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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PAPILOSCOPISTAS POLICIAIS FEDERAIS - ABRAPOL EDIÇÃO 12 - AGOSTO DE 2018 | ANO XVIII

HAVIA DIGITAIS
NO MEIO DO CAMINHO
NO CASO DO BUNKER DE SALVADOR, AS IMPRESSÕES AMARRARAM GEDDEL VIEIRA LIMA
E DOIS EX-FUNCIONÁRIOS E ALIADOS DO EX-MINISTRO À DINHEIRAMA ENCONTRADA

PAPI CIÊNCIA REPORTAGEM


A incrível jornada do PPF que usou o Google Imagens Conheça a realidade no primeiro II brasileiro : Instituto
para descobrir crimes e documentos falsos. | pág. 13 de Identificação Félix Pacheco IIFP/PCERJ. | pág. 42

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Biometrics HITech Summit 2018


Expo, Business
21 a 23 & Conference
de agosto de 2018
Centro FECOMERCIO de Eventos - SP

O ÚNICO EVENTO DO PAÍS TOTALMENTE


DEDICADO À IDENTIFICAÇÃO HUMANA

VISITAS AO
INSTITUTO DE
IDENTIFICAÇÃO
CONGRESSO E EXPOSIÇÃO DE SÃO PAULO
Inovações, tendências, O Instituto de Identificação
melhores práticas e as mais Ricardo Gumbleton Daunt do
recentes soluções Estado de São Paulo (IIRGD-
em biometrias e tecnologias SP) recebe profissionais em
de identificação humana. papiloscopia interessados em
conhecer suas instalações
e processos.

FÓRUM POLÍTICO
MINICURSOS
Discussão sobre desafios e
Aperfeiçoamento e atualização
oportunidades advindos da
técnica para profissionais e
modernização dos documentos
especialistas em identificação
de identificação a partir do
humana.
decreto 9278/18.

Apoio institucional Realização


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VI CONGRESSO IA

NACIONAL DE
NECROPAPILOSCOPIA

CASES
PALESTRAS
1 - Novas Técnicas
1 - LEAD: benefícios da Necropapiloscópicas:
informatização para os apresentação de caso real
procedimentos de legitimação
2 - Perícia Necropapiloscópica
2 - A contribuição da biometria em acidentes de massa
na localização e identificação de
desaparecidos 3 - O caso do bunker
de R$ 51 milhões

“Este evento de extrema relevância visa promover o intercâmbio de serviços e informações


específicas ligados à papiloscopia e aos direitos humanos, tendo em vista o indiscutível
valor da Necropapiloscopia como método seguro e eficaz na identificação de cadáveres.”

Antonio Maciel Aguiar Filho


Presidente da FENAPPI
Federação Nacional dos Peritos Oficiais em Identificação
www.fenappi.com.br

INFORME-SE E GARANTA SUA INSCRIÇÃO


biometricshitech.com

Organização e Realização
PALAVRA DO PRESIDENTE

INSISTÊNCIA E A PERSEVERANÇA 
PARA UM PAÍS MAIS SEGURO E JUSTO

É
função do Perito em Papiloscopia, o funcionamento das atividades socioe- deral o mais moderno órgão oficial de iden-
pautado pelo conhecimento técni- conômicas do pais. Com pouquíssimos tificação da América Latina, cujos novos
co-cientifico, realizar a leitura dos investimentos, alguns órgãos de identifi- equipamentos e laboratórios certamente
vestígios de impressões papilares em locais cação estaduais sobrevivem hoje em razão ampliarão os resultados positivos dos pro-
de crime, interpretá-los e estabelecer o do esforço coletivo de seus servidores. cedimentos periciais, de representação fa-
vínculo entre o vestígio encontrado e a Outros conseguiram driblar as dificuldades cial humana e de outras áreas biométricas.
identificação inequívoca da pessoa que o e atraíram o olhar dos gestores públicos São nas dificuldades que nos tornamos
produziu. e estão mudando o paradigma das ações mais capazes de produzir, superar e alcan-
É isso! Identificar pessoas de forma que necessitam da garantia no processo de çar os objetivos. Vivenciamos isso todos os
inequívoca é atribuição (essencial) primária identificação da pessoa. dias, Peritos Papiloscopistas apresentando
do Papiloscopista, quer seja no processo de São Paulo e Goiás estão implantando o resultados excelentes nos procedimentos
confecção de uma Carteira de Identidade, Sistema AFIS. Com isso chegaremos a mais investigativos, desenvolvimento pesquisas
na identificação de cadáveres ou de corpos de 11 estados que utilizarão ferramentas e artigos científicos, gerindo órgãos, im-
oriundos de acidentes de grandes propor- tecnológicas que não somente dão celeri- plementando políticas e na sua essência
ções e principalmente na busca de autoria dade aos processos de identificação como servindo as instituições e a sociedade
de crimes por meio da perícia papiloscópica. também subsidiam um volume bem maior É um pouco disso que queremos mos-
Os órgãos oficiais de Identificação de informações e laudos periciais aos pro- trar para nossos leitores. A modernização
estão presentes em todos os estados bra- cedimentos investigativos (além, é claro, de para este segmento é essencial. Tanto
sileiros e no Distrito Federal. Essa história auxiliar na identificação de pessoas desa- governo federal como estadual precisam
remonta ao ano de 1903, quando da criação parecidas e de cadáveres considerados in- implementar ações efetivas para que os
da primeira unidade do gênero no país, o digentes). Estão em curso muitos projetos órgãos oficiais de identificação e seus ser-
Instituto Felix Pacheco, no Rio de Janeiro, que de forma integrada com outras áreas vidores, Peritos Papiloscopistas, possam
voltado especificamente para implementar de governo prometem revolucionar a capa- atender as demandas da área com muito
a identificação Civil da sociedade, utilizan- cidade do estado em implementar políticas mais qualidade e eficácia.
do a papiloscopia como ciência norteadora sociais e de segurança pública. Que sejam implementados projetos
dos procedimentos para garantir a unicida- A Polícia Civil do Distrito Federal deu para integração dos bancos de dados bio-
de de casa cidadão. um passo importante para o alcance dos métricos a fim de que os órgãos de identi-
No entanto, a história também nos índices de resolução de crimes almejados ficação troquem informações ampliando
mostra o quão grande foi o descaso dos pela sociedade brasileira. No mês de abril a capacidade de pesquisa e a obtenção de
governos com este segmento tão vital para de 2017, entregou ao povo do Distrito Fe- resultados.

PRESIDENTE DA ABRAPOL

PAULO AYRAN DA SILVA BEZERRA

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NESTA EDIÇÃO

13 7

33
ENTREVISTA
Lilian Marouelli
Papiloscopista Policial Federal CAPA
faz história ao torna-se a As impressões digitais
PAPI CIÊNCIA primeira profissional brasileira
encontradas pelos
De 100 imagens de de identificação a participar
impressões digitais de curso na Rússia Papiloscopistas Policiais
disponíveis na internet, ao Federais (PPF) atribuíam os
menos 34 já foram utilizadas
em documentos falsos,
conforme pesquisa realizada
no AFIS da Polícia Federal
11
PELOS ESTADOS
R$ 51 milhões ao ex-ministro

Apesar de os suspeito terem

40 46 50
sido soltos, os papiloscopistas
provaram, por meio da ciência, que
um deles estava no local do crime

29
PELOS ESTADOS ESPECIAL ESPECIAL

18
O trabalho foi Papiloscopistas A Gestão Inteligente
resultado de uma policiais federais de Informações
ação permanente identificam suspeito Biométricas
para coibir o uso após 17 anos
REPORTAGEM das vias postais
A integração entre os sistemas
para o tráfico de
ESPECIAL AFIS utilizados por todas as polícias
drogas ao exterior
Silvana Helena Vieira Borges é um caminho para o futuro da
identificação humana no Brasil
A primeira mulher a ocupar
a Diretoria Executiva da

24
Polícia Federal fala de planos

4 6
e caminhos para o órgão PALAVRA DO
HIGHLIGHTS
PRESIDENTE
PAPI CIÊNCIA
Os exames periciais
papiloscópicos representam

42
uma das principais provas A OUTRA FACE
durante a persecução criminal.
55 Julius Bomfim sempre praticou esportes, mas a iniciativa do pai
com a corrida de rua e a necessidade de se preparar para o T

36
AF da PF, em 2012, o apresentou um universo novo: O Triathlon

EVENTOS
REPORTAGEM
A realidade no primeiro
II brasileiro
PELOS ESTADOS
Uma iniciativa, centenas
de casos solucionados
57 Evento comemorativo
mostrou a importância
da perícia papiloscópica
58 FOTO GALERIA

Conselho Editorial Repórter


EXPEDIENTE Bernardo José Munhoz Lobo Simone Andrade
Jade Kende Umbelino
Leonardo Cosme Carvalho da Silva Projeto Gráfico e
Luciene Marques da Silva Diagramação
Marlon Anselmo Duarte da Costa Gueldon Brito
Paulo Ayran S. Bezerra
Revisão
Cácia Leal
Jornalistas Responsáveis e A Revista Impressões é uma publicação
Editores Executivos Coordenação e Revisão Final trimestral da Associação Brasileira dos
Marcos Linhares - MTb 2406-DF Paulo Ayran S. Bezerra Papiloscopistas Policiais Federais.
João Vitor Fernz - MTb 0007637-DF

DIRETORIA EXECUTIVA
DA ABRAPOL Diretor Jurídico Conselho Fiscal
Marcos Rosseti Picinin A. Vieira Titulares
Presidente Camila Teixeira Feijoo
Paulo Ayran da Silva Bezerra Diretor Financeiro Rogério Silva dos Santos
Clauber Franco Miranda Leonardo Cosme Carvalho da Silva
Vice Presidente
Ramon Santos Fernandez Diretor De Assuntos Suplentes
Estratégicos Marlon Anselmo Duarte da Costa
Secretário Geral Gabriel Ângelo da Silva Gomes Luciene Marques da Silva
Bernardo José Munhoz Lobo Leonardo Cosme Carvalho da Silva

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HIGHLIGHTS

REPRODUÇÃO/
FACEBOOK

Há problema para quem falsifica as coisas”, disse chateado o governador de


São Paulo, Márcio França (PSB), ao ter que revogar portaria que possibilitava
empresas contratarem serviço com dados da população. Entidades como a Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB) e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
(Idec), apontaram, problemas no oferecimento de dados sigilosos.

VALTER CAMPANATO/
AGÊNCIA BRASIL

“O Brasil tem liderado uma série de operações de combate ao crime


organizado, inclusive sediando o Centro de Cooperação Policial
Internacional no Rio de Janeiro, e passa agora, como secretário-executivo
da Ameripol, a poder utilizar esse espaço para realizar operações
internacionais”, explicou o diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro,
eleito em Buenos Aires, secretário-executivo da Comunidade de Polícias das
Américas (Ameripol), em matéria publicada na Agência Brasil.

Uma das principais soluções a ser buscada por meio deste Ministério da Segurança Pública é convergir
esforços de interoperabilidade na área de inteligência e entre os sistemas de identificação biométricos e
biográficos existentes no país (TRE, Detran, Institutos de Identificação e Cartórios) e mesmo entre os países
vizinhos que já dispõem destas tecnologias”, Antônio Maciel Aguiar Filho, presidente da Federação Nacional
dos Peritos Oficiais em Identificação – FENAPPI, em artigo publico no jornal
OTTO PEYERL
SINPOL-DF O Popular (GO), sobre o crime organizado

O 14º Congresso Brasileiro de Identificação (CBI) foi uma oportunidade


de promover o compartilhamento das técnicas e
conhecimentos, o que gera um nivelamento na profissão”,
disse o, vice-presidente da Fenappi, Rodrigo Meneses.

Pelo visto, o problema da emissão de passaportes continuará sendo tratado como emergência,
e não como de fácil e possível solução. Verba há, mas não há vontade política para atender
a essa demanda, disse Paulo Ayran, presidente da Associação Brasileira de Papiloscopistas
Policiais Federais (Abrapol) em matéria publicada no Correio Braziliense online.

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ENTREVISTA

LILIAN
MAROUELLI
Papiloscopista Policial Federal faz história ao torna-se a primeira
profissional brasileira de identificação a participar de curso na Rússia
Por Simone Andrade
Especial para a revista Impressões

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ENTREVISTA

P
apiloscopista Policial Federal (PPF) as instituições. Lilian participou do curso
há cinco anos, Lilian Marouelli foi a oferecido de 26 de março a 27 de abril de
primeira Papiloscopista brasileira a 2016, e que contou com a participação de
participar do curso de Diligência Datiloscó- 15 papiloscopistas de 11 países da América
pica – Exame de Lugar do Crime, oferecido Latina – Brasil, Paraguai, Guiana, Jamaica,
pela Universidade de Moscou, do Ministério Argentina, Chile, Colômbia, Honduras, Ni-
do Interior da Federação Russa – V. Y. Kikot. carágua, El Salvador e Guatemala.
A Rússia, que possui 98 centros crimi- Na Rússia, os policiais passam pela
nalísticos e 15 mil peritos, convida todos Universidade V. Y. Kikot para se especializa-
os anos policiais de diferentes regiões do rem nas Grandes Perícias: Balística, Armas
mundo para compartilharem conhecimen- Brancas, Retrato Falado, Comparação
tos e experiências e estreitar relações entre de Rostos, Documentologia, Traçologia,
Dermopapiloscopia. Além destas, existem
outras 46 perícias específicas, para as
quais são direcionados os policiais com
formações específicas, como Economia,
Engenharia. “Eles têm uma universidade
só para a formação de peritos gerais. São
sete grandes áreas de perícias, e a papi- uma visão geral do que eles fazem na área
loscopia é uma delas. Eles oferecem esse de datiloscopia em local de crime”. Confira
Universidade de Moscou do Ministério do curso como se fosse um curso superior; são entrevista que a Papiloscopista Policial Fe-
Interior da Federação Russa – V. Y. Kikot
cinco anos de formação, e nós fomos ter deral concedeu à Revista Impressões.

IMPRESSÕES | O que mais desperta a curso longo, os professores abordaram ao local do crime até a elaboração do Lau-
curiosidade sobre a formação dos peritos um pouco sobre perícias gerais, antes de do. Mostramos como realizamos as fotos,
na Rússia? falarem sobre dermopapiloscopia, que en- fazemos a revelação dos fragmentos
Lilian Marouelli | Na Rússia, existem as globa datiloscopia, quiroscopia, podosco- papiloscópicos, levantamos os vestígios e
perícias gerais e as perícias específicas. As pia, poroscopia e edgeoscopia. Antes de processamos esse material e realizamos
perícias gerais englobam: balística, armas tratarem de datiloscopia em local de cri- o Laudo. Fizemos essa atividade em dois
brancas, retrato falado, comparação de me, eles pediram para que mostrássemos dias, e eles deram os feedbacks de como
rostos, documentoscopia, traçologia e como realizamos a perícia datiloscópica eles fariam. Fizeram críticas, falaram
dermopapiloscopia. Para realizar essas pe- em nossos países. Para isso, nos levaram sobre as semelhanças e diferenças de
rícias, o especialista precisa passar por uma a uma cidade cinematográfica, dentro da trabalho entre os países participantes.
formação de cinco anos, na Universidade própria universidade, muito interessante, Depois disso, mostraram o sistema de
de Moscou, do Ministério do Interior. Para com estação de metrô, banca de revista, classificação que eles utilizam, que é o de
as perícias específicas, que são Economia, quadra de esporte e praça. Eles queriam Henry, e a metodologia que adotam em
Engenharia, Biologia e outras 43 áreas, saber como a gente atua desde a chegada local de crime.
o profissional precisa ter uma formação
superior em uma dessas áreas e mais seis
meses de especialização.

IMPRESSÕES | Como foi o curso?


