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Era essencial redimensionar a propriedade pois esta apresentava uma profunda assimetria
norte-sul: no Norte predominava o minifúndio e no Sul o latifúndio, que se encontravam
subaproveitadas.
O governo reconhece que é necessário modernizar o setor agrícola e, sobretudo com o segundo
plano de fomento, propõe algumas alterações na estrutura fundiária:
-No norte constituem-se propriedades mais vastas, através da aquisição pelo estado de
pequenas propriedades que seriam vendidas a jovens dispostos a investir em novas técnicas e
produtos de que o país era deficitário;
- No sul, tentou-se estimular a constituição de áreas mais pequenas, igualmente entregues à
exploração de pequenos rendeiros. Foram também incentivadas a diversificação de produção de
florestação das zonas mais inóspitas.
Mas estas propostas não contam com a adesão dos proprietários, que no Norte preferiam
continuar agarrados ao que herdaram, no Sul preferiam continuar viver à custa dos baixos salários e
dos subsídios.
Êxodo rural e falência do setor agrícola: Nos anos 60 é confirmado em Portugal um novo
modelo de desenvolvimento assente no crescimento industrial, com isto, as aldeias do interior
veem partir as suas populações em busca de melhores condições. As que ficam continuam
agarradas aos cereais, arroz e as batatas, alimentos incapazes de alimentar uma população cada
vez com melhor poder de compra e que por isso já podia comer alimentos mais ricos.
As importações continuaram a ser a única solução, com graves consequências para o
agravamento das contas do estado.
A emigração:
Mas os movimentos migratórios não ocorreram apenas a nível interno. Ao longo dos anos
60 a maioria da população rural portuguesa emigrou para os países desenvolvidos da europa, em
especial para a França e a Alemanha, para as “províncias ultramarinas”.
As causas da emigração:
- A pobreza em que parte significativa da população vivia;
- A fuga de muitos jovens à incorporação militar obrigatória;
- A promoção da ocupação dos territórios ultramarinos com população branca para “valorizar” os
territórios;
- A despenalização da emigração clandestina quando Salazar entendeu que que as remessas
enviadas pelos emigrantes contribuíam para o equilíbrio da balança de pagamentos e aumento do
consumo interno;
Formas de emigração:
Os emigrantes eram, na sua maioria, homens entre os 18 e 29 anos dispostos a aceitar
qualquer trabalho que propiciasse um bom rendimento.
Eram colocados obstáculos à emigração para a Europa, a maior parte das emigrações era
feitas clandestinamente (“a salto”), com grandes benefícios para “os passadores”, muitas vezes sem
escrúpulos, que conduziam os emigrantes por roteiros fronteiriços mediante o pagamento de
grandes importâncias.
Eram enormes as dificuldades de quem partia nestas condições: elevado custo da passagem;
detenção pela PIDE; e sobretudo pela ausência de proteção civil.
A solução muitas vezes era o alojamento em barracas, bairros de lata, de simples
conterrâneos que os inseriam nas suas comunidades.
Só quando o governo entendeu o interesse financeiro deste surto migratório é que passou a
intervir na proteção dos emigrantes nos seus países de destino.
Consequências da emigração:
- Perda dos melhores trabalhadores; - A desagregação das famílias;
- A intensificação do despovoamento do interior; - O envelhecimento da população;
- A má imagem internacional do regime;
A médio e longo prazo sobressaíram algumas consequências positivas da emigração:
- Transferência para Portugal das poupanças amealhadas com peso nas contas públicas;
- Dinamização do consumo por parte dos familiares que ficaram em Portugal;
- Resolução dos desequilíbrios entre o crescimento demográfico e o atraso económico;
- A alteração das velas estruturas rurais sobre as quais assentava o imobilismo do regime;
- Contacto com outros países, outras culturas e modos de vida;
1ª Fase:
Nos anos 50 e até meados de 60, o desenvolvimento da indústria portuguesa insere-se
ainda na política económica nacionalista e autárcica, que era uma das características do regime.
São criados planos de fomento:
- I Plano (1953-1958) dá prioridade à criação de infraestruturas (desenvolvimento dos
setores elétrico, dos transportes e das comunicações);
- II Plano (1959-1964) mais ambicioso nos montantes a investir e produziu resultados mais
significativos. Este plano coincidiu com a política de fomento económico das colónias e com
a integração do nosso país na economia internacional: logo em 1960, Portugal integra um
espaço económico europeu, a EFTA, e o governo assina o acordo do BIRD e do FMI. Em 1962
assina também o GATT.
O setor da indústria pesada (siderúrgica, metalomecânica, adubos e celulose) foi o que
sentiu mais efeitos do fomento industrial.
2ªFase:
A partir da segunda metade dos anos 60, a abertura ao exterior e o reforço da economia
privada são as grandes opções da política económica nacional, evidenciadas por um Plano
intercalar de fomento, entre 1965-1967. O condicionamento da economia revelava-se desajustado
dos novos tempos, marcados pela concorrência externa, em consequência dos acordos assinados.
