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Instituto Ciências Sociais da Universidad de Lisboa

Elites agrárias e crescimento económico na periferia portuguesa do século XIX: o exemplo do


Alentejo na era liberal (1850-1910)
Author(s): Helder Adegar Fonseca
Source: Análise Social, Quarta Série, Vol. 33, No. 146/147 (1998), pp. 497-538
Published by: Instituto Ciências Sociais da Universidad de Lisboa
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HelderAdegarFonseca* AnáliseSocial, vol. xxxiii(146-147), 1998 (2.°-3.°),497-538

Elitesagráriase crescimentoeconómico
na periferia
portuguesa do séculoxix: o exemplo
do Alentejona eraliberal(1850-1910)**

I. INTRODUÇÃO

Ao Alentejo,a principal«regiãolatifundista»portuguesa,temsido atri-


buídaumatrajectória de decadênciae atraso,cujas raízesremonta-
histórica
riamaos primórdios da expansãoportuguesa e ao inícioda «época moder-
na», marcada de
pela persistência inultrapassáveis bloqueiosestruturaise
pelo imobilismosocial,económicoe cultural,que o «séculodas revoluções»
não conseguiuvencer,antesconsolidou, e que o séculoxx não foicapaz de
Este destino,aparentemente
corrigir. confirmado pelo factode actualmente
a regiãoserumadas maispobrese atrasadasdo país,foicontinuadamente
associadoà persistênciade umaeliteregionalde tipo«tradicional», istoé,
umaelitepoucoabertaà modernização e aindamenosao desenvolvimento.
No entanto,a visão de ummultissecular e inexorávelpercurso de atraso
e empobrecimento relativono contexto nacionalnão parecehistoriografica-
mentesustentável. dedicadaà economiae sociedadealentejanas
A literatura
do séculosxviie xviiinão permitetal interpretaçãoe constatou-setambém

* Universidade de Évora.
** Este artigointegra-seno projectode investigação em contextos
«Elitesportuguesas
família,
regionais: património e redesde interesses
no Alentejocontemporâneo»,apoiadopela
JNICT/FCT (projectoPCSH/CHIS/ 1002/95)e pelo CIDEHUS.UE. Uma primeira versãofoi
apresentadana sessão C23, «Les élitesagraireset le développement
régionalen Europedu
Sud. Analyses comparatives(xix-xx siècles)», XII Congrès Internationald'Histoire
Économique, Madrid,1998. 497

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que no periododa pax liberal(1850-1900),umaetapaprimordial da forma-


ção do o
Portugalcontemporâneo,Alentejo foi um dos contextos agrários
que, no país,maisprogrediram.
No 3.° quarteldo séculoxix - commuitasdas reformas institucionais
e económicasdo liberalismo já realizadas,com a democracia censitáriaa
funcionar e
regularmentealgumasmudanças visíveis na economia portu-
guesa- eramenormesas expectativas nas supostamente amplaspossibili-
dadesde progresso económicodo Alentejoembenefício da regiãoe do país.
A regiãoabsorveuimportantes investimentos do Estado(construção dos ca-
minhosde ferroe melhoramento das estradas),
foiparticularmente afectada
pela políticaeconómicaliberal(desamortização, liberalizaçãodos mercados)
e pelocontexto externo e conseguiu mobilizaros interessesprivadosporum
conjunto de oportunidades de negócionosplanosfundiário e agrário,indus-
triale mineiro, comerciale financeiro. E o resultado não foi mau.
Atéà Primeira GrandeGuerra,a populaçãoresidente aumentou, propor-
cionalmente, mais do que noutras do
regiões país e o Alentejonão só ficou
forado circuitoda emigraçãoque avassalouo Portugalrural,como atraiu
muitagentede outraszonas do país e do estrangeiro (em particular de
Inglaterrae Espanha),que vieraminstalar-se comoinvestidores (negociantes,
industriais)ou procurar emprego nostrabalhos públicos,na agricultura e nas
actividades mineiras e industriais. A sociedadede matrizagráriatornou-se
mais complexa,houveuma recomposição do grupode elite,aumentouo
nívelde urbanização, tendosido mesmocriadosde raiz algunsnúcleosur-
banosexclusivamente industriais1.
No planoeconómico, apesarda inquestionável importância do sectoragrá-
rio,a regiãoconheceu ummomento de crescimento na
suportado diferenciação
das actividades.Emboralongede umprocessode «industrialização», a região
atraiualgumaindústria moderna (moagem,cortiça,mineração), aumentou o

1 Entre1838 e 1900 a 36% e na «região


populaçãoresidente em Portugalaumentou
económica do Sul» aumentou 44%. Enquantona generalidade do Nortedo país esteaumento
foida ordemdos 30%, no Alentejofoide 38%. Até 1890a quotade emigrantes portugueses
oriundos do Alentejoeraquase nula(0,02%a 0,09%).A populaçãoaglomerada da cidadede
Évoraduplicouentre1845e 1911.Quantoaos novosnúcleosurbanos, o melhorexemploé
o das Minasde S. Domingos:uma«povoçãomineira» criadade raizporJamesMasonna serra
de S. Domingos.Em 1859a povoaçãotinhacercade 1500-1600habitantes e antesdo fimdo
séculojá ultrapassava maisde 5000 trabalhadorese 8000 a 9000 habitantes[cf.JorgeCus-
tódio(Í996, pp. 178-179)e FilipeVerde(coord.)(1996); v. aindaPaulo Guimarães(1996,
pp. 126-127)].Evoluçãoda populaçãoestimadaa partirde: Revisãodo Recenseamento da
Populaçãode Portugalem 1838,Lisboa,T. J.B. M., 1840; Recenseamento Geralda Popu-
lação no Continente (1960),Lisboa,1964(faza compilaçãodos dadosdos
e IlhasAdjacentes
recenseamentos desde1864porfreguesias e concelhos);MassimoLivi Bacci, 1971.Sobreas
mudanças sociaisno Alentejodo séculoxix,v.,porexemplo, HelderAdegarFonseca(1996b)
498 e Paulo Guimarães(1994).

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económico- Alentejo,1850-1910
Elitesagráriase crescimento

seuproduto industriale acaboupornão ficarcompletamente forada primeira


fasedo arranque industrialmoderno português (1870-1900).Deste modo,o
nívelde «especializaçãoagrária»(aferidopelo peso do produtoagrícolano
totaldo produtofísicoe no produtointerno brutoregional)não só não foi
reforçado, como poderá mesmo ter abrandado2.
Por outrolado, o sectoragrárioalentejano, dominadopelo latifúndio,
anteriormente submetido às críticasdo reformismo «iluminista», tornou-se
uma das grandesesperançasda regeneração agrícola país conheceu
do e
mudançasimportantes. Ao mesmo tempoque décadade 1860eravencida
na
a etapada liberalização fundiária (desamortização e desvinculação), se acen-
tuavaa liberalização dos mercados e, à escalainternacional, se constituíaum
mercadomundialdos produtos a
agrícolas, agricultura regional iniciou um
período marcado pelo crescimento moderado do
(1860-1910) produtoagrí-
cola. Emboramantendo umpadrãode especializaçãovegetal- os vegetais
contribuíam com66% a 73% do produto agrícolafinal- , o crescimento foi
baseadonumadiversificação muitoapreciável da componente vegetal,mercê
tantodo comportamento irregular das culturas arvensescomoda expressiva
expansãoda viticultura, da exploraçãodos montados e do conjuntoda com-
ponente animal (34% a 27% do A
produtofinal). complexidade da crise
agrária do final do a com
século, políticaproteccionista que Portugal procu-
rouvencê-la,favoreceram de novoa expansãoda cerealicultura e o abran-
damentodo graude diversificação da agricultura regional, ondeo peso do
trigo assumiu uma dimensão até então nunca alcançada. Esta foi
trajectória
acompanhadapor um processolento mas contínuo de modernizaçãodo
aparatotécnico,comparticular ênfase,primeiro, na tecnologia da lavrae dos
e,
lagares depois de 1889, na tecnologia da ceifa e debulha de cereais.
Finalmente, tendo em consideração os contextos nacional, mediterrânico e
internacional,podemdestacar-se duasimportantes característicasda agricul-
turaalentejananesteperíodo:a capacidadede diversificar e a fortesensibi-
lidadee versatilidade faceao mercadointerno e externo, factosque contra-
riama imagemtradicionalda rotinaculturale empresarial tipicamente
atribuída à exploraçãolatifundiária3.
Esta leitura,que revêa interpretação clássicasobrea evoluçãoda econo-
mia alentejana no séculoxix,lançaalgumasinterrogações sobreos agentes
económicos a
que protagonizaram. Quem foram os da
agentes diversificação
económicaregional?Qual o empenhodos agenteseconómicoslocais em
todo este processo?Serão consistentes as teses segundoas quais, com o

2 Cf. Helder
AdegarFonseca(1996a,pp. 23-72)e JaimeReis (1993, pp. 157-180).
3 JaimeReis
(1993,pp. 33-86e 87-156);HelderAdegarFonseca(1995, 1996ae 1998). 499

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liberalismo,o Alentejofoidominado porumanova«burguesia agrária»que


adoptouuma atitude«tradicional» (isto é, aristocrática)na orientaçãodos
seusinteresses e revelouumalimitadaambição,capacidadee acção empre-
sariais?Ou, pelo contrário, ela terásidonaquelaetapaum agentemoderni-
zadorda economiaregional, contribuindo, assim,também parao que Rolão
Pretodesignoucomoa maior«traiçãoburguesa»que, no século xix,trans-
formouas raízesdo «ruralismo português» ao darprevalência ao «critério
e
industrial-agrícola» forma ao «conceito da indústriaagrícola»4?
Nesteartigoo meupropósito é tentar lançaralgumaluz sobreestaques-
tão, analisandoa acção dos principaisagenteseconómicoscuja base de
operaçõesestavasediadano Alentejona segundametadedo século xix.
O universo de referência é, porconseguinte, a eliteeconómicaregionalum
grupocujos elementos são identificados entre1845e 1870,a partirde três
indicadoresfundamentais: (a) a integraçãono grupodos maiorescontri-
buintesna região(elitecensitária); (b) a pertença, na qualidadede agentes
económicos, às sociedades promotoras do desenvolvimento regionalcriadas
sobrea égidedo Estadoliberal(elite«desenvolvimentista»); (c) a integração
no grupodos grandesproprietários fundiários e dos grandeslavradores (elite
os actoressociaisque controlavam
latifundiária: a terrapelostítulosde pro-
priedadeou pela exploração).Paracompletar estearrolamento ficaa faltar
a listados fundadores de firmas/empresas, aferidosa partirdos actos de
constituição.Em todoo caso,os indicadores aqui utilizados,sendobaseados
em critériosde reconhecimento internoe externodo grupo,permitem a
constituiçãode um painelde personagens cuja representatividade é sólida.
O painelobjectode análisenesteartigoé constituído pelaeliteeconómica
sediadaem Évora,o principal centrourbano, o principalcentroeconómicoe
a capitalpolíticasimbólicado Alentejo.A informação biográfica compilada
paraestegrupoestendeu-se à dos seus ascendentes (a geraçãoda primeira
metadedo século xix) e descendentes (a geraçãode finaisdo século xix)
imediatos. Nestapesquisa,o métodoprosopográfico e a agendade trabalho a
que obedeceu(comvistaa questões maisamplasdo queaquelasque são formu-
ladasnesteartigo)implicaram o recurso a umamplopainelde fontes. De um
modogeral,a investigação passoupelos registosparoquiais;pelos acervos
administrativos,concelhios e distritais;pelosacervosfiscais(matrizes, arrola-
mentos, décimas, balançospatrimoniais para efeitos e
fiscais) judiciais(inven-
táriosorfanológicose de maiores;masnãoforam consultados os processosde
falência);peloregistopredial(a partir de 1867);peloacervonotarial (actosde
constituiçãode empresas e firmas); finalmente, porarquivosparticulares (de
entidadesassociativas,comoo CírculoEborensee de família, nomeadamente

4 Cf. Rolão Preto


500 (1945, pp. 58-75).

