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PROPÓSITO
Apresentar as bases teóricas e conceituais relacionadas aos processos de transição
demográfica, epidemiológica e nutricional, estimulando uma compreensão crítica-reflexiva
sobre esses fenômenos e os efeitos dessas mudanças nas condições de saúde da população
brasileira.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Descrever as bases conceituais da transição nutricional e seus efeitos sobre o perfil nutricional
da população brasileira
INTRODUÇÃO
No Brasil, desde a década de 1940, pudemos observar um importante e significativo
envelhecimento da população. Essa mudança em sua estrutura etária, associada a outras
modificações na dinâmica populacional, caracterizam o fenômeno denominado de transição
demográfica da população brasileira (LEBRÃO, 2007).
MÓDULO 1
A teoria da transição demográfica foi elaborada pelo demógrafo Frank Notestein, em 1929.
Segundo essa teoria, o desenvolvimento socioeconômico, associado ao processo de
urbanização e a modernização das sociedades seriam responsáveis pelas mudanças
observadas nas taxas de natalidade e de mortalidade. Situação essa que corrobora para o
ritmo de crescimento populacional, ou seja:
Segundo Lebrão (2007), os países podem ser divididos em três classes, considerando a fase
em que iniciaram o seu processo de transição demográfica:
Países africanos que ainda não iniciaram seu processo de transição demográfica, ou seja,
ainda têm estrutura jovem de população.
Quando as taxas de mortalidade diminuem, porém, a taxa de natalidade é elevada. Logo, nesta
etapa da transição demográfica, a velocidade de crescimento populacional é mais acelerada,
com isso, a base da estrutura etária da população se mantém jovem.
Quando a população inicia a redução das taxas de natalidade, ao mesmo tempo, que se
mantém a redução das taxas de mortalidade. Nesta etapa do processo de transição, as taxas
de crescimento populacional diminuem significativamente, dando início ao processo de
envelhecimento da população.
QUARTA FASE OU PERÍODO DA ESTABILIZAÇÃO
DEMOGRÁFICA
Passados vinte anos, inicia-se uma nova fase da transição com a desaceleração do
crescimento populacional (2,5% ao ano) motivado por uma leve queda na taxa de natalidade.
Nas décadas seguintes, é mantida a tendência de redução da taxa de natalidade para níveis
mais baixos, intensificando-se, assim, a queda na taxa de crescimento para os valores atuais,
em torno de 1,2% ao ano.
SAIBA MAIS
Conforme Simões (2016), foi a partir da segunda metade da década de 1970 que se consolidou
a tendência de redução da mortalidade (tanto a geral como a infantil) no Brasil e nos demais
países da América Latina.
No que se refere à situação específica da mortalidade no Brasil, os estudos atribuem essa
importante redução às ações de expansão da rede assistencial à saúde e à ampliação da
infraestrutura de saneamento básico.
RESUMINDO
REDUÇÃO DA FECUNDIDADE
A série histórica da taxa de fecundidade no Brasil demostra que, entre os anos de 1940 até
1960, as mulheres tinham em média seis filhos por ano.
A partir deste período, esse indicador vem sofrendo reduções significativas em todas as
regiões do país e entre todos os grupos sociais, ainda que em ritmos diferentes.
Em 2010, ano do último censo demográfico, o país apresentou taxa de fecundidade de 1,9
filhos por mulher (VASCONCELLOS; GOMES, 2012).
Estudos sobre a tendência secular da taxa de fecundidade no Brasil revelaram que o nível de
escolaridade da mulher é um dos fatores explicativos preponderantes da mudança de
comportamento reprodutivo feminino. Além disso, aspectos culturais, relativos às modificações
ocorridas nos arranjos familiares que se observa na atualidade e no papel desempenhado
pelas mulheres na sociedade, também contribuíram para consolidação do comportamento
reprodutivo em patamares reduzidos de fecundidade (SIMÕES, 2006).
Dados mais recentes sobre o indicador de mortalidade infantil mostram que, no Brasil como um
todo, a mortalidade infantil reduz de 29 óbitos por 1000 nascidos vivos em 2000, para 14,4 por
1000 nascidos vivos em 2014 (SIMÕES, 2002).
Vale ressaltar que o envelhecimento da população com qualidade de vida vai exigir que sejam
implementadas novas prioridades na área das políticas públicas, sobretudo na área da saúde.
