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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FAGREFF

Licenciatura em Direito, III Ano – Laboral

Disciplina: Direito do Mar e Recursos Hídricos

Tema:

Mar Territorial

Estudante:

Esmenia Jacinta Viegas

Docente:

Soares Nicachapa

Lichinga, Junho de 2021


Índice
Cap. I: Introdução..............................................................................................................3

Cap.II: MAR TERRITORIAL.......................................................................................4

2.1.Contexto...................................................................................................................4

2.2.Limitação à jurisdição do Estado sobre o mar territorial.........................................5

2.2.1.O direito de passagem e passagem inocente.........................................................6

2.2.2.Imunidade de jurisdição penal..............................................................................7

2.2.3.Imunidade de jurisdição civil................................................................................8

2.2.4.Imunidade de navios de Estado estrangeiros........................................................9

Cap.III: Conclusão...................................................................................................10

4.0.Bibliografia........................................................................................................11
Cap. I: Introdução

O presente trabalho da disciplina de direito do mar e recursos hídricos, tem como tema
O mar territorial, é importante perceber que mar territorial é um limite que se estende a
partir da linha de Preamar ao longo da costa, até um limite que não ultrapasse doze
milhas marítimos. Nos termos da CNUDM (arts. 2 e 3), a soberania do Estado costeiro
sobre o seu território e suas águas interiores estende-se a uma faixa de mar adjacente
mar territorial com dimensão de até 12 milhas marítimas (1 m.m.= 1.852 metros) a
partir das linhas de base.
4

Cap.II: MAR TERRITORIAL

2.1.Contexto

A definição do mar territorial foi importante para estabelecer os limites jurídicos de


exercício dos plenos poderes de jurisdição do Estado e de seu domínio, nos quais ele
soberanamente pudesse exercer seu papel de polícia, guarda e segurança, aplicar suas
leis de forma plena e executar medidas adjudicatórias; também, para definir os limites
exploratórios dos recursos marinhos, sem qualquer intervenção de outro Estado ou da
comunidade internacional.1

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar definiu Mar Territorial
estabelecendo que ele se estenda a partir da linha de base, ou seja, da linha de baixa-mar
ao longo da costa, conforme definido por cartas marítimas de grande escala, até um
limite que não ultrapasse doze milhas marítimas. Essa extensão é definida por uma linha
em que cada um dos pontos fica a uma distância do ponto mais próximo da linha de
base igual à largura do mar territorial.2,3

No mar territorial, o Estado costeiro exerce soberania ou controle pleno sobre a massa
líquida e o espaço aéreo sobrejacente, bem como sobre leito e o subsolo deste mar. A
delimitação territorial entre Estados vizinhos, que sejam situados lado a lado, ou mesmo
frente a frente, estabelece-se como extensão a partir da linha de base, o ponto
equidistante mediano entre eles.4

No caso do Direito do Mar, embora se defina o mar territorial como expressão da


jurisdição do Estado, reconhece a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
algumas limitações à plenitude desse direito, como se verá adiante.5

1
MORANDI, F. La tutela del mare come bene publico. Milano: Giuffrè editore, 1998. Cit por
MENEZES (2015:92)
2
O Decreto nº 1.290, de 21 de Outubro de 1994, estabeleceu os pontos apropriados para o traçado das
linhas de base rectas ao longo da costa brasileira.
3
Nos locais em que a costa apresente recortes profundos e reentrâncias ou que exista uma franja de ilhas
ao longo da costa na sua proximidade imediata, pode ser adoptado o método de linhas de base rectas que
unam os pontos apropriados para traçar a linha de base a partir da qual se mede a largura do mar
territorial (art. 7º da Convenção).
4
Art. 15 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, além de disciplinar os limites,
estabelece excepção a esse princípio desde que existam títulos históricos e outras circunstâncias especiais .
5
MELLO, C. D. A. O mar territorial brasileiro. In: SILVA, P. C. M. Estudos do mar brasileiro. Rio de
Janeiro: Renes, 1972. Cit por MENEZES (2015:94).
5

Nos termos da CNUDM, (Parte II, Secção 2, arts. 2.° e 3.°) o Mar Territorial (MT) é
definido como sendo uma zona de soberania 6 do Estado com uma largura limite de 12
milhas náuticas contadas a partir das linhas de base. O Estado moçambicano, adopto
para o seu ordenamento jurídico os preceitos da CNUDM em relação ao Mar Territorial.

Como ficou claro desta disposição, o Estado moçambicano nesta matéria, goza
tradicionalmente de soberania7 sendo fora isso circunscritos os direitos reconhecidos aos
terceiros Estados. No Mar Territorial a soberania do Estado só é limitada pelo “direito
de passagem inofensiva de navios à superfície” Decorrente deste direito, o Estado
costeiro, permite aos outros, o direito de passagem inofensiva aos navios com a
bandeira de outros Estados.

