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O ESTADISTA ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR

09DEZ2017
“O maior português desde Henrique o Navegador”; “ o
melhor ditador de sempre”.
Revista Life”, 29/7/1940 (sobre Salazar)
INTRODUÇÃO
Quero começar por dizer que um país constituído por um povo imbatível, a nível
mundial, em fazer humor cáustico e em inventar piadas e anedotas sobre tudo o que se passa
e a uma velocidade que baralharia o próprio Einstein nos meandros da Teoria da Relatividade,
o anedotário sobre a figura do Salazar é praticamente inexistente.
E, neste âmbito, não havia censura que valesse.
Mesmo em termos de alcunhas o melhor que se conseguiu foi o “botas”, numa alusão
a uns botins ergonómicos que em tempos usou.
Os espirituosos não iam além de coisas do género “senhor presidente, hoje não
apanhei o eléctrico, vim a correr atrás dele e poupei oito tostões” - disse o funcionário público,
um contínuo, a querer agradar a Salazar.
Salazar respondeu de imediato: “fez bem, mas se viesse atrás de um táxi teria feito
melhor, porque poupava vinte escudos e chegava mais cedo”!
Se compararmos então, com o que se passava no fim da Monarquia, na I República e
hoje em dia, a diferença é avassaladora.
Talvez a explicação se encontre numa frase de um discurso que ele fez, em 7 de
Janeiro de 1949, em que afirmou “neste país onde tão ligeiramente se apreciam ou depreciam
os homens públicos, gozo do raro privilégio do respeito geral”.
Como é próprio dos grandes homens, Salazar despertou paixões acesas a seu favor e
contra a sua figura e obra.
Quarenta e sete anos depois da sua morte já seria tempo suficiente para que a História
fosse fazendo o seu julgamento sereno.
A poeira do tempo, porém, não assentou ainda, pois a censura ideológica e o
constrangimento psicológico posto em prática pelos próceres do actual regime político, ainda
não o consentiu.
*****
“Mas neste ponto, como noutros, eu não
faço doutrina nem dou conselhos;
digo apenas o que me parece.”
Salazar, 23/11/1932
(no acto de posse dos corpos directivos da União Nacional).
Dado que o título da prosa em que estamos, além do nome da figura em apreço,
contém a palavra “estadista”, convém para benefício mútuo – meu e dos leitores – precisar o
seu significado e o que a distingue de um simples “político”.
1
Um político, do grego “politikós”, é quem se ocupa da Política, ou seja do governo da
“Polis”, quer dizer a arte e ciência da organização, direcção e administração de nações ou
estados, que chegou às línguas europeias modernas através do francês “politique” que, já em
1265, era definida nesse idioma como “a ciência dos Estados”.1

ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR


Vimieiro, 28/4/1889 – Lisboa, 27/7/1970.
Um estadista é também ele, um político, mas distingue-se deste, não só pela
probidade e profundidade da sua acção, como pelo seu desapego dos interesses próprios
relativamente aos da comunidade que serve – não se servindo – e pela intemporalidade e
virtuosismo que coloca na sua acção.
Não raro aos estadistas são reconhecidos rasgos e ousadias de genialidade em
momentos críticos. Em síntese o estadista preocupa-se com a próxima geração e o político
com a próxima eleição; o estadista tem, na centralidade da sua acção, colocar o Estado ao
serviço da Nação.
Podemos assentar na seguinte definição de Estadista: “Pessoa que revela grande
tirocínio; grande habilidade e discernimento no que diz respeito às questões políticas, à
administração do Estado; completo homem de Estado”.
Ora António de Oliveira Salazar possuía todas estas qualidades em altíssimo grau. E
apesar de não ter cumprido o serviço militar, mostrou ser versado na essência da coisa
castrense, como o demonstrou no discurso efectuado na Sala do Risco, em 30 de Dezembro de
1930, em que elogiou as Virtudes Militares.
*****
“É hoje legítima e necessária, uma

1 http://pt.wikipedia.orgwiki/Pol%C3%ADtica (26/11/2017).

2
ditadura militar em Portugal”.
Fernando Pessoa
(“O Interregno, Defesa e justificação da
Ditadura Militar em Portugal”, 1928)
Tudo na vida tem que ser visto em termos relativos, já que o Absoluto é Divino.
Ora para se apreciar Salazar e a sua época não é necessário apenas analisar a sua obra
– e ele realizou obra – torna-se imperativo conhecer o antes e o depois, e fazer as respectivas
comparações tendo em conta os valores e a geopolítica das diferentes épocas.
Senão estaremos sempre em presença de uma desonestidade intelectual.
Além do que, note-se, a própria História é um contínuo, não pode nem deve ser
sincopada.
A História não tem soluções de continuidade, muito menos “buracos negros”.
É por aqui que vamos começar: o antes.
ANTECEDENTES HISTÓRICOS CONTEMPORÂNEOS
“A crescente e hoje quase total desnacionalização
do espírito público é o facto mais considerável da
nossa psicologia colectiva, nos últimos 50 anos.”
“Trouxeram de lá (da França) as leis, as ideias, e
tudo que cá implantaram em ódio às coisas
nacionais, tornando deste modo a inteligência
portuguesa feudatária da França.”
“Nestes últimos 20 ou 30 anos, durante os quais
a Nação acabou de se descaracterizar inteiramente,
acabou também o resto de interesse pelas coisas
Pátrias.”
Antero do Quental.

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Alegoria à Revolução Liberal no Porto.
Consideramos a Revolução Liberal de 1820, como o início do período anterior que tem
efeitos directos na obra de Salazar e na implantação do “Estado Novo”, em 1933.
Lembrando ainda a importância que as invasões napoleónicas e a retirada estratégica
da Família Real para o Brasil, na sua sequência, tiveram no eclodir desta Revolução.
Como o tempo urge e a matéria é vasta, temos que nos meter no “metropolitano” da
História para, numa síntese simples, crua e cruel, definirmos o período que decorre entre 1820
e o momento que levou ao golpe de estado militar, em 28 de Maio de 1926.
Durante os 90 anos que durou o Liberalismo em Portugal, de 1820 a 1910, houve seis
monarcas (dois assassinados) e três regências; 142 governos (ou seja um governo e meio por
ano), 42 parlamentos dos quais 35 dissolvidos por meios violentos; 31 ditaduras (um terço do
tempo, portanto, fora da normalidade constitucional) e 51 revoluções, pronunciamentos,
golpes de estado, sedições, etc.

Por outro lado, os 16 anos da anarquia gerada, pela “Democracia Directa” da I


República, resultaram oito Chefes de Estado, dos quais um foi assassinado, dois exilados, um
4
resignou, dois renunciaram e outro foi destituído; 52 governos – o que dá uma média de três
governos por ano; oito parlamentos, dos quais cinco foram dissolvidos violentamente e 11
ditaduras, o que nos deixa apenas cinco anos em que se conseguiu cumprir a constituição
aprovada em 1911.
Só em Lisboa, entre 1921 e 1925, deflagraram 325 bombas e tal representa apenas um
pequeno exemplo do caos reinante.
Em 1926 o país estava completamente esfrangalhado; em anarquia política; em
bancarrota permanente; internacionalmente desqualificado; a economia paralisada e social e
moralmente destroçado.
O triunvirato saído de 28 de Maio revelou-se uma situação transitória – a História
ensina-nos que este tipo de soluções dão sempre maus resultados – e os militares
conseguiram estabelecer alguma ordem pública.

Gomes da Costa, com as tropas, em Lisboa – 6 de Junho de 1926.


Mas, sabendo o que não queriam, não conseguiram entender-se sobre o que
pretendiam fazer e não sabiam como resolver o problema financeiro que era o mais premente
de todos.
Quando o General Sinel de Cordes recusou alegando, e bem, a dignidade nacional, as
condições leoninas da Sociedade das Nações para a concessão de novos empréstimos, o
problema atingiu gravidade extrema.
Foi aí que Duarte Pacheco se lembrou de propôr o nome de Salazar e foi buscá-lo a
Coimbra.
Estou convencido que se tal não tivesse acontecido, o 28 de Maio não teria passado de
mais uma quartelada das muitas que houve após a queda da Monarquia e tinha voltado tudo à
bagunça existente.
Antes de entrarmos no perfil e na obra de Salazar, convém, para nos situarmos melhor,
correr uma rápida cronologia dos principais eventos na vida de Salazar. (ver anexo “A”).

5
A OBRA EFECTUADA E A DOUTRINA QUE A SUSTENTOU
“É necessário um sabre tendo ao lado
um pensamento”.
Eça de Queirós, 1890.
Nos sucessivos governos de que fez parte, desde que, entrou para o governo, em 1928,
até ao último que liderou, em 1968, foi Salazar sempre a figura principal. E nenhuma outra
figura no país político o ofuscou.
A sua acção moldou o país por quatro décadas e tocou profundamente todos os
domínios da sociedade.
Desde logo as finanças que, conjuntamente com a ordem pública, eram os problemas
mais urgentes, quando deixou a sua cátedra em Coimbra.
Com a segurança nas ruas e nas fronteiras, assegurada pelo Exército – o tal sabre de
que falava o Eça – ou seja, a autoridade que permite o exercício do Poder, pôde Salazar
dedicar-se ao saneamento das Finanças. E fê-lo com extraordinária energia e rapidez, ao ponto
de, logo no ano de 1928/29, ter logrado um “superavit” orçamental.
A partir daí, António de Oliveira Salazar passou a ser o “Pensamento” que acompanhou
o Sabre.
E, pouco a pouco, o dito sabre passou a seguir a cabeça que pensava!
Vejamos sucintamente o estado em que o país estava.
*****
“Sei muito bem o que quero e para onde vou”
Salazar
(no discurso da tomada de posse como
Ministro das Finanças, em 27/4/1928)
No princípio do século XX a agricultura ocupava 60% da população activa e respondia
por 2/3 da produção global. Era no entanto uma exploração pobre, de baixo nível de
rendimento.
A pouca indústria que havia era incipiente e era composta pelo têxtil de algodão e a
produção de fósforo, sabão, produtos químicos, superfosfatos, tabaco e cimento.
Era modesta, artesanal e de pequena dimensão.
A Inglaterra tudo dominava já que absorvia 70% das exportações, sendo que apenas
10% se dirigiam para o Ultramar.
O banco Baring era o financiador da coroa portuguesa, desde 1805.
A Inglaterra não dominava apenas economicamente, mas também politicamente e tal
ocorria desde o tempo das invasões francesas.
Quase todos os produtos manufacturados e energéticos (o carvão) vinham de
Inglaterra.
A França ocupava o lugar da Inglaterra no campo cultural.
6
Salazar “descolonizou-nos” de uma e de outra.
Tal representa uma dívida impagável que todos lhe ficámos a dever!
Ora o sector primário pobre como era, sem reflexo industrial, era incapaz de gerar
bens de exportação que equilibrassem as necessidades de consumo básico e não tinha
dimensão para gerar poupanças que permitissem qualquer investimento.
Esta era a causa do crónico défice da balança comercial.

