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1 - Conceito .......................................................................................................................

3
2 - Natureza Jurídica .......................................................................................................... 3
3 - Lide No Processo Penal ................................................................................................. 3
4 - Condições Da Ação........................................................................................................ 4
4.1 - Novo Código De Processo Civil E As Condições Genéricas Da Ação Penal ................................ 5
4.2 - Possibilidade Jurídica Do Pedido ............................................................................................... 5
4.3 - Legitimidade Para Agir .............................................................................................................. 6
4.4 - Interesse De Agir ....................................................................................................................... 8
4.5 - Justa Causa .............................................................................................................................. 10
4.6 - Condições Específicas Da Ação Penal...................................................................................... 10
4.7 - Condições Da Ação (Condições De Procedibilidade) X Condições De Prosseguibilidade ........ 11
4.8. Condição Da Ação X Condição Objetiva De Punibilidade ......................................................... 13
5 - CLASSIFICAÇÕES DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS .............................................. 14
5.1 - Ação Penal Pública .................................................................................................................. 14
5.2 - Ação Penal De Iniciativa Privada ............................................................................................ 17
5.3. Princípios Da Ação Penal .......................................................................................................... 18
5.4. Representação Do Ofendido .................................................................................................... 28
5.5 - Requisição Do Ministro Da Justiça .......................................................................................... 34
5.6 - Ação Penal Privada Subsidiária Da Pública ............................................................................. 35
5.7 - Ação Penal Popular ................................................................................................................. 36
5.8. Ação Penal Adesiva .................................................................................................................. 37
5.9. Ação De Prevenção Penal ......................................................................................................... 37
5.10. Ação Penal Secundária ........................................................................................................... 38
5.11. Ação Penal Nos Crimes Contra A Honra ................................................................................. 38
5.12. Ação Penal Nos Crimes Contra A Dignidade Sexual ............................................................... 40
5.13. Ação Penal No Crime De Lesão Corporal Leve Cometido Com Violência Doméstica E
Familiar Contra A Mulher ................................................................................................................ 41
5.14. Renúncia Ao Direito De Queixa .............................................................................................. 43
5.15. Perdão Do Ofendido ............................................................................................................... 44
5.16. Perempção.............................................................................................................................. 44
6.1 - Exposição Do Fato Criminoso Com Todas As Suas Circunstâncias.......................................... 46
6.2. Qualificação Do Acusado Ou Esclarecimentos Pelos Quais Se Possa Indentificá-Lo ............... 48

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6.3 - Classificação Do Crime ............................................................................................................ 49


6.4. Rol De Testemunhas ................................................................................................................. 49
6.5. Redação Em Português ............................................................................................................ 51
6.6. Peça Acusatória Subscrita Pelo Promotor Ou Pelo Advogado Do Querelante ........................ 51
6.7. Procuração Da Queixa-Crime ................................................................................................... 51
6.8. Prazo Para O Oferecimento Da Peça Acusatória ..................................................................... 51
6.9. Consequências Da Inércia Do Ministério Público ..................................................................... 52
6.11. Causas Extintivas Da Punibilidade ......................................................................................... 53

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1 - CONCEITO
Direito de ação é o direito público subjetivo de se pedir ao estado-juiz a aplicação do direito objetivo
ao caso concreto. O estado traz para si o exercício da jurisdição.
A partir disso, o Estado precisa colocar à sua disposição um instrumento para permitir a aplicação
dessa jurisdição. Esse instrumento é o direito de ação.
Ação penal é o direito público subjetivo de pedir do Estado-juiz a aplicação do direito objetivo a um
caso concreto.
O fundamento constitucional do direito de ação encontra-se no artigo 5°, XXXV, da CF:
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

2 - NATUREZA JURÍDICA
A ação penal é trabalhada no Código Penal (artigos 100 a 106). O direito de ação também é tratado
pelo Código de Processo Penal (artigos 24 a 62).
Se for de natureza processual penal, o critério de aplicação é o critério da aplicação imediata,
segundo o art. 2º do CPP (“tempus regit actum”). Por outro lado, se for de natureza material, o
critério é o da irretroatividade da lei penal mais gravosa.
Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência
da lei anterior.

O direito de ação tem natureza material. A ação penal tem estreita relação com o direito de punir
do Estado, principalmente no que toca às causas extintivas da punibilidade. Aplica-se o Princípio da
Irretroatividade da Lei Penal Mais Gravosa (art. 5º, XL, CF).
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

3 - LIDE NO PROCESSO PENAL


Lide é um conflito de interesses qualificado por uma pretensão resistida.
Apesar de alguns doutrinadores referirem-se à lide processual penal, tal conceito está tecnicamente
errado. O objeto do processo penal não é a lide, mas a verificação da imputação de um fato
criminoso.
No processo penal não há um conflito de interesses propriamente dito, haja vista que ao Estado não
interessa a condenação de um inocente. O processo penal é um instrumento para a proteção do
indivíduo contra o Estado.
No processo penal não há pretensão resistida, haja vista que, ainda que o acusado não queira
oferecer resistência, deverá haver uma defesa técnica obrigatória. Toda pretensão processual penal
já nasce resistida por excelência.

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4 - CONDIÇÕES DA AÇÃO
Apesar do direito de ação ser abstrato, o ordenamento jurídico impõe o preenchimento de certas
condições para o seu exercício regular, as quais estão instrumentalmente ligadas à pretensão. Em
outras palavras, funcionam como requisitos para que se possa obter um provimento jurisdicional.
Essas condições devem ser analisadas pelo juiz por ocasião do oferecimento da peça acusatória. Se
o juiz verificar a ausência de uma dessas condições da ação, a solução será a rejeição da denúncia.
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).

II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719,
de 2008).
Por outro lado, se isso não ocorrer por ocasião do juízo de admissibilidade, é perfeitamente possível
o reconhecimento da nulidade absoluta do processo em qualquer instância, uma vez que, em se
tratando de matéria de ordem pública, não há de se falar em preclusão.
O Código de Processo Civil consagrou expressamente a concepção eclética sobre o direito de ação,
segundo a qual o direito de ação é o direito ao julgamento do mérito da causa, que fica condicionado
ao preenchimento de determinadas condições.
Assim, para o professor Pacceli, deve-se aplicar subsidiariamente o artigo 267, VI, do CPC, ocorrendo
a extinção do processo sem julgamento do mérito, por ausência de uma das condições da ação.
Teoria da Asserção: (MINORITÁRIA) para Alexandre Freitas Câmara, as condições da ação devem ser
aferidas no momento da admissibilidade da inicial, tomando-se por referência, em abstrato, o que
foi narrado pelo titular da ação (“in status assertiones”).
Percebendo a carência da ação, o juiz rejeita a inicial (art. 395, II, CPP). Presentes as condições, o juiz
receberá a demanda devendo instruir a causa e julgar o mérito, restando prejudicado a discussão
sobre as condições da ação.
Para a doutrina, o juiz não pode fazer aprofundamento probatório no momento da análise das
condições da ação. Desta maneira, as condições da ação exercem uma clara função de filtro
processual.
Se houver necessidade de um aprofundamento das condições, entende a doutrina que, a partir
desse momento, já se ingressa na questão de mérito.

Exemplo: após toda instrução probatória, resta devidamente comprovado que o réu
jamais participou de um crime. Não seria recomendável que o juiz reconhecesse a
ilegitimidade da parte e extinguisse o processo sem apreciação do mérito. Muito melhor
uma sentença absolutória reconhecendo essa condição.

Da mesma maneira, o reconhecimento da justa causa posterior. Reconhecido, posteriormente, que


não há elementos suficientes, muito melhor que o juiz absolva do que extinguir sem julgamento do
mérito.

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As condições da ação penal podem ser de duas espécies:


- Condições genéricas: devem estar presentes em todo e qualquer ação penal. Prevalece o
entendimento de que as condições da ação penal são as mesmas do processo civil, excetuando-se a
justa causa.
- Condições específicas: somente serão necessárias apenas em relação a algumas infrações penais.
Alguns doutrinadores também chamam as condições da ação de condições de procedibilidade.

4.1 - NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E AS CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL

O antigo Código de Processo Civil, fazia menção expressa a existência de três condições da ação:
possibilidade jurídica do pedido; interesse de agir e legitimidade das partes. Isto em paralelo aos os
elementos da ação: partes, causa de pedir e pedido.
Por seu turno, o atual Código de Processo Civil expurgou, ao menos expressamente, a previsão das
“condições da ação”. Não obstante, manteve no seu texto, no bojo de dispositivos (artigo 485, inciso
VI) para exame do juízo de admissibilidade para enfrentamento do mérito, o interesse de agir e a
legitimidade das partes.
A existência das três espécies das condições da ação decorre dos primeiros estudos processuais de
Liebmann, época em que foi editado o Código de Processo Civil. Ocorre que, com o decorrer do
tempo, ele reformulou seu entendimento, defendendo que a possibilidade jurídica do pedido estaria
inserido dentro do interesse de agir.
Já o entendimento majoritário dos processualistas é que a possibilidade jurídica do pedido seria um
exame do mérito da questão. Em outras palavras, não sendo o pedido possível, obviamente haveria
um exame exauriente da questão.
Feitas as construções doutrinárias, o fato é que o Código de Processo Civil de 2015 não contemplou
a possibilidade jurídica do pedido, a qual será analisada no presente estudo tão-somente para
questões elucidativas de toda construção processual penal.

4.2 - POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO

O pedido deve se referir a uma providência em abstrato admitida pelo direito objetivo. Quando,
desde logo, se afigura inviável o atendimento em absoluto da pretensão, seja porque a ordem
jurídica não prevê tal providência, seja porque o ordenamento jurídico proíba a manifestação judicial
sobre a questão, o pedido deveria ser tido como impossível e indeferido de plano, a fim de se evitar
persecuções penais levianas.
A doutrina citava alguns exemplos de pedidos juridicamente impossíveis: oferecimento de denúncia
de fato atípico; a despeito de um fato impeditivo (ex: ausência de decisão final em procedimento
administrativo de lançamento nos crimes contra a ordem tributária); peça acusatória sem o
implemento de condição específica (ex: representação do ofendido).

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No entanto, a doutrina processualista penal sempre se inclinou para o enfrentamento da


possibilidade jurídica do pedido como questão do mérito da ação, já que o enfrentamento como
condição da ação fere uma premissa básica do direito penal: o acusado se defende dos fatos
imputados, pouco importando o pedido formulado pelo acusador.
Assim, como exemplo, ainda que o acusador, ao final da peça acusatória, peça a pena de morte do
indivíduo para um crime comum, este erro grotesco não tem o condão de tornar nula toda peça
acusatória.
Da mesma maneira, caso o Ministério Público peça a condenação na primeira fase do procedimento
referente aos crimes dolosos contra a vida ao invés da pronúncia, isto será tratada como uma mera
irregularidade processual, facilmente sanada, sem anular toda instrução.
De outra banda, fica difícil sustentar que uma decisão que reconhece a atipicidade material do fato
não é revestida de coisa julgada. Isto porque, se um mero arquivamento nessa condição faz coisa
julgada material, por que negar o mesmo efeito no processo?
Pelo menos em tese, o fato narrado na peça acusatória deve referir-se à conduta típica, ilícita e
culpável. Ex: princípio da insignificância que afasta a tipicidade material.

4.3 - LEGITIMIDADE PARA AGIR

Trata-se da pertinência subjetiva da ação, ou seja, é a situação prevista em lei para o sujeito propor
a demanda ou ocupar o polo passivo da referida demanda.
A legitimidade para compor o polo ativo da ação penal depende da espécie de ação penal: a ação
penal pública é de titularidade do Ministério Público (artigo 129, inciso I, da CF), ao passo que a ação
penal de iniciativa privada compete ao ofendido ou ao seu representante legal.

Exemplo: Um candidato a Deputado Federal, durante a propaganda eleitoral, resolve


praticar um crime de calúnia contra outro candidato a Deputado Federal. O primeiro
resolve propor uma queixa-crime contra o segundo. Todavia, crime de calúnia praticado
durante a propaganda eleitoral é um crime eleitoral e a ação penal, em regra (em todos
os crimes eleitorais), é pública incondicionada. Nesse caso, portanto, não tem
legitimidade para ocupar o polo ativo.

Quem tem legitimidade para figurar no polo passivo da ação penal é o provável autor do fato
delituoso, com mais de dezoito anos, já que a própria Constituição estabelece que os menores de
dezoito anos são penalmente inimputáveis (artigo 228).
- Legitimidade da Pessoa Jurídica no processo penal: pode ser analisada no polo ativo e no polo
passivo.
A pessoa jurídica tem capacidade de ocupar o polo ativo de uma ação penal, a exemplo de quando
é vítima de um crime de difamação.

Por outro lado, a pessoa jurídica também pode figurar no polo passivo de ação penal.

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Os Tribunais, por muito tempo, aplicaram a Teoria da Dupla Imputação e admitiram o oferecimento
de denúncia em face de pessoas jurídicas pela prática de crimes ambientais, desde que houvesse a
imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou benefício. Nesse
sentido, STF, HC 92.921.
Atualmente, no entanto, os Tribunais Superiores mudaram seu entendimento. Agora, é possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome.
Caso concreto: O MPF formulou denúncia por crime ambiental contra a pessoa jurídica Petrobrás e
também contra “L” (superintendente de uma refinaria). A denúncia foi recebida. No entanto, o
acusado pessoa física foi absolvido sumariamente, prosseguindo a ação penal apenas contra a
pessoa jurídica. Como a pessoa física foi afastada da ação penal, a defesa da Petrobrás, invocando a
teoria da dupla imputação (4ª corrente), sustentou que a pessoa jurídica deveria também ser,
obrigatoriamente, excluída do processo. O STJ, invocando precedente do STF, não acolheu a
argumentação. Segundo o entendimento atual da jurisprudência, é possível a responsabilização
penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização
concomitante da pessoa física que agia em seu nome.
Em suma: É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais
independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome.
A jurisprudência não mais adota a chamada teoria da "dupla imputação". STJ. 6ª Turma. RMS
39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 (Info 566). STF. 1ª Turma.
RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013 (Info 714).

LEGITIMIDADE ORDINÁRIA E EXTRAORDINÁRIA NO PROCESSO PENAL


Art. 6o Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei.

