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DIREITO DOS VALORES MOBILIÁRIOS:

PORQUE SURGIU ESTE RAMO DO DIREITO E QUAL O INTERESSE EM AUTONOMIZAR?

Um conceito chave é o conceito de valor mobiliário que começou a ser substituído pelo conceito de
instrumento financeiro, no entanto são dois conceitos distintos e temos uma heterogeneidade de valores
mobiliários o que faz com que toque em várias matérias.

Só em 1999, e com a integração de Portugal na EU, começou a existir uma maior abertura do mercado de
capitais, ainda que existam inúmeros custos associados a este mercado e em 2021 houve uma grande reforma
do CVM sendo que um dos esforços do legislador foi tentar simplificar normas e reduzir custos. A distinção
dos dois conceitos teve relevância após a publicação da Diretiva 2004/39/CE, do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 21 de abril de 2004. Podemos afirmar que os valores mobiliários são uma categoria de
instrumentos financeiros.

Os instrumentos financeiros são instrumentos de investimento que incluem os valores mobiliários, os


instrumentos financeiros derivados, os instrumentos do mercado monetário bem como quaisquer outros como
tal considerados pela Diretiva dos Mercados e Instrumentos Financeiros.

O CVM não fornece diretamente um conceito de valores mobiliários, mas a convenção de Genebra sobre
valores mobiliários intermediários refere que se considera como valor mobiliário “qualquer ação, obrigação
ou instrumento financeiro ou bem financeiro (que não seja dinheiro) idóneo a ser creditado em conta de
valores ou de ser adquirido ou transmitido de acordo com as regras da convenção”. Consideram-se valores
mobiliários, na aceção do art. 1.º do CVM, as ações, obrigações, os títulos de participação, as unidades de
participação em instrumentos de investimento coletivo, os warrants autónomos, os direitos destacados dos
referidos valores mobiliários, entre outros. Quando falamos de valor mobiliário falamos em instrumento
financeiro, em sentido amplo, como tudo aquilo que se negocia no mercado financeiro, e tudo isto que se
negoceia é um instrumento financeiro que serve para financiamento e criação de riqueza, ou seja, são produtos
criados e disponíveis no mercado de capitais e servem para financiamento e aplicação da riqueza porque se eu
quiser aproveitar a minha poupança no mercado de capital.

Estamos numa área onde tudo muda com muita rapidez e quando começamos a conseguir perceber,
entretanto surgem figuras novas e somos inundados com nova legislação, ainda assim justifica-se a sua
autonomia, mesmo que pertença ao ramo do direito comercial, há interesses importantes que o legislador
pretende acautelar, nomeadamente o funcionamento do mercado que se percebe que seja insuficiente e é tão
importante o mercado de capitais desde logo para as grandes empresas. Para além da multiplicação de riqueza
de todos os intervenientes, até para investidores, este tipo de investimento em produtos financeiros é muito
rentável até como forma de financiamento para as entidades emitentes desses produtos, quer para se
financiarem como para cobrirem o risco dessas atividades. No fundo no mercado há oferta e procura com
perspetivas diferentes, ou que há risco e outros que não consideram haver, então é disto que se gere a riqueza.
É comum distinguir o mercado primário do mercado secundário:

- O mercado primário existe quando o emitente emite pela primeira vez aquele produto financeiro e
o coloca no mercado porque o dinheiro que vier dos investidores vai para essa mesma entidade. Ou seja, se os
investidores quiserem investir numa sociedade constituída por oferta pública, o seu dinheiro vai para a
sociedade.

- O mercado secundário existe quando há alguém que detém ações de uma empresa e as põe à venda.
Neste caso o dinheiro não vai para a sociedade, mas sim para aquele que vendeu as ações.

Para tudo isto funcionar é necessário haver interesses acautelados que são os princípios jurídicos
fundamentais do mercado de capitais, como fundamento para a existência deste ramo de direito:

- Proteção do investidor: Ao proteger os investidores estamos a proteger também o próprio mercado.


Por exemplo, uma estrutura de investidores tem uma estrutura totalmente diferente de um investidor singular
que está em casa, não tem os mesmos conhecimentos, desde logo, protegemos o investidor através de
informação e regulação para que a sua vontade seja livre e esclarecida. O investimento pressupõe sempre a
existência de risco e o objetivo do legislador não é de fazer desaparecer o risco, mas tentar garantir que o
investidor conhece esse risco, por isso há um conjunto de regras onde se nota essa proteção do legislador com
a ideia de igualdade de tratamento em que o acesso à informação tem de ser igual – art. 7.º do CVM.