ALEGORIA COMPARANDO
AFONSO COSTA A POMBAL…
E com a excepção do ano de 1913-14 o Estado gerava um défice constante desde 1854.
Estima-se que entre 1852 e 1890 o Estado tenha pedido emprestado 127 milhões de
libras, das quais só entraram no Tesouro 68 milhões, dadas as comissões e taxas de juros
pagas!...2
Destas só 27 milhões serviram para investimentos básicos em infraestruturas…
Em 1891 entrou-se em bancarrota e o Banco de Portugal emitiu moeda sem cobertura
em ouro o que fez disparar a inflação e depreciar a moeda que caiu para metade do seu valor,
ao passo que se registou uma fuga de capitais generalizada.
A República, salvo o tal ano de 1913/14, que se revelou um fogo - fátuo, conseguiu
piorar tudo o que foi ainda agravado pelas consequências da I Guerra Mundial.
Continuou-se com a emissão de notas inconvertíveis em ouro e a dívida do Banco
Central que era, em 1913, de 71 mil contos, passava dos 1.600 mil, em 1924.
A partir desse ano o desastre continuou com a emissão de Bilhetes do Tesouro e por
adiantamentos da Caixa Geral de Depósitos e Poupança. Os bilhetes que montavam a 235 mil
contos, em 1924, ascendiam, em 1928, a 1.200 mil contos e a dívida á Caixa passou de 90 mil
para 600 mil contos!
Em 1927 o governo pediu à Sociedade da Nações um empréstimo de 12 milhões de
libras. Aquela concordou mas exigiu um representante para fiscalizar a aplicação do capital e o
reembolso dos juros correspondentes.

2 Revista “Futuro Presente”, nº 31, Out./Dez., 1990, p. 14-20.

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O Governo português recusou, mas continuou com o problema nos braços.
O pão era, em 1924, 37 vezes mais caro do que em 1914 e o dólar cerca de 22 vezes.
Quem ganhava dinheiro eram os especuladores, os intermediários e a classe política
sentada á mesa do orçamento deficitário (onde é que já vimos isto?).
A corrupção era a norma, bem como a demagogia, a instabilidade política e social, a
dívida externa, a pobreza e o subdesenvolvimento.
E não se vislumbrava qualquer luz no fundo túnel.
Foi aqui que apareceu Salazar.

Investido de poderes especiais – a tal autoridade sem a qual nada é possível obrar –
actua rapidamente a fim de equilibrar as finanças.
Como afirmou logo no início da sua acção: “regularizar por uma vez a vida financeira e
com ela a vida económica nacional”.
E acrescentava: “A não resolução deste problema fundamental traduz-se no recurso
indefinido ao crédito. Quando este falta é preciso recorrer à emissão de notas, à fabricação de
moeda falsa, que é a emissão de notas sem contrapartida. As que se fizeram representavam
saque sobre o futuro: são esses os que somos agora chamados a pagar”.
Palavras proféticas…
Era pois imperativo consumir e gastar menos do que aquilo que se produzia.
Foi aquilo que Salazar fez e pôs o Estado a dar o exemplo.
Pode afirmar-se que tudo isto era apenas bom senso. E era. Só que ninguém até então
o tinha tentado e conseguido.
O equilíbrio orçamental é assim, a trave mestra que manteve as finanças sãs durante
todo o seu consulado.

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Para outros voos era necessário produzir, mas isso já pertencia ao âmbito económico.
Só mais tarde conseguiu abalançar-se nesse campo.

Propaganda do Estado Novo


O Tribunal de Contas criado, em 1930 e reorganizado em 1933, tornou-se o principal
agente do controlo das despesas e da execução do orçamento.
Por 1930 o edifício financeiro estava consolidado: o saldo positivo era de 275.000
contos; as despesas foram controladas abaixo do previsto e as receitas superavam-nas. O
Governo pode começar a pagar as dívidas herdadas e a sanear as contas do Banco de Portugal.
Por isso o sistema financeiro, daí para a frente, pôde fazer face a tudo e, o tudo,
passou pela crise da Wall Street, em 1929; a crise da libra, em 1931 – o que fez Salazar optar
definitivamente, pelas reservas em ouro – aguentar a Guerra – Civil de Espanha; passar quase
incólume pela II GM; desenvolver todos os sectores da economia; investir nas infraestruturas e
montar um sistema de apoio social que ultrapassasse a acção da Igreja e das Misericórdias;
pagar as contas a pronto e falar de olhos nos olhos com toda a gente.
Além disto tudo, que não é pouco, ainda se conseguiu reforçar os meios das Forças
Armadas de um modo contínuo, o que permitiu a estas reforçar o território nacional, nos
conflitos já mencionados e garantir o respeito pela nossa neutralidade e, mais tarde, aguentar
uma guerra de guerrilha, vitoriosamente, durante 14 anos em várias frentes.
E já podia afirmar em 1931: “A nossa moeda é aceite a preço fixo por toda a parte e
vamos estabilizá-la legalmente só com os nossos recursos; podemos pedir empréstimos como
quem propõe negócios, mas não pedimos dinheiro como quem mendiga esmolas”.
Lapidar!

9
E rematava: “um homem que se torna nacionalista não pertence a qualquer partido ou
escola; usa o material de acordo com a sua utilidade para a reconstrução nacional”.
Ora é neste ponto que temos que nos debruçar sobre a doutrina e a ideologia.
*****
“O país conhece certamente o modo de ser
do chefe do governo: não corre, não foge,
não agrava, não transige, procura a justiça
e o bem do povo, e não desiste…”
Salazar, 5/7/1932
(No acto de posse do seu primeiro governo)
O pensamento político de Salazar foi muito influenciado pelas leituras que fez de
Maurras e da sua “Action Française”; de Gustave Le Bon, Le Play, La Tour du Pin e, claro, não
deixou de ler Maquiavel.
Nas encíclicas do Papa Leão XIII – que não se podem confundir com Democracia Cristã
(que só se desenvolveu como a conhecemos hoje, a partir de 1945), que tinham pouco de
Democracia e muito de Cristianismo e da Doutrina Social da Igreja.
Bebeu ainda das ideias do Integralismo Lusitano (se bem que muitos dos integralistas
viessem mais tarde, a afastar-se do Estado Novo, sobretudo por causa da não restauração
monárquica). Foi ainda influenciado por alguns aspectos do Fascismo Italiano, nomeadamente
quanto à organização e direito do Trabalho.
Desde novo apreciava o sistema educativo dos anglo – saxónicos, e o seu estilo
literário teve como mestres Alexandre Herculano e o Padre Manuel Bernardes.
Salazar era sobretudo um contrarrevolucionário e baseou a sua acção em contrariar os
desatinos políticos sociais da História de Portugal do último século, que estudara
profundamente. O seu ascetismo provinha dos moralistas portugueses dos séculos XVII e XVIII.
Desconfiava de todas as ideologias e tinha a Nação como central em importância
política no seu pensamento a que tudo o resto se devia subordinar.
Por isso Salazar pode considerar-se – e éra - o – profundamente – um nacionalista,
cuja diferenciação de patriota, nunca se preocupou em acentuar.
Daí não tolerar o individualismo, que era a expressão mais exposta do liberalismo.
Acreditava na Autoridade – “o governo tem que ser forte para não necessitar de ser
violento” – e não na Democracia, sobretudo na sua fórmula parlamentar, mas refutava todos
os totalitarismos e daí defender que toda a acção política devia estar limitada pela Lei e pela
Moral.
Tudo aponta pois, para que Salazar sustentasse a distinção entre indivíduo e pessoa,
entendendo que o indivíduo devia submeter-se à comunidade política - daí o seu anti
individualismo - e outrossim, que a comunidade política devia estar ao serviço da pessoa e daí
o seu anti - totalitarismo.3
3 O Totalitarismo era uma concepção moderna, que considerava o Estado, entendido como entidade
Política, o valor supremo, absoluto.

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Por isso (entre outras coisas) o seu afastamento tanto do Fascismo italiano, do
Nazismo e do Bolchevismo.
E, em tudo, punha barreiras aos excessos, tentando sobretudo corrigir os erros
cometidos na governação do último século em Portugal e tudo adaptar à idiossincrasia da
natureza humana e do povo português.

Desse modo o regime político que implantou em Portugal tem muito de pessoal, quase
se podendo dizer que ele encarnava o regime e o regime era ele.
Porém quis institucionalizar as suas ideias, para as tornar, não só oficiais e de Direito,
como para as fazer perdurar no tempo.
Daí, estando suspensa pela Ditadura Militar, a Constituição de 1911, logo procurou
arranjar outra, para o que procurou ajuda em eminentes jurisconsultos.4
A Constituição foi de facto a pedra angular do regime, a que foi acoplado o Acto
Colonial, de 1930. Esta Constituição, que continuava a fazer de Portugal uma República, nunca
deu ao novo Regime o nome de “República”, ou de II República, mas sim de “Estado
Corporativo” ou de “Estado Novo”.
Não deixava de ser uma ruptura com o passado político recente, do País.
Para além da Constituição, que sofreu sete revisões durante a sua vigência – e que me
parece ser a Constituição mais equilibrada de todas as existentes desde 1822 – podem-se

4 A Constituição foi elaborada por um grupo de eminentes professores em Direito, convidados por
Salazar e coordenados por este. Destacaram-se os professores Quirino Avelar de Jesus e Domingos Fezas
Vital. O grupo de trabalho foi secretariado por Marcello Caetano e o projecto de constituição analisado
pelo Conselho Político Nacional. Foi ainda sujeito a debate público.

