dos
manuscritos refletiu o sucesso da definição de Woodworth a respeito do que se constituia uma experiência em
psicologia. O crescimento no alcance do objeto de investigação experimental e nos métodos empregados no estudo
da psicologia refletiram na definição de James McKeen Cattell a respeito sobre qual seria o assunto pertinente a
psicologia, qual seria sua matéria, ou a respeito de qualquer outra coisa que um psicólogo poderia se interessar
(Cattell, 1947a).
cviii
A tradição do associativismo britânico é iniciado com John Locke, na quarta edição do Ensaio Sobre o
Entendimento Humano em 1700 (cf.Flugel 1933, Warren 1921, Boring, 1950). Em que, os rivais honrosos de John
Locke incluem Aristóteles e Hobbes (Nature 1684, Leviathan 1651). Nos 150 anos seguidos a Locke, filósofos
como Hume, Berkeley, Hartley, os dois Mills e, finalmente, Bain trabalharam dentro da tradição do associativismo
britânico, em que a escola tinha dois pressupostos fundamentais. O primeiro foi o famoso conceito de "tabula rasa"
da mente proposta por - Locke, no qual a entrada é sensorial e a segunda, em que afirmaram que toda experiência
surge de maneira legítima partir de idéias primitivas brutas e dados dos sentidos. Locke, Hobbes, Berkeley e Hume
são frequentemente referidos como empiristas britânicos principalmente em relação ao status epistemológico da
doutrina. Com isso, somente com a Análise da Mente Humana de James Mill (1829) a escola se torna mais
psicológica em caráter. John Stuart Mill, que era um amigo próximo de Bain, continuou o trabalho de seu pai. Ele
diferiu, entretanto, em um aspecto importante, a saber, que a mera introspecção não poderia quebrar experiências
complexas inteiras em simples elementos constitutivos. Algum tipo de "transformação" ocorreu em experiências
complexas análogas a um processo irreversível de reação química. Tal visão, é claro, é algo de um precursor das
idéias dos Gestaltistas.
cix Nos seus estudos em Harvard realizou uma investigação do comportamento das galinhas, até os protestos de

sua senhora, que o forçou a mover seus experimentos com galinhas para o porão da casa de William James
(Dewsbury, 1998; Thorndike, 1936). Thorndike, posteriormente, pegou suas duas "galinhas mais instruídas" para
estudar a herança de aquisição de traços na Universidade de Columbia com James McKeen Cattell. O tópico não
se provou muito satisfatório, e Thorndike preferiu examinar o desempenho dos gatos e cães pequenas caixas de
enigma, "puzzzle boxes". A escolha das caixas de enigma foi influenciado pelo trabalho de Romanes e Morgan,
que tinham descrito a respeito de cães e gatos que 'aprendiam' a abrir portões de jardim, por meio da 'tentativa e
erro' (Morgan, 1900). As caixas de Thorndike foram concebidas para permitir a observação das tentativas de
escapar da caixa para alcançar a comida (Burnham, 1972). Várias caixas exigiam a manipulação de alavancas, e a
combinação de puxões como respostas para escapar (Chance, 1999, Galef, 1998). Thorndike gravou e representou
graficamente o tempo para escapar da caixa em função do número de ensaios. Assim, ele interpretou o declínio
gradual da curva que descreve como: tempo necessário para escapar da caixa, que foi revelada por um gráfico que
demonstrou que a aprendizagem prosseguiu gradualmente, por meio de respostas que resultaram no 'escape da
caixa de enigma' e concluiu que as respostas pareciam ser selecionadas a partir de movimentos aleatórios, porém,
de forma análoga ao processo de seleção evolutiva. Thorndike insistiu que as respostas eram dadas diretamente
em resposta à situação de estímulo, sem a mediação das idéias. Assim, o vínculo entre resposta e situação era
reforçada se a resposta fosse seguida por um resultado satisfatório ou era enfraquecido se fosse seguido por uma
consequência insatisfatória. Esta declaração de Thorndike, foi constituida como a "lei do efeito" de Thorndike. E
afirmou que os laços entre a situação e a resposta se tornavam fortalecidos pelo treino e enfraquecido pelo desuso,
reconhecido assim a "Lei do exercício" (Thorndike, 1913). Thorndike afirmou que estas duas leis, juntamente com
a "prontidão" do animal em responder na situação, era responsável pela maior parte da aprendizagem animal
(Thorndike, 1913). E em seus primeiros trabalhos em Psicologia, Thorndike enfatizou uma descontinuidade entre
animais e humanos e por volta de 1911, ele inverteu sua posição para enfatizar a universalidade da Lei do Efeito
e outras leis da aprendizagem (Bruce, 1997).
cx
Titchener orientou a primeira mulher a obter doutorado em psicologia, na Universidade de Cornell, Margaret
Floy Washburn, tinha se candidatado a estudar psicologia Com James McKeen Cattell em Columbia, mas
Columbia, assim como Harvard e a Universidade Johns Hopkins, não permitiam o acesso de mulheres. Margaret
Floy Washburn foi a primeira mulher a obter um doutorado em psicologia americana (1894) e a segunda mulher,
depois de Mary Whiton Calkins, para atuar como presidente da APA. Ironicamente, Calkins obteve seu doutorado
em Harvard em 1894, mas os curadores universitários se recusaram a conceder-lhe o grau. Desta forma, Cattell,
encorajou Washburn a se candidatar em Cornell, onde terminou o seu doutorado em 1894. O relatório de sua

687
dissertação relata sobre os efeitos das imagens visuais na sensibilidade tátil, e foi um dos poucos estudos
publicados em 'Philosophische Wundt Studien' que não tinha sido concluído em Leipzig.
cxi
Watson chegou à Universidade de Chicago em 1900 para iniciar o trabalho de pós-graduação após um curso
de Filosofia e psicologia da Universidade Furman (Harris, 1999; O'Donnell, 1985). H. H. Donaldson, que mudou
se da Universidade de Chicago para a Universidade de Clark, levou com ele seu programa de pesquisa que
investigava a relação entre o desenvolvimento do sistema nervoso do rato e seu comportamento. Para sua
dissertação, Watson escolheu investigar os correlatos neurológicos dos problemas que o rato branco resolvia e
realizou experimentos adicionais com ratos para determinar quais as modalidades sensoriais necessárias para um
rato aprender um labirinto ao eliminar sistematicamente uma modalidade de cada vez. Ele removeu os olhos,
membrana timpânica, bulbos olfativos e bigodes e anestesiou os pés dos ratos e descobriu que os animais pareciam
usar um feedback cinestésico para alcançar o objetivo da caixa (Carr & Watson, 1908; Goodwin, 1999; J. B.
Watson, 1907). O primeiro relatório de Watson sobre essas experiências na reunião anual da APA realizada em
dezembro de 1906, ocorreu em conjunto com a Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS)
(Dewsbury,1990).
Em uma série de palestras ministradas na Universidade de Columbia, em dezembro de 1912, Watson propôs uma
psicologia do comportamento: "Psicologia como um behaviorista a via ... puramente como um ramo experimental
da ciência natural. O objetivo teórico é a previsão e o cibtrole do comportamento. A introspecção não faz parte
essencial desses métodos, nem o valor científico de seus dados depende da prontidão com as quais eles se prestam
à interpretação em termos de consciência" (Watson, 1913, p.158). Embora este tenha sido chamado "Manifesto
Behaviorista" não produziu uma revolução na área (Leahey, 1992; Samelson, 1981), mas ajudou a elevar o status
da pesquisa básica animal e colocar uma maior ênfase na explicação do comportamento do que na mente,
especialmente no que tange a pesquisa sobre animais (Watson, 1914). A noção de Watson de que o objetivo da
psicologia era prever e controlar o comportamento incorporou a visão da psicologia como uma ferramenta de
controle social e, por consequência, sua aplicação à educação, indústria e outras áreas da psicologia aplicada (por
exemplo, Buckley, 1982).
cxii
O estudo dos reflexos tem uma longa história dentro da fisiologia (Boakes, 1984, Fearing, 1930) e a
Lei Bell-Magendie (Boakes, 1984; Goodwin, 1999) sugeriu uma distinção entre os nervos sensitivo e
motor no nível da medula espinhal, que preparou o terreno para uma compreensão da ação e assim,
estimulou pesquisas sobre a natureza e a velocidade da condução do impulso nervoso que, por
consequência levou aos estudos do tempo de reação de Johannes Peter Müller (1801 – 1858) que foi um
biólogo, fisiologista e anatomista alemão, que estudou dentre outros, a ação nervosa e os mecanismos
dos sentidos. E declarou que o tipo de sensação, após a estimulação de um nervo sensorial, não depende
do modo em que a estimulação foi realizada, mas sobre a natureza do órgão do sentido que sofre tal
estimulação.