AS BASES CONCEITUAIS DA TRANSIÇÃO
DEMOGRÁFICA
O especialista Itamar Cunha aborda a transição demográfica no Brasil.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
CONCEITO DE TRANSIÇÃO
EPIDEMIOLÓGICA
Conceitualmente, a transição epidemiológica é compreendida como: “o processo de mudanças
ocorridas nos padrões de saúde e doença e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras
transformações demográficas, sociais e econômicas” (OMRAN, 1971 apud LEBRÃO, 2007).
Segundo Lebrão (2007), a teoria da transição epidemiológica formulada por Omran (1971)
baseia-se em estudos do perfil de morbidade e mortalidade realizados com populações de
países desenvolvidos, quando notou a substituição das doenças infecciosas por outras
relacionadas ao processo de envelhecimento da população. Tudo isso de tal forma que a
transição epidemiológica se daria em estágios sucessivos, de acordo com o nível de
desenvolvimento de uma sociedade tradicional para uma sociedade moderna.
Norteado por esse princípio, Omran propôs três estágios para a transição epidemiológica:
MODELO CLÁSSICO
Relativo ao processo de transição que ocorreu nos países da Europa e da América do Norte.
MODELO ACELERADO
O exemplo mais expressivo é o do Japão, caracterizado por uma queda acentuada das suas
taxas de mortalidade a partir de 1920.
Críticas a esse conceito têm sido feitas ao longo do tempo por autores como Asa Cristina
Laurell (1982). A autora conclui que esse conceito de transição epidemiológica elimina o caráter
histórico e social do processo saúde-doença, não pressupondo que cada sociedade possa criar
seu próprio perfil epidemiológico.
SAIBA MAIS
Para que tal teoria desenvolvimentista pudesse ser aceita, segundo Laurell, seria necessário
observar valores semelhantes para as taxas de mortalidade por causas entre os países que
conseguissem reduzir significativamente a ocorrência das doenças infecciosas, o que nem
sempre acontece.
Nos estudos mais recentes da transição epidemiológica, os modelos desenvolvidos por Frenk
(apud Barreto et al ., 2007) contestam, em alguns aspectos, as premissas básicas de um
sistema global unificado de mudança, tal como proposto por Omran. A premissa básica desse
autor é de que os países latino-americanos são muito diferentes das nações desenvolvidas e
reproduzem modelos socioeconômicos diferenciados.
Os países que se encontram em uma etapa avançada de transição, dentro de uma modalidade
um tanto semelhante à dos países desenvolvidos (Cuba, Costa Rica e Chile).
Os países que se encontram em uma etapa inicial de transição (Haiti, Bolívia e Peru).
Os países, como México e Brasil, que chegaram a uma etapa avançada, mas que apresentam
um modelo diferente de transição. Para esse terceiro grupo, é proposto o nome de “modelo
polarizado prolongado”.
TRANSIÇÃO PROLONGADA
As três características antes descritas afetam desigualmente diferentes grupos sociais, fazendo
com que a heterogeneidade seja um fator marcante, tanto entre países como dentro deles
próprios, o que explicaria, inclusive, a natureza prolongada da transição.
Nesse sentido, a transição epidemiológica não ocorre da mesma forma em todas as regiões. A
teoria de que haveria um padrão/modelo dos países “desenvolvidos” a ser seguido pelos
países “subdesenvolvidos” não se comprovou/não ocorreu.
Substituição das doenças transmissíveis por doenças não transmissíveis e causas externas.
Deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens aos grupos mais idosos.
Araújo (2012) ressalta que a transição epidemiológica no Brasil é caracterizada pelo modelo de
polarização epidemiológica conforme descrito por Frenk e colaboradores, combinando
elevadas taxas de morbidade e mortalidade por doenças crônico-degenerativas com altas
incidências de doenças infecciosas e parasitárias, e a prolongada persistência de níveis
diferenciados de transição entre grupos sociais distintos. Esse modelo de transição faz com
que se tenha uma tripla carga de doenças, pois o perfil epidemiológico do país envolve, ao
mesmo tempo, uma agenda não concluída de doenças infectoparasitárias, desnutrição e
problemas de saúde reprodutiva, com o surgimento das doenças crônicas degenerativas e
problemas de causas externas (violências).