Lilian Marouelli | No primeiro momento,
eles abordaram noções de local de crime;
fotografia em local de crime; traçologia,
que são vestígios, como pegadas e marcas
de pneu; retrato falado; noções de explosi-
vos e odorologia, técnica que utiliza o odor Os participantes se envolveram
As dinâmicas foram intensas durante o curso profundamente nas atividades
para identificar um suspeito. Como foi um

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ENTREVISTA

A troca de experiências internacionais


permeou todo o curso

IMPRESSÕES | Muitas diferenças ou se- integralmente. A primeira etapa refere- IMPRESSÕES | O que você destaca dessa
melhanças? -se à preservação do local do crime, em experiência?
Lilian Marouelli | Em geral, os países se- seguida vem a de garantir a cadeia de Lilian Marouelli | O que mais vale é estrei-
guem a mesma linha. A diferença é que na custódia dos vestígios arrecadados, de tar laços. Os crimes são de atuação inter-
Federação Russa os peritos vão em grupo modo que as provas periciais não sejam nacional, então esse estreitamento facilita
de três peritos ao local. Um responsável questionadas em juízo – o que foi muito na hora de combater o crime, de solicitar
pelas fotografias, outro pelas anotações ressaltado durante todo o curso e que um auxílio, não só à Rússia, mas também
e o terceiro pelo levantamento dos vestí- considero muito importante. Também a países que, embora próximos, não estão
gios. No Brasil, assim como no Chile e na nos preocupamos muito com isso. Con- ainda muito acessíveis à polícia. Uma coisa
Colômbia, vai um perito criminal, respon- tudo, a impressão que tive é que eles são que eu também trouxe para a discussão
sável pelo local, e um perito papiloscopista. muito mais questionados do que somos entre os colegas é o uso de microfrag-
Outros países, como Argentina e Paraguai, aqui [no Brasil]. Pensando em evitar mentos pela polícia russa. São fragmen-
é apenas um profissional fazendo todas as futuros questionamentos judiciais, o INI tos que, embora tenham menos de oito
perícias gerais. tem buscado aplicar uma metodologia pontos característicos, são utilizados para
mais científica nos trabalhos periciais
IMPRESSÕES | Voltando para a atividade – a exemplo do ACE-V, adotado pelas
“Para realizar essas perícias,
na cena do crime, na cidade cinematográ- polícias francesa, canadense e a própria
fica. Dentro da percepção que você teve, Interpol –, metodologia que consiste na
o especialista precisa
quais são os principais cuidados que eles análise, comparação, avaliação e verifica- passar por uma formação
têm com as etapas do trabalho? ção, por um segundo especialista, de tudo de cinco anos, na
Lilian Marouelli | A metodologia de tra- que foi feito. E a polícia russa utiliza uma Universidade de Moscou, do
balho deles é bem definida e cumprida técnica semelhante a essa. Ministério do Interior”

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ENTREVISTA

“Uma coisa que eu também


trouxe para a discussão
entre os colegas é o uso
de microfragmentos
pela polícia russa”

individualização, desde que estejam em


boas condições e que haja um suspeito. No
Brasil, por convenção, utilizam-se apenas
os que apresentam 12 pontos característi-
cos. Entendo que essa prática adotada na
Rússia também poderia ser observada aqui,
uma vez que um fragmento daquele tipo
pode se tratar de único elemento de prova
material do crime.
Foi colocada a primeira bandeira do Brasil
no mapa mundi na universidade russa.
IMPRESSÕES | Você vê que temos condi-
ções de fazer isso?
Lilian Marouelli | Acredito que sim. Para IMPRESSÕES | Como foi a experiência de IMPRESSÕES | Você incentiva outros cole-
isso, como mencionei anteriormente, te- ser a primeira papiloscopista brasileira a gas a aproveitarem a oportunidade?
ríamos que levantar fragmentos em boas participar do curso? Lilian Marouelli | Sim, com certeza. Primei-
condições e ter pelo menos um suspeito. Lilian Marouelli | Foi emocionante e gra- ro, pela oportunidade de conhecer a forma
Além disso, teríamos que contar com uma tificante, ainda mais por eu ter colocado a como trabalham outras polícias e a possi-
impressão padrão alto nível de detalhes, primeira bandeira do Brasil no mapa mundi bilidade de realizar trocas de informações
que possibilite um confronto papiloscópico que tem lá na universidade. A receptivida- entre as instituições. Depois, pela chance de
utilizando não apenas pontos característi- de dos russos foi muito grande e estavam conhecer um país tão desenvolvido nas me-
cos, mas também poros e bordas das cris- muito satisfeitos de finalmente receberem todologias de investigação e com uma cultu-
tas papilares. uma representante do nosso país. ra tão encantadora e diferente da no ssa.

Nossos processos de exames de lugar de crime puderam também


ser apresentados aos colegas dos vários países participantes

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PELOS ESTADOS

NA PARAÍBA...
PERÍCIA PAPILOSCÓPICA
DEVOLVE INDIVÍDUO À PRISÃO
Apesar de os suspeitos terem sidos soltos, os papiloscopistas provaram,
por meio da ciência, que um deles estava no local do crime

Por Simone Andrade


Especial para a revista Impressões

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PELOS ESTADOS

N
a madrugada do dia 30 de maio de Após os procedimentos na Delegacia, dos dois indivíduos vindo a positivar com um
2017, indivíduos fortemente arma- os suspeitos foram encaminhados para a deles”, conta Livônio. Além disso, a digital
dos explodiram uma agência dos audiência de custódia na presença do juiz também positivou com um caso criminal rela-
Correios em São Sebastião do Umbuzeiro do caso. Mas, de lá foram liberados sob ale- cionado a assalto na agência dos Correios na
(PB). Os assaltantes explodiram a agência e gações de falta de elementos probatórios Cidade de Assunção (PB), em 2016.
fugiram espalhando grampos na pista para que os mantivessem presos. Com os Laudos de Perícia Papiloscópi-
evitar a perseguição policial. Durante quatro dias, o Papiloscopista Po- ca concluídos pelo GID/PB, o Delegado de
Na mesma noite, a Polícia Militar pren- licial Federal Livônio Lima analisou e aplicou Polícia Federal responsável pelo caso pediu
deu dois suspeitos interceptados na ro- reagentes específicos na lata apreendida. A a prisão dos envolvidos e imediatamente o
dovia que liga Zabelê (PB) e Umbuzeiro. prova que faltava para sustentar a prisão foi juiz correspondente a decretou. Assim, um
A polícia colheu também uma lata de obtida com os dois fragmentos de impressões dos criminosos foi devolvido à prisão. “Temos
solvente – utilizada para auxiliar a espalhar digitais revelados no interior da lata de solven- muitos casos positivados na Paraíba, mas esse
os grampos – e alguns dos grampos. Os te. “Logramos êxito revelando dois fragmen- em particular foi gratificante devido ao fato
suspeitos presos foram encaminhados para tos na parte interna [da lata], por coincidência de os indivíduos terem sido colocados em
a delegacia de Polícia Federal em Campina uma sequencial de dedos, um dedo indicador liberdade e a gente ter conseguido provar, por
Grande (PB) e o material foi para a Perícia e o dedo médio. Com base nesses fragmen- meio da ciência, que ele estava sim no local de
Papiloscópica. tos, confrontamos com as decadatilares crime”, conclui o PPF.

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PERÍCIA NA INTERNET PAPI CIÊNCIA

IMPRESSÕES DIGITAIS
IMPRESSÕES DIGITAIS
DISPONÍVEIS NO GOOGLE
DISPONÍVEIS NO GOOGLE
IMAGENS SÃO IDENTIFICADAS
IMAGENS SÃO IDENTIFICADAS
EM DOCUMENTOS FALSOS
EM DOCUMENTOS FALSOS
De 100 imagens de impressões digitais disponíveis na internet,
ao menos 34 já foram utilizadas em documentos falsos,
conforme pesquisa realizada no AFIS da Polícia Federal

Por Simone Andrade


Especial para a revista Impressões

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 13
PAPI CIÊNCIA

E
m 2014, após reconhecer, no Google, minamos, depois de observarmos esse pri- Em um dos casos analisados,
uma imagem utilizada em casos cri- meiro caso, e logo detectamos outros casos uma mesma pessoa possuía
minais que envolviam uso de docu- de reversão de imagem”, conta Girelli. identidades de Minas
mentos falsos, o PPF Carlos Magno Girelli, Em um dos casos, a mesma impressão Gerais e do Espírito Santo
do Grupo de Identificação da Superinten- digital foi identificada como tendo sido utili-
dência Regional no Espírito Santo (GID/ zada em documentos falsos investigados em
ES), decidiu verificar a frequência com que diferentes estados. Havia casos com impres- As características extrínsecas podem
as impressões disponíveis na internet são sões iguais no Espírito Santo, Rio de Janeiro ser observadas no contorno da região visível
utilizadas para forjar documentos no Brasil. e Rio Grande do Sul, e outros dois casos no da impressão digital, que varia de uma co-
Das 100 primeiras imagens que baixou da Acre contendo a imagem revertida da mesma leta para outra conforme pressão, ângulo e
internet e pesquisou no Sistema Automa- impressão. Como os crimes foram cometi- rolagem do dedo, distorção, sobreposição,
tizado de Identificação de Impressões Di- dos em localidades distantes, foi levantada a deslizamento, interrupção ou borrão nas
gitais (AFIS), 34 resultaram em confrontos hipótese de que não havia correlação entre linhas papilares, ou até mesmo excesso de
positivos com impressões digitais de casos eles, embora a impressão digital usada nos suor durante a coleta. “A repetição sistemá-
criminais armazenados no sistema. “Esse documentos falsos fosse a mesma. “Se são tica das características extrínsecas em dife-
número é maior se considerarmos os vários criminosos independentes, como é que eles rentes documentos de uma mesma pessoa
crimes que não são apurados e aqueles sob conseguiram a mesma impressão digital?”, pode indicar que as impressões são cópias
investigação da Polícia Civil em locais onde questionou Carlos Magno, à época. “Se esses idênticas de uma mesma imagem, apontan-
não há inclusão no AFIS da Polícia Federal”, fraudadores são independentes e não têm do possível falsidade documental”, afirma.
alerta o PPF. conhecimento um do outro, qual seria a fonte Dentre os casos analisados (Figura 1),
Tudo começou quando, ao analisar mais provável para se obter a mesma imagem a mesma pessoa possuía documentos de
impressões digitais presentes em cópias de impressão digital para forjar e imprimir identidade de Minas Gerais e do Espírito
de documentos de identidade sobre os em um documento? A internet”. Girelli me- Santo. Até então, nada de ilegal. “As fotos
quais pairavam suspeitas de falsificação, morizou a impressão digital presente nos aparentavam ser da mesma pessoa, tiradas
Girelli encontrou similaridades entre duas referidos casos e acessou o Google Imagens. em momentos diferentes. Se o profissional
impressões que tinha em mãos. “Foi uma “Não demorou muito e encontrei a mesma fizer uma análise rotineira, concluirá que as
coincidência os dois casos terem caído para impressão que eu tinha em mãos”. impressões presentes nos dois documen-
o mesmo examinador e em um mesmo Perceber que havia similaridades entre tos foram produzidas pelo dedo da mesma
momento. Pela experiência, saltaram-me as imagens das cópias de documentos fal- pessoa, o que ainda seria possível sem que
aos olhos algumas características peculiares sos foi possível graças à atenção quanto a houvesse ilicitude”, conta Girelli. No entanto,
que apareciam em ambas as impressões, características intrínsecas e extrínsecas da o policial atenta à observação dos detalhes
apesar de pertencerem a investigações impressão digital. As características intrínse-
distintas. Então pensei: ‘Será que não são cas das impressões digitais são aquelas que
equivalentes?’”, conta. “Era uma presilha obedecem aos princípios da papiloscopia
interna e outra externa, mas o núcleo es- – unicidade, imutabilidade e perenidade –, e
tava parecido”. Quando Girelli reverteu a norteiam o trabalho de identificação. Além
imagem, percebeu que era a mesma, porém disso, Girelli alerta para a importância de os
impressa de uma forma em um documento papiloscopistas estarem atentos às caracte-
e revertida no outro, como se vista a partir rísticas extrínsecas – que variam de acordo
de um espelho. com o método de coleta ou revelação –,
Ao perceber que as impressões estavam com as características do substrato onde se
sendo utilizadas revertidas, e que tal ação encontram ou mesmo em função de edição
modifica profundamente o mapa de minú- de imagem. “Nós, profissionais de identifica-
cias, prejudicando sua identificação no siste- ção, somos aptos a detectar se duas marcas
ma AFIS, o papiloscopista passou a processar, foram geradas por um mesmo dedo, quando
em casos de cópias de documentos falsos, a elas apresentam concordância suficiente
imagem da impressão conforme recebida e quanto às características intrínsecas;
a revertida. Apesar de ser um trabalho duplo, mas as características extrínsecas nor-
o resultado foi recompensador. “A gente fez malmente não se repetem em coletas e O PPF Carlos Magno Girelli decidiu
verificar a frequência com que
isso para alguns documentos falsos que exa- deposições distintas”, explica. as impressões disponíveis na internet são
utilizadas para forjar documentos no Brasil.

14 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
PAPI CIÊNCIA

PAPILOSCOPIA E
INTELIGÊNCIA FORENSE
Os estudos desenvolvidos desde então
pelo policial apontam para a possibilidade de
o trabalho papiloscópico ser utilizado como
ferramenta de produção de conhecimento
que colabore com a inteligência forense. Isso
porque, ao invés de tratar casos individuais,
servindo de prova para uso exclusivo no
inquérito policial e processo criminal respec-
tivo, a papiloscopia pode gerar informações
estratégicas que auxiliem no combate a cri-
Comparação entre as impressões digitais presentes mes sob uma perspectiva mais ampla como,
Documentos de identidade questionados, Q1 nos documentos questionados Q1 e Q2, exibidos
e Q2, supostamente emitidos pelo ES e MG, na Fig. 1, com assinalamento e destaque de alguns por exemplo, no enfrentamento a fraudes co-
respectivamente, contendo impressões digitais e detalhes (extrínsecos) coincidentes que dificilmente
fotografias aparentemente da mesma pessoa. seriam reproduzidos em coletas distintas. metidas mediante uso de documentos falsos.
Um exemplo de como a papiloscopia
extrínsecos como falhas de entintamento, O profissional tem que usar de criatividade pode oferecer informação à inteligência
contornos e limites das impressões. Con- e inovação, ter iniciativa para explorar e ir forense foi apresentado na análise dos 34
forme alguns exemplos (Figura 2), perce- além do simples trabalho do dia a dia”, diz casos de falsificação de documentos com
be-se que as características singulares são Girelli. “Evidências pequenas muitas vezes impressões retiradas da internet. Uma
sistematicamente reproduzidas nos dois guardam mais informações do que parece; das alternativas utilizadas pelo policial foi
documentos, o que não deveria acontecer. cabe a nós interpretarmos e criarmos meios examinar onde e quando os casos aconte-
Segundo o policial, o papiloscopista tem que de explorá-las”. ceram. Girelli distribuiu geograficamente
ser capaz de ver que se trata de impressão do
mesmo dedo e também de ver que se trata
de cópia da mesma imagem. “De acordo com
a intensidade com a qual os detalhes extrín-
secos se repetem, é possível concluir que
uma imagem é cópia xerográfica da outra”.
O exame dos detalhes extrínsecos é
importante em crimes de fraudes contra ins-
tituições financeiras e a Previdência, onde
muitas vezes, após a detecção da fraude,
restam somente cópias dos documentos
apresentados pelo criminoso no ato da
abertura da conta ou de inscrição como
beneficiário. Havendo apenas cópias e não
os documentos originais, não tem como efe-
tuar o exame documentoscópico por falta
de suporte material. Nessas circunstâncias,
constatar que uma impressão digital em có-
pia de documento é reprodução xerográfica
de outra impressão em outro documento,
indica possível falsificação documental.
Assim, em alguns artigos que publicou, Representação geográfica da
ocorrência de casos criminais
Girelli mostrou que os papiloscopistas po- onde documentos falsos foram
apreendidos. Símbolos iguais
dem ir além do simples exame das caracte- indicam casos criminais distintos, nos
quais documentos apresentavam
rísticas intrínsecas da impressão digital. “Os impressões digitais coincidentes.
Em todos os casos mostrados, as
casos citados são apenas alguns exemplos, impressões digitais presentes nos
documentos foram localizadas em
sem pretender esgotar as possibilidades. páginas da internet de livre acesso.

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 15
PERÍCIA NA INTERNET

tigações, vai possibilitar a identificação de


potenciais fontes de falsificação”.
As informações geradas nesse trabalho
de inteligência forense poderão subsidiar
tomadas de decisão em diferentes níveis
(e.g., tático, operacional e estratégico), por
parte dos gestores de segurança pública,
culminando em uma postura mais proativa
no combate aos crimes envolvendo docu-
mentos falsos.