O fisiologista russo Ivan Mikhailovich Sechenov (1829-1905) demonstrou que os processos cerebrais
podem afetar a ação reflexiva ao estimular certas áreas do cérebro com cristais de sal que diminui a
intensidade do movimento reflexivo da perna de uma rã (Boakes, 1984; Koshtoyants, 1965). Sechenov
(1863-1965) argumentou que a causa dos acontecimentos psíquicos ou psicológicos está no meio
ambiente e que a estimulação sensorial externa produz todos os nossos atos, consciente e inconsciente,
e que tal evento ocorre, por meio do somatório da atividade excitatória e inibitória no cérebro. Sechenov
sugeriu que a ciência da psicologia baseada em relatos introspectivos de seres humanos é muito
complexa e muito sujeita a: "as sugestões enganosas da voz de nossa consciência... somente a fisiologia
detém a chave para a análise científica dos fenômenos psíquicos" (Sechenov, 1973 citado em Leahey,
2001, página 216, ver também, Boakes, 1984). Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) foi capaz de
fundamentar as afirmações teóricas de Sechenov (Koshtoyants, 1965).

cxiii
Após a morte de seu pai, Watson passou por um período de rebeldia e em 1895 Watson conheceu Gordon
Moore, um professor de filosofia e clérigo que se tornou seu mentor. Em 1900 com a ajuda de Gordon Moore,
para estudar filosofia e ao estudar filosofia com John Dewey, Watson afirmou não entender o seu ensino, e ele
logo procurou um caminho diferente na academia. Considerou trabalhar na fisiologia com cérebro do cão com o
biólogo radical, Jacques Loeb, mas escolheu mais tarde o psicólogo James Rowland Angell e o fisiologista Henry
Donaldson como seus conselheiros. Seus professores foram altamente influentes em seu desenvolvimento do
behaviorismo, uma abordagem descritiva e objetiva para a análise do comportamento. Em 1903 Watson graduou
se com um Ph.D. em psicologia, e permaneceu na Universidade de Chicago por vários anos fazendo pesquisa sobre
a relação entre a entrada sensorial e aprendizagem e comportamento de pássaros. Em 1907, aos 29 anos, sua

688
reputação como um dos melhores pesquisadores em comportamento animal lhe rendeu um cargo na Universidade
Johns Hopkins como professor de psicologia.
Frente ao avanço de suas idéias, Watson em sua experiência mais famosa, realizada juntamente com a
estudante de pós-graduação Rosalie Rayner, com quem se casou, o pesquisador condicionou as
respostas emocionais em uma criança de 11 meses, "Albert B.", em que, ao golpear uma barra de aço
com um martelo, Watson e Rayner foram capazes de provocar o choro na criança e subsequentemente
emparelhavam com a apresentação de um rato branco, ao qual Albert já tinha reagido sem medo. Desta
forma, frente ao barulho da barra, Albert mostrou medo ao rato. Assim eles relataram que
condicionaram Albert, ao medo do rato e, além disso, o medo generalizado a um coelho, a um cão, a
um casaco de peles e uma máscara de Papai Noel (J. B. Watson & Rayner, 1920; Ver Harris, 1979). O
estudo foi mais uma demonstração dramática do que uma experiência cuidadosamente controlada,
mas, no entanto, exemplificou a visão de Watson para identificar a origem e desenvolvimento de
comportamentos e forneceu uma introdução ao estudo do crescimento e desenvolvimento das crianças
(Mateer, 1918).
cxiv
Os gestaltistas propuseram que a introspecção apropriada à psicologia era uma descrição da experiência, uma
introspecção ingênua que descrevia a experiência sem qualquer tentativa de submetê-lo à análise. Os fenômenos
perceptivos e a experiência consciente não eram os únicos domínios da teoria gestáltica; A pesquisa de Köhler
sobre chimpanzés (Köhler, 1926) sugeriu que a aprendizagem ocorria não por meio de ensaios, mas por um insight
que resultava de uma reorganização perceptual de uma nova maneira de ver o problema a ser resolvido. A Teoria
de Campo e as Leis de Organização foram propostas para muitos fenômenos (por exemplo, Ellis, 1950), não só
pela percepção, resolução de problemas e aprendizagem, mas também pelo comportamento social (Asch, 1955),
o desenvolvimento da criança (Koffka, 1927) e o pensamento (Wertheimer, 1959), que serviam para impelir o
desenho das pesquisas para testar as teorias nestas áreas.
cxv
Os estudantes de psicologia E. G. Boring e S. S. Stevens (1906-1973), em Harvard propuseram que a
psicologia adotasse um operacionismo rigoroso (Stevens, 1935a, 1935b, 1939), em que, somente os
termos que pudessem ser definidos operacionalmente fossem cientificamente significativos e que, para
tal feito, somente uma psicologia comportamental satisfaria este critério (Leahey, 2001, J. A. Mills, 1998,
Smith, 1986). Com isso, a ênfase nas definições operacionais influenciou a linguagem da psicologia
(Mandler & Kessen, 1959) e as teorias de comportamento que evoluíram no contexto do operacionismo
e de seu antepassado filosófico e positivismo lógico, limitou a ciência aos fenômenos observáveis. Para
a psicologia, definir por exemplo, ‘fome’, significava, especificar em termos de horas de privação de
alimentos ou uma medida do nível de açúcar no sangue, ou a quantidade de tempo gasto comendo,
desta forma, cada um destes indicadores observáveis poderiam ser um indicador da hipótese motiva
cional não observável da fome.

cxvi
Matemático e filósofo americano, em 1945, presidente da American Psychological Associantion - APA,
passou a maior parte de sua carreira na Universidade de Washington, onde se tornou professor titular e, em seguida,
professor emérito em psicologia. Guthrie é mais conhecido por sua teoria de que todo o aprendizado era baseado
em uma associação estímulo-resposta e afirmava: "Uma combinação de estímulos que acompanhou um
movimento tenderá em sua recorrência ser seguido por esse movimento", Lei da Contiguidade. Essas teorias
focavam em sujeitos animais e modelos de aprendizagem e comportamento e sua linguagem teórica foi
influenciada por uma ciência filosófica do momento. Ainda com a preocupação em relação ao status científico da
psicologia, tal situação atraiu psicólogos para uma abordagem à ciência defendida em Harvard, pelo físico P. W.
Bridgman (1927), que fez um estudo para a definição de fenômenos não observáveis, como gravidade ou elementos
físicos hipotéticos como um elétron, a exemplo, de que seus efeitos sobre os acontecimentos observáveis pudessem
ser medidos (Leahey, 2001, Smith, 1986). A teoria da aprendizagem de Guthrie era enganosamente simples, de
que a aprendizagem ocorria pelo desenvolvimento de associações entre estímulos e respostas e que estas
associações são formadas pela contiguidade: "Uma combinação de estímulos no qual foi acompanhado por um
movimento, o seu retorno tende a ser seguido por esse movimento" (p.23). Guthrie rejeitou as leis do efeito e do
uso de Thorndike, e alegou em vez disso, que a natureza aparentemente gradual da aprendizagem era o resultado
de uma série de situações de um único ensaio de movimentos, de pequenas respostas musculares, em vez de atos
que foram aprendidos em resposta a estímulos. O papel das consequências da resposta, se satisfatório ou
insatisfatório, era mudar a situação do estímulo, e não para reforçar uma ligação inobservável entre estímulo e
resposta. A teoria da aprendizagem de Guthrie era enganosamente simples, de que a aprendizagem ocorria pelo

