Você está na página 1de 15

Maria Zelinskaya

HIPOPÓTAMO INVISÍVEL
(Esta peça foi originalmente escrita em russo. Talvez valha a pena adaptar o nome do protagonista à realidade
portuguesa. Por isso, sugeri que a tradução do nome Português Jorge fosse semelhante à Russa. Ele tem uma forma
diminutiva? Também são bem-vindas sugestões do nome do menino do filólogo português.)

peça para os mais pequenos

PERSONAGEM:

GOSHA (JORGE ?), menino, vai para o jardim de infância


MÃE, mulher ocupada, perfeccionista
HIPOPÓTAMO, um animal de cinco toneladas

CENA 1. PRESENTE

Gosha corre para a mãe e salta de alegria.


GOSHA. Um presente, um presente! Trouxeste um presente, um presente!
Gosha olha para a mãe, ela alegremente estende o embrulho para Gosha.
GOSHA. Pesado. O que há lá dentro?
MAMÃE. Olha.
GOSHA. Um carro?
A mãe ri e agita negativamente a cabeça, Gosha rasga o papel de embrulho.
GOSHA. Bicicleta!
MAMÃE. Não.
GOSHA. Scooter!
MAMÃE. Não!
GOSHA. Bem, o quê?! Um cão?!
MAMÃE. Não, claro, que não... sou alérgico.
Gosha termina rasgando o papel, na frente dele é um estojo.
GOSHA. Isso... O que é isso, mãe?
Gosha sente que não é o que ele queria.
MAMÃE. Abre. Deixa-me ajudar-te.
A mãe está a ajudar o Gosha a abrir o estojo. Há um trompete no estojo.
MAMÃE. Gostas disto?
GOSHA. Isto é um trompete?
MAMÃE. Sim.
Gosha acena com a cabeça, embora pareça chateado.
GOSHA. Para que preciso de um trompete?
MAMÃE. Por que, para tocar.
GOSHA. Mas eu não queria tocar trompete.
MAMÃE. Como pudeste querer, se nunca tentaste?
Gosha encolhe os ombros.
MAMÃE. Queres tentar fazer um som?
GOSHA. Eu não sei.
MAMÃE. É simples...
GOSHA. Não vou conseguir.
MAMÃE. Eu faço isso!
A mãe pega o trompete e faz um som alto e prolongado, rindo.
MAMÃE. Tão alta! Vou arranjar-te um professor para te mostrar o que podes fazer com esta coisa.
O Gosha acena.
MAMÃE. Experimenta uma vez!
A mãe passa o trompete para o Gosha. O telemóvel da mãe está a tocar.
MAMÃE. Tu tocas e eu recebo uma chamada do trabalho. (no telemóvel) Sim, Mikhail Lvovich.
Enviei tudo hoje à noite, mas as edições já chegaram, e acho que vou ter de me sentar a noite toda
e amanhã o dia todo para chegar a tempo à noite, mas vou conseguir, vou tentar.
GOSHA. Por que trabalhar, amanhã queremos ir ao zoológico!
MAMÃE. Silêncio, Gosha. (no telemóvel) Sim, claro, podemos discutir tudo por página.
GOSHA. Não vamos?
MAMÃE. Querido, estou ao telemóvel. (no telemóvel) Pode esperar até eu abrir o computador?
GOSHA. Não vamos?!
MAMÃE. Gosha, por favor. Só mais um minuto.
Gosha dobra o trompete no estojo, fecha-o e empurra-o com o pé debaixo da cama, ofendido, e
ele cai na cama.

