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A migração portuguesa para o Brasil durante a ditadura Salazarista (1933-1968)

Alik Rosa Rodrigues

RESUMO

O Brasil permaneceu como uma importante região para a emigração portuguesa até
a decada de 1960, recebendo um considerável número de imigrantes que fugiam do
regime político Salazarista, período que iniciou-se em 1933 com o governo de António
de Oliveira Salazar e terminou em 1968. Seu governo foi marcado pela censura,
perseguição e repressão àqueles que se opunham ao seu regime. Desta forma, muitos
portugueses buscaram na imigração para o Brasil uma forma de se distanciar e se
proteger deste regime ditatorial. Assim, faz-se necessário pensar na importância e nos
benefícios ocasionados pelo fluxo migratório português para o Brasil. Este trabalho
objetiva difundir e preservar a história da emigração portuguesa.

Palavras chave: Brasil. Imigração Portuguesa. Salazarismo.

• INTRODUÇÃO
A migração internacional é um processo que implica mudanças, estabelecimento
em um novo espaço, ações que se desenrolam pelo resto da vida do migrante,
afetando inclusive as gerações subsequentes. Ela não é uma invenção do século atual,
nem da modernidade, tem sido parte da história da humanidade. O imigrante pretende
ao imigrar em busca de uma vida melhor, principalmente em termos financeiros para
garantir o seu sustento e de sua família. Portanto, ele projeta uma utopia idealizando
seu futuro lugar de moradia:

De acordo com Sayad, migração é o movimento de pessoas de um país a


outro, por longo tempo ou em caráter definitivo. Não se sabe se é um estado
provisório que se prolonga indefinitivamente ou, ao contrário, se trata de um
estado mais duradouro vivido com sentimento provisório. O imigrante mantém a
ilusão coletiva de um estado que não é provisório nem permanente, ou seja,
um provisório que pode durar indefinitivamente. O imigrante conquista então,
um lugar duradouro na parte inferior da hierarquia social. Distingue a
emigração, movimento de saída, de imigração, movimento de entrada. O
emigrante e o imigrante são a mesma pessoa. Os processos de emigração e
imigração são movimentos complementares, porém não idênticos, com suas
especificidades (SAYAD apud LUCENA, 2019, pg.3).

Até metade do século XX, o Brasil foi um país que recebeu um grande número
de imigrantes, livres ou forçados. O constante fluxo de imigrantes portugueses para o
Brasil e a importância desse fenômeno para o desenvolvimento do país modelou a
nação brasileira de um modo diferente de qualquer outro grupo:

O Brasil permaneceu como a região mais importante para a emigração


portuguesa até a decada de 1960. Entre 1855 e 1865, 87 por cento de
todos os emigrantes de Portugal foram para o Brasil. De 1880 a 1960 o digito
permaneceu alto, por volta de 76 por cento dos portugueses deixando sua terra
natal. Foi apenas no início do anos de 1960 que o Brasil perdeu sua posição
como o mais importante destino para emigrantes portugueses. Em 1963, pela
primeira vez, a França absorveu mais imigrantes portugueses que o Brasil.
Depois dessa data, o Brasil nunca mais atrairia tantos portugueses como no
passado” (BARBOSA, 2003, pg. 193).