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Elitesagráriase crescimento

das casasEugêniode Almeidae de DomingosFiúza);alémdisso,foiimpres-


cindívela imprensa regional, que teveumadimensão relevante na épocae que
forneceu elementos nas
preciosos ópticassociológica e económica.
Do perfilsociológicodestegrupodestaca-se o seuestatuto de «aristocracia
censitária» e de latifundistas (grandesproprietários fundiários) e o factode
constituírem umaelitepluralista pelas origens sociais (recrutada nos meios
de
aristocráticos,negócio e da e
lavoura) pelasocupaçõesprofissionais (gran-
des agricultores, negociantes, comerciantes, industriais,profissionais, funcio-
náriospúblicos)emque se envolveram. Apesarda diversidade norecrutamen-
to e nas carreiras profissionais, os seus membros apresentam um graude
educação formal que não os afastavanem dos seus congéneres europeusnem
dos perfisque têmsidotraçados para certos gruposempresariais portugueses
da época5.Alémdisso,cedoconstruíram umaidentidade comum,que passou
pela convergência no estilode vida,pela construção e partilha reservada de
certosespaçossociaisde distinção, pelaedificação de fortes de
laços parentes-
co e de dinastiasfamiliares e, no plano da acção pública,pelo acesso à
notabilidade, traduzido no clarodomínioda vida políticalocal e regional,
constituindo aindaum alfobreparao recrutamento da elitepolíticacentral.
Assim,integraram a renovadaelitesocialdo liberalismo português6.
O textocentra-se na formacomoestegrupoconduziuos seus negócios
privados e abordadoistópicos:porumlado,as estratégias de investimento e as
fontes financeirasque o suportaram; poroutrolado,as formas de constituiçãoe
a conduçãodas empresas, com particular ênfaseparaas empresasagrícolas.
O argumento é que a eliteeconómicaque emergeno Alentejocom o
triunfo e as instituições liberaisteve,ao lado de outrosagentesnacionaise
estrangeiros, um papel activoe modernizador da economiaregional.De
facto,entreestesactoresda economiaregionalfoidominante umaconduta
que se caracterizou por uma estratégia de investimento poliforme e aberto
- aindaque a prazonão tenhasidocontrariada umafortetendência paraa
consolidação fundiária - e pelo exercício das funçõesempresariais com
-
algumamodernidade rasteadanas formassocietáriasdas organizações
empresariais, na afectaçãodos recursos e orientação das empresasagrícolas.
Recorrendo à tipologiade Hansen,Schneidere Schneider7, aquele grupo
poderárevelaruma condutamaispróximadas elitesde «dependência» do

5 Cf.,
porexemplo,AlainGuillemin (1972,pp. 34-37),David Spring(1977,pp. 75-76e
81), AddineDaumard(1992,pp. 164-168),Hartmut Kaelble(1980,p. 407), MariaFilomena
Monica(1987, p. 847) e David Grigg(1982,p. 155).
6 Cf. Helder
AdegarFonseca(1996be 1997).
7 Cf.Edward
Hansen,PeterSchneidere JaneSchneider(1972,pp. 328-350).Sobreestas
tipologías,v. aindaOriolPi-Sunyer
(1974 e 1975).Umimportante contributo na revisãodesta
questão:RobertLumleye Jonathan Morris(eds.) (1997). 501

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que das elites«desenvolvimentistas»,


masele estácertamente
longede poder
serconsiderado comoexemplode urnaelitetradicional.

II. OS INTERESSES PRIVADOS: A ESTRATÉGIA


DE INVESTIMENTOS E AS FONTES DE FINANCIAMENTO

A recentehistoriografia sobrea «burguesia» portuguesa oitocentista


tem
proporcionado uma revisão de
expressiva algumas tesesmuito enraizadas
sobreas limitaçõese deficiências da burguesianacionalnoque respeita ao seu
desempenho económico. Estarevisãotemsidoextensiva aos donosde empre-
sas integradasem diversoscontextos agráriosdo país,incluindo o Alentejo8.
Nestecapítuloseráapreciada a conduta geralda eliteeconómica alentejanado
ponto de vista dos seus interesses privados, com particularênfasepara a
a
estratégia,orientação geral, os investimentose as soluções financeirasadop-
tadasparaa sua concretização.
O quadron.° 1 fornece indicaçõessobrea fortuna médiae a composição
da riquezaacumuladapelascasas da eliteeconómicaeborenseentre1840e
1870,assimcomo dos seus imediatosascendentes e sucessores, apuradaa
partirdos inventários parapartilhas9.
O primeiro comentário à referida tabelaé pararealçarque no 2.° terço
do séculoxix os interesses da eliteeconómicaeborense, sendomaioritaria-
menteimobiliáriose agrícolas,estenderam-se tambémao comércioe à
indústria,ao negóciodo dinheiro, aos títulose papéis de crédito,além,
naturalmente,da parteacumuladaem reservasde valore bensde consumo.
A composiçãosugereumapoliformia no investimento, masnão escondeum
crescenteempenhamento na carteirafundiária. Uma opção em geralbem
sucedida:a evoluçãoda fortuna médiaconfirma um acentuadoenriqueci-
mentogeraldo grupo(a fortuna médiatriplicou da geraçãode 1800-1840
para a de 1871-1900),aindaque tambémtenhaaumentado a desigualdade
entreas grandesfortunas regionais10.

8 Cf. Helder
AdegarFonsecae JaimeReis (1987), HelderAdegarFonseca(1984, 1992
e 1996a),JorgePedreira(1984, 1992e 1996),Mariade FátimaSequeiraDias (1993 e 1996)
e ConceiçãoAndradeMartins(1992 e 1996).
9 Sobreos na elaboraçãodestequadro,v. HelderAdegar
procedimentos metodológicos
Fonseca(1996a,pp. 227-230).
Sobrea evoluçãoda fortuna médiadestascasas,v. quadron.° 1, sendoos coeficientes
1800-1840,84,6%; 1841-1870,120%; 1870-1900,102,6%.O evi-
de variaçãoos seguintes:
denteaumentodos coeficientes de variaçãona riquezaacumulada, assimcomoos altosco-
eficientes que compõemo activo(HelderAdegarFonseca,
apuradosparaas diversasrubricas
1996,p. 231), maisdo que questionarem da amostrado universosocial
a representatividade
em análise,acentuam fundamentalmente de condutas
a persistência variadasna formação(he-
502 rançase acréscimos dos activos,afastando-as
geracionais) unidireccionais.
de interpretações

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Elitesagráriase crescimento

Elite económicaeborense:riqueza acumuladano século xix*

[QUADRO N.° 1]

Período

1800-1840 1841-1870 1871-1900

Idademédiados líderes 46,2 54,6 56,5


Fortuna
média(milhõesde réis) 23,8 44,1 69,1

Património Percentagem

Imobiliário S9t0 71,9 80,1


Casas e instituições 7,9 8,3 6,9
Terras 29,2 55,5 68,2
Forose quinhões 1,9 8,1 4,9
Agricultura 34,0 15,1 7,5
Géneros 7,9 4,2 2,0
. Alfaias 1,1 0,6 0,3
Activo (per- Gado
9?
centagem
da fortuna)Comércio 7,2 1,6 0,7
Indústria 0,0 0,4 0,0
Papéisde crédito 0,7 1,7 2,4
Créditos
diversos 77,0 1,7 0,9
Títulose acções 0,3 1,9 3,1
Dinheiro 7,9 2,7 2,9
Reservasde valor 2,8 1,6 1,0
Bensde casa 3j ]t5 75

Passivo (per- Total 2,3 8,7 12,2


centagem Empréstimos e letras 16 67 84
da fortuna) Dívidasdiversas
0>7 2'0 3'g
Contas
de he- Créditos
0,4 0,1 0,1
rança(per-
Debltos 4,1 0,6 1,1
centagem
da fortuna)Dotes 77,# 2,1 4,9
* Cálculosa partir
da riquezaacumuladadas casas da eliteeconómica(1840-1870)e das
dos seus ascendentese descendentesdirectosdurante
o século xix. O quadronão incluios
valoresdo coefientede variação,em geral,sempreelevados[cf.HelderA. Fonseca(1996,
p. 231); v. comentários
na notadesteartigo].
Metodologia:Cf. HelderAdegarFonseca(1996,pp. 227-230).
Fontes:Inventáriosde maiores,Inventáriosorfanológicos e Balançosfiscais[v. Helder
AdegarFonseca(1996, p. 231)]. 503

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Em segundolugar,na geraçãode referência (1841-1870)registaram-se


mudançasimportantes face aos seus ascendentes.Uma das maisexpressivas
foi,sem dúvida, o aumento acentuado da componente concreta-
imobiliária,
menteno que se refereà propriedade rústica.Nos bensmóveisprevaleceu
a importância do capitalagrícola,mas verificou-se ummaiorinteresse pelo
comércioe indústria e pelas aplicaçõesfinanceiras.Esta evoluçãopersistiu
no últimoquarteldo século,comexcepçãodas aplicaçõesindustriais. Sobre-
leve-seaindao crescente do em
agravamento passivo,devido, particular, ao
substancial aumentodas dívidasrelacionadas com o mercadodo dinheiro
(empréstimos e letras).
O progressivo reforçoda carteiraimobiliária,em particular da carteira
fundiária, foi gerale independente das origense tradiçõeseconómicasdos
líderese das casas: aristocratas, negociantese lavradores apostaram indis-
cutivelmente no reforçoe consolidaçãode um importante património
fundiário (quadron.° 2). O interesse porestesinvestimentos já se manifes-
taraem períodosanteriores - aquandoda vendade «bensda coroa»,em
finaisdo século xvm,ou da vendados bensnacionais(-1834-1852), logo
após o triunfo liberal- , mas foi particularmenteintenso nos anos 1860-
-1870, com a completaliberalizaçãodo mercadoda terra(abolição dos
morgados), clarificação do direitode propriedade (novocódigocivil)e dos
títulosfundiários com a segundaetapada
(registopredial)e, em particular,
desamortização liberal,marcada pela despatrimonialização das institui-
ções11.
Esta condutageralparececoncordante não apenascomo que já se sabe
sobrea evolução da economia alentejanada época, mas tambémcom a
estratégia de investimentos adoptadaporimportantes empresários e capita-
listaslisboetas,que, depoisde umamaiordiversificação dos investimentos
entreas décadasde 1840 e 1860,tenderam a consolidargrandepartedos
activosnos sectoresimobiliário e agrícola12.Mais interessante ainda é a
de
constatação que outras personagens, oriundasda Catalunha ou da Ingla-
terra,com outrastradiçõese experiênciaseconómicas, instalando-se no
Alentejoemmeadosdo séculoxixcomobjectivos claramenteindustrialistas,
acabaramporevoluir,nas suas aplicações,de formabastantesimilarao da
eliteeconómicaregional.

11Cf. Helder
AdegarFonseca(1996a, pp. 309 e segs.); v. tambémL. N. Espinhada
Silveira(1988).
12Casas de comoJoséMariaEugêniode Almeida(vidaactiva1843-1872)e
capitalistas
do viscondede Vilarinhode S. RomãoJoséMariados Santosrevelamuma evoluçãona
composiçãodos activossimilar[cf.HelderAdegarFonsecae JaimeReis (1987,pp. 882-883)
e MariaConceiçãoAndradeMartins(1992); v. também Ana Cardosode Matosetai (1982,
504 pp. 37 segs.)].

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Elitesagráriase crescimento

As casas Reynoldse Robinsonsão dois bonsexemplos.Nas suas raízes


britânicasestavamfamílias de negócioe indústria do Condadode Devonshire,
e de os
os primeiros, Halifax, segundos. Thomaz WilliamReynoldsligou-se
aindaem Inglaterra ao comérciode vinhos,frutae cortiçae instalou-se no
Portoem 1823.Os seusfilhos, Thomaz(1811- ...) e RobertHunter Reynolds
(1820-1871),dedicaram-se, pelo menosdesde o iníciodos anos 1840, ao
da
negócio exploração e comércio de cortiçano Alentejoe Andaluziae em
1844instalaram-se naprimeira destasregiões, fundando umafábrica de cortiça
emEstremoz (1844-1845),outrana Azaruja(1845)e umaoutraemPortalegre
(1847-1848?).Estaúltimafoide imediato vendida(1849) a GeorgeRobinson
Chadevick, acabado de de
chegar Inglaterra, que,assim,iniciouumatrajectó-
riade sucesso,tornando-se umdos maisimportantes industriais
de cortiçaa
operarem Portugal no século xix. O primeiro dos irmãosReynoldsdeixou
Portugalem 1856,com destinoà Nova Zelândia,vendendotodosos seus
interessesao irmãoRobert.Casadodesde1852coma catalãMariada Graça
Perez (1830-1869), RobertH. Reynolds,«negociante,estabelecidoem
Estremoz», liderouestacasa até 1871,ano em que faleceu,já no estadode
viúvoe deixando7 filhosmenores. A partir de então,e pordisposiçãodos
testamenteiros, a gerênciada casa foi entregueao sobrinhoGuilherme
Reynolds(filhode ThomazReynolds), que, entretanto,contraiu matrimónio
(1873) comElisa dei Pilar(1852-1919), filha primogénita de Robert Hunter
Reynolds.O património e os interesses da casa permaneceram indivisosaté
1890, ano em que, por virtudedos desentendimentos entreo gerente, os
testamenteiros e os herdeiros, se concluiuo processodeexecuçãodo testamen-
to,cominventário, avaliaçãoe partilhas de todosos bensda casa13.
Apesardo seuempenho nomeadamente
industrialista, no sectorcorticeiro,
GeorgeRobinsone RobertReynoldsconstruíram uma expressivacarteira
imobiliária no Alentejoe em Espanha.Esteinvestimento foiessencialmente
a
dirigidopara aquisição da grandepropriedade fundiária («herdades»,
dehesas,cortijos,etc.),colocando-os entreos latifundistasda região.
Tal como no caso de G. Robinson,Thomaze RobertReynoldsdirigi-
ram os primeirosinvestimentos para a aquisição de terrenose prédios
urbanos(parahabitaçãofamiliar e instalaçãodas fábricas)e parao negócio
da cortiça.Os Reynoldsaumentaram o seu interesse pela aquisiçãoimobi-
liáriaa partir de 1854e entreaqueladatae 1890investiram nestascompras
cerca de 132 contos, um capital essencialmentedirigidopara bens
fundiários (96%), em particular paraunidadesde grandedimensão(quadro
n.os3 e 4).

