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Resumos de História

A estagnação do mundo rural


Nos anos 50 e 60, o país agrário continuava um mundo sobrepovoado e pobre.

Os bloqueios ao desenvolvimento agrícola eram numerosos:

o a falta de vias de comunicação que, eficientemente, ligassem as zonas


produtoras às a cidades do litoral, locais de consumo e exportação;

o O mau dimensionamento das propriedades.

No Norte, predominava o minifúndio, que mal dava para as necessidades da família e não
possibilitava a mecanização; no Sul, estendiam-se propriedades imensas, que, de tão
grandes, se encontravam subaproveitadas;

o a exploração de mais de um terço da área agrícola em regime de


arrendamento precário nada propício ao investimento;

o Os baixos preços dos produtos agrícolas, que desmotivavam o investimento em


máquinas e transportes;

o a miséria da maioria dos trabalhadores rurais, que a custo conseguiam


sobreviver. Isolada do mundo, mal alimentada e sem instrução, a população
camponesa mantinha-se na mesma rotina atrasada dos seus pais e avós.

Na década de 60, quando o país enveredou pela via industrializadora, a agricultura viu-se
relegada para segundo plano e foi olhada por muitos como “um caso sem solução".

A década saldou-se por um enorme decréscimo na taxa de crescimento do Produto


Agrícola Nacional e por um êxodo rural maciço, que esvaziou as aldeias do interior.

A emigração
A emigração reduziu-se drasticamente nas décadas de 30 e 40, devido, primeiro, à
Grande Depressão e, em seguida, à Segunda Guerra Mundial.
Ora, estas duas décadas correspondem a um crescimento demográfico intenso que, sem
escoamento, sobrepovoou o país, originando um excesso de mão de obra que a
economia não foi capaz de absorver.

Esta pressão demográfica resultou numa imensa debandada dos campos, quer em
direção às cidades do litoral, quer, sobretudo, ao estrangeiro.

Entre 1946 e 1973 terão emigrado cerca de 2 milhões de portugueses metade dos quais
saiu na década de 60.

O contingente migratório português provinha de todo o Portugal, com particular


destaque para as regiões do Norte e das ilhas. Rumou em direção à Europa - só a França
recebeu mais de 900 mil portugueses- e, em menor escala, às Américas do Norte e do
Sul.

Os altos salários do mundo industrializado, o clima de repressão política e a rejeição de


muitos face ao recrutamento para (a Guerra Colonial potenciou o fluxo migratório).

Grande parte desta emigração fez-se clandestinamente. A legislação portuguesa


subordinava o direito de emigrar "aos interesses económicos do país e à valorização dos
territórios do Ultramar pelo aumento da população branca", colocando-lhe restrições
várias.

Sair "a salto", como então se dizia, tornou-se a opção de muitos portugueses. Não
obstante, o Estado procurou salvaguardar os interesses dos nossos emigrantes,
celebrando, no início dos anos 60, acordos com os principais países de acolhimento.

Estes acordos permitiram a obtenção de regalias sociais e a livre transferência, para


Portugal, das remunerações amealhadas. O país passou, por esta via, a receber um
montante muito considerável de divisas: as remessas dos emigrantes representavam, no
início da década de 70, mais de 6% do PIB.

Sinal de pobreza e de subdesenvolvimento, a emigração desfalcou o país de


trabalhadores, contribuiu para o envelhecimento da população e privou do normal
convívio com as famílias um grande número de portugueses.

Para o Estado Novo, no entanto, a emigração foi um fator de pacificação social e de


equilíbrio económico, que permitiu ajustar o mercado de trabalho e fez entrar as divisas
necessárias ao equilíbrio da economia

Diferença entre emigração legal e emigração clandestina.


Emigração legal refere-se à saída de indivíduos de um país de forma autorizada pelas leis
e regulamentos do país de origem e do país de destino. Isso geralmente envolve obter
vistos, permissões de residência ou outros documentos necessários.

Em contraste, emigração clandestina ocorre quando as pessoas deixam seu país sem
seguir os procedimentos legais estabelecidos, muitas vezes atravessando fronteiras de
forma ilegal, sem autorização dos países de origem e destino. Isso pode envolver o uso
de passagens clandestinas, documentação falsa ou outros meios ilegais para entrar em
outro país.