Legitimidade ordinária é a regra. Ocorre quando alguém age em nome próprio na defesa de
interesse próprio. É o que acontece na ação penal pública, uma vez que o Ministério Público é o
titular da ação penal pública por expressa disposição constitucional.
Excepcionalmente, alguém pode agir em nome próprio na defesa de interesse alheio, que é
conhecido como legitimidade extraordinária. Somente ocorre quando há autorização legal.
Exemplos de legitimação extraordinária:
a) Ação penal de iniciativa privada: O direito de punir pertence ao Estado, que transfere ao
ofendido a legitimidade para ingressar em juízo.
b) Ação civil ex delicto proposta pelo MP em favor de vítima própria (art. 68 do CPP): é a ação
indenizatória do delito.
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1o e 2o), a execução da sentença
condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público.

Observação: Para o STF, o artigo 68 do CPP é dotado de inconstitucionalidade progressiva,


isto é, enquanto não houver Defensoria Pública na Comarca, é possível que o Ministério
Público ingresse com ação civil ex delicto em favor de vítima pobre.

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EMENTA RE 135.328: LEGITIMIDADE - AÇÃO "EX DELICTO" – MP - DEFENSORIA PÚBLICA – ART.68 DO CPP –
CF/88. A teor do disposto no artigo 134 da CF, cabe à Defensoria Pública, instituição essencial à função
jurisdicional do Estado, a orientação e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º,
LXXIV, da Carta, estando restrita a atuação do MP, no campo dos interesses sociais e individuais, àqueles
indisponíveis (parte final do art.127, da CF).
INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA - VIABILIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DE DIREITO ASSEGURADO
CONSTITUCIONALMENTE - ASSISTÊNCIA JURÍDICA E JUDICIÁRIA DOS NECESSITADOS -SUBSISTÊNCIA
TEMPORÁRIA DA LEGITIMAÇÃO DO MP. Ao Estado, no que assegurado constitucionalmente certo direito,
cumpre viabilizar o respectivo exercício. Enquanto não criada por lei, organizada - e, portanto, preenchidos os
cargos próprios, na unidade da Federação - a Defensoria Pública, permanece em vigor o artigo 68 do CPP,
estando o MP legitimado para a ação de ressarcimento nele prevista. Irrelevância de a assistência vir sendo
prestada por órgão da Procuradoria Geral do Estado, em face de não lhe competir, constitucionalmente, a
defesa daqueles que não possam demandar, contratando diretamente profissional da advocacia, sem prejuízo
do próprio sustento.

c) Nomeação de curador especial:


Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido
por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o
processo penal.

4.4 - INTERESSE DE AGIR

A ideia de interesse de agir está relacionada à utilidade da prestação jurisdicional que se pretende
obter com a movimentação do aparato judicial. Deve-se demonstrar, assim, a necessidade de se
recorrer ao Poder Judiciário para obtenção do resultado pretendido.
Deve ser analisado sob três aspectos distintos: necessidade, adequação e utilidade.
A necessidade é presumida no processo penal, pois não há pena sem processo, em obediência ao
mandamento constitucional do devido processo legal.
De igual modo, a adequação não tem tamanha importância no processo penal, pois não há
diferentes espécies de ações penais condenatórias. Ademais, mesmo que não seja feita a adequação
correta, há os institutos do emendatio libelli e mutatio libelli.
O melhor exemplo sobre e essa adequação diz respeito a uma ação penal não condenatória, que é
o habeas corpus, uma vez que o referido instrumento só pode ser utilizado quando houver risco a
liberdade de locomoção.
Conforme teor da Súmula 693 do STF, não cabe habeas corpus contra processo em curso a que a
única pena cominada seja a de multa, posto que não envolve a liberdade de locomoção. Tanto é
que, uma vez não efetivado o pagamento da multa, o processo será remetido à Procuradoria Fiscal
para inscrição como dívida ativa.

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Súmula 693 do STF:


NÃO CABE "HABEAS CORPUS" CONTRA DECISÃO CONDENATÓRIA A PENA DE MULTA, OU RELATIVO A PROCESSO
EM CURSO POR INFRAÇÃO PENAL A QUE A PENA PECUNIÁRIA SEJA A ÚNICA COMINADA.

Já a utilidade consiste na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor. É


verificar se vale a pena promover o aparato Judiciário para, ao final, o processo não ser inútil. Só
haverá utilidade se houver possibilidade de realização do jus puniendi estatal.
Observação: Prescrição virtual/ hipotética ou em perspectiva é o reconhecimento
antecipado da prescrição em virtude da constatação de que, no caso de possível
condenação, eventual pena será fulminada pela prescrição da pretensão punitiva retroativa,
tornando inútil a instauração do processo penal.
Para parcela minoritária da doutrina, ao invés de oferecer denúncia, deve o Ministério Público
requerer o arquivamento dos autos, com base na ausência de interesse de agir (prescrição em
perspectiva).

Exemplo: delito de furto simples, cuja pena é de um a quatro anos. Sujeito menor de 21
(vinte e um) anos à época dos fatos e não possui maus antecedentes. Logo, possível
vislumbrar que a pena mínima fique em um ano, que prescreve em quatro anos (artigo
109, inciso IV, do Código Penal), diminuída pela metade, por ser o agente menor de 21
(vinte e um anos). Assim, ultrapassado o prazo de dois anos sem oferecimento da
denúncia, pode-se antecipar que o referido processo será fulminado futuramente pela
prescrição, razão pela qual se aplica a prescrição em perspectiva.

Após muita discussão doutrinária, os Tribunais não admitiram a prescrição em perspectiva, editando
a Súmula nº 428 do Superior Tribunal de Justiça:
Súmula 438: “É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento
em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal”.

Observação: a lei nº 12.234/10 (que entrou em vigor no dia 06/05/10) revogou o §2º do
artigo 110 do Código Penal, o qual previa que a prescrição, depois da sentença condenatória
com trânsito em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regulava-se
pela pena aplicada, podendo ter por termo data anterior ao recebimento da denúncia ou
queixa.
Além disso, deu nova redação ao §1º do artigo 110, que passou a dispor que a prescrição, depois da
sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu
recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial
data anterior à da denúncia ou queixa.
Como se vê, em que pese o objetivo desta ter sido o fim à prescrição retroativa, pôs-se fim apenas
à prescrição da pretensão punitiva retroativa entre a data do fato delituoso e a data do recebimento
da peça acusatória.
Subsiste, desta maneira, a possibilidade de prescrição retroativa, levando em conta a pena aplicada,
porém no lapso temporal compreendido entre o recebimento da denúncia e a sentença penal
condenatória recorrível.

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Como, na grande maioria dos casos, a prescrição em perspectiva leva em conta a virtual prescrição
da pretensão punitiva retroativa entre a data do fato delituoso e a data do recebimento da peça
acusatória, dada à morosidade dos inquéritos policiais, é evidente que a referida lei também
produzirá reflexos no reconhecimento da prescrição virtual, cuja incidência tende a ser cada vez
menos comum.
Da mesma maneira, a referida lei produzirá efeitos quanto ao reconhecimento da prescrição
retroativa entre a data do fato delituoso e o recebimento da peça acusatória no que tange aos crimes
praticados até 05 de maio de 2010, vez que, como se trata de lei mais gravosa, somente se aplica
aos crimes praticados a partir de sua entrada em vigor.

4.5 - JUSTA CAUSA

Justa causa é o lastro probatório mínimo para o início de um processo penal. Impende destacar que
o processo penal não é uma aventura e, como influi na esfera de liberdade do acusado, é necessário
um mínimo de lastro probatório seguro para imputar a alguém determinado crime.
Ausente o fumus comissi deliciti, incumbe ao juiz rejeitar a peça acusatória. Não o fazendo,
transforma-se em autoridade coatora para fins de impetração de habeas corpus, objetivando o
trancamento da ação penal.
Muito se discute acerca da natureza jurídica da justa causa. Parcela minoritária da doutrina entende
que se trata de requisito da peça acusatória, em razão da redação dada pela reforma de 2008 ao
artigo 395 do Código de Processo Penal.
Porém, prevalece na doutrina que a justa causa seria uma quarta condição da ação, uma vez que se
trata o processo penal de ciência autônoma ao processo civil, tornando-se necessária evitar o
exercício de ações penais temerárias e levianas, sem um mínimo de lastro probatório.
Observação: justa causa duplicada se aplica na hipótese de crimes de lavagem de capitais. Isto
porque, nesses crimes, deve existir um lastro probatório mínimo quanto ao crime de lavagem, bem
como quanto ao crime antecedente.

4.6 - CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA AÇÃO PENAL

A depender da natureza do crime, ou a depender do procedimento ou da pessoa do acusado, a lei


impõe o preenchimento de condições específicas.
Há doutrinadores, em posição não pacífica, que denominam as condições específicas da ação penal
como condições de procedibilidade. Contudo, para a maioria da doutrina, condições de
procedibilidade seria qualquer condição da ação, seja genérica, seja específica.

Exemplos: representação do ofendido; requisição do Ministro da Justiça.

- Ver Art. 154-A (Invasão de dispositivo informático). Segundo o art. 154-B, nesses crimes, em regra,
somente se procede mediante representação. No tocante ao art. 154 - A, §1º, do CP, ao contrário
do art. 154, caput, em que há vítima determinada, não possui vítima determinada. Trata-se de crime

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de perigo. Não há quem possa oferecer representação. Para Nucci, a lei, apesar de equivocada, exige
representação.
- Outro exemplo é o art. 187 do CPM (deserção): É indispensável que o desertor readquira a sua
condição de militar para a configuração desse delito.
Deserção
Art. 187. Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por
mais de oito dias:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos; se oficial, a pena é agravada.

4.7 - CONDIÇÕES DA AÇÃO (CONDIÇÕES DE PROCEDIBILIDADE) X CONDIÇÕES DE


PROSSEGUIBILIDADE

A condição de prosseguibilidade não se confunde com a condição de procedibilidade (condição da


ação penal). As duas não se confundem, pois a condição de procedibilidade funciona como uma
condição necessária para o início do processo. O processo ainda não começou e a condição precisa
ser implementada para que o processo possa ter início.
Já na condição de prosseguibilidade, por seu turno, o processo já está em andamento, e uma
condição deve ser implementada para que o processo possa seguir seu curso normal.

Exemplo:. Representação nos crimes de lesão corporal leve e culposa → Antes da Lei
9.099/95, a espécie de ação penal nesses dois delitos era pública incondicionada. A lei
9.099/95 trouxe um dispositivo alterando a espécie de ação penal desses dois delitos, que
passaram a ser crimes de ação penal pública condicionada à representação.

Observação: Para os processos que já estavam em andamento, a representação funcionou


como condição de prosseguibilidade (art. 91 da Lei. 9.099/95). Para os processos que ainda
não tinha começado, a representação funcionou como condição de procedibilidade.
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal
relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da ação penal pública, o
ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de
decadência.

A representação nos crimes de estupro com violência real, quando da entrada em vigor da lei
nº12.015/09, que já estavam em andamento antes da vigência da referida lei, é necessária? (duas
correntes)
Primeira corrente: Ao contrário da Lei do JECRIM, que trouxe dispositivo expresso sobre o assunto,
a Lei 12.0150/09 não exigiu a representação para os processos que já estavam em andamento.

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Segunda corrente: A representação deve funcionar como condição de prosseguibilidade para os


processos penais pela prática de estupro com violência real que já estavam em andamento quando
da entrada em vigor da Lei 12.015/09.
Quando a lei passa exigir representação, essa lei é mais benéfica, uma vez que o seu não
oferecimento pode acarretar a extinção da punibilidade, devendo haver, portanto, retroatividade.
Entre os que adotam essa segunda corrente, também há divergência quanto ao prazo para o
oferecimento dessa representação como condição de prosseguibilidade nos crimes de estupro com
violência real. A maioria dos doutrinadores tem entendido que o prazo é de 30 dias, aplicando-se
em analogia ao art.91, da Lei 9.099/95. Mas, Renato Brasileiro entende que o prazo não é de 30 dias,
pois a analogia só pode ser utilizada quando não houver lei que trate do assunto. Mas, o CPP trata
da representação, com prazo decadencial de 6 meses.

MÁXIMA ATENÇÃO: Conforme explanado em aula, a lei nº 13.718/18 determinou que o


crime de estupro, a partir de 24 de setembro de 2018, é de AÇÃO PENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA.

Consequências da ausência das condições da ação:


(I) Por ocasião do juízo de admissibilidade da peça acusatória: O juiz, ao verificar as condições da ação, pode
rejeitá-la ou recebê-la. Ver art. 395, II, do CPP.
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal;
(II) Verificada durante o processo:
1ª corrente - Doutrina tradicional. A ausência de uma condição da ação dá ensejo ao reconhecimento de uma
nulidade de natureza absoluta, que pode ser arguida a qualquer momento, onde o prejuízo é presumido. Ver
art. 564, II, do CPP (esse inciso pode ser interpretado de maneira extensiva, abrangendo a possibilidade jurídica
e o interesse de agir).
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
II - por ilegitimidade de parte;
2ª corrente – Pacelli - Deverá haver a extinção do processo sem a apreciação do mérito. Ver art. 485, VI, do
CPC c/c art. 3º do CPP.
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual (CONDIÇÕES DA AÇÃO);
Art. 3º do CPP: A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito.

Grande parte da doutrina processual utiliza a Teoria da Asserção no trabalho da ausência/presença


das condições da ação.
Com efeito, a presença ou não das condições deve ser analisada com base na narrativa constante na
peça acusatória. Sempre que o juiz tiver de entrar em questões probatórias para analisar o mérito
da imputação, não haverá a análise da presença/ausência das condições da ação.

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Exemplo: oferecer denúncia contra um menor de dezoito anos. Neste caso, falta
possibilidade jurídica do pedido. O juiz não precisa analisar questões probatórias para se
chegar à esta conclusão. Contudo, quando o juiz enfrenta questões probatórias, entrando
no mérito, essa decisão será de mérito, fazendo coisa julgada material e formal. A
exemplo, quando a pessoa, após ser denunciada, defende-se, negando a autoria do crime.
Neste caso, não há que se falar em ilegitimidade passiva, mas sim em análise do mérito..

4.8. CONDIÇÃO DA AÇÃO X CONDIÇÃO OBJETIVA DE PUNIBILIDADE

CONDIÇÕES DA AÇÃO CONDIÇÃO OBJETIVA DE PUNIBILID.