- Proteção do próprio funcionamento do mercado: Consiste essencialmente na proteção da


eficiência do mercado e do regular funcionamento do mercado e a ideia é tentar garantir que o mercado
funcione de forma transparente e regular, ou seja, não pode haver opacidade, assimetria de informação,
isto é, tem de ser divulgada e transparente e têm de ser utilizados os meios que a lei prevê e pretende-se que
haja uma confiança no regular funcionamento do mercado para que o funcionamento do mercado corra bem e
que não haja manipulações desse. Há sempre alguma especulação, é inevitável que tal aconteça.

Falamos aqui de informações determinantes para decidir investir ou não investir, portanto, tudo aquilo que
pode influenciar a decisão de qualquer investidor é o tipo de informação que deve ser divulgada. O preço
da oferta e da procura determina a cotação, mas também a cotação é determinada pela informação e
depende também da situação inerente àquilo. Há diversos fatores que podem influenciar os preços, mas
pretende-se que seja sempre uma influência normal. Se tudo isto funcionar com supervisão e regulação então
teríamos o último objetivo atingido que é evitar crises económicas – Princípio da Supervisão.

Há muitas normas essencialmente procedimentais que protegem, mas além dessas temos outras que nos
aproximam mais de uns ramos do direito do que de outros, desde logo, com o direito administrativo quando
falamos da CMVM há um pendor muito grande desse ramo do direito. Depois temos o direito sancionatório
com uma relevância muito grande e é importante que as situações de falta de regularidade sejam punidas e
divulgadas. Depois temos normas em que há uma proximidade enorme com o direito societário porque temos
um conjunto de figuras societárias relevantes aqui.
Também o direito dos títulos de crédito é relevante porque as ações e muitos dos instrumentos
financeiros se reconduziam a estas figuras. Hoje em dia percebe-se que a figura ganha de tal forma autonomia
que a relevância deste direito no âmbito dos valores mobiliários está a diminuir, mas a sua origem continua a
ser essa e temos o direito bancário e dos seguros que são áreas complementares. Temos sobreposição estas 3
áreas e podemos falar do DIREITO DO SISTEMA FINANCEIRO (mobiliários, banca e seguros).

Do ponto de vista legislativo temos o código dos valores mobiliários, continuam a ser tratados como
disciplinas autónomas e isso faz com que possamos discutir os conceitos.

- Evitar o risco sistémico: Quando se comunica a quebra de uma bolsa a todos os outros, pretende-se
que haja um controlo para tentar minorar ao máximo esses riscos.

INSTRUMENTOS FINANCEIROS:

Durante um tempo, sobretudo durante a vigência do código do mercado dos valores mobiliários – DL n.º
142-A/91, havia o princípio de tipicidade administrativa porque podiam ser criados outros, mas era
necessário que a autoridade de supervisão autorizasse. Agora, o CVM vem dizer, no art. 1.º, al. g), que pode
haver outros instrumentos que possam ser transmitidos em mercado, ou seja, o que pode ser negociado em
massa.

No nosso mercado de capitais são mais negociadas as ações, obrigações, unidades de participação e
certificados de aforro. Uma unidade de participação é aquilo que recebemos quando investimos num fundo
de investimento que reúne várias ações e participações. Nós investimos numa unidade de participação que é
aquilo que o fundo emite e tem uma grande vantagem que os investidores procuram nos fundos que é a menor
participação no risco porque há vários investidores, entre aquilo que se ganhou e perdeu há uma menor
exposição ao risco, além disso é mais fácil porque não há pesquisa individual em ações e obrigações porque
estão todos reunidos e temos uma entidade gestora do fundo que vai determinar os investimentos do fundo e
integram essas entidades pessoas altamente especializadas então, através do meu investimento, tenho alguém
altamente especializado nesse fundo e tenho uma pessoa e toda uma estrutura montada de pessoas
especializadas que vão gerir aquele fundo e indiretamente talvez diminui o meu risco, além disso, a terceira e
última vantagem é o facto de os investimentos, muitas vezes, pressupõem montante mínimo de investimento
que eu sozinha não conseguia e não tinha, então invisto nas unidades de participação e o fundo reunindo
vários participantes consegue investir nesses projetos que eu sozinha não conseguiria.