O surto industrial
As dificuldades do tempo de guerra deram força àqueles que defendiam a
industrialização como imprescindível ao desenvolvimento nacional.

Logo em 1945, a indústria foi assumida como prioridade económica, embora dentro do
tradicional modelo de autarcia: o seu fim último era o de substituir as importações.

Pouco tempo depois (1948), Portugal assinou o pacto fundador da OECE, integrando-se
nas estruturas do Plano Marshall. Embora pouco tenhamos beneficiado da ajuda
americana', a participação na OECE reforçou a necessidade de um planeamento
económico, conduzindo à elaboração dos Planos de Fomento que, a partir de 1953,
caracterizam a política de desenvolvimento do Estado Novo.

O l e ll Planos de Fomento dão prioridade à criação de infraestruturas e à indústria


transformadora de base, mantendo, no entanto, intocada a velha Lei do
Condicionamento Industrial e o objetivo da substituição das importações, que colocava 0
país à margem da economia mundial.

Os anos 60 trouxeram, porém, alterações significativas à política económica portuguesa.


No decurso do ll Plano, Portugal viria a integrar-se na economia europeia e mundial: em
1960, torna-se um dos países fundadores da EFTA-Associação Europeia de Comércio
Livre-, que reúne sete países que, por razões diversas, não pretendiam aderir à CEE; ainda
no mesmo ano integra-se nas estruturas financeira mundiais; em 1962, assina, em
Genebra, o protocolo do GATT.

Grupo II- A questão política


Um clima de otimismo instala-se entre os opositores ao Estado Novo.

Acredita-se na vaga democrática que percorre a Europa, julgando-a capaz de, por si só,
forçar a abertura do regime.

Em 8 de outubro, numa entusiástica reunião no Centro Republicano Almirante Reis, nasce


o MUD - Movimento de Unidade Democrática, que congrega as forças até aí clandestinas
da oposição

Para garantir a legitimidade do ato eleitoral, o MUD formula algumas exigências, que
considera fundamentais.

Entre elas, o adiamento das eleições por seis meses, a reformulação dos Cadernos
eleitorais, além da imprescindível liberdade de opinião, de reunião e de nenhuma
informação.
As esperanças goraram-se. Nenhuma das reivindicações do Movimento foi satisfeita e
este desistiu, à boca das urnas, por considerar que o ato eleitoral não passaria de uma
farsa.

Pouco depois, iniciou-se a repressão: muitos aderentes ao MUD foram interrogados,


presos ou despedidos do seu trabalho

Em 1949, as forças oposicionistas voltam a mobilizar-se, desta vez em torno da


candidatura de Norton de Matos. Era a primeira vez que um candidato da oposição
concorria à Presidência da República e a campanha voltou a entusiasmar o país, mas, face
a uma severa repressão, Norton de Matos apresentou também a sua desistência pouco
antes das eleições.

Em 1949, o país torna-se também membro fundador da NATO, o que equivalia a uma
clara aceitação do regime pelos parceiros desta organização.

Abria-se, assim, um novo ciclo de relações internacionais, que permitiu ao regime


salazarista sobreviver à derrota dos fascismos europeus.

Nos anos que se seguiram, a oposição democrática dividiu-se e enfraqueceu.

O governo pensava ter a situação controlada até que, em 1958 a candidatura de


Humberto Delgado a novas eleições presidenciais desencadeou um autêntico terramoto
político.

O anúncio do seu propósito de não desistir das eleições e a forma destemida como
anunciou a sua intenção de demitir Salazar, caso viesse a ser eleito fizeram da sua
campanha um acontecimento ímpar de mobilização popular.

O resultado oficial das eleições deu a vitória por esmagadora maioria ao candidato da
situação, o contra-almirante Américo Tomás.

Mas a credibilidade dos resultados e, com ela, a do próprio regime saíram seriamente
abaladas desta prova.

Salazar sentiu-o e, para evitar novo risco de um "golpe de Estado constitucional", anulou
o sistema de sufrágio direto, passando o chefe de Estado a ser eleito por um colégio
eleitoral restrito

Os anos de 1959-62 foram marcados por um forte recrudescimento da oposição, que


passou a contar com elementos que, até então, Ihe tinham sido alheios.

No rescaldo das eleições, o bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes escreve uma dura
carta a Salazar, em que denuncia a miséria do povo e a falta de liberdades cívicas.