Ainda, o fenômeno migratório luso para o Brasil está condicionado por múltiplos
fatores, sejam eles relativos à fatores internos, políticos e sociais, bem como fatores do
sistema internacional, conflitos generalizados e processos de integração.
Este artigo tratará sobre a imigração portuguesa para o Brasil durante o
Salazarismo, termo que faz menção a António de Oliveira Salazar, chefe de governo de
Portugal entre 1933 e 1968.
Neste cenário, propõe-se o seguinte problema de pesquisa: “Quais foram os
motivos que levaram os portugueses a imigrarem para o Brasil durante o regime
Salazarista?”. Como hipótese geral, tem-se a ideia de que, este governo foi marcado
pela censura e principalmente pela perseguição aos partidos políticos e aos opositores,
que imigraram para o Brasil em busca de segurança e proteção das perseguições do
regime político.
Constitui-se como objetivo geral analisar a imigração portuguesa para o Brasil
entre 1933 e 1968. São objetivos específicos: realizar um apanhado histórico e retratar
o período do Salazarismo, entrevistar portugueses que imigraram para o Brasil durante
esse momento e como eram suas vidas no país.
A metodologia científica vincula-se a uma análise de diversas bibliografias e
artigos à respeito da imigração portuguesa para o Brasil entre 1933 e 1968 e também à
respeito do Salazarismo.Será utilizada principalmente bibliografia de autores
portugueses.
Visto que o Brasil permaneceu como uma região importante para a imigração
portuguesa até a decada 60 e que foi um fenômeno de relevância, a justificativa para
este trabalho consiste na importância de preservar, retratar e contribuir para os estudos
da população portuguesa.

• O ESTADO NOVO E O SALAZARISMO

Antes de abordar sobre o tema principal referente à migração portuguesa para o


Brasil durante a ditadura Salazarista, cabe realizar um apanhado histórico sobre o
Estado Novo Português para melhor compreensão dos fatos. Atribui-se o nome Estado
Novo o regime que vigorou em Portugal durante 41 anos, desde 1933 com a aprovação
da Constituição portuguesa até a sua derrubada em 25 de abril de 1974 pela
Revolução:

Em 1933 uma nova constituição proclamou Portugal uma “República unitária e


corporativa”. Compromisso entre princípios liberais e corporativos de
representação, os primeiros foram pervertidos por regulamentação posterior e
os segundos limitados e secundarizados. Restou uma ditadura férrea do
“Presidente do Conselho”, uma Assembleia Nacional ocupada pela União
Nacional, em eleições não competitivas e de acesso limitado. Para evitar
qualquer fuga de poderes, mesmo que por parte de uma câmara dominada
exclusivamente pelo partido governamental, consagrou-se a autonomia quase
total do Executivo. Na Presidência da República manteve-se o general
Carmona, como garantia dos interesses militares. Os serviços de censura
eliminaram qualquer idéia de conflito e viraram-se tanto para a oposição como,
inicialmente, para a minoria fascista que teimava em desafiar o novo regime. A
polícia política foi também reorganizada e utilizada com uma notável
racionalidade. Tudo isso foi feito “a partir de cima”, sem demagogia fascista de
maior, contando mais com generais e coronéis do que com tenentes, mais com
o Ministério do Interior do que com a rua. Em 1934, com alguns sobressaltos, o
liberalismo político estava erradicado e as velhas instituições republicanas
substituídas (PINTO, 2007, pg. 31).

No que se refere as instituições do sistema político durante o Estado Novo,


pode-se afirmar que foram definidas pela Constituição de 1933. Assim, os direitos e as
liberdades dos cidadãos foram formalmente mantidos, mas eliminados por
regulamentação governamental. A liberdade de associação foi mantida, mas os
partidos eliminados, também por regulamentação, nunca tendo a “União Nacional” o
estatuto formal de partido único. Como o exprimiu a Constituição Política de 1933:

Nação Portuguesa constitui um Estado independente, cuja soberania só


reconhece como limites, na ordem interna, a moral e o direito; e na
internacional, os que derivem das convenções ou tratados livremente
celebrados ou do direito consuetudinário livremente aceito, cumprindo-lhe
cooperar com outros Estados na preparação e adopção de soluções que
interessem à paz entre os povos e ao progresso da Humanidade
.