CENA 2. JARDIM ZOOLÓGICO

Gosha e a mãe vão ao zoológico. A mãe vai atrás de Gosha, enfiada no telemóvel.
GOSHA. Mãe, olha, um leão.
A mãe está a digitar algo no telemóvel sem sequer olhar para o Gosha.
MAMÃE. Agora, vou terminar o texto, enviá-lo e dar uma olhada.
GOSHA. Ele está a dormir? Barriga para cima! Por que é branco? Há leões brancos?
MAMÃE. Só um minuto, está bem?
Gosha vai mais longe.
GOSHA. É um crocodilo? Diz crocodilo, mas não está lá. Onde está ele?
MAMÃE. Agora, querida, é importante que eu termine.
GOSHA. E ali, atrás do vidro. Está a aquecer sob uma lâmpada vermelha. Tão pequeno, pensei que
houvesse mais crocodilos.
MAMÃE. Eles são diferentes.
A minha mãe ainda está no telemóvel. O Gosha aproxima-se da bifurcação.
GOSHA. Ali estão os veados e ali está o hipopótamo. Para onde vamos?
MAMÃE. Para onde quiseres.
GOSHA. Vamos ver os veados.
Assim que Gosha decide ir para as renas, um som estranho e alto é ouvido.
GOSHA. O que é isso,mãe?
MAMÃE. Não sei, querida.
O som repete-se.
GOSHA. Posso ir ver? É um hipopótamo. Ali, mãe.
MAMÃE. Ir. Vou ficar aqui e acabar isto, está bem?
O Gosha acena.
MAMÃE. Tem cuidado.
GOSHA. Porquê? Os hipopótamos são mordedores?
MAMÃE. Certamente. É um dos animais mais agressivos. São muito fortes.
GOSHA. Mais forte que o leão e o crocodilo?
MAMÃE. Mais forte do que ninguém. Não te aproximes.
O Gosha acena. Vai para o som do hipopótamo.
O Gosha aproxima-se do hipopótamo. Ele está sentado em uma piscina vazia, com a cabeça no
fundo seco.
GOSHA. Olá, hipopótamo.
O hipopótamo não se move, apenas pisca lentamente tristemente.
GOSHA. Queres dormir? É de dia. Dormiste bem esta noite?
O Gosha está a rir-se.
GOSHA. Foi assim que gritaste?
O hipopótamo está a olhar para o Gosha.
GOSHA. Porque gritaste?
Hipopótamo revira os olhos - quantas perguntas.
GOSHA. Porque estás numa piscina vazia?
O Gosha aproxima-se mais do hipopótamo.
GOSHA. Onde está a tua água? Devias andar debaixo de água como um submarino.
O hipopótamo vira-se para o Gosha e parece que não vai conseguir dormir esta noite.
GOSHA. Você está triste porque não tem água ou porque está com fome?
O hipopótamo senta-se e olha para Gosha.
GOSHA. O que estás a comer?
O hipopótamo mexe irritadamente as orelhas, como se isso o ajudasse a se livrar de uma mosca
irritante, mas Gosha não é uma mosca, simplesmente não voa para longe.
GOSHA (gritando). Mãe, o que os hipopótamos comem?
MAMÃE. Já volto.
Gosha olha novamente para o hipopótamo.
GOSHA. Ela não sabe. E não sei. Vou ter de descobrir.
Gosha bate com o pé nas barras da grade.
GOSHA. Não estás aborrecido aqui sozinho?
O hipopótamo suspira.
GOSHA. Chato, claro. Também não há água. Não há ninguém com quem falar. Não é fácil, imagino.
O Gosha está a suspirar.
HIPOPÓTAMO. O que fazemos?
Gosha olha para o hipopótamo, ampliando os olhos de surpresa.
GOSHA. Temos de pensar em alguma coisa. Tu tens uma fantasia.
HIPOPÓTAMO. Não há nada a dizer. A água foi drenada porque o inverno está chegando. Eu estou
a secar. Tenho de ir para um quarto fechado amanhã, mas estou quase seco hoje...
GOSHA. Queres vir comigo, hipopótamo?
HIPOPÓTAMO. Para onde?
GOSHA. Para minha casa.
HIPOPÓTAMO. Onde vives?
GOSHA. No apartamento. A minha casa-de-banho não é grande, mas cabe melhor do que secar
aqui no frio. Queres?
HIPOPÓTAMO. A tua mãe deixa-te?
GOSHA. Claro que ela é simpática.
HIPOPÓTAMO. Está bem. Então vai perguntar-lhe.
GOSHA. Combinado.
Gosha foge do hipopótamo para a mãe.
GOSHA (correndo e gritando). Mãe, podemos levar o hipopótamo connosco?
MAMÃE. Para onde?
GOSHA. Uma visita.
Mãe (risos). Claro que não.
GOSHA. Como não?
MAMÃE. Não podes levar um hipopótamo para casa.
GOSHA. E se ele quiser?
MAMÃE. O que te faz pensar isso?
GOSHA. Ele disse que não se importaria se me deixasses.
MAMÃE. Ele disse isso?
O Gosha acena. A mãe recebe uma mensagem.
MAMÃE. Gosha, vamos dar um passeio, ainda tenho um pouco de trabalho a fazer. Vamos para
casa.
GOSHA. Pensei que me ias deixar.
MAMÃE. O quê?
GOSHA. Levar O Hipopótamo.
MAMÃE. Gosha, vai. Tudo. Já volto.
A mãe está no telemóvel. O Gosha vai voltar para o hipopótamo. Pela sua aparência, o hipopótamo
entende tudo.
HIPOPÓTAMO. Ela deixou?
Gosha agita negativamente a cabeça. O hipopótamo suspira.
HIPOPÓTAMO. Aguenta-te, Albatroz. Foi o que pensei.
Gosha olha triste como o hipopótamo vai para o canto.
GOSHA. Onde vais?
HIPOPÓTAMO. Lamentar.
GOSHA. E se eu não quiser que fiques triste?
HIPOPÓTAMO. Nem tudo no mundo depende dos nossos desejos.
GOSHA (pisando com o pé). Não tudo!
HIPOPÓTAMO. Não, nem tudo.
GOSHA. Não, tudo!
HIPOPÓTAMO. Não, nem tudo.
GOSHA. Tudo!
HIPOPÓTAMO. Nem tudo!
GOSHA. Pronto, Pronto, Pronto!!!
MAMÃE. Gosha, não grites com o Zoo. As pessoas estão a olhar para ti.
Gosha olha em volta. Ninguém está a olhar para ele.
GOSHA. Hipopótamo.
O Hipopótamo não responde, quer voltar a dormir.
GOSHA. Hipopótamo!
O Hipopótamo não responde.
GOSHA. Porque não dizes nada? Não ouves que te chamo?
HIPOPÓTAMO. Não te ensinaram que os hipopótamos não falam?
GOSHA. Estás a falar.
HIPOPÓTAMO. Mas, em princípio, os hipopótamos não falam com humanos. E as pessoas não
falam com hipopótamos.
GOSHA. Porquê?
HIPOPÓTAMO. Aconteceu.
GOSHA. Mas estamos a falar.
O hipopótamo está a resmungar.
HIPOPÓTAMO. Foste o primeiro a falar comigo. Mais ninguém faz isso.
GOSHA. Porque não pensaram nisso.
O hipopótamo revira os olhos.
GOSHA. Queres que escreva numa folha: "pessoal, falem com o hipopótamo. Ele está com
saudades" e vou pendurá-lo aqui?
HIPOPÓTAMO. Não.
GOSHA. E aqui?
HIPOPÓTAMO. Não.
GOSHA. Porque não queres?
HIPOPÓTAMO. Porque não quero.
GOSHA. O que queres?
HIPOPÓTAMO. Nada.
GOSHA. Ele disse que queria ir à minha casa.
HIPOPÓTAMO. E o que aconteceu?
GOSHA. Consegues passar a cerca?
HIPOPÓTAMO. Porquê?
GOSHA. Através deste consegues fazer isto?
HIPOPÓTAMO. Vamos?
GOSHA. Vem visitar-me.
HIPOPÓTAMO. A tua mãe não te deixou.
GOSHA. Não importa. Ela não vai ver.
HIPOPÓTAMO. Ouve, meu, não sou um hipopótamo invisível. É difícil não me ver.
GOSHA. Isto não é sobre ti.
HIPOPÓTAMO. E em quem? Assim que eu sair daqui, as pessoas vão me apontar o dedo e
gritar:"Hipopótamo, hipopótamo, olhem para o hipopótamo!".
GOSHA. Não vão.
HIPOPÓTAMO. Não me digas!
GOSHA. Olhar e ver são duas grandes diferenças. Às vezes as pessoas fingem estar olhando, mas na
verdade estão fazendo coisas que não são da sua conta.
O hipopótamo vê que Gosha está triste. Aproxima-se dele. Embora seu plano parece hipopótamo
ainda é ruim, mas ele decide falar com Gosha por pena.
HIPOPÓTAMO. Vou subir a cerca, e depois?
GOSHA. Segue-nos e sai do Zoo E...
HIPOPÓTAMO. Vou acenar-lhe com a pata? Foi bom ver-te, volta mais tarde?!
GOSHA. Consegues ir buscar o carro? Não te esqueceste de correr, pois não?
HIPOPÓTAMO. Eu corro a 30 km / h, na verdade.
O Hipopótamo vê que essas palavras não impressionam Gosha.
HIPOPÓTAMO. É rápido, podias ter ficado admirado.
GOSHA. Tu és assim...gordo.
Gosha mostra um hipopótamo gordo.
HIPOPÓTAMO. Não sou gordo. Sou musculoso. Sabes quanto tempo estive no fundo do poço?
GOSHA. Dez mil passos?
HIPOPÓTAMO. À uma!
GOSHA. Então podes ir buscar o carro.
HIPOPÓTAMO. Mesmo que consiga, e depois?
GOSHA. E depois vamos a casa, e eu convido-te para vires ter comigo. É um bom plano?
HIPOPÓTAMO. Não.
GOSHA. Podemos tentar? Se alguém te vir, podes virar-te e voltar para o Zoo.
HIPOPÓTAMO. Nem sequer conseguimos passar pelo guarda.
GOSHA. Passou pelo seu? Ele está a ver futebol, não está aqui. Ir.
Gosha olha para O Hipopótamo, ele encolhe os ombros, mas parece que ele gosta da ideia.
O Hipopótamo está a tentar subir a cerca. Corre, salta E... Não está a resultar. Gosha olha para ele
com decepção. Hipopótamo mostra o dedo indicador, dizendo, calma, vou tentar novamente.
Corre mais, salta melhor E... Não está a resultar. O Hipopótamo corre com mais força, salta mais
alto, agarra-se à cerca, fica pendurado nela. A cerca é abalada, Gosha gira os olhos e se move. O
Hipopótamo cai no chão com a cerca.
A mãe tira os olhos do telemóvel. O Hipopótamo imediatamente se levanta e coloca uma cerca na
frente dele, como se nada tivesse acontecido. A mãe não percebe o truque. Mas algo lhe parece
suspeito. Gosha corre para a mãe.
GOSHA. Mãe, o teu telemóvel ficou sem bateria?
MAMÃE. Não. Mas vai ficar sem bateria em breve. Vamos para casa?
GOSHA. Ah.
MAMÃE. Vou só terminar o teste. Desculpa, só um bocadinho.
GOSHA. Não tenhas pressa, mãe.
Gosha olha para O Hipopótamo. Ele não acredita em seus olhos que sua mãe não queimou sua
queda. Ele coloca cuidadosamente uma cerca caída no recinto. Vai atrás do Goscha.