O conteúdo é uma síntese de quase


Distribuição temporal dos casos criminais envolvendo documentos falsos que continham impressões digitais
obtidas da internet. Símbolos iguais representam casos contendo impressões digitais coincidentes.  três anos de pesquisas, que resulta-
ram nos sete artigos referenciados
(Figura 3) os 34 casos, de modo que sím- bretudo se constatar que a imagem utilizada abaixo.
bolos iguais indicam casos distintos, mas na falsificação está disponível na internet.
com impressões digitais coincidentes. Fez O exame das características extrínsecas GIRELLI, C. M. A. “Application of a Stan-
também a distribuição cronológica (Figura das impressões digitais utilizadas nos docu- dard Procedure to Avoid Errors When
4) dos mesmos casos. mentos examinados nos casos em questão Comparing Fingerprints with Their Re-
Com o intuito de demonstrar o poten- pode ser determinante para corroborar versals in Fake Documents”. Journal of
cial da análise de impressões digitais para ou desconstruir as hipóteses formuladas a Forensic Science and Medicine, vol. 2:
60-64, 2016.
a atividade de inteligência forense, Girelli partir da análise espaço-temporal. No caso
selecionou os casos mais representativos em questão, características extrínsecas das GIRELLI, C. M. A. “Detecção de Impres-
dentro da amostragem; isto é, aqueles em impressões digitais se repetiram sistemati- sões Digitais Revertidas em Documentos
que a mesma impressão digital foi observa- camente em todos os documentos apreen- Falsos”. Revista Brasileira de Ciências
da com maior frequência. Esses casos estão didos no DF e em GO, assim como na mesma Policiais, vol. 5 (2): 11-29, 2014.

representados por triângulos equiláteros imagem obtida na internet, indicando que GIRELLI, C. M. A. “Fingerprints: Beyond
vermelhos nas Figuras 3 e 4. No mapa, é todas elas eram cópias da mesma imagem. the source”. Journal of Forensic Identifica-
possível observar a concentração do uso Porém, a impressão digital presente no do- tion, vol. 66 (3): 187-195, 2016.
dessa imagem em casos no Distrito Federal cumento apreendido no ES não era cópia
GIRELLI, C. M. A. “Impressões papilares
e Goiás, tendo apenas um caso isolado no das demais, levando à confirmação de que
podem revelar mais do que a identidade
Espírito Santo. o caso do ES era desvinculado daqueles da de seus autores”. Brazilian Journal of
A distribuição temporal dos casos tam- Região Centro-Oeste do país. Forensic Sciences, Medical Law and Bioe-
bém mostra que um deles está separado dos Como forma de materializar a contri- thics, vol. 5 (1): 28-41, 2015.
outros, tendo ocorrido em 2012, enquanto os buição da análise de impressões digitais em
GIRELLI, C. M. A. “Laterally Reversed Fin-
demais ocorreram a partir de 2014. Embora documentos falsos para fins de inteligência
gerprints Detected in Fake Documents”.
não esteja explícito no gráfico, cumpre infor- forense, Girelli propõe a criação de um Journal of Forensic Identification, vol. 65
mar que o caso afastado dos demais é aquele programa de perfilagem de documentos (1): 1-17, 2015.
ocorrido no Espírito Santo. Assim, tanto a questionados. “A ideia é aproveitar o vasto
GIRELLI, C. M. A. “The use of fingerprints
análise geográfica quanto a temporal suge- âmbito de atuação da Polícia Federal para
available on the web in false identity
rem que o caso isolado não possui, a princípio, coletar características relevantes de docu-
documents: Analysis from a forensic in-
vínculo com os demais. mentos apreendidos em todo o território
telligence perspective”. Forensic Science
Essa observação leva a uma reflexão so- nacional e fora dele, se possível”, diz Girelli. International, vol. 262: 84-96, 2016.
bre os casos relacionados no AFIS. O fato de A proposta é criar um banco de dados e um
GIRELLI, C. M. A. “Aplicações da Análise de
dois ou mais casos criminais estarem interli- sistema computacional para cruzar os da-
Impressões Digitais em Documentos Fal-
gados no sistema em virtude de conclusões dos. “Será possível identificar tendências e
sos na Área de Inteligência Policial: Estudo
positivas, que resultaram em comandos de repetições de características que, mediante
de Casos”. Revista Brasileira de Ciências
HIT, não significa necessariamente que exis- trabalho sistemático de análise em conjunto
Policiais, vol. 7 (2): 73-96, 2016.
te correlação entre os crimes apurados, so- com outras informações oriundas das inves-

16 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
REPORTAGEM

INTEGRAR
PARA ENTREGAR
A integração entre os sistemas AFIS utilizados por todas as polícias
é um caminho para o futuro da identificação humana no Brasil
Por Simone Andrade
Especial para a revista Impressões

18 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
REPORTAGEM

A FORÇA DA
INTEGRAÇÃO
O futuro da identificação humana no Brasil

A
integração entre os sistemas AFIS Apenas 11 Estados tem
utilizados por todas as polícias é AFIS sendo que nem todos
um dos avanços almejados pelos têm integrado banco
agentes envolvidos com a identificação civil e criminal
humana no Brasil. A expectativa é que,
com maior integração, ou intercâmbio de
informações entre os AFIS estaduais e o naturalmente, estados com realidades
federal, seja possível entregar resultados distintas, não é estranho que os IIs tam-
mais eficazes e com mais celeridade, prin- bém sofram com algumas desigualdades,
cipalmente nos casos criminais. “O que a especialmente sobre a informatização dos
gente tem trabalhado com os diretores bancos de dados civil e criminal, projeto
dos Institutos e com o Ministério da Justi- que requer orçamentos robustos.
ça é favorecer, investir, promover políticas
de integração dessas bases para que os AFIS
resultados possam ser potencializados”, De acordo com levantamento realiza-
disse Paulo Ayran, presidente da Associa- do pela Federação Nacional dos Profissio-
ção Brasileira dos Papiloscopistas Policiais nais em Papiloscopia e Identificação (FE-
Federais (Abrapol).

ARQUIVO PESSOAL
Entre as demandas a serem supera-
das para que a integração se torne uma
realidade está a modernização dos Insti-
tutos de Identificação. “Um dos principais
desafios é a contingência orçamentária
que muitos estados estão enfrentando,
que impede a compra e manutenção da
tecnologia e infraestrutura necessária
dos sistemas AFIS”, diz o diretor do Insti-
tuto Nacional de Identificação (INI/PF),
Brasílio Caldeira Brandt. Em um país com
dimensões continentais como o Brasil e,

O presidente da Abrapol, Paulo Ayran, afirmou


que tem trabalhado com os diretores dos
Institutos e com o Ministério da Justiça para que
os resultados possam ser potencializados

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 19
REPORTAGEM

FOTOS: ROBERT ALVES

Fachada externa do II Distrito Federal

NAPPI), apenas 11 estados têm sistemas MODERNIZAÇÃO EM BRASÍLIA  Segundo ele, todas as atividades dos
AFIS e grande parte deles não possuem O processo de modernização do Insti- papiloscopistas foram influenciadas com a
os bancos civil e criminal integrados. tuto de Identificação (II) de Brasília, inicia- utilização da ferramenta automatizada. O
Além de estarem em plenos processos de do com a aquisição do AFIS em 2009, não fluxo de processos tornou-se mais célere
modernização, Goiás e o Distrito Federal se limitou ao sistema e à digitalização do e a alocação de servidores para as áreas-
prometem ser pioneiros na integração. O banco de dados civil constituído desde a -fim do Instituto puderam ser implemen-
projeto é promover convênio assim que fundação da capital (1960). O II passou por tadas. “O nosso serviço se tornou mais ágil
Goiás concluir a integração da parte civil e uma série de mudanças que impactaram e eficiente. A nossa resposta à sociedade
criminal no novo sistema, que está previs- em sua nova configuração. pôde ser mais rápida”, disse o diretor.
ta para o fim de 2018. O Sistema Automatizado de Pesquisa
A proposta dos dois Institutos é fazer de Impressões Digitais (AFIS) marcou uma ADEQUAÇÃO
um convênio entre eles no modelo do que mudança de paradigma no Instituto de Outra mudança foi adequar a estrutura
é feito hoje entre as Polícias Civis e a Po- Identificação. “Com o advento do Siste- organizacional do órgão a sua realidade. A
lícia Federal. Tanto Goiás quanto DF têm, ma AFIS, a título de exemplo, a emissão nova estruturação dada ao Instituto foi
em seus Institutos, uma estação do AFIS passou de 300 (trezentos) laudos ao ano voltada, em grande parte, para elaboração
da Polícia Federal, e o intuito é que haja, para 300 (trezentos) ao mês”, diz o diretor de laudos, estudos e trabalhos técnicos e
também, pelo menos uma estação do do do Instituto de Identificação do DF (II/DF), científicos. Atualmente, o Instituto de Iden-
AFIS da unidade federativa vizinha.. Arnaldo Fontenelle de Araújo Júnior.  tificação desenvolve atividades de grande

20 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
REPORTAGEM

ARQUIVO PESSOAL

Rodrigo Meneses (vice-presidente Fenappi), Simão Albuquerque


(diretor-adjunto II-DF), Antonio Maciel (presidente da Fenappi),
Humberto Soares (coordenador II-DF) e Arnaldo Fontenelle (diretor do II-DF)

complexidade e de natureza especializada, cos, Laboratório de Exames Prosopográ- seções e acomodamos de forma mais con-
executa os exames de impressões digitais ficos e Laboratório Especial de Pesquisa fortável os servidores, que puderam traba-
(necropapiloscópicos, fragmentos papilos- e Desenvolvimento Papiloscópico. Outras lhar melhor,” prossegue o Diretor.
cópicos, impressões padrões), representa- Divisões e Seções tiveram a sua nomen-
ção facial humana, iconografia e biometria. clatura adequada ao serviço que é desen- LICITAÇÃO
Sendo o Instituto um órgão voltado volvido atualmente. Muito embora o Sistema AFIS tenha
essencialmente para a área técnica, o elevado o patamar das atividades periciais
organograma não pode continuar tecni- ESPAÇO PRIVILEGIADO do Instituto de Identificação, essa solução
camente subdimensionado e com excesso Essa mudança organizacional teve é de 2009, naturalmente a tecnologia
de atribuições administrativas. que ser casada com a reforma das novas muda a passos largos e hoje o órgão tem
“Nossas atividades já há muito tem- instalações do Instituto de Identificação, um sistema defasado, com um parque de
po não correspondiam ao organograma que passou a contar com o espaço de computadores obsoleto.
do Instituto. Tivemos que mudar para que 3.000 m².  “As atividades do Instituto não podem
a estrutura pudesse refletir a realidade e “O antigo prédio não conseguia mais prescindir de um sistema automatizado.
garantir a nossa natureza eminentemente albergar o Instituto, com a sua demanda Não podemos mais voltar à pesquisa
pericial”, esclarece Arnaldo Fontenelle.  crescente de serviços e a incorporação manual de impressões digitais, por isso
Assim foram criadas várias seções, tais de novas atribuições periciais do órgão. necessitamos urgentemente de uma nova
como Laboratório de Exames Papiloscópi- Distribuímos de maneira mais lógica as licitação que nos garanta a manutenção e

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 21
REPORTAGEM

FOTOS: ROBERT ALVES

“Sendo o Instituto um órgão ampliação de nossas atividades”, arremata ted Biometric Identification System” ou
voltado essencialmente Fontenelle. Sistema Automatizado de Identificação
para a área técnica, o Nesse contexto, a direção da Polícia Biométrica), que é um sistema integrado
organograma não pode Civil do Distrito Federal (PCDF), consciente voltado para a identificação humana,
continuar tecnicamente da situação e sensível ao problema, formou capaz de incorporar vários tipos de biome-
uma equipe técnica multiprofissional, em trias, tais como o reconhecimento de face,
subdimensionado e com
2017, formada por integrantes de várias uni- as impressões digitais e as impressões
excesso de atribuições
dades da polícia e com a participação do Ins- palmares.
administrativas”,
tituto, com a finalidade precípua de elaborar “Essa licitação e posterior aquisição
Arnaldo Fontenele, o planejamento para contratar solução de do Sistema ABIS vai garantir à sociedade
diretor do II/DF identificação biométrica para a PCDF. que a Polícia Civil do DF esteja na van-
guarda da investigação, lançando mão do
ABIS que há de mais moderno em termos de
Essa contratação prevê a aquisição elucidação de crimes”, conclui o Diretor
de um sistema ABIS (do inglês: “Automa- do II/DF.

22 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
REPORTAGEM

ESSE SISTEMA ALÉM »» Aquisição de equipamentos e sistemas informatizados mais modernos e ágeis;
DE POSSIBILITAR UM
»» Impressão, emissão e personalização de documentos de identificação
AUMENTO DA EFICIÊNCIA
com mecanismos de segurança e controle de qualidade;
NO CUMPRIMENTO
DAS ATRIBUIÇÕES »» Interoperabilidade com sistemas biométricos de outros órgãos;
DO INSTITUTO DE »» Melhoria do processo de identificação civil e criminal, resultando
IDENTIFICAÇÃO, TANTO em um melhor atendimento à população;
NO QUE SE REFERE À
»» Ampliação dos registros no banco de dados, abrangendo os cadastros dos visitantes do
AGILIDADE E À SEGURANÇA
sistema carcerário e dos servidores com carteiras funcionais a serem emitidas pela PCDF;
DAS INDIVIDUALIZAÇÕES,
QUANTO AOS RESULTADOS »» Aumento na quantidade de laudos papiloscópicos e prosopográficos decorrentes
DA INVESTIGAÇÃO da disponibilização de outras biometrias e ferramentas de pesquisa;
FORENSE, TRAZ »» Maior controle e segurança nos locais de acesso restrito do I.I. e da PCDF;
INÚMERAS VANTAGENS:
»» Possibilidade de integração com soluções de identificação
de outros órgãos e unidades da Federação;

»» Redução do tempo de emissão dos documentos de identificação;

»» Obtenção de imagens para inclusão nos laudos e captura de imagens


de vestígios para fins de pesquisa forense, entre outras.

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 23
PAPI CIÊNCIA

PAPILOSCOPIA DO
ONTEM AO HOJE
UM RESUMO
Os exames periciais papiloscópicos representam uma das principais provas
durante a persecução criminal.

Por Ramon Santos Fernandez e Taynara Dias Rabelo

24 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
PAPI CIÊNCIA

A HISTÓRIA se processe a decomposição dos tecidos A composição dos resíduos é um desa-


Evidências papiloscópicas datam de da derme por decorrência do óbito. fio, pois é uma mistura complexa de fontes
7000 a 6000 a.C. no entanto, a ciência No Brasil, a papiloscopia começou a ser distintas. Pode-se descrever a composição
Papiloscópica surgiu há aproximadamente empregada a partir de 1891, em São Paulo, em dois estados diferentes ao longo do
400 anos e seu primeiro uso criminal se com a identificação por meio da fotografia tempo:
deu em 1880. A concepção clássica da pa- como método exclusivo de identificação. a. Composição Inicial: resíduos transfe-
piloscopia nos remete às características de Os avanços prosseguiram com a criação ridos imediatamente após o contato
formatos, desenhos e minúcias formadas do Sistema Antropométrico (1898), a ins- entre as papilas e o substrato:
pelas cristas papilares dos dedos e plantas tituição da identificação Antropométrica »» contém compostos orgânicos como
de mãos e pés. Esses desenhos são únicos, (1901) e datiloscópica (1903), o Serviço de glicerídeos, ácidos graxos, colesterol,
perenes e imutáveis desde antes do nasci- Identificação Criminal com objetivo de per- ésteres, polipeptídeos, ácidos láticos,
mento até após a morte. Recentes estudos muta de individuais datiloscópicas entre os fenol, ácido úrico, creatinina, vitaminas
tem expandido essa ciência além dos dese- Estados (1912), a identificação oficial (civil do complexo B e compostos inorgâ-
nhos digitais e se aprofundado no conheci- e criminal) pelas Secretarias de Segurança nicos como cloreto, sódio, potássio,
mento químico e físico de seus constituin- Pública e por fim a coordenação e interli- amônia, cálcio, sulfureto, magnésio,
tes. Há evidências sólidas de que é possível, gação desse serviço de identificação pelo além disso numerosos contaminantes
por meio de vestígios de impressão digital, Instituto Nacional de Identificação (1963). podem estar presentes na composição
a produção de um perfil químico individual, Ampliando a papiloscopia além da inicial, como cosméticos, resíduos de
permitindo predizer condições sociais, fronteira dos “desenhos digitais”, é possível comidas, drogas e seus metabólitos,
idade e gênero do suspeito, e produzir um obter através dos resíduos deixados em poeira, bactérias e/ou seus esporos,
perfil genético, até mesmo estimar o tem- uma impressão digital, a datação das laten- bem como a nicotina.
po em que as latentes foram depositadas. tes de impressões digitais, a verificação da
idade de quem as produziu, a identificação b. Composição não recente: evolução da
ADENDO de fatores sociais como uso de drogas e até composição inicial ao longo do tempo:
mesmo a extração de DNA para produção »» Em geral, os cientistas forenses não
Impressão Digital: é o desenho de um perfil genético. conseguem coletar uma impressão di-
formado pelas papilas (elevações Este resumo, não abordará as técnicas gital logo após sua deposição, o que pro-
da pele), presentes nas polpas habitualmente utilizadas no procedimento porciona ao passar do tempo alterações
dos dedos das mãos. papiloscópico, que objetivam a manuten- químicas, físicas e biológicas; inclusive,
ção dos arquivos datiloscópicos, coleta, afetando os resíduos das latentes deixa-
Latente de Impressão Digital: é classificação e pesquisa de impressões das na superfície durante o crime e por
uma impressão digital deixada em digitais; nem tão pouco àquelas de perícia isso modificando sua composição inicial.
alguma superfície. Um exemplo são papiloscópica utilizadas para localizar, Alteração e desaparecimento de um
aquelas deixadas em locais de crime. revelar e fotografar impressões em locais composto inicial podem ocorrer, ao lon-
de crime e/ou objetos a eles relacionados go do tempo, em um processo contínuo
ou apreendidos. No entanto, abordará envolvendo uma gama de fenômenos
O primeiro relato da papiloscopia foi temas relativos às técnicas e estudos mais tais como degradação, metabolismo,
feito por Dame Kathleen Kenyon em seu recentes que revelam a composição, de- ressecamento, evaporação, migração,
livro “Archaeology of the Holy Land” que gradação, datação, influências endógenas oxidação e polimerização.
menciona a presença de impressões digi- e exógenas e utilização de latentes com ou
tais de polegares, dispostas lado a lado num sem desenho digital e que ainda possuem A REALIDADE, ou seja, A VARIABILIDADE
padrão de zigue-zague, encontradas em capacidade de revelar a identidade de Tratando-se de variabilidade, nos lem-
casas feitas de “tijolos”. O estudo sistemá- quem as deixou, oferecendo elementos de bramos dos irmãos gêmeos idênticos, com
tico da papiloscopia teve início no século informação desejáveis. certa ressalva, após isso, nos impressio-
XVII em decorrência de Nehemiah Grew e namos com a diversidade e unicidade do
de Malphighi, e seu uso no âmbito criminal A COMPOSIÇÃO Universo.
em 1880, do artigo “On the Skin-furrows Para compreender os avanços técnicos Quando tocamos em algo, nossos de-
of the Hand“ na revista Nature (Herschel, é necessária a compreensão de alguns itens dos (mais especificamente nossas papilas
1880) ao considerar os “desenhos digitais” fundamentais, como a composição química dérmicas) transferem resíduos a uma su-
como únicos, perenes e imutáveis até que das impressões digitais e sua variabilidade: perfície. Esses resíduos dependem de dife-

