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SOCIEDADE MARANHENSE DE DIREITOS HUMANOS

MECANISMO ESTADUAL DE PREVENÇÃ O E COMBATE À TORTURA


PARÂ METROS DE ATUAÇÃ O DO MINISTÉ RIO PÚ BLICO EM AUDIÊ NCIAS DE
CUSTÓ DIA
Relatório de pesquisa e proposições

I – NORMAS APLICÁVEIS

Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos:


ARTIGO 7. Ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamento
cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma
pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas.
(...).
ARTIGO 9. (...). 3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infraçã o
penal deverá ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra
autoridade habilitada por lei a exercer funçõ es judiciais e terá o direito de ser
julgada em prazo razoá vel ou de ser posta em liberdade. A prisã o preventiva de
pessoas que aguardam julgamento nã o deverá constituir a regra geral, mas a
soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento
da pessoa em questã o à audiência, a todos os atos do processo e, se necessá rio for,
para a execuçã o da sentença.

Convenção Americana sobre Direitos Humanos:


ARTIGO 5. (...). 2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos
cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser
tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.
(...).
ARTIGO 7. (...). 5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, á
presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funçõ es
judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoá vel ou a ser posta em
liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser
condiciona a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.
Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes:
ARTIGO 13. Cada Estado Parte assegurará a qualquer pessoa que alegue ter sido
submetida a tortura em qualquer territó rio sob sua jurisdiçã o o direito de
apresentar queixa perante as autoridades competentes do referido Estado,
que procederão imediatamente e com imparcialidade ao exame do seu caso.
Serão tomadas medidas para assegurar a proteção do queixoso e das
testemunhas contra qualquer mau tratamento ou intimaçã o em consequência da
queixa apresentada ou de depoimento prestado.
ARTIGO 14. 1. Cada Estado Parte assegurará , em seu sistema jurídico, à vítima de
um ato de tortura, o direito à reparação e a uma indenização justa e adequada,
incluídos os meios necessá rios para a mais completa reabilitaçã o possível. Em caso
de morte da vítima como resultado de um ato de tortura, seus dependentes terã o
direito à indenizaçã o.
2. O disposto no presente Artigo nã o afetará qualquer direito a indenizaçã o que a
vítima ou outra pessoa possam ter em decorrência das leis nacionais.
ARTIGO 15. Cada Estado Parte assegurará que nenhuma declaração que se
demonstre ter sido prestada como resultado de tortura possa ser invocada
como prova em qualquer processo, salvo contra uma pessoa acusada de tortura
como prova de que a declaraçã o foi prestada.

Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura:


ARTIGO 8. Os Estados Partes assegurarã o a qualquer pessoa que denunciar haver
sido submetida a tortura, no â mbito de sua jurisdiçã o, o direito de que o caso seja
examinado de maneira imparcial.
Quando houver denú ncia ou razã o fundada para supor que haja sido cometido ato
de tortura no â mbito de sua jurisdiçã o, os Estados Partes garantirão que suas
autoridades procederão de ofício e Partes garantirão que suas autoridades
procederão de ofício e imediatamente à realização de uma investigação
sobre o caso e iniciarã o, se for cabível, o respectivo processo penal.
Uma vez esgotado o procedimento jurídico interno do Estado e os recursos que
este prevê, o caso poderá ser submetido a instâ ncias internacionais, cuja
competência tenha sido aceita por esse Estado.
ARTIGO 9. Os Estados Partes comprometem-se a estabelecer, em suas legislaçõ es
nacionais, normas que garantam compensaçã o adequada para as vítimas do delito
de tortura.
Nada do disposto neste Artigo afetará o direito que possa ter a vítima ou outras
pessoas de receber compensaçã o em virtude da legislaçã o nacional existente.
ARTIGO 10. Nenhuma declaração que se comprove haver sido obtida
mediante tortura poderá se admitida como prova num processo, salvo em
processo instaurado conta a pessoa ou pessoas acusadas de havê-la obtido
mediante atos de tortura unicamente como prova de que, por esse meio, o acusado
obteve tal declaraçã o.

Código de Processo Penal:


Art. 287. Se a infraçã o for inafiançá vel, a falta de exibiçã o do mandado nã o obstará
a prisã o, e o preso, em tal caso, será imediatamente apresentado ao juiz que tiver
expedido o mandado, para a realizaçã o de audiência de custó dia. (Redaçã o dada
pela Lei nº 13.964, de 2019)
(...).
Art. 310. Apó s receber o auto de prisã o em flagrante, no prazo má ximo de até 24
(vinte e quatro) horas apó s a realizaçã o da prisã o, o juiz deverá promover
audiência de custó dia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou
membro da Defensoria Pú blica e o membro do Ministério Pú blico, e, nessa
audiência, o juiz deverá , fundamentadamente: (Redaçã o dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
I - relaxar a prisã o ilegal; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - converter a prisã o em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos
constantes do art. 312 deste Có digo, e se revelarem inadequadas ou insuficientes
as medidas cautelares diversas da prisã o; ou (Incluído pela Lei nº 12.403, de
2011).
III - conceder liberdade provisó ria, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403,
de 2011).
§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisã o em flagrante, que o agente praticou o
fato em qualquer das condiçõ es constantes dos incisos I, II ou III do caput do art.
23 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Có digo Penal), poderá ,
fundamentadamente, conceder ao acusado liberdade provisó ria, mediante termo
de comparecimento obrigató rio a todos os atos processuais, sob pena de
revogaçã o. (Renumerado do pará grafo ú nico pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organizaçã o
criminosa armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá
denegar a liberdade provisó ria, com ou sem medidas cautelares. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
§ 3º A autoridade que deu causa, sem motivaçã o idô nea, à nã o realizaçã o da
audiência de custó dia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá
administrativa, civil e penalmente pela omissã o. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 4º Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas apó s o decurso do prazo estabelecido
no caput deste artigo, a nã o realizaçã o de audiência de custó dia sem motivaçã o
idô nea ensejará também a ilegalidade da prisã o, a ser relaxada pela autoridade
competente, sem prejuízo da possibilidade de imediata decretaçã o de prisã o
preventiva. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

ADPF 347 MC/STF:


AUDIÊ NCIA DE CUSTÓ DIA – OBSERVÂ NCIA OBRIGATÓ RIA. Estã o obrigados juízes
e tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5
da Convençã o Interamericana de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa
dias, audiências de custó dia, viabilizando o comparecimento do preso perante a
autoridade judiciá ria no prazo má ximo de 24 horas, contado do momento da
prisã o.