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considerar os seguintes documentos como basilares ao novo regime: o Estatuto do Trabalho
Nacional; uma doutrina corporativa que consubstanciava a organização dos sindicatos,
Grémios, Casas do Povo, Casas dos Pescadores, etc..
O Corporativismo, com raízes medievas na sociedade portuguesa, era uma doutrina
que tentava organizar os diferentes estratos da população em termos orgânicos que fossem
complementares, ao serviço da Nação.

Pretendia evitar que cada ser individual, não fossem átomos sociais dispersos, mas
antes agrega-los, associá-los por afinidades, atributos ou competências de modo a que
pudessem cooperar em prol do bem comum.
Haveria assim uma divisão do trabalho social e uma consistência orgânica em prol da
comunidade política, ficando afastadas as lutas de classe.
Aliás, sendo o capital e o trabalho, ambos fundamentais às empresas não faz sentido
que se antagonizem, antes devem complementar-se!
Foram ainda criados vários instrumentos fundamentais para enquadrar e defender o
Regime: a PVDE/PIDE; a Censura; a União Nacional; a Legião e a Mocidade Portuguesa, e o
Secretariado da Propaganda Nacional, mais tarde Secretariado Nacional de Informação.
Da Constituição devemos fixar o seguinte:
O Presidente do Conselho é nomeado e exonerado livremente pelo Presidente da
República, perante quem responde politicamente; o Presidente da República não depende do
Parlamento e é eleito por sufrágio universal (e só responde perante a Nação). O Presidente da
República é quem nomeia e demite o Governo.
As leis podem ser feitas pela Assembleia Nacional e pelo Governo, mas a tónica é posta
neste.
A Câmara Corporativa reúne os representantes das diferentes “corporações”, que
analisará os diferentes projectos de lei, para os melhorar, sem terem, porém direito de veto.
É um regime Presidencialista em que a parte do Poder Executivo cabe especialmente
ao Governo, cuja acção tanto o Presidente como o Parlamento, pouco podem estorvar.

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O Poder Judicial é definido e organizado em termos de independência (os tribunais são
independentes; os juízes são vitalícios e irresponsáveis nos seus julgamentos; as audiências são
públicas e nos feitos submetidos à sua apreciação os tribunais podem julgar da
constitucionalidade das leis). 5

Ao incorporar o “Acto Colonial”, defende-se o papel histórico de possuir e colonizar


domínios ultramarinos e afirma-se a posição moral do exercício do Padroado do Oriente.
Os territórios são solidários entre si e a Metrópole e as missões religiosas são
instrumento da civilização. Aos territórios ultramarinos são garantidos a descentralização
administrativa e autonomia financeira, que sejam compatíveis com a Constituição, o seu
desenvolvimento e os seus recursos.
E na base de toda a economia haverá uma comunidade e solidariedade natural.
Da análise, porém, da Constituição retira-se que os três poderes não estão
equilibrados, havendo uma despromoção evidente da Assembleia Nacional (que pode ser
dissolvida pelo Presidente da República, mas não tem poder de censura sobre o Governo), a
que não é alheio a balbúrdia parlamentar, que caracterizou as décadas anteriores.
Os Partidos não estão proibidos, mas estão ausentes.
A União Nacional não é propriamente um Partido Único, mas sim uma associação
cívica que pretende harmonizar as tendências existentes – desde que compatíveis
constitucionalmente, e ser escola de quadros.
A Democracia baseada nos partidos é afastada, mas mantêm-se as eleições e o debate
político na Câmara.
Acaba por ser, o que se pode designar por um Regime Presidencialista de base
autoritária, com uma organização “sui generis que resulta da história política portuguesa
recente.

5 Franco Nogueira, História de Portugal, Barcelos, p. 14.

13
Podemos assim caracterizar o pensamento doutrinário de Salazar, como
tradicionalista, conservador, católico, nacionalista, antiliberal, antidemocrático e anti -
totalitário.
Que tinha a “Nação” como alfa e ómega.
Aliás, a Constituição começava com a fórmula, “o Poder reside em a Nação”.
E pode sintetizar-se nos conhecidos “princípios” do chamado Salazarismo:
- “Deus, Pátria, Liberdade, Família”;6
- “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”;
- “A Bem da Nação”;
- “A Nação é para nós sobretudo uma entidade moral”;
- “As discussões têm revelado o equívoco, mas não esclarecido o problema; já nem
mesmo se sabe o que há-de entender-se por democracia”;
- “Há que estudar com dúvida e realizar com Fé;
- “Um país, um povo, que tenha a coragem de ser pobres, são invencíveis;
- “Um governo tem que ser forte para não ter que ser violento”;
- “Sem espectáculos, nem alianças, orgulhosamente sós”;
- “ Quero este país pobre, se for necessário, mas independente – e não o quero

6 A frase não é de Salazar, que a adoptou, mas sim de Afonso Pena, escritor e político brasileiro.

14
colonizado pelo capital americano”;
_ “A instrução aos mais capazes, lugar aos mais competentes, trabalho a todos, eis o
essencial”;
- “Quem não é patriota não pode ser considerado português”;
- “… isto é, as liberdades interessam na medida em que podem ser exercidas, e não na
medida em que são promulgadas”;
- “Vós pensais nos vossos filhos, eu penso nos filhos de todos vós”;
- “Obedecem a este esquema e são expressão destas limitações os chamados partidos
políticos, mas estes, por definição e exigências da sua vida própria, não representam nem
podem servir a unidade nacional senão precisa e precariamente, quando se unem, ou seja
quando se negam”;
- “Todos não somos demais para continuar Portugal;
- “Em Política o que parece é.

E as célebres:
- “Não discutimos Deus e a Virtude;
- Não discutimos a Pátria e a sua História;
- Não discutimos a Autoridade e o seu prestígio;
- Não discutimos a Família e a sua Moral;
- Não discutimos a Glória do Trabalho e o seu Dever”.
Não se podia ser mais claro!
*****
“Tanto se tem repetido de mim saber eu, alguma
coisa de finanças, mas não perceber nada de
Política que, em boa verdade, já me deveria ter
15
convencido disso”.
Salazar, 23/11/1932.
Com as Finanças saneadas, com ordem nas ruas e com a institucionalização da
doutrina política do “Regime”, estavam reunidas as condições para reorganizar e desenvolver
o País em todos os âmbitos da vida nacional, e voltar a defender os seus interesses a nível
internacional.
Sem embargo de ter sido necessário dominar as revoltas republicanas (se assim lhe
podemos chamar) do General Sousa Dias, em 1927 e a revolta militar na Madeira, parte dos
Açores, Cabo Verde e Guiné, em 1931, e ultrapassar mais tarde, a revolta dos marinheiros em
1936; o atentado contra a vida de Salazar, em 1937, e a revolta da Mealhada, em 1946, da Sé,
em 1959, e finalizando com o alargado período de destabilização política e social ocorrido a
seguir e durante à campanha eleitoral para a Presidência, em 1958 (e que se pode dizer que se
prolongou até à crise académica de 1962), com tudo o que lhe ficou pelo meio.7
Dois assuntos era mister, ainda tratar: garantir o máximo possível de apoios internos,
neutralizar inimigos e resolver a questão religiosa que se arrastava desde o início do
Liberalismo e tivera duas crises tremendas, com a extinção da Ordens Religiosas, em 1834 e
com as perseguições anticlericais e religiosas logo a seguir ao 5 de Outubro de 1910.
A ditadura Militar tinha deixado de perseguir a Igreja, mas havia um rol imenso de
coisas a harmonizar tanto a nível nacional como com a Santa Sé.
Católico militante, Salazar encontrou-se com o seu grande amigo Manuel Cerejeira - já
entretanto, feito Cardeal Patriarca de Lisboa - no paço episcopal e firmou os diferentes
caminhos que, a partir daí, seguiriam, que não foi mais do que estabelecer o que pertenceria a
Deus e a César.
Foram normalizadas as relações com a Santa Sé e negociada duramente uma nova
Concordata, assinada em 7 de Maio de 1940.
A Igreja reganhou o lugar proeminente em questões de Fé e assistência social que
quase sempre tivera em Portugal e as relações só voltaram a piorar com a questão do Bispo do
Porto, D. António Ferreira Gomes e o aparecimento dos chamados “católicos progressistas” no
final dos anos 60, que passaram a apoiar a oposição dita Democrática e, alguns, o próprio PCP.
Bem como a colaboração ou simpatia, que uma parte minoritária do Clero e de missionários
em África passaram a ter com os movimentos independentistas que combatiam a presença
portuguesa no Continente Africano.

7 Assalto ao navio S. Maria; desvio do avião “Super Constelation” da TAP; tentativa de golpe de estado
palaciano, de Botelho Moniz, tudo em 1961, a que se deve juntar o início do terrorismo em Angola, a
invasão da Índia e a tentativa de assalto ao quartel de Beja.

16
Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes
A questão com a Santa Sé passou por um período bastante tenso, quando o Papa
Paulo VI resolveu visitar a União Indiana e, depois, receber em audiência os líderes dos
guerrilheiros do MPLA, FRELIMO e PAIGC.8
Só muita paciência e virtuosismo diplomático evitaram a ruptura.
*****
“A ditadura surgiu contra a desordem nacional.
Era um dos expoentes dela o parlamentarismo e
a desregrada vida partidária: a nossa realização
da democracia foi, sem contestação, lamentável.
A culpa era ou do regime parlamentar ou dos seus
servidores: quanto mais absolvermos estes, mais
culpas encontraremos naqueles; responsabilidades
porém há-as que sobrem para todos os que
Intervieram no drama”.
Salazar, 23/11/1932
A questão dos apoios internos revelou-se sempre muito complicada.
Em primeiro lugar com os militares.

8 O Papa visitou Bombaim entre 2 e 5 de Dezembro de 1964, e recebeu os guerrilheiros Agostinho Neto,
Marcelino da Mata e Amílcar Cabral, em 1 de Julho de 1970.