A coragem do bispo custou-lhe 10 anos de exílio, mas inspirou um grupo crescente de


católicos que, entre vigílias e manifestos públicos, não pouparam críticas à política do
Estado Novo
Enquanto a instabilidade crescia ao ponto de se tentarem dois golpes de força para
derrubar o regime, a ditadura portuguesa mostrava bem o seu carácter repressivo ao
fazer, em apenas dois anos (1958-60), mais 1200 presos políticos e ao reprimir, com
mortos e feridos, as manifestações de 31 de janeiro, do 5 de Outubro e do 1° de Maio.

A má imagem que, deste modo, o regime projeta no estrangeiro reforça-se com o exílio
de Humberto Delgado e o apresamento do navio português Santa Maria, tomado de
assalto, a 22 de janeiro de 1961, por um comando revolucionário encabeçado por
Henrique Galvão, em pleno mar das Caraíbas.

O marcelismo
Nos primeiros meses de mandato, o novo governo (Marcelo Caetano) dá sinais de
abertura, que enchem de esperanças os opositores políticos: faz regressar do exílio
algumas personalidades, como o bispo do Porto e Mário Soares, modera a atuação da
polícia política, ordena o abrandamento da Censura, abre a União Nacional a
sensibilidades políticas mais liberais.

Foi neste clima de mudança, que ficou conhecido como “primavera marcelista”, que se
prepararam as eleições legislativas de 1969.

Procurando legitimá-las aos olhos da opinião pública, o governo alargou o sufrágio


feminino, permitiu maior liberdade de campanha à oposição, bem como a consulta dos
cadernos eleitorais e a fiscalização das mesas de voto.

Para as listas da União Nacional são convidadas personalidades liberais, como Pinto Leite,
Miller Guerra, Sá Carneiro ou Pinto Balsemão. Em conjunto, formarão, na Assembleia, o
grupo conhecido por “ala liberal".

Frustradas as esperanças de uma real democratização do regime, o presidente do


conselho viu-se sem o apoio dos liberais, que lhe condenavam a falta de força para
implementar as reformas necessárias, e alvo da hostilidade dos núcleos mais
conservadores, que o culpavam pela onda de instabilidade que, entretanto, tinha
assolado o país.

Obrigado a reprimir um poderoso surto de agitação estudantil, greves operárias e até


ações bombistas, Marcello Caetano endurece a repressão política: as associações de
estudantes mais ativas são encerradas, a legislação sindical aperta-se, a polícia política
desencadeia uma nova vaga de prisões, alguns opositores, como Mário Soares, são
novamente remetidos ao exilio.

Desencantados e incapazes de fazer passar as suas propostas de reforma do regime, os


deputados da “ala liberal” abandonam progressivamente a Assembleia NacionaL.

Alvo de todas as críticas, à frente de um regime que não acompanhara a modernização


da sociedade e as aspirações dos portugueses, Marcello Caetano via-se ainda a braços
com o grave problema da Guerra Colonial.
Do Império português ao ultramar português

Segundo Gilberto Freire os portugueses haviam demonstrado uma surpreendente


capacidade de adaptação à vida nas regiões tropicais, onde, por ausência de convicções
racistas, se tinham entregue à miscigenação e à fusão de culturas.

Esta teoria, conhecida como lusotropicalismo, serviu, nos anos 50, para individualizar a
colonização portuguesa, retirando-lhe o carácter opressivo que assumia no caso das
outras nações.

A estas características acrescentava-se o papel de Portugal como nação evangelizadora,


papel que desempenhara, e continuava a desempenhar, como nenhuma outra.

No campo jurídico, opta-se por eliminar as expressões colónia e império colonial de todos
os diplomas legais. Em 1951, revogou-se o Ato Colonial e inseriu-se o estatuto dos
territórios por ele abrangidos na própria Constituição Portuguesa. Por outras palavras,
Portugal deixou legalmente de ter colónias.

Estas, doravante designadas por Províncias Ultramarinas, ganharam equivalência jurídica


a qualquer província do continente: o país estendia-se, sem qualquer quebra de unidade
que não fosse a geográfica, "do Minho a Timor".

O "Império Português" desaparecera, substituído pelo "Ultramar Português"

O fomento económico das colónias

Como reforço desta nova abordagem política, as colónias receberam também um


impulso económico significativo.