Hoje, no entanto, começam a existir ao problema que o legislador tenta compor e é obrigado a transpor
certas diretivas e apesar de tentar chegar a várias coisas, há sítios em que ele não consegue chegar que são o
online e isso é difícil de proteger e hoje em dia coloca-se esse problema e a grande questão é a transparência
e informação, mas não é só o informar os outros, mas sim o próprio intermediário tem a obrigação de
reconhecer o cliente e o seu perfil e até só propor as que são adequadas só ao seu perfil. Além disso tem o
dever de conhecer o cliente, conhecer o perfil e quando falamos aqui o perfil do cliente é o perfil de risco
então, além da distinção entre investidores profissionais e não profissionais, apesar de poder requerer que a
minha qualificação seja financeira. Além de nos informar, ela própria tem a obrigação de se informar e já não
é o perfil de profissional ou não, mas o perfil de risco e normalmente distinguimos entre o conservador,
moderado, ou mais ousado. O nosso perfil é mais conservador e são mais homens, ainda que quando as
mulheres investem apostam em taxas com mais sucesso, porque fazem-no com mais cautela, etc.
Normalmente têm formação superior, residem em centros urbanos, têm entre 30 e 40 anos e normalmente
são profissionais liberais com rendimentos mensais superiores a 2 500€.

Ainda há muitas poucas pessoas a investir no mercado de capitais, mas aqueles que investem têm a
confiança e informam-se junto do gestor de conta em quem confiam e principalmente no amigo que também
investiu e ganhou e tem vindo a ganhar e não movimentam muito depois as suas carteiras de valores devido à
ideia da confiança, fazendo com que fiquem com produtos mais tóxicos. Isto é, se estivermos perante um
perfil conservador sabemos que os produtos que estão a valorizar e que tendencialmente têm um percurso
positivo, são logo vendidos pelas pessoas que os detêm porque mais vale um pássaro na mão do que dois a
voar. Por outro lado, aqueles que estão a baixar faz com que as pessoas tenham sempre esperança de que vá
subir, por isso as pessoas mantêm-nos, ficando com mais produtos tóxicos.

Na questão do crowdfunding houve diretivas neste âmbito, mas quando a figura surgiu não era regulada e
surgiu como forma de ajudar e fazer o bem. Depois começou-se a perceber que podia não ser só caridade e
resultam da própria realidade – greve dos enfermeiros e foi sendo feito sem qualquer regulamentação, mas a
regulamentação a mais faz com que surjam figuras de fraude. Um dos grandes problemas tem a ver com a
possibilidade que se vai criando, com regulamentação ou não, para investir e pode haver fraude. No caso do
crowdfunding o investidor veio limitar e disse que X pessoa não pode investir mais do que z mil euros por ano
e é aquela ideia de que se correr mal não vai perder tudo porque tem aquele limite. O regulamento europeu
não prevê esse limite, mas há uma parte em que eles não se sobrepõem – Regulamento (UE) 2020/1503 do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 7 de outubro de 2020.

SUJEITOS DO MERCADO

- INVESTIDORES:

Estes investidores são os titulares potenciais ou efetivos de valores mobiliários ou outros instrumentos
financeiros. Normalmente, em alguma legislação, aparece a referência ao consumidor, equiparando os
investidores como tal, nomeadamente a própria Diretiva 2002/65/CE, de 23 de setembro de 2002, sobre a
comercialização à distância de serviços financeiros como sendo ambos “pessoas que atuam fora da sua esfera
profissional”. Efetivamente este investidor em produtos financeiros pode ser equiparado ao consumidor,
mas devemos fazê-lo sempre com muita cautela porque o consumidor, em muitos casos, está muito mais
protegido em termos de riscos de utilização do produto (ex. avaria, etc), mas isso não acontece no caso do
investidor que não tem uma proteção tão ampla ao ponto de lhe retirarmos o risco ainda que o produto seja
tóxico, porque aqui o risco corre também por conta do próprio investidor, por isso não se pode dizer que lhe
vamos tirar todo o risco porque ele existe, é maior ou menor também consoante o produto, mas ele está lá.

Tem havido uma manifestação de posições contraditórias porque há muitos autores que olham para isto
com bons olhos até para a aplicação do regime dos princípios básicos da proteção do consumidor, mas há
também uma corrente forte que se manifesta contra esta equiparação alertando até para os perigos desta
equiparação.

Investidores profissionais ≠ Investidores não profissionais:

Os investidores não profissionais são aqueles que podem ser equiparados aos consumidores.