17
Estes tinham feito o golpe de estado e estavam ciosos disso, mas traziam uma longa e
funesta tradição originada no Liberalismo, de intervenção na vida política do país, que tinha
sido amenizada e controlada durante os últimos tempos da monarquia, mas que ficou fora de
controlo com a República. A partidarização dos militares no activo era muito problemática e as
desavenças dentro das fileiras eram extensas.
Por isso Salazar teve muito cuidado em lidar com os militares sobretudo até meados
dos anos 30 e o apoio e entendimento que teve com o então Presidente Carmona foram
cruciais.
A reorganização começou na Armada, em 1931, por esta ter sido foco constante de
motins, não haver um navio que prestasse e sobretudo por causa do Ultramar que estava
completamente abandonado.
Com a reforma de 1937 promovida já pelo futuro ministro Santos Costa – que se veio a
revelar um esteio do regime – as coisas começaram a normalizar e os militares a dedicarem-se
à Defesa do País que é para isso que existem.
Para tal muito contribuiu as grandes ameaças que representaram a Guerra Civil de
Espanha e a manutenção da neutralidade na II Guerra Mundial.
A partir de então as Forças Armadas (a Força Aérea tornou-se um ramo independente,
em 1952) foram sendo equipadas e reorganizadas e a sua qualidade e potencial não pararam
mais de aumentar até 1974, sem embargo da grave perturbação causada pelas penas aplicadas
a parte dos comandos que estavam na Índia, pelo seu comportamento aquando da invasão
pela União Indiana.
*****
“Nós temos uma doutrina e somos uma força”.
“Os que não concordam podem ser igualmente
sinceros e dignos confessando a sua discordância,
são mesmo livres de proclamá-la; mas, no que
respeita a uma actuação política efectiva,
levá-los-emos pelo melhor modo possível a que
não nos incomodem demasiadamente.”
Salazar, 23/11/1932
Foi fácil ganhar o apoio dos católicos e dos mais conservadores, que eram a maioria do
país e também dos que, entre estes, eram monárquicos.
Os monárquicos deixaram de ser hostilizados e ficaram na expectativa do que ia
acontecer. Salazar acabou por abolir as leis de banimento; de permitir o regresso do corpo de
D. Manuel II à Pátria e recebeu a viúva Rainha - mãe, mas nunca quis ponderar novamente a
questão do Regime, por tal não ser para ele prioritário e não ter encontrado uma coesão
suficientemente importante no campo monárquico.

18
D. Manuel II e a Rainha D.
Amélia, no Palácio da Pena.
As dúvidas acabaram definitivamente, quando após a morte de Carmona, em 1951, um
grupo de monárquicos proeminentes dentro da “situação” – como também se chamava ao
Estado Novo – capitaneado por Albino dos Reis intentou restaurar o trono e Salazar e outros
com ele, se opuseram.
De qualquer modo, apenas uma pequena franja de monárquicos hostilizou com
alguma dureza, a figura de Salazar ou o Regime que ele personificava, até ao fim dos seus dias.
Com tudo isto foi ganhando o apoio dos republicanos moderados (o 28 de Maio tinha
sido feito por republicanos moderados, contra os “democráticos” de Afonso Costa) e retirando
base de apoio à Maçonaria, que acabou por ser ilegalizada por Lei de 22 de Abril de 1935.
Este facto é muito relevante, pois de facto, era a Maçonaria que mandava no País
desde 1820…

Símbolos da Maçonaria.

19
Salazar conseguiu até o apoio de muitos Maçons, a começar por Carmona, que,
aparentemente, também o era.
De fora dos apoios que conseguiu juntar, estavam os comunistas e os nacionais -
sindicalistas de Rolão Preto. Os extremos do leque político ideológico.
O primeiro esteve sempre na clandestinidade; os “camisas azuis” foram ilegalizados
em Julho de 1934.
Estava assim delineada a base política e social de apoio, cujos equilíbrios foram sempre
geridos até ao fim da sua vida.
Sem embargo do apelo constante a quem quisesse colaborar independentemente das
ideias, desde que aceitasse as bases do regime instituído.
*****
“Tem de distinguir-se, pois,
luta política e governação activa:
os dois termos raro correrão a par”.
Salazar,
(prefácio à 4ª edição dos “discursos”)
Com este pano de fundo os governos de Salazar meteram mãos à obra de reorganizar
as instituições do país e tratar de promover o seu desenvolvimento económico e social.
Foi preciso tratar de tudo quase de raiz, pois o país estava completamente desfigurado
depois de praticamente um século em guerra civil mais ou menos permanente!
Cada área daria várias conferências, pelo que terei que ser muito sintético.
Tratou-se em primeiro lugar das infraestruturas, estradas, caminhos-de-ferro, portos,
telégrafos, correios, telefones, pontes, transportes terrestres e marítimos, mais tarde
aeroportos, etc.
Muitas das empresas, tanto na Metrópole como no Ultramar (onde ainda havia
“companhias majestáticas”) estavam em mãos estrangeiras, principalmente, inglesas, pelo que
foi necessário nacionalizá-las!
A agricultura, a silvicultura, a pecuária e as pescas eram uma prioridade, pois era
preciso alimentar a população e davam trabalho a muitos braços. O sector mineiro
acompanhou estes.
O aumento da produção foi sensível mas, sobretudo, no campo agrícola, cometeram-
se alguns erros de carácter técnico e nunca se conseguiu verdadeiramente resolver a estrutura
da propriedade fundiária e o problema do acesso ao crédito.
A população também aumentou consideravelmente, pelo que parte deste crescimento
foi por ela absorvido.

20
Em simultâneo reorganizou-se todo o sistema judicial, educativo (o esforço feito neste
âmbito não tinha qualquer comparação com algo feito até antão, sendo uma completa falácia
a ideia de que Salazar e o Estado Novo queriam manter a população ignorante e analfabeta!),
da saúde e de assistência social, apoiado nas misericórdias, casas do povo, casas de
pescadores, associações mutualistas, bairros sociais, etc., e, mais tarde, os primeiros sistemas
de apoio aos reformados. 9
Finalmente pensou-se na industrialização do país, que tinha avançado lentamente, e
lançou-se os “Planos de Fomento” a partir de 1953.
Antes porém foi necessário (além das vias de comunicação e transportes), electrificar o
país e obter energia que sustentasse a indústria. Daí o grande plano de barragens (que
também seriam para o regadio), centrais a carvão e, mais tarde, refinarias.
Assim se montou e desenvolveu a indústria química, têxtil, cimentos, alimentar, a
siderurgia, a metalomecânica, componentes para automóvel, construção naval, etc.
A Marinha Mercante desenvolveu-se extraordinariamente, sobretudo a partir do
“Despacho 100” do então Ministro da Marinha, Américo Tomás. A frota bacalhoeira atingiu o
seu auge e alimentava grande parte da população.
Hoje todo o “fiel amigo” é importado da Noruega…
Foi verdadeiramente o Estado Novo que industrializou o país, desde que Afonso
Henriques individualizou o Condado!
Com a indústria desenvolveram-se os “Serviços” – o chamado sector terciário, até
então incipiente, sobretudo a banca e os seguros. E apostou-se no Turismo – embora Salazar
não fosse grande adepto do mesmo. A Tecnologia foi acompanhando e apoiando todos os
sectores de actividade.
Morigerou-se os costumes, reprimiu-se a corrupção e fortaleceu-se a coesão nacional
e o orgulho patriótico.

9 Salazar na sua juventude foi um grande crítico do modo como o ensino se realizava em Portugal e
escreveu inúmeros artigos e discursos a verberar a situação e a sugerir as reformas que deviam ser
feitas.

21
O número de obras públicas é impressionante e não é possível de as enumerar aqui e
agora.
Tinham, por norma, construção sólida, eram pensadas e os custos e os prazos, não
derrapavam…
O Património foi recuperado e protegido, embora muito ficasse por fazer.
As artes não foram esquecidas, ou Salazar não reclamasse para o Estado Novo, uma
“Política do Espírito”.
E todas elas foram apoiadas, desde o Cinema, ao Teatro, da Arquitectura à Pintura, à
Dança, à Escultura e à música.
Não havia mamarrachos, ordinarices, o culto do feio e do rasca!...
Tudo se fazia com calma, com reflexão, com vista ao futuro (e não para ser inaugurado
antes do próximo acto eleitoral), a pensar no país no seu todo e não em cevar apetites
humanos menos consentâneos com o bem-estar colectivo.

A banca estava controlada em termos nacionais e os banqueiros não andavam em roda


livre, em maquinações menos próprias.
O sistema financeiro servia a economia e tinha considerações sociais, não existia
propriamente para engordar banqueiros ou, pior ainda, para ser usado em jogadas de poder
internacionalista e, ou, mafioso.
Não se pedia emprestado o que não se podia pagar e o que vinha era para fazer
projectos concretos, não para dar comissões ou financiar negócios a “amigos”.
Andava-se tranquilamente pelas ruas todas, e não se viam os jovens a drogarem-se ou
a prostituírem-se.
Finalmente uma palavra para a Política Externa, onde Portugal esteve ao nível das suas
melhores tradições (e são muitas), desde que Afonso Henriques individualizou o Condado.

22
Salazar ocupou a pasta dos Estrangeiros nos períodos críticos da Guerra Civil de
Espanha e da II Guerra Mundial, mas foi sempre o seu maior expoente nos 40 anos que levou
de Poder.
A Política Externa Portuguesa, nesse período, defendeu sempre e tenazmente, os
interesses do Estado e da Nação dos Portugueses; teve muitos momentos de virtuosismo, de
que se destaca a defesa de causa nacionalista espanhola; a neutralidade no segundo conflito
mundial; a entrada na NATO e na EFTA; a defesa intransigente do Estado Português da Índia e
a campanha vitoriosa relativamente à defesa da integridade do Ultramar Português, onde cabe
apontar a crise com a Inglaterra a propósito do bloqueio ao Porto da Beira.
Salazar que era um incontestável estadista nacional ganhou, com a sua diplomacia –
que era na realidade a projecção da maneira de ser portuguesa, na afirmação da nossa lídima
identidade e individualidade – o direito a ser considerado um estadista de gabarito
internacional, pela sua arguta, inteligente, sábia e ponderada visão dos problemas e suas
soluções.
E podemos considerar como sua coroa de glória o magistral gesto de dignidade
nacional e bofetada de luva branca, quando enviou um cheque de três milhões de dólares, em
1962, para ser entregue no Departamento de Estado Americano, a fim de liquidar a primeira
"tranche" da soma vinda para Portugal, ao abrigo do Plano Marshall (e que era a fundo
perdido).
Tal foi feito em resposta à miserável política da Administração Kennedy para connosco,
que chegou ao ponto de oferecer ajuda económica e financeira para o Governo de Lisboa
abandonar Angola…
E tudo era feito tendo a independência e o bom nome de Portugal, a inviolabilidade
das suas fronteiras e a segurança dos bens e da população - que é o nosso objectivo nacional
permanente histórico, de sempre.

