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2 - Natureza Jurídica .......................................................................................................... 3
3 - Lide No Processo Penal ................................................................................................. 3
4 - Condições Da Ação........................................................................................................ 4
4.1 - Novo Código De Processo Civil E As Condições Genéricas Da Ação Penal ................................ 5
4.2 - Possibilidade Jurídica Do Pedido ............................................................................................... 5
4.3 - Legitimidade Para Agir .............................................................................................................. 6
4.4 - Interesse De Agir ....................................................................................................................... 8
4.5 - Justa Causa .............................................................................................................................. 10
4.6 - Condições Específicas Da Ação Penal...................................................................................... 10
4.7 - Condições Da Ação (Condições De Procedibilidade) X Condições De Prosseguibilidade ........ 11
4.8. Condição Da Ação X Condição Objetiva De Punibilidade ......................................................... 13
5 - CLASSIFICAÇÕES DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS .............................................. 14
5.1 - Ação Penal Pública .................................................................................................................. 14
5.2 - Ação Penal De Iniciativa Privada ............................................................................................ 17
5.3. Princípios Da Ação Penal .......................................................................................................... 18
5.4. Representação Do Ofendido .................................................................................................... 28
5.5 - Requisição Do Ministro Da Justiça .......................................................................................... 34
5.6 - Ação Penal Privada Subsidiária Da Pública ............................................................................. 35
5.7 - Ação Penal Popular ................................................................................................................. 36
5.8. Ação Penal Adesiva .................................................................................................................. 37
5.9. Ação De Prevenção Penal ......................................................................................................... 37
5.10. Ação Penal Secundária ........................................................................................................... 38
5.11. Ação Penal Nos Crimes Contra A Honra ................................................................................. 38
5.12. Ação Penal Nos Crimes Contra A Dignidade Sexual ............................................................... 40
5.13. Ação Penal No Crime De Lesão Corporal Leve Cometido Com Violência Doméstica E
Familiar Contra A Mulher ................................................................................................................ 41
5.14. Renúncia Ao Direito De Queixa .............................................................................................. 43
5.15. Perdão Do Ofendido ............................................................................................................... 44
5.16. Perempção.............................................................................................................................. 44
6.1 - Exposição Do Fato Criminoso Com Todas As Suas Circunstâncias.......................................... 46
6.2. Qualificação Do Acusado Ou Esclarecimentos Pelos Quais Se Possa Indentificá-Lo ............... 48
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1 - CONCEITO
Direito de ação é o direito público subjetivo de se pedir ao estado-juiz a aplicação do direito objetivo
ao caso concreto. O estado traz para si o exercício da jurisdição.
A partir disso, o Estado precisa colocar à sua disposição um instrumento para permitir a aplicação
dessa jurisdição. Esse instrumento é o direito de ação.
Ação penal é o direito público subjetivo de pedir do Estado-juiz a aplicação do direito objetivo a um
caso concreto.
O fundamento constitucional do direito de ação encontra-se no artigo 5°, XXXV, da CF:
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
2 - NATUREZA JURÍDICA
A ação penal é trabalhada no Código Penal (artigos 100 a 106). O direito de ação também é tratado
pelo Código de Processo Penal (artigos 24 a 62).
Se for de natureza processual penal, o critério de aplicação é o critério da aplicação imediata,
segundo o art. 2º do CPP (“tempus regit actum”). Por outro lado, se for de natureza material, o
critério é o da irretroatividade da lei penal mais gravosa.
Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência
da lei anterior.
O direito de ação tem natureza material. A ação penal tem estreita relação com o direito de punir
do Estado, principalmente no que toca às causas extintivas da punibilidade. Aplica-se o Princípio da
Irretroatividade da Lei Penal Mais Gravosa (art. 5º, XL, CF).
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
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4 - CONDIÇÕES DA AÇÃO
Apesar do direito de ação ser abstrato, o ordenamento jurídico impõe o preenchimento de certas
condições para o seu exercício regular, as quais estão instrumentalmente ligadas à pretensão. Em
outras palavras, funcionam como requisitos para que se possa obter um provimento jurisdicional.
Essas condições devem ser analisadas pelo juiz por ocasião do oferecimento da peça acusatória. Se
o juiz verificar a ausência de uma dessas condições da ação, a solução será a rejeição da denúncia.
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719,
de 2008).
Por outro lado, se isso não ocorrer por ocasião do juízo de admissibilidade, é perfeitamente possível
o reconhecimento da nulidade absoluta do processo em qualquer instância, uma vez que, em se
tratando de matéria de ordem pública, não há de se falar em preclusão.
O Código de Processo Civil consagrou expressamente a concepção eclética sobre o direito de ação,
segundo a qual o direito de ação é o direito ao julgamento do mérito da causa, que fica condicionado
ao preenchimento de determinadas condições.
Assim, para o professor Pacceli, deve-se aplicar subsidiariamente o artigo 267, VI, do CPC, ocorrendo
a extinção do processo sem julgamento do mérito, por ausência de uma das condições da ação.
Teoria da Asserção: (MINORITÁRIA) para Alexandre Freitas Câmara, as condições da ação devem ser
aferidas no momento da admissibilidade da inicial, tomando-se por referência, em abstrato, o que
foi narrado pelo titular da ação (“in status assertiones”).
Percebendo a carência da ação, o juiz rejeita a inicial (art. 395, II, CPP). Presentes as condições, o juiz
receberá a demanda devendo instruir a causa e julgar o mérito, restando prejudicado a discussão
sobre as condições da ação.
Para a doutrina, o juiz não pode fazer aprofundamento probatório no momento da análise das
condições da ação. Desta maneira, as condições da ação exercem uma clara função de filtro
processual.
Se houver necessidade de um aprofundamento das condições, entende a doutrina que, a partir
desse momento, já se ingressa na questão de mérito.
Exemplo: após toda instrução probatória, resta devidamente comprovado que o réu
jamais participou de um crime. Não seria recomendável que o juiz reconhecesse a
ilegitimidade da parte e extinguisse o processo sem apreciação do mérito. Muito melhor
uma sentença absolutória reconhecendo essa condição.
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O antigo Código de Processo Civil, fazia menção expressa a existência de três condições da ação:
possibilidade jurídica do pedido; interesse de agir e legitimidade das partes. Isto em paralelo aos os
elementos da ação: partes, causa de pedir e pedido.
Por seu turno, o atual Código de Processo Civil expurgou, ao menos expressamente, a previsão das
“condições da ação”. Não obstante, manteve no seu texto, no bojo de dispositivos (artigo 485, inciso
VI) para exame do juízo de admissibilidade para enfrentamento do mérito, o interesse de agir e a
legitimidade das partes.
A existência das três espécies das condições da ação decorre dos primeiros estudos processuais de
Liebmann, época em que foi editado o Código de Processo Civil. Ocorre que, com o decorrer do
tempo, ele reformulou seu entendimento, defendendo que a possibilidade jurídica do pedido estaria
inserido dentro do interesse de agir.
Já o entendimento majoritário dos processualistas é que a possibilidade jurídica do pedido seria um
exame do mérito da questão. Em outras palavras, não sendo o pedido possível, obviamente haveria
um exame exauriente da questão.
Feitas as construções doutrinárias, o fato é que o Código de Processo Civil de 2015 não contemplou
a possibilidade jurídica do pedido, a qual será analisada no presente estudo tão-somente para
questões elucidativas de toda construção processual penal.
O pedido deve se referir a uma providência em abstrato admitida pelo direito objetivo. Quando,
desde logo, se afigura inviável o atendimento em absoluto da pretensão, seja porque a ordem
jurídica não prevê tal providência, seja porque o ordenamento jurídico proíba a manifestação judicial
sobre a questão, o pedido deveria ser tido como impossível e indeferido de plano, a fim de se evitar
persecuções penais levianas.
A doutrina citava alguns exemplos de pedidos juridicamente impossíveis: oferecimento de denúncia
de fato atípico; a despeito de um fato impeditivo (ex: ausência de decisão final em procedimento
administrativo de lançamento nos crimes contra a ordem tributária); peça acusatória sem o
implemento de condição específica (ex: representação do ofendido).
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Trata-se da pertinência subjetiva da ação, ou seja, é a situação prevista em lei para o sujeito propor
a demanda ou ocupar o polo passivo da referida demanda.
A legitimidade para compor o polo ativo da ação penal depende da espécie de ação penal: a ação
penal pública é de titularidade do Ministério Público (artigo 129, inciso I, da CF), ao passo que a ação
penal de iniciativa privada compete ao ofendido ou ao seu representante legal.
Quem tem legitimidade para figurar no polo passivo da ação penal é o provável autor do fato
delituoso, com mais de dezoito anos, já que a própria Constituição estabelece que os menores de
dezoito anos são penalmente inimputáveis (artigo 228).
- Legitimidade da Pessoa Jurídica no processo penal: pode ser analisada no polo ativo e no polo
passivo.
A pessoa jurídica tem capacidade de ocupar o polo ativo de uma ação penal, a exemplo de quando
é vítima de um crime de difamação.
Por outro lado, a pessoa jurídica também pode figurar no polo passivo de ação penal.
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Os Tribunais, por muito tempo, aplicaram a Teoria da Dupla Imputação e admitiram o oferecimento
de denúncia em face de pessoas jurídicas pela prática de crimes ambientais, desde que houvesse a
imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou benefício. Nesse
sentido, STF, HC 92.921.
Atualmente, no entanto, os Tribunais Superiores mudaram seu entendimento. Agora, é possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome.