13Cf.
«Cópia do testamento de D. RobertH. Reynolds»(arquivoparticular
de Filipe
Reynoldsde Sousa) e ainda O Jornalde Estremoz,
de 6 e 13-8-1887. 505

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Helder Adegar Fonseca

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económico- Alentejo,1850-1910
Elitesagráriase crescimento

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Helder Adegar Fonseca

Investimentoimobiliário das casas Reynolds e Robinson:


composição, 1854-1890
[QUADRO N.° 3]

Casa Reynolds „ « ,.
Casa Robinson
(fl)
Tip0S Valor I Percen- I Valor I Percen-
Un. ^T "
, , (milhões tagem
dades dadeS (milhões tagem
de réis) (vir) de réis) (valor)
Herdadesou dehesas {b) 24 116,763 88,4 (?) 2 113,148 63,9
Tapadase «agregadosde propriedades»(c) - 4 28,60 16,1
Outrosprédiosrústicos (¿)23 8,627 6,5 c. 30 25,2 14,2
Prédios,instalaçõese terrenosurbanos. . 9 6,627 5,1 (/) 11 10,26 5,8
Total 62 132,017 100,0 47 177,208 100,0

(a) Não foramincluídosos bens fundiáriosexistentesem Espanha, alguns deles referidos


em testamentopor motivo de doação.
(b) Grandes propriedadesfundiárias.
(c) Trata-se de conjuntosde prédios rústicos,na sua larga maioria,contíguos.
(d) 20 unidades constituídaspor hortas,fazendas,quintas,uma pequena tapada, courelas
e olivais.
(e) Aquisição da dehesa de Casillas (1674 ha) em 1877 por 600 000 pesetas e de metade
da dehesa de Chaves (597 ha) em 1881 por 25 000 pesetas, ambas próximasde S. Vicente
de Alcântara.A conversão dos valores para réis: 1 libra = 4500 réis = 25 pesetas (cf. Ava-
liação dos bens móveis da casa Reynoldsem 1890).
(f) Inclui a aquisição, em 1867, do Conventode S. Francisco,em Portalegre,onde insta-
lara as «oficinas de fazer rolhas» (2041 $000 réis), e em 1888, em S. Vicente de Alcântara,
de «um edifício destinadoà fábricade cortiça» (22 500 pesetas = 4 050 000 réis).

Investimentoimobiliário das casas Reynolds e Robinson:


evolução, 1854-1890 (percentagem do total investido)

[QUADRO N.° 4]

Casa Reynolds Casa Robinson


Tipos 1 1 1
Urbano Rústico Total Urbano Rústico Total

1854-1859 4,2 1,2 5,4 0,2 0,3 0,5


1860-1869 0,2 28,7 28,9 1,3 - 1,3
1870-1879 0,6 56,4 57,0 - 85,6 85,6
1880-1890 0,1 8,6 8,7 4,3 8,3 12,6
Total 5,1 94,9 100,0 5,8 94,2 100,0

Fontes: V. quadro anterior.

A este enormeinvestimentono sectorfundiáriopodem acrescentar-seas


verbas aplicadas no arrendamentoe sublocações de prédios rústicos(em
508 particularherdadescom montado)e nos contratosde comprade cortiçanos

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económico- Alentejo,1850-1910
Elitesagráriase crescimento

montados, actoscontratuais, algunsdelesconsiderados leoninos,cuja dura-


ção oscilouentre6 e 30 anos. Nestas os
acções Reynolds despenderam, entre
1854e 1890,463 contosde réis,ou seja,umencargomédiode 12,5contos/
ano.Aindaque numaquantiabastante a casa interessou-se
inferior, também
poractividades de 1861a 1888,pelomenosno mercadoregional,
crediticias:
estasoperaçõesatingiram a quantiade 22 contosde réis14.
No finaldo séculoos Reynolds, comumafortuna superiora 230 contos,
continuavam a ser importantes industriaiscorticeiros,mas tinham mais de
55% do seu património representado pela propriedade fundiáriae cerca de
40% aplicadona actividade agrícola(havendoaqui,atravésda cortiça,liga-
ções óbviasaos interesses industriais) (quadron.° 5). Do mesmomodo,o
«negociante e industrial» GeorgeRobinson,além de ver reconhecidos os
seus méritosindustriais,era destacadocomo «um dos maisopulentospro-
prietáriosde prédiosrústicos»em Portalegre15. Estas trajectórias,
bastante
das
próximas que detectamos paraa eliteeconómica eborense, mostram que
os percursosde sucessono Portugaloitocentista tinhamou cedo criaram
fortesraízesfundiárias.
A poliformia do investimento detectadona eliteeconómicaalentejana
da segundametadedo século xix concretizou-se pela sua participação em
diversostiposde negócios.Na década de 1840 ela caracterizou-se essen-
cialmentepela combinaçãode uma carteiraimobiliáriacom aplicações
agrícolase actividadescomerciaisformais(atravésde estabelecimentos
comerciais16)e informais (negóciosde arrendamentos, de génerose dinhei-
ro), atravésde acções individuais ou societárias, em que participaram fun-
damentalmente negociantes e lavradores; algunsdeles tinham também algu-
mas aplicaçõesfinanceiras, em particular como subscritores de títulosde
dívidapública.Mas a partirdos anos 1850 estesinteresses generalizaram-
-se e diferenciaram-se ainda mais. Negociantes, lavradorese aristocratas

14Estimativa a partirde dadoscolectadosporIsabelGomes,JoséPainhae ManuelDias


(1995, anexos).
15Cf. de 1881 - inquérito - 3.aparte,Lisboa,Imprensa
Inquéritoindustrial indirecto
Nacional,1882,pp. 45-51.
A loja de comércioera umestabelecimento presentena vida activadestesnegocian-
tes.Atravésdela derramavam no mercadolocal muitose variadostiposde bensde consumo
de produçãoregional,nacionale estrangeira, nomeadamente têxteis(tecidose roupascon-
feccionadas),sapatos,acessóriosdomésticos, alimentosexóticos(café,chá, açúcar,arroz,
bacalhau,etc.),sal, artigosde papelariae retrosaria
e mesmoalgumasalfaiase ferramentas
agrícolas.Algunsespecializaram-se na «merceariae confeitaria»,
outrosem materiaisde
construção,nomeadamente pedrasde mármore e ferro.Tambémo negóciodo dinheiroera
umaoperaçãoindispensável no tratocomercial.
E estacaracterística
permaneceu ao longode
todoo século[cf. ADE-NúcleoJudicial:Inventários orfanológicosda comarcade Évora:
processosn.os906, 1063, 1624, 1637, 1646, 1773,2605 e 2626; arquivodas Finançasdo
Concelhode Évora: Declaraçõesde inventário (balanços):processon.° 748]. 509

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HelderAdegarFonseca

Composiçãodo patrimónioda casa Reynolds


no Alentejoem 1890 (estimativa)
[QUADRO N.° 5]

Artigos V^r Percentagem

Prédiosurbanos(b) 6,63 2,8


Prédiosrústicos(b) 132,10 56,9
Alfaiasagrícolase equipamentodos lagares(c) 2,96 1,2
Gado (c) 16,69 7,1
Génerosagrícolas(c) 5,50 2,5
Cortiçaexistentenas herdadesarrendadas (/) 64,42 27,8
Fábricade cortiça:equipamento e stock(g) 1,29 0,6
Mobiliárioda casa, roupas,ouroe prata(d) 1,69 0,8
Cocheirada casa (e) 0,76 0,3
Total 232,04 100,0

{a) Em milhõesde réis.


(b) Valoresao preçode aquisição.
(c) Avaliaçãoem 1890.
(d) Avaliaçãoem 1890: valoresagregadosno inventário.
(e) Avaliaçãoem 1890de umatraquitana CarlotaJ,um Char-à-Bancs usado,um Dog-
-Cast,um carroe umacaleche.
(/)Segundoa «avaliaçãofeitapelosperitos da cortiça nasherdades
existente arrendadaspela
casa reynoldsa partirde 1890»,existiam, nos51 arrendamentos, 376 915 arrobasde cortiçaa
colherentre1890-1908, cujo valorpodemosestimar em301 532$000réis(segundoos peritos,
«cada 15 kg custavam 800 réis»),havendoporpagarrendasno montante de 43 928$360réis.
Considerando que a duraçãomédiadosditosarrendamentos, de 1890,erade quatroanos,
a partir
comovalorpatrimonial
contabilizei para1890a quartapartedo valorlíquidoda cortiça.
{g) Fábricasde cortiçade Estremoz e Azaruja:valordo equipamento; valordo stock:850.
Fontes: Cópia do inventário dos bens móveisdo casal indivisodo falecidoRoberto
HunterReynolds e sua esposano actode partilhas, em1 de Junhode 1890 e Avaliaçãofeita
da
pelosperitos cortiça existentenas herdadesarrendadas pela casa (1890) (arquivoparti-
cularde FilipeReynoldsde Sousa).

não só comparticiparam em sociedadesindustriaislocalizadasnoutrasáreas


do país (Lisboa,Porto,Covilhã,etc.),comopromoveram aplicaçõesindus-
triaisna região.Aqui investiramem unidades para fabrico de
de materiais
construção e drenagem, transformaçãode produtos agrícolas(moagem, des-
casque de arroz,fabricode azeite,curtumes, etc.),assimcomo no sector
corticeiro.Algumasdestasempresasassumiram a formade «estabelecimen-
tos complexos»dedicadosa váriaslinhasde produçãopararentabilizar in-
vestimentos técnicosporvezes avultados17.Alémdisso,constituíram-se ou
participaram em sociedadesde ou
capitaisregionais nacionais a
para explo-

510 17Cf. Helder


AdegarFonseca(1996,pp. 35, 47 e 247-248).

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económico- Alentejo,1850-1910
Elitesagráriase crescimento

raçãodos recursosmineiros, tendo,assim,participado na febremineiraque


atravessou o país e marcouprofundamente a regiãonas décadasde 1860 e
1870. Colocaramfundosem companhias francesase espanholas.No final
do séculointeressaram-se, no mercadoregional, pela edificaçãoe electrifi-
cação urbanas,criandocompanhias e sociedadesdestinadasa exploraras
novas oportunidades de negócioligadas ao aumentoda populaçãoe às
novas infra-estruturas urbanas18.
O que estequadrosugereé a existência, na época,de umagrandefluidez
de dinheiro embuscatantode investimentos, cuja demografia acabouporser
de curtaduração,comode aplicaçõesconsolidadas, comoas do sectorimo-
biliárioe, emparticular, dos bensfundiários. Poroutrolado,mostraque,em
matériade investimento, este gruponão se distingiu dos seus congéneres
europeus:porexemplo,na analisecomparativa que David Springfaz sobre
o empenho das Europeanlandedelitesdo séculoxix nos designadosnona-
gricultural business,o autoracentuaa participação destesgruposnumawide
variety ofentreprise, taiscomominas,edificaçãourbana,metalurgia, cami-
nhosde ferro, banca,etc.19.
As necessidadesfinanceiras paraparticipar nestadiversidadede negó-
cios ultrapassou largamente as forçasdo autofinanciamento, pelo que se
assistiuao crescente recursoa créditoangariado no exteriordas redesfami-
liarese locais.De facto,na primeira metadedo séculoxix o endividamento
concretizava-se maisno quadrodas relaçõesde família,pelo arrastamento
de contasde herança,do que pelo recursoa capitalcontratado no mercado
(quadrosn.os1 e 6). Quandoeraesteo caso, a opção dominante na concre-
tizaçãodestasoperaçõesera a mutuaçãoou empréstimo com garantiade
bens(imóveise móveis)juntoda tradicional ofertainstitucional(conventos,
misericórdias, celeiros comuns, irmandades e Casa Pia) ou particular(nego-
ciantes,grandeslavradores,aristocratas), ambas predominantemente lo-
cais20.
Na segundametadedo séculoxixocorreram alterações muitoexpressivas
nestemercado.O climafavorável (pacificaçãocivil e política,novasopor-
tunidades de negócio)e o interesse maisacentuado pelo investimento torna-
raminsuficiente a ofertatradicional de crédito.No Alentejoo «negóciodo
dinheiro» prosperou e o endividamento das casas da eliteeconómicaaumen-
tou significativamente em extensão(maiscasas) e intensidade (maiorpeso
dos débitos)(quadrosn.os1 e 6).

18Cf. Helder
AdegarFonseca(1996a,232-251e 294-305).
19Cf. David
Spring(1977,pp. 12-13).
Estascaracterísticas
do mercadocrediticio
já foramanalisadascommaispormenor
[cf.
HelderAdegarFonseca(1996a,pp. 252 e segs.)].Sobreo mesmotemana mesmaregiãoe
v. aindaMariaManuelaRocha(1994).
contexto, 511

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HelderAdegarFonseca

Os grandesnegociantes locaismantiveram-se
interessadosnestemercado
e todoseles nelefizeram operaçõesdominantemente activas,ou seja, como
emprestadores.Do mesmomodoagiramcercada sétimapartedos grandes
e
proprietários lavradores,masfoientreestesque o endividamento alastrou
e o peso da dívidaaumentou Deve
expressivamente. aindanotar-se que em
muitas destascasas se manteve em o
aberto créditode a
herança: retenção
os adiantamentos
de tornas, e os empréstimos
à contadas legítimascontinua-
rama serumadas viaspara,de ummododirecto ou indirecto,satisfazeruma
partedas necessidades financeiras21.

Elite económicaeborense:
actividadecrediticia(1800-1900)
[QUADRO N.° 6]

Operações Tipos 1800-1840 1841-1870 1871-1900

Empréstimos (a) 91,0 46,0 18,0


. . Depósitosa prazo - 0,0 19,0
ActlVaS
Letras 9,0 54,0 63,0
Total 100,0 100,0 100,0
Empréstimos (a) 82,0 43,0 27,0
Penhores (b) 0,0 20,0 0,2
Passivas C. c. corrente 0,0 0,0 24,5
Letras 18,0 37,0 88,3
Total 100,0 100,0 100,0
Quotade casas credoras 18,0 30,0 21,0
Quotade casas devedoras 29,4 35,0 34,8
Quotade casas credorase devedoras 6,0 10,0 10,6
Fontese metodologia:As mesmasdo quadron.° 1.