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 25
PAPI CIÊNCIA

revela (ver adendo REVELAÇÃO) a impres-


são digital, que se torna uma imagem, uma
foto aos nossos olhos, e, aos olhos de um
especialista isto é suficiente para definir
se trata-se de impressões de uma mesma
pessoa ou não.
A resposta não merece um tópico à
parte. Praticamente todas as técnicas que
falaremos é passível de serem feitas após
a revelação. Ou seja, podemos revelar as
impressões digitais, registrar o desenho
formado por estas e depois extrairmos
as informações moleculares dela. E mais,
muitas das vezes encontramos impressões
digitais borradas (a pessoa esfregou a mão
Ramon Santos Fernandez Taynara Dias Rabelo
em algum lugar) ou mesmo impressões em
que o desenho tem tão pouca informação
rentes fatores que podem ser classificados composição não apenas permite o melho- que não conseguimos afirmar, através
em três diferentes categorias: as caracte- ramento de técnicas de identificação, mas do desenho (não é redundância) a quem
rísticas do doador (dieta, idade, gênero), também na estimação do tempo e na me- pertecem, no entanto, porém, todavia, con-
as condições de deposição (pressão de de- lhoria da revelação da impressões. tudo, mas, esta impressão ainda contém
posição, duração do contato) e a natureza informação suficiente para uma identifi-
do substrato (poroso, semi-poroso e não- DENDO cação. E conto-lhes um segredo, nunca vi
-poroso). Estes fatores podem ser signifi- Revelação de impressões digitais: estudos, mas por experiência própria este
cantemente diferentes de impressão para quando tocamos em algo, nossas impres- tipo de impressão é mais comum em locais
impressão digital e portanto, conduzem a sões digitais ficam apostas naquele local. de crime, o que me permite dizer, que mes-
uma variabilidade da composição inicial. Quase sempre, a olho nu, não conseguimos mo que eu não utilize as impressões com
E ainda, considerando que o fator tem- vê-las se não jogarmos iluminação em “desenhos bons”, eu ainda tenho informa-
po sempre ocorrerá entre a transferência ângulos diferentes, sendo que, em alguns ção suficiente para conduzir minha investi-
da latente para uma superfície e seu des- casos, só conseguiremos visualizá-las se gação e encontrar o autor do delito.
cobrimento, essa também estará sujeita a utilizarmos algum tipo de revelador, algum
atuação de outros fatores no processo de componente que exponha essas impres- VAMOS AO QUE INTERESSA - O
envelhecimento dos resíduos, como a natu- sões para o espectro visível. QUE PODE SER FEITO?
reza do substrato, as condições ambientais Apenas uma identificação “cabal”, ine-
e o aprimoramento das técnicas utilizadas A PERGUNTA - PORQUE MEXER quívoca importa? Se eu concluir que o sus-
para visualizar as impressões latentes. EM TIME QUE ESTÁ GANHADO? peito fuma cigarro, pertence ao sexo biológi-
Como características internas do A identificação humana através de co feminino, tem alguma doença específica,
doador incluem-se a idade, o uso de medi- impressões digitais é um método mundial- usa determinada substância legal ou não ou
cação, o estado de saúde e metabolismo, mente utilizado há centenas de anos (pra determinado cosmético. Isto é relevante?
assim como os fatores externos relativos não dizer milhares), raros os casos de erro Quando trabalhamos com investigações
ao contato com outros produtos, como: e, quando houve foram erros humanos. Até nós temos um rol de suspeitos, “ou não”, mas
drogas, comidas e cosméticos. a presente data, não encontraram duas im- se o tivermos, estas informações podem
Nossos amigos cães são capazes de pressões digitais iguais, nem mesmo de um ser capazes de identificar nosso autor. Esta
identificar uma pessoa pelos odores no mesmo indivíduo ou de um irmão gêmeo situação poderia ser utilizada se as técnicas
suor, sem falar daqueles que sentem até (cabe lembrar, que irmão gêmeos univite- químicas não permitissem a identificação
mesmo o aparecimento de algumas doen- linos possuem até mesmo seu DNA igual). inequívoca (como hoje ainda não permitem).
ças. Ou seja, nós também somos capazes, A segunda pergunta: o que estamos perden-
no entanto, através de tecnologia que nos ADENDO do? A segunda resposta: tempo.
permita encontrar a variabilidade, classi- Como funciona na prática? O perito em Vamos direto ao ponto. A habilidade de
ficá-la, defini-la e utilizá-la. Entender esta identificação chega ao local de crime onde detectar os constituintes químicos das im-

26 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
PAPI CIÊNCIA

pressões digitais pode facilitar a individuali- tintos: a) pela aparência física da latente Você sabia?
zação baseada em biomarcadores endóge- antes e depois da deposição; b) pelo uso Como podemos descobrir em que tem-
nos. Esse tipo de informação pode ser usado de experimentos que estabeleçam os efei- po um crime foi cometido? Vamos utilizar o
para criar um perfil do doador, diminuindo a tos dos fatores ambientais após um certo exemplo de um cadáver encontrado dentro
gama de suspeitos potenciais, mesmo que período de tempo; e c) pela quantificação de seu próprio carro. As técnicas utilizadas
os resíduos de impressão digital estejam das alterações químicas dos resíduos pre- atualmente são médico-forenses, avaliando
sem condições para as análises comuns dos sentes na impressão digital. Este último alguma lesão, rigidez cadavérica ou fases de
desenhos. Assim, o perfil químico das im- parece oferecer maiores possibilidades decomposição do corpo. Outra possibilidade
pressões digitais pode fornecer elementos para obtenção de um método confiável e é a Entomologia Forense. Essas técnicas
adicionais à área de inteligência, com infor- universalmente aceito para determinação aceitas atualmente não são capazes de pre-
mações preciosas como os hábitos pessoais da idade de latentes. cisar exatamente o tempo da morte, apenas
(exemplo, fumante ou não; usuário de subs- A datação pode seguir muitos cami- uma estimativa mínima de quando isso
tâncias ilícitas), determinação de gênero, nhos e taxas diferentes, pois a alteração e ocorreu. No entanto, análises químicas de en-
idade e tempo de deposição da impressão. desaparecimento de um composto inicial velhecimento das impressões digitais podem
Vamos aos principais e mais avançados: podem ocorrer, ao longo do tempo, em um indicar com maior precisão esse tempo, em
processo contínuo envolvendo uma gama um menor intervalo e custo operacional.
Datação de fenômenos tais como degradação,
Assim como arqueólogos, os Cientistas metabolismo, ressecamento, evaporação, Idade
Forenses tentam reconstruir o passado, migração, oxidação e polimerização. Cada A observação que impressões digitais
a certa medida, e também tentam evitar composto químico que podemos utilizar apostas por crianças desaparecem mais rá-
crimes futuros. Esforçando-se para respon- seguirá principalmente um dos caminhos, pido que as apostas por adultos deu início a
der múltiplas questões que surgem durante e a partir do conhecimento da sequência estudos para caracterizar os componentes
o processo de investigação: o que? Como? de reações químicas poderemos estabele- químicos das impressões digitais no intuito
Onde? Quem? Quando? Esses típicos cer ao menos um período de tempo (Leia de desenvolver técnicas para determinar a
questionamentos, principalmente quando “Você Sabia?). idade do doador.
dizem respeito à atividade criminosa e em
relação ao tempo, são importantes durante
a investigação. Um novo campo de estudo
consiste em determinar o momento (in-
tervalo de tempo) em que uma impressão
FUTURO
digital foi aposta em determinado local.
PERFIL
Idealmente, investigadores criminais
QUÍMICO
deveriam ser aptos não somente para colocar DNA
um dado indivíduo na cena de crime, mas
também, serem capazes de datar o momento
em que a impressão digital foi depositada no
local de crime. Enquanto não restam dúvidas
sobre a aceitação universal das impressões HÁBITOS
SAÚDE
digitais para identificação pessoal, a deter-
minação do instante em que as impressões
IDADE
foram depositadas é crucial, especialmente
em situações nas quais o suspeito tenha
tido prévio ou subsequente acesso legítimo
ao local de crime. Em muitas instâncias, os
defensores têm obtido sucesso em invalidar
evidências sólidas de impressões digitais pelo PROTEÍNAS
LIPÍDEOS GÊNERO
questionamento do tempo em que as impres-
COSMÉTICOS
sões foram deixadas na cena do crime. MOLÉCULAS
A datação de uma impressão digital
tem sido estudada por três métodos dis-
DROGAS
TEMPO

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 27
PAPI CIÊNCIA

Vários compostos foram identificados resíduos de pólvora e outras substâncias sociais do suspeito (drogas, perfumes, die-
e descobriu-se que a composição química exógenas como: medicamentos, comidas, ta, problemas de saúde, uso de cosméticos,
das impressões digitais é bastante dife- perfumes, cosméticos, entre outros. Por etc.), produzir um perfil genético, deter-
rente entre adultos e crianças. Para exem- exemplo, podemos determinar o uso dro- minar uma estimativa de idade e gênero
plificar, crianças possuem altos níveis de gas de abuso, nicotina, com possibilidade e até mesmo estimar o tempo em que as
ácidos graxos livres relativamente voláteis. de determinação se o indivíduo é fumante latentes foram depositadas. Ressalta-se
Adultos mostram altos níveis de longas ou apenas teve contato com a substância, a importância da obtenção de métodos
cadeias de ésteres menos voláteis. É bem chamada de contaminação ambiental), capazes de determinar um perfil químico
estabelecido na doutrina que o conteúdo neste sentido, os hábitos dos indivíduo são individual e a determinação ou estimativa
químico do suor muda desde o nascimento importantes na sua identificação. do tempo em que a impressão digital foi
a puberdade e até a velhice. Se a variabili- aposta.
dade é conhecida, a informação se torna Perfil Genético Além de conferirem informação dos
importante. As técnicas modernas de identificação desenhos para identificação das impres-
através de DNA possibilitam a obtenção sões deixadas em algum lugar, podem ser
Gênero de perfis de DNA de praticamente todas usadas para coleta de informações adicio-
Através das técnicas de determinação as fontes de material biológico. Por exem- nais e utilização em inteligência, e mesmo
da composição química das impressões plo, um simples contato com a pele pode que não forneçam informação alguma
digitais, baseadas em biomarcadores endó- transferir quantidade suficiente de DNA para análise convencional de desenhos, os
genos pode-se estabelecer constituintes para a produção de um perfil. Ou seja, é resíduos deixados ainda podem ser usados
químicos que determinam algumas carac- possível encontrar DNA suficiente para para a análise de composição química.
terísticas como gênero, idade, doenças etc. obtenção de um perfil genético numa Apesar das informações obtidas em
De novo, através da composição química é impressão digital mesmo após revelação. estudos recentes e das possíveis aplica-
possível se chegar atualmente a uma deter- Portanto, em um local de crime, quase em ções forenses, é necessário esforço cientí-
minação de gênero com 85% de acurácia. sua totalidade, há DNA, ao contrário do fico para a qualificação desses dados, tan-
que pensamos. to quantitativa quanto qualitativamente. A
Fatores Sociais falta de detalhamento dessas informações
Os hábitos pessoais de higiene, ali- CONCLUSÕES parece estar associada a duas causas
mentação e comportamento assim como Os exames periciais papiloscópicos aparentes: a) a falta de interesse das Insti-
fatores como doenças, vícios e hobbys representam uma das principais provas tuições em investir no aprimoramento das
afetam a constituição e o metabolismo de durante a persecução criminal. Não obs- áreas em questão, associado aos trabalhos
cada pessoa. Principalmente substâncias tante e, satisfeitos com os resultados já operacionais serem realizados por técni-
endógenas, metabolizadas ou não, são produzidos diante das aplicações clássicas cas já bem estabelecidas e que funcionam
secretadas através do suor e glândulas em curso, os peritos papiloscópicos não relativamente bem, ou seja, comodidade
sebáceas, compondo portanto os resíduos podem deixar de vislumbrar o horizonte de operacional, e; b) devido às aparentes
deixados nas superfícies quando tocadas. possibilidades desta ciência. dificuldades relacionadas a metodologia
Por outro lado, o contato com qualquer O arcabouço jurídico, a sociedade e as nesses estudos como: preparação, esto-
substância como cremes, géis, sabonetes, relações sociais se tornam cada vez mais que, quantidade de amostras para estudo
sujeiras pode alterar os resíduos deixados complexas e é preciso estar preparado para e necessidade de métodos analíticos de
na superfície que tocamos. E ainda, na os desafios futuros. A ciência papiloscó- alta performance.
própria superfície tocada podem estar pica, que a partir dos desenhos papilares As técnicas de detecção e determi-
substâncias previamente presentes. Todos identifica com convicção se foram ou não nação de elementos químicos já estabe-
estes fatores influenciam a determinação produzidas pela mesma pessoa, tem o po- lecidas pela doutrina possuem aplicações
dos constituintes químicos presentes nos tencial de fornecer mais elementos para a amplas e inimagináveis que suscitam a
resíduos de impressão digital apostos. Vá- investigação. realização de pesquisas, visto que essas
rios estudos foram desenvolvidos para de- Conforme demonstrado por estudos técnicas podem ser escolhidas caso a caso
tectar o uso de drogas de abuso, explosivos, realizados, é possível predizer condições durante a persecução criminal.

Para íntegra do artigo, acessar: Fernandez R.S. e Rabelo T.D.. Papiloscopia do Ontem ao Hoje: avanços. Revista Brasileira de Segu-
rança Pública e Cidadania. Volume 6. Número 1. Junho de 2013.

28 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
ESPECIAL

SILVANA HELENA
VIEIRA BORGES
A primeira mulher a ocupar a Diretoria Executiva da Polícia
Federal fala de planos e caminhos para o órgão

Por Marcos Linhares


Especial para a revista Impressões

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 29
ESPECIAL

E
m meio a uma agenda concorrida, a
“número dois” na hierarquia da Po-
lícia Federal (PF) e primeira mulher
a ocupar a Diretoria Executiva do órgão
(Direx), a Delegada Silvana Helena Vieira
Borges recebeu com desenvoltura a repor-
tagem da Impressões. 
Silvana disse, em seu discurso de posse,
que espera um número cada vez maior de
mulheres na instituição. E foi apoiada pelo
atual Diretor-Geral da PF, o Delegado Ro-
gério Galloro, e pelo Ministro da Segurança
Pública, Raul Jungmann.
Em entrevista, ela fala sobre moderni-
zação, processos e a importância do traba-
lho de identificação

IMPRESSÕES | Qual o protagonismo que a


Diretoria Executiva espera do segmento de
identificação da Polícia Federal e qual a im-
portância que a Diretoria Executiva destaca
para o segmento?
Silvana Helena Vieira Borges | Espero
que possamos cada vez mais aprimorar o
desenvolvimento, sistematização e imple-
mentação de técnicas e mecanismos de in-
dividualização da pessoa, visando conferir
uma identificação única e específica para
cada cidadão e auxiliando na qualidade da
prova, na repressão e prevenção de delitos.

