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A Litoralização em Portugal

Universidade da Beira Interior

Oficina do trabalho científico


Docente: Carina Jordão

Maria Gonçalves Anastácio 51045

Maio 2023

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Introdução:

No âmbito da unidade curricular de Oficina do Trabalho Científico, escolhi o tema “A


litoralização em Portugal” para a redação de um ensaio, tendo como pergunta de partida
“Quais os fatores que conduziram à litoralização em Portugal e as suas
consequências?”. Escolhi este tema pois acredito que seja um problema de bastante
importância no nosso país e que merece mais atenção e soluções.

Por definição, a litoralização caracteriza se pelo fenómeno que faz concentrar população
junto à faixa litoral, como consequência da forte afluência de atividades económicas,
industriais e turísticas nessa mesma zona. Em Portugal, nas últimas décadas, tem
ocorrido um crescimento demográfico assimétrico, caracterizado pela elevada
concentração populacional no litoral do país.

O objetivo deste trabalho é identificar os fatores que causam a litoralização, bem como
quais são as suas consequências e soluções que têm vindo a ser adotadas.

Estruturalmente, o trabalho encontra se dividido por uma introdução, desenvolvimento e


uma conclusão, tendo ainda as referências bibliográficas.

Historicamente, Portugal é um país com bastantes assimetrias de desenvolvimento entre


as zonas urbanas e as zonas rurais, sendo que as primeiras crescem a ritmos mais
intensos. Essencialmente a partir da segunda metade do século XVIII, o crescimento
demográfico tende a centrar se no litoral, mas é a partir do século XIX que surgem
grandes transformações nesse âmbito, mais precisamente, na década de 70, que foi
marcada por um positivo crescimento da população. Foi uma época de crescimento para
as zonas de Lisboa, Porto e Covilhã devido ao desenvolvimento industrial, “Veja-se, a
título meramente exemplificativo, a diferença entre a dinâmica de Castelo Branco (que
de 1864 a 1900 cresceu 19%) e da Covilhã (que só entre 1878 e 1900 aumentou 44%).
Ou ainda o caso da província algarvia, onde os aumentos de Faro (48%) e Silves (92%)
contrastam com os valores obtidos por Tavira (16%) e Lagos (7%) (Rodrigues, Pinto,
1996:143). Estes resultados refletem o impacto da industrialização, a influência dos

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movimentos migratórios nas desigualdades regionais encontradas e a bicefalização do
Reino.” (Moreira, Rodrigues & Henriques. 2009, pp.92). Apesar disso, Portugal
continuou a ser um país de pouca urbanização, polarizada entre duas grandes cidades,
Lisboa e Porto. Já no século XX, o crescimento demográfico português foi bastante
influenciado pela imigração e pelas migrações internas para as áreas mais
industrializadas. A partir dos anos 50 e 60 intensificou se o processo de urbanização,
crescendo assim as áreas de influência das duas grandes cidades e a expansão das
respetivas áreas envolventes. Alteraram-se as formas de utilização dos espaços urbanos
e a maior parte terceirizaram-se e perderam residentes, sobretudo nos núcleos históricos.
Foi neste período que a litoralização obteve maior expressão e intensidade, pois assistiu
se a uma intensa modernização nos centros urbanos onde a dinâmica na prestação de
serviços e infraestruturas passaram a atrair a população, nomeadamente junto à costa.
Para além disso, foi também um período de empobrecimento nas zonas agrícolas do
interior, o que acabou por impulsionar um grande fluxo de êxodo rural. A passagem
para o século XXI revela um expressivo aumento da percentagem de população de
Lisboa e Porto, segundo Martins & Albuquerque (2010), é no litoral onde se encontra a
maior parte da população portuguesa, 75% da população continental, o que demonstra a
atratividade destas zonas, que se deve-se essencialmente à grande oferta de emprego e
acessibilidades.

Todo este processo de litoralização tem consequências, quer no litoral, quer no interior,
podendo ser destacadas duas principais consequências. A primeira trata se de problemas
relacionados com os recursos naturais. A excessiva concentração populacional exerce
uma forte pressão sobre a zona costeira e acaba por gerar problemas como a degradação
da paisagem, a sobre-exploração dos recursos, a poluição do ambiente e a erosão na
linha da costa. Outra grande consequência, é o despovoamento do interior de Portugal.
Compostos por diversas atividades e qualidade de vida, os centros urbanos acabam por
atrair a população rural que passa a encarar o seu local de origem como um local sem
oportunidades. Assim sendo, grande parte dos municípios do interior apresentam um
alto índice de envelhecimento, baixas taxas de natalidade e aumento do desemprego, o
que acaba impactando a economia e o desenvolvimento regional.