- Estão relacionadas ao D. Processual Penal; - Está relacionada ao D. Penal;

- São necessárias para o exercício regular - Cuida-se de condição exigida pelo


do direito de ação; legislador para que o fato se torne punível.
Essa condição está localizada entre o
preceito primário e secundário da norma
- Podem ser condições genéricas ou penal incriminadora, sendo denominada
específicas; de condição de objetiva porque independe
do dolo ou da culpa do agente;
- A ausência de uma condição da ação vai
acarretar rejeição da peça acusatória; - A ausência de uma condição objetiva de
extinção do processo sem julgamento do punibilidade impede o início da persecução
mérito (caso ele esteja em curso); penal. Se a ausência for verificada ao final
do processo, vai haver uma decisão de
mérito.
- Essa decisão só faz coisa julgada formal.

- Essa decisão (no final do processo) faz


coisa julgada formal e material.

Exemplos de prova de condição objetiva de punibilidade:


I) sentença declaratória de falência nos crimes falimentares (art. 180 da Lei 11.101/05);
II) Decisão final do procedimento administrativo de lançamento nos crimes materiais contra a ordem tributária
(STJ, HC 54.248).

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5 - CLASSIFICAÇÕES DAS AÇÕES PENAIS CONDENATÓRIAS

5.1 - AÇÃO PENAL PÚBLICA

A ação penal pública tem como titular o Ministério Público. (Art.129, I, CF), com a peça acusatória
sendo a denúncia. Muitos doutrinadores dizem, que a partir desse dispositivo, decorre o princípio
da obrigatoriedade da ação penal para o Parquet.
A ação penal pública pode ser subdividida em ação penal pública incondicionada, ação penal pública
condicionada e ação penal pública subsidiária da pública.
Espécies:
- Ação penal pública incondicionada: a atuação do MP não depende de representação do ofendido
nem de requisição do Ministro da Justiça. Essa é a regra, pois, se a lei não dizer nada, entende-se
que ela é pública incondicionada.
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação
do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

- Ação penal pública condicionada: representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça.


A ação penal pública condicionada à representação da vítima é uma tendência nos últimos anos,
pois ela consegue, num primeiro momento, colher a manifestação da vítima e, num segundo plano,
com que o ofendido não precise de advogado para mover a ação penal, pois o MP fará isso.

Exemplo: ameaça, lesão corporal leve e lesão corporal culposa → crimes de ação penal
pública condicionada à representação.

Exemplo 2: crime contra a honra do presidente da república ou chefe de governo


estrangeiro → ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça.

- Ação penal pública subsidiária da pública: ATENÇÃO, não se confunde com a ação penal de
iniciativa privada subsidiária da pública.
Exemplos dessa ação penal, segundo a doutrina:
- Decreto-lei 201/67 (art.2º, §2º). Esse dispositivo diz que se o MP Estadual não tomar providências
para processar os crimes previstos naquela lei, podem ser solicitadas previdências ao PGR (Chefe do
MPU). Por isso, alguns falam que este seria um exemplo de ação penal pública subsidiária da pública.
Art. 2º, Dec-lei 201/67 - O processo dos crimes definidos no artigo anterior é o comum do juízo singular,
estabelecido pelo CPP (...):
(...)

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§ 2º - Se as previdências para a abertura do inquérito policial ou instauração da ação penal não forem atendidas
pela autoridade policial ou pelo Ministério Público estadual, poderão ser requeridas ao Procurador-Geral da
República.

Cuidado! A maioria da doutrina que cita esse artigo entende que isso não foi
recepcionado pela CF/88.

Primeiro porque esse dispositivo atenta contra a autonomia dos MPs estaduais (fica parecendo que
o MP da União e o PGR seriam chefes do MP estadual). Não há superioridade hierárquica do MP da
União em relação ao estadual.
Além disso, esse deslocamento atenta contra o princípio do juiz natural, pois não se pode tirar da
justiça estadual uma causa que é de sua competência, nem se pode levar para a justiça federal uma
competência da justiça estadual. Um decreto-lei não pode fazer isso.
- Código Eleitoral – O CE traz um dispositivo onde alguns doutrinadores visualizam uma espécie de
ação penal pública subsidiária da pública. Nas comarcas pequenas, atuam como MP eleitoral, o
promotor estadual. Caso este não ofereça a denúncia no prazo legal, o juiz pode solicitar ao
Procurador Regional que seja designado outro promotor.
Art. 357, CE - Verificada a infração penal, o Ministério Público oferecerá a denúncia dentro do prazo de 10 (dez)
dias.
(...)
§ 3º Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo legal representará contra ele a
autoridade judiciária, sem prejuízo da apuração da responsabilidade penal.
§ 4º Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior o juiz solicitará ao Procurador Regional a designação
de outro promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a denúncia.

- O último exemplo citado por alguns doutrinadores é o incidente de deslocamento de competência


(IDC) previsto no art.109, V-A e §5º, CF. Nesse caso, se houver inércia do MP estadual, o STJ pode
determinar o deslocamento do processo para a justiça federal.
Art. 109, CF - Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)
(...)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade
de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o STJ, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal.

Esse exemplo tem sido considerado válido pelo Superior Tribunal de Justiça. O STJ possui dois casos
de IDC:

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O primeiro é o caso da missionária Dorothy Stang, em que não foi deslocada a competência. O IDC
2 foi um caso de grupo de extermínio em que houve o deslocamento da competência, para a justiça
federal da Paraíba.
EMENTA IDC 1: CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO DOLOSO QUALIFICADO.
(VÍTIMA IRMÃ DOROTHY STANG). CRIME PRATICADO COM GRAVE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS
HUMANOS. INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA – IDC. INÉPCIA DA
PEÇA INAUGURAL. NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA CONTIDA. PRELIMINARES REJEITADAS.
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E À AUTONOMIA DA UNIDADE DA FEDERAÇÃO.
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. RISCO DE DESCUMPRIMENTO DE TRATADO
INTERNACIONAL FIRMADO PELO BRASIL SOBRE A MATÉRIA NÃO CONFIGURADO NA HIPÓTESE.
INDEFERIMENTO DO PEDIDO.
Na espécie, as autoridades estaduais encontram-se empenhadas na apuração dos fatos que
resultaram na morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, com o objetivo de punir os
responsáveis, refletindo a intenção de o Estado do Pará dar resposta eficiente à violação do maior e
mais importante dos direitos humanos, o que afasta a necessidade de deslocamento da competência
originária para a Justiça Federal, de forma subsidiária, sob pena, inclusive, de dificultar o andamento
do processo criminal e atrasar o seu desfecho, utilizando-se o instrumento criado pela aludida norma
em desfavor de seu fim, que é combater a impunidade dos crimes praticados com grave violação de
direitos humanos.
O deslocamento de competência – em que a existência de crime praticado com grave violação aos
direitos humanos é pressuposto de admissibilidade do pedido – deve atender ao princípio da
proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito), compreendido
na demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta de vontade política ou de
condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução penal.
No caso, não há a cumulatividade de tais requisitos, a justificar que se acolha o incidente.
Pedido indeferido, sem prejuízo do disposto no art. 1º, inc. III, da Lei nº 10.446, de 8/5/2002.
EMENTA IDC 2: IDC. JUSTIÇAS ESTADUAIS DOS ESTADOS DA PARAÍBA E DE PERNAMBUCO.
HOMICÍDIO DE VEREADOR, NOTÓRIO DEFENSOR DOS DIREITOS HUMANOS, AUTOR DE DIVERSAS
DENÚNCIAS CONTRA A ATUAÇÃO DE GRUPOS DE EXTERMÍNIO NA FRONTEIRA DOS DOIS ESTADOS.
AMEAÇAS, ATENTADOS E ASSASSINATOS CONTRA TESTEMUNHAS E DENUNCIANTES. ATENDIDOS OS
PRESSUPOSTOS CONSTITUCIONAIS PARA A EXCEPCIONAL MEDIDA.
1. A teor do § 5.º do art. 109 da CF, introduzido pela EC n.º 45/2004, o incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal fundamenta-se, essencialmente, em três pressupostos: a
existência de grave violação a direitos humanos; o risco de responsabilização internacional
decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas assumidas em tratados internacionais; e a
incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas
efetivas.
2. (...)

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3. A existência de grave violação a direitos humanos, primeiro pressuposto, está sobejamente


demonstrado: esse tipo de assassinato, pelas circunstâncias e motivação até aqui reveladas, sem
dúvida, expõe uma lesão que extrapola os limites de um crime de homicídio ordinário, na medida em
que fere, além do precioso bem da vida, a própria base do Estado, que é desafiado por grupos de
criminosos que chamam para si as prerrogativas exclusivas dos órgãos e entes públicos, abalando
sobremaneira a ordem social.
4. O risco de responsabilização internacional pelo descumprimento de obrigações derivadas de
tratados internacionais aos quais o Brasil anuiu (dentre eles, vale destacar, a Convenção Americana
de Direitos Humanos, mais conhecido como "Pacto de San Jose da Costa Rica") é bastante
considerável, mormente pelo fato de já ter havido pronunciamentos da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, com expressa recomendação ao Brasil para adoção de medidas cautelares de
proteção a pessoas ameaçadas pelo tão propalado grupo de extermínio atuante na divisa dos
Estados da Paraíba e Pernambuco, as quais, no entanto, ou deixaram de ser cumpridas ou não foram
efetivas. (...)
5. É notória a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas,
reconhecida a limitação e precariedade dos meios por elas próprias. Há quase um pronunciamento
uníssono em favor do deslocamento da competência para a Justiça Federal, dentre eles, com especial
relevo: o Ministro da Justiça; o Governador do Estado da Paraíba; o Governador de Pernambuco; a
Secretaria Executiva de Justiça de Direitos Humanos; a OAB; a Procuradoria-Geral de Justiça do
Ministério Público do Estado da Paraíba.
6. As circunstâncias apontam para a necessidade de ações estatais firmes e eficientes, as quais, por
muito tempo, as autoridades locais não foram capazes de adotar, até porque a zona limítrofe
potencializa as dificuldades de coordenação entre os órgãos dos dois Estados. Mostra-se, portanto,
oportuno e conveniente a imediata entrega das investigações e do processamento da ação penal em
tela aos órgãos federais.
7. Pedido ministerial parcialmente acolhido para deferir o deslocamento de competência para a
Justiça Federal no Estado da Paraíba da ação penal n.º 022.2009.000.127-8, a ser distribuída para o
Juízo Federal Criminal com jurisdição no local do fato principal; bem como da investigação de fatos
diretamente relacionados ao crime em tela.
Outras medidas determinadas, nos termos do voto da Relatora.

5.2 - AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA

O titular dessa ação será o ofendido ou o representante legal.


A peça acusatória dessa modalidade de ação penal é a chamada queixa-crime.
Essa ação penal também se divide em três: ação penal privada personalíssima, ação penal
exclusivamente privada e ação penal privada subsidiária da pública.
Espécies:

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- Ação penal exclusivamente privada: É exercida mediante queixa do ofendido, em que é possível a
sucessão processual e em que a vítima incapaz pode ser representada. Se a vítima morrer, o direito
dela é transmitido aos sucessores.
- Ação penal privada personalíssima: não há sucessão processual; somente o ofendido pode
oferecer queixa-crime.

Atenção!! Se o ofendido for incapaz, o direito não pode ser exercido pelo representante
legal. Deve-se, então, esperar o incapaz atingir a capacidade.

Ademais, nos casos de ação penal privada personalíssima não há sucessão processual, de modo que
se a vítima morrer, o direito de propor a ação penal não se transmite aos sucessores, independente
se o processo tinha começado ou não.
Exemplo: A morte da vítima extingue a punibilidade? Nos crimes de ação penal privada
personalíssima, sim, pois não há sucessão processual. Só a vítima podia exercer o direito de
queixa.
Hoje o único exemplo é o crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art.
236 do CP);
Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento
que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão
depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.

Nesse caso, a morte da vítima extingue a punibilidade.


- Ação penal privada subsidiária da pública: somente é cabível diante da inércia do Ministério
Público, que não toma as devidas providências dentro do prazo legal.
Nasce, a partir do dia subsequente, o direito da vítima de oferecer uma queixa subsidiária, em
substituição à denúncia não oferecida pelo membro do Ministério Público.

5.3. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL

Em que pese cada doutrinador fazer referência a diversos princípios da ação penal, passa-se aqui a
analisar os principais e que são consensuais em toda doutrina.

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Princípios da Ação Penal Pública Princípios da Ação Penal de


Iniciativa Privada

1) Ne procedat iudex ex officio (da 1) Ne procedat iudex ex officio (da


inércia da jurisdição); inércia da jurisdição);

2) Ne bis in idem processual; 2) Ne bis in idem processual;

3) Princípio da Intranscendência; 3) Princípio da Intranscendência;

4) Princípio da obrigatoriedade/ 4) Princípio da oportunidade ou


legalidade processual; conveniência;

5) Princípio da indisponibilidade; 5) Princípio da disponibilidade;

6) Princípio da (in) divisibilidade. 6) Princípio da indivisibilidade.

5.3.1 - NE PROCEDAT IUDEX EX OFFICIO (DA INÉRCIA DA JURISDIÇÃO)

Com a adoção do sistema acusatório pela Constituição Federal, ao juiz não é dado iniciar um
processo de ofício. Se o Ministério Público é o titular da ação penal, o juiz não pode começar o
processo.
Então, pelo sistema acusatório, as funções processuais (acusação, defesa e julgamento) devem ser
exercidas por pessoas distintas (MP/vítima, defesa e juiz). Essa separação tem a finalidade de
preservar o que o juiz tem de mais sagrado, que é a imparcialidade.

Atenção: Processo judicialiforme (ação penal ex officio) – era o processo que tinha início
a partir de portaria expedida pela própria autoridade judiciária ou, em alguns casos, até
mesmo pelo delegado. Ocorria nos casos de contravenções penais e homicídios culposos.

Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de
portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial.

Esse processo judicialiforme não foi recepcionado pela CF/88, por art. 109 da Constituição Federal.

Observação: O juiz não pode dar início a um processo penal condenatório. Mas, o juiz
pode, no processo penal não condenatório, agir de ofício. Esse é o caso da ordem de
habeas corpus¸ que pode ser concedida de ofício com o juiz.

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Art. 654, § 2°: Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando
no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

5.3.2. NE BIS IN IDEM PROCESSUAL (VEDAÇÃO AO BIS IN IDEM)

Dentre as inúmeras decorrências desse princípio, para ação penal importa que ninguém pode ser
processado duas vezes pela mesma imputação. Quando se fala em imputação, leia-se, fato.
Art. 654, § 2°: Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando
no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

Observação: E se a absolvição foi julgada por uma justiça incompetente? Pode o


acusado ser processado novamente, mas agora pela justiça competente?