IMPRESSÕES | As atividades de polícia


administrativa, embora criticada por alguns
setores que defendem, de forma legítima,
que o papel da polícia é investigar, tem, ao
longo dos anos, demonstrado seu potencial
em gerar resultados importantes no âm-
bito da prevenção de crimes, por meio da A atual Diretora Executiva da Polícia Federal (Direx), Silvana Helena Vieira Bor-
fiscalização, controle e da gestão de dados ges, cursou Direito na Universidade Católica de Goiás, tendo sido graduada em
e informações. Além disso, apresenta-se 1984. Após, ingressou na Polícia Civil de Goiás, atuando como Delegada de Polícia
como uma importante fonte de recursos Civil no período de 1990 e 1995. Nesse período especializou-se em Direito Admi-
técnicos-científicos para as ações investi- nistrativo pela Academia da Polícia Civil de Goiás. Em 1995 passou a integrar os qua-
gativas. Nessa vertente, o que a Diretoria dros do Departamento de Polícia Federal, no cargo de Delegada de Polícia Federal.
Executiva pensa sobre isso? E como enxer- De lá para cá, ocupou diversos cargos no órgão até assumir, em 2016, a Diretoria
ga a integração do segmento de identifica- do Departamento de Migrações da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da
ção nesse processo? Justiça e Segurança Pública, de onde saiu para ocupar o atual cargo. A atual Direx
Silvana Helena Vieira Borges | Os obje- possui MBA em Gestão em Política de Segurança Pública e em Planejamento, Ges-
tivos estratégicos da Polícia Federal vão tão e Orçamento, ambos pela Fundação Getúlio Vargas.
além de sua competência como polícia

30 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
ESPECIAL

judiciária da União, sendo, também, desen- suas áreas de atuação, permitindo o apri- “ Os objetivos estratégicos
volver, sistematizar e implantar normas, moramento dos resultados. Um exemplo da Polícia Federal vão além
técnicas e procedimentos de controle e fis- exitoso disso foi justamente a atuação do de sua competência como
calização na prestação de serviços públicos INI nas atividades de controle e fiscalização polícia judiciária da União”
delegados à PF. Assim, o aprimoramento em conjunto com o controle de segurança
dos serviços prestados à população, envol- privada e controle migratório realizados
vendo notadamente as atividades adminis- durante a Copa das Confederações, os Jo- são legítimas num estado democrático de
trativas e de apoio finalístico, buscam facili- gos Olímpicos e a Copa do Mundo da FIFA. direito, garantir o regular e devido exercício
tar o acesso do cidadão à instituição. Nesse de todas as atribuições da instituição, vi-
viés, é muito importante a atividade de indi- IMPRESSÕES | Os papiloscopistas poli- sando atingir a execução de seus objetivos
vidualização da pessoa, para permitir uma ciais federais há muitos anos se encontram com excelência, seja como polícia judiciária
correta identificação para cada cidadão. numa lide, no âmbito interno e externo, ou polícia administrativa.
para ter suas atribuições respeitadas e con-
IMPRESSÕES | Recentemente, o Instituto solidadas definitivamente, afastando de IMPRESSÕES | Quem é a Dra. Silvana He-
Nacional de Identificação (INI) atuou em vez as possibilidades de questionamentos lena Vieira Borges, quais são suas percep-
parceria com outras unidades da diretoria e embates transversais com outras catego- ções no que se refere à segurança pública?
executiva em algumas ações importantes rias, primando pelo interesse público e da O que pode ser feito para melhorar? Sobre
no âmbito dos chamados “Grandes Even- instituição Polícia Federal. Como a Direto- a Polícia Federal, quais são as expectativas
tos”. Para a Diretoria Executiva qual foi a ria Executiva vê esse cenário e o que pode para os próximos anos?
avaliação dessas parcerias e dos resultados ser feito para resolvê-lo? Silvana Helena Vieira Borges | Como
gerados? Silvana Helena Vieira Borges | A Diretoria profissional, sinto grande satisfação pelo
Silvana Helena Vieira Borges | A Polícia Executiva, junto com as demais Diretorias e reconhecimento ao assumir a Diretoria
Federal deve trabalhar de forma integrada, o Diretor-Geral, pretendem, pacificando in- Executiva da Polícia Federal, com significa-
com ações coordenadas entre todas as terna e externamente as divergências, que do relevante para mim, como cidadã, pela
contribuição que posso dar à sociedade
brasileira, e como mulher, pois traduz um
avanço de democratização feminina no
universo laboral.
Percebo, como Diretora-Executiva, que
há uma responsabilidade muito grande,
considerando a complexidade da atuação
na segurança pública, visando cumprir as
nossas atribuições com resultados que se-
jam efetivos em resposta às demandas so-
ciais e, ao mesmo tempo, gerindo equipes
que precisam estar preparadas, motivadas
e alinhadas com as metas que a instituição
propõe atingir.
Espero que a Polícia Federal continue
exercendo com competência e excelência
suas atribuições, para atingir seus objetivos
institucionais, respeitando sempre seus
valores.

IMPRESSÕES | O que significa a frase “Or-


gulhosos de ser Federais, Policiais deste
imenso Brasil”?
Silvana Helena Vieira Borges | É vestir a
camisa e sentir-se realizado profissional-
mente por fazer parte de uma instituição

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 31
ESPECIAL

que visa ser referência mundial como órgão Silvana Helena Vieira Borges | Temos cipalmente para as dos desaparecidos... O
policial e possui valores como coragem, evoluído em muitos sentidos. Na área de que pode ser feito?
lealdade, legalidade, ética, probidade e tecnologia, por exemplo, a nossa antiga Silvana Helena Vieira Borges | Eu acho que
respeito aos direitos humanos, exercendo Coordenação-Geral de Tecnologia da Infor- a gente tem que trabalhar nesse sentido sim,
suas atribuições, a fim de contribuir na ma- mação (CGTI/DPF) foi alçada à Diretoria. da cooperação. Alias, o tema tem sido muito
nutenção da lei e da ordem, dentro deste Era CGTI, agora é DTI (Diretoria de Tecno- discutido, tanto que o Governo acaba de
enorme e diverso País. logia da Informação e Inovação). Eu acho criar o Ministério Extraordinário da Seguran-
que a nova Diretoria foi criada justamente ça Pública não por outra coisa, mas pelo fato
IMPRESSÕES | A facilitação do acesso do por saber que a tecnologia da informação da importância que o tema tomou, hoje, jun-
cidadão aos serviços públicos é algo a ser permeia todas as atividades da polícia e to à sociedade. Destacá-lo na imprensa toda
constantemente avaliado e executado. Um pode vir a incentivar ideias como a que você hora, a todo momento, é um dos pontos ne-
documento de identidade, por exemplo, é trouxe, desde que consigamos manter o vrálgicos dessa, digamos, “reestruturação”.
uma necessidade do cidadão. Como pen- foco, processos e procedimentos com mui- Repensar a segurança pública passa pela
sam em lidar com essa onda crescente de ta segurança.  integração das forças de segurança pública
construção de bancos de dados? Como vai em todo o Brasil. Sejam elas federais ou
ser essa coleta lá na ponta da linha? IMPRESSÕES | O INI criou o Cadastro Bio- estaduais, nós temos que fazer essa integra-
Silvana Helena Vieira Borges | Tudo tem métrico de Pessoas Desaparecidas (Cadê), ção. E dessa forma, você integra inteligência,
que ser pensado, estruturado e trabalhado mas falta uma comunicação mais eficiente ações de execução conjuntas, políticas
para se dar um passo à frente e viabilizar para que o cidadão saiba da existência des- públicas, serviços.... A tendência é essa: que-
esse acesso aos serviços de forma mais se serviço e possa pressionar os gestores brar realmente essas resistências e trabalhar
facilitada ao cidadão. Contudo, para que de segurança pública do estado em que em conjunto e divulgar. Quem lucra com isso
haja essa descentralização, tem que haver mora e, assim, tentar viabilizar a integração é a sociedade e é, de fato, quem tem que
controle, e nós não podemos abrir mão do entre os bancos de dados. Essa falta de lucrar com os serviços que são prestados
controle e da segurança. Então, eu acho integração é danosa para as famílias, prin- pelo Estado.
que é possível fazer, desde que o processo
seja seguro.

IMPRESSÕES | Estamos em uma época


de muita instabilidade política no País e o
Brasil está à beira de uma eleição. Como
a PF vai estar preparada para os próximos
quadros que virão? 
Silvana Helena Vieira Borges | Vejo com
tranquilidade. A PF é uma instituição de
Estado e não de Governo. Ela já está muito
madura para enfrentar qualquer transição
que venha a acontecer em qualquer época
e já possui metas, planejamentos estraté-
gicos, processos e procedimentos muito
claros. 

IMPRESSÕES | Hoje, se o cidadão for tirar


a carteira do vigilante, ele busca o processo
do vigilante, e por aí vai quanto a outros
documentos, como o passaporte, porte de
arma, a nossa própria carteira funcional, a
futura carteira do refugiado, enfim... para
facilitar a vida do cidadão, pensam em criar
e oferecer centrais de identificação, já que
são vários os documentos que emitimos?

32 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
CAPA

LAUDO PAPILOSCÓPICO GARANTE:


TINHA DEDO DO GEDDEL
As impressões digitais encontradas pelos Papiloscopistas Policiais
Federais (PPF) atribuíam os R$ 51 milhões ao ex-ministro

Por Simone Andrade


Especial para a revista Impressões

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 33
CAPA

N
ão há um só dia que um Perito Pa- O GATILHO Ao contrário de documentos, o que ha-
piloscopista, policial federal ou civil, A história da maior apreensão de di- via eram malas e caixas cheias de dinheiro.
não solucione um caso. Chegar à nheiro em espécie realizada pela Polícia “Verificando que muitas cédulas esta-
identidade de quem esteve na cena de um Federal começou com uma denúncia anô- vam acondicionadas em volumes plásticos,
crime confere eficiência ao trabalho policial nima no dia 14 de julho de 2017. A pessoa foi acionada uma equipe de papiloscopistas
e são poupados meses e meses de outras do outro lado da linha informava que o ex- para verificar a presença de vestígios úteis
diligências, que talvez sequer chegariam -ministro estaria escondendo provas ilícitas a identificar as pessoas que manusearam o
a resultados tão consistentes. No caso do em caixas de documentos, em um imóvel numerário”, conta Muniz.
bunker de Salvador, as impressões amarra- de um bairro nobre da capital.
ram Geddel Vieira Lima e dois ex-funcioná- O cumprimento do mandado expedido PERÍCIA
rios e aliados do ex-ministro, Gustavo Fer- pela 10ª Vara Federal da Seção Judiciária O trabalho dos peritos papiloscopistas
raz e Job Ribeiro, à dinheirama irrompida. do Distrito Federal foi realizado no dia 05 iniciou por volta das 12h e se estendeu até
As impressões digitais encontradas de setembro de 2017. Quatro polícias – um as 2h da madrugada do dia seguinte. “Um
pelos Papiloscopistas Policiais Federais delegado, um escrivão e dois agentes – fo- pacote de dinheiro que cabia numa mão
(PPF) do Grupo de Identificação da Supe- ram até o endereço em uma ação da Ope- continha R$ 100 mil reais”, relaciona o PPF
rintendência Regional da Bahia (GID/BA/ ração Tesouro Perdido. Vitor Cavalcanti Carvalho. Além de Silvio e
PF) atribuíam os R$ 51 milhões ao Geddel. Eles acreditavam que encontrariam Vitor, atuaram no caso os PPFs Aureni Cos-
“O trabalho realizado pelos papiloscopistas documentos importantes, que colaborariam ta Oliveira e Márcio Silva Kitamoto.
foi de fundamental importância para a so- com as investigações da Operação Cui Bono, “Improvisamos um laboratório na
lução do delito investigado, apontando in- caso em que Geddel é suspeito de receber sala do Núcleo de Inteligência porque o
questionavelmente a autoria do delito”, diz propina de empresas interessadas na libera- dinheiro não podia sair de lá por questões
o corregedor da superintendência baiana, o ção de financiamentos na Caixa Econômica de segurança e integridade do processo”,
Delegado Regional Executivo Fábio Muniz. Federal (CEF), banco em que foi vice-presi- conta o PPF Vitor. A medida que o dinheiro
dente de Pessoa Jurídica entre 2011 e 2013. era periciado, ia sendo liberado para con-

Vitor Carvalho, Silvio Filho, Márcio Kitamoto e Aureni Oliveira, Papiloscopistas Policiais Federais (PPF) do Grupo de Identificação
da Superintendência Regional da Bahia (GID/BA/PF) que atuaram na perícia do dinheiro encontrado no bunker de Salvador.

34 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
CAPA

tagem. “Abríamos uma mala, separávamos Oliveira. Dos fragmentos processos manu- tegoria: “a sociedade conheceu um pouco
o dinheiro que estavam nas extremidades, almente, foram identificados um dedo de do trabalho dos papiloscopistas”, acredita
no caso das notas soltas. Quando o dinhei- Geddel, o indicador direito, e dois dedos de Silvio. Segundo o papiloscopista, o trabalho
ro estava fechado em saco plástico, eram Job Ribeiro, o médio e o anelar esquerdo. da GID da Superintendência Regional da
separados todos os sacos. Periciamos o Bahia é reconhecido e valorizado pelas de-
dinheiro solto primeiro, depois os sacos REPERCUSSÃO mais categorias graças aos resultados nas
plásticos e por último a mala vazia”, relata O caso ganhou notoriedade pelos va- ocorrências, mas o caso do bunker teve um
o PPF Silvio. O procedimento foi feito mala lores e pessoas envolvidas. As imagens das retorno diferente. “Recebemos ligações e
por mala, caixa por caixa. malas e caixas foram uma das mais divulga- mensagens do Brasil inteiro nos parabeni-
O dedo mínimo e o médio esquerdo de das nos dias que restavam de 2017. Contudo, zando pelo trabalho. Delegados e agentes
Geddel e o anelar direito de Gustavo foram para quem atuou no caso, o trabalho em si de outros estados, principalmente de cole-
identificados e validados com as informa- não foi diferente do realizado nas ocorrên- gas que estão em Brasília trabalhando dire-
ções do AFIS. O segundo passo do trabalho cias diárias de roubo, furto, arrombamentos tamente com esta Operação”, conta Silvio.
foi confrontar as digitais não encontradas aos Correios, Caixa Econômica e outros ór- Para o delegado Muniz resultados
pelo AFIS com uma lista de suspeitos for- gãos públicos. “O diferencial foi o resultado como esse fortalecem o espírito de equipe
necidas pelas Operações Cui Bono e Sépsis gerado e o reconhecimento para o nosso dos policiais federais. “Nos motiva a conti-
(operações nas quais Geddel é suspeito). cargo. Além de ser a maior apreensão de nuar trabalhando por um Brasil melhor. As
“Algumas digitais foram encontradas auto- dinheiro em espécie do Brasil, acabou apon- investigações que combatem a corrupção
maticamente no processamento do AFIS tando um dos políticos mais importante do demonstram aos policiais que estes podem
com o banco de passaporte. Mas, o terceiro governo como um dos donos do dinheiro”, fazer a diferença, melhorando o país em
fragmento de Geddel não estava bom para especifica Silvio Roberto Oliveira Santos Fi- que vivem e servem como estímulo para a
processamento no AFIS e esse foi um dos lho, um dos PPFs que realizou a perícia. manutenção do alto padrão alcançado nas
fragmentos que marcamos os 12 pontos A repercussão do caso dentro e fora da investigações realizadas nos últimos anos
manualmente”, conta o PPF Aureni Costa Polícia resultou em algo valioso para a ca- pela Polícia Federal”, finaliza Muniz.

“Se não tivéssemos achado


as impressões digitais,
as pessoas envolvidas
certamente estariam soltas”,
diz o PPF Silvio Filho.

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 35
PELOS ESTADOS

AFIS
LOCAL/REGIONAL
Uma iniciativa, centenas de casos solucionados

Por Simone Andrade


Especial para a revista Impressões

36 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
PELOS ESTADOS

T
aquaritinga, cidade paulista a 340
km da capital, foi o primeiro mu-
nicípio do Estado a utilizar o Sis-
tema Automatizado de Identificação por
Impressão Digital (AFIS). A delegacia do
município, que faz parte da Seccional de
Araraquara (SP), tornou-se referência no
trabalho de Perícia Papiloscópica graças
a horas de trabalho solitário do papilosco-
pista da Polícia Civil, José Eduardo Már-
cico. Acreditar que podia fazer um pouco
mais pelo cidadão taquaritinguense mu-
dou o cenário de resoluções de casos no
município e acabou por influenciar outras
unidades policiais do interior de São Pau-
lo a adotarem o projeto de constituição
do AFIS local/regional. O papiloscopista
montou um banco próprio constituído,
hoje, por mais 24 mil fichas com cerca de grande demais para realizar a pesquisa ma- crime. Segundo o Papiloscopista Policial
240 mil fotos de digitais. “Ficha a ficha, nual. Então foi em busca de soluções para Federal, Carlos Magno Girelli, uma das van-
fotografando digital por digital, fora as vias seu novo desafio, para tanto, ingressou na tagens do sistema na versão portátil é que
sacras indo de presídio em presídio”, conta faculdade de Processamento de Dados, a pesquisa in loco traz a possibilidade de
Márcico. “Mas, valeu a pena”. tudo em função do desejo de ver a Papilos- confirmação de identidade imediatamente
Quando entrou para a PC-SP, em copia ir para frente no município. “Em 1998, após a chegada da polícia ao local do crime.
1995, apesar de ter ingressado no cargo como o banco já estava muito grande para Apesar de os bancos portáteis carregarem
de Papiloscopista, acabou sendo desviado pesquisa manual, após muito pesquisar e números limitados de dados, para cida-
para a função de Investigador. Ainda assim, testar vários softwares, passei a usar o AFIS des como Andradina e Taquaritinga, com
cumpriu sua missão como Papiloscopista e da Neurotechinology, o Veryfinger”, conta aproximadamente 57 mil habitantes, pode
começou, ainda em 95, a montar o próprio Márcico. ser o suficiente para elucidação de casos
Bando de Dados com todas as pessoas que Por ser portátil, um dos diferenciais da criminais.
cometiam crimes na cidade e redondeza. versão do AFIS utilizada em Taquaritinga e A partir da experiência na PC-SP,
Já em 1998, devido ao grande volume de na Seccional de Andradina (SP), que mais Márcico defende a ideia de AFIS locais
fichas, não conseguia realizar as confe- tarde adotou o AFIS local/regional, é a pos- para Estados com grandes dimensões,
rências das impressões. O banco estava sibilidade de inserir dados direto do local do além do AFIS central, que é imprescindí-
vel, exatamente pela maior eficiência em
função da menor quantidade de dados
cadastrados no sistema. “Quando co-
mecei a usar o AFIS, fiz várias pesquisas
sobre o sistema e uma das constatações
é que, embora o FBI, pioneiro no uso de
AFIS, tivesse o melhor AFIS dos Estados
Unidos, os Estados, com sistemas infe-
riores, tinham resultados melhores”, diz o
papiloscopista de Taquaritinga, que acre-
dita que o mesmo ocorre com os muni-
cípios que adotaram o projeto no Estado
de São Paulo. “Isso porque o número de
cadastros é menor e a probabilidade do
criminoso estar entre os cadastrados no
sistema é muito maior”, conclui.