Caso concreto: O MPF formulou denúncia por crime ambiental contra a pessoa jurídica Petrobrás e
também contra “L” (superintendente de uma refinaria). A denúncia foi recebida. No entanto, o
acusado pessoa física foi absolvido sumariamente, prosseguindo a ação penal apenas contra a
pessoa jurídica. Como a pessoa física foi afastada da ação penal, a defesa da Petrobrás, invocando a
teoria da dupla imputação (4ª corrente), sustentou que a pessoa jurídica deveria também ser,
obrigatoriamente, excluída do processo. O STJ, invocando precedente do STF, não acolheu a
argumentação. Segundo o entendimento atual da jurisprudência, é possível a responsabilização
penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização
concomitante da pessoa física que agia em seu nome.
Em suma: É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais
independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome.
A jurisprudência não mais adota a chamada teoria da "dupla imputação". STJ. 6ª Turma. RMS
39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 (Info 566). STF. 1ª Turma.
RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013 (Info 714).
Legitimidade ordinária é a regra. Ocorre quando alguém age em nome próprio na defesa de
interesse próprio. É o que acontece na ação penal pública, uma vez que o Ministério Público é o
titular da ação penal pública por expressa disposição constitucional.
Excepcionalmente, alguém pode agir em nome próprio na defesa de interesse alheio, que é
conhecido como legitimidade extraordinária. Somente ocorre quando há autorização legal.
Exemplos de legitimação extraordinária:
a) Ação penal de iniciativa privada: O direito de punir pertence ao Estado, que transfere ao
ofendido a legitimidade para ingressar em juízo.
b) Ação civil ex delicto proposta pelo MP em favor de vítima própria (art. 68 do CPP): é a ação
indenizatória do delito.
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença
condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.
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EMENTA RE 135.328: LEGITIMIDADE - AÇÃO "EX DELICTO" – MP - DEFENSORIA PÚBLICA – ART.68 DO CPP –
CF/88. A teor do disposto no artigo 134 da CF, cabe à Defensoria Pública, instituição essencial à função
jurisdicional do Estado, a orientação e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º,
LXXIV, da Carta, estando restrita a atuação do MP, no campo dos interesses sociais e individuais, àqueles
indisponíveis (parte final do art.127, da CF).
INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA - VIABILIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DE DIREITO ASSEGURADO
CONSTITUCIONALMENTE - ASSISTÊNCIA JURÍDICA E JUDICIÁRIA DOS NECESSITADOS -SUBSISTÊNCIA
TEMPORÁRIA DA LEGITIMAÇÃO DO MP. Ao Estado, no que assegurado constitucionalmente certo direito,
cumpre viabilizar o respectivo exercício. Enquanto não criada por lei, organizada - e, portanto, preenchidos os
cargos próprios, na unidade da Federação - a Defensoria Pública, permanece em vigor o artigo 68 do CPP,
estando o MP legitimado para a ação de ressarcimento nele prevista. Irrelevância de a assistência vir sendo
prestada por órgão da Procuradoria Geral do Estado, em face de não lhe competir, constitucionalmente, a
defesa daqueles que não possam demandar, contratando diretamente profissional da advocacia, sem prejuízo
do próprio sustento.
A ideia de interesse de agir está relacionada à utilidade da prestação jurisdicional que se pretende
obter com a movimentação do aparato judicial. Deve-se demonstrar, assim, a necessidade de se
recorrer ao Poder Judiciário para obtenção do resultado pretendido.
Deve ser analisado sob três aspectos distintos: necessidade, adequação e utilidade.
A necessidade é presumida no processo penal, pois não há pena sem processo, em obediência ao
mandamento constitucional do devido processo legal.
De igual modo, a adequação não tem tamanha importância no processo penal, pois não há
diferentes espécies de ações penais condenatórias. Ademais, mesmo que não seja feita a adequação
correta, há os institutos do emendatio libelli e mutatio libelli.
O melhor exemplo sobre e essa adequação diz respeito a uma ação penal não condenatória, que é
o habeas corpus, uma vez que o referido instrumento só pode ser utilizado quando houver risco a
liberdade de locomoção.
Conforme teor da Súmula 693 do STF, não cabe habeas corpus contra processo em curso a que a
única pena cominada seja a de multa, posto que não envolve a liberdade de locomoção. Tanto é
que, uma vez não efetivado o pagamento da multa, o processo será remetido à Procuradoria Fiscal
para inscrição como dívida ativa.
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Exemplo: delito de furto simples, cuja pena é de um a quatro anos. Sujeito menor de 21
(vinte e um) anos à época dos fatos e não possui maus antecedentes. Logo, possível
vislumbrar que a pena mínima fique em um ano, que prescreve em quatro anos (artigo
109, inciso IV, do Código Penal), diminuída pela metade, por ser o agente menor de 21
(vinte e um anos). Assim, ultrapassado o prazo de dois anos sem oferecimento da
denúncia, pode-se antecipar que o referido processo será fulminado futuramente pela
prescrição, razão pela qual se aplica a prescrição em perspectiva.
Após muita discussão doutrinária, os Tribunais não admitiram a prescrição em perspectiva, editando
a Súmula nº 428 do Superior Tribunal de Justiça:
Súmula 438: “É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento
em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal”.
Observação: a lei nº 12.234/10 (que entrou em vigor no dia 06/05/10) revogou o §2º do
artigo 110 do Código Penal, o qual previa que a prescrição, depois da sentença condenatória
com trânsito em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regulava-se
pela pena aplicada, podendo ter por termo data anterior ao recebimento da denúncia ou
queixa.
Além disso, deu nova redação ao §1º do artigo 110, que passou a dispor que a prescrição, depois da
sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu
recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial
data anterior à da denúncia ou queixa.
Como se vê, em que pese o objetivo desta ter sido o fim à prescrição retroativa, pôs-se fim apenas
à prescrição da pretensão punitiva retroativa entre a data do fato delituoso e a data do recebimento
da peça acusatória.
Subsiste, desta maneira, a possibilidade de prescrição retroativa, levando em conta a pena aplicada,
porém no lapso temporal compreendido entre o recebimento da denúncia e a sentença penal
condenatória recorrível.
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Como, na grande maioria dos casos, a prescrição em perspectiva leva em conta a virtual prescrição
da pretensão punitiva retroativa entre a data do fato delituoso e a data do recebimento da peça
acusatória, dada à morosidade dos inquéritos policiais, é evidente que a referida lei também
produzirá reflexos no reconhecimento da prescrição virtual, cuja incidência tende a ser cada vez
menos comum.
Da mesma maneira, a referida lei produzirá efeitos quanto ao reconhecimento da prescrição
retroativa entre a data do fato delituoso e o recebimento da peça acusatória no que tange aos crimes
praticados até 05 de maio de 2010, vez que, como se trata de lei mais gravosa, somente se aplica
aos crimes praticados a partir de sua entrada em vigor.
Justa causa é o lastro probatório mínimo para o início de um processo penal. Impende destacar que
o processo penal não é uma aventura e, como influi na esfera de liberdade do acusado, é necessário
um mínimo de lastro probatório seguro para imputar a alguém determinado crime.
Ausente o fumus comissi deliciti, incumbe ao juiz rejeitar a peça acusatória. Não o fazendo,
transforma-se em autoridade coatora para fins de impetração de habeas corpus, objetivando o
trancamento da ação penal.
Muito se discute acerca da natureza jurídica da justa causa. Parcela minoritária da doutrina entende
que se trata de requisito da peça acusatória, em razão da redação dada pela reforma de 2008 ao
artigo 395 do Código de Processo Penal.
Porém, prevalece na doutrina que a justa causa seria uma quarta condição da ação, uma vez que se
trata o processo penal de ciência autônoma ao processo civil, tornando-se necessária evitar o
exercício de ações penais temerárias e levianas, sem um mínimo de lastro probatório.
Observação: justa causa duplicada se aplica na hipótese de crimes de lavagem de capitais. Isto
porque, nesses crimes, deve existir um lastro probatório mínimo quanto ao crime de lavagem, bem
como quanto ao crime antecedente.
- Ver Art. 154-A (Invasão de dispositivo informático). Segundo o art. 154-B, nesses crimes, em regra,
somente se procede mediante representação. No tocante ao art. 154 - A, §1º, do CP, ao contrário
do art. 154, caput, em que há vítima determinada, não possui vítima determinada. Trata-se de crime
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de perigo. Não há quem possa oferecer representação. Para Nucci, a lei, apesar de equivocada, exige
representação.
- Outro exemplo é o art. 187 do CPM (deserção): É indispensável que o desertor readquira a sua
condição de militar para a configuração desse delito.
Deserção
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por
mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.
Exemplo:. Representação nos crimes de lesão corporal leve e culposa → Antes da Lei
9.099/95, a espécie de ação penal nesses dois delitos era pública incondicionada. A lei
9.099/95 trouxe um dispositivo alterando a espécie de ação penal desses dois delitos, que
passaram a ser crimes de ação penal pública condicionada à representação.
A representação nos crimes de estupro com violência real, quando da entrada em vigor da lei
nº12.015/09, que já estavam em andamento antes da vigência da referida lei, é necessária? (duas
correntes)
Primeira corrente: Ao contrário da Lei do JECRIM, que trouxe dispositivo expresso sobre o assunto,
a Lei 12.0150/09 não exigiu a representação para os processos que já estavam em andamento.
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Exemplo: oferecer denúncia contra um menor de dezoito anos. Neste caso, falta
possibilidade jurídica do pedido. O juiz não precisa analisar questões probatórias para se
chegar à esta conclusão. Contudo, quando o juiz enfrenta questões probatórias, entrando
no mérito, essa decisão será de mérito, fazendo coisa julgada material e formal. A
exemplo, quando a pessoa, após ser denunciada, defende-se, negando a autoria do crime.