A maioria da doutrina entende que o caso de sentença por juiz incompetente é nula. E se a nulidade
não for alegada e declarada durante o processo, sendo que a decisão transita em julgado, nada
poderá ser feito, pois o Brasil não admite a revisão criminal pro societate.

Ada Pellegrini, numa posição minoritária que não pode ser adotada, entende que a decisão de juiz
incompetente é inexistente, sendo possível novo processo.

Então, a decisão absolutória ou declaratória extintiva da punibilidade, ainda que proferida por juízo
absolutamente incompetente, é capaz de transitar em julgado e de produzir seus efeitos regulares,
dentre eles o de impedir novo processo pela mesma imputação (STF HC 86.606, HC 91.505).

5.3.3. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA

Por esse princípio, a peça acusatória só pode ser oferecida contra o suposto autor ou partícipe do
fato delituoso.
Esse princípio nada mais é do que um desdobramento do princípio da pessoalidade da pena,
segundo o qual a pena não pode passar da pessoa do condenado.
Art. 5°, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
até o limite do valor do patrimônio transferido;

Observação: Se for caso de uma responsabilidade não-penal, é possível que os sucessores


do condenado respondem com base no art. 1.997 do Código Civil, ou seja, no limite do
patrimônio transferido pelo réu a título de herança, somente no que tange à indenização
cível da vítima ou pagamento da multa/prestação pecuniária penal.

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5.3.4. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE/ LEGALIDADE PROCESSUAL X PRINCÍPIO DA


OPORTUNIDADE/CONVENIÊNCIA

Muito se discute acerca da origem da fundamentação legal deste princípio, posto que ele não se
encontra expresso dentro de nenhum texto normativo.
Parte da doutrina entende que ele decorre do artigo 129, inciso I, da CF, que dispõe que o Ministério
Público é o titular privativo da ação penal, não fazendo alusão à possibilidade de dispor desse
direito/dever.
Outra parcela entende que a construção desse princípio decorre da leitura sistemática do Código de
Processo Penal, que previu como o Ministério Público exercerá a ação penal e como será feito esse
controle, não dispondo, novamente, de possibilidade de disposição da ação penal pública.
O fato é que a construção legislativa a partir da década de 90, embasada pela common law, tende,
por meio de legislação extravagante, a relativizar essa obrigatoriedade, em compromisso a uma
maior efetividade do processo penal, desencarceramento e medidas indenizatórias às vítimas.
- Princípio da obrigatoriedade: por esse princípio, presentes as condições da ação penal e havendo
justa causa, o Ministério Público é obrigado a oferecer denúncia. O promotor não tem liberdade de
escolher se vai ou não oferecer denúncia. Ele tem que oferecer.
Esse princípio é aplicável também à própria polícia, de modo que se o delegado toma conhecimento
de um crime de ação penal pública incondicionada, ele também é obrigado a agir.
Esse princípio, segundo a maioria da doutrina, está previsto no art.24, do
CPP (ao dizer “será promovida” a lei não deixa margem de discricionariedade
para o MP):
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá,
quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo.

Mecanismos de fiscalização do princípio da obrigatoriedade:

a) O primeiro mecanismo de controle é o art.28 do CPP (se o juiz não concorda com o MP,
ele manda os autos ao procurador geral). Alguns doutrinadores criticam que esse papel
de controle seja feito pelo juiz, mas os tribunais consideram o mecanismo válido.
Art. 28, CPP - Se o órgão do MP, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial
ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará
remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro
órgão do MP para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a
atender.

b) O segundo exemplo de mecanismo de controle é a ação penal privada subsidiária da


pública, que é exercida pela vítima do delito.

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Observação: A obrigatoriedade de oferecer denúncia não impede que o MP peça a


absolvição do acusado ao final do processo.

Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério
Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido
alegada.

Exceções ao Princípio da Obrigatoriedade

a) Transação penal (art. 76 da Lei 9.099/95) – Na transação, há um acordo entre o Ministério


Público e o autor de uma infração de menor potencial ofensivo. Feito o acordo, o órgão
ministerial não será obrigado a oferecer denúncia.
Aliás, aqui na transação penal, fala-se no princípio da “discricionariedade regrada”, uma vez que a
liberdade do promotor é fixada pela lei e ele só pode conceder a transação penal se preenchidos os
requisitos do artigo 76 da lei nº 9.099/95 ou princípio da “obrigatoriedade mitigada”.
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso
de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas, a ser especificada na proposta.

b) Acordo de Leniência (também chamado de acordo de brandura ou doçura): Trata-se de


uma espécie de delação premiada em crimes contra a ordem econômica. Esse acordo de
leniência estava previsto no artigo 35-C da Lei nº 8.884/94 (essa lei será revogada) e
passou a constar no artigo 87 da lei nº 12.529/11 sendo ampliado para mais crimes.
Art. 87 da lei nº 12.529/11 - Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei no 8.137/90, e nos demais
crimes diretamente relacionados à prática de cartel, tais como os tipificados na Lei no 8.666/93, e os tipificados
no art. 288, do Código Penal, a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão
do curso do prazo prescricional e impede o oferecimento da denúncia com relação ao agente beneficiário da
leniência.
Parágrafo único. Cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a punibilidade dos
crimes a que se refere o caput deste artigo.

Ademais, cumprido o acordo de leniência pelo agente, extingue-se automaticamente a punibilidade


dos crimes acima referidos.
a) Termo de Ajustamento de Conduta: consta na Lei de Ação Civil Pública e é aplicável,
principalmente, nos crimes ambientais. Não é citado por todos como exceção, mas há
quem entenda nesse sentido.
O TAC está na lei nº 7.347/85 (LACP). Essa lei prevê a instauração do inquérito civil (ex. prática de
crime ambiental), em que é possível a celebração do TAC para que a pessoa pare de praticar o crime.
Há quem entenda que se a pessoa cumpriu o TAC, não há necessidade de se instaurar o processo
penal. Então, para essa parte da doutrina e jurisprudência, enquanto houver o cumprimento do
acordo, não haverá interesse de agir (STF, HC 92.921).
Já o Superior Tribunal de Justiça é contrário a esse entendimento. Para o Tribunal, mesmo que seja
celebrado o TAC, cabe o oferecimento da denúncia.

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EMENTA HC 92.921: (...). I – (...). V - Em crimes ambientais, o cumprimento do Termo de Ajustamento de


Conduta, com conseqüente extinção de punibilidade, não pode servir de salvo-conduto para que o agente volte
a poluir. (...) VII - Ordem denegada.

a) Parcelamento do débito tributário (Lei 11.941, art. 68 e 69): a formalização do


parcelamento antes do recebimento da denúncia é causa de suspensão da pretensão
punitiva, impedindo, pois, o oferecimento da peça acusatória, pelo Ministério Público.
A última lei que falou na matéria é o art.83, §2º, da lei 9.430/96, com redação dada pela lei 12.382/11
(lei do salário mínimo). O art. 83 da Lei no 9.430/96, passa a vigorar acrescido dos seguintes §§1º ao
5º , renumerando-se o atual parágrafo único para §6º:
Art. 83, §2º: É suspensa a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o
período em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída
no parcelamento, desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da
denúncia criminal.

Com a lei nº 12.382/11, o parcelamento deve ser formalizado antes do recebimento da denúncia,
sendo assim, mais uma exceção ao princípio da obrigatoriedade.
a) Colaboração premiada na nova Lei das Organizações Criminosas: consoante artigo 4º, §4º,
da lei nº12.850/13, se da colaboração do agente resultar um ou mais dos seguintes
resultados abaixo elencados, poderá o Ministério Público deixar de oferecer denúncia, se
o colaborador não for o líder da organização criminosa e for o primeiro a prestar efetiva
colaboração.
(i) a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles
praticadas;
(ii) a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
(iii) a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
(iv) a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização
criminosa;
(v) a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Como se percebe, o legislador inseriu mais uma exceção ao princípio da obrigatoriedade. E qual a
consequência para o procedimento de direito material?
Parte da doutrina entende que seria o arquivamento do procedimento investigatório. Outra parcela
da doutrina, entende que deve-se aplicar analogicamente o artigo 87 da lei nº 12.382/11, que prevê
que o cumprimento do acordo de colaboração premiada acarreta a extinção da punibilidade do
colaborador.
a) Acordo de não persecução penal: representa uma alternativa promissora da instituição e
mudança dos paradigmas da política criminal estatal, trazida pela resolução nº 181 do
CNMP.

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Resolução 181/17 do CNMP (com alteração da Resolução 183/18)

Art. 18. Não sendo o caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor ao investigado acordo de não
persecução penal quando, cominada pena mínima inferior a 4 (quatro) anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça a pessoa, o investigado tiver confessado formal e circunstanciadamente a sua
prática, mediante as seguintes condições, ajustadas cumulativa ou alternativamente:
I – reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II – renunciar voluntariamente a bens e direitos, indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto
ou proveito do crime;
III – prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito, diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo Ministério Público;
IV – pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Código Penal, a entidade pública
ou de interesse social a ser indicada pelo Ministério Público, devendo a prestação ser destinada
preferencialmente àquelas entidades que tenham como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes
aos aparentemente lesados pelo delito;
V – cumprir outra condição estipulada pelo Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a
infração penal aparentemente praticada.
§ 1º Não se admitirá a proposta nos casos em que:
I – for cabível a transação penal, nos termos da lei;
II – o dano causado for superior a vinte salários mínimos ou a parâmetro econômico diverso definido pelo
respectivo órgão de revisão, nos termos da regulamentação local;
III – o investigado incorra em alguma das hipóteses previstas no art. 76, § 2º, da Lei nº 9.099/95; (i) condenado;
(ii) beneficiado no prazo de cinco anos; (iii) antecedentes, a conduta social, personalidade do agente, motivos e
circunstâncias desfavoráveis.
IV – o aguardo para o cumprimento do acordo possa acarretar a prescrição da pretensão punitiva estatal;
V – o delito for hediondo ou equiparado e nos casos de incidência da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006;
VI – a celebração do acordo não atender ao que seja necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do
crime.
§ 2º A confissão detalhada dos fatos e as tratativas do acordo serão registrados pelos meios ou recursos de
gravação audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações, e o investigado deve estar sempre
acompanhado de seu defensor.
§ 3º O acordo será formalizado nos autos, com a qualificação completa do investigado e estipulará de modo
claro as suas condições, eventuais valores a serem restituídos e as datas para cumprimento, e será firmado pelo
membro do Ministério Público, pelo investigado e seu defensor.
§ 4º Realizado o acordo, a vítima será comunicada por qualquer meio idôneo, e os autos serão submetidos à
apreciação judicial.
§ 5º Se o juiz considerar o acordo cabível e as condições adequadas e suficientes, devolverá os autos ao
Ministério Público para sua implementação.

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§ 6º Se o juiz considerar incabível o acordo, bem como inadequadas ou insuficientes as condições celebradas,
fará remessa dos autos ao procurador-geral ou órgão superior interno responsável por sua apreciação, nos
termos da legislação vigente, que poderá adotar as seguintes providências:
I – oferecer denúncia ou designar outro membro para oferecê-la;
II – complementar as investigações ou designar outro membro para complementá-la;
III – reformular a proposta de acordo de não persecução, para apreciação do investigado;
IV – manter o acordo de não persecução, que vinculará toda a Instituição.
§ 7º O acordo de não persecução poderá ser celebrado na mesma oportunidade da audiência de custódia.
§ 8º É dever do investigado comunicar ao Ministério Público eventual mudança de endereço, número de
telefone ou e-mail, e comprovar mensalmente o cumprimento das condições, independentemente de notificação
ou aviso prévio, devendo ele, quando for o caso, por iniciativa própria, apresentar imediatamente e de forma
documentada eventual justificativa para o não cumprimento do acordo.
§ 9º Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo ou não observados os deveres do parágrafo
anterior, no prazo e nas condições estabelecidas, o membro do Ministério Público deverá, se for o caso,
imediatamente oferecer denúncia.
§ 10 O descumprimento do acordo de não persecução pelo investigado também poderá ser utilizado pelo
membro do Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do
processo.
§ 11 Cumprido integralmente o acordo, o Ministério Público promoverá o arquivamento da investigação, nos
termos desta Resolução.
§ 12 As disposições deste Capítulo não se aplicam aos delitos cometidos por militares que afetem a hierarquia
e a disciplina.
§ 13 Para aferição da pena mínima cominada ao delito, a que se refere o caput, serão consideradas as causas
de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto.

- Princípio da oportunidade ou conveniência: Mediante critérios próprios de oportunidade e


conveniência, o ofendido ou seu representante legal podem optar pelo oferecimento ou não da
queixa-crime.
Se o ofendido não quiser fazer nada, nada poderá ser feito para obriga-lo a propor a queixa. Não há
mecanismos de controle nesse sentido.

Exemplo: caso do jogador Grafite, em que o crime de injúria racial era de ação privada.
No final do jogo, a polícia prendeu o jogador que o injuriou. Mas depois disso, o jogador
Grafite não ajuizou a queixa-crime. Esse princípio é aplicável antes do início do processo.

Aplica-se antes do início do processo, por meio das seguintes formas (o ofendido não tem interesse
em exercer o direito de queixa):
Renúncia ao direito de queixa (expressa ou tácita);
Deixar atingir o prazo decadencial.

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5.3.5. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE X DISPONIBILIDADE

Pelo princípio da indisponibilidade, na ação penal pública, o órgão do Ministério Público não pode
desistir da ação penal pública. É um desdobramento do princípio da obrigatoriedade.
Esse princípio está previsto nos artigos 42 e 576, do Código de Processo Penal:
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.
Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.

Exceção ao Princípio da Indisponibilidade:


- Suspensão Condicional do Processo (Lei 9.099/95, art. 89): crime com pena mínima de um ano.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou
não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do
processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha
sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Observação: Cabe suspensão do processo em relação ao crime do art.7º, da Lei 8.137/90


(crimes contra a relação de consumo)?

Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo:


I - favorecer ou preferir, sem justa causa, comprador ou freguês, ressalvados os sistemas de entrega ao consumo
por intermédio de distribuidores ou revendedores;
II - vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou composição esteja em
desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial;
III - misturar gêneros e mercadorias de espécies diferentes, para vendê-los ou expô-los à venda como puros;
misturar gêneros e mercadorias de qualidades desiguais para vendê-los ou expô-los à venda por preço
estabelecido para os demais mais alto custo;
IV - fraudar preços por meio de:
a) alteração, sem modificação essencial ou de qualidade, de elementos tais como denominação, sinal externo,
marca, embalagem, especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de bem ou serviço;
b) divisão em partes de bem ou serviço, habitualmente oferecido à venda em conjunto;
c) junção de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda em separado;
d) aviso de inclusão de insumo não empregado na produção do bem ou na prestação dos serviços;
V - elevar o valor cobrado nas vendas a prazo de bens ou serviços, mediante a exigência de comissão ou de taxa
de juros ilegais;
VI - sonegar insumos ou bens, recusando-se a vendê-los a quem pretenda comprá-los nas condições
publicamente ofertadas, ou retê-los para o fim de especulação;

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VII - induzir o consumidor ou usuário a erro, por via de indicação ou afirmação falsa ou enganosa sobre a
natureza, qualidade do bem ou serviço, utilizando-se de qualquer meio, inclusive a veiculação ou divulgação
publicitária;
VIII - destruir, inutilizar ou danificar matéria-prima ou mercadoria, com o fim de provocar alta de preço, em
proveito próprio ou de terceiros;
IX - vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou
mercadoria, em condições impróprias ao consumo;
Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa.

Esse caso é interessante, pois dificilmente há um crime com pena alta em que a multa vem como
pena alternativa.
Sobre esse caso, o STF raciocinou que, ao final do processo, a pessoa pode ser condenada à, apenas,
pena de multa. Então, entendeu que seria contraditório não dar a essa pessoa a suspensão do
processo, na medida em que, ao final, ela poderia ser condenada somente à multa.
Assim, segundo o STF, a suspensão será cabível ainda que a pena mínima seja superior a 1 ano, se a
multa for cominada alternativamente.
Já pelo princípio da disponibilidade, que é inerente à ação penal de iniciativa privada, também se
trata de um desdobramento lógico do princípio da oportunidade.
Ocorre que o princípio da disponibilidade incide no curso do processo, de modo que o querelante
pode dispor do processo em andamento
Hipóteses:
Perdão do ofendido: o perdão depende de aceitação do acusado;
a) Perempção: é uma espécie de negligência do querelante (que é uma causa de extinção da
punibilidade);
b) Desistência: em virtude de conciliação no procedimento dos crimes contra honra de competência
do juiz singular.

Art. 522. No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da desistência, a
queixa será arquivada.

5.3.6. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE X DIVISIBILIDADE:

Sobre esse assunto, há controvérsia na doutrina e jurisprudência.


A divisibilidade é a posição do STF e do STJ. Segundo os Tribunais Superiores, o MP pode oferecer
denúncia contra alguns investigados, sem prejuízo do prosseguimento das investigações em relação
aos demais.

Exemplo: Caso mensalão. Nas primeiras denúncias, não se tinha elucidado todos os
autores. As investigações prosseguiram, de modo a descobrir os demais coautores do
esquema de corrupção.

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Sobre o assunto, deve-se tomar cuidado, pois parte da doutrina entende


que no caso da ação penal pública também se aplica o princípio da indivisibilidade. É posição de
Tourinho Filho, Aury Lopes Junior e Marcelus Polastri Lima.
Já Renato Brasileiro de Lima critica a posição do STF e STJ, pois, segundo o autor, se há elementos
probatórios contra todos, deve-se oferecer denúncia contra todos (só não cabe oferecimento de
denúncia contra todos se não houver prova).
Para o autor, divisibilidade seria se o MP pudesse não oferecer denúncia em relação a algum dos
agentes, mesmo tendo prova contra ele. Mas esse não é o entendimento do STJ, uma vez que o
processo penal de um obriga ao processo penal de todos.

Princípio da indivisibilidade: por conta desse princípio, o processo de um dos coautores


ou partícipes obriga ao processo de todos.

Embora haja disponibilidade da ação privada, se a pessoa quer dar início a um processo de ação
privada, ela não pode escolher quem ela quer processar.
Desse princípio, portanto, pode-se extrair várias consequências, quais sejam:
Observação 1: Renúncia concedida a um dos acusados estende-se aos demais.
Observação 2: Perdão concedido a um dos querelados estende-se aos demais, desde que
haja aceitação.
O Ministério Público é o fiscal do princípio da indivisibilidade.

Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o
Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.

O Ministério Público não pode aditar a queixa-crime para incluir coautores, pois não tem
legitimidade para tanto. Deve, portanto, proceder da seguinte forma:
Verificando-se que a omissão do querelante foi voluntária, ou seja, que o querelante ofereceu queixa
contra apenas um dos coautores, apesar de ter consciência quanto ao envolvimento de outros, deve
ser reconhecida a renúncia tácita em relação àqueles que não foram incluídos na peça acusatória,
renúncia esta que se estende aos demais agentes, em virtude do princípio da indivisibilidade;
Verificando-se que a omissão do querelante não foi voluntária, deve o Ministério Público requerer
a intimação do querelante para incluir os demais coautores ou partícipes (fazer o aditamento). Se o
querelante permanecer inerte, há de se reconhecer renúncia tácita, que se estende a todos os
coautores do delito.

5.4. REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO

A representação é a manifestação do ofendido ou de seu representante legal no sentido de que


possui interesse na persecução penal.

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Quanto à representação, os tribunais entendem que não há necessidade de formalismo (não é


necessário um papel denominado “representação” com a assinatura da vítima). O que deve ser
analisado no caso concreto é se a vítima praticou algum ato que demonstre o seu interesse na
persecução penal.

Exemplo: Quando alguém vai a uma delegacia de polícia e registra um boletim de


ocorrência, esse fato já pode ser considerado como uma representação.
Exemplo2: Mulher que vai até o Instituto Médico Legal fazer o exame pericial no crime
de estupro é uma demonstração clara de que ela tem interesse na persecução penal.

Na hora da representação, não há necessidade de formalismo (STF, HC 86.122). Mas não deixa de
ser ideal registrar a representação no papel, por meio de um termo de representação ou até mesmo
nas declarações do ofendido.
HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. CRIMES SEXUAIS. ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR (ART. 214, CAPUT DO CPB).
PACIENTE CONDENADO A 7 ANOS DE RECLUSÃO, EM REGIME ABERTO. ALEGAÇÃO DE FALTA DA
REPRESENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. NULIDADE DO FEITO. NÃO OCORRÊNCIA.
INTENÇÃO INEQUÍVOCA DA VÍTIMA DE VER O FATO APURADO. FORMALISMO QUE DEVE SER AFASTADO.
PRECEDENTES DO STJ. ORDEM DENEGADA.
1. É firme o entendimento desta Corte, nas hipóteses de crimes sexuais, que a representação da ofendida ou de
seu representante legal prescinde de rigor formal, sendo suficiente a demonstração inequívoca da parte
interessada de que seja apurada e processada. Precedentes do STJ.
2. In casu, tal como anotado no parecer ministerial, a narração da violência sexual efetuada pela vítima à
autoridade policial e reproduzida em juízo, ostentando riqueza de detalhes, bem se presta a substituir a
reclamada representação, que deve ter aqui relevada a sua indispensabilidade. 3. Opina o
MPF pela denegação da ordem. 4. Ordem denegada.

5.4.1. NATUREZA JURÍDICA DA REPRESENTAÇÃO

Em regra, a representação é uma condição específica da ação penal.


Cuidado: Art. 182 do CP – furto nesses casos se procede mediante representação.
Em situações excepcionais, a representação pode também funcionar como condição de
prosseguibilidade (art. 91, da Lei 9.099/95).
Então, se o processo já estiver em andamento e a lei passar a exigir a representação, ela funcionará
como uma condição de prosseguibilidade (exceção).
Mas, se o processo ainda não tiver começado, a representação exigida por lei será uma condição
específica de procedibilidade (condição da ação é a regra).

Observação: Lembre-se, que quanto à representação, vigora o princípio da oportunidade


ou conveniência, ou seja, ninguém é obrigado a oferecer representação.

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5.4.2. DESTINATÁRIO DA REPRESENTAÇÃO

Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com
poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério
Público, ou à autoridade policial.

Pode ser feita ao Delegado, Ministério Público ou Juiz.

5.4.3. TITULARIDADE PARA O OFERECIMENTO DA REPRESENTAÇÃO

Tudo aqui é válido para o oferecimento da queixa-crime. São legitimados:


a) Ofendido com 18 anos completos ou mais (art. 5° do CC);

Súmula 594
OS DIREITOS DE QUEIXA E DE REPRESENTAÇÃO PODEM SER EXERCIDOS, INDEPENDENTEMENTE,
PELO OFENDIDO OU POR SEU REPRESENTANTE LEGAL.

Antes do novo Código Civil, quando o ofendido tinha 18 anos completos, tanto ele como seu
representante legal poderia oferecer representação.
Por isso, essa Súmula não tem mais aplicação, pois, ao completar 18 anos, a vítima já é plenamente
capaz, não podendo o direito ser exercido pelo representante legal.
b) O ofendido com menos de 18 anos, mentalmente enfermo ou retardado mental: a
legitimidade é do representante legal.
Na jurisprudência, é qualquer pessoa que de alguma forma seja responsável pelo menor.

Observação: Inércia do representante legal e decadência do direito de queixa ou de


representação.

Um menor de 17 anos foi vítima de lesão corporal leve e conta para o seu pai, que não faz nada no
prazo de 06 meses. Qual a solução?
Duas correntes:
Primeira corrente: Tratando-se de incapaz, o prazo decadencial não flui enquanto não cessar a
incapacidade;
Segunda Corrente: a decadência para o representante legal acarreta a extinção de punibilidade,
ainda que o menor não tenha completado 18 anos (LFG, Eugênio Pacelli).
c) Ofendido menor de 18 anos, mentalmente enfermo ou retardado mental, que não tenha
representante legal ou quando houver colisão de interesses: a solução é a nomeação de
curador especial.

Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e
não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa

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poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério
Público, pelo juiz competente para o processo penal.

Entretanto, vigora também para o curador o princípio da oportunidade, uma vez que ele não é
obrigado a oferecer queixa-crime ou representação. Caberá ao curador especial o juízo de
oportunidade ou conveniência sobre o oferecimento da queixa/representação (pode ser que ele
entenda que não será bom para o interesse do incapaz).
d) Ofendido maior de 16 anos e menor de 18 anos, porém emancipado: não tem capacidade
para oferecer representação ou queixa-crime.
O fato de ter havido a emancipação pelo casamento dá a essa vítima a legitimidade para oferecer a
queixa/representação?
Não. A emancipação na confere a essa vítima capacidade para oferecer
representação ou queixa-crime.
Mas, quem é o representante legal da pessoa nesse caso?
O problema dessa pessoa é que ela funciona como um incapaz, mas não possui representante legal
(seus pais não são representantes legais, pois ela emancipou).
Então, a doutrina propõe duas soluções:
nomeia-se um curador especial; ou
(2) aguarda-se que a vítima complete 18 anos, não havendo decadência, pois a pessoa, nesse caso,
não possui representante legal.
e) Morte da vítima: ocorre sucessão processual (o direito de oferecer representação ou
queixa-crime será transmitido ao CADI).

Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito
de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Alguns doutrinadores entendem que seria CCADE, sendo esse “c” a mais do companheiro. Todavia,
isso seria uma analogia in malan partem.

Observação 1: A ordem é preferencial (art. 36 do CPP).

Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o cônjuge, e,
em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo,
entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista da instância ou a
abandone.

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Observação 2: Havendo divergência entre os sucessores, prevalece a vontade de quem


queira dar início ao processo.
Observação 3: Qual é o prazo que o sucessor tem? O sucessor terá direito ao prazo
restante. Se o sucessor já sabia quem era o autor do delito, seu prazo começa a fluir a
partir da morte da vítima; se o sucessor não sabia quem era o autor do delito, seu prazo
só começa a fluir a partir do momento que souber quem é.

5.4.4. PRAZO DECADENCIAL PARA O OFERECIMENTO DA REPRESENTAÇÃO

O que for falado aqui vale também para queixa-crime.


Decadência é a perda do direito de queixa (ação penal privada) ou representação em virtude do seu
não exercício no prazo legal. A decadência é uma causa de extinção da punibilidade.
O prazo decadencial fixado pelo Código de Processo Penal é um prazo de seis meses, contados, em
regra, a partir do conhecimento da autoria. O artigo 38, do CPP, diz isso:

Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito
de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em
que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo
para o oferecimento da denúncia.

A decadência tem natureza jurídica de causa extintiva de punibilidade e, portanto, é prazo penal
(art. 10 do Código Penal – o dia do início é levado em consideração).

Exemplo: crime ocorrido no dia 08/01/18, o fim do prazo é no dia 07/07/18.

Em regra, esse prazo decadencial começa a fluir a partir do conhecimento da autoria.


Exceção: Crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (Art. 226 do CP) – trata-
se de crime de ação penal privada personalíssima e só se pode ajuizar a queixa-crime após o trânsito
em julgado da sentença que anule o casamento.
Prazo decadencial é fatal e improrrogável (não há causas suspensivas e nem interruptivas).
Prazo decadencial para o oferecimento da queixa-crime não é interrompido e nem suspenso com o
pedido de instauração de inquérito policial ou qualquer outro procedimento investigatório.
O que importa é o OFERECIMENTO da queixa-crime dentro do prazo decadencial; não o do
recebimento da queixa–crime.

Observação: O curso do prazo decadencial será obstado com o exercício do direito de


queixa ou de representação, pouco importando se a queixa foi proposta perante o juízo
incompetente, pois o que interessa não é a competência, mas sim se a pessoa exerceu o
seu direito. Nesse sentido, STJ, HC 11.291.

EMENTA STJ, HC 11.291: HC. CRIMES DE IMPRENSA. DECADÊNCIA. DIREITO DE QUEIXA. ARTIGO 41, PARÁGRAFO
1o, DA LEI 5.250/67. JUÍZO INCOMPETENTE. INOCORRÊNCIA.

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1.Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, ainda que perante juízo incompetente, não há falar em
decurso do prazo decadencial. Precedentes do STF e do STJ. 2.Ordem denegada.

Diferentemente, a prescrição só será interrompida se a ação penal for recebida perante o juízo
competente.
Atenção para a Lei de Imprensa: Foi declarada inconstitucional pela ADPF 130. Todavia, não
se sabe se todos os examinadores estão atualizados. Segundo essa lei, o prazo decadencial
é de 03 meses e tem causas de interrupção.

5.4.5. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO


Retratar-se significa voltar atrás, arrepender-se, pressupondo o prévio exercício de um direito, que
é diferente de renunciar.
Renúncia significa abrir mão de um direito que ainda não foi exercido.
A retratação é possível somente até o oferecimento da denúncia.
Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.