Resolução 213 do CNJ:


Art. 6º Antes da apresentaçã o da pessoa presa ao juiz, será assegurado seu
atendimento prévio e reservado por advogado por ela constituído ou defensor
público, sem a presença de agentes policiais, sendo esclarecidos por
funcioná rio credenciado os motivos, fundamentos e ritos que versam a audiência
de custó dia.
Pará grafo ú nico. Será reservado local apropriado visando a garantia da
confidencialidade do atendimento prévio com advogado ou defensor pú blico.
(...).
Art. 8º Na audiência de custó dia, a autoridade judicial entrevistará a pessoa presa
em flagrante, devendo:
I – esclarecer o que é a audiência de custó dia, ressaltando as questõ es a serem
analisadas pela autoridade judicial;
II – assegurar que a pessoa presa não esteja algemada, salvo em casos de
resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física pró pria ou
alheia, devendo a excepcionalidade ser justificada por escrito;
III – dar ciência sobre seu direito de permanecer em silêncio;
IV – questionar se lhe foi dada ciência e efetiva oportunidade de exercício dos
direitos constitucionais inerentes à sua condiçã o, particularmente o direito de
consultar-se com advogado ou defensor pú blico, o de ser atendido por médico e o
de comunicar-se com seus familiares;
V – indagar sobre as circunstâ ncias de sua prisã o ou apreensã o;
VI – perguntar sobre o tratamento recebido em todos os locais por onde passou
antes da apresentaçã o à audiência, questionando sobre a ocorrência de tortura e
maus tratos e adotando as providências cabíveis;
VII – verificar se houve a realização de exame de corpo de delito, determinando
sua realizaçã o nos casos em que:
a) nã o tiver sido realizado;
b) os registros se mostrarem insuficientes;
c) a alegação de tortura e maus tratos referir-se a momento posterior ao
exame realizado;
d) o exame tiver sido realizado na presença de agente policial, observando-se
a Resoluçã o CNJ no 414/2021 quanto à formulaçã o de quesitos ao(à ) perito(a);
VIII – abster-se de formular perguntas com finalidade de produzir prova para a
investigaçã o ou açã o penal relativas aos fatos objeto do auto de prisã o em
flagrante;
IX – adotar as providências a seu cargo para sanar possíveis irregularidades;
X – averiguar, por perguntas e visualmente, hipó teses de gravidez, existência de
filhos ou dependentes sob cuidados da pessoa presa em flagrante delito, histó rico
de doença grave, incluídos os transtornos mentais e a dependência química, para
analisar o cabimento de encaminhamento assistencial e da concessã o da liberdade
provisó ria, sem ou com a imposiçã o de medida cautelar.
(...).
Art. 11. Havendo declaraçã o da pessoa presa em flagrante delito de que foi vítima
de tortura e maus tratos ou entendimento da autoridade judicial de que há indícios
da prá tica de tortura, será determinado o registro das informações, adotadas
as providências cabíveis para a investigação da denúncia e preservação da
segurança física e psicológica da vítima, que será encaminhada para
atendimento médico e psicossocial especializado.
§ 1º Com o objetivo de assegurar o efetivo combate à tortura e maus tratos, a
autoridade jurídica e funcioná rios deverã o observar o Protocolo II desta Resoluçã o
com vistas a garantir condiçõ es adequadas para a oitiva e coleta idô nea de
depoimento das pessoas presas em flagrante delito na audiência de custó dia, a
adoçã o de procedimentos durante o depoimento que permitam a apuraçã o de
indícios de prá ticas de tortura e de providências cabíveis em caso de identificaçã o
de prá ticas de tortura.
§ 2º O funcioná rio responsá vel pela coleta de dados da pessoa presa em flagrante
delito deve cuidar para que sejam coletadas as seguintes informaçõ es, respeitando
a vontade da vítima:
I - identificação dos agressores, indicando sua instituiçã o e sua unidade de
atuaçã o;
II - locais, datas e horários aproximados dos fatos;
III - descrição dos fatos, inclusive dos métodos adotados pelo agressor e a
indicaçã o das lesõ es sofridas;
IV - identificação de testemunhas que possam colaborar para a averiguaçã o dos
fatos;
V - verificaçã o de registros das lesões sofridas pela vítima;
VI - existência de registro que indique prá tica de tortura ou maus tratos no laudo
elaborado pelos peritos do Instituto Médico Legal;
VII - registro dos encaminhamentos dados pela autoridade judicial para
requisitar investigaçã o dos relatos;
VIII - registro da aplicação de medida protetiva ao autuado pela autoridade
judicial, caso a natureza ou gravidade dos fatos relatados coloque em risco a vida
ou a segurança da pessoa presa em flagrante delito, de seus familiares ou de
testemunhas.
§ 3º Os registros das lesões poderão ser feitos em modo fotográfico ou
audiovisual, respeitando a intimidade e consignando o consentimento da vítima.
§ 4º Averiguada pela autoridade judicial a necessidade da imposiçã o de alguma
medida de proteçã o à pessoa presa em flagrante delito, em razã o da comunicaçã o
ou denú ncia da prá tica de tortura e maus tratos, será assegurada,
primordialmente, a integridade pessoal do denunciante, das testemunhas, do
funcioná rio que constatou a ocorrência da prá tica abusiva e de seus familiares, e,
se pertinente, o sigilo das informaçõ es.
§ 5º Os encaminhamentos dados pela autoridade judicial e as informaçõ es deles
resultantes deverã o ser comunicadas ao juiz responsá vel pela instruçã o do
processo.