Neste caso, não há que se falar em ilegitimidade passiva, mas sim em análise do mérito..
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A ação penal pública tem como titular o Ministério Público. (Art.129, I, CF), com a peça acusatória
sendo a denúncia. Muitos doutrinadores dizem, que a partir desse dispositivo, decorre o princípio
da obrigatoriedade da ação penal para o Parquet.
A ação penal pública pode ser subdividida em ação penal pública incondicionada, ação penal pública
condicionada e ação penal pública subsidiária da pública.
Espécies:
- Ação penal pública incondicionada: a atuação do MP não depende de representação do ofendido
nem de requisição do Ministro da Justiça. Essa é a regra, pois, se a lei não dizer nada, entende-se
que ela é pública incondicionada.
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação
do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Exemplo: ameaça, lesão corporal leve e lesão corporal culposa → crimes de ação penal
pública condicionada à representação.
- Ação penal pública subsidiária da pública: ATENÇÃO, não se confunde com a ação penal de
iniciativa privada subsidiária da pública.
Exemplos dessa ação penal, segundo a doutrina:
- Decreto-lei 201/67 (art.2º, §2º). Esse dispositivo diz que se o MP Estadual não tomar providências
para processar os crimes previstos naquela lei, podem ser solicitadas previdências ao PGR (Chefe do
MPU). Por isso, alguns falam que este seria um exemplo de ação penal pública subsidiária da pública.
Art. 2º, Dec-lei 201/67 - O processo dos crimes definidos no artigo anterior é o comum do juízo singular,
estabelecido pelo CPP (...):
(...)
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§ 2º - Se as previdências para a abertura do inquérito policial ou instauração da ação penal não forem atendidas
pela autoridade policial ou pelo Ministério Público estadual, poderão ser requeridas ao Procurador-Geral da
República.
Cuidado! A maioria da doutrina que cita esse artigo entende que isso não foi
recepcionado pela CF/88.
Primeiro porque esse dispositivo atenta contra a autonomia dos MPs estaduais (fica parecendo que
o MP da União e o PGR seriam chefes do MP estadual). Não há superioridade hierárquica do MP da
União em relação ao estadual.
Além disso, esse deslocamento atenta contra o princípio do juiz natural, pois não se pode tirar da
justiça estadual uma causa que é de sua competência, nem se pode levar para a justiça federal uma
competência da justiça estadual. Um decreto-lei não pode fazer isso.
- Código Eleitoral – O CE traz um dispositivo onde alguns doutrinadores visualizam uma espécie de
ação penal pública subsidiária da pública. Nas comarcas pequenas, atuam como MP eleitoral, o
promotor estadual. Caso este não ofereça a denúncia no prazo legal, o juiz pode solicitar ao
Procurador Regional que seja designado outro promotor.
Art. 357, CE - Verificada a infração penal, o Ministério Público oferecerá a denúncia dentro do prazo de 10 (dez)
dias.
(...)
§ 3º Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo legal representará contra ele a
autoridade judiciária, sem prejuízo da apuração da responsabilidade penal.
§ 4º Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior o juiz solicitará ao Procurador Regional a designação
de outro promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a denúncia.
Esse exemplo tem sido considerado válido pelo Superior Tribunal de Justiça. O STJ possui dois casos
de IDC:
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O primeiro é o caso da missionária Dorothy Stang, em que não foi deslocada a competência. O IDC
2 foi um caso de grupo de extermínio em que houve o deslocamento da competência, para a justiça
federal da Paraíba.
EMENTA IDC 1: CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO.
(VÍTIMA IRMÃ DOROTHY STANG). CRIME PRATICADO COM GRAVE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS
HUMANOS. INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA – IDC. INÉPCIA DA
PEÇA INAUGURAL. NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA CONTIDA. PRELIMINARES REJEITADAS.
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E À AUTONOMIA DA UNIDADE DA FEDERAÇÃO.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. RISCO DE DESCUMPRIMENTO DE TRATADO
INTERNACIONAL FIRMADO PELO BRASIL SOBRE A MATÉRIA NÃO CONFIGURADO NA HIPÓTESE.
INDEFERIMENTO DO PEDIDO.
Na espécie, as autoridades estaduais encontram-se empenhadas na apuração dos fatos que
resultaram na morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, com o objetivo de punir os
responsáveis, refletindo a intenção de o Estado do Pará dar resposta eficiente à violação do maior e
mais importante dos direitos humanos, o que afasta a necessidade de deslocamento da competência
originária para a Justiça Federal, de forma subsidiária, sob pena, inclusive, de dificultar o andamento
do processo criminal e atrasar o seu desfecho, utilizando-se o instrumento criado pela aludida norma
em desfavor de seu fim, que é combater a impunidade dos crimes praticados com grave violação de
direitos humanos.
O deslocamento de competência – em que a existência de crime praticado com grave violação aos
direitos humanos é pressuposto de admissibilidade do pedido – deve atender ao princípio da
proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito), compreendido
na demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta de vontade política ou de
condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução penal.
No caso, não há a cumulatividade de tais requisitos, a justificar que se acolha o incidente.
Pedido indeferido, sem prejuízo do disposto no art. 1º, inc. III, da Lei nº 10.446, de 8/5/2002.
EMENTA IDC 2: IDC. JUSTIÇAS ESTADUAIS DOS ESTADOS DA PARAÍBA E DE PERNAMBUCO.
HOMICÍDIO DE VEREADOR, NOTÓRIO DEFENSOR DOS DIREITOS HUMANOS, AUTOR DE DIVERSAS
DENÚNCIAS CONTRA A ATUAÇÃO DE GRUPOS DE EXTERMÍNIO NA FRONTEIRA DOS DOIS ESTADOS.
AMEAÇAS, ATENTADOS E ASSASSINATOS CONTRA TESTEMUNHAS E DENUNCIANTES. ATENDIDOS OS
PRESSUPOSTOS CONSTITUCIONAIS PARA A EXCEPCIONAL MEDIDA.
1. A teor do § 5.º do art. 109 da CF, introduzido pela EC n.º 45/2004, o incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal fundamenta-se, essencialmente, em três pressupostos: a
existência de grave violação a direitos humanos; o risco de responsabilização internacional
decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas assumidas em tratados internacionais; e a
incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas
efetivas.
2. (...)
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- Ação penal exclusivamente privada: É exercida mediante queixa do ofendido, em que é possível a
sucessão processual e em que a vítima incapaz pode ser representada. Se a vítima morrer, o direito
dela é transmitido aos sucessores.
- Ação penal privada personalíssima: não há sucessão processual; somente o ofendido pode
oferecer queixa-crime.
Atenção!! Se o ofendido for incapaz, o direito não pode ser exercido pelo representante
legal. Deve-se, então, esperar o incapaz atingir a capacidade.
Ademais, nos casos de ação penal privada personalíssima não há sucessão processual, de modo que
se a vítima morrer, o direito de propor a ação penal não se transmite aos sucessores, independente
se o processo tinha começado ou não.
Exemplo: A morte da vítima extingue a punibilidade? Nos crimes de ação penal privada
personalíssima, sim, pois não há sucessão processual. Só a vítima podia exercer o direito de
queixa.
Hoje o único exemplo é o crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art.
236 do CP);
Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento
que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão
depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
Em que pese cada doutrinador fazer referência a diversos princípios da ação penal, passa-se aqui a
analisar os principais e que são consensuais em toda doutrina.
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Com a adoção do sistema acusatório pela Constituição Federal, ao juiz não é dado iniciar um
processo de ofício. Se o Ministério Público é o titular da ação penal, o juiz não pode começar o
processo.
Então, pelo sistema acusatório, as funções processuais (acusação, defesa e julgamento) devem ser
exercidas por pessoas distintas (MP/vítima, defesa e juiz). Essa separação tem a finalidade de
preservar o que o juiz tem de mais sagrado, que é a imparcialidade.
Atenção: Processo judicialiforme (ação penal ex officio) – era o processo que tinha início
a partir de portaria expedida pela própria autoridade judiciária ou, em alguns casos, até
mesmo pelo delegado. Ocorria nos casos de contravenções penais e homicídios culposos.
Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de
portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.
Esse processo judicialiforme não foi recepcionado pela CF/88, por art. 109 da Constituição Federal.
Observação: O juiz não pode dar início a um processo penal condenatório. Mas, o juiz
pode, no processo penal não condenatório, agir de ofício. Esse é o caso da ordem de
habeas corpus¸ que pode ser concedida de ofício com o juiz.
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Art. 654, § 2°: Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando
no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.
Dentre as inúmeras decorrências desse princípio, para ação penal importa que ninguém pode ser
processado duas vezes pela mesma imputação. Quando se fala em imputação, leia-se, fato.
Art. 654, § 2°: Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando
no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.
A maioria da doutrina entende que o caso de sentença por juiz incompetente é nula. E se a nulidade
não for alegada e declarada durante o processo, sendo que a decisão transita em julgado, nada
poderá ser feito, pois o Brasil não admite a revisão criminal pro societate.
Ada Pellegrini, numa posição minoritária que não pode ser adotada, entende que a decisão de juiz
incompetente é inexistente, sendo possível novo processo.
Então, a decisão absolutória ou declaratória extintiva da punibilidade, ainda que proferida por juízo
absolutamente incompetente, é capaz de transitar em julgado e de produzir seus efeitos regulares,
dentre eles o de impedir novo processo pela mesma imputação (STF HC 86.606, HC 91.505).