** Lei 11.340/06, art. 16 (Lei Maria da Penha) **


Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta
Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente
designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

O legislador usou a expressão renúncia de maneira equivocada, pois não se pode renunciar a um
direito que já foi exercido.
Na verdade, trata-se de retratação da representação, que pode ser feita até o recebimento da
denúncia, hoje somente em relação ao crime de ameaça, já que o estupro passou a ser de ação penal
pública incondicionada, conforme lei nº 13.718/2018, de 24/09/2018.
Essa audiência de retratação da representação só deve ser realizada se porventura a vítima tiver
manifestado prévia vontade de se retratar. (A audiência não é obrigatória).
É possível retratação da retratação da representação, ou seja, nova representação?
A maioria entende que é possível, desde que observado o prazo decadencial de seis meses.

5.4.6. EFICÁCIA OBJETIVA DA REPRESENTAÇÃO

Atenção! Para cada crime, é necessária uma representação. Se a vítima representou para
um crime, esta representação é feita para esse crime especificamente.

É claro que se houve mais de um autor desse crime, a representação valerá para todos os agentes.
Mas, se foi mais de um crime, a representação só valerá para o crime para o qual foi feita.

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Então, feita a representação em relação a um delito, o MP é livre para oferecer denúncia contra
todos os coautores e partícipes; mas o MP não pode oferecer denúncia em relação a outros crimes
que não foram objeto de representação. Neste sentido, STJ: HC 57.200.
EMENTA HC 57.200: CRIMINAL. HC. CALÚNIA. REPRESENTAÇÃO. AUSÊNCIA DE MENÇÃO DOS ENVOLVIDOS.
DESNECESSIDADE. ATO INFORMAL. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
IMPROPRIEDADE DO MEIO ELEITO. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA NÃO-EVIDENCIADA DE PLANO. MATÉRIA
FÁTICA. ORDEM DENEGADA.
I. Hipótese em que a representação omite um dos envolvidos no evento delituoso.
II. A doutrina e a jurisprudência são uníssonas no sentido de não se exigir formalidades ao exercício do direito
de representação, predominando a ideia de informalidade do ato, sendo bastante a manifestação do desejo de
processar, conforme ocorrido in casu.
III. No momento em que se exerce o direito de representação, não se exige a narrativa completa do fato e nem
a indicação de todos os envolvidos no evento, dada a sua eficácia objetiva e subjetiva.
IV. "Se a representação é instituída em benefício da vítima e independe de formalidades, vale ela contra todos
os autores do ilícito, ainda que não constem seus nomes da peça, salvo se houve restrição expressa do ofendido."
V. Ausência de decadência do direito de representação, dada a regularidade da promoção exercida dentro do
prazo fatal de seis meses.
VI. Denúncia que imputou ao paciente a prática do delito de calúnia cometido contra Promotor de Justiça.
VII. A falta de justa causa para a ação penal só pode ser reconhecida quando, de pronto, sem a necessidade de
exame valorativo do conjunto fático ou probatório, evidenciar-se a atipicidade do fato, a ausência de indícios a
fundamentarem a acusação ou, ainda, a extinção da punibilidade, hipóteses não verificadas in casu.
VIII. O habeas corpus constitui-se em meio impróprio para a análise de alegações que exijam o reexame do
conjunto fático-probatório, se não demonstrada, de pronto, qualquer ilegalidadze nos fundamentos da exordial
acusatória.
IX. Ordem denegada.

5.5 - REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA

Requisição é a manifestação da vontade do Ministro da Justiça no sentido de que possui interesse


na persecução penal do fato delituoso. Ex: crime contra a honra do Presidente da República.
Natureza jurídica: condição específica da ação penal.
A requisição do Ministro da Justiça não é sinônimo de ordem, pois o Ministério Público é o titular da
ação penal pública e, conforme sua independência funcional, poderá avaliar se existe lastro mínimo
de autoria e materialidade para oferecimento da denúncia.
Não há prazo decadencial de 06 meses para o oferecimento de requisição, mas o crime está sujeito
a prazo prescricional.

Observação: É possível a retratação da requisição do Ministro da Justiça?

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Há uma corrente minoritária na doutrina que entende que não é possível (Tourinho, Marcelo
Polastro Lima).
Porém, a posição majoritária é de que é possível até o oferecimento da denúncia (Luiz Flávio Gomes,
Eugênio Pacceli).

5.6 - AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA

Art. 5°, LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;

A ação penal privada subsidiária da pública somente é cabível diante da inércia do Ministério Público,
isto é, só vai caber se o Parquet não fizer absolutamente nada.
É um mecanismo de controle do órgão ministerial, pois todo e qualquer poder precisa de um sistema
de controle.
A ação penal privada subsidiária da pública só é cabível nos crimes em que há uma vítima
determinada.

Exemplo: crimes como tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo, embriaguez ao
volante, não comportam ação penal subsidiária, pois são crimes de perigo, que não
possuem uma vítima determinada.

A vítima pode ser tanto uma pessoa física quanto uma pessoa jurídica.

Exemplo: determinada empresa foi vítima de um furto. Pode a pessoa jurídica, como
vítima, ajuizar a ação penal privada subsidiária da pública.

Mas, cuidado! Existem duas exceções interessantes:


Crimes contras as relações de consumo – PROCON e Associações de Defesa do Consumidor podem
propor ação subsidiária da pública (CDC, artigos 80 e 82, III e IV);
Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como a outros crimes e
contravenções que envolvam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Ministério
Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação
penal subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo legal.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais
a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.
Lei 11.101/05, art. 184, parágrafo único (Lei de Falência).

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Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1 o, sem que o representante do Ministério
Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação penal
privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses.

5.6.1. PRAZO DECANDENCIAL PARA O OFERECIMENTO DA QUEIXA SUBSIDIÁRIA

É prazo decadencial de seis meses, contados a partir da inércia do Ministério Público, segundo parte
final do art. 38: “ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da
denúncia”.
Se a vítima não oferecer a queixa subsidiária no prazo de seis meses, vai haver a extinção da
punibilidade?
Como a ação penal em sua essência é pública, a decadência do direito de queixa subsidiária não irá
acarretar a extinção da punibilidade, uma vez que o MP pode agir em qualquer tempo.
Essa decadência que não gera a extinção da punibilidade chama-se decadência imprópria.
Poderes do MP Na Ação Penal Subsidiária Pública
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva,
intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo
tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

Os poderes do Ministério Público são os seguintes:


MP pode opinar pela rejeição da peça acusatória (Art. 395 do CPP);
Repudiar a queixa subsidiária, hipótese em que será obrigado a oferecer denúncia substitutiva;
Aditar a queixa subsidiária, tanto para incluir coautores e outros fatos delituosos, como também
para incluir circunstâncias de tempo ou de lugar;
Intervir em todos os termos do processo, sob pena de nulidade;
Na hipótese de negligência do querelante, o MP retoma o processo como parte principal. Isso é
denominado de ação penal indireta.

5.7 - AÇÃO PENAL POPULAR

Existe alguma ação penal que pode ser ajuizada por qualquer pessoa do povo?
A doutrina (Ada Pelergrini Grinover) costuma se referir a dois exemplos:
(1) Habeas Corpus: O primeiro deles é o habeas corpus, que visa a tutelar a liberdade de locomoção
(ir, vir e ficar). O HC pode ser impetrado por qualquer pessoa, capaz ou incapaz, nacional ou
estrangeira, física ou jurídica.

Observação: a pessoa jurídica não pode ser paciente de HC, mas ela pode impetrar o HC.

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Mas, cuidado! O habeas corpus não é uma ação penal de natureza condenatória (ninguém é
condenado no julgamento do HC). Nele, busca-se a tutela da liberdade de locomoção (ex. alvará de
soltura, salvo-conduto).
Crimes de Responsabilidade: Existe a faculdade de qualquer cidadão oferecer denúncia contra
agentes políticos por crimes de responsabilidade. Mas a pergunta que se faz é se isso aqui é um
processo penal condenatório. Essa ação não leva a um processo penal condenatório.
O crime de responsabilidade nada mais é do que uma infração político-administrativa. A palavra
“denúncia”, aqui, é utilizada como sinônimo de notitia criminis, ou seja, leva-se ao conhecimento do
parlamento a prática de uma infração político-administrativa, objetivando a aplicação de sanções
como perda de cargo, impeachment, etc.

Art. 14. É permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente da República ou Ministro de Estado, por crime
de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.

Quando a lei diz denúncia, não é propriamente uma denúncia, mas hipótese de notitia criminis.
Já crimes de responsabilidade não são crimes propriamente ditos, mas se referem à infração político-
administrativa.
Então, apesar de alguns doutrinadores citarem esses dois exemplos como ação penal popular,
quando se analisa a fundo os exemplos, percebe-se que eles, na realidade, não são ações penais
condenatórias.

5.8. AÇÃO PENAL ADESIVA

Existem duas posições bem distintas na doutrina sobre o que seria ação penal adesiva:
Primeira posição (majoritária): no direito alemão, é possível que o MP ofereça denúncia em crimes
de ação penal privada, desde que visualize a presença de interesse público, hipótese em que o
ofendido pode se habilitar como assistente.
Segunda posição (minoritária): ocorreria nos casos de litisconsórcio ativo entre o MP, no crime de
ação penal pública, e o querelante, no crime de ação penal privada (crimes conexos).

5.9. AÇÃO DE PREVENÇÃO PENAL

É aquela ajuizada com o objetivo de se aplicar medida de segurança ao inimputável do art. 26, caput,
CP.
Pode ser que, durante as investigações policiais, já se chegue à conclusão de que o suspeito é
inimputável. Mas sabe-se que a medida de segurança só pode ser aplicável ao final do processo.
Então, mesmo assim, o promotor é obrigado a oferecer uma denúncia contra o agente e, pelo fato
de ele ser inimputável, pede-se a sua absolvição imprópria.

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5.10. AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA

Ocorre quando as circunstâncias do caso concreto modificam a espécie de ação penal.

Exemplo: furto normal e depois descobre-se que foi furto praticado contra ascendente,
que exige representação do ofendido.

Assim, a ação penal secundária varia conforme as circunstâncias do caso.

5.11. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A HONRA

Alguns crimes provocam problemas na hora de se definir a espécie da ação penal. É o que acontece
nos crimes contra a honra.
A regra é que tais delitos sejam de ação penal privada, pois atingem um interesse muito específico
da própria vítima.
Mas existem exceções, que são:
- Crimes contra a honra praticados durante a propaganda eleitoral: crime eleitoral (ação penal
pública incondicionada);
- Crimes militares contra a honra: ação penal pública incondicionada;
- Injúria real (art. 140, § 2°, CP): ofende-se a honra subjetiva de alguém através de vias de
fato, lesão corporal. Se praticada mediante vias de fato, a ação penal será privada; se
praticada mediante lesão leve, será pública condicionada à representação; se praticada
mediante lesão corporal grave ou gravíssima, será pública incondicionada;
- Crime contra a honra do Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro: ação
penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça;
- Crime contra a honra de servidor público em razão das funções;
Súmula 714 do STF:
É CONCORRENTE A LEGITIMIDADE DO OFENDIDO, MEDIANTE QUEIXA, E DO MINISTÉRIO PÚBLICO,
CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO, PARA A AÇÃO PENAL POR CRIME CONTRA A HONRA DE
SERVIDOR PÚBLICO EM RAZÃO DO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES.

De acordo com a Súmula 714 do STF, de um lado se tem a ação penal privada e, de outro, a ação
penal pública condicionada à representação.
Apesar de ela dizer que a legitimação é concorrente, a legitimação é alternativa, pois
simultaneamente elas não caminham.

AÇÃO PENAL PRIVADA OU AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO

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Para o STF, uma vez oferecida à representação, o ofendido não mais poderá exercer o direito de
queixa. Portanto, trata-se de legitimação alternativa e não concorrente (I.P, 1939).
EMENTA INQ 1.939: I. Ação penal: crime contra a honra do servidor público, propter officium: legitimação
concorrente do MP, mediante representação do ofendido, ou deste, mediante queixa: se, no entanto, opta o
ofendido pela representação ao MP, fica-lhe preclusa a ação penal privada: electa una via...
II. Ação penal privada subsidiária: descabimento se, oferecida a representação pelo ofendido, o MP não se
mantém inerte, mas requer diligências que reputa necessárias.
III. Processo penal de competência originária do STF: irrecusabilidade do pedido de arquivamento formulado
pelo PGR, se fundado na falta de elementos informativos para a denúncia.

- Injúria racial (art. 140, § 3°, CP): Antes da Lei 12.033/09, a ação penal era privada. Depois da Lei
12.033/09, a ação penal tornou-se pública condicionada à representação.

Questão: No dia 30 agosto de 2009, foi cometido o crime de injúria racial, quando a ação
penal era privada. No dia 30 de setembro de 2009, entra em vigor a Lei 12.033/09, que
transformou a ação penal em pública condicionada. Qual a espécie de ação penal nesse
caso concreto?

Quando o crime for de ação penal é privada, o acusado pode ser beneficiado com um número maior
de causas extintivas da punibilidade (perdão, renúncia, perempção, decadência).
Dessa forma, com a nova lei, há apenas uma causa extintiva da punibilidade (decadência). Por isso,
trata-se de lei de natureza penal, sendo mais gravosa e não pode retroagir, razão pela qual a ação
penal será privada.
Não confundir o crime de injúria racial com o crime de racismo (ação penal pública incondicionada).
O crime de racismo está previsto na lei nº 7.716/89.
No racismo, há uma oposição indistinta a toda uma cor, raça, religião, etnia ou procedência nacional
e a sua ação penal é pública incondicionada.
Já na injúria racial, ofende-se uma pessoa específica e determinada, fazendo-se referência à sua cor,
raça, religião, etc. A injúria racial tem como
ação penal a ação pública condicionada à representação.

Exemplo: Vide STJ, RHC 19.166 – fez-se uma distinção entre o crime de racismo e o de
injúria real, entendendo que a ação penal do primeiro era pública incondicionada.

EMENTA: RHC 19.166: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HC. ART. 20, DA LEI Nº 7.716/89.
ALEGAÇÃO DE QUE A CONDUTA SE ENQUADRARIA NO ART. 140, §3º, DO CP. IMPROCEDÊNCIA. TRANCAMENTO
DA AÇÃO PENAL. FALTA DE JUSTA CAUSA. INOCORRÊNCIA.
I - O crime do art. 20, da Lei nº 7.716/89, na modalidade de praticar ou incitar a discriminação ou preconceito
de procedência nacional, não se confunde com o crime de injúria preconceituosa (art. 140, §3º, do CP). Este
tutela a honra subjetiva da pessoa. Aquele, por sua vez, é um sentimento em relação a toda uma coletividade
em razão de sua origem (nacionalidade).

