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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DO FUNDÃO

A CIVILIZAÇÃO INDUSTRIAL NO SÉCULO XIX


(recuperação conteúdos 8º ano)

Sucessos e bloqueios na industrialização portuguesa

Que conflitos político-militares decorreram entre 1834 a 1851?

Apesar da instauração definitiva do Liberalismo, em 1834,


Portugal continuou a viver um período de instabilidade política.
Em setembro de 1836, teve lugar em Lisboa uma revolução
levada a cabo pela pequena e média burguesia e que contou com a
adesão das classes populares. Os defensores do Vintismo, apoiantes
desta revolução, pretendiam o regresso à Constituição de 1822
(considerada mais democrática) e a redução da intervenção régia.
Perante este cenário, D. Maria II nomeou o governo chefiado por Passos Manuel, que procedeu à preparação
da Constituição de 1838 e a reformas no ensino e na economia, no sentido de responder
às expectativas dos seus apoiantes.

Perante o fracasso da política económica setembrista, em 1842, os


defensores da Carta Constitucional regressaram ao poder, liderados por
Costa Cabral. Durante o cabralismo, procurou-se modernizar o país,
construindo vias de comunicação. Perante o aumento dos impostos e
autoritarismo de Costa Cabral, desencadearam-se motins populares que
alastraram a todo o país. Em abril de 184, iniciou-se um período de guerra
civil com a revolta da “Maria da Fonte, uma reação popular contra os
impostos e os enterramentos fora dos adros das igrejas. A esta seguiu-se
a Patuleia, que terminaria em 1847, após a intervenção de tropas inglesas
e espanholas, a pedido de D. Maria II. Costa Cabral permaneceu no poder
até 1851, data em que o Marechal Duque de Saldanha deu início a uma
nova etapa política do Liberalismo: a Regeneração.

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Que fatores atrasaram a modernização portuguesa durante a primeira metade do século XIX?

Até meados do século XIX, Portugal permanecia um país típico do Antigo Regime: pouco
industrializado, com uma economia rural e de baixo nível de produtividade. Na verdade, são vários os
fatores que podem explicar este atraso. Além da instabilidade política, coexistiram aspetos de ordem
económica que dificultaram a modernização: solos pobres, terrenos incultos, escassa utilização de adubos e
fertilizantes, falta de investimento no setor agrícola, agricultura de subsistência e mercado interno pobre,
inexistência de uma rede de transportes que facilitasse a circulação de produtos e pessoas. Perante este
cenário, as preocupações dos políticos continuaram a dirigir-se para a modernização do setor agrícola.

Que condições permitiram as tentativas de modernização económica ocorridas durante a Regeneração?

A partir de 1851 deu-se início a uma nova etapa política: a


Regeneração. Este longo período de estabilidade política, marcado pelo
rotativismo partidário (alternância de dois partidos no poder), foi
essencial para que se promovesse uma série de reformas económicas que
aproximasse Portugal dos restantes países industrializados.
Dando particular atenção ao desenvolvimento dos transportes e
vias de comunicação, considerado fundamental para o progresso
económico, entregou-se o recém-criado Ministério das Obras Públicas,
Comércio e Indústria a Fontes Pereira de Melo. Assim, durante este
período – que ficou conhecido por Fontismo -, procedeu-se a inúmeras
melhorias dos meios de comunicação: construíram-se numerosas pontes
(de D. Maria e de D. Luís, no Porto), estradas (em 1880, alcançava uma
extensão de 9000 km) e o primeiro troço de caminhos de ferro (Lisboa-
Carregado); instalou-se o telégrafo e o telefone e criaram-se os selos
postais; construíram-se portos.

