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Boa noite a todos.

Sobre o caso de Sempronio, torturado por um agente estatal, versarei sobre o princípio
da dignidade humana em nossa legislação e sobre o tratamento dado à tortura, bem
como o entendimento que prevalece acerca do tema. Além disso, trarei legislação
pertinente que vincula a ação executada pelo agente estatal e o dever de indenizar do
Estado.

DA LEGISLAÇÃO

A declaração universal dos direitos humanos estipula em seu artigo 5º que: “Ninguém
será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes”.

O Brasil sendo Estado-membro da ONU, deve observar os dispositivos da DUDH.

Nosso país incorpora esses ideais em nossa legislação:

A CF/88 estipula em seu artigo

1º: A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana;

Ainda, o art. 5º veda expressamente em seu inciso III a prática de tortura:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
O repúdio à tortura pelo Estado brasileiro também se torna claro pelo tratamento dado
no inciso XLIII do artigo 5º - a lei considerará crimes inafiançáveis e

insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem;

Temos também legislação infraconstitucional que trata do tema:

A LEI Nº 12.847, DE 2 DE AGOSTO DE 2013 que institui o Sistema Nacional de


Prevenção e Combate à Tortura- SNPCT. FALAR DEPOIS.

DECRETO No 592, DE 6 DE JULHO DE 1992

Art. 1º O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, apenso por cópia ao
presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente como nele se contém.

ARTIGO 7

Ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamento cruéis,


desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu
livre consentimento, a experiências médicas ou científicas.

ARTIGO 10

1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade
e respeito à dignidade inerente à pessoa humana.

SOBRE A DIGNIDADE HUMANA


É de destaque a constitucionalização da dignidade da pessoa humana, colocada no texto
como um dos fundamentos da República brasileira, pois é incidente sobre todos os
demais direitos infraconstitucionais e, até mesmo, os fundamentais. Serve como baliza
para a utilização e orientação dos aplicadores do Direito, guiando as atividades públicas
(eficácia vertical dos direitos fundamentais) e privadas (eficácia horizontal dos direitos
fundamentais).

O jurista André de Carvalho Ramos defende a existência de dois elementos


característicos do princípio da dignidade humana, vejamos:

• o primeiro é o elemento positivo, que trata a dignidade como defesa da


existência de condições materiais mínimas para a sobrevivência do ser humano,
servindo como piso vital mínimo;
• e o segundo é o negativo, que consiste na vedação de se impor qualquer tipo de
tratamento ofensivo, degradante ou discriminatório. O último, conforme o autor,
se amolda ao exemplo da proibição da tortura ou tratamento desumano ou
degradante.

DA TORTURA

Lei 9.455/97
Art. 1º Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe


sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de


terceira pessoa;

CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU


PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES

Art. 1º
Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual
dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma
pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de
castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de
ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer
motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou
sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de
funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência.
Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam conseqüência
unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas
decorram.

LEI Nº 12.847, DE 2 DE AGOSTO DE 2013. - DO SISTEMA NACIONAL DE


PREVENÇÃO E COMBATE À TORTURA

Art. 3º Para os fins desta Lei, considera-se:

I - tortura: os tipos penais previstos na Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997, respeitada


a definição constante do Artigo 1 da Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos
ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, promulgada pelo Decreto nº 40, de 15 de
fevereiro de 1991 ; e

II - pessoas privadas de liberdade: aquelas obrigadas, por mandado ou ordem de


autoridade judicial, ou administrativa ou policial, a permanecerem em determinados
locais públicos ou privados, dos quais não possam sair de modo independente de sua
vontade, abrangendo locais de internação de longa permanência, centros de detenção,
estabelecimentos penais, hospitais psiquiátricos, casas de custódia, instituições
socioeducativas para adolescentes em conflito com a lei e centros de detenção disciplinar
em âmbito militar, bem como nas instalações mantidas pelos órgãos elencados no art. 61
da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984.

Art. 4º São princípios do SNPCT:

I - Proteção da dignidade da pessoa humana;


DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO

Quanto à responsabilidade do Estado temos o Art. 37. Da CF

A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de


serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.

Ainda temos em nosso Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por
atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito
regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984. Institui a Lei de Execução Penal.


Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade física e moral dos
condenados e dos presos provisórios.

Jurisprudência: TJDFT (APELAÇÃO CÍVEL 2018) ‘(...) A responsabilidade civil do


Estado pelos danos causados por seus agentes é objetiva, bastando, para sua
caracterização, a ocorrência do dano, a ação ou a omissão administrativa e o nexo de
causalidade entre ambos, não se perquirindo se o agente público praticou o ato lesivo
motivado por dolo ou com culpa e só podendo ser elidida por culpa exclusiva da vítima
ou caso fortuito.’ (20140110891803APC, Mario-Zam Belmiro, 8ª Turma Cível, DJE:
28/02/2018).

REsp 1762224/SP (RECURSO ESPECIAL) - STJ

Nos termos do que proclama a Constituição Federal, em seu art. 37, § 6º, a
responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço
público - concessionárias e permissionárias - por danos causados a terceiros é objetiva,
sendo prescindível a demonstração da ocorrência de culpa.

RE 580252/ STF - 2017

TESE: Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter
em seus presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento
jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º da Constituição, a
obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados
aos detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de
encarceramento.
É clara a tese da responsabilidade objetiva do Estado, dado as provas (perícia, laudos
médicos), fica claro que o Estado deve indenizar Semprônio.

Conclusões

Assim temos como legislações:

No âmbito internacional

• Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 5º),


• a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (em todo o texto),
• o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (art. 7º)

No âmbito Nacional

• Art. 1, III CF
• Art. 5 incisos III e XLIII (43) CF
• Art. 37 § 6º

Leis:

• Lei 9.455/97 – lei de crime de tortura


o Art. 1º, a)
o §1
o §3
o §4
o §5
• LEI Nº 12.847, DE 2 DE AGOSTO DE 2013. Sistema Nacional de Prevenção e
Combate à Tortura
• LEI Nº 7.210, DE 11 DE JULHO DE 1984.Institui a Lei de Execução Penal.
• Código Civil: Art. 186.

Decreto:

° DECRETO No 592, DE 6 DE JULHO DE 1992. O Pacto Internacional sobre Direitos


Civis e Políticos

Conforme exposto, a legislação brasileira traz robustamente dispositivos que


fundamentam o entendimento da vedação da prática de tortura bem como qualquer
entendimento que enseje sua relativização.

Dentro deste entendimento, percebe-se que a tortura do Semprônio é uma clara violação
de sua dignidade humana, princípio caro, fundamental e basilar aos direitos humanos e
ao direito brasileiro.

A tortura por si só já é um ato que atenta ao Estado democrático de direito.


Sempronio terá de conviver com essa experiencia pelo resto de sua vida. Ele está tendo
de se recuperar física e psicologicamente deste evento.
PORTANTO, tendo um agente estatal cometido tal ato atroz, fica explícito o nexo de
causalidade e o dano, igualmente fica evidente o dever de indenizar do Estado,
conforme legislação já exposta.
Assim pede-se a indenização patrimonial no valor de ________________, referentes a
tratamentos médicos, os quais incluem: fisioterapia, cirurgias plásticas reparadoras,
tratamento dentário, tratamento psicológico, despesas com transporte para os
tratamentos, estadia em hotéis perto de hospitais especializados para consultas
referentes a danos decorrentes da tortura. A fixação de danos morais no mesmo valor
dos danos patrimoniais e a concessão de benefício vitalício no valor de um salários
mínimo.

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