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O surto industrial
A política de autarcia empreendida pelo Estado Novo não atingiu os seus objetivos.
Quando os países que tradicionalmente nos forneciam se envolveram na guerra os
abastecimentos tornaram-se precários e alastrou-se a penúria e a carência.
Em 1945, a Lei do Fomento e Reorganização Industrial estabeleceu as linhas-mestras
da política industrializadora dos anos seguintes, tendo em conta que o seu objetivo final
era a substituição das importações.
Em abril de 1948, Portugal assinou o pacto fundador da OECE, integrando-se nas
estruturas de cooperação previstas no Plano Marshall. Apesar de pouco nos ter
beneficiado, a participação da OECE reforçou a necessidade de um planeamento
económico, conduzindo à elaboração dos Planos de Fomento que, a partir de 1953,
caracterizam a política de desenvolvimento do Estado Novo.
O I Plano de Fomento (1953-1958) reconhecia a importância da industrialização para o
progresso do país, destacando a criação de infraestruturas (eletricidade, transportes e
comunicações).
No II Plano (1959-1964) alargou-se o montante investido e elegeu-se a indústria
transformadora de base (siderurgia, refinação de petróleos, adubos, químicos, celulose).
Em suma, estes dois primeiros planos mantêm intocado o objetivo da substituição das
importações e a lei do condicionamento industrial.
Os anos 60 trouxeram alterações significativas à política económica portuguesa e
mundial, sendo que em janeiro de 1960, Portugal tornou-se um dos países fundadores da
EFTA (Associação Europeia de Comércio Livre). Ainda no mesmo ano, 2 decretos de
lei aprovaram o acordo do BIRD e do FMI e em 1962, assinou-se, em Genebra, o
protocolo do GATT.
A adesão a estas organizações marcou a inversão da política de autarcia do Estado
Novo. O Plano Intercalar de Fomento (1965-67) enfatiza já as exigências da
concorrência externa inerente aos acordos assinados, e a necessidade de rever o
condicionamento industrial, que se considerava desadequado às novas realidades.
Em 1968, a nomeação de Marcello Caetano para o cargo de presidente do Conselho
inaugura, com III Plano de Fomento (1968-73), uma orientação completamente nova. A
implementação deste novo plano veio confirmar a internacionalização da economia
portuguesa, o desenvolvimento da indústria privada como setor dominante da economia
nacional, o crescimento do setor terciário e consequente incremento urbano. No que diz
respeito à internacionalização da economia, assistiu-se ao fomento da exportação de
produtos nacionais, num quadro de afirmação cada vez mais consistente da livre
concorrência e à abertura do país aos investimentos estrangeiros, em especial quando
geradores de emprego e portadores de tecnologias avançadas.
Esta política conduziu à consolidação dos grandes grupos económico-financeiros e ao
acelerar o crescimento nacional, que atingiu o seu pico. No entanto, o país continuou a
sentir as exigências da guerra colonial e o seu enorme atraso face à Europa
desenvolvida.
A urbanização
Este surto industrial traduziu-se inevitavelmente no crescimento no setor terciário e
progressiva urbanização do país. Em 1970, mais de ¾ da população portuguesa vivia em
cidades e cerca de metade desta população urbana vivia em cidades com mais de 10 000
habitantes. Viveu-se em Portugal, no terceiro quartel do século XX, o fenómeno urbano
que caracterizou a Europa no século anterior.
Com efeito, sobretudo, nas cidades do litoral, onde se concentravam as grandes
industrias e serviços, viram a aumentar os seus efetivos populacionais, concentrados nas
áreas periféricas.
É o tempo da formação, em torno das grandes cidades, dos dormitórios de populações,
que diariamente, passaram a dirigir-se para os locais de trabalho, tornando obsoleto o
sistema de transportes públicos.
Quer dizer que, à semelhança do que aconteceu na Europa industrializada, também em
Portugal se fizeram sentir os efeitos da falta de estruturas habitacionais, de transportes,
de saúde, de educação, de abastecimento, tal como os mesmos problemas de degradação
da qualidade de vida, de marginalidade e de clandestinidade a que os poderes públicos
que tiveram de dar resposta.