Também foram tomadas medidas no sentido de desenvolver a agricultura: introduziram-se novas


máquinas e utensílios agrícolas; aumentou-se a área de cultivo e tornaram-se os terrenos mais produtivos,
com a aplicação de adubos químicos, fertilizantes e a seleção de sementes; desenvolveu-se a cultura do

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vinho, do arroz e da batata; incentivou-se a criação de gado; criaram-se instituições que facilitassem o acesso
ao crédito.
A rápida industrialização do país tardava em chegar: o mercado interno era pouco desenvolvido;
escasseavam matérias-primas, mão de obra qualificada e capital, mantendo Portugal economicamente
dependente do estrangeiro (Inglaterra). A partir da década de 1870, deu-se o definitivo arranque industrial:
as indústrias têxtil (algodão e lã), moagem, conservas, cortiça, adubos e metalomecânica desenvolveram-se
graças à aplicação da máquina a vapor. E surgiram, em Lisboa, Porto e Covilhã, as grandes concentrações
fabris.

Como se explica a dependência económica de Portugal face ao estrangeiro?


Para realizar a tão desejada modernização do país, essencial ao desenvolvimento económico
(industrial e agrícola), Portugal contraiu empréstimos em bancos estrangeiros (principalmente Inglaterra e
França). A dívida externa (dinheiro que um Estado deve a instituições estrangeiras) foi-se acumulando,
mantendo Portugal na dependência económica do estrangeiro, uma vez que não era capaz de produzir
riqueza suficiente para financiar os seus investimentos.

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Quais foram os resultados económicos da Regeneração?

As expectativas em torno do projeto regenerador eram elevadas: prometeu estabilidade política e


arrancou com a criação de infraestruturas que promovessem o desenvolvimento industrial. Todavia, as
promessas da Regeneração foram cumpridas de forma parcial: o investimento nos transportes e
comunicações possibilitou a criação de um mercado interno, que nunca se mostrou muito estimulante devido
ao baixo poder de compra da população; a liberalização do comércio (redução das taxas alfandegárias)
permitiu que entrassem em Portugal matérias-primas essenciais (em contrapartida, a exportação de azeite,
cortiça e vinho saiu beneficiada). Apesar de alguns sinais de progresso, o arranque industrial foi tímido e
tardio: a indústria portuguesa mantinha uma fraca produtividade.

Quais foram os resultados demográficos e sociais da Regeneração?

Ao longo do século XIX verificou-se um acentuado crescimento demográfico, variável de acordo com
a região. Perante uma economia pouco produtiva e difíceis condições de vida, milhares de portugueses
partiram em busca de fortuna. Oriundos de Braga, Porto, Aveiro, Coimbra e Lisboa, os emigrantes partiam,
sobretudo, em direção ao Brasil, com a esperança de enriquecerem e regressarem à sua terra natal. Na
verdade, foram poucos os brasileiros de torna-viagem (como ficaram conhecidos) que regressaram com
grandes fortunas. A emigração teve consequências na economia portuguesa: multiplicou as transações
bancárias e ajudou no equilíbrio da dívida de Portugal, diminuindo a sua dependência em relação ao
estrangeiro.
Do ponto de vista social, a Regeneração favoreceu a ascensão da burguesia que passou a controlar
a economia e a ter acesso privilegiado a cargos políticos, à administração pública e aos títulos de nobreza.
Impondo a sua mentalidade e valores, os barões do liberalismo constituíam uma minoria que dominava o
poder.
Em lado oposto encontrava-se o operariado. Embora pouco numeroso, os operários enfrentavam
difíceis condições de ida. Os patrões, interessados no lucro rápido e fácil, apreciavam o trabalho feminino e
infantil, principalmente no setor têxtil. As duras condições de vida levaram o operariado a organizar-se em
sindicatos para melhor defenderem os seus interesses. Em 1853, fundou-se o Centro Promotor do
Melhoramento da Classe Laboriosa. Na década de 1870, aconteceram as primeiras greves e, em 1890, em
Portugal, começou-se a comemorar o Dia do Trabalhador, o 1º de maio. Estas iniciativas contribuíram para

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a publicação de legislação que defendesse os direitos dos trabalhadores, regulamentando o trabalho infantil
e garantindo a segurança dos operários.

In, Novo Viva a História 8, Porto Editora

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