Você está na página 1de 11

Jô Duarte

Ilustrações

Orlando
Bom demais
para ser real

Ana Pijama se ajeitou na cama.


Precisava decidir o que imaginar.
Não pensou duas vezes: “a cama
elástica do Rodolfinho!”. Fechou
os olhos com força e visualizou o brinquedo.
Numa pirueta, começou a pular.
Ana Pijama se sentiu a dona do mundo. Es-
tava maravilhada em poder fazer tudo o que
quisesse. Deu um pulo, depois outro e por fim
afundou as pernas com força para dar uma cam-
balhota no ar. Mas um vento frio subiu por sua
coluna enquanto um pensamento atravessou a
mente: “Tenho prova de Matemática semana
que vem”…
PLOFT. Imediatamente, a cama elástica su-
miu e Ana Pijama começou a ver um desfile de
números tomar conta da sua cabeça. Abriu os
olhos: a brincadeira havia terminado. Tudo por-
que o pensamento da prova se meteu no meio

14
da sua imaginação. Tentou visualizar o brin-
quedo outra vez. Mas logo aparecia a imagem
da dona Belarmina distribuindo as provas com
aquela sua cara de sargento. Descobriu então
que brincar só com a cabeça não ia ser essa mo-
leza toda. Tinha que encontrar uma maneira de
expulsar os pensamentos intrometidos, pensou
Ana Pijama.
Foi então que se lembrou da esquisitice que
sua mãe tinha inventado quando estava com o

15
— Quer saber?
Você não quer ir,
mas eu vou!

53
Terror nas
alturas

Outra Ana não aguentou ficar ali


parada muito tempo. Olhou para o
parque. Nem sinal de Ana Pijama.
Podia apostar que ela tinha ido dire-
to para a barraca de doces. Tratou de lhe enviar
a ideia de que comer doces demais dá dor de
barriga. Pensou que não ia adiantar nada ficar
ali sozinha, cozinhando os miolos de preocupa-
ção. Tinha certeza de que por trás de tudo aqui-
lo havia o dedo da Dama dos Maus Conselhos.
Resolveu ir atrás da amiga.
Ana Pijama tinha entrado esbaforida no par-
que e ido direto para a barraquinha de doces.
Uma placa no balcão avisava:

55
Ana Pijama sentiu sua boca se encher de espuma,
como se tivesse engolido uma caixa de sabonete.
Imensas bolhas de sab‹o sa’am da sua boca.

74
O cavalo virou para trás, abriu um sorriso dentu-
ço e deu uma piscadela.
— Tropeço! Você chegou bem a tempo! —
gritou Ana Pijama.
Nisso, ela sentiu um vulto passar a jato ao seu
lado. Era Outra Ana, que caía feito uma bigorna.
— Tropeço, depressa! Pega Outra Ana!

101
De olhos
bem
abertos

Ana Pijama e Outra Ana senti-


ram o vento levantando suas fran-
jinhas. Tropeço rodeou a monta-
nha e planou no ar. Sobrevoaram
a floresta de couve-flor e o imenso
campo azulado. Logo adiante estava a cachoeira
de sorvete e o lago de milk-shake de morango.
O cavalo embicou para baixo. Iria aterrissar às
margens do lago, na areia de paçoca.
Sem conseguir frear a tempo, desceu com
uma cambalhota que jogou as meninas de testa
no chão. Antes que Ana Pijama abrisse a boca
para lhe dar uma bronca, Tropeço sorriu todo
sem graça e amoleceu o coração da sua dona.
— Nem acredito, estamos sãs e salvas! —
comemorou Outra Ana.
— Viu? Não falei que era a sua vez de confiar
em mim?