Os investidores profissionais encontram-se previstos no art. 30.º do CVM que são, normalmente,
pessoas coletivas. De facto, a lei diz-nos quem são os profissionais, à contrario todos os que aqui não estejam
são investidores não profissionais, mas a lei permite, por convenção entre as partes, a categorização
contrariando o que decorre da simples aplicação deste art. 30.º.

A categorização acima referida encontra-se nos arts. 317.º e ss CVM. Se quisermos solicitar o tratamento
do investidor profissional como investidor não profissional podemos fazê-lo através de um acordo escrito,
aumentando a sua proteção, nos termos do art. 317.º-A. Por outro lado, se quisermos solicitar o tratamento
como investidor profissional a nossa proteção diminui, as obrigações em termos de informação também
diminuem e isso poderá ser feito nos termos do art. 317.º-B mediante esses requisitos, garantindo que tem
capacidade para tomar as suas decisões de investimento.

A PROTEÇÃO DOS INVESTIDORES começa na própria autoridade de supervisão (CMVM) que tem a
preocupação de levar a cabo um conjunto de medidas que permitam garantir a transparência e toda a
informação necessária, de forma a combater a iliteracia financeira. Além da CMVM existe o portal “Todos
Contam” que permite esta informação e promover a literacia financeira – é a primeira proteção conferida.

De facto, o intermediário financeiro tem aqui um papel importante, mas pode até haver um
desconhecimento do produto financeiro pelo intermediário financeiro dada a rapidez das figuras que vão
surgindo porque ele próprio pode ter dificuldade em acompanhar e dar uma informação correta. Muitas vezes
o intermediário dá a informação e presta a informação, mas deve garantir que a informação é compreendida
porque eles têm um dever de informação e, além disso, devem avaliar a adequação da aplicação financeira ao
seu potencial investidor através da realização de um questionário para garantir se ele é capaz de compreender
as características e os riscos que assume ao subscrever um determinado produto.

Há diversos perfis de investidores:

- Conservador ou Prudente: Trata-se de um investidor que procura produtos com a garantia do capital
investido e rendibilidades que espera pelo menos compatíveis com as taxas de juro de curto prazo. Este
investidor é avesso aos principais riscos: de capital, rendimento e liquidez. Assume a preferência por
investimentos de capital garantido, com prazo de vencimento mais curto, aos quais pode estar associado uma
menor rendibilidade.

- Equilibrado ou moderado: Trata-se de um investidor que procura produtos com a garantia do capital
investido, mas que está disposto a assumir um prazo mais longo para essa aplicação de forma a poder
acomodar uma eventual oscilação adversa do rendimento. Assume a preferência por investimentos de capital
garantido, mas aceita a sua manutenção em carteira a médio prazo.

- Dinâmico: Trata-se de um investidor que procura uma rendibilidade superior à média do mercado,
estando disponível para aplicações de médio e longo prazo e para assumir o risco de algumas perdas no capital
investido.

- Arrojado: Trata-se de um investidor que procura produtos com uma rendibilidade mais elevada quando
comparada com a média do mercado, estando disponível para aplicações com um horizonte temporal
relativamente mais curto e a assumir o risco de perda total ou até superior do capital investido.

Os fundamentos da proteção dos investidores são, desde logo, o interesse do público, porque têm de ter
a confiança necessária para investir porque o mercado não funciona se não houver lá ninguém. Por outro lado,
é necessidade garantir a igualdade entre os diversos agentes e assegurar a segurança do mercado. No entanto,
esta proteção tem limites porque o risco é inevitável e há uma recusa do paternalismo por parte da entidade de
supervisão porque a informação não serve apenas para o proteger, mas também para o autorresponsabilizar.

Medidas de Proteção:

 Gerais:

- Informação: É a base de toda a proteção do investidor. Deve ser clara, precisa, verdadeira, nos termos
do art. 6.º e 7º do CVM. Quanto aos emitentes há deveres de informação periódicos e permanentes. Quanto
aos intermediários financeiros, o art. 304.º do CVM e tudo o dito anteriormente sobre eles também se
aplica, bem como tudo o que foi dito quanto à CMVM se aplica – art. 358.º, al. c); art. 360.º, n.º 1, al. g) e
n.º 2; art. 362.º e 367.º do CVM.