689
desenvolvimento de associações entre estímulos e respostas e que estas associações são formadas pela
contiguidade: "Uma combinação de estímulos no qual foi acompanhado por um movimento, o seu retorno tende a
ser seguido por esse movimento" (p.23). Guthrie rejeitou as leis do efeito e do uso de Thorndike, e alegou em vez
disso, que a natureza aparentemente gradual da aprendizagem era o resultado de uma série de situações de um
único ensaio de movimentos, de pequenas respostas musculares, em vez de atos que foram aprendidos em resposta
a estímulos. O papel das consequências da resposta, se satisfatório ou insatisfatório, era mudar a situação do
estímulo, e não para reforçar uma ligação inobservável entre estímulo e resposta.
cxvii
O monismo é a posição da filosofia da mente que mantém que a mente e o corpo não tem uma distinção
ontológica.
cxviii O dualismo remonta a Platão e Aristóteles, mas é formulado mais precisamente por René Descartes no século

XVII. Vários dualistas argumentaram que a mente é independente de qualquer substância existente, e alguns
dualistas sustemtam que é a mente é um grupo de propriedades independentes que emerge do cérebro, sendo uma
substância
cxix cerebral, mas não pode ser a ele reduzido.
A aprendizagem e o desempenho não eram considerados sinônimos (Innis, 1999; Kimble, 1985; Tolman &
Honzik, 1930), em que a realização era o comportamento observável, enquanto o aprendizado era o estado
hipotético que explicava a mudança de comportamento. Tolman descreveu a ação de variáveis intervenientes sobre
a relação funcional entre as variáveis independentes e dependentes, ou seja, entre os estímulos ambientais e o
estado fisiológico do organismo de um lado e o comportamento manifestado do outro (Tolman, 1932, p.2, ver
também Innis, 1999; Kimble, 1985). As intervenções mais importantes de variáveis, foram as cognitivas, definidas
como perpectivas sobre a relação entre sinais, estímulos e significados, recompensas ou finalidade dos objetos (J.
A. Mills, 1998, Smith, 1986). Tolman formulou a hipótese de formação de "mapas cognitivos" ou representações
do ambiente em ratos, que aprendiam em um labirinto. Esses mapas cognitivos poderiam ser empiricamente
demonstrados em experimentos com labirinto em que, por exemplo, o bloqueio de uma via previamente utilizada
para uma meta resultaria em ratos escolhendo o caminho mais curto para alcançar o objetivo (Tolman, Ritchie, &
Kalish, 1946).
cxx
Mesmo séculos depois de Kant, Hull esforçava-se por demonstrar que a psicologia poderia de fato se tornar
uma ciência como as ciências físicas. Por exemplo, Hull (1934a, 1934b) propunha que a posição de palavras em
uma lista influenciava na aprendizagem, em que os erros ocorrem mais frequentemente no meio de uma lista de
palavras, e exemplifica, a mesma lei geral que descreve o padrão de erros cometidos pelos ratos ao aprendrem em
um labirinto complexo, ou seja, mais erros ocorrem no centro do labirinto do que no início e no fim. O programa
de pesquisa de Hull foi dirigido à descoberta de tais leis e à formulação das equações que as descreviam. Sua teoria
do comportamento formulou variáveis teóricas em termos operacionais, as definiu por equações e previu resultados
experimentais. As diferenças entre as teorias de Hull e Tolman pareciam ser menos substantivas e mais uma
preferência por uma terminologia particular e a hipotetização de variáveis intervenientes (Kendler, 1952).
cxxi No ano de 1886, Freud abriu seu primeiro e único consultório no endereço: Berggasse n.º 19, em Viena e até

1902, ele foi o único analista (Malmann, 2014). Em 1902 Wilhelm Steckel, psiquiatra austríaco e estudante da
Universidade de Viena, considerado um dos primeiros seguidores de Freud, sugeriu as reuniões a Freud, que deu
origem aos encontros ‘psycho-analytic society’, as quartas-feiras na casa de Freud. Em 1902 Freud, juntamente
com Alfred Adler, Rudolf Reiter, Max Kahane e Wilhelm Steckel, iniciou as reuniões da ‘Sociedade Psico
analítica’ das quartas-feiras. Esse foi o primeiro círculo da história do movimento psicanalítico (Mallmann, 2014).
Segundo Mallmann (2014), participavam destas reuniões, médicos, filósofos, artistas, educadores, em que o orador
do dia era sorteado e depois se seguiam as discussões. Em 1907, Freud não via em todos o mesmo interesse e
enviou uma circular a todos os membros em que propôs encerrar as reuniões das quartas-feiras. Com o grupo
reorganizado em 1908, com o nome de Wiener Psychoanalytische Vereinigung, Sociedade Psicanalítica de Viena
A partir daí, só alguns falavam, e os alunos escutavam (Mallmann, 2014). Em 1909, Sigmund Freud desembarca
na América do Norte na companhia de seus colegas médicos Sándor Ferenczi, Jung, Abraham Brill e Ernest Jones.
Convidado por Stuart Hall, então reitor da Clark University (Worcester), Freud se dirige aos EUA para proferir
palestras introdutórias sobre a psicanálise naquela universidade (Torquato, 2014). Em 1909, Freud e Jung foram
aos Estados Unidos difundir sua teoria junto ao povo e aos intelectuais (Gay, 1989). Francischelli (2010) informa,
que em 1910, no congresso de Nurenberg, por iniciativa de Freud e Ferenczi, criou-se a International
Psychoanalytical Association - IPA, órgão agregador e normatizador de todos os grupos existentes. O primeiro
presidente foi Jung, ideia de Freud com a intenção de expandir a psicanálise fora da Áustria e tirá-la do círculo
judaico: "No congresso de Nuremberg, de 1910, se organizou, com proposta de Sándor Ferenczi uma "Associação
Psicanalítica Internacional", composta por grupos locais e dirigida por um presidente. (…) Como primeiro
presidente fiz eleger a C. G. Jung, um passo bem infeliz, como depois se veria" (Freud, 1979ª, p. 47). De l910 a
1936 a IPA conservou seu nome em alemão: Internationale Psychoanalitische Vereinugung - IPV, porém, como

690
na década de 1930 havia grande migração para a Inglaterra e Estados Unidos, alterou-se o nome para o inglês:
International Psychoanalitical Association (Mallmann, 2014). No início da Primeira Guerra Mundial (1914–1918)
a Psicanálise já se expandia pela Índia e pela América do Sul e, a partir dos anos 1920, os temas freudianos
tornaram-se mais e mais frequentes entre os praticantes das ciências médicas, especialmente os psiquiatras, o que
angariou legitimidade científica à nova teoria, bem como à sua prática clínica (da Silva Bortoloti & Vinicius da
Cunha, 2013).
cxxii Em 1927, realiza cursos de formação no Teachers College da Columbia University e em 1936 defende sua

tese de cátedra, A evolução da psicologia educacional através de um histórico da psicologia moderna. Em 1938
publica um livro cuja primeira edição tem o mesmo título de sua tese. No prefácio, a autora esclarece que teve a
intenção de fazer uma revisão da história da Psicologia, incluindo a evolução da Psicologia Educacional, dada a
escassa bibliografia existente no período. Considerava também que as inúmeras perspectivas existentes poderiam
confundir o aluno de Psicologia. Em l960, na segunda edição, o título é modificado para Introdução à psicologia
educacional. A grande modificação introduzida é o capítulo final, onde inclui cinco modernas teorias de
aprendizagem: teoria dos estímulos, de E.R.Guthrie; teoria do condicionamento, de Clark Hull; teoria de campo,
de Kurt Lewin; teoria organísmica da aprendizagem, de Wheeler; teoria da aprendizagem com um propósito e o
comportamento molar de Tolman.
cxxiii A correlação, identifica as respostas descritivas das condições internas ao usar as condições públicas

correlatas (Skinner, 1974).


cxxiv
Caso o suspeito aceite o convite do delegado/escrivão de se submeter a perícia psicológica, este
assina termo de concordância de perícia psicológica e inicia-se a perícia seguindo os mesmos moldes
periciais apresentados.