O fomento económico das colónias
Até aos 40 anos, o Estado Novo desenvolveu um colonialismo típico, que se baseava
na produção de produtos primários e no desencorajamento do desenvolvimento
industrial. As décadas seguintes iriam ser marcadas por um reforço da colonização
branca, pela escalada dos investimentos públicos e privados e pela maior abertura ao
capital estrangeiro. Angola e Moçambique receberam atenção privilegiada, pois eram os
territórios mais extensos e com maiores recursos naturais.
Os investimentos do Estado nas colónias, a partir de 1953, foram incluídos nos Planos
de Fomento.
O Estado procedeu à criação de infraestruturas, como caminhos de ferro, estradas,
pontes, aeroportos, portos, centrais hidroelétricas. Simultaneamente, desenvolveram-se
os setores agrícola (sisal, açúcar e café, em Angola; oleaginosas, algodão e açúcar, em
Moçambique) e extrativo (diamantes, petróleo e minério de ferro, em Angola), voltados
para o mercado externo.
Em relação ao setor industrial, as duas colónias observaram um acentuado
crescimento, derivado pela progressiva liberalização da iniciativa privada, pela
expansão do mercado interno e pelo reforço dos investimentos nacionais e estrangeiros.
O fomento económico das colónias obteve um forte impulso após o início da guerra
colonial.
A questão colonial
As potências coloniais europeias começaram a aceitar a ideia de abrir a mão dos seus
impérios e a nossa aliada britânica preparava-se para começar a via de negociação e da
transferência pacifica de poderes.
Então, o Estado Novo viu-se obrigado a rever a sua política colonial e a procurar
soluções para o futuro do nosso império.
Em termos ideológicos, a “mística do império” é substituída pela ideia da
“singularidade da colonização portuguesa”. Os portugueses demonstraram uma
capacidade de adaptação à vida nas regiões tropicais, onde se tinham entregado à
miscigenação e à fusão das culturas. Esta teoria, conhecida como luso-tropicalismo,
serviu para individualizar a colonização portuguesa, retirando-lhe o carácter opressivo
eu assumia na casa das outras nações. Também se acrescentava o papel histórico de
Portugal como nação evangelizadora.
No campo jurídico, em 1951, deixou de existir colónias e passou a ter Províncias
Ultramarinas. Aconteceu o mesmo com o “Império Português”, tendo sido substituído
pelo “Ultramar Português”.
A nível interno, a presença portuguesa em África não sofreu praticamente contestação
até ao início da guerra colonial.
Esta quase unanimidade de opiniões quebrou-se com o inicio da luta armada em
Angola, em 1961. Assim, confrontaram-se duas testes divergentes:
integracionista: defendia a política ai seguida, lutando por um Ultramar
integrado no Estado Português;
federalista: achava que não era possível persistir na mesma via, devido à pressão
internacional e aos custos de uma guerra em África. Defendia, então, a
progressiva autonomia das colónias e a constituição de uma federação de estados
que salvaguardasses os interesses dos portugueses.
Devido aos primeiros sinais de indisciplina independentista, Salazar enviou para
Angola os primeiros contingentes militares.
A luta armada
A recusa do governo português em encarar a possibilidade de autonomia das colónias
africanas fez extremar as posições dos movimentos de libertação que se foram formando
na África portuguesa:
o em Angola, surge a UPA, liderada por Holden Roberto, que, sete anos mais
tarde, se transformou na FNLA; o MPLA, dirigido por Agostinho Neto, em
1956; a UNITA, surgida por Jonas Savimbi, divergente da FNLA, em 1962;
o em Moçambique, a luta é dirigida pela FRELIMO, criada por Eduardo
Mondlane, em 1962;
o na Guiné, distingue-se o PAIGC, fundado por Amílcar Cabral, em 1956.
O confronto armado iniciou-se no Norte de Angola, em março de 1961, com ataque
da UPA a várias fazendas e postos administrativos portugueses.
Em 1963, o conflito prolongou-se à Guiné e, no ano seguinte, a Moçambique.
Abriram-se três frentes de combate, que exigiram dos Portugueses um sacrifício
desproporcionado, ou seja, o país mobilizou 7% da sua população ativa e
despendeu, na Defesa, 40% do Orçamento Geral do Estado.