- Formação prestada aos investidores. Por exemplo, publicação de brochuras informativas e formativas,
aproveitamento de meios de comunicação social, implementação de um serviço público de informação
telefónica (linha verde), constituição de gabinetes ou órgãos de apoio aos investidores, organização de ações
de formação de grupos profissionais, publicação de revistas periódicas da especialidade

 Específicas:

- Ação Popular – Art. 31.º CVM: Tem este direito de ação popular, desde logo, os investidores não
profissionais e as associações de defesa dos investidores. Claro que existe uma liberdade de associação (art.
46.º CRP), mas aqui o legislador teve a necessidade de regulamentar o facto de a ação popular ser até levada a
cabo e despoletada pelas associações de defesa dos investidores porque tem que ver com o facto de o
investidor isolado muitas vezes não conseguir fazer uma queixa sozinho porque em termos de movimentar um
ação contra o intermediário financeiro, o investidor não terá os meios para o fazer e até muitas vezes vai
perder mais do que aquilo que vai recuperar. Por isso, estas associações de defesa dos investidores têm um
papel fundamental porque o pequeno investidor já se sente representado e esta força conseguiu, em muitos
casos, resolver problemas que de outra forma não conseguia.

Estas associações, para existirem e terem este direito de ação popular, devem obedecer a requisitos que o
próprio art. 32.º do CVM prevê.

- Mediação de conflitos – Arts. 33.º e 34.º CVM: Aqui a mediação de conflitos é um serviço prestado e
organizado pela CMVM e os mediadores são especializados nestas matérias porque é muito importante que o
sejam para poderem fazer uma mediação e tentar encontrar solução para aquele conflito – Regulamento da
CMVM n.º 2/2016.

As associações de defesa dos investidores, em vez de optarem pela ação popular, podem tentar começar
por esta via. O acordo que vier a ocorrer tem a natureza de acordo de transação extrajudicial judicialmente
exequível.

- Sistema de Indemnização aos Investidores – Pessoa coletiva de direito público dotada de


autonomia administrativa e financeira que funciona junto da CMVM – arts. 355.º, n.º 1, al. e); art.
359.º, n.º 1, al. e); e art. 406.º, n.º 2 CVM: É um sistema que pode ser acionado para o pagamento das
indemnizações que são devidas pelo intermediário financeiro ao investidor. Em alguns casos estas entidades
são obrigadas mesmo a contribuir para este sistema e havendo situação e conflito e havendo lugar a
pagamento de alguma indemnização o investidor está garantido que pelo menos essa indemnização irá ser
paga.

- Fundos de garantia – arts. 35.º e 36.º CVM: Estes não se confundem com o sistema anterior. A lei
permite a possibilidade de constituição destes fundos de garantia, há muitos outros criados de forma
voluntária, por exemplo, as entidades gestoras de mercado. Nos termos do art. 359.º, n.º 1, al. e) do CVM,
este fundo é supervisionado pela CMVM.

- SOCIEDADES EMITENTES:

Em 2021, com a Lei n.º 99-A/2021, foram alterados e revogados os artigos do CVM que se referiam à
sociedade aberta, deixando esta de ser o paradigma da regulação das entidades emitentes, à semelhança do
que acontece na generalidade dos países que integram o espaço comunitário – onde o paradigma é o da
sociedade cotada. Eram sociedades abertas todas aquelas que tinham capital aberto à constituição do público,
porque falamos aqui de grandes sociedades que muitas vezes não tinham o capital necessário, mas a partir do
momento da sua constituição lançam uma oferta pública de subscrição. Se alguém fosse titular de
participações sociais de uma sociedade e lhe compensasse transmitir através de oferta publica de venda, podia
transformar aquela sociedade em sociedade aberta em tudo, por isso, no antigo art. 13.º, n.º 2 do CVM,
mais do que transmitir participações estava a existir uma transformação em sociedade aberta, por isso deveria
haver uma deliberação dos sócios nesse sentido.

O legislador previa um regime em que especificava as leis que se aplicavam às sociedades cotadas, que
eram as que emitiam ações, porque eram tudo sociedades abertas. A figura da sociedade aberta era muito
criticada na doutrina portuguesa e pelos agentes que operam no mercado, na medida em que a sua
aplicação revelou-se geradora de incerteza para os agentes económicos, nomeadamente quanto aos critérios de
qualificação, âmbito do regime, e requisitos para a perda de qualidade de sociedade aberta.

