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M8 PORTUGAL E O MUNDO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO INÍCIO DA DÉCADA DE 80 – OPÇÕES INTERNAS E CONTEXTO INTERNACIONAL

2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 1 A EMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NOS ANOS 60

De finais dos anos 50 até aos nossos dias, as viagens de clandestinos portugueses para França
assemelham-se a um périplo. É a "época heroica do salto". Os clandestinos têm de atravessar cursos
de água, caminhar durante toda a noite atormentados pela fome, sede e o frio, amontoar-se em
camiões de transporte de animais ou em camiões-frigoríficos, atravessar os desfiladeiros dos Pire-
néus cobertos de neve, perseguidos pela polícia. Devido à extensão da viagem, quase todos são
adultos. Estas condições respeitam sobretudo aos migrantes clandestinos que vêm para França antes
de 1965 ou 1966. Até aí, a fraca vigilância exercida pela polícia portuguesa e a ação repressiva
exercida pelas autoridades espanholas constrange-os a dissimular-se, a viajar de noite e a pagar o
serviço aos passadores. O objetivo do Estado português não é "vencer" a emigração clandestina, mas
selecioná-la. Exercendo um mínimo de vigilância, o Estado força os candidatos a fazer enormes es-
forços físicos, retirando desta forma às mulheres e às crianças qualquer hipótese de saída […].
A masculinização da emigração e a separação temporária do núcleo familiar asseguram o envio das
divisas dos trabalhadores para Portugal e a manutenção de uma estratégia migratória orientada para
o regresso. […]
Até 1965 são raros os candidatos que podem pagar imediatamente a soma pedida pelos passa-
dores. A maior parte deles vê-se portanto obrigada a pedir um empréstimo aos seus próximos, a
usurários ou a certos passadores. Tais dívidas são reembolsadas rapidamente graças aos primeiros
salários obtidos em França. Esse endividamento não é isento de virtudes para a ditadura por colocar
aos migrantes um conjunto de dependências e de constrangimentos. […] Tendo de pagar as dívidas,
tem de trabalhar e de tudo fazer para não perder o emprego, ficando assim submetido ao seu em-
pregador. […]
Assim, até 1968, o objetivo da direção da polícia portuguesa não consiste tanto em tornar as
fronteiras estanques mas em manter o esforço físico e financeiro das viagens clandestinas para evi-
tar que as mulheres saiam e endividar os migrantes. Para tal, fomenta a ideia de que reprime com
severidade a emigração irregular. […] A nível local, certos polícias, por corrupção, laxismo, calcu-
lismo ou falta de meios, fecham os olhos à atividade dos passadores. Outros prendem-nos para os
manter na sua dependência e obterem deles informações preciosas sobre as regiões fronteiriças que
estes indivíduos conhecem habitualmente muito bem. Embora tolerem a partida de trabalhadores,
os agentes da polícia política procuram, porém, impedir as partidas de jovens que fogem ao serviço
militar. […]
A partir de dezembro de 1968, a prática da clandestinidade transforma-se, progressivamente,
articulando-se com a nova política de emigração desenhada pelo governo de Caetano. Ao conceder
uma amnistia, ao deixar de criminalizar a emigração clandestina […]. A partir de então, tanto as
mulheres como os filhos podem ir para França. […]
No entanto, a tolerância face às partidas clandestinas não atinge jovens e soldados. O Ministério
do Interior e a direção da PIDE exigem que os agentes nas fronteiras se mostrem atentos face a essa
categoria da população.
Victor Pereira, A ditadura de Salazar e a emigração – O Estado Português e os seus emigrantes em França
(1957-1974), Temas e Debates, Lisboa, 2014, pp. 274-277, 285.

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DOCUMENTOS

1. Enuncie, a partir do documento, três motivos que levaram os portugueses a emigrar.


2. Refira, a partir do documento, os condicionalismos que o Estado Novo impunha à emigração.
3. Apresente, em termos de composição social, três características da emigração portuguesa nos anos 50.
4. Identifique o organismo criado para controlar e regular a emigração em Portugal.

Proposta de resolução
1. Enunciado claro de três dos motivos que levavam os portugueses a emigrar, de entre os seguintes:
• necessidade de mão de obra para os países europeus em processo de industrialização;
• más condições de vida em Portugal, devido a um setor agrícola pouco produtivo e com rendimentos
reduzidos;
• desenvolvimento industrial insipiente;
• falta de abertura e repressão política;
• guerra colonial.
2. Referência clara a três dos condicionalismos que o Estado Novo impunha à emigração, de entre os
seguintes:

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• serviço militar obrigatório cumprido;
• estimulava a emigração para as colónias com vista a reforçar a presença branca;
• ter robustez física necessária;
• certificado de habilitações;
• possuir passaporte de emigrante;
• possuir autorização da Junta de Emigração;
• ter trabalho ou manutenção assegurada no país de destino;
• garantia de manutenção e sobrevivência da família.
3. Apresentação clara, em termos de composição social, de três características da emigração portu-
guesa, de entre as seguintes:
• essencialmente masculina;
• realizada sobretudo por homens com idades entre os 19 e os 64 anos;
• praticada essencialmente por trabalhadores do setor primário.
4. Identificação do organismo criado para controlar e regular a emigração:
• Junta de Emigração.

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2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 2 AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS DE 1945 VISTAS POR SALAZAR E PELO MUD

A.
Continuo a considerar perigosa em Portugal aquela democracia que toma a forma de um parla-
mentarismo partidário […]. O meu horror a essa espécie de democracia não mudou. […].
A Constituição foi revista por uma Câmara que para esse efeito tinha […] poderes constituintes.
Uma das modificações introduzidas foi a do aumento do número de deputados […]. O Governo en-
tendeu que, publicando essa alteração, não poderia continuar a funcionar a Assembleia Nacional e
propôs ao Chefe de Estado a sua dissolução e consequentemente novas eleições. […] Não fazemos
eleições por ser moda, porque no-las aconselham ou imponham, mas quando constitucionalmente
as devemos fazer […]. A novidade está agora apenas em que a lei eleitoral prevê, em vez de um
círculo único, tantos círculos quantos os distritos e quantas as colónias. […] Temos a oportunidade
de, sem renunciar aos princípios fundamentais da Revolução Nacional, bater o próprio terreno do
adversário. […] As oposições não só podiam ir às urnas livremente, como se lhes deu inteira liber-
dade para defenderem as suas candidaturas e criticarem a obra do Governo.
António de Oliveira Salazar, Discurso, 18 de novembro, 1945.

B.
Ao iniciar-se o nosso movimento cívico, encontrávamo-nos em presença de uma nova lei eleito-
ral que tinha tornado possível, em teoria, a eleição de deputados da oposição; Salazar confirmou a
intenção do Governo de aceitar a discussão pública dos seus atos e de proceder a eleições em que
o povo manifestasse livremente a sua vontade. […]
Com a promulgação da lei eleitoral e dos diplomas anunciados, procurava-se obedecer às exigên-
cias do chamado "clima" favorável às democracias para que o país pudesse figurar na comunidade
internacional sem o aspeto gritante e desconcertante de sobrevivência de sistemas banidos do
convívio mundial.
O problema consistia em saber se a obediência às exigências do tal "clima" era apenas formal ou
se iria ao ponto de permitir uma verdadeira readaptação do país às instituições democráticas.
Acumularam-se factos sobre factos demonstrando que o Governo não quer realmente competir
nas urnas com a oposição. […] Salvo erro, começaram por uma intervenção da polícia em certos
locais em que se encontravam listas para assinaturas de adesão. Foi o começo da intimidação. […]
A censura agravada tem sido um dos mais poderosos elementos de pressão governativa.
Movimento de Unidade Democrática, 18 de novembro, 1945.

1. Compare, relativamente às eleições legislativas de 18 de novembro de 1945, a perspetiva expressa no


documento 2A com a perspetiva expressa no documento 2B.
2. Enuncie, a partir do documento 2B, as mudanças políticas concretizadas pelo Estado Novo no período
pós-Segunda Guerra Mundial.
3. Refira três aspetos que marcaram a oposição ao Estado Novo entre 1945 e 1958.
4. Ordene cronologicamente os seguintes acontecimentos:
A – Formação do MUD; B – Candidatura de Humberto Delgado; C – Eleição de Óscar Carmona; D – Disso-
lução da Assembleia Nacional; E – Eleição de Craveiro Lopes.