A Constituição de 1933 procedia mesmo a uma vasta enumeração de direitos e


liberdades subjetivas, que no decorrer do tempo seriam praticamente suprimidas por
decretos-leis governamentais que as pretendiam regular, ou simplesmente não eram
regulamentadas por lei e eram destruídas pela instituição de um regime preventivo,
sujeito ao arbítrio da Administração (BRAGA, 1982).
Dessa forma,o estado de direito vai progressivamente dando lugar a um Estado
policial, onde a consagração constitucional dos direitos e liberdades fundamentais
contrapõe-se uma legislação ordinária de regulamentação do respectivo exercício que
é fortemente limitativa e um regime preventivo policial que as suprimiu ou neutralizou
em grande medida. A polícia e a censura eram os dois princípios fundamentais da
política de Salazar:

No Estado Novo também se estabeleceu um sistema repressivo, diferente dos


impostos anteriormente, que abrangeu imensas áreas sociais, incluindo a
criação de um dispositivo de censura que passou a controlar todas as
atividades intelectuais, incluindo o jornalismo e os respetivos meios de
comunicação social (BARATA, 2021, pg. 22).

A censura conseguiu manipular a opinião pública de forma que as pessoas eram


proibidas de opinarem acerca de certos assuntos, reduzindo assim, o pensamento
crítico e reflexivo, bem como a capacidade criativa de escritores e jornalistas.
No Estado Novo, cada território possuía a sua própria comissão de censura e as
informações dos meios de comunicação eram sem dúvida as mais sacrificadas. Já não
era apenas o Estado a impor a censura nos meios de comunicação, faziam-no também
os chefes de redação e os próprios jornalistas, que se acabaram por ajustar a este
sistema censório e também eles condicionavam a escrita dentro da redação.
Outra característica do Estado Novo foi o corporativismo, devido à forma
republicana de governo e à vertente doutrinária e normativa corporativista.
Teoricamente os membros da câmara corporativa deveriam ser designados pelas
corporações, mas na realidade seria Salazar quem nomearia a grande maioria (PINTO,
2007):

O corporativismo português era, em última análise, caro e desprovido de


conteúdo. Inicialmente importante, também ele evoluiu, depois de obstáculos
muito reais serem colocados no seu caminho, de forma que assegurasse o
objetivo último de Salazar - a sua própria sobrevivência política. Salazar
chegou ao poder imbuído de uma série de “verdades” teóricas, sendo que uma
delas era o corporativismo; prometia no papel, reconciliar os princípios
aparentemente contraditórios do progresso e da tradição e retirar a luta de
classes do vetor da modernização, de modo que Portugal pudesse viver em
paz consigo próprio. Mas, se não quiser ser entendido como uma forma de
coerção, o corporativismo tem de ser construído de baixo para cima e nada
indica que tal correspondesse aos desejos de nenhuma das partes diretamente
ligadas à economia, patronato ou trabalhadores. O próprio Salazar o admitiu
em 1938: “Aplicar princípios originais, diferentes, a velhas sociedades
habituadas para viver com outras engrenagens, e sobretudo com outro espírito,
é tarefa sempre difícil”. O corporativismo não tardou a revelar-se uma solução
acadêmica para um problema prático e teve dificuldade em se enraizar em
Portugal; não era nem mais nem menos “estrangeiro” do que a ordem liberal
que procurava substituir. Os sindicatos independentes viam-no com enorme
desconfiança e, apesar da sua fragilidade e fragmentação, ergueram-se uma
vez mais para marcar a sua oposição, pagando um preço pesado por essa
ação; o patronato encarava-o também com desconfiança, vendo nele uma
forma de “bolchevismo branco” destinado a restringir as suas prerrogativas.
Mas Salazar considerava-o vital, pois representava um caminho programático
de futuro; podia ser apresentado como uma solução positiva, tanto para a luta
de classes como para as divisões geradas pelo liberalismo, pela democracia e
pelo comunismo. (MENESES, 2011, pg.125)

Salazar rejeitava publicamente a noção maurrassiana de la politique d’abord “a


política antes de tudo”: os seus discursos e escritos postulavam repetidamente a
existência de limites morais e espirituais à ação do Estado, de áreas para além da
política que pertenciam apenas à consciência individual.
A igreja católica portuguesa não contribuiu apenas para a matriz ideológica do
regime, como foi também um instrumento essencial dele, sempre submetida à sua
direcção política:

O papel da Igreja no regime foi muito plurifacetado. Não se tratou apenas de


um apoio político público sempre que isso lhe foi pedlido ou a esse esforço se
prestou voluntariamente, emprestando-lhe grande parte dos seus ritos e
símbolos. Cerqueira referia o abençoar da cruzada anticomunista e antiliberal
durante os anos trinta, o apoio às instituições fascizantes do regime, como a
Mocidade Portuguesa e a Legião Portuguesa, a participação nas campanhas
eíeitorais após a II Guerra Mundial, a defesa da guerra colonial dos anos 60.
Esta forneceu-lhe, para além disso, um modelo de mobilização sincronizando o
renovar da prática religiosa e do piètisme popular com a função salvadora do
novo poder político, aspecto por vezes subestimado (PINTO, 1992, pg. 59).

Ainda, podem ser feitas comparações entre o regime ditatorial salazarista e


outras ditaduras européias, principalmente na maneira em que ambos resolviam os
problemas comuns a todos os regimes políticos: manter o controle e adquirir
legitimidade; recrutar elites; articular e agregar interesses; tomar decisões e relacionar-
se com as várias esferas institucionais, das Forças Armadas aos corpos religiosos:

Dando como fato indiscutível que o regime de Salazar não se baseou na


cultura do fascismo, mas na do corporativismo católico, nem num partido da
mesma natureza, apenas ao nível de certas características do Estado se
podem observar semelhanças com o fascismo italiano. Em todo o resto
(origens, cultura, ideologia e base política), a comparação só salienta
diferenças. Para Payne, só utilizando um conceito extremamente lato de
fascismo, compreendendo todas as formas de autoritarismo não comunista, se
poderá considerar como tal o regime português, o que, sendo possível, o torna
inútil e não operatório (PAYNE apud PINTO, 1992, pg.53).

Segundo a definição de Linz, os regimes ditatoriais são sistemas políticos cujo


pluralismo político é limitado, não responsável: sem uma ideologia-guia elaborada (mas
com mentalidades distintas); sem mobilização política intensiva ou extensiva (exceto
em alguns momentos do seu desenvolvimento); e na qual um líder ou pequeno grupo,
exerce o poder com limites mal definidos mas bastante previsíveis:

O regime de Salazar foi sem dúvida o mais institucionalizado de todos os


regimes autoritários do período entre as duas guerras (explicando em parte a
sua longevidade), pelo que a sua estrutura, semiparalela à italiana, foi mais
completa do que a dos regimes balcânicos ou do Leste, mas é aqui que se
devem procurar elementos de comparação, particularmente com o regime
austríaco de Dolfuss- Schuschnigg (PINTO, 1992, pg. 53).

Diante desta situação, o choque de ideias políticas, foi responsável pela


emigração de diversos indivíduos refratários ao governo Salazar. Segundo (PAULO,
1998, pg. 295): “Durante todo o período desta fase do governo de Salazar, 1930 a
1960, apesar do esforço pró-colonial, o Brasil continua a ser a grande saída. De resto,
este é o destino preferencial para a imigração portuguesa apontado pelo próprio
regime.” :

Em Portugal, o fim da democracia e as lideranças do presidente e general


Antônio Carmona (1928-1951) e do primeiro-ministro Antônio Salazar (1932-
1968) não provocaram maiores alterações nas condições de vida no campo,
como a perda de renda dos trabalhadores rurais e suas jornadas exaustivas. A
evasão rural foi alta e incluiu famílias como os Pereira de Fermedo (Arouca),
cujos 12 irmãos deixaram para trás a propriedade familiar onde os pais
produziam azeite, vinho e bagaceira. Agostinho, um dos irmãos que viraram
sócios da padaria Paiva, no bairro paulistano da Liberdade, chegou ao Brasil
em 1932, aos 14 anos, e logo se dividiu entre os papéis de balconista e
cocheiro, entregador de pães em charretes puxadas por burros. Seu filho
Antônio, que atravessou o oceano no ventre da mãe Amália, no navio
panamenho North King em 1947, relatou que seu pai se cercou de amigos
lusos e italianos mais do que de brasileiros - muitos não eram receptivos a
imigrantes: “Para evitar chacota na escola, eu tinha vergonha de dizer que meu
pai era português e tinha padaria” (informação verbal) (GRANGEIA, 2017, pg.
8).