CENA 3. MANOBRAS

A mãe está ao telemóvel a ir para a saída do Zoo. Vai atrás dela. Ele olha em volta e mostra O
Hipopótamo para andar. O Hipopótamo com uma grinalda de camuflagem verde na cabeça (você
pode pensar que alguém realmente vai confundi-lo com uma árvore) está se esgueirando atrás do
ganso, ainda temendo a mãe. Mas Gosha mostra, que Vá, você não pode ter medo dela. É assim
que eles chegam à cabine do guarda na saída.
GOSHA. Mãe, espera, vou atar o atacador.
A mãe pára, mas não sai do telemóvel. Gosha aproxima-se de O Hipopótamo que faz de árvore.
GOSHA. Estás pronto?
HIPOPÓTAMO. Só porque a tua mãe é uma pessoa ocupada, não quer dizer que os guardas não me
vejam também.
GOSHA. Eu vou primeiro. Se tudo correr como planeado, dou-te um sinal.
O Hipopótamo acena. O Gosha vai ter com a mãe.
GOSHA. Vamos?
Gosha e sua mãe passam pela cabine do guarda. De lá vem um barulho alto - o guarda está
assistindo futebol.
VOZ DO COMENTARISTA. Sviridov dá um passe para Antonov, Antonov Ivashevich, E....Golo! Que
golo maravilhoso, amigos! Que trabalho limpo!
A mãe e o Gosha passam pelo guarda. Gosha mostra O Hipopótamo para andar.
HIPOPÓTAMO (consolando-se). Não me vêem. Não me vêem. Ninguém me vê.
O Hipopótamo está a esgueirar-se.
VOZ DO COMENTARISTA. O inimigo decidiu ir para a ofensiva e recuperar seus pontos. Vejam como
eles vêm! Parece que este jogo vai entrar para a história e não pode passar despercebido!
O Hipopótamo passa pela cabine do guarda. Ninguém o vê.
O Hipopótamo está a correr atrás do Goscha. A mãe vai à frente no telemóvel.
HIPOPÓTAMO. Liberdade aos hipopótamos! Conseguimos! E agora?
GOSHA. Agora, uma corrida atrás do nosso carro, e depois dou-te um banho quente e comida na
minha casa.
HIPOPÓTAMO. E se alguém me vir?
GOSHA. A mãe e o guarda não viram. Outros também têm muitas preocupações. Acredita,
ninguém está a olhar para o lado agora.
O Gosha e a mãe vão para o carro.
Ouve-se a porta a fechar-se.
GOSHA (gritando pela janela). Pronto?
MAMÃE. Gosha, senta-te na cadeira e aperta o cinto. Para quem estás a gritar?
GOSHA. Ninguém, mãe.
Ouve-se o carro a partir e a partir. O Hipopótamo começa a correr atrás do carro.
CENA 4. BELA CASA.