Por esse princípio, a peça acusatória só pode ser oferecida contra o suposto autor ou partícipe do
fato delituoso.
Esse princípio nada mais é do que um desdobramento do princípio da pessoalidade da pena,
segundo o qual a pena não pode passar da pessoa do condenado.
Art. 5°, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
até o limite do valor do patrimônio transferido;
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Muito se discute acerca da origem da fundamentação legal deste princípio, posto que ele não se
encontra expresso dentro de nenhum texto normativo.
Parte da doutrina entende que ele decorre do artigo 129, inciso I, da CF, que dispõe que o Ministério
Público é o titular privativo da ação penal, não fazendo alusão à possibilidade de dispor desse
direito/dever.
Outra parcela entende que a construção desse princípio decorre da leitura sistemática do Código de
Processo Penal, que previu como o Ministério Público exercerá a ação penal e como será feito esse
controle, não dispondo, novamente, de possibilidade de disposição da ação penal pública.
O fato é que a construção legislativa a partir da década de 90, embasada pela common law, tende,
por meio de legislação extravagante, a relativizar essa obrigatoriedade, em compromisso a uma
maior efetividade do processo penal, desencarceramento e medidas indenizatórias às vítimas.
- Princípio da obrigatoriedade: por esse princípio, presentes as condições da ação penal e havendo
justa causa, o Ministério Público é obrigado a oferecer denúncia. O promotor não tem liberdade de
escolher se vai ou não oferecer denúncia. Ele tem que oferecer.
Esse princípio é aplicável também à própria polícia, de modo que se o delegado toma conhecimento
de um crime de ação penal pública incondicionada, ele também é obrigado a agir.
Esse princípio, segundo a maioria da doutrina, está previsto no art.24, do
CPP (ao dizer “será promovida” a lei não deixa margem de discricionariedade
para o MP):
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá,
quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo.
a) O primeiro mecanismo de controle é o art.28 do CPP (se o juiz não concorda com o MP,
ele manda os autos ao procurador geral). Alguns doutrinadores criticam que esse papel
de controle seja feito pelo juiz, mas os tribunais consideram o mecanismo válido.
Art. 28, CPP - Se o órgão do MP, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial
ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará
remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro
órgão do MP para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a
atender.
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Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério
Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido
alegada.
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Com a lei nº 12.382/11, o parcelamento deve ser formalizado antes do recebimento da denúncia,
sendo assim, mais uma exceção ao princípio da obrigatoriedade.
a) Colaboração premiada na nova Lei das Organizações Criminosas: consoante artigo 4º, §4º,
da lei nº12.850/13, se da colaboração do agente resultar um ou mais dos seguintes
resultados abaixo elencados, poderá o Ministério Público deixar de oferecer denúncia, se
o colaborador não for o líder da organização criminosa e for o primeiro a prestar efetiva
colaboração.
(i) a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles
praticadas;
(ii) a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
(iii) a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
(iv) a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização
criminosa;
(v) a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.
Como se percebe, o legislador inseriu mais uma exceção ao princípio da obrigatoriedade. E qual a
consequência para o procedimento de direito material?
Parte da doutrina entende que seria o arquivamento do procedimento investigatório. Outra parcela
da doutrina, entende que deve-se aplicar analogicamente o artigo 87 da lei nº 12.382/11, que prevê
que o cumprimento do acordo de colaboração premiada acarreta a extinção da punibilidade do
colaborador.
a) Acordo de não persecução penal: representa uma alternativa promissora da instituição e
mudança dos paradigmas da política criminal estatal, trazida pela resolução nº 181 do
CNMP.
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Art. 18. Não sendo o caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor ao investigado acordo de não
persecução penal quando, cominada pena mínima inferior a 4 (quatro) anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça a pessoa, o investigado tiver confessado formal e circunstanciadamente a sua
prática, mediante as seguintes condições, ajustadas cumulativa ou alternativamente:
I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II – renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto
ou proveito do crime;
III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo Ministério Público;
IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade pública
ou de interesse social a ser indicada pelo Ministério Público, devendo a prestação ser destinada
preferencialmente àquelas entidades que tenham como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes
aos aparentemente lesados pelo delito;
V – cumprir outra condição estipulada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a
infração penal aparentemente praticada.
§ 1º Não se admitirá a proposta nos casos em que:
I – for cabível a transação penal, nos termos da lei;
II – o dano causado for superior a vinte salários mínimos ou a parâmetro econômico diverso definido pelo
respectivo órgão de revisão, nos termos da regulamentação local;
III – o investigado incorra em alguma das hipóteses previstas no art. 76, § 2º, da Lei nº 9.099/95; (i) condenado;
(ii) beneficiado no prazo de cinco anos; (iii) antecedentes, a conduta social, personalidade do agente, motivos e
circunstâncias desfavoráveis.
IV – o aguardo para o cumprimento do acordo possa acarretar a prescrição da pretensão punitiva estatal;
V – o delito for hediondo ou equiparado e nos casos de incidência da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006;
VI – a celebração do acordo não atender ao que seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do
crime.
§ 2º A confissão detalhada dos fatos e as tratativas do acordo serão registrados pelos meios ou recursos de
gravação audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações, e o investigado deve estar sempre
acompanhado de seu defensor.
§ 3º O acordo será formalizado nos autos, com a qualificação completa do investigado e estipulará de modo
claro as suas condições, eventuais valores a serem restituídos e as datas para cumprimento, e será firmado pelo
membro do Ministério Público, pelo investigado e seu defensor.
§ 4º Realizado o acordo, a vítima será comunicada por qualquer meio idôneo, e os autos serão submetidos à
apreciação judicial.
§ 5º Se o juiz considerar o acordo cabível e as condições adequadas e suficientes, devolverá os autos ao
Ministério Público para sua implementação.
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§ 6º Se o juiz considerar incabível o acordo, bem como inadequadas ou insuficientes as condições celebradas,
fará remessa dos autos ao procurador-geral ou órgão superior interno responsável por sua apreciação, nos
termos da legislação vigente, que poderá adotar as seguintes providências:
I – oferecer denúncia ou designar outro membro para oferecê-la;
II – complementar as investigações ou designar outro membro para complementá-la;
III – reformular a proposta de acordo de não persecução, para apreciação do investigado;
IV – manter o acordo de não persecução, que vinculará toda a Instituição.
§ 7º O acordo de não persecução poderá ser celebrado na mesma oportunidade da audiência de custódia.
§ 8º É dever do investigado comunicar ao Ministério Público eventual mudança de endereço, número de
telefone ou e-mail, e comprovar mensalmente o cumprimento das condições, independentemente de notificação
ou aviso prévio, devendo ele, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar imediatamente e de forma
documentada eventual justificativa para o não cumprimento do acordo.
§ 9º Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo ou não observados os deveres do parágrafo
anterior, no prazo e nas condições estabelecidas, o membro do Ministério Público deverá, se for o caso,
imediatamente oferecer denúncia.
§ 10 O descumprimento do acordo de não persecução pelo investigado também poderá ser utilizado pelo
membro do Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do
processo.
§ 11 Cumprido integralmente o acordo, o Ministério Público promoverá o arquivamento da investigação, nos
termos desta Resolução.
§ 12 As disposições deste Capítulo não se aplicam aos delitos cometidos por militares que afetem a hierarquia
e a disciplina.
§ 13 Para aferição da pena mínima cominada ao delito, a que se refere o caput, serão consideradas as causas
de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto.
Exemplo: caso do jogador Grafite, em que o crime de injúria racial era de ação privada.
No final do jogo, a polícia prendeu o jogador que o injuriou. Mas depois disso, o jogador
Grafite não ajuizou a queixa-crime. Esse princípio é aplicável antes do início do processo.
Aplica-se antes do início do processo, por meio das seguintes formas (o ofendido não tem interesse
em exercer o direito de queixa):
Renúncia ao direito de queixa (expressa ou tácita);
Deixar atingir o prazo decadencial.
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Pelo princípio da indisponibilidade, na ação penal pública, o órgão do Ministério Público não pode
desistir da ação penal pública. É um desdobramento do princípio da obrigatoriedade.
Esse princípio está previsto nos artigos 42 e 576, do Código de Processo Penal:
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.
Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.
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VII - induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou afirmação falsa ou enganosa sobre a
natureza, qualidade do bem ou serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação ou divulgação
publicitária;
VIII - destruir, inutilizar ou danificar matéria-prima ou mercadoria, com o fim de provocar alta de preço, em
proveito próprio ou de terceiros;
IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou
mercadoria, em condições impróprias ao consumo;
Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.
Esse caso é interessante, pois dificilmente há um crime com pena alta em que a multa vem como
pena alternativa.
Sobre esse caso, o STF raciocinou que, ao final do processo, a pessoa pode ser condenada à, apenas,
pena de multa. Então, entendeu que seria contraditório não dar a essa pessoa a suspensão do
processo, na medida em que, ao final, ela poderia ser condenada somente à multa.
Assim, segundo o STF, a suspensão será cabível ainda que a pena mínima seja superior a 1 ano, se a
multa for cominada alternativamente.
Já pelo princípio da disponibilidade, que é inerente à ação penal de iniciativa privada, também se
trata de um desdobramento lógico do princípio da oportunidade.
Ocorre que o princípio da disponibilidade incide no curso do processo, de modo que o querelante
pode dispor do processo em andamento
Hipóteses:
Perdão do ofendido: o perdão depende de aceitação do acusado;
a) Perempção: é uma espécie de negligência do querelante (que é uma causa de extinção da
punibilidade);
b) Desistência: em virtude de conciliação no procedimento dos crimes contra honra de competência
do juiz singular.
Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da desistência, a
queixa será arquivada.
Exemplo: Caso mensalão. Nas primeiras denúncias, não se tinha elucidado todos os
autores. As investigações prosseguiram, de modo a descobrir os demais coautores do
esquema de corrupção.
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Embora haja disponibilidade da ação privada, se a pessoa quer dar início a um processo de ação
privada, ela não pode escolher quem ela quer processar.
Desse princípio, portanto, pode-se extrair várias consequências, quais sejam:
Observação 1: Renúncia concedida a um dos acusados estende-se aos demais.
Observação 2: Perdão concedido a um dos querelados estende-se aos demais, desde que
haja aceitação.
O Ministério Público é o fiscal do princípio da indivisibilidade.
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o
Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
O Ministério Público não pode aditar a queixa-crime para incluir coautores, pois não tem
legitimidade para tanto. Deve, portanto, proceder da seguinte forma:
Verificando-se que a omissão do querelante foi voluntária, ou seja, que o querelante ofereceu queixa
contra apenas um dos coautores, apesar de ter consciência quanto ao envolvimento de outros, deve
ser reconhecida a renúncia tácita em relação àqueles que não foram incluídos na peça acusatória,
renúncia esta que se estende aos demais agentes, em virtude do princípio da indivisibilidade;
Verificando-se que a omissão do querelante não foi voluntária, deve o Ministério Público requerer
a intimação do querelante para incluir os demais coautores ou partícipes (fazer o aditamento). Se o
querelante permanecer inerte, há de se reconhecer renúncia tácita, que se estende a todos os
coautores do delito.
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Na hora da representação, não há necessidade de formalismo (STF, HC 86.122). Mas não deixa de
ser ideal registrar a representação no papel, por meio de um termo de representação ou até mesmo
nas declarações do ofendido.
HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. CRIMES SEXUAIS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR (ART. 214, CAPUT DO CPB).
PACIENTE CONDENADO A 7 ANOS DE RECLUSÃO, EM REGIME ABERTO. ALEGAÇÃO DE FALTA DA
REPRESENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. NULIDADE DO FEITO. NÃO OCORRÊNCIA.
INTENÇÃO INEQUÍVOCA DA VÍTIMA DE VER O FATO APURADO. FORMALISMO QUE DEVE SER AFASTADO.
PRECEDENTES DO STJ. ORDEM DENEGADA.
1. É firme o entendimento desta Corte, nas hipóteses de crimes sexuais, que a representação da ofendida ou de
seu representante legal prescinde de rigor formal, sendo suficiente a demonstração inequívoca da parte
interessada de que seja apurada e processada. Precedentes do STJ.
2. In casu, tal como anotado no parecer ministerial, a narração da violência sexual efetuada pela vítima à
autoridade policial e reproduzida em juízo, ostentando riqueza de detalhes, bem se presta a substituir a
reclamada representação, que deve ter aqui relevada a sua indispensabilidade. 3. Opina o
MPF pela denegação da ordem. 4. Ordem denegada.
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Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com
poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério
Público, ou à autoridade policial.
Súmula 594
OS DIREITOS DE QUEIXA E DE REPRESENTAÇÃO PODEM SER EXERCIDOS, INDEPENDENTEMENTE,
PELO OFENDIDO OU POR SEU REPRESENTANTE LEGAL.
Antes do novo Código Civil, quando o ofendido tinha 18 anos completos, tanto ele como seu
representante legal poderia oferecer representação.
Por isso, essa Súmula não tem mais aplicação, pois, ao completar 18 anos, a vítima já é plenamente
capaz, não podendo o direito ser exercido pelo representante legal.
b) O ofendido com menos de 18 anos, mentalmente enfermo ou retardado mental: a
legitimidade é do representante legal.
Na jurisprudência, é qualquer pessoa que de alguma forma seja responsável pelo menor.
Um menor de 17 anos foi vítima de lesão corporal leve e conta para o seu pai, que não faz nada no
prazo de 06 meses. Qual a solução?
Duas correntes:
Primeira corrente: Tratando-se de incapaz, o prazo decadencial não flui enquanto não cessar a
incapacidade;
Segunda Corrente: a decadência para o representante legal acarreta a extinção de punibilidade,
ainda que o menor não tenha completado 18 anos (LFG, Eugênio Pacelli).
c) Ofendido menor de 18 anos, mentalmente enfermo ou retardado mental, que não tenha
representante legal ou quando houver colisão de interesses: a solução é a nomeação de
curador especial.
Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e
não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa
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poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, pelo juiz competente para o processo penal.
Entretanto, vigora também para o curador o princípio da oportunidade, uma vez que ele não é
obrigado a oferecer queixa-crime ou representação. Caberá ao curador especial o juízo de
oportunidade ou conveniência sobre o oferecimento da queixa/representação (pode ser que ele
entenda que não será bom para o interesse do incapaz).
d) Ofendido maior de 16 anos e menor de 18 anos, porém emancipado: não tem capacidade
para oferecer representação ou queixa-crime.
O fato de ter havido a emancipação pelo casamento dá a essa vítima a legitimidade para oferecer a
queixa/representação?
Não. A emancipação na confere a essa vítima capacidade para oferecer
representação ou queixa-crime.
Mas, quem é o representante legal da pessoa nesse caso?
O problema dessa pessoa é que ela funciona como um incapaz, mas não possui representante legal
(seus pais não são representantes legais, pois ela emancipou).
Então, a doutrina propõe duas soluções:
nomeia-se um curador especial; ou
(2) aguarda-se que a vítima complete 18 anos, não havendo decadência, pois a pessoa, nesse caso,
não possui representante legal.
e) Morte da vítima: ocorre sucessão processual (o direito de oferecer representação ou
queixa-crime será transmitido ao CADI).
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito
de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Alguns doutrinadores entendem que seria CCADE, sendo esse “c” a mais do companheiro. Todavia,
isso seria uma analogia in malan partem.
Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e,
em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo,
entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a
abandone.
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Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito
de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em
que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo
para o oferecimento da denúncia.
A decadência tem natureza jurídica de causa extintiva de punibilidade e, portanto, é prazo penal
(art. 10 do Código Penal – o dia do início é levado em consideração).
EMENTA STJ, HC 11.291: HC. CRIMES DE IMPRENSA. DECADÊNCIA. DIREITO DE QUEIXA. ARTIGO 41, PARÁGRAFO
1o, DA LEI 5.250/67. JUÍZO INCOMPETENTE. INOCORRÊNCIA.
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1.Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, ainda que perante juízo incompetente, não há falar em
decurso do prazo decadencial. Precedentes do STF e do STJ. 2.Ordem denegada.
Diferentemente, a prescrição só será interrompida se a ação penal for recebida perante o juízo
competente.
Atenção para a Lei de Imprensa: Foi declarada inconstitucional pela ADPF 130. Todavia, não
se sabe se todos os examinadores estão atualizados. Segundo essa lei, o prazo decadencial
é de 03 meses e tem causas de interrupção.
O legislador usou a expressão renúncia de maneira equivocada, pois não se pode renunciar a um
direito que já foi exercido.
Na verdade, trata-se de retratação da representação, que pode ser feita até o recebimento da
denúncia, hoje somente em relação ao crime de ameaça, já que o estupro passou a ser de ação penal
pública incondicionada, conforme lei nº 13.718/2018, de 24/09/2018.
Essa audiência de retratação da representação só deve ser realizada se porventura a vítima tiver
manifestado prévia vontade de se retratar. (A audiência não é obrigatória).
É possível retratação da retratação da representação, ou seja, nova representação?
A maioria entende que é possível, desde que observado o prazo decadencial de seis meses.
Atenção! Para cada crime, é necessária uma representação. Se a vítima representou para
um crime, esta representação é feita para esse crime especificamente.
É claro que se houve mais de um autor desse crime, a representação valerá para todos os agentes.
Mas, se foi mais de um crime, a representação só valerá para o crime para o qual foi feita.
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Então, feita a representação em relação a um delito, o MP é livre para oferecer denúncia contra
todos os coautores e partícipes; mas o MP não pode oferecer denúncia em relação a outros crimes
que não foram objeto de representação. Neste sentido, STJ: HC 57.200.
EMENTA HC 57.200: CRIMINAL. HC. CALÚNIA. REPRESENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE MENÇÃO DOS ENVOLVIDOS.
DESNECESSIDADE. ATO INFORMAL. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
IMPROPRIEDADE DO MEIO ELEITO. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA NÃO-EVIDENCIADA DE PLANO. MATÉRIA
FÁTICA. ORDEM DENEGADA.
I. Hipótese em que a representação omite um dos envolvidos no evento delituoso.
II. A doutrina e a jurisprudência são uníssonas no sentido de não se exigir formalidades ao exercício do direito
de representação, predominando a ideia de informalidade do ato, sendo bastante a manifestação do desejo de
processar, conforme ocorrido in casu.
III. No momento em que se exerce o direito de representação, não se exige a narrativa completa do fato e nem
a indicação de todos os envolvidos no evento, dada a sua eficácia objetiva e subjetiva.
IV. "Se a representação é instituída em benefício da vítima e independe de formalidades, vale ela contra todos
os autores do ilícito, ainda que não constem seus nomes da peça, salvo se houve restrição expressa do ofendido."
V. Ausência de decadência do direito de representação, dada a regularidade da promoção exercida dentro do
prazo fatal de seis meses.