O resultado traduziu-se numa inversão da política da autarcia das primeiras décadas do estado
novo. Era o fim do ciclo conservador e ruralista de Salazar e a afirmação das novas opções para a
economia nacional, defendidas por políticos, entre os quais sobressaía Marcelo Caetano.
3º Fase:
É Marcelo Caetano que lança o III Plano de fomento, que vigorou até 1973.
Este plano confirmou a internacionalização da economia portuguesa, o desenvolvimento da
indústria privada, o crescimento do setor terciário e incremento urbano.
Assistiu-se ao fomento da exportação de produtos nacionais e à abertura do país aos
investimentos estrangeiros.
Foi o tempo da formação dos grandes grupos económicos, como o complexo de Sines e a
siderurgia nacional.
O urbanismo:
O surto industrial traduziu-se no crescimento do setor terciário e na urbanização do país. Em
1970, mais ¾ da população portuguesa viviam em cidades e cerca de metade desta população
urbana vivia em cidades com mais de 10000 habitantes.
Nas cidades do litoral, onde se encontravam as grandes industrias e os serviços, viram
aumentar a sua população, concentrada nas árias periféricas. Em Portugal tamém se fizeram sentir
os efeitos da falta de estruturas habitacionais, de transportes, de saúde, de educação e de
abastecimento a que os poderes públicos tiveram que dar resposta.
A questão colonial:
A nova ordem internacional instituída pela Carta das Nações e a primeira vaga de
descolonizações tiveram importantes repercussões na política colonial do Estado Novo.
A partir do momento em que a ONU reconhece o direito à autodeterminação dos povos e
em que as grandes potências coloniais começam a negociar a independência das suas possessões
ultramarinas, torna-se difícil para o governo português manter a política colonial instituída com a
publicação do Ato Colonial, em 1930.
Salazar tem de procurar novas soluções para afirmar a vocação colonial de Portugal e para
recusar qualquer cedência Às crescentes pressões internacionais.
Soluções preconizadas:
A tese do lusotropicalismo:
No Ato Colonial de 1930, a presença portuguesa em África revestia-se de características
particulares e não podia ser considerada uma presença colonial visando interesses meramente
económicos. Esta tese assentava na pretensa ausência de contestação e de revoltas contra o
domínio português, bem como na existência de boas relações com as populações indígenas.
As primeiras divergências:
Em 1961 começam a notar-se algumas divergências nas posições a tomar sobre a questão
do ultramar.
Outra tese, propunha a concessão de uma autonomia progressiva que conduzisse à
formação de uma federação de estados. Os defensores desta tese federalista propuseram ao
presidente da república a destituição de Salazar.
Destituídos acabaram por ser eles, saindo reforçada a tese de Salazar que ordenou que o
exército português avançasse para Angola, dando início a uma guerra que se prolongou até à queda
do regime em 1974.
A luta armada:
A guerra de libertação foi iniciada no Norte de Angola em fevereiro de 1961, em
consequência das primeiras investidas contra a presença portuguesa levadas a cabo pelas forças da
UPA/FNLA, fundada em 1954 e dirigida por Holden Roberto, que era apoiado pelos americanos.
A rebelião ganhou outra força militar com a entrada da ação do MPLA, fundado em 1955 e
presidido por Agostinho Neto, apoiado pela URSS.
A partir de 1966 apareceu a UNITA, fundada por Jonas Savimbi, apoiado pela China, dirigiu
os combates na região interior leste.
Na Guiné, a luta anticolonialista iniciou-se em 1963, sob ação do PAIGC, fundado por
Amílcar Cabral em 1956.
Em setembro de 1964, a guerrilha estendeu-se também a Moçambique, por ação da
FRELIMO, fundada em 1962 por Eduardo Mondlane.
Durante 13 anos, Portugal viu-se envolvido em 3 frentes de batalha que surpreendeu a
comunidade internacional.
As pressões internacionais e o isolamento do país:
Em 1955, quando Portugal passa a fazer parte da ONU, o Governo de Salazar continuava a
defender uma política de reforço da autoridade portuguesa sobre os espaços ultramarinos e de
indiscutível recusa de qualquer negociação que pudesse pôr em causa essa autoridade.
Esta posição levou a assembleia geral da ONU, sob pressão dos países do Terceiro Mundo, a
colocar sobre a mesa a questão colonial portuguesa.
A assembleia geral da ONU não aceitou a tese e condenou a atitude colonialista portuguesa
e aprovou resoluções para pressionar Portugal a arrancar com um efetivo programa de
descolonização.
A condenação do colonialismo português culminou na aprovação da Resolução de 1514,
que confirmou as possessões portuguesas plenamente inseridas no conceito de colónia previsto
pela carta da ONU.