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 37
PELOS ESTADOS

SECCIONAL DE ANDRADINA (SP) sentava pouco resultado, até que por meio CASOS SOLUCIONADOS
O papiloscopista e professor da Acade- da experiência de Taquaritinga, passaram a É fácil concluir que sem a persistência
mia de Polícia de São Paulo, Marcos Vieira, utilizar o AFIS. dos policiais, muitos casos permaneceriam
realiza um trabalho regional na Seccional Foi criada na Delegacia Seccional de sem soluções nestes municípios. Hoje,
de Andradina (SP), há 10 anos, iniciado sob Polícia de Andradina o Setor de Perícias Márcico conta que é convidado pelos cole-
a influência da iniciativa de Márcico. “Tive- Papiloscópicas, que atendem 12 muni- gas, inclusive peritos criminais, a ir às cenas
mos muito sucesso nesses últimos anos, cípios em um raio de 90km. As 16 unida- de crimes colher fragmentos. Acrescenta
foram muitos esclarecimentos de casos. des polícias e duas unidades prisionais, que foram vários elogios proferidos por
Infelizmente poucas unidades entenderam que pertencem à seccional, adotaram magistrados (juízes e promotores) da co-
e poucas participaram do projeto, mas as o projeto e são responsáveis por enviar marca e região pelo trabalho relevante que
que entenderam foram bastante contem- as impressões digitais e palmares dos desempenha. Outro reconhecimento pe-
pladas. Foram os que mais tiveram esclare- indiciados e presos, enquanto o Setor los trabalhos desenvolvidos ao longo dos
cimento de crimes”, avalia Marcos. Ao todo, de Perícias Papiloscópicas e a Equipe de últimos 20 anos foi o prêmio conquistado
incluindo laudos em locais de crime, em pe- Perícias Criminalísticas de Andradina são no concurso “Aplicativos para aperfeiçoar
ças, laudos de confrontos e de legitimação, responsáveis pela revelação e coleta de a Polícia Judiciária”, organizado pela Asso-
Marcos já realizou 1.139 laudos. Entre os de fragmentos papilares em locais de crime ciação dos Delegados de Polícia do Estado
locais de crime, o policial coleciona uma para a formação do banco de dados de de São Paulo (ADPESP) e o Instituto Brasi-
estatística de 41% de casos resolvidos por latentes. “Logo nos primeiros meses leiro de Administração do Sistema Judiciá-
meio do trabalho papiloscópico. passamos a obter resultados positivos. rio (IBRAJUS), em 2015.
Em Andradina, a história começou em Isso despertou o interesse de outras Só em Taquaritinga, dezenas de casos
2004, quando investigadores da Delegacia unidades policiais e também observamos foram solucionados graças a iniciativa do
de Investigações Gerais (DIG) solicitaram uma mudança no comportamento dos papiloscopsita. Em muitos deles, a sen-
auxílio ao Setor de Identificação para investigadores, que entenderam a impor- tença condenatória foi proferida tendo
realização de Perícias Papiloscópicas em tância da preservação do local de crime apenas os Laudos Papiloscópicos como
locais de crime. “Muitas vezes a investiga- para a realização dos exames periciais prova. Um destes casos ocorrera em 2012.
ção tinha o suspeito, mas não havia como papiloscópicos e de uma correta coleta “Após eliminarmos os fragmentos sem
provar sua participação no ato criminoso”, de impressões digitais e palmares para a condições de identificação, bem como os
conta Marcos. O trabalho de confronto formação do banco de dados”, observa pertencentes às vítimas e pessoas com
monodactilar, na época, era difícil e apre- Marcos Vieira. acesso ao local, restou os fragmentos que,

38 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
PELOS ESTADOS

certamente, seriam dos furtadores”, conta meio do projeto “Identificação Biométrica Marcico montou sozinho
o policial. Na época, apenas uma identida- por Impressão Digital”, a Delegacia Seccio- um banco com 24 mil fichas
de foi descoberta e, mesmo sendo o Laudo nal de Andradina recebeu o Prêmio Polícia com cerca de 240 mil fotos
Papiloscópico a única prova no caso, foi Cidadã pelos excelentes resultados dos de digitais, ficha a ficha,
instaurado o inquérito policial e, embora o trabalhos papiloscópicos realizados. fotografando digital por
indiciado negasse qualquer envolvimento, No caso que rendeu o prêmio, a iden- digital, fora as vias sacras indo
a denúncia foi feita e o processo correu. tificação de um indivíduo foi a chave para de presídio em presídio.
Em 2014, às vésperas do julgamento, com a solução de cinco casos de furtos a esta-
o constante acréscimo de impressões belecimentos comerciais que ocorreram
digitais ao sistema, o segundo nome foi em Andradina entre 2008 e 2009. Os muito mais com a Polícia Judiciária, caso
identificado. “Comunicamos ao Promotor fragmentos papilares encontrados nas fossem criadas nas Delegacias Seccio-
responsável pela denúncia, o mesmo soli- cenas foram inseridos no AFIS, mas sem nais equipes especializadas em locais
citou o envio de toda a documentação per- resultados positivos. Meses após, a partir de crime para revelação de impressões
tinente e incluiu o segundo identificado no de uma nova prisão, a Cadeia Pública lo- latentes, fortalecendo um elo com a in-
processo”, explica José Eduardo. No dia da cal encaminhou para o Setor de Perícias vestigação criminal”.
audiência, diante das provas apresentadas, Papiloscópicas as impressões coletadas Márcico compreende que o caminho
os réus foram orientados pelo defensor a e o material foi inserido no sistema, que do desenvolvimento da Papiloscopia nos
confessarem o delito. “Assim como este conferiu a compatibilidade com fragmen- municípios ainda é longo. Mas, faltando
caso, outros foram esclarecidos devido a tos de cinco locais diferentes. “A equipe de pouco mais de um ano para se aposentar,
facilidade de acesso do Papiloscopista ao Investigações Criminais encaminhou as im- se a reforma da previdência assim per-
AFIS”, associa Márcico. pressões dactilares de outros integrantes mitir, acredita que fez o que pode para
Assim como ele, Marcos Vieira é o da quadrilha e mais três indivíduos foram contribuir com a Papiloscopia e deixa uma
único Papiloscopista da Seccional de An- identificados papiloscopicamente”, conta reflexão para os colegas de profissão.
dradina. Por lá, os frutos do empenho já Marcos. “Nós queremos o título de peritos, porém,
vieram, inclusive, em forma de títulos. O Marcos também defende a implan- somos muito acomodados. Muitas vezes
primeiro foi em 2006, quando recebeu o tação do AFIS local/regional como fer- é necessário irmos um pouco além para
Prêmio Láurea Policial do Mês, quando ain- ramenta importante para fortalecer fazer com que vejam que, em nosso traba-
da pertencia ao Deinter-5 de São José do a Papiloscopia como carreira da área lho, pode estar a chave do esclarecimento
Rio Preto. O mais recente foi em 2013, por Criminalística. “Poderíamos contribuir de um crime”.

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 39
PELOS ESTADOS

PERSISTÊNCIA E
PROFISSIONALISMO DE
PAPILOSCOPISTA POLICIAL
FEDERAL CONTRIBUI PARA
SOLUÇÃO NO ÂMBITO DA
OPERAÇÃO FARO FINO
O trabalho foi resultado de uma ação permanente para coibir o uso
das vias postais para o tráfico de drogas ao exterior
Por Simone Andrade
Especial para a revista Impressões

40 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
PELOS ESTADOS

G
raças ao laudo papiloscópico, a Su- Porém, como na maioria das remessas eles rativas entre uma das impressões reveladas
perintendência da Polícia Federal utilizavam uma modalidade de correspon- e a de um suspeito apontado pelo AFIS,
de São Paulo chegou à identidade dência que não necessita da apresentação foi possível identificar o responsável por
de dois irmãos que utilizavam as vias pos- de documentos – e quando apresentavam aproximadamente 100 postagens, apenas
tais para praticar tráfico internacional de eram documentos falsos –, a solução do em 2016, de substâncias entorpecentes em
drogas. O caso findou no último janeiro, caso parecia distante. várias Agências dos Correios da cidade de
mas os trabalhos de perícia papiloscópica Com poucas perspectivas de encontrar São Paulo.
que levaram à solução do caso iniciaram os autores das postagens, o caso foi enca- A partir do nome apontado pela perícia
em julho de 2016, quando o Núcleo de minhado ao Núcleo de Identificação para papiloscópica, a Polícia chegou ao segundo
Identificação (NID/SP) atendeu à solicita- realização de exames perpapiloscópicos. A nome, irmão do primeiro identificado. A
ção de perícia feita pela Delegacia de Re- perícia, que ficou sob a responsabilidade da PF solicitou à Justiça Federal a expedição
pressão a Entorpecentes (DRE/DRCOR/ PPF Amanda Lucila Medeiros, foi realizada de mandados de prisão e busca em seus
SR/PF/SP). nos envelopes e cartões postais. “Foram domicílios, onde foram apreendidos do-
Uma Agência dos Correios informou, à vários envelopes iguais periciados, e em cumentos falsos utilizados nas postagens
Polícia Federal, sobre a existência de subs- apenas um houve a coleta dos fragmentos e três veículos registrados com um dos
tância que poderia ser de entorpecente, de impressões digitais”, conta a PPF. “Isso nomes falsos.
em quatro encomendas relacionadas entre mostra que a persistência do nosso tra-
si. A perícia identificou mais de 30 kg de co- balho superou a artimanha do criminoso,
caína oculta em bastões de silicone, toma- quanto ao cuidado na manipulação dos
das, interruptores, chuveiros, tubos de cola, materiais”. “Isso mostra que a persistência
creme protetor para mãos, desengripantes, Utilizando técnicas e o reagente re- do nosso trabalho superou
lubrificantes e envelopes. As postagens velador ninidrina, foram encontrados a artimanha do criminoso,
com cocaína tinham como destino Cama- fragmentos com qualidade para inserção e quanto ao cuidado na
rões, Madagascar, Tailândia e Moçambique. confronto no AFIS. Após análises compa- manipulação dos materiais”

MINISTÉ
MINISTÉRIO MJ - PO RIO DA JUST
DA JUSTIÇA
MJ - POLÍCIA SUPERINLÍCIA FE IÇA
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA FEDERAL DERA
DA JUSTIÇA SUPERINTEND DELEGA TENDÊNCIA L
MINISTÉRIO MJ - POLÍCIA FEDERAL ÊNCIA REGIONA
JUSTIÇA O PAUL
O FEDERAL L EM SÃO PAU
LO DELEGACIA
REGIONAL EXEC L EM SÃO PAULO NÚCLEO CIA REGIO REGIONAL
RIO DA L EM SÃ EX MJ - POLÍCIA SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL EM SÃO PAULO NAL EM SÃ
MINISTÉLÍCIA FEDERAREGIONAL ÊNCIA REGIONA X NÚCLEO DE
IDENTIFICAÇÃ UTIVA - DREX
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NTIFICA EXECUTIVA O PA
- DR SUPERINTEND IONAL EXECUTIVA - DRE DELEGACIA REGIONAL EXECUTIVA - DREX LAUDO - DREX ULO
MJ - PO TENDÊNCIA L EXECUTIVA REG O DE PE ÇÃO
R/PF/SP DELEGACIA O NÚCLEO DE IDENTIFICAÇÃO LAUDO DE PER RÍCIA
SUPERINCIA REGIONACAÇÃO REX/S DE IDENTIFICAÇÃ PAPIL
DELEGA DE IDENTIFI 6-NID/D NÚCLEO X/SR/PF/SP ÍCIA PAPILOS
CÓPICA Nº 243/ OS CÓPIC
3/2 01 2016-NID/DRE A Nº
CÓPICA Nº 243/ 2016-NID/DRE
24 LAUDO DE PERÍCIA PAPILOSCÓPICA Nº 243/2016-NID/DREX/SR/PF/SP 13
NÚCLEO A Nº
PIC ÍCIA PAPILOS ANEXO X/SR/PF/SP 1 ANEXO 243/2016-NID
OSCÓ LAUDO DE PER ANEXO /DRE
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29/11/1983, brasileiro. 11 9
2 10
4 5

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 41
REPORTAGEM

INSTITUTO DE IDENTIFICAÇÃO
FÉLIX PACHECO IIFP/PCERJ
A realidade no primeiro II brasileiro

Por Simone Andrade


Especial para a revista Impressões

42 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
REPORTAGEM

O
prédio espelhado reflete um en- A distância em que os concursos para O IIFP opera, hoje, com 107
tardecer. Mas não é só a natureza papiloscopista foram realizados ao longo Papiloscopistas Policiais
que reflete a sua beleza através da história do Instituto corroboraram de primeira classe de 150
do prédio do Instituto de Identificação para o déficit de hoje. O penúltimo con- previstos, 142 de segunda
Félix Pacheco (IIFP), localizado na cidade curso foi realizado em 2002. Apenas em classe de 200 previstos e três
do Rio de Janeiro. Por trás desse espelho, 2015 foi promovido outro. “Os aprovados Papiloscopistas de terceira
é possível encontrar também o reflexo concluíram o curso de formação, fizeram classe de 350 previstos.
da realidade financeira de um estado que a formatura no final de 2016 e aguardam O déficit é de 448 profissionais
apresenta dificuldade para pagar as contas. nomeação. Mês passado se deu a homo-
E o Instituto, é claro, não passa imune a isso. logação do concurso, mas devido ao de-
Imbuído da responsabilidade de aten- creto de calamidade financeira não estão rícias de levantamento de fragmentos de
der todo o estado, a situação do Instituto ocorrendo nomeações, embora haja uma impressões digitais em locais de crime em
preocupa a polícia carioca. O IIFP opera, brecha para a segurança pública”, conta o viaturas caracterizadas, armados, expos-
hoje, com 107 Papiloscopistas Policiais diretor. Entretanto, mesmo sendo nome- tos às intempéries e à criminalidade que
de primeira classe de 150 previstos, 142 ados, não serão suficientes para atender à assombra nosso estado”, conclui Márcio.
de segunda classe de 200 previstos e três demanda e cobrir o déficit, já que há mais Alexandre Trece entrou para a Polícia
Papiloscopistas de terceira classe de 350 de 300 vagas para Papiloscopistas de ter- em 1994, e atualmente se prepara para a
previstos. O déficit é de 448 profissionais, e ceira classe e foi realizado concurso para aposentadoria. Ele conta que os serviços
o diretor do Instituto alerta que, “não sendo preenchimento de apenas 100 vagas. mais afetados pelo déficit são a emissão de
urgentemente convocados os 96 Papilos- Para se ter ideia, o concurso anterior Folhas de Antecedentes Criminais (FAC)
copistas recém-formados, em muito pouco ao de 2002 foi realizado em 1988, sendo a e a Necropapiloscopia. Por mês o Instituto
tempo, com o avançar das licenças médicas posse a partir de 1992. “O quadro de Papi- recebe 18 mil pedidos de FACs. “O serviço
e aposentadorias, teremos atraso nas res- loscopistas é reduzido e envelhecido, não é feito on-line com o TJ, mas mesmo assim
postas aos laudos e, em longo prazo, extin- suportando plantões de 24h nos IMLs, na não damos conta da demanda. Aqui no Rio,
ção de determinadas perícias”, diz Márcio sede do Instituto confirmando identidades o papiloscopista trabalha na emissão de
Pereira, diretor do IIFP desde 2009. de presos e cadáveres ou realizando pe- FACs para associar a biometria à anotação

