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História – 9º ano ANO LETIVO

Ficha informativa 2021/2022


DLCSH

LINHA DO TEMPO 1933-1974


ESTADO NOVO

A) A chegada de Salazar ao poder

Em 1926, uma revolta militar pôs fim à 1.ª República e instaurou a Ditadura Militar (1926-1933). Em 1928, Óscar Carmona foi eleito
Presidente da República. Face à grave situação económica e ao clima de instabilidade que o país atravessava, Carmona convidou
António de Oliveira Salazar, professor da Universidade de Coimbra, para ministro das Finanças.

Salazar só aceitou o cargo com a condição de poder controlar os orçamentos de todos os


ministérios, pedido que lhe foi concedido. Chegado ao poder, impôs imediatamente uma política
de austeridade, aumentando os impostos e reduzindo as despesas de todos os
ministérios. Logo no final do primeiro ano conseguiu equilibrar o orçamento (eliminar o défice
financeiro), o que lhe valeu um grande prestígio (sendo considerado por muitos o “Salvador da
Pátria”) e lhe permitiu retirar aos militares o poder político de que até aí dispunham.

Em 1932, devido à sua crescente popularidade, Salazar foi nomeado Chefe do Governo,
tornando-se Presidente do Conselho de Ministros 1 , cargo que iria ocupar durante quase
quarenta anos (entre 1932 e 1968).

B) A edificação do Estado Novo

 A Constituição de 1933

Após chegar ao poder como Chefe de Governo, Salazar preparou uma nova Constituição, que
foi aprovada em 1933, por plebiscito2, isto é, através do voto dos eleitores. A Constituição de
1933 marca o início do Estado Novo3.

O novo texto constitucional consagrava:

▪ Os direitos e liberdades dos cidadãos;


▪ A separação dos poderes;

1 Presidente do Conselho = cargo equivalente ao Primeiro-ministro


2 Plebiscito = referendo; votação dos eleitores, através de um sim ou de um não, sobre uma medida ou um conjunto de medidas propostas pelo
Governo.
3 Estado Novo = período da História Política de Portugal que teve início em 1933 e término em 1974. Foi um regime político autoritário, corporativo e

conservador, cuja figura central foi António de Oliveira Salazar. Com esta designação, Salazar e os seus seguidores pretendiam dizer que se iniciava
uma nova fase política do País, oposta àquilo a que chamavam a “República Velha” (a 1.ª República).

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▪ Eleições diretas para os cargos de Presidente da República e deputados à Assembleia Nacional.

No entanto, a realidade seria bem diferente:

▪ As eleições, além de não serem livres,


porque os partidos da oposição foram
proibidos, eram acompanhadas de
inúmeras ilegalidades;
▪ As liberdades e os direitos dos cidadãos
estavam dependentes dos “interesses
da Nação” e podiam ser suspensos por
«leis especiais» que, na prática, os
anulavam (por exemplo, a liberdade de
expressão, de reunião e o direito à greve
foram suprimidos);
▪ A Assembleia Nacional, que devia ser o
órgão legislativo por excelência, dispunha
de um poder muito limitado (e meramente
consultivo), pois era o Presidente do
Conselho, através do Governo, que tomava a iniciativa de propor as leis;
▪ O Presidente da República (P.R.) era quem nomeava e podia demitir o Presidente do Conselho mas, na prática, Salazar teve
sempre maior poder e influência do que o P.R.

Salazar foi assim desrespeitando a Constituição e concentrando todos os poderes em si.

C) As características do Estado Novo

Foi tão grande a influência de Salazar, que o regime então criado ficou conhecido pelo nome de salazarismo. O salazarismo foi um
regime conservador e autoritário, antiparlamentar e corporativo, de tipo fascista, com muitas semelhanças ao regime italiano.

 Culto do chefe

Através de uma forte propaganda, Salazar procurou transmitir a imagem de “Salvador da Nação”, de guia incontestável.

 Nacionalismo

Exaltação do passado histórico português, de forma a manter a nação unida com base num
passado brilhante da Pátria (certas épocas e certas figuras do passado da História de Portugal
foram realçadas, tal como os Descobrimentos, D. Afonso Henriques ou Luís de Camões).

 Repressão / Limitação das liberdades individuais

Foi criada a PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do


Estado), mais tarde designada PIDE (Polícia
Internacional de Defesa do Estado), que perseguia
todos os opositores ao regime e controlava a vida dos
portugueses, mantendo informadores em todo o país
prontos a denunciar os «suspeitos» da prática de
atividades subversivas.

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Milhares de opositores, na sua maioria comunistas, foram presos (a maior parte das vezes sem julgamento) e sofreram penosas torturas.
Muitos outros tiveram de exilar-se, passando grande parte da sua vida no estrangeiro.

Foi ainda estabelecida a censura aos meios de comunicação (imprensa, rádio e todos os espetáculos,
mais tarde também à televisão): antes que algum artigo de jornal, espetáculo ou programa viesse a
público, tinham de ser aprovados pela Comissão de Censura, de forma a controlar o que era transmitido
à opinião pública e que pudesse ser prejudicial ao regime salazarista, à moral e aos bons costumes.
Através a polícia política e da censura, era negado o direito à liberdade de pensamento e de expressão,
o direito à reunião.

 Partido único

Os partidos políticos foram proibidos, sendo apenas autorizada a União Nacional,


movimento político constituído por partidários do regime.

