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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE DIREITO
DISCIPLINA: DIREITO PENAL IV (legislação penal especial)
PROFESSOR: GLAUCIO FERNANDO BARROS CUNHA

TORTURA

 INTRODUÇÃO

 O Art. 5º, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948


(ONU) consagra o princípio de que "ninguém será submetido a tortura,
nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante".

 Tratados Internacionais: O Brasil foi signatário de dois tratados


internacionais pelos quais se obrigou a reprimir os crimes de tortura:

 Convenção contra Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,


Desumanos e Degradantes - 1984;

 Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura - 1985.

 Constituição Federal de 1988, Art. 5º:

 III - "ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou


degradante;

 XLIII - " XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de


graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem;"

 Legislação Infraconstitucional:

 Lei nº 8.072/90, Art. 2º - equiparação a crime hediondo.

 Lei nº 9.455/97 - Crimes de Tortura.

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PROFESSOR: GLAUCIO FERNANDO BARROS CUNHA
 Conceito de Tortura

 Art. 1º, da Convenção contra Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,


Desumanos e Degradantes.

 Bem jurídico tutelado: a dignidade da pessoa humana e a integridade


física e psíquica da pessoa;

 Dos crimes em espécie

 Art. 1º, I:

 Constranger: obrigar alguém a fazer algo contra sua vontade, forçar,


tolher a liberdade de alguém;

 objetividade jurídica: a incolumidade física e mental das pessoas;

 meios de execução: violência (constrangimento físico ou agressão


física) e grave ameaça (intimidação, promessa de mal injusto e grave,
promessa de castigo).

 Sofrimento físico ou mental: é o sofrimento exasperado,


desnecessário e cruel ao ser humano, que pode ser no corpo ou em sua
mente;

 Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos:


Para o STJ não cabe em razão da violência.

 espécies delituosas ou modalidades:

a) Tortura prova, probatória, persecutória, institucional ou


inquisitorial

 sujeito ativo: crime comum;

 sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa;

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 elemento subjetivo: o tipo contém um especial fim de agir, que é obter
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
Obs: não é necessária a obtenção da informação, declaração ou da
confissão para a consumação.
 Prova ilícita: se obtidas a informação, declaração ou confissão, tal
prova será considerada ilícita, devendo ser desentranhada (CF, Art. 5º,
LVI).

 Consumação: consuma-se com o sofrimento físico ou mental


causado à vítima (crime formal); Admite tentativa.

 Suspensão condicional do processo: é incabível (a pena mínima


ultrapassa 1 ano - Art. 89, da Lei nº 9.099/95);

b) Tortura crime ou para a prática de crime

 sujeito ativo: crime comum;

 sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa;

 coação moral irresistível: é o que leva a vítima a praticar um crime;

 funciona simultaneamente como espécie de autoria mediata e


causa de inexigibilidade de conduta diversa (CP, Art. 22) -
exclui a culpabilidade;

 somente o autor da tortura será responsabilizado penalmente:


pelo crime de tortura (autor imediato) e pelo delito praticado
pelo coagido (autor mediato), em concurso material (CP, Art.
69);

 elemento subjetivo: o tipo contém um especial fim de agir, que é "para


provocar ação ou omissão criminosa";
Obs: não é necessário que a vítima pratique a ação ou se omita para
que ocorra a consumação.

 Consumação: consuma-se com o sofrimento físico ou mental


causado à vítima (crime formal); Admite tentativa.

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 Suspensão condicional do processo: é incabível (a pena mínima


ultrapassa 1 ano - Art. 89, da Lei nº 9.099/95);

 Contravenção penal: se a vítima for constrangida para praticá-la, não


configurará tortura;

c) Tortura discriminatória, preconceituosa ou racista

 sujeito ativo: crime comum;

 sujeito passivo: pode ser qualquer pessoa;

 outras formas de discriminação: o legislador não previu, tais como


discriminação sexual ou política. Se acontecer a conduta será atípica ou
configurar lesão corporal;

 Racismo: é possível que o agente, além de responder pela tortura,


também responda pelo crime de racismo (Art. 20, Lei nº 7.716/89: "
Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três
anos e multa."

 Consumação: consuma-se com o sofrimento físico ou mental


causado à vítima (crime formal); Admite tentativa.

 Suspensão condicional do processo: é incabível (a pena mínima


ultrapassa 1 ano - Art. 89, da Lei nº 9.099/95);

 Art. 1º, II - Tortura castigo ou tortura punitiva

 sujeito ativo: somente pode ser praticado por quem se encontre em


situação de guarda, poder ou autoridade em relação à vítima (crime
próprio);

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 Sujeito passivo: pessoa que deve estar sob guarda, poder ou
autoridade do agente;

 guarda, poder ou autoridade:

Guarda: vigilância permanente;


Poder: decorre de exercício de cargo ou função pública;
Autoridade: refere-se a relações privadas (tutela, curatela, filhos)

 especial fim de agir: "como forma de aplicar castigo pessoal ou


medida de caráter preventivo";

 Diferença para o Crime de Maus Tratos (CP, Art. 136): a principal


diferença reside no dolo, pois no crime de maus tratos há um caráter
educativo e o fim é a repreensão à indisciplina, já na tortura a intenção é
causar sofrimento físico ou mental, sem nenhum cunho educativo.

 § 1º - Tortura do preso ou de pessoa sujeita a medida de segurança

 § 2º - Omissão perante a tortura

 § 3º - Formas qualificadas

 § 4º - Causas de aumento de pena

 § 5º - Efeitos da sentença condenatória - são automáticos

 § 6º - Aspectos processuais e penais: vedação à fiança, anistia e graça;

Obs: cabe o Indulto

 § 7º - Regime inicial de cumprimento de pena - Fechado.

Obs: o STF entende que a obrigatoriedade do regime inicialmente fechado é


inconstitucional (Princípio da individualização da pena), razão pela qual não
se pode exigir que o condenado a pena privativa de liberdade inicie neste
regime (Informativo 540 do STF).

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 Extraterritorialidade da lei

 Adotou-se o princípio da personalidade passiva: a lei penal brasileira


aplica-se fora do território brasileiro quando a vítima for brasileira (CP, Art.
7º, § 3º);

 extraterritorialidade incondicionada

 Competência para processo e julgamento: Justiça Federal ou Estadual

 se houver resultado qualificador (Art. 1º, § 3º): local onde se verificou o


resultado qualificado (lesão corporal grave ou gravíssima ou morte);

 Se a tortura for praticada por militar: Justiça Comum;

 No caso de conexão com crime doloso contra a vida: Tribunal do Júri;


 Ação Penal: Pública Incondicionada.

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