A «fome» de dinheiroreveladanesteperíodopela elite económica


é um dado seguroe fundamental.
alentejana limitados
Progressivamente os
meiosde financiamento locais- as grandes
obtidosatravésdas instituições
do passadoestavamagoraextintas,
prestamistas decadentes - ,
ou fragilizadas

21Dos de 1860,77% eramemprestadores


a partir
inventariados e 23% eram,
negociantes
simultaneamente, e devedoresde dinheiro.
prestamistas e lavra-
Entretodosos proprietários
não ligadosaos meiosdo negóciono períodode 1841 a 1870,
doresmaiorescontribuintes
10% eramprestamistas,26% eramdevedores e 6,5%emprestavam No
dinheiro.
e contratavam
períodoseguinte de cada umdaquelesgruposfoide 7%, 35%
(1871-1900)a quotarespectiva
e 7%; poroutrolado,no mesmouniverso, entre1841e 1870,17,5%tinham créditos,12,2%
tinhamdívidase 5,3% tinhamcréditose dívidasde herança;parao períodode 1871-1900,
estasquotasforam,respectivamente,de 8%, 27% e 3% [cf.HelderAdegarFonseca(1996,
512 pp. 252-262)].

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económico- Alentejo,1850-1910
Elitesagráriase crescimento

a procurano mercadoparticular intensificou-se e abriucaminhoa umapre-


sença bastantemais de
significativa prestamistas exterioresà região,em
dos
particular capitalistas lisboetas, que viram no Alentejouma boa oportu-
nidadepara estes e outrosnegócios.Foi nestecontextoque a ideia dos
bancosregionaisganhouterreno e a eliteeborenseacabouporconcretizá-la.
Nos anos 1860nema novelCompanhia Geraldo CréditoPredialPortu-
guês (1864) pareceuresponder aos interessesda eliteeconómicaalentejana
nemas misericórdias locais foramcapazes de criaros «bancosde crédito
agrícolae industrial» que a legislaçãode 1866 e 1867 veio favorecer. No
inícioda décadaseguinte constituiu-se a Caixa de CréditoEborense(1873),
que em 1875 passoua Banco Eborense,ano em que foi tambémcriadoo
Banco do Alentejo:o primeiro formou-se com umacarteirade accionistas
exclusivamente o
regional, segundo com base em capitaisregionaise do
Nortedo país22.
A criaçãodos dois bancosteve importantes repercussõesno mercado
localde capitais:foram, ao ladode algumascompanhias mineiras, as primei-
ras iniciativas
empresariais regionais constituídas com base nas sociedades
anónimasde responsabilidade limitada;colocaram-seentreos principais
fornecedores de créditobancáriona região;atravésdos depósitosa prazo,
atraíram umapartecrescente da poupançalocal23.
A expansãodos negóciosno Alentejoa partir de meadosdo século xix,
combinada comos problemas de financiamento, estimulou aindaa criaçãode
sociedadescomerciais em nomecolectivo,solidáriasou em comandita com
base em capitaisnão familiares e, mais a
tarde, partirde finaisdos anos
1860, das comanditas por acções e das sociedadesanóminas,de que os
bancosregionais, acimareferidos, foramexemplospioneirosà escala regio-
nal. É claroque entreos meiosde negóciosalentejanos já encontramos na
primeira metade de Oitocentos modalidades societáriasem nome colectivo
informais ou com escritura pública,envolvendo elementos da mesmafamí-
lia, em particular
umtitular e o seu sucessor(relaçãopai-filho ou tio-sobri-
nho),assimcomo encontramos nos meiosda lavouraa práticada «casa
comum»(casas com património efectivamente indiviso)ou de sociedades
agrícolas,com firma comercial, entre herdeiros comunsda mesmacasa.
Estas modalidadessocietáriascontinuaram a proliferarno Alentejo,como
noutras economiaseuropeias, na segundametadedo séculoxix24,mas tanto

22 Sobre o crédito
agrícola,a CGCPP e as suas operações activas,v. Alexandrede Sousa
e Figueiredo (1871, p. 39), Luís de Castro (1911, p. 12) e A. H. Oliveira Marques (1989).
Sobre esta matéria e a criação dos bancos regionais, v. Helder Adegar Fonseca (1996a,
pp. 252-262).
23 Cf. Helder
Adegar Fonseca (1996a, pp. 281-294 e 302-303).
24 Cf. Patrick
Verley (1994, pp. 103-105). 513

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comfinscomerciais e industriais
comoagrícolasforamtambém constituídas
numerosas sociedadescomerciaiscujos intervenientes
(sóciose e
directores)
eram
capitais recrutadosem diversas
famíliasda regiãoou associavamcapi-
taisregionais,
nacionaise estrangeiros.
As companhias mineiras,corticeiras
e moageirascriadasa partir
dos anos 1860são exemplosdestaassociaçãode
interesses
não familiares
e das comanditas poracções,que,com as socieda-
des anónimas,representam um elemento novoparaa economiae a organi-
zação empresarial
regional25.

III. A AGRICULTURALATIFUNDIÁRIA:
FORMAÇÃO E CONDUÇÃO DAS EMPRESAS AGRÍCOLAS

As primeiras quatrodécadasque se seguiram ao triunfo liberaltrouxeram


umagrandeactividade ao mercadofundiário alentejano. factonão acar-
Este
retouumaalteraçãonos aspectosbásicosda estrutura fundiária regionale a
dominância da grandepropriedade permaneceu como a imagem marcada
de
No
região. entanto, conduziu a mudanças expressivas titularidade
na da terra
e, em particular,possibilitoureajustamentos nos
significativos patrimónios
familiareslocais.Nestemercadoe nestasmudanças as novaselitesmoldadas
pelo liberalismo tiveram um papelfundamental.
Apesarda diversidade e negóciosemque esteveenvolvida,
dos interesses
é indiscutível a primaziaque a eliteeconómicaeborenseconferiu ao sector
imobiliário.No últimoquarteldo século xix, independentemente da sua
origem sociale tradição económica,estas casas tinham, em geral,dois terços
do activorepresentados porvaloresem imóveis(quadrosn.os1 e 2), decor-
rentesda posse de títulosde propriedade diversificados que incidiamsobre
prédiosurbanose rústicos,um processode acumulaçãoque a partirde
meadosde Oitocentosganhouum grandeimpulsocom as estratégias de
casamentodentrodo grupoe as trasmissões daí decorrentes, com um mer-
cado particular de comprae vendaampliadoe com as vendasdirectaou
indirectamente estimuladas pelo Estadoliberal.
O incremento da carteira
imobiliária resultou da acumulaçãoe da valo-
rização dos bens fundiários.
De facto,aquele grupoinvestiugeneralizada-
mentena aquisiçãoda terra, procurando ao mesmotemporeunir a totalidade
dos direitosde propriedade, libertando,assim,progressivamente o seu patri-
móniode titularidades ou
imperfeitas limitadas ligadas à enfiteusee às prá-
ticasde quinhoar26.

25
Exemplos destas modalidades societárias:ADE-Notários: livros n.081565 (fis. 89-90
v.°), 1567 (fis. 28 v.°-30), 1568 (fis. 20-20 v.° e 25 v.°), 1569 (fs. 2-2 v.°)); v. tambémHelder
Adegar Fonseca (1996a, pp. 232-251).
26 Além dos
514 quadros n.os 1 e 2, v. Helder Adegar Fonsca (1996a, pp. 306-307).

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económico- Alentejo,1850-1910
Elitesagráriase crescimento

Estaevolução,particularmente expressiva nascasas originárias dos meios


da lavourae negócio27, parecejustificar a críticaque, plenopico da crise
em
agráriado final do século xix (1884-1887), Oliveira Martinsdirigiuaos
grandesproprietários e lavradores alentejanos, denunciando-lhes a «avidez
de se alargar,empregando na aquisiçãode terras,recursosque, na quasi
dos casos,seriammelhor
universalidade aplicadosao fomento e beneficiação
das propriedades do à
possuídas que aquisição de novas superfícies».Na
opiniãodo deputado, este«vício,inerente à própria condiçãode proprietário,
especialmentenos países de tradições latifundiárias e morgadias», erao res-
ponsávelpelo «movimento de concentração progressiva» verificado no
Alentejo,depois de criado «o regime franco da concorrência e do capitalis-
mo»28.
A formulação destacríticatemum duplointeresse historiográfico.Por
um lado, ela referedois dos trêstópicosque marcaram as tentativas de
do
tipificação comportamento económico da «burguesia agrária» ou «latifun-
diária»alentejana nos últimoscentoe cinquenta anos:acumulaçãodesmesu-
radae opçõeserradasna gestãodosbensfundiários, aos quaisse acrescentou
a taraesbanjadorados rendimentos obtidos.Por outrolado, sinalizao mo-
mentohistórico a partirdo qual se desencadeou em Portugal umapolémica
contumazna apreciaçãodaquelecomportamento.
Estapolémicapodeserrevisitada comumguiãoorganizado emtornode
trêstópicos:o «vício»da acumulaçãofundiária e do absentismo; a organi-
zação das exploraçõesagrícolas; a «rotina» na exploração.

1. ACUMULAÇÃOE ABSENTISMO:DOIS EQUÍVOCOS?

A ideia de uma acumulaçãofundiária exclusivamente dominadapela


obsessãode possuir(muita)terraparecenão terfundamento. De facto,a
dos de e do
reconstituição processos formação consolidação património
fundiárioda eliteeconómicaeborenseduranteo século xix revela,como
regra,a organizaçãoda carteiramarcadapor trêsatitudesfundamentais29:

a) Aquisiçõesfundiárias
com vistaà criaçãoou ampliaçãode grandes
exploraçõesagrícolasterritorialmente
contíguasassentesem bens
No caso da ampliaçãodas exploraçõesagrícolasherda-
patrimoniais.

27V.
algunsexemplosem HelderAdegarFonseca(1992,p. 821).
28Cf.
Projectode lei sobreo fomento rural,lidona Câmarados Deputadosem27-4-1887,
in Ministério
da Agricultura, Pescas e Alimentação (ed.), 1987,pp. 75 e 104.
29Vários
exemplosque ilustram estascondutas estãodescritosem HelderAdegarFonseca
(1996a,pp. 335-368). 575

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paraos prédioscontí-
das, a aquisiçãofoidirigidapreferencialmente
na
guosjá integrados exploração com base no arrendamento;
b) Reunião de todosos títulos
de a estesprédios,
referentes
propriedade
atravésda comprados quinhõesdispersose da remissãodos forose
pensões;
c) Alienaçãode umaparteexpressiva do patrimóniofundiário
disperso,
em particular de todoaqueleque se situavaforados municípiosde
Évorae limítrofes.

Esta condutanão confirma nemo carácter aleatóriodas aquisiçõesnem


uma opção tenazpela preservação indiscriminada do património herdado.
Mais do que um«vício»,a acumulação pareceterobedecidoa umaestratégia
de concentração paraefeitosde umagestãomaiseficaz,querno quadroda
exploração directa, querdo arrendamento. Alémdisso,é útilnotarque du-
ranteo séculoxix,em grandepartedo mundoruraleuropeufoimuitomais
fortea tendência paraa concentração fundiária do que paraa «democracia
rural»expressapela maiorrepartição da terra:isto foi assimna Europa
mediterrânica, na generalidade dos paísesda «periferia» europeia,mastam-
bémentreos bastiõesdo «desenvolvimento», comono caso da França,da
Alemanhae da Inglaterra30.
A outramechageralmente coladaao estereótipo é a do
dos latifundistas
absentismo, expressopelo totaldesinteressepela exploração directada terra
possuída,pela vocaçãorentista e peloausentismo. A primeira destasatitudes
foidetectada numnúmero reduzidode exemplos:apenasem 14% dos casos
foicomprovada a ausênciade exploração directade umapartedo património
fundiário n.°
(quadro 6). Tratava-se,fundamentalmente, de algumascasas
comtradiçãoaristocrática, emboracomestaorigemexistissem também casas
de
detentoras grandes lavouras.Esta forma de absentismo não era regra.De
facto,nos meiosda eliteeconómicaeborense, no seu conjunto e nas casas
de origemaristocrática que a integravam, o desinteresse pela exploração
directadas terrasestavalongede serumaatitude vulgar.No entanto, mesmo
assim,a administração da exploraçãoatravésde «um intermediário (feitor,
gerente,etc.) entre o cultivador das terrase o proprietárioausente»31 pode
serqualificadacomoumaformade absentismo oculto.

30Cf.IvanT. Berende
GiörgyRánki(1982,pp. 34-43),AlanS. Milward(1977,pp. 234-
-236),DavidSpring(ed.) (1977),JosepFontana(1985,p. 226),AntonioMiguelBernai(1979,
p. 101e 1985c,pp. 344-346),Yves Lequin(1983,p. 35), PalmeiaM. Pilbeam(1990,pp. 58-
-66),PierreLeon (1982,pp. 400-405),Luís NunoEspinhada Silveira(1988,pp. 142-155),
HelderAdegarFonseca(1996a,pp. 344-348),David Grigg(1982,p. 206),W. D. Rubinstein
(1977, pp. 193-226), Lawrencee JeanneStonne(1984,pp. 282-289)e GordonE. Mingay
(éd.) (1981, i).
516 31Cf. JoséPedroMachado(coord.)(1981).