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DOCUMENTOS

Proposta de resolução
1. Comparação clara da perspetiva sobre as eleições legislativas de 1945, com recurso aos seguintes
aspetos:
Documento 2A: Salazar considera que as eleições legislativas de 1945 não são consequência de pressões
exteriores e que são resultado do normal funcionamento das instituições: "A Constituição foi revista (…).
Uma das modificações introduzidas foi a do aumento do número de deputados (…). O Governo entendeu
que, publicando essa alteração, não poderia continuar a funcionar a Assembleia Nacional e propôs (…)
a sua dissolução e (…) novas eleições" ou "Não fazemos eleições por ser moda, porque no-las aconse-
lham ou imponham, mas quando constitucionalmente as devemos fazer".
Documento 2B: Defende que a realização de eleições se destina a responder à pressão internacional e
para que o país aparentemente se mostre integrado na nova ordem democrática decorrente da Segunda
Guerra Mundial: "Com a promulgação da lei eleitoral e dos diplomas anunciados, procurava-se obedecer
às exigências do chamado «clima» favorável às democracias para que o país pudesse figurar na comuni-
dade internacional (…)".
Documento 2A: As eleições legislativas de 1945 são definidas como livres e que a elas pode concorrer
livremente a oposição: "As oposições não só podiam ir às urnas livremente, como se lhes deu inteira li-
berdade para defenderem as suas candidaturas e criticarem a obra do Governo".
Documento 2B: Defende que as eleições não são de facto livres em consequência da intimidação e da
repressão sobre os apoiantes da oposição: "(…) O Governo não quer realmente competir nas urnas com

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a oposição. (…) Começaram por uma intervenção da polícia em certos locais em que se encontravam
listas para assinaturas de adesão. Foi o começo da intimidação".
2. Enunciado claro de três das mudanças políticas concretizadas pelo Estado Novo no período do pós-
-Segunda Guerra Mundial, de entre as seguintes:
• revisão da Constituição com vista a aumentar o número de deputados;
• dissolução da Assembleia Nacional ou convocação de eleições legislativas antecipadas;
• criação de uma nova lei eleitoral com a introdução de círculos distritais e nas colónias ou reformulação
dos cadernos eleitorais;
• amnistia parcial dos presos políticos;
• supressão do regime excecional sobre a segurança do Estado ou abrandamento temporário da censura
e da repressão;
• reorganização da polícia política e alteração da sua designação (de PVDE para PIDE);
• permissão da constituição legal de movimentos oposicionistas.
3. Referência clara a três dos aspetos que marcaram a oposição ao Estado Novo entre 1945 e 1958,
de entre os seguintes:
• organização legal da oposição democrática para participar em todos os processos eleitorais convocados
pelo regime depois da Segunda Guerra Mundial, com a criação do MUD;
• denúncia, pelo MUD, da falta de condições justas e iguais para todas as candidaturas, motivando a
desistência da ida às urnas em 1945 ou denúncia da natureza repressiva e antidemocrática do Estado
Novo por parte dos movimentos e dos candidatos da oposição;
• apresentação de candidatos da oposição à Presidência da República, nomeadamente o general Norton
de Matos, em 1949, e o general Humberto Delgado, em 1958;
• grande mobilização popular no apoio aos candidatos da oposição;
• denúncia dos atos eleitorais como fraudulentos;
• luta clandestina da oposição, sobretudo por parte do PCP, que apoiou e dinamizou ações diversas con-
tra o Estado Novo (greves, manifestações, etc.).
4. D – A – C – B – E.

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2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 3 O I PLANO DE FOMENTO VISTO POR DOIS DEPUTADOS

A. É preciso distinguir entre plano de fomento e plano de obras públicas porque nem toda a obra
pública é obra de fomento […]. A introdução de novas técnicas, de novas normas de vida, de dife-
rente orientação, de uma mentalidade nova em muitos setores da atividade nacional, isso seria de
certeza uma fonte magnífica de fomento […]. Citando a Câmara Corporativa, o documento em apre-
ciação é mais um plano de obras de fomento do que um plano de fomento […].
Um reparo que o plano me suscita é a falta de sentido da unidade da nação portuguesa […].
Seria esplêndido que se aproveitasse a oportunidade para abater as barreiras alfandegárias entre as
diversas províncias de Portugal […]. O plano mostra-se, pelo contrário, fracionado e os territórios
ultramarinos são nele considerados cada um à sua parte, em oposição ao espírito de unidade que
conviria vincar […]. Este plano revela-se elaborado sob o signo da angústia que causa a muita gente
o aumento constante da população portuguesa e sob o império da necessidade urgente de propor-
cionar trabalho a todos […].
Anuncia o plano que será gasta uma verba elevada em escolas técnicas […]. Parece-nos que a
verba a despender teria melhor aplicação se fosse incluída numa remodelação das nossas instalações
de ensino científico, técnico e cultural. […] De resto, não se compreende a que título se inclui a
construção de escolas comerciais num plano de fomento puramente industrial. […]
Neste plano, uma boa parte da verba a despender é destinada à agricultura. Pois, apesar disso e
de sermos um país que continua a ter na agricultura a sua maior riqueza, a parte do relatório que
lhe é dedicada não excede a décima parte das considerações totais. […]
Gera-se no meu espírito uma grande interrogação sobre a conveniência de, nesta idade do
Mundo, caminharmos para uma elevada industrialização, deixando em plano secundário o progresso
agrícola. […] Eu não me insurjo contra a industrialização; insurjo-me, sim, contra o desinteresse a
que, num plano de fomento, é votada a agricultura.
Jacinto Ferreira, Debate sobre a proposta de lei relativa ao I Plano de Fomento, 4 de dezembro, 1952.

B. O Governo da Revolução Nacional apresenta ao País um plano de fomento, ou seja, um con-


junto orgânico e sistematizado de realizações extraordinárias a levar a efeito durante um período de
tempo predeterminado. […]
Contempla o plano, simultânea e articuladamente, a economia metropolitana e as economias das
províncias ultramarinas. A uma e a outra dá tratamento de igualdade, considerando-as como um todo
indivisível, o que está de harmonia com os interesses da nação, com os preceitos constitucionais,
com as exigências da economia mundial, com a interdependência das economias nacionais e com a
nossa tradição colonizadora. […]
A agricultura, sendo enumerada em primeiro lugar no plano para o continente e ilhas, sob o
ponto de vista de dotações financeiras, aparece em último lugar […]. Aparecem em segundo lugar
os investimentos na indústria. […] É manifesto que a mais saliente determinante dos empreendi-
mentos industriais selecionados foi a da utilização das nossas matérias-primas pelos aproveitamen-
tos hidroelétricos e pelas indústrias de base. Parece-me só haver que louvar a orientação seguida.
[…]

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DOCUMENTOS

Sobre escolas técnicas, inscreve-se no plano uma verba de certo vulto a repartir pela conclusão
de obras em curso e pela construção de obras novas. É bem sensível a necessidade de criar no País
uma rede de escolas para o ensino técnico elementar. […] A modificação para melhor do rendimento
do trabalho nacional pode depender em boa parte da criação dessa rede de escolas técnicas elemen-
tares.
Proença Duarte, Debate sobre a proposta de lei relativa ao I Plano de Fomento, 5 de dezembro, 1952.

1. Selecione a opção correta para cada uma das seguintes afirmações:


1. O deputado Jacinto Ferreira critica o I Plano de Fomento porque…
a) considera que é sobretudo um plano voltado para a reconstrução económica.
b) considera que é sobretudo um plano de obras públicas.
c) considera que é um plano voltado para o repovoamento do interior.
d) considera que é um plano voltado para a criação de infraestruturas no litoral.
2. O deputado Proença Duarte considera o I Plano de Fomento como um bom plano porque…
a) trata separadamente a metrópole e as colónias.

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b) subordina a economia metropolitana ao desenvolvimento das colónias.
c) privilegia a articulação entre a economia metropolitana e ultramarina.
d) impede a concretização do sentido de unidade nacional.
3. O deputado Jacinto Ferreira critica o I Plano de Fomento porque…
a) desenvolve o comércio em detrimento da agricultura.
b) desenvolve o comércio em detrimento da indústria.
c) relega a indústria em detrimento da agricultura.
d) relega a agricultura em detrimento da indústria.
4. O deputado Proença Duarte valoriza no I Plano de Fomento…
a) a orientação seguida quanto aos investimentos na indústria.
b) a orientação seguida quanto aos investimentos na agricultura.
c) a falta de investimento nas escolas técnicas.
d) a falta de investimento nas escolas comerciais.
2. Explicite, a partir dos documentos, a importância dos Planos de Fomento para a economia portuguesa.

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3. Associe cada um dos elementos relacionados com o crescimento económico do pós-guerra, presentes na
coluna A, à designação correspondente, que consta na coluna B.

COLUNA A COLUNA B
(A) Lei promulgada em 1945 que procurava dinamizar o mercado 1. Planos de Fomento
interno, diminuir as importações, criar novas indústrias e
reorganizar as existentes.
(B) Esteve em vigor entre 1968 e 1973 e acentuou a necessidade de a 2. II Plano de Fomento
economia portuguesa se submeter à concorrência externa e de
diversificar as exportações.
(C) Esteve em vigor entre 1965 e 1967 e preconizava o desenvolvimento 3. Espaço Económico Português
integrado da metrópole e das colónias, a dinamização do comércio
externo e a redução das importações.
(D) Definem uma linha orientadora da economia a partir de 1953, 4. Lei do Condicionamento Industrial
lançam as bases do crescimento moderno e estabelecem prioridades
para o desenvolvimento económico.

(E) Criado em 1961, visava estabelecer, no prazo de 10 anos, uma área 5. III Plano de Fomento
económica forte assente, sobretudo, em Angola e Moçambique, livre
de barreiras alfandegárias.
6. Emigração clandestina
7. Lei do Fomento e Reorganização
Industrial
8. Plano Intercalar de Fomento

4. Ordene cronologicamente os seguintes acontecimentos relativos ao crescimento económico do pós-


-guerra.
A. Criação do Espaço Económico Português
B. Criação da Siderurgia Nacional
C. Início do projeto de Sines
D. Lei do Fomento e Reorganização Industrial
E. Adesão de Portugal à OECE

Proposta de resolução
1. 1 – b); 2 – c); 3 – d); 4 – a)
2. Explicitação clara da importância dos Planos de Fomento para a economia portuguesa, com recurso
a três de entre as seguintes evidências:
• permitiu planear a economia;
• favoreceu a industrialização;
• abriu a economia ao investimento privado;
• estimulou o desenvolvimento das colónias;
• modernizou a economia;
• abriu a economia ao exterior e à concorrência.
3. A – 7; B – 5; C – 8; D – 1; E – 3.
4. D – E – B – A – C.