cxxv - Rapport é um conceito do ramo da psicologia que significa uma técnica usada para criar uma ligação de
sintonia e empatia com outra pessoa. Esta palavra tem origem no termo em francês rapporter que significa "trazer
de volta". O rapport ocorre quando existe uma sensação de sincronização entre duas ou mais pessoas, porque elas
se relacionam de forma agradável. A nível teórico, o rapport inclui três componentes comportamentais: atenção
mútua, positividade mútua e coordenação. Para este momento pericial em delegacia, no momento do rapport, para
que frente as perguntas neutras do rapport possa se identificar o estilo de linguagem do falante.
cxxvi
Constitui-se de um ambiente com regras pré-determinadas, em que os papéis são especificados, estabelecendo
uma assimetria. Possui a segurança de um local em que o silêncio permeará todas as sessões, com um ambiente
seguro e regras técnicas bem fundamentadas para a manutenção da neutralidade da perícia. Trata-se de um local
altamente sistematizado para o desenvolvimento pericial, com todo o material individualizado e previamente
estruturado para a criança, de acordo com a etapa de desenvolvimento, características da criança e demanda do
solicitante.
cxxvii Em data de 12 de janeiro de 2016 foi publicada a Lei 13.245/2016, que altera o artigo 7º, do Estatuto da

Ordem dos Advogados do Brasil (Lei 8.906/94). Neste artigo 7º, foi modificado o inciso XIV. Além disso, foram
acrescentados os incisos XXI, §§ 10, 11 e 12.
Em síntese, estas são as principais alterações:

– o advogado poderá examinar, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigação de


qualquer natureza, em qualquer instituição responsável pela apuração de infrações penais. Portanto, tal
providência pode ser feita por exemplo numa Promotoria de Justiça, na qual tramite um procedimento
de investigação criminal (PIC). O acesso não se limita a inquérito policial, no âmbito de uma repartição
policial. É mais amplo.

– a procuração somente será exigida na hipóteses de os autos estarem sujeitos a sigilo;

– a vista pode se dar em autos findos ou em andamento. Além do mais, estes não precisam estar
disponíveis em cartório. Quando até mesmo estiverem conclusos ao delegado de polícia, a vista será
franqueada;

– o acesso do advogado é garantido até mesmo se houver diligência em andamento, sem que esteja
documentada nos autos, exceto quando houver risco de comprometimento da eficiência, da eficácia ou
da finalidade das diligências;

691
– é permitida a extração de cópias, em meio físico ou digital. Desta forma, o advogado pode se valer de
aparelhos que saquem foto para copiar os autos, com por exemplo um smartphone. Também são
permitidos apontamentos sobre o que consta nos autos da investigação criminal;

– se o acesso aos autos não for assegurado, no todo ou em parte, ou ainda quando forem retiradas peças
já encartadas anteriormente aos autos, com o intuito de prejudicar o direito de defesa, o funcionário
público com atribuição para tanto será responsabilizado, no plano administrativo e no aspecto penal,
por abuso de autoridade;

– a assistência de investigados no decorrer do inquérito policial passa a ser obrigatória em atos de


interrogatórios, depoimentos e de quaisquer outros que decorram direta ou indiretamente destes. É
permitida a apresentação de razões e quesitos. A ausência de assistência acarretará nulidade absoluta;

– foi vetada pela Presidenta da República a possibilidade do advogado requisitar diligências. Porém,
estas podem ser requeridas, com fundamento legal no artigo 5º, inciso XXXIV, “a”, da Constituição
Federal e no artigo 14, do Código de Processo Penal (Knippel, 2016).

cxxviiiCalcular o número de maneiras que certos arranjos podem ser formados é o princípio da combinatória.
Considerando S um conjunto com n elementos. As combinações de k elementos de S são subconjuntos
de S tendo k elementos, onde a ordem em que são listados os elementos não são relevantes.
cxxix Em consonância com o Behaviorismo Radical, Skinner definiu comportamento verbal, como: um

comportamento operante, reforçado pela mediação de um ouvinte e específico à uma comunidade verbal. Como
comportamento verbal, este é afetado pelo ambiente da mesma forma que qualquer outro comportamento, ou seja,
ocorre em um contexto específico. Sendo que a análise do comportamento operante requer a compreensão de
alguns conceitos: comportamento, antecedente, resposta e conseqüência. Comportamento: é a relação entre
estímulos e respostas, precisamos descrever o que a pessoa faz e alguma relação entre este fazer e o ambiente.
Antecedente: É alguma propriedade do ambiente que sinaliza uma oportunidade para a resposta ser emitida.
Resposta: É o que uma pessoa faz, como olhar para a bola, mirar o gol, sentir a adrenalina, chutar, gritar, etc.
Quando analisamos uma resposta, nem sempre é necessário descrever sua relação com os estímulos do ambiente.
Nestes casos, o mais importante é verificar se a resposta foi ou não emitida e qual a Conseqüência, que é uma
modificação no ambiente efetivamente produzida pela resposta.
cxxx O entendimento do papel do efeito, separado do papel da consequência na definição de operante é antigo.

Vejamos alguns autores:


• “Um operante particular é uma classe de comportamento que produz um efeito em particular sobre o meio
ambiente” (Mechner, 1994, p.11).
• “No caso operante, independentemente de ocorrer eventos, estes são contingentes, se e somente se, os
movimentos do animal, resultar em um efeito particular” (Glenn, 2010, p.81).
• "O comportamento operante é definido pelo seu efeito sobre o ambiente e explicado, pelo ponto da sua história
funcional de efeitos consequentes. "(Hesse & Novak, 2001, p. 541).
• "É importante notar o comportamento operante, como um subconjunto de todo o comportamento, é definido
pelo seu efeito sobre o ambiente, e não por suas consequências selecionandas" (Pennypacker, 2001, 549).
• "(...) A contingência de três termos define o operante como um movimento do organismo que satisfaz alguns
critérios, disparado por um estímulo discriminativo, e caracteristicamente seguido e mantido por um estímulo
reforçador " Killeen (2013).
cxxxi
Skinner (1936) relata que o aparelho e o procedimento foram projetados para testar o Princípio do summator
verbal, e posteriormente chegou a teoria para lidar com a linguagem, como puramente um comportamento e para
uma apresentação mais rigorosa dos dados.
Uma descrição estável da força dos itens de um vocabulário, não é suficiente, pois mudanças ocorrem
constantementes. A força de uma resposta verbal pode estar em função de um drive (motivação), por exemplo,
quando a força de responder ao Candy de uma criança cai rapidamente, durante a ingestão de doces. Pode também
estar sob função de uma emoção, quando estamos muito assustados para conversar ou quando conversamos
excitadamente. Grupos de respostas variam juntos durante essas mudanças no drive e na emoção, e há uma série
de outros tipos de interconexões entre respostas, que são baseadas na similiraridade da forma ou conotação. Esses
fenômenos não serão considerados aqui, mas podem ser mantidos em mente na descrição da soma verbal.
O Somador baseia-se em dois princípios familiares do comportamento não-verbal , que pode ser prolongado sem
problemas para o campo verbal: 1) como mecanismo inerente ou como resultado de uma forma comum de

692
condicionamento inicial, possuímos reflexos imitativos. Pois, certos tipos de estímulos (e o princípio não é
aplicável a todos) evoca frequentemente respostas com formas semelhantes. A maioria das crianças passam por
um estágio no qual uma grande parte do comportamento vocal é dessa natureza. A criança repete um grupo de
fala-sons exatamente como ela repete o som de um automóvel ou de um gato - "Sem saber o que está dizendo".
Ao ensinar uma criança a falar, fornecemos um reforço especial para respostas puramente imitativas, mas não deve
ser negligenciado que, no discurso do adulto, há também um considerável Reforço diferencial em favor da mera
imitação.
Portanto, se me pergunte: "Qual é a relação entre X e Y?", Posso começar com a resposta A relação entre X e Y. .
., O que pode ser amplamente, se não totalmente, imitativo. Talvez não consiga continuar, mas pelo menos isso
foi reforçado pelo seu valor em 'estagnar'. O primeiro princípio subjacente ao somador verbal, então, é que a
apresentação de um estímulo vocal tende a evocar uma resposta assemelhando-se a isso. 2) O segundo princípio é
o da soma. Duas respostas com a mesma forma, se somam; E, se cada um for subliminar em força, a soma pode
resultar na evocação de uma resposta.
No somador verbal, utilizamos uma extensão deste princípio - respostas semelhantes, mas não idênticas, também
somam, presumivelmente em proporção a suas semelhanças. Combinando estes dois princípios, podemos resumir
a ação do somador verbal, ao dizer que ele evoca respostas verbais latentes através do somatório, com respostas
imitativas ás amostras 'esqueléticas' de fala.
Mas o resultado não nos diz nada sobre a força relativa, porque nenhuma outra resposta recebe reforço somático
da parábola. Por outro lado, um único som diferenciado combinaria todas as respostas igualmente, mas isso teria
pouca ou nenhuma ação sumativa. Na concepção das amostras-esqueleto, temos que encontrar um ponto ótimo
entre os extremos de: completa diferenciação e completa falta disso. Um conjunto de amostras, construído de
acordo com as considerações que se seguem, provou estar perto desse ponto.
Uma primeira consideração necessária é a de propriedades temporais e intensivas, que não podem ser dispensadas.
Respostas verbais (pelo menos em inglês) têm comprimentos de extensão e são silábicos.
E as amostras devem se assemelhar a estas propriedades. O intervalo sumativo de uma amostra é restringida pelo
seu comprimento, porque ela irá resumir apenas com respostas que tenham aproximadamente o mesmo
comprimento, mas misturando juntas amostras de três, quatro e cinco sílabas, é possível que se obtenha respostas
cobrindo uma ampla gama (veja abaixo). Em inglês também devemos lidar com o acento, já que as sílabas não são
igualmente acentuadas.
O conjunto atual contém duas sílabas acentuadas em cada amostra e tem, portanto, dezenove padrões de acentos
diferentes, da seguinte forma (aqui só temos o exemplo):
_____ ______ V V _______ _____ V
_____ V _____ _______ V ______ V