O Hipopótamo corre para a casa de banho do Gosha, sem fôlego, mal consegue falar.
GOSHA. Estás bem?
O Hipopótamo diz, um segundo, deixa-me respirar.
GOSHA. Parece que correr não é o teu estilo.
HIPOPÓTAMO. Sim, sou mais nadadora.
O Hipopótamo senta-se no chão.
HIPOPÓTAMO. Phew...
GOSHA. Queres que te arranje uma casa de banho?
HIPOPÓTAMO. Posso?
GOSHA. Certamente. Eu prometi. Até estares seco como uma folha.
HIPOPÓTAMO. Está bem, vamos lá.
GOSHA. Cabes tu?
Gosha empurra a cortina da banheira, obstrui a tampa na abertura da banheira e liga a água.
GOSHA. Queres espuma?
HIPOPÓTAMO. O quê?
GOSHA. Espuma. Para que haja bolhas.
HIPOPÓTAMO. Não sei.
Gosha derrama um líquido viscoso do frasco no banho, a espuma é formada no banho.
GOSHA. Podes entrar.
HIPOPÓTAMO. Vais continuar a olhar assim?
GOSHA. Posso virar-me.
Gosha vira as costas.
GOSHA. Queres que te traga alguma coisa para mastigar?
HIPOPÓTAMO. Eu como à noite.
GOSHA (olhando ao redor do hipopótamo gordo). Bem, não é de admirar.
HIPOPÓTAMO. O que estás a insinuar?
GOSHA. O que queres comer?
HIPOPÓTAMO. Tens erva?
GOSHA. Estava verde.
HIPOPÓTAMO. Traz o que tens.
Gosha quer sair da casa do banho.
GOSHA. Não feches a porta.
HIPOPÓTAMO. E se a mãe entrar?
GOSHA. Ela não vai entrar, está a trabalhar.
O Gosha vai sair. O Hipopótamo tira uma grinalda desgrenhada da vegetação, coloca-a no chão,
come uma folha. Ele entra em um banho quente com um pé - oh, como ele gosta de água! O
segundo pé – é mágico! E...
O Hipopótamo quer entrar na banheira, mas o rabo não cabe. Ele gira assim. O banho é muito
pequeno. Abruptamente entra Gosha com um prato de verde. O Hipopótamo de medo senta-se no
banho – um ranger característico é ouvido. O Hipopótamo quer adotar uma postura mais
confortável, mas percebe que está preso.
GOSHA. Está tudo bem?
HIPOPÓTAMO. Mais do que isso.
GOSHA. Aqui tens.
Gosha estende a vegetação do Hipopótamo. Ele está sentado no banheiro comendo verduras.
HIPOPÓTAMO. Sabe muito bem. Mmm. Yum, Yum.
GOSHA. Ainda bem que gostas.
HIPOPÓTAMO. Então, conta-me.
GOSHA. O quê, exactamente?
HIPOPÓTAMO. Porquê eu?
Gosha encolhe os ombros.
HIPOPÓTAMO. Não, isso não vai funcionar. Quero saber. Por que o menino trouxe um hipopótamo
para casa? Tem de haver uma razão, certo?
GOSHA. Não tinhas água. Senti pena de ti.
HIPOPÓTAMO. És a única pessoa na terra que tem pena de um hipopótamo.
GOSHA. Porquê?
HIPOPÓTAMO. Não sabes que os hipopótamos são perigosos?
Gosha encolhe os ombros.
GOSHA. Mais perigoso que um leão e um crocodilo?
HIPOPÓTAMO. Muito mais. Eu ganho-os sempre. Vês os meus dentes?
O Hipopótamo abre a boca, mostra os dentes.
HIPOPÓTAMO. 36 dentes. Posso rasgar qualquer um.
GOSHA. E o rinoceronte?
HIPOPÓTAMO. E um rinoceronte. Sou muito perigoso.
Gosha encolhe os ombros.
GOSHA. Respondeste-me.
HIPOPÓTAMO. Como assim?
GOSHA. Falei contigo e tu respondeste.
HIPOPÓTAMO. Os outros não respondem?
GOSHA. Estão ocupados. Caso contrário, não teria um hipopótamo na minha banheira.
HIPOPÓTAMO. O que é que a tua mãe está a fazer?
GOSHA. Ela trabalha muito para que tenhamos tudo.
HIPOPÓTAMO. Onde estão os teus amigos?
GOSHA. Tenho uma amiga na creche, a Lucia.
HIPOPÓTAMO. Não é mau. O que estão a fazer juntos?
GOSHA. Fazemos juntos?
HIPOPÓTAMO. Bem, você joga jogos, coleciona artesanato – o que os amigos fazem juntos no
jardim de infância?
GOSHA. Não estamos a fazer nada.
HIPOPÓTAMO. Porquê?
GOSHA. Porque ela não me considera amiga dela.
HIPOPÓTAMO. Não entendi. Disseste que eram amigos.
GOSHA. Eu disse que ela era minha amiga. Também não disse que era amigo dela.
HIPOPÓTAMO. Porque é que ela não te considera amiga?
GOSHA. Porque ela nem sequer olha para mim!
O Hipopótamo está muito surpreendido.
GOSHA. Eu chego ao jardim de infância e a primeira coisa que faço é gritar para ela: "Olá, a Lucia!".
HIPOPÓTAMO. E ela?
GOSHA. Ela nem sequer se vira.
HIPOPÓTAMO. Ora, ora...
GOSHA. Onde estão os teus amigos?
HIPOPÓTAMO. Como assim?
GOSHA. Estavas ali sozinho... Como se também não tivesses muitos.
HIPOPÓTAMO. De alguma forma, estamos todos em recintos, em recintos... As famílias, os
negócios... Tu sabes.
GOSHA. Então, ainda bem que decidimos ser amigos?
O Hipopótamo é tocado pelas palavras de Gosha.
HIPOPÓTAMO. Bom.
GOSHA. Então dá cá mais cinco.
Gosha dá cinco Hipopótamos. Sorrir.
HIPOPÓTAMO. Como é que vou voltar? Os trabalhadores vêm limpar a piscina de manhã. Espero
poder voltar a tempo.
GOSHA. Podes não voltar?
HIPOPÓTAMO. Como não voltar?
GOSHA. Podes ficar comigo por uns tempos?
HIPOPÓTAMO. Não, claro que não!
