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1. DIVERSIDADE E DINÂMICA
4. OPORTUNIDADES
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Cancela d’Abreu, A., Pinto Correia, T. e Oliveira, R. (coord.) et al., 2004. Contributos
para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental. Colecção
Estudos 10, DGOTDU, Lisboa.
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1. DIVERSIDADE E DINÂMICA DA PAISAGEM PORTUGUESA
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longe da homogeneidade interna), associadas em vinte e dois grupos de
unidades com relativa afinidade.
Outra questão que merece ser referida desde já, tem a ver com a ideia
errada, largamente difundida, de que a paisagem portuguesa se manteve
quase imutável ao longo dos séculos, sofrendo grandes alterações só nos
últimos trinta ou quarenta anos. Efectivamente, os registos históricos
demonstram uma enorme dinâmica da paisagem portuguesa ao
longo do tempo, passando por intensas transformações, embora
recentemente estas se tenham sucedido a um ritmo mais acelerado. São
exemplos claros daquelas transformações:
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crédito barato que levou a um consumismo exagerado, aquisição de
habitação própria (e também segundas habitações), crescimento
drástico do número de automóveis.
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Pela construção dispersa em áreas rurais e em alargadas
periferias urbanas. Para além das áreas de tradicional dispersão da
construção (nomeadamente no Noroeste, parte da Bairrada e
Estremadura, do Barrocal Algarvio, foros no Ribatejo), tal dispersão
alargou-se a outras regiões, conduzindo a uma evidente alteração do
carácter da paisagem e a elevadíssimos custos sociais, principalmente
os relativos à extensão de infra-estruturas, à prestação de serviços
públicos e à degradação de recursos afectados pela edificação.
Este processo de dispersão passou por diversas fases e tipologias,
nomeadamente:
o pelo surto de construção dos emigrantes no centro e norte do
país rural (anos 60-70 do século passado);
o pela explosão dos bairros “clandestinos” nos arredores de Lisboa
e Porto (anos 70-90 do século passado);
o pelo alastrar de segundas habitações, primeiro junto ao mar e,
mais recentemente, em zonas rurais;
o pela construção ao longo das estradas e auto-estradas.
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Outra transformação importante na paisagem portuguesa passou
pela alteração significativa dos sistemas de utilização da terra
resultantes de profundas mudanças socioeconómicas e das políticas
agrícolas, embora com efeitos muito diferenciados em termos
regionais. Assim, vem-se assistindo:
o Ao abandono de áreas antes exploradas agricolamente, por
exemplo ao longo dos estreitos vales do interior das Beiras, da
charneca ribatejana ou da serra do Algarve e, ainda, de muitas
outras áreas e parcelas consideradas como “marginais” para a
produção agrícola.
Em simultâneo, verifica-se a extensificação de alguns
agrossistemas do sul (caso da substituição de sistemas
arvenses cerealíferos por sistemas pastoris no Alentejo) e a
redução da pressão sobre pastagens naturais no norte do país;
o À intensificação agrícola, normalmente com recurso ao
regadio, principalmente no Ribatejo, Algarve e também Alentejo.
Os novos regadios têm vindo a ser implantados com uma
enorme artificialização (veja-se o exemplo do Baixo Mondego
ou, mais recentemente, do Alqueva), exigindo medidas
compensatórias que deveriam passar pela criação de estruturas
de protecção e valorização ambiental. As novas técnicas de
regadio “libertam” estes sistemas agrícolas das tradicionais
condicionantes fisiográficas e pedológicas, surgindo por vezes
em situações até há bem pouco tempo totalmente inadequadas,
o que realça ainda mais as mudanças na paisagem (caso da
água de aquíferos distribuída por “pivots” no meio da charneca
do Ribatejo e no Alentejo, por exemplo);
o À expansão de alguns sistemas agrícolas permanentes,
nomeadamente vinhas e olivais, em parte com técnicas culturais
inovadoras que se reflectem na sua expressão paisagística
(vinhas “ao alto” no Douro, olivais intensivos de regadio em
Trás-os-Montes, Ribatejo e Alentejo, pomares de citrinos no
Algarve, renovação e expansão da vinha um pouco por todo o
país mas com significado especial no Alentejo);
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o A uma florestação que passou por diversas fases – primeiro
dos baldios e terras altas do centro e norte do país, recorrendo
quase exclusivamente ao pinheiro bravo; depois, com o
eucalipto, completando ou ocupando as áreas de pinhal nas
mesmas situações e alargando-se para sul (algumas zonas do
Alentejo) e para áreas mais planas do litoral centro;
ultimamente, recorrendo também a espécies autóctones –
sobreiros, castanheiros, pinheiro manso, etc., por vezes na
florestação de terras agrícolas.
