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Salazarismo:

Uma perspetiva de síntese.

Susana Sousa, A93489, Estudos Portugueses

susanasousa2122000@gmail.com 1

Cultura Portuguesa Contemporânea


Introdução
O seguinte trabalho é sobre o Salazarismo, mais precisamente sobre a ditadura, a
ligação de Salazar com as restantes ditaduras europeias, a visão do mundo em
relação a Salazar e a perspetiva de família segundo o Salazarismo.
Escolhi este tema do Salazarismo, pois sempre foi uma parte da história do nosso
país que despertou o meu interesse, algo tão sombrio, mas ao mesmo tempo que
provocou uma mudança extrema em Portugal. Selecionei como área de exploração
dentro do tema estes subtemas porque para mim são subtemas pertinentes, ou
seja, é impossível falar de Salazarismo sem falar em ditadura, sem associar a outras
ditaduras do mundo e da mesma época e claro é sempre interessante podermos
ver qual a visão dos que estão por fora, dos que não são portugueses e conseguem
ter uma perspetiva diferente sobre Salazar.
Este tema claramente encaixa-se na unidade curricular pois temos vindo a
observar como é possível alterar um sistema politico através da cultura, que é
possível alterar mentalidades a partir da cultura e é isso mesmo que Salazar vai
fazer, vai utilizar a cultura para fazer propaganda ao seu poder e assim tentar
convencer a população portuguesa de que ele é o chefe certo para governar o país.
Com este trabalho pretendo, aprofundar os meus conhecimentos sobre este tópico,
mas também conseguir expor com clareza o que consegui adquirir e entender
sobre o tema através da leitura do texto Salazar, Hitler e Franco. Estudos sobre
Salazar e a Ditadura de João Medina.

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Pequena biografia sobre Salazar:
Começo por introduzir um pouco sobre quem foi Salazar e as
suas origens, Salazar foi o último e único filho rapaz de um casal
humilde de camponeses, nasceu a 28 de abril de 1889 na
localidade de Vimieiro, Viseu. Aos 7 anos inicia o seu estudo
com um funcionário municipal tendo aulas particulares e aos 11
anos ingressa num seminário para dar continuação aos estudos.
Durante o seu percurso no seminário publica artigos o jornal
católico de Viseu nos quais defende a igreja e a monarquia em
oposição às ideias republicanas. Com os bons resultados
escolares vai se afastando cada vez mais da vida sacerdotal e
depois da revolução de 5 de outubro de 1910 ingressa da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra onde pouco
tempo depois se transfere para a de Direito. Terminado o seu
curso de Direito torna-se professor de Economia e Finanças na
Universidade de Coimbra.
Mais tarde quando Carmona ascende à presidência e o coronel Vicente de Freitas
passa a ser o chefe do governo é convidado para ser ministro das Finanças. Para
tentar alterar a condição económica do país impõe condições que colocam todo o
poder do governo dependente do Ministério das Finanças. Com o seu sucesso na
recuperação económica do país torna-se o mais importante ministro do governo
caminhando assim a largos passos para se tornar o líder da ditadura.
Em 1932 torna-se Primeiro-Ministro acumulando com a pasta das finanças e
procura de imediato edificar e consolidar um regime, que nomeia de “Estado
Novo”, que lhe dê o poder absoluto sobre a Nação.
Cria o Secretariado Nacional de Informação nomeando como seu responsável
António Ferro, que vai ser responsável pela propaganda e a mitificação do chefe de
estado através da literatura e radio.
Numa entrevista a Salazar feita por António Ferro podemos retirar algumas
informações sobre a mentalidade e a personalidade do ditador, nesta entrevista
efetuada em 1938, António Ferro questiona o chefe de estado sobre a não
demonstração de qualquer entusiasmo perante as multidões que o saudavam e
aclamavam nas ruas, Salazar responde dizendo que as pessoas e as “Ruas”
mudavam de ideias muito depressa e que esse aclamar de um momento para o
outro pode tornar-se um ataque, mais tarde em 1945 podemos comprovar isto
quando vemos o que acontece a Mussolini e a Hitler que eram aclamados por
multidões a ser vaiadas e até mesmo humilhadas depois da sua morte pelas
mesmas. Podemos também perceber que talvez esta não demonstração de
emoções aquando das aclamações pode ser devido a Salazar ser um homem tímido
e reservado.