Os padrões temporais e intensivos apresentam um ligeiro poder somativo próprio, sem diferenciação do tom -
'pitch'. Experimentei experiências com um zumbador e um comutador movido a motor que o fez repetir
combinações de dois a seis batimentos cronometrados em qualquer tempo desejado. Se repetido um grande número
de vezes, um padrão disso, classifica, ocasionalmente evoca uma resposta verbal com propriedades semelhantes.
Mas a eficiência somária é muito baixa, e o material geralmente é limitado aos bits de fala associados a ritmos
especiais - fragmentos de Jingles, marcha de músicas, e assim por diante.
Em um conjunto eficiente de amostras, o padrão temporal e intensivo deve ser transmitida por sons de fala. Todos
os sons de um idioma podem ser usada, mas um grupo menor de elementos é desejável. Temos vários motivos
para omitir as consoantes. A justaposição de uma consoante e uma vogal produz um padrão altamente diferenciado
e a amplitude de aplicabilidade é rigorosamente restrita. Mas as vogais não podem ser omitidas, pois, as consoantes
não podem ficar sem elas. E se uma escolha deve ser feita, as vogais também devem ser preferidas porque elas são
silábicas, o que é uma propriedade importante em relação ao tipo de elementos requeridos. Outro ponto é que, em
circunstâncias normais, as consoantes são as primeiras a perder durante uma redução de intensidade. Daí a sua
omissão deliberada sacrificará o mínimo possível do realismo ou verisimilitude das amostras.
Os sons da vogal permanecem como elementos disponíveis. Há cerca de dezenas deles no inglês americano, mas
uma redução adicional é possível. Embora, na prática, as vogais simples sejam usadas como se entidades discretas,
elas são vistas como sendo meramente adjacentes e variam em um continuum quando expressado em termos de
composição-do-tom (pitch-composition). O tom dominante da vogal final é, no entanto, susceptível de dar algum
carácter entonacional.
cxxxii A análise de relações funcionais representa um modelo de interpretação e investigação dos fenômenos

naturais que estará presente no projeto skinneriano de constituição da psicologia como ciência do comportamento.
Originalmente, o conceito foi empregado por Skinner com o sentido atribuído pelo físico Ernst Mach (1838-1916):
identificação de relações ordenadas entre eventos da natureza. Na proposição do reflexo como unidade básica de
análise de uma ciência comportamental, descrição e explicação científicas foram interpretadas como coincidindo

693
com a especificação de relações ordenadas entre (classes de) estímulos e respostas, portanto requerendo a análise
funcional (cf. Skinner, 1931/1961a).
A análise funcional promove a identificação de relações de dependência entre eventos, ou de regularidades na
relação entre variáveis dependentes e independentes (Chiesa, 1994, p.133), mas com respeito às quais o uso dos
conceitos de causa e efeito não seria mais apropriado, uma vez que implicaria suposições (metafísicas) além do
alcance de uma ciência (cf. Skinner, 1953/1965).
A descrição de relações ordenadas entre eventos encontra um modo de expressão na matemática. O reflexo, por
exemplo, pode ser expresso pela equação R = f (S), onde R é a resposta e S o estímulo (cf. Skinner, 1931/1961a).
A relação especificada por aquela equação é uma relação funcional no sentido de que o primeiro termo (a resposta)
é abordado enquanto função do (causado pelo) segundo termo da equação (o estímulo). A noção de causação aqui
implicada é do tipo mecânica e será abandonada por Skinner à medida que o modelo de seleção por conseqüências
vai sendo admitido como modelo causal apropriado para a interpretação do fenômeno comportamental (cf.
Micheletto, 1995). No sistema skinneriano, uma explicação da categoria de comportamento mais importante, o
comportamento operante, será encontrada na avaliação das contingências de reforçamento predominantes. Uma
contingência especifica a interrelação entre uma condição antecedente, uma resposta e uma conseqüência
alcançada pela resposta. A relação funcional que existe é a relação entre a resposta e sua conseqüência, indicada
pela condição antecedente; juntas [as condições antecedentes e conseqüentes] constituem a variável independente
e a resposta em questão, a variável dependente. A variável dependente é tipicamente tratada em termos de
probabilidade da taxa de resposta. Diz-se que o controle é exercido sobre a probabilidade de resposta pelo conjunto
de interrelações chamado contingência (Moore, 1984, p.87).
Hawkins (1986) também destaca o caráter idiográfico da intervenção baseada na análise funcional. Diz ele que as
funções que se descobrirão em um caso individual serão únicas, individuais, ou idiográficas (p.371). De forma
semelhante, no interior de um mesmo caso, dada a complexidade das redes de determinação de instâncias de
comportamento, a pluralidade de análises funcionais é possível. O número de análises funcionais alternativas para
casos clínicos é infinita e mesmo o número de análises funcionais precisas (efetivas) para um caso particular é
provavelmente muito grande (p.373).
cxxxiii Para analisar a condição da ocorrência de uma interação sexual adulto-criança/adolescente, distingue-se

características na condição própria deste fato, que são reconhecidas como instâncias inseparáveis e que estas são
condições si ne qua non para a ocorrência de tal fato. O modus operandi (Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter,
1999) é uma maneira de agir, os procedimentos implementados pelo ofensor possuem um padrão pré-estabelecido,
sendo que qualquer instância que falte, a ofensa não ocorrerá. Assim, existe um modus operandi, por que a natureza
do fato determina um padrão operandi, em que o desempenho do ofensor é moldado a natureza da especificidade
que uma ‘interação de conteúdo sexual’ exige. Esta natureza é binária, ocorre ou não ocorre.
cxxxiv Lei nº 12.830, de 20 de junho de 2013:

“Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia.


Art. 2o As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia são
de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
§ 1o Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por
meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das
circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
§ 2o Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações,
documentos
cxxxv e dados que interessem à apuração dos fatos.”
Para analisar a condição da ocorrência de uma interação sexual adulto-criança/adolescente, distingue-se
características na condição própria deste fato, que são reconhecidas como instâncias inseparáveis e que estas são
condições si ne qua non para a ocorrência de tal fato. O modus operandi (Lanning (1991, 2001), Salfati e Canter,
1999) é uma maneira de agir, os procedimentos implementados pelo ofensor possuem um padrão pré-estabelecido,
sendo que qualquer instância que falte, a ofensa não ocorrerá. Assim, existe um modus operandi, por que a natureza
do fato determina um padrão operandi, em que o desempenho do ofensor é moldado a natureza da especificidade
que uma ‘interação de conteúdo sexual’ exige. Esta natureza é binária, ocorre ou não ocorre.
cxxxvi
A descrição do comportamento operante envolve pelo menos duas relações:
1) a relação entre a R (resposta) e sua consequência e;
2) a relação entre a R (resposta) e os estímulos que a antecedem, e que estava presente na ocasião em que a
resposta foi reforçada.
cxxxvii
Rossi (2016) informa que de uma forma bastante resumida, o Direito pode ser entendido como um sistema
de normas jurídicas válidas em tempo e espaço específicos, cuja finalidade é disciplinar as relações humanas
intersubjetivas. Para o exercício de suas funções o juiz necessita do auxílio constante ou eventual de outras pessoas
que, tal como ele, devem atuar com diligência e imparcialidade (art. 149, CPC), para isso se embasa na Lei nº