VI. Denúncia que imputou ao paciente a prática do delito de calúnia cometido contra Promotor de Justiça.
VII. A falta de justa causa para a ação penal só pode ser reconhecida quando, de pronto, sem a necessidade de
exame valorativo do conjunto fático ou probatório, evidenciar-se a atipicidade do fato, a ausência de indícios a
fundamentarem a acusação ou, ainda, a extinção da punibilidade, hipóteses não verificadas in casu.
VIII. O habeas corpus constitui-se em meio impróprio para a análise de alegações que exijam o reexame do
conjunto fático-probatório, se não demonstrada, de pronto, qualquer ilegalidadze nos fundamentos da exordial
acusatória.
IX. Ordem denegada.
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Ação Penal
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Há uma corrente minoritária na doutrina que entende que não é possível (Tourinho, Marcelo
Polastro Lima).
Porém, a posição majoritária é de que é possível até o oferecimento da denúncia (Luiz Flávio Gomes,
Eugênio Pacceli).
Art. 5°, LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;
A ação penal privada subsidiária da pública somente é cabível diante da inércia do Ministério Público,
isto é, só vai caber se o Parquet não fizer absolutamente nada.
É um mecanismo de controle do órgão ministerial, pois todo e qualquer poder precisa de um sistema
de controle.
A ação penal privada subsidiária da pública só é cabível nos crimes em que há uma vítima
determinada.
Exemplo: crimes como tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo, embriaguez ao
volante, não comportam ação penal subsidiária, pois são crimes de perigo, que não
possuem uma vítima determinada.
A vítima pode ser tanto uma pessoa física quanto uma pessoa jurídica.
Exemplo: determinada empresa foi vítima de um furto. Pode a pessoa jurídica, como
vítima, ajuizar a ação penal privada subsidiária da pública.
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Ação Penal
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Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1 o, sem que o representante do Ministério
Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação penal
privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses.
É prazo decadencial de seis meses, contados a partir da inércia do Ministério Público, segundo parte
final do art. 38: “ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da
denúncia”.
Se a vítima não oferecer a queixa subsidiária no prazo de seis meses, vai haver a extinção da
punibilidade?
Como a ação penal em sua essência é pública, a decadência do direito de queixa subsidiária não irá
acarretar a extinção da punibilidade, uma vez que o MP pode agir em qualquer tempo.
Essa decadência que não gera a extinção da punibilidade chama-se decadência imprópria.
Poderes do MP Na Ação Penal Subsidiária Pública
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva,
intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo
tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
Existe alguma ação penal que pode ser ajuizada por qualquer pessoa do povo?
A doutrina (Ada Pelergrini Grinover) costuma se referir a dois exemplos:
(1) Habeas Corpus: O primeiro deles é o habeas corpus, que visa a tutelar a liberdade de locomoção
(ir, vir e ficar). O HC pode ser impetrado por qualquer pessoa, capaz ou incapaz, nacional ou
estrangeira, física ou jurídica.
Observação: a pessoa jurídica não pode ser paciente de HC, mas ela pode impetrar o HC.
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Mas, cuidado! O habeas corpus não é uma ação penal de natureza condenatória (ninguém é
condenado no julgamento do HC). Nele, busca-se a tutela da liberdade de locomoção (ex. alvará de
soltura, salvo-conduto).
Crimes de Responsabilidade: Existe a faculdade de qualquer cidadão oferecer denúncia contra
agentes políticos por crimes de responsabilidade. Mas a pergunta que se faz é se isso aqui é um
processo penal condenatório. Essa ação não leva a um processo penal condenatório.
O crime de responsabilidade nada mais é do que uma infração político-administrativa. A palavra
“denúncia”, aqui, é utilizada como sinônimo de notitia criminis, ou seja, leva-se ao conhecimento do
parlamento a prática de uma infração político-administrativa, objetivando a aplicação de sanções
como perda de cargo, impeachment, etc.
Art. 14. É permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente da República ou Ministro de Estado, por crime
de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.
Quando a lei diz denúncia, não é propriamente uma denúncia, mas hipótese de notitia criminis.
Já crimes de responsabilidade não são crimes propriamente ditos, mas se referem à infração político-
administrativa.
Então, apesar de alguns doutrinadores citarem esses dois exemplos como ação penal popular,
quando se analisa a fundo os exemplos, percebe-se que eles, na realidade, não são ações penais
condenatórias.
Existem duas posições bem distintas na doutrina sobre o que seria ação penal adesiva:
Primeira posição (majoritária): no direito alemão, é possível que o MP ofereça denúncia em crimes
de ação penal privada, desde que visualize a presença de interesse público, hipótese em que o
ofendido pode se habilitar como assistente.
Segunda posição (minoritária): ocorreria nos casos de litisconsórcio ativo entre o MP, no crime de
ação penal pública, e o querelante, no crime de ação penal privada (crimes conexos).
É aquela ajuizada com o objetivo de se aplicar medida de segurança ao inimputável do art. 26, caput,
CP.
Pode ser que, durante as investigações policiais, já se chegue à conclusão de que o suspeito é
inimputável. Mas sabe-se que a medida de segurança só pode ser aplicável ao final do processo.
Então, mesmo assim, o promotor é obrigado a oferecer uma denúncia contra o agente e, pelo fato
de ele ser inimputável, pede-se a sua absolvição imprópria.
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Exemplo: furto normal e depois descobre-se que foi furto praticado contra ascendente,
que exige representação do ofendido.
Alguns crimes provocam problemas na hora de se definir a espécie da ação penal. É o que acontece
nos crimes contra a honra.
A regra é que tais delitos sejam de ação penal privada, pois atingem um interesse muito específico
da própria vítima.
Mas existem exceções, que são:
- Crimes contra a honra praticados durante a propaganda eleitoral: crime eleitoral (ação penal
pública incondicionada);
- Crimes militares contra a honra: ação penal pública incondicionada;
- Injúria real (art. 140, § 2°, CP): ofende-se a honra subjetiva de alguém através de vias de
fato, lesão corporal. Se praticada mediante vias de fato, a ação penal será privada; se
praticada mediante lesão leve, será pública condicionada à representação; se praticada
mediante lesão corporal grave ou gravíssima, será pública incondicionada;
- Crime contra a honra do Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro: ação
penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça;
- Crime contra a honra de servidor público em razão das funções;
Súmula 714 do STF:
É CONCORRENTE A LEGITIMIDADE DO OFENDIDO, MEDIANTE QUEIXA, E DO MINISTÉRIO PÚBLICO,
CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO, PARA A AÇÃO PENAL POR CRIME CONTRA A HONRA DE
SERVIDOR PÚBLICO EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES.
De acordo com a Súmula 714 do STF, de um lado se tem a ação penal privada e, de outro, a ação
penal pública condicionada à representação.
Apesar de ela dizer que a legitimação é concorrente, a legitimação é alternativa, pois
simultaneamente elas não caminham.
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Para o STF, uma vez oferecida à representação, o ofendido não mais poderá exercer o direito de
queixa. Portanto, trata-se de legitimação alternativa e não concorrente (I.P, 1939).
EMENTA INQ 1.939: I. Ação penal: crime contra a honra do servidor público, propter officium: legitimação
concorrente do MP, mediante representação do ofendido, ou deste, mediante queixa: se, no entanto, opta o
ofendido pela representação ao MP, fica-lhe preclusa a ação penal privada: electa una via...
II. Ação penal privada subsidiária: descabimento se, oferecida a representação pelo ofendido, o MP não se
mantém inerte, mas requer diligências que reputa necessárias.
III. Processo penal de competência originária do STF: irrecusabilidade do pedido de arquivamento formulado
pelo PGR, se fundado na falta de elementos informativos para a denúncia.
- Injúria racial (art. 140, § 3°, CP): Antes da Lei 12.033/09, a ação penal era privada. Depois da Lei
12.033/09, a ação penal tornou-se pública condicionada à representação.
Questão: No dia 30 agosto de 2009, foi cometido o crime de injúria racial, quando a ação
penal era privada. No dia 30 de setembro de 2009, entra em vigor a Lei 12.033/09, que
transformou a ação penal em pública condicionada. Qual a espécie de ação penal nesse
caso concreto?
Quando o crime for de ação penal é privada, o acusado pode ser beneficiado com um número maior
de causas extintivas da punibilidade (perdão, renúncia, perempção, decadência).
Dessa forma, com a nova lei, há apenas uma causa extintiva da punibilidade (decadência). Por isso,
trata-se de lei de natureza penal, sendo mais gravosa e não pode retroagir, razão pela qual a ação
penal será privada.
Não confundir o crime de injúria racial com o crime de racismo (ação penal pública incondicionada).
O crime de racismo está previsto na lei nº 7.716/89.
No racismo, há uma oposição indistinta a toda uma cor, raça, religião, etnia ou procedência nacional
e a sua ação penal é pública incondicionada.
Já na injúria racial, ofende-se uma pessoa específica e determinada, fazendo-se referência à sua cor,
raça, religião, etc. A injúria racial tem como
ação penal a ação pública condicionada à representação.
Exemplo: Vide STJ, RHC 19.166 – fez-se uma distinção entre o crime de racismo e o de
injúria real, entendendo que a ação penal do primeiro era pública incondicionada.
EMENTA: RHC 19.166: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HC. ART. 20, DA LEI Nº 7.716/89.
ALEGAÇÃO DE QUE A CONDUTA SE ENQUADRARIA NO ART. 140, §3º, DO CP. IMPROCEDÊNCIA. TRANCAMENTO
DA AÇÃO PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA. INOCORRÊNCIA.