GOSHA. Mas porquê?!
HIPOPÓTAMO. A tua mãe também vai ficar sem trabalho e não me podes esconder.
GOSHA. Ela nunca vai ficar sem nada. Além disso, podemos arranjar-te um disfarce.
HIPOPÓTAMO. Qual?
Batem na porta do banheiro.
A VOZ DA MÃE. Gosha, estás bem?
GOSHA. Sim, mãe. Vou sair em breve.
Gosha ouve sua mãe se afastando da porta.
GOSHA. Vais dar um mergulho ou não?
HIPOPÓTAMO. Posso sair, se for preciso.
GOSHA. Vem para o meu quarto e voltas à noite.
HIPOPÓTAMO. Ir.
GOSHA. Então levanta-te.
O Hipopótamo está a tentar levantar-se.
HIPOPÓTAMO. Não posso. Estou preso.
GOSHA. Deixa-me ajudar-te.
O Gosha está a tentar tirar o Hipopótamo da banheira. O Hipopótamo está a ajudá-lo.
HIPOPÓTAMO. Oh, oh, oh. - Sim, sim, sim. Ayyayayay.
Gosha e o Hipopótamo fazem um último esforço e voam para fora da banheira com um estrondo.
A VOZ DA MÃE. Gosha, pode falar mais baixo? Estou ao telemóvel.
O Hipopótamo e o Gosha riem-se.
GOSHA. Silêncio.
O Hipopótamo e o Gosha riem ainda mais.
GOSHA. Cala-te! Vamos para o quarto antes que a mãe chegue.
Gosha e o Hipopótamo estão rindo.
Gosha e o Hipopótamo correm para o quarto das crianças, fecham a porta. O Hipopótamo não
pode se conter, abre a boca e ri com risadas barulhentas de hipopótamos.
A VOZ DA MÃE. Gosha!!!
GOSHA. Hipopótamo!!!
Gosha apaga a luz.
A porta do quarto abre-se.
MAMÃE. Gosh?
GOSHA. Sim, mãe.
Na mão da mãe está o telemóvel. A mãe liga as luzes. Atrás de Gosha há o Hipopótamo coberto
com um cobertor.
MAMÃE. Que barulho foi esse?
Gosha pega o trompete doado por sua mãe por trás das costas.
GOSHA. Estou a falar a sério... Tentei estudar...
Gosha dá à mãe um sorriso perfeito. E algumas vezes sopra alto no trompete. A mãe vê uma
montanha atrás de Gosha.
MAMÃE. O que é isto?
GOSHA. É simples assim...
Há algo no telemóvel da mãe.
MAMÃE. Gosh, tenho uma conferência. Posso pedir-te para estudares mais tarde?
GOSHA. Não há problema.
MAMÃE. Obrigada.
A mãe sai do quarto e fecha a porta. A montanha começa a rir. Gosha tira o véu do Hipopótamo.
HIPOPÓTAMO. Mais um pouco e ela apanhava-me.
GOSHA. Não, eu sei do que estou a falar.
O Hipopótamo está a ver o quarto.
HIPOPÓTAMO. Tens aqui uma bela casa.
GOSHA. O que vamos fazer?
Gosha vê carros espalhados pelo chão.
GOSHA. Queres brincar aos carros?
HIPOPÓTAMO. Vamos.
Gosha leva um pequeno carro para si e um pequeno para o Hipopótamo.
GOSHA. Na verdade, não. Vou dar-te outra.
Gosha vasculha a caixa e pega uma enorme máquina de Hipopótamo. Estão a brincar aos carros de
corrida.
GOSHA. Vamos para o construtor? Você consegue construir a torre mais alta?
HIPOPÓTAMO. Poder.
O Gosha e o Hipopótamo estão a brincar ao construtor.
É noite. O Gosha boceja. O Hipopótamo boceja em resposta. Gosha pega seu bocejo novamente.
Estão a rir-se.
GOSHA. Não comeces... A mãe vai voltar.
Estão a bater à porta.
A VOZ DA MÃE. Gosh, apaga as luzes, já é tarde. Vou continuar a trabalhar. Boa noite.
GOSHA. Boa noite, mãe.
HIPOPÓTAMO. Boa noite, mãe.
Gosha fecha a boca do Hipopótamo. Os passos da mãe estão de volta.
A VOZ DA MÃE. Disseste alguma coisa?
GOSHA. Nada, mãe. Dorme bem.
Os passos da mãe são removidos novamente. Gosha salta para a cama, puxa um cobertor sobre si
mesmo e olha para o Рipopótamo.
GOSHA. Onde vais dormir?
HIPOPÓTAMO. Na água.
GOSHA. Pois é. Então tens de esperar que a minha mãe termine o trabalho, escove os dentes e se
deite também.
HIPOPÓTAMO. Ah.
O Gosha fica mais confortável.
GOSHA. Com o que sonhas, Hipopótamo?
HIPOPÓTAMO. Comida. E tu?
GOSHA. Quero dizer, que as pessoas olhem e vejam. Ninguém nunca se sentiu sozinho.
HIPOPÓTAMO. É um bom sonho. Se eles tivessem visto, eu não estaria aqui.
GOSHA. Certo!
HIPOPÓTAMO. Queres que a tua mãe te veja?
GOSHA. Ela consegue ver-me!
HIPOPÓTAMO. Não me digas! Então ela não me vê só a mim?
GOSHA. Bem, sim.
HIPOPÓTAMO. Então, estás satisfeito?
Gosha acena incompreensivelmente. O Hipopótamo tem pena do Gosha.
HIPOPÓTAMO. Fecha os olhos e eu canto-te uma canção.
GOSHA. Sim, e vais acordar a casa toda.
HIPOPÓTAMO. Estou calado.
Gosha fecha os olhos.
HIPOPÓTAMO. Boo boo boo. Boo boo boo. Boo boo boo boo boo boo.
GOSHA. Isso é uma canção?
HIPOPÓTAMO. Sim. Porquê?
GOSHA. Estás só a cantar Boo boo boo.
HIPOPÓTAMO. Os hipopótamos cantam assim. Diverte-te, é uma boa canção.
O Hipopótamo canta a canção ao Gosha, o Gosha adormece. O Hipopótamo está a ronronar no
estômago.
HIPOPÓTAMO. Oh.
O Hipopótamo está a ronronar outra vez.
HIPOPÓTAMO. Oia.
O Hipopótamo ronca muito no estômago. Para não acordar Gosha, ele sai do quarto.