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DOCUMENTOS

2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 4 CRESCIMENTO ECONÓMICO DO PÓS-GUERRA: OS PLANOS DE FOMENTO

A. A política económica vigente tem procurado ser a expressão da nossa conceção da vida – conceção
portuguesa, ocidental e cristã – no enquadramento histórico e institucional de um país que, depois de
ter sofrido durante longos anos com os males do liberalismo económico – que estão ainda na origem de
muitas das nossas insuficiências –, pôde sair do caos financeiro e da bancarrota para se reconstituir sem
auxílios estranhos que se traduzissem na hipoteca da nossa dignidade e independência. […]
A política até agora seguida no campo económico – de que não devem desligar-se as preocupações so-
ciais, que são da essência do nosso corporativismo – carece de ser entendida tendo presentes as fases por
que passou ao longo dos últimos 35 anos: restauração financeira e regeneração económica, primeiro;
política de fomento, depois; e, atualmente, política de adaptação às novas condições da política euro-
peia.
Dentro deste ingrato condicionalismo, o nível de vida melhorou sensivelmente; as pré-condições para a
industrialização consolidaram-se; a reorganização industrial prossegue; a unificação do mercado único
português está delineada e em marcha, e a política de fomento, com maior acentuação do planeamento
regional, vai continuar nos moldes apropriados.

MÓDULO 8
Comunicado da União Nacional, 1961.
B.
EVOLUÇÃO DO PRODUTO E DA POPULAÇÃO EM PORTUGAL (1930-1965) (VALORES A PREÇOS DE 1958)
ANO AGRICULTURA INDÚSTRIA SERVIÇOS PIB POPULAÇÃO PIB PER CAPITA
(milhões (milhões (milhões (milhões (milhares) (escudos)
de escudos) de escudos) de escudos) de escudos)
1930 8448 7499 10 874 26 821 6815 3936
1935 9641 8505 12 130 30 276 7263 4168
1940 9559 8953 12 678 31 190 7769 4015
1945 11 263 10 794 14 335 36 392 8107 4489
1950 14 166 13 370 16 564 44 100 8502 5187
1955 15 331 17 899 19 434 52 664 8656 6084
1960* 18 916 30 366 28 665 77 946 8891 8767
1965* 20 382 48 647 37 552 106 581 8996 11 848
*A preços de 1953

C.
RITMO MÉDIO (TOTAL E POR HABITANTE) DE CRESCIMENTO ANUAL DO PIB (1958-1973)
PORTUGAL GRÉCIA ESPANHA OCDE (EUROPA) OCDE (TOTAL)
Taxas médias de crescimento
anual
Produto Interno Bruto 6,8 7,4 6,9 5,0 3,9
Produto por habitante 6,7 7,1 6,1 4,8 3,9
Nível do produto por habitante
(dólares americanos)
1958 640 830 1150 2300 3100
1973 1700 2300 2800 4600 5500

Portugal Contemporâneo, Vol. V, Publicações Alfa, Lisboa, 1989, p. 124.

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M8 PORTUGAL E O MUNDO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO INÍCIO DA DÉCADA DE 80 – OPÇÕES INTERNAS E CONTEXTO INTERNACIONAL

1. Explicite, a partir do documento 4, como se processou a política de fomento industrial entre os anos 50 e 60.
2. Identifique três manifestações do crescimento económico verificado entre as décadas de 50 e 60.
3. Refira, a partir do documento, como se manifestou a abertura da economia portuguesa ao exterior a
partir do final dos anos 50.
4. Identifique o projeto que visava a criação de um espaço económico entre as colónias e a metrópole,
concebido nos anos 60.

Proposta de resolução
1. Explicitação clara de como se processou a política de fomento industrial entre os anos 50 e 60,
com recurso a três de entre as seguintes evidências:
• adoção da prática de planeamento económico concretizada nos planos de fomento a partir de 1953:
"política de fomento, depois";
• prioridade à criação de infraestruturas e reorganização industrial a partir do I Plano de Fomento;
• aposta na industrialização a partir dos anos 60 mediante o abandono da política de condicionamento
industrial: "(…) As pré-condições para a industrialização consolidaram-se; a reorganização industrial
prossegue";
• incentivo à iniciativa privada;
• reforço da industrialização e do fomento económico das colónias, com recurso a investimentos públicos
e privados e a investimento estrangeiro: "(…) A unificação do mercado único português está delineada
e em marcha";
• crescimento do setor industrial que se torna mais relevante em termos sociais, empregando mais po-
pulação ativa do que o setor primário;
• aumento significativo dos índices de crescimento económico nas décadas de 50 e 60, como resultado
das políticas de fomento industrial adotadas.
2. Identificação clara de três manifestações do crescimento económico verificado entre as décadas de
50 e 60, de entre as seguintes:
• aumento do produto da indústria a partir de 1945, ultrapassando a agricultura;
• crescimento mais acentuado do PIB a partir de 1945, mas sobretudo a partir de 1960;
• PIB português mais elevado do que o da OCDE;
• o nível do produto por habitante cresceu significativamente de 1958 para 1973 (mais 1100 dólares),
ainda que permaneça mais baixo do que na Grécia, em Espanha e na OCDE.
3. Referência clara a três das manifestações da abertura da economia portuguesa ao exterior, de entre
as seguintes:
• abandono progressivo da ideia de autarcia;
• a adesão à OECE estimula o planeamento económico e a necessidade de reestruturar e modernizar a
economia portuguesa;
• abertura da economia metropolitana às colónias com vista a uma maior interdependência e à criação
do Espaço Económico Português: "(…) A unificação do mercado único português está delineada e em
marcha";
• adesão, como país fundador, à EFTA;
• valorização da iniciativa privada como forma de enfrentar a concorrência externa;

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DOCUMENTOS

• integração de Portugal em organismos internacionais, como o FMI, o BIRD e o GATT;


• realização de um acordo comercial com a CEE com vista ao aprofundamento dos laços económicos com
os países da Europa Ocidental: "(…) Atualmente, política de adaptação às novas condições da política
europeia".
4. Identificação do projeto:
• EEP ou Espaço Económico Português.

2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 5 A CANDIDATURA DE AMÉRICO THOMAZ VISTA PELA UNIÃO NACIONAL

A União Nacional estabelece o espírito em que situa a candidatura do almirante Américo Thomaz.
A União Nacional propõe ao sufrágio do país o nome do Sr. Contra-almirante Américo Rodrigues Thomaz.
A sua folha de serviços como oficial da armada, a obra que é o testemunho de quase catorze anos de
ação na pasta da Marinha, assim como as suas qualidades pessoais, garantem que, sendo chamado à

MÓDULO 8
suprema magistratura da Nação, saberá honrá-la e prestigiá-la como a prestigiaram e honraram os seus
antecessores.
Não tem a União Nacional nem tem o seu candidato de apresentar um programa e a respeito dele abrir
um debate inoportuno e desprovido de sentido.
O chefe de Estado é, naturalmente, o símbolo da unidade da Nação […]. O candidato à Presidência
da República só pode ter um programa: cumprir a Constituição nas obrigações que derivam da sua letra
e seu espírito, na obediência aos princípios que nela se consignam […].
É esse o programa do contra-almirante Américo Rodrigues Thomaz. Se não oferece a perspetiva de
experiências contingentes, promete prosseguir com firmeza no esforço que, ao longo de trinta anos, re-
novou Portugal e o reintegrou no seu lugar no Mundo.
Diário de Lisboa, 9 de maio, 1958.

1. Refira o entendimento que a União Nacional tem das eleições presidenciais.

Proposta de resolução
1. Referência clara ao entendimento que a União Nacional tem das eleições presidenciais, com re-
curso a três de entre as seguintes evidências:
• os candidatos às eleições são propostos pela União Nacional;
• entende que os candidatos pelo serviço que prestam ao Estado desempenham as suas funções com
honra e prestígio;
• considera que não é necessário apresentar um programa de governo e sujeitá-lo a debate público;
• considera que a função presidencial é apenas a de fazer cumprir a Constituição, à qual se deve obedecer;
• os candidatos devem continuar a obra do Estado Novo.