I - O crime do art. 20, da Lei nº 7.716/89, na modalidade de praticar ou incitar a discriminação ou preconceito
de procedência nacional, não se confunde com o crime de injúria preconceituosa (art. 140, §3º, do CP). Este
tutela a honra subjetiva da pessoa. Aquele, por sua vez, é um sentimento em relação a toda uma coletividade
em razão de sua origem (nacionalidade).
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II - No caso em tela, a intenção dos réus, em princípio, não era precisamente depreciar o passageiro (a vítima),
mas salientar sua humilhante condição em virtude de ser brasileiro, i.e., a idéia foi exaltar a superioridade do
povo americano em contraposição à posição inferior do povo brasileiro, atentando-se, dessa maneira, contra a
coletividade brasileira. Assim, suas condutas, em tese, subsumem-se ao tipo legal do art. 20, da Lei nº 7.716/86.
III – (...) In casu há o mínimo de elementos (v.g., prova testemunhal) que indicam possível participação dos
recorrentes no delito a eles imputado.
Writ denegado.
Em regra, a ação penal era Em regra, pública condicionada à Ação penal pública
privada. representação (art. 225 do incondicionada
CP)**.
Exceções:
Exceções:
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Observação 1: Violência real é o emprego de força física sobre o corpo da vítima, como
meio de constrangimento.
Observação 2: Ação penal extensiva: em crimes complexos, caso um dos crimes seja de
ação penal pública, o todo também será de ação penal pública.
Se o crime fosse praticado com violência presumida (contra menor), a ação seguia a regra – ação
privada.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
5.13. AÇÃO PENAL NO CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE COMETIDO COM VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
Art. 16, Lei 11.340/06 - Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta
Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
O artigo 16 fala em “ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida”. Por conta
desse dispositivo, no âmbito do STJ, vinha prevalecendo o entendimento de que os crimes de
violência doméstica dependiam de representação.
No julgamento do REsp 1.097.042, o STJ reuniu a 5ª e 6ª turma e passou a entender que os crimes
de lesão leve e lesão culposa dependeriam de representação.
Art. 41, Lei 11.340/06 - Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Antes da lei Maria da Penha, a violência contra a mulher era mensurada em cestas básicas, pois os
casos sempre paravam nos juizados.
Antes da lei dos juizados, a lesão leve e a lesão culposa eram crimes de ação penal pública
incondicionada.
A partir da edição d artigo 88, da Lei 9.099 que transformou a ação penal desses crimes em pública
condicionada a representação.
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Se o artigo 41 diz que a lei 9.099/95 não se aplica à violência contra a mulher, poder-se-ia entender
que esse crime seria de ação penal pública incondicionada, pois o artigo 88 também não se aplicaria
ao caso.
Foi exatamente essa a decisão recente do STF, na ADI 4.424 e na ADC 19.
Informativo 657, STF: Pugnou-se pela constitucionalidade da lei Maria da Penha, em razão da adesão do Brasil
em inúmeros tratados internacionais de proteção à mulher (Convenção de Belém do Pará, Convenção sobre a
eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, etc.). Diante da realidade de violência contra
a mulher existente no país, faz-se necessária uma proteção específica para a mulher, corrigindo-se um problema
social. Trata-se de uma política de ação afirmativa (fundada no princípio da isonomia e dignidade da pessoa
humana, sem prejuízo da efetiva proteção dos direitos fundamentais). Ao legislador é dado fazer uma leitura
discricionária do princípio da igualdade. Por isso, ao agressor não serão concedidos os institutos da suspensão
condicional do processo, transação civil ou penal. Ademais, os delitos de lesão corporal leve e culposa contra a
mulher independem de representação da ofendida, processando-se mediante ação penal pública
incondicionada.
Informativo 654, STF: O Plenário julgou procedente a ADC ajuizada pelo Presidente da República, para assentar
A CONSTITUCIONALIDADE da Lei Maria da Penha:
Sobre o questionamento ligado ao princípio da isonomia, asseverou o STF que essa diferenciação com base no
sexo não é desproporcional ou ilegítima, visto que a mulher é eminentemente vulnerável no tocante a
constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado. Ademais, é forçoso perceber a
existência de um movimento legislativo claro no sentido de se criarem microssistemas próprios, para conferir
tratamento distinto e proteção especial a sujeitos de direito em situação de hipossuficiência, como o Estatuto
do Idoso e o ECA (análise do art.1º, da lei).
Analisando-se o art.33, da lei, que fala sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e familiar contra a
mulher e da acumulação, pelas varas criminais, das competências cível e criminal para conhecer e julgar as
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher enquanto os juizados não forem
criados, entendeu-se que esse dispositivo não violaria o art.96, I, a, CF, nem o art.125, §1º, CF, já que a lei Maria
da Penha estabelece uma FACULDADE de criação dos juizados e a competência cumulativa de ações cíveis e
criminais envolvendo violência doméstica contra a mulher. Ademais, esse artigo 33 não estaria criando varas
judiciais, nem definindo limites de comarcas, tampouco estabelecendo número de magistrados a serem
alocados nesses juizados de violência doméstica e familiar. No que tange ao art.41, que fala da não aplicação
da lei dos juizados especiais aos casos da Lei Maria da Penha, também declarou-se a constitucionalidade desse
artigo, mencionando-se que esse dispositivo se coaduna com o princípio da igualdade e atende à ordem jurídico-
constitucional, dando efetividade ao art.226, §8º, CF. Entendeu-se que deixar que o crime de violência doméstica
fosse de ação penal pública condicionada a representação levaria a muitas mulheres não representar ou a se
retratar da representação, o que esvaziaria o conteúdo da proteção estatal. Fundamentou-se com a necessidade
de intervenção estatal acerca do problema, baseada na dignidade humana, na igualdade, e na vedação a
qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais. Assim, em se tratando de lesões
corporais, inclusive de natureza leve ou culposa, praticadas com violência doméstica, a ação penal é pública
incondicionada.
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A mesma decisão foi dada na análise da lei feita em sede de uma ADI proposta pelo PGR. Nessas
duas decisões, o STF entendeu que o artigo 41, da Lei Maria da Penha, é plenamente constitucional,
sobretudo por conta do art.226, §8º, da CF.
Art.226, §8º, CF - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Além de firmar a constitucionalidade do artigo 41, de modo a proteger a mulher, o STF entendeu,
também, que a ação penal é pública incondicionada.
MAS, ATENÇÃO!!! ISSO É APENAS PARA OS CRIMES DE LESÃO LEVE E LESÃO CULPOSA!!
No caso do crime de ameaça praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, a ação
penal continua a ser aquela prevista no Código Penal, ou seja, ação penal pública condicionada à
representação.
Isso pode ficar estranho ao intérprete, pois no caso de lesão leve e culposa a ação é pública
incondicionada, mas o estupro tem ação penal condicionada à representação.
Ocorre que deve ser compreendido que o STF deu a decisão sobre a lesão leve pois havia uma
contradição entre os artigos 16 e 41 da Lei.
O STF não pode “do nada” mudar a ação penal dos crimes se não houver dúvida na lei. Deve-se
respeitar os princípios da legalidade e da divisão dos poderes (o STF não poderia modificar a espécie
de ação penal de todos os crimes praticados no contexto de violência doméstica e familiar contra a
mulher).
Deve-se, portanto, acompanhar a jurisprudência, pois, provavelmente, o STJ vai acabar alterando o
seu entendimento para adequá-lo ao pensamento do STF.
ADI 4.424: Consequências. 1) A ação penal nos crimes de lesão corporal leve e culposa nas situações previstas
na LMP é incondicionada; 2) É constitucional o art. 33 da LMP;3) É constitucional o art. 41 da LMP.
Renúncia é o ato unilateral e voluntário por meio do qual a pessoa legitimada ao exercício da ação
penal privada abre mão do seu direito de queixa.
Tem natureza jurídica de causa extintiva da punibilidade em relação aos crimes de ação penal
exclusivamente privada e privada personalíssima.
A renúncia está ligada diretamente ao princípio da oportunidade ou conveniência.
A renúncia é cabível enquanto não oferecida a queixa.
A renúncia é considerada um ato unilateral e não depende de aceitação.
Cabe renúncia quanto à representação?
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A renúncia na representação só é cabível quando há composição civil dos danos (Lei 9.099/95, art.
74).
A renúncia pode ser expressa (declaração inequívoca) ou tácita (a prática de ato incompatível com
a vontade de processar.
O perdão do ofendido é ato bilateral e voluntário, por meio do qual, no curso do processo, o
querelante resolve perdoar o acusado, com a conseqüente extinção da punibilidade nas hipóteses
de ação penal privada e ação penal privada personalíssima.
O perdão pode ser concedido até o trânsito em julgado da ação penal condenatória.
§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
Aqui vige o princípio da disponibilidade, uma vez que o perdão é concedido durante o processo.
O perdão do ofendido não se confunde com o perdão judicial. Tanto este quanto aquele são causas
extintivas da punibilidade, conforme art. 107, incisos V e IX, do CP.
Princípio da indivisibilidade: Perdão concedido a um dos acusados estende-se ao demais, mas desde
que haja aceitação.
O perdão é ato bilateral, pode ser expresso ou tácito e depende de aceitação e ela pode ser expressa
ou tácita. Vale ressaltar que o silêncio significa aceitação tácita, conforme art. 58 do CPP.
Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro
de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação.
5.16. PEREMPÇÃO
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A perempção não se confunde com a decadência. Decadência é a perda do direito de dar início à
ação penal privada, enquanto que perempção é a perda do direito de prosseguir com o processo.
Causas de perempção (Rol taxativo, previsto no art. 60 do CPP).