 Conservadorismo

O Estado Novo procurou preservar os valores e virtudes


tradicionais, assentes na trilogia «Deus, Pátria e Família», que
procurava difundir através de uma forte propaganda. Em 1933 foi
criado o Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), organismo
responsável pela defesa e promoção dos princípios ideológicos do
regime. O SPN distribuía boletins, organizava comícios, paradas,
acampamentos, etc.. Nas escolas, os alunos usavam livros controlados pelo Estado (manuais únicos, iguais em todas as escolas do
país), onde eram realçados estes valores conservadores.

 Enquadramento da juventude e dos adultos

Para defesa do regime e combate ao comunismo foi criada, em 1936, uma milícia
armada, a Legião Portuguesa. A juventude escolar entre os 7 e os 14 anos devia
obrigatoriamente pertencer à Mocidade Portuguesa, que tinha também um
carácter paramilitar e pretendia incutir nos jovens o espírito nacionalista e o
sentido de obediência ao Chefe. Tanto a Legião como a Mocidade inspiravam-se
em organizações do mesmo tipo existentes na Itália e na Alemanha.

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 Corporativismo

O Estado Novo pretendeu que toda a vida económica e social do País se baseasse, como em Itália, em corporações 4 que abolissem
com a luta de classes. Em 1933 foi publicado o «Estatuto do Trabalho Nacional», que ficou os direitos e deveres dos trabalhadores
e definiu o papel do Estado como árbitro dos conflitos entre assalariados e patronato. Através deste e de outros diplomas foram criadas
as corporações, proibidas as greves e os lock-out e extinguidos os sindicatos livres, que foram substituídos pelos sindicatos
nacionais, controlados pelo Estado. As corporações abrangiam as atividades económicas, culturais e morais da Nação.

Exemplos de organismos corporativos:

▪ Sindicatos Nacionais (associações de


trabalhadores do mesmo ramo de atividade);
▪ Grémios (associações formadas pelas
entidades patronais do mesmo ramo de atividade);
▪ Casas do Povo (associações de proprietários
e trabalhadores rurais);
▪ Casas dos Pescadores (associações de
empresários e trabalhadores do mar).

Na prática, o corporativismo serviu sobretudo para


estabelecer um maior controlo sobre as atividades
económicas e controlar os sindicatos e o poder
reivindicativo dos trabalhadores. Desta forma, o
Estado Novo assegurava o interesse coletivo e o bem
comum, valores considerados mais importantes do que os interesses e direitos individuais.

4Corporação = organismo que “unia” trabalhadores e patrões, sujeitando os seus interesses ao interesse nacional.

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 Colonialismo

Para o regime salazarista, as colónias tinham grande importância, quer política, quer económica. Por um lado, engrandeciam o País e,
por outro, constituíam fontes de matérias-primas para a indústria e um grande mercado de escoamento de produtos. A posse de colónias
era, assim, algo mais do que uma questão de ideologia política – era uma forma do regime garantir a estabilidade da economia do país.

O Estado português considerava as colónias como parte integrante do território nacional, por isso, a administração destas era feita a
partir do governo central. Para tal existia o Ministério das Colónias, mais tarde chamado Ministério do Ultramar.

Em 1930 foi publicado o Ato Colonial, uma espécie de Constituição para os territórios do então chamado Império Colonial Português.
A partir deste documento, o regime salazarista defendia que a presença dos portugueses nas colónias tinha motivações de carácter
civilizacional. Justificava a colonização como o dever de levar a língua, a religião e a cultura aos povos “não civilizados”, servindo assim
o “interesse da Humanidade”.

Portugal, com as suas colónias, era apresentado como um grande


País, divulgado em cartazes de propaganda sob o título “Portugal
não é um país pequeno”.

Após a 2.ª Guerra Mundial desenvolveu-se, um pouco por todo o


mundo, um movimento anticolonialista, que iria afetar o regime de
Salazar. Recusando-se a conceder a liberdade às colónias, o regime
fez algumas alterações ao seu estatuto, passando a considerá-las
como províncias ultramarinas. A designação de “Império” foi
abolida, tendo sido considerada “mal vista”.

Contudo, o domínio dos territórios em África e na Ásia manteve-se,


sendo esta situação uma das causas que desencadearam a longa
Guerra Colonial (1961-1974) entre Portugal e os seus territórios em
África.

D) A política económica

O regime salazarista defendia a intervenção do Estado na economia, através de uma política


de protecionismo e de dirigismo 5 . Era uma forma de nacionalismo económico, com o
objetivo de ultrapassar a crise económica que afetou os EUA e a Europa nos anos trinta e de
atingir a autarcia, isto é, a autossuficiência (objetivo, aliás, nunca atingido).

No domínio da agricultura, iniciou-se em 1929 a chamada Campanha do trigo, que visava


fomentar a produção deste cereal, que, em grande parte, Portugal tinha de importar.

Houve também incentivos à indústria nacional, nomeadamente através da proteção em


relação aos produtos estrangeiros (criando taxas alfandegárias 6) e da manutenção de salários
a níveis muito baixos. Deste modo, além do crescimento dos sectores tradicionais (lanifícios,
calçado, conservas e moagem), desenvolveram-se outros sectores como os cimentos, os
adubos e a construção naval.

5
Protecionismo e dirigismo = teorias económicas que defendem que o Estado deve controlar a economia, regular os preços e salários e proteger a
produção nacional através do aumento dos impostos sobre os produtos importados (que fazem aumentar o preço desses produtos, tornando-os menos
atrativos).
6 Taxas alfandegárias = impostos sobre os produtos importados.

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Como forma de criar infraestruturas e
absorver o desemprego, Salazar adotou
uma política de obras públicas (aumentou-
se e melhorou-se a rede de estradas, fez-se
obras nos portos marítimos, construíram-se
escolas, hospitais, tribunais cadeias, etc.).

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