A primeira preocupação foi o incremento da população branca.

Favoreceu-se a emigração para o Ultramar e chegaram mesmo a organizar-se colonatos


em Angola e Moçambique.

Aumentaram também os investimentos públicos e privados, passando os territórios


africanos, com destaque para Angola e Moçambique, a estar contemplados nas verbas
dos Planos de Fomento.

O Estado português procedeu à criação de infraestruturas; promoveu o setor agrícola


e extrativo (diamantes, petróleo e minério de ferro, em Angola), virados para o mercado
externo, e apoiou as iniciativas industriais, que conheceram um forte crescimento.
Mesmo o turismo não ficou esquecido.

Ao contrário do que seria de prever, o fomento económico das províncias ultramarinas


intensificou-se com o início da Guerra Colonial.
O deflagrar do conflito (1961, em Angola, e 1964, em Moçambique) não só coincidiu com
a época de maior dinamismo da economia portuguesa, como veio reforçar a necessidade
de uma presença nacional forte, que legitimasse, aos olhos do mundo, a posse dos
territórios do Ultramar.

A luta armada
Apesar de todos os esforços, o governo português não e conseguiu contrariar, os ventos
de mudança que sopravam sobre África.

Nos territórios portugueses formaram-se também, nos anos 50 e 60, movimentos


independentistas dispostos a lutar contra a dominação portuguesa:

Em Angola, em 1955:

• surge a UPA (União das Populações de Angola), liderada por Holden Roberto,
que, sete anos mais tarde, se transforma na FNLA (Frente Nacional de Libertação
de Angola);

• O MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), dirigido por Agostinho


Neto, forma-se em 1956;

• E a UNITA (União para a Independência Total de Angola) surge pela mão de


Jonas Savimbi, dissidente da FNLA, em 1966;

• Em Moçambique, a luta é encabeçada pela FRELIMO (Frente de Libertação de


Moçambique), criada por Eduardo Mondlane, em 1962;

• Na Guiné distingue-se o PAIGC (Partido para a Independência da Guiné e Cabo


Verde), fundado por Amílcar Cabral, em 1956.

Os confrontos iniciaram-se em Angola, em fevereiro e março de 1961, com ataques do


MPLA em Luanda e violentos ataques da UPA a várias fazendas e postos administrativos
do Norte.

Em 1963, o conflito estendeu-se à Guiné e, no ano seguinte, a Moçambique.

Abriram-se assim três frentes de combate, que exigiram dos portugueses um sacrifício
desproporcionado: o país mobilizou 7% da sua população ativa (algo que só foi
ultrapassado por Israel e deixa a Guerra do Vietname a um nível cinco vezes inferior) e
despendeu, na Defesa, 40% do Orçamento Geral do Estado.
Em treze anos de combates pereceram cerca de 8000 portugueses e mais de 100 000
ficaram feridos ou incapacitados.

A resistência portuguesa ultrapassou, em muito, os prognósticos da comunidade


internacional, que previam, para um conflito de tal envergadura, a capitulação rápida
desta nação pequena e economicamente atrasada.

Grupo III
O Movimento das Forças Armadas

Os progressos do PAIGC na Guiné, o encarniçamento da guerra em Moçambique e a


persistente condenação internacional deram a muitos oficiais de carreira a convicção de
que estavam a remar contra a corrente, lutando por uma causa perdida.

Foi este sentimento que induziu o general Spínola a publicar Portugal e o Futuro, e foi
igualmente este sentimento que transformou um movimento de oficiais -o Movimento
dos Capitães, iniciado por meras questões de promoção na carreira-no movimento
revolucionário que derrubou o Estado Novo.

Considerando que este último objetivo exigia a intervenção de altas patentes, o


Movimento dos Capitães depositou a sua confiança nos generais Costa Gomes e Spínola,
respetivamente, chefe e vice-chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas

Face a estas posições, que conhecia, e ao impacto do livro de Spínola, Marcello Caetano
convoca os oficiais generais das Forças Armadas para uma sessão solene em que seria
reiterada a sua lealdade ao Governo.

Costa Gomes e Spínola não compareceram à reunião (14 de março), sendo, no mesmo
dia, exonerados dos seus cargos.