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 43
REPORTAGEM

»» Emitir Folhas de Antecedentes Cri- »» Perícias de confirmação de iden-


minais; Atestados de Antecedentes tidade de cadáveres em hospitais
Criminais; Certidões de Vida Privada; municipais, estaduais ou federais;
»» Perícias de confirmação de identida- »» Perícias de revelação de fragmentos de
de dos presos pela PCERJ antes do impressões digitais em todos os veículos
FUNÇÕES DO IIFP ingresso na Secretaria de Estado de frutos de furto ou roubo, no pátio legal;
APÓS DECRETO ESTADUAL 22930/A Administração Penitenciária (SEAP); »» Perícias em veículos não removi-
»» Perícias de vivos desorientados em hos- dos para a Delegacia de Roubos
pitais municipais, estaduais ou federais; e Furtos de Autos (DRFA);
»» Perícias de confirmação de identidade »» Perícias de revelação de fragmentos de
de cadáveres nos IMLs do estado; impressões digitais em locais de crime na
região metropolitana e em todo o estado.

criminal. Nota que o ideal é não ter papilos- Para minimizar as demandas e melho- atualização tecnológica e modernização
copistas nas tarefas administrativas, mas rar o atendimento ao cidadão, uma das do sistema de identificação civil e crimi-
colocar quem no lugar?”, conta e especula o alternativas adotadas foi separar as atri- nal do estado.
papiloscopista Alexandre. buições civis e criminais. Até agosto de O IIFP emitiu, até 1998, mais de 13
Como o IIFP é o único instituto do Rio 1998, o Instituto era responsável pelas milhões de Registros Gerais (RGs). Após
de Janeiro, tem o dever de atender às de- duas tarefas, bem como os demais IIs o Decreto, o Detran-RJ iniciou a emissão
mandas dos 18 Institutos Médico-Legais espalhados pelo país. Desde então, por com séries a partir do número 20.000.000.
do estado. Juntos, eles recebem pelo meio do Decreto Estadual 22930/A, de “Parte dessas 13 milhões de RGs já inte-
menos 750 corpos por mês. Caxias e Nova 21 de janeiro de 1997, a identificação civil gram a base biométrica do Detran, seja por
Iguaçu, por exemplo, contam com apenas passou a ser de responsabilidade do De- ter feito segundas vias, após 1999, ou o De-
dois peritos papiloscopistas por escala. partamento de Trânsito do Estado do Rio tran, por determinação do TCE e por força
Na Perícia Papiloscópica de Verificação de de Janeiro (Detran-RJ). O IIFP ficou com do decreto de transferência de acervo, digi-
Identidade, local em que Alexandre está a função de manter e atualizar o arquivo talizou a folha de registro civil”, explica Már-
lotado, 17 profissionais tratam 2.800 pre- criminal dos cidadãos fluminenses, tanto cio Pereira. A estimativa é que pelo menos
sos por mês. na sede do IIFP quanto no arquivo do ex- 4 milhões de folhas não foram digitalizadas.
tinto Instituto Pereira Faustino. Essa foi a Todo o acervo físico está armazenado no
ALTERNATIVA ADOTADA alternativa encontrada diante da falta de Instituto e, havendo necessidade, ele é
A dificuldade de atender à demanda orçamento da Polícia Civil do Estado Rio acessado tanto por papiloscopistas quanto
não é realidade recente no Instituto. de Janeiro (PCERJ) e a necessidade de por servidores do Detran-RJ.

44 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
REPORTAGEM

ser encontrado no AFIS da Polícia Federal


–, a autoridade policial indica um suspeito
e as pesquisas são realizadas no arquivo
físico à moda antiga.

UM POUCO DA HISTÓRIA
O Instituto de Identificação Félix Pa-
checo foi o primeiro II brasileiro, criado em
29 de dezembro de 1902. Na época, era
o Gabinete de Identificação e Estatística
da Polícia do Distrito Federal. Apenas em
1941 recebeu o atual nome, uma homena-
gem a  Félix Pacheco, introdutor da identi-
ficação datiloscópica no Brasil.
Ao longo de todos esses anos, o II
passou por transformações. Uma delas,
como já mencionada, foi a divisão de
atribuições com o Detran-RJ. Hoje, o
Instituto de Identificação Félix Pacheco
é responsável por confeccionar e emitir
Folhas de Antecedentes Criminais, Ates-
tado de Antecedentes, Laudos de Perícia
Papiloscópica, Certidão de Vida Privada e
outros documentos associados à defesa
PESQUISAS NOS SISTEMAS ma da Polícia Federal. “Quem deixou o da cidadania. E mesmo com tantos de-
DO DETRAN-RJ E DA PF fragmento no local de crime pode não ter safios – principalmente relacionados ao
Ocorrido um crime, a Delegacia da Cir- RG emitido pelo IIFP ou pelo Detran, mas tamanho do quadro efetivo –, o II possui o
cunscrição solicita ao IIFP o levantamento pode ter cometido crime em outro estado. segundo maior acervo de documentos de
de fragmentos de impressões digitais. O Nesse caso, nós o positivamos no AFIS da identificação do Brasil: mais de 13 milhões
fragmento revelado é levado para a sede Federal”, explica Márcio. de Registros Gerais, 13 milhões de Folhas
do IIFP, digitalizado e submetido às pes- Além dos procedimentos nos siste- de Registro Civil, 15 milhões de Individu-
quisas no AFIS do Detran-RJ, único AFIS mas, caso o resultado dê falso-negativo ais Datiloscópicas, cerca de 8 milhões de
estadual. Caso não haja resultado positivo, – pois o RG do autor pode estar entre os 4 Cartões Nominais e 1 milhão de Prontuá-
os fragmentos são submetidos ao siste- milhões que não foram digitalizados nem rios Criminais.

45
ESPECIAL

INVESTIMENTO, MODERNIZAÇÃO
E CONHECIMENTO
TÉCNICO-CIENTÍFICO
Papiloscopistas policiais federais identificam suspeito após 17 anos

Por Priscilla de Jesus Rocia e Paulo Ayran

46 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
ESPECIAL

N
o dia 06 de julho de 2000, a socie- aeroporto. Imediatamente a Polícia Federal
dade do Distrito Federal foi surpre- se mobilizou na busca dos bandidos.
endida com a notícia de que uma Durante a fuga, a quadrilha abandonou
quadrilha de assaltantes, fortemente arma- 23 quilos que estavam em outros malotes.
da, invadiu a pista do Aeroporto Internacio- A PF localizou, nos arredores de Brasília,
nal da cidade com o objetivo de subtrair ao no Setor Park Way, os carros usados no
avião Boeing 737-300, da companhia aérea assalto – uma Kombi e duas caminhonetes
VASP, um carregamento de aproximada- Dakota –, e descobriu também que os car-
mente 60 quilos de ouro da Mineradora ros usados na operação foram roubados
Serra Grande, que exerce sua atividade na em São Paulo.
cidade de Crixás/GO, localizada a 425 km
de Brasília. O ouro roubado seria enviado PAPILOSCOPISTAS ENTRAM EM CENA
para a cidade de São Paulo. A ideia era de Acionados, os Papiloscopistas Policiais
que o ouro seria retirado dos carros-fortes Federais Clemil José de Araújo, Mauro
para ser embarcado em um voo de carreira. Pereira Barbosa, Eduardo Alexandre de
A ousada ação durou cerca de cinco minu- Oliveira Braz, Paulo Jorge Vergini e Tânia
tos e foi filmada pelo sistema de segurança Mara Maciel, lotados no Instituto Nacio-
interno da Infraero. nal de Identificação (INI), se dirigiram ao
local e, após intenso e minucioso trabalho
A DINÂMICA pericial de levantamento de vestígios de
Houve troca de tiros entre os assal- impressões papilares, a equipe consignou
tantes e os agentes de uma empresa de em Laudo de Perícia Papiloscópica o regis-
segurança que protegia a carga. Contudo, tro de 13 fragmentos de impressão papilar
os membros da quadrilha conseguiram encontrados no veículo Kombi, além de
escapar levando uma pessoa como refém, inúmeros fragmentos nos objetos deixados
a qual foi libertada a poucos quilômetros do em seu interior: sete fragmentos de im-

Veículos periciados, utilizados no assalto ao aeroporto,


abandonados no Setor de Mansões Park Way – Brasília/DF

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 47
ESPECIAL

pressão papilar em uma das caminhonetes


e oito na outra.
No ano de 2000, a Perícia Papiloscó-
pica ainda era executada praticamente de
forma manual, ou seja, era feita a perícia do
local e, de posse dos fragmentos papilares
levantados, conduzida a apresentação de
suspeitos pela equipe de investigação para
realização dos exames periciais, a fim de
estabelecer a relação de identidade entre o Sistema de Identificação Automatizada do ouro foram inseridos e armazenados no
o fragmento encontrado e aquela pessoa de Impressões Digitais (AFIS). Trata-se banco de dados de latentes não resolvidas.
considerada suspeita. de uma solução sistêmica que possibilita O investimento em segurança pública
o armazenamento de impressões digitais é fundamental para a obtenção resultados,
NA MOSCA e individualiza, de forma inequívoca, cada especificamente sobre o Sistema AFIS,
Foram apresentados diversos suspei- pessoa que é inserida no banco de dados que ampliou, de forma sistemática, a pos-
tos para confronto papiloscópico, sendo biométrico. sibilidade tanto no contexto de prevenção
um dos fragmentos positivado como de O sistema é utilizado pelo INI desde como de combate aos ilícitos penais.
D. V. C, conhecido por “CEGO”, indiciado 2004, e ampliou as possibilidades de ser- Para a equipe de investigação e para
em vários outros crimes ao longo desses viços, como pesquisa ágil no banco com a Justiça, é de fundamental importância
17 anos. milhões de datilogramas; pesquisas, mes- conhecer o possível criminoso, saber quem
Pelos procedimentos técnico-científi- mo sem a existência de suspeitos; trabalho realmente ele é. O conjunto de procedi-
cos adotados pelo INI, todos os vestígios de em casos específicos; melhoria de imagens mentos investigativos certamente será pla-
impressão papilares revelados foram arqui- e simulações diversas; armazenamento de nejado visando um algo certo, minimizando
vados à espera de novos suspeitos. impressões papilares de criminosos sem a a utilização de recursos materiais, humanos
identidade conhecida (para futuras verifi- e principalmente de tempo.
PROMOTEC cações); desarquivamento de casos antigos Já no âmbito do Judiciário, o direcio-
No ano de 2003, a Polícia Federal, por sem solução; entre outras. namento da decisão e o estabelecimento
meio do Projeto de Modernização Técnica Nessa vertente, em 2005, todos os da pena ou de possíveis benefícios serão
da Polícia Federal (PROMOTEC), adquiriu fragmentos levantados no caso do roubo muito mais efetivos se o Juiz tiver em mãos

Laudo de Perícia Papiloscópica, produzido em 2000, com


ampliação do fragmento de impressão digital revelado

48 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
ESPECIAL

a identificação inequívoca do meliante, dados do Sistema AFIS da Polícia Federal de Brasília só foi sabida 17 anos depois do
bem como ter informações efetivas sobre e intercâmbio de informações com outros ocorrido. Isso graças à política de investi-
todos os atributos e passagens criminais órgãos oficiais de identificação estaduais, mento e fortalecimento do segmento da
vinculados à sua pessoa. consignar, nos autos do inquérito policial, a identificação humana na Polícia Federal,
identificação inequívoca de cada um deles. em destaque a aquisição do sistema AFIS e
FINALMENTE, EM 2017 Para surpresa dos Papiloscopistas a contratação de mais de 400 Papiloscopis-
Em 24 de abril de 2017, um assalto con- Policiais Federais, Rachel Jurca Accioly e tas Policiais Federais em 2005.
siderado o maior da história do Paraguai Sérgio Ricardo Yoshida, um dos fragmen- Ainda não há como saber qual será
deixou abalados os moradores da Ciudad tos levantados na caminhonete utilizada no a repercussão judicial para L. Silva no
del Este. Uma quadrilha com mais de 50 assalto ao avião da VASP em 2000, positi- que tange ao crime de Brasília, mais
homens fortemente armados explodiu vou com o dedo médio direito do suspeito certamente podemos afirmar que: com
as paredes do prédio onde se localizava a L. Silva, que na época tinha apenas 22 anos. investimento, tecnologia, modernização e
transportadora de valores PROSSEGUR O suspeito L. Silva tem uma história manutenção efetiva, os resultados positi-
e levou algo em torno de US$ 40 milhões, de vida no crime. A descoberta de sua par- vos alcançados pelas forças policiais serão
o equivalente a R$ 120 milhões. Durante a ticipação no caso do crime do aeroporto cada vez maiores.
fuga, incendiaram 15 veículos, promovendo
um verdadeiro cenário de guerra e terror.
O modus operandi utilizado por esses
criminosos – homens armados com fuzis e
metralhadoras, explosões, barricadas com
carros incendiados para conter a persegui-
ção policial – foi correlacionado a outros
casos, semelhantes, ocorridos no interior
de São Paulo.
Em confronto com a polícia, o grupo
teve baixas diretas com a morte de três cri-
minosos e outros 10 suspeitos capturados.
Visando garantir a qualificação e identifi-
cação civil dos suspeitos, fundamentado
pela autoridade policial, todos foram cadas-
trados biometricamente, a fim de que se
pudesse, por meio de pesquisa ao banco de

Tela do Sistema AFIS: à esquerda – fragmento de impressão papilar


revelado em 2000 e armazenado no Sistema AFIS; à direita – Marcação de minúcias realizada pelos PPFs responsáveis pelo
dedo médio direito resultante da identificação criminal de L.S. Laudo de Perícia Papiloscópica elaborado em Foz do Iguaçu

A G O S TO / 2 0 1 8 | I M P R E S S Õ E S 49
ESPECIAL

O PROJETO
EXPORTNIST
A Gestão Inteligente de Informações Biométricas

Por Clauber Franco Miranda

50 I M P R E S S Õ E S | A G O S TO / 2 0 1 8
ESPECIAL

A
meta de garantir a unicidade de tados. É possível, saber, de maneira
cada cidadão em um universo de Naquela época, o sistema AFIS acabara clara e precisa, a quantidade
milhões de pessoas não é uma ta- de ser expandido e agora estava sendo de HITs dos casos criminais
refa fácil. Buscando cumprir tal propósito, levado para todos os Institutos de Identifi- agrupada por sexo, idade, tipo
no ano de 2003, a Polícia Federal adquiriu cação do país (Expansão AFIS SENASP). A de pessoa, UF, site de origem.
um poderoso Sistema Automatizado de base havia sido ampliada e não se vislum-
Identificação de Impressões Digitais – AFIS brava a troca de fornecedor, dessa forma,
(sigla em inglês), trazendo com isso novos tal exportação foi sobrestada, mas não deria acarretar grandes transtornos para a
paradigmas para a identificação civil e cri- esquecida. Administração.
minal no país. Em fevereiro de 2014, já pensando em Após diversas reuniões para elabora-
O sistema vem sendo utilizado com uma eventual modernização que come- ção de um Termo de Referência que iria
grande sucesso nos últimos 14 anos, apre- çava a ganhar forças, visto que a base de ao mercado em breve, a equipe respon-
sentando resultados importantes nas mais dados do AFIS já estava girando na casa sável pela modernização do AFIS realizou
diversas áreas de atuação da Polícia Fede- das 15 milhões de passagens, a equipe da viagens para diversos locais nacionais e
ral. É ele, por exemplo, o sistema respon- Administração do AFIS da Polícia Federal internacionais, sempre em busca de cole-
sável por individualizar as requisições de iniciou a exportação dos arquivos NISTS tar novas informações sobre os sistemas
passaporte, competência exclusiva da PF, fazendo uso da ferramenta disponibilizada AFIS mais modernos do mercado, uso de
e, dessa forma, garantindo um documento pela fabricante do sistema AFIS. O pro- novas biometrias, modernas formas de
seguro, lastreado em uma base biométrica blema era que a ferramenta era bastante contratação e comparação custos. Uma in-
confiável. precária e sem muitos controles e configu- formação chamou a atenção da equipe de
O sistema AFIS em funcionamento rações. A ferramenta, além de apresentar modernização: os países que passaram por
na PF, em que pese seu imenso poder de muitas falhas e travamentos constantes, um processo de modernização semelhan-
processamento e acurácia, possui algumas o que tornava o processo extremamente te ao que passaria o AFIS da Polícia Federal
peculiaridades logo notadas pela equipe lento e penoso, permitia exportar os arqui- conseguiram reduzir entre 20% – 30% dos
da Administração do AFIS: códigos fonte vos NIST da base AFIS mas não permitia custos do projeto devido à base de dados
fechados, dificuldade de parametrização um salvamento organizado -e também não estar exportada em formato NIST. Era o cli-
pela própria PF e falhas na obtenção de in- permitia consultas aos arquivos exporta- ck que faltava para transformar a exporta-
formações estatísticas/gerenciais. No ano dos- deixando os técnicos no escuro. O ção de arquivos NIST em prioridade total.
de 2007, após auditória realizada pelo Tri- trabalho era feito de maneira artesanal e
bunal de Conta da União – TCU, foi prola- extremamente penoso. Com o empenho PROJETO
tado o Acórdão 889/2007, recomendando incansável da equipe da Administração Preocupada com a lentidão do proces-
a migração dos dados de sua propriedade, AFIS, mesmo com todos os problemas, ao so de exportação e com a qualidade dos
constantes no sistema AFIS, para uma base longo dos dois anos dois anos seguintes resultados, a Direção do Instituto Nacional
de padrão aberto, possível de ser importa- foram exportados algo em torno de 9 mi- de Identificação - INI criou então o Grupo
da por outros fabricantes de AFIS em uma lhões de arquivos NIST. Ainda que de ma- de Desenvolvimento em Tecnologias
eventual troca de fornecedor. neira desorganizada, foram armazenados de Identificação Humana - GDTIH, com
Para cumprir essa tarefa, os dados em diversos Hard Disks externos. atribuição de desenvolver soluções de TI
deveriam ser exportados em arquivos no No ano de 2016, a base de dados do voltadas às necessidades do INI. A equipe
padrão ANSI/NIST, um tipo de arquivo AFIS constava com aproximadamente 17 composta pelos papiloscopistas policiais
que permite a troca de informações bio- milhões de passagens, distribuídas nos federais Clauber Franco Miranda, Alessan-
métricas entre sistemas AFIS. Essa nova mais variados tipos de pessoas. Após a dro Mendes Soares Evangelista, Jade Ke-
tecnologia trouxe com ela uma complexi- nova e última expansão da solução, em nde Gonçalves Umbelino e Ramon Santos
dade imensa e totalmente desconhecida mais 7.2 milhões de registros, o fabricante Fernandez recebeu como tarefa prioritária
para a equipe da Administração do AFIS da do sistema foi taxativo: a base AFIS se criar uma ferramenta capaz de exportar
Polícia Federal, dificultando sobremaneira esgotaria com 20,2 milhões de pessoas os arquivos em tempo hábil e de maneira
a execução de tal tarefa naquele momento. e não poderia mais ser expandida. Era o organizada para garantir uma eventual
Além da falta de conhecimento técnico momento da PF realmente começar a se migração da base de dados para um novo
e de pessoal, a Polícia Federal também preocupar com a compra de uma nova fornecedor.
esbarrava em limitações de infraestrutura solução. A modernização seria inevitável Debruçada sobre o problema, a equipe
para armazenar os dados a serem expor- e uma eventual troca de fornecedores po- do GDTIH começou a buscar meios para