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Ligação entre Salazar e as restantes ditaduras europeias:
Salazar sempre foi um
admirador de Mussolini e de
Hitler, tendo até mesmo na sua
secretária uma imagem de
Mussolini autografada, e
colocado a bandeira nacional a
meia-haste após a morte do
chanceler. Este segundo gesto
não foi bem interpretado pelos
aliados principalmente pelos
ingleses que entenderam que o país estava em luto pelo homem que era
reconhecido pelo criminoso numero um em todo o mundo, mas a Embaixada
portuguesa de maneira a acabar com os rumores de que Salazar sentia empatia
com o falecido chanceler defende que esta decisão de colocar a bandeira nacional a
meia-haste foi única e exclusivamente um cumprimento do protocolo português
que diz que a bandeira nacional deve ser colocada a meia-haste aquando da morte
de um chefe de estado estrangeiro.

Apesar desta admiração por estes ditadores radicalistas Salazar opta por seguir
uma ditadura mais branda em comparação com as ditaduras ítalo-alemãs.
Com a observação do que está a acontecer em Espanha, a guerra civil, e o iminente
conflito na restante Europa, em 1936 Salazar apoia a criação de estruturas do tipo
fascista como a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa para incentivar desde
cedo as crianças e os jovens a ser mais
patriotistas.
A partir de 1938 Salazar começa a utilizar a
saudação romana, mas abdica da mesma
quando está a evidente em 1944 a derrota
dos italianos e alemães.

Podemos então observar que tanto a ditadura alemã como a italiana serviram de
inspiração para a criação da ditadura portuguesa, mas Salazar quis certificar-se
que a ditadura portuguesa não fosse tão intensa que leva-se ao fim da mesma
rapidamente, e sendo que Portugal continuou sempre a apoiar os ingleses era uma
decisão inteligente eliminar qualquer elemento que pudesse associar Portugal à
brutalidade das restantes ditaduras europeias.

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A ditadura:
Salazar acreditava quando ainda era só Ministro das Finanças que a ditadura era a
única solução para resolver os problemas económicos e sociais do país, admitindo
que a Ditadura era necessária para salvar o País e a República. Mas Salazar não via
a ditadura como algo permanente, até porque ele acreditava que a Ditadura a longo
prazo ia levar a um abuso do poder. Apesar deste pensamento Salazar deu
seguimento à Ditadura durante muitos anos, anos esses nos quais ele abusou do
seu poder absoluto. Foi possível observar a transição de uma Ditadura oligárquica
para um Ditadura pessoal de Salazar.
Salazar pessoalmente não simpatizava com o termo Ditadura e muito menos de ser
apelidado de Ditador, mas claramente o seu regime autoritário não poderia ser
caracterizado de outra forma.
Ao contrário do que é pensado a Ditadura não assentava no partido de Salazar, a
UN, aliás a UN não funcionava como um partido de apoio ao regime, mas antes
como algo que tinha o objetivo de apagar as tendências de separação da frente
nacionalista que apoiava aquele. A Ditadura portuguesa assentava em três pilares
importantes, o antigo Secretariado de Propaganda Nacional, pois era necessário
dar agressividade às alegadas realizações do regime e dar a conhecer o nome do
seu Chefe ao mundo, Salazar acreditava que era através da cultura que o seu poder
e feitos iam ser dados a conhecer, é feita uma enorme propaganda á Mocidade
Portuguesa e à Legião portuguesa, outro indispensável instrumento do governo
era a Censura, era algo que Salazar evitava falar, ou seja, evitava elogiar ou
repreender mas que foi extremamente necessário para manter o seu regime
autoritário, o Governo tinha total controlo sobre a imprensa e por fim a PIDE, era
indispensável ao regime, pois era a faceta do regime que era obviamente
inquisitorial, era o que tornava patente a corrupção política e nacional provocada
pela Ditadura, a PIDE tinha o poder de prender qualquer pessoa quando e onde
quisesse de maneira a impedir que a mesma manifesta-se qualquer
comportamento contra o regime.
Um elemento muito importante da Ditadura portuguesa, mas também questionável
era a Tropa, era algo que estava muito próximo do poder, mas ao mesmo tempo
era um elemento do regime que não tinha grande opinião a dar, ou seja, era um
elemento que estava ali mudo, mas pronto a atacar sempre que o regime
precisasse. Foi deste elemento que partiram as primeiras tentativas de libertação e
o derrube do Estado Novo, primeiro em Outubro de 1946 com a revolta da
Mealhada, depois a tentativa revolucionária de Março de 1959, o golpe de Beja em
1962 e também a Abrilada general Botelho Moniz em 1961 e muitas mais até que
em 25 de Abril de 1974 uma das tentativas por parte do exército é bem sucedida e
o regime é derrubado.
Salazar tem o poder absoluto, ou seja, ele decide tudo desde onde o dinheiro do
país vai ser gasto até à cor das fardas dos soldados.