Estes acontecimentos deram força àqueles que, dentro do movimento (agora


denominado Movimento das Forças Armadas - MFA), acreditavam na urgência de um
golpe militar que, restaurando as liberdades cívicas, permitisse a tão desejada solução
para o problema colonial.

Depois de uma tentativa precipitada, em março, que as forças governamentais debelaram


com facilidade, o MFA preparou minuciosamente a operação militar que, na madrugada
do dia 25 de abril de 1974, pôs fim ao Estado Novo.

Operação "Fim-Regime"
A operação "Fim-Regime" do Movimento das Forças Armadas decorreu sob a
coordenação do major Otelo Saraiva de Carvalho, de acordo com o plano previamente
definido: depois da transmissão, pela rádio, das canções-senha (E Depois do Adeus, de
Paulo de Carvalho, cerca das 23 horas, e Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, hora e
meia mais tarde), as unidades militares saem dos quartéis para cumprirem, com êxito, as
missões que lhes estavam destinadas: ocupação das estações de rádio e da RTP, controlo
do aeroporto e dos quartéis-generais das regiões militares de Lisboa e do Norte, cerco
dos ministérios militares do Terreiro do Paço, entre outras.

A única falha no plano previsto - a prévia neutralização dos comandos do Regimento de


Cavalaria 7 de Lisboa, que não aderira ao golpe - originou uma das poucas situações
verdadeiramente difíceis com que o MFA se defrontou: junto ao Terreiro do Paço, o
destacamento da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, chefiada pelo jovem capitão
Salgueiro Maia, deparou-se com uma poderosa coluna de tanques do Regimento de
Cavalaria 7, que saiu em defesa do regime.

Valeu, nesta altura, o sangue-frio de Salgueiro Maia, que não autorizou os seus homens a
abrir fogo, decidindo, corajosamente, parlamentar com o inimigo coube também a
Salgueiro Maia dirigir o cerco ao Quartel do Carmo, onde se tinham refugiado o
presidente do Conselho e outros membros do Governo.

A resistência do quartel terminou cerca das 18 horas, quando Marcello Caetano se


rendeu, dignamente, ao general Spínola. No fim do dia, o "Movimento dos Capitães"
sagrava-se já vitorioso.

Apesar dos insistentes pedidos para que, por razões de segurança, a população civil se
recolhesse em casa, a multidão acorrera às ruas em apoio aos militares, a quem distribuía
cravos vermelhos.

Praticamente, só a polícia política resistia ainda. Render-se-ia na manhã seguinte, não sem
provocar (por disparos sobre a população civil que se manifestava junto da sua sede, em
Lisboa) os únicos quatro mortos da "Revolução dos Cravos".

A facilidade com que o regime autoritário caiu às mãos do seu próprio exército é a prova
evidente do anacronismo e total isolamento em que tinha mergulhado a vida política
portuguesa.

O desmantelamento das estruturas do Estado Novo

No próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Junta de Salvação
Nacional, constituída por acordo entre o MFA e a hierarquia das Forças Armadas.

A Junta tomou imediatamente, de acordo com o programa do MFA, um conjunto de


medidas tendentes à liberalização da política partidária e ao desmembramento das
estruturas do regime deposto:
• O presidente da República, Américo Tomás, e o presidente do Conselho Marcello
Caetano, foram destituídos, bem como todos os governadores civis e outros
quadros administrativos. Américo Tomás e Marcello Caetano partiram para a
Madeira e, pouco depois, para o exílio, no Brasil.

• A PIDE-DGS, a Legião Portuguesa e as Organizações de Juventude foram extintas,


bem como a Censura (Exame Prévio) e a Ação Nacional Popular.

• Os presos políticos foram amnistiados e libertados e, concomitantemente, as


personalidades no exílio puderam regressar a Portugal.

• Foi autorizada a formação de partidos políticos e de sindicatos livres, sendo


legalizadas as organizações que, até aí, operavam clandestinamente, como era
caso, entre outros, da central sindical unitária (Intersindical), do Partido Comunista
Português (fundado em 1921) e do Partido Socialista (fundado em 1973, a partir
da Ação Socialista Portuguesa).

O MFA comprometeu-se, igualmente, a passar o poder para as mãos dos civis, definindo
o prazo máximo de um ano para a realização de eleições constituintes.

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