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II - No caso em tela, a intenção dos réus, em princípio, não era precisamente depreciar o passageiro (a vítima),
mas salientar sua humilhante condição em virtude de ser brasileiro, i.e., a idéia foi exaltar a superioridade do
povo americano em contraposição à posição inferior do povo brasileiro, atentando-se, dessa maneira, contra a
coletividade brasileira. Assim, suas condutas, em tese, subsumem-se ao tipo legal do art. 20, da Lei nº 7.716/86.
III – (...) In casu há o mínimo de elementos (v.g., prova testemunhal) que indicam possível participação dos
recorrentes no delito a eles imputado.
Writ denegado.

5.12. AÇÃO PENAL NOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

ANTES DA LEI 12.015/09 DEPOIS DA LEI 12.015/09 E DEPOIS DA LEI Nº


ANTES DA LEI 13.718/18 13.718/18

Em regra, a ação penal era Em regra, pública condicionada à Ação penal pública
privada. representação (art. 225 do incondicionada
CP)**.

Exceções:
Exceções:

1) Vítima pobre: pública


condicionada à representação, 1) Se o crime for cometido contra
mesmo se houvesse DPE na menor de 18 anos – ação penal
comarca; pública incondicionada;

2) Se o crime fosse cometido com 2) Se o crime for cometido contra


abuso do poder familiar, a ação vulnerável** – ação penal
penal era pública pública incondicionada (crime
incondicionada; autônomo);

3) Se o crime fosse cometido com


o emprego de violência real**,
mesmo que resultasse em lesão
leve: ação penal pública
incondicionada (Súmula 608 do
STF – tem fundamento no art.
101 do CP – ação penal
extensiva**).
4) Qualificado pela lesão grave
ou morte: ação penal pública
incondicionada;

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Observação 1: Violência real é o emprego de força física sobre o corpo da vítima, como
meio de constrangimento.
Observação 2: Ação penal extensiva: em crimes complexos, caso um dos crimes seja de
ação penal pública, o todo também será de ação penal pública.

Se o crime fosse praticado com violência presumida (contra menor), a ação seguia a regra – ação
privada.

Observação 3: Os crimes cometidos antes da entrada em vigor da Lei 12.015/09 deverão


ser processados por ação penal privada, uma vez que a alteração foi mais maléfica e não
pode retroagir (com a ação privada, o acusado tem 04 possibilidades de extinção da pena:
decadência, renúncia, perdão e perempção).
Observação 4: Da mesma maneira, os crimes anteriores à lei 13.718/18, deverão exigir
representação, pois, a partir do momento que o estupro passou a ser de ação penal
pública incondicionada, tal condição é prejudicial ao réu.
Observação 5: O conceito de vulnerável consta no art. 217- A, § 1°, CP.

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

5.13. AÇÃO PENAL NO CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE COMETIDO COM VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

Art. 16, Lei 11.340/06 - Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta
Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

O artigo 16 fala em “ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida”. Por conta
desse dispositivo, no âmbito do STJ, vinha prevalecendo o entendimento de que os crimes de
violência doméstica dependiam de representação.
No julgamento do REsp 1.097.042, o STJ reuniu a 5ª e 6ª turma e passou a entender que os crimes
de lesão leve e lesão culposa dependeriam de representação.
Art. 41, Lei 11.340/06 - Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Antes da lei Maria da Penha, a violência contra a mulher era mensurada em cestas básicas, pois os
casos sempre paravam nos juizados.
Antes da lei dos juizados, a lesão leve e a lesão culposa eram crimes de ação penal pública
incondicionada.
A partir da edição d artigo 88, da Lei 9.099 que transformou a ação penal desses crimes em pública
condicionada a representação.

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Se o artigo 41 diz que a lei 9.099/95 não se aplica à violência contra a mulher, poder-se-ia entender
que esse crime seria de ação penal pública incondicionada, pois o artigo 88 também não se aplicaria
ao caso.
Foi exatamente essa a decisão recente do STF, na ADI 4.424 e na ADC 19.
Informativo 657, STF: Pugnou-se pela constitucionalidade da lei Maria da Penha, em razão da adesão do Brasil
em inúmeros tratados internacionais de proteção à mulher (Convenção de Belém do Pará, Convenção sobre a
eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, etc.). Diante da realidade de violência contra
a mulher existente no país, faz-se necessária uma proteção específica para a mulher, corrigindo-se um problema
social. Trata-se de uma política de ação afirmativa (fundada no princípio da isonomia e dignidade da pessoa
humana, sem prejuízo da efetiva proteção dos direitos fundamentais). Ao legislador é dado fazer uma leitura
discricionária do princípio da igualdade. Por isso, ao agressor não serão concedidos os institutos da suspensão
condicional do processo, transação civil ou penal. Ademais, os delitos de lesão corporal leve e culposa contra a
mulher independem de representação da ofendida, processando-se mediante ação penal pública
incondicionada.
Informativo 654, STF: O Plenário julgou procedente a ADC ajuizada pelo Presidente da República, para assentar
A CONSTITUCIONALIDADE da Lei Maria da Penha:
Sobre o questionamento ligado ao princípio da isonomia, asseverou o STF que essa diferenciação com base no
sexo não é desproporcional ou ilegítima, visto que a mulher é eminentemente vulnerável no tocante a
constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado. Ademais, é forçoso perceber a
existência de um movimento legislativo claro no sentido de se criarem microssistemas próprios, para conferir
tratamento distinto e proteção especial a sujeitos de direito em situação de hipossuficiência, como o Estatuto
do Idoso e o ECA (análise do art.1º, da lei).
Analisando-se o art.33, da lei, que fala sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e familiar contra a
mulher e da acumulação, pelas varas criminais, das competências cível e criminal para conhecer e julgar as
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher enquanto os juizados não forem
criados, entendeu-se que esse dispositivo não violaria o art.96, I, a, CF, nem o art.125, §1º, CF, já que a lei Maria
da Penha estabelece uma FACULDADE de criação dos juizados e a competência cumulativa de ações cíveis e
criminais envolvendo violência doméstica contra a mulher. Ademais, esse artigo 33 não estaria criando varas
judiciais, nem definindo limites de comarcas, tampouco estabelecendo número de magistrados a serem
alocados nesses juizados de violência doméstica e familiar. No que tange ao art.41, que fala da não aplicação
da lei dos juizados especiais aos casos da Lei Maria da Penha, também declarou-se a constitucionalidade desse
artigo, mencionando-se que esse dispositivo se coaduna com o princípio da igualdade e atende à ordem jurídico-
constitucional, dando efetividade ao art.226, §8º, CF. Entendeu-se que deixar que o crime de violência doméstica
fosse de ação penal pública condicionada a representação levaria a muitas mulheres não representar ou a se
retratar da representação, o que esvaziaria o conteúdo da proteção estatal. Fundamentou-se com a necessidade
de intervenção estatal acerca do problema, baseada na dignidade humana, na igualdade, e na vedação a
qualquer discriminação atentatória aos direitos e liberdades fundamentais. Assim, em se tratando de lesões
corporais, inclusive de natureza leve ou culposa, praticadas com violência doméstica, a ação penal é pública
incondicionada.

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ATENÇÃO!!! Permanece, entretanto, a necessidade de representação para crimes


dispostos em leis diversas da 9.099/95, como, p.ex., o crime de ameaça.

A mesma decisão foi dada na análise da lei feita em sede de uma ADI proposta pelo PGR. Nessas
duas decisões, o STF entendeu que o artigo 41, da Lei Maria da Penha, é plenamente constitucional,
sobretudo por conta do art.226, §8º, da CF.
Art.226, §8º, CF - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

Além de firmar a constitucionalidade do artigo 41, de modo a proteger a mulher, o STF entendeu,
também, que a ação penal é pública incondicionada.
MAS, ATENÇÃO!!! ISSO É APENAS PARA OS CRIMES DE LESÃO LEVE E LESÃO CULPOSA!!
No caso do crime de ameaça praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, a ação
penal continua a ser aquela prevista no Código Penal, ou seja, ação penal pública condicionada à
representação.
Isso pode ficar estranho ao intérprete, pois no caso de lesão leve e culposa a ação é pública
incondicionada, mas o estupro tem ação penal condicionada à representação.
Ocorre que deve ser compreendido que o STF deu a decisão sobre a lesão leve pois havia uma
contradição entre os artigos 16 e 41 da Lei.
O STF não pode “do nada” mudar a ação penal dos crimes se não houver dúvida na lei. Deve-se
respeitar os princípios da legalidade e da divisão dos poderes (o STF não poderia modificar a espécie
de ação penal de todos os crimes praticados no contexto de violência doméstica e familiar contra a
mulher).
Deve-se, portanto, acompanhar a jurisprudência, pois, provavelmente, o STJ vai acabar alterando o
seu entendimento para adequá-lo ao pensamento do STF.
ADI 4.424: Consequências. 1) A ação penal nos crimes de lesão corporal leve e culposa nas situações previstas
na LMP é incondicionada; 2) É constitucional o art. 33 da LMP;3) É constitucional o art. 41 da LMP.

5.14. RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA

Renúncia é o ato unilateral e voluntário por meio do qual a pessoa legitimada ao exercício da ação
penal privada abre mão do seu direito de queixa.
Tem natureza jurídica de causa extintiva da punibilidade em relação aos crimes de ação penal
exclusivamente privada e privada personalíssima.
A renúncia está ligada diretamente ao princípio da oportunidade ou conveniência.
A renúncia é cabível enquanto não oferecida a queixa.
A renúncia é considerada um ato unilateral e não depende de aceitação.
Cabe renúncia quanto à representação?

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A renúncia na representação só é cabível quando há composição civil dos danos (Lei 9.099/95, art.
74).
A renúncia pode ser expressa (declaração inequívoca) ou tácita (a prática de ato incompatível com
a vontade de processar.

Exemplo: convidar o autor do delito para ser padrinho da vítima.

Observação 1: Recebimento de dinheiro é renúncia? Recebimento de indenização não


implica em renúncia tácita, salvo no caso da composição civil dos danos nos juizados.
Observação 2: Princípio da indivisibilidade – renúncia concedida a um dos coautores
estende-se aos demais.

5.15. PERDÃO DO OFENDIDO

O perdão do ofendido é ato bilateral e voluntário, por meio do qual, no curso do processo, o
querelante resolve perdoar o acusado, com a conseqüente extinção da punibilidade nas hipóteses
de ação penal privada e ação penal privada personalíssima.
O perdão pode ser concedido até o trânsito em julgado da ação penal condenatória.
§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

Aqui vige o princípio da disponibilidade, uma vez que o perdão é concedido durante o processo.
O perdão do ofendido não se confunde com o perdão judicial. Tanto este quanto aquele são causas
extintivas da punibilidade, conforme art. 107, incisos V e IX, do CP.
Princípio da indivisibilidade: Perdão concedido a um dos acusados estende-se ao demais, mas desde
que haja aceitação.
O perdão é ato bilateral, pode ser expresso ou tácito e depende de aceitação e ela pode ser expressa
ou tácita. Vale ressaltar que o silêncio significa aceitação tácita, conforme art. 58 do CPP.
Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro
de três dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu silêncio importará aceitação.

5.16. PEREMPÇÃO

É a perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal privada em virtude da negligência do


querelante. Trata-se de causa de extinção da punibilidade.
Só vai haver a extinção da punibilidade nos crimes de ação penal exclusivamente privada e ação
penal privada personalíssima.

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A perempção não se confunde com a decadência. Decadência é a perda do direito de dar início à
ação penal privada, enquanto que perempção é a perda do direito de prosseguir com o processo.
Causas de perempção (Rol taxativo, previsto no art. 60 do CPP).
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para
prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo,
ressalvado o disposto no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que
deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

Não cabe perempção na ação penal privada subsidiária da pública, pois ela pode ser iniciada por
denúncia e não somente mediante queixa.
I – Precisa intimar o querelante ou não? Prevalece o entendimento de que o juiz deve intimar
o querelante.
II – Prevalece o entendimento de que não há necessidade de intimação de cada um dos
sucessores.
III – Qual é a consequência da ausência do querelante em crimes contra a honra? Tanto
doutrina como jurisprudência entendem que essa ausência não é causa de perempção.
A ausência do querelante à audiência de conciliação (que só existe nos casos de crimes contra a
honra) demonstra que ele não tem interesse na conciliação. Essa ausência não demonstra
negligência nem desídia. Então, ela não é causa de perempção.
IV - Qual é a consequência do advogado do querelante na audiência una de instrução e
julgamento? Ocorre a perempção, uma vez que não há como, sem advogado, fazer pedido de
condenação nas alegações finais. E, se não houve pedido de condenação nas alegações orais,
há uma causa de perempção.
V - Por razões obvias, se a pessoa jurídica não deixar sucessores, não haverá como se
prosseguir com a ação penal.
PEÇA ACUSATÓRIA
A peça acusatória é a denúncia na ação penal pública e a queixa-crime na ação penal privada. Essas
duas petições, em regra, devem ser apresentadas por escrito.
É possível que haja um único processo com duas peças acusatórias?
É possível desde que se visualiza uma conexão ou continência entre um crime de ação penal pública
e outro crime de ação penal privada.
É possível a apresentação dessa peça acusatória oralmente?

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Em regra, essas duas peças acusatórias são apresentadas por escrito. Contudo, na Lei dos Juizados,
essas duas peças acusatórias podem ser apresentadas oralmente, sendo reduzidas a termo pelo
escrivão.
Requisitos:
Art. 41, CPP - A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando
necessário, o rol das testemunhas.

6.1 - EXPOSIÇÃO DO FATO CRIMINOSO COM TODAS AS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS

O primeiro requisito da peça acusatória é a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias.
Na exposição do fato delituoso, é importante esclarecer o que aconteceu, como aconteceu, quem
estava envolvido, contra quem, quando, onde, por que, e assim por diante.
Observações quanto à exposição do fato delituoso:

Observação 1: Em relação aos crimes culposos, o promotor deve descrever em que


consistiu a modalidade da culpa (não basta dizer que a conduta era imprudente. Deve-se
dizer o que a pessoa estava fazendo e que a levou à conduta culposa).
Observação 2: No processo penal, o acusado defende-se dos fatos que lhe são imputados,
independentemente da classificação formulada.
Observação 3: É necessário saber o local do crime para oferecer denúncia? Para
responder a essa pergunta, deve-se distinguir os elementos essenciais dos elementos
acidentais da denúncia. Essa diferença é feita por Antônio Scarance.