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2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 6 AS REVINDICAÇÕES DO MPLA

Denominação – Definição – Objetivos


Art. 1.º – Denominação: Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). […]
Art. 3.º – Definição: O Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) é uma organização
política constituída pelos africanos originários de Angola, sem discriminação de sexo, de idade, de
origem étnica, de crença religiosa ou de domicílio.
Art. 4.º – Os objetivos do MPLA são: a luta com todas as organizações patrióticas angolanas […]
para liquidar o domínio colonial português e todas as relações coloniais e imperialistas, para con-
quistar a independência imediata e completa de Angola. […]
Na hora atual, os colonialistas portugueses e os seus agentes são inimigos do povo angolano.
Utilizam todos os meios para manter a soberania portuguesa em Angola e continuar a oprimir e a
explorar o povo angolano – a violência, o assassinato […], a força militar, o poder político e eco-
nómico, o obscurantismo.
Programa menor
O MPLA luta pela realização do seguinte programa: a) criação urgente de uma Frente angolana
de libertação que agrupe, numa larga união, todos os partidos políticos, todas as organizações po-
pulares, todas as forças armadas, […] sem distinção de tendências políticas […]. b) a luta, por
todos os meios, para liquidar o domínio colonial português […]. c) defesa constante e primordial
dos interesses das massas camponesas e trabalhadoras, os dois grupos mais importantes do país e
que constituem, no seu conjunto, a quase totalidade da população de Angola. d) aliança com todas
as forças progressistas do mundo, conquista da simpatia e do apoio de todos os povos do mundo à
causa da libertação do povo angolano. […]
Programa maior
I. Independência imediata e completa: […] tomada do poder pelo povo angolano e instaura-
ção de um regime republicano e democrático, assente na independência total; abolição de todos os
privilégios consignados pelo regime colonial aos portugueses e aos outros estrangeiros; a soberania
do Estado angolano pertence inteira e unicamente aos angolanos […]; a nação angolana tem o
direito, sagrado e inviolável, de dispor de si mesma […]; estabelecimento da paz em Angola […]
na base do reconhecimento da independência, da soberania, da unidade e da integridade territorial
de Angola. […]
III. Unidade africana: solidariedade total com todos os povos africanos que lutam pela sua in-
dependência […] e em particular em luta contra o colonialismo português […].
MPLA, anos 50-60 [tradução adaptada].

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DOCUMENTOS

1. Identifique, com base no documento, três das reivindicações do MPLA.


2. Associe cada um dos elementos relacionados com a questão colonial, presentes na coluna A, à designa-
ção correspondente, que consta na coluna B.

COLUNA A COLUNA B
(A) Tese surgida no seio do governo quanto à política colonial e que defendia a 1. Províncias ultramarinas
ideia de Portugal como um Estado unitário, indivisível e pluricontinental "do
Minho a Timor".
(B) Aprovada pela ONU em 1965, foi uma condenação direta da ação do governo 2. FRELIMO
português e da política colonial pelo facto de impedir a autodeterminação dos
povos africanos. Significou o reconhecimento internacional do direito à luta
pela independência dos povos africanos.
(C) Iniciou-se em 1961 em Angola e durou treze anos. Alastrou-se à Guiné e a 3. Integracionismo
Moçambique. Tinha como objetivo lutar pela independência e acabar com o
domínio colonial português.
(D) Tese surgida no seio do governo quanto à política colonial e que defendia a 4. Federalismo
progressiva transformação das províncias ultramarinas em Estados
independentes, mas continuando a ter em conta os interesses nacionais.
(E) Designa o Movimento Popular de Libertação de Angola, criado em 1956, dirigido 5. MPLA
por Agostinho Neto.
6. Guerra colonial

MÓDULO 8
7. Jonas Savimbi
8. Resolução 2107

3. Ordene cronologicamente os seguintes acontecimentos relativos aos movimentos de libertação africanos.


A. Criação da UNITA
B. Criação da FRELIMO
C. Fundação da UPA
D. Início da guerra colonial
E. Criação do MPLA

Proposta de resolução
1. Identificação clara de três das revindicações do MPLA, de entre as seguintes:
• lutar pelo fim do colonialismo português e garantir a independência de Angola: "(…) para liquidar o
domínio colonial português e todas as relações coloniais e imperialistas";
• acabar com a opressão e a exploração dos angolanos: "(…) os colonialistas portugueses e os seus
agentes são inimigos do povo angolano. Utilizam todos os meios para manter a soberania portuguesa
em Angola e continuar a oprimir e a explorar o povo angolano ";
• defender uma união de todos os partidos angolanos para combater o domínio português: "(…) criação
urgente de uma Frente angolana de libertação que agrupe, numa larga união, todos os partidos políticos,
todas as organizações populares, todas as forças armadas, (…) sem distinção de tendências políticas";
• defender os interesses dos angolanos (camponeses e trabalhadores): "(…) defesa constante e primor-
dial dos interesses das massas camponesas e trabalhadoras, os dois grupos mais importantes do país";
• aliança com todos os povos que lutam pelo fim do colonialismo: "(…) aliança com todas as forças
progressistas do mundo, conquista da simpatia e do apoio de todos os povos do mundo à causa da li-
bertação do povo angolano";

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• criação de um regime democrático e republicano: "(…) tomada do poder pelo povo angolano e instau-
ração de um regime republicano e democrático";
• fim das distinções da população branca: "(…) abolição de todos os privilégios consignados pelo regime
colonial aos portugueses e aos outros estrangeiros";
• direito à autodeterminação: "(…) a nação angolana tem o direito, sagrado e inviolável, de dispor de
si mesma";
• defesa da paz: "(…) estabelecimento da paz em Angola".
2. A – 3; B – 8; C – 6; D – 4; E – 5.
3. C – E – D – B – A.

2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 7 A PRIMAVERA MARCELISTA: DUAS VISÕES DISTINTAS

A. Toda a gente conhecia a minha dedicação ao regime […]. Nunca me neguei fosse ao que fosse
desde que servisse o regime que sempre defendi e no qual me integrei desde estudante […].
O que mais me preocupou, ao longo destes quatro anos, foi o ultramar e a segurança interna,
coisa indispensável para dar àqueles que em Angola, na Guiné e em Moçambique generosamente se
batem pela integridade de Portugal e pela sua grandeza histórica e territorial. […] Graças a Deus e
a todos os que não se recusaram a tudo sacrificar por ela, hoje, a África constitui, ou deve constituir,
a nossa principal preocupação.
Como sempre, […] temos uma Assembleia pluralista. Nesta legislatura, com nas anteriores,
houve sempre homens – naturalmente todos bem-intencionados – mais virados à esquerda, à direita
ou ao centro […]. A situação político-económico-social do país tem evoluído muito favoravelmente
nos últimos tempos. […] O esforço que se está a fazer em todos os campos é enorme. […] Os re-
sultados que vêm sendo obtidos com algumas medidas são evidentes. […] Desde que no acordo
entre Portugal e o Mercado Comum se salvaguardem – e salvaguardaram-se – a unidade portuguesa
e os fundamentos da sua política multicontinental, não vejo como virar as costas à Europa. […]
Como discordar e esquecer que Portugal é europeu, embora também africano?
Francisco Cazal-Ribeiro, deputado da ala mais conservadora da Assembleia Nacional.

B. Tinha o dever de procurar contribuir para a alteração de um estado de coisas com que não
concordava […]. Tinha a obrigação de corresponder ao convite que me foi feito para participar nas
reformas tendentes à liberalização do regime e à institucionalização do apregoado pluralismo polí-
tico, a meu ver condições mesmas do progressivo desenvolvimento e da crescente autonomia do
Ultramar e da própria metrópole. […] O que mais me preocupou, ao longo destes quatro anos, foi a
questão dos direitos e liberdades da pessoa humana […]. Contra o que se tem afirmado, não consi-
dero que a guerra nas províncias ultramarinas justifique a inexistência das liberdades públicas e dos
direitos cívicos. […]

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DOCUMENTOS

Foi-se impondo na Assembleia e nas Comissões a disciplina da Ação Nacional Popular, progressi-
vamente mais rígida e intolerante, o que teve como efeito o isolamento daqueles que, fiéis ao pro-
grama eleitoral de 1969, prosseguiam na defesa do pluralismo, da liberalização e da democratização.
[…] Fomos intencionalmente reduzidos a uma oposição a que eram negadas quaisquer possibilida-
des de discutir os seus projetos. […] Este retrocesso político traduz, a meu ver, uma reação de
autodefesa do regime […]. No campo económico, e social, nota-se sobretudo o aterrador aumento
dos preços e a permanência da emigração. […] Os acordos entre Portugal e o Mercado Comum são
apenas comerciais, sem implicações políticas. Elas surgirão quando essa situação, que é transitória,
evoluir para a […] adesão.
Francisco Sá Carneiro, deputado independente da ala liberal da Assembleia Nacional.

1. Identifique o Presidente do Conselho entre 1968 e 1974.


2. Selecione a opção correta para cada uma das seguintes afirmações:
1. De acordo com o documento 7A, uma das razões que esteve na origem da guerra colonial foi…
a) a reafirmação do princípio de Portugal como país pluricontinental, do "Minho a Timor", composto
pela metrópole e pelas províncias ultramarinas.

MÓDULO 8
b) a necessidade dos militares em mostrar a superioridade do armamento português e da capacidade
defensiva de Portugal.
c) a necessidade de defender as províncias ultramarinas dos ataques das potências estrangeiras, no-
meadamente da URSS.
d) a reafirmação do princípio de Portugal como país defensor da autodeterminação dos povos africa-
nos.
2. A partir da perspetiva do documento 7A, a eclosão da guerra colonial ocorreu num contexto marcado
pela…
a) condenação das metrópoles que favoreciam o princípio da autodeterminação dos povos.
b) condenação das colónias cuja ação era causadora de inúmeros mortos e feridos.
c) condenação do colonialismo pela ONU e pelos países não alinhados a partir da Conferência de Ban-
dung.
d) condenação do princípio da autodeterminação dos povos e reafirmação dos princípios colonialistas
e imperialistas.
3. A luta pela emancipação nas colónias africanas contou com a formação de movimentos nacionalistas
como…
a) a FLA, a UPLA, a ULM e o PLCG.
b) a FNLA, a UNITA, a FRELIMO e o PAIGC.
c) a FNLAM, a ULPM, FREMOL e o PLGC.
d) a FANL, a ULPA, a FREMO e o PALGC.
4. A recusa de Portugal em reconhecer o direito à autodeterminação dos povos africanos provocou…
a) o cada vez maior isolamento das províncias ultramarinas, que estavam pressionadas para estabele-
cer a paz com a metrópole e apoiar o governo português.
b) a aceitação na ONU e pelas potências internacionais da política colonial portuguesa, largamente
seguida por outros países europeus.