Protocolo II da Resolução 213 do CNJ (Procedimentos para oitiva, registro e


encaminhamento de denúncias de tortura e outros tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes):
PONTO 2. Entre as condiçõ es necessá rias para a oitiva adequada da pessoa
custodiada, recomenda-se que:
I. A pessoa custodiada nã o deve estar algemada durante sua oitiva na audiência de
apresentaçã o, somente admitindo-se o uso de algumas “em casos de resistência e
de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física pró pria ou alheia, por
parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena
de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de
nulidade da prisã o ou do ator processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado” (STF – Sú mula Vinculante nº 11);
II. A pessoa custodiada deve estar sempre acompanhada de advogado ou defensor
pú blico, assegurando-lhes entrevista prévia sigilosa, sem a presença de agente
policial e em local adequado/reservado, de modo a garantir-lhe a efetiva
assistência judiciá ria;
III. A pessoa custodiada estrangeira deve ter assegurada a assistência de intérprete
e a pessoa surda a assistência de intérprete de LIBRAS, requisito essencial para a
plena compreensã o dos questionamentos e para a coleta do depoimento,
atentando-se para a necessidade de (i) a pessoa custodiada estar de acordo com o
uso de intérprete, (ii) o intérprete ser informado da confidencialidade das
informaçõ es e (iii) o entrevistador manter contato com o entrevistado, evitando se
dirigir exclusivamente ao intérprete;
IV. Os agentes responsá veis pela segurança do tribunal e, quando necessá rio, pela
audiência de custó dia devem ser organizacionalmente separados e independentes
dos agentes responsá veis pela prisã o ou pela investigaçã o dos crimes. A pessoa
custodiada deve aguardar a audiência em local fisicamente separado dos
agentes responsáveis pela sua prisão ou investigação do crime;
V. O agente responsável pela custódia, prisão ou investigação do crime não
deve estar presente durante a oitiva da pessoa custodiada.
VI. Os agentes responsáveis pela segurança da audiência da custódia não
devem portar armamento letal.
VII. Os agentes responsáveis pela segurança da audiência de custódia não
devem participar ou emitir opinião sobre a pessoa custodiada no decorrer da
audiência.
(...).
PONTO 6. Constada a existência de indícios de tortura e outros tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes, o Juiz deverá adotar as providências cabíveis para
garantia da segurança da pessoa custodiada, tomando as medidas necessárias
para que ela não seja exposta aos agentes supostamente responsáveis pelas
práticas de tortura.
Abaixo estã o listadas possíveis medidas a serem adotadas pela autoridade judicial
que se deparar com a situaçã o, conforme as circunstâ ncias e particularidades de
cada caso, sem prejuízo de outras que o Juiz reputar necessá rias para a imediata
interrupçã o das prá ticas de tortura ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes, para a garantia da saú de e segurança da pessoa custodiada e para
subsidiar futura apuraçã o de responsabilidade dos agentes:
I. Registrar o depoimento detalhado da pessoa custodiada em relaçã o à s prá ticas
de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes a que alega ter
sido submetida, com descriçã o minuciosa da situaçã o e dos envolvidos;
II. Questionar se as prá ticas foram relatadas quando da lavratura do auto de prisã o
em flagrante, verificando se houve o devido registro documental;
III. Realizar registro fotográfico e/ou audiovisual sempre que a pessoa
custodiada apresentar relatos ou sinais de tortura ou tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes, considerando se tratar de prova, muitas vezes,
irrepetível;
IV. Aplicar, de ofício, medidas protetivas para a garantia da segurança e
integridade da pessoa custodiada, de seus familiares e de eventuais testemunhas,
entre elas a transferência imediata da custódia, com substituição de sua
responsabilidade para outro órgão ou para outros agentes; a imposição de
liberdade provisória, independente da existência dos requisitos que autorizem a
conversã o em prisã o preventiva, sempre que não for possível garantir a
segurança e a integridade da pessoa custodiada; e outras medidas necessá rias
à garantia da segurança e integridade da pessoa custodiada.
V. Determinar a realizaçã o de exame corpo de delito: (i) quando nã o houver sido
realizado; (ii) quando os registros se mostrarem insuficientes, (iii) quando a
possível prá tica de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes
tiver sido realizada em momento posterior à realizaçã o do exame realizado; (iv)
quando o exame tiver sido realizado na presença de agente de segurança.
VI. Ainda sobre o exame de corpo de delito, observar: a) as medidas protetivas
aplicadas durante a conduçã o da pessoa custodiada para a garantia de sua
segurança e integridade, b) a Recomendaçã o nº 49/2014 do Conselho Nacional de
Justiça quanto à formulaçã o de quesitos ao perito em casos de identificaçã o de
prá ticas de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, c) a
presença de advogado ou defensor pú blico durante a realizaçã o do exame.
VII. Assegurar o necessá rio e imediato atendimento de saú de integral da pessoa
vítima de tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, visando
reduzir os danos e o sofrimento físico e mental e a possibilidade de elaborar e
resignificar a experiência vivida;
VIII. Enviar cópia do depoimento e demais documentos pertinentes para
órgãos responsáveis pela apuraçã o de responsabilidades, especialmente
Ministério Público e Corregedoria e/ou Ouvidoria do ó rgã o a que o agente
responsá vel pela prá tica de tortura ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes esteja vinculado;
IX. Notificar o juiz de conhecimento do processo penal sobre os encaminhamentos
dados pela autoridade judicial e as informaçõ es advindas desse procedimento.
X. Recomendar ao Ministério Público a inclusão da pessoa em programas de
proteção a vítimas ou testemunha, bem como familiares ou testemunhas,
quando aplicá vel o encaminhamento.

Protocolo de Istambul (Manual para a investigação e documentação eficazes


da tortura e outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes):
2. Os Estados deverã o garantir que todas as queixas e denú ncias de tortura ou
maus tratos sejam pronta e eficazmente investigadas. Mesmo na ausência de
uma denúncia expressa, deverá ser instaurado um inquérito caso existam
outros indícios de que possam ter ocorrido atos de tortura ou maus tratos. Os
investigadores, que deverão ser independentes dos suspeitos e dos
organismos a que estes pertencem, devem ser competentes e imparciais.
Deverã o ter acesso a perícias efetuadas por médicos ou outros peritos
independentes, ou dispor da faculdade de ordenar a realizaçã o de tais perícias. Os
métodos utilizados para levar a cabo o inquérito deverã o respeitar as mais
exigentes normas profissionais e os resultados obtidos deverã o ser tornados
pú blicos.
(...).
6. a) Os peritos médicos envolvidos na investigaçã o da tortura ou dos maus tratos
deverã o pautar a sua conduta, em todos os momentos, de acordo com os princípios
éticos mais rigorosos, devendo, em particular, obter o consentimento esclarecido
da pessoa em causa antes da realizaçã o de qualquer exame. Os exames deverã o ser
efetuados em conformidade com as regras estabelecidas de prá tica médica. Em
particular, os exames deverão ser efetuados em privado, sob o controlo do
perito médico e nunca na presença de agentes de segurança ou outros
funcionários governamentais.
(...).
88. Desde o início, a alegada vítima deverá ser informada, sempre que
possível, da natureza do procedimento, das razões pelas quais é solicitado o
seu depoimento e da utilização que poderá eventualmente ser dada às
provas apresentadas. Os investigadores deverã o explicar à pessoa quais os
elementos do inquérito que serã o tornados pú blicos e quais permanecerã o em
sigilo. A vítima tem o direito de se recusar a cooperar na totalidade ou em parte da
investigaçã o. Deverão ser feitos todos os esforços para ir ao encontro da sua
disponibilidade e dos seus desejos. A alegada vítima de tortura deverá ser
regularmente informada acerca dos progressos da investigaçã o, devendo também
ser notificada das principais audiências que se realizem no â mbito do inquérito ou
julgamento do caso. Os investigadores deverã o informar a alegada vítima da
detençã o do presumível autor do crime. Às alegadas vítimas deverão também
ser fornecidos os contatos de grupos de apoio e tratamento que lhes possam
ser úteis. Os investigadores deverã o colaborar com as associaçõ es e grupos
envolvidos na luta contra a tortura a nível nacional e local, a fim de assegurar o
intercâ mbio recíproco de informaçã o e experiência neste domínio.
(...).
134. Existem algumas regras bá sicas que deverã o ser respeitadas. A obtençã o de
informaçã o é certamente importante, mas a pessoa entrevistada é-o ainda mais e
ouvir é mais importante do que fazer perguntas. Se o entrevistador se limita a
formular perguntas, apenas obterá respostas. Para o recluso, pode ser mais
importante falar acerca da família do que da tortura. Há que ter em conta este
aspecto, pelo que deverá ser disponibilizado algum tempo para a discussão de
questões pessoais. A tortura, particularmente de natureza sexual, é um assunto
muito íntimo e poderá nã o ser abordado antes da segunda visita ou mesmo mais
tarde. Os indivíduos nã o devem ser forçados a falar sobre qualquer forma de
tortura se nã o se sentirem à -vontade para o fazer.
(...).
163. A confiança é fundamental para se conseguir obter um relato fidedigno de
uma experiência de tortura. Para ganhar a confiança de alguém que foi vítima de
tortura ou outras formas de maus tratos, há que saber escutar de forma ativa e
demonstrar rigor na comunicação e cortesia, bem como uma empatia e
honestidade genuínas.