Elementos essencias x elementos acidentais


Os elementos essenciais são aqueles necessários para identificar a conduta como um fato típico, ou
seja, se, de algum modo se imputa a prática de um crime a alguém, deve-se apontar os elementos
que caracterizam esse tipo. Não se trata de copiar o artigo, mas descrever as características.
A consequência de eventual vício quanto a esses elementos essenciais é tratada pela doutrina como
causa de nulidade absoluta, por violação à ampla defesa. Como o acusado pode se defender de
alguma coisa se não sabe qual é a acusação?
Os elementos acidentais são aqueles relacionados às circunstâncias de tempo, lugar do crime,
modus operandi, etc. Esses elementos precisam constar da denúncia desde que se saibam quais são
essas circunstâncias (se sabe qual foi o momento do crime, qual o lugar, qual o modus operandi).
Então, se os elementos acidentais forem conhecidos, eles deverão constar da peça acusatória.
Eventuais vícios com os elementos acidentais tratam-se de nulidade relativa, que deve ter o prejuízo
comprovado para que seja levantada.

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Observação 4: Agravantes e atenuantes devem constar da peça acusatória? Segundo a


doutrina minoritária, sim, pois elas repercutem na punição. Se a agravante não constou
da denúncia, o agente não teve a oportunidade de se defender dela.

Mas, no âmbito dos tribunais, prevalece o entendimento de que agravantes e atenuantes podem
ser reconhecidas pelo juiz mesmo que não tenham constado da peça acusatória. Fundamentam seu
entendimento no art.385, do CPP.
Art. 385, CPP - Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério
Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido
alegada.

Quanto às atenuantes, o CPP não fala, mas se o juiz pode conhecer HC de ofício, é obvio que ele
pode reconhecer atenuantes.

Observação 5: A deficiência da narrativa do fato delituoso é chamada pela doutrina de


“criptoimputação” e é causa de inépcia formal da peça acusatória. A inépcia é uma das
causas de rejeição da denúncia (art.395, I, CPP).

Ademais, na visão dos tribunais superiores, a inépcia da peça acusatória deve ser arguida até a
sentença, sob pena de preclusão. Se a pessoa não falou nada sobre a inépcia é porque ela conseguiu
se defender. Além disso, se a pessoa não fala nada, ocorre preclusão temporal.

Observação 6: Crimes societários e denúncia genérica: Os crimes societários também são


chamados de “crimes de gabinete”. São crimes praticados por pessoas físicas, sob o
manto protetor da pessoa jurídica. Exrmplo: crimes tributários e crimes contra a
previdência social.

A denúncia genérica é aquela que não aponta a conduta de cada um dos denunciados (ex. “os cinco
acusados praticaram o crime de sonegação de contribuição previdenciária”).
Por outro lado, há situações em que não é possível individualizar a conduta de cada um. Exemplo:
quatro pessoas encapuzadas assaltaram um banco. No momento da denúncia não dá para
individualizar quem é quem e descrever as suas condutas especificamente.
Nos crimes societários há uma especificidade com relação à denúncia genérica:
Denúncia genérica em crimes societários - para os tribunais superiores, o simples fato de ser sócio,
gerente ou administrador não permite a instauração de processo penal pelos crimes praticados no
âmbito da sociedade se não se comprovar, ainda que minimamente, a relação de causa e efeito
entre as imputações e a função do denunciado na sociedade, sob pena de se admitir verdadeira
responsabilidade penal objetiva. Isto porque, nem sempre as pessoas que estão no contrato social,
por exemplo, são as pessoas que estão de fato na administração da empresa e que praticaram os
fatos delituosos. Tem que demonstrar que a pessoa constava do contrato social e que realizava atos
de gerência e administração da empresa. (ex. empresas familiares). Vide STJ, HC 24.239.
Paccelli faz uma distinção, neste ponto sobre crimes societários, entre acusação genérica e acusação
geral.

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Acusação geral x acusação genérica


- Acusação geral: Nesta, o mesmo fato delituoso é atribuído a vários acusados. Se se trata de um
único fato delituoso, não há prejuízo nem violação à ampla defesa, pois se tradando de um fato
delituoso, os acusados sabem de qual fato devem se defender. Essa denúncia é plenamente válida
e deve ser
recebida. Exemplo: assalto a banco.
- Acusação genérica: já nesta, são vários fatos delituosos são imputados a diversos agentes. A
doutrina diz que nesse caso há uma nulidade absoluta
por violação à ampla defesa (ficaria difícil para o acusado saber de qual fato delituoso ele teria que
se defender).
- Cumulação de imputações: Em uma mesma denúncia há a imputação para uma mesma pessoa de
mais de um crime, desde que haja conexão. O que não se admite é uma imputação alternativa.
Exemplo: sujeito na posse de objeto subtraído. Pode ser que ele mesmo tenha furtado, ou que
recebeu de terceiro, sabendo a sua origem espúria. Neste caso, se o acusado for denunciado por
uma imputação OU pela outra, haveria uma violação à ampla defesa.

6.2. QUALIFICAÇÃO DO ACUSADO OU ESCLARECIMENTOS PELOS QUAIS SE POSSA


INDENTIFICÁ-LO

Ela envolve a colocação de dados que individualizam a pessoa do acusado, como, por exemplo, o
nome, filiação, nascimento, número de CPF, RG, nacionalidade, estado civil, e assim por diante.

Atenção! Deve-se atentar para a utilização de identidade falsa por criminosos.

É possível oferecer uma denúncia se o MP não tiver a qualificação da pessoa?


Sim. Ainda que não haja qualificação é possível o oferecimento da peça acusatória, que deve apontar
os esclarecimentos pelos quais se possa identificar a pessoa.
Se o agente não tiver identidade, deve-se colher a digital para se fazer a identificação criminal. Os
institutos de identificação podem ajudar a descobrir a identificação civil.
Se não for possível a identificação criminal, a denúncia deve fazer esclarecimentos pelos quais se
possa identificar a pessoa.
Hoje também é possível a identificação do acusado por meio de mapeamento genético, desde que
haja um banco de dados com colheita anterior deste indivíduo.
Esses esclarecimentos devem levar a uma identificação física que seja certa.

Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não
retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do
julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo,
nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.

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Todavia, em uma cidade como SP, deve-se tomar cuidado com homônimos e com dados
qualificativos realmente capazes de identificar o indivíduo certo.
Assim que for descoberta a verdadeira identidade do acusado, é possível a retificação da peça
acusatória. qualificação, dificilmente o juiz vai receber a denúncia.
Geralmente a denúncia sem a qualificação será possível quando essa pessoa estiver presa.

Observação: Lembrar que se a pessoa não é identificada, está foragida e ainda está
cometendo crimes, será possível a decretação de sua prisão preventiva, a fim de se fazer
a sua identificação. Se o agente for preso, uma vez obtida a identificação, ele poderá ser
solto.

Art.313, parágrafo único, CPP - Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a
identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso
ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida.

6.3 - CLASSIFICAÇÃO DO CRIME

É a indicação do dispositivo legal que descreve o fato criminoso praticado pelo agente. Não se trata
de requisito obrigatório, pois o acusado defende-se dos fatos que lhe são atribuídos,
independentemente da classificação.
No processo penal são sempre possíveis a emendatio libelli e a mutatio libelli.
Emendatio libelli ocorre quando o juiz, sem modificar a descrição do fato contido na peça acusatória,
atribui a ele classificação diversa, mesmo que tenha que aplicar pena mais grave.
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição
jurídica diversa, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave.

Mutatio libelli ocorre quando, durante a instrução processual, surge prova de elementar ou
circunstância não contida na peça acusatória. Nesse caso, o Ministério Público deve fazer o
aditamento, seguido da oitiva da defesa.
Art. 384. Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em consequência
de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o
Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em virtude desta houver
sido instaurado o processo em crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito
oralmente.

6.4. ROL DE TESTEMUNHAS

Esse rol de testemunhas só deve ser apresentado se necessário. Muitos crimes não dependem de
prova testemunhal (ex. crimes tributários; ex. sonegação de imposto de renda).

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Se não apresentado o rol de testemunhas na peça acusatória, a consequência é a preclusão


temporal.
Na prática, o juiz invoca o princípio da busca da verdade para ouvir as testemunhas como
testemunhas do juízo (Art. 156, II, CPP).
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: (Redação
dada pela Lei nº 11.690, de 2008)
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir
dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

O número de testemunhas varia de acordo com o procedimento. No procedimento comum


ordinário, até oito; no sumário, cinco; no sumaríssimo, três ou cinco. Na primeira fase do
procedimento do júri, até oito; na segunda, cinco. Na Lei de Drogas, até cinco; no procedimento
ordinário do CPPM até seis.
Esse número varia de acordo com o número de fatos delituosos.

Exemplo: um crime de roubo, oito testemunhas; dois crimes de roubo, até dezesseis,
desde que não praticados na mesma ocasião. Se estiverem interligados, praticados na
mesma ocasião, apenas oito testemunhas.

Nesse número de testemunhas, não são computadas as testemunhas referidas, as que não prestam
compromisso e aquelas que nada souberem acerca da causa.
Para a acusação, o número de testemunhas varia de acordo com o número de ações ou omissões.

Exemplo: determinada pessoa assalta uma padaria e logo em seguida assalta uma casa
lotérica. Existem duas ações delituosas; então seriam cabíveis dezesseis testemunhas,
sendo oito para cada fato.

Atenção! Não são oito testemunhas por crime, mas por ação (fato)!

Exemplo:. Agente entra no ônibus e aponta uma arma para duas pessoas, pedindo
dinheiro. Aqui, houve dois crimes de roubo, mas apenas uma ação. Então, o número de
testemunhas é oito.

Por outro lado, para a defesa, apesar de também haver controvérsia, o ideal é que esse número
varie de acordo com o número de ações e omissões, mas POR ACUSADO. Nos exemplos acima,
teríamos:
Exemplo do assalto na padaria e na casa lotérica: Para a defesa, cada acusado teria direito a dezesseis
testemunhas.
Tem doutrinador que diz que o número de testemunhas é o mesmo para acusação e defesa. Porém,
segundo Renato Brasileiro, quando o processo tem mais de um réu, esses fatos só estão sendo
apurados no mesmo processo por uma razão de economia e celeridade processual. Então, segundo
esse entendimento, não se pode prejudicar a defesa por questões de política processual penal. Por
conseguinte, o melhor entendimento seria do número de ações ou omissões, por acusado.

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6.5. REDAÇÃO EM PORTUGUÊS

A peça deve ser redigida em português claro para que as pessoas tenham capacidade de entender,
até porque o processo é público.

6.6. PEÇA ACUSATÓRIA SUBSCRITA PELO PROMOTOR OU PELO ADVOGADO DO QUERELANTE

A ausência da assinatura não enseja a rejeição da peça acusatória, caso não haja dúvida quanto a
sua autenticidade.

6.7. PROCURAÇÃO DA QUEIXA-CRIME

Essa procuração é uma procuração com poderes especiais. A peculiaridade dessa procuração é que
ela deve fazer menção ao nome do querelado e ao fato delituoso. Quando se fala em menção do
fato delituoso, os tribunais entendem que basta a indicação do dispositivo legal.
Art. 44, CPP - A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento
do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos
dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.

Além disso, eventuais vícios da procuração podem ser supridos a qualquer momento, antes da
sentença condenatória, segundo o STJ e o STF (com base no art.568, CPP).
Art. 568, CPP - A nulidade por ilegitimidade do representante da parte poderá ser a todo tempo sanada,
mediante ratificação dos atos processuais.

6.8. PRAZO PARA O OFERECIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA

PRESO SOLTO

CPP (denúncia) 05 dias 15 dias

Queixa-crime 05 dias 06 meses (contados do


conhecimento da autoria)

Lei de Drogas 10 dias 10 dias

CPM 05 dias 15 dias

Crime contra a economia 15 dias 15 dias


popular (Lei 1.521)

Abuso de Poder 48 horas 48 horas*

Código Eleitoral 10 dias 10 dias

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O prazo só pode ser contado em horas se houver ciência da hora da intimação. Caso contrário, esse
prazo deverá ser contado em dias.

6.9. CONSEQUÊNCIAS DA INÉRCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

a) Cabimento de ação penal privada subsidiária da pública;


b) Perda do subsídio (Art. 801 do CPP);
A doutrina entende que esse artigo não foi recepcionado pela CF, uma vez que está prevista a
irredutibilidade dos subsídios.
c) Se o acusado estiver preso e o excesso for abusivo, a prisão deverá ser relaxada, sem
prejuízo da continuidade da persecução penal.
REJEIÇÃO DA PEÇA ACUSATÓRIA
Uma das causas de rejeição da peça acusatória é a chamada ausência de justa causa. Por isso, deve-
se demonstrar ao juiz quais são as razões de convicção quanto àquela imputação.

Exemplo: prova testemunhal produzida durante o inquérito.

A denúncia e a queixa também serão rejeitas quando não cumprir com os requisitos do artigo 395
do Código de Processo Penal, já estudadas as condições para a ação penal e os pressupostos
processuais.
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. (Revogado). (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Pressupostos processuais
Conforme construção pela teoria geral do processo, os pressupostos processuais são de existência
ou de validade.
Os pressupostos de existência subdividem-se em subjetivos e em objetivos.
- Pressupostos de existência subjetivos: órgão jurisdicional e da capacidade de ser parte (aptidão
de ser sujeito processual).
- Pressuposto de existência objetivo: é a própria demanda (ato que instaura um processo, ato de
provocação).

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Presentes os pressupostos processuais de existência, passa-se à análise dos pressupostos


processuais de validade, que também se subdividem em subjetivos e objetivos.
- Pressupostos de validade subjetivos: dizem respeito ao juiz (sua competência e imparcialidade)
e às partes (que devem ter capacidade processual e capacidade postulatória).
- Pressupostos de validade objetivos: podem ser intrínsecos ou extrínsecos.
Os intrínsecos são os pressupostos que devem ser vistos dentro do processo, como o adequado
desenrolar dos atos processuais.
Os extrínsecos, também chamados de negativos, são pressupostos que não devem estar
presentes. Em outras palavras, para que o processo seja válido, não podem ocorrer, como a coisa
julgada, por exemplo.

6.11. CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE

As causas extintivas da punibilidade relacionadas à ação privada são perempção, perdão e renúncia.
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;

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