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c) a aceitação da política colonial portuguesa assente no federalismo conducente à autonomia pro-


gressiva das províncias ultramarinas.
d) o isolamento de Portugal, que era cada vez mais pressionado internacionalmente para descolonizar,
e o crescimento da oposição interna à manutenção da guerra colonial.
3. Compare as duas perspetivas acerca da "primavera marcelista", expressas nos documentos 7A e 7B,
quanto a três dos aspetos em que se opõem.
4. Explicite, a partir do documento B, três dos aspetos que revelam que a "primavera marcelista" foi um
período de transição falhada para a "liberalização do regime".
5. Ordene cronologicamente os seguintes documentos relativos à "primavera marcelista":
A – Publicação de Portugal e o Futuro, de Spínola; B – Abandono da ala liberal da Assembleia Nacional;
C – II Congresso Republicano de Aveiro; D – Visita de Marcello Caetano a Londres; E – Crise académica de
Lisboa.

Proposta de resolução
1. Identificação clara do Presidente do Conselho entre 1968 e 1974:
• Marcello Caetano.
2. 1 – a); 2 – c); 3 – b); 4 – d).
3. Comparação clara das duas perspetivas acerca da "primavera marcelista", referindo três dos se-
guintes aspetos em que se opõem:
Doc. A – total identificação com o regime do Estado Novo; Doc. B – discordância relativamente a deter-
minados princípios que tinham de ser alterados;
Doc. A – o Ultramar e a segurança do país são considerados como assuntos fundamentais; Doc. B – a
inexistência de liberdade individuais é o assunto mais preocupante e para o qual não há justificação
possível;
Doc. A – defesa da continuação da guerra colonial; Doc. B – defesa da independência progressiva do
ultramar;
Doc. A – defesa da Assembleia Nacional como um parlamento pluralista; Doc. B – defesa da Assembleia
Nacional como um parlamento onde se impede a discussão dos projetos da ala liberal;
Doc. A – a situação do país durante o marcelismo é vista positivamente; Doc. B – a situação do país é
vista com pessimismo, em consequência da inflação e da emigração;
Doc. A – defesa de que o Acordo entre Portugal e a Europa não implica o fim da política ultramarina;
Doc. B – defesa de que o Acordo entre Portugal e a Europa irá provocar alterações na política interna do
país.
4. Explicitação clara de três dos aspetos que revelam que a "primavera marcelista" foi um período de
transição falhada para a "liberalização do regime", de entre os seguintes:
• os sinais de abertura política e de liberalização foram contrariados;
• as propostas da ala liberal não eram discutidas na Assembleia Nacional, o que acabou por levar ao
abandono dos deputados da Assembleia;
• o regime manteve os seus traços autoritários, continuando a não reconhecer os direitos e liberdades
individuais ou alteração formal da designação das instituições do regime (ANP; DGS; Exame Prévio);
• reafirmação do princípio de Portugal como país pluricontinental do "Minho a Timor", composto pela
metrópole e pelas províncias ultramarinas;

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DOCUMENTOS

• aprovação pela ONU de condenações sucessivas do colonialismo português, contribuindo para o isola-
mento de Portugal na cena internacional;
• distanciamento dos setores conservadores face às medidas liberalizantes, das quais desconfiam e que
vão impedir que sejam concretizadas;
• descontentamento no seio das forças armadas quanto ao impasse militar em que tinha caído a guerra
colonial;
• contestação ao regime por parte dos setores oposicionistas ou dos católicos progressistas ou dos jo-
vens mobilizados para a guerra;
• dificuldades económico-financeiras do país devido à crise dos anos 70 ou aos gastos com a guerra
colonial;
• insuficiência das reformas no domínio económico-social ou do acordo comercial com a CEE ou das
medidas no domínio da segurança social.
4. (C) – (E) – (B) – (D) – (A).

MÓDULO 8
2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 8 A RUTURA DA ALA LIBERAL

Este [Marcello Caetano] deu esperanças de liberalização. Nunca, é certo, apresentou um pro-
grama concreto ou anunciou medidas reais de liberalização e de democratização. Quem o fez, com
o seu apoio explícito, foi a U.N. [União Nacional] sob a presidência do Dr. Melo e Castro, que apre-
sentou um programa de pluralismo político, programa esse sem o qual, é indubitável, várias pessoas
que não pertenciam ao regime, entre as quais me conto, não teriam aceitado fazer parte duma lista
da U.N. Se o aceitaram, foi porque esse programa existia e era bem claro […]. Posteriormente, tal
programa foi negado na prática e até em teoria pelo Governo e pela Ação Nacional Popular.
Na própria Assembleia Nacional, eu, pelo menos, senti isso intensamente. Agora que haviam sido
eleitas pessoas descomprometidas, que tinham publicamente assumido uma atitude crítica em rela-
ção ao Governo, afirmando expressamente que se não comprometiam a apoiá-lo, imediatamente se
reforça toda uma ação, toda uma disciplina partidárias; […] as iniciativas desaprovadas pelo Go-
verno, falo com conhecimento de causa, ou foram adiadas ou torpedeadas, não chegando muitas
vezes a ser presentes ao plenário ou sendo nele subtraídas à votação na especialidade, como foi o
caso da revisão da Constituição, da Lei de Imprensa, das propostas de alteração à Organização Ju-
diciária.
Em suma, houve da parte do regime uma reação de autodefesa para manter a sua imutabilidade,
a qual superou as ténues réstias eleitorais de abertura liberalizante.

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M8 PORTUGAL E O MUNDO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO INÍCIO DA DÉCADA DE 80 – OPÇÕES INTERNAS E CONTEXTO INTERNACIONAL

Trata-se de um Estado autoritário que não reconhece os direitos e liberdades fundamentais, a


não ser numa teoria constitucional inoperante […]. Ele mostrou claramente, ante um balbuciar de
liberdade, que não estava disposto a tolerar nada que pudesse significar uma alteração. Creio, por-
tanto, que não há que apontar forças especiais; foi e é todo o regime que reagiu e que reage no
sentido de impedir o desbloqueamento da política nacional e, necessariamente, da vida económica
e social, para se manter intransigentemente o mesmo. Mais uma vez, e embora não estejamos ante
uma eleição por sufrágio direto [eleições presidenciais de julho de 1972], se procura criar à volta da
atual candidatura oficial todo um ambiente emocional de propaganda, oposto à informação indisso-
ciável do voto, a qual leva à adesão inteligente. Os apelos agora feitos inserem-se na linha dos
surgidos quando havia sufrágio direto, apelos que visam concitar emocionalmente as pessoas à volta
de uma figura, levando-as a não se preocuparem em saber se aquela é a pessoa indicada para de-
sempenhar qualquer cargo, antes procurando fazê-las sentir que a adesão a determinada candidatura
é imposta pelo interesse nacional, pela sobrevivência da pátria e que, portanto, não há outra alter-
nativa, sob pena de traição.
Dantes, o tema escolhido para situar tais apelos era usualmente o perigo comunista, ainda que frequen-
temente usado. Mas, depois de 1961, tem sido quase sempre à volta da guerra do ultramar que se procura
levar as pessoas a aderir emocionalmente, numa atitude que é o contrário de uma atitude política […].
Francisco Sá Carneiro, Entrevista ao Diário de Lisboa, 5 de julho, 1972.

1. Associe cada um dos elementos relacionados com a "primavera marcelista", presentes na coluna A, à
designação correspondente, que consta na coluna B.

COLUNA A COLUNA B
(A) Composta por deputados independentes que integraram as listas da União 1. Marcelo Caetano
Nacional às eleições legislativas de 1969 com vista a promover a
liberalização e a democratização do regime.
(B) Mobilização dos católicos progressistas para contestar a guerra colonial e 2. "Primavera marcelista"
defender a paz.
(C) Escrito pelo general António de Spínola, nele se defendia que a solução 3. Isolamento internacional
para o ultramar não era política, o que abalou o regime, prenunciando o
seu fim.
(D) Designações atribuídas à União Nacional, à PIDE e à censura que se 4. Ala liberal
constituíram como meras alterações formais no seio de um regime que
permaneceu autoritário.
(E) Designação atribuída ao período político entre 1968 e 1974, marcado pela 5. Vigília da Capela do Rato
"renovação na continuidade" e que acabou por frustrar a esperança de
uma transição pacífica do regime.
6. Guerra colonial
7. ANP – DGS – Exame Prévio
8. Portugal e o Futuro

2. Identifique, com base no documento, três das razões que justificaram o abandono da Assembleia Nacio-
nal por parte dos deputados da ala liberal.
Proposta de resolução
1. A – 4; B – 5; C – 8; D – 7; E – 2.