Compete em última instância, às autoridades do Estado moçambicano no seu mar


territorial fazer: a segurança e a defesa; exercícios e manobras militares com armas de
qualquer tipo; lançamento, pouso ou recebimento a bordo de qualquer dispositivo
militar; actividades de pesca; actividades de investigação ou levantamento hidrográfico;
o exercício do direito de passagem inofensiva, reconhecido aos navios de outros
Estados8. No Mar Territorial, o Estado ribeirinho exerce efectivamente a soberania e o
controlo total sobre a massa líquida e o espaço aéreo subjacente, bem como o leito e o
subsolo desse mar.

2.2.Limitação à jurisdição do Estado sobre o mar territorial

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar reconhece a jurisdição


absoluta do Estado sobre o mar territorial, mas em razão de ser um espaço dinâmico
deinter-relações, cuidou de resguardar certas garantias e imunidades que são aplicadas
para embarcações, pessoas e outros Estados, nos casos de:

a) Passagem inocente;
b) De imunidade de jurisdição penal e civil em embarcações, de navios de Estado
estrangeiro.
6
Soberania entendida como o resultado de um conjunto de poderes internos, harmonizados, sobre os
quais se estabelecem os fundamentos e se realizam os objectivos do Estado dentro e fora de seu território,
em consonância com as regras e princípios de direito internacional.
7
No Artigo 2 da Convenção de 1982, está expressamente previsto que a “soberania sobre o mar territorial
é exercida de conformidade com a presente Convenção e demais normas de direito internacional”.
8
Artigo 6 da Lei 4/96, de 4 de Janeiro: 1. Sem prejuízo do disposto nos n." 2 e 3 do presente artigo, os
navios de guerra estrangeiros e outras embarcações de Estado estrangeiro não empregadas para fins
comerciais, quando passem através do mar territorial, gozam de imunidade, nos termos do direito
internacional.
6

É circunstancialmente a aplicação da jurisdição do Estado, nos casos de passagem


inocente, de imunidade de jurisdição penal e civil em embarcações, de navios de Estado
estrangeiro.

2.2.1.O direito de passagem e passagem inocente

Os navios e embarcações dos Estados, sejam comerciais ou particulares, muitas vezes


podem utilizar certas coordenadas para atingir seu destino, adentrando, por isso, em mar
territorial de outro Estado. A Convenção prevê o direito de passagem como uma
garantia fundamental, prescrevendo apenas que o Estado costeiro pode adoptar leis e
regulamentos disciplinando a passagem, mas sem impor taxas, dificuldades de ordem
administrativa, proibindo, pois, qualquer discriminação de direito ou de fato para seu
exercício. Estabelece, também, diferença entre9:

a) Passagem, que deve ser rápida e contínua, como a navegação pelo mar
territorial, com o fim de atravessar esse mar sem penetrar nas águas interiores o
fazer escala num ancoradouro;
b) Passagem inocente, aquela que reúne os requisitos da passagem e, além deles,
que não é prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Estado costeiro.

A convenção também define o que seria passagem ofensiva:

a) Qualquer ameaça ou uso da força contra a soberania, a integridade territorial ou


a independência política do Estado costeiro ou qualquer outra acção em violação
dos princípios de Direito Internacional enunciados na Carta das Nações Unidas;
b) Qualquer exercício ou manobra com armas de qualquer tipo;
c) Qualquer acto destinado a obter informações em prejuízo da defesa ou da
segurança do Estado costeiro;
d) Qualquer acto de propaganda destinado a atentar contra a defesa ou a segurança
do Estado costeiro;
e) O lançamento, o pouso ou o recebimento a bordo de qualquer aeronave;
f) Lançamento, o pouso ou o recebimento a bordo de qualquer dispositivo militar;
g) O embarque ou o desembarque de qualquer produto, moeda ou pessoa com
violação das leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários
do Estado costeiro;
9
MENEZES, W. O direito do mar. Brasília: FUNAG, 2015. Disponível em:
http://funag.gov.br/biblioteca/download/1119-O_Direito_do_Mar.pdf. Acesso em 07 de Junho de 2021.
7

h) Qualquer ato intencional e grave de poluição contrário à Convenção;


i) Qualquer actividade de pesca;
j) A realização de actividades de investigação ou de levantamentos hidrográficos;
k) Qualquer acto destinado a perturbar quaisquer sistemas de comunicação ou
quaisquer outros serviços ou instalações do Estado costeiro;
l) Qualquer outra actividade que não esteja directamente relacionada com a
passagem.

Caso seja praticado algum ato de passagem ofensiva, o Estado costeiro poderá adoptar
medidas necessárias, como: proibir a passagem ofensiva e adoptando medidas para
impedir a violação do Direito do Mar previstas para passagem inocente, inclusive
podendo suspender temporariamente a passagem em determinadas áreas do seu mar,
proceder a exercício com armas, desde que tal decisão já tenha sido tornada pública.10

2.2.2.Imunidade de jurisdição penal

É direito do Estado processar, julgar e punir todo crime cometido dentro de seu
território. Esse enunciado consubstancia o princípio da territoriedade do Direito Penal, e
cada ordenamento nacional estabelece seus mecanismos punitivos e seus mecanismos
de excepção.