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para
prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo,
ressalvado o disposto no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que
deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
Não cabe perempção na ação penal privada subsidiária da pública, pois ela pode ser iniciada por
denúncia e não somente mediante queixa.
I – Precisa intimar o querelante ou não? Prevalece o entendimento de que o juiz deve intimar
o querelante.
II – Prevalece o entendimento de que não há necessidade de intimação de cada um dos
sucessores.
III – Qual é a consequência da ausência do querelante em crimes contra a honra? Tanto
doutrina como jurisprudência entendem que essa ausência não é causa de perempção.
A ausência do querelante à audiência de conciliação (que só existe nos casos de crimes contra a
honra) demonstra que ele não tem interesse na conciliação. Essa ausência não demonstra
negligência nem desídia. Então, ela não é causa de perempção.
IV - Qual é a consequência do advogado do querelante na audiência una de instrução e
julgamento? Ocorre a perempção, uma vez que não há como, sem advogado, fazer pedido de
condenação nas alegações finais. E, se não houve pedido de condenação nas alegações orais,
há uma causa de perempção.
V - Por razões obvias, se a pessoa jurídica não deixar sucessores, não haverá como se
prosseguir com a ação penal.
PEÇA ACUSATÓRIA
A peça acusatória é a denúncia na ação penal pública e a queixa-crime na ação penal privada. Essas
duas petições, em regra, devem ser apresentadas por escrito.
É possível que haja um único processo com duas peças acusatórias?
É possível desde que se visualiza uma conexão ou continência entre um crime de ação penal pública
e outro crime de ação penal privada.
É possível a apresentação dessa peça acusatória oralmente?
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Em regra, essas duas peças acusatórias são apresentadas por escrito. Contudo, na Lei dos Juizados,
essas duas peças acusatórias podem ser apresentadas oralmente, sendo reduzidas a termo pelo
escrivão.
Requisitos:
Art. 41, CPP - A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando
necessário, o rol das testemunhas.
O primeiro requisito da peça acusatória é a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias.
Na exposição do fato delituoso, é importante esclarecer o que aconteceu, como aconteceu, quem
estava envolvido, contra quem, quando, onde, por que, e assim por diante.
Observações quanto à exposição do fato delituoso:
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Mas, no âmbito dos tribunais, prevalece o entendimento de que agravantes e atenuantes podem
ser reconhecidas pelo juiz mesmo que não tenham constado da peça acusatória. Fundamentam seu
entendimento no art.385, do CPP.
Art. 385, CPP - Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério
Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido
alegada.
Quanto às atenuantes, o CPP não fala, mas se o juiz pode conhecer HC de ofício, é obvio que ele
pode reconhecer atenuantes.
Ademais, na visão dos tribunais superiores, a inépcia da peça acusatória deve ser arguida até a
sentença, sob pena de preclusão. Se a pessoa não falou nada sobre a inépcia é porque ela conseguiu
se defender. Além disso, se a pessoa não fala nada, ocorre preclusão temporal.
A denúncia genérica é aquela que não aponta a conduta de cada um dos denunciados (ex. “os cinco
acusados praticaram o crime de sonegação de contribuição previdenciária”).
Por outro lado, há situações em que não é possível individualizar a conduta de cada um. Exemplo:
quatro pessoas encapuzadas assaltaram um banco. No momento da denúncia não dá para
individualizar quem é quem e descrever as suas condutas especificamente.
Nos crimes societários há uma especificidade com relação à denúncia genérica:
Denúncia genérica em crimes societários - para os tribunais superiores, o simples fato de ser sócio,
gerente ou administrador não permite a instauração de processo penal pelos crimes praticados no
âmbito da sociedade se não se comprovar, ainda que minimamente, a relação de causa e efeito
entre as imputações e a função do denunciado na sociedade, sob pena de se admitir verdadeira
responsabilidade penal objetiva. Isto porque, nem sempre as pessoas que estão no contrato social,
por exemplo, são as pessoas que estão de fato na administração da empresa e que praticaram os
fatos delituosos. Tem que demonstrar que a pessoa constava do contrato social e que realizava atos
de gerência e administração da empresa. (ex. empresas familiares). Vide STJ, HC 24.239.
Paccelli faz uma distinção, neste ponto sobre crimes societários, entre acusação genérica e acusação
geral.
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Ela envolve a colocação de dados que individualizam a pessoa do acusado, como, por exemplo, o
nome, filiação, nascimento, número de CPF, RG, nacionalidade, estado civil, e assim por diante.
Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não
retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do
julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo,
nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.
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Todavia, em uma cidade como SP, deve-se tomar cuidado com homônimos e com dados
qualificativos realmente capazes de identificar o indivíduo certo.
Assim que for descoberta a verdadeira identidade do acusado, é possível a retificação da peça
acusatória. qualificação, dificilmente o juiz vai receber a denúncia.
Geralmente a denúncia sem a qualificação será possível quando essa pessoa estiver presa.
Observação: Lembrar que se a pessoa não é identificada, está foragida e ainda está
cometendo crimes, será possível a decretação de sua prisão preventiva, a fim de se fazer
a sua identificação. Se o agente for preso, uma vez obtida a identificação, ele poderá ser
solto.
Art.313, parágrafo único, CPP - Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a
identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso
ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida.
É a indicação do dispositivo legal que descreve o fato criminoso praticado pelo agente. Não se trata
de requisito obrigatório, pois o acusado defende-se dos fatos que lhe são atribuídos,
independentemente da classificação.
No processo penal são sempre possíveis a emendatio libelli e a mutatio libelli.
Emendatio libelli ocorre quando o juiz, sem modificar a descrição do fato contido na peça acusatória,
atribui a ele classificação diversa, mesmo que tenha que aplicar pena mais grave.
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição
jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave.
Mutatio libelli ocorre quando, durante a instrução processual, surge prova de elementar ou
circunstância não contida na peça acusatória. Nesse caso, o Ministério Público deve fazer o
aditamento, seguido da oitiva da defesa.
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em consequência
de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o
Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver
sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito
oralmente.
Esse rol de testemunhas só deve ser apresentado se necessário. Muitos crimes não dependem de
prova testemunhal (ex. crimes tributários; ex. sonegação de imposto de renda).
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Exemplo: um crime de roubo, oito testemunhas; dois crimes de roubo, até dezesseis,
desde que não praticados na mesma ocasião. Se estiverem interligados, praticados na
mesma ocasião, apenas oito testemunhas.
Nesse número de testemunhas, não são computadas as testemunhas referidas, as que não prestam
compromisso e aquelas que nada souberem acerca da causa.
Para a acusação, o número de testemunhas varia de acordo com o número de ações ou omissões.
Exemplo: determinada pessoa assalta uma padaria e logo em seguida assalta uma casa
lotérica. Existem duas ações delituosas; então seriam cabíveis dezesseis testemunhas,
sendo oito para cada fato.
Atenção! Não são oito testemunhas por crime, mas por ação (fato)!
Exemplo:. Agente entra no ônibus e aponta uma arma para duas pessoas, pedindo
dinheiro. Aqui, houve dois crimes de roubo, mas apenas uma ação. Então, o número de
testemunhas é oito.
Por outro lado, para a defesa, apesar de também haver controvérsia, o ideal é que esse número
varie de acordo com o número de ações e omissões, mas POR ACUSADO. Nos exemplos acima,
teríamos:
Exemplo do assalto na padaria e na casa lotérica: Para a defesa, cada acusado teria direito a dezesseis
testemunhas.
Tem doutrinador que diz que o número de testemunhas é o mesmo para acusação e defesa. Porém,
segundo Renato Brasileiro, quando o processo tem mais de um réu, esses fatos só estão sendo
apurados no mesmo processo por uma razão de economia e celeridade processual. Então, segundo
esse entendimento, não se pode prejudicar a defesa por questões de política processual penal. Por
conseguinte, o melhor entendimento seria do número de ações ou omissões, por acusado.
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Ação Penal
Prof. Juliano Atoji
A peça deve ser redigida em português claro para que as pessoas tenham capacidade de entender,
até porque o processo é público.
A ausência da assinatura não enseja a rejeição da peça acusatória, caso não haja dúvida quanto a
sua autenticidade.
Essa procuração é uma procuração com poderes especiais. A peculiaridade dessa procuração é que
ela deve fazer menção ao nome do querelado e ao fato delituoso. Quando se fala em menção do
fato delituoso, os tribunais entendem que basta a indicação do dispositivo legal.
Art. 44, CPP - A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento
do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos
dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.
Além disso, eventuais vícios da procuração podem ser supridos a qualquer momento, antes da
sentença condenatória, segundo o STJ e o STF (com base no art.568, CPP).
Art. 568, CPP - A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada,
mediante ratificação dos atos processuais.
PRESO SOLTO
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Ação Penal
Prof. Juliano Atoji
O prazo só pode ser contado em horas se houver ciência da hora da intimação. Caso contrário, esse
prazo deverá ser contado em dias.
A denúncia e a queixa também serão rejeitas quando não cumprir com os requisitos do artigo 395
do Código de Processo Penal, já estudadas as condições para a ação penal e os pressupostos
processuais.
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. (Revogado). (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Pressupostos processuais
Conforme construção pela teoria geral do processo, os pressupostos processuais são de existência
ou de validade.
Os pressupostos de existência subdividem-se em subjetivos e em objetivos.
- Pressupostos de existência subjetivos: órgão jurisdicional e da capacidade de ser parte (aptidão
de ser sujeito processual).
- Pressuposto de existência objetivo: é a própria demanda (ato que instaura um processo, ato de
provocação).
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As causas extintivas da punibilidade relacionadas à ação privada são perempção, perdão e renúncia.
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
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