Alegoria comparando Salazar a D.


Afonso Henriques…

23
Foi isso que Salazar tentou fazer, por isso ele deve ser considerado um verdadeiro
Estadista, e quanto a mim devia ser considerado, também, um benemérito da Pátria.
PERFIL DE SALAZAR
“Devo à providência a graça de ser pobre.
Sem bens que valham, por muito pouco estou
preso à roda da fortuna, nem falta me fizeram
nunca, lugares rendosos, riquezas, ostentações.
E para ganhar na modéstia a que me habituei e em
que posso viver, o pão de cada dia não tenho de
enredar-me na trama dos negócios ou em compro-
metedoras solidariedades.
Sou um homem livre”.
Salazar, 7/1/1949
Quem era este homem afinal?
Na nossa existência existem três coisas que sempre nos acompanham:
O que pensamos;
O que dizemos;
O que fazemos.
Raro, porém, as três coisas correm a par, isto é, por norma não fazemos o que
dizemos, e não dizemos o que pensamos.
Por vezes não pensamos o que dizemos.
Ora Oliveira Salazar pensava (profundamente) antes de dizer ou fazer algo; dizia o que
pensava (sem embargo do que a prudência manda nas relações pessoais e salvo o que o recato
das questões de Estado, exigia) e, sobretudo, fazia o que dizia. Nunca foi apanhado a prometer
algo que não podia fazer ou não fizesse.

24
É do conhecimento geral que provinha de famílias humildes e católicas de pequenos
proprietários rurais, que sempre labutaram honestamente toda a vida, a ponto de Salazar ter
desabafado para o seu diário após a humilhação recebida da matriarca Perestrello que, “os
tamancos do meu pai são calçado honesto”.
Também é conhecida a veneração que tinha pela mãe, de quem herdou o nome.
A sua juventude passada na sua aldeia entre as quatro irmãs e os amigos da família,
apesar de modesta em termos materiais, foi aprazível e típica de um pequeno povoado rural,
da altura.
Salazar veio a revelar-se um jovem tímido, de poucas falas, curioso e estudioso, que
não gostava das actividades físicas, algo ensimesmado e leitor compulsivo. Possuía uma
inteligência viva, mas conduzia-se pela modéstia e humildade.
Fez-se notar pelos seus resultados escolares e senso na sua conduta, o que permitiram
que logo a seguir a ter concluído o Seminário o convidassem para prefeito e professor no
Colégio da Via Sacra, em Viseu, até decidir matricular-se na Universidade de Coimbra, no curso
de Direito.
Cedo revelou também sensibilidade e atracção pelas mulheres, característica que se
manteve ao longo da vida, mas que a sua racionalidade e autocontrolo sempre moderou ao
longo da vida, acabando por nunca se ligar emocionalmente para a vida com nenhuma das
mulheres – e foram muitas – que se cruzaram no seu caminho.

25
Salazar com Christine Garnier.
Os dotes de aplicação e trabalho árduo deram frutos na Universidade, no curso e
carreira fulgurante que fez, sendo convidado para reger cadeiras e finalizando o doutoramento
em tempo record.
Ao mesmo tempo passou a participar no combate político e na defesa do catolicismo,
através de artigos para os jornais e militância no Centro Académico da Democracia Cristã,
conferências, etc..
Como homem era probo, de alma asseada, e escrupuloso.
Era honesto, tendo saído do governo tão pobre como entrou. Uma das suas últimas
frases foi esta: “No dia em que eu abandonar o poder, quem voltar os meus bolsos do avesso,
só encontrará pó…”
Reflectia com profundidade sobre as diferentes questões e problemas, e sobre os
mesmos fazia sínteses conclusivas que lhe ficavam como verdades absolutas, que raramente
modificava, e que passava a aplicar na prática quando a oportunidade surgia.
Desejou o Poder, mas tudo fez para parecer que o não desejava.
Manobrava e relacionava-se de modo a tornar-se indispensável e assim ser chamado
ou nomeado por outros e aproveitava as crises para evidenciar a sua acção, fazendo cair o
ónus em adversários ou inimigos e assim afastá-los do seu caminho, ou das políticas que não
eram as suas.
Nunca se punha em bicos dos pés, raramente se submetia directamente a sufrágio,
nunca pedia favores nem aceitava apoios que lhe pudessem condicionar ou estorvar a acção.
Não se dava a intimidades, com excepção do núcleo inicial dos seus fiéis de Coimbra e,
no fim, praticamente só restavam ele e Cerejeira.
Não tergiversava nos Princípios e era inflexível na “Razão de Estado” e na dignidade da
Nação.
Origem, em muitos casos da Lei, era dela o seu primeiro escravo.

26
Dava sempre o exemplo e não permitia, quando disso tinha conhecimento, desvios de
colaboradores seus, ou outros, ao escrúpulo com que encarava a vida pública.

Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira.


Não tinha defeitos, este homem? Seguramente que tinha, mas nenhum que a lei
pudesse criminalizar, ou a caridade cristã desculpar, ou pecados difíceis de absolver. Usava de
cinismo, dificilmente perdoava uma ofensa e ele próprio se confessou alguma dose de rancor.
Era exímio em dividir para reinar e em manipular grupos ou facções. Por vezes faltava tempero
no seu orgulho.
E, em termos de governação, apenas descortinámos poucas coisas que não correram
tão bem quanto se poderia esperar: não ter procurado (pelo menos que se saiba) a
retrocessão de Olivença, talvez por considerar que a geopolítica da altura obrigasse a outras
prioridades; a saudação romana, usada nos anos 30 e 40, foi um modismo da época, que nada
tinha a ver com as nossas tradições; o Corporativismo ficou longe de estar estruturado e
institucionalizado, talvez por ter sido implementado de cima para baixo, em vez de ser ao
contrário, mas tenho sérias dúvidas que tal pudesse ter sido feito dessa forma e, finalmente,
por se ter mudado a forma de eleição do PR após as eleições de 1958, mesmo tendo em conta
o desassossego que originaram.
Revelou-se um político atípico: falava pouco e ouvia muito, mas não se ofendia com
opiniões diferentes das suas. Não fazia demagogia, não adulava as massas, não era pusilamine,
não dizia hoje uma coisa e amanhã coisa diferente, era realista e pragmático, não possuía
ponta de despotismo, não mentia e ao contrário dos que muitos pensam que detinha o Poder
Absoluto – o que nunca afirmou – revelou-se isso sim um grande equilibrista e intuitivo no
conjunto dos homens e das forças em presença.
Era, de resto, profundo conhecedor da natureza humana e não tinha ilusões a esse
respeito.

27
Não consta ainda que fosse injusto ou favorecesse nepotismos.
Mantinha-se sempre sereno, afável, sem pressas e personificava a calma quando tudo
à sua volta se agitava.
Apreciava o humor fino, a ironia e era por vezes mordazmente sarcástico.
E até ao fim da sua vida política conseguiu a colaboração de homens cultos, sérios e
competentes para o ajudar na governação.
O que não pode de deixar de se considerar notável.
Do que é que acusam este homem/político?
Pois que era um ditador, não era democrático, exercia repressão, tinha uma polícia
política e fazia censura. Enfim, até de ter mandado matar Humberto Delgado.

General Humberto Delgado.


É possível explicar e desmontar cada uma destas acusações, mas para o fazer
cabalmente era mister escrever um livro.
Deixo apenas uns apontamentos.
O que é um ditador?

28
Dizem os dicionários que é um individuo que reúne temporariamente em si, todos os
poderes do Estado; pessoa que usa de prepotência; governo em que o poder executivo
absorve o legislativo, ou o dispensa. Daí se passa, “ipso facto”, para a definição de ditadura, ou
seja a concentração dos poderes do Estado num indivíduo ou num partido político.
Ora no campo dos factos apenas podemos considerar um período de ditadura militar
entre 1926 e 1928, a que se deve acrescentar uma ditadura financeira, entre 1928 e 1932, e
uma ditadura política, entre este ano e o seguinte.
A partir da existência da Constituição de 1933 não se pode mais falar em ditadura, a
qual – recorda-se – nunca foi rejeitada por nenhum governo estrangeiro.
Ora passou a haver leis, regras, estrutura do Estado. Foi pedida e era permitida a
colaboração de todos desde que não incorressem na lei.
Ficaram naturalmente de fora as ideologias e seus expoentes, que fossem de cariz
totalitário o que parece de todo curial, já que essas forças quando no poder noutros países, se
mostraram bárbaras, despóticas e sanguinárias, no exercício desse poder.
Mas condescendendo ao ponto de considerar algumas acções de Salazar como de
carácter ditatorial, podemos considerar o ex - chefe de governo como um mau ditador?
Pelo que atrás expus quer-me parecer que a resposta é negativa. Mil vezes negativa. É
lícito então perguntar: o que é preferível um bom ditador ou um mau democrata?
Salazar não era democrata? Não era.
E tinha razões para isso. A Democracia era entendida em Portugal e no mundo
ocidental de então, como um regime parlamentar baseado na acção de partidos políticos.
Ora tal era justamente o que durante um século tinha desgraçado o país. Era natural
que quem quisesse resolver os problemas da Nação rejeitasse esse modelo. E muitos o
rejeitaram.

A população estava farta de bagunça e de ser mal governada.


Só que até então ninguém tinha sido capaz de encontrar uma alternativa.