A imunidade de jurisdição é a prerrogativa que tem um determinado sujeito que,


mesmo praticando um crime ou agindo em desacordo com as regras e o direito de um
determinado Estado, não se submete a julgamento perante as autoridades competentes
deste11. O princípio da imunidade de jurisdição é aplicado excepcionalissimamente, e é
prática costumeira consagrada em vários tratados e acordos internacionais, visando
substantivamente a proteger a autoridade do Estado de origem dessa pessoa.

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar estabeleceu um regime


normativo para práticas de crimes praticados em embarcações que estejam em passagem
por mar territorial de outro Estado. Prevê que a jurisdição penal do Estado costeiro não
será exercida a bordo de navio estrangeiro que passe pelo mar territorial, pelo menos no
que diz respeito à detenção de qualquer pessoa ou à investigação da infracção criminal
cometida a bordo desse navio durante sua passagem.
10
Art. 19 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.
11
MENEZES, W. O direito do mar. Brasília: FUNAG, 2015. Disponível em:
http://funag.gov.br/biblioteca/download/1119-O_Direito_do_Mar.pdf. Acesso em 07 de Junho de 2021.
8

O Estado costeiro pode, ainda, como excepção à imunidade do navio, prescrita na


Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, invocar sua jurisdição nos casos
seguintes:
a) Se a infracção criminal tiver consequências para o Estado costeiro;
b) Se a infracção criminal for de tal natureza que possa perturbar a paz do país ou a
ordem no mar territorial;
c) Se a assistência das autoridades locais tiver sido solicitada pelo capitão do navio,
pelo representante diplomático ou pelo funcionário consular do Estado de
bandeira;
d) Se medidas forem necessárias para a repressão do tráfico ilícito de substâncias
psicotrópicas;
e) Se o navio estrangeiro passar por seu mar territorial procedente de águas
interiores.
É importante frisar que, no caso de simples passagem pelo mar territorial sem ter
passado por águas interiores, é impossível o Estado costeiro deter pessoa ou proceder a
investigação que tenha carácter penal e que tenha sido cometida antes de o navio entrar
em seu mar territorial.

2.2.3.Imunidade de jurisdição civil

A imunidade de jurisdição é aplicada também às relações civis, embora as bases e


pressupostos do exercício da jurisdição civil nem sempre sigam o princípio da
territoriedade do direito penal. Os negócios civis podem envolver várias dimensões,
desde relações personalíssimas, direito de família, obrigações e contratos, até sucessão e
relação de posse e propriedade sobre bens móveis e imóveis.

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar prescreve que o Estado
costeiro não deve parar nem desviar de sua rota um navio estrangeiro que passe por seu
mar territorial a fim de exercer a sua jurisdição civil em relação a uma pessoa que se
encontre a bordo. Tal medida envolve actos processuais, de citação, intimações,
notificações, entre outros.

Estado costeiro exercer comissões executórias, tampouco tomar contra esse navio
medidas executórias ou cautelares em matéria civil, a não ser que essas medidas sejam
tomadas por força de obrigações assumidas pelo próprio navio, de responsabilidades em
9

que ele haja incorrido durante a navegação ou quando de sua passagem pelas águas do
Estado costeiro.

2.2.4.Imunidade de navios de Estado estrangeiros

Os navios de Estado estrangeiro e navios de guerra têm o direito de passagem inocente


em mar territorial de outro Estado, bem como reconhecida sua imunidade mesmo que
utilizados para fins não comerciais.

Embora tenha a imunidade de jurisdição reconhecido o direito de passagem, os navios


de Estado estrangeiro devem observar certas obrigações estabelecidas pela Convenção,
como o respeito às leis e regulamentos do Estado costeiro para navios de guerra.
Em caso de desrespeito dessas regras, não acatando pedido feito para seu cumprimento,
poderá lhe ser exigida retirada imediata do mar territorial do Estado costeiro.
10

Cap.III: Conclusão

Para finalizar importa referir que Moçambique, como subscritor da CNUDM, no seu
mar territorial tem o poder de criar normas concernentes à segurança da navegação e
regulamentação do tráfego marítimo; protecção das instalações e dos sistemas de auxílio
à navegação e outros serviços; protecção de cabos ou ductos submarinos; conservação
dos recursos vivos do mar; pesca; prevenção do meio marinho e ao controlo da
poluição; investigação cientifica e ao levantamentos hidrográficos; e à matérias
aduaneira, fiscais, de imigração e de segurança.
11

4.0.Bibliografia

MENEZES, W. O direito do mar. Brasília: FUNAG, 2015. Disponível em:


http://funag.gov.br/biblioteca/download/1119 O_Direito_do_Mar.pdf. Acesso em 07 de
Junho de 2021.

MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 14 ed. Rio


de Janeiro: Renovar, 2002.

MORANDI, F. La tutela del mare come bene publico. Milano: Giuffrè editore, 1998.
(traduzido).

MATOS, Fábio de Oliveira. Instrumentos de gerenciamento costeiro. (Convenções das


nações unidas sobre o direito do mar). s/d.

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