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ESPECIAL

solucionar os problemas atuais, aceleran- tes em conjunto com o processo que havia de federativa do caso, usuário responsável
do o processo de exportação, evitando sido mapeado. A equipe do GDTIH estava pela inclusão/confronto e demais informa-
travamentos, e principalmente, atribuin- focada em criar uma ferramenta amigável, ções relativas ao caso.
do-se alguma inteligência aos resultados expansível, e que pudesse, de maneira Todos os dados qualitativos foram
que seriam gerados. Não bastava apenas eficiente: reduzir os custos da moderni- vinculados aos seus respectivos arquivos
exportar os arquivos. Era preciso que a zação, organizar o repositório de arquivos NIST, inclusive aqueles primeiros 9 milhões
base de dados a ser criada, além de guardar NIST exportados, gerar informações úteis de arquivos armazenados em Hard Disk
tais arquivos NIST organizadamente, ge- à direção do INI, auxiliar em trabalhos de externos. Hoje, tais dados se encontram
rasse informações estatísticas e gerenciais inteligência na atividade policial e, por fim, armazenados em servidores de alta per-
que pudessem auxiliar nas tomadas de atender à recomendação do TCU. formance e disponibilidade, sob monito-
decisões do Instituto. Era fundamental que No intuito de reduzir gastos, a base de ramento contínuo pela equipe de TI da
a ferramenta pudesse servir como fonte de dados foi criada utilizando-se uma solu- Polícia Federal.
informação no mister da PF: o combate à ção de software livre e gratuito. Diversos
criminalidade. scripts foram elaborados para permitir a ALGUNS RESULTADOS IMEDIATOS:
Como o problema posto restringia- exportação dos dados qualitativos e dos Além da economicidade que a ex-
-se aos arquivos NIST, o foco do trabalho arquivos NIST da base AFIS, contemplando portação dos dados trouxe ao projeto de
estava na exportação de passagens, no a importação destes dados para a base do modernização (hoje orçado em vários
caso de pessoas, e nos casos criminais. As projeto ExportNist, bem como a vincula- milhões de reais) e o atendimento de uma
demais informações do AFIS, ainda que ção com seus respectivos arquivos, valida- recomendação antiga do TCU, o resultado
bastante relevantes, não estavam englo- ções e consultas. A ferramenta criada per- deste projeto foi uma grata surpresa para a
badas nesse processo. A equipe do GDTI mitia a exportação de aproximadamente direção do Instituto Nacional de Identifica-
segue estudando formas de incorporar 01 milhão de arquivos NIST por dia. ção. Além da base organizada de arquivos
esses dados à base de dados do projeto Na primeira carga, finalizada em 1° biométricos pronta para “povoar” qual-
ExportNist. de outubro de 2016, foram incluídas no quer sistema fornecedor de solução AFIS,
Desta forma, foi construído um mode- banco de dados as informações de todas encontrou-se na solução, a oportunidade
lo de processo visando compreender o flu- as passagens constantes no AFIS àquela de se iniciar uma série de estudos e ações
xo completo do sistema, bem como garan- época: 17.579.518 passagens, dentre elas: estratégicas baseadas nas informações
tir que os resultados pudessem subsidiar nome, filiação, data de nascimento, tipo de gerenciais e nos dados estatísticos gera-
as demandas futuras que certamente vi- passagem e demais informações afetas à dos pelo sistema e que poderão subsidiar
riam. Um modelo de dados também foi ela- passagem. Em abril de 2017, foi concluída futuras auditorias, fortalecendo o planeja-
borado tendo como base as informações a carga das informações afetas aos casos mento operacional e prevenindo diversos
qualitativas do AFIS, consideradas relevan- criminais: número do caso criminal, unida- ilícitos penais.

Dentre outras informações, é


possível, que o gestor visualize,
por exemplo, de uma maneira
fácil e organizada, informa-
ções sobre passagens, civis
ou criminais, dados quanti-
tativos, origem, sexo e faixa
etária, bem como informa-
ções sobre casos criminais.

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ESPECIAL

É possível, saber, de maneira


clara e precisa, a quanti-
dade de HITs (confrontos
com resultado positivo)
dos casos criminais agrupa-
da por sexo, idade, tipo de
pessoa, UF, site de origem

O sistema também facilita o


cruzamento de dados para
verificar, por exemplo, a
quantidade de estrangeiros
- presentes na base do AFIS
que também tenham passa-
gens criminal, bem como, a
quantidade de HITs de casos
criminais contra esse tipo
de passagem (ou qualquer
outro tipo de passagem).

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ESPECIAL

A ferramenta instrui estudos cien-


tíficos desenvolvidos por diversos
papiloscopistas, relacionando a
quantidade de HITs (casos crimi-
nais) com os dedos e tipos fun-
damentais. Estes dados podem
ainda ser cruzados com diversos
outros: sexo, UF, origem etc.

Através do projeto ExportNist está testes para aferir a acurácia da solução a ser dos e análises estatísticas que certamente
sendo possível fortalecer a identificação adquirida na modernização etc. poderão subsidiar políticas públicas de pla-
criminal e verificar possíveis falhas no pro- nejamento para implantação e integração
cesso, pois permite que sejam identificadas VISÃO DE FUTURO: de sistemas de identificação, construção
eventuais duplicidades no sistema SINIC O GDTHI/INI está planejando o de- de perfil criminológico, bem como, estabe-
quando confrontadas com as informações senvolvimento de uma ferramenta web lecer a relação entre a ocorrências de HITs
provenientes do AFIS. que permita a todos os papiloscopistas do e a tipológica penal: homicídios, estupros,
Além disso, é possível melhorar o pro- Brasil, lotados em quaisquer unidades da latrocínios e, no futuro próximo, a imple-
cesso de lançamento de casos criminais, PF, acessar a base de dados e ter acesso mentação de cenários de zoneamento de
verificando-se eventuais deficiências entre aos NIST. Isso poderá ser bastante útil, caso ocorrência de crimes, tendo como base a
os usuários e buscando formas de melhorá- o PPF precise de uma decadactilar em uma relação de fragmentos de impressão papi-
-las ou corrigi-las. delegacia no interior do país e não disponha lar e o local do delito.
Além de tudo que foi mencionado, o de acesso ao AFIS. Além disso, novos dados Enfim, a quantidade de informações
ExportNist vem sendo utilizando como im- do AFIS estão sendo analisados para serem que podem ser extraídas dessa nova fer-
portante ferramenta para prover os dados incorporados, bem como a integração com ramenta é imensa. É apenas o começo de
biométricos essenciais para utilização em outras bases de dados biométricas. uma nova era para os papiloscopistas poli-
diversos propósitos: Alethia (Olímpiadas, O sistema desenvolvido pela equipe ciais federais.
Chapecoense, Teori Zavascki, Interpol etc.), do GDTIH/INI apresenta uma infinidade de
novos acordos de cooperação, base de oportunidades para a realização de estu-

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A OUTRA FACE

UM PAPI
TRIATLETA
Julius Bomfim sempre praticou esportes, mas a iniciativa do pai com a corrida de rua e a necessidade
de se preparar para o TAF da PF, em 2012, o apresentou um universo novo: O Triathlon
Por Simone Andrade
Especial para a revista Impressões

A
história do PPF Julius Bomfim (39) clusivamente dos estudos e deixou o pre- No início, participou de algumas provas
com o Triathlon tem muitas nuan- paro físico de lado. “Quando saiu o resulta- curtas com uma bicicleta para Moutain Bike,
ces. Uma delas se chama Otacílio do da prova é que me dei conta que deveria em Maceió (AL), cidade natal e onde está lo-
Bomfim. O pai de Julius foi sedentário até passar no teste físico também”, conta. tado atualmente. Mas logo acabou parando.
os 60 anos; hoje, aos 67 tem participado Faltavam poucos dias para o TAF, “Minha primeira lotação foi Imperatriz, no
de diversas provas de corrida, inclusive os Julius havia engordado e não cumpria Maranhão, e era muito difícil treinar lá. A cida-
21km no revezamento do IRONMAN 70.3 o tempo estipulado pelo edital para a de não possui muita estrutura. Só conhecia
Alagoas, com o filho, e vai para a primeira natação. “Procurei um professor e fiz um duas piscinas e uma ficava no Batalhão do
maratona em Berlim. Mas, voltando, ele teste 20 dias antes do TAF, fiz em 46 se- Exército e a outra era sempre lotada”. Mas
resolveu largar a vida sedentária e decidiu gundos, fiquei desesperado e comecei a essa fase passou rápido. No fim de 2014, vol-
acompanhar o Julius. “Ele sempre se ins- treinar com ele. No dia, consegui fazer em tou para Maceió e, em 2015, comprou uma
crevia e me inscrevia junto. Íamos na brinca- 34 segundos”, conta. Tudo certo. Julius bicicleta específica para o Triathlon.
deira mesmo”, conta Julius. passou no TAF e de quebra tomou gosto A primeira prova que participou foi um
Outra nuance importante nessa histó- pela natação. “Como eu já corria e sempre Half Distance (1900m de natação, 90km
ria foi o concurso para a Polícia Federal, em gostei de bicicletas, pensei em me desafiar de ciclismo e 21km de corrida), em Manaus
2012. Durante nove meses, ocupou-se ex- no Triathlon”. (AM). “Consegui chegar em 15.º na cate-

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A OUTRA FACE

goria”, conta. Daí em diante, começou de cus Silva, e do pai, corredor dedicado. Na cedo, tem mais treino a noite. “Normalmen-
quatro na modalidade Sprint: duas na mo- categoria revezamento, Marcus nadou os te ciclismo e corrida pela manhã e natação
dalidade Olímpico e de outro Half Distance, 1900m, Julius pedalou 90km (mesmo com e treinos de força a noite”, explica.
dessa vez em Palmas (TO). um pouco de dor) e o pai correu os 21km. O excesso de dedicação que o Tria-
Juntos conquistaram o 4.º lugar. “Colocar a thlon requer acabou tirando uma parte da
O ACIDENTE vida em risco em estradas com motoristas atenção do PPF de outra paixão: o Karatê.
Em outubro de 2016, todos os esforços que não respeitam os ciclistas é ainda pior. “Meu esporte sempre foi o karatê, sou faixa
de Bomfim voltaram-se para o IRONMAN Mas o esporte me faz bem. Cuido da minha preta desde 2010”. Mesmo com a agenda
140.6 – 3800 de natação, 180km de ci- saúde, supero desafios e estimulo quem tão corrida, às vezes encontra uma brecha
clismo e 42km de corrida –, realizado em está a minha volta”, sintetiza o policial. e dá um pulo nas aulas só para matar sauda-
Florianópolis, no dia 28 de maio de 2017. Julius continua fazendo fisioterapia de. “Ainda é (o karatê) uma paixão na minha
Como já é de costume, Julius treinava todos os dias. Ainda não pode nadar e vida, mas o Triathlon suga todo tempo e
ciclismo às margens da BR101, quando voltou para o trabalho com algumas restri- energia”. Mas confessa também que não dá
foi atropelado por um caminhão. Falta- ções. Mas já se inscreveu para o IRONMAN para fazer os dois.
vam apenas 18 dias para o IRONMAN, em 70.3, em novembro, Fortaleza; e para o Como quem ama nunca esquece, Ju-
Floripa. Julius Bomfim fraturou ombro e IRONMAN 140.6 de Floripa, em maio do lius é professor credenciado pela Academia
cotovelo e rompeu os ligamentos e a cáp- próximo ano, a mesma prova que perdeu Nacional de Polícia para dar aulas de Defesa
sula articular do ombro esquerdo. Estava em função do acidente. Pessoal Policial. Ainda não teve a oportu-
impossibilitado de participar da prova e, nidade e espera que um dia possa dar essa
provavelmente, não teria condições de TREINAMENTO colaboração para a formação dos futuros
competir também no IRONMAN 70.3 de O PPF acorda por volta das 3:50h e se PFs. “Quem sabe no próximo concurso”,
Alagoas, a se realizar no dia 6 de agosto. prepara para, às 5h, iniciar as atividades. diz, bem-humorado.
Mas, como diz o Papi, “desistir não Atualmente, depois do treino tem fisiote-
é uma opção”. Mesmo com limitações, rapia, e, na sequência, vai para o trabalho.
participou da prova em Alagoas e contou “Triathlon para mim é um estilo de vida. Julius treinava ciclismo às
com ajudas especiais daquele professor Acordar as 3:50 da manhã praticamente margens da BR101 quando foi
de natação, que o auxiliou com o TAF, Mar- todos os dias não é fácil”. Além de acordar atropelado por um caminhão

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EVENTOS

CRIANÇAS
DÃO O TOM
Evento comemorativo mostrou a importância da perícia papiloscópica

E
vento comemorativo realizado Co-
ordenação de Aviação Operacional
(CAOP) permitiu aos Papiloscopistas
Policiais Federais (PPFs) demonstrarem
técnicas de revelação de impressões digitais
para crianças.
A CAOP é a unidade aérea da Polícia
Federal responsável por promover o apoio
aéreo operacional às atividades do órgão e
demais instituições de segurança da Admi-
nistração Pública Federal. Está subordinada
à Diretoria Executiva (DIREX) da PF.
A CAOP encontra-se sediada no Aero-
porto Internacional de Brasília, fornecendo
apoio aéreo a todas as unidades da PF em RFH/INI em estande lúdico para crianças:
Evento comemorativo na CAOP
todo o território nacional.

Da esquerda para a direita: O diretor da Escola Superior da Polícia Civil de Goiás


(ESPC/GO),delegado Deusny Aparecido Silva Filho, o diretor do INI-PF, Brasílio
Caldeira Brant, o supervisor do curso, Jurandir Júlio Oliveira, o presidente da
Fenappi, Antônio Maciel Aguiar, e as professoras Luciene Marques e Simone de Jesus

PPF demonstra técnicas de revelação de PPF demonstra técnicas de revelação de


impressões digitais para crianças em impressões digitais para crianças em
evento comemorativo na CAOP evento comemorativo na CAOP

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FOTO GALERIA

NÃO TEMOS
TEMPO A PERDER
A Academia Nacional de Polícia e o Curso de Especialização em Identificação Humana
FOTOS: SAOP/INI/ PPFS JOSELITO NEVES, NAZARENO FEITOSA E ISAQUE DY LA FUENTE

A
Academia Nacional de
Polícia (ANP/DGP), por
meio da Coordenação
de Escola Superior de Polícia
(CESP/ANP), sempre oferta
cursos variados de Especializa-
ção tendo como públicos-alvo
policiais federais e civis gradu-
ados em cursos aprovados pelo
MEC. Dentre eles, destaca-se o
de Especialização em Identifi-
cação Humana.. Abertura do Curso de Especialização
em Identificação Humana na Academia
Nacional de Polícia em Brasília – DF

Aula durante o Curso de Especialização


em Identificação Humana na Academia
Nacional de Polícia em Brasília – DF

Aula sobre anatomia durante o Curso de


Especialização em Identificação Humana na
Academia Nacional de Polícia em Brasília – DF

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