Resolução 414 do CNJ:


Art. 2o Nas audiências e demais atos processuais praticados no exercício da
jurisdiçã o criminal e infanto-juvenil, a autoridade judicial deve inquirir e analisar
as condições de apresentação da pessoa privada de liberdade, de sua
detenção ou apreensão e o tratamento a ela conferido, a fim de identificar
quaisquer indícios da prá tica de tortura ou outros tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes, especialmente quando a pessoa estiver sob custó dia.
§ 1o A autoridade judicial zelará pela juntada aos autos do laudo médico ou
pericial antes da audiência de custódia e de apresentaçã o para apuraçã o de ato
infracional.
§ 2o Identificados indícios da prá tica de tortura ou tratamentos cruéis, desumanos
ou degradantes na audiência de apresentaçã o de adolescente aprendido(a), a
autoridade judicial adotará as providências previstas no art. 11 da Resolução
CNJ no 213/2015 e em seu Protocolo II, além das medidas de proteçã o cabíveis.
§ 3o A aná lise prevista no caput levará em consideração fatores de especial
vulnerabilidade à violência, tais como gênero, raça, orientaçã o sexual, idade,
etnia, nacionalidade, deficiência e condiçã o de saú de, sem prejuízo do disposto em
outras normas, notadamente o Protocolo II da Resoluçã o CNJ no 213/2015.
Art. 3o Para a realizaçã o de exame de corpo de delito, a autoridade judicial poderá
formular, além dos quesitos padrã o, quesitos próprios e específicos
relacionados às peculiaridades do caso concreto, aos métodos e instrumentos
aplicados, envolvendo exame físico e avaliaçã o psicoló gica com documentaçã o
sobre dor e sofrimento, registro de lesõ es, sintomas, reaçõ es e traumas, dentro do
contexto cultural e social da pessoa examinada, conforme disposto no Protocolo de
Quesitos desta Resoluçã o.
Pará grafo ú nico. Os quesitos serã o respondidos por meio da aná lise de
consistência entre o relato da pessoa e os achados físicos e psicoló gicos, nos
termos do Protocolo de Quesitos desta Resoluçã o.

Resolução 221 do CNMP:


Art. 4º Apó s a inquiriçã o pelo juiz, o membro do Ministério Público deverá
formular, suplementarmente, questionamentos que se dirijam ao
esclarecimento das circunstâ ncias da prisã o, da realizaçã o do exame de corpo de
delito e de eventual notícia de maus-tratos ou de tortura sofridos pela pessoa
presa.
§ 1º O membro do Ministério Público requisitará a realização de exame de
corpo de delito nos casos em que:
I – essa modalidade de prova nã o tenha sido realizada;
II – os registros se mostrem insuficientes;
III – a alegaçã o de maus-tratos ou tortura refira-se a momento posterior ao exame
realizado;
IV – o exame tenha-se realizado na presença do agente policial de quem se
noticia a prática de maus-tratos ou de tortura ou de quaisquer ilegalidades no
curso da prisã o.
§ 2º Sem prejuízo do disposto no § 1º, o Ministério Público poderá requerer a
realização de registro fotográfico e audiovisual sempre que a pessoa
custodiada apresentar relatos ou sinais de tortura ou tratamentos cruéis,
desumanos ou degradantes.
§ 3º Havendo notícia de maus-tratos ou de tortura sofridos pela pessoa presa, os
questionamentos do Ministério Pú blico deverã o se dirigir à descriçã o dos fatos e
suas circunstâ ncias, à identificaçã o e qualificaçã o dos autores das agressõ es, bem
como de eventuais testemunhas, da forma mais completa possível, respeitando-
se a vontade da vítima, observando-se a efetiva compreensã o dos termos utilizados
e em atençã o à s açõ es e providências descritas no Protocolo de Istambul, da
Organizaçã o das Naçõ es Unidas (ONU), conforme as diretrizes do Anexo a esta
Resoluçã o.
§ 4º O membro do Ministério Pú blico deverá averiguar, por perguntas e
visualmente, hipó teses de gravidez, existência de filhos ou dependentes sob
cuidados da pessoa presa em flagrante delito, histó rico de doença grave, incluídos
os transtornos mentais e a dependência química, para analisar a hipó tese de
requerer encaminhamento assistencial e a concessã o da liberdade provisó ria, com
a imposiçã o de medida cautelar, ou encaminhar o caso para o ó rgã o do Ministério
Pú blico com atribuiçã o para a curadoria de saú de.
(...).
Art. 6º Diante dos relatos produzidos na audiência de custó dia, o membro do
Ministério Público com atribuição para o ato deverá, imediatamente,
requisitar a instauração de investigação dos fatos noticiados ou determinar a
abertura de procedimento de investigação criminal, sem prejuízo da atribuiçã o
do membro do Ministério Pú blico com atuaçã o perante o juízo competente para
eventual e futura açã o penal.
Pará grafo ú nico. O Ministério Pú blico diligenciará para que o registro das
declaraçõ es prestadas pelo preso na audiência de custó dia, em mídia ou em
qualquer outro tipo de documentaçã o, instrua os autos da apuraçã o da notícia de
maus-tratos ou de tortura.
Art. 7º Na regulamentaçã o das atribuiçõ es de seus ó rgã os de execuçã o para a
audiência de custó dia, os Ministérios Públicos farão constar o poder
requisitório:
I – de perícias e de apresentação imediata do preso para tanto, com vistas à
documentaçã o do corpo de delito e aferiçã o dos fatos noticiados de maus-tratos ou
de tortura, independentemente de exame prévio à audiência de custó dia;
II – de outros elementos de informaçã o, como registros policiais de
equipamentos de captura e registro de imagens, registros de GPS de viaturas,
outros elementos relevantes à apuração dos fatos.