Apesar das campanhas oficiais e dos incentivos disponibilizados
para a plantação de novos povoamentos florestais terem
alterado profundamente algumas zonas do continente português
(caso de grande parte das serras do norte e centro do país, de
extensas áreas da Beira litoral e interior, da zona do “Pinhal do
Centro”, da Serra de Ossa ou de Odemira, entre outros), os
resultados esperados no que diz respeito ao total de área
florestal estão longe da realidade, em grande parte devido ao
flagelo dos incêndios que sistematicamente ocorrem um pouco
por todo o país durante a época seca e quente.
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3. PRINCIPAIS PROBLEMAS E AMEAÇAS
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arquitectura fossem elaborados por não arquitectos - situação que foi
finalmente alterada pela revisão da lei mas que tarda a ser
concretizada - também a paisagem fica a perder por nela se
implantarem objectos desinteressantes ou mesmo disformes,
desintegrados do contexto e dando origem a espaços públicos que
pouco mais são do que “vazios”, espaços sobrantes da edificação, das
vias e estacionamentos automóveis;
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4. OPORTUNIDADES
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A crescente importância que vem sendo conferida às questões
ambientais e ao conjunto do mundo rural (em que se inclui também
a paisagem) no quadro da Política Agrícola Comum. Sendo esta
política determinante para o futuro de grande parte do território
português, é positivo o aumento dos incentivos que permitirão
intervir no sentido da protecção / construção de paisagens
multifuncionais, ambientalmente equilibradas e sustentáveis.
Valores de há alguns anos relativos ao muito baixo peso do sector
agrícola no Produto Interno Bruto e no emprego dos países da
União Europeia2, revelam que a importância dada à Política Agrícola
Comum não tem correspondência com o peso económico do sector,
sendo justificada pelas funções ambientais, sociais e culturais que a
agricultura desempenha na Europa.
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O peso da Agricultura no PIB é em Portugal 3,3% (0,7% na Suécia, 0,9% na Alemanha e Reino
Unido, 2% na Dinamarca, 2,4% em França e na Holanda, 2,6% em Itália, 2,9% na Irlanda, 4,1% em
Espanha e 7% na Grécia). Quanto ao emprego, o peso da Agricultura e Pescas é de 12,7% em
Portugal (1,6% no Reino Unido, 2,9% na Alemanha, 3,3% na Dinamarca, 4,3% em França, 5,4% em
Itália, 7,4% em Espanha, 8,6% na Irlanda, e 17% na Grécia) (Jornal “Público” de 11 Julho 2002).
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5. DESAFIOS PARA O FUTURO
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Este estado de coisas reflecte-se obviamente sobre a paisagem,
porque esta é o repositório de actuações de muitos intervenientes
que abarcam todos os espaços e todos os sectores de actividade,
segundo uma dinâmica extraordinariamente complexa nos dias de
hoje.
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Concluindo, e no sentido de responder aos desafios para o
futuro, é fundamental que os Arquitectos Paisagistas, bem como
outros técnicos que intervêm no ordenamento e projecto de paisagem,
contribuam para mudar a situação actual, para o que devem ser capazes
de:
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