CENA 5. INVISÍVEL

A luz da geladeira ilumina o Hipopótamo. Há tanta comida lá que o Hipopótamo se distrai e entra
em seus pensamentos, sem perceber que a geladeira chia em todo o apartamento, como as
geladeiras que não fecham por muito tempo.
MAMÃE. Gosh, o que é que fizeste ontem à noite?
O Hipopótamo fecha a porta da geladeira. E ele é impresso na parede, ingenuamente acreditando
que ele vai se fundir com ela e passar despercebido.
A mãe chega à cozinha, olha à volta, está prestes a encontrar o Hipopótamo, mas o telemóvel toca,
mete-se nele, esquece-se para onde ia. Sem olhar, pega o iogurte da geladeira. Volta para o quarto.
O Hipopótamo sai da parede, expira.
HIPOPÓTAMO. Ela não me vê mesmo?
O Hipopótamo come o que conseguiu roubar da geladeira.
HIPOPÓTAMO. Vamos verificar.
O Hipopótamo vai para o quarto da mãe.
A mãe trabalha: na frente dela é um computador, telemóvel e tablet, todos eles fazem alguns sons
de mensagens que chegam, em cada mãe imprime algo.
O Hipopótamo olha timidamente para o quarto. Vê o laboratório de informática da mãe. Ele
garante que a mãe não o vê. Entra no quarto. A mãe não desiste do trabalho. O Hipopótamo dá
mais um passo, zero reação, e mais. O Hipopótamo fica no centro da sala, bem na frente da mãe e
faz alguns movimentos com os quadris – a mãe não o vê. O Hipopótamo senta-se na frente da
mãe, acena-lhe a mão. Ela não o vê. O Hipopótamo está farto deste jogo.
HIPOPÓTAMO. Posso tomar um banho?
Mãe (sem sair do trabalho). Certamente.
O Hipopótamo encolhe os ombros e sai da sala. A mãe termina a impressão e só agora percebe
que alguém lhe perguntou algo, e ela respondeu algo a alguém.
MAMÃE. Gosh? Não foi...Gosha.
A mãe levanta-se. As mensagens vêm e vêm. Ela vê a luz na casa de banho. Vai para ela (a luz),
deixando o computador.
CENA 6. Respingo!