Dessa forma, pode-se concluir que o salazarismo surgiu como tentativa de


superação do liberalismo e da fraqueza do Estado provocada pela agitada vida política
da Primeira República, numa época em que se esboçavam pela Europa reacções
totalitárias. A censura e o corporativismo foram as principais características de seu
governo, afetando muitos portugueses contrários ao regime, que buscaram uma saída
na emigração, principalmente para o Brasil.

• IMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA O BRASIL DE 1933 A 1960

O Brasil permaneceu como um dos destinos principais aos portugueses que


emigraram devido ao regime Salazarista. O país foi um dos destinos escolhidos
principalmente pelo idioma em comum, o português. O gráfico a seguir analisa a
imigração à partir de 1955 até 1980:
Segundo Jorge Carvalho Arroteia, ainda que extensivas a todo o território, as
saídas para o Brasil foram relevantes nas regiões centro e norte do país. Foi nos
distritos de Viseu e Porto onde registrou-se a maior saída de emigrantes, um total de
22.843 e 18.332 respectivamente:

A maioria desses imigrantes eram contrários ao regime de Salazar:

Desembarcado em São Paulo em 1954, Virgolino Pereira Vilhena tinha sido


militar e ficara 90 dias preso por escrever poesias antissalazaristas em jornais
de oposição ao governo. Ex-seminarista e ex-representante comercial de
tecidos em Lisboa, esse setubalense nascido em 1925 saiu de Portugal
clandestinamente para Marrocos, país onde não havia interferência da polícia
política portuguesa e onde voltou a ser caixeiro-viajante, vendendo chaminés
para candelabros e candeeiros. Instalou-se em Casablanca com recursos da
venda de seu carro pela família, que ignorava seu paradeiro. Lutas separatistas
no país africano o fizeram buscar o visto brasileiro em Madri, o que obteve
facilmente (GRANGEIA, 2017, pg. 12).

Ainda, segundo o entrevistado, este ficou meses e meses em São Paulo


procurando emprego. Havia muitos portugueses com padaria já naquela época, mas
este, nunca trabalhou em padarias porque não tinha contato. Se hospedou em um hotel
por muito tempo até depois arranjar uma colocação na Tecidos Araújo Costa como
caixeiro-viajante. Na entrevista, disse que viajava do Estado do Rio até Januária (Minas
Gerais). Nessa época não havia asfalto e ele viajava com uma caminhonete Dodge que
atolava constantemente:

A atacadista de tecidos onde Vilhena teve o primeiro emprego no país tinha


como dono um português, fato a que ele também atribui seu recrutamento, para
além da vivência mercantil anterior. O caso ilustra a relevância das redes
formadas pelos próprios imigrantes não só entre remetentes e destinatários das
cartas de chamada, mas igualmente entre empregadores e empregados com
formas mais usuais de contrato de trabalho. O gerente era salazarista e,
informado meses depois da postura ideológica de Vilhena, teria minimizado
suas divergências políticas à luz de sua eficácia nas vendas. “Nessa época,
80% dos portugueses que vinham para o Brasil eram adeptos do regime de
Salazar” (informação verbal), estimou Vilhena, para quem a motivação
econômica da migração superava muito a razão política. Em 1960, ele abriu
uma representação comercial de artigos esportivos em Belo Horizonte, onde se
fixou, constituiu família e segue ativo como dirigente do Centro da Comunidade
Luso-Brasileira (GRANGEIA, 2017, pg. 12).

Os emigrantes portugueses diversificaram mais seus destinos na segunda


metade do século XX. A partir da tabela, pode-se observar que os portugueses
constituíram o maior e mais significativo grupo de imigrantes livres a entrar no Brasil:

TABELA 1
Grupos de imigrantes mais numerosos entrando no Brasil
(Séculos XIX e XX).