Anexo da Resolução 221 do CNMP (Diretrizes para aplicação do Protocolo de


Istambul pelo Ministério Público no ato da audiência de custódia):
Contexto do depoimento: Dever-se-á conceder tempo suficiente para a oitiva
da presumível vítima de tortura. Deve-se demonstrar sensibilidade no tom, na
formulação e na sequência das perguntas, dado eventual efeito traumá tico que
a prestaçã o de depoimento tem para a vítima de tortura. A pessoa deverá ser
informada de seu direito de interromper o interrogatório a qualquer
momento, para fazer uma pausa se assim o desejar, ou de recusar responder a
qualquer questã o. As pessoas não devem ser forçadas a falar sobre qualquer
forma de tortura se nã o se sentirem à vontade para o fazer.
(...).
a.1) Havendo pluralidade de eventos com açõ es de maus-tratos e tortura ou
insegurança na indicaçã o de locais, datas e horá rios, pode ser conveniente
solicitar uma descrição dos fatos de acordo com os métodos de tortura
eventualmente empregados, e não a sequência cronológica dos
acontecimentos. Pode ser conveniente, ainda, separar o questionamento em
relação a cada um dos eventos. Essa separaçã o pode ajudar a obter uma imagem
global da situaçã o. Muitas vezes, os sobreviventes de tortura nã o sabem para onde
foram levados, pois estavam de olhos vendados ou semi-inconscientes. Reunindo
depoimentos convergentes, poder-se-á facilitar a identificaçã o de locais concretos,
métodos de tortura ou mesmo dos seus autores.
a) circunstâncias da detenção e dos atos de tortura ou de maus-tratos:
incluem a indicação de data e hora, duração da detenção, frequência e
duração das ações noticiadas de maus-tratos, agressõ es ou tortura, bem como
identificação das pessoas participantes da captura, detenção e prática desses
atos, assim como de possíveis testemunhas.
a.2) Na descriçã o pormenorizada das pessoas participantes da captura, detençã o e
atos de tortura, deve-se considerar o fato de elas serem ou não conhecidas da
vítima antes da ocorrência, bem como vestuário que usavam, eventuais
cicatrizes, marcas de nascença, tatuagens, altura, peso (pode ser mais fá cil à
pessoa descrever o autor do ato por comparaçã o com seu pró prio tamanho), algo
de insólito na anatomia dos autores do crime, língua falada e pronúncia, bem
como quaisquer sinais de estarem sob a influência de álcool ou drogas.
(...).
b) local e condições da detenção: é possível inquirir sobre a descrição do local
onde aconteceu cada uma das ações, com vista ao detalhamento das instalaçõ es
possíveis de ocorrência dos fatos. Incluem-se aqui questões relativas ao acesso
da pessoa à alimentação e a instalações sanitárias. Recomenda-se que se
obtenha a descrição dos alimentos e bebidas disponíveis, das instalações
sanitárias e das condições de iluminação, temperatura e ventilação.
(...).
c) métodos de tortura e maus-tratos: pode-se pedir a descriçã o dos atos de
tortura e maus-tratos, incluindo os métodos utilizados, lesões físicas
provocadas pela tortura e descrição de armas ou outros instrumentos
utilizados.
(...).
Questões de gênero: Os questionamentos deverã o considerar o gênero da
pessoa custodiada, dos agentes responsáveis pelos fatos noticiados de
tortura e maus-tratos, bem assim as distintas qualidades de relatos
produzidos em face do gênero do próprio membro do Ministério Público com
atribuição para a audiência de custódia. A adequaçã o da linguagem e do tom do
entrevistador, bem como a presença de pessoas do mesmo gênero ou de gênero
diverso, podem ser necessá rias nesse contexto.

II – REFERENCIAL TEÓRICO

A Constituiçã o Brasileira oferta ao Ministério Pú blico exclusividade na instauraçã o


da açã o penal pú blica. II. Zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Pú blicos e dos
serviços de relevâ ncia pú blica aos direitos assegurados nesta Constituiçã o,
promovendo as medidas necessá rias a sua garantia. VII. Exercer o controle externo
da atividade policial [e] VIII. Requisitar diligências investigató rias e a instauraçã o
de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestaçõ es
processuais; Isto tem sido interpretado de forma a entender que o Ministério
Público possui o poder de proceder com investigações criminais
independentes mesmo em casos nos quais não houve abertura de inquérito
pela polícia ou naqueles que este ainda está pendente ou foi arquivado, e que
pode indiciar autoridades policiais envolvidas em atividades criminosas,
como a tortura (FOLEY, 2011, p. 107).

Nã o se deve perder de vista que o Ministério Pú blico atua de forma muito mais
ampla na ordem jurídica, para além de seu cunho meramente acusató rio, sendo,
também, garante da dignidade da pessoa humana, nã o podendo dela abrir mã o.
Por tais razõ es, é axiomá tico que nã o basta ao membro do MP simplesmente
integrar a audiência de custó dia ou, melhor dizendo, ocupar a cadeira a ele
reservada. Exige-se, também, uma atuaçã o proativa do ó rgã o ministerial e que,
diante de qualquer informe de violência sofrido por parte do acusado, apure o fato
e, em sendo o caso, instaure o procedimento persecutó rio correspondente. No
entanto, para que a presença do Ministério Público possa surtir os efeitos que
dela se espera, os profissionais que atuam na sessão das audiências de
custódia não podem ser os mesmos que integram o setor responsável por
fazer o controle externo da atividade policial. Fosse assim, o juízo de valor
acerca das declaraçõ es do flagranteado, nã o raro, ocasionaria uma animosidade ao
membro do MP no momento de fiscalizar o exercício da atividade policial, valendo
a lembrança de que tal ó rgã o será um dos destinatá rios do termo de depoimento
prestado em audiência de custó dia (GOMES, 2017, p. 391-392).