O Hipopótamo está deitado na banheira a cantar canções. Está cheio de espuma, tudo à sua volta
está cheio de espuma. Ele canta alto.
HIPOPÓTAMO. Boo boo boo. Boo boo boo. Boo boo boo boo boo boo...
A mãe entra na casa de banho, esfrega os olhos, usa óculos. Tem um hipopótamo à sua frente.
A mãe está a olhar para o Hipopótamo. O Hipopótamo está a olhar para a mãe. A mãe está a gritar.
MAMÃE. Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
HIPOPÓTAMO (coberto de espuma). Aaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
MAMÃE. Hipopótamo!!!
HIPOPÓTAMO. Silêncio. O Gosha está a dormir!
MAMÃE. Hipopótamo, hipopótamo falante!!!
HIPOPÓTAMO. Ouvir. Controla-te. O seu filho está a descansar.
A mãe agarra na esfregona, aponta para a besta e pára de gritar.
MAMÃE (sussurrando). Hipopótamo!!!
HIPOPÓTAMO. Sim, um hipopótamo.
MAMÃE. Fica onde estás, besta.
HIPOPÓTAMO. Estar. Ter medo... Vocês conseguem ver-me?
MAMÃE. É possível não ver um hipopótamo?
O Hipopótamo está a rir-se.
HIPOPÓTAMO. Como diz Gosha, olhar e ver são duas grandes diferenças.
MAMÃE. Já te vi antes.
HIPOPÓTAMO. Onde?
MAMÃE. No Zoo. O que fazes aqui?
HIPOPÓTAMO. Banhar-se. A sua banheira é grande. A água está quente.
MAMÃE. Não podes nadar aqui.
HIPOPÓTAMO. Tem pena da água? Não gasto muito.
MAMÃE. Não pode haver um hipopótamo na minha casa!
HIPOPÓTAMO. Então pode fechar a porta? Vou secar-me e sair. Vamos conversar e tomar um chá.
MAMÃE. Bebes chá?!
HIPOPÓTAMO. Você bebe. E eu fico com a companhia.
A mãe acena e sai do banheiro.

CENA 7. CONVERSA DE CORAÇÃO PARA CORAÇÃO

O Hipopótamo com uma toalha e pauzinhos saindo das orelhas sai do banheiro. A mãe está à
esperar dele. Ela o vê e ainda não consegue acreditar que é real.
HIPOPÓTAMO. Chá?
MAMÃE. Não precisamos de introdução.
HIPOPÓTAMO. Você é rigorosa.
MAMÃE. Estou à espera de uma explicação.
HIPOPÓTAMO. Que plano?
MAMÃE. O que fazes aqui? Fugiste do zoo e decidiste ficar com o nosso apartamento?
HIPOPÓTAMO. Eu??? Não, Não...
MAMÃE. Então o quê?
HIPOPÓTAMO. Também tenho algumas perguntas para si.
MAMÃE. Quais?
HIPOPÓTAMO. Diga-me o que faço aqui. O seu filho trouxe um hipopótamo para casa. E tudo
aconteceu diante dos seus olhos.
MAMÃE. Mentira.
HIPOPÓTAMO. Claro que é. Primeiro, parti o recinto, segui-vos, tiraram-me do Zoo. Depois segui o
carro até sua casa. Entrei em sua casa e até ri tanto que os vidros tremiam.
MAMÃE. Não pode ser... Eu não vi. Nunca ouvi falar. Gosha! O que lhe fizeste?!
HIPOPÓTAMO. Alimentei-o. Joguei com ele. Cantou uma canção de embalar e pôs-me a dormir.
Mamãe se levanta e olha para o quarto, onde Gosha dorme um sono feliz.
MAMÃE. É verdade....
A mãe volta, senta-se à mesa, os aparelhos dela estáo a apitar. Ela desliga-os a todos.
MAMÃE. Toda a gente vai dizer que raptámos um hipopótamo. Éstas no Livro Vermelho?
HIPOPÓTAMO. Sou normal.
MAMÃE. O meu filho roubou um hipopótamo normal. O que vou fazer?
HIPOPÓTAMO. Não fique tão triste. Amanhã, vamos levar-me de volta ao zoo. Se chegar a tempo
de comer, ninguém vai reparar.
MAMÃE. Como é que sabes?
HIPOPÓTAMO. Como saímos, entramos. Vou precisar do seu seguro e, no geral, tenho a certeza
que vamos conseguir. Eu não acreditava Gosha, mas este mundo enlouqueceu completamente –
ignorar um hipopótamo torna-se comum. Para não falar das pessoas.
MAMÃE. Vais ficar aqui até de manhã?
HIPOPÓTAMO. Sim. Porquê? Vou tomar um banho. Vou dormir na espuma. cheira bem.
A mãe voltou a apontar a esfregona ao Рipopótamo.
MAMÃE. Bem, não. Não me inscrevi para isto.
HIPOPÓTAMO. Vão expulsar-me assim esta noite?
MAMÃE. És um hipopótamo, vais sobreviver. Sai.
A mãe aponta o Рipopótamo para a porta.
HIPOPÓTAMO. O Gosha vai ficar chateado se eu sair sem me despedir.
MAMÃE. Gosha não é responsável por suas ações, caso contrário, ele não arrastaria um animal de
cinco toneladas para a casa.
HIPOPÓTAMO. Sabem que mais? Vou-me embora. Mas vou dizer-vos uma última coisa. Se você
não viu um hipopótamo à queima-roupa, isso é metade do problema, você pode perdoar. Você não
vê o seu filho!
MAMÃE. O Hipopótamo está a dar-me conselhos sobre como criar filhos, meu Deus, é lindo.
HIPOPÓTAMO. Não é um hipopótamo, é um amigo do Gosha.
MAMÃE. Ele queixou-se de mim?
HIPOPÓTAMO. Ele disse que a amava e que estava satisfeito.
MAMÃE. E eu amo-o. Então, nós tratamos disto. Sai.
HIPOPÓTAMO. Ama-o. Mas não vê.
MAMÃE. O que quer isso dizer?
HIPOPÓTAMO. Ver uma pessoa significa ouvir o que ela diz, entender o que ela sente e tentar
compartilhar esses sentimentos. Adeus.
O Hipopótamo vai-se embora.