Um Panorama da Imigração Portuguesa para o Brasil. ARQUIPÉLAGO. Fonte: (BARBOSA, 2003, p. 194).

O Estado Novo subordina o direito individual de mobilidade externa aos


interesses econômicos e sociais do país e à valorização dos territórios do Ultramar pelo
aumento da população branca, como já estava implícito no artigo 31.º da Constituição
de 1933.
Este artido revela uma marca fundamental e transversal na legislação do Estado
Novo sobre a emigração, pretendendo proteger os emigrantes e disciplinar a
emigração, evitando principalmente a perda de mão de obra.
É cabível inferir que, em 1947 foi criada a Junta de Emigração, responsável por
tratar de questões relcionadas a liberdade de trânsito e restrições, condições de
viagem e processo de recrutamento (SANTOS, 2009).
No ideário salazarista, o emigrante é visto como o “guardião” dos atributos da
nacionalidade, transferindo para o presente a ‘predestinação’ colonizadora da época
dos Descobrimentos. Ainda, para emigrar são necessários alguns requisitos segundo a
legislação presente no Estado Novo:

Na década de cinquenta o aval de reconhecimento para a melhoria do nível


cultural do emigrante é uma declaração de alfabetização, feita pelo próprio,
com o reconhecimento da Câmara Municipal, excepto para os menores de 14
anos, maiores de 35 anos, menores ou mulheres sob a tutela de familiares ou
acompanhando os maridos. A partir de 1 de Janeiro de 1955, a disposição é
aprimorada pela exigência formal do exame da 3.a classe do então ensino
primário elementar (PAULO, 1998, pg. 299).

Ao contrário da imigração portuguesa em países europeus como Alemanha,


Suiça e Luxemburgo, aqueles que imigravam para o Brasil iam com a intenção de ficar.
Geralmente compravam terreno, faziam sua casa na frente e alugavam a dos fundos,
pois o país oferecia essa condição. Lá nos países Europeus isso não era possível. Um
país onde se podia fazer uma pequena fortuna com relativa facilidade era a ideia que
se tinha do Brasil.

2 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A migração portuguesa para o Brasil é um fato que ocorre desde os primeiros


anos da colonização até à época da independência, e, desse modo, ajudaram a afirmar
o controle da coroa sobre a nova terra. Até metade do século XX, o Brasil foi um país
que recebeu um grande número de imigrantes, sendo considerado a região mais
importante para a emigração portuguesa até a decada de 1960.
Com a aprovação da Constituição portuguesa, deu-se início a ditadura
Salazarista em 1933. A polícia e a censura eram os dois princípios fundamentais da
política de Salazar e assim, o estado de direito ia progressivamente dando lugar a um
Estado policial. O salazarismo sempre se manteve perto do tipo ideal
autoritário e a sua receita de sucesso consistia na centralização do processo decisório
em poucas mãos, ao mesmo tempo que uma hierarquia bem definida implementava as
decisões tomadas pelos que ocupavam o topo.
A censura conseguiu manipular a opinião pública de forma que as pessoas eram
proibidas de opinarem acerca de certos assuntos. O choque de ideias políticas,
responsável pela emigração de diversos indivíduos refratários ao governo Salazar, e
fez com que muitos intelectuais da época, contrários ao regime imigrasse para outros
países, principalmente para o Brasil.
A maioria dos portugueses que chegavam no Brasil desembarcavam em São
Paulo. O ofício mais comum praticado pelos portugueses era a abertura de padarias.
Estes imigravam com a intenção de permanecer no país e por lá se estabelecerem.
Dessa forma, pode-se concluir que o Brasil permaneceu como a região mais
importante para a emigração portuguesa até a decada de 1960, sendo 54% dos
emigrantes no país entre 1900 e 1967. Os portugueses constituíram o maior e mais
significativo grupo de imigrantes livres a entrar no Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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