Indícios de tortura ou maus tratos – por dicçã o do art. 11 da Resoluçã o em


referência, havendo notícia de tortura o órgão de execução rogará remessa do
termo ao órgão do controle externo de atividade policial, devendo-se atentar
que a remessa deverá ser de todo o auto de prisão e não apenas o termo de
audiência, para que se possa, por intermédio das oitivas e exame de corpo de
delito, aferir a existência de desvio de conduta da autoridade responsá vel pela
prisã o e assim adotar as medidas cabíveis (MARANHÃ O, 2018, p. 17).

As perguntas a serem feitas à pessoa presa alegadamente vítima de tortura


devem ser feitas de forma simples; ser repetidas ou reformuladas caso a
pessoa tenha dificuldade de entender; ser feitas de maneira aberta, para nã o
induzir a resposta; priorizar a escuta e levar em consideraçã o a condiçã o de
vulnerabilidade e disparidade de poder entre a pessoa presa e o magistrado;
respeitar as diferenças de tratamento em relaçã o ao gênero e nacionalidade da
pessoa custodiada; respeitar os limites da pessoa que se diz vítima de violência
(BALLESTEROS, 2016a, p. 43).

A regra é que na audiência de custó dia a denú ncia sobre violência policial nã o seja
feita, ou porque nenhum dos profissionais envolvidos na sessã o pergunta, ou
porque o preso se sente desestimulado ou constrangido a nã o fazê-lo. Entretanto,
mesmo quando a pessoa presa, frente a todas as circunstâ ncias adversas, faz
referência à s violências sofridas, sua versã o sobre os fatos quase sempre é
questionada ou desacreditada, porque supostamente sua condiçã o de suspeita de
ter cometido um crime a deslegitimaria para fazer qualquer declaraçã o
considerada vá lida. Em nosso acompanhamento de campo das audiências e nos
relatos obtidos, dúvidas das mais diversas são colocadas para contrariar a
versão dada pelo detido: se a violência não aconteceu porque ele resistiu à
prisão; se ele saberia indicar o nome dos policiais que o agrediram; se ele
sabe dizer se era policial civil ou militar; se ele saberia por quais motivos os
policiais bateriam nele; se ele não conhecia os policiais anteriormente eles
nã o teriam porque quererem agredi-lo. Se, para qualquer das perguntas o preso
nã o tiver resposta ou tiver dú vidas, mesmo que haja evidências físicas de lesõ es,
reduz-se enormemente as chances de que haja pedido de investigaçã o da denú ncia,
registrando-se na ata da audiência apenas que, posteriormente, deve-se fazer a
devida averiguaçã o dos fatos (BALLESTEROS, 2016a, p. 46-47).

Ocorre, entretanto, que em muitos deles os mesmos profissionais que atuam na


sessão das audiências de custódia são os que integram o
departamento/promotoria responsável por fazer o controle da atividade
policial. Nas palavras de todos os entrevistados durante as visitas feitas aos
estados, inclusive de promotores, o ideal é que estas atividades sejam
desempenhadas por profissionais de áreas diferentes, nã o só porque cada uma
delas demanda atençã o e tempo específicos, mas, principalmente, porque a pessoa
considerada suspeita durante a audiência de custó dia nunca será tratada com a
devida isençã o como vítima na apuraçã o de uma denú ncia sobre eventual violência
policial se acompanhada pelo mesmo profissional. A sugestã o, inclusive, é de que o
ó rgã o de controle da atividade policial dentro do Ministério Pú blico deveria
manter proximidade com o ó rgã o especializado em Direitos Humanos e nã o em
Direito Penal, dirigindo atençã o especial aos padrõ es de violência institucional e à s
denú ncias apresentadas nas audiências de custó dia (BALLESTEROS, 2016a, p. 53).

Fato é que até o momento, nas audiências de custó dia, o Ministério Público dos
estados não tem demonstrado nenhum protagonismo diante das denúncias
de maus-tratos e tortura levados ao conhecimento dos órgãos do sistema de
justiça, e, quando muito, mesmo diante dos casos mais evidentes de agressõ es,
tem empurrado a responsabilidade de apuraçã o para a Corregedoria das polícias.
Um registro que vale a pena ser feito nesse sentido é que alguns promotores dizem
que mesmo nã o acreditando nos relatos dos presos, porque na maioria das vezes
as violências sofridas sã o “necessá rias” diante da resistência oferecida à prisã o e
nã o seriam, portanto, maus-tratos, pedem que o juiz providencie o
encaminhamento das denúncias às respectivas corregedorias apenas para
evitar que eles sejam taxados de coniventes ou sejam denunciados por
prevaricação (BALLESTEROS, 2016a, p. 53-54).

Todos os parceiros que fizeram o acompanhamento presencial das audiências


relataram que todas as audiências presenciadas por esta consultoria
confirmaram o relato de que as audiências ocorrem muito mais voltadas ao
cumprimento do ritual que lhes foi imposto do que para averiguar a real
necessidade de manutenção da prisão e as reais circunstâncias da prisão
(BALLESTEROS, 2016b, p. 44).

À exceçã o do momento em que o juiz faz perguntas diretas ao preso, todos os


demais atos da audiência são dirigidos à pessoa do juiz ou são dirigidos deste
para os representantes do Ministério Público ou da Defensoria Pública, ou
para o servidor que está secretariando a audiência. Isto inclusive no momento
de prolaçã o da decisã o, quando nã o raras vezes o magistrado nã o se dirige ao
preso para informa-lo sobre qual foi o resultado das audiências, nem quais foram
os motivos que levaram à quela decisã o (BALLESTEROS, 2016b, p. 44).

Em algumas audiências que foram acompanhadas, assim como também em relatos


de outros pesquisadores, foi possível constatar que, juntamente com o modo
protocolar de conduzir as audiências, os profissionais também utilizam
linguagem inapropriada ao entendimento dos presos, tendo, por inú meras
vezes, que refazer frases, argumentos e substituir palavras até que a pessoa possa
entender o que está sendo dito pelo interlocutor. Desde as explicaçõ es que sã o
dadas a respeito do que se trata a audiência até as perguntas que sã o feitas para
que o preso explique as circunstâ ncias da prisã o tem que ser repetidas, o que
acaba confundindo o preso e, certas vezes, irritando os magistrados
(BALLESTEROS, 2016b, p. 45).