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DOCUMENTOS

Proposta de resolução
2. Identificação clara de três das razões que justificaram o abandono da Assembleia Nacional por
parte dos deputados da ala liberal, de entre as seguintes:
• impossibilidade de cumprir o compromisso de liberalização política apresentado aquando das eleições
legislativas de 1969. "Este [Marcello Caetano] deu esperanças de liberalização. Nunca, é certo, apre-
sentou um programa concreto ou anunciou medidas reais de liberalização e de democratização";
• impedimento da livre discussão de projetos reformadores e liberalizantes apresentados pelos deputados
da ala liberal: "Agora que haviam sido eleitas pessoas descomprometidas, que tinham publicamente
assumido uma atitude crítica em relação ao Governo (…); as iniciativas desaprovadas pelo Governo,
falo com conhecimento de causa, ou foram adiadas ou torpedeadas, não chegando muitas vezes a ser
presentes ao plenário ou sendo nele subtraídas à votação na especialidade";
• não concretização de um regime democrático e liberalizante: "(…) houve da parte do regime uma
reação de autodefesa para manter a sua imutabilidade, a qual superou as ténues réstias eleitorais de
abertura liberalizante";
• inexistência, nos períodos eleitorais, de um verdadeiro debate político livre e democrático: "(…) criar
à volta da atual candidatura oficial todo um ambiente emocional de propaganda, oposto à informação
indissociável do voto (…). Os apelos agora feitos (…) visam concitar emocionalmente as pessoas à

MÓDULO 8
volta de uma figura, levando-as a não se preocuparem em saber se aquela é a pessoa indicada para
desempenhar qualquer cargo, antes procurando fazê-las sentir que a adesão a determinada candidatura
é imposta pelo interesse nacional, pela sobrevivência da pátria e que, portanto, não há outra alterna-
tiva, sob pena de traição";
• manutenção de um regime autoritário que não reconhecia os direitos e as liberdades individuais: "Tra-
ta-se de um Estado autoritário que não reconhece os direitos e liberdades fundamentais".

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2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 9 AS ELEIÇÕES DE 1969 VISTAS POR UM CANDIDATO DA OPOSIÇÃO

As eleições de 1969 constituíram uma oportunidade decisiva para a reorganização da oposição


democrática, iniciada em abril de 1969, com o II Congresso Republicano de Aveiro, que mobilizou
900 participantes e esteve na origem de 90 comunicações, num ambiente ainda unitário, que durou
apenas até julho, quando comunistas e socialistas se desentendem. A desconfiança dos primeiros
relativamente aos propósitos hegemónicos dos segundos, mais do que divergências ideológicas,
estará na base da formação da CEUD em três distritos (Lisboa, Porto e Braga) em concorrência com
a CDE, onde comunistas, socialistas independentes e católicos progressistas facilmente colaboram.
[…] Durante a campanha e no ato eleitoral, pude testar os limites da abertura política: uma breve
detenção pela GNR com outros candidatos quando distribuíamos propaganda, […] a descoberta de
uma fraude eleitoral no controlo da contagem de votos numa pequena freguesia rural […].
Os resultados eleitorais desfizeram as ilusões de quem alimentava ainda algumas expetativas.
Com menos de 30% do universo eleitoral recenseado, […] a abstenção atingiu os 42,5%, tendo a
CDE obtido 18,55 dos votos e a CEUD apenas 5,5% no círculo de Lisboa […]. Muito pouco para quem
pretendia fazer […] do resultado eleitoral um trampolim para forçar a legalização da oposição.
A partir do fim das eleições, a expetativa transferiu-se, por isso, não tanto para a capacidade da
oposição ter uma voz mais ativa […], mas para a possibilidade de alguma coisa se passar no interior
do próprio regime, com o agravamento das suas contradições internas a partir do momento em que
na Assembleia Nacional um grupo de deputados da chamada Ala Liberal passasse a fazer ouvir a sua
voz. […] A vitória de Caetano nas eleições não era garantia suficiente para que se encetasse um
caminho liberalizador, mas dava alguma esperança aos setores moderados da oposição. Entre 1971
e 1972, porém, quando se vê que a Ala Liberal é sistematicamente batida no parlamento e Caetano
não dá sequência a nenhum dos projetos de lei que apresenta, incluindo o da liberdade de imprensa,
essa última expetativa por parte da oposição desvanece-se por completo. […]
O ano de 1973, com o III Congresso da Oposição Democrática em abril e as eleições legislativas
de outubro, proporcionaria uma aproximação entre o PS e o PCP, que, em setembro de 1973, assina-
riam em Paris um comunicado conjunto no qual propunham a eleição de uma Assembleia Consti-
tuinte […], a liquidação dos monopólios e latifúndios, e o fim da guerra colonial com o reconheci-
mento do direito à independência dos povos das colónias. […] Em março de 1974 […] os rumores
da revolução já se avolumavam […].
António Reis [candidato a deputado pela CDE em 1969], "A Oposição Democrática",
in Marcelo Caetano – Tempos de Transição – Depoimentos sobre Marcello Caetano e o seu Governo (1968-1974),
Porto Editora, Porto, 2012, pp. 460-463.

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DOCUMENTOS

1. Identifique, a partir do documento, três das medidas tomadas por Marcello Caetano que revelaram "al-
gumas expetativas" de liberalização.
2. Refira, a partir do documento, a consequência de a "Ala liberal [ser] sistematicamente batida no parla-
mento".
3. Apresente, a partir do documento, três dos objetivos da oposição ao candidatar-se às eleições legislati-
vas de 1969.

Proposta de resolução
1. Identificação clara de três das medidas tomadas por Marcello Caetano que revelaram "algumas
expetativas" de liberalização, de entre as seguintes:
• aos exilados, como Mário Soares e o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, foi autorizado o re-
gresso ao país;
• à oposição foi dada maior liberdade: autorização da realização do II Congresso Republicano em Aveiro,
em maio de 1969, e do III Congresso da Oposição Democrática em 1973;
• a PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) passou a denominar-se DGS (Direção Geral de Segu-
rança);

MÓDULO 8
• a União Nacional foi reformada e passou a chamar-se Ação Nacional Popular (ANP), integrando elemen-
tos mais liberais;
• a censura foi denominada de Exame Prévio e a sua atuação tornou-se mais moderada;
• a nova legislação sindical permitiu a eleição de direções sindicais sem a aprovação do Ministério;
• o sistema de Previdência Social foi alargado aos trabalhadores rurais e criou a assistência social aos
funcionários públicos (ADSE);
• a reforma da educação, implementada pelo ministro Veiga Simão, alargou a escolaridade obrigatória
para seis anos, diversificou a oferta de formação e aumentou o número de alunos;
• abriu a economia portuguesa à Europa e ao investimento estrangeiro e favoreceu a modernização das
estruturas produtivas;
• Angola e Moçambique tornaram-se "regiões autónomas" e receberam o nome de Estado.
2. Referência clara da consequência de a "Ala liberal [ser] sistematicamente batida no parlamento":
• Abandono da Assembleia Nacional por parte dos deputados da ala liberal.
3. Apresentação clara de três dos objetivos da oposição ao candidatar-se às eleições legislativas de
1969, de entre os seguintes:
• reorganização da oposição com vista a concorrer ao ato eleitoral: “As eleições de 1969 constituíram
uma oportunidade decisiva para a reorganização da oposição democrática (…) num ambiente ainda
unitário”;
• conquistar lugares na Assembleia com vista a encetar as reformas necessárias à liberalização e à demo-
cratização: “Os resultados eleitorais desfizeram as ilusões de quem alimentava ainda algumas expeta-
tivas”;
• encetar esforços para fazer a transição do regime: “A vitória de Caetano nas eleições não era garantia
suficiente para que se encetasse um caminho liberalizador, mas dava alguma esperança aos setores
moderados da oposição”.

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M8 PORTUGAL E O MUNDO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO INÍCIO DA DÉCADA DE 80 – OPÇÕES INTERNAS E CONTEXTO INTERNACIONAL

1. NASCIMENTO E AFIRMAÇÃO DE UM NOVO QUADRO GEOPOLÍTICO

DOC. 10 A REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL E O DESMANTELAMENTO DO ESTADO NOVO

Capa da revista Veja (brasileira) alusiva à Revolução de Primeira página do jornal Diário de Notícias, 25 de
25 de Abril de 1974. abril, 1974.

1. Associe cada um dos elementos relacionados com a Revolução do 25 de Abril de 1974, presentes na
coluna A, à designação correspondente, que consta na coluna B.

