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História de Portugal Contemporâneo

Tema 2 - A demografia no Portugal Contemporâneo – breve apresentação

O estudo da demografia é considerado basilar para a abordagem de qualquer


período da história. Nos séculos XIX e XX, as mudanças foram muito significativas e
prendem-se com as grandes e rápidas transformações que tornaram possível a transição
do Antigo Regime para as sociedades modernas. No século XIX, os especialistas
falaram mesmo de uma revolução demográfica para caracterizar as alterações que
permitiram um acelerado crescimento da população e a sua concentração em grandes
aglomerados urbanos, fruto do processo de industrialização e da expansão dos serviços.
No caso português, o crescimento foi lento e não se verificou a explosão demográfica de
outros países europeus, devido ao atraso persistente da economia e da sociedade
portuguesa. Manteve-se, por isso, até final do século um antigo regime demográfico,
caracterizado por elevadas taxas de natalidade e de mortalidade, surtos epidémicos
sazonais e muitas vezes devastadores, famílias extensas e uma esperança média de vida
baixa. Predominava a população rural, com uma distribuição muito desigual no
território nacional que remontava às características do próprio povoamento do reino, na
época medieval. O período moderno tinha visto crescer a importância de Lisboa e,
depois, do Porto, concentrando-se nessas duas cidades uma grande parte da população
urbana do país. No conjunto, como mostrou Vitorino Magalhães Godinho, a
urbanização do país era muito fraca pelos padrões das sociedades oitocentistas mais
desenvolvidas. Os excedentes demográficos que a agricultura não tinha condições para
sustentar e as indústrias também não podiam absorver como mão- de-obra, iam
engrossar os contingentes da emigração que se dirigia, maioritariamente, para o Brasil.
A emigração é uma constante estrutural da sociedade portuguesa1 e, na época
contemporânea, as remessas dos emigrantes foram um importante sustentáculo da
economia e das finanças portuguesas.

1 Vitorino M. Godinho, L'émigration portugaise du XV siècle à nos jours, Histoire d'une constante structurale,
Conjuncture Économique, Structures Sociales, Paris, Mouton, 1974.
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A transição efetiva para um regime demográfico moderno deu-se no século XX
e atualmente a sociedade portuguesa segue as tendências europeias. A população
praticamente duplicou durante o século, passando de 5, 4 milhões de residentes, no
censo de 1900, para 10, 4 milhões, no de 2001. Os saldos naturais foram geralmente
positivos, com a exceção do surto da gripe pneumónica, mas o crescimento foi
abrandado pela emigração que teve picos especialmente intensos em alguns períodos,
por razões de ordem económica e política. Entre 1950 e 1974, o surto emigratório foi o
mais elevado dos dois séculos em análise. Se até meados dos anos 50, a emigração se
dirigia para a América, em especial para o Brasil, depois ela passou a ser intra-europeia
e os países de acolhimento foram, sobretudo, a França e a Alemanha. Nos anos 70, a
população portuguesa cresceu também por causa dos regressos de emigrantes,
incentivados por políticas dos países de acolhimento nesse sentido, e pelo retorno dos
colonos portugueses de África. Com a descolonização e a integração na Comunidade
Europeia, o país tornou-se também atrativo para a imigração e a população residente foi
engrossada pela chegada de africanos das ex-colónias, de brasileiros e de cidadãos dos
países do leste da Europa.

Os indicadores demográficos sofreram uma significativa mudança, sobretudo na


segunda metade do século XX. A taxa de natalidade e de mortalidade diminuíram, com
especial incidência na redução da mortalidade infantil, nas últimas décadas do século, a
esperança média de vida à nascença aumentou de forma acentuada, a população jovem
decresceu em relação à população idosa e a pirâmide etária, com a distribuição dos
grupos de idades, sofreu uma total inversão. Deixou de ser uma pirâmide, na verdade,
para passar a ser de “tipo urna”, o que significa uma população envelhecida. O índice de
envelhecimento (número de pessoas com 65 e mais anos por cada 100 com 15 ou menos
anos) era, em 1900, de 17%, passou para 27%, em 1960, e atingiu 102%, em 2001, o
que significa que o número de idosos suplantou o de jovens, na sociedade portuguesa2.
Ao envelhecimento da população liga-se a diminuição da fecundidade, que se explica
por fatores de ordem económica e de mudança das mentalidades. Para haver uma
substituição das gerações é preciso que o índice sintético de fecundidade (número médio
de nados vivos pelo número total de mulheres entre os 15 e 49 anos de idade) seja de

2 Maria João Valente Rosa e Cláudia Vieira, A População Portuguesa no Século XX, Lisboa, Imprensa de Ciências
Sociais, coleção «Breve — Demografia», 2003, p. 111.

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2,1 nos países desenvolvidos. Em 1980, Portugal ainda apresentava um índice de 2, 25,
mas ainda nessa década baixou para níveis que já não asseguram a substituição das
gerações: 1,57, em 1990, e 1,56, em 2000, continuando a decrescer (1,37, em 2010). As
implicações destas mudanças serão muito profundas e ainda não temos a distância
necessária para as avaliar globalmente.

As mudanças nos comportamentos sociais foram muito acentuadas,


especialmente a partir dos anos 60 e 70, com a diminuição do tamanho das famílias, as
alterações na sua composição, nos casamentos e nas relações conjugais. Por sua vez, a
distribuição da população no território nacional manteve-se muito desigual, com uma
desertificação do interior e das zonas rurais e o crescimento acentuado da população
urbana e da litoralização. O fenómeno da concentração da população nas cidades de
Lisboa e do Porto deu lugar a novas designações: a Grande Lisboa e o Grande Porto,
que englobam os diversos concelhos das suas áreas metropolitanas. A bipolarização da
população não excluiu o crescimento de um conjunto de cidades de média dimensão que
se afirmaram ao nível regional. Em 1900, só existiam três centros urbanos com mais de
20 000 habitantes. Em 1950, esse número elevou-se para doze e, em 2001, já eram
cinquenta. Em termos percentuais, saltámos de 10% para 32% da população a viver em
aglomerados com uma dimensão que pode ser considerada urbana3. Contudo, verifica-se
que uma parte desses centros se concentra nas áreas metropolitanas de Lisboa e do
Porto, respetivamente catorze e treze, isto é, mais de metade do total. A predominância
das grandes áreas de Lisboa e do Porto não exclui a existência de uma rede urbana que
engloba o cordão das cidades do litoral algarvio e algumas cidades de média dimensão,
ou mesmo pequena, do litoral e do interior do país, com um papel ativo nas dinâmicas
populacionais e económicas das regiões.

Leituras:

─ Textos de apoio em linha na aula virtual


 ROSA, Maria João Valente e VIEIRA, Cláudia, A População Portuguesa no Século
XX, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, Colecção «Breve — Demografia», 2003
 VEIGA, Teresa Rodrigues, A população portuguesa no século XIX, Porto,
Afrontamento / CEPESE, 2004

3 Maria João Guardado Moreira e Teresa Ferreira Rodrigues, As Regionalidades Demográficas do Portugal
Contemporâneo, Quadro 12 e 13, p. 21-22, CEPESE - Centro de Estudos da População e da Sociedade, em
linha: http://www.cepese.pt/portal/investigacao/working-papers/populacao-e-prospetiva/as-
regionalidades-demograficas-do-portugal-contemporaneo/As-Regionalidades-Demograficas-do-
Portugal.pdf [consultado a 24 janeiro de 2012]

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Lisboa, 25 de outubro de 2013

Maria Isabel João

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