Outra questã o que deve ser considerada durante as audiências é a exigência de


deferência exigida dos presos em relação às autoridades presentes nas salas
onde acontecem os trâmites, com o policial a todo o tempo tocando à s costas dos
presos para que ele fique em silêncio e nã o se manifeste quando nã o consultado,
requerendo-lhe comportamento equivalente aos do promotor e defensor
presentes, já habituados com os rituais processuais. Também foram presenciados
gracejos, insinuações, gestos e feições trocados entre alguns dos presentes
nas salas de audiência, incluindo policiais e defensores, desacreditando ou
questionando de forma jocosa o relato das pessoas detidas, além de
repreensões extralegais de caráter moral em especial dos magistrados em
relação aos presos, que os liberam fazendo sermões sobre o que poderia ser
da sua vida caso ele fosse encaminhado para a cadeia ou sobre como sua
“opção” pela criminalidade é uma decepçã o para a família e um peso para o
Estado (BALLESTEROS, 2016b, p. 45).

Nos termos do Protocolo II da Resoluçã o nº 213 do Conselho Nacional de Justiça,


diante de um relato de tortura, a autoridade judiciá ria deve, dentre outros
procedimentos, (i) preocupar-se com o atendimento integral da pessoa vítima
de tortura, permitindo que esta tenha acesso a um atendimento de saú de e (ii)
encaminhar cópia dos documentos necessários à apuração da conduta ao
Ministério Público e à respectiva Corregedoria ou Ouvidoria do órgão a que o
agente pú blico responsá vel pela prisã o seja ligado (FERREIRA; DIVAN, 2018, p.
541-542).

Se bem investigados, os relatos colhidos em audiências de custó dia podem ser uma
janela para o aprimoramento do controle externo da atividade policial, tarefa
institucional (e, má xime) constitucional deste que acumula uma série de funçõ es
— e que, nas audiências de custó dia, exerce um “duplo papel”: o de parte,
sobretudo na açã o penal eventualmente vindoura, e de “fiscal da lei” para as
irregularidades na detençã o, na prisã o e nas prá ticas atinentes (sobretudo quanto
aos casos de torturas e violências congêneres). Parece claro que, nessa duplicidade
de atuaçã o que sabidamente dificulta algumas consideraçõ es mais taxativas, o
papel do Ministério Público ante a realização das audiências de custódia é —
ou deve ser — predominantemente o de fiscal e o de controlador externo.
Naquele momento, e dada a evidente funçã o maior da audiência de custó dia, a
avaliação da necessidade da constrição cautelar e o rigor na análise da
própria higidez do procedimento (e a responsabilização dos agentes da lei
responsáveis por arbítrios e ilegalidades) devem prevalecer sobre a vertente
parcializada de acusador. Caso contrá rio, começa, inclusive, a perder o sentido a
pró pria ideia-motriz. É preciso que se crie, inclusive, uma cultura de troca de
vértice, uma vez que o Ministério Pú blico nã o pode fazer qualquer ponderaçã o
entre a necessidade de submeter as competentes açõ es penais contra suspeitos de
prá ticas delitivas e os controles externos propositivos (ex: solicitar abertura de
inquéritos), com a igualmente fundamental necessidade de fiscalizar os
procedimentos e de promover controles externos diretos em relaçã o aos abusos e
delitos perpetrados pelos pró prios atores legais (FERREIRA; DIVAN, 2018, p. 545-
546).

Por outro lado, os dados da primeira fase de pesquisa demonstram que há lacunas
de diversos tipos: (i) institucionais, sob o ponto de vista da produção de dados,
quer por parte da magistratura quer por parte do Ministério Pú blico; (ii)
administrativas, diante da ausência do acompanhamento do laudo do Instituto
Médico-Legal, na audiência de custódia, para que o juiz se sinta municiado para
fazer perguntas à pessoa presa sobre a tortura que esta possa ter sofrido; e (iii)
político-criminais, diante da dificuldade, comprovada pela subnotificação dos
dados sobre os relatos de tortura escutados em audiências de custódia e os
registros oficiais sobre os encaminhamentos de ofícios às Corregedorias e ao
Ministério Público, o que nos leva a apontar para uma seletividade no fluxo que
se monta, institucionalmente, para investigar a tortura, criminal ou
administrativamente (FERREIRA; DIVAN, 2018, p. 546).