SAIBA MAIS
Além disso, o crescimento da violência representa um dos maiores e mais difíceis desafios do
novo perfil epidemiológico do Brasil. O aumento da mortalidade por causas externas,
observado a partir da década de 1980, deve-se, principalmente, aos homicídios e aos
acidentes de transporte terrestre nos grandes centros urbanos.
MUDANÇAS NO PADRÃO DE
MORTALIDADE NO BRASIL
A análise dos padrões de mortalidade diz respeito às mudanças na ordenação da mortalidade
por grupos de causas de morte. No Brasil, as modificações na distribuição proporcional da
mortalidade por grupo de causa se tornam mais evidentes a partir de 1930. Assim, as doenças
infecciosas e parasitárias (DIP), passam de um patamar de 45,7% do total de óbitos em 1930,
para 5,2% dos óbitos, no ano de 2005.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Neste módulo, apresentaremos bases conceituais da transição nutricional e seus efeitos sobre
o perfil nutricional da população brasileira.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, essas doenças são responsáveis por mais de 70%
das mortes no mundo e no Brasil não é diferente, as DCNT são responsáveis por cerca de 74%
do total de mortes. O Vigitel destaca ainda que, no período entre 2006 e 2019, a prevalência de
diabetes passou de 5,5% para 7,4%, a hipertensão arterial, subiu de 22,6% para 24,5%
(VIGITEL, 2019).
Estudos relatam que uma das razões para as mudanças no padrão alimentar da população se
deu por conta da inserção da mulher no mercado de trabalho nos últimos anos. Por esse
motivo, essa mulher trabalhadora tem menos tempo para se dedicar ao preparo das refeições
da família, escolhendo, portanto, alimentos industrializados em virtude da praticidade, e até
mesmo a realização das refeições fora do lar, em restaurantes, pensões e lanchonetes
(BATISTA FILHO; RISSIN, 2003; SOUZA, 2010).
Foto: Shutterstock.com
Outros fatores relevantes foram a globalização, urbanização e o aumento do acesso aos
alimentos industrializados, tendo em vista que os indivíduos passaram a adotar uma
alimentação com alta densidade calórica, rica em gordura saturada, sódio e em açúcares
simples, pobre em fibras e micronutrientes e, além disso, tornaram-se mais sedentários
(BRASIL, 2013).
Foto: Shutterstock.com
O último Vigitel mostrou que o consumo regular de alimentos in natura, ou seja, o consumo de
frutas e hortaliças em cinco ou mais dias da semana, foi de 34,3% dos entrevistados, sendo
menor entre homens (27,9%) do que entre mulheres (39,8%). Em ambos os sexos, essa
frequência tendeu a aumentar com a idade e com o nível de escolaridade (VIGITEL, 2019). O
consumo diário adequado desses alimentos é de 400 gramas de frutas e hortaliças, o que
corresponde, aproximadamente, ao consumo diário de cinco porções desses alimentos.
Segundo pesquisa, a frequência de consumo recomendado de frutas e hortaliças da população
brasileira foi de 22,9%, sendo menor entre homens (18,4%) do que entre mulheres (26,8%),
aumentando de acordo com o nível de escolaridade (VIGITEL, 2019).
Nesse sentido, observamos que uma pequena parcela da população, menos de 25%, atinge o
consumo diário adequado de frutas, legumes e verduras, demostrando um baixo consumo de
alimentos saudáveis importantes para a promoção e prevenção da saúde. Em contrapartida,
segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a venda de alimentos
industrializados aumentou cerca de 8,3% entre 2009 e 2014, último ano com dados
disponíveis, e o estudo ainda prevê que aumentaram 9,2% de 2014 a 2019. A OPAS apresenta
ainda que houve um aumento de 40,9% entre 2009 e 2014 na venda de bebidas açucaradas
(OPAS, 2019).
Outro estudo relevante que apresenta informações sobre a transição nutricional no Brasil é a
Pesquisa de Orçamentos Familiares. Dados divulgados recentemente demostraram que o
consumo de alimentos ultraprocessados representaram cerca de 18,4% das calorias ingeridas
pela população. Na edição de 2002/2003, representavam 12,6% das calorias e em 2008/2009
atingiram 16%.
O crescimento segue mais lentamente e muitos estudos atribuem esse feito às ações e à
elaboração de materiais educativos buscando incentivo ao consumo de alimentos saudáveis,
como o Guia Alimentar da População Brasileira (IBGE, 2019).