De modo a ser possível contornar esta situação, têm sido adotadas medidas pelos
municípios do interior para combater as assimetrias. Uma grande estratégia é o TER –
turismo no espaço rural, que tem vindo a impor se como uma atividade com potencial

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para potenciar o desenvolvimento de alguns espaços rurais. Trata se de um turismo
desenvolvido em zonas rurais ligadas à agricultura, ao ambiente e à tradição, que
proporciona um conjunto de atividades que possibilitam uma verdadeira experiência
rural ao turista. Este turismo contribui para o desenvolvimento sustentável das zonas
rurais, visto que preza por uma utilização mais racional dos recursos e do ambiente, com
o intuito de preservar as espécies e os habitats, contribuindo simultaneamente para o
desenvolvimento local e regional. Uma outra estratégia que visa promover o interior,
são as universidades e politécnicos, que atraem população jovem e qualificada, criam
empregos e potenciam a inovação do espaço rural. Um grande exemplo nesse sentido, é
a cidade da Covilhã, uma cidade com características predominantemente rurais que tem
vindo a sofrer com o despovoamento e falta de investimento, e onde a presença de uma
universidade tem constituído um fator de inovação que contribui para o
desenvolvimento da cidade, “Após o declínio das indústrias têxteis, a universidade
aparece como motor de desenvolvimento, tendo contribuído para a revitalização de
diversos setores como o da construção civil, das infraestruturas, do mercado imobiliário
e do comércio.” (Vicente. 2017, pp.36).

Conclusão:

Após a realização deste ensaio, fui capaz de concluir que, tendo em conta a definição de
litoralização inicialmente apresentada, é de facto um fenómeno historicamente bastante
presente na realidade portuguesa e que acaba por afetar não só o próprio litoral, mas
também o interior do país, quer seja a nível ambiental, demográfico ou socioeconómico.
Embora se tenham vindo a adotar estratégias para travar este fenómeno, ainda é um
problema que precisa de mais soluções.

4
Bibliografia:

Moreira, Maria J.G., Rodrigues, Teresa F. e Henriques, Filipa C. (2009), “O sistema


urbano português. Dinâmicas contemporâneas e diversidade regional: evolução
demográfica e bem-estar social” em Revista de Demografia Histórica, XXVII, I, 2009,
segunda época, pp.83-114.

Silva, Susana (2018), “A evolução da população portuguesa nas subregiões (nível NUT
III) entre os anos de 1960 e 2011”, em ResearchGate, consultado a 27/05/2023, em
https://www.researchgate.net/publication/328876486_A_evolucao_da_populacao_portu
guesa_nas_subregioes_nivel_NUT_III_entre_os_anos_de_1960_e_2011

Martins, Filomena e Albuquerque, Helena (2010), Gestão do litoral e política pública


em Portugal: um diagnóstico, Aveiro. PDF consultado a 27/05/2023, em
<http://repositorio.uportu.pt/jspui/bitstream/11328/1821/1/2009_Martins_Albuquerque_
Ibermar_Capitulo_livro.pdf>.

Garcia, Bianca, Silva, Susana, Andrade, Alexandre C. e Ramos, Giovanna (2020),


“Evolução da população e o despovoamento no interior de Portugal: o caso do conselho
de Bragança”, em Associação Brasileira de Estudos Populacionais, consultado a
28/05/2023, em
http://www.abep.org.br/~abeporgb/publicacoes/index.php/anais/article/viewFile/3493/3
350

Fernando, Fonseca P. e Ramos Rui (2007), “O turismo no espaço rural como eixo
estratégico de desenvolvimento sustentável: o caso de Almeida”, em RepositóriUM,
consultado a 28/05/2023, em
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/8487/1/13congAPDR-198.pdf

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Vicente, Mariana Mendes (2017), O Papel das Cidades Médias do Interior para o
Desenvolvimento do Território: o Caso da Cidade da Covilhã, Lisboa, Instituto
Universitário de Lisboa, Dissertação de Mestrado em Estudos de Desenvolvimento.

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