Efetivamente era um regime muito complicado ainda que se discutisse o facto de estarmos perante um
novo tipo societário, havia vantagens nesse reconhecimento, nomeadamente o reconhecimento que as
sociedades de grande dimensão têm características que justificam um regime muito próprio porque, dada a
sua grande dimensão, normalmente encontramos maiores problemas de agência porque há um grande
afastamento entre propriedade e controlo. Esta separação entre propriedade e controlo é acompanhada da
dispersão do capital porque quanto mais aberta era uma sociedade mais disperso era o seu capital, neste
caso isto contrapunha-se à sociedade fechada que, neste caso, não tinha de ser cotada.

Uma outra consequência das sociedades abertas é que muitas vezes encontramos outros sócios com
participações pequenas no capital social que são os sócios investidores e que não estão interessados no
negócio, olhando apenas para a sociedade como forma de investimento.

noção de ação pode ser entendida como participação social (o status socio, etc), e depois temos a aceção
da ação como valor mobiliário e instrumento financeiro e aqui é um produto em que alguém investe as suas
poupanças e portanto não está minimamente interessado na vida da sociedade e isso faz com que não esteja
interessado em exercer o seu poder de fiscalização e o exercício do dreito de voto que é uma forma de
fiscalização da sociedade e de participar na vida da sociedade. Já quando é apenas um investidor há um
afastamento da sociedade e fica longe da sua vida e isso faz com que seja mais ….

Se houver uma dispersão considerável do capital não é preciso investir muito para ganhar e faz com que
haja aqui uma dispersão de interesses e não são aqueles que estão mais de acordo com o sucesso a medio
longo prazo da sociedade, tendo em conta o sucesso da sociedade. De facto, é um dos aspetos muito
importantes e que caracterizam a grande sociedade aberta, poder concentrado nos órgãos de administração,
que representam os que os elegeram que por sua vez nem precisaram de investir tanto e chega-se à cocnlusoa
que a vida da sociedade normalmente existe o risco de prosseguirem interesses que não são os da sociedade e
muitas vezes são interesses de curto prazo. Mas de facto há um risco muito grande de termos o poder da
organização nas mãos de alguém que não investe que é o administrador que recebe a remuneração e isso tem
de ser controlado e há inúmeros institutos como a comissão de remuneração que tem vindo a ser uma forma
de não correr o risco de ter alguém que não investe a gerir a organização, mas depois temos o reverso da
medalha, apesar da preocupação isso molda muito estas sociedades cotadas, mas a lei prevê e consagra a
separação entre património e controlo, por exemplo, o caso dos administradores que não terão investido e
controlam a sociedade e outros mecanismos que previnem o empty volting no sentido de não ter qualquer
risco associado ao sucesso ou insucesso dessa tomada de decisão, por isso a lei preocupa-se e segue de perto
essa situação.

Por mais problemas que se levantem a propósito desta separação temos vários institutos onde isso é
possível, por exemplo, o abstencionista, que nas grandes sociedades, a procura dos poderes de representação
dos sócios que estão interessados em ir, aproveitando-se do abstencionismo dos sócios investidores,
representando-os. Hoje coloca-se a questão e discute-se se estes não podem ser responsabilizados pela
despreocupação na atribuição do voto a esses representantes. A professora Maria de Fátima Ribeiro defende
esta responsabilização, sempre com a proteção de credores porque se estas pessoas tomam a decisão porque
têm um controlo superior à propriedade e do que aquilo que investiram, numa situação normal so tenho votos
se comprar aões, isto desvirtua este princípio, então aquele que dá o cheque em branco também deve ser
responsabilizado pelo facto de ceder desta forma despreocupada e negligente.

Para chegarmos a essas pessoas que tem a propriedade e não o controlo então temos o administrador de
facto e muitas vezes esse é um socio controlador proque é aquele que influencia a vida da sociedade de forma
dominante quer porque tem poder superior do que todos os outros na AG ou porque dá o destino da sociedade.

Não obstante riscos, a lei prevê mecanismos onde essa consequência é inevitável: Ações preferenciais sem
voto em que nestes casos diz faz um investimento, recebe em troca a percentagem do lucro, um direito aos
lucros preferencial, mas claro que faz o investimento e não recebe voto, apesar de ter riscos tem enormes
vantagens relacionadas com a capacidade de atrair investimento e tentamos captar as pessoas que não estão
interessadas na vida da sociedade, mas podem lá por dinheiro. A enorme vantagem é que estas pessoas que
entram para a sociedade não lhes retiram a posição de controlo porque não têm voto.