COLUNA A COLUNA B
(A) Designação atribuída ao movimento no seio das Forças Armadas com 1. Movimento dos capitães
objetivos políticos consubstanciados na fórmula democratizar e descolonizar.
(B) Eleita por sufrágio direto e universal em abril de 1975, incluía deputados 2. Salgueiro Maia
eleitos em representação do PS, PPD, PCP, CDS, MDP, UDP e ADIM, a quem cabia
a elaboração de uma nova Constituição.
(C) Estratega do 25 de Abril de 1974, dirigiu a operação Fim-Regime. 3. Movimento das Forças
Armadas
(D) Formada depois do golpe militar que pôs fim ao Estado Novo, tinha por 4. Junta de Salvação
objetivo governar o país, em consonância com o programa do MFA, criar Nacional
condições para a realização de eleições para a Assembleia Constituinte e
proceder ao início do desmantelamento das estruturas de suporte do Estado
Novo.
(E) Designação atribuída ao movimento de protesto surgido no seio das Forças 5. Costa Gomes
Armadas, em consequência da integração dos oficiais milicianos no quadro
permanente das Forças Armadas e da diminuição do poder de compra por parte
dos militares.
6. Assembleia Constituinte
7. Otelo Saraiva de Carvalho
8. António de Spínola

2. Identifique o órgão formado com vista "à substituição do atual regime".

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DOCUMENTOS

3. Destaque, a partir do documento, três das medidas implementadas com vista "à substituição do atual
regime".

Proposta de resolução
1. A – 3; B – 6; C – 7; D – 4; E – 1.
2. Junta de Salvação Nacional.
3. Destaque claro de três das medidas implementadas, de entre as seguintes:
• destituição de Américo Thomaz, Presidente da República, e de Marcello Caetano, Presidente do Conse-
lho, e de outros dirigentes do Estado Novo;
• dissolução da Assembleia Nacional;
• extinção da DGS, da Legião Portuguesa e da Mocidade Portuguesa;
• libertação e concessão de amnistia aos presos políticos de Caxias e de Peniche;
• os exilados políticos puderam regressar ao país;
• abolição da censura ou liberdade de imprensa e extinção da Ação Nacional Popular;
• autorização para a formação de associações políticas;
• garantia de liberdade sindical e legalização das organizações políticas proibidas (PCP e PS);

MÓDULO 8
• procura de uma solução política e não militar para o ultramar;
• exercício do poder por uma Junta de Salvação Nacional;
• nomeação de um Presidente da República e constituição do I Governo Provisório, com vista a garantir
o funcionamento das instituições;
• realização, no prazo máximo de um ano, de eleições livres para a Assembleia Constituinte.

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M8 PORTUGAL E O MUNDO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO INÍCIO DA DÉCADA DE 80 – OPÇÕES INTERNAS E CONTEXTO INTERNACIONAL

2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 11 AS INTENÇÕES DO II GOVERNO PROVISÓRIO

Ao assumir, por designação do Senhor Presidente da República, as funções de primeiro-ministro, de-


sejo reiterar a V. Exa. e ao povo português a decisão inabalável de cumprir escrupulosamente o Programa
do Movimento das Forças Armadas, cuja proclamação solene ao País, em 25 de abril, abriu o caminho para
a construção de um Portugal verdadeiramente livre e democrático. […] Desejo enunciar, e porque tal
constitui tarefa fundamental, a firme decisão de impor, desde já, uma séria moralização da vida nacional,
como condição básica para a tomada de medidas que a atual situação económica e social do País exige,
para o prestígio das instituições públicas que deverão dispor de um crédito de confiança perante o País.
Na definição da política económica portuguesa, que necessariamente tem de estar ao serviço do povo
português e, muito particularmente, das camadas mais desfavorecidas, ter-se-ão em consideração as po-
tencialidades do Estado e da iniciativa privada, cuja adesão, sem ambiguidades, ao esforço de reconstru-
ção nacional é condição necessária à modernização da economia e ao progresso da sociedade portuguesa.
Tal significa que se espera dos empresários um alto sentido de responsabilidade nacional, nesta hora grave
e decisiva que atravessamos. Pela parte do Governo, tudo se fará para que o clima de confiança, que a
livre iniciativa requer, se estabeleça desde já no integral respeito pelos superiores interesses nacionais.
[…] O Programa do Movimento das Forças Armadas não permite a efetivação de transformações radicais
ou revolucionárias da estrutura socioeconómica da sociedade portuguesa; contudo, [não] se pode concluir
que não possam […] ser adotadas as medidas que se julguem necessárias para acelerar o progresso eco-
nómico-social, melhorar as condições de vida do povo português e aproximá-lo dos níveis dos outros
povos da Europa. […] As eleições ainda vêm longe; até lá, e dentro do estrito cumprimento do Programa
do Movimento das Forças Armadas, há uma ampla ação pedagógica a executar: ensinar o povo português
a viver em democracia, onde quer que ele esteja e qualquer que seja a sua condição. Esclarecer, fazer
compreender as relações político-económico-sociais, trazer ao de cima o que une o povo e não o que o
divide, ensinar os caminhos que, no entender de cada um, são os melhores para o futuro do País, defender
o povo das agressões ideológicas partidárias, respeitarem-se mutuamente, não se lançarem em querelas
que desacreditem o esclarecimento político e social e que façam o povo fugir dos "políticos". O povo
precisa de ser esclarecido, ensinado. Todos os partidos têm nisso o mesmo interesse. […]
Discurso de Vasco Gonçalves na tomada de posse do II Governo Provisório, 1974.

Enuncie, com base no documento, o rumo político desejado pelo II Governo Provisório.

Proposta de resolução
Enunciado claro do rumo político desejado pelo II Governo Provisório, com recurso a três de entre
as seguintes evidências:
• o cumprimento do programa do MFA;
• moralizar a vida nacional;
• prestigiar as instituições nacionais;
• melhorar a vida dos portugueses, sobretudo dos mais desfavorecidos;
• implementar medidas económicas que permitam modernizar a estrutura económica e social;
• implementar ações no sentido de esclarecer os portugueses sobre a concretização da vida democrática;
• pôr fim às querelas político-partidárias;
• contribuir para a unidade nacional.

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DOCUMENTOS

2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 12 O VERÃO QUENTE DE 1975

MÓDULO 8
Caricatura publicada em The Christian
Science Monitor, a 6 de agosto de 1975.
Na legenda pode ler-se: Ninho de vespas:
a oposição não comunista atacando a
apropriação militar do poder

Explicite três das tensões político-ideológicas que se fizeram sentir em Portugal entre 1974 e 1975.

Proposta de resolução
Explicitação clara de três das tensões político-ideológicas que se fizeram sentir em Portugal entre
1974 e 1975, de entre as seguintes:
• fim do consenso em torno do MFA e afirmação de projetos políticos divergentes para o futuro do país;
• divergências sobre a questão colonial: defesa do início de negociações para a descolonização imediata
e o projeto federalista defendido por Spínola;
• ambiente de forte agitação social marcado por reivindicações laborais, greves e manifestações;
• grande instabilidade política e governativa, evidenciada pela sucessão de governos provisórios ou de
golpes como o 11 de março ou o 25 de novembro;
• afrontamentos no interior do MFA e na sociedade entre projetos revolucionários e forças reformistas
moderadas ou radicalização dos antagonismos no verão quente de 1975, com saneamentos ou ataques
bombistas ou assaltos a sedes de partidos;
• pressão das forças de esquerda para a institucionalização de formas de poder popular, articuladas com
a ocupação de empresas e de terras.

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2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 13 O 25 DE NOVEMBRO DE 1975

Na legenda pode ler-se:


Portugal: fechado temporariamente
para remodelação.

A. Caricatura publicada em Nebelspalter, a 3 de dezembro de 1975.

B. Os dias seguintes mostraram, felizmente, que a democracia ia consolidar-se, com todos os


direitos fundamentais reconhecidos e garantidos, mas sem a balbúrdia violenta que nos tinha sido
imposta durante o longo verão quente de 1975, e que, essa sim, ameaçava e ofendia, diariamente,
os nossos direitos, liberdades e garantias. Ninguém comentou melhor este contraste – entre uma
situação de “amplas liberdades” em que as pessoas se sentiam coagidas e oprimidas, e uma situação
de “estado de sítio” em que as pessoas se sentiram de repente libertadas – do que Francisco de
Sousa Tavares, num texto […]: "Foi preciso que a opressão e a insegurança em que estávamos a
viver fossem muito fortes para que o “estado de sítio” nos tenha dado uma sensação tão grande de
liberdade."
Diogo Freitas do Amaral, O Antigo Regime e Revolução – Memórias Políticas (1941-1975),
Bertand, Venda Nova, 1996, p. 476.

1. Explicite, a partir dos documentos, a importância do 25 de novembro de 1975.


2. Ordene cronologicamente os seguintes acontecimentos referentes à transição para a democracia:
a) Documento dos Nove
b) Golpe de 11 de Março
c) Pacto MFA/Partidos
d) Criação do Conselho de Revolução
e) Manifestação da “Maioria silenciosa”

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DOCUMENTOS

Proposta de resolução
1. Explicitação clara da importância do 25 de Novembro de 1975, com recurso a três de entre as se-
guintes evidências:
• contragolpe do setor moderado das Forças Armadas, liderado por Ramalho Eanes, com vista a neutrali-
zar as forças de esquerda que tinham tomado pontos estratégicos de Lisboa;
• foi autorizado pelo Presidente da República, depois de ter decretado o estado de sítio;
• pôs fim ao PREC, que dificultava a estabilização da vida política;
• abriu caminho à consolidação da democracia e à consolidação da restituição das liberdades e direitos
individuais;
• pôs fim à radicalização esquerdista da vida política;
• concretizou o desejo da via moderada vencedora nas eleições para a Assembleia Constituinte.
2. (E) – (B) – (D) – (C) – (A).

2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

MÓDULO 8
DOC. 13 A POLÍTICA ECONÓMICA DEPOIS DA REVOLUÇÃO

Autocolante de 1975 em apoio das cooperativas agrícolas de Cartoon de Abel Manta alusivo à nacionalização da
produção. Banca.