Por conseguinte, o governo português teria que ter em conta as aspirações políticas das
populações locais e estimular o desenvolvimento das suas instituições, tendo em vista o
reconhecimento da sua autodeterminação e independência.
Segue-se a intensificação da hostilidade internacional da generalidade dos membros da
NATO e mesmo da Espanha franquista que deixam de votar ao lado de Portugal na ONU e o
consequente isolamento de Portugal nas diversas instituições internacionais que Salazar aceita e ao
qual respondia com a política do “Orgulhosamente sós”.
A “primavera marcelista”:
Reformismo político não sustentado:
Em 1968 o afastamento de Salazar por doença parecia, finalmente, abrir as portas do regime
a uma liberalização e a alguma abertura democrática.
A presidência do conselho de ministros foi entregue a Marcelo Caetano, que pretendia
conciliar os interesses políticos dos setores conservadores com as crescentes exigências da
democratização do regime.
Numa primeira fase da sua ação governativa, a chamada “primavera marcelista”, Marcelo
Caetano empreendeu alguma dinâmica reformista ao regime:
- Notou-se alguma descompressão na repressão policial e na censura;
- Foi permitido o regresso de alguns exilados políticos;
- A PIDE muda o nome para DGS para dar imagem de uma polícia mais moderna e institucional;
- A União nacional passa a chamar-se ANP e abre-se a novas sensibilidades políticas;
- Para as eleições de 1969, foi concedido o direito de voto a todas as mulheres alfabetizadas, foram
legalizados os movimentos políticos não comunistas opositores ao regime fascista e foi-lhes
autorizada a consulta aos cadernos eleitorais e a fiscalização das mesas de voto;
- Os movimentos oposicionistas organizaram alguns congressos;
- Marcelo Caetano manifestou a vontade de rever o estatuto das colónias no sentido de as
encaminhar para a “autonomia progressiva”;
- Iniciou-se uma reforma democrática do ensino por ação do ministro Veiga Simão;
Todavia isto começa a dar sinais de esquecer a evolução e privilegiar a continuidade:
- Quando em 1969, eclode o movimento de contestação estudantil nas universidades de Lisboa e de
Coimbra e quando o movimento grevista se estende ao setor laboral, o regime entende que foi
“longe demais” na tentativa liberalizadora;
- O governo inicia um violento ataque aos movimentos eleitorais entretanto constituídos, a CDE,
onde preponderavam elementos da esquerda comunista até católicos progressistas, e a CEUD, que
incluía muitos dos futuros fundadores do Partido Socialista;
- A oposição não elegeu qualquer deputado. As eleições constituíram mais uma fraude;
- Intensifica-se a nova repressão policial e as detenções aumentaram a partir de 1970;
- As associações de estudantes e as universidades são invadidas pelos “gorilas”, um grupo de
vigilantes recrutados e ex-combatentes nas tropas de elite;
- Américo Tomás é reconduzido ao cargo de presidente da república, em 1970, sem ter de ir a
eleições;
Intensificam-se as denúncias internacionais das injustiças da guerra colonial, a oposição
reorganiza-se com a formação do partido socialista, e os movimentos clandestinos armados
intensificam as ações violentas.
O impacto da guerra colonial:
A política de renovação tentada por Marcelo Caetano também teve reflexos na questão
colonial:
- Já se admite o princípio da “autonomia progressiva” e concede o título de honorífico de estado às
províncias de Angola e Moçambique.
Apesar deste novo estatuto se consagrar na constituição, em 1971, não mudava nada para
os movimentos independentistas. Assim, a guerra prosseguia evidenciando o isolamento de
Portugal:
- Pela recessão dos dirigentes dos movimentos de oposição pelo Papa Paulo VI, em 1970, traduzido
numa humilhação para a administração colonial portuguesa;
- Pelas manifestações de protesto que envolvem a visita de Marcelo Caetano a Londres, em 1973;
- Pela declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, ainda em 1973;
Também internamente são conhecidas as denúncias da injustiça da guerra colonial e os
apelos à solução do conflito:
- Crescem, entre as camadas estudantis, movimentos de oposição à guerra e acentuam-se as fugas
às incorporações militares;
- Grupos católicos progressistas levam a cabo manifestações públicas de condenação da guerra e de
reconhecimento do direito dos povos africanos à autodeterminação. A mais marcante foi a vigília
realizada na Capela do Rato em 1972, no âmbito do dia mundial da paz, proposta por Paulo VI.
- Em finais de 1973, são os deputados da ala ais liberal da assembleia nacional quem protesta
contra a guerra, abandonando o parlamento;
- Em inícios de 1974, perante a iminência de uma derrota vergonhosa, o general António Spínola
quem denuncia a falência da solução militar com a publicação do seu livro Portugal e o futuro.
Era o próprio regime que começava a ruir por dentro.