Outro mecanismo foi a possibilidade de se poder emitir ações com voto plural, diz-se qual o sentido desta
situação, nas sociedades fechadas não é permitido, mas nas sociedades cotadas o CVM permite a
possibilidade de 1 ação atribuir mais do que 1 voto, o máximo de 5. Mas as situações e quais os critérios apra
se fazer ainda não se percebeu muito bem. Alem disso discute-se se é um verdadeiro direito especial porque o
art. 24.º do CSC diz que se atribuem às categorias de ações e se for considerado uma categoria de ações nada
cotnrario à lei, mas discute-se se este privilégio não pode servir como forma de ações de lealdade que em
vários ordenamentos já se aceita, então o prémio de dar mais do que 1 voto estaria ligado à permanência e essa
tem sido as interpretações invocadas pela doutrina quando se discute que ações podem estar port ras dizo e
dizem que é forma de termos essa de lealdade que permanecem na sociedade e que tenta construir o caminho
financeiramente mais viável e auspicioso, há quem diga que está aberto para as de lealdade e o critério deve
ser o da permanência então coloca em causa o art. 24.º porque a premear a permanência estamos a atribuir a
pessoas e não a categorias.
Há outros que dizem que no momento da transmissibilidade esse privilégio extingue-se antes da sua
transmissão e aqui levanta muitas questões porque levanta tudo aquilo que são os princípios base das
sociedades anónimas. Os que investem mais ganham mais e há aqui o privilégio de quem investe e o acento
tónico é onde quem investe e o importante é saber quem são as pessoas e já não é indiferente ser o Manuel e
Joaquim.

Por exemplo, os golden shares em que PT foi multado pela UE em que detia uma percentagem pequena
com direito de veto nos aspetos chaves porque a atividade desenvolvida é muito importante para a vida das
epssoas e justificavam que esse serviço público tinha de ser privatizado, mas o estado tinha um golden share.
No fundo era a situação escandalosa de o socio enquanto socio privatizava, recebia o dinheiro todo e ficava
com percentagem mínima mas com poderes de voto em matérias essenciais.

Outro exemplo são os acordo parassociais, discutia-se muito o facto de alguém ceder o voto a outro, o
voto é secreto, discutia-se a validade destes acordos e disse que da mesma forma que ele pode nem votar
também pode celebrar o acordo parassocial desde que não receba em troca vantagens e isto é o
reconhecimento de que se todos celebramos o acordo parassocial e votamos todos no sentido daquilo que o
colega disse porque é o melhor preparado, é o reconhecimento do legislador nessa pessoa e vai ter um poder
de voto muito maior daquele que realizou.

Há ainda a possibilidade de emissão de ações sem valor nominal e só com valor de emissão. Porque é que
o legislador sentiu a encessdade de permitir este tipo de ações, embora estas sejam com valor de emissão
imprórpio porque têm valor de emissão giual para todos acaba por ter uma participação não reflexa no valor
nominal e continua-se a conseguir ter essa organização que ea função. Então, o legislador quando as ações
tinham valor nominal, que nunca podia ser inferior a 1 centimo e portanto permanecia igual. Por exemplo,
uma sociedade emitia ações com valor nominal d 1€ e tinha capital social de 1€ e emitia 50 000 ações e cada
sócio recebeu 10 000 ações – 5 sócios. As sociedades, mesmo na altura em queos créditos eram atribuídas
com muita facilidade, entendia-se que não era a melhor forma de financiamento das sociedades, sempre se
tentou incentivar medidas alternativas de financiamento das coeidades, então nesse panorama de crise as
csociedades precisavam de capital e depois de tudo o que aconteceu as regras europeias vieram estabelecer
patamares de liquidez muito grande e os créditos começaram a ter liguqidez e os juros eram mais elevados e
as sociedades tinham dificuldade em financiarem-se no banco ntao a alternativa é o capitla próprio, mas o
problema é que havendo aumento de capital de igual montante – 50 000€ - o montante que colocava aberto à
subscrição tinha de ser dividido por igual numero de ações com valor nominal que tinha de ser 1€. Quando a
sociedade se financia e vai ao mercado esse é o mercado primário porque colocam pela primeira vez esses
instrumentos financeiros no mercado. Nestas situações de crise a sociedade fazia aumento de capital e punham
ações a cada açõ 1€, os investidores que diziam que só compensava com algum poder e são esses que
queremos captar e são os sócios investidores e procuram o melhor interesse da sociedade, até porque os
efeitos económicos até se verificam no seu bolso, se eu quiser ter uma participação sustentável, tenho de
investir pelo menos 1 000€ e só recebo 1000 ações. Mas se for ao mercado secundário as mesmas ações da
mesma sociedade estão a 0,5, então aqueles que estavam dispostos a investir na sociedade investiam em
mercado secundário e não ia para a sociedade, então o legislador veio dizer que ela tinha de ser competitiva
consigo própria, então o legislador aboliu a obrigatoriedade de valor nominal.