III – PROPOSIÇÕES

A partir do que foi pesquisado, pode-se identificar as seguintes proposiçõ es, a


serem reescritas:
(i) A presença do membro do Ministério Pú blico na audiência de custó dia é
obrigató ria.
(ii) A funçã o do membro do Ministério Pú blico na audiência de custó dia é
essencialmente a de fiscal da lei.
(iii) A principal funçã o da audiência de custó dia é a de analisar as circunstâ ncias
da prisã o, da realizaçã o do exame de corpo de delito e da eventual notícia
de maus-tratos ou de tortura sofridos pela pessoa presa.
(iv) Os membros do Ministério Pú blico que atuam na sessã o das audiências de
custó dia nã o podem ser os mesmos que integram a unidade responsá vel
por fazer o controle externo da atividade policial.
(v) O membro do Ministério Pú blico deve ter papel de destaque na escuta da
pessoa presa que alega ser vítima de tortura na audiência de custó dia.
(vi) O membro do Ministério Pú blico deve assegurar que o custodiado teve
respeitado o seu direito ao atendimento prévio e reservado por advogado
ou defensor pú blico, sem a presença de agentes policiais, para o
esclarecimento dos motivos, dos fundamentos e dos ritos que versam a
audiência de custó dia.
(vii) O membro do Ministério Pú blico deve assegurar que a pessoa presa nã o
esteja algemada na audiência de custó dia, devendo requerer ao/à
magistrado/a presidente da sessã o que a excepcionalidade seja justificada
por escrito.
(viii) O membro do Ministério Pú blico deve requerer ao/à magistrado/a
presidente da sessã o que o agente responsá vel pela custó dia, prisã o ou
investigaçã o do crime nã o esteja presente na audiência durante a oitiva da
pessoa custodiada.
(ix) O membro do Ministério Pú blico deve requerer ao/à magistrado/a
presidente da sessã o que os agentes responsá veis pela segurança da
audiência de custó dia nã o portem armamento letal.
(x) O membro do Ministério Pú blico deve assegurar que os agentes
responsá veis pela segurança da audiência de custó dia nã o participem ou
emitem opiniã o sobre a pessoa custodiada no decorrer da audiência.
(xi) O membro do Ministério Pú blico deve zelar pela apresentaçã o prévia do
laudo do exame de corpo de delito e deve requisitar a sua realizaçã o sempre
que nã o tenha sido realizada, que os registros se mostrem insuficientes, que
a alegaçã o de maus-tratos ou tortura refira-se a momento posterior ao
exame realizado, e/ou que o exame tenha-se realizado na presença do
agente policial de quem se noticia a prá tica de maus-tratos ou de tortura ou
de quaisquer ilegalidades no curso da prisã o.
(xii) O membro do Ministério Pú blico deve requerer a realizaçã o de registro
fotográ fico e audiovisual sempre que a pessoa custodiada apresentar
relatos ou sinais de tortura ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes.
(xiii) O membro do Ministério Pú blico, apó s a inquiriçã o do/a magistrado/a
presidente da sessã o, deverá formular, suplementarmente,
questionamentos que se dirijam ao esclarecimento das circunstâ ncias da
prisã o, da realizaçã o do exame de corpo de delito e da eventual notícia de
maus-tratos ou de tortura sofridos pela pessoa presa.
(xiv) O membro do Ministério Pú blico deve requerer que se conceda tempo
suficiente para a oitiva da presumível vítima de tortura, devendo
demonstrar, quando da sua oportunidade para as eventuais perguntas
suplementares, sensibilidade no tom, na formulaçã o e na sequência das
perguntas.
(xv) O membro do Ministério Pú blico, quando da sua oportunidade para as
eventuais perguntas suplementares, deve informar à presumível vítima de
tortura do seu direito de interromper o interrogató rio a qualquer momento,
para fazer uma pausa se assim o desejar, ou de recusar responder a
qualquer questã o.
(xvi) O membro do Ministério Pú blico, quando da sua oportunidade para as
eventuais perguntas suplementares, havendo pluralidade de eventos com
açõ es de maus-tratos e tortura ou insegurança na indicaçã o de locais, datas
e horá rios, deve solicitar uma descriçã o dos fatos de acordo com os
métodos de tortura eventualmente empregados, separando-se o
questionamento em relaçã o a cada um dos eventos.
(xvii) O membro do Ministério Pú blico, quando da sua oportunidade para as
eventuais perguntas suplementares, deve se certificar de que está em posse
de informaçõ es relativas à s circunstâ ncias da detençã o e dos atos de tortura
ou de maus-tratos, o local e as condiçõ es da detençã o, e os métodos de
tortura e maus-tratos.
(xviii) O membro do Ministério Pú blico, quando da sua oportunidade para as
eventuais perguntas suplementares, deve fazer perguntas de forma simples,
de forma repetida ou reformulada caso a pessoa tenha dificuldade de
entender, de maneira aberta, priorizando-se a escuta e levando-se em
consideraçã o a condiçã o de vulnerabilidade e disparidade de poder entre a
pessoa presa e o ó rgã o ministerial, as diferenças de tratamento em relaçã o
ao gênero e à nacionalidade da pessoa custodiada e os limites da pessoa que
se diz vítima de violência.
(xix) O membro do Ministério Pú blico, quando da sua oportunidade para as
eventuais perguntas suplementares, deve evitar que se coloquem dú vidas
desnecessá rias ao discurso da pessoa presa, como forma de contrariar a
versã o dada por ela, devendo fazer registrar na ata da audiência toda a sua
narrativa, sem exclusõ es.
(xx) O membro do Ministério Pú blico deve assegurar que, na audiência de
custó dia, seja dada prioridade à averiguaçã o da real necessidade de
manutençã o da prisã o e das reais circunstâ ncias da prisã o, sem grandes
preocupaçõ es ao cumprimento do ritual que foi imposto.
(xxi) O membro do Ministério Pú blico deve zelar para que se evitem gracejos,
insinuaçõ es, gestos e feiçõ es trocados entre as pessoas presentes nas salas
de audiência, comentá rios jocosos e sermõ es, que visem desencorajar ou
desacreditar o relato das pessoas detidas.
(xxii) O Ministério Pú blico deve proceder imediatamente e com imparcialidade ao
exame do caso de tortura relatado pela pessoa presa na audiência de
custó dia, ainda que na ausência de uma denú ncia expressa, caso existam
outros indícios de que possam ter ocorrido atos de tortura ou maus tratos,
devendo ser requeridas ao/à magistrado/a presidente da sessã o medidas
para assegurar a proteçã o do queixoso e das suas testemunhas.
(xxiii) O membro do Ministério Pú blico, sempre que necessá rio, deve requerer
ao/à magistrado/a presidente da sessã o a inclusã o da pessoa vítima de
tortura nos programas institucionais de proteçã o a vítimas e testemunhas,
bem como a de seus familiares ou testemunhas, quando também aplicá vel o
encaminhamento.
(xxiv) O membro do Ministério Pú blico deve assegurar que sejam fornecidas à s
alegadas vítimas de tortura, na audiência de custó dia, os contatos de grupos
de apoio e tratamento que lhes possam ser ú teis.
(xxv) O membro do Ministério Pú blico deve requerer ao/à magistrado/a
presidente da sessã o a transferência imediata da custó dia da pessoa vítima
de tortura, com substituiçã o de sua responsabilidade para outro ó rgã o ou
para outros agentes, ou com a imposiçã o de liberdade provisó ria,
independente da existência dos requisitos que lhe autorizem, sempre que
nã o for possível garantir a segurança e a integridade da pessoa custodiada.
(xxvi) O membro do Ministério Pú blico deve requerer que sejam enviadas có pias
do depoimento e dos demais documentos pertinentes para o Nú cleo de
Prevençã o da Tortura e para o Centro de Apoio Operacional do Controle
Externo da Atividade Policial do MPMA, devendo-se assegurar que a
remessa dos documentos seja feita de todo o auto de prisã o e nã o apenas ao
termo de audiência.
(xxvii) O membro do Ministério Pú blico deve requerer, nos autos do processo
principal ou do inquérito policial, que as declaraçõ es que se demonstrem
prestadas como resultados de tortura sejam invalidadas e desentranhadas
do feito, salvo naqueles que se deem contra uma pessoa acusada de tortura
como prova de que a declaraçã o foi prestada.
(xxviii) O Ministério Pú blico deve assegurar que os investigadores que
participem do inquérito instaurado para apurar os relatos feitos nas
audiências de custó dia pela pessoas vítimas de tortura sejam
independentes dos suspeitos e dos organismos a que estes pertencem e, na
sua impossibilidade, que as investigaçõ es sejam feitas pelo pró prio ó rgã o
ministerial.
(xxix) O Ministério Pú blico deve institucionalizar a produçã o de dados sobre os
casos de tortura apresentados em audiências de custó dia e os
encaminhamentos tomados a partir deles.

REFERÊNCIAS
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das prá ticas institucionais e recomendaçõ es de aprimoramento. Brasília:
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da Justiça, Departamento Penitenciá rio Nacional, 2016b. Disponível em:
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