CENA 8. A MANHÃ EM QUE TUDO MUDOU

Gosha puxa seus membros na cama, boceja sonoramente e imediatamente salta.


GOSHA. Hipopótamo!
Gosha está à procurar do Hipopótamo no quarto.
GOSHA. Hipopótamo!
Gosha não encontra o Hipopótamo no quarto e corre para o quarto da mãe. A mãe digita algo no
computador, mas assim que vê Gosha, desliga tudo.
GOSHA. Vamos...
Gosha vê que a mãe não está olhando para o gadget, mas para ele.
MAMÃE. Olá, Gosha.
Gosha pára com um gesto tão estranho.
GOSHA. Olá, mãe. Acabaste o trabalho todo?
MAMÃE. Não.
Gosha procura o Hipopótamo aqui e ali.
MAMÃE. Perdeste alguma coisa?
Gosha continua a busca.
GOSHA. Sim! Quer dizer, não...
O Gosha está a ver debaixo da mesa da mãe. Ele tem um suspiro de desespero. Ele mesmo sobe
sob a mesa, abraça as pernas dobradas com as mãos, quase chora. A mãe olha debaixo da mesa
para Gosha.
MAMÃE. Como te sentes?
GOSHA (com lágrimas). Melhor do que ninguém.
MAMÃE. Está na casa de banho.
GOSHA. Quem?
MAMÃE. Alguém que procuras.
Gosha olha surpreso para a mãe, saindo de debaixo da mesa.
GOSHA. De quem estou à procura?
MAMÃE. Não estás à procura de ninguém?
A mãe olha astutamente para o Gosha, o Gosha voa com uma bala para o banheiro. Abre a porta.
O Hipopótamo espirra na água, cantando o hipopótamo de marca boo boo boo.
GOSHA. Hipopótamo! Pensei que te tinhas ido embora!
Gosha corre e abraça o Hipopótamo.
HIPOPÓTAMO. Silêncio. Ficar molhado. Vamos para a creche em breve.
GOSHA. Naaham?!
HIPOPÓTAMO. A tua mãe e eu concordámos em levar-te ao jardim de infância, e depois ela leva-
me ao jardim zoológico. Ela é mesmo boa, como disseste.
Para Gosha é muito bom ouvir isso.
GOSHA. Está bem! Vou vestir-me!
Gosha corre para o seu quarto. Ele vê a mãe lá, que tira o estojo do trompete e pega-lo em suas
mãos, indo para levá-lo.
GOSHA. Para onde vais com o trompete?
MAMÃE. Vou pô-lo na varanda.
GOSHA. Como é que vou tocar?
MAMÃE. E tu não precisas de tocar. Nunca quiseste isto.
GOSHA. Mas tu querias...
MAMÃE. Amo-te, quer toces trompete ou não. Quando eu era criança, eu queria ser colocada em
uma música de trompete, e minha mãe não tinha tempo. Pensei em fazer isto por ti. Mas você
gosta de coisas completamente diferentes, e isso é normal.
A gaja e a mãe abraçam-se. A mãe beija o Gosha no topo da cabeça.
MAMÃE. Veste-te. Estamos atrasados.
A mãe quer ir embora, mas Gosha a impede, leva o estojo com o trompete.
GOSHA. Agora quero tentar. Talvez eu também goste. Eu já sei, queres que te mostre como?
MAMÃE. Mostra-me. Não te esqueças que temos de recuperar o Hipopótamo antes de o
alimentarmos.
GOSHA. Estou a ir!
Gosha se veste rapidamente.
CENA 9. GOSHA VÊEM TODOS

O som das vozes das crianças. Estão a jogar.


A VOZ DO HIPOPÓTAMO. É ela?
A VOZ DO GOSHA. Não.
A VOZ DA MÃE. E aquela com o rabo de cavalo?
A VOZ DO GOSHA. Não.
A VOZ DO HIPOPÓTAMO. E aquela na caixa de areia?
A VOZ DO GOSHA. Ali está ela! No escorrega!
A VOZ DO HIPOPÓTAMO. Pronto?
A VOZ DO GOSHA. Sim! Vamos.
Mamãe abre os arbustos de onde Gosha sai, sentado em o Hipopótamo. Ele brilha porque todos
estão a olhar para ele. Gosha toca uma melodia alegre no trompete.
GOSHA. Luciiiaaa! Oláaa!
MAMÃE. Ela virou-se.
HIPOPÓTAMO. Ela está a acenar-te. E está a sorrir.
GOSHA. A mim? Ela está a sorrir para mim?
HIPOPÓTAMO. Ela está a chamar-te! Corre!
GOSHA. Lucia, estou a ir! Este é o meu amigo Hipopótamo e esta é a minha mãe! Queres saber
como nos tornámos amigos?
Gosha foge para a Lucia.
MAMÃE. Vamos ao zoo?
HIPOPÓTAMO. Ao zoo.
MAMÃE. Podes ir buscar o carro? Posso ir devagar.
HIPOPÓTAMO. Eu corro 30 km / h!
A mãe não se impressiona com as palavras do Hipopótamo.
HIPOPÓTAMO. Isso é muito na verdade, você pode admirar!
MAMÃE. Eu admiro-te, Hipopótamo.
HIPOPÓTAMO. A sério?
A mãe acena.
MAMÃE. Corre! Eu vou atrás de ti!
O Hipopótamo está feliz. Ele corre cada vez mais rápido, mais rápido do que qualquer hipopótamo
no mundo.

FINAL

2022

Você também pode gostar