103
Quem criou
a história

Jô Duarte nasceu em 1973, em

autora/
editora
Muriaé, uma cidadezinha do interior de
Minas Gerais. Quando aprendeu a falar,

Acervo da
Arquivo da
começou a inventar nome para tudo. In-
ventou até o nome do seu travesseiro:
Ofrenário Não Pode. Na infância, adora-
va brincar de boneca e andar de bicicle-
A escritora.
ta na pracinha. Uma de suas diversões
preferidas era ler. Ela conta que “pegava carona nas histó-
rias”, que nem a Ana Pijama no seu cavalo de uma asa só, o
Tropeço. De tanto ler, passou a gostar também de escrever,
inventar personagens e criar mundos para eles.
Já adulta, decidiu contar histórias da vida real e foi para o
Rio de Janeiro estudar Jornalismo. Lá, trabalhou como repór-
ter em vários jornais e revistas. Começou também a escrever
histórias de famílias (biografias) e criou uma editora. Mas,
como seu amor pela literatura continuava forte, ela voltou a
trilhar o caminho da imaginação e a trabalhar como escritora.
Ana Pijama no País do Pensamento, lançado em 2008, foi o
primeiro livro infantojuvenil de Jô. Ela também é autora de
Faísca, cabelo de fogo coração de ouro e tem muitas outras
histórias no país de seus pensamentos!
Em 2019, Jô foi eleita para a Academia Muriaeense de Le-
tras. Voltou para Minas Gerais e hoje vive
em um sítio com três cachorros, um gati-
nho e dois cavalos (sem asas!). Ah!, e ela
continua dando nome às coisas. O tatara-
neto do Ofrenário (o travesseiro) chama-se
Apolinário Quase Nada.

119
al/
itora
Orlando Pedroso é paulistano e

Acervo pesso
Arquivo da ed
nasceu em 1959. Assim como Ana Pijama,
ele não gosta de dormir – quer dizer, não
gosta da obrigação de ter de ir para a cama.
Mas conta que descobriu que, dormindo e
sonhando, podemos ir para outros mun-
dos que nem pensávamos visitar. O ilustrador.

Ilustrador de livros, jornais e revistas, Orlando publicou


seus desenhos pela primeira vez em 1978, em um jornal, e
nunca deixou de passear por lugares aonde a imaginação nos
leva. Afinal, diz ele, “isso é a literatura e o desenho: criar mun-
dos, situações, paraísos e infernos aqui mesmo onde estamos
acordados. O lindo é perceber que a gente pode juntar as duas
coisas, dormindo e acordado, e é disso que fazemos nosso tra-
balho. Basta, de certa forma, achar um cavalo para montar e
viajar entre nuvens, vivendo nossas histórias e as dos outros”.
Orlando já expôs seus desenhos em mostras de arte em
São Paulo e no Rio de Janeiro. É coautor do Livro dos segun-
dos socorros (2012), dos Doutores da Alegria – artistas que
fazem intervenções como palhaços em hospitais públicos. Em
2007, foi o artista homenageado no Festival Internacional de
Quadrinhos de Belo Horizonte (FIQ).
Ana Pijama vive a maior aventura
no País do Pensamento. Tudo é
colorido e meio esquisito, como
ela havia imaginado. Mas há
coisas fora do seu controle: uma
menina igual a ela, o Parque de
Desdiversões, a voz ameaçadora...
Como tudo isso invadiu o
seu mundo?

O Pijama do meu apelido é porque


uso sempre o mesmo pra dormir.
Tá apertadinho, mas adoro ele. É a única
coisa que me anima a ir pra cama. Detesto
dormir, acho uma perda de tempo!
Agora um segredo: descobri um
jeito de me divertir só com a
força do pensamento...

Ué, tá estranhando o quê?


Sou um desenho que ganhou vida!
O que posso fazer se a Ana desenha mal?
O pior é que ela vive me chamando
de desengonçado, tanto que me deu o
nome de Tropeço. Ops, fui falar com
você e quase levei um tombo!

Você não está me vendo, mas eu vejo você.


Cuidado comigo. Se ousar entrar nos meus
domínios, você vai parar na Masmorra
do Se Deu Mal, Bem Feito!

Você também pode gostar