29
Salazar encontrou-a e chamou-lhe Estado Corporativo, ou Democracia orgânica, que
aliás tem tradições no país, desde a I Dinastia e era (e é) muito adequada à nossa maneira de
ser.
Por isso a rejeição dos Partidos Políticos e da balbúrdia parlamentar que já colocou o
país à beira do precipício várias vezes - e já o tornou a colocar novamente - era não só natural,
como imperativa.
Portugal, aliás, governou-se durante 700 anos sem partidos políticos, que representam
talvez até hoje, a pior invenção da ciência política!
Natural é, portanto, que se exercesse repressão sobre as franjas da população acima
definidas, a que se devem juntar os membros das organizações secretas no seio da sociedade,
dado que não faz sentido em qualquer tipo de organização política ou regime, a existência de
organizações que não possam ser escrutinadas e cujos estatutos e modos de actuar não sejam
conhecidos. Muito menos que tais organizações como tal, ou através dos seus membros,
possam actuar ou infiltrar-se dentro dos órgãos e instituições do Estado.
Creio que tudo isto é de uma evidência cristalina.

“Crachat” da PIDE.
Ora a repressão exerceu-se de facto (e teve um período duro entre 1930 e 1945, por
razões óbvias), e não direi que não teve aspectos que podem ser qualificados como violências
contra a dignidade humana, mas ninguém disse que a natureza humana era perfeita.
Além disso que Estado existe no mundo que não pode ser acusado de exageros ou
acções que o progresso da civilização vai reprovando? Comparativamente com outros, a
repressão existente neste período (já nem comparo com outros períodos anteriores da
História do nosso país) foi razoavelmente benigna. E que em 40 anos de “repressão policial”,
morreram cerca de 40 presos, ditos políticos. E alguns morreram de doença.
Mas, dir-me-ão, o que se haveria de fazer àqueles apanhados a colocar bombas ou a
revoltar navios de guerra?
O mesmo se pode dizer da Censura. Mas haverá alguma época em que não haja
censura? Hoje não há censura?

30
Na tomada de posse de António
Ferro.
Argumentar-se-á que, na altura, existia uma organização oficial para o fazer. É
verdade, mas pode replicar-se também, que ao menos havia regras e assumia-se o que se
fazia. Hoje não há regras e ninguém assume que a faz…
A asneira é, por definição, livre!
Finalmente a Liberdade. Salazar coartava a liberdade. Bem, eu vivi nessa época e
nunca me senti coartado. Mas houve, por razões várias, pessoas a quem tal aconteceu.
E o que é a Liberdade? Pois a liberdade é um conceito absoluto de aplicação relativa. A
minha liberdade acaba onde começa a do outro. Daí a liberdade em sociedade estar limitada e
convencionada. E não há uma liberdade, há várias.
E, já agora, convém não confundir liberdade, com libertinagem…
E a liberdade individual, deve sobrepor-se à liberdade colectiva?
Eis alguns pontos que vos deixo param reflexão.
Por último o colonialismo, Salazar defendia um “Estado Colonialista” e não quis
descolonizar.

Mas que disparate grosseiro, que não resiste à mais elementar análise.

31
Acaso houve até então algum governo, fosse qual fosse que o intentasse fazer, ou
sequer lhe tenha passado tal coisa pela cabeça?
A expansão portuguesa e a colonização portuguesa tinham alguma comparação com
qualquer outa no mundo?
Acaso desde os primórdios não se incorporou na coroa portuguesa territórios e
populações? Acaso ocupámos algum pedaço de terra ilegalmente?
Acaso a maioria da população quis a independência nalgum lado? E mesmo que
houvesse, à restante não lhe era lícito opôr-se?
Chega e basta. Nada mais acrescentarei.
E é mister terminar.
CONCLUSÃO
“Como quem desbrava o campo para cultivar e levanta as
paredes duma casa para nela viver, há muitos séculos grandes
chefes traçaram com a espada os limites e disseram: aqui se
vai edificar a casa lusitana.
Outros a alargaram depois.
A este ideal de construir o lar pátrio, sem ingerência ou mando
ou exploração de estranhos sacrificaram-se fazendas e vidas
que todavia se não perderam: entraram no património comum
e custa a crer que tudo fosse cegueira, loucura ou inutilidade”.
Salazar, 1936
Enfim, acusam Salazar, até de não ter preparado a sua sucessão (aliás, acusam-no de
tudo – até, para este particular se cita o exemplo de Franco, vejam lá).
Isto é outra falácia e outra mentira.
Em primeiro lugar porque não existe nenhuma razão aceitável, para ele ter preparado
um sucessor específico ou ter indicado um nome para o suceder. Isso sim seria um acto
despótico inadmissível. Além de que ele nem sequer tinha filhos e se tivesse, não pertencia a
nenhuma dinastia reinante…
Por outro lado o modo da sua substituição no governo da Nação estava até bem
previsto. Estava na Constituição e foi cumprido.
O chefe do Estado, no momento da sua declarada incapacidade governativa, nomeou
um substituto! E tudo decorreu normalmente.
O que se passou a seguir é outra história que não faz parte do âmbito que estamos a
tratar.
É preciso que se diga que Salazar teve sucesso em tudo o que fez e se empenhou, com
uma excepção: não conseguiu impedir a perda do multisecular Estado da Índia, ao convívio da
Nação dos Portugueses.

32
Mas tudo fez para o evitar até ao limite das suas forças e só se claudicou perante a
força bruta da, para sempre execranda, União Indiana, que à revelia do Direito Internacional e
do são convívio entre os povos invadiu “manu militari”, despudoradamente, Goa, Damão e
Diu.
Mesmo assim nunca o governo português abriu mão dos seus direitos e reconheceu
tão escabroso acto, até ao desvairamento ocorrido em Dezembro de 1974, por parte do então
Ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, e consumado o seu reconhecimento no ano
seguinte.
*****
“É impossível negar que o desenvolvimento
económico record registado em Portugal
não só não tem paralelo em qualquer outra
parte do mundo como também não tem
muitos precedentes”.
Revista “Time”, março de 1935
E à guisa da comparação inicial do país, nas vésperas do 28 de maio de 1926, olhemos
para Portugal 40 anos após o fim do Estado Novo, fundado e mantido por Salazar durante 41
anos e apenas cinco, por quem lhe sucedeu em idênticas funções: Marcello Caetano, o qual ao
contrário de Salazar que “pensava na dúvida e realizava com Fé”, fazia exactamente ao
contrário, pensava com Fé e realizava na dúvida…
Em 1974, Portugal possuía a sexta moeda mais forte do planeta, o saudoso escudo,
que estava escorado por 850 toneladas de ouro e muitos milhões de contos em divisas.
A parte europeia de Portugal crescia a 7% ao ano (no Ultramar era mais), havia pleno
emprego e sossego nas ruas, apenas quebrado por alguma agitação subversiva nas
33
universidades e um ou outro atentado, perpetrado por filantrópicas células clandestinas
coloridas a vários tons de vermelho.
As finanças continuavam equilibradas e não havia problemas de acesso ao crédito. A
Demografia era positiva – apesar da sangria da emigração – e não éramos confrontados e
agredidos, por escândalos de corrupção quase diariamente (como hoje).
Em termos internacionais, apesar do estribilho idiota do “orgulhosamente sós” (tirado
do contexto), o País estava normalmente integrado na comunidade internacional e gozava de
todos os apoios que lhe eram necessários, sem embargo da algazarra marxista e terceiro -
mundista desencadeada contra nós na ONU, mas que nunca resultaram em qualquer dano
grave para a Nação Portuguesa, ou nos impedisse a liberdade de acção.
E dentro dos Poderes relativos em que nos movimentávamos, ninguém ditava leis em
Portugal. Podiam até dizer mal de nós em público, mas na reserva da privacidade, quase todos
nos respeitavam.

Paraquedistas em operações em Angola.


Mas ser independente e soberano, tem destas coisas, não se pode agradar a todos na
defesa dos nossos interesses…
E, já me ia esquecendo, tudo isto se conseguia, apesar das Forças Armadas
Portuguesas terem 230.000 homens em armas, espalhados por quatro continentes e quatro
oceanos, dos quais 130.000 combatiam vitoriosamente em três teatros de operações distintos,
separados entre si e a Metrópole (que era a base logística principal) por milhares de
quilómetros e sem generais ou almirantes importados, nem uso de qualquer aliança. Aí, sim,
estávamos orgulhosamente sós!
Veio o dia apelidado da “liberdade”, em que nos livrámos da “ditadura” e do
“Fascismo” e passámos a viver em “Democracia”, num Estado de Direito Democrático e 40
anos depois o que temos?
O Ultramar foi-se, de uma maneira, que constitui a catástrofe mais vergonhosa de toda
a História de Portugal, tendo o país, em cerca de um ano, sido amputado de 95% do seu
território e 60% da população; a parte europeia de Portugal entrou em anarquia e esteve à
beira de uma guerra civil, parada, a custo, em 25 de Novembro de 1975 e que por não ter sido
bem resolvida deixou sequelas até hoje.

34
Comemorações no dia 25 de
Abril de 1974.
Ficámos com uma Democracia capada, pois temos uma Constituição de cariz marxista,
que foi aprovada sob sequestro, mal escrita, desequilibrada e com artigos nitidamente
antidemocráticos.
O espectro partidário está, na prática, reduzido a pouco mais de metade, pois apenas
existe do centro até ao fim da Estrema Esquerda.
A inflação disparou, o escudo não mais deixou de se depreciar, até dar lugar ao euro -
vilania que o próprio Filipe I não se atreveu nunca a fazer; das 850 toneladas de ouro restam
332.2, e restam pois estão cativas (tipo penhora) do Banco Central Europeu, senão já as
tinham despachado sem, aliás, se dar contas a ninguém; o desemprego aumentou, oscila e
chegou recentemente a valores históricos de 17%. A Demografia está negativa e irrecuperável
nos próximos 50 anos. E, afinal, a emigração voltou em força!
E já nem falamos de imigração e da lei da nacionalidade, que a continuar pelo trilho
que leva, irá alterar dramaticamente, a matriz cultural portuguesa.
Entretanto entrámos em pré bancarrota, em 1978 e 1981, salvos com custos, pelo FMI
e a depreciação da moeda e inflação correspondente.
Os sectores Primário e Secundário foram quase arrasados, para há pouco tempo se dar
conta que fazem falta…

Adesão à CEE.