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Elitesagráriase crescimento

Em geral,os grandesproprietários e lavradores alentejanos não estavam


quotidianamente presentes nas lavouras.Os seus interesses,acção públicae
estilode vidaimplicavam, comoregra,a localizaçãoda habitaçãoprincipal
na cidade(Évora,no caso emanálise)ou nosseussubúrbios, emboradispon-
do de uma segundahabitaçãointegrada no «monte»da herdade-centro de
A
exploração. preferência por este padrãode residênciatinha a ver tanto com
exigênciassociaiscomo com a necessidadede estarempresentes no mais
importante centrolocal de negócios,de informação e de decisão.Estefacto,
tambémrelacionadocom a conquistasocial da cidadearistocrática e ecle-
siásticapela eliteliberal,porsi só, não podeserinterpretado comosinalde
abandonoou faltade empenhona gestãodos assuntosagrícolas32.
O dadofundamental, emquejá se teminsistido, é o de que a canalização
do património fundiário para o mercadodo arrendamento foi um negócio
remunerador. E istoé visívelno Alentejoda segundametadedo séculoxix,
como o mostram tantoa rentabilidade comparadacom outrasclasses de
investimento (1850-1872) como o índicemonetário das rendas(1863-1915)
das propriedades que a casa Eugêniode Almeidapossuíana região33. É, por
isso,compreensível que muitosprédiosrústicos tenham sidocomprados com
esse fime que as casas que acumularam, atravésde heranças, grandespatri-
móniosimobiliários tenhamdestinadoao mesmomercadomuitosdestes
bens,em particular as propriedades maisdistantes e aquelassobreas quais
existiamváriostitulares de direitosfundiários (quinhões,entreos quais se
repartiao rendimento do prédio)34.
A declaraçãofeitapelaviúvade Joaquim António de SousaMatos,umdos
mais importantes negociantes de Évora dos anos 1830 e um dos maiores
compradores de bensnacionaisno distrito, aquandodo inventário da casa
(1841),aindaque datadaemalgunsaspectos, ilustraaquiloque é fundamental
perceberquantoao modocomoestascasasgeriam o seupatrimónio e participa-
vamno mercadodo arrendamento fundiário35:
«Nas herdades da Chaminée
Outeirohápoucomaisou menossemeadoda lavourado casal8 moiosde trigo,
3 moiosde cevada,30 alqueiresde tremez e 1V2alqueiresde centeio,sendo
ao todoa sementedas diferentes espécies13 moios.Na herdadeda Laje há
semeadode trigo1V2moios,1V2moiosde cevada,30 alqueiresde tremez e2
moiosde centeio.Totalde sementeira: 5 moiose meio.Há a receberquartas
[quinhoeiras] das herdadesseguintes:Cortiçadas[Évora],Torre[Évora],

32Cf. Helder
AdegarFonseca(1988,pp. 76-77,1996a,pp. 201-220e 368-374,e 1996b);
v. tambémFrançoisHeran(1980,p. 165).
" Cf. Helder
AdegarFonsecae JaimeReis (1987b,pp. 887-888)e JaimeReis (1980,
pp. 127-129).
34
V., porexemplo,HelderAdegarFonseca(1987a,p. 81).
35ADE-NJ-IOCE:
processon.° 1191(1841). 517

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Carrascale Pé da Serra[Vimieiro], Pedrão[Redondo],Montedo Alcaide


[Vimieiro], Ribeiroe QuintadeD. Pedro[Évora].Há a receber
Outeiro, rendas
de pamd'algumasherdades da casa que andamarrendadas, assimcomohá a
receberrendasdepampertencentes a morgados queo casaltrazarrendadas. Da
mesmaforma o Casaltema pagarrendasdepamde herdades quetrazde renda,
assimcomoa pagaros quinhõesde pamimpostos emherdades da casa.» Dar
à renda,terde rendae fazeragricultura, em o
eis, síntese, que caracterizou a
eliteeconómicaeborenseem matéria de gestãofundiária,não sendoporisso
regra,comoacontecianoutras regiõese paísesda Europa,a separaçãoentreo
e o granderendeiro-agricultor36.
grandeproprietário

2. A ORGANIZAÇÃO DAS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS: COMPOSIÇÃO


E FORMAS SOCIETÁRIAS

No Alentejo,ao longodo século xix, permaneceu uma relaçãomuito


estreitaentrea organizaçãodas grandesexplorações,as aquisiçõese os
arrendamentos fundiários,sendonotória a tendênciaparacada umadas casas
arrendar e/oucomprar as propriedades(herdades)contíguasàquelasque já
tinhaem exploração.O exemplodos membros da eliteeconómicaeborense
ilustrabem esta conexão. Eles eramos mais importantes proprietários
fundiários,mas eramtambémos principais rendeiros da terra,controlando
poresta via, em 1870,cercade 50 % da área das herdadesarrendadas no
concelhode Évora37. Destemodo,o arrendamento continuou a sertantouma
das formasde rentabilizar o capitalfundiáriocomoum instrumento funda-
mentaldos latifundistas a
para organização das suas exploraçõesagrícolas.
A tomadade herdadesde renda,combinada comterraspatrimoniais, foi
umasoluçãolargamente na da
adoptada organização grandeexploraçãoagrá-
ria,umapráticaque tinhajá tradições. Ela não foi completamente abalada
quandoo «direito de colonia»- uma«lei especial»,umprivilégio do tempo
do marquês de Pombal(leis 1764,1770e 1774),que protegeu de formaséria
e exclusivaos lavradores rendeiros de herdadesno Alentejo,muitosdeles
grandes locais- foiabolidocoma entrada
proprietários emvigordo Código
Civilde 1867e o mercadode arrendamento foicompletamente liberalizado,
factosque levaram a umaforte valorização e
predial ao aumento expressivo da
rendafundiária, considerando-se nos meios que
capitalistas durante muito
tempoas herdades tinham sidoarrendadas «porumpreçomuitoinferior ao seu
justovalor»38.

36 Cf. David
Spring (1977, pp. 12-13).
37 Cf. Helder
Adegar Fonseca (1996a, p. 198).
38
Cf., por exemplo, ACEA: Copiador de cartas: cartas n.08544 (1850), 2102 (1857) e
518 3856 (1865). Para mais pormenores,v. Helder Adegar Fonseca (1996a, pp. 377-379).

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Elitesagráriase crescimento

Em todo o caso, com o aumentoprogressivo das rendasna segunda


metadedo século xix, não surpreende que nos meioslocais não só tenha
crescidoa ambiçãode comprar as herdades que compunham ou eramneces-
sáriasparaa exploraçãoagrícola,de modoa libertá-las do encargoe contin-
gênciasdo arrendamento, comotambémse tenhamacentuadoas críticasàs
condições contratuais
que os novosdonosreclamavam. Mas, se os reparos
vinhamdas casas da eliteeconómicalocal,que continuaram a ser as prin-
cipais rendeiras,não podemdeixarde mereceralgumasreservas,pois é
seguroque o arrendamento foi uma das formasque utilizaram tantopara
constituiras suas lavourascomo para rentabilizar a partedo património
fundiário que não exploravam directamente.
Mas na organização da exploraçãoagrícolalatifundiária,
alémdestacom-
posição entre as terraspatrimoniaise as terrasarrendadas,é precisoainda
atender aos factoresrelacionados coma reuniãoou preservação dos capitais
e meiosde exploração.
Cercade metadedas casas da eliteeconómicaeborensetinham explora-
ções agrícolasorganizadas combase em soluçõessocietárias (quadron.°7),
informais ou formais, quase sempreenvolvendo familiares
de 1.° grau.

Elite económicaeborense:gestãoe
exploraçãoda terra(1841-1870) (em percentagem)
[QUADRO N.° 7]

Indicadores Casas

1. Da gestãofundiária:
1.1. Exploraçãoporcontada casa 86,1
1.2. Arrendamento de terras 86,1
1.2.1.Arrendamento geral 8,3
1.2.2.Arrendamento a longoprazo 5,5
1.3. Cobrançade forose quinhões 44,4
2. Da exploraçãoda terra:
2.1. Em terrasda casa 83,3
2.2. Em terrasda família 25,0
2.3. Em terrasarrendadas 67,0
2.4. Só em terrasarrendadas 2,8
3. Da organizaçãodas lavouras:
3.1. Lavourada casa 50,0
3.2. Lavouraem «casa comum» 36,1
3.3. Sociedadesagrícolasformais 16,7
3.3.1.Entrefamiliares 5,5
3.3.2. Outras 11,1
Fontes:As mesmasdo quadron.° 1.

Algumasdestassociedadesou «uniões»familiares
estavamdirectamente
relacionadas
com as situaçõesde colonia.Os herdeiros
da casa mantinham519

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durantedécadasuma sociedadeagrícola,reguladapelo reconhecimento da


situação de «casa comum» ou por «escrito A
particular». partir da década de
1840,algumas destas converteram estas ao
situações registo e firma comer-
cial,assentenumaou diversas herdades, como objectivo de «manter e conser-
varo estabelecimento agrícolaqueos diversos sócioshouveram de seufalecido
pai,evitando por esta forma o gravíssimo prejuízo que sofreriam os interessa-
dos se porventura se procedesse à vendados gadose dos utensílios e tremde
lavoura»(1851).As sociedadesagrícolas da «Herdadeda Sousa»,da «Herdade
da Loba» e a «FirmaPerdigãoe Irmãos»são algunsexemplossocietários com
vínculoao direitofamiliar de sucedernos arrendamentos39.
Estassociedadesagrícolasfamiliares permitiam contornar, temporária ou
duradouramente, o efeito desestruturador que o sistema de devoluçãoigua-
litáriopodiaprovocar sobrea economiafamiliar, mantendo reunidos os bens
de capitalfundamentais à prossecução da actividade agrícola,que,na maior
partedos casos, era a principal«forçada casa», para usaruma expressão
corrente na época.Elas constituíram também umdos alicercesorganizativos
da grandeexploraçãoalentejanae, cornotal,perduraram, pelo menos,até
finaisdo século xix.
Mas ao ladodestasdesenvolveram-se outrasformas de sociedadeagrícola
comobjectivospuramente produtivos e comerciais, envolvendo personagens
semlaçosde parentesco. Estas«sociedadese companhias comfirma, em um
estabelecimento de lavoura» reuniam tanto os interessesde um sócio capi-
talista(proprietárioda grandeexploração)e de um«gerente» comoos de um
grupode sóciosque tomavam contada exploração, ou seja,podiamsertanto
sociedadesemnomecolectivocomoa SociedadeAgrícolada Cartuxa, como
em comandita, tendosido, provavelmente, esta últimamodalidadea que
mais se vulgarizou40.

3. A ORIENTAÇÃODA EXPLORAÇÃOAGRÍCOLA

O conhecimento que hojetemossobrea organização e evoluçãode algu-


mas das grandesexploraçõesalentejanasno séculopassado- como,por
Cortez(1832-1889),F. S. Margiochi(1874-
exemplo,as das casas Parreira
-1915),Eugêniode Almeida(1874-1915)e RamalhoDinisPerdigão(1846-
-1910)41- coloca tambémalgumasreservasà tradicional imagemdo «la-

39Cf. ADE-Notários:livron.° 1569,fis.81 v.° 83, e HelderAdegarFonseca(1996a,


pp. 383-385).
40Cf.,
por exemplo,ADE-Notários:livron.° 1565; HelderAdegarFonseca (1996a,
pp. 385-888).
41Cf. Helder
AdegarFonseca(1996a,pp. 349-368e 388 e segs.),M. Feio (1985 e 1988),
520 A. C. Matos(e outros)(1982) e M. E. O. Fernandes(1889).