694
13.105/2015. Nas causas em que a matéria envolvida exigir conhecimentos técnicos ou científicos próprios de
determinadas áreas do saber, o magistrado será assistido por perito ou órgão, cuja nomeação observará o cadastro
de inscritos mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado (art. 156, §1º, CPC), sendo que esse cadastro deve
ser feito de acordo com o exigido pelo artigo 156, em seus §§ 2º e 3º. Reforçando o dever de diligência exigido
pelo artigo 157, o Código de Processo Civil, no seu artigo 466, estabelece que mesmo dispensado de assinar um
termo de compromisso o perito – assim como o órgão técnico ou científico – tem o dever de cumprir
escrupulosamente seu encargo. Caso, por dolo ou culpa, o perito acabe prestando informações inverídicas, será
responsabilizado pelos prejuízos que causar à parte, ficando ainda inabilitado para atuar em outras perícias por um
prazo de dois a cinco anos, sem prejuízo de outras sanções. Caberá ao juiz comunicar tal fato ao respectivo órgão
de classe, para que sejam adotadas as medidas cabíveis (art. 158. CPC). Dito de outra forma, para a
responsabilização do perito ou órgão não é necessária a demonstração da intenção de prejudicar uma das partes,
bastando ficar caracterizada a culpa pela imprudência, negligência ou imperícia. Prestigiando a segurança, e
minimizando os riscos de prejuízos às partes e ao resultado útil do processo, a Lei nº 13.105/2015 é incisiva ao
dispor que para o cargo de perito só pode ser nomeado o profissional que for especializado na área de conhecimento
do objeto da perícia. Com efeito, o artigo 465 do Código de Processo Civil é expresso quando impõe ao juiz o
dever de nomear apenas “perito especializado no objeto da perícia”. Ciente de sua nomeação, o expert deverá, em
cinco dias, apresentar seu currículo com comprovação de especialização quanto ao objeto da perícia (art. 465, §2º,
II, CPC), devendo ser substituído se “faltar-lhe conhecimento técnico ou científico” (art. 468, I, CPC). Ao nomear
o perito, o juiz fixará o prazo para a entrega do respectivo laudo, determinando a cientificação do expert e a
intimação das partes. Intimadas da nomeação do perito, as partes poderão, no prazo de 15 (quinze) dias, indicar
assistente técnico, apresentar quesitos, e, se for o caso, arguir impedimento ou suspeição. O perito, por sua vez,
ciente de sua nomeação, e entendendo não ser o caso de se escusar (arts. 157 e 467, CPC), deverá, no prazo de 05
(cinco) dias, apresentar: a) proposta de honorários; b) currículo, com comprovação de especialização; e, c) dados
profissionais de contato, especialmente o e-mail para o qual serão endereçadas as intimações pessoais. Cumpridas
estas exigências pelo perito, as partes serão devidamente intimadas a se manifestarem, oportunidade em que
poderão pleitear a redução dos honorários periciais propostos quando se mostrarem excessivos, bem como,
requerer a substituição do perito por faltar-lhe conhecimento técnico ou científico no objeto da perícia, o que só
poderá ser constatado após tomarem conhecimento de seu currículo (art. 465, §2º, II, CPC). Vale lembrar que, tal
como citado anteriormente, “é dever do próprio perito escusar-se, de ofício, do encargo que lhe foi atribuído, na
hipótese em que seu conhecimento técnico não seja suficiente para realizar o trabalho pericial de forma completa
e confiável”, não sendo “possível exigir das partes que sempre saibam, de antemão, quais são exatamente as
qualificações técnicas e o alcance dos conhecimentos do perito nomeado.” (REsp nº 957.347/DF). Nos casos em
que o objeto da perícia versar sobre a autenticidade ou a falsidade de documentos, ou tiver natureza médico-legal,
o perito será nomeado preferencialmente entre os técnicos dos estabelecimentos oficiais especializados (art. 478,
CPC). Com total zelo e diligência (art. 157, CPC) o perito – ou órgão – cumprirá escrupulosamente o encargo que
lhe foi cometido (art. 466, CPC), devendo concluir seus trabalhos dentro do prazo fixado pelo juiz, incluída sua
eventual prorrogação (art. 476, CPC). Não é demais lembrar que, além de outras sanções, o perito judicial poderá
ser responsabilizado pelos prejuízos que vier a causar às partes na hipótese de prestar informações inverídicas por
culpa ou dolo (art. 158, CPC). As partes serão intimadas do local e da data de início da perícia, que serão fixados
pelo juiz ou indicados pelo perito, incumbindo a este o dever de comunicar, com antecedência mínima de 05
(cinco) dias, todas as diligências e exames que tiver que realizar, garantindo aos assistentes técnicos total acesso
e acompanhamento dos trabalhos periciais. Aos peritos e assistentes técnicos é facultada a utilização “de todos
os meios necessários” para o desempenho de suas funções, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando
documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo
com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto
da perícia (art. 473, §3º, CPC). O perito não pode ultrapassar os limites de seu encargo, sendo vedada a
apresentação de opiniões pessoais que excedam ao que é travejado pelo exame técnico ou científico do objeto da
perícia (art. 473, §2º, CPC). O laudo deverá ser entregue no prazo fixado pelo juiz, com pelo menos 20 (vinte) dias
de antecedência à data da audiência de instrução e julgamento (art. 477, CPC). Havendo justo motivo, o perito
poderá requerer ao juiz, uma única vez, a prorrogação do prazo para entrega do laudo, o que não excederá a metade
do prazo originariamente assinado (art. 476, CPC). Em pesquisa jurisprudencial é possível observar que, não é
raro alguns peritos deixarem de responder quesitos. Em muitos casos, mas não todos, esse vício pode ser sanado
com a mera intimação do expert para complementação do laudo. Contudo, há situações em que as respostas
intempestivas dependerão, indispensavelmente, da realização de nova perícia. Um dos principais objetivos que
norteiam o trabalho pericial é encontrar “respostas conclusivas” para os quesitos formulados pelas partes, pelo juiz
e pelo Ministério Público. Naturalmente, ao iniciar seus trabalhos o expert se debruça sobre o objeto da perícia
almejando responder tudo que lhe foi indagado. Ora, uma vez que já foram concluídas as diligências do perito e
ele deixou de responder os quesitos, pressupõe-se que durante o exame pericial não dedicou a devida atenção à

695
obtenção das respostas esperadas e necessárias, de modo que a mera apresentação intempestiva das mesmas poderá
ser prejudicial às partes, bem como comprometer a segurança e o resultado útil do processo. Com efeito,
dependendo do caso, não se pode admitir que o laudo insuficiente ou lacônico, por ausência de manifestação
quanto aos quesitos, possa ser apenas complementado com respostas tardias, as quais certamente não decorrerão
do atento e diligente exame do objeto da perícia (art. 480, CPC). Confira-se, in verbis: “Perícia insubsistente,
persistindo dúvidas a respeito de existência ou não de lesão incapacitante para o trabalho. Quesitos das partes não
respondidos. Conversão do julgamento em diligência para a vinda de documentos e realização de nova
perícia.”[27].No julgamento do caso acima citado, o Desembargador Relator bem destacou o dever dos peritos
responderem os quesitos, in verbis: “(...).Diante desse quadro, submetido a perícia judicial, o expert nomeado, sem
se aprofundar na análise dos exames realizados e também sem trazer resposta aos quesitos apresentados, concluiu,
em resumo, que a existência da exposição ao ruído a que o examinando se submetia, ‘não vem modificar o
diagnóstico da disacusia que apresenta, uma presbiacusia, patologia auditiva degenerativa que não está relacionada
com a exposição ao ruído e portanto, não podendo ser tecido o nexo causai’, como pretende o autor e assim, ‘nada
há a indenizar do ponto de vista acidentário’ no âmbito da perícia realizada (fls.72/75). Ora, a perícia realizada é
insubsistente para se firmar com base nela um juízo de certeza ou dele aproximante, não tendo, também, feito
qualquer referência ou comentários aos quesitos apresentados, o que chega a ser inaceitável, pois o perito deve
sempre responder os quesitos, não sendo, também, de boa feitura, em vez de respondê-los, apenas se reportar ao
laudo pericial. Dessa forma, nova perícia deve ser realizada, nomeando-se novo perito judicial para tal, o qual
deverá trazer aos autos uma análise melhor sobre os problemas auditivos do autor, respondendo inclusive os
quesitos pertinentes dentre aqueles excessivos trazidos pelas partes (fls.7/9 e 51/53), bem como estabelecer a data
provável da eclosão das supostas moléstias auditivas. (...)”.A Lei nº 13.105/2015 – “Novo Código de Processo
Civil” – trouxe inúmeras inovações no âmbito da produção de prova pericial, e ao incorporar vários entendimentos
jurisprudenciais adotados na vigência o código revogado, enriqueceu a legislação e afastou a possibilidade de
discussões muitas vezes infundadas, e que tinham como origem a falta de um regramento mais minucioso.
cxxxviii Informamos que o Relatório Analítico, se encontra apartado na Parte II, desta tese, visto que trata-se de um