35
Com a entrada de cabeça e mal negociada, para a CEE – que não é a mesma coisa que
a UE - passaram a entrar no país cerca de 10 milhões de euros por dia, uma soma astronómica,
que representa uma riqueza superior à que trouxemos da Índia, do Brasil ou de África, sem os
encargos e os custos que estas obrigavam. Estava ao alcance de uma tecla de computador.
É certo que as condições materiais de vida melhoraram e construíram-se muitas
infraestruturas e aumentaram os cuidados de saúde (o que não quer dizer que tal não
acontecesse, caso não tivesse havido a “revolução”). Mas muito dinheiro (nunca contabilizado)
perdeu-se em corrupção, em cimento desnecessário, em cursos fantasmas, em subsídios para
amigos, em tira vinha e planta oliveira, arranca oliveira e bota vaca, etc..
A Educação, melhor dizendo a Instrução (pois a educação dá-se em casa) é talvez o
desastre mais extenso que há no país – pois que compromete o futuro – apesar de dizerem,
com ar sério, que nunca houve geração tão bem preparada como a actual!
O que é desmentido pelos factos que revelam que a juventude chega á idade adulta,
perfeitamente impreparada sob o ponto de vista intelectual, físico, ético, cultural, cívico, enfim
todos. E tal é devido à despudorada subversão ideológica do ensino, à quebra da hierarquia e
disciplina, à acção deletéria e anarquizante dos sindicatos, ao facilitismo e a experiências
pedagógicas delirantes.

Aristides Sousa Mendes.


Isto de dizer que o ensino é um sucesso constitui a segunda maior mentira do actual
regime, sendo que a primeira é o que dizem sobre o “pobre” do Aristides Sousa Mendes…
Já me esquecia de dizer, a guerra em África acabou em 1975 (para nós, não para os
desgraçados que por lá ficaram entregues aos tiranetes comunistas e animistas) e hoje em dia
as Forças Armadas Portuguesas, em via rápida para o desaparecimento, não representam
sequer 1% do PIB…
Chamaram-se traidores e desertores para os órgãos de soberania alcandorando-os a
pedestais a que não têm direito.
Mas, mais grave do que tudo, deixou-se pouco a pouco envolver toda a sociedade
portuguesa pelo malfadado “politicamente correcto” e pelo perigosíssimo “Relativismo
Moral”.

36
Finalmente não contente com tudo isto, os sucessivos governos, autarquias, banca,
particulares, etc., não mais deixaram de se endividar, estando já a dívida externa acima dos
130% do PIB, a terceira maior, segundo dizem, em todo o mundo!
Mas mesmo com todo este desconchavo monumental, ainda se chegou a 2011 e
entrou-se novamente em pré bancarrota.

”Troika” – FMI/BCE/CE.
Desta vez os credores impuseram aquilo que a ditadura militar recusou em 1927. E a
“Troika” passeou-se pelo Terreiro do Paço, de um modo que a Duquesa de Manta se coibia de
fazer.
Em síntese tudo o que a III República fez foi com riqueza que não criou, depois de ter
desbaratado o que herdou, obteve de fundos estruturais da CEE/CE/UE e o que foi pedindo
emprestado!…
Hoje o Estado português entretém-se a vender o património, as empresas, a própria
nacionalidade e a subverter a Nação; entrega a soberania de bom grado e quase todos só se
preocupam com uma coisa: manterem-se à manjedoura do Poder e fazer negócio.
Portugal que se lixe. Somos cidadãos do mundo…
Vivemos contentes: é tudo democraticamente feito e como se sabe, a asneira é livre e
a Democracia tem custos…
A comparação com o país saneado e reestruturado pelo “Ditador” Salazar fica feita.
E contra factos não há argumentos.
FECHO
“Salazar foi, sem dúvida, um dos homens mais notáveis
da História de Portugal e possuía uma qualidade que os
homens notáveis nem sempre possuem: a recta
intenção.”
António José Saraiva
(Historiador, opositor do regime, exilado político e ex -
militante do PCP), Expresso de 22/4/1989

37
A História dos povos ensina-nos que nos próximos 100, 200, 300 ou 400 anos não
surgirá entre nós, estou em crer, ninguém que se lhe iguale (a Salazar) ou ultrapasse.
O “Homem” que retirou a Nação da lama e o Estado da sargeta, em que se
encontravam quando chegou ao Poder.
Mas o retrato “oficial” que, hoje em dia, é feito e passado para as novas gerações, da
sua superior e impoluta figura, é extremamente inadequado por mentiroso, falso, desajustado
e injusto, fruto de “elites” (!) desvairadas, que têm subvertido os recônditos do intelecto e do
carácter da população, que necessita levar um duche gelado de vergonha na cara e tino na
mente, pelo corpo abaixo e pela alma acima!
Salazar não deixava de ser humano e por isso imperfeito. Ele próprio afirmava que
“existem Santos entre os homens, mas os homens não são santos”…10
Mas será seguramente muito difícil encontrar alguém, neste caso, um político, que se
possa bater com Salazar quanto a honestidade intelectual; desapego pelos bens terrenos,
probidade no exercício das funções; competência profissional; conhecimento das matérias,
cultura geral; sentido de oportunidade; frieza na actuação; Fé no destino; percepção sobre a
natureza humana, sentido de Estado, prudência e simultaneamente genialidade no risco,
vontade e determinação férrea e seja tão profunda e medularmente, português e patriota.
Teremos apenas a consolação de poder viver com a sua memória.
Desse grande Homem que jaz em campa rasa, despojado de tudo, menos da sua
Liberdade e Dignidade, o extraordinário estadista português, que foi o Professor Doutor
António de Oliveira Salazar!

João José Brandão Ferreira


Oficial Piloto Aviador

ANEXO “A”
PRINCIPAIS MARCOS CRONOLÓGICOS NA VIDA DE SALAZAR

“Um país que preze a independência tem de acautelar-se de


criar pontos vulneráveis tanto nas Finanças como na sua
Economia”

10 Lembro que em quase 900 anos de História, Portugal só tem 18 santos…

38
Salazar
(Prefácio da 4ª Edição dos “Discursos”)
- Viu a luz do dia, a 28 de Abril de 1889, no Vimeiro, Concelho de Santa Comba Dão,
Reino de Portugal:
- Nasceu no seio de uma família católica, humilde, de pequenos proprietários agrícolas.
Era filho de António de Oliveira e Maria do Resgate e era o irmão mis novo de quatro irmãs,
Marta, Elisa, Leopoldina e Laura;
- Em 1900, após concluir o exame da escola primária, ingressou no Seminário de Viseu;
- Em 1908 termina o ensino secundário. Toma contacto com a agitação política e social
que se fazia sentir na cidade. Escreve os seus primeiros artigos “de combate” na imprensa; o
Rei D. Carlos é assassinado juntamente com o herdeiro do trono; durante dois anos é
professor em Viseu;
- Em 1910 muda-se para Coimbra e ingressa na Universidade, no curso de Direito;
- Em 1914 conclui o curso de Direito com a alta classificação de 19 valores; dois anos
depois é assistente de Ciências Económicas e, em 1917, rege a cadeira de Economia Política e
Finanças;
- Em 1918 conclui o doutoramento;
- Durante os anos em Coimbra milita no Cendro Académico de Democracia Cristã e
torna-se amigo de Mário de Figueiredo (que já conhecia do Seminário), José Nosolini, Juvenal
de Araújo, os irmãos Dinis da Fonseca, Manuel Gonçalves Cerejeira (futuro Cardeal e Patriarca
de Lisboa), e Bissaya Barreto, que vieram a ser amigos para a vida. Combate o anticlericalismo
em voga na I República através de publicações de artigos em jornais e participação em
conferências e debates;
- Entre 1920 e 1923 foi provedor da Santa Casa da Misericórdia de Coimbra;
- Em 1921 concorre por Guimarães, a deputado no Parlamento, tendo abandonado o
mesmo após três dias de permanência no plenário;
- Em 28 de Maio de 1926 dá-se um golpe de estado militar vitorioso, chefiado pelo
General Gomes da Costa; é implantada uma ditadura militar;
- Em Julho de 1926, Salazar é convidado para a chefia das finanças, mas apenas fica 13
dias por não terem sido atendidas as suas exigências;
- Em 27 de Abril de 1928, Salazar reassume novamente a pasta das Finanças, sendo
agora aceites as suas condições que passavam pelo controlo sobre as despesas e receitas de
todos os ministérios. Impôs de seguida uma forte austeridade e um rigoroso controlo de
contas conseguindo um "superavit" logo no ano de 1928-29. O que foi considerado um
“milagre”;
- Em 15 de Abril de 1929 Salazar é condecorado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de
Santiago de Espada;
- Salazar cria a “União Nacional”, em 1930;
- Em Junho de 1929 Salazar demite-se por causa de um problema havido com o seu
amigo Mário de Figueiredo, na altura Ministro da Justiça; o Presidente Óscar Carmona
demove-o da intenção de que resulta um novo governo presidido pelo General Ivens Ferraz;
39
- Promulgação do Acto Colonial, em 1930;
- 1931, revolta militar contra a ditadura, na Madeira, Açores, Guiné e Cabo Verde;
- 1932/33, auto extinção do Partido Socialista Português e do Integralismo Lusitano. O
PCP já tinha passado à clandestinidade e ao exílio;
- Em 27 de Julho de 1932, toma posse como Presidente do Conselho de Ministros, que
ocupará até 27/9/1968;
- Em 11 de Abril de 1933 a nova constituição entra em vigor após plebiscito (a única
até hoje a ser aprovada desse modo). Foi a primeira vez que algumas mulheres foram
autorizadas a votar. Fim da Ditadura Militar e início do “Estado Novo”;
- 29 de Agosto de 1933, é criada a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE);
- 24 de Setembro de 1933, é criado o Secretariado de Propaganda Nacional;
- Proibição do Movimento Nacional-Sindicalista de Rolão Preto, após tentativa de
golpe, em 29 de Julho de 1934;
- 20 de Janeiro de 1935, entra em funções a nova Assembleia Nacional;
- Ilegalização da Maçonaria através da Lei nº 1901, de 21 de Maio de 1935;
- Em 18 de Julho de 1936, deflagra a Guerra Civil em Espanha. O Governo Português
apoia a causa nacionalista liderada por Franco;
- 1936, são criadas a Legião Portuguesa (30/9) e a Mocidade Portuguesa (19/5); são
abertas as colónias penais de Peniche e Tarrafal;
- Em 8 de Setembro de 1936, dá-se a “Revolta dos Marinheiros”, sendo os oficiais dos
contratorpedeiros Dão e Afonso de Albuquerque, presos por sovietes de marinheiros que
pretendem levar os navios para Espanha e juntar-se às forças republicanas. Salazar dá ordem
para serem bombardeados o que se verificou, após o que se renderam;
- Em 4 de Julho de 1937, verifica-se um atentado anarquista contra Salazar. Este
sobrevive. Verificam-se greves de alguma dimensão na Marinha Grande;
- Em 1 de Setembro de 1939, tem início a II Guerra Mundial, que irá prolongar-se até 2
de Setembro de 1945. O governo português declara a neutralidade no conflito;
- Em 17 de Março de 1939 é assinado o “Pacto Ibérico” que garantia a neutralidade
espanhola no segundo conflito mundial;
- Em 19 de Abril de 1940 Salazar é Doutor “Honoris Causa” pela Universidade de
Oxford;
- Em 7 de Maio de 1940 é assinada a Concordata com a Santa Sé, pondo fim a longo
período de conflito que tinha tido início após a extinção das Ordens Religiosas, em 1834. Esta
Concordata só volta a ser revista em 2004;
- Em 28 de Agosto de 1940, Salazar abandona a pasta das Finanças;
- Em 8 de Outubro de 1940, é criado o MUD, “Movimento de Unidade Democrática”;
- É inaugurada, em Belém, a Exposição do Mundo Português, em 23 de Junho de 1940;
- Em 17 de Dezembro de 1941, tropas australianas e holandesas ocupam Timor;