O Vigitel 2019 demostrou que cerca de 44,8% da população estudada não alcançaram um
nível suficiente de prática de atividade física semanal, de acordo com a recomendação da
OMS, sendo esse percentual maior entre mulheres (52,2%) do que entre homens (36,1%)
(VIGITEL, 2019).
Esses dados merecem um olhar atencioso tendo em vista que diversos estudos apresentam
que a inatividade física e o comportamento sedentário podem contribuir para o aumento da
obesidade, sobrepeso e, consequentemente, para o aumento do risco de desenvolvimento de
doenças crônicas não transmissíveis, caracterizando a transição nutricional na população
brasileira.
O peso ao nascer é um dos determinantes da situação de saúde infantil, pois reflete, em muitos
casos, a condição socioeconômica e nutricional da mãe e à qualidade da atenção recebida
durante o período gestacional, além de influenciar no crescimento e no desenvolvimento do
indivíduo ao longo de toda a sua vida (CZARNOBAY et al , 2019).
Nesse sentido, o peso ao nascer é considerado um fator importante para o estado nutricional
da criança, redução da mortalidade infantil e é utilizado para avaliação do índice de
desenvolvimento humano (IDH) dos países, demostrando a grande importância desse
parâmetro. Durante os últimos anos, as análises estão direcionadas ao baixo e ao excesso de
peso ao nascer de maneira igualitária, acompanhando a transição nutricional da população.
ATENÇÃO
Ressalta-se, portanto, a importância das ações integrais à saúde da gestante, tendo em vista
que muitos casos de alteração no peso ao nascer estão relacionados à situação pregressa de
saúde da gestante e aos cuidados durante o pré-natal.
DESNUTRIÇÃO EM CRIANÇAS
Ações do governo visando à redução dos casos de anemia no Brasil foram significativas para o
controle dessa carência. Um exemplo dessas ações é a criação do Programa Nacional de
Suplementação de Ferro, destinado a prevenir a anemia ferropriva (deficiência de ferro) a partir
da suplementação universal de crianças de 6 a 18 meses de idade, gestantes a partir da
vigésima semana gestacional e mulheres até o terceiro mês pós-parto e/ou pós-aborto.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, apresentamos as mudanças que aconteceram na dinâmica populacional e que
influenciaram as mudanças no padrão de morbimortalidade e como que essas mudanças
também repercutiram na situação nutricional da população. O envelhecimento da população, o
aumento da mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis e violências somado ao
aumento da morbidade por diabetes e obesidade representam enorme desafio para os
profissionais de saúde, gestores e formuladores de políticas públicas, especialmente, no
contexto de desigualdade social pelo qual passa o nosso país.
PODCAST
Agora, o especialista Itamar Cunha aborda os desafios do profissional nutricionista devido à
real situação da transição nutricional no Brasil.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ARAUJO, D. Polarização epidemiológica no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde,
2012. Consultado na internet em: 14 jun. 2021.
CZARNOBAY, S. A.; KROLL, C.; SCHULTZ, L. F.; MALINOVSKI, J.; MASTROENI, S. S. B. S.;
MASTROENI, M. F. Preditores do excesso de peso ao nascer no Brasil: revisão
sistemática. J. Pediatr., v. 95, n. 2. Porto Alegre, 2019. Consultado na internet em: 14 jun. 2021.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED STATES. FAO. The State of
Food Security and Nutrition in the World 2020. Transforming food systems for affordable
healthy diets. Rome, 2002. Consultado na internet em: 14 jun. 2021.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE. Pesquisa de Orçamentos
Familiares (POF) 2017-2018: primeiros resultados. Coordenação de Trabalho e Rendimento.
Rio de Janeiro: IBGE, 2019.
VIGITEL. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico: 2010. Ministério da Saúde. Brasília, 2011. Consultado na internet em: 14 jun. 2021.
VIGITEL. Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico: 2019. Ministério da Saúde. Brasília, 2020. Consultado na internet em: 14 jun. 2021.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, leia:
O texto das autoras Ana Maria Vasconcellos e Marília Gomes para conhecer mais sobre a
transição demográfica: Transição demográfica: a experiência brasileira .
O texto do autor Elton de Souza, e saiba mais sobre a transição nutricional: Transição
nutricional no Brasil: análise dos principais fatores .
CONTEUDISTA
Ana Cristina Reis
CURRÍCULO LATTES