material sigiloso, e o uso de terceiros não apto, pode causar distorções quanto ao entendimento do material.
cxxxix Informamos que o Resultado da Análise dos Indicadores, se encontra na Parte II deste trabalho, visto que,

trata-se de um material sigiloso, e o uso de terceiros não apto, pode causar distorções quanto ao entendimento do
material.
cxl
A partir da definição do termo Backlash enquanto “reação contrária”, a jornalista e feminista Susan Faludi
publicou o clássico “Backlash: o contra-ataque na guerra não declarada contra as mulheres” em 1991, nos EUA e
destaca a importância de conhecer e aprimorar o termo Backlash, como mais uma ferramenta para compreender a
realidade, e assim identificar manobras desonestas que tentam culpar o feminismo ou as próprias mulheres e seus
avanços pelos problemas enfrentados atualmente. Faludi (1991) explica que Backlash foi o título de um filme de
1947 em Hollywood, em que um homem culpa sua esposa por um assassinato que ele próprio cometeu. O que
Susan fez foi nomear o fenômeno da reação antifeminista que tentou mandar as mulheres americanas de volta para
o fogão na década de 80, mas muito além disso, desta forma ela apontou para a possibilidade de se reconhecer a
mesma situação em qualquer outro lugar do mundo, tornando o Backlash parte do vocabulário de militantes e
pensadoras. Backlash é o conjunto de reações (discursos, ideologias, teorias, mídia) ao feminismo, com propósito
anti-feminista, apresentado na cultura. Faludi (1991) externa que a agenda do feminismo é básica, e solicita que,
as mulheres não sejam forçadas a "escolher" entre a justiça pública e felicidade privada. Pede que as mulheres
sejam livres para se definirem de ter sua identidade definida, por elas mesmas ao invés de serem definidas pela
cultura ou pelos homens. E completa que, essas idéias ainda são idéias incendiárias e aponta que as mulheres
americanas têm um caminho a percorrer antes de entrarem na prometida Terra da Igualdade. O anti-feminismo,
traduzido em teoria pós-moderna, são os ataques ao feminismo desde dentro dele, sob nome e feminismo. A idéia
de Backlash, conforme Faludi (1991) é identificar tudo que é ataques ao feminismo e esforços em conter os
avanços das mulheres (Faludi, 1991).
cxli
Software aplicativo (aplicativo ou aplicação) é um programa de computador que tem por objetivo ajudar o seu
usuário a desempenhar uma tarefa específica, em geral ligada a processamento de dados.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Software_aplicativo
cxlii
Sua origem é na Alemanha, datado de 1954, por meio do psicólogo forense alemão Udo Undeutsch e mais
tarde sistematizado por Steller e Kohnken (1989).
cxliii Como a quase totalidade dos crimes é de ação penal pública, nesses casos, a investigação criminal é

essencialmente destinada ao Ministério Público, pois é ele que deverá fazer a análise das provas e decidir se há
elementos suficientes para iniciar a ação penal. Esse exame da investigação criminal é o que se costuma denominar
pela expressão latina “opinio delicti”, isto é, a opinião acerca da ocorrência do delito (Saraiva, 2013).

696
cxliv “O mando: É o operante verbal pelo qual a comunidade verbal é capaz de dar ordens (
Fale baixo!), fazer pedidos (- Você me emprestaria um livro?), identificar reforços necessitados
pelas pessoas (- Quer que ligue o ar refrigerado?), fazer perguntas, dar conselhos e avisos,
pedir a atenção de alguém, etc. O repertório de mandos é construído em situações em que,
caracteristicamente, um operante verbal emitido sob privação ou estimulação aversiva foi
seguido de uma mesma conseqüência reforçadora. Somos reforçados por um ouvinte que nos
apresenta um copo com água quando emitimos - Água, por favor (sob controle de privação de
água) ou que faz silêncio quando pedimos - Faça menos barulho... (sob controle do estímulo
aversivo -barulho). A emissão de mandos pelo falante é reforçada por uma determinada e
específica conseqüência proporcionada pelo ouvinte, diretamente relacionada às condições de
privação ou de estimulação aversiva que afetam o falante. (Passos, 2003)”.

cxlv“Moreira e Medeiros (2007) explicam que, com base na generalização respondente, tal técnica
consiste em dividir o procedimento de extinção em pequenos passos, ou seja, consiste em expor o
indivíduo gradativamente a estímulos que eliciam respostas de menor magnitude até o estímulo
condicionado original.

De acordo com Knapp e Caminha (2003) e Negrão (2011), a dessensibilização sistemática foi
desenvolvida originariamente por Wolpe em 1958 e diz respeito a um conjunto de técnicas de
exposição/apromimação à experiência traumática, envolvendo três etapas básicas: treinamento do cliente
ao relaxamento físico, estabelecimento de uma hierarquia de ansiedade em relação ao estímulo fóbico e
contracondicionamento do relaxamento como uma resposta ao estímulo temido, iniciando-se com o
elemento mais baixo na hierarquia de ansiedade até chegar ao ponto mais alto dessa hierarquia
previamente estabelecida na segunda etapa.

Moreira e Medeiros (p. 41, 2007) discorrem acerca do assunto explicando que para utilizá-la na prática
clínica é necessário primeiramente “construir uma escala crescente da intensidade do estímulo
(hierarquia de ansiedade)”, ou seja, descobrir quais são os estímulos relacionados ao objeto fóbico que
causam no indivíduo maior ou menor medo. Em seguida, treina-se o cliente em uma resposta que é
antagonista à ansiedade (relaxamento muscular progressivo) e solicita-se ao mesmo que imagine uma
série de situações que provoquem ansiedade enquanto está profundamente relaxado (Remor, 2000)”. (in
Pereira, 2012)

cxlvi
SCIRUSS era uma ferramenta livre na Web que permite a localização de informação científica, académica,
multidisciplinar num único ponto de pesquisa. O motor de pesquisa SCIRUS permite efetuar pesquisa
simples ou avançada, sendo que esta última opção permite a pesquisa por título da revista ou artigo, autor, palavra
chave, ISSN, afiliação, parte do URL, etc. podendo também combinar termos e definir limites quanto ao tipo de
documento, data, fontes, formatos e áreas do conhecimento. Após a pesquisa, na lista de resultados tem a
possibilidade de refinar a sua pesquisa (menu lateral esquerdo) e de selecionar conteúdos para enviar por e-mail,
exportar para um gestor de referências bibliográficas ou guardar (menu superior).
Scirus, era uma base de dados de resumos e citações que abrangia a produção de investigação científica a nível
mundial. Scirus foi assumido e operado por Elsevier. Em 2013, um anúncio apareceu, na página inicial Scirus,
anunciando a aposentadoria locais em 2014:
"Estamos tristes de dizer adeus. Scirus está pronto para se aposentar no início de 2014. Para garantir uma transição
suave, estamos informando agora para que você tenha tempo suficiente para encontrar uma solução de pesquisa
alternativa para o conteúdo específico da ciência... Obrigado por ser um usuário dedicado de Scirus.”
(https://en.wikipedia.org/wiki/Scirus)
cxlvii
Um dos métodos de registro da etologia, o etograma, ocorre por meio do: ad llibitum, focal sampling, scan
sampling e behaviour sampling. E quanto aos tipos de medida, pode ser utilizado a: Latência e a unidade de tempo,
que mede por exemplo, quanto tempo demorou começar o evento esperado?; Frequência, que mede o número de
eventos na unidade de tempo, a exemplo: Quantas vezes o comportamento esperado aconteceu?; e a Duração, que
é uma unidade de tempo, tal como: Quanto tempo o evento discreto durou? Quanto tempo gastou durante toda a
sessão de observação?. A Etologia é a ciência das relações comparadas do comportamento animal e tem no
comportamento o produto e instrumento do processo de evolução, por meio, da seleção natural. Assim, o