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Elitesagráriase crescimento

tifúndio alentejano»comoempresaagrícolaorientada de formadeficiente e


ou
rotineira, seja, baseada no baixo na
investimento, preservação de um
sistemacultural arcaicoe na parcamodernização do aparatotécnicoutiliza-
do42.
Entremuitosoutrosexemplos, vou tomarcomoreferência o percurso da
grandeexploração da casa dos Cunha Vieira(Évora)em trêsgerações.Em
1813,os prédiosnão foramdescritos em pormenor, mas registou-se o sufi-
cienteparase ficara saberque eramutilizados emculturas arvenses,tinham
olivaise proporcionavam condiçõesparaumcolmeal.As pastagensnaturais
e os restolhosalimentavam 389 cabeçasde gadogrosso,predominantemente
bovino(358 cabeças),ondeentravam 69 juntasde boisparao trabalho, mais
2189 cabeçasde gadomiúdo,sendo1400ovinas,313 caprinase 673 suínas,
que exigiammontado.O gado suíno,além da venda«à perna»ou vivo,
prestava-se à salga de carnee toucinho(600 kg),à banha,aos enchidose
fumados.O alavão ovino era aproveitado para a elaboraçãode produtos
lácteos(queijo regionale almece).Tudo istocom um aparatotecnológico
tradicional,bem ilustrado pelos aradossimples43 e «de rodado»(charruas
tipo labrego)44 para as lavras,gradesde madeirapara o destorroamento,
«fouces»paraas ceifase «cobrasde debulha»(debulhaa sangue)45.
Duas décadasdepois(1833) descreveu-se novamente a lavourado viúvo
Carlos MiguelCunhaViera,que vivia em «sociedade»informal com os
quatrofilhos.Além das herdadespatrimoniais, a exploraçãocompreendia
também, porarrendamento, outrosprédioscontíguos. Nela se faziamcereais,
leguminosas, azeite,mel e cera (70 colmeias).Foram declaradostambém
100 almudesde vinho,um produtorealizadoforada grandeexploração,a
partirdas vinhasexistentes nasquintasda casa,prédiosdescritos com«casa,
terrade semear,vinhae olival». Na herdadedo Carrascal,de que era
enfiteuta,tinharealizado«benfeitorias depoisda morteda mulher».Na ex-
ploraçãoprincipal,a pecuáriamantinha-se como uma das componentes
fundamentais. O gadode rendimento tinhaaumentado: 726 suínos,incluindo
250 «bácoros»,130 «erviços»e 296 porcos«que pastamno Praldo Meio»
(um montadoarrendado), 3740 ovinos,dos quais 1100eram«ovelhaspari-
das», e 250 cabras.O gado de trabalho(e rendimento) manteve-se pratica-
menteestável:algumaséguasparaa eirae 331 bovinos,incluindo 60 juntas

Sobreestacaracterização e a polémicaem tornodela no caso português, v., porexem-


plo,MarianoFeio (1973), Henriquede Barros(1980) e OlivierBalabian(1980,pp. 603-611
e 724-760).
43Cf. J.Silva Picão
(1983,p. 250).
44Cf. «arado»e «charrúa»in JoelSenão
1981,i, pp. 171-173,e il, pp. 52-53).
45ADE-NJ-IOCE:
processon.°490 (1813). 521

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HelderAdegarFonseca

de bois. No planoqualitativo, o tremde lavouranão apresentava qualquer


alteração46.
Mais umsaltode trinta anos: 1859,ano de inventário judicialpormorte
do «maiorcontribuinte», CarlosMiguelda CunhaVieiraJr.Entreos bens
rústicos,umacourela,na Guardada Lagardona, «que em tempofoivinha»,
transformada em terrade semear:é muitoprovávelque no inícioda década
o desvastador oïdiumtuckeri41 tenhavisitadoestaplantação.Contudo,nas
Quintasda Retortae Lajes e em quartéisanexoso lavradordipunhade
«vinhae arvoredo»48.
Quantoà lavoura,ela estavaorganizada a partir de umaherdadepatrimo-
nial que lhe couberana herança.O lavradorestendeu-a a novasherdades,
umascompradas, na praçados bensnacionais, outrasde renda49. Na herdade
da Palheta,transformada em sede, tinhaum «montede casas, com suas
competentes oficinas,montadoe terrade semear».As da Vidigueirae Sal-
vada tambémtinham olival.Nas instalações destemonteexistiaumaadega
equipadacom 22 pipase potes.A exploraçãoestavadedicadaàs culturas
arvenses,ao olival e ao gado. Foraminventariados 23 cabeças muarese
cavalares,92 bovinos(30 juntasde bois),253 caprinos,1401ovinose 530
suínos(50 «porcascriadeiras»). Istoporque,entretanto, tinhamsido vendi-
dos 546 porcose morrido váriascabeças,entreas quais236 ovelhas.A viúva
declaroutambémque daria«contano futuro [...] da lã e azeitecujo fabrico
se não acha ultimado, bemcomodas criaçõesde gado ora em progresso».
Quantoao aparatotécnico,a únicanovidadeem relaçãoaos inventários
anteriores,alémda referência à adegano monte,o registode charruas«de
ferro»no tremde lavoura50.
Nestaépoca,a orientação produtiva e o aparatotécnicodestalavouranão
erammuitodiferentes daquelesque encontramos entreos outroslatifundistas
a
da região.De facto,até à décadade 1850, grandeexploraçãoalentejana
manteve, do pontode vistaprodutivo, o caráctermistoque já revelavano
princípio do século51:terra de semear (culturas arvenses), olivale montado
(bolota, lenha e carvão);uma pecuária baseada em de
gado trabalho, com
umapartedesteefectivodestinadaà reprodução, e em gado de rendimento
(lã, carnee lácteo)a comernas pastagemde solo (ovino,caprino)e de

46ADE-NJ-IOCE:
processon.° 997 (1933); v. tambémno mesmonúcleo o processon.° 881
(1829).
47 Cf. Helder
Adegar Fonseca (1996a, 127).
48 ADE-NJ-IOCE:
processo n.° 1587 (1859).
49 Cf. Helder
Adegar Fonseca (1996a, 392).
50 ADE-NJ-IOCE:
processo n.° 1587 (1859).
Para este período, podem ver-se mais exemplos de lavouras destas casas em Helder
522 Adegar Fonseca (1987a, pp. Ill e 113).

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Elitesagráriase crescimento

montado(suíno),sendo mesmoadmissívelum aumentoquantitativo nas


cabeças ovinas e suínas. Contudo, no mesmo período, em cerca de metade
das casas já existiatambémexperiênciarelacionadacom a exploração
vitícola,realizadaem quintasou quartéisde vinhalocalizadosnos arredores
da cidadeou já integrada no complexoespaciale produtivo da grandeex-
ploraçãoagrária.Outrasjá revelamtambémpreocupação com a exploração
da cortiça.Mas não se fiquecom umaimagemdistorcida: nas grandesex-
o
plorações padrãoprodutivo permanecia centrado no cereal,no gado (de
e
pastagem montanheiro) e no olival.No planotécnico, a novidade era,sem
dúvida, a recente introdução da charrua de ferro(anos 1850)52.
Foi, claramente, a partirde finaisda décadade 1850,provavelmente à
saídada crisedo oídio,que a plantaçãoda vinhapassoua ocuparum lugar
maisexpressivo e generalizado no complexoprodutivo das grandesexplora-
ções. Sabe-se que depois do desbaste provocadopela doençana área de
Évora, o vinhedo recuperoudepressa,o plantioalastroue estendeu-seà
grandeexploraçãode formageneralizada. Foi também porestaalturaque a
grandeexploraçãolatifundiária começoua tirar, de formasistemática, parti-
do de umnovorecursoe criouumanovafontede rendimento: a cortiçados
montadosde sobro.
A descriçãoda «lavoura»de Franciscode LemosCunhaVieiraem iní-
cios do séculoxx ilustra de umaforma exemplara maiorcomplexidade pro-
dutivada agricultura latifundiáriae as mudançasorganizacionais técnicas
entãoocorridas no interior destasgrandesexplorações. Visitemo-la entãono
ano de 190453:
1. As instalações.No monteda herdade-sede da exploraçãodestacava-
-se a amplacasa de habitaçãodo lavrador:tinhadois «andares»;no
oitoquartos,
piso superior, umdeles«novo»;no rés-do-chão, 15 divi-
sões funcionais,
entreas quais o «escritório»,os dois quartosde hós-
pedese a «sala», dominadapela presençade um «pianohorizontal».
Váriosquartosparacriadase outrosempregados, comoo «escreven-
te» que trabalhava no «escritórioda lavoura».Para os serviços,o
montedispunhade uma «amassaria»(fabricodo pão), queijaria,al-
pendre,oficinade ferreiro, oficinade abegão,arrecadaçãopara as
alfaias,adega,dois celeiros,casa de apeiros,uma abegoariae uma
cabana.Não muitodistante da sede o «moinhodos Frades[...] que
está englobadona lavourada casa»;
2. Génerosemarmazém(as produções).Os celeirosguardavam 32400 1
de trigo,10 800 1 de centeio,22 500 1 de cevada,12 000 1 de aveia,

52 Cf. Helder
Adegar Fonseca (1996a, pp. 390-397).
53 Cf. AFCE-F2:
processo n.° 708.2. 523

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HelderAdegarFonseca

3000 1 de favae tremoço. Na adegahaviacercade 1500 1 de vinho


e 800 1 de vinagre.O armazenamento das farinhas,queijos,carnesde
conserva, azeite,azeitonase outrosgénerosde produção(feijão,etc.)
tinhalugarnas trêsdespensasdo monte.Dos sobrosjá saíra uma
tiragem de cortiçano valorde 8538$700réis(cercade 12 198 arro-
bas);
3. Gado (de serviçoe rendimento): 115 bovinos(32 juntase 21 vacas
afilhadas),51 equinos,incluindo10 éguasde ventre, um «machode
cobrição» e 22 mulas das parelhas; 1476 ovinos (875 ventre);221
de
cabras(150 de ventre);635 porcos(43 de ventre);
4. Tecnologia(tremde lavoura).Alémdo equipamento da queijaria,das
oficinasdo ferreiro e abegão,da adega e das «ferramentas do moi-
nho», tudo tradicional,
registe-se o arrolamento, pela ordem normal
das operaçõesagrícolas:(a) de diversosinstrumentos para trabalhos
«a braços»:enchadas,enchadões,sachólas,ancinhos, ma-
forquilhas,
chados vulgarese corticeiros, gadanhas,etc.; (b) de instrumentos
aratórios«movidospor animais»:24 arados,10 «charruas de ferro»
para finsdiversos, incluindouma barbant 4 5
(sic), «rojões», «grades
de dentes»;(c) de instrumentos de eira:5 «trilhos 2 «malhos
de ferro»;
de centeio»,etc.;(d) preparadoresde alimentos: umcorta-palha, «mui-
to usado»; (e) de material de transporte: 21 carretase 1 churrião.

Este tipode percurso não foiexcepcional. Nesteperíodosão numerosos


os exemplosda evoluçãoda empresalatifundiária paraummodelomarcado
pela «complexidade do systemade exploração»54. Aindaque com algumas
diferenças de escala, organização e utilizaçãodos solos, ao combinarem
culturasarvensese lenhosas(vinhae olival),pomarese hortas, montados de
e de
sobroe azinho,gadode trabalho rendimento, durante a segunda metade
do século xix, as grandesexploraçõesagrícolasalentejanaslocalizadasna
área de Évora,do pontode vistaprodutivo, mesmomantendo a matrizda
tradição,aproximaram-se muito mais da «exploração completa» (mista),que
Sertório do Monte considerava
Pereira o «sistema cultural» mais adequado
ao Alentejo55,do que do modelode «exclusivismo cultural»,com que fre-
quentemente se temrotuladoa agricultura da região.
As mudanças noplanotécnicotambém nãoforam Maisdoque
irrelevantes.
uma alteraçãono sistemacultural ligado aos cereais- o pastorilmistoou

54 Assimo sintetizou o agrónomo RomãoPatrocínioRamalho(relatório da Exposição


Pecuário-Agrícola realizadaem Évoraem Maio de 1903,Évora,1908,p. 22).
55 Cf. Sertóriodo MontePereira,«As exploraçõesvitícolasno Alentejo»,in Portugal
524 Agrícola,voi. vi, 1894-1895,p. 243.

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Elitesagráriase crescimento

célticosem compáscuoe com pousiode pastagem- , com a chegadaà


liderançados agricultores-agrónomos(pelomenosa partir da décadade 1870)
procedeu-seà sua «metodização», com a divisão da parteda exploração
dedicadaà cerealiculturaem folhas,rotaçõese combinações culturais certas.
Foi necessário na
integrar grandeexploração as técnicas da cultura vitícolae
da produçãovinícola,numcontexto marcadopela divulgaçãode meiossani-
táriosde combatee de cepasexóticasresistentes ao filoxera. Inovou-secom
a «educação»do montado de sobro,ou seja,coma aprendizagem de todosos
processos relacionados com a da
exploração cortiça, incluindo técnicas de
desbastee podado arvoredo,
gestãoflorestal, descortiçamento e tratamento da
cortiça.Fizeram-semelhoramentos no domínioda exploraçãopecuária,des-
tacando-se56:os progressosna selecção,cruzamento e mestiçagem de algumas
das espéciescom vistaao reforçodas qualidadescompetitivas, caracteres
zootécnicosou à produçãode híbridosmaisprodutivos ou robustos(gado
cavalar,muares,bovino);a organizaçãode coudelariasparticulares (1860-
a de
-1880); beneficiação instalações o
pecuáriaspara gado cavalar e bovino;
a beneficiaçãoda dietado gadobovinode trabalho, cujoregimede pastagem-
-palhafoiaumentado comuma«raçãosuplementar» constituída por«cevada
brancae aveia,ou só aveia,que vaiaté7 litrosnodia,e outrosfarinha, farello,
em de ou
etc., posturas palha moinha, na alcofa ou manjedoura»57.
Contudo, foina criaçãodo gadosuíno,transformado no «maisimportante
de todosos capitaisda exploraçãopecuária»alentejana, que os progressos
se tornaram maisvisíveis.A criaçãoda raçasuína«alentejana»mereceu, de
facto,um cuidado particulardos lavradores locais. De meadosaté finaisdo
séculoxix,associadosao crescente investimento nos montados, os efectivos

56Cf., ADE-NGC:mç.999: «Relatório do intendenteda Pecuáriado Distrito


porexemplo,
Administrativode Évora,1866:o inquérito e relatóriosobreo distritode Évorainseridono
Recenseamento Geraldos Gadosno Continente do Reinode Portugalem 1870,Lisboa,I. N.,
1873, pp. 34-116 (da parte1) e 198-227(da parte2); Romão do PatrocínioRamalho
(intendenteda Pecuáriadistrital),
Relatórioda ExposiçãoPecuário- AgrícolaRealizada em
Maio de 1903,Évora,1908:o relatório realizadopelo intendente da pecuáriaJoãoGuerreiro
Mestre,que acompanha a «estatística
do gadobovinono distrito de Évora(1910)», in B. D.
G. A., 10.°ano,n.° 12, Coimbra;v. aindaHelderAdegarFonseca(1996,pp. 415-420).
57Em todoo caso, na décadade 1890os
gadosbovino,lanare caprinoaindaviviamem
«regimede pastoreação permanente. A introdução ou reforço de umcomplemento alimentar
emraçãoeraummelhoramento recente,ligadoà reduçãodas pastagens, que RomãoRamalho
consideraumaconsequência da «revoluçãofromentária», a qual também acarretouumamaior
actividadedestegado: «os bois de trabalho faziamantigamente serviço,quandomuito,uns
quatromesesporano,chegandohoje,coma revoluçãofromentária aquiproduzida, a trabalhar
durantequasetodoo ano» [cf.Romãodo Patrocínio Ramalho,Relatórioda ExposiçãoPecuá-
rio-AgrícolaRealizadaemMaio de 1903,Évora,1908,pp. 37 e 47; v. também«Monografia
do concelhode Évora»,in B. D. G A., 7.° ano (1895),Lisboa,I. N., 1899,p. 266, e ACF:
Cadernosde contasda administração de DomingosAntónioFiúza (1863-1882)]. 525

