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GEOGRAFIA HUMANA DE PORTUGAL

Este trabalho objetiva analisar a evolução da densidade populacional – perdas e


ganhos regionais, assente no modelo de transição demográfica. Utilizam-se os conceitos
de dinâmicas populacionais, assimetrias regionais e transição demográfica em Portugal e
e analisa-se a sua interferência na distribuição regional da população. Concluiu-se que
Portugal mantém assimetrias populacionais regionais pela migração para zonas com
maiores oportunidades, mas socialmente mais homogéneo, apesar de tardios, aos
processos de modernização.

Palavras-chave: População, Transição Demográfica, Assimetrias Regionais.

INTRODUÇÃO
O tema de “perdas e ganhos populacionais” releva para a demografia e para a
política, economia e sociedade. Para este tema relevam os conceitos de dinâmicas
populacionais e assimetrias regionais. O primeiro conceito pode ser entendido como as
alterações ocorridas na distribuição populacional, ao longo do tempo e que podem
impactar no desenvolvimento socioeconómico e estrutura de uma sociedade. O segundo
respeita às diferenças e desigualdades entre distintas regiões geográficas, concernentes ao
desenvolvimento económico, social e demográfico e podem originar disparidades na
qualidade de vida e oportunidades para as pessoas das diferentes regiões. Estes dois
conceitos inter-relacionam-se e podem influenciar-se mutuamente potenciando
assimetrias regionais. Estas dinâmicas podem ser entendidas com o modelo de transição
demográfica que, em Portugal, de acordo com João Ferrão, foi mais tardio que nos outros
Países europeus1.
Esta temática permite-nos fazer uma análise da modernização geográfica e
percecionar questões que preocupam a agenda política mundial: os movimentos
migratórios, os fatores de desenvolvimento local e regional, dinâmicas sociais e de
trabalho, no fundo, permite-nos compreender a geografia humana.

MÉTODOS

1
Ferrão, João – Dinâmicas demográficas: uma visão panorâmica, p.52.

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A metodologia utilizada neste trabalho foi a análise e interpretação do texto e
dados do artigo de João Ferrão “Dinâmicas Demográficas: uma visão panorâmica”
publicado no Volume 2 – Sociedade, Paisagens e Cidades, de “Geografia de Portugal”,
Círculo de Leitores, 2005-2006.

DISCUSSÃO E RESULTADOS
A distribuição populacional do território nacional é complexa, resultando em
perdas e ganhos regionais, consequência de diversas dinâmicas internas. O modelo de
transição demográfica facilita o seu entendimento.

A transição demográfica conduz Portugal de um período “pré-moderno” para a


modernidade consolidada. As suas fases apresentam várias componentes demográficas,
interrelacionadas, cujas dinâmicas fomentam dicotomias e desenham novas
espacialidades.
Na 1.ª fase, oposição norte/sul assenta num País rural e tradicional, com taxas de
natalidade e mortalidade muito elevadas (apesar de se perceber uma quebra na
mortalidade), apresentando saldos naturais positivos que permitem fazer frente aos
subciclos emigratórios e início do crescimento demográfico variando entre positivo
moderado e positivo acentuado2 .
Na fase 2, oposição litoral/interior, o País é confrontado com mudanças globais
trazidas pela modernização. A título de exemplo salientamos a adesão à EFTA3, surto
emigratório para a Europa, guerra colonial e afirmação do turismo em Portugal. Nesta

2
Ferrão, João – Dinâmicas demográficas: uma visão panorâmica, p. 54.
3
EFTA – Associação Europeia de Livre Comércio.

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fase verifica-se melhorias das condições de vida e alterações no mercado de trabalho,
diminuição das taxas de mortalidade e de natalidade/fecundidade, fomentando saldos
naturais baixos4 e envelhecimento demográfico.
Na 3.ªfase – fase da modernidade consolidada ou pós-modernidade, Portugal
aproxima-se do modelo de modernização demográfica emergente na Europa.
Nas décadas de 60/70 carateriza-se por baixas taxas de natalidade e mortalidade,
saldos naturais reduzidos ou negativos, pirâmide de envelhecimento larga no topo e na
base. Verifica-se uma oposição das regiões urbanas funcionais/espaços não integrados
nas dinâmicas urbanas, saldos migratórios positivos promovidos pela lenta modernização
económica. Somente em meados da década de 90 há uma recuperação do saldo migratório
e do saldo natural, traduzindo-se numa aceleração do crescimento populacional, apesar
do seu envelhecimento.

João Ferrão, utilizando a evolução das taxas de natalidade e mortalidade (1960-


2000) refere a existência de cinco perfis concelhios5:
1) Municípios com disparidades entre taxas de natalidade e mortalidade e saldos
naturais negativos (Cordilheira Central, Nordeste Alentejano, raia da Beira Baixa e
concelhos parcialmente coincidentes com a serra algarvia);

4
Ferrão, João – cit 1, p. 56.
5
Ferrão, João – cit.1- pp. 65 e 66

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2) Municípios com idêntica tendência anterior (concelhos de fronteira no Norte e
Centro, grande parte do Alentejo e Algarve não urbanos e alguns concelhos rurais na
influência direta de Lisboa e Coimbra);
3) Municípios com saldos naturais negativos, a partir de 1990 (concelhos não
raianos do Norte e Centro, vários da faixa litoral entre Aveiro e Lisboa, municípios com
aglomerações de natureza urbana do Norte e Centro interior, Alentejo e Algarve;
4. Municípios com saldos naturais positivos, por via da quebra acentuada da
natalidade (Noroeste, área metropolitana de Lisboa, entre outros);
5. Municípios com taxas de natalidade elevadas e em quebra, por exemplo, vales
do Ave e Sousa e áreas suburbanas do Porto e Lisboa.

A transição demográfica teve um efeito dicotómico em Portugal, favoreceu a


modernização demográfica e a aproximação de Portugal à Europa e criou condições para
as assimetrias regionais:
a) Norte conservador, agrícola e o
Sul mais laico e proletário
(1.ªfase);

b) oposição litoral/interior dado o


crescimento industrial e o
surgimento de áreas urbano-
industriais (2.ªfase),

c) uma distribuição populacional


concentrada nas grandes áreas
metropolitanas (Lisboa e Porto) e
a desertificação progressiva do
resto do País (3.ªfase).

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CONCLUSÃO

Conclui-se que o modelo de transição demográfica permitiu que Portugal se


modernizasse e aproximasse da Europa, concernente ao modelo societário, mas acirrou
as assimetrias. O balanço da densidade populacional mostra um País com forte migração
interna para áreas urbanas industrializadas e urbanas no litoral (regiões ganhadoras) em
detrimento das áreas rurais (regiões perdedoras), na procura de melhores condições de
vida, saúde e educação.
Concluiu-se ainda que os processos de modernização (económica, social,
demográfica) foram mais intensos nas grandes áreas metropolitanas. Apesar de nos
nossos dias Portugal ser socialmente mais homogéneo, também é mais desequilibrado no
que concerne à distribuição da população.

REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS

FERRÃO, J. (2005). Dinâmicas Demográficas: Uma Visão Panorâmica. In: FERRÃO,


João e SALGUEIRO, Teresa Barata, Geografia de Portugal, Vol. 2 – Sociedade,
Paisagens e Cidades, pp. 50-71. Círculo de Leitores.

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