697
comportamento é produto da evolução filogenética, pois tem função adaptativa (afeta o sucesso reprodutivo). As
quatro perguntas básicas da etologia, são: como o comportamento se desenvolve ao longo da vida do indivíduo?
(ontogênese)? Qual é a causa? (fatores causais próximos); Como se desenvolveu no decorrer da história
evolucionária? (filogênese) e qual o motivo pelo qual teria sido selecionado naturalmente? (causa final). São
conhecidas como os quatro “por quês” de Tinbergen. Que põe ênfase na observação e na descrição detalhada do
comportamento, na situação mais natural possível. E desta experiência da Etologia, tinha uma pergunta que
acompanha estes estudos do comportamento, que é: ‘Estudar comportamento mesmo você não veja diretamente
os animais? O que os rastros deixados pelos animais podem nos informar?’. Esta é sempre uma boa pergunta para
iniciar uma investigação. Porém, quais rastros investigar?. Sim, este campo é altamente investigativo.
cxlviii
A História de Vida é uma das modalidades de estudo em abordagem qualitativa, traduzido de historie (em
francês) e de story e history (em inglês) e que alcança significados distintos (Bertaux, 1980). A pesquisadora
focava na distinção realizada pelo sociólogo americano Denzin, em 1970, que informava, que life story, seria o
relato de vida contado por quem a vivenciou, em que o pesquisador não confirma a autenticidade dos fatos. E a
técnica life history (ou estudo de caso clínico), compreende o estudo aprofundado da vida de um indivíduo ou
grupos de indivíduos e que inclui, além da própria narrativa de vida, todos os documentos que possam ser
consultados, como dossiês médico e jurídico, testes psicológicos, testemunhos de parentes, entrevistas com pessoas
que conhecem o sujeito, ou situações em estudo (Bertaux, 1980).
A pesquisadora optava pelo Life History, em que fazia da interação com a comunicante, um momento de buscar
dados informativos mais exatos a respeito da ocorrência ou não da violência sexual de sua criança.
cxlix Lorenz
(1965) o padrão fixo é o núcleo da ação instintiva e corresponde ao acionamento de um mecanismo
construído filogeneticamente.
cl
Ordenamento jurídico é como se chama à disposição hierárquica das normas jurídicas (regras e princípios),
dentro de um sistema normativo. Por este sistema, pode-se compreender que cada dispositivo normativo possui
uma norma da qual deriva e à qual está subordinada, cumprindo à Constituição o papel de preponderância - ou
seja - o ápice, ao qual todas as demais leis devem ser compatíveis material e formalmente. Um conjunto
hierarquizado de normas jurídicas (regras e princípios) que disciplinam coercitivamente as condutas humanas,
com a finalidade de buscar harmonia e a paz social. O legislador busca por meio da criação de normas jurídicas
proteger os interesses juridicamente relevantes.
cli Primeira Fase da persecução penal, ocorre a investigação criminal: meio comum para colheita de informações

através do procedimento chamado de Inquérito Policial, com base no art. 4º CPP. Segunda Fase: O processo penal
(Ação Penal) - CP Título VII (Da Ação Penal) O Estado tem o interesse de manter as relações jurídicas e o cidadão
a salvo de determinadas posturas consideradas como ilícitos penais, realizando assim a repressão ao crime no
interesse da sociedade. Esta atividade do Estado consiste na persecutio criminis.
De fato, ao Estado incumbe não somente a soberania externa, mas também a soberania interna, gerando a segurança
que se espera das pessoas e bens, com a devida repressão à criminalidade. Tal repressão se dá com a persecutio
criminis ou perseguição do crime, afim de que seja apurada a autoria do ilícito penal com a aplicação da devida
sanção estatal, gerando-se segurança à sociedade.
A persecução penal se divide em duas fases: a investigação criminal e o processo penal.
A investigação criminal é o procedimento administrativo preliminar realizado pela Polícia Judiciária que tem a
finalidade de se apurar fatos criminosos, colhendo elementos sobre a materialidade do crime e indícios de sua
autoria. A este procedimento se dá o nome de inquérito policial.
A segunda fase se dá perante um órgão judicial e tem caráter jurisdicional. É iniciado, via de regra, pelo Ministério
Público, com o oferecimento da denúncia, tem seu desdobramento (em apertado resumo: defesa, instrução e
alegações finais) e a decisão (condenando ou absolvendo o réu).
Cumpre informar, que parte da doutrina entende que a persecução penal seria formada por três fases: investigatória,
processual e executória (execução da pena).
clii Higino (2015) destaca que a sociedade encontra-se em constantes transformações, sendo deste modo necessário

buscar meios que se adequem e tratem os conflitos de acordo com a atualidade que vivemos. Para Cahali (2012,
p.38), “dentre os meios extrajudiciais de solução de conflitos (Mesc), os mais usuais e conhecidos são: conciliação,
mediação e arbitragem”.
Segundo Higino (2015), a mediação consiste na atividade de facilitar a comunicação entre as partes para
proporcionar que estas próprias possam, visualizando melhor os meandros da situação controvertida, protagonizar
uma solução consensual. A proposta da técnica é proporcionar um outro ângulo de análise aos envolvidos: em vez
de continuarem as partes enfocando suas posições, a mediação propicia que elas voltem sua atenção para os
verdadeiros interesses envolvidos (Tartuce, 2008, p. 208).
Conforme alerta Higino (2015), a autora relata que este método alternativo tem por finalidade atingir a definição
de justiça para todos os conflitantes que sozinhos e voluntariamente devem propor uma forma para dar fim ao

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conflito. Desta forma, deve-se destacar que os litigantes cheguem a uma convenção sem a necessidade do
mediador, pois o que se busca é a realização dos interesses para as partes envolvidas, o mediador não julga, não
intervém nas decisões, o que faz é a “terapia do vínculo conflitivo” (Buitoni, 2010, p.13 apud Cahali, 2013, p.41).
cliii
A Responsabilidade Civil surge do descumprimento de uma obrigação do direito privado, uma obrigação
existente entre duas pessoas, um direito de natureza pessoal, seja ela contratual ou extracontratual e dela decorre
o dever de indenizar caso haja culpa, em razão do caráter lesivo para uma das partes desse descumprimento. Em
observância ao fator culpa, o agente deverá responder por perdas e danos, além de responder pela onerosidade para
o reequilíbrio da relação em valor apurado indevidamente. A Responsabilidade Penal é mais gravosa que a
Responsabilidade Civil, pois incide sobre normas de direito público que regulam bens jurídicos indisponíveis
como, por exemplo, a vida, a liberdade e a integridade física. O ilícito penal tem natureza mais gravosa que o
ilícito civil, e nessa ordem segue também a natureza de suas responsabilidades decorrentes. Portanto, toda
Responsabilidade Penal decorre da transgressão de uma norma pública (tipo penal incriminador), caracterizando
crime ou contravenção penal. No caso da Responsabilidade Penal, ainda em contraponto com a Responsabilidade
Civil, em regra não haverá reparação em virtude da impossibilidade de regresso ao status quo, mas sim aplicação
de uma pena pessoal e intransferível ao transgressor da norma que poderá ser substituída ou convertida em medida
de segurança, caso estejam presentes os requisitos. Em se tratando de Responsabilidade Penal o objetivo é duplo:
reparação da ordem social e punição do agente.
cliv
Destacamos que o Art. 213, § 1º, do Código Penal - Decreto Lei 2848/40, a idade distingue a pena e na pesquisa
da cientista não condiz a nenhuma distinção particular:

“Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter


conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é


menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito)
a 12 (doze) anos.”

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