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HelderAdegarFonseca

aumentaram 71% na áreade Évorae 135%emtodoo distrito, passandoeste,


nacionalda espécie,de umaposiçãomedianaparaa de lide-
na distribuição
rança58.
O porco transformou-se no «meninobonitoda exploraçãopecuária»,
beneficiando de um regimealimentar «farto,semiestabulado», onde «não
falta[va]o almece [produto residualna fabricação queijo ovelhae
do de
o o
cabra],o centeio,a cevada, milho, agostadouro pararespigar,o melhor
bocadinhode pastagem mimosaou recheada»e a bolota,quando,a partir de
Outubroe até Fevereiro, entravam nos montados, arvoredoe frutoque os
trabalhosde charruae as desmoitas melhoraram. Tambémforambeneficia-
das as malhadasdas porcascriadeiras.Algunscontinuavam a preferir o
«sistemarústico,para facilidadeda desinfecçãoradical[deitarfogo],à
hespanhola», em situaçõesde manifestação de contágiosmortíferos.Outros
edificaram «construcções mais
d'alvenaria, higiénicase com telhadosremo-
víveisparafacilitar e, dentrodestetipo,não faltavam
a desinfecção, exem-
plos como
sofisticados, «a malhada chie» da exploração do Rosado de Car-
valho.Seleccionadoe alimentado combasenumregime misto,semiestabulado,
o porcoalentejano, da malhadaà saída do montado, ganhouprecocidade:
no iníciodo século xx (1903) «o porcoque há anos só atingiaum certo
peso aos dois e trêsanos, atinge-oactualmente com ano, e pouco mais
d'ano»59.
Finalmente, deveaindaacentuar-se que a age ofmachinery60 não passou
ao lado da grandeexploraçãoagrícolaalentejana, a qual desdemeadosdo
séculoxix iniciouumprocessolento,é certo,mas contínuo, na moderniza-
ção do aparatotecnológico.
Quantoao momento da introduçãodas «máquinasmodernas», não restam
dúvidase, tal comojá se sabia,e as grandesexplorações eborensesconfir-
mam,ele ocorreuem meadosdo séculoxix,quandoaindaestavaem curso
uma expansãona sementeira de cereaise consequente aumentoda produ-
ção61.Nesta fase,ele concretizou-se, por exemplo,na adopçãode novas
alfaiaspara as lavras(charruasde ferromodernas)e de maquinismos de

58Cf. Helder
AdegarFonseca(1996a, p. 146),Romãodo PatrocínioRamalho(1908,
p. 220),J.DavidJustino da Costae D. Luís de Castro(1990a,
(1986,p. 981),B. C. Cincinato
Bernardo
de Silvestre
p. 304) e «Os escritos de Lima.Alimentação pecuária»,in B. D. G. A.,
11.°ano,Lisboa,n.°4, 1913,p. 70.
59 Cf. Romão do Patrocínio Ramalho(1908, 71-84); v. exemplosem HelderAdegar
Fonseca(1996a,pp. 418-419).
60E. J.T. Collins(1981).
61Em cerealnormalizado na áreade Évora,a produçãomédiaanualaumentou apenas2%
entreos quinquénios de 1851-1855e 1866-1870[cálculo a partirdos dados de Helder
526 AdegarFonseca(1992, pp. 264 segs.);v. aindaJ.David Justino (1986,p. 748)].

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Elitesagráriase crescimento

debulhaa vapor,energiaque também foiaplicadaa algumasartesagrícolas,


comoa do fabrico do azeitee, poucodepois,do vinho,ambosintegrados nas
grandesexplorações.
A partirde entãoprosseguiu a difusãodas charruas modernas, commode-
los estrangeirose nacionais,originais,melhorados ou adaptados.O interesse
crescentepor estas alfaiasexplica-sepelo vulgarreconhecimento de não
havernaquelaépoca nenhuma maneiramaiscélere,eficaze baratade arro-
tear,alqueivar,lavrarvinhase limpararvoredos. A variedadenas aplicações
e a vantagem comparativa nos custose qualidadedos serviçosprestados não
deixaram de sertomadasem consideração numperíodoem que se acentuou
a diversificação na orientaçãoprodutiva da grandeexploraçãoalentejana.
E, como notouVeríssimode Almeidaem 1884,«se o mercadonão fosse
favorável,nemas casasconstructoras estrangeirasteriam emLisboaagências
de machinas,nemmesmoa indústria portuguesa perderiao seu tempoe
capitalem fabricar instrumentos de lavoura que são verdadeirasimitações
das charruasestrangeiras»62.
Igualprocuranão tiveram os grandesmaquinismos modernos aplicadosà
faseterminal da culturados cereais.Em Évora,nas grandesexplorações, até
finaisdo séculoxix,manteve-se activoo métodotradicionalmente maisusado,
o da debulhaa sangue(ou a pés de gado).Mas não era o maisimportante.
Coincidindocom as primeiras adopçõesda debulhadora mecânica(1860-
-1861),experiências poucos anos depoisabandonadas, difundiu-setambém o
sistemado trilho, incluindoo moderno trilho
de cadeiracomfacasem ferro e
roloscilíndricos,que começoua generalizar-se nos anos 187063.
ParaJaimeReis,a lentidãona adopçãoda debulhamecânicano Alentejo
não ficoua dever-se a umavariaçãosensívelno custodo factor«trabalho»64.
Alguma influência tiveram as deficiências (faltade destrezatéc-
qualitativas

62 Cf. J. Veríssimode
Almeida,«Machinase aparelhosde lavourae sementeira», in
Revistada ExposiçãoAgrícolade Lisboa,Lisboa,1884-1885,p. 203.
63 Para uma
descriçãodo processo,v. J. Silva Picão (1983, pp. 388-390).Para mais
pormenores, v. JaimeReis (1982, pp. 376-377)e RevistaAgrícola.PeriódicoAgronómico
[...] 4.° ano,n.os9 a 12, 1870,pp. 241-310;v. exemplosem HelderAdegarFonseca(1996a,
p. 423).
A introdução e adopçãodestesmaquinismos têmsido associadasa contextos ondese
realizoua conjugaçãode dois factoreseconómicosconsiderados decisivos:o aumentoda
produçãode cerealde sequeiroparapão e a carestiade mão-de-obra. O Alentejonão vivia
coma mesmapreocupação os riscosde umdesbastedas searaspela «chuvade Verão»,luta
contrao tempoque na Europado Noroestefoi um poderosoestímulona maquinizaçãoda
ceifae debulha, mastinhaoutrasdificuldades comoo riscodos incêndios
similares, ou mesmo
umachuvaforade horas,factosque tornavam «o recolhimentorápidodas searas,parasaírem
rápidode eventualidades e avarias[...] a principal
preocupação da maiorpartedos lavradores»
(J.Silva Picão, 1983,pp. 370-371).Sobreos factores que estimularama invençãoe adopção
destesmaquinismos, v., porexemplo,B. H. SlicherVan Bath(1984,pp. 301-305)e Pierre
Leon (dir.)(1982, iv,pp. 16-26e 373). 527

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nica) da mão-de-obra e as tensõessociaistraduzidas em «actosde sabota-


gem», mas a «causa fundamental» foi a limitada escala produtivadas explo-
raçõesalentejanas em matéria de de
produção cerealnormalizado antesde
1900:os exemplosconhecidos de grandescasas agrícolada regiãosugerem
que seriam«escassíssimos a sul do Tejo [...] os lavradorescom produções
cerealíferas de tal montaque pudessemempregar a debulhaa vaporsem
prejuízo»65.
Esta interpretação, que não atendea outrosfactores sociaise económi-
cos66,é, contudo, reforçada pelo que se sabe sobre a evoluçãoda produção
cerealíferaregional, que conheceu umaacentuadaregressão desdefinaisda
décadade 1860 até meadosde 1880.Na área de Évora,nomeadamente, a
produção bruta média de cereal normalizado baixou 29%, tendo nos vinte
anos seguintes aumentado 130%67.
O referido recuoprodutivo, associadoa uma descidapronunciada no
preçodos cereaisde panificação68, coincidiu,tantoquantose sabe,comuma
abundância relativada ofertade mão-de-obra, mesmonosperíodosde ponta
dos trabalhosagrícolas,pela facilidadeno recrutamento de trabalhadores
algarvios e do Nortedo país69.Estascircunstâncias não só não favoreceram
a difusãodos novosmétodosde debulha,como estimularam o abandono,
«porantieconómico»70, porpartedaquelesque os tinham adoptado.
Em contrapartida, os lavradoreseborenses, ao mesmotempoque melhora-
ramas instalaçõesagrícolas(montes, potris,cabanas,malhadas,abertura de
poços,etc.), não deixaram de aproveitar as boas perspectivasde rentabilidade
proporcionadas pelaviticulturae peloantigoe novonegóciodos montados: a

65Cf. JaimeReis (1982,pp. 393-406).


66Cf. E. J.T. Collins
(1973,p. 130,e 1987).
67Cf. JaimeReis
(1982, p. 405, e (1988, pp. 308-310e 323), HelderAdegarFonseca
(1992,p. 264, e 1996b)e J.David Justino (1986,pp. 740-748).
68Cf. J.David Justino
(1986,pp. 615-616).
69No caso do
Alentejoé aindaobscuraa evoluçãodo mercadode mão-de-obra ao longo
da segundametadedo século xix. Apesarde os «grandestrabalhos públicos»promovidos
desdemeadosdo séculoteremlevadoos lavradores locaisa recearem que «o operáriocon-
corraa empregar-se n'essestrabalhose desampare os da lavoura»,os dadosdisponíveislevam
algunsautoresa sustentar que, nestaépoca, o comportamento dos saláriosnão agravou
os custosde produção,
significativamente factoque é concordante como recrutamento regular
de trabalhadorestantoparaas obraspúblicascomoparaos trabalhos agrícolasde pontaem
outrasregiõesdo país comexcedentes de população[cf.Relatórios sobreo Estadoda Admi-
nistraçãoPúblicanosDistritos Administrativos do Continente do Reinoe IlhasAdjacentes em
1865,Lisboa,I. N., 1866(relatório de Beja), e aindaJaimeReis (1980, 131, 1982,pp. 393-
-399,e 1988,pp. 323-324);v. tambémMiriamHalpernPereira(1983,p. 20) e Ana Maria
Cardosode Matos et ai (1982,pp. 71-72).
70Cf. Relatórios à JuntaGeraldo Distritode Beja em suas sessõesordi-
apresentados
528 náriasde Novembro de 1881 e Maio de 1882 [...], Lisboa,1882,p. 29.

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criaçãodos suínose a extracção de cortiça.A estadiversificação associou-se


a generalizaçãoda novatecnologia da lavra.Não foipropriamente uma«trans-
ferênciaparaa viticultura
do esforçode mecanizaçãoiniciadona cerealicul-
tura»,comoteráacontecido noutras partesdo país71.
Na verdade,tantoa expansãoda área vitícolacomo a «educaçãodos
montados», em matéria de investimento, não deixaram de corresponder a um
grandeesforçoem arroteamentos, plantações, limpezas,etc.,trabalhos agrí-
colas que exigiamregularidade e ondeeramgrandesas vantagens da utili-
zação da modernatecnologiada lavra.
O terceiromomento desteprocessocoincidiucomo finaldo séculoxix.
Desde a década de 1880 que as grandesexploraçõesda zona de Évora
promoveram, no plano técnico,mudançasmais amplas.Já salientámosa
metodizaçãodo sistemados afolhamentos. Fez-se a introdução (1890) e
rápida difusão(1890-1905) dos adubos A
químicos. vulgarização alfaias
das
de lavrafoicomplementada coma difusãodas destinadas a outrospreparos
da terra(grades,semeadores, etc.).Regressaram as ceifeirase as debulha-
dorasmecânicase entraram as enfardadeiras e preparadoras de rações72.
O vaporaplicou-sede um modomaisgeneralizado, nomeadamente aos la-
gares,moinhos, regas,mas,introduzido na lavra,teve poucoêxito, como em
quase todaa Europaocidental. Modernizou-se a plantaçãoe tratamento das
vinhase os processosde vinificação, criando-se mesmoumaempresaregio-
nal (AdegaRegionaldo Alentejo),com base em capitaiseborenses, com o
fimde «constituir tiposdefinidos de vinhos de
regionais consumoou lota-
ção»73.
Atendendo ao que ficadito,é exagerado, se não despropositado, atribuir
às casas da eliteeconómicaeborenseda segundametadedo século xix o
espíritorotineirocom que frequentemente foramrotuladosos agricultores
alentejanose nacionais.Pelo menosa partirde meadosdo século,eles
diversificarama orientaçãoprodutiva das explorações, aumentaram e melho-
rarama componente em nos
pecuária, particular suínos, e as instalações
ruraise introduziram,testaram e adoptaram em crescendo algunsmeiostéc-
nicos mais modernos.Com a transformação de matosem montados,au-

71Atitude
que, segundoMiriamHalpernPereira(1983,p. 147),ter-se-á verificado,
pelo
menos,no vale do Sado.
72Um
exemplo:em 1881o lavrador JoséRosadode Carvalhodebulhavaa sanguee em
trilhoada
e armazenava as palhase fenospelo sistematradicional
(redesem palheiros).Em
1915 o sucessor,JoséMariaRosadode Carvalho, já separavao cerealda palha com uma
«debulhadora muitousada»,ajudadaporumalocomovei, e arrumavaa palhaem fardos(uma
enfardadeira).Cf. ADE-NJ-IOCE:processon.° 2148 (1881) e AFCE-IF: processoF2-1276
(1915).
73Cf.
artigo2.° do Decretode 14 de Junhode 1901. 529

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mentarama área produtiva;com a posteriorextensãode sementeiras


cerealíferasregulares àquelessolos,já no finaldo século,intensificaram o
uso da área produtiva.
No planotecnológico, poder-se-áadmitir que o ritmode modernização
não decorreu a umagrandevelocidadeou que o investimento realizadoem
capital fixonão foi o mais à
adequado escala das suas explorações.No
entanto, sabe-seque os processosde inovaçãotécnicanão dependeram ex-
clusivamente da vontadeilustradados agricultores.
Em determinados contex-
tos económicos, a persistência
de certosmétodosconsiderados tradicionais
em detrimento de outrosaparentemente maisprogressivos pode explicar-se
simplesmente pelo modocomoo fez,em 1862,umdefensor da moderniza-
do
ção agrícola Alentejo: «Nós diremos: é a e
rotina; ele (o lavrador)repli-
cará: é o bom senso74».