Explicite, a partir do documento, a política económica implementada em Portugal entre abril de 1974 e
novembro de 1975.

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M8 PORTUGAL E O MUNDO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO INÍCIO DA DÉCADA DE 80 – OPÇÕES INTERNAS E CONTEXTO INTERNACIONAL

Proposta de resolução
Explicitação clara da política económica implementada em Portugal entre abril de 1974 e novem-
bro de 1975, com recurso a três de entre as seguintes evidências:
• alargamento da intervenção do Estado nas áreas económica e financeira, com vista a abolir os grandes
grupos económicos monopolistas, por pressão das forças de esquerda;
• nacionalização, de acordo com o programa do I Governo Provisório, dos bancos emissores ou publica-
ção de legislação que possibilita ao Estado fiscalizar as instituições de crédito;
• intervenção do Estado em várias empresas, através da nomeação de comissões administrativas, depois
de serem substituídos os corpos gerentes anteriores;
• consagração institucional de formas de poder popular resultantes da ocupação de empresas e de expe-
riências de autogestão;
• nacionalização da banca e dos seguros depois do 11 de março de 1975;
• nacionalização das grandes empresas ligadas aos setores económicos mais importantes, numa via em
direção à economia socialista;
• processo de reforma agrária, no centro e no sul do país, com a constituição de unidades coletivas de
produção, depois das primeiras ocupações;
• consolidação da reforma agrária, depois da promulgação do decreto-lei de julho de 1975, com a expro-
priação dos latifúndios;
• aprovação de legislação para proteção dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos ou aprovação do
salário mínimo, do aumento das pensões, do tabelamento dos preços e de legislação contra os despe-
dimentos.

2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 15 A ALIANÇA MFA/PARTIDOS

A. Introdução – 1. O movimento revolucionário iniciado pelas Forças Armadas, a 25 de abril de


1974, adquiriu uma dinâmica cada vez mais acentuada em resposta, aliás, quer às justas aspirações
do Povo Português, quer às agressões sucessivas e sempre mais violentas da reação. 2. Os graves
acontecimentos contrarrevolucionários de 11 de março impuseram e tornaram inadiável a institucio-
nalização do Movimento das Forças Armadas. É assim que a Lei Constitucional n.° 5/75 criou o
Conselho da Revolução, que ficou com as competências antes atribuídas à Junta de Salvação Nacio-
nal, ao Conselho de Estado e ao Conselho dos Chefes dos Estados-Maiores das Forças Armadas.
3. A Lei n.° 5/75 de forma alguma visa substituir ou marginalizar os partidos políticos autentica-
mente democráticos e empenhados sinceramente no cumprimento do Programa do MFA, antes visa
a dinamização e a vigilância do processo revolucionário que se levará a cabo sempre em mais es-
treita aliança com o Povo Português e com os partidos políticos que defendam os seus mais legíti-
mos interesses. 4. O MFA, representado pelo Conselho da Revolução, estabelece uma plataforma

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DOCUMENTOS

política pública com os partidos que estejam empenhados no cumprimento dos princípios do Pro-
grama do MFA e na consolidação e alargamento das conquistas democráticas já alcançadas. 5. Para
a elaboração da presente plataforma foram levados em consideração os resultados das conversações
mantidas com os diferentes partidos e tomada em conta a situação resultante do esmagamento do
golpe contrarrevolucionário de 11 de março.
B. Objetivos da plataforma – 1. Pretende-se estabelecer uma plataforma política comum que
possibilite a continuação da revolução política, económica e social, iniciada em 25 de abril de 1974,
dentro do pluralismo político e da via socializante que permita levar a cabo, em liberdade, mas sem
lutas partidárias estéreis e desagregadoras, um projeto comum de reconstrução nacional. 2. Os ter-
mos da presente plataforma deverão integrar a futura Constituição política a elaborar e aprovar pela
Assembleia Constituinte. 3. A presente plataforma será válida por um período designado por período
de transição, com duração que será fixada na nova Constituição entre 3 a 5 anos, e que terminará
com uma revisão constitucional.
C. Eleições para a Assembleia Constituinte, seu funcionamento, elaboração e promulgação
da constituição política – 1. O Conselho da Revolução reafirma a sua determinação em fazer cum-
prir o que se encontra estabelecido quanto à realização de eleições verdadeiramente livres e respon-
sáveis para a formação da Assembleia Constituinte. 2. Durante os trabalhos de elaboração da futura
Constituição Política, será constituída uma comissão do MFA, que, em colaboração com os partidos

MÓDULO 8
que assinem o presente acordo, acompanhará os trabalhos da Constituinte, de forma a facilitar a
cooperação entre os partidos e a impulsionar o andamento dos trabalhos, dentro do espírito do
Programa do MFA e da presente plataforma. […] 5. Tendo em conta que as próximas eleições se
destinam unicamente à designação de uma Assembleia Constituinte, cuja missão exclusiva será
elaborar e aprovar a Constituição, as eventuais alterações à composição do Governo Provisório, até
à eleição da Assembleia Legislativa e à consequente formação do Governo, competirão, somente, à
iniciativa do Presidente da República, ouvido o Primeiro-Ministro e o Conselho da Revolução. 6. Os
partidos signatários desta plataforma comprometem-se a não pôr em causa a institucionalização do
MFA, nos termos a seguir expostos, e a fazê-la incluir na nova Constituição, juntamente com os
restantes pontos acordados neste documento. […]
5. Assembleia Legislativa: 5.1. A Assembleia Legislativa será eleita por sufrágio universal di-
reto e secreto e terá um máximo de 250 deputados. 5.2. Os poderes legislativos da Assembleia
serão, apenas, limitados pela sanção necessária do Conselho da Revolução […] 5.6. Os diplomas
legislativos emanados da Assembleia que não tenham obtido a sanção do Conselho da Revolução,
poderão ser promulgados na sua forma inicial se em segunda votação obtiverem aprovação por
maioria de dois terços do número total de deputados.
6. Assembleia do MFA […]: 2. Pontos programáticos a incluir na Constituição – Além das dis-
posições que constituem a base deste acordo, a Constituição deverá consagrar os princípios do
Movimento das Forças Armadas, as conquistas legitimamente obtidas ao longo do processo, bem
como os desenvolvimentos ao Programa impostos pela dinâmica revolucionária que, aberta e irre-
versivelmente, empenhou o País na via original para um socialismo português.
Plataforma Constitucional Partidos – MFA, 11 de abril, 1975.

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M8 PORTUGAL E O MUNDO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL AO INÍCIO DA DÉCADA DE 80 – OPÇÕES INTERNAS E CONTEXTO INTERNACIONAL

Explicite a importância do Pacto MFA/Partidos para a elaboração da Constituição.

Proposta de resolução
Explicitação clara da importância do Pacto MFA/Partidos na elaboração da Constituição de 1976,
com recurso a três de entre as seguintes evidências:
• procura garantir o entendimento com os partidos com vista a evitar o recuo da revolução;
• predetermina alguns dos princípios a incluir na Constituição;
• os princípios deste entendimento só são alvo de alteração após a revisão constitucional;
• garante a manutenção do elenco governativo mesmo depois das eleições, condicionando as opções
político-constitucionais;
• garante a constitucionalização das conquistas da revolução;
• garante a inclusão da via para o socialismo na futura Constituição.

2. PORTUGAL, DO AUTORITARISMO À DEMOCRACIA

DOC. 16 O SIGNIFICADO DA REVOLUÇÃO DE ABRIL

É certo que a revolução acabou, fruto de um processo de contenção, e se lhe seguiu, no quadro
da legitimidade democrática e constitucional, um processo de contrarrevolução legislativa que es-
vaziou progressivamente a parte mais avançada do património revolucionário: a meta do socialismo,
a Reforma Agrária, as nacionalizações, o controlo operário e, de uma forma geral, boa parte das
expressões da democracia direta.
Mas ficou como património que tem sido, até agora, estável, herdado do processo revolucionário,
um núcleo de aquisições fundamentais que subsiste como a sua marca genética: na democracia política,
na democracia social, na democracia educativa, no embrião do Estado-Providência, num certo consenso
em torno do papel regulador do Estado na economia e na sociedade, em nome da justiça social.
Esse traço distintivo, essa marca genética da democracia portuguesa reside no facto, já o referi-
mos, de ela ser fruto de uma revolução. Quer isso dizer que a conquista das liberdades públicas e
dos direitos fundamentais, dos direitos sociais, dos avanços no domínio da saúde, da educação, tal
como a destruição de boa parte das estruturas e das políticas mais odiosas do antigo regime [a
polícia política, a censura, a delação, as milícias, o partido único…], foram, em boa medida, fruto
da iniciativa e da combatividade cidadã, alcançadas na rua, na empresa, na escola antes de se plas-
marem nas leis e na Constituição. A democracia portuguesa, naquilo que tem de essencial é uma
democracia conquistada e não outorgada, fruto de uma rutura revolucionária que se sucedeu à inca-
pacidade histórica da iniciativa autorreformadora do regime ou mesmo de qualquer espécie de tran-
sição pactuada. A revolução […] foi a génese da democracia portuguesa e esta, apesar de tantos
acidentes de percurso e de não poucas desfigurações tem sido dela indissociável. […]
AAVV, As Revoluções Contemporâneas, Fernando Martins e Pedro Aires Oliveira (coord.),
Edições Colibri, Lisboa, 2002, p. 232.

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