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A Família segundo o Salazarismo:
Para falarmos de família segundo o Salazarismo temos primeiro de falar na trilogia
que resumia o conservadorismo do regime, “Deus, Pátria, Família”, assim podemos
concluir que esta definição de família vai estar desde logo muito ligada ao
catolicismo e à representação do regime.
A família segundo o Salazarismo seria constituída pelo pai, ou seja, o Chefe de
família, a mãe que deveria ficar em casa, a cuidar dos filhos e das tarefas
domésticas e os filhos legítimos, que seriam os únicos que contariam.
Começando pela figura do Chefe de família, este seria uma figura rústica,
conservadora, e que simboliza a família católica, este Chefe de família servia para
representar em escala pequena o Chefe de Estado. O Chefe de família seria
responsável pelo voto para as juntas de freguesias, voto esse que representava o
voto de toda a família e também o responsável por sustentar a família.
A mãe, neste caso a mulher, teria de ser sobretudo doméstica, submissa no lar,
serva do seu marido, em vez de sair para o mundo real que era poderia devorá-las
ao contrário do seu lar que era um lugar seguro.
Só eram registados em conjunto com o registo de casamento os filhos legítimos
sendo atribuída aos conjugues a igualdade de sustentação e educação dos filhos.
Nesta definição de família era proibido o divorcio, a família teria de ser
indissolúvel, o divorcio iria contra as ideias católicas.
Em conclusão a família de acordo com o Estado Novo era uma família tradicional,
rustica, conservadora, cristã, uma família à imagem do próprio Chefe de Estado.

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Conclusão:
Em suma, o Salazarismo foi algo que definiu bastante a história do nosso país, foi
uma enorme mudança de mentalidades e uma grande opressão ao que tinha sido
conseguido com a implementação da I República apesar de ao mesmo tempo ter
ajudado a manter os valores da mesma.
Ainda há muito a dizer sobre o Salazarismo como é obvio mas eu com este trabalho
quis salientar o que para mim eram os mais importantes e os que tinham mais
ligação com o que temos vindo a tratar na UC, a evolução de mentalidades e a
ligação da mesma com a cultura, até porque seria impossível falarmos hoje em dia
de Salazarismo como falamos se não houvessem autores a falar das diferentes
vertentes e perspetivas da Ditadura portuguesa.
Era um tema do qual eu posso dizer que já sabia bastante, mas com este trabalho
consegui ver o porquê de ser chamado de Salazarismo, Salazar criou uma ditadura
à volta de si mesmo não só por estar no poder mas porque utilizou todos os seus
valores para criar tudo à sua volta, é impressionante vermos todo o tipo de
informação que temos sobre Salazar, sobre como cresceu e como pensava e por
exemplo o ideal de família que ele criou durante o Estado Novo, foi um ideal de
família à sua imagem.
Este é um tema que pode ser observado e analisado de várias perspetivas com este
trabalho eu tentei expor um pouco da perspetiva de Salazar e das suas ideias, mas
também a perspetiva das pessoas que estavam por fora, a maneira como
analisavam todas as decisões de Salazar.
Espero com este trabalho ter atingido o meu objetivo de mostrar mais um pouco
sobre o que foi o Salazarismo e os principais pontos a salientar sobre o mesmo.

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Bibliografia/Webgrafia:
MARQUES, Paulo: Salazar: O homem que se confundiu com o estado 1889-1970.
Parceria A.M.Pereira, s/d.
MEDINA, João: Salazar, Hitler e Franco: Estudos sobre Salazar e a Ditadura (146-
165). Estúdios Horizonte, 2000

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2020
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-M ( consultado ao dia 30 do mês 12 do ano 2020)

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