40
- Em 19 de Dezembro de 1942, os japoneses desembarcam em Timor;
- Em 1943 são concedidas facilidades aeronáuticas à RAF, nas Lages, após invocação da
Aliança Luso Britânica e contrapartida em armamento para as Forças Armadas Portuguesas.
Idênticas facilidades são facultadas no ano seguinte aos EUA, na Ilha de S. Maria (28/11),
contra a garantia de protecção dos territórios portugueses e o retorno de Timor à soberania
portuguesa, após o fim do conflito;
- Em 11 de Maio de 1943, Salazar é homenageado pelas altas patentes do Exército
pelos sete anos à frente da pasta da Guerra;
- Em 15 de Novembro de 1943, morre Duarte Pacheco;
- Em 1941, 1942 e 1943, as exportações ultrapassam as importações, facto que já não
acontecia há dezenas de anos (na realidade ninguém já se lembrava desde quando!) e que
raramente ocorreu até aos dias de hoje;
- Em 3 de Fevereiro de 1944, Franco afirma a neutralidade da Espanha;
- Em 25 de Maio de 1944, o governo português suspende as exportações de volfrâmio
para todos os beligerantes;
- Em 6 de Setembro de 1944, Santos Costa é nomeado Ministro da Guerra, Salazar
deixa a Pasta;
- Em 8 de Maio de 1945, ocorre o fim da guerra na Europa;
- Em 22 de Outubro de 1945, é reformada a PJ e a PIDE substitui a PVDE;
- Em 2 de Setembro de 1945, o Japão rende-se;
- Em 5 de Setembro de 1945, as tropas portuguesas chegam a Díli;
- Em 24 de Outubro de 1945, entra em vigor a Carta das Nações Unidas;
- Revolta da Mealhada, em 10 de Outubro de 1946, logo abortada;
- Em 4 de Fevereiro de 1947, Salazar deixa a pasta do MNE;
- Após a independência da União Indiana, em 15 de Agosto de 1947, começou a
reivindicação desta, pelo Estado Português da Índia;
- 1948, início da Guerra - Fria;
- Em 16 de Abril de 1948, Portugal é membro fundador da OCDE, Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico;
- Pelo Tratado de Washington, de 4 de Abril de 1949, é criada a NATO e Portugal é
membro fundador;
- Em 22 de Outubro de 1949, Franco visita Portugal;
- Eleições Presidenciais, em 1949 (13/11); Carmona é reeleito contra Norton de Matos;
aquele morre em 1951 e Salazar é PR interino, entre 18 de Abril e 9 de Agosto desse ano.
Tentativa de restauração monárquica, que falha;
- Em 25 de Novembro de 1950, Salazar conferencia com Franco, na Galiza;
- Em 5 de Junho de 1951, morre o Marechal Carmona;

41
- Eleição para PR, em 1951, Craveiro Lopes é eleito contra Quintão Meireles.
- Em 6 de Junho de 1951, é assinado um acordo de defesa com os EUA, onde são
concedidas facilidades nas Lages;
- Em 9 de Novembro de 1951, Craveiro Lopes assume a Presidência da República;
- Em 14 de abril de 1952, Salazar e Franco reúnem-se em Ciudad Rodrigo;
- Em 1 de Julho de 1952, é criada a Força Aérea Portuguesa;
- Em 28 de Maio de 1953, dá-se início dos Planos de Fomento, que marcam o
“nascimento” e consolidação da indústria em Portugal;
- Em 1955 Portugal entra para a ONU, a pedido dos EUA e da Grã-Bretanha;
- Em 1957 (18 – 21/2), a Rainha Isabel II visita Portugal;
- 1958, o Bispo D. António Ferreira Gomes critica a política existente e exila-se no
Vaticano;
- Eleições presidenciais de 1958, em que a candidatura do General Humberto Delgado,
por parte da oposição dita Democrática, abala a paz política e social vigente;
- 1960, Portugal adere ao Fundo Monetário Internacional;
- Em 3/1, Álvaro Cunhal evade-se da prisão de Peniche;
- Em 13/2 Discurso de Macmillan na cidade do Cabo, em que fala em “ventos de
mudança”;
- Em 3/3, o Dr. Silva Tavares é nomeado Governador de Angola, e Adriano Moreira é
feito Secretário de Estado da Administração Ultramarina;
- 12/4, A sentença do Tribunal da Haia, no caso da Índia, é favorável a Portugal;
- 15/4, independência do Congo;
- 19/5, o Presidente Eisenhower visita Lisboa; idem para Sukarno;
- 16/6, rebelião em Mueda;
- Dezembro, rebelião na Baixa do Cassanje;
- Em 22 de Janeiro de 1961, assalto ao Paquete Santa Maria e desvio de um avião
“Super Constelation” da TAP que fazia a carreira Lisboa - Casablanca. Estes eventos podem ser
considerados os percursores do terrorismo moderno;
- Início da luta armada em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961, seguida dos massacres de
15 de Março; a 21 de Abril, resolução da ONU, condena a política africana de Portugal;
- Em 15/3/1961, os EUA votam pela primeira vez, na ONU, contra Portugal;
- Em 11 de abril de 1961, tentativa de golpe de estado palaciano, frustrado, a fim de
depôr o Presidente do Conselho de Ministros, liderada pelo Ministro da Defesa, General
Botelho Moniz;
- Em 13/4, Salazar profere a célebre frase “para Angola rapidamente e em força”;
- Em 1/8, ataque do Daomé ao Forte de S. João Baptista de Ajudá, que é ocupado;

42
- Em 6/9, é estabelecida a igualdade entre os portugueses da Metrópole e Ultramar;
- Em 18 de Dezembro de 1961, ataque e ocupação militar dos territórios de Goa,
Damão e Diu, por parte da União Indiana, sem declaração de guerra e à revelia do Direito
Internacional e da convivência entre os povos;
- Em 1 de Janeiro de 1962, tentativa de assalto, frustrado ao Regimento de Infantaria
de Beja, por forças contrárias ao regime;
- Crise Académica de 1962;
- Em 22 de Janeiro de 1963, o PAIGC inicia a luta de guerrilha na Guiné;
- 25/5, Conferência de Adis Abeba, onde é criada a Organização de Unidade Africana
(OUA);
- Agosto - Mudança da política americana para com Portugal;
- Em 22/11, Kennedy é assassinado, em Dallas;
- 1964, Abril - acordo entre Portugal e a França;
- Em 25/6, é formada a FRELIMO;
- Em 25 de Setembro de 1964, a FRELIMO inicia a luta de guerrilha em Moçambique; É
criada a “FAP”, Frente de Acção Popular, dissidência do PCP;
- Humberto Delgado é morto por uma brigada da PIDE, perto de Badajoz, quando
presumivelmente se vinha entregar às autoridades portuguesas, em 13 de Fevereiro de 1965;
- Em 13/3, é formada a “UNITA”, por Jonas Savimbi;
- 11/11 – Proclamação da independência unilateral da Rodésia;
- 17/12, a Inglaterra impõe um bloqueio petrolífero à Rodésia
- 1966, Janeiro.; bloqueio da Beira pelos ingleses;
- 18/6, abertura da frente Leste, em Angola, pelo MPLA;
- Em 6 de Agosto de 1966 é inaugurada a Ponte sobre o Tejo, denominada “Ponte
Salazar”;
- Em 24/9, a embaixada de Portugal, em Leopoldeville, é assaltada e incendiada;
- Bloqueio inglês ao Porto da Beira, em 1966, na sequência da Declaração Unilateral de
Independência da Rodésia. Salazar faz frente militar e diplomática aos ingleses. E ganha;
- 1967, em 13/5, o Papa Paulo VI visita Fátima, nos 50 anos das Aparições;
- 19/7, é criada em Paris a “LUAR, Liga de unidade para a Acção Revolucionária;
- 1968 – Maio, distúrbios em Paris, que se estendem a toda a França;
- A 3 de Agosto de 1968, Salazar cai no Forte de Santo António do Estoril, sua
residência de férias e bate com a cabeça no chão. A 7 de Setembro é operado a um hematoma
no cérebro, sobrevive mas fica incapacitado para governar;
- A 27 de Setembro de 1968, Salazar é exonerado das funções de Presidente do
Conselho de Ministros, pelo Presidente Almirante Américo Tomás e é substituído pelo
Professor Marcello Caetano. Esteve à frente do governo 36 anos e 83 dias;
43
- A 4 de Outubro desse ano é condecorado com o Grão Colar da Ordem do Infante D.
Henrique;
- Morre a 27 de Julho de 1970, com 81 anos, em Lisboa.
Está sepultado, em campa rasa, no cemitério da sua terra natal, Vimieiro, como era seu
desejo.
*****
Afirma-se que nunca lhe disseram que tinha sido destituído de Presidente do Governo
e não há certezas (dado o seu estado de saúde) que ele se tenha apercebido disso.
Consta que também nunca perguntou.

44

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