A resistência portuguesa ultrapassou os prognósticos da comunidade internacional,
que previam a capitulação rápida desta nação pequena e economicamente atrasada.
O isolamento internacional
A questão das colónias ganhou dimensão, depois da entrada do nosso país na ONU,
em 1955. Portugal recusou-se de imediato a admitir que as disposições da Carta,
relativas à administração de “territórios não autónomos” lhe fossem aplicados, pois
as províncias ultramarinas faziam parte do território português.
Esta seria a primeira de muitas derrotas que foram isolando os Portugueses e que se
intensificaram com a aprovação da Resolução 1514 e o início da guerra colonial.
Em 1961, Portugal esteve em foco nas Nações Unidas, acabando esta organização
por coordenar o nosso país devido ao não cumprimento dos princípios da Carta e
das resoluções aprovadas. Estas disposições repetiram-se insistentemente com
apelos a Portugal para que reconhecesse o direito à autodeterminação das colónias
africanas. Esta postura levou ao desprestigio do nosso país, que foi excluído de
vários organismos das Nações Unidas, como o Conselho Económico e Social.
Para além das dificuldades que lhes foram impostas na ONU, Portugal viu-se a
braços, no inicio dos anos 60, com a hostilidade da administração americana.
Principalmente durante ‘’era Kennedy’’, os americanos revelaram-se convictos
que o prolongamento da guerra jogaria favor dos interesses soviéticos já que
afastava os estados africanos de Portugal e, dos seus aliados da NATO. Não só
financiaram alguns grupos nacionalistas, como propuseram sucessivos planos de
descolonização, procurando assim vencer as resistências de Salazar.
Salazar acabou por encarar o facto de ficarmos ‘’orgulhosamente sós’’.
Procurou sempre quebrar com o isolamento que havia, através de uma intensa
campanha diplomática juntos dos nossos aliados europeus como também recorreu a
operações de propaganda internacional jogando todos os trunfos, o que se revelou
vital para os americanos, uma vez que o nosso governo tinha conseguido sustentar a
sua posição colonial.
A primavera marcelista
Em setembro de 1968, António de Oliveira Salazar é operado de urgência a um
hematoma cerebral. Pouco depois, dado o agravamento do seu estado de saúde, é
substituído por Marcello Caetano. Este, apresentava-se como um político mais liberal,
capaz de alargar a base de apoio do regime.
No discurso da tomada de posse, Marcello Caetano definiu as linhas orientadoras do
seu Governo: continuar a obra de Salazar, sem por isso dispensar da necessária
renovação política. Pretendia-se “evoluir na continuidade”, concedendo aos portugueses
a “liberdade possível”.
Nos primeiros meses de mandato, o novo Governo deu sinais de abertura:
fez regressar do exílio algumas personalidades, como o bispo do Porto e Mário
Soares;
moderou a atuação da polícia política, que passará a chamar-se de Direção-Geral
de Segurança (DGS);
ordenou o abrandamento da censura, mais tarde designado Exame Prévio;
abriu a União Nacional a sensibilidades políticas mais liberais;
alargou o sufrágio feminino a todas as mulheres escolarizadas;
permitiu maior liberdade de campanha à oposição;
consulta dos cadernos eleitorais:
fiscalização das mesas de voto.
No entanto, o ato eleitoral saldou-se por muitos atropelos aos principais democráticos
e o mesmo resultado, isto é, 100% dos lugares de deputados para a União Nacional e
0% para a oposição.
Falhadas as esperanças de uma real democratização do regime, Marcello Caetano não
obteve o apoio dos liberais e foi alvo da hostilidade dos núcleos mais conservadores.
Este foi obrigado a reprimir um poderoso surto de agitação estudantil, greves operárias e
ações bombistas, tendo-se ligado cada vez mais à direita e tendo incidido a sua política
inicial.
As associações de estudantes mais ativas foram encerradas, a legislação sindical
apertou-se, a polícia política desencadeou uma nova vaga de prisões, alguns opositores
foram novamente remetidos ao exílio. Este processo de regressão encerrou em 1972,
quando Américo Tomás foi reconduzido ao alto cargo de presidente da República (já
com 77 anos e conotado com a ala ultraconservadora).