O problema aqui é que temos a distorção entre controlo e poder porque o Joaquim no momento de
emissão 1 investe 1000 e recebe 2000 ações porque compra a 0,5, mas o Francisco que vem no valor de
emissão 2 onde as ações valem outra vez 1€, investe 1000 e recebe outra vez 1000 ações. Nas sociedades
anónimas vamos tratar da mesma forma aqueles que investem o mesmo, mas um tem mais poder de voto do
que o outro então distorce a ideia de que cada um vale aquilo em que investiu dependendo do momento em
que investiu.

Uma outra situação são todas aquelas em que o legislador vem dizer que deve haver imputação de votos
emq eu alguém por qualquer via consegue influenciar o direito de voto de outro sem ter investido diretamente.

Os deveres de transparência das sociedades cotadas são tao exigentes que ele afasta a aplicação do
beneficiário efetivo, aplicando-se a todas as outras, exceto as cotadas em que se verifiquem os critérios de
transparência. Já permite premiar com ações de voto plural, por exemplo, e só se cnhecer quem é o titular das
participações e vamos ver se tem algumas características para, porventura, ser responsabilizado com
administrador de facto nos termos do art. 80.º ou culpa in heligendo, etc.

Esta ideia de imputação de votos, segundo Engrácia Antunes, é a mais importante norma do CVM porque
quando a transparência pode afetar a imputabilidade vem o art. 20.º cortar isso.

Resto da aula do dia 5/03 – Júlio

Aula de 12/03/2024 – Encontrar noutro sítio

Aula de 19/03/2024 – Júlio

A questão do beneficiário efetivo – ler porque não sabemos qual a fundamentação jurídica do
beneficiário efetivo dos fundos quando não temos pessoa jurídica e sim um património autónomo.

Financiamento Colaborativo: Crowdfunding

Colocou-se aqui em causa a regulamentação em si própria – aula de 09/04/2024


INSTRUMENTOS FINANCEIROS

1. AÇÕES:

São dos mais importantes porque também são os mais utilizados e são aqueles que os principais emitentes
emitem e fazem-no para depois irem ao mercado primário para depois se financiarem. O que as caracteriza
como instrumentos financeiros há muitas características.

No fundo interessa salientar que as ações, nos termos do art. 1.º, são documentos representativos e nos
casos das ações normalmente são mais complexas.

Eu, como titular daquelas ações tenho um conjunto de direitos e não só de natureza patrimonial mas
também organizativa, portanto, quando associamos na aceção de participação falamos mais neste feixe de
direitos sociais e outros são direitos extrasociais, por exemplo, o direito aos dividendos e num verdadeiro
direito de crédito de cada acionista e podem ser destacados das ações.

Falamos também no art. 1.º de direitos destacados e destacáveis e o não exercício deste direito de crédito
perante a sociedade, por exemplo,, …. Áudio

As ações depois tÊm aceção de títulod e crédito porque, de facto, o são porque são as únicas a poderem
ser tituladas e negociadas em massa e a possibilidade de serem totalmente fungíveis.

2. Obrigações

São representativas de dívida, é uma forma de concessão de crédito e, por isso, é uma forma de
financiamento. No caso das obrigações, os obrigacionistas não são simples credores.

É muito criticado porque a maior parte das sociedades por quotas podem existir sem órgão de fiscalização
que só se torna obrigatório – 262.º CSC.

3. Unidades de participação:
Dão ao titular o direito de participar num OIC que podem ser formas de as pessoas investirem em
conjunto e para haver um investimento em conjunto e uma das principais vantagens é precisamente essa …

Correspondem a verdadeiras sociedades e outros que são patrimónios autónomos quanto à natureza
juridico. Quando adotam a forma de sociedade podem ser geridas por elas próprias e são sociedades
autogeridas ou podem ser geridas por terceiros e aí são heterogeridas. No fundo a contratação de ges~tao
exgerna permite maior especialização, etc.

Art. 16.º e ss do CVM quando se refere a OIC

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