IV. CONCLUSÃO

Nas décadasque se seguiram ao triunfoliberalconstituiu-se


no Alentejo
umaeliteeconómicaem cuja composiçãoparticiparam personagens e famí-
lias cujas experiênciasno planopessoal,familiar, sociale empresarial eram
diferentes. Nestesentido,era uma eliteplural:na sua origemestevetanto
umaboa parteda aristocracia e dos grandesproprietários e lavradorescujas
famíliastinham já um forteenraizamento local como genteoriginária dos
meiosde negócios,sendoque umafatiaera exógenaà regiãoe tinhauma
presençabastanterecentena cidade(primeira ou segundageração).
Da formacomoestegrupo,que caminhou paraumaforteconvergência
no plano sociológico,conduziuos seus interesseseconómicosresulta
enfraquecida a imagemtradicional sobrea condutasupostamente tradicional
e conservadora da «burguesiaagrária»alentejanaque emergiucom o libe-
ralismo.As evidênciasmostram um mundocom interesses complexose
poliformes: colocaçõesno imobiliário(urbanoe rural)e agricultura,de facto
os mais importantes, mas tambémna indústria modernae tradicional, na
no no do
mineração, comércio, «negócio dinheiro», na banca e nos mercados
accionistae dos títulospúblicos.Esta diversificação não deixoude merecer
reparosporpartede algunsobservadores coevos.No iníciodo século xx o
meioempresarial eborenseera acusadode querer«serDombaslee Bakevel,
Rud-Saacke JonasVeb, especialista em culturas e em gados,negociante e
silvicultor, e
cidadão lavrador, gastando n'essa fabulosalutamuitos dos seus

74 Cf.
530 «Protecção e agricultura»,in Pharol do Alentejo, 1862, n.° 2.

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Elitesagráriase crescimento

maissagradosesforços, quando[...] deveriaaproveitar as vantagens da es-


pecialização»75.
Tambémé certoque entreas aplicaçõesque poderiamserconsideradas
das maisousadas,comoas que se fizeram no planoindustrial (porexemplo,
minas,moagemmoderna), algumas fracassaram e conduziram os seus pro-
tagonistas à falência.Tratando-se de genteinformada, comcontasorganiza-
das, experimentada na diversificação dos investimentos, portanto minima-
mentecapacitadapara avaliarêxitose insucessos,a constataçãode uma
inegávele generalizada tendência paraa longoprazoreforçar os interesses
no sectoragrário,tantono que se refereà carteira fundiária como à explo-
ração agrícola,é compatível com uma explicaçãobaseada na escolhado
caminhomaisseguroe rentável paraconcretizar os seus objectivoseconó-
micose não necessitade serassociadaà persistência de ummodelode acção
nas
inspirado práticas económicas da aristocracia
tradicional. A atitudesimi-
laradoptadapelos«industriais» estrangeiros
que se fixaram na regiãoa partir
dos anos 1830-1840reforçacertamente estainterpretação.
A diversificação na aplicaçãodos recursosfoi acompanhada pela adop-
ção de formas de organizaçãoempresarial onde a tradição coexistiucom
alguma modernidade: os negócios, centradosna casa e nas suas extensões
(os estabelecimentos comerciaise agrícolas),assumiram formassocietárias
informais (familiar,em «casa comum»ou sociedadecomercialsemescritura
notarial)ou formais (sociedadescomerciais e agrícolasfirmadas). Nas com-
panhias comerciais (sociedades regularescolectivas, sociedades em
comandita ou sociedadesporacções)encontramos o modelode empresaque
suportou os investimentos mais modernos, nomeadamente no sectoresminei-
ros, da indústriacorticeira e da banca76.
Não há dúvidade que,no períodoem análisee de formauniversal, todos
os membrosda elite económicaeborense,aproveitando o incremento da
ofertade bensfundiários, investiramfortementeno sectorimobiliário, refor-
çandoou constituindo grandespatrimónios fundiários.
Na gestãodesteactivo,o arrendamento foi,de facto,umadas formasde
rentabilizar o capital,tal como o foi a exploraçãodirecta.No entanto, na
maiorpartedos casos em que foipossívelreconstituir a formação dos patri-
móniosficouclaro que a vigorosaacumulaçãode terraatravésde novas
aquisiçõesno mercadoobedeceumaisa umplanode ampliaçãodas lavouras
instaladase consolidaçãode áreasjá anteriormente em exploraçãodirecta
pela casas (porexemplo, atravésdo do
arrendamento) que a objectivoses-

75Cf. Romãodo Patrocínio Ramalho(1908,p. 22).


76 Vários
exemplosdestasformasde organizaçãoempresarial
podemver-seem Helder
AdegarFonseca(1996, pp. 225-294e 383-388). 531

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tritosde alcançarou acrescentar a rendafundiária. Estaestratégia foiadopta-


da tantopelosinvestidores comascendência aristocrática comopelosoriun-
dos dos meiosagrárioe mercantil.
Na conduçãodas exploraçõesagrárias, a característica fundamental que
temsido assinaladaé a da rotinanosplanoscultural e técnico.Ora a inves-
tigaçãolevadaa cabo sobrea orientação produtiva, o sistemade cultura, o
aparato técnico e a dos
condução gados nas grandesexploraçõesagrícolas
obrigaa uma revisãodaquelequadroclássicotão negativo.De facto,na
segundametadedo século xix a eliteeconómicaeborense,no que toca a
gestãoagrária,não se limitoua preservar ou instalargrandesexplorações
agrícolasbaseadasempráticas O seudesempenho
tradicionais. nestamatéria
foi maisprogressivo do que se pensava:dotouas propriedades com novas
instalações, a
promoveu exploração mista e o arroteamento, submeteu as
culturasarvensesa ummétodo,investiu na «criaçãoe educação»dos mon-
tadosde sobroe azinho,expandiua plantaçãode arvoredos e da vinha,cuja
culturafoi«altamente lucrativa»,incorporou cada vez mais inputsexternos
na exploração, inovandolenta,masprogressivamente, o aparatotécnico(por
na de
exemplo, tecnologia mobilização dos solos), e melhorou a qualidade
da massapecuáriaque criava77.
Qual o resultado globaldestacondutaempresarial? No planoindividual,
o enriquecimento e o endividamento. Duranteo séculoxix,a fortuna média
destascasas triplicou, umincremento significativo, tendoem contaa evolu-
ção bemmaismodestade algumasvariáveismacroeconómicas nacionais .
um de
Foi, portanto, período prosperidade para estascasas, embora desigual
e semevitarcasos de fracasso. E foitambém umperíodode crescente recur-
so ao créditooferecido, primeiro,pelo mercadoinstitucional tradicional e
particular e, depois,pelas novasinstituições bancárias,algumasdas quais
foramporsi criadas(Banco Eborensee Banco do Alentejo).A taxamédia
de endividamento destascasas erade 9 % (1840-1870),quandoa da geração
a
que precedeu rondava os 2% (1800-1840);e aquelatendência acentuou-se
para o final do século (12 %, 1871-1900)(quadro 1). n.° A «fome de dinhei-
ro» que se viveua partirde meadosdo século xix estevedirectamente
associadaao esforçode investimento realizado.
Qual o seu impactona economiaregional? Contrariando o paradigma da
crónicafaltade iniciativa e dinamismo, a eliteeconómicaalentejana, emfase
de renovaçãosociológica,não se colocouà margemdas oportunidades de
no
negócioque despontaram Alentejo sequênciana do triunfoliberale da
expansão económica e
portuguesaeuropeia do 3.° quarteldo século xix. Ela

77Cf.
MiguelE. O. Fernandes (1889,p. 4). Sobreestestópicos,v. HelderAdegarFonseca
(1992,pp. 652-725,e 1996,pp. 388-426).
532 78Cf. J.David Justino
(1986,pp. 737 e 781) e HelderAdegarFonseca(1992, p. 386).

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Elitesagráriase crescimento

mobilizou os recursos domésticos, promoveu a constituição de sociedadescom


capitaisfamiliaresou exclusivamente e
regionaisparticipou naconstituição de
outrasao lado de investidores nacionais.Tornou-se, destemodo,umaparte
activana disputae partilha dasmesmasoportunidades e negóciosque também
atraíram capitais nacionais e estrangeiros e, desta forma,contribuiu parao
progresso económico da regiãonaqueleperíodo.
A variedadedos interesses económicosconcretizados testemunha o em-
penhoacimareferido. Lavradores, e
negociantesaristocratas, ao mesmo tem-
po que reforçavam solidariedades e caminhavam para um estilo de vida
similar,estiveram entreos principais compradores de bens desamortizados
no distrito;ligaram-se a interesses comerciais, variadosno modocomo se
organizavam e nos produtosque vendiam;envolveram-se em actividades
agrícolase industriais (moagem,cortiça,minas,etc.),comfundosfamiliares
e sociais(sociedadescomerciais e poracções); emprestaram dinheiroe ne-
gociaramletras;criaramdois bancosregionais, umdelescombase exclusi-
vamenteem capitaisdistritais e o outroem aliançacom meiosangariados
entrea eliteeconómicado Nortedo país. Algunsinvestiram forada região,
em títulose acções nacionaise estrangeiras e em sociedadesindustriais.
A indiscutível autonomia e modernidade de algumasdestasaplicaçõesmos-
tratambéminiciativae protagonismo económico.
O que ficaditonão é contraditório como empenho crescente que a elite
económicaeborensepôs no investimento fundiário, opção que só uma
uma
análisesuperficialpode associar à persistência de uminfluxo uma
aristocrático,
«tara»frequentemente atribuída à burguesia nacional79. A compra, benfeitori-
zação e exploração da terraforam o destino de muitoscapitaisnacionais, e do
mesmomodoprocederam os empresários estrangeiros que se radicaram com
projectos industriaisno os em
país: Robinson, Portalegre, Reynolds, os em
os na
Estremoz, Camps, Azaruja, e os em
Pidwell, Sines,para referir
apenas
alguns casos, cedo alargaramos seus interessese à funçãoindustrial
acrescentaram a de grandes proprietários, agricultores e produtores de matéria-
-prima80.
Este comportamento, comuma indivíduos comorigensgeográficas e so-
ciais, tradiçõeseconómicase culturaise experiências de vida activatão
comoo eramtantoos membros
distintas, que compuseram a eliteeconómica
eborenseliberalcomoos investidores exteriores à região,significa, acimade
tudo,que capitalizar na terrae fazeragricultura no Alentejode Oitocentos
foramaplicaçõesmaissegurase maisremuneradoras do que as que se fize-
ramnoutrasactividades.

79Sobrea
questãoda «feudalização»
da burguesia
europeiano séculoxix,cf.,porexem-
plo, AdelineDaumard(1992) e G. Chaussinand-Nogaret
(1991, pp. 288 e segs.)
80 Cf.,
por exemplo,HelderAdegarFonseca(1992, pp. 76-82 e 406 e segs.) e Isabel
Gomeset al (1995). 533

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Nestepercursoacabamospor ser confrontados com um universocuja


acção económica é menos lineardo que poderiaimaginar-see, afinal,mais
próxima da de outrossectoresempresariais A
portugueses. ser assim,e in-
do
dependentementeimportante papeldesempenhado pelos agentese capi-
tais externosque a regiãoatraiu,pode afirmar-se que a eliteeconómica
alentejanafoi uma protagonista relevantedo sentidomodernizante que o
conjuntoda economiaregionaltomouna era liberal.Pelo menospara o
períododa formaçãodo Alentejocontemporâneo, ficaenfraquecida a ideia
de que o desenvolvimentoda regiãofoiameaçadopelaconduta«tradicional»
das suas elites,eternamentepouco afoitasou incapazesde tentarmudaro
rumodos acontecimentos, e não se confirmao tãoenraizadoestereótipoque
está subjacenteà tradicionalvisão sobrea «burguesiaagrária»alentejana.

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